A multimodalidade nos estudos discursivos

Transcrição

A multimodalidade nos estudos discursivos
A multimodalidade nos
estudos discursivos
CADERNO DE RESUMOS
E PROGRAMAÇÃO
Universidade de São Paulo
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
28 e 29 de abril de 2016
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
REITOR: Prof. Dr. Marco Antonio Zago
VICE-REITOR: Prof. Dr. Vahan Agopyan
FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS
DIRETOR: Prof. Dr. Sérgio França Adorno de Abreu
VICE-DIRETOR: Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria
DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
CHEFE: Prof.ª Dr.ª Marli Quadros Leite
SUPLENTE: Prof. Dr. Paulo Martins
PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOLOGIA E LÍNGUA PORTUGUESA
COORDENADORA: Prof.ª Dr.ª Ieda Maria Alves
VICE-COORDENADOR: Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves Segundo
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A multimodalidade nos estudos
discursivos
PROMOÇÃO
Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa
COMISSÃO ORGANIZADORA
Prof. Dr. Paulo Roberto Gonçalves-Segundo
PÓS-GRADUANDOS:
Artur Daniel Ramos Modolo - Doutorando
Douglas Rabelo de Sousa - Mestrando
Filipe Mantovani Ferreira - Doutorando
Giovanna Ike Coan - Doutoranda
Letícia Fernandes de Britto Costa - Mestranda
Selmo Ribeiro Figueiredo Júnior - Doutorando
Site: http://eped.fflch.usp.br
E-mail: [email protected]
CADERNO DE RESUMOS
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Organização e Diagramação
Douglas Rabelo de Sousa
REVISÃO
Douglas Rabelo de Sousa
LOGOTIPO DO VIII EPED
Fernando Alves de Oliveira
APOIO
FFLCH – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
LAPEL – Laboratório de Apoio à Pesquisa e Ensino em Letras
Carolina Bernardi (Serviço Financeiro do DLCV)
OBSERVAÇÕES:
Os resumos das comunicações individuais deste Caderno estão organizados em ordem
alfabética por autor. Seu conteúdo e redação são de inteira responsabilidade de seus
autores.
As conferências de abertura e de encerramento, bem como as sessões de comunicação
serão realizadas nos prédios do curso de Letras e de Filosofia da FFLCH.
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO................................................................................................
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PROGRAMAÇÃO................................................................................................. 08
RESUMO DAS CONFERÊNCIAS........................................................................ 10
RESUMO DAS MESAS REDONDAS..................................................................
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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS.............................................
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APRESENTAÇÃO
Bem-vindos ao VIII EPED!
O Encontro de Pós-Graduandos em Estudos Discursivos da USP ― EPED-USP — é um
evento acadêmico anual, organizado pelos pós-graduandos da área de Filologia e Língua
Portuguesa, que visa promover o diálogo entre as distintas abordagens teóricas e
metodológicas sobre o discurso na Universidade de São Paulo.
Com edições desde 2009, o evento busca a integração entre os pós-graduandos dos
diversos programas da Universidade de São Paulo, incentivando o debate franco e aberto
acerca dos diferentes olhares epistemológicos, das distintas metodologias e dos variados
objetos de análise que caracterizam a instituição no que concerne ao estudo da produção
contextualizada de sentido.
Com um acolhimento especial dentre docentes e alunos da USP, bem como de
pesquisadores consagrados de universidades do Brasil e do exterior convidados para a
realização de mesas e conferências, seu sucesso e sua aceitabilidade no meio acadêmico
têm servido de exemplo para uma série de eventos organizados por pós-graduandos
dentro e fora da Universidade de São Paulo, na área de Letras e Linguística.
O debate referente aos problemas metodológicos e epistemológicos do discurso sempre
estiveram, direta ou indiretamente, em pauta nas conferências e comunicações do EPED.
Neste ano, a multimodalidade foi escolhida como tema do Encontro, tendo em vista o fato
de que o estudo das relações entre diferentes semioses consiste em uma área de grande
interesse não apenas para as pesquisas sobre discurso, mas também para estudos nas
áreas de ensino e interação.
A relação entre as diferentes semioses tem historicamente sido motivo de estudo para
diversos pesquisadores interessados em canções, quadrinhos, propagandas entre outros
tipos de enunciados sincréticos. A emergência cada vez mais rápida de novas tecnologias
fomenta a existência de novas relações multimodais, fato que sublinha a importância das
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pesquisas nesta área e reforça a necessidade de que elas encontrem espaço de
divulgação e discussão.
Em sua oitava edição, a realizar-se nos dias 28 e 29 de abril de 2016, o EPED convida
pesquisadores vinculados à Universidade de São Paulo – docentes e discentes – a
debaterem as relações entre diferentes semioses por meio do tema A multimodalidade
nos estudos discursivos.
Comissão Organizadora
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PROGRAMAÇÃO
QUINTA-FEIRA, 28/04/2016
8h
Início do credenciamento
Conferência de abertura
9h15 - 10h30
Prof.ª Dr.ª Emília Mendes (UFMG) – Os desafios da multimodalidade
10h30 - 11h
Coffee break
11h - 12h30
Sessões de comunicação individual 01, 02 e 03
12h30 - 14h
Almoço
Mesa-redonda 1 - Multissemiose, processos sociais e repertório
cultural: subsídio para a prática educacional
Prof.ª Dr.ª Anna Christina Bentes (UNICAMP) - Texto, contexto e
multimodalidade: analisando vídeos que viralizam na mídia digital
14h - 16h
Prof.ª Dr.ª Iara Lis Schiavinatto (UNICAMP) - Cultura visual & História:
diálogos possíveis
Prof. Dr. Sandoval Nonato Gomes-Santos (USP) - A exposição oral nos
anos iniciais do Ensino Fundamental e o lugar do multissemiótico
na prática escolar
16h - 16h30
Coffee break
16h30 - 18h
Sessões de comunicação individual 04, 05, 06 e 07
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SEXTA-FEIRA, 29/04/2016
9h - 10h30
Sessões de comunicação individual 08, 09 e 10
10h30 - 11h
Coffee break
Mesa-redonda
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-
Reflexões
teórico-metodológicas
sobre
a
multimodalidade: novos olhares sobre a canção, a gestualidade e o
cinema
Prof. Dr. Álvaro Antônio Caretta (UNIFESP) - Por um estudo dialógicodiscursivo da canção popular brasileira
11h - 13h
Prof.ª Dr.ª Fernanda Miranda da Cruz (UNIFESP) - Gestos mínimos:
elementos para análise de gestos, corpo, fala, tempo e espaço nas
interações
Prof.ª
Dr.ª
Irene
Machado
(USP)
-
Exercícios
especulativos
audiovisuais na cinematografia política
13h - 14h30
Almoço
14h30 - 16h
Sessões de comunicação individual 11, 12, 13 e 14
16h - 16h30
Coffee break
Conferência de encerramento
16h30 - 18h
Prof.ª Dr.ª Viviane Heberle (UFSC) - Análise de práticas sociais na
contemporaneidade através de estudos em multimodalidade, análise
crítica do discurso e linguística sistêmico-funcional
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RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS
CONFERÊNCIA DE ABERTURA
Os desafios da multimodalidade
Prof.ª Dr.ª Emília Mendes (UFMG)
O objetivo de nossa apresentação é expor e propor teorias bem como metodologias que
contribuam para a criação de quadros de análise cuja finalidade é o tratamento do verbal,
do vocal e do icônico a partir de teorias da análise do discurso. Tal abordagem é
necessariamente interdisciplinar e vislumbra a construção de interfaces tanto com outras
teorias da linguagem quanto com outros domínios do saber, tais como as artes plásticas,
o cinema, a comunicação social, dentre outros. Nossa apresentação se dividirá em três
partes: (a) num primeiro momento, faremos um pequeno histórico das várias correntes
que propuseram teorias refletindo sobre o que denominamos hoje "multimodalidade"; (b)
num segundo momento, teceremos consideração sobre as formas de apropriações e de
releituras
das
supracitadas
teorias
pelas
correntes
de
análise
do
discurso
contemporâneas, ainda, de acréscimo, listaremos também as contribuições que esta área
do saber vem fornecendo para se pensar todas as dimensões linguísticas e
extralinguísticas dos gêneros de discurso; (c) por fim, com base em Mendes (2013),
faremos uma aplicação para ilustrar a análise multimodal em uma perspectiva retóricoanalítico-discursiva. Com esta breve amostra do estado atual da arte, acreditamos ser
possível demonstrar a viabilidade dos estudos multimodais nos mais diversos corpora.
Consideramos que não existe uma única metodologia para se analisar a pluralidade de
linguagens à qual temos acesso, assim sendo, os quadros teórico-metodológicos estarão
sempre em construção quando se trata de analisar a multimodalidade.
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Conferência de Encerramento
Análise de práticas sociais na contemporaneidade através de estudos em
multimodalidade, análise crítica do discurso e linguística sistêmico-funcional
Prof.ª Dr.ª Viviane M. Heberle (UFSC/CNPq)
Multimodalidade, de acordo com Kress, constitui uma abordagem sociossemiótica da
comunicação contemporânea. Trata-se de uma teoria de comunicação que analisa os
significados em interações sociais e considera os diferentes recursos semióticos usados,
o contexto sociocultural da interação e os meios para disseminar os significados.
Estudiosos de análise crítica do discurso, por sua vez, preocupam-se em descrever,
interpretar e explicar as relações entre textos e seus contextos, examinando aspectos
socioculturais e ideológicos. Tanto em estudos em multimodalidade quanto em análise
crítica
do
discurso,
a
linguística
sistêmico-funcional
pode
oferecer
subsídios
lexicogramaticais, semânticos e contextuais importantes. Nesta apresentação discuto
como essas três vertentes teórico-metodológicas afins podem contribuir para se analisar
práticas sociais contemporâneas, em relação a questões de poder, identidades,
vulnerabilidade social, gênero e/ou posições ideológicas.
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RESUMOS DAS MESAS REDONDAS
MESA I
Multissemiose, processos sociais e repertórios culturais: subsídios para a prática
educacional
O problema da multimodalidade e da multissemiose está entre as figuras centrais do
investimento epistemológico em torno de uma concepção de linguagem como prática
social, na pesquisa teórica e aplicada, nos campos da história da arte, dos estudos da
linguagem e dos estudos em educação. Entre os elementos desse investimento encontrase o esforço em compreender processos sociais de circulação (recepção, seleção, edição
e distribuição) de produtos culturais multissemióticos em práticas sociais situadas cultural
e historicamente, entre as quais, a prática escolar. Iara Lis Schiavinatto (Instituto de Artes,
Universidade Estadual de Campinas) propõe abordar a “imagem como objeto de estudo
num jogo de relações históricas e na constituição do real”, estando nesse jogo seu
potencial catalisador da construção de versões da história e do cotidiano. Anna Christina
Bentes (Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas) discute
sobre como determinadas ordens sociais e culturais são percebidas, formuladas e ou
invocadas no interior de vídeos de “alto impacto”, ou seja, vídeos que viralizam na
internet, o que pode auxiliar a compreensão sobre as relações entre texto e contexto.
Sandoval Nonato Gomes-Santos (Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo)
trata dos recursos multissemióticos manejados por crianças das séries iniciais do Ensino
Fundamental quando da produção de exposições orais no ambiente escolar. A descrição
desses recursos é mote para a discussão sobre o lugar da multissemiose como objeto de
estudo no currículo e na prática escolar.
Texto, contexto e multimodalidade: analisando vídeos que viralizam na mídia digital
Prof.ª Dr.ª Anna Christina Bentes (UNICAMP)
Essa comunicação tem por objetivo elaborar uma primeira análise sobre como vídeos de
“alto impacto”, ou seja, vídeos que viralizam na internet, podem nos auxiliar na
compreensão sobre as relações entre texto e contexto. Com base nas postulações de
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Hanks (2008), procuramos discutir como determinadas ordens sociais e culturais são
percebidas, formuladas e ou invocadas no interior de dois vídeos que viralizaram na
internet,
e
como
essas
percepções/
formulações
se
atualizam
textual
e
multisemioticamente. Nesse sentido, assumimos que as análises desenvolvidas buscam
incorporar explicações mais densas sobre a forma como conhecimentos de várias ordens
pressupostos na produção textual se conectam de maneira indissociável aos campos
sociais que, por sua vez, configuram e são reconfigurados pela ordem textual instaurada.
Cultura Visual & História: diálogos possíveis
Prof.ª Dr.ª Iara Lis Schiavinatto (UNICAMP)
Trata-se de apresentar uma discussão teórica e metodológica sobre o campo da cultura
visual e seus liames com a História notadamente com a consolidação desde campo de
estudos a partir da década de 1990. Trata-se de localizar sua emergência, no viés de uma
história intelectual, notando no interior de quais discussões do campo da história da arte
aflora. Indica-se alguns de seus desafios metodológicos e alguns deslocamentos
conceituais fundamentais propostos a respeito da abordagem da imagem como objeto de
estudo num jogo de relações históricas e na constituição do real.
A exposição oral nos anos iniciais do Ensino Fundamental e o lugar do
multissemiótico na prática escolar
Prof. Dr. Sandoval Nonato Gomes-Santos (USP)
Esta comunicação aborda os recursos multissemióticos manejados por crianças das
séries inicias do Ensino Fundamental quando da produção de exposições orais no
ambiente escolar. A descrição desses recursos é mote para a discussão sobre o lugar da
multissemiose como objeto de estudo no currículo e na prática escolar, bem como sobre
como esse lugar pode ser porta de entrada produtiva para rediscutir temas candentes na
escola pública brasileira, como são, por exemplo, aqueles do protagonismo dos alunos e
do trabalho coletivo nos processos de recepção-produção-edição-distribuição dos
produtos culturais na escola, entre escolas e fora delas.
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MESA II
Reflexões teórico-metodológicas sobre a multimodalidade: novos olhares sobre
a canção, a gestualidade e o cinema
Por um estudo dialógico-discursivo da canção popular brasileira
Prof. Dr. Álvaro Antônio Caretta (UNIFESP)
Tomando como ponto de partida as teorias do Círculo de Bakhtin para o estudo dos
gêneros discursivos, propomos um estudo dialógico-discursivo da canção popular
brasileira. Observamos inicialmente as relações dialógicas entre canções, procurando
identificar os processos de interdiscursividade e de intertextualidade que constituem
esses enunciados e que definiram as características da canção popular brasileira no
começo do século XX. Apresentamos, a seguir, um método de análise da canção
fundamentado nas relações dialógicas entre os gêneros primários e secundários da
comunicação. Partindo do conceito de amplificação de Todorov, compreendemos a
produção da canção como a reelaboração artístico-musical de um ato de fala. A fim de
estudar a enunciação nas canções, trabalhamos com o conceito de posicionamento
enunciativo, proposto por Maingueneau, compreendendo a enunciação como a
elaboração de uma cena por parte de um enunciador que assume um ethos,
posicionando-se, então, no interdiscurso. Tendo em vista que a canção é um texto
sincrético que utiliza o código musical e o linguístico, abordamos também as propostas
de Luiz Tatit para o estudo da compatibilização entre a letra e a melodia
Gestos mínimos: elementos para análise de gestos, corpo, fala, tempo e espaço nas
interações
Prof.ª Dr.ª Fernanda Miranda da Cruz (UNIFESP)
Gostaria de trazer para discussão alguns elementos teóricos, analíticos e metodológicos
presentes na investigação do corpo e dos gestos nas interações sociais e suas relações
com a fala. Construímos os espaços interacionais de uma forma multimodal, em que
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multimodal quer dizer que uma ação (verbal ou não, linguística ou não), é construída e
finalizada graças à ecologia de sistema de signos ou sinais, estruturalmente distintos
entre si, mas intrinsecamente relacionados. Nesse sentido, não têm sido poucos os
autores/analistas do campo da videoanálise que têm se dedicado a descrever e analisar a
interação social concebida como uma organização temporal, espacial, corporal e
materialmente coletiva. Para mobilizarmos essa discussão, trarei duas coleções de dados
audiovisuais de interações das quais participam crianças com autismo, construídos a
partir de metodologias e propósitos distintos, mas cujo diálogo nos é altamente produtivo:
a primeira coleção é extraída do Corpus Audiovisual CELA (Grupo LICOR-Linguagem,
Interação e Corpo- Projeto Gestos Mínimos-UNIFESP/2013-2015) e a segunda coleção é
extraída de um corpus audiovisual e cinematográfico muito particular produzido por
Fernand Deligny que acompanhou e conviveu durante décadas com crianças autistas.
Aqui temos interações que ocorrem com pouco ou nenhum recurso à linguagem verbal. A
ausência da fala dá lugar a sequências interacionais organizadas multimodalmente por
gestos idiossincráticos; gestos domésticos que fazem parte de um repertório familiar;
posturas e movimentos corporais; relações semióticas criativas com o espaço físico
imediato e com a construção de referentes, e direcionamentos do olhar que
desempenham funções variadas durante a interação. A partir daí, três aspectos centrais
nos interessarão: 1) a construção de corpora audiovisual; 2) as possíveis formas de ver e
transcrever os movimentos corporais nas interações corriqueiras; 3) a definição de
categorias analíticas para o estudo da gestualidade nas interações.
Exercícios especulativos audiovisuais na cinematografia política
Prof.ª Dr.ª Irene Machado (USP/CNPq)
O principal objetivo do trabalho é apresentar estratégias metodológicas de um processo
analítico acerca da cinematografia que reúne filmes sobre o período ditatorial brasileiro
(1964-1985) que, diante na impossibilidade de narrar os acontecimentos do ponto de vista
da memória, aprendeu a construir inferências e hipóteses a partir de traduções
audiovisuais e jogos metalinguísticos. Ao indagar sobre os acontecimentos que a história
oficial nega, os filmes elaboram hipóteses que constroem inferências com valor, senão de
provas, pelo menos de provimento de argumentos. Recorrem, assim, aos produtos e
processos da cultura audiovisual que lhe dá corpo e, graças à montagem intelectual
associativa de sua linguagem, chega à articulação de contrapontos e comparações de
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episódios, documentos e de recursos audiovisuais que deixam emergir o não-dito. Criamse, por conseguinte, formas deliberadas de exercícios dialógico-especulativos que
mobilizam uma vasta produção cinematográfica. Com isso o discurso audiovisual se
revela uma sofisticada arma política cujo exercício depende apenas de uma habilidade
inteligente de ver e produzir filmes a partir de uma cinematografia que não hesita em
especular, comparar e inferir sobre possibilidades discursivas provenientes de campos
sígnicos distintos.
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RESUMOS DAS COMUNICAÇÕES
INDIVIDUAIS
OS EFEITOS DE SENTIDO CAUSADOS PELO MECANISMO DE EMBREAGEM TEMPORAL
EM VIDAS SECAS, DE GRACILIANO RAMOS
Adele Grostein ([email protected])
Orientador: Waldir Beividas
Programa de Pós-graduação: Semiótica e Linguística Geral
Iniciação Científica
Adotando-se a definição de embreagem temporal formulada por Fiorin (1995), este trabalho tem
como objetivo analisar os casos de embreagem temporal presentes na obra Vidas secas e
pesquisar as razões que motivam a ocorrência das formas verbais embreadas no romance de
Graciliano Ramos. Movido pelo interesse gerado por esses usos incomuns dos verbos, esta
pesquisa pretende utilizar ferramentas da Semiótica para analisar o emprego dessas formas
verbais a fim de se chegar a conclusões sobre os efeitos de sentido causados pelos usos de
determinados tempos verbais na narrativa. Iniciou-se o trabalho com o levantamento de todos os
casos de embreagem temporal presentes em Vidas secas. Em seguida, selecionaram-se
sentenças não embreadas da obra, chamadas de sentenças controle - que apresentam a mesma
relação de causalidade que as embreadas - com o intuito de compará-las e verificar as diferenças
de efeito de sentido causado entre elas. Na etapa seguinte foi feita uma análise dos níveis
fundamental, narrativo e discursivo do Percurso Gerativo de Sentido nos recortes da narrativa em
que as sentenças embreadas e controle se manifestam. Essa fase da análise chamou a atenção
para a falta de competência dos sujeitos, mais significativa nas sentenças embreadas do que no
grupo controle, o que permitiu chegar a conclusões sobre o caráter mais disfórico das sentenças
embreadas em relação às sentenças controle e sobre as relações de hierarquia e de opressão
entre os sujeitos da narrativa. Por fim, voltou-se a atenção para a análise dos tempos e modos
das formas verbais empregadas com base na teoria gramatical sobre os efeitos de sentido
causados pelos tempos e modos verbais. Nessa fase da pesquisa, procurou-se aplicar essa teoria
ao contexto do romance, buscando compreender de que forma os casos de embreagem temporal
contribuem para intensificar o efeito de sentido disfórico que caracteriza a obra.
Palavras-chave: embreagem temporal, semiótica, efeito de sentido.
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O DISCURSO COMO PRÁTICA SOCIAL: ANÁLISE DE COMENTÁRIOS DO SITE
SENSACIONALISTA
Adriana Moreira Pedro ([email protected])
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Aluna Especial
Este trabalho consiste na análise de alguns comentários postados no Facebook relacionados à
matéria do site Sensacionalista intitulada “Sensacionalista faz uma versão sincera das regras da
marcha de 13/03 que circulam pelo Whatsapp”. Trata-se de uma matéria que sugere regras
fictícias
à
marcha
a
favor
do
impeachment
da
presidente
Dilma
Rousseff.
O site Sensacionalista, criado em 2009, que se autodenomina “um jornal isento de verdade”, foi
escolhido
para
este
estudo
por
apresentar
um
número
significativo
de
acessos,
compartilhamentos, curtidas e comentários em suas redes sociais, mostrando o interesse das
pessoas em ler e fazer comentários sobre textos que unem notícias atuais a fatos inverídicos.
O objetivo deste trabalho é analisar o discurso e a sua prática social em comentários carregados
de posicionamentos avaliativos em que o tema central é o cenário político do país. Também
observaremos a escolha do léxico e o poder das palavras, junto à ideologia que os textos
carregam. A análise se justifica na medida em que observamos uma nova linguagem utilizada hoje
com a internet e as redes sociais, e que nos mostra como os indivíduos interagem por meio de
textos próximos à oralidade, o que retrata as práticas sociais. Este trabalho será feito com base na
Análise Crítica do Discurso (ACD) por meio da teoria social do discurso apresentada por Norman
Fairclough (2001, 2003); pautada também pela teoria da Avaliatividade de Martin & White (2005),
que faz parte do nível semântico-discursivo da Linguística Sistêmico-Funcional, destacando a
categoria Atitude; além das teorias de Bakhtin sobre gênero, dialogismo e estilo (2011, 2014).
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso, Mikhail Bakhtin, política, comentários nas redes
sociais.
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INTERAÇÕES DISCURSIVAS NA APRESENTAÇÃO DE LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA
PORTUGUESA PARA O ENSINO MÉDIO: DIÁLOGO ENTRE SUJEITOS E ESFERAS
Agildo Santos S. de Oliveira ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Temos como objetivo nesta comunicação apresentar uma abordagem da pesquisa de doutorado
em desenvolvimento no Programa de Filologia e Língua Portuguesa, na linha de pesquisa
Linguística Aplicada do Português. No trabalho a ser apresentado, o objetivo é analisar as
interações discursivas realizadas no gênero Apresentação entre o autor do Livro Didático de
Língua Portuguesa para o Ensino Médio “Português: Língua e Cultura” de autoria de Carlos
Alberto Faraco e seus interlocutores. Sabemos que uma das primeiras e principais manifestações
das interações discursivas, diálogo, entre eu – outro, ou os autores e seus interlocutores, se dão
nos gêneros de introdução, a Apresentação, por exemplo, desse modo, buscaremos em seus
enunciados analisar tais interlocuções. Pesquisar as relações discursivas travadas entre o autor e
seus interlocutores significa contemplar a dimensão dialógica da constituição do gênero, bem
como da própria disciplina de língua portuguesa na contemporaneidade. Assim sendo, o estudo
desse diálogo justifica-se por entendermos que é na comunicação dialógica entre sujeitos, esferas
e valores presentes no gênero estudado que a disciplina também vem se construindo. O
referencial teórico-metodológico é baseado principalmente nos estudos da filosofia de linguagem
de Bakhtin e o Círculo, a saber: Bakhtin (2010a, 2010b, 2010c, 2010d, 2011, 2013),
Bakhtin/Volochínov (2010), Medviédv (2012), Volochínov (2013a, 2013b, 2013c). Os resultados
parciais obtidos nessa abordagem permitem-nos perceber que as interações entre o autor e seus
interlocutores são marcadas pelo diálogo entre as esferas de produção, circulação e recepção,
bem como pela concepção de linguagem como produto da atividade humana abordada pelo autor,
ou seja, pelo seu posicionamento valorativo.
Palavras-chave: Interação discursiva. Apresentação. Livro Didático de Língua Portuguesa. Ensino
Médio.
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RESISTIR É VENCER: A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE LESTE-TIMORENSE NO
DISCURSO DE RESISTÊNCIA DE XANANA GUSMÃO
Alexandre Marques Silva ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Neste trabalho, objetiva-se discutir, por meio de uma análise de natureza quantitativo-qualitativa,
os elementos constitutivos da Metafunção Ideacional, conforme definidos pela Linguística
Sistêmico-Funcional, e sua participação na constituição da identidade leste-timorense no discurso
pronunciado por Xanana Gusmão em 13 de outubro de 1982, durante o período de resistência
contra os indonésios. As condições específicas de produção desse discurso e o fato de que a
Metafunção Ideacional permite reconhecer os modos como o mundo é representado por meio da
linguagem coadunam-se ao nosso objetivo nuclear de analisar como Xanana Gusmão (re)significa
e (re)dimensiona a realidade em seu discurso. Observa-se que o orador vale-se substancialmente
de Processos Materiais e Relacionais, os quais contribuem para a mobilização da audiência e
influenciam diretamente seu sistema doxológico. Revela-se, assim, a importância de se considerar
o modo como são instanciados os processos e os participantes, com destaque para os materiais e
relacionais. A construção de sentido e a eficiência dos argumentos envolvidos na edificação da
identidade leste-timorense necessitam da existência, ainda que parcialmente, de valores, crenças
e referências comuns entre os participantes do processo discursivo. Desse modo, o emprego
recorrente de tais procedimentos enunciativos, que participam da edificação de um discurso
dominado pela verbalização de experiências, fomenta a necessidade de combate a um inimigo
comum da pátria invadida, justifica a importância da manutenção da resistência armada em solo
leste-timorense e participa da construção da identidade dos participantes dos processos
circunscritos à Metafunção Ideacional. Como aporte teórico-metodológico para o desenvolvimento
da análise do corpus, recorremos fundamentalmente aos trabalhos, Halliday e Matthiessen (2004),
Fairclough (2003) Cunha e Souza (2011), Fuzer e Cabral (2010), Bhabha (2007), Hall (2006) e
Gunn (2001).
Palavras-chave: metafunção ideacional, identidade, discurso de resistência, análise do discurso,
Timor-Leste
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O MOVIMENTO ESTUDANTIL PAULISTA: UM ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES NA MÍDIA
IMPRESSA
Aline Magna de Aguiar Vieira ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Desde a década de 1960, o Movimento Estudantil (ME) tem sido alvo de destaque na mídia
nacional, sobretudo, no que diz respeito à mídia paulista, devido à alta incidência de
manifestações e protestos deste grupo no Estado ao longo do tempo. Este trabalho, inserido no
âmbito de uma pesquisa de Mestrado, busca ― através de uma perspectiva diacrônica ― expor
análises iniciais a respeito das formas de representações feitas pela grande mídia impressa sobre
o Movimento Estudantil atuante no Estado de São Paulo. Para tanto, recolhemos um corpus
composto por notícias, reportagens e artigos de opinião, extraídos do jornal Estado de São Paulo,
produzidos nos anos de 1968, 1977 e 2011. A escolha dessas datas deve-se à ocorrência de
ações relevantes realizadas pelo ME, que foram de grande repercussão midiática historicamente.
A análise proposta se desenvolve de modo diverso dos recorrentes estudos feitos acerca do
Movimento Estudantil. Primeiramente, porque se dá pela ótica dos estudos linguístico-discursivos
e não apenas pelo âmbito da História Social, como, geralmente, vem sendo estudado. Em
segundo lugar, porque esta pesquisa busca trabalhar sob uma perspectiva regional, e não
nacional, como se tem realizado, mesmo nos raros estudos discursivos encontrados sobre essa
temática. Dessa forma, utilizaremos como referencial teórico, sobretudo, os preceitos da
semiolinguística, com base nos estudos de Charaudeau (2009; 2013; 2014), no que se refere à
análise do discurso das mídias e do discurso político que subjaz ao objeto de pesquisa
selecionado; além das categorias de análise da Linguística Cognitiva (LC) (TALMY, 2000;
GONÇALVES SEGUNDO, 2014, 2015; HART, 2014), visando, assim, o estudo de tópicos
estruturais de categorização e esquematização linguística.
Palavras-chave: Movimento Estudantil, Mídia Impressa, Discurso Midiático, Semiolinguística,
Linguística Cognitiva.
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(EN)CENA(AÇÃO): O JOGO TEATRAL NO CONTEXTO MULTIMODAL DO
ENSINO/APRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA
Ana Luisa Feiteiro Cavalari Lotti ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Egresso
O presente trabalho busca apresentar um recorte da dissertação “Enunciados em jogo: a
correlação entre língua e arte nas aulas de Língua Portuguesa”, defendida na Universidade de
São Paulo, em 2014, filiada à linha de pesquisa Análise do Discurso, sob orientação da Professora
Doutora Zilda Gaspar Oliveira de Aquino. Desta pesquisa-ação, destaca-se a investigação acerca
de um procedimento didático, o Jogo Teatral, capaz de mobilizar os alunos do Ensino
Fundamental II a operarem sobre a própria linguagem, por meio da produção de enunciados orais
e escritos, insertados no contexto multimodal do ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa.
Pontua-se que o jogo teatral constitui-se um instrumento didático capaz de correlacionar língua e
arte, para um profícuo trabalho com a relação fala/escrita e a inserção do corpo/gestos no
exercício da produção textual, voltada ao ensino da argumentação em Língua Portuguesa.
Ademais, sob esse viés, torna-se fundamental a pesquisadores e professores do ensino de língua
o entendimento de que a comunicação face-a-face é interacional e multimodal, bem como de que
a linguagem é, ao mesmo tempo, corporeada e social. Nossa fundamentação teórica está
ancorada em uma concepção multidisciplinar de linguagem no bojo das teorias da Linguística,
Filosofia e Psicologia. Soma-se a esta, o princípio sociointeracionistas da linguagem de Bakhtin
(1992 [1929]); os fundamentos da Análise da Conversação, segundo Kerbrat-Orecchioni (1990);
as teorias retórico-argumentativas, a partir de Amossy (2007); e os estudos de Goodwin (2003) e
da nova ciência da gestualidade, entre outros. As atividades aplicadas permitem observar como
resultados a integração entre língua e arte, além de propiciar a interação dos sujeitos com e por
meio das linguagens.
Palavras-chave: Língua Portuguesa, Argumentação, Jogos Teatrais.
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UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DE (DES) CORTESIA COMO MECANISMOS
DISCURSIVOS DE PERSUASÃO EM INTERAÇÕES POLÊMICAS: O DEBATE POLÍTICO
Ana Paula Albarelli ([email protected])
Orientador: Luiz Antonio da Silva
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente estudo tem por objetivo investigar quais mecanismos discursivos empregam-se na
gestão da imagem em um tipo de interação cuja finalidade é promover o desacordo, em
detrimento das relações de cooperação: o debate político. Consideramos a (des) construção da
imagem (face) um dos principais meios pelos quais se busca a adesão do auditório neste tipo de
interação em que prevalece a polêmica. Assim, propusemo-nos a analisar o valor argumentativo
das estratégias de descortesia e seus desdobramentos no debate político do segundo turno entre
Dilma e Aécio Neves, realizado pelo SBT. Para isso, tomamos, como respaldo teórico, a teoria
das faces de Goffman (1967), bem como os estudos acerca das diversas formas ou estratégias de
descortesia no discurso, segundo os pesquisadores cujo foco do trabalho incide na investigação
do papel do contexto na escolha dos recursos mobilizados pelos falantes em interações regidas
pela descortesia, como Culpeper (2011), Brenes (2011) e Kaul de Malargeon (2005). Ademais, em
razão de considerarmos o ataque como um tipo de estratégia argumentativa, recorremos às
contribuições da Teoria da Argumentação e a Nova Retórica de Perelman e Olbrechts-Tyteca
(2005), que contemplam questões pertinentes para a análise do corpus, a fim de depreender, a
partir das escolhas linguísticas, que tipo de concepções político-ideológicas permeiam o discurso
dos candidatos e, por conseguinte, que tipo de ethos discursivo engendra-se na fala de cada
interactante.
Palavras-chave: face; descortesia; interação; ethos; argumentação.
23
MAS A VOZ DO AUTOR? - NOTAS SOBRE O GÊNERO DISCURSIVO PLATÔNICO
André Luiz Braga da Silva ([email protected])
Orientador: Roberto Bolzani Filho
Programa de Pós-graduação: Filosofia
Doutorado
“Diálogos”, “dramas” e obras de caráter literário em geral sempre foram modalidades discursivas
amplamente utilizadas como veiculação de filosofia. De Aristóteles a Santo Agostinho, de
Montesquieu a Sartre, vários são os filósofos que apresentaram ideias em comédias, contos,
romances, etc. Contudo, o caso de Platão é sui generis, pois, diferentemente desses outros, dele
não possuímos algo de outra ordem, como do gênero de um “tratado”. Isto é, dele não possuímos
obra expositiva em discurso direto, não dramática, a partir da qual não teríamos dúvidas acerca de
quais posições filosóficas foram ou seriam realmente defendidas pelo autor. Dele temos apenas
obras do gênero discursivo “diálogo”, de teor dramático, onde várias questões são propostas,
algumas respostas são ventiladas, algumas refutadas, algumas ridicularizadas, e algumas são
mantidas até o fim da conversa. Mas, em todos estas ocasiões: são questões e respostas
propostas, ventiladas, refutadas, ridicularizadas, e mantidas por este ou aquele personagem, em
meio ao “calor” da discussão. Não havendo um “tratado” de Platão, nem critério absolutamente
confiável e externo a esses diálogos, a pergunta parece pertinente: podemos ter certeza de que a
resposta ventilada pelos personagens platônicos X ou Y é mesmo a posição, a “voz”, do autor? A
resposta parece óbvia, mas parece também causar espécie à milenar leitura do corpus
platonicum: “não”. E, se não pudermos ter certeza disso, i.e, da “teoria do porta-voz (mouthpiece)”,
do que podemos? O que teria pretendido Platão, autor, operar dentro de seu leitor, com essa
modalidade de discurso que mascara para si mesma uma ausência de “voz autoral”?
(GONZALEZ, 1995; PRESS, 2000; NAILS, 2000; BLONDELL, 2003). O presente trabalho
defenderá que esta conformidade dos diálogos visa impingir no leitor, mais que recepção de
doutrinas, um "fazer filosofia", enquanto ativo movimento crítico de pensamento.
Palavras-chave: Platão; Autoria; Discurso; Personagem; Porta-Voz.
24
ANÁLISE DE TÓPICAS JESUÍTICAS NA PERSPECTIVA DA MULTIMODALIDADE
Andrea Colsato ([email protected])
Orientador: Marilza de Oliveira
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Partindo da concepção de Kress & Van Leeuwen (2006), ao considerar a relação entre códigos
semióticos visuais, escritos, sonoros na produção e compreensão de um texto, procedemos à
análise de tópicas em discursos do início do século XX. Os discursos que formam o corpus foram
proferidos por clérigos e não-clérigos por ocasião da formatura de alunos de um colégio jesuítico
do interior paulista. O orador coloca-se frente ao auditório para teatralizar, pela palavra, o modelo
jesuítico de educação em um tempo presente mas que também pode ser omnitemporal, conferido
pelo Criador. Por esse viés, o aluno ao qual se dirige, pode ser aquele do século XIX como
também aquele do século XVI. É como se o testemunho pudesse ser da vista, da vivência e da
memória, numa tentativa de instauração da “mimesis de uma presença”, nas palavras de Zumthor
(1993). A repetição parece ser a estratégia mais relevante que desenvolve os aspectos centrais da
condução tópica e estabelece conexão interfrástica, mostrando-se como um mecanismo que
auxilia na construção dos sentidos por meio da formação de cadeias discursivas. Entendemos
assim que a repetição, por reiterar a produção de segmentos textuais, é um sinalizador da
construção do imaginário jesuítico. Consideramos, ainda, que os discursos em análise revelam a
convergência de fatores; histórico-sociais e culturais, além das perspectivas do produtor do signo
sobre o contexto comunicativo, uma vez que, os discursos, como uma modalidade escrita e oral,
em que se instancia a voz, tem potencialidades de representação e de comunicação que são
organizadas culturalmente na interação entre os produtores e seus ouvintes.
Palavras-chave: repetição, jesuítas, discursos, tópicas, multimodalidade.
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A(S) VIOLÊNCIA(S) DA REPRESENTAÇÃO FILMICA
Andréa Antonieta Cotrim Silva ([email protected])
Orientador: Lynn Mario T. M. de Souza
Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Doutorado
O cinema, em sua linguagem multimodal, em que som, imagem e diálogos se constituem - sempre
irá representar o que entende por real, por meio de uma determinada estética. Visamos
problematizar, dentro do campo dos Estudos Linguísticos e Literários em Inglês, a questão da
representação fílmica, ou seja, aquilo que é representado ou deixa de sê-lo, mormente por meio
da estética da violência. Pretendemos discutir o método de representação de duas produções
hollywoodianas da Era Obama, em que notamos a prevalência da violência. Os filmes Django
Livre (2013) e Histórias Cruzadas (2011) – o primeiro do diretor Quentin Tarantino e o segundo de
Tate Taylor, ambos norte-americanos, tramam personagens que sofrem algum tipo de exclusão.
Pensamos que o estudo do cinema e de sua política de narração, pelo viés do Letramento Crítico
Visual, possa ser de extrema utilidade para compreendermos a extensão de questões como o
racismo e outras estruturas desiguais de poder, tanto na sociedade estadunidense como na
brasileira. Em nosso trabalho, apoiar-nos-emos na teoria de Jacques Rancière (2010), mais
especificamente, no conceito de “partilha do sensível” que é o modo pelo qual se determina a
relação de saberes partilhados em um conjunto comum. Se, somente a estética da violência, em
suas diferentes formas, promulga, segundo o filósofo francês, a (des)construção ideológica do
Outro, onde o inimaginável acontece dentro dos cenários propostos, cabe-nos, igualmente, um
estudo mais aprofundado sobre a relação “sensível” entre representação, estética e conjunturas
sociais, culturais, étnicas e de gênero, a fim de uma crítica que busque a elaboração de
identidades menos violentas.
Palavras-chave: cinema; violência; Estados Unidos; letramento visual.
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ORALIDADE NO ENSINO MÉDIO EM DIÁLOGO: DOCUMENTOS OFICIAIS E LIVRO
DIDÁTICO DE PORTUGUÊS
Andréa Gomes de Alencar ([email protected])
Orientador: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O estudo da oralidade tem se firmado como necessário em toda a vida escolar, mas é no ensino
médio, última etapa da educação básica obrigatória, que ele deveria ser intensificado, seja pelo
fato de que o jovem começará a ter contato – se já não o tem – com o mundo do trabalho, seja
pelas exigências que posteriormente terá em um curso superior. Considerando a presença do
Livro Didático de Português como principal recurso pedagógico utilizado pelos professores,
entendemos ser este uma boa fonte para conhecer o que se ensina de oralidade no Ensino Médio.
Nosso objetivo, nesse estudo, é, por um lado, evidenciar que atividades são propostas e, de outro,
contrastar como essas atividades atendem (ou não) a documentos oficiais, como o Edital do
PNLD (Programa Nacional do Livro Didático), os PCN-EM (Parâmetros Curriculares Nacionais
para o Ensino Médio), as OCEM (Orientações curriculares para o Ensino Médio) e o Guia do Livro
Didático – PNLD 2015. Embasará, teoricamente, nossa análise, os conceitos de Gêneros do
Discurso, Enunciado, Diálogo, Interação verbal e Entonação, advindos da Teoria Dialógica do
Discurso, do Círculo de Bakhtin (BAKHTIN, 1992/2011; MEDVIÉDEV, 2012). Também nos serão
úteis os estudos sobre estratégias de construção textual oral, desenvolvidas por diversos
pesquisadores (MARCUSCHI; FÁVERO; ANDRADE; AQUINO; HILGERT; JUBRAN; KOCH) e
divulgadas na Gramática do Português culto falado no Brasil – v. 1 (JUBRAN; KOCH, 2006). Os
resultados preliminares apontam para um distanciamento entre o que propõem os documentos
oficiais e o que de fato é apresentado no LDP-EM. Tal constatação evidencia a necessidade de
um maior desenvolvimento de estratégias para o ensino da produção de textos orais nos Livros
Didáticos de Português deste nível de ensino.
Palavras-chave: Livro Didático de Português; Ensino Médio; Documentos oficiais; Oralidade;
Gêneros Discursivos.
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COMPETIÇÃO E DISCURSO: A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO FACEBOOK
Artur Daniel Ramos Modolo ([email protected])
Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
A presente comunicação visa analisar a maneira pela qual a responsividade se constitui
discursivamente em páginas de divulgação científica no Facebook. Empregaremos como material
de análise posts publicados pelas revistas Superinteressante, Scientific American Brasil e
Pesquisa Fapesp durante a primeira semana de dezembro de 2015 em suas respectivas páginas
no Facebook. Quantitativamente analisaremos a quantidade de curtidas e compartilhamentos
como um dos índices de interesse do leitor presente no Facebook. Qualitativamente
investigaremos como os comentários permitem não apenas a aprovação dos enunciados
postados, mas também réplicas, perguntas, sugestões etc. As ideias bakhtinianas referentes à
responsividade e às relações dialógicas serão utilizadas como orientação teórico-metodológica
dessa comunicação. O contexto sócio-histórico indica uma série de mudanças tecnológicas e
culturais que reverberaram no jornalismo e na ciência. As revistas de divulgação científica eram
uma das mais relevantes fontes de conteúdo relacionado à ciência no cenário pré-popularização
da Internet. Tal protagonismo passou a ser continuamente compartilhado após o crescimento do
uso domiciliar da Internet e as centenas de milhares de páginas criadas diariamente. A partir do
Facebook, revistas de divulgação científica gradativamente passaram a publicar e disponibilizar
conteúdo para os seus leitores em suas páginas, não apenas em seus sites oficiais. Ao mesmo
tempo em que o Facebook possibilita a ampliação do público leitor, um novo grau de
complexidade se impõe às revistas que disputam a atenção do leitor em meio a outros posts de
temática heterogênea. A principal hipótese de nossa análise é que recursos visuais (vídeos,
imagens, tabelas) e humor sejam utilizados para captar a atenção e possíveis reações positivas
do leitor. Em uma mídia com excesso de informação e escassez de atenção, indícios de
competitividade irão ser buscados nos discursos analisados.
Palavras-chave: Competição; discurso; redes sociais; divulgação científica; Facebook
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ANÁLISE DISCURSIVA DO ENSINO MULTIMODAL DE COMPREENSÃO ORAL EM LÍNGUA
INGLESA
Beatriz Herdy Raminelli Marques ([email protected])
Orientadora: Deusa Maria de Souza Pinheiro Passos
Programa de Pós-graduação:Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Mestrado
Nessa comunicação, pretendemos introduzir sucintamente alguns tópicos mencionados na nossa
pesquisa de Mestrado, que está em andamento, a respeito das atividades de compreensão
auditiva (listening comprehension) sob uma perspectiva semântico-discursiva, levando-se em
consideração as abordagens contemporâneas multimodais nas áreas da comunicação e que
influenciam o ensino de idiomas estrangeiros seguindo, assim, a temática do evento. Partiremos
de uma discussão no âmbito linguístico a fim de examinarmos, em primeiro lugar, quais os
conceitos de comunicação que fundamentam as atividades de compreensão auditivas na sala de
aula e sua importância no processo de aquisição/aprendizado de inglês como segunda língua.
Desse modo, abordaremos temas como: a natureza complexa da compreensão oral; as
dificuldades que os aprendizes enfrentam com os exercícios de compreensão auditiva; além de
discutirmos a situação atual do ensino de compreensão oral utilizado no Brasil. Com isso,
pretendemos sugerir como, tanto as noções de língua inglesa, quanto as de ensino de língua
utilizadas atualmente parecem estar ultrapassadas. Portanto, a necessidade de se pesquisar a
compreensão auditiva estaria no fato de que algumas metodologias de ensino apontam para uma
falsa impressão de que os problemas relacionados à compreensão auditiva foram “resolvidos”,
seja ao utilizarmos as técnicas de “pré-escuta” e “pós-escuta”, seja quando o estudante é
preparado para a atividade de compreensão oral em duas etapas: com o intensive listening e o
extensive listening, cujo propósito de inferir intenções e atitudes dos falantes, que são menos
evidentes de serem percebidas pelo aprendiz, não deixaria de ser uma maneira de o professor
dificultar a compreensão do aluno, muitas vezes com o intuito tornar a atividade mais
“desafiadora”. Dado o exposto, poderíamos propor que o uso de recursos multimodais talvez seja
uma estratégia alternativa para facilitar e melhorar o desempenho dos alunos com as atividades
de compreensão oral em sala de aula.
Palavras-chave: compreensão oral, discurso, multimodalidade, inglês
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QUÃO CEDO É O SUFICIENTE? O PERÍODO CRÍTICO DE APRENDIZAGEM EM SITES DE
ESCOLAS BILÍNGUES
Bianca R. V. Garcia ([email protected])
Orientadora: Deusa Maria de Sousa Pinheiro-Passos
Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Egresso
Na presente comunicação, apresentaremos aspectos de nossa pesquisa de doutorado que se
encontra em fase final de desenvolvimento. O recorte epistemológico e metodológico norteador
das reflexões e análises desta pesquisa é a Análise de Discurso derivada dos trabalhos
desenvolvidos na França por Michel Pêcheux e ampliados no Brasil por autoras como Orlandi
(2005), Carmagnani (1996), Grigoletto (2013) e Pinheiro-Passos (2006). Nosso objeto é o discurso
produzido na interface entre a neurociência contemporânea e o ensino de inglês para crianças e
bebês no âmbito das escolas bilíngues privadas. Pesquisas que realizamos anteriormente
apontaram que este ensino se insere em uma formação discursiva cujos sujeitos são valorizados
com base em na obtenção de destaque dentro da dinâmica da competitividade, naturalizada pela
ideologia do capitalismo de acumulação flexível (GARCIA, 2012). Os resultados obtidos
evidenciam que a dinâmica discursiva desse cenário investe em uma projeção precoce das
crianças pequenas tanto na lógica do sistema econômico quanto em papéis de competição e
seleção imaginários a serem atingidos por elas em futuros hipotéticos; tal inserção foi, em parte
significativa dos casos estudados, justificada com base nas características psiconeurológicas, dos
aprendizes que, por sua vez, se configurariam como elemento de vantagem desses sobre
aprendizes de idades mais avançadas. O objetivo do presente recorte é partilhar nossa análise a
respeito de como os discursos produzidos por escolas particulares bilíngues e materializados em
seus websites institucionais se ancoram em elementos da neurociência para produzirem
justificativas da urgência do ensino de inglês para crianças a partir dos 2 anos de idade.
Palavras-chave: Ensino de Inglês para crianças, Neuroascese, Análise de Discurso.
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DINAMISMO E VELOCIDADE NO DISCURSO DA PINTURA FUTURISTA ITALIANA: EM
DIREÇÃO À POÉTICA EXPERIMENTALISTA DE UMBERTO BOCCIONI E GINO SEVERINI
Carolina Tomasi ([email protected])
Orientador: Antonio Vicente Pietroforte
Programa de Pós-graduação: Linguística
Pós-Doutorado
Esta comunicação ocupa-se da investigação do discurso futurista de Umberto Boccioni e Gino
Severini, utilizando como corpus algumas de suas pinturas experimentalistas. Buscamos ainda
investigar o discurso dos manifestos vanguardistas que prenunciaram o experimentalismo italiano
do Gruppo 63, confrontando um corpus de algumas amostras pictóricas de Boccioni e Severini,
cujos enunciados revelam o discurso do dinamismo e da velocidade, algo que acaba por revelar
uma identidade pictórica experimental. No discurso experimental futurista, há uma busca pela
forma única que proporcione a continuidade espacial. Para tanto, a forma (as linhas e a foria,
como força enunciativa) possui um valor esquemático, ou seja, trata-se da configuração de um
discurso pictórico, em que o estado de alma plástico revela uma dinâmica das formas pictórica,
cujo movimento e velocidade engendram no enunciado um conjunto de forças/forias, direções,
choques (para força-foria, cf. ZILBERBERG, 2006, glossário), marcas enunciativas de explosões e
elasticidades, que direcionam as telas para um efeito de sentido de velocidade industrial e
científica (SEVERINI, 1917, p. 227). Com base no corpus selecionado, propõe-se, dentro do
quadro teórico-metodológico da semiótica tensiva, demonstrar como a pintura futurista, vista por
muitos críticos como de ruptura e de vanguarda, é regida segundo uma oscilação que a regula,
reconhecendo nela uma dominância de acentuação, de intensificação no eixo da intensidade.
Observadas tais propriedades, as telas sob análise apresentam diferenças tensivas que as
encaminham para um discurso pictórico que conhece a graduação entre mais dinâmico e menos
dinâmico. Assim é que o enunciador, ao privilegiar a vivificação dos efeitos formais pictóricos,
promove uma tensão no discurso futurista, algo que se nota, não só nas telas, mas também nos
manifestos.
Palavras-chave: Semiótica tensiva; estudos discursivos; arte; pintura futurista italiana;
poéticas experimentalistas.
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AS FORMAS NÃO CANÔNICAS DE DISCURSO CITADO: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA
Cristian Henrique Imbruniz ([email protected])
Orientador: Manoel Luiz Gonçalves Corrêa
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
O trabalho tem um objetivo central, que se ramifica em três objetivos específicos. Como objetivo
primeiro, os estudos do procedimento do discurso citado não canônico e da(s) heterogeneidade(s)
enunciativa(s) do discurso em redações de vestibular permitem: (a) a investigação da distribuição
das vozes demarcadas no texto: busca de regularidades a partir da descrição e interpretação da
distribuição das vozes do discurso de outrem em textos de pré-universitário; (b) a investigação da
relação entre distribuição das vozes e possíveis propostas didáticas: relação dos resultados
daquela descrição com possíveis propostas didáticas, buscando, nelas, explicações para a
escolha de certos padrões de citação no conjunto de textos analisados; (c) a investigação das
possibilidades de contribuição didática: tratamento dos resultados obtidos em função da
perspectiva de suas contribuições para o ensino. A partir de Authier-Revuz (1990), o trabalho
explora a(s) heterogeneidade(s) enunciativa(s) – heterogeneidade constitutiva e mostrada
(marcada e não marcada) – na presença do outro em 18 redações da Fuvest de 2009, cuja
característica comum é utilizarem menções ao conflito na Faixa de Gaza – então em destaque no
noticiário – como parte da argumentação. No que se refere à apreensão da divisão enunciativa,
fundamental para esta investigação, ela baseia-se o paradigma indiciário (GINZBURG, 1989),
articulado com as noções de interdiscurso e intradiscurso (COURTINE, 2014). Os resultados da
análise mostram que, nos textos analisados, os momentos de divisão enunciativa indicam
passagens que anunciam formas não canônicas de discurso citado. Nesse sentido, as redações
analisadas somam mais informações sobre sua relação com o discurso de outrem do que,
superficialmente, aparentam.
Palavras-chave: Discurso citado. Heterogeneidade. Discurso.
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PRÁTICAS DE ENSINO DE LÍNGUA ORAL E SUA CORRELAÇÃO COM O TEATRO
Daniel de Almeida Torres de Brito ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar de Oliveira Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Este trabalho busca evidenciar a viabilidade do ensino da língua oral para alunos do ensino
médio, através do teatro. Para isso, serão aplicadas e descritas duas experiências realizadas com
alunos da escola da rede pública. As experiências descritas ocorreram na Escola Estadual
Andronico de Mello, na cidade de São Paulo, no bairro da Vila Sônia. A primeira parte, intitulada –
“Aspectos da língua oral” foi realizada no primeiro semestre de 2015, em quatro turmas do
segundo ano do ensino médio, e uma turma do terceiro ano. A segunda parte, intitulada “Coesão e
coerência”, no segundo semestre do mesmo ano, com alunos que faziam parte do grupo de teatro
da escola, com alunos dos três anos do ensino médio, no contraturno, e sem o envolvimento de
um professor que coordenasse a atividade. A partir do embasamento de FÁVERO, ANDRADE,
AQUINO (2012), e estudos da língua oral propostos por MARCHUSCHI, foram selecionados os
seguintes conceitos: simetria, situação discursiva, evento da fala, situação conversacional, assim
como turno, marcadores conversacionais e hesitações. Tais conceitos foram trabalhados a partir
da condução de jogos teatrais da obra de SPOLIN (1994), ou trabalhadas durante os ensaios
dramáticos dos atores. O projeto se encontra no momento de aprofundamento teórico e análise
das atividades desenvolvidas. A exposição das experiências de ensino no encontro, busca reforçar
a hipótese de que o teatro é um meio eficiente para desenvolver as competências do aluno quanto
as características e os usos da língua oral, permite contribuir para suas produções textuais orais,
e prepará-los para que tenham autonomia para produzir suas falas no mundo.
Palavras-chave: Língua oral; língua falada; teatro; ensino.
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DISCURSO JURÍDICO E ARGUMENTAÇÃO: ANÁLISE DE SENTENÇA JUDICIAL
Daniela da Silveira Miranda ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Este trabalho propõe-se a investigar o discurso jurídico, sobretudo no que tange a sentença
judicial, observando as estratégias discursivo-argumentativas arroladas, pelo Juiz de Direito, para
a construção de sua decisão. Selecionamos, como objeto de análise, uma sentença judicial
emitida em 02 de junho de 2014, em Brasília, na Vigésima Vara Cível. Trata-se de um processo
contra a Revista Carta Capital ajuizada por uma pessoa física, que se sentiu depreciada por
algumas publicações desse veículo de comunicação em 2012. Dado o caráter filosófico do
conceito de danos morais, bem como dos limites entre liberdade de imprensa e liberdade da
intimidade e honra da pessoa humana, constatamos que, ao redigir essa sentença, o magistrado
utiliza determinadas estratégias para a construção de sua argumentação ponderando essa
questão ainda muito discutida no âmbito do Direito, uma vez que os limites entre a liberdade de
imprensa e os direitos da personalidade são constitucionais e, por vezes, podem se chocar.
Assim, para o tratamento do corpus, optamos pela análise qualitativa e interpretativa, em que
selecionamos determinadas lexias e locuções lexicais constituídas de sintagmas nominais e
verbais, que nos pudessem fornecer, linguisticamente, subsídios para observar as estratégias
argumentativas selecionadas pelo juiz para construir sua argumentação. Para os propósitos da
pesquisa, foram adotados os construtos teóricos da Retórica (Aristóteles, 2005 [s/d]), da Teoria da
Argumentação (Perelman e Olbrechts Tyteca, 2005 [1958], Aquino, 1997, entre outros), da Teoria
da Argumentação Jurídica (Atienza, 2000; Alexy, 2001) e das Ciências do Direito (Kelsen, 1993;
Ferraz Júnior, 1997; Bobbio, 2005; Godoy, 2008).
Palavras-chave: Discurso Jurídico, estratégias argumentativas, sentença
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EXPATRIAÇÃO LITERÁRIA, RELIGIÃO, TERRORISMO E MÍDIA
Daniela Susana Segre Guertzenstein ([email protected])
Orientadora: Eva Alterman Blay
Programa de Pós-graduação: PNPD CAPES - DS FFLCH USP
Pós-Doutorador
Esta apresentação expõe parte dos resultados de uma pesquisa interdisciplinar de sociolingüística
e comunicação social sobre expatriação cultural e transnacionalização de comunidades religiosas
para a edição do trabalho final de pós-doutoramento em sociologia. O tema principal apresentado
nessa oportunidade é sobre processos de expatriação de literaturas religiosas institucionais.
Nesse contexto é exposto o fluxo da propagação do universo simbólico oficial de doutrinas
religiosas através de redes transnacionais. O objetivo desta apresentação é expor conceitos e
padrões que revelam intolerância a diversidade em recortes de literaturas clássicas e em
discursos religiosos e políticos. Para tanto são utilizados os indicadores discursivos de tolerância,
intolerância e aceitação a diversidade étnica, social e religiosa de Flora Burchianti e Ricard
Zapata-Barreiro (2013), que classificam níveis de aceitação ao pluralismo e a diversidade de
discursos políticos europeus. O objetivo secundário desta apresentação é explicar a teoria
defendida por Hillel Nossek (2008), que demonstra como ataques terroristas tornam-se eventos
midiáticos globais. Essa abordagem mostra como a cobertura de ataques terroristas tem as
narrativas jornalísticas convencionais substituídas por manifestações de solidariedade para com o
atacado, de modo que o discurso jornalístico investigativo é trocado por manifestações carregadas
de estereótipos de posturas discriminatórias, partidárias, nacionalistas e patrióticas. A análise dos
discursos religiosos, políticos e jornalísticos é importante porque revela padrões de diferença, de
contraposição ao outro e ao externo, de estranhamento do estrangeiro como ameaça potencial
que aterroriza e o criminaliza. Pode-se concluir que o desenvolvimento desses discursos
legitimados religiosamente e politicamente perpetua a situação de confronto como normalidade na
qual a sobreposição de conflitos representa a ordem social.
Palavras-chave: Literatura; Religião; Terrorismo; Mídia; Globalização
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AS FORMAS DE (SE) DIZER DE PITTY
Danyllo Ferreira Leite Basso ([email protected])
Orientadora: Norma Discini
Programa de Pós-graduação: Semiótica e Linguistica Geral
Mestrado
A presente proposta de comunicação está calcada nos postulados da Semiótica Discursiva,
erigida por Greimas, Fontanille e Zilberbeg, bem como nos da Semiótica Visual de Floch,
articulada, ainda, com o arcabouço teórico de Bakhtin e seu Círculo, no que toca às noções de
gênero discursivo e estilo. O corpus em cena se trata do último álbum de estúdio da cantora e
compositora Pitty, SETEVIDAS (2014), em que se busca depreender o estilo de Pitty de (se)
compor a vida em arte e arte em vida, em consonância com os estudos de uma estilística
discursiva (DISCINI, 2014). Ao se pensar o álbum de canção – uma compilação de canções a
partir de determinado tema – reflete-se sobre a relação posta entre a canção-título e as demais,
entre cada uma delas, e, ainda, entre elas o encarte. Em outras palavras, busca-se a
multimodalidade do dizer da esteta supracitada, a partir da relação, em via de mão dupla, do todo
com as partes. Assim, interessa-nos não só o dizer de Pitty, mas como ela diz o que diz. A
metodologia privilegia o “percurso gerativo de sentido” calcado na Semiótica, ao se caminhar do
mais abstrato e simples ao mais concreto e complexo, ao depreender o nível fundamental,
narrativo e discursivo que subjaz as dez canções e a fotografia que compõe o gênero álbum de
canção. Os objetivos, portanto, revelam-se na contribuição aos estudos discursivos, no que diz
respeitos às reflexões de gêneros discursivos, bem como de uma estilística discursiva, além da
relação posta entre a Semiótica e o Círculo de Bakhtin.
Palavras-chaves: Álbum de canção; Semiótica; Círculo de Bakhtin.
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OS USOS DE “VOCÊ” COMO FORMA PARA INDETERMINAÇÃO DO SUJEITO NO DISCURSO
ORAL CULTO
Denise Durante ([email protected])
Orientadora: Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O objetivo geral da pesquisa é refletir sobre o emprego do pronome “você” em interações orais
como estratégia discursiva para indeterminação do sujeito na língua portuguesa. O corpus
analisado corresponde a textos orais produzidos por “falantes cultos”, conforme o conceito de
Preti (1997), em programas de debates, veiculados entre 2014 e 2016 por canais televisivos
brasileiros. Busca-se descrever e analisar o uso de “você” como forma para indeterminação do
sujeito à luz dos conceitos de linguagem da imediatez e da distância comunicativas, desenvolvido
pelos teóricos alemães Koch e Oesterreicher (1985; 1990). Adotam-se igualmente os
pressupostos teóricos da Análise da Conversação, em particular os estudos de Marcuschi (1986;
2000) e Urbano (2006; 2011; 2013), autores cujas pesquisas retomam o referido modelo teórico
alemão ao enfocarem a questão do meio e da concepção textual das mensagens orais e escritas.
Trata-se de um modelo relevante no contexto de pesquisa linguística europeu, porém ainda pouco
explorado em nosso país, o que pode justificar sua aplicação e interpretação em corpora em
português. O trabalho pode contribuir, ademais, para a ampliar a compreensão sobre o português
falado no Brasil. Utilizam-se, na pesquisa, as normas para transcrições de textos orais conforme
convencionado pelo Projeto NURC-SP. Adota-se o método indutivo, bem como as pesquisas
bibliográfica e documental. Partimos da hipótese de que o pronome de indeterminação do sujeito
você pode ser utilizado pelos falantes para a obtenção de efeitos expressivos específicos da
oralidade ou da linguagem da imediatez, entre os quais se inclui o envolvimento emocional e
interacional entre os falantes. A partir do corpus até então descrito e analisado, observa-se a
confirmação dessa hipótese, bem como se detecta a tendência à maior frequência do uso do
pronome você em relação à utilização do pronome se, com a função de elemento para
indeterminação do sujeito.
Palavras-chave: oralidade; pronomes; falante culto.
37
ACESSO AO SABER: O QUE ESTÁ EM JOGO NA ESCOLHA DE UMA OBRA LITERÁRIA
Denísia Moraes dos Santos ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma breve análise dos critérios de seleção das obras
literárias do “Apoio ao Saber”, Programa de leitura da Secretaria da Educação do Estado de São
Paulo (SEE), destinado aos alunos das escolas de Ensino Fundamental e Médio da rede pública
estadual. Dados desta pesquisa revelaram uma quantidade expressiva de obras selecionadas do
cânone da literatura. Partindo desse quadro, fazemos uma reflexão sobre o discurso político
educacional que engendra a escolha das obras literárias do programa, além de discutir os
argumentos utilizados pela gestão do “Apoio ao Saber” para justificar a escolha dos títulos dos
livros. Para analisar o critério de seleção das obras literárias do “Apoio ao Saber”, selecionamos a
primeira edição do programa (2009), ancorada na cultura valorizada. Para essa edição, o governo
planejou atender 3,3 milhões de estudantes, com investimento de 34 milhões de reais para a
compra e distribuição de um total de 10 milhões de livros considerados clássicos da literatura
infanto-juvenil nacional. A fundamentação teórica deste trabalho centra-se na perspectiva dialógica
da linguagem de Mikhail Bakhtin, principalmente, nos conceitos de “destinatário do discurso” e
“cronotopo”, e na perspectiva ideológica dos estudos de letramento. Os resultados parciais da
pesquisa mostram que o discurso político educacional tende a investir na construção de uma
imagem, nesse caso, a do governo inserido na cultura valorizada. No entanto, a imagem do
protagonista do Programa “Apoio ao Saber”, ou, para melhor usar o conceito bakhtiniano, o
destinatário do discurso literário se configura no diálogo espaço-temporal com a cultura local.
Palavras-chave: Discurso político educacional. Programa de leitura. Destinatário do discurso.
Cronotopo
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O LUGAR DA COGNIÇÃO NOS ESTUDOS CRÍTICO-DISCURSIVOS: NOVAS PERSPECTIVAS
Douglas Rabelo de Sousa ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
O seguinte trabalho, que compõe o projeto de mestrado “A construção midiática da imigração no
Brasil do século XXI: uma perspectiva cognitivo-discursiva”, tem por objetivo mostrar como ocorre
a interface entre a corrente interdisciplinar denominada Análise Crítica do Discurso e uma das
mais atuais abordagens teóricas sobre a língua, a Linguística Cognitiva, que vem sendo
incorporada, aos poucos, nos estudos discursivos. Analisaremos como a ACD, utilizando-se de
conceitos da Gramática e da Semântica cognitiva , segundo Evans & Green (2006), torna visíveis
deturpações e discriminações em vários discursos veiculados pela mídia, pois veremos como
certos dispositivos gramaticais, tais como a nominalização e passivização e escolhas de
transitivização, associados à experiência sensório-motora de força, refletem e reforçam pontos de
vista ideológicos particulares. Desta forma, contribuiremos para a construção de um método
científico-analítico a partir do qual podemos depreender a ideologia vigente no discurso por meio
das estruturas gramaticais nele contidas. Assim, propomos um percurso que se inicia em uma
esfera microdiscursiva até atingir uma esfera macrodiscursiva, depreendendo as relações
existentes entre ambas. Em outras palavras, este trabalho preocupa-se em demonstrar como a LC
relaciona as estruturas linguísticas nos textos com as estruturas conceptuais nas mentes dos
participantes discursivos, revelando o potencial ideológico presente no discurso produzido, de
forma sistêmica, conduzida teoricamente, e passível de comparação. A interface da ACD com a
LC também proporciona ênfase maior na análise dos processos interpretativos e da dinâmica de
construção de sentido. Como aporte teórico, utilizaremos para as questões da ACD e da LC:
Fairclough (2004); Gonçalves Segundo (2014) e Hart (2010, 2011, 2014), observando aspectos
gramaticais ligados à esquematização de cenas e ao ajuste de atenção. Ainda discorreremos
sobre a concepção de ideologia, seguindo Fairclough (1995), Van Dijk (1998, 2015) e Hodge &
Kress (1993). Assim, poderemos depreender como as identidades sociais, as relações sociais e
sistemas de conhecimento e crença se materializam no discurso.
Palavras-chave: Análise Crítica do Discurso; Linguística Cognitiva; Ideologia
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A PERCEPÇÃO DE “CORTESIA” EM UM ESTUDO SOCIOPRAGMÁTICO
Fábio Barbosa de Lima ([email protected])
Orientadora: María Zulma Moriondo Kulikowski
Programa de Pós-graduação: Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana
Doutorado
Partindo de nosso estudo de mestrado intitulado “Parecer bom x parecer justo – o pedido de
desculpas na gestão da imagem nas interações midiáticas” (Lima, 2012), no qual analisamos
pedidos de desculpas em situações espontâneas no português do Brasil e no espanhol da
Argentina e, ainda, apresentamos considerações sobre a percepção do termo “cortesia” por parte
de falantes dos dois países. Para tal, recorremos aos significados presentes em dois dicionários
de cada idioma; do português, os dicionários Aurélio e Houaiss, já do espanhol tomamos o
Diccionario de la Real Academia Española (DRAE) e o dicionário da lexicógrafa espanhola María
Moliner. Podemos verificar que as definições de cortesia nos dicionários de língua portuguesa
estão orientadas para valores como amabilidade e delicadeza, já nos dicionários de língua
espanhola, a ideia patente é a de “atención”, “consideración” e “respeto”. Tais significados
coincidem com os resultados de nossa dissertação, no que diz respeito aos sentidos de
autonomia e afiliação postulados por Bravo (1999); representando a valorização do sentido de
afiliação, no caso do Brasil e da valorização do sentido de autonomia, do lado argentino. Na atual
etapa de nosso doutorado, aplicaremos testes de hábitos sociais para verificar se esses
significados coincidem com a percepção de cortesia de falantes de ambos os países. Testes de
hábitos sociais (Hernández Flores, 2003), são entrevistas com perguntas relacionadas ao
comportamento social em estudo e constituem uma importante ferramenta nos estudos da
(des)cortesia. A ideia central é elaborar e aplicar os testes para jovens, residentes em grandes nos
dois principais centros urbanos desses países – São Paulo e Buenos Aires – com proporção
igualitária de faixa etária, escolaridade e gênero. A importância metodológica de tal enfoque está
no fato de que as respostas obtidas nos serão úteis para estabelecer premissas sobre o contexto
sociocultural, apoiando, desta forma, as análises que realizaremos.
Palavras-chave: Pragmática, (des)cortesia, testes de hábitos sociais.
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“PAI CONTRA MÃE” E “NEGRINHA” NUMA PERSPECTIVA MULTIMODAL DE ENSINO
LITERÁRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL II
Fernando Januário Pimenta ([email protected])
Orientadora: Vima Lia de Rossi Martin
Programa de Pós-graduação: Mestrado Profissional em Letras
Mestrado
Este trabalho apresenta reflexões sobre a aplicação de uma sequência didática de Língua
Portuguesa para o 8º ano do Ensino Fundamental, a qual se baseou numa abordagem multimodal
da escravidão no Brasil, a partir do estudo dos discursos presentes nos contos “Negrinha”, de
Monteiro Lobato, “Pai contra mãe”, de Machado de Assis, e anúncios de venda e aluguel de
escravos recolhidos do jornal “O Estado de São Paulo”. Foram utilizadas fotografias e ilustrações
contemporâneas à escravidão e demonstrativas dos instrumentos de tortura, das punições e dos
efeitos dos castigos, aspectos referidos em ambos os contos. Constatou-se uma ampliação dos
sentidos provocados pela leitura, por meio da combinação intencional de modos semióticos
variados: as imagens selecionadas (linguagem não-verbal) e os textos literários e jornalístico
mencionados (linguagem verbal escrita) (CATTO, 2013). Uma pedagogia de multiletramentos, que
vai além do escopo de ensino de letramento tradicional, deve abranger uma amplitude de modos
de significado dentre os quais unimos, neste trabalho: 1. a representação visual (imagens e
fotografias) e 2. língua escrita (COPE & KALANTZIS, 2000). Consideramos a perspectiva da
semiótica discursiva de linha francesa, que afirma que o texto se organiza e produz sentidos,
como um objeto de significação, e também se constrói na relação com outros objetos culturais,
pois está inserido numa sociedade, em um dado momento histórico e é determinado por
formações ideológicas específicas, como um objeto de comunicação (BARROS, 2008). Assim, foi
possível associar a agressão física exprimida pelas imagens e pelos contos à agressão verbal
explícita em “Negrinha”, como componentes formadores da ideologia escravagista, e constitutivos
de um discurso situado historicamente, como exemplificado nos anúncios de jornal trabalhados
em sala, nos quais o negro aparece reificado, dividindo espaço com anúncios de oferta e compra
dos mais variados itens e produtos, em um veículo de comunicação impresso.
Palavras-chave: multimodalidade, ensino de literatura, discurso, escravidão, Ensino Fundamental
II
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O PAPEL DISCURSIVO DAS ANALOGIAS NA NEGOCIAÇÃO DA VERDADE: A IMAGEM DO
PARTIDO DOS TRABALHADORES NAS COLUNAS DE LUIZ FELIPE PONDÉ
Filipe Mantovani Ferreira ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Com base no pressuposto de que a verdade corresponde ao compartilhamento de crenças em
uma comunidade, em um dado momento histórico e em uma determinada conjuntura social
(MARCUSCHI, 2005; MONDADA, 1995), este trabalho investiga o papel discursivo das analogias
utilizadas pelo filósofo e colunista da Folha de S. Paulo Luiz Felipe Pondé para retratar o Partido
dos Trabalhadores (PT), seus integrantes, seus apoiadores e seus opositores. Mais
especificamente, objetiva-se descrever o conjunto de inferências decorrente do uso das analogias
e, assim, explicitar o posicionamento ideológico assumido pelo colunista. Com vistas a atingir tal
objetivo, foram selecionadas, para análise, as colunas assinadas “Ponham as barbas e os batons
de molho” e “A seita da jararaca”, publicadas respectivamente em 21/03/2016 e 14/03/2016. Do
ponto de vista teórico, este trabalho propõe a articulação entre uma teoria das analogias de base
sociocognitiva, como a desenvolvida por Gentner e seus colaboradores (GENTNER & SMITH,
2012, 2013; GENTNER & FORBUS, 2011; GENTNER, 1999), e a teoria da argumentação
desenvolvida por Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005 [1958]) no Tratado da Argumentação. A
análise permitiu identificar uma tendência a, por meio do recurso à analogia, retratar o PT como
uma organização corrupta e manipuladora constituída por pessoas de caráter questionável e
defendida passionalmente por seus partidários; a imagem que se constrói de Lula, ex-presidente
da República filiado ao PT, é a de um vilão comprometido com a perpetuação dos crimes de
corrupção e de algoz do Brasil; Sérgio Moro, juiz responsável pelas investigações da operação
Lava Jato, é, por sua vez, retratado como uma espécie de herói justiceiro determinado a lutar
contra o crime.
Palavras-chave: analogia, Lula, Partido dos Trabalhadores, discurso, cognição
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ESCRITAS DA MEMÓRIA: LETRAMENTO E IDENTIDADE CULTURAL
Francesco Antonio Capo ([email protected])
Orientador: Norma Seltzer Goldstein
Programa de Pós-graduação: Mestrado Profissional em Letras
Mestrado
O maior problema do professor na Educação de Jovens e Adultos é lidar com a multiplicidade de
saberes e de modos de apreensão da realidade: os alunos chegam à escola com níveis variados
de letramento e com um saber forjado por outros sistemas de cognição e de compreensão do
mundo. Assim, este trabalho de pesquisa pretendeu estudar a relação entre letramento, escritas
da memória e identidade cultural. O objetivo principal foi verificar até que ponto a prática
pedagógica com escritas da memória contribui para o letramento de adultos oriundos de culturais
orais e que tiveram pouco contato com a palavra escrita. Partiu-se da suposição de que o trabalho
com as escritas da memória propiciasse o sentimento de pertencimento e levasse o aluno a
construir uma imagem de si mesmo como sujeito-autor de sua escrita, compreendendo-a como
prática social significativa. A metodologia desta pesquisa dividiu-se em três etapas: a aplicação de
sequência didática abordando o gênero textual “autobiografia” e suas especificidades; coleta de
dados (textos escritos pelos alunos, fichas de acompanhamento do processo ensinoaprendizagem, questionários de perfil sócio-econômico e cultural); a análise qualitativa dos dados.
Fundamentaram esta pesquisa os conceitos de autonomia (FREIRE, 2002), agência
(BAZERMAN, 2011; KLEIMAN, 2006), autoria (BAZERMAN, 2011), letramento ideológico
(STREET, 2015) e memória coletiva (Halbwachs apud BOSI, 1987). Concluiu-se que, ao fazer da
palavra escrita uma forma de reviver sua experiência por meio do discurso da memória, o aluno
ressignifica a prática letrada, reconceitualiza-a: a palavra escrita lhe pertence e ele é pertencido
por ela.
Palavras-chave: memória; letramento; identidade.
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ANCORAGEM NOMINAL E SISTEMA DE ATENÇÃO HUMANO: O PROCESSO DE
CONSTRUÇÃO DO REFERENTE EM POSTS DO FACEBOOK
Gabriel Isola Lanzoni ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
O objetivo dessa pesquisa é analisar o processo de construção do referente em uma modalidade
do gênero post da página Spotted FFLCH – o retorno do Facebook, que tem como finalidade
básica a busca por uma pessoa-alvo. Para tanto, a pesquisa apoia-se em uma convergência entre
a Linguística Cognitiva e a Psicologia Cognitiva, por um lado, e as abordagens sociorretóricas
sobre gêneros discursivos, por outro. Nesse sentido, tomar-se-á a teoria da Ancoragem Nominal
(Langacker, 2008), que embasará a análise da construção do sintagma nominal, o que auxiliará a
compreender o processo de indução do leitor em termos de conceptualizar a referência almejada.
Tal processo está intimamente ligado a fatores atencionais (Oakley, 2009; Sternberg & Sternberg,
2012), explorados pela Psicologia Cognitiva, em especial no campo da busca visual (Treisman,
1986; Duncan & Humphreys, 1992). Trata-se de um diálogo relevante, na medida em que o
processo de conceptualização do referente, consolidado pelas estratégias dêitica, descritiva e
quantificadora, parece configurar-se em uma busca, através do conhecimento multimodal, tanto
por parte do autor, no sentido de seleção de características relevantes do referente, quanto por
parte do leitor, que faz uso de tais características para realizar uma busca mental e estabelecer o
referente desejado. A articulação de tais processos mostra-se produtiva dada a finalidade da
modalidade do gênero, uma vez que é utilizada para a busca de uma pessoa-alvo, ramificando-se
em dois tipos: a) quando o autor do post já conhece/viu a pessoa-alvo; e b) quando o autor não
conhece/viu a pessoal-alvo. A ramificação da modalidade parece mostrar-se sistemática quanto às
estruturas ativadas para o estabelecimento do objeto do discurso, revelando uma relação entre a
finalidade do post e os recursos utilizados, mostrando impacto tanto na estruturação do gênero
quanto na construção do sintagma nominal e nas formas de guiar/orientar ou ativar atenção.
Palavras-chave: Ancoragem Nominal; Sintagma Nominal; Psicologia Cognitiva; Atenção; Gênero
Discursivo
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DO ESCRITO À FOTOGRAFIA: REPRESENTAÇÕES DO GINÁSIO DE CAMPINAS NO INÍCIO
DO SÉCULO XX
Giovanna Ike Coan ([email protected])
Orientadora: Marilza de Oliveira
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Na passagem do século XIX ao XX, a fotografia se consagra como ícone da modernidade. Sua
inserção na imprensa periódica, substituindo as ilustrações, representa a evolução dos meios de
comunicação e das técnicas de reprodução de imagens, além de ser uma eficiente forma de
captar o interesse dos leitores. Na cidade de Campinas, os almanaques impressos em meados de
1900 trazem, ao lado de textos e estatísticas, registros fotográficos de diversos espaços do
município, como praças, igrejas, hospitais e escolas – entre elas, o Ginásio de Estado de
Campinas, criado em 1896. Objeto da pesquisa de doutorado que desenvolvo no Programa de
Filologia e Língua Portuguesa, sob o enfoque da História Social da Língua, o Ginásio de
Campinas é estudado enquanto símbolo republicano na área da instrução pública e como espaço
social onde concepções ideológicas e padrões linguísticos poderiam ser transmitidos aos alunos.
Sendo a multimodalidade o tema deste EPED, o presente trabalho analisa a relação entre escrita
e imagem em um texto publicado no almanaque “A cidade de Campinas em 1901” no qual o
Ginásio é o referente. De um lado, examinamos os elementos constitutivos da fotografia e
atentamos aos mecanismos de seleção, exclusão e (re)significação que atuam nesse “recorte da
realidade”; de outro, exploramos a interação entre os códigos semióticos (verbal e visual) na
construção do sentido global do texto. Ademais, comparamos esse material com um cartão-postal
do período, que também retrata o estabelecimento, com o intuito de entender as motivações
sócio-históricas e ideológicas para que diferentes veículos elegessem o Ginásio como uma “coisa
visível” da cidade, isto é, que merecia ser contemplada, exibida e reproduzida. O referencial
teórico-metodológico baseia-se na proposta discursiva de Kress & van Leeuwen (1996) e nos
estudos históricos de Kossoy (1999), Cruz (2000), Ribeiro (2006) e Schapochnik (2008) sobre
imprensa e fotografia no Brasil.
Palavras-chave: discurso; fotografia; almanaque; Ginásio de Campinas.
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PESSOAS SÃO COISAS? UMA ANÁLISE DE METÁFORAS EM REVISTAS ADOLESCENTES
Helena Capriglione Zelic ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
O objetivo deste trabalho, que compõe a pesquisa de Iniciação Científica em andamento
“Discurso, mídia e gênero: um estudo sobre os relacionamentos nas revistas Capricho e Atrevida
e seu impacto sobre a juventude feminina”, é apresentar uma análise do funcionamento cognitivo
e
discursivo
das
metáforas
construídas
em
revistas
adolescentes
femininas.
Neste momento, a pesquisa se aprofunda no diálogo entre as abordagens cognitivistas e
discursivas na linguística, com base nas propostas de Van Djik (2008), Fairclough (2003),
Kövecses (2010) e Vereza (2007, 2010). Dentre os oito tipos metafóricos categorizados, este
trabalho pretende apresentar uma análise da metáfora PESSOAS SÃO COISAS, que conta com
ocorrências localizadas em subtipos de domínios-fonte relacionados às esferas dos objetos e da
comida e do status social. As ocorrências demarcadas são extraídas do corpus original da
pesquisa, formado por três edições das revistas adolescentes Atrevida e Capricho, em recorte
relacional de textos de diversos gêneros discursivos que possuem os relacionamentos afetivosexuais como temática central. A compreensão da metáfora como elemento discursivo
tangenciará também estudos de gênero sobre os conceitos de mercantilização, objetificação e
desigualdade, para os quais são necessárias as reflexões de Faria (1998), Vance (1989), entre
outras. Esta etapa da pesquisa se propõe a observar a relevância da metáfora no discurso e,
portanto, na construção sociocognitiva da realidade por meio da linguagem. Também pretende
explorar, por conseguinte, as perspectivas, limitações e contradições presentes nos discursos das
revistas voltadas para o público feminino e adolescente – mídia esta ainda pouco explorada nos
estudos acadêmicos –, além de conjeturar hipóteses sociais para determinadas escolhas
discursivas, tendo em vista as posições sociais tanto das revistas quanto das leitoras.
Palavras-chave: Metáforas; Análise Crítica do Discurso; Mídia feminina
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A INTERAÇÃO PROFESSOR/ALUNO EM TURMA DE ALFABETIAÇÃO: PADRÕES
ESCOLARES ESPECÍFICOS
Heloisa Gonçalves Jordão ([email protected])
Orientador: Sandoval Nonato Gomes Santos
Programa de Pós-Graduação: Educação/Linguagem e Educação
Doutorado
Propomos o estudo das estratégias interacionais desenvolvidas na comunicação em turmas de
alfabetização de modo a salientar como a convivência de aspectos de natureza didática e
institucional em uma complexa situação social como a da sala de aula desvelam padrões
discursivos específicos da instituição escolar. Inserido nos estudos ocupados das relações entre
Linguagem e Educação, pretendemos apresentar como o discurso do professor, associado a um
complexo repositório de gestos, expressões e artefatos didáticos, constrói e gerencia o momento
em que todo um grupo deve estar voltado para o processo de aprendizagem de um novo saber.
Para compreendermos a natureza das interações face a face convocamos a contribuição teórica
de Goffman (2002) e para compreendermos como o discurso de sala de aula guarda
características próprias, muitas vezes distintas da relação entre ensino e aprendizagem,
abordaremos as reflexões desenvolvidas por Ehlich (1986; 1993). A reflexão acerca do trabalho
docente está baseada na investigação de Schneuwly (2009) observando as relações entre objetos
de ensino, instrumentos didáticos e gestos profissionais envolvidos neste tipo particular de
interação. Os dados analisados constituem-se por transcrições de 26 aulas de Língua Portuguesa
ministradas em uma turma de 2º ano de uma escola municipal de Ensino Fundamental. Adotando
uma abordagem qualitativa, iniciaremos a análise a partir da transcrição de elementos verbais e
não verbais que constituem o início de uma das atividades acompanhadas e registradas em áudio
e vídeo provenientes da geração de dados relizada em campo ao longo do ano letivo de 2011.
Após destacarmos alguns dos aspectos que se apresentam de forma mais caraterística a esse
tipo de interação, apresentaremos a frequência com que esses mecanismos de ação linguística
ocorrem em 26 atividades acompanhadas e transcritas que constituem o total de dados gerados
em Jordão (2014) com o auxílio do software Antconc®.
Palavras-chave: alfabetização, interação, trabalho docente.
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O CONCEITO DE ARQUITETÔNICA NO CÍRCULO DE BAKHTIN E A FILOSOFIA DA
LINGUAGEM
Inti Anny Queiroz ([email protected])
Orientador: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Este estudo busca apresentar a construção do conceito de arquitetônica na Teoria Bakhtiniana por
meio de uma abordagem sistemática e filosófica das obras do Círculo. Observaremos a partir dos
resultados iniciais da pesquisa de doutorado como o conceito é abordado e como este se compõe
na teoria dialógica do discurso à qual nos filiamos como fundamentação teórica principal desta
pesquisa. É relevante à nossa reflexão trazer inicialmente o diálogo com as teorias de Aristóteles
e Kant, que também utilizaram o conceito de arquitetônica em suas reflexões de filosofia moral,
para melhor compreender como este foi pensado em Bakhtin em sua filosofia da linguagem.
Veremos a partir disso como o conceito auxiliou Bakhtin na construção e sistematização da teoria
bakhtiniana para pensar a filosofia da linguagem e os estudos do discurso e assim propor uma
nova disciplina chamada metalinguística. Em Bakhtin (2003; 2010) a arquitetônica aparece de
duas formas distintas e interligadas. Primeiro, pode ser visto como um conceito sistematizador
superior que engloba todas as categorias filosóficas bakhtinianas de compreensão de mundo,
englobando os conceitos-chave. E segundo,
como um todo englobante de um enunciado
concreto que é realizado num ato responsável, enquanto potência no ser único, num momento
histórico único e sempre em relação de interação com o outro, com o contexto e com a esfera
ideológica. Nos dois casos, a arquitetônica deve ser pensada em relação ao todo da cultura, com
parâmetros éticos e estéticos e que se realizam nas práticas sociais interativas/ discursivas. A
arquitetônica organiza o sentido do objeto estético, seja ele um objeto de arte ou qualquer outro
gênero discursivo da comunicação humana.
Palavras-chave: arquitetônica; Bakhtin; filosofia da linguagem.
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VELHAS E NOVAS MÍDIAS NAS JORNADAS DE JUNHO DE 2013: PROTAGONISMO DAS
REDES SOCIAIS?
José Adjailson Uchôa-Fermandes ([email protected])
Orientadora: Deusa Maria de Souza Pinheiro-Passos
Programa de Pós-graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Doutorado
A presente comunicação visa apresentar, de modo preliminar, algumas considerações
desenvolvidas no âmbito de nossa pesquisa de doutorado, a qual tem como objeto de estudo os
discursos sobre/das chamadas “Jornadas de Junho” produzidos nas redes sociais Twitter e
Facebook durante o mês de junho de 2013. A partir da sustentação teórica fornecida pelos
estudos semântico-discursivos da linguagem, do ciberespaço, e teorias sobre movimentos sociais,
propomos a análise de enunciados coletados em fanpages e “grupos” da rede Facebook, bem
como postagens de usuários do Twitter, produzidas naquele momento histórico, e que se
inscrevam sob as hashtags “#vemprarua” e “#ChangeBrazil”, amplamente utilizadas pelos
internautas na época. Objetivamos, a partir do dispositivo analítico, tecer considerações sobre as
possíveis particularidades do funcionamento discursivo de cada uma destas redes, bem como,
refletir acerca das concepções de Estado, Nação, Nacionalismo, Política, Movimentos Sociais e
(web)Ativismo e (web)Cidadania que permeiam o imaginário dos sujeitos que enunciam nessas
redes.
A partir do procedimento analítico, buscaremos refletir a respeito das ideologias e
formações discursivas que se manifestam nos discursos das/sobre as manifestações de Junho de
2013 nas postagens analisadas. Para tanto, consideraremos a multiplicidade de vozes, que
constituiu uma das principais características desse acontecimento. Nossas considerações, ainda
em caráter preliminar, apontam para relações entre os dizeres produzidos nestas redes e
elementos oriundos do discurso do mercado, seja para reafirmá-los ou contestá-los. Os frequentes
enunciados em língua inglesa nos dão indícios de uma busca pela construção de diálogos com
outras nações, sugerindo relevante papel conferido à alteridade por elas representada. Podemos
ainda observar relações entre essa modalidade de comunicação relativamente nova com outras já
estabelecidas (Televisão, mídia impressa, portais de notícia) que parecem ainda ocupar um
caráter importante na seleção dos acontecimentos e sua distribuição enquanto notícias, replicadas
e/ou ressignificadas por meio dessas redes.
Palavras-chave: discurso, mídia, redes sociais, jornadas de junho, movimentos sociais
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A CONSTRUÇÃO LINGUÍSTICO-DISCURSIVA DA AUTORIDADE NA INTERAÇÃO ADULTOCRIANÇA
Karoline Santiago de Macedo ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
O presente estudo tem como objetivo examinar a interação entre adultos e crianças de maneira a
depreender especificidades relativas ao domínio da metafunção interpessoal, o que envolve, por
exemplo, o estabelecimento de relações sociais. Assim, deseja-se analisar a construção
linguístico-discursiva da autoridade por parte do adulto e como esta é recebida pela criança,
usando como referência os estudos de polidez filiados à teoria desenvolvida por Brown &
Levinson (1987), em especial as noções de face positiva e negativa descritas pelos autores; a
Teoria da Avaliatividade proposta por Martin & White (2005), no âmbito da Linguística SistêmicoFuncional (Halliday & Matthiessen, 2004), assim como noções de autoridade e modalidade (Leo
Hoye, 1997). O corpus utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa é composto por
gravações de crianças entre seis e nove anos de idade interagindo com adultos (tanto familiares
quanto documentadores), transcritas segundo as normas do Projeto NURC/SP (Preti, 2002).
Buscar-se-á verificar como os falantes constroem a interação a partir dos recursos de polidez
empregados, das negociações de poder e solidariedade, o posicionamento intersubjetivo e a
representação da realidade por parte dos interactantes. A partir disso, deseja-se compreender o
modo como a autoridade é construída por parte do adulto e validada/aceita pela criança, bem
como examinar as formas em que tal construção da autoridade é explicitada na co-produção da
interação. Dessa maneira, mostra-se relevante desenvolver esta pesquisa baseada em teorias
pragmático-conversacionais, funcionalistas e estudos da conversação para dar conta dessa
variável sócio-discursiva, no caso, a autoridade e os aspectos interpessoais que envolvem o
contexto em que esta é empregada.
Palavras-chave: interação adulto-criança; polidez; avaliatividade; aspectos interpessoais
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A PSEUDOCORTESIA NA REDE SOCIAL FACEBOOK
Katiuscia Cristina Santana ([email protected])
Orientador: Luiz Antonio da Silva
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente trabalho propõe um estudo das estratégias linguísticas que expressam a
pseudocortesia na rede social Facebook, em especial o uso da ironia na interação virtual. Assim
como em uma interação face a face, é possível encontrar no mundo virtual desentendimentos
entre os interactantes.Um dos meios para se evitar um possível conflito na interação é o emprego
da cortesia, entendida como a adequação social a um contexto determinado que preserva o
caráter harmonioso de uma relação interpessoal. A noção de cortesia se desenvolveu com base
no conceito de face introduzido por Goffman (1967) e aprofundado mais tarde por Brown e
Levinson (1987). Salienta-se que o ritual de cortesia é um aspecto fundamental no processo de
interação, visto que os interactantes procuram evitar qualquer tipo de agressão em relação ao
outro. A respeito disso, Brown e Levinson desenvolveram a ideia de face, entendida como a
imagem que se constrói na vida social e que necessita ser defendida pelos interactantes. Nos
últimos anos, o estudo da cortesia tem se destacado nas pesquisas acadêmicas, tal como ocorre
com a descortesia. Nesta pesquisa destacamos, sobretudo, o uso recorrente da pseudocortesia
no mundo virtual. Entendemos por pseudocortesia a aparente cortesia inserida em um contexto
interacional descortês. Levando em consideração as pesquisas já desenvolvidas a respeito da
teoria da preservação das faces e a respeito da cortesia, a pesquisa busca embasamento teórico
na Análise da Conversação, na Pragmática e na Sociolinguística Interacional para a análise do
corpus escolhido para o estudo. Para tanto, serão analisados excertos de conversa de um grupo
da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo na rede
social Facebook.
Palavras-chave: análise conversacional; pseudocortesia; ironia.
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A REPRESENTAÇÃO DO HERÓI NA PROPAGANDA NAZISTA – UM ESTUDO
ARGUMENTATIVO
Letícia Fernandes de Britto Costa ([email protected])
Orientadora: Zilda Gaspar Oliveira de Aquino
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
A representação do herói é usada frequentemente como modelo a ser seguido em tempos de
guerra ou de crise. No regime nazista, tal recurso foi amplamente utilizado no intuito de suscitar,
na população civil, o desejo de agir em coletivo com seus compatriotas, a partir do enaltecimento
de grandes feitos realizados por alemães que viveram mesmo antes do surgimento do Partido
Nacional Socialista. Dado isso, o presente trabalho propõe-se a investigar o modo de construção
da imagem do herói em um periódico de leitura obrigatória nas escolas alemãs durante o regime
nazista - O jornal "Hilf mit!", em português, "Colabore!". Busca-se observar como a estrutura
argumentativa do texto e outras formulações linguísticas, sobretudo a seleção lexical, participam
ativamente da construção identitária de tais figuras. O corpus de análise se constitui do texto "3
Männer eroben Ost-Afrika" ("3 homens conquistam a África oriental"), publicado em outubro de
1934 no periódico mencionado. O trabalho se baseia, sobretudo, nos preceitos da socióloga
Jungwirth (2007) a respeito dos estudos de Identidade no Discurso, bem como na Teoria da
Argumentação, de Olbrechts-Tyteca ([1958] 1996) e seus seguidores, além de contar com o
suporte de Klein (1980), teórico alemão, no que se refere aos conceitos de valores e validades na
Argumentação. O texto foi analisado com base nas teorias selecionadas e os resultados
observados apontam para aspectos de valores argumentativos presentes na construção da figura
do herói nacional, bem como a importância de se enaltecer determinados padrões de
comportamento num suporte midiático que se propunha como propaganda do governo então
vigente, voltada para crianças.
Palavras-chave: Identidade no discurso; argumentação; propaganda nazista
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A ELABORAÇÃO DE METÁFORAS E METONÍMIAS SOBRE RELACIONAMENTO NA
CANÇÃO SERTANEJA: UMA ANÁLISE COGNITIVO-DISCURSIVA
Líliam Sayuri Vitorio Komori ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
A canção é um gênero discursivo que refrata e difunde valores sociais e ideológicos no nosso
meio social, especialmente ao se considerar a penetração da indústria cultural vigente. Um dos
seus principais temas consiste no domínio do amor e dos relacionamentos, vivência cotidiana que
se materializa recorrentemente nas produções musicais contemporâneas (Rocha & Fernandes,
2009), carregadas de concepções acerca do que é certo ou errado, desejável ou indesejável
nesse campo. Nesse trabalho, procurou-se estudar as formas de representação do amor –
tipicamente heterossexual – e, assim, das relações esperadas entre homens e mulheres nessas
canções, a fim de desvelar aspectos ideológicos subjacentes. Para tanto, recolhemos o corpus
das músicas sertanejas mais tocadas de 2001 a 2015, através de consulta de sites e rádios, que
tem tais listas prontas, como no blog Universo Sertanejo, da UOL Entretenimentos. Como
categorias de análise, foram selecionadas as construções metafóricas e metonímicas,
conceituadas a partir dos estudos em Linguística Cognitiva. A Linguística Cognitiva considera as
metáforas e metonímias como algo além de apenas recursos estilísticos, como são considerados
atualmente pela Gramática. Nesse novo paradigma proposto primeiramente por Lakoff & Johnson
(1980), esses tipos de processos cognitivos estariam presentes na nossa vida, não só na
linguagem, mas no modo de agir e no pensamento. Para tanto, será usado como referencial
teórico, os paradigmas propostos por Lakoff & Johnson (1980), Ferrari (2014), Kövecses (2010),
Vereza (2010; 2013) e Santos (2002). Serão debatidos os casos de metáforas e metonímias nas
músicas de 2002, e alguns casos, nas canções encontradas em 2001. Nessas análises
realizadas, metáforas como SENTIMENTOS SÃO OBJETOS, e O AMOR É UMA JORNADA são recorrentes.
As metonímias mais encontradas são as de PARTES DO CORPO POR PESSOAS. Serão debatidas a
estruturação da projeção inter e intra-domínios e suas implicações em termos discursivo-textuais.
Palavras-chave: Música sertaneja, discurso, linguística cognitiva, metáfora, metonímia.
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MEME: CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS E EXPRESSÃO CULTURAL
Lilian Mara Dal Cin dos Santos ([email protected])
Orientadora: Ana Rosa Ferreira Dias
Programa de Pós-graduação: Língua Portuguesa - PUC-SP
Doutorado
Este trabalho tem por objetivo apresentar pesquisa de Doutorado que se encontra em
desenvolvimento. Nosso estudo pretende analisar como se dá a construção de sentidos em
memes, baseando-se nas asserções de Koch (2010), Kress & van Leeuwe (2001), Kress (2010) e
Shifman (2014). Nosso corpus é formado por memes coletados durante o ano de 2015,
especialmente os compostos de imagem e texto ou o que Shifman (2014) chama de “Fotos
Meméticas”. Para a autora, memes são expressões criativas multiparticipantes através das quais
identidades políticas e culturais são comunicadas e negociadas; blocos que ajudam a construir a
cultura contemporânea. Kress (2010) explica que modos são elementos produzidos socialmente e
que se tornam recursos culturais para gerar significados. Parece-nos, portanto, que analisar
memes do ponto de vista da multimodalidade seja o caminho ideal, já que são textos compostos
por diferentes modos, isto é, multimodais por excelência, e cada modo que os compõe pode
representar uma expressão cultural capaz de gerar significado. No entanto, sem nos esquecermos
de que nosso trabalho situa-se no âmbito da Linguística Textual, identificaremos, no corpus, as
estratégias cognitivas, interacionais e textuais acionadas para se construir sentido, de acordo com
Koch (2010). No Brasil, os memes ainda são pouco estudados - embora sua produção seja cada
vez mais crescente - de forma que é difícil encontrar até mesmo uma definição clara sobre eles.
Por essa razão, decidimos nos focar no processo de construção de sentidos desses textos
multimodais. Nossa primeira impressão, ao olhar para esses textos, é que, de fato, eles carregam
mais significados do que aparentam e a sua produção está completamente atrelada ao seu
contexto de criação e consumo. As pessoas os criam, em cada país, de acordo com situações
vivenciadas e expressões que se consolidaram. Por isso, podemos dizer que são “unidades de
cultura”.
Palavras-chave: linguística textual, construção de sentidos, multimodalidade, meme
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ANÁLISE DA FALA EM INTERAÇÃO NA SALA DE AULA
Luana Clementino Chalegre ([email protected])
Orientador: Valdir Heitor Barzotto
Programa de Pós-graduação: Educação
Iniciação Científica
O objetivo deste trabalho é analisar o processo da fala por meio de interação na sala de aula,
observar as negociações de identidades, compreender os papéis dos agentes e analisar o
processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa na seara da oralidade. O estudo toma por
base as observações realizadas ao longo do estágio supervisionado de aulas ministradas da
disciplina de Português para turmas de ensino fundamental II, distribuídas entre 6º, 7º, 8º e 9º
anos, em duas escolas públicas municipais da periferia do município de São Paulo. Foi possível
explorar, com surpreendente sucesso, essas interações, as quais nem sempre decorreram bem.
Apesar de duas escolas terem sido observadas, com públicos aparentemente díspares e de
mesma faixa etária, os resultados das interações são semelhantes. Este trabalho relata como se
constitui o contexto linguístico na sala de aula, como se manifesta a atuação dos alunos nesse
mesmo ambiente e de que modo os alunos e professores negociam as suas identidades sociais
na escola. As análises são fundamentadas nas contribuições da Análise da Conversa
Etnometodológica, por meio de estudos de Jung (2009) e Loder (2008), que buscam compreender
a interação entre participantes, os quais não somente comunicam palavras, mas também
negociam construções sociais de identidade. Desta forma, por meio da compreensão de como se
processa a organização dos atos conversacionais, procuraremos analisar o comportamento verbal
e social dos interlocutores durante as interações. Assim, o texto, que subsidia o registro das
observações, é concebido como um evento comunicativo resultante da atuação das múltiplas
formas da linguagem, tais como verbal e não verbal.
PALAVRAS-CHAVE: Interação, relação e negociação professor-aluno, aluno-professor e alunoaluno, análise da fala, sala de aula.
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A CONSTRUÇÃO DO ETHOS NAS PROPAGANDAS EM REVISTAS DO PERÍODO ENTRE
GUERRAS NO BRASIL
Lucimar Regina Santana Rodrigues ([email protected])
Orientadora: Maria Lúcia da C.V.O.Andrade
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
O presente trabalho é um recorte de um projeto mais amplo sobre a construção do ethos nas
propagandas em revistas do século XIX e XX. O objetivo deste estudo é examinar as
especificidades discursivas utilizadas na construcão do ethos de atores sociais que circularam nas
propagandas veiculadas na revista Seleções Digest, no Brasil, no período entre guerras, mais
especificamente, nos anos 1943 e 1944. O corpus compreende 4 propagandas impressas. A
análise será realizada a partir das marcas textuais presentes no discurso da mídia que revelam
legitimação do poder, relação de dominação, ideologia, persuasão e que remetem a estratégias
discursivas utilizadas na construção do ethos de empresas de diferentes produtos e ramos de
atividades em um contexto tumultuado como é o “entre guerras”. O discurso da mídia pode
veicular enunciados que tecem ideologias e levam os indivíduos a identificarem-se com posições
e representações dominantes. As análises revelam que as empresas estavam com suas
produções paralisadas, em função da Guerra, mas que não podiam perder de vista seus
consumidores e até mesmo cair no esquecimento e comprometer perspectivas futuras. Em função
disso, elas investiam em publicidade e nestas, muitas vezes, posicionavam-se com relação à
Guerra e ao momento político que o país vivia, trazendo em seus discursos, escolhas lexicogramaticais na representação de um ethos dominador, ideológico e altamente persuasivo.
Considerando o papel crucial do contexto, a relação entre linguagem e poder e respectivas
marcas ideológicas, a fundamentação teórica está centrada, principalmente, nos postulados da
análise crítica do discurso proposta por Fairclough (1992, 1999, 2001) e Pedro (1997). Outras
teorias como a construção do ethos, o discurso e contexto, a linguagem da propaganda e o
discurso das mídias serão abordadas a partir dos pressupostos de Maingueneau (2015), Van Dijk
(2012), Sandmann (2012), Charaudeau (2010) entre outros.
Palavras-chave: discurso da mídia; estratégias discursivas; propaganda; construção do ethos.
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HISTORICIDADE E POLIFONIA: UM ESTUDO DO ATOR MANIFESTANTE
Marcos Rogério Martins Costa ([email protected])
Orientadora: Norma Discini de Campos
Programa de Pós-graduação: Linguística
Doutorado
Em junho de 2013, depois do aumento das tarifas de transporte público nas grandes cidades, as
ruas foram tomadas por multidões que gritavam, esbravejavam e queriam grandes reformas
econômicas, políticas e sociais. Esse acontecimento foi nomeado de Jornadas de Junho. Os
corpos dos atores das Jornadas de Junho estão em confronto, pois respondem um ao outro de
maneira mais polêmica do que contratual, conforme depreendemos a partir de uma estilística
discursiva (DISCINI, 2009). O objetivo desta pesquisa é investigar, no cotejo entre o inteligível e o
sensível, a historicidade nos discursos a partir da análise do ator do enunciado manifestante no
fenômeno discursivo das Jornadas de Junho. Como corpora dessas jornadas, selecionamos,
durante o mês de junho de 2013 na cidade de São Paulo-SP – o epicentro das manifestações –,
duas mídias distintas, entendidas como duas totalidades discursivas diferentes que relataram os
fatos desse fenômeno: as charges e os editoriais dos jornais O Estado de São Paulo e Folha de
São Paulo, publicados no dia 13 e 14 de junho de 2013. Nossa pesquisa é de caráter descritivo,
como supõe a tradição semiótica – descrevemos o fenômeno que temos à mão, as manifestações
populares, respeitada a semiose que ele implica. Para tanto, partimos de uma análise
interdisciplinar que acolhe os pressupostos da semiótica tensiva (ZILBERBERG, 2011;
FONTANILLE, 2008), da estilística discursiva (DISCINI, 2009; 2013) e da filosofia bakhtiniana
(BAKHTIN, 2010; VOLOCHINOV, 1976). Como resultados parciais da pesquisa em andamento,
constatamos no cotejo das totalidades selecionadas que a historicidade dos corpos em confronto
na situação de desestabilização social apontam para a relevância da polifonia bakhtiniana nos
discursos da vida. Com isso, alargar-se epistemologicamente o conceito bakhtiniano a partir de
um visada semiótica de suas aplicações nas construções sociais dos atores do enunciado a partir
de determinadas estratégias da enunciação.
Palavras-chave: Historicidade; Polifonia; Ator; Manifestante; Semiótica
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DISCURSO CIENTÍFICO POLÍTICO-EMPRESARIAL NO BRASIL: ESTUDO DE UM CASO –
SÃO PAULO DIVERSO
Maria Glushkova ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Neste artigo desenvolve-se a ideia que a expansão do discurso científico é um aspecto de
divulgação científica, sobre o que já foi publicado um outro artigo em anais do congresso EPED
2015. A pesquisa apoia-se nas ideias bakhtinianas sobre o diálogo - uma relação axiológicosemântica entre a esfera científica e outras esferas da atividade humana. O discurso científico na
vida moderna é representado não somente como o discurso científico puro ou tradicional que
podemos observar nas universidades com a participação dos cientistas, discutindo os temas
científicos, mas também em diálogo com outras esferas da vida: a vida cotidiana, televisão, rádio,
esfera dos estudos, política, negócios etc. As relações entre a esfera científica e a esfera política,
observando as questões econômicas da realidade, formam um discurso especial e relativamente
jovem - o discurso científico político-empresarial. Um exemplo desse tipo de discurso no Brasil
analisado neste artigo é o Fórum de Desenvolvimento Econômico Inclusivo - São Paulo Diverso
(novembro 2015). O evento tem uma tarefa de promover diálogo entre os três setores: o produtivo,
o acadêmico e o público, a esfera acadêmica neste tipo de discurso é influente. São observados
os temas e questões abordados durante o evento, a forma de organização de debates, os
participantes e palestrantes do fórum. Neste artigo, o material das gravações (aproximadamente 2
horas de vídeo, em português) foi transcrito e analisado do ponto de vista de expansão do
discurso científico e sua influência fora dos instituções científicos no nível da estilística e
composição de discurso. A influência da esfera acadêmica no discurso científico políticoempresarial é demonstrada.
Palavras-chave: estudos discursivos; análise discursiva; discurso científico, divulgação científica.
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VOCABULÁRIO DO SAMBA DE BUMBO: RESULTADOS
Mario Santin Frugiuele ([email protected])
Orientador: Manoel Mourivaldo Santiago Almeida
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Egresso
Este trabalho tem como objetivo geral estudar o vocabulário de uma modalidade de samba
conhecida como samba de bumbo, ou, seguindo clássico ensaio de Mário de Andrade (1937),
samba rural paulista. O corpus objeto de trabalho é fundamentalmente constituído por dois tipos
de entrevistas (livres e controladas), produções lítero-musicais e bibliografia encontrada sobre o
tema. Com base nesse corpus, definimos o vocabulário para a elaboração do questionário,
aplicado com praticantes e não praticantes do samba, e para o desenvolvimento do estudo
semântico-lexical. Esse estudo subdivide-se em duas análises: (i) análise diacrônica das unidades
lexicais coletadas junto aos praticantes do samba, comparando suas acepções, dentro do
universo da manifestação, às encontradas em dicionários dos séculos XX e XXI; e (ii) análise
discursiva pontual de alguns vocábulos/textos. O objetivo específico deste estudo é, portanto,
registrar as unidades lexicais de uso popular da referida expressão cultural, suscitando uma
discussão sobre a tendência à manutenção e tendência ao desuso em curso dos elementos que
compõem seu vocabulário, de modo a averiguar se a população das localidades onde o samba de
bumbo continua sendo praticado já não mais reconhece e utiliza, frequentemente, os vocábulos
relacionados à manifestação. Para realizar esta tarefa, apoiamo-nos na sociolinguística, na
dialetologia, na lexicologia e na análise do discurso de linha francesa (AD). Os resultados
alcançados demonstram que o samba de bumbo passa por um processo de apagamento refletido
no léxico das localidades investigadas, principalmente em meio aos não praticantes, mas também
indicam o recente movimento de restruturação dos grupos, que resistem e se articulam em busca
de fortalecer a manifestação. De outra parte, ao evidenciarem os processos opacos que
contribuíram para o enfraquecimento do samba, tais resultados ainda permitem demarcar o local
de enfrentamento das práticas de resistência hoje promovidas pelos grupos tradicionais e não
tradicionais de samba de bumbo.
Palavras-chave: Léxico; Samba de bumbo; Análise do Discurso; Sociogeolinguística.
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ALGUNS VALORES SOCIAIS EM CRÔNICAS DE MACHADO DE ASSIS: UMA ANÁLISE
BAKHTINIANA
Mayra Pinto ([email protected])
Orientadora: Maria Inês Batista Campos
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
Esta comunicação fará a análise axiológica de uma crônica de Machado de Assis. O trabalho é
parte do projeto de pós-doutorado Uma abordagem teórico-metodológica bakhtiniana do acervo
literário do programa nacional biblioteca da escola (pnbe)/2013 para o ensino médio, que procura
demonstrar a pertinência de alguns conceitos do Círculo de Bakhtin para o ensino de literatura. No
trabalho com literatura em sala de aula, se quisermos enfrentar os males da sua escolarização
inadequada (SOARES, 2011), é importante compreender conceitos como dialogismo, que
contribui para abordar as diferentes camadas estilísticas e axiológicas próprias dos discursos
artísticos em geral, não só do literário. Sob a perspectiva de uma análise axiológica, cerne da
teoria bakhtiniana do discurso, entende-se que a comunicação verbal se dá por uma enunciação
que compreende duas partes: a parte percebida ou realizada em palavras e a parte subentendida
– o horizonte espacial e semântico compartilhado pelos falantes, que engloba as avaliações
sociais básicas dos distintos grupos sociais. (VOLOSHINOV, 2013). Esse conceito pode contribuir
para entender como as relações valorativas constituem a linguagem e arquitetam discursos
pertencentes às mais diferentes vozes sociais. Com base nele, o professor pode perceber a
questão da ideologia no texto literário sob o ponto de vista bakhtiniano – tudo o que envolve a
visão de mundo e sua escala de valor. Com um bom domínio sobre a questão ideológica, como
parte intrínseca de qualquer discurso, o professor poderá contribuir para criar um olhar crítico de
seu aluno, o que, em tempos de uma cultura de massa avassaladora e tão presente no cotidiano
das classes populares, é fundamental.
Palavras-chave: Discurso literário; Análise axiológica; Vozes sociais.
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ESCOLAS COMO FÁBRICAS: ANÁLISE DE REPRESENTAÇÕES SOBRE EDUCAÇÃO
Milan Puh ([email protected])
Programa de Pós-graduação: Educação
Orientador: Valdir Heitor Barzotto
Doutorado
Adriana Santos Batista ([email protected])
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Orientador: Valdir Heitor Barzotto
Egresso
Este texto propõe a análise de uma propaganda veiculada em 2014 pela Prefeitura do Rio de
Janeiro em que se associam elementos ligados a escolas e a fábricas, tendo como foco a
multimodalidade da materialidade visual-escrita apresentada na publicação para discutir as
metáforas utilizadas na representação da escola pública brasileira. Tomam-se como base teórica
as concepções sobre multimodalidade advindas de Kress e van Leeuwen (1996; 2001; 2006),
especificamente, os acontecimentos do mundo extralinguístico, além das relações sociais entre os
indivíduos envolvidos numa interação definida por diversos discursos, o que nos leva ao conceito
de interdiscursividade em Fairclough (2003), que a entende como uma questão de constituição de
um discurso por meio de uma combinação de elementos de ordens do discurso. Através da
análise multimodal da vertente sociossemiótica (KRESS, 2009, VAN LEEUWEN, 2005), foi
possível estudar o modo de interação entre aqueles que produzem e aqueles que observam as
imagens, procurando entender de que forma determinado conteúdo foi representado. Partindo das
reações causadas pelo material (evidenciadas em blogs, notícias, comentários etc.), este trabalho
tem como objetivo a analisar os significados gerados pela relação entre os atores sociais
envolvidos e entre as modalidades acionadas, conteúdo escrito e imagético. Assim, definimos dois
objetivos específicos que são: discutir os meios pelos quais significados não previstos durante a
elaboração da propaganda são construídos, bem como de que modo se constroem as metáforas
sobre a educação. Concluímos que as imagens dos alunos e da escola, materializadas na
propaganda, não repercutiram positivamente em favor da prefeitura, pois a cena representada
encontra-se muito mais próxima da concepção de fábricas do que da de escola, além de remeter
em grande parte a outras imagens fortemente presentes no imaginário daqueles que leram e
pensaram a respeito do tema, como, por exemplo, a referência ao vídeo da banda Pink Floyd.
Palavras-chave: Multimodalidade. Análise do Discurso. Publicidade.
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A COMPOSIÇÃO DO DISCURSO ECOMIÁSTICO NO CENÁRIO CORTESÃO PORTUGUÊS DO
SÉCULO XVII
Monica Messias Silva ([email protected])
Orientador: Luiz Armando Bagolin
Programa de Pós-Graduação: Multidisciplinar em Culturas e Identidades Brasileiras
Mestrado
O trabalho de edição semidiplomática e análises dos elementos retóricos do livro manuscrito
Antiguidade da Arte da Pintura pretende expor como seu ator Felix da Costa retomou
procedimentos da retórica antiga a fim de compor um discurso encomiástico que enaltecesse a
pintura no cenário cortesão português do século XVII. À vista disso, iniciamos nossa análise pelo
título que dá nome ao tratado composto por Felix da Costa, título esse que retoma o primeiro
tratado escrito em português sobre pintura, o Da Pintura Antiga, de Francisco de Holanda, escrito
um século antes. A semelhança entre os nomes de ambos os tratados denota um procedimento
de imitação em que Felix da Costa se utiliza de uma tópica já empregada outrora por Holanda. Por
conseguinte, o uso dos termos antiga e antiguidade faz uma analogia ao passado da pintura, que
é de onde vêm os tópoi que servirão como argumentos para demonstrar a virtude da pintura,
muitos desses tópoi oriundos de Plínio, o Velho, de sua obra enciclopédica História Natural. É,
pois, da antiguidade greco-romana que serão obtidos exemplos para tecer elogios à pintura,
exemplos esses que justificarão, igualmente, a nobreza dessa arte, procurando elevá-la ao
patamar das artes liberais. Por isso, nossa leitura do Antiguidade da Arte da Pintura é feita à luz
da retórica antiga, respaldando-se em autoridades como Plínio, o Velho, Aristóteles e Cícero. Felix
da Costa segue, desse modo, os mesmos procedimentos discursivos de outros tratadistas à sua
época, imitando-os ou até mesmo copiando-os. Propomos, destarte, uma análise inicial do
Antiguidade da Arte da Pintura em que Felix da Costa, por meio do elemento retórico da similitude
compara personas contemporâneas de si a autoridades do passado a fim de justificar a nobreza
da pintura e reivindicar patrocínio para as artes em Portugal.
Palavras-chave: Retórica antiga; Discurso encomiástico; Artes; Felix da Costa; Filologia.
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IMAGEM E PODER: (DES)CONSTRUÇÃO DE FIGURAS IDENTITÁRIAS NA TELEVISÃO
LEGISLATIVA
Nathalia Akemi Sato Mitsunari ([email protected])
Orientadora: Marli Quadros Leite
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
Enquanto cena de teatro, a TV Senado tem seus atores principais, coadjuvantes e figurantes,
senadores titulares e suplentes de partidos maiores e menores que representam, para aqueles
que estão fora de cena, os eleitores. O trabalho a ser apresentado tem por finalidade estudar as
propriedades de discursos parlamentares envolvidas na (des)cortesia. Centrar-nos-emos na
análise de como a descortesia atua na (des)construção da imagem dos interactantes e como a
participação de um indivíduo, nesse gênero do discurso, relaciona-se com a ação política
(CHARAUDEAU, 2013), domínio da prática social em que se enfrentam forças simbólicas para a
conquista e a gestão do poder, jogo de legitimidade, credibilidade e cooptação. Para a presente
ocasião, selecionamos uma gravação, dentre as cinco de nosso corpus de pesquisa: do dia 22 de
abril de 2014, nela, Aécio Neves (PSDB - MG) e Lindbergh Farias (PT - RJ) trocam acusações
durante a votação do requerimento que permitiu a aprovação do projeto de Marco Civil da Internet.
O tratamento que lhe foi dado fundamentou-se em estudos organizados por Preti (1993 e 2008). À
luz de Preti e Leite (2013), Blas Arroyo (2001) e Charaudeau (2013), visaremos a identificar e
interpretar algumas ocorrências de descortesia, para demonstrar que a agressividade verbal nos
debates políticos não pode ser entendida, simplesmente, como um desinteresse dos interlocutores
na negociação que caracteriza o diálogo. Verificamos que, antes, representam a preocupação em
se construir uma imagem positiva de si para o público, tanto quanto a cortesia verbal, em função
das relações de poder existentes entre os interlocutores, no domínio da prática social.
Palavras-chave: Análise da Conversação; TV Senado; Imagem e poder.
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AS METÁFORAS ATREVIDAS DA TROVA HUMORÍSTICA
Pedro da Silva de Melo ([email protected])
Orientadora: Elis de Almeida Cardoso
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Desde a Antiguidade a Metáfora tem sido objeto privilegiado de estudos linguísticos e literários.
Analisada por diversos prismas, mais do que um “adorno” ou um “ornamento” verbal, é
compreendida como um procedimento discursivo de constituição de sentido (Fiorin, 2011). Teorias
recentes como a Metáfora Conceptual e a Metáfora Sistemática (Sardinha, 2007) propiciam uma
visão mais abrangente papel da metáfora no texto e no discurso além do estatuto de “figura” ou
“tropo”. Indissociável da própria cognição, a metáfora faz parte do ato enunciativo e se torna
particularmente expressiva no humor. Ao mesmo tempo em que o humor é um discurso (falamos
adequadamente em discurso humorístico), seu alcance é transversal a outros discursos, de forma
que está presente, por exemplo, no discurso literário, jornalístico, publicitário e, em maior ou
menor grau, em outros campos da atividade humana. Este trabalho, parte de uma tese de
doutorado em andamento, tem por objetivo analisar o papel da metáfora e seus efeitos de sentido
humorístico, em particular no seu uso com semas de sexualidade. Tema predominante do humor,
a sexualidade não raro é tematizada por meio de criações neológicas formais e de metáforas
concretas que ressignificam unidades lexicais originalmente desprovidas de sema sexual. Como
corpus escolhemos um conjunto de trovas (também chamadas de quadras ou quadrinhas), um
gênero poético de raízes populares muito antigo no Português. Nessas trovas, recolhidas de livros
e de sites, podemos observar a veiculação de um discurso que visa ao riso, procederemos a um
recorte, em que analisaremos as escolhas lexicais constituídas de metáforas, de forma que o
efeito de sentido humorístico é alcançado pelo tema e pelas unidades empregadas. Nosso
referencial teórico abarca estudos da Metáfora, da Lexicologia e da Estilística. Preliminarmente, a
análise do corpus nos aponta que a metáfora é tão produtiva quanto a criação de neologismos
formais.
Palavras-chave: Metáfora; Humor; Expressividade; Escolha lexical
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GÊNERO MEME: O DISCURSO POLITICAMENTE (IN)CORRETO EM SUAS CADEIAS
RESPONSIVAS
Sergio Mikio Kobayashi ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Mestrado
Um gênero discursivo que emerge da dinâmica de comunicação da Internet e das Redes Sociais é
o gênero meme, que consiste na imitação de um acontecimento da vida sob outra perspectiva, por
meio de uma imagem ou imagem com texto escrito, produzido por qualquer internauta e que
guarda traços de longevidade, fidelidade e fecundidade. (Souza Júnior, 2013). O objetivo principal
deste trabalho, resultante de uma pesquisa de Mestrado em andamento, é traçar as
características ideológicas que sustentam cadeias discursivas formadas na internet, tomando
como centro o gênero Meme e os textos que, por um lado, emergem de sua instanciação e, por
outro, lhe servem de mote, de modo a compreender suas relações com o discurso “Politicamente
Correto” e “Politicamente Incorreto” da linguagem. Para dar conta deste objetivo, este trabalho
ancora-se na Análise Crítica do Discurso, sobretudo no trabalho de Fairclough (2003), tomando
como abordagens complementares as proposições de Shifman (2013) sobre a constituição de
Memes na Cultura Digital e os postulados de Recuero (2006) acerca das redes digitais. Além
disso, realiza um debate com as reflexões de Possenti (1995) no que tange ao uso Politicamente
Correto da Língua para discuti-las à luz dos estudos crítico-discursivos, considerando as práticas
discursivas realizadas em meio virtual. Por se tratar de uma pesquisa recém-iniciada, trataremos
da definição e problemática do gênero Meme, bem como suas cadeias responsivas, propondo
uma análise discursiva experimental, levando em conta os aspectos do gênero e das discussões
sobre o discurso Politicamente Correto e Politicamente Incorreto da linguagem.
Palavras-chave:
Análise
Crítica
do
Discurso,
Cadeias
Responsivas,
Internet,
Meme,
Politicamente Correto
65
A OBRA INFANTIL LOBATEANA SOB O OLHAR DA ANÁLISE DO DISCURSO
Simone Strelciunas Goh ([email protected])
Orientador: Hudnilson Urbano
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Tratar a literatura infantil como gênero discursivo é um desafio, pois cada gênero presume um
contrato específico definido por seu ritual, a literatura infantil volta-se para esse público,
desenvolvendo-se a partir de situações sociais ou até mesmo reapresentando e criando novas
realidades (BAKHTIN, 2003). A partir de um dos referenciais teóricos da Análise do Discurso
(MAINGUENEAU, 1997), analisaremos na obra lobateana, especificamente, Histórias de Tia
Nastácia (LOBATO, 1962) e Reinações de Narizinho (LOBATO, 1998), qual efeito que a
enunciação produz em seu destinatário a partir da ideia de ethos, representação do enunciado
apresentado pelo seu dizer, somando a essa a ideia de corporalidade, quais as vozes presentes,
uma vez que seus narradores se materializam diferentemente em cada obra e suas intenções
também são díspares. O que nos leva à hipótese de que ao criar uma narradora-personagem: Tia
Nastácia, Lobato não levou em consideração as respectivas variedades diastráticas da
personagem, importou-se sim em legitimá-la por meio de um discurso culto, semelhante a seus
outros narradores-personagens. Fato é que o discurso mostra diferenças entre a superfície e seu
interior, assim, ao assumirmos a presença das múltiplas vozes do enunciado, trataremos da
polifonia a fim de observarmos os “eus” construídos por Lobato. Tal aspecto remete à
preocupação do escritor taubateano para com a construção de um texto complexo e rico, não
preterindo seus leitores. Para Lobato (ABRAMOVICH, 1983), o sucesso da linguagem reside na
liberdade, na ausência de coleiras, de maneira que as estratégias discursivas criadas pelo escritor
diferem seus textos infantis do excesso de puerilidade empregado por outros escritores. Se no
plano da linguagem a literatura infantil possibilita um enriquecimento progressivo dos meios de
expressão na língua escrita, Lobato oferece um texto plural aos leitores infantis.
Palavras-chave: Análise do discurso; Monteiro Lobato; ethos; polifonia
66
A MULTIMODALIDADE INTERTEXTUAL NO FILME AS HORAS, DE STEPHEN DALDRY
Taís de Oliveira ([email protected])
Orientadora: Elizabeth Harkot-de-La-Taille
Programa de Pós-Graduação: Estudos Linguísticos e Literários em Inglês
Egresso
O filme As Horas (The Hours, 2002), dirigido por Stephen Daldry, é constituído por diversos
intertextos, colocando em questão as formulações do próprio conceito de intertextualidade. Ele
interpela seu espectador e o faz se questionar sobre o imbricamento das três histórias mostradas
no filme. Elas acontecem em três momentos e locais distintos (a primeira é a história de Virginia
Woolf, personagem baseada na biografia da famosa escritora, que se passa na cidade de
Richmond, na Inglaterra, no ano de 1923; a segunda é a história de Laura Brown, que acontece
em Los Angeles, EUA, em 1951; e a terceira, é a de Clarissa Vaughan, em Nova Iorque, EUA, no
ano de 2001) e estão ligadas, entre outras coisas, pela relação das três personagens centrais com
o romance Mrs. Dalloway (WOOLF, 1925). A partir dos postulados da Teoria Semiótica do
Discurso (GREIMAS; COURTÉS, 1979) e de seus desenvolvimentos atuais relativos à análise de
textos visuais (DONDERO, 2014; BRACCHI, 2009), procuramos identificar os intertextos
presentes em As Horas, que se manifestam tanto na linguagem verbal quanto na linguagem
visual, isto é, em seu caráter multimodal, e descrever como eles colaboram para os sentidos que
se depreendem do texto analisado. Para tanto, baseamos nosso trabalho na tipologia de
intertextos em textos verbais estabelecida por Fiorin (1994) e naquela de Dondero (2009) para
textos visuais, buscando adequar os conceitos até então desenvolvidos no seio da Teoria
Semiótica para textos verbais ou visuais separadamente para a análise intertextual de um texto
multimodal, trabalho este que ainda não havia sido realizado. Encontramos, nesta empreitada,
diversos tipos de intertextos presentes no filme. Destacam-se as relações com a obra e a vida de
Virginia Woolf e com o gênero pictural Natureza Morta.
Palavras-chave: multimodalidade; intertextualidade; As Horas; The Hours; Natureza Morta
67
A ESCRITA ENGAJADA NO JORNALISMO LUSÓFONO: UMA ANÁLISE DE PERFIS
DISCURSIVOS DE ESCRITORES AFRICANOS NO PERÍODO COLONIAL
(SÉCULOS XIX E XX)
Tércio de Abreu Paparoto ([email protected])
Orientadora: Maria Lucia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Pós-Doutorado
O presente tema para pesquisa intenta, como objetivo central, propor um estudo que visa à
investigação, à descrição e à análise de determinadas estruturas linguísticas presentes em
artigos, editoriais, informes e panfletos publicados em jornais africanos lusófonos
–
especificamente os de Angola e os de Moçambique-, durante o correr dos séculos XIX e XX,
textos estes de autoria de escritores, poetas e intelectuais da África sob o período de colonização.
A partir dessas fontes, este trabalho busca uma observação minuciosa das referidas estruturas
(como as estruturas narrativas e discursivas, as formulações/organizações discursivas, as
enunciações e relações intertextuais etc.), baseando-as em estudos insertos no contexto da
Análise Crítica do Discurso (ACD – apoiando-se nos postulados teóricos de Teun Van Dijk, Wodak
entre outros) e nas inter-relações próprias da diacronia, possibilitando estabelecer paralelos entre
perfis reconhecidamente ideológicos, bem como o de propiciar a apresentação de modelos de
análise de Retórica que certifiquem o caráter do que se entende por discurso “engajado”.
Periódicos como O Progresso, O Africano, O Brado Africano e O Itinerário, de Moçambique; de
Angola, A Aurora, A Civilização da África Portuguesa, Jornal de Luanda, O Futuro de Angola ou O
Pharol do Povo, Echo de Angola, A Província de Angola, Jornal de Angola, Voz d’Angola, entre
outros, são as fontes de onde parte o exame científico aqui desejado. Dessa forma, poder-se-á
edificar um material que vise a contribuir com a diminuição de possíveis lacunas existentes na
direção pretendida por esta pesquisa que tem como fulcro a conjugação do pensamento literáriojornalístico sob a África colonizada de língua portuguesa com os estudos linguísticos que pensam
a complexa natureza dos fenômenos discursivos.
Palavras-chave: Linguística; Análise do Discurso; Jornalismo; Angola
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AS VOZES VERBAIS NOS LIVROS ESCOLARES: UMA ANÁLISE CONTRASTIVA ENTRE AS
PESQUISAS DE ENSINO SUPERIOR E A REALIDADE DO ENSINO BÁSICO
Thabata Dias Haynal ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
As vozes verbais são fenômenos sintático-semânticos, embasados cognitivamente, e são
responsáveis pela construção de esquemas de causalidade externa e interna na estruturação de
eventos. Elas têm importantes impactos na construção discursiva, o que inclui a questão tópica e
ideológica. Ao comparar as visões de Lemmens (1995, 1998, 1999) e Taylor & Yoshimura (2006)
com relação à gramática inglesa, Arús, Lavid & Zamorano-Mansilla (2010) e García (2013) e suas
perspectivas sobre o espanhol, em conjunto com as análises de Hawad (2004), Cunha (2012),
Camacho (2003) e Almeida (2003) das vozes na língua portuguesa, foram analisados materiais
didáticos do Ensino Básico disponíveis no mercado. A contraposição da produção no Ensino
Superior e livros de português escolares tornou perceptível uma significativa diferença de foco em
relação às vozes verbais. Este conteúdo auxilia no refinamento da produção e da interpretação de
textos, uma vez que está envolvido na construção de relações de causa e da responsabilização
pelas ações; contudo, ocupam cada vez menos espaço nos livros, com exercícios de fixação
mecânicos e classificatórios que não possibilitam depreender sua relevância discursiva. Isso
ocorre, pois o fenômeno é considerado, pela Gramática Tradicional, de um ponto de vista
meramente morfossintático, centrado no verbo. Em busca de uma transposição didática eficiente
que possa diminuir o abismo histórico entre as pesquisas acadêmicas e o Ensino Básico, o
panorama fornecido pelos materiais escolares permite uma análise contrastiva que busca a
reflexão do que precisa ser mudado. Esta reflexão faz parte de um projeto de iniciação científica
que tem como objetivo final a produção de um material didático que aborde as vozes verbais
visando às competências acima assinaladas. Neste encontro, serão apresentados os dados
iniciais da pesquisa coletados em livros didáticos e analisados de acordo com a união das
correntes linguísticas cognitiva e funcional.
Palavras-chave: vozes verbais, ensino, material didático, Linguística cognitivo-funcional
69
A MANIPULAÇÃO DAS PALAVRAS COMO ARMA NAS TENSÕES DO HARÉM DE
MONTESQUIEU
Thaïs Chauvel ([email protected])
Verónica Galíndez Jorge
Programa de Pós-graduação: Estudos linguísticos, literários e tradutológicos em francês
Mestrado
A comunicação pretende abordar a intriga do serralho desenvolvida pelo filósofo francês
Montesquieu em seu romance epistolar intitulado as Cartas persas. Esta obra elabora-se através
das palavras entrecortadas dos diversos epistolários integrantes do harém: as mulheres, os
eunucos e o mestre, que se comunicam por intermédio de cartas. Sendo assim, a proposta visa
analisar as diferentes perspectivas enunciadas por essas três categorias de personagens,
observando os procedimentos linguísticos e o léxico empregados por cada membro do serralho. O
intuito é compreender em que medida a palavra torna-se uma arma de manipulação, e de que
maneira o embate no discurso evidencia as tensões e os jogos de poder que operam no seio do
harém de Montesquieu, que constitui um verdadeiro “laboratório ficcional”, na expressão de Jean
Starobinski, criado pelo filósofo iluminista com o fim de criticar o despotismo. A fim de verificar se
esta hipótese se sustenta, a comunicação pretende ainda convocar o conceito de heterotopologia
desenvolvido por Michel Foucault em seu artigo “Des espaces autres” (1984), que concebe o
discurso e a razão (logos) de um espaço (topos) outro (hetero) como meio de contestação dos
espaços familiares. Sendo assim, o espaço do serralho que Montesquieu representa a partir das
tensionadas vozes do harém, constituiria um contra-espaço – ficcional – ao ocidente, onde a
infertilidade do sistema despótico e as violentas consequências da tirania se manifestam. Dentro
dessa perspectiva, a intriga do serralho desenvolvida ao longo do romance não é mais
compreendida como um mero elemento de exotismo oriental, mas como o ambiente do
despotismo doméstico, o que permite estabelecer um vínculo entre a intriga do harém e as
reflexões político-filosóficas tecidas ao longo da obra.
Palavras-chave: Discurso; polifonia; despotismo; iluminismo
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CIÊNCIA, ARTE E VIDA SOB A ÉGIDE DA RESPONSABILIDADE: UMA ANÁLISE DESSES
CAMPOS DA CULTURA HUMANA NO DISCURSO DE DIVULGAÇAO CIENTÍFICA NO BRASIL
OITOCENTISTA
Urbano Cavalcante Filho ([email protected])
Orientadora: Sheila Vieira de Camargo Grillo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Doutorado
Em 1919, Mikhail Bakhtin publicou um brevíssimo, mas denso artigo de duas páginas chamado
Arte e responsabilidade (publicado em 13 de setembro no almanaque diário O dia da arte, de
Nevel) e nesse “miniensaio”, como chamou Boris Schnaiderman, o jovem teórico lança na arena
de sua reflexão dois aspectos importantes de sua teoria. O primeiro diz respeito à oposição entre
uma ligação mecânica e uma articulação arquitetônica entre os elementos que compõem um todo.
O segundo refere-se à noção de totalidade, ao integrar ciência, arte e vida sob a égide da
responsabilidade. Sobre esse segundo aspecto central do miniensaio é que dispensarei minha
atenção nessa comunicação, com o objetivo central de discutir a importância dessa proposta
bakhtiniana ao pensar a relação intrínseca entre o geral e o particular, entre elementos
constituintes e totalidade, ou seja, a relação entre a arte e a vida na existência humana, tomando
o eu como integrante e dotado de responsabilidade (responsabilidade por e responsividade a),
como aquilo que garante a unidade interior dos elementos constituintes do homem, tanto numa
perspectiva ética quando estética. Em seguida, o objetivo é, a partir dessa reflexão teórica,
observar como esses três “campos da cultura humana” (a ciência, a arte e a vida) são refletidos e
refratados no projeto discursivo de uma das atividades de divulgação científica mais importantes
do Brasil no século XIX, as Conferências Populares da Glória, mobilizando, nessa discussão,
conceitos centrais da teoria bakhtiniana, como esferas ideológicas, dialogismo, responsabilidade,
respondibilidade, gêneros do discurso.
Palavras-chave: teoria bakhtiniana; responsabilidade; respondibilidade; divulgação científica.
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PROXIMIZAÇÃO E DISCURSO DE EXCLUSÃO EM CASOS DE FAMÍLIA
Winola Weiss Pires Cunha ([email protected])
Orientador: Paulo Roberto Gonçalves Segundo
Programa de Pós-graduação: Filologia e Língua Portuguesa
Iniciação Científica
A teoria da proximização (CAP, 2013; HART, 2014) parte da abordagem cognitivista dos estudos
da linguagem e da tradição crítica dos estudos de discurso para analisar o fenômeno linguísticocognitivo que constitui a estratégia retórico-pragmática voltada à legitimação de intervenções
sociais calcada na distância conceptual – afastamento x proximidade de eventos e de entidades.
Essa tentativa de legitimação apresenta um ator, situação ou evento, supostamente hostil ao Self,
que adentra, através das dimensões espaciais, temporais e axiológicas, o ground do
conceptualizador, gerando, portanto, consequências pessoais. É concebida primariamente como
uma característica do discurso intervencionista e discursos de exclusão, como a “cura gay”.
Essa proposta apresenta três eixos de análise: socioespacial, temporal e avaliativo. O presente
trabalho se valerá do último. O eixo avaliativo apresenta uma conceptualização dêitica de “certo” x
“errado” em seus dois sentidos (epistêmico e axiológico), tendo cada um deles referências
antonímicas, com várias posições intermediárias. O axiológico diz respeito à avaliação moral. Já o
epistêmico se refere ao fechamento ou abertura do espaço dialógico e às modalidades realis x
irrealis.
Os resultados apresentados são fruto de uma pesquisa de Iniciação Científica já concluída, que se
propôs a analisar um corpus composto por episódios do programa de televisão aberta Casos de
Família, transmitido pelo SBT. Para essa ocasião serão abordadas as instâncias de proximização
avaliativa nos episódios “Mesmo vendendo o meu corpo, eu faço parte dessa família” e “Ninguém
merece uma família tão preconceituosa”. O programa, que apresenta temáticas “marginalizadas”,
como a homofobia e a prostituição, pautadas por pessoas comuns (VOLPE, 2013) numa esfera
pública alternativa (SILVA, 2013), configura- se num espaço privilegiado para análises discursivas.
Palavras-chave: Proximização, Análise Crítica do Discurso, Linguística Cognitiva, Linguística
Sistêmico-Funcional.
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