tecnologia atômica - Editora Expressão Popular

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tecnologia atômica - Editora Expressão Popular
TECNOL
OGIA ATÔMICA
TECNOLOGIA
A nova frente das multinacionais
TECNOLOGIA ATÔMICA
A nova frente das multinacionais
EDITORA
EXPRESSÃO POPULAR
Copyright © 2004, by Editora Expressão Popular
Título original: The Big Down: From Genomes to Atoms.
Tradução: Elisa Schreiner
Revisão: Geraldo Martins de Azevedo Filho
Projeto gráfico, capa e diagramação: ZAP Design
Ilustração da capa: Detalhe de "Radiografia Paranóica", de Juan Battle Planas,
Argentina, 1936.
Impressão e acabamento: Cromosete
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca Central - UEM, Maringá – PR., Brasil)
E83t
ETC Group
Tecnologia atômica : a nova frente das
multinacionais / ETC Group. – São Paulo : Expressão
Popular, 2004.
192 p.
Livro indexado em GeoDados http://www.geodados.uem.br
ISBN 85-87394-50-9
1. Tecnologia atômica. 2. Novas tecnologias. 3.
Multinacionais. II. Título.
CDD 21.ed. 306.46
303.483
ELIANE MARIA DA SILVA JOVANOVICH CRB 9/1250
Todos os direitos reservados.
Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada
ou reproduzida sem a autorização da editora.
1ª edição: março de 2004
EDITORA EXPRESSÃO POPULAR
Rua Bernardo da Veiga, 14
CEP 01252-020 - São Paulo-SP
Fone/Fax: (11) 3112-0941
Correio eletrônico: [email protected]
www.expressaopopular.com.br
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO (Laymert Garcia dos Santos) .............. 7
A TECNOLOGIA ATÔMICA EM UMA PÁGINA ............... 19
CONTEXTO
TECNOLOGIAS CONVERGENTES ......................... 23
PARTE I
O QUE É TECNOLOGIA ATÔMICA? ....................... 39
PARTE II
TECNOLOGIAS ATÔMICAS
Quatro (perigosos) passos em direção ao mínimo para
o meio ambiente, a economia e a vida em si ............... 55
PARTE III
AS TECNOLOGIAS ATÔMICAS FUNCIONARÃO?
Quatro testes para uma nova tecnologia .................. 99
PARTE IV
PARA QUEM E ONDE TERÁ IMPACTO?
Nos pobres e na economia, é claro ...................... 111
PARTE V
QUEM SE IMPORTA?
Os personagens que impulsionam as novas tecnologias ....... 133
PARTE VI
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS .............. 159
FONTES E RECURSOS
Apêndice a – nano-net ................................ 169
Apêndice b – nanogramática ........................... 177
O grupo ETC ....................................... 185
APRESENTAÇÃO
LAYMERT GARCIA DOS SANTOS*
Vamos direto ao assunto: a pergunta que o leitor se faz quando abre este livro é: Por que uma editora ligada aos movimentos
sociais traduz e publica um texto sobre tecnologia atômica? O
que teriam eles a ver com essa tecnologia sofisticada e de ponta,
que promete ser a nova fronteira do capital? No meu entender, a
resposta é: tudo a ver.
A decisão de abordar a questão da tecnologia atômica indica
que os movimentos sociais estão aprendendo, com os
transgênicos, que os trabalhadores precisam conhecer as opções
tecnológicas feitas por empresários e governos, porque serão eles
*
Laymert Garcia dos Santos é professor titular da Unicamp, onde leciona as disciplinas de Sociologia Ambiental e Sociologia da Tecnologia. Formado pela Universidade
de Paris 7 em Ciências da Informação, tem dedicado seus últimos quinze anos às
relações entre tecnologia, ambiente e cultura. Autor de Tempo de Ensaio (Cia. das
Letras) e Politizar as Novas Tecnologias (Ed. 34), é membro do Centro de Estudos dos
Direitos da Cidadania (Cenedic) da Universidade de São Paulo e Conselho Diretor
do Instituto Socioambiental, de São Paulo.
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Te c n o l o g i a a t ô m i c a
[os trabalhadores] que fatalmente terão de pagar a conta; e precisam conhecê-las [as opções tecnológicas] antes que o jogo esteja
definido e as cartas já marcadas, para que não tenham de engolir
goela abaixo, como “as únicas possíveis”, as soluções encontradas; para que não venham dizer-lhes, com aquela cara de resignação, que... “não há alternativa!” A decisão expressa ainda que
os movimentos descobriram, também na luta contra os
transgênicos, que a tecnologia não é neutra, nem “para o bem de
todos e a felicidade geral da nação”, que o progresso da ciência e
da técnica não distribui benefícios igualmente para todos, mas
avança incluindo uns e excluindo outros, produzindo riquezas e
também danos e riscos. Enfim, a decisão mostra que os movimentos começam a pensar que os cientistas e especialistas não
são os únicos a terem o direito de se preocupar e de se ocupar
com as novas tecnologias; muito ao contrário, à medida que estas transformam e afetam a natureza, a vida e todos os campos da
atividade humana, toda a sociedade precisa participar da discussão sobre o que deve ou não, pode ou não ser desenvolvido e
implementado. Já se percebeu que as opções tecnológicas forjam
o futuro de todos e de cada um e, por isso mesmo, constituem
uma questão política, por mais distantes que de nosso cotidiano
possam parecer.
Não se trata de desconfiar a priori desta ou daquela tecnologia,
nem de se posicionar dogmaticamente contra o progresso e, principalmente, o progresso da ciência; mas de afirmar que o meio
ambiente e os trabalhadores, homens e mulheres, precisam ser
levados em consideração, e que os interesses científicos,
tecnológicos e econômicos não pairam acima da sociedade. Isso
pode parecer óbvio, mas não é, se lembrarmos que tanto a ciência quanto o capital não aceitam nenhum limite às suas práticas.
Ora, se ambos já se comportavam assim antes de se unirem
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sistêmicamente, o que dizer agora, que a tecnociência se tornou
o motor do capitalismo global? A sociedade civil não pode esperar que o Estado nacional defenda seus interesses: se não for constantemente monitorado e pressionado, este, cada vez mais enfraquecido, tende, quase que naturalmente, a “esquecer” o interesse
público e a se transformar numa linha auxiliar do poder global.
Os trabalhadores sem terra sabem muito bem que nada acontece
a seu favor sem mobilização...
A luta contra os transgênicos tem mostrado, em todo o mundo, que só a pressão de uma sociedade civil informada e organizada pode colocar limites à ambição sem limites da aliança
tecnociência-capital global, e interferir em sua programação do
futuro. Ora, um dos aspectos mais perturbadores do projeto de
tecnologização acelerada é que, nele, o papel da agricultura é
muito diverso daquele que conhecemos.
Em meados dos anos de 1990, ao participar de uma conferência internacional da FAO sobre recursos fitogenéticos em
Leipzig, Alemanha, conheci M.D. Nanjundaswamy, um velho
líder indiano, que havia sido buscado em sua casa por mais de
quinhentos mil lavradores para se colocar à frente da grande
marcha de Karnataka, em outubro de 1993, contra o
patenteamento de sementes e a política agrícola do GATT (posteriormente encampada pela Organização Mundial de Comércio). Numa longa e fascinante conversa, ele explicou a alguns
representantes de ONGs porque, apesar da sua idade avançada,
decidira lutar contra o projeto de globalização das transnacionais
e da OMC. É que, em seu entender, agora estávamos diante de
uma política de industrialização da agricultura que desemboca
não só na erosão da biodiversidade e na apropriação crescente
dos recursos e do conhecimento tradicional pelas corporações,
mas também, e principalmente, no próprio desaparecimento dos
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camponeses, à medida que desvincula a produção de alimentos
do solo, rompendo a relação de milênios do homem com a terra.
Sentindo-se parte de uma tradição cultural de três mil anos, agora ameaçada de morte, era nessa perspectiva que ele ancorava o
sentido de sua luta, de sua defesa das futuras gerações, e até mesmo de sua presença na conferência.
A conversa com o líder indiano me fez lembrar de um texto
de Píer-Paolo Pasolini, no qual o cineasta italiano conta como
descobriu que a Itália deixara de ser um país de camponeses – foi
quando constatou o completo desaparecimento dos vaga-lumes.
Naquela época, o processo não estava tão avançado, desenrolava-se de modo quase invisível, e só mesmo um poeta podia perceber a ligação entre as coisas. Hoje, porém, há muitos dados e
sinais indicando o rumo que está sendo tomado. Vejamos, por
exemplo, o que escreve Achim Seiler, num texto interessantíssimo, intitulado “Biotecnologia e Terceiro Mundo: interesses econômicos, opções técnicas e impacto socioeconômico”.
Comentando a direção do desenvolvimento da biotecnologia
agrária, que está voltada não para o combate à fome e à desnutrição, mas, sim, quase que exclusivamente para os interesses do lucro das empresas transnacionais do Norte, Seiler observa: “O mais
gritante exemplo desta principal tendência da pesquisa, ignorando aliás amplamente as necessidades básicas dos países do Terceiro
Mundo, é o esforço obstinado de todas as companhias químicas
envolvidas na biotecnologia agrária, em não melhorar a resistência
de plantas cultivadas contra pestes e doenças, mas sim em aperfeiçoar a tolerância destas sementes contra pesticidas produzidos pela
mesma companhia. Esta “estratégia de pacote” assegurará retornos adicionais significativos para as empresas do Norte, mas, provavelmente, conduzirá a uma maior poluição dos solos e da água
potável com produtos químicos. Além disso, a pobreza rural e o
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desemprego aumentarão, se se tornarem obsoletos os empregos
na agricultura que utilizam trabalho intensivo (como é o caso, por
exemplo, dos roçados), em conseqüência da aplicação de produtos
químicos combinada com sementes de alta qualidade “desenhadas” especialmente para se adaptarem a eles. A atividade de roçar
contribui com aproximadamente 30% do volume de trabalho na
agricultura do Terceiro Mundo e garante uma renda básica confiável
principalmente para as mulheres.”1
Ora, como bem mostra Seiler, essa “estratégia de pacote” é
apenas o começo de um processo biotecnológico que também
visa a substituição de quase todos os produtos agrícolas de exportação importantes dos países do Sul e uma transferência da
produção para o Norte, através de métodos da cultura de células
e da tecnologia industrial de enzimas em biorreatores, ou através
da engenharia genética. É que tanto uma via quanto a outra permitem que a biotecnologia decomponha os produtos agrícolas
em seus componentes e busque substâncias equivalentes, naturais ou sintéticas, que possam substituí-los satisfatoriamente, libertando as corporações de seus habituais fornecedores de matérias-primas e perturbando assim dramaticamente o tradicional
mercado de commodities agrícolas: “Além da possibilidade de produzirem biossinteticamente (nos biorreatores dos países do Norte) compostos vegetais de grande valor, como a baunilha, as novas técnicas oferecem a opção de produzir commodities agrícolas
tanto para o setor alimentício quanto para o não alimentício,
com base em toda uma gama de substâncias que estão se tornan-
1
Seiler, Achim. "Biotecnologia e Terceiro Mundo: interesses econômicos, opções técnicas e impacto socioeconômico", in Araújo, Hermetes Reis de (org.), Tecnociência e
cultura: ensaio sobre o tempo presente. São Paulo, Ed. Estação Liberdade, 1998, pp.
53-54. Tradução de Laymert Garcia dos Santos.
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do cada vez mais intercambiáveis. Por exemplo: usando técnicas
de enzima, excelentes substitutos da manteiga de cacau podem
ser produzidos com base em toda uma gama de óleos e gorduras
derivados de plantas e animais (óleo de palmeira, óleo de soja,
óleo de baleia etc.), que até agora estavam desconectados da produção de cacau. Há já alguns anos esta mesma técnica (tecnologia
de enzimas) vem sendo usada para produzir um amido adoçante
à base de milho (HFCS), que está substituindo o açúcar na indústria de refrigerantes americana e isso conduziu a um forte
declínio dos rendimentos de exportação de alguns países exportadores de cana-de-açúcar.”2
A possibilidade de produzir “manteiga de cacau” sem cacau
ilustra bem de que modo a aliança entre a pesquisa biotecnológica
e o capital global pretende “desmontar” a agricultura, para colocar a produção sob o controle da indústria e manipular as exportações agrícolas de países do Terceiro Mundo. Como nota Flitner:
“O agricultor produtor de cacau em pequena escala de Gana já
não está mais competindo no mercado mundial de cacau com as
fazendas de cacau da Indonésia e do Brasil, mas num mercado
mundial de gorduras com os cultivadores de coco da Tailândia e
os palmeirais da Malásia,com o cultivo da azeitona na área do
Mediterrâneo, as lavouras de colza no Norte da Alemanha e, provavelmente, com a frota pesqueira japonesa.”3
O exemplo aqui evocado dá uma idéia do grau de transformação pelo qual passa a agricultura na era da aliança entre a
tecnociência e o capital global. Não é à toa que vários pesquisado-
2
3
Idem, pp. 54-55.
Flitner, M. "Biotecnologie und landwirtschaftliche Produktion in
Entwicklungsländern", in Geographische Rundschau, nº 27, 1991, citado por Seiler,
op. cit., pp. 55-56.
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res qualificam a revolução tecnológica em curso como algo tão
importante quanto foi a revolução agrícola que, na pré-história,
separou a vida dos caçadores e coletores daquela dos agricultores.
Ora, a tecnologia atômica de que trata este livro significa um
aprofundamento ainda muito mais intenso do processo inaugurado pela biotecnologia. Isso porque a tecnologia atômica é pensada como a integração e a sinergia da biotecnologia, da tecnologia
da informação, da nanotecnologia e das ciências cognitivas, com
o objetivo de acelerar o acesso e o controle do homem sobre a
produção da matéria, de qualquer matéria, seja ela inanimada ou
viva. O que é comum a essas tecnologias é o fato de todas elas
trabalharem na escala micro, isto é, no plano da máxima
miniaturização, de partirem de átomos e moléculas como se fossem os tijolos para a construção material de tudo o que o humano vier a precisar em sua vida diária. Trata-se, portanto, de somar os esforços e os conhecimentos científicos mais recentes relativos à vida, à matéria, ao trabalho e à mente visando à máxima
eficiência e produtividade. Como concluiu um dos participantes
do seminário “Tecnologias Convergentes para o Aperfeiçoamento
do Desempenho Humano”, realizado em dezembro de 2001 pela
Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos e pelo Departamento do Comércio estadunidense: “Se os cientistas das
Ciências Cognitivas podem pensar, o pessoal da Nano pode construir, o pessoal da Bio pode implementar e o pessoal da Tecnologia
da Informação pode monitorar e controlar.”4
É claro que essa ambição de poder desmedida encontra e vai
encontrar obstáculos e resistências de toda ordem. É claro, tam4
Ver Ho, Mae-Wan. "Nanotecnology, the wave of the future?" e mais o dossiê "The
New Technologies and the Third World" in Resurgence, nº 159-160, Penang: The
Third World Network, novembro-dezembro de 2003, p. 47.
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bém, que muitos dos prognósticos são excessivamente otimistas e
ignoram ou minimizam as dificuldades teóricas existentes sobre o
assunto, os imensos recursos necessários para o pleno desenvolvimento da tecnologia atômica etc. Mas é preciso entender que a
estratégia já está estabelecida e que os campos da alimentação e da
saúde estão entre as prioridades nessa aposta. Por isso convém levar a coisa a sério – ainda mais que é no âmbito do meio ambiente
e da saúde em que emergem as preocupações quanto aos riscos e
aos efeitos colaterais dessa manipulação extrema da matéria, ainda
pouco conhecidos, porque pouco estudados.
Por outro lado, é preciso notar que a aliança da tecnociência
com o capital global gostaria que todos nós depositássemos nosso futuro em suas mãos e aceitássemos sem questionamentos o
papel de consumidores e de usuários das novas tecnologias, que
eles reservaram àqueles que poderão desejá-las e comprá-las. Se o
fizermos, porém, estaremos concordando que o futuro assim traçado caia sobre nós como um destino. Mais ainda: estaremos
deixando de nos perguntar sobre o modo como a implementação
das novas tecnologias interfere na produção de exclusão, em escala planetária. Porque é evidente que os índios, os trabalhadores
sem terra, os pobres, as populações do Terceiro Mundo, os
“descartáveis”, para usar a expressão do subcomandante Marcos,
não só não terão acesso a elas, como, provavelmente, vão ver
ainda mais agravadas as suas condições de vida e sobrevivência.
Para eles, não devem ir os benefícios, mas os riscos.
De certo modo, com a publicação do livro do ETC sobre
tecnologia atômica, os movimentos se antecipam e trazem para o
Brasil uma discussão que está começando na esfera internacional,
mas que pode “esquentar” em poucos anos, assim como o debate
sobre os transgênicos, que, se no início dos anos de 1990 interessava aos especialistas e a uns poucos grupos de organizações não
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governamentais, explodiu como problema socioambiental de alcance mundial. Ora, a abertura do debate é ainda mais oportuna
se lembrarmos que a comunidade científica brasileira, as autoridades e os políticos não costumam incluir a sociedade em suas preocupações, quando se trata da tecnologia e de seus efeitos. O interesse está sempre voltado para as possibilidades de industrialização
das inovações tecnológicas e para as oportunidades de mercado,
para o patenteamento, para a comercialização etc. Basta ver como
parte importante da comunidade científica brasileira alinha-se com
os ruralistas, e colocando-se contra os ambientalistas, na tentativa
de transformar um projeto de lei, que é de biossegurança, em lei
de incentivo da biotecnologia. Isto é: transformar uma necessidade de regulação da atividade biotecnológica para a proteção da
sociedade contra os riscos que lhe são inerentes, em legislação que
conceda carta branca aos especialistas e à indústria da
biotecnologia...
No Brasil, se a sociedade civil organizada não se mobiliza e se
faz ouvir, a dimensão socioambiental não entra sequer nas cogitações. A tecnologia atômica, pelo menos tal como é tratada pelo
ETC – enquanto convergência das quatro tecnologias acima mencionadas – não vem sendo abordada por aqui. O máximo que se
tem é uma preocupação com o desenvolvimento da nanociência
e da nanotecnologia, expressa por pesquisadores e professores
universitários de alguns centros de excelência e fundações de
amparo à pesquisa que se esforçam para manter o país minimamente em dia com a produção de conhecimento dos países do
Primeiro Mundo e que sabem de seu potencial na corrida
tecnológica. Tal preocupação é manifesta, por exemplo, no documento “Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia”, uma proposta elaborada por um grupo de trabalho do
Ministério da Ciência e da Tecnologia, no final de 2003, e apre-
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sentada como subsídio ao Programa de Desenvolvimento da
Nanociência e da Nanotecnologia do PPA 2004-2007, sob a direção do Dr. Fernando Galembeck. 5
Com efeito, ali se pode ler: “A necessidade de se criar um programa amplo de pesquisa e desenvolvimento em nanotecnologia
que maximize o aproveitamento dos recursos existentes, crie e fortaleça laboratórios afins, capacite e treine recursos humanos, integre as competências na área e alavanque a competitividade de diversos segmentos da indústria, é absoluta. A existência desse programa viabilizará o aproveitamento das oportunidades abertas pela
nanotecnologia, a priorização de atividades, a otimização no uso
dos recursos disponíveis e a inovação nas áreas escolhidas, seja por
razões estratégicas ou competitivas. Portanto, o programa é um
instrumento de competitividade econômica, um fator de aumento da participação do Brasil no produto econômico mundial e de
soberania.”
A proposta do grupo de trabalho mapeia os recursos humanos
e materiais existentes no Brasil para dar início à produção de
nanociência e de nanotecnologia de modo mais sistemático, analisa o contexto, discrimina os temas que deveriam ser contemplados
no programa (nanofabricação, nanometrologia, materiais
nanoestruturados, nanotecnologia funcional, energia, nanotecnologia molecular, nanoagregados, funcionalização de materiais e
software) e define o objetivo deste: criar e desenvolver novos produtos e processos em nanotecnologia, implementando-os para
aumentar a competitividade da indústria nacional e capacitando
pessoal para o aproveitamento das oportunidades econômicas,
tecnológicas e científicas dessa tecnologia. No entender do GT,
5
Programa de Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia, do PPA 20042007. MCT, de 4/11/03 a 7/12/03 no url http://www.mct.gov.br/temas/nano
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seu impacto deverá impulsionar vários setores da economia –
eletroeletrônica, veículos e equipamentos de transportes, tecnologia
da informação, construção civil, química e petroquímica, energia,
agronegócio, biomedicina e terapêutica, ótica, metrologia, metalurgia, produção mineral, proteção e remediação ambiental – além
do impacto sobre áreas estratégicas como as de segurança nacional, pessoal, patrimonial e alimentar.
É sintomático que o GT mencione o impacto sobre setores
da economia e sobre áreas estratégicas, esquecendo-se do impacto sobre o ambiente e sobre os trabalhadores da cidade e do campo. O pesquisador Paulo Martins6, que vem se dedicando à questão, observa que, à lista do programa, caberia acrescentar, entre
outros: os impactos sociais, éticos, legais e culturais, a identificação de que segmentos sociais serão os incluídos e os excluídos do
processo de adoção da nanotecnologia, a análise dos riscos... Em
suma, aquilo que também precisa ser considerado para que a
tecnologia, qualquer tecnologia, melhore efetivamente as condições de vida de uma sociedade.
6
Martins, Paulo Roberto. Contribuição a Consulta Pública do Programa de Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia, do PPA 2004-2007. MCT, de 4/11/
03 a 7/12/03 no url http://www.mct.gov.br/temas/nano
A TECNOLOGIA ATÔMICA EM UMA PÁGINA
As tecnologias-chave da última metade do século – transistores,
semicondutores e engenharia genética – todas elas tinham a ver com
redução de tamanho, materiais e custos, e com aumento de capacidade. Estamos a caminho de dar um passo muito maior em direção
ao mínimo. Nossa capacidade de manipular a matéria move-se de
genes para átomos. Enquanto a sociedade civil e os governos estão
concentrados na modificação genética, um aparato impressionante
de empresas industriais está mirando uma revolução científica que
poderia modificar a matéria e transformar todos os aspectos do trabalho e da vida. Este relatório apresenta um conjunto de ferramentas e de técnicas que chamamos de tecnologias atômicas, as quais
incluem nanopartículas, nanobiotecnologia, nanofabricação e fabricação molecular. Ele também descreve a futura convergência da
biotecnologia, da tecnologia de informações e das ciências cognitivas
com a manipulação em nanoproporção da matéria, como força
unificadora. A Parte I (O que é tecnologia atômica?) apresenta as
tecnologias e a Parte III (As tecnologias atômicas funcionarão?) fornece
quatro critérios para avaliação das expectativas comerciais.
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IMP
ACT
O
IMPA
CTO
Toda forma de trabalho e de empreendimento será afetada. A
Parte II (Quatro [perigosos] passos em direção ao mínimo) descreve o
campo de ação atual e futuro da tecnologia. O mercado mundial
atual para as nanotecnologias está avaliado em aproximadamente
US$ 45 bilhões.1 Elas já representam um papel facilitador na
biotecnologia, fármacos, armazenagem de energia e informação, e
na indústria de materiais que está em amplo crescimento. Circuitos nanofabricados provavelmente irão capturar o mercado de
semicondutores feitos com silicone ainda nesta década (a receita
mundial apenas nesse setor alcançará US$ 300 bilhões até 2006).
As tecnologias entrarão na fabricação convencional, incluindo tudo,
de utensílios domésticos a roupas e alimentos. Em 2015, o mercado mundial para todas as etapas da tecnologia atômica excederá
US$ 1 trilhão, e o mundo se defrontará com organismos biônicos
(Parte II, O átomo e Eva).2 Apesar de que seu impacto será sentido
primeiro no Norte, a tecnologia atômica, assim como antes a
biotecnologia – terá conseqüências econômicas e ambientais em
breve para os países em desenvolvimento.
RISCOS
Alguns cientistas (e poucos governos) reconhecem que a
tecnologia atômica proclama oportunidades tremendas e riscos sociais e ambientais horrendos. Com a tecnologia atômica, a indústria
poderá monopolizar as plataformas de fabricação em nível atômico,
que são a base de toda a matéria animada e inanimada. A atual
produção em massa de materiais, e de novas formas de carbono com
características desconhecidas e não testadas, são a principal preocupação. No futuro, a produção em massa de nanomateriais raros e de
nanomaquinário auto-replicante, contém riscos incalculáveis. A
tecnologia atômica também poderia significar a criação e a combi-
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nação de novos elementos e a ampliação de armas de destruição em
massa. A Parte IV (Para quem e onde terá impacto?) continua com
comentários sobre os riscos e adiciona exemplos.
PR
OTAGONIST
AS
PRO
GONISTAS
O financiamento público nos EUA, Japão e Europa está por
volta de US$ 2 bilhões por ano, e crescendo cada vez mais. As
principais corporações de todos os setores industriais estão comprometidas, da Bayer à Boeing, da Motorola à Mitsubishi,
da IBM à Exxon. Seu investimento interno provavelmente é igual
ao de empresas recém-iniciando. O gasto total mundial em pesquisa e desenvolvimento em 2001 foi de aproximadamente US$
4 bilhões. A Parte V (Quem se importa?) examina a variedade de
pequenas e grandes empresas, universidades e governos que estão trabalhando nas novas tecnologias.
POLÍTICAS
A maior parte da pesquisa atual em tecnologia atômica não
manipula diretamente material vivo – e sim os elementos químicos vitais para a vida – e tem evitado grandemente o escrutínio da
regulamentação. Mesmo a produção e o uso dos materiais em
nanoescala atuais teriam implicações sociais de tirar o fôlego, e os
impactos ambientais são desconhecidos, devidos aos dados e estudos insuficientes. No futuro, a indústria molecular posa com enormes riscos ambientais e sociais – na ausência de uma ampla compreensão social e de tributação (a Parte VI oferece recomendações
políticas).
FÓR
UM
FÓRUM
Nenhum. O impacto das tecnologias convergentes na
nanoescala é desconhecido ou subestimado pelo fórum
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intergovernamental. Já que as nanotecnologias serão usadas em
todos os setores, nenhuma agência está tomando a frente. Os
governos e as organizações da sociedade civil (CSOs) deveriam
estabelecer uma Convenção Internacional para a Avaliação das
Novas Tecnologias (ICENT), incluindo mecanismos para
monitorar o desenvolvimento da tecnologia.
NO
TA
NOT
1
2
CMP Científica, “Nanotechnology Opportunity Report”, março/2002. Esse relatório está focado apenas na nova tecnologia que envolve material menor do que 100nm;
ele prevê vendas anuais relacionadas com a nanotecnologia no valor de US$ 30 milhões, apesar de Scott Mize, o autor do relatório, ter afirmado que essa estimativa
exclui receitas vindas das ferramentas e que talvez esse valor seja US$ 70 milhões
maior (Foresight Basic Tutorial, 10 de outubro de 2002). Devido ao custo proibitivo
do relatório, (US$ 1.995), as referências do ETC vem de um resumo: Eric Pfeiffer,
“Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers Real,”
Small Times, 11 de março de 2002; disponível pela Internet: www.smalltimes.com.
A NanoBusiness Alliance, um novo grupo de comércio dos EUA, estima a receita
mundial anual da nanotecnologia em US$ 45,5 bilhões. A enorme discrepância se
deve à inclusão da Alliance de alguns produtos que não são verdadeiramente na nano
escala – uma definição rígida mas muito aceita de nanotecnologia limita o tamanho
daquilo que está sendo manipulado a menos de 100 nanômetros. A estimativa da
Alliance inclui os MEMs – sistemas mecânicos microelétricos, que estão na escala
dos micrômetros. A estimativa da CMP Científica exclui alguns produtos que são
verdadeiramente da nanoescala, mas não das novas tecnologias (por exemplo, negro
de carvão, partículas de carbono na nanoescala – quimicamente iguais à fuligem –
têm sido usadas na fabricação de pneus por mais ou menos um século).
M Roco e W.S. Bainbridge, eds., “Societal Implications of Nanoscience and
Nanotechnology,” National Science Foundation, março/2001, pp. 3-4.
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CONTEXTO
TECNOLOGIAS CONVERGENTES
Este relatório descreve e analisa a convergência das
nanotecnologias e seus impactos sociais em potencial. Nossa meta
é traduzir a complexa informação científica e catalisar amplo
debate público. (Termos novos ou especializados relacionados
com as nanotecnologias aparecem em negrito neste documento
e estão definidas no glossário – ver nanogramática no índice B).
A indústria e os governos prometem que a manipulação da
matéria na escala do nanômetro (um bilionésimo de metro) trará benefícios extraordinários. Toda a matéria – viva ou não – se
origina na nanoescala. Os impactos das tecnologias que controlam esta esfera não podem ser superestimados: o controle da
matéria em nanoescala é o controle dos elementos da natureza
(os átomos e moléculas que são os blocos construtores de tudo).
A biotecnologia (a manipulação dos genes), a informática (a administração eletrônica de informações), as ciências cognitivas (a
exploração e a manipulação da mente) e a nanotecnologia (a
manipulação de elementos) irão convergir para a transformação
da matéria viva e não viva. Quando OGMs (organismos geneti-
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camente modificados) se encontrarem com a matéria atomicamente modificada, a vida e os seres vivos nunca mais serão os
mesmos.
Atualmente a pesquisa pública e privada na nanoescala está
evoluindo por baixo das telas do radar da sociedade civil e dos
reguladores do governo. Enquanto a sociedade está focada em debates amargos – mas vitais – sobre as promessas e os perigos da
modificação genética, empreendimentos industriais estão atrelando uma revolução na tecnologia atômica que poderia modificar
toda a matéria e transformar todos os aspectos do trabalho e da
vida. É urgentemente necessário existir uma compreensão e uma
fiscalização por parte da sociedade civil e dos governos, ou os produtos da nanotecnologia serão jogados no mercado sem processos
de revisão, taxação e regulação transparentes e democráticos.
Tradicionalmente pensávamos e manufaturávamos na
macroescala (metros). Nos últimos 50 anos, também aprendemos a pensar e a manufaturar na microescala (micrômetros ou
menos). Estamos apenas começando a dirigir nossa atenção para
a nanoescala, em que a matéria-prima, tanto da ciência quanto
do comércio, é o átomo.
Tecnologia atômica refere-se a uma gama de novas tecnologias
que operam na nanoescala ou mais abaixo – isto é, a manipulação de moléculas, átomos e partículas subatômicas, para criação
de novos produtos. Ao adotar o termo nanotecnologia, a indústria quer dizer que a manipulação da matéria irá parar no nível
dos átomos e moléculas – medidos em nanômetros. Entretanto,
seria ingênuo assumir que a nanoescala será a última fronteira.
“Tecnologia atômica” melhor descreve tecnologias que visam
manipular os principais blocos de construção da matéria.
Em geral, nanotecnologia significa engenharia mecânica numa
escala molecular, mas é um termo ambíguo e traiçoeiro. Às ve-
ETC Group
25
zes, refere-se à nanotecnologia empregada atualmente, como o
uso de nanopartículas em cosméticos ou em tintas industriais.
Às vezes, refere-se ao objetivo mais em longo prazo, de fabricação molecular – proezas da engenharia atômica que ainda não
são possíveis. Essas são faces totalmente diferentes de uma
tecnologia, as quais têm implicações dramaticamente diferentes
para a sociedade. É importante ter em mente que, enquanto algumas aplicações da tecnologia atômica são realidades de mercado, outras estão nos estágios iniciais de desenvolvimento, e outras
ainda são rejeitadas como sendo visões anormais de “futuristas
marginalizados”. Baseado na história recente, o Grupo ETC acredita que é nitidamente “má ciência” rejeitar qualquer pesquisa
tecnológica tão bem fundada e que envolve tantos atores industriais variados.
A tecnologia atômica é transdisciplinária. Ela usa a física, a
engenharia, a biologia molecular e a química. Seu verdadeiro
poder está na habilidade de atingir todos os setores da economia
mundial e seu potencial em redefinir a vida. Por exemplo, a engenharia genética, como a conhecemos hoje, será fundamentalmente mudada e capacitada pela tecnologia atômica. Mas a
tecnologia atômica irá eclipsar a engenharia genética porque ela
envolve toda a matéria – tanto viva quanto não viva.
A questão da propriedade e do controle dessa tecnologia penetrante é de suprema importância. Quem controlará os produtos e os processos da tecnologia atômica? Como na revolução
industrial que a precedeu, veremos uma diminuição do bemestar das pessoas pobres e maior disparidade entre ricos e pobres?
Manipulação em nanoescala, em todas as suas formas, oferece
potencial sem precedentes de controle do monopólio dos elementos e dos processos fundamentais para o funcionamento biológico e dos recursos materiais.
26
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
A promoção exagerada das tecnologias de nanoescala, hoje
em dia, lembra sinistramente as antigas promessas da
biotecnologia. Desta vez nos dizem que a nano irá erradicar a
pobreza proporcionando bens materiais (livres da poluição!) para
todos os povos do mundo, irá curar doenças, reverter o aquecimento global, aumentar o tempo de vida resolver a crise de energia. As aplicações presentes e futuras da tecnologia atômica são
potencialmente benéficas e socialmente atraentes. Mas mesmo
os maiores incentivadores da tecnologia atômica recomendam
que pequenas maravilhas podem significar infortúnios colossais.
Aquilo que é desconhecimento da tecnologia atômica – que varia dos riscos para a saúde e para o meio ambiente de contaminação pelas nanopartículas, para Gray Goo e cyborgs, e para a ampliação das armas de destruição em massa – envolve riscos incalculáveis. Enquanto o potencial de desenvolver produtos e processos
ambientalmente simpáticos e baratos é enorme, não sabemos o
suficiente sobre as implicações socioeconômicas, de saúde e de
meio ambiente da tecnologia atômica – presentes ou futuras.
O objetivo do Grupo ETC sempre esteve nas sociedades rurais – especialmente as do Sul. A convergência de tecnologias na
nanoescala poderá parecer distante das comunidades rurais da
África, da Ásia ou da América Latina. Não é. Há mais de 20
anos, avisamos que a biotecnologia logo afetaria a saúde e a agricultura nos países em desenvolvimento. Novas tecnologias no
Norte também afetam mercados, importações e exportações,
políticas de emprego e estratégias de produção. Se as tecnologias
não forem bem sucedidas, elas poderão ser “despejadas” no Terceiro Mundo. Se forem comercialmente bem sucedidas, poderão
se espalhar nos países em desenvolvimento e/ou transformar radicalmente economias locais. Com a biotecnologia, por exemplo, a descoberta de que as variedades tradicionais de milho dos
ETC Group
27
agricultores no México foram contaminadas com DNA geneticamente modificado ilustra o potencial dos impactos na saúde,
no meio ambiente e comerciais. A controvérsia sobre carregamento de grãos geneticamente modificados, plantados nos EUA,
como ajuda humanitária em alimentos, proporciona outro exemplo. Enquanto o interesse imediato do mercado em nanotecnologias parece mais forte na informática e nos materiais, muito
trabalho está sendo feito em nanobiotecnologia. Assim como a
biotecnologia chegou para dominar as ciências da vida nas duas
últimas décadas, o Grupo ETC acredita que a convergência para
nanoescala se tornará a estratégia operativa para controle
corporativo dos alimentos, do comércio, da agricultura e da saúde
no século 21.
Classificação das palavras nas tecnologias conv
ergentes
convergentes
Biotecnologia – Abrangendo uma variedade de técnicas que
envolvem o uso e a manipulação de organismos vivos, a
biotecnologia tornou-se sinônimo de engenharia genética
(tecnologia de recombinação do DNA), o processo pelo qual
genes são alterados e transferidos artificialmente de um organismo para outro. Biotecnologia tem seu foco no núcleo da célula.
Nanotecnologia – A nanotecnologia refere-se à manipulação
de matéria viva e não viva no nível do nanômetro (nm), um
bilionésimo de metro. É nessa escala que a Física quântica assume o lugar da Física clássica e as propriedades dos elementos
mudam de característica de maneira inusitada e inesperada.
Ciência cognitiv
cognitivaa – A ciência cognitiva está interessada em
como os seres humanos e outros animais (bem como as máquinas) adquirem, representam e manipulam o conhecimento. Uma maior compreensão da cognição permite o desenvolvimento de inteligência artificial, em que as máquinas tentam
imitar os processos mentais. Esta disciplina também inclui as
neurociências cognitivas, permitindo a exploração e a mani-
28
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
pulação da mente, especialmente para a “intensificação” da
performance humana.
Informática – Tecnologias da informação, incluindo a computação e a comunicação, que permitem aos cientistas capturar, organizar e analisar dados.
Robótica – Uma tecnologia que focaliza a construção de máquinas comandadas por computadores com capacidade de realizarem diferentes tarefas.
Tecnologias atômicas – Toda a matéria (viva e não viva) é
composta por materiais em nanoescala, inclusive átomos e
moléculas. Tecnologias atômicas referem-se a uma variedade de
técnicas que envolvem a manipulação de moléculas, átomos e
partículas subatômicas para produção de materiais. Tecnologia
atômica também envolve a fusão e a manipulação de matéria
viva e não viva para criação de elementos e organismos novos e/
ou híbridos. O poder da tecnologia atômica será totalmente
compreendido com a integração das tecnologias que operam
em nanoescala, incluindo biotecnologia, informática, robótica e
ciência cognitiva.
Existem várias maneiras de descrever como essas tecnologias
convergirão. O governo dos EUA prefere NBIC –
nanotecnologia, biotecnologia, informática e ciência
cognitiva. Bill Joy, o cientista-chefe da Sun Microsystems,
escreveu provocativamente sobre as implicações do GNR –
genética, nanotecnologia e robótica. Outros apontam para
a GRAIN – genética, robótica, inteligência artificial e
nanotecnologia. Seja qual for o acrônimo, o ponto fundamental nas tecnologias convergentes é que todas acabam se
encontrando na essência.
OBSER
VAÇÃO
OBSERV
Em 2002, mensalmente são anunciadas descobertas nas
nanociências, e cientistas estão atingindo feitos considerados
impossíveis há apenas um ano. Dado o compasso emocionante
dos novos desenvolvimentos na nanociência, alguma informa-
ETC Group
29
ção nesse kit poderá estar desatualizada antes mesmo de ser
publicada. A Sessão IV tem uma lista de recursos, onde os leitores poderão encontrar informação adicional e atualizada sobre tecnologia atômica.
C
AVALIAÇÃO DO GR
UPO ET
GRUPO
ETC
Não é que as tecnologias sejam ruins (apesar de certas
tecnologias serem inerentemente destrutivas, centralizadoras
ou enfraquecedoras). Em vez disso, a avaliação de novas e poderosas tecnologias exige ampla discussão social e preparação.
A sociedade precisa ser informada, assim como precisa ter poder para participar da tomada de decisões sobre as tecnologias
emergentes.
INFORMAÇÃO HISTÓRICA
Tecnologia: desenvolvimento que empobrece? Ele abanou sua mão
com desgosto. É verdade, é verdade.
Apesar de poder ser dito que a maré enchente levanta todos os barcos,
um esquife furado encostará no chão, independente da maré.
Gary Krist, Extravagance. Romance
Em sua comparação fictícia do mercado de ações de Londres de 1690 e
de Wall Street em 1990, o autor Gary Krist mostra que as duas eras foram
movidas por transformações tecnológicas rápidas, catapultadas pela ganância e pela colisão entre governo e capitães da indústria. Enquanto os ricos
levavam vidas de extravagância inacreditável, os pobres de Londres, e mesmo a classe média de Nova York, tornaram-se cada vez mais marginalizados.3 Apesar de terem se passado trezentos anos, as lições da história permanecem desaprendidas. Marés enchentes ainda enchem muitos barcos de
água.
RENASCENÇA INDUSTRIAL?
Os historiadores geralmente colocam a Renascença européia
como tendo ocorrido entre 1450 e 1625 (ou uma era que inclui
30
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
aproximadamente a vida de Leonardo da Vinci e Galileu). Alguns
historiadores, como John Gribbin, são mais precisos. Um período
de ciência e descobrimento iniciou, ele afirma, em 1453, quanto
Gutemberg começou a imprimir a bíblia. Copérnico forçou a
Europa a olhar “para cima” ao publicar seu tratado sobre a Revolução das Esferas Celestiais; e Vesaluis obrigou a Europa a olhar “para
baixo” com a publicação do seu tomo revolucionário sobre a Fabricação do Corpo Humano.4 Num processo sem paralelo com a
Internet, as prensas tipográficas espalharam-se pela Europa em 25
anos, de Palermo a Oxford, carregando os novos pensamentos e as
idéias para todos os cantos e frestas do continente. Copérnico
mudou nosso senso de nós mesmos no universo, mas também
pressionou os estudiosos a investigarem a natureza da matéria.
Versaluis lançou a biologia como ciência – info, nano, bio!
Que a Renascença foi, na verdade, uma revolução industrial
tem sido normalmente ignorado. “A principal razão para os ganhos em produtividade [durante a Renascença] foi o progresso
tecnológico...”, insiste o historiador Carlo Cipolla, voltando-se
para a explosão de riqueza durante aquele período.5 A produtividade dos tecelões italianos duplicou, e depois triplicou – mesmo
sem o maquinário têxtil que se tornou a marca registrada da Revolução Industrial inglesa, séculos mais tarde. As primeiras
impressoras de Gutemberg produziram trezentas páginas por dia.
No final da Renascença, uma impressora podia produzir quatro
vezes essa quantidade. Entre 1350 e 1550, a produção de ferro
inglesa aumentou sete ou oito vezes. A maioria dos avanços da
Renascença veio nas áreas da navegação e do comércio. Antes de
Colombo, a taxa tripulante-carga era de um marinheiro para cada
cinco ou seis toneladas. Os holandeses atingiram uma taxa de
um homem para dez toneladas no final da Renascença.6 Quinhentos e cinqüenta anos mais tarde: info, nano, bio.
ETC Group
31
De acordo com o historiador Kevin Phillips, “A Renascença
e o surgimento do capitalismo, aproximadamente entre 1450 e
1625, fervilharam com as inovações tecnológicas e comerciais”.7
Veneza tornou-se o eixo central do comércio europeu. O Norte
da Itália melhorou a tecnologia de construção naval – desbravando linhas de montagem e partes de intercâmbio – de tal modo
que os navios transoceânicos podiam ser construídos em um dia.
A tecnologia incitou a primeira era moderna da globalização.
Entre 1450 e 1625, o comércio na Europa cresceu de 600 a 800%.
Desde os dias de apogeu do Império Romano não havia sido
acumulada tanta riqueza na Europa.
Mas, como Phillips destaca, enquanto os ricos viviam vidas
de extravagância como resultado das novas tecnologias, o custo
de vida aumentou de modo desesperador para as classes trabalhadoras.8 “Trabalhadores rurais e meeiros cambaleavam sob os
aumentos nos aluguéis, que terminavam com a receita das suas
colheitas. As dietas em todos os lugares tinham menos carne e
grãos, e os trabalhadores rurais falavam com inveja dos avós que
tinham comido fartamente, plantando sempre o mesmo lote de
terra.9 Aumentavam as desigualdades entre ricos e pobres (especialmente no que diz respeito à comida e à habitação).”
TRATADO HOLANDÊS (TECNOLÓGICO)
Tecnologia, comércio e capitalismo uniram-se nos Países Baixos (os ingleses chamavam com inveja de “financiamento holandês”)10 para dar à Europa sua segunda Revolução Industrial. Como
os italianos haviam feito antes deles, os inventores holandeses
olharam para cima (ou para fora) e para baixo – inventando o
telescópio e o microscópio de uso comercial. As tecnologias holandesas envolvendo construção naval, pesca, indústria têxtil,
entre outros, dominavam os anos de 1600.11 Os Países Baixos
32
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
tinham 6.000 navios em 1669 – uma armada comercial igual à
de todo o resto da Europa.
EMPOBRECIMENT
OS IMP
ERIAIS
EMPOBRECIMENTOS
IMPERIAIS
No início de 1700, entretanto, a tocha da tecnologia foi passada
para um novo gigante industrial. O Reino Unido dominava o
mundo, pelo menos da metade do século 18 até o fim do século
19. Entre 1808 e 1830, o comércio mundial aumentou em 30%.
Entre 1840 e 1870, o comércio mundial deu um pulo de cinco
vezes, com a Inglaterra controlando a metade de todo o comércio
industrial.12 De maneira única, a Revolução Industrial britânica
uniu forças com o transporte. Energia a vapor (através de máquinas
a vapor em fábricas e locomotivas a vapor) possibilitou que as
manufaturas existissem onde fossem mais convenientes. Os
industriais podiam construir perto dos mercados de trabalho ou
“contra o vento de High Street”.13
Mais uma vez, a enorme riqueza gerada pela Revolução Industrial britânica estava longe de ser universal. Entre 1760 e 1845,
a tendência geral dos salários dos trabalhadores era de baixa. Até
mesmo o The Economist afirma que no século 19 “o impacto
inicial de enriquecimento na revolução industrial forneceu material para as misérias dickensianas da vida urbana.”14
RE
VOL
UÇÕES REPUBLICANAS
REV
OLUÇÕES
No fim do século 19, o poder industrial atravessou o Atlântico
indo para os Estados Unidos. O surgimento da estrada de ferro e
do telégrafo em meados do século 19, incentivou enormes mudanças na indústria dos EUA. Com a chegada do automóvel –
seguido do avião, do rádio e de uma grande quantidade de inovações tecnológicas relacionadas – o domínio industrial dos Estados Unidos era definitivo. As extravagâncias dos alegres anos
ETC Group
33
de 1900 e dos exuberantes anos de 1920 são lendárias. Menos
lembrado é o fato de que, entre 1920 e 1927, aproximadamente
650.000 trabalhadores foram acrescentados à lista de desempregados. E 200.000 pessoas por ano eram despedidas como resultado das novas tecnologias nos anos imediatamente anteriores à
quebra da bolsa de 1929.15
Outra revolução industrial – liderada pela informática e pela
biotecnologia – se iniciou nas décadas finais do século 20. Entre
1980 e 2000, a divisão total do capital de mercado controlada
pelas bolsas da alta tecnologia dos EUA cresceu de 5 a 30% (antes do colapso). Mas enquanto a América corporativa se vangloria de empreendedorismo e inovação, o desenvolvimento de
semicondutores, computadores, robótica, tecnologias aeroespaciais e a Internet têm sido, ou incentivados, ou pesadamente subsidiados e protegidos pelo governo. Isso nos deu não apenas telefones celulares ou colheitas geneticamente modificadas, mas também crescente desigualdade, desemprego e empobrecimento nos
Estados Unidos e fora desse país.
MARÉ CRESCENTE DA TECNOL
OGIA
TECNOLOGIA
Durante pelo menos 550 anos, as transformações tecnológicas
moldaram os assuntos mundiais. A importância da ciência e da
tecnologia no último século – e nos anos à frente – não pode ser
exagerada. Os economistas vêem o avanço tecnológico como sendo a maré crescente que permite que os benefícios e a abundância
“pinguem em gotas” daqueles que enriqueceram antes dos outros. A história sugere diferente. Da Renascença européia à revolução da informática estadunidense, a humanidade tem marchado por uma sucessão de revoluções industriais que – nas suas
primeiras gerações – tem deixado os grupos marginalizados sem
poder e incapacitados.
34
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Seja a transformação tecnológica da Itália nos séculos 15 e
16, ou da Inglaterra no século 18 – ou dos EUA no século 20 –
cada uma dessas revoluções distorceu profundamente a igualdade social e a política. Em cada caso, os inovadores foram subsidiados pela classe dominante/governo do dia. Cada transformação
industrial criou riqueza extravagante (seja para a família Médici
ou para os Gates) e enorme pobreza. Os trabalhadores rurais que
estavam “fora do círculo” na Renascença da Itália foram derrotados pela revolução dos preços que acompanhou as novas
tecnologias. Da mesma forma, os mineradores e os trabalhadores da industria têxtil da Inglaterra foram encurralados pelos preços, o que aumentou a quantidade de famintos. A nutrição estava tão a perigo que o peso médio de um jovem recruta militar no
Reino Unido, Suécia, Hungria e nos Estados Unidos (lugares
que dispõem de relatórios) diminuiu durante as respectivas revoluções industriais e não retornou aos níveis anteriores à revolução por mais de um século.16 Enquanto os italianos subsidiavam
Leonardo da Vinci, os holandeses e os britânicos da mesma forma subsidiavam seus inventores e industriais. Os estadunidenses
fizeram dessa conspiração uma forma de arte. Em cada caso, as
tecnologias andaram apoiadas nos governos para conseguir aceitação dos consumidores e monopólio de mercado. Em cada caso,
pelo menos inicialmente, foram os pobres e marginalizados os
que sofreram.
ETC Group
35
NO
TAS
NOT
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
Gary Krist, Extravagance, A Novel. Broadway Books, 2002, p. 21.
Ver John Gribbin, Science: A History 1543-2001, Penguin/Allen, 2002, como revisto em “A History of Science – Time’s Arrow”, The Economist, 28 de setembro de
2002.
Carlo M. Cipolla, Before The Industrial Revolution – European Society and Economy,
1000-1700, (3ª edição), W.W. Norton & Company, 1994, p. 105.
Ib., pp. 105-107.
Kevin Phillips, Wealth and Democracy, Broadway Books, 2002, p. 258.
Ib., p. 258.
Ib., p. 259.
Krist, Extravagance, p. 11.
Phillips, Wealth and Democracy, pp. 175-176.
Ib., pp. 175-177.
Ib., p. 260.
Anônimo, “Bigger is Better”, The Economist, 26 de fevereiro de 1998.
Phillips, Wealth and Democracy, p. 262.
Anônimo, “Bigger is Better”, The Economist, 26 de fevereiro de 1998.
PARTE 1
O PAPEL DO INFINITAMENTE PEQUENO
É INFINITAMENTE GRANDE.
LOUIS PASTEUR
O QUE É TECNOLOGIA ATÔMICA?
DE DA
VID A GOLIAS
DAVID
Antes que um terremoto o destruísse, em 227 a.C., o Colosso
de Rhodes, uma estátua de bronze representando o deus Hélio,
estava colocada no porto da cidade, e se elevava a 32 metros acima
das ondas. Ela foi considerada uma das sete maravilhas feitas pelo
homem no mundo. Mais tarde, nossa apreciação pelo maravilhoso diminuiu – do muito, muito grande, para o muito, muito pequeno – do colossus (grande em grego) para o nano (anão).
SENSO DE TAMANHO
“Tecnologia atômica” refere-se a uma gama de novas
tecnologias que buscam manipular átomos, moléculas e partículas subatômicas, para criação de novos produtos. A indústria prefere o termo nanotecnologia.17
“Nano” é uma medida e não um objeto. Ao passo que a palavra “biotecnologia” dá uma idéia de qual material está sendo
manipulado através da arte humana – “bio” (isto é, vida) – a
nanotecnologia revela apenas o tamanho do material que está
40
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
sendo manipulado (um nanômetro é a bilionésima parte de um
metro). Qualquer coisa na nanoescala é invisível ao olho nu e
para todos os instrumentos, menos os mais especializados. Ter-se
uma idéia do que é a nanoescala (até 100 nanômetros) é importante para se compreender sua importância.
“A história bíblica de David e Golias, em que o pequeno David
derrota o enorme Golias com um estilingue, nos ensina que o
pequeno pode ser mais poderoso do que o grande. Hoje em
dia, o poderoso Golias (corporações industriais) aprendeu sua
lição, e está explorando o poder do mínimo para se tornar
ainda mais poderoso, enquanto o pequeno David (sociedade)
não está conseguindo nem enxergar seu oponente.”
O BIG DO
WN
acr
ano:
DOWN
WN,, do M
Macr
acroo ao N
Nano:
•
Homem – 1.850.000.000nm (1,85m de altura)
•
Dedo – 18.000.000nm (18mm de largura)
•
Cabelo humano – 80.000nm
•
Vírus – 50nm
•
Átomo – 0,15nm
RECEIT
A DE UMA P
ESSO
AP
EQ
UENA
RECEITA
PESSO
ESSOA
PEQ
EQUENA
Elemento
Fração total de massa corporal
Oxigênio
61%
Carbono
23%
Hidrogênio
10%
Nitrogênio
2,6%
Cálcio
1,4%
Fósforo
1,1%
Súlfur
0,2%
Potássio
0,2%
Sódio
0,14%
Cloro
0,12%
Magnésio
0,27%
ETC Group
41
Silício
260ppm*
Ferro
60ppm
Flúor
37ppm
Zinco
33ppm
Cobre
1ppm
Manganês
0,2ppm
Zinco
0,2ppm
Iodo
0,2ppm
Selênio
0,2ppm
Níquel
0,2ppm
Molibdênio
0,1ppm
Vanádio
0,1ppm
Cromo
0,03ppm
Cobalto
0,02ppm
* ppm – partes por milhão
Para ajudá-lo a ter um senso de tamanho:
• Dez átomos de hidrogênio alinhados lado a lado são um
nanômetro.
• Se um átomo de hidrogênio fosse aumentado até o tamanho deste ponto (“.”) e se a letra próxima dele (“a”) fosse
aumentada na mesma proporção, o “a” teria o comprimento
de 80km.
• Uma molécula de DNA tem a largura de 2,5nm (25 vezes
maior do que um átomo de hidrogênio). DNA – a substância que carrega a informação que os engenheiros genéticos misturam e combinam – é um agrupamento de átomos de hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono.
• Uma célula vermelha do sangue tem o diâmetro de aproximadamente 5.000nm, mais ou menos um vigésimo da largura de um fio de cabelo.
• Os componentes individuais dos transistores de silicone
usados em microeletrônica medem apenas 130 nanômetros,
42
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
o que significa que a Intel consegue colocar 42 milhões
deles no seu chip do Pentium 4.18
• O comprimento de um nanômetro é de 10-9. O número
10 -12 nos coloca na dimensão do núcleo do átomo; 1012 é a
escala do sistema solar inteiro.
Filósofos medievais apenas faziam idéia dessa dimensão invisível, imaginando quantos anjos conseguiriam dançar na cabeça
de um alfinete. Sem interferir com quaisquer cálculos
escatológicos, os cientistas agora sabem que 900 milhões de
nanopartículas cabem na cabeça de um alfinete.19
AL
QUIMIA A
TÔMICA
ALQ
ATÔMICA
De M
endel a M
endeleiev
Mendel
Mendeleiev
O monge austríaco Felix Mendel publicou seu tratado sobre
herança genética em 1865. Quatro anos mais tarde, Dmitri
Mendeleiev, químico russo, publicou seu livro contendo a primeira cartela da tabela periódica dos Elementos. Mendel descreveu a regeneração da vida; Mendeleiev catalogou os elementos da vida. Esses dois pioneiros da “bio” e da “nano” nunca se
encontraram – mas suas tecnologias sim!
Em nível de átomos e moléculas, a matéria-prima da
tecnologia atômica são os elementos químicos da tabela periódica,
que são os ingredientes de todas as outras coisas, incluindo os
blocos genéticos de construção da vida. A tabela periódica é uma
lista de todos os elementos químicos conhecidos, aproximadamente 115 no momento.20 Os símbolos de cada elemento químico (geralmente as primeiras letras do seu nome) estão arranjados em colunas e séries, agrupados de acordo com suas propriedades químicas.
Toda a matéria, viva e não viva, é feita de elementos químicos. Já que tudo no universo conhecido é construído a partir de
ETC Group
43
mais ou menos cem blocos de construção, a variedade infinita
na nossa volta é o resultado de “receitas” químicas únicas usando
um número limitado de possíveis “ingredientes”. Para funcionar
corretamente, o corpo humano precisa de 25 elementos, mas
nossos corpos contêm traços de todos os elementos que existem
na terra.21
O hidrogênio, por exemplo, é responsável por 88% dos átomos no universo – ele está no Sol, na água, na crosta terrestre e
no corpo humano. O carbono é um componente de toda a matéria que está viva ou foi viva alguma vez. Dependendo da variação das condições da atmosfera e da temperatura, o carbono na
sua forma natural pode ser grafite, diamante ou carvão. E muitos de nós consumimos aproximadamente 300g de carbono todos os dias, na forma de carboidratos, gorduras e fibras.
Os tecnólogos atômicos buscam controlar a tabela periódica
da mesma maneira que um pintor controla uma paleta de cores. A
meta é criar novos materiais e modificar aqueles que já existem.
LEIS DAS CARA
CTERÍSTICAS
CARACTERÍSTICAS
O tamanho pode mudar tudo. Na nanoescala, os elementos
podem ter um desempenho muito diferente do que quando estão em escala maior. A descida das microtecnologias, como a
microeletrônica e os microprocessadores, para a nanoescala já é
uma revolução em si. Um micrometro é 1.000 vezes maior do
que um nanômetro. Mas a diferença é muito maior do que o
tamanho. Abaixo dos 50nm, surge aquilo que os cientistas chamam de “efeito do tamanho quântico”: a mecânica quântica toma
o lugar da mecânica clássica (a mecânica clássica domina as propriedades físicas vistas tanto no mundo macro quanto no micro).
Com apenas uma redução no tamanho e sem mudança na substância, as características fundamentais de fabricação, tais como a
TABEL
AP
ERIÓDICA DOS ELEMENT
OS
ABELA
PERIÓDICA
ELEMENTOS
44
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
ETC Group
45
condutividade elétrica, cor, força, ponto de fusão – as propriedades que geralmente consideramos constantes para um certo material – podem mudar:
• A substância que é vermelha quando tem um metro de
largura poderá ser verde quando sua largura for de apenas
alguns nanômetros (o dourado de um anel de casamento
parece amarelo; nanoouro é vermelho).
• Algo que é macio e maleável na macroescala poderá ser
mais forte do que o aço na nanoescala.
• Um único grama de um material catalisador (usado para
acelerar reações químicas) feito de partículas de 10
nanômetros de diâmetro é aproximadamente 100 vezes
mais reativo do que a mesma quantidade do mesmo material feito com partículas de um micrômetro de diâmetro.22
• Uma forma de carbono puro na nanoescala poderá ser um
condutor e um semicondutor de eletricidade, enquanto
uma forma de carbono puro na escala larga não é nenhum
dos dois (ex: diamante).
As mudanças na cor, força, condutividade e reatividade, que
podem ser observadas na nanoescala, são atribuídas à redução
no tamanho das partículas. Talhando-se a estrutura dos materiais
na nanoescala, é possível construir materiais originais com propriedades totalmente novas, nunca antes identificadas na
natureza.
FERRAMENT
AS P
ARA UMA TECNOL
OGIA MINÚSCUL
A
FERRAMENTAS
PARA
TECNOLOGIA
MINÚSCULA
Mudança no caráter quântico
Aula IIlustrada
lustrada & Pér
olas de SSabedoria
abedoria
Pérolas
A nanoescala provoca mudanças espantosas nas propriedades
dos materiais comuns:
46
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
O molusco haliote (a origem da “pérola mãe”), por exemplo,
constrói uma concha incrivelmente duradoura organizando o
carbonato de cálcio (a mesma substância que forma o giz da
sala de aula) em tijolos de nanoestrutura. Como argamassa, o
haliote cria uma gosma elástica de proteína e carboidratos. Se
uma rachadura surge na parte de fora da concha, ela terá pouca chance de atravessar a espessura da concha, porque a estrutura força a rachadura a abrir caminho entre seus pequenos
tijolos, difundindo sua energia. Ajudando a controlar o estrago, a argamassa elástica forma nanofilamentos resistentes que
tentam forçar os tijolos que estão se separando de volta aos
seus lugares. O efeito de tamanho quântico muda características sem mudança na composição química dos materiais. O
carbonato de cálcio que se esfarela no quadro negro transforma-se na concha impenetrável do haliote.23
Antes que você possa fazer ou manipular algo que tire vantagem da mecânica quântica, você precisa ter as ferramentas para
ver o que está acontecendo na nanoescala. Em 1959, o físico
Ricardo Feynman enviou um ofício para a Sociedade Estadunidense de Física no Instituto de Tecnologia da Califórnia com o
título “Existe muito lugar lá embaixo”. Nesse depoimento, o
Prêmio Nobel (1965) colocou o fundamento teórico da ciência
da nanoescala (sua audiência ficou indiferente). Feynman explicou que a maior barreira para a manipulação do mundo da
nanoescala era que ele não podia ser visto: o melhor microscópio
de elétrons em 1959 ainda era grosseiro demais. Feynman concluiu que “os problemas da química e da biologia podem ser
ajudados em muito se nossa habilidade para ver o que estamos
fazendo, e de fazer as coisas em nível atômico se desenvolver
bastante – um desenvolvimento que acredito que não poderá ser
evitado.24 E ele colocou um desafio: “Existe uma maneira de tornar o microscópio de elétrons mais poderoso?”
ETC Group
47
Demorou mais de 20 anos para que esse desafio fosse completamente superado, mas em 10 de agosto de 1982, a patente
estadunidense 4.343.993 foi emitida para a IBM pela invenção
do microscópio de tunelamento (Scanning Tunneling Miscroscope – STM), irradiando luz nova no mundo atômico.
Normalmente pensamos em microscópios usando lentes para
aumentar um objeto até que ele seja suficientemente grande para
ser visto pelo olho humano, mas o STM permite que vejamos
indiretamente, não por aumento. Uma pequena ponta, como de
uma agulha, e condutora de eletricidade, é passada um pouco
acima da superfície de uma amostra condutora de eletricidade.
A distância entre a ponta e a amostra é de apenas alguns poucos
angstroms (um nanômetro é 10 vezes maior do que um angstrom)
e essa distância é controlada para que permaneça constante. Ao
se aplicar uma pequena voltagem, as regras da mecânica quântica
permitem que os elétrons pulem, ou afunilem através do espaço
entre a ponta e a amostra.25 Apesar de muito pequeno, esse fluxo
de elétrons consegue ser detectado facilmente. Enquanto que a
ponta se movimenta pela superfície da amostra, sua posição é
constantemente ajustada para assegurar que a distância (e conseqüentemente a corrente elétrica) permaneça constante. Esses ajustes reconstituem os traços da amostra. Quando esses traços são
graficamente mostrados na tela do computador, podemos “ver”
os átomos e moléculas individuais que formam essa amostra. Por
depender do fluxo elétrico entre a ponta e a amostra, o STM só
pode ser usado para examinar materiais que irão conduzir ao
menos uma pequena corrente elétrica. Pela invenção do STM,
Gerd Binning e Heinrich Rohrer receberam o Prêmio Nobel de
Física em 1986.
O STM não apenas nos dá um lugar na primeira fila da arena
atômica, como também pode nos colocar no campo de jogo.
48
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Aumentando-se a voltagem no momento em que a ponta estiver
exatamente em cima de um átomo, o átomo poderá colar-se na
ponta; esse átomo então poderá ser reposicionado e, quando a
voltagem for baixada novamente, o átomo se soltará da ponta na
sua nova posição.26 Em 1989, pesquisadores da IBM no Almaden
Research Center em San Jose, Califórnia (EUA) pegaram 35 átomos de xenônio (o xenônio é um elemento gasoso quimicamente inerte) com a ponta de um STM, um por vez, e os colocaram
na superfície de um cristal de níquel. Não surpreendentemente,
os cientistas escolheram soletrar as letras I-B-M com seus átomos de xenônio – associando para sempre o Big Blue com o mínimo. O nanologotipo histórico mediu menos do que três
nanômetros.27 Pegar e recolocar átomos não é fácil nem barato e
pode não ser a maneira mais lucrativa de engenharia atômica de
produtos, mas é uma demonstração da nossa crescente habilidade de manipulação na nanoescala.
Desde o início dos anos de 1980, os STM evoluíram para o
microscópio de força atômica (Atomic Force Microscopes –
AFM), que são capazes de “enxergar” uma grande variedade de
amostras da nanoescala. O processo permanece perto daquele
desenvolvido por Binning e Rohrer, em que uma ponta do tipo
agulha perscruta uma superfície cuja topografia é “lida” e então
traduzida para uma imagem gráfica.28 Entretanto, usando o AFM
em vez do STM conseguimos ver amostras que não são altamente condutoras, como as amostras biológicas. Em vez de manter
uma distância constante entre ponta, eletricamente condutora, e
amostra, a ponta do AFM é presa na ponta de um braço suspenso,
altamente sensível, e realmente encosta na superfície da amostra.
A força de contato é muito pequena. Como no STM, a ponta
perscruta a superfície da amostra para gerar uma imagem, mas o
AFM grava e mede os pequenos movimentos para baixo e para
ETC Group
49
cima do braço, necessários para manter a força constante sobre a
amostra. A ponta “sente” a superfície da mesma maneira que um
dedo acaricia a face. Já que o toque precisa ser delicado para que
não destrua a amostra, vários métodos diferentes foram desenvolvidos, inclusive um que delicadamente bate na amostra em
intervalos inimaginavelmente pequenos, enquanto se movimenta sobre a superfície. Hoje em dia, os AFM são as ferramentas
pré-requisito que os pesquisadores usam para observar e manipular a matéria na nanoescala; eles custam de US$ 50 mil a US$
1,5 milhão.29
Feynman teria se alegrado com o desenvolvimento da
visualização atômica nos primeiros 20 anos após seu discurso em
Caltech, mas com certeza ficaria espantado com o progresso dos
outros 20 anos (ele morreu em 1988). As ferramentas que permitem aos nanocientistas verem e manipularem átomos estão
melhorando rapidamente. Em agosto de 2002, a IBM anunciou
que desenvolveu um novo microscópio de elétrons com poder
de resolução com raio menor do que um único átomo de hidrogênio. A descoberta permitirá aos cientistas examinar e corrigir
defeitos em nível atômico em material semicondutor – um primeiro passo importante para fazer chips para computadores,
menores e mais rápidos.30
NA ESCRA
VIDÃO DO MÍNIMO
ESCRAVIDÃO
Tornar pequeno não significa encolher máquinas apenas para
criar espaço nas nossas escrivaninhas, apesar de que isso irá acontecer quando, por exemplo, mais e mais transistores couberem
em chips de computador cada vez menores. E também não se
trata apenas do fascínio sobre um domínio além da experiência
diária humana, parecida com a fascinação dos nossos antepassados pelo colossal, apesar de poder até ser isso. A verdadeira atra-
50
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
ção em dominar a nanodimensão é que ela expandirá nosso poder de controlar outras dimensões. A escravidão do mínimo está
no fato de os blocos construtores da matéria fundamental para
as ciências e para a indústria originarem-se na nanoescala. A
tecnologia atômica opera na mesma escala que os processos
biomoleculares, por exemplo. Se conseguirmos fazer máquinas
nessa escala, poderemos usá-las para alterar sistemas biológicos,
e também seremos capazes de colocar processos biomoleculares
para trabalharem como máquinas mecânicas.
O poder da tecnologia atômica nos dará capacidade de controlar e manipular novas dimensões, através de várias disciplinas
tecnológicas. A compreensão da nanoescala é o primeiro passo.
Também é importante lembrar que os blocos construtores
da matéria – os elementos da tabela periódica – não são estáticos. Há mais de 60 anos os cientistas na Europa e da América
do Norte estão fazendo suas próprias contribuições para a tabela periódica. Até agora, pelo menos 17 elementos foram criados. (Alguns elementos estão em disputa e recentemente foi
comprovado que a documentação de um elemento era falsa).
No momento em que os cientistas constroem novos elementos, eles também estão aprendendo mais sobre partículas
subatômicas e a inimaginável complexidade da estrutura do
átomo. O Big Down não pára nos átomos. Nos próximos anos,
os cientistas farão novos elementos e talvez reestruturem e combinem elementos de uma forma inimaginável hoje em dia. As
possíveis conseqüências socioeconômicas e ambientais de novas formas de matéria – materiais nunca antes vistos na terra –
são impossíveis de calcular.
Na próxima parte, o Grupo ETC apresenta quatro estágios
da tecnologia atômica, incluindo tanto aplicações atuais quanto
futuras e seu potenciais impactos.
ETC Group
51
NO
TAS
NOT
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
O termo foi inicialmente usado em 1974 por Norio Taniguchi da Tokyo Science
University, de acordo com Douglas Mulhall, Our Molecular Future, 2002, Prometheus
Books, p. 32.
David Rotmann, “The Nanotube Computer,” Technology Review, março/2002, p.
38.
De acordo com Joseph Cross, presidente e executivo-chefe da Nanophase Technologies.
Disponível na Internet: www.nanophase.com/ceo_interview01_02.pdf
John Emsley, Nature’s Building Bloks: na A-Z Guide to the Elements,Oxford University
Press, 2001, p. 2.
Ib., p. 6.
Claudia Hume, “The Outer Limits of Miniaturization,” Chemical Specialties,
september/2000.
Esse exemplo foi pego emprestado na “Nanotechnology: Shaping the World Atom
by Atom”, p. 3. Pode ser encontrado na Internet: itri.Loyola.Edu/nano/
IWGN.Public.Brochure/
Richard Feynman, “There’s Plenty of Room at the Bottom”, 1959; disponível na
Internet: www.zyvex.com/nanotech/feynman.html
Richard P. Terra, “Manipulating Atoms and Molecules With the Scanning Tunneling
Microscope and Atomic Force Microscope,” 1998; pode ser encontrado na Internet:
www.nanozine.com/NANOTOOL.HTM; veja também Mitch Jacoby, “New Tools
for Tiny Jobs”, Chemical and Engineering News, 16 de outubro de 2000, p. 33.
K. Eric Derxler, Unbouding the Future: The Nanotechnology Revolution, Quill William
Morrow, 1991, pp. 92-94.
A imagem do nanologotipo pode ser vista na Internet: www.almaden.ibm.com/vis/
stm/images/ibm.tif
Binning, da IBM, também teve um papel importante no desenvolvimento do AFM,
ganhando a patente dos EUA 4.724.318 em 1986 (reeditada como patente número
USRE33387 em 16 de outubro de 1990).
Comunicação pessoal com Vecco Metrology, Santa Bárbara, CA, EUA, setembro/
2002.
John Markoff, “New Electron Microscope is Developed at I.B.M. Lab,” New York
Times, 8 de agosto de 2002.
PARTE II
O DESCOBRIDOR DE UMA ARTE NÃO É O MELHOR JUIZ DO BEM
OU DO MAL QUE ADVIRÁ ÀQUELES QUE A PRATICAREM.
PLATO, PHAEDRUS
TECNOLOGIAS ATÔMICAS
QUATRO (PERIGOSOS) PASSOS EM DIREÇÃO AO MÍNIMO PARA
O MEIO AMBIENTE, A ECONOMIA E A VIDA EM SI
Nesta parte o Grupo ETC examina as aplicações presentes
e futuras da tecnologia atômica em quatro etapas. Essas etapas
não são universalmente aceitas ou definidas – mas representam
nossos melhores esforços para classificar e explicar a extensão
das tecnologias atômicas atuais e futuras. Os quatro “passos em
direção ao mínimo” não são necessariamente seqüenciais, e não
excluem uns aos outros, nem o surgimento de um passo anuncia a retirada do passo anterior. Os passos 2, 3 e 4 contribuem
todos para a convergência das tecnologias de nanoescala com a
biotecnologia, informática e neurociências. Os passos definidos abaixo são discutidos mais detalhadamente nas páginas seguintes.
DESCENDO: PASSO 1 – NANO A GRANEL
Referente à tecnologia atômica utilizada atualmente. Inclui a
produção em grande quantidade de partículas na nanoescala (elementos puros e componentes simples) para o atual mercado de
“commodities atômicas”. Sprays, pós e tintas são usados na fabri-
56
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
cação de produtos tais como: pinturas resistentes a rachaduras,
air bags para automóveis, protetores solares, tecidos resistentes a
manchas, janelas autolimpantes e painéis solares. As nanopartículas podem contribuir para superfícies e sistemas mais fortes,
mais leves, mais limpas e “mais inteligentes”. O Passo 1 também
inclui a fabricação de moléculas de carbono puro conhecidas
como nanotubos e buckyballs.
DESCENDO: PASSO 2 – NANOFABRICAÇÃO
A meta aqui é manipular e juntar partículas na nanoescala
em construções supramoleculares e estruturas também maiores
que tenham utilização prática. Os produtos da nanofabricação
ainda estão na esfera mínima e invisível dos nanodispositivos –
menos do que 100 nanômetros de tamanho.
DESCENDO: PASSO 3 – FABRICAÇÃO MOLECULAR
Esta aplicação da tecnologia atômica, considerada por alguns
como o objetivo maior, e um sonho para outros, tira o passo 2 da
esfera do invisível. A meta é usar algum sistema de produção em
massa, possivelmente robôs auto-replicantes da nanoescala, para
fabricação de algum material bom para qualquer escala.
DESCENDO: PASSO 4 – ÁTOMO E EVA
(NANOBIÔNICO)
Refere-se ao uso de nanomateriais para influenciar processos
bioquímicos e celulares. A nanobiônica poderia ser simples como
usar materiais nanofabricados para articulações artificiais, ou
complexa como o desenvolvimento de bionanohíbridos – usando nanomáquinas no corpo humano para fazer as funções celulares ou colocando matéria viva para trabalhar como partes de
nanomáquinas, ou combinando material biológico e não bioló-
ETC Group
57
gico para criação de novos materiais com propriedades úteis, incluindo a capacidade de automontagem e autoconserto.
Será que alguns desses subconjuntos da nova tecnologia
são seguros e outros não? Serão alguns mais ficção do que ciência? Como essas tecnologias atômicas irão romper com o
ambiente? Como afetarão a economia?
DESCENDO 1: NANO A GRANEL – PR
ODUÇÃO DE
PRODUÇÃO
NANOP
AR
TÍCUL
AS
NANOPAR
ARTÍCUL
TÍCULAS
Tivemos a Idade da Pedra, a Idade do Bronze e a Idade do Plástico...
O futuro é a idade do material projetado.
Shuguang Zhang
Diretor associado do Centro de Engenharia Biomédica do MIT.31
O Passo 1 é responsável pela maioria dos produtos associados
com a tecnologia atômica hoje em dia. Envolve a produção de
partículas em nanoescala (elementos puros, componentes simples e compostos para uso na produção a granel de sprays, pós e
tintas). O Passo 1 também inclui as ferramentas necessárias para
produção e manipulação de nanomateriais. A Veeco, uma empresa localizada em Nova York, é particularmente notável no
campo das ferramentas e equipamentos. Após adquirir três fábricas de microscópio de força atômica e suas principais propriedades intelectuais, a Vecco domina o mercado global de microscópios de força atômica.32 É relatado que controla 89% do mercado global.33 Projeta-se um crescimento para o mercado de
microscópios de força atômica de US$ 181 milhões para US$
800 milhões até 2007.34
Estima-se que 140 companhias no mundo estejam produzindo nanopartículas hoje.35 O mercado mundial para nanopartículas está projetado para crescer 13% ao ano, excedendo US$
58
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
900 milhões em 2005.36 Hoje, as nanopartículas estão sendo usadas na fabricação de lentes para óculos a prova de riscos, tintas
resistentes a rachaduras, tintas para paredes antigrafite, protetores
solares transparentes, tecidos repelentes a manchas, janelas
autolimpantes e revestimentos cerâmicos para células solares mais
fortes. As nanopartículas podem contribuir com superfícies e sistemas mais fortes, mais leves, mais limpos e “mais inteligentes”.
Na nanoescala, as propriedades das partículas podem mudar
de maneira inusitada e imprevisível. Nanopartículas de óxido de
zinco usadas em protetores solares, por exemplo, têm a mesma
composição química e fórmula (ZnO) das partículas de óxido
de zinco maiores – o creme branco que os salva-vidas têm usado
nos seus narizes há décadas – mas o nano ZnO é transparente.
Óxido de antimônio-estanho é outro exemplo. Quando
nanopartículas de óxido de antimônio-estanho são misturadas
num revestimento, elas se tornam resistentes a riscos e oferecem
proteção transparente a radiação UV.
De acordo com Richard Siegel do Rennselaer Polytechnic
Institute, um dos líderes e criadores do Clinton White House’s
National Nanotechnology Initiative, só a fabricação de
nanopartículas já ocasionará uma transformação industrial que irá
eclipsar a Revolução Industrial da Europa do final do século 18 e
início do século 19. A visão exuberante de Siegel é ainda mais
impressionante já que ele vê essa nova economia surgindo apenas
da produção de nanomateriais, considerando a possibilidade de
maquinário auto-replicante como ficção científica (ver Passo 3).
MOLÉCUL
AS MIL
AGR
OSAS: NANO
TUBOS E
MOLÉCULAS
MILA
GROSAS:
NANOTUBOS
BUCKYBALLS
O Passo 1 também inclui a fabricação de moléculas de carbono puro, conhecidas como nanotubos e buckyballs. Os nanotubos
ETC Group
59
e buckyballs pertencem à mesma família química chamada
fulerenos. Mas quando as pessoas se referem aos fulerenos, elas
normalmente querem dizer buckyballs. A descoberta de nanotubos
e buckyballs é importante porque essas moléculas têm propriedades únicas, com grande utilização comercial. Nanotubos são 100
vezes mais fortes do que o aço e seis vezes mais leves; eles conduzem eletricidade melhor do que o cobre e podem também agir
como semicondutores. Alguns prevêem que os transistores de
carbono na nanoescala substituirão os transistores de silicone nos
próximos dez anos. Antes que isso possa acontecer, a indústria
terá de ter técnicas de produção de nanotubos em grande quantidade para que possa produzi-los em série e mais baratos. Em
1999, o custo dos buckyballs era por volta de US$ 600/grama.
Apenas três anos mais tarde, o custo havia caído para aproximadamente US$ 30/grama. Os analistas da indústria prevêem que,
com os rápidos avanços nos processos de produção, o preço dos
buckyballs cairá para US$ 10/grama até o fim de 2002.37 Inovadores japoneses afirmam que derrubarão o preço dos nanotubos
em 90% em um ano.38
O fabricante francês de raquetes de tênis Babolat já incorpora nanotubos nas suas raquetes ‘Nanotubos VS’, mas eles também poderiam ser usados para fortalecer e tornar mais leves todos os tipos de materiais, incluindo implantes sintéticos de ossos
e articulações artificiais. Já que nanotubos são bons condutores
de eletricidade, eles estão aumentando a esperança de diagnósticos mais rápidos e mais precisos no campo biomédico, e métodos mais eficientes de distribuição de medicamentos.39 Um químico da Universidade de Stanford, por exemplo, está trabalhando para desenvolver um sensor de glicose usando um único
nanotubo de carbono, que poderia ser implantado em pacientes
com diabetes.40 Ao se referir aos usos em potencial do carbono
60
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
em nanoescala na medicina, o Prêmio Nobel e professor da Universidade de Rice (Texas, EUA), Richard Smalley torna-se espirituoso: “Daqui a mil anos eu ficaria impressionado ao acordar
de um sono criogênico e descobrir que não existia outra resposta
a isso além dos [nano]tubos”.41 Devido as suas propriedades
semicondutoras, os nanotubos poderão ser os blocos construtores de computadores menores e mais rápidos, e transistores de
nanotubos têm superado os transistores de silicone.42
O que são nanotubos e Buckyballs?
Buckyballs (fulereno) e nanotubos são moléculas constituídas
apenas por átomos de carbono. Buckyballs são uma das três formas cristalinas do carbono: grafite e diamante são as outras duas
formas. Buckyballs (abreviatura de Buckminsterfullerenes) são esferas perfeitas, feitas com 60 átomos de carbono arranjados como
os pentágonos e hexágonos que constituem a superfície de uma
bola de futebol. Receberam seu nome em homenagem a R.
Buckminster Fuller, o inventor que promoveu o domo geodésico
como a estrutura arquitetônica ideal. Quando as pessoas se referem a fulerenos, elas normalmente querem dizer buckyballs. Os
nanotubos são membros da família química dos fulerenos, mas
não são esféricos, é claro. Como seu nome sugere, os nanotubos
são longos e finos, com formato de tubos. Podem ser ocos como
canudos (conhecidos como de parede única) ou enrolados um
dentro do outro como pôsteres enrolados num tubo postal (conhecidos como de várias paredes).
Por que são impor
tantes?
importantes?
Os nanotubos são saudados como o “material milagroso” da
tecnologia atômica porque exibem características que os tornam
ideais para uma variedade impressionante de utilizações, da cons-
ETC Group
61
trução espacial e fabricação de automóveis a eletrônicos – incluindo transistores e células de combustível – a biosensores e distribuição de medicamentos. Nanotubos são 100 vezes mais fortes
do que o aço e seis vezes mais leves; podem ter o tamanho de
1nm de diâmetro e comprimento de 100.000nm. Dependendo
de como são configurados, os nanotubos são bons condutores de
eletricidade e também podem funcionar como semicondutores
para eletrônica molecular.
Os nanotubos de carbono e Buckyballs ocorr
em naturalmente?
ocorrem
Depende do que se quer dizer com “natural”. O carbono é
um elemento abundante na terra, na comida que comemos e
nos nossos corpos; também é abundante no espaço e é solto pelas estrelas que morrem. A estrela mais brilhante no céu noturno, conhecida como CW Leonis, é particularmente interessante
para os pesquisadores do carbono porque está envolta na névoa
de moléculas de carbono, algumas com um grande número de
átomos de carbono. Em 1985, cientistas da Inglaterra e dos EUA,
colaborando entre si, conseguiram reproduzir esse ambiente
interestrelar em seus laboratórios. Eles descobriram buckyballs
entre as moléculas de carbono que se formaram.43 Diferentemente
dos buckyballs, não se conhece a existência natural de nanotubos,
nem no ambiente terrestre nem no espaço. Os nanotubos foram
descobertos em 1991 por Sumio Iijima, do Japão, enquanto ele
fazia experimentos com um método de produção de buckyballs.
Os cientistas agora podem fazer nanotubos e buckyballs à vontade
e em grande quantidade.
Como são fabricados os nanotubos e Buckyballs?
Os dois tipos de moléculas de carbono se autoconstroem, ou
seja, quando as condições são perfeitas, elas próprias formam
62
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
suas configurações. Existem vários métodos diferentes para fabricação de nanotubos e buckyballs. Quase todos os métodos
começam com uma forma comum de carbono (geralmente grafite) e uma pequena quantidade de metal (usado como
catalisador). Quando a grafite e o metal são aquecidos a temperaturas extremas (por volta de 1.200 graus Celsius, num método), o carbono se quebra em átomos individuais. Quando os
átomos de carbono condensam, eles se configuram em tubos ou
esferas.
TRA
TANDO DE NEGÓCIOS
TRAT
Num campo onde existem mais do que 12.000 citações por ano, ficamos
espantados ao descobrir qualquer pesquisa anterior sobre os riscos no
desenvolvimento de nanomateriais, modelos de tributação
e estudos toxicológicos dedicados a nanomateriais sintéticos.
Vicki Colvin
Diretora do Centro de Nanotecnologia Biológica e Ambiental
Nanotubos e buckyballs estão sendo fabricados em laboratórios no mundo todo. Legalmente não é possível patentear os
nanotubos ou os buckyballs porque eles foram descobertos – não
são invenções. Porém, “inovadores” estão correndo para afirmar
seus direitos na corrida do nanoouro, criando patentes por métodos inusitados de produção de nanotubos e de buckyballs. Mais
de 200 patentes envolvendo nanotubos de carbono foram pedidas ou emitidas em 2001; quase a metade dessas patentes cobre
sua síntese e processamento.44 O mercado de 2004 para nanotubos
está avaliado em US$ 430 milhões.45 Analistas da indústria prevêem que o mercado de nanotubos explodirá em bilhões de dólares assim que os métodos comerciais permitirem uma produção mais rápida e barata. Estima-se que 55 empresas estejam fazendo nanotubos de carbono, e no mínimo 20 empresas estão se
ETC Group
63
preparando para a produção em escala comercial (centenas de
toneladas anuais) de buckyballs.46 Rosseter Holdings Ltd. está
produzindo nanotubos em Cyprus desde 1998.47 Duas companhias japonesas foram recém-lançadas para fabricá-los em grandes quantidades: Frontier Carbon Corporation (uma joint venture
entre Mitsubishi Corp. e Mitsubishi Chemical Corp.) planeja
produzir 40 toneladas de nanotubos no ano que vem; e Carbon
Nanotech Research Institute busca uma produção anual de 120
toneladas.48 Em 2002, Nano Devices, Inc. sediada na Califórnia,
começou a vender um forno “faça-você-mesmo” de nanocarbono
– o “Easy Tube Nano Furnace” – por US$ 89.000.49
QUAIS SÃO OS RISCOS?
Até recentemente, as nanopartículas eram amplamente aceitas como benéficas e totalmente benignas. Entretanto, em março de 2002, pesquisadores fizeram a impressionante revelação de
que as nanopartículas estão aparecendo no fígado de animais de
pesquisa, que podem entrar em células vivas, e talvez pegar carona em bactérias para entrar na corrente alimentar. Essas descobertas inesperadas têm sido mal relatadas e bastante ignoradas
na grande mídia. Preocupações sobre a tecnologia atômica do
Passo 1 foram inicialmente expressas por cientistas do Center
for Biological and Environmental Nanotechnology (CBEN –
Centro de Nanotecnologia Ambiental e Biológica) na Universidade de Rice, numa reunião da Agência de Proteção Ambiental
dos EUA, em Washington, DC.50 De acordo com Mark Wiesner,
da Rice, os testes medindo os acúmulos de material nos fígados
dos animais de laboratório demonstram que nanopartículas,
mesmo as inorgânicas, se acumularão nos organismos: “Sabemos que nanomateriais foram recebidos pelas células. Isso dispara alarmes... Se bactérias podem carregá-los, então teremos uma
64
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
porta de entrada para nanomateriais na corrente alimentar”.51
Com mesmo alarme, Wiesner apontou a necessidade de examinar se as nanopartículas absorvidas pelas bactérias aumentam a
habilidade de outros materiais, incluindo materiais tóxicos, de
pegarem carona nas bactérias e de causarem danos. Wiesner perguntou: “Supondo que não consigamos controlar as nanopartículas da mesma maneira que controlamos os pós?”52 Será que a
qualidade que torna as nanopartículas tão atraentes para o desenvolvimento de sistemas eficientes de distribuição de medicamentos – isto é, sua habilidade de facilmente entrar na corrente
sanguínea e até mesmo de alvejar células individuais devido ao
seu pequeno tamanho – será também a qualidade que as tornará
perigosas para os humanos?
Os pesquisadores da Universidade de Rice estão particularmente preocupados com o uso comercial dos nanotubos. Wiesner,
que é professor de Engenharia Civil e Ambiental, pergunta: “Para
onde essa coisa vai? Qual será sua interação com o ambiente?
Serão uma coisa boa como o pão fatiado, ou igual ao asbesto?”53
Wiesner aponta que as companhias estão agora querendo usar
nanotubos de carbono em pneus radiais. Pneus velhos e usados
estão em toda parte, de quintais a aterros, no fundo dos lagos, na
água subterrânea. Os nanotubos também?
A comparação do Dr. Wiesner dos nanotubos de carbono
com o asbesto não é apenas retórica. Os nanotubos de carbono
parecem fibras de asbesto no seu formato: eles são longos com
formato de agulha. De acordo com o Dr. Wiesner, os nanotubos
de carbono não conseguem ser uma grande ameaça atualmente
porque, no nosso ambiente, eles tendem a se agrupar, em vez de
existirem como fibras isoladas (que tem o potencial de causar
problemas respiratórios graves, assim como as fibras de asbesto).
Entretanto, uma importante área de pesquisa é descobrir uma
ETC Group
65
maneira de dissolver os nanotubos – na verdade, de desagrupálos – para que possam ser mais facilmente usados como fibras
isoladas e soltas.54 Foram dadas duas patentes para métodos de
dissolução de nanotubos em soluções orgânicas, no ano passado,
para a Universidade de Kentucky (EUA).55 Poucos estudos foram feitos para se saber o que poderá acontecer se as fibras de
nanotubos forem aspiradas ou se forem usadas na distribuição
de medicamentos, diagnóstico de doenças ou como biosensores.
Alguns defensores da indústria descartam as preocupações
com a ameaça dos nanotubos de carbono para a saúde, como
com os asbestos, apontando um estudo de 2001 conduzido na
universidade de Varsóvia, Polônia. Os pesquisadores injetaram
nanotubos nas traquéias das cobaias. Quatro semanas mais tarde, os pulmões das cobaias não mostravam inflamação
mensurável, ou mudança na função. Os autores do estudo polonês chegaram a majestosa conclusão: “Assim, o trabalho com
fuligem contendo nanotubos de carbono dificilmente está associado a qualquer risco para a saúde.”56 (Colocando-se o tabaco
nos mesmos padrões, provavelmente seria declarado como uma
atividade perfeitamente segura!).
A imunologista Silvana Fiorito, trabalhando em Montpellier,
na França, descobriu numa pesquisa preliminar que, quando uma
partícula de 1 micrômetro de largura de carbono puro (na forma
de grafite) é introduzida numa célula, a célula responde produzindo óxido nítrico, o que indica que o sistema imunológico está
trabalhando e que o corpo está atacando a substância invasora.57
Quando uma nanopartícula da mesma substância – carbono puro
– é acrescentada às células (na forma de nanotubos ou de
buckyballs), elas falham em produzir resposta imunológica – recebem o carbono alienígena como se fosse um parente desaparecido há tempos. A habilidade de escorregar pelo sistema
66
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
imunológico pode ser desejável para a distribuição de medicamentos, mas o que acontecerá quando nanopartículas não convidadas continuarem aparecendo? Em outras palavras, uma vez
que os nanotecnólogos descubram como distrair o porteiro, como
você poderá ter certeza de que estará mantendo o povo do lado
de fora?
Apesar das recentes descobertas dos riscos potenciais relacionados à tecnologia atômica Passo 1, e apesar do fato de os governos ao redor do mundo estarem gastando bilhões de dólares para
estimular nanonegócios em escala comercial, não existe um corpo regulador (nem planos para um) dedicado a fiscalizar essa
nova tecnologia potente e poderosamente invasiva. A Agência
de Proteção Ambiental dos EUA, por exemplo, distribui não mais
do que 10% dos seus fundos de pesquisa para “os benefícios
ambientais e efeitos potencialmente danosos da nanotecnologia
na sociedade.” Dado às enormes implicações para a saúde humana e ambiental, as conseqüências sociais de uma nova economia
industrial precisam ser compreendidas – agora.
AVALIAÇÃO DO GR
UPO ET
C
GRUPO
ETC
Por trabalhar com blocos elementares de construção da vida –
em vez da vida diretamente – a atual tecnologia atômica escapou do escrutínio social, político e ambiental. Agências reguladoras não tem até agora estabelecido políticas e protocolos
considerando a segurança da tecnologia atômica Passo 1, que
inclui nanopartículas em produtos que já estão no mercado, e
novas formas do carbono na nanoescala. A esse ponto, sabemos quase nada sobre o impacto cumulativo em potencial das
partículas da nanoescala feitas pelos homens, na saúde humana
e no meio ambiente.
Dadas as preocupações surgidas pela contaminação de seres
vivos com nanopartículas, os governos deveriam declarar uma
moratória imediata na produção comercial de novos materiais
ETC Group
67
atômicos e lançar um processo global transparente para a avaliação das implicações socioeconômicas, de saúde e meio ambiente dessa tecnologia.
DESCENDO 2: NANOF
ABRICAÇÃO – CONSTR
UINDO
NANOFABRICAÇÃO
CONSTRUINDO
AP
AR
TIR DO ÁT
OMO
PAR
ARTIR
ÁTOMO
Como vimos no Passo 1, os nanotécnicos já conseguiram fabricar nanopartículas, e aproveitar-se do fenômeno da
automontagem para fazer nanotubos. Para passar da fabricação
de partículas individuais com propriedades úteis (Passo 1) para
estruturas úteis e complexas feitas de múltiplas moléculas (Passo
2) a chave é a automontagem. Automontagem é o processo de
usar catalisadores e energia para, cuidadosamente controlar as
reações químicas para alcançar espontaneamente os resultados
desejados. Os cientistas têm observado a automontagem química há décadas, com resultados na microescala (e na escala béquer
há mais tempo ainda); agora eles estão trabalhando em direção
aos resultados na nanoescala.
A meta do Passo 2 é manipular e agrupar partículas da
nanoescala em construções supra-moleculares e em estruturas
até maiores, com utilidades práticas. Isso é conhecido como
nanofabricação. Envolve projetar blocos de construção
moleculares que se juntam automaticamente, de maneiras previamente especificadas. É importante frisar que nanofabricação não
é a construção de cadeiras, casas ou computadores através do
auto-agrupamento molecular. O produto final do Passo 2, a
nanofabricação, ainda está na esfera invisível – menor do que
100 nanômetros.
Decifrar como construir estruturas que funcionem, a partir
do átomo e da molécula, ainda está nos estágios iniciais. Os produtos da nanofabricação estão sendo desenvolvidos para uso em
68
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
circuitos eletrônicos, biosensores e novos polímeros que manipulam a luz em sistemas de comunicação óptica. O desejo de
construir dispositivos eletrônicos menores, mais rápidos e mais
baratos está levando a pesquisa a se mover do micro para o nano.
Nas palavras dos químicos de Harvard, George Whitesides e J.
Christopher Love: “O molde da microeletrônica está quebrado
agora”.58
A corrida para descobrir como construir nanoestruturas de
maneira mais rápida e mais barata já começou. Os pesquisadores
estão explorando todos os métodos plausíveis, incluindo as técnicas top-down (de cima para baixo) e bottom-up (de baixo para
cima). Várias formas de litografia (o método tradicional de fabricação de circuitos em microchips) estão sendo modificadas para
produzir estruturas na escala do nanômetro – mas encolher o
processo top-down é incômodo, vagaroso e caro. Como alternativa, os cientistas estão usando métodos bottom-up, que iniciam
nos átomos e nas moléculas, e constroem nanoestruturas que
funcionam. Os nanotubos poderiam se tornar os materiais ideais para construção de nanodispositivos – quando os pesquisadores descobrirem como controlar e manipular suas propriedades especiais.
Daqui a alguns anos, espera-se que o uso de moléculas como
elementos de circuitos seja uma realidade comercial, e bastante
lucrativa. Empresas eletrônicas como a Motorola e a Samsung já
estão testando protótipos de televisões de nanotubos (tela chata,
alta definição). Se os transistores moleculares funcionarem, os
nanotubos de carbono poderiam substituir o silicone como bloco
construtor para computadores ultra-rápidos, desempenhando
“magnitudes” que vão além do silicone.59 (Usando a microeletrônica atual, 42 milhões de transistores estão dentro do chip do
“Pentium 4” da Intel. Em contrapartida, os nanocomputadores
ETC Group
69
do futuro terão chips contendo bilhões de transistores
moleculares.).60
AVALIAÇÃO DO GR
UPO ET
C
GRUPO
ETC
Todos os riscos do Passo 1 servem para o Passo 2. Mas além
disso, os produtos nanofabricados poderão ter usos biomédicos
que colocarão os dispositivos da nanoescala em contato íntimo
com o corpo humano. Os perigos são desconhecidos.
DESCENDO 3 – MANUF
ATURA MOLECUL
AR – GOLIAS
MANUFA
MOLECULAR
INVISÍVEL
Mas não tenho medo de considerar a questão final de,
se – no grande futuro – conseguiremos colocar os átomos da maneira
que quisermos; os mesmos átomos, até o mínimo!
Richard Feynman
“There’s Plenty of Room at the Bottom”, 1959 61
Algumas pessoas acreditam que os cientistas, um dia, serão
capazes de controlar o posicionamento atômico tão completa e
precisamente, que qualquer objeto cuja composição atômica for
conhecida (de balcões a edifícios) poderá ser agrupado a partir
das suas partes primárias. A arte da construção átomo a átomo
na macroescala é chamado manufatura molecular ou nanotecnologia molecular. A dificuldade está no direcionamento dos átomos para eles se agruparem na configuração desejada – e de fazêlo rápido o suficiente para ter o peru na mesa para alimentar os
tataranetos. Um debate animado gira em torno de qual extensão
a manufatura molecular será possível.
Apesar dos Passos 1 e 2 serem realidade, o Passo 3 ainda está
na fase conceitual. Enquanto muitos cientistas importantes asseguram que o Passo 3 nunca será atingido, existem outros que
acreditam veementemente que será possível programar a matéria
70
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
com precisão molecular na macroescala, algum dia “no nosso
tempo de vida e no tempo de vida dos nossos filhos”.62
Além de apenas incorporar nanopartículas em materiais convencionais para melhorar seu desempenho (Passo 1), alguns cientistas almejam construir sob encomenda, objetos de macrotamanho completamente originados de componentes da
nanoescala, construindo de baixo para cima. Tais objetos poderão ter propriedades totalmente novas, nunca antes identificadas
na natureza. Se um tijolo de cerâmica ou uma peça de metal, por
exemplo, fossem feitos totalmente com nanopartículas, sua área
de superfície aumentaria dramaticamente porque, quanto menor o objeto, maior proporção dos seus átomos estarão na superfície, ou perto dela.63 Apesar da composição química continuar a
mesma, e apenas o tamanho das partes ter mudado, a área de
superfície aumentada determina que o tijolo, ou a peça de metal
nanoconstruídos podem ser mais duros, com menos facilidade
de rachar, ou mais resistentes ao stresse (pressão, temperatura,
luz etc).
VISÕES DE CONSTR
UÇÃO EM MASSA
CONSTRUÇÃO
Mas a visão real do Passo 3 – primeiramente elaborada por
K. Eric Drexler, em Engines of Creation: The Coming Era of
Nanotechnology (1990) – permite a fabricação de carros inteiros
ou casas usando a construção átomo a átomo, um passo colossal
que vai além da incorporação de componentes nanoestruturados
em um carro ou casa construídos convencionalmente. Na visão
de Drexler, um transistor de nanotubos para computador não
seria o único elemento nanofabricado embutido num computador construído de outra maneira (Passo 2); em vez disso, a coisa
inteira – tela, circuitos, teclado, disco rígido e caixa de papelão –
seriam fabricados como uma unidade, átomo a átomo. Drexler
ETC Group
71
chama o Passo 3 da tecnologia atômica de nanotecnologia
molecular, e às vezes refere-se a ela como manufatura molecular
ou nanotecnologia da fase da máquina. Mesmo sendo difícil de
imaginar, qualquer objeto – computadores, foguetes, cadeiras, e
assim por diante, de acordo com Drexler – poderia ser criado
programando as moléculas certas para agruparem-se nas configurações corretas.
Um cenário do Passo 3 teria um engenheiro da tecnologia
atômica na frente de uma tela de computador ligada a um microscópio de força atômica “envenenado” (mais potente), programando módulos de nanorrobôs para se reconfigurarem para
construir móveis para salas de estar, iniciando pelo átomo. Outro
cenário do Passo 3 poderá ter um adolescente faminto entrando
na Internet para comprar e fazer o download do projeto de um
hamburger. Ele enfia uma folha de elementos parecida com plástico na nanocaixa da família e retira de lá um hamburger, pronto
para ser comido. Será que esses cenários poderiam se tornar realidade? Como?
AUT
OMONT
ADORES
UTOMONT
OMONTADORES
Drexler prevê que o trabalho da construção átomo a átomo
será desempenhado por robôs na nanoescala dirigidos por computador, chamados montadores – pequenos Henry Ford trabalhando em fábricas do tamanho de células. As fábricas conterão
nanomaquinário montado em armações moleculares, com bandas transportadoras que levam as partes de máquina a máquina.
Essas fábricas do tamanho de uma célula terão um jogo de braços montadores programáveis no lado de fora, que conseguem se
reproduzir e se autoconsertar. Drexler acredita que estarão disponíveis nanomódulos relativamente uniformes e intercambiáveis, que podem ser transformados dependendo do que se
72
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
quer construir. Já que o mundo inteiro é construído a partir de
no máximo cem diferentes blocos de construção (a tabela periódica) – e a maioria, tal como nossos corpos, necessita de apenas
um punhado deles – o estilo de construção “IKEA” poderá chegar a um computador perto de você. (IKEA é uma rede sueca de
lojas de móveis “monte-você-mesmo” que se espalhou pelo mundo). Apesar dos produtos finais poderem ser “macro”, o processo
de construção seria “nano” e virtualmente invisível.
POLEGARES COM OP
INIÃO
OPINIÃO
Passos gigantes já estão sendo dados na direção dos robôs na
nanoescala. Pesquisadores do Laboratório de Bioinstrumentação
do MIT (Massachusetts Institute of Technology) desenvolveram
centenas de robôs de três pernas, cada um do tamanho de um
polegar. Os robôs são equipados com computadores a bordo,
biosensores e STMs, e conseguem medir e montar estruturas na
escala molecular. Os microrrobôs, com apenas 32mm de altura,
(apelidados de nano walkers [nanoandadores] porque conseguem
fazer mais de 4.000 nanomanobras por segundo) são feitos para
responder a sinais infravermelhos que permitem que cada robô
atue independentemente ou coletivamente em inumeráveis tarefas. As pequenas máquinas são capazes de executar 48 milhões
de instruções por segundo. O MIT prevê que em breve haverá
100 microrrobôs trabalhando em tarefas separadas, porém relacionadas, numa câmara coberta de cromo, do tamanho de uma
mesa de jogar cartas. A superfície de cromo fornece energia para
os robôs, que receberão suas ordens de marcha de um computador principal no teto da caixa.64
Os cientistas do MIT antecipam que, num futuro próximo,
o microexército terá poder para manipulação de moléculas individuais, e até mesmo de reagrupamento de átomos. Com capaci-
ETC Group
73
dade de fazer 200.000 medições por segundo, as máquinas poderão ser inicialmente utilizadas para análise química e para ajudar no desenvolvimento de novos fármacos. Entretanto, não existe
um limite óbvio para suas funções, que incluem a construção e o
conserto de microrrobôs e a eventual construção de nanorrobôs
ainda menores.
SEX
OA
TÔMICO
SEXO
ATÔMICO
Apesar de serem surpreendentes como são, os Nano Walkers
não conseguem realizar aquela função que permitirá que o Passo
3 se torne a realidade que Drexler vislumbra: eles não conseguem procriar. Auto-replicação é a habilidade dos montadores
de Drexler de fazerem cópias deles mesmos, bem como de configurarem átomos e moléculas em massa. A idéia de montadores
auto-replicantes é o “ponto crucial” para a maioria dos químicos
e físicos, porque acreditam que isso não poderá ser possível. Mas
de que outra maneira a manufatura molecular poderia se tornar
realidade? Os átomos são tão pequenos que grudá-los uns nos
outros, um átomo por vez – ou mesmo uma molécula por vez,
na velocidade de um agrupamento por segundo, por exemplo –
levaria mais tempo do que a história do mundo para construir
algo do tamanho da cabeça de um alfinete.65 Um único grama
de carbono contém 50 sextilhões de átomos – agrupar apenas o
número suficiente deles para encher um lápis de grafite, seria o
trabalho de uma vida para o “Pai Tempo”.66 Mas se os montadores
fossem criados com a capacidade de produzir cópias de si mesmos (chamados replicantes)) e se os montadores e replicantes
pudessem cooperar e trabalhar em uníssono, num tipo de combinação entre linha de produção e mutirão na nanoescala, eles
conseguiriam criar produtos na macroescala.67 Exércitos de
nanorrobôs auto-replicantes conseguiriam construir tudo, de um
74
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Big Mac a um Mac Apple, ao Big Apple. Um batalhão de um
trilhão de nanorrobôs ainda seria muito pequeno para ser visto
pelo olho humano.68
ENTRANDO EM MINÚCIAS?
A maioria dos cientistas considera a nanofabricação na
macroescala como coisa de Hollywood, ou de filmes de ficção
científica. Um debate sobre a possibilidade de que nanomáquinas
auto-replicantes venham a existir um dia apareceu na edição de
setembro de 2001 da Scientific American’s. Drexler reiterou sua
visão de construção de objetos em larga escala com precisão
molecular, usando montadores capazes de auto-replicação.
Richard Smalley (ver Passo 1) categoricamente afastou essa possibilidade: “Robôs mecânicos e auto-replicantes simplesmente
não são possíveis no nosso mundo. Para colocar cada átomo no
seu lugar – a visão de alguns nanotécnicos – exigiria dedos mágicos. “Um nanorrobô assim nunca será mais do que o sonho de
um futurista.”69 George Whitesides, que construiu nanoestruturas
que funcionam, usando auto-montagem (ver Passo 2) também
desconsidera a nanotecnologia molecular de Drexler. Ele escreveu: “Não sabemos como fazer máquinas auto-replicantes de
qualquer tamanho ou tipo hoje em dia... nenhum senso de como
projetar um sistema de máquinas auto-sustentável e autoreplicante.”70 (Drexler e seus colegas do Institute for Molecular
Manufacturing [Instituto de Manufatura Molecular] compuseram refutações detalhadas às objeções de Whiteside e Smalley, a
disposição na Internet).71
Apesar de Drexler achar que as nanomáquinas podem ser
criadas usando o maquinário conhecido no nosso mundo mecânico, ele continuamente volta ao mundo biomolecular para buscar inspiração. Ele explica: “No crescimento, cura e renovação
ETC Group
75
de tecidos, nosso corpo é um campo de construção. As células
pegam material de construção do sistema sanguíneo. Maquinário
molecular programado pelos genes celulares usa esses materiais
para construir estruturas biológicas: para fazer ossos e colágeno,
para construir novas células, para renovar a pele e para curar
feridas... tudo no corpo humano é construído por máquinas
moleculares. Essas máquinas moleculares [isto é, montadores]
constroem moléculas e, inclusive, mais máquinas moleculares
[i.e., replicantes].”72 Whitesides também reconhece o sucesso do
nanomaquinário da natureza, mas mantém que “seria uma conquista assombrosa imitar a célula viva mais simples.”73
Seria a auto-replicação e a manufatura molecular em grande
quantidade apenas sonhos irreais de engenheiros superconfiantes?
Podemos ter certeza de que manipulações de matéria em larga
escala estão no nosso futuro próximo, mesmo que não aconteçam da maneira exata que Drexler teoriza. Podem haver outras
opções para conseguir produção em massa sem depender de linhas de montagem de trabalhadores mal pagos, ou de nanorrobôs
auto-replicantes. A opção mais promissora poderá ser aproveitar
e redirecionar as nanomáquinas que já existem na natureza (ver
Passo 4) ou começar a pensar de dentro da caixa.
NÃO EXIGE MONT
AGEM?
MONTA
Um grupo de pesquisadores-estudantes do Instituto de
Tecnologia da Geórgia fez experimentos com manufatura baseada
no espaço, em que as partículas são colocadas dentro de caixas
com gravidade zero e então sujeitas a certas freqüências de som.74
O som sozinho tem a habilidade de fazer levitar as partículas e
movê-las em volta. Variando o tamanho da caixa e a freqüência do
som, os pesquisadores conseguiram empurrar as partículas para
que, sozinhas, formassem estruturas desejadas. O grupo de pes-
76
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
quisa chamou a técnica de modelagem acústica e chegaram ao
ponto de conseguir formar superfícies curvas e cilindros. Até agora, o custo é proibitivo e a escala é de “laboratório” em vez de
“industrial”, mas, de acordo com os pesquisadores, a manufatura
baseada no som oferece um potencial enorme: manufatura em
grande escala de partículas compostas e sem montadores!
QUAIS SÃO OS RISCOS?
Gray G
oo
Goo
E se os nanorrobôs começarem a construir cadeiras sem parar? Os processos de auto-replicagem e montagem poderiam se
descontrolar até o mundo ser aniquilado por nanorrobôs ou pelos seus produtos. Gray Goo é a destruição da vida, que poderia
resultar da disseminação acidental e incontrolável de montadores
auto-replicantes. Drexler dá um exemplo claro de quão rapidamente o estrago poderia crescer, iniciando com um replicador
brincalhão. “Se o primeiro replicador pudesse montar uma cópia
de si mesmo em mil segundos, os dois replicadores construiriam
mais dois nos próximos mil segundos, os quatro construiriam
mais quatro, e os oito, mais oito. No final de dez horas, não
existiriam 36 novos replicadores, mas mais de 68 bilhões. Em
menos de um dia eles pesariam uma tonelada; em menos de dois
dias eles pesariam mais do que a terra, em mais quatro horas eles
excederiam a massa do sol e de todos os planetas juntos.”75 Para
evitar um apocalipse de Gray Goo, Drexler e seu Foresight
Institute, uma organização não lucrativa cujo objetivo é preparar
a sociedade para a era da nanotecnologia molecular (MNT), estabeleceram regras para o desenvolvimento de dispositivos MNT
“seguros”. Foresight recomenda que os nanodispositivos sejam
construídos de uma maneira que sejam dependentes de “uma
única fonte de combustível artificial, ou de ‘vitaminas’ artificiais
ETC Group
77
que não existam em qualquer ambiente natural.” Foresight também sugere que os cientistas programem datas “Terminators”
(finais) nas suas criações atômicas76 e que atualizem regularmente
seu software de proteção contra vírus.
E espiões também
Nanorrobôs “inteligentes”, invisíveis, auto-replicantes, com
capacidade de receber ordens remotas e programas mutantes,
ditam a morte dos dissidentes. Num mundo não dedicado à diversidade e à democracia, aqueles que estão no poder poderão
acabar com toda a oposição.
Estranho mundo no
novvo
Se os cientistas descobrirem como usar a Tabela Periódica
dos Elementos da mesma maneira que um pintor usa a paleta de
cores, a indústria vai conseguir manipular materiais de maneira
impossível de controlar nas escalas macro ou micro.. Modelagem
quântica, que permite aos pesquisadores usar computadores para
prever como os materiais da nanoescala se comportarão de acordo com as regras da mecânica quântica, também ajudará no projeto de materiais que nunca antes foram feitos.77 Com um computador suficientemente poderoso, os cientistas conseguirão projetar um material átomo a átomo, instalando as qualidades
desejadas com um toque no teclado. Mesmo a nanoconstrução
sendo apresentada como “natural” comparada com a manufatura convencional, os processos de construção poderão deixar o
mundo com produtos tão estranhos para a natureza como qualquer coisa que tenha sido arquitetada pelos engenheiros genéticos. Todos os riscos do Passo 1 e do Passo 2 continuam valendo
para o Passo 3, com enormes riscos adicionais no caso de as
nanomaquinas auto-replicantes se tornarem realidade.
78
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Curativ
os atômicos
urativos
Além da produção de materiais na nanoescala como blocos
de construção, também poderá ser possível usar a extração de
elementos específicos ou de componentes para alterar o meio
ambiente (Drexler imagina “desmontadores” que iriam trabalhar na direção oposta dos montadores, quebrando as substâncias
átomo a átomo, para análise ou para extração de matéria-prima).
Alguns sugerem que a tecnologia atômica é nossa única esperança para prevenção de catástrofes naturais resultantes de terremotos, mudanças climáticas ou colisões de asteróides. Para sobreviver a uma nuvem gigante de poeira vulcânica na atmosfera, por
exemplo, soltaríamos “insetos” que consumiriam as partículas
de poeira e que se replicariam aos trilhões.78 Outros especulam
que se poderia semear os oceanos para melhor absorver a poluição – ou semear a estratosfera para tapar os buracos da camada
de ozônio. As implicações de tais experimentos são desconhecidas, mas profundamente preocupantes. Em vez de enfrentar os
problemas adjacentes ao consumo exagerado e ao desperdício, a
indústria poderia enxergar na tecnologia atômica uma maneira
de “remediar” uma solução para a Terra. Temos necessidade de
uma solução band aid (que poderia, na verdade trazer mais preocupações), ou vamos enfrentar as realidades do mundo que construímos?
Cópias de carbono
A construção átomo a átomo torna teoricamente possível aos
técnicos da tecnologia atômica construir vida. Afinal, as pessoas
são 99% hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono (o adulto
médio carrega consigo mais ou menos 16k de carbono). O restante 1% é feito de 15 outros elementos, variando do fósforo ao
cobalto, ao potássio-40 radioativo. Uma única célula humana con-
ETC Group
79
tém aproximadamente 450.000 átomos de cobalto e 135 milhões
de átomos de zinco, por exemplo.79 “Vida” pode ser um pouco
mais do que conseguir a receita certa. A tecnologia que consegue
criar a vida também consegue – salvo por acidentes no projeto –
acabar com a morte. Estamos longe de estar preparados para enfrentar as questões levantadas pelas tecnologias atômicas.
Nanorr
obôs com energia nuclear
anorrobôs
A questão da fonte de energia para as pequenas máquinas
está se tornando terrivelmente importante. Enquanto alguns cientistas pesquisam a possibilidade de usar a luz do laser como fonte
de combustível, outros estão propondo que as máquinas que funcionam em micronível deveriam ser movidas por baterias nucleares.80 Pesquisadores na Universidade de Wisconsin – Madison
(EUA) receberam um financiamento de três anos de US$ 970.000
do Departamento de Defesa Estadunidense (Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa – DARPA) para desenvolver
a tecnologia.81 Trata-se do uso pacífico do átomo, com sentimentos?
DESCENDO 4: ÁT
OMO E E
VA – NANO
TECNOL
OGIA
ÁTOMO
EV
NANOTECNOL
TECNOLOGIA
BIÔNICA
A pergunta agora não é se é possível produzir
dispositivos híbridos vivos ou não vivos,
mas qual é a melhor maneira de acelerar seu desenvolvimento.
Carlos Montemagno 82
É aqui que os técnicos atômicos fundem os materiais biológicos com os não-biológicos, em produtos e processos biônicos.
Essa incorporação poderia misturar as pessoas com robôs. Desde
os anos de 1960, a ciência e a cultura popular chamam essas
80
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
criações de cyborg (abreviação de organismos cibernéticos). O
físico teórico Stephen Hawking faz a triste observação de que as
fusões com as máquinas poderão ser a única maneira de tornar a
raça humana suficientemente inteligente para evitar que seja totalmente dominada por elas.83
Uma pessoa amputada usando uma perna protética, assim
como pacientes cardíacos com marca-passos que funcionam com
baterias implantados em seus peitos, poderiam ser chamados de
cyborg de primeira geração, mas a tecnologia atômica permitirá
misturas homem-máquina de uma maneira nunca vista antes. O
Passo 4 resultará de manipulações na nanoescala que permitirão
que nanomateriais não vivos e matéria viva tornem-se compatíveis e, em alguns casos, intercambiáveis. Na nanoescala, a diferença entre material biológico e não biológico é embaçada.84
As nanoesferas vivas e não vivas irão se misturar numa rua de
duas vias. O material vivo será extraído e manipulado para desempenhar funções mecânicas e para permitir o desenvolvimento de materiais híbridos, que combinam material biológico e não
biológico (Bionano I). Material biológico é abundante, barato,
com propriedades úteis – tais como a auto-montagem – que os
materiais não biológicos não têm. Usando diferentes tecnologias,
material não vivo será usado dentro dos organismos vivos para
desempenhar funções biológicas (Bionano II).
PR
OTEÍNAS F
AZENDO HORA EXTRA ((B
Bionano I)
PRO
FAZENDO
• Os pesquisadores estão colocando nanomateriais derivados de células vivas para trabalhar a serviço (e no lugar de)
das máquinas. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Rice tem feito experimentos com F-actin, uma proteína que parece uma fibra longa e fina e que fornece o
apoio estrutural para a célula e controla seu formato e
ETC Group
81
movimento.85 Proteínas como a F-actin, descritivamente
chamadas de proteínas filamentosas, permitem o transporte
de eletricidade através do seu comprimento. Os pesquisadores esperam que essas proteínas, um dia, possam ser usadas como biosensores – agindo como nanocabos condutores de eletricidade. Nanocabos de proteínas poderiam substituir os nanocabos de silicone, que têm sido usados como
biosensores mas são mais caros e teriam um impacto
ambiental maior do que os nanocabos de proteínas.
• Um pesquisador do Instituto Politécnico de Rennselaer está
colocando proteínas dentro de nanotubos de carbono, que
serão então incorporados em materiais, com objetivo de
tornar as proteínas autocuradoras. 86 Por exemplo,
nanotubos cheios de proteínas poderão ser incorporados
no plástico que faz a asa de um avião. Se a asa estraga e os
nanotubos quebram, as proteínas que se soltarem poderão
agir como um adesivo e consertar o estrago.
• Uma máquina de funcionamento complexo, com mecanismo biológico, já foi construída por Carlo Montemagno
na Universidade de Cornell (Montemagno está agora na
Universidade da Califórnia, em Los Angeles, Departamento
de Engenharia Mecânica e Aeroespacial). Montemagno e
seu grupo de pesquisadores extraíram uma proteína de
motor rotativo de uma célula de bactéria e a conectaram a
um nanopropulsor – um cilindro metálico de 750nm de
comprimento e 150nm de largura. O motor biomolecular
era movido pela adenosina trifosfato (conhecida por ATP
– a fonte de energia química das células) da bactéria e conseguia rodar o nanopropulsor numa velocidade média de
oito voltas por segundo.87 O grupo de Montemagno anunciou no final de outubro de 2002 que, ao adicionar um
82
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
grupo químico ao motor da proteína, eles conseguiram ligar e desligar a nanomáquina.88
• Um químico da Universidade de Nova York está verificando se consegue tirar vantagem da habilidade de auto-montagem do DNA para criação de circuitos. A bioeletrônica
poderá dar o caminho para computadores ultrapequenos e
ultra-rápidos.89
• O lema da NanoFrames, uma empresa que se intitula de
biotecnologia, sediada em Boston, é “utilizar a natureza para
transformar a matéria”. Esse lema também faz uma descrição resumida de como funciona a Bionano I. NanoFrames,
usa subunidades de proteína para agirem como blocos construtores básicos (derivadas das fibras da cauda de um vírus
chamado bacteriophage T4). Essas subunidades são unidas
umas às outras ou a outros materiais através da automontagem, para produção de estruturas maiores. Como explica
a página na Internet da empresa (www.nanoframes.com), o
design das subunidades determina a estrutura final, e não
exige nenhuma manipulação adicional de moléculas individuais. A NanoFrame chama seu método de manufatura de
carpintaria bioimitadora, rótulo esse bem figurativo porém
insuficiente. Usar proteínas como blocos construtores, e tirar vantagem da sua habilidade de auto-montagem, é mais
do que imitar a esfera biológica – é mais do que recorrer à
biologia para buscar inspiração – é transformar a biologia
numa força de trabalho industrial.
CASAMENT
OS BASEADOS NA COMP
ATIBILIDADE –
CASAMENTOS
COMPA
(Bionano II)
Misturando as esferas vivas e não vivas na outra direção – isto é,
incorporando matéria não viva em organismos vivos para desempe-
ETC Group
83
nhar funções biológicas – é mais familiar para nós (marca-passos,
articulações artificiais), mas apresenta certos desafios na nanoescala.
Um dos principais desenvolvimentos na convergência das novas
tecnologias é a integração da nanotecnologia e da biotecnologia,
chamada agora de bionanotecnologia. Pesquisadores da Universidade de Rice chamaram essa desafiadora nanodimensão de interface
seca/molhada – em que molhado refere-se ao sistema biológico e
seco refere-se aos nanomateriais.90 Apenas um quinto (21%) do
negócio da nanotecnologia dos EUA está focado na interface seca/
molhada, quando desenvolve produtos farmacêuticos na nanoescala, sistemas de distribuição de medicamentos e outros produtos
relacionados ao cuidado com a saúde.91 Pelo fato de os nanomateriais serem na maioria das vezes estranhos à biologia, eles precisam
ser manipulados para se tornarem compatíveis, para que se comportem corretamente no seu novo ambiente.
NANOOLÍMP
ICO ((B
Bionano II)
NANOOLÍMPICO
O Pesquisador Robert Freitas está desenvolvendo uma célula
vermelha do sangue artificial que é capaz de transportar 236 vezes mais oxigênio aos tecidos do que as células vermelhas naturais.92 A célula artificial, chamada respirocyte, mede um mícron
de diâmetro e tem um nanocomputador a bordo, que pode ser
programado de longe, via sinais acústicos externos. Freitas prevê
que seu dispositivo será usado para tratar anemia e disfunções
dos pulmões, mas também irá melhorar a performance humana
em áreas de exigência física, do esporte e da guerra. Freitas afirma que a eficiência das células artificiais irá depender grandemente
da sua “confiabilidade mecânica frente a desafios anormais do
ambiente” e da sua biocompatibilidade. Entre os riscos, considerados raros mas reais, Freitas enumera superaquecimento, explosão e perda da integridade física.
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DNA POR CONTR
OLE REMO
TO (B
ionano II)
CONTROLE
REMOT
(Bionano
Pesquisadores do MIT, liderados pelo físico Joseph Jacobson
e pelo engenheiro biomédico Shuguang Zhang desenvolveram
uma maneira de controlar o comportamento de moléculas individuais no meio de uma multidão de moléculas.93 Eles anexaram
nanopartículas de ouro (1,4nm de diâmetro) a certos filamentos
de DNA. Quando o DNA coberto de ouro é exposto a um campo magnético, os filamentos se quebram; quando o campo magnético é removido, os filamentos se regeneram imediatamente:
os pesquisadores desenvolveram efetivamente um interruptor, que
permitirá a eles ligar e desligar os genes. A meta é acelerar o
desenvolvimento de medicamentos, permitindo que pesquisadores farmacêuticos simulem os efeitos de alguma droga que também possa ligar e desligar os genes. O laboratório do MIT licenciou recentemente a tecnologia engeneOS, que pretende “evoluir
da detecção e medição in vitro ao monitoramento e manipulação na escala molecular, em células e in vivo.”94
Em outras palavras, eles pretendem mover esses biodispositivos dos tubos de teste para dentro dos corpos vivos.
TECNOL
OGIAS SUP
ER
COLIDENTES
TECNOLOGIAS
SUPER
ERCOLIDENTES
Quando as tecnologias da nanoescala convergirem, a mudança na nossa vida será dramática e pessoal. Em dezembro de
2001, duas agências de governo dos EUA patrocinaram um
workshop intitulado “Convergindo tecnologias para melhorar a
performance humana”. A união entre a agência principal de ciências e a “voz dos negócios no governo” – a National Science
Foundation (NSF – Fundação Nacional de Ciências) e o Departamento de Comércio (DOC) – resultou, sem surpresa, num
plano de marketing para novas tecnologias. Os participantes do
workshop – governo, meio acadêmico e setor privado – focaram
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nas maneiras que as tecnologias convergentes – especificamente
nanotecnologia, biotecnologia, informática e ciências cognitivas
(essa convergência é chamada de NBIC) – podem aumentar as
capacidades físicas e cognitivas dos humanos, individualmente e
coletivamente. Em outras palavras, a pergunta do dia, nas palavras de um participante, foi de que maneira as tecnologias convergentes podem “nos tornar mais saudáveis, mais ricos e mais
inteligentes?”95 A resposta a essa pergunta tem o peso de 400
páginas. Com pouca análise crítica, e não muitas precauções, os
benefícios da intensificação da performance são repetidos sempre
de novo. NBIC (nano-bio-info-cogno) nos tornará mais inteligentes (ao nos permitir acessar e armazenar mais informação nos
nossos cérebros, ou através do desenvolvimento de inteligência
artificial), mais novos (parando ou revertendo o processo de envelhecimento), mais saudáveis e, é claro, mais magros (controlando o metabolismo). O relatório NSF/DOC recomenda uma
“prioridade nacional na pesquisa e desenvolvimento das
tecnologias convergentes, visando intensificação da performance
humana”, incluindo o “Projeto Cognoma Humano”, um esforço multidisciplinar para compreender estrutura, funções e potencial de intensificação da mente humana.
Alguns participantes do workshop insistiram para que as ciências sociais fossem incluídas na convergência nano-bio-infocogno-socio, mas foi compreendido que as ciências sociais operariam a serviço da NBIC.96 Gerold Yonas e Jessica Glicken
Turnley, por exemplo, propõem a sociotecnologia, que eles prevêem como uma ciência profética de comportamento social.97
Através da “acumulação, manipulação e integração de dados das
ciências comportamentais, sociais e da vida”, a sociotecnologia
poderia identificar “as causas de uma variedade de eventos destruidores e nos permitir o uso de estratégias atenuadoras ou pre-
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ventivas antes do acontecimento.”98 Os autores enxergam a
sociotecnologia como uma arma poderosa na guerra contra o
terrorismo. Em outro exemplo, James Canton, executivo-chefe
de uma empresa de consultoria de alta tecnologia da Califórnia,
reconhece que “culturas diferentes definirão a performance humana, com base nos seus valores sociais e políticos.” Com essa
afirmação, ele declara então: “Nossa nação deve definir esses valores e mapear o futuro da performance humana.”99
Gregor Wolbring, bioquímico da Universidade de Calgary, e
fundador do Centro Internacional de Bioética, Cultura e
Deficiências (International Center for Bioethics, Culture and
Disability), dá uma das raras perspectivas críticas contidas no
relatório de 400 páginas. 100 Ele diz explicitamente que a
performance humana não deveria ser vista apenas num contexto
médico ou tecnológico. Ele chama para uma perspectiva mais
ampla, com o objetivo de compreender que os conceitos de intensificação, progresso, deficiência e doença são construções sociais e, assim sendo, progresso tecnológico deveria ser examinado
criticamente pela sua relevância e pertinência.101
A recomendação do relatório, para que seja desenvolvida iniciativa nacional de pesquisa e desenvolvimento das tecnologias
convergentes de intensificação da performance humana, promete
benefícios numa escala verdadeiramente bíblica – “cegos enxergarão... coxos caminharão... casais inférteis terão filhos.”102 Talvez seu aspecto mais perturbador seja a promessa de um futuro
no qual toda a diferença será apagada – diferenças de linguagem,
inteligência, imaginação, idade, características físicas, quaisquer
características que possam ser vistas como destruidoras. As implicações da erosão dos direitos humanos, incluindo os direitos
daqueles que são não desenvolvidos – ou por escolha, ou por
falta de escolha – e pela erosão da dissidência democrática, são
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aterradoras. Será que a perfeição física através das novas
tecnologias se tornará uma imposição social? Será que o desempenho pessoal se tornará lei?103
O relatório do projeto do governo dos EUA é um panorama
desconcertante do alcance, poder e capacidade de persuasão das
tecnologias convergentes. O relatório é especialmente desalentador
quanto ao incentivo descarado à tecnologia atômica pelo governo
dos EUA, cientistas e representantes do setor privado, que enxergam na aceitação dos consumidores a chave para maior financiamento para o seu trabalho. Eles fazem referências repetidas sobre
os produtos que irão mudar e melhorar a vida dos consumidores –
variando do frívolo ao fantástico. Nos é dito que as tecnologias
convergentes poderão oferecer “vida ativa e digna, até o segundo
século de vida da pessoa”, e também computadores portáteis disfarçados como jóias brilhantes, cosméticos que mudam conforme
o humor da pessoa, e roupas inteligentes, que se adaptam ao ambiente onde a pessoa está.104 Parece que os entusiastas da tecnologia
atômica estão tentando desesperadamente não repetir a maior
mancada da indústria da tecnologia atômica da década passada.
Ao falhar em produzir produtos geneticamente modificados que
tenham algum benefício para os consumidores, a indústria
biotecnológica da agricultura sofre hoje com a falta de aceitação e
confiança dos consumidores. No seu zelo em formar opinião pública e vencer a aceitação dos consumidores, o relatório do NSF/
DOC é uma prova do exercício perigoso nas relações públicas e no
marketing, no avanço das tecnologias convergentes.
QUAIS SÃO OS RISCOS?
Novas matérias
Quando o Passo 3 (manufatura molecular) – na forma que
finalmente tomar – combinar com o Passo 4 (nanobiônica), a
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tecnologia atômica irá criar híbridos vivos e não-vivos desconhecidos anteriormente na terra. As implicações ambientais dessas
novas criações – algumas que podem ter a meia-vida do universo
– são incompreensíveis.
Viv
o
ivaa o ex-viv
ex-vivo
Nanomáquinas feitas pelos humanos movidas por materiais tirados de células vivas são realidade hoje. Não levará muito tempo e
mais partes funcionais das células serão colocadas a serviço das
nanomáquinas. Enquanto a mistura entre nanovivo e nano não vivo
se torna mais comum, a idéia de nanomáquinas auto-replicantes
torna-se cada vez menos um “sonho futurista”. Ao desconsiderar a
possibilidade da manufatura molecular (ver Passo 3), George
Whitesides afirmou que “seria uma conquista impressionante imitar a célula viva mais simples”. Mas não precisamos reinventar a
roda antes que criaturas auto-replicantes feitas por humanos sejam
possíveis; podemos apenas pegar emprestado. Whitesides acredita
que a ameaça mais perigosa ao ambiente não é o Gray Goo, mas
reações auto-catalizadoras, isto é, reações químicas que se aceleram e
ocorrem sozinhas, sem o auxílio de um químico num laboratório.105
É aqui – onde nanomáquinas naturais fundem-se com nanomáquinas
mecânicas – onde o aviso de Whitesides ressoa mais forte.
Seis graus de humanidade
Podem as sociedades que ainda não conseguiram entender porque
existem soldados humanos prosseguir com a construção de cyborgs
parcialmente humanos, semi-humanos ou super-humanos?
Assassinos por natur
natureeza
Conforme o desenvolvimento da fusão entre células vivas e
nanomáquinas feitas por humanos, também se desenvolverá a
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sofisticação dos armamentos químicos e biológicos. Esses híbridos biomecânicos serão mais invasivos, mais difíceis de detectar
e impossíveis de serem combatidos.
Quem vvai
ai colorir seu mundo?
Teoria do Grey Goo – Aprendiz de Sorcerer
Robôs mecânicos invisíveis auto-replicantes multiplicam-se
incontrolavelmente até sua fome por matéria-prima (elementos naturais) e energia consumir o mundo.
Teoria do Blue/Grey Goo – admirável mundo novo
Supermáquinas evoluem e administram sistemas humanos e
ambientais complexos e (no final) tomam conta do mundo,
ou caem nas mãos da elite corporativa que manda
onipotentemente.
Teoria do Green Goo – Os brinquedos somos nós
Os cientistas combinam organismos biológicos e máquinas
mecânicas para usos industriais. Os organismos continuam a
fazer o que a natureza pretende – eles procriam – mas tornaram-se mais poderosos pelo impulso dado pela tecnologia humana: o bacteriófago estimulado torna-se polífago.
INFORMAÇÃO HISTÓRICA
A vida sem vigor 106 – proezas do barro
Elementos, meu caro Watson:
De acordo com algumas lendas, Deus soprou o barro moldado e Adão
respirou. Moisés desceu a montanha carregando dois tabletes de barro, nos
quais estava o código daquilo que alguns chamam de o Livro da Vida. Hoje
em dia essas histórias parecem estar mais perto da realidade do que alguns
esperavam. O barro poderá trazer inscrita a fórmula de fazer a vida... se não
como viver a vida.
Em 1953, Watson e Crick identificaram a dupla hélice do DNA, e Stanley
Miller lançou a ciência numa exploração das origens da vida. Trabalhando na
Universidade de Chicago, Miller tentou criar vida da matéria inanimada, cozinhando uma sopa primordial imitando os oceanos e o ambiente da Terra. Ele
imitou tempestades de raios atirando volts elétricos na sopa. Em poucos dias
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a sopa de Miller produziu mais de uma dúzia de aminoácidos, incluindo seis
dos vinte blocos construtores principais das proteínas. O trabalho de Miller
beneficiou-se de uma hipótese desenvolvida por Alexander Cairns-Smith, na
qual o químico escocês concluiu que a vida surgiu de irregularidades, na
nanoescala, no arranjo dos átomos de cristal dos minerais do barro. Isso
criou a primeira informação genética, e a oportunidade para mutação, quando folhas de cristais com irregularidades parecidas foram colocadas sobre o
barro original. Essa teoria da origem da vida ainda é corrente. Recentemente,
pesquisadores do Instituto Weizmann de Israel usaram minerais do barro para
desenvolver aminoácidos e uma substância que, no final, continha a estrutura
química de uma proteína.
Uma variação modesta no assunto barro foi arquitetada por um advogado de patentes alemão, Günter Wächtershäuser (seguindo uma tradição atômica iniciada por outro examinador de patentes, Albert Einstein).
Nanopartículas de pirita de ferro – formadas por componentes de ferro e enxofre – transmitiram a energia necessária para criar macromoléculas para
organismos vivos.
Graças ao trabalho de Cairns-Smith, Miller e Wächtershäuser, muitos
cientistas agora acreditam que será possível construir vida, via construção átomo a átomo de matéria inorgânica. Mais ainda, vida poderá surgir
não somente do carbono, mas também de uma variedade de elementos
ou compostos, que incluem pirita de ferro (o ouro dos tolos). No início da
sua tese sobre os minerais do barro, Cairns-Smith cita Sherlock Holmes
matutando sobre as origens da vida... “Estranho, Watson [e Crick?] – muito estranho.”107
AVALIÇÃO DO GR
UPO ET
C
GRUPO
ETC
Para aqueles que não aceitam o risco do Gray Goo de Drexler,
ainda existe a questão desanimadora de um novo mundo
cinza, colocado por máquinas superinteligentes, vigilância
sem limites, e uma elite governante que se torna “O Grande
Irmão Cyborg” de todos nós. O poder da nano+info+cogno
é exponencial e é a principal ameaça à democracia e à dissidência.
Mas ainda existe outra preocupação. Talvez não é o Grey Goo
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que tenhamos de temer, mas o Green Goo. Em vez de tentar
manufaturar maquinário auto-replicante que imita a autoreplicação de materiais vivos, é mais provável assumir o controle de materiais vivos e usá-los para imitar as máquinas. Isso
já está acontecendo no nível dos microorganismos, mas também poderá incluir formas maiores de vida. Por exemplo, os
militares estão descobrindo que a modificação de insetos com
objetivos militares ou industriais poderia ser uma tarefa muito
mais simples do que criar máquinas mecânicas voadoras de
tamanho parecido. No final das contas, será que a revolução
do Green Goo – controlar a vida com objetivos industriais –
será o maior risco?
NO
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Gareth Cook, “No Assembly Required for These Tiny Machines”, Boston Globe, 16
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De acordo com Scott Mize, “Near-Term Commercial Opportunities in
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De acordo com Scott Mize, “Near-term Commercial Opportunities in
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Miwako Waga, “Japonese Companies Getting Ready to Churn Our Nanotubes by
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Candace Stuart, “Nanotube Industry Means Business”, p. 36.
Cientistas da Rice University fizeram sua própria conferência sobre o assunto em
dezembro de 2001, com o título “Nanotechnology and the Environment: An
Examination of the Potential Benefits and Perils of an Emerging Technology”
(Nanotecnologia e Meio Ambiente: um exame dos benefícios e perigos em potencial
da tecnologia emergente).
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Bárbara Karn, citada em artigo de Dough Brown, “US Regulators want to know
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Internet: www.smalltimes.com
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Comunicação pessoal com Dr. Mark Wiesner, 18 de junho de 2002.
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Pode ser encontrado na Internet: www.zyvex.com/nanotech/feynman.html
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Assertion that Mechanical Molecular Assemblers Are Not Workable and Not a
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Anônimo, “Namnotechnology: Shaping the World Atom by Atom”, pp. 5-6. Disponível na Internet: itri.Loyola.edu/nano/IWGN.Public.Brochure/
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disponivel na Internet: bioinstrumentation.mit.edu/fpga/NanoWalkerHangzhou2000.pdf
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MichaelGross, Travels to the Nanoworld: Miniature Machinery in Nature and Technology,
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Na visão de Drexler, a diferença entre um sistema de montagem e um replicante
dependerá totalmente da programação do montador.
Kevin Bonsor, “How Nanotechnology will work,” www.howstuffworks.com/
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George Whitesides, “The Once and Future Nanomachine,”Scientific American, setembro/2001, p. 81.
Esse texto está na Internet: www.imm.org/SciAmDebate2/smalley.html e
www.imm.org/SciAmDebate2/whitesides.html
K.Eric Drexler, Unbounding the Future , p. 200.
G. Whitesides, “The Once and Future Nanomachine”, p. 83.
Bennet Daviss, “Out of Thin Air”, New Scientist, vol. 171, nº 2.306, 1º de setembro
de 2001, p. 32. Ver também Georgia Tech Sound as a New Tool for Space
Construction”, 4 de maio de 2001, na Internet: www.gatech.edu/news-room/archive/
news_releases/acoustic.html
K. Eric Drexler, Engines of Creation: The Coming Era of Nanotechnology, publicado
originalmente por Anchor Books, 1986; disponível na Internet: www.foresight.org
As regras do Instituto Foresight para o Desenvolvimento da Nanotecnologia estão
na Internet: www.foresight.org/guidelines/current.html
Peter Fairley, “Nanotech by the Numbers”, Technology Review, setembro/2002, pp.
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Douglas Mulhal, Our Molecular Future,Prometheus Books, 2002, p. 225.
Adrian Barry, ed, “The Explosions Within Us”, The Book of Scientific Anecdotes,
Prometheus Books, 1993, pp. 208-209.
Mike Martin, “Lasers Power Nanomotors in Harvard-Weizmann Study”, 28 de maio
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2002.
Disponível
na
Internet:
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University of Wisconsin-Madison, Episode, Department of Engineering Physics
Newsletter, outono/inverno de 2201-02, www.engr.wisc.edu/ep/newsletter/
200102fallwinter/batteries.html
Carlos Montemagno, “Nanomachines: A Roadmap for realizing the vision”, Journal
of Nanoparticle Research 3, 2001, p. 3.
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Ver por exemplo a conferência pública de Hawking, “Life in the Universe”; disponível na Internet: www.hawking.org.uk/lectures/life.html
Ver Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best
of Both Worlds,”p. 35.
www.ruf.rice.edu/cben/Protein Nanowires.shtml
Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best of
Both Worlds”, p. 35.
George M. Whitesides e J. Christopher Love, “The Art of Building Small”, p. 47. O
artigo da Scientific American afirmou incorretamente que o propulsor girava oito
voltas por minuto. Ver Montemagno et alii, “Powering an Inorganic Nanodevice
with a Biomolecular Motor”, Science, vol. 290, 24 de novembro de 2000, p. 155557; pode ser encontrado na Internet: www.sciencemag.org
Phillip Ball, “Switch Turns microscopic motor on and off ”, Nature, on-line, 30 de
outubro de 2002; disponivel na Internet: www.nature.com
Alexandra Strikeman, “Nano Biomaterials: New Combinations Provide the Best of
Both Worlds”, p. 35.
Ver site na Internet do CBEN da Rice: www.ruf.rice.edu/~cben/WetNano.shtml
The Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey”, p. 12.
Robert A. Freitas, “A Mechanical Artificial Red Cell: Exploratory Design in Medical
Nanotechnology”; disponível na Internet: www. Foresight.org/Nanomedicine/
Respirocytes.html
Alexandra Strikeman, “Nanobiotech makes the diagnosis”, p. 66.
Endereço na Internet da engeneOS, www.engeneos.com/comfocus/index.asp
Gerold Yonas, citado em Jim Sporer, “NBICS (Nano-Bio-Info-Cogno-Socio)
Convergence to Improve Human Performance: Opportunities and Challenges”, p.
90. o relatório está disponível numa versão resumida na Internet: www.itri.loyola.edu/
ConvergingTechnologies
Ver, por exemplo, a contribuição de Sherry Turkle ao relatório NSF-DOC, “Sociable
Technologies: Enhancing Human Performance when the computer is not a tool but
a companion”, pp. 131-141. Turkle argumenta que é essencial a compreensão da
psicologia humana para o desenvolvimento de máquinas que serão aceitas num nível
social. Ela argumenta que, além disso, “tecnologias sociais” nos darão relacionamentos mais satisfatórios com as nossas máquinas e também poderão vitalizar nossos
relacionamentos uns com os outros, porque, “para construirmos objetos sociáveis
melhores, teremos aprendido mais sobre o que nos torna sociais uns com os outros
(p. 139).”
Gerold Yonas trabalha no Sandia National Laboratories, operado pelo contratante
da indústria de defesa, Lockheed Martin, com contrato do Departamento de Energia dos EUA. O Sandia desenvolve tecnologias emergentes para promoção da segurança nacional. Jessica Glicken Turnley é antropóloga e líder do Galisteo Glicken
Group Inc.
Jessica Glicken Turnley e Gerold Yonas, “Socio-Tech... The Predictive Science of
Societal Behavior,” Converging Technologies for Improving Human Performance, junho/2002, p. 140.
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James Canton, Institute for Global Futures, “The impact of Convergent Technologies
and the Future of Business and the Economy”, Converging Technologies for Improving
Human Performance, p. 68. Canton é executivo-chefe do Institute for Global Futures.
Wolbring é membro da diretoria do Grupo ETC.
Gregor Wolbring, “Science and Technology and the Triple D (disease, disability and
defect)”, Converging Technologies for Improving HumanPerformance, pp. 206-216.
James Canton, “The Impact of Convergent Technologies and the Future of Business
and the Economy,” Converging Technologies for Improving Human Performance, p.
68.
De acordo com Gregor Wolbring, a definição de deficiência já está mudando. Leis
recentes na Suprema Corte dos EUA, por exemplo, afirmam que o Ato pelos
Estadunidenses com Deficiências (ADA) não cobre pessoas portadoras de deficiências corrigíveis. Isso quer dizer que quando existirem “adaptações”, as deficiências
precisam ser corrigidas e a proteção dos direitos humanos através das leis como a
ADA não serão mais necessárias. Ver como exemplo: Sutton v. United Airlines (130
F.3d 893, 119 S. Ct. 2139), Albertsons Inc. v. Kirkingburg (143 F.3d 1228, 119 S.Ct.
2162), e Murphy v. United Parcel (141 F.3d 1185, 119 S. Ct. 1331).
Mike Roço e W.S. Bainbridge, “Overview: Converging Technologies for Improving
Human Performance: Nanotechnology, Biotechnology, Information Technology and
Cognitive Science (NBIC),” Converging Technologies for Improving Human
Performance, p. 18.
George Whitesides, “The Once and Future Nanomachine”, p. 83.
Informação para este livro foi tirada de Michael Gross, Life on the Edge – Amazing
Creatures Thriving in Extreme Environments, Perseus Publishing, Cambridge, 1998,
pp. 124-8, e de Adrian Barry, ed., The Book of Scientific Anedoctes, Prometheus,
Amherst, New York, 1993, pp. 208-9.
Michael Gross, Life on the Edge, pp. 124-128.
PARTE III
VOCÊ SABE, AS COISAS SERÃO REALMENTE DIFERENTES!...
NÃO, NÃO, EU QUERO DIZER REALMENTE DIFERENTES!
MARK MILLER PARA K. ERIK DREXLER
MEADOS DOS ANOS DE 1980108
AS TECNOLOGIAS ATÔMICAS FUNCIONARÃO?
QUATRO TESTES PARA UMA NOVA TECNOLOGIA
Não foi apenas a menção da nanotecnologia em filmes recentes de Hollywood (Homem Aranha e Minority Report) que
nos fizeram sentar e prestar atenção. O Grupo ETC percebeu
que era hora de levar as tecnologias da nanoescala a sério quando
comparou a onda de empolgação que estava acontecendo com as
seguintes variáveis: 1. o número de citações registradas na literatura científica; 2. o número de patentes nanorrelacionadas que
estão sendo registradas; 3. a quantidade de dinheiro investida
em pesquisa básica e 4. o âmbito e a reputação das instituições
públicas e privadas que estão assumindo a pesquisa. É necessário
um grande volume para que uma ciência se torne uma tecnologia
viável no mercado. Aqui estão os detalhes...
OLHE Q
UEM ESTÁ F
AL
ANDO 1: NANONERDS – AS
QUEM
FAL
ALANDO
CIT
AÇÕES CIENTÍFICAS
CITAÇÕES
Um banco de dados de citações fornecido pela ISI Citation
Index relaciona todas as referências de palavras específicas em
publicações científicas em inglês. Em 1987, a literatura científica
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incluiu aproximadamente 200 nanorreferências. No final de
2001, existiam mais ou menos 7.700 nanocitações no ano. Nos
primeiros seis meses de 2002, existiam mais de 6.000
nanocitações.109
Com igual importância, as referências à nanotecnologia foram além da imprensa científica convencional para a mídia popular de ciências e negócios. Em setembro de 2001, por exemplo, a Scientific American’s dedicou toda a sua edição à
nanotecnologia. Em dezembro de 2001, Chemical and
Engineering News também colocou a nanotecnologia como reportagem de capa. USA Today, a revista People dos jornais diários,
tem agora um repórter da nanotecnologia. Cada edição da
Technology Review dá destaque a uma descoberta da nanociência.
Com regularidade crescente, a mídia de negócios está falando
sobre a nano, e é comum existirem reportagens destacadas com
referências à nanotecnologia.
Existe claramente uma massa crítica de pensamento e pesquisa
científicos a caminho. Nos últimos anos, vários Prêmios Nobel
foram para cientistas cujo trabalho está diretamente relacionado
às tecnologias atômicas.
VEJA Q
UEM ESTÁ P
ATENTEANDO 2:
QUEM
PA
NANOMILIONÁRIOS E NANO
APR
OVEIT
ADORES –
NANOAPR
APRO
VEITADORES
corporações multinacionais e empr
esas nanoiniciadas
empresas
A nanotecnologia é a fronteira final dos construtores.
Richard Smalley, 1996
Prêmio Nobel de Química 110
Nos anos de 1980, existiam 60 patentes com referência a
nano nas suas solicitações. No final de 2001, aproximadamente
445 pedidos haviam sido aceitos durante o ano, e espera-se que
ETC Group
101
o número de patentes nanorrelacionadas exceda esse número até
o final de 2002.111 Considerando que a indústria biotecnológica
precisou superar várias proibições legislativas (por exemplo, que
material vivo não podia ser patenteado) para assegurar a propriedade intelectual sobre organismos e seus componentes, os técnicos atômicos enfrentam bem menos restrições, dando aos magnatas da matéria uma vantagem substancial sobre os engenheiros genéticos.
Não é apenas o número de patentes, mas quem está fazendo as solicitações. Fazem parte da lista empresas que aparecem no “Quem é Quem” dos 500 da revista Fortune. Os campus
universitários mais prestigiados do mundo também estão envolvidos. As empresas iniciando com a nano não estão sozinhas no
mercado; os grandes gigantes industriais já estão desenvolvendo
as perícias da tecnologia atômica internamente – não se detendo
como fizeram quando a biotecnologia apareceu inicialmente no
horizonte. De forma interessante, mas não surpreendente, o exército e a marinha dos EUA estão entre os solicitantes mais agressivos.
OLHE Q
UEM ESTÁ P
AGANDO 3: NANOCORPOS E
QUEM
PA
NANO
AMIGOS – P
AGADORES DE IMPOST
OS E
IMPOSTOS
NANOAMIGOS
PA
PESQ
UISADORES DAS CIÊNCIAS PÚBLICAS
ESQUISADORES
Nanotecnologia é a maneira de controlar engenhosamente a construção de
estruturas grandes e pequenas, com propriedades complicadas; é a maneira do
futuro, é a maneira da construção precisa e controlada, com eventuais
benefícios ambientais incluídos no design.
Roald Hoffman, 1981
Prêmio Nobel de Química112
Os pioneiros nas novas tecnologias consideram-se universalmente ignorados e não valorizados. As pequenas empresas
102
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
especializadas na biotecnologia nos anos de 1970 reclamavam
amargamente do desinteresse do mercado de capital de risco. Da
mesma forma, os iniciantes na tecnologia atômica. Mesmo assim,
o investimento em dinheiro na pesquisa básica e em novos produtos é impressionante. Em 2001, o gasto mundial nos fundamentos dessa indústria (corporativa e governamental) foi de aproximadamente US$ 4 bilhões.113 Uma explosão nos gastos com pesquisa
básica durante a recessão é uma prova do potencial da tecnologia.
Acompanhando o modelo da biotecnologia, a tecnologia atômica também se apóia nos pagadores de impostos (nanocorpos) e
na ciência pública (nanoamigos). E, como sempre, os lucros vão
para a elite dos empreendedores acadêmicos e para os gigantes industriais, que, no final, absorvem os iniciantes mais promissores.
O gasto em pesquisa básica na nanociência pelos governos
está desafiando as leis econômicas da gravidade. Mesmo enquanto
a economia mundial está entrando em recessão, o Japão e os
EUA estão correndo ombro a ombro para gastarem, um mais do
que o outro, na pesquisa patrocinada pela publicidade. A União
Européia está atrás, mas determinada a emparelhar.
Os nanocientistas nos EUA são descritos como volúveis em
relação ao comprometimento federal com as nanotecnologias.114
O gasto total do governo dos EUA totalizou US$ 463 milhões
em 2001; irá alcançar US$ 600 milhões em 2002; e US$ 710
milhões em 2003.115 Em 2002, o gasto do governo japonês com
nanotecnologia passou os EUA; e a União Européia segue de
perto, em terceiro lugar. Os gastos mundiais governamentais em
2001 excederam US$ 1 bilhão e mais do que duplicaram para
US$ 2,5 bilhões em 2002.116
Além dos governos, um indicador-chave do potencial comercial está no interesse mostrado pelos capitalistas do investimento
de risco. O investimento no capital de risco dos EUA cresceu de
ETC Group
103
modestos US$ 100 milhões por ano, em 1999, para US$ 780
milhões em 2001, com uma “alta” para US$ 1,2 bilhões em
2003.117 Essa é uma estimativa da indústria pós 11 de setembro.
Além dos governos e fundos de capital de risco, a terceira
fonte de dinheiro para pesquisa vem das atividades “internas” de
empresas multinacionais. Empresas tais como a Xerox, Toyota,
DuPont, Siemens AG, General Eletric, BASF e Hewlett-Packard
parecem estar investindo pesadamente na nanotecnologia, mas
são relutantes em revelar os valores dos gastos. Segundo alguns
cálculos, parece que os Fortune 500 estão superando os gastos
combinados do governo e do capital de risco.
Será que US$ 4 bilhões gastos mundialmente com pesquisa e
desenvolvimento são suficientes para gerar uma nova revolução
industrial? O exército dos EUA, em comparação, gasta aproximadamente US$ 1,2 bilhões por ano para desenvolver veículos
aéreos não tripulados (UAVs). Mas UAVs estão bem além da
fase inicial de pesquisa, e já participaram de ação intensa no
Afeganistão. A tecnologia atômica está hoje onde a biotecnologia
estava no final dos anos de 1970, e onde os semicondutores estavam no final dos anos de 1960. Mesmo contando com a inflação
ocorrida nessas décadas, US$ 4 bilhões por ano em pesquisa básica é impressionante.
OLHE O Q
UE JÁ ESTÁ A
CONTECENDO 4:
QUE
ACONTECENDO
NANODÓL
ARES – DA P
ESQ
UISA À RECEIT
A
NANODÓLARES
PESQ
ESQUISA
RECEITA
O quarto indicador de que a tecnologia atômica é real é que
ela está obviamente fazendo progresso e já está fazendo produtos. Em total contraste com os dias iniciais da biotecnologia (e
até mesmo hoje), a tecnologia atômica já tem produtos no mercado e praticamente metade dos nanoempreendedores estão vendendo seus produtos. De acordo com a CMP Científica, exis-
104
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
tem aproximadamente 500 empresas de nanotecnologia distribuídas de maneira regular pela América do Norte, Ásia e Europa. Pouco acima de 10% dessas empresas estão produzindo
nanotubos e fibras; e mais ou menos 1/3 delas estão vendendo as
ferramentas (ex.: microscópios de força atômica) que tornarão
possível o desenvolvimento da tecnologia.118 Fontes da indústria
calculam que as tecnologias pequenas (incluindo sistemas mecânicos microelétricos [MEMs]) nos EUA já estejam vendendo
aproximadamente US$ 45,5 bilhões em bens e serviços e que,
em 2005, essa receita deva atingir US$ 225,5 bilhões.119 Para
mais ou menos 2010, a US National Science Foundation prevê
vendas anuais de US$ 340 bilhões em materiais e processos
nanoestruturados; US$ 600 bilhões anuais em receitas com eletrônicos e informática; e vendas de aproximadamente US$ 180
bilhões em aplicações farmacêuticas em 2015120, com a metade
da produção de farmacêuticos dependente da nanotecnologia.
Espera-se que as vendas anuais relacionadas à nanotecnologia
excedam a US$ 1 trilhão em 2015. Nesse ponto, as tecnologias
atômicas serão fator dominante nos setores de eletrônica (de computadores a telecomunicações), fármacos, energia e fabricação
de materiais.
Em 1995 a revista Wired perguntou aos principais cientistas
dos EUA sua opinião sobre o progresso da tecnologia atômica
nos próximos anos.121 Apesar das interpretações serem variadas,
parece que a tecnologia está, até agora, excedendo as expectativas. Em 2000, mais de duas dúzias de patentes estadunidenses
foram emitidas, relacionadas a montadores moleculares por exemplo; e muitos pesquisadores agora acreditam que a reparação de
células através da tecnologia atômica está próxima. Mas, em uma
categoria, os desenvolvimentos da nanociência estão ficando para
trás: a maioria dos experts consultados acreditou que, em 2000,
ETC Group
105
existiriam leis regulando a nanotecnologia nos EUA – eles estavam errados.
Empresas principiantes encontraram custos baixos e poucas barreiras para a introdução comercial dos nanopós e materiais. Igualmente, o potencial para ferramentas da nanoescala e peças eletrônicas é tão grande, que nenhum setor industrial pode ignorar esse
campo. A Toyota já usa materiais nanocompostos para fortalecer os
plásticos usados em peças para carros. Nanopós estão sendo usados
na fabricação de lentes com proteção anti UV, vidros e coberturas.
AVALIAÇÃO DO GR
UPO ET
C
GRUPO
ETC
Em 2005, a tecnologia atômica atrairá mais interesse (e controvérsia) do que a biotecnologia. Em 2010, as tecnologias atômicas serão o fator determinante da lucratividade de praticamente qualquer setor da economia industrial. Em 2015, os
controladores da tecnologia atômica serão a força dominante
da economia mundial.
Em 1987, o Grupo ETC (na época RAFI) e a Fundação Däg
Hammarskjöld sediaram o primeiro seminário mundial da sociedade civil sobre os impactos sociais e econômicos da biotecnologia. A reunião internacional ocorreu em Bogéve, na França, e reuniu ativistas de todos os continentes. Para praticamente
todos os participantes, era a primeira visão séria da biotecnologia.
Para a maioria, foi um encontro chocante, e muitos levaram tempo para perceber que a conversa sobre espécies transgênicas não
era apenas uma euforia. Em 2001, a Fundação Däg
Hammarskjöld e o Grupo ETC uniram forças novamente para
promover o primeiro seminário da sociedade civil sobre
tecnologias atômicas. Realizado nos escritórios suecos da Fundação Uppsala, o seminário novamente aproximou os principais
ativistas políticos e ambientais de todo o mundo. Bogéve II, como
106
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
foi apelidado informalmente, chocou a maioria dos participantes mais do que Bogéve I fez quatorze anos antes. Mas muitos
dos presentes já tinham experiência com o debate da biotecnologia
e compreenderam rapidamente.
TECNOL
OGIA A
TÔMICA E BIO
TECNOL
OGIA – NÃO
TECNOLOGIA
ATÔMICA
BIOTECNOL
TECNOLOGIA
ACONTECERÁ A
QUI... DE NO
VO?
AQ
NOV
BIOTECNOLOGIA: Bogève I (1987)
TECNOLOGIA ATÔMICA: Bogéve II (2001)
FICÇÃOCIENTÍFICA:nãofuncionaráforadolaboratório.Essaengenhariadesafiaasleisnaturais.
Em1980,oscientistasconvencionaisdaagriculturae
Algunscientistasacreditamqueamanipulaçãodatabela
medicinaadvertiramfreqüentementequeaengenharia
periódicaterádificuldadescomasteoriasdaenergiaeleis
genéticateriadificuldadescomainfinitacomplexidadeda
naturaisaindadesconhecidas.Masosátomossãoa
natureza;queostrabalhosdolaboratórioiriamfalharna
próximadeclinaçãológicadosgenes.Atecnologiaatômica
vidareal.Talvezelesestivessemcertos...mashojeemdia
podenãosersegura,podenãofuncionardireito,masserá
55milhõesdehectaressãoplantadoscomOGMs,e
comercializada.Nãoénecessáriofazercertoparacolocar
biodrogas(fármacosgeneticamentemodificados)estão
nomercado.Comoasprimeirasgeraçõesdeprodutos
proliferando.
geneticamentemodificadosdeixamclaro,errosnaciência
aindapodemsignificarsucessonosnegócios.
PROGRESSO TRABALHOSO: está a gerações de distância. Estamos apenas começando.
Projetarmáquinasoualimentosátomoaátomoparece
Nosanosde1980,amaioriadoscientistasachouqueos
produtosdabiotecnologiaestavammuitolonge.Elesse
distantehoje,masmontagemmolecularestáacaminho,e
enganaramcompletamenteemrelaçãoaoprogressoda
avançoscontínuosnainformáticaeoutrastecnologias
computaçãoedeoutrastecnologias,quediminuíramos
colocarãonovosprodutosdatecnologiaatômicano
custoseaceleraramgrandementeapesquisaeo
mercadomaisrápidodoqueoprevisto.
desenvolvimento.
A EUFORIA: é propaganda de Wall Street. Companhias desesperadas estão tentando convencer possíveis
investidores que novos produtos existem e que irão resolver os problemas do mundo.
Nosanosde1980,pequenasempresasdabiotecnologia
lutavamparasobreviverefaziamgrandespromessas.
Muitasquebrarameasrestantesestãosendocompradas
pelosgigantesdosgenes.Apósuminíciolento,osnovos
produtos(bonsouruins)estãorapidamenteentrandono
mercado.Omundo,porém,nãoparecemaispróximodo
nirvana.
Osnichosdemercadoparaempresasdananotecnologia
estãosurgindoagoracomosurgiramantes.Existeemtorno
delasamesmaexaltação.Mas,aocontrárioda
biotecnologia,asgrandescorporaçõesestãocomeçando
desdeoinício.
ETC Group
BIOTECNOLOGIA: Bogève I (1987)
107
TECNOLOGIA ATÔMICA: Bogéve II (2001)
NICHOS DE MERCADO: poderá funcionar em casos especiais,
mas não terá um grande impacto na maneira de produzir coisas
Umgigantegenéticoargumentouem1980quea
Algunsargumentamqueatecnologiaatômicaéuma
tolerânciaaosherbicidassóseriaviávelparacombater
inovação;quesomenteseráusadaparamotivosespeciais
JohnsonGrass(NT:grasssignificagramaeminglês)no
porcausadoscustosedasuacomplexidade.Naverdade,o
Texas.Atualmente,3/4daáreamundialdetransgênicosé
alcancedatecnologiaatômicaémaior–atéagora–do
devariedadestolerantesaherbicidas.Companhiasde
quedabiotecnologia.Comoavariedadedecompanhias
genomahumanoestãomapeandoosgenomasdasplantas.
envolvidasdeixaclaro,atecnologiaatômicadominará
Umadascaracterísticasmaisextremasdabiotecnologiaéo todososaspectosdaeconomiaglobal.
usoamplonaagricultura,fármacos,produtosdecuidado
pessoalemanufaturaindustrial.
NANODÓLARES: eles são pequenos e frágeis.
Elesnãotêmainfluêncianecessáriaparaaciênciaouomercado.
Nosanosde1980,aspequenasempresasdabiotecnologia
Osnanoempreendedoresdehojetambémsãopequenos,
erampequenas,rarasesobreviviamàduraspenas.Os
fracosebatalhadores.Adiferençaéqueascorporaçõesda
gigantesagroquímicosefarmacêuticosapareceram
Fortune500–osnanomilionários–estãoperseguindoa
desinteressadamente,emuitopreviramqueospequenos
novatecnologia.
empreendedoresiriamàfalênciaequeatecnologia
fracassaria.
PATENTES E REGISTROS: os governos não fornecem as patentes requeridas ou flexibilidade na regulação
Elesconseguiram.Nofinaldosanosde1980,o
Elesvãoconseguir.Atecnologiaatômicatemmenos
DepartamentodePatentesdosEUAanunciouque
barreirascontraaspatentes.Abiotecnologiajácolocou
permitiriapatentesdeplantaseanimais,bemcomode
precedenteslegaisparaasreivindicações.Restriçõesna
regulamentaçãodopoderatômicoserãomanipuladasaté
microorganismos.AsleisdoUSDA,NIHeFDAestavam
sendomanipuladasparaseadequaràsnecessidadesda
setornaremineficazes.
indústria.
108
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
NO
TAS
NOT
108
109
110
111
112
113
114
115
116
117
118
119
120
121
Como citado em Ed Regis, Nano, the emerging science of Nanotechnology: remaking
the world – molecule by molecule, 1995, p. 133.
A pesquisa de citações é feita no índice de citações do Institute for Scientific
Information (ISI), usando “nano” como termo de busca nos títulos. A estimativa
para 2002 já foi extrapolada apenas com as citações contadas até setembro de 2002.
Citado em “Nanotechnology: shaping the world atom by atom”, p. 1. Disponível na
Internet: www.nano.gov
O número de patentes relacionadas a nano está baseado numa pesquisa feita no
Delphion, usando nano como termo de busca. A estimativa para 2002 foi extrapolada
pelo número de patentes emitidas até a metade desse ano.
Citado em “Nanotechnology: Shaping the world atom by atom”, p. 4; disponível na
Internet: www.nano.gov
Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep Numbers
Real,” Small Times, 11 de março de 2002; disponível na Internet:
www.smalltimes.com/print_doc.cfm?doc_id=3237
Doug Brown, “Nano for the Nation: Mihail Roço”, Small Times, vol. 2, nº 4, julho/
agosto de 2002, p. 16.
Mike Roço, “Research and Development FY 2003: National Nanotechnology
Investment: the FY 2003 Budget Request by the President”, disponível na Internet:
www.nano.gov/2003budget.html
Ann Thayer, “Nanotech meets market realities”, Chemical and Engineering News, 22
de julho de 2002, p. 18.
Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey,” p. 4; disponível
na Internet: www.nanobusiness.org
De acordo com a CMP Científica: “Nanotechnology Opportunity Report”, como
relatado por Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype,
Keep Numbers Real,” Small Times,11 de março de 2002; disponível na Internet:
www.smalltimes.com/print_doc.cfm?doc_id=3237
Nanobusiness Alliance, “2001 Business of Nanotechnology Survey”, p. 4.
Mike Roço e W.S. Bainbridge, eds., “Societal Implications of Nanoscience and
Nanotechnology”, National Science Foundation, março/2001, pp. 3-4.
David Pescovitz, “Reality Check – The Future of Nanotechnology”, Wired, agosto/
1995.
ETC Group
109
PARTE IV
A NANOTECNOLOGIA TEM A RESPOSTA, NO PONTO ONDE EXISTEM RESPOSTAS,
POIS A MAIORIA DAS NOSSAS NECESSIDADES MAIS URGENTES É ENERGIA,
SAÚDE, COMUNICAÇÃO, TRANSPORTE, COMIDA, ÁGUA ETC.
RICHARD SMALLEY
PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DE RICE E PRÊMIO NOBEL122
PARA QUEM E ONDE TERÁ IMPACTO?
NOS POBRES E NA ECONOMIA, É CLARO
Tentar avaliar o impacto do Big Down (o grande mínimo)
não é fácil, porque a coleção de novos nomes e de abordagens
técnicas é muito vasto. Baseado num estudo da NanoBusiness
Alliance (NBA – um grupo novo dos EUA), o mercado atual
para as tecnologias do mínimo está por volta de US$ 45,5 bilhões. Esse mercado pulará para US$ 700 bilhões por volta de
2008 e excederá US$ 1 trilhão provavelmente bem antes de
2015.123
Mas numa edição de final de ano do The Economist sobre o
futuro econômico das novas tecnologias, os editores relataram uma
pesquisa feita entre leitores bem informados sobre o mundo dos
negócios. De acordo com esses leitores, a próxima grande descoberta na tecnologia ainda é mais provável que venha do setor da
informação (22%). Outros 20% apostaram na biotecnologia.
Nanotecnologia, ciências dos materiais e tecnologias de transporte
receberam 5% cada, mas a terceira maior porcentagem foi daqueles que sentiram que a próxima revolução industrial acontecerá
através da convergência das novas tecnologias.124
112
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Existem três, apesar de eu ter a impressão de que, sob alguma
teoria unificadora futura, será apenas uma. A primeira é obviamente a tecnologia da informação... A segunda é a biotecnologia...
e, a terceira, a nanotecnologia.125
Robert Shapiro
Presidente da Monsanto na época, quando lhe foi perguntado
quais seriam as tecnologias futuras que ele achava mais promissoras.
Assim sendo, pode-se ter uma idéia dos prováveis impactos
das novas tecnologias considerando os principais setores econômicos. Não é preciso dizer que os trabalhadores em cada setor (e
não estamos nos referindo a cientistas ganhadores do Prêmio
Nobel), incluindo aqueles cujos conhecimentos não serão mais
necessários, sentirão o impacto primeiro.126
NANOMONOPÓLIOS
É verdade que não se pode patentear um elemento encontrado na sua forma
natural; entretanto, se você cria uma forma purificada daquilo, com usos
industriais – digamos o nano – você pode certamente garantir uma patente.
Lila Feisee
Diretora de Relações Governamentais e Propriedade Intelectual da
Organização da Indústria Biotecnológica, 11 de abril de 2001.
Há vinte anos, ninguém teria acreditado se tivéssemos avisado (e avisamos!) que as companhias da biotecnologia algum dia
tornariam ilegal que os agricultores guardassem suas sementes;
que elas poderiam processar os agricultores por causa das sementes patenteadas que voassem para dentro dos seus campos; que
não apenas variedades de plantas, mas genes individuais e SNPs
(polimorfismos de nucleotídeos únicos) poderiam ser patenteados; que espécies inteiras e mesmo linhagens de células humanas
poderiam ser monopolizadas; que o conhecimento tradicional
ETC Group
113
dos povos poderia se tornar propriedade privada de algum gigante farmacêutico.
Será possível, futuramente, patentear algum elemento, da
mesma maneira que as corporações patenteiam genes hoje? Eles
terão apenas que isolar e purificar um elemento para possuí-lo?
O Prêmio Nobel Glenn Seaborg patenteou amerício e cúrio –
dois dos onze elementos que ele descobriu há meio século atrás.
Seaborg também “criou” o elemento 110, que ainda receberá
um nome formal. Em 1999, físicos nucleares do Lawrence
Berkeley National Laboratory (EUA) colidiram partículas de
crípton com chumbo e anunciaram a descoberta de dois novos
elementos, os números 118 e 116 (descobriu-se mais tarde que o
elemento 118 foi baseado em dados falsificados).127 Mas cientistas acreditam que outros elementos serão encontrados na natureza. Esses elementos serão patenteáveis?
Que tal patentear os processos necessários para usar um elemento? Vai ser possível modificar um elemento e então patentear
o processo e o produto? Existirão patentes de processos para evitar a manufatura tradicional, já que os processos convencionais
desacreditam o novo monopólio? Será que algumas das novas
invenções patenteáveis serão cyborgs? Em 2001, por exemplo,
pesquisadores no Brookhaven National Laboratory, EUA, desmontaram seu colisor de íons e tiraram uma partícula subatômica
antiga, conhecida como plasma quark-glúon. O colisor
estadunidense, juntamente com seus similares de outros países, é
considerado um processo de criação de novas matérias? Essas
invenções podem ser patenteadas?
Ou, como foi feito com a energia nuclear, os controladores da
tecnologia atômica insistirão que suas ferramentas são tão poderosas e tão fundamentais que eles precisam operar com monopólio
garantido pelo Estado por razões de segurança nacional?
114
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
A TECNOL
OGIA A
TÔMICA NÃO VAI P
ARAR NA
TECNOLOGIA
ATÔMICA
PARAR
NANOESCAL
A
NANOESCALA
Até onde eles descerão?
A palavra átomo vem do grego e significa não cortado, e até fins
do século 19 acreditava-se que os átomos eram indivisíveis – a menor parte da matéria. Agora os pesquisadores sabem que um átomo
é feito de centenas de partículas menores, incluindo os suspeitos tradicionais dos quais lembramos das aulas de Química da escola –
prótons, nêutrons e elétrons. A estrutura de um átomo parece um
enxame de elétrons no centro do qual existe uma configuração densa de prótons e nêutrons (o núcleo). O número de prótons no núcleo determina qual elemento químico o átomo será. As partículas
atômicas mais conhecidas são acompanhadas por partículas não tão
conhecidas, chamadas de quarks e léptons (um elétron é um tipo de
lépton), e um monte de outras partículas chamadas partículas
carregadoras de força (com nomes estranhos tais como glúon,
gráviton, Z Bóson).128 Quarks, que carregam uma carga elétrica
fracionada (lembre-se das aulas de química: os prótons carregam
uma carga +1, elétrons carregam uma carga –1, e nêutrons não têm
carga?), são dez mil vezes menores do que o núcleo do átomo. Não
sabemos exatamente o tamanho dos quarks, mas temos certeza de
que são menores do que 10-18 metros (um nanômetro é 10-9 metros).
Pesquisadores pensam que os quarks são literalmente atômicos –
querendo dizer que eles são indivisíveis, partículas não cortáveis –
mas talvez venhamos a descobrir que os quarks são feitos de partículas ainda menores. O mapeamento da esfera subatômica na sua totalidade será tão útil para os cientistas como foi o mapeamento do
mundo atômico (a tabela periódica) para os químicos. Como no
caso das tecnologias de nível atômico, o primeiro passo para a manipulação do cosmos subatômico é poder vê-lo claramente.
ETC Group
115
Quão rápido eles conseguirão ir?
A microscopia atômica, que nos permite “enxergar” em nível dos nanômetros, não é suficientemente poderosa para revelar o que acontece no núcleo do átomo. Para dar uma espiada
nessa dimensão, um físico nuclear precisa de uma investigação
mais detalhada. A única que serve é uma outra partícula
subatômica. Em câmaras tecnologicamente sofisticadas, chamadas descritivamente de aceleradores (que são, em alguns casos, do tamanho de cidades grandes), os cientistas conseguem
empurrar partículas subatômicas com velocidades próximas à
velocidade da luz, usando campos eletromagnéticos. Quando a
partícula alcança velocidade, ela é esmagada contra a partículaalvo, que funciona como sonda. A colisão é chamada de evento
e seus detalhes podem ser gravados por “detectores”. Computadores coletam e organizam a grande quantidade de dados dos
detectores e apresentam os resultados ao físico. Alem de usar
aceleradores para dar velocidade a partículas de prova para examinar partículas-alvo, os cientistas podem acelerar partículas e
esmagá-las umas contra as outras (essas câmaras aceleradoras
são chamadas colisoras). A energia que é criada nas colisões é
convertida na formação de novas partículas compactas, cujas
propriedades podem ser estudadas. Usando aceleradores, os
cientistas identificaram dúzias de elementos (alguns dos quais
são virtualmente não existentes fora dos reatores nucleares ou
laboratórios de pesquisa).
Por que eles vão?
Uma definição dada pelo Departamento de Energia dos EUA
nos diz que a pesquisa da Física nuclear busca compreender as
forças fundamentais e as partículas da natureza manifestadas na
matéria nuclear.129 Mas a compreensão da composição subatômica
116
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
do universo não é uma investigação puramente acadêmica ou
cosmológica. Energia nuclear, armas nucleares e medicina nuclear (incluindo o uso de agentes radioativos de imagem) dependem todos da nossa habilidade de controlar cuidadosamente (ênfase no cuidadosamente), a extensões maiores ou menores, o funcionamento do núcleo atômico. As novas tecnologias subatômicas
serão desenvolvidas em seqüência, com uma compreensão mais
precisa do universo subatômico, criando possibilidades de produtos que poderão afetar dramaticamente nossa saúde e ambiente,
para melhor ou pior.
MANUF
ATURA E MA
TERIAIS
MANUFA
MATERIAIS
Produtos da nanoescala produzidos em grande quantidade já
estão dando dinheiro. Nanopartículas estão sendo usadas para
deixar tintas e outros revestimentos mais fortes e duráveis, para
deixar os protetores solares com mais proteção e para tornar
catalisadores mais eficientes. Estudos mostram que um único
grama de partículas catalisadoras com um diâmetro de 10nm é
aproximadamente 100 vezes mais reativo do que a mesma quantidade de partículas catalisadoras com diâmetro de um mícron.
A mudança é atribuída apenas à maior área de superfície da
nanomatéria.130 Em grande parte através da catálise os processos
da nanoescala estão transformando a indústria mundial de plásticos, avaliada em US$ 60 bilhões por ano apenas nos EUA.
Empresas gigantes, como a Dow Chemical e a Exxon Móbil,
licenciam suas variedades de metalocenos – uma via de acesso da
nanoescala para criação de catalisadores para a manufatura de
plásticos. Os produtos finais são mais leves, mais resistentes e
incrivelmente mais versáteis. A Exxon Mobil detém mais de 200
patentes do metaloceno.131 A Dow também trabalhou na escala
atômica para inventar interpolímeros (o desenvolvimento desse
ETC Group
117
processo resultou em mais de 50 patentes nos EUA e na Europa
– combinações nunca vistas antes de matéria com propriedades
comerciais únicas).132
No futuro próximo, a tecnologia atômica poderá fornecer
alguns dos seguintes produtos:
• Tecidos “inteligentes”, que variam na sua capacidade de
refletir ou de absorver o calor.
• Revestimentos superfortes para veículos para redução da
quebra ou de amassamentos nas colisões.
• Couraça leve a prova de balas para roupas civis, militares e
da polícia.
• Exteriores de construções que não necessitam de manutenção e vidros e plásticos inquebráveis.
• Superfícies de construções que conseguem “respirar” para
permitir a passagem de ar.
• Superfícies de roupas ou construções que podem mudar
de cor em resposta a mudanças no tempo.
• Com o surgimento da fabricação de “folhas” de nanomatéria em grande escala veremos barcos, cascos de navios,
aviões e aeronaves com “peles” especiais.
ELETRÔNICA, ENER
GIA E INFORMÁTICA
ENERGIA
Existe a expectativa de que as estruturas da nanoescala irão
representar um papel fundamental na armazenagem de informação e de energia – dois elementos fundamentais em praticamente qualquer produto ou processo baseado na eletricidade. A
tecnologia da nanoescala já é responsável pelo componente principal na fabricação de discos rígidos. Além disso, os nanotubos
mostraram que podem funcionar como transistores minúsculos.133 No final de agosto de 2001, pesquisadores da IBM criaram um circuito capaz de executar cálculos lógicos simples atra-
118
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
vés de nanotubos de carbono automontáveis. Isso foi saudado
como sendo o primeiro passo na direção dos nanocomputadores.134 Em maio de 2002, a IBM declarou ter criado transistores de nanotubos de carbono que superam até os modelos
mais avançados dos dispositivos de silicone, e também superam
nanotubos projetados anteriormente com sua maior capacidade
de transmissão de corrente elétrica.135 Protótipos de chips para
futuros computadores de nanotubos provavelmente surgirão nos
laboratórios da IBM nos próximos dois anos.136 Em suma, o
potencial inclui:
• A capacidade de armazenamento de dados e a velocidade
de processamento vão aumentar drasticamente, serão
mais baratos e energeticamente mais eficientes. Em junho de 2002, os nanotecnologistas da IBM demonstraram uma densidade de armazenamento de dados de 1
trilhão de bits por polegada quadrada, o equivalente a
100 gigabits de disco rígido – ou 20 vezes a capacidade
de dados do armazenamento magnético usado nos computadores atuais – o suficiente para armazenar 25 milhões de páginas de texto impressas numa superfície do
tamanho de um selo postal. De acordo com o Prêmio
Nobel e pesquisador apoiado pela IBM, Gerd Binning:
“Essa proposta da nanotecnologia é potencialmente válida para um aumento de mil vezes na densidade de
armazenamento de dados.”137
• Biosensores e chips que poderão estar em todos os lugares o
tempo todo – monitorando todos os aspectos da economia e da sociedade. Por exemplo, a Nanomix Inc está projetando sensores baseados em nanotubos para detecção de
vazamentos de gases perigosos, em indústrias químicas e
refinarias.138 A companhia alega que cada sensor custará
ETC Group
119
10 vezes menos do que detectores de gás convencionais, e
que poderão operar um ano com baterias de relógio.
• Uma dependência menor nos combustíveis fósseis e na
energia hidrelétrica e suas infra-estruturas. Nanomateriais
inusitados estão sendo desenvolvidos para a armazenagem
de combustível de hidrogênio, uma inovação que poderia
aumentar drasticamente a eficiência e diminuir o custo dos
carros com células de combustível.139
PR
ODUT
OS F
ARMA
CÊUTICOS E CUIDADOS COM A
PRODUT
ODUTOS
FARMA
ARMACÊUTICOS
SAÚDE
De acordo com alguns entusiastas, o céu é o limite.140 (Vamos curar o câncer... de verdade!) O impacto será sentido nos
dispositivos médicos e cirúrgicos (dois terços da pesquisa atual) e
remédios (um terço). Dentro de uma década, a metade da receita da indústria (aproximadamente US$ 180 bilhões por ano)
virá da tecnologia atômica. Os usos incluem:
• Seqüenciamento mais rápido do genoma, com biochips na
nanoescala.
• Descrição exata da estrutura genética do indivíduo.
• Novos métodos de distribuição de medicamentos nos órgãos e tecidos específicos.
• Novos vetores para terapia de genes.
• Acesso cirúrgico a partes do corpo anteriormente inacessíveis.
• Órgãos e tecidos artificiais mais duráveis e resistentes à rejeição.
• Biomateriais mais leves e mais “inteligentes” para os membros.
• Sistemas biosensores que permitirão a detecção de doenças emergentes muito mais cedo.
120
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
APLICAÇÕES MILIT
ARES
MILITARES
Imagine o impacto psicológico sobre o inimigo ao encontrar esquadrões
de guerreiros aparentemente invencíveis, protegidos por armaduras e
dotados de capacidades de super-homens, tais como a habilidade de pular
sobre muros de 20 pés.
Ned Thomas
Diretor do US Army’s Institute of Soldier Nanotechnologies141
A pesquisa dos usos militares da tecnologia atômica é um
negócio próspero. O Departamento de Defesa dos EUA é o segundo maior beneficiário do financiamento do governo dos EUA
para pesquisa da nanociência (depois da National Science
Foundation). Face aos ataques terroristas e maior ênfase nos armamentos impelidos pela tecnologia, o comprometimento à
pesquisa na tecnologia atômica para usos militares está crescendo. Para o ano de 2003, o orçamento estadunidense prevê US$
201 milhões para o Departamento de Defesa gastar em
nanociência – mais do que os US$ 180 milhões de 2002. A próxima parte descreve alguns exemplos de pesquisa não confidencial sobre armamentos que funcionam com tecnologia atômica.
Em março de 2002, o exército dos EUA criou o Instituto
para Nanotecnologias dos Soldados (ISN – Institute for Soldier
Nanotechnologies) no Massachusetts Institute of Technology
(MIT), de 5 anos e US$ 50 milhões.142 Trabalhando com parceiros na indústria de defesa, Raytheon entre outras, o instituto
está realizando pesquisa no uso da tecnologia atômica para melhorar a proteção e a sobrevivência dos soldados.143 Um dos objetivos principais é aumentar a performance dos soldados. Guerreiros nanoequipados do futuro terão a habilidade de pular por
cima de muros de 20 pés (equipados com sapatos com pacotes
de força embutidos), de lutar com membros artificiais que são
mais fortes do que músculos humanos, usar uniformes que os
ETC Group
121
tornarão invisíveis, invencíveis e que providenciarão primeiros
socorros na hora. Usando a nanociência, o instituto tem o objetivo imediato de redução do peso de carga total dos soldados das
145 libras [65,8 kg] de hoje, para apenas 45 libras [20,4 kg].
Inspirados nos cavaleiros medievais, o instituto está desenvolvendo uma “malha de cadeia molecular”, que não pesa mais do
que o papel. Usos militares adicionais incluem:144
• Nanorevestimento de plástico a prova de arranhões para
visores de capacete e janelas de aeronaves. 145
• O desenvolvimento de uma armadura chamada
“exoesqueleto”, que não só é a prova de balas, como também se transforma num gesso rígido para tratar fratura de
um braço ou de uma perna, ou serve como uma “luva de
caratê”, que pode ser usada como arma ofensiva.
• Nanocamo: uniformes tipo camaleão, feitos com
nanomateriais para deixar os soldados virtualmente invisíveis no campo de batalha.
• Materiais nanoprojetados para aumentar a performance das
máscaras contra gás.
• “Venezianas” na escala molecular, feitas para proteger os
olhos dos soldados da cegueira por laser.
• Sensores miniaturizados para detecção de armas biológicas, químicas ou explosivas no campo de batalha.
• O uso de nanotubos de carbono ultrafortes e muito leves
para fabricação de mísseis e outros explosivos.
• Uso de nanodispositivos para fornecimento ilimitado de
energia/força nos campos de batalha.
• Meta, em longo prazo, de desenvolvimento de sistemas de
controle remoto com mobilidade, controle e alerta próprios
obtidos de sistemas vivos, biológicos.
• Pesquisadores da Universidade de Michigan estão explo-
122
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
rando medidas para conter armas biológicas evitando a
entrada de agentes patogênicos no corpo humano. A pesquisa busca desenvolver um nanomaterial composto que
servirá como barreira a patogênicos e como agente
terapêutico pós-exposição para ser aplicado de forma tópica
na pele e mucosa.146
Nota: esses exemplos mal e mal tocam na superfície dos usos
militares da tecnologia atômica.
O uso potencial e a proliferação de biosensores e tecnologias
que realçam a performance humana terão conseqüências profundas para os direitos humanos e os dissidentes democráticos.
AGRICUL
TURA
GRICULTURA
Detectores nanofabricados oferecem potencial para fazer
milhares de experimentos em plantas para descrição e seleção
simultânea de genes, com pequenas quantidades de material. 147 Foram desenvolvidos “nanochips” com milhares de
nanopontos, cada um contendo uma pequena quantidade de
genes diferentes de uma certa planta, e com capacidade de
determinar a quantidade desse gene que está sendo expresso
pela planta. Quando a expressão genética de centenas de milhares de genes é testada e comparada, os cientistas conseguem determinar quais genes estão sendo ativados ou inibidos durante o processo de crescimento ou de doença. Com a
perspectiva de se ter em mãos o seqüenciamento completo do
genoma ligado aos nanochips, essa informação revelará quais
genes determinam maior produção, ou quais genes são afetados quando uma planta é exposta ao sal ou ao estresse da seca.
Os nanochips permitirão que os genes sejam totalmente caracterizados, molécula a molécula, em apenas algumas horas.
ETC Group
123
Há menos de dez anos, essa mesma análise necessitaria de
dúzias de cientistas para ser feita.
Em longo prazo (2020-2050) a engenharia atômica poderá:
• Eliminar a “geografia” (foto-sensibilidade, temperatura,
altitude) e trabalhar como fator de produção na produção
de alimentos.
• Eliminar o “tempo” como fator na preparação de alimentos (tornando a energia e o controle da matéria mais eficientes).
• Eliminar a “agricultura” com produção de alimentos não
biológicos (tornando viável a fabricação de alimentos em
nanocaixas de elementos reciclados).
PR
OCESSAMENT
O DE ALIMENT
OS
PROCESSAMENT
OCESSAMENTO
ALIMENTOS
Na nossa opinião, essa é uma tecnologia [nanotecnologia] que terá
profundas implicações para a indústria de alimentos,
mesmo elas não estando muito claras para muitas pessoas.
Jozef Kokini
Diretor e chefe de departamento do Rutger’s
Center for Advanced Food Technology 148
A indústria de alimentos e bebidas esta adotando avidamente a pesquisa da tecnologia atômica. O departamento de alimentos da Universidade de Rutgers (NJ, EUA) recentemente contratou quem acreditam ser o primeiro professor de nanotecnologia
de alimentos.149 Na Rutgers, o Professor Qingrong Huang irá se
concentrar no desenvolvimento de dois usos para as tecnologias
de nanoescala para a indústria de alimentos: alimentos
“nutracêuticos”, que irão usar proteínas para levar medicamentos para áreas-alvo do corpo, e embalagens de alimentos que
mudam de cor e avisam o consumidor quando o alimento começa a estragar.
124
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Em 1999, a Kraft Foods, o gigante dos alimentos e da bebida
de US$ 34 bilhões (subsidiária da Philip-Morris) instalou o primeiro laboratório de alimentos da nanotecnologia da indústria.
Em 2000, a Kraft lançou o consórcio NanoteK – envolvendo uma
soma não revelada de financiamento para 15 universidades e laboratórios de pesquisa nacionais, para condução de pesquisa básica
para inovações minitecnológicas para tecnologia de alimentos.
Nanocápsulas
O consórcio NanoteK da Kraft está focado no desenvolvimento de produtos alimentícios pessoais, que reconhecem o perfil
nutricional e de saúde do indivíduo – alergias ou deficiências
nutricionais – ou mesmo embalagens inteligentes que detectam
e alteram as deficiências vitamínicas do consumidor.150 Os pesquisadores da NanoteK também estão desenvolvendo produtos
inusitados que são feitos sob medida para o gosto do consumidor. Por exemplo, nanopartículas que encapsulam sabores, cores
ou elementos nutricionais, podendo ser ativadas, conforme a
necessidade, jogando-se uma solução líquida com uma freqüência de microondas prescrita.151 Um consumidor, com sede, compra uma bebida sem cor nem gosto no supermercado e, mais
tarde, seleciona o sabor/nutrientes/cor da sua escolha ao programar um transmissor de microondas na freqüência correta. As
nanocápsulas escolhidas seriam ativadas, enquanto as outras ficariam dormentes, soltando apenas o sabor, cor ou nutrientes
desejados.
Alimentos inteligentes
Outra inovação da indústria de alimentos é a adição de genes
que mudam de cor nos alimentos (ou nas embalagens) para alertar
o consumidor sobre alimentos não seguros.152 Usando tecnologia
ETC Group
125
de “língua eletrônica”, sensores que conseguem detectar químicos
em partes de trilhão, a indústria espera desenvolver embalagens de
carne que mudam de cor na presença de bactérias nocivas.
NÃO SE, MAS QUANDO
A tecnologia atômica não é uma tecnologia do talvez. Aqueles familiarizados com a história da biotecnologia reconhecerão os sinais: nos anos de 1970 e de 1980, os cientistas convencionais gastaram muito tempo para contar ao mundo a quantidade de obstáculos instransponíveis, virtualmente impossíveis,
que a engenharia genética teria de superar antes de ser
comercializada. Ao argumentarem dessa maneira, eles ignoraram duas realidades:
• O desenvolvimento da biotecnologia cresceu exponencialmente e engatada nas novas tecnologias de computadores
(informática) que tornaram a engenharia genética mais
rápida e mais barata a cada dia. Processos simbióticos e
paralelos impulsionarão as tecnologias atômicas numa taxa
cada vez mais rápida.
• Não é necessário acertar para entrar no mercado. Como deixam claro as primeiras gerações de OGMs, erros na ciência
ainda podem significar sucesso nos negócios. A sociedade (e a
Terra) carregarão o fardo dos erros científicos e da falta de
ação dos governos. Prontos ou não, alguns subprodutos da
tecnologia atômica já são comercialmente viáveis.
SEIS MIT
OS RECICLÁVEIS
MITOS
Alimentará os pobr
es
pobres
Até agora a biotecnologia alimentou as corporações. A maioria dos cientistas acredita que os usos na agricultura da tecnologia
atômica estão a décadas de distância. Se e quando acontecer, os
126
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
pobres serão os últimos a terem acesso e os primeiros a perderem
seus empregos e mercados.
Irá melhorar a saúde dos pobr
es
pobres
Até agora não. Só se os pobres estão comendo demais, sofrem de depressão ou estão ficando carecas. A tecnologia atômica não será mais relevante para as necessidades dos pobres – ou
acessível para eles – do que a biotecnologia comercial tem sido, e
pelo menos no início será mais cara.
Irá pr
oteger o meio ambiente
proteger
Esta era a teoria: que os produtos da Geração 1 da
biotecnologia reduziriam o uso de insumos químicos. Na verdade, ela gerou uma nova geração de dependência química na agricultura.
É uma tecnologia ““vver
de
erde
de””
Não que tenhamos percebido. A tecnologia atômica, no seu
melhor papel como um bem privado, irá simplesmente substituir uma quantidade de riscos ambientais, com novos e adicionais problemas associados com a manipulação de matéria e da
vida, o controle e a regulação de nanopartículas, poder nuclear e
a administração de processos possivelmente incontroláveis.
Irá poupar trabalho
Existe pouca evidência disso com a biotecnologia. A tecnologia
atômica poderia bem economizar trabalho, mas será o trabalho
dos pobres (mineiros, operários, agricultores), que ficarão desempregados e sem condições de adquirir os produtos da
tecnologia atômica.
ETC Group
127
Na pior das situações, não afetará os pobr
es
pobres
Apesar da biotecnologia ter sido, na sua maior parte, uma
questão da OECD (Organização de Cooperação para Desenvolvimento Econômico), seus efeitos ambientais e reguladores, e
suas implicações sociais apareceram rapidamente no Sul. A
biotecnologia influenciou as políticas de patentes e comércio na
OMC, com enormes desvantagens para o Sul. A biotecnologia
infiltrou-se nos campos e nos alimentos do Sul mesmo onde ela
é proibida e mal recebida. A biotecnologia Geração 3 tem o potencial de desalojar e causar danos aos trabalhadores do Terceiro
Mundo e seus mercados, mesmo ela sendo usada apenas no Norte.153 O mesmo problema em cascata ocorrerá com a tecnologia
atômica.
É ingenuidade e miopia dos defensores da tecnologia atômica
afirmar que uma tecnologia que os pobres não podem controlar
será de alguma maneira usada em seu benefício.
AVALIA
CA
O DO GR
UPO ET
C
ALIACA
CAO
GRUPO
ETC
Organizações da sociedade civil com história na biotecnologia
sentirão um déjà vu intenso e imediato quando ouvirem os
argumentos de que a tecnologia atômica será um grande benefício para os pobres. Assim como na biotecnologia, é teoricamente possível que, num mundo justo e bondoso, a tecnologia
atômica teria um papel a desempenhar. Na ausência de um
mundo assim, como sempre, o controle dessa tecnologia resultará em benefício daqueles que têm o poder, e a comercialização
da tecnologia vai inevitavelmente lhes dar maior controle de
monopólio.
Vale lembrar os argumentos da biotecnologia e fazer as conexões com a tecnologia atômica...
128
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
NO
TAS
NOT
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138
139
140
141
Citado em Ann Thayer, “Nanotech Meets Market Realities”, Chemical and Engineering
News, p. 17.
Ver nota 1.
Anônimo, “The same – Only More So?”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001,
p. 12.
Anônimo, “The Biology of Invention: A conversation with Stuart Kaufman and
Robert Shapiro,”Cap Gemini Erns & Young Center for Business Innovation, nº 4, outono/2000, na Internet: www.cbi.cgey.com/journal/issue4/features/biology.
Várias aplicações descritas na próxima parte vieram do “National Nanotechnology
Initiative: The Initiative and its Implementation Plan,”National Science and
Technology Council, Comittee on Technology, Subcomittee on Nano-scale science,
engineering and technology, julho/2000.
George Johnson, “At Lawrence Berkley, Physicists Say a Collegue took them for a
Ride”, New York Times,15 de outubro de 2002.
Para um passeio no cosmos subatômico vá para www.particleadventure.org, um endereço desenvolvido pelo Lawrence Berkley National Laboratory. Parte das informações dessa tabela foram retiradas desse endereço.
www.sc.doe.gov/production/henp/np/overview/overview.html
Claudia Hume, “The Outer Limits of Miniaturization”, Chemical Specialities, setembro/2000.
www.exxon.mobil.com/scitech/leaders/capabilities/mn_chemical_catalyst_meta.html
Anônimo, “Designer Plastics”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001, pp. 2628. Ver também: www.dow.com/index/what/what/1a.htm
Charles Lieber, “The Incredible Shrinking Circuit”, Scientific American, setembro/
2001/2, p. 61.
Kenneth Chang, “I.B.M. Creates a Tiny Circuit Out of Carbon,” New York Times,
27 de agosto de 2001. Pode ser encontrado na Internet: www.research.ibm.com/
nanoscience
Barnaby J. Feder, “At IBM a Tinier Transistor Outperforms Its Silicon Cousins,”New
York Times, 20 de maio de 2002.
Ib.
IBM News Release, “Millipede project demonstrates trillion-bit data storage density”,
11 de junho de 2002. Disponível na Internet: www.ibm.com/news/us/2002/06/
11,html
Peter Fairley,”Nanotech by the Numbers”, Technology Review, setembro/2002, p. 49.
Ib.
Algumas das seguintes aplicações da tecnologia atômica para a saúde foram tiradas
do Interagency Working Group on Nano Science, USA (IWGN), M. Roço, Chair,
“Nanotechnology – A Revolution in the Making – Vision for R & D in the next
decade,” 1999.
MIT News, “Army Selects MIT for $50 million institute to use nanomaterials to
clothe, equip soldiers”, 14 de março de 2002. Disponível na Internet: web.mit.edu/
newsoffice/nr/2002/isnqa.html
ETC Group
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145
146
147
148
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150
151
152
153
129
Ib.
Raytheon News Release, “Raytheon is founding partner in Institute for Soldier
Nanotechnologies at MIT”, 8 de maio de 2002.
Esses exemplos foram tirados de duas fontes: Defense Advanced Research Projects
(DARPA), o departamento de desenvolvimento e pesquisa do Departamento de
Defesa dos EUA, DARPA Fact File, um compêndio dos programas do DARPA, abril
de 2002. Na Internet: www.darpa.mil/body/NewsItems/darpa_fact.html e MIT News
Release, “Questions and Answers: Army selects MIT for $50 million institute to use
nanomaterials to clothe, equip soldiers”, 13 de março de 2002.
Jayne Fried, “What can small tech do for its country? Just ask, say top soldier”, Small
Times, 9 de agosto de 2002. Disponível na Internet: www.smalltimes.com
Dr. James Baker Jr., Diretor, Center for Biologic Nanotechnology, Universidade de
Michigan. Disponível na Internet: nano.med.umich.edu/Personnel.html#Baker
Eugene Wong, Diretor Assistente do National Science Foundation (EUA) “Nanoscale Science and Technology: Opportunities for the Twenty First Century”, 1999.
Elizabeth Gardner, “Brainy Food: academia, industry sink their teeth into edible
nano”, Small Times, 21 de junho de 2002. Disponível na Internet:
www.smalltimes.com
Ib.
Ib.
Charles Choi, Unidet Press International, “Liquid Coated fluids for smart drugs”,
28 de fevereiro de 2002.
Solicitação de patente estadunidense no 200200334475, com título “Ingestibles
Possessing Intrinsic Color Change”.
Para uma análise mais detalhada, ver: ETC Group Communiqué, “Biotech’s
Generation Three”, novembro/dezembro de 2000. Disponível na Internet:
www.etcgroup.org/article.asp?newsid=158
PARTE V
MESMO COM TODOS OS SEUS DESCONHECIDOS, MESMO COM TODOS OS SEUS
PERIGOS E RISCOS, QUEM DIRIA NÃO A NANO?
ED REGIS
NANO, A CIÊNCIA EMERGENTE DA NANOTECNOLOGIA
QUEM SE IMPORTA?
OS PERSONAGENS QUE IMPULSIONAM AS NOVAS TECNOLOGIAS
Mais de que qualquer coisa, é a variedade de atores
institucionais envolvidos com as tecnologias atômicas que faz a
pressão política e econômica apressando as ciências da nanoescala
para o mercado.
QUEM SE IMPOR
TA? NANONERDS: INSTITUIÇÕES
IMPORT
CIENTÍFICAS
Como na biotecnologia, o novo conjunto de tecnologias foi
concebido e alimentado inicialmente no meio acadêmico. Hoje,
todas as principais universidades que expressam interesse nas ciências da Física, também mostrarão suas inovações nas tecnologias
atômicas. A variedade de universidades é interessante: MIT, Max
Planck Institute, Cornell, Rice University, University of
California, Harvard e Cambridge, seguidas por centros de ciências menores da University of Texas, Penn State, Uppsala
University (Suécia), Kansas State, New York State, University of
Washington (Seattle) e University of Queensland (Austrália) –
escolhendo algumas da longa lista. Durante os anos de 1990,
134
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
muitos dos Prêmios Nobel de Física e Química receberam seus
prêmios por pesquisas sobre a escala atômica.
QUEM SE IMPOR
TA? NANO
APR
OVEIT
ADORES:
IMPORT
NANOAPR
APRO
VEITADORES:
NANOINICIANTES
Os empreendedores se movem rapidamente hoje em dia dos
seus laboratórios na universidade para os negócios iniciais da nano.
Eles geralmente levam suas melhores idéias e seus melhores alunos
(e às vezes as idéias dos seus alunos) com eles. Porque – pelo menos
no início – por ser difícil concorrer com o acesso livre ao equipamento do laboratório do campus, e a mão-de-obra dos alunos,
muitos acadêmicos mantém seus laços com as universidades enquanto aguardam para lançar sua oferta pública inicial (IPO) – para
levar uma empresa privada à bolsa de valores. Até lá os acadêmicos
trabalham com fundos de capital de risco para reunir o capital inicial do qual precisam. Pelo menos três fundos estadunidenses estão
agora focando exclusivamente no que eles classificam como
nanotecnologia. As pequenas empresas da biotecnologia dos anos de
1970 e 1980 estão agora sendo copiadas pelos nanoaproveitadores
da década do Dot Aught (em referência às direções eletrônicas). Uma
amostra de atores está descrita abaixo (dois dos quais estão no Red
Herring 100 de 2002 – o ranking de empresas mais prováveis a transformarem o mundo do Red Herring).
UMA AMOSTRA DAS COMP
ANHIAS
COMPANHIAS
NANO
APR
OVEIT
ADORAS
NANOAPR
APRO
VEITADORAS
Argonide N
anometals – Sanford, FL, EUA –
Nanometals
www.argonide.com
Fabrica materiais de fibra de cerâmica na nanoescala para aumentar a força, suporte e isolação de metais, plásticos, matrizes de
polímeros e biomateriais. A empresa também produz nanopós
de alumínio, usados como aceleradores, ignições e reguladores
ETC Group
de tensão em foguetes de alta pressão. No final de 1999, a
Argonide recebeu US$ 1,4 milhão de patrocínio para pesquisa e
desenvolvimento do Departamento de Energia, parte disso pagando o salário de vários cientistas da antiga União Soviética
envolvidos anteriormente no desenvolvimento de armas de destruição em massa. A companhia está usando nanomateriais recentes para filtrar bactérias e vírus da água potável.
California M
olecular E
lectr
onics Corporation – San Jose, CA,
Molecular
Electr
lectronics
EUA – www.calmec.com
A CALMEC pretende ser líder na indústria eletrônica
molecular. Fundada em março de 1997, a companhia busca
desenvolver comercialmente o uso de moléculas individuais
para formar componentes de dispositivos eletrônicos.
Carbolex – Lexington, KY, EUA – www.carbolex.com
A Carbolex vende nanotubos de parede única (pela Internet, a
granel) para pesquisadores da indústria e do meio acadêmico.
A Carbolex é membro do Advanced Science and Technology
Commercialization Center (Centro de Comercialização
Tecnológica e de Ciências Avançadas) da Universidade de
Kentucky em Lexington, composto pelo quadro acadêmico e
por cientistas das corporações da alta tecnologia.
Carbon N
anotechnologies, IInc.
nc. – Houston, TX, EUA –
Nanotechnologies,
www.carbonnanotech.com
A Carbon Nanotechnologies foi fundada por Bob Gower e
Richard Smalley (Prêmio Nobel em 1996 e diretor do Center
for Nano-scale Sciencie and Engineering [Centro para
Nanociência e Engenharia] da Universidade de Rice). A companhia produz, pesquisa e vende nanotubos de carbono, usando
tecnologias licenciadas pela Rice.
Chemat – Northridge, CA, EUA – www.chemat.com
Fundada em 1990, a Chemat dedica-se à criação e
135
136
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
comercialização de materiais avançados e tecnologias, usando
as tecnologias de propriedade da companhia.
eS
pin Technologies, IInc
nc
nc. – Chattanooga, TN, EUA –
eSpin
www.nanospin.com
A eSpin é o primeiro produtor comercial de nanofibras de 30400nm de diâmetro com usos na filtração, tecidos de barreira,
roupas de proteção, compostos, engenharia de tecidos e células de combustível.
Nanoframes llc – Boston, MA, EUA – www.nanoframes.com
A meta da Nanoframes é desenvolver uma tecnologia para a
fabricação de blocos de construção funcionais na nanoescala,
usando proteínas automontadoras. O lema da companhia é
“mudar a natureza para transformar a matéria”.
Nanomix – Emeryville, CA, EUA – www.nano.com
A Nanomix é pioneira no uso da modelagem quântica – o uso
de computadores para virtualmente projetar nanomateriais
átomo a átomo. A meta da companhia é comercializar os primeiros nanocomponentes que funcionem.
Nanolay
ers – Jerusalém, Israel – www.nanolayers.com
anolayers
Fundada em 2001, a empresa espera comercializar materiais
semicondutores orgânicos usando uma tecnologia desenvolvida pelo Dr. Shlomo Yitzchaik do Departamento de Química
Inorgânica da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Nanophase Technologies Corp
Corp.. – Romeoville, IL, EUA –
www.nanophase.com
Com receita de US$ 4,3 milhões em 2000, a Nanophase é uma
das poucas empresas públicas da nanotecnologia. A companhia usa um processo patenteado para projetar as propriedades físicas, óticas, elétricas e mecânicas dos nanomateriais que
podem ser somadas a outros materiais para aumentar sua força, abrasão, resistência e condutividade elétrica. A Nanophase
ETC Group
produziu 200 toneladas métricas de nanomateriais em 2000, e
solicitou 29 patentes abrangendo tecnologias-chave.
Nanopr
obes – Yaphank, NY, EUA – www.nanoprobes.com
anoprobes
A Nanoprobes produz e vende nanopartículas coloidais de ouro,
usadas em biodiagnósticos, incluindo a detecção de doenças e
testes de gravidez.
nc. – Alachua, FL, EUA – www.nanosphere.com
Nanospher
anosphere,
e, IInc.
A Nanosphere, fundada por pesquisadores da Universidade da
Flórida, está focada em tecnologias de comercialização que usam
nanopartículas em terapias de inalação.
Nano-X GmbH – Saarbrücken-Gündigen, Alemanha –
www.nano-x.de
A NANO-X GmbH usa nanotecnologia química para desenvolvimento e produção de novos materiais com características
multifuncionais, tais como superfícies autolimpantes, paredes
antigrafite e plástico resistente a arranhões.
Q uantum D
ot Corporation – Hayward, CA, EUA –
Dot
www.qdots.com
A Quantum Dot usa nanocristais semicondutores (pontos
quânticos) para usos biológicos, bioquímicos e biomédicos.
Os pontos quânticos, ligados a biomoléculas, agem como
faróis óticos que acendem em diferentes cores, dependendo
do seu tamanho. A QD levantou mais de US$ 37,5 milhões
em financiamento e solicitou mais de 50 patentes.
Semzime – Santa Barbara, CA, EUA – www.semzyme.com
A empresa fundada por Angela Belcher e Evelyn Hu pretende
comercializar ferramentas de proteínas que podem ser usadas
como fiação na nanoescala para componentes eletrônicos.
Sustech GmbH – Darmstadt, Alemanha – www.sustech.de
Fundado por um grupo de seis professores, o laboratório da
137
138
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
companhia está sediado no departamento de Química da Universidade de Tecnologia de Darmstadt. A meta da Sustech é
desenvolver produtos ambientalmente saudáveis usando sistemas na nanoescala.
Zyv
ex Corporation – Richardson, TX, EUA – www.zyvex.com
yvex
A primeira e única companhia dedicada unicamente à
tecnologia de desenvolvimento de manufatura molecular. A
Zyvex está desenvolvendo a arquitetura de fabricação de braços robóticos em miniatura, que trabalham juntos para montagem de peças.
QUEM SE IMPOR
TA? GIGANTES DA TECNOL
OGIA
IMPORT
TECNOLOGIA
ATÔMICA: MA
GNA
TAS DAS MUL
TINA
CIONAIS DA
MAGNA
GNAT
MULTINA
TINACIONAIS
MA
TÉRIA
MATÉRIA
Todas as nações do mundo estão olhando para a nanotecnologia como uma
tecnologia futura, que levará sua posição competitiva para a economia
mundial.
Neal Lane
Professor de Física da Rice University154
Divergindo dos padrões da história da biotecnologia, as
tecnologias atômicas atraíram o interesse das grandes multinacionais
desde o início. Ao passo que as pequenas empresas de bio gritavam
no meio do nada, enquanto os gigantes corporativos predatórios
ocultavam-se ameaçadoramente no horizonte, algumas das maiores companhias do mundo já compreenderam que o Big Down
não vai esperar por ninguém. A IBM já comprometeu US$ 100
milhões em pesquisa e desenvolvimento na nanoeletrônica.155 Já
que as novas tecnologias envolvem todos os segmentos do mercado mundial, a gama de corporações envolvidas não é menos diversa. Exxon Mobil, IBM e Dow Chemical unem-se a Xerox, 3M e
Alcan Aluminum. Os estadunidenses também têm a Johnson &
ETC Group
139
Johnson, Hewlett-Packard, Lucent, Motorola, Eli Lilly e Du Pont.
Os japoneses têm grandes competidores na Sony, Toyota, Hitachi
Mitsubishi, NEC e Toshiba. Os europeus têm a Philips, Lóreal,
Aventis, BASF e Bayer, bem como um quadro de empresas menores escandinavas, francesas e holandesas. Supõe-se que essas companhias sejam as donas do mercado. Um caso importante foi o
agito em função da catálise do plástico na nanoescala, na qual
mais do que 3.000 patentes foram dadas a várias companhias.
Depois que a poeira baixou, a Exxon Mobil e a Dow acabaram
tendo o controle tecnológico. A combinação vencedora foi litígio
e amor. Quem eles não conseguiram intimidar com ações judiciais,
eles simplesmente absorveram. 156
QUEM SE IMPOR
TA? NANOCRA
TAS: FINANCIADORES
IMPORT
NANOCRAT
DO GO
VERNO
GOVERNO
Todas as nações do mundo vêem a nanotecnologia como uma atividade do
futuro, que marcará sua posição na economia mundial.
Neal Lane
Professor de Física na Rice University
O maior financiamento visível para as novas tecnologias vem,
é claro, dos governos. Desde meados de 2002, pelo menos 30
países iniciaram atividades nacionais nas nanociências. O
National Nanotechnology Initiative, anunciado pelo presidente
dos EUA, Bill Clinton, em 2002, alardeou o início de uma corrida ombro a ombro pelo poder entre os EUA e o Japão, com a
União Européia tentando alcançá-los. Onde eles estão agora...
Japão
Enquanto os EUA podem ser vistos como o nascedouro da
tecnologia atômica teórica (marcada pelo discurso agora famoso
de Richard Feynman na American Physical Society, em Caltech
140
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
em 1959), podemos dizer que o Japão deu à luz a tecnologia
atômica aplicada, quando o pesquisador Iijima Sumio descobriu
os nanotubos de carbono em 1991. Agora o Japão está interessado na sua recuperação econômica, e o governo está convencido
de que a ciência e a tecnologia são a chave da recuperação. De
acordo com isso, o orçamento para ciência e tecnologia de pesquisa e desenvolvimento está sendo aumentado, mesmo enquanto
os orçamentos da maioria dos outros departamentos governamentais estão sendo diminuídos. O maior financiamento do
governo para pesquisa da ciência na nanoescala começou em
1995, com a aprovação da Lei Básica de Ciência e Tecnologia
Japonesa nº 130, resultando num aumento geral de apoio público à pesquisa básica.157 A lei distribuiu aproximadamente US$
14,8 bilhões em pesquisa básica para universidades, indústrias e
laboratórios nacionais, de 1996 a 2000. Em março de 2001, o
governo anunciou que o investimento para os próximos 5 anos
(2001-2005) seria aumentado para US$ 20,8 bilhões.158 Apenas
para o ano de 2001, o governo distribuiu US$ 431 milhões para
as ciências relacionadas a nano.159 Organizações governamentais
e grandes corporações são a maior fonte de financiamento para a
pesquisa e desenvolvimento da tecnologia atômica no Japão.
Todas as grandes corporações do Japão destinam uma parcela
significativa (geralmente ~ 10% na indústria eletrônica) da sua
receita para pesquisa e desenvolvimento. A pesquisa corporativa
japonesa tende a ser dirigida pelo produto, mas também existe
nas corporações e na comunidade científica uma cultura bem
estabelecida de planejamento para a próxima geração de inovações tecnológicas.
As principais organizações governamentais patrocinando a
nanotecnologia no Japão são o Ministério de Comércio Internacional e Indústria (MITI), a Agência de Ciência e Tecnologia
ETC Group
141
(STA) e Monbusho (o Ministério de Educação, Ciência, Esportes e Cultura).
Freqüentemente em associação com o governo, as grandes
corporações estão financiando a nanotecnologia no Japão, particularmente a Hitachi, NEC, NIT, Fujitsu, Sony e Mitsubishi.
Em 2001, a Mitsubishi Corporation lançou o primeiro fundo
de ações da nanotecnologia do mundo, chamado Nanotech
Partners. O fundo de US$ 100 milhões agora sustenta a Frontier
Carbon Corporation, um produtor em massa de fulerenos.160
Consórcios privados também estão desempenhando um papel importante no Japão. Em adição, a interação entre universidade e indústria é estimulada pelos projetos do MITI concedidos a universidades que estimulam contratação temporária de
pessoal de pesquisa vindo da indústria. Muitos dos laboratórios
acadêmicos tem visitantes das indústrias como funcionários. O
mesmo laboratório poderá ter trabalhadores de indústrias competidoras, trabalhando lado a lado em projetos específicos para
empresas.
EU
A
EUA
As tentativas iniciais do Japão na tecnologia atômica deram
motivação para os EUA lançarem sua Iniciativa Nacional da
Nanotecnologia (National Nanotechnology Initiative – NNI).
Agências federais dos EUA gastaram US$ 116 milhões em
pesquisa da nanotecnologia em 1997, com a National Science
Foundation na frente, gastando US$ 65 milhões. Um relatório
de julho de 2000, feito pelo National Science and Technology
Council’s Subcommittee on Nano-scale Science, Engineering
and Technology (Subcomitê de Nanociência, Engenharia e
Tecnologia do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia),
propôs a Iniciativa Nacional da Nanotecnologia, aumentando
142
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
o total de investimentos em mais de uma vez e meia do valor
do ano anterior.
Bill Clinton solicitou US$ 495 milhões para pesquisa na
nanotecnologia para o ano fiscal de 2001 e recebeu US$ 422
milhões do Congresso, para distribuição entre seis agências governamentais: National Science Foundation (Fundação Nacional de Ciência – recebendo a maior parte), Departamento de
Defesa, Departamento de Energia, Instituto Nacional da Saúde,
Administração Nacional da Aeronáutica e do Espaço e o
Departament of Commerce’s National Institute of Standards and
Technology (Departamento Nacional de Normas e Tecnologia
do Comércio). George Bush pediu US$ 518,9 milhões para a
pesquisa da tecnologia atômica para o ano fiscal de 2002, e mais
seis agências governamentais foram escolhidas para receberem
os fundos do NNI pela primeira vez. Os novos recebedores foram os Departamentos de Agricultura, Justiça, Transporte, Tesouro, Estado e a Agência de Proteção Ambiental. Para o ano
fiscal de 2003, Bush quer aumentar o financiamento da Iniciativa Nacional da Nanotecnologia para US$ 710 milhões, e alguns
membros influentes do Congresso dos EUA introduziram um
projeto de lei chamado “Ato de Investimento no Futuro da América”, que aumentará os gastos com a tecnologia atômica na
National Science Foundation (Fundação Nacional de Ciência),
em 2003, de US$ 221 milhões para US$ 238 milhões.161
Em setembro de 2002 um projeto de lei foi introduzido no
Congresso estadunidense para criação de uma nova agência federal permanente para promoção da ciência da nanoescala, pesquisa, desenvolvimento e educação. Essa lei estabeleceria o Programa de Pesquisa Nacional em Nanotecnologia, um departamento federal com orçamento e funcionários próprios,
supostamente deixando a pesquisa da nanoescala mais indepen-
ETC Group
143
dente dos humores da Casa Branca. O debate no Congresso sobre o projeto de lei proposto foi descrito pelo jornal do comércio
Small Times como “paixão pela nanotecnologia”.162 O projeto de
lei prevê US$ 5 milhões por ano para um novo centro para assuntos éticos, sociais, educacionais, legais e de força de trabalho,
relacionadas à nanotecnologia.
O governo dos EUA supõe que as grandes companhias
transnacionais estejam investindo na tecnologia atômica em níveis comparáveis ao seu próprio comprometimento financeiro.
Pequenas empresas iniciantes estão fornecendo nanomateriais aos
pesquisadores. Consórcios de processamento de semicondutores,
tais como a Sematech (um consórcio de 13 corporações fabricantes de semicondutores de 7 países, com sede em Austin, Texas)
e a Semiconductor Research Corporation (um consórcio de membros da universidade e da indústria com sede no Research Triangle
Park, NC e San Jose, CA) estão contribuindo com a pesquisa.
Centros interdisciplinares com atividades na tecnologia atômica
estabeleceram-se nos últimos anos em várias universidades dos
EUA e, em 2000, a Universidade de Washington lançou o primeiro programa de doutorado em nanotecnologia.
União E
ur
opéia
Eur
uropéia
O investimento da União Européia em nanotecnologia é
particularmente difícil de medir porque, além dos programas
nacionais, grandes corporações, universidades e consórcios, existem redes de colaboradores que incluem alguns ou vários países:
Os exemplos incluem:
• O programa PHANTOMS (Physical and Technology of
Mesoscale Systems – Física e Tecnologia dos Sistemas na
Mesoescala) é uma rede criada em 1992 com aproximadamente 40 membros sediados em Leuven, na Bélgica.
144
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
• A rede European Science Foundation (Fundação Européia
de Ciência) formada em 1995 para a Vapor-phase Synthesis
and Processing of Nanoparticle Materials (Síntese da fasevapor e processamento de materiais de nanopartículas –
NANO). Esse consórcio faz a ligação entre as comunidades das ciências dos materiais e aerossóis trabalhando com
nanopartículas, e inclui 18 centros de pesquisas.
• O European Consortium of Nanomaterials (ECNM –
Consórcio Europeu de Nanomateriais) foi formado em
1996 e está sediado em Lausanne, na Suíça.
• NEOME (Network for Excellence on Organic Materials
for Eletronics – Rede de Excelência em Materiais Orgânicos para Eletrônica), que tem tido alguns programas relacionados com a nano desde 1992.
• A European Society for Precision Engineering and
Nanotechnology (EUSPEN – Sociedade Européia para Engenharia de Precisão e Nanotecnologia) foi projetada em
1997 com participação da indústria e das universidades de
seis países da União Européia.
• O Joint Research Center Nanostructured Materials
Network (Rede de Pesquisa de Materiais Nanoestruturados)
foi estabelecido em 1996 e está sediado em Ispra, na Itália.
Eur
o financiamento: O Sixth Framework Programme, o priuro
meiro instrumento de financiamento da pesquisa para ciência e
tecnologia da União Européia, foi adotado em meados de 2002.
O programa dá ênfase para as ciências da nanoescala, como sendo uma das sete áreas principais de financiamento, destinando
US$ 1,3 bilhões do seu orçamento para 2002-2006 à
nanotecnologia, duas vezes a quantidade comprometida com a
nanotecnologia no orçamento anterior.163 CORDIS, o European
ETC Group
145
Commission’s Research and Development Information Service
(Serviço de Informação de Pesquisa e Desenvolvimento da Comissão Européia) mantém um site na Internet com detalhes sobre o Sixth Framework Programme (2002-2006).
Nano nacional na E
ur
opa: Alemanha, França, Suíça e InEur
uropa:
glaterra têm programas nacionais bem estabelecidos de pesquisa sobre tecnologia atômica. A Suíça está gastando US$ 72
milhões na nanotecnologia – o investimento per capita mais
alto do mundo em iniciativas da nanoescala.164 Na Alemanha,
o Ministério Federal da Educação, Ciência, Pesquisa e
Tecnologia (Bundesministerium für Bildung und Forshung –
BMBF) estabeleceu seis Centros de Competência em
Nanotecnologia no país. Esses centros de competência estão
focados no uso industrial da tecnologia atômica; suas funções
são “principalmente relações públicas, educação e ensino, criação de um ambiente economicamente atrativo e o aconselhamento de prospectos industriais no campo correspondente da
nanotecnologia”. Em meados de 2002, o Ministério Alemão
para Pesquisa e Educação lançou um novo programa de apoio
à nanobiotecnologia de US$ 50 milhões para 6 anos.
Os institutos Fraunhofer e Max Planck (particularmente o
Max Planck Institute for Solid State Research, em Stuttgart, e o
Max Planck Institut für Biochemie, em Martinsried) também
formaram centros de excelência no campo da pesquisa na
tecnologia atômica.
A Inglaterra planeja destinar US$ 43 milhões para nova pesquisa interdisciplinar na nanotecnologia para os próximos seis
anos e US$ 70 milhões para o Business and Science Park (Parque de Negócios e Ciência) da nanotecnologia na Universidade
de Oxford.165
146
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
O France’s Center National de la Recherche Scientifique
(CNRS) desenvolveu programas de pesquisa sobre nanopartículas
e materiais nanoestruturados em aproximadamente 40 laboratórios
de Física e 20 laboratórios de Química no país. Apesar de a França
ser um jogador relativamente pequeno, o governo espera expandir
a pesquisa da nanociência. A França tem cinco centros de pesquisa
da nanotecnologia com instalações de “sala limpa” e existem aproximadamente 1.000 pesquisadores da nanociência e 1000 doutorandos e pós-doutorandos trabalhando nesse campo.166
Austrália
A capacidade australiana nas ciências da nanoescala está centralizada principalmente nas instituições de pesquisa do setor público, especialmente o Commonwealth Scientific and Industrial
Research Organization (CSIRO), o Cooperative Research Centers
e as universidades.167 Em janeiro de 2002, o governo anunciou
que o Australian Research Council (Conselho Australiano de Pesquisa) destinaria 1/3 do seu orçamento de 2003 (aproximadamente
US$ 86,4 milhões em cinco anos) para quatro áreas de prioridade,
que incluem nanotecnologia, estudo do genoma, sistemas complexos e inteligentes e estudo dos fótons. O financiamento da
nanotecnologia inclui patrocínio para a expansão das instalações
da nanofabricação de semicondutores na Universidade de New
South Wales, num centro especial de pesquisa para tecnologia de
computadores quânticos. Em dezembro de 2001, a Universidade
e o Governo de Queensland anunciaram que iriam instalar o
Australian Institute of Bio-Engineering and Nanotechnology (Instituto Australiano de Bioengenharia e Nanotecnologia) no campus
da universidade de Queensland em Brisbane.168 Quatro universidades – New South Wales, Queensland, Western Austrália e Sydney – anunciaram, em novembro de 2002, que iriam colaborar na
ETC Group
147
compra, para uso em conjunto, de quatro poderosos microscópios
de elétrons.169 A colaboração é patrocinada pela Nanostructural
Analysis Network Organization Major National Research Facility,
sediada em Sydney.
QUEM SE IMPOR
TA? NANO NO SUL
IMPORT
A pesquisa das tecnologias na nanoescala também está acontecendo em todo o Sul. Além dos líderes óbvios da alta tecnologia
na Ásia e no Pacífico, vários países estão criando iniciativas nas
ciências da nanoescala, e estão determinados a não deixar que
seus países sejam excluídos. A maior parte do trabalho na América Latina e na África parece estar baseada nas universidades, ou
nos institutos científicos, com apenas um apoio mínimo dos
governos. A não ser em alguns países de cada região, a tecnologia
atômica permanece numa fase bastante inicial na maioria das
áreas no Sul, e com pouca atividade na África até agora.
Abaixo, os primeiros e mais proeminentes participantes da
tecnologia atômica no Sul:
Taiwan
Em setembro de 2002, o governo de Taiwan lançou um investimento de seis anos, de US$ 667 milhões para promoção das
aplicações da nanotecnologia.170 Também em setembro de 2002,
o National Science Council (NSC) inaugurou um laboratório
de nanotecnologia e centro de design de sistemas de chips no Parque Industrial Científico de Taiwan. O NSC reservou US$ 1,1
milhão para a implementação do projeto.171 Taiwan é sede de
várias companhias produtoras de nanopartículas, incluindo China
Synthetic Rubber Corp., United Silica Industrial Ltd., DuPont
Taiwan Ltd., Eternal Chemical Ltd. e Pai Kong Ceramic Materials
Co. Ltd.172 Projeta-se que a indústria da tecnologia atômica de
148
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Taiwan valerá US$ 8,69 bilhões em 2008, com pelo menos 800
fabricantes envolvidos em investimentos relacionados, pesquisa
e produção.173 Em junho de 2002, o ministro de assuntos econômicos de Taiwan, Lin Yi-fu, liderou uma delegação de 30 pessoas à Alemanha, Inglaterra e Espanha, para convocar investimentos para todas as indústrias da alta tecnologia de Taiwan.174
Coréia do SSul
ul
A Coréia do Sul está ganhando proeminência no campo das
ciências da nanoescala. Em março de 2002, o governo da Coréia
do Sul anunciou planos de investir US$ 145 milhões na
nanotecnologia – um aumento de 93% em relação a 2001. O
Ministério da Ciência e Tecnologia da Coréia do Sul vai construir um centro de nanofabricação no Korea Advanced Institute
of Science & Technology (Instituto Avançado de Ciência e
Tecnologia da Coréia). O governo também planeja oferecer incentivos fiscais para companhias estrangeiras para pesquisa na
tecnologia atômica.175
República da China
De acordo com Bai Chunli, o vice-presidente da Academy of
Science, o governo da China investiu apenas valores modestos
na pesquisa da nanotecnologia.176 Mas para o espanto de Taiwan
e do Japão, a China atrai companhias da alta tecnologia de países
vizinhos que estão buscando custos de produção mais baixos.
Mesmo sem um maior comprometimento financeiro do governo, a China fez avanços impressionantes na pesquisa relacionada
aos nanotubos. O desenvolvimento da nanotecnologia na China
está centrado em volta de Shangai, onde existe um grupo de
vinte instituições relacionadas com a nanociência.177 O Programa Chinês de Pesquisa e Desenvolvimento da Alta Tecnologia
procura realçar a competitividade internacional da China e
ETC Group
149
aumentar a capacidade de desenvolvimento e pesquisa na alta
tecnologia no país.178 O programa financiou projetos, tais como
o programa de nanotubos de carbono para armazenamento de
hidrogênio, da Chinese Academy of Sciences (Academia Chinesa de Ciências). O Center for Nanoscience and Nanotechnology
(Centro de Nanociência e Nanotecnologia) na Chinese Academy
of Sciences em Beijing foi aberto em 2000. Esse centro reúne
pelo menos uma dúzia de institutos e universidades do interior
da China para colaboração na pesquisa.179 Em setembro de 2002,
a Vecco Instruments Inc. instalou o China Nanotechnology
Center (CNC – Centro de Nanotecnologia da China) em Beijing.
Esse centro terá cientistas e engenheiros locais como funcionários, e será equipado com um microscópio de força atômica e com
um microscópio de tunelamento atômico. A instalação será operada em conjunto com o Instituto de Química da Chinese
Academy of Sciences (Academia Chinesa de Ciências), uma organização nacional de pesquisa.180
Cingapura
O governo de Cingapura colocou no orçamento de 1997 a
2002, US$ 36,7 milhões em iniciativas na nanotecnologia, e está
entusiasticamente promovendo os negócios da tecnologia atômica.181 Em janeiro de 2002, a Nanoscience & Nanotechnology
Initiative (NUSNNI – Iniciativa da Nanociência e Nanotecnologia)
foi estabelecida na Universidade Nacional de Cingapura. A
NUSNNI é um grupo interdisciplinar composto de profissionais
dos departamentos de engenharia eletrônica, engenharia mecânica, engenharia de materiais, engenharia ambiental, química, física, biologia, matemática e outros. Em março de 2002 Cingapura
também criou o Institute of Bioengineering, que conduz pesquisa,
em conjunto com SurroMed Inc., em nanobiologia.
150
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Índia
A pesquisa sobre nanomateriais na Índia ainda está na fase
nascente.182 O governo indiano ainda não liberou muito financiamento para as iniciativas na nanociência. A pesquisa mais
proeminente da tecnologia atômica está concentrada em menos de uma dúzia de instituições com financiamento público.
Entre os mais proeminentes estão: o Indian Institute of Science
(Instituto Indiano de Ciência), em Bangalore, o Tata Institute
of Fundamental Research (Instituo Tata de Pesquisa Fundamental), o IITS e o Radiophysics Institute (Instituto de
Radiofisica) da Universidade de Calcutá.183 Surpreendentemente, existe até agora pouca atividade industrial, apesar de várias
companhias farmacêuticas, líderes de mercado, estarem investindo em projetos de nanopartículas para distribuição de medicamentos.
México
Os cientistas no México estão ansiosos para obterem patrocínio governamental para pesquisa na tecnologia atômica, que até
agora tem estado restrita ao grupo dos maiores institutos científicos. São eles, o Instituto Nacional de Investigaciones Nucleares
(ININ), o Centro de Investigacion Cientifica y de Estudios Superiores de Ensenada (CICESE) e o Instituto Potosino de
Investigación Científica y Tecnologia (IPICYT). Os pesquisadores do IPICYT, Humberto Terrones Maldonado e Mauricio
Terrones Maldonado estão entre os cientistas mais proeminentes
do mundo conduzindo pesquisa sobre o uso de soldas e feixes de
elétrons para conexão de nanotubos de carbono.184 Seu laboratório, em San Luís Potosí, é equipado com um microscópio de
elétrons altamente sofisticado, o único desse tipo encontrado na
América Latina.185
ETC Group
151
Brasil
Em 2002 o governo brasileiro investiu aproximadamente US$
1 milhão em pesquisa para promoção das iniciativas na
nanotecnologia.186 Estão sendo instalados centros nos Estados de
São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Pernambuco, e existem programas de colaboração com França, Alemanha, Países Baixos e EUA.
A pesquisa sobre tecnologia atômica no Brasil está estruturada em
quatro redes, envolvendo mais de 200 doutores em todo o país.
Essas redes incluem as seguintes áreas de pesquisa: 1) nanoeletrônica
e áreas relacionadas; 2) materiais nanoestruturados; 3)
nanotecnologia molecular; 4) nanobiologia.187
África do SSul
ul
A South African Nanotechnology Initiative (SANI) foi lançada
em março de 2002, apesar do financiamento total do governo ainda
não estar disponível.188 O objetivo da SANI é promover pesquisa
sobre nanotecnologia e seu usos, em todos níveis de governo e indústria na África do Sul. O principal objetivo é o uso de nanomateriais
e nanopartículas relacionadas à indústria mineradora. Como sendo
o maior produtor de platina e ouro do mundo, existe interesse específico no uso da nanotecnologia para melhorar os usos específicos
desses minerais. De acordo com uma pesquisa recente, existem cinco
microscópios de força atômica na África do Sul.
UMA MEDIDA DA CAP
ACIDADE DA NANOCIÊNCIA
CAPA
NO SUL
A Vecco Metrology é responsável por quase 90% do mercado
mundial de fabricação e venda de microscópios de força atômica (AFM) de alta resolução. Essas ferramentas sofisticadas
tornaram-se padrão de pesquisa para imagens atômicas e medições moleculares. O preço de um microscópio de força atômica básico é de aproximadamente US$ 175.000.
152
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
QUEM SE IMPOR
TA? NANOCÃES DE GU
ARDA:
IMPORT
GUARDA:
GR
UPOS DA SOCIEDADE CIVIL MONIT
ORANDO
GRUPOS
MONITORANDO
AS NO
VAS TECNOL
OGIAS
NOV
TECNOLOGIAS
A lista das organizações da sociedade civil e de outras organizações não governamentais que estão monitorando as tecnologias
atômicas não é muito longa. Isso não quer dizer que não existam
muitos grupos com arquivos abertos sobre as tecnologias, mas
poucos publicaram informações, e menos ainda têm estratégias
de ação social. Isso vai mudar. Alguns dos atores atuais estão
relacionados a seguir:
Grupo ET
C
ETC
O Grupo ETC (anteriormente conhecido por RAFI) é uma
organização da sociedade civil sediada em Winnipeg, no Canadá. O Grupo ETC (pronuncia-se “etecetera”) dedica-se a conservação e ao avanço sustentável da diversidade cultural e ecológica
e dos direitos humanos. Com esse fim, o Grupo ETC apóia o
desenvolvimento de tecnologias socialmente responsáveis, úteis
para os pobres e marginalizados, e se dirige às questões governamentais que afetam a comunidade internacional. O ETC também monitora a propriedade e o controle das tecnologias, assim
como a consolidação do poder corporativo.
As publicações do Grupo ETC estão disponíveis no endereço
na Internet: www.etcgroup.org
For
esight IInstitute
nstitute
oresight
O Foresight Institute, iniciado pelo guru da nanotecnologia
K. Eric Drexler e dirigido por Christine Peterson, está sediado
em Palo Alto, Califórnia, EUA. O instituto é a mais antiga fonte
abrangente de comentário científico e social sobre os impactos
em potencial das tecnologias atômicas. Sendo definitivamente
ETC Group
153
pró-nano, o Foresight Institute não informa sobre a propriedade
intelectual e as questões ambientais que envolvem as novas
tecnologias. Endereço na Internet: www.foresight.org
The IInternational
nternational Center for B
ioethics,
Bioethics,
Cultur
isability
ulturee and D
Disability
O endereço na Internet desse centro dá uma quantidade rica
de informações sobre bioética e deficiência, inclusive com vários
links e documentos referentes à tecnologia atômica. O dr. Gregor
Wolbring, bioquímico da Universidade de Calgary e fundador do
centro, é autor de vários trabalhos e oferece uma importante análise dos usos da tecnologia atômica e das tecnologias convergentes
para aumento da performance humana. Wolbring avisa que a ênfase na melhora da performance humana surge da busca para usar a
tecnologia para tratar ou erradicar o que são considerados defeitos
humanos, em vez de se lidar com a necessidade de soluções sociais
– aceitação, respeito e direitos humanos. Os artigos do dr. Wolbring
estão entre as contribuições mais importantes do controverso relatório do governo dos EUA sobre melhora da performance humana.
O centro tem como objetivo:
• Examinar os aspectos culturais das questões bioéticas e de
ciência e tecnologia.
• Examinar os impactos das questões bioéticas, de ciência e
tecnologia naqueles que foram marginalizados.
• Garantir que os marginalizados tenham voz ativa em todos os debates que afetem suas vidas.
• Ajudar aqueles que foram marginalizados a participar dos
debates numa posição de força e conhecimento.
• Aumentar a capacidade daqueles que não são marginalizados para receberem e compreenderem os pontos de vista
daqueles que o foram.
154
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Endereço na Internet: www.bioethicsanddisability.org
The IInstitute
nstitute for Science in SSociety
ociety
Fundado em 1999, o Institute of Science in Society (ISIS) é
uma organização sem fins lucrativos, sediada em Londres, que
trabalha pela responsabilidade social e propostas sustentáveis na
ciência. O ISIS promove compreensão crítica da ciência pelo
público e busca o engajamento dos cientistas e do público numa
discussão ampla. O diretor executivo do ISIS, dr. Mae Wan Ho,
escreveu vários artigos fazendo uma análise crítica da tecnologia
atômica.
Todas as publicações da ISIS estão disponíveis no seu endereço na Internet: www.isis.org.uk
The Science and E
nvir
onmental H
ealth N
etwor
k (SEHN)
Envir
nvironmental
Health
Networ
etwork
Fundada em 1994 por um consórcio de organizações
ambientais da América do Norte, a SEHN está preocupada com
o uso prudente da ciência e com a proteção do meio ambiente e
da saúde pública. A SEHN é a principal proponente nos Estados
Unidos e no Canadá do princípio de precaução como a base da
política do meio ambiente e da saúde pública.
Endereço na Internet: www.sehn.org
ETC Group
155
NO
TAS
NOT
154
155
156
157
158
159
160
161
162
163
164
165
166
167
168
169
170
171
172
Ann Thayer, “Nanotech meets market realities”, Chemical and Engineering News, p.
17.
De acordo com Ed Nichaus, Consultor, Foresight Conference, 10 de outubro de
2002.
Anônimo, “Designer Plastics”, The Economist, 8/15 de dezembro de 2001, p. 28.
O resumo a seguir sobre a nanotecnologia no Japão baseia-se em grande parte em M.
C. Roco, “Research Programs on Nanotechnology in the World”, Nanostructure Science
and Technology: A Worldwide Study, 1999. Todos os números referentes ao investimento do Japão com a nanotecnologia vem desse relatório, a não ser aqueles com
notas.
Kyodo News Service, 29 de março de 2001.
Anônimo, “Nanotech boom hosts potential of Japan surging into lead”, The Nikkei
Weekly, 26 de fevereiro de 2001.
Jiji Press Ltd., 20 de fevereiro de 2001.
Doug Brown, “Congressman say more nano money is an investment in America’s
future”, Small Times, 14 de maio de 2002. Pode ser encontrado na Internet:
www.smalltimes.com
Anônimo, “Senator introduces Bill to create permanent federal nano agency”, 18 de
setembro de 2002. www.smalltimes.com
Jeff Karoub, “Funding forecast looks good for US nanotechnology”, Small Times,
setembro/outubro de 2002, p. 15. O Serviço de Informação da Comissão Européia
de Pesquisa e Desenvolvimento mantém um endereço na Internet com detalhes sobre os desenvolvimentos do Sixth Framework Programme (2002-2006), incluindo
chamadas para propostas e programas de trabalho. Na Internet: Europa.eu.int/comm/
research/fp6/index-em.html
CMP Científica, “Nanotechnology Opportunity Report”, março de 2002, resumido por Eric Pfeiffer, “Nanotech Reality Check: New Report Tries to Cut Hype, Keep
Numbers Real”, Small Times, 11 de março de 2002 (ver nota 1).
Jeff Karoub, “Funding forecast looks good for US nanotechnology,” Small Times,
setembro/outubro de 2002, p. 15.
De um relatório, “Na International Prospective Meeting of French Senate”, feito em
20 de junho de 2002 – www.nano.org.uk/senate.pdf
Ver NanoAustrália: www.nanotechnology.com.au/australiatoday.htm
Pode ser encontrado na Internet: nanodot.org/article.pl?sid=01/12/27/2219252
Patrik Lawnham, “Unis go for big-picture microscopes”, 4 de novembro 2002. Na
Internet: australianit.com.au
Anônimo, “Taiwan to invest US$667 million in nanotechnology applications”, Asia
Pulse, on-line, 19 de setembro de 2002.
Anônimo, “NSC Nanotech Lab in Southern Taiwan to be inaugurated”, Asia Pulse,
on-line, 17 de setembro de 2002.
Anônimo, “Taiwan has strong nanotechnology potential: ITRI”, Taiwan Economic
News, 28 de março de 2002.
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Te c n o l o g i a a t ô m i c a
Anônimo, “Taiwan nanotechnology industry expected to be prosperou”, Asia Pulse,
on-line, 10 de maio de 2002.
Anônimo, “Trade delegation in Germany to promote investiment in Taiwan”, Asia
Pulse on-line, 19 de junho de 2002.
De vários itens da Small Times on-line, 12 de março de 2002, 19 de julho de 2002, 8
de julho de 2002 – www.smalltimes.com
Anônimo, “Biotech, nanotech hold huge promise”, The Nikkei Weekly, 27 de maio
de 2002.
Anônimo, “China designates Shangai Center of nanotech industry”, Xinhua News
Agency, 7 de agosto de 2001.
Jen Lin-Liu, “China, emboldened by breakthroughs, sets out to become nanotech
power”, Small Times, 17 de dezembro de 2001. Disponível na Internet:
www.smalltimes.com
Ib.
James Bernstein, “Vecco to open China facility; Beijing site to focus on
nanotechnology”, Newsday, New York, 4 de setembro de 2002.
NEAsia Online, “Singapore backs nanotechnology business”, 1º de julho de 2002.
Disponivel na Internet: www.nikkeibp.asiabiztech.com/wcs/leaf?CID= onair/asabt/
cover/193861
Informação compilada do Programa Asiático de Informação Tecnológica, ATIP Report
Summary, ATI02.021ª; disponível na Internet: www.atip.org
Samar Halarnkar, “Nanotechnology: the god of small things”, Finantial Express, 2 de
setembro de 2002.
M. Terrones et alii, “Molecular junctions by joining single walled carbon nanotubes”,
Physical Review Letters, vol. 89, nº 12, agosto/2002.
Comunicação pessoal com Dr.Humberto Terrones Maldonado, chefe do Avanced
Materials Science, IPICYT.
Comunicação pessoal com Dr. Henrique E. Toma, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, 17 de setembro de 2002.
Para maiores informações sobre pesquisa da nanotecnologia no Brasil, vá para
www.renami.com.br, em português.
Comunicação pessoal com Manfred Scriba, Council for Scientific and Industrial
Research (CSIR), África do Sul, via e-mail, 18 de outubro de 2002.
ETC Group
PARTE VI
A NANOTECNOLOGIA NOS DEU AS FERRAMENTAS... PARA BRINCAR
COM A ÚLTIMA CAIXA DE BRINQUEDOS DA NATUREZA – ÁTOMOS
E MOLÉCULAS. TUDO É FEITO DELES... AS POSSIBILIDADES DE SE
CRIAR COISAS NOVAS PARECE NÃO TER LIMITES.
HORST STÖRMER
PRÊMIO NOBEL DE FÍSICA
157
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS
NOSSO FUTUR
O CONVER
GENTE
FUTURO
CONVERGENTE
Para a maioria de nós é difícil imaginar a dimensão da
nanociência, mas a aurora da tecnologia atômica não é coisa pequena.
A chegada da tecnologia atômica é muito significativa porque nos dá potencial sem precedentes para controle e manipulação de toda matéria – viva e não viva. A tecnologia atômica é
a grande facilitadora – oferece acesso a uma nova dimensão, é
um campo de brinquedos molecular, em que os blocos de construção de tecnologias poderosas convergem. Quando tivermos
as ferramentas para controlar e manipular a matéria com precisão, estaremos na posição de utilizar e integrar as tecnologias,
incluindo a biotecnologia, a informática, as ciências cognitivas
e outras.
A análise do Grupo ETC revela que, mesmo no atual clima
financeiro instável, quando as bolsas de valores das altas
tecnologias são tratadas com desprezo pelos investidores, a
tecnologia atômica está recebendo uma massa considerável de
160
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
investimento, inovação e entusiasmo, que está impulsionando a
nanociência para ser uma tecnologia real e viável no mercado.
Achamos que:
• As ferramentas que nos permitem explorar a tecnologia
atômica – para ver e manipular os materiais na nanoescala
– estão avançando rapidamente.
• Mundialmente, bilhões de dólares estão sendo investidos
na pesquisa básica. Mais de 30 governos nacionais lançaram iniciativas na nanociência, e outros seguirão.
• Uma quantidade impressionante de empresas que aparecem na Fortune 500 estão fomentando a pesquisa e o
desenvolvimento internos relacionados à tecnologia atômica.
• Empreendedores da tecnologia atômica estão lançando
empresas e capitalistas de capital de risco estão mostrando
interesse.
• Está crescendo o número de artigos científicos e patentes
nanorelacionados.
Os promotores da tecnologia atômica nos dizem que estamos
no ápice de uma nova revolução industrial – uma nova economia de fabricação que tem o potencial de mudar o modo como
vivemos, comemos, trabalhamos, fazemos guerra e definimos a
vida. De acordo com alguns defensores da indústria, a tecnologia
atômica vai desencadear uma nova renascença econômica, que
combina o sonho da abundância material, desenvolvimento sustentável e lucro.
Mas a história nos sugere um cenário diferente. Nas décadas
recentes temos testemunhado a privatização da ciência e uma
concentração impressionante de poder nas mãos de empresas
ETC Group
161
multinacionais gigantes. No passado um pouco mais distante, as
revoluções industriais, pelo menos no início, aumentaram a pobreza. Dada essa realidade, é importante perguntar: quem controlará a tecnologia atômica? Quem determinará o planejamento da pesquisa e quem se beneficiará das tecnologias convergentes? Como a sociedade civil e os governos poderão começar a se
dirigir aos impactos potenciais socioeconômicos, ambientais e
de saúde da tecnologia atômica sem desencorajar a exploração
segura dos seus benefícios? Já que a história nos dá poucas pistas
e nenhum exemplo de trabalho, a sociedade civil terá que tomar
a frente.
CONVER
GÊNCIA DAS OR
GANIZ
AÇÕES DA
CONVERGÊNCIA
ORGANIZ
GANIZAÇÕES
SOCIEDADE CIVIL
A manipulação na nanoescala é a força que une as tecnologias
convergentes. Será que ela poderá também ser a plataforma
unificadora, de onde a sociedade civil poderá compreender e lidar com as tecnologias convergentes? A economia atomicamente modificada do futuro oferece base em comum para defensores
e ativistas nos campos da biotecnologia, tóxicos, saúde pública,
direitos dos trabalhadores, segurança alimentar, agricultura sustentável, direitos dos deficientes, energia alternativa, antinucleares
e oposição às armas nucleares, químicas e biológicas, entre outros. Os esforços de compreensão e aplicação da tecnologia atômica exigirão a participação (e cooperação) das várias organizações e comunidades.
INDO EM FRENTE
O “princípio de precaução” oferece uma abordagem da
tecnologia atômica simples e sensata. O princípio de precaução
diz que os governos têm a responsabilidade de tomar medidas
162
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
preventivas para evitar danos à saúde humana ou ao meio ambiente, mesmo antes que exista a certeza científica da existência desse
dano. Sob esse princípio, é o proponente da nova tecnologia que
carrega o ônus da prova, e não o público. O princípio de precaução recebeu aceitação considerável especialmente na Europa, mas
não é universalmente definido ou aceito.
Para implementação de uma abordagem de precaução, os
governos e a sociedade civil precisam começar a formular a estrutura legislativa, reguladora e social que é necessária para guiar
a tributação – e, onde for apropriado, a introdução – das novas
tecnologias. Esse processo precisa ser transparente, democrático,
e envolver todos aqueles que são potencialmente afetados de forma negativa pelas novas tecnologias. Infelizmente essas condições não existem hoje.
Assim sendo, o Grupo ETC faz as seguintes recomendações
políticas:
• Organismos reguladores nos países OECD ainda não estabeleceram políticas ou protocolos para avaliação da segurança da tecnologia atômica Passo 1, que está incluindo
nanopartículas em produtos que já estão no mercado e novas formas de carbono na nanoescala. Nessa etapa ainda não
sabemos praticamente nada sobre o impacto cumulativo em
potencial das partículas na nanoescala feitas pelo homem,
na saúde humana e no meio ambiente. Dadas as preocupações levantadas sobre a contaminação por nanopartículas
nos organismos vivos, o Grupo ETC propõe que o governo
declare uma moratória imediata na produção comercial dos
novos nanomateriais e que lance um processo mundial transparente para avaliação das implicações socioeconômicas, de
saúde e meio ambiente dessa tecnologia.
ETC Group
163
• No futuro, o espectro da manufatura molecular tem enormes riscos ambientais e sociais e não deve continuar –
mesmo nos laboratórios – na ausência da compreensão
ampla pela sociedade e de tributação.
• Tecnologias emergentes exigem avaliações científicas,
socioeconômicas e sociais para que os governos possam ter
informações para tomar decisões sobre seus riscos/benefícios e o seu valor final. Com esse fim, o Grupo ETC sugere o desenvolvimento de uma Convenção Internacional
para Avaliação das Novas Tecnologias (ICENT). Também
existe a necessidade de desenvolvimento de mecanismos
para avaliação das tecnologias emergentes em nível nacional e local para que os cidadãos tenham força para participação em debates abertos.
• No início dos anos de 1990, as Nações Unidas perderam
sua capacidade de monitoração eficiente das corporações
multinacionais e de tributação competente das novas
tecnologias. O Center on Transnational Corporations, das
Nações Unidas (Centro de Corporações Transnacionais) foi
desativado e o Center for Science and Technology for
Development, da ONU (Centro de Ciências e Tecnologia
para o Desenvolvimento) foi destruído. A perda dessas duas
agências, vitais porém não valorizadas, foi equivalente a uma
lobotomia frontal para a comunidade intergovernamental e
para o Sul em particular. Durante os anos de 1990, a fusão
corporativa dobrou sete vezes (passando de US$ 0,5 trilhão
por ano para US$ 3,4 trilhões) e as ações da alta tecnologia
aumentaram seis vezes (crescendo de 5% a 30% dos valores
das ações) durante o maior boom tecnológico desde a primeira oferta de ações no Jardim do Éden. O Grupo ETC
recomenda que a Assembléia Geral da ONU estabeleça um
164
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
novo centro de comércio e tecnologia, com um mandato
maior e os recursos necessários para monitorar, relatar e aconselhar o poder corporativo, no contexto tanto das tecnologias
quanto dos mercados, com referência principalmente nos
impactos sociais.
AVALIACAO DO ETC
Leis da introdução tecnológica
1. Levará uma geração inteira para compreendermos as ramificações de uma nova tecnologia. Assim sendo, as decisões sobre
usar ou não uma nova tecnologia serão obrigatoriamente ambíguas. A sociedade precisa ser guiada pelo princípio
precautório.
2. Na avaliação de uma nova tecnologia, as primeiras perguntas
devem ser: A quem ela pertence? Quem a controla? Por quem
foi projetada e para benefício de quem? Quem tem o papel de
decidir se ela será introduzida (ou não)? Existem alternativas? É
a melhor maneira para chegar a um objetivo específico? No caso
de haver dano, em quem estará o fardo da confiabilidade e como
a tecnologia poderá ser responsabilizada?
3. O tamanho do beneficio de uma nova tecnologia para a
sociedade é proporcional à participação dessa sociedade na
avaliação da tecnologia – incluindo especialmente aquelas pessoas que estiverem mais vulneráveis.
4. Uma nova tecnologia não pode ser taxada definitivamente
de positiva, negativa ou neutra, apesar de que certas tecnologias
– num ambiente justo – poderão ser intrinsecamente
descentralizadoras, democráticas e úteis.
5. Para cada tentativa de estabelecer controle social quando
uma nova tecnologia é introduzida, existe uma elite poderosa
usando controle social para impor as novas tecnologias à sociedade.
6. A introdução de uma nova tecnologia não é inevitável.
7. Qualquer tecnologia introduzida numa sociedade que não
seja uma sociedade justa poderá aumentar a diferença entre os
ETC Group
ricos e os pobres – e poderá até causar dano diretamente aos
pobres.
8. Uma nova tecnologia não pode ser a “bala de prata” para
resolução de antigas injustiças. Fome, pobreza, desigualdade
social e degradação ambiental são a conseqüência de sistemas
injustos – não de tecnologias inadequadas.
9. Os líderes de uma sociedade que permite injustiça são os
menos prováveis de introduzirem uma nova tecnologia que irá
corrigir a injustiça.
165
FONTES E RECURSOS
APÊNDICE A – NANO-NET
www.apnf.org
A Asia Pacific Nanotechnology Forum (APNF – Fórum
de Nanotecnologia da Ásia no Pacífico) é uma organização de
rede focada no desenvolvimento da tecnologia atômica nos
países da área do Pacífico. Seu objetivo é facilitar o fluxo de
informação entre aqueles que estão desenvolvendo a
nanotecnologia e os investidores, e de facilitar a coordenação
de programas e colaborações entre as regiões, entre os governos e os fazedores de política, indústria e principais instituições de pesquisa e desenvolvimento. A ANPF sedia o fórum
anual e organiza encontros trimestrais para relatos sobre
nanotecnologia entre os membros do fórum. Cada encontro
ocorre numa cidade diferente na região asiática do Pacífico. A
APNF também produz um jornal trimestral. A APNF é patrocinada pelos governos e pelas indústrias. A APNF é uma
organização de sócios (as taxas para sócios variam de US$
120,00 para pessoas físicas a US$ 500,00 para corporações),
mas participar da comunidade da APNF significa estar perto
170
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
dos líderes mais influentes na nanotecnologia do mundo, de
acordo com o endereço do fórum na Internet. Existem correspondências úteis sobre novidades da tecnologia atômica
na Ásia e no Pacífico acessíveis a não-membros.
www.acronym.org.uk/dd
A Disarmament Diplomacy, publicado desde janeiro de 1996,
é a revista sucessora da Nuclear Proliferation News, e está a disposição na Internet. A revista, que agora é publicada pelo Simons
Center for Peace and Disarmament Studies (Centro Simons de
Paz e Desarmamento) do Lui Institute (Vancouver, Canadá),
propaga a pesquisa e analisa os perigos do uso das tecnologias
atômicas para melhora das armas de destruição em massa já existentes (WMD) ou para desenvolvimento de uma nova categoria
de armas de destruição em massa. A edição de julho/agosto de
2002 do Disarmament Diplomacy publicou um artigo chamado
“Nanotecnologia e destruição em massa: a necessidade de um
tratado interno”, que incitou a comunidade internacional a adotar um tratado para proteção do planeta da devastação causada
pelas estruturas artificiais e moleculares. A edição de outubro/
novembro de 2002 editou um artigo sobre a pesquisa dos Estados Unidos nas tecnologias atômicas para desenvolvimento de
armas nucleares de quarta geração.
www.foresight.org
A Foresight é uma organização sem fins lucrativos, fundada
por K. Erik Drexler e Christine Peterson, com a missão de ajudar a preparar a sociedade para as futuras nanotecnologias. Desde 1989, o Foresight Institute tem patrocinado conferências
sobre a nanotecnologia, com foco principalmente na manufatura molecular. Existe um arquivo on-line disponível sobre as
ETC Group
171
Conferências Foresight 2000-2001. A Foresight publica uma
revista trimestral, o Foresight Update, que relata os desenvolvimentos técnicos e não técnicos da tecnologia atômica. O Update
é disponível on-line e é feito para uma audiência variada. A
Foresight também mantém um endereço na Internet para notícias e discussões, o www.nanodot.org, e dirige o Institute for
Molecular Manufacturing (IMM – Instituto de Manufatura
Molecular), www.imm.org, uma fundação sem fins lucrativos
criada em 1991 para desenvolver pesquisa para promoção das
tecnologias de manufatura molecular. O IMM também promove regras para práticas de pesquisa e desenvolvimento, com
intenção de minimizar o risco de mau uso acidental ou do abuso da nanotecnologia molecular. As Foresight Guidelines on
Molecular Nanotechnology (Regras para a Nanotecnologia
Molecular) que podem ser encontradas no www.foresight.org/
guidelines/current.html#Principles, são uma boa leitura de sugestões e indicações específicas dos possíveis perigos que podem envolver a pesquisa relacionada ao nanomaquinário autoreplicante.
www.nano.org.uk
O Institute of Nanotechnology (ION – Instituto de
Nanotecnologia) é uma instituição de caridade registrada no
Reino Unido. Foi estabelecida em 1997 para “fornecer objetivos para o interesse crescente na nanotecnologia, encorajar
novas pesquisas e manter o público consciente dos desenvolvimentos nesse campo.” A maioria das atividades do instituto
ocorre através do seu endereço na Internet, onde ficam disponíveis informações relacionadas aos desenvolvimentos
tecnológicos, conferências, seminários e outros eventos internacionais. Os membros recebem regularmente um boletim
172
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
eletrônico sobre tecnologia atômica. As informações mais interessantes do endereço (por exemplo, estudos de caso de
empresas, relatórios de país para país) são restritas aos membros “profissionais” e “corporativos”, mas a associação no nível “associado” é de graça.
www.nano.gov
O endereço na Internet da National Nanotechnology
Initiative (Iniciativa Nacional na Nanotecnolgia) do governo dos
Estados Unidos mostra informações importantes sobre o investimento do governo na tecnologia atômica, inclusive orçamentos para departamentos individuais do governo. Sob o título
“Information on R&D” (informações sobre pesquisa e desenvolvimento) existe um link para dados sobre a nanotecnologia,
itri.Loyola.Edu/nanotechnology_database, que é operado pelo
Loyola College, em Maryland. Essa nanobase talvez seja o recurso da Internet mais abrangente sobre tecnologia atômica nos
EUA, fornecendo links para os principais centros de pesquisa,
agências financiadoras, principais relatórios e livros. Também
fornece um link para um folheto de introdução de autoria do
governo para audiência leiga, em formato pdf: www.wtec.org/
loyola/nano/IWGN.Public.Brochure
www.nanoapex.com
A NanoApex apóia o desenvolvimento de duas tecnologias
emergentes, MEMs e nanotecnologia e inteligência artificial. A
NanoApex é uma companhia de mídia e de pesquisa que fornece
notícias atuais, informação sobre pesquisa, e outros recursos relacionados à tecnologia atômica no seu endereço na Internet. A
NanoApex comprou a Atomasoft Corporation (com o lema assustador, mas previdente “a matéria se tornará software”) em agosto
ETC Group
173
de 2002. O endereço na Internet da NanoApex tem links para
uma galeria de imagens, para um glossário e para informações
sobre livros relacionados à tecnologia atômica, sobre eventos e
companhias. A NanoApex também é proprietária do Nanoinvestor
News, nanoinvestornews.com, um endereço que envia notícias
dirigidas a investidores na nanotecnologia e mantém um banco
de dados sobre companhias envolvidas com a tecnologia atômica. O Nanoinvestor News dá destaque a um “módulo dos países”,
fornecendo informação sobre atividades na tecnologia atômica
organizadas por cada país. Para ter acesso a alguns recursos, é
exigido registro, mas não existe taxa de inscrição (setembro de
2002). Notícias gerais e específicas relacionadas com tecnologias
atômicas podem ser encontradas no seguinte endereço da
NanoApex: news.nanoapex.com; os leitores também podem participar com comentários. Existe bastante sobreposição entre os
três endereços na Internet da NanoApex, mas a reposição de
notícias é freqüente (várias vezes por dia, em geral) e as notícias
são abrangentes.
www.nanobusiness.org
A NanoBusiness Alliance é um grupo de comércio sediado
nos Estados Unidos, da novata indústria da tecnologia atômica.
Criado em meados de 2001, está buscando associados e batalhando por reconhecimento como lobista da indústria e administrador de mídia. A NanoBusiness Alliance coloca como sua
missão: “criação de uma voz coletiva para o avanço da indústria
da pequena tecnologia e da nanotecnologia, desenvolvendo uma
variedade de iniciativas para apoiar a comunidade dos negócios
da pequena tecnologia”. Os relatórios da Alliance resultantes de
pesquisas de mercado (incluindo pesquisas sobre patentes) estão
variando seus custos em milhares de dólares (EUA).
174
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
www.phantomsnet.com
O Phantoms Network foi fundado pela Comissão Européia
e seu foco é o desenvolvimento da nanoeletrônica. Em setembro
de 2002, o Network era formado por 176 grupos de pesquisa
interdisciplinares (governo, universidade e indústria) de 22 países europeus, juntamente com um pequeno número de grupos
dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Índia. O endereço na
Internet do Phantoms exibe noticias internacionais relacionadas
com a nanoeletrônica (siga o link nanonews abaixo do general
info); ele fornece um resumo dos projetos de pesquisa europeus
(siga o link “European projects” em resources) e links para companhias da União Européia, laboratórios, instituições de pesquisa e redes (siga o link “useful links” em resources). Para mais informações gerais sobre pesquisa científica na Europa, vá para o
endereço na Internet do Community Research & Development
Information Service (Serviço de Pesquisa Comunitária & Desenvolvimento de Informações ): www.cordis.lu. Da página inicial desse endereço, clique no link “Databases and Web Services”,
para encontrar mais de uma dúzia de bancos de dados relacionados a projetos, relatórios, documentos oficiais da União Européia e até mesmo um dicionário de acrônimos.
www.smalltimes.com
A Small Times é a “primeira companhia de mídia dedicada
inteiramente a crescente indústria que inclui os MEMs (sistemas
mecânicos microelétricos), microsistemas e nanotecnologias”.
Fornece cobertura de noticias diárias e arquivos de busca, inclusive buscas de patentes através de palavras-chave. A Small Times
promove o desenvolvimento de tecnologias atômicas. É um recurso útil por causa das suas notícias abrangentes. A Small Times também publica um jornal bimestral de capa dura.
ETC Group
175
www.technologyreview.com
O Technolog y Review é uma revista publicada pelo
Massachusetts Institute of Technology (MIT), que tem como
objetivo promover “a compreensão da tecnologia emergente e
seu impacto no mundo”. A revista está focada no “processo pelo
qual a nova tecnologia sai dos laboratórios e entra no mercado”.
Os artigos exigem um conhecimento básico de tecnologia atômica e podem ser cientificamente profundos, mas são normalmente acessíveis ao leitor leigo. O endereço na Internet tem artigos úteis sobre pesquisa e desenvolvimento da nanotecnologia,
mas também reserva uma grande parte do seu conteúdo (incluindo boletins de registro de patentes para universidades e
corporações) para assinantes pagos.
APÊNDICE B – NANOGRAMÁTICA
Montador
ontador: é um dispositivo químico que, com certos materiais
iniciais atômicos ou moleculares, poderá produzir uma estrutura
molecular específica. K. Eric Drexler acredita que o trabalho da
montagem molecular será executado pelos montadores.
Átomo
Átomo: a partícula da matéria que, de forma única, define
um elemento químico. Consiste de um núcleo cercado de um
ou mais elétrons. Cada elétron tem carga negativa; o núcleo tem
carga positiva e contém partículas conhecidas como prótons e
nêutrons.
Micr
oscópio de força atômica (AFM): é um exemplo de um
icroscópio
microscópio de prova atômica. O AFM permite a interação com
a matéria numa escala muito pequena, no nível das moléculas. A
ponta do AFM é presa no final de um braço móvel altamente
sensível, e toca a superfície da amostra que será examinada. A
força de contato é muito pequena. O AFM grava e mede os pequenos movimentos para baixo e para cima que são necessários
178
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
para manutenção de uma força constante na amostra. A ponta
“sente” a superfície da mesma maneira que um dedo encosta na
face. Sendo que o toque precisa ser delicado para não destruir a
amostra, vários métodos diferentes foram desenvolvidos, incluindo um que gentilmente bate na amostra com pequenos intervalos inimagináveis, enquanto se move sobre a superfície. O AFM
veio depois do microscópio de tunelamento (STM), e difere deste porque faz contato com o material em vez de usar uma corrente elétrica entre os materiais, tornando possível enxergar materiais
não condutores na nanoescala.
B uckyball
uckyball: seu nome completo é buckminsterfullerenos
(comumente chamados de fulerenos), e receberam esse nome
por causa do arquiteto que inventou o domo geodésico. Descobertos em 1985 por Robert Curl, Harold Kroto e Richard Smalley,
os buckyballs são compostos por sessenta átomos de carbono dispostos em forma de hexágonos e pentágonos, como numa bola
de futebol (e parecidos com o domo geodésico). Curl, Kroto e
Smalley ganharam o Prêmio Nobel de Química em 1996 pela
sua descoberta. O buckyball é o precursor do nanotubo, descoberto em 1991 por Sumio Iijima.
Catalisador: substância capaz de fazer catálise, que é a aceleração de uma reação química através da diminuição da barreira
energética. A definição rígida de catálise exige que o catalisador
não seja afetado pela reação como um todo.
Sala limpa: o espaço onde a quantidade de partículas do ar
(desde as partículas visíveis até aquelas na nanoescala) é drasticamente reduzida em relação aos níveis diários e rigidamente
monitorada. A temperatura e umidade no ambiente da sala lim-
ETC Group
179
pa também são controlados, para que seja possível a construção e
a análise das estruturas e dispositivos na nanoescala, sem interferência da contaminação.
Compostos: em geral, referem-se a tudo que é feito de partes
ou elementos dispersos. Nanocompostos são uma nova classe de
materiais derivados da incorporação de nanopartículas em
polímeros.
Química de dendrímer
os
dendrímeros
os: cientistas estão desenvolvendo uma
grande variedade de estratégias para a síntese, caracterização e
aplicações das macromoléculas sintéticas tridimensionais chamadas dendrímeros (assim chamadas porque sua estrutura lembra
uma árvore com galhos [dendritos]). Durante a última década, a
química de dendrímeros cresceu drasticamente. O desenvolvimento ocorreu por causa das aplicações práticas dos dendrímeros
em cartuchos de tinta, em diagnósticos in vitro e em agentes de
contraste MRI. As aplicações previstas são muito mais
abrangentes, incluindo o uso na manufatura da microeletrônica
avançada, e dispositivos de armazenamento magnético. A capacidade comprovada de armazenamento dos dendrímeros, nas suas
cavidades internas ou na sua superfície, de moléculas menores
que poderão ser soltas mais tarde num lento equilíbrio, torna os
dendrímeros agentes promissores para distribuição de medicamentos e também agentes de distribuição lenta de perfumes e
herbicidas.
Gray G
oo
Goo
oo: o termo foi introduzido por K. Eric Drexler
em 1986, no seu livro Engines of Creation: The Coming Era of
Nanotechnology (Máquinas de criação: a era vindoura da
nanotecnologia). O Gray Goo seria a eliminação da vida, que
180
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
resultaria da disseminação acidental e incontrolável de
montadores auto-replicantes. Bill Joy e outros avisaram que
os robôs em miniatura auto-replicantes , apesar de invisíveis
ao olho humano, poderiam resultar numa espécie de Gray
Goo (gosma cinza) se sua multiplicação algum dia saísse do
controle. Exércitos de Blue Goo (gosma azul), ou nanomáquinas destruidoras, já foram sugeridos como uma medida de
reforço à lei.
Informática: ferramentas de software que permitem aos cientistas capturar, organizar e analisar os dados.
Sistemas mecânicos micr
oeletrônicos (MEMs): elementos
microeletrônicos
mecânicos integrados num substrato de silicone comum. MEM
é uma tecnologia relativamente nova, que explora a infra-estrutura microeletrônica existente para criação de máquinas complexas com características de tamanho micro (um mícron é
1.000nm). Essas máquinas têm muitos usos, inclusive como
sensores ou na comunicação.
Mícr
on
Mícron
on: uma medida equivalente a mil nanômetros.
Manufatura molecular/nanotecnologia molecular: método
de criação de produtos através de maquinário molecular, permitindo controle molécula a molécula dos produtos e subprodutos
através da síntese química localizada.
Molécula: uma coleção de átomos unidos por laços fortes.
Geralmente refere-se a uma partícula com uma quantidade de
átomos pequena o suficiente para ser contada (de algumas até
alguns milhares).
ETC Group
181
Nano: do grego nanos significando anão; destinado a se tornar
um dos prefixos mais comuns (e usados até demais) do século
21. Nano subentende a escala do nanômetro, um bilionésimo de
metro.
Nanômetr
o (nm): uma medida equivalente a um bilionésimo
anômetro
de metro.
Nanopar
tícula
anopartícula
tícula: um pequeno pedaço de matéria, composto
por um elemento individual ou por um composto simples de
elementos, normalmente com menos do que 100 nanômetros
de diâmetro. O termo pode se referir a uma grande quantidade
de materiais, inclusive a matéria expelida na exaustão dos carros. Nesse documento, referimo-nos a uma indústria que tem
se desenvolvido na última década para a manufatura de uma
quantidade de partículas, todas na nanoescala, que exibem propriedades desejadas. Um composto criado através da química
tradicional terá um sortimento de propriedades. Se o mesmo
composto for projetado para formar nanopartículas, ele poderá exibir capacidades aumentadas ou até mesmo propriedades
totalmente novas. As nanopartículas podem ser manufaturadas, no caso dos compostos, vaporizando um sólido, adicionando um gás reagente e esfriando as moléculas vaporizadas,
que se condensam em nanopartículas. Nanopartículas de metal puro também poderão ser feitas através de técnicas de evaporação-condensação, mas técnicas muito mais criativas estão
sendo desenvolvidas, como a extração de ouro na nanoescala
absorvido pelas plantas de alfafa.
Nanotubo: moléculas em formato de cilindro parecidas com
arame enrolado. Os nanotubos podem ser feitos de várias substâncias diferentes, mas grande parte da pesquisa sobre os
182
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
nanotubos está se concentrando nos tubos de átomos de carbono puro. Os nanotubos de carbono são 100 vezes mais fortes do
que o aço, impenetráveis a temperaturas que chegam a 6.500
graus Fahrenheit, e com apenas um ou alguns nanômetros de
diâmetro. Os nanotubos de carbono podem ser bons condutores
de eletricidade e calor. Se um nanotubo de carbono é enrolado
de maneira uniforme, como um pedaço de papel com as pontas
do topo e da base alinhadas, ele poderá agir como um condutor
metálico, carregando eletricidade eficientemente. Se um
nanotubo de carbono é enrolado de maneira retorcida, como
uma camisa mal abotoada, então suas propriedades elétricas
mudam e ficam como a dos semicondutores de silicone, em que
a corrente pode ser ligada e desligada. Um transistor precisa de
nanotubos semicondutores. (Kenneth Chang, New York Times,
27/03/01).
Polímer
o: uma substância, natural ou artificial, formada por
olímero:
cadeias longas de moléculas, extraídas através da adição de várias
moléculas menores, ou pela condensação de várias moléculas
menores eliminando-se a água, álcool ou similares. O plástico é
o polímero artificial mais conhecido.
Ponto quântico: é uma partícula da nanoescala (de algumas
centenas a alguns milhares de átomos) com propriedades óticas
extraordinárias, que podem ser feitos sob encomenda, mudando-se o tamanho ou a composição da partícula. Os pontos
quânticos absorvem a luz e, depois, rapidamente a reemitem,
mas numa cor diferente, que pode ser tonalizada em qualquer
comprimento de onda, apenas trocando-se o tamanho dos pontos. São úteis para a classificação no diagnóstico e no desenvolvimento de remédios.
ETC Group
183
Mecânica quântica
quântica: um sistema de mecânica baseado na teoria quântica, que explica os fenômenos observados no nível atômico (< 50nm), fenômenos que são diferentes daqueles observados em escalas maiores.
Modelagem quântica
quântica: simulações computadorizadas que
permitem aos pesquisadores prever de que maneira os materiais
se comportarão na nanoescala, reguladas pelas leis da mecânica
quântica.
Tabela P
eriódica
Periódica
eriódica: uma lista completa de todos os elementos
químicos conhecidos (atualmente são aproximadamente 115),
dispostos em colunas e filas, de acordo com suas propriedades
químicas. O químico russo Dmitri Mendeleyev produziu a primeira lista em 1869. A lista de Mendeleyev sugeria mais ou menos 60 elementos.
Replicador: um sistema capaz de construir cópias de si mesmo
quando existe matéria-prima e energia.
Micr
oscopia de pr
ova atômica
icroscopia
pro
atômica: um termo geral que significa
passar a ponta de uma agulha sobre a superfície de uma amostra
para criação de uma imagem gráfica dos contornos dessa amostra.
oscópio de tunelamento atômico (STM): um STM leva
Micr
icroscópio
uma ponta afiada, parecida com uma agulha e condutora de eletricidade, a uma superfície também condutora de eletricidade até
praticamente encostar nela. A ponta e a superfície estão eletricamente conectadas, e a corrente irá passar se elas se tocarem. Uma
corrente perceptível flui quando dois átomos têm um contato
tênue, um na superfície, o outro na ponta da agulha. Ao mano-
184
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
brar a ponta da agulha delicadamente sobre a superfície, mantendo a corrente fluindo numa taxa pequena porém constante, o
STM consegue mapear os contornos da superfície com grande
precisão. O STM foi desenvolvido num laboratório de pesquisa
da IBM em Zurique, Suíça, nos anos de 1970 e 1980, e pode ser
usado para “levantar” e recolocar átomos. Se a voltagem é aumentada quando a agulha está exatamente sobre um átomo, esse átomo então grudará na ponta da agulha; o átomo poderá ser movimentado e posicionado enquanto estiver preso na agulha, a voltagem então será diminuída e o átomo se soltará da ponta e será
colocado no seu novo lugar (K. Erik Drexler, Unbounding the
Fututre, p. 92-94).
Automontagem: método de integração no qual os componentes se reúnem espontaneamente, normalmente pulando dentro de uma solução ou em fase de gás, até que seja alcançada uma
estrutura estável de energia mínima. Os componentes das estruturas automontadas encontram sua posição correta baseando-se
somente nas suas propriedades estruturais (ou propriedades químicas no caso da automontagem atômica ou molecular), com a
diferença de energia entre o ponto inicial e o ponto final sendo a
força motora.
Supramolécula
upramolécula: um sistema de duas ou mais entidades
moleculares unidas e organizadas através de interações em ligações intermoleculares.
ETC Group
185
O GRUPO ETC
O GRUPO DE AÇÃO NA EROSÃO, TECNOLOGIA E CONCENTRAÇÃO
www
.etcgr
oup.org
www.etcgr
.etcgroup.org
O Grupo ETC, anteriormente conhecido como RAFI, é uma
organização internacional da sociedade civil com sede em
Winnipeg, Canadá. O Grupo ETC (pronuncia-se “etecétera”)
está dedicado à conservação e ao avanço sustentável da diversidade cultural e ecológica e aos direitos humanos. Até agora, o
Grupo ETC tem apoiado o desenvolvimento socialmente responsável de tecnologias úteis para os pobres e marginalizados, e
tem abordado questões governamentais que afetam a comunidade internacional. Ele também monitora a propriedade e o controle de tecnologias, e a consolidação do poder corporativo.
Desde os anos de 1970, o Grupo ETC (como RAFI até 2001)
conduziu pesquisa básica, educação e campanhas de ação social
em questões envolvendo a biodiversidade na agricultura, propriedade intelectual e sistemas de informações comunitárias. Temos
sido críticos ativos da propriedade intelectual (patentes), especialmente no que diz respeito a materiais vivos. Nos anos de 1980 e
1990, nosso trabalho se expandiu para englobar as preocupações
186
Te c n o l o g i a a t ô m i c a
relacionadas com a biotecnologia, biopirataria, genoma humano e uma variedade de novas tecnologias conhecidas como
nanotecnologias.
Os temas combinados de erosão (cultural e ambiental);
tecnologia (e como ela transforma a sociedade); e a concentração
(do poder corporativo) formam o quadro operacional da pesquisa
e programa de trabalho do Grupo ETC.
Reconhecimentos
O Grupo ETC deseja agradecer o apoio financeiro da
Rockfeller Foundation que tornou possível a pesquisa e a publicação deste texto.
Também gostaríamos de agradecer a Rockfeller Foundation,
a Foundation for Deep Ecology e a Däg Hammarskjöld
Foundation, pelo seu apoio em consentir que o ETC Group convocasse três workshops, nos quais o projeto desse relatório e a
pesquisa relacionada a ele fossem discutidos. Os parceiros do ETC
Group na convocação dos workshops, além da Däg Hammarskjöld
Foundation, foram a Searice (Southeast Ásia Regional Institute
for Community Education) no workshop da Ásia, que ocorreu
em Nakhon Nayok, na Tailândia, em setembro de 2001; o CETSUR (Center for Education and Technology – South) no workshop
realizado em Temuco, Chile, para a América do Sul, em novembro de 2001; e a Biowatch AS no workshop africano, realizado
em Cape Town, África do Sul, em dezembro de 2002.
O Grupo ETC conduziu os workshops e preparou esse relatório como parte da sua contribuição para o trabalho político do
CBDC (Community Biodiversity Development and Conservation Programme) – Programa de Conservação e Desenvolvimento da Biodiversidade das Comunidades.
ETC Group
187
PUBLICAÇÕES DA EXPRESSÃO POPULAR
VIDA E OBRA:
1
Lenin e a Revolução Russa (Oziel Gomes) ............................................ Esgotado
2
Rosa Luxemburgo – Vida e obra (Isabel Maria Loureiro) ..................... R$ 6,00
3
O pensamento de Che Guevara (Michael Lowy) .................................. R$ 8,00
4
Josué de Castro – Vida e obra (Bernardo Mançano e Carlos Walter) ... Esgotado
5
Paulo Freire – Vida e obra (Grupo de Estudos / UFPR) ....................... R$ 13,00
6
Antonio Gramsci – Vida e obra de um comunista
revolucionário (Mário Maestri e Luigi Candreva) ................................. R$ 10,00
7
Clara Zetkin – Vida e obra (Gilbert Badia) ............................................ R$ 10,00
8
Anton Makarenko – Vida e obra – a pedagogia
9
Lenin – coração e mente (Tarso Genro e Adelmo Genro Filho) ........... R$ 8,00
na revolução (Cecília S Luedemann) ...................................................... R$ 15,00
ECONOMIA, POLÍTICA, PEDAGOGIA, FILOSOFIA
10
Sobre a prática e sobre a contradição (Mao Tsé-tung) ........................... R$ 6,00
11
Reforma ou revolução? (Rosa Luxemburgo) ......................................... R$ 6,00
12
Fundamentos da escola do trabalho (M M Pistrak) ............................... R$ 10,00
13
Fidel A estratégia política da vitória (Marta Harnecker) ........................ Esgotado
14
O papel do indivíduo na História (G V Plekhanov) .............................. R$ 8,00
15
Clássicos sobre a revolução brasileira
(Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes) ................................................... R$ 8,00
16
A nova mulher e a moral sexual (Alexandra Kolontay) ......................... R$ 8,00
17
Che Guevara: contribuição ao pensamento
revolucionário (Manolo Monereo Pérez) .............................................. Esgotado
18
A hora obscura – testemunhos da repressão política
19
Marx e o socialismo (César Benjamin – org ) ........................................ R$ 8,00
(Julius Ficik – Henri Alleg – Victor Serge .............................................. R$ 13,00
REALIDADE BRASILEIRA
20
Sociologia política da guerra camponesa de Canudos (Clóvis Moura) Esgotado
21
Brasil: crise e destino – entrevistas com pensadores contemporâneos
(org César Benjamin e Luiz Antonio Elias) ........................................... Esgotado
22
A história da luta pela terra e o MST (Mitsue Morissawa) ................... R$ 15,00
23
História e natureza das Ligas Camponesas (João Pedro Stedile – org.) R$ 10,00
24
A linguagem escravizada (Florence Carboni e Mário Maestri) ............. R$ 6,00
25
A ação política e o MST (Bruno Konder Comparato) .......................... R$ 8,00
26
Soberania sim, ALCA não! – análises e documentos
(Campanha Nacional contra a ALCA – org.) ......................................... R$ 5,00
27
História das idéias socialistas no Brasil (Leandro Konder) .................... R$ 12,00
28
ALCA: integração soberana ou subordinada? (Emir Sader – org.) ....... Esgotado.
LITERATURA
29
A Mãe (Máximo Gorki) ........................................................................... R$ 15,00
30
Contos (Jack London) ............................................................................. R$ 8,00
31
Assim foi temperado o aço (Nicolai Ostrovski) ..................................... R$ 15,00
32
Os mortos permanecem jovens (Anna Seghers) .................................... R$ 18,00
33
Week-end na Guatemala (Miguel Angel Astúrias) ................................. R$ 13,00
34
Aqui as areias são mais limpas (Luis A Betancourt) ............................... R$ 13,00
AMÉRICA LATINA
35
Dissidentes ou mercenários? – Objetivo: liquidar a revolução
cubana (Hernando C Ospina e K Declerq) ............................................ R$ 8,00
PERSPECTIVAS
36
O Século 21 – Erosão, Transformação Tecnológica e Concentração
do Poder Empresarial (Pat Roy Mooney) ............................................... R$ 10,00
37
Desafios da luta pelo socialismo (Plinio Arruda Sampaio – org ) ......... R$ 5,00
38
Sementes – Patrimônio do povo a serviço da humanidade
39
Tecnologia atômica – A nova frente das multinacionais (ETC Group) R$ 8,00
(Horacio Martins de Carvalho – org.) .................................................... R$ 13,00
TRABALHO E EMANCIPAÇÃO
40
41
A dialética do trabalho (Ricardo Antunes – org ) ................................... R$ 10,00
O ano vermelho – A Revolução Russa e seus reflexos no Brasil
(Luiz Alberto Moniz Bandeira) ............................................................... R$ 15,00
42
O avesso do trabalho (Ricardo Antunes e
Maria Aparecida Moraes Silva – orgs ) ................................................... R$ 13,00
O IMPERIALISMO ESTADUNIDENSE
43
Guerra e globalização – Antes e depois de 11 de setembro de 2001
(Michel Chossudovsky) ........................................................................... R$ 8,00
CADERNOS DE EXPRESSÃO POPULAR
44
Desafios da esquerda latino-americana (Marta Harnecker) .................. Esgotado
45
As tarefas revolucionárias da juventude (Lenin, Fidel e Frei Betto) ..... R$ 4,00
46
As três fontes (Lenin) ............................................................................... R$ 4,00
47
A História me absolverá (Fidel Castro) .................................................. R$ 4,00
OUTROS TÍTULOS:
48
Marx – Vida e Obra (Leandro Konder) .................................................. R$ 5,00
49
O massacre da fazenda Santa Elmira (Frei Sérgio A Görgen) ............... R$ 5,00
50
A Revolução de Outubro sob o olhar da História
51
Crise e trabalho no Brasil – Modernidade ou volta ao passado?
(Osvaldo Coggiola – org ) ....................................................................... R$ 5,00
(Carlos A B de Oliveira e Jorge E L Mattoso – orgs ) ............................ R$ 10,00
52
De JK a FHC – A reinvenção dos carros
53
Tiradentes, um presídio da ditadura
(Glauco Arbix e Mauro Zilbovicius – orgs ) .......................................... R$ 5,00
(Alípio Freire, Izaias Almada e J A de Granville Ponce – orgs.) ............ R$ 10,00
Os preços podem ser alterados sem aviso prévio.
Recomendamos consultar nossa página na www.expressaopopular.com.br
(ou pelo telefone (11) 3105-9500) antes de seu pedido.

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