Gustavo Bruski de Vasconcelos1 Robison Keith Yonegura 2

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Gustavo Bruski de Vasconcelos1 Robison Keith Yonegura 2
7 e 8 Novembro 2012
DRENAGEM URBANA: qualificação da paisagem
Gustavo Bruski de Vasconcelos 1
Robison Keith Yonegura 2
RESUMO
A preocupação com o destino das águas no meio urbano é antiga. No entanto, pensar em um
conceito de drenagem urbana sustentável é algo relativamente novo. Neste sentido, este artigo parte
do pressuposto que o principal enfoque desse tipo de drenagem seria evitar os processos negativos
que impactam no meio urbano. Desta forma, a drenagem sustentável deve fazer parte do
planejamento ambiental da cidade, tendo como base três tipos de ações, referentes ao manejo das
águas pluviais: evitar, manter e gerir. Exemplos como os jardins de chuva, canteiros pluviais,
biovaletas, pavimentos porosos, tetos verdes e grades verdes devem ser incentivados e divulgados
amplamente. Assim, a gestão bem sucedida da água na cidade com um viés paisagístico ambiental,
implica projetos abrangentes onde a drenagem das águas pluviais, o controle das enchentes, o
abastecimento de água e sua conservação, englobam facetas de um sistema maior e possível de ser
proposto seguindo parâmetros bastante simples e ambientalmente corretos. As cidades exprimem
incertezas quanto ao futuro, sendo assim, urgem projetos, viabilidades e propósitos. As reflexões
aqui apresentadas buscam apresentar o paisagismo urbano em uma perspectiva de recuperação das
cidades. Sua maior contribuição é a permanência e a sustentabilidade temporal dos resultados
positivos no plano urbano. A experiência estudada aqui tem o intuito de valorizar a adoção da
perspectiva de estruturação ambiental de técnicas simples de paisagismo e desenho urbano nas
cidades. A replicabilidade dos resultados positivos, a difusão e assimilação de ideias, de programas
e projetos podem servir de exemplos práticos a iniciativas, preceitos de planejamento, intervenção e
manutenção de outras cidades. Uma melhor compreensão do potencial de uso deste tipo de
infraestrutura. A criação de caminhos verdes ou de infraestrutura verde tem o potencial de ser uma
ferramenta ecológica para a saúde ambiental, social e econômica, resumida no sistema natural de
suporte de vida.
Palavras-chave: Drenagem. Sustentabilidade. Paisagem
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Prof. Mestre, Instituto Federal da Bahia-IFBA, Departamento de Edificações. [email protected]
Prof. Mestre, Universidade Estadual de Maringá-UEM, Departamento de Arquitetura e Urbanismo-DAU.
[email protected]
1. INTRODUÇÃO
O debate contemporâneo voltado à qualidade de vida na urbe tem como um dos temas
centrais a (re)incorporação da “natureza” no ambiente construído. Assim, considera-se a água
“construída” um elemento de essencial potencial da qualidade da paisagem. A água exerce uma
influência decisiva na qualidade de vida das populações uma vez que se faz presente na urbe, sendo
um elemento importante na construção e estruturação da paisagem no labirinto da urbanização.
A água incorpora significados sociais e valores culturais. A produção socionatural da cidade
baseia-se em alguma forma de água corrente. E a partir disso a inserção e percepção paisagística do
meio líquido no âmago da cidade é fundamental como experiência da paisagem. No amplo contexto
das questões ambientais, a água aqui é considerada como um elemento essencial ao ciclo da
natureza e às atividades humanas. Trata-se de um recurso indispensável para a sobrevivência de
todas as espécies e exerce uma influência decisiva na qualidade de vida das populações. Assim
sendo, assume atualmente, papel preponderante nas discussões ambientais em todo o mundo.
Segundo Swyngedouw (2001) a água e sua circulação encarnam simultânea e
inseparavelmente significados de uma geografia física, de uma paisagem cultural e simbólica. A
tradição do planejamento do espaço da cidade tem sido a de trabalhar com a separação entre a
cidade e a natureza, entre o espaço urbanizado e o não urbanizado, pois enquanto a maioria dos
estudos de urbanismo limita-se às áreas construídas, as abordagens do planejamento ambiental têm
dificuldade para incluir a realidade e a influência da cidade no ambiente natural (POLIDORI, 2004).
Todavia, hoje, a prática do planejamento urbano e ambiental integra dados urbanos e
naturais para compreender o estado atual das cidades e sua realidade urbana, para então avaliar
alternativas de futuro (ALBERTI, 1999). Reconhecer a importância do planejamento e manejo de
paisagens, proteger alguns recursos naturais, tais como água limpa, ar fresco não é uma demanda
efêmera ou isolada, mas integrada à preservação de espaços públicos como meta para assegurar às
futuras gerações um meio ambiente mais saudável.
As discussões aqui apresentadas no contexto da drenagem urbana procuram demonstrar que
certas qualidades ambientais podem ser implementadas e, com efeito, instituírem uma paisagem
ambientalmente mais correta e aprazível. E como demonstração de aplicação destas ideias este
trabalho apresenta um estudo voltado a reestruturação da paisagem espacial a partir da criação de
espaços livres, verdes e públicos e principalmente, a estético-paisagística.
Este planejamento urbano atrelado a uma filosofia ecológica de preservação, proteção e
drenagem que integrem qualidades urbanas e qualidade de vida são preceitos que desafiam o
planejamento urbano contemporâneo. Então é possível considerar este artigo e suas propostas
coerentes com questões ambientais, pois traz consigo a noção de sustentabilidade e
desenvolvimento urbano que podem persistir no tempo.
2. DESENVOLVIMENTO
Em uma abordagem ecológica do manejo das águas pluviais levando-se em conta o preceito
de sustentabilidade, é possível a utilização de princípios paisagísticos e da natureza para a criação
de espaços livres e públicos que sirvam à necessidade da infraestrutura urbana, cuja finalidade seria
criar uma rede de áreas verdes interligadas. A metodologia adotada para esta pesquisa apoia-se em
um embasamento teórico e empírico para a compreensão do papel da drenagem urbana em um
contexto de sustentabilidade adequada ao homem e ao ambiente.
As principais iniciativas nesse sentido vêm sendo realizadas principalmente nos Estados
Unidos e na Europa, com a criação dos caminhos verdes (greenways) ou da infraestrutura verde
(green-infraestructure). Para exemplificar este planejamento ambiental incorporável a cidade, usa-se
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como referencial teórico-metodológico um projeto chamado “Open Space Seattle 2100”, em Seattle
– EUA, dentre outros. Deste modo, procura-se ilustrar o tema com procedimentos simples que
contribuem tecnicamente no campo da drenagem e na qualificação das cidades.
Partindo-se de uma visão de planejamento ambiental e de elementos projetuais modernos
alocados no espaço urbano, apresentam-se preposições úteis não só para estudo, mas de suma
importância para cidades em expansão, ainda num estado onde as ações preventivas podem se
compatibilizar com uma urbanização responsável quanto a parâmetros de sustentabilidade urbana.
Nesse projeto que pensa e planeja a cidade para um futuro mais sustentável, foram desenvolvidas
diversas tipologias de estruturas paisagísticas-ambientais capazes de auxiliar no processo positivo
da água presente no meio urbano, que podem ser vistas nos seguintes dispositivos que incrementam
a infiltração, como: jardins de chuvas, canteiros pluviais, biovaletas, pavimentos porosos, tetos
verdes e grades verdes.
O ar, a água, a terra, flora, a fauna e o tempo são a essência do plano de Spirn (1995) que
tem como matéria-prima os elementos da natureza. Baseado num levantamento detalhado de cada
elemento, um banco de dados e um diagnóstico é gerado pelos seus respectivos especialistas que
servirão de suporte para a tomada de decisões dos gestores e planejadores da cidade. Então pode
ser feita uma análise integrada destes componentes que envolvem alguns parâmetros e diretrizes
para o desenvolvimento urbano que quando aplicados promovem um melhor controle urbanístico e
resultados ambientais mais adequados.
2.1 Jardins de chuva
Os chamados "jardins de chuva" (Figuras 1, 2, 3), que são depressões topográficas de
pequena profundidade, recebem a água pluvial, onde será drenada e filtrada para o subsolo. O solo,
especialmente se for adicionado composto, brita e cascalho, age como uma esponja que suga a água
enquanto microrganismos e bactérias no solo removem poluentes. Adicionando-se plantas
específicas, aumenta-se a evapotranspiração e a remoção dos poluentes. Esses jardins de chuva,
além de receberem o escoamento superficial das águas e filtrá-las, ao mesmo tempo contribuem
para criar um ambiente mais atraente para os pedestres.
Figura 1 - Canaleta em células recebendo águas pluviais em Seattle
Fonte: MATOS; SILVA; BUNN (2007).
Figura 2 –Exemplo de caneleta, em Portland, Oregon, que contribuem para criar um ambiente
mais atraente para os pedestres
Fonte: http://pruned.blogspot.com/2008/02/hyperlocalizing-hydrology-in-post.html
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Figura 3 - Detalhe da canaleta captando as águas pluviais recentemente precipitadas,
Portland, Oregon
Fonte: http://www.portlandonline.com/Bes/index.cfm?a=123776&c=45386
2.2 Biovaletas
Para que a água seja coletada são construídas as “biovaletas” (Figura 4) ou valetas de bioretenção, que são semelhantes aos jardins de chuva. Consistem em depressões lineares com
vegetação que limpa e direciona o escoamento da água da chuva para os vales e corpos d´água mais
próximos ou sistemas convencionais de drenagem. São revestidas com vegetação, em geral grama,
adjacentes às ruas e estradas, ou junto a áreas de estacionamento, para favorecer a infiltração
(CANHOLI, 2005).
Figura 4 - Biovaleta indicando a entrada, permanência (infiltração) e saída (transbordamento) das
águas
Fonte: MATOS; SILVA; BUNN, 2007.
As biovaletas podem ser ligadas em uma série de células, para que a água transborde de uma
para outra. Cada uma das células é cuidada pelo vizinho próximo como parte de sua paisagem
residencial. Um dos primeiros projetos de biovaletas em Seattle é chamado Street Edge Alternatives
ou SEA Street. Na SEA Street, uma rua reta foi substituída por uma rua curvilínea que deu
condições para criação de uma série de biovaletas ao lado da rua para receber o escoamento. Além
dos benefícios ecológicos, também faz com que o trânsito e o caminhar fiquem mais tênues.
2.3 Canteiros pluviais
Canteiros pluviais (Figuras 5 e 6) são basicamente jardins de chuva que foram compactados
em pequenos espaços urbanos. Os canteiros pluviais podem compor com quase qualquer edificação,
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até mesmo num meio urbano denso. Existem vários exemplos de um canteiro no meio urbano
como, por exemplo, com infiltração e um ladrão, sem infiltração só evaporação, evapotranspiração
e transbordamento, e podem receber a água entre a calçada e a rua.
Figura 5 - Vista de estacionamento com coletores para as águas pluviais
Fonte: www.raingardeninitiative.org/raingardens.html
2.4 Pavimentos porosos
Os pavimentos porosos (Figura 7) são constituídos normalmente de concreto ou asfalto
convencionais, dos quais foram retiradas as partículas mais finas, substituídas por material granular
mais grosso, mais poroso e mais rugoso (CANHOLI, 2005). A função deste piso é aumentar as
áreas permeáveis no tecido urbano através de um recurso paisagístico atrelado ao uso de materiais
permeáveis.
Figura 7 - Exemplo de pavimentos porosos: concregrama e pavigreen
Fonte: PACHECO,(2009).
2.5 Teto verde
Os tetos verdes (Figura 8) têm uma cobertura de vegetação plantada em cima do solo leve.
Eles são compostos de uma barreira contra raízes, de um reservatório de drenagem, e de uma
membrana à prova de água. A idéia é transformar os "telhados verdes" em pequenos pulmões das
grandes cidades criando corredores que facilitem a circulação atmosférica, melhorem o microclima,
reduzam o consumo de energia, provoquem um decréscimo no uso do ar condicionado em regiões
quentes e isolem o frio em regiões com invernos rigorosos, já que sob um telhado coberto de
vegetação, as baixas temperaturas demoram mais para chegar aos espaços internos.
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Figura 8 - Teto verde
Fonte: ABREU (2009).
Outro aspecto interessante é que nas regiões de chuva intensa, as áreas cobertas por um teto
verde, podem reter de 15% a 70% do volume de águas pluviais, prevenindo a ocorrência de
enchentes. Estudos demonstram que para uma cobertura verde leve de 100 m² cerca de 1.400 litros
de água de chuva deixam de ser enviados para a rede pública.
Os telhados verdes reduzem também os efeitos danosos dos raios ultravioletas, os extremos
de temperatura e os efeitos do vento, uma vez que nesses telhados a temperatura não passa de 25º C,
contra 60º C dos telhados convencionais (DEMANTOVA, 2009).
2.6 Grade verde
Grades verdes (Figuras 9 e 10) combinam técnicas múltiplas para formar uma rede
(trincheiras) de intervenções da infraestrutura verde. Isso permite que técnicas mais efetivas e
eficientes sejam aplicadas onde são mais apropriadas e onde o solo e a topografia são adequados
para infiltração. Assim, a grade conduz a água através dos solos de argila ou de inclinação íngreme
até outros lugares para infiltração ou armazenamento.
Em Seattle, por exemplo, bairros inteiros estão sendo desenvolvidos com essa ideia. A grade
verde Broadview foi a primeira aplicação em grande dimensão, cobrindo mais de 10 quarteirões.
Figura 9 - Construção da grade verde em Seattle
Fonte: MATOS; SILVA; BUNN (2007).
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Figura 10 - Grade verde com implantação de paisagismo específico
Fonte: MATOS; SILVA; BUNN (2007).
3. PRÁTICAS EXEMPLIFICADORAS DO CONTROLE DE ESCOMENTO
Apresentam-se aqui algumas estratégias de redesenho e recuperação de algum tipo de
infraestrutura de escoamento e de valorização do verde em uma perspectiva de desenvolvimento
sustentável harmônico às questões urbana voltadas a drenagem.
Tem-se como prioridade a preservação ou valorização da água, de modo a resgatar o papel
dos vales como parte fundamental do sistema de drenagem natural e biológico regulador, além de se
constituírem como expansão das áreas verdes da cidade, esses parques lineares podem contribuir
para a melhoria da permeabilidade do solo, de modo a diminuir as enchentes, proteger os cursos
d’água existentes e conservar a mata ciliar, bem como criar áreas de lazer e recreação. Desta forma,
além da função social, tem como função auxiliar a estabilidade das bordas que protegem os cursos
d’água superficiais, reduzindo o assoreamento, estabelecendo uma barreira física que auxilia na
proteção das águas e evita a construção de habitações irregulares as suas margens.
Vale destacar que parques urbanos lineares podem contribuir com a infraestrutura urbana da
cidade, utilizando seu potencial na drenagem urbana com a função de retardo e retenção natural das
águas em seu local de precipitação. Configuram-se como corredores suficientemente largos de
vegetação ao longo dos principais cursos d’água. Outra função que merece destaque é que essas
franjas ou “contornos verdes” contínuos são fundamentais para a movimentação de espécies entre
manchas maiores fora do perímetro urbano. A partir desse sistema de parques pode-se formar um
parque regional.
No aspecto de vias urbanas, rótulas distributivas de trânsito podem ser implantadas e terem
como uma de suas funções, promover a travessia e religação das principais vias que intercruzam
vales urbanos. Por outro lado, com objetivo de mitigar os principais impactos advindos do
escoamento das águas pluviais (erosão), propõe-se que essas rótulas, além de atenderem questões
distributivas de circulação urbana, funcionem como equipamentos técnicos de drenagem com
qualidade estética - praças-dissipadores - integrados a paisagem do entorno (Figura 11 e 12).
As águas captadas por este sistema de vias e dissipadores são conduzidas aos vales e desembocam
em gabiões ecológicos junto ao leito dos corpos d’água (Figura 13).
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Figura 11: Vista da estruturação da paisagem no entorno das praças-dissipadores, lindeiras aos fundos
de vales.
Fonte: YONEGURA (2012).
Figura 12: Vista em corte da via e rótula captando as águas pluviais que são escoadas até o leito dos
córregos.
Fonte: YONEGURA (2012).
Figura 13: Gabião ecológico - vista em corte do sistema de despejo das águas pluviais no leito dos
corpos hídricos.
Fonte: YONEGURA, 2012.
Ainda neste contexto, a proposta visa aproveitar as linhas onde o escoamento espontâneo das
águas fez aflorar o manto rochoso típico deste local. Propõe-se então, utilizar esse efeito estético
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funcional criado pela natureza com a implantação de canaletas ecológicas (Figura 14) que
mantenham essa drenagem natural, figurando-se ainda como elemento lúdico-perceptivo dentro dos
vales.
Figura 14: Vista da canaleta ecológica – aproveitamento funcional-estético e perceptivo do
sistema natural de drenagem das águas pluviais.
Fonte: YONEGURA (2012).
As vias são os elementos estruturadores importantes na reconexão das estruturas urbanas.
Estas deverão se comportar como percursos urbanos, ou seja, elementos fortes do tecido urbano,
onde se arranjam os demais elementos. Por isso um projeto específico de desenho e arborização é
dado a cada tipo de via conforme sua importância na nova hierarquia. Assim serão compatibilizados
os sistemas de pavimentação, redes compactas de eletricidade e telefonia, drenagem urbana, águas
servidas e abastecimento de água, calçamentos ecológicos com tratamento adequado e melhor
performance drenante e principalmente que permitam a mobilidade dos pedestres (ciclovias) com
conforto e segurança.
Nesta proposta, os passeios de novas áreas (Figura 15) terão calçamentos ecológicos,
moldurados por espécies vegetais forrageiras que absorvem elementos químicos e orgânicos
nocivos ao ser humano em consonância com a infraestrutura e permeabilidade do solo. Junto aos
remanescentes de mata natural e córregos, propõe-se um sistema de pontes e travessias a fim de
possibilitar a interação do usuário e seus vales.
Figura 15: Calçada ecológica - percurso, lazer e ideia de praça linear.
Fonte: YONEGURA, (2012).
Junto às vias que interceptam o vale, propõe-se a implantação de pontes viárias (Figura 16)
que permitem a continuidade, conectividade e fluxo gênico entre as espécies, principalmente à
continuidade visual da mata lindeira aos vales.
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Figura 16: Pontes que resguardam a fluxo gênico no interior dos vales urbanos.
Fonte: YONEGURA (2012).
A cidade faz parte da natureza e ela deve ser construída e planejada de forma a se integrar, o
mais possível, ao ecossistema do território existente. A natureza interage no ambiente construído, a
cidade. A drenagem das águas das chuvas, as ilhas de calor ou frescor, o clima urbano, a
estabilização do solo, subsolo que condiciona as fundações e demais estruturas subterrâneas e o
crescimento das árvores, todos esses processos atuam no espaço citadino, portanto, o seu
planejamento deve necessariamente considerar esses processos biofísicos básicos que estão por trás
do
seu
desenvolvimento.
O resgate, a análise e a avaliação histórica da implantação do projeto para este município, e esta
proposta de reestruturação da paisagem urbana, sua nova ambiência, soluções e processos de
desenvolvimento urbano, próximos ao ideal de sustentabilidade, ampliará o leque de estudos sobre
cidades planejadas e construídas no Brasil.
4. CONCLUSÃO
As cidades, uma invenção humana, exprimem incertezas quanto ao futuro, sendo assim,
urgem projetos, oportunidades, viabilidades e propósitos. As reflexões aqui apresentadas buscam
apresentar o paisagismo urbano em uma perspectiva de recuperação das cidades. Sua maior
contribuição é ainda a permanência e a sustentabilidade temporal dos resultados positivos no plano
urbano.
A experiência estudada aqui tem o intuito de valorizar a adoção da perspectiva de
estruturação ambiental de técnicas simples de paisagismo e desenho urbano nas cidades. A
replicabilidade dos resultados positivos, a difusão e assimilação de ideias, de programas e projetos
podem servir de exemplos práticos a iniciativas, preceitos de planejamento, intervenção e
manutenção de outras cidades.
Mas, ainda se faz necessária uma melhor compreensão do potencial de uso deste tipo de
infraestrutura. E também uma mudança de estratégia no desenvolvimento e execução de projetos
que consigam alterar o funcionamento dos ecossistemas na melhoria ou manutenção da
sustentabilidade urbana.
Reconhecer a importância do manejo de paisagens, valorizar os recursos naturais, tais como
água e ar fresco, não é uma demanda efêmera ou isolada, mas se integrada à preservação de espaços
públicos como meta pode assegurar às futuras gerações um meio ambiente mais atrativo e saudável.
Neste sentido, a criação de caminhos verdes ou de infraestrutura verde tem o potencial de ser
uma ferramenta ecológica para a saúde ambiental, social e econômica, resumida no sistema natural
de suporte de vida. O objetivo principal da criação de ambos é buscar o ajuste ideal entre recursos
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naturais e sociais, com estratégias de conservação adequadas ao lugar, de modo a promover o
desenvolvimento necessário e equilibrado.
É chegado o tempo de se compreender que a importância da manutenção e do equilíbrio do
meio ambiente urbano não é conseguida apenas com práticas preservacionistas. E o embelezamento
das cidades com práticas paisagistas, devem ser também funcional. É preciso buscar o ajuste
necessário entre recursos naturais e espaço construído (vivido) no atendimento dos anseios da
sociedade pela produção de espaços que desempenhem usos adequados e promovam assim o bemestar de seus habitantes.
As diretrizes de projeto aqui apresentadas podem servir como suporte inicial a diferentes
projetos de reestruturação da drenagem urbana. Além disso, levando em consideração a capacidade
suporte dos ecossistemas envolvidos na urbis e suas formas de drenagem, essas ideias podem ser
inseridas, por exemplo, na elaboração de novas Leis de Zoneamento e Uso e Ocupação do Solo das
cidades.
As discussões e propostas apresentadas neste artigo podem contribuir para a elaboração de
novas propostas de criação, qualificação ou intervenção espacial em projetos contemporâneos,
propiciando uma cidade espacialmente adequada aos “novos” paradigmas de planejamento urbano e
sustentabilidade. Assim, espera-se resgatar as qualidades ambientais perdidas e valorizar as atuais,
em um cenário harmonioso entre artefato e natureza.
5. REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://blog.uncovering.org/archives/2009/06/telhados_verdes.html. Acesso em: 10
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Planning B – Planning and Design. Londres, UK. V.26, 1999.
CANHOLI, A. P. Drenagem urbana e controle de enchentes. São Paulo: Oficina de Textos, 2005.
DEMANTOVA, G. C. ; RUTKOWSK, E. W. A sustentabilidade urbana: simbiose necessária
entre a sustentabilidade ambiental e a sustentabilidade social. Disponível em:
<http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp437.asp> Texto Especial 437 – setembro
2007; Acesso em: 10 de janeiro de 2009.
PACHECO, A. Depois surgem os problemas de inundações. Viçosa cidade aberta. 2009.
Disponível
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<http://vicosacidadeaberta.blogspot.com/search/label/Detalhes%20Urbanos>.
Acesso em: 20 maio 2009.
POLIDORI, M. C. Crescimento urbano e ambiente: um estudo exploratório sobre as
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Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2004.
MATOS, A. E.; SILVA, A. C. S. da S.; BUNN, J. Drenagem. 2007. Disponível em:
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SPIRN, A. W. O Jardim de Granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: EDUSP, 1995.
SWYNGEDOUW, E. A cidade como um híbrido: natureza, sociedade, e “urbanização-cyborg”. In:
A duração das cidades: sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A,
2001.
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