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Transcrição

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estrutura e
desenvolvimento
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Projeto Letras de Luz:
estrutura e desenvolvimento
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Sumário
1. Histórico e sistematização..................................................................................................................7
. 1.1. Definição.e.histórico...................................................................................................................7
. 1.2. Eixos...........................................................................................................................................8
. 1.3. Público-alvo................................................................................................................................9
. 1.4.Tecnologia.social:.metodologia.e.replicação...............................................................................10
. .
1.4.1. Diagnóstico.inicial.e.instrumentos.de.acompanhamento.do.projeto.............................10
. .
1.4.2. Implantação...................................................................................................................11
2.
.
.
.
As oficinas de leitura.......................................................................................................................17
2.1. Objetivos.e.conteúdos...............................................................................................................17
2.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................18
2.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................22
3.
.
.
.
.
.
.
Capacitação e apresentações teatrais...............................................................................................23
3.1. Objetivos.e.conteúdos.trabalhados............................................................................................23
3.2. Estratégias.formativas...............................................................................................................23
3.3. A.equipe.de.formadores............................................................................................................24
3.4. Apresentações.teatrais...............................................................................................................25
.
3.4.1. Seleção.de.textos.e.montagem.......................................................................................25
.
3.4.2. Produção.......................................................................................................................25
4. Renovação do acervo de livros literários.........................................................................................27
. 4.1. Objetivos.e.critérios.de.seleção.do.acervo.................................................................................27
. 4.2. Doação......................................................................................................................................33
Apostilas das oficinas de leitura...........................................................................................................35
Apostilas das oficinas de teatro..........................................................................................................157
Guia de produção teatral....................................................................................................................165
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Sejam.bem-vindos.ao.Projeto.Letras.de.Luz!
Se.você.ou.seu.município.tem.essa.apostila,.é.porque.certamente.já.ouviram.falar.dessa.iniciativa,.que.
vem.formando.leitores.apaixonados.por.livros,.por.leitura.e.por.teatro.nos.últimos.quatro.anos.
Desde.2007,.o.projeto.já.passou.por.algumas.cidades.brasileiras,.capacitando.professores,.coordenadores,.
diretores,.agentes.de.leitura,.bibliotecários.e.demais.pessoas,.espalhando.suas.ideias.sobre.leitura.e.teatro.
com.o.intuito.de.contribuir.para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora.nessas.localidades.
Nesse.material,.você.e.seu.município.irão.encontrar.um.pouco.da.história.dessa.iniciativa.e.orientações.
precisas.sobre.como.iniciar.ou.dar.continuidade.a.um.trabalho.como.o.realizado.pelo.Letras.de.Luz.em.sua.
cidade.
Essa.apostila.apresenta,.detalhadamente,.cada.uma.das.vertentes.dessa.proposta,.com.o.objetivo.de.que.a.
metodologia.do.projeto.possa.ser.replicada.em.Secretarias,.Centros.Culturais,.Escolas,.Bibliotecas.e.outras.
instâncias.culturais.e.educativas,.ampliando.ainda.mais.o.alcance.das.ideias.veiculadas.pelo.Letras.nos.últimos.anos..Com.o.apoio.dessa.sistematização,.esperamos.ajudá-lo.a.desenvolver.uma.intensa.atividade.em.
favor.da.magia.e.da.necessidade.da.leitura.e.do.teatro.para.que.você.e.seu.município.possam.tornar-se.ainda.
mais.comprometidos.com.a.formação.de.um.número.cada.vez.maior.de.cidadãos.leitores.
Boas.leituras.e.bom.trabalho!
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1. histórico e sistematização
1.1 Definição e hiStórico
O.Letras.de.Luz.é.uma.iniciativa.realizada.pela.Fundação.Victor.Civita1.com.patrocínio.da.EDP2,.com.
apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura3.e.apoio.do.Instituto.EDP4.
O.projeto.tem.por.principal.objetivo.promover.o.incentivo.à.cultura,.contribuindo.com.as.atividades.
teatrais.da.região,.colaborando.para.que.o.gosto.pela.leitura.cresça.cada.vez.mais.e.estimulando.o.hábito.de.ler.como.parte.do.cotidiano.dos.educadores.brasileiros.
Em. duas. edições. o. projeto. passou. por. quatro. Estados. (São. Paulo,. Espírito. Santo,.Tocantins. e. Mato.
Grosso.do.Sul)..Ao.longo.da.história.do.projeto,.já.foram.realizados.mais.de.480.oficinas.de.leitura.e.mais.
de.850.apresentações.teatrais..Cerca.de.6.mil.pessoas.participaram.do.projeto.e.mais.de.550.mil.foram.beneficiados.pelo.desdobramento.das.ações..Aproximadamente.56.mil.novos.livros.foram.doados.para.complementação.do.acervo.das.bibliotecas.públicas.dessas.localidades.
1..Oficinas.de.leitura.
2..Capacitação.e.apresentações.teatrais.
3..Renovação.do.acervo.das.cidades.participantes.
História.da.leitura,.leitura.de.imagens,.trabalho.em.bibliotecas,.clássicos.da.literatura.e.contação.de.história.foram.os.temas.discutidos.nos.dois.primeiros.anos..Além.deles,.trabalhamos.com.alguns.projetos.de.
leitura.que.foram.desenvolvidos.nos.mais.diversos.locais..Muitos.cartões-postais.foram.trocados.pelo.Brasil,.
muitos. clássicos. foram. lidos,. discutidos. e. dramatizados,. inúmeras. pessoas. se. reuniram. para. ler,. contar. e.
apreciar.textos.literários.em.diferentes.espaços,.dentro.e.fora.da.escola.
Os.atores.capacitados.para.a.criação.de.espetáculos.teatrais.levaram.aos.palcos,.às.praças.e.às.ruas.peças.baseadas.em.textos.de.alguns.autores.brasileiros.consagrados,.como.Machado.de.Assis.(A cartomante
e Vidros quebrados),.Lima.Barreto.(Nova califórnia e.O homem que sabia javanês),.Alcântara.Machado.(Um
apólogo brasileiro sem véu de alegoria e.Tiro de guerra número 5),.Artur.Azevedo.(Como me diverti e.A polêmica),.
1. www.fvc.org.br
2. www.edp.com.br
3. www.cultura.gov.br
4. www.institutoedp.com.br
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8  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Sylvio.Romero.(Maria Borralheira).e.João.do.Rio.(Dona Joaquina)..Os.grupos.também.foram.desafiados.
a.interpretar.textos.contemporâneos.mais.voltados.para.o.universo.infantil,.como.os.de.Eva.Furnari.
(Cacoete).e.Ricardo.Azevedo.(O rei que ficou cego).
Nos.dois.últimos.anos,.o.trabalho.das.oficinas.de.leitura.concentrou-se.em.dois.eixos.norteadores:.os.
gêneros.da.literatura.e.a.formação.do.leitor..O.primeiro.eixo.buscou.evidenciar.algumas.particularidades.do.
estudo.da.Língua.e.da.Literatura.por.meio.da.forma.pelas.quais.os.textos.são.escritos,.lidos.e.contados..Já.a.
formação.do.leitor.procurou.organizar.momentos.nos.quais.os.participantes.pudessem.apreciar.diferentes.
gêneros,.evidenciando.propósitos.e.procedimentos.necessários.ao.ato.de.ler..Perceber.as.diferenças.e.nuances.
das.atividades.que.envolvem.a.leitura.–.individual.e.coletiva.–.mostrou-se.fundamental.para.a.formação.
eficiente.de.uma.comunidade.leitora.
A.integração.entre.as.ações.dos.grupos.de.teatro.e.das.oficinas.de.leitura.foi.mais.um.dos.pontos.que.
evoluíram. ao. longo. da. história. do. projeto.. Os. atores. começaram. também. a. participar. desses. encontros,.
compartilhando.suas.experiências.leitoras.e.os.textos.encenados.passaram.a.integrar.o.conteúdo.das.apostilas.e.as.discussões.literárias.com.todos.os.participantes.do.projeto.
Novas.obras.foram.postas.em.cena.e.muitos.desafios.propostos.aos.grupos..Manteve-se.a.aposta.na.adaptação.de.autores.clássicos,.como.Machado.de.Assis.(Um homem célebre.e.O enfermeiro).e.a.ousadia.de.criar.
com.fase.na.diversidade.de.textos.contemporâneos,.como.Ricardo.Azevedo.(A quase morte de Zé Malandro e.
Contos de adivinhação),.Heloísa.Prieto.(Raça pura),.Fernanda.Lopes.de.Almeida.(A curiosidade premiada),.
Michelle.Iacocca.(Bambolina).e.Qorpo.Santo.(Um credor da Fazenda Nacional).
Durante.todo.esse.trabalho,.a.circulação.de.livros.de.qualidade.foi.fundamental..Os.participantes.puderam.conhecer.e.apreciar.obras.de.autores.consagrados,.renovando.o.acervo.literário.já.conhecido.pela.comunidade.e.compartilhando.suas.impressões.sobre.as.novas.experiências.leitoras.para.as.quais.foram.convidados.
Enfim,.nessa.curta.e.intensa.história,.podemos.dizer.que.o.Letras.de.Luz.fez.realmente.diferença.nas.
cidades.onde.esteve.presente,.iniciando.o.traçado.de.um.diferente.panorama.cultural,.consequentemente.
educativo,.em.cada.uma.das.comunidades.atendidas.
Esse.material.traz,.com.o.intuito.de.contribuir.ainda.mais.para.o.incentivo.à.formação.artística.e.cultural.
em.municípios.fora.do.circuito.cultural.dos.grandes.centros.urbanos.do.país.por.meio.de.apresentações.de.
peças.teatrais.e.de.oficinas.literárias,.a.metodologia.do.projeto.e.os.materiais.de.formação.utilizados.a.fim.de.
apoiar.a.continuidade.e.a.implantação.das.iniciativas.em.sua.localidade.
1.2 eixoS
A.proposta.do.projeto.Letras.de.Luz.é.promover.a.cultura.e.levar.a.leitura.aos.moradores.das.cidades.por.
onde.passa.e.foi.inspirado.no.ideal.das.cidades.educadoras5.e.nos.vários.projetos.de.leitura.levados.ao.país,.
5 Entenda o que são cidades educadoras – “A.cidade.será.educadora.quando.reconheça,.exercite.e.desenvolva,.além.de.suas.funções.tradicionais.
(econômica,.social,.política.e.de.prestação.de.serviços),.uma.função.educadora,.quando.assuma.a.intencionalidade.e.responsabilidade.cujo.objetivo.
seja.a.formação,.promoção.e.desenvolvimento.de.todos.seus.habitantes,.começando.pelas.crianças.e.pelos.jovens.”.(Fragmento.da.Introdução da Carta
das Cidades Educadoras, Declaração de Barcelona,.1990.).Essa.definição.da.Declaração.de.Barcelona.revela.o.papel.das.cidades.educadoras.–.movimento.iniciado.na.Espanha,.em.1990,.durante.o.1º.Congresso.Internacional.de.Cidades.Educadoras..http://www.cidadeseducadorasdobrasil.palegre.
com.br/template/template.asp?proj=43&secao=104
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1. Histórico e sistematização  9
iniciados.especialmente.no.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura6,.em.2005..Para.isso,.procura.garantir.o.acesso.
a.bens.culturais.(livro.e.teatro),.a.circulação.de.conhecimentos.e.a.troca.de.experiências.leitoras.comuns.por.
meio.de.três.vertentes.articuladas.entre.si:
1. oficinas de leitura: (oficinas para professores e outros agentes literários para a multiplicação do hábito
pela leitura): as oficinas de leitura têm como principal objetivo formar comunidades leitoras nas localidades onde atua. Seus grupos são formados por amantes da literatura, entre eles, professores, coordenadores
pedagógicos, diretores, agentes de leitura e bibliotecários. As atividades são planejadas de forma que os
participantes ampliem seu repertório leitor: conheçam novos autores, gêneros e coleções de qualidade.
Também que atuem como multiplicadores de leitores, levando os livros para escolas, praças, saraus e
outros ambientes de apreciação literária;
2. capacitação e apresentações teatrais: os grupos de teatro são, primeiramente, formados e capacitados. Depois se comprometem com apresentações que levem à comunidade a encenação de obras literárias.
O objetivo das capacitações e do acompanhamento das atividades teatrais é também o de preparar o grupo
para conduzir suas próprias produções e também, incentivá-los, ao longo do processo a tornarem-se autônomos para buscar de textos, produzir espetáculos e até negociar patrocínios e outros apoios.
Depois da primeira formação, a proposta é de que esses novos atores criem peças baseados na adaptação
de textos literários, os quais são previamente selecionados pela equipe do projeto. As montagens circulam
pelas cidades participantes, promovendo não só o contato com essa linguagem artística como também com
a obra literária que lhe serve de base. É literatura nos palcos, praças, no dia a dia da escola e ao alcance em
bibliotecas próximas;
3. renovação do acervo das cidades participantes: variadas obras literárias, infantis, juvenis e adultas foram doadas a bibliotecas e escolas públicas da região para fomentar o hábito da leitura e garantir que
a comunidade tenha acesso a títulos de qualidade. Os livros utilizados pelos grupos de teatro e pelos
participantes das oficinas de leitura também compõem esse acervo: alguns títulos disponibilizados no
decorrer do ano, ao final dos trabalhos, devem ser repassados, em bom estado de conservação, a uma
biblioteca pública local indicada pela prefeitura.
1.3 PúbLico-ALvo
Por.meio.de.suas.três.vertentes,.o.trabalho.do.Projeto.está.organizado,.de.modo.complementar,.em.torno.
de.diferentes.públicos:
1. as escolas e seus atores: professores, orientadores educacionais, coordenadores pedagógicos, diretores,
alunos, funcionários e pais, aproximando-os por meio da leitura e da arte, na elaboração de atividades que
possam ser desenvolvidas conjuntamente e em benefício da comunidade;
2. os agentes culturais: atores, músicos, artistas plásticos, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos,
profissionais liberais ou não, estudantes, funcionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado
em um trabalho de aproximação entre a literatura e a cena teatral;
6. Entenda o que foi o Ano Ibero-Americano da Leitura.–.O.Ano.Ibero-Americano.da.Leitura.foi.comemorado.em.21.países.da.Europa.e.das.
Américas.em.2005..Aprovado,.em.2003,.pela.Cúpula.dos.Chefes.de.Estado.dos.países.ibero-americanos,.foi.coordenado.pela.OEI.(Organização.
dos.Estados.Ibero-americanos),.Cerlalc.(Centro.Regional.para.o.Fomento.do.Livro.na.América.Latina.e.Caribe),.Unesco.e.governos.dos.países.da.
região..No.caso.do.Brasil,.pelo.Governo.Federal,.através.dos.ministérios.da.Cultura.e.Educação.e.pela.Assessoria.Especial.da.Presidência.da.República..http://www.vivaleitura.com.br/inicial.asp
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10  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
3. a comunidade: desde o início do projeto, sugere-se convidar para participar das oficinas demais cidadãos, e não só os membros do universo escolar. O Projeto Letras de Luz opta por incluir a comunidade
(grupos de jovens, de terceira idade, de clubes, associações, bibliotecas, etc.), pois acredita que os
leitores estejam presentes nos mais diversos segmentos da sociedade e não apenas na escola. Para tanto, é preciso que ele se estenda aos diferentes ambientes para contribuir, efetivamente, na formação de
uma sociedade leitora.
1.4 tecnoLogiA SociAL: metoDoLogiA e rePLicAção
Uma.Tecnologia.Social.como.a.do.Letras.de.Luz.pode.ser.aplicada.em.qualquer.lugar.onde.a.leitura.quer.
ser.considerada.uma.prioridade,.um.direito.e.uma.necessidade.social..A.implementação.de.um.projeto.para.
incentivar.a.cultura.local.ou.para.formar.comunidades.leitoras.depende.basicamente.da.capacitação.da.equipe.que.irá.aplicar.a.metodologia.no.local,.da.seleção.do.acervo.a.ser.doado.e.do.interesse.pela.literatura.e.
pelo.teatro.como.instrumentos.para.a.construção.da.cidadania.
Para.a.condução.de.um.projeto.de.formação.de.comunidades.leitoras,.recomenda-se.atenção.aos.aspectos.
abaixo.enumerados.
1.4.1 Diagnóstico inicial e instrumentos de acompanhamento do projeto
Recomenda-se.que.seja.feito.um.diagnóstico.das.especificidades.locais,.no.que.se.refere,.principalmente,.aos.projetos.de.incentivo.à.cultura.e.leitura.em.andamento.(nas.escolas.e.em.outras.instituições.educativas),. a. presença. de. livros. (qual. o. atual. acervo),. aos. espaços. de. circulação. de. livros. da. comunidade.
(bibliotecas,.bancas,.livrarias),.ao.acesso.a.esses.materiais.(perfil.do.público.frequentador.desses.espaços),.
às.entidades.e.atividades.culturais.atuantes.no.município.(associações,.ONGs,.clubes,.grupos.locais.de.
teatro).e.à.tradição.literária.e.teatral.local.(presença.de.grupos,.espaços,.festivais.etc).
Todo.projeto.deve.ser.monitorado.e.avaliado.a.fim.de.rever.processos.que.não.estejam.atendendo.às.expectativas.iniciais.e.de.analisar.os.resultados.encontrados.em.função.da.proposta.inicial..Nesse.sentido,.o.
diagnóstico.inicial.torna-se.uma.importante.ferramenta,.pois.ele.ajudará.à.equipe.de.coordenação.do.projeto.definir.quais.serão.os.instrumentos.de.acompanhamento.das.atividades.e.os.indicadores.que.possibilitarão.
avaliar.o.resultado.do.trabalho.desenvolvido.
Os.instrumentos.de.acompanhamento.utilizados.pelo.Letras.de.Luz.que.permitem.à.coordenação.avaliar.
as.atividades.são:
Leitura:
 listas de presenças das oficinas de leitura, de responsabilidade das formadoras e da coordenação do projeto;
 avaliação dos participantes sobre os encontros realizados;
 registros dos participantes sobre as iniciativas de multiplicação nascidas das atividades propostas conduzidas por eles, constando deste documento o número de pessoas que essas iniciativas abrangeram;
 relatórios dos coordenadores de oficina com registro das atividades realizadas, avaliação da participação
dos formandos e avaliação do formador;
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1. Histórico e sistematização  11
 reuniões periódicas com a equipe de formadores no início e no final de cada ciclo de oficina para planejamento e avaliação;
 acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: projetos de leituras em andamento,
acesso a bibliotecas e acompanhamento da inserção de atividades culturais locais, derivadas de atividades
do projeto.
Teatro:
 listas de presenças das capacitações teatrais, de responsabilidade dos capacitadores e da coordenação do
projeto;
 listas de presenças dos ensaios e das apresentações, de responsabilidade do produtor teatral;
 relatórios das capacitações teatrais com registro das atividades realizadas e das tarefas deixadas pelos formadores para serem realizadas entre cada uma das apresentações teatrais, de responsabilidade do capacitador;
 relatórios parciais e finais feitos pelos grupos teatrais das apresentações teatrais, explicados no guia de produção teatral anexo, com:
•
•
•
registro do perfil do público (escolar, docentes, comunitário...) e quantidade de pessoas presentes;
apoios locais obtidos e forma de apoio (financeiro, material/cenário, espaço, divulgação...);
presença dos atores e autoavaliação do grupo em reunião posterior à apresentação apontado: dificuldades encontradas, resultado final percebido e retorno obtido do público;
 relatórios parciais da coordenação teatral e da produção teatral do acompanhamento pontual, das vitórias
e dificuldades do grupo de teatro;
 reuniões periódicas com a equipe de capacitadores no final de cada uma das duas capacitações e ao final
das terceira e quarta apresentações teatrais;
 acompanhamento anual dos levantamentos iniciais da localidade para: novos projetos de teatro e acompanhamento da inserção de atividades de cultura locais derivadas de atividades do projeto.
Acervo:
 registro e acompanhamento, feito pelos formadores, da utilização e exploração dos acervos locais e pessoas
por meio dos relatos e relatórios dos participantes das oficinas;
 acompanhamento dos números locais de acesso às bibliotecas, livrarias ou outros pontos com acervo disponível à comunidade.
O.processo.de.avaliação.anual.deve.sempre.considerar.a.conquista.da.autonomia.dos.agentes.locais.formados.para.multiplicação.ou.reedição.das.atividades.
1.4.2 implantação
Para.implantar.o.projeto,.é.preciso.considerar.os.aspectos.abaixo:
Cronograma
O.projeto.tem.um.ciclo.de.vida.mínimo.de.um.ano,.em.que.se.propõe.o.cronograma.a.seguir..Recomendamos.ainda.que.as.oficinas.de.leitura.e.as.capacitações.teatrais.sejam.programadas.de.forma.alternada.a.fim.de.
que.o.projeto.possa.correr.o.ano.todo.e.que.se.mantenha.o.interesse.da.comunidade.por.todo.o.ciclo.
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12  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Planejamento e
diagnóstico
Capacitação teatral
capacitação
reforço da
inicial
capacitação
conto 1
Apresentação teatral
conto 2
conto 3
conto 4
Avaliação das
atividades teatrais
Oficinas de leitura
oficina 1
oficina 2
oficina 3
oficina 4
oficina 5
Avaliação das
oficinas de leitura
Renovação do
acervo local
Avaliação final
do projeto
Inscrições e renovações
É.importante.considerar.um.prazo.no.planejamento.do.projeto.em.que.os.interessados.inscrevam-se.
Modelos.de.fichas.de.inscrição.devem.ser.elaborados.tanto.para.as.capacitações.teatrais.como.para.as.oficinas.de.leitura..Essas.fichas.devem.não.só.ser.assinadas.pelos.participantes.com.o.intuito.de.comprometê-los.às.
atividades.e.regras.propostas,.como.também.devem.ser.instrumentos.de.conhecer.um.pouco.sobre.eles.
Sugerimos.que.as.fichas.de.inscrição.de.leitura.abordem:
 informações cadastrais;
 atuação profissional;
 escolaridade;
 experiências pessoais com trabalhos comunitários;
 expectativas de aprendizado e formas de multiplicação.
Para.as.fichas.de.inscrição.para.a.capacitação.teatral,.sugerimos.os.pontos:
 informações cadastrais;
 atuação profissional;
 escolaridade;
 experiências pessoais com trabalhos comunitários;
 experiências anteriores com teatro amador ou profissional;
 atividades culturais que costuma buscar em seus momentos de lazer: teatro, cinema, televisão e leitura,
entre outros;
 últimas peças e filme que viu;
 últimos livros e periódicos que leu;
 percepções sobre: teatro estimulando a leitura; oportunidades culturais de seu município; expectativas de
aprendizado e formas de multiplicação.
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1. Histórico e sistematização  13
É.preciso.que.fique.claro.aos.participantes.que.a.inscrição.é.para.o.ciclo.todo:.um.ano.de.atividade..E.é.
importante.que.a.coordenação.do.projeto.busque.anualmente.renovar.os.participantes.a.fim.de.aumentar.o.
potencial.de.disseminação.e.multiplicação.do.projeto.
Recursos humanos e materiais
Para.a.replicação,.será.necessário.o.uso.do.material.teórico.do.projeto.(apostilas,.vídeos.e.bibliografia.indicada),.duas.equipes.distintas.de.formadores.para.as.oficinas.de.leitura.e.para.os.grupos.de.teatro,.um.coordenador.para.cada.uma.das.equipes.e.um.produtor.para.propiciar.a.concretização.dos.espetáculos.teatrais.
Como.equipe,.propõe-se:.1.coordenador.geral.do.projeto,.dois.coordenadores.(um.para.as.oficinas.de.leitura.
e.outro.para.as.oficinas.de.teatro),.1.educador.para.cada.grupo.de.50.participantes.das.oficinas.de.leitura,.1.educador.para.cada.grupo.de.9.participantes.dos.grupos.de.teatro,.1.produtor.para.gerenciamento.dos.espetáculos.
Lembra-se.aqui.que.o.trânsito.de.materiais.e.equipe.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do.
projeto,.bem.como.a.estruturação.e.viabilização.de.espaço.físico.para.a.condução.das.atividades.
A.equipe.das.oficinas.de.leitura.realizará.cinco.encontros.bimestrais.com.duração.prevista.de.6.horas.
Os.formadores.da.equipe.de.teatro.realizarão.duas.oficinas.semestrais:.a.primeira.com.duração.de.24.
horas,.divididas.em.4.dias.de.trabalho.para.apresentação.da.proposta,.formação.dos.atores.e.orientações.para.
a.montagem.do.primeiro.espetáculo,.e.a.segunda.(no.meio.do.semestre).para.reforço.e.acompanhamento.dos.
trabalhos.
Para. cada. oficina. de. leitura. e. capacitação. teatral. realizadas,. será. necessário. providenciar:. espaço. com.
iluminação.e.ventilação.adequadas,.cadeiras.para.todos.os.participantes,.cópias.das.apostilas.do.encontro,.
quadro.para.anotações,.papel.em.branco.ou.bloco/caderno.em.quantidade.suficiente.para.todos,.canetas,.
lápis,.aparelho.de.som,.TV.ou.tela.de.projeção,.DVD.ou.data-show,.microcomputador,.cerca.de.50.livros.de.
literatura.previamente.selecionados.para.o.acervo.circulante.(distribuídos.em.10.títulos.diferentes,.com.5.
volumes.cada.um),.cerca.de.15.livros.relacionados.à.formação.de.atores.e.ao.teatro.e.a.definição.de.livros.de.
literatura.para.doação.às.bibliotecas.selecionadas.(contemplando.diferentes.gêneros.e.interesses.de.públicos.
diversos),.vídeos.relacionados.aos.temas.das.oficinas.
É. importante. pontuar. que. nas. reuniões. iniciais. de. planejamento,. esses. materiais. sejam. programados.
pelos.formadores..E.que.é.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto.observar.e.viabilizar.o.transporte.
dos.formadores.e.dos.materiais.necessários.
Recursos financeiros
As.despesas.de.implantação.envolvem:.remuneração.da.equipe.de.coordenadores.e.formadores,.aquisição.
de.acervo.literário.para.os.participantes.das.oficinas.(de.teatro.e.de.leitura).e.para.as.bibliotecas.previamente.selecionadas.pelo.município,.reprodução.do.material.de.apoio.do.projeto.(apostilas.e.cadernos).em.quantidade. suficiente. para. todos. os. participantes,. a. produção. e. manutenção. dos. grupos. de. teatro. e. das.
apresentações,.disponibilização.de.espaço.adequado.para.a.realização.das.oficinas,.transporte,.alimentação.e.
estadia.dos.formadores.(quando.vindos.de.outras.localidades),.materiais.de.apoio.do.projeto.e.divulgação.
Como.um.dos.objetivos.do.projeto.é.de.formar.grupos.de.teatro.que.ganhem.caráter.profissional.e.autonomia.no.decorrer.do.ano,.recomendamos.à.coordenação.do.projeto.considerar.recursos.financeiros.para.a.
remunerar.o.grupo.de.teatro.por.suas.atividades.realizadas..Conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.o.Letras.de.Luz.considerou.como.apoio.ao.grupo.de.teatro:..valores.de.cachê.por.apresentação..Incentivo.mensal.
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14  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
ao.produtor.para.auxiliar.o.investimento.em.cenário,.figurino.e.outras.necessidades,.pago.com.um.valor.fixo.
por.produção.com.até.30.dias.antes.do.início.dos.espetáculos.
Comunicação e imprensa
O.Projeto.Letras.de.Luz.tem.demonstrado.em.sua.história.ser.de.muito.interesse.da.mídia.por.seu.impacto.na.vida.cultural.das.cidades..Recomendamos,.portanto,.que.a.coordenação.do.projeto.produza.um.guia.
de.comunicação.com.a.imprensa.em.que.se.descrevam.as.características.do.projeto,.seu.histórico.e.contato.
da.coordenação.do.projeto.
Reproduzimos,.abaixo,.algumas.dicas.de.contato.com.a.imprensa.para.os.porta-vozes.do.projeto:
Algumas regras básicas para uma comunicação eficiente:
•
Assessoria de imprensa – Sempre encaminhe os pedidos de entrevistas e de informa-
•
retorno rápido – Atender a imprensa o mais rápido que puder é procedimento indis-
•
Prepare-se para a entrevista – Em caso de entrevista, levante informações sobre o
ções de jornalistas para a assessoria de imprensa mesmo que já tenha fornecido os
dados solicitados.
pensável no bom relacionamento com a mídia e na conquista de espaços nos veículos de comunicação.
veículo/programa e perfil do jornalista. Consulte ainda as informações a serem passadas para a imprensa (as assessorias podem auxiliar nesse trabalho).
•
o canal com o seu público-alvo – Tenha em mente que toda entrevista é uma oportunidade que o veículo de comunicação oferece para que a mensagem do projeto
chegue ao público de interesse.
•
Quanto mais o jornalista entender, melhor vai explicar para o leitor – Seja claro em
•
tenha em mãos o material de apoio para possíveis consultas – Quando necessário,
•
não responda sobre aquilo que não domina – A função do repórter é perguntar. A
suas respostas e, sempre que preciso, explique o fato.
consulte as informações sobre o projeto para passar os dados corretos ao jornalista.
do entrevistado é responder o que está ao seu alcance. Você não é obrigado a responder tudo para satisfazer ao jornalista. Se alguma pergunta lhe pegar de surpresa
e você não souber a resposta, não hesite em dizer que não possui a informação e que
poderá apurá-la com os responsáveis pelo projeto.
•
•
não emita opiniões pessoais em nome do projeto.
•
•
•
não use gírias e jargões.
•
não se frustre – O jornalista pode gastar horas em uma entrevista, escrever tudo o
•
erro na matéria – Se for algo sem grande impacto, ignore e deixe para comentar o
Seja claro e breve nas explicações. não use metáforas – Do contrário, você poderá
gerar interpretações dúbias e comprometer a matéria.
nunca peça para ler o texto antes de ser publicado.
tenha em mente que tudo o que for citado é passível de ser publicado, não diga nada
em “off” para o jornalista.
que você falou e não citar seu nome.
fato numa próxima vez. Se o erro for grave, peça para o assessor contatar o repórter
antes de qualquer atitude.
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1. Histórico e sistematização  15
Essas.dicas.são.importantes.nos.contatos.e.nas.entrevistas.com.todo.tipo.de.mídia:.impressa,.rádio.e.TV..
No.entanto,.as.duas.últimas.demandam.maior.cuidado.
No.caso.de.entrevistas.para.rádios,.fale.devagar.para.que.os.ouvintes.acompanhem.o.seu.discurso..Seja.
claro.e.objetivo.e.evite.utilizar.termos.rebuscados,.técnicos.e.frases.muito.longas..Procure.saber.se.a.entrevista.será.gravada.ou.ao.vivo.e.o.tempo.que.você.terá.para.falar.sobre.o.assunto.
Normalmente,. os. espaços. na. TV. são. mais. curtos,. por. isso,. seja objetivo. e. conciso.. Procure. passar. a.
mensagem-chave.logo.no.início.da.entrevista..Não.decore.um.texto,.tampouco.leia.algo.diante.das.câmeras.
Além.dos.cuidados.com.as.respostas,.atente.para.sua.aparência..Seja.discreto.para.transmitir.credibilidade..Procure.não.usar.roupas.chamativas.para.não.desviar.a.atenção.do.público.
E.lembre:.cuidado.com.o.português..Nunca.é.demais.repetir:.evite.a.linguagem.muito.formal..Escolha.as.
palavras.mais.cotidianas.e,.de.preferência,.as.menores.
Lembramos.que.o.projeto.social.Letras.de.Luz.foi.realizado.pela.Fundação.Victor.Civita.com.patrocínio.
da.EDP,.com.o.apoio.institucional.da.lei.Rouanet.de.Incentivo.à.Cultura.e.apoio.do.Instituto.EDP..Recomendamos,.portanto,.sempre.a.citação.da.fonte.na.replicação.do.projeto.e.o.cuidado.de.avisar.essas.instituições.na.sua.replicação..Para.a.utilização.do.nome.do.proponente.e.patrocinadores,.ou.falar.em.nome.deles,.
deve.-se.sempre.solicitar.autorização.aos.mesmos.
Parceiros
O.projeto.geralmente.é.conduzido.de.forma.a.agregar.parceiros..Em.geral,.os.parceiros.encontrados.localmente.são:.Secretarias.Municipais.de.Educação,.Secretarias.Municipais.de.Cultura,.escolas.da.rede.pública.ou.particular,.centros.culturais,.universidades.e.teatros.locais,.clubes,.organizações.da.sociedade.civil,.
patrocinadores.locais.e.bibliotecas,.entre.outros.
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2. As oficinas de leitura
2.1 objetivoS e conteúDoS
Tendo.como.foco.principal.a.formação.de.comunidades.leitoras,.as.oficinas.de.leitura.privilegiam.o.contato.com.diferentes.gêneros.e.a.reflexão.sobre.os.propósitos.e.procedimentos.posto.em.ação.frente.aos.mais.
diversos. portadores. de. texto.. O. objetivo. é. que,. ao. experimentar. o. prazer. de. ler,. os. participantes. possam.
multiplicar.as.experiências.vividas,.levando-as.aos.diferentes.espaços.em.que.atuam.
As.oficinas.acontecem.em.cinco.encontros,.cada.um.com.um.tema.diferente..São.eles:
1. mil e uma leituras – Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas.
Nesse primeiro encontro, o objetivo é apresentar o projeto ou retomar o histórico e os conteúdos dos anos
anteriores, reconhecendo a importância de projetos de leitura e dos espaços das bibliotecas para as comunidades, sensibilizando e organizando os grupos para algumas das atividades sugeridas, como os
Diários de Leitura. A proposta é que os participantes possam refletir sobre as diferenças entre o leitor individual e o leitor público, iniciando uma discussão sobre gêneros e sobre a necessidade de valorizar as
atividades de leitura na vida e na comunidade.
conteúdos:
•
•
•
•
a literatura e seus primórdios: do mito à literatura;
os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores;
a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural;
apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura.
2. crônica: a prosa cotidiana – instantâneos da vida se transformam em textos que entretêm e fazem pensar.
Na segunda oficina, os participantes são convidados a serem apreciadores da leitura de crônicas, se ainda não o
forem. Mas o convite não para aí. Ele se estende para que sejam autores das suas próprias crônicas. Dessa forma,
as atividades desse encontro foram planejadas para atender a estes dois propósitos: ler e produzir crônica.
conteúdos:
•
•
•
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leitura de crônicas;
breve história do gênero textual crônica;
o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores;
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18  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
•
•
a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação entre crônica e notícia;
a estrutura narrativa da crônica.
3. vozes em cena – A arte de atuar.
O terceiro encontro do projeto tem como foco oferecer informações sobre o teatro e as possibilidades de
atuação envolvendo essa linguagem por meio da experimentação da leitura e discussão de textos dramáticos. A ideia é, que com base nessa oficina, os participantes mergulhem no tema tratado e voltem para suas
comunidades pensando nas atividades que poderão desenvolver como multiplicadores do projeto.
conteúdos:
•
•
•
o teatro e suas formas dramáticas;
a leitura dramática;
características do texto teatral.
4. Uma imagem, mil palavras – Leitura de imagens.
A quarta oficina tem como foco o estudo da cultura visual, estabelecendo relações entre dois elementos
centrais do processo de comunicação em nossa sociedade: a imagem e a palavra. Por meio desse encontro,
os participantes descobrem que toda imagem tem uma história para contar. E que são as nossas percepções
visuais e experiências pessoais que nos tornam capazes de lê-las e interpretá-las para compreender e dar
cada vez mais sentido ao mundo em que vivemos.
conteúdos:
•
•
•
•
breve história da leitura de imagens;
procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;
relações entre palavra e imagem;
a ilustração na literatura.
5. Luz que vem de longe – o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia.
O quinto e último encontro celebra a poesia. A ideia é que os participantes possam apreciar a leitura de
poemas, compartilhar relações entre esse gênero e as cantigas, brincadeiras populares e músicas conhecidas
pelo grupo. É também um encontro de despedida e celebração do projeto, com a organização e realização
de um sarau para leitura e troca de livros e poemas.
conteúdos:
•
•
•
•
•
a poesia e sua história;
o gênero poesia e suas curiosidades;
a poesia e a intertextualidade;
a poesia infantil;
os saraus poéticos.
2.2 estratégias formativas
A.concepção.do.trabalho.das.oficinas.prioriza.a.vivência.de.experiências.leitoras.significativas..Sendo.assim,.as.
atividades.desenvolvidas.em.cada.encontro,.assim.como.a.atuação.dos.educadores.responsáveis.pelo.grupo,.devem.
configurar-se.como.um.bom.modelo.a.ser.seguido.por.aqueles.que.desejarem.multiplicar.as.ações.do.projeto.
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2. As oficinas de leitura  19
Em.todos.os.encontros,.prioriza-se.a.leitura.dos.gêneros.escolhidos.como.tema..A.proposta.é.que.os.
participantes. entrem. em. contato. com. os. textos,. socializem. suas. impressões,. percebam. seus. usos. sociais,.
discutam.os.propósitos.e.experimentem.diferentes.procedimentos.leitores.
Todas.as.oficinas.se.iniciam.com.uma.leitura.feita.pelo.formador..Ler.ou.contar.histórias.para.o.grupo.
cumpre.importantes.funções:.é.modelo.para.os.participantes,.cria.um.clima.de.cumplicidade.entre.todos.e.
amplia.o.leque.de.textos.conhecidos..A.seleção.do.que.vai.ser.lido.deve.obdecer.a.alguns.critérios,.tais.como:.
qualidade.literária,.pertinência.em.relação.ao.tema.da.oficina,.afinidade.do.leitor.e.perfil.do.grupo.que.acompanhará.a.leitura..Há.também.sempre.um.resgate.do.encontro.anterior,.das.tarefas.que.foram.solicitadas.e.
das.ideias.que.foram.multiplicadas.entre.uma.oficina.e.outra.
As.apostilas.são.compostas.por.vários.Textos-farol:.uma.seleção.de.trechos.de.obras.de.referência,.algumas.matérias.da.revista.Nova Escola7.e.de.alguns.periódicos.relacionados.ao.tema.e.outros.materiais.escritos.
especialmente.para.cada.um.dos.encontros..Eles.têm.por.objetivo.“iluminar”.as.discussões.e.trazer.novos.
conhecimentos.aos.participantes..Cada.formador.elege.quais.textos.abordar.e.quais.deseja.indicar.para.a.
leitura.em.outro.momento,.conforme.a.afinidade.apresentada.com.relação.ao.tema.e.a.pertinência.da.discussão.para.o.grupo..Todas.as.apostilas,.que.se.encontram.ao.final.desta.sitematização,.contêm.um.roteiro.para.
o.desenvolvimento.de.cada.encontro,.o.qual.poderá.ser.adequado.à.realidade.local.e.aos.propósitos.do.trabalho,.dando.abertura.a.outras.possibilidades.de.exploração.dos.temas.
Outra.marca.que.caracteriza.as.oficinas.é.a.realização.do.Mar.de.Histórias.
Mar.de.Histórias.foi.o.nome.escolhido.para.uma.atividade.apreciada.por.alunos.e.professores.de.
todas.as.idades..Mar.de.Histórias.é.uma.maneira.de.falar.de.literatura.e.de.livros,.de.leituras,.indicar.
títulos,.autores.e.temas.e.ainda.escolher.livros.que.serão.lidos.pela.turma.ou.socializados.de.alguma.
outra.maneira.
A.atividade.consiste.em.colocar.no.chão.um.grande.tecido.que.pode.ser.escolhido.com.as.cores.que.
lembram.mar.–.azul.e.verde.–.ou.que.seja.feito.pela.comunidade,.como.bordado,.uma.colcha.de.retalhos.ou.
outra.solução..Porém.a.beleza.ou.singularidade.do.tecido.não.é.indispensável.à.atividade..O.que.mais.importa.é.que.exista.um.tecido.sobre.o.qual.sejam.dispostos.muitos.títulos.e.que.os.ouvintes.possam.aprender.
sobre.eles.e.desejar.lê-los..Começa-se.a.atividade.com.uma.conversa.sobre.leitura,.ou.uma.leitura.propriamente.dita,.ou.sobre.uma.narrativa.apreciada.pelo.formador,.que.a.escolheu.por.determinado.motivo..Sobre.
o.tecido,.dispõem-se.os.títulos.que.farão.parte.da.“roda”.daquele.dia..Em.volta.dele,.reúne-se.o.grupo.que.
fará.parte.da.roda:.a.sala.de.aula,.o.grupo.de.professores,.o.grupo.de.pais,.etc..Após.a.leitura.e.a.conversa.
sobre.a.narrativa,.que.pode.ou.não.ser.conduzida,.pode-se.optar.por.uma.leitura.sem.discussão.posterior,.já.
que,.algumas.vezes,.o.desejo.é.apenas.ler.e.ouvir.a.narrativa.sem.se.preocupar.com.nenhuma.discussão.sobre.
ela..Os.títulos.colocados.no.Mar.devem.ser.variados.e.obedecer.a.algum.pressuposto.que.se.tenha.estabelecido.para.aquela.roda..Pode.ser.temática.(um.tema.que.se.queira.aprofundar.ou.trazer.a.tona:.África,.Mitologia,.Ciência,.Astronomia,.Guerra),.pode.ser.por.autores,.por.gêneros,.comemorativas.de.alguma.data.ou.
evento.especial.e.tantas.outras.ideias.podem.surgir.
Em.cada.encontro,.além.do.acervo.exposto.do.Mar.de.Histórias,.dois.livros.pertencentes.aos.gêneros.
discutidos.serão.trazidos.para.leitura.em.sistema.de.rodízio..As.obras.escolhidas.devem.ser.lidas.para.a.oficina.seguinte.com.vistas.à.troca.de.comentários.e.impressões.entre.leitores.de.um.mesmo.título..O.acervo.
das.bibliotecas.locais.também.pode.(e.deve).ser.trazido.para.leitura.do.grupo,.especialmente.os.títulos.pertencentes.aos.gêneros.estudados.em.cada.oficina..O.investimento.nesse.acervo.circulante.composto.por.um.
7. Os.conteúdos.da.Fundação.Victor.Civita,.sejam.eles.matérias.das.revistas.Nova Escola.e.Gestão Escolar,.conteúdos.de.projetos.ou.estudos.e.pesquisas.educacionais.estão.disponíveis.para.leitura.em.www.ne.org.br.e.www.fvc.org.br
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20  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
pequeno.número.de.títulos.(10).e.uma.maior.quantidade.de.exemplares.de.cada.obra.(em.média,.6.de.cada).
tem.por.objetivo.gerar.uma.maior.discussão.entre.os.leitores,.motivando-os.a.expressar.suas.percepções,.
impressões.e.sensações.sobre.a.obra.lida..Assim.os.participantes.terão.contato.com.vários.textos.literários.de.
qualidade,.compartilhando.leituras.comuns.e,.aos.poucos,.experimentando,.na.prática,.o.funcionamento.de.
uma.verdadeira.comunidade.de.leitores..
Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.ser.lidos.durante.o.projeto:
 oficinA 1
A sociedade literária e a torta de casca de batata
mary Ann Shaffer e Annie barrows
editora rocco – rio de janeiro
Tendo como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial e as dificuldades sofridas pela população da
Ilha Britânica de Guernsey, os livros aparecem como companheiros, refúgio, elo entre os moradores.
Cada qual vai descobrir autores e livros amados e como tais obras vão influenciar sua vida. Escrito
de forma epistolar, é um deleite para aqueles que sabem e que buscam o valor da leitura.
A biblioteca mágica de bibbi bokken
jostein gardner e Klaus hagerup
editora companhia das Letras – São Paulo
Como é apresentado pela Livraria Cultura, o garoto Nils e sua prima Berit moram em cidades diferentes e, para manter contato, decidem escrever um diário a quatro mãos, enviando-o de uma cidade a outra por correio. Ao longo da história, eles investigam a vida de Bibbi Bokken e descobrem
uma biblioteca mágica. Uma obra que celebra a magia de um objeto muito especial – o livro.
 oficinA 2
boa companhia – crônicas
organização de humberto Werneck
editora companhia das Letras – São Paulo
Quarenta e dois cronistas foram selecionados para essa bela e excelente coletânea de crônicas brasileiras. Humor, política, amor, sociedade, um pastel, uma verdureira, o jornal dobrado no sofá...
Tudo é matéria para o escritor que busca no cotidiano a sua razão para escrever, denunciar, louvar,
entreter. Exercício diário nascido no jornal, a crônica brasileira é um dos mais vigorosos gêneros de
nossa literatura.
o imaginário cotidiano
moacyr Scliar
editora global – São Paulo
O escritor gaúcho Moacyr Scliar reúne em O imaginário cotidiano as crônicas que publica semanalmente no jornal Folha de S.Paulo. Todos os textos são, na melhor essência da palavra e do gênero
crônica, baseados em fatos reais! O autor cria suas crônicas depois de escolher uma notícia no jornal. Notícia vira literatura. Esporte, obituário, política, economia, artes e até classificados. Nada
escapa ao olhar apurado de Scliar, que faz aquilo que bem cabe ao cronista: olhar para aquilo que
ninguém notou.
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2. As oficinas de leitura  21
 oficinA 3
tronodocrono
josé rubens Siqueira e gabriela rabelo
editora companhia das Letras – São Paulo
Duas deliciosas peças de teatro para o público infantil-juvenil escritas por quem conhece muito do
assunto. Retomando temas gregos e árabes, com Sherazade e Cronos, e misturando histórias de diversas culturas e épocas, os textos tratam com delicadeza e humor de assuntos sérios, como a memória, a razão, a intuição. Para ler e representar.
A falecida
nelson rodrigues
É impossível não delirar com a vida da protagonista Zulmira, que, depois de tantos dissabores da
vida, só espera ter um enterro luxuoso. Para esse enterro é que a personagem vai dedicar toda sua
energia e sonho. Desde 1953, o texto vem sendo lido e relido, montado sob as mais diversas leituras
teatrais. Uma obra-prima do teatro brasileiro.
 oficinA 4
o que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador
organização de ieda de oliveira
editora DcL – São Paulo
Definir o que é qualidade em ilustração de livros de literatura infantil e juvenil não é tarefa fácil. No
entanto, Ieda de Oliveira, doutora em Letras e especialista em literatura infantil e juvenil, reuniu um
time de conceituados ilustradores brasileiros e portugueses para discorrer sobre o assunto por meio
de artigos e depoimentos. Uma obra-prima ilustrada pelas palavras dos artistas.
As aventuras de bambolina
michelle Lacocca
editora Ática – São Paulo
O texto está escrito, mas não está lá, não está visível. Quantas aventuras aguardam essa boneca de
pano! Por quantas mãos passará? O que seus donos farão com ela? Um livro só de imagens para o
leitor compor sua história dentro de um enredo que parece estar pronto, mas que reserva muitas
surpresas. Para quem já teve e para quem nunca imaginou ter uma boneca.
 oficinA 5
Poesia fora da estante volume 2
vários autores
editora Projeto – Porto Alegre
Deliciosa antologia de poesia brasileira dirigida para adolescentes, na qual a regra é nenhuma regra.
São 31 poetas e 61 poemas, que mesclam passado e presente, literatura consagrada e letra de música, folclore e reescrita. Dentre os autores, constam Fernando Pessoa, Gregório de Matos, Mário
Quintana, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Leminski, Ferreira Gullar, Vinicius de Moraes,
Chico Buarque e Cazuza.
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22  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
os cem melhores poemas brasileiros do século
organização de Ítalo moriconi
editora objetiva – rio de janeiro
Como escolher 100 poemas que traduzam o século 20? Essa foi a árdua tarefa assumida pelo professor Ítalo Moriconi. Ao final, uma coletânea de belos, estranhos, ácidos, vibrantes, românticos, vertiginosos poemas está à disposição dos leitores. Dentre os critérios usados, pode-se destacar o desejo
de que cada poema fosse inesquecível.
Com.base.em.leituras.realizadas.entre.as.oficinas,.os.participantes.são.convidados,.desde.o.primeiro.encontro,.a.elaborar.Diários.de.Leitura:.espaço.privilegiado.para.anotar.os.livros.lidos,.as.emoções,.as.surpresas.
e.até.as.tristezas.ou.as.leituras.que.não.trouxeram.prazer..A.proposta.é.escrever.em.torno.do.literário..Cada.
grupo,.junto.com.seu.formador,.decide.o.formato.desse.registro.e.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores.
Os.Diários.dialogam.com.a.possibilidade.de.uma.atividade.de.escrita.que.é.bastante.intimista,.mas,.que.
pode.se.tornar.altamente.coletiva.e.auxiliar.a.espalhar.ideias.sobre.livros.e.leituras.por.meio.não.só.da.oralidade,.mas.da.escrita..Em.cada.oficina,.os.participantes.se.reúnem,.compartilham.seus.registros.sobre.os.livros.
lidos,.fazendo.indicações,.lendo.trechos.que.anotaram,.mostrando.imagens.que.selecionaram,.etc.
Ao.final.de.cada.encontro,.sugere-se.que.seja.realizada.uma.avaliação.para.identificar.se.os.objetivos.foram.
cumpridos,.o.que.deve.ser.melhorado.para.as.próximas.oficinas.e.se.há.novas.sugestões..A.possibilidade.de.que.
todos.se.pronunciem.é.fundamental.para.que.uma.atividade.de.longa.duração,.como.essa,.atinja.os.resultados.
esperados..Sempre.que.possível,.a.avaliação.deve.ser.feita.por.escrito.pelos.formadores.e.pelos.participantes.
2.3 A eQUiPe De formADoreS
A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.leitura.deve.ser.composta,.essencialmente,.por.amantes.da.literatura.e.leitores.experientes..Em.sua.maioria.specialistas.na.área.de.Literatura.e.Pedagogia,.o.fundamental.
é.que.esses.educadores.conheçam.muitos.textos.literários.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para.
conduzir.discussões.em.torno.da.leitura.e.indicar.materiais.de.qualidade.para.o.grupo.
Durante.os.encontros,.esses.profissionais.devem.organizar.um.trabalho.sistemático.que.possibilite.aos.
participantes.muitas.leituras,.de.várias.maneiras,.sozinhos,.em.grupos.ou.com.a.mediação.de.um.leitor.mais.
experiente..Para.isso,.é.necessário.que.conheçam.autores.e.gêneros,.temas.e.personagens,.propiciando.reflexões.que.auxiliem.na.construção.de.sentidos.para.as.leituras.realizadas.e.no.traçado.de.um.novo.percurso.
leitor.para.cada.um.dos.multiplicadores.
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3. capacitação e
apresentações teatrais
3.1 objetivoS e conteúDoS trAbALhADoS
É.parte.da.proposta.do.projeto.oferecer.ao.município.a.capacitação.de.grupos.de.teatro.locais.ou.a.
formação.de.um.novo.grupo.por.meio.de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área.
teatral..O.objetivo.é.incentivar.a.formação.artística.e.cultural,.possibilitando.a.adaptação.de.obras.literárias.para.o.teatro..Os.participantes.são.instruídos.a.empregar.as.técnicas.e.os.conhecimentos.adquiridos.
para.a.montagem.dos.espetáculos,.selecionando.textos.literários.brasileiros.infanto-juvenis.ou.de.interesse.geral.dos.municípios.envolvidos.
O.projeto.prevê.a.concretização.das.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.fundamental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço.
No.primeiro.dia.de.encontro,.os.participantes.conhecem.as.diretrizes.do.projeto,.a.proposta.que.terão.
pela.frente.e.a.rotina.de.trabalho.com.o.grupo..No.segundo.e.no.terceiro.dia,.vivenciam.jogos.teatrais.e.
exercícios.de.improvisação.baseados.em.temáticas.abordadas.no.texto.a.ser.encenado..No.quarto.e.último.
dia,.conhecem.o.conto.que.irão.apresentar.e.dão.início.ao.trabalho.de.montagem.do.mesmo.
Conteúdos:
•
•
•
•
•
•
•
histórico do projeto;
estrutura de trabalho dos grupos de teatro;
jogos teatrais;
exercícios de improvisação;
características das adaptações de textos literários para a encenação;
teatro dramático x teatro épico;
produção teatral.
3.2 eStrAtégiAS formAtivAS
Durante.os.quatro.dias.de.encontro,.o.grupo.formado.utilizará.o.modelo.aprendido.para.a.montagem.
de.pequenas.peças.teatrais.de.textos.curtos.de.diferentes.autores.e.estilos.para.apresentação.nas.cidades.
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24  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
abrangidas.pelo.projeto..Ao.longo.do.trabalho.com.o.capacitador,.os.participantes.terão.indicações.fundamentais.e.um.esboço.da.primeira.montagem..A.partir.daí,.terão.aproximadamente.30.dias.para.–.através. de. encontros,. ensaios. e. produções. –. dar. um. acabamento. compatível. que. permita. a. apresentação.
pública.da.peça.
Como.parte.do.trabalho.desenvolvido,.o.grupo.também.é.convidado.a.participar.das.oficinas.de.leitura,.
buscando.uma.maior.integração.entre.as.duas.vertentes.do.projeto..Além.disso,.são.estimulados.a.realizar.
um.Diário.de.Bordo,.registrando.o.processo.criativo,.as.descobertas.e.os.impasses.vividos.durante.a.montagem.e.a.apresentação.dos.espetáculos.
A.apostila.das.oficinas.do.teatro,.disponível.ao.final.dessa.sistematização,.contém.orientações.precisas.
sobre.a.formação.e.a.rotina.dos.grupos,.relações.entre.o.trabalho.das.oficinas.de.teatro.e.de.leitura,..indicações.bibliográficas.sobre.o.tema.e.alguns.textos.teóricos.de.apoio..Os.participantes.recebem.também.algumas.instruções.para.as.fases:
 pré-produção (escrita e organização de um projeto; elaboração de release para apoiadores culturais e para
divulgação das apresentações);
 produção (definição de datas e locais para apresentação; organização e necessidades do espetáculo; verbas
e orçamentos; apoios culturais, empréstimos de itens e parcerias; imprevistos durante o percurso; temporadas e apresentações esporádicas; administração);
 pós-produção (desmontagem; devolução de itens, agradecimentos e retorno a apoiadores e parceiros; clipping; relatório; apresentações fora do projeto).
Além.da.literatura.específica.para.a.área.teatral.doada.pelo.projeto,.o.grupo.teatral.recebe,.por.ocasião.da.
oficina.de.capacitação,.uma.pequena.biblioteca.técnica.de.títulos,.que.permanecem.sob.sua.responsabilidade.
no.decorrer.do.ano.
A.coordenação.das.atividades.teatrais.estabelece.um.elo.permanente.de.apoio.para.as.questões.inerentes.
à.montagem.e.produção,.uma.espécie.de.supervisão.a.distância.–.por.contatos.telefônicos.e.correio.eletrônico,.além.do.envio.de.material.didático.e.leituras.
Cada.grupo.escolhe.o.interlocutor.que.fará.a.ponte.entre.grupo,.produção.e.coordenação.do.projeto..
Esse.participante.(que.chamamos.de.“produtor.local”).necessariamente.integra.também.a.parte.artística.
do.projeto.
3.3 A eQUiPe De formADoreS
A.equipe.de.formadores.das.oficinas.de.teatro.deve.ser.composta,.essencialmente,.de.atores.e.amantes.da.
arte.de.representar..Em.sua.maioria,.profissionais.da.área.de.Teatro.e.Arte-Educação,.o.fundamental.é.que.
saibam.administrar.a.criação.e.a.gestão.de.um.grupo.e.tenham.suporte.teórico.e.metodológico.para.conduzir.discussões.em.torno.da.dramaturgia.e.da.encenação,.além.da.adaptação.de.textos.literários.para.o.teatro..
Para.isso,.devem.estar.em.contato.permanente.com.as.temáticas.abordadas.pelo.projeto.e.buscar.constantemente.novos.materiais.relacionados.aos.temas.
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29/11/10 17:30
3. Capacitação e apresentações teatrais  25
3.4 APreSentAçõeS teAtrAiS
O.grupo.tem.a.responsabilidade.de. montar. (ensaiar. e. produzir). e. apresentar. quatro. diferentes. peças,.
sendo.duas.montagens.no.1o.semestre.e.outras.duas.no.2o.semestre,.conforme.cronograma.proposto.no.início.deste.material.
O.ciclo.de.cada.peça.é.de.aproximadamente.2.meses:.no.primeiro.mês.o.grupo.ensaia.e.produz.a.peça.
(cenário,.figurino,.iluminação,.etc).e.no.segundo.mês.apresenta.nos.diferentes.espaços.da.cidade.
É.fundamental.que.o.grupo.organize.um.cronograma.mais.detalhado.das.épocas.de.ensaios.e.produção.
e.dos.espetáculos.
3.4.1 Seleção de textos e montagem
As.obras.para.montagens.serão.contos.da.literatura.brasileira,.escolhidos.segundo.sua.qualidade.artística.
e.possibilidades.cênicas..Serão.apresentados.sob.forma.de.texto.ou,.eventualmente,.como.livro,.em.especial,.
no.caso.da.literatura.infantil,.em.que.as.ilustrações.ajudam.a.narrar.o.conto.pretendido.
É.importante.que.a.coordenação.do.projeto.cuide.da.disponibilização.desses.textos.e.livros.para.os.atores,.
bem.como.cuide.da.autorização.de.utilização.do.obra.com.o.autor.
A.seleção.do.texto.a.ser.encenado.deve.respeitar.as.leis.de.direito.autoral..No.caso.dos.autores.de.domínio.
público,.não.é.necessário.solicitar.autorização.para.o.uso.do.texto..Para.as.obras.dos.escritores.contemporâneos,.o.grupo.deverá.recorrer.às.editoras.que.detêm.os.direitos.desses.autores.(consultar.se.a.obra.é.de.dominio.
público.em.www.dominiopublico.gov.br).ou.à.SBAT.–.Sociedade.Brasileira.de.Autores.(www.sbat.com.br)..
Durante. o. processo. de. montagem,. os. atores. serão. orientados. a. realizar. uma. transposição. do. conto. à.
linguagem.teatral,.preservando.em.sua.medida.a.originalidade.do.escrito..A.proposta.é.que.possam.ler.e.
aprofundar. diferentes. interpretações. sobre. o. texto,. discutindo. e. experimentando. formas. de. trazê-lo. aos.
palcos.e.outros.espaços.
Os.dois.primeiros.contos.já.lhes.serão.entregues.por.ocasião.da.oficina.de.capacitação..Os.outros.dois.
restantes.serão.apresentados.à.medida.que.o.projeto.avance.para.um.bom.processo.de.criação.cênica.
3.4.2 Produção
Desde.a.oficina.de.capacitação,.os.grupos.são.encorajados.e.estimulados.a.desenvolverem.seus.trabalhos.
contando.com.recursos.próprios.e.adaptando-se.às.realidades.locais.
A.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.é.um.bom.caminho.para.produzir.um.
espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados.apoiadores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produtos..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material.de.
divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade.da.
logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo..Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release.
em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao.futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um.
.release.curto,.de.fácil.leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que.chamem.a.atenção.para.a.peça..Nesse.
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29/11/10 17:30
26  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
material,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha.técnica.e.
locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários.
Os.custos.inerentes.aos.deslocamentos.(e.eventuais.alimentação.e.estadia).nos.espaços.de.apresentação.
serão.responsabilidade.dos.organizadores.do.projeto.e.parceiros,.conforme.o.caso,.mediante.a.aprovação.da.
coordenação.do.projeto.
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29/11/10 17:30
4. renovação do acervo
de livros literários
4.1 objetivoS e critérioS De SeLeção Do Acervo
A.renovação.do.acervo.literário.das.bibliotecas.dos.municípios.participantes.do.projeto.tem.o.objetivo.de.
ampliar.o.acesso.a.títulos.de.qualidade.e.o.repertório.dos.leitores.locais,.alimentando.a.formação.de.comunidades.leitoras.
Os.livros.selecionados.buscam.atender.a.alguns.critérios:
 contemplar interesses de leitores em diferentes estágios de aprendizagem da leitura (iniciantes, em processo,
fluentes e críticos);
 possibilitar variadas experiências literárias por meio da diversidade de gêneros: poesia, contos, novelas,
romances, textos dramáticos, crônicas, histórias em quadrinhos, textos visuais etc.;
 expressar a produção cultural de determinada língua, nação, comunidade (lendas, mitos e obras clássicas);
 possibilitar a experimentação de variadas modalidades de leitura;
 ampliar o contato com diferentes autores e estilos;
 contemplar obras consagradas e textos contemporâneos.
O.processo.de.escolha.do.acervo.é.realizado.pelos.formadores.das.oficinas.de.leitura,.supervisionados.
pelo.coordenador..Por.meio.da.consulta.aos.catálogos.das.editoras,.visitas.às.livrarias.e.feiras.e.resgate.de.
algumas.obras.do.acervo.pessoal.dos.selecionadores,.uma.lista.de.títulos.é.criada.e.submetida.a.um.intenso.
trabalho.de.pesquisa.com.livreiros.a.fim.de.verificar.a.disponibilidade.dos.mesmos.nos.estoques.para.posterior.aquisição..É.importante.considerar.a.necessidade.de.adquirir.vários.volumes.de.uma.mesma.obra.para.
garantir.o.diálogo.entre.um.número.maior.de.leitores.de.um.mesmo.livro.
O.fundamental.é.que.os.títulos.escolhidos.sejam.conhecidos.pelos.formadores,.já.que.esses.serão.os.
responsáveis. por. essa. seleção. e. durante. as. oficinas. deverão. apresentar. parte. desse. material. no. Mar. de.
Histórias.
Eis.algumas.sugestões.de.livros.que.poderão.compor.o.acervo.literário.e.que.foram.títulos.componentes.
da.doação.de.acervo.feita.nas.edições.do.projeto.Letras.de.Luz.para.os.municípios.participantes:
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28  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
tÍtULo
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AUtor
eDitorA
1
12 Fábulas de Esopo
Hans Gartner
Ática
2
20.000 Léguas Submarinas
Julio Verne
Cia. das Letras
3
A Biblioteca Mágica de Bibbi Bokken
Gaarder, Josteins, Hagerup, Klaus,
Bertoul e Sonali
Cia. das Letras
4
A Bruxa do Armário de Limpeza
Pierre Gripari
Martins Fontes
5
A Cabana
Will P. Young
Sextante
6
A Causa Secreta (literatura brasileira
em quadrinhos)
Machado de Assis
Escala Educacional
7
A Celestina
Fernando de Rojas
L&PM
8
A Curiosidade Premiada
Fernanda Lopes de Almeida
Ática
9
A Dobradura do Samurai
Ilan Brenman
Cia. das Letras
10
A Falecida
Nelson Rodrigues
Nova Fronteira
11
A Formiga Aurélia e Outros Contos
Regina Machado
Cia. das Letras
12
A Lei do Mais Forte e Outros Males
que Assolam o Mundo
Fernanda Lopes de Almeida
Ática
13
A Loira do Banheiro
Heloisa Prieto
Ática
14
A Maldição da Moleira
Índigo
Girafinha
15
A Palavra Feia de Alberto
Audrey Wood
Ática
16
A Pedra do Meio Dia ou Artur e
Isadora
Bráulio Tavares
Editora 34
17
A Porta Aberta
Peter Brook
Civilização Brasileira
18
A Professora de Desenho
Marcelo Coelho
Cia. das Letras
9
1
A Redação
Antonio Skarmeta
Record
20
A Santa Joana dos Matadouros
Bertolt Brecht
Paz & Terra
21
A Sociedade Literária e a Torta da
Casca de Batata
Annie Barrows
Rocco
22
A Vassoura Encantada
Chris Allsburg
Cia. das Letras
23
A Volta ao Mundo em 52 Histórias
Neil Philip
Cia. das Letras
24
Abrindo Caminho
Ana Maria Machado
Cia. das Letras
25
Álbum de Figurinhas
Fanny Abramovich
Cia. das Letras
26
Alexandre e Outros Heróis
Graciliano Ramos
Globo
27
Amigos
Helme Heine
Cia. das Letras
28
Ana Z, Onde Vai Você?
Nélida Piñon
Cia. das Letras
9
2
Anjinho
Eva Furnari
Cia. das Letras
30
Antígona
Sófocles
L&PM
31
Arsene Lupin, Ladrão de Casaca
Maurice Leblanc
Ática
32
As 100 Melhores Crônicas
Joaquim Ferreira dos Santos
Objetiva
33
As 14 Pérolas da Índia
ILan Brenman
Brique-Book
34
As Aventuras de Bambolina
Michele Iacocca
Moderna
35
As Bruxas
Roald Dahl
Martins Fontes
36
As Eruditas
Molière
L&PM
29/11/10 17:30
4. Renovação do acervo de livros literários  29
tÍtULo
Letras de luz.indd 29
AUtor
eDitorA
37
As Fenícias
Eurípides
L&PM
38
As Grandes Aventuras - 30 Histórias
Reais de Coragem e Ousadia
Richard Plat
Cia. das Letras
9
3
As Mentiras de Paulinho
Fernanda Lopes de Almeida
Ática
40
Asas!
Jane Yolen
Ática
41
Até as Princesas Soltam Pum
Ilan Brenman e Ionit Zillberman
Brinque Book
42
Auto da Barca do Inferno
Gil Vicente
L&PM
43
Auto da Compadecida
Ariano Suassuna
Agir
44
Beijo
Roald Dahl
Record
45
Belinda Bailarina
Amy Young
Ática
46
Bertolt Brecht - Teatro Completo, Vol.
3
Bertolt Brecht
Paz & Terra
47
Boa Companhia: Haicai
Rodolfo Witzig Guttilla
Cia. das Letras
48
Bruxa Zelda e os 80 Docinhos
Eva Furnari
Ática
9
4
Buracos
Louis Sachar
Martins Fontes
50
Caixa Especial Shakespeare - Vol. 7
Shakespeare
L&PM
51
Cara Sra. Leroy
Mark Teague
Ática
52
Casa Sonolenta
Audrey Wood
Ática
53
Casamento do Porcolino
Helme Heine
Ática
54
Coisas Frágeis
Neil Gaiman
Conrad Editora
55
Como Papai e Mamãe Se
Apaixonaram
Katharina Grossman-Hensell
Scipione
56
Contos de Adivinhação
Ricardo Azevedo
Ática
57
Contos de Bichos do Mato
Ricardo Azevedo
Ática
58
Contos de Enganar a Morte
Ricardo Azevedo
Ática
9
5
Contos de Grimm - Vol. 1
Irmão Grimm
Ática
60
Contos de Grimm - Vol. 2
Irmãos Grimm
Ática
61
Cordel
Patativa do Assaré
Edras
62
Dia Brinquedo
Fernando Paixão
Ática
63
Dom Quixote em Quadrinhos
Caco Galhardo
Peirópolis
64
Doze Contos Peregrinos
Gabriel García Márquez
Record
65
Édipo Rei
Sófocles
L&PM
66
Entre o Mediterrâneo e o Atlântico Uma Aventura Teatral
Maria Lúcia Pupo
Perspectiva
67
Escolas como a Sua
Penny Smith
Ática
68
Essa História Está Diferente
Xico Sá, Luis Fernando Verissimo,
Cadao Volpato, Rodrigo Fresan, Mia
Couto, Alan Pauls, Mario Bellatin,
Carola Saavedra, Andre Sant’Anna e
João Gilberto Noll
Cia. das Letras
9
6
Eu Nunca Vou Comer Tomate
Lauren Child
Ática
70
Faca sem Ponta, Galinha sem Pé
Ruth Rocha
Ática
29/11/10 17:30
30  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
tÍtULo
AUtor
eDitorA
71
Fedra
Racine
L&PM
72
Feliz por Obrigação
Chris Wormell
Ática
73
Felpo Filva
Eva Furnari
Moderna
74
História do Lobo
Marco Antonio Carvalho
Ática
75
Histórias à Brasileira - Vol. 1
Ana Maria Machado
Cia. das Letras
76
Histórias à Brasileira - Vol. 2
Ana Maria Machado
Cia. das Letras
77
Histórias à Brasileira - Vol. 3
Ana Maria Machado
Cia. das Letras
78
Histórias de Encantamento
Hugh Lupton
Martins Fontes
9
7
Histórias do Cisne
Hans Christian Andersen
Cia. das Letras
80
Histórias do Encantado
Miriam Portela
Moderna
81
Histórias para Acordar
Diléa Frate
Cia. das Letras
82
Histórias para Aprender a Sonhar
Oscar Wilde
Cia. das Letras
83
Ilíada e Odisséia de Homero - Uma
Biografia
Alberto Manguel
Jorge Zahar
84
Ilíada e Odisséia em Quadrinhos
Márcia Williams
Ática
85
Improvisação para o Teatro
Viola Spolin
Perspectiva
86
Jogos para Atores e Não Atores
Augusto Boal
Civilização Brasileira
87
Lé com Crê
José Paulo Paes
Ática
88
Liberdade, Liberdade
Millôr Fernandes e Flávio Rangel
L&PM
9
8
Liga-Desliga
Camila Franco, Jarbas Agnelli e
Marcelo Pires
Cia. das Letras
90
Lisístrata - A Greve Do Sexo
Aristófanes
L&PM
91
Lolo Barnabé
Eva Furnari
Moderna
92
Luas e Luas
James Thurber
Ática
93
Malasaventuras - Safadezas do
Malasarte
Pedro Bandeira
Editora Moderna
94
Mania de explicação
Adriana Falcão
Salamandra
95
Maria Borralheira
Silvio Romero
Scipione
96
Matilda
Roald Dahl
Martins Fontes
97
Meu Livro de Folclore
Ricardo Azevedo
Ática
98
Meu Primeiro Livro de Contos de
Fadas
Mary Hoffman
Cia. das Letras
99
Mitos, o Folclore do Mestre André
Marcelo Xavier
Formato
100
No Meio da Noite Escura tem um Pé
de Maravilha
Ricardo Azevedo
Ática
101
Nossa Rua Tem um Problema
Ricardo Azevedo
Ática
102
Novas Velhas histórias
Rosane Pamplona
Brinque Book
103
O Careca
Silvio Romero
Scipione
104
O Carteiro Chegou
Eduardo Brandão
Cia. das Letras
105
O Casamento Suspeitoso
Ariano Suassuna
José Olympio
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29/11/10 17:30
4. Renovação do acervo de livros literários  31
tÍtULo
AUtor
eDitorA
106
O Caso da Borboleta Atíria
Lúcia Machado de Almeida
Ática
107
O Cavalinho Azul
Maria Clara Machado
Cia. das Letras
108
O Clube do Livro - Ser Leitor: Que
Diferença Faz?
Luzia de Maria
Globo
10
9
O Diário de Zlata
Zlata Filipovic, Heloisa Jahn e
Antonio de Macedo Soares
Cia. das Letras
110
O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá
Jorge Amado
Cia. das Letras
111
O Gênio do Crime
João Carlos Marinho
Editora Global
112
O Gigante de Meias Vermelhas
Pierre Gripari
Martins Fontes
113
O Grande Livro do Medo
Adaptação de Xavier Valls
Girafinha
114
O Homem do Princípio ao Fim
Millôr Fernandes
L&PM
115
O Imaginário Cotidiano
Moacyr Scliar
Global Editora
116
O Livro dos Pontos de Vista
Ricardo Azevedo
Editora Ática
117
O Livro Inclinado
Peter Newell
Cosac Naify
118
O Mensageiro das Estrelas
Peter Sis
Ática
11
9
O Noviço
Martins Pena
L&PM
120
O Outro Lado
Istvan Banya
Cosac Naify
121
O Presente da Vovó Sara
Ghazi Abdel Qadir
Edições S.M.
122
O Santo e a Porca
Ariano Suassuna
José Olympio
123
O Último Cavaleiro Andante: Uma
Adaptação de Dom Quixote
Will Eisner
Cia. das Letras
124
Odisséia
Ruth Rocha
Cia. das Letras
125
Onda
Suzy Lee
Cosac Naify
126
Os Cem Melhores Poemas do Século
Italo Moriconi
Objetiva
127
Os Livros e os Dias
Alberto Manguel
Cia. das Letras
128
Os Pestes
Roald Dahl
Editora 34
12
9
Os Saltimbancos
Ziraldo e Chico Buarque
José Olympio
130
Outra Vez
Ângela Lago
Moderna
131
Papagaio do Limo Verde
Silvio Romero
Scipione
132
Para Gostar de Ler - Vol. 1 - Crônicas
Carlos Drummond de Andrade,
Fernando Sabino, Paulo Mendes
Campos e Rubem Braga
Ática
133
Para Gostar de ler - Vol. 2 - Crônicas
Carlos Drummond de Andrade,
Fernando Sabino, Paulo Mendes
Campos e Rubem Braga
Ática
134
Para Gostar de Ler - Vol. 8 - Contos
Brasileiros
Graciliano Ramos, Ignácio de Loyola
Brandão, José J. Veiga, Lima Barreto,
Luiz Vilela, Marcos Rey e Stanislaw
Ponte Preta
Ática
135
Para Gostar de Ler - Vol. 11 - Contos
Universais
Anton Tchekhov, Edgar Allan Poe,
Franz Kafka, Guy de Maupassant,
Jack London, Miguel de Cervantes e
Voltaire
Ática
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29/11/10 17:30
32  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
tÍtULo
AUtor
Para Gostar De Ler - Vol. 36 - Feira de
Versos
João Melquíades F. da Silva, Leandro
Gomes de Barros e Patativa do
Assaré
Ática
137
Para Gostar de Ler - Vol. 38 - Histórias
de Ficção Cientfica
André Carneiro, Arthur C. Clarke,
Bruce Sterling, Edgar Allan Poe,
Eduardo Goligorsky, H. G. Wells,
Isaac Asimov, Jean-Louis Trudel,
Jorge Luiz Calife, Miguel de
Unamuno, Millôr Fernandes e
Rubens Teixeira
Ática
138
Pequeno Dicionário Poético
Humorístico
Elias Jos
Paulinas
13
9
Persépolis
Marjane Satrap
Cia. das Letras
140
Poemas 1913-1956
Bertolt Brecht
Editora 34
141
Poesia Fora da Estante - Vol. 2
Vera Aguiar
Editora Projeto
142
Ponte para Terabítia
Katherine Paterson
Editora Salamandra
143
Que História é Essa? - Vol. 1
Flávio de Souza
Cia. das Letras
144
Que História é Essa? - Vol. 2
Flávio de Souza
Cia. das Letras
145
Raposa
Margaret Wild
Brinque Book
146
Rei Gilgamesh
Ludmila Zeman
Projeto
147
Robin Hood
Neil Philip
Cia. das Letras
148
Rosa Maria no Castelo Encantado
Érico Verissimo
Cia. das Letras
14
9
Sapatinhos Vermelhos
Imme Ross
Ática
150
Sete Histórias para Contar
Adriana Falcão
Salamandra
151
Sete Histórias para Sacudir o
Esqueleto
Ângela Lago
Cia. das Letras
152
Sumri
Amós Oz
Ática
153
Teatro de Sombras de Ofélia
Michael Ende
Ática
154
Teatro IV
Maria Clara Machado
Agir
155
Teatro V
Maria Clara Machado
Agir
156
Toda Nudez Será Castigada
Nelson Rodrigues
Nova Fronteira
157
Totó
Michael Rosen e Neal Layton
Cia. das Letras
158
Trem de Alagoas
Ascenso Ferreira
WMF Martins Fontes
15
9
Tronodocrono
Gabriela Rabelo e José Rubens
Siqueira
Cia. das Letras
160
Um Bonde Chamado Desejo
Tennessee Williams
L&PM
161
Um Contrato com Deus
Will Eisner
Livraria Devir
162
Viagem ao Brasil em 52 Histórias
Silvana Salerno
Cia. das Letras
163
Viagem ao Céu
Monteiro Lobato
Globo
164
Vice-Versa ao Contrário
Heloisa Prieto
Cia. das Letras
165
Zé Diferente
Lúcia Pimentel Góes
Melhoramentos
166
Zoo
João Guimarães Rosa
Nova Fronteira
136
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eDitorA
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4. Renovação do acervo de livros literários  33
4.2 DoAção
É.parte.da.proposta.do.projeto,.quando.conduzido.pela.Fundação.Victor.Civita,.a.doação.de.acervo.literário.para.uma.biblioteca.previamente.selecionada.pelo.município.
A.doação.ou.renovação.do.acervo.deve.ser.de.responsabilidade.da.coordenação.do.projeto,.que.pode.
viabilizá-la.por.meio.de.parcerias.ou.investimentos.públicos.
A.escolha.deve.privilegiar.os.espaços.que.possam.garantir.maior.acesso.da.comunidade.a.esse.material..
por.isso,.o.Letras.de.Luz.prioriza.a.doação.às.bibliotecas.públicas.municipais.
A.etapa.de.entrega.do.acervo.deve.ser.prevista.para.ocorrer.juntamente.com.a.terceira.oficina.de.leitura.
do.projeto..Essa.opção.justifica-se.pelo.fato.de.que,.nesse.momento,.os.grupos.de.participantes.já.se.constituíram.como.uma.comunidade.leitora.e,.de.alguma.forma,.já.tiveram.contato.com.as.outras.vertentes.do.
projeto(oficinas.e.apresentações.teatrais).
A.proposta.é.de.que.organize-se.um.evento,.convidando.os.principais.envolvidos.com.o.trabalho.(participantes.das.oficinas,.grupo.de.teatro,.formadores,.autoridades.locais,.representantes.da.comunidade.e.dos.
parceiros).e.nesta.ocasião.fazer.a.entrega.do.acervo.à(s).biblioteca(s).previamente.selecionada(s)..Pode-se,.
tornar.esse.momento.ainda.mais.rico,.convidando.o.grupo.de.teatro.para.apresentar-se..É.um.dia.de.festa,.
no.qual.o.município.celebra.o.investimento.na.formação.de.leitores.e.compartilha.a.experiência.de.fazer.
parte.de.um.projeto.que.vê.a.leitura.como.prioridade.
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Apostilas das oficinas de leitura
AnexoS
APoStiLA 1
oficinA 1 – mil e uma Leituras
Livros e leitura: agentes, espaços e formas narrativas
QUeStionÁrio De chegADA
Ouvi falar do Projeto Letras de Luz ...........................................................................
Estou chegando e espero que ....................................................................................
Já participava do Projeto e espero que ......................................................................
Eu atuo com..............................................................................................................
Penso que participar das oficinas me ajudará a .........................................................
Na minha participação anterior, aprendi ...................................................................
Meu último livro lido foi ...........................................................................................
Minhas leituras amadas são ......................................................................................
O que tenho feito para a formação de uma comunidade leitora ................................
objetivos:
• apresentar ou retomar histórico, conteúdos e objetivos do projeto;
•
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reconhecer a importância de projetos de leitura para as comunidades, sensibilizando e organizando o grupo
para as atividades propostas;
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36  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
•
•
•
•
•
•
refletir sobre as diferenças entre o leitor individual e o leitor público;
refletir sobre os diferentes propósitos e comportamentos leitores;
iniciar uma discussão sobre gêneros literários;
compreender e iniciar atividades ligadas ao projeto;
reconhecer a importância da biblioteca como um centro de leitura e difusão cultural;
promover gestos de aproximação e cumplicidade com o espaço da biblioteca.
conteúdos:
•
•
•
•
a literatura e seus primórdios: do mito à literatura;
os diferentes propósitos leitores e a relação com os diferentes comportamentos leitores;
a biblioteca: histórico, utilização, acervos e função cultural;
apresentação e discussão das atividades do Diário de Leitura.
Desenvolvimento
1. Abertura: boas-vindas e reconhecimento do grupo. O formador pode começar com uma contação de história ou uma leitura. Ler ou contar histórias na abertura de oficinas cumpre importantes funções: é modelo
para os participantes, cria um clima de cumplicidade entre todos e aumenta o leque de textos conhecidos.
Invariavelmente, as pessoas começam a trazer, com o decorrer da formação, seus textos para ler na abertura
e fechamento das oficinas.
É importante que o formador conheça o público participante, o que deseja, o que faz, seus anseios e sonhos.
Ao conhecer essas motivações é possível obter um breve panorama da realidade local e dos desafios que se
tem pela frente. Acima há um Questionário de Chegada, que pode servir de guia para essa apresentação. É
importante lembrar que precisamos recolher informação sobre o leitor na vida e leitor na escola/comunidade desde esse primeiro contato, pois essa discussão norteará todo o projeto.
2. Apresentação do projeto: caso seja a primeira vez que o projeto acontece na cidade, esse é o momento de
apresentar a iniciativa, sensibilizando o grupo para a proposta. Caso o município já tenha participado da
iniciativa, a conversa deve ser útil e prazerosa para que os participantes consigam perceber a abrangência
do projeto e o quanto já foi realizado.
O diálogo sobre leitura é indispensável: o que apreciam e costumam ler, as leituras inesquecíveis, as que
deixaram gosto amargo, as obrigatórias, as feitas para outros públicos. Aqui também é importante lembrar,
e instigar, que os participantes de edições anteriores possam falar dos livros lidos durante o projeto nos anos
anteriores, os livros que foram procurados da doação do acervo, aqueles que foram mais queridos. Enfim, é
momento importante de sabermos um pouco como esse projeto está interferindo na comunidade de leitores.
3. Apresentação dos conteúdos: fazer a leitura dos conteúdos e objetivos, questionando o que esperam e o que
sabem sobre eles. Para aqueles que já estavam no projeto, é importante investigar se conseguem visualizar as
mudanças introduzidas e no que elas contribuem na formação de uma comunidade leitora. Nesta apresentação de conteúdos, as questões-chave do projeto devem ser lembradas: o trabalho cada vez mais intenso na
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Apostilas das oficinas de leitura  37
formação de um leitor que se aprimore na sua leitura individual e na coletiva; que enfrente leituras diversificadas e que consiga falar delas e reconhecê-las dentro de um leque grande de produções; que saiba, cada vez
mais e melhor, escolher suas leituras dentro de parâmetros, necessidades e desejos bem definidos. Não se
pode, também, esquecer que nossa escolha pelo trabalho com gêneros em função da riqueza linguística e
literária e da preocupação com o conhecimento das diversas manifestações literárias que um acervo pode
conter e do qual não podemos manter alunos e demais leitores afastados.
4. Por que gêneros: o primeiro texto-farol da apostila, Narrativas iluminam, retoma um tema querido e já bastante trabalhado pelo projeto, que é o da necessidade de contar histórias, porém agora traz novas considerações, quais sejam, o nascimento da própria literatura e os gêneros literários. Quando leio um texto, estou
lendo um gênero específico. Acreditamos que diferentes gêneros e propósitos leitores solicitam diferentes
comportamentos leitores. Lê-se um poema de maneira diferente de uma crônica. Assim como a epopeia e o
cordel exigem leituras distintas. Reconhecer e trabalhar com essa diversidade é também pensarmos em autores, estilos e épocas que fazem parte da rica história da literatura. Cabe aqui uma rodada de conversa que
instigue os participantes a pensarem sobre esse tema, o que lembram de ter aprendido e lido. Quais livros
leram, como leram? Quais gêneros são conhecidos? O que sabem sobre eles?
5. Discussão sobre os propósitos leitores: hora de estudar e discutir como lemos, para que e para quem. O
texto Ler na vida, ler na escola/comunidade, que está no final desta apostila, trata dos propósitos leitores
que desejamos que os participantes discutam. O formador pode dividir os participantes em vários grupos
e propor a leitura de diferentes gêneros (contos, manuais, artigos, mapas, notícias, etc.), com diferentes
objetivos (ler para localizar uma informação precisa, ler para estabelecer relações entre diferentes textos,
ler para apreciar, ler para se informar, etc.). Em seguida, o grupo pode discutir as atividades leitoras que
são individuais ou coletivas e a maneira como o leitor se comporta diante de cada uma delas. O objetivo
é que os participantes percebam que não existe uma única forma de ler e que, no caso do nosso projeto,
ao longo de todas as oficinas, exercitaremos diferentes propósitos e comportamentos leitores, focando
alguns gêneros literários.
6. espaço biblioteca: à segunda parte da oficina é dedicada à Biblioteca e se possível realizada na Biblioteca,
espaço tão privilegiado de fomento à leitura. Pode-se começar a discussão com a leitura do texto A Sala dos
Livros Mortos, de Inácio de Loyola Brandão (O Estado de S.Paulo, 4/7/2008) ou de outro belo conto que
aborde o amor pelos livros e, após a leitura, os participantes podem responder ao questionário inspirador,
ambos ao final da apostila. Por tratar-se de um questionário mais afetivo que aferidor de dados, as respostas
podem ser dadas coletivamente, em voz alta, por aqueles que o desejarem; porém é muito importante que
todos o respondam para que cumpram essa breve análise do uso das bibliotecas de sua cidade. Uma atenção
especial deve ser dada ao responsável pela biblioteca local, que é convidado a falar do lugar, da quantidade
de livros, do funcionamento e outros dados que julgar importantes. Ele é nosso anfitrião! É importante questionar quais os livros mais queridos, mais retirados e lidos, quais os esquecidos.
7. o trabalho nas bibliotecas: a apostila propõe uma reflexão sobre bibliotecas a partir do texto Manifesto da
UNESCO, o qual pode ser lido coletivamente e “inspirar” uma boa conversa. O importante é pensar no espaço – afetiva e funcionalmente; – social e pedagogicamente. O objetivo maior dessa leitura e discussão é
refletir sobre o papel de cada um na valorização das bibliotecas escolares, públicas, particulares e daquelas
que se formam nos mais distintos lugares sob as também mais distintas condições.
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38  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Algumas sugestões de atividades a serem desenvolvidas, caso a oficina seja
realizada em uma biblioteca:
•
•
Organizar um sebo e feira de trocas em todas as oficinas;
Selecionar do acervo os livros, gêneros, autores e temas que serão tratados na
próxima oficina para possibilitar uma maior aproximação do participante com o
conteúdo;
•
Trabalhar na formação de um canal de comunicação entre todos os trabalhadores
•
•
Discutir o acervo, as oficinas, as possibilidades de troca;
•
Convidar participantes a fazer carteirinha de usuário, caso seja possível.
de bibliotecas e salas de leitura do projeto;
Manter um painel com notícias do projeto e das atividades literárias e culturais da
cidade;
8. Apresentação do projeto diários de leitura: como última parte do encontro, apresentamos atividades nas
quais possamos exercitar alguns conhecimentos e saberes discutidos na oficina e que complementem os
objetivos centrais do projeto. Nessa oficina, apresentamos os Diários de Leitura: proposta que dialoga
justamente com essa possibilidade de uma atividade que é bastante intimista e particular (como é, em
essência, esse tipo de escrita), mas que pode se tornar altamente coletiva e auxiliar a espalhar ideias sobre
livros e leitura por meio não só da oralidade, mas da escrita. Por que é importante fazer anotações em
diários? Eles são individuais ou coletivos? O que é possível aprender com os registros feitos pelos diários
que estão na apostila? Por onde circularam e circulam tais diários? Qual contribuição dos diários para as
atividades de leitura?
Ao responder coletivamente tais questões, o grupo pode eleger quais diários deseja fazer, se com o
grupo, se com os alunos, se com os pais. Importante não esquecer que o formador é sempre modelo e,
portanto, pode inaugurar uma página de um diário que ele fará do projeto ou das oficinas ou ainda
levar algumas outras sugestões de trabalho com diários que partam de sua própria experiência. Nesse
primeiro encontro, os participantes poderão iniciar seus diários escrevendo suas memórias leitoras,
contando seu processo de aprendizagem da leitura e da escrita, os primeiros livros lidos, experiências
marcantes, livros inesquecíveis, etc. Poderão também optar por iniciar seus diários redigindo uma Carta de intenções sobre o seu papel leitor, basedos em algumas reflexões, como: de que forma pretendo
avançar como leitor individual? De que forma posso melhorar minha atuação como leitor coletivo?
Muitos outros combinados podem ser feitos com e para essa atividade. Como circularão os diários?
Como serão preenchidos? Como se dará um uso social e coletivo a eles? São exemplos de questões
importantes. Uma dica que pode funcionar, caso se deseje fazer o diário do grupo, é que ele também
contenha trechos dos livros lidos ao longo do ano e que, assim, seja uma pequena antologia de textos
a ser compartilhada por muitos leitores.
9. Atividade final – mar de histórias: nosso encontro termina com o Mar de Histórias. Nesse primeiro dia,
estarão navegando no Mar os livros doados pela coordenação do projeto para esse encontro e outros títulos
que o formador levou para ilustrar a oficina.
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Apostilas das oficinas de leitura  39
Se o espaço da oficina for uma biblioteca pública e for possível retirar livros, os participantes podem colocar
os livros que levarão para leitura e fazer comentários dos motivos que os levaram à escolha daquele título. É
importante recomendar que os participantes procurem em casa e nos acervos que lhe são disponíveis livros de
crônicas para a próxima oficina. A atividade do Mar de Histórias deve servir de modelo para que os professores e demais participantes sintam-se inspirados a reproduzir em suas comunidades, sejam salas de aula ou não.
É importante lembrá-los de que os livros deverão ser lidos até o próximo encontro para que os participantes possam circular por todos os gêneros que serão abordados. Cabe aqui pensar em como essa leitura pode ser estimulada com cada grupo. Podem retirar outros títulos na biblioteca? Podem se valer do acervo dos anos anteriores?
Podem trocar com amigos e colegas de trabalho ao longo do ano? Como farão a socialização das leituras?
10. conto do grupo de teatro: procurando aproximar ainda mais as relações entre o trabalho dos grupos de
teatro e as oficinas de leitura, as apostilas trarão os contos que serão encenados ao longo do ano. Nesse
momento, o formador pode solicitar que alguém do grupo de teatro comente sobre o trabalho que está sendo desenvolvido com o texto e convidar o grupo a ler o conto escolhido. Nesse caso, como exemplo de
proposta, encontra-se ao final da apostila o texto O enfermeiro, de Machado de Assis, coletivamente como
despedida da oficina.
11. Anexo: o formador pode indicar para o próximo encontro a leitura do material produzido por outro projeto da
Fundação Victor Civita, o Projeto Entorno8. Essa leitura é a do texto da Ana Flávia Castanho Biblioteca de
sala:espaço de formação de leitores, que apresenta várias propostas de atividades (projeto, sequência, atividade
permanente) de leituras que podem ser realizadas em bibliotecas.
12. Avaliação: é importante fazer uma avaliação do encontro para identificar se os objetivos foram cumpridos, o que deve ser melhorado para os próximos encontros e se há novas sugestões. Vale incluir na avaliação questões voltadas para as ações de fomento à leitura, como leitor individual ou público,
desenvolvidas pelos participantes ou que estiveram presentes. A possibilidade de que todos se pronunciem é fundamental para que sejam atingidos bons resultados. Sempre que possível, a avaliação deve ser
feita por escrito.
13. Preparando o próximo encontro: prepara-se a turma para a segunda oficina, anunciando o tema que será
trabalhado (veja conteúdos no começo da apostila) e solicitando que tragam contribuições, orientando-os
para a socialização das reflexões dos diários de leitura que serão apresentadas para o grupo.
recomendações de bibliografia básica e sites interessantes
COELHO,.Nelly.Novaes..O conto de fada..2ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1991
Nelly.é.a.grande.especialista.de.Literatura.Infantil.e.Juvenil.da.USP.e.construiu.uma.pequena.obra.prima.sobre.o.
conto.de.fadas.e.o.conto.maravilhoso..Um.livro-pesquisa.fundamental.que.deu.origem.a.muitos.outros.estudos.posteriores..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.
MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997
O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..Neste.seu.livro.inaugural.sobre.o.tema,.Manguel.fala.dos.
movimentos.políticos,.sociais.e.culturais.nos.quais.o.livro,.ou.a.sua.falta,.exerceu.um.papel.fundamental..Como.ele.diz:.
“...a.leitura.é.a.mais.civilizada.das.paixões...”
8. http://www.fvc.org.br/projeto-entorno.shtml
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40  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
____A cidade das palavras. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.2008
Mais.um.belíssimo.livro.de.Manguel,.agora.investigando.o.motivo.pelo.qual.a.humanidade.continua.junta..É.a.literatura.que.vai.dar.algumas.respostas:.nas.histórias.que.contamos.para.saber.quem.somos..Uma.leitura.absolutamente.encantadora.
MATOS,.Gislayne.Avelar.e.SORSY,.Inno..O ofício do contador de histórias. 2ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.2007
Gislayne,.arte.terapeuta.brasileira.de.Minas.Gerais.e.Inno,.contadora.de.histórias.africana.se.juntaram.na.tarefa.de.
fazer.um.delicioso.e.importante.livro.sobre.a.arte.(e.necessidade).de.contar.histórias..Livro.traz.teoria.e.muitas....muitas....histórias.
SILVEIRA,.Julio.(org.)..A Paixão pelos livros..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.Casa.da.Palavra,.2004
Antologia.de.diversos.textos.e.autores,.em.diversas.épocas..Exemplos.singulares.de.manifestações.de.amor.aos.livros,.testemunhos.dos.prazeres.escondidos.nas.bibliotecas,.casos.de.paixão.explicita.pelo.livro.e.pela.leitura.
SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005
A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num.
esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos.textos.
literários..Pertence.a.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.
STALLONI,.Yves..Os Gêneros literários..1ª.ed..Rio.de.Janeiro,.DIFEL,.2001
Yves,.da.Universidade.de.Toulon.na.França,.discute.a.questão.dos.gêneros.e.pretende.que.o.leitor.reconheça-os.
dentro.de.uma.perspectiva.histórica.literária.e.também.da.crítica.analítica.
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Letras de luz.indd 40
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Apostilas das oficinas de leitura  41
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do.livros,.documentos,.imagens,.mapas.e.tudo.mais.que.necessite.ser.localizado..Totalmente.modular,.seus.recursos.
integram.e.automatizam.todas.as.funções.básicas.de.uma.biblioteca.como:.catalogação,.pesquisa,.reserva,.empréstimo.
e.aquisição.
textos citados na apostila da oficina 01
texto-farol: Narrativas iluminam, de celinha nascimento
Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto
Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e trata da importância das histórias na maneira como a humanidade foi se constituindo e se
compreendendo.
Você.certamente.já.ouviu.muitas.histórias.na.vida..O.tempo.todo.estamos.contando.histórias,.mesmo.que.
não.saibamos..Quando.dizemos.bom.dia,.como.vai.e.logo.começamos.a.contar.como.foi.nossa.manhã,.nos-
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42  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
so.dia.de.trabalho,.nosso.dia.em.casa,.o.que.fizemos.para.o.jantar,.o.que.compramos.no.mercado,.o.que.
disse.o.chefe,.o.que.ouvimos.no.rádio,.enfim,.nossa.existência.é.uma.extensa.e.ininterrupta.narrativa..É.praticamente.impossível.viver.sem.narrativas.
Antes.de.começar.a.ler.este.primeiro.texto.da.apostila.de.2009,.certamente.o.formador.já.contou.alguma.
história.para.começar.o.curso,.contou.a.história.do.Letras.de.Luz.nos.dois.anos.que.ele.aconteceu.e.contou.
alguma.história.de.si.mesma,.talvez.vocês.também.já.tenham.contado.o.que.estão.fazendo.aqui,.o.que.esperam.do.curso.e.tantas.outras.pequenas.histórias.
A.humanidade.sempre.precisou.de.histórias..Melhor.dizendo,.sempre.se.constitui.através.e.com.as.histórias.. Desde. que. começou. a. pintar. em. cavernas,. e. muito. provavelmente. antes. disso,. precisava. contar. e.
narrar..Nas.belas.palavras.do.escritor.Daniel.Pennac.em.seu.livro Como um romance:.“O.homem.escreve.livros.porque.se.sabe.mortal”..Precisa,.portanto,.guardá-las.bem,.gravá-las.para.posteridade.
Provavelmente.a.maneira.mais.ancestral.de.criar.e.cultivar.histórias.nos.chegue.através.dos.mitos,.das.
narrativas.mitológicas..Os.mitos.ocuparam.um.espaço.fundamental.na.vida.do.homem:.era.preciso.dar.respostas.para.o.cotidiano.e.as.narrativas.foram.um.caminho.de.beleza.e.confiança.para.solução.das.dúvidas,.
medos,.preocupações.e.curiosidades.do.homem..Os.mitos.cumpriam.uma.função.delirante.para.a.humanidade.que.não.conseguia.entender.as.maravilhas.e.sustos.que.os.cercavam..A.grandiosidade.e.a.hostilidade,.a.
exuberância.e.o.surpreendentemente.apavorante.conviviam.diária.e.cotidianamente.de.maneira.fascinante..
Como.entender.aquele.mundo.todo?
Os.mitos.sobreviveram.durante.séculos.e.séculos,.contados,.recriados,.explicavam.e.davam.beleza.ao.
mundo,.davam.harmonia.e.compreensão.a.um.caos.aparente..Num.indeterminado.tempo,.o.homem.começou,.em.especial.o.homem.grego,.a.filosofar..Começou.a.colocar.ciência.nas.coisas.que.via.e.desejava.entender.de.maneira.mais.ampla.e.complexa..A.ciência.começa.a.tomar.o.lugar.do.mito..Evidente.que.isso.
não.aconteceu.num.estalar.de.dedos,.nem.ocupou.de.maneira.rápida.toda.uma.existência.ditada.pelos.mitos..Mas.tem.início.uma.migração.de.ideias,.sentimentos.e.crenças..Talvez.possamos.dizer.que.nasce.a.
partir.dessa.nova.postura.do.homem.diante.do.mundo,.numa.mistura.bonita.e.infinita.de.realidade.e.ficção,.
de.verdade.e.não.verdade,.de.história.narrada,.contada,.vivida.e.desejada..Num.momento.precioso,.perdido.
no.tempo.que.pesquisadores.tentam.alcançar,.mas.que.reserva.seu.fascínio.e.seu.segredo,.surge.uma.nova.
forma.de.se.comunicar.e.acreditar.no.mundo:.começam.a.surgir.os.contos..Que.se.diferencia.do.que.então.
havia..Narrar.passa.a.ter.outra.função..A.divisão.entre.realidade.e.ficção.se.torna.mais.profunda..Narrar.
ainda.ilumina,.mas.com.outras.luzes,.com.outros.formatos.e.maneiras..Outras.narrativas.aparecem,.agora.
sim.completamente.inventadas.e.não.se.colocam.dúvidas.que.assim.sejam..É.a.passagem.do mito a razão.
que.deu.uma.nova.perspectiva.para.a.narrativa..Nascedouro.do.que.seria.a.literatura.propriamente.dita..Nas.
palavras.de.Gislayne.Avelar,.em.seu.livro.O oficio do contador de histórias: “como.nos.mitos,.os.contos.revelam.um.mundo.que.não.é.o.da.realidade.e.que.tem.sua.representação.no.inconsciente.coletivo.dos.povos..
Seu.conteúdo.é.arquetípico,.ou.seja,.formado.pelas.imagens.primordiais.ou.símbolos.comuns.a.toda.humanidade”.
Histórias.míticas,.vividas.ou.inventadas.tinham.(e.têm).objetivos.iguais..Preenchem.o.mundo.e.o.deixam.
mais.bonito,.mais.iluminado..Surgem.o.que.chamaríamos.depois.Conto.Maravilhoso.e.Conto.de.Fadas..
Junto.deles.já.se.ouviam.os.cantos,.a.poesia..E.nunca.mais.a.humanidade.deixou.de.contar.as.mais.diferentes.
histórias.e.também.foi.criando.maneiras.de.dizer.tais.narrativas..Jamais.abandonaram.a.ideia.de.poder.dizer.
tudo.que.viam.e.tudo.aquilo.que.não.viam,.mas.que.imaginavam.
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Apostilas das oficinas de leitura  43
Esta.prática.de.contar,.que.depois.se.torna.a.prática.de.escrever,.depois.de.publicar,.depois.de.estudar.
sofreu.tantas.e.tamanhas.mudanças.que.se.mistura,.evidentemente,.com.a.história.cultural.da.humanidade..
A.necessidade.de.dizer.coisas,.não.era.somente.a.necessidade.de.dizer.coisas,.mas.como.dizer.essas.coisas..
Forma.e.conteúdo.têm.um.casamento.antigo..Nasciam.assim.os.gêneros..Sua.importância.vem.sendo.discutida.desde.Platão.e.Aristóteles,.os.primeiros.a.catalogar.e.a.experimentar.uma.divisão.e.um.estudo..400.anos.
antes.de.Cristo!
Não.a.toa,.gênero.–.do.latim.genus-eris.–.significa.tempo.de.nascimento,.origem,.classe,.espécie,.geração.
Para.iluminar.nossa.discussão,.citamos.Nelly.Coelho,.especialista.na.história.das.histórias.em.seu.livro.O
Conto de Fadas..“Desde sempre o homem vem sendo seduzido pelas narrativas que, de maneira simbólica ou realista,
direta ou indiretamente, lhe falam da vida a ser vivida ou da própria condição humana, seja relacionada aos deuses,
seja limitada aos próprios homens. Entre as múltiplas causas capazes de explicar esse fascínio estaria o fato de que
provavelmente, desde as origens do tempo, o homem deve ter sentido a presença (ou a força) de poderes muito maiores do que sua própria vontade e poder pessoal ou de mistérios que o atingiam, sem que sua mente conseguisse explicar,
conhecer ou compreender. Mas, como sabemos, nenhum obstáculo consegue deter o ser humano. O desconhecido exerce
sobre ele um desafio constante. Assim, como a História nos mostra, desde os primórdios, os homens lançaram-se no
encalço do conhecimento e tentaram vencer os poderes e mistérios que ultrapassavam os limites daquilo que, neles, era
simplesmente humano..A literatura é, sem dúvida, uma das expressões mais significativas dessa ânsia permanente de
saber e de domínio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as épocas. Ânsia que permanece latente nas narrativas populares legadas pelo passado remoto. Fábulas, apólogos, parábolas, contos exemplares, mitos, lendas, sagas,
contos jocosos, romances, contos maravilhosos, contos de fadas...fazem parte dessa heterogênea matéria narrativa que
está na origem das literaturas modernas e guarda um determinado saber fundamental. Todas essas formas de narrar
pertencem ao caudal de narrativas nascidas entre os povos da Antiguidade, que, fundidas, confundidas, transformadas...se espalharam por toda parte e permanecem até hoje como uma rede, cobrindo todas as regiões do globo: o caudal
de literatura folclórica e de velhos textos novelescos que, apesar de terem origens comuns, assumem em cada nação um
caráter diferente”.
Fonte: O texto Narrativas iluminam foi escrito especialmente para esta apostila.
texto-farol: Ler na vida, ler na escola/comunidade,
de celinha nascimento
Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto
Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute o
papel dos leitores em diferentes espaços.
Muito.se.tem.escrito,.falado.e.discutido.sobre.os.prazeres.da.leitura,.sobre.as.conquistas.sociais.proporcionadas.pelos.livros,.por.tudo.que.podemos.aprender.e.nos.maravilhar.com.as.narrativas.e.com.os.mais.
diversos.mundos.que.as.histórias.fazem.chegar.até.nós.
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Muito.também.se.tem.discutido.sobre.a.liberdade.de.ler,.quesito.que.para.muitos.é.considerado.fundamental.quando.se.fala.em.escolha.de.livros..Especialistas,.professores.e.mesmo.pais.e.leigos.em.literatura.discutem.se.a.leitura.deve.ser.obrigatória,.se.cobrar.resultados.ou.quantidades.ajuda.ou.não.a.formar.
leitores..Sabemos.não.ter.a.resposta.pronta,.mesmo.porque.não.se.trata.de.uma.resposta.única.para.contextos.tão.variados.de.leitura,.que.dialogam.com.os.variados.grupos.sociais.e.culturais.como.a.escola.e.as.
famílias.
Apesar.de.não.adotarmos.ou.defendermos.uma.resposta.acabada,.acreditamos.num.formato.de.trabalho.
que,.sem.abandonar.a.liberdade.e.o.alto.grau.de.encantamento,.ou.seja,.nada.palpável.ou.mensurável,.se.
preocupa.com.a.qualidade.do.que.é.lido.e.com.os.espaços.diferentes.nos.quais.acontecem.as.leituras..Daí.
pensarmos.numa.diferença.entre.ler.na.vida.e.ler.na.escola/comunidade.
Escolher.livremente.as.leituras.está.na.esfera.do.ler na vida. Esta.sim,.leitura.sem.nenhum.compromisso,.que.a.ninguém.deve.ser.dado.nenhum.tipo.de.devolutiva,.ler.no.tempo.e.com.a.qualidade.que.é.
natural. desse. leitor.. Leitura. feita. para. nós. mesmos,. para. a. qual. podemos. escolher. apenas. biografias,.
apenas.um.autor,.um.tema,.um.gênero,.leituras.complexas.ou.as.mais.simples,.se.é.que.podemos.classificar.de.maneira.tão.breve.assim..Alguns.leitores.afirmam.que.esta.é.a.mais.prazerosa.de.todas,.já.que.
livre.de.qualquer.cobrança..Também.é.aquela.que.se.reserva.a.todo.público,.a.todas.as.idades.e.em.qualquer.situação.
Porém.quando.lemos.para.alguém.que.não.nós.mesmos,.precisamos.de.outro.conjunto.de.atitudes.e.experiências..Num.dizer.mais.científico,.uma.nova.postura.e.estética.
A.responsabilidade.de.uma.leitura.que.se.faz.para.um.outro.não.é.só.de.ler.por.prazer.e.se.deixar.encantar.pelas.narrativas..Ainda.que.sem.esta.finalidade,.talvez.não.valha.a.pena.ler.para.outro..Ler.na.escola/comunidade.representa.também.formar.leitores.que.possam,.dentro.de.um.leque.variado.e.amplo,.
escolher.seus.próprios.caminhos.e.também.reproduzir.atitudes.leitoras..Todos.sabemos.que.ensinamos.
bem.quando.sabemos.do.que.estamos.falando,.conhecemos.nosso.assunto..É.uma.tarefa.não.fácil,.pois.
precisamos.abrir.mão.de.nossos.gostos.pessoais,.de.nossas.escolhas.e.nos.manter.absolutamente.abertos.
para.outras.leituras,.que.nem.nos.pareçam.prazerosas..Não.podemos.ensinar.apenas.aquilo.que.gostamos,.
é.preciso.ler.também.o.que.não.gostamos,.o.que.criticamos,.o.que.não.nos.agrada..Nossos.alunos.precisam.
ter.contato.com.todo.tipo.de.texto.e.seus.gostos.podem.ser.bastante.distintos.dos.nossos..Além.disso,.é.
tarefa.do.professor.oferecer.uma.grande.diversidade.de.opções.na.qual.os.alunos.se.sintam.livres.e,.ao.
mesmo.tempo,.tentados..Mas.ainda.não.é.só:.é.preciso.aprender.a.ler.diferentes.tipos.de.texto.e.para.tal.o.
professor.precisa.se.preparar.cada.vez.mais,.tornar-se.um.aficionado.real.pela.leitura,.procurar.os.textos.
que.não.conhece.e.não.se.acostumar.num.único.tipo.de.texto..Como.dito.acima,.não.é.tarefa.fácil,.já.que.
nossa.tendência.primeira.é.seguir.em.busca.de.nossas.escolhas.e.dos.títulos.que.mais.gostamos,.que.mais.
nos.fazem.sentir.bem.
Esse.desafio.produz,.geral.e.inevitavelmente,.um.encontro.com.o.inusitado..Não.é.raro.ouvir.comentários.de.professores.e.demais.leitores.públicos.que.agregam.um.tanto.a.mais.na.sua.lista.de.livros.preferidos.
quando.se.lançam.a.uma.busca.por.novos.e.inusitados.títulos..O.leitor.coletivo,.o.leitor.público,.o.professor.
tem.a.responsabilidade.de.ser.um.leitor.mais.preparado.que.seus.ouvintes,.pode.e.sempre.aprende.com.eles,.
mas.deve.pesquisar.e.levar.a.cada.encontro.com.o.ouvinte,.um.conjunto.de.narrativas.que.se.distingam,.que.
formem.uma.lista.e.uma.coletânea.aberta.a.muitas.tendências..Diante.de.um.acervo.de.uma.sala.de.leitura,.
ou.de.uma.biblioteca.é.comum.procurarmos.por.aquilo.que.já.conhecemos.ou.nos.guiarmos.por.alguns.
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critérios.como.nome.do.autor,.ilustrações,.imagens.que.constituem.o.livro,.até.mesmo.somente.a.capa,.o.
tema,.a.espessura.do.livro,.a.quantidade.de.páginas..Tais.práticas.são.muito.comuns.e.acabam.por.repetir.as.
mesmas.práticas.de.nossos.alunos.quando.buscam.suas.leituras..Quem.procura.algo.absolutamente.inusitado?.Algo.que.nunca.imaginou.que.um.dia.pudesse.ler?.Assim.é.a.escolha.de.muitos.leitores..Esse.receio.
é.absolutamente.compreensível.e.legítimo,.pois.não.costumamos.nos.aproximar.do.desconhecido,.mas.a.
leitura.exige.essa.nova.postura..Não.gosto.de.biografia?.É.preciso.buscar.e.ler..Nunca.ouvi.falar.de.ensaio,.
que.gênero.será.esse?.É.para.lá.que.eu.vou..Histórias.em.Quadrinhos,.oh.não,.é.para.pequenos!.Será.que.
tenho.certeza.disso?
Podemos.também.colocar.nessa.discussão,o.item.da.qualidade.do.que.se.lê..Se.é.verdade.que.podemos.
aliar.liberdade.de.escolha.com.uma.boa.dose.de.ajuda.na.escolha,.também.podemos.e.devemos.(na.leitura.
na.escola/comunidade).nos.esforçarmos.para.atingir.cada.vez.graus.maiores.de.qualidade.daquilo.que.é.lido..
A.palavra.qualidade.assume.aqui.dois.significados.ou.duas.dimensões..A.primeira.delas.se.refere.ao.grau.de.
compreensão.e.apreensão.do.texto.lido..Nesta.dimensão,.queremos.indagar.não.apenas.se.a.leitura.é.autônoma,.se.é.rápida,.se.é.integral,.mas.questionamos.se.o.leitor.foi.capaz.de.mergulhar.com.intensidade.na.narrativa. e. consegue. extrair. dela. o. máximo. que. o. autor. escreveu.. Nunca. mergulhamos. numa. única. obra,. a.
leitura.sempre.nos.indica.novos.mundos.e.novas.leituras.e.é.isso.que.chamamos.de.extrair.o.máximo!.Outra.
dimensão.da.palavra.qualidade.se.refere.a.escolha.de.bons.textos..Dimensão.difícil.de.se.avaliar,.pois.chegamos.até.ela.não.só.com.um.bom.conhecimento.de.livros,.mas.com.o.exercício.constante.e.apaixonado.da.
leitura..Quanto.mais.se.lê.e.se.busca.novos.autores,.gêneros,.estilos.e.épocas;.quanto.menos.se.conforma.com.
que.já.foi.lido,.mais.se.ganha.experiência.para.qualificar.os.textos..A.opinião.e.julgamento.sobre.as.duas.
dimensões.da.qualidade.é.bastante.difícil.pois.necessita.de.um.alinhamento.entre.gostos.e.atividades.pessoais.e.coletivas.
Neste.ano,.vamos.exercitar.e.discutir.nossas.tarefas.como.leitor.na.vida.e.na.escola/comunidade.
Como.estou.me.saindo.nas.duas.atividades?.O.que.tenho.escolhido.para.ler.para.meus.alunos?.Tenho.me.
esforçado.para.pesquisar.títulos,.editoras,.gêneros.e.temas.que.desconheço?.Tenho.exigido.de.meus.alunos.
uma.postura.leitora.que.seja.exigente.consigo.mesma,.ou.seja,.que.persiga.uma.grande.abrangência.de.títulos.
e.que.perceba.a.riqueza.dessa.atividade?.Tenho.lembrado.que.posso.descobrir.outros.mundos.de.que.nem.
suspeitava?
Antes.de.fazer.uma.leitura.coletiva,.ou.seja,.uma.leitura.escolhida.para.um.grupo,.que.não.seja.apenas.
para.o.leitor-solitário,.podemos.tentar.esse.auto-questionário.
 Preparei a leitura antes de fazê-la?
 Conheço meu público? Sei como me comportar com ele e o que pedir em troca?
 Sei a qual gênero pertence o livro escolhido, que ideias traz, que temas discute?
 Já li algo sobre o autor, ilustrador, tradutor?
 Esta leitura me lembra outras narrativas?
 Por que escolhi este texto e não outro?
 Fiz comparações, procurei outros títulos que dialoguem com este escolhido?
 Posso e consigo falar do livro escolhido? Explorei suas imagens, li a apresentação, o prefácio, as orelhas,
explorei-o como um objeto e com “um todo” de informações?
 Procurei outras versões, outras traduções ou adaptações (se acaso existem)?
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46  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
 Conformei-me com a ideia de ler as mesmas leituras de todos os anos ou fui em busca de mais títulos para
deixar meu grupo mais sábio?
 Não descansei enquanto não tive certeza de reunir e procurar um elevado grau de excelência com a leitura
feita e com o que pude aprender lendo para mim e depois levando esta leitura para um outro público?
 Procurei o que não conhecia e mergulhei no seu conhecimento?
 A cada encontro existe um convite para que sua performance leitora fique ainda melhor. O que você poderia dizer de suas leituras experimentadas no dia de hoje?
Fonte: O texto foi escrito especialmente para esta apostila.
texto-farol: Leituras e leitores públicos,
de celinha nascimento
Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto
Letras de Luz. Este texto foi escrito especialmente para esta apostila e discute a
importância das leituras públicas na formação social e estética.
O.que.é.um.leitor.público?
É.um.leitor.muito.especial,.que.contraiu.um.vírus.terrível!
Esse.vírus.se.instala.no.leitor.e.faz.com.que.ele.não.consiga.guardar.só.para.si.as.emoções.e.conhecimentos.que.adquiriu.com.as.leituras.feitas,.com.os.livros.lidos..Ele.precisa,.urgente.e.ardentemente,.espalhar.para.
todos..E.faz.isso.através.de.leituras.coletivas,.diários,.cartas,.postais,.blogs,.e-mails.
A.figura.do.leitor.público.existe.desde.a.Idade.Média,.era.uma.necessidade.e.um.entretenimento..Nas.
palavras.de.Alberto.Manguel,.em.seu.maravilhoso.Uma história da.leitura.“Nas.cortes.e.nas.casas.mais.humildes,.os.livros.eram.lidos.em.voz.alta.para.familiares.e.amigos,.tanto.com.a.finalidade.de.instrução.quanto.
de.entretenimento..Leituras.públicas.informais. em. reuniões. não. programadas.eram. ocorrências.bastante.
comuns.no.século.XVII..Parando.numa.estalagem.durante.sua.busca.do.errante.Dom.Quixote,.o.padre.que.
queimou.tão.diligentemente.os.livros.da.biblioteca.do.cavaleiro.explica.aos.circunstantes.como.a.leitura.de.
novelas.de.cavalaria.afetou.a.mente.de.dom.Quixote..O.estalajadeiro.não.concorda.com.tal.afirmação,.confessando.que.gosta.muito.de.escutar.essas.histórias.em.que.o.herói.luta.valentemente.contra.gigantes,.estrangula.serpentes.monstruosas.e.derrota.sozinho.exércitos.enormes..Diz.ele:.na.época.da.colheita,.durante.as.
festividades,.muitos.trabalhadores.reúnem-se.aqui.e.há.sempre.uns.poucos.que.sabem.ler,.e.um.deles.pega.
um.desses.livros.nas.mãos.e.mais.de.trinta.amontoam-se.em.torno.dele,.e.ouvem-no.com.tanto.prazer.que.
nossos.cabelos.brancos.ficam.jovens.de.novo”.
Leituras.públicas.nunca.deixaram.de.existir..Professores.e.pais.são.leitores.públicos.e.qualquer.leitor.
que.o.desejar.pode.assumir.esta.tarefa.que.reúne.conhecimento.e.prazer..Ainda.nas.palavras.de.Manguel:.
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“Porque.ler.em.voz.alta.é.um.ato.privado,.a.escolha.do.material.de.leitura.deve.ser.socialmente.aceitável.
tanto.para.o.leitor.como.para.o.público..Ler.em.público.dá.ao.texto.versátil.uma.identidade.respeitável,.
um.sentido.de.unidade.no.tempo.e.uma.existência.no.espaço.que.ele.raramente.tem.nas.mãos.de.um.
leitor.solitário”.
O.projeto.Letras.de.luz.promove.intensamente.a.ideia.do.leitor.público.e.seu.objetivo.é.espalhar.atividades.de.leitura..Em.cada.encontro,.veremos.uma.proposta.de.atividade.dessa.leitura.que.estamos.chamando.
de.pública,.pois.se.espalha,.saindo.da.solidão.do.leitor.em.sua.casa.e.desejando.atingir.muitos.outros.leitores.
e.ouvintes.
São.essas.as.atividades.que.teremos.ao.longo.do.ano.
 1ª. Oficina – Os diários de leitura.
 2ª. Oficina – O leitor cronista.
 3ª. Oficina – A oralidade, o teatro e a leitura.
 4ª. Oficina – A leitura de imagens.
 5ª. Oficina – Os saraus poéticos.
Livros se espalham, sem sair do lugar... é a voz do leitor...
texto-farol: Os diários de leitura,
de celinha nascimento
Querido Diário...
Como.já.foram.importantes.as.anotações.particulares.quase.secretas.que.gerações.e.gerações.fizeram.em.
cadernos.escolhidos.e.escritos-preenchidos.como.um.amuleto!.A.importância.de.muitos.diários.foi.tamanha,.que.eles.se.tornaram.públicos,.lidos.por.milhares.de.leitores.e.trouxeram.a.tona.questões.das.quais.a.
história.oficial.viria.a.se.alimentar.
Como.não.lembrar.dos.diários.de.Anne.Frank.e.Zlata.Filipovic.para.entender.a.guerra.numa.perspectiva.juvenil?.Ou.não.valorar.a.contribuição.do.texto.febril.e.vivaz.de.Helena.Morley.no.final.do.século.XIX,.
único.documento.juvenil.desta.época?O.que.seria.das.pesquisas.cientificas.sem.os.diários.de.Darwin,.Einstein. e. todos. os. viajantes. naturalistas?. Recentemente. a. descoberta. dos. diários. de. Guimarães. Rosa. nos.
trouxe.a.figura.admirável.de.sua.esposa.Aracy.de.Carvalho.Guimarães.Rosa.que.ajudou.judeus.na.Segunda.
Guerra,.tornando-se.uma.heroína.para.eles..Nada.saberíamos.sem.as.anotações.preciosas.do.escritor..E.
tantos,.tantos.outros.diários.que.generosa.e.pacientemente.foram.escritos.para.nos.ajudar.a.entender.ainda.
mais.o.mundo.
Nossos.diários.serão.de.Leitura..Espaço.privilegiado.para.anotar.sobre. os.livros.lidos,. as. emoções,. as.
surpresas.e.até.as.tristezas.ou.os.livros.que.não.deram.prazer..Vamos.escrever.sobre.literatura.
Reunimos.aqui.alguns.exemplos.de.diários.para.inspirar.os.participantes..Muitas.outras.possibilidades.
podem.ser.pensadas.
Cabe.ao.grupo.decidir.que.formato.terá,.quem.serão.seus.escritores.e.seus.leitores.
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1. Diários da cidade de Lorena – São Paulo
 transcrição:
Nesse recesso em julho fui conhecer Parati-RJ. Entre as ruas do Centro Histórico, ouvi histórias sobre a cidade. Em um momento encontrei um artista vestido de escravo e que contava histórias sobre os escravos que
trabalhavam em Parati na época da escravidão. Adorei e aproveitei. Espero voltar lá.
2. Páginas de diário coletivo do Projeto Letras de Luz 2008 – escrito pelos professores Hamilson, Anizete,
Silvana, Margarida, Janete, Vanessa e Sirley, da cidade de Paranaíba, Mato Grosso do Sul, Escola Municipal
Major Francisco D. Dias. Os professores registravam suas atividades de contadores de histórias.
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3. Diário da professora rosana Sandrini da cidade de cachoeiro do itapemirim – espírito Santo
Obs: não.é.possível.fazer.toda.a.transcrição..Trata-se.de.alegre.texto.sobre.viagem.de.férias.e.as.leituras.
feitas.nos.lugares.visitados..Na.página.da.direita,.o.livro.comentado.é.Sociedade.Literária.e.a.Torta.de.Casca.de.Batata,.já.citado.
4. Diário coletivo – professores e alunos – da cidade de Ponta Porã – mato grosso do Sul
 transcrição:
Texto 1 – Acima da foto: “A leitura promove o desenvolvimento cognitivo da criança, que constitui o eixo
fundamental para a aquisição de escrita e o aprimoramento da capacidade simbólica”.
Texto 2 – Ao lado da foto: “O instante da leitura é revestido de uma mágica que não se repete”.
Texto 3 – Abaixo da foto: “Formar um bom leitor é mais que pôr um bom livro nas mãos de alguém. Há que
despertar, em quem lê, o prazer da leitura, prazer que resulta em encantamento, da emoção da descoberta,
da adesão a um ”mundo de papel” que nos ajuda a conceber e compreender o nosso próprio mundo”.
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50  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
QUeStionÁrio inSPirADor
1. Qual foi a última vez em que estive nessa biblioteca?............................................
2. Qual atividade realizei? .........................................................................................
3. Retirei livros para leitura ou pesquisa? ...................................................................
4. Com qual frequência venho à biblioteca? ..............................................................
5. O que sei sobre a história e o acervo dessa biblioteca? ..........................................
6. O que é, para mim, uma boa biblioteca? ...............................................................
7. Quais lembranças tenho de bibliotecas? Cheiros, cores, sensações, pessoas. .........
texto-farol:
O Manifesto UNESCO IFLA
O MANIFESTO UNESCO
PARA.BIBLIOTECAS.ESCOLARES
International.Federation.of.Librarians.Association/UNESCO
(FederaçãoInternacional.de.Associações.de.Bibliotecários/UNESCO),
A biblioteca escolar no ensino e aprendizagem para todos
A.biblioteca.escolar.(BE).propicia.informação.e.ideias.fundamentais.para.o.sucesso.de.seu.funcionamento.na.atual.sociedade,.baseada.na.informação.e.no.conhecimento..A.BE.habilita.os.estudantes.para.a.aprendizagem.ao.longo.da.vida.e.desenvolve.sua.imaginação,.preparando-os.para.viver.como.cidadãos.responsáveis.
A missão da biblioteca escolar
A.biblioteca.escolar.promove.serviços.de.apoio.à.aprendizagem.e.livros.aos.membros.da.comunidade.
escolar,.oferecendo-lhes.a.possibilidade.de.se.tornarem.pensadores.críticos.e.efetivos.usuários.da.informação,.
em.todos.os.formatos.e.meios..As.bibliotecas.escolares.ligam-se.às.mais.extensas.redes.de.bibliotecas.e.de.
informação,.em.observância.aos.princípios.do.Manifesto.Unesco.para.Biblioteca.Pública.
O.quadro.de.pessoal.da.biblioteca.constitui-se.em.suporte.ao.uso.de.livros.e.outras.fontes.de.informação,.
desde.obras.de.ficção.até.outros.tipos.de.documentos,.tanto.impressos.quanto.eletrônicos,.destinados.à.consulta.presencial.ou.remota..Este.acervo.se.complementa.e.se.enriquece.com.manuais,.obras.didáticas.e.metodológicas.
Está.comprovado.que.bibliotecários.e.professores,.ao.trabalharem.em.conjunto,.influenciam.o.desempenho.dos.estudantes.para.o.alcance.de.maior.nível.de.literacia.na.leitura.e.escrita,.aprendizagem,.resolução.de.
problemas,.uso.da.informação.e.das.tecnologias.de.comunicação.e.informação.
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Os.serviços.das.bibliotecas.escolares.devem.ser.oferecidos.igualmente.a.todos.os.membros.da.comunidade.escolar,.a.despeito.de.idade,.raça,.sexo,.religião,.nacionalidade,.língua.e.status.profissional.e.social..Serviços.
e.materiais.específicos.devem.ser.disponibilizados.a.pessoas.não.aptas.ao.uso.dos.materiais.comuns.da.biblioteca.
O.acesso.às.coleções.e.aos.serviços.deve.orientar-se.nos.preceitos.da.Declaração.Universal.de.direitos.e.
liberdade.do.homem,.das.Nações.Unidas,.e.não.deve.estar.sujeito.a.nenhuma.forma.de.censura.ideológica,.
política,.religiosa,.ou.a.pressões.comerciais.
financiamento, legislação e redes
A.biblioteca.escolar.é.essencial.a.qualquer.tipo.de.estratégia.de.longo.prazo.no.que.respeita.a.competências.a.leitura.e.escrita,.educação.e.informação.e.desenvolvimento.econômico,.social.e.cultural..A.responsabilidade.sobre.a.biblioteca.escolar.cabe.às.autoridades.locais,.regionais.e.nacionais,.portanto.deve.essa.agência.
ser.apoiada.por.política.e.legislação.específicas..Deve.também.contar.com.fundos.apropriados.e.substanciais.
para.pessoal.treinado,.materiais,.tecnologias.e.instalações..A.BE.deve.ser.grtauita.
A.biblioteca.escolar.é.parceira.imprescindível.para.atuação.em.redes.de.biblioteca.e.informação.tanto.em.
nível.local,.regional.como.nacional.
Os.objetivos.próprios.da.biblioteca.escolar.devem.ser.devidamente.reconhecidos.e.mantidos,.sempre.que.
ela.estiver.compartilhando.instalações.e.recursos.com.outros.tipos.de.biblioteca,.em.particular.com.a.biblioteca.pública.
os objetivos da biblioteca escolar
A.biblioteca.escolar.é.parte.integral.do.processo.educativo.
Para.o.desenvolvimento.da.literacia.e/ou.competência.na.leitura.e.escrita.e.no.uso.da.informação,.no.
ensino.e.aprendizagem,.na.cultura.e.nos.serviços.básicos.da.biblioteca.escolar,.é.essencial.o.cumprimento.dos.
seguintes.objetivos:
 apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais definidos na missão e no currículo da escola;
 desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos
recursos da biblioteca ao longo da vida;
 oferecer oportunidade de vivências destinadas à produção e ao uso da informação voltada ao conhecimento, à compreensão, à imaginação e ao entretenimento;
 apoiar todos os estudantes na aprendizagem e na prática da habilidades para avaliar e usar a informação,
em suas variadas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos;
 prover acesso em nível local, regional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os
aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões;
 organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como de sensibilidade;
 trabalhar em conjunto com estudantes, professores, administradores e pais, para o alcance final da missão
e dos objetivos da escola;
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 proclamar o conceito de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são pontos fundamentais à
formação de cidadania responsável e ao exercício da democracia;
 promover leitura, recursos e serviços da biblioteca escolar na comunidade escolar e ao seu derredor.
À.biblioteca.escolar.cumpre.exercer.todas.essas.funções,.por.meio.de.políticas.e.serviços;.seleção.e.aquisição.de.recursos;.provimento.do.acesso.físico.e.intelectual.a.fontes.adequadas.de.informação;.fornecimento.
de.instalações.voltadas.à.instrução;.contratação.de.pessoal.treinado.
O.presente.manifesto.foi.preparado.pela.IFLA.e.aprovado.pela.UNESCO.em.sua.Conferência.Geral.de.
novembro.de.1999..Edição.em.língua.portuguesa.para.o.Brasil,.de.autoria.da.professora.doutora.Neusa.Dias.
de.Macedo.
conto já encenado por grupos de teatro do Projeto Letras de Luz
O enfermeiro
(machado de Assis)
O texto a seguir foi escolhido para ser o primeiro conto encenado pelo grupo
de teatro formado pelo Projeto em 2010. Trata-se de um dos contos mais famosos
do célebre escritor brasileiro Machado de Assis. Narrado em primeira pessoa a um
interlocutor imaginário, o texto trata da conflituosa relação entre um coronel rabugento e seu último enfermeiro.
Parece-lhe.então.que.o.que.se.deu.comigo.em.1860,.pode.entrar.numa.página.de.livro?.Vá.que.seja,.com.
a.condição.única.de.que.não.há.de.divulgar.nada.antes.da.minha.morte..Não.esperará.muito,.pode.ser.que.
oito.dias,.se.não.for.menos;.estou.desenganado.
Olhe,.eu.podia.mesmo.contar-lhe.a.minha.vida.inteira,.em.que.há.outras.cousas.interessantes,.mas.para.
isso.era.preciso.tempo,.ânimo.e.papel,.e.eu.só.tenho.papel;.o.ânimo.é.frouxo,.e.o.tempo.assemelha-se.à.lamparina.de.madrugada..Não.tarda.o.sol.do.outro.dia,.um.sol.dos.diabos,.impenetrável.como.a.vida..Adeus,.
meu.caro.senhor,.leia.isto.e.queira-me.bem;.perdoe-me.o.que.lhe.parecer.mau,.e.não.maltrate.muito.a.arruda,.se.lhe.não.cheira.a.rosas..Pediu-me.um.documento.humano,.ei-lo.aqui..Não.me.peça.também.o.império.
do.Grão-Mogol..nem.a.fotografia.dos.Macabeus;.peça,.porém,.os.meus.sapatos.de.defunto.e.não.os.dou.a.
ninguém.mais.
Já.sabe.que.foi.em.l860..No.ano.anterior,.ali.pelo.mês.de.agosto,.tendo.eu.quarenta.e.dois.anos,.fiz-me.
teólogo..–.quero.dizer,.copiava.os.estudos.de.teologia.de.um.padre.de.Niterói,.antigo.companheiro.de.colégio,.que.assim.me.dava,.delicadamente,.casa,.cama.e.mesa..Naquele.mês.de.agosto.de.1859,.recebeu.ele.uma.
carta.de.um.vigário.de.certa.vila.do.interior,.perguntando.se.conhecia.pessoa.entendida,.discreta.e.paciente,.
que.quisesse.ir.servir.de.enfermeiro.ao.Coronel.Felisberto,.mediante.um.bom.ordenado..O.padre.falou-me,.
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aceitei.com.ambas.as.mãos,.estava.já.enfarado.de.copiar.citações.latinas.e.fórmulas.eclesiásticas..Vim.à.corte.
despedir-me.de.um.irmão,.e.segui.para.a.vila.
Chegando.à.vila,.tive.más.notícias.do.coronel..Era.homem.insuportável,.estúrdio,.exigente,.ninguém.o.
aturava,. nem. os. próprios. amigos.. Gastava. mais. enfermeiros. que. remédios.. A. dous. deles. quebrou. a. cara..
Respondi.que.não.tinha.medo.de.gente.sã,.menos.ainda.de.doentes;.e.depois.de.entender-me.com.o.vigário,.
que.me.confirmou.as.notícias.recebidas,.e.me.recomendou.mansidão.e.caridade,.segui.para.a.residência.do.
coronel.
Achei-o.na.varanda.da.casa.estirado.numa.cadeira,.bufando.muito..Não.me.recebeu.mal..Começou.por.
não.dizer.nada;.pôs.em.mim.dous.olhos.de.gato.que.observa;.depois,.uma.espécie.de.riso.maligno.alumino-lhe.as.feições,.que.eram.duras..Afinal,.disse-me.que.nenhum.dos.enfermeiros.que.tivera,.prestava.para.nada,.
dormiam.muito,.eram.respondões.e.andavam.ao.faro.das.escravas;.dous.eram.até.gatunos!
–.Você.é.gatuno?
–.Não,.senhor.
Em.seguida,.perguntou-me.pelo.nome:.disse-lho.e.ele.fez.um.gesto.de.espanto..Colombo?.Não,.senhor:.
Procópio.José.Gomes.Valongo..Valongo?.achou.que.não.era.nome.de.gente,.e.propôs.chamar-me.tão-somente.Procópio,.ao.que.respondi.que.estaria.pelo.que.fosse.de.seu.agrado..Conto-lhe.esta.particularidade,.
não.só.porque.me.parece.pintá-lo.bem,.como.porque.a.minha.resposta.deu.de.mim.a.melhor.ideia.ao.coronel..Ele.mesmo.o.declarou.ao.vigário,.acrescentando.que.eu.era.o.mais.simpático.dos.enfermeiros.que.tivera.
A.verdade.é.que.vivemos.uma.lua-de-mel.de.sete.dias..No.oitavo.dia,.entrei.na.vida.dos.meus.predecessores,.uma.vida.de.cão,.não.dormir,.não.pensar.em.mais.nada,.recolher.injúrias,.e,.às.vezes,.rir.delas,.com.um.
ar.de.resignação.e.conformidade;.reparei.que.era.um.modo.de.lhe.fazer.corte..Tudo.impertinências.de.moléstia.e.do.temperamento..A.moléstia.era.um.rosário.delas,.padecia.de.aneurisma,.de.reumatismo.e.de.três.
ou.quatro.afeições.menores..Tinha.perto.de.sessenta.anos,.e.desde.os.cinco.toda.a.gente.lhe.fazia.a.vontade..
Se.fosse.só.rabugento,.vá;.mas.ele.era.também.mau,.deleitava-se.com.a.dor.e.a.humilhação.dos.outros..No.
fim.de.três.meses.estava.farto.de.o.aturar;.determinei.vir.embora;.só.esperei.ocasião.
Não.tardou.a.ocasião..Um.dia,.como.lhe.não.desse.a.tempo.uma.fomentação,.pegou.da.bengala.e.atirou-me.dous.ou.três.golpes..Não.era.preciso.mais;.despedi-me.imediatamente,.e.fui.aprontar.a.mala..Ele.foi.ter.
comigo,.ao.quarto,.pediu-me.que.ficasse,.que.não.valia.a.pena.zangar.por.uma.rabugice.de.velho..Instou.
tanto.que.fiquei.
–.Estou.na.dependura,.Procópio,.dizia-me.ele.à.noite;.não.posso.viver.muito.tempo..Estou.aqui,.estou.na.
cova..Você.há.de.ir.ao.meu.enterro,.Procópio;.não.o.dispenso.por.nada..Há.de.ir,.há.de.rezar.ao.pé.da.minha.
sepultura..Se.não.for,.acrescentou.rindo,.eu.voltarei.de.noite.para.lhe.puxar.as.pernas..Você.crê.em.almas.de.
outro.mundo..Procópio?
–.Qual.o.quê!
–.E.por.que.é.que.não.há.de.crer,.seu.burro?.redargüiu.vivamente,.arregalando.os.olhos.
Eram.assim.as.pazes;.imagine.a.guerra..Coibiu-se.das.bengaladas;.mas.as.injúrias.ficaram.as.mesmas,.se.
não.piores..Eu,.com.o.tempo,.fui.calejando,.e.não.dava.mais.por.nada;.era.burro,.camelo,.pedaço.d’asno,.
idiota,.moleirão,.era.tudo..Nem,.ao.menos,.havia.mais.gente.que.recolhesse.uma.parte.desses.nomes..Não.
tinha.parentes;.tinha.um.sobrinho.que.morreu.tísico,.em.fins.de.maio.ou.princípios.de.julho,.em.Minas..Os.
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amigos.iam.por.lá.às.vezes.aprová-lo,.aplaudi-lo,.e.nada.mais;.cinco,.dez.minutos.de.visita..Restava.eu;.era.
eu.sozinho.para.um.dicionário.inteiro..Mais.de.uma.vez.resolvi.sair;.mas,.instado.pelo.vigário,.ia.ficando.
Não.só.as.relações.foram-se.tornando.melindrosas,.mas.eu.estava.ansioso.por.tornar.à.Corte..Aos.quarenta.
e.dous.anos.não.é.que.havia.de.acostumar-me.à.reclusão.constante,.ao.pé.de.um.doente.bravio,.no.interior..Para.
avaliar.o.meu.isolamento,.basta.saber.que.eu.nem.lia.os.jornais;.salvo.alguma.notícia.mais.importante.que.levavam.ao.coronel,.eu.nada.sabia.do.resto.do.mundo..Entendi,.portanto,.voltar.para.a.Corte,.na.primeira.ocasião,.
ainda.que.tivesse.de.brigar.com.o.vigário..Bom.é.dizer.(visto.que.faço.uma.confissão.geral).que,.nada.gastando.
e.tendo.guardado.integralmente.os.ordenados,.estava.ansioso.por.vir.dissipá-los.aqui.
Era.provável.que.a.ocasião.aparecesse..O.coronel.estava.pior,.fez.testamento,.descompondo.o.tabelião,.
quase.tanto.como.a.mim..O.trato.era.mais.duro,.os.breves.lapsos.de.sossego.e.brandura.faziam-se.raros..Já.por.
esse.tempo.tinha.eu.perdido.a.escassa.dose.de.piedade.que.me.fazia.esquecer.os.excessos.do.doente;.trazia.
dentro.de.mim.um.fermento.de.ódio.e.aversão..No.princípio.de.agosto.resolvi.definitivamente.sair;.o.vigário.
e.o.médico,.aceitando.as.razões,.pediram-meque.ficasse.algum.tempo.mais..Concedi-lhes.um.mês;.no.fim.de.
um.mês.viria.embora,.qualquer.que.fosse.o.estado.do.doente..O.vigário.tratou.de.procurar.-me.substituto.
Vai.ver.o.que.aconteceu..Na.noite.de.vinte.e.quatro.de.agosto,.o.coronel.teve.um.acesso.de.raiva,.atropelou-me,.disse-me.muito.nome.cru,.ameaçou-me.de.um.tiro,.e.acabou.atirando-me.um.prato.de.mingau,.que.
achou.frio;.o.prato.foi.cair.na.parede,.onde.se.fez.em.pedaços.
–.Hás.de.pagá-lo,.ladrão!.bradou.ele.
Resmungou.ainda.muito.tempo..Às.onze.horas.passou.pelo.sono..Enquanto.ele.dormia,.saquei.um.livro.
do.bolso,.um.velho.romance.de.d’Arlincourt,.traduzido,.que.lá.achei,.e.pus-me.a.lê-lo,.no.mesmo.quarto,.a.
pequena.distância.da.cama;.tinha.de.acordá-lo.à.meia-noite.para.lhe.dar.o.remédio..Ou.fosse.de.cansaço,.ou.
do.livro,.antes.de.chegar.ao.fim.da.segunda.página.adormeci.também..Acordei.aos.gritos.do.coronel,.e.levantei-me.estremunhado..Ele,.que.parecia.delirar,.continuou.nos.mesmos.gritos,.e.acabou.por.lançar.mão.da.
moringa.e.arremessá-la.contra.mim..Não.tive.tempo.de.desviar-me;.a.moringa.bateu-me.na.face.esquerda,.
e.tal.foi.a.dor.que.não.vi.mais.nada;.atirei-me.ao.doente,.pus-lhe.as.mãos.ao.pescoço,.lutamos,.e.esganei-o.
Quando.percebi.que.o.doente.expirava,.recuei.aterrado,.e.dei.um.grito;.mas.ninguém.me.ouviu..Voltei.à.
cama,.agitei-o.para.chamá-lo.à.vida,.era.tarde;.arrebentara.o.aneurisma,.e.o.coronel.morreu..Passei.à.sala.contígua,.e.durante.duas.horas.não.ousei.voltar.ao.quarto..Não.posso.mesmo.dizer.tudo.o.que.passei,.durante.esse.
tempo..Era.um.atordoamento,.um.delírio.vago.e.estúpido..Parecia-me.que.as.paredes.tinham.vultos;.escutava.
uma.vozes.surdas..Os.gritos.da.vítima,.antes.da.luta.e.durante.aluta,.continuavam.a.repercutir.dentro.de.mim,.
e.o.ar,.para.onde.quer.que.me.voltasse,.aparecia.recortado.de.convulsões..Não.creia.que.esteja.fazendo.imagens.
nem.estilo;.digo-lhe.que.eu.ouvia.distintamente.umas.vozes.que.me.bradavam:.assassino!.assassino!
Tudo.o.mais.estava.calado..O.mesmo.som.do.relógio,.lento,.igual.e.seco,.sublinhava.o.silêncio.e.a.solidão..
Colava.a.orelha.à.porta.do.quarto.na.esperança.de.ouvir.um.gemido,.uma.palavra,.uma.injúria,.qualquer.
cousa.que.significasse.a.vida,.e.me.restituísse.a.paz.à.consciência..Estaria.pronto.a.apanhar.das.mãos.do.
coronel,.dez,.vinte,.cem.vezes..Mas.nada,.nada;.tudo.calado..Voltava.a.andar.à.toa,.na.sala,.sentava-me,.punha.
as.mãos.na.cabeça;.arrependia-me.de.ter.vindo..–”Maldita.a.hora.em.que.aceitei.semelhante.cousa!”.exclamava..E.descompunha.o.padre.de.Niterói,.o.médico,.o.vigário,.os.que.me.arranjaram.um.lugar,.e.os.que.me.
pediram.para.ficar.mais.algum.tempo..Agarrava-me.à.cumplicidade.dos.outros.homens.
Como.o.silêncio.acabasse.por.aterrar-me,.abri.uma.das.janelas,.para.escutar.o.som.do.vento,.se.ventasse..
Não.ventava..A.noite.ia.tranqüila,.as.estrelas.fulguravam,.com.a.indiferença.de.pessoas.que.tiram.o.chapéu.a.
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um.enterro.que.passa,.e.continuam.a.falar.de.outra.cousa..Encostei-me.ali.por.algum.tempo,.fitando.a.noite,.
deixando-me.ir.a.urna.recapitulação.da.vida,.a.ver.se.descansava.da.dor.presente..Só.então.posso.dizer.que.
pensei.claramente.no.castigo..Achei-me.com.um.crime.às.costas.e.vi.a.punição.certa..Aqui.o.temor.complicou.
o.remorso..Senti.que.os.cabelos.me.ficavam.de.pé..Minutos.depois,.vi.três.ou.quatro.vultos.de.pessoas,.no.
terreiro,.espiando,.com.um.ar.de.emboscada;.recuei,.os.vultos.esvaíram-se.no.ar;.era.uma.alucinação.
Antes.do.alvorecer.curei.a.contusão.da.face..Só.então.ousei.voltar.ao.quarto..Recuei.duas.vezes,.mas.era.
preciso.e.entrei;.ainda.assim,.não.cheguei.logo.à.cama..Tremiam-me.as.pernas,.o.coração.batia-me;.cheguei.
a.pensar.na.fuga;.mas.era.confessar.o.crime,.e,.ao.contrário,.urgia.fazer.desaparecer.os.vestígios.dele..Fui.até.
a.cama;.vi.o.cadáver,.com.os.olhos.arregalados.e.a.boca.aberta,.como.deixando.passar.a.eterna.palavra.dos.
séculos:.“Caim,.que.fizeste.de.teu.irmão?”.Vi.no.pescoço.o.sinal.das.minhas.unhas;.abotoei.alto.a.camisa.e.
cheguei.ao.queixo.a.ponta.do.lençol..Em.seguida,.chamei.um.escravo,.disse-lhe.que.o.coronel.amanhecera.
morto;.mandei.recado.ao.vigário.e.ao.médico.
A.primeira.ideia.foi.retirar-me.logo.cedo,.a.pretexto.de.ter.meu.irmão.doente,.e,.na.verdade,.recebera.
carta.dele,.alguns.dias.antes,.dizendo-me.que.se.sentia.mal..Mas.adverti.que.a.retirada.imediata.poderia.
fazer.despertar.suspeitas,.e.fiquei..Eu.mesmo.amortalhei.o.cadáver,.com.o.auxílio.de.um.preto.velho.e.míope..Não.saí.da.sala.mortuária;.tinha.medo.de.que.descobrissem.alguma.cousa..Queria.ver.no.rosto.dos.outros.
se.desconfiavam;.mas.não.ousava.fitar.ninguém..Tudo.me.dava.impaciências:.os.passos.de.ladrão.com.que.
entravam.na.sala,.os.cochichos,.as.cerimônias.e.as.rezas.do.vigário..Vindo.a.hora,.fechei.o.caixão,.com.as.
mãos.trêmulas,.tão.trêmulas.que.uma.pessoa,.que.reparou.nelas,.disse.a.outra.com.piedade:
–.Coitado.do.Procópio!.apesar.do.que.padeceu,.está.muito.sentido.
Pareceu-me.ironia;.estava.ansioso.por.ver.tudo.acabado..Saímos.à.rua..A.passagem.da.meia-escuridão.da.
casa.para.a.claridade.da.rua.deu-me.grande.abalo;.receei.que.fosse.então.impossível.ocultar.o.crime..Meti.os.
olhos.no.chão,.e.fui.andando..Quando.tudo.acabou,.respirei..Estava.em.paz.com.os.homens..Não.o.estava.
com.a.consciência,.e.as.primeiras.noites.foram.naturalmente.de.desassossego.e.aflição..Não.é.preciso.dizer.
que.vim.logo.para.o.Rio.de.Janeiro,.nem.que..vivi.aqui.aterrado,.embora.longe.do.crime;.não.ria,.falava.pouco,.mal.comia,.tinha.alucinações,.pesadelos...
–.Deixa.lá.o.outro.que.morreu,.diziam-me..Não.é.caso.para.tanta.melancolia.
E.eu.aproveitava.a.ilusão,.fazendo.muitos.elogios.ao.morto,.chamando-lhe.boa.criatura,.impertinente,.é.
verdade,.mas.um.coração.de.ouro..E,.elogiando,.convencia-me.também,.ao.menos.por.alguns.instantes..Outro.fenômeno.interessante,.e.que.talvez.lhe.possa.aproveitar,.é.que,.não.sendo.religioso,.mandei.dizer.uma.
missa.pelo.eterno.descanso.do.coronel,.na.igreja.do.Sacramento..Não.fiz.convites,.não.disse.nada.a.ninguém;.
fui.ouvi-la,.sozinho,.e.estive.de.joelhos.todo.o.tempo,.persignando-me.a.miúdo..Dobrei.a.espórtula.do.padre,.
e.distribuí.esmolas.à.porta,.tudo.por.intenção.do.finado..Não.queria.embair.os.homens;.a.prova.é.que.fui.só..
Para. completar. este. ponto,. acrescentarei. que. nunca. aludia. ao. coronel,. que. não. dissesse:. “Deus. lhe. fale.
n’alma!”.E.contava.dele.algumas.anedotas.alegres,.rompantes.engraçados...
Sete.dias.depois.de.chegar.ao.Rio.de.Janeiro,.recebi.a.carta.do.vigário,.que.lhe.mostrei,.dizendo-me.que.
fora.achado.o.testamento.do.coronel,.e.que.eu.era.o.herdeiro.universal..Imagine.o.meu.pasmo.
Pareceu-me.que.lia.mal,.fui.a.meu.irmão,.fui.aos.amigos;.todos.leram.a.mesma.cousa..Estava.escrito;.era.
eu.o.herdeiro.universal.do.coronel..Cheguei.a.supor.que.fosse.uma.cilada;.mas.adverti.logo.que.havia.outros.
meios.de.capturar-me,.se.o.crime.estivesse.descoberto..Demais,.eu.conhecia.a.probidade.do.vigário,.que.não.
se.prestaria.a.ser.instrumento..Reli.a.carta,.cinco,.dez,.muitas.vezes;.lá.estava.a.notícia.
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56  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
–.Quanto.tinha.ele?.perguntava-me.meu.irmão.
–.Não.sei,.mas.era.rico.
–.Realmente,.provou.que.era.teu.amigo.
–.Era....Era...
Assim,.por.uma.ironia.da.sorte,.os.bens.do.coronel.vinham.parar.às.minhas.mãos..Cogitei.em.recusar.a.
herança..Parecia-me.odioso.receber.um.vintém.do.tal.espólio;.era.pior.do.que.fazer-me.esbirro.alugado,.
Pensei.nisso.três.dias,.e.esbarrava.sempre.na.consideração.de.que.a.recusa.podia.fazer.desconfiar.alguma.
cousa..No.fim.dos.três.dias,.assentei.num.meio-termo;.receberia.a.herança.e.dá-la-ia.toda,.aos.bocados.e.às.
escondidas..Não.era.só.escrúpulo;.era.também.o.modo.de.resgatar.o.crime.por.um.ato.de.virtude;.pareceu-me.que.ficava.assim.de.contas.saldas.
Preparei-me.e.segui.para.a.vila..Em.caminho,.à.proporção.que.me.ia.aproximando,.recordava.o.triste.
sucesso;.as.cercanias.da.vila.tinham.um.aspecto.de.tragédia,.e.a.sombra.do.coronel.parecia-me.surgir.de.cada.
lado..A.imaginação.ia.reproduzindo.as.palavras,.os.gestos,.toda.a.noite.horrenda.do.crime...
Crime.ou.luta?.Realmente,.foi.uma.luta.em.que.eu,.atacado,.defendi-me,.e.na.defesa....Foi.uma.luta.desgraçada,.uma.fatalidade..Fixei-me.nessa.ideia..E.balanceava.os.agravos,.punha.no.ativo.as
pancadas,.as.injúrias....Não.era.culpa.do.coronel,.bem.o.sabia,.era.da.moléstia,.que.o.tornava.assim.rabugento.e.até.mau....Mas.eu.perdoava.tudo,.tudo....O.pior.foi.a.fatalidade.daquela.noite....Considerei.também.
que.o.coronel.não.podia.viver.muito.mais;.estava.por.pouco;.ele.mesmo.o.sentia.e.dizia..Viveria.quanto?.
Duas.semanas,.ou.uma;.pode.ser.até.que.menos..Já.não.era.vida,.era.um.molambo.de.vida,.se.isto.mesmo.se.
podia.chamar.ao.padecer.contínuo.do.pobre.homem....E.quem.sabe.mesmo.se.a.luta.e.a.morte.não.foram.
apenas.coincidentes?.Podia.ser,.era.até.o.mais.provável;.não.foi.outra.cousa..Fixei-me.também.nessa.ideia...
Perto.da.vila.apertou-se-me.o.coração,.e.quis.recuar;.mas.dominei-me.e.fui..Receberam-me.com.parabéns..O.vigário.disse-me.as.disposições.do.testamento,.os.legados.pios,.e.de.caminho.ia.louvando.a.mansidão.cristã.e.o.zelo.com.que.eu.servira.ao.coronel,.que,.apesar.de.áspero.e.duro,.souber.ser.grato.
–.Sem.dúvida,.dizia.eu.olhando.para.outra.parte.
Estava.atordoado..Toda.a.gente.me.elogiava.a.dedicação.e.a.paciência..As.primeiras.necessidades.do.inventário.detiveram-me.algum.tempo.na.vila..Constituí.advogado;.as.cousas.correram.placidamente..Durante.esse.tempo,.falava.muita.vez.do.coronel..Vinham.contar-me.cousas.dele,.mas.sem.a.moderação.do.padre;.
eu.defendia-o,.apontava.algumas.virtudes,.era.austero...
–.Qual.austero!.Já.morreu,.acabou;.mas.era.o.diabo.
E.referiam-me.casos.duros,.ações.perversas,.algumas.extraordinárias..Quer.que.lhe.diga?.Eu,.a.princípio,.
ia.ouvindo.cheio.de.curiosidade;.depois,.entrou-me.no.coração.um.singular.prazer,.que.eu,.sinceramente.
buscava.expelir..E.defendia.o.coronel,.explicava-o,.atribuía.alguma.cousa.às.rivalidades.locais;.confessava,.
sim,.que.era.um.pouco.violento....Um.pouco?.Era.uma.cobra.assanhada,.interrompia-me.o.barbeiro;.e.todos,.
o.coletor,.o.boticário,.o.escrivão,.todos.diziam.a.mesma.cousa;.e.vinham.outras.anedotas,.vinha.toda.a.vida.
do.defunto..Os.velhos.lembravam-se.das.crueldades.dele,.em.menino..E.o.prazer.íntimo,.calado,.insidioso,.
crescia.dentro.de.mim,.espécie.de.tênia.moral,.que.por.mais.que.a.arrancasse.aos.pedaços,.recomponha-se.
logo.e.ia.ficando.
As.obrigações.do.inventário.distraíram-me;.e.por.outro.lado.a.opinião.da.vila.era.tão.contrária.ao.coronel,.
que.a.vista.dos.lugares.foi.perdendo.para.mim.a.feição.tenebrosa.que.a.princípio.achei.neles..Entrando.na.
posse.da.herança,.converti-a.em.títulos.e.dinheiro..Eram.então.passados.muitos.meses,.e.a.ideia.de.distribuí-
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Apostilas das oficinas de leitura  57
-la.toda.em.esmolas.e.donativos.pios.não.me.dominou.como.da.primeira.vez;.achei.mesmo.que.era.afetação..
Restringi.o.plano.primitivo;.distribuí.alguma.cousa.aos.pobres,.dei.à.matriz.da.vila.uns.paramentos.novos,.
fiz.uma.esmola.à.Santa.Casa.da.Misericórdia,.etc.:.ao.todo.trinta.e.dous.contos..Mandei.também.levantar.
um.túmulo.ao.coronel,.todo.de.mármore,.obra.de.um.napolitano,.que.aqui.esteve.até.1866,.e.foi.morrer,.creio.
eu,.no.Paraguai.
Os.anos.foram.andando,.a.memória.tornou-se.cinzenta.e.desmaiada..Penso.às.vezes.no.coronel,.mas.
sem.os.terrores.dos.primeiros.dias..Todos.os.médicos.a.quem.contei.as.moléstias.dele,.foram.acordes.em.
que.a.morte.era.certa,.e.só.se.admiravam.de.ter.resistido.tanto.tempo..Pode.ser.que.eu,.involuntariamente,.exagerasse.a.descrição.que.então.lhes.fiz;.mas.a.verdade.é.que.ele.devia.morrer,.ainda.que.não.fosse.
aquela.fatalidade...
Adeus,.meu.caro.senhor..Se.achar.que.esses.apontamentos.valem.alguma.cousa,.pague-me.também.com.
um.túmulo.de.mármore,.ao.qual.dará.por.epitáfio.esta.emenda.que.faço.aqui.ao.divino.sermão.da.montanha:.
“Bem-aventurados.os.que.possuem,.porque.eles.serão.consolados.”
Anexo:
Biblioteca de sala: espaço de formação de leitores,
de Ana flávia castanho
Ana Flávia Castanho é educadora, formadora de professores, coordenadores
pedagógicos e diretores e atua também no Projeto Entorno, da Fundação Victor
Civita. A atividade permanente e a sequência de atividades apresentadas abaixo
são parte do cardápio de projetos institucionais de leitura, produzido em 2010,
para uso nas formações de educadores do Entorno.
biblioteca de sala9: espaço de formação de leitores
Para.que.uma.criança.possa.constituir-se.enquanto.leitora,.de.forma.a.fazer.da.leitura.uma.parte.querida.
e.importante.de.sua.vida,.é.preciso.que.ela.tenha.a.oportunidade.de.conviver.com.livros.e.leitores,.compartilhando.práticas.de.leitura..Algumas.das.crianças.têm.essa.convivência.assegurada.na.sua.vida.familiar,.mas.
muitas.dependem.da.escola.para.ter.acesso.a.ela..Esse.projeto.institucional.de.leitura.é.pensado.para.garantir.as.condições.para.que.essa.convivência.ocorra.
Para.isso,.ele.se.divide.em.duas.partes:.a.primeira.trata.de.como.instituir.atividades.habituais.de.leitura.a.
fim.de.que.a.biblioteca.de.sala.efetivamente.se.constitua.como.um.espaço.de.convivência.entre.leitores:
 “organizando a biblioteca de sala”;
 “instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa”;
 “preparando-se para atuar como modelo de leitor”.
9. Ou.biblioteca.da.escola..Nesse.caso,.é.interessante.consulta.à.Cartilha Biblioteca Ativa,.do.Instituto.Avisa.Lá,.que.traz.orientações.importantes.
para.a.organização.e.instituição.do.trabalho.com.leitura.na.biblioteca.escolar.
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58  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
E.uma.segunda.parte.com.propostas.de.rodas.de.comentários.e.indicação.de.leituras.e.de.círculos.de.
leitura:
 “conversando sobre livros: as rodas de biblioteca”;
 “trabalhando com círculos de leitura”.
organizando a biblioteca de sala
1. Seleção dos livros:
Sendo a biblioteca de sala o espaço privilegiado em que as crianças poderão conviver com livros e leitores,
a escolha do acervo é um passo importantíssimo. No contexto da escola pública, esse acervo é parte de um
conjunto maior: o dos livros da escola ou o dos livros da biblioteca escolar. Por isso é fundamental que o
professor os conheça bem, para fazer suas escolhas. Também é importante que a equipe de professores da
escola explore coletivamente esse acervo e troque ideias sobre boas escolhas de livros tendo em vista o que
conhece sobre as preferências leitoras da faixa etária com a qual trabalha.
Tendo em mente que novos leitores são formados na interação com leitores experientes e materiais de leitura de qualidade, os livros escolhidos para a biblioteca de sala devem ter o potencial de ampliar o universo
leitor das crianças: ou seja, devem contemplar diferentes gêneros, conter livros de variada extensão, de
autores nacionais e estrangeiros, clássicos e contemporâneos, pensados para o público infantil e pensados
para o público em geral, apresentados em variados portadores. Além disso, sempre que possível é interessante que alguns livros desse acervo sejam escolhidos pelas crianças.
2. organização do acervo:
Selecionado o acervo, a próxima etapa é apresentar esses livros para as crianças para organizá-lo. A organização e o cuidado com o acervo devem ser tarefas compartilhadas com as crianças: estabelecendo coletivamente critérios para classificação dos livros (ex: etiquetas vermelhas para livros de contos, verdes para
livros que falem sobre curiosidades dos animais, ou separar livros de uma mesma coleção etc.). Também
devem ser compartilhados os cuidados e o compromisso com a conservação dos livros. É importante ressaltar que quanto mais as crianças estão envolvidas com a organização do acervo e apresentadas a leituras que
as encantam, maior é o compromisso que elas passam a ter com a conservação dos livros, já que lhes foi
possível atribuir sentido a práticas de leitura e ao uso desse objeto tão especial que é o livro.
3. escolha do espaço:
O espaço onde ficam os livros deve ser organizado de forma a convidar a leitura: livros acessíveis, visíveis, num
espaço da sala onde as crianças possam se sentar para ler, compartilhar a leitura de um livro com um amigo.
4. renovação do acervo:
É importante que o acervo da biblioteca de sala seja periodicamente renovado, a fim de que as crianças
possam encontrar novas histórias, novos autores e gêneros. A oportunidade de se defrontar com o novo, de
se surpreender, de fazer novas descobertas é algo fundamental para criar o hábito da leitura. Uma boa solução para isso é rodiziar o acervo entre as salas da escola, a cada dois ou três meses.
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Preparando-se para atuar como modelo de leitor
Mas.não.basta.o.acesso.aos.livros,.o.essencial.é.conviver.com.leitores.e.poder.compartilhar.de.suas.práticas..Delia.Lerner10,.nos.coloca.que:.realmente, para comunicar às crianças os comportamentos que são típicos do
leitor, é necessário que o professor os encarne em sala de aula, que proporcione a oportunidade a seus alunos de participarem em atos de leitura que ele mesmo está realizando, que trave com eles uma relação ‘de leitor para leitor.
Assim,.por.meio.da.mediação.do.professor11,.a.criança.atribui.significado.às.diferentes.práticas.de.leitura,.
desenvolve.gostos.e.preferências.quanto.a.autores.e.gêneros,.cria.laços.afetivos.com.livros.e.histórias.e.vai.
começando.a.ver.a.si.mesma.como.uma.leitora.
E.o.professor.é.aquele.que,.ao.compartilhar.motivos,.estratégias.e.interesses,.abre.para.as.crianças,.as.
portas.do.mundo.maravilhoso.da.literatura.e.da.poesia.e.mostra.como.ler.e.escrever.são.instrumentos.importantíssimos.para.interagir.em.sociedades.como.a.nossa..Ele.faz.isso.quando.compartilha.com.as.crianças,.
lendo.para.elas,.uma.notícia.que.o.espantou.ou.lhe.despertou.a.curiosidade;.quando.procura.junto.com.as.
crianças,.em.livros.ou.enciclopédias,.respostas.para.temas.que.interessam.sua.turma;.quando.lê.um.poema.
que.o.emocionou;.quando.apresenta.um.livro.de.um.autor.que.considera.especial.e.divide.a.leitura.dele.com.
seus.alunos...
Esse.papel.do.professor.como.um.leitor.experiente.que.compartilha.sua.prática.com.as.crianças.é.tão.
mais.essencial.quanto.menores.elas.sejam,.mas.nunca.deixa.de.ser.importante,.mesmo.quando.os.alunos.já.
sabem.ler,.o.professor.é.aquele.que.apresenta.para.eles.novos.gêneros,.livros.mais.extensos,.novos.autores,.
pois.esses.momentos.de.leitura.compartilhados.com.o.professor.são.um.dos.grandes.trunfos.que.temos.à.
mão.para.evitar.que.o.fascínio.que.os.pequenos.tinham.pela.leitura.e.seu.desejo.de.ler.não.desapareça.ao.
longo.da.escolarização,.como,.infelizmente,.muitas.vezes.vemos.acontecer.
Assim,.é.fundamental.que.o.professor.se.prepare.para.exercer.esse.papel,.lendo.previamente.os.livros.cuja.
leitura.irá.compartilhar.com.as.crianças,.pensando.em.que.comentários.e.relações.ele.pode.compartilhar,.
planejando.como.irá.apresentar.o.livro,.que.boas.questões.podem.animar.uma.conversa.coletiva.sobre.a.leitura.(a.esse.respeito,.ver.o.próximo.item).
instituindo o empréstimo de livros para leitura em casa
A.pesquisadora.espanhola,.Tereza.Colomer,.certa.vez,.em.uma.de.suas.palestras.em.São.Paulo,.fez.a.seguinte.analogia.para.tratar.da.formação.do.leitor:.para.ser.leitor.é.preciso.muitas.horas.de.leitura,.da.mesma.
forma.que.para.ser.um.piloto.de.avião.é.necessário.muitas.horas.de.vôo.antes.de.se.tirar.o.brevê..Explicou.
que.são.necessárias.variadas.experiências.de.leitura,.continuadas.ao.longo.do.tempo,.para.que.se.desenvolvam.preferências,.para.que.a.leitura.se.torne.crítica,.e.para.que.ela.se.torne.uma.parte.importante.da.vida.de.
uma.deter.‘minada.pessoa..Assim,.o.empréstimo.de.livros.da.biblioteca.da.escola.ou.de.sala,.é.essencial.para.
multiplicar. as. oportunidades. de. leitura. possíveis. para. cada. uma. das. crianças:. pois. além. das. situações. de.
leitura.propostas.na.escola,.um.novo.espaço.se.abre:.ler.livros.de.sua.própria.escolha.em.casa,.compartilhando.essa.leitura.com.a.família.
10. Lerner,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002,.p..85.
11. Seja.o.professor.titular.da.turma.ou.o.professor.responsável.pela.biblioteca.da.escola.
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60  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Atividade permanente – conversando sobre livros e indicando leituras: as rodas
de biblioteca12
As.rodas.de.biblioteca.devem.ser.realizadas.como.uma.atividade.planejada.e.permanente.de.leitura.na.
escola.(semanal.ou.quinzenal),.em.que.se.conversa.sobre.as.leituras.que.as.crianças.realizaram.em.casa.(com.
o.empréstimo.de.livros).e.abre-se.um.espaço.para.que.as.crianças.indiquem.o.livro.que.leram.para.um.(ou.
alguns).colega(s),.levando.em.conta.características.do.livro.e.preferências.leitoras.do(s).amigo(s).
Essa.atividade,.ao.ser.inserida.no.cotidiano.da.classe,.traz.em.si.o.potencial.de.ajudar.a.construir,.na.escola,.
uma.comunidade.de.leitores.e.escritores,.onde.as.crianças.tenham.múltiplas.oportunidades.de.explorar.novos.
livros,.escolher.suas.leituras,.apreciar.os.efeitos.que.cada.uma.delas.lhes.trazem,.falar.sobre.essas.sensações,.recomendar.leituras.e.analisar.as.recomendações.recebidas.dos.colegas.a.fim.de.seguir.aquelas.que.parecem.mais.
interessantes,.desenvolvendo,.ao.longo.desse.processo,.gostos.e.preferências.por.livros,.gêneros.e.autores.
objetivos:
•
•
ampliar o repertório literário;
•
•
•
•
compartilhar experiências leitoras;
interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento;
confrontar interpretações;
estabelecer relações com outros textos;
ampliar os conhecimentos acerca de um determinado autor, utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e interpretações;
•
ampliar os conhecimentos acerca de determinado gênero, utilizando-os como critério de seleção/indicação
na escolha dos livros a serem retirados/recomendados e enriquecendo as possibilidades de antecipações e
interpretações;
•
conhecer diferentes ilustradores e ilustrações, compartilhando o efeito que uma ilustração produz, confron-
•
conhecer diferentes coleções, ampliando os conhecimentos acerca das características deste tipo de publi-
tando interpretações e considerando tais conhecimentos na seleção/indicação de livros;
cação e utilizando-os como critério de seleção na escolha dos livros a serem retirados ou em sua indicação.
conteúdos:
•
•
•
•
valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento;
interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos;
desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros lidos;
desenvolvimento de critérios de escolha e de indicação de livros.
12. In: Dime –.Aidan.Chambers..México,.FCE,.2007..Capítulo.13.
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Ano:.Educação.Infantil.e.Ensino.Fundamental.I.
Tempo estimado:.atividade.permanente.ao.longo.do.ano.ou.do.semestre,.com.uma.frequência.quinzenal.
ou.semanal.
encaminhamentos:
As.perguntas.abaixo,.retiradas.do.livro.Dime,.de.Aidan.Chambers,.são.um.repertório.importante.para.o.
professor.criar.um.movimento.de.troca.de.ideias,.considerações,.indicações.entre.os.pequenos,.usando,.quando.necessário.uma.pergunta.ou.outra.com.cada.criança.na.roda13..Com.o.tempo,.as.crianças.vão.construindo.
uma.autonomia.cada.vez.maior.para.compartilhar.essas.impressões.sobre.as.leituras.realizadas.e.com.isso.
assumindo.um.protagonismo.cada.vez.maior.nessa.troca.
 Teve alguma coisa que vocês gostaram nesse livro?
 O que te chamou especialmente a atenção?
 Você gostaria que algo tivesse acontecido de forma diferente?
 Teve alguma coisa que você não gostou?
 Teve parte que você achou cansativa?
 Você pulou alguma parte? Qual?
 Se você parou de ler, em que parte isso aconteceu?
 Teve alguma coisa que te causou espanto?
 Houve algo que você achou maravilhoso?
 Encontrou alguma coisa que você nunca havia visto em um livro?
 Você se surpreendeu com alguma coisa?
 Alguma coisa não combinava, ou não ficou bem explicada?
 A primeira vez que você viu esse livro, antes de ler, como você pensava que ele seria?
 O que te fez esperar isso?
 E depois de ler, foi o que você esperava?
 Você já leu livros como este?
 Você já leu esse livro antes? Se sim, foi diferente dessa vez?
 O que você diria a seus amigos sobre esse livro?
 Há quanto tempo vocês acham que aconteceu essa história?
 Sobre quem é essa história?
 Que personagem você achou mais interessante?
 Em que lugar se passa a história?
Ao.final.da.roda,.novos.empréstimos.de.livros.são.feitos.e.é.combinada.a.data.da.próxima.roda.
13. Não.há.nenhum.sentido.em.transformar.essas.perguntas.num.questionário,.pois.isso.afastaria.as.crianças.da.leitura,.em.vez.de.aproximá-las..A.
ideia.é.dar.ao.professor.um.repertório.que.o.ajude.a.animar.uma.discussão.sobre.livros.e.leituras.
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62  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Avaliação:
Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,.
observe.se.elas:
 demonstram interesse em selecionar livros para levar para ler em casa;
 compartilham impressões, opiniões e passagens preferidas sobre os livros e as situações de leitura em casa;
 recomendam a leitura do livro que leram levando em conta suas características e os gostos da pessoa para
quem a recomendação é feita;
 estabelecem relações entre a história lida em casa e outras histórias conhecidas.
Além.disso,.o.acompanhamento.dos.avanços.das.crianças.deve.orientar.o.professor.no.planejamento.
de.intervenções.individualizadas,.quando.necessário,.criando.condições.e.demandas.para.que.todos.tenham.a.oportunidade.e.o.espaço.de.participar.das.conversas.sobre.a.leitura,.ajudando-as.na.escolha.de.
títulos.para.o.empréstimo,.a.fim.de.criar.condições.para.que.todos.avancem.nos.seus.comportamentos.
leitores.
Sequência de atividades – trabalhando com círculos de leitura
Enquanto.a.roda.de.biblioteca.se.articula.com.as.leituras.realizadas.em.casa.(empréstimos.de.livros),.a.
proposta.dos.círculos.de.leitura.é.criar.momentos.no.cotidiano.escolar.em.que.todos.param.para.ler.e.depois.
comentam.essa.leitura.com.os.colegas.que.leram.o.mesmo.livro.e.posteriormente.com.toda.a.sala..Essa.proposta,.apresentada.por.Harvey.Daniels,.um.especialista.norte-americano.em.formação.de.leitores,.se.estrutura.da.seguinte.forma14:
1. os alunos escolhem o que irão ler;
2. pequenos grupos temporários são formados, de acordo com a escolha do livro que cada aluno fez;
3. diferentes grupos leem diferentes livros;
4. os grupos se reúnem de forma regular e pré-planejada para discutir as leituras que estão realizando;
5. as crianças escrevem ou desenham notas para guiar tanto a leitura como a discussão;
6. os tópicos da discussão são levantados pelos próprios alunos;
7. os encontros do grupo devem funcionar como reais conversas entre leitores, portanto, apresentação de
pontos de vista pessoais, questionamento sobre pontos da história que permitem várias interpretações e digressões são práticas bem vindas;
8. o professor funciona como facilitador, não como instrutor;
9. a avaliação é feita a partir da observação do professor e da auto avaliação realizada pelos alunos;
10. o prazer de ler e compartilhar impressões sobre livros deve dar o tom dos encontros;
11. quando a leitura do livro lido pelo grupo acaba, as crianças compartilham com toda a sala os pontos altos
dessa leitura e, com isso, novos grupos são formados.
14. Excerto.do.capítulo.2:.A closer look: literature cicles defined,.do.livro:. Literature Circles: voice and choice in book clubs and reading groups,.de.Harvey.
Daniels,.Stenhouse.Publishers,.2001
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Apostilas das oficinas de leitura  63
objetivos:
•
•
ampliar o repertório literário;
•
•
•
•
compartilhar experiências leitoras;
interagir com o livro de maneira prazerosa, reconhecendo-o como fonte de múltiplas informações e entretenimento;
estabelecer relações com outros livros, outras épocas/lugares e autores diferentes;
confrontar interpretações e saber articular argumentos que sustentem seu ponto de vista;
engajar-se em “discussões” sobre leituras realizadas, levando em conta o ponto de vista dos colegas e usando as questões trazidas por eles para rever suas próprias ideias e impressões.
conteúdos:
•
•
•
valorização da leitura como fonte de prazer e entretenimento;
•
desenvolvimento de procedimentos do leitor como estabelecer relações entre o livro que se está lendo e
interesse por compartilhar opiniões, ideias e preferências acerca dos livros lidos;
desenvolvimento de estratégias de argumentação, para defender ideias e pontos de vista sobre os livros
lidos;
outros livros conhecidos ou acontecimentos vividos, selecionar passagens preferidas, pensar em outros
desfechos possíveis, levantar hipóteses para explicar a motivação por traz de atos dos personagens etc.
Ano:.Ensino.Fundamental.I.
Tempo estimado:.cada.círculo.de.leitura.leva.em.torno.de.um.mês.para.ser.realizado,.o.ideal.é.que.o.
trabalho.se.repita.algumas.vezes.para.que.cada.criança.tenha.a.oportunidade.de.explorar.a.leitura.de.alguns.
títulos.nesse.contexto.privilegiado.que.o.círculo.de.leitura.proporciona.
Materiais necessários: Diversos.títulos.de.livros,.cada.um.com.vários.exemplares.
encaminhamentos15:
1. apresentação da ideia de trabalhar com círculos de leitura, trazendo crianças ou adultos leitores para dar
seu depoimento sobre seus livros preferidos;
2. providencie uma ampla gama de bons livros e convide as crianças a escolherem um16 livro que elas desejam
ler. A partir dessas escolhas, forme grupos de 4 ou 5 crianças que querem ler o mesmo título. Isso vai levar
alguns minutos de negociação;
3. discutir coletivamente o que as crianças acham que vale a pena anotar17, retomando o depoimento do leitor
que elas tiveram a oportunidade de ouvir, registrar as ideias das crianças e, se necessário, chamar a atenção
15. Idem,.baseado.em.propostas.do.capítulo.5.
16. No.caso.de.alguma.criança.escolher.um.livro.que.mais.ninguém.escolheu,.é.necessário.ajudá-la.a.fazer.uma.nova.escolha.
17. As.crianças.pequenas.também.fazem.anotações,.desenhando.personagens.preferidos,.marcando.páginas.que.tenham.os.“pontos.altos”.da.história,.etc..
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para outras possibilidades (sentimentos, relações, palavras em que se têm dúvidas, trechos que se deseja
guardar, questionamentos, comentários, relações entre a história e a vida delas; perguntas que vierem à
mente; como imaginam uma determinada cena; “truques” do autor, boas ideias ao longo da escrita; palavras
interessantes, etc.);
4. peça que o grupo combine a leitura do trecho inicial (que possa ser lido em 20 ou 30 minutos);
5. quando todos terminarem a leitura e fizerem suas anotações, convide os grupos a conversarem o que leram,
compartilhando suas anotações (por 10 a 15 minutos);
6. durante essas conversações, visite cada um dos grupos, como observador. Anote exemplos e comentários
para compartilhar na discussão geral;
7. terminado esse momento de troca inter-grupos, organize a sala num grupo só e fale sobre os livros. Peça que
cada grupo dê um exemplo, conte algo interessante que compartilharam durante a conversa após a leitura.
Depois reflita com as crianças sobre o processo de conversar sobre a leitura, listando os procedimentos que
ajudaram a discussão. Organize essas informações num cartaz;
8. peça que os grupos decidam por um novo trecho do grupo para o próximo encontro.
Avaliação:
Para.avaliar.se.o.trabalho.com.o.projeto.está.cumprindo.seus.objetivos.de.aprendizagem.para.as.crianças,.
observe.se.elas:
 demonstram interesse em participar dos círculos de leitura;
 compartilham suas anotações sobre o livro que estão lendo, sabendo que é possível falar dos sentimentos
que a leitura despertou, das relações que estabeleceram com outros livros e situações, perguntar sobre palavras em que se tem dúvida, mostrar trechos preferidos, levantar questões sobre a história, fazer comentários sobre as ações dos personagens, contar como imaginam uma determinada cena, etc.
O.professor.deve.acompanhar.os.grupos.(círculos.de.leitura),.anotando.questões.para.discutir.no.coletivo.
a.fim.de.ampliar.o.rol.de.procedimentos.e.relações.que.as.crianças.põem.em.ação.durante.a.leitura.
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APoStiLA 2
oficinA 2 – crÔnicA – A prosa cotidiana
instantâneos da vida se transformam em textos que
entretêm e fazem pensar
objetivos:
Espera-se que os participantes como leitores particulares:
• apreciem ler crônicas;
• conheçam alguns dos importantes cronistas brasileiros;
• compreendam a relação que a crônica tem com os fatos do cotidiano, tomando como inspiração as notícias
da imprensa falada e escrita, tanto quanto os acontecimentos vividos ou observados;
• estabeleçam relação entre as crônicas lidas e o fato que as inspirou;
• percebam o jornal como rico material de leitura;
• experienciem a produção escrita de uma crônica.
Espera-se que os participantes como leitores públicos:
• compreendam a crônica como gênero da literatura para ser lida e apreciada individualmente, na escola e
em outros espaços públicos;
• percebam o jornal como valioso material didático: portador de diferentes gêneros textuais, em especial, as
crônicas.
conteúdos:
• leitura de crônicas;
• breve história do gênero textual crônica;
• o leitor de crônica: expectativas e comportamentos leitores;
• a crônica como gênero da esfera jornalística – a relação crônica e notícia;
• a estrutura narrativa da crônica.
material necessário:
A.inspiração.das.crônicas.são.os.acontecimentos.cotidianos.vividos.ou.estampados.em.fotos.e.notícias..
Elas.podem.ser.encontradas.em.diferentes.suportes:.em.jornais,.revistas,.blogs.e.livros..Em.muitos.casos,.os.
livros.são.compilações.de.crônicas.publicadas.nos.jornais..É.importante.que.o.formador.reúna.para.levar.
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para.a.oficina:.jornais.nacionais.e.locais;.revistas.de.notícias;.fotos.jornalísticas;.recortes.de.notícias.e.crônicas;.livros.de.diferentes.autores.e.épocas.que.abordem.o.gênero.trabalhado.e.indicação.de.blogs,.entre.outros..
O.formador.deve.ter.o.cuidado.de.selecionar.os.textos.com.antecedência..Se.houver.cronistas.da.região,.
deve-se.procurar.dar.destaque.a.eles..Esses.certamente.falarão.de.temas.familiares.aos.participantes,.aproximando-os.da.leitura.de.crônicas.
Desenvolvimento:
O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo.
à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.
1. mar de crônicas: ele tem a função de inspirar e seduzir os participantes da oficina para a leitura desses
textos. O Mar de Crônicas será composto do material levado para a oficina pelo formador e pelos participantes e exposto sobre um belo tecido, de preferência no chão. Pode estar pronto antes do início da oficina
ou ser montado em outro momento. O importante é que o material seja conhecido do formador e fique à
mostra para manuseio e leitura.
2. Abertura: o formador apresenta suas reflexões sobre as aprendizagens do grupo, com relação à oficina 1.
Depois retoma as atividades sugeridas para o presente encontro: que os participantes mostrem e comentem
o registro da experiência no Diário de Leitura. Esse breve momento pode ser realizado em duplas e depois
aqueles que assim desejarem poderão socializar no grupo maior, contando se praticaram alguma atividade
relacionada à leitura e aos espaços de biblioteca e como isso se deu e apresentando as crônicas e seus autores trazidos para enriquecer a oficina.
Ao socializar os registros dos diários, os participantes também comentam as leituras das obras do acervo
circulante: quais suas impressões sobre os livros sugeridos? Foi possível concluir a leitura? Houve dificuldades em compreender o texto? Quais? Se fossem indicar o título para outros participantes, quais aspectos
ressaltariam?
Nesse momento, o formador poderá propor uma nova troca de títulos entre os participantes, acrescentando
ao acervo doado outros livros trazidos pelo grupo de seus acervos pessoais. Sugerimos que em todas as
oficinas os participantes tragam outras obras para emprestar entre si, organizando como atividade permanente uma “Feira de troca de livros”.
3. Apresentação da apostila: o formador faz a leitura das páginas iniciais da apostila, ressaltando os objetivos
e os conteúdos que serão desenvolvidos na oficina 2, que tem como título Crônica – a prosa cotidiana.
4. A leitura de uma bela crônica dará início à oficina: o formador iniciará a oficina com uma conversa sobre
as crônicas queridas e os cronistas preferidos da turma. Em seguida, lê para o grupo uma crônica escolhida
por ele. A escolha poderá tomar como base um fato de conhecimento da turma, um autor conhecido da
região ou de reconhecimento nacional, uma crônica antológica, uma crônica muito querida do formador
etc. É importante que o formador tenha objetivos claros quando for selecionar o texto que dará início à
oficina e que apresente seus motivos para o grupo, pois esse é o momento da sensibilização para o tema do
encontro. É uma leitura para escutar e se deliciar.
A apostila sugere vários textos que podem ser lidos na abertura do encontro. A crônica Conversinha mineira
(do livro A mulher do vizinho, Editora Sabiá Rio de Janeiro, 1962, p. 144) é uma sugestão para esse momento.
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Escrita por Fernando Sabino, ela está estruturada apenas em diálogos bem-humorados e pode ser uma excelente oportunidade para que os participantes identifiquem a prosa cotidiana presente no texto que será o
tema dessa oficina. Outra sugestão de leitura para este momento é a crônica de Luis Fernando Verissimo.”
Crônica e Ovo” disponível em Para Gostar de Ler (O nariz e outras crônicas). São paulo: Ática:1995
5. cronistas explicam seu ofício: não são poucos os cronistas que escreveram sobre o seu próprio fazer literário. Ler o que escreveram é uma forma de conhecer e apreciar mais este gênero textual.
Nesse momento, o formador apresenta duas crônicas que se encaixam nesse caso. Seus autores são dois
importantes escritores brasileiros: Machado de Assis, em O nascimento da crônica (1/11/1877), disponível
na apostila, e Vinicius de Moraes, em O exercício da crônica disponível na obra Para Viver um Grande Amor
(crônicas e poemas, 1962, Ed. do Autor, RJ).
Orientação para a leitura dessas crônicas:
• a turma é dividida em dois grupos. Cada grupo lê uma crônica;
• depois da leitura, cada grupo expõe o que leu levantando as características do fazer literário dos cronistas
apontados pelos dois autores;
• enquanto os grupos apresentam suas conclusões, o formador poderá organizar o registro para sistematizar as
conclusões dos participantes.
6. Leitura dos textos-farol disponíveis ao final desta apostila: o Texto-farol I Crônica: a prosa cotidiana aborda
o conceito e a origem da crônica. Já Texto-farol II, A relação crônica & notícia, propõe o exercício de transposição de um fato noticiado nos jornais em tema para a produção de crônicas.
O formador pode propor a leitura dos textos em voz alta, discutindo seus temas e utilizando as crônicas para
exemplificar os conceitos que serão abordados durante a oficina.
7. Atividades de Leitura: nesse momento da oficina, serão realizadas atividades de leitura que exigem comportamentos leitores que implicam interações com outras pessoas acerca dos textos lidos. O objetivo é que os
participantes saboreiem a leitura de uma crônica em parceria com um colega.
A seguir, sugerimos uma atividade a partir da leitura da crônica A outra noite ,de Rubem Braga (publicada
no livro Ai de ti, Copacabana, editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1969, p. 183-184.), escritor considerado por
muitos o maior cronista brasileiro, desde Machado de Assis. A proposta é ler para o outro, escutar a leitura feita por outra pessoa e dialogar sobre o que se leu. O formador propõe que se formem duplas e que
um leia para o outro. O objetivo é que a leitura e a apreciação do texto sejam realizadas de modo interativo. Após a leitura, a dupla conversa sobre o ponto de vista do cronista a respeito do que ele chama de
“presente de rei” e sobre o que a crônica fez cada leitor pensar.
Em seguida, abre-se uma discussão coletiva para o confronto com outros leitores das interpretações geradas pela
crônica lida. O formador, nesse momento, pode ampliar a discussão, propondo a reflexão sobre outros elementos do texto, dizendo que A outra noite é uma crônica de beleza singela. Seus ingredientes são os mais corriqueiros e tudo dito de modo coloquial. Há um jogo de sentidos com as expressões: a outra noite; uma noite de
vento sul e chuva; acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra – pura, perfeita e linda.
Ficam as perguntas: o cronista fala de uma noite só, ou de mais de uma noite? Como é que uma noite pode
ser, ao mesmo tempo, chuvosa e enluarada?
O motorista do táxi, ouvindo o passageiro contar a história para o amigo, fica surpreso com as declarações.
Diz o texto que Ele chegou a pôr a cabeça para fora do carro para olhar o céu fechado de chuva. Além
disso, que frases disse o motorista? O que elas revelam?
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No último parágrafo, o narrador diz: “(...) como se eu lhe tivesse feito um presente de rei”. O que o narrador
está chamando de presente de rei?
Para concluir a leitura e apreciação da crônica, os participantes podem contar se já ganharam ou se já deram
um presente de rei para alguém. E como foi isso?
O formador poderá também propor um círculo de leitura do gênero utilizando os textos que estão no anexo
da apostila. Divididos em grupos, os participantes fazem a leitura de uma mesma crônica, primeiro individualmente, anotando suas impressões sobre o texto (palavras que não entenderam, trechos que consideram
bem escritos, relações entre as situações abordadas no texto e suas vidas, etc.). Em seguida, trocam suas
anotações com outros participantes que leram o mesmo texto e, juntos, escrevem uma recomendação para
os demais colegas. Para finalizar a atividade, o formador organiza a socialização das indicações.
8. texto dramático do grupo Qorpo-Santo: o formador apresenta outro texto que já foi encenado por grupos
de teatro do Letras de Luz: Um credor da Fazenda Nacional, anexo.
9. tarefas:
a) de leitor a escritor – Como foi dito no início, um dos objetivos da oficina 2 é que o participante escreva
sua própria crônica. De posse dos conhecimentos que já tinham e com os que adquiriram nessa oficina,
os participantes deverão elaborar uma crônica, que será levada na oficina 3 para ser apresentada e lida.
É preciso que se lembre que o cronista, por meio de uma história, transmite ao leitor uma visão pessoal
dos acontecimentos que o cercam. A crônica pode ser elaborada a partir de:
•
•
•
uma foto significativa;
uma notícia que esteja nas páginas dos jornais ou revistas;
um acontecimento vivido ou presenciado.
Tudo pode ser assunto para uma crônica. É importante que o tema escolhido cause no autor alguma
sensação: entusiasmo, surpresa, indignação, alegria, etc. Também é fundamental que o ponto de vista
esteja presente na crônica de forma implícita ou explícita;
b) ir a uma biblioteca pública e retirar um livro de crônicas para ler. Registrar as impressões da leitura no
Diário de Leitura;
c) escolher o local e realizar a leitura de uma crônica em situação pública. Registrar a atuação de contador
e a reação dos ouvintes numa página do Diário de Leitura.
10. Avaliação: os participantes e o formador avaliam se os objetivos da oficina foram atingidos, comentam os
aspectos positivos e negativos e dão sugestões, preferencialmente por escrito.
11. Preparando o próximo encontro: para a terceira oficina, Vozes em cena ficam propostas as atividades: registrar
suas leituras no Diário de Leitura, ler um texto teatral – o formador dará sugestões de títulos para serem pesquisados no acervo doado pelo projeto – e vir com roupas confortáveis e que permitam movimento.
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Apostilas das oficinas de leitura  69
bibliografia básica
CANDIDO,.Antônio.[et..al.]..A.Crônica: o gênero, sua fixação e suas transformações no Brasil..São.Paulo:.Editora.da.
UNICAMP;.Rio.de.Janeiro:.Fundação.Casa.de.Rui.Barbosa,.1992.
A.obra.reúne.estudos.e.artigos.apresentados.em.outubro.de.1988.em.seminário.sobre.a.crônica.realizado.na.Fundação.
Casa.de.Rui.Barbosa..Retoma.as.discussões.a.respeito.das.origens,.fontes.e.traços.característicos.do.gênero,.de.sua.popularização.e.de.suas.transformações.no.Brasil.do.século.XIX.e.do.início.do.século.XX,.do.seu.meio.de.veiculação.(a.imprensa),.além.de.aproximações.a.outros.gêneros.(o.relato.de.viagem,.a.crônica.histórica),.à.charge.e.à.fotografia.
____.A.vida.ao.rés-do-chão..In:.Para gostar de ler: crônicas..4..Editora.São.Paulo:.Ática,.1984..v..5.
Texto.introdutório.do.volume.5,.da.Coleção.Para Gostar de Ler:.crônicas,.em.que.o.autor.expõe.sua.teoria.sobre.crônica.
DIONISIO,.Ângela;.MACHADO,.Anna.Rachel.&.BEZERRA,.M..Auxiliadora.(Orgs.)..(2002)..Gêneros textuais
& ensino. Rio.de.Janeiro:.Lucerna.
O.que.são.exatamente.gêneros.textuais.e.de.que.forma.utilizá-los.no.cotidiano.das.escolas?.Essas.perguntas,.e.várias.
outras,.estão.respondidas.em.Gêneros textuais e ensino,.coletânea.de.estudos.de.linguística.aplicada.organizada.pelas.
professoras.Ângela.Paiva.Dionísio,.Anna.Rachel.Machado.e.Maria.Auxiliadora.Bezerra..A.obra.divide-se.em.dois.
momentos:.no.primeiro,.estão.os.estudos.relacionados.à.definição.do.conceito.de.gêneros.textuais.e,.na.segunda.parte,.
estão.trabalhos.desenvolvidos.a.partir.dos.vários.gêneros.textuais,.incluindo.aqueles.surgidos.com.a.internet,.como.o.
correio.eletrônico.(e-mail).e.os.bate-papos.virtuais.(chats)..Trata-se.de.obra.dedicada.a.instrumentalizar.os.profissionais.de.ensino.de.línguas.
DOLZ,.J;.NOVERRAZ,.M.&.SCHNEUWLY,.B..Gêneros orais e escritos na escola. Campinas,.SP:.Mercado.de.
Letras,.2004.
A.obra.discute.as.questões:.por.que.trabalhar.com.gêneros.e.não.com.tipos.de.textos?.Em.que.esses.trabalhos.e.
esses.conceitos.são.diferentes?.O.que.é.gênero.de.texto?.Como.entender.a.noção?.Que.gêneros.selecionar.para.ensino.
e.como.organizá-los.ao.longo.do.currículo?.Como.pensar.progressões.curriculares?.Deve-se.trabalhar.somente.com.os.
gêneros.de.circulação.escolar?.De.circulação.extraescolar?.Ambos?.Quais.são.os.mais.relevantes.em.cada.caso?.O.livro.
oferece.encaminhamentos.e.procedimentos.possíveis.para.o.ensino.de.gêneros.na.escola.
JAFFE,.Noemi.&.BIGNOTTO,.Cilza..Crônica na sala de aula..2..ed..São.Paulo:.Itaú.Cultural,.2004.
Publicação.elaborada.especialmente.para.professores,.com.o.objetivo.de.auxiliá-los.no.trabalho.com.esse.gênero.
literário..Organizado.em.módulos.aos.quais.se.integram.análises.originais,.simples.e.instigantes.de.textos.de.autores.
consagrados.
LERNER,.Delia..Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário..Porto.Alegre:.Artmed,.2002.
Segundo.Regina.Scarpa.em.resenha.publicada.na.revista.Nova Escola.(ago/2008),.nesse.livro,.partindo.de.um.embasamento.teórico.consistente,.a.autora.“ajuda.os.educadores.na.compreensão.do.que.precisa.ser.ensinado.quando.se.
quer.formar.leitores.e.escritores.de.fato..Delia.também.explicita.a.importância.de.o.professor.criar.condições.para.que.
os.alunos.participem.ativamente.da.cultura.escrita.desde.a.alfabetização.inicial,.uma.vez.que.constroem.simultaneamente.conhecimentos.sobre.o.sistema.de.escrita.e.a.linguagem.que.usamos.para.escrever”.
SOLE,.Isabel..Estratégias de leitura..6..ed..Porto.Alegre:.Artmed,.1998.
O.livro.escrito.por.Isabel.Solé.aborda.diferentes.formas.de.trabalhar.com.o.ensino.da.leitura..Seu.propósito.principal.é.promover.nos.alunos.a.utilização.de.estratégias.que.permitam.interpretar.e.compreender.de.forma.autônoma.os.
textos.lidos..Enfatizando.sempre.que.o.ato.de.ler.é.um.processo.complexo,.a.autora,.utilizando.um.texto.simples.e.
agradável.de.ser.lido,.explicita-o.dentro.de.uma.perspectiva.construtivista.da.aprendizagem.
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70  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Para saber mais
http://www.tvcultura.com.br/aloescola/literatura/cronicas/galeria.htm
TV.Cultura.–.Alô escola – Sabor crônicas:.apresenta.o.conceito.de.crônicas.e.tem.uma.galeria.com.textos.de.alguns.
cronistas.brasileiros.
http://vejasp.abril.com.br/revista/cronicas
Crônicas.da.Revista.Veja:.crônicas.publicadas.na.revista.Veja.
http://www.dominiopublico.gov.br
Domínio.Público.–.Site.com.obras.completas.de.alguns.dos.principais.cronistas.brasileiros.
http://www.itaucultural.org.br..
O.Instituto.Cultural.Itaú.possui.uma.videoteca.com.documentários.e.depoimentos.que.podem.ser.acessados.no.
computador.ou.retirados.em.sua.sede..Sobre.crônicas,.indicamos.o.vídeo:.Moacyr Scliar com Luís Fernando Verissimo.–.A.
opção.pela.crônica.–.Duração:.4min.e.32seg.
http://www.museudapessoa.org.br
Museu.da.Pessoa.também.garante.acesso.a.vários.depoimentos..Lá.é.possível.ver.e.ouvir.Heloisa.Seixas.falando.
sobre.a.crônica,.gênero.textual.que.transita.entre.jornalismo.e.literatura.e.assistir.ao.vídeo.sobre.a.leitura.de.crônicas.
para.e.com.cegos Livros além da Visão.
http://www.cronistas.com.br.
Site.em.que.é.possível.postar.uma.crônica.pessoal.e.ler.outras.dos.mais.variados.autores.
http://www.tvbrasil.org.br.
Pode-se.procurar.os.textos.da.antiga.Rádio.MEC..Lá,.Paulo.Autran.leu.por.muitos.anos.crônicas.diárias.de.nossos.
maiores.cronistas.num.programa.que.se.tornou.lendário:.Quadrante!
http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata..
Página.do.cronista.Antonio.Prata,.nascido.em.São.Paulo,.em.1977..O.autor.publica.seus.textos.uma.segunda.sim,.
outra.não,.na.última.página.do.caderno.Metrópole,.do.jornal.O Estado de S.Paulo.
Livros:.Além.da.coleção.Para gostar de ler,.da.editora.Ática,.várias.editoras.possuem.coleções.desse.gênero.literário,.como.a.Global,.com.a.sua.As melhores crônicas,.a.Record,.que.publica.cronistas.de.todo.o.Brasil,.a.Cosac.&.
Naify,.que.recentemente.publicou.crônicas.antigas.e.históricas.de.Manuel.Bandeira,.a.Cia..das.Letras.e.Objetiva,.
que. têm,. respectivamente,. as. excelentes. edições. Em boa companhia. –. Crônicas. e. as. 100 melhores crônicas do século,.
entre.tantas.outras.
CD: da.Editora.Luz.da.Cidade:
Rubem.Braga.–.Crônicas.escolhidas,.interpretadas.por.Edson.Celulari.
Machado.de.Assis.–.Poesias,.crônicas.e.contos,.interpretadas.por.Othon.Bastos.
Muitas.crônicas,.de.tão.famosas.e.significativas,.foram.adaptadas.para.teatro,.cinema.e.televisão..Veja.algumas.delas:
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Apostilas das oficinas de leitura  71
TV: a.mais.famosa.adaptação.foi.Comédia da Via Privada,.da.TV.Globo,.escrita.por.Jorge.Furtado.e.Carlos.Gervase..Apresentada.de.1995.a.1997,.tem.como.enredo.acontecimentos.do.cotidiano.de.pessoas.da.classe.média.brasileira..
As.histórias.eram.baseadas.em.crônicas.de.Luís.Fernando.Verissimo.publicadas.na.revista.Domingo do Jornal do Brasil..
Em.1994,.elas.foram.reunidas.em.livro,.que.ficou.meses.entre.os.mais.vendidos.na.lista.das.livrarias.
Cinema: a.adaptação.mais.famosa.é.a.crônica.O homem nu,.de.Fernando.Sabino,.que.já.teve.duas.filmagens.diferentes..A.primeira.é.de.1968,.direção.de.Roberto.Santos,.tendo.no.elenco.Paulo.José.e.Leila.Diniz,.com.música.do.
famoso.maestro.Rogério.Duprat..Em.1997,.nova.adaptação,.com.Cláudio.Marzo.e.Lúcia.Veríssimo.nos.papéis.principais.e.Hugo.Carvana.na.direção.
O.filme.O homem nu,.nas.duas.versões,.é.uma.comédia.que.narra.as.confusões.causadas.por.um.homem.que.fica.
acidentalmente.trancado.pelo.lado.de.fora.do.apartamento.completamente.nu..A.partir.daí,.o.homem.–.do.jeito.como.
veio.ao.mundo.–.passa.por.uma.série.de.situações.inusitadas,.fugindo.de.um.lado.para.outro.para.se.proteger.de.uma.
população.inteiramente.escandalizada.
SANTOS,.Roberto..O homem nu..Brasil,.Cinematográfica.Pelimex.e.Wallfilmes,.1968..181.min.
CARVANA,.Hugo..O homem nu..Brasil,.Europa.Filmes,.1997..75.min.
Outra.importante.adaptação.é.Crônica da cidade amada.de.1965,.dirigido.por.Carlos.Hugo.Christensen..É.o.
primeiro.filme.brasileiro.colorido,.em.cinemascope..O.Rio.de.Janeiro.é.visto.pelo.olhar.dos.cronistas.Paulo.Mendes.
Campos,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Dinah.Silveira.de.Queiroz,.Fernando.Sabino,.Paulo.Rodrigues,.Orígenes.
Lessa,.entre.outros..O.roteiro.foi.escrito.por.Millor.Fernandes,.Manuel.Bandeira,.Pedro.Bloch,.Carlos.Hugo.Christensen,.Carlos.Drummond.de.Andrade,.Orígenes.Lessa,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando.Sabino,.Dinah.Silveira.
de.Queiroz,.Paulo.Rodrigues..O.filme.relata.11.situações.e.histórias.inspiradas.na.vida.carioca,.com.narração.de.
Paulo.Autran,.que.recita.trechos.de.textos.de.cronistas.como.Carlos.Drummond,.Paulo.Mendes.Campos,.Fernando.
Sabino,.Orígenes.Lessa,.Dinah.Silveira.de.Queiroz.e.Paulo.Rodrigues.
cronistas explicam seu ofício
o nascimento da crônica (1/11/1877), de machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908), nosso maior escritor, foi cronista, contista,
dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Suas obras
mais conhecidas: Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro (1899).
Há.um.meio.certo.de.começar.a.crônica.por.uma.trivialidade..É.dizer:.Que.calor!.Que.desenfreado.
calor!.Diz-se.isto,.agitando.as.pontas.do.lenço,.bufando.como.um.touro,.ou.simplesmente.sacudindo.a.
sobrecasaca..Resvala-se.do.calor.aos.fenômenos.atmosféricos,.fazem-se.algumas.conjeturas.acerca.do.sol.
e.da.lua,.outras.sobre.a.febre.amarela,.manda-se.um.suspiro.a.Petrópolis,.e.la glace est rompue; está.começada.a.crônica.
Mas,.leitor.amigo,.esse.meio.é.mais.velho.ainda.do.que.as.crônicas.que.apenas.datam.de.Esdras..Antes.
de.Esdras,.antes.de.Moisés,.antes.de.Abraão,.Isaque.e.Jacó,.antes.mesmo.de.Noé,.houve.calor.e.crônicas..No.
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72  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
paraíso.é.provável,.é.certo.que.o.calor.era.mediano,.e.não.é.prova.do.contrário.o.fato.de.Adão.andar.nu..Adão.
andava.nu.por.duas.razões,.uma.capital.e.outra.provincial..A.primeira.é.que.não.havia.alfaiates,.não.havia.
sequer.casimiras;.a.segunda.é.que,.ainda.havendo-os,.Adão.andava.baldo.ao.naipe..Digo.que.esta.razão.é.
provincial,.porque.as.nossas.províncias.estão.nas.circunstâncias.do.primeiro.homem.
Quando.a.fatal.curiosidade.de.Eva.fez-lhes.perder.o.paraíso,.cessou,.com.essa.degradação,.a.vantagem.de.
uma.temperatura.igual.e.agradável..Nasceu.o.calor.e.o.inverno;.vieram.as.neves,.os.tufões,.as.secas,.todo.o.
cortejo.de.males,.distribuídos.pelos.doze.meses.do.ano.
Não.posso.dizer.positivamente.em.que.ano.nasceu.a.crônica;.mas.há.toda.a.probabilidade.de.crer.que.foi.
coetânea.das.primeiras.duas.vizinhas..Essas.vizinhas,.entre.o.jantar.e.a.merenda,.sentaram-se.à.porta,.para.
debicar.os.sucessos.do.dia..Provavelmente.começaram.a.lastimar-se.do.calor..Uma.dizia.que.não.pudera.
comer.ao.jantar,.outra.que.tinha.a.camisa.mais.ensopada.do.que.as.ervas.que.comera..Passar.das.ervas.às.
plantações.do.morador.fronteiro,.e.logo.às.tropelias.amatórias.do.dito.morador,.e.ao.resto,.era.a.coisa.mais.
fácil,.natural.e.possível.do.mundo..Eis.a.origem.da.crônica.
Que.eu,.sabedor.ou.conjeturador.de.tão.alta.prosápia,.queira.repetir.o.meio.de.que.lançaram.mãos.as.duas.
avós.do.cronista,.é.realmente.cometer.uma.trivialidade:.e.contudo,.leitor,.seria.difícil.falar.desta.quinzena.
sem.dar.à.canícula.o.lugar.de.honra.que.lhe.compete..Seria;.mas.eu.dispensarei.esse.meio.quase.tão.velho.
como.o.mundo,.para.somente.dizer.que.a.verdade.mais.incontestável.que.achei.debaixo.do.sol,.é.que.ninguém.se.deve.queixar,.porque.cada.pessoa.é.sempre.mais.feliz.do.que.outra.
Não.afirmo.sem.prova.
Fui.há.dias.a.um.cemitério,.a.um.enterro,.logo.de.manhã,.num.dia.ardente.como.todos.os.diabos.e.suas.
respectivas.habitações..Em.volta.de.mim.ouvia.o.estribilho.geral:.–.Que.calor!.Que.sol!.É.de.rachar.passarinho!.É.de.fazer.um.homem.doido!
Íamos.em.carros;.apeamo-nos.à.porta.do.cemitério.e.caminhamos.um.longo.pedaço..O.sol.das.onze.
horas.batia.de.chapa.em.todos.nós;.mas.sem.tirarmos.os.chapéus,.abríamos.os.de.sol.e.seguíamos.a.suar.até.
o.lugar.onde.devia.verificar-se.o.enterramento..Naquele.lugar.esbarramos.com.seis.ou.oito.homens.ocupados.
em.abrir.covas:.estavam.de.cabeça.descoberta,.a.erguer.e.fazer.cair.a.enxada..Nós.enterramos.o.morto,.voltamos.nos.carros,.e.daí.às.nossas.casas.ou.repartições..E.eles?.Lá.os.achamos,.lá.os.deixamos,.ao.sol,.de.cabeça. descoberta,. a. trabalhar. com. a. enxada.. Se. o. sol. nos. fazia. mal,. que. não. faria. àqueles. pobres-diabos,.
durante.todas.as.horas.quentes.do.dia?
Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994.
Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938.
Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro.
Na crônica de Machado de Assis, algumas expressões antigas podem trazer dificuldade para o entendimento: La
glace est rompue, expressão francesa que significa “o gelo está quebrado”. No texto, o sentido é metafórico. Adão andava baldo ao naipe, isto é, Adão não tinha o que fazer; coetânea, é o mesmo que contemporânea; debicar significa
comentar zombando; tropelias, o mesmo que estripulias; alta prosápia, significa importante origem; canícula, o mesmo que intenso calor.
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texto-farol 1:
crônica – A prosa cotidiana, de heloisa ramos
Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela
PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portuguesa, pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz.
Sabe da última?.Deu no jornal. Abrimos.o.jornal.e.lá.estão.elas.–.as.notícias..Notícias.boas,.notícias.más,.
notícias.daqui,.notícias.de.lá,.notícias.de.todo.lugar...
O jornal é um rico veículo de informação – Com.textos.de.gêneros.variados,.fotografia.e.recursos.gráficos,.os.jornais.são.uma.fonte.de.pesquisa.e.de.obtenção.de.informação.sobre.o.mundo.atual..São.vendidos.
por.assinatura.ou.em.bancas.de.jornal,.lojas,.livrarias,.supermercados.etc..Também.podem.ser.lidos.gratuitamente.em.bibliotecas.e.acessados.na.internet..Vários.são.os.gêneros.textuais.que.compõem.os.jornais:.notícia,.editorial,.crônica,.entrevista,.reportagem,.artigo.de.opinião,.carta.do.leitor,.resenha,.artigo.de.divulgação.
científica,.horóscopo,.HQ/tira,.previsão.do.tempo,.charge,.cartum,.anúncio,.propaganda,.palavra.cruzada,.
previsão.do.tempo,.programação.de.lazer.(tv,.rádio,.cinema,.teatro,.shows,.museus...).etc.
Leitura de jornal e a formação do cidadão crítico – A.leitura.frequente.dos.jornais.nos.leva.a.conhecer.os.
principais.fatos.que.estão.acontecendo.no.mundo.e.nos.ajuda.a.compreender.melhor.a.realidade.que.nos.cerca..
A.imprensa.não.apenas.relata,.mas.também.comenta.e.interpreta.os.fatos..As.notícias.contam.os.acontecimentos.e.os.artigos.de.opinião,.os.editoriais,.as.crônicas.e.as.entrevistas.nos.auxiliam.a.refletir.sobre.eles..É.comum.
um.jornal.publicar.mais.de.um.ponto.de.vista.sobre.um.mesmo.fato..Os.textos.jornalísticos.conversam.entre.si,.
não.só.no.mesmo.exemplar.como.de.um.dia.para.o.outro..Um.fato.é.notícia.num.dia,.nos.outros.dias.pode.ser.
tema.de.editorial,.de.artigos.de.opinião,.de.reportagem,.de.entrevista.ou.de.uma.crônica.
A notícia, a crônica e o leitor –.Em.meio.a.tanta.notícia,.a.crônica.surge.na.página.do.jornal.ou.da.revista.como.para.arejar.o.peso.das.manchetes.diárias..Sua.leitura.ajuda.a.aliviar.a.tensão.que.as.notícias.graves.
podem.causar.
Notícia & crônica – Assim.como.acontece.com.a.notícia,.a.crônica.também.se.alimenta.dos.fatos.do.
cotidiano..Onde,.então,.está.a.diferença.entre.estes.dois.gêneros?.A.diferença.principal.está.na.intencionalidade.de.cada.um.deles..As.notícias.são.escritas.para.informar.o.leitor.de.jornais.e.revistas.dos.principais.
acontecimentos.políticos,.esportivos,.culturais,.científicos,.econômicos.etc.,.nacionais.e.internacionais..E.as.
crônicas.são.escritas,.sobretudo,.para.entreter.esse.mesmo.leitor.
Linguagem – Outra.diferença.é.a.linguagem..Um.texto.escrito.para.informar.não.pode.ter.a.mesma.
linguagem.de.um.texto.que.pretende.entreter.o.leitor..A.linguagem.de.um.texto.que.tem.o.compromisso.de.
dar.informações.precisa.ser.objetiva.e.fornecer.dados.com.precisão..De.outro.lado,.o.texto.que.não.tem.esse.
mesmo.compromisso.com.a.realidade.permite.ao.escritor.ter.mais.liberdade.no.uso.da.linguagem..O.escritor,.
neste.caso,.tem.que.ser.criativo..Ele.deve.encontrar.novas.formas.para.dizer.coisas.corriqueiras..Para.isso,.ele.
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74  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
precisa.dar.novos.sentidos.às.palavras,.diferentes.dos.sentidos.conhecidos..Por.meio.de.suas.crônicas,.com.
lirismo,.humor,.ironia.ou.sarcasmo,.o.cronista.reflete.sobre.a.realidade.que.nos.rodeia.e.a.critica.de.forma.
explícita.ou.implícita,.ajudando.a.ampliar.nossa.visão.das.coisas.
O que diz Antonio Cândido – Escritor,.ensaísta,.professor.universitário.e.o.mais.importante.crítico.literário.brasileiro,.Antônio.Cândido.(1918).diz.que.na.crônica,.“Tudo é vida, tudo é motivo de experiência e reflexão, ou simplesmente de divertimento, de esquecimento momentâneo de nós mesmos a troco do sonho ou da piada
que nos transporta ao mundo da imaginação. Para voltarmos mais maduros à vida...”..(Antonio.Cândido,.em.A
vida ao rés-do-chão,.prefácio.do.livro.Para gostar de ler, volume 5, Crônicas,.Ática,.1984)
Para exemplificar – Vamos.exemplificar.o.que.dissemos.até.agora.com.uma.crônica.de.Fernando.Bonassi..No.final.dos.anos.90,.os.ônibus.urbanos.da.cidade.de.São.Paulo.foram.equipados.com.bancos.que.ficam.
de.frente.um.para.o.outro..Bonassi,.paulistano,.nascido.em.1962,.traduziu.numa.crônica.o.que.ele.pensava.
sobre.esses.bancos..O.texto.foi.publicado.na.coluna.Da rua,.no.caderno.Ilustrada,.do.jornal.Folha.de.São.
Paulo,.em.abril.de.2000.
bAnco DoS boboS
Fernando Bonassi
Moura não consegue entender o que leva a indústria a construir esses ônibus,
que podem fazer três idiotas chegar a passar algumas horas olhando pra cara de
outros três imbecis, conforme a duração da viagem. Não há livro, videogame ou
walkman que distraia todo o tempo. Logo estão olhares enviesados se cruzando,
escapando, rebatendo nas vidraças, que ainda teimam em refletir. Aqueles engenheiros devem estar acreditando que a raça humana é um troço geneticamente
dotado de simpatia. Parecem não imaginar o quanto um mísero contato é difícil
por aqui.
A.crônica.nos.faz.refletir.sobre.o.comportamento.humano:.Como.nos.sentimos.andando.de.ônibus.sentados.de.frente.para.pessoas.que.não.conhecemos?.Ficamos.à.vontade.ou.nos.sentimos.constrangidos?.Puxamos.conversa.com.o.vizinho.da.frente.ou.desviamos.nossos.olhos.dos.olhos.dele?.Todas.as.pessoas.reagem.
do.mesmo.jeito,.ou.depende.de.pessoa.para.pessoa,.ou.ainda.de.cultura.para.cultura?.A.simpatia.não.faz.
parte.da.natureza.humana.e.estabelecer.contato.com.seu.semelhante.é.difícil.para.o.ser.humano?
Outro.ponto.a.observar.nessa.crônica.é.a.linguagem..O.autor.faz.uso.de.linguagem.informal,.de.expressões.bastante.populares.como.“imbecil”,.“idiota”.e.“troço”..Ele.inventa.um.personagem.chamado.“Moura”.e.
é.por.intermédio.do.“Moura”.que.podemos.perceber.o.que.o.cronista.pensa.da.raça.humana.
A fonte de inspiração dos cronistas – Alguns.cronistas.se.baseiam.nos.fatos.noticiados.na.imprensa..
Outros.vão.buscar.inspiração.nos.temas.mais.banais.e.comuns.da.vida.de.qualquer.pessoa..Crônicas.são.
dirigidas.a.um.público.específico.–.o.leitor.dos.jornais.ou.revistas..São.escritas.para.colunas.mantidas.nos.
periódicos..Não.é.um.gênero.textual.simples.de.definir,.como.bem.disse.Luiz.Fernando.Veríssimo.no.texto.
Crônica e Ovo.
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Definição da palavra crônica –. Encontramos. no. Novo. Dicionário. da. Língua. Portuguesa,. de. Aurélio.
Buarque.de.Holanda,.editora.Nova.Fronteira,.em.edição.de.1999,.a.seguinte.definição:
Crônica. [Do.lat..chronica.].S.f..1..Narração.histórica,.ou.registro.de.fatos.comuns,.feitos.por.ordem.cronológica..[...].4..Texto.jornalístico.redigido.de.forma.livre.e.pessoal,.e.que.tem.como.temas.fatos.ou.ideias.da.
atualidade,.de.teor.artístico,.político,.esportivo,.etc.,.ou.simplesmente.relativos.à.vida.cotidiana.
Origem da palavra crônica.–.A.palavra.crônica.deriva.do.Latim chronica,.que,.por.sua.vez,.deriva.do.
grego.chronos,.que.significa.“tempo”..A.relação.com.o.“tempo”,.que.desde.sua.origem.existe,.mantém-se.
até.hoje.
Um pouco de História –.No.início.da.era.cristã,.significava.o.relato.de.acontecimentos.em.ordem.
cronológica..Era.um.registro.de.eventos,.a.chamada.crônica histórica..Na.Europa,.no.século.XIX,.com.o.
desenvolvimento.da.imprensa,.a.crônica.passou.a.fazer.parte.dos.jornais..Eram.textos.que.comentavam,.
de.forma.crítica,.os.acontecimentos.da.época..Tinham,.portanto,.um.sentido.histórico.e.serviam,.assim.
como.outros.textos.do.jornal,.para.informar.o.leitor..Essa.prática.foi.trazida.para.o.Brasil.na.segunda.
metade.do.século.XIX..Com.o.passar.do.tempo,.a.crônica.brasileira.foi,.pouco.a.pouco,.distanciando-se.
daquela.crônica.com.sentido.de.documento.histórico..Ela.ficou.mais.leve,.fazendo.uso.de.linguagem.
literária..Mas.não.perdeu.a.ligação.com.o.“tempo”,.sua.característica.definidora,.que.é.a.relação.com.os.
fatos.contemporâneos.
A primeira crônica brasileira – A.carta.que.Pero.Vaz.de.Caminha.escreveu.a.D..Manuel,.rei.de.Portugal,.
contando.o.descobrimento.do.Brasil,.é.considerada.a.primeira.crônica.brasileira..Ela.se.inicia.assim:
Senhor:
Posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a
Vossa Alteza a nova do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei também de dar minha conta disso a Vossa Alteza, o melhor
que eu puder, ainda que – para o bem contar e falar –, o saiba fazer pior que todos.
[...]
Beijo as mãos de Vossa Alteza.
Deste Porto Seguro, da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de
Maio de 1500.
Pero Vaz de Caminha
É.possível.ler.A.Carta.na.íntegra.em.www.dominiopublico.gov.br.
Pedro.Vaz.de.Caminha.lendo.a.Pedro.Álvares.Cabral.e.frei.Henrique.Coimbra.a.carta.que.escreveu.a.
El-Rei.D..Manuel.e.de.que.Gaspar.de.Lemos,.comandante.do.navio.dos.mantimentos,.era.portador,.(quadro.
do.pintor.brasileiro.Aurélio.de.Figueiredo)»,.reproduzido.em.Carlos.Malheiro.Dias.(org.),.História da Colonização Portuguesa do Brasil,.1923,.vol..II..Reprodução.fotográfica.de.Isabel.Rochinha.
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76  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Na.época.de.Caminha,.século.XVI,.crônica significava.registro.de.acontecimentos.históricos..É.isto.que.
sua.carta.é..No.século.XVIII,.o.termo.com.esta.significação.foi.substituído.pela.palavra.história. Desde.então,.
história.é.o.registro.e.a.interpretação.de.acontecimentos.históricos.
Folhetins ocupam o espaço menos nobre do jornal: o rodapé – Entre.o.final.do.século.XIX.e.o.início.
do.século.XX,.escritores.já.consagrados.ocupavam.o.rodapé,.a.parte.inferior.das.páginas.dos.jornais.com.
pequenos.textos:.contos,.artigos,.ensaios.etc..Eram.os.chamados.folhetins, destinados.ao.entretenimento.do.
leitor.e.muito.apreciados.na.época. Machado.de.Assis.e.José.de.Alencar.são.alguns.dos.grandes.nomes.da.
literatura.brasileira.que.foram.folhetinistas..Às.vezes,.escreviam.romances.em.capítulos,.que.eram.acompanhados.com.tanto.interesse.como.o.são.as.novelas.de.televisão.de.hoje;.às.vezes,.escreviam.crônicas..Assim,.
a.crônica.atual.nasceu.dos.folhetins.
Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção
Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora.
texto-farol 2
A relação crônica & notícia,
de heloisa ramos
Heloisa Ramos é graduada em Língua e Literatura Inglesa e Portuguesa, pela
PUCCAMP, especialista em Linguística, Semântica e Didática da Língua Portuguesa,
pela PUC-SP, e formadora do Projeto Letras de Luz.
Antes.mesmo.de.ler.um.texto,.sabendo.apenas.que.se.trata.de.uma.notícia,.uma.carta,.uma.propaganda.ou.um.conto,.já.antecipamos.alguns.de.seus.significados..Por.exemplo,.sabendo.que.se.vai.ler.uma.
notícia,.o.que.se.espera.encontrar?.Uma.provável.resposta.será:.um.texto.publicado.em.jornal.ou.revista,.que.relata.um.acontecimento.notável.que.tem.alguma.importância.para.o.leitor.da.publicação,.segundo.seu.editor.
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Os.títulos.também.são.reveladores..A.notícia.que.vem.a.seguir.foi.publicada.no.jornal.Folha de S.Paulo,.
no.dia.16.de.outubro.de.2006,.no.caderno.Cotidiano,.e.foi.escrita.pela.repórter.Daniela.Tófoli. O.título.é.
Igrejas são alvos de ladrões em São Paulo.
Antes.de.ler.uma.notícia.com.tal.título,.o.leitor.provavelmente.começará.a.imaginar.quem.são.esses.ladrões.e.o.que.roubam.nas.igrejas..Serão.imagens.antigas.de.santos.ou.objetos.de.valor.histórico?.O.que.eles.
fazem.com.o.material.roubado?
Só.mesmo.lendo.o.texto.para.saber:
igrejAS São ALvoS De LADrõeS em São PAULo
Só a proteção divina não está mais dando conta. Os assaltos a igrejas tornaram-se tão freqüentes que padres e sacristães precisam dar uma ajudinha aos
santos e passaram a contratar seguranças, instalar alarmes e até colocar câmeras
no altar para evitar furtos e roubos. Nem sempre, no entanto, todo esse aparato é
suficiente.
Bastou a última missa do domingo da semana passada terminar para os religiosos da igreja de São Judas Tadeu, no Jabaquara (zona sul) constatarem que,
pela terceira vez em dois meses, tinham sido assaltados. O ladrão furtou o cofre
onde estavam as oferendas do dia. Os padres não sabem o valor nem têm pistas
do ladrão.
Três semanas atrás, porém, um dos quatro seguranças que se revezam no local
identificaram um assaltante. “A polícia o prendeu e recuperou o dinheiro. Era o
mesmo ladrão que nos roubou há menos de dois meses”, diz o padre Augusto Pereira, um dos vigários da igreja. “Ainda não temos câmeras, mas a segurança se
tornou preocupação nas paróquias.
Assaltar igreja não é caso raro na capital. De 20 paróquias consultadas pela
Folha, 13 sofreram algum roubo ou furto neste ano ou no passado. Ou seja,
65% das paróquias foram vítimas de ladrões. De agosto para cá, foram sete
assaltos.
“Não tem ano que a gente não seja roubado, mas agora está demais”, diz o
padre João Enes, da paróquia Nossa Senhora Casaluce, no Brás, centro. “Em agosto, levaram botijão de gás e 600 refrigerantes e cervejas de uma festa. Não se respeita mais nem a igreja.”
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78  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
fUrtoS De PÁrA-rAioS
Falta juízo aos ladrões, afirma padre Pascoali Priolo, da São Januário, na Mooca
(zona leste). “A situação é terrível, não sei mais o que fazer. Os assaltantes abusam
e só a guarda de Deus não dá conta de tudo.”
A igreja de Priolo já foi furtada duas vezes neste ano. Em março, os ladrões levaram cálices, depredaram o sacrário e roubaram até o pára-raios. “Como era de
cobre, levaram para vender ao ferro-velho.” Na semana passada, a igreja da Consolação, no centro, foi mais uma que teve os fios de seu pára-raios furtados.
O ferro-velho foi o destino, ainda, da cruz de R$ 3.000 que adornava a igreja
Nossa Senhora da Paz, no Glicério, centro, dizem os religiosos de lá. Já a Bom Jesus, no Brás, não sabe o que aconteceu com a coroa de Nossa Senhora Aparecida,
furtada há um mês.
Histórias de assaltos são comuns entre os padres. No ano passado, roubaram o
ofertório no meio de uma missa na paróquia Imaculada Conceição, na Bela Vista
(centro). Também em 2005, ladrões levaram microfones e pedestais da Nossa Senhora do Rosário, na Pompéia (zona oeste). No mês passado, assaltantes furtaram o cofre
do grupo de orações na igreja de Santa Cecília, no centro.
Repórter Daniela Tófoli – Folha de S.Paulo/Caderno Cotidiano – 16/10/2006
Notícia inspira crônica – O.mesmo.jornal.que.publicou.a.notícia.acima,.poucos.dias.depois,.publicou.a.
crônica.abaixo..Este.é.um.caso.de.crônica.cujo.autor.toma.como.base.uma.notícia..O.autor.Moacyr.Scliar.
todas.as.segundas-feiras,.no.caderno.“Cotidiano”,.da.Folha.de.São.Paulo,.escreve.uma.crônica..Ele.parte.do.
tema.de.uma.notícia.e.cria.um.texto.de.ficção..A.crônica,.publicada.em.23/10/2006,.foi.inspirada.na.notícia.
“Igrejas.são.alvos.de.ladrões.em.São.Paulo”.
O autor – Moacyr.Jaime.Scliar.nasceu.em.23/3/1937,.em.Porto.Alegre.(RS)..É.um.dos.mais.produtivos.
escritores.brasileiros,.com.mais.de.setenta.títulos.publicados.
Para pensar antes de ler a crônica – O.que.será.que.passa.na.cabeça.de.um.ladrão,.antes.de.decidir.se.vai.
ou.não.roubar.uma.igreja?.Scliar.diverte.o.leitor,.contando.o.que.aconteceu.com.um.ladrão.de.igreja.
O.título.da.crônica.é.um.dos.dez.mandamentos.do.cristianismo:.“Não.roubarás”. A.influência.da.temática.bíblica.é.marcante.nas.obras.de.Moacyr.Scliar..O.título.Não roubarás.é.uma.ordem?.É.o.desejo.de.alguém?.É.um.artigo.de.um.código.moral?
Intertextualidade – Textos.conversam.com.textos,.sejam.verbais.ou.não..Quanto.mais.um.leitor.conhece.
outros.textos.mais.ele.amplia.sua.compreensão.leitora..Um.exemplo.disto.é.que.para.compreender.melhor.
esta.crônica,.o.leitor.precisa.saber.que.existe.um.filme.americano.chamado.O diabo veste Prada..Prada.é.o.
nome.de.uma.centenária.e.famosa.marca.italiana.de.moda.de.luxo..No.filme.de.2006,.a.atriz.Meryl.Streep,.
sob.a.direção.de.David.Frankel,.faz.o.papel.de.uma.exigente.executiva.de.uma.importante.revista.de.moda..
Ela.é.o.“diabo”.que.veste.Prada.
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não roUbArÁS
Moacyr Scliar
Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais
tarde seria castigado
Verdade seja dita, ele hesitou muito. Porque, apesar de já ter assaltado gente
em bares, em restaurantes, nas ruas, em carros, nunca o fizera numa igreja. Um
amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é
mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem
usar arma. A ele, aquilo parecia um sacrilégio, uma tentação.
Não era religioso, mas acreditava em Deus e na justiça divina. Tinha certeza de
que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado.
Mas então teve um sonho, um sonho que foi decisivo. Sonhou que estava num
lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia: um deserto. Sem saber o
que fazer, olhava ao redor, desorientado, quando de repente avistou um homem.
Uma figura exótica, sinistra mesmo: vestia uma espécie de fraque, usava cavanhaque e exibia um sorriso malicioso. Você está indeciso, disse o estranho, você não
sabe se assalta uma igreja ou não, mas você está só perdendo tempo: é a coisa
mais fácil do mundo.
Acordou resolvido: naquele mesmo dia faria o assalto. E, para a estréia, escolheu uma pequena e modesta igreja de bairro. O que se revelou uma verdadeira
decepção. Quando lá chegou, estava começando a chover e, talvez por causa
disso, o lugar estava deserto.
Nenhum fiel ali, nem homem, nem mulher, ninguém para ser assaltado. E na igreja propriamente dita, nada que aparentemente valesse à pena carregar; apenas algumas modestas imagens de santos. Foi até o ofertório, sacudiu-o: nada, estava vazio.
Uma violenta trovoada fez estremecer o templo, o que lhe deu uma ideia: o
pára-raios. Sempre podia render alguma coisa, afinal era de cobre, e ele conhecia
um ferro-velho que pagaria uma boa grana.
Sem muito esforço, retirou o pára-raios, uma haste com o seu fio, e foi embora
sob o temporal. Ao atravessar o descampado, aconteceu aquilo que sempre pode
ocorrer com quem carrega pára-raios: foi atingido por uma descarga elétrica fulminante. A última coisa que viu foi o homem que aparecera em seu sonho, mostrando os caninos num sorriso irônico. E estava bem abrigado da chuva. Porque, em
ocasiões de temporal, o diabo não veste Prada.
O diabo veste uma elegante capa preta. Ótima para quem tem de seguir pecadores sob a tormenta.
Folha de S.Paulo – Caderno Cotidiano, 23/10/2006
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Uma conversa com a crônica Não roubarás – Todo.leitor,.mesmo.diante.de.um.texto.que.está.lendo.pela.
primeira.vez,.reconhece.nele.algum.traço..São.os.traços.e.vestígios.conhecidos.que.permitem.o.entendimento.de.um.texto.lido.pela.primeira.vez..Quanto.mais.elementos.são.familiares.ao.leitor,.mais.fácil.será.sua.
interpretação.
Reconhecer.o.gênero.do.texto,.por.exemplo,.é.um.traço.importante.para.a.sua.compreensão..Saber.que.o.
texto.é.uma.crônica.já.permite.antecipar.algumas.informações..O.leitor.de.crônicas.sabe,.por.exemplo,.que:
 esse gênero é ficcional;
 o autor inventa uma história, ou faz reflexões sobre um acontecimento que ele presencia no seu cotidiano
ou que está nos noticiários;
 em geral, são críticas bem-humoradas;
 por trás do humor, o autor critica um comportamento de sua época.
Títulos e subtítulos podem dar pistas do que vai acontecer numa narrativa –.O.texto.tem.um.subtítulo:.“Tinha certeza de que, se entrasse numa igreja para roubar, mais cedo ou mais tarde seria castigado”. A.certeza.
do.castigo.se.confirmou?.O.assaltante.foi.castigado?.Como?
Crônica e humor – Em.geral, os.cronistas.tratam.com.humor.os.assuntos.das.notícias.do.jornal.e.os.fatos.
comuns.do.cotidiano.das.pessoas..A.crônica.Não roubarás.é.um.exemplo.disto..Uma.das.formas.de.criar.
humor.é.quebrar.a.expectativa.do.leitor.ou.do.ouvinte..As.quebras.de.expectativa.dessa.crônica.estão,.por.
exemplo,.em:
 a figura do ladrão é diferente da imagem que se tem de um criminoso. Espera-se que um ladrão não tenha
valores morais, seja seguro, descrente e destemido. No texto, o assaltante não corresponde a essa imagem.
Ele acredita em Deus e teme ser castigado, se assaltar uma igreja;
 o local escolhido para ser assaltado foge dos padrões. Espera-se que um ladrão queira roubar lugares que
tenham objetos de valor. No entanto, a igreja escolhida para o assalto é modesta, as imagens dos santos não
têm valor comercial e até o ofertório está vazio;
 a tentativa de roubo se transforma numa seqüência desastrosa para o ladrão: começa a chover; a igreja está
vazia, sem ninguém para ser assaltado; uma trovoada violenta estremece o templo; ele rouba e leva embora
o pára-raios sob temporal; uma descarga elétrica fulminante o atinge. Essa seqüência lembra o humor das
comédias tipo pastelão do cinema e de alguns programas humorísticos da televisão, com heróis trapalhões,
como nos seriados Chaves (SBT), A Grande Família (GLOBO) e Os Trapalhões (GLOBO);
 o fato de o personagem estar correndo num descampado, sob forte chuva, carregando um objeto inusitado
– um pára-raios – e ser atingido por uma descarga elétrica pode provocar o riso do leitor;
 o jogo de palavras o diabo não veste Prada, em que o autor brinca com o nome do filme O diabo veste
Prada, cria a imagem de um diabo que se veste bem;
Intertextualidade – Já.dissemos.que.intertextualidade.é.a.referência.explícita.ou.implícita.que.um.texto.
faz.a.outro(s).texto(s)..Na.crônica.que.estamos.analisando,.a.intertextualidade.está.presente.em.diferentes.
momentos:
 ela faz referências implícitas à Bíblia. O autor usa como título um dos dez mandamentos do Antigo Testamento: “Não roubarás” (Êxodo 20-15). Também cita a figura do diabo e fala em castigo, em Deus e na justiça divina;
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 Além da Bíblia, há outra marca intertextual. O narrador diz que “o diabo não veste Prada”. Ao fazer esta
citação, ele está fazendo referência ao filme “O diabo veste Prada”.
explorando o universo textual da crônica Não roubarás
Ao.contrário.da.notícia,.a.crônica.é.um.texto.ficcional..Isto.significa.que.o.escritor.não.tem.compromisso.com.a.realidade.e.pode.inventar.todos.os.elementos.da.sua.história..Assim.fez.Moacyr.Scliar.no.
texto.Não roubarás.
Essa. crônica. apresenta. as. características. essenciais. de. qualquer. texto. narrativo:. um. narrador,. enredo.
numa.seqüência.de.fatos,.personagens,.espaço.e.tempo.
Narrador –.Toda.história.precisa.ser.contada.por.“alguém”;.esse.“alguém”.que.conta.a.história.é.o.narrador..É.através.dele.que.tomamos.conhecimento.do.enredo,.das.características.das.personagens,.da.descrição.
dos.cenários.etc..Nessa.crônica,.o.narrador.conta.a.história.de.um.assalto.a.uma.igreja.praticado.por.um.
homem..O.narrador.não.participa.da.história.
Enredo numa sequência de fatos –.O.enredo.é.a.própria.história.que.se.desenrola.em.fatos.numa.sequência.
temporal..A.sequência.dos.fatos.na.crônica.Não roubarás.está.assim.encadeada:
1º o narrador explica por que o criminoso ainda não tinha assaltado uma igreja;
2º o assaltante tem um sonho decisivo;
3º o ladrão assalta uma igreja;
4º o assaltante é atingido por uma descarga elétrica.
Personagens –.Os.três.personagens.da.crônica.são:.o.assaltante,.um.amigo.e.o.homem.elegante.do.sonho.
Espaço –. São. os. cenários,. espaços. físicos. naturais,. ambientais,. geográficos.. Na. crônica,. aparecem.
três.espaços:.o.lugar.do.sonho.é.um deserto distante,.desolado,.perdido.entre.dunas.de.areia;.o.assalto.
acontece.numa.igreja.de.bairro.pequena.e.modesta;.uma.descarga.elétrica.atinge.o.assaltante.num.descampado.
Tempo –.Os.fatos,.acontecimentos.e.ações.das.personagens.se.articulam.no.plano.temporal;.eles.têm,.
necessariamente,.uma.duração..Na.crônica.de.Scliar,.tudo.acontece.num.curto.espaço.de.tempo,.entre.uma.
noite.e.um.dia.
Personagem e pessoa – Nas.notícias,.é.obrigatório.dizer.o.nome.completo.das.pessoas.citadas..Já.nas.
crônicas,.o.autor.inventa.uma.história.com.personagens.imaginados.por.ele,.que.podem.ter.nome.ou.não..Na.
crônica.que.estamos.analisando os.personagens.não.têm.nome..O.personagem.principal.é.chamado.simplesmente.de.“ele”.
Linguagem formal e linguagem coloquial – O.personagem.principal.do.texto.Não roubarás.é.um.assaltante..Quando.ele.está.em.dúvida,.sem.saber.se.vai.ou.não.assaltar.uma.igreja,.um.amigo,.também.assaltante,.tenta.convencê-lo.a.praticar.o.crime..Neste.trecho,.o.autor.abandona.o.padrão.culto.da.língua.para.adotar.
uma.linguagem.com.gíria:.“....é.mole,.cara,...”
Mais. adiante,. outro. personagem,. um. homem. elegante,. vestindo. uma. espécie. de. fraque,. aparece. num.
sonho.e.também.tenta.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja..Neste.caso,.a.linguagem.é.mais.formal:.“Você.
está.indeciso,.disse.o.estranho,.você.não.sabe.se.assalta.uma.igreja.ou.não,.mas.você.está.perdendo.tempo:.é.
a.coisa.mais.fácil.do.mundo.”
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Para.convencer.o.ladrão.a.roubar.a.igreja,.o.amigo.assaltante.e.o.homem.elegante.do.sonho.usaram.o.
mesmo.argumento:.roubar.igreja.é.fácil..No.entanto,.a.linguagem.usada.por.cada.um.não.é.igual..O.assaltante.diz:.“....é.mole,.cara,...”..E.o.homem.bem.vestido.fala:.“....é.a.coisa.mais.fácil.do.mundo.”
As palavras são selecionadas para criar os efeitos de sentido desejados pelo autor –.Para.criar.o.clima.
de.uma.história,.o.autor.seleciona.palavras.que.criam.o.efeito.desejado..Para.um.bom.escritor.não.serve.
qualquer.palavra..As.palavras.são.selecionadas.para.criar.os.efeitos.de.sentido.desejados.pelo.autor..As.passagens.abaixo.mostram.as.escolhas.que.Scliar.fez:
 referindo-se à insegurança do assaltante: “Verdade seja dita, ele hesitou muito.” / “Você está indeciso, disse
o estranho (...)”;
 o homem que aparece no sonho do ladrão é chamado de figura exótica e sinistra;
 na primeira vez em que o homem aparece no sonho ele exibe um sorriso malicioso. Na segunda vez, mostra os caninos num sorriso irônico.
O tempo verbal na notícia e nas histórias – Títulos.de.notícia.geralmente.têm.verbo.no.presente.e.no.
corpo.da.notícia,.o.verbo,.quase.sempre,.está.no.passado. Nos.textos.narrativos,.os.verbos.em.geral.são.usados.
no.passado..Isto.ocorre.por.uma.necessidade.do.próprio.ato.de.contar.histórias..Escritores.ou.contadores.
orais.contam.histórias.acontecidas.num.tempo.anterior.ao.tempo.da.leitura.ou.da.audição.da.história..Assim.
acontece.não.só.com.as.crônicas,.mas.também.com.as.lendas,.as.fábulas,.os.mitos,.os.contos.e.os.romances..
O.passado.é.o.tempo.verbal.predominante.nas.narrativas,.mas.não.é.o.único..Na.crônica.Não roubarás, o.
verbo.roubar.do.título,.por.exemplo,.está.no.futuro.
A pontuação serve para criar efeitos de sentido desejados pelo autor –. A. crônica. jornalística. é. um.
texto.breve..Isto.porque.o.espaço.reservado.no.jornal.para.a.crônica.é.pequeno.e.o.autor.não.pode.ultrapassar.um.número.limitado.de.linhas..Nesta.situação,.um.cronista.precisa.saber.dizer.o.que.quer.em.poucas.
palavras..Um.dos.recursos.de.síntese.é.a.pontuação..Na.crônica,.podemos.perceber.a.competência.de.Moacyr.
Scliar.no.uso.da.pontuação..Seu.grande.recurso.neste.texto.são.os.dois.pontos:
 no lugar de aspas ou travessão, o autor usa os dois pontos como uma forma de ocupar menos espaço para
introduzir uma fala: Um amigo, que em outra época fora seu cúmplice, tentava inutilmente convencê-lo: é
mole, cara, o pessoal que vai a igreja não reage, não é de briga, não precisa nem usar arma;
 o cronista sintetiza uma explicação, usando os dois pontos para substituí-la. É um recurso usado diversas
vezes no texto. Por exemplo: Sonhou que estava num lugar distante, desolado, perdido entre dunas de areia:
um deserto.
Fonte: Este texto foi elaborado para esta apostila e é uma adaptação do capítulo dedicado ao estudo da crônica da Coleção
Viver, Aprender – Ensino Fund. II – vol. 5, editora Global (2010), da mesma autora.
outras leituras recomendadas
1. A outra noite: Esta.crônica.foi.escrita.por.Rubem.Braga.(1913-1990),.escritor considerado.por.muitos.
o.maior.cronista.brasileiro,.desde.Machado.de.Assis.
Foi.publicada.no.livro.Ai de ti, Copacabana, editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1969,.p..183-184..A.obra.reúne.
crônicas.publicadas.entre.1955.e.1960,.nos.jornais.Correio da Manhã, Diário de Notícias e O Globo e.nas.revistas.Manchete e.Mundo Ilustrado.
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2. A última crônica: O.texto.é.de.autoria.do.grande.escritor.Fernando.Sabino..Mineiro.de.Belo.Horizonte,.ele.nasceu.em.12.de.outubro.de.1923.e.morreu.em.11.de.outubro.de.2004..Essa.crônica.foi.publicada.no.
livro.A Companheira de viagem, pela.Editora.Record,.em.1965..É.uma.narração.em.primeira.pessoa,.em.que.
o.autor.conta.como.ele.gostaria.que.fosse.sua.última.crônica.
3. 15 de setembro de 1876: Nessa.crônica,.Machado.de.Assis.comenta.as.comemorações.do.Dia.da.Independência.daquele.ano..É.interessante.saber,.e.a.crônica.nos.conta,.quantas.pessoas.viviam.na.cidade.do.Rio.
de.Janeiro,.em.1876.
15 de setembro de 1876
Machado de Assis
Este ano parece que remoçou o aniversário da Independência. Também os aniversários envelhecem ou adoecem, até que se desvanecem ou perecem. O dia 7
por ora está muito criança.
Houve realmente mais entusiasmo este ano. Uma sociedade nova veio festejar
a data memorável; e da emulação que houver entre as duas só teremos que lucrar
todos nós.
Nós temos fibra patriótica; mas um estimulante de longe em longe não faz mal
a ninguém. Há anos em que as províncias nos levam vantagem nesse particular; e
eu creio que isso vem de haver por lá mais pureza de costumes ou não sei que
outro motivo. Algum há de haver. Folgo de dizer que este ano não foi assim. As
iluminações foram brilhantes; e quanto povo nas ruas, suponho que todos os dez
ou doze milhões que nos dá a Repartição de Estatística estavam concentrados nos
largos de São Francisco e da Constituição e ruas adjacentes. Não morreu, nem
pode morrer a lembrança do grito do Ipiranga.
Fonte: Obra Completa de Machado de Assis, vol. III,
Rio de Janeiro: Nova Aguilar,1994.
Crônicas, Machado de Assis, vol. III, Rio de Janeiro: W. M. Jackson, 1938.
Publicado originalmente na Ilustração Brasileira, Rio de Janeiro.
4. A crônica como gênero da literatura e do jornalismo:.O.autor.Carlos.Heitor.Cony nasceu.no.dia.14.
de.março.de.1926.na.cidade.do.Rio.de.Janeiro..O.jornalista,.romancista.e.cronista,.em.6/12/2002,.neste.
texto.publicado.no.caderno.“Ilustrada”,.da.Folha de S.Paulo,.explica.o.que.para.ele.é.jornal,.jornalismo.e.
literatura.
A.crônica.do.Cony.está.repleta.de.comparações..O.leitor.deve.observá-las..O.escritor.inicia.dizendo.que.
alunos.de.curso.de.comunicação.pediram.a.ele.uma.definição.do.jornalismo.literário.e,.em.complemento,.o.
papel.da.crônica.nesse.tipo.de.jornalismo..Afirma,.ainda,.que,.embora.não.se.considere.a.pessoa.indicada.
para.falar.sobre.o.tema,.tentará.dar.uma.resposta..Cita.Franz.Kafka,.João.do.Rio.e.Humberto.de.Campos..
Sugere-se.que.aos.que.escolherem.este.texto.para.ler,.o.formador,.se.for.necessário,.explique.quem.foram.
essas.personalidades:
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 Franz Kafka (1883-1924), escritor tcheco de língua alemã, nasceu em Praga. É considerado um dos principais escritores de literatura moderna. Sua obra retrata as ansiedades e a alienação do homem do século XX.
Seu livro mais conhecido é “Metamorfose”;
 João do Rio (1881-1921) foi o pseudônimo mais constante do carioca João Paulo Emílio Coelho Barreto,
jornalista, contista, romancista, autor teatral. Entre outros livros deixou Dentro da noite, A mulher e os espelhos, Crônicas e frases de Godofredo de Alencar, A alma encantadora das ruas, Vida vertiginosa, Os dias
passam, As religiões no Rio e Rosário da ilusão;
 Humberto de Campos Veras (1886-1934) nasceu em Miritiba, hoje Humberto de Campos, estado do Maranhão. Deixou obra extensa e variada, incluindo crônicas e contos humorísticos, além de sonetos refinados,
que o tornaram um dos autores mais populares em sua época. Suas Memórias são apontadas como seu livro
mais importante.
5. A tua presença:.Crônica.de.Fernando.Bonassi,.publicada.na.Folha.de.São.Paulo.(07/03/1998.-.Seção.
DA.RUA)..Sugere-se.que.a.leitura.da.crônica.seguinte.seja.feita.em.dupla.e.que.o.leitor.diga.ao.seu.ouvinte.
que.escute.a.narração.e.tente.responder,.antes.do.final,.a.quem.o.narrador.se.dirige,.quando.diz:.“Sei.que.é.
você.”.
6. Conversinha mineira: Sugere-se.que.seja.feita.uma.leitura.dramática.da.crônica.de.Fernando.Sabino,.
publicada.no.livro A mulher do vizinho,.Editora.Sabiá,.Rio.de.Janeiro,.1962,.p..144..O.jeito.dito.mineiro.de.não.
se.pronunciar,.de.“esconder.o.leite”,.é.revelado.com.muito.humor.na.crônica.do.também.mineiro.Sabino.
7. Felicidade instantânea: Martha.Medeiros,.natural.de.Porto.Alegre,.é.cronista.e.poeta..Atualmente.é.
colunista.do.jornal.O.Globo.(RJ)..A.crônica.Felicidade instantânea.faz.parte.do.livro.de.crônicas.Non stop.
lançado.pela.L&PM.em.2001..Nela,.a.autora.faz.um.apelo.bem.humorado.ao.resgate.da.literatura,.em.detrimento.dos.livros.dos.livros.de.auto-ajuda.frequentemente.presentes.nas.listas.dos.mais.vendidos.
o leitor torna-se autor
Os.participantes.do.ano.de.2009.do.Projeto.Letras.de.Luz.de.municípios.de.São.Paulo,.Mato.Grosso.do.
Sul,.Espírito.Santo.e.Tocantins.foram.convidados.a.produzir.crônicas..O.resultado.foi.um.conjunto.significativo.de.textos.bem.variados..Variam.o.tema,.o.estilo,.os.lugares,.os.personagens..Alguns.cheios.de.humor,.
outros.introspectivos,.nostálgicos,.singelos,.mas.todos,.de.um.jeito.ou.de.outro.provocam.o.leitor.e.fazem.
pensar..Reproduzimos.abaixo.uma.dessas.crônicas.que.passam.a.compor.a.antologia.desta.apostila.
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StreSS
Maria do Carmo Berthoud Oliveira
– Alô...
– Severino?! Como vai?...
– Tudo bem, mas...
– Eu sabia!... sempre tem um “mas”...
– É que...
– Não precisa nem falar, eu já soube o que aconteceu no HTPC.
– HTPC?...
– Não precisa disfarçar, mas eu sei que a Leontina, a professora de Geografia,
não conseguiu terminar o projeto de meio ambiente com os alunos e, por isso, não
fez a inscrição na Câmara Municipal.
– Leontina? De Geografia?!...
– É! Ela mesma!... E o Tibúrcio de Inglês? Já sei que ele trocou os pés pelas
mãos, ou seja, “feet” por “hands”. Nem tente negar, que eu já sei de tudo!
– Como?...
– É!... Não negue!... E os outros professores? Se desentenderam no meio da dinâmica? Que baixaria foi aquela?... Meu Deus!... E você? Não conseguiu esclarecer tudo?... É a coisa está mesmo feia!... Só resta fazer um relatório para o DEC.
– DEC? Que vem a ser isso?
– Você está brincando, não é?...
– Não estou, não! É só você me deixar falar que eu explico!
– Fale, então!...
– Em primeiro lugar, eu não me chamo Severino. Meu nome é Ribamar. Sou
corretor de imóveis, não entendo nada de aulas, muito menos de escola. Você
discou o número errado.
– Aí não é 3537 3940?
– Não. É 3537 3640.
– Des-des-desculpe. Tchau!
Taubaté (SP) – 24/11/2009
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conto já encenado por grupos de teatro do projeto Letras de Luz
Um credor da fazenda nacional
Qorpo-Santo
Personagens:
Credor
Porteiro
Um.Major
Um.Contínuo
Empregados.da.repartição
Outros.credor
Leopoldino,.Contador
Chefe.de.secção
Sr. Barbosa
Ato primeiro
UM CREDOR –.(entrando em uma repartição pública; para o Porteiro).–.Está.o.Sr..Inspetor?
PORTEIRO –.Está;.mas.não.se.lhe.pode.agora.falar.
CREDOR –.Por.quê?
PORTEIRO –.Está.muito.ocupado!
CREDOR –.Em.quê?
PORTEIRO –.Tem.gente.aí.com.ele.
CREDOR –.Quem.é?
PORTEIRO –.Um.Major!
CREDOR –.Demorar-se-á.muito?
PORTEIRO –.Ignoro.
CREDOR –.Pois.diga-lhe.que.lhe.quero.falar!
PORTEIRO –.Não.posso.ir.lá.agora.
CREDOR –.Quantas.horas.estarei.eu.aqui.à.espera.que.o.Sr..Major.saia.para.que.eu.entre!
(Passeia). (O MAJOR, saindo e encontrando-se com o Credor.)
CREDOR (para o MAJOR) –.Oh!.O.Sr..por.aqui!.Julgava-o.quem.sabe.onde!.Disseram.-me.que.tinha.ido.
para.Rio.Pardo.há.dias!
MAJOR –.Tenho.tido.aqui.numerosos.afazeres,.por.isso.não.sei.quando.irei.
CREDOR –.Fique.certo.que.sinto.o.mais.vivo.prazer.em.vê-lo.no.gozo.da.mais.perfeita.saúde.
MAJOR –.Onde.é.aqui.a.tesouraria?
CREDOR –.Na.Tesouraria.estamos;.mas.o.Tesoureiro.está.lá.embaixo.
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Apostilas das oficinas de leitura  87
PORTEIRO –.Lá,.não;.lá.está.o.pagador!
CREDOR –.Ah!.Então.é.cá.em.cima;.porém.nos.fundos;.creio.que.na.última.sala.
MAJOR –.Então.para.lá.vou..(Segue.)
CREDOR –.Agora.entro.eu..(Dirigindo-se à repartição.)
PORTEIRO –.Está.lá.o.Sr..Leopoldino.Contador!
CREDOR –.É.célebre!.Então.vou.à.secção.respectiva.saber.se.foi.informado.o.meu.requerimento!.(Caminha, e entra.)
PORTEIRO –.Que.diabo.de.homem.este!.Tem.vindo.mais.de.um.cento.de.vezes.à.repartição....se.há.de...
CONTÍNUO –.Faz.ele.muito.bem.[em].vir.cá!.Deve-se.lhe,.por.que.não.se.lhe.há.de.pagar?
CONTÍNUO –.Homem;.isso.é.verdade!.Qual.a.razão.por.que.esta.repartição.há.de.paliar.meses.e.anos!?
PORTEIRO –.Custa.a.crer.a.retardação.de.pagamento.ou.a.preguinha,.segundo.dizem.alguns.empregados!
CONTÍNUO –.O.caso.é.que.ele.tem.procedido.sempre.com.a.maior.prudência!
PORTEIRO –.Isso.é.verdade..Mas.quantos.terão.sofrido.pela.falta.de.cumprimento.de.deveres.de.alguns.
funcionários.públicos?
CONTÍNUO –.Ë.verdade!.Tem.havido.tantos.males,.que.enumerá-los.talvez.fosse.impossível.
PORTEIRO –.Mas.tu.sabes.o.que.os.empregados.querem?.Talvez.não.saibas..Pois.eu.te.digo:
1º.–.Acabar.com.a.Monarquia.Constitucional.e.Representativa!
2º.–.Pôr.termo.às.repartições.públicas;.isto.é,.acabarem.com.todas.estas.imposturas!
3º.–.Mudar.a.forma.de.governo.para.República.
4º.–.Fazerem.uma.liga.entre.todos.que...
CONTÍNUO –.(pondo as mãos na cabeça e puxando as orelhas) –.Estás.louco!.Homem!
.
D’onde.vieram-te.esses.pensamentos!?.Se.não.mudas.de.modo.de.pensar,.vais.parar.à.Caridade.
PORTEIRO –.Ah!.Tu.não.ouves!.És.surdo!.Não.vês..Tens.olhos.e.não.enxergas!
.
Ouvidos,.e.não.ouves!.Só.falas!.Tu.verás.a.revolução.que.em.breve.se.há.de.operar!.Olha;.eu.estou.
vendo.o.dia.em.que.entra.por.aqui.uma.força.armada;.vai.aos.cofres,.papéis..e.rouba.quanto.neles.
se.acha..Acende.um.facho,.e.laça.fogo.em.tudo.quanto.é.papéis.
CONTÍNUO –.(A correr) –.Ih!.Ih!.Ih!.Parece.que.já.estou.ouvindo.o.tinir.das.espadas!.A.voz.do.canhão.
troar..Deus.meu!.Acudi-me!.Ai!.Que.eu.morro! (Cai sentado.) Ai!.Ai!.Estou.cansado!.Fadigado!.
Quase....Meu.Deus!.Quantas.mortes.vos.aprazerá.ainda.fazer!?.Quando.vos.compadecereis.de.
vossos.entes.ainda.que.maus!?.Quando.se.aplacará.a.vossa.ira!?.Quando.se.saciará.a.vossa.vingança!.Céus!.Que.vejo!.(Como amparado com as mãos; pondo o corpo de lado; ao ouvir o som da trovoada
que em cima se faz.) Ah!...
PORTEIRO –.(querendo acudi-lo).–.Não.é.nada,.companheiro.e.amigo!.São.os.primeiros
preparativos.para.a.estralada.que.logo.mais.terá.de.ver.e.ouvir..Tranqüiliza.o.teu.coração..Ainda.não.desceram.raios,.fogo,.e.tudo.o.mais.que.se.há.preparando.para.grande.revolução!.Começará.de.cima;.e.
descerá.à.terra,.como.a.saraiva.em.certos.dias.chuvosos. (Ouve-se nova trovoada; relâmpagos.)
CONTÍNUO –.(melhorando pouco; e levantado-se) – Acho-me.um.pouco.mais.animado?
.
Parece-me.que.isto.não.é.comigo..Que.dizes?.Hem?.(batendo no ombro do porteiro.) Que.diabo,.pois.
eu.nada.fiz,.o.que.devo.temer!?.Sou.muito.pusilânime.
PORTEIRO –.Tu.sempre.foste.um.poltrão..De.tudo.te.assustas;.de.tudo.tens.medo!.Diabo!
.
(Empurra-o) Toma.juízo!.Deixa-te.de...
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CONTÍNUO –.Ora,.ora!.E.não.entendo.o.que.é.ter.juízo,.pelo.que.vejo,.e.pelo.que.ouço.
.
Vivo.em.minha.casa..Trabalho.incessantemente.em.proveito.meu,.e.da.minha.família..Não.ofendo.
a.pessoa.alguma!.Sucede-me.isto!.Dizei-me:.–.O.que.é.ter.juízo?
PORTEIRO –.Ter.juízo.é.cometer....e....ai!ai!.(pondo as mãos no rosto) que.também.estou.ficando.doente!
CREDOR (voltando) –.Ainda.hoje.não.recebo.dinheiro!.Prometeu-me.um.Empregado,.e.a.mais.um.indivíduo.que.espera....Como.de....(Sai.).Veremos.se.se.pode.receber.segunda-feira!
UM DOS EMPREGADOS – Por.que.razão.não.se.há.de.pagar.a.este.homem!?
OUTRO – Eu.sei.disso!?
CREDOR – (voltando) – Não.tenho.melhor.resolução.a.tomar,.que.a.de.sentar-me.em.uma.das.cadeiras.
desta.repartição.e.nela.esperar.até.que.se.me.pague.
CERTO INDIVÍDUO –.Então,.por.quê?
CREDOR –.Ora,.porque!?.Porque.não.dou.um.passo.que.não.encontre.um,.que.não.me.peça.o.aluguel.da.
casa..Outro,.que.não.me.peça....que.não.me.fale!...
O INDIVÍDUO –.Tudo.isso.é.bom!
CREDOR –.É;.é;.para.certos.indivíduos;.para.mim.é.péssimo!.Nunca.gostei.de.ser.atacado.em.casa,.quanto.mais.pelas.ruas.da.cidade!.Todos.os.que.compelem.a.honra,.ou.aos.que.desejam.viver.com.seriedade,.–.a.essas.cenas,.–.deveriam.em.minha.opinião.ficar.condenados.a.idênticos;.ou.a.outros.
procederes.piores,.contrários.à.sua.vontade,.ou.desejos.
O INDIVÍDUO (com a mão querendo fazer uma cruz) – Resquié.d’impace!.Resquié.d’impassere;.Amem!.
Amem!.N’amem!.N’amem! (Saindo). E.vou.m’embora.(Sai)
Ato segundo
Salão em que trabalham diversas secções
CREDOR (entrando) – É.a.vigésima....não.me.lembro.se.quinta.ou.sétima.vez.que.venho.a.esta.casa.haver.
aluguéis.de.casa!.E.talvez.ainda.hoje.saia.sem.dinheiro!.(À parte:) Mas.eles.hão.de.se.arranjar!.(A
um dos empregados, o Contador) Vossa.Senhoria.faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.está.despachando.
o.conteúdo,.ou.quer.que.seja,.quando.a.um.requerimento.que.aqui.tenho?
CONTADOR –.Será....(lendo) Castro....Car....Cirilo,.Dilermando!?
CREDOR –.Não!.É.um.requerimento.meu,.assinado.–.José.Joaqim.de.Qampos.Leão,.Qorpo-Santo.
CONTADOR –.Ah!.Esse.está.no.chefe.da.quarta.secção.
CREDOR –.Bem,.então.lá.irei..(Dirigindo-se ao chefe:) Faz-me.o.obséquio.de.dizer.se.já.está.despachado.
um.requerimento.que.aqui.tenho?
CHEFE (apontado) – Fale.ali.com.o.Sr..Barbosa.
CREDOR (dirigindo-se a este) –.Ainda.não.encontrou.o.que.procurava.a.meu.respeito?
BARBOSA –.Ainda.não!.Há.aqui.tantos.papéis!
CREDOR –.Ora,.com.efeito!.Pois.tanto.custa.ver.um.ofício.da.Presidência,.ou.ver.o.assentamento.que.em.
virtude.desse.ofício.deve.existir.no.livro.competente?.Isto.é,.no.mesmo.em.que.se.acham.debitados.
tais.aluguéis!?.(Senta-se.)
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CHEFE –.V..Exa..Não.adianta.nada.em.esperar.aqui!.Antes.atrasa.o.serviço.para.conseguir.o.que.quer;.
deixe.estar.que.está.se.trabalhando!
CREDOR –.Eu,.nem.venho.interromper,.nem.venho.adiantar!.Mas.apenas.saber!.Parece-me.cousa.tão.
simples;.tão.fácil...
BARBOSA –.São.três.ofícios.da.Presidência.que.o.Sr..Inspetor.quer.ver!.Não.é.um.só.
CREDOR –.Srs.,.eu.já.sei.o.que.hei.de.fazer,.o.que.os.Srs..querem!.Voltarei.em.tempo!
(Ao sair, encontra-se com outro.)
O OUTRO –.Então,.não!?.(Dá-lhe uma caixa de fósforos.)
CREDOR –.Estou.doente;.e.assim.fico.todas.as.vezes.que.venho.a.esta.casa,.e.dela.saio.sem.dinheiro!
O OUTRO –.Então.fico.eu.pelo.Sr.!.(O Credor sai; e o Outro entra.)
O OUTRO –.Muito.custa.esta.casa.pagar.a.quem.deve!.Faz-se.uma.dúzia.de.requerimentos.para.se.obter.
um.despacho!.Cada.requerimento.leva.outra.dúzia.de.informações!.O.despacho.definitivo.obtém-se.por.milagre!.E.a.paga.ou.dinheiro.que.a.alguém.se.deve.–.quase.à.força,.ou.pela.força!
UM DOS EMPREGADOS –.(para esse Indivíduo) –.Com.efeito!.O.Sr..é.audaz.de.mais!
O OUTRO –.Não!.Não.é.por.audácia!.É.apenas.referir.o.que.se.passa....o.que.é.verídico!
EMPREGADO –.Sim;.mas.nós.não.temos.culpa!
O OUTRO –.Nem.eu.inculpo.a.alguém!.Mas.receio,.Srs.,.que.os.numerosos.incômodos.que.tenho.sofrimento,.pelo.procedimento.que.esta.repartição.para.comigo.–.vai.tendo;.os.vexames;.as.faltas;.as.
privações;.e.até.as.enfermidades.que.tem.me.causado.e.numerosos.outros.transtornos,.farão.de.
repente.com.que.se.espalhe.fogo.nestes.papéis.–.e.tudo.se.incendie.(Toca uma caixa de fósforos numa
mesa; esta incendeia-se; ele a atira para as mesas de um dos lados; faz o mesmo à outra, e atira para outro
lado; enquanto os empregados trabalham para apagar o fogo em alguns papéis que começam a incendiar-se, ele sai.)
.
(Já se vê que há descompostura; repreensões; atropelamento, carreiras em busca d’ água; ligeireza para seapagar; aparecimento de alguns outros empregados, ao ouvirem o grito de fogo, etc.)
.
Pode.acabar.assim;.ou.com.a.cena.da.entrada.do.Inspector,.repreendendo.a.todos.pelo.mal.que.
cumprem.seus.deveres;.e.terminando.por.atirarem.com.livros.e.penas;.atracações.e.descomposturas,.etc.
José Joaquim de Campos Leão Qorpo-Santo.
Em Porto Alegre, de 26 a 27 de Maio de 1866.
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APoStiLA 3
oficinA 3 – vozes em cena
A arte de atuar
Tragédia e Comédia
objetivos:
Máscaras símbolo do teatro.
•
•
•
realizar leituras dramáticas;
•
conhecer algumas curiosidades da história do teatro.
conhecer especificidades do texto dramático;
compreender o que é necessário para realizar uma leitura dramática, uma improvisação e a encenação de
uma peça teatral;
conteúdos:
•
•
•
o teatro e suas formas dramáticas;
a leitura dramática;
características do texto teatral.
Desenvolvimento:
O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá.-lo.
à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.
1. Abertura:
a)..para.sensibilizar.para.o.gênero.abordado.nesse.encontro,.o.formador.pode.iniciar.a.oficina.com.a.leitura.de.um.texto.dramático.de.sua.escolha..De.preferência,.ele.deve.apresentar.os.motivos.de.sua.escolha,. as. razões. pelas. quais. o. texto. merece. ser. partilhado,. trechos. de. que. mais. gosta,. etc.. Há. na.
apostila.alguns.exemplos.de.textos.que.podem.ser.lidos.nesse.momento;
b) o. formador. apresenta. suas. considerações. sobre. as. aprendizagens. do. grupo,. com. relação. à. segunda.
oficina:.Crônica.–.A.prosa.cotidiana;
c)..em.seguida,.pode.realizar.uma.conversa.sobre.a.produção.dos.Diários.de.Leitura.para.garantir.a.socialização.dos.encaminhamentos.dados.por.cada.leitor.–.O.que.foi.lido.pelo.participante?.O.que.escreveu.
sobre.as.leituras.realizadas,.os.cronistas.favoritos?.Quais.são.suas.impressões.sobre.a.produção.do.diá-
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Apostilas das oficinas de leitura  91
rio?.Ele.foi.apresentado.para.alguém?.Em.algum.diário.foi.colada.uma.imagem.ou.outro.tipo.de.texto?.
Por.fim,.o.formador.também.pode.fazer.a.leitura.de.um.trecho.de.seu.diário,.pois.ele.é.sempre.um.
modelo.para.o.grupo;
d) ao.socializar.os.registros.dos.diários,.os.participantes.também.comentam.as.leituras.das.obras.do.acervo.circulante:.quais.suas.impressões.sobre.os.livros.sugeridos?.Foi.possível.concluir.a.leitura?.Houve.
dificuldades.em.compreender.o.texto?.Quais?.Se.fossem.indicar.o.título.para.outros.participantes,.
quais.aspectos.ressaltariam?.Alguém.seguiu.alguma.recomendação.feita.no.encontro.anterior?
Nesse.momento,.o.formador.poderá.retomar.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros.e.propor.uma.nova.
troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.livros.trazidos.pelo.grupo.nessa.oficina.
2. Apresentação da apostila e conteúdos do encontro:.a.apresentação.da.apostila.com.a.leitura.e.realização.de.comentários.sobre:.título,.tema,.objetivos.e.conteúdos,.bibliografia.e.filmografia.utilizadas.possibilita.ao.grupo.a.aproximação.e.sensibilização.com.as.propostas.da.oficina.
3. O que é teatro?: o.formador.seleciona.apenas.um.trecho.do.vídeo.do.site.www.teatroparaalguem.com.br,.
do.texto.Anúncio,.de.Richard..C.Haber.com.Heitor.Goldflus,.Antônio.Petrin,.Miriam.Mehler.e.Lulu.
Pavarin..Para.isso,.ele.deve.assistir.ao.vídeo.com.antecedência,.selecionar.o.trecho.a.ser.reproduzido.e.planejar.como.o.mesmo.deve.ser.abordado.
Em.seguida,.abre.uma.conversa.com.as.seguintes.questões:.o.que.é.o.teatro?.O.que.é.preciso.para.fazer.
teatro?.É.importante.que.as.respostas.sejam.registradas.e.possam.ser.retomadas.ao.final.da.oficina.
Teatro grego
Na Grécia antiga o público se espalhava nas arquibancadas do
teatro. Muitas foram as festas anuais em honra a Dionísio,
deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer. Os festivais
duravam quase uma semana e o povo podia apreciar os poe‑
tas, autores de tragédias ou de comédias. O público passava
muitas horas assistindo as apresentações e lá fazia suas refei‑
ções. Muitos eram os aplausos quando apreciavam uma apre‑
sentação, mas, o protesto também se fazia grande com muito
barulho (que chegava a interromper o espetáculo) ou até mes‑
mo com alimentos atirados nos atores.
4. Preparando o corpo:
a)..O.corpo.é.o.instrumento.de.trabalho.do.ator..Para.isso,.ele.deve.investir.no.seu.preparo..O.formador.
pode.propor.alguns.exercícios.para.o.aquecimento.do.corpo.e.da.voz.
Todos.em.círculo:
 soltar mãos e pés;
 girar pescoço;
 soltar ombros;
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 massagear o próprio rosto;
 fazer exercícios de voz:
•
pronunciar com exagero: FAÇAXÁ, FECEXÉ, FICIXI, FOÇOXÓ, FUÇUXU. O mesmo deve se repetir com
•
•
•
vibrar lábios;
MANANHÁ e PATACÁ, BADAGÁ;
estalar língua;
e outros que souber ou pesquisar.
b) Jogo: O porto – Nesse.exercício,.algumas.pessoas.participam.e.outras.observam,.para.depois.fazerem.
comentários.sobre.as.expressões.utilizadas,.as.informações.e.os.sentimentos.transmitidos..A.proposta.
que.o.formador.fará.é.a.seguinte:.você.está.em.um.porto.aguardando.a.chegada.de.alguém.muito.querido.que.não.vê.há.muito.tempo..Não.vale.falar,.apenas.expressar-se.corporalmente,.por.meio.do.olhar.
e.dos.gestos.–.o.corpo.fala!.Passados.dois.ou.três.minutos,.o.exercício.é.encerrado.e.os.colegas.observadores.falarão.de.suas.impressões,.sentimentos.e.quais.foram.as.ações.realizadas.que.provocaram.isso.
5. Leitura e discussão – Texto-farol. Corpo e texto,. de. Celinha. Nascimento,. disponível. ao. final. desta.
apostila..Para.realizar.a.atividade,.o.formador.pode.apresentar.o.conteúdo.do.texto.e.selecionar.trechos.para.
a.leitura..Desse.modo,.poderá.contextualizar.a.experiência.vivida.na.atividade.anterior.(O.porto).
6. Vamos criar uma cena? O.formador.divide.a.sala.em.grupos.de.no.máximo.oito.pessoas.e.oferece.uma.
situação.do.cotidiano.para.a.criação.de.uma.cena:.sala.de.espera,.fila.de.ônibus,.no.telefone.público,.no.supermercado,.etc.
Os.grupos.se.dividem.e.em.15.minutos.planejam.e.ensaiam.a.cena..Depois.os.grupos.se.apresentam.e.
fazem.uma.conversa.sobre.atuações,.ideias,.criações,.improvisos,.etc.
Máscaras do teatro grego
Para serem vistos das arquibancadas, os atores usavam grandes máscaras feitas com pedaços de tecidos engomados, sa‑
patos de sola alta e roupas acolchoadas. As vozes eram projetadas com o auxílio das máscaras.
7. A mesma frase com várias intenções: no.teatro,.o.texto.é.um.pretexto,.o.que.interessa.também.é.o.
subtexto..Qual.a.intenção.do.ator?.O.que.ele.quer.transmitir?.Para.compreender.melhor.esse.fundamento.
do.teatro,.o.formador.pede.aos.participantes.que.falem.a.frase:
MAS.O.QUE.VOCÊ.QUER.QUE.EU.FAÇA?
A.frase.será.dita.com.diferentes.intenções:.de.alguém.aflito,.nervoso,.com.raiva,.sedutor,.provocativo,.
compreensivo,.cansado,.etc.
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Apostilas das oficinas de leitura  93
Idade Média
A princípio são encenados dramas litúrgicos em la‑
tim, escritos e representados por membros do clero.
Os fiéis participam como figurantes e, mais tarde,
como atores e misturam ao latim a língua falada no
país. As peças, sobre o ciclo da Páscoa ou da Paixão,
são longas, podendo durar vários dias.
Na Idade Média também surgem os trovadores que
contam lendas em canções.
Trovadores
Por volta de 1300 nasce o teatro Nô no Japão.
8. Leitura dramática: a.leitura.dramática.é.a.leitura.em.voz.alta.de.um.texto.teatral.para.um.público..
Uma.leitura.que.exige.interpretação.por.meio.da.entonação,.expressões.faciais.e.poucos.gestos..A.leitura.
dramática.também.precisa.de.uma.direção,.da.mesma.forma.que.uma.peça.teatral,.e.pode.fazer.uso.de.iluminação,.trilha.sonora,.figurino.e.até.mesmo.cenário.ou.alguns.objetos.de.cena.
Antes. de. iniciar. a. atividade,. o. formador. deve. apresentar. o.Texto-farol:. Traços e formas dramáticas,. de.
Angélica.Soares,.disponível.nesta.apostila..Se.tiver.tempo,.pode.comentar.as.características.de.algumas.das.
formas.dramáticas,.como.a.comédia.e.o.drama.
Algumas.propostas.para.realizar.esta.atividade:
a)..“ leitura.branca”.de.um.trecho.da.obra.selecionado.previamente.pelo.formador..Chama-se.de.leitura.
branca.quando.não.há.a.preocupação.em.trabalhar.com.entonações.e.interpretações,.apenas.entrar.em.
contato.com.o.que.diz.o.texto..Para.essa.atividade,.o.formador.pode.propor.os.textos.teatrais.anexados.
a.esta.apostila;
b)..assistir.à.mesma.cena.em.duas.versões.diferentes..A.ideia.aqui.é.que.os.participantes.observem.as.
atuações.dos.atores.(voz,.corpo,.olhar,.pausas,.jogo.entre.os.atores.durante.a.cena)..Sugerimos.que.assistam.às.duas.adaptações.para.o.cinema.do.texto.O auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna,.indicadas.na.filmografia.desse.material;
c)..realizar.leituras.dramáticas.da.mesma.cena.e.de.outras.(veja trechos de textos teatrais em anexo)..É.necessário.que.o.formador.possa.oferecer.alguns.instantes.para.a.leitura.silenciosa.do.texto..A.cada.leitura,.são.comentadas.as.interpretações,.possibilitando.que.o.grupo.perceba.as.diferenças.interpretativas.
e.de.expressão.
A leitura em voz alta
Ao.ler.uma.história.em.voz.alta,.os.ouvintes.não.se.inteiram.apenas.do.conteúdo,.mas.também.entram.
em.contato.com.a.linguagem.escrita.e.suas.características.
Esta.atividade.tem.uma.grande.importância.para.o.desenvolvimento.da.competência.na.leitura.e.na.escrita,.pois,.além.de.o.leitor.público.colocá-los.em.contato.com.textos.escritos,.oferece.um.modelo.de.como.se.lê.
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94  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Commedia dell’arte – Forma teatral única no mundo desenvolveu‑se
na Itália no século XVI e difundiu‑se em toda Europa nos séculos
sucessivos, contribuiu na construção do teatro moderno. Teatro espe‑
tacular baseado na improvisação e no uso de máscaras e personagens
estereotipados. O ator na commedia dell’arte, tinha um papel funda‑
mental cabendo‑lhe não só a interpretação do texto, mas também a
contínua improvisação e inovação do mesmo. Malabarismo canto e
outros feitos eram exigidos continuamente ao atorO uso das máscaras
(exclusivamente para os homens) caracterizava os personagens geral‑
mente de origem popular: os zanni, entre os mais famosos vale a pena
citar Arlequim, Pantaleão e Briguela. A enorme responsabilidade que
tinha o ator em desenvolver o seu papel, com o passar do tempo, por‑
tou a uma especialização do mesmo, limitando‑o a desenvolver uma
só personagem e a mantê‑la até a morte.
9. Conversa e leitura: retomar.a.conversa.sobre.a.questão:.o.que.é.teatro?.e.verificar.se.os.participantes.
gostariam.de.acrescentar.algo.em.suas.respostas..Oferecer.outra.questão:.por.que.trabalhar.com.textos.teatrais?.O.que.podemos.aprender.com.eles?.Leitura.de.trechos.do.texto.O que os textos de diálogos escondem,.de.
Priscila.Ramalho,.disponível.ao.final.desta.apostila.
10. Planejamento da tarefa:.nesta.atividade,.o.objetivo.é.planejar.uma.atividade.de.teatro.para.ser.realizada.com.um.grupo.da.escola,.comunidade.ou.pessoal..O.formador.apresenta.os.textos.da.revista.Nova Escola.em.
anexo.e.pede.que.a.turma.se.divida.em.pequenos.grupos,.de.acordo.com.o.texto/proposta.de.sua.preferência.
11. Para o próximo encontro:.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.atividade.realizada.
Os.participantes.deverão.trazer.ou.colar.em.seus.Diários.de.Leitura.uma.imagem.(fotografia,.quadro,.
desenho,.filme).que.consideram.significativa,.justificando,.por.meio.de.um.pequeno.texto,.o.porquê.da.escolha.dessa.imagem.
12. Avaliação:.é.importante.fazer.uma.avaliação.do.encontro.para.identificar.se.os.objetivos.foram.cumpridos.e.o.que.deve.ser.melhorado.para.os.próximos.encontros..A.possibilidade.de.que.todos.se.pronunciem.
é.fundamental.para.que.um.trabalho.de.longa.duração.atinja.os.resultados.esperados..O.formador.dará.retorno.dessa.avaliação.no.quarto.encontro.
bibliografia básica
BALL,.David Para trás e para frente: um guia para leitura de peças teatrais..Ed..Perspectiva
Segundo.o.site.da.Livraria.da.Travessa,.esse.livro.é.um.guia.universal.para.a.leitura.de.roteiros.teatrais.e,.como.tal,.
complementa.e.retifica.os.métodos.tradicionais.de.análise.literária.de.scripts..O.autor.ilustra.seu.método.com.excertos.
do.Hamlet,.de.Shakespeare,.utilizando.uma.obra.de.importância.e.exemplaridade.mundialmente.reconhecida.e.oferece.
grande.riqueza.de.elementos.para.a.abordagem.analítica.
MANGUEL,.Alberto..Uma história da leitura. 1ª.ed..São.Paulo,.Companhia.das.Letras,.1997
O.autor.é.um.grande.especialista.da.história.da.leitura..O.capítulo.A leitura ouvida.fala.do.impacto.da.leitura.realizada.em.voz.alta.para.os.ouvintes.e.leitores.em.diferentes.épocas.e.lugares.
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Apostilas das oficinas de leitura  95
REVERBEL,.Olga..Jogos teatrais na escola. 1ª.ed..São.Paulo,.Scipione,.1993.
Obra.que.apresenta.vários.jogos.teatrais.e.dramáticos.adaptados.às.diferentes.faixas.etárias,.os.quais.favorecem,.
entre.outros.aspectos,.o.relacionamento,.a.espontaneidade,.a.imaginação.e.a.percepção.das.crianças.de.ensino.fundamental.
SOARES,.Angélica..Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.2005
A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea,.num.
esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.os.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.tão.complexos.
textos.literários..Pertence.à.Série.Princípios,.importante.coleção.da.editora.
____.O teatro no mundo. São.Paulo:.Melhoramentos,.1995.
Um.livro.lindo.para.ler.e.explorar.e.que.fala.sobre.as.origens.do.teatro.e.suas.manifestações.no.mundo.
filmografia
A compadecida,.de.George.Jonas,.Alpha.Filmes,.Brasil,.1967.
O auto da compadecida,.de.Guel.Arraes,.Globo.Filmes,.Brasil,.2000.
Os.dois.filmes,.um.produzido.em.1967.e.o.outro.em.2000,.foram.baseados.na.peça.teatral.de.Ariano.Suassuna..A.
história.se.passa.em.Taperoá,.sertão.da.Paraíba..Chico.e.João.Grilo.são.amigos.e.andam.pelas.ruas.anunciando.a.Paixão
de Cristo..Eles.se.metem.em.muitas.confusões,.que.são.solucionadas.com.artimanhas.e.trazem.novos.problemas..Com.
a.chegada.do.cangaceiro.Severino,.João.Grilo.e.outros.personagens.morrem.e.se.encontram.no.Juízo.Final,.onde.serão.
julgados.por.um.Jesus.negro.e.pelo.diabo..Nossa.senhora,.a.compadecida,.intercederá.por.cada.um.deles.e.em.especial.
por.João.Grilo..No.primeiro.filme,.a.personagem.de.Nossa.Senhora.é.interpretada.por.Regina.Duarte.e.no.segundo.
por.Fernanda.Montenegro.
Mais estranho que a ficção, de.Marc.Foster,.Columbia.Pictures,.EUA,.2006.
A.comédia.conta.a.história.de.um.homem.que.um.dia.passa.a.ouvir.uma.voz.feminina,.que.narra.exatamente.seus.
pensamentos,.atos.e.sentimentos..Apenas.ele.pode.ouvir.a.voz..Quando.ela.diz.que.ele.está.prestes.a.morrer,.ele.busca.
algum.meio.de.evitar.que.isso.ocorra..Com.Dustin.Hoffman,.Emma.Thompson.e.outros.
Sites interessantes
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96  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
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Site.com.a.História.do.teatro.–.Textos.didáticos.e.peças.teatrais.de.João.Pedro.Roriz.
www.sbat.com.br..
Sociedade.Brasileira.de.Autores,.criada.em.1917.em.defesa.do.direito.autoral.
Willian Shakespeare (1564‑1616)
Comediante e poeta dramático inglês, um dos maiores
nomes do teatro mundial de todos os tempos.
Maria Clara Machado (1921‑2001) 
Escritora e dramaturga brasileira, autora de famosas
peças infantis, dentre elas: Pluft, o fantasminha.
Fundadora do Tablado, escola de teatro do
Rio de Janeiro
Eugène Ionesco (1912‑1994)
Nasceu na Romênia e viveu na França até os 13 anos.
Em 1959, tornou‑se o líder do “teatro do absurdo”.
Sua primeira peça – A cantora careca – desconcertou os
espectadores da época.
Nelson Rodrigues (1912-1980) 
Importante jornalista, cronista de futebol, escritor e dramaturgo.
Vestido de noiva é considerada até hoje como o marco inicial do moderno teatro brasileiro
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texto-farol 1
Corpo e texto, de celinha nascimento
Celinha Nascimento é educadora, mestre em Literatura, formadora do Projeto
Letras de Luz. O texto apresentado é um trecho da Palestra Corpo e Texto, durante
15º COLE – Unicamp – 2005.
“Atravessando.as.chamas.do.Purgatório,.sobem.Virgílio,.Estácio.e.Dante.uma.escada.onde.o.sono.vence.
o.florentino..Despertando,.ouve.Virgílio.anunciar.terminada.a.missão.que.Beatriz.lhe.confiara..Nada.mais.
terá.a.dizer-lhe.pela.voz.ou.pelo.aceno:.–.Non aspettar mio dir piu né mio cenno..E.não.fala.mais..Admira-se.
das.maravilhas.vistas.e,.quando.Dante.procura-o,.não.mais.o.vê..A.grande.alma.pagã.regressara.ao.nobile
castello,.afastando-se.das.proximidades.da.Redenção.paradisíaca..A.Voz.e.a.Gesto.valiam,.para.ele,.a.mesma.
função.transmissora..O.Povo.concorda.”
Debatemos.a.origem.da.voz.articulada.e.a.época.do.seu.aparecimento..Falaria.o.Homem.Musteriano,.o.
infra-homem.de.Neandertal?.A.maioria.dos.etnólogos.é.pela.afirmativa,.concedendo-lhes.rudimentos.de.
linguagem..Nenhum.fundamento.anatômico.evidenciará.a.decisão..Teria,.provavelmente,.a sua.linguagem,.
meio.de.convívio.do.pensamento,.que.não.é.privativo.da.espécie.humana..Indiscutível.é.que.falava.o.Homo
sapiens.do.Paleolítico.superior,.o.alto,.robusto.e.equilibrado.povoador.do.Aurnacense..Pintando,.esculpindo,.
gravando..Não.podia.evidentemente.ser.o.Homo aladus..E.houve.época.no.Mundo.em.que.o.Homem,.em.
qualquer.escala.anterior.à.sua.mutação,.fosse.incomunicado,.mudo,.silencioso?.O.Gesto,.antes.das.interjeições.e.onomatopéias,.supriria.essa.deficiência.oral..Dante,.há.sete.séculos,.proclamava.a.comunicação.tátil.
entre.as.formigas..Traduz.Xavier.Pinheiro:
Assim.da.negra.legião.saída,
Em.marcha,.toca.em.uma.outra.formiga,
Por.saber.do.caminho.ou.sorte.havida.
Toda.a.bibliografia.sobre.o.Gesto,.tradutor.da.ideia.e.primeira.linguagem.humana,.demonstra.a.universalidade.de.alguns.acenos.sobre.os.próprios.vocábulos.mais.essenciais.e.vivos..Há.gestos.cobrindo.áreas.demarcadas. de. uso,. jamais. correspondentes. à. equivalência. verbal.. De. sua. valorização. como. documento.
psicológico,.anormal.e.normal.da.sinergia.nervosa,.potência.de.evocação,.indispensabilidade.como.fórmula.
complementar.da.voz,.elemento.excitador.do.desenvolvimento.cerebral..Pai.da.Inteligência,.todas.as.pesquisas.ainda.não.fixaram.os.justos.limites.da.grandeza.positiva.no.alcance.da.repercussão.comunicante..A.geografia. de. determinados. ademanes,. antiguidade. de. uns. e. modificações. de. outros,. os. instintivos. e. os.
convencionais.com.ampla.franja.intermediária.dos.gestos.interdependentes,.de.novas.atitudes.provocadoras.
de.sua.utilização,.os.processos.mecânicos.e.renovadores.da.significação,.levam.os.problemas.da.investigação.
e.da.análise.a.um.nível.distinto.de.exame.e.de.cultura.especializada..O.estudo.do.Gesto,.o.gesto.popular.e.
geral.e.o.gesto.dos.profissionais,.característicos.como.uma.“permanente”.etnografia,.os.típicos.ligados.a.uma.
ação.e.os.indefinidos,.tendentes.à.abstração.negaceante.consistiriam.uma.sistemática.tão.preciosa.quanto,.no.
campo.filológico,.é.a.Semântica.
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98  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
O.Gesto.é.anterior.à.Palavra..Dedos.e.braços.falaram.milênios.antes.da.Voz..As.áreas.do.Entendimento.
mímico.são.infinitamente.superiores.às.da.comunicação.verbal..A.Mímica.não.é.complementar,.mas.uma.
provocação.ao.exercício.da.oralidade..Sem.gestos,.a.Palavra.é.precária.e.pobre.para.o.entendimento.temático..Antes.das.interjeições.primárias,.a.Mão.traduzia.a.mensagem.útil.
O.Gesto.é.a.comunicação.essencial,.nítida,.positiva..Não.há.retórica.mímica,.apenas.reiteração.da.mensagem..Essa.limitação.recorda.o.inicial.uso.entre.seres.humanos,.quando.o.metal.era.pedra.e.a.caverna.abrigava.a.família.nas.horas.da.noite.misteriosa..“Aprende.com.os.mudos.o.segredo.dos.gestos.expressivos”,.
aconselhava.Leonardo.da.Vinci..A.Palavra.muda..O.Gesto.não”.
Tomamos.emprestadas.as.sábias.palavras.de.Câmara.Cascudo.na.apresentação.do.seu.livro-documento.
“História.dos.Nossos.Gestos”,.para.alinhavar.nosso.começo.de.conversa.sobre.a.viagem.da.palavra..Palavra.
que.nasce.no.corpo,.via.gesto,.via.ideia,.via.dança,.via.canto,.via.grito,.via.choro,.via.gargalhada..Depois.de.ser.
corpo,.virou.e.vira.palavra.escrita.e.precisa.novamente.de.um.corpo.para.ser.compreendida.e.para.isso.volta.
a.ser.gesto,.dança,.canto,.grito,.choro,.gargalhada.e.pode.ser.lida,.dita,.cantada,.na.quietude.do.colo.de.leitores.solitários.ou.na.multidão.dos.teatros.e.apresentações.públicas.
Nessa.viagem,.a.palavra.se.encontra.com.alguns.de.seus.trabalhadores:.o.escritor,.o.leitor.e.o.ouvinte,.cada.
qual.contribuindo.para.que.ela.ganhe.sentido.e.carregue.emoções.
Cada.qual.a.sua.maneira.e.dentro.de.sua.especialidade:.leitores,.contadores.de.história,.cantores,.bailarinos,.atores,.tradutores.em.braile.e.em.libras.emprestam.seu.corpo.para.que.as.palavras.sejam.compreendidas.
E.acontece.agora.uma.viagem.da.multiplicação..A.flor.que.foi.ideia.do.escritor.e.virou.palavra.escrita.e.
depois.virou.palavra.viva.lida.e.interpretada,.se.transforma.em.muitas.flores.nas.vozes.e.gestos.dos.seus.tradutores.e.no.corpo.que.as.vê,.ouve,.ou.sente.de.alguma.maneira.
Daí.dizermos.que.a.palavra.escrita.ou.falada.possui.muitas.vozes,.tantas.quantas.são.seus.leitores.e.ouvintes.
Saber.dizê-la.bem.é.contribuir.para.que.ela.cumpra.o.destino.de.ser.compreendida.em.inúmeros.contextos.diferentes.por.ouvintes.que.nunca.tiveram.nenhuma.experiência.com.o.que.está.sendo.dito,.podendo.
nesse.esforço.perder.ou.ganhar.características,.sem,.porém,.abandonar.o.desejo.e.necessidade.de.ser.fiel.com.
quem.a.criou.
texto-farol 2
Traços e formas dramáticas, de Angélica Soares
Angélica Soares é doutora em Letras e professora da universidade Federal do
Rio de janeiro. Publicou entre outros títulos, o poema, construção às avessas e A
celebração da poesia.
JOÃO.GRILO.–.Padre.João!.Padre.João!
PADRE.(aparecendo na Igreja).–.Que.há?Que.gritaria.é.essa?
(Fala afetadamente com aquela pronúncia e aquele estilo que Leon Bloy chamava “sacerdotais”.)
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CHICÓ.–.Mandaram.avisar.para.o.senhor.não.sair,.porque.vem.uma.pessoa.aqui.trazer.um.cachorro.que.
está.se.ultimando.para.o.senhor.benzer.
PADRE.–.Para.eu.benzer?
CHICÓ.–.Sim.
PADRE.–.(Com desprezo).–.Um.Cachorro?
CHICÓ.–.Sim.
PADRE.–.Que.maluquice!.Que.besteira!
JOÃO.GRILO.–.Cansei.de.dizer.a.ele.que.o.senhor.não.benzia..Benze.porque.benze,.vim.com.ele.
PADRE.–.Não.benzo.de.jeito.nenhum.
CHICÓ.–.Mas,.padre,.não.vejo.nada.de.mal.em.se.benzer.o.bicho.
JOÃO.GRILO.–.No.dia.em.que.chegou.o.motor.novo.do.Major.Antonio.Morais.o.senhor.não.benzeu?
PADRE.–.Motor.é.diferente,.é.uma.coisa.que.todo.mundo.benze..Cachorro.é.que.eu.nunca.ouvi.falar.
CHICÓ.–.Eu.acho.cachorro.uma.coisa.melhor.do.que.motor.
PADRE.–.É,.mas.quem.vai.ficar.engraçado.sou.eu,.benzendo.o.cachorro..Benzer.motor.é.fácil,.todo.mundo.
faz.isso,.mas.benzer.cachorro?
JOÃO.GRILO.–.É.Chico,.o.padre.tem.razão....Quem.vai.ficar.engraçado.é.ele.e.uma.coisa.é.benzer.o.motor.do.Major.Antônio.Morais.e.outra.é.benzer.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais.
PADRE.–.(Mão em concha no ouvido?) Como?
JOÃO.GRILO.–.Eu.disse.que.uma.coisa.era.o.motor.e.outra.é.o.cachorro.do.Major.Antônio.Morais.
PADRE.–.E.o.dono.do.cachorro.de.quem.vocês.estão.falando.é.Antonio.Morais?
JOÃO.GRILO.–.É,.eu.não.queria.vir,.com.medo.de.que.o.senhor.se.zangasse,.mas.o.Major.é.rico.e.poderoso.e.eu.trabalho.na.mina.dele..Com.medo.de.perder.meu.emprego,.fui.forçado.a.obedecer,.
mas.disse.a.Chico:.o.padre.vai.se.zangar.
PADRE.–.(desfazendo em sorrisos) –.Zangar.nada,.João!.Quem.é.um.ministro.de.Deus.para.ter.direito.de.se.
zangar?.Falei.por.falar,.mas.também.vocês.não.tinham.dito.de.quem.era.o.cachorro.
Citamos,.acima,.um.trecho.do.Auto da compadecida,.de.Ariano.Suassuna..Auto.é.uma.modalidade.do.gênero.dramático.ligada.aos.mistérios.e.às.moralidades.e,.na.Idade.Média,.designou.toda.peça.curta.de.tema.
religioso.ou.profano..Ele.equivaleria.a.um.ato.que.viesse.a.integrar.um.espetáculo.maior.e.completo,.daí.o.
nome.de.auto. Os.mistérios.são.peças.teatrais,.cujos.temas.são.retirados.das.sagradas.escrituras.para.transmitir.ao.povo,.de.forma.acessível.e.concreta,.a.história.da.religião,.os.dogmas.e.os.artigos.da.fé. Nas moralidades,.
os.temas.histórico-concretos.dos.mistérios.são.substituídos.por.argumentos.abstrato-típicos,.que.mostram.
o.conflito.do.homem,.em.face.do.Bem.e.do.Mal.
Suassuna.traz.para.os.nossos.dias.aquela.forma.dramática,.que.teve.com.Gil.Vicente,.um.dos.maiores.
escritores.portugueses.do.século.XVI,.seu.apogeu.em.língua.portuguesa..O.auto.vicentino.era.de.temática.
religiosa..A.designação.de.farsa.era.dada.às.peças.de.assunto.profano.
No.nosso.exemplo,.podemos.observar.que.o.dramático,.como.indica.a.própria.origem.da.palavra.(drama.
vem.do.verbo.grego.dráo.=.fazer),.é.ação..Por.isso,.o.mundo.nele.representado.(pois.o.texto.dramático.se.
completa.na.representação).apresenta-se.como.se.existisse.por.si.mesmo,.sem a interferência de um narrador..
Importante.é.notarmos.que.o.objetivo.do.escritor.não.é.cada.passagem.por.si,.como.na.epopéia,.nem.o.
modo.especial.de.transmitir.emocionalmente.um.tema,.como.no.poema.lírico,.mas.a meta a alcançar. Assim.
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é.que.tudo.se.projeta.para.o.final,.através.da.manutenção.de.uma.forte expectativa,.que.desemboca.no.desfecho.ou.solução.
Arlecchino, personagem da Commedia dell’ Arte – semelhanças com os personagens Chicó e João Grilo.
O.curto.trecho.do.Auto da compadecida.nos.leva.a.querer.saber.o.que.acontecerá.depois.que.o.padre,.levado. pela. cobiça,. começa. a. admitir. a. possibilidade. de. benzer. o. cachorro,. cujo. dono. ele. pensava. que. era. o.
Major..Isto.porque.cada.parte.de.uma.peça.dramática.se.liga.a.outras,.de.tal.forma.que.é.sempre.consequência.da.anterior.e.causa.da.seguinte..Essa.interdependência.das.partes.é.responsável.pela.tensão.que,.por.sua.
vez,.exige.a.concentração.no.essencial.e.a.aceleração.do.tempo,.para.que.nada.se.perca,.nem.se.veja.prejudicado.o.sentido.do.todo..É.o.que.Aristóteles.chamou.de.unidade.de.ação.
O.diálogo.é.a.forma.própria.para.que.as.personagens.ajam.sem.qualquer.mediação,.dando-nos.sempre.a.
impressão,.até.mesmo.nos.dramas.históricos,.de.que.tudo.está.acontecendo.pela.primeira.vez.
Segundo.Emil.Staiger,.o.dramático.reúne.o.pathos.e.o.problema..Conceitua.pathos.como.o.tom.da.linguagem.que.comove,.que.provoca.paixão,.envolvendo.o.espectador.que.passa.a.vivenciar,.com.o.ator,.a.dor.ou.o.
prazer..Já.o.problema.seria.a.proposição,.aquilo.que.o.autor.do.texto.dramático.se.propõe.a.resolver..Assim,.
unem-se.o.querer.do.patético.e.o.questionar.do.problemático,.conduzindo.sempre.a.ação.para.adiante,.para.o.
futuro,.que.equivale.ao.desfecho..As.perguntas.do.problema.vão.sendo.respondidas.pela.força.progressiva.do.
pathos.que,.eliminando.as.distâncias.entre.ator.e.espectador,.leva.este,.obrigatoriamente,.à.simpatia.
(...)
Pathos é uma palavra grega que significa “paixão, excesso, catástrofe, passagem, passividade, sofrimento e assujeitamento”.
Obtido em “http://pt.wikipedia.org/wiki/Pathos”
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Apostilas das oficinas de leitura  101
A tragédia
É.forma.dramática.surgida.no.século.V.a.c..no.mundo.grego,.época.de.crise.de.valores,.de.choque.entre.
o.racional.e.o.mítico..E,.segundo.Aristóteles,.teria.origem.no.ditirambo.(canto.em.louvor.a.Dionísio),.passando.por.uma.fase.satírica,.até.fixar-se.com.todas.as.suas.características..A.proposta.aristotélica.liga-se.à.
etimologia.da.palavra.tragédia:.de.tragos.(bode).+.oide.(canto)..O.coro.dionísico.era.formado.por.coreutas.
que.cantavam.e.dançavam.usando.máscaras.de.sátiros.
No.capítulo.VI.de.sua.Poética,.Aristóteles.conceitua.a.tragédia.como.a.mímesis.de.uma.ação.de.caráter.
elevado.(importante.e.completa),.num.estilo.agradável,.executada.por.atores.que.representam.os.homens.de.
mais.forte.psique,.tendo.por.finalidade.suscitar.terror.e.piedade.e.obter.a.catarse.(libertação).dessas.emoções.
O.herói.trágico.vê-se.sempre.entre.duas.forças.opostas:.o.ethos,.seu.próprio.caráter,.e.o.dáimon.(destino),.
e.se.movimenta.em.um.mundo.também.trágico,.no.qual.se.encontram.em.tensão.a.organização.social.e.jurídica,.caracterizadora.da.época,.e.a.tradição.mítica.e.heróica..(...)
Ainda.hoje.temos.o.sentido.do.trágico.toda.vez.que.vemos.destruída.a.razão.de.uma.existência,.toda.vez.
que.o.homem.se.vê.impelido.a.uma.fatalidade..No.entanto,.a.tragédia,.tal.como.a.conceituamos,.não.é.mais.
possível.em.nossos.tempos.de.valores.tão.relativos,.quando.não.mais.podemos.responder.qual.é.a.medida.do.
homem.
A comédia
Para.conceituar.a.comédia.podemos.recorrer.ainda.a.Aristóteles..Segundo.ele,.essa.forma.dramática.se.
volta.para.os.homens.de.mais.fraca.psique,.através.da.mímesis.daqueles.vícios.que,.não.causando.sofrimento,.
caem.no.ridículo.e.produzem.o.riso..A.etimologia.do.vocábulo.“comédia”.(komoidía).nos.permite.ligar.a.
origem.dessa.forma.dramática.ao.festejo.popular.(komos).ou.a.kómas.(aldeia),.pois.os.atores.cômicos.andavam.de.uma.aldeia.para.outra,.por.não.serem.prestigiados.na.cidade.
Na.comédia,.a.tensão.própria.do.gênero.dramático.é.extravasada.com.o.riso..O.problema.apresentado,.
cuja.resposta.deve.ser.conseguida.através.da.linguagem.do.pathos,.resolve-se.em.etapas.sucessivas.e.se.dispersa. em. tiradas. ridículas.. Há,. assim,. uma. acomodação. no. cômico,. que. impede. o. desmoronamento. do.
mundo.da.personagem..Alguns.teóricos.acentuam,.na.comédia,.o.sentido.do.insólito,.do.imprevisível.ou.
da.surpresa,.bem.como.o.aspecto.de.sátira.de.situações.sociais.ou.individuais,.como.um.efeito.de.correção.de.
costumes..Costuma-se.destacar.ainda.o.fato.de.que.o.cômico.e.o.riso.incluem.uma.contradição.ou.incongruência,.manifestada.na.reunião.de.objetos,.acontecimentos.ou.significados.que,.em.geral,.não.são.vivenciados.conjuntamente.
(...)
o drama
A.palavra.drama.se.emprega:.1º).para.designar.o.gênero.dramático.em.geral;.2º).como.sinônimo.de.peça.
teatral;.3º).como.uma.forma.dramática.específica,.que.resulta.do.hibridismo.da.tragédia.com.a.comédia.
Com.essa.terceira.acepção,.surge.o.drama,.na.primeira.metade.do.século.XVIII,.como.criação.do.dramaturgo.francês.Nivelle.de.La.Chaussée,.que.o.designou.“comedie.larmoyante”.(comédia.lacrimejante),.
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102  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
sendo.acompanhado.pelo.drama.burguês.de.Diderot,.que.substitui.personagens.da.história.greco-romana.
por.cidadãos.burgueses.de.seu.tempo,.localizados.em.seu.espaço.próprio.e.em.condições.específicas.de.sua.
classe.social.
Com. o. Romantismo,. caracterizado,. sobretudo,. pela. oposição. às. regras. clássicas. de. produção. literária,.
propõe-se.a.mistura.de.gêneros,.fervorosamente.defendida.por.Victor.Hugo,.em.seu.famoso.“Prefácio“.de.
Cromwell.(1827),.onde.apresenta.o.drama.romântico.como.resultado.da.fusão.entre.o.grotesco.e.o.sublime,.
o.terrível.e.a.bufonaria,.a.tragédia.e.a.comédia.
Em.meados.do.século.XIX,.o.drama.vai.abandonando.os.temas.históricos.(“drama.de.capa.e.espada”).e.
volta-se.para.a.produção.de.um.teatro.de.atualidade.(“drama.de.casaca”).iniciado.pela.célebre.Dama.das.
Camélias,.de.Alexandre.Dumas.Filho..Essa.modalidade.do.drama.atravessaria.o.Realismo.e.o.Naturalismo.
Contemporaneamente.chamamos.de.drama,.em.oposição.à.comédia,.a.peça.teatral.construída.com.base.
em.tensões.sociais.ou.individuais,.que.recebem.um.tratamento.sério.e.até.solene.
Dois.designativos.são.ainda,.de.alguma.forma,.ligados.ao.drama:.a.tragicomédia.(peça.que.mesclava.o.
cômico.e.o.trágico,.do.século.XVI.ao.XVIII,.quando.se.defendia.a.pureza.dos.gêneros).e.o.melodrama.(peça.
que,.explorando.um.sentimentalismo.exagerado,.não.raro.desemboca.no.patético,.em.mistérios,.cenas.de.
medo,.comicidade.e.enganos,.que.se.desfazem.milagrosamente).
Fonte: Texto extraído do livro Gêneros literários, de Angélica Soares. Editora Ática, São Paulo, 2005 páginas 57 a 64
AnexoS DA APoStiLA 3
O que os textos de diálogos escondem
“Não.basta.ler.as.falas..É.preciso.dominar.o.contexto.para.compreender.
plenamente.um.texto.de.teatro.ou.uma.entrevista.”
Priscila Ramalho
Textos.em.forma.de.diálogo.costumam.atrair.o.leitor.iniciante..Por.dois.motivos:.porque.em.geral.são.
mais.leves.e.porque.a.conversação.é.uma.das.práticas.mais.comuns.no.dia-a-dia..As.pessoas.se.cumprimentam,.dão.orientação,.argumentam,.expressam.ideias.e.opiniões....“Pelo.que.dizemos.é.possível.identificar.
crenças,.valores.e.posições.ideológicas”,.explica.a.consultora.Maria.José.Nóbrega..Na.literatura.não.é.muito. diferente.. As. declarações. dos. personagens. complementam,. esclarecem,. trazem. informações. novas. e.
importantes.que.se.juntam.ao.que.é.relatado.pelo.narrador..“Essa.pluralidade.de.vozes.abre.espaço.para.a.
polêmica.”
O.problema.é.que.muitas.vezes.o.aluno.aborda.o.diálogo.de.forma.ingênua..Ele.tende.a.se.fixar.no.conteúdo.das.falas.e.não.percebe.que.o.modo.como.são.enunciadas.também.revela.muito..As.expressões.usadas,.
o.vocabulário,.a.estrutura.sintática,.o.trecho.em.que.foram.encaixadas.num.texto.bem.elaborado,.nada.está.
ali.à.toa.
É.exatamente.nesse.“conteúdo.oculto”.que.você.deve.focar.seu.trabalho..Parta.do.pressuposto.de.que.o.
autor.se.preocupou.com.cada.detalhe.durante.a.construção.das.conversações..E.que,.portanto,.existem,.escondidas.nas.entrelinhas,.informações.riquíssimas..É.preciso.inferi-las.por.meio.de.uma.análise.cuidadosa.
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Outra.dificuldade.dos.jovens,.segundo.Maria.José,.é.perceber.as.relações.entre.o.trecho.dialogado.e.o.
restante.do.texto..Para.ajudá-los.a.integrar.as.partes,.chame.a.atenção.para.as.técnicas.usadas.pelo.autor..
Conheça.alguns.mecanismos.usados.na.redação.de.uma.entrevista.e.de.uma.peça.de.teatro,.dois.gêneros.em.
que.há.o.predomínio.do.diálogo,.e.confira.dois.planos.de.aula.para.trabalhar.esse.conteúdo.com.turmas.de.
5ª.a.8ª.série..
A leitura do teatro
Os.diálogos.teatrais.são.os.que.mais.bem.imitam.as.situações.reais..Neles.os.personagens.conversam.entre.
si.para.dar.ao.espectador.a.sensação.de.estar.dentro.da.cena..Na.peça.de.teatro.não.existe.a.figura.do.narrador,.
apenas.os.diálogos.e.as.rubricas.que.orientam.o.leitor.ou.o.diretor.sobre.a.montagem.da.cena,.o.figurino.usado.
pelos.personagens.e.a.entonação.da.voz,.por.exemplo..A.maneira.como.as.coisas.são.ditas.permite.ao.leitor.
fazer.inferências.sobre.as.características.de.cada.personagem.e.compreender.os.conflitos.da.trama.
Veja,.abaixo,.um.trecho.extraído.da.peça.O beijo no asfalto,.de.Nelson.Rodrigues..Nele.não.são.as.palavras.
em.si,.mas.a.estrutura.das.frases,.as.observações.das.rubricas.e.a.pontuação.que.revelam.a.insegurança.do.
personagem..“Explicar.o.processo.de.construção.de.uma.peça.de.teatro,.o.que.são.as.rubricas.e.como.são.
divididas.as.cenas.também.facilita.muito.a.leitura”,.afirma.o.professor.Alexandre.Mate,.mestre.em.teatro.
pela.Universidade.de.São.Paulo.
CUNHA.(rápido e incisivo) Gosta.de.sua.mulher,.rapaz?.
(Arandir, por um momento, acompanha o movimento do fotógrafo
que se prepara para bater uma nova fotografia).
ARANDIR.Naturalmente!.
CUNHA (com agressividade policial).E.não.usa.nada.no.dedo.por.quê?.
ARANDIR (atarantado).Um.dia,.no.banheiro,.caiu..Caiu.a.aliança..No.ralo.do.banheiro..
AMADO Casado.há.quanto.tempo?.
ARANDIR Eu?.
CUNHA Gosta.de.mulher,.rapaz?.
ARANDIR (desesperado).Quase.um.ano!.
Plano de aula
Quando.trabalhar.a.leitura.de.peças.de.teatro.em.sala.de.aula,.procure.levar.os.estudantes.a.enxergar.além.
do.conteúdo.explícito.no.texto..Sugira.que.os.jovens.descrevam.os.traços.que.caracterizam.os.personagens.
que.participam.da.ação..É.preciso.chamar.a.atenção.para.a.relação.entre.essas.características.e.o.modo.como.
eles.se.expressam.e.para.as.alterações.no.discurso.quando.conversam.uns.com.os.outros.
Num.segundo.momento,.peça.à.turma.que.transforme.alguns.contos.e.crônicas.em.peças.teatrais..O.
exercício.permite.adquirir.maior.clareza.da.história.e.dominar.os.mecanismos.usados.no.processo.de.construção.desse.gênero.
Escolha.um.autor..Convide.os.alunos.a.selecionar.um.conto.ou.uma.crônica.desse.escritor.para.transformar.em.peça.de.teatro..Repare.que.para.encontrar.o.melhor.texto.eles.vão.precisar.ler.muito.
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Selecione.algumas.peças.de.teatro.e.leve.para.a.classe..Esses.textos.são.essenciais.para.a.turma.ter.como.
parâmetro..Todos.devem.ler.vários.deles.para.se.apropriar.das.características.específicas.do.gênero.
Solicite.que.os.estudantes.passem.a.obra.selecionada.para.a.forma.dramática..O.trabalho.inclui.a.elaboração.dos.diálogos.e.a.redação.de.várias.rubricas.com.as.indicações.sobre.os.cenários,.as.movimentações,.a.
entonação.da.voz.dos.diferentes.personagens...
Para. finalizar. a. tarefa,. convide. os. estudantes. a. ensaiar. a. leitura. dramática.. Se. houver. possibilidade,. o.
melhor.é.montar.o.espetáculo.e.apresentá-lo.às.demais.turmas.
(...)
Um pouco de história
Os primeiros e mais conhecidos diálogos são atribuídos ao filósofo grego Platão
(429-347). Apesar de ter aprendido a importância da conversação com Sócrates,
de quem era discípulo, foi Platão o primeiro a adotar esse método para escrever
textos filosóficos. As ideias têm de ser deduzidas com base no que dizem os personagens criados por ele.
O personagem principal dos primeiros diálogos de sua autoria é Sócrates. Foi a
forma encontrada por Platão para eternizar as ideias do mestre, que não deixou
nada escrito. À medida que vai amadurecendo as próprias concepções, no entanto, ele passa a criar personagens para exprimi-las. Eles discutem assuntos complexos como a natureza humana, a virtude, a sabedoria, a justiça e, principalmente,
a política seu tema preferido. Os diálogos, enriquecidos com exemplos da vida
cotidiana, contribuíram para que as ideias platônicas atingissem mais facilmente o
grande público. Veja o trecho abaixo, extraído de O Banquete, em que os personagens Sócrates e Diotima discutem sobre o amor:
– Que seria então o amor, ó Diotima? Um mortal?
– Como nos casos anteriores, algo entre mortal e imortal.
– O que, então, ó Diotima?
– Um grande gênio, ó Sócrates. E, com efeito, tudo o que é gênio está entre um
deus e um mortal.
– E com que poder?
O de interpretar e transmitir aos deuses o que vem dos homens, e aos homens
o que vem dos deuses, de um as súplicas e os sacrifícios, e dos outros as ordens e
recompensas pelos sacrifícios; e como está no meio de ambos ele os completa, de
modo que o todo fica ligado todo ele a si mesmo.
Fonte: revista Nova Escola – ed. 163 – junho/2003.
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Dramaturgia e memória
A produção de uma peça sobre o poeta e ator mário Lago ensina a
turma a interpretar e a cantar antigos sucessos
Paulo Araújo ([email protected])
Apaixonada.por.teatro.e.literatura,.a.professora.Maria.Lúcia.Peres,.da.EM.Raymundo.Corrêa,.no.Rio.de.
Janeiro,.levou.seus.alunos.da.4a.série.para.visitar.uma.exposição.de.fotos.e.vídeos.sobre.o.século.19.no.Instituto.Moreira.Salles..Lá,.ela.mostrou.aos.pequenos.como.eram.a.cidade.e.os.personagens.daquela.época.e.
encerrou.a.visita.contando.o.enredo.de.Memórias.Póstumas.de.Brás.Cubas,.de.Machado.de.Assis..“O.aspecto.misterioso.da.narrativa.não.saiu.da.cabeça.da.garotada.durante.várias.semanas”,.conta.Maria.Lúcia..
Na.mesma.época,.a.Secretaria.Municipal.de.Educação.propôs.às.escolas.da.rede.a.realização.de.um.projeto.
de.dramaturgia.para.resgatar.a.memória.de.artistas.cariocas.falecidos..Bingo!.Essa.era.uma.ótima.chance.de.
reviver.a.história.do.defunto.que.volta.para.contar.a.própria.vida..Decidiram.então.fazer.um.musical.com.o.
mesmo.argumento.para.retratar.a.trajetória.do.ator,.poeta.e.ativista.político.Mário.Lago.(1911-2002)..“Os.
alunos.aprenderam.ao.longo.de.três.meses.a.decorar.textos,.interpretar,.coreografar,.combinar.figurinos.e.
cenários.e.desenvolver.um.script”,.enumera.Mirian.Bittencourt,.professora.da.3a.série.convidada.por.Maria.
Lúcia.a.participar.do.projeto.O.Corpo.Fala..A.experiência,.que.envolveu.também.a.disciplina.de.Língua.
Portuguesa,.resultou.num.bonito.espetáculo..P.A..
Sequência de atividades
1. Pesquisa e adaptação
Produzir.um.musical.exige.organização..Ao.montar.um.cronograma,.o.ideal.é.reservar,.todos.os.dias,.pelo.
menos.50.minutos.para.as.atividades,.que.começam.com.as.pesquisas..Divididos.em.grupos,.os.alunos.do.
Rio.buscaram.em.jornais,.revistas.e.internet.informações.sobre.Mário.Lago.e.descobriram.que.o.simpático.
ator.de.novelas.era.também.compositor.de.canções.famosas,.como.Amélia.e.Nada.Além..Nas.aulas.de.Língua.Portuguesa,.foram.exploradas.paródias.e.paráfrases.na.criação.de.músicas.e.poemas.
2. Elenco e busca de referências
Para.a.escolha.do.elenco,.que.não.deve.privilegiar.só.os.que.têm.mais.facilidade,.uma.saída.é.promover.
audições.em.que.os.alunos.façam.leituras.em.voz.alta,.cantem.e.dancem.para.que.todos.possam.avançar..
O.júri.é.formado.pela.própria.garotada..Durante.uma.das.reuniões.do.grupo,.os.alunos.lembraram.dos.
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programas.de.entrevistas.exibidos.na.TV.e.decidiram,.junto.com.as.professoras,.montar.o.roteiro.nesse.formato..Todos.assistiram.a.atrações.do.gênero.na.TV.e,.para.enriquecer.a.parte.musical,.trechos.de.desenhos.
animados..Quatro.estudantes.que.tocavam.cavaquinho.e.pandeiro.ficaram.responsáveis.pela.trilha.sonora..
3. Criação visual e de roteiro
Quando.a.peça.toma.corpo,.é.hora.de.pensar.nos.cenários.e.figurinos..É.tarefa.dos.estudantes.trazer.
acessórios.e.adereços..Na.Raymundo.Corrêa,.as.professoras.orientaram.a.escolha.das.roupas,.da.cortina.e.do.
sofá.que.compuseram.a.cena.Enquanto.isso,.Maria.Lúcia.escrevia.o.roteiro.junto.com.as.crianças,.mostrando.modelos.para.elas.conhecerem.as.marcações.de.cena.feitas.pelo.autor.ou.diretor..
4. Apresentação
A.produção.se.completa.com.a.exibição.para.a.comunidade.escolar.e.o.público.externo..Os.15.alunos.
subiram.ao.palco.e.Charles.Alli,.10.anos,.intérprete.de.Mário.Lago,.apareceu.para.conversar.sobre.sua.vida.
com.o.entrevistador.vivido.por.Igor.Bial,.9.anos..Entre.uma.revelação.e.outra,.a.platéia.se.deliciou.com.as.
poesias.e.as.canções.mais.conhecidas..Depois.da.estréia,.as.crianças.experimentaram.o.que.é.uma.turnê.e.
levaram.a.peça.para.uma.escola.municipal.e.uma.faculdade.
Fonte: revista Nova Escola, Edição Especial, abril/2007
O teatro ensina a viver
A turma perde a timidez, amplia os horizontes culturais e trabalha bem
em grupo quando a arte cênica faz parte do currículo
Paulo Araújo
Mesmo.sem.se.dar.conta,.todos.os.dias.ao.entrar.na.sala.de.aula.você.e.seus.alunos.tomam.emprestados.
alguns.recursos.da.linguagem.teatral..Ao.ler.um.conto.em.voz.alta,.os.estudantes.naturalmente.impostam.
a.voz.e.mudam.a.entonação.marcando.os.diferentes.personagens..Para.manter.a.atenção.da.turma.em.suas.
explicações.é.bem.provável.que.você.imponha.ao.corpo.uma.postura.mais.rígida,.abuse.dos.gestos.e.capriche.nas.expressões.faciais..Mas.o.teatro.pode.ser.usado.também.como.uma.ferramenta.pedagógica..
“Uma.das.grandes.riquezas.dessa.atividade.na.escola.é.a.possibilidade.do.aluno.se.colocar.no.lugar.do.
outro.e.experimentar.o.mundo.sem.correr.riscos”,.avalia.Maria.Lúcia.Puppo,.professora.de.licenciatura.
em.Artes.Cênicas.da.Universidade.de.São.Paulo.(USP)..E.são.muitas.as.habilidades.desenvolvidas.com.
essa.prática.
O.contato.com.a.linguagem.teatral.ajuda.crianças.e.adolescentes.a.perder.continuamente.a.timidez,.a.
desenvolver.e.priorizar.a.noção.do.trabalho.em.grupo,.a.se.sair.bem.de.situações.onde.é.exigido.o.improviso.
e.a.se.interessar.mais.por.textos.e.autores.variados..“O.teatro.é.um.exercício.de.cidadania.e.um.meio.de.
ampliar.o.repertório.cultural.de.qualquer.estudante”,.argumenta.Ingrid.Dormien.Koudela,.consultora.do.
Ministério.da.Educação.na.elaboração.dos.Parâmetros.Curriculares.Nacionais.(PCN).na.área..
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A criatividade é o único recurso indispensável
“A.escola.não.precisa.de.um.espaço.com.poltronas.confortáveis.ou.ricos.figurinos.para.montar.uma.peça”,.
avisa.a.atriz.e.orientadora.pedagógica.Beth.Zalcman,.da.Escola.Eliezer.Steinbarg-Max.Nordau,.do.Rio.de.
Janeiro..
O.professor.Leandro.Karnal,.da.Universidade.de.Campinas,.vai.no.mesmo.caminho.que.Beth..Ele.lembra.que.ainda.durante.a.época.colonial.os.jesuítas.já.utilizavam.o.teatro.como.exercício.escolar.com.bons.
resultados.e.sem.grandes.recursos..“Cabe.a.cada.professor.descobrir.os.recursos.necessários.para.o.trabalho.
que.pretende.desenvolver..Mas.o.principal.é.sempre.a.criatividade”,.alerta..
A.linguagem.lúdica,.multifacetada.e.pouco.dependente.da.escrita.é.ideal.para.colocar.em.cartaz.com.a.
garotada.espetáculos.sobre.a.cultura.local.ou.os.acontecimentos.cotidianos,.por.exemplo..A.atividade.desenvolve.a.oralidade,.os.gestos,.a.linguagem.musical.e,.principalmente,.a.corporal..
contato com companhias profissionais é valioso
A.presença.efetiva.da.arte.de.representar.na.educação.brasileira.é.um.fenômeno.recente..O.ensino.de.
Educação.Artística,.regulamentado.em.1971,.sempre.priorizou.as.artes.plásticas..Com.o.passar.do.tempo,.a.
aproximação.entre.escolas.e.grupos.teatrais.e.o.crescimento.dos.cursos.de.graduação.em.Artes.Cênicas.pelo.
país.contribuíram.para.o.aumento.e.a.valorização.do.teatro.em.sala.de.aula..
Você.pode.incluir.atividades.baseadas.nessa.linguagem.em.seu.planejamento.e.ir.além..Uma.forma.é.
fazer.parcerias.com.grupos.de.teatro.da.região..O.contato.com.atores.profissionais.é.muito.rico..Ele.possibilita.a.discussão.sobre.o.aproveitamento.dos.espaços.físicos.da.escola.e.o.intercâmbio.de.ideias.e.experiências..
Vale.a.pena.também.ficar.atento.à.programação.cultural.da.cidade..Entre.em.contato.com.companhias.
teatrais.e.veja.a.possibilidade.de.trazê-las.para.a.escola..E,.se.possível,.leve.a.turma.a.uma.sala.de.espetáculos.
para.assistir.a.montagens.profissionais..“O.hábito.de.ir.ao.teatro.também.deve.ser.desenvolvido.nas.aulas.de.
Artes”,.conclui.Ingrid.
os cuidados para montar um bom projeto
. Fazer teatro na escola não é simplesmente encenar uma passagem da nossa história ou levar para o palco
os personagens e a trama do livro lido pela turma no encerramento do semestre. De acordo com Tuna
Serzedelo e Maíra Silveira, professores do Colégio São Luís, de São Paulo, trabalhar com a arte da representação exige conhecimento técnico. Por isso, para desenvolver um trabalho que introduza crianças e jovens
nessa linguagem, os professores das diversas disciplinas devem se associar ao de Artes. Aprenda com a experiência da dupla.
. Coloque a classe em contato com diversos livros de autores com estilos variados e observe o tipo de texto
(tragédia, comédia, situações do cotidiano, mistério etc.) que mais chama a atenção do grupo.
. Em uma encenação, podem ser transmitidos conhecimentos culturais, históricos, científicos ou morais, por
exemplo, mas eles não devem ser vistos como objetivo, e sim como conseqüência. O ideal é que os alunos
se envolvam com a trama e os personagens e sintam prazer em representar.
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. Peça que os estudantes façam um mapeamento dos folguedos populares, festas, autos e outras manifestações folclóricas que possam ser representadas na escola.
. Evite montar um espetáculo que já esteja pronto e não busque se aproximar do que foi encenado por alguma
companhia famosa. Incentive o grupo a criar suas próprias encenações. “Cada montagem é única”, apregoa
Serzedelo. O professor dirigiu uma adaptação feita pelos próprios alunos do Ensino Médio de O Caso dos
Dez Negrinhos, da escritora inglesa Agatha Christie.
. Deixe as crianças ousarem. Maíra já trabalhou com a garotada na montagem de uma peça que uniu elementos dos clássicos Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, e Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. O
resultado foi o espetáculo Auto da Barca da Paulista, numa referência à famosa avenida da capital paulista,
que passa próxima ao colégio. Ações como essas, sugeridas pelos adolescentes, têm maior chance de fazer
sucesso.
. Estimule a participação de todos os estudantes, sem exigir profissionalismo. Há os que falam baixo ou os
que ficam de costas para a platéia. Mas todos podem aprender.
. Fotografe e filme as encenações. Depois, convide a classe para analisar a montagem. Esse exercício de auto-avaliação serve para afinar as próximas apresentações.
Fonte: revista Nova Escola, edição 170, Março/2004
Anexo 4
vai começar o teatro de bonecos – monte uma oficina de fantoches e
inicie a turma na arte de representar
Com.um.fantoche.na.mão,.até.adultos.mudam.o.tom.de.voz.para.dar.vida.aos.personagens..Gente.pequena,.então,.se.diverte.à.beça.com.esses.bonecos.feitos.de.retalhos.de.feltro.e.linha.e.agulha.de.bordar..A.
turma.solta.a.criatividade.rapidamente,.mas,.para.a.atividade.ganhar.um.contexto.maior,.é.preciso.dar.alguns.
pontos.
Primeiro.combine.com.as.crianças.uma.história.que.queiram.encenar..Com.base.nela,.defina.quem.vai.
construir.os.fantoches,.quem.vai.interpretar.os.personagens.e.quem.vai.assistir.à.apresentação..A.professora.
de. artes. plásticas. Maria. Silvia. Monteiro. Machado,. da. Escola. Municipal. de. Iniciação. Artística,. em. São.
Paulo,.faz.um.alerta.em.relação.às.expectativas.do.professor:.“As.crianças.fazem.o.trabalho.segundo.a.própria.
capacidade,.ou.seja,.cortam.o.pano,.colam.os.acessórios.e.costuram.o.fantoche.do.jeito.que.conseguem,.e.não.
de.acordo.com.o.que.o.educador.quer”..
Ainda.nessa.linha,.é.importante.afastar.estereótipos.e.não.direcionar.a.produção.da.turma.com.falas.do.
tipo.“o.leão.é.sempre.dessa.cor”.ou.“o.palhaço.não.é.assim”..Isso.inibe.a.expressão..“Às.vezes,.o.adulto.não.
reconhece.a.figura,.mas.a.criança.sabe.cada.detalhe.de.seu.boneco”,.conta.Ana.Tatit,.também.professora.da.
Escola.de.Iniciação.Artística..Se.necessário,.pergunte.onde.está.o.olho.e.a.boca,.por.exemplo,.para.começar.
a.entender.as.representações.de.cada.um..
Outro.cuidado.é.sobre.o.material.apresentado.à.garotada..Apesar.de.ser.uma.atividade.indicada.para.
turmas.a.partir.de.4.anos,.é.preciso.adequá-la.a.cada.faixa.etária..Ana.sugere.tecidos,.meias.e.sucatas.para.os.
menores..Com.os.maiores,.é.possível.explorar.técnicas.como.a.do.papel.machê..
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ensino médio
Subo nesse palco...
bases legais
Linguagens e códigos
conteúdo
•
Teatro
objetivos
•
Conhecer a história do teatro e dos métodos de preparação de atores através dos tempos.
introdução
A.reportagem.de.VEJA.sobre.Fátima.Toledo.é.bastante.esclarecedora.sobre.os.métodos.de.preparação.de.
atores.para.o.cinema.e.o.teatro.brasileiros.na.atualidade..O.texto.nos.conta.que.essa.profissional.realiza.uma.
tarefa.bastante.valorizada.na.indústria.cinematográfica.em.todo.o.mundo..Os.especialistas.acreditam.que.
Fátima.criou.um.método.e.está.por.trás.de.filmes.nacionais.de.grande.sucesso.de.bilheteria.como.Cidade de
Deus.e.Tropa de Elite..Aproveite.a.oportunidade.e.analise.com.seus.alunos.um.pouco.da.história.do.teatro.e.
das.técnicas.que.consagraram.atores.de.Hollywood..
Atividades
1ª aula.–.Solicite.aos.jovens.uma.pesquisa.sobre.o.nascimento.do.teatro.na.Grécia.antiga..Eles.descobrirão.que.a.arte.teria.surgido.naquela.civilização.em.função.das.manifestações.em.homenagem.ao.deus.do.
vinho,.Dionísio..A.cada.nova.safra.de.uva,.era.realizada.uma.festa.em.agradecimento.ao.deus,.marcada.por.
procissões..Com.o.passar.do.tempo,.elas.ficaram.conhecidas.como.“Ditirambos”.e.tornaram-se.cada.vez.mais.
elaboradas..Até.que.apareceram.os.“diretores.de.coro”.–.os.organizadores.da.festança..Nelas,.os.participantes.
cantavam,.dançavam.e.apresentavam.diversas.cenas.da.vida.e.das.peripécias.de.Dionísio..Reuniam-se.de.20.
mil.a.30.mil.pessoas.nas.cidades,.enquanto,.em.manifestações.rurais,.o.número.de.pessoas.era.menor..O.
primeiro.diretor.de.coro.foi.Téspis,.que.desenvolveu.o.uso.de.máscaras.no.palco..Por.causa.da.imensa.platéia,.
era.impossível.que.todos.escutassem.os.relatos..Mas.com.os.apetrechos.os.espectadores.podiam.visualizar.o.
sentimento.da.cena.e.dos.personagens.representados..
O.coro,.por.sua.vez,.narrava.a.história.com.o.auxílio.de.música.e.balé..Ele.era.o.intermediário.entre.o.ator.
e.os.espectadores.e.trazia.os.pensamentos.e.sentimentos.à.tona,.além.de.revelar.a.conclusão.e.a.moral.da.
peça..Também.podia.haver.o.“corifeu”,.um.representante.do.coro.que.se.comunicava.com.a.platéia..Em.uma.
dessas.procissões,.Téspis.inovou.ao.subir.em.um.tablado.e,.assim,.tornou-se.o.primeiro.respondedor.de.coro..
Em.razão.disso,.originaram-se.os.diálogos.e.Téspis.foi.considerado.o.primeiro.ator.grego..
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2ª aula –.Encomende.aos.meninos.uma.pesquisa.na.internet.sobre.os.métodos.de.preparação.de.atores..
Eles. encontrarão. vários. –. um. dos. mais. conhecidos. foi. desenvolvido. pelo. russo. Constantin. Stanislavsky.
(1863-1938)..Nascido.em.uma.família.rica,.decidiu.ser.ator.a.partir.dos.14.anos.e.ajudou.a.fundar.o.Teatro.
de.Arte.de.Moscou..Quando.começou.a.atuar,.ele.estava.às.voltas.com.duas.formas.distintas.de.representação.que.marcaram.a.evolução.dessa.arte.no.século.XIX:.o.teatro.tradicional.(bastante.estilizado,.em.que.o.
ator.exibia.gestos.“quase.falsos”).e.a.técnica.recém-surgida.de.representação.realista..
O.diretor.observou,.então,.os.atores.consagrados.de.seu.tempo,.além.de.contar.com.sua.própria.experiência..Constatou.que.alguns.intérpretes.agiam.de.forma.natural.e.intuitiva.–.mas.também.percebeu.que.não.
havia.nada.escrito.sobre.esse.tipo.de.atuação..Resolveu,.portanto,.criar.um.sistema.batizado.com.seu.nome,.
que.passou.a.ser.reconhecido.pelas.gerações.futuras.como.O.Método.e.ainda.hoje.serve.de.base.para.a.formação.de.todo.bom.ator..
O.núcleo.desse.sistema.está.na.chamada.“atuação. verossímil”,. uma. série. de. técnicas. e. princípios. que.
atualmente.são.considerados.fundamentais.para.o.desempenho.do.ator..Ao.contrário.da.percepção.de.naturalidade.que.observara,.descobriu.que.a.atuação.realista.era,.na.verdade,.muito.artificial.e.difícil.–.e.que.somente.seria.desenvolvida.mediante.estudos.e.práticas,.que.ele.fez.questão.de.organizar..Desde.o.lendário.
Actor.s.Studio,.de.Nova.York,.uma.das.instituições.mais.reconhecidas.no.meio.artístico,.até.as.escolas.de.
atuação.brasileiras,.esse.método.tem.sido.amplamente.utilizado.na.preparação.de.atores..Alguns.famosos.
que.o.adotaram.são:.Jack.Nicholson,.Marilyn.Monroe,.James.Dean,.Marlon.Brando,.Paul.Newman,.Dustin.
Hoffman,.Robert.de.Niro.e.Al.Pacino..Entre.os.mais.novos,.o.talentoso.e.carismático.Johnny.Depp..
3ª aula.–.Convoque.os.alunos.para.que.assistam.a.um.trecho.de.um.filme.com.um.desses.atores,.como,.
por.exemplo,.James.Dean,.em.Assim caminha a humanidade.ou.Juventude transviada..Da.carreira.de.Jack.
Nicholson,.há.Um estranho no ninho ou.O iluminado..E,.de.Al.Pacino,.não.dá.para.ficar.de.fora.da.trilogia.de.
O poderoso chefão.ou.Perfume de mulher..Peça.que.analisem.a.atuação.dos.artistas..Após.a.exibição.do.trecho.
do.filme,.leia.para.a.classe.a.definição.de.Stanislavsky.sobre.seu.sistema.de.atuação:.“Todos.os.nossos.atos,.
mesmo.os.mais.simples,.aqueles.que.estamos.acostumados.em.nosso.cotidiano,.são.desligados.quando.surgimos.na.ribalta,.diante.de.uma.platéia.de.mil.pessoas..Isso.é.por.que.é.necessário.se.corrigir.e.aprender.
novamente.a.andar,.sentar,.ou.deitar..É.necessário.a.auto-reeducação.para,.no.palco,.olhar.e.ver,.escutar.e.
ouvir.”.Proponha.aos.adolescentes.que.escolham.uma.cena.de.algum.dos.filmes.listados.neste.plano.de.aula.
para.que.a.reproduzam.na.sala.de.aula.
Veja.também:
filmografia
Gata em teto de zinco quente,.Richard.Brooks,.1959,.Warner.Home.Video
Quanto mais quente melhor,.Billy.Wilder,.1959,.Fox.Home.Video
Consultoria.Ricardo Barros
Professor.de.História.do.Colégio.Paulista,.de.São.Paulo
Fonte: http://revistaescola.abril.com.br/ensino-medio/subo-nesse-palco-427983.shtml
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trechoS De PeçAS teAtrAiS
DA APoStiLA 3
A lição
Eugène Ionesco.(trad..Paulo.Neves)
ATO.ÚNICO
(...)
A.ALUNA.–.Não.sei,.senhor.
O.PROFESSOR.–.Vamos,.reflita..Não.é.fácil,.admito..No.entanto,.você.é.bastante.culta.para.poder.fazer.
o.esforço.intelectual.exigido.e.chegar.a.compreender..E.então?
A.ALUNA.–.Não.consigo,.senhor..Não.sei.
O.PROFESSOR.–.Tomemos.exemplos.mais.simples..Se.você.tivesse.dois.narizes.e.eu.lhe.arrancasse.um.
deles,.com.quantos.estaria.agora?
A.ALUNA.–.Nenhum.
O.PROFESSOR.–.Como.nenhum?
A.ALUNA.–.Sim,.é.justamente.porque.o.senhor.não.me.arrancou.nenhum.que.eu.tenho.um.agora..Se.
o.tivesse.arrancado,.eu.não.o.teria.mais.
O.PROFESSOR.–.Você.não.compreendeu.meu.exemplo..Suponha.que.tivesse.só.uma.orelha.
A.ALUNA.–.Sim,.e.então?
O.PROFESSOR.–.Eu.lhe.acrescento.uma,.quantas.teria?
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Certo..Acrescento-lhe.mais.uma..Quantas.teriam?
A.ALUNA.–.Três.orelhas.
O.PROFESSOR.–.Eu.retiro.uma.delas....Você.fica...,.com.quantas.orelhas?
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Certo..Eu.retiro.mais.uma,.com.quantas.ficaria?
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Não..Você.tem.duas,.eu.pego.uma.delas,.eu.como.uma.delas,.quantas.orelhas.lhe.
restam?
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Eu.como.uma.delas....uma.
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Uma.
A.ALUNA.–.Duas.
O.PROFESSOR.–.Uma!
A.ALUNA.–.Duas!
O.PROFESSOR.–.Uma!!!
A.ALUNA.–.Duas!!!
O.PROFESSOR.–.Uma!!!
A.ALUNA.–.Duas!!!
O.PROFESSOR.–.Uma!!!
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A.ALUNA.–.Duas!!!
O.PROFESSOR.–.Não,.não..Não.é.isso,.O.exemplo.não.é....não.é.convincente..Escute-me..(...).Vamos.
proceder.de.outro.modo....Limitemo-nos.aos.números.de.um.a.cinco,.para.a.subtração....Espere,.senhorita,.
você.vai.ver..Vou.fazê-la.compreender..(O Professor põe-se a escrever numa lousa imaginária. Ele se aproxima da
Aluna, que se vira para olhar.).Veja,.senhorita..(Ele finge desenhar, na lousa, um bastão; finge escrever abaixo o
número 1; depois, dois bastões, sob os quais escreve o número 2; faz o mesmo com 3 e o 4.) Veja...
A.ALUNA.–.Sim,.senhor.
O.PROFESSOR.–.São.bastões,.senhorita,.bastões..Isso.aqui.é.um.bastão;.aqui.são.dois.bastões;.ali,.três.
bastões;.depois,.quatro.bastões;.depois,.cinco.bastões..Um.bastão,.dois.bastões,.três.bastões,.quatro.e.cinco.
bastões....são.números..Quando.contamos.bastões,.cada.bastão.é.uma.unidade,.senhorita....O.que.acabo.de.
dizer?
A.ALUNA.–.“Uma.unidade,.senhorita!.O.que.acabo.de.dizer?”
O.PROFESSOR.–.Ou.algarismos!.Ou.números!.Um,.dois,.três,.quatro,.cinco,.são.elementos.da.numeração,.senhorita.
A.ALUNA.–.(Hesitante.).Sim,.senhor..Elementos,.algarismos,.que.são.bastões,.unidades.e.números...
O.PROFESSOR.–.Ao.mesmo.tempo....Ou.seja,.em.suma,.toda.a.aritmética.consiste.nisso.
A.ALUNA.–.Sim,.senhor..Certo,.senhor..Obrigada,.senhor.
(...)
Fonte: A lição e as cadeiras. Eugène Ionesco. Trad. Paulo Neves. Editora Peixoto Neto, 2004.
Pluft, o fantasminha
Maria Clara Machado
PRÓLOGO
O prólogo se passa à frente da cortina. Pela esquerda surgem os 3 marinheiros amigos, meio bêbados, cantando.
O da frente é Sebastião, o mais corajoso. Leva um toco de vela aceso ou um lampião. Segue-se Julião, segurando um
mapa. Deve-se ouvir a canção antes de avistá-los.
Ainda.era.uma.criança,
Quando.saiu.para.o.mar
A.aprender.a.navegar
O.Capitão.Bonança!
Depois.morreu.no.mar,
Deixou.de.navegar.
Onde.está.a.herança
Do.Capitão.Bonança!?
Quando aparecem no palco, devem estar acabando o canto.
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SEBASTIÃO
Deve.ser.aqui!.Veja.o.mapa,.Julião!
JULIÃO
Veja.você,.Sebastião..(Troca o mapa pela vela do Sebastião.)
SEBASTIÃO
É.melhor.o.João.ver;.João.é.o.encarregado.do.mapa..(Troca a garrafa com João e bebe um traguinho. Fazem
várias vezes este jogo de trocar.)
JOÃO
(Com o mapa).Uma.casa.perdida.na.areia.branca.perto.do.mar.verde....Deve.estar.por.perto....Pega.na.
luneta,.Julião.
JULIÃO
(Olhando pelo gargalo da garrafa) Estou.vendo.um.mar.calmo.com.algumas.ondinhas.brancas.
SEBASTIÃO
Então.vamos!
JOÃO
(Desanimado).Já.andamos.muito!.Pobre.Maribel!
JULIÃO
Pobre.Maribel!
SEBASTIÃO
Pobre.Maribel!
(Os três se abraçam e sentam-se no chão.)
SEBASTIÃO
(Levantando-se).Precisamos.salvar.a.neta.do.nosso.grande.capitão.Bonança!
JOÃO
(Mesmo) Precisamos.achar.o.tesouro.da.neta.do.grande.Capitão.Bonança!
JULIÃO
Precisamos.pegar.o.ladrão.do.tesouro.da.neta.do.grande.capitão.Bonança!
SEBASTIÃO
Viva.o.grande.capitão.Bonança!
TODOS
Vivaaaa!
SEBASTIÃO
(Para Julião) Vamos!
JULIÃO
(Para João).Vamos!
JOÃO
(Para alguém imaginário que o segue) Vamos!
(Os três recomeçam a cantar e saem pela direita, descendo o proscênio.)
Fim.do.prólogo
Fonte: Pluft, o fantasminha. Maria Clara Machado. Nova Fronteira, 2009.
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O beijo no asfalto
Nelson Rodrigues
TERCEIRO.ATO
(Trevas. Luz na casa de Selminha. Dália vai entrando. Sente-se em tudo o que Selminha diz ou faz, o trauma
da polícia. Ela, que está lendo um jornal, ergue-se ao ver Dália.)
SELMINHA (sempre em tensão).–.Quem.era?
DÁLIA.(sôfrega).–.Arandir!
SELMINHA (frenética e esganiçando).–.E.só.telefona.agora?
DÁLIA.(querendo acalmá-la) –.Selminha,.você.está.nervosa.
SELMINHA (anda de um lado para outro numa angústia de insana e na sua cólera).–.Passa.uma.noite.e.um.
dia.sem.telefonar!
DÁLIA.(gritando também) –.O.telefone.aqui.está.desligado!
SELMINHA (mais contida).–.Fala!
DALIA.–.Arandir.telefonou.
SELMINHA (varada de arrepios) –.Arandir.
DALIA.–.Escuta..Está.num.hotel.
SELMINHA (repetindo por um mecanismo de angústia).–.Hotel?
DALIA.(sôfrega).–.Mandou.dizer.que.
SELMINHA (com brusca irritação).–.Mas.que.hotel?
DALIA.–.E.te.espera.lá..Disse.que.
SELMINHA.–.Onde?
DALIA.–.O.endereço..Eu.tomei.nota..É.no...
(Sente-se pouco a pouco e de uma maneira cada vez mais nítida, que Selminha não quer ir.)
SELMINHA.(para si mesma com voz surda).–.E.quer.que.eu.vá.lá!
DÁLIA.–.Arandir.pediu..Olha,.Selminha,.pediu.que.você.fosse.imediatamente..Agora..Fosse.agora..O.
endereço..Está.escondido.num.hotel..A.rua.é...
SELMINHA.(cortando).–.Dália,.escuta..É.claro.que.eu..Mas.todo.o.mundo!.Todo.o.mundo.acha,.tem.
certeza..Certeza!.Que.os.dois.eram.amantes!
DÁLIA.(com desprezo) –.É.uma.gente.que.nem.sei!
SELMINHA.(na sua obsessão) –.Amantes!
DÁLIA.–.Mas,.o.Arandir.mandou.dizer.que.o.hotel..O.hotel.é.pertinho.do.largo.de.São.Francisco..Olha..
Escolheu,.de.propósito,.está.ouvindo,.Selminha?.Selminha,.ouve,.escolheu.um.hotel.ordinário,.porque.dá.
menos.na.vista..Agora.vai,.Selminha,.vai.
SELMINHA.–.Vou.
DÁLIA.(sôfrega) –.Apanha.um.táxi.
(Selminha não se mexe.)
SELMINHA.(com súbita revolta) –.E.se.a.polícia.me.seguir?
DÁLIA (com irritação).–.Arandir.está.esperando!
SELMINHA.(com certa malignidade) –.E.daí?
DÁLIA.–.Você.é.a.mulher!
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SELMINHA (gritando) –.Mas.se.eu.for.presa. (desatando a chorar) Você.quer.que.eu.seja.presa..(com
desespero) E.que.façam.outra.vez.aquilo.comigo,.outra.vez?
DÁLIA (conciliatória).–.Selminha!
SELMJNHA.(trincando os dentes).–.Nunca.pensei.que..Me.puseram.nua!.Fiquei.nua.pra.dois.sujeitos!
DÁLIA.–.Mas.não.vá.contar.isso.pra.o.Arandir!
SELMINHA.–.E.o.miserável,.o.cachorro.ainda.me.disse.que.me.queimava.o.seio.com.o.cigarro! (soluçando).Nua!.Nua!
(Dália agarra a irmã pelos dois braços com súbita energia.)
DÁLIA.–.Você.vai?
SELMINHA (ofegante e caindo em si).–.Vou..Claro.que.vou..Eu.disse.que.ia.e.vou..Mas.olha. (muda de
tom).E.se.ele.quiser.me.beijar?
DÁLIA.(sem entender) –.Ora,.Selminha!
SELMINHA (com angústia) –.Vai.me.beijar.e.eu!.(continua sem coerência) Quando.a.viúva.disse,.cara.a.
cara.comigo,.que.tinham.tomado.banho.juntos.
DÁLIA (com violência) –.Nem.se.conheciam!
SELMINHA.(sem ouvi-la e só escutando a própria voz interior) –.Uma.coisa.que.me.dá.vontade.de.morrer..
Como.é.que.um.homem.pode.desejar.outro.homem. (veemente e voltando-se para a irmã) Dália,.você.entende?.Entende,.eu?.Sei.que,.agora,.quando.um.homem.olhar.para.o.meu.marido..Vou.desconfiar.de.qualquer.
um,.Dália!.(com uma brusca irritação) Aliás,.Arandir.tem.certas.coisas..Certas.delicadezas!.E.outra.que.eu.
nunca.disse.a.ninguém..Não.disse.por.vergonha..(com mais veemência).Mas.você.sabe.que.a.primeira.mulher.
que.Arandir.conheceu.fui.eu..Acho.isso.tão!.Casou-se.tão.virgem.como.eu,.Dália!
DÁLIA.–.Arandir.só.tem.você!
SELMINHA.(numa explosão) –.Se.eu.for,.já.sei..Ele.vai.querer.beijar..Na.certa..Eu.não.quero.um.beijo.
sabendo.que..(hirta de nojo) O.beijo.do.meu.marido.ainda.tem.a.saliva.de.outro.homem!
(Trevas.)
Fonte: Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária e O beijo no asfalto. Nelson Rodrigues. Nova Fronteira, 2006.
Romeu e Julieta
Ato.II.–.Cena.II.
(...)
JULIETA
Ai.de.mim!
ROMEU
Fale!.Fale,.anjo,.outra.vez,.pois.você.brilha
Na.glória.desta.noite,.sobre.a.terra,
Como.o.celeste.mensageiro.alado
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Sobre.os.olhos.mortais.que,.deslumbrados,
Se.voltam.para.o.alto,.para.olhá-lo,
Quando.ele.chega,.cavalgando.as.nuvens,
E.vaga.sobre.o.seio.desse.espaço.
JULIETA
Romeu,.Romeu,.por.que.há.de.ser.Romeu?
Negue.o.seu.pai,.recuse-se.esse.nome;
Ou.se.não.quer,.jure.só.que.me.ama
E.eu.não.serei.mais.dos.Capuletos.
ROMEU
(A.parte).Devo.ouvir.mais,.ou.falarei.com.ela?
JULIETA
É.só.seu.nome.que.é.meu.inimigo:
Mas.você.é.você,.não.é.Montéquio!
Que.é.Montéquio?.Não.é.pé,.nem.mão,
Nem.braço,.nem.feição,.nem.parte.alguma
De.homem.algum..Oh,.chame-se.outra.coisa!
Que.é.que.há.num.nome?.O.que.chamamos.rosa
Teria.o.mesmo.cheiro.com.outro.nome;
E.assim.Romeu,.chamado.de.outra.coisa,
Continuaria.sempre.a.ser.perfeito,
Com.outro.nome..Mude-o,.Romeu,
E.em.troca.dele,.que.não.é.você,
Fique.comigo.
ROMEU
Eu.cobro.essa.palavra!
Se.me.chamar.de.amor,.me.rebatizo:
E.de.hoje.em.diante.eu.não.sou.mais.Romeu.
JULIETA
Quem.é.que,.assim,.oculto.pela.noite,
Descobre.o.meu.segredo?
ROMEU
Pelo.nome,
Não.sei.como.dizer-lhe.quem.eu.sou,
Meu.nome,.cara.santa,.me.traz.ódio,
Porque,.para.você,.é.de.inimigo.
Fonte: Romeu e Julieta. Willian Shakespeare. Trad. de Bárbara Heliodora. Nova Fronteira, 1997.
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Apostilas das oficinas de leitura  117
APoStiLA 4
oficinA 4 – Uma imagem, mil palavras
A leitura de imagens
objetivos:
•
•
•
•
•
experienciar a leitura de imagens;
evidenciar os procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;
conhecer um pouco mais sobre a história das imagens;
compreender as relações entre a palavra e a imagem;
ter clareza da importância da exploração das imagens na literatura para a produção de sentido, estabelecendo diálogos com base nas interações entre a imagem e a palavra.
conteúdos:
•
•
•
•
procedimentos e comportamentos necessários à leitura de imagens;
breve história da leitura de imagens;
relações entre palavra e imagem;
a ilustração na literatura infantil e juvenil.
Desenvolvimento:
O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo.
à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.
1. Abertura:
a)..Nessa.oficina,.o.formador.deve.começar.retomando.o.encontro.anterior,.conversando.com.os.participantes.sobre.as.atividades.desenvolvidas,.em.especial.a.leitura.do.texto.teatral.ou.as.outras.propostas.
sugeridas..Como.foi.a.seleção.do.texto?.O.que.foi.lido.pelos.participantes?.Fizeram.leituras.dramáticas?.De.que.forma.abordaram.os.textos.teatrais.com.seus.alunos?.Quais.os.principais.desafios.enfrentados?.Alguém.registrou.a.leitura.dramática.no.diário?.Como.foi.realizado.esse.registro?
. .Pode-se.formar.duplas.ou.trios.para.que.compartilhem.suas.histórias.e.seus.diários.com.o(s).companheiro(s),.narrando.como.foi.o.trabalho,.lendo.ou.apresentando.os.registros.que.gostariam.de.socializar,.trocando.dicas.de.livros.lidos.e.filmes.assistidos.
b)..Em.seguida,.retomar.a.conversa.coletiva.e.deixar.que.alguns.participantes.falem.livremente.sobre.suas.
impressões.acerca.da.atividade,.envolvendo.textos.dramáticos.e.dos.diários..O.objetivo.é.verificar.de.
que.forma.o.grupo.se.apropriou.dos.conteúdos.abordados.e.criar.um.ambiente.acolhedor.para.a.dis-
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cussão.sobre.a.leitura.e.formação.de.uma.comunidade.leitora..O.formador.também.pode.aproveitar.
esse.momento.para.retomar.a.discussão.da.terceira.oficina.e.a.atividade.da.Feira.de.Troca.de.Livros,.
propondo.uma.nova.troca.de.títulos.entre.os.participantes,.acrescentando.ao.acervo.doado.outros.livros.trazidos.pelo.grupo.nessa.oficina.
2. Apresentação da apostila e dos conteúdos da oficina: para.aproximá-los.e.sensibilizá-los.com.relação.ao.tema.do.encontro,.fazer.uma.leitura.dos.conteúdos.e.objetivos.dessa.oficina,.questionando.quais.as.
expectativas.e.o.que.já.sabem.sobre.tais.conteúdos..Essa.pode.ser.uma.oportunidade.para.levantar.as.hipóteses.sobre.o.que.será.discutido.e.também.para.que.os.participantes.de.anos.anteriores.comentem.o.que.
aprenderam.sobre.a.leitura.de.imagens.e.de.que.forma.as.atividades.realizadas.nas.oficinas.foram.incorporadas.à.sua.prática.
3. Provocando o olhar:.a.primeira.parte.da.oficina.terá.como.foco.as.imagens.e.os.diferentes.comportamentos.e.propósitos.leitores.sugeridos.por.elas..O.formador.poderá.iniciar.com.a.leitura.de.uma.imagem.significativa,.em.vez.de.um.conto.ou.poema..A.escolha.pode.ser.desde.uma.fotografia.pessoal.ou.
profissional,.uma.gravura,.uma.pintura,.uma.escultura.ou,.até.mesmo,.um.curta-metragem.ou.o.trecho.de.
um.filme.cujas.imagens.possam.suscitar.uma.reflexão.para.o.grupo..Sugerimos.algum.curta-metragem.da.
Pixar.ou.o.curta.de.animação.indicado.ao.Oscar.2009.La maison en petit cubes,.os.primeiros.capítulos.do.
longa.metragem.de.animação.Persépolis,.os.livros.Onda.e.Espelho,.de.Suzy.Lee,.ou.qualquer.outra.obra.que.
trabalhe.a.narrativa.com.base.em.imagens..O.importante.é.que.o.material.apresentado.já.tenha.sido.explorado. anteriormente. pelo. formador. e. que. essa. leitura. possa. servir. de. modelo,. oferecendo. elementos.
para.ampliar.a.visão.dos.participantes.sobre.alguns.aspectos.constitutivos.da.mesma,.tais.como:.o.que.ela.
narra,.como.narra,.as.cores.utilizadas,.o.enquadramento,.seus.aspectos.expressivos,.lúdicos,.descritivos,.a.
composição,.o.tema,.etc.
4. Por que lemos imagens? Para que lemos imagens?: retomar.a.tarefa.solicitada.na.oficina.anterior,.
propondo.aos.participantes.que.exponham.as.imagens.que.trouxeram.e.justifiquem.a.escolha.das.mesmas..
O.formador.poderá.organizar.um.Mar.de.Imagens,.dispondo.o.material.trazido.em.um.pano.colorido.e.
convidando.o.grupo.para.observá-las.atentamente..Se.for.possível,.as.imagens.também.poderiam.ser.colocadas.em.um.varal..Em.seguida,.pedir.que.escolham.uma.delas,.formem.pequenos.grupos.(de.quatro.ou.
cinco.componentes).e.discutam:.o.que.a.imagem.escolhida.apresenta?.Como.apresenta?.Quem.ou.o.quê.está.
retratado?.Há.sugestão.de.movimento?.Emoções?.É.possível.identificar.a.que.tempo.ela.pertence?.Em.seguida,.pedir.que.formem.grupos.elegendo.uma.das.imagens.para.uma.análise.mais.detalhada,.abrindo.espaço.para.a.discussão.dos.propósitos.de.leitura.desse.tipo.de.texto..Por.que.lemos.imagens?.Para.que.lemos.
imagens?.O.formador.poderá.selecionar.anteriormente.quais.imagens.serão.analisadas.pelo.grupo.(mapas,.
fotografias,.quadros,.desenhos,.tirinhas,.charges,.etc.).de.acordo.com.diferentes.propósitos:.ler.por.prazer,.ler.
para.apreciar.qualidades.estéticas,.ler.para.acompanhar.uma.sequência.de.fatos,.ler.para.reconstituir.costumes.de.determinado.tempo,.ler.para.identificar.comportamentos.e.valores.sociais,.ler.para.conhecer/aprender. algo,. ler. para. localizar. um. ponto. no. espaço,. ler. para. traçar. uma. rota,. ler. para. identificar. diferentes.
elementos.de.uma.composição,.etc..O.objetivo.é.retomar.um.dos.eixos.de.nosso.projeto,.discutindo.as.diferentes.possibilidades.de.leitura.que.um.texto.nos.oferece.com.base.nos.propósitos.que.temos.durante.a.atividade.. Nesse. caso,. por. exemplo,. um. mapa. pode. ser. lido. para. localizarmos. um. país. para. aprendermos.
aspectos.geográficos.de.um.território,.para.traçar.uma.rota.até.determinada.localidade,.para.identificarmos.
o.conhecimento.geográfico.de.um.período,.etc..E,.para.cada.um.desses.propósitos,.poderemos.acionar.dife-
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rentes.procedimentos..O.formador.poderá.sistematizar.as.conclusões.do.grupo,.registrando-as.em.um.quadro.para.que.todos.possam.organizar.as.ideias.experimentadas.com.base.nesse.exercício.
Para que lemos imagens?
Como lemos imagens?
5. Imagem e narrativa: realizar. a. leitura. compartilhada. do. texto. farol. Lendo imagens,. de. Alberto.
Manguel,.disponível.nesta.apostila..Pode-se.optar.pela.leitura.de.trechos.relevantes,.previamente.selecionados.pelo.formador..O.objetivo.é.ampliar.o.que.foi.discutido.até.o.momento..Nesse.texto,.o.autor.defende.a.ideia.de.que.a.leitura.de.imagens.é.feita.com.nossas.próprias.experiências.e.questiona.a.necessidade.
de.existência.de.uma.“gramática”.do.olhar.para.a.compreensão.desse.tipo.de.texto..Para.ele,.toda.imagem.
tem.uma.história.para.contar..Se,.como.Manguel.afirma,.“cada.imagem.é.um.mundo”.e.só.conseguimos.
enxergar.o.que.faz.parte.do.nosso.universo.de.conhecimento,.é.impossível.nos.prendermos.a.único.roteiro.para.o.olhar..Todas.elas.podem.ser.lidas.e.traduzidas.em.palavras.pelo.público,.ainda.que.ele.não.seja.
especialista.em.leitura.de.imagens..Sendo.assim,.todo.leitor.da.palavra.é.também.leitor.da.imagem,.e.vice-versa.
6. Estabelecendo outras relações entre imagem e texto: após.exercitarem.o.olhar.para.apreender.diferentes. sentidos. nas. imagens,. os. participantes. serão. convidados. a. estabelecer. relações. entre. as. imagens. e.
outros.tipos.de.texto..O.objetivo.é.mostrar.que,.mesmo.estando.imersos.em.uma.sociedade.cercada.de.inúmeros.estímulos.visuais,.as.palavras.produzem.imagens,.e.as.imagens.geram.textos,.ampliando.mutuamente.
seus.sentidos..Para.isso,.o.formador.pode.conduzir.o.exercício.proposto.no.texto-farol.Palavra e imagem:.
leituras cruzadas,.de.Ivete.Lara.Camargos.Walty,.Maria.Nazareth.Soares.Fonseca.e.Maria.Zilda.Ferreira.
Cury,.apresentando.aos.participantes.a.fotografia.de.Sebastião.Salgado.e.propondo.que.observem.o.que.ela.
retrata.e.troquem.impressões.com.o.restante.da.turma..Deixar.que.falem.livremente.sobre.a.imagem.e.o.
impacto.causado..Em.seguida,.dividi-los.em.sete.grupos:.para.cada.um.deles,.entregar.um.dos.outros.textos.
sugeridos.pelas.autoras.(legenda.da.foto.escrita.por.Sebastião.Salgado,.a.letra.da.música.Brejo da Cruz,.o.
poema.O bicho,.o.cartaz.da.LBV,.as.outras.duas.imagens.publicadas.no.jornal,.o.trecho.do.texto.publicado.
referente.às.imagens.e.o.poema.Fim de feira,.de.Drummond)..Pedir.a.cada.grupo.para.ler.o.texto.que.lhe.foi.
entregue.e.discutir.se.as.informações.apresentadas.ampliam/atribuem.mais.sentido.às.fotografias..Em.caso.
afirmativo,.de.que.forma.essas.diferentes.linguagens.conversam?.Por.fim,.assistir.ao.curta.-metragem.Ilha das
Flores.ou.a.trechos.do.documentário.Estamira.e.deixar.que.o.grupo.apresente.suas.impressões.sobre.o.que.
conseguiram.observar.ao.longo.da.atividade.
7. Muitas imagens, infinitas palavras: para.iniciar.a.discussão.sobre.as.relações.entre.imagem.e.palavra.
na.literatura,.apresentaremos.o.livro.que.sugerimos.compor.o.acervo.do.projeto,.cujo.texto.poderá.ser.abordado. pelo. grupo. de. teatro. na. próxima. montagem:. As aventuras de Bambolina,. de. Michele. Iacocca. (São.
Paulo:.Ática,.2006)..Sob.a.orientação.do.formador,.a.dinâmica.de.leitura.e.análise.do.livro.pode.ser.realizada. coletivamente.. Entretanto,. as. atividades. propostas. devem. ser. desenvolvidas. em. grupos. menores. para.
garantir.a.participação.e.a.agilidade.de.todos. Depois.da.realização.da.atividade,.é.preciso.que.se.faça.uma.
reflexão.sobre.elas,.se.contribuem.para.ampliar.a.compreensão.sobre.a.leitura.de.imagens.e,.em.caso.afirmativo,.por.qual.motivo..Nesse.momento,.os.grupos.podem.socializar.suas.atividades.e.descobertas..O.objetivo.
é.experimentar.a.análise.de.uma.obra,.desconstruindo-a.para.ampliar.o.seu.sentido,.apontando.diferentes.
caminhos.para.a.compreensão.das.imagens.
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120  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
8. A ilustração na literatura infantil: a.partir.desse.momento.da.oficina,.nos.dedicaremos.a.discutir.um.
pouco.mais.a.ilustração.na.literatura.e.sua.importância.para.a.construção.de.sentido.dos.textos.escritos..Para.
isso,.o.formador.deverá.realizar.uma.leitura.compartilhada.de.textos,.para.a.qual.sugerimos.O que é uma imagem
narrativa?,.de.Ciça.Fittipaldi.(O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil ,.São.Paulo,.DCL,.2008.
–.título.que.faz.parte.do.acervo.circulante).e.Um casamento perfeito,.de.Maria.Ligia.Pagenoto.(revista.Leituras,.
março.de.2007,.ano.II,.vol..2)..Caso.considere.relevante,.ao.longo.da.leitura.o.formador.poderá.utilizar.alguns.
dos.livros.citados.pelos.autores.para.exemplificar.os.conceitos.trazidos.em.seus.textos.
9. Representações visuais das bruxas na literatura infantil – Um estudo de caso do conto: talvez.nenhum.outro.personagem.seja.tão.presente.no.imaginário.coletivo.construído.por.meio.das.histórias.de.tradição.oral.como.as.bruxas..No.texto-farol.4,.disponível.ao.final.da.apostila,.os.participantes.serão.convidados.
a.observar.algumas.ilustrações.e.descrições.literárias.de.bruxas.de.vários.contos,.procurando.refletir.sobre.a.
maneira.como.elas.foram.representadas.por.diferentes.ilustradores.da.literatura.infantil.nacional.e.internacional..O.formador.pode.dividir.a.turma.em.grupos.e.entregar.cópias.de.alguns.contos.tradicionais.para.cada.
um.deles.( João.e.Maria,.Rapunzel,.Branca.de.Neve.e.Baba-Yaga,.entre.outros)..Os.participantes.devem.fazer.
a.leitura.dos.mesmos,.observando.os.comportamentos,.estados.mentais.(o.que.pensam,.como.pensam).e.
características.das.bruxas.retratadas.(como.são.vistas,.como.se.vestem,.o.que.fazem.e.sentem,.que.sentimentos.causam.naqueles.que.encontram)..Em.seguida,.os.grupos.socializam.suas.impressões..Se.quiser,.o.formador.poderá.anotá-las.em.um.quadro,.registrando.o.título.do.conto,.o.nome.da.bruxa.e.os.principais.aspectos.
observados.pelo.grupo..Para.finalizar.a.atividade,.o.formador.apresenta.imagens.dessa.personagem.nos.vários.contos.abordados.para.que.os.grupos.possam.responder.à.pergunta: de.que.forma.os.ilustradores.se.
apropriaram.em.suas.representações.das.diferentes.informações.sobre.a.personagem.apresentadas.nos.contos?.Caso.sinta-se.mais.à.vontade.em.abordar.outro.personagem,.o.formador.poderá.selecionar.outras.imagens.e.seguir.o.mesmo.encaminhamento.proposto.nessa.atividade.
10. Texto já encenado por grupos de teatro do Projeto letras de Luz: os.grupos.de.teatro.do.projeto,.
em.2010,.foram.convidados.a.eleger,.para.a.última.apresentação.do.ano,.os.contos.do.livro.Contos de adivinhação,.de.Ricardo.Azevedo.(Ática,.2008).
11. Atividade final – Mar de histórias: nosso.encontro.termina.com.o.Mar.de.Histórias..Nele.estarão.
expostas.as.várias.imagens.exploradas.ao.longo.do.encontro,.além.dos.livros.do.acervo.e.outros.levados.pelo.
formador..É.importante.que.o.formador.atue.como.mediador,.apresentando.as.obras,.os.autores.e.seu.contexto,.incentivando.o.grupo.a.pesquisar.outros.títulos.que.explorem.o.uso.de.imagens.e.suas.inúmeras.possibilidades.de.leitura.
12. Tarefa:.a) Organizar.a.leitura.de.um.livro.de.imagens.ou.de.um.vídeo.em.um.espaço.público..Os.
participantes.poderão,.inclusive,.reproduzir.as.atividades.realizadas.na.oficina,.adaptando-as.aos.seus.grupos..
b) Fazer.anotações.no.Diário.de.Leitura.sobre.a.seleção.do.livro.ou.da.imagem.utilizada,.preparação.para.o.
trabalho,.da.própria.atuação.e.do.retorno.dos.ouvintes.
13. Avaliação: como.nas.oficinas.anteriores,.avaliar.o.encontro.para.identificar.se.os.objetivos.foram.
cumpridos,.quais.aspectos.podem.ser.aprimorados.e.sugestões.do.grupo..Sempre.que.possível,.a.avaliação.
deverá.ser.feita.por.escrito.
14. Para o próximo encontro: prepara-se.a.turma.para.o.próximo.encontro,.anunciando.o.tema.que.será.
trabalhado.e.solicitando.aos.participantes.algumas.tarefas:.a) Trazer.um.livro.de.literatura.para.dar.de.presente.
para.um.colega,.seja.comprado.ou.de.seu.acervo.pessoal;.b).Escolher.um.poema.para.ser.lido.no.sarau..Importante:.a.escolha.deve.ser.feita.em.livro.(e.não.na.internet)..Esse.livro.deverá.também.ser.apresentado.no.sarau.
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bibliografia básica
BANYAI,.Istvan..O outro lado..São.Paulo:.Cosac.Naify,.2007.
Este.é.um.livro.que.diz.muito.–.sem.usar.uma.palavra.sequer..O.autor,.Istvan.Banyai,.é.artista.gráfico.dos.bons,.
perito.em.narrativas.com.imagens..Logo.na.primeira.página,.uma.menina.observa.da.janela.um.aviãozinho.de.papel.
voando.lá.fora..De.onde.ele.vem?.Ao.virar.a.página,.um.garoto.do.apartamento.de.cima.se.diverte.arremessando.as.
dobraduras..Assim.o.livro.segue,.sempre.com.uma.cena.que.se.transforma.na.próxima.página,.despertando.nossa.curiosidade.para.folhar.este.livro-imagem.em.busca.de.outro.ponto.de.vista.
BERGER,.John..Modos de ver..Rio.de.Janeiro:.Rocco,.1999.
Modos de ver.é.composto.de.sete.ensaios,.que.podem.ser.lidos.em.qualquer.ordem,.sendo.que.três.deles.usam.apenas.
imagens..Ao.todo,.são.utilizadas.155.reproduções.de.obras.que.hoje.pertencem.a.acervos.de.importantes.museus.da.
Europa..Apesar.de.ser.estruturado.com.base.em.ponderações.sobre.a.história.da.arte,.o.livro.transcende.a.sua.função.
de.pensar.a.questão.estética.e.acaba.fazendo.o.leitor.refletir.sobre.a.sua.visão.de.mundo.
EISNER,.Will..Narrativas gráficas: princípios e práticas da lenda dos quadrinhos..São.Paulo:.Devir,.2008.
A.obra.discute.os.princípios.da.narrativa.com.a.combinação.sofisticada.de.texto.e.imagem..Apresentando.exemplos.
utilizados. na. prática. pelo. próprio. autor,. além. de. artistas. como. Art. Spieglman,. All. Capp,. Milton. Caniff. e. Robert.
Crumb,.entre.outros,.esse.tratado.abrange.as.etapas.da.narrativa.gráfica.até.uma.visão.mais.ampla.de.suas.aplicações..
Embora.as.histórias.em.quadrinhos.sejam.o.seu.alvo.principal,.Narrativas gráficas.também.revela.e.ensina.métodos.que.
podem.ser.aplicados.no.cinema,.na.TV.e.na.internet.
GUIMARÃES,.Luciano..A cor como informação: a construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores..São.
Paulo:.Annablume,.2000.
O.livro.apresenta.capítulos.que.abordam.o.tema.em.sua.complexidade,.mostrando.considerações.que.esclarecem.e.
enriquecem.o.repertório.de.todos.aqueles.que.utilizam.a.cor.na.comunicação..Desde.a.exata.delimitação.da.cor.como.
informação.cultural.e.suporte.para.a.expressão.simbólica.na.comunicação.humana.até.a.investigação.dos.processos.de.
percepção.e.seus.‘comportamentos’.para.a.geração.de.sentido,.o.autor.expõe.um.universo.interdisciplinar,.ancorado.no.
que.há.de.mais.recente.na.bibliografia.da.semiótica.da.cultura.e.das.ciências.da.cultura.
MANGUEL,.Alberto..Lendo imagens..São.Paulo:.Cia..das.Letras,.2001.
Nesse.livro,.Manguel.passa.ao.largo.do.vocabulário.árduo.da.crítica.e.defende.a.ideia.de.que.os.não-especialistas.
têm.o.direito.de.ler.imagens.como.quem.lê.um.texto..O.autor.narra.histórias.que.se.ocultam.em.pinturas,.esculturas,.
fotografias.e.projetos.arquitetônicos.desde.a.Roma.antiga.até.as.arrojadas.experiências.da.arte.do.século.XX.
OLIVEIRA,.Ieda..O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil: com a palavra o ilustrador..São.Paulo:.
DCL,.2008.
Definir.o.que.é.qualidade.em.ilustração.de.livros.de.literatura.infantil.e.juvenil.não.é.tarefa.fácil..No.entanto,.Ieda.
de.Oliveira,.doutora.em.Letras.e.especialista.em.literatura.infantil.e.juvenil,.reuniu.um.time.de.conceituados.ilustradores.brasileiros.e.portugueses.para.discorrer.sobre.o.assunto.por.meio.de.artigos.e.depoimentos..Uma.obra-prima.ilustrada.pelas.palavras.dos.artistas.
WALTY,. Ivete. Lara. Camargos,. FONSECA,. Maria. Nazareth. Soares. e. CURY,. Maria. Zilda. Ferreira.. Palavra e
imagem: leituras cruzadas..Belo.Horizonte:.Autêntica,.2006.
As.palavras.gerando.imagens.e.as.imagens.gerando.textos.verbais,.num.processo.de.deslocamentos.e.condensações,.
metonímias.e.metáforas.são,.pois,.o.objeto.desse.livro,.que.se.propõe.a.instigar.leituras.críticas,.em.tempos.e.espaços.
diversos..Tradição.e.ruptura.se.articulam.na.prática.de.leitura.tematizada.na.casa.e.na.terra,.com.que.as.autoras.ilustram.
suas.reflexões.teóricas,.associando.poemas,.crônicas,.notícias.de.jornal,.letras.de.músicas,.fotos,.propagandas.ilustrações.
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122  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
filmografia:
Estamira. Marcos Prado, 2004. Estamira que dá nome ao documentário tem 63 anos. Com problemas mentais, ela trabalha
há mais de duas décadas no Aterro Sanitário de Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro. O filme traça um perfil dessa interes‑
sante mulher, colocando em pauta assuntos como a saúde pública, a vida nos aterros cariocas e a miséria brasileira.
Ilha das Flores. Jorge Furtado, 1989. Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompa‑
nhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração
de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.
La maison en petit cubes. Kunio Kato, 2008. Curta indicado ao Oscar em 2009, o filme narra a história de um velhinho
solitário que mora em uma casa no meio do mar, formada por vários andares em forma de cubos. Quando seu cachimbo
cai por um buraco no assoalho da casa, o protagonista sai à sua procura, evocando, em cada andar submerso, a memória
de outros tempos vividos.
Persépolis. Vincent Parranoud e Marjane Satrapi, 2007. Animação baseada nos quadrinhos (autobiográficos) de Marjane
Satrapi que conta a história de jovem iraniana muito precoce e sincera. Durante a Revolução Islâmica, ela começa a desco‑
brir que está chegando à maturidade e deve lidar com mais responsabildades não só de seus atos, mas no modo de pensar.
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Sites interessantes
http://www.houseofillustration.org.uk/
Casa.das.ilustrações.-.Primeiro.site.do.mundo.inteiramente.dedicado.aos.mais.variados.tipos.de.ilustração..Organizado.pelo.ilustrador.inglês.Quentin.Blake.
http://www.childrensillustrators.com/.
Site.que.reúne.material.disponível.na.web.sobre.ilustradores.de.livros.infantis.de.todo.o.mundo.
www.magnumphotos.com
MAGNUM.-.Maior.e.mais.famosa.cooperativa.de.fotógrafos.do.mundo..O.site.disponibiliza.algumas.imagens.e.
informações.bibliográficas.de.seus.membros.
http://www.masp.art.br
MASP.-.Site.do.Museu.de.Arte.de.São.Paulo..Disponibiliza.parte.de.seu.acervo.digitalizado,.com.imagens.das.
obras.e.informações.básicas.sobre.as.peças.e.seus.autores.
http://www.metmuseum.org/
METROPOLITAN. -.Também. chamado. de.“Met”,. é. um. dos. maiores. e. mais. importantes. museus. do. mundo..
Possui.mais.de.2.milhões.de.obras.de.arte.que.abrangem.5.000.anos.de.história.e.recebe.mais.de.5.milhões.de.visitantes.por.ano..Pelo.site,.é.possível.conhecer.algumas.das.obras.que.estão.disponíveis.em.seu.acervo.
http://www.louvre.fr
MUSEU.DO.LOUVR.-.Site.de.um.dos.maiores.museus.do.mundo,.responsável.por.algumas.das.obras.de.arte.
mais.famosas.da.história.da.humanidade.
http://www.pinacoteca.org.br/
PINACOTECA.DO.ESTADO.DE.SÃO.PAULO.-.Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as.
obras.em.exposição.
www.ruideoliveira.com.br
Rui. de. Oliveira. -. Site. oficial. do. premiado. ilustrador. brasileiro.. Navegando,. é. possível. visualizar. alguns. de. seus.
maravilhosos.livros.de.imagens.
http://www.sib.org.br/
Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil.-.Dispõe.de.uma.galeria.com.imagens.de.ilustradores.de.todo.o.país,.além.de.
algumas.informações.sobre.o.seu.trabalho.
www.surlalunesfairytailes.com.
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histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto..
PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO
http://www.pinacoteca.org.br/
Disponibiliza.imagens.do.acervo.e.informações.sobre.as.obras.em.exposição.
Rui.de.Oliveira
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124  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Site.oficial.do.premiado.ilustrador.brasileiro..Navegando,.é.possível.visualizar.alguns.de.seus.maravilhosos.livros.de.
imagens.
Sociedade.dos.ilustradores.do.Brasil
http://www.sib.org.br/
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histórias.e.indicações.de.versões,.é.uma.excelente.fonte.de.pesquisa.para.os.interessados.no.assunto.
texto-farol 1
Lendo imagens, de Alberto manguel
Alberto Manguel é argentino, naturalizado canadense. É escritor, tradutor e
antologista conhecido mundialmente, com diversos livros publicados. O texto, a
seguir, corresponde à introdução de sua obra Lendo imagens e propõe algumas
reflexões sobre o tema proposto nessa oficina.
Uma.das.primeiras.imagens.de.que.me.lembro,.com.plena.cons.ciência.de.ter.sido.criada.sobre.a.tela.e.
pintada.por.mão.huma.na,.foi.um.quadro.de.Vincent.Van.Gogh,.de.barcos.de.pesca.so.bre.a.praia.de.Saintes-Maries..Eu.tinha.nove.ou.dez.anos,.e.uma.tia,.que.era.pintora,.me.convidara.para.ir.ao.seu.ateliê.para.conhecer.o.local.onde.ela.trabalhava..Era.verão.em.Buenos.Aires,.quente.e.úmido..O.pe.queno.aposento.estava.
frio.e.tinha.um.cheiro.maravilhoso.de.terebinti.na.e.óleo;.as.telas.armazenadas,.apoiadas.umas.nas.outras,.me.
pareciam.livros.deformados.no.sonho.de.alguém.que.soubesse.vagamente.o.que.eram.livros.e.os.houvesse.
imaginado.enormes,.feitos.de.uma.única.pági.na,.dura.e.grossa;.os.esboços.e.os.recortes.de.jornal.que.minha.
tia.havia.pendurado.na.parede.sugeriam.um.local.de.pensamentos.particulares,.fragmentados.e.livres..Em.
uma.estante.de.livros.baixa,.havia.volumes.grandes.de.reproduções.coloridas,.a.maioria.publicada.pela.firma.
suíça.Skira,.um.nome.que,.para.ela,.era.sinônimo.de.excelência..Minha.tia.puxou.o.volume.dedicado.a.Van.
Gogh,.acomodou-me.em.uma.poltrona.e.pôs.o.livro.sobre.os.meus.joelhos..Em.seguida,.deixou-me.só.
A.maioria.dos.meus.livros.tinha.ilustrações.que.repetiam.ou.explica.vam.a.história..Algumas,.eu.sentia,.
eram.melhores.do.que.outras:.eu.preferia.as.reproduções.de.aquarelas,.da.minha.edição.alemã.dos.Contos de
fada de.Grimm,.às.ilustrações.a.nanquim.da.minha.edição.ingle.sa..Creio.que,.a.meu.juízo,.aquelas.ilustrações.
condiziam.melhor.com.a.forma.como.eu.imaginava.um.personagem.ou.um.lugar,.ou.forneciam.mais.detalhes.para.completar.minha.visão.daquilo.que.a.página.me.dizia.estar.acontecendo,.realçando.ou.corrigindo.
as.palavras..Gustave.Flaubert.opunha-se.de.forma.intransigente.à.ideia.de.ilustrações.acom.panharem.as.
palavras..Ao.longo.da.sua.vida,.recusou-se.a.admitir.que.qualquer.ilustração.acompanhasse.uma.obra.sua.
porque.achava.que.imagens.pictóricas.reduziam.o.universal.ao.singular..“Ninguém.jamais.vai.me.ilustrar.
enquanto.eu.estiver.vivo”,.escreveu.ele,.“porque.a.des.crição.literária.mais.bela.é.devorada.pelo.mais.reles.
desenho..Assim.que.um.personagem.é.definido.pelo.lápis,.perde.seu.caráter.geral,.aquela.concordância.com.
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milhares.de.outros.objetos.conhecidos.que.le.va.o.leitor.a.dizer:.‘eu.já.vi.isso’,.ou.‘isso.deve.ser.assim.ou.assado’..Uma.mulher.desenhada.a.lápis.parece.uma.mulher,.e.só.isso..A.ideia,.portan.to,.está.encerrada,.completa,.
e.todas.as.palavras,.então,.se.tornam.inú.teis,.ao.passo.que.uma.mulher.apresentada.por.escrito.evoca.milhares.de.mulheres.diferentes..Por.conseguinte,.uma.vez.que.se.trata.de.uma.questão.de.estética,.eu.formalmente.rejeito.todo.tipo.de.ilustração.”.Nunca.concordei.com.essas.segregações.inflexíveis.
Mas.as.imagens.que.minha.tia.me.apresentou.naquela.tarde.não.ilustravam.nenhuma.história..Havia.um.
texto:.a.vida.do.pintor,.fragmen.tos.das.cartas.ao.seu.irmão,.que.não.li.senão.muito.mais.tarde,.o.título.das.pinturas,.sua.data.e.local..Mas,.em.um.sentido.muito.categórico,.aquelas.imagens.se.mantinham.isoladas,.desafiadoras,.me.aliciando.para.uma.leitura..Nada.havia.para.eu.fazer.exceto.olhar.para.aquelas.ima.gens:.a.praia.cor.
de.cobre,.o.barco.vermelho,.o.mastro.azul..Olhei.para.elas.demorada.e.atentamente..Nunca.as.esqueci.
A.praia.multicolorida.de.Van.Gogh.vinha.à.tona.com.frequência.na.imaginação.da.minha.infância..Em.
algum.momento.do.século.XVI,.o.eminente.ensaísta.Francis.Bacon.observou.que,.para.os.antigos,.todas.as.
imagens.que.o.mundo.dispõe.diante.de.nós.já.se.acham.encerradas.em.nossa.memória.desde.o.nascimento..
“Desse.modo,.Platão.tinha.a.concepção”,.escreveu.ele,.“de que todo conhecimento não passava de recordação; do.
mesmo.modo,.Salomão.proferiu.sua.conclusão.de que toda novidade não passa de esquecimento.” Se.isso.for.
verdade,.esta.mos.todos.refletidos.de.algum.modo.nas.numerosas.e.distintas.imagens.que.nos.rodeiam,.uma.
vez.que.elas.já.são.parte.daquilo.que.somos:.ima.gens.que.criamos.e.imagens.que.emolduramos;.imagens.que.
compo.mos.fisicamente,.à.mão,.e.imagens.que.se.formam.espontaneamente.na.imaginação;.imagens.de.rostos,.árvores,.prédios,.nuvens,.paisagens,.ins.trumentos,.água,.fogo,.e.imagens.daquelas.imagens.–.pintadas,.
escul.pidas,. encenadas,. fotografadas,. impressas,. filmadas.. Quer. descubramos. nessas. imagens. circundantes.
lembranças.desbotadas.de.uma.beleza.que,.em.outros.tempos,.foi.nossa.(como.sugeriu.Platão),.quer.elas.
exi.jam.de.nós.uma.interpretação.nova.e.original,.por.meio.de.todas.as.pos.sibilidades.que.nossa.linguagem.
tenha.a.oferecer.(como.Salomão.in.tuiu),.somos.essencialmente.criaturas.de.imagens,.de.figuras.
As.imagens,.assim.como.as.histórias,.nos.informam..Aristóteles.su.geriu.que.todo.processo.de.pensamento.requeria.imagens..“Ora,.no.que.concerne.à.alma.pensante,.as.imagens.tomam.o.lugar.das.percepções.diretas;.e,.quando.a.alma.afirma.ou.nega.que.essas.imagens.são.boas.ou.más,.ela.igualmente.as.evita.ou.as.
persegue..Portanto.a.alma.nunca.pen.sa.sem.uma.imagem.mental.”.Sem.dúvida,.para.o.cego,.outras.formas.
de.percepção,.sobretudo.por.meio.do.som.e.do.tato,.suprem.a.imagem.mental.a.ser.decifrada..Mas,.para.
aqueles.que.podem.ver,.a.existência.se.passa.em.um.rolo.de.imagens.que.se.desdobra.continuamente,.imagens.capturadas.pela.visão.e.realçadas.ou.moderadas.pelos.outros.senti.dos,.imagens.cujo.significado.(ou.
suposição.de.significado).varia.constantemente,.configurando.uma.linguagem.feita.de.imagens.traduzidas.
em.palavras.e.de.palavras.traduzidas.em.imagens,.por.meio.das.quais.tentamos.abarcar.e.compreender.nossa.própria.existência..As.imagens.que.formam.nosso.mundo.são.sím.bolos,.sinais,.mensagens.e.alegorias..Ou.
talvez.sejam.apenas.presenças.vazias.que.completamos.com.o.nosso.desejo,.experiência,.questionamento.e.
remorso..Qualquer.que.seja.o.caso,.as.imagens,.assim.como.as.palavras,.são.a.matéria.de.que.somos.feitos.
Mas.qualquer.imagem.pode.ser.lida?.Ou,.pelo.menos,.podemos.criar.uma.leitura.para.qualquer.imagem?.
E,.se.for.assim,.toda.ima.gem.encerra.uma.cifra.simples.mente.porque.ela.parece.a.nós,.seus.espectadores,.um.
sistema.auto-suficiente.de.signos.e.regras?.Qualquer.imagem.admite.tradução.em.uma.linguagem.compreensível,.revelando.ao.espectador.aquilo.que.po.demos.chamar.de.Narrativa.da.imagem,.com.N.maiúsculo?
As.sombras.na.parede.da.caverna.de.Platão,.os.letreiros.de.néon.em.um.país.estrangeiro.cuja.língua.não.
falamos,.o.formato.de.uma.nuvem.que.Hamlet.e.Polônio.vêem.no.céu,.certa.tarde,.o.letreiro.Bois-Char-bons
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que.(segundo.André.Breton).se.lê.Police quando.visto.de.determi.nado.ângulo,.a.escrita.que.os.antigos.sumérios.acreditavam.poder.ler.nas.pegadas.dos.pássaros.sobre.a.lama.do.rio.Eufrates,.as.figuras.mito.lógicas.que.
os.astrônomos.gregos.identificavam.na.concatenação.dos.pontos.assinalados.por.estrelas.distantes,.o.nome.
de.Alá.que.o.fiel.vis.lumbrou.num.abacate.aberto.e.no.logotipo.dos.artigos.esportivos.da.Ni.ke,.a.escrita.ardente.de.Deus.na.parede.do.palácio.de.Baltazar,.sermões.e.livros.que.Shakespeare.encontrou.em.pedras.e.
em.regatos,.as.cartas.do.tarô.por.meio.das.quais.o.viajante.de.Calvino.lia.narrativas.universais.em.O castelo
dos destinos cruzados, paisagens.e.imagens.identificadas.por.viajantes.do.século.XVIII.nos.veios.de.pedras.de.
mármore,.o.bilhete.rasgado.de.um.quadro.de.avisos.e.realojado.em.uma.pintura.de.Tàpies,.o.rio.de.Heráclito.que.é.também.o.fluxo.do.tempo,.as.folhas.de.chá.no.fundo.de.uma.xícara.na.qual.os.sábios.chineses.
acreditam.poder.ler.nos.sas.vidas,.o.vaso.estilhaçado.do.Sahib Lurgan.que.quase.se.recompõe.por.inteiro.
diante.dos.olhos.incrédulos.de.Kim,.a.flor.de.Tennyson.na.parede.gretada,.os.olhos.do.cão.de.Neruda.nos.
quais.o.poeta.descrente.via.Deus,.o.He kohau rongorongo, ou.“pau.que.fala”,.da.ilha.da.Páscoa,.que.sabemos.
guardar.uma.mensagem.indecifrada.até.hoje,.a.cidade.de.Buenos.Aires.que,.para.o.cego.Jorge.Luis.Borges,.
era.“um.mapa.de.mi.nhas.iluminações.e.de.meus.fracassos”,.os.pontos.de.costura.na.roupa.de.Kisima.Kamala,.alfaiate.de.Serra.Leoa,.nos.quais.ele.viu.o.futuro.al.fabeto.da.escrita.mande,.a.baleia.errante.que.são.Brendan.tomou.por.uma.ilha,.os.três.picos.das.Montanhas.Rochosas.que.delineiam.o.perfil.de.três.irmãs.contra.
o.céu.ocidental.do.Canadá,.a.geografia.filosófica.de.um.jardim.japonês,.os.cisnes.selvagens.em.Coole,.nos.
quais.Yeats.deci.frou.nossa.transitoriedade.–.tudo.isso.oferece.ou.sugere,.ou.simples.mente.comporta,.uma.
leitura.limitada.apenas.pelas.nossas.aptidões..“Como.saber.se.cada.pássaro.que.cruza.os.caminhos.do.ar/.não.
é.um.imenso.mundo.de.prazer,.vedado.por.nossos.cinco.sentidos?”,.indagou.William.Blake.
Se.a.natureza.e.os.frutos.do.acaso.são.passíveis.de.interpretação,.de.tradução.em.palavras.comuns,.no.
vocabulário.absolutamente.artificial.que.construímos.a.partir.de.vários.sons.e.rabiscos,.então.talvez.esses.
sons.e.rabiscos.permitam,.em.troca,.a.construção.de.um.acaso.ecoado.e.de.uma.natureza.espelhada,.um.
mundo.paralelo.de.palavras.e.imagens.mediante.o.qual.podemos.reconhecer.a.experiência.do.mundo.que.
cha.mamos.de.real..“Pode.ser.chocante.falar.da.Divina comédia ou.da.Mona Lisa como.uma.‘réplica’”,.diz.
Elaine.Scarry,.autora.de.um.livro.incomum.sobre.o.significado.da.beleza,.“visto.serem.eles.tão.desprovidos.
de.antecedentes,.porém.o.mundo.recorda.o.fato.de.que.algo,.ou.alguém,.deu.origem.à.criação.dessas.obras.e.
permanece.silenciosamente.presente.no.objeto.recém-nascido.”.Ao.que.podemos.acrescentar.que.o.objeto.
recém-nascido.pode,.por.sua.vez,.dar.origem.a.uma.miríade.de.objetos.recém-nascidos.–.as.experiências.
receptivas.do.espectador.ou.do.leitor.–.que,.todos.e.cada.um.deles,.também.o.contêm.
Quando.eu.tinha.catorze.ou.quinze.anos,.nosso.professor.de.histó.ria,.que.nos.mostrava.slides de.arte.
pré-histórica,.nos.pediu.que.imagi.nássemos.o.seguinte:.durante.toda.a.sua.vida,.um.homem.vê.o.sol.se.pôr,.
ciente.de.que.isso.assinala.o.fim.cíclico.de.um.deus.cujo.nome.sua.tribo.não.pronuncia..Certo.dia,.pela.
primeira.vez,.o.homem.ergue.a.ca.beça.e,.subitamente,.com.toda.a.clareza,.vê.o.sol.de.fato.mergulhar.em.
um.lago.de.chamas..Em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.expli.car),.o.homem.afunda.as.mãos.na.
lama.vermelha.e.pressiona.a.palma.das.mãos.de.encontro.à.parede.da.sua.caverna..Após.um.tempo,.outro.
homem.vê.as.marcas.da.palma.das.mãos.e.sente-se.atemorizado,.ou.co.movido,.ou.simplesmente.curioso.e,.
em.resposta.(e.por.razões.que.ele.não.tenta.explicar),.se.põe.a.contar.uma.história..Em.algum.local.dessa.
narrativa,.não.mencionado,.mas.presente,.encontra-se.antes.de.tudo.o.pôr-do-sol.contemplado.e.o.deus.
que.morre.todo.dia,.antes.do.cair.da.noite,.e.o.sangue.desse.deus.derramado.pelo.céu.ocidental..A.imagem.
dá.origem.a.uma.história,.que,.por.sua.vez,.dá.origem.a.uma.imagem..“O.consolo.do.discurso”,.disse.o.
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melancólico.filósofo.Soren.Kierkegaard.(e.poderia.ter.acrescentado,.“e.de.criar.imagens”),.“é.que.ele.me.
traduz.para.o.universal.”
Formalmente,.as.narrativas.existem.no.tempo,.e.as.imagens,.no.es.paço..Durante.a.Idade.Média,.um.único.painel.pintado.poderia.repre.sentar.uma.sequência.narrativa,.incorporando.o.fluxo.do.tempo.nos.limites.
de. um. quadro. espacial,. co.mo. ocorre. nas. modernas. histórias. em. quadrinhos,. com. o. mesmo. per.sonagem.
aparecendo.várias.vezes.em.uma.paisagem.unificadora,.à.medida.que.ele.avança.pelo.enre.do.da.pintura..
Com.o.desenvolvi.mento.da.perspectiva,.na.Renas.cença,.os.quadros.se.congelam.em.um.instante.único:.o.
momento.da.visão.tal.como.percebida.do.ponto.de.vista.do.espectador..A.narrativa,.então,.passou.a.ser.transmitida.por.outros.meios:.mediante.“simbolismo,.poses.dramáticas,.alusões.à.li.teratura,.títulos”.–.ou.seja,.por.
meio.daquilo.que.o.espectador,.por.ou.tras.fontes,.sabia.estar.ocorrendo.
Ao.contrário.das.imagens,.as.palavras.escritas.fluem.constantemente.para.além.dos.limites.da.página:.a.
capa.e.a.quarta.capa.de.um.livro.não.estabelecem.os.limites.de.um.texto,.que.nunca.existe.integralmente.
co.mo.um.todo.físico,.mas.apenas.em.frações.ou.resumos..Podemos,.com.um.rápido.esforço.do.pensamento,.
evocar.um.verso.de.“The.Rime.of.the.Ancient.Mariner”.ou.um.resumo.de.vinte.palavras.de.Crime e castigo,
mas.não.os.livros.inteiros:.sua.existência.repousa.na.estável.corrente.de.palavras.que.os.encerra,.a.qual.flui.
do.início.até.o.fim,.da.capa.até.a.quarta.capa,.no.tempo.que.concedemos.à.leitura.desses.livros.
As.imagens,.porém,.se.apresentam.à.nossa.consciência.instantanea.mente,.encerradas.pela.sua.moldura.–.a.
parede.de.uma.caverna.ou.de.um.museu.–.em.uma.superfície.específica..Os.botes.de.pesca.de.Van.Gogh,.por.
exemplo,.foram.para.mim,.naquela.primeira.tarde,.pronta.mente.reais.e.definitivos..Com.o.correr.do.tempo,.
podemos.ver.mais.ou.menos.coisas.em.uma.imagem,.sondar.mais.fundo.e.descobrir.mais.de.talhes,.associar.e.
combinar.outras.imagens,.emprestar-lhe.palavras.para.contar.o.que.vemos.mas,.em.si.mesma,.uma.imagem.
existe.no.espaço.que.ocupa,.independente.do.tempo.que.reservamos.para.contemplá.-la:.só.vários.anos.mais.
tarde.fui.notar.que.um.dos.botes.tinha.o.nome.Ami-tié pintado.no.casco..Mais.tarde,.também,.vim.a.saber.que,.
em.junho.de.1888,.Van.Gogh,.que.estava.em.Aries,.caminhara.o.longo.percurso.até.Saintes-Maries-de-la-Mer,.
uma.aldeia.de.pescadores.à.qual.ciganos.de.toda.a.Europa.ainda.hoje.fazem.uma.peregrinação.anual..Em.Saintes-Maries,.ele.fez.desenhos.de.botes.e.de.casas,.e.depois.transformou.esses.desenhos.em.pinturas..Foi.a.primeira.vez.que.viu.o.Mediterrâneo..Tinha.35.anos..Seis.meses.depois,.cortaria.sua.orelha.esquerda.para.dar.de.
presente,.embrulhada.em.uma.folha.de.jornal,.para.uma.prostituta.de.um.bordel.próximo..Para.mim,.todas.
essas.informações.vieram.mais.tarde.–.os.pormenores,.os.detalhes.geográficos,.a.cronologia,.o.inci.dente.da.
orelha.amputada,.que,.a.exemplo.do.círculo.à.mão.livre.traça.do.por.Giotto.ou.do.pincel.que.o.rei.Carlos.V.
apanhou.para.Ticiano,.fa.zia.parte.da.história.convencional.da.arte.que.nos.era.ensinada.na.escola.de.forma.
graciosa.–.e.elas.apoiaram.ou.questionaram.a.validade.da.mi.nha.primeira.leitura..Mas.no.início.não.havia.nada,.
exceto.a.própria.pin.tura..É.desse.ponto.fixo.no.espaço.que.partimos.
Histórias.e.comentários,.legendas.e.catálogos,.museus.temáticos.e.livros.de.arte.tentam.guiar-nos.através.
de.escolas.distintas,.de.épocas.distintas.e.de.países.distintos..Mas.aquilo.que.vemos.quando.percorre.mos.as.
salas.de.uma.galeria,.ou.quando.contemplamos.imagens.em.uma.tela,.ou.quando.seguimos.as.páginas.sucessivas.de.um.volume.de.repro.duções,.termina.por.escapar.de.tais.inibições..Vemos.uma.pintura.como.algo.
definido.por.seu.contexto;.podemos.saber.algo.sobre.o.pintor.e.so.bre.o.seu.mundo;.podemos.ter.alguma.
ideia.das.influências.que.molda.ram.sua.visão;.se.tivermos.consciência.do.anacronismo,.podemos.ter.o.cuidado.de.não.traduzir.essa.visão.pela.nossa.–.mas,.no.fim,.o.que.ve.mos.não.é.nem.a.pintura.em.seu.estado.
fixo,.nem.uma.obra.de.arte.aprisionada.nas.coordenadas.estabelecidas.pelo.museu.para.nos.guiar.
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O.que.vemos.é.a.pintura.traduzida.nos.termos.da.nossa.própria.ex.periência..Conforme.Bacon.sugeriu,.
infelizmente.(ou.felizmente).só.podemos.ver.aquilo.que,.em.algum.feitio.ou.forma,.nós.já.vimos.antes..Só.
podemos.ver.as.coisas.para.as.quais.já.possuímos.imagens.identificá.veis,.assim.como.só.podemos.ler.em.uma.
língua.cuja.sintaxe,.gramática.e.vocabulário.já.conhecemos..Na.primeira.vez.em.que.vi.os.botes.de.pesca.de.
Van.Gogh,.coloridos.de.forma.radiante,.algo.em.mim.reconhe.ceu.algo.espelhado.neles..Misteriosamente,.
toda.imagem.supõe.que.eu.a.veja.
Quando. lemos. imagens. –. de. qualquer. tipo,. sejam. pintadas,. escul.pidas,. fotografadas,. edificadas. ou.
encenadas.–,.atribuímos.a.elas.o.caráter.temporal.da.narrativa..Ampliamos.o.que.é.limitado.por.uma.moldura.para.um.antes.e.um.depois.e,.por.meio.da.arte.de.narrar.histórias.(sejam.de.amor.ou.de.ódio),.conferimos. à. imagem. imutável. uma. vida. infinita. e. inesgotável.. André. Malraux,. que. participou. tão.
ativamente.da.vida.cultural.e.da.vida.política.francesa.no.século.XX.(como.soldado,.ro.mancista.e.ministro.
da.Cultura.pioneiro.na.França),.argumentou.com.lucidez.que,.ao.situarmos.uma.obra.de.arte.entre.as.
obras.de.arte.cria.das.antes.e.depois.dela,.nós,.os.espectadores.modernos,.tornávamo-nos.os.primeiros.a.
ouvir.aquilo.que.ele.chamou.de.“canto.da.metamorfo.se”–.quer.dizer,.o.diálogo.que.uma.pintura.ou.uma.
escultura.trava.com.outras.pinturas.e.esculturas,.de.outras.culturas.e.de.outros.tempos..No.passado,.diz.
Malraux,.quem.contemplava.o.portal.esculpido.de.uma.igreja.gótica.só.poderia.fazer.comparações.com.
outros.portais.esculpi.dos,.dentro.da.mesma.área.cultural;.nós,.ao.contrário,.temos.à.nossa.disposição.incontáveis. imagens. de. esculturas. do. mundo. inteiro. (desde. as. estátuas. da. Suméria. àquelas. de. Elefanta,.
desde.os.frisos.da.Acrópole.até.os.tesouros.de.mármore.de.Florença).que.falam.para.nós.em.uma.língua.
comum,.de.feitios.e.formas,.o.que.permite.que.nossa.reação.ao.portal.gótico.seja.retomada.em.mil.outras.
obras. esculpidas.. A. esse. pre.cioso. patrimônio. de. imagens. reproduzidas,. que. está. à. nossa. disposição. na.
página.e.na.tela,.Malraux.chamou.“museu.imaginário”.
E,.no.entanto,.os.elementos.da.nossa.resposta,.o.vocabulário.que.em.pregamos.para.desentranhar.a.narrativa.que.uma.imagem.encerra.(se.jam.os.botes.de.Van.Gogh.ou.o.portal.da.Catedral.de.Chartres),.são.
de.terminados.não.só.pela.iconografia.mundial,.mas.também.por.um.amplo.espectro.de.circunstâncias,.sociais.ou.privadas,.fortuitas.ou.obrigatórias..Construímos.nossa.narrativa.por.meio.de.ecos.de.outras.narrativas,.por.meio.da.ilusão.do.auto-reflexo,.por.meio.do.conhecimento.técnico.e.histórico,.por.meio.da.fofoca,.
dos.devaneios,.dos.preconceitos,.da.ilu.minação,.dos.escrúpulos,.da.ingenuidade,.da.compaixão,.do.engenho..
Nenhuma.narrativa.suscitada.por.uma.imagem.é.definitiva.ou.exclusiva..E.as.medidas.para.aferir.a.sua.justeza.variam.segundo.as.mesmas.cir.cunstâncias.que.dão.origem.à.própria.narrativa..Ao.percorrer.um.mu.seu.
no.século.I.d.C.,.o.amante.rejeitado.Encolpius.vê.as.numerosas.ima.gens.de.deuses.pintadas.pelos.grandes.
artistas.do.passado.–.Zêuxis,.Protógenes,.Apeles.–.e.exclama,.em.sua.angústia.solitária:.“Então.mes.mo.os.
deuses.nos.céus.são.abalados.pelo.amor!”..Encolpius.reconhece.nas.cenas.mitológicas.que.o.cercam,.e.que.
representam.as.aventuras.amorosas.do.Olimpo,.reflexos.das.suas.próprias.emoções..As.pinturas.o.comovem.
porque.parecem,.metaforicamente,.falar.dele..As.pinturas.são.emolduradas.pela.sua.apreensão.e.pelas.circunstâncias;.elas.agora.exis.tem.no.tempo.de.Encolpius.e.compartilham.o.passado,.o.presente.e.o.futuro.dele..
As.obras.tornaram-se.autobiográficas.
Stendhal,.em.seu.relato.de.uma.visita.a.Florença.em.1817,.descre.veu.os.efeitos.do.seu.encontro.com.a.
arte.italiana.em.termos.que,.mais.tarde,.tornaram-se.sintomáticos.de.uma.doença.psicossomática.diagnosticável..“Ao.sair.da.igreja.de.Santa.Croce”,.escreveu.ele,.“senti.uma.pal.pitação.no.coração..A.vida.se.esvaía.de.
mim.enquanto.eu.caminhava,.e.tive.medo.de.cair.”.A.chamada.síndrome.de.Stendhal.afeta.visitantes.(sobre-
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tudo.de.países.da.América.do.Norte.e.da.Europa,.exceto.a.Itália).que.vêem.as.obras-primas.da.Renascença.
pela.primeira.vez..Algo.nes.sas.obras.de.arte.colossais.as.assombra,.e.a.experiência.estética,.em.lu.gar.de.ser.
uma.experiência.de.revelação.e.de.conhecimento,.torna-se.caótica.e.simplesmente.desnorteante,.a.autobiografia.como.pesadelo.
A.imagem.de.uma.obra.de.arte.existe.em.algum.local.entre.percep.ções:.entre.aquela.que.o.pintor.imaginou.e.aquela.que.o.pintor.pôs.na.tela;.entra.aquela.que.podemos.nomear.e.aquela.que.os.contemporâ.neos.
do.pintor.podiam.nomear;.entre.aquilo.que.lembramos.e.aquilo.que.aprendemos;.entre.o.vocabulário.comum,.adquirido,.de.um.mundo.social,.e.um.vocabulário.mais.profundo,.de.símbolos.ancestrais.e.secre.tos..
Quando.tentamos.ler.uma.pintura,.ela.pode.nos.parecer.perdida.em.um.abismo.de.incompreensão.ou,.se.
preferirmos,.em.um.vasto.abis.mo.que.é.uma.terra.de.ninguém,.feito.de.interpretações.múltiplas..O.crítico.
pode.resgatar.uma.obra.de.arte.até.o.ponto.da.reencarnação;.o.artista.pode.repudiar.uma.obra.de.arte.ate.o.
ponto.da.destruição..Auguste.Renoir.conta.como,.por.ocasião.do.seu.regresso.da.Itália,.em.companhia.de.
um.amigo,.foi.visitar.Paul.Cézanne,.que.trabalhava.no.Midi..O.amigo.de.Renoir.teve.um.violento.ataque.de.
diarréia.e.pediu.algumas.folhas.para.se.limpar..Cézanne.lhe.ofereceu.uma.folha.de.pa.pel..“Era.uma.das.
aquarelas.mais.perfeitas.de.Cézanne;.ele.a.havia.jo.gado.no.meio.das.pedras.depois.de.ter.trabalhado.nela.
como.um.escra.vo,.durante.vinte.sessões.”
Leituras. críticas. acompanham. imagens. desde. o. início. dos. tempos,. mas. nunca. efetivamente. copiam,.
substituem.ou.assimilam.as.imagens..“Não.explicamos.as.imagens”,.comentou.com.sagacidade.o.historiador.
da.arte.Michael.Baxandall,.“explicamos.comentários.a.respeito.de.ima.gens.”.Se.o.mundo.revelado.em.uma.
obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito.dessa.obra,.a.obra.de.arte.permanece.sempre.fora.do.âmbito.
da.sua.apreciação.crítica..“A.forma”,.escreve.Balzac,.“em.suas.representações,.é.aquilo.que.ela.é.em.nós:.apenas.um.artifício.para.co.municar.ideias,.sensações,.uma.vasta.poesia..Toda.imagem.é.um.mun.do,.um.retrato.
cujo.modelo.apareceu.em.uma.visão.sublime,.banhada.de.luz,.facultada.por.uma.voz.interior,.posta.a.nu.por.
um.dedo.celestial.que.aponta,.no.passado.de.uma.vida.inteira,.para.as.próprias.fontes.de.expressão.”.Nossas.
imagens.mais.antigas.são.simples.linhas.e.cores.borradas..Antes.das.figuras.de.antílopes.e.de.mamutes,.de.
homens.correndo.e.de.mulheres.férteis,.riscamos.traços.ou.estampamos.a.palma,.das.mãos.nas.paredes.de.
nossas.cavernas.para.assinalar.nossa.presença.para.preencher.um.espaço.vazio,.para.comunicar.uma.memória.ou.um.aviso,.para.sermos.humanos.pela.primeira.vez.
Por.“mais.antigas”,.é.claro,.queremos.dizer.“mais.novas”:.aquilo.que.foi.visto.pela.primeira.vez,.no.alvorecer.mais.remoto.em.nossa.memória,.quando.essas.imagens.surgiram.para.nossos.ancestrais.puras.e.portentosas,. incontaminadas. pelo. hábito. ou. pela. experiência,. livres. da. vigilância. da. crítica.. Ou,. talvez,. não.
completamente.livres,.como.sugeriu.Rudyard
Kipling:
Quando o rubor de um sol nascente caiu pela primeira vez no verde
[e no dourado do Éden,
Nosso pai Adão sentou-se sob a Árvore e, com um graveto, riscou
[na argila;
E o primeiro e tosco desenho que o mundo viu foi um júbilo para o
[coração vigoroso desse homem,
Até o Diabo cochichar, por trás da folhagem: “É bonito, mas será Arte?”
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Para.o.bem.ou.para.o.mal,.toda.obra.de.arte.é.acompanhada.por.sua.apreciação.crítica,.a.qual,.por.sua.vez,.
dá.origem.a.outras.apreciações.críticas..Algumas.destas.transformam-se,.elas.mesmas,.em.obras.de.arte,.por.
seus.próprios.méritos:.a.interpretação.que.Stephen.Sondheim.fez.da.pintura.La Grande Jatte, de.Georges.
Seurat,.os.comentários.de.Samuel.Beckett.sobre.a.Divina comédia, de.Dante,.os.comentários.musicais.de.
Mussorgsky.sobre.as.pinturas.de.Viktor.Gartman,.as.leituras.pictóricas.que.Henry.Fuseli.fez.de.Shakespeare,.as.traduções.que.Marianne.Moore.fez.de.La.Fontaine,.a.versão.de.Thomas.Mann.da.oeuvre musical.de.
Gustav.Mahler..O.romancista.argentino.Adolfo.Bioy.Casares.sugeriu,.certa.vez,.uma.cadeia.infinita.de.obras.
de.arte.e.de.seus.comentários,.a.começar.por.um.único.poema.do.século.XV,.do.poeta.espanhol.Jorge.Manrique..Bioy.sugeriu.a.construção.de.uma.estátua.para.o.compositor.de.uma.sinfonia.baseada.em.uma.peça.
sugerida.pelo.retrato.de.um.tra.dutor.dos.“Dísticos.sobre.a.morte.de.seu.pai”,.de.Manrique..Cada.obra.de.
arte.se.expande.mediante.incontáveis.camadas.de.leituras,.e.cada.lei.tor.remove.essas.camadas.a.fim.de.ter.
acesso.à.obra.nos.termos.do.pró.prio.leitor..Nessa.última.(e.primeira).leitura,.nós.estamos.sós.
Ser.capaz.(e.ter.disposição).de.ler.uma.obra.de.arte.é.crucial..Em.1864,.o.crítico.de.arte.inglês.John.
Ruskin,.reagindo.com.ira.esclarecida.contra.o.conformismo.da.sua.época,.proferiu.uma.palestra.no.Rusholme.Town.Hall,.perto.de.Manchester,.na.qual.repreendeu.a.platéia.por.não.dar.bastante.valor.à.arte.e.atribuir.
demasiada.importância.ao.di.nheiro..O.propósito.da.palestra.era.convencer.as.pessoas.eminentes.de.Rusholme.da.necessidade.de.uma.boa.biblioteca.pública,.coisa.que.Ruskin.considerava.um.serviço.público.essencial.
em.qualquer.cidade.digna,.no.Reino.Unido..Mas,.no.decorrer.da.sua.argumentação,.Ruskin.ficou.cada.vez.
mais.inflamado.e.censurou.violentamente.as.pessoas.ilus.tres.do.local.por.haverem.“desprezado.a.Ciência”,.
“desprezado.a.Arte”,.“desprezado.a.Natureza”..“Eu.afirmo.que.os.senhores.desprezaram.a.Arte!.‘Como?’,.os.
senhores.vão.me.retrucar..Pois.não.temos.exposições.de.arte.com.milhas.de.extensão?.E.não.pagamos.milhares. de. libras. por. simples. pinturas?. E. não. temos. escolas. de. Arte. e. instituições. artísticas,. mais. do. que.
qualquer.nação.jamais.teve?’.Sim,.é.verdade,.mas.tudo.isso.existe.em.proveito.do.comércio..Os.senhores.se.
contentariam.em.ven.der.quadros.assim.como.vendem.carvão,.e.porcelana.assim.como.ferro;.os.senhores.
tomariam.o. pão. da. boca. de. todas.as. nações,. se. pudessem;. como. não. podem. fazê-lo,. seu. ideal. de. vida. é.
postar-se.nas.avenidas,.co.mo.aprendizes.de.Ludgate,.e.berrar.para.todos.os.passantes:.‘O.que.lhe.falta?’.”.E.
como.eles.não.davam.a.mínima.para.as.obras.da.humanida.de.e.atribuíam.todo.o.valor.ao.lucro.financeiro.e.
ao.estímulo.da.ganân.cia,.Ruskin.lhes.disse.que.haviam.se.transformado.em.criaturas.que.“desprezam.a.compaixão”,.broncos.incapazes.de.se.importar.com.os.se.melhantes..Como.eram.incapazes.de.ler.as.imagens.que.
a. arte. tinha. a. lhes. oferecer,. ele. acusou. seus. contemporâneos. de. serem. também. mo.ralmente. analfabetos..
Ruskin.nutria.esperanças.elevadas.quanto.à.utili.dade.da.arte.
Não.sei.se.é.possível.algo.como.um.sistema.coerente.para.ler.as.ima.gens,.similar.àquele.que.criamos.para.
ler.a.escrita.(um.sistema.implícito.no.próprio.código.que.estamos.decifrando)..Talvez,.em.contraste.com.um.
texto.escrito.no.qual.o.significado.dos.signos.deve.ser.estabelecido.antes.que.eles.possam.ser.gravados.na.
argila,.ou.no.papel,.ou.atrás.de.uma.tela.eletrônica,.o.código.que.nos.habilita.a.ler.uma.imagem,.conquanto.
impregnado.por.nossos.conhecimentos.anteriores,.é.criado.após a.imagem.se.constituir.–.de.um.modo.muito.semelhante.àquele.com.que.criamos.ou.imaginamos.significados.para.o.mundo.à.nossa.volta,.construindo.
com.audácia,.a.partir.desses.significados,.um.senso.moral.e.ético,.para.vivermos..Nos.últimos.anos.do.século.
XIX,.o.pintor.James.McNeill.Whistler,.esposando.essa.ideia.de.uma.criação.inexplicável,.re.sumiu.seu.ofício.
em.poucas.palavras:.“A.arte.acontece”..Não.sei.se.ele.o.disse.com.um.sentimento.de.resignação.ou.de.alegria.
Fonte: Lendo imagens, de Alberto Manguel, págs. 19-33.
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texto-farol 2
orientações didáticas para o livro As aventuras de Bambolina,
de michele iacocca
Denise Silva
Denise Silva é educadora, mestre em Educação pela PUC-SP e formadora do
projeto Letras de Luz. As orientações propostas neste texto foram escritas especialmente para esta apostila e pretendem contribuir com algumas ideias para o trabalho com a leitura de imagens.
“Perceber.é.um.processo.tão.dinâmico.que.uma.mesma.imagem.vista.e.compreendida.por.um.observa-
dor.pode.ter.seu.sentido.alterado,.colocando.outra.imagem.ao.seu.lado..A.percepção.de.uma.imagem.depende.de.quem.olha.e.do.que.está.em.seu.entorno.”
Cristina Biazetto
Antes da leitura detalhada do texto
Comece.explorando,.o.autor,.o.título,.a.ilustração.da.capa..Será.que.as.crianças.já.conhecem.alguma.outra.
obra.de.Michele.Iacocca?.Eleja.alguns.aspectos.para.que.levantem.hipóteses.sobre.o.conteúdo.do.livro..Leia.
o.título.e.pergunte.se.ele.oferece.alguma.ideia.sobre.o.assunto:.Quem.seria.Bambolina?.Que.aventuras.ela.
poderia.viver.ao.longo.dessa.história?
A.capas.de.um.livro.pode.oferecer.muitas.pistas.sobre.o.conteúdo.da.obra..Muitas.vezes,.ela.é.quem.seduz.
o.leitor.para.aproximar-se.e.sentir-se.atraído.pela.história..Por.isso,.explore.essas.pistas,.chamando.a.atenção.
para.o.tipo.de.letras.que.compõe.o.nome.da.boneca..O.padrão.imita.tecidos.e.há.um.botão.no.lugar.da.letra.
“o”..Alguém.saberia.explicar.o.por.quê?
Explore.o.texto.do.canto.inferior.direito.da.capa:.“uma.história.sem.palavras”.É.possível.contar.uma.
história.sem.palavras?
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Direcione.o.foco.para.a.imagem.da.capa:.Que.sentimentos.são.transmitidos.pela.personagem.retratada?.
Que.detalhes.da.ilustração.nos.ajudam.a.perceber.esses.sentimentos?.Por.que.só.é.possível.ver.a.cabeça.e.
uma.pequena.parte.do.corpo.(a.mão).de.Bambolina?.Onde.está.escondido.o.restante?.E.o.que.seria.esse.
fundo.vermelho?.Deixe.que.as.crianças.apresentem.suas.hipóteses.e,.não.se.esqueça.de.retomá-las.ao.final.
da.leitura.
Durante a leitura extensiva do texto
Leia.o.texto.da.quarta.capa.e.discuta.com.o.grupo.se.as.informações.trazidas.por.ele.estão.ou.não.de.
acordo.com.as.ideias.levantadas.pela.turma.
Mostre.a.folha.de.rosto..Nela.aparece.a.boneca.inteira..Ajude-os.a.observar.que.a.mesma.não.está.em.pé.
ou.sentada.porque.é.feita.de.pano.e.por.isso,.sua.estrutura.não.permite.que.ela.possa.apoiar.seu.corpo.de.
maneira.rígida.
Explore.a.sequência.de.imagens.da.primeira.página.da.história..Ela.representa.um.tipo.de.ilustração.de.
função.predominantemente.narrativa..A.cada.“quadro”,.novas.ações.são.introduzidas.e,.com.isso,.é.possível.
contar.o.que.está.acontecendo..Deixe.que.as.crianças.“acrescentem”.palavras.às.imagens.
A.cena.toda.mostra.a.relação.de.uma.criança.com.a.boneca..No.entanto,.um.elemento.novo.no.fim.da.
página.muda.o.foco.de.quem.está.com.a.boneca:.um.pacote..O.que.será.que.a.criança.ganhou.de.presente?
Continue.lendo.o.livro.para.as.crianças..Mostre.os.desenhos.página.por.página..O.livro.todo.é.repleto.de.
imagens. seqüenciadas,. nas. quais. o. cenário. permanece. o. mesmo. em. alguns. quadros,. mudando. apenas. as.
ações.dos.personagens..Explore.essas.mudanças..Ajude-os.a.observar.a.função.expressiva.das.ilustrações.ao.
transmitir.as.emoções.das.personagens:.posição.do.rosto,.língua.de.fora,.gestos,.traçado.dos.lábios..O.autor-ilustrador.emprega.alguns.recursos.comuns.às.histórias.em.quadrinhos.para.demonstrar.movimento,.falas.
e.emoções..Desafie.as.crianças.a.encontrarem.essas.marcas.
Peça-lhes.que.argumentem..Ponha.em.discussão.as.respostas..Não.hesite.em.deixar.que.as.crianças.retomem.a.página.anterior.para.resgatar.algum.elemento.que.não.tenha.sido.observado.na.primeira.leitura.
Ao.retirar.a.boneca.do.portão,.o.mendigo.tem.uma.ideia..De.que.forma.a.ilustração.nos.demonstra.isso?.
Na.série.de.imagens.que.se.segue,.como.o.autor.nos.faz.perceber.que,.mais.uma.vez,.Bambolina.parece.ter.
sido.encontrada.por.outra.pessoa?.Ajude-os.a.notar.que.esse.mesmo.recurso.também.aparece.em.outros.
momentos.da.história..Convide.a.sala.a.reproduzir.o.diálogo.entre.o.policial.que.encontrou.a.boneca.e.seu.
colega.de.trabalho..O.que.eles.esperavam.encontrar.dentro.da.boneca?
Mostre.como.o.autor.ilustra.a.passagem.do.tempo.depois.que.Bambolina.é.abandonada.pelos.policiais..
Explore.a.forma.como.as.cenas.desenhadas.quadro.a.quadro.apresentam.pequenas.variações.nos.gestos.e.nos.
detalhes.que.demonstram.as.ações.dos.personagens..Ajude-os.a.perceber.quantos.papeis.Bambolina.pôde.
interpretar.depois.que.foi.encontrada.pelo.bonequeiro.(princesa,.anjo,.fada,.bruxa,.soldado,.Chapeuzinho.
Vermelho,.onça.etc.)..De.quais.histórias.conhecidas.pelas.crianças.esses.personagens.poderiam.fazer.parte?
Por.fim,.apresente-lhes.a.última.cena.e.retome.as.hipóteses.levantadas.pelo.grupo.no.início.da.leitura:.o.
que.era.o.pano.vermelho.que.cobria.parte.do.corpo.de.Bambolina.no.começo.da.história?
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Depois da leitura do texto
Atividade 1: Objetivo: trabalhar.a.seqüência.temporal.de.algumas.cenas.
Eleger.um.conjunto.de.cenas.e.escrever.(ou.contar.oralmente).uma.narrativa.estabelecendo.relações.entre.
as.ações.e.transformações.dos.personagens,.acompanhando.as.ilustrações.
Atividade 2: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.narrativas,.com.base.na.história.original.
Selecionar.uma.seqüência.de.imagens.do.livro.e.substituir.a.personagem.principal.(Bambolina).por.outro.
brinquedo,.fazendo.as.alterações.necessárias.na.narrativa.buscando.manter.a.coerência.do.texto.
Atividade 3: Objetivo: representar.a.partir.de.imagens.outras.aventuras.de.Bambolina.
Produzir.narrativas.com.imagens.(desenhos,.fotografias,.pinturas,.colagens.ou.gravuras).novas.aventuras.
de.Bambolina.imaginadas.pelas.crianças.(no.circo,.na.televisão,.na.escola,.viajando.para.uma.paisagem.diferente.etc.).
Atividade 4:.Objetivo: ampliar.o.repertório.das.crianças.oferecendo.outras.histórias.contadas.apenas.por.
ilustrações,.sem.uso.do.texto.verbal.
Cada.vez.mais.o.mercado.dispões.de.excelentes.livros.que.fazem.uso.dessa.proposta:.Onda.e.Espelho.de.
Suzi.Lee.(Cosac.Naify),.A flor do lado de lá,.de.Roger.Melo.(Global),.Chapeuzinho Vermelho.e outros contos por
imagens,.de.Rui.de.Oliveira.(Cia.das.Letrinhas).são.alguns.deles.
Proponha.a.leitura.dos.mesmos.e.discuta.com.a.sala.as.semelhanças.e.diferenças.entre.os.recursos.empregados.pelos.autores.ao.narrarem.suas.histórias.a.partir.de.imagens.
Fonte: Texto escrito especialmente para esse material.
texto-farol 3
Palavra e imagem: leituras cruzadas, de ivete Lara camargos Walty,
maria nazareth Soares fonseca e maria Zilda ferreira cury
Ivete Lara Camargos Walty, Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira
Cury são professoras de graduação e pós-graduação de Teoria da Literatura na PUC-Minas
e UFMG. Neste texto, as autoras se propõem a instigar leituras críticas, associando poemas, notícias de jornal, fotografias, filmes e propagandas em tempos e espaços diversos.
Ler.a.imagem,.construindo.um.texto.verbal?.Ou.ler.um.texto.verbal,.construindo.imagens?.Eis.um.desafio.que.se.corporifica.neste.mundo,.marcado.pela.proliferação.das.ima.gens,.que.continuamente.nos.bombardeiam:. outdoors, no.ticiários,. propagandas,. multimídia.. Da. fotografia. que. se. pretende. fiel. ao. fato. que.
busca.documentar,.à.realidade.vir.tual.criada.pelos.computadores,.tudo.se.faz.imagem.
Há.uma.anedota.reveladora.da.hipertrofia.que.adqui.riu.a.imagem.no.mundo.contemporâneo..A.jovem.
mãe,.dian.te.das.amigas.que.vêm.visitar-lhe.a.filha.recém-nascida.e.que.lhe.elogiam.a.beleza,.responde,.orgulhosa:.–Vocês.acham.a.criança.bonita.porque.não.viram.ainda.o.vídeo!.Como.se.vê,.a.imagem.sobrepuja.
o.real,.ou.melhor,.é.mais.real.que.o.próprio.real..Félix.Guattari.(1993).constata,.porém,.que.a.diver.sidade.de.
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imagens.não.significa.por.si.só.riqueza.de.senti.dos,.já.que,.num.mundo.globalizado,.as.imagens,.embora.
sendo.muitas,.podem.tornar-se.iguais,.repetitivas,.previsí.veis..A.repetição.homogeneizadora.pode.levar.ao.
seu.es.vaziamento.e.consequente.amortecimento.da.consciência.crítica.do.receptor.
Em.razão.disso,.os.educadores.se.perguntam.se.a.su.premacia.da.imagem,.por.seu.caráter.facilitador,.prejudica.a.leitura.do.texto.verbal..Importa.refletir.mais.detidamente.sobre.essa.questão.uma.vez.que.a.escrita.
é.um.parâmetro.norteador.de.nossa.cultura.
Como.se.viu,.os.bens.simbólicos.produzidos.pelo.ho.mem.em.sociedade.codificam-se.de.diversas.formas.
que.mantêm.uma.relação.estreita.entre.si.e.se.expressam.no.que.se.convencionou.chamar.semiose.cultural,.
rede.ampla.de.sig.nificações..Imagens,.sons,.gestos,.cores,.expressões.corpo.rais.tornam-se.signos.abertos.à.
decodificação..Nesse.sentido,.reitere-se,.a.recepção.desses.bens.simbólicos.pode.ser.vista.como.leitura,.na.
medida.em.que.todo.recorte.na.rede.de.significações.é.considerado.um.texto..Pode-se,.pois,.ler.o.traçado.de.
uma.cidade,.a.moda,.o.corpo.humano.em.suas.várias.posturas,.um.filme,.um.livro..Colocar.imagem.e.escrita.
em.campos.opostos.e.excludentes.é,.no.mínimo,.ingenuidade,.já.que,.mesmo.à.nossa.revelia,.tais.códigos.se.
encontram.em.constante.interação.
Dominando.o.maior.número.possível.de.códigos,.o.cida.dão.pode.interferir.ativamente.na.rede.de.significação.cultural.tanto.como.receptor,.quanto.como.produtor..Na.escola.ou.na.sociedade,.o.processamento.de.
relações.que.se.dá.no.nível.da.produção.também.pode.ocorrer.no.nível.da.recepção.
A.escola.pode.ser,.pois,.um.espaço.privilegiado.para.a.recepção.crítica.dos.diferentes.códigos.e,.sobretudo,.
deve.proporcionar,.de.forma.democrática,.acesso.mais.amplo.a.eles..Estabelecer.relações,.inclusive.interdisciplinares,.é.fator.fundamental.de.inserção.político-social.
De terra
A.relação.entre.o.curta-metragem.Ilha das Flores, filme.de.Jorge.Furtado,.fotografias.do.livro.Terra, de.
Sebastião.Sal.gado,.uma.música.de.Chico.Buarque.e.poemas.de.Manuel.Bandeira.e.Drummond,.aqui.proposta.por.nós,.pode.exem.plificar.o.processo.de.articulação.intersemiótica.feito.pela.lei.tura..Nós,.leitoras,.
estabelecemos,.num.universo.amplo.de.produções,.algumas.conexões.temáticas.que.não.esgotam.as.possibilidades.desses.textos.e.de.sua.ligação.com.outros.
O.filme.Ilha das Flores por si.só.já.propõe.relações.várias.entre.imagem.e.palavra,.integrando.discursos.
diversos:.his.tórico,.técnico-científico,.bíblico,.mítico,.literário,.sociológico..A.partir.de.uma.classificação.
do. que. seria. o. ser. humano. –. animal. com. o. telencéfalo. altamente. desenvolvido. e. polegar. opositor. –.
constrói-se.uma.denúncia.das.aviltantes.condi.ções.de.vida.de.parcelas.da.população,.cujas.necessidades.
básicas.são.colocadas.abaixo.daquelas.dos.porcos..A.enfáti.ca.repetição.de.características.que.definiriam.
o.homem,.ao.lado.de.episódios.e.percalços.de.sua.história.no.mundo.–.a.criação,.as.invenções,.a.construção.do.patrimônio.cultural,.o.domínio.da.natureza,.as.relações.de.trabalho.e.produção,.mas.também.o.
nazismo,.a.bomba.atômica,.a.exploração.do.homem.pelo.homem.–.desconstroem.ironicamente.a.pró.pria.
definição.de.homem..O.discurso.técnico-científico,.cari.caturado,.vai,.pouco.a.pouco,.transformando-se.
em.discurso.artístico,.ao.caminhar.de.uma.função.estritamente.informati.va.para.a.função.estético-reflexiva..Por.meio.dos.deslocamen.tos.operados.na.produção.do.homem.na.História,.seja.no.plano.das.imagens,.seja.no.das.palavras,.estabe.lecem-se.crí.ticas.a.regimes.sociopolíticos.que.sobrepõem.os.interesses.
econômicos.aos.humanos.
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O.acompanhamento.da.trajetória.de.um.tomate,.des.de.a.plantação.até.seu.destino.final.num.depósito.de.
lixo,.ironicamente.situado.na.chamada.Ilha.das.Flores,.evidencia.a.superioridade.do.animal.sobre.o.homem,.
já.que.este.só.tem.acesso.àquilo.que.é.considerado.inadequado.para.a.ali.mentação.dos.porcos..O.filme.termina.com.a.imagem.de.um.caminhão,.com.imensa.pá,.revolvendo.e.recolhendo.auto.maticamente.o.lixo..
Depois,.em.câmera.lenta,.aparece.a.figu.ra.de.um.homem.colocando.nos.ombros.o.saco.de.lixo.recolhido..O.
narrador.finaliza.recuperando.a.definição.de.homem.mencionada.reiteradas.vezes.no.decorrer.de.todo.o.
filme,.acrescentando.a.ela.a.ideia.de.liberdade:
O.ser.humano.se.diferencia.dos.outros.animais.pelo.telencéfaio.altamente.desenvolvido,.
polegar.opositor.e.por.ser.li.vre..Livre.é.o.estado.daquele.que.tem.liberdade.
Finalmente,.um.filme.tão.rico.em.imagens,.cuja.força.tan.tas.vezes.até.dispensou.a.palavra,.fecha-se.com.uma.
defini.ção,.agora.tirada.ao.discurso.poético.de.Cecília.Meireles.(1972):
Liberdade.é.uma.palavra.que.o.sonho.humano.alimenta, que.não.há.ninguém.que.explique.
e.ninguém.que.não.entenda.
É.significativa.a.presença.do.verbo.alimentar.na.consti.tuição.da.imagem..O.alimento.do.sonho.liga-se.
ao.alimento.do.corpo,.ambos.fundamentais.à.condição.humana.
No.livro.Terra (1997),.Sebastião.Salgado.expõe.fotogra.fias.de.pessoas.em.sua.difícil.relação.com.a.terra..
Dedicado.aos.brasileiros.despossuídos,.o.livro.denuncia.a.luta.pela.sobrevivência.daqueles.que.não.têm.“um.
pedaço.de.terra.para.produzir.e.viver.com.dignidade”..Numa.das.fotos,.per.tencente.ao.conjunto.denominado.“A.força.da.vida”,.adultos.e.crianças.disputam.o.lixo.com.urubus:
Para.sobreviver,.esta.gente.se.entrega.às.mais.variadas.atividades.ou.expedientes,.às.vezes.
inimagináveis,.que.se.des.dobram.indefinidamente.
No.grande.depósito.de.lixo.de.Fortaleza,.foi.criada.toda.uma.estratificação.social..Existe.o.
grupo.que.trabalha.ape.nas.na.busca.de.objetos.metálicos.a.serem.vendidos.às.pequenas.
indústrias.locais,.que.os.reciclam.nas.fundições;.outros.grupos.se.ocupam.de,.respectivamente,.materiais.de.plástico,.restos.de.madeiras,.papéis.usados,.etc.,.tendo.cada.um.seu.
próprio.circuito.de.comercialização..Na.base.dessa.subescala.social,.encontram-se.as.pessoas.que,.recém-expulsas.do.ventre.do.sertão.pelo.latifúndio.e.ou.pela.seca,.disputam.com.
os.urubus.os.restos.de.alimentos..Ceará,.1983..(salgado,.1997,.p..140)
Este.texto.se.encontra.na.parte.final.do.livro.–.“Legen.das”.–.com.o.objetivo.de.contextualizar.a.foto.
Homens e bichos no lixão
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A.imagem.fotográfica.a.que.ele.se.refere.é.por.si.só.significativa,.podendo.até.prescindir.do.texto,.embora.o.diálogo.entre.ambos.se.reforce.em.outro.tipo.de.ima.gem,.a.verbal:.“recém.expulsos.do.ventre.do.sertão.
pelo.latifúndio.ou.pela.seca”..A.expressão.“ventre.do.sertão”.aponta.para.a.ideia.de.útero.protetor,.de.origem.
da.vida.e.da.forte.interação.homem-terra..A.expulsão,.símbolo.de.um.parto,.denuncia.a.violência.das.relações.sociais.que.privilegiam.a.posse..Paradoxalmente,.o.retorno.do.homem.à.terra.faz-se.através.do.lixo,.
aquilo.que.é.rejeitado.por.outros..E.mesmo.aí,.reduplicam-se.as.hierarquias.de.posse..A.atmosfera.da.foto.é.
difusa,.não.se.vêem.os.rostos.das.pessoas,.curvadas.e.diminuídas.sob.o.peso.dos.latões.que.trazem.aos.ombros..Em.perspectiva,.os.urubus.são.maiores.que.os.homens.
Interessante.relacionar.essa.fotografia.com.outra.veicu.lada.pelo.Jornal.Hoje em dia, na.reportagem.“Vida.
brota.das.sobras.encontradas.em.lixões”,.escrita.por.estudantes.de.Comunicação.Social.da.PUC-Minas.
Que mundo o nosso! Homens disputando os restos.
Além.da.fotografia,.documental,.observe-se.a.semelhan.ça.da.situação.descrita.nos.textos.
Homens.disputando.restos.de.alimentos.com.porcos,.urubus,.ratos,.moscas.e.até.cavalos..
Essa.cena.parece.ser.de.um.fil.me.de.ficção.sobre.como.seria.a.vida.na.terra.depois.de.um.
acidente.nuclear..Mas,.é.a.realidade.de.dezenas.de.famílias.pobres.da.região.metropolitana.
de.Belo.Horizonte,.que.so.brevivem.de.restos,.transformando.lixões.em.supermerca.dos..
(Hoje em dia, 7/11/96,.p..3)
O.enfoque.jornalístico.não.difere.do.artístico.na.medi.da.em.que.opera.uma.denúncia,.focalizando.cenas.
já.impres.sas.no.quotidiano.das.grandes.cidades..O.texto.impactual.obriga.o.leitor.a.prestar.atenção.naquilo.
que,.muitas.vezes,.não.quer.ver.
Urubus,.na.foto.de.Sebastião.Salgado,.porcos,.no.filme.de.Jorge.Furtado,.ou.moscas.e.ratos,.na.reportagem,.sobre.põem-se.ao.“bicho.homem”..E.é.deste.bicho.que.fala.Manuel.Bandeira.no.poema.denominado.
“O.Bicho”:
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O BICHO
Vi.ontem.um.bicho
Na.imundície.do.pátio
Catando.comida.entre.os.detritos.
Quando.achava.alguma.coisa,
Não.examinava.nem.cheirava:
Engolia.com.voracidade.
O.bicho.não.era.um.cão,
Não.era.um.gato,
Não.era.u.m.rato.
O.bicho,.meu.Deus,.era.um.homem..(bandeira,1974,.p..196)
Mais.uma.vez,.pelo.consumo.de.detritos,.o.homem.se.iguala.ao.bicho..O.paralelismo.dos.versos.“não.era.
um.cão,.não.era.um.gato,.não.era.um.rato”.expressa.a.perplexidade.do.poeta.diante.da.situação.desumana.
imposta.pela.fome,.traduzida.ainda.no.uso.reiterado.do.advérbio.de.negação..De.forma.semelhante.ao.que.
se.deu.em.Ilha das Flores, a.definição.de.homem.se.dá.pela.contradição..A.metáfora.–.o.bicho.–.indiciada.
desde.o.título,.desdobra-se.em.frases.des.critivas.que.só.alcançam.seu.efeito.de.denúncia.no.último.verso:.“O.
bicho,.meu.Deus,.era.um.homem”..Observe-se.que.o.poema,.pequeno.e.de.versos.curtos,.constrói-se.como.
um.quadro,.atingindo.o.leitor.pela.força.de.suas.imagens..As.palavras,.como.se.viu,.também.se.condensam.
em.imagens,.enredando.o.leitor.
Como.um.quadro.em.movimento.é.que.também.se.constrói.um.poema.de.Drummond.sobre.a.mesma.
temática:
FIM DE FEIRA
No.hipersupermercado.aberto.de.detritos,
ao.barulhar.de.caixotes.em.pressa.de.suor,
mulheres.magras.e.crianças.rápidas
catam.a.maior.laranja.podre,.a.mais.bela
batata.refugada,.juntam.no.passeio
seu.estoque.de.riquezas,.entre.risos.e.gritos.
(andrade,.1978,.p..113)
A.crítica.à.sociedade.de.consumo.se.faz.desde.o.nível.do.significante,.como.na.repetição.dos.prefixos.–.
hiper.e.super–.na.formação.da.palavra.que.caracteriza.o.depósito.de.lixo.onde.pessoas.buscam.alimentos,.
catando.o.que.foi.refugado..O.uso.de.advérbios.de.intensidade,.ao.lado.de.adjetivos.que.indicariam.a.qualidade.dos.alimentos,.esva.zia-se,.ironicamente,.na.adição.de.outros.adjetivos.como.podre.e.refugada..A.alegria.
e.o.movimento.das.pessoas.acen.tuam.a.ironia.da.ideia.de.acúmulo.antevista.na.expressão.“estoque.de.riquezas”,.numa.alusão.desconstrutora.da.ga.nância.consumista..Como.no.filme.já.citado.e.na.fotografia.de.Sebastião.Salgado,.até.o.lixo.se.disputa,.até.nele.se.seleciona.e.escolhe..A.imagem.visual,.cena.de.palavras,.opera.a.
denúncia.social.
É.também.pela.força.da.imagem.que.uma.propaganda.da.Legião.da.Boa.Vontade.busca.atrair.o.leitor,.
persuadindo-o.a.contribuir.com.uma.campanha.de.auxílio.ao.menor.abandonado..Aí.a.imagem.visual.de.uma.
criança,.deitada.na.calçada.em.situação.de.desamparo,.une-se.a.imagem.verbal.que.aproxima.gente.e.bicho.
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138  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
De.forma.agressiva,.inverte-se.a.proposta.dos.outros.tex.tos.já.que.se.invoca.para.o.homem.um.tratamento.semelhan.te.ao.dispensado.ao.animal..O.discurso.ecológico.de.proteção.e.preservação.de.animais.em.extinção.é.deslocado,.ironica.mente,.para.o.apelo.de.salvação.da.criança:.“Gente.também.é.bicho..Preserve.a.
criança.brasileira”..Originalmente.na.cor.verde,.relacionada.à.ecologia,.a.propaganda.destaca,.pelo.tama.nho.
das.letras,.as.palavras:.gente,.bicho,.criança..A.força.deste.recurso.tipográfico.intensifica.a.denúncia.de.animalização.do.ser.humano,.ou,.mais.do.que.isso,.da.humanização/enobreci.mento.de.alguns.animais.em.detrimento.do.homem.
Num.outro.tom,.a.fome.é.tema.da.letra.da.música.“Brejo.da.Cruz”,.de.Chico.Buarque,.que.integra.o.livro.
Terra, anterior.mente.citado..De.forma.curiosa,.o.lixo.é.substituído,.metafori.camente,.pela.luz,.imagem.liricamente.construída.da.ausência.de.alimento,.sugerindo.carência.absoluta.de.um.povo.
BREJO DA CRUZ
A.novidade
Que.tem.no.brejo.da.cruz
É.a.criançada
Se.alimentar.de.luz
Alucinados
Meninos.ficando.azuis
E.desencarnando
Lá.no.brejo.da.cruz
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Eletrizados
Cruzam.os.céus.do.Brasil
Na.rodoviária
Assumem.formas.mil
Uns.vendem.fumo
Tem.uns.que.viram.Jesus
Muito.sanfoneiro
Cego.tocando.blues
Uns.têm.saudade
E.dançam.maracatus
Uns.atiram.pedra
Outros.passeiam.nus
Mas.há.milhões.desses.seres
Que.se.disfarçam.tão.bem
Que.ninguém.pergunta
De.onde.essa.gente.vem
São.jardineiros
Guardas.noturnos,.casais
São.passageiros
Bombeiros.e.babás
Já.nem.se.lembram
Que.existe.um.Brejo.da.Cruz
Que.eram.crianças
E.que.comiam.luz
São.faxineiros
Balançam.nas.construções
São.bilheteiras
Saleiros.e.garçons
Já.nem.se.lembram
Que.existe.um.Brejo.da.Cruz
Que.eram.crianças
E.que.comiam.luz
(holanda,.In: salgado,.1997,.p..97-98)
No.tratamento.dado.à.questão,.o.compositor,.mesmo.falando.da.degradação.do.ser.humano,.não.lhe.
retira.sua.con.dição.superior,.na.medida.em.que.o.dignifica.pelo.sofrimento.e.pela.morte..Isto.não.anula. o. tom. de. denúncia. do. texto,. an.tes. o. intensifica:.“É. a. criançada/Se. alimentar. de. luz/Alucina.dos/
Meninos. ficando. azuis/E. desencarnando/Lá. no. Brejo. da. Cruz”.. Crianças,. quase. anjos,. metamorfo-
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140  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
seiam-se.em.Jesus,.metonímia,.juntamente.com.o.nome.do.lugar,.Brejo.da.Cruz,.do.sofrimento.e.do.
sacrifício..A.metamorfose.continua.na.represen.tação.de.outros.marginalizados.e.oprimidos:.babás,.baleiros,.bombeiros,.bilheteiros.e.garçons,.massa.de.subempregados.vin.dos.das.rodoviárias.das.grandes.
cidades.do.país..Contrapõem-se-.no.texto,.pelo.menos,.dois.espaços:.o.Nordeste.e.o.Sul,.mesclados.nos.
deslocamentos.dos.migrantes..Tal.mescla.se.reforça.na.fusão.das.duas.culturas,.como.se.pode.observar.
na.referência.ao.maracatu.e.na.figura.do.“sanfoneiro.cego.tocando.blues”..Presença.comum.nas.feiras.
nordestinas,.o.sanfoneiro.cego.urbaniza-se,.adotando.a.música.norte-americana..No.plano.da.música.
propriamente.dita,.essa.imagem.é.reiterada.com.uso.de.instrumentos.nordestinos,.como.o.triângulo,.ao.
lado.dos.convencionalmente.usados.pela.música.popular.produzi.da.no.sul..Na.descrição.das.figuras,.
adaptadas.ao.novo.siste.ma.de.vida.ou.enlouquecidas,.percebe-se.a.voz.do.autor.implícito.que.questiona.
os.conceitos.do.senso-comum.sobre.essa.gente:.Mas há milhões desses seres/Que se disfarçam tão bem/Que
ninguém pergunta/De onde essa gente vem. Dessa.forma,.evidencia-se.a.indiferença.por.essa.gente.e.sua.
vida.de.risco.–.balançam nas construções–ou.quase.morte,.na.cidade.grande.que.reproduz.seu.lugar.de.
origem:.a.cruz.continua.sendo.a.marca.de.sua.vida.
Como.se.viu,.a.linguagem.literária.constrói.imagens.e é construída.por.elas.num.jogo.de.deslocamentos.
e.conden.sações..A.força.de.tais.imagens,.embora.de.natureza.diferen.te.da.imagem.visual,.continua.atingindo.o.leitor,.mesmo.num.tempo.em.que.o.visual.ganha.dimensões.hipertrofiadas.
Seja.na.fotografia.de.Sebastião.Salgado,.numa.propa.ganda,.num.poema.de.Drummond,.numa.montagem.fílmica.ou.numa.letra.de.música,.a.imagem.é.mais.do.que.uma.repre.sentação.de.um.referente,.do.que.
habitualmente.costuma.mos.chamar.de.real..Antes,.ela.é.parte.integrante.da.produção.simbólica.e.como.
tal.também.constrói.o.real..Sem.querer.isen.tar.a.arte.de.um.caráter.ideológico.e.da.possibilidade.de.manipulação. política,. reiteramos. que,. nos. textos. analisados,. o. papel. da. imagem. foi. deslocar. significados.
instituídos.
Fonte: Palavra e imagem: leituras cruzadas, de Ivete Lara Camargos Wally,
Maria Nazareth Soares Fonseca e Maria Zilda Ferreira Cury, p. 89-100.
texto-farol 4
Representações visuais das bruxas
na literatura infantil – Um estudo de caso
Denise Silva
Denise.Silva.é.educadora,.mestre.em.Educação.pela.PUC-SP.e.formadora.do.projeto.Letras.de.Luz..O.
estudo.de.caso.a.seguir.foi.organizado.especialmente.para.essa.apostila.e.pretende.contribuir.com.algumas.
ideias.para.o.trabalho.com.a.leitura.de.imagens.na.literatura.infantil.
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joão e maria
.
1..
.
3..
.
2..
.
4..
1. Lang, Andrew, ed. The blue fairy book. New York: Dover, 1965. (Original published 1889.)
2. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham,
illustrator. Londo: Constable & Company Ltd, 1909.
3. Jacobs, Joseph, ed. European folk and fairy tales. John Batten, illustrator. New York: G. P. Putnam’s Sons, 1916.
4. Anne Anderson, illustrator. Anne Anderson’s old, old fairy tales. Racine, Wisconsin: Whitman Publishing Company,
1935.
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142  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
rapunzel
. 1..
.. 2..
. 3..
.
4..
1. Anne Anderson, illustrator. Old, old fairy tales. New York: Thomas Nelson & Sons, n.d.
2 e 3. Grimm, Jacob and Wilhelm. The fairy tales of the brothers Grimm. Mrs. Edgar Lucas, translator. Arthur Rackham,
illustrator. London: Constable & Company Ltd, 1909.
4. Grimm, Jacob and Wilhelm. Hansel and Gretel and other stories by the brothers Grimm. Kay Nielsen, illustrator. Lon‑
don: Hodder and Stoughton, 1925.
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Apostilas das oficinas de leitura  143
branca de neve
. 1..
.
. 3..
2..
.
4..
1. Van Der Hoeven, G. Snowdrop. W. C. Drupsteen, illustrator. London: S. W. Partridge & Co., 1909.
2. Lang, Andrew, ed. The red fairy book. New York: Dover, 1966. (Original published 1890.)
3. Golding, Harry, editor. Fairy Tales. Margaret Tarrant, illustrator. London: Ward, Lock & Co., 1915.
4. Vredenburg, Eric, editor. My book of favourite fairy tales. Jennie Harbour, illustrator. London: Raphael Tuck & Sons,
1921.
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144  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
baba-Yaga
. 1..
.
2..
3..
1. Bilibin, Ivan, illustrator. Vassilisa the Beautiful. Moscow: Department for the Production of State Documents, 1900.
2. NIADA: ART DOLLS
3. https://allencentre.wikispaces.com/file/view/BabaYaga2.jpg/82297043/BabaYaga2.jpg
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APoStiLA 5
oficinA 5 – Luz que vem de Longe
o gênero poesia e sua celebração na vida de cada dia
objetivos:
•
•
•
•
•
ler, ouvir e se emocionar com a leitura de muitos poemas;
conhecer um pouco mais do gênero poesia;
trabalhar a palavra poética pela análise e pela escrita de poemas;
fazer um balanço do projeto;
criar um clima de despedida e de união pela leitura e de amor pelos livros com o fortalecimento dos laços
estreitados pelo projeto.
conteúdos:
•
•
•
•
•
a poesia e sua história;
o gênero poesia e suas curiosidades;
a poesia e a intertextualidade;
a poesia infantil;
os saraus poéticos.
Desenvolvimento:
O.roteiro.a.seguir.é.apenas.uma.proposta.de.organização.do.encontro..Cada.formador.poderá.adequá-lo.
à.realidade.do.grupo.e.aos.propósitos.do.trabalho,.criando.outras.possibilidades.de.exploração.do.tema.
1. Abertura:.a.poesia.ocupa.todo.o.conteúdo.da.apostila.cinco..É.um.verdadeiro.mergulho.na.arte.poética.e.no.convite.a.leitura.desses.textos,.que.tão.profundamente.marcaram.a.humanidade..O.formador.pode.
convidar.o.grupo.para.se.sentar.em.volta.do.Mar.de.Histórias.preenchido.pelos.livros.de.poesia.trazidos.por.
ele.e.pelo.grupo.e.abrir.o.encontro.com.a.leitura.de.um.belo.poema...Aviso.importante:.por.tratar-se.de.
nosso.último.encontro,.esse.é.um.dia.afetivamente.singular.e.que.também.necessita.de.um.alinhavo.especial.
sobre.a.oficina.e.sobre.o.futuro.leitor.das.pessoas.envolvidas..É.dia.de.festa.e.trabalho:.verdadeiramente.um.
dia.de.poesia..No.momento.de.leitura.sugerimos.os.poemas:
 Emergência, de Mario Quintana;
 Parem, de Paulo Leminski;
 Procura da poesia, de Carlos Drummond de Andrade;
 Se o poeta falar num gato, de Mario Quintana.
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146  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
2. Apresentação dos conteúdos :.Luz.que.Vem.de.Muito.Longe.é.o.título.dessa.oficina,.pois.nos.remete.ao.passado.remoto.da.poesia,.que.nasce.junto.dos.mitos.e.dos.contos..O.gênero.que.mais.sofreu.mudanças.
em.todo.seu.percurso!.O.que.mais.admitiu.mudanças.de.forma.e.conteúdo,.o.mais.dilacerado.por.autores.e.
leitores,.que.mais.de.perto.seguiu.as.transformações.culturais.ao.longo.dos.séculos.e,.ainda.assim,.conservou-se.o.mais.popular..Por.isso,.um.bom.começo.depois.da.leitura.do.poema.escolhido.para.abertura.é.sem.
dúvida.questionar.o.grupo.sobre.seus.poetas.preferidos,.seus.poemas.inesquecíveis..Difícil.imaginar.alguém.
que.passou.pela.vida.escolar.sem.ter.lido.um.poema.em.voz.alta,.sem.ter.estudado.rimas.e.estrofes,.sem.ter.
passado.pelos.poetas.e.poemas.canônicos. Nesta.oficina,.além.de.conheceremos.um.pouco.mais.sobre.poesia,.
faremos.um.balanço.do.projeto..Os.participantes.serão.convidados.a.falar.sobre.seu.ano.leitor,.sobre.suas.
conquistas,.sobre.os.projetos.que.realizaram.e.ainda.haverá.um.sarau.de.despedida.
3. Poesia – Histórias e curiosidades:.vários.caminhos.são.possíveis.na.aproximação.com.a.poesia..Nossas.escolhas.recaíram.sobre.a.intertextualidade.e.as.formas.poéticas..Essa.escolha.permite.que.os.participantes.tenham.uma.relação.mais.complexa.com.o.gênero.e.percebam.o.quanto.a.poesia.se.alimenta.dela.mesma,.
diferentemente.de.todos.os.outros.gêneros..Depois.da.conversa.inicial.sobre.poetas.e.poemas.preferidos,.o.
formador.encaminha.a.leitura.dos.textos.Luz que vem de muito longe.e.Como e por que ler poesia,.disponíveis.
ao.final.desta.apostila..Além.de.boas-vindas.e.poética.abertura.de.discussão,.abre.para.a.reflexão.sobre.a.
poesia.e.o.papel.dos.autores.e.seus.leitores..O.formador.pode.ler.em.voz.alta.ou.pedir.que.leiam.em.pequenos.grupos.para.depois.fazerem.uma.socialização.coletiva..O.texto Poemas de forma fixa – Formas e gêneros
tradicionais,.de.Norma.Goldstein,.é.indicado.para.leitura.em.casa..Esse.texto.foi.escolhido.pela.sua.curiosidade.acadêmica:.ele.nos.apresenta.a.riqueza.das.formas.poéticas,.com.suas.variações,.nomes.estranhos.e.
características.tão.próprias..Um.poema.para.casamento.não.é.tão somente um poema:.é.um.epitalâmio!.Cabe.
aqui.ressaltar.a.beleza.dessa.classificação.e.o.quanto.a.poesia.é.intrinsecamente.dominada.pela.procura.da.
perfeição.entre.forma.e.conteúdo,.mais.que.em.qualquer.outro.gênero.
4. Poesia.se alimenta de poemas:.a.intertextualidade.é.um.prazer.à.parte.na.leitura.da.poesia..Descobrir.
poemas.dentro.de.poemas.e.poemas.filhos.de.outros.poemas.constitui-se.num.exercício.de.linguagem.fabuloso..A.dinâmica.pensada.para.este.momento.inaugura.nossa.tarefa.de.ler.poemas.em.voz.alta:.é.um.comecinho.bem.tímido.de.nosso.sarau.
Para.esta.atividade.sugerimos.o.texto.A poesia se alimenta de poesia,.de.José.de.Nicola.e.Ulisses.Infante,.o.
qual.pode.ser.encontrado.no.livro.Análise e interpretação de poesia.(Scipione,.1995)..O.formador.lê.o.poema.
original.(que.deu.origem.aos.outros).de.Gonçalves.Dias.e.divide.o.grupo,.solicitando.que.leia.e.discuta.o.
poema.que.lhe.for.determinado..Espera-se.que.o.grupo.perceba.a.“brincadeira.séria”.que.os.autores.fizeram.
com.o.original..O.formador.pode.se.valer.de.seus.conhecimentos.de.poesia,.a.métrica,.o.ritmo,.as.figuras.de.
linguagem.para.enriquecer.a.reflexão..Não.se.trata.de.analisar.com.profunda.complexidade,.mas.de.enxergar.
os.exercícios.de.linguagem.–.forma.e.conteúdo.–.feitos.em.cada.poema..Importante.perceber.que.cada.poema.retrata.uma.época,.um.período.histórico.e.que,.portanto,.a.ideia.original.de.Gonçalves.Dias.vai.sofrendo.
alterações.conforme.a.sociedade.vai.se.transformando.política,.social.e.literariamente,.tudo.isso.sem.esquecer.o.próprio.estilo.de.cada.poeta..No.momento.de.socialização.das.reflexões,.os.participantes.devem.ler.os.
poemas.em.voz.alta..Aqueles.que.quiserem.podem.produzir.a.sua.própria.Canção do exílio.
5. Exercício poético:.hora.de.convidar.o.grupo.para.fazer.poesia..Cabe.aqui.uma.pequena.rodada.de.
conversa:.quem.já.escreveu.poesia?.Quem.sente.necessidade?.Quem.rabisca.seus.versos.na.solidão.ou.na.
algazarra?.Para.a.leitura.do.jogo.poético.pode-se.dividir.o.grupo.em.subgrupos.para.que.se.tenha.variados.
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exemplos.de.leitores-poetas..Os.textos.produzidos.podem.compor.um.grande.varal.poético.que.ficará.exposto.no.sarau.de.despedida..Podem.ser.escolhidos.alguns.poemas.para.leitura.coletiva,.pois.não.haverá.tempo.
para.apreciação.de.todos..O.essencial.nesse.momento.é.que.as.pessoas.se.sintam.inspiradas.a.escrever.sem.
medo.de.censura,.pois,.antes.de.tudo,.é.um.exercício.de.escrita..A.socialização.dos.poemas.é.fundamental.
para.valorizar.a.produção.dos.participantes.
6. Apreciação de poemas infantis: a.escolha.desse.panorama.da.poesia.infantil.deve-se.ao.fato.de.que.
muito.provavelmente.o.grupo.tenha.professores.que.trabalhem.com.poesia.dentro.de.sala.de.aula.e,.mais.que.
isso,.a.poesia.infantil.é.extremamente.prazerosa.para.o.público.adulto.também..Possui.todos.os.elementos.
da.poesia.para.adultos,.valoriza.incrivelmente.o.ritmo,.a.métrica,.a.metáfora.e.as.repetições.e,.como.não.
poderia.deixar.de.fazer.mesmo.que.quisesse,.traz.as.marcas.de.seu.tempo,.reconstitui.épocas.e.seus.pensamentos.. Os. estilos. e. as. linguagens. são. deliciosamente. observáveis.. Recomendamos. para. essa. atividade. a.
leitura.de.Breve (brevíssimo) panorama da poesia infantil brasileira,.de.Luis.Camargo.(Cadernos de Poesia Brasileira,.Instituto.Cultural.Itaú,.São.Paulo,.1996).
O.formador.pode.sugerir.os.tópicos.que.deseja.que.o.grupo.valorize.em.sua.análise:.estilo.e.época.do.
autor,.valores.sociais.colocados.no.texto,.elementos.da.poesia:.rima,.versos.em.estrofes,.eleger.alguns.versos.
para.um.debruçar.mais.apurado,.a.linguagem.de.cada.poema,.entre.outros..Se.for.possível.ouvir.os.poemas.de.
Arca.de.Noé.e.“assistir”.aos.poemas.de.Sérgio.Capparelli.em.sua.página.na.internet.(www.caparelli.com.br),.
teremos.um.complemento.importante.daquilo.que.o.texto.diz:.as.crianças.estão.imersas.em.diversas.linguagens.que.se.os.desafia..Sentir.um.poema.lido,.cantado.e.“escrito.e.idealizado”.no.e.para.o.computador.será.
perfeito.para.o.entendimento.dessas.diversas.linguagens.
7. As oficinas estão acabando!: Como.se.trata.de.um.último.encontro.é.importante.fazer.um.balanço.
de.como.foi.o.ano,.dos.desafios.enfrentados,.das.conquistas.e.descobertas.feitas.com.as.leituras.e,.em.especial,.retomar:.o.que.fizeram.para.a.formação.de.uma.comunidade.de.leitores?.Por.se.tratar.de.um.leque.
grande.de.questões,.o.formador.decide.com.o.grupo.qual.a.melhor.forma.de.fazer.esse.balanço:.cada.participante.ganha.“um.minuto”.para.falar,.fala-se.em.blocos,.por.atividade.desenvolvida,.entre.outras.opções..
Como.o.diário.foi.nosso.amigo.fiel.desde.o.primeiro.encontro,.o.grupo.pode.trocar.seus.diários.para.que.
um.colega.escreva.uma.despedida.em.suas.páginas..Apesar.da.liberdade.extrema.desse.momento.de.avaliação,.algumas.perguntas.se.fazem.importantes:.algum.dos.gêneros.estudados.foi.mais.significativo?.A.
apreciação.dos.textos.fez.sentido.para.você?.Como.avalia.seu.desempenho.leitor.no.ano.que.passou?.O.
que.pretende.fazer.(ou.continuar.fazendo).para.a.formação.de.uma.comunidade.leitora?.O.que.conseguiu.
ensinar. de. tudo. que. aprendeu?. Além. dos. questionários,. o. grupo. decide. que. outras. atividades. podem.
ocorrer.nesse.momento.e.se.tais.atividades.não.podem.acontecer.juntamente.com.o.sarau,.com.a.troca.de.
livros,.de.textos.e.exposição.dos.diários.
8. Sentindo poesia: hora.de.começar.o.sarau!.O.objetivo.não.é.ensinar.a.fazer,.mas.viver.um.sarau verdadeiramente.. O. formador. pode. comentar. o. texto. Receitinha de sarau,. de. Celinha. Nascimento,. ou. lê.-los,.
destacando.aspectos.que.considerar.mais.importante..Lida.a.receitinha,.pode-se.começar.com.o.pedido.de.
bênção.e.a.escolha.dos.mestres.de.cerimônia..Antes.de.passar.a.condução.do.sarau.para.os.mestres,.o.formador.faz.o.aquecimento.proposto.na.“receitinha”..O.formador.pode.ainda.cantar.músicas.e.levar.CDs.para.
esse.encontro..Se.as.letras.estiverem.disponíveis,.fica.fácil.para.a.turma.acompanhar.e.fazer.o.exercício.de.
aquecimento..Depois.do.aquecimento,.e.antes.de.passar.a.palavra.aos.mestres,.o.formador.pode.utilizar.poesia.em.cinema.com.trechos.do.filme.O carteiro e o poeta.e.pedir.que.o.grupo.rapidamente.faça.uma.frase.
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poética.para.abrir.o.sarau,.inspirados.na.descoberta.da.poesia.que.acontece.na.vida.do.carteiro..Então,.passa.
a.palavra.aos.mestres.de.cerimônia.que,.ajudados.pela.receitinha.e.por.sua.própria.inspiração,.conduzirão.o.
sarau.até.seu.final.
9. Despedida: salve,.salve.todos.participantes.do.projeto!.Que.a.gente.possa.continuar.espalhando.narrativas.por.onde.passamos.E.que.a.poesia.nos.salve,.já.que.Vinicius.de.Moraes.assim.declamava:.“A.esse.
mundo,.só.a.poesia.poderá.salvar”.
bibliografia básica
BACHELARD,.Gaston..A poética do espaço..1ª.ed..São.Paulo,.Martins.Fontes,.1998.
O.autor.faz.um.intenso.trabalho.sobre.a.poesia.espalhada.por.todo.o.mundo,.muito.além.das.palavras..Considerado.
uma.verdadeira.tese.da.filosofia.de.poesia,.os.títulos.dos.capítulos.não.deixam.dúvida.sobre.o.mergulho.do.autor.na.
intimidade.da.poesia:.“A.gaveta”,.“O.ninho”,.“A.concha”,.“A.imensidão.íntima”.e.outros,.todos.dedicados.a.uma.ideia.
de.poesia.que.toma.toda.o.existir.humano.
BERALDO,.Alda..Trabalhando com poesia..1ª.ed..São.Paulo..Ática,.1990.
Sem.pretender.impor.modelos.e.técnicas.de.composição,.o.livro.objetiva.despertar.a.sensibilidade.para.o.mundo.
poético.das.palavras..Feito.especialmente.para.escolas,.traz.muitos.exercícios.realizados.por.alunos.
BOSI,.Alfredo..Reflexões sobre a arte..7ª.ed..São.Paulo..Ática..2000.
Reconhecido.autor,.professor.de.Literatura.da.USP-SP,.Bosi.faz.importantes.reflexões.sobre.as.três.dimensões.da.
arte:.um fazer, um conhecer e um exprimir. Em.seu.trabalho,.a.poesia.é.tratada.como.uma.forma.de.arte.que.engloba.todas.
as.dimensões.
GOLDSTEIN,.Norma..Versos, sons, ritmos..6ª.ed..São.Paulo,.Ática,.1990.
Da.importante.Coleção.Princípios,.o.livro.trata.da.análise.de.poemas:.ele.mergulha.em.sua.interpretação,.unindo.
metrificação,.rimas,.versos,.estrofes..O.ritmo.poético.e.a.sensibilidade.própria.de.cada.leitor.de.poesia.são.as.bandeiras.
levantadas.pela.autora.
INSTITUTO. CULTURAL. ITAÚ. (editor).. Cadernos Poesia Brasileira – Poesia Infantil –1ª. ed.. São. Paulo.. ICI,.
1996.
Publicação.do.Instituto.que.faz.uma.pequena.retrospectiva.da.poesia.infantil.de.Olavo.Bilac.a.Arnaldo.Antunes.
MORAIS,.Vinícius.de..A arca de Noé..Cia..das.Letras..São.Paulo,.2001.
O.site.da.Livraria.Cultura.diz.que.crianças.e.adultos.sabem.de.cor.alguns.dos.poemas.infantis.de.Vinicius.de.Moraes.graças.ao.ritmo.inteligente.e.bem-humorado.dos.seus.versos..As.deliciosas.versões.musicais.de.A arca de Noé.são.
exemplo.dessa.simpatia.que.o.poeta.conquistou.entre.pequenos.e.grandes.leitores.
MORICONI,.Ítalo..Como e por que ler a poesia brasileira do século XX..1ª.ed..Rio.de.Janeiro..Objetiva,.2002.
O.livro.traz.um.roteiro.precioso.de.tempos.e.espaços.da.poesia..O.melhor.de.Drummond,.o.melhor.de.Bandeira.e.
outros.estão.ali.com.comentários.saborosos.do.autor,.que.também.organizou.a.antologia.Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século.
NICOLA,.José.e.INFANTE,.Ulisses..Análise e interpretação de poesia..1ª.ed..São.Paulo..Scipione,.1995.
Especialmente.escrito.para.alunos.de.Ensino.Médio,.o.livro.foi.dividido.em.dois.capítulos.teóricos.e.outros.dois.de.
mergulho.intenso.e.livre.na.obra.de.autores.brasileiros.e.estrangeiros.
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PAIXÃO,.Fernando..O que é poesia..6ª.ed..São.Paulo..Brasiliense,.1991.
Da.importante.coleção.Primeiros.Passos,.o.texto.busca.amarrar.as.tantas.faces.e.definições.da.poesia.ao.longo.do.
tempo.e.da.história..Mais.que.complexa.teoria,.o.autor.defende.a.leitura.da.poesia.com.os.ouvidos,.o.nariz,.a.boca,.a.pele.
SOARES,.Angélica. Gêneros literários..6ª.ed..São.Paulo..Ática..2005.
A.autora.retoma.Platão.e.Aristóteles.e.percorre.uma.extensa.trajetória.dos.gêneros.até.a.época.contemporânea.num.
esforço.para.entender.e.explicar.as.manifestações.e.mecanismos.que.fazem.criar.e.desaparecer.os.textos.literários.
texto-farol 1
Luz que vem de muito longe, de fernando Paixão
Fernando Paixão é poeta. Nasceu em Portugal e veio para o Brasil ainda menino. Foi editor da Editora Ática e tem se dedicado a muitos projetos ligados à
poesia. Gosta de se apresentar como um militante da palavra e um defensor implacável do valor da poesia. O trecho faz parte do livro O que é poesia, escrito para
uma importante coleção.
Do grito à poesia eletrônica?
Na.Grécia.lendária,.quando.era.o.início.da.primavera,.os.habitantes.se.dirigiam.aos.oráculos,.geralmente.
pequenas.grutas.ou.abismos.de.montanhas,.considerados.sagrados,.e.se.reuniam.em.torno.da.pitonisa,.que.
se.acreditava.na.época.ter.o.poder.e.a.capacidade.de.predizer.o.futuro..Ao.acompanhar.o.ritual.da.sacerdotisa,.todos.os.homens.se.punham.a.gritar,.fazer.seus.lamentos.e.dançar,.enquanto.ela.declamava.suas.profecias,.inspirada.nos.deuses.
Concebidos.para.estabelecer.contato.com.as.forças.das.divindades,.esses.rituais.se.transformavam,.pelo.
seu.brilho.e.encanto,.na.expressão.de.grandes.emoções.coletivas..Era.a.oportunidade.que.o.homem.tinha.de.
se.reunir.e.reconhecer.com.outros.homens.e,.dessa.maneira,.se.estabelecia.uma.comunhão.de.todos.no.mesmo.ritmo..Recebiam,.através.da.pitonisa,.a.luz.e.a.orientação.dos.deuses.
Mas,.por.que.isso.acontecia?
Afirmam.alguns.autores.que,.na.luta.pela.sobrevivência,.o.homem.primitivo.entendia.os.fenômenos.da.
natureza.predominantemente.de.acordo.com.as.concepções.religiosas..Isso.quer.dizer.que.os.mitos.eram.
criados.a.partir.da.própria.necessidade.de.se.explicar.a.causa.de.acontecimentos.que.o.homem.não.compreendia:.como.era.o.caso.da.chuva,.o.trovão,.a.morte,.a.seqüência.das.estações.etc..Por.causa.disso,.era.
muito.grande.a.importância.que.os.rituais.desempenhavam.dentro.da.vida.dessas.sociedades.
Em.tais.ocasiões.de.caráter.sagrado,.a.vontade.de.se.exprimir.aparecia.com.maior.vigor.entre.esses.homens..Pode-se.inclusive.imaginar.que,.para.se.aproximar.dos.deuses,.eles.faziam.da.linguagem.um.ato.puro..
Na.dança,.no.canto.e.na.poesia.oral..Cada.gesto.e.cada.palavra.tinham.para.eles.um.significado.vital,.em.
íntima.relação.com.os.mecanismos.da.vida.e,.na.magia.desses.momentos,.eles.reviviam.as.lendas.antigas..A.
linguagem.poética.acabava.tendo.um.sentido.purificador,.original.
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Com.o.passar.do.tempo,.os.dizeres.foram.se.repetindo.e.a.declamação.de.versos.se.tornou.predominante.
nos.ritos..(...)..A.abordagem.desses.costumes.ancestrais.gregos.não.nos.interessa.aqui.pelo.seu.aspecto.histórico,.já.que.não.pretendo.remontar.à.origem.e.à.evolução.da.poesia.através.dos.tempos,.mas.sim.pelo.seu.
valor.intrínseco..Isto.é,.o.que.se.deseja.enfatizar.é.que.nas.sociedades.primitivas.(assim.chamadas.na.falta.de.
outro.nome),.o.ser.humano.mantinha.uma.relação.muito.mais.criativa,.mágica.e.umbilical.com.a.linguagem.
do.que.temos.entre.nós.
Enquanto.naquele.tempo.a.expressão.poética.era.um.ato.de.criação,.praticado.por.todos.os.homens.que.
participavam.dos.rituais.–.e.a.condição.humana.assim.o.determinava.–,.atualmente.nas.sociedades.tecnológicas,.e.divididas.em.classes,.a.criação.e.a.convivência.com.a.poesia.ficou.sendo.o.privilégio.(ou.o.sacrifício?).
de.alguns.poucos.considerados.malucos.
E.não.foi.só.na.Grécia.que.a.poesia.teve.uma.importância.fundamental..São.inúmeros.os.poemas.egípcios.antigos.que.manifestam.poeticamente.uma.estreita.relação.com.a.experiência.da.cultura.do.povo,.intimamente.ligada.à.agricultura..Com.os.chineses.a.mesma.coisa,.e.também.com.boa.parte.dos.povos.orientais..
A.poesia,.em.alguns.casos,.quase.confunde.com.a.função.religiosa..E.alguns.filósofos,.o.italiano.Vicio.é.um.
deles,.consideram.que.a.poesia.constitui.a.própria.origem.das.línguas.
Isto.não.quer.dizer.que.as.sociedades.tecnológicas.e.modernas.não.produzem.poesia..É.claro.que.produzem,.e.até.de.ótima.qualidade,.como.nos.Estados.Unidos.da.América,.que.é.um.país.moderno.por.excelência,.e.onde.surgiram.alguns.dos.melhores.poetas.ocidentais.do.ultimo.século..De.maneira.radical,.podemos.
pensar.que.não.existe.sociedade.em.que.não.se.desenvolva.a.expressão.poética.
Mudou,.no.entanto,.a.função.que.a.poesia.desempenha.socialmente..Deixou.de.ser.a.expressão.coletiva.
de.religiosidade.para.ser.a.manifestação.dos.poetas.que.se.revoltam.contra.o.caráter.desumano.e.pouco.solidário.de.seu.tempo..Da.atividade.poética.já.não.participam.todos.os.homens,.em.conjunto,.mas.apenas.
aqueles.que,.expressando.seus.sentimentos.em.versos,.tentam.responder.à.pergunta.que.em.todos.desperta:.
o.que.é.viver.neste.lugar.e.nesta.hora?
Escrever.poemas.é.estar.constantemente.a.dar.respostas.a.essa.questão..Octavio.Paz,.notável.crítico.e.
poeta.mexicano,.é.um.dos.escritores.contemporâneos.que.têm.desenvolvido.fecundas.ideias.sobre.esse.tema..
No.seu.livro.“O.arco.e.a.Lira”,.ele.escreve:.“o.poeta.moderno.não.fala.a.linguagem.da.sociedade.nem.comunga.os.valores.da.atual.civilização..A.poesia.de.nosso.tempo.não.pode.escapar.da.solidão.e.da.rebelião,.a.não.
ser.através.de.uma.mudança.da.sociedade.e.do.próprio.homem”.
(...).Com.a.firme.intenção.de.resistir.à.massificação,.o.poeta.insiste.em.falar.dos.valores.fundamentais.do.
ser.humano:.o.amor,.a.solidariedade,.a.importância.da.morte,.etc.
E.enquanto.na.política.tradicional.e.nos.jornais,.quase.sempre.a.linguagem.é.usada.para.repetir.mensagens. sem. novidade,. apelando. muitas. vezes. para. o. sensacionalismo. ou. para. a. demagogia,. nos. livros. dos.
grandes.poetas.a.linguagem.permanece.viva.e.sua.leitura.é.fascinante..E.mais:.a.experiência.transmitida.nas.
palavras.desses.poetas.não.é.apenas.a.experiência.de.uma.só.pessoa,.mas.de.todos,.pois.o.seu.tema.continua.
a.ser.coletivo..Refere-se.à.minha,.à.tua,.à.nossa.existência.
A.poesia.continua.viva.entre.nós,.resistindo.a.todas.as.tempestades.
Fonte: Coleção Primeiros Passos – número 63 – O que é poesia
Editora Brasiliense – São Paulo – 6ª Edição – 1991
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texto-farol 2
Como e por que ler poesia, de Ítalo moriconi
Ítalo Moriconi é doutor em Letras e professor de literatura brasileira e comparada na universidade do Estado do Rio de Janeiro. Coordenou duas grandes obras
Os Cem Melhores Contos Brasileiros e Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século.
Em seu livro Como e por que ler poesia, o autor mostra que é possível entender
poesia e descobrir o prazer de buscar suas próprias interpretações.
A.palavra.poesia.apresenta.certa.flutuação.de.sentidos..Para.alguns,.soa.ameaçadora,.sugerindo.ou.lembrando.exercícios.difíceis.dos.tempos.de.escola..No.universo.literário,.é.tida.como.a.mais.refinada.das.paixões.. Em. princípio,. imagina-se. que. poetas,. assim. como. leitores. de. poesia,. sejam. indivíduos. singulares,.
atacados.por.uma.espécie.de.mania,.dizem.que.rara.e.inatural:.a.mania.de.ler.literatura,.mania.de.cultivar.as.
letras..Cultivar.as.letras.é.querer.saber.das.coisas,.é.cultivar.o.intelecto,.a.força.de.entendimento..Alguém.
deseja.enveredar.por.esse.caminho,.recomenda-se.leia.os.bons.romances,.descubra.os.filósofos.sérios,.aprenda.a.amar.poesia..Na.cama,.na.rede,.na.poltrona,.na.mesa.de.trabalho..Sempre.foi.assim..É.como.nasce.a.
tribo.dos.letrados..Para.a.tribo.dos.leitores,.a.poesia.traz,.sobretudo,.promessa.de.prazer..É.gostoso.ler.poesia..
Poesia.respira,.joga.com.pausas,.alterna.silêncios.e.frases.(os.versos)..Poesia.é.bonito.na.página,.é.festa.tipográfica..Festa.para.os.olhos..Ritmo.visual.que.vira.sonoro,.quando.lemos.o.poema.em.voz.alta..Imaginação.e.
sabedoria.combinadas.numa.certa.vertigem,.a.velocidade.das.estrofes..Linguagem.concentrada.que,.no.entanto,. pode. distender-se,. estender-se..Todos. os. cinco. sentidos. traduzidos,. por. meio. da. palavra,. em. coisa.
mental..Coisa.mental.que.se.pode.comunicar.pela.fala,.guardar.na.página.ou.na.memória,.que.nem.talismã.
Toda.linguagem.tem.seu.quê.de.poesia..Mas.a.poesia.é.onde.o.“quê”.da.linguagem.está.mais.em.pauta..A.
poesia.brinca.com.a.linguagem..Chama.atenção.para.possibilidades.de.sentido..Explora.significativamente.
coincidências.sonoras.entre.palavras..Fabrica.identidade.por.analogias,.através.das.imagens.ou.metáforas:.
mulher.é.flor,.rapaz.é.rocha,.amor.é.tocha..Nuvem.é.pluma..Pedra.é.sono.
Ocorre.que.a.palavra.poesia.abrange.sentidos.que.vão.além.da.linguagem.verbal,.oral.ou.escrita..Ela.
também.se.refere.a.um.universo.muito.mais.amplo.e.menos.exclusivo.ou.especializado.que.o.do.livro.e.
da.leitura..É.o.lado.além,.que.tem.a.ver.com.o.universo.todo.da.cultura,.tem.a.ver.com.o.ar.que.nos.
envolve..Um.filme.pode.ter.poesia..Um.gesto,.comum.ou.excepcional,.pode.ter.poesia..A.poesia.está.no.
ar..A.poesia.é.popular..A.poesia.está.na.boca.do.povo,.vem.da.boca.do.povo..Espera-se.que.a.poesia.
enquanto.arte.específica.das.palavras.de.algum.modo.revele.ou.esteja.articulada.com.essa.poesia.além-livro,.essa.poesia.da.vida.
Aliás,.a.poesia.da.vida.pode.ser.bem.rude..Nem.sempre,.ou.quase.nunca,.confunde-se.com.romantismos,.
delicadezas,.águas-de-cheiro..Descobrir.a.poesia.da.vida.tem.mais.a.ver.com.realismo.que.com.idealismos.
de.Polyanna..Brutalidade.jardim..Por.outro.lado,.aquilo.que.consideramos.“poético”.na.vida.está.menos.na.
própria.vida.que.nas.convenções.de.linguagem,.de.pensamento.e.sentimentos.que.nos.regem.enquanto.seres.
sociais..A.realidade,.tal.como.a.conhecemos,.é.produto.dinâmico.da.linguagem.humana.e.não.vice-versa..
Este.é.um.princípio.filosófico.fundamental.na.civilização.moderna.
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O.mundo.é.um.ato.de.criação.poética..Nós.todos.o.herdamos,.compartilhamos,.interferimos.mesmo.que.
não.queiramos..Interferimos.em.qualquer.perspectiva..Seja.como.religiosos.ou.místicos,.devotos.de.um.ou.
de.muitos.deuses..Seja.como.céticos,.devotos.da.ciência,.conformados.ao.fato.de.estarmos.limitados.ao.apenas.humano,.demasiadamente.humano.
O.poema,.ao.ser.lido.sobre.a.página,.ou.ouvido.com.atenção,.aproxima.o.leitor.do.poeta..Todo.leitor.ou.
leitora.de.poesia.é.um.pouco.poeta.também,.mesmo.que.não.profissional..O.ato.criador.do.poema.sobre.a.
linguagem.evoca.a.criação.poética.do.mundo.implícita.na.própria.existência.dela,.linguagem,.que.é.de.todos..
Por.isso.a.leitura.do.poema.ativa.o.poeta.que.somos,.o.criador.ou.a.criadora.que.somos,.nesse.sentido.amplo.
da.palavra..Daí.por.que.a.poesia.pede.tanto.para.ser.decorada..Mesmo.no.caso.de.poemas.mais.longos,.somos.levados.a.memorizar.os.trechos.que.mais.amamos..Quando.o.poeta.e.a.poeta.profissionais.escrevem.um.
poema,.sonham.em.transformá-lo.em.parte.integrante.da.intimidade.psíquica.de.seus.leitores..Como.disse.
o.poeta.anglo-americano.T.S..Eliot,.a.leitura.é.em.si.uma.experiência.de.vida..Somos.feitos.daquilo.que.vivemos.e.daquilo.que.lemos.
Fonte: Como e por que ler a poesia brasileira do século XX
Editora Objetiva, Rio de Janeiro, p. 7, 8, 9 e 10.
texto-farol 3
Poemas de forma fixa – Formas e gêneros tradicionais,
de norma goldstein
A autora é professora da Universidade de São Paulo e autora de diversas obras
de estudo da literatura. Em seus livros, busca aliar a teoria com muita liberdade de
análise poética.
Algumas.composições.em.verso.têm.um.padrão.fixo.determinante.de.sua.estrutura..O.mais.conhecido,.
dentre.os.poemas.de.forma.fixa,.é.o.soneto,.formado.por.dois.quartetos.e.dois.tercetos,.querido.dos.poetas.
de.todas.as.épocas..O.mais.popular.é.a.quadrinha,.o.quarteto.de.sentido.completo..Há.muitos.outros,.dentre.
os.quais.destaco.alguns,.em.rápida.descrição.
Balada:.feita.para.ser.cantada,.baseia-se.no.princípio.da.repetição.que.facilita.gravar.o.texto.na.memória..
A.mesma.ideia.ou.a.mesma.frase.repete-se.ao.término.de.cada.estrofe..Costuma.apresentar.três.oitavas.(estrofes.de.oito.versos),.geralmente.com.versos.de.oito.sílabas.
Vilancete: começa.com.um.“mote”.ou.motivo,.tema.a.ser.desenvolvido..O.mote.está.contido.numa.estrofe.curta.inicial..A.seguir,.vêm.as.voltas,.três.ou.mais.estrofes.maiores.que.desenvolvem.e.glosam.o.mote..Nas.
estrofes.da.volta.repete-se.um.dos.versos.do.mote.
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Ode:.entre.os.antigos.gregos.e.romanos,.ligava-se.à.música,.passando.depois.a.um.poema.lírico.em.que.
se.exprimem.os.grandes.sentimentos.da.alma.humana..Pode.celebrar.fatos.heróicos,.religiosos,.o.amor.ou.os.
prazeres..Sem.obedecer.a.regras.rígidas,.a.ode.costuma.ser.dividida.em.estrofes.iguais.pela.natureza.e.pelo.
número.de.versos.
Canção:.é.uma.composição.curta,.cujo.teor.pode.ser.ora.melancólico,.ora.satírico..Permite.todos.os.temas.
e.nem.sempre.se.destina.a.ser.cantada..Pode,.ou.não,.apresentar.estribilho.ou.refrão..As.“canções.nacionais”.
incorporam-se.à.tradição.de.todos.os.povos.
Madrigal:.composição.curta,.destinada.a.homenagear.alguém,.ora.com.galanteio,.ora.com.uma.confissão.
de.amor..Pode.ser.estruturado.em.qualquer.metro,.mas.geralmente.emprega.a.redondilha,.ou.mescla.versos.
de.6.e.de.10.sílabas.
Elegia:.composição.destinada.a.exprimir.tristeza.ou.sentimentos.melancólicos
Idílio: égloga ou pastoral:.composições.que.celebram.a.vida.no.campo,.a.natureza,.a.atividade.agrícola.e.
pastoril,.ou.seja:.o.bucolismo.
Rondó ou rondel:.sucedem-se.tipos.iguais.de.quadras.ou.estrofes.maiores,.em.versos.de.sete.sílabas..Os.
dois.primeiros.versos.de.uma.estrofe.são.retomados.adiante,.em.outra.estrofe.
Epitalâmio:.poema.composto.para.celebrar.um.casamento.
Triolé:.compõe-se.de.uma.ou.mais.oitavas.em.versos.de.sete.ou.oito.sílabas..Aparecem.dois.tipos.de.
rima..O.quarto.verso.repete.o.primeiro,.e.os.dois.versos.finais.da.estrofe.retomam.os.dois.primeiros.
Sextina:.compõe-se.de.seis.sextilhas,.geralmente.em.versos.decassílabos,.seguidos.de.um.terceto.final..Os.
versos.devem.terminar.com.palavras.de.duas.sílabas..As.palavras.finais.dos.versos.da.primeira.estrofe.devem.
reaparecer.em.versos.das.outras.estrofes.
Haicai:.tipo.de.poema.japonês,.composto.de.17.sílabas,.distribuídas.em.três.versos.apenas:.o.primeiro.de.
cinco,.o.segundo.de.sete,.e.o.terceiro.de.cinco.sílabas..Originalmente.sem.rima,.no.Brasil.vem.sendo.retomado.de.maneira.rimada..Consiste.na.anotação.poética.e.espontânea.de.um.momento.especial..
Fonte: Versos, sons, ritmos. Editora Ática, São Paulo, 6ª Edição, 1990, p. 55, 56 e 57.
texto-farol 4
Receitinha de sarau, de celinha nascimento
Celinha Nascimento é educadora, participa e organiza saraus em São Paulo.
Este texto foi escrito especialmente para esta apostila.
Esta.“receita”.é.apenas.uma.possibilidade.de.acontecer.de.um.sarau,.já.que.não.existem.(felizmente).modelos.oficiais.a.serem.seguidos.rigorosamente.
Resultado.de.muitos.saraus.realizados.em.várias.e.distintas.localidades.brasileiras,.é.como.uma.receita.de.
bolo.que.a.vovó.faz.com.maior.carinho.e,.mesmo.sem.saber.as.quantidades.exatas.ou.tempo.de.forno,.fica.
sempre.gostoso!
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154  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Nesta.receita,.o.sarau.começa.sempre.com.a.escolha.de.um.casal.de.mestre.de.cerimônia,.um.homem.e.
uma.mulher.escolhidos.sem.antecedência..Essa.é.uma.pitada.especial..O.casal.é.escolhido.pelo.padrinho.ou.
madrinha.do.sarau,.(padrinho.ou.madrinha.é.a.pessoa.que.oferece.o.sarau,.aquele.que.é.dono.da.casa.ou.
responsável.pelo.espaço.ou.atividade).e.referendado.pelos.participantes.através.de.uma.salva.de.palmas.ou.
outra.aclamação..Depois.de.aclamados,.o.casal.recebe.uma.flor.ou.buquê.–.para.a.mulher.–.e.um.chapéu.–.
para.o.homem..Flor.e.chapéu.embelezam.o.sarau.e.identificam.o.casal.que.cuidará.para.que.tudo.saia.bem..
Os.mestres.precisam.ser.bem.escolhidos.entre.os.presentes,.pois.levarão.as.atividades.até.o.fim.e.têm.a.tarefa.de.animar.a.todos.fazendo.com.que.participem.e.se.apresentem.
Depois.da.escolha,.o.padrinho.se.junta.ao.restante.do.grupo.e.os.mestres.iniciam.o.pedido.de.bênçãos.
que.servem.para.iluminar.filosófica.e.poeticamente.a.atividade.do.sarau.
O.primeiro.pedido.é.dos.mestres.de.cerimônia.
–.Nós,.Rodolpho.e.Lúcia,.mestres.dedicados.deste.encontro.de.sexta-feira,.pedimos.a.benção.para.Manuel.Bandeira.para.iluminar.nosso.sarau.e.colocar.ainda.mais.poesia.na.nossa.tão.poética.noite!.–(exemplo)
Cada.participante.vai.pedindo.a.benção.a.quem.deseja:.um.poeta,.um.músico,.alguém.querido.da.comunidade,.alguém.a.que.se.ama,.etc..A.benção.é.individual,.sem.censura.e.não.é.necessário.que.cada.participante. faça. sua. benção. isoladamente.. Os. pedidos. podem. acontecer. simultaneamente,. ecoando. em. todos. os.
espaços.do.salão.do.sarau..O.ambiente.fica.bonito.e.sonoro.com.cada.participante.fazendo.sua.evocação.sem.
ter.de.esperar.sua.vez.
Terminadas.as.bênçãos,.é.hora.de.aquecer.voz.e.coração..Todos.são.convidados.a.cantar.alguns.versos.de.
canções.conhecidas..Quem.começa.são.os.mestres.de.cerimônia.que.iniciam.(puxam).uma.canção.sem.necessidade.de.acompanhamento.instrumental..Não.é.preciso,.nem.recomendável,.que.se.cante.toda.a.canção,.
apenas.alguns.versos..Também.é.bom.que.a.música.escolhida.seja.conhecida.para.favorecer.que.os.participantes.acompanhem.com.alegria.e.realmente.possam.se.aquecer..Depois.de.alguns.versos,.passa-se a música
pra frente, ou.seja,.a.mestre.joga.a.flor.ou.buquê.para.alguém.escolhido..A.pessoa.que.recebe.o.buquê.começa.(puxa).–.imediatamente.–,.outra.música.e.também.canta.apenas.alguns.versos.e.também.passa.pra.frente.
e.assim.sucessivamente.
O. aquecimento. é. sempre. muito. gostoso,. pois. os. participantes. precisam. lembrar-se. de. uma. canção. e.
tentar.ser.acompanhado..Caso.o.sarau.tenha.muitos.participantes,.o.aquecimento.pode.ser.feito.em.duplas.
ou.trios,.o.importante.é.que.todos.cantem.um.pouquinho.para.realmente.aquecer.e.colocar.sua.memória.
poético-musical.em.alerta.
Todos.devidamente.aquecidos,.os.mestres.preparam.o.enredo-programação.do.sarau..Trata-se.agora.de.
anotar. nomes. das. pessoas. que. se. apresentarão. e. suas. atividades:. Música,. poesia,. contação. de. história,.
anedota,.dança..Os.mestres.devem.fazer.uma.programação.bem.organizada.buscando.alternar.as.atividades..Caso.aconteça.de.poucos.se.inscreverem,.cabe.aos.mestres.incentivar.o.grupo,.chamando.para.a.atividade.
Enquanto.os.mestres.organizam.as.apresentações,.pode-se.colocar.música.para.dançar,.poetas.declamando.em.CDs.ou.vídeos.ou.outra.programação.que.os.mestres.criarem.
Os.participantes.vão.se.apresentando.de.acordo.com.a.programação.feita.pelos.mestres.até.o.fim.da.lista.
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Dicas:
Levar.para.o.sarau.livros.ou.textos.soltos.de.poesia..Alguns.participantes.podem.ficar.com.desejo.de.declamar,.mas.talvez.não.se.lembrem.de.nenhum.verso,.então.poderão.recorrer.ao.arsenal.trazido..Quanto.mais.
contagiante.forem.os.mestres.de.cerimônia.e.as.apresentações,.mais.pessoas.ficarão.com.desejo.de.participar.
Dança.combina.muito.com.sarau,.e,.em.geral,.as.pessoas.têm.pouca.oportunidade.de.dançarem.juntas.em.
tempos.modernos..Valsas,.maxixes,.lundus.e.modinhas.que.relembram.os.saraus.antigos.dão.um.toque.de.
leveza.e.cadência.aos.encontros.poéticos.
Aproveitar.o.espaço.para.outras.atividades.literárias:.a.troca.e.empréstimo.de.livros,.o.varal.de.textos.
inéditos,.homenagem.a.algum.poeta.especial,.etc.
Procurar.fazer.saraus.rotineiros:.o.grupo.estará.sempre.mais.à.vontade.e.cada.vez.aprendendo.e.participando.com.mais.energia,.levando.seus.textos.e.se.esmerando.na.atividade.
Os.saraus.estão.voltando!.Muitos.leitores.e.amantes.da.poesia.estão.reunindo.amigos,.alunos.e.público.
em.geral.para.essa.atividade.que.já.estava.sendo.esquecida..Veja.o.exemplo.abaixo..Não.é.inspirador?
Um exemplo a ser seguido – o Sarau da cooperifa em São Paulo
Há.certo.brilho.no.olhar.dos.que.se.amam..O.sinal.de.uma.estima.mútua,.uma.segurança,.uma.sensação.
de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,.quebrar.barreiras,.contestar.obstáculos..Esse.brilho.
anda.raro.por.aí..Vez.por.outra.o.encontramos.num.casal.apaixonado.que.passa.abraçadinho.distraidamente.
pela.rua..Na.troca.de.olhares.entre.uma.mãe.e.um.filho..Na.gratidão.do.amigo,.cujos.olhos.sorriem.pelo.
simples.fato.de.ter.sido.assim.escolhido.
Em.um.lugar.muito.especial,.um.boteco,.como.alguns.o.chamam,.esse.brilho,.de.tão.abundante,.se.torna.
intenso,.beirando.o.ofuscante..Lá,.pessoas.se.abraçam,.se.ouvem.e.se.aplaudem.ao.compartilhar.sentimentos,.
emoções,.angústias.e.prazeres.destilados.em.forma.de.poesia..Toda.quarta-feira,.das.oito.à.meia.noite,.no.bar.
do.Zé.Batidão,.no.chamado.Sarau.da.Cooperifa.(Cooperativa.de.Cultura.da.Periferia).pode-se.ver.pessoas,.
em. espírito. comunitário,. valorizando. o. outro,. mas,. principalmente. sentindo. e. demonstrando. aquilo. que.
cantava.a.música.The greatest love of all.(o.maior.amor.de.todos):.“aprender.a.amar.a.si.mesmo.é.o.maior.amor.
de.todos”..Isso.pode.não.ser.nenhuma.novidade.e.parecer.até.um.clichê,.porém,.nunca.foi.tão.difícil,.nem.
tão.necessário,.promover.esse.tipo.de.estima.nas.pessoas.
Longe.de.ser.um.lugar.comum,.este.sarau.abriga.exemplos.de.pessoas.que.saíram.de.uma.situação.de.
maus.tratos.e.desesperança,.e.hoje.caminham.confiantes.e.seguros.para.frente.do.palco.improvisado.do.
bar.e.recitam.orgulhosamente.seus.poemas..“Adolescentes.antes.envolvidos.com.drogas,.sem.muito.rumo.
na.vida,.hoje.procuram.ler.cada.vez.mais.para.aprender.palavras.novas.e.bonitas.para.seus.poemas”..Através.do.Sarau.da.Cooperifa,.a.comunidade.descobriu.que.pode.produzir.cultura.de.boa.qualidade.e,.principalmente,.que.fale.na.sua.linguagem,.dos.seus.sentimentos.e.de.suas.necessidades.e.vontades..Tanto.os.
poetas.quanto.as.poetisas.da.Cooperifa,.quanto.todos.que.ali.pertencem,.compartilham.da.mesma.opinião.
sobre.a.importância.do.sarau:.com.o.peito.inflado.e.o.eterno.brilho.no.olhar,.aprender.o.amor.maior.de.
todos,.a.auto-estima..E.é.esse.amor.a.si.mesmo,.essa.dignidade,.esse.respeito.por.si.e.pelo.próximo,.que.
poderá.gerar.cidadãos.seguros,.com.uma.sensação.de.pertencimento,.uma.vontade.de.ultrapassar.limites,.
de.quebrar.barreiras.e.de.contestar.obstáculos..Se.isso.não.for.cidadania,.o.que.mais.será?
Fonte: Revista Eletrônica do Centro de Estudos da Cidade – diverCIDADE
Boletim abril-maio de 2009
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Apostilas das oficinas
de teatro
cAPAcitAção DoS grUPoS LocAiS De teAtro
capacitação e apresentações teatrais
É.parte.da.proposta.do.projeto.trazer.para.promover.a.capacitação.de.um.grupo.de.teatro.local,.por.meio.
de.uma.oficina.específica,.ministrada.por.profissionais.da.área.teatral,.o.que.possibilitará.a.adaptação.de.
obras.literárias.para.o.teatro.no.decorrer.do.ano.do.projeto.
O.projeto.prevê.a.concretização.de.peças.teatrais.em.praças.públicas,.bibliotecas.e.escolas,.sendo.funda-
mental.a.transmissão.aos.participantes.da.noção.de.que.o.teatro.pode.acontecer.em.qualquer.espaço.
De.acordo.com.o.cronograma.estabelecido,.a.capacitação.dos.atores.acontecerá.nos.meses.de.fevereiro.e.
março.e.já.a.partir.do.mês.de.março.alguns.dos.grupos.teatrais.começarão.as.apresentações.nas.suas.cidades.
e,.se.possível,.em.cidades.vizinhas.
Diretrizes do projeto na área de teatro:
1. serão quatro os contos montados durante o ano;
2. é importante que a montagem de um dos contos vise especificamente o público infantil;
3. o projeto deve contemplar a programação de reforços de capacitação;
4. é importante promover a integração mais efetiva entre as oficinas de leitura oferecidas aos municípios e as
apresentações teatrais, por meio de uma gama de ações das quais participarão os grupos teatrais;
5. a renovação do acervo local, bem como a antecipação de títulos para as oficinas, devem também contemplar as capacitações teatrais. Uma pequena biblioteca técnica de títulos, que permanecem sob sua responsabilidade do produtor local no decorrer do ano deve circular entre os atores e devem ser repassados à uma
biblioteca pública municipal indicada pela prefeitura ao final do ano.
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Algumas perguntas e respostas
1. Quem são os agentes locais (atores) que participam dessa oficina? Quais as tarefas após a sua conclusão?
São atores, diretores, professores, ensaiadores, dramaturgos, profissionais liberais ou não, estudantes, funcionários públicos, enfim, todo tipo de entusiasta e interessado em um trabalho de aproximação entre a literatura e a cena teatral. O grupo de atuação tem entre 6 (mínimo) e 10 (máximo) vagas, sendo destinado a
pessoas com o ensino médio completo.
Após a oficina de quatro dias, o grupo formado utilizará o modelo aprendido para a montagem de pequenas
peças teatrais baseadas outros textos curtos de diferentes autores e estilos para apresentação em diferentes
espaços no município.
2. como será a atuação do grupo formado? Que responsabilidades terá?
Após a oficina, o grupo terá as indicações fundamentais e um esboço de uma primeira montagem. A partir
daí, terá aproximadamente 30 dias para – por meio de encontros, ensaios, produções – dar um acabamento
compatível, que possibilite a apresentação pública da peça.
Caberá ao grupo criar sua divisão interna (quem dirige, quem presta assistência, quem cuida do cenário,
figurino, luz, etc.), bem como estipular seu cronograma de trabalho (ensaios e produção).
Pronta a peça (após os 30 dias de ensaio), o grupo inicia uma série de apresentações em seu próprio município e naqueles indicados pelo projeto.
As datas de apresentações nas devidas cidades serão definidas pelo produtor e pela coordenação do projeto.
(veja mais detalhes no Guia de Produção Teatral)
3. Quantas peças serão montadas? e quando e onde serão apresentadas?
O grupo tem a responsabilidade de montar (ensaiar e produzir) e apresentar quatro diferentes peças em sua
cidade em um ano, sendo duas montagens no primeiro semestre (entre março e junho) e outras duas no
segundo semestre (entre agosto e novembro); durante o mês de julho – férias – não haverá apresentações
teatrais. O projeto ocupa um período total de nove meses.
Explicando melhor: o ciclo de cada peça é de aproximadamente dois meses: no primeiro mês o grupo ensaia e produz a peça (cenário, figurino, iluminação, etc.) e no segundo mês apresenta.
4. como será a relação com a coordenação do projeto após os quatro dias de oficinas?
O projeto estabelece um elo permanente de apoio para as questões inerentes à montagem e à produção,
uma espécie de supervisão à distância – por meio de contatos telefônicos e correio eletrônico, além do
envio de material didático e leituras.
Cada grupo estabelecerá o seu interlocutor que fará a ponte grupo – produção – coordenação do projeto. Esse
interlocutor (que chamamos de “produtor local”) necessariamente participa também da parte artística do projeto.
O próprio Diário de Bordo, que começará a ser produzido durante a Oficina, será um guia importante sobre
a história do processo do grupo, seus produtos e suas consequências. E a qualquer momento, fonte de consulta para dúvidas e procedimentos.
Além disso, o Grupo receberá, por ocasião da Oficina de Capacitação, um conjunto de livros significativos
de apoio ao cotidiano dos ensaios e exercícios do grupo. Ao final do ano, esses livros – em bom estado de
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conservação deverão ser doados a uma biblioteca pública municipal para que outros cidadãos possam fazer
uso desse material.
5. existe algum evento de reforço nessa capacitação? Quando?
O projeto prevê um segundo momento de Capacitação para os atores do projeto, ainda no primeiro semestre. Esse reforço consistirá de Oficina de Capacitação de três dias.
Ressaltamos que, no decorrer do programa e da supervisão permanente, serão disponibilizados pela coordenação do teatro materiais para reciclagem, leitura e reflexão, sempre que necessário.
6. como se dá a participação do músico no grupo?
Além dos atores e produtor(a) (que também participa artisticamente no grupo), o projeto propõe que tenhamos a participação de um músico.
Com isso, proporcionamos um acréscimo na qualidade artística das montagens e ganhamos um gama enorme de possibilidades a serem exploradas para cada conto.
Pode ser um músico profissional ou amador – ou mesmo algum ator participante que domine algum instrumento musical.
Proposta para continuidade do trabalho
Sobre o coletivo
O.grupo.deve.ter.a.consciência.de.que.a.montagem.de.uma.peça.–.por.menor.que.seja.seu.“tamanho”.–.
exige.dos.participantes.determinada.dedicação..Apresentamos.abaixo.uma.proposta.sobre.a.sequência.do.
trabalho,.que.deve.ser.adaptada.à.realidade.do.grupo,.do.local.e.dos.participantes:
 marcar pelo menos dois ensaios por semana. Esse número poderá ser intensificado na medida em que se
aproxima a data de estreia;
 ter claro o que foi combinado (o “contrato” do grupo) sobre as questões de disciplina de trabalho, principalmente no que se refere ao horário e à presença. Não relativizar a indisciplina de quaisquer participantes: o
Teatro é uma arte coletiva e faltas e atrasos são nocivas ao todo, mas não é por isso que o trabalho deve parar;
. coletivizar telefones e/ou e-mails. E utilizá-los como instrumentos efetivos para a solução de problemas que
não dependam da reunião coletiva;
. realizar coletivamente uma proposta de cronograma de produção e da estrutura dramática;
. a qualquer momento, o grupo pode sentir necessidade de rediscutir o seu “contrato” de conduta grupal. Da
mesma forma que “limpar a casa” é saudável (e sempre urgente), essa atividade não pode ocupar o espaço
dos ensaios artísticos. Procurem reservar tempos extraensaios para discussões sobre as relações grupais e
pessoais;
. colocar as metas de realização passo a passo.
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160  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
exemplo: mês X
dia 2
Início dos ensaios
dia 4
Levar figurinos para visualização de possibilidades
9
dia
Primeira análise geral da estrutura trabalhada
dia 15
Divisão das tarefas do grupo (sonoplastia, figurino etc)
dia 28
Apresentação da peça para o próprio grupo
. estar sempre em comunicação com o responsável do local de ensaio e/ou pelo projeto na região (diretor do
departamento, professor designado pela prefeitura, chefe do equipamento, etc.);
. ter certeza da disponibilidade do espaço de ensaio durante os horários e períodos de trabalho e, caso contrário, prever opções. Zelar pelo espaço de trabalho cedido – isso interfere diretamente na qualidade dos
ensaios;
. iniciar todos os dias de ensaio com um aquecimento (realizado em círculo) e um jogo (cantiga de roda,
pega-pega...) para harmonizar as qualidades de energia do coletivo. Importante: escolher uma pessoa diferente para propor o aquecimento e jogo todos os dias;
. realizar exercícios de relação e confiança entre os atores. Isso ajuda a consolidar um pensamento em comum e um agradável ambiente de trabalho;
. dar continuidade e aprofundar as possibilidades de registros do Diário de Bordo (Manual da Experiência) – a
qualquer momento, os seus registros podem ser os indicadores de soluções que muitas vezes esquecemos.
Além do caderno coletivo, cultive o hábito de registrar seu próprio Diário Pessoal;
. buscar um resultado concreto em cada dia de ensaio;
. realizar uma avaliação em círculo no final de cada ensaio. Importante: preservar esse tempo para que não
haja pressa na avaliação;
. finalizar cada ensaio com uma canção ou jogo para harmonizar as energias do coletivo;
. exercitar o aprendizado da “escuta”. Quando nos propomos a deixar o outro terminar a sua fala, para daí
então podermos falar, essa relação aos poucos se torna orgânica. Ao contrário disso, o formato orgânico que
o grupo vai estabelecendo é do atropelo e do caos;
. respeito e sabedoria em relação às diferenças do outro. Sempre.
Sobre a estrutura dramática
. Aprofundar o entendimento das orientações dadas durante a capacitação.
. Trazer para o grupo material que complemente, enriqueça, aprofunde o conteúdo com que estamos trabalhando.
Ex: outro texto literário que fale sobre o tema, matéria de jornal sobre um caso semelhante, uma história
semelhante que alguém lembrou, fotos da época em que se passa a história ou imagens que lhe venham a
mente sobre o clima onde se passa a ação (pode ser um quadro, uma escultura, uma fotografia...). Assim,
aos poucos, todos irão buscando o mesmo clima para a cena;
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. Levantar exercícios que contribuam para o aprofundamento da matéria.
. Exercitar as possibilidades do espaço (ex: onde pode ser feita cada cena). Isso é fundamental nesse projeto,
onde nem sempre contaremos com locais convencionais para apresentação e realizaremos o trabalho em
praças e locais abertos, sujeitos a todo tipo de intempérie e de interferências externas.
. Exercitar as possibilidades das narrações e dos diálogos, experimentando vários narradores e tendo em vista
que uma história é sempre contada baseada em um ponto de vista.
. Buscar sempre a melhor visualização e compreensão do público do que está sendo dito ou acontecendo.
. A dinâmica da peça: cada acontecimento tem um ritmo próprio. As sequências desses acontecimentos resultam em uma dinâmica específica. É necessário buscar uma dinâmica que cause interesse ao público.
. Lembrar que sempre deve haver ações. O texto deve ser dito em consequência da ação. Mesmo uma cena
narrativa deve ser feita de narrativa de ações. Sem ação o teatro se enfraquece.
. Não mostrem tudo, não contem tudo, não deem todas as imagens prontas para o público, devemos sempre,
mantendo a clareza da história que estamos contando, deixar um espaço para o público trabalhar com a
imaginação também.
. Buscar o equilíbrio entre prazer/diversão e o comprometimento/concentração (Importante: essas duas partes
são essenciais para a realização de qualquer obra artística!).
Pequena bibliografia sugerida
Anatol.Rosenfeld,.O teatro épico,.ed..Perspectiva
Augusto.Boal,.Jogos para atores e não-atores,.ed..Civilização.Brasileira
Teatro do oprimido e outras poéticas políticas,.ed..Civilização.Brasileira
Elie.Bajard,.Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito,.ed..Cortez.
Fernando.Peixoto,.Brecht.–.Vida e obra,.ed..Paz.e.Terra
Walter.Benjamin,.Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política,.ed.Brasiliense.–.“O.Narrador”
lngrid.Dourmien.Koudela,.Brecht: um jogo de aprendizagem,.ed..Perspectiva
Jogos teatrais,.ed..Perspectiva
Texto e jogo,.ed..Perspectiva
Um vôo brechtiano,.ed..Perspectiva
J.Guinsburg,.João.Roberto.Faria.e.Mariângela.Alves.de.Lima,.Dicionário do teatro brasileiro,.ed..Perspectiva.
José.Antonio.Pasta.Jr.,.–.Trabalhos de Brecht,.ed..Atica
Maria.Lúcia.de.Barros.Pupo,.Entre o mediterrâneo e o atlântico, uma aventura teatral,.ed..Perspectiva
Manfred.Werkwerth,.Diálogo sobre a encenação,.ed..Hucitec
Patrice.Pavis,.Dicionário de teatro,.ed..Perspectiva
Paulo.Freire,.Pedagogia da autonomia,.ed..Paz.&.Terra
Peter.Brook,.O espaço vazio,.ed..Civilização.Brasileira
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162  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
A porta aberta,.ed..Civilização.Brasileira
Viola.Spolin,.Improvisação para o teatro,.ed..Perspectiva
Jogos teatrais: o fichário de Viola Spolin,.ed..Perspectiva
Jogos teatrais no livro do diretor,.ed..Perspectiva
Relação de títulos afins ao nosso trabalho e que podem ser doados às bibliotecas dos municípios:
teoria e estudos teatrais
Arte.poética.–.Aristóteles.(Martin.Claret)
Construção.da.personagem,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)
Criação.do.papel,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)
Diário.de.trabalho.–.Volume.II.–.Brecht,.Bertolt.(Rocco)
Entre.o.mediterrâneo.e.o.Atlântico.–.Pupo,.Maria.Lúcia.(Perspectiva)
Estudos.sobre.teatro.–.Brecht,.Bertolt.(Nova.Fronteira)
História.concisa.do.teatro.brasileiro.–.Prado,.Décio.de.Almeida.(Edusp)
Improvisação.para.o.teatro.–.Spolin,.Viola.(Perspectiva)
Jogos.para.atores.e.não-atores.–.Boal,.Augusto.(Civilização.Brasileira)
Jogos.teatrais.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva)
Jogos.teatrais.–.O.fichário.de.Viola.Spolin.–.Koudela,.Ingrid.Dourmien.(Perspectiva)
Manual.do.ator.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)
Porta.aberta,.A.–.Brook,.Peter.(Civilização.Brasileira)
Preparação.do.ator,.A.–.Stanislavski,.Constantin.(Civilização.Brasileira)
Shakespeare.–.biografia.(L&PM.Pocket)
Dramaturgia
Adultérios.–.Allen,.Woody.(L&PM.Pocket)
Alegres matronas de Windsor, As.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Antígona.–.Sófocles.(L&PM.Pocket)
Antônio e Cleópatra –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Auto da barca do inferno.–.Vicente,.Gil.(L&PM.Pocket)
Auto da compadecida.–.Suassuna,.Ariano
Bandoleiros, Os.–.Schiller.(L&PM.Pocket)
Bem está o que bem acaba –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
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Apostilas das oficinas de teatro  163
Bonde chamado desejo, Um –.Williams,.Tennessee.(L&PM.Pocket)
Bruxinha que era boa e O rapto das cebolinhas, A.–.Machado,.Maria.Clara
Celestina, A.–.Rojas,.Fernando.de.(L&PM.Pocket)
Comédia dos erros, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Don Juan.–.Molière.(L&PM.Pocket)
Édipo Rei.–.Sófocles.(L&PM.Pocket)
Eruditas, As.–.Molière.(L&PM.Pocket)
Falecida, A.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)
Fedra.–.Racine.(L&PM.Pocket)
Fenícias, As –.Eurípides.(L&PM.Pocket)
Flávia, cabeça, tronco e membros.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket)
Hamlet.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Henrique V –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Histórias de Shakespeare.–.Charles.e.Mary.Lambe.(Ática)
Homem do princípio ao fim, O.–.Fernandes,.Millôr.(L&PM.Pocket)
Inimigo do povo, Um.–.Ibsen.(L&PM.Pocket)
Jardim das cerejeiras, O –.Tchekhov,.Anton.(L&PM.Pocket)
Júlio César.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Liberdade, liberdade.–.Fernandes,.M..E.Rangel,.F..(L&PM.Pocket)
Lisístrata – A Greve Do Sexo,.Aristófanes.(L&PM.Pocket)
Macário.–.Azevedo,.Álvares.(L&PM.Pocket)
Macbeth.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Mercador de Veneza, O.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Megera domada, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Muito barulho por nada –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Noite de Reis.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Noviço, O.–.Pena,.Martins.(L&PM.Pocket)
Otelo.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Pigmaleão.–.Shaw,.G..Bernard.(L&PM.Pocket)
Pluft, o fantasminha –.Machado,.Maria.Clara
Rei Lear –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Ricardo III –.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Romeu e Julieta.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Santa Joana dos matadouros, A.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra)
Santo e a porca, O.–.Suassuna,.Ariano.( José.Olympio)
Sete contra tebas, Os –.Ésquilo.(L&PM.Pocket)
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164  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Sonho de uma noite de verão.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Tempestade, A.–.Shakespeare,.William.(L&PM.Pocket)
Teatro completo.–.diversos.volumes.–.Brecht,.Bertolt.(Paz.&.Terra)
Tragédias cariocas –.vol..2.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)
Vestido de noiva.–.Rodrigues,.Nelson.(Nova.Fronteira)
outros títulos de interesse
Contadores de histórias – Acordais.–.Regina.Machado.(DCL)
Do mundo da leitura para a leitura do mundo –.Marisa.Lajolo.(Ática)
O ofício do contador de histórias (Martins.Fontes)
Procure-os e estude-os na biblioteca de sua cidade!
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guia de produção teatral
introdução
Este.guia.tem.o.intuito.de.sistematizar.a.condução.das.produções.teatrais.do.projeto..Isso.nos.ajudará.a.
pautar.o.número.de.apresentações.que.o.projeto.coordenará.durante.o.ano.
Além.disso,.visamos.com.esse.documento.partilhar.informações.acerca.da.produção.teatral..Dicas.que.
podem.servir.como.ajuda.em.um.campo.tão.amplo.e.muitas.vezes.imprevisível.como.esse.
Produzir.um.espetáculo.teatral.requer.muito.jogo.de.cintura.para.lidar.com.o.inesperado..E,.exatamente.
por.isso,.a.criatividade.para.resolver.problemas.e.a.capacidade.de.vislumbrar.o.que.pode.ou.não.ser.realizado.
é.fundamental!
Pré-produção
1. Projeto – Organizar um projeto
O.primeiro.passo.da.etapa.de.pré-produção.é.organizar.no.papel.as.ideias.artísticas..Qualquer.parceiro.
que.o.grupo.busque.precisa.saber.quais.são.os.passos.artísticos.desejados.pelo.grupo,.qual.o.texto.escolhido,.
a.proposta.de.encenação,.etc.
O projeto pode conter os seguintes itens:
a. histórico do grupo – Como foi formado e outras informações relevantes;
b. histórico da peça – Porque da escolha do texto e outras informações relevantes sobre autor, data em que o
texto foi escrito, etc;
c. sinopse;
d. ficha técnica;
e. currículos breves dos integrantes: atores e demais artistas envolvidos;
f. necessidades técnicas (se o projeto se destinar a pedido de espaço para apresentações) ou necessidades
materiais;
g. contato do grupo (contendo e-mail, telefones e nome do responsável);
h. anexos – Fotos e material de imprensa, caso o grupo possua.
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166  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
Release para apoiadores culturais
A.busca.de.parceiros.que.doem,.emprestem,.permutem.materiais.pode.ser.um.bom.caminho.para.produzir.um.espetáculo..Muitas.vezes,.uma.produção.teatral.de.pequeno.porte.é.“salva”.pelos.parceiros.chamados.
apoiadores.culturais,.que.podem.fornecer.diversos.tipos.de.produto..Tecidos,.gráfica.para.imprimir.material.
de.divulgação.e.qualquer.outro.tipo.de.produto.pode.ser.conseguido.gratuitamente.em.troca.de.publicidade.
da.logomarca.da.empresa.parceira.nas.peças.de.divulgação.do.espetáculo.
Para.isso,.faz-se.um.pequeno.release.em.que.os.elementos.principais.do.espetáculo.são.apresentados.ao.
futuro.parceiro..É.melhor.que.seja.um.release.curto,.de.fácil.leitura.e.com.ênfase.nos.principais.itens.que.
chamem.a.atenção.para.a.peça,.no.intuito.de.consolidar.parcerias.
Nesse.release,.podemos.colocar.alguns.itens.do.projeto,.como:.histórico.da.montagem.e.do.grupo,.ficha.
técnica.e.locais.de.apresentação,.público-alvo.e.os.materiais.necessários.
Release para a divulgação da apresentação
O.release.para.a.divulgação.deverá.conter:
a. apresentação do projeto Letras de Luz (fornecido pela coordenação do projeto);
b. dados específicos de cada grupo: nome do espetáculo, autor, diretor, sinopse, datas, locais e horários de
apresentação, destacando que é uma apresentação com entrada franca, e contato do responsável pela assessoria de comunicação ou imprensa;
c. outras informações, como fotos da peça e currículos (em formato texto, contando somente as informações
mais relevantes) de alguns dos participantes, podem ser incluídas, caso seja necessário.
Produção
1. Datas e os locais para a apresentação: necessidades do espetáculo e possibilidades
As.datas.e.os.locais.para.apresentações.deverão.ser.organizados.pelos.produtores.depois.de.consultar.os.
integrantes.do.grupo.
Porém.o.grupo.deverá.seguir.o.cronograma.de.trabalho.estipulado.pela.coordenação.do.projeto..Os.períodos.destinados.aos.ensaios.e.às.apresentações.teatrais.deverão.ser.cumpridos.pontualmente.
IMPORTANTE:.uma.data.agendada.para.a.apresentação.não.deverá.ser.desmarcada.ou.modificada..Além.
de.atrapalhar.o.andamento.geral.do.projeto.(que.contém.outras.ações.simultâneas,.como.oficinas.de.leitura),.o.
cancelamento.de.uma.data.pré-agendada.prejudica.o.trabalho.de.divulgação.realizado.anteriormente.
As.informações.completas.sobre.as.apresentações.deverão.ser.enviadas.pelo.produtor.do.grupo.para.a.
coordenação.do.projeto.na.data.prevista.em.cronograma..O.não-cumprimento.dessa.data.também.prejudica.o.andamento.do.projeto,.bem.como.sua.divulgação..As.informações.que.deverão.ser.enviadas.são:
a. data e horário das apresentações;
b. local da apresentação com endereço completo, instalações – Se a apresentação será feita em teatro, sala,
biblioteca, rua, etc.;
c. quantidade de público previsto, duração da peça e status da apresentação – Confirmada ou a confirmar. Se
houver alguma informação pendente, o produtor deverá marcar a confirmar. Se as informações estiverem completas o produtor deverá considerar a apresentação confirmada e, nesse caso, a data não poderá ser alterada.
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Guia de produção teatral  167
Todas.as.informações.deverão.ser.repassadas.à.coordenação.para.a.aprovação.geral.dos.calendários..O.
quanto.antes.esses.locais.e.datas.de.apresentações.forem.definidos.e.confirmados,.melhor.serão.o.trabalho.
de.divulgação,.a.adaptação.dos.atores.ao.espaço,.a.organização.de.um.evento.que.faça.a.diferença.no.dia.a.
dia.da.cidade.
O.produtor.do.grupo.poderá.procurar.junto.às.prefeituras.e.aos.demais.parceiros.as.datas.mais.expressivas.no.calendário.da.cidade..Ou.seja,.unir.as.apresentações.do.projeto.aos.eventos.festivos.da.cidade,.às.festas.já.previstas.no.calendário.cultural..Dessa.forma,.aproveitamos.de.um.evento.que.já.será.
amplamente.divulgado.para.incluirmos.as.apresentações.teatrais,.facilitando.a.divulgação.da.peça.e.do.projeto,.acrescentando.mais.público.e.tornando.a.apresentação.teatral.mais.rica.
As.datas.escolhidas.e.os.horários.para.as.apresentações.devem.ter.como.prioridade.facilitar.o.acesso.do.
público.ao.evento..Cada.cidade.tem.uma.realidade.que.deverá.ser.analisada.pelo.produtor.no.intuito.de.
atingir.o.maior.número.possível.de.espectadores..Cada.produtor.local.deverá.analisar.a.especificidade.de.sua.
região.ao.agendar.datas.e.horários..As.apresentações.também.poderão.ser.agendadas.em.escolas.para.um.
público.predeterminado,.mas.recomenda-se.um.maior.número.de.apresentações.abertas.ao.público.em.geral,.
ou.seja,.as.apresentações.devem.ser.realizadas.preferencialmente.em.locais.públicos.
Lembramos. que. os. locais. normalmente. tidos. como.“ideais”. para. apresentações. teatrais,. os. palcos.
italianos,.podem.ser.utilizados..Porém.um.dos.conceitos.do.Projeto.Letras.de.Luz.é.a.apresentação.em.
espaços.não.convencionais..Essa.escolha.não.deve.ser.tida.como.uma.possibilidade.menor,.e.sim.um.
enriquecedor.da.apresentação.teatral..O.espaço.cênico.é.um.dos.grandes.responsáveis.pelo.sucesso.de.
uma.montagem.teatral..Ele.pode.transportar.o.espectador,.criando.climas,.potencializando.a.comunicação.entre.interlocutor.e.texto,.ajudando.o.ator.a.criar.imagens.para.a.sua.ação..Logo,.um.espaço.cê-
nico.não.convencional.desperta.no.público.um.interesse.maior,.aumentando.as.chances.de.comunicação.
entre.ator.e.público.
Dependendo.da.proposta.da.encenação.e.do.próprio.texto,.as.apresentações.podem.ser.agendadas.em.
locais.alternativos,.como.salas,.arenas,.casarões,.ruas,.praças,.bibliotecas,.escolas,.coretos,.etc..O.espaço.cênico.escolhido.poderá.potencializar.o.texto.literário.
Observação:.em.caso.de.programação.ao.ar.livre,.o.produtor.deve.prever.junto.à.municipalidade.um.local.
alternativo.para.apresentação.em.caso.de.intempérie.
2. Organização das necessidades do espetáculo
Todo.o.material.necessário.para.a.realização.de.um.espetáculo.deve.ser.listado.pelo.grupo..Com.base.
nessa.lista.de.necessidades,.integrantes.do.grupo.e.produtor.deverão.verificar.a.melhor.maneira.de.disponibilizar.materiais.e.objetos.cênicos..A.produção.do.espetáculo.deverá.ser.simples.e.adaptada.à.verba.que.os.
grupos.terão.para.realizá-lo.
Soluções.criativas.e.baratas.agregam.mais.ao.espetáculo.do.que.buscar.grandes.realizações,.difíceis.de.
viabilizar.
O.trabalho.em.grupo.requer.o.envolvimento.de.todos.os.seus.integrantes..Muitas.vezes,.temos.um.objeto.difícil.de.encontrar,.portanto,.quanto.maior.o.número.de.pessoas.envolvidas.nessa.busca,.maior.a.chance.
de.encontrá-lo..O.produtor.poderá.distribuir.tarefas.no.grupo.para.que.todos.os.seus.integrantes.estejam.
envolvidos.na.produção.
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A.figura.do.produtor.organiza.as.necessidades,.faz.os.contatos.com.a.equipe.do.projeto,.contata.os.parceiros.nas.prefeituras,.agenda.datas,.pensa.em.estratégias.de.divulgação,.etc..Porém.os.membros.do.grupo.
devem.saber.que.o.sucesso.desse.projeto.é.de.responsabilidade.de.todos.
Orçamento
Sempre.que.for.possível,.procure.encontrar.uma.parceria.que.viabilize.materiais.a.custo.zero.(tecidos.para.
figurinos.e.cenários,.madeiras,.móveis,.impressão.gráfica,.etc.)..Façam.sempre.uma.previsão.de.gastos.para.
não.terem.problemas.depois.
Apoios culturais/empréstimos de itens/parcerias
Os.apoiadores.culturais.serão.parceiros.fundamentais.nesse.percurso,.para.o.empréstimo.ou.a.doação.de.
materiais.necessários.
Para.os.itens.emprestados,.é.necessário.devolvê-lo.em.perfeitas.condições.
Parcerias.com.gráficas.e.órgãos.públicos,.como.prefeituras,.etc..são.muito.bem-vindos.para.a.realização.
de.outras.necessidades,.mas.não.se.esqueça.de.aprovar.com.a.coordenação.do.projeto.
3. Divulgação
A.divulgação.deverá.ser.feita.de.acordo.com.o.calendário.de.cada.cidade..Depende.da.demanda.de.jornais.
e.revistas.e.do.tempo.de.antecedência.necessário.para.o.envio.de.material..Outros.tipos.de.publicidade,.como.
flyers.distribuídos.em.bares,.cabeleireiros,.escolas,.faculdades,.lojas,.restaurantes,.carros.de.som,.etc.,.podem.
funcionar.de.acordo.com.o.público-alvo.e.com.a.cidade.
4. Temporada/apresentações extras
A.quantidade.de.apresentações.de.cada.conto.será.definida.pela.coordenação.do.projeto.de.acordo.com.
o.orçamento.e.o.cronograma.previstos.no.início.dos.trabalhos..Ao.final.de.cada.apresentação,.o.grupo.poderá.divulgar.para.o.público.presente.a.próxima.apresentação.do.projeto.
Sugerimos.também.que.cada.grupo.tenha.um.caderno,.que.fique.à.disposição.do.público.na.saída.para.
que.os.espectadores.possam.registrar.sua.opinião.sobre.a.peça..Os.cadernos.podem.conter.ainda.as.seguintes.
informações:.nome,.idade,.impressões.e.como.ficou.sabendo.da.peça.
Em.apresentações.fechadas,.para.escolas.e.associações,.pode.ser.feito.um.bate-papo.ao.final.com.o.público.presente,.que.deverá.também.ser.registrado.no.Diário.de.Bordo.
Sugerimos.no.início.deste.guia.a.tentativa.de.unir.as.apresentações.do.grupo.a.eventos.importantes.da.
cidade..Buscar.parceiros.nas.prefeituras.que.ajudem.na.divulgação.do.espetáculo.e.do.projeto.é.fundamental.
Qualquer.apresentação.extra.agendada.pelo.grupo.fora.do.calendário.oficial.do.projeto.deverá.ser.comunicada.e.validada.pela.coordenação..Essas.apresentações.não.poderão,.em.hipótese.nenhuma,.ter.cobrança.
de.ingressos.dos.espectadores.
5. Administração
É.função.do.produtor,.com.apoio.da.coordenação.do.projeto,.administrar.as.viagens.para.os.espaços.nos.
quais.ocorrerão.as.apresentações..Isso.inclui:.checar.transporte,.contato.com.o.local.nos.dias.que.antecedem.
a.viagem.para.confirmar.detalhes,.organizar.a.agenda.e.a.alimentação.do.grupo,.checar.a.limpeza.e.salubridade.do.local,.acomodação.dos.artistas,.etc.
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Guia de produção teatral  169
O.produtor.acompanha.e.organiza.a.entrada.e.a.saída.do.público.e.fica.atento.se.há.alguma.necessidade.
emergencial..Como.o.espetáculo.é.entrada.franca,.ele.checa.o.número.de.pessoas.antes.de.abrir.para.ver.se.
a.quantidade.de.cadeiras.colocadas.é.suficiente.e.organiza.a.distribuição.de.senhas.por.ordem.de.chegada.
Os.produtores.dos.grupos.também.atuam.nos.espetáculos..Nesse.caso,.é.necessário.que.todas.as.funções.
a.ele.designadas.sejam.distribuídas.entre.os.participantes.
Pós-produção
1. Desmontagem
Da.mesma.forma.que.o.produtor.deve.organizar.uma.tabela.com.os.responsáveis.pela.montagem.do.
espetáculo.(montar.cenários,.afinar.a.luz,.passar.os.figurinos),.a.desmontagem.deverá.ser.cumprida.com.o.
mesmo.rigor.
Alguém.ou.um.grupo.de.pessoas.deve.se.responsabilizar.pela.desmontagem.do.cenário,.outros.integrantes.ficam.responsáveis.para.conferir.os.figurinos.e.adereços.e.outras.ficam.responsáveis.para.checar.o.espaço.
(limpeza.do.espaço.utilizado,.recolhimento.de.todos.os.materiais).
Lembramos.que.a.boa.imagem.do.grupo.está.diretamente.relacionada.com.a.qualidade.dos.contatos.e.
relações.humanas.criadas.e.desenvolvidas,.bem.como.com.o.cuidado.em.relação.aos.espaços.utilizados.e.bens.
materiais.disponibilizados..Num.projeto.em.que.o.grupo.retornará.mais.vezes.ao.mesmo.local.de.apresentação,.esse.é.um.“cartão.de.visita”.fundamental.
2. Devolução de itens
Os.itens.emprestados,.ao.final.de.todas.as.apresentações.daquele.texto,.são.devolvidos.aos.parceiros..O.
grupo.poderá.escrever.uma.carta.agradecendo.o.apoio.
3. Agradecimentos e retorno a apoiadores/parceiros
Para.poder.contar.sempre.com.o.apoio.de.empresas.parceiras,.é.necessário.ao.final.da.temporada.não.só.
agradecer.a.parceria.mas.também.divulgar.como.foi.a.realização.do.evento:.o.número.de.pessoas.que.estiveram.presentes,.como.foi.a.recepção.da.peça,.o.público.atingido,.etc.
4. Clipping
O.grupo.deverá.procurar.(via.internet,.em.jornais.locais,.revistas,.rádios.ou.TVs.locais,.agendas.culturais.
das.cidades,.etc.).por.fotos.e.toda.e.qualquer.matéria.de.divulgação.que.fale.sobre.o.espetáculo.e.sobre.o.
projeto.
O.produtor.deverá.recolher.todo.o.material.publicado.e.enviá-lo.à.coordenação.do.projeto.via.e-mail.ou.
correio..A.entrega.desses.materiais.deverá.ser.concomitante.à.entrega.do.relatório.
5. Relatórios e listas de presença
O.projeto.prevê.dois.relatórios.por.grupo:
1) um relatório parcial – Após as apresentações de cada montagem;
2) um relatório final – Com data de entrega ao final do ano e a ser definida pela equipe do projeto e comunicada aos grupos no decorrer do ano.
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170  Projeto Letras de Luz: estrutura e desenvolvimento
E.dois.tipos.de.listas.de.presença:
1) lista de presença de ensaios – Contendo datas e horários dos ensaios realizados;
2) listas de presença de apresentações – Contendo datas e horários das apresentações realizadas.
Relatório parcial.–.O.grupo,.juntamente.com.o.produtor,.deverá.analisar.as.apresentações.feitas.baseada.
em.três.vértices:
 as condições de produção – Agendamento das apresentações/datas/locais de apresentação, realização do
espetáculo/material conseguido gratuitamente/gastos, grau de parceria das cidades, condição das apresentações e da recepção do grupo, identificação do parceiro na prefeitura de cada cidade;
 a recepção do espetáculo – O retorno do público, o impacto da realização na cidade, se houve a presença
de autoridades, cobertura da mídia, que tipo de repercussão foi registrada;
 a divulgação do espetáculo – Número de espectadores, engajamento da prefeitura local na divulgação,
quantidade de material feito pelo grupo, estratégias utilizadas.
O.modelo.do.relatório.parcial.será.enviado.pela.coordenação.do.projeto
Tudo.isso.deverá.ter.um.olhar.do.grupo.e.sua.análise,.no.intuito.de.melhorar.as.condições.das.apresentações,.os.contatos.com.as.prefeituras.e.a.comunicação.com.a.equipe.do.projeto.
A.data.de.entrega.do.relatório.parcial.constará.no.cronograma.de.trabalho.estabalecido.pela.coordenação.
do.projeto.e.deverá.ser.cumprida.pontualmente..Todo.o.tipo.de.material.coletado.deverá.ser.enviado,.juntamente.com.o.relatório.(fotos,.matérias.de.jornal,.sites,.etc.),.também.via.e-mail.ou.correio.
Relatório final.–.O.grupo.deverá.fazer.um.relatório.contando.sua.experiência.com.o.projeto.desde.a.
capacitação.até.a.fase.de.produção.do.espetáculo.e.as.apresentações.
O.relatório.deverá.analisar.pontos.positivos.e.negativos.do.percurso.e.conter.uma.apreciação.do.trabalho.
do.grupo..Uma.apreciação.do.projeto.e.suas.reverberações.positivas.no.dia.a.dia.do.grupo,.das.cidades.e.dos.
espectadores.envolvidos.também.é.fundamental.
O.número.de.pessoas.presentes.nas.apresentações,.público-alvo.atingido,.a.recepção.da.peça,.como.foi.
feita.a.divulgação,.quem.do.grupo.esteve.presente.nas.apresentações,.quais.os.resultados.das.parcerias.entre.
grupos.e.municípios,.outros.parceiros.que.contribuíram.e.cópia.do.material.de.imprensa.divulgando.o.espetáculo,.são.itens.necessários.para.o.conteúdo.do.relatório.
Listas.de.presença.de.ensaios.e.listas.de.presença.de.apresentações.–.Os.modelos.das.listas.serão.elaborados.e.disponibilizados.pela.coordenação.do.projeto.
A.lista.de.presença.de.apresentações.deverá.ser.entregue.juntamente.com.o.relatório.parcial..A.lista.de.
presença.de.ensaios.deverá.ser.entregue.em.data.que.constará.no.cronograma.de.trabalho.e.deverá.ser.cumprida.pontualmente.
6. Apresentações fora do projeto
a. Os grupos podem realizar apresentações extras desde que não prejudiquem o andamento das atividades
planejadas para o projeto.
b. Estamos lidando com um projeto educativo cujo objetivo é o fomento à leitura. Assim, com exceção do
cachê negociado com a instituição que solicitou a(s) apresentação(ões) extra(s), é absolutamente proibida
qualquer cobrança de ingresso de espectadores, sob pena de desligamento do projeto.
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eQUiPe fUnDAção victor civitA
Diretores executivos
Angela Dannemann
David Saad
coorDenação PeDagógica
Regina Scarpa
Maria Slemenson
estuDos, Pesquisas e Projetos
Mauro Morellato
Adriana Deróbio
Simone Lozano
Artur Teixeira
coorDenação Do Letras De Luz
José Luiz Goldfarb
coorDenaDor De ativiDaDes teatrais
Heitor Goldflus
coorDenaDora De ProDução teatraL e caPacitação teatraL
Erica Montanheiro
concePção Do Programa De caPacitação teatraL
Naum Alves de Souza
equiPe De caPacitação teatraL
Cris Rocha
Luciano Gentile
Marcelo Klabin
Cátia Pires
Dedé Pacheco
Paulo Barcellos
Renata Jesion
Tatiana Schunck
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equiPe De Formação De Leitores
Celinha Nascimento
Denise Silva
Edilene Fonseca
Heloisa Ramos
Essa apostila do projeto Letras de Luz foi desenvolvida pela consultora Denise Guilherme da Silva sob encomenda da Fundação Victor Civita.
AgrADecimento À eQUiPe Do inStitUto eDP
Diretor executivo
Pedro Sirgado
Diretora De reLações institucionais e resPonsabiLiDaDe sociaL
Tereza Rodrigues
assessor Da Diretoria
Paulo Ramicelli
equiPe
Ana Maria Schneider
Talita Feliciano
Tatiana de Toledo Lopes
AgrADecimento À eQUiPe DA eDP no brASiL
gestora executiva De marca e comunicação
Flávia Ramos
equiPe
Ana Paula Nogueira
Fernanda Santiago
Lorena Paterlini
Marcela Rodrigues
assessoria De imPrensa
Flávia Fonseca
©.2010.Fundação.Victor.Civita..Todos.os.direitos.reservados.
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estrutura e
desenvolvimento
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