Livro Zootecnia Itinerante_ E-Book

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Livro Zootecnia Itinerante_ E-Book
ZOOTECNIA ITINERANTE I
Organizadores
DEOLINDO STRADIOTTI JÚNIOR
SÂMILA ESTEVES DELPRETE
ANTÔNIO CARLOS CÓSER
CRISTIANO FALCÃO TAVARES
Alegre -ES
CAUFES
2013
Deolindo Stradiotti Júnior
Zootecnista - UFLA (1986), Mestre em
Forragicultura e Pastagens - UFV (1993), Doutor em
Nutrição de Ruminantes - UFV (2002), Prof.
Adjunto IV - Departamento de Zootecnia,
CCA/UFES. Coordenador e Orientador de
Projetos de Pesquisa e Extensão junto à
PRPPG e ProEx da Universidade Federal do
Espírito Santo, CCA/UFES. E-mail:
[email protected]
Sâmila Esteves Delprete
Técnica Agrícola – IFES Campus de Alegre (2009),
Graduanda em Zootecnia - UFES. Bolsista do
Projeto Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
E-mail: [email protected]
Antônio Carlos Cóser
Agrônomo - UFRRJ (1970), Mestre em Fitotecnia UFRS (1979), Doutor em Zootecnia - UFV (1988),
Prof. Pós Graduação em Ciências Veterinárias,
CCA/UFES. Subcoordenador e Co-orientador do
Projeto Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
E-mail: [email protected]
Cristiano Falcão Tavares
Técnico Agrícola – IFES Campus de Alegre (2007),
Graduando em Zootecnia - UFES. Volntário do
Projeto Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
E-mail: [email protected]
DEOLINDO STRADIOTTI JÚNIOR
SÂMILA ESTEVES DELPRETE
ANTÔNIO CARLOS CÓSER
CRISTIANO FALCÃO TAVARES
Organizadores
ZOOTECNIA ITINERANTE 1
Alegre - ES
CAUFES
2013
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
Reitor: Reinaldo Centoducatte
Vice-Reitora: Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto
Centro de Ciências Agrárias (CCA)
Diretor: Julião Soares de Souza Lima
Vice-Diretor: Geraldo Regis Mauri
Responsável pela Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias: Mª Candida Resende Regis Mauri
Departamento de Zootecnia (DZO)
Chefe: Elaine Cristina Gomes da Silva
Subchefe: José Geraldo de Vargas Júnior
ZOOTECNIA ITINERANTE 1
Comissão organizadora
Deolindo Stradiotti Júnior
Sâmila Esteves Delprete
Antônio Carlos Cóser
Cristiano Falcão Tavares
Colaboradores
Aline Mayra Ventorim Nunes Maretto
Daniela Couto Bestete
Drielly Gomes Bizarria
Eduardo Calabrez
Felipe Freixo Pogian
Gabriel Pinto Bruno
Laís Rodrigues Souza Oliveira
Mário Santos de Azevedo
Vanderson de Ataíde Paulucio
Realização: Departamento de Zootecnia – CCA-UFES - ES
Proex – Pró-Reitoria de Extensão – UFES - ES
© Copyright by Centro de Ciências Agrárias/Ufes, Alegre (ES), 2013.
Direito desta edição reservado ao Centro de Ciências Agrárias/Ufes. Fica autorizada a reprodução parcial ou integral, a
citação, e o compartilhamento sem fins comerciais, desde que citada à fonte, nos termos da Lei 9.610/98.
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O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade dos autores.
Projeto gráfico e editoração eletrônica: Deolindo Stradiotti Júnior e Sâmila Esteves Delprete
Revisão de texto: Deolindo Stradiotti Júnior e Antônio Carlos Cóser.
Capa: Sâmila Esteves Delprete.
Assessoria técnica editorial (com exceção de sumário e conteúdo): Cláudia Regina da Rocha Oliveira (CRB 6/ES, n. 576)
e Felício Gomes Corteletti (CRB 6/ES, n. 646)
Catalogação: Cláudia Regina da Rocha Oliveira
ISBN: Deolindo Stradiotti Júnior
Contato: Alto Universitário, s/nº, Guararema, Alegre, ES, CEP 29500-000. Tel.: (28) 3552-8980. E-mail:
[email protected]. Site: http://www.cca.ufes.br.
Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
(Biblioteca Setorial de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)
P962
Zootecnia Itinerante 1 [recurso eletrônico] / Deolindo Stradiotti Júnior ... [et al.],
organizadores. – Alegre, ES : CAUFES, 2013.
92 p.; 21 cm.
Contém bibliografia.
ISBN 978-85-61890-41-4
1. Pastagens. 2. Forrageiras de Inverno. 3. Parasitos em Peixes. 4. Avicultura –
Segurança Alimentar. 5. Fasciolose – Caprinovinocultura. 6. Fasciola hepáticaManejo Bovinos. 7. Nutrição – Cordeiros. I. Stradiotti Júnior, Deolindo II.
Universidade Federal do Espírito Santo. Centro de Ciências Agrárias.
CDU: 636-051
Sumário
CAPÍTULO 1............................................................................................................................7
DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS – “UMA SIMPLES VISÃO DE UM PROCESSO
COMPLEXO” ...................................................................................................................7
CAPÍTULO 2.......................................................................................................................... 16
FORRAGEIRAS DE INVERNO COMO ALTERNATIVAS DE ALIMENTAÇÃO
ANIMAL NA ÉPOCA SECA ........................................................................................... 16
CAPÍTULO 3.......................................................................................................................... 28
PARASITOS COM POTENCIAL ZOONÓTICO EM PEIXES NO BRASIL – ................ 29
UMA REVISÃO .............................................................................................................. 29
CAPÍTULO 4.......................................................................................................................... 36
SEGURANÇA ALIMENTAR E QUALIDADE DA CARNE AVÍCOLA ........................ 36
CAPÍTULO 5.......................................................................................................................... 50
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO PARA FASCIOLOSE CAPRINA E OVINA ............... 50
CAPÍTULO 6.......................................................................................................................... 58
PRÁTICAS DE MANEJO NO CONTROLE DA INFECÇÃO POR Fasciola hepatica EM
BOVINOS ........................................................................................................................ 59
CAPÍTULO 7.......................................................................................................................... 76
NUTRIÇÃO E ASPECTOS RELACIONADOS À CRIAÇÃO DE CORDEIROS ............ 77
7
CAPÍTULO 1
DEGRADAÇÃO DE PASTAGENS – “UMA SIMPLES VISÃO DE UM PROCESSO
COMPLEXO”
Guilherme Santos Freitas1
Patricia do Rosário Rodrigues 1
Antônio Delunardo Pandolfi Filho1
Mariá Moraes Amorim2
Rodrigo Santos Freitas3
Matheus Cruz de Oliveira3
Isabela Moraes Amorim3
Sâmila Esteves Delprete 3
Deolindo Stradiotti Júnior4
Antonio Carlos Cóser5
Bruno Borges Deminicis4
INTRODUÇÃO
O Brasil apresenta características climáticas que favorecem a exploração de forragens com
grande potencial de produção de biomassa, sendo 20% do território nacional ocupado por plantas
forrageiras, ou seja, aproximadamente 180 milhões de hectares (Ieiri et al., 2010).
Segundo Vitor et al. (2009), em geral a produção pecuária brasileira, de corte e leite, tem como
base de sustentação alimentar as pastagens, pois estas representam uma fonte de alimento de menor
custo e de acordo com a exigência da sociedade em qualidade e preservação dos recursos ambientais,
promovendo sustentabilidade dos sistemas de produção. Porém a produção de bovinos é caracterizada
como uma situação de exploração extrativista, onde as pastagens são conduzidas em solos de baixa
fertilidade natural não havendo a restituição dos nutrientes extraídos pelas forrageiras, levando a uma
condição de degradação (Ieiri et al., 2010).
Os conceitos ambientais atualmente discutidos, baseiam-se nas teorias do desenvolvimento
sustentável, que consideram o aperfeiçoamento das práticas e da melhoria do desempenho dos
empreendimentos, através de efetividade e da garantia de atendimento às exigências ambientais, entre
as quais se inclui a recuperação de áreas degradadas (Fornasari Filho et al., 1994).
1
Zootecnista, Mestrando em Ciências Veterinárias do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal do
Espírito Santo - Bolsistas CAPES – UFES; 2Mestranda em Produção Vegetal do Programa de Pós-Graduação em
produção Vegetal da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF – Bolsista FAPERJ
Nota 10; 3Graduandos em Zootecnia da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES – Bolsistas de IC
FAPES e CNPq; 4Zootecnista, D.Sc. Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.
5
Professor Visitante Nacional Sênior do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias - UFES, Bolsista
da CAPES.
8
Entretanto na prática o que se observa é a predominância de pastagens degradadas, sendo um
dos principais problemas do sistema de produção de bovinos. A degradação de pastagens causa
grandes prejuízos ambientais e econômicos no Brasil, estimativas recentes sugerem que pelo menos
metade das áreas de pastagens em regiões ecologicamente importantes, estão em degradação ou
degradadas (Dias-Filho, 2002). Objetivou-se com este revisão explicar se forma simples os problemas
relacionados à degradação das pastagens, assim como as formas de recuperação e manutenção.
PASTAGEM DEGRADADA
A degradação das pastagens é relativamente comum em ecossistemas tropicais, caracterizar uma
pastagem como degradada pode estar relacionada a aspectos peculiares, tendo grande relação com a
região ou nível tecnológico em que esta se encontra (Dias-Filho 2005).
Atualmente a degradação das pastagens é um dos tópicos mais relevantes da pecuária nacional
(Oliveira et al., 2004).
Estima-se que 80% dos 50 a 60 milhões de hectares de pastagens cultivadas no Brasil Central
encontram-se em algum estado de degradação, ou seja, em processo evolutivo de perda de vigor, sem
possibilidade de recuperação natural (Ieiri et al., 2010). Entende-se por degradação de pastagens o
processo de evolução da perda de vigor, de produtividade, de capacidade de recuperação natural para
sustentar os níveis de produção e qualidade exigidos pelos animais, assim como superar efeitos
nocivos de pragas, doenças e invasoras em conjunto com a degradação avançada dos recursos naturais
(figura 1), em razão de manejo inadequado (Macedo & Zimmer, 1993).
Figura1- Pastagem em processo de degradação
Fonte- Arquivo Pessoal
9
De acordo com Dias Filho (1998) os sinais de degradação incluem declínio da produtividade,
aumento da presença de plantas invasoras que gradualmente diminuem a capacidade de suporte das
pastagens, inicialmente ocupando os espaços descobertos pelas gramíneas forrageiras, e depois
dominando as áreas ainda ocupadas pelas mesmas e redução no número de plantas novas originadas de
ressemeadura natural, o que pode ser visualizado na figura 2.
Muller et al (2001), avaliando pastagens degradadas, concluiram que a degradação reduz a
cobertura do solo e isso auxilia o processo de aumento de densidade do solo, devido a maior exposição
ao pisoteio do gado, diminuindo a porosidade da porção superficial.
Figura 2- Curva de qualidade ou degradação das pastagens – stand de plantas.
Fonte: Rally da Pecuária – www.rallydapecuaria.com.br
A ocorrência da diminuição da parte aérea da planta devido ao processo de degradação ocorre
cocomitantemente a diminuição do sistema radicular, de forma que este se concentra mais na
superfície do solo, restringindo o acesso da planta a água e nutrientes (Muller et al., 2001).
O solo com baixa cobertura está mais exposto ao impacto das gotas das chuvas, estabelecendo
um início de processo erosivo, podendo provocar selamento superficial e diminuição da infiltração e
armazenamento de água, intensificando o processo erosivo (Muller et al., 2001).
Entender o fenômeno da degradação de pastagens e as suas causas é essencial para formular
estratégias de recuperação da produtividade dessas áreas, reduzindo, assim, as pressões de
desmatamento que visam à formação de novas pastagens. A recuperação de pastagens degradadas,
portanto, incentiva o aumento da produtividade no campo, sem com isso estar promovendo a expansão
das áreas de pastagens (Dias- Filho, 2007).
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PROCESSOS E CAUSAS DA DEGRADAÇÃO
A degradação é consequência de vários fatores que atuam isoladamente ou em conjunto, como,
preparo incorreto do solo, escolha errada da espécie forrageira, uso de sementes de baixa qualidade,
má formação inicial, manejo inadequado e, principalmente, em razão da não reposição dos nutrientes
perdidos no processo produtivo, por transferência no corpo dos animais, erosão, lixiviação e
volatilização ao longo dos anos (Peron & Evangelista, 2004).
Segundo Tuffi Santos et al (2004) os principais fatores causadores da degradação são: falta de
adaptação da espécie cultivada ao meio, má formação inicial, perda de fertilidade pelo solo devido a
falta de adubação de manutenção, manejo inadequado. Segundo Silva et al (2004), a falta de adaptação
da espécie forrageira ao local cultivado, assim como a diminuição da fertilidade do solo, associada ao
manejo inadequado da pastagem, pode promover o ressurgimento de plantas consideradas invasoras
em pastagens cultivadas. Além destes fatores, a utilização extrativista das pastagens acarreta redução
da quantidade e da qualidade da forragem produzida, promovendo a degradação da pastagem.
O uso de mesma taxa de lotação durante todo o ano é prática comum adotada pela maioria dos
criadores, o que ocasiona em um pastejo além da capacidade de suporte no período de estiagem, o que
contribui acelerando o processo de degradação das pastagens (Silva et al., 2004).
Segundo Dias-Filho (2007), para pastagens cultivadas, as principais causas de degradação são:
a)
Práticas inadequadas de pastejo: uso de taxas de lotação ou períodos de descanso que
desconsideram a taxa de deposição de tecido da forrageira;
b)
Práticas inadequadas de manejo da pastagem: ausência de reposição de nutrientes, uso
excessivo do fogo;
c)
Falhas no estabelecimento da pastagem: preparo inadequado do solo, uso de sementes de
baixa qualidade, plantio em época inadequada;
d)
Fatores bióticos: ataque de insetos-praga e patógenos;
e)
Fatores abióticos: excesso ou falta de chuvas, baixa fertilidade e drenagem deficiente dos
solos.
NÍVEIS DE DEGRADAÇÃO
Segundo Barcellos (1986), considera-se uma pastagem com baixo nível de degradação quando a
forrageira apresenta perda do vigor vegetativo (enfraquecimento), contribuindo para isto as condições
edáficas e climáticas da região onde essa pastagem se encontra.
Com o passar do tempo, após seu estabelecimento, uma pastagem pode ir aos poucos perdendo
ainda mais seu vigor vegetativo e consequentemente diminuindo sua capacidade de produção de
11
forragem, cobertura do solo (que permite o aparecimento de algumas invasoras), essas condições
caracterizam um médio nível de degradação (Dias-Filho, 2007)
Caracteriza um alto nível de degradação em pastagem a presença acentuada de invasoras, alta
percentagem de solo exposto na área, cupins, e basicamente, como consequência da falta de cobertura
do solo, a erosão, o que pode ser observado na figura 3A e 3B (Barcellos, 1986).
A
B
Figura 3- A. Pastagem degradada com alto percentual de solo exposto; B. Pastagem degradada
com início de processo erosivo. Fonte: arquivo pessoal.
FORMAS DE RECUPERAÇÃO
Para recuperar áreas degradadas, é fundamental melhorar a fertilidade do solo e o manejo da
planta forrageira. O manejo da fertilidade do solo em áreas de pastagens degradadas difere do
realizado em áreas recém-implantadas ou manejadas intensivamente. A resposta ao uso de fertilizantes
em pastos degradados aumenta durante o processo de recuperação (Oliveira et al., 2003).
Segundo Dias- Filho (2007) existe três principais estratégias de recuperação de pastagens
degradadas:
a)
Renovação da pastagem;
b)
Implantação de sistemas agrícolas e agroflorestais;
c)
Pousio da pastagem.
A escolha de cada uma dessas opções estaria condicionada a fatores de natureza econômica,
agronômica e ecológica. Esses fatores, por sua vez, seriam influenciados pelo capital disponível pelo
produtor, pela localização geográfica da área, pelo estádio e forma de degradação (Dias- Filho, 2008).
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Recuperação ou a renovação de pastagens são estratégias para melhoria da produção e cobertura
vegetal em áreas degradadas. Recuperação é o restabelecimento da capacidade produtiva da pastagem
formada com a mesma espécie, utilizando-se ou não a semeadura, já a renovação da pastagem, por sua
vez, consiste na utilização de práticas agronômicas visando à completa substituição da forrageira
existente na pastagem por outras (Vitor et al., 2008)
Silva et al (2004), avaliando métodos de recuperação de pastagens de Brachiaria concluíram
que o método de não preparo do solo (figura 4)com adubação fosfatada é o método mais eficiente para
recuperação das mesmas, o diferimento promove recuperação satisfatória da cobertura do solo e o uso
da gradagem dificulta a rebrota da forrageira. O que corrobora com o trabalho de Oliveira et al (2003),
que concluíram que o uso de gradagem é prejudicial ao desenvolvimento radicular, além de diminuir o
conteúdo orgânico da porção mais rasa do solo.
Figura 4- Plantio direto de pastagem (sem preparo do solo).
Fonte- http://www.cpt.com.br/artigos/plantio-direto
A resistência do solo à penetração das raízes é uma propriedade física que influencia
diretamente no crescimento radicular e consequentemente da parte aérea da planta. De acordo com
Tormena & Roloff (1996) utiliza-se a resistência do solo à penetração para avaliação dos efeitos dos
sistemas de manejo do solo sobre o ambiente radicular. Costa et al (2009), trabalhando com pastagens
degradadas, concluiu que o uso da cama de frango auxiliou no processo de descompactação do solo,
reduzindo a densidade do mesmo. Oliveira et al (2004), concluíram que calagem e fertilizações,
associadas ao manejo adequado da planta forrageira, promovem a recuperação da pastagem,
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representada pelo aumento em produtividade, quando trabalharam com pastagens degradadas de
Brachiaria brizantha cv. Marandú.
Bomfim et al (2003), trabalhando com tratamentos físicos associados a adubação em pastagens
degradadas de Brachiaria, concluiu que o uso de grade intermediária associado a adubação
nitrogenada apresentou efeitos desejados na recuperação da pastagem, enquanto o tratamento com
escarificador não apesentou resultados significativos. Daniel et al. (1994) estudando as mudanças nas
características da resistência do solo sob diferentes manejos, concluíram que ferramentas que
provocam um grau maior de mobilidade do solo, como arado de disco, grade aradora e a enxada
rotativa, proporcionaram valores mais elevados de resistência do solo à penetração, indicando a
presença de camadas compactadas.
Segundo Fávero et al (2008), os sistemas agroflorestais quando conduzidos nos princípios da
agroecologia, são uma boa opção para recuperação de áreas degradadas, em razão da disponibilização
de nutrientes no solo. Segundo este autor, os sistemas agroflorestais estabelecidos sobre áreas
degradadas, apresentaram maior acumulo de matéria orgânica quando comparado a área de pastagem.
Segundo Noronha et al (2010), a prática de plantio direto, ressemeadura simples e adubação são as
mais recomendada para a recuperação de pastagens degradadas, principalmente pelo efeito residual da
adubação em plantio direto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A adoção de medidas como a preparação correta do solo, a opção da espécie forrageira
apropriada para o local, o uso de sementes certificadas e na quantidade adequada, o manejo correto das
pastagens, compreendendo a pressão de pastejo e o período de descanso apropriados e também
fertilizações de manutenção, significariam suficientes para definir o problema. A degradação das
pastagens tem afetado francamente a sustentabilidade da pecuária nacional, além de reduzir o valor
das terras e atrasar a idade de abate dos animais, caso da bovinocultura de corte, e reduzir a
produtividade de leite, no caso da pecuária leiteira. Todavia, existe um número reduzido de pecuaristas
restaurando pastagens de suas propriedades, ou mesmo absorvidos com esse problema. Entretanto o
trabalho de manutenção da produtividade das pastagens, que tem reflexos diretos sobre a
produtividade animal, seja ela de carne ou leite, deve ser permanente, justamente, porque o processo
de degradação pode persistir e com certeza haverá prejuízos irrecuperáveis para os recursos naturais.
14
REFERÊNCIAS
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2008.
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CAPÍTULO 2
FORRAGEIRAS DE INVERNO COMO ALTERNATIVAS DE ALIMENTAÇÃO
ANIMAL NA ÉPOCA SECA
Antônio Carlos Cóser1
Deolindo Stradiotti Júnior2
Carlos Eugênio Martins3
Ary Ferreira de Freitas
Flebson Montalvão de Almeida
Adriano Conti Hupp5
Thiago Jaccoud Machado5
INTRODUÇÃO
A região Sudeste é caracterizada pela predominância de pequenas propriedades rurais que
utilizam sistema de produção misto. Apresenta duas estações bem distintas, sendo uma chuvosa e de
altas temperaturas, que vai de novembro a abril, coincidindo com melhor produtividade das pastagens
e outra, seca e com temperaturas mais amenas ou baixas, que vai de maio a outubro. Nesta época,
ocorre um declínio muito rápido do crescimento das gramíneas tropicais, devido principalmente à falta
de chuvas e à baixas temperaturas, provocando estacionalidade de produção forrageira. Sendo a
pastagem a base da alimentação dos ruminantes (bovinos e ovinos, principalmente), a produção animal
a pasto sofre limitações de toda ordem para que ocorra uma oferta equilibrada de forragens de
qualidade ao longo do ano. Em condições tropicais e subtropicais, uma das limitações da produção
animal a pasto é a forte produção estacional de forragem de gramíneas tropicais perenes, em que cerca
de 80% da produção da fitomassa é obtida na época das águas. Para essas condições, há relatos na
2
literatura nacional que cerca de 25% da produção animal acumulada na primavera-verão pode ser
perdida no outono-inverno.
¹DSc. Professor Programa Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, CCA-UFES, Rua Alto Universitário, s/n,
Bairro Guararema, Alegre-ES. CEP 29500-000. Bolsista PVNS CAPES E-mail: [email protected]; 2 DSc.
Professor Programa Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, CCA-UFES, Rua Alto Universitário, s/n, Bairro
Guararema, Alegre-ES. CEP 29500-000. E-mail: [email protected]; 3DSc. Pesquisador Embrapa Gado de
Leite, Rua Eugênio do Nascimento, 610, Bairro Dom Bosco, CEP 36038-330, Juiz de Fora-MG. E-mail:
[email protected]; 4DSc. Professor BioEstatística Faculdade Ciências Médicas Juiz de Fora-MG. E-mail:
[email protected];5BSc. Pós-Graduando do Programa Pós-Graduação em Ciências Veterinárias,
CCA-UFES, Rua Alto Universitário, s/n, Bairro Guararema, Alegre-ES. CEP 29500-000. Bolsista FAPES. Email: [email protected]; [email protected]; [email protected]
17
A partir do exposto, pretende-se reunir informações relacionadas a alternativas de
suplementação dos rebanhos na época seca do ano, discutindo especialmente sobre a utilização de
forrageiras de inverno como opção de arraçoamento animal nesta época.
CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS DA AVEIA E DO AZEVÉM
O cultivo de plantas forrageiras de estação hibernal pode sanar a falta de alimento durante o
período de inverno desde que fatores nutricionais e de déficit hídrico sejam corrigidos, especialmente
com o uso de irrigação. Em se tratando de espécies de inverno, o seu crescimento ótimo se dá numa
faixa de temperatura variando entre 18 e 23°C (GERDES, 2005).
Existem várias opções de espécies forrageiras que podem ser utilizadas durante o período crítico
de outono/inverno, para reduzir o déficit alimentar nessa época do ano. Dentre as varias alternativas de
espécies forrageiras de estação fria está o cultivo da aveia e do azevém. A utilização dessas espécies
forrageiras tem permitido a obtenção de forragem de alta qualidade durante o inverno (GERDES,
2003).
AVEIA
A aveia é uma gramínea de inverno de ampla adaptação, que apresenta grande variabilidade
genética intra e interespecífica, possuindo comprovado valor forrageiro. A aveia apresenta várias
espécies, sendo as mais comuns a aveia preta (Avena strigosa Schreb) de uso forrageiro, a aveia
branca (Avena sativa L.) podendo ser granífera e/ou forrageira e a aveia amarela (Avena byzantina C.
Kock), menos comum, podendo ser usada com duplo propósito. Devido à grande variabilidade
genética da aveia é possível optar por materiais de ciclo vegetativo mais longo. Isto permite que a
produção de biomassa de qualidade e o pastejo possam se estender até o mês de setembro, que é o
período mais crítico para a produção animal a pasto.
A aveia é originária da Ásia antiga, era reconhecida como planta invasora de culturas de trigo e
cevada, que eram as culturas dos agricultores primitivos. Posteriormente se expandiu para a Europa,
onde as condições de solo e clima eram favoráveis a sua produção, tornando uma importante fonte de
alimentação para o homem e o animal (MONTEIRO et al., 1996).
As aveias podem ser perenes ou anuais, porém as mais utilizadas são as anuais. Trata-se de
planta cerealífera, que possui folhas estreitas e compridas, colmos macios e suculentos, vasto sistema
radicular fasciculado, hábito de crescimento ereto podendo atingir até um metro de altura (PUPO,
2002). Em condições favoráveis produz de quatro a cinco perfilhos e o ciclo é muito variável, de 3 a 5
meses (MONTEIRO et al., 1996). São plantas de temperatura baixa, porém apresentam cultivares
adaptadas às regiões de altas temperaturas. A aveia tem preferência por solos argilo-arenosos, com boa
18
matéria orgânica e pH nunca inferior a 5,5. Respondem bem as adubações química e orgânica, não
suporta solos encharcados, preferindo solos úmidos, mas bem drenados (PUPO, 2002).
A semeadura da aveia pode ser feita nos meses de março a junho para forragem e de maio a
julho para produção de grãos. Plantios mais tardios, especialmente para a aveia preta, reduzem o ciclo
da forrageira e, consequentemente sua produção e o período de utilização.
O plantio pode ser realizado em linha onde o espaçamento deve ser de 17 a 20 cm, utilizando 60
a 80 kg/ha de sementes de aveia branca, de 48 a 64 kg/ha de sementes de aveia preta e de 80 a 100
kg/ha de sementes de aveia amarela. Já, para o plantio a lanço recomenda-se aumentar em 20% a
quantidade de sementes utilizadas no plantio em linha, cerca de 100 kg/ha (MONTEIRO et al., 1996).
Neste caso, há necessidade de leve incorporação das sementes ao solo, manual ou mecanicamente. A
aveia é uma das principais forrageiras utilizadas na formação de pastagens de inverno, cultivada de
forma isolada ou consorciada com outras forrageiras de clima temperado, devido a sua alta produção
de matéria seca e qualidade da forragem, resistência ao pisoteio e baixo custo de produção. A aveia
preta (A. strigosa Schreb) destaca-se pela sua resistência à ferrugem e por produção de forragem de
alta qualidade (FLOSS, 1988).
A Tabela 1 apresenta as características de diversas linhagens e cultivares de aveia preta e aveia
branca com cortes para produção de matéria seca realizados no estádio de florescimento. Pode-se notar
a grande produtividade da aveia, variando de 10.561 a 14.524 kg/ha de matéria seca entre as sete
cultivares mais produtivas. Deve-se ressaltar que essa pesquisa foi conduzida com um número grande
de cultivares de aveia com variação de 6.500 a 14.500 kg/ha. Isso demonstra a variabilidade genética
da aveia e o grande potencial produtivo. Segundo Sá et al. (2001), nos materiais mais tardios como os
genótipos IAPAR 61 e IA 96101-B os cortes foram realizados no final de setembro.
Tabela 1- Rendimento de matéria seca, altura, data de corte e ciclo de genótipos de aveia preta (p) e
branca (b) em Londrina-PR, 2000.
Genótipo
UPF77436
MS - kg/ha*
1
14.524 a
Altura - cm
Data corte
Ciclo – dias
130
10/08
100
ALPHA 1551
13.764 ab
120
21/08
111
IAPAR 611,2
13.670 ab
130
20/09
141
IA 96101-B2
12.329 bc
123
29/09
150
CEPAP 98251
11.086 cd
112
30/07
89
ALPHA 2061
10.720 cde
115
28/07
87
10.561 cdef
117
27/07
88
Embrapa 29
1,2
*Médias seguidas pela letra não diferem entre si pelo Teste de Duncan (P<0,05).
1
Aveia preta; 2Aveia branca;1,2Aveia preta testemunha.
Fonte: SÁ et al. (2001) – Adaptado
19
A aveia pode ser utilizada de varias formas: produção de grãos (alimentação humana e animal),
forragem (pastejo, feno, silagem ou cortada e fornecida fresca no cocho), adubação verde, cobertura de
solo e inibição de plantas invasoras pelo efeito alelopático (PRIMAVESI et al., 2000).
O pastejo deve ser iniciado quando a planta atingir 30 cm de altura. No estado de São Paulo essa
altura ocorre quando a planta esta começando a elevar o meristema apical (38 a 45 dias). É importante
que os animais sejam retirados quando o resíduo remanescente pós-pastejo estiver com uma altura de
10 cm, possibilitando uma rápida rebrota e diminuindo o intervalo de desfolha (PRIMAVESI et al.,
2000).
Segundo Noro et al. (2003), a cultivar de aveia preta IAPAR 61 (A. strigosa Schreb. cv. IAPAR
61) é mais produtiva em relação à aveia preta “Comum” devido, principalmente, ao seu ciclo mais
longo. Para a região Norte e Noroeste do Paraná, Grise et al. (2002) evidenciaram o potencial da
mistura de aveia preta IAPAR 61 e ervilha forrageira como alternativa para o período de escassez de
forragem.
AZEVÉM
O azevém é originário da região mediterrânea (Europa, Ásia, Norte da África), depois chegou e
foi selecionado na Itália, America e Austrália (MONTEIRO et al, 1996). É uma gramínea anual de
ciclo hibernal, cespitosa, que possui folhas finas e tenras. É uma planta rústica e agressiva que perfilha
abundantemente e, devido a esta característica, é uma das gramíneas hibernais mais utilizadas no Rio
Grande do Sul, tanto para pastagens como para corte (PUPO, 2002). O azevém é adaptado a
temperaturas baixas, desenvolvendo-se somente no inverno e primavera. Tem preferência por solos
férteis, úmidos, argilosos e com bom nível de matéria orgânica.
O estabelecimento do azevém é feito por meio de sementes, utilizando de 25 a 40 kg/ha, de
março a abril. O plantio pode ser realizado em linha ou a lanço, tomando o cuidado para não enterrar
muito a semente, pois as sementes são de tamanho pequeno. Pode ser semeado, também, por máquina
plantadeira de arroz ou similar (20 cm entre linhas), que deve ter perfeita regulagem para a queda das
sementes ao solo. Deve-se tomar o cuidado de retirar as traqueias da plantadeira visando à maior
uniformidade de semeadura. Essa prática possibilita que as sementes caiam livremente sobre o solo tal
como no plantio a lanço. Ao contrário da aveia, seu crescimento inicial é lento, porém torna-se
vigoroso após as três ou quatro primeiras semanas do plantio e pode proporcionar de três a quatro
cortes, por terem ciclo mais longo que a aveia, atingindo o mês de novembro na Zona da Mata de
Minas Gerais.
O azevém pode ser utilizado sob lotação continua ou rotacionada, feno, silagem pré-secada e
fornecimento verde no cocho (MONTEIRO et al., 1996).
20
Um bom programa de aplicação de fertilizantes é necessário para a obtenção de alta produção
de forragem, minimizar problemas de pragas e doenças e persistência da planta forrageira. As
quantidades e o esquema de aplicação de fertilizantes variam em relação à fertilidade do solo e
intensidade de manejo. A análise do solo é fundamental quando se pretende estabelecer uso intensivo
de pastagens de inverno e, no cultivo dessas espécies de inverno é importante monitorar a sua
fertilidade, pois se trata de espécies exigentes. No momento do plantio deve-se aplicar em torno de 80
kg/ha de P2O5. A adubação de cobertura deve ser realizada baseando-se nos resultados da análise do
solo. Além disso, os aspectos relacionados à irrigação devem ser considerados, uma vez que para o
desenvolvimento dessas culturas durante o período seco do inverno, há necessidade do fornecimento
de água, especialmente no Brasil Central.
Estudos relatam que a deficiência de nutrientes dos solos é uma das principais causas da baixa
produtividade. A aplicação de nitrogênio é de fundamental importância para o rápido crescimento das
plantas, além de influenciar positivamente o conteúdo de proteína da forragem.
Nessas culturas, segundo Kichel et al. (2000), as principais invasoras são plantas de folha larga,
as quais devem ser controladas com o uso de herbicida pós-emergente à base de 2,4
diclorofenoxiacético (2-4D), quando as mesmas apresentarem de quatro a seis folhas. Estes autores
relatam, ainda, que as principais pragas que atacam estas plantas forrageiras são lagartas e pulgões.
Para seu controle são utilizados inseticidas com curto período de carência, em torno de 10 a 15 dias,
para não retardar o inicio do pastejo e não deixar resíduo do inseticida para os animais.
É muito comum a mistura de espécies anuais de inverno com o intuito de combinar os picos de
produção de matéria seca, que acontecem em diferentes épocas de acordo com a espécie. Esta técnica
tem por objetivo aumentar a produção e prolongar o período de pastejo. Uma das misturas mais
utilizadas é a da aveia com o azevém devido à aveia antecipar o período de utilização da pastagem, e o
azevém prolongar o ciclo de pastejo, pois o azevém apresenta baixa produção nas temperaturas mais
baixas e elevando a produção de forragem na primavera, conforme a temperatura vai aumentando
(BERTOLOTE, 2009).
Com relação à adubação nitrogenada de cobertura, Lupatini et al. (1998) avaliaram o efeito da
adubação nitrogenada em pastagens de aveia preta e azevém submetidas a pastejo por bovinos de
corte. Foram avaliadas três doses de nitrogênio 0, 150 e 300 kg/ha de N, em adubações de cobertura na
forma de ureia. Foi observada uma altura média de 19 cm, variando de 15 a 24 cm durante o período
experimental. A taxa de acúmulo de matéria seca média aumentou linearmente com os níveis de
adubação nitrogenada; o tratamento que utilizou 150 kg de N aumentou em média 122% na taxa de
acúmulo de matéria seca da pastagem. O teor de proteína bruta também aumentou linearmente com os
níveis de adubação nitrogenada, no inicio do período de pastejo os teores de proteína bruta foram 19,7;
24,9 e 32,4% e no final de outubro foram verificados 8,6; 10,9 e 16,6% de acordo com os tratamentos
0, 150 e 300 kg de N, respectivamente. A digestibilidade in vitro não foi influenciada pelos
21
tratamentos. Quando se utilizaram 150 kg de nitrogênio a eficiência foi de 29,5kg de matéria seca por
quilograma de nitrogênio aplicado; já no tratamento em que se utilizaram 300 kg de nitrogênio, a
eficiência foi de 20,1 kg de matéria seca para cada quilograma de nitrogênio aplicado, porém a
produção por área continuou a aumentar apesar da eficiência ter diminuído (LUPATINI, et al., 1998).
No sistema de integração lavoura e pecuária não só a produção da parte aérea da forrageira assume
importância, mas também a produção de sistema radicular abundante e profundo. Para os solos
argilosos, sendo mais sensíveis à compactação pela sua elevada plasticidade quando úmido, as raízes
podem contribuir para a redução do adensamento do solo ocasionado pelo pisoteio dos animais em
pastejo.
O volume e o comprimento do sistema radicular são outras características que demonstram
haver variabilidade genética entre os materiais de aveia. No sentido de avaliar sistemas radiculares de
linhagens e cultivares de aveia, OLIVEIRA et al. (2001) encontrou diferenças significativas entre os
materiais.
Como o sistema deve ser manejado dentro do conceito de sustentabilidade econômica e
ambiental, o uso de materiais genéticos de ciclo longo e com abundante sistema radicular torna-se
imprescindível.
ALFAFA
A alfafa (Medicago sativa L.) é uma leguminosa forrageira que não se adapta a terrenos mal
drenados, ácidos, excessivamente alcalinos e pobres em nutrientes. Não suporta solos onde há
acúmulo de água por período prolongado, não sobrevivendo nestas condições. As maiores
produtividades são obtidas em solos férteis e profundos, com declividade moderada e pH em torno de
6,5. A alfafa pode ser usada para corte e produção de feno, mas, também para pastejo direto. O manejo
de cortes deve ser realizado a uma altura entre sete e dez centímetros acima do nível do solo. Na época
chuvosa, os cortes podem ser realizados quando 10% das plantas se apresentam floridas. Neste caso,
quase sempre ocorrem a intervalos de aproximadamente 25 a 30 dias. Na época seca, os cortes devem
ser feitos a intervalos de 35 a 40 dias, independente da floração. A produção e a persistência da alfafa
estão condicionadas ao vigor da rebrota, que estão associadas ao manejo adotado em relação à
adubação de manutenção e irrigação. Na Embrapa Gado de Leite a alfafa produziu em torno de 26 t/ha
de matéria seca em dez cortes durante o ano, o equivalente a 29 t/ha de feno. Pode ser usada para
pastejo, entretanto sabe-se que deve ser realizado em faixas com um dia de ocupação e intervalos de
desfolha semelhantes aos do corte. Tanto para corte quanto para pastejo a alfafa, por ser alimento de
alto valor nutritivo, deve ser direcionada para vacas de alto potencial para produção de leite, acima de
20 kg/vaca/dia.
22
CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS E PRODUÇÃO ANIMAL
Em relação ao desempenho de bovinos, existem informações de que é possível obter de 12 a 14
kg/vaca/dia de leite, em pastagens de capim-elefante durante a época das chuvas quando manejado
com 30 dias de intervalo fixo de desfolha (DERESZ, 2001) e de 600 a 850 gramas/dia de ganho de
peso em cultivares de U. brizantha, valores observados por EUCLIDES et al. (2009), os quais relatam
que essas cultivares podem produzir de 660 a 870 kg/ha/ano de peso corporal. Já, na época seca, essas
pastagens por si só não possibilitam bom desempenho animal pela baixa oferta de forragem para
consumo animal. Isso mostra a necessidade de uso de algum suplemento visando ao melhor
desempenho animal nesta época do ano. Por outro lado, Gardner et al. (1982) relatam que bezerros de
rebanhos leiteiros podem ter ganho de peso vivo médio diário em torno de um quilograma em
pastagens de aveia. Conforme BLASER et al. (1982), para ganhos na faixa de 0,750 a
1,1kg/animal/dia para a categoria de novilhos, é necessário que a forragem apresente digestibilidade
de 67 a 74%, respectivamente. Valores acima de 80% de DIVMO foram encontrados por Grise et al.
(2001) em pastagem de aveia “IAPAR 61” mais ervilha forrageira. Os teores médios de PB
observados variaram de 14,6 a 24,7%.
Avaliando cultivares e linhagens de aveia, Cecato et al. (1998) obtiveram valor médio de 21%
de PB para a cultivar “IAPAR 61”, e utilizando 100kg/ha de nitrogênio, Cecato et al. (2001)
encontraram teor médio de 16,3% de PB para a mesma cultivar, inferior à média de 19,9% observada
por Macari et al. (2006), em aveia cv. “IAPAR 61” em mistura com azevém, com uso de 135 kg/ha de
nitrogênio.
Em condições do Estado do Paraná, a aveia tem sua importância aumentada ao longo dos anos,
provendo forragens de alta qualidade no período de inverno-primavera nos sistemas de intensificação
de carne e leite a pasto. Grise et al. (2001) e Oliveira et al. (2000) estudando o desempenho animal em
pastagem exclusiva de aveia obtiveram ganhos médios diários de peso vivo por animal de 1,1 kg e
0,773 kg, respectivamente, valores próximos aos encontrados por Gardner et al. (1982).
A suplementação com apenas duas horas de pastagem num campo cultivado com estas
gramíneas é capaz de garantir a produção de cerca de dez litros de leite por vaca/dia. Estas forrageiras
reduzem a necessidade de concentrados, diminuindo os custos de produção.
Conforme Farinatti et al. (2006) por ocasião da intensificação dos sistemas de produção há o
favorecimento do uso de suplementos para animais em pastejo. Essa suplementação visa não só suprir
deficiências nutricionais da pastagem quanto reduzir o risco ocasionado pela flutuação da produção de
matéria seca da pastagem ao longo do ano. Quando há suplementação, os animais podem substituir
parte do consumo de forragem pelo de suplemento, com consequências na produção e na estrutura da
pastagem. Os resultados desses autores apontam para um ganho de peso médio diário semelhante de
23
0,177; 0,201 e 0,216 kg para ovinos suplementados com grão de milho, farelo de soja ou sem
suplementação, respectivamente, não havendo interferência do suplemento no ganho individual.
Cóser et al. (1984) avaliaram pastagens de aveia amarela e de azevém anual sob pastejo
exclusivo, visando à produção animal. O pastejo foi iniciado quando a aveia alcançou entre 25 e 30 cm
e o azevém, a 20 cm, aproximadamente. Tanto a aveia quanto o azevém foram utilizados sob pastejo
contínuo. Neste trabalho essas forrageiras produziram nutrientes suficientes para uma produção média
de 11 kg/vaca/dia de leite; em 1982, as produções médias diárias de leite foram 11,9 e 13,2 kg/vaca
em aveia e azevém, respectivamente.
Trabalho similar também foi realizado em fazendas produtoras de leite da Zona da Mata de
Minas Gerais. Na Tabela 2 são mostrados os dados referentes à produção de vacas de leite em
pastagem mista de aveia e azevém comparada com as que receberam silagem de milho mais
concentrado.
Tabela 2. Efeito de dois sistemas de alimentação de vacas em lactação sobre a produção de leite na
época seca de 1982 (Lima Duarte, MG)
Produção de leite (kg/vaca/dia)
Aveia +
azevém
11,7
Consumo silagem (kg/vaca/dia)
8,0
20
0,0
3,5
Variáveis
Consumo concentrado (kg/vaca/dia)
Fonte: ALVIM et al. (1986)
Silagem de Milho + concentrado
7,5
A produção de leite foi bem superior (11,7 kg/vaca/dia) no sistema aveia mais azevém
comparada à produção no sistema silagem mais concentrado (7,5 kg/vaca/dia). Nessa propriedade as
vacas possuíam baixo potencial produtivo, daí as baixas produções médias individuais de leite nesta
pesquisa. Ressalta-se que o sistema aveia + azevém foi duas vezes mais rentável que o sistema silagem
+ concentrado. Foram estudados, a seguir, diferentes períodos de permanência das vacas em pastagens
de azevém, sob pastejo contínuo (ALVIM & CÓSER, 2000). Os resultados dessa pesquisa podem ser
vistos na Tabela 3.
24
Tabela 3. Efeito da restrição ao tempo de pastejo em azevém sobre a produção de leite e consumo de
silagem e concentrado, em Coronel Pacheco/MG, durante 107 dias.
Período de pastejo (horas)
Variáveis
21
6
2
Zero
11,1a
9,5ab
7,5cb
7,1c
2,3
3,8
6,5
8*
2.780c
4.300b
5.465a
6. 600a
Consumo de silagem - kg/vaca/dia
0,0
21,4
22,8
21,2
Consumo farelo trigo - kg/vaca/dia
0,0
0,0
0,0
5,5
Produção de leite - kg/vaca/dia
Taxa de lotação - vacas/ha1
Produção de leite - kg/ha2
Mudança de peso corporal - kg/vaca
+6
+8
+7
+ 12
*Estimativa com base no consumo e na produção média de 20 t/ha de silagem de milho.
1
Diferença significativa ao nível de 5%; 2Diferença significativa ao nível de 10%.
Fonte: ALVIM & CÓSER (2000).
Pelos resultados obtidos, verificou-se que à medida que diminuiu o tempo diário de pastejo, reduziu-se
a produção de leite/animal/dia, com elevação da carga animal, consequentemente, elevando a
produção de leite por área. Observou-se que os tratamentos com 2 h e 0 h de pastejo apresentaram
semelhança em relação ao consumo de silagem de milho e produção média de leite/dia, concluindo-se
que duas horas de pastejo em azevém são suficientes para substituir 5,5 kg de farelo de trigo, com 16%
de PB, oferecidos aos animais que não tiveram acesso à pastagem de azevém. Neste trabalho, a aveia e
o azevém produziram, em média, seis toneladas por hectare, considerando todo o ciclo das forrageiras.
No Sul do Brasil, Olivo (1982) observou produções de leite mais elevadas, acima de 15 kg/vaca/dia,
em pastagens da mistura aveia e azevém, evidenciando a alta qualidade da forragem produzida por
essas gramíneas. Na Tabela 4, pode-se notar que as produções médias de leite por vaca variaram de
15,5 a 16,1 kg ao se passar de 75 para 225 kg/ha de nitrogênio nessas pastagens.
TABELA 4. Efeito da aplicação de níveis de nitrogênio em aveia/azevém sobre a taxa de lotação e a
produção de leite em Santa Maria/RS, durante 63 dias.
Nitrogênio
Produção de leite
Taxa de lotação
kg/ha
kg/vaca/dia
kg/ha
vacas/ha
75
15,5
2245
2,3 a
150
15,5
3125
3,2 b
225
16,1
3245
3,2 b
Fonte: OLIVO (1982)
25
Ressalta-se que a resposta em produção de leite a partir da segunda dose de nitrogênio aplicada
(150 kg/ha de nitrogênio) não foi diferente da obtida com 225 kg/ha de nitrogênio, observando-se
nessas duas maiores doses, taxas de lotação semelhantes. Assim, doses maiores que 150 kg/ha de
nitrogênio não devem ser aplicadas nessas forrageiras por não resultarem em maiores produções de
leite por área.
Embora a alfafa seja utilizada mais frequentemente sob a forma de feno em rebanhos de leite de
alta capacidade produtiva, o potencial de produção de leite em pastagem de alfafa irrigada como
alimento exclusivo de vacas puras da raça Holandesa foi avaliado por Vilela et al. (1994). A pastagem
foi manejada sob lotação rotacionada com um dia de utilização e de 14 a 36 dias de descanso, para a
época chuvosa e seca do ano, respectivamente. A produção média diária de leite corrigida para 4% de
gordura, durante 294 dias, foi de 18,6
0,8 kg.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por serem culturas anuais, próprias para o outono/inverno, a aveia e o azevém não competem
com outras culturas de verão. Podem ser plantadas nas mesmas áreas utilizadas para o cultivo do
milho ou do arroz. O ideal é que o cultivo seja feito em áreas de várzea. O plantio ocorre em meados
de março até o final de abril quando as áreas das culturas de verão já se encontram desocupadas. Antes
do plantio, deve ser feita a analise do solo que indicará a calagem e adubação corretas. Quanto ao
nitrogênio, recomenda-se que sejam aplicados 130 kg/ha para o cultivo da aveia. A aplicação deverá
ocorrer em três parcelas: a primeira, cerca de 20 dias após o plantio; a segunda, após o primeiro corte
ou pastejo e a terceira, após o segundo corte ou pastejo. O azevém necessita de 150 kg/ha de
nitrogênio. A forma de aplicação é semelhante à da aveia, incluindo-se uma quarta parcela após
terceiro corte ou pastejo. Principalmente para o azevém, que possui sementes menores, o preparo do
solo exige alguns cuidados. A aração e a gradagem devem ser realizadas de forma bem criteriosa para
evitar a perda das sementes. Para as duas gramíneas, técnicos ensinam que é preciso usar um
espaçamento de 20 cm entre as linhas. As invasoras precisam ser controladas com herbicidas. No caso
da aveia, o corte ou pastejo deve ser iniciado quando a forrageira alcançar uma altura entre 25 e 30
cm. Já o azevém exige uma altura de cerca de 20 cm. Estas gramíneas podem ser utilizadas em pastejo
contínuo ou rotativo. No primeiro caso, os animais deverão sair da pastagem quando a aveia
apresentar uma altura entre dez e 15 cm e o azevém, entre sete e dez centímetros. Como as forrageiras
são cultivadas no inverno, período mais crítico para a alimentação do gado, em que predominam
temperaturas mais baixas e baixa pluviosidade, há necessidade de que a área seja irrigada
periodicamente, especialmente na região Sudeste. Mesmo em sistemas confinados, a forragem pode
ser cortada no campo e fornecida verde para os animais. Neste caso, as gramíneas devem ser plantadas
26
de forma escalonada, em intervalos de cinco dias, para evitar que o alimento fique velho no pasto. A
utilização da forragem verde diminui a necessidade de mão de obra. No entanto, nada impede que o
produtor faça silagem ou feno com aveia e azevém, mas o recomendável é que o próprio rebanho
busque a forragem no pasto, o que diminui ainda mais os custos com mão de obra. O pastejo pode ser
realizado durante parte do dia, no intervalo entre as ordenhas. Outra alternativa seria permitir o pastejo
da área por duas horas, após a primeira ordenha e no restante do dia, ser fornecido aos animais outras
fontes de alimento como silagem de milho, sorgo, cana de açúcar com ureia ou outras gramíneas.
Como a aveia e o azevém são alimentos nobres para o rebanho, o ideal é que apenas as vacas de
alta produção tenham acesso a elas. Um hectare destas forrageiras pode alimentar até seis vacas,
durante duas horas de pastejo, no período de entressafra.
27
REFERÊNCIAS
ALVIM, M. J.; GARDNER, A. L.; CÓSER, A. C. Produção de leite em pastagens de azevém
submetidas a diferentes períodos de pastejo. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 15, p.
425-431, 1986.
ALVIM, M. J.; CÓSER, A. C. Aveia e azevém: recursos forrageiros para a época seca. In:
Pastagens para gado de leite na região de influência da Mata Atlântica. Coronel Pacheco: Embrapa
Gado de Leite. p. 83-107, 2000.
BERTOLOTE, L. E. M. Sobressemeadura de forragens de clima temperado em pastagens
tropicais. 2009. 84f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Estadual Paulista –
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu-SP, 2009.
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29
CAPÍTULO 3
PARASITOS COM POTENCIAL ZOONÓTICO EM PEIXES NO BRASIL –
UMA REVISÃO
Marcus de Freitas Ferreira¹
3
O peixe constitui fonte de proteínas de alto valor biológico, tão importante quanto à carne
bovina. Em muitos países, principalmente na Europa e Ásia é o produto com proteína de origem
animal mais consumido. O teor protéico varia de 15 a 20% e em relação à gordura são classificados
como magros (menos que 1% de gordura, assim como bacalhau, carpa, pescada, truta, linguado), meio
gordos (entre 7 e 8% de gordura, assim como salmão, arenque, cavala, congro) e gordos (mais de 15%
de gordura, assim como atum, enguia) (Lederer, 1991).
Em todos os oceanos, rios e lagos – e até nas águas que ficam permanentemente cobertas de
gelo – se encontra a atividade da pesca. O homem explora um grande número de espécies de peixes,
crustáceos, moluscos. No entanto, o número de espécies que compõem a grande maioria das capturas
pesqueiras do mundo é relativamente pequeno (MÁRSICO, 2005).
Sendo assim desde a origem da humanidade, os peixes e outros animais aquáticos, tem uma
grande importância na alimentação. A participação da pesca na alimentação total é muito variável
dependendo, das características geográficas respectivas. Desta forma, enquanto que nas zonas não
marítimas, o consumo do pescado representa uma média de 12% da proteína animal ingerida, nas
zonas costeiras, esta percentagem chega a ser de 70% (Vazquez-Lopez, C.; Armas-Serra, C.;
Rodríguez-Caabeiro, F. 2001).
Portanto, é importante a inspeção sanitária dos peixes de consumo humano como possíveis
sujeitos e/ou fontes de enfermidade. As enfermidades dos peixes podem ser de origem bacteriana,
micótica, virótica, provenientes do meio ambiente e parasitária, sendo este último o tema deste
trabalho (Vazquez-Lopez, C.; Armas-Serra, C.; Rodríguez-Caabeiro, F. 2001)..
Além da atividade de pesca, a aquicultura, ou seja, a criação em cativeiro de organismos
aquáticos, tem grande importância. Entende-se que o sucesso destas explorações depende de vários
fatores, dos quais se destaca a condição sanitária dos peixes a serem criados. Numerosos exemplos
demonstram que as pisciculturas só podem ter sucesso em sua atividade se sua gestão levar em
1
DSc. Professor Adjunto Departamento de Medicina Veterinária, CCA-UFES, Rua Alto Universitário, s/n,
Bairro Guararema, Alegre-ES. CEP 29500-000. e-mail: [email protected]
30
consideração os aspectos sanitários nas várias vertentes da profilaxia, do diagnóstico e da terapêutica,
mantendo o equilíbrio da relação parasita-hospedeiro-ambiente (Luque, 2004; Pavanelli, G. C.; Eiras,
J. C.; Takemoto, R. M., 2008).
A grande maioria dos organismos capazes de causar doenças em organismos aquáticos é
oportunista, ou seja, normalmente habita os sistemas aquáticos e convive em equilíbrio com os peixes
sem causar danos (Pavanelli et al., 2008). No entanto, devido ao desequilíbrio da relação parasitahospedeiro-ambiente,
estes
organismos
passam
a
agir
de
forma
patogênica,
causando
infecções/infestações que podem resultar em mortalidade.
Do ponto de vista de saúde coletiva, vários agentes podem interferir na qualidade dos peixes,
sendo que os biológicos são mais sérios (Almeida, 1998). Dentre estes agentes, os parasitos zoonóticos
transmitidos pelo pescado, estão cada vez mais chamando a atenção de pesquisadores e autoridades
sanitárias do mundo inteiro, em função dos riscos decorrentes da globalização do comércio de
alimentos e do crescente consumo de alimentos elaborados com peixe cru e daqueles oferecidos em
redes “Fast Food”. Dados mundiais indicam que esses parasitos infectam mais de 18 milhões de
pessoas, com o número de pessoas em risco em mais de meio bilhão, particularmente em países do
sudeste asiático (FAO, 2004).
No Brasil, o hábito de ingerir peixes, em especial crus (“sashimi” e “sushi”), é de introdução
recente no cardápio de alguns estabelecimentos brasileiros, comuns nos bairros das classes mais
elevadas e especializadas para imigrantes asiáticos. Este hábito exige ótima qualidade do pescado,
para evitar a ação patogênica de bactérias e helmintos parasitos, que no homem, se forem ingeridos,
são responsáveis pelo quadro clínico caracterizado por diarréia, dores abdominais, náuseas, vômitos,
emagrecimento e febre (Germano; Germano; Oliveira, 1998).
Os peixes são excelentes hospedeiros intermediários e paratênicos de parasitos, os quais são
transmitidos principalmente para aves piscívoras, que atuam como hospedeiros definitivos, resultando
em relações ecológicas eficientes para a manutenção de ciclos biológicos (Vicente e Pinto, 1999;
Vicente et al., 1995). A participação do homem como hospedeiro acidental de algumas espécies de
parasitos de peixes, cada vez mais tem chamado a atenção de pesquisadores e autoridades sanitárias no
mundo inteiro, por determinarem problemas de saúde pública, em infecções decorrentes do consumo
de carne de peixe crua ou mal cozida. Até o presente momento, não existem relatos destas parasitoses
em humanos no Brasil, exceto para fagicolose, difilobotriose e clonorquiose (Chieffi et al., 1990;
Chieffi et al. 1992; Santos e Faro, 2005; Eduardo et al., 2005a,b; Emmel et al. 2006; Leite et al., 1989;
Dias et al., 1992). Acredita-se que isso se deva à falta de diagnóstico adequado e não à inexistência
destas doenças no país. As principais medidas de prevenção são a inspeção correta e o uso de técnicas
seguras de conservação por congelamento do pescado. Destaca-se também a importância da orientação
do público consumidor, evitando-se a ingestão de pescados oriundos de áreas de risco (Barros, L. A. et
al., 2009). Na inspeção correta o uso da “mesa de inspeção”, em inglês candling-table, é muito
31
importante, segundo Dixon (2006), candling-table é uma mesa que contém um vidro fosco e lâmpada
fluorescente para detecção de parasitas no filé para posterior remoção da porção afetada.
Anisakis simplex, Pseudoterranova decipiens, Contracaecum spp., e Hysterothylacium spp. são
nematóides anisaquídeos (vermes redondos) os quais tem sido implicados em infecções em seres
humanos causados pelo consumo de peixes de origem marinha crús ou mal cozidos (FDA, 2012)
Recentemente, relatos de Knoff et al. (2004, 2007) mencionaram a presença de anisaquídeos na
musculatura de um peixe marinho (Genypterus brasiliensis) no Brasil, chamando ainda mais a atenção
para o potencial zoonótico dessas larvas por causa da sua localização no peixe.
Rego, A. A.; Carvajal, J.; Schaerrrer, G. (1985) descreveram a patogenia provocada por larvas
de anisaquídeos em fígado de peixes (Pagrus pagrus) pescados no estado do Rio de Janeiro,
chamando a atenção para a importância desta parasitose em Saúde Pública. Na busca por parâmetros
seguros de processamento de pescado Dailey (1975) relatou que a sobrevivência de larvas de
helmintos após o congelamento pode depender de variáveis como: tipo de freezer empregado, tipo de
amostra, nível de congelamento e tipo de larva. Apesar de Chitwood (1970), Deardorff, T. L.; Altman,
J.; Nolan, C. M. (1987) afirmarem que a temperatura de -20°C por 24 horas é suficiente para
inviabilizar as larvas de anisaquídeos, Meyers (1976), Jackson e Bier (1981) recomendam o
congelamento de pescado a -20°C por 60 horas e Gustafson (1953) realizou um estudo em Sebastes
sp., pescados no litoral leste dos Estados Unidos da América e observou que, quando estes eram
submetidos à temperatura inicial de -30°C por 16 horas, seguida de estocagem a -12°C, ocasionavam a
morte de todas as larvas de Contracaecum sp. nas primeiras 24 horas. A FDA (1998) recomenda o
congelamento de pescado a pelo menos -20oC, por período mínimo de 7 dias ou a -35oC por período
mínimo de 15 horas, para Diphyllobothrium latum e Anisakis simplex.
O pargo faz parte de um grupo de 44 espécies de peixes teleósteos marinhos do litoral do Estado
do Rio de Janeiro com registro de larvas de anisaquídeos (Tavares, L. E. R.; Luque, J. L. 2006).
Trabalhos realizados na mesma localidade por São Clemente, S. C.; Uchoa, C.M.A.; Serra-Freire, N.
M. (1994) e Paraguassú, A. R.; Luque, J. L.; Alves, D. R. (2000, 2002) registraram esses parasitos na
cavidade abdominal e vísceras de P. pagrus. As informações fornecidas por esses autores mencionam
altos valores de prevalência e intensidade parasitária dessas larvas, mas não apresentam informações
relacionadas com a sua presença na musculatura somática do hospedeiro.
Apesar de não haver relato bibliográfico da infecção em humanos por Contracaecum sp.,
experimentalmente mamíferos têm sido infectados, resultando em efeitos danosos ao organismo,
indicando a possibilidade da importância zoonótica também para este parasito pertencente à família
Anisakidae (Vidal-Martinez, V. M.; Osório-Saraia, D.; Overstreet, R. M.. 1994; Barros, L. A. et al.,
2004).
32
A infecção por larvas de Eustrongylides sp. em pacientes humanos foi descrita por Eberhard, M.
L. et al. (1989) nos EUA, com relato de sintomatologia de dor abdominal e recuperação das larvas
infectantes por meio de laparotomia exploratória.
Diante de todo o exposto, conclui-se que a presença de parasitos com potencial zoonótico é real
nos peixes no Brasil e que se não forem tomadas as devidas providências no sentido de prevenir a
enfermidade, a população estará exposta ao risco da anisaquíase.
33
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36
CAPÍTULO 4
SEGURANÇA ALIMENTAR E QUALIDADE DA CARNE AVÍCOLA
Christiane Silva Souza4
Flávio Medeiros Vieites 5
José Geraldo de Vargas Junior 6
INTRODUÇÃO
Os alimentos de origem animal, em especial os avícolas, são considerados importantes fontes de
proteína para o homem. Contudo, tais produtos não são isentos de risco para saúde, uma vez que sua
riqueza em proteínas e água facilita a rápida deterioração do produto por inúmeros agentes, bem como
a sobrevivência e multiplicação de microrganismos patogênicos (ALMEIDA, 2011).
A carne de aves corresponde àquelas obtidas de aves de criação. O frango possui carne de
coloração branca e fornece nutrientes necessários em dietas equilibradas. Proteínas, lipídios, vitaminas
e minerais encontrados na composição da carne variam de acordo com a raça, idade e condições
higiênicas do animal. As exigências dos consumidores estão cada vez maiores, principalmente quanto
à qualidade do produto que será adquirido (OLIVEIRA et al., 2011).
A segurança e qualidade dos alimentos se tornaram parte integral dos processos de produção
relevantes para diminuir as fortes reações negativas dos consumidores e de organizações nas crises
recentes do setor de alimentos de origem animal (DUARTE, 2010).
A inocuidade de um alimento refere-se a uma das condições que contribui significativamente
para a prevenção de enfermidades e, promoção e manutenção da saúde. A ineficiência no controle da
qualidade dos alimentos, ou seja, nos padrões higiênicos sanitários, representa um dos fatores
responsáveis pela ocorrência de casos ou surtos de doenças transmitidas por alimentos (ALMEIDA,
2011).
A qualidade de um produto alimentar relaciona-se com a sua segurança, ou seja, a garantia de
seguridade para o consumo, fatores que ofereçam o máximo de confiabilidade e não contenha risco a
saúde humana; alimentos isentos de agentes contaminantes físicos, químicos e biológicos; muitos
desses fatores estão presentes na etapa de manipulação e processamento dos alimentos, podendo ela
4
Administradora Rural e Zootecnista; Mestre em Ciência Animal, Doutoranda em Bioquímica Agrícola pela
Universidade Federal de Viçosa
5
6
Médico Veterinário UFF, MSc e DSc em Zootecnia UFV, professor adjunto UFMT, Campus Rondonopolis
Zootecnista UFV, MSc e DSc em Zootecnia UFV, professor Associado UFES
37
ser evitada ou controlada de acordo com a utilização de métodos de gerenciamento de qualidade
(ARAÚJO & CARDOSO, 2012).
Os fatores que afetam a qualidade dos produtos avícolas podem, em sua maioria, ser
controlados nas diversas etapas de criação ou durante o abate e processamento (Mendes & Komiyama,
2011). Entretanto, grande parte destas perdas ocorre dentro do abatedouro, principalmente envolvendo
as condenações parciais e totais das carcaças. As consequências diretas que essas condenações trazem
a indústria se expressam em perdas de quilograma de carne efetivamente produzida, que por sua vez,
acabam por comprometer a rentabilidade do empreendimento (MASCHIO & RASZL, 2012).
Objetivou-se com esse trabalho apresentar algumas considerações acerca da segurança alimentar
e da qualidade da carne avícola.
SEGURANÇA ALIMENTAR
O termo “segurança alimentar” não deve ser confundido com o termo “segurança de alimentos”
no contexto da alimentação. A segurança alimentar pode ser entendida como sendo a disponibilidade
de alimentos em contexto de qualidade, inocuidade e quantidade suficiente para determinada
população. Enquanto que a segurança dos alimentos refere-se à inocuidade ou condições sanitárias,
observadas no contexto dos hábitos alimentares das populações.
Para que a inocuidade nos alimentos seja garantida, deve-se impedir que microrganismos já
presentes, se multipliquem e que outros sejam acrescentados por contaminação ambiental ou
manipulação inadequada. Faz-se de relevância o conhecimento dos fatores que afetam o crescimento
microbiano, a fim de controlar a proliferação e o aparecimento de doenças de origem alimentar
(ARAÚJO, 2010).
As doenças de origem alimentar são classificadas em três tipos:
1) Infecção – enfermidade decorrente da ingestão de alimentos contendo microrganismos vivos
prejudiciais, como Salmonella sp., Shigella sp., Trichinella spirallis e vírus da hepatite A;
2) Intoxicação – ocorre quando toxinas pré-formadas de bactérias e mofos estão presentes no
alimento. Ao encontrarem condições favoráveis no alimento, seja por armazenamento inadequado
ou cocção insuficiente, estes agentes patogênicos multiplicam, liberando toxinas que provocam
doença. Exemplos: Clostridium botulinum, Staphylococcus aureus e Bacillus cereus.
3) Toxinfecções – ocorre a ingestão de alimentos contendo grande número de bactérias viáveis, que
podem posteriormente produzir toxinas no intestino. Exemplos são Campylobacter jejuni,
Clostridium perfrigens, Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Salmonella sp., Shigella sp.,
Vibrio cholerae, entre outros.
38
No tocante a importância da sanidade alimentar, Souza (2011) informou que dentre 1,8 a 3,1
bilhões de casos de diarréia no mundo; 52,7 a 124 milhões de casos são de salmonelose. Assim sendo,
a segurança é dos requisitos mais esperados nos produtos alimentícios, e interage basicamente para
garantir a qualidade, atendendo os consumidores em termos de rastreabilidade, bem-estar dos animais
e dos trabalhadores, controle sanitário e redução dos riscos (ARAÚJO, 2010).
A contaminação microbiana das carcaças de frangos tem sido causa frequente de toxinfecção
alimentar. A contaminação das aves pode ocorrer na granja, ou nas diversas etapas posteriores da
produção industrial, principalmente no processo de abate, distribuição, comercialização e consumo
através da contaminação cruzada com outros alimentos contaminados (ALMEIDA, 2011).
A ave chega ao abatedouro com uma contaminação microbiana própria, que pode se modificada
ou aumentada durante as diferentes etapas do processamento e obtenção da carne. A biota
contaminante se restringe principalmente à superfície e à pele, pois as mesmas são contaminadas pela
água, manuseio e processamento das aves. Em geral, a biota reflete os microrganismos do abate e
durante as etapas de processamento, com predominância de bactérias Gram-negativas (PENTEADO &
ESMERINO, 2011).
Penteado & Esmerino (2011) relataram que na carne de frango são frequentemente isoladas
Salmonella spp., Staphylococcus aureus e Escherichia coli, possíveis causadores de danos à saúde e
de toxinfecções alimentares, além de microrganismos associados à deterioração da carne, tais como
Pseudomonas. Os autores ainda descreveram que:
- A Salmonella representa o micro-organismo mais envolvido em contaminações alimentares à
base de frango; a ocorrência em carcaças de frangos pode variar de 0,24% a 85,0%;
- A presença de bactérias do grupo coliformes fecais ou coliformes termotolerantes em
alimentos, é interpretada como sendo indicador de condições higiênico-sanitárias insatisfatórias,
indicando uma possível ocorrência de patógenos entéricos. A Resolução RDC ANVISA n°. 12/2001
(BRASIL, 2001), que estabelece os padrões microbiológicos para carnes resfriadas ou congeladas in
natura de aves (carcaças inteiras, fracionadas ou cortes), indica que deve-se pesquisar
obrigatoriamente coliformes a 45°C/g e que a tolerância para uma amostra indicativa seja de 10 4
UFC/g (se obtido por contagem em placa) ou 104 se obtido por metodologia do número mais provável
(NMP).
- Os enterococos são bactérias geralmente isoladas do intestino grosso do homem e dos animais,
sendo consideradas agentes comensais. A presença dessas bactérias no trato gastrointestinal da ave
pode levar à contaminação da carne durante o abate. As espécies Enterococcus faecalis e
Enterococcus faecium geralmente são predominantes. Outros microrganismos, como os fungos podem
ser encontrados juntamente com as leveduras do gênero Candida e Rhodoturola nas diferentes etapas
do processamento.
39
FONTES DE CONTAMINAÇÃO DA CARNE DE FRANGOS DE CORTE
A carne fresca serve como excelente substrato para o desenvolvimento de microrganismos
causadores de intoxicações químicas. Por essa razão, o local de abate e manipulação da carne deve
seguir as normas higiênicas. A sanitização da carcaça pode ser incluída, como operação de rotina, no
processo de abate de animais para consumo humano, no sentido de eliminar, ou pelo menos reduzir a
incidência desses contaminantes. Alguns microrganismos podem ser removidos após a lavagem com
água potável. Para higienização de animais abatidos, usa-se o acido acético e lático, uma vez que estes
apresentam baixa toxicidade para humanos e alta para microrganismos (OLIVEIRA et al., 2011).
No transporte, até o abatedouro, os frangos são postos em gaiolas que são empilhadas uma sobre
as outras, de modo a contaminar as aves que estão abaixo com matéria fecal, fato este que pode ser
agravado caso os animais não sejam submetidos a um jejum alimentar ou hídrico (ALMEIDA, 2011).
De acordo com Araújo (2010), um conceito importante na garantia de um alimento saudável,
trata-se do conceito de “perigo”, que seria qualquer agente de ordem biológica, química ou física que
possa trazer danos à saúde física e mental do consumidor. A presença de contaminantes em alimentos
de origem avícola não significa, necessariamente, problema de sanidade avícola, mas é de importância
para a cadeia produtiva assegurar a inocuidade dos produtos e garantir a segurança alimentar. Os
perigos contaminantes de carcaças podem dividir-se em três grupos:
1) Perigos biológicos – bactérias, fungos, vírus, parasitos e príons; são os responsáveis pelo maior
número de casos e epidemias de doenças transmitidas por alimentos. As bactérias patogênicas são
as maiores responsáveis pelas doenças transmitidas por alimentos; tais microrganismos estão
presentes nos alimentos crus, ou podem ser levados aos alimentos por contaminações ambientais,
por manipuladores, equipamentos/utensílios mal higienizados, por contato com pragas, dentre
outros.
2) Perigos químicos – toxinas naturais presentes em alguns alimentos, toxinas fúngicas
(micotoxinas), resíduos veterinários, desinfetantes e metabólitos tóxicos de origem microbiana
são exemplos. Podem chegar até os alimentos através da matéria-prima, como em carnes, que
podem conter excesso de antibióticos, ou mesmo chegar por descuido durante a preparação e
utensílios (enxágue mal feito), troca de produtos, reaproveitamento de embalagens de produtos
tóxicos e identificação incorreta nos produtos também representam perigos químicos.
3) Perigos físicos – representa a contaminação do alimento por matérias estranhas, normalmente não
encontradas no alimento. Podem ter diversas origens, desde a matéria-prima (pedaços de metal,
madeira, pedras, etc), ou chegar aos alimentos em qualquer etapa de manipulação ou processo de
equipamentos (fragmentos de metal, parafusos, etc), cacos de vidro por quebra de lâmpadas,
40
embalagens, adornos utilizados pelos manipuladores, fragmentos de esponjas e fios de escova de
limpeza ou lascas de madeira provenientes de utensílios. Assim, os perigos físicos não causam
uma doença, mas sim injúria.
Almeida (2011) descreveram que as principais fontes contaminantes da carne de frangos de
corte são:
- Animal: o próprio animal pode estar contaminado com os microrganismos patogênicos antes
mesmo do abate. Entre os microrganismos, os da pele, que são originados do solo e matéria fecal, e
dos tratos gastrointestinal e respiratório estão entre aqueles que contaminam a carcaça durante o
processo de abate. Ainda, a contaminação acontece durante todo o processo de abate e suas etapas. A
contaminação acontece por meio de perfurações das vísceras, no momento da depenagem e pelo
transporte de microrganismos da pele do animal para a carcaça por meio da faca de sangria.
- Manipuladores: a transmissão é feita pelo homem de forma direta ou indireta. O modo direto
se dá pelo seu corpo ou do que é expelido de si, sendo que a microbiota das mãos e do vestuário
externo normalmente reflete o meio e os hábitos individuais do manipulador de alimentos, sendo estes
o veiculo fácil para a transmissão. Já a forma indireta acontece quando vetores como moscas, baratas e
ratos entram em contato com material humano (fezes, urina, escarro, etc), levando microrganismos
através das patas para o alimento, ao até mesmo depositando nos equipamentos, utensílios, pisos,
paredes e tetos de abatedouros avícolas que, por sua vez, se tornaram contaminados.
- Ambiente: microbiota que coloniza o meio ambiente (abatedouros avícolas) poderá contaminar
a carne de frango quando houver o contato entre as carcaças e o ambiente de trabalho (superfícies),
equipamentos, utensílios, recipientes, entre outros. A água (usada na escalda, depenamento,
evisceração, lavagem e resfriamento das carcaças) constitui fator decisivo no processo do abate e nas
etapas posteriores, representando meio potencial de transmissão de microrganismos patogênicos que
podem provocar doenças, colocando em risco a saúde dos consumidores. O ar e o pó representam
fatores importantes na contaminação, pois através do ar são disseminados aerossóis e partículas, tais
como gotículas de saliva contaminada, e poeira contendo microrganismos patogênicos em seu inteiro
que ao entrarem em contato com os alimentos contamina-os.
A segurança alimentar da carne avícola baseia-se no cumprimento dos seguintes princípios:
higiene e sanidade animal, bem-estar, análise de perigos e pontos críticos de controle e da
rastreabilidade, compreendidos no controle de qualidade da carne.
QUALIDADE DE CARNE DE FRANGOS DE CORTE
O conceito de qualidade de alimentos, na visão do consumidor, reflete a satisfação de
características como sabor, aroma, aparência, embalagem, preço e disponibilidade (Amorim Neto &
41
Miranda, 2009). No setor agroalimentar, a Gestão da Qualidade é definida como sendo o conjunto das
condições e medidas (ações) planejadas e implementadas de forma sistemática, através de toda a
cadeia produtiva, para gerar confiança no atendimento aos requisitos e necessidades pretendidas,
inclusive de segurança, respeitando a legislação pertinente, com integridade e clareza de informação
ao consumidor (ARAÚJO & CARDOSO, 2012).
A qualidade na produção de carne de aves começa a partir da ave, envolvendo dados de
procedência, cuidados sanitários no qual foram submetidas, características e condições dos meios de
transporte e ainda particularidades de ordem zootécnica, envolvendo a alimentação e o manejo
recebido.
O processamento das aves ocorre basicamente para que ocorra a conversão da carne em produto
comestível, eliminando componentes não desejados tais como: sangue, vísceras, patas, cabeça. A
qualidade do produto depende não apenas da condição em que estava a ave ao chegar ao local para ser
processada, mas também do modo pelo qual a ave é manipulada durante a operação. Lesões, ossos
quebrados, partes ausentes, alta quantidade de carcaças reprocessadas podem ocasionar perdas
econômicas significativas (SARCINELLI et al., 2007).
Maschio & Raszl (2012) avaliaram o impacto financeiro anual de perdas de carcaças por
condenações post-mortem de carcaças de frangos de corte em frigorífico localizado na região sul do
Brasil. As autoras encontraram perdas anuais da ordem de R$ 1.708.095,16, sendo grande parte destas
devido a defeitos tecnológicos dentro do abatedouro, como escaldagem excessiva, sangria inadequada,
contaminação e parte de contusão e fratura. As condenações post-mortem totais representaram 2,78%
e as parciais, 97,22%, totalizando, respectivamente, impacto financeiro de R$ 678.089,45 e R$
1.030.005,71 durante o ano. As principais causas das condenações totais foram: ascite, colibacilose,
sangria inadequada e escaldagem excessiva e as parciais, por contaminação, contusão e fratura, artrite
e dermatite.
Os principais atributos de qualidade são a aparência, que está relacionada principalmente a cor
dos cortes, bem como a capacidade de retenção e textura que estão relacionados com a maciez e o pH
final. Os maiores desafios para a indústria de carnes é oferecer produtos macios, suculentos, com cor e
sabor de agradáveis (Droval, 2011). Enquanto a coloração da carne de frango está associada à
aceitabilidade no momento da aquisição, a maciez, que constitui um dos principais atributos sensoriais
e determina a aceitabilidade global (SANTOS et al., 2010).
Conforme Mendes & Komiyama (2011) a qualidade da carcaça está relacionada ao maior ou
menor índice de condenações no abatedouro, com ausência ou presença de contaminação bacteriana
por toxinas e resíduos de produtos químicos e biológicos. Os sistemas mais comuns baseiam-se em
critérios visuais ou estéticos, como conformação, presença de hemorragias e/ou hematomas,
rompimento de pele, ossos quebrados e falta de partes. As principais causas de condenações nos
42
abatedouros podem ser divididas em sanitárias, de manejo e aquelas ocorridas durante o abate e
processamento.
Causas sanitárias – a condenação de carcaças inteiras está diretamente relacionada com a
época do ano, de modo que a incidência de septicemias/toxemias, tumores e aerosaculites ocorre em
maior escala durante o outono e inverno, enquanto as celulites durante a primavera e verão. Como
sugestão, recomenda-se o uso de pulverização de cama com desinfetante, o que contribui para redução
da população microbiana no ambiente de criação. Melhorando assim o desempenho o desempenho da
ave e diminuindo a condenação no abatedouro.
Causas de manejo
a) mau desenvolvimento: manejo inadequado dos pintinhos;
b) caquexia: está relacionada com a qualidade dos pintos e com manejo inicial inadequado,
principalmente em termos de temperatura, sanidade, consumo de água e de ração, nutrição, taxa de
lotação e refugagem. Corrigir o manejo e vacinar contra doença de Gumboro;
c) desuniformidade: incubatório, transporte dos pintos, aquecimento e manejo inicial. Boa
uniformidade é fundamental para permitir enganchamento regular, sangria regular, facilitar a
regulagem das máquinas, diminuir a contaminação da carcaça, permitir a padronização dos cortes e
facilitar o fluxo de produção;
d) calo de peito: relacionados com tipo de manejo de cama, ventilação, manejo de bebedouros,
densidade, empenamento, problemas de patas, peso, idade e saúde intestinal;
e) dermatites: hematomas de peito, coxas e sobrecoxas, geralmente contaminadas por Staphilococcus.
O controle é feito com uso de formol à 2,0%. Os hematomas estão relacionados com a qualidade de
cama, alta densidade, empenamento e manejo inadequado de apanha, carregamento e transporte;
f) celulites: consequência das infecções subcutâneas que resultam da contaminação bacteriana nos
arranhões da pele (a E. coli é a mais predominante); Linhagem, nutrição, taxa de lotação, distância
entre comedouros e bebedouros, tipo de cama, restrição de alimento e programas de iluminação podem
afetar a incidência e a gravidade do problema. Uso de minerais quelatados, em especial o zinco
associado ao fornecimento suplementar de vitamina E tem dado bons resultados no controle de celulite
em frangos de corte;
g) fraturas de pernas, asas, mortalidade: manejo inadequado de apanha, carregamento e transporte;
h) pododermatites: lesões de patas estão relacionadas com a qualidade e o manejo de cama. A
incidência é maior em cama de maravalha e menor em cama de palha de arroz.
Causas relacionadas ao abate e processamento
43
a) perda de peso e mortalidade: durante a espera para o abate estão relacionados à duração do jejum
(que deve ser de seis a oito horas), ao transporte e às condições ambientais durante a espera. A perda
de peso da granja até a entra do abatedouro varia de 0,5 a 2,0% e até o abate, por volta de 1,0%,
enquanto a mortalidade na plataforma é de 0-1,0%;
b) má sangria e lesões hemorrágicas nas pernas e asas: o atordoamento é etapa importante do processo
de abate. Os melhores resultados ocorrem com voltagens de 20 volts e frequência de 1000 Hz. Caso a
insensibilização não seja bem feita, ocorrem hemorragias musculares internas e aumentam as
contusões das aves;
c) arranhões de dorso e coxas: a causa principal está relacionada à apanha, retirada e enganchamento
das aves;
d) hematomas: 20,0-30,0% dos hematomas ocorrem antes da apanha, 30,0-50,0% durante a apanha e
20,0-35,0% após a apanha. As causas são: densidade, calor, doenças, cama dura, micotoxina, manejo
da apanha, manejo das caixas, tipos de caixas, aves soltas, enganchamento brusco, dentre outras;
e) despigmentação e rupturas da pele: as aves devem entrar mortas na escaldadeira, a fim de evitar que
ingiram água, o que ocasionará contaminação interna. O tempo de escalda é de aproximadamente dois
minutos, e a temperatura 54-56°C. Temperaturas elevadas causam despigmentação indesejável da
pele. Os dedos da depenadeira devem ser revisados diariamente para evitar que os mesmos arranquem
partes da pele e mesmo a cabeça, além de causar fraturas nas asas na região da articulação das mesmas
no peito, deixando o osso exposto;
f) contaminação: presença de conteúdo intestinal, tanto dentro como fora da carcaça eviscerada. A
contaminação acontece quando o trato digestivo rompe ou é cortado, ou quando as fezes são expulsas.
O material contaminante pode ser fezes, bílis, material de cama, parede intestinal degradada ou mesmo
alimento.
FATORES QUE AFETAM A QUALIDADE DE CARNE: CONSIDERAÇÕES
Para produzir carne de aves com qualidade a partir de uma ave viva faz-se necessário preciso
efetuar, de forma eficiente e higiênica, uma série de tarefas específicas desde a captura dos frangos na
granja até alinha final de abate (PEREIRA, 2008).
- Captura: A captura automatizada melhora as condições e trabalho e reduz o número de pessoas
na equipe, além de ser 33,0% mais econômica e reduzir significativamente as contusões de pernas em
cerca de 10,0%. A captura dos frangos pelo dorso é o método mais usado no Brasil. Contudo, uma
nova prática vem sendo empregada por algumas integrações, em que as aves são capturadas pelo
pescoço e introduzidas nas caixas de transporte. Foi realizado estudo para comparar esses dois
métodos de captura (dorso ou pescoço), com relação à qualidade de carcaça. Foi verificado que a
44
captura pelo dorso, com idade média de 45 dias, resulta em menor condenação de carcaça (por
contusões e fraturas), quando comparada com a captura pelo pescoço (Tabela 1).
Tabela 1. Porcentagem de carcaças com contusões e com fraturas hemorrágicas
Tipo de captura
Contusões (%)
Fraturados (%)
Pescoço
1,27
1,41
Dorso
1,09
0,94
Fonte: Pereira (2008)
- Jejum alimentar: Os frangos devem ser abatidos em 8 a 12 horas após a última alimentação.
Com isto, diminui a quantidade de matéria fecal que pode contaminar a carcaça durante o
processamento, conforme mencionado anteriormente. Períodos prolongados de jejum podem afetar o
pH das diversas partes do intestino, aumentando a presença de Salmonella e outros microrganismos
patogênicos. Além disso, começa a destruição da mucosa intestinal, rompendo-se com facilidade na
hora da retirada das vísceras.
- Estresse pré-abate: Os galpões devem proporcionar melhores condições para minimizar os
efeitos provocados pelo estresse, com cobertura adequada e equipado com ventiladores. A aspersão
com água durante o tempo de descanso contribui para reduzir o excesso de calor e diminuir a agitação
das aves. A aspersão com água durante o tempo de descanso é recomendada em temperatura
ambiental, variando de 10,0 a 30,0°C e umidade relativa abaixo de 80,0%.
Os atributos de qualidade tecnológica e sensorial da carne do frango estressado podem ser
afetados de maneira irreversível para o processamento e consumo in natura. A perda de funcionalidade
da carne do peito está, quase sempre associada a síndrome PSE (pale, soft, exudative), com as
características de palidez, flacidez e perfil exsudativo ou DFD (darck, firm, dry), com características
de coloração escuras, rigidez e perfil ressecado. Estas síndromes são consideradas como as maiores
causas da falta de padronização dos filés, tendo como consequência perdas irreparáveis, com prejuízo
para indústria avícola e para toda a cadeia produtiva.
- Pendura, insensibilização e sangria: Os frangos são suspensos pelos pés em ganchos, em linha
contínua, consistindo em uma das etapas que deve receber total atenção, assim como a apanha nas
granjas. Estas práticas, quando mal conduzidas, sem equipes treinadas, comprometem a qualidade da
carcaça (alta incidência de fraturas e contusões de asa e perna). Após a pendura, os frangos passam
pelo insensibilizador, onde a cabeça fica imersa em tanque com água, por onde passa uma corrente
elétrica de baixa voltagem e alta frequência. Tal processo não pode resultar na morte da ave, ou seja,
somente deve deixá-la atordoada, levando-a a um relaxamento muscular, que possibilita a liberação de
grande volume de sangue em pouco tempo. Ainda, a insensibilização também facilita a sangria, uma
vez que deixa a ave imóvel, evitando que ela se debata, causando contusões, principalmente das asas.
45
Após a insensibilização, os frangos pendurados nos ganchos recebem corte manual ou mecânico
nos grandes vasos da região do pescoço. Logo após a secção, os frangos de corte percorrem túnel de
gotejamento de sangue (por volta de sete minutos). A completa sangria é de fundamental importância,
tanto para a boa apresentação da carcaça como para a boa qualidade microbiológica da mesma. A ave
mal sangrada apresenta coloração avermelhada e, por isso será condenada para o consumo pela
Inspeção Federal e seu destino será a graxaria.
- Escaldagem e depenagem: Logo após o esgotamento do sangue no túnel de sangria, os frangos
seguem para a escaldadeira (tanque com água morna à temperatura de 60°C, usada para prévia
lavagem da ave e afrouxamento das penas, para facilitar a depenagem). Nessa fase podem ocorrer
perdas de qualidade da carcaça, uma vez que temperaturas altas causam queimaduras e escurecimento
da carne.
- Evisceração e resfriamento: A sequência das operações realizadas no percurso da calha de
evisceração varia em função do método adotado. A evisceração pode ser automatizada ou manual,
devendo observar os cuidados necessários para evitar o rompimento de vísceras e o contato das
carcaças com superfícies contaminadas. Os miúdos comestíveis como a moela, o coração e fígado
deverão ser processados em seção própria, com sistema de pré-resfriamento, imediatamente após a
coleta. Com temperatura máxima da água de 4ºC e renovação constante na proporção mínima de 1,5
L/kg de miúdo. O resfriamento poderá ser realizado através da pulverização com água gelada, imersão
em tanques e pré-resfriadores contínuos. No pré-resfriamento, ocorre a reidratação da carcaça, que tem
por finalidade a recuperação da água perdida durante o transporte e nas operações iniciais. Essa
reidratação protege a carcaça nos processos de conservação, principalmente o congelamento
(coloração, aspecto da carcaça e textura). Já o resfriamento tem por finalidade eliminar o calor posmortem adquirido durante as fases iniciais de abate. Com a diminuição da temperatura, evita-se a
proliferação de possível flora microbiana presente nas carcaças. Estes microrganismos podem causar
intoxicações alimentares ou formarem aminas biogênicas que causam alterações de coloração nas
carcaças. Este processo de resfriamento leva de 30 a 40 minutos e a carcaça deve alcançar uma
temperatura final em torno de 4 a 6ºC.
- Gotejamento e cortes: Os frangos são pendurados em ganchos numa linha contínua, suspensos
pelas asas, coxas ou pescoço, para eliminar o excesso de água adquirida na operação de préresfriamento. Ao final desta fase, a absorção de água não deverá ultrapassar a 8,0% de seu peso. As
carcaças inteiras ou em partes são embaladas, resfriadas e estocadas até o pedido de expedição. Os
cortes lesionados aceitos pela Inspeção Federal geralmente são resultantes de falhas ocasionadas na
execução do corte, que deixa o produto fora dos padrões dimensionais da empresa. Se sua qualidade
alimentar for a mesma dos cortes dentro dos padrões, a utilização dos cortes lesionados pode dar
origem a vários produtos de alta qualidade e sabor refinado. É preciso ter cuidado em evitar
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recontaminações do produto, mantendo ferramentas e equipamentos bem limpos e com boas práticas
de manutenção.
Todos os sistemas usados para a produção de alimentos de origem animal, incluindo todos os
aspectos da produção de aves vivas, coleta e manipulação de ovos e processamento de carcaças,
podem ser cobertos pelo conceito da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC). O
APPCC caracteriza-se numa abordagem sistemática com o objetivo de identificar os perigos potenciais
e estabelecer medidas que permitam prevenir, eliminar ou reduzir a um nível aceitável os riscos
provenientes da produção e processamento de alimentos assegurando a sua inocuidade.
Os Pontos Críticos de Controle (PCC) podem ser verificados em vários estágios do ciclo de
produção. Neste caso, a abordagem APPCC envolve uma combinação de fatores de Boas Práticas de
Higienização (BPH) e Boas Práticas de Fabricação (BPF), incluindo as seguintes etapas:
Condução de análise de perigos para identificar perigos reais, que podem ser biológicos, químicos
ou físicos, sendo necessário determinar a gravidade de cada perigo e a frequência provável de sua
ocorrência;
Determinar os PCC nos quais o perigo pode ser evitado ou eliminado ou minimizado. Na prática,
nem sempre é possível diferenciar as duas categorias;
Estabelecer sistema de controle em cada PCC, envolvendo a identificação de critérios adequados
e o estabelecimento de limites críticos destes critérios;
Desenvolver procedimentos de monitoramento para assegurar que o PCC esteja efetivamente
funcionando. Estes procedimentos devem ser fáceis de aplicar, rápidos e confiáveis;
Estabelecer a ação corretiva a ser tomada quando o monitoramento indicar que determinado PCC
não está mais sob controle;
Documentar todos os procedimentos necessários e manter registros adequados ao princípio acima
e sua aplicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante o processo produtivo, as aves de corte estão expostas à patógenos desde a criação, abate
até o manejo das carcaças (processamento). A manipulação figura como importante veículo de
contaminação de produtos avícolas, assim, medidas de controle higiênico sanitário devem ser adotadas
e monitoradas de forma rigorosa.
Ainda, a segurança alimentar refere-se a item extremamente importante dentro da produção
alimentar. Os resíduos do processamento da carne são as principais fontes de nutrientes para o
desenvolvimento de microrganismos, sendo necessário à higienização do local para evitar
contaminações. Desse modo, deve haver a remoção de sujidades que ficam aderidas a superfície dos
47
utensílios após a desossa e a remoção de sujidades não visíveis, buscando a eliminação de
microrganismos. A higienização deve acontecer antes e depois de todos os processos produtivos.
O empreendimento avícola deve colocar em prática as regras das Boas Práticas de Fabricação
(BPF) e da Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e principalmente de
higienização, fazendo-se assim necessário o conhecimento de algumas características intrínseca do
processo produtivo, tais como: a natureza da sujidade, avaliar a constituição das superfícies onde se
trabalha, evitando-se assim que agentes de limpezas e sanitização agridam este tipo de material.
Por fim, o investimento na modernização das granjas avícolas, equipamentos dentro dos
abatedouros, treinamentos dos colaboradores responsáveis pela apanha, transporte, pendura, sangria e
manutenção da regulagem das máquinas é de extrema importância; cujo propósito refere-se à redução
de perdas por condenações, aumentar a lucratividade e também o nível de bem-estar animal.
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REFERÊNCIAS
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“Lato Sensu” em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal]. Goiânia-GO: Universidade
Castelo Branco, 2009.
ARAÚJO, A.P. Ferramentas de controle de qualidade na indústria frigorífica de frango. 50f.
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ARAÚJO, G.C.; CARDOSO, R. Gestão da qualidade em frigorífico avícola. Revista Ciências Sociais
em Perspectiva, v.11, n.21, 2° semestre, 2012.
ALMEIDA, A.P. Avaliação higiênico-sanitária da carne de frango de corte de estabelecimentos
que abatem e/ou comercializam no município de Patos-PB. 61f. Monografia [Graduação em
Medicina Veterinária]. Patos-PB: UFCG/UAMV, 2011.
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janeiro de 2001. Regulamento técnico sobre os padrões microbiológicos para alimentos.
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8047458b909541d53fbc4c6735/RDC_12_2001.pdf?MOD=AJPERES>. Acessado em: 26 maio 2013
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DROVAL, A.A. Carnes PSE (Pale, soft, exudative) em frango: avaliação de parâmetros físicos e
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50
CAPÍTULO 5
DIAGNÓSTICO SOROLÓGICO PARA FASCIOLOSE CAPRINA E OVINA
Mariana Drummond Costa Ignacchiti7
Olavo dos Santos Pereira Júnior78
A Fasciola hepatica, agente causal da fasciolose, é um parasito de ductos biliares de bovinos,
ovinos e caprinos, podendo parasitar também eqüídeos e bufalinos. A fasciolose também é
considerada uma zooantroponose emergente nos países da América do Sul (Bolívia, Peru, Equador e
Brasil), no Egito e Irã (MAS-COMA ET AL., 1999; O´NEILL ET AL., 1998; ROKNI ET AL., 2002;
SERRA-FREIRE, 2008). Estima-se que, no mundo, mais de 2,4 milhões de pessoas estejam infectadas
com F. hepatica (MAS-COMA ET AL., 1999).
A fasciolose é uma parasitose cosmopolita de grande importância em animais de interesse
econômico-agropecuário. Embora a infecção resulte em uma doença subclínica em bovinos, as
conseqüências econômicas são significativas, devido principalmente às perdas associadas com
condenação de fígados, mortalidade dos animais, redução em produção de carne e leite, retardo do
crescimento de animais jovens, aumento do custo terapêutico no tratamento de infecções bacterianas
secundárias, queda na fertilidade e tratamentos com antihelmínticos (fasciolicidas) (DALTON, 1999).
Na pecuária de ovinos e caprinos a doença usualmente apresenta-se na forma aguda, sendo as perdas
econômicas devidas tanto à mortalidade decorrente dos processos clínicos (LETHERS ET AL. 1982),
quanto à redução da produção e histórico de aborto nos processos subclínicos (CARNEIRO ET AL.
2009). É estimado que mais de 250 milhões de ovinos e caprinos do mundo pastoreiem em áreas onde
o parasito está presente, produzindo perdas anuais de mais de U$ 3 bilhões (MOLENTO E DUTRA,
2008). No Brasil, estas perdas representam em torno de 15% a 20%, sendo as áreas mais atingidas pela
F. hepatica as localizadas no Rio Grande do Sul (estado de maior ocorrência no país), Santa Catarina,
Paraná, São Paulo, sul de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás (SERRA-FREIRE ET AL., 1995;
UENO ET AL., 1982).
Dados do IBGE/Produção Pecuária Municipal, pesquisa que esboça o perfil da produção
brasileira de animais e de produtos de origem animal (rebanho efetivo de animais mensurado em
31/12/2004), mostram que em 2004 o Brasil manteve sua posição de maior rebanho comercial de
bovinos do mundo, atingindo um efetivo de 204,512 milhões de animais, o que representou aumento
7
Professores do Curso de Farmácia do Centro de Ciências Agrárias, Alegre. ES, da Universidade Federal do
Espírito Santo, ES.
8
Professor Adjunto da UFJF - MG e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias – UFES – ES
Contato: [email protected]
51
de 4,58% em relação ao ano anterior. No entanto, o efetivo que apresentou maior variação positiva no
país foi o rebanho de caprinos (4,86%) (tabela 01), apontando para uma expansão da caprinocultura
(Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2005).
O mercado da carne caprina e ovina está em franca ascensão em todo o país. Os preços
praticados no âmbito da unidade produtiva representam bem mais do que o preço pago pela carne
bovina nas mesmas condições. Atualmente, cerca de 50% da carne caprina e ovina consumida no
Nordeste e Centro-Oeste do país são provenientes do Uruguai, da Argentina e da Nova Zelândia
(Portal do Ministério Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2005). Estas informações mostram uma
possibilidade de mercado a ser conquistado, principalmente porque no Brasil, em particular no
Nordeste, tem-se potencial para produzir carne de melhor qualidade do que aquela importada.
A ocorrência de fasciolose em caprinos é considerada menos freqüente e relevante, sendo seu
estudo negligenciado quando comparada com a infecção em outros ruminantes (MARTÕNEZMORENO ET AL., 1997). Mas ainda assim, esta parasitose ocorre como um dos principais entraves
para a produção de caprinos em muitas áreas do mundo (MARTÕNEZ-MORENO ET AL., 1997,
RUIZ ET AL., 2003), devido à manifestação da doença na forma aguda, causando altas taxas de
mortalidade (LETHERS ET AL. 1982). A prevalência relatada varia de 3% na Espanha (MARTÕNEZ
ET AL.1996) para 72% na China (WANG ET AL. 1987). Apesar de no Brasil não existirem registros
de prevalência da doença em caprinos, sendo os casos sub-notificados, há registros de casos nas
diferentes unidades da federação. Carneiro e colaboradores (2009), em estudo realizado no município
de Jerônimo Monteiro, região sul do Espírito Santo, constaram que 88,46% do rebanho caprino foi
positivo para F. hepatica em exame coproparasitológico. Estudo realizado no estado de Santa Catarina
por Serra-Freire e Nuernberg (1992) com bovinos, caprinos, ovinos e bubalinos revelou que 68% do
52
total de animais avaliados estavam contaminados com F. hepatica. A mesma análise realizada apenas
no rebanho de caprinos revela uma proporção de contaminados correspondente a 16%.
O desenvolvimento patológico da infecção por F. hepatica difere entre as espécies acometidas.
Dentre as diferenças verificadas após a infecção, destaca-se o grau de calcificação das lesões tissulares
e a hiperplasia dos ductos biliares. Ambas as reações são mais evidentes em bovinos do que em ovinos
e caprinos (ECHEVARRIA, 2004). Em bovinos pode ocorrer uma recuperação espontânea devido à
calcificação dos ductos biliares, o que pode provocar inanição e morte do parasito, porém na maioria
dos casos o fígado fica comprometido para a comercialização. Nestes animais, relata-se ainda o
desenvolvimento de resistência parcial a infecção (REDDINGTON ET AL. 1986). Em caprinos e
ovinos, destaca-se como característica marcante da infecção a fibrose (periportal) e a infiltração de
leucócitos, resultando em cirrose e danos ao parênquima hepático (MARTÕNEZ-MORENO ET AL.,
1997; MEEUSEN ET AL.,1995).
Contaminações secundárias também podem ocorrer em ovinos, caprinos e bovinos. Estas
contaminações normalmente estão associadas com a lesão causada pela migração de formas jovens no
tecido hepático, as quais facilitam a infecção por bactérias do gênero Clostridium (ECHEVARRIA,
2004, MOLENTO & DUTRA, 2008).
O diagnóstico da infecção por fasciolose pode ser facilmente realizado através da análise da
presença de ovos do parasito nas fezes ou pela detecção do parasito adulto ou imaturo no fígado ou
ducto biliar de animais post-mortem. Em animais vivos, na fase aguda ou subaguda de infecção,
podem ser empregados testes laboratoriais que medem o nível plasmático de enzimas como a
glutamato dehidrogenase e glutamato oxalacetato aminotransferase (enzimas importantes para o início
da infecção), bem como a gamma-glutationa transferase (indicadora de lesão nos ductos biliares),
enzimas liberadas em maior quantidade na corrente sanguínea conforme a fase de evolução dos
parasitos (BEHN, 1994). Já a fasciolose crônica pode ser diagnosticada através da detecção de ovos do
parasito nas fezes, diagnóstico coproparasitológico (HAPPICH E BORAY, 1969).
A detecção de ovos nas fezes é um diagnóstico de rotina, principalmente em regiões onde não
há disponibilidade da realização de técnicas mais avançadas. No entanto, este método só é eficiente se
aplicado após o período de pré-patência e sua sensibilidade é significativamente reduzida em situações
de fraca infecção (até 30% para animais que apresentam reduzido número de ovos nas fezes)
(MATTOS ET AL., 2009). Para caprinos este tipo de diagnóstico é viável cerca de 9-13 semanas após
a infecção inicial, quando os ovos começam a ser excretados nas fezes (MOLENTO E DUTRA, 2008;
MARTÕNEZ-MORENO, 1997).
A utilização de técnicas de diagnóstico baseada na detecção de anticorpos contra antígenos do
parasito representa uma importante contribuição para uma identificação rápida e em grande escala de
animais infectados. O diagnóstico sorológico apresenta-se como uma ferramenta importante para
estudos epidemiológicos, por ser capaz de detectar estágios iniciais das infecções. A detecção da
53
infecção no estágio inicial é importante para a escolha do antihelmintico a ser administrado e para uma
redução dos custos da quimioprofilaxia, pois existem diferenças quanto à atividade e custo econômico
dos fasciolicidas disponível no mercado (SANCHEZ-ANDRADE ET AL., 2000).
Tipos variados de antígenos de F. hepatica têm sido utilizados em diferentes testes sorológicos.
A técnica de diagnóstico imunoenzimático, ELISA (Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay),
utilizando antígenos de excreção/secreção (proteínas nativas) de F. hepática (FhES), tem se mostrado
sensível e específica para a detecção de IgG específica para o parasito em bovino, ovino e caprino com
duas a quatro semanas de infecção experimental (Sanchez-Andrade et al., 2000; Trudgett et al., 1988;
El Redi et al., 2007, Novobilský, et al., 2006, Martínez et al. 1996; Santiago e Hillyer 1988; Sinclair e
Wassall 1988). Proteínas purificadas e recombinantes de F. hepatica também têm sido testadas para o
diagnóstico sorológico. Estudos relatam o uso de proteínas purificadas do parasito como antígeno para
a detecção sorológica de fasciolose em bovinos e ovinos (ABDEL-RAHMAN ET AL. 1998;
HILLYER E GALANES 1988). Ruiz e colaboradores (2003) relataram o uso de uma cisteína protease
de F. hepatica como antígeno específico para o imunodiagnóstico de fasciolose em caprinos.
Contudo, um dos principais inconvenientes da utilização de ELISA-indireto como método de
diagnóstico da infecção por F. hepática é a persistência de elevados títulos de IgG por longos
períodos, não permitindo a distinção entre infecção ativa e infecção precedente. Estudos demonstram
que os níveis de IgG persistem em muitos animais, dando resultados positivos no ELISA por até 12
semanas pós-tratamento antihelminticos (CASTRO ET AL., 2000; IBARRA ET AL., 1998;
MOLLOY ET AL., 2005; SANCHEZ-ANDRADE ET AL., 2002).
O avanço das técnicas de biologia molecular tem permitido sua aplicação em diversas áreas de
ciências biomédicas incluindo a parasitologia veterinária. No entanto, a maioria dos trabalhos que
utilizam estas técnicas na área de parasitologia veterinária tem focado no desenvolvimento de vacinas
para prevenir a fasciolose (CASANUEVA ET AL., 2001; MURO ET AL., 1997; SMOOKER ET AL.,
1999, PÉREZ-ÉCIJA ET AL., 2009) e poucos estudos priorizando a obtenção de proteínas antigênicas
recombinantes para o diagnóstico de fasciolose têm sido publicados (ARIAS ET AL., 2006 E 2007). A
obtenção de antígenos recombinantes e a utilização destes em diagnóstico imunoenzimático podem
representar um avanço à utilização de ELISA-indireto como método de diagnóstico da infecção por F.
hepática. Recentemente, Paz-Silva e colaboradores (2005) descreveram o isolamento e a
caracterização de uma proteína recombinante (rFhAPS) que demonstrou ser um antígeno em potencial
para o diagnóstico sorológico de fasciolose em ovinos.
Pesquisas experimentais na Espanha, Porto Rico, Irlanda (ARIAS ET AL., 2009; DALTON ET
AL., 2003; PAZ-SILVA ET AL., 2005; SANTIAGO E HILLYER, 1988) têm empregado antígenos
recombinantes em metodologias de diagnóstico sorológico em bovinos e ovinos, porém estes
antígenos ainda não estão disponíveis para avaliações experimentais no Brasil. Somado a esta
54
ocorrência, destaca-se a ausência de estudos empregando tal tecnologia de proteínas recombinantes
para o diagnóstico de fasciolose em caprinos.
A elaboração de um ensaio de ELISA-indireto empregando proteínas recombinantes que
permitam a detecção de anticorpos contra o parasito será importante para o emprego desta técnica
visando o diagnóstico precoce de fasciolose em caprinos e ovinos, podendo também ser utilizada para
pesquisas experimentais no país e futuramente em estudos farmacêuticos para a avaliação da eficiência
de antihelminticos.
A exploração caprina e ovina no Brasil tem como principal finalidade a produção de leite, lã e
carne. A espécie caprina como produtora de carne oferece maior contribuição não no sentido
quantitativo, mas sim no sentido social, por ser fonte primordial de proteínas para povos habitantes de
regiões como a África, Oriente e nordeste brasileiro.
Segundo a FAO (2010), no ano de 2008, o efetivo mundial de caprinos foi de 861,9 milhões de
cabeças, com produção de carne de 4,9 milhões de toneladas; enquanto o rebanho de ovinos, composto
por 1,08 trilhões de cabeças, produziu 8,2 milhões de toneladas de carne, no mesmo ano. O Brasil
apresenta o 10º maior rebanho caprino do mundo, com 9,5 milhões de cabeças, produzindo de 30-40,5
mil toneladas de carne, no ano de 2008. Já o rebanho de ovinos, no ano de 2008, foi estimado de 16,5
milhões de cabeças, com uma produção de carne de 79,3 mil toneladas (FAO, 2010). De acordo com
os dados apresentados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, segundo pesquisa do
IBGE/Produção Pecuária Municipal (2005), o Brasil encontra-se em uma fase de expansão da
caprinovinocultura, e o mercado da carne caprina e ovina está em franca ascensão em todo o país.
Tendo em vista a crescente expansão caprinovinocultura e a real possibilidade de infecção dos
animais por F. hepática, medidas de controle devem ser tomadas para reduzir a probabilidade de
infecção, sendo que a melhor estratégia para o monitoramento dos rebanhos é o diagnóstico precoce de
infecção.
Neste contexto surge a necessidade de se estabelecer uma estratégia de pesquisa em
metodologias de diagnóstico, no intuito de se colaborar com a implantação de uma política de controle
e combate estratégico à doença, visando diminuir os prejuízos econômicos e minimizando o risco de
contaminação humana, visto que a fasciolose apresenta-se também como uma zooantroponose.
Motivado por estes dados e por saber que um diagnóstico rápido, no início da infecção, se torna
útil para o controle e vigilância epidemiológica para a fasciolose, objetiva-se com este estudo
desenvolver uma metodologia de diagnóstico sorológico baseada na técnica de ELISA-indireto,
utilizando a proteína antigênica recombinante rFhAPS, identificada por Paz-Silva (2005).
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sheeps and goats. Chin. J. Vet. Sci. Technol., 8: 3-7, 1987.
59
CAPÍTULO 6
PRÁTICAS DE MANEJO NO CONTROLE DA INFECÇÃO POR Fasciola hepatica
EM BOVINOS
Bárbara Rauta Avelar9
Deivid França Freitas8
Milena Batista Carneiro10
Isabella Vilhena Freire Martins 11
INTRODUÇÃO
Os agentes causadores da fasciolose são helmintos pertencentes à Classe Trematoda da Família
Fasciolidae conhecidos como Fasciola hepatica e F. gigantica, sendo este último restrito ao velho
mundo (Mas-Coma et al., 2005).
Originária da Europa, F. hepatica alcançou todos os continentes possivelmente devido à
colonização, ao transporte e ao livre comércio de animais. No Brasil, os primeiros relatos da doença,
ocorreram no estado do Rio de Janeiro nos anos de 1920 (Lutz, 1921). Desde então, a fasciolose tem
sido comumente registrada em quase todas as regiões, porém com maiores índices no Sul e Sudeste
(Serra-Freire, 1995; Cunha et al. 2007; Oliveira et al., 2007; Dutra et al., 2010; Martins et al., 2012)
além de diversos países da América Latina, inclusive em locais com altitudes superiores a 3000
metros, como Bolívia, Equador e Peru (Mas-Coma et al., 2001; Mas-Coma et al., 2005; Parkinson et
al., 2007).
Por acometer principalmente os ductos biliares de ruminantes, F. hepatica é responsável por
diversas perdas econômicas à pecuária mundial, devido à redução das carcaças, condenação de
fígados, diminuição da produção leiteira, atrasos no desenvolvimento e em sua forma mais grave,
levando a morte do animal (Mas-Coma et al., 2001).
Para completar o ciclo da Fasciola hepatica são necessários dois hospedeiros, um intermediário
(molusco) e um definitivo (mamífero). O hospedeiro vertebrado se infecta ao ingerir pasto
contaminado com metacercárias que se encistam no intestino delgado, migram através da parede
9
Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinarias da UFES
Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Veterinarias da UFRRJ
11
Professora do departamento de Medicina Veterinaria e do Programa de Pós Graduação em Ciências
Veterinarias da UFES - ES.
10
60
intestinal, caem na cavidade abdominal e penetram no parênquima hepático, atingindo os canais
biliares onde se fixam e se tornam adultos. Os ovos são liberados pelas formas adultas e eliminados
juntamente com as fezes. O desenvolvimento embrionário ocorre na presença de água com a formação
de miracídios, que nadam ativamente atraídos por quimiotaxia dos caramujos, em especial moluscos
do gênero Lymnaea, seus hospedeiros invertebrados. No molusco, o miracídio dá origem às rédias e
aos esporocistos que originam cercarias liberadas na água e estas migram para locais onde se encistam
em metacercárias, que infectarão um novo hospedeiro completando seu ciclo (FORTES, 1987) (Figura
1).
Figura 1. Ciclo de Fasciola hepatica em ruminantes.
Programas de controle recomendam medidas estratégicas preventivas associadas ao tratamento
dos animais doentes com medicamentos, o uso de moluscicidas ou outras medidas integradas. No
entanto, sabe-se que os moluscicidas acarretam prejuízos ao ambiente, e a recolonização por
caramujos das áreas afetadas tornam o processo de aplicação dispendioso e operacionalmente
impraticável (Pile et al., 2001). A utilização de fármacos pode induzir mecanismos de resistência, o
que sugere a utilização racional destes e combinações que visem minimizar o desenvolvimento da
resistência (Ouellette, 2001).
Assim, buscou-se com este trabalho realizar uma revisão sobre e epidemiologia, e o controle da
fasciolose bovina, com ênfase em práticas de manejo para o controle dessa parasitose.
EPIDEMIOLOGIA DA FASCIOLOSE
61
Originalmente a fasciolose era uma enfermidade que acometia os animais domésticos na
Europa. Sua distribuição atual mostra como o comércio e importação de animais pelos colonizadores
em diversas regiões do mundo influenciou de maneira significativa essa enzootia (Serra-Freire, 1995).
A epidemiologia da fasciolose está diretamente associada a fatores climáticos, topográficos,
pressão de pastejo e principalmente a presença de moluscos, que são os hospedeiros intermediários e
que atuam como facilitadores na disseminação da doença (Mattos et al., 1997).
No mundo existem várias espécies de moluscos do gênero Lymnaea que participam como
hospedeiros intermediários do ciclo biológico de Fasciola hepatica. No Brasil L. viatrix, L. rupestris,
L. cubensis e L. columella são os mais comuns (Ueta, 1976).
Normalmente os limnneídeos são encontrados em habitats lóticos, geralmente superficiais e
ligeiramente ácidos com circulação hídrica lenta. Estes incluem bancos de areia, valões, córregos e
margens de pequenos lagos (Mitchell, 2004). As condições ideais para reprodução destes moluscos é
observada logo após a estação chuvosa, devido à formação de novos criadouros e grande quantidade
de matéria orgânica, proveniente da proliferação vegetacional no entorno, o que facilita a entrada
alóctone de nutrientes e aumenta a disponibilidade nutricional para as algas e microalgas, que servirão
de alimento para os caramujos (Silva et al., 1980; Acha & Szyfres, 2003).
Nestes locais, os moluscos reproduzem-se exponencialmente. Altamente prolíferos, uma grande
quantidade de ovos podem ser depositados em poucos dias, aumentando assim as chances de
encontros ocasionais com os miracídios que por ventura estejam presentes na água e em seus
reservatórios (Silva et al., 1980).
Sabe-se que os maiores índices de contaminação de herbívoros acontecem geralmente na
medida em que as temperaturas aumentam no final da primavera e início do verão, associados a
grandes quantidades de chuvas que acompanham a estação. Esta estreita relação revela como a
dinâmica das populações de moluscos e de parasitos estão intimamente intricados em uma rede de
fatores ecológicos e climáticos. Em condições ambientais adequadas de temperatura e precipitação, os
caramujos desenvolvem-se rapidamente, o que possibilita a formação de uma nova geração a cada 30
dias. Sabe-se que temperaturas abaixo de 10°C e acima de 26°C são desfavoráveis para o
desenvolvimento do parasito, pois podem inibir ou retardar o seu desenvolvimento (Mitchell, 2004).
A ecologia do molusco também não é sempre uniforme. Maure et al. (1998) estudaram a
dinâmica populacional do molusco Limnaea columella por um período de seis anos na pastagem em
fazendas de exploração leiteira infectadas por Fasciola hepatica. A pesquisa foi desenvolvida nos
municípios de Piquete e Redenção da Serra, São Paulo. Os resultados revelaram que a dinâmica da
população de moluscos está estreitamente relacionada a fatores ecológicos e climáticos. No município
de Piquete, o aumento da variação da densidade populacional flutuou em relação inversa à temperatura
e à pluviosidade, encontrando maior número de moluscos no período seco do ano (maio-outubro). No
município de Redenção da Serra, a grande quantidade de matéria orgânica observada no biótopo foi
62
responsável pela captura do maior número de moluscos no período de altas temperaturas e alta
densidade pluviométrica (janeiro-março).
Em determinados locais a temperatura não é o fator mais importante para a transmissão e
manutenção da fasciolose. Tum et al. (2004) demonstraram em seu estudo no Camboja que a maioria
dos rios eram oriundos do derretimento da neve nas montanhas mais altas, o que proporcionava a estes
corpos de água uma estabilidade durante todo o ano. Dessa forma, muitas destas áreas encontravam-se
constantemente inundadas devido às chuvas ocasionais. Assim, era comum a prática de cultivar arroz
nesses alagadiços. Uma vez recuada às águas, estas áreas eram utilizadas para o pastejo de animais, o
que favorecia de certa forma a transmissão entre o parasito e seus hospedeiros.
Mas-Coma et al. (2001) relataram que em locais de altitudes elevadas onde é marcada a
presença da fasciolose, alguns fatores podem atenuar os efeitos da altitude e assim garantir a
propagação da doença. Em seus estudos na Bolívia, eles observaram a existência de uma área
endêmica para fasciolose, mas a proximidade com o equador garantia o aumento da temperatura e
conseguinte da umidade devido à uma elevada evapotranspiração. A existência de corpos de água nas
áreas era decorrente do degelo das montanhas das Cadeias Andinas, o que combinado à existência de
camadas freáticas rasas no solo asseguravam as coleções permanentes de água doce.
As variações geográficas entre os indivíduos também podem influenciar a suscetibilidade dos
moluscos à infecção por F. hepatica. Em um estudo realizado por Dacal et al. (1988) em Minas
Gerais, os autores demonstraram que algumas características das linhagens geográficas de L.
columella presentes em alguns municípios mineiros como Sete Lagoas, Santa Rita do Sapucaí, Viçosa
e Belo Horizonte demonstraram ser mais suscetíveis à infecção experimental do que aqueles
encontrados em outras regiões do estado, provavelmente devido à aspectos evolutivos entre o parasito
e seus hospedeiros.
Contudo, é importante frisar que para o estabelecimento de programas de controle da fasciolose
é imprescindível conhecer as espécies que participam do processo decorrente de transmissão da
doença, assim como é de igual valor, determinar como o clima e o ambiente podem influenciar a
dispersão geográfica do parasito e de seus hospedeiros, bem como a dinâmica epidemiológica
envolvida na disseminação e no controle de F. hepatica (Nuernberg & Serra-Freire, 1992).
PREVENÇÃO E CONTROLE
MEDIDAS DE PREVENÇÃO
O conhecimento sobre a epidemiologia dos parasitos e suas interações com seus hospedeiros em
um determinado ambiente são de fundamental importância para o estabelecimento de um sistema de
controle efetivo. A falta destas informações pode levar a utilização de tratamentos inadequados,
63
favorecendo assim o desenvolvimento da resistência parasitária, traduzida em aumentos de casos
clínicos e perdas produtivas (Stromberg & Averbeck, 1999).
Atualmente recomendam-se medidas estratégicas preventivas associadas ao tratamento dos
indivíduos infectados em programas de controle. Deve-se então associar o controle dos hospedeiros
intermediários (uso de moluscicidas e predadores naturais) à melhoria das condições ambientais e o
uso de antiparasitários nos animais acometidos pela fasciolose. No entanto, sabe-se que os
moluscicidas, em sua grande maioria, acarretam prejuízos ao meio ambiente e não inviabilizam a
possibilidade de recolonização das áreas afetadas pelos moluscos, tornando o processo de aplicação de
difícil execução. Por estas razões, medidas alternativas de controle vêm sendo desenvolvidas, e
algumas são baseadas na possibilidade do uso de plantas ou de seus derivados como agentes
moluscicidas (Silva et al., 2008).
Ximenes et al. (1995) propuseram um controle integrado no qual há o tratamento curativo dos
animais infectados previamente identificados e o “tratamento” dos riachos com L. columella por meio
da limpeza regular das margens (combate mecânico) e introdução de gansos (combate biológico).
A utilização de áreas de pastejo rotacionadas nas propriedades pode ser uma estratégia
interessante para reduzir a contaminação por metacercárias de F. hepatica, detectando dessa forma
áreas com a presença de moluscos e áreas onde os mesmos não estejam presentes. Assim, ao permitir
o pastejo dos animais em áreas com a presença de caramujos apenas por um período de oito semanas,
que está relacionado ao período pré-patente do parasito, poderá reduzir as chances de contaminação,
desde que antes, como medida de prevenção, os animais acometidos sejam tratados com antihelmínticos. Após este período pode-se introduzir o rebanho em áreas de pastagens sem a presença do
molusco. Porém, esta metodologia de controle nem sempre é viável, visto depender do tipo de manejo
nutricional instituído na propriedade (Boray, 1985; Knubben-Schweizer et al.,2010). Segundo
Knubben-Schweizer et al. (2010) o benefício de um manejo estratégico de pastagem está na redução
da contaminação do pasto por ovos de F. hepatica.
A identificação e o mapeamento dos habitas dos caramujos podem subsidiar a elaboração de
planos de pastoreio que evitem a utilização das áreas perigosas nos períodos de alto risco (Radostits et
al., 2000). Os autores citam também que a retirada do rebanho de fontes de infecção é o método de
controle ideal, mas nem sempre é exequível na prática.
Outra prática extremamente importante que pode ser utilizada é o emprego da drenagem de
áreas alagadas e a manutenção de valas e bebedouros (Roberts & Suhardono, 1996; Radostits et al.,
2000). Acha & Szyfres (2003) citam que a remoção da vegetação marginal de cursos de rios previne a
formação de habitats favoráveis ao desenvolvimento dos moluscos.
Roberts e Suhardono (1996) afirmam também que nos países em desenvolvimento uma pratica
que complica o controle da fasciolose é o compartilhamento de água entre as propriedades rurais, o
que não ocorre nos países desenvolvidos, onde o acesso ao pasto e a água é controlado.
64
O USO DE MOLUSCICIDAS
Uma das formas de combate a helmintos que utilizam moluscos como parte de seu ciclo
biológico é o controle da população malacológica. Substâncias moluscicidas têm sido utilizadas para o
controle de enfermidades com potencial zoonótico como a esquistossomose e a fasciolose, na tentativa
de combater os criadouros naturais de hospedeiros intermediários, porém demonstram-se pouco
eficazes. Muitos destes fatores estão relacionados à dificuldade de eliminação da população de
moluscos, a biorremediação dos resíduos que causam depreciação ao meio ambiente, bem como à
extensão das áreas que devem ser pulverizadas (Oliveira & Filha, 2009).
Os limneídeos de forma geral apresentam elevado potencial biótico, sendo capazes de entrar em
estado de estivação durante os períodos de seca, o que garante a sua perpetuação no ambiente
repovoando-o rapidamente assim que retornadas as chuvas (Prepelitchi et al., 2011).
As substâncias moluscicidas são utilizadas para a diminuição ou extermínio da população
malacológica em que se pretende atuar, estes químicos são classificados em dois subtipos: os
sintéticos e os naturais. Os fármacos sintéticos são os mais utilizados e destes estima-se que existam
mais de 7.000 produtos que já foram testados para esta finalidade, como exemplo cita-se: sulfato de
cobre, hidróxido de cálcio, N-tritilmorfolina , Niclosamida e Gramoxone (Rey, 2001).
O uso de moluscicidas sintéticos tem gerado preocupação em relação a três fatores: o
desenvolvimento de resistência dos caramujos a essas substâncias, a baixa seletividade que apresentam
(atuando sobre outras espécies da fauna causando uma significativa alteração no ecossistema aquático)
e o custo relativamente elevado desses produtos, sendo inviáveis em muitos países tropicais onde a
doença ainda apresenta-se de forma endêmica (Mccllough et al.,1980).
Silva et al. (2008) destacaram o desenvolvimento de resistência dos caramujos a algumas
substâncias químicas com ação moluscicida, devido a baixa seletividade que apresentam no ambiente.
Isto vem proporcionando a procura por substâncias facilmente biodegradáveis e o grande interesse
pelo uso de moluscicidas de origem vegetal, visto representarem uma redução na poluição ambiental,
maior biodegradação e controle de doenças em animais de produção, permitindo assim um melhor
retorno econômico e uma consequente redução de resíduos contaminantes nos produtos de origem
animal.
Archibald (1933) descreveu que o interesse pelo uso de moluscicidas de origem vegetal no
controle de vetores foi utilizado pela primeira vez nos anos de 1930, quando foi sugerido o plantio de
Balanites aegyptiaca, Balanitaceae, uma árvore típica do deserto, nas margens dos focos de
transmissão, no Sudão. Os frutos, ao caírem das árvores, inibiam a densidade populacional de algumas
espécies de caramujos.
65
A atividade tóxica das plantas quanto à sua ação moluscicida se deve principalmente a presença
de metabólitos secundários como taninos, saponinas, terpenoides, esteroides e flavonoides, dentre
outros. A ação do composto no molusco provoca intoxicação e consequente desequilíbrio osmótico
levando o indivíduo a morte por retração da massa cefalopodal para o interior da concha com liberação
de hemolinfa ou por projeção do molusco para o exterior de sua concha (Chifundera et al., 1993).
No Brasil, os primeiros estudos realizados com moluscicidas fitoterápicos foram com a
utilização de extratos aquosos de caules de Serjania sp. (cipó-timbó) e de frutos de Sapindus
saponaria (saboneteira), demonstrando atividade contra o caramujo Biomphalaria glabrata, por meio
da ação das saponinas presentes nestes vegetais (Silva et al., 2008). Alguns estudos realizados com
Euphorbia splendens var. hislopii (“coroa-de- Cristo”) demonstram uma grande letalidade devido ao
seu exsudado, conhecido como látex, que mesmo em baixas concentrações, sobre os moluscos
Biomphalaria glabrata, Biomphalaria tenagophila, Biomphalaria straminea, Biomphalaria pfeifferi,
Lymnaea columella e Bulinus sp. obteve-se um resultado satisfatório (Vasconselos & Schall, 1986).
Perez et al. (1998) em um estudo utilizando o extrato alcoólico de Melia azedarach sobre
caramujos da espécie L. cubensis observaram uma potencial ação moluscicida
no controle das
populações destes. Almeida (2010) descreveu a utilização dos extratos de nim, cinamomo e citronela
como possíveis agentes moluscicidas os quais se demonstraram ser eficazes no controle de moluscos
da espécie L. columella. Estes extratos atuaram principalmente sobre os ovos do molusco.
A eficácia, a baixa toxicidade, a facilidade do preparo e a presença abundante destes vegetais no
Brasil, são fatores que podem favorecer positivamente o uso destes agentes para o controle do
hospedeiro intermediário de Fasciola hepatica em regiões endêmicas.
TRATAMENTO QUÍMICO DOS ANIMAIS
Vercruysse & Claerebout (2001) estabeleceram um limiar terapêutico para avaliar o tratamento
de animais acometidos por helmintoses, avaliando a necessidade de intervenção terapêutica imediata
em bovinos, o que pode ser facilmente observado clinicamente. Este estudo baseou-se no atual quadro
da resistência parasitária, pois devido ao uso incorreto de drogas anti-helmínticas com subdosagens ou
tratamento excessivo, utilizando fármacos indiscriminadamente quando a carga parasitária é baixa e
não justifica o tratamento. Deve-se assim avaliar se a enfermidade em questão causa perda de
produção, produtividade e ganho de peso, para assim justificar o uso de medicamentos.
O controle da fasciolose por meio de tratamento químico demonstra ser plenamente eficiente em
vários países quando este é associado a dados epidemiológicos. Ao administrar um antiparasitário dois
objetivos são buscados: a eliminação do agente ou, o que é mais comum, manutenção de uma carga
parasitária a níveis toleráveis pelo hospedeiro.
66
Nesse sentido, vários fármacos atuam no controle de Fasciola hepatica. Os fasciolicidas
pertencem a quatro famílias químicas: fenóis halogenados (nitroxinil), salicilanilidas (closantel e
oxiclozanida), as sulfonamidas (clorsulon) e os benzimidazóis (triclabendazol, albendazol e
netobimina) (Costa, 2010).
Álvarez-Sanchez et al. (2012) afirmam que até o presente momento triclabendazol, closantel,
clorsulon e albendazol são as drogas de escolha para o tratamento e controle da fasciolose. Todas essas
drogas possuem alta eficácia contra as formas adultas do parasito, mas algumas possuem efeito
moderado (clorsulon) ou baixo (albendazol) contra as formas imaturas (Rehbein & Visser 1999). Por
outro lado o triclabendazol possui alta eficácia contra todos os estágios de desenvolvimento em
ruminantes (Boray, 1983). Embora o triclabendazol (TCBZ) possua alta eficácia contra formas adultas
e jovens de F. hepatica, não é muito utilizado no rebanho leiteiro já que possui alto período residual
no leite (Shi et al., 1989). A oxiclozanida é utilizada apenas nos bovinos, apresentando período de
carência no leite mais curto que o da maioria dos outros trematoidicidas, porém só é ativo contra as
formas adultas do parasita (Radostits et al., 2000).
Alguns autores sugerem a utilização de combinações de medicamentos, especialmente se os
compostos possuem ações diferentes, pela possibilidade de utilização de concentrações mais baixas e
conduzindo a efeitos sinérgicos dos medicamentos (Fairweather, 2011). Fairweather e Boray (1999)
demonstraram sinergismo entre triclabendazol e clorsulon contra F hepatica em ovinos. Sinergismo
entre triclabendazol e clorsulon também tem sido descrito em um modelo de roedor (Meaney et al.,
2006). Segundo Hutchinson et al. (2009) uma combinação de nitroxinil, clorsulon e ivermectina
mostrou-se altamente efetiva contra formas jovens do parasito, com um grau de eficácia tão bom
quanto uma combinação de triclabendazol e oxifendazol ou triclabendazol e ivermectina (ou
abamectina). Outras combinações contra diferentes fases de F. hepatica foram discutidas por
Fairweather e Boray (1999). São eles: closantel com qualquer triclabendazol, clorsulon ou
luxabendazol, e nitroxinil em combinação com closantel ou clorsulon.
Mezo et al. (2008) realizaram um estudo na Galicia, Espanha, onde observaram que 66,5% das
fazendas investigadas não utilizam nenhum trematoidicida, 28,4% usam aqueles que atingem apenas
formas adultas dos parasitos e 5,1% utilizam o triclabendazol como tratamento de escolha.
Em estudo realizado por Echevarria et al. (1992) foram testados tratamentos de bovinos
provenientes de propriedades com histórico de fasciolose, sendo administrado triclabendazole 4 vezes
no ano (G1) e 2 vezes no ano (G2). Ao final de 3,5 anos o grupo controle obteve 100% dos fígados
condenados, G2 8,3% e G1 nenhum fígado condenado à inspeção por agente federal. Os autores
observaram ainda em estudo paralelo que o grupo tratado com triclabendazole obteve um ganho de
peso significativamente maior do que os grupos tratados com nitroxinil e rafoxanida.
A associação do triclabendazole e clorsulon no tratamento da fasciolose diminui em 95% os
parasitos, enquanto que as drogas sozinhas promovem redução de aproximadamente 30% (Fairweather
67
& Boray, 1999). De acordo com Duthaler et al. (2010) combinações entre drogas frequentemente são
caracterizadas por aumento na atividade e tolerância à droga quando comparadas a monoterapia, além
de retardar o aparecimento da resistência. Porém, pelo fato de não estarem sendo desenvolvidos novos
compostos fasciolicidas deve-se fazer um manejo mais adequado das drogas existentes a fim de
retardar o futuro inevitável da resistência parasitária (Fairweather & Boray, 1999).
Al-Qudah et al. (1999) descreveram o uso de suspensão líquida oral de closantel associado a
albendazol na dosagem de 10 mg/kg e 5 mg/kg respectivamente para o tratamento de parasitos
gastrointestinais de camelos, incluindo Fasciola hepatica e obtiveram 77% de eficácia contra este
parasito em uma única administração. No entanto, animais infectados com parasitos mistos tiveram
eficácia da droga de 75% a 100%, enquanto que os animais infectados com apenas um tipo de parasito
obtiveram resultado de 92,5% a 100%.
Fairweather e Boray (1999) testaram a eficiência de vários anti-helmínticos no tratamento da
fasciolose e o triclabendazol apresentou uma melhor resposta no tratamento, sendo o medicamento
mais indicado para o tratamento de animais infectados. Oliveira et al. (2002) descreveram o uso de
triclabendazol também para o tratamento da fasciolose humana em pacientes contaminados na
República Popular de Cabo Verde e observaram comprovada eficácia em seu uso, uma vez que este é
o único fármaco disponível para tratamento humano.
O uso indiscriminado de fármacos, juntamente com alguns fatores relacionados ao parasito, ao
hospedeiro e ao meio ambiente provocam o desenvolvimento da resistência parasitária a qual tornouse um problema sanitário de extrema importância, pois a resistência parasitária contribui
significativamente para o insucesso dos programas de controle das doenças parasitárias na pecuária
mundial. Os prejuízos decorrentes da resistência ocorrem tanto pelo custo do anti-helmíntico, bem
como pelas perdas causadas pelos parasitos com manifestações clínicas nos animais podendo até
mesmo levar os animais óbito (Jackson et al., 2000).
A resistência consiste na capacidade genética que uma determinada população tem em tolerar
doses tóxicas de substâncias químicas que são letais para outras populações da mesma espécie, sendo a
herdabilidade a sua característica mais importante. O desenvolvimento de resistência parasitária ocorre
pela expressão de genes que se apresentam em uma baixa frequência em uma população normal
susceptível (menos de 5%), ou seja, a droga quando utilizada pela primeira vez, apresenta eficácia
elevada, no entanto, o uso frequente do mesmo princípio ativo aumenta o número de indivíduos
resistentes e, consequentemente, reduz a eficácia do produto (Prichard et al., 1980).
Historicamente no Brasil a resistência parasitária de helmintos em bovinos já está estabelecida.
A resistência ao triclabendazole tem sido documentada continuamente, e por isso, novas estratégias no
tratamento da fasciolose têm-se feito necessárias (Duthaler et al., 2010). Porém, segundo Fairweather
e Boray (1999) a resistência a fasciolicidas não chega a ser considerado um problema, já que não se
aproxima dos altos níveis de resistência encontrado em drogas nematodicidas.
68
Oliveira et al. (2008) realizaram estudo do qual utilizaram triclabendazol em uma propriedade
com rebanho de ovinos e caprinos positivos para F. hepatica e observaram eficácia da droga de 66,3%
para ovinos e 57,3% para caprinos que nunca haviam sido tratados com este medicamento. Este estudo
induziu a urgente investigação sobre a correta utilização dos medicamentos disponíveis e das
alternativas de controle em áreas endêmicas a fim de garantir uma correta utilização dos fasciolicidas
evitando dessa forma a resistência parasitária.
Uma abordagem estratégica integrada é mais econômica e positiva do que a confiança nos
tratamentos de rotina, e a probabilidade de se induzir a resistência ao anti-helmintico é menor
(Radostits et al., 2000).
USO DE ANTIPARASITÁRIOS ALTERNATIVOS E CONTROLE BIOLÓGICO
Em relação à utilização de populações de organismos para o controle biológico de F. hepatica,
estas deverão ser selecionadas como antagonistas naturais e devem possuir características especiais,
tais como: especificidade de ação, alta capacidade reprodutiva e suportar as condições ambientais.
Para ser empregado comercialmente como um controlador biológico de parasitos de ruminantes o
agente antagonista deve ter a capacidade de produção em escala industrial, baixo custo de produção,
ter alta competitividade com as drogas tradicionais estabelecidas no mercado e tempo de
sobrevivência no organismo do hospedeiro em formulações comerciais. Deve-se atentar para que as
formulações ofereçam segurança para produtores, consumidores, animais tratados, ao meio ambiente e
finalmente, que seja efetivo no controle do organismo alvo (Gronvold et al., 1996).
A utilização de taninos extraídos de plantas como antiparasitários e a seleção de espécies de
gramíneas que dificultem o desenvolvimento larvar no meio ambiente de formas infectantes de alguns
parasitos são propostas disponíveis (Rew, 1999; Williams, 1999).
Ferreira et al. (2011) testaram a ação anti-helmíntica de seis extratos vegetais in vitro contra
formas adultas de Schistosoma mansoni, Fasciola hepatica e Echinostoma caproni e encontraram
resultados satisfatórios com o uso de extratos alcoólicos de Artemisia annua (Annie doce), Asimina
triloba (papaia) e Artemisia absinthium (losna) que sob a dose de 2mg/ml eliminaram F. hepatica
entre 16 e 23 horas (Annie doce), ou 40 horas (papaia), demonstrando dessa forma um grande
potencial no controle alternativo natural.
Como uma outra alternativa de controle aparecem os fungos nematófagos, que são
microorganismos que possuem função antagonista e são divididos em três grupos. Dentre estes, a
maioria das espécies está classificada como fungos predadores de nematóides e seu mecanismo de
ação consiste no aprisionamento, ou seja, pela penetração das hifas na cutícula do nematóide. Um
segundo grupo, denominados fungos endoparasitos, é capaz de infectar os nematóides através de
esporos, pois uma vez ingeridos desenvolvem hifas responsáveis pela absorção do conteúdo interno do
69
nematóide. O terceiro grupo de fungos é denominado de oportunistas parasitos de ovos. As hifas
penetram a casca do ovo, através dos pequenos poros existentes na camada vitelínica, causando
alteração na permeabilidade da casca e expandindo seu volume (Morgan- Jones & Rodríguez-Kábana,
1988).
Braga et al. (2008) avaliaram em estudo in vitro a ação anti-helmíntica das espécies de fungos
Duddingtonia flagrans, Monacrosporium sinense e Pochonia clamydoscoporia e seu efeito lítico sobre
ovos de F. hepatica e S. mansoni, e observou que apenas o fungo P. clamydoscoporia apresentou
todos os efeitos desejados no estudo para ambos os helmintos, demonstrando ser um potencial
candidato a controlador biológico destes parasitos.
Levine (1970) recomendou a criação intensiva de patos e gansos para possível utilização destes
no controle da F. hepatica em uma propriedade na Alemanha e obtiveram resultados satisfatórios, uma
vez que os moluscos do gênero Lymnaea possuem em suas características morfológicas aspectos como
casca fina e ausência de opérculos que os tornam vulneráveis a predadores naturais, tais como répteis,
anfíbios, crustáceos, aves aquáticas e roedores.
Alguns autores defendem o uso de palmípedes (patos e gansos) e moluscos terrestres ou
aquáticos que exerçam algum tipo de predação sobre os limineídeos ainda são citados três tipos de
moluscos que podem ser usados como controle biológico do Lymnaea: Zonitoides nitidus e Oxychilus
draparnaudi, ambos moluscos terrestres, e a terceira espécie, aquática, Physa acuta (XIMENES et al.,
1995, Roberts & Suhardono, 1996).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Embora a ciência e a indústria tenham somado esforços para prevenção e redução da fasciolose
no Brasil e no mundo, esta enfermidade ainda gera graves problemas a saúde, por ser considerada uma
zoonose e também por ocasionar grandes perdas à pecuária mundial.
A situação da fasciolose no Espírito Santo nos últimos anos tem se tornado cada vez mais grave
principalmente devido aos altos índices de condenação de fígados bovinos nos abatedouros, sem
contar os prejuízos que acarreta na produção animal. Entre os anos de 2006 e 2009 a prevalência
chegou a 28,57% num matadouro-frigorífico do sul do estado com perda econômica estimada em 132
mil dólares anuais (Bernardo et al., 2011).
Estudos epidemiológicos já foram conduzidos no Estado com bovinos (Alves et al., 2011) e até
mesmo com os moluscos (Almeida, 2010) buscando caracterizar melhor a enfermidade na região.
Estudos de risco também foram realizados buscando identificar as variáveis climáticas envolvidas
(Martins et al., 2012), fato este de fundamental importância para o estabelecimento de um sistema de
controle efetivo. Diante do exposto, para um eficaz controle da fasciolose é possível a adoção de
diversas medidas integradas, entre tratamento químico dos animais, drenagem das áreas alagadas ou
70
restrição dos animais a essas áreas, controle populacional de moluscos utilizando técnicas de controle
biológico incluindo a criação de aves que por ventura possam predar o hospedeiro intermediário, o uso
de produtos naturais como extratos vegetais, dentre outras. Porém, sabe-se que na prática, nem sempre
é possível aplicar todas essas medidas efetivamente.
Poucos trabalhos publicados na literatura atual reportam praticas eficazes no controle da
fasciolose, portanto é importante analisar a situação de cada propriedade para sugerir medidas, sendo
essenciais: o uso de fasciolicidas que visam principalmente a descontaminação da pastagem e riachos
e a restrição do acesso dos animais às áreas alagadas onde é sabida a presença dos moluscos
transmissores.
71
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77
CAPÍTULO 7
NUTRIÇÃO E ASPECTOS RELACIONADOS À CRIAÇÃO DE CORDEIROS
Rodrigo Santos Freitas 12
INTRODUÇÃO
O Brasil possui o décimo sétimo maior rebanho ovino do mundo, constituído de
aproximadamente 17,3 milhões de cabeças, representando apenas 1,61% do rebanho mundial (FAO,
2010). Estes dados indicam grande oportunidade para crescimento da atividade no Brasil.
Apesar do pequeno rebanho, o Brasil tem apresentado crescimento expressivo na criação ovina
nos últimos anos. Enquanto o mundo cresceu apenas 1,04% entre os anos de 2004 e 2010, o Brasil
cresceu cerca de 15,43% (IBGE, 2012).
Dento do país, a região Nordeste e a que concentra o maior rebanho, com cerca de 56,7% do
rebanho ovino brasileiro, porém o estado que possui o principal rebanho é o Rio Grande do Sul com
3,9 milhões de cabeças, o que equivale a 22,89% do rebanho nacional. Além do Rio Grande do Sul,
destacam- se a Bahia com 17,98% do rebanho, o Ceará (12,08%), Pernambuco (9, 34%) e o Piauí com
8,01% do rebanho brasileiro (IBGE, 2012).
Com relação à produção de carne, dados da FAO (2012) indicam abate de 5 milhões de cabeças
no ano de 2010 com um rendimento de mais de 80 mil toneladas de carne e 19,3 mil toneladas de pele.
Segundo RIBEIRO et al. (2005), o cordeiro é potencialmente a categoria de melhores
características da carcaça, na produção de carne ovina, e portanto, de maior aceitabilidade pelo
consumidor.
Neste mercado, a carne de cordeiro vem adquirindo destaque devido as suas diversas
propriedades. Caracteriza-se por ser macia e rosada, textura lisa, consistência firme e pouca gordura. O
cordeiro é um animal de carne nobre, de sabor delicado, excelente nível protéico e baixo nível de
colesterol. Saborosa, suculenta, nutritiva e versátil, a carne de cordeiro ocupa um posto destacado na
alimentação humana.
Diferente da carne bovina, a do cordeiro possui sabor mais adocicado e aroma marcante,
conferidos pelos ácidos graxos cáprico, caproico e caprílico.
De acordo com Silva, (2000), a qualidade da carne é influenciada pela idade do animal, pelo
peso de abate, nutrição, sistema de manejo (pasto, confinamento), sexo e raça.
12
Graduando do Curso de Zootecnia da Universidade Federal do Espírito Santo – CCA - UFES
78
Vários motivos têm interferência na maciez da carne, entre eles, o sistema de manejo e o tempo
de maturação da carne. De modo geral, a carne de cordeiro tem odor e sabor mais suave que a carne de
carneiro (Sañudo et al. 1998).
A intensidade da cor reflete a quantidade de mioglobina (pigmento) presente no tecido
muscular, mas é influenciada também pela alimentação do animal. O conteúdo médio da mioglobina
da carne ovina é superior às de boi e porco, sua cor é mais intensa, sendo mais escura nos animais
adultos e nos músculos mais exercitados (Revistaoberro, 2010).
A cor da gordura é esbranquiçada, creme, muito semelhante à da vitela. Durante o cozimento,
varia um pouco, exceto na superfície, onde adquire um tom tostado atraente. Conforme aumenta a
idade do animal, a gordura vai se tornando levemente amarelada, o que pode ser explicado pela
presença de alguns pigmentos de cor amarela que são encontrados nos pastos. A cor da gordura é um
método seguro para saber se um animal é ou não velho.
A carne de carneiro, ou animal adulto, é mais rija, mais avermelhada, ou mais escura, e com
maior teor de gordura. O sabor e aroma da carne são mais intensos nos animais mais velhos, o que e
agravado quando abatidos com mais de um ano de idade.
Existem diversas formas de criação das ovelhas e cordeiros desde a fase de aleitamento, até o
abate, devendo esta decisão ser tomada, com base em diversos fatores intrínsecos ao produtor, animal,
propriedade e condições edafoclimáticas.
As principais alternativas são pastagem nativa, pastagem cultivada, com ou sem suplementação
no cocho e confinamento.
FASE DE ALEITAMENTO
O aleitamento é a fase inicial de criação, sendo esta, fundamental para o desempenho dos
cordeiros ate o abate.
Para obter sucesso nessa fase da criação é fundamental que os cordeiros nasçam com um peso
adequado, recebam colostro suficiente e todos os cuidados iniciais necessários, proporcionando
condições para que os animais possam expressar todo seu potencial de crescimento.
O peso ao nascimento está diretamente relacionado com fatores de ordem genética e a nutrição
da ovelha gestante, enquanto que o peso ao desmame depende principalmente da produção de leite da
ovelha e da disponibilidade de alimentos sólidos ao cordeiro.
A nutrição adequada da ovelha no período de gestação pode proporcionar o nascimento de
cordeiros com maior número de fibras musculares, o que promoveria maior desenvolvimento
muscular, resultando em maior ganho de peso desses animais. A nutrição inadequada neste período,
pode limitar a capacidade de crescimento pós-natal dos músculos esqueléticos dos cordeiros
(Greenwood et al., 2000).
79
O colostro tem a função de ajudar na eliminação do mecônio, fornecer anticorpos e nutrientes
essenciais ao desempenho do cordeiro. A quantidade de colostro ingerida por um cordeiro depende
principalmente da quantidade disponível e do sucesso de sucção. A quantidade de colostro produzido
varia com a raça, nutrição da ovelha e número de crias. Já o sucesso de sucção, depende
principalmente do tamanho e formato das tetas, e competição entre as crias.
Dessa forma a nutrição adequada das ovelhas no período de lactação é de extrema importância
para produção de colostro e posteriormente de leite em quantidade e qualidade proporcionando
desempenho satisfatório aos cordeiros.
Bôas et al. (2003), avaliando idade à desmama e manejo alimentar na produção de cordeiros
superprecoces, observou efeito significativo da suplementação das ovelhas no ganho de peso diário
dos cordeiros, independentemente da idade à desmama. A média de ganho de peso diário nos
cordeiros cujas mães foram suplementadas foi de 330,5 g contra 354,5 g dos tratamentos cujas mães
não tiveram acesso a concentrados.
Ovelhas de 60 kg amamentando cordeiro de parto simples nas primeiras 6 a 8 semanas, devem
consumir diariamente de 2,3 kg de MS, 1,50 kg de NDT e 0,319 kg de PB (NRC, 1985).
Segundo o NRC (2007), ovelhas lactantes com 70 a 80 kg de PC, amamentando um e dois
cordeiros, ingerem, em média, 2,8 e 3,5% do PC em MS dia -1, enquanto cordeiros com 20 a 30 kg de
PC ingerem, em média, 4,2% do PC em MS dia -1.
Com o avançar da lactação, a produção de leite da ovelha vai reduzindo e dessa forma,
alimentos suplementares devem ser incluídos na dieta.
Segundo Neres, et al. (2001), a deficiência de energia na dieta é a principal causa na redução do
desenvolvimento ponderal do cordeiro lactente, principalmente nas regiões onde a época de parição
coincide com o período de escassez de forragem. Dessa forma, o autor cita a suplementação dos
cordeiros lactentes, como uma prática de manejo prioritária e estratégica na produção de cordeiros,
devendo ser iniciada logo após o nascimento, com a finalidade de adaptar os animais ao consumo de
alimento sólido.
A alternativa de fornecimento de concentrados aos cordeiros, pode complementar o
fornecimento energético e protéico do leite materno que tende a diminuir com o avanço da lactação.
Segundo Bôas et al. (2003), a adoção de creep-feeding pode cumprir esse objetivo, sem onerar o custo
de manutenção das ovelhas. Alem disso, a utilização de rações palatáveis no creep-feeding, podem
inclusive diminuir a intensidade de mamada dos cordeiros e, minimizando dessa forma, a demanda
energética da lactação. Reserva energética nas ovelhas durante essa fase pode favorecer o novo ciclo
reprodutivo do rebanho.
O consumo de alimento pelos cordeiros entre duas e seis semanas de idade é afetado pela
aceitabilidade, forma física da ração e pelas condições do creep feeding, que deve ser de fácil acesso e
80
localizado
próximo
ao
ponto
preferencial
de
descanso
do
rebanho
(NATIONAL
RESEARCHCOUNCIL - NRC, 1985).
Para atingir de bons resultados com a aplicação do “creep feeding”, a dieta oferecida, além de
palatável, deve conter um alto nível energético, concentração de proteína mínima de 15% e adequado
teor de minerais, especialmente o cálcio. Isso porque os grãos contêm quantidade insuficiente para
atender às necessidades destes animais (Siqueira, 1996). Dessa forma, suplementos minerais e
vitamínicos devem ser incorporados no “creep feeding”.
A recomendação nutricional do NRC (1985) para cordeiros com potencial de crescimento
moderado, pesando entre 10 a 30 kg (média de 20 kg) é de cerca de 17 % de PB e 2,8 Mcal EM.
Porém, segundo Garcia et al. (2003), as condições ambientais, o manejo e o genótipo são diferentes
nos ambientes tropicais, podendo gerar alterações na demanda por nutrientes.
Testando três dietas para “creep feeding”, com níveis de proteína variando em 18% e 27%,
Santra e Karin (1999), chegaram à conclusão de que altos níveis protéicos em dietas com níveis
similares de energia não melhoram o desempenham dos animais. Isso se deve, pelo aumento nas
perdas de proteína através das fezes e urina. Portanto, a utilização do nível de 18% é suficiente para
este tipo de suplementação.
Até quatro semanas de idade, os cordeiros preferem ração farelada e, após quatro a cinco
semanas, aceitam melhor as dietas peletizadas (NRC, 1985). Casey e Webb (1995) avaliaram dois
níveis energéticos (médio 10,2 MJ EM kg/MS e alto 11,8 MJ EM kg/MS) e duas formas de
apresentação da ração (farelada e peletizada) sobre o desenvolvimento, composição de ácidos graxos e
deposição de tecido adiposo subcutâneo em ovinos da raça Shorn. Segundo Neres et al. (2001), os
resultados sugerem que a ração peletizada de alta densidade energética pode reduzir o tempo de abate
e limitar o acúmulo de ácidos graxos saturados e monoinsaturados no tecido adiposo subcutâneo,
levando à melhor aceitação da carcaça pelo consumidor. Os animais que receberam ração farelada e de
média energia apresentaram pior conversão alimentar (5,77), enquanto os animais que receberam
ração peletizada com alta energia tiveram melhor conversão (4,36), indicando possibilidade de
diminuição do custo de alimentação com a forma peletizada.
Neres et al. (2001), avaliando cordeiros inteiros Suffolk, alimentados em creep feeding
testaram rações farelada e peletizada , ambas com 17,99 %PB e 2,96 EM e obtiveram superioridade
em desempenho para os cordeiros alimentados com a ração peletizada (393 g/dia), com idade média ao
abate de 60 dias.
Nichols et al. (1992) avaliaram o ganho de peso de cordeiros que receberam ração em três
sistemas; no primeiro, a ração era fornecida no sistema de livre escolha (ração à base de milho inteiro
e feno de alfafa peletizado, fornecidos em recipientes separados); no segundo, a ração era composta de
30% de feno de alfafa peletizada e 70% de milho inteiro misturados; e no terceiro, a ração era à base
de 30% de feno de alfafa e 70% de milho moído e peletizado. O ganho de peso foi maior nos animais
81
que receberam ração no sistema de livre escolha, que consistia da mistura de milho inteiro e alfafa
peletizada. Os autores sugerem que a maior ingestão de matéria seca no sistema de livre escolha pode
ter sido resultado da baixa acidose, devido à necessidade de maior mastigação. A relação de milho e
alfafa na ração selecionada foi de 53:47.
O Volumoso pode deve ser fornecido coma a finalidade de adaptar os animais a sua dieta
posterior, mas cordeiros com menos de 70 dias de idade têm capacidade fermentativa muito reduzida e
alto requerimento nutricional. Portanto é essencial fornecer volumosos de alta qualidade e
digestibilidade elevada.
TERMINAÇÃO DE CORDEIROS
Na fase de terminação dos cordeiros, vários métodos de criação e caminhos, podem ser
seguidos, conforme a Figura 1, sendo a escolha baseada em todos os fatores que afetam o sistema de
produção.
Figura 1 – Sistemas de cria, recria e engorda de cordeiros. (Adaptado de Sá et al., 2007)
82
As pastagens representam a forma mais prática e econômica de alimentação dos ovinos.
A maioria dos cordeiros que chegam ao mercado, nunca receberam suplementação através de
concentrados (Sá et al., 2007).
Ocorre que, normalmente, a base da alimentação dos ovinos no Brasil, é a pastagem natural,
com baixo nível tecnológico empregado e baixa produtividade, dificultando a obtenção de bons
índices produtivos.
As forrageiras não crescem uniformemente e a estacionalidade não permite uma produção
constante de forragem durante o ano (Euclides, 1994). Além disso, forrageiras em estádio de
crescimento avançado, apresentam baixos níveis de proteína e altos teores de fibra, fazendo com que
ocorra um declínio da digestibilidade e do consumo pelo animal. Outro fator agravante, é a
combinação de parasitas internos e a incapacidade de cordeiros jovens em consumir matéria seca
adequadamente, podendo resultar em ganhos de peso nas pastagens mais baixos do que os obtidos em
confinamento (Jordan & Marten, 1968).
Para que o sistema de produção em pastagens continue sendo o mais viável economicamente
para o desenvolvimento da ovinocultura, torna-se necessária a avaliação das variáveis envolvidas,
como a escolha das plantas forrageiras, manejo das pastagens, conservação de alimentos, instalações e
manejos nutricional, reprodutivo e sanitário, além do gerenciamento e estratégias de comercialização,
visando maximizar a produção e a produtividade ovina (Sobrinho, 2001).
Conforme Jardim et al. (2000), para que haja um incremento na produção de carne ovina, é
necessário buscar alternativas que visem a melhorar o aporte nutricional dos cordeiros. Portanto, o uso
de pastagens cultivadas, a suplementação concentrada e o confinamento podem ser vistos como
alternativas para a terminação de cordeiros, fazendo com que estes animais atinjam o peso ideal para o
abate em menor tempo, proporcionando bons índices produtivos e a obtenção de carcaças de melhor
qualidade, que atendam à demanda do consumidor.
O confinamento de cordeiros apresenta uma série de benefícios, como menor mortalidade dos
animais devido à menor incidência de verminoses e maior controle da parte nutricional (Siqueira et al.,
1993). Além disso, o confinamento de cordeiros agiliza o retorno do capital aplicado, permite a
produção de carne de qualidade durante todo o ano, permite padronização de carcaças, reduz a idade
de abate dos cordeiros e disponibiliza a forragem das pastagens para as demais categorias do rebanho
(Pires et al., 2000). Porém, as maiores desvantagens se encontram nos altos custos de produção,
principalmente, relacionados à alimentação (Oliveira et al., 2002).
Segundo Carvalho et al. (2003), o sucesso da produção em confinamento depende de vários
fatores, incluindo o potencial genético dos animais, o manejo sanitário do rebanho, a nutrição, as
práticas de alimentação e a visão de mercado de insumos.
Pires et al. (2000), trabalhando com cria e terminação de cordeiros confinados, concluiu que o
confinamento é um método eficiente na produção de carne ovina, mas o ganho de peso obtido pelo
83
cordeiro do nascimento ao desmame não é sustentado pós-desmame até ao abate, sendo necessário
adotar estratégias diferenciadas para se obter sucesso.
Barros et al. (2009) concluíram que a terminação sem desmame e sem suplementação é a que
apresenta maior lucratividade.
Touraine (1984) descreve que os cordeiros terminados em confinamento apresentam
características sensoriais superiores aqueles terminados em pastagem. Alem disso, diferentes
volumosos trazem características sensoriais distintas.
Neste sentido, Madruga et al. (2005), avaliando a qualidade da carne de cordeiros Santa Inês
terminados com diferentes dietas, concluíram que diferentes volumosos exerceram influência
significativa sobre os teores de composição centesimal, cálcio, fósforo, colesterol, fosfolipídios, ácidos
graxos saturados, poliinsaturados e sobre os parâmetros sensoriais da carne de ovinos Santa Inês.
Sendo que, os animais alimentados com palma forrageira produziram carnes com teores elevados de
colesterol, ácidos graxos saturados, percentuais reduzidos de gorduras, ácidos graxos monoinsaturados
e qualidade sensorial inferior à carne dos demais animais. Os animais alimentados com volumosos
contendo capim-d’água, restolho de abacaxi e silagem de milho, apresentaram carne ovina de melhor
qualidade, em função das baixas concentrações de colesterol e ácidos graxos saturados e do alto teor
de ácidos graxos monoinsaturados, mesmo apresentando os maiores teores de lipídios.
Segundo Tonetto et al. (2004), o rendimento dos diferentes cortes da carcaça são parâmetros
importantes para identificação de sistemas de alimentação que permitem produzir cordeiros jovens
para o abate. Huidobro & Cañeque (1993) descrevem que os distintos cortes que compõem a carcaça
possuem diferentes valores econômicos e a proporção dos mesmos constituem um importante índice
para avaliação da qualidade comercial da carcaça.
Tonetto et al. (2004), avaliando Ganho de Peso e Características da Carcaça de Cordeiros
Terminados em Pastagem Natural Suplementada, Pastagem Cultivada de Azevém e Confinamento,
observou que Cordeiros terminados em pastagem cultivada de azevém, junto com a mãe, possuem
desempenho superior e carcaça com maior espessura de gordura. Além disso, as características da
carcaça (comprimento, comprimento da perna, espessura de coxão, profundidade de peito e área de
olho de lombo) são semelhantes, quando os cordeiros são abatidos ao mesmo peso, embora
submetidos a diferentes formas de alimentação.
Carvalho et al. (2007), avaliando Ganho de peso, características da carcaça e componentes nãocarcaça de cordeiros da raça Texel terminados em diferentes sistemas alimentares, observou que,
cordeiros alimentados exclusivamente com pastagem de Tifton-85 apresentaram ganho de peso
inferior (P<0,01) quando comparados aos suplementados e/ou confinados, sendo que estes não
diferiram entre si (P>0,05). Os autores sugerem que resultado obtido, pode ser explicado pelo maior
aporte energético diário na alimentação dos cordeiros suplementados na pastagem e dos confinados,
quando comparados com aqueles mantidos em pastagem sem suplementação. A reduzida idade dos
84
cordeiros utilizados no experimento reflete em um elevado requerimento nutricional, o qual não foi
atendido exclusivamente com a pastagem utilizada.
Neste mesmo trabalho, os autores verificaram que os cordeiros alimentados em pastagem de
Tifton-85, sem suplementação, apresentaram os pesos dos cortes comerciais (quarto, paleta, costilhar e
pescoço) inferiores (P<0,01) quando comparados aos confinados e aos suplementados, o que pode ser
explicado pelo menor peso vivo ao abate.
Mertens (1994), citou que, quando são fornecidas dietas com alto conteúdo de fibra em
detergente neutro (FDN) para ruminantes, o consumo de alimento ocorre até atingir o nível de
capacidade do trato gastrintestinal. Assim, se a ingestão é limitada pela ocupação de espaço no trato
gastrintestinal, alimentos com alto teor de FDN, poderão ter a sua ingestão restringida, limitando, com
isso, o desempenho animal.
Outro fator que parece interferir no desempenho dos cordeiros é o sexo.
Comparando machos inteiros e fêmeas, desmamados com pesos entre 13 e 18kg, Wynn &
Thwaites (1981) verificaram que machos inteiros apresentam maior taxa de ganho de peso antes e
depois do desmame, e chegam com menor idade ao peso de abate.
Segundo Carvalho et al. (2005), existe uma tendência de que cordeiros não castrados
apresentem maior ganho de peso, conversão alimentar, peso e rendimento de carcaça quente, em
relação aos castrados, o que pode ser uma importante ferramenta a ser utilizada pelos produtores de
cordeiros visando aumento de rentabilidade.
Por outro lado, Carvalho et al. (1999), trabalhando com cordeiros (machos e fêmeas) ¾ Texel ¼
Ideal, conclui que quanto ao desempenho, consumo e conversão alimentar, não há diferença entre os
sexos, quanto abatidos em idade muito jovem.
Carneiro et al. (2007) observou que o sexo não influenciou o peso dos animais.
Osório et al. (1998) descrevem que existe um peso ótimo para sacrifício dos animais, em que a
proporção de músculo é máxima; a de osso, mínima; e a de gordura, suficiente para proporcionar à
carcaça as propriedades de conservação e a carne suas propriedades sensoriais exigidas.
Siqueira (2000), ao comparar pesos de abate (28, 32, 36 e 40 kg), qualidade da carcaça e renda
líquida por cordeiro, concluiu que, sob o ponto de vista econômico, o peso de abate de 28 kg é o
melhor. Para qualidade da carcaça, os pesos de 28, 32 e 36 kg foram similares, ao passo que 40 kg,
resultou em carcaças com teores de gordura muito elevados.
Pesquisas comparando raças e cruzamentos de ovinos, para determinar se há diferença na
composição e palatabilidade da carne, são relativamente recentes.
Raças de menor peso adulto tendem a produzir carcaças com mais gordura e menos músculo e
ossos do que raças com um peso adulto maior, quando a composição é comparada em carcaças com
um mesmo peso (Kirton, 1982).
85
Normalmente raças que apresentam uma alta prolificidade, depositam gordura em excesso na
carcaça.
Segundo Macedo (1998), o cruzamento pode melhorar o desempenho dos cordeiros para várias
características, sendo que os genes da raça paterna são os principais responsáveis pelo aumento do
desempenho dos cordeiros cruzados.
Comparando a raça Suffolk e a Texel, Leymaster & Jenkins (1993), observaram que a
mortalidade de cordeiros até o desmame foi menor para a raça Texel e o peso ao desmame foi similar
ao da raça Suffolk.
Cotterill & Roberts (1979) constataram, para as raças Poll Dorset, Suffolk e Lincoln, valores de
0,198 e 0,130kg; 0,209 e 0,129kg , 0,187 e 0,118kg para ganho de peso médio diário (GPMD) antes e
após o desmame, respectivamente. Wynn & Thwaites (1981) observaram para cordeiros Merino e
cruzados, valores de 0,246 e 0.331kg de GPMD antes do desmame e de 0,134 e 0,171kg após o
desmame, respectivamente. Oliveira et al. (1996) verificaram que cordeiros Texel em campo nativo
apresentaram 0,229kg de GPMD no período pré-desmame e 0,068kg de GPMD no pós-desmame.
Carvalho et al. (1999) verificaram, para machos inteiros confinados, um GPMD de 0,316kg antes do
desmame e 0,159kg após o desmame.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A ovinocultura brasileira ainda encontra muitos entraves para sua expansão, mas apesar disso
tem crescido a nível considerável em ralação ao mundo, o que indica oportunidade aos produtores do
Brasil.
A carne de cordeiro vem se destacado dentro da ovinocultura nacional. Suas características
imprimem um produto extremamente saboroso e de alto valor nutricional, e dessa forma tem
conquistado os consumidores brasileiros.
Para produção de cordeiros e indispensável os cuidados iniciais com a cria e a nutrição
adequada das matrizes desde o período pré-parto e durante a lactação.
Na escolha de um sistema de produção deve se levar em conta os critérios financeiros e
técnicos, levando em conta as características dos animais, da região e mercado consumidor.
Devem-se levar em conta que, cordeiros são animais jovens e, portanto, requerem cuidados
especiais principalmente com sanidade e alimentação, de forma que a adoção de técnicas como o creep
feeding, podem maximizar o desempenho animal e consequentemente o rendimento financeiro.
Características como o sistema de criação, sexo, genética, idade e peso de abate dos animais,
influenciam no desempenho e, portanto, devem ser consideradas para as tomadas de decisão.
86
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90
***
Este E-book foi composto em 12 de Novembro de 2013.
***
CAUFES
Alto Universitário, s/nº, Guararema, Alegre, ES, CEP 29500-000
(28) 3552-8980. E-mail: [email protected]
91
Deolindo Stradiotti Júnior
Zootecnista - UFLA (1986), Mestre em
Forragicultura e Pastagens - UFV (1993), Doutor em
Nutrição de Ruminantes - UFV (2002), Prof. Adjunto
IV - Departamento de Zootecnia, CCA/UFES.
Coordenador e Orientador de Projetos de Pesquisa e
Extensão junto à PRPPG e ProEx da Universidade
Federal do Espírito Santo, CCA/UFES. E-mail:
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Sâmila Esteves Delprete
Técnica Agrícola – IFES Campus de Alegre (2009),
Graduanda em Zootecnia - UFES. Bolsista do Projeto
Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
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Antônio Carlos Cóser
Agrônomo - UFRRJ (1970), Mestre em Fitotecnia UFRS (1979), Doutor em Zootecnia - UFV (1988),
Prof. Pós Graduação em Ciências Veterinárias,
CCA/UFES. Subcoordenador e Co-orientador do
Projeto Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
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Cristiano Falcão Tavares
Técnico Agrícola – IFES Campus de Alegre (2007),
Graduando em Zootecnia - UFES. Volntário do
Projeto Zootecnia Itinerante/PROEX-UFES
E-mail: [email protected]
92
AUTORES
Adriano Conti Hupp
Isabela Moraes Amorim
Antônio Carlos Cóser
Isabella Vilhena Freire Martins
Antônio Delunardo Pandolfi Filho
José Geraldo de Vargas Junior
Ary Ferreira de Freitas
Mariana Drummond Costa Ignacchiti
Bárbara Rauta Avelar
Marcus de Freitas Ferreira
Bruno Borges Deminicis
Mariá Moraes Amorim
Carlos Eugênio Martins
Matheus Cruz de Oliveira
Christiane Silva Souza
Milena Batista Carneiro
Deivid França Freitas
Patricia do Rosário Rodrigues
Deolindo Stradiotti Júnior
Rodrigo Santos Freitas
Flávio Medeiros Vieites
Sâmila Esteves Delprete
Flebson Montalvão de Almeida
Thiago Jaccoud Machado
Guilherme Santos Freitas
Olavo dos Santos Pereira Júnior
REALIZAÇÃO
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA –
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS – UFES
PROEX – PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO - UFES
ISBN 978-85-61890-40-7

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