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artigo - ICOM
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BOLETIM ICOM Portugal
Série III n.º 5 Jan. 2016
BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
EDITORIAL
ÍNDICE
Pretendeu-se neste boletim dar nota dos desafios da
diversidade cultural para os museus. O mote foi a
celebração, em 2015, do 10.º aniversário da Convenção
sobre a Protecção e a Promoção da Diversidade das
Expressões Culturais da UNESCO (Convenção de 2005).
Em entrevista, Clara Bertrand Cabral e Lurdes Camacho
sublinham a importância desta Convenção para as
indústrias criativas e para a valorização da criação
individual. Mas advertem que falta em Portugal uma
maior divulgação do normativo e das suas
potencialidades para as indústrias criativas. Essa
poderá ser a razão pela qual a Convenção ainda não
tem um papel de influência no desenvolvimento de
políticas culturais no nosso país.
Para além do campo de acção da Convenção de 2005, o
texto de Ana Carvalho situa a discussão sobre
diversidade cultural nos museus. Ao apresentar algumas
conclusões sobre um dos estudos de caso da sua tese de
doutoramento, defende o desenvolvimento de
estratégias que tenham em conta a
multidimensionalidade que a promoção da diversidade
cultural comporta e a transversalidade com que deve
ser tratada e integrada nos vários sectores da
actividade museológica.
MENSAGEM DO PRESIDENTE
3
BREVES
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EM FOCO
8
DIVERSIDADE CULTURAL: DA PERIFERIA PARA O
CORAÇÃO DOS MUSEUS
8
PERSPECTIVAS
13
REFUGIADOS E MUSEUS: PARA ALÉM DE UMA
ATITUDE ASSISTENCIALISTA?
13
ENTREVISTA COM CLARA BERTRAND CABRAL
E LURDES CAMACHO
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NOTÍCIAS ICOM
25
MUSEUS & PESSOAS: PENELOPE CURTIS
46
PUBLICAÇÕES
49
A crise de refugiados que se vive na Europa não passa
despercebida aos profissionais de museus. Maria
Vlachou e Joaquim Jorge oferecem-nos o seu ponto de
vista e algumas pistas sobre os contributos dos museus.
SUGESTÕES DE LEITURA
49
NOVAS EDIÇÕES 2015
51
Ainda sobre o tema da diversidade cultural
apresentamos uma selecção bibliográfica (livros,
artigos, teses) e sugerimos alguns links úteis.
AGENDA
58
CONFERÊNCIAS, ENCONTROS, DEBATES
58
FORMAÇÃO
60
CHAMADA PARA PROPOSTAS
61
Penelope Curtis, recém-chegada a Lisboa, é a nova
directora do Museu Calouste Gulbenkian. Na entrevista
exclusiva ao ICOM Portugal, a primeira que dá desde
que chegou, pode conhecer o essencial da sua visão.
Em “Notícias ICOM” encontra um conjunto significativo
de comentários sobre alguns dos debates que tiveram
lugar nos últimos meses. Conheça ainda a selecção de
novas publicações e os eventos em agenda.
O boletim de Maio dará destaque, como habitual, à
temática escolhida para o Dia Internacional de Museus,
este ano dedicado aos “Museus e Paisagens Culturais”.
Ana Carvalho
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N.º 5
MENSAGEM DO PRESIDENTE
No início do ano de 2016 dedicamos o nosso boletim ao tema da
diversidade cultural dos museus e o seu reconhecimento pela
UNESCO para a sua protecção e promoção. De igual modo,
damos conta de actividades recentes desenvolvidas pelo ICOM.
O ano anterior terminou com uma mudança de governo o que
nos coloca a necessidade de alertar a nova tutela para situações
que marcam a actualidade dos museus em Portugal e merecem
preocupação quanto ao futuro, nomeadamente em questões de política governamental
na mudança de tutelas e transferência de colecções, assim como a situação das
equipas técnicas dos museus.
O nosso Encontro de Outono de 2015 realizou-se no Museu Municipal de Penafiel, dando
continuidade a uma tradição para a comunidade museológica nacional. Aí discutimos,
apoiados nas visões de vários colegas oradores, os problemas que os museus encontram
em tempo de crise e as formas propostas ou encontradas para ultrapassar os desafios
colocados actualmente pela crise económica. Nestas circunstâncias, as instituições
museológicas tiveram que encontrar novas soluções de sustentabilidade e interacção
com as sociedades em que se integram, frequentemente através do estabelecimento
de novas parcerias estratégicas e do reajustamento das suas prioridades, ao nível do
funcionamento. Constaram do programa as comunicações de Francesc Xavier Roigé
Ventura (Universidade de Barcelona), Katrin Hieke (ICOM Alemanha), Suzana Menezes
(Museu da Chapelaria) e Emanuel Sancho (Museu do Traje de São Brás de Alportel).
Em Novembro de 2015, em Paris, foi aprovada a nova Recomendação relativa à
Protecção e Promoção dos Museus e das Colecções, da sua Diversidade e do seu Papel
na Sociedade, que estava em discussão desde o ano de 2014. Portugal participou no
debate promovido pela UNESCO que envolveu peritos nacionais, através da presidente
da assembleia-geral do ICOM Portugal, Clara Frayão Camacho. Da maior importância
são as matérias respeitantes às políticas públicas nos campos da preservação, da
investigação, da educação e da comunicação que permitam aos museus proteger e
transmitir o património cultural às gerações futuras. Os Estados membros da UNESCO
são convidados a tomar medidas legislativas, técnicas e financeiras, de modo a
desenvolver acções de planeamento e políticas operacionais dirigidas aos museus, às
colecções e aos públicos dos respectivos países. Nesta perspectiva, são vários os
desafios que se colocam às políticas públicas portuguesas para os museus com vista a
preencher de forma integrada as áreas de intervenção contempladas na nova
Recomendação. A Recomendação aponta as diferentes funções museológicas: as
primárias (preservação, investigação, comunicação e educação) que são conhecidas de
todos nós, como dedica todo um capítulo a novas funções: a questão da globalização,
da qualidade de vida e sua relação com a economia, a função social e as novas
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tecnologias. Esta Recomendação incorpora pela primeira vez a necessidade dos museus
e colecções terem em atenção a sua função social. Acentua nomeadamente o papel
dos museus nas sociedades actuais como espaço de encontro, instrumento de promoção
da inclusão social e promoção da diversidade cultural e natural. Afirma o papel
indispensável das heranças e dos patrimónios na construção de uma cultura de paz e de
direitos humanos como instrumento para enfrentar as mudanças que estão a ocorrer no
mundo. Tal como tem sido preocupação do ICOM Portugal, esta Recomendação acentua
a necessidade de qualificação e de valorização dos profissionais dos museus, a
promoção das boas práticas e do trabalho em rede nos museus e centros culturais.
No próximo mês de Fevereiro de 2016 realiza-se em Lisboa um seminário do projecto
europeu Eurovision – Museums Exhibiting Europe (EMEE) e o ICOM Portugal associa-se na
organização do evento. Este encontro internacional decorrerá no Museu Nacional de
Arqueologia, a 22 de Fevereiro, e no qual se apresentarão experiências em museus que
têm possibilitado o trabalho em rede, o diálogo intercultural na promoção dos museus
e as suas colecções, e possibilitar novas interpretações e formas de participação dos
visitantes, contribuindo para que os museus assumam o seu papel de agentes sociais.
Com esta parceria será possível trazer a Portugal Hans-Martin Hinz, presidente do ICOM
central, Emma Nardi, presidente do CECA (Comité Internacional do ICOM para a
Educação e Acção Cultural), David Vuillaume, presidente da NEMO (Network of
European Museum Organisations), Uwe Brückner, fundador do Atelier Brückner, entre
outros.
José Alberto Ribeiro
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BREVES
ICOM Portugal promove debate sobre a crise
As jornadas de Outono do ICOM Portugal
realizaram-se a 30 de Outubro no norte do país
em colaboração com o Museu Municipal de
Penafiel. O encontro reuniu cerca de 80
profissionais de museus e constituiu um
momento oportuno no debate sobre “Os Museus
Face à crise Económica na Cultura: Desafios e
Estratégias”.
Mais
informações
em
http://www.icom-portugal.org
Participação do ICOM Portugal nos Encontros do Património
No passado dia 14 de Novembro, o programa de rádio da TSF Encontros com o Património
dedicou a emissão ao tema Públicos e Museus: Educação e Participação. Foram convidados do
programa: Mário Nuno Antas (membro da direcção do ICOM Portugal), Sara Barriga (museóloga
do Museu do Dinheiro), Catarina Moura (coordenadora do serviço educativo do Museu Nacional
de Arte Contemporânea do Chiado), Filipa Alves de Sousa (serviço educativo da Fundação
Arpad Szenes - Vieira da Silva) O programa é uma parceria entre a TSF e a Direção-Geral do
Património Cultural. Pode ser ouvido em: http://www.tsf.pt
Prémio do Conselho da Europa 2015 para museu na Polónia
O prémio Museu Conselho da Europa
foi atribuído ao European Solidarity
Centre em Gdansk, na Polónia.
Trata-se de «um exemplo fascinante
de uma instituição cultural que
trabalha para promover a liberdade
e a solidariedade. Os acontecimentos
que narra e o seu programa visam
transformá-lo
num
fórum
de
discussão para a Europa moderna»,
disse o relator do prémio, Vesna Marjanovic. O prémio é atribuído todos os anos desde 1977.
Em 2010, coube ao Museu de Portimão receber este prémio. Mais em: http://www.icomportugal.org
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UNESCO aprova Recomendação sobre a Protecção
de Museus e de Colecções
Na 38.ª sessão da assembleia-geral da UNESCO,
realizada a 17 de Novembro de 2015, em Paris, foi
aprovada a nova Recomendação relativa à Protecção
e Promoção dos Museus e das Colecções, da sua
Diversidade e do seu Papel na Sociedade. O projecto
estava em discussão desde 2014. Portugal esteve
envolvido no debate promovido pela UNESCO que
envolveu peritos nacionais, através da presidente da
assembleia-geral do ICOM Portugal, Clara Frayão
Camacho. Saiba mais em: http://www.icom-portugal.org
Prémio Prof. Reynaldo dos Santos atribuído à exposição “Cister
no Douro”
O prémio Prof. Reynaldo dos Santos 2014, promovido pela FIAMP
(Federação de Amigos dos Museus de Portugal) foi este ano entregue à
exposição Cister no Douro. Este prémio distingue anualmente a melhor
exposição temporária apresentada em museus portugueses e que
esteja associada a um Grupo de Amigos. Foram ainda atribuídas
menções honrosas à exposição O Tempo Resgatado ao Mar (Grupo de
Amigos do Museu Nacional de Arqueologia) e à exposição Jóias da
Carreira da Índia (Grupo de Amigos do Museu do Oriente). A cerimónia
de entrega dos prémios teve lugar no Grémio Literário, em Lisboa, no
dia 14 de Novembro de 2015.
Projectos
de
museus
portugueses
distinguidos na 6.ª edição do Prémio
Ibero-Americano de Educação e Museus
147 projectos provenientes de 12 países
foram avaliados no âmbito do prémio IberoAmericano de Educação e Museus. Três
projectos portugueses foram seleccionados. O
Museu Carlos Machado (Ponta Delgada), sob a
tutela do Governo Regional dos Açores, foi
contemplado com o 2.º lugar da Categoria I e
ao Centro de Ciência Viva de Estremoz (rede Ciência Viva) foi atribuído o 3.º lugar na Categoria
II pelo projecto “Bonecos das Maltezas; Títeres de Ciência”. Com uma menção honrosa foi
ainda destacado o projecto “Museologia e Educação no Sítio Arqueológico da Foz do
Enxarrique”, uma iniciativa da Câmara Municipal de Vila Velha de Rodão. Este prémio é
promovido pelo programa Ibermuseus desde 2010. Mais informações sobre os resultados do
concurso: http://www.ibermuseus.org
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Tese sobre Museu Nacional Machado de Castro premiada
O prémio Victor de Sá 2015 (Universidade do Minho) foi
atribuído a Duarte Roque de Freitas pela tese de
doutoramento Memorial de um Complexo Arquitetónico
Enquanto Espaço Museológico: Museu Machado de Castro
(19111965). A tese analisa as transformações ocorridas no
Museu Nacional de Machado de Castro (Coimbra) entre 1911,
quando foi fundado, e 1965, ano em que recebeu o estatuto
de museu nacional. O autor é membro do Centro de História
da Sociedade e da Cultura da Universidade de Coimbra.
Boas notícias para o património português
O promontório de Sagres foi reconhecido como “Marca do Património Europeu”, fazendo agora
parte de uma lista internacional de sítios históricos da Europa. A “Marca do Património Europeu”
(MPE) corresponde a uma nova medida da União Europeia que tem por base uma iniciativa
intergovernamental lançada em 2006 e foi estabelecida pelo Parlamento e pelo Conselho da
União Europeia. No Alentejo foi a vez do fabrico de chocalhos ser distinguido pela UNESCO
como “Património Cultural Imaterial com Necessidade de Salvaguarda Urgente”. Esta
candidatura pretende ajudar a preservar esta tradição, que tem já poucos mestres
chocalheiros.
Jorge Custódio recebe prémio Carreira 2015
A Confederação Portuguesa de Associações de Defesa do Ambiente
distinguiu Jorge Custódio com o prémio Carreira 2015. Professor,
historiador, arqueólogo e museólogo, Jorge Custódio tem dedicado
a sua vida à defesa do património e dos museus. É presidente da
APAI (Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial) e
investigador do Instituto de História Contemporânea da
Universidade Nova de Lisboa. A cerimónia de entrega do prémio
teve lugar no auditório Mar da Palha do Oceanário de Lisboa
(Parque das Nações), no dia 3 de Dezembro de 2015.
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EM FOCO
Diversidade Cultural: da Periferia para o Coração dos
Museus
Ana Carvalho, investigadora em pós-doutoramento do Centro
Interdisciplinar de História, Culturas e Sociedades (CIDEHUS)
da Universidade de Évora
D
e que falamos quando falamos de diversidade cultural? Tomemos como ponto
de partida a proposta da UNESCO ao referir-se à diversidade cultural como
«a multiplicidade de formas pelas quais as culturas dos grupos e sociedades
encontram a sua expressão» (UNESCO 2005 artigo 4, ponto 1). Marcando
indelevelmente as políticas culturais um pouco por todo o mundo, as orientações da
UNESCO sugerem que todas as culturas são igualmente válidas e o seu entendimento
deve servir objectivos de paz, de diálogo intercultural e de coesão social. Num mundo
cada vez mais globalizado considera-se a diversidade cultural tão indispensável para a
Humanidade como a diversidade biológica o é para a natureza (UNESCO 2001). Esta
perspectiva celebratória da diversidade cultural tem subjacente uma ética global de
respeito pela dignidade humana e pelo pluralismo cultural como também subentende a
promoção da criatividade e enfatiza o papel da diversidade cultural ao serviço do
desenvolvimento sustentável das sociedades.
Mas que entendimentos sugere a noção de diversidade cultural para os museus? Como
se traduz, que aportes?
Os museus são espaços de negociação da diferença ao seleccionarem o que é
representado, o que se inclui, o que se exclui. Têm, por sua vez, a potencialidade de
se afirmarem como espaços de promoção do diálogo intercultural, debatendo os temas
da sociedade e a pluralidade de perspectivas, de trazerem para a arena as vozes
ausentes ou negligenciadas, com a criação de ambientes construtivos e propícios à
reflexão conjunta. Podem, deste modo, contribuir para a tolerância e para melhor
compreender os obstáculos e os desafios da vida em sociedade (Kreps 2013). Em teoria,
esta linha é consistente com o abandono da ideia de museu portador de um discurso
neutro, objectivo e a uma só voz. Este reconhecimento implica também o repensar das
práticas museológicas: quem e o quê está representado, como está representado, e
quem fala por quem?
Se, por um lado, quando se fala de diversidade cultural se tende a focar nas questões
relativas à etnicidade e, portanto, na forma de melhor representar e envolver grupos e
comunidades pertencentes a grupos étnicos e de culturas diferentes, sejam imigrantes,
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refugiados ou outros grupos, há, por outro lado, o reconhecimento que a diversidade
cultural abrange um conjunto mais alargado de “outros” que, de forma consciente ou
inconsciente, estão excluídos dos museus. Nesse conjunto estão incluídas preocupações
de representatividade ao nível do género, do estatuto socioeconómico, das crenças, da
intergeracionalidade, entre outras. Neste sentido, a promoção da diversidade cultural
é um tópico transversal a todas as frentes da actividade museológica e de interesse
para todas as tipologias de museus.
Por outro lado, se a promoção da diversidade cultural nos museus significa trazer para
os museus os aportes de diferentes grupos e comunidades, então o enfoque está
também na forma como se envolve, ou seja, no encontrar de formas de participação
mais éticas e adequadas que viabilizem processos de consulta, negociação e
participação implicando todas as partes interessadas. Esta é também uma das
recomendações defendidas pelo ICOM relativamente à promoção da diversidade
cultural nos museus (Carta da Diversidade Cultural do ICOM, 2010).
Ao reconhecer-se que os museus nem sempre foram eficazes na representação e
promoção da diversidade e do diálogo intercultural, é preciso esclarecer que não se
trata apenas de uma questão de representação, mas também de uma questão de para
quem os museus se dirigem, falamos, portanto, de públicos. Um dos grandes desafios
dos museus no séc. XXI é, sem grande margem para dúvidas, o aumento, mas sobretudo
a diversificação dos públicos. Os estudos que vão sendo publicados confirmam que é
ainda uma minoria, económica e socialmente favorecida, a frequentar museus. A
maioria da população está arredada dos museus e, em grande medida, das instituições
culturais. Ainda que a ausência de representação de aspectos da sua cultura na
programação dos museus possa ser um motivo para que alguns grupos e comunidades
não frequentem museus, de um modo geral persistem outras barreiras que são
partilhadas pela maioria da população: interesse, económicas, hábitos de visita,
acolhimento, disponibilidade/tempo, entre outras. Por exemplo, no último estudo do
barómetro europeu sobre acesso e participação cultural as principais barreiras
evocadas por portugueses foram, em primeiro lugar a falta de interesse, seguida pela
falta de tempo e só depois por razões económicas (European Commission 2013), o que
demonstra a premência dos museus em demostrarem a sua relevância junto a uma
população alargada. Até certo ponto, a prevalência de uma estratégia (ou a ausência
dela) que não procure contrariar ou romper com as barreiras que limitam o acesso
cultural a uma instituição é também uma forma de activamente manter essas
desigualdades (Holden 2010).
O debate sobre a promoção da diversidade nos museus também tem sido analisado na
óptica dos profissionais de museus per se. Serão as equipas dos museus
suficientemente diversas e, por sua vez criativas, para dar resposta às necessidades de
diferentes grupos e comunidades? No Reino Unido, por exemplo, a Museums Association
adoptou a diversidade étnica das equipas de trabalho como eixo estratégico (Diversity
Scheme), ainda que mais recentemente privilegie uma noção mais aberta, passando a
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incluir a diversidade na perspectiva do estatuto socioeconómico, ou seja, promovendo
o acesso à carreira nos museus a pessoas de baixa condição económica (Shaw 2013).
Entre 2010 e 2013 fizemos uma pesquisa que compreendeu a análise de três museus
europeus com colecções etnográficas (veja-se Carvalho 2015). Nesse contexto foi
possível identificar quais as perspectivas de promoção da diversidade cultural
negociadas, as principais tendências e os princípios advogados num quadro alargado e
transversal das práticas museológicas. Para efeitos da escrita deste texto, optámos por
apresentar apenas alguns resultados e reflexões referentes à National Museums
Liverpool (NML), organização museológica que tutela oito museus em Liverpool (Reino
Unido), um dos quais incluído na investigação que realizámos.
A NML adopta uma abordagem corporativa no que concerne à promoção da diversidade
cultural. Além de uma missão e visão comuns, os oito museus partilham entre si vários
serviços, nomeadamente no âmbito da educação, do trabalho com as comunidades, da
comunicação, entre outras áreas. Uma declaração de intenções no sentido de
promover a diversidade cultural ocorreu em 2005, com a criação de um grupo de
trabalho responsável por iniciativas neste domínio e por monitorizar o seu impacto na
organização. Numa fase seguinte, um compromisso público foi assumido com a
publicação da declaração “Igualdade e Diversidade”, que implicitamente reconhecia o
alcance restrito da programação dos museus de Liverpool a algumas franjas da
sociedade, e estabeleceu um conjunto de objectivos para tornar a organização mais
inclusiva.
A necessidade de alterar o perfil de públicos dos museus de Liverpool de acordo com a
realidade sociodemográfica reflecte-se na concepção da política para a diversidade,
que identifica a diferença de forma multidimensional e alargada, promovendo um
entendimento flexível da noção de diversidade. Para além da etnicidade, outras
dimensões são contempladas, nomeadamente a questão do género, da idade, da
orientação sexual, das crenças e religião, e da deficiência.
A declaração “Igualdade e Diversidade” é dualista nos seus objectivos, pois reconhece
a necessidade de mudanças internas e, neste sentido, o documento dirige-se também
às equipas dos museus (incluindo fornecedores e outras partes envolvidas com a
organização museológica), e ao mesmo tempo é uma mensagem externa que assinala
uma mudança na imagem pública da NML e o compromisso em prol da diversidade.
O compromisso para com a diversidade não se esgota, porém, na forma de uma
declaração ou na criação de grupos de trabalho ou departamentos específicos, cuja
eficácia tem, aliás, sido recentemente questionada, sobretudo quando se desenvolvem
nas margens da actividade museológica, causando pouco impacto na cultura da
organização (Nightingale e Mahal 2012). A promoção da diversidade é, no âmbito da
NML, entendida como uma prioridade que atravessa todas as áreas (gestão de
colecções, investigação, criação de projectos, envolvimento com as comunidades e
grupos, formação de equipas, administração e governança), não se restringindo, como
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mais comummente, à área educativa e a projectos especiais no âmbito da formação e
captação de novos públicos.
A estratégia para a promoção da diversidade cultural estende-se também às colecções
e às exposições, em reposta às necessidades e interesses de diferentes públicos,
através de práticas regulares de consulta e de colaboração (p. ex. interpretação, novas
colecções). Além de um programa de exposições comunitárias, que visa a autorepresentação por parte de grupos e comunidades, possibilitando a expressão da sua
cultura, identidade e património (material e imaterial), destaca-se a criação de
exposições multivocais, nas quais se propõe múltiplas perspectivas e leituras com a
introdução de testemunhos de membros das comunidades.
A promoção da diferença inserida na programação museológica de forma episódica,
embora fundamentada pela vontade de celebrar a diferença e no quebrar de
preconceitos, nem sempre garante o efeito que lhe está subjacente para as muitas
instituições que o procuram fazer. Porém, na NML, para além de uma programação
especialmente dirigida para a promoção de diferentes culturas, esta não se restringe à
criação de eventos pontuais de celebração e reconhecimento (Mês da História Negra,
Dia da Escravatura, Semana dos Refugiados Liverpool Irish Festival, Liverpool Arabic
Arts Festival, Semana da Deficiência). A diversidade configura-se como um valor que
está imbuído na visão corporativa da organização e que fica patente de forma
transversal não só pelo trabalho realizado pela equipa das comunidades, mas também
por outros departamentos e áreas de trabalho. Até certo ponto, procura-se tornar a
diferença como parte integrada na política museológica, torná-la mainstream. Esta
visão transversal, a par com o enfoque na criação de parcerias que garantam um
relacionamento mais durável e sustentável com grupos e comunidades de modo a
ultrapassar o carácter pontual das iniciativas, são premissas relevantes para a
organização. No cerne da actividade desenvolvida pela equipa das comunidades e pela
equipa das parcerias, assume especial relevo o trabalho em rede, ou seja, o
envolvimento dos museus com organizações externas de actuação diversa (saúde,
educação, cultura, social e outras) ao nível regional ou local, através da consolidação
de parcerias que garantam de forma sustentável e a longo prazo o envolvimento de
diferentes públicos, grupos e comunidades.
A promoção da diversidade como elemento estratégico permanece na agenda desta
organização museológica, também devido a uma forte liderança que viabiliza uma
retórica com repercussões significativas e estruturais no seio da organização: a forma
como se posiciona (valores, missão), como se organiza, como define a investigação e a
programação, e como distribui os recursos humanos e económicos.
O alargamento e a diversificação de públicos alcançado pela NML nos últimos anos
resulta da implementação de uma estratégia continuada em prol da diversidade
cultural na organização, que não obstante, só tem sido possível através de
investimentos substanciais. O papel social da NML e, por sua vez, uma maior
responsabilização da organização na sociedade é também o argumento instrumental
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que tem levado à procura de fontes e receitas alternativas ao financiamento do
governo, de modo a minorar as consequências da redução do orçamento devido à crise
económica, e alcançar os objectivos traçados.
Este caso introduz algumas pistas e clarifica a importância de uma estratégia para a
diversidade cultural que ocorra a múltiplos níveis das práticas museológicas e de forma
transversal. Por outro lado, realça o seu enquadramento numa estratégia mais vasta
que inclui como elemento nuclear o alargamento e a diversificação dos públicos. Tratase de deixar de entender a promoção da diversidade cultural como experiências
episódicas e periféricas às práticas museológicas para perspectivá-la como um eixo
central da actividade museológica.
Referências
Carvalho, Ana. 2015. “Diversidade Cultural e Museus no Séc. XXI: O Emergir de Novos
Paradigmas.” Doutoramento em História e Filosofia da Ciência, especialização Museologia,
Universidade de Évora. https://uevora.academia.edu/AnaCarvalho
European Commission. 2013. Cultural Access and Participation: Report (Special Eurobarometer
39). Special Eurobarometer 399/Wave EB79.2. [s.l.]: European Commission e TNS Opinion &
Social.
Holden, John. 2010. Culture and Class. [Londres]: Counterpoint.
ICOM. 2010. “ICOM Cultural Diversity Charter.” Paris: ICOM (Conselho Internacional de Museus).
http://icom.museum/the-governance/general-assembly/resolutions-adopted-by-icomsgeneral-assemblies-1946-to-date/shanghai-2010/
Kreps, Christina. 2013. “The Power of Words and Vocabularies.” In Museums and Intercultural
Dialogue: The Learning Project Network, editado por Ineta Zelca Simansone, 4: 13–17. [s.l.]:
The Learning Museum – LEM.
Nightingale, Eithne, e Chandan Mahal. 2012. “The Heart of the Matter: Integrating Equality and
Diversity into Policy and Practice of Museums and Galleries.” In Museums, Equality and Social
Justice, editado por Richard Sandell e Eithne Nightingale, 13–37. Oxon: Routledge.
Shaw, Lucy. 2013. Diversify, Reflections and Recommendations: The Final Report on the MA’s
Workforce Diversity Scheme. [London]: Museums Association.
UNESCO. 2001. Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural. Paris: UNESCO.
UNESCO. 2005. Convenção Sobre a Protecção e a Promoção da Diversidade das Expressões
Culturais. Paris: UNESCO.
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PERSPECTIVAS
Refugiados e Museus: Para Além de uma Atitude Assistencialista?
(I)
Maria Vlachou, museóloga
N
o seguimento da minha comunicação «Are we Failing?» na conferência anual
da NEMO (Network of European Museum Organizations), o ICOM Portugal
convidou-me a partilhar a minha reflexão sobre o eventual papel dos museus
na crise dos refugiados.
Foram vários os colegas que levantaram a questão dos refugiados na conferência da
NEMO, tanto nos debates como nas conversas nos intervalos. Alguns quiseram partilhar
algumas das coisas que já fazem, outros questionaram o que seria possível fazer dada a
pequena dimensão dos seus museus e a sua localização periférica, outros ainda
afirmaram que há outros problemas e prioridades. Qualquer que tenha sido a intenção
ou preocupação, tornou-se claro que este é, sem dúvida, um assunto para os museus
europeus hoje.
Os museus encontram-se perante um grande desafio, mas um desafio cuja natureza
não lhes é desconhecida: é o “nós” e “os outros”; é a identidade e a inclusão; é a
barbárie e a cultura; é precisamente o que os museus são (ou deviam ser).
Num primeiro momento, será importante pensarmos sobre o que os museus não são: os
museus não são assistentes sociais, não são psicólogos e psicoterapeutas, não são
forças de segurança, não são padres e imãs, nem advogados. Quando se vive uma crise
como esta dos refugiados, o desejo e a necessidade de se envolver e de ajudar pode
levar-nos facilmente a assumir funções que não são as nossas e para as quais,
consequentemente, não temos preparação técnica. Mesmo assumindo um papel de
apoio na realização de tarefas urgentes e prioritárias no acolhimento e inclusão dos
refugiados, seria redutor limitar os museus a esta posição e não explorar o seu
verdadeiro potencial, as formas específicas como, dadas a sua natureza e missão,
poderão contribuir para este esforço colectivo.
O que está em causa para os museus no caso da crise dos refugiados?
Por um lado, temos quem cá está. Temos a sociedade portuguesa, complexa e diversa,
composta por várias comunidades, como a maioria das sociedades contemporâneas.
Uma parte desta sociedade revê-se na narrativa dos museus e reconhece-a como o
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“nós”. Nas suas colecções e exposições, encontra uma representação do que considera
ser a sua identidade e memória colectiva. A verdade é que o fluxo migratório,
proveniente de África e, mais recentemente, da Europa de Leste, mudou bastante a
composição desta sociedade. No entanto, são raros e pontuais os casos onde esta
mudança se tenha reflectido de forma clara no mundo dos museus, desde as colecções,
às exposições, às várias outras iniciativas e até à composição das suas equipas (com a
excepção, talvez, dos serviços de limpeza). O “nós” e “os outros” e “os outros que
agora são nós” é uma questão permanente, da qual penso que os museus estão
conscientes, independentemente de a abordarem ou não.
Do outro lado, temos um novo “outro”, que ainda não está aqui, mas que provoca
numa parte da população residente sentimentos de medo e de desconforto, o que,
consequentemente, gera algumas afirmações e atitudes hostis e pouco acolhedoras.
Esse “outro” traz, por sua vez, os seus medos, a sua insegurança; perdeu tudo e deverá
procurar criar para si uma casa nova numa terra que lhe é desconhecida. Quem são as
pessoas que o vão acolher? Como será visto por elas? Será bem-vindo? O que será
necessário para ser aceite e para fazer parte?
Haverá uma necessidade destes dois lados se encontrarem, se conhecerem. Caso
contrário, dificilmente conseguiremos a inclusão. Dada a natureza da sua acção, os
museus parecem-me ser lugares ideais para este encontro acontecer. No espaço onde
se preserva a memória e se representa a identidade de um povo, os recém-chegados
poderão conhecer o lugar que será a sua nova casa, a sua história e as pessoas que o
habitam. Ao mesmo tempo, neste mesmo espaço que se pretende inclusivo, “nós”
vamos poder conhecer este novo “outro”. A ideia abstracta do “refugiado” – formada
através de imagens televisivas e títulos de jornais - irá ganhar um rosto, tornar-se-á
numa experiência de vida concreta. O encontro irá proporcionar uma oportunidade
para repensar o medo e o desconforto, questionar os títulos dos jornais e ver a
humanidade do outro. Os museus, através das suas colecções e das histórias que
preservam, poderão lembrar-nos que nada disto é novo. O passado – e tudo o que foi
feito certo ou errado - poderá servir para pensarmos o presente e a sociedade que
queremos construir no futuro.
Assim, mais do que assumir uma posição assistencialista, de apoio a tarefas
desenvolvidas por outros sectores, os museus deverão pensar naquela que é a sua
própria função e no seu contributo específico, único, que nenhuma outra entidade
pode fornecer, no esforço colectivo que será a recepção e inclusão dos refugiados em
Portugal. Ao mesmo tempo, este contributo não poderá ser pensado sem recurso a
outras especialidades, de outros sectores, que poderão ajudar os museus a construir
propostas com a sensibilidade, conhecimento e cuidado que a situação requer. Porque
não podemos esquecer que vamos lidar com pessoas cujo mundo, tal como o
conheciam, mudou para sempre; pessoas traumatizadas, violentadas, que perderam
casa, familiares e amigos. A responsabilidade é grande.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Afirmamos muitas vezes que os museus têm a ver com a nossa herança cultural, a
nossa identidade, a nossa memória colectiva; têm a ver com o passado, o presente e o
futuro; são lugares de conhecimento, de encontro, de diálogo; promovem o respeito e
a tolerância; têm um papel educativo e um papel social. Situações como esta que se
vive agora com os refugiados testam, de uma forma muito concreta e exigente, a
percepção que temos do nosso trabalho e do seu impacto na sociedade. Os museus não
vão resolver as questões políticas que deram origem à actual crise dos refugiados. No
entanto, possuem as ferramentas que nos permitirão reflectir sobre esta situação de
forma crítica, pensar o nosso papel como profissionais de museus e como cidadãos em
geral, criar um espaço de encontro com vista à inclusão, visionar a sociedade que
queremos construir: civilizada, tolerante, aberta, crítica e humana. Aqui sim, os
museus têm claramente um papel a desempenhar.
(II)
Joaquim Jorge, antropólogo
O
lhar para dentro: deixar de ser sobre os objectos e passar a ser para as
pessoas1. Mais do que desenvolver programas e actividades exclusivamente
para refugiados 2 ou qualquer outra minoria existente no tecido social da
comunidade onde se insere, o museu deve tentar dar resposta aos problemas sentidos
pela comunidade. Isto implica questionar o modo como se trabalha 3, de perguntar qual
o papel que se quer desempenhar, que responsabilidades vai assumir e como se
posiciona face à problemática daqueles que são diferentes.
Creio que o museu deve proceder a esta reflexão para seu próprio benefício, para
ganhar relevância, para ser entendido como uma instituição útil. Numa tentativa de
encontrar um propósito renovado para a sua existência, alargando a sua capacidade de
explicar o mundo complexo em que todos vivemos, explorando novas dimensões das
colecções e maximizando os seus recursos interpretativos.
1
Proposta original de Weil, Stephen. 1999. “From Being about Something to Being for Somebody: The
Ongoing Transformation of the American Museum.” Daedalus 128 (3): 229258.
2
Refugiado pode ser qualquer pessoa, noutras circunstâncias podíamos ser nós. Deve, por isso, ser
entendido com a mesma heterogeneidade de classe, de religião, de género; com as mesmas esperanças
e os mesmos sonhos. Aos refugiados e requerentes de asilo aconteceu estarem em cenários de guerra e
de perseguição.
3
De salientar que são poucos os museus que utilizam ferramentas para a definição da sua missão e
respectiva visão (onde queremos estar daqui a algum tempo), assim como de ferramentas e instrumentos
de planeamento estratégico ou de gestão da mudança.
15
BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Fazer só por fazer, é mais do mesmo, é repetir um modelo que é pouco eficaz e serve
propósitos mais propagandísticos do que altruístas. Num dos últimos posts no blogue
Musing on Culture, Maria Vlachou diz que «talvez seja preciso olhar para o museu
como se fosse uma pessoa e tomar decisões de acordo com quem somos, sendo fiéis à
nossa identidade, aos nossos valores e princípios». Creio que só assim será honesto
tomar uma posição, só assim o museu estará permeável à mudança que tantos
apregoam e poucos praticam. Uma tomada de posição consciente, reflectida, em
sintonia com a identidade do museu e com o que se passa à sua volta: é um processo
em permanente construção. Alterações deste calibre não se produzem de forma
instantânea, exigem equipas e direcções empenhadas em fazer esse caminho, de uma
forma continuada e, claro, assumindo riscos. Não se pode continuar a fazer o mesmo e
esperar resultados diferentes.
Será por isso que são poucos os museus que ousam sair da sua área de conforto,
daquela onde operam habitualmente? Pergunto se não estamos constantemente a
inventar novas formas de envolvimento do “outro” disfarçadas de boas intenções
interculturais, numa fachada que se usa orgulhosamente, mas que ainda não se
interiorizou? Esta mudança não deixará de estar presente na arquitectura das
diferentes unidades orgânicas que compõem o museu e da forma como opera as suas
funções sociais. As questões da participação, da inclusão social, da acessibilidade das
pessoas que são diferentes, não podem, nem devem, ficar restritas aos serviços
educativos/serviços de mediação e educação sob pena de não passarem de um
simulacro de serviços prestados às comunidades. Uma vez mais, tem de partir do
museu: olhar para dentro e perceber quem e o que existe ao redor 4. Perguntamos: será
ou não obrigatório para o museu encarar esta nova realidade, a coexistência de
refugiados na comunidade?
Fazer diferente para fazer a diferença. Não existem receitas nem caminhos que
sirvam todos os museus, assim como não existem actividades, nem serviços que sirvam
todos os públicos, ao mesmo tempo e da mesma forma. Cada museu é único, mas cada
um pode fazer a diferença. Tal como as pessoas, trata-se de uma questão de atitude,
de vontade de fazer a diferença, de ouvir o outro.
Os exemplos que conhecemos assentam em colaborações e parcerias com outras
organizações e, muitas vezes, envolvem a participação directa daqueles que são
diferentes na definição e implementação de propostas 5 . Sabemos que ao encontrar
interlocutores adequados se garante a participação e o envolvimento das comunidades,
transforma o museu num espaço de diálogo e de partilha (usando as colecções para
criar conexões entre os vários intervenientes) e contribui para uma maior coesão social.
Cf. Carbone, Stan. 2003. “The Dialogic Museum.” Muse 31 (1): 3639.
O livro The Participatory Museum (2010), escrito pela Nina Simon, parte do pressuposto que os museus
precisam mudar, estão a mudar e no futuro ainda vão mudar mais.
4
5
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A falta de recursos financeiros é uma maleita crónica para os museus e deve ser
rejeitada como pretexto para continuar de braços cruzados. A sustentabilidade de
qualquer intenção de inclusão social dependerá mais da capacidade do museu para
envolver efectivamente as comunidades em iniciativas de co-criação que tragam um
genuíno significado para a vida quotidiana dos refugiados.6
Podemos encarar estes desafios como inevitabilidades, no entanto, será a forma como
vamos encontrar as respostas que vai depender a existência de muitos museus no
futuro. Certamente algo menos positivo ficará reservado aos museus semelhantes a
repositórios aborrecidos e cinzentos, sem relevância e onde só se vai obrigado.
Encaro os museus como sistemas vivos, de educação não-formal ao longo da vida,
capazes de transformar as pessoas, ajudando a fazer sentido do mundo intercultural,
interdependente e complexo em que vivemos. Certamente que se esperam obstáculos,
dificuldades e desafios, mas igualmente capacidade de adaptação, resiliência e
superação. Os museus que conseguirem criar contextos interpretativos e experiências
fortes capazes de surpreender (e transformar) a vida das pessoas, serão entendidos
como lugares de espanto, encantamento e descoberta. E quem é que não deseja isso
para os museus?
6
Cf. Sergi, Domenico. 2013. “Museos y la Integración de Refugiados en el Reino Unido.” EARI Educación
Artística Revista de Investigación 4: 49–65. https://ojs.uv.es/index.php/eari/article/view/2658.
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ENTREVISTA com Clara Bertrand Cabral e Lurdes Camacho
Fez em 2015 dez anos que a Convenção
sobre a Protecção e a Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais foi
adoptada pela UNESCO (Convenção de
2005). Portugal ratificou o documento
em 2007. A celebração da efeméride
continua em 2016, mas é tempo de
balanços e de perspectivar linhas futuras.
Qual é a importância desta Convenção?
Qual é o seu impacto nas políticas
nacionais? Qual pode ser o contributo dos
museus? A estas e outras questões dão-nos o seu testemunho Clara Bertrand Cabral,
técnica superior da área da cultura da Comissão Nacional da UNESCO e Lurdes Camacho,
directora de Serviços de Relações Internacionais do Gabinete de Estratégia,
Planeamento e Avaliação Culturais, e ponto focal em Portugal da Convenção de 2005.
****
No essencial, em que consiste a Convenção sobre a Protecção e a Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais?
A Convenção sobre a Protecção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais
foi adoptada pela conferência geral da UNESCO em Outubro de 2005 e constituiu o
primeiro instrumento internacional que reconhece a dupla natureza, simultaneamente
económica e cultural, dos bens e dos serviços que se encontram no âmago das
economias criativas mundiais.
O artigo 1.º da Convenção indica claramente os seus objectivos, desde logo proteger e
promover a diversidade das expressões culturais, como a própria designação da
Convenção indica, mas também criar condições que permitam às culturas desenvolverse e interagir livremente de forma mutuamente proveitosa; incentivar o diálogo entre
culturas por forma a garantir intercâmbios culturais mais intensos e equilibrados no
mundo, em prol do respeito intercultural e de uma cultura de paz; fomentar a
interculturalidade a fim de desenvolver a interacção cultural, no intuito de construir
pontes entre os povos; promover o respeito pela diversidade das expressões culturais e
a consciencialização do seu valor a nível local, nacional e internacional.
A Convenção atribui uma importância muito especial aos países menos desenvolvidos,
incluindo nos seus objectivos o de reafirmar a importância dos laços entre cultura e
desenvolvimento em todos os países e apoiar as acções organizadas nos planos nacional
e internacional para que se reconheça o valor de tais laços, bem como o de reforçar a
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N.º 5
cooperação e a solidariedade internacionais num espírito de parceria, a fim de
aumentar as capacidades dos países em vias de desenvolvimento para proteger e
promover a diversidade das expressões culturais.
Finalmente, a Convenção de 2005 visa reconhecer e dinamizar as indústrias culturais a
nível nacional ao reconhecer a natureza específica das actividades, bens e serviços
culturais como portadores de identidades, valores e significados, e ao reiterar o direito
soberano dos Estados a conservar, adoptar e pôr em prática no seu território as
políticas e medidas que considerem adequadas à protecção e à promoção da
diversidade das expressões culturais.
“a Convenção de 2005 tem o seu foco nas indústrias
culturais”
A Convenção foi já ratificada por 140 Estados parte, entre os quais Portugal. É a única
convenção da UNESCO ratificada pela União Europeia, o que atesta a importância
atribuída pelos países europeus às questões relacionadas com este tema.
Qual a importância deste instrumento para as políticas culturais em Portugal?
Em geral as iniciativas desenvolvidas em Portugal no âmbito das convenções da
UNESCO têm uma visibilidade e promoção acrescidas, sendo percebidas como
actividades credíveis e de qualidade. Assim, uma maior divulgação em Portugal da
Convenção de 2005 e dos seus princípios poderá contribuir para um acréscimo da
visibilidade das iniciativas desenvolvidas nesta área que se enquadram nos princípios
da UNESCO, como por exemplo as que tratam temas como a liberdade de expressão, o
diálogo intercultural, a defesa das várias dimensões do género ou a salvaguarda do
património, entre muitas outras.
O relatório Re|Shaping Cultural Policies, divulgado no passado dia 16 de Dezembro e
que faz o balanço da execução da Convenção nos últimos dez anos, refere que desde
2005 sete Acordos comerciais concluídos pela União Europeia integram uma ou mais
referências explícitas à Convenção. Considerando que a União Europeia tem 28 Estados
membros e que os sete Acordos foram concluídos com outros 26 Estados, então, no
conjunto estão implicados nestas negociações 55 Estados, bem como a própria União
Europeia.
Em Portugal, felizmente, é cada vez mais frequente a inclusão de referências à
Convenção de 2005 nos instrumentos de cooperação bilateral assinados entre Portugal
e outros países. No entanto, encontramo-nos ainda aquém do desejável.
Em 2016 Portugal terá de elaborar e apresentar o seu segundo relatório quadrienal e
nessa altura, pela informação recolhida, teremos oportunidade de efectuar um balanço
destes dez anos de Convenção e de avaliarmos a evolução desde o relatório
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
apresentado há quatro anos. Mas tudo leva a crer que ainda temos algum caminho a
percorrer até que a Convenção de 2005 desempenhe realmente um papel central na
criação e no desenvolvimento das políticas culturais em Portugal.
Que balanço é possível fazer em Portugal quanto ao impacto da ratificação da
Convenção de 2005?
Portugal entregou em Abril de 2012, o relatório quadrienal sobre a implementação da
Convenção no nosso país (disponível online). As dificuldades encontradas na altura
permanecem e falta ainda uma divulgação mais ampla da Convenção e dos benefícios
que poderá trazer às indústrias criativas.
O nosso país ratificou a Convenção em Março de 2007, parece muito tempo mas, de
facto, demora sempre alguns anos até as Convenções terem visibilidade, serem
apropriadas pelos cidadãos e começarem a ter uma aplicação prática. O que se verifica
é decorrerem inúmeras iniciativas que poderiam ser desenvolvidas no contexto da
aplicação da Convenção o que certamente lhes conferiria maior visibilidade e
divulgação.
Não podemos também esquecer programas que não dependem directamente da
aplicação da Convenção de 2005, mas que incidem sobre a diversidade das expressões
culturais e, neste caso, há que referir a Rede de Cidades Criativas, criada em 2004
pela UNESCO para desenvolver a cooperação internacional entre cidades (urbes) que
identificaram a criatividade como um factor estratégico para o desenvolvimento
sustentável. Assim, a Rede de Cidades Criativas tem por objectivos fortalecer a criação,
produção, distribuição e fruição dos bens culturais e serviços a nível local; promover a
criatividade e expressões criativas, especialmente entre os grupos vulneráveis,
incluindo mulheres e jovens; melhorar o acesso e a participação na vida cultural, bem
como a fruição de bens culturais; integrar as indústrias culturais e criativas em planos
de desenvolvimento local.
As cidades criativas da Rede desenvolvem iniciativas mediante parcerias entre os
sectores público e privado, organizações profissionais, comunidades, sociedade civil e
instituições culturais, promovendo e facilitando a partilha de experiências,
conhecimentos e recursos entre as cidades membros como um meio para promover as
indústrias criativas locais e o desenvolvimento urbano sustentável.
A adesão à Rede é enquadrada em sete temas - literatura, cinema, música, artesanato
e arte popular, design, artes e media, gastronomia – e em Dezembro de 2015 a Rede
integrou as primeiras cidades criativas portuguesas: Idanha-a-Nova como Cidade
Criativa da Música e Óbidos como Cidade Criativa da Literatura.
O que falta fazer em Portugal quanto à implementação da Convenção de 2005?
É necessária uma maior divulgação dos princípios e benefícios da Convenção de 2005,
para que possa ser mais amplamente implementada. Seria útil a realização de
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
seminários e workshops sobre o tema para o debate e troca de experiências entre os
agentes culturais, por exemplo, assim como uma maior divulgação das iniciativas que
inúmeras entidades desenvolvem e que, de facto, se encontram alinhadas com a
Convenção de 2005, ainda que não tenham sido pensadas dessa forma.
É importante que as entidades públicas interiorizem e ponham em prática os princípios
referidos na Convenção como o apoio a sistemas sustentáveis de governança para a
cultura e o desenvolvimento de medidas que permitam alcançar um fluxo equilibrado
de bens e serviços culturais, aumentando a mobilidade dos artistas e profissionais da
cultura. Importa sublinhar que a Convenção de 2005 se encontra bem alinhada com os
objectivos de desenvolvimento sustentável fundados na cultura da Agenda 2030,
podendo dar-se como exemplo o referido no artigo 13.º, designadamente que «as
Partes empenhar-se-ão em integrar a cultura nas suas políticas de desenvolvimento, a
todos os níveis, tendo em vista criar condições propícias ao desenvolvimento
sustentável e, neste contexto, privilegiar os aspectos ligados à protecção e à promoção
da diversidade das expressões culturais».
Finalmente, a Convenção é também um instrumento privilegiado para fomentar e
preservar os direitos humanos e as liberdades fundamentais, como estatuído no artigo
2.º, podendo constituir uma excelente base de trabalho para a educação das gerações
mais novas no respeito pela paz, pela tolerância e pelo diálogo.
“ falta ainda uma divulgação mais ampla da
Convenção e dos benefícios que poderá trazer às
indústrias criativas”
Todavia, todos estes objectivos são muito difíceis de alcançar sem o empenho e a
colaboração da sociedade civil em geral e das organizações não-governamentais em
particular. Neste campo, pode-se referir o trabalho desenvolvido pela Coligação
Portuguesa para a Diversidade Cultural, mas existem muitas outras associações,
sociedades, clubes, que desenvolvem trabalho nestas áreas que fica por conhecer.
Seria muito importante a constituição de uma base de dados de boas práticas,
disponível para consulta, que possibilitasse a partilha de experiências, facilitasse o
estabelecimento de parcerias e servisse de inspiração a outras entidades para
desenvolver actividades nas áreas de intervenção da Convenção.
Um documento imprescindível para o melhor conhecimento e aplicação da Convenção
são as Directrizes Operacionais que reúnem as decisões do Comité da Diversidade
Cultural num único documento constituindo, no fundo, a “regulamentação” da
Convenção. Estão disponíveis no website da UNESCO juntamente com outros textos
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fundamentais da Convenção e esperamos que em breve esteja disponível a versão em
português. Este é um documento sempre em actualização, e a consulta do capítulo
sobre educação e sensibilização do público aponta medidas concretas que poderão ser
desenvolvidas a nível nacional.
Como é que a celebração dos dez anos da Convenção foi acolhida em Portugal? Que
iniciativas foram desenvolvidas?
O 10.º aniversário da Convenção de 2005 constitui uma excelente oportunidade para
celebrar a diversidade cultural, a criatividade e o papel da cultura no desenvolvimento
sustentável; oferece um enquadramento privilegiado para se encontrarem novos
caminhos de promoção da criatividade, da inovação e do desenvolvimento inclusivo,
equitativo e durável, bem como para efectivar a integração da cultura na Agenda 2030
das Nações Unidas.
Durante o ano de 2015 a Comissão Nacional da UNESCO, o Gabinete de Estratégia,
Planeamento e Avaliação Culturais (que alberga o ponto focal da Convenção em
Portugal) e a Coligação Portuguesa para a Diversidade Cultural desenvolveram algumas
actividades de promoção da Convenção e de divulgação dos seus princípios, valores e
objectivos, como a organização de um colóquio no Museu do Fado no dia 21 de Maio,
Dia Internacional da Diversidade Cultural.
Gostaríamos que muitas mais actividades que foram, e estão a ser, realizadas e
agendadas – pois a celebração prosseguirá em 2016 - pudessem ser organizadas no
âmbito destas comemorações e deixamos desde já o convite a todos quantos
desejarem fazê-lo a contactar a Comissão Nacional da UNESCO ou o Gabinete de
Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais para poderem utilizar o logótipo que foi
criado de propósito para a comemoração deste 10.º aniversário da Convenção.
Há por vezes alguma confusão entre a Convenção de 2005 e a Convenção de 2003,
que é dedicada ao Património Cultural Imaterial. Quais são as principais diferenças?
São convenções com objectivos diferentes mas que, em muitos aspectos, se tornam
complementares. A Convenção de 2005 tem o seu foco nas indústrias culturais e na sua
disseminação, lida com as actividades, bens e serviços culturais contemporâneos
enquanto produtos económicos e valoriza sobretudo as criações individuais. A
Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial de 2003, por seu lado,
incide sobre os conhecimentos, práticas, representações, expressões e saberes-fazer
colectivos, fundados nas comunidades e transmitidos de geração em geração,
colocando o enfoque na salvaguarda das práticas para evitar que se percam.
No entanto, em ambas as convenções existem princípios gerais, que são os das Nações
Unidas e, por conseguinte, da UNESCO enquanto agência especializada da ONU para a
cultura, os quais são aplicáveis às actividades desenvolvidas por ambas as convenções.
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Podem referir-se o respeito pelos direitos humanos e a liberdade, o desenvolvimento
sustentável ou a prioridade dada ao ser humano e ao seu bem-estar e dignidade.
No essencial, a Convenção de 2005 trata as questões relacionadas com as indústrias
criativas enquanto a Convenção de 2003 procura salvaguardar as tradições alicerçadas
no tempo que permanecem funcionais - e aqui é necessário sublinhar que o Património
Cultural Imaterial não é sinónimo de ruralidade, de práticas antigas e ultrapassadas,
pois a Convenção frisa bem, na definição de Património Cultural Imaterial, a
necessidade de recriação constante e de adaptabilidade aos tempos actuais do
património intangível, questão que muitas vezes não é bem compreendida.
A nível nacional parece ter havido mais impacto da Convenção de 2003 do que a
Convenção de 2005 nas políticas culturais? Concordam? A que se deve?
A Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial nasceu inspirada na
Convenção do Património Mundial e inclui mecanismos semelhantes que beneficiaram
da popularidade já alcançada pela Convenção de 1972. É possível que o impacto da
Convenção de 2003 e o seu sucesso se devam principalmente à possibilidade de
inscrição de elementos patrimoniais em listas, o que origina uma grande visibilidade e
torna a Convenção mais atractiva e eficaz para a promoção local e regional.
São inúmeros os municípios que pretendem inscrever elementos na Lista
Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade ou na Lista do
Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente para darem a
conhecer o seu património - o que não é de todo negativo desde que os benefícios
decorrentes dessa promoção patrimonial revertam a favor dos detentores do
património. Mas não nos devemos esquecer que o objectivo principal da Convenção de
2003, tal como o nome indica, é a salvaguarda do Património Cultural Imaterial, sendo
a inscrição em listas e a promoção e divulgação daí decorrentes apenas alguns dos
aspectos que devem ser atendidos. A este respeito, a TSF transmitiu recentemente
uma entrevista com Cecile Duvelle, directora da secção do Património Cultural
Imaterial na UNESCO, onde esta explica muito claramente quais os objectivos da
Convenção do Património Cultural Imaterial (http://www.tsf.pt).
A Convenção de 2005, neste aspecto, é menos imediata e mediática, pois as expressões
culturais não são divulgadas através de qualquer lista ou outro mecanismo e o próprio
Fundo Internacional para a Diversidade Cultural só pode financiar projectos
desenvolvidos por países em desenvolvimento, não sendo Portugal elegível.
Apesar disto, e como referido anteriormente, acreditamos que este é um caminho que
estamos a percorrer, mas que leva o seu tempo, e a UNESCO tem-se esforçado por dar
maior visibilidade à Convenção de 2005 e, principalmente, aprofundar a reflexão sobre
as suas várias vertentes, disponibilizando informação e estudos no website dedicado à
Convenção (http://en.unesco.org/creativity/).
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Além do relatório Re|Shaping Cultural Policies também foi recentemente divulgado o
Full Analytic Report (2015) on the Implementation of the UNESCO 1980
Recommendation Concerning the Status of the Artist, que tem interesse para a
reflexão sobre as questões relacionadas com a Convenção de 2005. A Recomendação
Relativa ao Estatuto do Artista foi adoptada pela conferência geral da UNESCO em 1980
e convida os Estados membros a melhorar o estatuto profissional, social e económico
dos artistas através da implementação de políticas e medidas relacionadas com a
formação, emprego, segurança social, as condições de rendimentos e impostos,
mobilidade e liberdade de expressão. Também reconhece o direito dos artistas a se
organizarem em sindicatos ou organizações profissionais que podem representar e
defender os interesses dos seus membros. Não sendo um documento vinculativo,
poderá contribuir para uma mais eficaz implementação da Convenção de 2005.
Na vossa opinião, qual pode ser o contributo dos museus neste domínio?
Os museus são entidades privilegiadas para alcançar uma melhor e mais ampla
divulgação da Convenção de 2005, podendo contribuir muito positivamente para a sua
implementação em Portugal. Os museus são actualmente muito mais do que meros
repositórios de artefactos e a Convenção de 2005 oferece um quadro conceptual para a
implementação de actividades relacionadas com o vasto e diversificado trabalho que os
museus são actualmente chamados a desenvolver.
Importa aqui recordar a Recomendação da UNESCO Relativa à Protecção e Promoção
dos Museus e das Colecções, da sua Diversidade e do seu Papel na Sociedade, aprovada
pela UNESCO em Novembro, que reconhece ser a comunicação uma das funções
primordiais dos museus. Neste âmbito, a Recomendação indica que «os (…) museus
devem ser incentivados a usar todos os meios de comunicação para desempenhar um
papel activo na sociedade através, por exemplo, da organização de eventos públicos,
participando em actividades culturais relevantes e noutras interacções com o público,
de forma presencial e digital».
Os museus intervêm já activamente na implementação a nível nacional das várias
convenções da UNESCO como a Convenção do Património Mundial e a Convenção para a
Salvaguarda do Património Cultural Imaterial. Seria certamente oportuno que os
museus começassem a intervir activamente nas áreas abrangidas pela Convenção de
2005, pois isso certamente ajudaria a enquadrar de forma mais objectiva muitas das
acções realizadas pelos museus, dando-lhes uma visibilidade acrescida e um escopo
mais abrangente.
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NOTÍCIAS ICOM
Memória e Migrações, as Cidades e os seus Museus
Conferência Anual do CAMOC
Joana Sousa Monteiro, directora do Museu de Lisboa
A conferência anual do CAMOC (Comité
Internacional do ICOM para as Colecções e
Actividades dos Museus de Cidade) deste ano
(24 Set. 2015) foi especial, pois tratava-se de
comemorar os dez anos deste jovem comité
criado em Moscovo. Decidiu a direcção do
CAMOC regressar a Moscovo para uma
conferência dedicada ao tema das migrações e
da memória no âmbito dos museus de cidade. A
este tema principal juntou-se o da redefinição
do conceito de museu de cidade, que foi mote
do principal workshop desenvolvido durante a
conferência (cf. programa).
Conferência do CAMOC no Museu de
Moscovo, 2015  CAMOC
Os trágicos acontecimentos dos últimos meses tornaram o tema das populações
migrantes em contexto urbano numa problemática que urge mais ainda debater com
persistência e sabedoria no âmbito dos museus de cidade que se pretendem actuais.
Foram exemplos paradigmáticos da importância deste assunto para os museus em geral
e para os museus de cidade em particular, duas das comunicações iniciais, a do
keynote speaker Morris Vogel, director do Lower East Side Tenement Museum de Nova
Iorque, e a de Diana Pardue, responsável pelo Ellis Island National Museum of
Immigration (Nova Iorque). Foram explanados de modo muito interessante conceitos de
inclusão e de exclusão; a ideia dos museus “de tolerância” e das “narrativas
museológicas compensatórias”; a questão das histórias ainda excluídas da história
dominante; a diferença entre tolerância e inclusão em relação à imigração no discurso
expositivo; ou a diferença entre migrantes e refugiados.
Perante as intervenções de outros museus de imigração (como o Museu da Imigração de
São Paulo) e de museus de cidade como o Museu de Antuérpia (MAS), o Museu de
Copenhaga, ou o Museu de Roterdão, e tendo em conta o bom trabalho em curso de
documentação relativa às populações migrantes, foi extraordinário verificar como,
muitas vezes, as memórias das famílias que partem se cruzam com as memórias das
famílias que chegam, no âmbito dos acervos destes mesmos museus.
Há um trabalho muito complexo, mas de grande relevância para os tempos que
vivemos, que os museus de cidade podem fazer com as suas comunidades migrantes,
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tal como atestam os vários exemplos dados nesta conferência, em prol do respeito e do
conhecimento pelas comunidades urbanas actuais e pela sua memória, em defesa,
portanto, dos direitos humanos. O psicólogo social Eugene Tartakovsky, sediado em
Israel, apresentou uma comunicação sobre a importância das redes sociais de
imigração e afirmou a importância que os museus actuais têm na compreensão dos
fenómenos das migrações enquanto mediadores culturais. Recordou-nos como somos
todos imigrantes neste planeta, apenas diferindo nos tempos de chegada e de partida.
A redefinição da tipologia de museu de cidade foi um trabalho iniciado pelo CAMOC
através da aplicação de um inquérito a todos os membros individuais e institucionais do
comité, bem como a responsáveis de outros museus de cidade não membros. Os
resultados do inquérito foram apresentados e discutidos numa reunião promovida pelo
Museu de Berlim em Março passado e publicados na revista digital do comité de Julho
(Camocnews).
A segunda parte da conferência de Moscovo foi dedicada à redefinição do conceito de
museu de cidade, sendo que nos coube apresentar a comunicação inicial prévia ao
workshop, a qual incidiu sobre o recente processo de transformação do Museu de
Lisboa, na perspectiva da mudança conceptual e programática de um antigo museu
municipal para um museu de cidade contemporâneo, como um caso de estudo com
similitudes com muitos outros museus de cidade actuais, reconfigurados ou criados de
novo.
Do workshop realizado surgiu o elencar de novos desafios e novos valores que emergem
para os museus de cidade, tipologia dinâmica por natureza, tais como: a necessidade
de acompanhar a constante mudança; a importância da promoção do sentido de
pertença; o posicionamento do discurso museológico na inclusão e no pluralismo; a
promoção da conexão entre as pessoas, entre outros (resultados publicados na
Camocnews de Outubro).
Voltando ao tema inicial da inter-relação crescente entre museus de cidade e
migrações, o modo como esta conferência se desenvolveu levou à organização do
primeiro workshop sobre metodologias de trabalho em museus de cidade com
comunidades migrantes urbanas, que teve lugar no Open Museum, em Glasgow, a 26 e
27 de Novembro de 2015.
Nota da ed.: Está disponível um vídeo-resumo da conferência: https://www.youtube.com
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Embaixadores do Diálogo: O Papel dos Presentes Diplomáticos, Obras de
Arte e Outros Artefactos no Intercâmbio Cultural
Conferência Anual do ICOMAM e ICDAD
Maria José Gaivão de Tavares, conservadora, Palácio Nacional da Ajuda
Dedicado ao tema Embaixadores do Diálogo – O
Papel dos Presentes Diplomáticos, Obras de
Arte e Outros Artefactos no Intercâmbio
Cultural, esta foi a primeira conferência
organizada em conjunto pelos dois comités
ICOMAM (Comité Internacional do ICOM para
Museus de Armas e de História Militar) e ICDAD
(Comité Internacional do ICOM para Museus e
Colecções de Artes Decorativas e de Design).
Teve lugar em Cracóvia, na Polónia, entre 15 e
20 Setembro de 2015.
Sala da conferência no Museu Nacional de
Cracóvia
O facto de se terem associado dois comités que aparentemente parecem tratar de
assuntos quase antagónicos, foi francamente interessante e de grande proficuidade.
Se quando pensamos em fardas, armaduras, espadas, canhões ou pistolas não pensamos
em artes decorativas, a verdade é que as artes decorativas estão presentes em grande
parte dos objectos militares. O inverso é também de considerar. Quantos objectos
bélicos integram colecções dos museus de arte? Quantas vezes os conservadores de
arte se deparam com objectos dessa natureza como por exemplo punhais, armaduras,
espingardas cuja função é preciso esclarecer?
Não faltam exemplares deste tipo no Palácio Nacional da Ajuda. Como é o caso das
armaduras japonesas, catanas, espingardas, adagas e espadas das colecções reais.
O tema central do congresso dividiu-se em três painéis: «Museus e Presentes
Diplomáticos», «A Europa e o Oriente» e «Interpretação e Intercâmbio entre Culturas».
No primeiro painel apresentaram-se várias tipologias de presentes diplomáticos que
integram as colecções dos museus militares e museus de artes decorativas: das armas
às porcelanas passando pelo coral, ouro, prata, vidro, têxteis e até animais de
estimação. Os presentes magnificentes e os presentes “envenenados”, a sua
interpretação e conservação e as razões pelas quais se conservam nos museus.
No segundo painel, dedicado à temática das trocas interculturais ocidente-oriente e da
importância dos objectos na apresentação do “eu” e conhecimento do “outro”, foi
apresentada a comunicação do Palácio Nacional da Ajuda pela signatária, com o apoio
de uma bolsa do ICOM Portugal. Intitulada «Os Presentes Diplomáticos do Japão e a
Criação da Sala Chinesa no Palácio da Ajuda» tratava-se da apresentação de uma
pesquisa sobre os presentes diplomáticos oferecidos pelo governo do Japão aos reis D.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Pedro V e D. Luís, em 1861 e 1864 respectivamente, ainda hoje existentes nas
colecções do Palácio Nacional da Ajuda.
A assinatura do Tratado de Paz, Amizade e Comércio entre os dois países, a visita da
delegação japonesa a Portugal em 1862, recebida na Sala do Trono do Palácio da Ajuda,
e a identificação dos referidos objectos, a partir de documentação histórica,
permitiram, de certa forma, compreender o estado das relações diplomáticas PortugalJapão e fazer o levantamento da decoração da Sala Chinesa do Palácio à época.
Ainda no segundo painel foram apresentadas comunicações sobre ofertas do Império
Otomano à Áustria, da Suécia à Pérsia e entre a Grã-Bretanha e o Sultanato de Oman.
Presentes que criaram paz e presentes incompreendidos.
No terceiro painel analisaram-se questões pertinentes no que diz respeito à
interpretação: os presentes dialogam, submetem, obrigam, podem até ser uma
maldição? Preenchem expectativas, demonstram poder ou gratidão, agradam,
espantam e agraciam…
No terceiro dia do congresso reuniram-se os comités individualmente. O ICDAD lançou o
mote Craftsmanship and lifestyle para a reunião-geral do ICOM 2016.
As visitas aos museus de Cracóvia, nomeadamente ao Museu da Universidade de
Cracóvia, ao Castelo de Cracóvia, ao Museu Nacional de Cracóvia e ainda à Mina de Sal
de Wieliczka, cujas visitas foram efectuadas pelos conservadores das mais diversas
áreas, foram oportunidades únicas para partilhar conhecimentos, práticas e
dificuldades inerentes à profissão. Por fim, destacamos a exposição temporária
Ottomania: The Ottoman Orient in Renaissance Art patente no Museu Nacional de
Cracóvia, não só pelo interesse do tema e riqueza das peças apresentadas, mas
também pelo design expositivo e pela museografia.
Nota da ed.: Mais informações em: http://www.icom-icdad.com
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Datas Especiais, Celebrações Diferentes Como Cativar o Público?
23.ª Conferência Internacional da IACM
Suzana Faro, coordenadora do Museu dos Transportes e Comunicações, Porto
Decorreu na Alfândega do Porto, entre 16 e 18 de
Setembro, a conferência anual e assembleia-geral da
IACM (International Association of Customs Museums)7,
organizada este ano pelo Museu das Alfândegas –
integrante do Museu dos Transportes e Comunicações
(MTC) -, representante nacional nesta associação
internacional.
A 23.ª conferência da IACM adoptou como tema What
do We do on Special Events to Attract Visitors?,
procurando deste modo partilhar experiências e
reflectir sobre a acção dos museus aduaneiros ao nível
mundial.
23.ª Conferência Internacional da IACM
 Museu dos Transportes e
Comunicações, Porto
O programa associou igualmente visitas à Alfândega Velha (Casa do Infante) e à
Alfândega Nova do Porto – sede do museu -, bem como à cidade do Porto, procurando
deste modo partilhar e promover não só o panorama museológico local nesta área, mas
também a cidade e a sua forte tradição comercial.
A conferência contou com 30 delegados de diversos museus aduaneiros do mundo:
Alemanha, Áustria, Azerbaijão, Bélgica, China, Eslováquia, Estados Unidos, Finlândia,
França, Holanda, Hungria, Lituânia, Luxemburgo, Noruega, República Checa, Suíça e
Portugal.
Na sessão inicial foi apresentado o programa para a próxima conferência da IACM, a
realizar em parceria pelos museus aduaneiros da Áustria (Kustos des Österreichischen
Zollmuseums) e da Eslováquia (Financial Directorate of the Slovak Republic) e a
decorrer alternadamente em Viena e Bratislava, de 21 a 23 de Setembro de 2016.
O tema suscitou a apresentação de diversas comunicações, reflectindo, de um modo
geral, sobre o trabalho dos museus com os seus públicos e as estratégias subjacentes à
sua acção.
A apresentação do Museu Aduaneiro do Azerbaijão (Azerbaijan Customs Museum), com
sede em Baku, foi alicerçada num vídeo espelhando a sua acção abrangente no sentido
do alargamento de públicos, frisando, por um lado, o seu trabalho fora de portas e
além-fronteiras, numa aposta na promoção da expressão cultural do Azerbaijão; e, por
outro, no projecto de museu virtual direccionado para os utilizadores da Internet.
7
Nota da ed.: Organização afiliada do ICOM.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
O Museu Aduaneiro da China (China Customs Museum), em Pequim, que integrou a
IACM nesta assembleia-geral (realizada a 17 de Setembro de 2015), optou por uma
apresentação mais ampla e não exclusivamente centrada no tema proposto. O museu
inaugurou em 2014, após dez anos de trabalho na sua preparação, ocupando uma área
de mais de 8000 m2 de exposição permanente, centrada na história aduaneira chinesa.
Da apresentação do Museu Aduaneiro da Alemanha (Deutsches Zollmuseum), localizado
em Hamburgo (numa área classificada em 2015 como Património Mundial), destacou-se
a forte ligação que promove a cidade, a sua população e território. Sublinhou-se, entre
outros, o trabalho conjunto na celebração da Noite dos Museus (envolvendo o trabalho
articulado de 57 museus e galerias da cidade), bem como a participação no programa
Future Day, alicerçado numa plataforma de abrangência nacional, que permite
apresentar aos mais novos várias opções profissionais.
O Museu Aduaneiro da Hungria (Pénzügyőr- És Adózástörténeti Muzeum), em Budapeste,
expôs claramente a sua aposta num forte envolvimento com a comunidade. Saliente-se
a exposição temporária anual de novas doações do museu (associada à cerimónia de
entrega de diplomas aos doadores), destacando deste modo o seu papel na construção
do museu e ao reforçar o envolvimento e a criação de laços afectivos de proximidade
com a comunidade; ou ainda o envolvimento no multicultural Festival Sziget, de
âmbito nacional.
Da actividade do Museu Aduaneiro da Holanda (Tax & Customs Museum), em Roterdão,
museu recentemente remodelado, sublinha-se o original projecto Museumstreet, em
que o museu sai fora de portas e entra na casa dos habitantes da cidade expondo aí
objectos da sua colecção e permitindo a estes, por sua vez, abrirem as suas portas por
um dia para a visita dos seus vizinhos. Esta é, de resto, uma aposta forte do Tax &
Customs Museum, que terminou a sua apresentação reforçando a importância de trazer
o museu para fora das suas paredes, “saindo dos eixos”, envolvendo-se e envolvendo a
comunidade, pese embora, muitas vezes, a incerteza do resultado final.
O Museu das Alfândegas, parte integrante do Museu dos Transportes e Comunicações
que tem sede na Alfândega do Porto, Portugal, é o representante nacional na IACM. O
museu centrou a sua apresentação na importância do tempo para o museu e seu
trabalho público (exemplificado em diversos projectos que vem desenvolvendo): a
importância do tempo histórico; o tempo dedicado ao trabalho de “bastidores” que
garante a qualidade do serviço público que presta; o tempo que dedica a quem o
visita; e o tempo que cada visitante lhe dedica. Neste contexto, foi realçada a acção
do museu no sentido do reforço dos laços de proximidade com os seus públicos,
alicerçado na importância da comunicação (saber falar e saber ouvir) e suas amplas
possibilidades na contemporaneidade, e traduzida através de acções diversas que
permitam promover o conhecimento e o respeito pelo património e reforçam, assim, a
relevância do museu.
Com sede em Helsínquia, o Museu Aduaneiro da Finlândia (Tullimuseo), trouxe para a
conferência a sua experiência na participação, juntamente com outros museus da
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
cidade, no IHME 2015 Modern Art Festival, realizado anualmente em Helsínquia e a
edição de 2015 (entre 16 e 27 de Março) focada nas mudanças sociais e nos factos e
objectos que a testemunham. O tema Do touch deu origem a um projecto em que
diversos objectos da colecção do museu (devidamente contextualizados), foram
apresentados em diferentes espaços, permitindo ao público tocar/manusear e, deste
modo, procurando criar laços e apelar à memória dos participantes. A acção assumiuse como uma experiência de marketing bem-sucedida, resultando numa abordagem de
pequeno investimento, mas de grande expressão em termos de participação.
Destacou-se na apresentação do Museu Aduaneiro de França (Musée National des
Douanes), em Bordéus, o desenvolvimento de acções de forte impacto público
associadas a um baixo investimento financeiro, tema particularmente actual e de
grande pertinência. O exemplo apresentado – a celebração da Noite Europeia dos
Museus ao longo de diversos anos – teve por base um conjunto de acções de visita
(gratuita), num modelo criativo e diferente do habitual, mais sensorial e inesperado,
que tem tido grande impacto e tem permitido cativar novas franjas de público.
A última apresentação coube ao projecto do Museu Aduaneiro dos Estados Unidos
(National Customs Museum Foundation) e teve por base a exposição do New London
Customs House Museum, no Connecticut, seus conteúdos e impacto público.
Esta partilha de ideias e experiências – mas também dificuldades - entre os vários
delegados constituiu matéria de grande interesse nesta conferência, reforçando o
sentido da constituição, em 1993, da própria IACM, que se assume como uma rede de
colaboração e partilha entre museus que promovem a temática aduaneira e a
preservação dos seus testemunhos, e que conta hoje com 26 membros representantes
de 26 países no mundo.
Nota da ed.: Mais informações em: https://museumevent.wordpress.com/iacm-conference/
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Preencher as Lacunas da Acessibilidade: O Desafio Educativo dos Museus
Conferência Anual do CECA
Mário Nuno Antas, correspondente nacional do CECA
Com um título ambicioso, a conferência anual do
CECA (Comité Internacional do ICOM para a
Educação e Acção Cultural) propunha-se a debater
o tema Museum Education and Accessibility:
Bridging the Gaps (Washington, 1721 Set. 2015).
Desenganem-se os que pensam que esta seria mais
uma conferência para debater as questões da
acessibilidade na sua vertente mais trabalhada: a
da acessibilidade física. Pois não foi. Não o foi
porque a acessibilidade foi debatida em larga
escala, isto é, a acessibilidade física para
diversos tipos de públicos, a acessibilidade
intelectual e a acessibilidade comunicativa.
Conferência anual do CECA em
Washington, 2015  CECA
Logo no texto inicial da conferência anunciava-se que esta iria considerar que a
acessibilidade está relacionada com o grau em que colecções de museus, programas e
experiência estão disponíveis para as pessoas. E quando os participantes da
conferência iniciaram a sua jornada de reflexão estavam bem cientes que em termos
de acessibilidade existem ainda muitas barreiras físicas, intelectuais, de tempo e de
distância que impedem as pessoas de terem mais oportunidades de aprendizagem.
Assim, o Smithsonian Center for Learning and Digital Access (Washington), anfitrião da
conferência, colocou a todos os participantes questões para serem reflectidas em
conjunto e para que as experiências fossem partilhadas. Como pode a educação no
museu colmatar as lacunas na acessibilidade? Que papéis podem desempenhar as novas
tecnologias e o acesso digital? O que sabemos sobre as motivações, as necessidades e
as expectativas dos públicos em relação aos museus? Que modelos de inclusão podem
os educadores de museu partilhar? Quais os exemplos de programas que permitem aos
visitantes melhorarem o seu conhecimento e qualidade de vida? Como podem os
educadores de museu manter e expandir esses modelos e programas? Como pode o
acesso digital expandir as oportunidades de aprendizagem e capacitar o público a
participar plenamente nas suas comunidades locais e na sociedade global? Que
perguntas devem os museus fazer a si mesmos sobre o uso e ética na utilização das
novas tecnologias e do acesso digital? Para todas estas questões e outras que surgiram
do debate, os participantes foram convidados a partilhar investigações, exemplos,
ideias, boas práticas e experiências.
Nota da ed.: No website da conferência encontra alguns vídeos das apresentações e outras
informações: https://cecadc2015.wordpress.com
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
O Acesso Enquanto Direito Humano: Relato da Conferência
Federation of International Human Rights Museums
Jean-Yves Durand, director do pólo do CRIA (Centro em Rede de Investigação em
Antropologia) na Universidade do Minho
É possível discutir acerca da amplitude exacta do
leque de “funções” reconhecidas como
definitórias do que são ou devem ser os museus,
em particular numa altura em que algumas das
evoluções que os afectam apontam para uma
fragmentação e uma profunda redefinição da sua
identidade num futuro próximo. Mas o simples
facto de se tratar de instituições abertas ao
público chega para que qualquer museu encerre
Museu da Nova Zelândia – Te Papa
sempre em si próprio problemáticas relacionadas
Tongarewa  Te Papa
com os direitos humanos. Alguns museus podem
escolher abordá-las de maneira mais ou menos assumida e deliberada. Outros, no
entanto, em razão das especificidades do seu objecto ou das características do seu
contexto histórico e sociocultural, vêem-se confrontados com a inevitabilidade de um
profundo envolvimento reflexivo (deles próprios mas também da variedade dos seus
parceiros) na busca de propostas favoráveis a uma inclusão social alargada.
É o caso do Museu da Nova Zelândia – Te Papa Tongarewa, onde decorreu, de 22 a 24
de Setembro de 2015, a sexta conferência da Federation of International Human Rights
Museum8. Instalado na zona portuária do centro de Wellington, a capital do país, num
edifício notável (construído no tempo previsto e sem ultrapassar o orçamento…) que
procura figurar a mediação entre os universos socioculturais autóctones e de origem
europeia. O museu abriu em 1998 para dar resposta ao crescente sentimento de
inadequação dos seus antecessores perante as evoluções da sociedade neozelandesa.
O país ilustra uma situação dita de post-settlement. A noção, de difícil tradução para
português, procura realçar a especificidade de sociedades pós-coloniais que têm uma
população com um forte contingente de descendentes dos colonos europeus e cujas
independências em geral já antigas resultaram mais da afirmação desse grupo perante
o controlo da “metrópole” do que das reivindicações das populações originais, ao
contrário do que aconteceu na fase última de descolonização na segunda metade do
séc. XX. Na sua ampla diversidade (Brasil, Estados Unidos, Austrália, África do Sul,
México…), estas sociedades tiveram todas de definir maneiras de lidar com um
multiculturalismo de facto. É com uma determinação muito variável que questionam
agora as desigualdades socioculturais herdadas da colonização, mas a Nova Zelândia
8
Nota da ed.: Organização afiliada do ICOM.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
encontra-se neste momento no grupo de países mais proactivos nesta área, e o
princípio de biculturalismo norteia todo o projecto de Te Papa Tongarewa.
Foi de facto logo à chegada que surgiu a oportunidade de constatar a centralidade
desta preocupação, com o pōwhiri, uma cerimónia formalizando uma tomada de
contacto entre dois grupos sociais, que decorreu no marae do museu. Este espaço de
encontro entre uma comunidade e os seus visitantes tem antes de mais um significado
identitário: em Te Papa, foi concebido de maneira a constituir um fórum simbólico dos
diversos iwis (“tribos”) do país e dos pākehās (pessoas de origem europeia), mas
igualmente dos grupos de imigração mais recente (entre os quais uma “comunidade”
portuguesa oficialmente reconhecida pelo Estado apesar de não ter mais do que
algumas centenas de pessoas). Algo surpreendidos, os participantes viram-se
envolvidos num protocolo maori estipulando que homens e mulheres formem grupos
separados e com papéis estritamente definidos, integrando elementos religiosos (é
frequente rezas cristãs fazerem parte de eventos públicos maoris) e cantos, e
concluindo-se com a troca de um hongi (saudação em que a testa e o nariz de duas
pessoas se tocam) entre todos. Longe de configurar uma encenação trivial, a cerimónia
tinha sensíveis implicações políticas ainda realçadas quando intervenientes indicaram
que o ano de 2015 marca os 175 anos do Tratado de Waitangi, celebrado entre a Coroa
britânica e chefes maoris, e o centenário da batalha de Gallipoli na primeira Guerra
Mundial, dois eventos fundadores da identidade nacional neozelandesa.
Estava assim dado o mote de uma conferência que se preocupou pouco com as
dimensões físicas, sensoriais, cognitivas e comunicacionais da questão da
acessibilidade dos museus. Em vez de focar esses aspectos, que estão mais ao alcance
de intervenções pontuais ou de bricolagens correctivas, mesmo em contextos de
grandes restrições orçamentais, as 28 comunicações e oito mesas-redondas (veja-se o
programa) debruçaram-se sobre a dimensão mais fundamental e complexa das
barreiras sociais e culturais: envolvimento de grupos minoritários ou estigmatizados,
autoridade partilhada em matéria de interpretação e de curadoria, repatriação de
bens espoliados, “histórias difíceis”, memórias colectivas traumáticas, patrimónios
polémicos (por corresponder a práticas tradicionais que colidem com o universalismo
dos “direitos humanos”).
Esta enumeração dos temas transversais aos três dias do encontro indica que a
acessibilidade nunca foi aqui abordada nos termos de uma democratização da cultura
entendida, à maneira de Malraux, como um esforço de alargamento dos públicos da
cultura “legítima”, reconhecida pelas elites, de difusão social de discursos culturais
predeterminados e autorizados. Pelo contrário, mesmo quando oriundos de países que
não primam pela sua multiculturalidade, os delegados pareciam partilhar, em
consonância com o projecto bicultural de Te Papa, da convicção da necessidade de
uma democracia cultural, necessariamente pluralista, que valoriza a variedade das
práticas culturais representadas na totalidade da sociedade e promove um acesso a
uma posição de autoridade das minorias na elaboração dos discursos.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Na Europa, as políticas públicas da cultura evidenciam vivas tensões entre as versões
mais extremas e exclusivas destas duas visões, em particular à volta das suspeitas de
relativismo associadas à última. Semelhantes receios não foram no entanto expressos
na conferência, talvez devido em parte ao facto de só se encontrarem sete europeus
num grupo de uma centena de participantes que provinham sobretudo da Ásia do
sudeste e de países periféricos do Pacífico, com as ausências notórias de qualquer
representação dos Estados Unidos e de países africanos.
O isolamento geográfico da Nova Zelândia (aproveito para agradecer a generosa bolsa
do ICOM Portugal que tornou a minha participação possível) foi também sensível na
curiosidade dos colegas locais acerca da museologia europeia. Reciprocamente, foi
estimulante partilhar durante três dias a vida de um museu nacional fervilhante com o
movimento permanente de públicos diversos: em 2013, após 15 anos de abertura, Te
Papa tinha acolhido 22 milhões de visitantes, num país com 4,5 milhões de habitantes
que se encontra afastado dos grandes fluxos turísticos internacionais. O acesso ao
museu é obviamente estimulado por um princípio de gratuidade que é ali
inquestionável. E outros aspectos chamativos encontram-se na espectacularidade e no
pathos da exposição temporária dedicada à batalha de Gallipoli, publicitada como
sendo “como nenhuma outra” e apoiada em meios de investigação e de cenografia
inimagináveis entre nós.
As considerações de imediatismo economicista encontram-se secundarizadas por
opções políticas de longo prazo, que vêem uma condição de desenvolvimento na
necessidade de lidar com uma realidade cultural fragmentada: Te Papa foi concebido
como um lugar de “discussão, debate, participação e celebração” para uma sociedade
“cada vez mais diversa”. Subjacente aos debates da conferência estava sempre a ideia
de considerar que o acesso aos museus, entre outras instituições culturais, constitui um
direito humano e obriga a adoptar uma visão aberta e fluida das identidades, numa
posição que contraria deliberadamente as crispações actuais: as dinâmicas identitárias
podem inverter-se com rapidez, em resposta a mudanças contextuais. A recente Taça
Mundial de râguebi fornece um exemplo algo trivial, mas porventura significante:
ninguém teria imaginado há poucas décadas que um haka maori poderia ser adoptado
pelos descendentes dos settlers e por imigrantes recentes.
Ora, a conferência decorreu no auge mediático da chamada “crise migratória” na
Europa, o que realçou a relevância do tema do “acesso”, considerado na sua acepção
mais geral, e as dificuldades que lhe são inerentes. No painel e na mesa-redonda em
que participei, insistiu-se na desadequação entre o ritmo habitual da actividade
museológica, definido pelo que tem sido até agora a centralidade das colecções, e a
reactividade exigida por certas emergências sociais. Mas é outro assunto, para outra
conferência e, sobretudo, para projectos de intervenção.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Legados Promotores de Diálogo Intergeracional
Conferência Anual do DEMHIST
Elsa Catarina Rodrigues, secretária-tesoureira do DEMHIST
Os legados são determinantes na preservação
patrimonial e na criação de casas-museu. Por
esse motivo o DEMHIST (Comité Internacional do
ICOM de Casas-Museu) decidiu reflectir sobre o
tema durante a sua conferência anual realizada
na Cidade do México, de 19 a 21 de Outubro de
2015 (veja-se o programa).
O jurista José Luis Pérez Arredondo respondeu às Conferência anual DEMHIST no México, 2015
 Ivan Garcia
questões: que formas legais dão origem a
legados em casas-museu e que estruturas legais
e financeiras existem? No entanto, o debate foi mais proveitoso nas questões
respeitantes às mais-valias que os legados trazem à sociedade e quanto às mudanças
de postura perante o património. Realço algumas das ideias apresentadas.
Porquê deixar um legado? Para partilhar uma colecção particular permitindo a fruição
do povo? Para colocar o património pessoal ao serviço da sociedade? Para que o
património familiar se converta em património nacional?
Quem sou? De onde venho? Muitos legados são testemunhos de formas de vida,
ajudando a conhecermo-nos melhor. Este é um enorme benefício público. Mas como
estimular o diálogo intergeracional? A Casa M.I.M.A., na Guatemala, por exemplo,
promove exposições temporárias dialogando com o visitante, chamando-o a participar
na concepção museográfica, levando-o a partilhar o seu conhecimento e objectos
pessoais. Uma comunidade participativa é o que também encontra o Museo del
Romantismo, em Madrid, quando solicita aos adolescentes temas para futuras
exposições. Os jovens chegam à conclusão que a linguagem no século XIX era diferente,
mas as inquietações e os interesses na vida não divergiam assim tanto dos actuais, o
que lhes permite estabelecer uma ligação entre uma caixa de música e um iPod. Se nos
conhecermos melhor, aproximamo-nos da forma de vida dos nossos antepassados,
dando sentido aos objectos e vendo como eles evoluíram.
Nem todos os legados são materiais. Por vezes são ideais, são memórias, são anelos
profundos por uma sociedade mais tolerante, igualitária e empreendedora. Exemplo
cabal desta afirmação é a Casa-Museu das irmãs Mirabal que surgiu como resposta a um
pedido da comunidade dominicana que queria manter viva a memória destas três irmãs
assassinadas, que se tornaram símbolo dos que sofreram torturas, desapareceram e
foram mortos por se oporem ao regime tirânico de Rafael Leónidas Trujillo. O legado é
o valor da luta pelos direitos humanos no século XXI, através da manutenção viva da
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
memória do passado. De facto, as casas-museu podem ser agentes de mudança de
mentalidades.
Educar para os valores de liderança e de perseverança é o objectivo primordial da
Casa-Museu David Ben Gurion, situada em pleno deserto israelita. Nesta casa-museu
realiza-se uma série de actividades pedagógicas que põem em evidência a
determinação política do primeiro primeiro-ministro israelita, incitando a actual
geração a seguir o caminho por ele trilhado, de forma a criar uma sociedade
ideologicamente nacionalista.
Fracasso ou sucesso? Na sociedade japonesa de aceleradas mudanças é impossível
recuperar todos os edifícios históricos, por conseguinte, é imperioso decidir que
valores patrimoniais e memórias vale a pena preservar. Mediante políticas culturais de
revitalização de edifícios históricos constrói-se uma identidade cultural e promove-se o
turismo. Normalmente, a comunidade tem um papel activo neste processo que
fomenta a criação de laços afectivos com o património. Além do mais, de acordo com a
ética patrimonial japonesa, a substituição dos materiais de construção dos edifícios de
50 em 50 anos ajuda a manter os legados vivos.
Mas afinal quem avalia a pertinência dos legados? No National Public Housing Museum,
em Chicago, visitantes, historiadores e museólogos avaliam legados e da opinião
conjunta resulta o sucesso ou fracasso de um projecto. É igualmente primordial ter
uma boa história para partilhar, porque o contar de histórias é um recurso comum na
programação das casas-museu dado que através dele prende-se a atenção do visitante,
facilitando a ligação entre passado e presente.
Queremos a verdade ou preferimos uma fantasia? Até há uma década atrás a ideia
generalizada que se tinha da rainha Marie Antoinette era a de uma mulher frívola,
excêntrica, caprichosa e por consequência a sua imagem era bastante negativa. Porém,
o marketing massivo tornou-a extremamente popular e a sua imagem está hoje
associada ao glamour. Alguma falta de rigor histórico do filme de Sofia Coppola sobre
Marie Antoinette entra provavelmente em conflito com os interesses de quem gostaria
de transmitir um legado menos dissonante com os factos passados. No entanto, «o
trabalho da memória não é a busca da verdade passada; é sim a reconstrução do
passado no presente, alterando legados em antecipação do futuro» (Hallam e Hockey
2001, 3)9. O Petit Trianon (Versalhes) foi recentemente restaurado e apesar das cores
do seu interior serem esbatidas, ao inquirir-se os visitantes sobre a palavra que
associam ao local, estes respondem rosa vivo. Afinal quem quer rigor histórico?
Infelizmente não muitos o anseiam, preferindo sobretudo entretenimento.
Em conclusão, e segundo Rosanna Pavoni (Fondazione Studio Museo Vico Magistretti,
Itália), o património deve ser renegociado para novas gerações e culturas. Seremos
capazes de o fazer?
9
Hallam, Elizabeth, e Jenny Hockey. 2001. Death, Memory and Material Culture. Materializing Culture.
New York: Berg Publishers.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Os Museus Face à Crise Económica na Cultura - Desafios e Estratégias:
Breve Reflexão
Encontros de Outono 2015 ICOM Portugal
Isabel Silva, directora do Museu de Arqueologia D. Diogo de Sousa, Braga
A 30 de Outubro último, no Museu Municipal de
Penafiel, decorreu a habitual sessão anual dos
Encontros de Outono, promovida pelo ICOM
Portugal, na qual participaram um leque de
oradores ligados a museus nacionais e europeus,
nomeadamente a Espanha e à Alemanha.
O grande mérito desta iniciativa do ICOM
Portugal, residiu na promoção de uma reflexão
em torno dos efeitos da crise económica vigente
Isabel Silva, Encontros Outono ICOM
nos museus e na cultura, cuja oportunidade e
Portugal  Ana Carvalho
relevância é inquestionável, sobretudo face à
ausência de uma estratégia para os museus nacionais, e de outras plataformas de
encontro e discussão da problemática deste sector de actividade.
Os critérios adoptados, pela direcção do ICOM, na escolha das experiências
museológicas, que se constituíram como exemplos de caso e análise (veja-se programa),
foram muito cuidados, o que contribuiu para uma significativa diversidade de
abordagens em torno da temática do referido encontro.
De tudo o que transpareceu das questões analisadas no âmbito desta iniciativa, entendi
salientar, ainda que de forma sucinta, três aspectos, que me pareceram mais
relevantes, pela sua especificidade e transversalidade ao universo museológico,
nomeadamente, a questão dos museus e identidade, o actual primado da comunicação
nos museus e as formas de interacção com a sociedade, e a situação dos profissionais
de Museologia.
A identificação dos museus como “alma” ou espelho de identidade, de uma nação, e
de uma determinada comunidade sempre existiu, embora na última década tenha
atingido uma expressão de grande eloquência, quer no número de museus criados, quer
na respectiva escala arquitectónica. Este fenómeno de crescimento exponencial na
criação de entidades museológicas plasmou-se na construção de museus de raiz,
associados a projectos da autoria de arquitectos de renome internacional, cuja
monumentalidade se impunha por si só, como um factor de elevada atractividade. Por
essa razão, eles foram utilizados, pelo poder político, como motores de
desenvolvimento e afirmação, das cidades onde se inseriam. Ora, nestas circunstâncias,
a crise económica mundial, que se declarou nos últimos anos, veio acentuar a
necessidade de se proceder a adaptações internas no funcionamento, na orgânica e na
actividade dos museus, para além de lhes conferir uma função estratégica de pendor
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acentuadamente económico. Desta forma, os museus adquiriram uma maior relevância,
enquanto recursos turísticos, promotores de riqueza e identidade patrimonial,
continuando assim a manter-se como motores de desenvolvimento, à escala nacional,
regional ou local. Para não perderem a sua tradicional capacidade emblemática de
atracção, os museus desenvolveram novas parcerias estratégicas, que
consequentemente lhes granjearam uma maior margem de financiamento de projectos,
ou uma maior sustentabilidade.
O que a história e o futuro certamente relevarão, com maior acuidade, é que esta
reformulação de prioridades, no cumprimento da missão dos museus, não lhes retirou
quaisquer créditos e centralidade, enquanto instituições promotoras de coesão social.
Prova disso mesmo, são os numerosos exemplos, à escala mundial e nacional, que
evidenciam o reforço do papel dos museus como lugares de encontro da sociedade, de
forma cada vez mais plural e diversificada, no que concerne à natureza das actividades
que promovem e acolhem, e à representatividade social, económica e cultural das
mesmas. E estas mudanças que, paulatinamente, vimos a registar e às quais, a crise
económica conferiu maior visibilidade, levam-nos a colocar outra questão que se
prende com aquilo que é hoje um museu. Conceptualmente vivemos uma profunda
mudança de paradigma, relativamente ao papel das instituições museológicas na
sociedade actual. No entanto, e independentemente das reflexões que possamos
equacionar, a verdade é que os museus não deixaram de ser a “alma” e o reflexo de
uma sociedade, talvez hoje espelhem uma realidade mais plural.
O segundo aspecto que elegemos deste Encontro prende-se com o actual primado da
comunicação nos museus, situação intrinsecamente relacionada com a expressão de
identidade, a que aludimos anteriormente.
Se pensarmos naqueles que eram os objectivos principais da actividade dos museus há
algumas décadas, apercebemo-nos da inversão de prioridades, no que concerne ao
papel da investigação, ou à realização de exposições temporárias, acompanhadas
muitas vezes de publicações de grande fôlego. Tornou-se premente comunicar o
património à guarda dos museus, à escala global. A cultura material e imaterial
assume-se como uma marca, fortemente identitária, com o propósito de benefício
imediato, fenómeno este, em que os museus desempenham um papel simultaneamente
de promotores e beneficiários.
Por todo o mundo, as colecções museológicas desmaterializaram-se e são usadas como
forma de captação de públicos, ou meio de promoção predominantemente turística.
Entre nós também assistimos ao surgimento de micro empresas associadas à marca
Portugal, ou a outras expressões da cultura material ou imaterial, de cariz regional.
Perante esta realidade, não podemos deixar de pensar se, directa ou indirectamente,
os museus não estão a reforçar o seu papel de agentes de coesão social.
A complexidade das mudanças internas e a preocupação com a sustentabilidade das
instituições museológicas tem acarretado profundas alterações, relativamente ao
estatuto dos profissionais do sector. A externalização crescente de serviços, ou a
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precariedade dos laços contratuais interpela-nos, e obriga-nos a reflectir, entre outros
aspectos, sobre o quadro de organização institucional, a legislação vigente, a ética
profissional, a formação de técnicos de nível médio e superior na área da Museologia.
Estamos a vivenciar um período de mudança profunda, de que os museus sairão
seguramente mais capacitados nalgumas das suas vertentes de actividade, e reforçados
naquela que é a sua essência mais profunda, nomeadamente, o fomento da coesão
social e a promoção das múltiplas expressões da nossa matriz cultural, não só à escala
nacional, mas cada vez mais numa óptica de interacção global, ou seja numa dimensão
universal.
A capacidade de revitalização dos museus na sua interacção com a sociedade, tem
fundamentalmente assentado na resiliência e na dedicação das respectivas equipas.
No quadro da organização institucional dos museus portugueses, importa analisar e
debater o papel de cada museu no contexto nacional e local, o compromisso e o grau
de comparticipação, ao nível da gestão, por parte das entidades de tutela, ou outras, a
interacção com os organismos responsáveis pela valorização e promoção do património
nacional, mais ainda, fomentar redes de cooperação, alargar parcerias, enfim,
revitalizar incessantemente, o estatuto e a missão dos museus neste séc. XXI.
Nota da ed.: Algumas das comunicações dos conferencistas estão disponíveis em:
http://www.icom-portugal.org
Revisitando o Valor Educativo dos Museus
Conferência Anual da NEMO
Clara Frayão Camacho, museóloga, Direção-Geral do Património Cultural
A NEMO (Network of European Museum
Organisations) definiu recentemente os quatro
valores que alicerçam a actividade dos museus: o
valor social, o educativo, o económico e o
patrimonial (NEMO, 4 Values, 2015). Na sua
conferência anual (Pilsen, República Checa, 6 e 7
de Novembro de 2015) esta organização revisitou
o valor educativo dos museus na perspectiva da
ligação aos públicos e às comunidades,
oferecendo um estado da arte de variadas
Clara F. Camacho, na conferência anual
da NEMO em Pilsen  NEMO
abordagens a esta temática. Numa sociedade
em permanente mudança muitas perguntas se
colocam: Quem são os públicos actuais? Quais as suas necessidades? Como é que os
museus podem melhorar a interacção com as comunidades?
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A conferência iniciou-se com uma apresentação do director do Museu Finlandês do
Trabalho, Kalle Kallio, que regressou às origens da pedagogia crítica de Paulo Freire
para buscar as conexões com as teorias da Museologia social e encontrar algumas
respostas práticas no sentido do incremento da participação, da acessibilidade, da
abertura e do empoderamento das comunidades. Neste contexto, o conferencista deu
o exemplo do Museu de Portimão como um caso exemplar de desenvolvimento de
acção educativa em contexto comunitário.
Portugal esteve presente nesta conferência, em que a Direção-Geral do Património
Cultural (DGPC) representa o nosso país na NEMO e o ICOM Portugal é membro
associado desta rede europeia. Sendo também membro do Ibermuseos, a DGPC tem
desenvolvido um papel de charneira entre as duas redes, promovendo a sua interacção.
Nesta linha, foi apresentada uma comunicação sobre o prémio Educação do Ibermuseus
no âmbito de um painel que juntou mais duas redes extra-europeias: a American
Alliance of Museums (AAM) e a Asia-Europe Museum Network (ASEMUS). Este painel
permitiu dar a conhecer os projectos e o papel educativo destas redes aos 140
participantes na conferência, oriundos de 30 países.
No que respeita à presença portuguesa, é de destacar ainda a comunicação de Maria
Vlachou, directora executiva da Acesso Cultura, intitulada «Are we Failing?
Considerations on the Role Museums May Currently Have in Education». Interpelando o
papel dos museus à luz dos acontecimentos que abalam as sociedades de hoje, em
particular a crise económica, social e humanitária, a autora frisou as responsabilidades
dos museus e o seu presumível falhanço sempre que não se coloquem ao serviço
efectivo da sociedade.
Através da apresentação de experiências variadas, de workshops e de uma entrevista
com o director do Rijksmuseum (Amesterdão), Wim Pijbes, foi debatido ao longo da
conferência o lugar dos museus num ambiente de abertura, acessibilidade e
participação das comunidades, em ambientes muito diversos. Entre as experiências
apresentadas, importa sinalizar o reconhecido projecto europeu LEM – The Learning
Museum Project, cujo manual de boas práticas está disponível online. Da Polónia
emergiu a interessante experiência Kulturanek – um programa de arte contemporânea
para crianças, emitido num canal de televisão.
À margem da conferência, houve ainda oportunidade de participar numa reunião
internacional de redes de museus que juntou a NEMO, o Ibermuseus, a AAM, a ASEMUS,
o European Museum Forum e a European Museum Academy. Nesta reunião, além da
discussão das actuais políticas europeias relevantes no campo do património cultural e
dos museus, foi abordada a possibilidade de realizar um encontro internacional de
redes de museus, em Julho de 2016, em Milão, no decurso da conferência-geral do
ICOM.
As apresentações da conferência da NEMO 2015 estão disponíveis em:
http://bit.ly/1NVofv7
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Diversidade Cultural e Desenvolvimento Sustentável na Lusotopia
Museu AfroDigital Portugal10
Pedro Pereira Leite, investigador em pós-doutoramento, Centro de Estudos Sociais da
Universidade de Coimbra
A propósito do décimo aniversário da aprovação
pela UNESCO da Convenção sobre a Protecção e a
Promoção da Diversidade das Expressões Culturais,
realizou-se no passado dia 24 de Novembro no
Centro de Estudos Sociais da Universidade de
Coimbra um seminário organizado pelo Museu
Afro-Digital Portugal. O seminário contou com a
participação de Elísio Josias e José Pimental
Seminário no Centro de Estudos Sociais
Teixeira da Universidade Eduardo Mondlane
da Universidade de Coimbra  Pedro
Pereira Leite
(Maputo, Moçambique), Paula Sequeiros e Paulo
Peixoto do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
A questão orientadora do seminário foi a ligação entre a cultura e a diversidade
cultural no âmbito do desenvolvimento sustentável no espaço lusotópico. A discussão
desenvolveu-se a partir do caso de Moçambique, a partir do qual Elísio Josias
apresentou a forma como a cultura tem sido abordada nos processos de
desenvolvimento. Moçambique é no âmbito das políticas culturais um caso relevante,
pois nele encontramos as diferentes orientações das políticas públicas defendidas pela
UNESCO.
José Teixeira recordou a propósito, “a proposta de transformação radical da sociedade”
que vigorou nos anos de 1970, logo após a independência, e a forma como a cultura
procurou catalisar a mudança na população. Recordou de seguida as “diferentes
narrativas sobre o papel da cultura no desenvolvimento sustentável”, que imperou no
final dos anos de 1990 e início do século a propósito de diversos projectos que
ancoravam o desenvolvimento local na proposta da pragmática cultural. Recordou,
finalmente, os momentos mais recentes, em que o Estado se tem vindo a retirar como
actor e regulador da actividade cultural, emergindo outros actores e processos com
novas propostas de narrativa com base em “indústrias culturais” ou “economia
criativa”. Trata-se agora de usar novas agendas, essencialmente urbanas, com novos
actores, muitas vezes com propostas de empreendorismo cultural.
10
Além do Museu AfroDigital - Estação Portugal, o encontro teve o apoio do ICOM Portugal e do MINOM
(Movimento Internacional para uma Nova Museologia). O Museu AfroDigital em Portugal é um projecto
que facilita o encontro e a ligação de pessoas, conhecimentos e práticas sobre os processos e as relações
dos africanos com Portugal. Reúne um acervo digital e apresenta exposições virtuais sobre a história, a
memória e o esquecimento dos processos e relações dos Africanos com a Europa, sobre os seus modos de
vida e influência na cultura (https://museudigitalafroportugues.wordpress.com); foi criado em 2013.
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Nos comentários reconheceu-se que a ligação entre a cultura e o desenvolvimento
opera com conceitos muito difusos, quase sempre com uma natureza ideológica, que
dão origem a narrativas contraditórias. Ora, em alguns casos produzem narrativas
revivificadoras da tradicionalidade, outras vezes metonímias folclóricas, ou de
exaltação de hegemonias políticas, ao mesmo tempo que emergem produções culturais
inovadoras, dialogantes e que permitem criação de redes de intervenção social e
cultural.
Uma das questões que se procurou tratar a propósito dos novos Objectivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da ausência da cultura como um dos seus pilares,
como diversas organizações signatárias da Agenda Cultura XXI procuraram defender,
considerou-se que inevitavelmente a cultura será menorizada nos diferentes projectos
de desenvolvimento. As questões da economia, sociedade e do ambiente que os ODS
propõem como objectivos gerais vão criar pouca visibilidade para os projectos e
programas culturais orientados para o desenvolvimento. A transversalidade da cultura
a todos eles não será, muito provavelmente, suficiente para dar visibilidade às suas
propostas.
Nessas circunstâncias, e dada a transversalidade das questões culturais na sociedade,
economia e ambiente, é imperativo aos actores da cultura usarem as ferramentas que
dispõem para a partir do entendimento dos problemas globais, propor soluções à escala
local, ao mesmo tempo que através das suas redes, permitam difundir e disseminar as
boas práticas de gestão da cultura.
Como elemento conclusivo, apontou-se o potencial da cultura como ferramenta de
desenvolvimento. A cultura ao partir do ser humano, dirige-se para o ser. Essa lógica
faz com que a cultura seja uma ferramenta de construção de emancipação social e
possa escapar à lógica da mercantilização das relações sociais. A dimensão de
intersubjectividade da cultura é uma das mais poderosas ferramentas de que dispomos
para enfrentar o nosso futuro.
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Gestão e Desenvolvimento de Colecções
Seminário COMCOL Brasil
Alexandre Matos, director de formação e investigação da Sistemas do Futuro
A criação de novos comités internacionais do
ICOM não é um acto frequente ou que possa
acontecer sem que se reúna a vontade de um
conjunto de membros interessados num tópico
específico de discussão e de relevância para a
comunidade museológica internacional. No
entanto, e pese embora a existência de
diversos comités especializados, por vezes o
ICOM é confrontado com novos problemas,
discussões e perspectivas que justificam a
Conferência do COMCOL no Brasil. Parte do
painel sobre política de acervo.  Filipa
criação de comités específicos. Assim foi com o
Porto
COMCOL (Comité Internacional de Colecções),
que tem como missão aprofundar a discussão e partilhar conhecimento sobre a prática,
teoria e ética de coleccionar ou, por outras palavras, do desenvolvimento das
colecções (materiais ou imateriais). É um comité que se ocupa de estudar, discutir e
definir boas práticas e conhecimento para a construção de políticas de
desenvolvimento de colecções (incorporação e alienação) adequadas à
contemporaneidade, para a definição de políticas de restituição de colecções e de
práticas de coleccionismo que sejam claras e de acordo com os princípios éticos da
profissão.
Tal como acontece em outros comités internacionais, o COMCOL também está
organizado em comités nacionais que trabalham estes temas específicos. No Brasil o
COMCOL tem um comité bastante activo na promoção da discussão sobre as colecções
e políticas relacionadas. Foi neste contexto que se realizou o seminário do COMCOL no
passado dia 27 de Novembro, no Rio de Janeiro, no qual participei.
O seminário dividiu-se em duas partes distintas: um workshop conduzido por Danielle
Kuijten, da Heritage Concepting (Países Baixos) e membro afiliado da direcção do
comité internacional, e uma sessão de palestras, divididas em dois painéis: «Criando e
Implementando Políticas de Acervo» e «Coleccionar o Contemporâneo» (cf. programa).
A oficina tinha como mote «Os Objectos e sua Relevância na Contemporaneidade das
Colecções» e procurou suscitar uma discussão sobre a forma como o museu colecciona
para reflectir o nosso tempo ou ainda como as colecções podem ser utilizadas para
explicar e dar significado e contexto à sociedade. O tema, muito interessante na minha
perspectiva, foi inicialmente introduzido por uma apresentação de Danielle Kuijten e
depois trabalhado por diversos grupos de participantes através da resposta a questões
colocadas num hipotético projecto de revisitação de uma colecção relativamente aos
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seus objectivos, desafios e competências necessárias. Na discussão final ficou clara a
necessidade de uma discussão alargada sobre a pertinência das colecções face à
sociedade em que vivemos e aos seus desafios. Revisitar uma colecção tendo como
perspectiva a questão das migrações ou os problemas colocados pelo terrorismo na
actualidade e utilizar essa colecção para criar e transmitir conhecimento que possa
contribuir para minorar os problemas colocados, é uma forma de cumprir o papel social
que o museu chamou para si há já alguns anos.
A segunda parte do seminário, constituída pelos dois painéis de palestras, focou-se
mais na definição de políticas de desenvolvimento de acervos e, no segundo painel, na
aplicação dessas políticas em diferentes museus brasileiros com distintas tutelas
públicas e privadas. No primeiro painel foi apresentada a experiência de instituições
como o IBRAM (Instituto Brasileiro de Museus), a Secretaria de Cultura do Estado de São
Paulo, a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, o Museu Bispo do Rosário
Arte Contemporânea ou a Casa de Oswaldo Cruz na criação e definição de políticas de
colecções ou gestão de colecções. Um trabalho que se percebe inacabado, mas, ao
mesmo tempo, feito com base numa ampla discussão, aberta a todas as partes
interessadas e concretizado, nos casos da Casa de Oswaldo Cruz, na publicação de uma
política de colecções. Este é, em diversos aspectos, um trabalho de referência da
Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo num programa de apoio aos museus
através da tradução e publicação de documentos de referência internacional e na
constituição de um comité de política de acervo no qual são discutidas estas
importantes questões.
No segundo painel assistimos à apresentação de projectos nos quais a definição de
políticas de gestão de acervos foi determinante para a actual organização das suas
colecções e, em diversos casos, para o próprio posicionamento do museu face à
comunidade onde se insere ou a quem se dirige de forma mais específica. Esse foi o
caso do Museu do Índio apresentado pelo seu director, José Carlos Levinho, ou também
no caso do Museu da Imigração apresentado por Juliana Monteiro. Neste painel foram
ainda apresentados diferentes casos brasileiros sobre o papel das colecções no
desenvolvimento do museu, da sua comunidade e da sociedade em que se inserem.
Neste seminário, bem como no próprio COMCOL, brasileiro e internacional, nota-se
uma frescura e juventude que não se sente noutros comités internacionais. A
actualidade da sua missão e das discussões que ali têm lugar é totalmente reflectida na
participação de colegas de diferentes áreas e de museus com tipologias
completamente distintas. Afinal, a discussão sobre a actualidade e a pertinência das
colecções face aos interesses e expectativas dos públicos do museu é determinante
para o trabalho e papel dos museus nos dias que correm. O COMCOL coloca no centro
das suas preocupações colecções e públicos, sempre da perspectiva do museu e da sua
missão. Esta problemática é tão actual que merece uma redobrada atenção. A jornada
correu tão bem, do meu ponto de vista, que fiquei decidido a mudar a minha segunda
filiação nos comités internacionais para este.
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MUSEUS & PESSOAS: Penelope Curtis
Por Ana Carvalho
São expectáveis pequenas e grandes mudanças nos museus da Fundação Calouste
Gulbenkian com a chegada da britânica Penelope Curtis. Há pouco mais de três
meses no cargo de directora do Museu Calouste Gulbenkian, fomos conhecê-la.
M
uitas das notícias na imprensa sobre a
contratação de Penelope Curtis para
directora do Museu Calouste Gulbenkian
destacam o facto de ser britânica e de ser a primeira
mulher a ocupar este lugar. De facto, a realização de
concursos internacionais parece ser sintomático de
novos tempos, lembre-se que também o Museu de
Serralves contratou para sua directora a australiana e
britânica, Suzanne Cotter, em 2012. Mais do que a
questão do género, é especialmente relevante a ideia
de se perspectivar um novo ciclo de mudanças nos
museus da Fundação Calouste Gulbenkian. Curtis
assumiu em Setembro o cargo que ficou vago após a
saída, por aposentação, de João Castel-Branco Pereira
que dirigiu o museu durante 16 anos.
A nova directora foi seleccionada na sequência de um concurso que se realizou em
2014 e para o qual se candidataram cerca de 30 pessoas. “A visão e a autoridade
curatorial de Penelope Curtis, assim como a sua elevada qualidade intelectual,
ajudarão a abrir um novo ciclo na vida do Museu Calouste Gulbenkian, reforçando a sua
dimensão internacional e a sua capacidade de intensificar colaborações com grandes
museus de todo o mundo”, afirmou Artur Santos Silva, presidente do Conselho de
Administração da Fundação Calouste Gulbenkian.
Formada em História (Oxford) e Arte Moderna (Courtauld Institute of Art), Curtis
concluiu em Paris o doutoramento sobre escultura monumental francesa (c.
18701930). Iniciou a sua vida profissional em 1988 como curadora na Tate Liverpool,
tendo passado depois pelo Henry Moore Institute, em Leeds (19942010). Entre 2010 e
2015 foi directora da Tate Britain, onde foi responsável pela renovação da exposição
permanente, que inaugurou em 2013. Descreve-se como “curadora, primeiro e acima
de tudo.” Enquanto historiadora de arte gosta de “pensar mais em termos de temas do
que em períodos.” E acrescenta, “gosto muito de trabalhar com artistas, sempre
trabalhei com artistas contemporâneos, bem como com colecções históricas. Estou
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interessada em manter aquilo que não precisa de ser mudado, é por isso que gosto de
museus antigos, mas também em actualizá-los”.
De Londres para Lisboa
Sobre a vinda para Lisboa explica que foi um feliz acaso. Curtis havia sido convidada
para fazer parte do júri de selecção dos candidatos para o lugar de director do Museu
Calouste Gulbenkian. “Li os requisitos do cargo e decidi candidatar-me”. “Não pensei
que ficaria com o cargo”, conta.
O seu mandato na Tate Britain foi marcado por várias críticas na imprensa, nem
sempre favoráveis. Para Curtis, a visão predominantemente comercial e economicista
da Tate relativamente às exposições temporárias e o facto da administração ter
assumido como prioridade orçamental a remodelação da Tate Modern em 2016 foram
as razões que a levaram equacionar outros desafios. “Senti que o meu trabalho estava
cumprido com a renovação da Tate Britain”. A possibilidade de dirigir o Museu Calouste
Gulbenkian, constituiu uma “oportunidade de fazer algo diferente”. Além disso,
“sempre quis trabalhar no estrangeiro”, diz.
Em Lisboa encontrou novos desafios: uma outra cultura, um outro universo museológico
e uma cultura institucional muito particular. Do ponto de vista da cidade diz sentir-se
na Europa, esclarece, mas a “Gulbenkian é tão diferente, é como um Estado dentro de
outro Estado”. Estando no cargo há pouco mais de três meses, sublinha que “não há
uma rotina, tudo é diferente”. A aprendizagem da língua portuguesa, essa sim tornouse essencial e parte da sua rotina diária.
Pequenas mudanças e atenção ao detalhe
Apesar das limitações do orçamento, “é o orçamento mais baixo que tive na minha vida
profissional” sublinha Curtis, está apostada em fazer a diferença durante os próximos
cinco anos. O futuro poderá passar por uma maior ligação do Museu Calouste
Gulbenkian com jovens artistas, perspectivando olhares contemporâneos sobre as
colecções. Nos últimos meses, a directora tem-se empenhado em conhecer os artistas
portugueses e visitar os seus ateliers. Prevê ainda uma maior abertura das colecções a
novos projectos de investigação e suscitar o interesse de jovens investigadores. “O
museu tem recursos extraordinários, mas como torná-lo mais aberto, para mais pessoas,
mais vivo?”, interroga Curtis.
Quanto à exposição permanente, pretende manter o que de melhor tem a exposição,
mas ao mesmo tempo melhorar alguns pontos da área expositiva, explorando colecções
que têm sido menos usadas.
Quando lhe pergunto sobre o que continua a motivá-la a trabalhar no mundo dos
museus responde: “principalmente porque gosto de andar aleatoriamente”. “E sempre
me apercebi dos detalhes. Muito do que quero fazer no Museu Calouste Gulbenkian tem
a ver com detalhes, pequenas coisas”, acrescenta. Algumas das mudanças entretanto
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levadas a cabo por Curtis consistem em tornar o museu mais acolhedor. “Num certo
sentido, se cuidarmos bem dos pequenos detalhes no final é tão importante como as
grandes coisas”, atira.
O futuro dos museus
Uma das mudanças mais significativas quanto ao futuro dos dois museus da Fundação, o
Museu Calouste Gulbenkian e o Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão
(CAM), foi decidida a priori pelo Conselho de Administração. O anúncio do concurso
para a direcção do Museu Calouste Gulbenkian foi explícito ao determinar a
responsabilidade de implementar um plano de gestão que visasse “uma estrutura
unificada”. Cada um dos museus tem identidades próprias e sempre trabalharam
separadamente. O Museu Calouste Gulbenkian reúne uma colecção internacional de 6
000 objectos que vai da Antiguidade Clássica e Oriental ao séc. XX, e o CAM tem uma
colecção de 9 000 peças, na sua maioria Arte Moderna e Contemporânea portuguesa do
séc. XX e XXI. Se, por um lado, o Museu Calouste Gulbenkian é bem conhecido e é
visitado por um grande número de turistas, o CAM pela sua abrangência nacional tem
menos reconhecimento internacional. Por outro lado, enquanto que o Museu Calouste
Gulbenkian tem uma afluência de visitantes que não é tão condicionada pela
programação, o CAM é muito mais dependente de programas e da criação de novos
eventos. Como fazer com que os dois museus dialoguem mais em termos de públicos e
de colecções são algumas das questões a ponderar. Curtis atira: “podem os dois
museus tornar-se mais fortes juntos?”
A prioridade da directora é criar uma nova estrutura que seja a combinação das duas
equipas. Os primeiros meses no Museu Calouste Gulbenkian têm servido para conhecer
e auscultar as duas equipas sobre o potencial das mudanças a encetar. Fez até agora
53 entrevistas individuais. “No momento cada um funciona como uma ilha, trabalhando
sozinho, se conseguir que este processo de reestruturação seja bem feito, então a
equipa será mais eficiente”, sublinha Curtis.
Levar a bom termo o processo de reestruturação será determinante para o futuro dos
dois museus. O tempo o dirá. Para já Curtis identifica uma dupla dinâmica, pessoas que
querem que as coisas mudem e pessoas que querem que tudo se mantenha como está.
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PUBLICAÇÕES
Sugestões de leitura
Museus e Diversidade Cultural
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Vlachou, Maria. 2014. “Em Modo ‘Multi’ Antes do Debate.” Blogue Musing on Culture.
http://musingonculture-pt.blogspot.pt/search?q=em+modo+multi
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Links úteis:
Migration Museum Project
Projecto com vista à criação de um museu dedicado à migração no Reino Unido. O museu ainda não
existe fisicamente, mas a actividade que tem sido desenvolvida desde 2012 pode ser conhecida através
do website do projecto.
Migrar es Cultura
O projecto, desenvolvido pelo Museo de America (Madrid), pretende recolher e mostrar a diversidade
cultural, e o enriquecimento que se produz com a migração, seja através da música, da gastronomia, e
de outras experiências culturais. “Migrar es cultura” aceita testemunhos que contem histórias relativas à
migração.
MAP for ID (Museums as Places for Intercultural Dialogue)
MAP for ID - Museums as Places for Intercultural Dialogue (20072009) configura um dos projectos
internacionais mais profícuos dos últimos anos, tendo sido testados 30 projectos-piloto em museus de
diferentes áreas disciplinares (e outras instituições) no sentido de promover o diálogo intercultural. O
projecto foi financiado no âmbito do Grundtvig Lifelong Learning Programme, tendo participado quatro
países: Itália, Espanha, Hungria e Holanda.
MELA (European Museums in an Age of Migrations)
A importância do paradigma das migrações e a sua complexidade no campo dos museus, no seu sentido
mais alargado de mobilidade de pessoas, mercadorias, ideias e conhecimento deu origem a este projecto
de investigação de carácter internacional (20112015). O projecto foi financiado pelo 7.º ProgramaQuadro com base num consórcio composto por várias universidades e museus na Europa.
Heritage and Interculture
Plataforma online dedicada à educação na área do património sob uma perspectiva intercultural. A
iniciativa é da Fondazione ISMU (Initiatives and Studies on Multiethnicity), com base em Milão (Itália).
Nesta plataforma podem ser explorados vários estudos de caso desenvolvidos nesta área em museus e
instituições ligadas ao património.
Intercultural Cities
No âmbito das políticas europeias para a promoção de uma valorização positiva da diversidade cultural,
o Conselho da Europa, apoiado pela Comissão Europeia, criou o programa internacional “Cidades
Interculturais”. O programa pretende combater a discriminação através da valorização da diversidade
cultural. Em Portugal, a Rede Portuguesa de Cidades Interculturais foi criada formalmente em 2012,
sendo constituída por Lisboa, Coimbra, Beja, Loures, Setúbal, Santa Maria da Feira, Amadora e Cascais.
Tate Encounters
Projecto de investigação desenvolvido na Tate Modern (Londres, Reino Unido) entre 2007 e 2010. Teve
como objectivo analisar a forma como as narrativas produzidas pela Tate sobre o que é ser britânico
eram recepcionadas por estudantes descendentes de imigrantes. Através deste “encontro” pretendia-se
desenvolver novas práticas curatoriais e educativas que fossem relevantes para públicos diversos.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Novas edições 2015
Museum International, número especial: Key
Ideas in Museums and Heritage (19492004),
vol. 65. Revista impressa e disponível online.
O novo número da Museum International
homenageia os principais pensadores no mundo
dos museus das últimas sete décadas. São,
assim, republicados textos cujos argumentos
prevalecem relevantes e actuais. Incluem-se
textos de Hugues de Varine (1976), Michael
Ames (1985), Kenneth Hudson (1998) e Barbara
Kirshenblatt-Gimblett (2004) para referir
apenas alguns. Estão disponíveis os resumos
dos artigos (http://onlinelibrary.wiley.com) e
os membros do ICOM tem acesso integral via
plataforma ICOMMUNITY.
Revista
MIDAS
–
Museus
e
Estudos
Interdisciplinares, n.º 5 | 2015. Disponível
online.
Este número apresenta 9 artigos, incluindo o
dossier temático Ciência e Arte, SciArt:
Museus, Laboratórios, Cientistas e Artistas,
coordenado por Marta Agostinho (comunicadora
e gestora de ciência) e Pedro Casaleiro
(museólogo), 2 Notações e 4 recensões críticas.
«Ao promover este dossier, quisemos criar
(mais) um espaço de reflexão sobre a SciArt
desenvolvida, quer em Portugal, quer
internacionalmente. O conjunto de trabalhos
publicados (…) reflecte em parte uma
realidade composta por projectos ora
investigativos, ora artísticos, ora de âmbito comunicacional, portanto de raiz
diversa, ao mesmo tempo relevantes e entusiasmantes do ponto de vista da arte e
ciência», sublinham os coordenadores do dossier.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Revista Argos, n.º 3 | 2015. Revista impressa.
Editada pelo Museu Marítimo de Ílhavo (desde
2013), tem cadência anual e assume como fio
condutor os tópicos relacionados com os museus de
temática marinha. «Embora o campo institucional
da Museologia marítima não exista em Portugal,
importa construir redes, partilhar os melhores
projectos, exaltar as experiências mais incrustadas
nas comunidades e destacar as organizações que
mobilizam conceitos criativos em torno dos
patrimónios marítimos», sublinha Álvaro Garrido,
coordenador da revista e director do Museu
Marítimo de Ílhavo.
Viviane Panelli Sarraf. 2015. Acessibilidade em
Espaços Culturais: Mediação e Comunicação
Sensorial. Edição Livraria da Vila.
A autora escreve sobre a importância da
comunicação sensorial para o desenvolvimento
dos indivíduos e das sociedades, e o papel das
instituições culturais nesse contexto; sublinha a
relevância destes conceitos e práticas para a
ampliação das potencialidades de acessibilidade
para pessoas com algum tipo de diferença. São
apresentadas experiências internacionais e uma
perspectiva histórica sobre estas matérias no
Brasil, incluindo exemplos pioneiros que têm
influenciado vários projectos em curso. O livro
resulta da investigação de doutoramento da
autora.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Luís Marcelo Mendes, org. Reprograme:
Tecnologia, Inovação e Cultura numa Nova Era de
Museus. 2015. Vol. 2. Livros de Criação, Imã
Editorial. 251 páginas. Versão impressa e online.
Tradução para português de uma selecção de
artigos, ensaios e textos vários, nalguns casos a
partir de palestras e de blogues, sobre
tecnologia, inovação e cultura no mundo dos
museus. No geral, o livro enquadra uma reflexão
sobre o impacto do mundo digital nos museus; o
desafio de como e o que preservar, o desafio na
partilha das decisões e das colecções, e na
relação com os públicos. São variados os contributos e as suas geografias de
origem. Entre eles encontra-se um texto de Maria Vlachou «O que é que temos a
ver com isso?». Esta publicação tem a particularidade de ter sido financiado via
crowdsourcing.
Emma Nardi e Cinzia Angelini. 2015. Best Practice
4: A Tool to Improve Museum Education
Internationally. Edição do ICOM CECA. 173
páginas. Versão impressa e online.
Trata-se do quarto número da série Best Practice
do CECA (Comité Internacional do ICOM para a
Educação e Acção Cultural). O prémio de melhores
práticas do CECA foi lançado em 2012 com o
objectivo de criar uma linguagem e entendimento
comum entre os membros do comité. Esta
publicação inclui os cinco projectos premiados,
uma selecção de projectos que receberam
menções honrosas e outros projectos que se
consideraram relevantes. O livro destaca, assim,
16 projectos de várias partes do mundo e está organizado por três segmentos de
público: “crianças e famílias”, “jovens” e “adultos”.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Ineta Zelca Simansone et al., ed. 2015.
Museums and Creative Industries: Mapping
Cooperation, Creative Toolkit. Edição da
NEMO. 33 páginas. Disponível online.
Este relatório da NEMO (Network of European
Museum Organisations) foca a relação entre
os museus e as indústrias criativas,
especialmente
de
uma
perspectiva
económica. Resulta de um processo de
reflexão de um grupo de trabalho sobre
museus e indústrias criativas criado no seio
da NEMO, tendo como caso de estudo os museus da Letónia. Este toolkit
sintetiza os principais resultados do projecto de cooperação. São fornecidos
vários exemplos que revelam as potencialidades da articulação entre os museus
e o sector das indústrias criativas.
Los Professionales de los Museos: Un Estudio
Sobre el Sector en España. Edição da
Subdireccion General de Museos Estatales de
España e Programa Ibermuseos. 127 páginas.
Disponível online.
Este relatório apresenta algumas das
conclusões de um inquérito realizado acerca
da situação actual dos profissionais nos
museus espanhóis. Analisa-se a situação
laboral e a antiguidade no sector, a
categoria laboral, as funções e as condições
de trabalho, aspectos relativos à formação
(níveis de escolaridade, perfil da formação
de base e formação complementar pósgraduada) e identificam-se carências e
necessidades. O diagnóstico é útil e
revelante para a definição de políticas mais adequadas. Porventura um exemplo a
seguir também em Portugal.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
António Granado e José Vítor Malheiros. 2015.
Cultura Científica em Portugal: Ferramentas
para Perceber o Mundo e Aprender a Mudá-lo.
Edição da Fundação Francisco Manuel dos
Santos. 97 páginas. Disponível online.
O livro apresenta um levantamento de todas as
actividades de promoção da cultura científica
em Portugal, incluindo as que têm sido
desenvolvidas em museus e centros de ciência.
Cultura científica é segundo os autores, «um
capital que nos permite não apenas ler mas
usufruir do mundo, não apenas conhecer mas
manipular as ideias produzidas pela ciência,
perceber as potencialidades e os riscos e as
limitações da ciência, relacionar e integrar os conhecimentos da ciência com
outros saberes e culturas numa visão coerente e enriquecedora do mundo, e
encarar a ciência sem a mínima atitude de servidão ou sequer de reverência,
mas apenas com curiosidade, emoção e sentido de responsabilidade» (p. 19).
Nordic Inspiration: Fresh Approaches to
Museum Learning. Edição de MID – Museum
Communicators in Denmark. 116 páginas.
Disponível online.
A publicação resulta do projecto The Best of
Nordic Museum Communication – Fresh
Network Approaches from Nordic Associations
of Museum Education (NAME). Trata-se de
uma selecção de boas práticas na área da
educação e comunicação a partir de cinco
países nórdicos (Dinamarca, Finlândia,
Islândia, Noruega e Suécia). A publicação é resultado da organização das
associações de profissionais nestes países. Os projectos são apresentados de
acordo com quatro categorias: “Formação de públicos”, “Comunidade &
Colaboração”, e “Desenvolvimento de Museu”.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Re|shaping Cultural Policies: A Decade Promoting
the Diversity of Cultural Expressions for
Development. Edição da UNESCO. 235 páginas.
Disponível online.
Relatório que marca a reflexão sobre os dez anos
da Convenção sobre a Protecção e a Promoção da
Diversidade das Expressões Culturais de 2005.
Como foi a Convenção implementada e que
resultados foram alcançados estão entre as
questões que o relatório visa responder. A
publicação baseia-se nos relatórios dos Estados
parte da Convenção.
Pride, Joy and Surplus Value. Edição do Nordic
Centre of Heritage Learning and Creativity (NCK).
Pride, Joy and Surplus dá título a um projecto
sobre voluntários em museus na Suécia, Noruega
e Dinamarca. O estudo foi promovido pelo Nordic
Centre of Heritage Learning and Creativity (NCK)
com o objectivo de estimular, facilitar e
promover o voluntariado. O projecto deu origem
a duas publicações: Joy, Pride and Surplus Value
- Volunteers in museums (25 p.), e Toolkit for
Recruiting and Managing Volunteers in Museums
Across the Nordic Region (23 p.).
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Access to Culture: Policy Analysis, Final Report.
2015. Edição da NEMO e LEM – Working Group
Study. 423 páginas. Disponível online.
A publicação centra-se no acesso à cultura,
enquadrando os principais desenvolvimentos
nesta matéria no âmbito das políticas culturais.
O que significa “acesso à cultura”, que
discursos têm sido produzidos e negociados? São
analisados os principais documentos, ao nível da
Europa, no que diz respeito aos compromissos
que têm sido assumidos. Acrescenta-se ainda
uma análise comparativa sobre diferentes
entendimentos e implementação de políticas de
acesso à cultura (Áustria, Croácia, Noruega,
Espanha, Suécia e Turquia).
Encontra uma lista actualizada de novas
publicações na base de dados do ICOM central
(incluindo newsletters dos vários comités
nacionais e internacionais, e monografias), na
Routledge (editora internacional de livros
académicos, revistas e recursos em linha no
âmbito das ciências sociais), na MuseumsEtc
(editora
independente
com
base
em
Edimburgo e Boston), na Museum-iD (editora
independente com sede no Reino Unido).
Conheça o catálogo de 2015 da editora
Ashgate sobre museus e a série On Museums
editada por The Inclusive Museum (Estados
Unidos), entre outras.
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
AGENDA
Conferências, encontros, debates
(Nacional)
VI Seminário de Investigação em Sociomuseologia | 1617 de Janeiro
Org. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Departamento de
Museologia | Lisboa
Seminário de Investigação dedicado aos projectos de investigação em curso nos programas de
doutoramento e mestrado em Museologia da Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias; procura ser um estímulo para a boa conclusão dos trabalhos em curso, mas
também a ocasião para reforçar o sentido de partilha entre discentes e docentes destes
programas, favorecendo o espírito de ajuda mútua. Mais informações em:
http://www.museologia-portugal.net
I Colóquio de Museus Rurais do Sul | 21 de Janeiro
Org. Museu da Ruralidade | Castro Verde
Este colóquio reflectirá sobre as áreas em que os museus rurais actuam. Entre os
conferencistas estão Fernando António Baptista Pereira (Faculdade de Belas-Artes da
Universidade de Lisboa) e Paulo Costa (director do Museu Nacional de Etnologia). Mais
informações em: http://museudaruralidade.blogspot.pt
“Nós” e “Os Outros”: A Cultura na Crise dos Refugiados | 16 de Fevereiro
Org. Acesso Cultura | Évora, Lisboa, Porto, Tavira
Debate aberto aos profissionais do sector cultural e a todas as pessoas interessadas. A temática
escolhida insere-se no conjunto de questões promovidas pela Acesso Cultura no âmbito da
acessibilidade – física, social e intelectual. A entrada é livre. Mais informações em:
http://acessocultura.org/encontros/debates
Jornada de Trabalho Dedicada às Casas-museu | 1920 de Fevereiro
Org. Grupo nacional do DEMHIST e Fundação Eugénio de Almeida | Évora
Esta jornada de trabalho sobre casas-museu terá como tema o turismo, na perspectiva da
relação com esta tipologia de museu e enquanto desafio para os profissionais que aí investigam,
comunicam e divulgam. O dia 20 de Fevereiro será dedicado a visitas a espaços museológicos.
Mais informações brevemente em: http://www.icom-portugal.org
Seminário internacional Museums: One Object, Many Visions | 22 de Fevereiro
Org. ICOM Portugal e projecto Eurovision – Museums exhibiting Europe (EMEE) | Museu
Nacional de Arqueologia | Lisboa
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BOLETIM Série III Jan. 2016
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Apresentação de diferentes experiências em museus que têm possibilitado o trabalho em rede.
Entre os conferencistas convidados estão Hans-Martin Hinz, presidente do ICOM central, Emma
Nardi, presidente do CECA (Comité Internacional do ICOM para a Educação e Acção Cultural),
David Vuillaume, presidente da NEMO (Network of European Museum Organisations), Uwe
Brückner, fundador do Atelier Brückner, entre outros. Mais informações brevemente em:
http://www.icom-portugal.org
Conferências, encontros, debates
(Internacional)
Calendário ICOM central | 2016
No calendário online do ICOM central encontra mais informações sobre os encontros dos
próximos meses. Caso seja membro do ICOM pode ainda aceder à ICOMMUNITY, plataforma de
partilha entre profissionais, que disponibiliza mais informações sobre a actividade dos comités
nacionais e internacionais. Mais informações em:
http://icom.museum/events/calendar/calendar-2016/
Museum Tech 2016: A Digital Festival for Museums | 21 de Janeiro
Org. Museums Association | Manchester, Reino Unido
Festival sobre as novas tecnologias digitais no mundo dos museus. Mais informações em:
http://www.museumsassociation.org
Museums and the Web 2016 | 69 de Abril
Org. Museums and the Web | Los Angeles, Estados Unidos
Conferência anual sobre aplicações digitais no campo do património cultural, natural e
científico. Realiza-se desde 1997 e atrai profissionais de várias partes do mundo. Mais
informações em: http://mw2016.museumsandtheweb.com
European Museum of the Year Award | 69 de Abril
Org. European Museum Forum | Tolosa e San Sebastián, País Basco, Espanha
Assembleia do European Museum Forum (EMF) e cerimónia de entrega prémio do Museu
Europeu do Ano (EMYA), a atribuir entre os 49 museus nomeados, de 24 países europeus, na
qual participam dois museus portugueses: Museu Cosme Damião do Benfica e Museu do Futebol
Clube do Porto. Mais informações em: www.europeanmuseumforum.org
MuseumNext 2016 | 1820 de Abril
Org. MuseumNext | Dublin, Irlanda
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BOLETIM Série III Jan. 2016
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A conferência do MuseumNext (desde 2009) trata de temas-chave em torno do futuro dos
museus e funciona como plataforma de partilha de boas práticas. Mais informações em:
http://mw2016.museumsandtheweb.com
Formação
Comunicação em Museus: Quem e Como? | 6 de Janeiro a 2 de Março
Org. Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves | Lisboa
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves organiza a 5.ª edição do curso “Comunicar em Museus:
Quem e Como?”, com Maria Vlachou, a decorrer entre 6 de Janeiro e 2 de Março, sempre às
quartas-feiras, das 18h30 às 20h30. Mais informações: http://www.patrimoniocultural.pt
Inventário de Bens Culturais da Igreja: Análise, Identificação e Classificação |
JaneiroDezembro
Org. Secretário Nacional para os Bens Culturais da Igreja | Domus Carmeli, em Fátima
Programa de formação baseado na aplicação de metodologias de análise, identificação e
interpretação. Visa formular questões, juízos de qualidade e valor, desenvolvendo, assim,
competências de catalogação e classificação de bens culturais da Igreja. Incidindo nas diversas
temáticas inerentes ao trabalho de inventário, o amplo espectro com que se apresenta
pretende contribuir para a preparação de profissionais qualificados. A formação estrutura-se
em 21 módulos, distribuídos por nove sessões, num total de 36 horas lectivas. Mais
informações: https://www.bensculturais.com
Programa de Formação da Acesso Cultura
Org. Acesso Cultura | vários locais
Formação sobre Comunicação Acessível: Design de Comunicação e Linguagem Simples: 18
de Janeiro, no Museu da Electricidade (Lisboa); formação sobre Introdução às Técnicas de
Audiodescrição: 21, 22, 28, 29 de Janeiro e 4, 5, 11, 12 de Fevereiro, no Tear – Espaço das
Artes (Lisboa); formação sobre Direito de Autor e Domínio Público: 15 de Fevereiro, Lisboa e
Porto. Mais informações: http://acessocultura.org/cursos
Curso livre Os Museus e o Turismo | 1 de Março 14 de Abril
Org. Instituto Politécnico de Gestão e Tecnologia (ISLS) | Vila Nova de Gaia
O objectivo desta acção de formação é reflectir sobre a adequação dos museus, e de outros
equipamentos culturais, à nova realidade, cada vez mais múltipla, dos territórios e desenvolver
políticas e práticas de comunicação e actuação que permitam a resposta a todos os tipos de
públicos. Mais informações: http://www.islagaia.pt
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Current Practices in Museum Management | 1119 de Abril
Org. Centro Internacional de Formação do ICOM | Pequim, China
Trata-se da 6.ª edição do curso de formação do Centro Internacional de formação do ICOM.
Será ministrado por um conjunto de especialistas internacionais. As palestras e as várias
sessões proporcionarão discussões e trabalhos de grupo sobre vários temas, nomeadamente o
papel do museu na actualidade, a gestão de colecções e o processo de exposições. A formação
inclui a sessão Reading artifacts, desenvolvida pelo Museu de Ciência e Tecnologia do Canadá,
e sessões práticas em alguns dos museus mais conhecidos em Pequim. O ICOM central aceita
candidaturas para apoio de bolsas de viagem. Mais informações: http://www.icomportugal.org
Chamada para propostas
Historic Houses and the Interpretation of the Cultural, Social and Urban Landscape
(39 de Julho, Milão): call for papers | Prazo limite: 20 de Janeiro
Org. DEMHIST
A organização da 14.ª conferência anual do DEMHIST (Comité Internacional do ICOM de CasasMuseu) aceita propostas para comunicações: «This call for papers asks for innovative proposals
on the central role that historic house museums play as witnesses to the evolution of social,
cultural and economic development outside the museum; to urban and rural environmental
changes; and to the stratification of human migration, experiences, and customs expressed by
different generations and cultures». Mais informações: [email protected]
Conferência CIDOC em Milão e Turim (39 de Julho): call for papers | Prazo limite: 16
de Janeiro
Org. CIDOC
O CIDOC (Comité Internacional para a Documentação) aceita propostas de abstracts para a
conferência de Milão. Mais informações: http://network.icom.museum
Revista Museum International, vol. 68, n.º 271272, tema Museums and Cultural
Landscapes, envio de propostas | Prazo limite: 31 de Janeiro
Org. ICOM central
A revista Museum International está a receber propostas para o número de Dezembro de 2016
dedicado ao tema do Dia Internacional de Museus deste ano. «The next issue will reflect upon
the role museums play in the complex relationship between landscapes and identity. The
theme Museums and cultural landscapes was developed to encourage reflection on the
museum’s specific relationship with its context: landscape is, precisely, the context in which
we live and which surrounds us, with all of the images and symbols that identify and
characterise it.» Mais informações em: http://icom.museum
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BOLETIM Série III Jan. 2016
N.º 5
Colabore com o ICOM Portugal
Já conhece a página de Facebook do ICOM Portugal? Visite, comente e partilhe
conteúdos em: https://www.facebook.com/icomportugal
O próximo boletim ICOM Portugal será dedicado ao tema do Dia Internacional de
Museus: “Museus e Paisagens Culturais”. Caso queira sugerir conteúdos contacte-nos
através do email: [email protected] (Ana Carvalho) até 15 de Fevereiro.
FICHA TÉCNICA
Boletim ICOM Portugal, Série III, N.º 5, Janeiro 2016 | ISSN 2183-3613
Este boletim é uma edição da Comissão Nacional Portuguesa do Conselho Internacional
de Museus (ICOM Portugal). Publica-se três vezes por ano (Janeiro, Maio e Setembro).
As opiniões expressas nos textos assinados são da inteira responsabilidade dos seus
autores, não reflectindo necessariamente os pontos de vista do ICOM Portugal.
O boletim adopta a antiga ortografia.
Editora: Ana Carvalho | Revisão: Dália Paulo e Joana Sousa Monteiro. Colaboraram
nesta edição: Alexandre Matos, Ana Carvalho, Clara Bertrand Cabral, Clara Frayão
Camacho, Elsa Catarina Rodrigues, Isabel Silva, Jean-Yves Durand, Joana Sousa
Monteiro, Joaquim Jorge, José Alberto Ribeiro, Lurdes Camacho, Maria José Gaivão de
Tavares, Maria Vlachou, Mário Nuno Antas, Pedro Pereira Leite, Penelope Curtis e
Suzana Faro.
Agradecimentos: Carla Bonomi
Design: Maria van Zeller, Sistemas do Futuro | Imagem da capa: Pormenor da exposição
7 Mil Milhões de Outros (Museu da Electricidade, 8 de Novembro de 2014 a 8 de
Fevereiro de 2015).  Ana Carvalho.
Palácio Nacional da Ajuda – Museu, Ala sul – 2.º Andar, Largo da Ajuda, 1349-021 Lisboa
| tel. 213637095 | [email protected] | [email protected] |
http://www.icom-portugal.org | https://www.facebook.com/icomportugal
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