ISSN 1415-9279 Nº 40 / 2009

Transcrição

ISSN 1415-9279 Nº 40 / 2009
ISSN 1415-9279
Nº 40 / 2009
Publicação da Universidade Tuiuti do Paraná /
Coordenadoria de Pesquisa,
Iniciação Científica e Editoração
Científica
ISSN 1415-9279
Nº 40 / 2009
Universidade Tuiuti do Paraná
Reitor
Luiz Guilherme Rangel Santos
Pró-Reitor de Planejamento
Afonso Celso Rangel Santos
Pró-Reitora Acadêmica
Carmen Luiza da Silva
Pró-Reitor Administrativo
Carlos Eduardo Rangel Santos
Pró-Reitora de Promoção Humana
Ana Margarida de Leão Taborda
Pró-Reitoria de Pós-Graduação,
Pesquisa e Extensão – PROPPE
Pró-Reitor
Roberval Eloy Pereira
Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica e
Editoração Científica
Coordenadora
Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Curitiba PR / Número Especial / 2009
Comissão Institucional de Editoração da
Universidade Tuiuti do Paraná
Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão – PROPPE
Prof. Dr. Roberval Eloy Pereira
Coordenação
Profª. Drª. Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Faculdade de Ciências Aeronáuticas - FACAERO
Profª. Ms. Rosilda Maria Borges Ferreira
Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde - FACBS
Profª. Drª. Claudia Giglio de Oliveira Goncalves
Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologia - FACET
Prof. Dr. José Soares Coutinho Filho
Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes - FACHLA
Profª. Drª. Etelvina Maria de Castro Trindade
Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas - FACSA
Profª. Drª. Marcia Elisa de Campos Graf
Consultores Editoriais Externos
Profª. Drª. Maura Seiko Esperacini - UNESP
Profª. Drª. Sieglinde Kindl da Cunha - UFPR e Faculdades Reunidas de
Palmas/PR
Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação
Científica e Editoração Científica
Coordenação
Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Responsável Técnico, Produção Gráfica e Editoração Eletrônica
Haydée Silva Guibor
Produção Gráfica e Editoração Eletrônica
Márcia R. Trayczyk Ribeiro
Revisão de Língua Portuguesa
Maria de Lourdes Martins
Rua Sydnei Antônio Rangel Santos, 238 - Santo Inácio
CEP 82010-330 - Curitiba - Paraná
41 331-7654
[email protected]
Catalogação na publicação
Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos”
da Universidade Tuiuti do Paraná
Tuiuti: Ciência e Cultura. – nº 40 / Jan./Jun. 2009. – Curitiba : Universidade Tuiuti do Paraná, 1994 .
539 p. ; 23 x 19 cm
Semestral
Neste número: artigos e resumos publicados para o XIII Seminário
de Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná.
ISSN 1415-9279
1. Ciência - Periódico. 2. Cultura - Periódico. 3. Periódicos. I. Universidade Tuiuti do Paraná.
CDD 050
Dinâmica de publicação
Semestral
SOLICITA-SE PERMUTA
Nota do editor: A revista Tuiuti: Ciência e Cultura vem sendo publicada pela Universidade Tuiuti do Paraná desde 1994. A numeração é seqüencial. O ciclo
refere-se ao conjunto Tuiuti: Ciência e Cultura, periodicidade semestral. O número refere-se ao Departamento ou à Faculdade a que se destina.
Sumário
7
Apresentação
11
Grupos de Pesquisa
31
Resumos de Pesquisa
Ciências Biológicas e da Saúde
55
A escrita de narrativas autobiográficas no processo de envelhecimento
Regina Celebrone Lourenço | Giselle Massi
59
A importância da educação de enfermagem para o cuidado domiciliar as pacientes mastectomizadas com
sistema de drenagem
Luciana P. Kalinke | Jane F. Costa | Ana Paula Balbino | Paula Souza | Thais Lima | Geovana C. S. Sylvestre
63
A representação de um grupo terapêutico de cuidadores de pacientes neurológicos para seus integrantes
Francisleine Moleta | Ana Paula Santana | Gisele Senhorini
67
A vida concreta da palavra- influência e implicação das ações de linguagem – de mães de crianças surdas
(com implante coclear)
Roseli Paciornik
72
A violência intrafamiliar contra o idoso na perspectiva de profissionais de uma unidade de saúde
Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke
75
Ação conjuntada do ruído e trabalho em turno rodiziante e noturno: efeitos extra-auditivos e auditivos
Milena Raquel Iantas
77
Ações educativas sobre prevenção auditiva com pescadores de Itajaí
Adriana Betes Heupa | Diolen Conceição Barros Lobato | Fernanda Frosi
82
Adubação nitrogenada na formaçãode amendoim forrageiro
Ana Luisa Palhano Silva | Luiza Prado dos Santos | Ana Paula Cerdeiro
86
Afasia e letramento: um outro olhar para o processo terapêutico de linguagem escrita
Gisele Senhorini | Ana Paula de Oliveira Santana
89
Análise postural em militares instrumentistas de sopro da Banda Musical da Polícia Militar
Luciana Lopes Costa | Kelly C. A. Silvério | Jair Mendes Marques
93
Análise postural em policiais militares
Luciana Lopes Costa
96
Análise radiológica em 3D (Tomografia Computadorizada Cone Beam) comparativa do espaço articular em pacientes com
disfunção têmporo-mandibular para localização de posição de tratamento
Eduardo Carrilho
98
Atuação fonoaudiológica na Semana de Promoção Humana da Universidade Tuiuti do Paraná
Claudia G. O. Gonçalves | Adriana B. M. Lacerda | Thais C Morata | Adriana B. Heupa | Gisele de L. Costa | Aline C. Moreira
103 Autonomia coletiva – os percalços entre a heterogestão e a autogestão
Marilene Zazula Beatriz
107 Avaliação da função motora e do equilibrio em crianças HIV+
Evelin B de Oliveira | Marise B Zonta | Marimar G A Madeira | Tony T Tahan | Ana Paula de Pereira | Icac Bruck | Cristina R da
Cruz | Regina M. R. Camargo
111 Avaliação da proposta nutricional do rebanho leiteiro da Fazenda Pé da Serra - verão e inverno 2009 – um estudo de caso
Ana Luisa Palhano Silva | Rosemeire Oberle | Ana Paula Cerdeiro
114 Avaliação da qualidade vocal em militares instrumentistas de sopro
Ana Paula Silva Ferreira | Kelly Cristina Alves Silvério | Aline Wolf | Jair Mendes Marques
118 Avaliação das propriedades farmacológicas e tóxicas dos extratos fracionados da erva mate (Ilex paraguariensis) tostada e
soluvel
Luciana Nowacki | Roseli Mello | Arion Zandoná Filho | Wesley Mauricio de Souza
122 Avaliação do padrão de duração em indivíduos submetidos a teste de próteses auditivas
Fernanda Scheffer Frosi
127 Avaliação microbiológica e de metais pesados do aquífero freático nos cemitérios municipais Água Verde-Curitiba e Córrego
Fundo-São José dos Pinhais PR
Elisangela Ferruci Carolino | Michael Moraes | Maria Luisa Fernandes Rodrigues
131 Avaliação vestibular na fribomialgia:relato de dois casos
Klagenberg KF | Zeigelboim BS | Liberalesso PBN | Paulin F | Jurkiewicz AL.
135 Avaliação visual e histopatológica de carcaças de frangos condenadas parcial ou totalmente no processo de abate
José Maurício França M.M.V. | Anderlise Borsoi, M.M.V.
139 Biologia e conservação de anuros do gênero brachycephalus da Serra do Mar no Estado do Paraná
Luiz Fernando Ribeiro
143 Caracterização da deglutição com gelatina em individuos com disfagia neurogênica
Silvana T. Duarte | Solange Coletti | Maria L. Correia | Jociane Camargo | Rosane Sampaio | Ana Maria Furkim
147 Caracterização, isolamento e identificação de fungos endofíticos da ricinus communis l. (Mamona) com
aplicação biotecnológica
Evandra Mello Pereira | Roseli Aparecida de Mello | Maria Luiza Fernandes Rodriguez
151 Comunicação suplementar e/ou alternativa (csa): fatores favoráveis e desfavoráveis ao uso no contexto
familiar
Simone I. Krüger | Ana Paula Berberian
157 Desenvolvimento de aplicações tecnológicas para grãos de quinoa (Chenopodium quinoa Willd) – Parte II
Cláudia Helena Degáspari
161 Educação para a saúde na escola: uma experiência interdisciplinar
Daniele do Rocio Ribeiro | Lisa Elvira Hass | Paôla Luma Cruz
165 Estudo das modalidades terapêuticas em pacientes com câncer atendidos no Hospital Veterinário da UTP
– neoplasias malignas específicas
Mariana Scheraiber | Alvaro Tortato
169 Estudo de três possíveis aplicações para o polissacarídeo de sementes de tamarindo
Neila de Paula Pereira
173 Fatores de meio ambiente sobre a produção de leite, gordura, proteína em bovinos leiteiros da região
metropolitana de Curitiba
Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Maria Lúcia Masson | Elder Clayton Capeletto | Pablo Gomes Martinez |
Giovanna Cestári Ravedutti | Evandro Massulo Richter
177 Fonoaudiologia e os processos de linguagem: domínios de investigação
Ana Paula Berberian Vieira da Silva | Ana Cristina Guarinello| Ana Paula Santana de Oliveira | Giselle Massi
181 Influência da hidrocinesioterapia no equilibrio de indivíduos acima de 60 anos
Bianca Simone Zeigelboim | Sandra Dias de Souza
185 Isolamento e caracterização de microrganismos de erva–mate (ilex paraguariensis a. St.-Hil.)Com potencial
antibacteriano
Roseli Aparecida de Mello | Amanda Lopes Lago | Cassiana de Oliveira | Mayara Gonçalves Motta
189 O impacto do ruído na atividade de odontólogos
Cláudia Giglio de O. Gonçalves | Adriana Lacerda
193 Percepção discente e docente acerca do ensino superior e das características ideais de docentes e discentes: uma perspectiva
interinstitucional
Irene C. P. Prestes | Adriana P. Gagno | Adriana de F. Franco | Eugênio P. de P. Junior | Leandro Kruszielski | Mônica D. Luna
197 Preparo de emulsões contendo princípios ativos da própolis de apis mellifera – manipulação farmacológica de uso humano
e veterinário
Patricia Bumiller Bini Domacoski | Valter Antonio de Baura | Shigehiro Funayama
199 Programa de prevenção de perda auditiva (PPPA): avaliação de sua eficácia em uma indústria petroquímica
Suzanne Bettega Almeida
202 Screening de microrganismos produtores de lipases fúngicas para aplicações biotecnológicas
Maria Luiza Fernandes Rodrigues | André Guilherme Iess | Anne Caroline Defranceschi Oliveira | Felipe M. F. Watanabe
206 Tentativa de suicidio entre mulheres: estudo retrospectivo das intoxicações exógenas
Janete Maria da Silva Batista - Faculdade Evangelica do Paraná
210 Tricologia aplicada ao estudo da dieta de carnívoros
Juliana Quadros
213 Voz e ambiente de trabalho do professor da rede pública de ensino
Kelly Cristina Alves Silverio
Ciências Exatas e de Tecnologia e Faculdade de Ciências Aeronáuticas
219 Análise geopolítica do estado do Paraná por microrregiões
Sandro José Briski | Uraci C. Bomfim | Josmael Araújo Bonatto | Juliane Kurta | Celma Tessari de Góes
224 Avaliação dos parâmetros morfométricos como subsídio à compreensão dos processos de assoreamento: estudo de caso da
bacia hidrográfica do Rio Barigui
Sandro José Briski | Helder de Godoy | Celma Tessari de Góes | Juliane Kurta
229 Buchas de mancais de rolos de galvanização por imersão a quente: um desafio para o desenvolvimento de ligas de
engenharia
Adriano Scheid | Marco Adolph | Nelson Ortiz
233 Climatologia de vento em baixos níveis para uso na aviação “região de informação de võo de Curitiba-fircw”
Cícero Barbosa dos Santos
237 Como se configuram as atividades da prática de ensino e do estágio supervisionado nos cursos de licenciatura
em Geografia nas universidades estaduais paranaenses diante das reformulações curriculares?
Wanda Terezinha Pacheco dos Santos | Maurício Compiani
240 Da web dinâmica à web construtiva
Fausto Neri da Silva Vanin
244 Mineração de dados sobre dados censitários
Deborah Ribeiro Carvalho
249 Reresentações dinâmicas aplicadas em problemas métricos - uma contribuição ao processo de ensino e
aprendizagem
Jorge Bernard
253 Sistema de videoconferência e monitoramento baseado em sistemas abertos: estudo de caso
Roberto Amaral | Mauro Sérgio Vosgrau do Valle | Leonardo Marques Teixeira
258 Uma metodologia dea para avaliar variáveis limitadas na agricultura
Paulo Cesar Tavares de Souza
263 Utilização de energia térmica residual e solar para refrigeração e climatização
Marco Adolph | Adriano Scheid | Nelson Ortiz | Leandro Baran | André M. M. Vaz
Ciências Humanas, Latras e Artes
271 A apropriação de imagens como meio de criação e resignificação na fotografia contemporânea
Evandro F. Gauna
275 A concepção histórica do projeto história nova dentro do iseb, entre os anos de 1955 a 1964
Diego Souza Dolinski
279 A constituição do eu a partir do outro – compreensão das interações e das práticas educativas na educação
infantil
Daniele Marques Vieira | Neyre Correia da Silva
283 A gravura de arte em Curitiba na década de 1990: novas possibilidades de produção
Renato Torres
287 A inquisição portuguesa e o pecado do confessionário
Geraldo Pieroni
290 A interferência dos heterossemânticos na aprendizagem do espanhol por falantes nativos de português
Maria Teresita Campos Avella
294 A leitura como forma simbólica:o letramento ideológico
Marlei Gomes da Silva Malinoski
298 A pesquisa no curso de pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná
Maria Iolanda Fontana | Maria Cristina Borges da Silva | Carlos Alves Rocha | Daniele Marques Vieira
302 A prática do estágio supervisionado obrigatório
Denise Cristina Wendt
307 A relação entre a formação de professores e o conhecimento mediada pela tecnologia
Carlos Alves Rocha
311 A revista do patrimônio na gestão de dr. Rodrigo: um estudo do conceito de patrimônio pelos textos da revista
Maria da Graça Rodrigues Santos
315 A utopia fin-de-siècle de Ed Ward Bellamy
José Antonio Vasconcelos
319 Aplicações das linguagens da arte e comunicação em interfaces tecnológicas: a “wop art” de Giselle Beiguelman
William Sade Junior
323 As multiplas linguagens na prática pedagógica inclusiva de crianças com necessidades especiais na perspectiva de Wallon
Jocian Machado Bueno
326 Bolsas prouni – primeiros resultados de uma atitude para minimizar os efeitos da desigualdade social
Sônia Izabel Wawrzyniak
329 Caminhada de uma pesquisa: pratica pedagógica e identidade na educação da criança negra na educação infantil
Daniele Cristina Rosa
333 Clítico acusativo de 3ª pessoa e objeto nulo: uma pesquisa diacrônica sobre a mudança linguística no português brasileiro
Solange Mendes Oliveira
337 Cultura curitibana: questões de invisibilidade
Maria Cristina Mendes
341 Discurso, subjetividades e cuidado de si: personagens públicos “loucos” em Curitiba, Século XX
Maria Ignês Mancini de Boni
345 Educação do campo como objeto de estudo no contexto das práticas pedagógicas
Maria Antônia de Souza | Carmem S. Machado | Mariangela Hoog Cunha | Patrícia C. de Paula Marcoccia |
Valdirene Moraes | Jaquelne Kugler Tibucheski | Daniel Gonçalves Pinto | Márcia Rogelaine Souza
349 Ensino da arte: uma reflexão crítica sobre as práticas pedagógicas nas escolas públicas do município de
Curitiba
Maria Francisca Vilas Boas Leffer
352 Entre o convento e a casa: educação e gestão feminina no contexto da formação do mundo moderno
Wilma de Lara Bueno
356 Entre o corpo e o desenho
Elisa Kiyoko Gunzi
361 Escravos, libertos e ingênuos na memória do poder judiciário paranaense: século XIX
Márcia Elisa de Campos Graf
364 Formação continuada de professores: prática pedagógica com alunos com deficiência apoiada pelas
tecnologias assistivas para além da inclusão
Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo | Ana Irene Alves de Oliveira | Carlos Alves Rocha | Márcia Silva Di Palma |
Jamine Emmanuele Henning | Fernanda C. F. Monteiro | Ingrid Adam
368 Formação e trabalho professores em tempos de hegemonia neoliberal
Adriana de Fátima Franco | Adolfo Ignacio Calderón | Maria de Fátima Rodrigues Pereira
372 Formas e (re)formas: a recepção de shakespeare no séc. XIX
Cristiane Busato Smith
376 Grupo de estudos sobre políticas educacionais e socioamentais: um relato de experiência
Carlos Alves Rocha | Maria Cristina Borges da Silva | Mario Sergio Cunha Alencastro | Marilene Zazula Beatriz
380 Habitação no Brasil: história e planejamento
Cleide Meirelles Esteves Piragis
384 Hegemonia católica: de Medellín a Aparecida
Vera Irene Jurkevics
388 Inclusão em debate
Ademir Valdir dos Santos | Elaine Cristina Gonçalves | Ingrid Adam | Viviane Regiani
390 Intelectuais e poder: a revista anhembi e a faculdade de filosofia, ciencia e letras da universidade do Paraná (1955-1957)
Valeria Floriano Machado de Souza
395 Letramentos digitais essenciais para a formação inicial e continuada de professores de língua inglesa
Carla Maria Forlin
399 Literatura. História. Ciência: indagações sobre o realismo/naturalismo, a historiografia e a constituição da crítica moderna
Erivan Cassiano Karvat
402 Manuel de Moraes: um religioso camaleonico
Maria Aparecida de Araújo Barreto Ribas
406 Memórias da cidade: trajetórias em confronto no espaço urbano (Curitiba, 1959)
Etelvina Maria de Castro Trindad
410 Mudança lingüística: a ocorrência de empréstimos e estrangeirismos da língua inglesa na língua portuguesa, encontrados nas
revistas monet de março de 2007 e julho de 2008
Auricéia Dumke
414 No rastro da violaestudo sobre patrimônio cultural imaterial por meio da música de Belarmino e Gabriela
Lilia Maria da Silva
417 O Instituto Brasileiro de Filosofia: uma tentativa de construção de hegemonia conservadora
Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves | Pedro Leão da Costa Neto
420 O movimento dos arte-educadores no Brasil na década de 1980
Josélia Schwanka Salomé
425 O serviço nacional de aprendizagem industrial (SENAI): criação e propostas educativas / contribuições à formação social
brasileira
Filipe Pêgo Camargo
429 O tutor na educação a distância: dimensões e funções que fundamentam sua prática tutorial
Everaldo Moreira de Andrade
431 O trabalho com portfólios na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental nas escolas de Curitiba-PR –
contribuições e dificuldades
Neyre Correia da Silva
434 Olhares franceses sobre a terra brasilis
Pedro Henrique Ribas Fortes
437 Orações heréticas na visitação do Santo Ofício ao Estado do Grão-Pará e Maranhão em 1763
Alexandre Ribeiro Martins
442 Os arquivos escolares na pesquisa educacional
Iêda Viana
447 Os jesuítas e a coroa portuguesa na construção do Brasil: a colonização salvífica (1549-1580)
Luiz Antonio Sabeh
451 Perspectivas de pesquisa em história da educação
Ariclê Vechia | Osvaldo Luis Meza Siqueira | Ricardo Westphalen de Queiroz Jucá | Samara Elisana Nicareta
453 Piratas e corsários na Idade Moderna (séculos XVI - XVIII)
Nelson Rocha Neto
456 Práticas de ensino de língua inglesa durante e após o curso universitário: diálogos possíveis
Denise Akemi Hibarino
460 Práticas pedagógicas em ead e os ambientes colaborativos de aprendizagem
Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo | Cleide M. E. Piragis | Marcus Kucharski | Carlos Alves Rocha | Márcia
Silva Di Palma | Isabel C. V. Marson | Maristela Sobral Cortinhas | Matheus Vieira Santos
464 Pró-letramento: um programada rede nacional de formação continuada
Maria Marlene do Carmo Pasqualotto | Adelita Franceschini Maschio | Andrea Nunes Gonçalves Della Bianca |
Karine Hoffmann | Marilda Gonçalves Biernaski
468 Rede de proteção e estatuto da criança e do adolescente - eca: possibilidades de enfrentamento em relação
à violência contra crianças e adolescentes
Elizabeth Hartog
472 Reflexões sobre diálogos e práticas educacionais sustentáveis: a contribuição das agendas 21 nas instituições de
ensino
Maria Cristina Borges da Silva | Ana Paula Roque
477 Sobre a publicação das obras de karl marx e friedrich engels no brasil
Denilton Novais Azevedo | Pedro Leão da Costa Neto
480 Tecnologia, formação de professores e inclusão: a experiência de pesquisa no curso de pedagogia da UTP
Carlos Alves Rocha
484 Um estudo da diversidade étnico-racial na escola estadual vespasiano martins entre 2005 e 2006
Simone Tonoli Oliveira Roiz
Ciências Sociais Aplicadas
489 A adaptação fílmica de “v de vingança”: textos, contextos e intertextos
Denise Azevedo Duarte Guimarães
493 A construção da estética dark no cinema de Tim Burton
Adriane Majcza
497 Conhecimento e espírito empreendedor: desafios e perspectivas para a educação e o mundo corporativo
Osnir José Jugler
501 Do calótipo ao photoshop: entre fotografia, fotogenia, estesia e anestesia
Rubens Cesar Stier Portella
507 Do cinema às minisséries de Luiz Fernando Carvalho: o caso de A pedra do reino
Renato Luiz Pucci Jr.
511 Do consumo à moda: o poder da necessidade e a vitrine do desejo. Uma análise do posicionamento da C&A
Letícia Salem Herrmann Lima
515 Empreendedorismo sustentável
Elizabeth M. Zanetti Rodrigues | Mario Sergio C. Alencastro | Norberto F. Kuchenbecker | Osnir Jose Jugler
519 Fotojornalismo na era da convergência:entre o impresso e o ciberespaço
kati Caetano | Zaclis Veiga | Ana Paula Rosa | Alberto Viana
523 Games invadem telas de cinema
Denize Correa Araújo
527 Gestão de custos empresariais: um estudo nas empresas da Região Metropolitana de Curitiba
Cleonice Bastos Pompermayer | Jocelino Donizetti Teodoro
530 Índices sociais de valor: mass media, linguagem e envelhecimento
Denise Regina Stacheski | Giselle Aparecida Athayde Massi
536 Práxis de transdisciplinariedade na Universidade Tuiuti do Paraná por meio de redes sociais na web
Denise Regina Stacheski
Apresentação do XIII Seminário de
Pesquisa
A Universidade Tuiuti do Paraná tem como princípio que, sem a pesquisa, uma Instituição de Ensino Superior
não cumpre sua missão. Sendo a pesquisa, o locus privilegiado para a produção de conhecimento, ela precisa
fazer parte da ação educativa de todos os professores. Desta forma, os Diretores das Faculdades em colaboração
com a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão e Coordenadoria de Pesquisa, Iniciação Científica
e Editoração Científica são co-organizadores do XIII Seminário de Pesquisa e VIII Seminário de Iniciação
Científica. Com apresentação no evento e representados nestes Anais, estão os projetos de 180 pesquisadores
registrados em 30 Grupos de Pesquisa cadastrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, bem como
pesquisadores de outras instituições de ensino superior do país. Esta décima terceira edição é fruto do trabalho
colaborativo dos diretores de faculdade, coordenadores de curso, líderes de grupo de pesquisa, coordenadores
de Linhas de Pesquisa e dos pesquisadores que se organizaram para que seus projetos sejam apresentados e
discutidos, criando interlocuções colaborativas para que a pesquisa se estenda para as salas de aula e para os
ambientes de aprendizagem. A divulgação dos resultados de pesquisa em publicações ou cursos de extensão
chegam até a comunidade de modo que a Universidade cumpra a sua tríplice função de pesquisar, ensinar e
compartilhar conhecimento com a comunidade.
Prof. Dr. Roberval Ely Pereira
Pró-Reitor de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Profª. Drª. Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo
Coordenadora
Prof. Dr. Adolfo Ignácio Calderón
Prof. Dr. Ari Leon Jurkiewicz
Prof. Dr. Arion Zandoná
Profª. Drª. Cleide Meirelles Esteves Piragis
Prof. Dr. Francisco Pinto Rabelo Filho
Prof. Dr. Geraldo Pieroni
Profª. Drª. Luciana Puchalski Kalinke
Prof. Dr. Luiz Fernando Ribeiro
Comissão Institucional de Pesquisa e Iniciação Científica
Grupos de Pesquisa
Ciências Biológicas e da Saúde
Ciências Exatas e de Tecnologias
Ciências Humanas, Letras e Artes
Ciências Sociais Aplicadas
Ciências Jurídicas
Grupos de Pesquisa
FACBS - FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
Grupo de Pesquisa
Ciências Veterinárias
Líder(es) do grupo: Neide Mariko Tanaka e Shigehiro Funayama
Área predominante: Ciências Agrárias; Medicina Veterinária
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: FACBS
O grupo pretende atuar diretamente no estudo dos mecanismos que levam a manifestação das doenças das
espécies animais. Pretende-se elucidar as patologias com o emprego do diagnóstico e terapêutica e as resoluções
de prognósticos como subsídios para o bem-estar e da saúde animal e do homem. Além de proporcionar
oportunidade de aprendizado e vivência científica, bem como de inserção no ensino e extensão participação da
comunidade acadêmica, interagindo-a com a saúde animal. A finalidade é oferecer tecnologias e conceitos que
possam traduzir-se em benefícios a coletividade, como implantação de medidas preventivas; avaliar a eficácia da
terapia empregada na determinação de prognósticos precisos. A intedisciplinaridade com os laboratórios que
contribuem no diagnóstico das moléstias e áreas afins e estabelecer interação e bem-estar animal-homem. O grupo
pretende atuar diretamente com a agroindústria na busca de parcerias, estabelecendo uma relação bilateral entre
instituição de ensino e pesquisa e indústria, preponderante para que alcance os objetivos propostos. Pretende-se
que esse processo seja dinâmico com a participação da comunidade acadêmica, interagindo-a com a indústria, e
os sistemas de produção vigentes, o que lhe proporcionará oportunidade de aprendizado e vivência científica,
bem como de inserção no mercado de trabalho. A finalidade é produzir e oferecer tecnologias e conceitos que
possam traduzir-se em benefícios para os produtores, indústrias e consumidores. A inclusão da UTP no cenário
nacional da produção científica pode trazer como benefício diretos, entre outros, a disponibilização de recursos
oficiais, recursos da iniciativa privada, maior procura por vagas.
Pesquisadores
Ana Laura Angeli | Ana Luisa Palhano Silva | Elza Maria Galvão Ciffoni Arns | Jose Maurício França | Maria
Aparecida de Alcântara | Neide Mariko Tanaka - líder | Sebastiao Aparecido Borges | Shigehiro Funayama - líder |
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
19
20
Grupos de Pesquisa
Silvana Krychak Furtado | Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Welington Hartmann
Técnicos Emerson Leandro Faria - Ensino Médio - Auxiliar de Enfermagem
Silmara Cadene - Graduação - Assistente de Pesquisa
Linhas de pesquisa
· Biotecnologia Animal
· Ciências Veterinárias
- Morfologia e Biotecnologia Animal
Grupo de Pesquisa
Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora
Líder(es) do grupo: Juliana Quadros , Shigehiro Funayama
Área predominante: Ciências Biológicas; Ecologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
O grupo “Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora” estuda o componente biótico do ambiente, suas relações com
o meio físico e com a ocupação humana histórica e atual. Tem como principais temas transversais a tecnologia
aplicada e a educação ambiental. Os projetos de pesquisa do grupo produzem conhecimento sobre diversidade de
fauna ou flora em diversos graus de abrangência, os mais variados aspectos da ecologia e biologia de populações
ou de comunidades de espécies animais e vegetais, temas aplicados ao desenvolvimento sustentável, ao manejo
ambiental e a estudos de impacto ambiental. O grupo tem participado de registros de patentes, atividades de
consultoria técnica e científica e pareceres técnicos a instituições financiadoras e revistas científicas.
Pesquisadores
Ana Laura Angeli | Ana Luisa Palhano Silva | Aurea Portes Ferriani | Eduardo Novaes Ramires | Elza Maria Galvão
Ciffoni Arns | Helena Goncalves Kawall | Jose Maurício França | Juliana Quadros - líder | Luiz Fernando Ribeiro |
Maria Aparecida de Alcântara | Neide Mariko Tanaka | Rita de Cassia Dallago Machado | Sebastião Aparecido Borges |
Shigehiro Funayama - líder | Silvana Krychak Furtado | Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade | Welington Hartmann
Linhas de pesquisa
· Ecologia e Diversidade de Fauna e Flora
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Grupo de Pesquisa
Biotecnologia e Saúde Líder(es) do grupo: Sandro Germano e Roseli Aparecida de Mello
Área predominante: Ciências Biológicas; Bioquímica
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: FACBS
O Grupo vem trabalhando na àreas de Processos Biotecnologicos aplicados a Saude Humana, Meio Ambiente
e Agroindustria. Os trabalhos desenvolvidos pela equipe têm por finalidade a busca de soluções para problemas
regionais e/ou de alternativas economicamente viáveis para a síntese de produtos de interesse na sáude e
indústria. Dentro desse contexto, estabelecer parcerias com empresas publicas e privadas, com o objetivo final
de transferir a tecnologia gerada para o setor produtivo e estender os conhecimentos à comunidade. Até o
momento, mais de 20 alunos de graduação atuaram como estagiários ou bolsistas de Iniciação Científica em
projetos do Grupo, A produção científica da equipe totaliza mais de 100 trabalhos, entre, livros, artigos em
periódicos e comunicações apresentados em eventos científicos nacionais e internacionais.
Pesquisadores
Alessandro Afornali | Ana Luisa Palhano Silva | André Bellin Mariano | Arion Zandoná Filho | Camila Nunes de
Morais Ribeiro | Claudia Consuelo do Carmo Ota | Cláudia Helena Degáspari | Gerusa Gabriele Seniski | Gisele
Eliane Perissutti | Helena Goncalves Kawall | Liliane Pires Gonçalves | Luciana Cristina Nowacki | Maria Luiza
Machado Fernandes | Neoli Lucyszyn | Paula Cristina Rodrigues | Priscila Dabaghi Barbosa | Roseli Aparecida
de Mello - líder | Sandra Martin Elisangela Ferruci Carolino | Sandro Germano - líder | Sebastiao Aparecido
Borges | Shigehiro Funayama | Silvana Krychak Furtado | Wesley Mauricio de Souza
Estudantes Rafaela Ceron Técnicos Simone de Almeida Cosmo - Especialização – Biólogo
Carlos Barbosa - Especialização – Biólogo
Linhas de pesquisa · Processos Biotecnológicos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
21
22
Grupos de Pesquisa
Grupo de Pesquisa
Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Linguagem
Líder(es) do grupo: Ana Paula Berberian Vieira da Silva
Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação
Tendo em vista que esse Grupo vêm desenvolvendo pesquisas com domínio de investigação em torno dos
processos de apropriação da linguagem oral e escrita e da interface entre essas modalidades de linguagem, as
principais repercussões das mesmas referem-se à elaboração de práticas clínicas fonoaudiológicas voltadas
à caracterização, avaliação e terapia dos distúrbios da linguagem oral e escrita.Além da sistematização de
conhecimentos teórico-práticos, voltados ao contexto clínico fonoaudiológico, as pesquisas do grupo
abordam,também, aspectos relativos à intervenção fonoaudiológica institucional nos contextos da Educação e
Saúde, enfatizando abordagens grupais que objetivem a promoção da linguagem.
Pesquisadores
Ana Cristina Guarinello | Ana Paula Berberian Vieira da Silva - líder | Ana Paula de Oliveira Santana | Giselle
Aparecida de Athayde Massi | Jair Mendes | Marques Estudantes | Maria Leticia Cautela de Almeida Machado |
Simone Schemberg
Estudante(s) Denise Regina Stacheski | Gisele Senhorini | Kyrlian Bartira Bortolozzi | Simone Infingardi Krüger
Linhas de pesquisa · Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem
Grupo de Pesquisa
Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Audição e Equilíbrio
Líder(es) do grupo: Bianca Simone Zeigelboim
Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: FACBS
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Unidade: Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação
Esse Grupo vem desenvolvendo pesquisas em torno dos procedimentos de prevenção, identificação, diagnóstico,
terapêutica das perdas auditivas congênitas ou adquiridas, e de avaliação e reabilitação dos distúrbios vestibulares.
Além da sistematização de conhecimentos teórico-práticos, voltados às práticas clínicas fonoaudiológicas, as
pesquisas do grupo abordam também, os aspectos relativos à saúde auditiva da população em geral, explorando
as interfaces entre esse campo e o ambiente, as atividades profissionais e de lazer. As principais repercussões
deste núcleo referem-se à elaboração e aperfeiçoamento de protocolos clínicos de avaliação e tratamento dos
distúrbios da audição e do equilíbrio corporal, bem como às iniciativas na promoção da saúde ambiental e
ocupacional, enfocando a medição e controle de ruído, a análise das políticas governamentais frente aos problemas
criados pela poluição sonora e a prevenção dos efeitos nocivos de agentes ambientais sobre a saúde auditiva.
Ampliando o alcance das ações de pesquisa desenvolvidas por esse grupo, no ano de 2003, foram firmados
dois convênios interinstitucionais importantes: com a FUNDACENTRO, entidade vinculada ao Ministério do
Trabalho e Emprego - um centro brasileiro de pesquisas em segurança, saúde e meio ambiente no trabalho;
e com a Université de Montréal - École d?orthophonie et d?audiologie ? Canada. Em 2004, formalizamos
parceria com o Laboratório de Genética da Universidade Federal do Paraná para a investigação das etiologias
genéticas das deficiências auditivas relacionadas principalmente, às conexinas. A partir dessa relação, surgiu a
implementação de um programa de orientação às famílias dos deficientes auditivos. Formalizamos também, no
ano de 2004, parceria com o Instituto de Neurologia de Curitiba para o desenvolvimento de diversas pesquisas
envolvendo o sistema do equilíbrio, principalmente na população idosa.
Pesquisadores Adriana Bender Moreira de Lacerda | Claudia Giglio de Oliveira Goncalves | Angela Ribas | Jair Mendes
Marques | Ari Leon Jurkiewicz | Lilian Cássia Bórnia Jacob-Corteletti | Bianca Simone Zeigelboim - líder |
Thais Catalani Morata
Estudantes Adriana Betes Heupa | Karlin Fabianne Klagenberg | Aline Carlezzo Moreira | Leslie Palma Gorski | Angela
Maria Fontana Zocoli | Luciara Giacobe Steinmetz | Diego Augusto de Brito Malucelli | Marine Raquel Diniz
da Rosa | Diolén Conceição Barros Lobato | Milena Raquel Iantas | Fabiane Paulin | Monica Barby Muñoz
| Fernanda Scheffer Frosi | Morganna Maria de Aguiar Pontes | Fernanda Zucki | Patricia Schiniski | Flavia
Cardoso Oliva | Paulo Breno Noronha Liberalesso | Gisele de Lacerda Costa | Sandra Dias de Souza | Jackeline
Martins | Suzanne Bettega Almeida
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
Linhas de pesquisa · Diagnostico e tratamento em audiologia
· Saude auditiva - enfoque preventivo
Empresas assoiadas ao grupo · Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho - Fundacentro
· Neurograff - Eletromedicina LTDA - Neurograff
· Petrobras - Petróleo Brasileiro S/A - Petrobras
· Universidade Fedral do Paraná - UFPR
Grupo de Pesquisa
Núcleo de Pesquisas Fonoaudiológicas em Voz, Motricidade Oral e Disfagia
Líder(es) do grupo: Kelly Cristina Alves Silverio
Área predominante: Ciências da Saúde; Fonoaudiologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Programa de Mestrado e Doutorado em Distúrbios da Comunicação
Estudos dos aspectos relacionados à prevenção, diagnóstico e tratamento em voz, motricidade orofacial e disfagia.
A inter-relação entre essas áreas deve-se ao fato de que muitas estruturas que participam da produção da voz
também participam das funções de respiração, sucção, mastigação e deglutição. Quanto à área da voz, nosso
objetivo de pesquisa é a compreensão dos mecanismos morfofisiológicos da produção da voz normal, profissional
e patológica, estudo da qualidade de vida relacionada à voz e suas alterações, bem como o estudo de intervenções
fonoaudiológicas e demais recursos terapêuticos. A motricidade orofacial abrange aspectos relacionados à
morfofisiologia das estruturas do aparelho estomatognático em repouso e durante as funções reflexo-vegetativas
de sucção, mastigação e deglutição; estão também incluídos neste grupo os casos de disfagia, ou seja, aqueles que
apresentam alteração da deglutição associada ao risco e/ou presença de aspiração pulmonar do alimento e ao
prejuízo da nutrição e/ou hidratação do indivíduo, podendo comprometer sua qualidade de vida.
Pesquisadores Aline Epiphanio Wolf | Kelly Cristina Alves Silverio - líder | Ana Maria Furkim | Rosane Sampaio Santos |
Ari Leon Jurkiewicz
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Estudantes Aline Palmonari | Linda Mary Nasser Ramos | Carla Lucélia Bessani Paixão | Luciana Lopes Costa | Celso Luiz
Gonçalves dos Santos Junior | Maria Cristina de Alencar Nunes | Cinthia Mara Johanns | Marina Rodrigues
Bueno Macri | Eliane Cristina Pereira | Rejane Maestri Nobre Albini | Franciele Savaris Sória | Silvana Triló
Duarte | Laiza Carine Maia Menoncin
Linhas de pesquisa · Prevenção, Diagnóstico e Tratamento em Voz e Motricidade Oral
Grupo de Pesquisa
Grupo de Estudo e Pesquisa em Cuidar e Educar em Enfermagem
Líder(es) do grupo: Maria Cristina Paganini
Área predominante: Ciências da Saúde; Enfermagem
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Unidade: Curso de Enfermagem
A produção gerada pelo grupo tem o propósito de subsidiar a comunidade acadêmica e, em especial, as escolas
de enfermagem particulares, com propostas e estratégias inovadoras no processo de ensinar/ apreender.
Na área do cuidar se propõe a refletir sobre a prática assistencial, a partir de fênomenos vivenciados no
cotidiano, em todos os níveis de atenção à saúde e compartilhar os resultados com a comunidade científica
e os serviços locais, regionais e nacionais.
Pesquisadores
Ana Cláudia Araujo dos Santos Giffhorn | Sandra Maria da Silva Leite | Claudia Bowkalowski | Sandra Regina
Jacopetti | Kátia Renata Antunes Kochla | Simone Rauchbach Mariotti | Liane Führ Pivatto | Tânia Maria
Lourenço | Lilia Bueno de Magalhães | Telma Pelaes de Carvalho | Luciana Puchalski Kalinke | Valdete Alves
da Silva de Quadros | Luciane Favero | Vânia Muniz Néquer Soares | Maria Cristina Paganini - líder | Walderes
Aparecida Filus | Ozana de Campos Estudantes
Celina Angélica Mattos Machado | Lais de Melo Rodrigues
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
Técnicos
Fernando Trevisan - Especialização - Enfermeiro
Justina C. Maiczak - Especialização – Enfermeiro
Silvana Pagani - Especialização - Enfermeiro
Linhas de pesquisa
· Ensino e Assistência de Enfermagem
Grupo de Pesquisa
Desenvolvimento Científico e Tecnológico em Fisioterapia
Líder(es) do grupo: Renata Rothenbühler
Área predominante: Ciências da Saúde; Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde
Unidade: Curso de Fisioterapia
As atividades do grupo visam alavancar o desenvolvimento da ciência fisioterapêutica em todos seus
âmbitos, através da interação com o ensino e as necessidades requisitadas pelo mercado de trabalho.
Pesquisadores
Ana Carolina Brandt de Macedo | Eunice Tokars | Luis Carlos da Câmara Vicelli | Luís Fernando Requião |
Regina Maria Ribeiro Camargo | Renata Rothenbühler | Sandra Dias de Souza | Woldir Wosiacki Filho
Estudante(s) Sueli Terezinha Latenek
Linhas de pesquisa · Ergonomia e Saúde no Trabalho
· Recursos em avaliação e tratamento Fisioterapêuticos
Grupo de Pesquisa
Disfunções Têmporo-Mandibulares e Dores Oro-Faciais
Líder(es) do grupo: Eduardo Carrilho
Área predominante: Ciências da Saúde; Odontologia
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
órgão: Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Unidade: Curso de Odontologia
O Curso de Odontologia da Universidade Tuiuti do Paraná tem se destacado pelo atendimento ambulatorial,
desenvolvimento de projetos de extensão e pesquisa na área das alterações relacionadas a Articulação Têmporo
Mandibular e Dores Orofaciais através de seus professores envolvidos com a referida área. Desde 1996, sentiu-se
a necessidade da formação de Centro de ensino, pesquisa e extensão relacionadas ao tema para a centralização
dos projetos . Em 2000, foi criado o Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo Mandibular
e Alterações Dento Faciais Funcionais (CDATM), que possibilitou a que este grupo tivesse acesso a uma ampla
base de dados, criada pelo atendimento aos pacientes, bem como o evolvimento interdisciplinar com outras
áreas da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde.
Pesquisadores
Daniella Cristina Gaio |Eduardo Carrilho - líder | Eliete Rodrigues Bradasch | José Stechman Neto | Luis
Ricardo Prevedello Pereira | Mariele Pototski
Estudantes Alexsandro Paludo | Simone Sayuri Takeshita | Bianca Lopes Cavalcante | Vanessa Vicentini Holtz | Isabela
Almeida Shimizu | Vilson Reinert da Silva | Mariana Perotta
Linhas de pesquisa
· Disfunções Têmporo-Mandibulares e Dores Oro-Faciais
· Farmacologia, alteração hormonal e Disfunção de ATM
· Fonoaudiologia em pacientes com DTM
Grupo de Pesquisa
Núcleo de Pesquisa em Psicologia (NUPPSI)
Líder(es) do grupo: Maria Cristina Antunes
Área predominante: Ciências Humanas; Psicologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Reitoria
Unidade: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
No ano de 2001, o curso de Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná criou o Núcleo de Pesquisa em
Psicologia (NUPPSI). Foram concebidas duas linhas de pesquisa: 1 - Tratamento e prevenção psicológica. 2 Processos perceptuais, cognitivos e do desenvolvimento. Os objetivos do NUPPSI são: . estimular a realização
de pesquisas de docentes e discentes . incrementar a produção científica . incentivar a participação de docentes e
discentes em conferências nacionais e internacionais . realizar anualmente o Seminário de Pesquisa do Curso de
Psicologia da UTP Nos últimos cinco anos tem sido reeditado o Seminário de Pesquisa do Curso de Psicologia,
com a apresentação de trabalhos de pesquisadores, professores, profissionais da área e discentes. Em 2003
foram apresentados 236 trabalhos e em 2004, 392, avaliados pela Comissão Científica. Em 2005, os trabalhos
foram integrados ao Seminário de pesquisa da Universidade e os resumos foram publicados na homepage da
instituição. Um dos principais resultados que obtivemos foi a criação da Revista PsicoUTPonline, que tem
profissionais de projeção nacional e internacional em seu corpo editorial. A revista tem sua publicação online,
semestralmente. Após a fundação do NUPPSI, os pesquisadores do curso aumentaram significativamente sua
produção científica. Os trabalhos têm sido apresentados em conferências nacionais e internacionais e publicados
em revistas indexadas.
Pesquisadores
Maria Cristina Antunes - líder | Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke | Denise Cerqueira Leite Heller | Irene
Carmen Piconi Prestes | Maria da Graça Saldanha Padilha | Marilene Zazula Beatriz | Plínio Marco De Toni
Linhas de Pesquisa
- Processos Perceptuais, Cognitivos e do Desenvolvimento
- Tratamento e Prevenção Psicológica
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
FACET - FACULDADE DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIAS
Grupo de Pesquisa
Computação Aplicada
Líder(es) do grupo: Deborah Ribeiro Carvalho e Fausto Neri da Silva Vanin
Área predominante: Ciências Exatas e da Terra; Ciência da Computação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: FACET Unidade: Ciência da Computação
Home page: www.utp.br/computacao
Trata-se de uma linha de pesquisa coltada a busca de soluções computacionais para problemas do dia-a-dia
voltados a comunicação e potencialização do uso de bases de dados. Os grupos e pesquisas vinculados a esta
linha têm por objetivo estudar, propor, implementar, testar e disponibilizar novas alternativas de soluções que
facilitem o aprendizado, apoio a decisao, etc.
Pesquisadores Deborah Ribeiro Carvalho - líder | Mauro Sergio Vosgrau do Valle | Fausto Neri da Silva Vanin - líder | Paulo
Cesar Tavares de Souza | Leonardo Marques Teixeira | Roberto Néia Amaral | Marcelo Soares Farias
Estudantes Caio César Ferreira
Linhas de pesquisa · Computacao Aplicada de recursos humanos do grupo
Grupo de Pesquisa
Fontes Alternativas de Energia
Líder(es) do grupo: Mauricio Pereira Cantão
Área predominante: Engenharias; Engenharia Elétrica
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Unidade: Faculdade de Ciências Exatas e Tecnologia
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
Por meio dos projetos de pesquisa, o grupo poderá obter e alocar recursos humanos e materiais de instituições
de fomento para aplicação na Universidade Tiuiti do Paraná e na comunidade. Por recursos materiais entende-se
a aquisição de equipamentos, material de consumo, obras e instalações, necessários à execução das atividades
previstas. Os recursos humanos se traduzirão em bolsas para alunos de iniciação científica e para profissionais
colaboradores. Os recursos também serão utilizados para estabelecer cooperação com instituições de pesquisa
do Paraná, do Brasil e quando possível, do exterior. Com isto, pretende-se aumentar a inserção da Universidade
no contexto acadêmico e de pesquisa. O grupo estabelecerá interação com a comunidade de duas maneiras
distintas. Na primeira, os resultados obtidos serão disponibilizados à comunidade, para uso direto ou por meio
de empresas interessadas nas tecnologias desenvolvidas. Na segunda forma, o grupo irá transferir conhecimento
à população na forma de eventos de divulgação, atividades para alunos das escolas fundamentias, treinamentos
de curta duração e cursos de extensão, para transferência de conhecimento e formação de pessoas para atuação
nas áreas relacionadas.
Pesquisadores Adriano Lucio Dorigo | José Soares Coutinho Filho | Cicero Barbosa dos Santos | Mauricio Pereira Cantão
- líder | Cleverson Luiz da Silva Pinto | Renato de Arruda Penteado Neto | Emerson Luís Alberti
Linhas de pesquisa · Fontes Híbridas de Energia para Uso em Edificações
· Fontes Renováveis de Energia
· Uso Energético do Hidrogênio
Grupo de Pesquisa
Tecnologia Aplicada ao Ensino e Aprendizagem
Líder(es) do grupo: Jorge Bernard e Jose Martim Nicoladelli
Área predominante: Ciências Exatas e da Terra; Matemática
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologias Unidade: Curso de Licenciatura em Matemática
O Grupo de Pesquisa Ensino de Matemática da Universidade Tuiuti do Paraná vem se constituindo desde 2000,
quando da implantação do curso de pós-graduação lato sensu, que hoje leva o nome de Especialização em
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Ensino de Matemática. Atualmente, o grupo é formado por quatro pesquisadores, dois estudantes de iniciação
científica e conta com uma linha de pesquisa: Tecnologia Aplicada ao Ensino de Matemática. A Linha conta
atualmente com tres projetos de pesquisa. Seus principais objetivos são: 1) Colaborar na formação continuada
do professor de Matemática; 2) Desenvolver trabalhos relacionados à contextualização, interdisciplinaridade e
uso de tecnologia educacional, de acôrdo com os parâmetros curriculares nacionais; 3) Desenvolver trabalhos
relacionados à utilização da história, da modelagem matemática e da resolução de problemas como estratégias
importantes no processo de ensino e aprendizagem da Matemática; 4) Desenvolver ferramentas computacionais
para auxílio no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. 5) Desenvolver ferramentas computacionais
para auxílio no processo de resolução de problemas como estratégias importantes para a sociedade Nestes
poucos anos de atuação, o grupo orientou dezenas de monografias e artigos como trabalho de conclusão da
Especialização, apresentou vários trabalhos em congressos nacionais e internacionais e publicou alguns trabalhos
de pesquisa em veículos de divulgação, tanto nacionais quanto internacionais. A médio prazo, vislumbra-se a
possibilidade do grupo alcançar experiência suficiente para a implantação de um curso de pós-graduação strito
sensu na Universidade Tuiuti do Paraná.
Pesquisadores Daniele Cristina Thoaldo | Jose Martim Nicoladelli - líder | Jorge Bernard - líder | Paulo Cesar Tavares de
Souza
Estudantes Cícero Celso Lauriano Leme | Janna Santana Batista
Linhas de pesquisa
· Tecnologia Aplicada ao Ensino da Matemática
Grupo de Pesquisa
Grupo de estudos Geográficos e Geopolítica Aplicada
Líder(es) do grupo: Uraci Castro Bomfim, Sandro José Briski
Área predominante: Ciências Humanas; Geografia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciencias Exatas e Tecnologia
Unidade: Curso de Geografia
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
O grupo de pesquisa Estudos Geográficos e Geopolítica Aplicada desenvolve na Universidade Tuiuti do
Paraná, no curso de geografia desde 1998, através do Núcleo de Pesquisa em Geografia Aplicada, pesquisas em
diversas áreas da geografia, principalmente na área de análise geopolítica regional, objetivando fornecer dados
globais de regiões e municípios que facilitem a elaboração de planejamentos para o desenvolvimento das áreas
estudadas, dentro da Linha de Pesquisa Análise Geopolítica Aplicada ao Planejamento Regional e Nacional,
que deu origem ao curso de pós-gradua em nível Lato Sensu - Especialização em Geopolítica e Relações
Internacionais, contando com cinco doutores e quatro mestres no seu quadro docente. Tem características
altamente interdisciplinar, pois envolve análise de conhecimentos em geografia física, humana, economica,
socila e política regionais, buscando a identificação de vulnerabilidades e oportunidades para contribuir com
a elaboração de ações políticas públicas e/ou privadas que proporcionem um desenvolvimento equilibrado e
justo nas regiões pesquisadas. Utiliza em seus trabalhos, técnicas de geoprocessamento para facilitar a análise
espacial. Palavras-chave: análise geopolítica, desenvolvimento.
Pesquisadores Aline Nikosheli Nepomuceno | Helder de Godoy | Josmael Araujo Bonatto | Mônika Christina Portella Garcia |
Sandro José Briski - líder | Uraci Castro Bomfim - líder | Valdomiro Lourenço Nachornik | Venina Prates
Técnicos Celma Tessari Goes - Aperfeiçoamento - Geógrafo
Juliana Kurta - Aperfeiçoamento - Geógrafo
Linhas de pesquisa · Análise Geopolítica aplicada ao Planejamento Regional e Nacional
Grupo de Pesquisa
Otimização em Engenharia Automotiva
Líder(es) do grupo: Marco Adolph
Área predominante: Engenharias; Engenharia Mecânica
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão
Unidade: FACET
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Pesquisadores
Adriano Scheid | Marco Adolph – líder | José Augusto Borgert Júnior | Nelson Ortiz da Silveira
Linhas de Pesquisa
· Desenvolvimento de Materiais para Revestimentos Duros (hardfacing alloys)
· Otimização de Componentes e Sistemas Termoenergéticos e Mecânicos utilizando ferramenta
Computacional
· Sistemas de cogeração para conforto térmico e refrigeração em veículos
Grupo de Pesquisa
Meio Ambiente, Energia e Sustentabilidade
Líder(es) do grupo: Arion Zandoná Filho
Área predominante: Engenharias; Engenharia Civil
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Faculdade de Ciências Exatas e de Tecnologias
Unidade: Engenharias
O grupo foi instituído para atender a demanda científica e realizar a interdisciplinaridade necessária ao tema
Meio Ambiente e Energias. O grupo inicia suas pesquisas visando competência plena.
Pesquisadores
Arion Zandoná Filho - líder | Adriano Lucio Dorigo | Aline Nikosheli Nepomuceno | Cicero Barbosa dos
Santos | Cleverson Luiz da Silva Pinto | Emerson Luís Alberti | Helder de Godoy | Janilce dos Santos
Negrão Messias | José Soares Coutinho Filho | Josmael Araujo Bonatto | Julio Cesar Vercesi Russi | Marisa
Isabel Weber | Mauricio Pereira Cantão | Renato de Arruda Penteado Neto | Sandro José Briski | Valdomiro
Lourenço Nachornik | Venina Prates
Linhas de Pesquisa
- Fontes Alternativas de Energia
- Fontes Renováveis de Energia
- Meio Ambiente e Desenvolvimento
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
FACHLA - FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Grupo de Pesquisa
Cultura e Instituições
Líder(es) do grupo: Pedro Leão da Costa Neto
Área predominante: Ciências Humanas; Sociologia
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes
As sociedades humanas são essencialmente culturais; e se a cultura é, portanto, aquilo que as caracteriza, um
entendimento da dinâmica cultural não pode prescindir de pensá-la imersa em um conjunto de relações. Ainda
que os fenômenos culturais muitas vezes pautem e expressem escolhas e condutas individuais, eles só podem
ser compreendidos em seu caráter histórico e social. Tomando como premissa o entendimento de que a cultura
é uma rede de significados constituida pelo homem no tempo e no espaço, por meio de regras, normas, práticas
e valores que organizam a vida social; o grupo de pesquisa Cultura e Instituições visa problematizar, de um lado,
o lugar das instituições na produção e na reprodução da cultura e, de outro, pensá-las como esforço privilegiado
no processo de consolidação e legitimação das criações culturais. As Instituições são pensadas a partir de uma
dupla característica, como estruturas estruturantes, ou seja, como instrumentos imprescindíveis na construção
de uma realidade capaz de assegurar a ordem e a coesão sociais; e como estruturas estruturadas, enquanto
desempenham um papeis como meio de comunicar, reproduzir e legitimar as condutas, valores e normas
que instituem o mundo, fornecendo os elementos simbólicos capazes de promover consensos que integram,
consolidam e legitimam a sociedade. Partindo das idéias acima desenvolvidas, as pesquisas desenvolvidas pelos
integrantes do grupo, procurarão por um lado, desenvolver uma série de análises, visando discutir as diferentes
contribuições teóricas entorno da problemática da Cultura e Instituições, como também desenvolver uma série
de investigações sobre a eficácia das instituições e seus desdobramentos na vida cotidiana, tanto de um ponto
de vista teórico, como prático. O Grupo pretende desta maneira contribuir, a um aprofundamento teórico
epistemológico, como ao estudo de Instituições determinadas.É igualmente tarefa do grupo contribuir para a
formação teórica e acadêmica dos participantes.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Pesquisadores
Pedro Leão da Costa Neto - (líder) | Daniele Marques Vieira | Denise Cristina Wendt | Elisa Kiyoko Gunzi
| Elizabeth Hartog | Erivan Cassiano Karvat | Geraldo Magela | Pieroni | Ieda Viana | Iolanda Bueno de
Camargo Cortelazzo | Jocian Machado Bueno |
Joselia Schwanka Salome | Maria da Graca Rodrigues dos Santos | Neyre Correia da Silva | Sônia Izabel
Wawrzyniak | Valeria Floriano Machado de Souza | Vera Irene Jurkevics | Wilma de Lara Bueno
Linhas de Pesquisa
Cultura, Educação e Sociedade
Cultura Escolar
Intelectuais e Instituições
Religião e Religiosidade
Grupo de Pesquisa
Cultura e Narrativas
Líder(es) do grupo: Etelvina Maria de Castro Trindade; Maria Ignës Mancini de Boni
Área predominante: Ciências Humanas; História
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes
O Grupo de Pesquisa Cultura e Narrativas tem como objeto de estudo um campo abrangente que envolve várias
áreas da Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, incluindo, em seus estudos, suas múltiplas possibilidades de
interpretação e análise. Tem como foco questionar as os procedimentos e suportes que orientam as pretensões
de cientificidade dos meios acadêmicos e sistematizados, sem descurar o exame das práticas narrativas presentes
nos inúmeros aspectos da vida em sociedade, o que desperta as mais varidas possibilidades de um exercício
reflexivo. Nos meios acadêmicos, o questionamento da autoridade dos saberes instituídos tem aberto um diálogo
profícuo sobre a próprias bases das diversas disdiplinas que constituem o seu quadro, o que possibilita ao Grupo
levantar questões e divulgar resultados que poderão ir ao âmago do próprio discurso intelectual que fundamenta
suas verdades. No universo mais abrangente da vida social, o exame do sentido dado ao real, que caracteriza
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
os diversos discursos circulantes, possibilitará o questionamento de modalidades e possibilidades narrativas
que buscam igualmente consquistar foros de autoridade e, embora com suportes diferenciados dos utilizados
pelos meios acadêmicos, têm também a intenção se tornar inteligíveis e aceitos. Apoiado nesses pressupostos,
o Grupo tem a intenção de levar a público as interrogações e os resultados de um processo investigativo que
terá como escopo as instâncias mais variadas do intelctual e do social.
Pesquisadores
Etelvina Maria de Castro Trindade - líder | Maria Ignës Mancini de Boni - líder | Alexsandro Eugenio Pereira | Clóvis
Mendes Gruner | Eduardo de Oliveira Leite | Rafael Tassi Teixeira | Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak
Técnicos
Nelson Rocha Neto - Graduação - Auxiliar de Laboratório
Linhas de Pesquisa
Cultura e Identidade
Trajetórias de Vida
Grupo de Pesquisa
Estado e Políticas Educacionais
Líder(es) do grupo: Anita Helena Schlesener; Maria de Fátima Rodrigues Pereira
Área predominante: Ciências Humanas; Educação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
Órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: Mestrado em Educação
O Grupo de Pesquisa Estado e Políticas Educacionais visa reunir pesquisadores e alunos da Universidade
Tuiuti do Paraná e de outras instituições acadêmicas em torno do estudo e do debate de assuntos ligados a
organização do Estado e a proposição de políticas educacionais. Reúne projetos que são desenvolvidos junto
aos Programas de Pós-Graduação das instituições participantes, apresentando já um número considerável de
produção bibliográfica, resultado da interlocução entre seus membros e da participação em eventos nacionais
e internacionais. Pretende-se dar continuidade a esse trabalho, a fim de contribuir no debate e na busca de
soluções para os atuais problemas educacionais.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Pesquisadores:
Anita Helena Schlesener – líder | Maria de Fátima Rodrigues Pereira – líder | Adriana de Fátima Franco |
Alessandra Dal Lin Dal Col | Marcos Vinicius Pansardi
Estudantes
Araci Jost | Catia Alire Rodrigues Arend da Silva | Emerson Adriano Sill | Lorena Barolo Fernandes | Marli
Turetti Rabelo Andrade | Nilcelia Aparecida Rodrigues | Pedro Ernani Kosiba | Roberta Ravaglio Gagno
Linha de Pesquisa
Políticas de Formação de Professores
Teorias do Estado e Políticas de Educação
Grupo de Pesquisa
História, Literatura e Leitura
Líder(es) do grupo: Erivan Cassiano Karvat e Clóvis Mendes Gruner
Área predominante: Ciências Humanas; História
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: Curso de História
O grupo que compõe esse diretório vem se dedicando a estudos que abrangem o universo que se situa entre a
produção literária? O texto propriamente dito? E o leitor dessa escrita. Esse é um campo de estudos que permite
ao historiador apreender o imaginário coletivo que, de alguma maneira, é expresso no texto, principalmente se
compreendermos a escrita como uma atividade política enquanto distribuidora de um sensível coletivo, como
uma forma de representação desse coletivo e legitimação do poder constituído. Por outro lado, essa escrita
somente se efetiva enquanto atividade política, na percepção acima, se essa distribuição se concretizar na leitura.
Dois pólos, portanto, cujo intervalo é povoado de atividades tais como a edição do texto, as possibilidades de
leitura, as bibliotecas em suas expressões, a censura enquanto interdição dessa distribuição, as instituições que
se constituirão no sentido da disciplinarização da escrita, enfim, múltiplas possibilidades para o exercício da
arte do historiador. De tudo isso resulta uma produção de saberes que poderão ser constituidores de formas de
identidades significativas para a história. Assim sendo, a produção acadêmica que resultará dos estudos acima
será discutida em seminários, congressos e encontros nacionais e internacionais, possibilitando um diálogo na
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
comunidade acadêmica. Por outro lado também resultará em uma distribuição do imaginário coletivo que a
construiu, na forma artigos, capítulos de livros e livros, ampliando o espaço de sua discussão.
Pesquisadores André Luiz Joanilho | Erivan Cassiano Karvat - líder | Cláudio Denipoti | Geraldo Magela Pieroni | Clóvis
Mendes Gruner - líder | Helena Isabel Mueller
Linhas de pesquisa · História, saberes e identidades
Grupo de Pesquisa
Linguagens e Representações
Líder(es) do grupo: Sebastião Lourenço dos Santos; Cristiane Busato Smith
Área predominante: Lingüística, Letras e Artes; Letras
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão
Unidade: Ciências Humanas, Letras e Artes
Os integrantes da Linha de Pesquisa Linguagens e Representações, do Setor de Ciências Humanas, Letras
e Artes da UTP, são todos professores pós-graduados, com experiência didática e com tempo dedicado à
pesquisa na Instituição. Todos têm publicado os resultados de suas pesquisas e participado de congressos e
similares, para divulgação de seus trabalhos. Os resultados de pesquisas publicados em capítulos de livros,
livros e artigos de periódicos contribuem para os cursos de licenciatura, para a formação continuada de
professores e profissionais.
Pesquisadores
Cristiane Busato Smith – líder| Sebastião Lourenço dos Santos – líder| Denise Akemi Hibarino | Evandro
de Freitas Gauna | Irene Cristina Boschiero | Ivone Ceccato | Maria Cristina Mendes | Maria Lúcia Vieira
| Marlei Gomes da Silva Malinoski | Renato Torres | Rubens Cesar Stier Portella | Tânia Lazier Gabardo
Linha de Pesquisa
- Linguagens e Representações
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Grupo de Pesquisa
Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores
Líder(es) do grupo: Maria Antônia de Souza e Joe de Assis Garcia
Área predominante: Ciências Humanas; Educação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes
Unidade: Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação
O grupo tem por objetivo problematizar e analisar a prática pedagógica, especialmente na educação escolar.
Dedica-se à construção de conhecimentos sobre a história das instituições escolares, a cultura escolar, a
indisciplina e a educação do campo. Organiza-se em três grupos temáticos determinados pela singularidade das
pesquisas que o compõe. Um grupo dedica-se aos estudos e investigações sobre Educação e História: cultura
escolar e prática pedagógica. Outro grupo dedica-se aos estudos sobre a prática pedagógica no contexto da
educação do campo. O terceiro grupo tem estudado indisciplina na educação contemporânea. No grupo são
expressivos os trabalhos relacionados à história das instituições e da cultura escolar, e questões relacionadas à
indisciplina escolar. Destaca-se na referida linha o trabalho inédito na esfera estadual que é a investigação sobre
a educação do campo, temática emergente na política educacional brasileira nos últimos 10 anos. A linha conta
com pesquisas inéditas na área, bem como com pesquisadores que têm assessorado a organização da política
pública da educação do campo no estado do Paraná.
Pesquisadores Ademir Valdir dos Santos | Joe de Assis Garcia - líder | Adriano da Costa Valadão | Marciane Maria Mendes
| Ariclê Vechia | Maria Antônia de Souza - líder | Clovis da Silva Brito | Maria Cristina Borges da Silva |
Eliane Mimesse Prado | Maria Iolanda Fontana | Fernando Henrique Tisque dos Santos | Sandino Hoff |
Isabel Cristina Vollet Marson
Estudantes Adriana Martins Ferreira | João Filipe de Souza Magnani | Adriano Antônio Faria | Josiane Bernart da Silva Ferla |
Ana Paula de Quadros Coquemala | Lucelia Gonçalves dos Santos | Carmem Machado | Marcos Aurélio Pereira |
Caroline de Araujo Santos Ferronato | Mariana Ribeiro Franzoloso | Daniel José Gonçalves Pinto | Mariangela Hoog
Cunha | Daniele Cristina Rosa | Marisilvia dos Santos | Dinamara Pereira Machado | Mariza Medeiros | Elisabet
Ristow Nascimento | Maura Ferreira Probst | Elisângela Moreira | Melissa Rodrigues da Silva | Everaldo Moreira
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
de Andrade | Michelle Souza Julio Knaut | Fabiane Mathias Delattre Mendes | Miguel Fernando Rigoni | Fernanda
Quaresma de Araujo | Osvaldo Luís Meza Siqueira | Flori Antonio Tasca | Patricia Correia de Paula Marcoccia |
Gilvanes Costa Domingues | Ricardo Westphalen de Queiroz Jucá | Guilherme Stival Gaspari | Roseli Vaz Carvalho
| Ingrid Adam | Samara Elisana Nicareta | Irene Domareski | Sávio José Di Giorgi Ferreira de Souza | Ivan Gross
| Shani Falchetti | Jaqueline Kugler Tibucheski | Valdirene Manduca de Moraes | Jean Paulo Bernardo Xavier
Linhas de pesquisa · Educação e História: cultura escolar e prática pedagógica
· Indisciplina na Educação Contemporânea
· Prática Educativa e Movimentos Sociais do Campo
· Práticas Pedagógicas: elementos articuladores
Grupo de Pesquisa
Políticas Públicas e Gestão da Educação
Líder(es) do grupo: Naura Syria Carapeto Ferreira e Anita Helena Schlesener
Área predominante: Ciências Humanas; Educação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado em Educação
As investigações que foram constituíndo este grupo de pesquisa alicerçaram-se nas categorias “estado”; “política”;
“gestão”, “formação”, que, como fio condutor tem possibilitado avançar nos conhecimentos acerca do Estado
Brasileiro, da realidade educacional, das políticas públicas, da gestão da educação e das políticas de formação.
Este constructo vem originando uma produção que tem sido socializada através de livros, capítulos de livros,
artigos e textos geradores de outras ‘”investigações de base” que possam “nutrir” os campos do conhecimento e
do exercício da gestão da educação e da formação de profissionais da educação. Esta produção tem, também, se
constituído em subsídios para as políticas públicas na medida em que revelam necessidades e formas de tratar a
realidade educacional que necessitam ser revistas e reformuladas. A produção deste grupo tem sido apresentada
em congressos nacionais e internacionais com o objetivo de desenvolvimento de novos conceitos, troca de
experiências e de evolução no sentido do conhecimento mais elaborado que vem se construindo. Nesse sentido,
este grupo de pesquisa tem desenvolvido investigações nacionais em parceria com a ANPAE - Associação
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Nacional de Política e Administração da Educação em pesquisas financiadas pelo INEP e Fundação Ford,
como, a exemplo, a pesquisa nacional “O estado da arte da produção científica em Política e Administração da
Educação”, “Experiências Inovadoras e/ou Exitosas em Gestão da Educação” que gerou artigos e capítulos
de livros e livros publicados por diversas editoras de circulação nacional e internacional como, Vozes, Cortez,
DP&A, Papirus, Liber livro Editora e outras. Este grupo de pesquisa objetiva a investigação e aprofundamento
do conhecimento sobre políticas públicas, políticas de formação e gestão da educação, tais como: Os Cursos
de Pedagogia após a LDB-1996: Políticas e Perspectivas e Formação ético-política do profissional da educação
e do gestor da educação.
Pesquisadores Anita Helena Schlesener - líder | Naura Syria Carapeto Ferreira - líder | Marcos Vinicius Pansardi | Sidney
Reinaldo da Silva
Estudantes Ana Paula Barrios de Carvalho | Maria Cristina Elias Esper Stival | Andréa Garcia Furtado | Marise Mendes Silverio |
Carmen Luiza da Silva | Maristela Dall’ Asta Fração | Dulce de Oliveira Valerio | Roberta Ravaglio Gagno | Genoveva
Ribas Claro | Rosana Zanoni Mascarenhas Ribeiro | Janete Ilibrante | Susana Pitol Guasti | Luigi Chiaro | Teodósia
Mika | Luiz Carlos Eckstein
Linhas de pesquisa · Políticas Públicas e Gestão da Educação
Grupo de Pesquisa
Memória e Identidades
Líder(es) do grupo: Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak
Área predominante: Ciências Humanas; História
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes Unidade: História
O grupo, criado em 2002, intitulado Memória e Identidades, foi reformulado em função da criação da Linha
de Pesquisa, Cidade, Patrimônio e Memória, propondo-se a realizar estudos sobre cidade e memória tomando
como parâmetro a construção de um olhar sobre a cidade, vista como um documento a ser lido, privilegiando
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
os vestígios permanentes de suas transformações através do tempo. Todas as formas de registros sensíveis
e materiais que permanecem e compõem o patrimônio cultural dos povos podem, assim, ser estudados, na
medida que o espaço urbano é, por excelência, o depositário desses vestígios. Os resultados alcançados por
esses trabalhos tem sido e continuarão a ser divulgados em nivel local, nacional e internacional, pela participação
em eventos, na articulação com outros grupos cujos estudos contemplem temáticas afins, e em publicações
como periódicos científicos, livros, relatórios e outros textos de caráter mais informal. Por outro lado, o grupo
proporciona oportunidades de integração entre docentes e discentes, tanto no nível de iniciação científica,
quanto nos trabalhos monográficos de conclusão de curso.
Pesquisadores Etelvina Maria de Castro Trindade | Maria Francisca Vilas Boas Leffer | Maria Cristina Borges da Silva | Rafael
Tassi Teixeira | Maria da Graca Rodrigues dos Santos | Sidinalva Maria dos Santos Wawzyniak - líder
Técnicos Vanessa Zoca - Especialização - Oficial de Apoio à Pesquisa Científica
Linhas de pesquisa · Cidade, Patrimônio e Memória
Grupo de Pesquisa
Processos Interativos, Aprendizagem e Cultura
Líder(es) do grupo: Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzoi
Área predominante: Ciências Humanas; Educação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
órgão: Reitoria
Unidade: Direção de Faculdade
O Grupo de Pesquisa composto de pesquisadores de diversas áreas do conhecimento desenvolve investigação
em processos interativos tanto comunicacionais quanto educacionais. Promove o debate e a produção de
conhecimento que se aplica nas disciplinas dos cursos de Graduação e Pós-Graduação, em projetos de intervenção
tanto na área acadêmica - na Educação Básica e Superior - como na comunidade, em ações de Extensão.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Pesquisadores
Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo - líder | Ana Irene Alves de Oliveira | Carlos Alves Rocha | Cleide
Meirelles Esteves Piragis | Flávio Adalberto Poloni Rizzato | Ingrid Adam | Isabel Cristina Vollet Marson |
Ivanda Maria Martins Silva | Jamine Emmanuelle Henning Moreira | Jocian Machado Bueno | Juliana Cristina
Faggion Bergmann | Marcelo de Paula Mascarenhas Ribeiro | Márcia Silva Di Palma | Marcus Vinicius Santos
Kucharski | Maristela Sobral Cortinhas | Matheus Vieira Silva | Rosana Zanoni Mascarenhas Ribeiro | Rosilda
Maria Borges Ferreira
Linhas de Pesquisa
- Processos Inclusivos, Tecnologias Assistivas e Cultura
- Processos Interdisciplinares, Tecnologias e Redes Sociais
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
FACSA - FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
Grupo de Pesquisa
Cibercultura
Líder(es) do grupo: Adriana da Rosa Amaral
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão Unidade: Mestrado em Comunicação e Linguagens
Home page: http://ciberpalavra.blogspot.com
O grupo de pesquisa Cibercultura - Práticas de Comunicação, Sociabilidade e Consumo vem desenvolvendo
pesquisas e ações desde 2006. Em sua primeira fase de atuação, o grupo elaborou um mapeamento da pesquisa em
Cibercultura, com ênfase nas redes sociais, imaginário e subjetividades. Ao localizar os pesquisadores, temáticas
e métodos pertinentes à área, o grupo iniciou sua trajetória, um perfil objetivo a partir de distintas premissas
teóricas e metodológicas. A partir de meados de 2007 a ênfase das pesquisas do grupo começa a se delinear, com
o objetivo de investigar as práticas de comunicação, sociabilidade, circulação e consumo no contexto da cultura
contemporânea, em suas reconfigurações, usos e apropriações. Os trabalhos desenvolvidos articulam fluxos
comunicacionais nos ambientes online e suas relações com offline, a partir de distintos nichos mercadológicos
e estratégias de visibilidade (a publicidade, a moda, o entretenimento, etc) com ênfase nos processos de
convergência e digitalização dos grupos e atores sociais e no estudo das metodologias de pesquisa adequadas
aos sistemas emergentes, bem como a reflexão acerca das apropriações, linguagens, narrativas, usos e efeitos de
sentido dos mesmos. Em 2008, o grupo organiza e ministra o curso de Extensão em Comunicação, Consumo
e Entretenimento Digital na UTP, e participa dos debates no Simpósio da ABCiber - Associação Brasileira
dos Pesquisadores em Cibercultura, entre outros eventos. O grupo também tem propiciado o intercâmbio
com vários pesquisadores entre os programas de pós-graduação do país que investigam a cibercultura, seja em
bancas de defesas seus membros, publicações conjuntas, etc. Além disso, o GP presta consultorias de pesquisa
ao mercado, bem como seus membros tem participado de diversos eventos e festivais de cultura digital, como
Campus Party, Forum das Mídias Sociais, etc. Em 2009, o grupo fechou um acordo de atividades conjuntas
com o GP Mídias Digitais (Unisinos).
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
Pesquisadores Adriana da Rosa Amaral - líder
Estudantes Alessandra Torres Bittencourt | Lucina Reitenbach Viana | Andréia Mendes Jacopetti | Lúcio Siqueira Amaral
Filho | Andressa Mara Pacheco de Oliveira Moschetta | Marcelo Higinio de Souza | Cibele Bastos da Costa |
Neliffer Horny Salvatierra | Gisele Miyoko Onuki | Patrícia Regina Wypych | Hélcio José Prado Fabri | Renata
Freire Rocha Duarte | Jack de Castro Holmer | Thyenne Veiga Vilela | Letícia Salem Herrmann Lima
Linhas de pesquisa · Estratégias Midiáticas e Práticas Comunicacionais
Grupo de Pesquisa
Cinetevê - Ficção Contemporânea
Líder(es) do grupo: Renato Luiz Pucci Junior e Eduardo Tulio Baggio
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Mestrado em Comunicação e Linguagens
Unidade: Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas
O grupo reúne pesquisadores da linha de pesquisa Análises de Linguagens Midiáticas, do Mestrado em
Comunicação e Linguagens (orientador e orientandos), e alunos de Iniciação Científica e professores dos cursos
de graduação em Comunicação Social da Universidade Tuiuti do Paraná. A proposta surgiu da percepção de que,
no campo dos estudos do audiovisual, uma questão premente na atualidade consiste na definição das relações de
parentesco midiático entre a ficção cinematográfica e a televisual, em vista das constantes hibridações entre os
dois meios. A problemática adquire especial relevância no Brasil, onde persistem conflitos entre a tradição teórica
e crítica com raízes modernistas e a produção geralmente conservadora de uma rede de televisão de alcance
internacional. Integrantes do grupo Cinetevê participam regularmente de encontros de pesquisadores da Socine
e da Compós, levando notícias das pesquisas que têm desenvolvido. Em 2008, foi criado na Socine o seminário
temático “Cinema e Televisão: Múltiplas Interlocuções Possíveis”, que tem entre os seus coordenadores o líder
do grupo Cinetevê, Prof. Renato Pucci. Entendemos que a própria criação desse seminário, que será realizado
também no próximo encontro da Socine, em 2009, é em parte resultado das atividades do grupo Cinetevê,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
devido à constante apresentação de suas pesquisas no âmbito acadêmico, seja em encontros nacionais ou em
publicações em periódicos científicos, ressaltando-se portanto a relevância de seu objeto. Atualmente o grupo
empreende uma pesquisa de grande alcance, inédita em termos nacionais, envolvendo cerca de 200 longasmetragens nacionais realizados entre 1994 e 2007, no intuito de detectar variações no tratamento narrativo dos
filmes em relação à TV. Após a fase da redação de textos decorrentes dessa pesquisa, eles serão coligidos de
forma a compor um livro eletrônico que deverá ter repercussão na área.
Pesquisadores Ana Flávia Merino Lesnovski | Eumar Francisco da Silva | Eduardo Tulio Baggio - líder | Renato Luiz Pucci
Junior - líder
Estudantes Carla Lilian Gulka | Michelle Cristina Takashima de Paula Castro Walter | Guilherme Volkmann Haas | Tiago
Madalozzo | Leonardo Canalli Tramontin
Linhas de pesquisa · Análise de Linguagens Midiáticas
Grupo de Pesquisa
Imagem, Sentidos e Regimes de Interação
Líder(es) do grupo: Kati Eliana Caetano
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná – UTP
Com o intuito de que as atividades desenvolvidas tenham um alcance maior do que aquele configurado
pela instituição em que está sediado ? a Universidade Tuiuti do Paraná -, o grupo tem definido um perfil
interinstitucional, pela participação de pesquisadores oriundos de outras IES, como Universidade Positivo,
PUCPR, UFPR, Faculdades Curitiba, junto as quais visa a estimular a prática científica conjunta em suas diversas
modalidades, contribuindo para o avanço do conhecimento no tocante à temática do grupo em particular e ao
fenômeno da comunicação em geral.
Pesquisadores
Kati Eliana Caetano – líder| Ana Emília Jung | Ana Paula da Rosa | Anuschka Reichmann Lemos | Juliana Pereira
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
de Sousa | Leomar Jesus Ferreira de Brito | Maria Zaclis Veiga Ferreira | Scheila Fatima Giacomazzi Camargo
Estudantes
Alberto Melo Viana | Aline Aparecida Vonsovicz | Fernanda Pacheco de Moraes | Guevara Malvestiti |
Giovani Francisco dos Santos | Hilton Antonio Marques Castelo | Lais Romero Pancote | Márcio David
Macedo da Silva
Linha de Pesquisa
Passagens e convergências da fotografia
Percursos do olhar: entre imagem, imaginário e cultura
Grupo de Pesquisa
JOR XXI
Líder(es) do grupo: Claudia Irene de Quadros e Álvaro Nunes Larangeira
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Conselho de Pesquisa e Extensão Unidade: MDCL
O grupo de pesquisa JOR XXI tem o objetivo de estudar as transformações do jornalismo do Século XXI, com
ênfase em três vertentes: o que é notícia?, práticas produtivas e convergência dos meios de comunicação (jornais,
revistas, rádio, televisão, internet e outros sistemas emergentes) O grupo JOR XXI reúne pesquisadores que
atuam no Programa do Mestrado em Comunicação Linguagens e na graduação em Jornalismo da Universidade
Tuiuti do Paraná. Por estar vinculado ao único mestrado em Comunicação em Curitiba, o JORXXI também
procura agregar investigadores de outras instituições do Estado que mantém a graduação em jornalismo.
O grupo desenvolve diversas atividades, como seminários, palestras e artigos para publicações nacionais e
internacionais, consultorias e extensões, com o intuito de avançar nos estudos da área e promover o intercâmbio
entre os pesquisadores (doutores, mestres, mestrandos e estudantes de graduação). Em 2008, a Capes aprovou
o projeto O Ensino do Jornalismo Digital na Era da Convergência Tecnológica por meio do Procad. Alunos
vinculados ao JOR XXI farão mestrados sanduíches nas universidades (UFSC, USP e UFBA) que desenvolvem
o projeto. Claudia Quadros, uma das líderes do grupo, está na coordenação local do referido projeto. Álvaro
Larangeira, outro líder do grupo, recebeu a bolsa produtividade do CNPq e fará no primeiro semestre de 2009
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
o pós-doutorado na Universidade de Coimbra. Neste primeiro semestre de 2009, o grupo vai contar com a
participação de Kati Caetano, uma das fundadoras do Programa de Mestrado em Comunicação e Linguagens.
Com pós-doutorado na França, ela tem realizado pesquisas e publicado artigos sobre a imagem jornalística e
documental em periódicos nacionais e internacionais. Os trabalhos do grupo de pesquisa são apresentados em
diversos congressos dentro e fora do país.
Pesquisadores Álvaro Nunes Larangeira - líder | Kati Eliana Caetano | Claudia Irene de Quadros - líder | Maria Lúcia Becker
Estudantes
Ana Cristina Araujo Bostelmam | Fernanda Carraro Dal-Vitt | Carla Candida Rizzotto | Luiz Witiuk | Cora
Catalina Gaete Quinteros | Marielle Sandalovski Santos
Linhas de pesquisa · Estratégias midiáticas e práticas comunicacionais
Grupo de Pesquisa
Comunicação, Imagem e Contemporaneidade
Líder(es) do grupo: Denize Correa Araujo
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Comunicação
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciencias Sociais Aplicadas
Unidade: Mestrado Em Comunicação e Linguagens
Home page: http://www.utp.br/mcl
Registrado no CNPq em 2001, o GP Comunicação, Imagem e Contemporaneidade tem por objetivo estudar as
teorias da imagem e sua integração em práticas analíticas de objetos em mídias diversas que privilegiem imagens
contemporâneas. Serão enfatizados, entre outros, processos digitais e conceitos de hibridação, simulação e
manipulação de imagens. Considerando as interfaces entre as diversas mídias, nosso corpus de pesquisa tenciona
provocar reflexão não só sobre técnicas de sedução e subjetividade resultantes das novas tecnologias ou por
elas produzidas, mas também sobre imagens da atualidade veiculadas em programas televisivos, em outdoors,
em filmes e em mídias alternativas que empreguem recursos estéticos em seu fazer comunicativo. Nossa meta
em 2008 é produzir uma publicação conjunta com outros GPs da Compós que estudem a imagem, reunindo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
artigos de diferentes IES, tentando convergências que podem proporcionar mais temas, incentivando pesquisas
na área. Como metodologia, faremos um encontro mensal com leituras prévias, para discussão dos conceitos
teóricos aplicados ao estudo de imagens selecionadas. Um filme por mês será analisado. Buscaremos sugerir
temas a serem selecionados para as publicações do segundo semestre.
Pesquisadores
Cristiane do Rocio Wosniak | Décio Pignatari | Denise Azevedo Duarte Guimarães | Denize Correa Araujo
- líder | Fernando Torres Andacht | Huilton Luiz Silva Lisboa - Tom Lisboa | Luciana Martha Silveira | Luiz
Antonio Zahdi Salgado | Rubens Cesar Stier Portella | Sandra Fischer
Estudantes
Alessandra Torres Bittencourt | Fabiana Rodrigues | Jhelson Nunes Holthausen | Fabio Henrique Feltrin |
Giovana Santana Carlos | Maria Cristina Mendes | Maria Elisa Sokoloski | Michelle Cristina Takashima de
Paula Castro Walter
Linhas de pesquisa
. Estudo de cinema
Grupo de Pesquisa
Sustentabilidade Ambiental, Social e Econômica nas Organizações
Líder(es) do grupo: Mario Sergio Cunha Alencastro
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Administração
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Socias Aplicadas
Unidade: Curso de Bacharelado em Administração
O presente grupo de pesquisa é formado por pesquisadores oriundos de diversas áreas do conhecimento,
representando o enfoque multidisciplinar almejado nas pesquisas a serem desenvolvidas. Pretende ser um
laboratório para que se desenvolvam atividades de pesquisa, ensino e extensão, no sentido de produzir
conhecimentos e promover atividades no campo da sustentabilidade organizacional. As ações de pesquisa e outras
atividades a serem desenvolvidas pelo grupo estão focadas na compreensão e aplicações da sustentabilidade e
seus desdobramentos nas questões econômicas, sociais e ambientais das organizações.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Grupos de Pesquisa
Pesquisadores Cleide Meirelles Esteves Piragis | Cora Catalina Gaete Quinteros | Janiffer Tammy Gusso Zarpelon | Mario
Sergio Cunha Alencastro - líder | Viviane da Costa Freitag | Wilson Mendes do Valle
Linhas de pesquisa · Gestão Socioambiental Estratégica
Grupo de Pesquisa
Empreendedorismo, Gestão e Desenvolvimento de Micro, Pequena e Média Empresas
Líder(es) do grupo: Norberto Fernando Kuchenbecker
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Administração
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Unidade: Curso de Administração
As ações de pesquisa e outras atividades a serem desenvolvidas pelo grupo estão focadas nas seguintes temáticas:
planejamento estratégico; a organização interna; redes de empresas; conteúdo e processos estratégicos;
formulação, implementação e avaliação de estratégias; estratégia, ambiente e competitividade; relações e impacto
da estratégia sobre processos e dimensões da organização, a estrutura de governança em pequenas e médias
empresas e seu impacto no crescimento e desenvolvimento das organizações. Também abrange os diversos
temas relacionados ao empreendedorismo, ao comportamento empreendedor de pessoas, grupos e organizações.
Engloba o papel que o empreendedor desempenha nas organizações privadas e públicas, assim como do terceiro
setor e na sociedade como um todo.
Pesquisadores Clelia Aparecida de Melo Pesqueira | Marisa Bernadino Albuquerque | Elizabeth Macuco Zanetti Rodrigues |
Norberto Fernando Kuchenbecker - líder | Glaison Jose Citadin | Osnir José Jugler | Marco Aurélio de França
| Patrícia Bellotti Carvalho | Marilene Zazula Beatriz
Linhas de pesquisa · Governança Corporativa de Micro, Pequena e Média Empresas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
Grupos de Pesquisa
FACJUR - FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
Grupo de Pesquisa
Constituição, Tributos, Processo e Cidadania
Líder(es) do grupo: Francisco Pinto Rabello Filho
Área predominante: Ciências Sociais Aplicadas; Direito
Instituição: Universidade Tuiuti do Paraná - UTP
Órgão: PROPPE - Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Unidade: Faculdade de Ciências Jurídicas
As pesquisas desenvolvidas não somente buscarão despertar nos alunos esse espírito, como buscarão enfatizar a
função social do Direito e de seu operador, em ordem a atender às necessidades da vida hodierna. Preocupado
com os aspectos centrais teóricos das pesquisas empreendidas, do mesmo passo buscará o Grupo, sempre, a
realização prática, no mundo fenomênico, dos estudos realizados, buscando atender aos reclamos da sociedade.
Assim é que os resultados poderão ser convertidos em publicações (relatórios, artigos, livros etc.), o que
permitirá a difusão do pensamento científico mais atualizado com relação aos temas investigados. A melhoria
progressiva da qualidade do corpo discente entregue ao mercado, o constante aprimoramento e atualização do
corpo docente, assim com a produção científica enfeixam o leque de objetivos perseguidos pela Faculdade de
Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, com o que o presente Grupo de Pesquisa almeja contribuir
Recursos humanos.
Pesquisadores Alvaro Augusto Cassetari | André Luiz Bäuml Tesser | André Peixoto de Souza | Danielli Weber Santos |
Francisco Pinto Rabello Filho - líder | Luiz Rodrigues Wambier | Nilza Machado de Oliveira Souza | Paulo
Roberto de Souza | Pericles Coelho | Sérgio Augusto Fagundes
Estudantes Aline Eloisa de Almeida | Fernando Valente Costacurta | Juliana de Lima Villa | Manuella Bastos Cercal |
Maria Antônia de Souza | Maria Augusta Zardo Pinto Rabello | Natássia Emely Pereira Procópio | Vania
Regina Zardo Pinto Rabello | Wanessa dos Reis Schuenck | Wilson da Luz Raposo
Técnicos
Dirlene Viensci - Graduação - Oficial de Apoio à Pesquisa Científica
Linhas de pesquisa · Tutela dos direitos fundamentais em matéria tributária
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 19-53, Curitiba, 2009.
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Resumos de Pesquisa
Ciências Biológicas e da Saúde
Pesquisa
A ESCRITA DE NARRATIVA S AUTOBIOGRÁFICA S NO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO
Regina Celebrone Lourenço
Giselle Massi
INTRODUÇÃO: A população idosa no Brasil e no mundo vem crescendo exponencialmente nos últimos
anos. As estatísticas apontam que já há uma mudança no perfil etário da população brasileira, caracterizada
por um aumento de idosos e declínio nos nascimentos. Segundo Kalache (2006), em 2025, a expectativa é
de que no Brasil seja de 32 milhões o número de indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos e de 1,2
bilhões no mundo, sendo que três quartos deles estarão em países em desenvolvimento. Esse número de idosos
corresponderá a 15% da população aproximadamente. Para Papaléo Neto (2007), é possível afirmar que o
século XX anunciou uma verdadeira revolução mundial na longevidade, a qual deve tornar-se ainda maior no
século XXI. Assim, é possível considerar que o envelhecimento populacional é um fato inevitável, o que aponta
para a necessidade de a sociedade ocupar-se com o processo de envelhecimento para tornar-se capaz de criar
alternativas de viabilizar saúde, dignidade e autonomia aos idosos. Uma vez constatado o lugar de relevância e
projeção social que os idosos assumem em nossa sociedade, urge a transformação dos valores sociais e pessoais
em relação à velhice. Nas palavras de Massi (2008), esta sociedade deve envolver-se com a criação de propostas
e intervenções que possam tornar o processo de envelhecimento autônomo e criativo. Como iniciativa da
sociedade brasileira de assegurar direitos sociais e promover políticas públicas que criem condições de o idoso
desenvolver autonomia, integração e participação ativa na sociedade, surgem estatutos e políticas públicas.
Nos anos 90, são criados no Brasil o Estatuto do Idoso e a Política Nacional do Idoso (PNI), Lei nº 8842. A
implementação de políticas públicas voltadas a esse segmento da sociedade brasileira denota uma preocupação,
por parte de agências governamentais, com a implementação de programas vinculados ao lazer, à cultura e
à educação, além daqueles relacionados à saúde, ao trabalho e à assistência dessa população. Em termos de
políticas públicas que se preocupam com o desenvolvimento de programas direcionados aos idosos relacionados
à promoção da saúde, podemos citar as iniciativas das áreas biológicas com a proposta de tratar do orgânico
do idoso, do controle das doenças relacionadas ao envelhecimento. A medicina primordialmente se ocupa da
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
qualidade do corpo físico que envelhece. Avança cada
dia em suas pesquisas no afã de dominar os desgastes
do corpo biológico, desenvolvendo medicamentos
que controlem e retardem o envelhecimento do corpo.
Contudo, tendo em vista o crescimento da longevidade
humana, não basta que o número de velhos se eleve.
Além do aumento cronológico dos anos, é preciso
considerar a qualidade e a autonomia que o idoso terá
frente a essa sobrevida que lhe está sendo concedida
pela ciência a partir dos avanços tecnológicos da
medicina. Interrogamo-nos a respeito do que os
idosos farão com os anos a mais de vida, se suas
vivências e experiências nesses anos que receberam
por acréscimo são significativas e prazerosas. Parecenos que, sem a consideração dos aspectos subjetivos
do envelhecimento, esse processo pode trazer sérias
dificuldades para a sociedade, para a família e, sobretudo,
para o próprio sujeito. Nosso trabalho está direcionado
ao enfoque do envelhecimento por uma dimensão da
subjetividade humana e não apenas para a cronologia
dos anos de vida acrescentados. Tempo lógico, como
define Lacan (1998), e não cronológico, ou seja, o que
representa para o idoso o tempo e suas experiências
vividas através dele. Nessa direção, tomamos como
pressupostos teóricos desta pesquisa a perspectiva de
linguagem como trabalho social e histórico, constitutiva
do sujeito, conforme Mikhail Bakhtin (1992), bem
como de teóricos da psicanálise freudiana, por serem
perspectivas teóricas que contemplam a subjetividade.
Como exemplos de teóricos freudianos, citamos Lacan
(1998), Goldfarb (1997), Mucida (2006), Dolto (1991),
Jerusalinsky (2001), Roudinesco (2000), Rosa (2004)
e Soares (2004). Como exemplos de pesquisadores
que tomam a linguagem como atividade constitutiva
por uma perspectiva bakhtiniana, citamos Gamburgo
(2006), Faraco (2003), Massi (2008), Geraldi (1995),
Brait (1996), Tezza (1996), dentre outros. Partindo
desses referenciais teóricos, o nosso objetivo, neste
trabalho, é analisar o relato de oito idosos com idades
entre 60 e 82 anos que participaram durante o ano de
2007 da Oficina da Linguagem. Pretendemos perceber
os sentidos que eles atribuem à experiência de escrever
parte das histórias da própria vida. Esses oito idosos
desenvolveram atividades relacionadas à leitura e à
escrita, sendo orientados pela professora Giselle Massi
e por uma psicóloga, autora dessa pesquisa. Ao final
do trabalho, que ocorreu semanalmente durante nove
meses, em encontros de uma hora e meia cada, foi
organizado um livro com as narrativas de cada um dos
participantes. Esse livro, intitulado “Nossas músicas,
nossas vidas”. Esse livro foi editado e publicado no início
de 2008. Assim, pretendemos, neste estudo, focar nossa
atenção no papel que a escrita de parte da história de
vida pode assumir no processo de envelhecimento, como
uma alternativa para atender às demandas da população
que envelhece, aos aspectos subjetivos que o estatuto
do idoso e as políticas públicas buscam contemplar
ao apontar para a necessidade do desenvolvimento
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Pesquisa
da autonomia do idoso, uma vez que defendemos o
exercício de práticas orais e escritas como forma de
atender às demandas da sociedade envelhescente.
DESENVOLVIMENTO: Para dar conta do objetivo
deste trabalho, que é analisar os sentidos atribuídos
pelos idosos à escrita de narrativas autobiográficas,
optamos pela pesquisa qualitativa de coleta de dados
com entrevistas semiestruturadas, aprovada pelo
comitê de ética da Universidade Tuiuti do Paraná sob
o número 102/2008. A fim de orientar nosso diálogo
com os idosos, organizamos uma entrevista com 20
questões, das quais 6 são fechadas, por se tratarem da
caracterização dos sujeitos, e 14 semiabertas, que tiveram
por objetivo instigar cada sujeito a narrar os sentidos
que assumiram para eles a escrita do livro ”Nossas
músicas, nossas vidas”. Os dados que utilizamos foram
transcritos das entrevistas gravadas, realizadas com os
idosos individualmente na unidade de saúde da Praça
Ouvidor Pardinho. As entrevistas, após degravadas,
foram revisadas e aprovadas pelos entrevistados. A
Oficina da Linguagem acontece na Unidade de Saúde
da Praça Ouvidor Pardinho, que é um centro de
referência no atendimento ao idoso no Paraná. Essa
Oficina está vinculada ao Mestrado e Doutorado em
Distúrbios da Comunicação da Universidade Tuiuti do
Paraná, mais especificamente ao Núcleo de Estudos
“Linguagem e Envelhecimento”. A Oficina foi
idealizada e é coordenada pela fonoaudióloga Profª.
Drª. Giselle Massi. Com relação aos resultados, deste
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
estudo, convém ressaltar que, no momento em que os
idosos chegaram à Oficina da Linguagem, no início de
2007, não apostavam que seriam capazes de escrever
narrativas de histórias de vida. Declaravam que não
sabiam ler bem e que não sabiam escrever. Afirmavam
que tinham baixo índice de escolaridade e que escrever
era para quem tinha estudo. A partir desses argumentos,
orientamos os trabalhos na Oficina. Praticamente em
todo o primeiro semestre de 2007, utilizamos textos
para desencadear discussões e diálogos. Os textos
utilizados eram de gêneros diversos: letras de músicas,
poemas, crônicas, reportagens, que abordavam temas
como velhice, ser avô (ó), família, sexualidade, mercado
de trabalho, espiritualidade, entre outros. Enfim,
os membros do grupo tinham a liberdade de trazer
temas que os mobilizassem. A partir da leitura e da
discussão dos textos de seus interesses, as narrativas
se voltaram para a temática das músicas que marcaram
momentos significativos de suas vidas. Essa temática
surgiu no grupo, da iniciativa dos próprios idosos. Os
participantes escreviam, sujeitavam seus escritos a
leituras e releituras das orientadoras e do próprio grupo,
o que os possibilitava estabelecer um novo diálogo
com seus próprios textos. Assim, foram assistindo à
concretização da tessitura de suas histórias escritas.
Escreveram e reescreveram diversas vezes. Deparou-se
com a natureza heteroglóssica e dialógica da linguagem.
Dessa forma, foram dando corpo aos seus textos,
constituindo-se como escritores e autores, tornando-se,
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Resumos
protagonistas de suas histórias de vida. As experiências
dos idosos com a linguagem, que anteriormente à
sua participação na Oficina desqualificavam por se
renderem aos sentidos produzidos pelo discurso social
vigente, passam a ser encarados de outra forma após
um trabalho significativo com a linguagem. Pois, a partir
de tal trabalho, passam a valorizar suas histórias de vida
e suas velhices, desejando, inclusive, imortalizá-las na
forma de registro escrito para as gerações vindouras,
que servirão de guardiãs dessas histórias. O lugar de
escritor lhes confere identidade.
CONCLUSÃO: Podemos concluir, mediante a análise
dos sentidos que os idosos atribuíram à escrita de
narrativas de parte de suas histórias de vida, que a escrita
autobiográfica apresenta-se como uma alternativa para
atender às demandas da população que envelhece. Esta
proposta atende aos aspectos subjetivos que o estatuto
do idoso e as políticas públicas visam contemplar
ao apontar para a necessidade do desenvolvimento
da autonomia do idoso. Confirmamos que a escrita
proporciona autoestima, realização pessoal, bem-estar,
resgata lembranças, imortaliza relatos. As práticas de
linguagem oral, de leitura e de escrita, descritas no
transcorrer deste trabalho, e, sobretudo a escrita do
livro “Nossas músicas, nossas vidas”, na Oficina da
Linguagem da Praça Ouvidor Pardinho na cidade de
Curitiba, são, conforme apontado nas entrevistas dos
sujeitos desta pesquisa, formas privilegiadas de atender
às demandas da sociedade envelhescente, promover a
inclusão social, possibilitar a vivência da cidadania e
oportunizar um envelhecimento dotado de sentido.
Palavras-chave: idoso; velhice; psicanálise; bakhtin;
linguagem; escrita.
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Pesquisa
A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DE ENFERMAGEM PARA O CUIDADO DOMICILIAR
AS PACIENTES MASTECTOMIZADAS COM SISTEMA DE DRENAGEM
Luciana Puchalski Kalinke – UTP
Jane Francisco Costa - Hospital São Vicente
Ana Paula Balbino – UTP
Paula Souza – UTP
Thais Lima - Hospital Erasto Gaertner
Geovana C. Schlickmann Sylvestre - Hospital Erasto Gaertner
INTRODUÇÃO: O carcinoma mamário invasor é a segunda neoplasia mais incidente na população feminina no
Brasil, com cerca de 48.930 casos novos diagnosticados a cada ano, ou seja, a cada 100.000 mulheres teremos 52
casos de câncer de mama no Brasil [1]. A grande maioria das pacientes com este diagnóstico submete-se a abordagem
cirúrgica com comprometimento da axila com finalidade prognóstica. A formação de seroma pós-mastectomia é
a complicação mais comum pós-cirurgia para câncer de mama, podendo trazer complicações para a cicatrização
da ferida operatória, disfunção nos movimentos do ombro e antebraço [2]. O processo de remoção da mama
torna propício ao acúmulo de líquidos, ocorre uma extensa dissecação e vasos linfáticos, que resulta num espaço
morto, nesta área são inseridos os drenos (a vácuo ou de sucção) a sucção constante e suave promove a drenagem
desse sangue e líquido seroso que poderá servir de meio de cultura para bactérias [3]. A possibilidade das pacientes
mastectomizadas irem de alta hospitalar com a drenagem aspirativa, capacitada para a realização do cuidado, irá
ocasionar uma diminuição da formação de seroma e consequentemente a paciente se reabilitará com mais facilidade
e em um tempo mais curto. Estudos relacionados sobre as complicações no pós-operatório de mastectomia
decorrentes da alta precoce indicaram que esta conduta é segura e benéfica para a maioria das pacientes, e pode ser
recomendada quando há suporte domiciliar adequado, boas condições de saúde da paciente e fácil acesso a equipe
de saúde. Cabe ressaltar que nesses estudos é enfatizada a necessidade de que orientações pré-operatórias sejam
fornecidas às pacientes e seus familiares. Desta forma, podemos entender o quanto é importante a participação
do profissional Enfermeiro desde o primeiro momento que o paciente recebe a noticia de que será necessária
uma cirurgia, fazendo com que elas se percebam melhor, participem de modo efetivo na sua melhora, otimizem
o uso de seu potencial, colaborando assim para a sua recuperação. No Hospital Erasto Gaertner as pacientes
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submetidas à mesma técnica cirúrgica, recebem alta
hospitalar, mantendo o sistema de drenagem aspirativa
no domicílio. Observa-se que a utilização desta rotina
diminui o risco de formação de seroma, uma vez que
o sistema de drenagem é retirado somente no primeiro
retorno ambulatorial que será entre o quinto e sétimo
dia pós-cirúrgico. Diante desta realidade, o presente
estudo visa a identificar as principais dificuldades que a
paciente apresenta no domicilio ao manusear o sistema
de drenagem aspirativa.
MATERIAL E MÉTODOS: Trata-se de um estudo
descritivo, prospectivo e quantitativo. As pacientes
foram selecionadas durante os meses de setembro,
outubro e novembro de 2008. Foram incluídas no estudo
todas as pacientes que submetidas à cirurgia de mama
que necessitaram da utilização do dreno aspirativo.
A participação das pacientes ficou condicionada à
sua assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Foram excluídas da pesquisa pacientes
submetidas à cirurgia de mama que não necessitaram
da utilização do dreno aspirativo e pacientes submetidas
apenas a biópsia. A coleta de dados para a pesquisa
ocorreu por meio de entrevista individual com um
instrumento norteador e avaliação clínica do enfermeiro,
no primeiro retorno ambulatorial desta paciente.
RESULTADOS: Durante o período do estudo foram
selecionadas 46 pacientes. No entanto, acompanhou-se
43 pacientes, as outras 3 pacientes foram excluídas do
estudo, devido necessidade de internamento antes do
primeiro retorno ambulatorial. No que diz respeito
ao tipo de cirurgia, foi levantado que 40 pacientes
estavam participando pela primeira vez de um processo
cirúrgico, 3 pacientes já haviam feito algum tipo de
cirurgia na mama, (2 nodulectomia e 1 mastectomia).
Todas as pacientes incluídas no estudo, permaneceram
somente 2 dias internadas. Em relação aos cuidados
domiciliares recebidos antes da cirurgia, 84,4% tinham
sido orientadas no pré-operatório, 11,3% não receberam
nenhum tipo de orientação e 0,5% não lembravam se
havia recebido ou não orientação. Quanto às dificuldades
para manusear o dreno, 61% disseram que não tiveram
dificuldade para manipular e 39% apresentaram
dificuldade para manipular. Entretanto é importante
ressaltar que de todas as pacientes que disseram que
não tiveram dificuldades para manipular, destas, 42%
não manipularam seus drenos e a dificuldade mais
apresentada foi para esvaziar.
DISCUSSÃO: O câncer é reconhecido como uma
doença crônico-degenerativa que atinge milhões de
pessoas em todo o mundo, sendo atualmente a segunda
causa de morte no Brasil e no mundo. O saber de que se
é portador de câncer é, em geral, aterrador, pois, apesar
dos avanços terapêuticos permitindo uma melhoria na
taxa de sobrevida e qualidade de vida, ainda permanece
o estigma de doença incapacitante, mutiladora e mortal.
Dessa forma, fica clara a necessidade e a propriedade
de intervenções de enfermagem que auxiliem as pessoas
no enfrentamento da doença e suas conseqüências,
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Pesquisa
visando à reabilitação e a melhoria da qualidade de
vida [4]. Nossos resultados demonstram que 61% das
pacientes não tiveram dúvidas em relação ao manuseio
do dreno, no entanto destas 42%, não manusearam seu
dreno, quem acabou fazendo este cuidado foram os
familiares, com grande prevalência para as filhas e esposos.
Ressaltamos o quanto é importante incluir a família no
planejamento do cuidado do enfermeiro, em algumas
situações ela será responsável pela prestação do cuidado
ao paciente. Para a prestação de uma assistência mais
qualitativa em oncologia, sugerimos que a enfermagem
enfatize a família como relevante no cuidado, visto que,
no momento de uma doença de caráter maligno como
o câncer, esta também fica afetada em sua integridade,
podendo interferir na promoção de respostas adaptativas
pelo cliente [5]. Em relação às intercorrências apresentadas
em no pós-operatório, observamos que somente um
paciente apresentou quadro de infecção. Entretanto, 35%
apresentaram dificuldades relacionadas ao dreno, com
obstrução e escape de ar, dificuldades comuns de serem
apresentadas e fáceis de serem solucionadas. Ressaltamos
que estas, poderiam ser evitadas se o paciente tivesse mais
conhecimento sobre o manuseio do dreno, e isto pode ser
suprido no período de internamento da paciente, fazendo
com que ela participe do seu auto cuidado. Tanto mulheres
quanto seus familiares consideram as orientações dos
Enfermeiros como muito úteis e eficientes, pois aliviam
a tensão, esclarecem as dúvidas e ajudam o fortalecimento
psicológico, permitindo que as mulheres enfrentem mais
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positivamente as adversidades surgidas com o diagnóstico
da doença e seu tratamento [6]. A orientação realizada no
momento da alta hospitalar ocorreu em 100% das nossas
pacientes. Vale a pena ressaltar que na instituição onde foi
realizada a pesquisa, o serviço de ginecologia e mama,
conta com uma enfermeira especialista em enfermagem
oncológica que faz parte do serviço prestando assistência
principalmente no período pós-operatório, o que
permite atingir 100% das pacientes. Os enfermeiros são
responsáveis pela avaliação dos pacientes durante todo
o processo de tratamento, para o entendimento dos
cuidados a serem realizados por eles, demonstrando que
estes cuidados serão de grande importância para a sua
reabilitação [7].
CONSIDERAÇÕES FINAIS: As doenças crônicas
degenerativas como o câncer em 2020 serão a primeira causa
de morte no mundo. Portanto, devemos estar preparados
para atuar nesta realidade. Pacientes portadores de câncer
estarão cada vez mais presentes nas famílias e no nosso
dia-a-dia, e deverão estar preparados para reabilitar-se e
viver com qualidade de vida. Portanto, considera-se que
a alta precoce seja uma conduta segura e efetiva, porém,
há necessidade de serem implementadas estratégias de
ensino e aprendizagem capazes de instrumentalizar essa
clientela para a realização das práticas do autocuidado no
domicílio.
Palavras-chave: cuidados de enfermagem; câncer;
mastectomia.
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Resumos
REFERÊNCIAS
[1] Nacional Instituto Câncer de. Estimativas 2008 - Incidências de Casos de Câncer no Brasil. INCA Instituto Nacional
do Câncer. 2009 2007.
[2] Panobianco MS, Parra MV, Almeida AM, Prado MAS, Magalhães PAP. Estudo da adesão as estratégias de prevenção e
controle de linfedema em mastectomizadas. Esc Anna Nery Rev Enfermagem. 2009 jan-março;13(1):161-8.
[3] Hernanz F, Regano S, Redondo-Figuero C, Orallo V, Erasun F, Gomez-Fleitas M. Oncoplastic breast-conserving
surgery: analysis of quadrantectomy and immediate reconstruction with latissimus dorsi flap. World journal of surgery.
2007 Oct;31(10):1934-40.
[4] Batalha de Menezes Mde F, Camargo TC, dos Santos Guedes MT, Los de Alcantara LF. Cancer, poverty and human
development: challenges for nursing care in oncology. Revista latino-americana de enfermagem. 2007 Sep-Oct;15 Spec
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[5] Melo EM, Silva RM, Fernandes AFC. O Relacionamento familiar após a mastectomia: um enfoque no modo de
interdependência de Roy. Revista Brasileira de Cancerologia. 2005 11/07/05;51(3):219-25.
[6] Camargo TC, Souza IE. [Care to mastectomized woman: discussing ontic aspects and the ontological dimension in
nurses performance at a Cancer Hospital]. Revista latino-americana de enfermagem. 2003 Sep-Oct;11(5):614-21.
[7] Pompeo DA, Pinto MH, Cesarino CB, Araujo RRDF, Poletti NAA. Nurses’ performance on hospital discharge: patients’
Point of view. Acta Paulista Enfermagem. 2006 03/04/2007;20(3):345-50.
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Pesquisa
A REPRESENTAÇÃO DE UM GRUPO TERAPÊUTICO DE CUIDADORES DE
PACIENTES NEUROLÓGICOS PARA SEUS INTEGRANTES
Francisleine Moleta
Ana Paula Santana
Gisele Senhorini
INTRODUÇÃO: A experiência Clínica com pacientes neurológicos vem nos mostrando que, além do paciente, o
familiar/ cuidador também necessita de atenção e cuidado. A doença, especialmente a doença crônica, é sempre
um acontecimento estressor que produz efeitos no doente e na família. A família ao vivenciar a crise provocada
pela doença experimenta, inicialmente, um desequilíbrio em sua dinâmica e funcionamento. (FONSECA &
PENNA, 2008). O adoecimento de um membro da família promove uma série de mudanças no convívio social,
lingüístico, afetivo, financeiro, dentre outros, pois, ao adoecer, é comum que o sujeito deixe de exercer as funções
que anteriormente desempenhava, fazendo-se necessário que outro membro da família as assuma. Assim, será
preciso que esta família passe por um processo de adaptação, reestruturação e reorganização, momento o qual
freqüentemente ocorrem trocas e inversões de papéis. Apesar de a doença afetar a família como um todo,
normalmente as responsabilidades pelos cuidados recaem sobre um único familiar, o cuidador. Ele tem que
lidar não só com as dificuldades do paciente como a mobilidade, o autocuidado e a dificuldade do sujeito em
expressar aquilo que necessita, mas também com outros fatores possíveis, como déficits cognitivos, depressão,
oscilação de humor, mudanças bruscas de comportamento, mudança na personalidade, alterações da linguagem.
(SANTANA, et. al., 2007) Considerando o exposto, a constituição de grupos terapêuticos, que levem em conta
os sentimentos e dificuldades dos cuidadores, vem suprir a demanda destes familiares que, muitas vezes, se
encontram fragilizados e desorientados, sem saber a quem recorrer. É no contexto do grupo que o cuidador
encontra espaço para expor seus sentimentos. O trabalho coletivo fornece, portanto, condições para que os
participantes se desenvolvam, aprendendo mais sobre eles mesmos e isto se dá através do compartilhamento de
experiências e das trocas estabelecidas neste processo. O grupo se constitui das particularidades e diversidades
de seus participantes, dos diferentes pontos de vistas, expectativas, valores morais, perspectivas, crenças e
princípios, oferecendo aos integrantes um rico espaço de reflexão, troca e aprendizagem.
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OBJETIVO: A presente pesquisa traz como principal
objetivo levantar a representação de um grupo de
cuidadores de pacientes neurológicos para seus
integrantes.
METODOLOGIA: O levantamento dos dados desta
pesquisa foi realizado por meio dos discursos produzidos
por familiares de pacientes com alteração de linguagem,
sendo predominantemente constituído por afásicos, com
um de seus integrantes portador de esclerose múltipla
(déficit cognitivo leve), num contexto de grupo. Este
grupo acontece semanalmente nas dependências da
Universidade Tuiuti do Paraná e está ligado ao Curso
de Fonoaudiologia e aos Programas de Mestrado e
Doutorado em Distúrbios da Comunicação. O grupo
é aberto à comunidade e coordenado, hoje, por uma
psicóloga e uma fonoaudióloga. Os discursos coletados
foram gravados em fita cassete e transcritos na sua
íntegra. O material analisado foi retirado das transcrições
de dez sessões do grupo. Para esta pesquisa foi realizado
um estudo qualitativo, fundamentado no campo teórico
da análise do discurso, com contribuições de autores
embasados na teoria sócio-histórica e psicanálise. O
estudo caracteriza-se como não-linear no sentido em
que trabalha com pequenos grupos, não representativos
de uma sociedade generalizada, mas que podem ser
consideradas exemplares desta comunidade. A análise
dos discursos coletados será fundamentada em uma
abordagem discursiva da linguagem, elegendo para
tanto, a Análise do Discurso Francesa. Segundo Possenti
(2004), esta linha de análise leva em conta que um texto
não possui uma representação exata, um sentido óbvio e
transparente. O sentido se dá nas enunciações, atos que
ocorrem no interior das formações discursivas. Para esse
trabalho, a título de amostragem, retiramos partes de um
episódio do grupo em que os participantes trazem suas
representações acerca do trabalho em grupo. A fim de
preservar a integridade dos participantes serão utilizados
nomes fictícios de Márcia, para a esposa de uma paciente
que apresenta diagnóstico de Esclerose Múltipla com
Déficit Cognitivo leve, Sueli e Tânia, nesta ordem, filha e
esposa de pacientes que sofreram AVC e, como seqüela,
tiveram hemiplegia e afasia. Em função de não haver
um grupo controle com representatividade estatística,
os discursos produzidos por familiares no contexto do
grupo terapêutico possibilitaram a realização da análise e
a formulação de hipóteses abrangentes sobre o conteúdo
dos relatos coletados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Tânia: “É assim, acho
que eu já tinha até falado, eu aprendi, a duras penas, tudo
por mim. Penei, sofri tudo, e tal, mas eu acho que... éééé...
Na necessidade que eu tive, senti que quando se pode
ajudar outras pessoas através de um trabalho desse, eu
acho que é muito importante. Porque a Júlia (participante
do grupo, não presente nesta data), a esposa do seu Carlos
(também afásico) , ela veio, ele tinha recém tido o AVC.
Eu acho que pra ela foi muito importante esse apoio,
ela veio tão desesperada, muito. Assim como a gente se
sentiu também, né. Como eu me senti e outras pessoas.
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Pesquisa
Eu acho que é muito importante isso, eu dou muito
valor”. Sueli: “A gente aprende, ouvindo o caso de um
e de outro, o comportamento que cada pessoa teve. Eu
acho que tudo o que a gente fizer vai ta aprendendo, um
pouquinho com um”...
Tânia: “É, um pouquinho com outro”. Sueli: “Não só
com um caso, mas com outras pessoas também. Eu
acho que tudo que a gente aprende, eu acho que tudo é
valido”. Márcia: “No grupo você começa a conhecer os
problemas dos outros e aí você vê, até compara um pouco
com a tua dor, teu sofrimento, da tua, ééé... Você tá num
túnel sem saída, né”... Tânia: “Ah, isso é mesmo”. Márcia:
“Você se abre um pouco e apesar das doenças serem
diferentes, tem sempre umas experiência que pode te
ajudar dentro do teu problema. É diferente do individual.
O individual é você”. Tânia: “É pra pessoa só”.
Márcia: “É, não só, porque você também leva isso pra
casa, pra família, mas aqui você tem essa visão mais
geral, você vê o outro, cada caso e de repente a dor é a
mesma”. Márcia: “Eu fiz psicoterapia também, há muitos
anos atrás, depois o próprio terapeuta achou que seria
bom fazer em grupo, para o meu caso na época. É assim
uma outra dinâmica, né, e a gente aprende uns com os
outros”. Com base nos relatos expostos observa-se que,
ao falar da representação do grupo, as participantes se
identificam entre si, sendo que em seus discursos uma
complementa a fala da outra. Evidencia-se também,
que a representação ou imagem associada ao grupo
de cuidadores está fortemente enraizada nas trocas de
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experiências, na possibilidade de identificação com os
sentimentos uns dos outros, na aprendizagem pelas
situações vivencias, bem como na percepção de que o
grupo constitui-se em um ambiente seguro, propício para
a exposição de sentimentos, acolhimento e apoio mútuo.
A diferenciação entre o acompanhamento individual e o
trabalho em grupo, bem como sua importância e valor
também são pontuados pelos participantes da pesquisa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Com base na
representação do grupo terapêutico de cuidadores
trazida por seus participantes, conclui-se que o trabalho
coletivo faz-se de extrema importância, visto o constante
sofrimento trazido pelos familiares no momento do
adoecimento de um membro da família. Neste sentido,
os grupos terapêutico com cuidadores de pacientes,
neurologicamente afetados, além de oportunizarem o
compartilhamento social também propiciam um lugar de
escuta, acolhimento mútuo e aprendizagem ao familiar
que se encontra em constante sofrimento. O trabalho
coletivo fornece, portanto, um espaço importante
para que os cuidadores possam expressar suas dores,
dificuldades, angústias, queixas, dúvidas, medos, fantasias
e demais sentimentos, oportunizando condições para o
compartilhar desses sentimentos, favorecendo as trocas
de experiências e a internalização de novas estratégias de
enfrentamento.
Palavras-chave: grupo terapêutico; família; cuidador de
pacientes neurológicos.
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Resumos
REFERÊNCIAS
FONSECA, N. R.; PENNA, A. F. G. Perfil do cuidador familiar do paciente com seqüela de acidente vascular
encefálico. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, n. 13 (4), p. 1175 – 1180, 2008. Disponível em: <http://www.
observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br>. Acesso em 08 set. 2008.
POSSENTI, S. Teoria do Discurso: um caso de múltiplas rupturas. In: MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. (org.). Introdução
à lingüística: fundamentos epistemológicos, vol.3. São Paulo: Cortez, 2004. p. 353-392.
SANTANA, A. P.; DIAS, F.; SERRATTO, M. R. F. O afásico e seu cuidador: discussoes sobre um grupo de familiares.
In: SANTANA, A. P.; BERBERIAN, A. P; GUARINELLO, A. C.; MAÍZ, G. Abordagens Grupais em Fonoaudiologia:
Contexto e Aplicações. São Paulo: Plexus, 2007. p. 11-38.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
A VIDA CONCRETA DA PALAVRA - INFLUÊNCIA E IMPLICAÇÃO DAS AÇÕES DE
LINGUAGEM – DE MÃES DE CRIANÇAS SURDAS (COM IMPLANTE COCLEAR)
Roseli Paciornik
INTRODUÇÃO/ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: Ressalta-se a importância que é para uma
criança alcançar o seu aprendizado, no qual é essencial a relação com a aquisição da língua materna. Esta é
inseparável da constituição do sujeito, pois o uso da própria linguagem, por ela e nela em suas interrelações
humanas e em seus discursos é que deverão desabrochar neste novo ser. Nestes termos, são estas informações
que chegam através dos sentidos para este novo ser, que fundam a construção da linguagem interna, da visão
de mundo e da forma de pensar e agir, podendo auxiliar sobre a compreensão das emoções e de uma visão
mais profunda de vida; por isto estando indelevelmente conectadas aos momentos vividos em suas relações
familiares e sociais, iniciadas desde a infância. Portanto, para a construção desta auto-identidade do eu como
constituição de sujeito da linguagem, o acesso a esta linguagem é fundamental. Neste caso, a ausência da audição,
por ser um dos sentidos mais requisitados no mundo dos ouvintes, limita a possibilidade de aquisição de
conhecimentos transmitidos, prejudicando o desenvolvimento do raciocínio abstrato, já que haverá dificuldades
em formar conceitos simbólicos que não necessitem da exploração concreta dos objetos. Portanto, a descoberta
do nascimento de um bebe surdo numa família de ouvintes, pode ser um destes acontecimentos inesperados
que põem à prova sistemas consagrados de interação familiar. Uma comunicação que até então tinha sido um
dos pilares da linguagem (por privilegiar a audição) os sentidos utilizados como signos já pré-estabelecidos de
interação serão de alguma forma ameaçados, pois um uso da linguagem que até então parecia ser satisfatória
para uma comunicação das relações provará ser uma fonte de amargura e incomunicabilidade. Ora, uma vez
que a família é o primeiro núcleo social a ser intensamente “perturbado” com este acontecimento, será justamente
onde surgirão os primeiros conflitos de relação com a criança. É provável que o momento da descoberta desta
deficiência, cause um choque que perdurará por dias, meses e até anos. Desta forma, uma reação prolongada
ao estresse pode surgir. Embora, nas sociedades primitivas, os agentes estressores que desencadeavam esta
avaliação eram de conotação prioritariamente física diante de uma ameaça real à vida, pois colocava o indivíduo
em perigo, atualmente o estresse pode ser compreendido como uma reação particular entre a pessoa e o ambiente,
no qual a pessoa avalia as demandas como excedendo seus recursos. Embora intangíveis e abstratos, os problemas
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Resumos
sentidos como “perigos à sobrevivência” podem surgir
da percepção subjetiva pela qual esta pessoa antecipa
os eventos ou reage ao presente com interpretações
agrilhoadas ao passado. (Moreira, 2003). O estresse,
portanto, é uma comunicação do corpo com o ato da
linguagem que se comunica com as emoções e com o
ser-no-mundo. Surge de modo singular e individual,
uma vez que está sujeito ao modo único de percepção
da vida. Este momento é inalienável da sensibilidade
afetiva frente às várias demandas, desde a valorização
do passado ou às expectativas sobre o futuro, bem
como a ansiedade frente aos discursos sociais, tais
como: a competitividade profissional, a sobrevivência
econômica, a segurança social. Nas palavras de Bakhtin,
trazidas por Ponzio (2008, 23), “nossas palavras são
sempre em parte dos demais”. Já estão configuradas
com intenções alheias. Por esta razão, todos os
discursos interiores, isto é, cada um dos nossos
pensamentos, são inevitavelmente dialógicos: validados
por nós, uma vez que nos identificamos com ele, em
todos os níveis, consagrado-o em nossos próprios
enunciados. Cada um de nós dialoga a partir de uma
visão subjetiva da vida, cada qual em sua época, lugar
ou cultura, na qual somos todos permeados por
múltiplas vozes que nos constituem pelo discurso do
outro, aquele outro social, que por fazer parte da nossa
vida, passará pela linguagem e por ela será constituída
e na medida em que nós possamos viver sensações de
ameaças, sejam elas reais, imaginárias ou fantasiosas,
assim é que será percebida. Desta forma, a linguagem
pressupõe enunciados que vêm por meio de palavras,
cada uma subentende um percurso interpretativo do
ouvinte, que não pressupõe necessariamente a mesma
rota intencional do locutor (Faraco, 1996). Pelo seu
contínuo deslocamento, pode assumir uma interpretação
singular, histórica, aberta, sem acabamento, que lhe
confere um significado a cada contexto e para cada
sujeito naquele momento. Bakhtin ao primar pela vida
da palavra, na sua esfera da relação dialógica, na “vida
autêntica da palavra”, escreve que “a palavra não é um
objeto, mas um meio constantemente ativo,
constantemente mutável de comunicação dialógica. Ela
nunca basta a uma consciência, a uma voz” (Bakhtin,
2008, 232). Portanto, a palavra representa a realidade
a partir de um contexto situacional dado e determinado
por uma posição. Ela incorpora em si um ponto de
vista obrigatoriamente valorativo, e por não gerar um
único processo interpretativo, e não se presta a uma
pura repetição de algo que possua tradução literal ou
única, como um código preestabelecido. Portanto, a
linguagem aqui compreendida (não somente como uma
comunicação), porém como “ação humana”, da ação
sobre o mundo, de forma que a linguagem organiza,
interpreta, representa, influencia, transforma, configura,
etc. Esta relação dialética com os eventos da vida, na
interioridade-exterioridade, faz com que a linguagem
encontre na significação, sua função precípua, além de
signo, ela é ação e trabalho coletivo dos falantes, e não
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
somente um intermediário entre nosso pensamento e
o mundo” (Morato, 2004). Nestes termos, a concepção
bakhtiniana de mundo, que visa à compreensão da
subjetividade e da linguagem, por ser não-dicotômica
descortina um enfrentamento consciente sobre o
estatuto da linguagem como concepção científica, ao
questionar as lingüísticas proferidas. (Bakhtin/
Voloshinov, 1992). Significa ir além de uma visão
acabada, imutável e repetível sobre a natureza humana
(Faraco, 1996), portanto, impossível considerar a
palavra como um estatuto independente do contexto
ideológico e vivencial dos interlocutores, visto que ela
não se divorcia da atividade “falante – ouvinte”. Esta
questão é essencial em Bakhtin, que pontua como
ponto fundamental, a inseparabilidade entre “sujeito/
palavra / contexto/ ouvinte”, sob pena de lhe retirarem
a dimensão sígnica. (Bakhtin, 2006) Este projeto de
pesquisa, ainda em fase de análise, tem pó objetivo
observar as histórias de vida de mães que descobrem
que seu filho é surdo e compreender as implicações e
a influência das ações da linguagem sobre as suas vidas.
Neste sentido, o objetivo passa a ser observar e
compreender as narrativas destas mães pela linguagem
sobre as emoções, valores e crenças pessoais. Para tanto,
utilizei-me da metodologia de pesquisa qualitativa que
abrange duas concepções. Primeiro, traz um
componente discursivo nas narrativas entre as histórias
de vida e a vida, oferecendo uma ruptura com o
pensamento positivista, o empírico e o estruturalista,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
uma vez que a essência se delineia numa dinâmica que
ultrapassa aquela da tradição de medir o resultado a
partir de um indivíduo como ser isolado, mas sim,
propõe uma individualidade que considera a situação
pela evolução, com o intuito de compreender o Homem
(Turato, 2003). Segundo, por seu cunho sócio-histórico,
vai ainda mais além, entendendo a atividade do
pesquisador como transformadora, uma vez que
reconstrói a história e a faz num processo de interação,
profundidade e penetração, na qual a ênfase da atividade
do pesquisador é ser um dos principais instrumentos
da pesquisa, construindo a partir do seu lugar sóciohistórico as relações intersubjetivas que estabelece entre
os sujeitos, (Feitas, 2003). Sugiro, portanto, a abordagem
da perspectiva discursiva, dialógica e polifônica, na qual
a interação verbal constitutiva do sujeito é uma
diferente forma de construir um objeto científico
(Freitas, 2003). Este, não se dá pela operacionalização
de variáveis pré-estabelecidas, mas sim, se orienta para
a compreensão dos fenômenos humanos. Portanto,
aqui o objeto será compreendido como um enunciado
vivo, o qual considera a pessoa investigada um “sujeito
da pesquisa”, uma vez que pressupõe a cada pergunta,
a riqueza da atitude responsiva, na qual a pessoa
investigada transforma-se de ouvinte em locutora,
como sujeito da linguagem, que dentro de seu contexto
coloca a sua capacidade de construir um conhecimento,
o que a torna uma co-participante do processo (Freitas,
2003). A partir dessas considerações foram feitas quatro
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70
Resumos
entrevistas semi-estruturadas com duas mães de
crianças surdas, com filhos de seis a sete anos, que
optaram pelo implante coclear como alternativa para
seus filhos. As perguntas focaram em torno das relações
de sentido entre as experiências vividas, privilegiando
os episódios referentes ao seu dia-a-dia, o contexto
familiar, o momento da descoberta da surdez, o estresse
no cotidiano, a escolha da modalidade da língua usada
com o filho, a escola e histórias relevantes sobre a sua
própria infância que pudessem se relacionar com as
suas passagens como mãe. Até o momento, analisando
o material coletado, vislumbramos particularidades
significativas entre as duas mães investigadas. Escolhas
expressivas como a modalidade da língua usada em
casa com o filho (oral ou libras), a escola, bem como
todo o acompanhamento subseqüente, foram
particularmente diferentes e encontrando soluções
outras, que fica claro, estarem privilegiando os valores
pessoais e a história da família, pois distintas percepções
da vida podem significar em interpretações singulares.
Assim, percebemos que ao se conectarem essas
histórias pessoais, que dão sentido e significado aos
episódios da vida, elas resultarão em diferentes matrizes
axiológicas que conseqüentemente levarão a diferentes
formas de agir sobre a vida.
Palavras-chave: surdez; linguagem; sócio-histórico;
enunciado; estresse.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. / VOLOSHINOV, V. N. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo, 1992.
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo, 2006.
BAKHTIN, M. Problemas da Poética de Dostoiévski. Forense Universitária, 2008.
FARACO, C. A., TEZZA, C. CASTRO, G. Diálogos com Bakhtin. Curitiba, UFPR, 1996.
FARACO, M. Linguagem & Diálogo as idéias lingüísticas do Círculo de Bakhtin. Curitiba, Criar Edições, 2003
FREITAS, M. T A. A perspectiva sócio-histórica: uma visão humana da construção do conhecimento. In: (org.) FREITAS,
M. T. A., SOUZA, S. J. , KRAMER, S. Ciências humanas e pesquisa – leituras de Mikhail Bakhtin. São Paulo, 2003.
MORATO, E. M. O interacionismo no campo lingüístico. IN: (org.) MUSSALIN, F. BENTES, A. C. Introdução à lingüística
III. São Paulo. Cortez, 2004.
MOREIRA, M. S. Psiconeuroimunologia. Rio de Janeiro. MEDSI, 2003
PONZIO, A. A Revolução Bakhtiniana, São Paulo, Contexto. 2008.
TURATO, E. R. Tratado da metodologia da pesquisa clínico-qualitativa. Construção teórico-epistemológica, discussão
comparada e aplicação nas áreas da saúde e humanas. Petrópolis. Vozes, 2003.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
A VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR CONTRA O IDOSO NA PERSPECTIVA DE
PROFISSIONAIS DE UMA UNIDADE DE SAÚDE
Ana Claudia Nunes de Souza Wanderbroocke- UTP
A violência sempre esteve presente na história da humanidade. Trata-se de um fenômeno complexo que tem
múltiplos significados construídos e sustentados socialmente pelas relações humanas em contextos sóciohistórico-culturais particulares e com múltiplas perspectivas de análise. Considera-se que todo ser humano é
potencialmente agressivo e que a manifestação da violência depende de fatores externos suficientes para
desencadeá-la, ou seja, o ato violento é indissociável de suas circunstâncias e do contexto em que se manifesta.
A OMS (2002) define violência como o uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra
si próprio, contra outra pessoa, contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha a possibilidade de
resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação. Entende-se que nenhum
fator isolado explica a violência, seja de um indivíduo ou de uma sociedade e é sempre entendida como resultado
de uma complexa inter-relação entre fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais, ou seja, a
ocorrência em um destes níveis pode ser o fio condutor para que também se manifeste em outros níveis. A
violência intrafamiliar, a que ocorre entre os parceiros íntimos e entre os membros da família, chama a atenção
por revelar um paradoxo. A família, enquanto unidade social é um espaço que proporciona os primeiros vínculos
afetivos e onde se realizam as aprendizagens sociais básicas. Proporciona aos indivíduos a possibilidade de
crescimento de capacidades, potenciais e habilidades necessárias para a autonomia, como também é um lugar
de sofrimento, arbitrariedade, injustiça, opressão e violência. Ao longo da vida, os laços familiares proporcionam
as experiências mais significativas de afeto e sofrimento (Fuster, 2002). Crianças, mulheres e idosos aparecem
como vítimas mais freqüentes da violência intrafamiliar. A violência perpetrada contra pessoas idosas só
recentemente vem sendo contemplada nas agendas da política e da saúde na maioria dos países. A preocupação
crescente com esta questão aumenta paulatinamente em razão do crescente contingente de idosos na população
mundial. No Brasil, o assunto ganhou maior visibilidade na década de 1990, a partir da promulgação e
regulamentação da Política Nacional do Idoso (1994) e depois com a aprovação do Estatuto do Idoso (2003)
e o Plano de Ação de Enfrentamento da Violência contra a Pessoa Idosa (2005). A violência traz conseqüências
físicas, psicológicas e sociais, imediatas ou latentes, de acordo com a natureza do ato de violência. Mas tanto na
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
teoria quanto na prática a linha divisória entre os tipos
e conseqüências nem sempre é nítida. Para Agudelo
(1990), a violência é uma ameaça ou uma negação das
condições e possibilidades de realização da vida e toda
prática do setor saúde, desde as ações educativas até a
atenção médica, está projetada para alcançar e promover
condições que façam possível a vida das pessoas e dos
grupos sociais. O setor saúde não é o único responsável
por esta questão, mas é ali que as vítimas vão em busca
de auxílio, seja nas unidades de emergência, nos centros
de assistência social, de tratamento especializado e de
reabilitação. Desta forma é que a área de saúde como
um todo, como área de conhecimento e de práticas
específicas, está seriamente implicada no problema da
violência. Minayo (2006) ressalta que o setor saúde é
encarregado de atividades de promoção, prevenção,
dar assistência nas diferentes formas de violência e no
caso dos idosos, além destas ações ainda criar normas
para hospitais, clínicas especiais e instituições de longa
permanência. A magnitude exata deste fenômeno ainda
é uma incógnita já que não existe um registro específico
de ocorrência de violência. Os dados são deduzidos a
partir dos registros de morbidade e mortalidade entre
idosos. Segundo dados do Ministério da Saúde,
violências e acidentes ocupam o sexto lugar como causa
de mortalidade geral dos idosos no Brasil, com o índice
de 2,8% no ano 2000. Os fatores que mais têm pesado
são os acidentes de transportes e as quedas. Os dois
fatores podem ser vistos como uma confluência entre
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
acidente e violência, pois, se por um lado ocorrem pelo
aumento da fragilidade física na velhice, por outro são
fruto do descaso e negligência de cuidadores, instituições
e estado. Quanto à morbidade, no ano de 2004,
registrou-se no Sistema de Informações Hospitalares
do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS), que entre as
internações de idosos, 55,4% se deveram a quedas; 9,9%
a acidentes de trânsito, principalmente atropelamentos;
2,9% a agressões e 0,65% a lesões auto-provocadas.
(Minayo, 2007) A notificação por parte dos profissionais
da saúde passou a ser obrigatória a partir de 2003 com
a aprovação do Estatuto do Idoso, portanto os números
existentes hoje ainda refletem o efeito da subnotificação.
Outra fonte de dados têm sido delegacias especializadas
em proteção ao idoso e serviços de denúncias. Estudos
como o de Chaves & Costa (2003) e de Pasinato,
Camarano & Machado (2006) realizados nestes órgãos
revelam que a maior parte das queixas se deve a maustratos ocorridos nos domicílios, sendo os principais
perpetradores os filhos e cônjuges. A grande maioria
destes serviços existentes no Brasil ainda não registra
seus dados de forma padronizada e não dispõe de
estatística para comparações. Mas o fato é que
confirmam a existência do problema e o colocam como
um problema social. De qualquer maneira, dados
numéricos revelam apenas uma pequena parcela do
problema. Sabe-se que os abusos ocorridos nas famílias
tendem a ser mantidos em segredo. Para os idosos, entre
os motivos para o silêncio, estão presentes o receio de
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Resumos
perder o cuidador, de perder privacidade frente a
possibilidade de exposição pública e intervenção
exterior, de perder as relações familiares e ser colocado
numa instituição, de ser recriminado pelo alegado
abusador, por achar que ninguém vai acreditar no abuso
ou ainda ser indicado como responsável pelo
comportamento abusivo do outro. (Fuster, 2002;
Espíndola & Blay, 2007) De acordo com o Pacto pela
Saúde (Brasil, 2006), a porta de entrada da pessoa idosa
no sistema público de saúde é a Unidade Básica de
Saúde (UBS), via demanda espontânea ou busca ativa,
responsável pelo acompanhamento e planejamento
terapêutico. O primeiro passo para a organização dos
serviços prestados nas UBS é o acolhimento do usuário.
Já no documento que aprova a Política Nacional de
Saúde do Idoso (Brasil, 1999), faz-se especial menção
à consulta geriátrica que deve ser ampla o suficiente
para avaliar questões emocionais e sociais envolvidas
no bem-estar do paciente idoso, que devem ser incluídas
no planejamento terapêutico e contar com a participação
da equipe multiprofissional. Orienta que situação de
maus-tratos quer por parte da família, quer por parte
do cuidador ou mesmo dos profissionais deve ser
sempre observada na relação entre o idoso e os
profissionais de saúde e também que é importante que
o idoso saiba identificar posturas e comportamentos
que significam maus-tratos, bem como fatores de risco
envolvidos. Políticas públicas definidas são de grande
importância para a aproximação do fenômeno, porém
nem sempre refletem o preparo dos profissionais para
executá-las. Sabe-se que as equipes de saúde tendem a
centrar-se muito mais nas queixas orgânicas, mesmo
quando estas apresentam claros indícios de problemas
de ordem psicossocial. Lidar com relações familiares
que envolvem violência pode levantar temores nos
profissionais que não se vêem capacitados para o seu
manejo. Como também, as distinções do que vem a ser
um ato de violência pode ser diferentemente significado
e levar a diferentes formas de agir diante do problema.
Portanto, a presente pesquisa, que está em andamento,
tem por objetivo geral compreender os significados
construídos acerca da violência intrafamiliar contra
idosos pelos profissionais de uma unidade de saúde na
cidade de Curitiba-PR e como objetivos específicos
analisar como o profissional se posiciona e age diante
da possibilidade de ocorrência da violência intrafamiliar
contra os idosos e levantar a participação das políticas
públicas referentes a essa temática no trabalho das
equipes de saúde. A coleta de dados ocorrerá em dois
momentos: observação participante, com registro em
diário de campo e entrevistas semi-estruturadas com
profissionais que atuam na unidade de saúde.
Atualmente a pesquisa encontra-se no primeiro
momento, não dispondo ainda de resultados a serem
apresentados.
Palavras-chave: violência intrafamiliar, idosos,
profissionais de saúde.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AÇÃO CONJUGADA DO RUÍDO E TRABALHO EM TURNO RODIZIANTE E
NOTURNO: EFEITOS EXTRA-AUDITIVOS E AUDITIVOS
Milena Raquel Iantas – UTP
Com o crescente desenvolvimento tecnológico e ampliação de ramos industriais deparamo-nos, no
universo das empresas brasileiras, com a necessidade de se estender processo produtivo para 24 horas.
Em decorrência desta demanda, o trabalhador precisou se adaptar a este ritmo de trabalho, muitas vezes
para garantir seu emprego, mas estando sujeito a sofrer implicações do trabalho em turno: efeitos à saúde,
a sua produtividade, à qualidade de vida e efeitos em sua vida social. Além desse fator, outros riscos
presentes no ambiente de trabalho são potencializados pelo trabalho em turno, entre eles, o ruído. Diante
dos acometimentos ocasionados tanto pelo ruído, como pelo trabalho em turno, esta pesquisa teve como
objetivo analisar o impacto do trabalho em turno noturno na saúde auditiva de trabalhadores expostos ao
ruído; tendo como pressuposto que o trabalho em turno pode causar, em médio prazo, um impacto maior
sobre a audição do trabalhador exposto ao ruído. A hipótese é que tal desgaste fisiológico do trabalho
em turno aumentaria a vulnerabilidade à ação do ruído (impacto na audição), deixando o sistema auditivo
mais sensível ao ruído. Foi realizado estudo em indústrias do interior do Paraná. Realizou-se audiometria
nos funcionários, separados em três grupos: turno administrativo (A), turno rodiziante (R) e noturno
fixo (N), com risco de exposição ao ruído acima de 80 dB, com o intuito foi de estabelecer a existência
de perda auditiva. Para análise dos dados foram relacionados os achados audiológicos, entrelaçados com
levantamento de dados obtidos com um questionário aplicado aos trabalhadores. Resultados: no grupo
R foi encontrada maior freqüência relativa das queixas: zumbido (13.6%) dificuldade de entender fala em
ambiente ruidoso (25.2%), tontura (12.64%), alteração digestiva (26.4%), cefaléia (20.6%) e cansaço (24.1%).
No grupo N as queixas mais com mais freqüência foram tontura (18.75%) e depressão (12.5%). Nestes
grupos também foi encontrado maior porcentagem de trabalhadores com traçados audiométricos sugestivos
de PAIR: R (19.5%) e N (16.5%). As médias e medianas de todos os sistemas de trabalho estão dentro
dos padrões de normalidade. Destacamos que as piores médias e medianas nas freqüências 3kHz, 4kHz,
6kHz e 8kHz, de uma forma geral, são do turno noturno ou rodiziante. Conclusão: O turno rodiziante e
noturno apresentou sintomas auditivos e extra-auditivos em porcentagem maior quando comparado com
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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o turno administrativo, bem como piores médias
e medianas nas freqüências 3kHz, 4kHz e 6kHz.
Estes dados indicam a necessidade da implantação
de um programa de prevenção de perdas auditivas
(PPPA) cujas ações planejadas, contenham um
acompanhamento sistemático da saúde auditiva dos
trabalhadores em turno rodiziante e noturno.
Palavras-chave: efeitos do ruído; perda auditiva
provocada pelo ruído; trabalho em turno.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AÇÕES EDUCATIVAS SOBRE PREVENÇÃO AUDITIVA COM PESCADORES DE
ITAJAÍ
Adriana Betes Heupa
Diolen Conceição Barros Lobato
Fernanda Frosi
Claudia de Oliveira Giglio Gonçalves
Adriana Bender Moreira Lacerda
INTRODUÇÃO: O enorme potencial hídrico e a extensão do litoral do Brasil favorecem o desenvolvimento e
exploração de atividades de pesca e mergulho profissionais, sejam essas de subsistência, comercial, industrial ou
de pesquisa, absorvendo um grande contingente de trabalho do país (FUNDACENTRO, 2005). As condições
de trabalho desses pescadores são duras e difíceis e há falta de assistência em vários níveis, tornando esta
profissão uma das mais perigosas da atualidade (FUNDACENTRO, 2007). Os índices de acidentes de trabalho
e de doenças relacionadas à profissão são elevados, causando morte a muitos trabalhadores e demonstrando
a necessidade de adoção de medidas e ações voltadas para a segurança e a saúde dos trabalhadores das águas
(FUNDACENTRO, 2005). Os pescadores industriais são profissionais que estão expostos a alto nível de pressão
sonora emitido pelos motores das embarcações, e muitas vezes passam semanas em alto mar sem desligar os
motores, pela necessidade de ininterrupção da atividade. Essa exposição contínua ao ruído dos motores pode
trazer conseqüências à audição e à saúde de forma geral destes pescadores. Conforme afirmam Costa, Morata
e Kitamura (2003), o sistema auditivo, durante o trabalho, pode ser atingido por diversos fatores como ruído
intenso e alguns produtos químicos em exposição continuada. A Perda auditiva induzida por ruído ocupacional é
caracterizada como irreversível, progressiva enquanto há a exposição ao ruído e estabiliza-se quando a exposição
ao ruído é eliminada (MORATA, 2001). A PAIR é a doença que mais atinge o sistema auditivo, podendo
provocar lesões irreversíveis do ouvido interno, sendo portanto, extremamente importante a sua prevenção. Sem
dúvida, a perda auditiva é a conseqüência mais imediata causada pela exposição excessiva ao ruído e este risco
da lesão auditiva aumenta com o nível de pressão sonora e com a duração da exposição, mas depende também
das características do ruído e da suscetibilidade individual (GABAS 2004; KÓS e KOS, 1997). Qualquer tipo
de ruído, quando em excesso, é causador de efeitos na saúde do ser humano, na literatura são descritos diversos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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efeitos auditivos e extra-auditivos. Gerges (1992) afirma
que o efeito do ruído em forte intensidade em uma
pessoa não depende somente das características físicas
como amplitude, frequência e duração, mas também
das atitudes da pessoa frente a este ruído. Mas, além
do ruído, esta atividade apresenta outros fatores que
podem causar alterações à audição, como as vibrações
e o monóxido de carbono, tornando esses profissionais
mais vulneráveis aos danos auditivos. O ruído é o
agente físico nocivo mais comum encontrado no
ambiente de trabalho, constitui-se em um importante
agravo à saúde dos trabalhadores em todo o mundo.
(MIRANDA, 1998 e SELIGMAN, 1997) De acordo
com Barbosa (2001), o ruído em excesso tem o poder
de lesar uma considerável extensão das vias auditivas,
desde a membrana timpânica até regiões do sistema
nervoso central. No órgão de Corti ocorrem as
principais alterações responsáveis pela perda auditiva
induzida pelo ruído, pois suas células ciliadas externas
são particularmente sensíveis a altas e prolongadas
pressões sonoras, a chamada “exaustão metabólica”,
com depleção enzimática e energética, e redução do
oxigênio e nutrientes; com a morte celular, o espaço
é preenchido por formações cicatriciais, o que resulta
em déficit permanente da capacidade auditiva. A perda
auditiva induzida por ruído, na grande maioria dos
casos, não ocasiona a incapacidade para o trabalho,
o que determina dificuldades na notificação desse
agravo à saúde do trabalhador no País. Portanto,
as estimativas da prevalência dessa doença, nas
diferentes classes de trabalhadores brasileiros, são
efetuadas, basicamente, por meio de alguns estudos
epidemiológicos (MARTINS et al, 2001; MIRANDA
et al, 1998 e OLIVEIRA et al, 1997). O ruído afeta
o bem estar físico e mental das pessoas, sendo que
diariamente milhares de trabalhadores são expostos a
ele, entre eles estão os pescadores. E esse prejuízo ao
bem estar físico e mental, além da perda de audição, no
que se refere aos prejuízos causados pela exposição a
altos níveis de pressão sonora, podem ocorrer também
os danos extra-auditivos. Russo (1999) coloca as
seguintes alterações: ações no aparelho circulatório,
digestivo e muscular; no metabolismo, sistema nervoso,
interferência no sono, diminui rendimento no trabalho,
distúrbios no equilíbrio, problemas psicológicos,
dores de cabeça, mudanças de humor e ansiedade. A
realização de um Programa de Prevenção de Perdas
auditivas nesta população é de grande importância e
tem a finalidade de prevenir e evitar os prejuízos que o
ruído em elevada intensidade pode causar à saúde. Um
programa de prevenção da perda auditiva tem como
objetivo a redução, e eventualmente eliminação, da
perda auditiva por exposição ao ambiente de trabalho,
para tanto, diversas estratégias de prevenção das Perdas
Auditivas Induzidas por Ruído são propostas, devido
ao risco que o ruído proporciona (NIOSH, 1996).
Segundo Gonçalves (2009), as medidas preventivas
são necessárias para se garantir a capacidade auditiva
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
do trabalhador exposto a níveis elevados de ruído
e/ou outros agentes otoagressivos, evitando-se
problemas relacionados às dificuldades de comunicação
e de segurança do indivíduo, além de evitar os seus
efeitos extra-auditivos relacionados a esses agentes
otoagressivos. Dentre essas medidas preventivas, as
ações educativas são imprescindíveis, com a finalidade
de desenvolverem comportamentos saudáveis
nestes profissionais. A atuação com os pescadores
industriais contempla o desenvolvimento de programas
preventivos voltados a esta população, com ênfase na
promoção da saúde, utilizando-se de atividades de
intervenção em grupos e sobre o ambiente de trabalho,
buscando a efetivação da melhoria das condições
de saúde (CARVALHO et al, 2000). O objetivo da
ação educativa no ambiente de trabalho é, portanto,
conscientizar os pescadores sobre as conseqüências
dos agentes agressivos presentes nos locais de trabalho
na saúde e as medidas preventivas cabíveis. Espera-se
uma mudança de comportamentos através das ações
educativas para que estes trabalhadores assumam a sua
parcela da responsabilidade pela saúde.
OBJETIVO: Conscientizar os trabalhadores da pesca
sobre os riscos da exposição ao ruído e disponibilizar
orientações sobre os cuidados com a audição.
MÉTODO: Foram realizadas palestras abordando o
funcionamento da audição; prejuízos que a exposição
ao ruído em forte intensidade pode causar à audição
e à saúde em geral; cuidados com a audição e entrega
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de protetores auditivos com treinamento para o uso
correto de protetores auditivos. Ao final da palestra
foi aplicado um questionário sobre a percepção dos
pescadores dos efeitos do ruído na audição e na
saúde, sintomas que eles percebem e uso de proteção
auditiva.
RESULTADOS: Participaram da palestra 66 pescadores,
todos do sexo masculino, com idade média de 41,43
anos. Um grande número destes profissionais da pesca
são analfabetos ou completaram apenas o ensino
fundamental. Sendo este um fator de interferência
às respostas de um questionário comum. Com base
nesses dados, o questionário foi elaborado com figuras
e com linguagem simples, para melhor entendimento
por parte destes trabalhadores. No momento de
responder o questionário, as pesquisadoras auxiliaram
no sentido de ler a pergunta com todos e explicar de
que forma deveria ser respondida. Como o número
de pescadores era grande foi inviável a realização
de entrevistas individuais. Nos resultados deste
questionário obtivemos: 78,8% dos pescadores referem
que o ruído de sua embarcação é forte; 74,25% referiu
saber que o ruído causa zumbido, porém apenas 47%
referem ter zumbido; irritação a sons intensos (39,4%);
stress (36,4%); dificuldade para ouvir (19,7%); tontura
(19,7%); cefaléia (42,4%); alterações no sono (43,9%).
Somente 14 pescadores referiram usar algum tipo de
protetor auditivo, porém não especificaram como
o utilizam e referem que nunca haviam recebido
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informações a respeito; os demais não utilizam,
mesmo conhecendo a importância de seu uso para
sua saúde.
CONCLUSÃO: Sendo a perda auditiva por exposição a
níveis elevados de pressão sonora uma lesão irreversível,
é fundamental a investigação e desenvolvimento de
medidas que possam mitigar ou controlar os níveis
sonoros. Os profissionais da pesca industrial são
trabalhadores expostos a riscos graves para a audição
e para a saúde. A necessidade de uma intervenção
a fim de conscientizá-los sobre estes riscos é de
grande importância, além de destacar a importância
do uso adequado dos protetores auditivos. A palestra
realizada foi apenas um impulso para estes profissionais
começarem a pensar um pouco mais na sua própria
saúde. A intervenção coletiva e individual, a longo
prazo, mostra-se eficaz no sentido de que aos poucos
esses pescadores tomam consciência dos prejuízos
a audição e a saúde que seu trabalho oferece e aos
poucos podem tomar atitudes que possam vir mudar
esta realidade. Diante dos efeitos irreversíveis ao
sistema auditivo e outros danos à saúde em geral,
provenientes da exposição a níveis elevados de pressão
sonora, torna-se imprescindível sua redução e controle.
Pretendemos manter essas ações de forma periódica
a fim de se atingir o maior número de profissionais da
pesca, além de gerenciar e acompanhar aqueles que já
passaram pelas ações. Mais estudos devem ser feitos
com o intuito de melhorar o ambiente de trabalho
dessas profissionais, visto que a redução e o controle
da exposição ao ruído pode prevenir a ocorrência da
perda auditiva neurossensorial e proporcionar uma
melhor qualidade de vida aos pescadores. Além do que,
ações de conscientização podem também diminuir as
ocorrências de perda auditiva.
Palavras-chave: educação em saúde; audição; perda
auditiva induzida pelo ruído.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
ADUBAÇÃO NITROGENADA NA FORMAÇÃO DE AMENDOIM FORRAGEIRO
Ana Luisa Palhano Silva
Luiza Prado dos Santos
Ana Paula Cerdeiro
Rosemeire Oberle
A formação e manutenção de sistemas de pastagens produtivos e sustentáveis têm sido alvo constante de estudo
uma vez que podem tornar viáveis economicamente a produção animal, além da agregação de valor dos produtos
oriundos de sistemas mais naturais. O crescimento das plantas forrageiras, bem como o da produção animal a
pasto são, freqüenttemente, limitados pela deficiência de nitrogênio do solo, e se sabe que a fixação bioloógica
do nitrogênio e sua reciclagem (Barcelos e Vilela, 1994) podem constituir-se em uma via biológica e
economicamente viável para intensificar esses parâmetros. Além disso, dados têm apontado que os fertilizantes
inorgânicos dão mais efeito na produção animal por área, devido ao aumento na disponibilidade da forragem,
pouco efeito apresentando sobre a qualidade da mesma (EMBRAPA, 1978). As leguminosas forrageiras têm
sido amplamente estudadas por sua possibilidade de inserir nitrogênio em sistemas de pastagens, via fixação
biológica, em substituição aos fertilizantes inorgânicos, os quais oneram os sistemas produtivos e, em níveis
mais intensivos, podem levar à contaminação ambiental. Porém, para que a simbiose seja instalada satisfatoriamente,
é necessário que boas condições de desenvolvimento inicial sejam permitidas às leguminosas, tais como pH e
níveis adequados de nutrientes. A presença de leguminosas em sistemas de pastagens pode gerar condições
favoráveis à elevação da produtividade das gramíneas associadas, à elevação dos níveis de matéria orgânica dos
solos, além de melhorar a qualidade das dietas dos animais em pastejo (PERIN et al., 2006). O nitrogênio (N)
é um elemento essencial para as plantas e limitante à produtividade agrícola. O grande reservatório de nitrogênio
é representado pelo gás atmosférico (cerca de 80%). Entretanto, as plantas não possuem aparato enzimático
para quebrar a tripla ligação da molécula e utilizá-la como fonte de proteína. A fixação biológica do nitrogênio
(FBN) é um processo biológico de quebra da tripla ligação do N2 através de um complexo enzimático,
denominado nitrogenase. Este processo ocorre no interior de estruturas específicas, denominadas de nódulos,
onde bactérias do gênero Rhizobium, Bradyrhizobium e Azorhizobium (geralmente conhecidas por rizóbios)
convertem o N2 atmosférico em amônia, que é incorporada em diversas formas de N orgânico para a utilização
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
por plantas da família das leguminosas. A principal
vantagem observada nessas condições é do ponto de
vista econômico. No caso da soja, a inoculação das
sementes com a bactéria específica substitui totalmente
a adubação nitrogenada,proporcionando uma economia
para o país de três bilhões de dólares. Outra vantagem
é o total aproveitamento do nitrogênio fixado, não
existindo perdas como podem ocorrer quando se
empregam fertilizantes. Portanto, a FBN é um processo
que não polui o ambiente, enriquece o solo em
nitrogênio e, geralmente, promove um maior
crescimento e desenvolvimento das plantas. Em
condições de campo, a formação de nódulos poderá
ser visualizada a partir da emergência (VE); entretanto,
somente nos estádios de desenvolvimento V2 e V3 é
que a fixação de nitrogênio torna-se mais ativa. Após
isso, o número de nódulos formados e a quantidade
de nitrogênio fixada aumentam aproximadamente até
o estádio R5.5, quando, então, diminui bruscamente.
Para verificação da atividade dos nódulos, estão fixando
nitrogênio ativamente para a planta; deve-se observar
se internamente os mesmos apresentam coloração rosa
ou vermelha, porém, quando se encontram brancos,
marrons ou verdes, provavelmente a fixação de
nitrogênio não está ocorrendo (POTAFOS, 2006). A
aplicação de nitrogênio, concomitantemente com a
inoculação, pode diminuir a eficiência da inoculação,
pois a planta responde ao estímulo da absorção,
limitando o processo simbiótico, o que poderá resultar
na diminuição dos benefícios posteriores ao processo.
Porém, dados de campo indicam que níveis moderados
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de nitrogênio na semeadura podem intensificar o
crescimento inicial da leguminosa, potencializando a
subseqüente fixação biológica de nitrogênio pelas
bactérias. Assim, o presente experimento teve como
principal objetivo verificar os efeitos da presença de
nitrogênio na formação inicial de plantas de amendoim
forrageiro (Arachis pintoi), sob os pontos de vista de
estrutura aérea e radicular das plantas, além das
características gerais dos nódulos das bactérias fixadoras
de nitrogênio. O presente experimento foi desenvolvido
em casa de vegetação instalada no Campus Schaeffer
da Universidade Tuiuti do Paraná, situada no município
de Curitiba, PR. O clima da região é classificado como
temperado tipo Cfb, com a temperatura do mês mais
frio menor que 18°C, mesotérmico. Caracteriza-se por
verões amenos, com temperatura média do mês mais
quente menor que 22°C, sem estação seca definida,
com geadas noturnas freqüentes no inverno, cerca de
dez por mês, o que totaliza 200 horas de frio, com
temperaturas menores que 7°C de maio a agosto. A
precipitação média anual varia de 1400 a 1500 mm,
sendo os meses de abril e maio os mais secos,
apresentando cerca 75 a 100 mm de chuva. A umidade
relativa do ar varia de 80 a 85% e a insolação totaliza,
em média, 1800 horas por ano. O experimento foi
estabelecido com a espécie forrageira amendoim
forrageiro (Arachis pintoi), em vasos de 35X35X50
cm, após calagem e adubação de base com fósforo e
potássio, baseadas em análise do solo. Inicialmente,
foram semeadas seis sementes por vaso e,
posteriormente, foi feito desbaste, deixando as cinco
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Resumos
plantas que apresentaram melhor desenvolvimento. A
implantação das plantas foi atrasada devido às
condições climáticas inadequadas ao plantio do
amendoim forrageiro, espécie tropical que exige
elevadas temperaturas para seu estabelecimento e
desenvolvimento. Quanto à adubação nitrogenada, a
mesma foi conduzida apenas na semeadura nos níveis
0, 50 e 100 kg N/ha na forma de uréia, constituindo-se
dos tratamentos. Durante o desenvolvimento das
plantas foi conduzida irrigação dos vasos, visando
manter o solo à capacidade de campo, procedimento
que foi influenciado pela temperatura e umidade
relativa do ar. Plantas invasoras e eventuais pragas
foram combatidas por meio de arranque manual. A
fase experimental foi atrasada devido às baixas
temperaturas observadas no início da estação de
crescimento, iniciando quando as plantas atingiram,
em média, 8 cm de altura. As avaliações de altura de
plantas foram feitas ainda com as plantas nos vasos e,
para avaliação das raízes e nódulos, as mesmas foram
lavadas sobre duas peneiras, com o cuidado para que
não fossem perdidas partes dos nódulos e das raízes.
Para avaliação das dimensões das folhas, as mesmas
foram coletadas e medidas em laboratório com uso de
uma régua. Para avaliação dos nódulos, estes foram
classificados subjetivamente mediante padrões préestabelecidos. O material coletado foi pesado ainda
verde e, posteriormente, realizada secagem em estufa
de circulação forçada para verificação do teor de
matéria seca de cada fração. O delineamento
experimental proposto foi o inteiramente ao acaso,
com três tratamentos (níveis de N) e sete repetições
(vasos). As médias obtidas foram testadas por meio do
aplicativo ASSISTAT, pelo teste de Duncan, a 5% de
significância. Quando as plantas atingiram a altura
proposta inicialmente, iniciou-se o período de
avaliações. A nodulação das raízes foi afetada
negativamente (P<0,01) pela presença de nitrogênio
mineral no solo, uma vez que, como relatado
anteriormente, a maior disponibilidade desse elemento
induziu as plantas à absorção em detrimento do
estabelecimento do processo simbiótico. Porém, a
alturas das plantas e as produções de massa aérea e de
raízes não foram afetadas pela presença do nitrogênio
mineral (P<0,05), devido provavelmente ao fato da
fixação biológica presente em condições de menor
disponibilidade mineral ter compensado a menor
absorção do elemento. O comprimento de raízes
permaneceu constante (P<0,05), em diferentes níveis
de nitrogênio mineral, acompanhando o comportamento
observado para a massa de raízes.
CONCLUSÕES: A aplicação de nitrogênio mineral,
em níveis reduzidos, não induziu à melhor formação
inicial do amendoim forrageiro, uma vez que limitou
o processo simbiótico sem implicar em incremento
na produção forrageira. Além disso, a aplicação de
nitrogênio mineral comparado à fixação de nitrogênio
atmosférico pode significar maiores custos financeiros
com a formação da cultura.
Palavras-chave: adubação mineral; amendoim forrageiro;
fixação biológica de nitrogênio.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
AFASIA E LETRAMENTO: UM OUTRO OLHAR PARA O PROCESSO TERAPÊUTICO
DE LINGUAGEM ESCRITA
Gisele Senhorini
Ana Paula de Oliveira Santana
Francisleine Moleta
INTRODUÇÃO: Tradicionalmente os estudos sobre as afasias buscam identificar as dificuldades com a linguagem
escrita decorrentes de lesões cerebrais da mesma maneira que se identificam as alterações com a linguagem oral, não
levando em consideração as práticas sociais de escrita do sujeito afásico e o seu contexto significativo. Daí nossa proposta
nesta pesquisa de analisar as contribuições do letramento para o processo terapêutico de linguagem escrita de um
sujeito afásico. Para isso, partirmos de três aspectos fundamentais: (1) a reflexão em torno da relação entre oralidade
e letramento; (2) a consideração da importância dos processos de letramento dos sujeitos, e (3) a consideração das
condições de interação em que ocorrem. Sabendo que a linguagem escrita está sempre alterada nos casos de afasia,
os gêneros textuais produzidos indicam-nos um caminho vantajoso na reabilitação, já que eles estão amplamente
marcados pelos aspectos culturais em que o afásico esta envolvido. Neste trabalho, consideramos o grau de letramento
dos sujeitos afásicos como determinante na maneira como eles lidam com a escrita e o texto escrito. Acreditamos que
este grau de letramento faça diferença na maneira como a linguagem é afetada pelo acometimento neurológico, na
maneira como o sujeito “verá o que não estava lá após o episódio neurológico. Letramento é entendido aqui, segundo
Signorini (2001), como um “conjunto de práticas de comunicação social relacionadas ao uso de materiais escritos, e que
envolvem ações de natureza não só física, mental e lingüístico-discursiva como também social e político – ideológica”.
Nesse sentido, letramento deve referir-se a um contexto e a padrões socioculturais determinados e nos importa, então
mais o conhecimento e os usos que o sujeito tem e faz sobre a língua, do que o quanto de formalização em torno
da aquisição do código esse mesmo sujeito apresenta. Dentro desses aspectos, a concepção de oralidade, bem como
a de escrita são entendidas, enquanto continuum, ou seja, consideramos que o continuum possa ser visto durante o
processo de elaboração textual em que, no caso de sujeitos afásicos, há uma construção conjunta entre escrevente e
interlocutor, há uma co-ocorrência de linguagem oral e escrita e entre gêneros.
OBJETIVO: Dentro deste viés, o objetivo desta pesquisa é analisar o processo terapêutico de um sujeito afásico
considerando as questões do letramento como norteadoras.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
METODOLOGIA: A pesquisa ocor reu nas
dependências da Clínica - escola da Universidade Tuiuti
do Paraná - em sessões terapêuticas individuais, com
duração de 50 minutos. Em cada sessão, utilizavam-se
diferentes tipos de materiais: computador, revistas,
jornais, mapas, placas de trânsito, fotos, agenda,
entre outros. Todas as sessões foram filmadas e
posteriormente transcrição das fitas para a análise dos
dados. Inicialmente foi realizado uma entrevista inicial,
avaliação e em seguida elaborado o processo terapêutico.
A abordagem terapêutica que orientou toda a prática
foi a neurolinguistica de cunho discursivo. A terapeuta
segundo a abordagem adotada, além de posicionar-se
como interlocutora nas situações dialógicas, assumia
a posição de mediadora, tentando auxiliar o afásico a
(re)assumir seu papel de interlocutor.
ANÁLISE DOS DADOS: Neste trabalho, selecionamos
dados de “Ma”, senhor de 47 anos, divorciado e pai
de duas filhas, com grau de escolaridade em nível
de ensino médio. Trabalhava como motorista de
caminhão. Em 2006, foi vítima de uma agressão tendo
como seqüela uma Traumatismo Crânio Encefálico.
Tomografia computadorizada demonstrou fratura
temporo-parietal esquerdo com grande afundamento e
hemorragia em parênquima subjacente. Apresenta um
quadro afásico de predomínio expressivo caracterizado
por dificuldades de encontrar palavras – o que torna
seu discurso bastante disfluente, parafasia fonológicas
e semânticas. Quanto à leitura tem dificuldade em
identificar as letras o que torna muito ineficaz e quanto a
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
sua escrita realiza cópias e consegue escrever seu nome,
das suas filhas e de sua irmã. Seus enunciados orais
como escritos são beneficiados com o prompting que
podem ser acompanhados por gestos representativos,
recorrendo também à linguagem escrita para orientar
a construção do sentido. Em muitos momentos
utiliza expressões “eu sabia, agora não sei mais”. Sua
expectativa em torno da terapia era voltar a ler e a
escrever para renovar a carteira de motorista. “Ma”
tem dificuldade em acessar espontaneamente palavras
escritas: logo após o TCE ele também apresentou este
tipo de dificuldade na fala. Se considerarmos que fala e
escrita estão em um continuum, podemos pensar que
o desenvolvimento de sua escrita está acompanhando
o desenvolvimento de sua fala após-TCE. É necessário
que a palavra seja construída, por meio de alfabeto
móvel, para depois “Ma” conseguir copiar e dizer
esta palavras. A realização motora do ato de escrever
é eficiente. Há fluência no gesto. No texto, em si, há
presença de perseveração de estruturas, grafemas e/ou
palavras. Sua compreensão de fala é boa, bem como de
percepção de si no mundo. A percepção em relação à
sua escrita é razoável: ele não sabe bem se o que escreve
está certo ou errado, mas se é capaz de identificar
com segurança um texto bem escrito, uma palavra
adequada em comparação a uma inadequada. Os
atendimentos foram iniciados no dia 09/04/08. Nesta
primeira entrevista, “Ma” relata que atualmente esta
melhor, já consegue contar dinheiro, dirige, viaja para
outros lugares. Incomoda-se às vezes com estranhos,
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Resumos
que devido a sua dificuldade de fala, acha que ele é
estrangeiro. Segundo ele, preferiria que eles soubessem
do seu problema. Neste primeiro encontro, procurouse entender as queixas principais que “Ma” iria trazer
me e também iniciar o processo de compreensão da
relação desse sujeito com a sua linguagem. A principal
queixa trazida está relacionada à retomada da escrita,
pois “Ma” quer renovar a sua carteira de motorista
(como demonstrado na transcrição abaixo).
L1 Ig: (...) Você acha que depois do acidente a sua leitura e sua
escrita ficaram prejudicadas?
L2 Ma: É difícil pra eu falar. Antes eu não sabia nada, agora ...
((pegou um papel e começou a
L3 escrever 1, 2, 3 ...))
L4 Ig: E para ler como é?
L5 Ma: É ruim de falar...
L6 Ig: Mas dá pra entender o que você lê?
L7 Ma: ((Gesto afirmativo com a cabeça)) Precisa melhorar oh
.. 2 ((mostra a carteira de
L8 motorista))
L9 Ig: Vai renovar a carteira de motorista? ... Ah! Daqui dois
anos, tem tempo ainda (...)
Mediante esta queixa, procurou-se abordar estratégias
com diferentes gêneros textuais e considerando que
a ocorrência de fala e escrita em um continuum é
primordial para a analise das condições de linguagem
de um sujeito afásico: sua competência lingüística
dá-se a ver e tem possibilidade de evoluir diante desta
consideração. A interação, entendida como interlocução
dialógica, possibilita a construção do texto de tal modo
que este possa ser compreendido por outros sujeitos
fora desta relação – ou seja, ela caracteriza o texto
como tal.
CONCLUSÃO: Um gênero textual seja ele qual for,
para ser construído por um sujeito afásico demanda a
referência a outros gêneros. O continuum se mostra
também nesta relação entre gêneros. Enfim, podemos
afirmar que nas afasias são produzidos gêneros textuais
diferentes, orais e escritos, os quais co-ocorrem sem
determinação de supremacia de qualquer tipo. Há,
nesse sentido, uma visibilidade do continuum oralidade
– escrita. Ao se contextualizar as sessões terapêuticas
dentro das práticas sociais da escrita o sujeito coloca-se
como autor do seu próprio discurso, no que se refere
não só a relação como texto escrito, mas também em
relação com o texto oral. Desta forma, o processo
terapêutico foi capaz de fornecer condições para que
o sujeito consiga lidar com as manifestações afásicas, e
que o percurso (singular) neste continuum, o auxiliou
a compreender melhor o que estava lendo, utilizar
a escrita como prompting no seu discurso oral. Ou
seja, foi possível perceber o sujeito modificou a sua
escrita, tendo mais independência para escrever, dando
significação aos seus enunciados e (re) assumindo o seu
papel de interlocutor.
Palavras-chave: afasia; letramento; processo terapêutico.
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Pesquisa
ANÁLISE POSTURAL EM MILITARES INSTRUMENTISTAS DE SOPRO DA BANDA
MUSICAL DA POLÍCIA MILITAR
Luciana Lopes Costa - UTP
Kelly C. A. Silvério - UTP
Jair Mendes Marques - UTP
INTRODUÇÃO: Entre as atividades desenvolvidas na Polícia Militar está a Banda Musical constituída de
instrumentistas de sopro e de percussão, tendo o compromisso com a música enquanto arte e manutenção
das tradições musicais militares. A prática árdua e dedicação intensa sobre a técnica musical demandam um
esforço físico e mental imensurável aos musicistas, fazendo com que os mesmos exijam demasiadamente da
sua estrutura física e mental. Todo este trabalho, partindo do desempenho de uma excelente técnica e execução,
reflete ao corpo do instrumentista, possíveis e visíveis alterações posturais, encurtamentos e algias musculares
devido a falta de consciência corporal. Além disso, os ângulos de atuação mecânica, ajustes finos de execução
do instrumento e preocupações inconscientes de desempenho e aprimoramento da técnica prejudicam o ajuste
ergonômico, por conseqüente ocasionando afecções musculoesqueléticas. Desta forma, fatores ambientais e
organizacionais do trabalho têm sido considerados causadores de risco para o desenvolvimento de distúrbios
musculoesqueléticos em músicos. Disfunções musculoesqueléticas relacionadas à prática instrumental atingem
70% desta população, tendo como principal fator de dor a postura adotada na profissão do militar. A postura
militar é conhecida como um exemplo de boa postura, e se baseava numa disciplina corporal rigorosa, da qual
fazia parte o alinhamento dos segmentos corporais. Os soldados eram até o século XVI selecionados pelas
suas aptidões físicas, pelo seu porte e postura, mas a partir de do século XVIII passaram a serem desenvolvidas
ações posturais corretivas. A postura ereta (em movimento ou parada) é obtida pelo equilíbrio das forças que
direcionam o corpo anteriormente para o chão e a força dos músculos posteriores da coluna vertebral e membros
inferiores que realizam força no sentido contrário. A ação integrada desses músculos posteriores que trabalham
em grupo é de extrema importância e mantém o alinhamento corporal. Por outro lado, a postura adotada pelo
militar músico, instrumentista de sopro ou percussão, pode evidenciar os desequilíbrios adquiridos e causar
dores musculoesqueléticas: ombros assimétricos, lateralidade da pelve, desenvolvimento dos músculos das mãos
e antebraço, desvios da coluna cervical, cabeça rodada para o lado oposto da movimentação do instrumento.
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Resumos
A postura é uma posição adotada pelo nosso
corpo, independente de como ela se encontra - em
movimento ou estático. Está estabilizada pelo equilíbrio
muscular e esquelético, onde uma sobrecarga em
diferentes estruturas do corpo é capaz de provocar um
desequilíbrio muscular alterando a base de sustentação,
o que caracteriza a má postura. Uma boa postura tem
sido definida como uma situação em que o centro de
gravidade de cada segmento é colocado verticalmente
sobre o segmento seguinte. Desta forma, quando o
centro de gravidade desvia da linha média aparecem
as alterações posturais. Os testes de avaliação postural
caracterizam a postura dos indivíduos utilizando um
referencial de postura padrão. A referência utilizada
internacionalmente como padrão normal de postura
é considerada quando na vista lateral, a linha de
prumo coincidir com a posição ligeiramente anterior
ao maléolo lateral e ao eixo da articulação do joelho e
posterior ao eixo do quadril. Esta mesma linha deverá
passar pelas vértebras lombares, pela articulação do
ombro, corpo das vértebras cervicais, lóbulo da orelha.
Na vista posterior a linha de prumo será eqüidistante
das faces médias dos calcanhares, membros inferiores e
escápulas, coincidindo, portanto, com a linha mediana
do tronco e cabeça. Na vista anterior e posterior,
o alinhamento do corpo é analisado observando a
simetria entre as metades direita e esquerda no plano
sagital. A cabeça apresenta uma posição ideal quando
esta se encontra equilibrada, não estando inclinada nem
rodada. Neste alinhamento, o peso está distribuído, as
curvaturas normais e pelve em posição neutra. Uma
postura está em equilíbrio quando o eixo vertical
traçado a partir de um centro de gravidade cai na base de
sustentação eqüidistante aos dois pés. Posteriormente,
a linha da gravidade deve acompanhar a linha reta
formada pelos processos espinhosos, passar pela linha
glútea e chegar a meia distância dos calcanhares. A
avaliação da postura quantitativa realizada somente
pela observação tem pouca reprodutividade. Assim, um
grande número de instrumentos de diagnósticos têm
sido utilizados, como a posturografia computadorizada
que é uma forma de análise da avaliação postural. Estes
instrumentos são vistos atualmente como a forma mais
objetiva de avaliar o sujeito. A posturografia dinâmica
é um método de avaliação que analisa a postura com
ambiente externo. Já a posturografia estática avalia a
postura sem perturbação externa. Esta forma de análise
fotográfica tem sido muito utilizada, pois permite
a comparação de resultados de todas as alterações
posturais, possibilitando o conhecimento da expressão
corporal do sujeito.
OBJETIVO: Avaliar a postura em instrumentistas de
sopro da Banda da Polícia Militar do Paraná.
METODOLOGIA: Participaram deste estudo 66
sujeitos do sexo masculino, com idades entre 26 e 45
anos (média = 36,4), funcionários da Polícia Militar
do Estado do Paraná. Os sujeitos foram subdivididos
em 2 grupos: Grupo Experimental (GE) com 36
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Pesquisa
sujeitos, instrumentistas da banda musical e Grupo
Controle (GC) com 30 sujeitos não instrumentistas da
banda, policiais da Tropa de Choque da Polícia militar.
Após assinarem o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (CEP/UTP 00014/2008), todos os sujeitos
responderam a um questionário e realizaram avaliação
postural. O questionário continha questões abertas
e fechadas e foi baseado no Nordic Questionnaire,
traduzido e validado para sintomas osteomusculares
relacionados ao trabalho para a população brasileira. O
questionário tratou de aspectos como dados pessoais e
sintomatologia - ocorrência de dores ou desconforto
relacionados ao trabalho e sua freqüência em dez
regiões corporais. A avaliação postural foi realizada
por fotogrametria com utilização do software SAPO.
O software SAPO é baseado em um protocolo
de avaliação postural do sujeito por quatro vistas
fotográficas diferentes: anterior, posterior, lateral
direita e lateral esquerda. Para cada uma dessas vistas o
software propõe um protocolo de pontos anatômicos
específicos a serem avaliados. Optou-se pela análise da
vista frontal – posição da cabeça no eixo rotacional e
altura entre os acrômios e vista lateral – observação
da pelve no eixo axial. Na posição sagital, mensurouse o centro de gravidade (CG) por meio de cálculo
matemático pré-estabelecido pelo programa SAPO.
Este cálculo utiliza pontos selecionados do protocolo
sobre a base de sustentação do sujeito o qual fornece
o grau de deslocamento do mesmo sobre o seu
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
eixo de gravidade. Este deslocamento pode estar na
direção ântero-esquerda, ântero-direita, póstero-direita,
póstero-esquerda ou na linha média. Utilizaram-se
bolas de isopor acopladas ao corpo do sujeito com fita
crepe sobre os pontos anatômicos para a realização da
fotografia, utilizando-se câmera digital Casio 7.2 MP
e tripé VIOLA PV 64CG e um fio de prumo que foi
colocado na parede para delimitação do espaço a ser
fotografado para calibração da imagem. Houve uma
distância de 2,40 metros entre a câmera fotográfica e
o sujeito. A altura da câmera foi de
cerca da metade da estatura do sujeito. Para acompanhar
as diferentes vistas posturais do sujeito para o mesmo
permanecer sempre na mesma base de sustentação foi
solicitado ao sujeito que mantivesse uma postura habitual.
As imagens foram armazenadas em computador HP
Pavilion Entertainment PC para realizar a análise com
uso do software SAPO. As imagens foram inseridas no
programa SAPO e foram analisadas com demarcação
com mouse nos pontos anatômicos já estabelecidos.
Esta marcação permitiu que o programa mensurasse
os ângulos das estruturas demarcadas, sendo possível
avaliar a postura dos sujeitos nas vistas propostas. Os
dados foram compilados e tratados estatisticamente
para comparação dos grupos Experimental e Controle
quanto aos dados do questionário (Teste de diferença
de proporções – nível de significância 0,05) e quanto
aos dados da avaliação postural por fotogrametria (teste
Qui-quadrado – nível de significância 0,05).
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Resumos
RESULTADOS: Não houve diferença entre
os grupos estudados quanto a presença de dor
musculoesquelética: 75% do GE e 86,6% do GC
relataram dor musculoesquelética freqüente. As regiões
mais relatadas pelo GE foram: pescoço (52,77%),
punho, mãos e dedos (50%), ombros (50%), região
dorsal (47,22%), lombar (47,22%) e quadril (44,44%).
As regiões de dor mais relatadas pelo GC foram: região
lombar (70%), ombros (53,33%), pescoço (40%) e
quadril (33,33%). Quanto a avaliação postural, os
testes estatísticos também não evidenciaram diferença
significativa em todas as vistas analisadas. Entretanto,
na vista frontal observou-se que ambos os grupos
apresentaram alterações na posição de cabeça no
eixo rotacional: 55,55% do GE e 56,66% do GC
apresentaram rotação de cabeça à esquerda. Quanto
à altura dos acrômios, observou-se que 61,11% do
GE e 40% do GC apresentaram o acrômio esquerdo
elevado, sendo que apenas 5,55% do GE apresentaram
normalidade nesta avaliação. Na vista lateral, observouse que 100% dos sujeitos do GE e do GC apresentaram
cabeça posteriorizada e a maioria apresentou quadril
anteriorizado (63,88% do GE e 56,66% do GC).
Quanto ao centro gravitacional, observou-se que em
ambos os grupos, a maioria dos sujeitos apresentou
deslocamento anteriormente e para a esquerda (88,88%
do GE e 86,66% do GC).
CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir que
os instrumentistas de sopro e os policiais militares não
instrumentistas possuem dores musculoesqueléticas
e alterações posturais decorrentes pela atividade
ergonômica que exercem, com grande sintomatologia
nas regiões mais utilizadas, decorrentes do uso do
instrumento e dos acessórios utilizados pelo policial
militar.
Palavras-chave: postura; fotogrametria; instrumentistas.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ANÁLISE POSTURAL EM POLICIAIS MILITARES
Luciana Lopes Costa - UTP
INTRODUÇÃO: Disfunções musculoesqueléticas relacionadas à prática instrumental são freqüentes entre
músicos, atingindo 70% desta população, tendo como principal fator de dor a postura adotada na profissão
do militar. A postura é uma posição adotada pelo nosso corpo independente de como ela se encontra - em
movimento ou estático. Está estabilizada pelo equilíbrio muscular e esquelético: uma sobrecarga em diferentes
estruturas do corpo provoca um desequilíbrio muscular, alterando a base de sustentação, o que caracteriza a má
postura.Uma boa postura tem sido definida como uma situação em que o centro de gravidade de cada segmento
é colocado verticalmente sobre o segmento seguinte. Quando o centro de gravidade desvia da linha média,
aparecem as alterações posturais. A avaliação da postura quantitativa, realizada somente pela observação, tem
pouca reprodutividade assim, um grande número de instrumentos de diagnósticos tem sido utilizado, como a
posturografia computadorizada. Estes instrumentos são vistos atualmente como a forma mais objetiva de avaliar
o paciente. A análise da avaliação postural é chamada de posturografia, a posturografia dinâmica é um método
de avaliação que analisa a postura com ambiente externo.Já a posturografia estática avalia sem perturbação
externa.A avaliação postural tem como objetivo conhecer a expressão corporal do indivíduo, a análise fotográfica
tem sido muito utilizada, pois permite a comparação de resultados de todas as alterações posturais. A postura
adotada pelo militar instrumentista pode evidenciar os desequilíbrios adquiridos, ombros assimétricos, lateralidade
da pelve, desenvolvimento dos músculos das mãos e antebraço, desvios da coluna cervical desviada, cabeça
rodada para o lado oposto da movimentação do instrumento são algumas alterações corporais causadoras da
dor musculoesqueléticas. A postura militar é conhecida como um exemplo de boa postura, e se baseava numa
disciplina corporal rigorosa, da qual fazia parte o alinhamento dos segmentos corporais. Os soldados eram
até o século XVI selecionados pelas suas aptidões físicas, pelo seu porte e postura. Mas, a partir de do século
XVIII, ações posturais corretivas passaram a ser desenvolvidas. A postura ereta (em movimento ou parada) é
obtida pelo equilíbrio das forças que direcionam o corpo anteriormente para o chão e a força dos músculos
posteriores da coluna vertebral e membros inferiores que realizam força no sentido contrário. A ação integrada
desses músculos posteriores, que trabalham em grupo (cadeias musculares), é de extrema importância e mantém
o alinhamento corporal.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
OBJETIVO: Avaliar a postura em instrumentistas
de sopro da Banda da Polícia Militar do Paraná e de
Policias Militares não instrumentistas.
METODOLOGIA: Participaram deste estudo 66
sujeitos do sexo masculino, com idades entre 26 e 45
anos (média = 36,4), funcionários da Policia Militar do
Estado do Paraná. Os indivíduos foram subdivididos
em 2 grupos: Grupo Experimental (GE) com 36
sujeitos, instrumentistas da banda musical militar e
Grupo Controle(GC) com 30 sujeitos da polícia militar.
Após assinarem o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (CEP/UTP 00014/2008) os sujeitos
realizaram avaliação postural e todos os sujeitos
responderam a um questionário com questões abertas
e fechadas baseando-se no Nordic Questionnaire,
traduzido e validado para sintomas osteomusculares
relacionados ao trabalho para a população brasileira,
O questionário tratou dos seguintes aspectos: dados
pessoais: idade; atividades profissionais: tempo na
orquestra, tempo de polícia, tipo de instrumento,
carga horária de trabalho; sintomatologia: ocorrência
de dores ou desconforto relacionados ao trabalho, em
10 regiões corporais. A avaliação postural foi realizada
por fotogrametria (software SAPO). O software SAPO
é baseado em um protocolo de avaliação postural
do sujeito por quatro vistas fotográficas diferentes:
anterior, posterior, lateral direita e lateral esquerda.
Para cada uma dessas vistas, o software propõe um
protocolo de pontos anatômicos específicos a serem
avaliados. Optou-se pela análise da vista frontal –
posição da cabeça no eixo rotacional, altura entre
os acrômios e posição da altura da crista iIíaca; vista
lateral – observação da pelve no eixo axial,. Na posição
sagital, observou-se o centro de gravidade. A medida
do centro de gravidade (CG) foi obtida por meio de
cálculo matemático pré-estabelecido pelo programa
SAPO. Este cálculo utiliza pontos selecionados do
protocolo SAPO sobre a base de sustentação do sujeito
o qual fornece o grau de deslocamento do sujeito sobre
o seu eixo de gravidade. Este deslocamento pode estar
na direção antero-esquerda, antero-direita, posterodireita, postero-esquerda ou na linha média. Utilizou-se
bolas de isopor acopladas ao corpo do sujeito com fita
crepe sobre os pontos anatômicos para a realização da
fotografia, utilizando-se câmera digital Casio 7.2 MP
e tripé VIOLA PV 64CG um fio de prumo o qual foi
colocado na parede para delimitação do espaço a ser
fotografado para calibração da imagem. Houve uma
distância de 2,40 metros entre a câmera fotográfica e
o sujeito. A altura da câmera foi de cerca da metade
da estatura do sujeito. As imagens foram inseridas no
programa SAPO e foram analisadas com demarcação
com mouse nos pontos anatômicos já estabelecidos.
Esta marcação permitiu que o programa mensurasse
os ângulos das estruturas demarcadas, sendo possível
avaliar a postura dos sujeitos nas vistas propostas.
RESULTADOS: Não houve diferença entre os grupos
estudados e todos os sujeitos apresentaram alterações
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
posturais. Na vista frontal, observou-se que todos os
sujeitos de ambos os grupos apresentaram alterações na
posição de cabeça no eixo rotacional: 77% do Grupo I
e 88% do Grupo II apresentaram rotação de cabeça à
esquerda. Quanto à altura dos acrômios, observou-se:
66% do Grupo I e 55% do Grupo II apresentaram
o acrômio direito elevado. Em relação à posição da
altura da crista ilíaca, observou-se: 77% do grupo I
apresentaram elevação à direita enquanto que 55% do
grupo II apresentaram elevação à esquerda. Na vista
lateral de ambos os grupos, a pelve estava deslocada
anteriormente em 55% dos sujeitos, a cabeça dos
sujeitos dos dois grupos se encontra posteriorizada
em 100% dos sujeitos. O centro gravitacional de
ambos os grupos estava deslocado anteriormente e
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
para a esquerda. Em relação aos sintomas músculos
esqueléticos, os dois grupos apresentam 88% de dor
com freqüência, 50% das dores estão relacionados nos
dois grupos com a região lombar e região de ombros.
CONCLUSÃO: Os resultados permitiram concluir
que os instrumentistas de sopro e os policiais militares
não instrumentistas possuem alterações posturais
pela atividade ergonômica que exercem. Estas
desenvolvem sintomas músculo esqueléticos com
grande sintomatologia nas regiões mais utilizadas como
alavanca muscular, sendo elas a região lombar e os
ombros, pelo uso do instrumento e pelos acessórios
utilizados pelo policial militar.
Palavras-chave: postura; fotogrametria; instrumentistas.
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Resumos
ANÁLISE RADIOLÓGICA EM 3D (TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
CONE BEAM) COMPARATIVA DO ESPAÇO ARTICULAR EM PACIENTES COM
DISFUNÇÃO TÊMPORO-MANDIBULAR PARA LOCALIZAÇÃO DE POSIÇÃO DE
TRATAMENTO
Eduardo Carrilho - UTP
O Centro de Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo-mandibular e Alteração Dento Faciais
Funcionais (CDATM) da Universidade Tuiuti do Paraná, criado em 2000, vem realizando atendimentos à
população em geral, oferecendo tratamentos clínicos e cirúrgicos, e conta com um grupo de professores que
desenvolvem pesquisa na área de disfunção e dores orofaciais. No decorrer destes anos, verificou-se que alguns
pacientes responderam bem ao tratamento com uso de dispositivos inter-oclusais (DIO), quando os mesmos
eram levados a uma posição condilar, até então não usual, porém a eles confortável, tendo uma remissão dos
sintomas dolorosos e desaparecimento dos ruídos que os pacientes relatavam ter dentro do ouvido. A descoberta
desta possível nova posição de trabalho, vem contribuir para o avanço do tratamento das disfunções têmporomandibulares.
PROPOSIÇÃO: O presente experimento teve por objetivo analisar, através de tomografias computadorizadas
3D tipo Cone Beam, o espaço articular normal dos pacientes antes e após a remissão dos sintomas no
tratamento.
METODOLOGIA: Para o presente experimento foi utilizado dados iniciais de pacientes em tratamento, tais
como prontuários e exames radiográficos (tomografias computadorizadas tipo Cone Beam), no Centro de
Diagnóstico e Tratamento da Articulação Têmporo-mandibular e Alteração Dento Faciais Funcionais (CDATM).
Os pacientes receberam dispositivos inter-oclusais (DIO) em uma posição previamente estudada. Após a
remissão dos sintomas, fez-se nova tomografia computadorizada mostrando a nova posição onde o paciente
está em total conforto e em função oclusal restabelecida. As tomografias computadorizadas Cone Beam foram
pagas pelos pesquisadores sem ônus para o paciente. Ao termino desta etapa, os exames radiográficos foram
submetidos à análise estatística, comprovando matematicamente as posições iniciais e finais no tratamento. Como
as posições foram analisadas do ponto de vista matemático, os dados foram submetidos a testes estatísticos,
para comprovar a sua precisão. Os dados foram coletados pelo próprio pesquisador, em relatórios próprios
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
para coletas de dados matemáticos e armazenados em
computador, para análise estatística.
Todo o trabalho foi feito sob consentimento dos
pacientes, o projeto foi submetido ao comitê de
ética, sendo que todas as etapas foram respeitadas
para que sua precisão fosse aferida. A identificação e
comprovação da efetividade no uso desta posição de
trabalho, foi de grande valia, uma vez que na literatura
não existe menção a este tipo de trabalho. Após a
análise dos dados, encontrou-se uma certa dificuldade
em se fixar a posição de trabalho, observou-se que o
aparelho para tomografia não faz a fixação espacial da
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
cabeça do paciente, impedindo assim uma padronização
dos exames.
CONCLUSÃO: Após o término do trabalho, podese concluir que sem a fixação da cabeça torna-se
impossível fazer a comparação e comprovação desta
efetividade do tratamento, com isso um novo projeto
será proposto para o desenvolvimento de um aparato
que possa fixar a posição espacial do paciente para
esses exames.
Palavras-chave: Tomografia Cone-Beam;, disfunção
temporomandibular; radiologia.
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Resumos
ATUAÇÃO FONOAUDIOLÓGICA NA SEMANA DE PROMOÇÃO HUMANA DA
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
Claudia Giglio O. Gonçalves
Adriana B. M. Lacerda
Thais C Morata
Adriana Betes Heupa
Gisele de Lacerda Costa
Aline Carlezo Moreira
INTRODUÇÃO: Vivemos em um mundo sonoro e nos comunicamos a partir dos sons que ouvimos e emitimos.
A exposição continua a níveis acima de 80 dB já pode prejudicar as pessoas, a literatura afirma que exposição
crônica ao ruído ou sons de intensidades elevadas pode causar efeitos auditivos, como perda auditiva, zumbido
e intolerância a sons fortes; e extra-auditivos, como perturbações do sono, irritabilidade, cansaço e dificuldades
de compreensão, enjôos, vômitos, mudança de humor, stress, entre outros. No dia-a-dia todos estão expostos
a diversos ruídos acima deste nível, como barulho do transito, aparelhos eletrodomésticos, e principalmente
música em forte intensidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da população mundial
sofre de problemas auditivos. E Acredita-se que um dos fatores que podem levar ao comprometimento auditivo
é a falta de informação a respeito da importância da audição e dos cuidados que se pode ter com ela. E uma das
formas de intervenção é a triagem auditiva que consiste em um processo de aplicar em um número de indivíduos
determinadas medidas rápidas e simples que identificarão alta probabilidade de doenças na função testada (LOPES
FILHO, 1996). A triagem auditiva tem o objetivo não de diagnosticar a perda auditiva, mas sim examinar um
grande número de indivíduos, sem sintomas aparentes, no sentido de identificar aqueles que tenham a perda
auditiva, para com isto encaminhá-los a realizar procedimentos mais elaborados, a fim de alcançar diagnósticos
precisos e tentar sanar ou minimizar os efeitos que a perda auditiva pode acarretar. A perda auditiva induzida
por ruído representa um grande problema de saúde pública, devido ao aumento de sua incidência e por poder
acometer qualquer individuo, independente de sua atividade profissional (FIONRINI, 2001). O teste de Emissões
Otoacústicas, devido a suas características e propriedades é bastante promissor no sentido de detectar perdas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
auditivas, além de propiciar uma apurada identificação
de mínimas alterações funcionais do sistema auditivo
periférico. Este teste contribui muito para ações
preventivas e favorece iniciativas de controle de perdas
auditivas. As emissões otoacústicas são sinais que
podem ser detectados no conduto auditivo externo; são
provenientes de vibrações produzidas em vários locais
da cóclea, retornando pela cadeia ossicular, membrana
timpânica e conduto auditivo externo para serem
captadas. A sua presença pode confirmar a integridade
da cóclea, determinando se a atividade otoacústica está
dentro dos limites de normalidade. E por sua rapidez,
seu caráter não invasivo e sua fidedignidade, torna-se
um teste com o perfil ideal para programas de triagem
auditiva (GATTAZ, 2001). Sabe-se que uma das
descobertas mais fascinantes da audiologia nos últimos
anos foi a dos mecanismos ativos da cóclea, ou seja,
das emissões otoacústicas. DURANTE (2004) coloca
que as emissões otoacústicas refletem o funcionamento
das células ciliadas externas e a captação das emissões
otoacústicas transientes (EOAT) é uma das formas de
obter esse mecanismo, o teste de EOAT ocorre quando
a orelha é estimulada por estímulo breve de banda larga
(clique). É um procedimento não invasivo, rápido,
aplicável em locais sem tratamento acústico, objetivo
(não depende da resposta do indivíduo), e sensível a
perdas de grau leve a profundo, uni ou bilateriais. A
presença das EOA indica que o mecanismo receptor
coclear pré-neural e também a orelha média é capaz
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de responder ao som de um modo normal. E devido a
estas características, o exame de emissões otoacústicas
transientes é o mais indicado para uma triagem auditiva
em locais onde não há tratamento acústico.
OBJETIVO: Fazer levantamento dos resultados da
triagem auditiva realizada, a fim de detectar alterações
que possam prejudicar a saúde auditiva.
METODOLOGIA: Foram submetidos à triagem
auditiva 67 sujeitos que aceitaram participar da Semana
de Promoção Humana da Universidade Tuiuti do
Paraná, realizada nas dependências de um Shopping
Center na cidade de Curitiba. Foram triados 21 homens
e 46 mulheres, com idade entre 1 e 61 anos. A triagem
auditiva foi constituída pelo exame de Emissões
Otoacústicas Transientes. Este teste foi realizado com
equipamento de triagem de Emissões Otoacusticas
Transientes da marca Audx-plus Biologic, colocandose uma sonda contendo um gerador de estímulos e
um microfone na entrada do conduto auditivo, tanto
do lado direito como do lado esquerdo. Nas Emissões
Otoacústicas Transientes, o estímulo sonoro, com
amplo espectro de frequência (click), percorre a orelha
média e a cóclea, e estando esta com suas junções
preservadas emitirá “eco” em sentido retrógado, o qual
será captado pelo microfone no conduto auditivo. As
emissões otoacústicas evocadas transientes (EOAT)
representam uma subclasse das emissões otoacústicas
evocadas e ocorrem em resposta a um estímulo
sonoro muito breve, geralmente o clique, que é muito
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Resumos
estimulante para a membrana basilar, porém desprovido
de seletividade de freqüência. Por se tratar de um sinal
de banda larga, provoca excitação das células ciliadas
localizadas desde a espira basal até a espira apical da
cóclea. Assim, a resposta também é composta por
diferentes freqüências. As EOAT são registráveis em
cerca de 90 a 100% das orelhas com limiares auditivos
normais. E em indivíduos jovens, normo-ouvintes e
sem passado otológico, a presença de EOAET é de 98%
(SPERI e PATRESI, 2004) As pessoas que passaram na
triagem apresentaram emissões otoacústicas transientes
presentes e as pessoas que falharam apresentaram
ausência de respostas neste teste. Como a triagem tem
o objetivo apenas de detectar as pessoas com sintomas
ou não de perda auditiva, ela não foi feita em cabine
acústica, tendo sido realizada em ambiente aberto do
shopping, no local específico das ações da semana de
promoção humana.
RESULTADOS: Dos 67 sujeitos participantes, 59
(88%) pessoas passaram na triagem e oito pessoas (22%)
não passaram. Sendo cinco pessoas do sexo feminino
(quatro bilateral e uma somente à direita) e três do sexo
masculino (dois bilateral e um somente a direita). Estas
pessoas que falharam na triagem foram encaminhadas
para exame completo de audição na Universidade Tuiuti
do Paraná. Muitos sujeitos participantes relataram não
ter conhecimento a respeito dos cuidados com a audição
nem de informações a respeito da relação da exposição
ao ruído intenso do dia a dia com a perda de audição.
CONCLUSÃO: A exposição crônica ao ruído ou a sons
de intensidade elevada além da perda de audição pode
causar também sintomas extra-auditivos como cansaço,
dificuldade de concentração e estresse. RUSSO (1999)
coloca ainda as seguintes alterações extra-auditivas
causadas pelo ruído: ações no aparelho circulatório,
digestivo e muscular, no metabolismo, sistema nervoso,
interferência no sono, diminui rendimento no trabalho,
distúrbios no equilíbrio, problemas psicológicos, dores
de cabeça, mudanças de humor e ansiedade. E isso
tem grandes repercussões sobre a vida e o trabalho.
O Ministério da Saúde, ao instituir Política Nacional
de Atenção à Saúde Auditiva, considera o êxito na
intervenção por meio de ações de promoção e prevenção.
E uma das formas de intervenção é a triagem auditiva
(QUAINO, 2007). Com a triagem auditiva é possível
detectar as pessoas com predisposição e desenvolver
uma perda auditiva. Sobre esta perspectiva, a triagem
auditiva é de fundamental importância, pois seus
resultados possibilitam o estabelecimento de condutas
adequadas que podem minimizar consequências de
uma alteração auditiva no desenvolvimento psicossocial
humano, propiciando uma melhor qualidade de vida.
Apesar se não muito elevado o número de pessoas que
não passou na triagem, os resultados desta triagem
indicam que as pessoas expostas ou não ao barulho
intenso não tem conhecimento da importância dos
cuidados com a audição. A população em geral necessita
de mais orientações e respeito dos cuidados com a
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
audição e informações sobre a perda auditiva induzida
por ruído. A deficiência auditiva tem sido alvo de vários
estudos epidemiológicos com o objetivo de identificar
seus fatores de risco e suas implicações, a fim de elaborar
ações de saúde e assistência adequadas (TIENSOLLI,
2007). Muitas pessoas ignoram a importância de testes
auditivos, pois desconhecem os malefícios que as perdas
na audição podem causar. Com isso, a nossa ação no
shopping pretendeu divulgar às pessoas que estavam
a passeio naquele local, a importância de um teste
auditivo, e também a conscientizar as pessoas que um
diagnóstico antecipado pode auxiliar nos tratamento
de diversos tipos de perdas auditivas. Pois uma vez
que se descobre uma alteração, por menor que seja, a
pessoa já pode procurar um tratamento e um meio de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
evitar que esta alteração venha a prejudicar sua vida
pessoal, profissional e social. Muitos estudos ainda
podem ser feitos na população geral, quanto mais
pessoas atingirmos com nossas ações, mais conscientes
elas estarão da importância de ter uma audição dentro
dos padrões de normalidade. Não somente com a
triagem auditiva com os exames de audiometria ou
emissões otoacusticas, mas também com questionários
e entrevistas, que são muito valiosos numa pesquisa,
em especial quando estamos levantando os sintomas
auditivos e extra-auditivos de pessoas que a princípio
não possuem queixa de perda de audição.
Palavras-chave: triagem auditiva; emissões otoacústicas
transientes; Shopping Center.
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Resumos
REFERÊNCIAS
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SPERI, MRB; PATRESI,R. Emissões otoacústicas transientes e espontâneas em recém-nascidos a termo. Distúrbios da
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RUSSO, I.C.P. Acústica e Psicoacustica aplicada à Fonoaudiologia. 2 ed. São Paulo: Lovise, 1999
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AUTONOMIA COLETIVA – OS PERCALÇOS ENTRE A HETEROGESTÃO E A
AUTOGESTÃO
Marilene Zazula Beatriz - UTP
A presente pesquisa teve como objetivo compreender o funcionamento de um grupo de trabalho informal
constituído por mulheres integrantes do Programa de Ação Social Vivendo e Aprendendo, situado na região
metropolitana de Curitiba, Estado do Paraná, para contribuir na construção de conhecimentos sobre este tipo
de empreendimento solidário em relação a sua autonomia organizativa. Para tanto, buscou-se referenciar este
campo com a perspectiva teórica do construcionismo social e da psicologia social usando como referências:
Ibáñez (1993), Iñiguez (2002), Spink (2000); Spink & Frezza (2000); Spink & Medrado (2000) e Spink (2000,
2005). E da Economia Solidária, Singer (2006; 2004; 2002, 2000; 1999, 1998, 1988), Mance, (2006, 2003), Arruda
(2006), Tiriba (2006, 2004, 2002), Tiriba & Picanço (2004), Souza (2006), Schiochet (2006), Verardo (2005),
Arruda (2006), Spink (2003). Os métodos que caracterizaram esta pesquisa foram o estudo de caso de um grupo
de trabalho informal, entrevistas em profundidade; além da observação participante em relação ao seu progresso
durante um ano e meio. Sabemos que milhares de trabalhadores e trabalhadoras excluídos do mercado formal
de trabalho, tiveram que trabalhar, ou melhor, ganhar a vida, em várias atividades econômicas ditas informais,
como: comércio ambulante, coleta e reciclagem de lixo, pequenos serviços domésticos, micronegócios familiares,
hortas comunitárias, drogas, prostituição (TIRIBA, 1997), quase chegando a pequenas transgressões e delitos.
Tal informalidade não seria suficiente nem para abarcar todas as pessoas desempregadas em idade economicamente
ativa e nem para resolver a questão da falta de emprego. Então, constatou-se a existência de movimentos da
sociedade em prol da denúncia e da busca de soluções para os seus problemas sociais. Ainda que de maneira
“subterrânea”, sem real espaço na mídia dominante, ouvem-se vozes por meio de eventos que se organizam
nas mais variadas regiões do país e do mundo como fóruns, encontros, reuniões, clubes de trocas, entre outros.
Neste sentido, chegou-se ao que chamaríamos a um “mundo novo” acontecendo por “debaixo” da economia
vigente. O mundo dos empreendimentos solidários que varia: desde grupos informais até cooperativas e
associações, de pequenos empreendimentos até a idéia de se criar uma rede de empreendimentos solidários
seguindo a cadeia produtiva. Este “mundo novo” é onde acontece outra economia baseada em valores/princípios
como a solidariedade, a cooperação, a distribuição de renda e a autogestão, sendo que este último princípio será
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o foco desse estudo, pois quando se trata de desenvolver
empreendimentos populares solidários uma das
características que se diferencia das empresas
capitalistas é justamente a autogestão denominada
como: “os/as trabalhadores/as são os/as efetivos/as
gestores/as do processo produtivo e das relações de
trabalho”. O projeto de Ação Social Vivendo e
Aprendendo surgiu em 2000, sendo desenvolvido num
espaço cedido e administrado por uma instituição
cristã-evangélica, localizada em Curitiba, no Estado do
Paraná. Para a criação do projeto, foi realizada uma
pesquisa com a população do bairro, em relação à
saúde, educação e trabalho. Tal projeto contou com
parcerias de uma Universidade e de uma Faculdade da
região que duraram por 5 anos (2000 a 2005). Enquanto
a primeira fornecia cestas básicas mensais, a segunda
possibilitou que as mulheres integrantes do projeto
procedessem ao preventivo de câncer, além de
participar de palestras sobre saúde da mulher. Dentro
da área do trabalho, um dos resultados do Projeto
Vivendo e Aprendendo, foi a construção de uma
cozinha industrial-comunitária que, por meio de
doações de vários quilos de frutas por semana, as
mulheres começaram a fabricar geléias. Com o objetivo
de melhor, qualificar as referidas mulheres, houve a
organização de um curso denominado: “Capacitação
e Qualificação Profissional para Processamento e
Produção de Alimentos”. Na época, as mulheres que
atuavam com a cozinha comunitária chegaram a
produzir 300 potes de geléias por semana, mas apesar
de ser considerada uma fonte geradora de trabalho e
renda, depois de alguns meses, as mulheres desistiram
de produzir, porque sentiram inúmeras dificuldades
para comercializar, principalmente por não ter nota
fiscal, o que inviabilizou a entrada do produto no
mercado. Durante o processo de produção das geléias,
o grupo contava com quarenta e duas mulheres.
Quando decidiram interromper a produção das mesmas
e a distribuição de cestas básicas, o grupo reduziu-se
para quinze. No início de 2006, estava com
aproximadamente doze mulheres e em setembro de
2006, o grupo contava com aproximadamente oito
mulheres. Em 2006, a partir de uma reunião com o
pastor, sua esposa e com a pastora decidiu-se fazer
entrevistas com as mulheres para delimitar qual seria
o melhor produto e/ou caminho a seguir. Com as
entrevistas, podem-se descobrir pontos de interesses
para o desenvolvimento de um produto, especialmente
a tendência do grupo ao artesanato. Então, a partir de
março de 2006, deram-se início as aulas de artesanato
com a produção de bolsas de palha de taboa. Em
dezembro desse mesmo ano, as mulheres participaram
da II Feira Estadual de Economia Solidária, em
Londrina (Paraná), expondo a sua produção. Ao
observarmos o desenvolvimento do Projeto Vivendo
e Aprendendo, composto por 13 mulheres, durante 18
meses pôde-se verificar que não houve por parte das
pessoas responsáveis pela sua implantação (a pastora
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
e a esposa do pastor) um delineamento claro do que
seria um empreendimento popular solidário em seus
princípios básicos. Neste sentido, apesar dos princípios
de atitude emancipadora e de transformação da
sociedade, existirem como parte do discurso praticado
pelos mesmos, a prática demonstrou que houve apenas
a manutenção do sistema. Isso porque tanto a pastora
quanto a esposa do pastor atuaram como
empreendedoras do projeto, centralizando decisões,
atuando como líderes do grupo, sem trazer reflexões
ou oportunidades para que o próprio grupo pudesse
atuar e resolver seus próprios problemas, a partir de
discussões e debates, entre outras formas participativas.
Neste sentido, apesar de não haver um discurso
assistencialista, houve a promoção da dependência do
grupo. Observações levantadas quando da participação
da pesquisadora no curso de Capacitação e Qualificação
Profissional para Processamento e Produção de
Alimentos (maio a junho/2005) e das anotações do
diário de campo, demonstraram que durante o primeiro
módulo denominado de Desenvolvimento Comunitário,
a professora trouxe conteúdos que exprimiam mais
uma postura individual e empreendedora de encarar o
mundo do trabalho do que propriamente de um
trabalho coletivo e comunitário, como o nome do
módulo poderia sugerir. Outra questão levantada tratase da postura da educadora ou do educador frente ao
grupo. Na realidade, a educadora não deveria assumir
a frente do grupo, mas sim, estar junto com ele,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
começando a descobrir formas de se avançar no
processo de geração de trabalho e renda. A idéia que
se coloca é justamente a formação dos educadores
cientes e preparados para não reproduzirem o que o
sistema econômico propõe, mas de tratar de uma
educação voltada para a real emancipação do ser
humano. Portanto, durante o Projeto Vivendo e
Aprendendo, não houve por parte dos responsáveis
pelo mesmo, o interesse ou a consciência em demonstrar
a questão crítica da sociedade em que se vive, nem teve
o objetivo de fazer com que as mulheres desenvolvessem
atitudes coerentes com a autonomia e desprendimento.
Ao contrário, pode-se perceber que todo o trabalho
intelectual e de planejamento, organização das vendas,
introdução do produto no mercado, elaboração de
rótulo, do nome do produto, entre outros, passou por
pessoas mais qualificadas como o pastor, a pastora, a
esposa do pastor, professores universitários voluntários
e estagiários universitários. Não houve a inclusão do
grupo nas discussões e nos problemas. Ou seja, as
mulheres, ao que parece, não eram estimuladas a pensar,
analisar, refletir e tomar decisões que lhes influenciassem
diretamente, acarretando inclusive forte pressão e
cansaço em quem estava gerenciando todo o trabalho,
pois à medida que uma ou duas pessoas acumulavam
inúmeras funções e responsabilidades sem compartilhar
com o grupo, estava-se reproduzindo o que o sistema
capitalista promove: uma hierarquia que centraliza
informações e decisões. Na realidade, a intervenção
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Resumos
nesse grupo surgiu a partir do interesse de uma
comunidade religiosa que estava disposta a realizar
trabalhos sociais e não pelo engajamento do próprio
grupo de mulheres em relação ao seu desenvolvimento.
Para implantar o Projeto de Ação Social houve a busca
de apoio por meio de parceiros como, por exemplo, as
instituições de ensino. Tal apoio foi caracterizado por
um trabalho de esclarecimento de questões ligadas à
saúde, ao trabalho e à educação, desacompanhado da
questão política e, portanto, de caráter assistencial.
Observou-se também que não havia profissionais
preparados para lidar com conteúdos referentes à
Economia Solidária. Muitos dos profissionais, inclusive,
demonstraram total desconhecimento. Faz-se
necessário, então, investir na formação dos educadores,
pelo menos no Estado do Paraná, para que os princípios
do movimento da Economia Solidária não se
desvirtuem e se transformem em coadjuvantes do
sistema econômico atual, principalmente quando se
remete ao conceito e a prática de autogestão, onde se
precisa de pessoas politicamente formadas, abertas para
a compreensão de que o processo de tomada de decisão
é descentralizada, porém integrante de um campo de
forças de poder e que o grupo deve encarar o processo
de frente e não esperar que alguém resolva os seus
problemas.
Palavras-chave: psicologia social; economia solidária;
empreendimentos solidários; grupo de trabalho
informal; sentidos; mundo do trabalho.
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Pesquisa
AVALIAÇÃO DA FUNÇÃO MOTORA E DO EQUILIBRIO EM CRIANÇAS HIV+
Evelin B de Oliveira
Marise B Zonta
Marimar G A Madeira
Tony T Tahan
Ana Paula de Pereira
Icac Bruck
Cristina R da Cruz
Regina M R Camargo
INTRODUÇÃO: Estima-se que 2,1 milhões de crianças viviam com infecção pelo HIV no mundo em 2007,
e 290.000 perderam a vida durante este ano.¹ Mundialmente, 1800 crianças são infectadas diariamente ². No
Brasil, em 2005, foram identificados 700 casos de infecção pelo HIV na população de menores de cinco anos.
A infecção pelo HIV na infância ocorre em mais de 95% dos casos, por transmissão vertical intra-útero, no
momento do parto e pós-parto pelo aleitamento materno. Atualmente, existem medidas eficazes para evitar este
risco de transmissão.3 A criança infectada pelo HIV terá, inicialmente, alteração no sistema imune humoral, que
se manifesta clinicamente por infecções bacterianas de repetição. Em seguida, ocorre a destruição das células
que possuem o receptor CD4, ocasionando as doenças oportunistas e tumorais. 4 A sintomatologia do HIV em
crianças pode não se manifestar durante meses ou anos antes de progredir para sintomas graves dependendo do
grau de imunossupressão. A conseqüência da infecção por HIV em longo prazo é que os pacientes se tornam
severamente imunodeficientes, desenvolvendo a doença fatal conhecida como Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida. 5 Desde os primeiros relatos da infecção pelo HIV pediátrica, na década de 1980, as anormalidades
do neurodesenvolvimento constituem uma complicação freqüente em crianças infectadas, contribuindo para
o aumento da morbidade e mortalidade da doença. Hoje, a prevalência exata das complicações neurológicas
em crianças infectadas com HIV-1 é desconhecida, variando de 8% a mais de 60%, destacando-se o atraso
do neurodesenvolvimento como complicação mais freqüente. Diversamente dos adultos, em que a infecção
compromete um cérebro desenvolvido, levando à demência na criança, a infecção acomete um cérebro imaturo
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e manifesta-se como encefalopatia pelo HIV. 3
OBJETIVO: Avaliar a função motora, o equilíbrio
e o desempenho em atividades físicas cotidianas em
crianças com HIV+ mediante a aplicação de testes
e questionário específicos, e relacionar estes dados
a clínicos obtidos nos prontuários médicos destes
pacientes.
MATERIAL E MÉTODO: O estudo foi observacional
transversal. Os responsáveis assinaram um termo
de consentimento livre esclarecido para autorizar a
participação no estudo. A avaliação do equilíbrio foi
realizada mediante a aplicação da Escala Pediátrica
de Equilíbrio (Pediatric Balance Scale – PBS) e a
função motora grossa mediante a aplicação de itens
específicos da escala Medida da Função Motora Grossa
(Gross Motor Function Measure – GMFM). Em
seguida, foi aplicado o questionário sendo o tempo
total necessário de aproximadamente 40 minutos para
cada criança. A avaliação foi individual; a realização
dos tópicos das escalas envolveu comando verbal,
ocorrendo em sala apropriada. Os participantes
responderam um questionário sobre atividades físicas,
cotidianas, elaborado pelas autoras. As dez perguntas
caracterizaram a rotina da atividade motora infantil
na participação social, condicionamento físico e
habilidades motoras. Foram analisados os prontuários
dos pacientes, observando os seguintes aspectos:
idade de diagnóstico da infecção com o HIV, idade
de início do tratamento antiretroviral, nível de CD4 e
complicações relacionadas à infecção. Foi considerado
atraso na aquisição do controle motor o sentar sem
apoio acima de oito meses e andar sem apoio acima de
quinze meses, baseado no intervalo proposto no teste
de Denver II. 15Os materiais utilizados foram banco
com altura ajustável, cadeira com suporte nas costas e
descanso para braços, relógio, fita adesiva, banquinhos
de varias alturas, apagador de giz, fita métrica, duas
linhas retas afastadas em 20 cm e com 6,10m de
comprimento no chão, linha reta com 1,90cm de largura
e com 6,10 m de comprimento no chão, círculo – 60 cm
de diâmetro marcado no chão, um brinquedo, corrimão,
bastão, cinco degraus de escada. O estudo foi realizado
no Ambulatório de Infectologia Pediátrica do Hospital
de Clínicas, da UFPR, e na Associação Paranaense
Alegria de Viver (APAV) no Período da manhã durante
o meses de abril e maio de 2009.
RESULTADOS: Participaram do estudo 20 crianças
portadoras de HIV, sendo 10 do gênero feminino;
com média da idade de 10,4 anos (± 2,112 DP),
variando de 7 a 14, com mediana de 11 anos. Todos
os participantes freqüentavam ensino fundamental e
recebem acompanhamento terapêutico no Ambulatório
de Infectologia Pediátrica do Hospital de Clinicas da
UFPR. Na escala PBS, apenas um paciente (5%) não
completou todos os itens, tendo um escore de 55
pontos. Na GMFM, dois pacientes (10%) obtiveram
escore de 59, e todos os demais de 60 pontos. Foi
observado através da análise dos prontuários que
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Pesquisa
dez crianças tiveram atraso no desenvolvimento
neuropsicomotor, sendo que em cinco a aquisição do
sentar-se independente ocorreu após os oito meses e em
sete crianças a marcha independente ocorreu após os
quinze meses de idade; uma criança apresentou atraso
nas duas aquisições e realizou fisioterapia para suprir
este déficit. Informações do prontuário individual
demonstraram quanto ao tempo de diagnóstico do
HIV, treze crianças há menos de 3 anos, cinco entre
3 e 6anos e 2 não identificados; ao nível recente de
CD4, em 15 maior que 500 e em 5 entre 200 e 499;
tempo de utilização de terapia antiretroviral, onze há
menos de 1 ano, 4 entre 1 e 3 anos, 1 maior que 3 anos
e 4 que não usaram medicação. Foram colhidas dos
prontuários informações referentes a complicações na
saúde geral. Dez crianças apresentaram complicações
sendo em maior freqüência tuberculose e déficit
auditivo. As três crianças que não atingiram escore
total nas escalas também referiram dificuldades em
atividades cotidianas. Quartoze crianças relataram
alguma inadequação nas respostas do questionário; seis
crianças em uma questão, cinco em duas questões, as
três restantes apresentaram dificuldade de três a cinco
questões. Uma criança referiu cansar com freqüência,
apresentar quedas freqüentes e impossibilidade
para andar de bicicleta sem rodinhas. Duas crianças
referiram dificuldade para participar de esportes com
competição, realizar atividades fora de casa, e caminhar
dez quadras. Três crianças referiram incapacidade para
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
subir e descer em ônibus.
DISCUSSÃO: A média da idade das crianças deste
estudo compreendia a esperada para alcançar 100%
nas avaliações motoras utilizadas. Nesta amostra,
observou-se que a capacidade motora e equilíbrio,
avaliados pelas escalas PBS e GMFM, estavam muito
próximos ao normal. O escore na GMFM reflete o
desempenho de padrões complexos de movimento
que incorporam equilíbrio. Os itens selecionados da
GMFM foram realizados com mínima inadequação
por apenas duas crianças. A escala PBS relacionada ao
equilíbrio identificou uma criança, que obteve escore
total na GMFM, com um ponto a menos do escore
total. O equilíbrio pode ser definido como a noção
e distribuição do peso em relação a um espaço; pode
também ser estático ou dinâmico.16 Enquanto a PBS
avalia o equilíbrio estático os itens considerados da
GMFM compreendem também o equilíbrio dinâmico.
Deste modo, as duas das crianças que não completaram
a GMFM demonstraram falha discreta no movimento
e no equilíbrio dinâmico. A análise do questionário
permitiu observar que a maioria das crianças não
apresentou dificuldades em atividades recreativas e
de competição, mas seis crianças referiram cansaço
e três quedas freqüentes. Não foi possível relacionar
as respostas do questionário ao escore nas escalas,
pois apenas três crianças apresentaram discreta
dificuldade, mas todas elas referiram inadequações
nas atividades físicas cotidianas. Não foi observada
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Resumos
relação entre o nível de CD4, tempo de uso de
antiretroviral e tempo de diagnóstico do HIV com
o equilíbrio e a função motora nas crianças deste
estudo. A criança com infecção de pelo HIV, sendo
adequadamente conduzida pode, mesmo tendo
passado por algumas intercorrências infecciosas, pode
apresentar-se clinicamente estável. Isto pode explicar a
boa performance observada neste estudo transversal,
onde apenas três crianças apresentaram mínima
alteração no equilíbrio e função motora As escalas
utilizadas no presente estudo avaliam especificamente
a função motora grossa. A infecção pelo HIV tende a
ser mais insidiosa, com preservação das capacidades
mais grossas, e deterioração progressiva e discreta
da cognição e motricidade fina. Apenas testes muito
específicos são capazes de detectar estas alterações. No
estudo de Bruck et al, que avaliou o desenvolvimento
neuropsicomotor em crianças com infecção pelo
HIV comparando com um grupo controle, notou-se
alterações somente por meio de escalas de screening,
que enfatizam a área motora fina, linguagem, psicosocial (Denver e Cat/Clams). O exame neurológico
convencional não mostrou diferença entre os grupos.
Os testes aplicados no estudo demonstraram que
crianças infectadas pelo HIV, em acompanhamento
clínico adequado e estabilidade da doença, não
apresentaram dificuldade na motricidade grossa. Cabe
ressaltar que as três crianças que tiveram desempenho
pouco abaixo do escore total nas escalas, encontramse ainda dentro de um nível aceitável da função. Estes
resultados sugerem que testes que avaliam a motricidade
fina sejam utilizados em crianças com infecção pelo
HIV com o intuito da detecção precoce de alterações
para que medidas específicas possam ser direcionadas.
Alguns autores têm investigado diferentes aspectos do
desenvolvimento de crianças infectadas com o HIV+.
Blanchette et al., avaliaram 25 crianças em idade escolar
(6.3-14.2), 14 infectadas (2 assintomáticas, 8 com
sintomas leves, 4 com AIDS) e 11 no grupo controle,
relatando várias áreas da cognição com desempenho
normal e problemas no desempenho motor. 6 WachlerFelder et al., fizeram uma extensa revisão da literatura
evidenciando problemas motores, linguagem e atenção
nas crianças portadores de infecção pelo HIV.7 Novos
estudos com maiores amostras e menor faixa etária são
necessários para investigar a relação entre os dados
clínicos e estas habilidades motoras em crianças HIV+,
confirmando ou refutando estas hipóteses.
Palavras-chave: HIV; crianças; equilíbrio; função motora.
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Pesquisa
AVALIAÇÃO DA PROPOSTA NUTRICIONAL DO REBANHO LEITEIRO DA FAZENDA
PÉ DA SERRA VERÃO E INVERNO 2009 – UM ESTUDO DE CASO
Ana Luisa Palhano Silva
Rosemeire Oberle
Ana Paula Cerdeiro
O desempenho de rebanhos leiteiros está intimamente associado com seu manejo nutricional (Santos et al.,
2001), à capacidade genética dos animais e ao ambiente. Assim, o adequado fornecimento de energia e nutrientes
é um aspecto central a ser garantido quando são planejados sistemas de produção técnica e economicamente
viáveis. É incontestável e urgente a necessidade de se reduzirem os custos da produção de leite para garantir
a permanência dos produtores na atividade, visto que a rentabilidade do setor vem sendo reduzida ano a ano
e não é raro observar que muitos estão produzindo leite com prejuízo, enquanto outros estão abandonando a
atividade (Martinichen, 2003). As razões para esse fato advêm, principalmente, dos elevados custos das instalações
de sistemas confinados e dos níveis de alimentos concentrados utilizados nas dietas dos animais, considerados
requisitos básicos à expressão do potencial genético dos rebanhos. Porém, devido à crescente inviabilidade do setor
leiteiro, estratégias nutricionais e de manejo dos animais têm buscado alternativas para contornar esse problema e
aumentar a eficiência total desses sistemas. Para isso, é importante que as dietas fornecidas às diferentes categorias
do rebanho leiteiro sejam cuidadosamente planejadas e monitoradas. Para que o monitoramento do manejo
nutricional tenha algum valor do ponto de vista de tomada de decisões, é imperativo que os dados coletados sejam
representativos daquilo que realmente acontece no rebanho, que estes dados tenham alguma importância no que
se refere ao desempenho animal e que tenham algum componente relacionado à alimentação do animal (Santos
et al., 2001). Ainda, segundo esses autores, eles têm que ser de fácil obtenção, passíveis de serem manipulados
e de sofrerem intervenções por meio do manejo nutricional e a utilização de dados médios deve ser evitada,
sempre que possível, uma vez que animais medíocres podem ser supervalorizados e animais de bom potencial,
subestimados. Para isso, deve-se trabalhar com a utilização de lotes dentro do mesmo rebanho, considerando-se
inicialmente a fase da lactação (início, meio ou final) e número da lactação e, dentro dessas divisões, avaliar o
desempenho animal, a proporção de sólidos do leite, a contagem de células somáticas e a possível incidência de
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distúrbios metabólicos. Os principais objetivos deste
estudo, ainda em andamento, foram avaliar a dieta dos
animais do rebanho leiteiro da Fazenda Experimental
Pé da Serra, da Universidade Tuiuti do Paraná, visando,
se necessário, propor ajustes nutricionais, o que
pode tornar mais eficiente esse sistema de produção.
Posteriormente, a produtividade dos animais poderá
ser avaliada após a implantação dos ajustes. A Fazenda
Pé da Serra localiza-se em São José dos Pinhais, PR,
em clima classificado como subtropical úmido (Cfb),
apresentando temperaturas amenas, adequadas ao
conforto dos animais com aptidão leiteira. Porém, a
umidade relativa do ar é bastante elevada. Os animais,
com padrão genético elevado, foram divididos em lotes
segundo o número de parições e a fase da lactação e,
dentro dessas divisões, foram agrupados os animais
conforme seu desempenho produtivo. Amostragem
dos alimentos volumosos e concentrados foi efetuada
para sua quantificação e avaliação bromatológica e
agrupados em dietas de inverno e verão. Os dados
coletados estão sendo tabulados, compondo, assim,
as dietas das estações e suas respectivas composições
em nutrientes e energia. Paralelamente, baseadas nas
exigências nutricionais estabelecidas pelo NRC (2001),
serão agrupadas as exigências nutricionais das seguintes
categorias: GRUPO 1: animais com produção diária
inferior a 15 litros/dia, GRUPO 2: animais com
produção diária ente 15 e 25 litros/dia, GRUPO 3:
animais com produção diária entre 25 e 35 litros/
dia e GRUPO 4: animais com produção diária acima
de 35 litros/dia. Compondo as duas tabelas em uma
única, serão comparadas as exigências nutricionais dos
grupos acima com a dieta a eles diariamente oferecida
e verificados possíveis excessos ou deficiências
nutricionais. A partir dessas comparações, possíveis
ajustes nutricionais serão propostos e o desempenho
futuro dos animais acompanhado.
Palavras-chave: avaliação nutricional; eficiência
produtiva; vacas holandesas.
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Pesquisa
REFERÊNCIAS
MARTINICHEN, D. Efeito da Estrutura do Capim Mombaça sobre a Produção de Vacas Leiteiras (Dissertação de
Mestrado, Departamento de Fitotecnia, Universidade Federal do Paraná). Curitiba, 2003.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient requirements of Dairy Cattle. Seventh Editon, 2001. Washington D.C.
381 p.
SANTOS, J.E.P.; SANTOS, F.A.P.; JUCKEM, S.O. Monitoramento do Manejo Nutricional em rebanhos leiteiros. In:
MATTOS, W.R.S. (Ed.) A PRODUÇÃO ANIMAL NA VISAO DOS BRASILEIROS. Piracicaba, 2001. 927 p.
Observação – O presente trabalho encontra-se ainda em andamento.
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Resumos
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE VOCAL EM MILITARES INSTRUMENTISTAS DE
SOPRO
Ana Paula Silva Ferreira - UTP
Kelly Cristina Alves Silvério - UTP
Aline Wolf, Jair Mendes Marques - UTP
INTRODUÇÃO: Entre as atividades desenvolvidas no Exército está a Banda Musical constituída de
instrumentistas de sopro e de percussão, tendo o compromisso com a música enquanto arte e manutenção
das tradições musicais militares. Diversos danos ocupacionais em músicos são relatados na literatura e podem
interferir na carreira profissional. A prática árdua e dedicação intensa sobre a técnica musical demandam um
esforço físico e mental imensurável aos musicistas, fazendo com que os mesmos exijam demasiadamente da
sua estrutura física e mental. Todo este trabalho, partindo do desempenho de uma excelente técnica e execução,
reflete ao corpo do instrumentista possíveis e visíveis alterações posturais, encurtamentos e algias musculares
devido à falta de consciência corporal. Além disso, os ângulos de atuação mecânica, ajustes finos de execução
do instrumento e preocupações inconscientes de desempenho e aprimoramento da técnica prejudicam o ajuste
ergonômico, por conseqüente ocasionando afecções musculoesqueléticas. Desta forma, fatores ambientais e
organizacionais do trabalho têm sido considerados causadores de risco para o desenvolvimento de distúrbios
vocais, auditivos e músculoesqueléticos em músicos. Neste contexto, a execução de um instrumento musical
envolve diferentes abordagens técnicas para se conseguir os resultados desejados. No caso da produção do
som, diferentes meios são usados, dependendo do instrumento. Com os instrumentos de sopro, a produção
do som dá-se a partir do momento em que uma coluna de ar, dentro de um tubo, é colocada em movimento
através da sua emissão por parte do executante. Alguns estudos revelaram a participação ativa da laringe na
execução do instrumento de sopro, sendo que o controle do fluxo aéreo e do sopro, aparentemente, estiveram
relacionados à alternância entre constrição e abertura glótica. A respiração e suas respectivas pausas servem
como elementos estruturais da performance musical, possuindo, inclusive, um conteúdo estético. Desta forma, os
instrumentistas de sopro utilizam intensamente o trato vocal em sua profissão, com adaptações específicas a estes
instrumentos, o que pode gerar fadiga vocal. Por outro lado, a profissão militar acabar por exigir grande demanda
vocal nas atividades físicas, com treino de voz de comando. Na literatura, apesar de vários estudos abordarem
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Pesquisa
problemas musculoesqueléticos em instrumentistas
de banda musical e apontarem a participação efetiva
da laringe na execução de instrumentos de sopro é
escasso o número de estudos que se propuseram a
avaliar a qualidade vocal em militares instrumentistas
de sopro. OBJETIVO: Avaliar a qualidade vocal dos
instrumentistas de sopro, militares integrantes da Banda
de Música da Polícia Militar do Paraná. MÉTODOS:
Foram avaliados 60 militares do sexo masculino,
subdivididos em: grupo experimental (GE) que
constou de 30 sujeitos, com idades entre 20 e 45 anos,
(média=33,5 anos) instrumentistas de sopro, e grupo
controle (GC) que constou de 30 sujeitos militares que
não tocavam instrumentos musicais. Após assinarem
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(CEP/UTP00014/2008) os sujeitos responderam
a um questionário com questões sobre presença ou
não de queixa vocal, sintomas vocais e laríngeos,
hábitos vocais e autopercepção vocal. A avaliação
vocal fonoaudiológica constou de registro da vogal
/E/ sustentada, isolada e após inspiração profunda,
repetida por três vezes. As vozes foram registradas em
computador portátil TOSHIBA 100 MHz, com 512
Mb, headphone unidirecional marca Plantronics DSP
com uso do programa GRAM versão 5.1 e propiciou
análise perceptivo-auditiva e acústica das vozes. Para
a análise perceptivo-auditiva, foram selecionadas uma
das três emissões – a de melhor qualidade de gravação
-, as vozes foram randomizadas e gravadas em CD-R
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e duas fonoaudiólogas, especialistas em voz foram
convidadas a julgar as vozes com uso da escala visual
analógica (EVA). Foram analisados os parâmetros
de impressão global da voz, rouquidão, soprosidade,
tensão e instabilidade. Para a análise acústica, foram
selecionados trechos de voz com duração de até 5
segundos de emissão, sendo as vozes randomizadas
e gravadas em CD-R para análise posterior por outra
fonoaudióloga, com uso do programa Vox Metria
Versão 2.7. Os parâmetros analisados na análise
acústica foram: freqüência fundamental, shimmer,
jitter e proporção harmônico-ruído. RESULTADOS:
Quando indagados sobre presença ou não de queixa
vocal, 16,67% do GE e 10% do GC responderam
ter queixa vocal, não havendo diferença significativa
entre os grupos estudados (p=0,4504). Entretanto,
falhas na voz (p=0,007) e voz fraca (p=0,0124) foram
significativamente mais relatados pelo GE. Dentre os
sintomas vocais e laríngeos, embora sem diferença
significativa entre os grupos, 46,7% do GE e 26,67%
do GC, relataram pigarro; 33,3% do GE e 13,37% do
GC relataram garganta seca, 16,67% do GE e 3,3%
do GC relataram cansaço nas bochechas, 30% do GE
e 10% do GC referiram estalos ou ruídos ao abrir a
boca. Em relação aos hábitos vocais, observou-se que
houve uma tendência maior do GE a ingerir bebidas
geladas (p=0,0720), tossir freqüentemente (p=0,0759) e
falar com esforço (p=0,0808), em relação ao GC. Não
houve diferença significativa quanto aos demais hábitos
115
116
Resumos
vocais e de saúde, porém observou-se que ingerir
bebidas geladas, pigarrear, falar alto, falar em ambientes
ruidosos, ficar muito tempo sem ingerir água, falar
muito rápido, ingerir pouca água, ficar exposto a
mudanças bruscas de temperatura, comer alimentos
gordurosos ou condimentados e consumir álcool
foram hábitos relatados por aproximadamente 30%
dos sujeitos de ambos os grupos. Com relação à análise
perceptivo-auditiva, participaram desta etapa, até o
presente momento, apenas 15 sujeitos de cada grupo.
Esta revelou que não houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos GE e GC nos parâmetros
de grau geral da qualidade vocal (p=0,2349), rugosidade
(p=0,1674), soprosidade (p=0,1674) e instabilidade
(p=0,2241). Entretanto, o parâmetro de tensão foi
significativamente mais evidente no GE (p=0,0259).
A análise acústica revelou que não houve diferença
significativa quanto aos valores de jitter (p=0,3738)
e proporção harmônico-ruído (p= 0,9253) entre os
grupos estudados. Porém, verificou-se que os militares
do GE apresentaram valores significativamente maiores
nas medidas de freqüência fundamental (p=0,0200) e
shimmer (p=0,0031), o que revela maior tensão e maior
instabilidade na intensidade vocal. CONCLUSÕES: Os
dados deste estudo permitem concluir que os sujeitos
militares instrumentistas de sopro possuem maior
freqüência de sintomas vocais e laríngeos quando
comparados aos militares não instrumentistas de sopro.
Os hábitos vocais e de saúde podem ser característicos
da profissão militar, independentemente da prática do
instrumento de sopro, provocando alguns sintomas
vocais e laríngeos nos sujeitos estudados. Os militares
instrumentistas de sopro possuem maior grau de
tensão vocal quando comparados aos militares não
instrumentistas de sopro, assim como maior freqüência
fundamental e instabilidade de intensidade revelada
pelo parâmetro acústico shimmer, o que pode estar
relacionada à tensão vocal.
Palavras-chave: avaliação, voz, hábitos, música, militares
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
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Resumos
AVALIAÇÃO DAS PROPRIEDADES FARMACOLÓGICAS E TÓXICAS DOS EXTRATOS
FRACIONADOS DA ERVA MATE (Ilex paraguariensis) TOSTADA E SOLUVEL
Luciana Nowacki
Roseli Mello
Arion Zandoná Filho
Wesley Mauricio de Souza
INTRODUÇÃO: A contribuição do reino vegetal à saúde do homem acompanha e acompanhará sua existência.
A mais elementar necessidade humana, a alimentação, está intimamente ligada aos vegetais. E não fica muito
longe a questão dos medicamentos. O homem primitivo utilizava esse recurso terapêutico: a flora medicinal. O
modo de tratá-la modificou-se com o passar do tempo, mas a fonte continua a mesma – a natureza (Maranho,
1994). Como método terapêutico, a fitoterapia faz parte dos recursos da medicina natural e está presente
também na tradição da medicina popular e nos rituais de cura indígenas. Em sua forma mais rigorosa, abrange
os princípios e as técnicas da botânica e da farmacologia. Embora muitas pessoas ignorem a importância das
plantas medicinais, sabe-se que toda a farmacologia tem como base exatamente os princípios ativos das plantas.
Na verdade, a farmacologia moderna não existiria sem a botânica, a toxicologia e a herança de conhecimentos
adquiridos através de séculos de prática médica ligada ao emprego dos vegetais. Apesar do avanço da tecnologia,
que diariamente cria novos compostos e substâncias sintéticas com poderes medicinais, mais de 40% de toda
a matéria-prima dos remédios encontrados hoje nas farmácias continua sendo de origem vegetal. Foi na parte
meridional do nosso continente que índios primitivos descobriram a erva mate Ilex paraguariensis, St. Hill, que
pertence ao grupo das Aqüifoliácea. A Ilex paraguariensis é uma planta perene arbórea que cresce no Norte
da Argentina, Paraguai, e Uruguai e região Centro-Oeste e Sul do Brasil. (Souza et al, 1991) No Brasil, a Ilex
paraguariensis é popularmente conhecida como Erva-Mate e é distribuído amplamente na região sul do país;
neste país o “mate” é consumido aproximadamente 1,2kg/por pessoa/ano (Fredholm et al, 1999). Esta espécie
cresce naturalmente também no nordeste da Argentina no oeste da Paraguai, onde também existe o cultivo
extensivo. (Gorzalczany et al, 2001) Popularmente é usado na forma de infusão de suas folhas e talos moídos,
denominado “Chimarrão” usado basicamente como bebida estimulante. (Reginatto et al, 1999; Schinella et al,
2000) O hábito de tomar o mate ocorre há séculos no Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. As investigações
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Pesquisa
químicas relativas à erva-mate iniciaram-se em 1836,
constatando a presença de diversas substâncias
resinosas, matéria corante amarela, ácido tânico, etc. A
identificação do principal alcalóide, a cafeína, ocorreu
em 1843. Em 1848, foi descoberto o ácido do mate – o
ácido café-tânico, já conhecido das sementes do café.
A complexidade química e as propriedades fisiológicas
do mate são discutidas cientificamente, desde 1954,
por Paula D.G. que indica, como constituintes da erva
mate os seguintes compostos: água, celulose, gomas,
dextrina, mucilagem, glicose, pentose, substancias
graxas, resina aromática, legumina, albumina, cafeína,
teofilina, cafearina, cafamarina, ácido matetânico,
ácido fólico, ácido caféico, ácido virídico, clorofila,
colesterina, e óleo essencial. Nas cinzas, encontramse grandes quantidades de potássio, lítio, ácidos
fólicos, sulfúrico, carbônico, clorídrico e cítrico, além
de magnésio, manganês, ferro, alumínio e traços de
arsênico. A cafeína , teofilina e teobromina são três
alcalóides, estreitamente relacionados, encontrados
na erva mate e são os compostos mais interessantes
sob o ponto de vista terapêutico (Souza, 1991). Seus
efeitos estimulantes não podem ser atribuídos apenas
aos alcalóides da cafeína e da teobromina, mas também
das vitaminas, dos sais minerais e outras famílias de
substâncias que formam a erva mate (Keys, 1993).
Na medicina popular, o uso do mate é indicado para
artrite, cefaléia constipação, reumatismo, hemorróidas,
obesidade (Brasceco et al, 2003), fadiga, retenção
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hídrica, hipertensão, baixa digestão e desordens
hepáticas, propriedades antiinflamatórias e estimulantes
(Cruz, 1982; Mazzafera, 1994; Gorzalczany et al, 2001)
Farmacologicamente, estudos científicos demonstram
que a erva mate possui efeito estimulante, diurético
(Gonzalez et al, 1993), anti-reumático (Gosmann
et al, 1989), antimutagênico (Candreva et al, 1993;
Ramirez-Mares et al, 2004) Efeitos antioxidantes que
podem ser devido a sua ação contra radicais livres
(Gugliucci, 1996; Gugliucci e Menini, 2002) ou como
demonstrado por Schinella et al, 2000, onde o extrato
bruto reduziu os níveis de LDL no plasma humano.
O extrato aquoso demonstrou também atividade
vasorrelaxante endotélio dependente em mesentério
de ratos, sugerindo um efeito dependente do oxido
nítrico (NO). (Baisch et al, 1998) Em adição a estes
dados Schinella et al, em 2005 demonstrou que o
extrato bruto é capaz de atenuar as disfunções cardíacas
provocadas por isquemia ou reperfusão em ratos, e
que provavelmente este efeito cardioprotetor envolve
redução do estresse oxidativo através de mecanismos
oxido nítrico dependentes. A ingestão aguda ou crônica
de extrato bruto de erva mate é capaz reduzir a hidrólise
de nucleotídeos no soro de ratos, bem como desenvolve
importante papel hipotensivo. (Gorgen et al, 2005)
Em termos fitoquímicos, a infusão de mate contém
cafeína, minerais (Fé, P a Ca++), flavonóides, bem
como vitamina C e B2. (Graham,1984) Apresenta na
sua composição química alcalóides como a teofilina,
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120
Resumos
teobromida e cafeína.(Kraemer et al, 1996; Ito et al,
1997; Mucilo et al, 1998; Athayde et al, 2000). A espécie
Ilex paraguariensis é a que possui altas concentrações
de cafeína e teobromida quando comparado com
outras espécies deste gênero. (Filip et al, 1998) Filip
et al, em 2001 demonstrou que a erva mate possui
altas concentrações de derivados cafeólicos bem
como flavonóides. Os flavonóides são descritos
como contendo propriedades biológicas de inibir os
sistemas de iniciação e manutenção da inflamação
e da resposta imune (Ferriola et al, 1989; Havsteen,
1983). Os flavonóides também são caracterizados
como seqüestradores de radicais livres e inibidores da
peroxidação lipídica (Baumann et al, 1980) O extrato
aquoso também inibiu os produtos finais da glicolação
(ação antioxidante inibindo a formação de radicais
livres) (Lucenford e Gugliucci, 2005) Existem vários
estudos que demonstram a atividade antioxidante do
mate, sugerindo que a sua ingestão pode contribuir para
o aumento da defesa do organismo, principalmente
contra os radicais livres. Os polifenóis presentes nas
folhas da erva-mate são os principais responsáveis
por essa propriedade antioxidante (Filip et al., 2001;
Gorzalczany et al., 2001; Gugliucci, 1996). Por causa do
uso extensivo do mate e de seus efeitos sobre o sistema
nervoso central estes geralmente são relacionados com
as concentrações de cafeína e teobromida (Filip et al,
1983; Alikaridis, 1987) as investigações fitoquímicas
(Alikaridis, 1987) demonstraram que esta possui muitos
constituintes, tais como: flavonóides (quercitina e rutina)
(Roberts, 1956); terpenóides (ácido ursólico) (Nooyen,
1920; Hauschild, 1935; Mendive, 1940); aminoácidos
(alanina, arginina, asparagina, ácido aspártico, cisteína,
cistina, ácido glutâmico, glicina, histidina, isoleucina,
leucina, lisina, metionina, triptofano, tirosina e valina)
(Cascon, 1995); ácidos graxos (láurico, palmitoléico,
óleo linoléico) (Cattaneo et al, 1952); carboidratos,
vitaminas e carotenóides. (Chlamtac et al, 1952;
Vilela, 1938) Tem sido de interesse do laboratório
de Farmacologia da UTP procurar desenvolver um
plano de pesquisa, visando um screening de extratos
de plantas brasileiras, a fim de descobrir aquelas que
pudessem possuir atividade farmacológica de interesse.
De um modo geral, consta de três fases: a) teste geral
de atividades do extrato bruto aquoso; b) no caso de
atividade presente, fracionamento do extrato bruto, e
c) realização de testes subseqüentes mais específicos.
Nossos resultados obtidos ao longo destes 4 anos de
estudo demonstraram que o mate verde e o tostado
solúvel apresentam em extrações aquosas ação
antiedematogênica, antiinflamatória e analgésica.
Porém, não sabemos ainda qual o componente
fitoterápico da planta responsável por estas ações.
Necessitando, nesta fase do estudo, um fracionamento
dos extratos brutos obtendo frações mais puras a fim de
determinar quais compostos químicos são responsáveis
por qual ação, dando assim um grande passo rumo a
produção de patente. Nosso grupo de pesquisadores
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Pesquisa
optou por iniciar o fracionamento do mate isolando
dois compostos. Os Polifenóis – Flavonóides que
em geral constituem 20% - 30% da composição
da erva-mate, são solúveis em água, incolores e
conferem o gosto adstringente ao mate. Sabe-se que
a qualidade da erva-mate beneficiada é positivamente
correlacionada com a concentração de flavonóides. A
alta concentração de materiais polifenólicos confere
excelentes características químicas à erva-mate. Os
principais flavonóides encontrados na erva-mate
são: a rutina, a quercetina-3-glicosídeo e canferol3-rutinosídeo. E os Alcalóides: a cafeína, teofilina
e teobromina que são três alcalóides, estreitamente
relacionados, encontrados na erva mate e são os
compostos mais interessantes sob o ponto de vista
terapêutico. A riqueza em alcalóides varia com a idade
da planta, diminuindo com aumento desta.
OBJETIVOS: - Objetivos geral: Avaliar as frações do
extrato bruto de erva mate tostada e solúvel, padrão
comercial da Leão Jr/SA.
- Objetivo específicos: 1- Elaborar duas frações a
partir do mate tostado: (1) fração alcalóide e (2) fração
de polifenóis. 2- Realizar um teste geral de atividades
em camundongos com as frações para determinar
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a DL50 e a toxicidade de cada fração. 3- Realizar
testes em camundongos para verificar em qual fração
encontra-se a atividade analgésica e antiinflamatória,
que já determinamos no extrato bruto aquoso. 4Realizar testes de avaliação psicoativa das frações em
camundongos tais como teste de sono barbitúrico
e movimentação espontânea também no intuito de
buscar onde estão os ativos para a psicoestimulação já
encontrada no extrato bruto.
- Atividades Gerais Desenvolvidas, resultados
esperados e alcançados. Ate o presente momento
conseguimos realizar fracionamentos com diferentes
solventes com níveis de polaridades diferentes na busca
dos alcalóides e polifenóis. Trabalhamos também em
conjunto com professores de UFPR e LACTEC para
caracterização destes compostos através de diferentes
técnicas de cromatografia. Os testes biológicos terão
início assim que obtivermos frações padronizadas,
reproduzíveis e estáveis, bem como determinado os
compostos bioativos presentes nas frações. Estes testes
estão previstos para início do ano de 2010.
Palavras-chave: Ilex paraguariensis; alcalóides;
polifenois.
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Resumos
AVALIAÇÃO DO PADRÃO DE DURAÇÃO EM INDIVÍDUOS SUBMETIDOS A TESTE
DE PRÓTESES AUDITIVAS
Fernanda Scheffer Frosi - UTP
INTRODUÇÃO: Alguns testes de processamento auditivo podem ser utilizados durante a testagem de aparelhos
auditivos na intenção de buscar informações sobre a via auditiva central. No presente estudo, utilizou-se o
Duration Pattern Sequence (DPS) (1). Tal consideração poderá favorecer a utilização de aparelhos auditivos, pois
é, de conhecimento dos profissionais que muitos indivíduos, ao adquirirem os mesmos, não referem adaptação
satisfatória. A deficiência auditiva é a forma mais comum de desordem sensorial no homem, podendo ser causada
por fatores ambientais, decorrentes, por exemplo, de traumas, infecções, ou por fatores genéticos (2). Dessa
forma, tem sido considerada uma doença incapacitante cujo tratamento mais utilizado é o aparelho auditivo,
que capta o som do ambiente, aumenta sua intensidade e o fornece amplificado ao usuário(2). Em alguns casos,
a seleção e a adaptação de aparelhos auditivos resulta muitas vezes, na rejeição do uso dos mesmos por não
contemplarem as necessidades dos indivíduos. Desse modo, a inclusão de testes de processamento auditivo pode
ser um recurso na seleção e adaptação de aparelhos auditivos. A avaliação global do processamento auditivo
geralmente engloba tarefas monoaurais de baixa redundância (fala filtrada, fala no ruído, PSI e SSI), tarefas de
padrões temporais (DPS e PPS - pitch pattern sequence), tarefas de interação binaural (fusão binaural) e tarefas
dicóticas (DD - dicótico de dígitos, SSW - staggered spondaic word). Neste trabalho, serão evidenciados o teste
Dicótico de Dígitos e o teste DPS. Os testes de interação binaural são apropriados para avaliar a habilidade do
Sistema Nervoso Auditivo em receber informações em ambas as orelhas e unificá-las em um evento perceptual,
onde se acredita que esta unificação ocorra no tronco encefálico (3). O teste dicótico de dígitos na tarefa de
integração binaural tem como objetivo avaliar a habilidade para agrupar componentes do sinal acústico em
figura-fundo e identificá-los. Além disso, a tarefa de separação binaural possibilita avaliar a escuta direcionada
para cada orelha separadamente (4). O teste dicótico de dígitos é flexível e de rápida aplicação, oferecendo
especificação e sensibilidade para detectar disfunções corticais e subcorticais (5). A interferência binaural é a
condição na qual o desempenho binaural é mais prejudicado do que o desempenho monoaural. A adaptação
binaural poderia ser acompanhada de forma mais eficaz se as avaliações auditivas centrais fossem incluídas
como parte dos procedimentos de seleção e adaptação de aparelhos auditivos (3). O teste DPS consiste na
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Pesquisa
apresentação de três combinações diferentes de tons,
onde cada combinação é alternada ou não entre tom
curto (C) e tom longo (L). Podendo ser feito com o
paciente murmurando esses tons ou nomeando os
mesmo por curtos e longos.
OBJETIVO: Avaliar o desempenho dos pacientes
no teste do padrão de duração durante a testagem de
aparelhos auditivos analógicos e digitais.
CASUÍSTICA E MÉTODO: O presente estudo
constitui-se num estudo de série de casos,
contemporâneo, de caráter experimental que investiga
o desempenho dos pacientes no teste DPS, durante a
testagem de aparelhos auditivos analógicos e digitais.
O mesmo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário Metodista - IPA
sob o número 1538 em 06/01/2006. Foram avaliados
7 indivíduos adultos, sendo 4 do sexo feminino e 3
do sexo masculino, com idades entre 34 e 71 anos,
todos com perda auditiva bilateral, variando do grau
leve ao moderado, dos tipos neurossensorial e misto,
com indicação médica para adaptação de aparelho
auditivo. Dos 18 indivíduos atendidos na clínica com
indicação médica para teste de aparelho auditivo, 9
possuíam perda auditiva de grau leve a moderado
e 2 não aceitaram participar da pesquisa restando
apenas 7 indivíduos. Assim, esta pesquisa constituise num estudo de série de casos na qual se observou
a importância de considerar os aspectos temporais
no processo de seleção, indicação e adaptação de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
aparelhos auditivos. Esse estudo foi composto por
três momentos, sendo o primeiro encontro destinado à
realização da anamnese, das avaliações audiométricas e
imitanciométricas. No segundo encontro, os indivíduos
foram submetidos à pesquisa do nível de desconforto,
audiometria em campo livre, teste de reconhecimento
de fala em campo livre com a utilização do teste com
palavras foneticamente balanceadas proposto por PEN
MANGABEIRA (1973) e teste Dicótico de Dígitos
elaborado por MUSIEK em 1983, adaptado para o
português por SANTOS e PEREIRA (1996) (6). No
último momento, os indivíduos experimentavam então
dois modelos de aparelhos auditivos, um de tecnologia
analógica e outro de tecnologia digital regulados
conforme as perdas auditivas. Após a realização do
ganho funcional e teste de reconhecimento de fala
com aparelho auditivo analógico e/ou digital, foi
realizado o teste de processamento auditivo DPS, em
campo, na condição murmurando, com cada uma das
tecnologias. Objetivando a simplificação do protocolo,
o número de seqüências de trios dos tons, do referido
teste foi apresentado sem aparelho, com aparelho
analógico e com aparelho digital apenas dez vezes
para cada modalidade citada. A partir do protocolo de
pesquisa foi montado um banco de dados no programa
SPSS versão 10.0, onde foram feitas todas as análises
estatísticas. O teste t para amostras emparelhadas foi
utilizado para comparar o ganho auditivo com e sem
aparelho auditivo. O teste de Friedman foi utilizado
123
124
Resumos
para comparar o DPS entre os grupos: sem aparelho,
com aparelho analógico e com aparelho digital. O teste
de Wilcoxon foi utilizado na comparação do teste com e
sem aparelho auditivo. Utilizou-se a tabela de freqüência
para a apresentação das variáveis descritivas da amostra.
O nível de significância utilizado foi de 5%.
RESULTADOS: A comparação do teste DPS sem
parelho auditivo e com aparelho auditivo analógico
não foi significativa (valor “p” de 0,07 para OD e 0,06
para OE), a mesma comparação entre o teste DPS sem
aparelho auditivo e com o aparelho auditivo digital
revelou significância de 0,04 para OD e correlação
inversa para OE com valor de “p” 0,99.
DISCUSSÃO: A comparação entre o desempenho
no teste DPS sem aparelho auditivo e com aparelho
auditivo digital revelou um valor “p” de 0,04 de
significância para orelha direita em discrepância ao
valor “p” da orelha esquerda que foi de 0,99, passando
longe do valor admitido como significativo, indicando
correlação inversa. Do ponto de vista fisiológico
esperava-se um melhor desempenho da orelha
direita devido à rápida transmissão do estímulo pela
via auditiva ipsilateral desta orelha até o hemisfério
direito. Supõe-se, então, que a orelha esquerda obteve
desempenho pior com o aparelho digital pelo fato
dos estímulos do teste serem conduzidos pela via
contralateral desta orelha até o hemisfério direito,
podendo ser o cruzamento responsável pela menor
velocidade de processamento. Em situação dicótica, as
vias ipsilaterais, mais fracas, são suprimidas enquanto
as vias contralaterais, mais fortes, ou privilegiadas
assumem a função (3). Desse modo, pode-se perceber
que a tecnologia analógica mostra um processamento
mais lento, gerando pouca melhora. Já a tecnologia
digital mostra um processamento mais rápido, gerando
muita vantagem para a OD, o que poderia causar um
desequilíbrio em relação à OE (significância inversa).
Esses fatos criam a reflexão de que o paciente poderia
utilizar o aparelho analógico para ambas orelhas,
com pouca melhora, mas mantendo um equilíbrio
entre as orelhas ou utilizar apenas o aparelho digital
na OD, obtendo grande vantagem. Para responder
tal questionamento, deve-se afastar a hipótese de
ocorrência de interferência binaural nos sujeitos
pesquisados. Em relação às tecnologias, a ordenação
temporal apresentou pouca melhora com o aparelho
analógico em ambas as orelhas, sendo questionável o
fato de ter apresentado muita melhora para OD e pouca
para OE com o aparelho digital. No entanto, cabe
avaliar se o teste DPS é o mais adequado para oferecer
informações sobre o funcionamento da via auditiva
central no paciente usuário de aparelho auditivo. Por
meio da análise dos resultados obtidos neste estudo,
sugere-se a continuação de pesquisas relacionando o
processamento auditivo com a seleção, verificação e
adaptação de aparelhos auditivos.
CONCLUSÃO: O presente estudo trouxe contribuições
na medida em que o teste DPS foi estatisticamente
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Pesquisa
significativo apenas para orelha direita na tecnologia
digital, oferecendo informações sobre o processamento
temporal na testagem de aparelhos auditivos. Porém,
foram estudados apenas 7 indivíduos. Assim, um estudo
com uma amostra maior seria de vital importância para
confirmar as conclusões do presente trabalho. Também
se torna necessária a realização de mais pesquisas
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sobre testes de processamento temporal que possam
ser incluídos no protocolo de verificação de aparelhos
auditivos, merecendo então que este estudo tenha
continuidade.
Palavras-chave: perda auditiva; perda auditiva central;
prótese auditiva.
125
126
Resumos
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Pesquisa
AVALIAÇÃO MICROBIOLÓGICA E DE METAIS PESADOS DO AQUÍFERO FREÁTICO
NOS CEMITÉRIOS MUNICIPAIS ÁGUA VERDE-CURITIBA E CÓRREGO FUNDOSÃO JOSÉ DOS PINHAIS PR
Elisangela Ferruci Carolino - UTP
Michael Moraes – UTP
Maria Luisa Fernandes Rodrigues - UTP
Vários relatos históricos mostram a contaminação das águas subterrâneas e poços de abastecimentos públicos
por necrochorume. Os cemitérios são fontes causadoras de impactos ambientais, muitas vezes com localização
irregular, ou seja, situada perto de mananciais. A proliferação dos microrganismos dos corpos em decomposição
se dá através do solo, contaminando o lençol freático e posteriormente contaminará o homem. O objetivo geral
deste trabalho foi analisar os tipos de impactos ocasionados pelo cemitério Água Verde em Curitiba-PR e pelo
cemitério Córrego Fundo em São José dos Pinhais-PR, tendo como objetivos específicos verificar a existência
de poços de monitoramento do nível hidrostático, avaliar potenciais de poluição de origem microbiológica e
metais pesados no aquífero freático e propor soluções ambientais corretas para os impactos. O Cemitério
Municipal Água Verde no município de Curitiba foi fundado em 1888. Possui uma área de 97.827 m2 contando
com aproximadamente 92 mil sepultados até a data das coletas 11 e 13 de maio de 2009 pela manhã, onde foram
coletadas amostras de água dos 8 poços de monitoramento com profundidade variando entre 4,23-10,22 m. O
Cemitério Municipal Córrego Fundo no município de São José dos Pinhais foi fundado em 1940. Possui uma
área de 22.620 m2 e aproximadamente 12 mil sepultados, onde foram coletadas amostras de água de 2 poços
artesianos no entorno com profundidade variando de 6-13 m, já que no cemitério não há poços de monitoramento.
No dia 4 de maio de 2009 pela manhã, o poço mais profundo é utilizado para construção civil no local, sendo
que o segundo com profundidade menor é utilizado para consumo por uma família vizinha ao cemitério, ambas
no estado do Paraná. As amostras foram coletadas com auxílio de amostradores do tipo bayler, mesmo tipo
utilizado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) em análises de monitoramento. As análises foram realizadas
utilizando-se a metodologia do Standard Methods for the examination of Water and Wastewater, 21ª Edition,
da American Public Health Association- APHA (2005) nos laboratórios da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP)
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
onde foram feitas análises microbiológicas. No
TECPAR (Instituto de Tecnologia do Paraná) setor de
química ambiental, foi feita análise em triplicata para
alumínio, antimônio, arsênico, cádmio, cálcio, chumbo,
cobre, cromo, estanho, ferro, magnésio, manganês,
mercúrio, níquel, selênio e zinco por espectrometria
de emissão óptica com plasma indutivamente acoplado
com configuração axial. Os parâmetros foram baseados
na legislação brasileiras CONAMA 357/05 e também
para comparação com a lei vigente no Brasil foram
utilizadas as leis italianas e canadenses para a
potabilidade da água. De acordo com os resultados, os
padrões de qualidade de água, adotados para comparação,
são os valores máximos permitidos (VMP) especificados
na Resolução CONAMA 357/05, aplicada para
classificar águas superficiais, adotando-se os valores
para classe 2, destinadas ao consumo humano, após
tratamento convencional.Para comparação internacional
usou-se os parâmetros da lei italiana DPR 05/88 del
Ministerio della Sanità (ITÁLIA, 1988) e da lei
canadense Comité FPT sur l’eau potable au Canada,
Santé Canada. Os valores de metais pesados foram
baseados na resolução CONAMA 357/05. Para o
Cemitério Córrego Fundo, os poços foram chamados
de PA (ponto alto) e PB (ponto baixo). Para o Cemitério
Água Verde foram apenas enumerados os poços de
acordo com a localização, e o poço de monitoramento
n° 4 foi desativado. No cemitério Água Verde
encontrou-se resultados elevados para alumínio,
chumbo, ferro e manganês. Fazendo uma média entre
os 8 poços para o alumínio obteve-se 2,9 mg/L sendo
que a resolução CONAMA 357/05 indica no máximo
0,1 mg/L, o teor elevado desse metal na água acarreta
danos ao sistema nervoso central, perda de memória,
tremores, dores musculares e surdez e a sua ocorrência
nessas águas pode ser atribuído aos adornos nos
caixões, às jóias postas em corpos o qual é percolado
pela chuva através das rachaduras em túmulos. A
presença de ferro e manganês pode ser resultado tanto
de processos naturais, isto é, da solubilização de
minerais ferro-manesianos, como na solubilização e
lixiviação das partes metálicas dos caixões, a
concentração máxima permitida para ferro segundo o
CONAMA 357/05 é de 0,3 mg/L o qual foi excedido
em 60% das amostras no cemitério Água Verde
variando entre 0,15 mg/L até 40 mg/L, o excesso de
ferro tem como consequência a hemocromatose e o
manganês causa grandes efeitos neurotóxicos no
homem e problemas respiratórios. O chumbo foi outro
metal pesado identificado, o valor recomendado pelo
CONAMA 357/05 é de 0,01 mg/L, porém em 3 poços
de monitoramento foram encontrados valores
superiores, entre 0,005 mg/L a 0,11 mg/L, como o
chumbo é um metal bioacumulável ele age diretamente
no sistema nervoso, medula óssea e rins. Comparando
esses valores com as leis italianas e canadenses verificase a contaminação, mesmo que o parâmetro para
chumbo na legislação italiana seja um pouco mais
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
elevado que a brasileira e canadense, quanto ao ferro
os valores estipulados para o Canadá e a Itália estão
abaixo do permitido no Brasil. No cemitério Córrego
Fundo foram detectados metais como alumínio, ferro
e manganês nas amostras do PA, no que se refere ao
PB, todo as amostras estavam no padrão não
apresentando valores superiores ao proposto pela
resolução CONAMA 357/05. Por tratar-se de um poço
que fica aberto, as contaminações por tais metais
podem ter sido antrópicas, pois segundo o morador,
esse poço é utilizado para fazer argamassa, com essaS
atividades por vezes derrubava-se e esquecia-se
materiais de construção dentro do mesmo. Com relação
aos teores de Cálcio e Magnésio, na legislação não há
um padrão. A ocorrência de Ca2+ é devida
provavelmente à lixiviação do cimento aplicado nas
sepulturas e em menor quantidade na lixiviação óssea.
Já o Magnésio pode estar presente em adornos fúnebres
e ele é o principal cátion dos tecidos humanos, estando
a sua origem, provavelmente, relacionada à
decomposição cadavérica. O excesso de cálcio no
organismo pode acarretar doenças como anorexia,
depressão, fraqueza muscular, irritabilidade, pedra nos
rins, já o excesso de magnésio tem como conseqüência
a hipotensão, náuseas, boca seca e sede crônica. Em
relação aos resultados microbiológicos, o meio Muller
Hinton foi utilizado para verificação de Pseudomonas
sp, pois se houver presença desta bactéria, ela torna o
meio esverdeado. As placas utilizadas foram EMB,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
MacConkey, Mueller Hinton, Salmonella Shigella e
TCBS respectivamente.Pela análise microbiológica
pode-se observar a presença de microrganismos
entéricos gram-negativos com exceção da pseudomas
sp e aermonas sp que não são entéricos, estes
microrganismos estão presentes na flora normal do
intestino humano e animal. A presença destes
microrganismos indica decomposição cadavérica nas
proximidades e/ou fezes. No cemitério Água Verde foi
encontrado todos os microrganismos analisados, sendo
que a Salmonella sp, Serratia marcescens e Proteus
morgani foram encontrados em todos os poços
analisados. Esses microrganismos são grandes
causadores de doenças como febre tifóide, pneumonia,
septcemia. Outro microrganismo com alta taxa de
infecção são as Pseudomonas sp pois causam graves
infecções hospitalares. No cemitério Córrego fundo,
houve uma contaminação maior no PA, mas essa
contaminação pode ser advinda de fezes animais, uma
vez que este poço permanece aberto ao lado do
cemitério, já no PB encontramos microrganismos como
Enterobacter aerogenes, Escherichia coli e Serratia
marcescens . Esse é um poço de utilização familiar o
qual possui uma bomba, a contaminação pode ter
advindo na falta de higiene com a bomba, já que eles
mesmos fazem a manutenção deste equipamento. Na
Conclusão do trabalho, as análises indicaram que há
um comprometimento da água no Aquífero Freático
do cemitério Água Verde devido à infiltração de
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Resumos
líquidos produzidos na decomposição cadavérica.
Através do cultivo microbiológico verificou-se que há
um grande número de bactérias entéricas poluindo as
águas do aqüífero. Quanto ao cemitério Córrego
Fundo, as análises indicam que a contaminação pode
ser antrópica uma vez que o poço artesiano analisado
fica aberto, e o outro é manipulado diariamente por
moradores. Para a realização deste trabalho houve
diversos empecilhos, sendo que o maior deles foi o
burocrático, uma vez que as prefeituras não
disponibilizam de forma rápida os laudos de análises
laboratoriais feitas nos cemitérios, há uma grande
demora para se obter autorizações permitindo coletas
de água no local, isso quando o cemitério está
regularizado na questão poços de monitoramento, pois
se não os houver como em São José dos Pinhais, a
prefeitura simplesmente nega o pedido, não dando
acesso ao cemitério. A análise em São José dos Pinhais
só foi possível pela colaboração da família vizinha ao
cemitério que cedeu gentilmente amostras de seus
poços artesianos. É importante ressaltar que durante
o processo de decomposição dos cadáveres há uma
proliferação de microorganismos que podem contaminar
solos e os aquíferos. Os cemitérios fazem parte do
planejamento ambiental urbano dos municípios, pois
representam uma atividade impactante para o ambiente.
A melhor for ma de evitar contaminação por
necrochorume seria a cremação, porém por questões
religiosas e culturais, no Brasil em sua maioria
permanecem as práticas do sepultamento. É necessário
um trabalho de reparação dos túmulos, pois em sua
grande maioria estão rachados e abandonados, com a
presença de árvores com enraizamentos profundos ao
redor dos cemitérios, danificando os mesmos. A
importância da realização periódica de análises dos
parâmetros microbiológicos e de metais pesados que
contribuem para a contaminação do ambiente, não é
uma preocupação somente ambiental mais também de
saúde pública.
Palavras-chave: cemitério; necrochorume; poluição
ambiental.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AVALIAÇÃO VESTIBULAR NA FRIBOMIALGIA: RELATO DE DOIS CASOS
Klagenberg KF - UTP
Zeigelboim BS - UTP
Liberalesso PBN - UTP
Paulin F - UTP
Jurkiewicz AL. - UTP
INTRODUÇÃO: A fibromialgia (FM) é uma síndrome dolorosa musculoesquelética não inflamatória de
caráter crônico, de etiologia desconhecida, caracterizada por dor generalizada, aumento da sensibilidade na
palpação e por outros sintomas como insônia, rigidez, cansaço, doença psicológica, intolerância ao frio, cefaléia,
enxaqueca, tontura, zumbido e etc. Pesquisas recentes mostram anormalidades bioquímicas, metabólicas e
imunoreguladora. O mecanismo mais aceito para o entendimento fisiopatológico da FM seria de uma alteração
em algum mecanismo central de controle da dor o qual poderia resultar em uma disfunção neuro-hormonal.
Tal disfunção incluiria uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supra-espinhais
(serotonina, encefalina, norepinefrina e etc) ou uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios (substância
P, glutamato, bradicinina e outros peptídeos) ou ainda ambas as condições poderiam estar presentes. Essas
disfunções poderiam ser geneticamente pré-determinadas e, talvez desencadeadas por uma infecção viral, estresse
mental ou por um trauma físico. Diversas anormalidades tem sido observadas nos portadores de FM, dentre elas,
ressalta-se a liberação da substância P (neuro-hormônio) em níveis elevados no líquor, deficiência de serotonina
nas plaquetas, nível baixo de trifosfato de adenosina, metabolismo anormal de carboidratos nas hemáceas,
regulação anormal da produção de cortisol e diminuição de fluxo sanguíneo em determinadas estruturas cerebais.
Estudos do fluxo sanguíneo cerebral por meio da tomografia computadorizada por emissão de fóton único
referem uma diminuição significativa do fluxo sanguíneo nas regiões bilaterais do tálamo e do núcleo caudado
cerebral. Estudos apontam a vulnerabilidade no desenvolvimento da FM estar influenciada por fatores genéticos,
ambientais e hormonais, causando alterações nos níveis de receptores neuro-hormonais. Pesquisas revelam que
diversos sintomas causados pela FM podem ser confundidos com os decorrentes pelas reações hansênicas e que
ambas as doenças podem ocorrer concomitantemente. Estudos relatam que portadores de FM podem apresentar
um nível elevado de hormônio estimulador da tireóide (TSH) indicando associação com hipotireoidismo. Os
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
dados epidemiológicos referentes à prevalência da
FM são variáveis, de acordo com diferentes estudos,
dependendo da população avaliada e da metodologia
aplicada. Com base em pesquisas internacionais, a
freqüência da FM é de 1 a 5% na população em geral.
Nos serviços de clínica médica, essa freqüência é em
torno de 5% e nos pacientes hospitalizados, 7.5%.
Na clínica reumatológica, por sua vez, essa síndrome
é detectada em 14% dos atendimentos. Nos Estados
Unidos, acredita-se que 3% a 6% da população geral
incluindo a pediátrica, são portadores de FM. No Brasil,
alguns trabalhos falam a favor de uma prevalência em
torno de 10% da população em geral. A FM é mais
freqüente no sexo feminino e na faixa etária de 30
a 50 anos ocorrendo em menor grau na população
pediátrica. Seu diagnóstico é realizado de acordo com
critérios estabelecidos internacionalmente pelo Colégio
Americano de Reumatologia em 1990, são eles: a) dor
difusa com duração no mínimo de três meses nas
seguintes regiões: dor no lado esquerdo e direito do
corpo, dor acima e abaixo da linha de cintura, dor no
esqueleto axial (coluna cervical ou torácica anterior
ou coluna dorsal ou coluna lombar). A dor no ombro
ou na nádega é considerada como dor para cada lado
envolvido. b) dor em pelo menos 11 dos 18 pontos
palpados denominados “tender point” com uma
força aproximada de 4kg. Para que um “tender point”
seja considerado positivo, o paciente deve declarar
que a palpação foi dolorosa. A presença dos pontos
dolorosos é o achado primordial do exame físico.
As opções de tratamento na FM são exercícios de
relaxamento, fisioterapia, massagens, irradiação de calor
localizada e atividades físicas moderadas em especial
exercícios aeróbicos e caminhadas além da medicação
necessária para dor e sintomas associados. A dor é um
problema grave na comunidade, e a qualidade de vida
destes pacientes é ruim, tendo a FM um importante
impacto social sobre a qualidade de vida, a capacidade
de trabalho e o uso de serviços médicos. Em casos
mais avançados podem ocorrer ansiedade, angústia,
distúrbios do sono, de humor, de memória, cefaléia,
alucinações (causadas por irritação cerebral e não
por desordem mental funcional) e a dificuldade na
concentração quando presente indica uma redução do
fluxo sanguíneo cerebral. Esta redução também pode
indicar disfunção na porção vestibular responsável pelo
equilíbrio corporal. Distúrbios da função motora dos
olhos vêm sendo relatados em pacientes portadores
de FM, isso pode ocorrer devido a disfunção dos
mecanismos responsáveis pela sua regulação causando
um distúrbio da função oculomotora. Os testes
otoneurológicos possibiltam a confirmação dos
distúrbios auditivos e/ou vestibulares e suas relações
com o sistema nervoso central. A vestibulometria é
um método de avaliação não invasivo cujos objetivos
são: a) ajudar na confirmação do comprometimento
vestibular; b) reconhecer o lado lesado; c) localizar a
lesão (periférica, central ou mista); d) verificar o tipo da
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
lesão vestibular (irritativa ou deficitária); e) caracterizar
a intensidade da lesão (leve, moderada ou severa) e f)
monitorar a evolução do paciente vertiginoso.
OBJETIVO: Verificar os achados vestibulococleares
em dois pacientes com FM.
METODOLOGIA: Avaliaram-se dois pacientes do
sexo feminino com diagnóstico de FM, idades entre
52 e 61 anos encaminhados ao Setor de Otoneurologia
de uma Instituição privada da cidade de Curitiba/Pr.
Ambos os pacientes não apresentavam perda auditiva
induzida pelo ruído, presbiacusia e alterações de orelha
média. Foram submetidos aos seguintes procedimentos:
anamnese, avaliações otorrinolaringológica, audiológica,
imitanciométria e vestibular. Na anamnese, aplicouse um questionário com ênfase aos sinais e sintomas
audiológicos, antecedentes pessoais e familiares. A
avaliação otorrinolaringológica foi realizada pelo médico
da clínica de fonoaudiologia com o objetivo de excluir
qualquer alteração que pudesse interferir no exame.
A audiometria tonal limiar convencional foi realizada
com um audiômetro de 2 canais, da marca Madsen-GN
Otometrics, modelo Itera, com fones TDH-39, com
limiares em dB NA. O equipamento encontra-se calibrado
de acordo com o padrão ISO 8253. A seguir, pesquisouse a determinação do limiar de reconhecimento de fala
(LRF) e do índice percentual de reconhecimento de fala
(IPRF), em cabine acusticamente tratada para impedir
a interferência de ruídos estranhos ao teste. A avaliação
vestibular foi composta por provas com e sem registro.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Sem registro, pesquisou-se o nistagmo e a vertigem de
posição/posicionamento. Pesquisaram-se os nistagmos
espontâneo e semi-espontâneo com os olhos abertos,
no olhar frontal e a 30° de desvio do olhar para a direita,
esquerda, para cima e para baixo. Com registro, realizouse a vectoeletronistagmografia (VENG) utilizou-se um
aparelho termossensível, com três canais de registro, da
marca Berger, modelo VN316. Colocaram-se fixados
com pasta eletrolítica, um eletródio ativo no ângulo
lateral de cada olho e na linha média frontal, formando
um triângulo isósceles que permitiu a identificação dos
movimentos oculares horizontais, verticais e oblíquos.
Este tipo de VENG possibilitou obter medidas mais
precisas da velocidade da componente lenta (correção
vestibular) do nistagmo. Utilizou-se uma cadeira
rotatória pendular decrescente da marca Ferrante, um
estimulador visual marca Neurograff, modelo EV VEC,
e um otocalorímetro a ar, da marca Neurograff, modelo
NGR 05. Realizaram-se as seguintes provas oculares
e labirínticas à VENG: calibração dos movimentos
oculares, pesquisa dos nistagmos espontâneo (olhos
abertos e fechados) e semi-espontâneo (olhos abertos),
pesquisa do rastreio pendular, nistagmo optocinético,
pesquisa dos nistagmos pré e pós-rotatórios à prova
rotatória pendular decrescente e pesquisa dos nistagmos
pré e pós-calóricos. A pesquisa foi realizada após
autorização do paciente por meio de assinatura do Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido.
RESULTADOS: Sujeito 1 - a) as queixas referidas
133
134
Resumos
foram: tontura, zumbido, sensação de movimento
de objetos, fadiga, depressão, cefaléia, dificuldade
em escutar, dificuldade nos movimentos do pescoço
entre outros; b) a audiometria apresentou uma perda
auditiva neurossensorial a partir de 2KHz na orelha
esquerda e limiares auditivos normais na orelha direita;
c) na imitanciometria, curvas timpanométricas do
tipo “A” com presença de reflexo acústico presente
bilateralmente; d) na VENG, o resultado foi sugestivo
de síndrome vestibular periférica deficitária á direita.
Sujeito 2 - a) as queixas referidas foram: tontura,
zumbido, sensação de movimento de objetos, fadiga,
depressão e cefaléia, b) Limiares auditivos normais
bilaterais; c) na imitanciometria, curvas timpanométricas
do tipo “A” com presença de reflexo acústico presente
bilateralmente; d) na VENG, sugestivo de síndrome
vestibular periférica irritativa à direita.
CONCLUSÃO: Os casos apresentados demonstram
a importância da avaliação audiológica e vestibular na
contribuição da elaboração de estratégias utilizadas no
acompanhamento terapêutico.
Palavras-chave: fibromialgia; vertigem; testes da função
vestibular; audição.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AVALIAÇÃO VISUAL E HISTOPATOLÓGICA DE CARCAÇAS DE FRANGOS
CONDENADAS PARCIAL OU TOTALMENTE NO PROCESSO DE ABATE
José Maurício França M.M.V. - UTP
Anderlise Borsoi, M.M.V. - UTP
INTRODUÇÃO: A avicultura brasileira vem se desenvolvendo principalmente pela integração — sistema de
parceria entre produtores e a agroindústria —, tornando possível que em 2008 o consumo de carne de frango
pelos brasileiros ultrapassasse os 39 kg per capita, com a oferta de produto protéico de alta qualidade. A
exportação para aproximadamente 160 países alcançou no ano passado mais de 4,0 milhões de toneladas, com
valor próximo a US$ 5 bilhões. Brasil e Estados Unidos ocupam hoje 80% do mercado mundial de produtos
de frango. O Estado do Paraná é o maior produtor de frango do Brasil e, em 2008, contou com 26% do abate
de frangos no país (UBA,2009). Dentre os setores que compõem a cadeia produtiva de aves, os matadourosfrigoríficos constituem forte elo, ocorrendo o abate dos frangos, inspeção sanitária e processamento da carne. As
medidas de condenações totais ou parciais de carcaças em matadouros-frigoríficos têm por objetivo principal a
inocuidade do alimento que chega à mesa do consumidor. Durante o processo de abate e inspeção são gerados
importantes dados sobre a saúde das aves no campo, os quais podem auxiliar o controle de patologias durante a
produção. POINTON et al. (1992) e MORÉS et. al. (2000) citaram que a identificação, caracterização e registro
de processos patológicos dos animais abatidos em matadouros-frigoríficos, constituiu uma fonte de dados
importante para a avaliação da condição sanitária das explorações, uma vez que permitiu identificar a ocorrência
de doenças sub-clínicas nos lotes e quantificar a gravidade de lesões que representem manifestações de doenças.
Com a intenção de correlacionar a inspeção visual de carcaças ao abate com dados histopatológicos das lesões,
buscou-se demonstrar que o papel do matadouro-frigorífico não fique restrito somente às planilhas de Inspeção
Federal, mas que sejam repassadas para o campo, a fim de auxiliar no controle das doenças sub-clínicas onde
as perdas são difíceis de quantificar pelas empresas. Alguns processos patológicos e algumas lesões das aves se
manifestam somente nas vísceras, não refletindo no estado da carcaça. Alguns processos patológicos e algumas
lesões que se manifestam nas vísceras e no interior da carcaça de aves, podem passar despercebidos durante a
inspeção post- mortem efetuada na linha de abate. Esta situação pode estar relacionada a dois factores principais:
a) a elevada velocidade de abate dos modernos matadouros-frigoríficos (WATKINS et al., 2000); b) a possibilidade
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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136
Resumos
dos processos patológicos serem acompanhados de
alterações da conformação corporal, nomeadamente
de ascite e de caquexia, sendo estes motivos suficientes
para rejeição imediata da ave, mesmo antes da sua
evisceração, evitando a visualização das lesões dos
órgãos internos. Para um melhor conhecimento das
condições patológicas que podem acompanhar os
animais abatidos, considerou-se necessário efetuar
não só o registro das causas de rejeição post- mortem,
mas também submeter à necropsia uma amostra dos
animais rejeitados na linha de abate (VIEIRA-PINTO
et al., 2003).
OBJETIVO: Conhecer as alterações histopatológicas
nas vísceras, pele e músculo das carcaças de frangos
condenadas parcial e totalmente pelo Departamento
Inspeção Federal nos matadouros-frigoríficos,
correlacionando lesões avaliadas às causas de
condenações.
METODOLOGIA: Foram realizadas visitas técnicas
a matadouros-frigoríficos, para acompanhamento da
inspeção sanitária post-mortem realizada na linha de
abate. As causas de rejeição das aves foram registradas,
bem como os dados de inspeção visual da carcaça e
vísceras à necropsia. Após a coleta de fígado, coração,
intestino e pele e músculo, as amostras foram fixadas
em formalina 4% (em pote coletor universal) para
posterior análise histológica, com técnica standard
de coloração Hematoxilina-Eosina (frações de 5μm
serão utilizadas para a avaliação). Foi realizada a coleta
de material de 80 peças de fígado condenados por
alteração macrosocópica de aspecto, por avaliação
visual na linha de inspeção. Uma amostra constituiuse de 200.000 aves inspecionadas, total. As causas
de condenação foram registradas durante o período
de observação da linha de abate. Os dados foram
registrados em planilha específica, e as aves coletadas
receberam numeração específica; conduzida análise
estatística pertinente será realizada através do StatView
SAS software (1992-98-SAS Institute Inc. USA).
RESULTADOS ESPERADOS: A avaliação das
condenações sanitárias durante o abate de aves no
estado do Paraná durante o ano de 2008 demonstrou
que contaminações são as principais causas de
condenações parciais representando 3,14% das
1.217.892.098 aves abatidas no Paraná em 2008. Muitas
patologias podem causar problemas para avicultores,
pois na avaliação veterinária no momento do abate
pode levar à total ou parcial condenação de carcaças
ou vísceras (MAPA, 1998). A Portaria N° 210, de 10
de novembro de 1998, do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), no anexo IX,
definiu o destino e critérios de julgamento de aves,
sendo passíveis de condenação as carcaças na inspeção
post mortem com: abscessos, aerossaculite, processos
inflamatórios, tumores, aspecto repugnante, caquexia,
contaminação, contusão, fraturas, dermatoses,
escaldagem excessiva, magreza, evisceração retardada,
septicemia, síndrome ascítica e doenças especiais.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Em estudo realizado por GITTO et al. (2008) em
matadouros-frigoríficos no sul do Brasil, observaram
que o grupo de condenações parciais por aerossacultite,
ascite e contaminação foi responsável pelas maiores
perdas econômicas no abate, onde obtiveram uma
representatividade de 74,37% das perdas em relação
ao total das condenações parciais do período. O
custo de produção total dos frangos no período de
estudo foi R$159.443.670,00, as perdas econômicas
recorrentes por condenações totais e parciais foram
de aproximadamente R$3.731.522,00, equivalente
2,34% dos custos. Dentre todas as condenações, os
maiores problemas foram contaminação e contusão,
responsáveis por maior parte das condenações e
pelas maiores perdas econômicas, principalmente nas
condenações parciais. Isto determinou que o estudo
de diferenciação histológica utilizasse a avaliação de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
fígado, em virtude da busca que associe alterações
macroscópicas, alterações histológicas e lotes com alta
incidência por contaminação, devido à colangiohepatite
(alteração histológica do fígado) estar associada à perda
de elasticidade e aumento da fragilidade dos intestinos
à ruptura durante a evisceração (LOVLAND, 2001).
Alguns processos patológicos e algumas lesões das aves
se manifestam somente nas vísceras, não refletindo
o estado geral das carcaças. Deste modo, a falta de
procedimentos laboratoriais de análise histológica das
alterações visuais em vísceras, faz com que seja perdido
material de diagnóstico proveniente de aves de lotes
abatidos. Nas granjas, com a entrada de novos lotes de
aves para criação, estes estarão sujeitos a desafios que
poderiam ser melhores conhecidos, desde o primeiro
dia, com os exames das vísceras do lote anterior ao
abate.
137
138
Resumos
REFERÊNCIAS
GIOTTO. GIOTTO, D.B.; ZIMERMANN, C. F.; CESCO, M.A.O ; BORGES FORTES, F.B.; PINHEIRO, D.;
HILLER,C.C; HERPICH, J.; MEDINA, M. ; RODRIGUES, E.; SALLE, C.T.P. Impacto econômico de condenações post
mortem de frangos de corte em um matadouro-frigorífico na região sul do Brasil. Disponível em < www.sovergs.com.br/
conbravet2008/anais/cd/resumos/R0701-2.pdf> Acesso em 25 de novembro de 2008.
LOVLAND, A. Department of Pathology, National Veterinary Institute, P.O. Box 8156 DEP, N-0033, Oslo, Norway.
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
BIOLOGIA E CONSERVAÇÃO DE ANUROS DO GÊNERO Brachycephalus DA
SERRA DO MAR NO ESTADO DO PARANÁ
Luiz Fernando Ribeiro - UTP
A família Brachycephalidae está representada atualmente por 41 espécies, separadas em dois gêneros,
Brachycephalus e Ischnocnema. Sua distribuição ocorre a partir do sudeste até o sul do Brasil e nordeste da
Argentina. O gênero Brachycephalus é compreendido por 11 espécies sendo este o gênero que originou a
família. Até recentemente, constituía-se no único gênero para a família, mas estudos de grande relevância
taxonômica reorganizaram vários gêneros de várias famílias outrora separadas. O gênero Brachycephalus é
restrito à Floresta Atlântica, distribuindo-se desde o Estado do Espírito Santo até o Estado do Paraná. As
espécies deste gênero são notáveis por possuírem algumas características incomuns para anfíbios. Possuem
atividade diurna e ocupam regiões da Serra do Mar sobre a porção densa da Floresta Atlântica. Seus habitats
são de regiões caracterizadas como floresta alto montana, com elevações que podem variar de 1000 m a 1200
m de altitude. Durante o dia algumas espécies podem ser encontradas deslocando-se sobre a serrapilheira no
chão da floresta. Possuem um tamanho diminuto, em média 12,5 mm de comprimento rostro-cloacal. Esse fato
se deve ao fenômeno de miniaturização que estas espécies sofreram durante sua evolução. Tendo também
relação com a miniaturização do corpo, as espécies de Brachycephalus sofreram redução do número de artelhos
e falanges, tanto dos membros anteriores com posteriores. As espécies de Brachycephalus apresentam corpo
bufoniforme. O desenvolvimento embrionário é de forma direta, sem necessitarem de corpos d’água para a
sobrevivência dos animais durante a fase larval, dependendo exclusivamente da umidade do solo da floresta.
Acredita-se que para todas as espécies a desova seja terrestre e com desenvolvimento direto pelo fato de
apresentarem ovos grandes e um pequeno número de óvulos nos ovários, como já constatado para B. ephippium.
A coloração para a maioria das espécies de Brachycephalus é em geral de um colorido exuberante, exibindo
cores como amarelo, laranja e vermelho. Estes anuros possuem coloração aposemática, sugerindo uma associação
com um mecanismo de defesa para evitar predadores. Glândulas de veneno na epiderme já foram estudadas e
evidenciadas para B. pernix, B. brunneus, B. ferruginus. Através de estudos de caracterização bioquímica foi
comprovada a presença de tetrodotoxina e seus derivados para B. ephippium, B. notoderga e B. pernix. Logo,
deve existir uma relação entre a coloração aposemática e a presença de glândulas na epiderme, que seriam
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
responsáveis por armazenar uma toxina utilizada como
mecanismo anti-predação. Entretanto, esta estratégia
anti-predação não deve ser a única para as espécies de
Brachycephalus, pois B. brunneus não apresenta
evidências da presença de toxinas e possui coloração
críptica. Além disso, B. izecksohni não possui glândulas
epidérmicas granulares armazenadoras de veneno,
apesar da coloração aposemática. A comunicação visual
é evidente para estes organismos, como descrita em
detalhes por José Pombal Júnior do Museu Nacional
para B. ephippium e por Eloísa Wistuba da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente de Curitiba para B.
pernix. Animais quando se defrontam uns com os
outros, exibem sinais de levantar e abaixar os membros
anteriores e de deslocamento. Já foi observado
encontros agonísticos no qual um animal empurra o
outro para expulsá-lo de seu território. Acredita-se que
as demais espécies também apresentem esse tipo de
comportamento. Esta é uma adaptação adquirida por
apresentarem hábitos diurnos. O reconhecimento
acústico é um fator primordial para reprodução dos
anfíbios de um modo geral. Além disso, estes anfíbios
podem prevenir sonoricamente avanços e disputas de
outros indivíduos, como apresentado por B. pernix,
função também demonstrada por outros anuros. As
vocalizações podem apresentar funções como
reconhecimento específico, e defesa de território.
Machos de B. ephippium em épocas de chuvas fazem
exibições com notificações visuais e por meio de
vocalizações para determinarem seus territórios. O
anúncio vocal é um som que dura de 2 a 6 minutos, a
frequência oscila de 3,4 a 5,3 KHz e cada nota é
composta por 5 a 15 pulsos. A vocalização desses
machos assume uma postura forte, possivelmente
devido ao aumento de seu saco vocal estendido em seu
peito. Quando um macho residente desta espécie se
defronta com um intruso, este inicia vocalizações de
advertência e movimentações de subida e descida com
os braços em frente aos olhos. Para B. pernix, o anúncio
vocal tem duração curta, constituído por dois a três
pulsos com frequência na faixa de 4,4 e 6,7 KHz. Entre
estas duas espécies também há diferenças entre a
duração dos pulsos de vocalização e a duração dos
intervalos entre um pulso e outro. A alimentação em
geral destes diminutos anuros, constitui-se de pequenos
artrópodes disponíveis no seu habitat. Para B.
ephippium foi identificado que sua dieta é constituída
na sua maior parte de colembolas, ortópteros e larvas
holometábolas, sendo estes grupos encontrados com
maior frequências à daquela encontrada no ambiente,
indicando seletividade de presas por parte dessa espécie.
Brachycephalus pernix possui uma preferência
alimentar por ácaros e himenópteros da série parasítica
(Chalcidoidea). Entretanto, conforme a época do ano,
sua dieta pode variar: no inverno aranhas também são
selecionadas com maior frequência do que a encontrada
no ambiente. Embora poucos estudos tenham sido
realizados para as demais espécies de Brachycephalus,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
seus hábitos e métodos de caça podem ser bastante
variáveis, apontam que B. nodoterga é um predador de
espera, permanecendo parado no chão da mata a espera
de presas. Por outro lado, B. pernix foi considerado
por como um predador ativo, que se desloca na mata
enquanto busca suas presas. Esse comportamento é
corroborado pela presença de ácaros e de larvas na sua
dieta alimentar com uma frequência maior do que
encontrado no ambiente. O presente estudo tem como
objetivo aprofundar o conhecimento da biologia das
espécies de Brachycephalus do Estado do Paraná
atualmente descritas, investigando dois aspectos: (1)
caracterizar a vocalização de cinco espécies de
Brachycephalus apontando suas variações e (2) analisar
a dieta alimentar de B. brunneus comparando com a
de outras espécies já conhecidas. Entre as várias
atividades desenvolvidas no projeto de biologia e
conservação de espécies de Brachycephalus, foram
realizadas incursões ao campo para gravação da
vocalização de cinco espécies. As espécies são
desgnadas como: B. pernix, B. brunneus, B. pombali,
B. izechsohni e B. ferruginus. As localidades onde são
encontrados os animais, nos quais foram realizadas as
gravações, são todas da Serra do Mar no Estado do
Paraná e são assim chamadas: Pico Paraná e Pico
Camapuã em Campina Grande do Sul, Pico Anhangava
em Quatro Barras, Morro Sete e Pico Marumbi em
Morrtes, Morro do Canal e Pico da Igreja em Piraquara
e Torre da Prata em Guaratuba. Os arquivos de som
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
foram gravados com gravador analógico e utilizando
microfone semi-direcional. Posteriormente os arquivos
são digitalizados e armazenados em computador. Uma
análise parcial da vocalização foi realizada com o som
gravado de B. brunneus comparando com a vocalização
de B. pernix que já foi descrita anteriormente. Esta
análise é baseada na comparação e sonogramas, que
podem indicar a amplitude, frequência e número de
pulsos que o animal emite quando produz uma
sonorização. Adicionalmente, foram realizadas coletas
de espécimes de B. brunneus no Pico Camapuã com a
finalidade de realizar uma análise do conteúdo
estomacal de cada animal. Foram coletadas também
amostras da serrapilheira do local onde vivem os
mesmo anuros. Essas amostras foram triadas a fim de
localizar a fauna de animais invertebrados para
posteriormente comparar a disponibilidade de possíveis
presas no ambeinte com aquelas ingeridas pelos
espéciemes de B. brunneus. A análise preliminar do
som vocal de B. brunneus revelou que esta espécie
possui um padrão vocal diferente quando comparado
com B. pernix. O sonograma revela que a frequência
da vocalização é mais ampla, pois a frequência mínima
observada é abaixo de 4,0 KHz e a frequência máxima
é acima de 7,0 KHz. O número de pulsos também é
diferente, pois B. brunneus emite vocalizações de um,
dois e três pulsos. Em campo, pôde ser percebido que
quando os espécimes iniciam uma série vocal, sempre
emitem um pulso várias vezes, passam a emitir dois
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Resumos
pulsos e posteriormente três pulsos. Uma vez encerrada
a série, retornam para o início emitindo um pulso
apenas e assim sucessivamente. Entretanto, o repertório
vocal de B. brunneus parece ser bastante complexo,
pois alguns sonogramas mostraram variações na
quantidade de pulsos emitidos pela espécie. Alguns
desses pulsos constituiem-se de várias repetições de
baixa frequência. Este fato constitui-se em uma
ampliude de diferentes sons para diferentes
comportamentos. Para citar, uma série vocal com a
finalidade de atrair uma fêmea deve ser diferente de
uma série para expulsar um concorrente territorial.
Apsesar de que as análises estatística não foram
realizadas para comparar o conteúdo estomacal dos 16
animais coletados de B. brunneus com a disponibilidade
de invertebrados presentes na serrapilheira da mata, é
possível observar que esta espécie possui uma
preferência alimentar por aracnídeos. Foi encontrado
grande quantidade desses invertebrados tanto no
estomago de alguns animais quanto na serrapilheira.
Isso revela que os espécimes de B. brunneus não
buscam ativamente suas presas. Esse comportamento
pode estar associado com a coloração aposemática
desta espécie. A tendência desses animais é permanecer
sob o folhiço da mata, podendo até ser considerados
semi-fossoriais. Por se tratar de um grupo de anfíbios
bastante peculiar, ainda é necessário investigar as
espécies de Brachycephalus de diversas maneiras até
que se tenha uma idéia mais completa da sua biologia
e evolução. Considerando que são espécies endêmicas
do bioma Floresta Atlântica, cuidados extremos de
conser vação do ambiente como um todo são
imprescindíveis.
Palavras-chave: Anura; Brachycephalus; conservação;
biologia; Floresta Atlântica.
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Pesquisa
CARACTERIZAÇÃO DA DEGLUTIÇÃO COM GELATINA EM INDIVIDUOS COM
DISFAGIA NEUROGÊNICA
Silvana T. Duarte Solange Coletti
Maria Ludia Correia
Jociane Camargo
Rosane Sampaio
Ana Maria Furkim
INTRODUÇÃO: A deglutição é um processo fisiológico continuo, o qual transporta o material deglutido
da boca até o estômago, efetuado por meio de um mecanismo neuromotor complexo do qual fazem parte
estruturas ósseas, cartilaginosas, musculares e neurais. Fisiologicamente, a deglutição pode ser dividida em fase
pre-oral e oral, que são consideradas voluntárias, e as fases faríngea e esofágica que são involuntárias. A fase
pré-oral inicia desde o momento da preensão do alimento, a mastigação e a manipulação do bolo alimentar e a
sua centralização no dorso da língua; na fase oral ocorre a movimentação antero-posterior da língua a qual leva
o bolo alimentar e direção à faringe. Esse movimento envolve a base de língua como ejetor do bolo, a partir
do contato com a parede posterior da faringe; a fase faríngea inicia-se a partir do reflexo de deglutição. Na fase
esofágica ocorre o relaxamento da transição faringo-esofágica que abre a luz do esôfago, permitindo a passagem
do alimento até o estômago. Quando ocorre alteração em qualquer fase da dinâmica da deglutição denominase Disfagia, a qual pode ser classificada em mecânicas ou neurogênicas. A disfagia neurogênica compreende as
alterações da deglutição, em virtude de uma doença neurológica, com os sintomas e complicações decorrentes do
comprometimento sensório-motor dos músculos envolvidos no processo da deglutição. Podendo manifestar-se
por meio de diversos sintomas, como alteração da mastigação, dificuldade em iniciar a deglutição, regurgitação
nasal, controle da saliva diminuído, tosse e/ou engasgos durante a alimentação A disfagia neurogênica é
considerada particularmente debilitante, pois tem como conseqüência a desnutrição, dificuldade na hidratação
e infecções pulmonares crônicos, decorrentes da aspiração traqueal de repetição, esta associada com o aumento
da mortalidade. Há controvérsia em relação a melhor consistência a ser ofertada ao paciente disfágico. A textura
adequada às condições clínicas do paciente é uma forte aliada ao cuidado na disfagia, permitindo conjugar
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necessidades nutricionais com manobras adequadas
para uma ingestão alimentar satisfatória, promovendo
adequação às recomendações do indivíduo. De
acordo com o grau de disfagia, a dieta deverá ser
modificada para diminuição dos riscos de complicações
pulmonares. Na literatura a oferta de gelatina para
pacientes com disfagia neurogênica não é unânime,
uma vez que para alguns autores é uma consistência
considerada líquida, pois tende a se transformar em
líquida dentro da cavidade oral antes de iniciar o
disparo do reflexo da deglutição; e para outros autores é
considerada como sólida devido a sua aparência firme.
A National Dysphagia Diet instituiu as propriedades
reológicas dos alimentos, reconhecendo e identificando
a viscosidade e consistência dos alimentos de maior
significância terapêutica para pacientes com disfagia.
Os alimentos típicos foram testados, categorizados e
definidos em níveis de alimentos de textura líquida. A
viscosidade, definida como a resistência do líquido ao
fluxo, grosseiramente falando, equivale à densidade
do líquido. É medida em centpoiese (ctps ou cP). Os
parâmetros estabelecidos pelo National Dysphagia
Diet servem como base para discussões e análises da
prescrição dietética. Quando se determina a viscosidade
e o volume do alimento para cada paciente disfágico
permite-se determinar a quantidade de alimento a ser
deglutido de forma segura. Além da avaliação clínica
uma avaliação objetiva faz-se necessária para identificar
a disfagia e desenvolver estratégias de posicionamento,
reabilitação, sensibilização e escolha de consistências de
certos alimentos que podem promover a recuperação
funcional do paciente. Um método eficaz para avaliar
a deglutição o qual visa à complementação da avaliação
clínica é a videofluorosocpia a qual destaca-se dentre
os métodos complementares, considerado padrão-ouro
no diagnóstico da disfagia orofaríngeas, pois possibilita
avaliar a dinâmica da deglutição em tempo real e
verificar eficácia do uso de manobras terapêuticas.
OBJETIVO: Caracterizar a dinâmica da deglutição
utilizando gelatina envolvida no bário líquido em
indivíduos com queixa de disfagia neurogênica através
do exame de videofluoroscopia de deglutição.
METODOLOGIA: Participaram desse estudo 12
indivíduos com quadro clínico de disfagia neurogência,
no período de Fevereiro a Maio de 2009 e que foram
encaminhadas para a avaliação videofluoroscópica
da deglutição (VDF) no serviço de radiologia do
departamento Per Oral do hospital de Clinicas na
cidade de Curitiba. Para realização do exame e gravação
das imagens do exame foi utilizado o aparelho de raio
X da marca Siemens e modelo Axiom-R 100, monitor
Siemens e modelo M44-2, HP Pavilion Tx 2075 –
BR notebook, PC cabo sapphire Wonder TV USB.
Todos os pacientes foram previamente orientados
quanto à natureza e finalidade diagnóstica do exame
a ser realizado, bem como sobre a participação neste
trabalho científico. Durante o exame, todos os pacientes
foram posicionados sentados em um ângulo de 90º, foi
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
realizado o exame na visão lateral considerando os
limites de imagem: os lábios anteriormente, o palato
duro superiormente, a parede da faringe posteriormente
e a bifurcação da via aérea e via digestiva inferiormente
(transição entre a região posterior das aritenóides e a
entrada do esôfago). Para a realização do exame foi
ofertado ao paciente gelatina sabor morango, da marca
Royal® preparada previamente a qual foi envolvida em
1 ml bário líquido da marca Guedert®. O alimento foi
administrado por uma fonoaudióloga, utilizando uma
colher para ofertar o alimento. Foi administrado os
volumes crescentes de 5 ml e 10 ml. Os exames foram
gravados e posteriormente analisados os achados. Foi
utilizado o protocolo padrão de videofluoroscopia
da deglutição do serviço da Universidade Tuiuti do
Paraná. Durante a avaliação videofluoroscópica foram
verificados os aspectos da dinâmica das fases oral e
faríngea. Foi considerado permeação das vias aéreas
positiva quando se visibilizava a entrada de alimento
no vestíbulo laríngeo ou abaixo das pregas vocais, na
traquéia, em qualquer momento da deglutição. O exame
foi encerrado caso o paciente apresentasse episódio de
permeação das vias aéreas (aspiração laríngea). Foram
excluídos desta amostra os pacientes que apresentaram
instabilidade clinica, como por exemplo, rebaixamento
do nível de consciência e com proibição de via oral no
momento do exame. Os critérios de inclusão foram a
indicação médica para a realização do exame e nível
de alerta por mais de 15 minutos.. Este trabalho
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
foi aprovado pelo Comitê de Ética sob o nº CAA00115.0.080.000-09 A análise estatística do presente
estudo foi realizada através da descrição parcial dos
achados durante o exame de videofluoroscopia da
deglutição. Resultados: Como o estudo ainda não foi
finalizado, os dados aqui apresentados são parciais.
Participaram deste estudo 12 pacientes, sendo 8 (66%)
do sexo masculino e 4 (36%) do sexo feminino, a idade
dos pacientes variou entre 18 e 60 anos, com uma idade
média de 45,75. O diagnóstico dos pacientes foi 4 (32
%) com paralisia cerebral, 3 (25%) com ataxia cerebral,
1 (8,3%) com alzheimer,1 (8,3%) com acidente vascular
encefálico, 1(8,3%) com Doença de Parkinson e 2
(16,¨%) em processo de investigação para determinar o
diagnóstico. Os principais achados na fase oral durante
o exame objetivo da deglutição foram: 5(36%) pacientes
apresentaram ejeção oral tardia com os dois (de 5ml
e 10 ml) volumes ofertados, 3 (27%) apresentaram
resíduo na cavidade oral com os três volumes ofertados
após a deglutição. Na fase faríngea da deglutição foi
observado que em 7 (64%) pacientes ocorreu resíduo
(estase|) em valécula somente com o volume de 10 ml;
2 (18%) apresentaram permeação (penetração laríngea)
de vias aéreas com o volume de 10 ml, fazendo o
clareamento espontâneo através do reflexo de tosse.
Não foi observada a presença de aspiração laríngea
durante a realização do exame em todos os pacientes
com os volumes oferecidos. Conclusão: Como se trata
de um estudo ainda em fase de conclusão, o pequeno
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Resumos
número de pacientes que foram avaliados permite-nos
concluir que a consistência gelatina não demonstrou
ser um alimento que propicie um risco maior para a
ocorrência de permeação das vias aéreas (aspiração
laríngea), o que vai contra a pouca literatura existente
que considera a gelatina como um facilitador para a
ocorrência de permeação das vias aéreas em pacientes
com disfagia neurogênica, devendo ser evitado na
oferta desse alimento na fase de reintrodução da via
oral.
Palavras-chave: disfagia; deglutição; viscosidade.
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Pesquisa
CARACTERIZAÇÃO, ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS ENDOFÍTICOS
DA Ricinus communis L. (MAMONA) COM APLICAÇÃO BIOTECNOLÓGICA
Evandra Mello Pereira - UTP
Roseli Aparecida de Mello – UTP
[email protected]
Maria Luiza Fernandes Rodriguez - UTP
O gênero Ricinus é pertencente a família Euphorbiaceae, que compreende cerca de 290 gêneros e
aproximadamente 7.500 espécies, distribuídas em todo o mundo, mas principalmente nas regiões tropicais
(LIMA, 2006). Popularmente chamada de mamona, carrapateira, rícino e palma-de-cristo . A mamona pode
apresentar plantas de porte alto, médio ou baixo, com caule ramificado com coloração verde, avermelhada ou
verde amarelada. As folhas são simples, alterno-espiraladas, longo-pecioladas, plenas ou sulcadas, com lobos
dentados. A cultura da mamona é explorada industrialmente em função do óleo contido em suas sementes, a
China, a Índia e o Brasil são os principais produtores mundiais de mamona , (VARGAS, 2006; AZEVEDO,
2001). O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de mamona. Atualmente ela vem sendo pesquisada e utilizada
como uma fonte alternativa para a substituição dos produtos originários de petróleo, principalmente o Biodiesel
(MOREIRA, 2009). O biodiesel consiste num substituto natural do óleo diesel e que pode ser produzido a partir
de fontes renováveis, a sua utilização está associada à substituição parcial de combustíveis fósseis (CARNEIRO,
2003). Segundo Vargas (2006), o Programa Nacional de Biodiesel regulamenta e autoriza o uso comercial deste
produto em todo o território nacional e estabelece os percentuais de mistura do biodiesel ao diesel de petróleo, a
forma de utilização e o regime tributário é regulamentado com diferenças por região de plantio, por oleaginosa
e por categoria de produção. Esses instrumentos autorizaram, a partir de 2005, a adição de 2% de biodiesel ao
diesel de petróleo, (SAVY FILHO,2005). As interações entre as plantas e microrganismos já são conhecidas há
muito tempo. Entretanto, com exceção da associação de plantas com fungos micorrízicos, acreditava-se que
estas interações levavam à formação de lesões nos tecidos vegetais. Mais recentemente, vem sendo registrada a
presença de microrganismos no interior de tecidos vegetais sadios, abrindo novas perspectivas para o estudo da
interação planta/microrganismo estes, São considerados microrganismos endofiticos ou seja, aqueles que habitam
o interior das plantas pelo menos durante um período do ciclo de vida da mesma sem lhes causar danos ou
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doença. Apesar de devidamente comprovada a existência
da microbiota endofítica, muitas pesquisas ainda deverão
ser feitas a respeito de aspectos ecológicos, genéticos e
fisiológicos dessa interação. Antes disso, é interessante
se conhecer a diversidade desses organismos, sua
presença, freqüência e funções. Essa relação endofítica
pode ter surgido quando do aparecimento dos vegetais
superiores no planeta, ou seja, há centenas de milhões
de anos (STROBEL, 2002). Existe uma série de razões
para que se aprofundem os estudos com endofíticos.
Primeiro, a falta de informações para elucidar a base
biológica dessas interações. Segundo, porque os
endofíticos são vantajosos, pois muitos benefìcios para
a planta têm sido atribuído à presença deles tais como a
capacidade de produzir antibióticos e outros metabólicos
secundários de interesse farmacológico; podem servir
como bioindicadores de vitalidade (Helander & RantioLehtimaki, 1990); têm sido usados como agentes
de controle biológico de pragas e doenças; têm sido
usados como bioherbicidas; podem ser usados na
biorremediação de solos contaminados com poluentes
entre outros. A produção de metabolitos primários e
secundários pelos microrganismos é conhecida há muito
tempo e explorado do ponto de vista biotecnológico. Os
exemplos mais conhecidos são os antibióticos. Mas outros
metabolitos com as enzimas também são produzidas
pelos fungos, Muitos estudos tem demonstrado que
as plantas em algum período da vida apresentam estes
fungos, entretanto a relação entre os endofíticos e seus
hospedeiros ainda não foi bem definida. Desta forma,
justifica-se o interesse em elucidar aspectos da biologia
destes microrganismos, para compreender melhor a sua
relação com a planta hospedeira e seu papel na produção
de novos princípios bioativos.
MATERIAIS E MÉTODOS: As folhas da mamona
foram coletadas no campus Schaffer da Universidade
Tuiuti do Paraná. As folhas coletadas aparentavam
aspecto sadio e pertenciam a plantas já adultas. O
reconhecimento da planta deu-se segundo Joly et.
al.(2002). O material botânico coletado foi processado
no prazo de 24 horas. Após a coleta as plantas
foram lavados abundantemente com água corrente e
detergente neutro para retirar o excesso de epifíticos,
matéria orgânica e resíduos sólidos. Antes do processo
de desinfecção externa os pecíolos foram vedados com
parafina, a fim de evitar que os agentes de desinfecção
penetrem por essa abertura, alterando o resultado
real do isolamento. Em seguida, em câmara asséptica,
as folhas lavadas em água destilada esterilizada por
duas vezes e posteriormente o material foi imerso em
álcool 70% por 1 minuto,em seguida em hipoclorito
3% por 4 minutos e novamente em álcool 70% por 30
segundos, para retirar o excesso de hipoclorito. Então
o material foi lavado três vezes em água destilada
estéril da qual foi retirado 50 μL para fazer o controle
da assepsia (SOUZA et. al., 2004). As folhas cortadas
em fragmentos circulares de aproximadamente 6 mm
foram transferidos para placas de Petri contendo meio
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de cultivo batata, dextrose e ágar (BDA), acrescido de
tetraciclina (100mg/L) para isolamento de fungos. As
placas com os fragmentos foram incubadas a 28ºC
e 37 ºC. O crescimento das colônias fúngicas foi
acompanhado diariamente. À medida que surgiram,
foram transferidas para tubos de ensaio contendo BDA
e cultivados a temperatura ambiente (28 ± 2 ºC), e
depois armazenadas a 4ºC. As colônias de morfologia
similar foram agrupadas, com a finalidade de facilitar
o estudo. Em seguida, os grupos foram repicados para
tubos de ensaio contendo meio BDA ou TSA , para
garantir a presença de apenas um exemplar na amostra
a ser posteriormente identificada. Para purificação dos
isolados fúngicos, esporos de cada um dos isolados
foram homegeneizados em solução de Tween 80 a 0,1
%, e alíquotas de 0,1 mL semeadas em placas de Petri
contendo meio BDA com auxílio da alça de Drigalski.
As placas incubadas à temperatura ambiente (28 ± 2
ºC), conforme descrito por Pimentel et al. (2006). Após
7 dias obtiveram-se os primeiros crescimentos, foram
os grupos A, B, C, D e E. Com 16 dias na estufa surgiu
um segundo grupo que foram definidos como F, G,
H, I, J, K, L, M e, com 20 dias cresceram o terceiro
e último grupo que foram designados em N, O, P, Q,
R. As placas que restaram foram observadas até 30
dias, porém não apresentaram crescimento algum.
Os grupos obtidos, de A até R, foram subdivididos
numericamente conforme a quantidade e diversidade
de fungos que cada placa continha, obtendo-se a placa
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
A-1, A2, A3 e assim sucessivamente.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os fungos endolíticos
obtidos foram facilmente isolados das folhas dentre
os cultivares de mamona analisados, sendo obtidos
53 isolados de colônias fúngicas agrupas conforme
similaridade morfológica. Entre os fungos isolados
foram identificados os gêneros: Colletotrichum
sp, Curvularia sp , Aspergillus sp, Penicillium sp,
Scidosporium sp, 2 Clodosporium sp. Alguns fungos
endofiticos não apresentaram estruturas reprodutivas,
não sendo possível realizar sua identificação até o
presente momento. O fungo com maior incidência
foi o Aspergillus sp. Segundo Pimentel (2006), Os
fungos endofíticos podem agir de maneira antagônica,
neutra ou até benéfica para o vegetal hospedeiro,
exibindo vários graus de interdependência fisiológica
e ecológica. Muitas vezes, os metabólitos produzidos
por fungos endofíticos podem ser neutros ou terem
ação antagônica para o hospedeiro. Em outros casos,
são de grande importância para a farmacologia.
Já Silva et al (2006), afirma que Microrganismos
endofíticos têm sido associados com a promoção do
crescimento de várias culturas de hortaliças, ainda
Silva et al (2006) demonstra que há vários mecanismos
descritos sobre como endofíticos promovem o
crescimento dos vegetais que os abrigam. A fixação
do N2 atmosférico é um mecanismo bem estudado
e há vários exemplos descritos na literatura de
isolamento de endofíticos com capacidade de fixar
149
150
Resumos
nitrogênio e disponibilizá-lo às plantas. Existem
pesquisas que comprovam a ação antioxidante, de
grande importância para a indústria de cosméticos,
e antitumorais, que podem parar o desenvolvimento
ou até impedir a formação de tumores de alguns
fungos somente quando endofíticos. (STROBEL
et al., 1997; PIMENTEL, 2006). Vários estudos
vêm demonstrando a importância biotecnológica
de fungos endofíticos. Lu et al. (2000) constataram
atividade de três novos metabólitos produzidos pelo
fungo Colletotrichum sp., isolado da planta medicinal.
Endofíticos exercendo atividade inibitória in vitro
contra fitopatógenos têm sido estudados e relatados.
( silva, 2006). Shimizu et al. (2002) estudaram a
produção de substâncias antimicrobianas por um
actinomiceto endofítico e sua atividade antifúngica.
Os Microrganismos endofíticos constituem uma fonte
potencial de produtos naturais poucos explorados,
comparados a vegetais. A maioria das pesquisas com
endofiticos ocorrem em outros países. Poucos são
as pesquisas nas regiões tropicais. As pesquisas com
plantas de regiões tropicais tem demonstrado que
estas tem um diversidade enorme de microrganismos
endofíticos, muitos ainda desconhecidos, calcula-se
que muitos destes fungos possam produzir metabolitos
de interesse biotecnológico. Strobel e Daisy (2003)
afirmam que a seleção de plantas hospedeiras sejam
de interesse, biológico, químico; e biotecnológico. A
mamona possui estas características, portanto torna-se
uma candidata para estudos e isolamentos. Concluindo
a mamona apresenta fungos endofíticos. Estudos
e novos isolamentos deverão ser realizados para
verificar a predominância dos gêneros isolados neste
experimento e comparar com os presentes na literatura.
Também sugere-se que novos ensaios biológicos sejam
realizados para verificar o potencial de propriedades
biologicamente ativas produzidas por estes e outros
microrganismos isolados.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E/OU ALTERNATIVA (CSA): FATORES FAVORÁVEIS
E DESFAVORÁVEIS AO USO NO CONTEXTO FAMILIAR
Simone I. Krüger - UTP
Ana Paula Berberian - UTP
INTRODUÇÃO: Se considerarmos que é através da linguagem que somos capazes de interagir socialmente, com
o outro e com o mundo que nos rodeia, diferentes possibilidades de comunicação emergem. Valiosas formas
de linguagem como a linguagem corporal, a linguagem gestual, símbolos ou imagens como os utilizados na
Comunicação Suplementar e/ou Alternativa (CSA), que não dependem de língua oral, surgem como recursos
lingüísticos facilitadores da comunicação. Justifica-se a escolha da temática da CSA devido a resistências dos
pais ao uso da prancha de CSA na interação com seus filhos, seja por falta de conhecimento do recurso ou
por relatarem “saber” o que seus filhos desejam apenas pelo olhar e que estabelecem um “jeito” particular de
se comunicar. A pesquisa tem por objetivo analisar fatores favoráveis e desfavoráveis ao uso da comunicação
Suplementar e/ou Alternativa (CSA) no contexto familiar, enfocando a prancha de CSA, por ser o único
recurso utilizado pelos alunos da escola especial, onde foi realizada a coleta de dados. Esse estudo, baseou-se no
pressuposto de que o sujeito é sócio-historicamente constituído e a linguagem é responsável por tal constituição
e que a participação da família é fundamental no acesso e no uso dos recursos da CSA, pela criança.
COMUNICAÇÃO SUPLEMENTAR E OU ALTERNATIVA: A Fonoaudiologia vem utilizando os recursos
da CSA para proporcionar maior autonomia a pessoas com limitações significativas da linguagem oral. Segundo
Chun (2002), o uso dos recursos da CSA vem lentamente se expandindo no Brasil, mas ainda não constitui
prática de amplo conhecimento na área da Fonoaudiologia, sendo ainda pouco explorado e difundido em nosso
país. Recorrendo à definição de Panhan (2001):
A Comunicação suplementar e alternativa pode ser definida como um conjunto de instrumentos que permitam a “fala” nãooralizada, fala dita no “apontar” dos sinais gráficos. A CSA reúne material gráfico, entre eles conjuntos de sinais gráficos
(PCS, BLISS, PIC etc.), desenhos, fotos, palavra escrita, alfabeto e ainda compreende uma série de estratégias na elaboração
e acesso aos sinais gráficos dispostos em pranchas de comunicação.
O uso da CSA como recurso expressivo na escola facilita o processo de aprendizagem do aluno sem fala articulada.
Permite que esse aluno se torne locutor, participador ativo do processo de aprendizagem. Nesse quadro, a
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
CSA se coloca como um instrumento significativo
para a inclusão escolar e social, pois propicia a sujeitos
com graves comprometimentos de fala a tão almejada
inclusão escolar. Usando os recursos da CSA na
sala de aula, essas pessoas passam de espectadores a
“falantes do apontar” no caso de usuários de pranchas
de comunicação não computadorizadas e “falantes do
mostrar”, no caso de usuários que utilizam displays de
diferentes tipos de computadores e/ou vocalizadores.
Além de torná-los participantes, os recursos da CSA
proporcionam melhoras na interação do aluno não
falante com o professor e demais alunos, pois esses
passam a expressar suas opiniões e a realizar escolhas
em sala de aula. Através do uso dos recursos da CSA,
o professor é capaz de elaborar estratégias educativas,
pois passa a confeccionar materiais que favorecem o
ensino do aluno que não fala.
FUNDAMENTOS ACERCA DA LINGUAGEM
E A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO DA
FAMÍLIA NO PROCESSO DE APROPRIAÇÃO
DA LINGUAGEM: Adotou-se para este estudo a
perspectiva sócio-histórica, partindo-se do pressuposto
de que a linguagem é dialógica por natureza e
constitutiva das relações sociais, do mundo e dos
sujeitos em suas diferentes dimensões, quanto da ênfase
atribuída ao outro, nos processos de apropriação da
linguagem. “Eu não posso me arranjar sem o outro, eu
não posso me tornar eu mesmo sem um outro: eu tenho
de me encontrar num outro por encontrar um outro em
mim” (BAKHTIN,1961, p.287). A fim de compreender
as práticas dialógicas entre os familiares e usuários de
CSA, o quadro teórico de Bakhtin (1997) é considerado
no presente estudo. Mikhail Bahktin define uma pessoa
como resultado de relações sócio-históricas, sendo
estas responsáveis pela formação da linguagem, e essas
relações dialógicas responsáveis pela constituição da
linguagem. Como o desenvolvimento social e cognitivo
depende da comunicação e da linguagem e essas são
moldadas por episódios sócio-históricos, a família é
um dos primeiros grupos sociais responsáveis pela
apropriação da linguagem. Os familiares têm uma
missão importante na seleção de sistemas de CSA
e também na escolha dos símbolos pictóricos mais
necessários (Figura 1) para a comunicação, porque na
Figura 1: Pranchas de comunicação adotadas na Escola Especial Vivian
Marçal em Curitiba
Foto: Simone Krüger
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
maioria das vezes é nas interações verbais que ocorrem
na família que a língua é apropriada (PERRONI, 1992).
Os pais devem ser considerados como as pessoaschave, com quem a criança irá estabelecer os seus
primeiros contatos.
MATERIAL E MÉTODO: Foi realizada uma pesquisa
de campo, cuja amostra intencional se constitui de
20 pais de crianças inseridas em uma escola especial
de Curitiba, destinada a indivíduos com deficiências
motoras e múltiplas e é a principal instituição educativa
em Curitiba e sua Região Metropolitana que aplica a
CSA. As famílias escolhidas para o estudo de campo
têm seus filhos utilizando CSA na escola. Dois grupos
de pais foram definidos: o Grupo G1, composto por
9 sujeitos que utilizam CSA no contexto familiar e
o Grupo G2, com 11 sujeitos que não a utilizam. O
instrumento de coleta de dados baseou-se no uso de
questionários semi-estruturados em torno de questões
identificando fatores que interferem no uso e no nãouso da prancha de CSA pelos entrevistados. Quanto à
caracterização dos sujeitos, 50% dos pais se encontram
na faixa de renda familiar de 1 a 3 salários mínimos,
45% de 3 a 5 salários mínimos e 5% acima de 5 salários
mínimos. Quanto ao grau de escolaridade, 5/9 mães do
G1 apresentaram o segundo grau completo, enquanto
7/11 mães do G2 apresentaram o primeiro grau
incompleto. A situação escolar dos pais apresentou-se
mais heterogênea. Para análise dos dados, adotou-se
para a análise qualitativa a metodologia denominada
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Discurso do Sujeito Coletivo (LEFEVRE e LEFEVRE,
2005), que consiste em analisar o discurso a partir da
seleção das figuras metodológicas que são as expressõeschave e idéias-centrais extraídas de cada discurso. Para
análise quantitativa, utilizou-se o programa estatístico
Sphinx, que facilitou a organização dos dados coletados
em tabelas e gráficos.
RESULTADOS E ANÁLISE: Os resultados apontaram
para o seguinte:
- Quanto à finalidade do uso da prancha de CSA na
escola: 5/9 pais do G1 afirmaram que a prancha serve
para que seus filhos possam se expressar melhor,
facilitando sua compreensão. 3/11 pais do G2
afirmaram que serve para que seus filhos possam se
comunicar com pessoas fora do núcleo familiar, bem
como 3/11 pais afirmaram que serve para que seus
filhos possam conversar na escola.
- Quanto às razões da contribuição do uso da prancha:
5/11 pais do G1 afirmaram que a prancha permite que
seus filhos se coloquem; 4/8 pais do G2 afirmaram que
a prancha permite maior compreensão de seus filhos,
sendo que 4/11 pais do G2 não referiram qualquer
contribuição.
- Ambos os pais dos dois grupos tiveram preparo acerca
da CSA, sendo que 8/9 pais do G1 tiveram mais de
uma vez e 9/11 pais do G2 apenas uma vez.
- Leituras acerca da CSA: de todos, apenas um pai do
G2 as realizou.
- Motivos do uso da prancha de CSA no contexto
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154
Resumos
familiar: 4/9 pais do G1 relataram que usam para que
seus filhos se coloquem melhor e 4/9 relataram que
usam para compreender melhor seus filhos.
- Situações de uso no contexto familiar: 7/9 pais do
G1 relataram que usam para conversar, dialogar com
seus filhos.
- Motivos do não-uso da prancha de CSA: 5/11 pais
do G2 relataram primeiramente que não usam por
entenderem bem seus filhos. Em segundo lugar, 4/11
não usam devido à falta de tempo.
- Tentativa de uso: 10/11 dos pais do G2 tentaram usar
em casa, mas 2/11 desistiram, afirmando que entendem
melhor seus filhos sem a prancha. 1/11 desistiram,
devido à falta de tempo em usar a prancha; 1/11 devido
à falta de funcionalidade da prancha; 1/11 devido à
resistência do uso por parte do filho; 1/11 devido à
dificuldade motora do filho. 2/11 continuam tentando
sem resultados e 2/11 tentam sempre nas férias.
- Interesse dos pais do grupo G2 no uso futuro: 5/11
pais do G2 afirmaram ter interesse em usar para que
possam compreender melhor seus filhos; 2/11 pais
para que os outros possam compreender seus filhos e
também 2/11 para melhorar o aprendizado escolar.
- Impacto da situação econômica e da escolaridade dos
pais no uso da CSA: no cruzamento entre renda versus
uso/não-uso da CSA há uma tendência de uso da CSA
conforme o aumento da renda familiar. Igualmente, no
cruzamento entre escolaridade dos pais versus uso/
não-uso da CSA, há uma tendência de uso da CSA
entre os pais com maior grau de escolaridade.
Análise qualitativa: Foram identificados os seguintes
aspectos favoráveis ao uso da CSA no contexto familiar:
• frequência de preparo dos pais para o uso da CSA;
• reconhecimento da CSA como recurso lingüístico;
• reconhecimento da dificuldade de interpretar e
atribuir sentido às manifestações de linguagem;
• entendimento de que a CSA favorece o desenvolvimento
da oralidade;
• uso da CSA para atendimento das necessidades
básicas;
• uso da CSA para facilitar as interações fora do
contexto familiar.
Os aspectos desfavoráveis ao uso foram os seguintes:
• os pais alegam compreender seus filhos sem
necessidade do uso da CSA;
• a CSA não atende às expectativas dos pais;
• falta auxílio e preparo para o uso da CSA;
• os pais e usuários restringem o uso da CSA à função
escolar;
• os pais apontam para dificuldades e limitações
motoras de seus filhos;
• há falta de tempo por parte dos pais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Considera-se com esse
estudo a importância de fortalecer o entendimento
da CSA como um recurso lingüístico mediador das
interações a partir da qual o usuário e seus interlocutores
ampliam possibilidades de significar/interpretar a e
pela linguagem. Aponta-se para uma perspectiva de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
trabalhar com famílias que potencialize sua condição
de cuidadores de seus filhos, especialmente no que
se refere às formas de participação nos processos de
apropriação da linguagem. Evidencia-se a importância
de um trabalho multidisciplinar que ofereça elementos
teórico-práticos que auxiliem o uso efetivo da CSA no
contexto familiar. Afirma-se a necessidade de estudos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
e intervenções que democratizem recursos alternativos
de linguagem, viabilizando desta forma modos de
participação social com maior autonomia.
Palavras-chave: comunicação suplementar e/ou
alternativa; inclusão escolar; discurso do sujeito
coletivo; linguagem.
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156
Resumos
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1997.
BAKHTIN, M. Para uma releitura do livro sobre Dostoiéviski. In: Problens of Dostoevsky´s poetics. Appendix II,
1961,p.287.
LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, C. M. A. Discurso do sujeito coletivo: um novo enfoque em pesquisa qualitativa. Caxias do
Sul, RS: Educs, 2005.
PANHAN, H. M. S. Fonoaudiologia e Comunicação Suplementar e Alternativa - método clínico em questão. Dissertação
(Mestrado em Distúrbios da Comunicação) Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2001.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
DESENVOLVIMENTO DE APLICAÇÕES TECNOLÓGICAS PARA GRÃOS DE
QUINOA (Chenopodium quinoa Willd) – PARTE II
Cláudia Helena Degáspari - UTP
A alimentação saudável deve fornecer ao organismo todos os nutrientes que supra a necessidade do indivíduo.
Portanto, as refeições devem ser diversificadas para que contenham todos os nutrientes: carboidratos,
proteínas, lipídios, fibras, vitaminas e sais minerais. Devido à correria do dia-a-dia, fica cada vez mais fica
difícil a alimentação adequada e balanceada. Para facilitar a vida de muitas pessoas, diversos produtos são
desenvolvidos constantemente de forma a atender às necessidades de praticidade, facilidade de obtenção, bom
valor nutricional agregado e preço acessível. As pesquisas na área agropecuária vêm ocorrendo no sentido
de se desenvolver espécies geneticamente adaptadas às características de cultivo ou criação do território
brasileiro. Uma destas espécies ou culturas é o pseudocereal, que apresenta um maior valor nutricional,
denominada de quinoa (Chenopodium quinoa Willd). Da mesma espécie do espinafre e da beterraba, é
uma granífera domesticada há milhares de anos pelos povos andinos. A quinoa contém maior quantidade
de proteína, mais equilíbrio na distribuição de aminoácidos essenciais que os cereais e assemelha-se à
caseína – fração protéica do leite. Esta característica tem contribuído para a popularização da quinoa entre
as pessoas que buscam alimentos alternativos com alto valor nutritivo e baixo colesterol, em especial à da
caseína, fração protéica do leite. Na região andina, onde o grão é muito difundido, as crianças, depois do
desmame, passam a consumi-la na forma de papas ou mingaus, como tradicionalmente são preparados os
alimentos infantis em outras regiões do mundo. Por sua vez, os adultos podem preparar vários pratos, nos
quais a quinoa contribui para melhorar a qualidade nutricional da dieta e realçar o sabor típico de cereal.
Usam-na ainda, como suplemento na dieta de idosos e de convalescentes. Cita-se também seu emprego
em regimes especiais para pacientes celíacos (indivíduos que apresentam intolerância ao glúten). A doença
celíaca é causada pela intolerância ao glúten, uma proteína encontrada no trigo, aveia, cevada, centeio e seus
derivados. Alguns dos sintomas apresentados para a doença são: diarréia com perda de gordura e sangue nas
fezes, vômito, perda de peso, inchaço nas pernas entre outros. Neste caso de patologia nutricional, o único
tratamento é uma dieta exclusivamente sem glúten, ou seja, totalmente ausente dos cereais que contenham
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
esta proteína na sua constituição: trigo, centeio, cevada
e aveia. Isto acaba tornando a vida destas pessoas um
pouco limitada. Em contrapartida, hoje no mercado,
encontram-se diversos alimentos destinados a este
público e um exemplo disso é a quinoa (Chenopodium
quinoa Willd). No entanto, esta matéria-prima se
apresenta comercialmente no varejo na forma in natura
ou simplesmente flocada (processo de amassamento do
grão sem submetê-lo a qualquer processo tecnológico
mais complexo ou com a aplicação em formulações
elaboradas através do desenvolvimento de novos
produtos). O único desconviniente deste pequeno
grão é o teor de saponina (um tipo de glicosídeo
triterpenóide denominado de fraxina), dando-lhe
um sabor amargo, mas que é eliminada por lavagem
e fricção. Antes de consumir a quinoa é necessário
desaponificar-la (remover estas substâncias amargas ou
saponinas). Isso pode ser feito esfregando os grãos com
as mãos em água corrente até não mais formar espuma.
Após a lavagem dos grãos, os mesmos não podem
ser consumidos de imediato, pois devem ser secos,
visto que a quinoa úmida germina rapidamente. No
entanto, a EMBRAPA – Divisão Cerrado desenvolveu
uma variedade de quinoa diferenciada e adaptada às
condições climáticas brasileiras. A cultivar BRS Piabiru
é a primeira recomendação de quinoa como cultivo
granífero no Brasil. Originou-se da linhagem EC 3,
selecionada a partir de uma população procedente
de Quito, Equador. Após dois anos de ensaios de
competição com linhagens selecionadas anteriormente,
foi uniformizada, a partir de 1998, para características
agronômicas e ausência de saponina, que limitava
a utilização direta do grão. Um contato preliminar
foi realizado com o pesquisador da EMBRAPA –
Divisão Cerrado, responsável pelo desenvolvimento
desta variedade específica Dr. Carlos Roberto Spehar,
atualmente Professor Convidado da Universidade de
Brasília, que forneceu alguns dados importantes para
o início desta linha de pesquisa de desenvolvimento de
novos produtos a partir da quinoa, com características
mais elaboradas, diferenciadas e com um grau de
ineditismo. Desta forma, a busca por produtos
alimentícios contendo esta matéria-prima tem sido
muito intensa nos últimos dois anos. DEGÁSPARI
& MORGAN (UTP, 2008), desenvolveram um
trabalho de pesquisa, onde descobriram um processo
tecnológico inédito na ciência e tecnologia de alimentos,
de forma que os pesquisadores estão tentando viabilizar
o pedido de depósito da Patente de Invenção. Desta
forma, em vista ao sucesso do trabalho anterior, este
presente trabalho teve como objetivo principal dar
continuidade ao projeto anterior buscando desenvolver
novos produtos alimentícios à base de grãos de quinoa
que se apresentem como inovações tecnológicas. Para
tanto, utilizou-se grãos de quinoa da variedade BRS
Piaburu, desenvolvido pela EMBRAPA Cerrados, que
foram obtidos por doação (10 kg enviados por SEDEX
em 13/07/09) do produtor e Engenheiro Agrônomo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Sebastião Conrado de Andrade, da Fazenda Dom
Bosco (Cristalina, GO). Os grãos se encontravam livres
da palha, mas não decorticados, ou seja, os mesmos
ainda apresentavam o tegumento e o gérmen íntegros.
Neste caso, a busca foi por outro produto diferenciado,
com grande aceitabilidade pelo público consumidor
e ainda não desenvolvido no Brasil e, acreditam os
pesquisadores, também internacionalmente, visto que,
na busca em bancos de dados, não foi encontrada
qualquer pesquisa sobre o referido produto. Os
pesquisadores tentaram inicialmente se utilizar
dos equipamentos disponíveis nos laboratórios da
Universidade Tuiuti do Paraná e propostos inicialmente
no Projeto de Pesquisa (que se encontra registrado na
Pós-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão).
Os testes iniciais com tais equipamentos não se
mostraram favoráveis de forma a se obter um produto
com boas características sensoriais e que pudesse ser
reproduzido posteriormente em escala industrial. Com
isso, a Pesquisadora DEGÁSPARI, procurou por
apoio tecnológico em outra área de processamento
de alimentos e conseguiu por gentileza do industrial
Sr. Marcos Szychta, a possibilidade de realização dos
ensaios numa agroindústria na região metropolitana
de Campo Largo – PR, denominada Moinho Dom
Pedro. A referida agroindústria produz derivados de
milho branco e amarelo na forma de flocos (farinha
de milho) e na forma pulverizada (fubá de milho).
Como se tratam de matérias-primas distintas à quinoa,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
a metodologia do novo processo (ainda em fase de
testes de processo e refino) teve que ser adaptada e
testada algumas vezes até que se obtivesse um produto
com perfil sensorial desejado e com aceitabilidade. No
caso do processamento de milho na forma de flocos,
o processo se desenvolve inicialmente com os grãos
sendo submetidos a um intumescimento com água em
excesso a temperatura ambiente por aproximadamente
48 horas, para serem preparados para facilitar a próxima
etapa de moagem. Os grãos intumescidos passam por
um processo de moagem em moinho de disco, com
posterior passagem em equipamento tipo despolpador
para retirada das fibras em excesso e obtenção de um
produto não aglomerado, visto que se apresenta na
forma umedecida. Esta etapa é importante, para que se
possa passar para a etapa posterior, sendo que a massa
deve se apresentar com grumos bem pequenos, quase
na forma de uma farinha levemente umedecida. Após
esta etapa, a massa é espalhada, com o auxílio de rolos
compressores de teflon resistente, em uma grande
chapa de ferro circular giratória (chapa rotatória),
aquecida através da queima de cepilho (restos de
madeira com maior granulometria que a serragem
convencional. Neste caso, convém ressaltar que se
trata de uma agroindústria, onde os custos devem ser
minimizados bem como o sistema tende ser o mais
artesanal possível, porém com os mesmos cuidados
higiênico-sanitários de uma indústria convencional
de alimentos), a uma temperatura superior a 200 ºC.
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160
Resumos
Com isso, a massa, em contato com a chapa aquecida,
transforma-se rapidamente em um floco, desidratado,
com formato oval ou arredondado e poroso, soltandose facilmente da chapa, ocorrendo, posteriormente,
apenas um recolhimento do material final por coleta,
sem necessidade de atrito ou raspagem da chapa.
Após, o produto é embalado em sacos de polietileno
e comercializado, apresentando um prazo de validade
oito meses devido à baixa atividade de água. No
caso dos grãos de quinoa, que é a matéria-prima
alvo deste trabalho, já foram realizados dois ensaios
nestes respectivos equipamentos, porém com algumas
adaptações no processo de uma forma geral, onde
foram obtidos dois produtos finais com características
sensoriais distintas, sendo que o último teste foi
realizado em 22/10/09. Já o teste anterior foi realizado
em 19/09/09. A demora na realização de ambos os
testes se deu primeiramente devido à epidemia do vírus
H1N1, que colocava em risco a área de produção de
alimentos da agroindústria e, posteriormente, devido
a uma grande demanda recebida pela agroindústria
para a produção de seus produtos de linha. A presente
pesquisa se apresenta atualmente em seu estágio
final, no qual ambas as amostras obtidas passaram
por ma etapa final de refinamento sensorial através
de métodos específicos para tanto. Posteriormente,
ambos os produtos serão avaliados sensorialmente por
um grupo de 80 degustadores não treinados através
de uma escala hedônica de 9 pontos, obtendo a nota
média de aceitabilidade de cada um deles, o que será
um dos indicativos de seu potencial de comercialização
com sucesso ou fracasso. Esta etapa de degustação dos
protótipos obtidos foi aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa em Humanos e Animais da Universidade Tuiuti
do Paraná (CEP-UTP nº 000015/2009). Até o presente
momento, ambos os produtos gerados mostraramse viáveis em termos de processo. No entanto, não
serão elaboradas as planilhas de custo de produção e
comercialização uma vez que isto não faz parte dos
objetivos deste trabalho, pois devido à sua complexidade,
caberia a um novo Projeto de Pesquisa distinto.
Palavras-chave: quinoa BRS Piaburu; flocos de cereais;
produtos matinais; Chenopodium quinoa Willd.
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Pesquisa
EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE NA ESCOLA: UMA EXPERIÊNCIA INTERDISCIPLINAR
Daniele do Rocio Ribeiro - Faculdade Evangélica do Paraná
Lisa Elvira Hass - Faculdade Evangélica do Paraná
Paôla Luma Cruz. - Faculdade Evangélica do Paraná
INTRODUÇÃO: O processo pedagógico deve possibilitar aos educandos, por meio do processo da abstração, a
compreensão da essência dos conteúdos a serem estudados, a fim de que sejam estabelecidas as ligações internas
específicas desses conteúdos com a realidade global, com a totalidade da prática social e histórica. Este é o
caminho por meio do qual os educandos passam do conhecimento empírico ao conhecimento teórico-científico,
desvelando os elementos essenciais da prática imediata do conteúdo situando-o no contexto da totalidade social
(VASCONCELOS, 1993). Na perceptiva da educação dialógica, a prática educativa, visa o desenvolvimento da
autonomia e da responsabilidade dos indivíduos no cuidado com a saúde. A diferença, com relação ao modelo
tradicional, reside no fato de que o estudante participa do processo de compreensão da sua situação de saúde, num
processo que visa ser emancipatório. A estratégia adotada é a comunicação dialógica, que busca a construção de
um saber sobre o processo saúde-doença-cuidado que capacite os indivíduos a decidirem quais as estratégias mais
apropriadas para promover, manter e recuperar sua saúde (ALVES, 2005). Diante da complexidade dos problemas
de saúde, a interdisciplinaridade se apresenta, principalmente no campo da saúde pública, como uma necessidade
primordial. Da mesma forma a educação em saúde só torno eficaz quando contempla a interdisciplinaridade.
Segundo Japiassú (1976) apud Alves; Brasileiro e Brito (2004), a interdisciplinaridade promove a intercomunicação
entre as disciplinas, resultando em uma modificação entre elas, por meio do diálogo compreensível. Rosenfield
apud Perini et al. (2001) caracteriza a interdisciplinaridade como a possibilidade do trabalho conjunto na busca de
soluções, respeitando-se as bases disciplinares específicas. Assim, como afirma Japiassu (1976) apud GOMES e
DESLANDES (1994), a interdisciplinaridade pode ser vista como uma necessidade interna da ciência, a fim de
resgatar a unidade de seu objeto e os vínculos de significação humana. E coloca-se também como uma necessidade
imposta pelos complexos problemas que são colocados para a ciência e que não são respondidos por um enfoque
unidisciplinar ou pela justaposição de várias disciplinas. Diante disso, o presente trabalho tem como proposta
promover a saúde em meio escolar de forma interdisciplinar.
OBJETIVOS: Promover educação para a saúde entre crianças, em um contexto interdisciplinar.
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Resumos
ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: O
projeto foi desenvolvido por residentes de Saúde da
Família da Faculdade Evangélica do Paraná junto a
uma turma de terceira série de uma escola municipal
de ensino fundamental, localizada na área adscrita de
uma unidade de saúde no município de Curitiba-PR.
O trabalho teve caráter interdisciplinar, envolvendo
a fisioterapia, a nutrição e a enfermagem. Foram
realizados, durante o segundo semestre de 2008,
cinco encontros com aproximadamente duas horas
de duração. O método escolhido foi a metodologia
histórico-crítica, cuja problematização é um dos eixos
fundamentais. As ações educativas tiveram sua temática
baseada no processo saúde doença e nas perspectivas
de saúde e doença dos sujeitos participantes. Buscouse desenvolver as atividades de forma lúdica e
interacionista. Foram realizadas colagens, jogos,
construção de cartazes e dinâmicas corporais.
RESULTADOS : O primeiro do encontro teve como
principais objetivos criar vínculo, perceber as concepções
de saúde e doença das crianças e posteriormente
avaliar e organizar os pontos importantes a serem
trabalhados. Inicialmente, foi dialogado com as
crianças sobre o trabalho da enfermagem, fisioterapia
e nutrição. Posteriormente, durante a atividade
procurou-se conhecer os alunos e suas visões sobre
processo-saúde doença, principalmente a aqueles
relacionados aos determinantes. Percebeu-se que os
escolares relacionaram fortemente a saúde ao bem
estar, a alimentação saudável, a medicamentos e a
profissionais da saúde. A doença foi relacionada ao
sofrimento, a doenças em destaque na mídia - como
dengue e estresse - a hospital, a poluição e a vícios.
A partir das falas e demais resultados da atividade
anterior, procurou-se no segundo encontro traduzir o
que os alunos trouxeram como elementos de saúde e
elementos de doença buscando elaborar um esquema,
que relaciona a saúde aos determinantes ambientais,
sociais, biológicos e culturais. Coletivamente, finalizouse a atividade montando um mural que ficou exposto
no interior da sala durante o período de realização do
trabalho. Como um dos principais temas levantados
pelas crianças foi a alimentação, optou-se, dessa forma,
por no terceiro encontro abordar essa questão. A
atividade consistiu em dois momentos, o primeiro teve
por objetivo conhecer o padrão alimentar das crianças,
por meio de uma dinâmica em que foi solicitado
que os escolares desenhassem uma refeição habitual
em um prato de papelão. No segundo momento,
por meio de uma dinâmica com recortes de figuras
de alimentos abordou-se e discutiram-se os grupos
alimentares (construtores, energéticos, reguladores e
eventuais) e suas funções. Além disso, foi trabalhada
a composição do prato saudável. Pode-se observar a
partir da primeira dinâmica que é habitual a ingestão de
mais de um alimento fonte de carboidrato nas refeições,
normalmente arroz e macarrão. As verduras e legumes
apareceram na maioria dos pratos, no entanto numa
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
proporção inferior aos demais alimentos. A composição
dos pratos foi, em sua maioria, composta por uma
verdura, uma leguminosa, um cereal, uma massa e uma
fonte protéica, normalmente ovo ou carne. Houve
também a presença de embutido em substituição à
fonte protéica. Já na segunda atividade, inicialmente, as
crianças tiveram algumas dificuldades, mas no decorrer
da dinâmica demonstraram ter compreendido os
alimentos que compõe cada grupo pela suas funções.
No quarto encontro foi explorada a relação da criança
com o corpo, como ela entende seu processo de
crescimento e o que é necessário para desenvolver-se
saudável. Para tanto foi utilizada a dinâmica “espelho
mental”, seguida de aprofundamento. O principal
objetivo foi auxiliar a criança a perceber sua imagem e
seu próprio corpo, refletindo sobre os cuidados com
ele e como ele se desenvolve. A dinâmica constituise em experimentar e observar o próprio corpo em
diferentes circunstâncias, como na posição sentada e
andando, entre outras. Posteriormente, foi solicitado
que cada escolar desenhasse a sua própria imagem
atual, como ele imagina que fosse quando era um
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
bebê e como se vê no futuro. Em grupo, discutiramse questões como desenvolvimento do corpo, hábitos
saudáveis e autocuidado. Pôde-se perceber por meio
dessa dinâmica, a grande influência da mídia e da
comunidade na visão dos escolares a respeito do seu
próprio corpo, assim como uma visão distorcida do
presente, colocando-se com corpos de adolescentes.
Seus desenhos sobre o futuro mostraram desejos e
ambições, como por exemplo, eles próprios ao lado
de carros e animais de estimação. No último encontro
foi realizada a avaliação do processo educativo, bem
como confraternização. Para a avaliação, optouse pela utilização de jogos com temas trabalhados
anteriormente, que permitiu perceber que a metodologia
utilizada foi adequada, gerando reflexões construtivas a
cerca dos temas abordados. Durante todas as atividades
as crianças estiveram participativas e por muitas vezes
correlacionaram diversas situações vividas no seu
dia-a-dia familiar e comunitário às temáticas. Desta
forma, verificou-se que é possível criar condições
para uma aprendizagem ativa e construtiva em saúde,
contemplando a interdisciplinaridade.
163
164
Resumos
REFERÊNCIAS
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ESTUDO DAS MODALIDADES TERAPÊUTICAS EM PACIENTES COM CÂNCER
ATENDIDOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DA UTP – NEOPLASIAS MALIGNAS
ESPECÍFICAS
Neide Mariko Tanaka
Mariana Scheraiber - UTP
Alvaro Tortato - UTP
Maria Fernanda de Lima e Silva
INTRODUÇÃO: O câncer é uma das principais causas de mortalidade em animais domésticos na atualidade
(WITHROW, 1989). Com a melhoria dos cuidados higiênico-sanitários e veterinários, os animais domésticos
estão vivendo mais e tornando-se mais suscetíveis a doenças de aparecimento tardio como tumores. Alguns
animais, por exemplo, o cão, desenvolvem tumores duas vezes mais frequentemente que o homem (GILLETTE,
1982). Modelos animais para estudo de neoplasias usualmente envolvem a indução artificial de tumores por
agentes químicos e virais que nem sempre reproduzem das condições de desenvolvimento espontâneo dos
tumores. Animais com tumores espontâneos propiciam uma excelente oportunidade para estudar aspectos
etiológicos e terapêuticos da doença. Tumores espontâneos de animais domésticos são, consequentemente,
modelos comparativos atrativos (RICHARDSON, 1983 e GILLETTE, 1982) porque: 1) animais domésticos
compartilham o meio ambiente com os seus proprietários e os mesmos fatores etiológicos podem estar envolvidos
na gênese dos tumores em diferentes espécies (por exemplo: radioatividade); 2) os animais podem servir de
sentinelas para mudanças nos padrões do desenvolvimento de tumores observados em humanos. Por exemplo:
o aumento da contaminação do meio ambiente com o herbicida ácido 2,4- dichlorophenoxiático comumente
usados na agricultura provocou um aumento na ocorrência de linfoma não Hodgkins em seres humanos e de
linfosarcoma em cães em Massachussets E.U.A. (MOORE, 1996); 3) várias neoplasias compartilham as mesmas
características fisiológicas e metabólicas em seres humanos e animais domésticos (VAIL, 1990); 4) alguns
tumores desenvolvem-se mais rapidamente em animais do que seres humanos (por exemplo: adenocarcinoma
mamário em gato), permitindo um estudo mais completo e a mais curto prazo da afecção. Consequentemente, o
comportamento biológico e a reposta à terapia podem ser estudados mais facilmente em animais e os resultados
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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166
Resumos
serem extrapolados para estudos prospectivos no
homem. Tumores espontâneos de animais também são
um excelente modelo para o câncer humano em termos
de antigenicidade, fatores de crescimento e extensão de
diferenciação celular (WITHROW & VAIL, 2007). O
estudo epidemiológico da distribuição da doença em
populações e os fatores que determinam a distribuição
contribuem para esclarecer a etiologia, identificar
os grupos de risco e aplicar medidas preventivas
apropriadas (O’DONNELL et al, 1992). Os fatores
genéticos, exposição a radiações ultravioleta, parasitas
como o Spirocerca lupi, carcinógenos químicos
como o asbestos, são exemplos de fatores de risco
para a manifestação do câncer em uma população
(MAcEWEN, 1989). É através dos estudos estatísticos
de suas suscetibilidades que poderemos elucidar a
manifestação desta doença na população estudada
(REEVES et al, 1995). Em um estudo epidemiológico
de neoplasias em animais na cidade de Alameda
County, Califórnia, E.U.A. com 100.000 cães e gatos,
esta patologia ocorreu em 40% dos cães e 16% dos
gatos (DORN, 1968). O Hospital Veterinário da
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) atende muitos
pacientes diagnosticados com câncer. A caracterização
epidemiológica é um fator importante para que medidas
preventivas possam ser implementadas e a eficácia da
terapia empregada na determinação de prognósticos
mais precisos. Este trabalho teve como objetivo
realizar um estudo retrospectivo sobre as neoplasias em
animais domésticos e as modalidades terapêuticas do
Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti do Paraná.
Modalidades terapêuticas comumente utilizadas no
tratamento do câncer: Cirurgia -remoção cirúrgica de
tumores é a mais comum e a abordagem mais valiosa
em tumores de tecidos ósseos, podendo ser usada em
tecidos moles e tecidos ósseos; algumas vezes curativo,
se o processo da doença está localizado e detectado
precocemente. Quimioterapia: é o uso de certas drogas
únicas, ou em combinação para controlar o crescimento
tumoral. Todas as drogas atualmente administradas
em animais são drogas anti-neoplásicas humanas.
Felizmente, muitas das conseqüências negativas do
uso destas na medicina humana não são testadas em
medicina veterinária. A quimioterapia e/ou cirurgia são
duas das mais importantes modalidades terapêuticas
na medicina do câncer veterinário. A combinação das
terapias pode ser indicada em certos tipos de câncer.
Alguns cânceres requerem especificidade, número
restrito de tratamentos enquanto outros requerem
a manutenção do tratamento para a sua remissão.
Radioterapia: consiste no uso de raio radioativo com
a finalidade de danificar e/ou matar células malignas
de uma lesão localizada, podendo oferecer uma boa
qualidade em se tratando de tempo de remissão em
muitos tipos de tumor, mas normalmente não curam.
Surpreendentemente, animais são tolerantes a terapia
por radiação. Além das modalidades tradicionais,
o clínico deve ter conhecimento dos tratamentos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
avançados: Modalidades biotecnológicas – Imunoterapia e
Terapia molecular. Modalidades de tratamento de tumors
sólidos - Criocirurgia, Hipertermia, Terapia fotodinâmica.
Cuidados intensivos e suporte para pacientes oncológicos
- Analgesia – controle da dor e Nutricionais. Medicina
alternativa ou complementar - Compostos botânicos.
Nutracêuticos, Acupuntura, Massoterapia, Homeopatia,
Aromaterapia e Oxigenioterapia hiberbárica (WITHROW
& VAIL, 2007).
MATERIAL E MÉTODOS: Foram examinadas
467 fichas de pacientes do Hospital Veterinário da
Universidade Tuiuti do Paraná durante o período de
julho de 2008 e primeiro semestre de 2009. Destas,
foram retiradas as fichas de pacientes acometidos
por alterações oncológicas, totalizando 43 casos. As
informações obtidas por meio das fichas clínicas foram
catalogadas em uma planilha e relacionadas: sexo,
idade, raça, esterilização, uso de contraceptivos, tipo
de tumor, tipo de modalidades terapêuticas e outros
procedimentos pertinentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: No presente
trabalho, observou-se que a ocorrência de neoplasias
está presente nos pacientes. Porém, os casos estão em
número pequeno em relação com o total de pacientes
atendidos diariamente no Hospital Veterinário. Do
total de 43 casos estudados, a espécie mais acometida
foi a canina 39/43 (92%), seguida da felina 4/43 (8%).
A maior incidência de câncer em pacientes da espécie
canina, em relação à espécie felina, do total de 43 casos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
estudados, a espécie mais acometida foi a canina 42/43
(99,8%), seguida da felina 1/43 (0,01%). Em relação
ao sexo, as fêmeas foram as mais predispostas 32/43
(74,41%) e os machos 11/43 (25,58%). O aparecimento
do câncer não tem preferência por idade nos animais
atendidos na UTP, foram encontrados casos em várias
idades, mas a maior recidiva foi em animais com 9
anos, totalizando 7 casos, seguido, com 6 casos em
pacientes com 12 anos. A idade média das fêmeas foi de
8,75 anos e a dos machos de 7,54 anos. A maioria das
alterações neoplásicas encontradas foi câncer mamário
das pacientes, totalizando 33% em relação aos demais
tipos de tumores, que juntos, somam 67%. Entre todas
as raças, pudemos observar que o aparecimento de
tumores não está relacionado com o padrão racial das
espécies. Podem ser encontrados em variadas raças e
espécies, como em gatos da raça Siamês onde surgiram
2 casos. Em relação aos cães, a maior incidência é
encontrada em cães da raça Cocker e SRD, ambos
com 7 casos cada. A cirurgia é a principal modalidade
terapêutica realizada nos pacientes atendidos no
Hospital Veterinário da UTP. Porém, em poucos
casos foi possível a realização desse procedimento, a
maioria dos animais não retornou à consulta, apenas
24% dos animais realizaram a cirurgia. Observa-se um
significativo aumento de casos oncológicos a cada ano.
A caracterização de raças e fatores pré-disponentes
podem contribuir para que os clínicos possam orientar
os proprietários aos cuidados preventivos e observar
167
168
Resumos
os fatores de risco quando realizarem as orientações
clínicas conforme raça, idade, localização tumoral e
seu desenvolvimento.
CONCLUSÃO: Os resultados deste estudo
retrospectivo permitem concluir que: dos animais
domésticos portadores de neoplasias, atendidos
no Hospital Veterinário da Universidade Tuiuti
do Paraná, a incidência em cães é grande e sua
distribuição em fêmeas é maior do que em machos.
Entre os fatores que determinaram o grupo de risco,
os cães da raça Cocker spaniel e Sem raça definida,
e idosos, são os mais acometidos. As neoplasias
mamárias são as mais freqüentes e as fêmeas não
esterilizadas, idosas ou que faziam uso rotineiro de
contraceptivos parecem ter maior predisposição ao
desenvolvimento neoplásico. A esterilização precoce
é uma medida importante para a prevenção. A
modalidade terapêutica mais utilizada é a cirúrgica.
Estudos serão necessários para desvendar por meio
de métodos diagnósticos e identificar os fatores de
risco para os clínicos realizarem as orientações clínicas
e medidas preventivas apropriadas para conduzir
terapias eficazes e os fatores prognósticos.
Palavras-chave: neoplasias; estudo retrospectivo;
modalidades terapêuticas; animais.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ESTUDO DE TRÊS POSSÍVEIS APLICAÇÕES PARA O POLISSACARÍDEO DE
SEMENTES DE TAMARINDO
Neila de Paula Pereira
Sandra Martin
Os recentes avanços tecnológicos têm estimulado a pesquisa de novos materiais para os mais diversos tipos de
aplicações industriais. Após a revolução ocasionada pela obtenção de uma ampla gama de polímeros sintéticos
que, apesar de serem muito versáteis, acumulam-se no meio ambiente, levando centenas de anos para serem
degradados, as pesquisas têm se voltado para a obtenção de polímeros naturais, cujas fontes podem ser de
origem vegetal, animal ou microbiológica. Esses polímeros naturais, ou biopolímeros possuem a vantagem de
serem biodegradáveis diminuindo o desgaste causado ao meio ambiente pelo acúmulo dos materiais não
biodegradáveis, sendo provenientes na maioria das vezes de fontes renováveis. Os biopolímeros de origem
vegetal, podem ser obtidos a partir de sementes de plantas, que muitas vezes são descartadas pelas indústrias,
como é o caso das sementes de tamarindo, cuja polpa é bastante utilizada na manufatura de sucos e geléias
tendo no entanto as sementes descartadas ou utilizadas como ração para animais. No Japão, a xiloglucana obtida
a partir dessas sementes é utilizada nas indústrias de alimentos, farmacêutica e de cosméticos. No Brasil, seu
uso industrial não é muito difundido, em grande parte pelo alto custo desse material purificado, que é obtido
somente via importação. Entretanto, o tamarindeiro é cultivado principalmente nas regiões nordeste e centrooeste do Brasil, onde a polpa de seus frutos é utilizada na alimentação. A difusão do uso desses materiais pode
incrementar a renda de comunidades que vivem do extrativismo vegetal contribuindo para o seu desenvolvimento
econômico, social e cultural, gerando divisas para os municípios aos quais pertencem essas comunidades, que
podem ser revertidas em benefício da própria população local, como, por exemplo, nas áreas de saúde e educação
tão deficitárias em nosso país. Dessa forma, esse trabalho visa pesquisar possíveis aplicações para o polissacarídeo
obtido a partir de sementes de tamarindo, que apesar de já ter sido extensivamente estudado, tem ganhado
destaque entre os químicos de carboidratos de todo o mundo com um grande aumento no número de publicações
explorando as suas propriedades. As vagens de tamarindo foram obtidas no comércio local, sendo descascadas
e após isso a sementes separadas da polpa. As sementes foram, então fervidas, tiveram as suas cutículas removidas
e foram submetidas à extração aquosa exaustiva seguida de precipitação com dois volumes de etanol, filtração
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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170
Resumos
e secagem do material obtido. Esse material foi
submetido à purificação pela precipitação com sulfato
de cobre em meio alcalino, ficando as proteínas que
foram extraídas juntamente com o carboidrato em
solução, enquanto este forma um complexo insolúvel
com os íons cobre. Esse complexo insolúvel, de aspecto
gelatinoso, é tratado com ácido clorídrico diluído, a
solução originada é tratada com dois volumes de etanol,
o precipitado obtido é lavado várias vezes com etanol
aquoso, filtrado e seco. O rendimento a partir da
semente úmida e sem cutícula foi de cerca de 10% e
constituído por 78% de açúcar total, 6% de proteínas
e 16% de umidade. Esse material, assim obtido, foi
testado para três possíveis aplicações. Um desses
estudos consistiu na elaboração de emulsões O/A
(bases óleo em água), formuladas na sua fase oleosa
com base autoemulsionante não iônica junto a um óleo
fixo, e na fase aquosa com o polissacarídeo xiloglucana
extraído das sementes do tamarindo. O restante da
formulação base escolhida tratou-se de matériasprimas, freqüentemente usadas em dermo-formulações.
Foram realizados testes de estabilidade e de
envelhecimento acelerado, conforme as recomendações
da ANVISA, 2004 (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/
publicacoes/cosmeticos.pdf) e por fim verificadas as
formulações que obtiveram os melhores resultados a
longo prazo. Na seleção da matéria prima, dentre os
constituintes da fase oleosa das emulsões cosméticas,
foi escolhido o óleo de amêndoas doces que está entre
os óleos vegetais oriundos de sementes presentes em
abundância na flora brasileira para agregar valor às
mesmas. Colaboram ainda, no momento, para o
desenvolvimento de estudos sobre a aplicação dos óleos
vegetais, o alto custo de produtos petroquímicos e a
tendência a o consumo de produtos naturais. As
emulsões não iônicas foram as escolhidas, pois
sabidamente apresentam compatibilidade com a pele,
além de melhor toque sensorial. Emulsões não iônicas
formuladas com bases autoemulsionantes possuem
tendência a estabilidade. Baseando-se nas emulsões
tradicionais não auto-emulsivas foram formuladas 3
composições variando a proporção da matéria-prima
graxa sintética selecionada. Todas as formulações foram
acrescidas de óleo de amêndoas doces (OAD) e
receberam as seguintes denominações: “X–01”: base
autoemulsionante não iônica (polawax) contendo o
óleo vegetal (OAD) + espessante (xiloglucana); “X-02”
variação da concentração do éster graxo; “X-03”
variação da concentração do álcool graxo. A fase aquosa
foi a mesma para as três formulações e consistiu de
glicerina (5,0%); polímero espessante - xiloglucana em
solução aquosa 3% (8,0%), nipagim (0,1%) e água
destilada (q.s.p. 100 mL). O método de obtenção dessas
emulsões foi adaptado da técnica de emulsificação
clássica. Para cada emulsão formulada foram realizados
exames macroscópicos, microscópicos e testes de
estabilidade a longo prazo e acelerada rigorosamente
nas mesmas condições. De acordo com os testes da
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
estabilidade física, a longo prazo, a emulsão formulada
com proporções 3:1:1 (“X-01”) de autoemulsionante,
álcool graxo e éster graxo, foi a composição que
mostrou melhores resultados não só pela consistência
apresentada, mas também no aspecto microscópico a
longo prazo e sob o envelhecimento acelerado. Em um
segundo estudo, foram preparadas blendas xiloglucana/
xantana e xiloglucana/guar que tiveram as suas
propriedades viscosimétricas analisadas e utilizadas na
preparação de filmes. Para o preparo das blendas,
inicialmente foi preparada uma solução de xiloglucana
em água, na concentração de 10 mg/mL. Parte dessa
solução, diluiu-se com água destilada para a concentração
de 5 mg/mL e dividida em duas partes. A uma das
partes foi adicionada a massa de goma xantana
necessária para que a solução ficasse com uma
concentração total da mistura de polissacarídeo de 10
mg/mL. A outra parte da solução de xiloglucana a 5
mg/mL foi acrescentada a goma guar, também na
quantidade necessária para que a concentração total de
polissacarídeo ficasse no valor de 10 mg/mL.
Igualmente, preparadas soluções aquosas de goma
xantana e goma guar na concentração de 10 mg/mL
que foram analisadas comparativamente com as
soluções anteriores. As soluções aquosas de xantana e
xiloglucana na concentração de 10 mg/mL apresentaram
comportamento pseudoplástico. O preparo da blenda
(solução xiloglucana 5 mg/mL/xantana 5 mg/mL)
também não alterou essa propriedade, que é mais
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
marcante na solução de xantana 10 mg/ml. A solução
de xantana apresenta valores de viscosidade absoluta
quase 5 vezes maiores que os da solução de xiloglucana,
quando analisadas a uma velocidade de 1 rpm, porém
em valores de rpm mais elevado essa diferença diminui.
Os valores de viscosidade da blenda foram superiores
aos da xiloglucana isolada, porém inferiores ao da
solução de xantana. Isso pode ocorrer devido ao fato
da presença da xiloglucana perturbar as interações que
ocorrem entre as cadeias de xantana isoladas, facilitando
o seu escoamento e causando uma diminuição em seus
valores de viscosidade. Já o perfil de viscosidade da
solução aquosa de goma guar a 10 mg/mL apresentase com características mais próximas do comportamento
newtoniamo, onde há pouca ou nenhuma variação da
viscosidade em relação à velocidade de cizalhamento.
Na solução xiloglucana 5 mg/mL/guar 5 mg/mL,
pode-se observar que a presença da xiloglucana altera
de forma muito acentuada a interação entre as cadeias
poliméricas da goma guar, tornando a viscosidade da
blenda, similar à da solução de xiloglucana isolada, bem
como apresentando comportamento pseudoplástico
similar ao da solução de xiloglucana 10 mg/mL. O
preparo de blendas, associando polímeros com
diferentes propriedades físico-químicas, visa a produção
de filmes flexíveis, aos quais um fármaco possa ser
incorporado e rapidamente liberado, servindo apenas
como um veículo que possa ser utilizado com maior
praticidade para a administração de determinados
171
172
Resumos
princípios ativos. Para a obtenção desses filmes, a partir
das soluções anteriormente analisadas, foram
adicionados 50 ml de cada uma delas em placas de petri
separadas que a seguir foram colocadas em estufa com
a temperatura mantida entre 30 e 40oC por 72 horas,
porém os filmes ficaram aderidos as placas de petri
utilizadas como suporte, impossibilitando uma análise
mais detalhada. Esses resultados demonstram que a
mistura de dois polissacarídeos com propriedades
físico-químicas diferentes alteram o comportamento
viscosimétrico das misturas quando analisadas em
comparação com as soluções de cada um isolado,
conforme já relatado na literatura. As soluções
preparadas apresentaram potencial para o preparo de
filmes, embora a metodologia de obtenção desses
filmes ainda precise ser aperfeiçoada. No terceiro e
último estudo, o objetivo era verificar o potencial de
utilização do polissacarídeo de sementes de tamarindo
como fibra alimentar uma vez que existem dados na
literatura demonstrando que as fibras solúveis possuem
diversas propriedades entre as quais se destacam a
capacidade de retardar a absorção intestinal de
carboidratos contribuindo na prevenção do
aparecimento do diabetes melito tipo 2 e manutenção
dos valores glicêmicos dos pacientes já diagnosticados
como portadores dessa patologia. Segundo alguns
autores, a viscosidade, que determinadas fibras solúveis
adquirem quando em solução aquosa, está relacionada
com a capacidade dessas fibras em retardar a absorção
de carboidratos, fato que se reflete na diminuição da
glicemia pós-prandial, quando essas fibras são ingeridas
concomitantemente com dietas ricas em carboidratos
digeríveis. As análises viscosimétricas de uma solução
aquosa desse polímero na concentração de 10 mg/mL
demostraram valores de viscosidade absoluta elevados
sugerindo que esse biopolímero possa ser adequado para
utilização como fibra alimentar solúvel, com possibilidade
de retardar a absorção intestinal de carboidratos,
incluindo a glucose, auxiliando na manutenção do
controle glicêmico, conforme descrito anteriormente.
Pelos resultados apresentados nesse trabalho conclui-se
que o polissacarídeo obtido a partir das sementes de
tamarindo possui um grande potencial para as três
diferentes aplicações propostas, demonstrando a
necessidade da continuidade desses estudos.
Palavras-chave: polissacarídeo; tamarindo; aplicações
biotecnológicas.
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Pesquisa
FATORES DE MEIO AMBIENTE SOBRE A PRODUÇÃO DE LEITE, GORDURA,
PROTEÍNA EM BOVINOS LEITEIROS DA REGIÃO METROPOLITANA DE
CURITIBA
Uriel Vinícius Cotarelli de Andrade - UFPR
Maria Lúcia Masson - UFPR
Elder Clayton Capeletto - UTP
Pablo Gomes Martinez - UTP
Giovanna Cestári Ravedutti - UTP
Evandro Massulo Richter – Seab-PR
INTRODUÇÃO: O leite é a secreção produzida pela glândula mamária das fêmeas dos mamíferos. Por seu elevado
valor nutritivo, o leite é alimento básico do crescimento animal, já que contém alimentos plásticos (proteínas)
e energéticos (lactose e gorduras), além de cálcio, fósforo e magnésio e vitaminas em qualidade e quantidades
ajustadas a cada espécie animal (BACILA, 1980). Devido a sua importância nutricional, o leite é considerado uma
das melhores fontes de nutrientes para os seres humanos. A quantidade e a disponibilidade de proteína, cálcio e
vitaminas do complexo B, fazem do leite, um componente essencial na dieta de crianças, adolescentes e adultos
(MONARDES, 1998). A pecuária leiteira é uma importante atividade econômica e social, uma vez que gera
emprego e renda no campo. No estado do Paraná, localizam-se 279 estabelecimentos leiteiros, sendo 70 usinas
de beneficiamento, 153 indústrias de laticínios e 56 entrepostos de resfriamento. A bovinocultura leiteira é um
dos setores que mais ocupa mão de obra no estado, com 4.551 empregos diretos e 154.734 empregos indiretos.
Dos 1,9 bilhões de litros de leite produzidos no Paraná em 1999, aproximadamente 40% ficaram retidos nas
propriedades e 60% foram comercializados. Destes, 50% se apresentam sob a forma de leite fluído longa vida
e leite pasteurizado dos tipos A, B e C. Os restantes 50% foram industrializados em queijos (28,5%), bebidas
lácteas e iogurtes (6,6%), leite em pó (5,8%) e 18,0% transformados em manteiga, creme de leite, requeijão,
doce de leite e sobremesas (HARTMANN, 2002). Desse modo, a presente pesquisa teve como objetivo, estudar
os fatores de meio ambiente que alteram a qualidade do leite através de analises das variações da produção de
leite, CCS (Contagem de Células Somáticas) e dos seus componentes constituintes, como gordura, proteína
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174
Resumos
e suas respectivas porcentagens, em amostras de leite
provenientes de rebanho oficialmente controlado da
região metropolitana de Curitiba, Estado do Paraná.
Objetivando assim, de modo específico, constituir
resultados importantes que estimule o produtor a
melhorar o potencial de seu rebanho, seja no manejo
sanitário ou nutricional, uma vez que, parâmetros
de qualidade do leite são cada vez mais usados para
detectar falha nas práticas de manejo e servir como
referência na valorização da matéria - prima.
MATERIAL E MÉTODOS: Material de Análise
- Amostra de leite - Estão sendo analisadas
aproximadamente 500 amostras de leite, das quais
20 amostras mensais, oriundas de 20 vacas da raça
Holandesa, durante o período de lactação (10 a 12
meses), observadas nos anos de 2008 a 2009. As
coletas das amostras de leite contam com pessoal
treinado, orientados pelo Serviço de Operações
de Campo do PARLPR. Estas, serão coletadas
quinzenalmente na propriedade e acondicionadas em
frascos padronizados (40 mL), utilizando o conservante
Bronopol ® (2- bromo- 2- nitropropano- 1,3- diol),
mantendo-as refrigeradas no transporte, atendendo
normas internacionais (HORST, 2001). Métodos de
Análise: Os dados do presente estudo são provenientes
do banco de dados do Programa de Análise de
Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR), emitidos
mensalmente aos produtores que realizam controle
leiteiro oficial. As análises das porcentagens de sólidos
totais, gordura, proteína e lactose são realizadas no
Laboratório Centralizado de Análise de Leite do
PARLPR, no equipamento automatizado Bentley 2000
®. Para Contagem de Células Somáticas, foi utilizado
o Somacount 500®. O ECS será obtido através da
transformação logarítmica da CCS, utilizando-se a
fórmula: ECS = log2 (CCS/100) + 3. Para as análises
estatísticas, utilizou-se o programa computacional
SAS (SAS, 1991), através dos procedimentos PROC
FREQ, PROC MEANS e PROC GLM, através do
Método dos Quadrados Mínimos. O modelo estatístico
será composto pelos efeitos de rebanho, região, ano de
análise, mês de análise e idade da amostra.
Y ijklm = μ + Aj + Ik + Cl + GSn + NO + e ijklmnop
sendo: Y ijklm = é a observação referente à concentração
de componentes do leite (CCS, gordura, proteína e
suas respectivas porcentagens) das amostras coletadas
no rebanho m, com escore de células somáticas l, com
dias entre amostragem e processamento k, coletadas
no mês*ano j;
μ = média geral;
Aj = efeito de ano e mês de análise, sendo j = 1, 2,...,n;
Ik = efeito de idade da amostra, sendo k = 1, 2,...,14;
Cl = efeito da contagem de células somáticas,
transformada em escore de células somáticas, sendo:
l = 0, 1,...,9;
GSn = efeito de grupo genético, sendo n = 1, 2, ...n;
NO = efeito de número de ordenhas, sendo n = 1, 2
e 3 x.
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Pesquisa
e ijklmn = erro aleatório associado a cada observação.
Os dados utilizados para a realização do presente
estudo foram fornecidos pelo Programa de Análise de
Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR) do Convênio
APCBRH/UFPR/McGILL UNIVERSITY, com sede
na cidade de Curitiba - PR, e compreendem o período
de 2008 a 2011. Os dados para análise são provenientes
de um Banco de Dados, com aproximadamente
300.000 amostras de leite analisadas pelo Laboratório
Centralizado de Análise de Leite do Programa de
Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná (PARLPR),
que possui dois analisadores eletrônicos infravermelho
Bentley 2000 R® (360 amostras / hora) para análise
de gordura , proteína, lactose e sólidos totais e um
contador eletrônico de células somáticas Somacount
500 R® (500 amostras / hora) para monitoramento da
mastite (RIBAS et al. 1996).
RESULTADOS E DISCUSSÃO: MEDIDAS
DESCRITIVAS - As médias e os respectivos desviospadrão da produção de leite, gordura e proteína em kg
e das porcentagens de gordura e proteína, juntamente
com os valores referentes ao período de lactação, estão
descritos na Tabela 1. Os valores médios observados
da produção de leite, gordura e proteína, encontrados
no rebanho estudado, estão próximos aos valores
descritos para a raça. Outros estudos em rebanhos da
raça Holandesa mostram médias de produção inferiores
às encontradas neste estudo: 16,7 L/vaca/dia em
Pernambuco (Nunes Jr. et al., 1996) e 17,02 L/vaca/
dia em Minas Gerais (Araújo et al., 2000). Bajaluk et
al. (1999), em rebanhos de raça Holandesa no Paraná,
encontraram maior produção média (24,77 L/vaca/dia).
Os resultados são parciais e o estudo está em andamento
com previsão de término para julho de 2011.
Palavras-chave: leite; gordura; proteína.
Tabela 1 – Número de observações (n), médias estimadas, desvios-padrão (dp) e coeficientes de variação (cv) das características produtivas e reprodutivas
Média
Erro padrão
Desvio padrão
Variância da amostra
Mínimo
Máximo
Contagem
CV (%)
Produção
em Kg
21,41
0,93
8,12
65,98
5,01
38,80
76,00
37,95
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
C.C.S
Mês Atual
4,79
0,21
1,70
2,89
0,44
7,89
65,00
35,46
(% de Gordura)
3,07
0,05
0,47
0,22
1,95
4,06
75,00
15,38
(% de Proteína)
3,11
0,04
0,36
0,13
2,45
4,35
76,00
11,42
Dias Lactação
256
17
146
21181
16
662
75
57
176
Resumos
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, C.V.; GONÇALVES, T.M.; AQUINO, L.H. et al. Fatores não genéticos nas produções de leite e de gordura em
rebanhos da raça Holandesa no estado de Minas Gerais. Ciência e Agrotecnologia, v.24, p.766-772, 2000.
BACILA, M. Bioquímica Veterinária. São Paulo: M. Bacila., 1980. p. 434-453.
BAJALUCK, S.A.B. Efeitos de ambiente sobre a produção diária de leite e porcentagens de gordura e proteína em vacas
da raça holandesa no Estado do Paraná. Curitiba, 1999. 56 pp. Tese (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Curso de Pós
– Graduação em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
HARTMANN, W. Sólidos totais em amostras de leite de tanques. Curitiba, PR, 2002. 55 pp. Tese (Mestrado em Ciências
Veterinárias) – Curso de Pós – Graduação em Ciências Veterinárias, Setor de Ciências Agrárias, Universidade Federal do
Paraná.
MONARDES, H.G. Programa de Pagamento de Leite por Qualidade em Quebéc, Canadá. In: I SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE QUALIDADE DO LEITE, 1., 1998, Curitiba. Anais. Curitiba: Associação Paranaense de
Criadores de Bovinos da Raça holandesa / Universidade Federal do Paraná, 1998. p40 – 43.
NUNES JR., R.C.; BARBOSA, S.B.; MANSO, H.C. Avaliação da produção leiteira de vacas Holandesas na região Agreste
de Pernambuco. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADEBRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 33., 1996, Fortaleza.
Anais... Fortaleza: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 1996. p.100-103.
RIBAS, N.P. Fatores de meio e genéticos em características produtivas e reprodutivas de rebanhos holandeses da bacia
leiteira de Castrolanda, Estado do Paraná. Viçosa,
MG, 1981. 141 p. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa.
RIBAS, N.P.; VEIGA, D.R.; HORST, J.A. Programa de Análise de Rebanhos Leiteiros do Paraná. Rev. Gado Holandês.
São Paulo, SP, n. 450, p. 41 -45, 1996.
SAS® System for Linear Models. 3 ed. SAS Institute Inc., Cary, NC, Estados Unidos. 1991.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
FONOAUDIOLOGIA E OS PROCESSOS DE LINGUAGEM: DOMÍNIOS DE
INVESTIGAÇÃO
Ana Paula Berberian - UTP
Giselle Massi – UTP
Ana Paula Santana - UTP
Ana Cristina Guarinello - UTP
A linguagem, como objeto de pesquisa, vem sendo do interesse de muitas áreas: lingüística, psicologia,
neurociências, medicina, fonoaudiologia. Cada área toma um posto de observação diferenciado. Na fonoaudiologia
analisamos, principalmente, as possibilidades de significação nas várias modalidades de linguagem, assim como
as dificuldades no seu processos de aquisição e funcionamento. Docentes e discentes vinculados à Linha de
Pesquisa Fonoaudiologia e os Processos de Linguagem, do Programa de Pós Graduação em Distúrbios da
Comunicação da UTP, vêm desenvolvendo estudos que visam a sistematização de teorias e de práticas
fonoaudiológicas voltadas à avaliação e terapia dos distúrbios da linguagem oral e escrita, bem como à promoção
de tais modalidades de linguagem em contextos vinculados às Instituições de Saúde e Educação. As pesquisas
contemplam interesse interdisciplinar e envolvem, assim, discussões sobre a linguagem e os processos afeitos
a ela. Quanto ao aspecto metodológico, grande parte das pesquisas tem caráter qualitativo e/ou qualitativo/
quantitativo. Dentre os pressupostos norteadores de tais estudos ressaltamos a concepção de linguagem como
constitutiva dos sujeitos em suas diferentes dimensões, bem como das relações sociais e, portanto, das formas
de organização social. Consideramos que o desenvolvimento e uso das linguagens orais e escritas estão atrelados
às condições de apropriação das mesmas que são historicamente constituídas, ou seja, estão atreladas às condições
de vida materiais e subjetivas. Determinando tais condições, enfatizamos as formas pelas quais as práticas de
linguagem escrita e oral são mediadas socialmente, especialmente nos contextos familiares e educacionais.
Partimos do pressuposto de que os valores, os usos e as funções atribuídos à oralidade e à escrita, nas práticas
cotidianas, por pais, familiares e professores são determinantes das possibilidades e dos limites enfrentados
pelos sujeitos em seus processos de apropriação e uso dessas modalidades de linguagem. A partir de tais
pressupostos, desenvolvidos em Núcleos de Trabalho que, além de contar com a participação de docentes,
discentes e egressos do Mestrado e Doutorado, contam com a contribuição de docentes e discentes da Graduação
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
e de pesquisadores da comunidade, os projetos,
atualmente, em andamento estão organizados a partir
das seguintes temáticas: 1. Família, Subjetividade,
Linguagem e Abordagens Grupais: - Estudo com
grupo de pais de crianças com comprometimentos
significativos de oralidade, usuárias da prancha de
comunicação alternativa na escola, com objetivo de
apreender aspectos favoráveis e desfavoráveis ao uso
de tal recurso no contexto familiar; - Estudo com pais
de crianças portadoras de fissura lábial e ou palatina
acerca de suas representações quanto ao impacto de
tal problemática no desenvolvimento global da criança
e, em especial, nos processos de apropriação das
linguagens oral e escrita; - Estudo com familiares e ou
cuidadores de sujeitos afásicos, buscando analisar a
visão de tais sujeitos em relação à abordagem grupal
que estão vivenciando. 2. Linguagens Oral e Escrita,
Formação de professores, Fonoaudiologia e Educação:
- Estudos quanto à visão de grupo de professores
acerca de seus conhecimentos em torno do conceito
de letramento e das implicações de tais conhecimentos
nas práticas pedagógicas; - Estudo acerca da visão de
professores quanto às suas condições de letramento;
- Análise de uma proposta de inter venção
fonoaudiológica no contexto educacional; - Estudo
dos processos de avaliação de leitura e de escrita no
contexto fonoaudiológico e educacional; - Estudo das
condições de letramento dos pais e de sujeitos
diagnosticados como limítrofes; - Estudo dos aspectos
metodológicos de grupo de afásicos. 3. Linguagem e
Envelhecimento: - Análise das condições de letramento
no contexto da gerontologia; - Estudo do papel de
práticas de leitura e de escrita no processo de
envelhecimento; - Análise da influência de práticas orais
nesse processo; - Análise da relevância do trabalho em
grupo junto a pessoas que estão envelhecendo; Análise dos sentidos atribuídos ao envelhecimento pela
mídia escrita. 4. Linguagem, Surdez e Educação: Análise dos discursos de pais de crianças surdas; Estudo do papel do grupo de familiares de surdos e os
discursos produzidos nesse grupo; - Análise da surdez
no contexto educacional: formação de professores.
Como resultado das nossas pesquisas podemos levantar
alguns aspectos gerais: a) a importância de discussões
e do implemento de estudos envolvendo os familiares
dos sujeitos com alterações de linguagem. Isso se dá a
partir do momento em que as pesquisa apontam que
o modo com a família concebe o sujeito, a linguagem
e os sintomas de linguagem tem implicações na forma
como o sujeito se coloca como autor de seus discursos,
bem como, com os processos de apropriação da
linguagem. Parte-se, assim, do pressuposto de que a
subjetividade é construída socialmente, a partir das
interações sociais e dos discursos produzidos nessas
interações. Dado que a família proporciona a primeira
situação interativa que a criança participa, assim como
consiste num espaço primordial de construção de
discursos, compreender as práticas de oralidade e
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
escrita vivenciadas no contexto familiar e a visão da
família sobre os usos de linguagem por parte de seus
diferentes membros é fundamental para a elaboração
de práticas clínicas e/ou institucionais. Dito de outra
forma, entender, analisar e ressignificar discursos
produzidos no contexto familiar podem trazer
modificações tanto para o familiar, quanto para o
sujeito e sua relação com seu sintoma. b) Sobre os
atendimentos grupais no contexo das práticas
fonoaudiológicas nossos estudos apontam que o grupo
é um espaço social no qual os sujeitos podem colocarse discursivamente. O grupo, além de potencializar
situações interpessoais que ampliam as possibilidades
de troca e de práticas de linguagem significativas, é
também o promotor das interações sociais que têm
implicações diretas na (re)construção da subjetividade.
Desta forma, a intervenção grupal favorece situações
e práticas discursivas próximas às práticas sociais
cotidianas, o que propicia a formação de esquemas
interativos que ultrapassam a díade paciente-terapeuta,
promovendo um diferencial nas possibilidades de
práticas com a linguagem, na constituição do sujeito e
nos processos de inserção social. c) Os estudos na área
de envelhecimento evidenciam que o trabalho com e
pela linguagem escrita possibilita a promoção de um
envelhecimento ativo, digno e bem-sucedido. Contudo,
a nossa pesquisa indica que é necessário tanto
ressignificar a história de relação dos sujeitos idosos
com a leitura e a escrita, quanto possibilidades de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
práticas de letramento, pois um grupo significativos de
idosos não se perceberem nem se colocam como
leitores e escritores de diversos gêneros discursivos que
compõem a sociedade vigente. d) as pesquisas que
abordam a formação de professores evidenciam a
necessidade de discussões em torno das práticas de
oralidade e de letramento. Nessa direção, os resultados
dos estudos em andamento evidenciam que embora os
professores sejam leitores e escritores, suas condições
de letramento, muitas vezes, não permitem uma posição
de autoria protagonista na relação que estabelecem com
textos acadêmicos, literários, enfim, com gêneros
discursivos secundários. Decorrente desse fato,
podemos apreender: - que os professores tem
conhecimento restrito sobre os processos de apropriação
das linguagens oral e escrita, bem como, em relação
aos determinantes sociais,culturais,ideológicos e
lingüísticos envolvidos em tais processos; - que as
práticas de leitura e escrita, predominante, vivenciadas
por professores dizem respeito a textos produzidos e
veiculados em esferas privadas e, portanto, fazem parte
dos denominados gêneros primários. Além disso, a
relação com textos acadêmicos, em geral, ocorre para
cumprimento de atividades obrigatórias em seus
contextos de trabalho; - que embora a instituição
escolar seja agência privilegiada de letramento, as
mediações vivenciadas pelos alunos em relação aos
discursos orais e escritos não tem permitido que os
mesmos façam uso significativo de tais modalidades
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Resumos
de linguagem; - as intervenções fonoaudiológicas
desenvolvidas no contexto escolar devem contribuir
para que a escola cumpra seu papel social,ou seja, a
democratização dos conhecimentos acadêmicos
historicamente constituídos. Portanto, tais intervenções
devem promover a apreensão de conhecimentos
teórico-práticos que permita aos professores o
desenvolvimento de práticas de oralidade, leitura e
escrita que resultem na promoção da linguagem, ou
seja, na apreensão por parte dos alunos das diferentes
funções, usos, e valores sociais envolvidos com as
diferentes práticas de linguagem. Além disso, tais
intervenções devem promover a apropriação por parte
dos alunos dos aspectos estruturais e semânticos
envolvidos com a oralidade e escrita de forma que os
mesmos possam se constituir como sujeitos/autores
capazes de produzir sentidos ao interpretarem e
elaborarem discursos. Para finalizar, concluímos que
os avanços teórico-práticos obtidos a partir dos estudos
desenvolvidos em nossa Linha de Pesquisa, tornaram-
se possíveis porque tendo em vista os pressupostos
teóricos que norteiam esses projetos, ou seja, a
concepção sócio-histórica de linguagem, uma vez que
permite abordá-la como dialogia, como trabalho
cultural, como construção conjunta de sentidos e que
se manifesta por meio dos vários mecanismos de
significação (oralidade, escrita, gestos, desenhos). Só a
partir dessas premissas é que podemos avançar na
elaboração de inter venções terapêuticas e/ou
institucionais que devem dar conta das multifacetas da
linguagem: o biológico, o interativo, o subjetivo e o
social. Em suma, as pesquisas com a linguagem devem
ultrapassar sua análise formal, strictu sensu e considerar
lugares sociais, a relação linguagem/sujeito/sintoma,
as práticas discursivas, as histórias pessoais. Só a partir
desse olhar é que podemos, de fato, avançar no
entendimento dos processos de linguagem.
Palavras-chaves: linguagem oral; linguagem escrita;
fonoaudiologia.
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Pesquisa
INFLUÊNCIA DA HIDROCINESIOTERAPIA NO EQUILÍBRIO DE INDIVÍDUOS
ACIMA DE 60 ANOS
Bianca Simone Zeigelboim - UTP
Sandra Dias de Souza - UTP
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa etária de 60 anos ou mais, é a que mais cresce em
termos proporcionais. O aumento da expectativa de vida no país, (que atualmente é de 68,6 anos em média, e
que no ano 2025 será de 71,6 anos - IBGE), aliado ao declínio das taxas de crescimento da população, determinou
modificações na pirâmide etária, com aumento do número de idosos.Tornando assim, esta faixa etária uma das
grandes preocupações de saúde pública, pois o processo de envelhecimento é definido como um processo
dinâmico e progressivo, ocasionando maior incidência de processos patológicos, mas que não são a única
preocupação, existindo outros fatores como quedas que muitas vezes pode tornar esse idoso inativo e dependente
para executar simples funções do dia-dia. Com o passar da idade, as dificuldades na agilidade de movimento
apresentam-se exacerbadas, perder o equilíbrio e cair durante a postura bípede e/ou durante a locomoção se
torna cada vez mais freqüente, evidenciando uma ameaça à segurança e saúde dos idosos, especialmente aqueles
com idade avançada. Entre um terço e metade da população com mais de 65 anos, ou uma em cada três pessoas
mais idosas, cairá pelo menos uma vez por ano (CUMMING, 2002). Assim, aumentando a incidência de
hospitalização, principalmente por fraturas após queda. Também a incidência ao óbito, apresentando relação
causal com 12% de todos os óbitos da população geriátrica e 70% das mortes acidentais em pessoas com 75
anos ou mais. Vários fatores operam tanto no estimulo que causa a queda como na capacidade reativa da pessoa
idosa para evitar a queda. Onde a estabilidade do corpo depende das informações adequadas de componentes
sensoriais, cognitivos, integrativos centrais (principalmente cerebelo) e musculoesquelético de forma integrada.
Devido a este fator surge, portanto, a necessidade de aprimorar as condições de recepção de informações do
sistema vestibular, visual e somatossensorial a fim de ativar os músculos antigravitacionais e estimular o equilíbrio
para prevenir as quedas. O processo de envelhecimento definido como um processo dinâmico e progressivo
que determina a perda da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente e modificações nas dimensões
funcionais, bioquímica e psicológicas, ocasionando uma maior incidência de processos patológicos, podendo
muitas vezes tornar esse idoso inativo e dependente de funções simples do dia-dia. A maior suscetibilidade dos
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Resumos
idosos a sofrerem lesões decorrentes de uma queda se
deve a alta prevalência de comorbidades presentes nesta
população, associado ao declínio funcional decorrente
do processo de envelhecimento, como o aumento do
tempo reação e diminuição da eficácia das estratégias
motoras do equilíbrio corporal, fazendo de uma queda
leve um evento potencialmente perigoso. Sendo
também uma das principais causas de dependência
funcional decorrente de quedas ocorridas até mesmo
no próprio domicílio, pois o risco de cair aumenta
significativamente com o avançar da idade, o que coloca
esta síndrome geriátrica como um dos grandes
problemas de saúde pública devido ao aumento
expressivo do número de idosos na população e à sua
maior longevidade, competindo por recursos já
escassos e aumentando a demanda por cuidados de
longa duração. Diversos fatores de risco e múltiplas
causas interagem como agentes determinantes e
predisponentes, tanto para quedas acidentais quanto
para quedas recorrentes, impondo aos profissionais de
saúde, o grande desafio de identificar os possíveis
fatores de risco modificáveis e tratar os fatores
etiológicos e morbidades presentes. Onde um dos
meios para prevenção citados em literatura, é a prática
da atividade física. A Atividade física pode promover
bem estar, melhora na qualidade de vida, aumentando
força muscular, flexibilidade e conseqüentemente
diminuindo o risco a quedas. Desde os tempos remotos,
a hidroterapia tem sido utilizada como recurso para
tratar diversas doenças, recentemente tornando-se alvo
dos estudos científicos. Onde o Fisioterapeuta utiliza
as propriedades físicas deste ambiente junto à atividade
física e exercícios como facilitador aos objetivos
terapêuticos. De uma forma geral, os exercícios podem
ser correlacionados com diferentes modalidades assim
como com o ambiente aquático, onde a água é um meio
diferenciado e bastante apropriado para tal prática,
quando bem direcionada com as propriedades físicas
da água, como flutuação, pressão hidrostática, empuxo
e refração. A hidrocinesioterapia ou Fisioterapia
Aquática constitui um conjunto de técnicas terapêuticas
fundamentadas no movimento humano. Associada ou
não aos manuseios, manipulações, configurada em
programas de tratamento específicos para cada
paciente. A multiciplicidade de sintomas como dor,
fraqueza, déficit de equilíbrio, obesidade, doenças
articulares, desordens na marcha, dentre outras
dificultam os tratamentos e a realização de exercícios
em solo por idosos, ao contrário dos exercícios
realizados no meio aquático, onde há diminuição da
sobrecarga articular, menor risco de quedas e de lesões.
Além disso, as propriedades físicas possibilitam muitas
vezes a realização de movimentos e exercícios que não
seriam possíveis em solo. Sendo assim, a pesquisa tem
como objetivo verificar a influência do programa de
tratamento na hidrocinesioterapia no equilíbrio postural
de indivíduos acima de 60 anos, devido à relevância do
tema e da necessidade de tratamentos específicos. A
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Pesquisa
pesquisa será do tipo de estudo ensaio clínico, sendo
solicitado parecer e autorização do Comitê de Ética e
Pesquisa da Universidade Tuiuti do Paraná. A mesma
será realizada no setor de Hidroterapia da Universidade
Tuiuti do Paraná em uma Unidade de da Região de
Curitiba-Pr. Para o desenvolvimento do estudo, serão
selecionados 100 idosos, recrutados por meio de
cartazes na própria unidade, assim como solicitação de
encaminhamentos aos profissionais de outras unidades
de saúde da região selecionados segundo os critérios
de inclusão e exclusão. Critérios de Inclusão: Idade
acima de 60 anos, marcha independente, ausência de
contra indicações para o ambiente aquático, atestado
médico dermatológico, cadastro nas unidades de saúde,
assinatura do termo de consentimento livre e
esclarecido, independente dos relatos de tontura ou
zumbido. Critérios de Exclusão: Incontinência fecal
ou urinária, feridas abertas, ou demais contra indicações
para a imersão em ambiente aquático, patologias
neurológicas ou afecções motoras que impeçam a
marcha voluntária ou posição ortostática. Primeiramente,
solicitaremos termo de consentimento, identificando
e esclarecendo os métodos e objetivos da pesquisa,
onde os idosos serão selecionados pela idade, e método
de exclusão. Utilizaremos uma sala ou ambiente da
própria unidade para avaliação, apresentando
comprimento superior 7 metros e largura maior que 3
metros; na realização da marcha livre e independente,
utilização dos seguintes equipamentos: 2 cadeiras
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
simples com 45 cm de altura, fita métrica, 2 cronômetros,
balança digital para verificação do peso, fichas com
questionário e avaliação. Quanto à execução do
tratamento, uso de uma piscina com formato circular,
com profundidade de 1,5m e temperatura média de
30ºC. Inicialmente, os idosos reponderão informalmente
ao questionário contendo perguntas simples como:
história de quedas ou fraturas, relato de doenças,
déficits visuais, auditivos, labirínticos, patologias
associadas, uso de medicamentos, etc. Posteriormente,
realizaremos a coleta dos dados antropométricos, sendo
o peso e altura verificados com o sapato de utilização
diária. Após a entrevista os idosos serão submetidos à
avaliação do equilíbrio.Utilizando como mecanismos
de avaliação testes funcionais de avaliação do equilíbrio,
Alcance Funcional (Functional Reach), índice da
Marcha Dinâmica (Dynamic Gait Index), Levantar e
Caminhar Cronometrado (Timed Up and Go)
(PODSIADLO, 1991), o qual faz uma monitoração
rápida para detectar os problemas de equilíbrio que
afetam as AVD’s, mensurado em segundos, onde se
verifica o deslocamento em uma distância de 3 m a 6
m além do levantar e sentar da cadeira. Apoio Unipodal
(Unipedal Stance), Escalada de Equilíbrio de Berg (Berg
Balance Scale) (SHUMWAY-COOK, 1997) e Avaliação
da Mobilidade relacionada ao desempenho (Performance
Oriented Mobility Assessment). Visando identificar os
fatores de risco de quedas, sua relação junto ao
envelhecimento fisiológico e aspectos importantes para
183
184
Resumos
sua prevenção. Sendo o teste de Alcance Funcional (para
a direção ântero-posterior) desenvolvido por DUNCAN
et al (1990) e o teste de Alcance Funcional Lateral por
BRAUER et al (1999) determinar o quanto o idoso é
capaz de se deslocar dentro dos limites de estabilidade
anteriormente e lateralmente, tempo de retorno,
mudança de direção e parada brusca, levantar e caminhar
cronometrado, e questões similares. Aplicando também
Vectoeletronistagmografia (VENG) que após a limpeza
da pele das regiões periorbitárias com álcool, colocaramse, fixados com pasta eletrolítica, um eletródio ativo no
ângulo lateral de cada olho e na linha média frontal,
formando um triângulo isóscele, que permitiu a
identificação dos movimentos oculares horizontais,
verticais e oblíquos. Este tipo de VENG possibilitou
obter medidas mais precisas da velocidade da componente
lenta (correção vestibular) do nistagmo. Utilizando uma
cadeira rotatória pendular decrescente e de um
otocalorímetro a ar, com ar nas temperaturas de 42ºC,
18ºC e 10ºC, para as provas calóricas. Que serão
realizadas pela Fonaudiologia na Universidade Tuiuti do
Paraná. As escalas serão aplicadas pré-tratamento,
posteriormente serão submetidas a sessões de
hidrocinesioterapia, consistindo em exercícios formulados
em um protocolo, realizando no ambiente aquático
caminhada com e sem apoio para adaptação, exercícios
de fortalecimento para membros inferiores, exercícos
estáticos e dinâmicos, rotações de tronco, mudanças de
decúbito, apoio unipodal, rotações verticais, rotações
horizontais, visando imersão e submersão voluntária, os
mesmos serão realizados com a supervisão e orientação
do pesquisador, baseados em vários estudos.(CAMPION,
2000). Conta com tempo de duração de 30 minutos,
duas vezes por semana em dias alternados, perfazendo
o total de 20 sessões, reavaliadas pelas mesmas escalas.
As comparações e análises serão realizadas por meio de
confronto dos resultados obtidos de cada pontuação ou
tempo individual aos aspectos e habilidades para o
desempenho de tarefas de controle do equilíbrio
corporal, após o tratamento e comparado a avaliação
anterior. Os dados serão apresentados como diferença
média e desvio padrão da diferença.
Palavras-chave: equilíbrio; fisioterapia aquática; idoso.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MICRORGANISMOS DE ERVA–MATE (Ilex
paraguariensis A. St.-Hil.) COM POTENCIAL ANTIBACTERIANO
Roseli Aparecida de Mello
Amanda Lopes Lago
Cassiana de Oliveira
Mayara Gonçalves Motta
O presente projeto visa o isolamento de microrganismos endofíticos de folhas sadias da planta erva mate com
possível propriedades farmacológicas, entre elas podemos destacar as atividades antimicrobianas contra patógenos
humanos. O objetivo principal e Isolar microrganismos endofíticos de folhas de erva–mate (Ilex paraguariensis
A. St.-Hil.) com potencial antibacteriano; verificar a ocorrência de antagonismo entre os microrganismos isolados
e patógenos humanos. As coletas das amostras de erva mate serão realizadas em diferentes períodos do ano; as
condições de isolamento serão de acordo com a metodologia descrita no projeto e irão variar de acordo com
os microrganismos isolados. Espera-se encontrar microrganismos com atividade antibacteriana, estes serão
isolados e classificados de acordo com metodologias clássicas e moleculares.
OBJETIVOS: a) Isolar microrganismos endofíticos de folhas de erva–mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.)
com potencial antibacteriano. b) Verificar a ocorrência de antagonismo entre os microrganismos isolados e
patógenos humanos.
JUSTIFICATIVA: A planta erva mate possui no seu interior uma série de microrganismos endofíticos com
propriedades farmacológicas, entre elas podemos destacar as atividades antimicrobianas contra patógenos
humanos. Esta pesquisa, faz-se necessária para determinar quais microrganismos (fungos e bactérias) possuem
atividade antimicrobiana e contra quais microrganismos patogênicos estas propriedades farmacológicas agem
causado um efeito inibidor.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: As plantas medicinais e seus derivados consistiram durante muito tempo à
base da medicina popular e, atualmente, cerca de 30% dos fármacos utilizados são de origem vegetal. Isto se
deve, em parte, à grande variedade de espécies de plantas com propriedades biológicas. Acredita-se que cerca
de 80% da população mundial use as plantas como primeiro recurso terapêutico (SILVA; FILHO, 2002).A
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
erva mate (Ilex paraguariensis A. St.-Hil.) é uma
planta nativa da America do sul, pertencente à família
Aquifoliaceae. É um importante produto natural no
contexto socioeconômico e cultural na América do Sul
e, principalmente, no Brasil. A região sul do País e a
maior produtora de erva mate (ESMELINDRO et al.,
2002) e sua importância concentra-se principalmente
na área de bebidas por infusão, como chás, chimarrão,
tererê e sucos (CARVALHO, 1994). As características
biológicas da erva mate são decorrentes de vários
fatores como, por exemplo, os fatores climáticos,
características do solo, variações genéticas (COELHO
et al., 2002), ou ainda pela presença ou ausência de
microrganismos endofíticos (MELO; AZEVEDO,
1998).
MICRORGANISMOS ENDOFÍTICOS: Segundo
Petrini (1991), microrganismos endofíticos são aqueles
que habitam o interior das plantas pelo menos durante
um período do ciclo de vida da mesma sem lhes causar
danos ou doença. Essa interação microrganismo-planta
é tão íntima que tem sido sugerido como um processo
co-evolutivo entre plantas e patógenos. Muitas espécies
destes microrganismos apresentam
a capacidade de sintetizar compostos que inibem
ou são antagônicos a insetos e a microrganismos
patogênicos (MACCHERONI et al., 2004). A
produção de metabolitos primários e secundários
pelos microrganismos é conhecida há muito tempo
e explorado do ponto de vista biotecnológico. Os
exemplos mais conhecidos são os antibióticos. Do
ponto de vista biológico, a produção deste principio
ativo pode estar associada com a interação entre
os microrganismos e seu habitat (MACCHERONI
et al., 2004). Na literatura, encontram-se algumas
referências de estudos envolvendo microrganismos
endofíticos isolados de plantas medicinais, mas poucas
utilizando erva mate, a qual apresenta alto potencial
farmacológico. Segundo Pimentel et al. (2006), os
fungos endofíticos encontrados em plantas de erva
mate podem agir de maneira antagônica, neutra ou até
benéfica para o vegetal hospedeiro, exibindo vários
graus de interdependência fisiológica e ecológica. Desta
forma, justifica-se o interesse em elucidar aspectos da
biologia destes microrganismos, para compreender
melhor a sua relação com a planta hospedeira e seu
papel na produção de novos fármacos.
IDENTIFICAÇÃO DE MICRORGANISMOS: A
Identificação de um dado microrganismo baseia-se
no preenchimento das características atribuídas aquele
microrganismo. O processo de identificação dos
microrganismos é efetuado através da determinação
de um número mínimo de propriedades. Os
microrganismos endolíticos podem ser detectados
por vários métodos no interior de tecidos vegetais, são
eles: Microscopia ótica ou eletrônica onde podem ser
vistos ocupando espaços intercelulares; métodos de
coloração e métodos sorológicos.
MÉTODOS CLÁSSICOS: Métodos fenotípicos
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Pesquisa
clássicos como: morfologia, testes bioquímicos e
sorológicos utilizados para identificação dos mais
diversos microrganismos e são importantes, porém
apresentam limitações que os tornam insuficientes,
muitas vezes, para a identificação e discriminação
mais precisa dos microrganismos. Contudo, quando
associados às técnicas de biologia molecular, os
métodos taxonômicos clássicos tornam-se, em
conjunto, poderosas ferramentas para a caracterização
e a identificação dos mais diversos microrganismos.
(BRUIJN et al. 1996; CARBONE E KOHN, 1993;
GUIMARÃES; MOREIRA, 1999; WHITE, et al.,
1990). A detecção de organismos específicos em
extratos de plantas ou solo pode ser determinada por
diversas técnicas moleculares entre as mais utilizadas
podemos citar a reação em cadeias da polimerase PCR
(REIS JUNIOR, et. al. 2002). Entre os componentes
moleculares de um organismo, os ácidos ribonucléicos
ribossomais (rRNA) são considerados os biopolimeros
mais adequados para estudos de diversidade microbiana,
seus genes, os rDNAs, são distribuídos universalmente
entre os diferentes grupos de seres vivos, sendo a
molécula com maior grau de conservação o existente.
(LANE et al.; 1985). O 16S rRNA gera grande
quantidade de informações úteis para inferências
filogenéticas, por ser uma molécula menor e possibilitar
uma maior facilidade de seqüenciamento , tornou-se
uma molécula de referência. (WOESE, 1987; REIS
JUNIOR, et. al. 2002). A técnica Analise de restrição
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
do DNA ribossomal amplificado (ARDRA) é baseada
no grau de conservação dos sítios de restrição do rDNA
que reflete padrões filogenéticos, ela é bastante útil para
uma rápida analise da diversidade de uma ambiente
(GRIFONU et al., 1995). Para a analise de diversidade
intra especifica entre grupos isolados com afinidade
filogenética, recomendação a ampliação do espaço
intergênico 16S-23S rDNA, esta região apresenta uma
maior variabilidade de bases (REIS JUNIOR, et. al.
2002).
MATERIAL E MÉTODOS: As coletas das amostras
de erva-mate realizadas no Centro Nacional de
Pesquisa de Florestas (CNPF) da EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária), no município de
Colombo, PR, entre março de 2009 a março de 2010.
Para a coleta do material, será realizada uma seleção
aleatória das plantas
adultas, sendo escolhidas as folhas de aspecto jovem
e sadio. As plantas devidamente marcadas para
posteriormente serem realizadas novas coletas.
ISOLAMENTO DOS MICRORGANISMOS
ENDOFÍTICOS: Os isolamentos serão realizados no
Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências
Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.
O material botânico coletado será processado no prazo
de 24 horas. Após a coleta, será lavado abundantemente
com água corrente e detergente neutro para retirar
o excesso de epifíticos, matéria orgânica e resíduos
sólidos. Antes do processo de desinfecção externa os
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Resumos
pecíolos vedados com parafina, a fim de evitar que os
agentes de desinfecção penetrem por essa abertura,
alterando o resultado real do isolamento. Em seguida,
em câmara asséptica, as folhas lavadas em água destilada
esterilizada por duas vezes e posteriormente o material
será imerso em álcool 70% por 1 minuto. Na sequência,
em hipoclorito 3% por 4 minutos e novamente em
álcool 70% por 30 segundos, para retirar o excesso de
hipoclorito. Então, o material será lavado três vezes
em água destilada estéril da qual será retirado 50 μL
para fazer o controle da assepsia (SOUZA et. al.,
2004). As folhas cortadas em fragmentos circulares de
aproximadamente 6 mm. Estes fragmentos transferidos
para placas de Petri contendo meio de cultivo batata,
dextrose e ágar (BDA), acrescido de tetraciclina
(100mg/L) para isolamento de fungos e meio Tryptona
Soy Agar (TSA) acrescido de benlate (1μg/mL), para
isolamento das bactérias. As placas com os fragmentos
incubadas a 28ºC e 37 ºC.O crescimento das colônias
fúngicas e bacterianas será acompanhado diariamente.
Para purificação dos isolados fúngicos, esporos de
cada um dos isolados homegeneizados em solução de
Tween 80 a 0,1 %, e alíquotas de 0,1 mL semeadas em
placas de Petri contendo meio BDA com auxílio da
alça de Drigalski. As placas incubadas à temperatura
ambiente (28 ± 2 ºC), conforme descrito por Pimentel
et al. (2006).
ATIVIDADE ANTIBACTERIANA: Para se observar a
atividade antibacteriana das amostras de microrganismos
endofíticos, empregadas duas metodologias descritas por
Mariano (1993). As linhagens referências, provenientes
da ATCC (American Type Culture Collection),
escolhidas aleatoriamente linhagens de fungos. Depois,
cultivados por oito dias em placas de Petri com meio
BDA ou TSA retirados fragmentos do meio com 6 x 6
mm para fermentação em 10 mL de BD (acrescido de
0,2% de extrato de levedura) a 25 oC, a 120 r.p.m., após
oito dias. Decorrido este tempo o micélio será separado
do meio metabólico por filtração em papel. O líquido
será novamente filtrado em membrana millipore (0,22
μm ou 0,45 μm) e armazenado a 4 oC para realização
dos ensaios antimicrobianos. Serão realizados testes
semiquantitativos, em triplicata, in vitro, para avaliar a
antibiose dos metabólitos extracelulares presentes nos
meios fermentados contra as linhagens-teste.
Palavras-chave: fungos endofiticos; propiedades
biológicas; atividade antimicrobiana.
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Pesquisa
O IMPACTO DO RUÍDO NA ATIVIDADE DE ODONTÓLOGOS
Cláudia Giglio de O. Gonçalves - UTP
Adriana Lacerda – UTP
Entre os riscos ocupacionais à saúde, o ruído é o agente físico mais comum nos ambientes de trabalho e as
clínicas, os consultórios e os laboratórios odontológicos também apresentam elevados Níveis de Pressão Sonora
(NPS) que podem comprometer a saúde dos profissionais expostos. Nos consultórios odontológicos, as fontes
ruidosas dos são: micromotores, compressores de ar, sugadores, turbinas de alta rotação, etc. Desde 1959, há
preocupação com os elevados níveis de pressão sonora produzida pelos equipamentos odontológicos, ano em que
o Conselho de Saúde Dental (EUA) sugeriu a investigação auditiva pela exposição ao ruído na prática dentária.
Em 1974, estudos de Peyton, (apud BERRO e NEMR, 2004), analisou turbinas de alta-rotação, encontrando
intensidades que variavam de 75 dB a 100 dB à freqüência de 9.000Hz. Lehto, (1990), que encontrou na alta
rotação, 65 a 78,6 dB (NA), no amalgador, 65,8 a 68 dB (NA), no sugador de alta potência, 68,8 a 72 dB (NA), no
ultra-som para limpeza dos dentes 75,8 a 88 dB (NA) e motor de baixa rotação 69,8 a 72 dB (NA). Souza (1998)
avaliou o NPS da turbina de alta rotação e encontrou valores de 74,4 a 95,7 dB(A) em duas diferentes marcas.
Lacerda, Melo, Mezzadri e Zonta (2002) avaliaram o ruído das peças de mão - micromotor de baixa rotação e
encontraram 78 dB(A) para da marca Kavo e 73 dB(A) para a marca Dabi. Outros equipamentos também são
enquadrados no grupo de risco à audição: sugador normal, sugador bomba a vácuo, seringa tríplice e jato de
bicarbonato. A exposição ao ruído intenso é preocupante, pois pode acarretar alterações auditivas, dependendo
da intensidade sonora e do tempo de exposição (MELNICK, 1985). Entre os sintomas auditivos relacionados
à exposição ao ruído ocupacional, há referências às sensações como algiacusia, sensação de plenitude aural e
dificuldade em localização da fonte sonora, assim como as dificuldades de compreensão de fala e do zumbido
(JERGER e JERGER, 1989). Costa (1989) observaram diminuição da concentração e da produtividade em 60%
dos dentistas expostos aos ruídos estudados. Mota (2005) analisou a audição de 85 dentistas de Cascavel – PR
e encontrou 43,5% deles com alterações auditivas por ruído associadas ao tempo de trabalho.
OBJETIVO: Analisar os efeitos da exposição ao ruído intenso na atividade de odontólogos.
MÉTODO: Elaborou-se um questionário que vem sendo aplicado com odontólogos associados da Associação
Brasileira de Odontologia – seção Curitiba e um questionário aplicado a estudantes de odontologia. Através
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Resumos
dos questionários, podem ser identificadas as possíveis
conseqüências da exposição ao ruído e o conhecimento
dos odontólogos e estudantes sobre como prevenilas. Avaliaram-se os NPS, por avaliação instantânea e
por dosimetria, tanto em relação ao ambiente como
aos equipamentos específicos de clínicas particulares.
Realizou-se audiometria tonal e emissões otoacústicas
produto de distorção. Os limiares auditivos são
expressos como média de cada freqüência e respectivo
desvio padrão e comparados com uma população não
exposta a ruído. A audição dos dentistas é avaliada por
audiometria tonal e, recentemente, também através
de emissões otoacústicas produto de distorção. A
audiometria tonal possibilita a identificação dos
limiares tonais de 250 a 8000Hz, identificando possíveis
alterações auditivas (limiares auditivos superiores
a 25 dBNA). Assim, é possível a classificação dos
audiogramas, de acordo com o Anexo 1 da NR 7, como
limiares dentro dos padrões aceitáveis (audiograma
com limiares auditivos até 25 dBNA), sugestivo de
Perda Auditiva Induzida por Ruído ( limiares auditivos
tanto por via aérea como por via óssea maiores que
25 dBNA, com características neurossensoriais, nas
freqüências 3000, 4000 e/ou 6000Hz) e perda auditiva
não ocupacional (outras configurações audiométricas
que não sugestivas de PAIR) (Gorga et al, 1993).
RESULTADOS: Analisou-se uma população de 198
odontólogos do Paraná, encontraram-se 26,76%
(53 sujeitos) com perdas auditivas neurossensorias
com configuração de entalhe acústico, sugestivas de
induzidas por ruído e 17,67% (35) com alterações
auditivas com outras configurações, provavelmente por
causas que não ocupacionais. A idade dos odontólogos
variou de 19 a 77 anos, com tempo de atuação como
odontólogo variando de 1 a 53 anos. Predominou
o sexo feminino com 53,44% dos participantes.
Observou-se que a maioria dos odontólogos (64,14%)
conhecia os efeitos nocivos do ruído na saúde e 52,52%
conhecia maneiras de se proteger desses efeitos, porém
apenas 2,53% utilizavam proteção contra o ruído no
trabalho e 68,68% não se preocupavam em verificar
o nível de pressão sonora gerado pelos equipamentos
que compra. A metade dos odontólogos (49,5%) sabia
que o ruído ocupacional poderia causar perdas auditivas
e, em menor proporção, conhecia outros efeitos
adversos para a saúde. A principal queixa relatada foi
a irritabilidade (43,93%) seguida da cefaléia (31,31%).
Foram analisados, por leitura instantânea, os níveis
de pressão sonora de alguns equipamentos em três
consultórios odontológicos, encontrando-se níveis
entre 71 e 86 dB (A). Segundo a legislação trabalhista
(norma Regulamentadora n. 15) o tempo máximo
permitido para exposição a ruído para 8 horas de
trabalho é de 85 dBA.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Apesar dos odontólogos
e estudantes perceberem o seu ambiente de trabalho
como de risco devido ao ruído, há pouca ação com
relação à prevenção e proteção da perda auditiva,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
indicando a necessidade de uma melhor conscientização
sobre tais questões, no sentido de orientar sobre as
medidas preventivas possíveis, como a utilização de
protetores auriculares, a manutenção dos equipamentos
e aquisição daqueles com níveis de ruído reduzidos.
Recomenda-se a implementação de Programas de
Preservação Auditiva nesta categoria profissional, bem
como a incorporação de informações sobre os efeitos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
do ruído e de como se proteger deles nas disciplinas
da grade curricular, durante a formação acadêmica dos
mesmos. O monitoramento auditivo periódico para estes
profissionais é fortemente recomendado por trabalharem
expostos aos níveis de pressão sonora elevados.
Palavras-chave: saúde do trabalhador; audição; efeitos
do ruído.
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Resumos
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
PERCEPÇÃO DISCENTE E DOCENTE ACERCA DO ENSINO SUPERIOR E DAS
CARACTERÍSTICAS IDEAIS DE DOCENTES E DISCENTES: UMA PERSPECTIVA
INTERINSTITUCIONAL
Irene Carmen Piconi Prestes – UTP
Adriana Pellanda Gagno – FACEL
Adriana de Fátima Franco – UTP
Eugênio Pereira de Paula Junior – Faculdade Dom Bosco
Leandro Kruszielski - Faculdade Dom Bosco
Mônica Dorrenbach Luna – UTP/Faculdade Dom Bosco
O presente trabalho encontra-se em andamento, tendo seu início no primeiro semestre de 2009. Seu objetivo
geral é entender como discentes e docentes percebem as dificuldades e características da educação superior. A
percepção constitui a principal fonte de aquisição de experiências humanas. Entendida como atividade mental
intermediária entre a sensação e o pensamento. Compreendida a partir dos processamentos psicológicos ou
sistemas funcionais complexos que ocorrem por meio da participação de grupos de estruturas cerebrais, sendo
que cada qual oferece uma contribuição própria ao sistema cerebral. Desta maneira, considera-se que interferem
nos processos de aprendizagem do aluno, uma vez que este se dá, inicialmente, no cérebro e isso ocorre de
forma sincronizada com outros sistemas. A Psicologia da Gestalt, ao estudar a percepção argumenta que a
percepção sensorial é única e depende da organização e do relacionamento particular existente entre as partes
(figura-fundo) denominadas gestalts. Sendo assim, figura-fundo constitue a unidade básica da percepção e
formam a unidade de significado. O que, quer dizer, que o organismo humano constrói uma unidade sentir–
pensar–agir. Dessa maneira, a percepção sensorial não decorre apenas de um processo de recepção de estímulos
ou da impressão sensitiva do meio sobre o organismo, ela resulta essencialmente de uma relação indubitavelmente
singular da unidade meio–organismo. O campo de percepção é dinâmico e é compreendido como um constante
aparecimento e desmoronamento de gestalts. Assim, o comportamento humano se define por meio dessa
particular organização das gestalts. Então, aprender significa perceber uma situação global de forma a reagir
adequadamente em face dela. Aprende-se discernindo, compreendendo. Neste estudo, serão levantadas
dificuldades encontradas no processo educativo e as principais características distintivas da educação superior,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
segundo docentes e discentes. Quanto à natureza
psicológica do processo educativo entende-se que
remete a um campo complexo de forças, quer dizer,
constitui um processo dinâmico, ativo e dialético, que
envolve o aluno, o professor e o meio existente
(Vigotski, 2003). A partir dos dados levantados como
os docentes e discentes será avaliada a distribuição
quantitativa dessas percepções buscando relações
significativas entre os dois temas ou entre outras
variáveis levantadas para análise e discussão das
relações encontradas à luz dos dados teóricos
previamente revisados. Trata-se de um estudo
interinstitucional que reúne cursos de Psicologia de
quatro instituições particulares de ensino superior,
sendo duas universidades e duas faculdades da cidade
de Curitiba. Tem por referência a Pesquisa intitulada
“Percepção discente e docente acerca do ensino
superior e das características ideais de docentes e
discentes”, realizada no período de 2007 a 2008, em
uma das instituições participantes do presente estudo.
O público pesquisado contou com 692 acadêmicos e
99 professores. A referida pesquisa conclui que é
possível observar as diferenças nas percepções docentes
e discentes a respeito das finalidades do ensino superior,
das competências de cada segmento na dinâmica
acadêmica e dos entraves do processo ensinoaprendizagem. Uma vez que tais segmentos atribuem
responsabilidades desiguais à determinação do sucesso
acadêmico, pode-se supor que o cotidiano acadêmico
esteja sendo regulado por forças que agem em
diferentes sentidos ou direções. A tomada de
consciência dessas distâncias pode promover o debate
e a formulação de novos contratos didáticos, explícitos,
deliberados e coletivamente acordados a fim de corrigir
o curso das forças que buscam atingir o propósito
efetivo da educação superior. A universidade é um
espaço marcado por inúmeras experiências e uma
diversidade de alternativas teóricas, nesse sentido para
Severino (2002) quando o acadêmico dá início à vida
universitária, ele se dá conta de que existem exigências
específicas para dar continuidade à educação superior.
Consoante a esse pensamento ele alerta para a
importância de se adquirir novas posturas, diante de
novas tarefas que logo serão solicitadas ao estudante.
É necessário assumir prontamente essa nova situação
e de tomar medidas apropriadas para enfrentá-la. É
preciso que o estudante se conscientize de que o
resultado do processo depende fundamentalmente dele
mesmo. Seja pelo seu próprio desenvolvimento
psíquico e intelectual ou pela própria natureza do
processo educacional desse nível, as condições de
aprendizagem transformam-se no sentido de exigir do
estudante maior autonomia de sua efetivação, maior
independência em relação aos subsídios da estrutura
do ensino e dos recursos institucionais que ainda
continuam sendo oferecidos. O aprofundamento da
vida científica passa a exigir do estudante uma postura
de auto-atividade didática (Severino, 2002). Tendo essa
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
referência considera-se que a reflexão sobre o tema
não se esgotou na pesquisa anterior e se justifica pelas
dificuldades identificadas na atualidade com o ensino
e a transmissão do conhecimento, com efeitos no
aproveitamento, nos relacionamentos, nas condições
emocionais, enfim no comportamento do acadêmico.
Destarte, outro desafio se apresenta que é investigar
interinstitucionalmente a percepção acadêmica do
curso de psicologia acerca da educação superior e das
características ideais de docentes e discentes. Parece
ser fundamental avaliar uma possível distância entre as
finalidades e atribuições da educação superior e as
percepções que os estudantes formulam sobre essa
etapa de sua formação e sobre os papéis dos atores
envolvidos. Uma vez que se supõe que o que se oferece
na estrutura do ensino e dos recursos institucionais
não pode ir além de fornecer instrumentos que
possibilitem uma atitude criativa do estudante. Parece
urgente buscar-se suporte no contexto e nas práticas
educacionais para que se possa efetivar verdadeiramente
o ensino da psicologia e a formação de psicólogo
adequada às expectativas do trabalho. Entende-se que
no espaço acadêmico existem exigências específicas as
quais o universitário deverá dar-se conta para a
continuidade da sua formação profissional. Deste
modo, é no ambiente escolar que os alicerces e os
desafios se apresentam e é neste contexto que se
encontram elementos que auxiliam a oferecer uma
educação de qualidade para todos e alternativas que
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
viabilizam a diversidade na aprendizagem. Outro
elemento a considerar é a motivação em relação ao
curso superior, considerada um dos alicerces à
satisfação do acadêmico. Muitos são os estudos acerca
da definição e compreensão da motivação, entre eles
destaca-se SAWREY & TELFORD (1976) que a
definem como uma condição interna pela qual o
homem é, consciente ou inconscientemente, provocado
a agir com intencionalidade na busca do prazer e da
satisfação. A motivação aplicada aos diversos contextos
educacionais vem se expandindo pelo fato de que para
que qualquer aprendiz seja bem sucedido é preciso que
saiba utilizar de forma auto-regulada, auto-dirigida e
ativa estratégias para gerenciar tanto a motivação como
o comportamento e a aprendizagem, ou seja, que seja
capaz de aprender a aprender (RUIZ, 2003). Nesta
perspectiva, segundo BZUNECK (2005) não se deve
limitar o estudo da motivação apenas como um recurso
próprio do aluno, estável e trans-situacional, deve-se
sim estudá-la como produto de uma interação entre
características intra e interpessoais, bem como, a
motivação deve estar contextualizada. Ainda, os
motivos de determinada situação constituem o aspecto
dinâmico do processo ensino-aprendizagem. Assim, é
necessário reconhecer que tanto o conteúdo como as
estratégias de aprendizagem devem considerar os
motivos individuais e os da comunidade social onde
vive o aluno. Um aluno motivado a aprender apresenta
tendência a considerar as atividades escolares
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196
Resumos
significativas e de valor e a tentar extrair delas os
benefícios escolares esperados. Deste modo, a
motivação também guarda relação com a percepção
que o acadêmico tem acerca das experiências no
ambiente escolar. Nesse espaço relacional, professor e
aluno confrontam-se e constroem imagens recíprocas.
Se estas imagens forem compreendidas poderão revelar
as diferenças entre percepções docentes, discentes e
institucionais e permitir intervenções que aproximem
os atores do cenário acadêmico. É importante destacar
que os indivíduos quando transformados num grupo
adquirem uma espécie de mente coletiva que os faz
sentir, agir e pensar de maneira muito diferente do que
individualmente, em estado isolado. Esta investigação
tem a intenção de ser exploratória. Como procedimento
inicial de coleta de dados serão realizados grupos focais,
entendidos como técnica qualitativa, não-diretiva, cujo
resultado visa o controle da discussão de um grupo de
pessoas. Neste caso, os sujeitos serão os docentes e
discentes de cada instituição separadamente para
identificar categorias que venham a constituir, num
segundo momento, um instrumento fechado para
aplicação posterior em maior número de sujeitos,
gerando um tratamento quantitativo a ser discutido
para alinhavar conclusões.
Palavras-chave: educação superior; percepção discente;
percepção docente.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
PREPARO DE EMULSÕES CONTENDO PRINCÍPIOS ATIVOS DA PRÓPOLIS DE
APIS MELLIFERA – MANIPULAÇÃO FARMACOLÓGICA DE USO HUMANO E
VETERINÁRIO
Patricia Bumiller Bini Domacoski
Valter Antonio de Baura
Shigehiro Funayama
A procura de novas formulações farmacêuticas que permitam a administração de fármacos de maneira segura, que
tenham eficiente biodisponibilidade e que apresentem riscos mínimos de efeitos colaterais tem sido um dos principais
objetivos permanentes das indústrias farmacêuticas. Na tentativa de atingir esse objetivo, muitos pesquisadores têm
dando grande a atenção às emulsões e microemulsões, uma vez que elas favorecem o aumento da eficácia terapêutica
dos fármacos possibilitando assim, a redução da dose a ser administrada e, portanto, diminuindo as possibilidades
de manifestação dos efeitos colaterais. Estas preparações são capazes de compartimentalizar os fármacos nas
microgotas da fase interna, as quais possuem propriedades fisicoquímicas diferentes do meio dispersante, alterando
o comportamento biológico dos fármacos incorporados. As emulsões são sistemas termodinamicamente estáveis
nos quais há mistura de dois líquidos imiscíveis, usualmente água e óleo, estabilizados por compostos tensoativos
que se localizam na interface água-óleo. As emulsões podem se apresentam como líquidos opacos ou emulsões
géis opacas que exibem viscosidade elevada, enquanto que as microemulsões se caracterizam por apresentarem
aspectos translúcidos ou mesmos transparentes. As emulsões e micro emulsões do tipo O/A água engloba a
partículas de óleo, sendo de água a fase externa elas não atuam como engordurantes e possuem efeito evanescente.
Além disso, apresentam algumas vantagens como sistema liberadores de fármacos lipofílicos podendo ser utilizadas
parenteralmente. As emulsões do tipo A/O a fase oleosa engloba a aquosa, são de uso externo e apresentam efeito
engordurante deixando o ponto de aplicação brilhante. Neste trabalho foi obtida uma solução aquosa de compostos
orgânicos extraídos da própolis de Apis mellifera que possui características físico-químicas de microemulsão e
biológicas capazes de inibir a proliferação de bactérias gram negativas e gram positivas. O processo de extração
está fundamentado naquele proposto por Funayama e colaboradores em 2006 com algumas modificações que
se fizeram necessárias. As amostras de própolis verde e mista foram obtidas comercialmente da Cooperativa
de apicultores de Ibaití-Apicampe da região norte do Estado do Paraná. As cepas de bactérias gram positivas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
Streptococcus mutans (ATCC 35668), Staphylococcus
aureus (ATCC 6538) e Streptococcus pyogenes (ATCC
19615), e de gram negativas Enterobacter aerogenes
(ATCC13048), Salmonela typhimurium (ATCC14028)
e Pseudomonas aeruginosa (ATCC35032) foram
adquiridas da Difco. A resina fresca e macia de própolis
foi fragmentada manualmente em pequenos pedaços
e macerada em dois litros de etanol a 75% por uma
semana com agitação ocasional. Após esse período o
macerado foi filtrado em papel de filtro e o etanol do
filtrado resultante foi eliminado por evaporação. Nesta
etapa do processo foram obtidas duas frações uma
aquosa e outra resinosa. A fração resinosa foi submetida
à hidrólise alcalina e os compostos liberados por este
processo foram incorporados a fração aquosa. A fração
aquosa assim obtida é estável a temperatura ambiente
e possui acentuada atividade antibacteriana, podendo
ser utilizada no preparo de formulações farmacológicas
de uso humano e veterinário.
Palavras-chave: extrato aquoso de própolis; emulsões;
microemulsões; atividade antibacteriana.
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Pesquisa
PROGRAMA DE PREVENÇÃO DE PERDA AUDITIVA (PPPA): AVALIAÇÃO DE SUA
EFICÁCIA EM UMA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA
Suzanne Bettega Almeida - UTP
INTRODUÇÃO: O Ruído está presente em quase todas as atividades humanas, tanto no lazer como no trabalho.
Mas é principalmente no ambiente industrial onde se concentra uma diversidade de condições e operações
que favorecem a existência desse agente agressor acarretando, muitas vezes, dano à saúde dos trabalhadores. A
indústria petroquímica, sobretudo, além de ser pioneira em processos de trabalho automatizados, trouxe novos
riscos à saúde dos trabalhadores. O PPPA envolve um conjunto de ações e políticas cujo objetivo é preservar
e promover a saúde auditiva dos trabalhadores expostos aos elevados níveis de pressão sonora. Toda essa
preocupação com a saúde auditiva deve-se ao fato de que a perda auditiva no trabalho denominada como perda
auditiva induzida por ruído (PAIR), é uma doença ocupacional de grande prevalência não só no Brasil, mas nos
países industrializados de todo o mundo (Almeida e col, 2000). Além dos diversos estudos, existem documentos
na legislação vigente, tais como o Boletim nº 6 lançado pelo Comitê de Ruído e Conservação Auditiva (1999), a
O.S. nº 608 (1998) e o Anexo I da NR-7 (1998), que trazem diretrizes e recomendações para a elaboração de um
PPPA. Dentre estas etapas, destaca-se o item referente à avaliação, pelo fato de ser uma forma de assegurar que
o programa implementado está sendo eficiente e que possui boas práticas de saúde e segurança. Sendo assim,
o PPPA não consiste apenas na realização de exames audiométricos e disponibilização de equipamentos de
proteção auditiva, mas sim, em um conjunto de medidas que devem ser implementadas, cumpridas e avaliadas.
Embora a perda auditiva ocupacional seja passível de prevenção, sua incidência no meio industrial é elevada.
Portanto, uma vez que existe a exposição ao risco no trabalhado, e diretrizes para serem seguidas, é fundamental
que, além da implantação e desenvolvimento de um Programa, seja realizada sua avaliação para verificação da
efetividade de suas ações (NIOSH, 1996; USHIMURA, 2002; GONÇALVES e IGUTI, 2006).
OBJETIVO: Avaliar a eficácia, de um PPPA implementado em uma indústria petroquímica Brasileira.
MATERIAL E MÉTODO: Utilizou-se como instrumento de avaliação um questionário com 26 perguntas,
aplicado em 136 trabalhadores do sexo masculino, com idade média de 33 anos que atuam na área da produção
industrial petroquímica, cuja exposição ao NPSE varia entre 78,5dB (A) e 85,3dB (A). O questionário foi
elaborado a partir de um levantamento bibliográfico, baseando-se nos seguintes modelos propostos:
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
• Program Evaluation Checklist – Appendix B
(NIOSH, 1996)
• Hearing Handicap Inventory for the Elderly – HHIE
(WIESELBERG, 1997).
• Protocolo de avaliação de um PPPA (GONÇALVES,
2003).
• Amsterdam Checklist for Hearing and Work
(KRAMER et. al., 2006)
Destes instrumentos, foram selecionadas as perguntas
mais pertinentes ao assunto e outras elaboradas para
avaliar a eficácia do PPPA de acordo com a perspectiva
da autora. A análise dos questionários foi realizada
a partir da categorização das perguntas em quatro
subgrupos relacionados à mesma área temática,
caracterizados como: 1 Exame Audiométrico; 2) Ações
do Programa de Prevenção de Perdas Auditivas - PPPA;
3) Hábitos e Comportamento dos Trabalhadores;
4) Equipamento de Proteção Individual – EPI. Os
questionários foram estruturados de maneira que as
respostas fechadas possibilitassem seis opções de
acordo com a escala Likert, sendo que cada resposta
foi atribuída valores de 0 a 5, com as seguintes opções
: 0- “não sei responder”, 1- “discordo totalmente”,
2- “discordo”, 3- “não concordo nem discordo”, 4
“concordo” e 5 “concordo plenamente”. A pontuação
total de cada categoria foi calculada em porcentagem
onde, os valores atribuídos aos resultados das perguntas
vão aumentando conforme o grau de conhecimento do
entrevistado em relação ao tema avaliado. Para análise
das áreas temáticas entre si, adotou-se um peso de
diferente valor para cada uma delas a fim de equivaler
a avaliação final entre as mesmas.
RESULTADOS: Os resultados referem-se à avaliação
dos 136 trabalhadores das unidades de produção
e manutenção, compostos por 25 questões sobre
suas percepções referente às ações desenvolvidas no
PPPA. Verificou-se nas quatro categorias avaliadas
uma prevalência da resposta “concordo plenamente”,
cujas áreas de Hábitos e Comportamento (56%) e
EPI (55%) apresentaram pontuações muito próximas.
Em seguida observou-se a resposta “concordo” com
valor mais representativo na área de EPI (33%), após
Ações do PPPA (31%), Hábitos e Comportamentos
(29%) e Exame Audiométrico (19%). A resposta “não
concordo nem discordo” segue com maior pontuação
na área de Ações do PPPA (11%) em relação aos
Hábitos e Comportamentos (8%), EPI (6%) e Exame
audiométrico (1%). Nas respostas “discordo totalmente”
e “discordo” não houve pontuação na categoria de
perguntas referentes à Exame Audiométrico (0%),
sendo a categoria de Ações do PPPA melhor avaliada
nestas respostas, com (3%) e (5%) respectivamente.
No que se refere à resposta “não sei responder”, a
maior pontuação foi na categoria Ações do PPPA (8%),
seguida de Hábitos e Comportamentos (4%), obtendose nas categorias Hábitos e Comportamentos e EPI a
mesma pontuação (3%).
CONCLUSÃO: Concluiu-se a partir dos resultados,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
uma percepção positiva dos empregados em relação
às categorias avaliadas do PPPA, principalmente no
que se refere ao Exame audiométrico. A elaboração do
instrumento foi fundamental para verificar a efetividade
das ações desenvolvidas, de modo a corrigir possíveis
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
falhas e evitar que erros se acumulem. Logo, o PPPA
mostrou-se eficaz nas ações implementadas.
Palavras-chave: Programa de Prevenção de Perda
Auditiva (PPPA); avaliação; indústria petroquímica.
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202
Resumos
SCREENING DE MICRORGANISMOS PRODUTORES DE LIPASES FÚNGICAS PARA
APLICAÇÕES BIOTECNOLÓGICAS
Maria Luiza Fernandes Rodrigues
André Guilherme Iess
Anne Caroline Defranceschi Oliveira
Felipe Miguel Farion Watanabe
A bioconversão de resíduos agroindustriais tornou-se, atualmente, um objetivo de várias indústrias. Pensa-se em como
diminuir os resíduos gerados pelas fábricas, como uma simples tentativa de compensar a poluição já existente no meio
ambiente. Analisando o contexto da poluição já existente, temos o dever de conter ou mesmo tentar amenizar os
resíduos gerados a partir do momento de instalação de qualquer tipo de indústria. Exemplificando a situação podemos
citar as indústrias de alimentos que diariamente produzem toneladas de lixo orgânico e inorgânico. A reutilização–
bioconversão– pode ser feita sim. Técnicas de manejo são empregadas efetivamente para que tais resíduos tenham
destinação correta. Resíduos maus tratados, e com destinação incorreta podem gerar graves problemas de saúde e
ambientais. Quando jogados erroneamente, eles são desperdícios de fonte de energia e muitas vezes de matéria-prima
para outra atividade. Pode-se trabalhar com a compostagem de matéria orgânica na produção de adubos e também
na utilização de fonte de energia. Os resíduos contêm muitas substâncias de alto valor. Aplicar uma tecnologia correta
e inteligente é o básico para o bom reaproveitamento desse resíduo (Germano, 2000). Com relação à produção de
lipases como biocatalisadores nas reações químicas, a Fermentação em Estado Sólido (FES), aparece como uma
tecnologia promissora, pois além de usar substratos de baixo custo como resíduos agroindustriais, o biocatalisador
pode ser produzido em sua forma mais concentrada, o que pode facilitar a sua recuperação do meio de fermentação,
quando for o caso. Em sistemas de FES o microrganismo cresce em partículas de um substrato orgânico sólido, com
um mínimo de água livre nos espaços entre as partículas de substrato. Assim, o substrato fermentado pode atuar
como suporte para a enzima, sem a necessidade de uma etapa de extração prévia e imobilização do biocatalisador. Se,
juntamente com o processo de FES desenvolverem-se aplicações que possam gerar produtos de alto valor agregado,
e que dispensem a extração da enzima do sólido fermentado, então as possibilidades de redução de custos podem
aumentar, viabilizando a aplicação do processo em escala industrial (Fernandes, 2006). Dentro deste contexto, este
trabalho pretende contribuir para o conhecimento dos processos fermentativos usando materiais sólidos, estudando
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
a produção de lipases por fungos endofíticos em FES,
utilizando substratos baratos e resíduos agroindustriais,
e sua aplicação em reações de hidrólise ou síntese com
possíveis aplicações industriais. Desta maneira, pretende-se
aliar a produção de enzimas com características desejáveis
(estabilidade em solventes e termoestabilidade), a partir de
substratos de baixo custo, à sua utilização em biocatálise
(reações de hidrólise e síntese). O aspecto conjunto de
produção de enzimas por FES com aproveitamento de
resíduos e a geração de produtos de alto valor agregado,
justificam plenamente este trabalho, considerando
o aumento dos volumes de resíduos agroindustriais
gerados nas indústrias, associado à crescente preocupação
com os impactos ambientais destes e uma legislação
ambiental cada vez mais rígida. As lipases (triacilglicerol
éster hidrolase, E.C. 3.1.1.3) são enzimas hidrolíticas
que “in vivo” catalisam a hidrólise de triacilgliceróis de
cadeia longa (acima de 10 átomos de carbono), sendo
a trioleína o seu substrato padrão, aos ácidos graxos
correspondentes e glicerol, constituíndo uma classe
especial de carboxil éster hidrolases (Diaz et al., 2006).
“In vitro”, as lipases também atuam como catalisadores
em diversas reações, com alta especificidade, estabilidade
e condições reacionais brandas, incluindo as reações de
esterificação, transesterificação, lactonização, acilação
regioseletiva e aminólise, quando a quantidade de água do
sistema em que estão presentes é suficientemente baixa a
ponto de deslocar o equilíbrio termodinâmico no sentido
da síntese (Fernandes, 2006). Com relação às aplicações
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
industriais, as lipases têm sido freqüentemente utilizadas
na resolução de misturas racêmicas, na formulação de
detergentes e síntese de biosurfactantes; no tratamento
de efluentes, na indústria oleoquímica (bioconversão de
óleos e gorduras) para a produção de biodiesel; na indústria
agroquímica; na manufatura do couro e papel; na nutrição;
na produção de aromas; na formulação de perfumes,
fragrâncias e cosméticos; na fabricação de plásticos e fibras
sintéticas; na síntese de sedativos e outros fármacos; dentre
outras (Fernandes, 2006). As lipases podem ser obtidas
através de bactérias, leveduras e fungos. Os fungos são
especialmente valorizados porque as enzimas por eles
produzidas normalmente são extracelulares, o que facilita
a sua recuperação do meio de fermentação e também
porque a maioria dos fungos não é nociva à saúde humana,
sendo reconhecidos como GRAS (Generally Regarded as
Save) (Jaeger et al., 1994).
Com relação à produção de enzimas, existem dois tipos
básicos de fermentação para produção de lipases e outros
metabólitos: fermentação submersa (FS) e fermentação
em estado sólido (FES). Na FES, o microrganismo
cresce em substratos sólidos umedecidos ou suportes
inertes, na ausência (ou quase) de água livre, e na FS,
os substratos são dissolvidos em meio líquido. Neste
caso, o microrganismo pode crescer entre os fragmentos
do substrato (dentro da matriz do substrato) ou sobre
a superfície do substrato, consumindo o substrato e
secretando metabólitos, dentre os quais as enzimas
(Mitchell et al., 2006). O material sólido é insolúvel e
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Resumos
age como suporte físico e como fonte de nutrientes. O
material sólido poderá ser um substrato sólido natural,
como resíduos da agricultura, ou um suporte inerte, como
poliuretano ou resinas poliméricas (Pandey, 2003). A parte
experimental do presente trabalho será desenvolvida no
laboratório de Microbiologia da Faculdade de Ciências
Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná.
Neste trabalho serão estudados trinta cepas de fungos
endofíticos isolados das folhas da mamona (Ricinus
communis L.). As folhas da mamona (Ricinus communis
L.) serão coletadas em três localidades distintas para
garantir diversidade e confiabilidade da pesquisa. O
primeiro local será no campus Shafer da Universidade
Tuiuti do Paraná. A segunda coleta será realizada em
duas casas ao redor do campus Shaffer da Universidade
Tuiuti do Paraná. A identificação da planta será realizada
segundo JOLY et. al. (2002). Os ramos serão levados para
o laboratório de microbiologia da Universidade Tuiuti
do Paraná, Campus Barigui, processados imediatamente,
evitando assim contaminação e perda do material. Os
fungos endofíticos presentes nas folhas da mamona
(Ricinus communis L.) serão inicialmente inoculados
em meio Ágar Rose e serão incubadas a 28°C durante
7-15 dias. Após esse período, serão selecionadas, através
de cultivo em meio BDA (contendo rodamina B, óleo
de oliva e sais minerais) as cepas produtoras de lipase.
Estas cepas serão caracterizadas no laboratório de
microbiologia da Universidade Federal do Paraná. Todas
as cepas produtoras de lipases serão mantidas em meio
sólido de Ágar Rose. Após o isolamento, a próxima
etapa do trabalho será a produção de lipases fúngicas
por Fermentação no Estado Sólido (FES), utilizando
como substratos resíduos agroindustriais como farelo
de milho, erva mate (Ilex paraguariensis), sementes com
alto valor lipídico como o gergelim (Sesamum indicum),
a linhaça (Linum usitatissium L.) e o girassol (Helianthus
annus), e também a polpa do coco (Cocos nucifera). Para a
fermentação no estado Sólido (FES), será utilizado o meio
Sabouraud contendo clorofenicol em erlenmeyer. Após
crescimento fúngico em tal meio, será preparada a solução
de esporos através do rompimento da membrana do fungo
por ação do detergente Tween 80, que será diretamente
aplicada sobre os substratos citados acima. A FES será
avaliada através de um delineamento fatorial 24-1. Serão
testados os efeitos dos parâmetros experimentais tipo
de substrato, umidade, concentração de inóculo e adição
ou ausência do indutor (óleo de oliva) na produção de
lipases. O material fermentado contendo as enzimas
será liofilizado para a remoção de água e conservação do
fermentado a longo prazo. A determinação da atividade
enzimática será feita através de testes analíticos (método
titulométrico e método espectrofotométrico) e uma
vez comprovada a eficiência das enzimas, estas serão
aplicadas biotecnologicamente em reações de hidrólise
de triacilgliceróis e síntese de ésteres.
Palavras-chave: fungos endofíticos; lipases; FES.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
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Resumos
TENTATIVA DE SUICIDIO ENTRE MULHERES: ESTUDO RETROSPECTIVO DAS
INTOXICAÇÕES EXÓGENAS
Janete Maria da Silva Batista - Faculdade Evangelica do Paraná
O ato, através do qual o indivíduo tenta contra a própria vida, com o objetivo de finitude da mesma é denominado
de tentativa de suicídio, representando desta forma um sinal de alarme ou a agudez do sofrimento. Entretanto,
esta ação integra uma seqüência de comportamento suicida a partir de pensamentos de autodestruição, seguidas
por ameaças, gestos, a tentativa de suicídio e finalmente o suicídio (WERLANG e BOTEGA, 2004). Para Botega,
et al (2004), a tentativa de suicídio esta intimamente relacionada a transtornos de personalidade, condições de
vida problemas interpessoais. Ao contextualizar o suicídio de forma global, observamos um fenômeno crescente.
Em 2003, foram registradas 900 mil mortes por suicídio no mundo inteiro. Na população jovem está entre as
três maiores causas de morte, estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o número de suicídios
em pelo menos dez vezes (BRASIL, 2006). Estudos revelam que 30% a 60% dos suicídios exitosos ocorrem
após uma série de tentativas (CORRÊA e BARRERO, 2006). A cada 40 segundos uma pessoa comete suicídio
no mundo, o que o coloca entre as três maiores causas de morte nas pessoas com idade entre 15 e 35 anos
causando sérios impactos do ponto de vista psicológico, social e financeiro tanto para a família quanto para a
comunidade (O.M.S. 2000). Portanto, os dados expressam a pertinência do tema e a necessidade de compreensão
da complexidade e da magnitude deste fenômeno. E contextualizando a temática para o campo da saúde pública,
é de extrema importância conhecer a magnitude do problema, a fim de planejar políticas públicas e a ação política
pode significar a execução de ações preventivas para as pessoas com potencial suicida. Este estudo surge, a partir
da vivência na vigilância epidemiológica, mais especificamente, a vigilância das notificações por intoxicação
exógena, principalmente àquelas indicando como motivo da ingestão de produtos, a tentativa de suicídio, e a
freqüência com que se repetia entre mulheres é considerável ou suficiente para chamar a atenção. Fator instigador
e motivador para realizar um estudo epidemiológico no sentido de estimar a prevalência das tentativas de suicídio
entre mulheres, por intoxicação exógena, bem como conhecer as variáveis relacionadas. Os aspectos observados
envolvem questões de gênero: mulheres, isto é, a freqüência com que aparece a tentativa de suicídio é superior
em relação aos homens. Possibilidades de prevenção: tentativas de suicídio. Por se tratar de uma das fases do
comportamento suicida e possível de intervenção de maneira a prevenir o suicido destas mulheres e a magnitude
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
como fator de representação do fenômeno, se expressa
na freqüência de repetição do mesmo, demonstrando
a necessidade de compreender melhor o fenômeno.
A prevenção do suicídio deve priorizar ações que
possam evitar amenizar ou interromper os fatores de
riscos, considerando a singularidade, a especificidade
e a subjetividade da pessoa com risco para o suicídio
(WERLANG E BOTEGA, 2004). Trata-se de um
estudo descritivo de cunho epidemiológico, por meio
de coleta de dados secundários, com base em uma
série histórica das notificações exógenas. Os estudos
descritivos permitem descrever epidemiologicamente a
freqüência e a distribuição de um evento, demonstrando
as variações com que os agravos se encontram na
população e epidemiológico, porque o objetivo é
conhecer a distribuição de em evento em termos
quantitativos, estimando a prevalência. (PEREIRA,
2004, p.4 e p. 271). No presente estudo será realizada
a análise de dados registrados no Sistema Nacional
de Notificações (SINAN), da base de dados do
Centro Epidemiológico de Curitiba, das tentativas
de suicídio entre mulheres, por intoxicação exógena,
ocorridas em Curitiba - Paraná, no período de 2004
a 2007. Quanto aos preceitos éticos, esta pesquisa
segue as normas estabelecidas na Resolução 196/96
Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas
Envolvendo Seres Humanos. Por se tratar de um
estudo epidemiológico, tendo como informações o
banco de dados do SINAN, da Secretaria Municipal
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de Saúde (SMS) de Curitiba, não envolvendo pesquisa
diretamente com seres humanos e na busca dos dados
não serão identificados nomes nem endereços dos
usuários, todavia, o estudo necessita da autorização
do Centro de Epidemiologia do Município do SMS de
Curitiba e da avaliação do Comitê de Ética da Faculdade
Evangélica do Paraná. Este estudo epidemiológico
está baseado nos pressupostos de Rouquayrol (2003),
que aborda a epidemiologia como um eixo da saúde
pública capaz de fornecer bases para avaliar as medidas
de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças
transmissíveis e não transmissíveis e estimula a
verificação da consistência de hipóteses e causalidades.
Estuda a distribuição da morbidade e da mortalidade a
fim de traçar o perfil de saúde-doença nas coletividades
humanas. Para complementar, será utilizado os estudos
de Pereira (2004), o qual afirma que Epidemiologia é um
ramo das ciências da saúde que estuda, na população,
a ocorrência, a distribuição e os fatores dos eventos
relacionados com a saúde. É entendido em sentido
amplo, como o estudo do comportamento coletivo
da saúde e da doença. As considerações de Botega
e Werland (2004), Corrêa e Barrero (2006), servirão
como base às questões da tentativa e do suicídio, bem
como serão consideradas outras visões expostas em
artigos, por autores que abordam o tema. O presente
estudo teve início em julho de 2009 e encontra-se na
fase de análise dos dados, entretanto são dados parciais
sem uma análise mais conclusiva acerca dos achados
207
208
Resumos
encontrados, porém dados preliminares mostram que as
tentativas de suicídio representam 51% das notificações
exógenas notificadas em Curitiba no período de 2004
a 2007 e que em média 71% são entre mulheres,
sendo o medicamento o meio mais utilizado seguido
dos pesticidas domésticos. Observa-se um aumento
de tentativa de suicídio entre as faixas etárias de 25 a
44 anos, com maior concentração entre 15 a 39 anos,
74,61%. Até o momento os dados obtidos convergem
para os achados disponíveis na literatura, segundo
Correa e Barrero (2006) afirmam que as tentativas
de suicídios são em média três vezes mais freqüente
entre as mulheres ao passo que o suicídio se apresenta
em torno de três a quatro vezes mais entre o sexo
masculino. Na série histórica apresentada no Boletim
Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde
Curitiba, entre 1996 e 2006, observou-se que 50% das
ocorrências toxicológicas notificadas no município
têm relação com tentativa de suicídio e com tendência
de crescimento, sendo que a maior concentração das
pessoas que recorrem à auto-intoxicação nas tentativas
de suicídios está entre o sexo feminino, mais de 70%.
Nesta série histórica, os medicamentos também se
apresentam de maneira convergente com os dados
parciais até agora encontrados, respondem por cerca
de 70% das substancias utilizadas na auto-intoxicação,
seguidos dos pesticidas domésticos que representam
20% dos casos. Mesmos que os dados sejam parciais, já
incitam a necessidade de explorar a temática de maneira
mais minuciosa, a fim de contribuir na implementação
de políticas que visem trabalhar a prevenção do suicídio.
Para Correa e Barrero (2006), algumas respostas
fundamentais às questões que envolvem esta temática
podem ser dadas por meio da epidemiologia, como
subsídios para planejamento de políticas públicas.
Palavras-chave: estudo descritivo; tentativa de suicídio;
envenenamento.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFÊRENCIAS
BOTEGA, N. J.; WERLANG, B. G. Comportamento Suicida. Porto Alegre: Artmed, 2004.
CORRÊA, H.; BARRERO, S. P. Suicídio: uma morte evitável. São Paulo: Atheneu, 2006.
DESCRITORES EM CIENCIA DA SAÚDE. Disponível em: http://www.bireme.br/php/index.php. Acesso em
15/08/2008, ás 21:00 hrs.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Área
Técnica de Saúde Mental. Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de
saúde mental, 2006.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção do Suicídio: Um Manual para Profissionais da Saúde e Atenção
Primária. GENEBRA, 2000.
PEREIRA, M. G. Epidemiologia e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
ROUQUAYROL, M. Z.; FILHO, N. A. Epidemiologia & Saúde. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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210
Resumos
TRICOLOGIA APLICADA AO ESTUDO DA DIETA DE CARNÍVOROS
Juliana Quadros - UTP
O estudo da dieta de mamíferos, pós-ingestão, pode ser realizado com base na análise de conteúdos gastrintestinais
e na análise de amostras fecais. A primeira apresenta a vantagem de ser individual, ou seja, permite o conhecimento
da dieta de cada indivíduo e a comparação da dieta entre classes etárias e sexos diferentes. Além disso, usualmente
os itens alimentares apresentam-se menos digeridos, facilitando a sua identificação e a estimativa de massa ingerida.
Por outro lado, as suas desvantagens referem-se principalmente ao fato de ser um método, que no caso dos mamíferos,
requer a retirada de indivíduos da população estudada e é limitado a um número menor de unidades analisadas. Já,
o estudo da dieta ou ecologia alimentar com base em amostras fecais traz as vantagens de não requerer a retirada
de indivíduos da população, fornecer um número maior de unidades para a análise e ser o método com a melhor
relação custo-benefício, considerando os custos de um projeto. Entretanto, nas amostras fecais os itens alimentares
já sofreram todo o processo digestivo e geralmente restam apenas as partes não digeríveis ou menos digeríveis,
tornando a identificação dos itens mais difícil ou até mesmo impossível, como no caso dos animais de corpo mole
(p. ex., anelídeos, moluscos) ou sem anexos epidérmicos queratinizados (anfíbios). Considerando o método de
análise de amostras fecais para determinação da dieta de carnívoros, duas questões vêm à tona: a necessidade de
identificação da autoria das fezes em nível específico, ou seja, conhecer quem são os carnívoros que defecaram e a
necessidade de identificação de itens alimentares, usualmente bem digeridos e fragmentados. Na tentativa de responder
à primeira questão, vários métodos de campo e laboratório têm sido empregados de maneira complementar ou
isoladamente. Em campo, a detecção do odor e local de deposição das fezes, assim como de rastros associados às
amostras, pode guiar o pesquisador na identificação das espécies que defecaram, embora haja certo grau de
subjetividade na caracterização do odor, sobreposições de locais de defecação e sobreposições de tamanho e forma
das pegadas entre as espécies. Nesse útlimo caso, os pequenos felinos neotropicais simpátricos e sintópicos em áreas
de Floresta Atlântica como Leopardus wiedii, Leopardus tigrinus e Puma yagouaroundi são um bom exemplo. Em
laboratório, a morfologia das fezes, o volume fecal, o maior e o menor diâmetro e o comprimento das amostras,
além da observação de seu conteúdo (itens alimentares), também podem fornecer pistas sobre a espécie que defecou.
Métodos mais sofisticados de análise laboratorial como a extração, identificação e quantificação de ácidos biliares
e extração e identificação de DNA das células da mucosa intestinal presentes no muco que reveste as fezes, têm
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
sido aplicados a um número restrito de espécies e áreas,
ou por terem problemas metodológicos não resolvidos,
ou por serem economicamente inviáveis. Contudo, a
identificação das espécies que defecaram também pode
ser realizada através da identificação dos pêlos dos
próprios carnívoros presentes em suas fezes. Estes
mamíferos arrancam seus pêlos com a língua ou com os
dentes incisivos e acabam ingerindo-os devido ao
comportamento de autolimpeza e manutenção da
pelagem, os quais podem ser eliminados nas próprias
fezes deixando uma assinatura da espécie que defecou.
Na identificação dos itens alimentares consumidos é usual
a comparação dos fragmentos não digeridos com
coleções de referência e auxílio de especialistas. No caso
dos vertebrados, restam nas fezes as escamas, dentes,
ossos e otólitos dos peixes; as escamas, ossos e dentes
dos répteis; as penas, ossos, unhas e bicos das aves; e os
pêlos, ossos, unhas, cascos e dentes dos mamíferos. No
caso de invertebrados terrestres, restam fragmentos do
exoesqueleto quitinoso e nos aquáticos, fragmentos do
exoesqueleto calcário. Dos frutos, usualmente restam
partes mais lignificadas, como sementes, fibras e cascas.
Considerando os mamíferos consumidos por carnívoros,
sua identificação é feita tradicionalmente através dos
dentes encontrados nas amostras e mais recentemente o
método de identificação de pêlos-guarda tem se mostrado
uma ferramenta complementar bastante útil. O presente
estudo dedica-se a aplicar o método de determinação dos
predadores e presas, através da identificação de seus
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
pêlos-guarda presentes nas amostras fecais. Para tal,
amostras de fezes de carnívoros terrestres foram coletadas
nas trilhas e estradas da Reserva Volta Velha, Município
de Itapoá, Santa Catarina, em 70 expedições mensais
entre 1995 e 2001, com duração de dois a quatro dias e
totalizando cerca de 15 km percorridos a pé em cada
expedição. Todas as amostras coletadas tiveram o volume
total aferido através do deslocamento do equivalente em
água em uma proveta graduada contendo um volume de
água conhecido. Em seguida, as amostras foram secas e
triadas, separando os fragmentos de itens alimentares em
grandes grupos. Para os mamíferos consumidos, foram
separados os fragmentos de ossos, dentes, pêlos e
eventualmente unhas e cascos. Para a identificação da
espécie de carnívoro que defecou foram utilizados os
rastros associados às amostras no campo, aliados ao
volume da amostra e à presença de pêlos da própria
espécie, como detalhado a seguir. Durante o processo de
triagem, especial atenção foi dada à procura macroscópica
por pêlos dos predadores. São pêlos evidentes nas
amostras e que se destacam dos demais por serem
escassos e diferentes do maior volume de pêlos das presas.
Todos os pêlos dos carnívoros e uma sub amostra de até
20 pêlos-guarda das presas foram preparados conforme
o protocolo de preparação de lâminas para identificação
em microscopia óptica: lâminas para a visualização da
medula dos pêlos foram preparadas através da diafanização
dos mesmos em água oxigenada comercial 30 volumes
por 80 minutos e lâminas para visualização da cutícula
211
212
Resumos
dos pêlos, confeccionadas imprimindo a superfície dos
pêlos sobre uma fina camada de esmalte para unhas
incolor previamente seca por 15 a 20 minutos. Para a
garantia na identificação dos pêlos das presas, o protocolo
foi repetido três vezes para cada amostra. A identificação
de amostras fecais dos carnívoros de pequeno e médio
porte através de pegadas associadas mostrou-se inviável
no presente estudo porque nenhuma das fezes coletadas
foi observada em campo com pegadas associadas. Esse
fato está possivelmente relacionado ao substrato de
deposição das fezes que muitas vezes não é favorável ao
registro das pegadas devido à presença da serapilheira,
às chuvas freqüentes na região de estudo e à periodicidade
e duração das visitas a campo que dificultou a coleta de
amostras recentes (apenas 9,6%). Vinte e um por cento
das amostras de fezes de carnívoros coletadas apresentaram
pêlos de predadores. As espécies de carnívoros
identificadas foram a irara (Eira barbara), o furão (Galictis
cuja), o gato mourisco (Puma yagouaroundi), o gato-domato- pequeno (Leopardus tigrinus), o gato maracajá
(Leopardus wiedii), o quati (Nasua nasua), e o mão pelada
(Procyon cancrivorus). A mensuração dos volumes fecais
médios (vm) não foi útil às identificações pois mostrou
semelhanças interespecíficas: Eira barbara (n=1), v = 9
ml; Galictis cuja (n=7), vm = 8,6 ml; Puma yagouaroundi
(n=12), vm = 12,5 ml; Leopardus tigrinus (n=20), vm =
12,9 ml; L. wiedii (n=1), v = 22 ml; Nasua nasua (n=1),
v = 6 ml e Procyon cancrivorus (n=1), v = 9 ml. Ainda
nesse sentido, Puma yagouaroundi e L. tigrinus mostraram
grande amplitude de volume fecal, 3 ml a 37 ml e 5 ml a
23 ml, respectivamente. Foram constatadas 12 espécies
de mamíferos consumidas, listadas a seguir: os roedores
Akodon cursor, Necromys lasiurus, Delomys dorsalis,
Holochilus brasiliensis, Nectomys squamipes, Oecomys
trinitatis, Oligoryzomys nigripes, Oryzomys sp. e Juliomys
pictipes; e os marsupiais Lutreolina crassicaudata,
Monodelphis iheringi e Philander frenatus. A identificação
do mamífero consumido não foi possível em 25 amostras
devido à escassez de pêlos-guarda ou porque a
microestrutura da medula estava danificada a ponto de
impedir a caracterização do padrão medular. É importante
ressaltar que com a triplicata do protocolo de preparação
e análise de lâminas com pêlos de presas para cada
amostra, os resultados foram freqüentemente diferentes
e complementares entre as réplicas, mostrando a
importância das mesmas na melhora qualitativa e
quantitativa das identificações. No presente estudo, a
identificação microscópica dos pêlos dos carnívoros
forneceu um diagnóstico seguro das espécies que
defecaram, o qual só poderia ser obtido de outra forma
com técnicas com mais alto custo; também permitiu a
separação de espécies distintas de mamíferos
c o n s u m i d o s, e m b o r a s e u s p ê l o s f o s s e m
macroscopicamente semelhantes, evidenciando a
importância da análise microscópica.
Palavras-chave: dieta de carnívoros; escatologia;
identificação de pêlos; tricologia.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
VOZ E AMBIENTE DE TRABALHO DO PROFESSOR DA REDE PÚBLICA DE
ENSINO
Kelly Cristina Alves Silverio
A voz caracteriza o sujeito e é considerada o principal elo de comunicação interpessoal, pois é através dela
que expressamos nossas intenções e sentimentos, causando impactos nos ouvintes. Qualquer alteração na voz,
que impeça a produção natural da mesma, limitando o indivíduo na sua comunicação é chamada de disfonia
(SILVERIO, 2003). As alterações vocais podem ser causadas por diversos fatores relacionados à saúde, trabalho,
condições de uso da voz e qualidade de vida do sujeito (PENTEADO, 1999 e 2003). O professor é um dos
profissionais que utiliza a voz como principal instrumento de trabalho e sofre as conseqüências do mau uso
vocal, como as alterações na voz que o levam a licenças médicas de readaptação de função (DRAGONE,
1996; PINTO, FURCK, 1998). É preciso considerar que o trabalho docente implica numa jornada geralmente
extensa que envolve vínculos diretos com alunos, famílias e direção da escola, e estas situações podem exercer
impactos positivos e/ou negativos sobre a saúde do professor. Quando essas relações se dão de maneira
negativa contribuem para o estresse docente, comprometendo o ensino. Por outro lado, quando de maneira
positiva, ajuda a atribuir sentidos ao trabalho compensando, por exemplo, problemas como as condições
salariais desfavoráveis, a falta de recursos materiais e o despreparo para adaptar-se às inovações e mudanças no
trabalho. O auto-conhecimento do professor sobre sua voz e saúde vocal é importante para uma atuação docente
mais eficaz, levando o profissional a utilizar os recursos vocais de que dispõe conforme intenções, contextos
interativos e situações de comunicação, contribuindo para a efetividade do ensino e preservando sua saúde vocal
(BEHLAU, DRAGONE, NAGANO, 2004). A voz é o principal instrumento de trabalho dos professores, e
quanto mais satisfatórias forem as relações em sala de aula que o professor estabelece, melhor será a sua atuação
na comunidade e no ensino (SERVILHA, 2000; PENTEADO, 2003). Além desses aspectos sociais e daqueles
relacionados ao uso da voz, o trabalho docente expõe o professor a outros agentes agressores em seu ambiente
de trabalho que podem influenciar a sua saúde vocal e geral, provocando a competição sonora e exigindo maior
esforço e demanda vocal do professor. Barulhos externos e internos, salas com acústica ruim, muitos alunos em
sala de aula, poeira, pó de giz, são alguns dos agentes agressores que podem influenciar negativamente na saúde
vocal do professor (OLIVEIRA et al, 1998; SILVERIO et al, 2008). O Conselho Federal de Fonoaudiologia,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
no XI Seminário sobre voz da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC – SP), abordou a disfonia
como doença de trabalho, discutindo as condições
clínicas e/ou enfermidades que predispõem à disfonia;
conceitos e evidências científicas reconhecidas e os
riscos ambientais e condições em postos de trabalho.
Na ocasião sugeriu-se a adoção de questionário
para levantamento sobre saúde vocal, identificando
também a implicação nociva de determinados hábitos
pessoais e condições extra-ocupacionais. Propôs-se,
ainda, a continuidade das pesquisas que vêm sendo
desenvolvidas neste campo, visando a busca de mais
dados sobre a qualidade de vida e o impacto da disfonia
no dia-a-dia de diferentes profissionais (FERREIRA,
2002). Vários autores têm apontado a urgência de se
intensificar pesquisas e ações voltadas ao professor,
na escola, de caráter preventivo e de promoção
de saúde vocal, que se voltam para a melhoria das
condições de trabalho e do ambiente onde ocorre
a docência (OLIVEIRA, 1995; SERVILHA, 2000;
FERREIRA, 2002; PENTEADO, 2003). Desta forma,
o objetivo desta pesquisa é conhecer o perfil vocal dos
professores da rede pública de ensino e suas condições
de trabalho, buscando compreender as relações entre
eles e os impactos na saúde e no trabalho docente.
METODOLOGIA: Fizeram parte deste estudo 42
professores de uma escola de Ensino Fundamental da
rede pública, que se localiza em um bairro de classe
média da cidade de Curitiba (PR). Todos os professores
da escola foram convidados a participar da pesquisa a
partir da entrega de folhetos explicativos e de palestras
realizadas na escola sobre a pesquisa. Os sujeitos que
participaram o fizeram de livre e espontânea vontade;
foram informados sobre os objetivos desta pesquisa e
assinaram, previamente o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido. Para conhecer o perfil vocal dos
professores foram realizadas: entrevista e registro vocal
que permitiu a análise perceptivo-auditiva da voz. As
entrevistas abordaram: queixa vocal e/ou auditiva;
sintomas laríngeos - cansaço ao falar, garganta seca/
raspando, tosse, pigarro, entre outros; hábitos – fazer
competição sonora, ingestão de água, fumo, álcool,
alimentação, entre outros; saúde geral - condição dos
sistemas respiratório, ósteo-muscular, circulatório, psicoemocional. O registro da voz foi realizado em ambiente
silencioso. Para registro das vozes utilizou-se o programa
MultiDimensional Voice Program MDVPModel 5105
do software MultiSpeech Model 3700 Kay Elemetrics,
instalado no computador notebook HP Pavilion dv2000
e microfone, Plantronics áudio DSP 400 Ultimate
Headset unidirecional que foi acoplado ao computador.
Após a colocação do microfone, que foi posicionado a 4
cm da boca e em ângulo de 45°, o indivíduo permaneceu
sentado em uma cadeira de frente para a avaliadora e
foi orientado a emitir as situações de fala: emissão da
vogal /ε/ de forma sustentada, isolada e após inspiração
profunda, em pitch e loudness habituais; fala espontânea,
em velocidade, articulação, pitch e loudness habituais,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
respondendo às perguntas: “O que você acha da sua
voz” e “Conte-me sobre o seu trabalho”. A avaliação
perceptivo-auditiva consistiu da análise do tipo de voz,
com base na escala GRBASI - proposta por HIRANO
(1981). Além do tipo de voz, foram analisados os
parâmetros de ressonância – equilibrada, laríngea,
hiponasal ou hipernasal.
RESULTADOS: Quanto à caracterização da amostra,
39 (93%) eram do sexo feminino e 3 (7%) do sexo
masculino. Todos lecionavam no ensino fundamental
(ciclo I – 1ª e 2ª séries; ciclo II – 3ª e 4ª séries; e 5ª a
8ª séries), sendo que, 18 (43%) lecionavam no período
matutino, 19 (45%) no período vespertino e 5 (12%)
nos dois períodos. Dos 42 professores que fizeram
parte da pesquisa, 39 passaram por entrevista. Em
relação à queixa vocal e/ou auditiva, 29 (74,4%)
apresentaram queixas vocais e 10 (25,7%) professores
não as apresentaram. Dentre as queixas apresentadas,
encontraram-se: rouquidão, “voz fraca” (intensidade
vocal diminuída), “voz estridente” (intensidade vocal
elevada e pitch agudo), “perda da voz”, cansaço vocal
(fadiga muscular), dor na garganta, ”falha na voz”,
entre outras. Nota-se que, dentre aqueles que não
apresentaram queixas vocais, 7 professores relataram
sintomas laríngeos. Dentre os 39 professores, um total
de 14 apresentou queixa de sensação de perda auditiva.
Os sintomas laríngeos mais freqüentemente relatados
foram cansaço ao falar, ardor ou irritação na garganta,
sensação de garganta seca/raspando e falta de ar para
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
falar. Dos 39 (100%) professores entrevistados, 34
(87%) apresentaram associação de sintomas laríngeos.
Vale lembrar, ainda, que 18 professores apresentaram
pigarro, o que pode ser um sintoma laríngeo, decorrente
de quadros de alteração vocal, como também um
hábito vocal. Em relação aos hábitos dos professores,
obteve-se que 26 deles têm o hábito de ingerir água,
apesar da maioria não ter consciência da importância
da mesma para a saúde vocal. 23 relataram ingerir
café diariamente nos intervalos de aulas e na vida
privada; 5 relataram ingerirem álcool freqüentemente;
3 relataram o hábito de fumo; 3 relataram a ingestão
de alimentos gordurosos freqüentemente. Dentre
os 39 professores, 17 relataram hábitos associados,
como a ingestão de café e alimentos gordurosos, por
exemplo. Quanto aos dados de saúde geral, obteve-se
que os professores sofrem de problemas diversos,
relacionados aos sistemas respiratório – desvio de
septo, rinite, faringite, laringite, asma, bronquite e/ou
sinusite (41 professores); osteomuscular – tensão nos
ombros e/ou cervical (26 professores) e dor/estalos
na articulação temporomandibular (11 professores);
gastrointestinal – gastrite, úlcera e refluxo gastroesofágico (12 professores); circulatório – hipertensão
(4 professores); problemas psico-emocionais –
insônia (12 professores), depressão (2 professores);
problemas hormonais (11 professores). É importante
colocar que todos os professores apresentaram
mais de uma alteraçãoreferente à saúde geral. Em
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216
Resumos
relação ao tipo de voz, dos 42 professores avaliados,
39 (90%) apresentaram alteração do tipo de voz na
produção da vogal /ε/ , onde 24 (57%) apresentaram
rouquidão nos graus leve e moderado, 33 (79%)
professores apresentaram soprosidade na voz, 22
(52%) apresentaram tensão na voz e a instabilidade foi
observada em 40 (95%) professores. O grau de astenia
– voz fraca – não foi observado na qualidade de voz dos
professores. Na fala espontânea, 36 (86%) professores
apresentaram vozes alteradas, sendo que a rouquidão
apareceu em 34 (81%) professores, a soprosidade
ficou presente em 23 (55%), 28 (67%) professores
apresentaram tensão na voz. A instabilidade e a astenia
não foram observadas em nenhum professor durante
a fala espontânea.Quanto à ressonância, 35 (83%)
professores apresentaram alteração.
CONCLUSÃO: O número de alterações vocais
nos professores é grande, e estão correlacionadas
às condições de trabalho dos mesmos (intenso
ruído interferindo na docência). Acredita-se que tais
alterações podem ser decorrentes do abuso e mau
uso vocal praticados pelos professores em sala de
aula, e resultantes do uso demandado e freqüente
da voz, característica desta classe de trabalhadores
– usuários de voz profissional. Os hábitos de gritar,
falar com intensidade aumentada, pigarrear, falar com
competição sonora sem preparo vocal - o que leva a
um aumento da intensidade e da freqüência de voz, e
esforço da mesma – são os principais responsáveis das
alterações vocais encontradas.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Resumos de Pesquisa
Ciências Exatas e de Tecnologia
Ciências Aeronáuticas
Pesquisa
ANÁLISE GEOPOLÍTICA DO ESTADO DO PARANÁ POR MICRORREGIÕES
Sandro José Briski – UTP
Uraci Castro Bomfim – UTP
Josmael Araújo Bonatto – UTP
Juliane Kurta - Geógrafa – UTP
Celma Tessari de Góes – UTP
Atualmente é inegável a importância estratégica do conhecimento, como fonte de informações sistematizadas para
a organização planejada do espaço geográfico. O conjunto de informações contemplando as características do
meio biofísico (sistema ambiental) e do meio social (sistema social) tem por finalidade auxiliar no desenvolvimento
harmonioso entre ambos e possibilitar a identificação da existência de possíveis antagonismos (conflitos) para
adotar medidas mitigadoras. Desta forma o objetivo deste trabalho é coletar, organizar e espacializar dados e
informações utilizando técnicas e métodos relacionados ao geoprocessamento e sensoriamento remoto sobre
aspectos sócio-ambientais tomando como recorte espacial os limites estabelecidos para a delimitação das
microrregiões do estado do Paraná. Justifica-se esta organização espacial de elementos e fenômenos distribuídos
por regiões separadas por fronteiras, como composição de um arcabouço de informações geográficas físicas e
geopolíticas passíveis de auxiliar na compreensão das relações que se estabelecem nas regiões e suas delimitações.
Este trabalho apresenta como resultados parciais a elaboração sistematizada de informações cartografadas e
descritivas sobre aspectos físicos, sócio-ambientais e geopolíticos de algumas microrregiões do Estado do
Paraná as quais totalizam um número de trinta e nove. Assim ressalta-se a eficácia de análises geopolíticas e
geoambientais baseadas na organização espacial de informações estratégicas através da cartografia geotecnológica
como subsídio para o planejamento e desenvolvimento regional do estado do Paraná, bem como fonte de
informações didáticas.
INTRODUÇÃO: Os avanços sociais e políticos têm como conseqüências, profundas transformações
nos sistemas ambientais e territorializações regionais, gerando diferentes organizações espaciais. Tais
organizações sustentam-se nas relações que se estabelecem como fenômenos transformadores e geradores
dos espaços geográficos, onde o princípio básico para sustentabilidade do desenvolvimento local consiste na
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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220
Resumos
disponibilidade e modelos de utilização de recursos
naturais e sociais. Para atingir níveis cada vez mais
elevados da eficiência na utilização de tais recursos,
é fundamental o conhecimento e espacialização dos
aspectos formadores do meio ambiente, considerando
os aspectos do ambiente físico, biogeográfico e
social (em suas diversas extensões). Concretizamse os espaços territoriais específicos através da
delimitação dos recortes espaciais por limites físicos
geográficos ou artificiais impostos arbitrariamente
ou de maneira consensual por articulações políticas
e ou econômicas. Entender como se estabelecem
tais regionalizações, é fundamental na organização e
otimização de estratégias e técnicas adequadas para
melhor aproveitamento de recursos e minimização de
ações que possam desencadear relações conflitantes
entre a sociedade e as relações que se estabelecem
política, econômica e ambientalmente intra-territoriais.
Considerando a dinâmica da produção e alterações
que ocorrem no espaço geográfico, o objetivo geral
deste trabalho consiste na geração de um conjunto
de informações e dados ambientais (aspectos físicos
e geobotânicos), infra-estrutura e socioeconômico
através de coleta e espacialização sistematizada
concentrada, para auxiliar no entendimento da
organização espacial das microrregiões do Estado
do Paraná. Para tanto é necessário à realização
da compilação e análise de informações e dados
obtidos através de pesquisa documental direta em
meios analógicos e informatizados de caráter oficial
conferindo a confiabilidade das mesmas. Pretende-se
com este trabalho gerar um material que possibilite
a análise de informações integradas de maneira
dinâmica, com possibilidades para consulta de técnicos,
administradores e estudante de diversos níveis de ensino.
Torna-se evidente que o espaço uma vez habitado, sofre
profundas transformações que são continuamente
reativadas na cronologia temporal e espacial, fazendo
com que possam ocorrer divergências conflitantes que
invariavelmente causam prejuízos diretos e/ou indiretos
em diferentes níveis de escala espacial e relacional. Para
SANTOS (1994), o espaço habitado pode ser abordado
sob a perspectiva biológica, através da adaptabilidade
do homem, como indivíduo, às mais diversas condições
ambientais até mesmo às extremas. Outra abordagem
vê o ser humano não como indivíduo isolado, porém
como um ser social por excelência. Pode-se assim
acompanhar a forma como a raça humana vem se
expandindo, e se distribuindo, ocasionando sucessivas
mudanças demográficas e sociais em cada continente,
país, em cada região e em cada lugar. Conota-se assim o
dinamismo fenomenológico humano, onde a revelação
desse processo está exatamente, na transformação
qualitativa e quantitativa do espaço habitado.
MATERIAL E MÉTODO: Para a elaboração do
produto, resultado do trabalho os procedimentos
metodológicos consistem em pesquisas diretas
documentais de atributos passíveis de mensuração e
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
espacialização, através da organização e elaboração de
material cartográfico utilizando geotecnologias através
das técnicas do geoprocessamento e sensoriamento
remoto. Desta forma os procedimentos metodológicos
consistem na utilização de materiais analógicos e
computacionais cartografados e descritivos, além
dos materiais compostos por hardwares e softwares
de processamento, interconexão e espacialização
de informações geográficas. Em relação ao método
descritivo da pesquisa esta parte de uma chave
de organização e construção das informações
esquematizada da seguinte forma: - Elaboração
cartográfica dos aspectos físicos e geobotãnicos
(geologia, relevo, clima, solos, hidrografia e cobertura
vegetal). Estabelecimento da delimitação das
microrregiões através dos municípios integrantes de
cada uma das trinta e nove estabelecidas no Estado
do Paraná considerando seus limites administrativos,
com a distribuição dos elementos e fenômenos
associados às atividades humanas (infra-estruturas,
e atividades socioeconômicas predominantes por
área de ocorrência). - Descrição dos aspectos físicos
e geobotânicos, tomando como referência sua
ocorrência e distribuição espacial. - Descrição dos
aspectos socioeconômicos, considerando os setores
primário, secundário e terciário, além das correlações
considerando a infra-estrutura. Tais informações
são organizadas e descritas utilizando informações
disponíveis em documentos oficiais em instituições
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
públicas e privadas, deste que atestada seu grau de
confiabilidade. - Através da compilação e análise das
informações organiza-se o produto proposto pelo
trabalho a partir do desenvolvimento do layout do
painel informativo.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: Tais informações
encontram-se elaboradas e disponibilizadas em
forma de painéis contento o mapa da microrregião
com seus respectivos município formadores e dados
estruturais estratégicos, além da sua localização dentro
do estado. A parte textual apresenta informações
e dados generalizados, porém estratégicos sobre
as características ambientais, de infra-estrutura e
socioeconômico (Figura 01). O desenvolvimento da
FIGURA 01 – Microrregião de Curitiba (Painel)
Fonte: Núcleo de Pesquisa em Geografia – UTP, 2008.
221
222
Resumos
pesquisa encontra-se em fase de elaboração, através
da qual foram trabalhadas cinco das trinta e nove
microrregiões que compõem o Estado do Paraná
composto pelos 399 municípios.
CONCLUSÕES: Ressalta-se que este trabalho não tem
a pretensão em detalhar nem um tipo de informação
específica e nem servir como instrumento único para a
tomada de decisões. Busca-se com esta pesquisa gerar
informações e dados espacializados da panorâmica dos
aspectos geográficos do Estado do Paraná, organizados
sob a delimitação das microrregiões e seus respectivos
municípios formadores. Porém entende-se que tais
informações podem ser esclarecedoras para usos
múltiplos em uma análise inicial. Por tanto, evidenciase que sua utilização pode servir para a administração
pública, o setor produtivo (primário, secundário e
terciário) e para o setor educacional, contribuindo
num primeiro momento para uma compreensão inicial
acerca da organização espacial de tais fenômenos e
elementos constituintes do espaço geográfico. Neste
trabalho é apresentado como exemplo apenas uma
das 39 microrregiões que estão em fase de elaboração,
compondo desta forma uma coletânea de informações
sobre todo território do Estado do Paraná. Procura-se
apresentar estas informações de forma sistematizada, para
facilitar a compreensão das informações e dados textuais,
espacializados e distribuídos em tabela dos principais
aspectos geográficos, concretizando um instrumento
de pesquisa norteador para o aprofundamento do
conhecimento mais detalhado sobre o Estado.
Palavras-chave: análise geoambiental; geopolítica;
geotecnologia cartográfica; planejamento e gestão
territorial.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
COORDENAÇÃO DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA – COMEC. PDI – 2001: Plano de Desenvolvimento
Integrado da Região Metropolitana de Curitiba. Documento para Discussão. – Curitiba: COMEC, 2001.
MACK, R. Geografia física do Estado do Paraná. 3a ed. – Curitiba: Imprensa Oficial, 2002.
SANTOS, M. Metamorfose do Espaço Habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da geografia. 3º ed. - São Paulo:
Hucitec., 1994
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS MORFOMÉTRICOS COMO SUBSÍDIO À
COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE ASSOREAMENTO: ESTUDO DE CASO
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO BARIGUI
Sandro José Briski - UTP
Helder de Godoy - UTP
Celma Tessari de Góes - UTP
Juliane Kurta - UTP
Entre os recursos naturais indispensáveis ao desenvolvimento humano, a água ocupa uma posição de destaque,
por sua importância no equilíbrio da vida no planeta, suas relações com as cadeias produtivas nos diversos
setores da economia e com a dinâmica do espaço geográfico. O crescimento demográfico, a urbanização e a
expansão industrial têm originado significativas modificações e aumento na demanda de recursos hídricos
disponíveis. O resultado desse impacto é o comprometimento da qualidade e quantidade dos recursos hídricos,
considerando escalas locais, regionais e globais. Em função da dinâmica sistêmica relacionada às porções
territoriais estabelecidas pelas bacias hidrográficas, com possibilidades de abordagens sobre as avaliações de
suas condições ambientais e demanda de recursos naturais, preferencialmente os hídricos ou a eles associado
diretamente, ressalta-se o grau de importância das que ocorrem em escalas locais e, principalmente, com
predomínio de uso do solo urbano. Condições estas que estão relacionadas com as características que predominam
na bacia hidrográfica utilizada como objeto de estudo neste trabalho. Observam-se inúmeros problemas
relacionados a estas condições de uso do solo que estão alterando a qualidade e quantidade dos recursos hídricos
e ambientais locais. Entre os principais, destacam-se as ocupações irregulares, usos inadequados dos cursos de
água superficiais para fins industriais, despejos descontrolados de efluentes domésticos e industriais e,
essencialmente, a potencialização dos processos de assoreamento dos cursos d’água superficiais, com agravamento
de inundações ou indisponibilidade do uso de reservatórios para usos específicos. As atividades que norteiam
estudos relacionados às análises geoambientais tomam relevância diante das possibilidades da experimentação
de técnicas e procedimentos metodológicos, justificando-se assim a realização de estudos neste contexto. Desta
forma, trabalhou-se especificamente com os aspectos quantitativos da bacia através dos seus parâmetros
morfométricos, seguidos dos aspectos qualitativos através do diagnóstico fisiográfico e geobotânico (uso e
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
cobertura do solo), subsidiados pela elaboração de
produtos cartográficos gerados e manipulados com a
utilização de geotecnologias. Através da compilação
gerada a partir das informações obtidas, é possível
iniciar-se nas interpretações e projeções relacionadas
ao assoreamento e suas consequências. A bacia
hidrográfica do rio Barigüi está localizada no primeiro
planalto Paranaense, na Região Metropolitana de
Curitiba no Estado do Paraná, atravessando três
municípios: Almirante Tamandaré, Curitiba e Araucária,
sendo que cada um destes apresenta características
fisiográficas e geobotânicas diferenciadas. As nascentes
do rio Barigüi, principal curso d’água superficial da
bacia hidrográfica, estão situadas ao norte do município
de Almirante Tamandaré e suas águas correm em
direção ao sul, cruzando a cidade de Curitiba no sentido
longitudinal até a região Sudeste do município de
Araucária, onde se localiza a foz do rio Barigüi,
desembocando no rio Iguaçu. No trecho em que
atravessa o município de Curitiba, encontram-se 80%
dos seus afluentes de maior relevância, entre eles os
rios Campo de Santana, Arroio do Pulo, Arroio da
Ordem, Arroio do Andrade, Arroio do Pulgador, Rio
Vila Formosa, Ribeirão Campo Comprido, Córrego
Vista Alegre, Rio do Wolf, Ribeirão Antônio Rosa, além
de seus sub-afluentes, dos quais se destacam também:
Ribeirão do Passo do França, Córrego Capão Raso,
Rio Mossunguê, Rio Uvu e Córrego Vila Isabel, porém
em sua maioria já retificados e desviados de seus cursos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
originais. A bacia hidrográfica do rio Barigui conectada
com outras sub-bacias representam o sistema
hidrográfico da bacia do Alto Iguaçu, que tem como
principal vocação atender a demanda de água para
abastecimento urbano domiciliar e industrial através
de suas bacias hidrográficas de mananciais. Apesar de
a bacia hidrográfica do rio Barigui não fornecer
diretamente água para os sistemas de captação e
tratamento, sua importância consiste em atender as
demandas de água para outros fins menos nobres,
porém importantes no conjunto hidrográfico, como a
capacidade de escoamento superficial, atividades rurais
e industriais indiretas, receptor e depurador de dejetos,
entre outros. Considerando estas particularidades,
ressalta-se a importância em se desenvolver estudos
dos aspectos qualitativos e quantitativos em bacias
hidrográficas com estas características como subsídios
à análise através de diagnósticos e prognósticos,
fornecendo o conhecimento necessário aos programas
de gestão e planejamento para ordenação de uso e
ocupação do solo e compreensão e monitoramento
dos processos de assoreamento. Este trabalho tem por
objetivo geral a aplicação de métodos e técnicas para
obtenção de informações qualiquantitativas sobre
aspectos relativos à bacia hidrográfica do rio Barigüi,
como subsídio ao diagnóstico da situação atual dos
recursos hídricos (cursos de água e reservatórios) da
referida bacia em relação ao agravamento dos processos
de assoreamento. Os objetivos específicos consistem
225
226
Resumos
em elaborar cartografia temática das características
físicas e geobotânicas da bacia hidrográfica utilizando
o geoprocessamento e sensoriamento remoto. Como
segundo objetivo específico, tem-se aplicar parâmetros
morfométricos lineares, areais e hipsométricos. E por
último, avaliar os resultados obtidos para possíveis
correlações com a potencialização dos processos de
assoreamento. Dentre as atividades gerais desenvolvidas
constam a escolha de uma bacia hidrográfica e
separação do estudo em três fases. A Bacia do Rio
Barigui foi escolhida por sua conotação geográfica em
relação ao município de Curitiba ocupando
aproximadamente 35% do total de área relacionada às
bacias deste município, ocorrendo em zonas urbanas
residenciais, comerciais e industriais. Deve-se ressaltar
que ao longo da bacia do Rio Barigui vivem cerca de
30% da população curitibana o que representa uma
intensa densidade demográfica nesta área. Para o
desenvolvimento deste trabalho, estabeleceu-se uma
sistematização de fases para estabelecer as prioridades,
visando obter informações que subsidiassem o
embasamento teórico metodológico através de
pesquisas utilizando diversas fontes de informações.
A etapa de escritório foi considerada a primeira fase,
onde, além do estudo do estado da arte, ainda foram
realizadas as análise das informações obtidas em
trabalhos de campo e laboratórios. Como, por exemplo:
os parâmetros morfométricos, o diagnóstico do sistema
fisiográfico e geobotânico, bem como as características
de ordenamento de uso do solo. Na secunda fase, foram
realizadas as atividades de campo relacionadas ao
reconhecimento da área de estudo, aquisição de acervo
fotográfico e constatação das informações contidas nos
produtos da cartografia temática. Na terceira fase, a de
l a b o r a t ó r i o s d e S e n s o r i a m e n t o Re m o t o e
Geoprocessamento, foram elaborados os produtos da
caracterização da representação espacial e de fenômenos
da bacia. Assim, a delimitação e distribuição da
hidrografia da bacia e hierarquização dos rios foram
elaboradas e vetorizadas através do programa Autocad
2005 utilizando as bases cartográficas do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística). Os mapas
temáticos como geologia, tipo de solo, uso e ocupação
do solo, localização e representação em imagem de
satélite Landsat 2002, gradientes altimétricos e hipsometria
foram elaborados pelo programa ArcGis 9.2. Ressalta-se
que, apesar de atribuídas fases distintas na sistematização
do trabalho não houve hierarquização das atividades,
sendo as mesmas desenvolvidas de maneira integrada e
simultânea. Quanto aos resultados esperados e
alcançados, mostra-se que nos parâmetros morfométricos,
a bacia hidrográfica do Rio Barigui apresenta em relação
a hierarquização dos canais 1174 rios de 1ª ordem, 589
de 2ª ordem; 273 de 3ª ordem; 120 de 4ª ordem ; 70 de
5ª ordem e 70 rios de 6ª ordem. Possui uma área de
264,84 km²; com perímetro de 147.789,89 m; com o eixo
da bacia apresentando aproximadamente 45.100 m. O
comprimento do rio principal é de 65.053,58 m e o
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
comprimento total dos rios é de 640,67 km com
densidade de drenagem 2,41 e densidade dos rios 4,43.
A relação de relevo é de 0,00750 e o coeficiente de
manutenção apresenta o valor de 414,94. A forma da
bacia (índice de forma) apresentou o valor de 1,30, com
forma representada por um retângulo. A amplitude
altimétrica é de 346 m, variando entre a altitude máxima
de 1210 m, e a altitude mínima 864m. A bacia hidrográfica
do Rio Barigui localiza-se na região extremo leste do
Estado do Paraná estando sobre a influência de
condições de climas úmidos sem deficiência hídrica. Em
relação às suas bacias adjacentes, encontra-se delimitada
a oeste pela bacia hidrográfica de manancial do Passaúna,
a leste pelas bacias hidrográficas dos rios Belém e Padilha
e no seu extremo sudeste encontra-se com a bacia
hidrográfica do rio Iguaçu, da qual é importante
tributária. Através dos resultados, observa-se que a
mesma apresenta densidade de drenagem e de rios
estabelecendo uma relação de 6ª ordem concentrando
esta densidade principalmente nos terços superior e
médio. Tomando como indicador os parâmetros
propostos por BELTRAME (1994)1, relacionados à
quantidade de drenagem, a mesma é classificada como
alta, indicando que sua dinâmica hídrica está sobre áreas
com baixos índices de permeabilidade, estando estes
fatos relacionados preferencialmente com as
características geológicas e de ocorrência de tipos
específicos de solos. Fator este de ordenamento e
distribuição da rede hídrica considerada elevada para o
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
recorte espacial definido pela área da bacia, indicando
intensa relação entre as áreas alteradas e os canais de
escoamento superficial, influenciando nos índices das
características hidrológicas de superfície. Na zona em
que se distribui a Formação Guabirotuba o padrão de
drenagem é semelhante ao cristalino, porém com
densidade menor. Os interflúvios na região dos
migmatitos são estreitos e dissecados. A relação de relevo
pode ser considerada alta no terço superior, onde estão
localizadas as nascentes, e baixa nos terços médio e
inferior, devido à baixa variação de altitude. A amplitude
altimétrica da bacia é de 346 m, apresentando forma
alongada. Tais características atribuem à drenagem uma
vazão de energia moderada na dinâmica hídrica
superficial, porém sua forma alongada no sentido do
escoamento e estreita no eixo menor confere-lhe
significativa potencialização para os eventos de
inundação, principalmente considerando as
transformações espaciais no terço intermediário da bacia.
Apresenta um índice de coeficiente de manutenção de
444,94 m² por canal de escoamento superficial, índice
elevado considerando a área total da bacia, o que indica
a importância do controle sobre as atividades a serem
desenvolvidas na bacia. Considerando a cobertura e o
uso do solo atuais, observa-se o contra senso no que diz
respeito a este coeficiente. Sobre o controle estrutural,
a drenagem superficial da sub-bacia apresenta padrões
geométricos predominantes do tipo dendríticos nos
terços superior, médio e inferior, caracterizando
227
228
Resumos
ambientes de rochas geologicamente homogênea.
Espera-se, através destes resultados preliminares, realizar
as análises integrando o diagnóstico e prognóstico acerca
das possibilidades de agravamento dos processos de
assoreamento.
Palavras-chave: bacia hidrográfica; morfometria;
assoreamento.
1 BELTRAME, A. V. Diagnóstico do meio físico de bacias hidrográficas:
modelo e aplicação. – Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
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Pesquisa
BUCHAS DE MANCAIS DE ROLOS DE GALVANIZAÇÃO POR IMERSÃO A QUENTE:
UM DESAFIO PARA O DESENVOLVIMENTO DE LIGAS DE ENGENHARIA
Adriano Scheid - UTP
Marco Adolph - UTP
Nelson Ortiz - UTP
O revestimento de chapas de aço por imersão a quente, no processo chamado galvanização contínua, cresceu
significativamente na última década, impulsionado pelas necessidades da indústria automotiva, de construção
civil e linha branca. Estes segmentos utilizam os aços galvanizados por imersão a quente para a fabricação de
carrocerias, longarinas, barras de reforço lateral e de teto, refrigeradores, “freezers”, fogões, máquinas de lavar,
microondas, telhas, engradamento metálico, calhas e fechamentos laterais de galpões. Existem rigorosos requisitos
de qualidade para estes produtos, particularmente de qualidade superficial. Abrasões, rugosidade não uniforme
e partículas aderidas ao revestimento resultam, normalmente, na rejeição de produtos e, consequentemente
em grandes prejuízos para a siderurgia nacional, o que é refletido em redução da competitividade no mercado
globalizado. As Linhas de Galvanização de aço por imersão a quente são constituídas, entre outros equipamentos,
por um pote. O pote é o equipamento da linha que mantém o Zn ou ligas no estado líquido, por onde a tira é
imersa e o revestimento é aplicado (1,2). A galvanização pode ser convencional, quando trata da produção de
aços revestidos com Zinco puro ou galvanização com liga Al-Zn, quando são aplicadas ligas de revestimento.
Dentre as ligas de Zinco/Alumínio, a mais conhecida é o Galvalume® com 55% de Alumínio e 1,5% de Silício
e o restante de Zinco. Esta liga é comercializada com diversos outros nomes, como: Zincalume, Alugalve,
Aluzink, Zincalite e Zalulite, tendo sido desenvolvida pela Bethlehem Steel Corporation a partir de 1960. Sua
produção em escala comercial iniciou-se em 1972, sendo que a concessão de licença para produção em outros
países foi iniciada em 1976. Mais de sete milhões de toneladas foram produzidos comercialmente em 30 anos.
Galvalume® são chapas produzidas pelo processo de imersão a quente em liga 55% Al-Zn após terem sido
recozidas em atmosfera não-oxidante. Dentro do pote, existe um rolo que guia a chapa na passagem pelo
Zinco ou ligas fundidas - chamado “sink roll”, sustentado lateralmente por mancais dotados de buchas. Estas
buchas metálicas são, em geral, fabricadas a partir da fundição de superligas à base de Cobalto, denominadas
comercialmente de Triballoy T800, Triballoy T400 e Stellite #6. As duas primeiras são ligas reforçadas por fases de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
Laves (intermetálicos Molibdênio – Silício), enquanto
a Stellite #6 é uma liga reforçada por Carbonetos.
Esforço extensivo tem sido empregado no sentido
de entender as questões fundamentais que envolvem
o processo de revestimento por galvanização,
especialmente na questão do gerenciamento do banho
e de seus componentes. O desenvolvimento rápido da
tecnologia tem auxiliado na busca de melhor qualidade
do revestimento em produtos galvanizados e aumento
da produtividade das linhas contínuas de galvanização
por imersão a quente. Entretanto, a curta vida dos
componentes submersos no banho (pote) como: rolos,
buchas, braços, entre outros, ainda é um desafio à
indústria (3, 4, 5). A experiência dos materiais usados
no pote mostra desgaste abrasivo severo que ocorre
sob condições limitadas de lubrificação e, além disso,
os materiais sofrem severa corrosão em metal líquido
pela reação com o banho de galvanização. Diversas ligas
complexas como a liga de cobalto Stellite #6, a liga
MSA2012 (Metaullic Super Alloys) são com carbonetos,
CF-3M, que é uma variação do aço inoxidável fundido
316L adicionado de Molibdênio e a liga ORNL-4 que
é a liga do Oak Ridge National Laboratory 4 composta
por 20%Fe, 6,5%Cr, 0,5%Al, 0,5% Ti e pequenas
adições de solício, manganês, carbono e Ytrio vem
sendo avaliadas quanto à resistência à corrosão por
metal líquido (4). O processo de desgaste das buchas
é fortemente agravado quando a reação das ligas
das buchas (superligas de Cobalto) com o banho
de galvanização (Zinco ou Al-Zn líquidos) forma
compostos intermetálicos complexos que atuam
em detrimento à vida útil como agente abrasivo no
processo de desgaste. De maneira geral, em adição ao
mecanismo apresentado acima, as buchas ainda sofrem
a ação da temperatura do banho líquido de galvanização,
que pode variar entre 450 e 600ºC dependendo da
sua composição. A temperatura induz a modificação
na microestrutura das ligas de Cobalto, reduzindo a
resistência à abrasão das mesmas. Por último, ocorre
a abrasão por partículas compostas, chamadas de
“dross“ (“dross” são partículas intermetálicas em
suspensão no banho de galvanização 55%Al-Zn, à
base de Silício, Ferro, Zinco, Alumínio). O “dross”
forma-se pela reação de partículas de ferro originadas
nas etapas anteriores de fabricação e que durante a
imersão se desprendem da tira de aço originando a
formação deste agente abrasivo mencionado. Variações
na temperatura dos banhos de galvanização também
induzem e aceleram esta formação de “dross”. Dentre
os componentes submersos no banho, particularmente
luvas e buchas apresentam destacado e anormal
desgaste em períodos curtos de operação. Como
conseqüência da degradação dos componentes do pote
devido à corrosão e desgaste, ocorre excessiva vibração
da tira no processo de revestimento que contribui para
a baixa qualidade do produto galvanizado. À medida
que o desgaste das buchas avança, a degradação das
mesmas pode levar ao travamento do rolo guia e
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
conseqüente dano (arranhamento) da tira. A indústria
de galvanização é obrigada então a parar as linhas
contínuas periodicamente a fim de substituir os
componentes do pote, resultando em significantes
prejuízos devido as paradas não planejadas, sendo
este considerado o mais sério problema. Este trabalho
busca o desenvolvimento de ligas reforçadas por
compostos intermetálicos à base de Alumínio na forma
de revestimentos soldados, obtidos pelo processo
de Plasma com Arco Transferido, com o intuito de
atender solicitações especificas de desgaste como, por
exemplo, o desgaste abrasivo agravado por processos
de corrosão em metal líquido. Neste sentido, surge a
possibilidade de produzir componentes revestidos pelo
processo de PTA – Plasma com Arco Transferido, que
apresenta a facilidade de controle microestrutural das
ligas depositadas (comparativamente aos processos
de fundição que usualmente são usados na produção
das buchas), controle do refinamento das estruturas
formadas e reduzida diluição (em relação a outros
processos de soldagem). Os revestimentos podem ser
produzidos pela mistura de pós-elementares a serem
posteriormente depositados, ou pela adição de elementos
específicos, como Alumínio, a ligas comerciais. Em
ambos os casos, a deposição é feita pelo processo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de Soldagem por Plasma com Arco Transferido e o
desenvolvimento dos intermetálicos de elevada dureza e
resistência ao desgaste ocorre “in-situ”, ou seja, durante
a deposição. A presente pesquisa busca a avaliação das
condições de deposição de ligas de Cobalto modificadas,
pela adição de Alumínio (elemento formador de
intermetálicos), bem como a investigação e identificação
dos compostos intermetálicos formados e o reflexo
sobre as propriedades mecânicas dos revestimentos. A
formação de compostos intermetálicos representa um
atrativo ao reforço de ligas metálicas, especialmente
pela estabilidade destas fases em elevada temperatura,
além da elevada dureza das mesmas. Ao final, espera-se
obter revestimentos com propriedades otimizadas para a
aplicação direta em buchas revestidas para componentes
usados na produção de chapas galvanizadas por imersão
a quente que atendem os setores Automobilístico, de
Linha Branca e de Construção Civil. Desta forma, a
indústria nacional de galvanização busca a redução dos
custos de processo e manutenção, com conseqüente
aumento na competitividade frente aos aços revestidos
importados especialmente dos Estados Unidos da
América, Austrália, Coréia do Sul, China e Índia.
Palavras-chave: galvanização; revestimentos; desgaste
231
232
Resumos
REFERÊNCIAS
BIEC International, Research and Technology Manual, Aluminum-Zinc Coated Sheet Steel, 1994.
BIEC International, Operating Technology Manual, Aluminum-Zinc Coated Sheet Steel, 1994.
K. Zhang and L. Battiston, Friction and wear characterization of some cobalt- and iron-based superalloys in zinc alloy
baths, WEAR 252, 2002, pp 332 – 344.
4- Frank E. Goodwin, A New Hardware Materials Research Program, International Lead Zinc Research Organization Inc,
InterZAC Conference, Seoul, Korea, 2002.
5- Jin-Hwa, Song and Hyung-jun kim, Sliding wear performance of Cobalt-Based Alloys in molten Al-Added zinc bath,
WEAR, 210, 1997, pp 291-298.
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Pesquisa
CLIMATOLOGIA DE VENTO EM BAIXOS NÍVEIS PARA USO NA AVIAÇÃO “REGIÃO
DE INFORMAÇÃO DE VÕO DE CURITIBA-FIRCW”
Cícero Barbosa dos Santos - UTP
INTRODUÇÃO: Alguns fenômenos dentro da camada limite (CLP) em altitude como vento e turbulência são
importantes nos planejamentos de vôos. O conhecimento da direção e intensidade dos ventos na camada limite
e em ar inferior ajuda aos aeronavegantes definir a pista a ser utilizada no momento do pouso ou decolagem.
Ventos fortes retardam ou aceleraram os vôos aumentando e diminuindo o consumo de combustível; assim
como podem alterar o rumo de uma aeronave afetando o tempo de vôo. A turbulência é a trepidação sofrida
pelas aeronaves devido à agitação irregular no ar. Ela pode provocar desconforto, danos estruturais e, em casos
severos até mesmo acidente. As turbulências térmicas são correntes convectivas alternadas que fazem com que
a aeronave suba e desça, podendo ser facilmente observada através da formação de nuvens cumuliformes No
inverno, ela é geralmente mais suave e no verão mais severa (na parte da tarde); as chamadas CAT (Clear Air
Turbulence, ou turbulência de ar claro) que é proveniente de um gradiente de vento provocada pela corrente
de jato (Jetstream) não pode ser identificada por nenhum tipo de nuvem. Ela se apresenta mais forte sobre
os continentes e se forma abaixo do eixo da corrente do lado polar. A Corrente de Jato ou Jetstream (JTST)
é um fluxo de vento intenso, pertencente à circulação superior. Porém, existe turbulência em baixos níveis
principalmente aquelas detectadas por aeronaves de baixa performance e que são perigosas em virtude dos
poucos recursos técnicos destas. Um estudo estatístico da posição destas turbulências associadas a jatos de baixos
níveis pode auxiliar as aeronaves no rumo e em sua rota; e também ajudará aos aeronavegantes na tomada de
decisões importantes, quanto ao planejamento e otimização de custos de vôos regulares e especiais realizados
pela aviação civil e militar.
MATERIAL E MÉTODO: Os dados de ar superior para esta pesquisa estão sendo obtidos do Código TEMP
confeccionados pelas EMA, basicamente dos dez minutos iniciais da transmissão dos dados da radiosondagem. As
Estações Meteorológicas de Altitude (EMA) destinam-se a coletar e tratar os dados meteorológicos, especialmente
de temperatura, de umidade e de pressão, desde a superfície até o nível em que o balão meteorológico se rompe
na atmosfera. Os valores de direção e de velocidade do vento, nos diversos níveis, são calculados a partir do
posicionamento do balão em função do tempo e das coordenadas verticais e horizontais. O processo de coleta
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
e de tratamento dos dados, realizados por uma Estação
Meteorológica de Altitude, chama-se Radiosondagem.
A radiosondagem, realizada por meio do lançamento
de balões, é a principal fonte de obtenção de dados
do ar superior para o emprego em pesquisa, base de
dados para a previsão numérica do tempo e em serviços
operacionais, tais como a previsão de vento e de
temperatura nos níveis de vôo, turbulência, formação
de gelo em aeronaves, cálculo da probabilidade de
trovoadas, formação de nuvens, trilhas de condensação
e, mais recentemente, nas avaliações do movimento e
da dispersão de nuvens de cinzas vulcânicas e de nuvens
radioativas. Os balões meteorológicos são empregados
para transportar as sondas que contêm os sensores e o
transmissor; para as observações de rotina em altitude,
são usualmente do tipo extensível e de forma esférica.
Deve ser de tamanho e qualidade tal que assegurem o
transporte do peso necessário (habitualmente de 1 a
2kg) até altitudes da ordem de 30km, com razão de
ascensão suficientemente rápida para garantir uma
razoável ventilação dos elementos de medição. A
matéria-prima adequada para a fabricação dos balões
meteorológicos é a borracha natural ou borracha
sintética e, uma vez prontos, devem estar isentos
de qualquer substância estranha ou outros defeitos,
devendo ser homogêneos e de espessura uniforme.
Precisam estar providos de uma gola de 1 a 5cm de
diâmetro e comprimento de 10 a 20cm, conforme
a dimensão do balão. No caso dos balões para a
radiosondagem, a gola deve ser capaz de suportar
peso de 18kg, sem danificar a borracha. Os diversos
tamanhos são melhores identificados pelos seus pesos
nominais em gramas. Os pesos reais de cada balão
não devem diferir em mais de 20% do peso nominal
especificado. Além disso, os balões devem ser capazes
de se expandirem em, pelo menos, 4 vezes o seu
diâmetro inicial e de manter essa exposição no mínimo
por 1 (uma) hora. Um bom balão pode ser capaz de
se expandir até atingir 6 vezes o seu diâmetro inicial.
Uma vez cheio, ele deve apresentar uma forma esférica
ou, pelo menos, circular, quando em corte horizontal
A quantidade de gás hidrogênio ou hélio contida em
um balão, inflado para lançamento, é fator de grande
importância na realização de uma boa radiosondagem.
A radiosondagem é realizada duas vezes por dia,
normalmente, às 09h00 e 21h00. Isto permite prever
o comportamento sinótico das varáveis PTU (pressão,
temperatura e umidade). Um código chamado TEMP
(perfil termodinâmico) é confeccionado contendo
dados de vento, temperatura e ponto de orvalho através
de um escala de níveis padrões de altitude. A divulgação
internacional do Código TEMP é de responsabilidade
do Centro Regional de Telecomunicações de Brasília,
subordinado ao Instituto Nacional de Meteorologia
(INMET). Utilizaram-se inicialmente os dados do
TEMP de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre nos
primeiro dez minutos de sondagem, pois nesse tempo
o balão atinge aproximadamente 4500 metros, altitude
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
suficiente para traçar o perfil de vento em baixos níveis,
ou seja, dentro da camada limite planetária.
ANÁLISE E DISCUSSÕES PARCIAIS: Analisando
os dados, após ser colocado na forma tabular e gráficos,
pode ser que para períodos noturnos de comportamento
de vento há um aumento de intensidade em níveis
crescente de vôo, ou seja, do FL065 ao FL115.
Este comportamento já era esperado em virtude
da diminuição da camada turbulenta. Os ventos de
maior intensidade estão na transição ou nas estações
inverno-primavera e normalmente estão associados
aos jatos de baixos níveis que transporta umidade,
sendo responsáveis pelas instabilidades dinâmicas da
Camada Limite Planetária. Praticamente, os números
de Jatos nas outras estações são bastante reduzidos,
neste caso há de supor que a instabilidade seja causada
pelo aspecto térmico ou de forma mecânica, isto é,
pelo aspecto da convecção. Observou-se também que
os picos de ventos são predominantes nestas estações,
ou seja, inverno-primavera. Há períodos de alternância
entre estas estações e é crescente em relação aos níveis
de vôo analisados (FL065 ao FL115). Quanto ao
aspecto direcional do vento, sua predominância é para
o quadrante Sul - Oeste com raras mudanças para as
estações de maior intensidade de vento. Para as estações
de menor intensidade, outras estações, a direção do
vento se mantém neste quadrante. Os picos também
mantêm a ordem crescente dos níveis de vôo, sendo o
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
FL115 possuidor de picos acima de 70 nós. Analisando
os períodos diurnos, observa-se que o vento tem um
perfil semelhante ao comportamento noturno, porém
com algumas variações para um grupo de níveis de
vôo. O FL065 apresenta ventos médios superiores aos
níveis 075, 085, 095 e 105. Provavelmente isto acontece
devido ao efeito da circulação marítima-terrestre para
os períodos diurno e noturno. Quanto ao aspecto
direcional é semelhante ao comportamento noturno
para as estações de maior intensidade. Os picos têm
alternância para a primavera e inverno; neste caso os
picos diferem da média onde a predominância seria
acima do FL085.
CONCLUSÕES PARCIAIS: Sazonalmente, o inverno e
a primavera são as estações de maior representatividade
quanto ao aspecto comportamental do vento. Os
aeronavegantes devem observar a climatologia da
direção e velocidade do vento nestas estações para
otimizar o tempo de vôo, consumo de combustível
e a presença de jatos que podem causar turbulência
provocando problemas de segurança de vôo. As
missões militares devem observar estas estações para
definir o desempenho das aeronaves em vôo e melhores
períodos para realização das mesmas. Os resultados
ainda não são conclusivos, pois estão sendo finalizada
a localidade de Campo Grande, para os anos de 2005 a
2009, e os dados do primeiro semestre de 2009, para as
localidades de Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre.
235
236
Resumos
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Classificação dos Órgãos Operacionais
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de 01 nov.2001. Rio de Janeiro. (MCA 105-12).
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Aeronaves, de 01 mar 1990. Rio de Janeiro. (IMA 105-5).
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MACHADO, A. J. e M. A F. SILVA DIAS, 1990: Circulações Locais Durante o Experimento Meteorológico III do Projeto
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WALLACE, J.M., Atmospheric Science : An Introductory Survey Academic Press.Inc, 1977.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
COMO SE CONFIGURAM AS ATIVIDADES DA PRÁTICA DE ENSINO E DO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO NOS CURSOS DE LICENCIATURA EM GEOGRAFIA
NAS UNIVERSIDADES ESTADUAIS PARANAENSES DIANTE DAS REFORMULAÇÕES
CURRICULARES?
Wanda Terezinha Pacheco dos Santos - Universidade Estadual do Centro-Oeste
Maurício Compiani - Universidade Estadual de Campinas
Este trabalho faz parte das atividades desenvolvidas no âmbito do Projeto de Pesquisa “Operacionalização da
Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado nos cursos de licenciatura em Geografia nas universidades
estaduais paranaenses e paulistas diante das reformulações curriculares”, desenvolvido junto à Universidade
Estadual de Campinas – UNICAMP em 2008 e 2009. Tem como objetivo averiguar como os cursos de licenciatura
em Geografia das Universidades Públicas do Estado do Paraná, bem como das Universidades Públicas do
Estado de São Paulo – USP, UNESP e UNICAMP estão desenvolvendo (na prática) as atividades da Prática
de Ensino e do Estágio Supervisionado, considerando as exigências do CNE que delibera sobre a carga horária
de 800 horas para as referidas disciplinas, ou seja, a Resolução CNE/CP 2, DE 19 de fevereiro de 2002. Nesse
trabalho, em particular, estudamos as configurações da Prática de Ensino – prática como componente curricular
- e o Estágio Supervisionado dos cursos de licenciatura em Geografia das cinco universidades estaduais do
Paraná, a saber: Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, Universidade Estadual do Oeste do Paraná
– UNIOESTE, Universidade Estadual de Maringá – UEM, Universidade Estadual de Londrina – UEL e
Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Considerando que a ampliação significativa da carga
horária destinada à prática e ao estágio supervisionado decorrente da proposta das Diretrizes Curriculares para
a Formação de Professores da Educação Básica e para os Cursos de Geografia propuseram novas bases para
organização curricular e a exigência de se distribuir a formação de conteúdo pedagógico ao longo de todo o
curso, vem de encontro às necessidades que sempre se apontou nas discussões nos seminários, congressos e
encontros da área; interessava-nos sobremaneira averiguar como os cursos de licenciatura em Geografia dessas
universidades organizaram suas configurações da Prática de Ensino e do Estágio Supervisionado, a partir das
suas interpretações sobre a legislação atual para a formação de professores. Para tanto, desenvolvemos um
estudo de natureza qualitativa em que os dados foram extraídos de anotações em diário de campo, entrevistas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
semi-estruturadas e questionário de perguntas abertas
aos professores que trabalham com a Prática de Ensino
e Estágio Supervisionado. Buscamos complementação
através de alguns documentos como a legislação
referente à formação de professores, bem como os
projetos político-pedagógicos e as grades curriculares
dos cursos que nos foram enviados pelos coordenadores
e/ou professores ou através do acesso aos sítios das IES.
Os dados coletados nos permitiram analisar a
operacionalização dessas atividades nas cinco
universidades estaduais paranaenses. Pudemos observar
que duas delas (UNIOESTE e UEL) apresentam a carga
horária referente à prática como parte das disciplinas de
conteúdos específicos de sua grade curricular. Duas
(UEPG e UEM) buscaram distribuir a carga horária da
prática em disciplinas de conteúdos específicos e
conteúdos pedagógicos, além de criar espaços disciplinares
de prática de ensino e apenas uma (UNICENTRO)
apresenta a prática de ensino como disciplinas ao longo
do curso. Um ponto importante da pesquisa a ser
destacado é o entendimento da dimensão prática na
formação dos futuros professores em decorrência das
normativas legais, especialmente as Resoluções CNE/
CP 01/2002 e a CNE/CP 02/2002. Vale ressaltar que
apesar do aumento da carga horária de 800 horas
conforme a Res. CNE/CP 2, de 19 de fevereiro de 2002
trazer, em nosso entendimento, avanços no sentido de
dar uma identidade aos cursos de licenciatura, há
dificuldade de entendimento por parte dos professores
com o conceito de prática como componente curricular.
Constatamos que a idéia de prática foi interpretada pelas
universidades pesquisadas mais para atender as
necessidades de adequação de grade curricular do que à
formação dos futuros professores que atuarão na escola
básica. Entendemos que a prática de ensino não pode
ser uma prática qualquer nem pode ser confundida com
uma aula de campo de uma disciplina específica e
desvinculada da dimensão formativa da prática. Ou seja,
não aquela prática que se confunde com o estágio, mas
que vai além, que está presente em diferentes momentos
e com estratégias de contato com o dia-a-dia das escolas
de ensino básico. Não podemos perder de vista que por
estarmos tratando de um profissional específico, o
professor, as dimensões práticas trabalhadas em sua
formação devem ser aquelas próprias para sua atuação
no campo do ensino, no nosso caso, ensino de geografia.
E se essa inserção da prática não trouxer resultados de
uma análise crítica dos problemas enfrentados pelos
professores e alunos no cotidiano escolar, muito pouco
irá contribuir para a formação docente numa perspectiva
crítica. Quanto ao Estágio Supervisionado, de modo
geral, tem se constituído de forma burocrática e
valorizando as atividades de observação, participação e
regência sem a preocupação investigativa. Mesmo no
contexto atual e que tanto se discute sobre a pesquisa
no ensino, ela se apresenta ainda distante dos cursos de
licenciatura. No entanto, identificamos em alguns cursos
que a pesquisa é componente essencial do estágio,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
mesmo que as iniciativas sejam muito tímidas. Importante
ressaltar que a pesquisa seja na área da educação e no
“ensino de”, pois podem ser momentos privilegiados
de articulação teoria/prática e de problematização da
prática pedagógica e em razão disso, lugar de produção
do conhecimento. Também encontramos como atividade
do estágio, especificamente na UNICENTRO, o
desenvolvimento de projetos de intervenção na escola,
apesar de alguma resistência por parte dos professores
do ensino básico. Considerando nossa experiência com
estágio supervisionado, temos observado que muitos
dos professores do ensino básico – principalmente das
séries/anos finais do ensino fundamental e médio são
mais resistentes em trabalhar com projetos, pois dizem
que precisam “evitar que os pais reclamem” e tem de
“vencer os conteúdos do livro didático ou apostila”. A
nosso ver, esses projetos ao aproximar os estagiários
com os professores mais experientes podem representar
um papel formativo importante. Dessa forma, urgente
se faz repensar o espaço do estágio na estrutura dos
cursos de formação docente, que atualmente privilegia
a teoria em detrimento da prática. O ideal seria que nas
disciplinas (inclusive as de conteúdo específico) o
licenciando já tivesse contato com a escola, sempre
supervisionado pelos professores das disciplinas, pois
pensamos que, além da importância de vivenciar
diferentes atividades práticas durante sua formação
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
inicial, esse contato poderia auxiliar na mudança de
concepções de formadores de professores, com relação
à profissão docente. Percebemos que existe um
significativo esforço de alguns cursos no sentido de buscar
a melhoria da qualidade na licenciatura, entretanto,
continua “sendo um grande desafio incorporar aos
currículos o significativo aumento da carga horária de
Prática de Ensino e Estágio Supervisionado de 300 para
800 horas”. Apesar de as mudanças curriculares terem
sido relevantes, os dados analisados fornecem indícios de
que as transformações aconteceram mais no interior das
disciplinas e que existe uma lacuna entre o que a legislação
prescreve e o que realmente ocorre na prática. Assim, é
cada vez mais necessário fortalecer a idéia de um projeto
de formação no âmbito dos cursos, através de uma ampla
discussão envolvendo todos os professores da licenciatura
sobre o papel da prática de ensino e do estágio
supervisionado, principalmente para que haja clareza de
sua concepção, a partir das normativas legais, buscando
esclarecer que os desafios para melhoria dos cursos são
muito maiores que uma simples reforma curricular,
mudanças nas ementas, nos nomes e nas cargas horárias
das disciplinas. Resta dizer o que fica: as propostas estão
estabelecidas, mas não estão sendo concretizadas.
Palavras-chave: licenciatura; prática de ensino; estágio
supervisionado.
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240
Resumos
DA WEB DINÂMICA À WEB CONSTRUTIVA
Fausto Neri da Silva Vanin - UTP
As organizações atualmente vivem um processo de análise da utilização dos ambientes de Internet como meio
de interação com seu público-alvo. Em muitos casos, as organizações simplesmente detêm conteúdo informativo
descritivo em seus domínios e o fornecimento de outras maneiras de contato. Outras organizações já provêm
formas diretas de interação que vão desde simples formulários de contato a jogos online para divulgação de
suas marcas. Alguns ambientes corporativos promovem este modelo de interação provendo formas de avaliar
as experiências obtidas por seu usuário durante o seu acesso ao ambiente, o que permite a criação de estratégias
direcionadas ou a adaptação automática do conteúdo exibido. Estes ambientes são chamados ambientes de
hipermídia adaptativa e possuem nos ambientes educacionais grande parte do seu desenvolvimento. A utilização
deste tipo de ambiente permite a promoção das interações entre os usuários e a formação de uma massa crítica
que, no caso educacional, serve para avaliar o desempenho dos estudantes. Em um plano mais amplo, estes
dados servirão de material estratégico para estas corporações. Algumas destas corporações utilizam como
mecanismo para obtenção de dados desta natureza a pesquisa de opinião. Esta pesquisa geralmente é por um
profissional que interage com o respondente de forma síncrona (entrevista, telefonema) ou assíncrona
(questionário, teste). Alguns ambientes implementam esta pesquisa de forma digital, mas de forma desconectada
da mecânica principal do sítio. A manifestação conhecida como Web 2.0 promoveu mudanças tecnológicas e
culturais aos aplicativos de internet, onde o software tem deixado de ser um produto e se transformado em um
serviço, que proporcioname transformar a Internet em plataforma. Esta mudança estrutural acompanha
mudanças comportamentais nas corporações onde o conhecimento como patrimônio têm sido muito valorizado.
Implementar práticas empresariais sobre esta plataforma permite às corporações agilidade em atividades como:
• Comunicação interna; • Fluxo de trabalho; • Gestão de documentos; • Gestão de projetos; • Gestão de
conhecimento. Mudanças estruturais estas que também irão se refletir nos indivíduos envolvidos no processo.
O contato freqüente com a informação compartilhada, voltado aos empresariais ou não, promove a participação
deste indivíduo como agente de geração, modificação e disseminação do conhecimento. A Hipermídia Adaptativa
(HA) consiste no desenvolvimento de sistemas capazes de promover a adaptação de conteúdos e recursos
hipermídia, vindos de qualquer fonte (bancos de dados, Internet, serviços, etc.) e apresentados em qualquer
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
formato (texto, áudio, vídeo, etc.) ao perfil ou modelo
de seus usuários. Encontra aplicação em diversas áreas,
como educação, sistemas de informação, comércio
eletrônico, marketing, entre outros. Esta adaptação
compreende oferecer uma interface adaptada a cada
usuário, de acordo com a interpretação de dados
referentes a este. Divide-se basicamente a adaptação
em duas classes: - Apresentação Adaptativa: determinar
o que o usuário irá ver de forma criteriosa; - Navegação
Adaptativa: auxiliar o usuário a encontrar seus caminhos
no sistema hipermídia; - A arquitetura de um sistema
de HA é composta pelos seguintes elementos: - Base
de Modelos de Usuários (BMU): contém todos os
modelos de usuários pertinentes ao ambiente. Interface Adaptiva: apresenta o conteúdo de forma
seletiva e coleta dados do usuário para futuras
adaptações. - Fonte de Hipermídia: plataforma que irá
conter os recursos de hipermídia, como por exemplo
a Internet. O modelo de usuário (MU) em HA irá
conter os padrões descritivos de um elemento ou grupo
de elementos em um sistema de HA. Este modelo é
definido por uma série de estruturas de informação
composta pelos seguintes elementos: - Representação
dos objetivos, planos, preferências, tarefas e/ou
habilidades sobre um ou mais tipos de usuário; Representação de características comuns e relevantes
sobre usuários pertencentes a subgrupos ou estereótipos
específicos; - A classificação de um usuário em um ou
mais destes subgrupos ou estereótipos; - Gravação do
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
comportamento do usuário; - A formação de
considerações sobre o usuário baseado em seu histórico
de interação; e/ou - A generalização do histórico de
interação de um ou mais usuários em grupos. A criação
automática de MUs, em geral, é feita pela aplicação de
técnicas de aprendizagem de máquina, tanto as
supervisionadas quanto às não supervisionadas. Entre
as principais técnicas estão os algoritmos de k-médias,
SOM (Self-organizing Maps), agrupamentos difusos e
regras de associação entre as não supervisionadas.
Entre as supervisionadas foram as técnicas de árvores
de decisão, k-NN, redes neurais e SVM (Support Vector
Machines). Para decidir qual técnica utilizar para
modelar o conhecimento, faz-se necessário analisar
algumas situações: 1) Ter ou não dados rotulados; 2) o
tipo de avitidade a ser realizada (classificação ou
recomendação); 3) a necessidade ou não de representar
o conhecimento de uma forma que seja amigável ao
ser humano. A criação de padrões de dados que visem
robustez e interoperabilidade permite que dados
provenientes de aplicações distintas possam ser tratados
em diferentes contextos. Vários destes padrões são
baseados no formato de marcação XML (eXtensible
Markup Language) pela organização de dados e pela
ampla existência de aplicações para acesso à conteúdo
neste formato. O XAHM (XML-based Adaptive
Hypermedia Model). Este modelo permite descrever:
a) a estrutura lógica e conteúdos de um ambiente de
hipermídia adaptativa, definindo que partes deste
241
242
Resumos
ambiente devem ser adaptadas (o quê); e b) a lógica do
processo de adaptação, distinguindo a adaptação feita
por restrições tecnológica ou por características do
usuário (o quem). O ambiente é visto como um grafo
ponderado (dígrafo) em que os nós representam o
conteúdo e os links as arestas e os pesos das arestas
representam uma medida de correlação entre os nós.
O domínio da aplicação é modelado como um espaço
ortogonal composto por três dimensões:
Comportamento do usuário, ambiente externo
(localização, peculiaridades culturais, etc.) e tecnologia
(tipo de rede, velocidade de conexão, etc.). O SuML
(Survey Markup Language) que é uma aplicação XML
para representar questionários digitais. A linguagem
compõe uma suíte de desenvolvimento que também
incorpora uma biblioteca de programação para a
linguagem Perl e um conjunto de transformações XSL
(XML Stylesheet Language) para os questionários. A
linguagem suporta apenas questões de múltipla escolha
e prevê estruturas para armazenamento das perguntas
e também das respostas, sendo que a visualização dos
resultados deve ser feita pela utilização de XPath
(linguagem para inspeção de dados em arquivos XML)
para acessar os elementos contidos nos arquivos de
resposta. A linguagem também incorpora suporte para
a inclusão de elementos gráficos às questões. A
linguagem PMML (Predictive Model Markup Language)
já se tornou um padrão de mercado e tem sido
suportada por diversos aplicativos de Aprendizagem
de Máquina. Ela permite definir, além dos cabeçalhos
específicos de cada contexto, os dicionários de dados,
transformações de dados e a modelagem de conhecimento
que será utilizada, suportando diversas formas de
representação como Árvores de Decisão, Algorimtos de
Agrupamento, Redes Neurais, por exemplo. Esta
abrangência torna a linguagem muito útil a uma série de
contextos. Este trabalho descreve a criação de uma
plataforma para ambientes online que concentra os
diferentes conteúdos na forma de plug-ins, sendo que a
dinâmica de funcionamento do mecanismo de adaptação
é baseado em um modelo digital de pesquisa de opinião.
Este modelo utiliza o XML como base e visa a integração
com o ambiente de hipermídia adaptativa e a conformidade
com o padrão de dados PMML (Predictive Model
Markup Language) para a aplicação de algoritmos de
aprendizagem de máquina para a identificação dos
diferentes perfis dos usuários. Esta plataforma foi
desenvolvida visando coordenar três frentes distintas: 1)
módulos descritivos; 2) módulos interativos; e 3)
Sistemas Inteligentes. Os módulos intrativos contêm
estruturas estáticas de conteúdo, geralmente no formato
HTML. Os módulos interativos consistem nas
funcionalidades disponíveis no sítio e que estarão
disponíveis aos usuários. Os Sistemas Inteligentes são
parte integrante do mecanismo de adaptação do
ambiente e devem oferecer conformidade de padrões
com o PMML. O núcleo da infra-estrutura centraliza as
requisições de usuário operando de duas formas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
diferentes: síncrona e assíncrona. No formato síncrono
cada requisição consiste no envio de um arquivo
completo novo gerado pelo servidor. Já o formato
assíncrono permite atualizar seções diferentes de uma
página em momentos distintos, o que dá a percepção
de maior velocidade de desempenho ao usuário e aplica
a tecnologia AJAX (Asynchronous Javascript and XML).
Outro produto deste trabalho é um padrão para
representação de pesquisa de opinião que opera em três
camadas: pergunta, questionário e metadados. Esta
estrutura organizacional permite trabalhar os diferentes
níveis de representação da pesquisa agregando dados de
contexto mais abrangentes (metadados) e mais
específicos (pergunta). Este formato é lido para a infraestrutura criada por um plug-in específico. Esta forma
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de representação está em fase de conclusão e os
resultados até o momento mostram que a criação de
funcionalidades como serviços em uma estrutura bem
organizada permitem a criação de ambientes on-line em
que os modelos de interação funcionem de forma
transparente a outras funcionalidades existentes,
aumentando a produtividade e sinalizando positivamente
para a tendência de surgimento de redes de relacionamento
corporativas. Como trabalho futuro, resta avaliar a
representação dos dados coletados no ambiente como
base para aprendizagem e, futuramente, adaptação do
próprio ambiente.
Palavras-chave: sistemas inteligentes; desenvolvimento
web; hipermídia adaptativa.
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244
Resumos
MINERAÇÃO DE DADOS SOBRE DADOS CENSITÁRIOS
Deborah Ribeiro Carvalho
INTRODUÇÃO: A primeira contagem da população do Brasil foi realizada em 1872, ainda durante o Império,
mas foi a partir de 1890, já sob a República, que o Censo Demográfico se tornou decenal. A coleta do Censo
Demográfico 2000 mobilizou mais de 200 mil pessoas, em pesquisa a 54 265 618 domicílios nos 5 507
municípios existentes [3]. Esta pesquisa abrange a aplicação de processo de Descobrimento de Conhecimento
em Bases de Dados (Knowledge Discovery In Database - KDD) sobre a base censitária referente ao Estado
do Paraná (2000), mais especificamente considerando os municípios Doutor Ulysses, Paranaguá, Curitiba,
Quatro Barras. O critério de seleção destes se baseou em questões referentes à quantidade populacional e nível
de desenvolvimento. A justificativa para a realização deste experimento se deve ao fato do conjunto de dados
coletados, a partir do censo ser da ordem de centenas de variáveis, dificultando-lhe um melhor aproveitamento. O
processo KDD é composto de três etapas: Pré-processamento (preparação, limpeza, transformação dos dados),
Mineração dos Dados (descobrimento de padrões) e Pós-processamento (avaliação dos resultados obtidos).
Uma das dificuldades inerentes ao processo e Mineração de Dados pode ser a grande quantidade de padrões
descobertos. Como forma de minimizar este fato, são pesquisadas formas de identificar aqueles padrões com
maior potencial de serem interessantes.
METODOLOGIA: A forma de representação dos padrões descobertos por algoritmos de Mineração de Dados
pode ser bem distinta e dependendo do problema que se apresenta uma pode ser mais adequada que outra. No
caso da exploração dos dados censitários inicialmente se optou pelas Regras de Associação, a qual caracteriza o
quanto à presença de um conjunto de itens nos registros implica na presença de algum outro conjunto distinto
de itens nos mesmos registros [2]. De maneira simplificada, uma Regra de Associação pode ser compreendida
como uma regra do tipo <se> <então>, como por exemplo: <se> ainda pagando domicílio próprio <então>
não é domicílio carente (18.1%, 99.3%). O que significa dizer que para o município de Curitiba (2000), 18.1%
dos curitibanos ainda pagam domicílio próprio, dos quais 99.3% estão em domicílios não carentes. Para cada
regra gerada, são atribuídos dois percentuais: Suporte e Confiança, sendo o Suporte corresponde à probabilidade
do antecedente ocorrer <se> e a Confiança representa a probabilidade condicional do conseqüente <então>
ocorrer dado que o antecedente ocorreu. Para a descoberta das regras de associação, foi utilizado o algoritmo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Apriori como em [1]. Devido a Regra de Associação
possibilitar a associação entre conjuntos de itens em
uma base de dados, a quantidade de regras geradas pode
ser muito grande, o que dificulta a avaliação dos padrões
gerados, ou seja, piora a compreensibilidade das regras.
A partir dos padrões descobertos, estes foram avaliados
sob os seguintes critérios: compreensibilidade, precisão
e grau de interesse na avaliação desses resultados.
Para mensurar o grau de interesse foram utilizadas
cinco medidas objetivas: Coefficient, Cosine, Jaccard,
Pitetsky - Shapiro’s e Interest. Além de extrair
informações e descobrir regras de associação, atribuir
grau de interesse foram identificadas também regras
de exceção. É importante observar que uma regra de
exceção é uma especialização de uma regra de senso
comum (geral) e nega o conseqüente previsto por esta
regra. Esse método assume que regras de senso comum
representam padrões conhecidos pelo usuário, tendo
em vista que elas têm uma grande cobertura (suporte),
ao contrário das regras de exceção,
que em geral são desconhecidas, uma vez que são de
baixa cobertura. Assim, as regras de exceção tendem
a ser mais surpreendentes. Por exemplo, a regra “se
X, então Y” corresponde à regra geral, tendo como
exceção a regra “se (X e B), então (não) Y”.
Y ← X regra de senso comum (alta cobertura e alta
precisão).
¬ Y ← X, B regra de exceção (baixa cobertura, alta
precisão).
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RESULTADOS: A partir da base censitária foram
selecionadas as seguintes varáveis: Situação do Setor,
Tipo do Setor, Espécie, Tipo do Domicílio, Condição
do Domicílio, Condição do Terreno, Forma de
Abastecimento de Água, Tipo de Canalização, Existência
de Sanitário, Tipo de Escoadouro, Iluminação Elétrica,
Carência do Domicílio. A partir das bases preparadas,
foram descobertas regras de associação, as quais pósprocessadas, obtiveram-se os seguintes resultados:
Uma regra de associação é apresentada no seguinte
formato <então> ← <se> (suporte, confiança). Este
é o formato de saída do algoritmo Apriori, a leitura de
trás para frente, o qual decorre do fato deste algoritmo
apresentar regras com os antecedentes (<se>)
compostos por um ou mais itens de dados, enquanto
os conseqüentes (<então>) só apresentam um item
de dado. Os dois percentuais que se encontram entre
parênteses ao lado da regra representam o suporte e a
confiança. Para os moradores de Curitiba recenseados,
foi possível perceber que o padrão de destino do lixo
se altera dos serviços de coleta de lixo tradicionais para
o uso de caçambas para os moradores que têm valas
como forma de escoadouro sanitário ou outras formas
de abastecimento de água que não as usuais.
Regra Geral 1: Destino do lixo (serviço de limpeza) ←
Condição do domicílio (Outra) (1.6%, 78.3%)
Regras de Exceção em relação à Regra Geral 1:
Destino do lixo (caçambas) ← Área (urbanizada) Setor
(Comum) Escoadouro (Vala) Condição do domicilio
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246
Resumos
(Outra) (0.1%, 60.3%)
Destino do lixo (caçambas) ← Forma de abastecimento
(Outra) Condição do domicílio (Outra) (0.1%, 62.9%)
Na busca por padrões referentes a domicílios não
carentes e carentes, para os quatro municípios
investigados, foram identificadas exceções apenas para
os municípios de Quatro Barras e Doutor Ulysses.
Para Curitiba e Paranaguá, nas mesmas condições de
filtro para suporte e confiança, não foram descobertos
grupos de regras (geral versus sua respectiva exceção).
Considerando Quatro Barras, em geral os indivíduos que
residem em domicílios particulares permanentes não
vivem em domicílios ditos carentes (Regra Geral 2). As
exceções surgem quando na mesma espécie de domicílio
combinada com setor rural ou queima de lixo, etc., esta
situação esta associada agora a domicílio carente (Regra
de Exceção em relação à Regra Geral 2).
Regra Geral 2: domicilio_carente_não ← Espécie
(Particular Permanente) (99.1%, 84.5%)
Regra de Exceção em relação à Regra Geral 2:
domicilio_carente_sim ← Espécie (Particular
Permanente) Condição domicilio (Outra) Situação
setor (Rural) (2.6%, 83.3%)
domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular
Permanente) Lixo (Queimado) Condição domicilio
(Outra) (2.2%, 100.0%)
domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular
Permanente) Água (Poço) Condição domicilio (Outra)
(2.2%, 100.0%)
domicilio_carente_ sim ← Espécie (Particular Permanente)
Terreno (Cedido) (2.2%, 80.0%)
Considerando Doutor Ulysses em geral os indivíduos
que residem em domicílios em terrenos cedidos e usando
escoadouro em fossa rudimentar não vivem em domicílios
ditos carentes (Regra Geral 3). As exceções surgem
quando na mesma combinação de fatores combinada
com lixo, sendo eliminado a partir de terreno baldio, esta
situação está associada agora a domicílio carente (Regra
de Exceção em relação à Regra Geral 3).
Re g r a G e r a l 3 : d o m i c i l i o _ c a r e n t e _ n ã o ←
Terreno(Cedido) Escoadouro (Fossa rudimentar)
(8.1%, 80.8%)
Regra de Exceção em relação à Regra Geral 3:
domicilio_carente_ sim ← Ter reno(Cedido)
Escoadouro (Fossa rudimentar) Lixo (Terreno Baldio)
(1.6%, 80.0%)
Para os moradores de Doutor Ulysses a regra
considerada mais interessante (dentre as 12.000
regras descobertas) conforme as medidas de interesse
adotadas são apresentadas a seguir.
Coefficient: Espécie (Particular Permanente) ←
Iluminação (sim) (67.5%, 98.6%) – (4240.68)
Cosine: Setor (Comum) ← Espécie (Particular
Permanente) (97.2%, 100.0%) – (0.99)
Jaccard: Tipo (Casa) ← Especie (Particular Permamente)
(97.2%, 98.1%) – (0.98)
Pitetsky - Shapiro’s: Situação (Urbana) ← Lixo (serviço
de limpeza) domicilio_carente (sim) Espécie (Particular
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Permamente) (1.3%, 100.0%) – (-3.55)
Interest: Situação (Urbana) ← Lixo (serviço de
limpeza) domicilio_carente (sim) Espécie (Particular
Permanente) (1.6%, 100.0%) – (0.02) Percebe-se
que apenas as medidas Pitetsky - Shapiro’s e Interest
ranquearam como sendo as regras mais interessantes
aquelas que envolvem relações considerando o status
do domicilio (carente ou não). É senso comum que não
existe uma ou mais medidas que sempre ranqueiam em
primeiro lugar as regras com maior potencial de serem
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de fato interessantes ao gestor-usuário.
CONCLUSÃO: Várias são as potencialidades de uma
base de dados no apoio ao processo decisório, basta
que o profissional de Tecnologia de Informação tenha
a sensibilidade de perceber a sua indicação, bem como
os respectivos riscos e benefícios existentes a partir da
sua adoção.
Palavras-chave: mineração de dados; pós-processamento;
regras de associação.
247
248
Resumos
REFERÊNCIAS
[1] Borgelt, C. Working Group Neural Networks and Fuzzy Systems, Departament of knowledge Processing and Language
Engineering. Otto-von-Guericke-University of Magdeburg, Alemanha. Disponível em: http://www-ics.cs.uni-magdeburg.
de/iws.html Acesso em: 05 jun. 2004
[2] Agrawal, R., Srikant, R. Fast algorithms for mining association rules. In Jorge B. Bocca, Matthias Jarke, and Carlo Zaniolo,
editors, Proceedings of Twentieth International Conference on Very Large Data Bases, VLDB, pages 487–499, 1994.
[3] IBGE. Censo Demográfico 2000 – Documentação dos microdados da Amostra. 150p. 2000.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REPRESENTAÇÕES DINÂMICAS APLICADAS EM PROBLEMAS MÉTRICOS - UMA
CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Jorge Bernard - UTP
INTRODUÇÃO: A Geometria é a área da Matemática que mais tem se beneficiado com o uso do computador.
Para aprender, é importante que o aluno descubra fazendo as operações necessárias para solucionar os
problemas propostos. O presente trabalho apresenta diversos cenários utilizando o software de geometria
dinâmica Cabri-Géomètre como ferramenta para o ensino e a aprendizagem da Matemática nos Cursos de
Engenharia da Universidade Tuiuti do Paraná. Observamos que o mesmo vem ao encontro dos Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino, que propõem enfaticamente a contextualização, a interdisciplinaridade e o
uso de recursos tecnológicos. As situações aqui abordadas quando representadas estaticamente são de difícil
visualização e interpretação. Qualquer atividade nesse ambiente computacional deve ser complementada por
uma discussão na qual buscamos significados para as construções geométricas. Observou-se que a utilização de
representações dinâmicas no ensino de engenharia permite: modelar fenômenos, testar e refutar conjecturas,
estimular a aprendizagem contextualizada e interdisciplinar, auxiliar na validação de teoremas e sem dúvida
atuar como agente de motivação e desenvolvimento do raciocínio lógico.
OBJETIVOS: a. Participar de forma fundamentada com uma contribuição ao processo de ensino e aprendizagem
da Matemática e de sua integração nas conexões entre o sistema escolar e social na área da Matemática; b.
Construir cenários, incorporando instrumentos tecnológicos ao ensino da Geometria, o que servirá como forma
de perturbação dos alunos e proporcionará um enfoque construtivista ao processo de ensino e aprendizagem;
c. Conduzir o aluno a resolver problemas geométricos por um enfoque que lhe permita conjecturar, provar,
justificar, modelar, experimentar, exemplificar, generalizar e verificar; d. Utilizar a geometria intuitiva e a
dedutiva que devem juntas contribuir para o aprimoramento do processo de aprendizagem em Matemática,
não meramente pela ilustração geométrica, mas, sobretudo, pela validação da construção numa dada Teoria
Geométrica; e. Possibilitar as soluções gráficas e analíticas simultâneas em tempo real.
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS: Nesta pesquisa, mostramos a possibilidade da obtenção de áreas e volumes
de poliedros irregulares no espaço em tempo real. Os poliedros podem ser definidos como um conjunto de
polígonos (faces) tais que cada lado de uma face pertence sempre a duas faces. Aresta de um poliedro é o lado
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
comum a dois polígonos das faces. Vértice de um
poliedro é o ponto comum às arestas do poliedro.
Os poliedros podem ser classificados em regulares,
semi-regulares, multiformes e irregulares. O poliedro
irregular é todo poliedro que não admite uma lei de
geração. O volume de um poliedro é a quantidade
de espaço que ele ocupa. Conhecendo a posição
dos vértices de qualquer poliedro podemos obter
seu volume por cálculo vetorial. Para isto, dividimos
o poliedro em tetraedros irregulares e efetuamos o
somatório dos volumes parciais. O procedimento
é o mesmo utilizado no cálculo de áreas de figuras
planas onde dividimos um polígono de n lados em
(n - 2) triângulos. Pelo cálculo analítico o volume de
um tetraedro é dado por uma sexta parte do módulo
do produto misto dos vetores representados por três
arestas concorrentes deste sólido
ou
ainda por diferença de pontos V= 1/6 (B-A) X(C-A).
(D-A)|, onde A, B, C, D são vértices do tetraedro.
Podemos representar os vetores por triplas e neste
caso teremos:
cálculo on-line, acrescentamos um novo sistema de
coordenadas para permitir uma representação em três
dimensões. Arbitramos um eixo x bissetriz dos eixos
y e z, com um coeficiente de redução de 0,5 conforme
recomendam as Normas Técnicas. A obtenção das
triplas é feita pela translação da origem do sistema de
coordenadas segundo os vetores das arestas.
RESULTADOS ESPERADOS E ALCANÇADOS:
Área de polígonos no plano de referência em tempo
real. Na caixa de ferramentas do Cabri-Géomètre II
se obtém a área de polígonos e de algumas superfícies
planas. A área de um triângulo no espaço pode ser
calculada pela interpretação geométrica do módulo
do produto externo de dois vetores. Para o cálculo da
área de um triângulo no plano de referência, podemos
utilizar o volume de um paralelepípedo de altura
unitária com base no triângulo transladado para a
origem do sistema de coordenadas. Neste caso, teremos
os vetores
e a área do triângulo será igual a metade do módulo do
produto misto. Exemplo:
Extrapolando do plano para o espaço, o número de
tetraedros T será igual ao número de vértices V do
poliedro mais o número de vetores diagonais internas
D menos três ou (T = V + D - 3). As resoluções
apresentadas neste artigo foram elaboradas utilizando
o software Cabri-Géomètre. Para efetuarmos o
O procedimento a seguir tem por objetivo a
determinação da área do polígono no Cabri por cálculo
vetorial, o que poderá ser extrapolado para figuras
do espaço: 1º) Construa um sistema de coordenadas
ortogonais. 2º) Crie, a seguir, um polígono qualquer
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de vértices 01234... Ao mover estes pontos a área
do polígono se altera. A figura abaixo criada como
exemplo é um pentágono. 3º) Por um vértice 0 do
polígono construa vetores unindo aos seus outros
vértices: (1-0), (2-0), (3-0) e (4-0)... 4º) Transporte
por meio de uma translação os vetores para a origem
das coordenadas. As coordenadas das extremidades
dos vetores obtidos definem os mesmos: (X1, Y1),
(X2, Y2), (X3, Y3), (X4, Y4)... 5º) Abra a ferramenta
calculadora e obtenha a área S utilizando a fórmula da
Geometria Analítica: S=1/2[|(X1. Y2-X2. Y1)|+|(X2.
Y3-X3. Y2)|+ |(X3. Y4-X4. Y3)|].
1. Área de um triângulo no espaço em tempo real:
Dado o triângulo ABC, podemos calcular sua área
por Pitágoras (S²=S’²+S”²+S”’²), Projeções de Monge
(métodos geométricos de rebatimento, rotação e
mudança de planos), Lados
(
Vetores, e outros métodos gráficos ou analíticos. Por
Vetores teremos: SABC=
onde
vem que
SABC=1/2
Para a obtenção da área em tempo real efetuamos uma
Macro Construção. 2. Volume de poliedros em tempo
real utilizando cálculo vetorial Podemos interpretar
de forma geométrica que três vetores não coplanares
representam arestas de um paralelepípedo. Sabe-se
da geometria espacial que o produto misto destes
vetores representa o volume deste paralelepípedo. O
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
volume de um tetraedro é uma sexta parte do volume
de um paralelepípedo. Quatro vértices não coplanares
podem representar um tetraedro. Cada vértice a mais
poderá representar mais um tetraedro. No caso de
um prisma de base triangular, teremos três tetraedros
(T=V+D-3 onde T=6+0-3=3). O somatório dos
volumes dos tetraedros dará o volume do poliedro.
Um dos procedimentos para a obtenção do volume
do poliedro é a seguinte: 1º) Construa um sistema de
coordenadas ortogonais x0-y0. Encontre a interseção
da bissetriz de x0-y0 com a circunferência de centro
na origem das coordenadas e raio unitário. Encontre
o ponto médio entre este ponto e a origem. Com a
ferramenta, novos eixos, crie os novos eixos x1-y1.
Teremos em perspectiva cavaleira modificada um
triedro tri-retângulo ortogonal xyz onde x=x1, y=y1 e
z=y0. No espaço, a representação de figuras é definida
no mínimo por duas projeções. 2º) Crie, a seguir, um
poliedro qualquer de vértices (VABCD). Ao mover
estes pontos o volume do poliedro se altera. A figura
abaixo criada como exemplo é um poliedro com V= 5
(vértices), F= 6 (faces) e A= 9 (arestas) que confirma a
fórmula de Euler. Temos que V+F=A+2 ou 5+6=9+2.
Podemos observar que não se trata de uma pirâmide,
pois os pontos ABCD são arbitrários e não coplanares.
3º) Como temos cinco vértices, teremos dois tetraedros
T=V+D-3=5+0-3=2. Escolhemos um vértice V do
poliedro e unimos aos demais por vetores obtendo
os tetraedros (VABC) e (VCDA). Este procedimento
251
252
Resumos
deve ser feito nas duas projeções. 4º) Transporte por
meio de uma translação os vetores para a origem das
coordenadas. As coordenadas das extremidades dos
vetores obtidos definem os mesmos:
O volume total será dado pela soma dos volumes dos
tetraedros V=V1+V2.
3. Área de polígonos no espaço pela generalização do
teorema de Pitágoras. Podemos obter a área de figuras
planas do espaço pela aplicação do teorema de Pitágoras
cujo enunciado diz que: “O quadrado da área de um
triângulo ou de uma figura plana qualquer é igual à
soma dos quadrados das áreas dos triângulos projetados
ortogonalmente sobre um triedro tri-retângulo ortogonal”.
Temos que S2=S’2+S”2+S”’2. Neste estudo, vamos
apresentar o cálculo das áreas de diversas superfícies
comparando o rebatimento com Pitágoras e observando
que chegamos aos mesmos resultados.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste trabalho,
constatou-se que a geometria dinâmica pode promover
a ligação entre a álgebra e a geometria e contribuir
significativamente para a aprendizagem em matemática.
Os resultados obtidos on-line permitiram concluir
que o enfoque computacional, proporcionado pela
geometria dinâmica, configura-se como uma alternativa
didática para o processo de ensino-aprendizagem da
matemática e sem dúvida atua como agente de motivação
e desenvolvimento do raciocínio lógico-espacial.
Palavras-chave: ensino; aprendizagem; tecnologia
educacional; matemática.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
SISTEMA DE VIDEOCONFERÊNCIA E MONITORAMENTO BASEADO EM
SISTEMAS ABERTOS: ESTUDO DE CASO
Roberto Amaral
Mauro Sérgio Vosgrau do Valle
Leonardo Marques Teixeira
O uso da internet como meio de comunicação entre pessoas e sistemas é bastante comum nos dias de hoje.
Seu uso facilita e diversifica as formas de disseminação do conhecimento entre seus usuários. O projeto, ora
apresentado, visa demonstrar as etapas envolvidas na criação de um ambiente para videoconferência capaz de
dar suporte a futuros desenvolvimentos em áreas afins - vídeoaula, monitoramento, entre outras.
INTRODUÇÃO: Uma grande revolução vem lentamente modificando o homem e sua maneira de interagir
com seu meio ambiente. Os avanços obtidos pelo uso do computador e suas redes permitem que novos
paradigmas sejam propostos, desenvolvidos e implementados dentro de uma nova filosofia. O uso de técnicas
inovadoras facilita a vida do ser humano que acaba pagando o preço de uma dependência crescente destas
inovações. A Internet vem sendo utilizada, cada vez mais, como forma de integração entre pessoas e sistemas,
permitindo a comunicação de forma bastante inovadora e eficiente. Esforços vêm sendo aplicados no sentido
de aproveitar e diversificar o uso da infraestrutura disponível na Internet, pela significativa redução de custos de
implantação e operação de novos serviços, pois este é um campo fértil para a proposição de novos paradigmas.
A popularidade da tecnologia VoIP, por exemplo, é um resultado típico desta busca. Esta técnica permite que
uma ligação telefônica seja estabelecida através da Internet com custos reduzidos se comparados com formas
tradicionais para o mesmo tipo de serviço. A grande rede facilita e diversifica as formas de comunicação entre
seus usuários. Entretanto, alguns serviços poderiam ser melhor explorados, diversificando ainda mais as formas
de disseminação do conhecimento pela rede. O uso dos serviços eletrônicos de videoconferência, vídeoaula
ou o monitoramento de um ambiente poderiam ser melhor aproveitados se soluções técnicas de baixo custo
estivessem disponíveis. O serviço de vídeo aula, por exemplo, beneficiaria professores e alunos, disponibilizando
conteúdos para consulta a qualquer momento.
OBJETIVOS: A busca por uma solução de baixo custo deve seguir duas linhas bem definidas. A determinação das
especificidades dos elementos de hardware (câmeras, microcomputadores, etc.) menos onerosos e, principalmente,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
na pesquisa por aplicações (softwares), para o
processamento de imagem e som, monitoramento
e controle, baseadas nas soluções disponíveis em
software livre e de código aberto. Com base nestas
premissas, vislumbrou-se a proposição do estudo
de uma ferramenta capaz de auxiliar as relações
de ensino e aprendizagem com o uso das soluções
em rede. Para que esse estudo possa ser realizado
um ambiente de testes para videoconferência foi
idealizado e implementado parcialmente. Por se
tratar de uma área do conhecimento pouco explorada
futuras implementações deverão ser realizadas
de acordo com novas funcionalidades que serão
acrescidas. O laboratório de testes possibilita futuros
desenvolvimentos nas áreas de videoconferência,
vídeoaula, entre outras.
MATERIAL E MÉTODOS: Software livre, segundo
a definição criada pela Free Software Foundation
(http://www.fsf.org/) é qualquer programa de
computador que pode ser usado, copiado, estudado e
redistribuído com algumas restrições. A liberdade de
tais diretrizes é central ao conceito, o qual se opõe ao
conceito de software proprietário, mas não ao software
que é vendido almejando lucro (software comercial).
A maneira usual de distribuição de software livre é
anexar a este uma licença de software livre, e tornar
o código fonte do programa disponível para consulta
[7]. Videoconferência [3] é uma discussão que permite
o contato visual e sonoro entre pessoas que estão
em lugares diferentes, dando a sensação de que os
interlocutores encontram-se no mesmo local. Permite
não só a comunicação entre um grupo, mas também
a comunicação pessoa-a-pessoa. Essa comunicação
é feita em tempo real e existem vários sistemas
interpessoais de videoconferência que possibilitam isso.
Além da transmissão simultânea de áudio e vídeo, esses
sistemas oferecem ainda recursos de cooperação entre
os usuários, compartilhando informações e materiais de
trabalho [3]. Um ambiente comum de videoconferência
é composto de uma sala dotada de uma câmera especial
e alguma facilidade tecnológica para a apresentação
de documentos. Atualmente, com o avanço dos
processadores (cada vez mais rápidos) e a compressão
de dados, surgiu um novo tipo de videoconferência,
a conferência desktop. Nela não são necessárias salas
especiais ou equipamentos ultramodernos: a interação
é feita por uma webcam e um microfone simples. O
processamento das imagens e sons é efetuado por
software que deve estar instalado em uma máquina
padrão [8]. Os softwares atuais para videoconferência e
monitoramento de ambiente são, na maioria das vezes,
aplicativos protegidos por contratos de licença de custo
elevado e dificilmente de código aberto. Adaptar as
soluções existentes para aplicações específicas pode
ser trabalhoso, caro e, quase sempre, com resultados
insatisfatórios. Portanto, o estudo e a implementação de
um ambiente de estudos e desenvolvimentos nesta área
permite encontrar soluções mais criativas, desafiadoras
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
e proprietárias. Diversas são as aplicações em software
livre de código aberto que podem ser trabalhadas
e adequadas para situações específicas. Com base
nestes princípios, reuniu-se uma infraestrutura básica,
utilizando componentes de baixo custo e baseado
em software livre, capaz de servir como laboratório
para adaptação e ajuste em aplicações finais. Um
ambiente para monitoramento e videoconferência
deve ser capaz de coletar dados de som e imagem em
um determinado ponto e disponibilizá-los em rede.
Figura. 1) Esquema do sistema de coleta e distribuição de dados.
A infraestrutura concebida é composta por câmeras,
capazes de captar informações, conectadas a um
computador que gerencia os dados coletados
transmitindo-os em rede. A figura 1 apresenta, de
forma genérica, os itens que compõe o sistema de
coleta e distribuição de dados. O sistema criado
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
é composto por câmeras conectadas, via rádio ou
USB, com microcomputadores ligados em rede. Os
microcomputadores têm como missão o gerenciamento
do fluxo de dados (imagens, sons e controle) para
a rede e permitir que parâmetros da câmera, como
foco e posição, possam ser manipulados. Entretanto,
para melhor aproveitamento desta infraestrutura
e consequente aumento da eficiência na interação
entre as partes envolvidas (cliente/servidor), o uso
de câmeras estáticas foi desconsiderado. Buscou-se
uma solução que pudesse permitir um grau maior de
liberdade quanto ao seu posicionamento. Um operador,
local ou remoto, deveria ser capaz de manipular o
posicionamento da câmera e o foco de interesse. Foram
elaborados estudos no sentido de integrar as câmeras
com dispositivos robotizados que permitissem esta
manipulação (figura 2). A primeira implementação, um
braço robótico, permite que uma pequena webcam seja
movimentada e controlada por uma conexão de rede
remota. Usuários podem operar seu posicionamento
em qualquer lugar do mundo, se conectados na internet.
A segunda implementação é composta por um veículo
com controle remoto disposto sobre trilhos de alumínio
podendo percorrer toda a extensão do laboratório.
Sobre este equipamento fica disposta uma câmera que
transmite em tempo real, para o servidor de câmera,
através de uma comunicação por rádio. Esta segunda
solução também deve ser controlada remotamente
pela rede.
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256
Resumos
Figura. 2) Sistemas robóticos implementados.
Com o apoio da infraestrutura implantada no laboratório
de redes (GERDS - Grupo Interdisciplinar de Redes de
Computadores e Sistemas Distribuídos - http://gerds.
utp.br/) a integração entre o hardware (robôs, câmeras,
etc.) e a rede foi concluída. Algumas funcionalidades já
apresentam resultados e podem ser testadas na página
do GERDS no link “Câmera III (IP)” (figura 3). A
Figura. 3) Página inicial do portal GERDS (http://gerds.utp.br).
página do GERDS permite a visualização, em tempo
real, do ambiente do laboratório por duas webcam
‘s distintas. Esta infraestrutura está sendo utilizada
na pesquisa do controle de qualidade para o fluxo
de dados pela rede. Em um ambiente interno ao
laboratório, servidores de EAD permitem estudos
para a integração das imagens captadas em vídeo aulas
e, futuramente, os dispositivos robóticos (figura 2)
poderão ser controlados pelo site do GERDS.
CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS: As
soluções de baixo custo encontradas na implementação
desta primeira etapa mostraram que é possível criar
um ambiente capaz de disseminar imagens e sons
pela rede. Entretanto, a próxima fase, composta
pela pesquisa e implantação por soluções em
software livre ([4] e [5]) capazes de dar suporte as
aplicações de interesse, deverá concluir o esforço
em atingir os objetivos propostos com a integração
do hardware com as aplicações de videoconferência
e monitoramento. Ao longo destes estudos novos
benefícios estão sendo atingidos motivando alunos
a explorar e desenvolver habilidades ligadas à
robótica e trazendo conhecimentos nas áreas de
controle de dispositivos, além da oferta de vaga para
iniciação científica gerando temas para projetos de
graduação.
Palavras-Chave: videoconferência, monitoramento,
software livre, Linux.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
[1] BISHOP, O. (2007). “The Robot Builder’s Cookbook”. Elsevier Ltd.
[2] ANGELES J. (2007). “Fundamentals of Robotic Mechanical Systems Theory, Methods, and Algorithms”. Third
Edition. Springer
[3] Videoconferência (online). Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Videoconferência (17 ago. 2009)
[4] Openmeetings Open-Source Web-Conferencing (online). Disponível em: http://code.google.com/p/openmeetings/
(17 ago. 2009)
[5] Red5 : Open Source Flash Server (online). Disponível em:
http://osflash.org/red5 (17 ago. 2009)
[6] Videoconferencing (online). Disponível em:
http://en.wikipedia.org/wiki/Videoconferencing (17 ago. 2009)
[7] Software Livre (online) Disponível em:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Software_livre (20 out. 2009)
[8] Mára Lúcia Fernandes Carneiro. “VIDEOCONFERÊNCIA Ambiente para educação á distância” (online) Disponível
em: http://penta.ufrgs.br/pgie/workshop/mara.htm (20 out. 2009)
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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258
Resumos
UMA METODOLOGIA DEA PARA AVALIAR VARIÁVEIS LIMITADA S NA
AGRICULTURA
Paulo Cesar Tavares de Souza - UTP
INTRODUÇÃO: Nos últimos tempos, tem se observado uma profissionalização cada vez maior no setor
agropecuário. Novas tecnologias são criadas e aplicadas no campo. Porém a influência do clima e dos índices de
precipitação pluviométrica são fatores fundamentais para o desenvolvimento da agropecuária, possibilitando um
melhor desempenho tanto da agricultura quanto da pecuária. O problema é que estas variáveis não podem ser
controladas pelo produtor, bem como tem um fator limitante, inferior e superior, para um melhor desempenho da
unidade de produção agrícola. A publicação do modelo CCR por Abraham Charnes, William Cooper e Edward
Rhodes (CHARNES et al., 1978) é reconhecida como o nascimento dos modelos de Análise de Envoltória de
Dados (Data Envelopment Analysis –DEA), que permite determinar a eficiência de uma unidade produtiva
comparativamente às demais, considerando-se os múltiplos insumos utilizados e os múltiplos produtos gerados.
Neste trabalho, irá se procurar uma metodologia DEA que permita avaliar o desempenho produtivo, bem como
comparar com técnicas utilizadas atualmente na avaliação da agricultura, considerando variáveis que não podem
ser controladas bem como variáveis que possuam fatores limitantes.
OBJETIVOS: Este projeto de pesquisa tem por objetivo determinar uma metodologia, baseada em DEA - Data
Envelopment Analysis, que possibilite a avaliação da eficiência técnica de produtores rurais considerando variáveis
limitadas e incontroláveis, tais como o clima e os índices de precipitação pluviométrica. Além deste fato, também
iremos comparar esta metodologia com métodos utilizados pelos institutos de pesquisa agropecuária.
ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: No desenvolvimento desta pesquisa foi realizada uma revisão
bibliográfica dos Modelos DEA, que permitem a avaliação da Eficiência Técnica relativa de um conjunto de
produtores, além de observar os Modelos Agrometeorológicos, com destaque aos modelos que avaliam a
produtividade do agronegócio, considerando variáveis como o clima e os índices de precipitação pluviométrica,
variáveis estas que são limitadas e incontroláveis. Segundo a pesquisadora da EMBRAPA, Eliane Gonçalves
Gomes (2008), a modelagem por DEA tornou-se popular na avaliação de eficiência, tanto no desenvolvimento
de modelos teóricos quanto nas aplicações a casos reais. A rápida evolução da modelagem DEA, tanto em seus
aspectos teóricos quanto em sua aplicação a casos de estudo reais, pode ser comprovada pela grande quantidade
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de artigos publicados. Uma das aplicações de destaque
é na agricultura e na pecuária. Assim, neste momento,
do desenvolvimento da pesquisa, priorizamos a
revisão bibliográfica, com o intuito de ilustrar alguns
dos conceitos utilizados no setor rural na avaliação
da produtividade e da eficiência técnica relativa de
um conjunto de produtores. Iniciamos com uma
Revisão Bibliográfica dos primeiros Modelos DEA, os
modelos CCR (com Retornos Constantes de Escala)
e BCC (com Retornos Variáveis de Escala), além de
suas aplicações e variações, alem de pesquisar sobre
os Modelos Agrometeorológicos, buscando subsidios
iniciais para a nossa Pesquisa. Deste modo, pode-se
dizer que, nossa pesquisa se iniciou em duas frentes
de trabalho: o estudo dos modelos DEA e o estudo
dos Modelos Agrometeorológicos. Além dos Modelos
DEA clássicos (CCR e BCC), aprofundamos nossa
análise outras variações do Modelo DEA, tais como os
Modelos DEA difusos (FUZZY DEA), com o objetivo
de resolver os problemas de variáveis limitadas. Esta
fronteira é necessária em situações nas quais algumas
variáveis apresentam um certo grau de incerteza na
medição, sem que se assuma que os valores obedecem
a alguma distribuição de probabilidade. As Medidas
DEA completas somente apareceram na literatura
científica nesta última década. Duas delas destacamse pela originalidade de sua concepção e facilidade de
operacionalização: a Medida Baseada em Folgas (SBM)
e a Medida Ajustada por Amplitude (RAM). Com
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
relação aos modelos agrometeorológicos, que buscam
a interpretação de dados climáticos relacionados com
o crescimento, desenvolvimento e produtividade das
culturas fornecendo informações para o gerenciamento
do Agronegócio, cabe destaque as análises de alguns
artigos que buscavam a interpretação os dados
climáticos bem como a influência do clima e dos
níveis de água necessários para o desenvolvimento
das colheitas em cada fase do seu desenvolvimento.
Os níveis de temperatura e precipitação pluviométrica
são dois dos principais fatores que influenciam no
desenvolvimento da agropecuária. Por volta de 1735,
Reaumur, na França, foram realizados os primeiros
estudos que relacionavam a temperatura do ar e o
desenvolvimento vegetal, quando foi observado que o
somatório da temperatura era praticamente constante
durante o ciclo de desenvolvimento de várias espécies
em diferentes anos (Pereira et al., 2002). Deste modo,
foi desenvolvido o conceito de Graus-dia, que se baseia
no fato de que existem duas temperaturas base, uma
mínima e outra máxima, entre as quais a planta tem
pleno desenvolvimento. Fora desse intervalo, ou a planta
não se desenvolve ou o faz em taxas muito reduzidas
(Pereira et al., 2002). Assim, a temperatura pode ser
considerada como um importante fator de controle no
desenvolvimento vegetal e com grande influência na sua
distribuição geográfica. Calve et al, 2005, descreve que
a teoria dos graus-dia pode ser utilizada, na estimativa
dos ciclos das culturas, previsão de data de colheita
259
260
Resumos
e, principalmente, no zoneamento agrícola, fazendo
com que este último deixe de ser estático e passe a
ser dinâmico. Tem se observado constantemente, nos
meios de comunicação, as conseqüências de situações
meteorológicas adversas, que levam constantemente
a graves impactos ambientais e sociais, acarretando
prejuízos econômicos significativos que podem ser
difíceis de serem quantificados. As variações climáticas
afetam quaisquer regiões e mesmo nos países mais
desenvolvidos, com uma maior disponibilidade de
recursos tecnológicos, sendo capaz de produzir enormes
danos econômicos e sociais. O estudo das relações
entre o clima e a produção agrícola é um os principais
campos da climatologia e tem por finalidade explicar
as influências dos efeitos climáticos em nosso meio,
fornecendo subsídios ao planejamento rural (Calve et
al, 2005). Quando o objetivo do estudo é de conhecer
a influência dos fatores climáticos no rendimento
dos cultivos, mais especificamente, no sentido de
desenvolver metodologias, estratégias e técnicas que
permitam aos sistemas de produção agrícola atenuar
as influências de adversidades climáticas sobre o
rendimento de cultivos, caracteriza-se uma linha de
pesquisa específica da climatologia, a agrometeorologia.
Os modelos Agrometeorológicos e a interpretação
de dados climáticos relacionados com o crescimento,
desenvolvimento e produtividade das culturas fornecem
informações que permitem ao setor agrícola tomar
importantes decisões, tais como: melhor planejamento
do uso do solo, adaptação de culturas, monitoramento
e previsão de safras, controle de pragas e doenças
estratégias de pesquisa e planejamento (Lazinski,
1993). Se os processos de organização agrícola afetam
negativamente o quadro ecológico, qualquer evento
climático fora dos padrões habituais é capaz de deflagrar
uma reação em cadeia que não afeta somente a produção
agrícola, como danifica o ambiente. Ao mesmo tempo,
o descompasso entre os benefícios econômicos e seu
retorno social, ao impacto de qualquer risco eventual,
expõe a fragilidade da organização social (Monteiro,
1981). Estudos desenvolvidos, baseados nas indicações
do IPCC (2001), indicam que significativas perdas na
agricultura ocorrerão caso as perspectivas de mudanças
climáticas venham a se configurar. Mudanças estas
que compreendem desde as variações consideradas
naturais do regime climático até as aceleradas alterações
antrópicas. No Brasil, grande produtor de soja, deve
ter a sua produção comprometida, caso a hipótese de
mudanças climáticas se configure o que deve provocar a
migração das áreas de plantio e uma reorganização das
atividades agrícolas. A variabilidade climática sempre foi
um dos principais fatores na determinação dos riscos
às atividades agrícolas, o que ressalta a importância do
aperfeiçoamento e desenvolvimento de projetos desta
natureza (Assad, 2005).
RESULTADOS ESPERADOS E ALCANÇADOS:
Na fase atual do nosso projeto, ainda não chegamos
a resultados concretos, uma vez que ainda estamos na
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
fase de revisão bibliográfica e levantamento de dados.
Ainda, estamos mantendo contato com o SIMEPAR
(Sistema Meteorológico do Paraná), com o DERAL
(Departamento de Economia Rural da Secretaria de
Estado da Agricultura), bem como com o IAPAR
(Instituto Agronômico do Paraná) e Universidades, com
o intuito de obter dados e conhecer modelos atualmente
usados na agricultura paranaense. Avançamos na
preparação dos cenários em estudo em função dos
debates surgidos na apresentação desta Pesquisa no
XII Seminário de Pesquisa UTP (Nov. 2008), no I
Workshop de Pesquisa da FaCET - UTP (Fev. 2009)
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
e no II Workshop de Pesquisa da FACET - UTP (Jun.
2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Neste contexto,
buscamos desenvolver, neste projeto de pesquisa, uma
metodologia de gerenciamento da produção, baseado
em DEA, que incorpore variáveis incontroláveis e
limitadas, tais como o clima e os índices de precipitação
pluviométrica, no processo de avaliação da Eficiência
Técnica de Produtores Rurais.
Palavras-chave: eficiência técnica; agrometeorologia;
DEA.
261
262
Resumos
REFERÊNCIAS
Assad, E. D., Pinto, H. S., Zullo Jr, J., Fonseca, M. (2005) Impacto das Mudanças Climáticas no Zoneamento de Riscos
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Calve, L.; Alfonsi, R. R.; Assad, E. D. Planilhas de cálculo para estimativas do ciclo de culturas a partir de graus-dia.
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UFSC - SC.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
UTILIZAÇÃO DE ENERGIA TÉRMICA RESIDUAL E SOLAR PARA REFRIGERAÇÃO
E CLIMATIZAÇÃO
Marco Adolph
Adriano Scheid
Nelson Ortiz
Leandro Baran
André M. M. Vaz
O ritmo de crescimento do consumo de energia não poderá ser mantido de maneira sustentável, a longo prazo,
considerando apenas as tecnologias e base energética atual. O momento apresentado pelo cenário mundial
impõe ao ser humano uma busca e comprometimento com soluções sustentáveis, onde o meio ambiente deve
ser preservado, o aprimoramento sócio-cultural deve estar presente, a economia e comunidade devem ser
beneficiadas e finalmente a solução deve ser obrigatoriamente economicamente viável. Serão necessárias
mudanças no padrão de consumo e uma busca pela aplicação economicamente viável das energias ditas
alternativas, para que a sustentabilidade seja mantida. Dentre os diversos sistemas que consomem energia,
pode-se citar a refrigeração industrial e residencial e climatização de ambientes (ar condicionado). O primeiro
é fundamental para a sobrevivência de uma sociedade que necessita do armazenamento e transporte de alimentos
e medicamentos desde as fontes produtoras até o ponto de comercialização e consumo final. A climatização
de ambientes, apesar de ainda ser no Brasil um luxo das elites, é considerada, em países mais desenvolvidos,
como um item vital para o bom desempenho das atividades humanas (BRILL,1984 e ZALESNY e FARACE
,1987). Tanto a concentração como a disposição para o desempenho de atividades são influenciadas pelo
conforto térmico (FANGER, 1970). A otimização do uso da energia em sistemas complexos é uma das alternativas
com maior potencial para obter o equilíbrio entre refrigeração e consumo de energia. Dentre os ciclos térmicos
podem ser aplicadas às máquinas de refrigeração por absorção. Este tipo de equipamento difere de unidades
convencionais de refrigeração pela ausência de compressores. O funcionamento das máquinas de absorção é
baseado no princípio físico químico de que certos líquidos e soluções líquidas têm a capacidade de absorver
vapores ou gases (AKERMAN). A quantidade de gás ou vapor que pode ser absorvida depende principalmente
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
263
264
Resumos
da temperatura da solução, sendo que as baixas
temperaturas são possíveis altas concentrações. Um
solvente é utilizado para absorver o vapor do da
unidade do evaporador formando uma solução de
concentração relativamente alta. Esta solução deve ser
aquecida, e o gás ou vapor dissolvido é liberado e
finalmente condensado para formar o liquido
refrigerante. Usualmente, máquinas de refrigeração por
absorção são compostas por: absorvedores, geradores,
analisadores, retificadores, condensadores, válvulas de
expansão, evaporadores, trocadores de calor. Em
sistemas simplificados, poder-se-ia dispensar o uso de
qualquer componente mecânico móvel, mas, nas
máquinas viáveis é utilizada uma bomba de baixa
capacidade para circular os fluidos da máquina de
absorção. A energia necessária para acionar a bomba
hidráulica de uma máquina de absorção é menor que
a de uma máquina de refrigeração equivalente com
compressor (HENNING, 2007). Os sistemas mais
difundidos são as máquinas de água-amônia e as com
soluções de LiBr. Uma das principais dificuldades no
desenvolvimento destes equipamentos são os materiais
que devem ser empregados, sabe-se que a amônia é
incompatível com o cobre, assim sendo é necessário
obter materiais que permitam uma boa relação custo
benefício. O uso destes sistemas para refrigeração
veicular, tanto para conforto térmico quanto para
sistemas de refrigeração foi estudado e proposto
anteriormente, infelizmente não foi possível, até o
momento o desenvolvimento de um sistema
comercialmente viável. O ciclo de refrigeração por
amônia pode ser explicado de maneira simplificada: o
vapor de amônia a baixa pressão, que deixa o
evaporador, é absorvido pela água (solução fraca de
amônia) no absorvedor, neste processo ocorre à
liberação de calor para o ambiente, a solução forte de
amônia é então bombeada por uma bomba convencional
(que pode ser acionada por energia de painéis
fotovoltaicos ou ainda através de um sistema de polia
acoplado ao motor do veículo) para um trocador de
calor na qual se mantém altas pressão e temperatura
obtida de uma fonte externa de energia, potencialmente
energia solar. Neste trocador de calor, ocorre a
separação da amônia na forma de vapor que será
conduzido para um condensador. A amônia é
condensada como em um sistema de refrigeração por
compressão de vapor, e em seguida é direcionada para
a válvula de expansão e para a unidade de evaporação
(que retira calor do ambiente), neste ponto ocorre uma
queda da pressão e tem-se a solução fraca de amônia
que retorna ao absorvedor. As unidades de refrigeração
baseadas neste princípio possuem um pequeno
consumo de trabalho, pois apenas líquidos são
bombeados. Entretanto, é necessária uma fonte
térmica, com temperaturas relativamente altas, de 100
a 200°C (VAN WYLEN et al, 1994). Este é também
um dos aspectos mais interessantes das máquinas de
absorção, para seu funcionamento é necessária uma
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Pesquisa
fonte de calor no gerador (ASHRAE 2006 Chapter
41). Nos equipamentos de absorção mais comuns, a
fonte de calor são gases quentes de usinas termoelétricas,
siderúrgicas, queimadores ou resistências elétricas. Uma
opção de fonte quente é a energia solar térmica, uma
energia gratuita, disponível nos momentos de maior
demanda por refrigeração e condicionamento de ar.
As temperaturas necessárias para o funcionamento de
um sistema de absorção são facilmente obtidas em
chaminés de gases de exaustão de praticamente todos
os processos industriais. Felamingo (2009) apresentou
um estudo e execução de um projeto de sistema de
refrigeração, na qual é produzida água gelada a partir
do calor de uma chaminé utilizando uma máquina de
absorção com LiBr. Os ganhos em capacidade de
refrigeração através da água gelada foram de 240 TR
(Toneladas de refrigeração), o que por si só já representa
um ganho considerável, um outro ponto interessante
é que os gases que antes eram liberados na atmosfera
a 360°C tiveram uma redução para aproximadamente
120°C, reduzindo os impactos ao meio ambiente. A
aplicação desta tecnologia para emprego em indústrias
já é relativamente bem difundida. Estudos para o uso
de máquinas de refrigeração por absorção, acopladas
a grupos de geradores diesel, foram realizados por
Sudjirim (Sudjirim, 2000); a análise técnica e econômica
demonstraram a viabilidade desta aplicação. Mostafavi
(MOSTAFAVI e AGNEW, 1997), realizou uma análise
teórica combinando o sistema de refrigeração por
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
absorção com os gases de motor para resfriar o ar
direcionado para as câmaras de combustão. Os estudos
mostraram que utilizando esta técnica, pode ser obtido
um ganho significativo no desempenho dos motores
diesel turbinados. Estudos para uso em unidades de
menor porte, exemplos: escolas e pequenas propriedades
r urais, têm sido realizados nos últimos anos
(HENNING, 2007), empregando energia solar térmica.
O uso em veículos tem sido discutido largamente no
âmbito da SAE (Sociedade de Engenharia da
Mobilidade). Akerman apresentou um estudo para três
diferentes pares de fluidos e gás para ciclos de absorção,
utilizando energia rejeitada pelos motores veiculares, e
também água-LiBr, água amônia e uma combinação de
R22 e dimetil éter de tetraetileno glicol como solvente;
como fonte de calor foi adotado um motor de 390
polegadas cúbicas. O ciclo com LiBr, após as simulações
iniciais, não foi considerado adequado para uso em
automóveis. Simulações mais detalhadas, considerando
parâmetros reais, mostraram que comparado a um
sistema de refrigeração convencional com ciclo de
compressão a vapor, seriam necessários trocadores de
calor 10 vezes maiores e a capacidade de refrigeração
não foi considerada adequada para uso em automóveis,
devido às dimensões prévias que obteve para os
equipamentos em seu estudo. Venkatesan
(VENKATESAN et al, 2005) realizaram estudos para
melhorar a performance de motores utilizando ciclo
de absorção de vapor para o condicionamento de ar,
265
266
Resumos
os estudos apresentados mostraram que é viável utilizar
o sistema de refrigeração por absorção utilizando os
gases quentes do escape do motor para o sistema de
condicionamento de ar veicular. O uso de energia
residual e solar térmica como fonte quente em máquinas
de refrigeração por absorção é viável, porém ainda são
necessárias otimizações para uso em veículos. No grupo
de pesquisa de otimização em engenharia automotiva,
estão sendo realizados estudos para a viabilização de
uma máquina de refrigeração para uso em baús
frigoríficos. Os estudos ainda estão em fase de avaliação
teórica para a combinação do uso dos gases de escape,
com o calor eliminado no radiador e a energia térmica
solar incidente sobre o baú frigorífico e para que haja
viabilidade econômica está sendo realizada uma análise
de relação custo beneficio entre carga térmica, carga
transportada, consumo de energia e custos de implantação.
Iniciaram-se os primeiros estudos para climatização de
pequenas escolas rurais, utilizando energia solar térmica
como fonte quente para máquinas de refrigeração por
absorção de amônia instaladas em unidades compactadas
de tratamento de ar.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
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10- Sudjirim. Study on Direct Utilization of Exaust Gas in Diesel Generator as Energy Source of Absorption Refrigerator.
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11- Zalensy, M. D Farace, Richard V. Traditional Versus Open Offices: A Comparison of Sociotechnical, Social Relations,
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Resumos de Pesquisa
Ciências Humanas, Letras e Artes
Pesquisa
A APROPRIAÇÃO DE IMAGENS COMO MEIO DE CRIAÇÃO E RESIGNIFICAÇÃO
NA FOTOGRAFIA CONTEMPORÂNEA
Evandro F. Gauna - UTP
A pesquisa parte do interesse nas formas de produção e construção das imagens fotográficas na contemporaneidade. Há
diversas possibilidades de construção destas imagens, sendo que o foco desta pesquisa é a idéia de apropriação de imagens
como meio de criação e resignificação. Partimos do levantamento de alguns artistas que utilizam a idéia de apropriação, e
buscamos um diálogo com os teóricos de arte e da fotografia na compreensão da produção dessas imagens. Ao pensarmos
a função histórica da fotografia, a do registro, vemos que com o passar do tempo, há um esgarçamento da obsessão
pela representação, e neste aspecto o modernismo, e depois os artistas e fotógrafos contemporâneos, colaboraram para
que este meio desenvolvesse suas potencialidades criativas. Pensar a fotografia contemporânea hoje é tentar entender
a aproximação com vários suportes e entendê-las como linguagem autônoma...Interessante pensar sobre a fotografia
na contemporaneidade como força do simulacro, criando um duplo como imagem de imagens...deveríamos pensar –
e nisso a produção contemporânea tem nos ajudado – em enxergar a imagem como um mero ponto de vista sobre
determinado assunto, uma opinião própria, portanto passível de ser construída....A imagem fotográfica, polissêmica por
natureza, nos dá esse privilégio de uma leitura múltipla. E parece que é nessa direção que tem se voltado nossa produção
fotográfica. (PERSICHETTI, pp. 86 a 89) Defrontamos-nos com o que diz Persichetti (2002), quando resume algumas
das características fundamentais da produção fotográfica contemporânea, o simulacro como criando o duplo em diálogo
com vários suportes e o desenvolvimento de uma linguagem autônoma e polissêmica, possibilitando inúmeras formas de
leitura e produção. Para compreender as diferentes facetas da produção fotográfica, é necessário comprender seus modos
de produção, sendo que muitas das imagens fotográficas atuais fogem do espetacular ou sensacional, muitas vezes simples,
mas, no entanto, cheias de significados além de transgressoras. Na produção contemporânea, busca-se a construção de um
novo olhar, assim como sua posterior desconstrução. E segundo Fernandes Junior (2006) “a produção contemporânea
mais arrojada, livre das amarras da fotografia convencional,”…“tem ênfase no fazer, nos processos e procedimentos de
trabalho cuja finalidade é a produção de imagens que sejam essencialmente perturbadoras”. (FERNANDES JR, 2006,
p. 11). Muitos dessas imagens apresentam processos e procedimentos que poderíamos dizer cíclicos, que se alternam
e se modificam ao longo do tempo, e é necessário buscar uma aproximação desses modos de produção e dos projetos
poéticos dos artistas. Dentre os diversos procedimentos de produção artística, um que destacamos é o de apropriação
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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272
Resumos
de imagens. O fato de utilizarem apropriação de imagens
não é por si só um procedimento novo na produção ou
criação artística. Em muitos momentos da história da
arte e da produção de imagens, este é um procedimento
recorrente. O que se percebe são modificações nas formas
como essas apropriações se dão nos mais diferentes
trabalhos realizados ao longo de seus processos. Não
podemos nos esquecer que esse tipo de procedimento
está intimamente ligado à questão de subjetividade, sentido
negado durante muito tempo à fotografia; a possibilidade
de criar significados a partir de imagens fotográficas era
quase que somente associada a idéia de objetividade, prova
de verdade e ao que era real, todas essas idéias já a muito
superadas, pois se sabe que a imagem fotografia desde
sempre pôde ser manipulada, e ter seu sentido construído
ou até mesmo atribuído a prióre. Apropriação de Imagens
ou Resignificação: O termo apropriação é este ato ou
efeito de tomar para si, apoderando-se integralmente ou
de partes de uma obra, para construir uma outra. A
apropriação não é um fato novo na História da Arte, mas
o uso do termo surge na contemporâneidade, buscando
a possibilidade de transitar entre o passado e o presente,
funcionando como uma atualização das imagens de nossa
memória histórico-cultural, e sua prática atribui às obras
da história da arte uma maior complexidade aos discursos
na arte contemporânea. Mas não é só com as imagens
da história da arte, do passado que funciona a idéia da
apropriação; muitos artistas se apropriam também de
imagens de outros artistas, imagens da publicidade, imagens
do cotidiano, bem como da linguagem do cinema e ou
da própria fotografia, na busca por reintegrar ou atribuir
novo significado ou até mesmo colocar novamente em
circulação aquelas imagens esquecidas ou abandonadas.
Tipos de Apropriação: Na busca de compreensão dos
processos criativos na fotografia contemporânea, há a
necessidade de compreender a idéia de apropriação ou
de seus modos de constituição. Para isso, procuramos
construir ou apresentar algumas categorias dos diferentes
tipos de apropriação que encontramos nos trabalhos de
diferentes fotógrafos que atuam na contemporaneidade.
Mesmo criando tais categorias, os trabalhos dos artistas
que apresentaremos abaixo, em alguns momentos se
misturam, e que tais categorias não são puras, mas que por
uma questão metodológica, foram agrupadas ao redor de
uma questão mais geral. Apropriação da memória: Dentro
deste tipo de apropriação, encontramos as imagens que
foram tanto pilhadas da História da Arte quanto da mídia
de forma geral ou de diferentes tipos de arquivos: familiares,
arquivos públicos, etc. . Apropriação de imagens da mídia:
A apropriação de imagens pela mídia ou da mídia impressa,
está presente em trabalhos de diferentes artistas, que buscam
nestas imagens que atuam no senso comum. Atribuiemlhes novo significado nesse processo de apropriação,
colagem, montagem, em sua utilização fora do contexto
para a qual foram criadas, se é que foram criadas para esse
fim, ou se estas já não eram apropriadas. - Apropriação
do cinema – imagem ficcional: É comum encontrar na
arte contemporânea, obras que hibridizando-se com
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Pesquisa
outras linguagens, ampliando seu campo de significação.
Mesmo outras linguagens, como o cinema, servem como
referência para a discussão sobre o poder de referência das
imagens. - Apropriação da linguagem fotográfica: Destacar
esta forma de apropriação é na verdade dizer que alguns
artistas buscam no próprio material da fotografia, seu
material de construção de imagens. Muitas delas utilizando
fragmentos como que dizendo que a fotografia tem esse
poder de conter a imagem, mesmo que em um fragmento.
Já outros, buscam em imagens que seriam imagens já sem
sentido, pois perderam seu referente, e, portanto, não tem
sentido pois não são reconhecíveis, novamente virem à
tona discutindo por exemplo questão de identidade, ou
da falta dela, pelo fato de que estas não mais a possuírem.
- Apropriação pictórica: As imagens fotográficas com
essa conotação – pictórica – necessitam da contribuição
do espectador, pois criam uma atmosfera romântica e
sublime. Tais imagens, com objetividade técnica, buscam
um olhar pictórico, este um olhar subjetivo e que busca
uma relação de proximidade do espectador com o objeto
representado, este um olhar tátil. - Apropriação de imagens
da realidade: A transformação das realidades em imagens
não objetivas e até mesmo irracionais lhe atribuem novas
funções como linguagem independente. A nova produção
imagética, deixa de ter relações com a realidade imediata,
não pertence mais a ordem das aparências, mas aponta
para diferentes possibilidades de suscitar o estranhamento
em nossos sentidos. (ARAÚJO in: A fotografia nos
processos Artísticos Contemporâneos, 2004, p. 80) Uma
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
outra situação encontrada em propostas de trabalho com
a linguagem fotográfica e apropriação é a de artistas que
buscam na realidade ou no cotidiano, detalhes que em geral
passam desapercebidos pelo olhar comum.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: A matéria-prima da
fotografia – o mundo “real” visível - parece estar em
permanente perigo de extinsão. A partir do advento
das tecnologias de suporte e veiculação de imagens,
constata-se que a mediação interativa tem ocupado o
lugar da “realidade”, de forma tão persuasiva que já não
se questiona mais a imagem, pois estamos familiarizados
com a representação da representação da representação.
(FERNANDES JUNIOR in: Eustáquio Neves, 2005)
Percebe-se uma produção contemporânea que os artistas ao
questionarem a representação, criam ou recriam estratégias
na tentativa de construir e simular uma realidade visível.
Neste sentido, a fotografia tem espaço garantido. Ela, a
fotografia, adquiri linguagem independente (Persichetti),
não pertencendo mais à ordem das aparências. Pode-se
até dizer que cria aparências e que busca no mundo visível
fragmentos de realidade. Buscamos na compreensão do
procedimento de apropriação, como ao resgatar, pilhar,
assimilar, copiar ou reproduzir imagens da história da
cultura, da arte e da memória, enfim, quaisquer tipos de
imagens, criar com elas uma compreensão deste mundo:
o das imagens.
Palavras-chave: apropriação de imagem; processo de
criação; fotografia contemporânea.
273
274
Resumos
REFERÊNCIAS
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TASSINARI, Alberto. O espaço moderno. São Paulo: Cosac & Naify, 2001
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
A CONCEPÇÃO HISTÓRICA DO PROJETO HISTÓRIA NOVA DENTRO DO ISEB,
ENTRE OS ANOS DE 1955 A 1964
Pedro Leão
Diego Souza Dolinski - UTP
O propósito desta pesquisa é perceber a concepção historiográfica, a partir das obras do historiador Nelson
Werneck Sodré, durante o período de 1955 a 1964, quando foi membro do ISEB (Instituto Superior de Estudos
Brasileiros). Para tanto, tenho como objetivo: - Compreender as diferentes concepções históricas dos isebianos.
- Analisar o posicionamento histórico de N.W. Sodré, dentro do ISEB. - Perceber a nova concepção histórica
presente nos volumes da História Nova, produzidos pelos integrantes do ISEB.
No momento, juntamente com meu orientador venho desenvolvendo reflexões sobre o período político de
João Goulard, e como isso refletiu no ISEB, e a força do pensamento de esquerda nesta conjuntura. Além de
estar analisando os que os próprios ex-isebianos dizem sobre o período e como procederam durante o período
de 55 a 64. Assim sendo, até o presente momento consegui desenvolver o seguinte parecer histórico sobre o
meu objeto de pesquisa, levando em consideração outras pesquisas já desenvolvidas sobre o ISEB e Nelson
Werneck Sodré, de forma a problematizar a produção já existente, como demonstrarei no seguinte resumo: No
dia 14 de julho de 1955, foi autorizado pelo então presidente João Café Filho, o Decreto nº 57 608, que dera
origem ao ISEB (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), órgão subordinado diretamente ao MEC (Ministério
Da Educação), mas provido de plena liberdade administrativa, de pesquisa, de opinião e de cátedra, para efetuar
as suas ações. O ISEB foi criado como um curso permanente de altos estudos políticos e sociais, de nível pósuniversitário, que começando a funcionar inicialmente no ano de 1956, no auditório do MEC, no Rio de Janeiro,
enquanto o seu prédio sede situado na Rua das Palmeiras nº55, em Botafogo, passava por reformas para se
adequar as necessidades estruturais dos isebianos, que só se instalaram lá no ano de 1957. Institucionalmente,
o ISEBE, foi criado devido o Estado necessitar de agências que racionalizassem o surto de desenvolvimento
do país, como: criando elementos teóricos adequados para explicar e promover o desenvolvimento nacional;
usando como modelo institucional, para difundir suas atividades a Escola Superior de Guerra (ESG). Assim,
o ISEB se tornou o principal centro para a elaboração da ideologia nacional desenvolvimentista, que marcou
todo processo político brasileiro dos anos Vargas, até o golpe civil-militar de 64. Para conseguir a adesão da
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sociedade a sua ideologia desenvolvimentista, o ISEB
vez uso de cursos regulares pós-universitários de
economia, sociologia, política, filosofia e história, com
a duração media de um ano, além de ter ministrado
conferencias, abertas ao público em geral, e cursos
extraordinários, de curta duração. Fizeram também,
uma série de publicações sobre as suas pesquisas da
sociedade brasileira, e de traduções de livros que
pudessem contribuir para uma melhor noção sobre o
nosso país. Nos seus primeiros anos, o ISEB, conseguiu
uma grande adesão no Rio de Janeiro, entre militares
nacionalistas, estudantes universitários e profissionais
liberais. Além de ter ganhado espaço para a divulgação
de suas idéias, na grande imprensa de orientação
nacionalista, dos jornais Última Hora, O Nacional, e
o Correio da Manhã. Entretanto, entre os grupos mais
representativos das ciências sociais, tanto da
Universidade do Rio de Janeiro, como da Universidade
de São Paulo, não tiveram reconhecimento em suas
análises e soluções para o Brasil. Isto, devido aos
intelectuais do ISEB serem vistos como despojados de
formação acadêmica, nas ciências sociais, e deste modo,
percebidos como intelectuais de formação jurídica e
bacharelesca diletante. Não obstante, também eram
mal vistos, porque alguns isebianos, foram adeptos da
Ação Integralista Brasileira, e por usarem na sua
orientação teórica elementos marxistas, sem, no
entanto se identificarem com este pensamento em toda
a sua totalidade. A criação do ISEB consentiu a
continuidade dos estudos que vinham sendo
desenvolvidos pelo IBESP (o Instituto de Economia,
Sociologia e Política) nos anos de 1953-4,
cor respondentes às diretrizes políticas de
desenvolvimento de Vargas. Contudo, tais estudos
ganharam força e atingiram amplos setores da
sociedade, durante o período JK, que implantou o
famoso Plano de Metas. Na verdade, tratava-se do
primeiro passo da ideologia desenvolvimentista
isebiana, ou seja, o aprofundamento do processo de
industrialização nacional, que ocorreu através de dois
passos: 1º estimulando por um lado os investimentos
privados de capital nacional e estrangeiro, por meio da
ampliação do parque industrial; e 2º, arremetendo os
pontos de estrangulamento da economia, os quais vêem
a ser os problemas estruturais, que impediam o
desenvolvimento industrial, que pode ser sanado por
meio de grandes investimentos estatais na infraestrutura nacional. Porém, o modelo de desenvolvimento
adotado por JK – o Plano de Metas, que não abarcou
todas as medidas desenvolvimentistas propostas pelo
ISEB – previa o uso do capital estrangeiro no Brasil,
que teve que aumentar a emissão do papel moeda, e
incentivado a instalação de multinacionais para que o
Plano fosse empreendido, mesmo que para isso,
ocorresse o aumento inflacionário no país, tal como
ocorreu. Os isebianos viam o emprego de capital
estrangeiro em países subdesenvolvidos, como algo
negativo, já tais incentivos eram empregados em setores
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Pesquisa
extrativos da economia, que não favoreciam para o
desenvolvimento industrial brasileiro. Como defende
Cândido Mendes de Almeida – um famoso membro
do ISEB – dizendo que estes investimentos são
associados com a exploração de tipo colonial, não
colaborando para a diferenciação do aparelho produtivo
dos países subdesenvolvidos. Pois como aponta Caio
Navarro, o ISEB crê que para os países desenvolvidos,
as nações subdesenvolvidas apenas se incorporam aos
mesmos na condição de objeto, não de sujeito da
história. Já que, sendo a estrutura subdesenvolvida,
dependente da desenvolvida, a primeira ocupará uma
posição marginal (periférica), mesmo a sua existência
sendo solicitada para o funcionamento e expansão do
sistema global de dominação, do qual faz parte. Diante
desta consideração e de outras como as de Vieira Pinto,
o sociólogo Caio Navarro de Toledo, no sub-capitulo
A “reabilitação” e promoção das ideologias, de seu
livro ISEB Fábrica de Ideologias, percebeu que tais
isebianos acreditavam que na fase histórica brasileira,
das décadas de 50 e 60, era o momento de formação
de ideologias, que poderiam se formar a partir do
momento que fossem instaladas alterações nas
estruturas materiais do país, que romperiam o complexo
colonial (que impedia o nosso desenvolvimento, e
beneficiava a nossa exploração pelas nações
desenvolvidas) e permitiriam o desenvolvimento de
uma ideologia, em prol da autonomia nacional. Idéia
oposta ao que pensava o historiador Nelson Werneck
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Sodré, único membro do ISEB, contra o uso de
sistemas de idéias, pois segundo ele, tais pressupostos
só serviam para a manipulação das massas. Ademais
Vieira Pinto ainda acreditava que a tarefa do ISEB era
promover uma ideologia surgida da intercessão de um
grupo de cientistas sociais, que realçassem o pensar
filosófico, por vias da realidade do processo histórico
e das mudanças, nas estruturas do país. Consideravam
ainda os isebianos, que o principal obstáculo para a
efetivação da ideologia do desenvolvimento, seria o
capital internacional ou sistema imperialista e,
internamente a oposição latifundiária e da burguesia
local, coligada aos interesses do capital estrangeiro.
Contudo, mesmo existindo diferentes opiniões dentro
do ISEB, a respeito da realidade brasileira, e sobre as
melhores medidas a serem tomadas para se alterar está
realidade, no governo JK, houve certo consenso sobre
o que os isebianos e o Estado, pretendiam com o
nacional desenvolvimento, pelo menos efetivado em
sua fase preliminar, a da ascensão econômica, no
governo de Juscelino. No entanto, como aponta Caio
Navarro, ao analisar os limites e os impasses do
nacionalismo-desenvolvimentista, ainda em seu livro
ISEB Fábrica de Ideologias, esboça que o ISEB ao se
pronunciar os resultados concretos da políticodesenvolvimentista do período Kubitschek, não viram
como objetiva a política econômica deste presidente,
que não respeitado os princípios nacionalistas de
desenvolvimento, contudo segundo Caio Navarro, os
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isebianos não perceberam que a expansão do
desenvolvimento, na vigência do capitalismo, só podia
se realizar através de um crescente fortalecimento das
relações de dependência econômica. Ou seja, o
entreguismo de Kubitschek, não foi percebido como
de caráter estrutural. Posteriormente na década 60, o
ISEB, tomou uma nova direção ideológica, sobretudo
depois do balaço que fizeram da década de 50, que
segundo os mesmos, havia usado o desenvolvimento
apenas para tornar mais rico as classes dirigentes – aqui
entendidas como burguesia latifundiária – e ainda mais
pobre as classes oprimidas (proletariado). Além disso,
na década de 60, os isebianos perceberam que o próprio
governo almeja executar reformas de base, que a partir
deste momento, passaram a examinar o que devem ser
estas reformas de base, e sugerir a forma pela qual se
poderia atingi-las. Este momento corresponde ao
governo de João Goulart, que irá assumir a presidência
após os militares depõem Jânio Quadros. Político que
não apoiou nem condenou as atividades do ISEB, mas
que foi importante para a classe média, que nele via se
espelhar os seus ressentimentos, e a sua ânsia de poder.
Contudo, para os setores conservadores da população,
Quadros representava pretensões golpistas por
intercessão das massas. Acaba então sendo substituído
por seu vice João Goulart, o qual era suspeito da classe
latifundiária, desde o Manifesto Dos Coronéis, e temido
pela cúpula dos ministérios brasileiros. No período
Goulart, o ISEB, assumiu outra postura reflexiva, onde
aumentou os cursos com temas sobre reformas base,
no intuito da instituição participar ativamente dos
problemas políticos do Brasil. Demonstrado com isso
o seu novo caráter intelectual, o qual neste momento
adotou uma postura mais militante com a introdução
de membros da União Nacional dos Estudantes
(UNE), e agora sob uma orientação teórica, mais ligada
ao materialismo histórico. Contudo, com a deposição
de João Goulart, em 31 de março de 1964, o ISEB vê
seu fim também, em virtude de sua identificação com
o governo destituído. Tanto que um dos primeiros atos
dos militares no poder, foi o decreto nº 53.884, de 13
de abril de 164, que extinguiu o ISEB, e permitiu que
os militares fechassem a sua sede por meio de um ato
de vandalismo acolhido. Além disso, instaurou-se um
inquérito militar, entre os membros do ISEB,
abrangendo mais de cinqüenta pessoas, sob a acusação
de disseminarem o ideal marxista no Brasil.
Palavras-chave: ISEB; historiografia; N.W. Sodré;
história nova.
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Pesquisa
A CONSTITUIÇÃO DO EU A PARTIR DO OUTRO - COMPREENSÃO DAS
INTERAÇÕES E DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniele Marques Vieira -UTP
Neyre Correia da Silva - UTP
Este trabalho originou-se a partir de discussões e reflexões inaguradas nos encontros do Grupo de Estudos de
Wallon (GE-Wallon), do Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Seu tema “A constituição
do eu a partir do outro – compreensão das interações e das práticas educativas na Educação Infantil” parte da
ênfase à relação da criança com o outro, principalmente com o adulto, mediante toques; expressões faciais,
corporais, verbais; manifestações de afeto ou, contraditoriamente, de desafeto, como necessária, e constituidora
do “eu infantil”. A criança, desde os primeiros instantes de vida começa a apropriar-se de uma série de elementos
que lhe servirão de base para se “amalgamar”, constituindo-se como sujeito individual e singular, dotado de
uma personalidade única, semelhante, mas ao mesmo tempo, incomparável aos demais. Tal tema justifica-se
pela necessidade de produzir conhecimento acerca das práticas educativas que são desenvolvidas em educação
infantil, que se mostrem especialmente importantes para a constituição do “eu infantil”. Embora, observe-se
um crescente número de pesquisas nesta área, consideramos relevantes discutir aspectos pertinentes à interação
da criança com o meio, principalmente com os adultos, de modo a elaborar critérios que possam subsidiar a
organização e a realização do trabalho educativo na educação infantil, como por exemplo: número de crianças
em sala de aula, número de adultos por número de crianças, disposição e conformação de mobiliário e materiais
na sala, a estimulação viso-motora e o registro-referência exposto para a exploração etc. Nesse sentido, vale
ressaltar que o entendimento de que a interação é “ingrediente” fundamental para a constituição do “eu infantil”
tem maior relevância no trabalho educativo com crianças pequenas, de 0 a 6 anos. Além desses motivos apontados,
este trabalho também se justifica pela possibilidade de contribuir para a instrumentalização de alunos do curso
de Pedagogia da UTP na implementação de práticas de observação e práticas supervisionadas de docência,
durante os estágios realizados ao longo de sua formação, que inclui a habilitação à docência em educação infantil.
E por fim, esta pesquisa deve propiciar o redimensionamento de compreensões reducionistas e fragmentárias
da criança e de seu desenvolvimento, partidárias, principalmente, de concepções etapistas e maturacionistas do
desenvolvimento infantil, que consideram o desenvolvimento como determinado por processos hereditários e
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maturacionais, que impulsionam o organismo na
passagem por “estágios” ou “etapas”, biologicamente
definidas, sem sofrer grande impacto dos fatores
ambientais (sociais e físicos). Frente a isso, indaga-se:
Quais aspectos podem ser observados no cotidiano
das relações entre adulto/criança e criança/criança,
nas creches municipais, que possam contribuir para a
compreensão de processos da constituição do eu
infantil, a partir da interação com o outro e das
intervenções nestes processos? Que práticas educativas
favorecem o desenvolvimento da oralidade infantil de
modo a propiciar, por parte da criança, a apropriação
de conceitos fundamentais à sua constituição como
sujeito? Deste modo tal pesquisa tem como objetivo
geral compreender a constituição do eu a partir do
outro mediante a análise das práticas educativas e das
interações adulto/criança e criança/criança na
Educação Infantil sob a perspectiva teórica de
Vygotsky, Wallon e da “ciência do desenvolvimento”.
Pretende observar e identificar práticas educativas em
Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba,
com foco no desenvolvimento da oralidade da criança;
conhecer aspectos presentes na relação cotidiana entre
adulto e criança que se revelem fundamentais nos
processos de constituição do eu infantil; caracterizar
práticas de intervenção que favoreçam o desenvolvimento
da oralidade da criança, como meio de apropriação
intrapsíquica de elementos que constituem a sua
subjetividade; e observar a utilização da oralidade nas
interações entre as crianças. A concepção de homem
e de sua constituição psicológica, cognitiva e afetiva,
esboçada neste trabalho, está presente em autores da
psicologia do desenvolvimento, como Vygotsky e
Wallon, mas também se apresenta em uma compreensão
sistêmica do desenvolvimento humano, a “ciência do
desenvolvimento”, que requer a integração de diferentes
campos de saberes e caracteriza-se “por um conjunto
de estudos interdisciplinares que se dedicam a entender
o s fen ô m en o s co m p l exo s r el a ci o n a d o s a o
desenvolvimento humano no curso de vida”, conforme
as autoras Sifuentes, Dessen e Oliveira (2007). Na
primeira etapa do desenvolvimento infantil – de 0 a 3
anos – a criança vive, sobretudo, a experiência de
conhecer o mundo por meio dos sentidos. Explora a
si própria e o outro – as pessoas, objetos e ambiente
– estabelecendo as primeiras referências acerca de suas
descobertas, constituindo assim o repertório que irá
acionar, posterior mente, nos momentos de
aprimoramento e aprofundamento do processo de
construção do conhecimento. No processo de
constituição do eu, a vivência com o outro, especialmente
com o adulto, é o que possibilita à criança construir as
bases para uma ação comunicativa. À medida que
experimenta em seu cotidiano o diálogo como práticas
sociais e de transmissão de conhecimentos, sua ação
irá pautar-se inicialmente pela imitação do outro para,
aos poucos, constituir-se em uma ação consciente e
significativa. É nesse contexto que se desenvolve a
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
oralidade como habilidade socialmente construída que
se realiza a partir da interação. A conquista da oralidade
– linguagem –, como modo de representação do
pensamento, possibilita à criança ampliar e aprimorar
sua inserção no mundo, bem como seus conhecimentos,
principalmente acerca de si mesmo, como sujeito
separado, mas também integrante, do mundo. O
desenvolvimento do pensamento, da atividade
consciente e reflexiva, na criança, depende do seu
domínio dos meios sociais do pensamento, ou seja, da
linguagem. A linguagem não constitui nenhuma
exceção da regra geral a que está subordinado o
desenvolvimento das operações psicológicas que tem
como base o emprego de signos. A atividade externa,
marcada pelos meios artificiais (instrumentos físicos e
simbólicos – os signos), é resultado e, ao mesmo tempo,
é motivada, pela mediação interpsicológica, ou seja, a
ação externa dar-se mediante/no contexto das relações
do homem com os outros seres humanos. Dentre as
práticas mais comuns em que há trocas efetivas, por
meio da oralidade, do conhecimento acerca da cultura
infantil estão as brincadeiras populares, tais como
parlendas, o que é o que é, adivinhas, jogos infantis e
cantigas de rodas. São muitas as estratégias que
possibilitam o desenvolvimento da oralidade no espaço
escolar. Dentre elas podemos ressaltar o diálogo
cotidiano; a literatura – rodas de histórias; a organização
do espaço/tempo por meio da escrita – livro da vida,
quadro de rotinas/nomes/frutas; a construção de livros
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– a partir das vivências compartilhadas. Assim, a cultura
da instituição de educação infantil torna-se relevante
para a configuração de possibilidades e oportunidades
em que a criança possa ampliar seu repertório de
conhecimentos. Disso decorre a importância do
educador/professor da educação infantil incorporar
práticas sociais de uso da língua em sua ação cotidiana,
a fim de oferecer oportunidades para a criança construir
referências acerca da linguagem como modo de
constituir-se sujeito no seu meio. Tais práticas podem
fornecer dados significativos relacionados ao objeto
dessa pesquisa, sendo priorizadas também como
situações de observação e registro. A abordagem
metodológica que se propõe, portanto, é a pesquisa
qualitativa, de acordo com Lüdke e André (2006), e
apóia-se na articulação entre as disciplinas do curso de
Pedagogia da UTP, principalmente por meio dos
estágios supervisionados. A partir dessa coordenação
entre as disciplinas, consubstanciada pelo envolvimento
das pesquisadoras em pauta, foi elaborado um roteiro
para o registro de observações, com a finalidade de
torna-se um “roteiro orientador” do olhar sobre o
cotidiano na sala de aula para atender os objetivos desta
pesquisa: observar e identificar as práticas educativas
que são desenvolvidas pelos educadores e professores
em Centros Municipais de Educação Infantil da cidade
de Curitiba, que favorecem o desenvolvimento da
oralidade da criança. Tal instrumento denominado
“Roteiro de Observação e Registro da Prática Educativa
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na Educação Infantil”, foi constituído na disciplina
“Pesquisa e Prática Pedagógica: Estágio Supervisionado
em Educação Infantil I”, de forma a permitir a
observação, a descrição e o registro de elementos
contidos em cinco grandes categorias: 1) descrição dos
aspectos físicos da sala; 2) organização do trabalho
pedagógico; 3) relação adulto/criança; 4) relação
crianças/criança; 5) desenvolvimento e aprendizagem;
6) situações de desempenho para registro descritivo;
7) registro das emoções desencadeadas no período de
observação; e 8) momentos ou situações não previstas
no roteiro, mas que são significativas para caracterizar
a realidade em questão. Na continuidade da pesquisa
serão ainda investigadas, por meio de filmagens, as
práticas educativas em destaque no Laboratório de
Aprendizagem e Recreação (LAR) da UTP, em que se
pese a organização do espaço pedagógico, as práticas
que favorecem o desenvolvimento da oralidade pela
criança, e situações que revelem indicadores da
constituição do eu infantil a partir de sua interação com
o outro. O referido laboratório servirá de parâmetro
de análise comparativa para o estabelecimento de
referências acerca das práticas educativas, pois atende
crianças dentro da faixa etária em foco e apresenta
proposta pedagógica centralizada em objetivos que são
compatíveis com o desenvolvimento da autonomia e
independência; elementos fundamentais para a
constituição de um “sujeito infantil” distinto, criativo,
crítico, e reflexivo. E ainda, em decorrência dos estudos
que vem sendo efetivados ao longo desta pesquisa,
estão sendo realizados dois projetos de iniciação
científica envolvendo alunas do Curso de Pedagogia:
“A constituição do eu e o espaço pedagógico na
educação infantil” e “A constituição do eu e a relação
adulto/criança na educação infantil”.
Palavras-chave: educação infantil; desenvolvimento;
interação; linguagem; práticas educativas.
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Pesquisa
A GRAVURA DE ARTE EM CURITIBA NA DÉCADA DE 1990: NOVAS POSSIBILIDADES
DE PRODUÇÃO
Renato Torres - UTP
A presente pesquisa tem por objetivo investigar como os artistas absorveram a mudança de paradigma na
produção da gravura de Arte em Curitiba, durante a década de 90. Como objetivo específico pretende-se discutir
os reflexos das ampliações das categorias de arte, na produção contemporânea de gravura em Curitiba, bem
como os conceitos que fundamentam tais mudanças na produção de gravura de arte. Pretende-se também
verificar quais foram os artistas gravadores que absorveram a idéia de gravura enquanto conceito, e quais as
características dessa produção. A gravura de Arte, na década de 90 no Brasil, incorpora aspectos da Arte
Contemporânea ampliando seu campo de atuação, e deixando de pertencer a categorias técnicas específicas
como xilogravura, calcogravura e litogravura. O conceito de múltiplo passa a aparecer na produção de gravura.
Em Curitiba, por sediar importantes Mostras e Seminários de Gravuras, encontra-se parte dessa produção que
obtém reconhecimento nacional e internacional. Diante de tais transformações na produção da gravura de Arte,
faz-se necessário averiguar o quanto essas mudanças influenciaram a produção artística local. A falta de
investigações sistematizadas sobre a produção de gravura de arte em Curitiba, durante a década de 1990, justifica
a necessidade dessa pesquisa. Na cidade de Curitiba, a IX Mostra de Gravura constitui-se um marco divisor na
produção artística de gravura, pois é o momento em que críticos e curadores apontam um novo olhar para o
conceito de gravura. A Mostra de Gravura Cidade de Curitiba foi criada em 1978, com a finalidade de apresentar
a produção nacional de gravura de arte, bem como estabelecer reflexões sobre suas técnicas e seus fundamentos.
Quanto às técnicas, a gravura tradicional está dividida em: xilogravura, litogravura e gravura em metal, entretanto,
em certo momento a gravura de arte passa a se configurar como campo expandido, alterando seu conceito de
forma a abarcar obras que se relacionam como universo da Arte Contemporânea, mas que tradicionalmente
não seriam denominadas gravuras. Tais produções, em alguns momentos mais se aproximam de esculturas,
fotografias ou desenhos, que da própria gravura tradicional. Para abordar essas questões, dividimos essa reflexão
em três momentos: o primeiro dedicado a examinar a gravura a partir da arte moderna, relacionando-a ao
conceito de “aura” apontado por Walter Benjamim. Em seguida optou-se por contextualizar a gravura de acordo
com avanços conquistados pela Arte Contemporânea, e dessa forma apontar algumas obras e artistas que
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contribuíram para o pensamento da gravura de arte em
um novo formato. Nesse contexto, tornou-se necessário
enfocar as produções a partir do conceito de múltiplo.
Por fim, foram relacionadas às discussões sobre gravura
no mundo e o novo conceito apresentado na IX Mostra
de Gravura Cidade de Curitiba. Conforme Benjamim,
com o avanço das técnicas de reprodução a autenticidade
da obra de arte é posta em questão. No cinema, por
exemplo, não há necessidade de existir uma obra única,
como é o caso da pintura. Todas as cópias dos filmes
são consideradas originais. De maneira semelhante, a
fotografia, a gravura e outras obras reprodutíveis,
contribuem nesse processo de questionamento do valor
dado a autenticidade da obra de Arte. Nesse processo,
a obra de Arte perde sua aura, uma vez que a aura se
encontra somente em obras únicas, que necessitam ser
admiradas em sua presença, e em alguns casos, em um
local específico. Alguns movimentos artísticos como:
a pop art, o minimalismo, a arte conceitual e outros
ocorridos, em meados da década de 1960, contribuíram
para reforçar o distanciamento do conceito de “aura”
das produções contemporâneas. Nesse momento, os
modos de produção em artes plásticas no mundo,
deixam de atender às categorias tradicionais, como
desenho, pintura, escultura e gravura, e passam a
explorar novas formas de produzir arte. Em se tratando
do universo da gravura, a partir dos anos 60, muitos
artistas optaram por explorar a qualidade de múltiplo
em determinados tipos de obra de Arte, devido à
tentativa de uma redefinição radical e desejada na
concepção de Arte. Nessa busca, por uma nova direção
na produção artística, vários grupos passaram a
trabalhar o múltiplo, dentre eles, destacam-se o MAT
e o Fluxus. O MAT (Multiplicação de Arte
Transformável) foi a primeira manifestação artística a
explorar o conceito de múltiplo, sendo uma organização
criada em 1959 pelo artista Daniel Spoerri, cuja
finalidade era produzir versões de trabalhos que
desafiassem o isolamento social e econômico. De
acordo com Tallman (1996), os trabalhos que iriam
compor o MAT deveriam seguir os seguintes critérios:
Não depender da escrita pessoal do artista, não ser
fabricado por meio dos métodos de reprodução
artística comuns - como a impressão, a fundição ou a
tapeçaria, e por último possuir algum elemento variável
ou cinético. Por meio desse conceito, o múltiplo iria
além da capacidade de produzir cópias contidas nas
técnicas tradicionais de gravura. Entre os trabalhos
apresentados na primeira coleção MAT estavam: o
Rotoreliefs (1935) de Marcel Duchamp, e serigrafias
que mudavam de aparência à medida que o espectador
se movia, de Jesus Rafael Soto. O MAT pautava-se em
duas tensões presentes nas discussões sobre Arte, a
primeira seguindo questões postas pelo Dadaísmo,
como o desmantelamento dos valores estéticos e dos
padrões institucionais, e a segunda partindo dos
fundamentos da Bauhaus, que buscavam principalmente
uma prática democrática e universal de fabricação
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Pesquisa
artística. Apesar do artista Daniel Spoerri ter distanciado
a gravura dos ideais do MAT, os artistas não deixaram
de produzí-la, pois ainda a consideravam uma maneira
a mais de reproduzir imagens. As idéias difundidas pela
Bauhaus influenciaram o MAT e também vários artistas
mais jovens, como Victor Vasaléry e Richard Motensem.
Na produção de Vasaléry, o múltiplo se concentra na
valorização da construção de protótipos. Para Vasaléry
a Arte deveria ser mecanicamente produzida, e sua
produção sugeria uma reforma social. Outra vertente
na exploração do múltiplo em produções artísticas se
deve aos trabalhos realizados pelo grupo Fluxus. O
Fluxus era uma espécie de Coletivo formado por
músicos, poetas e artistas plásticos Americanos,
Europeus e Asiáticos. George Maciunas foi a figura
central do grupo, devido a sua atuação como
administrador, arquivista, editor e responsável por
manter a ideologia do Fluxus. O que unia os
componentes do Fluxus era a crítica ao mercado de
arte, e o conceito de múltiplo contribuía para esse
pensamento. Como múltiplo, foram produzidas a
baixos custos as caixas-Fluxus e os kit-Fluxus, que
continham: matérias impressas, objetos achados, jogos,
e registros de performances de diversos artistas. Nessa
tentativa de reestruturar a produção, distribuição e
consumo de arte, foi iniciada uma série de gravuras
alternativas como: os livros de artistas, a arte Xerox, a
arte postal, entre outras. Seguindo essas tendências, a
partir dos anos 60 uma série de artistas brasileiros passa
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a experimentar novas formas de produção. Entretanto,
é nos anos 90 que a gravura de arte brasileira passa a
incorporar inovações conceituais. Nesse contexto, a
Mostra de Gravura Cidade de Curitiba de 1990, que
tinha como objetivo divulgar e discutir os meios
tradicionais de gravura, passa no ano de 1990 a
incorporar novas possibilidades de produção, como a
monotipia, que não era considerada gravura por não
apresentar a capacidade de reprodução, e os processos
fotomecânicos de produção de gravura de arte.
Conforme Resende (2000), o múltiplo refere-se a uma
forma híbrida de produzir uma obra e situa-se em um
espaço entre a gravura e a escultura. Para o autor, essa
produção estabelece referência aos redymades de
Marcel Duchamp e às caixas de madeira criadas pelo
alemão Joseph Beuys. O autor ainda pontua que o
múltiplo teve seu ápice na produção de artistas que
pertenceram a movimentos como a pop art, o
minimalismo, o grupo Fluxus e a arte conceitual. Nos
anos 80 houve uma baixa na produção do múltiplo,
entretanto, nos anos 90 ele é retomado, tendo seus
reflexos aqui no Brasil, como é o caso das mudanças
ocorridas no Clube de Colecionadores de Gravura do
Museu de Arte Moderna de São Paulo. De maneira
próxima às discussões iniciadas em São Paulo,
ocorreram transformações nas produções de gravura
em Curitiba no mesmo momento, o que contribuiu
para a mudança ocorrida na IX Mostra de Gravura
Cidade de Curitiba. Com essa abertura passa-se a
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286
Resumos
discutir novos meios de produção. Nesse sentido, não
se trata apenas de mostrar uma produção feita
anteriormente, mas de iniciar uma discussão sobre os
rumos da produção de gravura na contemporaneidade,
e de certa forma influenciar a produção local. Dessa
forma, a produção nacional apresentada na IX Mostra
de Gravura Cidade de Curitiba, em especial na sala
intitulada Processos Fotomecânicos na Gravura de
Arte, aproxima-se da característica da perda da “aura”
apontada por Walter Benjamin, principalmente por
abrigar trabalhos que se enquadram no conceito de
múltiplo, por meio de processos como: o Xerox, a
serigrafia, o off-set, a heliografia, o fax e a fotogravura.
A produção apresentada participa das discussões sobre
a produção de Arte Contemporânea e contribui para
refletir sobre a Gravura no campo expandido.
Palavras-chave: gravura; arte; arte contemporânea.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
A INQUISIÇÃO PORTUGUESA E O PECADO DO CONFESSIONÁRIO
Geraldo Pieroni - UTP
Em 1536, o funcionamento da Inquisição em Portugal foi autorizado com o intuito de manter a ordem religiosa
e social por meio da correção de delinqüentes e pecadores. Nesse Reino, a Inquisição passou a ser um novo
braço da Justiça e, uma vez oficialmente instalada, desenvolveu-se a ponto de se tornar uma verdadeira burocracia,
uma das mais importantes de Portugal. O Santo Ofício foi, inegavelmente, um “Estado dentro do Estado”. É
por essa razão que seus Regimentos estão de acordo com as Ordenações reais. A Igreja e a Monarquia estavam
unidas na mesma luta contra os desvios sociais, políticos e religiosos. Essa conveniente associação entre a
Monarquia e a Igreja mantinha a exclusividade católica na península, e o principal alvo dos inquisidores, em
Castela como em Portugal, foram os cristãos novos. A vigilância contra os pecadores recorrendo-se ao castigo
e à catequização, caracterizou a atuação da Inquisição como uma instituição responsável por reintegrar à sociedade
católica os seus dissidentes. Em Portugal, o motivo essencial que justificava a punição daqueles que infringia a
lei divina era a salvação de suas almas, ainda que para isso fosse necessário excluí-los do corpo social. No reino
lusitano, afora do controle dos cristãos novos, os principais crimes de fé combatidos pela Inquisição foram a
bigamia, a sodomia, a feitiçaria e, também o menos conhecido crime relacionado à profanação do confessionário:
Sollicitatio ad turpiam. Delito grave que ocorria quando, no momento da confissão, um padre solicitava ao
confessando que praticasse com ele atos obscenos. Denunciado ao Santo Ofício, o sacerdote poderia ser punido
com o banimento para os domínios lusos de além-mar, e entre eles figurava o Brasil. O ato confessional, cujo
poder de culpabilização da consciência e dos comportamentos individuais, foi desvelado por Jean Delumeau,
em seu clássico “A confissão e o perdão”. Na obra, o historiador demonstra que os ensinamentos advindos da
penitência rompiam os muros das igrejas e atingiam o comportamento humano em todas as suas dimensões e
nuanças. Isso nos leva a entender que, embora o delito revele que o ardil do confessionário seja histórico,
estabelecer qualquer relação da questão com os problemas contemporâneos da confissão exige, antes de tudo,
a busca de sua historicidade: compreender as razões pelas quais a Sollicitatio ad turpiam, na época Moderna,
suscitou a manifestação da Santa Sé. O caso do padre Manuel Botelho de Coimbra, é um dos muitos exemplos
que encontramos nos arquivos da Inquisição. Ele, no final do século XVII, se deleitou no confessionário com
algumas de suas filhas espirituais. Padre Botelho era um clérigo do hábito de São Pedro e vigário da vila de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
Tavares, no arcebispado de Viseu. Foi preso e levado
para os cárceres secretos da Inquisição. Imediatamente,
foi-lhe feito um interrogatório, onde seus erros foram
detectados. Botelho afirmou que durante o ato da
confissão ele havia solicitado várias de suas confidentes
para “atos torpes” e, com muitas delas, havia tido
“toques desonestos e palavras lascivas”. O padre havia
sido denunciado por Isabel Rodrigues, que declarou
tudo aos inquisidores. Em 14 de agosto de 1696, padre
Botelho foi suspenso de seu sacerdócio por 8 anos. O
direito de exercer o sacramento da confissão foi-lhe
retirado para sempre, tendo sido condenado a 5 anos
de degredo no Brasil. Para Isabel, a denunciadora e,
para muitas outras mulheres solicitadas no confessionário,
era muito difícil registrar queixas contra os confessores
que as assediavam. Isabel Rodrigues, por exemplo,
acusou o padre Botelho onze anos depois de ter sido
solicitada por ele. Talvez Isabel tenha escondido este
fato para preservar sua honra ou para evitar represálias
familiares. Mas, uma vez denunciado o crime no
confessionário e verificada a má conduta do confessor
impudico pelos inquisidores, a pena de degredo para
domínios de além-mar, para alguns solicitantes, era
quase inevitável constituindo desvio sacrílego. A
classificação ímpia do crime sollicitatio ad turpiam,
vinculado à profanação do confessionário - delito tão
grave como à própria blasfêmia - revela que para a
cristandade, o problema da confissão sacramental é
também histórico e, portanto, passa pelo crivo do
movimento pendular do discurso. A confissão pessoal
e auricular podia transformar-se numa “sutil máquina”
que virava ao avesso o objetivo do sacramento. O
confessionário, este receptáculo destinado ao perdão
divino podia, às vezes, ser transformado num “quiosque
do amor”, como o chamou, com delicadeza, a
historiadora francesa Michele Escamilla-Colin. Na
realidade, conforme as informações registradas nos
processos dos réus, o confessionário (na época,
construído na forma diminuta de uma igreja) parecia
mais a capelinha de Satã. Local com todos os aspectos
sagrados que, no entanto, eram profanados. Alguns
padres como vimos, deixavam de lado o objetivo da
confissão para entrar em assuntos mais íntimos e
luxuriosos convidando as suas penitentes, a cometerem,
ali mesmo, atos obscenos. Com isso, se o confessor não
estivesse muito atento e determinado, ele podia não ser,
no confessionário, o mensageiro da clemência divina;
o pai espiritual que perdoa e aconselha aos penitentes
o bom caminho para a salvação de suas almas, mas sim,
o contrário: um instrumento de solicitação ao pecado,
como freqüentemente relatam as listas dos autos-da-fé.
Este espaço venerado enquanto oferecimento de
salvação para os católicos, em diferentes momentos da
história, se deparou com questões polêmicas que
exigiram da Santa Sé atitudes em defesa do sacramento
da confissão. Essas questões, e as conseqüentes reações
da Igreja, entretanto, devem ser lidas no tempo e no
espaço onde ocorreu, o que exige a avaliação dos fatores
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
que circunscreveram essas práticas. Na época Moderna,
como visto, a falta cometida pelo clero no confessionário
foi motivo de reação do Santo Ofício, mecanismo
utilizado também pelas Coroas ibéricas para reconduzir
o rebanho cristão à ortodoxia da fé católica, em vias de
reforma. As punições, seguida de uma apressada
constatação de uma conduta desviante do seu clero,
criaram no senso comum a idéia de que, no processo de
cristianização da América portuguesa, a religião católica
se deparou com um local onde a sensualidade dos nativos
oferecia, aos não-vigilantes, o ensejo de irem à desforra
com seus apetites sexuais. Este cenário da vida dos
homens de fé nos trópicos certamente foi um fator de
contribuição para a ocorrência de novos casos de
solicitação no confessionário. Na ocasião da segunda
visitação do Santo Ofício no Brasil, em 1618, na Bahia,
o padre Baltasar Marinho foi denunciado por Madalena
de Góis. A mulher declarou aos inquisidores visitantes
que, durante a confissão, o padre havia lhe proposto de
“dormir carnalmente” com ela, mas, indignada, ela não
quis mais se confessar com ele. Ainda nas terras do
Brasil, entre os padres que solicitaram seus penitentes
durante, antes ou depois da confissão, identificamos
alguns que foram degredados para outras províncias do
próprio Brasil ou que, da Colônia, foram enviados para
outros territórios ultramarinos do império português. O
padre Bernardo Borges, por exemplo, era vigário do Rio
de Janeiro e foi condenado ao degredo para Angola por
10 anos. Outros padres, pelo mesmo crime, foram
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
expulsos de suas paróquias e proibidos, por toda a vida,
de voltarem a elas. Eram eles: Pedro Homem da Costa,
de 51 anos, residente na Paraíba; Antônio Esteves, de
Pernambuco, 45 anos; Antônio Alvares Puga, 46 anos;
e um certo Francisco do Rio de Janeiro, de 52 anos.
Dessa sentença, a única exceção foi o padre solicitante
Manuel Pinheiro Oliveira, de 53 anos e vigário de
Congonhas nas Minas Gerais. Em vez da interdição
perpétua, recebeu como pena o confinamento por 8
anos. Outros também foram banidos para conventos
distantes do local de seus pecados, como foi o caso dos
freis pernambucanos José de Jesus Maria, 62 anos; e
Manuel de Jesus, 50 anos. No entanto, essa idéia não foi
uma especificidade do catolicismo brasileiro: ocorreu
em outros espaços e momentos da história. Mais do que
entender que o Brasil foi terra de pecado por excelência,
é preciso considerar que a América portuguesa foi sim
terra de desterro para os clérigos desviantes da doutrina
e da moral católica. Tudo isso nos leva a entender que,
tanto no Brasil quanto em Portugal, o confessionário
aflorou, em muitos casos, os sentimentos mais humanos
de homens devotos. E na relação do homem com Deus
intermediado pela confissão, constata-se que,
invariavelmente, os fiéis foram intermediados por
simples mortais, homens sujeitos à tentação, a qual, no
entanto, estavam investidos pela “graça” divina a partir
do momento de sua consagração ao sacerdócio.
Palavras-chave: inquisição; confessionário; degredo.
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Resumos
A INTERFERÊNCIA DOS HETEROSSEMÂNTICOS NA APRENDIZAGEM DO
ESPANHOL POR FALANTES NATIVOS DE PORTUGUÊS
Maria Teresita campos Avella - UTP
Ao longo do trabalho docente com aprendizes de Espanhol como Língua Estrangeira observou-se que estes
nem sempre percebem determinadas diferenças entre a língua alvo e a língua materna em situações normais de
comunicações. Talvez isso se deva ao fato de o espanhol e o português serem línguas muito próximas, ou seja,
muito parecidas, o que leva ao aluno a formar uma interlíngua com traços fonológicos/ morfossintáticos da
língua materna conduzindo o processo de aquisição a uma fossilização dos erros produzidos. Em primer lugar
enmarcamos todo el proceso del análisis lingüístico en cinco niveles: fonémico, morfémico, lexémico, sintáctico
y textual. ¿Por qué todos estos niveles? La lengua es interpretación primaria y originaria de su referente, de lo
extralingüístico: las palabras «no nombran (de una manera inmediata) ‘cosas’, sino intuiciones, intuitivamente
concebidas. Esas intuiciones humanas de las cosas quedan representadas en la lengua. En la lengua se constata
lo que el hombre piensa de las cosas, cómo las concibe. Y como representar es categorizar, se puede afirmar
que la lengua es, en su conjunto, la macrocategoría, la categoría matriz. Decir que la lengua representa el mundo
equivale a decir que lo figura, que lo categoriza. La lengua, pues, representa, categoriza el mundo; esta
categorización global de lo extralingüístico se fracciona en cinco tipos de categorías. Esos cinco tipos de categorías
de la lengua fundamentan la existencia, en la Lingüística, de otros tantos niveles y tipos de categorías gramaticales.
Dai a importância em estudar a língua espanhola em função da língua materna, de que falamos, neste caso o
português. Nossa pesquisa: um estudo desde ponto de vista comparativo com relação à língua portuguesa e
espanhola. Neste nível, acrescentam-se os elementos de reflexão, investigação, estudo e prática avançada das
diferentes estruturas da língua espanhola num contexto comparativo e enfocando especialmente as mais
problemáticas para os falantes do português brasileiro. Aplicaram-se, aqui, os mesmos conceitos comunicativos
que regem todas as classes de língua estrangeira. Partimos da premissa que uma das poucas ocasiões na qual o
ensino de gramática pode resultar na aquisição da língua-alvo (e na proficiência ou competência comunicativa
nesta) é quando os alunos estão interessados e ativamente engajados no tópico da discussão e a língua-alvo é
usada como meio de instrução. Isso ocorre quando tanto o professor como os alunos acreditam que o estudo
de gramática é importante para a aquisição da segunda língua e o professor é capaz de apresentar explicações
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
na língua-alvo que os alunos podem compreender sem
problemas. Almejaremos, portanto, propiciar na sala
de aula de língua espanhola um ambiente pedagógico
que venha a atender e realizar essas expectativas.
Embora tenham um conteúdo formal definido de
acordo com linhas tradicionais, as aulas desta disciplina
nos diferentes semestres farão uso, sempre que
possível, de um arcabouço, dinâmica e estratégias
comunicativas, tais como aquelas definidas pela área
de espanhol. O nosso objetivo é fomentar, num
ambiente comunicativo, uma interação entre professor
e alunos que seja propícia para a aquisição da línguaalvo. Quando isso acontece, os alunos se beneficiam
duplamente de uma situação ao mesmo tempo
auspiciosa e profícua: primeiro, eles têm a oportunidade
de usar a língua estrangeira em um contexto
comunicativo bastante real, no qual as pessoas
envolvidas se comunicam de maneira significativa sobre
um tópico de relevância para todos, usando a línguaalvo; e segundo, eles têm a oportunidade de adquirir
conhecimento importante sobre a estrutura formal da
língua objeto de estudo, já que a sua atenção consciente
está voltada para a temática da discussão. Para tanto,
busca-se, por meio da Análise Contrastiva fazer ênfases
nos erros mais freqüentes em nossos alunos: os heteros
- semânticos presentes no português e no espanhol.
Primeiro se fez uma seleção deles e depois de
selecionados, se classificou os heteros-semânticos mais
recorrentes nas amostras investigadas, por ordem de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
grau de interferência. Ademais desse objetivo, têm-se
duas questões que orientam esta investigação: em que
medida os heteros-semânticos suscitam erros semânticos
que impedem ou emudecem a aprendizagem do
espanhol como LE por falantes nativos de português
brasileiro? Para alcançar esse objetivo e buscar respostas
às questões norteadoras desta pesquisa, foi realizada
uma revisão da literatura pertinente acercada
proximidade lingüística entre o português e o espanhol,
bem como sobre a Análise Contrastiva (AC) e a Análise
de Erros (AE), ressaltando a importância que esses
modelos trouxeram para o estudo de uma LE. Os
instrumentos de investigação empregados na coleta de
dados foram: 1) questionário preliminar; 2) versão de
texto; 3) tradução de texto; 4)tradução de frases; 5)
tradução de palavras; 6) entrevista; 7) apontamentos
da pesquisadora. A partir dos resultados obtidos,
verifica-se que o uso incorreto dos heteros-semânticos
demonstra uma tendência, por parte do aluno, ao de
emudecimento no processo de aprendizagem do
espanhol como LE. Tais resultados apontam para a
necessidade de reforçar a conscientização e a aplicação
de metodologias específicas e adequadas, a fim de
trabalhar com os alunos a questão das semelhanças e
diferenças entre as duas línguas.Outro aspecto analisado
foram os vocábulos heterotónicos. Estes vocábulos
acostumam compartir nas duas línguas a forma gráfica
e/o fônica (igual ou semelhante) e o significado. O
ponto de divergência dos vocábulos heterotónicos, se
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Resumos
refere à tonicidade, já que apresentam distinta
localização do acento tônico. Por exemplo, a palavra
anemia em português é um vocábulo polissílabo onde
a tonicidade recai sobre a penúltima sílaba. Não
entanto, em espanhol dita palavra mesmo sendo
idêntica na sua forma gráfica e apresenta uma
correspondência semântica entre as duas línguas em
questão, diverge enquanto à posição da sílava tónica:
anemia. Para melhor compreensão, se apresentaram
vocábulos heterotónicos destacando neles a sílaba
tônica nas duas línguas. Também se estudou sobre os
Vocablos heterogenéricos. As palavras heterogenéricas
também são idênticas ou semelhantes enquanto à
forma gráfica e o significado, mas divergem enquanto
ao gênero, ou seja, ao mudar de uma língua para outra,
sofrem também uma variação na equivalência de
gênero. Por exemplo, a palavra sal se pronuncia de
forma algo similar, se escreve igual, tem o mesmo valor
semântico, mas apresenta distintos gêneros das duas
línguas; em espanhol é uma palavra de gênero feminino
enquanto que em português é de gênero masculino.
Acostumam ser heterogenéricas las letras do alfabeto;
algumas das palavras terminadas em -umbre, en -aje,
en -or em espanhol. Entre as estudadas estão aquelas
de maior dificuldades entre elas: o legume (português)
la legumbre ou las verduras (em espanhol). Outro
aspecto são aqueles com formas semelhantes no
significado diferentes no uso atual, ou seja, palavras
que tem um origem comum e que tem chegado a
compartir o mesmo significado em fases anteriores das
duas línguas. Por exemplo, a palavra latir originada do
latim que significava “pulsar, latir” (o coração) e
também “ladrar” (o cachorro). Atualmente, em
português só manteve o sentido de “ladrar” enquanto
que no espanhol só se manteve com o significado de
“latir, pulsar”.São muitos os falsos cognatos existentes
quando se confrontam as duas línguas, já sejam totais
o parcialmente falsos amigos. Devido à complexidade
do tema, apresentamos algumas palavras consideradas
como falsos amigos, em espanhol, mas sem apresentar
a correspondência em português. No aspecto NIVEL
MORFOSSINTÁCTICO também são expressivas as
semelhanças existentes entre as duas línguas. As
semelhanças se nutram sobre tudo na linguagem formal
escrito. A continuação se resume algumas das principais
dificuldades dos brasileiros com respeito a algumas
categorias gramaticais. As formas consideradas
incorreta estão sinaladas com um asterisco O artigo.
De forma geral, os principais problemas dos alunos
brasileiros com respeito ao emprego do artigo estão
relacionados com o Uso do artigo neutro. Os estudantes
brasileiros têm muita dificuldade para compreender a
função do artigo neutro em espanhol “lo” e para utilizar
ele corretamente já que em português não existe a
forma neutra. Os erros mais freqüentes são a utilização
do artigo definido masculino em lugar do neutro.
Exemplo: *El principal de la vida es amar. Utilização
da forma neutra pelo artigo definido el. Ejemplo. *Lo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
chico y la chica son hermanos. Intento de evitar usar
o neutro fazendo construções nas que consigam
prescindir do, artigo neutro lo o que não constitui um
erro, senão uma estratégia. Seria ssim: La cosa principal
de la vida es amar. Outro elemento importante que
acontece é elisão de sujeitos e objetos em espanhol e
em português do Brasil. Quatro são os aspetos que se
analisou: a) como ocorrem os sujeitos e objetos
pronominais nas línguas em questão; b) analisar a
influência dos Processos na ocorrência ou elisão de
sujeitos; c) analisar a influência do Tema na ocorrência
ou elisão de sujeitos e; d) investigar em que se diferencia
a Referência nos dois idiomas quanto à elipse ou
ocorrência de pronomes pessoais. Dentre as várias
possibilidades de análise dos dados, a escolha do estudo
de Processos, de Tema e de Referência ocorreu pelo
fato de existirem poucos estudos sobre esses sistemas,
tanto em espanhol como em português, propiciando
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
um amplo campo para estudo e análise.Também se
apresentará o grupo de exercícios criados para trabalhar
àquelas interferências lingüísticas propriamente ditas,
e analisadas na pesquisa: fonológicas, morfológicas,
sintáticas léxicas. Através da análise, desenho e
produção de material didático original, este projeto
pretende desenvolver a capacidade de investigação e
de formação de docentes. Enfocará, portanto, aqueles
materiais didáticos que remetam direta e especificamente
às necessidades acadêmicas do aluno brasileiro de ELE.
Terá, também, como objetivo acadêmico-social,
fomentar nos alunos-professor brasileiros um sentido
de autodeterminação e proporcionar a possibilidade
de eles participarem ativamente no próprio processo
de ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: ensino de língua espanhola;
interferências; metodologia.
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Resumos
A LEITURA COMO FORMA SIMBÓLICA: O LETRAMENTO IDEOLÓGICO
Marlei Gomes da Silva Malinoski - UTP
O objeto de investigação da pesquisa “A Leitura como Forma Simbólica: o Letramento Ideológico” é a leitura e
sua representação como forma estruturada de cultura nas práticas escolares. A abordagem está em compreender
como o objeto é apresentado nas práticas cotidianas escolares e como essas se refletem nas condutas sociais
dos sujeitos envoltos no processo de ensino e aprendizagem e na relação existente entre o autor, texto e o
leitor da mensagem. Não compreender a leitura como símbolo cultural e veículo de ideologias, propicia um
direcionamento de abstração dos significados reais de um texto, possibilitando o que Bourdieu enuncia como
“violência simbólica”. Uma forma de dominação consentida pela aceitação de regras não significadas e, desta
forma, não expostas à crítica. Isto tornará cada vez mais favorável as relações de dominação por ideologias o
que reitera uma relação desigual de poder. A presente pesquisa intenciona iniciar questionamentos sobre até
que ponto o ensino de leitura nas escolas privilegia a leitura parafrásica: aquela que repisa o dito pelo autor e
que foi registrado como código na forma de texto; ou polissêmica em que se percebem as múltiplas vozes ditas
e as fronteiras possíveis do discurso lido. As fronteiras da leitura escolar e a compreensão sobre o lido padrão
vincular-se aos projetos de letramento adotados como práticas de reflexão. Entende-se, aqui, a luz de Ângela
Kleiman, letramento como as práticas sociais de leitura e de escrita adquiridas por uma coletividade, ou seja, o
letramento será diretamente proporcional aos eventos de letramento de uma sociedade, compreendendo eventos
de letramento como situações variadas de leitura, que promovam, ou não, relações de sentido e culturais. Desta
forma, a leitura não é compreendida como ato isolado do indivíduo, mera ação cognitiva de decifrar um código
registrado sobre um texto. Isto demonstra uma ação sobre o lido equivocada, pois não há como interpretar uma
informação ignorando a forma como essa se processa no indivíduo e ecoa nas suas percepções culturais. Ao se
questionar o tipo de leitura ora parafrásica ou polissêmica, almeja-se compreender como a leitura é apresentada nas
práticas cotidianas da escola, que modelo de letramento configura e como essas refletem nos índices de avaliação
institucional, que indicam um fracasso escolar nas práticas de leitura e o surgimento crescente de analfabetos
funcionais. Desse modo, a pesquisa aborda uma análise sobre o ensino de leitura apresentado na escola e avaliado
pelos sistemas educacionais é uma forma de se perceber a existência de “um conflito de valorização simbólica”
estabelecida por não se compreender a leitura como símbolo cultural e veículo de ideologias, o que propicia
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
um direcionamento de abstração dos sentidos de um
texto, possibilitando o que já citado foi enunciado por
Bourdieu como “violência simbólica”, ou seja, uma
forma de dominação consentida pela aceitação de regras
não significadas e desta forma não expostas à crítica. Os
discursos “oficiais” escolares reforçam a idéia de que ler
é uma questão de hábito ou gosto que se adquire por
vontade individual, independentemente dos vínculos
sociais estabelecidos pelo sujeito. Se pensarmos na
leitura como um fenômeno social, que por sua vez é
representado de forma cultural, compreenderemos que
o hábito de leitura não existe, mas sim, a apropriação
cultural do lido pelo leitor, que não é uma característica
inata do indivíduo, e sim, uma determinação de
trocas significativas de cultura entre pares sociais, que
naturalmente determinarão a percepção, aceitação ou
refutação do lido. Importante ressaltar, que sendo a
leitura um processo de apropriação do conhecimento,
obedece às mesmas leis de outras práticas culturais.
Isto porque não há como interpretar uma informação
ignorando a forma como essa se processa no indivíduo
e nas suas relações individuais. A perspectiva que se
vislumbra é a de uma compreensão sobre o lido uma
ação de apropriação cultural, que sugeri um repensar
sobre a leitura, mais ainda, um repensar sobre a cultura
veiculada no ato de ler e se o dito fracasso escolar,
diagnosticado pela PROVA BRASIL, SAEB, e PISA,
não estaria justamente nas formas de representação e
apropriação de sentido da leitura, dado pelas práticas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
tradicionais da escola, que não veiculam textos capaz
de promover apropriações culturais para os alunos,
que buscam no didatismo respostas alheias a interação
social e cultural e dessa forma impedem a ação de
se criar redes que expandam essa cultura em novas
leituras e descobertas. Pois, ao se considerar que a
idéia principal, o resumo, a síntese se constroem
no processo da leitura e são produto da interação
entre: os propósitos que a causam; o conhecimento
prévio do leitor e a informação aportada pelo texto.
Consideraremos que a leitura se realiza, então, na
convergência do texto com o leitor, visto que o discurso
escrito tem, forçosamente, um caráter virtual e cultural,
não pode ser reduzido nem à realidade do texto, nem
às disposições caracterizadoras do leitor. O ato de ler
só se efetiva quando houver um encontro entre leitor
e texto e nesse encontro as ideologias veiculadas e
apropriadas pela síntese, que os perpassam na busca
do significado, que se edifica nas formas simbólicas
estruturadas pelas sociedades em tempos e contextos
delineados. Assim, as implicações do ato de ler, para uma
sociedade, estão relacionadas às implicações políticas
e à forma de compreensão crítica da leitura, que não
se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou
da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga
na inteligência do mundo. As palavras desempenham
um papel central não só no desenvolvimento do
pensamento, mas também na evolução histórica da
consciência cultural da sociedade. No momento, a
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Resumos
pesquisa está centrada na conceituação e investigação
bibliográfica. Uma das ações é a conceituação do
que vem a ser ler, que será compreendida como o
processo pelo qual se compreende a língua escrita, pois
envolverá a decodificação, quanto mais significativa
e familiarizada, melhor; a inferência sobre o lido,
determinada pela proximidade conceitual entre o texto
e o leitor e as suposições promovidas por ambas a
respeito do texto, que vão além da memorização de
um código ou estruturas equivalentes, ler passa a ser
o que dá forma ou conforma o mundo, que extrapola
ao condicionamento da decifração do código, que
envolve o recorte antropocultural de mundo e a
inserção do sujeito nele. Importante, também, nesse
processo, é a compreensão sobre a palavra, que se
tornará o código comum, que assegura a recepção de
uma determinada mensagem, no caso o texto, mas
o código só constitui o texto quando ao receber se
estabelece, em potencial cognitivo o sentido da obra.
Então, o ato de ler se relaciona com a consciência
sobre o lido e a consciência estabelecida ao se escrever.
É o encontro de duas necessidades, a de conhecer e
a de se registrar. O que amplia a pesquisa para uma
terceira definição a do fator ideológico envolto nas
práticas de leitura. O encontro ideológico estabelece
a inferência de uma palavra dentro de uma mensagem
como dependente da caracterização da mensagem
no contexto a qual pertence, em que inferir significa:
concluir um significado pertinente a um conceito
cultural e contextual. Até o momento a pesquisa aponta
que o ensino da leitura e da compreensão deve buscar
desenvolver a autonomia do sujeito, para que ele seja
capaz de construir conceitos pertinentes ao texto lido e,
assim, tornar-se capaz de elaborar a crítica. Isto dentro
de uma possibilidade abrangente do diálogo, capaz de
inferir à mensagem conhecimento, habilidades valores e
atitudes frente à mensagem decodificada e ao contexto
da linguagem. A pesquisa encontra-se em fase de escrita
e conceituação com base no levantamento bibliográfico
e revisão da literatura, bem como a investigação da
análise de conteúdo como encaminhamento de análise
metodológica.
Palavras-chave: leitura; cultura; ensino.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
REFERÊNCIAS
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Resumos
A PESQUISA NO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO
PARANÁ
Maria Iolanda Fontana – UTP
Maria Cristina Borges da Silva – UTP
Carlos Alves Rocha – UTP
Daniele Marques Vieira – UTP
O presente trabalho apresenta as reflexões sobre a prática da pesquisa no Curso de Pedagogia da Universidade
Tuiuti do Paraná (UTP), e nesse contexto, o papel do Núcleo de Estudos e Pesquisas Educacionais (NEPE) e
das atividades de pesquisa realizadas pelos professores- pesquisadores, para a consecução do Projeto Pedagógico
do curso. A importância da pesquisa na formação docente tem sido amplamente divulgada e defendida pela
literatura internacional e brasileira, principalmente a partir da década de 1990. Dentre os pesquisadores, destacamse as contribuições de André e Lüdke que introduziram no Brasil essa discussão. Argumenta-se que a pesquisa
no currículo da formação inicial tem a finalidade de superar a racionalidade técnica e avançar para uma
racionalidade de práxis, comprometida com práticas pedagógicas transformadoras. Nesta perspectiva, o professor
produz conhecimento, decorrente da reflexão crítica sobre os problemas vividos na prática pedagógica. André
(1996) explica que os cursos de formação precisam incluir nos seus currículos atividades investigativas sobre a
prática pedagógica e oferecer ao acadêmico o contato com a produção de pesquisas atuais na área educacional.
Afirma que a pesquisa no currículo tem um papel didático, pois ao oportunizar o conhecimento de resultados
de investigações favorece a atualização de conhecimentos e a aprendizagem da metodologia de pesquisa. Lüdke
(2002) ressalta o papel essencial da reflexão crítica nas atividades de pesquisa e na prática docente e sobre a
necessidade de preparar o professor com uma base sólida de conhecimentos teórico-práticos para fundamentar
a prática pedagógica. As entidades representativas dos educadores (ANFOPE, ANPAE, ANPED, CEDES e
FORUMDIR), no contexto da constituinte e da elaboração da LDBN, reivindicam que as diretrizes para
formação de professores devem incluir entre seus princípios a pesquisa como eixo formativo e epistemológico
e argumentam que essa deva ocorrer em instituições universitárias. O movimento em favor da pesquisa é
considerado pelos legisladores do MEC/SESU, que a indicam como um princípio de formação, tanto nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação do Professor da Educação Básica, como nas Diretrizes
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Curriculares para o curso de Pedagogia. A Resolução
1/2006 define em seu art. 3º, inciso II, como central
na formação do pedagogo “a pesquisa, a análise e a
aplicação dos resultados de investigações de interesse
na área educacional”. A estrutura do curso deve prever
investigações sobre processos da docência e da gestão,
em diferentes situações institucionais, como também,
a participação dos alunos em projetos de iniciação
científica, monitoria e extensão. As diretrizes do curso
explicitam que a oferta de disciplinas como Introdução
à Pesquisa ou Metodologia do Trabalho Científico não
configura por si só atividade de pesquisa, orientando
que esta atividade pode ser desenvolvida no interior de
componentes curriculares, em seminários e em outras
práticas educativa. Para materialização desse princípio,
o Projeto Pedagógico do curso de Pedagogia da UTP,
inclui a pesquisa como um dos eixos estruturadores da
organização curricular, articulado aos eixos da docência
e da gestão. A pesquisa como princípio educativo e
epistemológico é entendida como meio para produção
de conhecimento pelo exercício da reflexão e relação
teoria-prática. A prática da pesquisa deve compor todo
o percurso da formação do pedagogo, materializada
em atividades que devem acontecer no interior das
disciplinas, tais como: divulgação da atual produção
científica do campo educacional, iniciação científica,
projetos de extensão, seminários, monitorias, estágios
curriculares e não curriculares, participação em eventos
científicos e em atividades de caráter científico, político,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
cultural e artístico. O curso prevê entre suas atividades
acadêmicas, a realização de pesquisas das quais os
estudantes possam participar desde o início da
formação, seja por meio da iniciação científica ou das
disciplinas de estudos interdisciplinares e metodologia
da pesquisa, favorecendo a identificação com as linhas
de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em
Educação - Mestrado em Educação (Políticas Públicas
e Gestão da Educação; e Práticas Pedagógicas:
Elementos Articuladores), e da FACHLA (Cultura,
Educação e Sociedade; Cidade, Patrimônio e Memória),
nas quais os professores do curso têm seus projetos de
pesquisa registrados. Nessa perspectiva o Núcleo de
Estudos e Pesquisas Educacionais (NEPE) tem
desempenhado um papel importante na articulação e
no debate em relação aos eixos formativos do curso,
propondo e incentivando pesquisas e grupos de estudos
na área educacional. Desde o ano de 2001, o NEPE
vem realizando várias atividades de estudos e pesquisas
educacionais. A equipe de professores ligados ao NEPE
pode ser considerada como um grupo emergente de
pesquisa interdisciplinar, uma vez que a construção do
trabalho do se dá pelo engajamento pessoal da equipe,
empenhada em implantar na UTP as novas dinâmicas
de trabalho associadas à interdisciplinaridade como
método e ao desenvolvimento e promoção humana
como objeto de ensino, pesquisa e extensão.Destaca-se
entre os objetivos do NEPE: divulgar e orientar
projetos de pesquisa e temas para os futuros trabalhos
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Resumos
de conclusão de curso; incentivar, apoiar e divulgar os
projetos relacionados ao Laboratório de Ensino,
Pesquisa e Práticas Educacionais – LEPPE; divulgar a
produção intelectual dos professores do curso,
apresentando os resultados dos projetos de pesquisa,
extensão e demais produções, por meio de publicações,
palestras, conferências, seminários, cursos e outros;
apoiar e incentivar a participação dos discentes em
projetos e eventos acadêmicos científicos; manter
parcerias com os cursos da UTP e outras instituições
que viabilizem promover e divulgar a produção
intelectual dos professores do curso de Pedagogia. A
cada ano o NEPE tem participado do planejamento e
da organização de diversas atividades institucionais e
do curso para que estas sejam divulgadas e realizadas
pelos docentes e discentes como atividades de pesquisa
e extensão. Como exemplo de pesquisa interdisciplinar,
no ano de 2008, o NEPE constituiu um grupo de
estudos, denominado GEPESA - Grupo de Estudos
em Políticas e Educação Socioambiental, que reúne
acadêmicos e professores dos Cursos de Pedagogia,
Geografia e Administração. O grupo tem o objetivo
de aprofundar as reflexões sobre a “Educação para
Sustentabilidade”, na formação profissional em cursos
de graduação, assim como compreender de que
maneira esta discussão está chegando na educação
básica, investigando como os vários conceitos
permeiam as diferentes formações e atuações
profissionais. O resultado dos estudos culminou em
várias publicações envolvendo docentes e os acadêmicos,
a realização de oficinas e coordenação de mesas em
eventos externos ligados a temática. Dessa forma, o
Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná
vem, nos últimos anos construindo a formação do
pedagogo-pesquisador, pela introdução da investigação
científica em um conjunto de disciplinas que compõem
a matriz curricular e por meio de ações integradas
desencadeadas pelo NEPE e laboratórios do curso
(LEPPE, NAMPE e LAR). Essa perspectiva tem se
efetivado, principalmente pela atuação dos docentes
que desenvolvem projetos de pesquisa em aderência
com a sua formação e disciplinas ministradas. A
pesquisa, no currículo é assumida como um princípio
educativo, ou formativo, quando está presente nas
práticas dos professores e em todas as disciplinas com
a finalidade de promover aprendizagens pela e para a
pesquisa. Assim como explica Demo (2003) educar
pela pesquisa tem como condição essencial primeira
que o profissional da educação maneje a pesquisa como
princípio científico e educativo e a tenha como atitude
cotidiana. A pesquisa na formação inicial, concebida
como um princípio educativo, ou formativo, integra-se
às demais disciplinas, fortalecendo seus objetivos.
Entende-se que para esta dimensão se efetivar é preciso
que a instituição viabilize planejamentos coletivos,
interdisciplinares objetivando a leitura dos fenômenos
educacionais, a sua problematização e o desenvolvimento
de habilidades e atitudes investigativas. Nessa direção,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
destaca-se a contribuição do professor-pesquisador do
curso de Pedagogia para aproximar os acadêmicos da
realidade educacional e para iniciá-lo na aprendizagem
dos métodos e instrumentos de coleta de dados,
desenvolvendo no aluno a atitude investigativa e
propiciando uma metodologia de análise e reflexão
sobre a prática pedagógica. A ação dos professorespesquisadores no curso favorece a relação ensinopesquisa e o desenvolvimento desta atividade com os
alunos, pelo trabalho que realizam com o conhecimento
como objeto de investigação, problematizando,
trazendo para estudo resultados de pesquisas atuais e
construindo conhecimentos. São exemplos, dois
projetos de pesquisa desenvolvidos por professores do
curso: “Formação de professores com o uso das
tecnologias no ensino presencial e a distância, visando
a inclusão social” – “Alfabetização e suas metodologias”.
Ambos os projetos são desenvolvidos por professores
que ministram disciplinas aderentes a esses, favorecendo
a atualização do conhecimento teórico-prático. Os
projetos de pesquisa repercutem também nas
metodologias de ensino adotadas por esses professores
que introduzem problematizações, busca de coleta de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
dados em contextos educativos, acesso a dados
resultantes de pesquisas atualizadas, propiciando
discussões e a construção de conhecimento. Nessa
perspectiva Zeichner (1993) salienta a necessidade de
tornar os futuros docentes, no processo de formação
inicial, em consumidores críticos de pesquisas
produzidas no campo educacional, bem como,
participantes de projetos de pesquisa.Desta forma, a
prática da pesquisa desenvolvida pelos professorespesquisadores promove o contato com a realidade e o
estabelecimento da relação entre a teoria e a prática,
envolvendo o aluno em pesquisas educacionais que
permitem: articular conhecimentos e experiências; a
reflexão, análise e interpretação de dados, fatos e
situações-problema da realidade educacional; o diálogo
com as diferentes teorias e autores estudados para
melhor compreender e transformar a prática educativa.
Com essa proposta, entendemos que é possível iniciar
o futuro pedagogo na pesquisa e prepará-lo para ser
um pesquisador e um leitor crítico da própria prática.
Palavras-chave: pesquisa; curso de Pedagogia; professorpesquisador; formação do pedagogo.
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Resumos
A PRÁTICA DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO OBRIGATÓRIO
Denise Cristina Wendt– UTP
Compreender as dificuldades da prática do estágio supervisionado obrigatório na disciplina de arte nas escolas
de ensino fundamental e médio necessitou de uma investigação participante nos espaços educacionais estaduais
onde foram realizados para a verificação da realidade. A pesquisa é um estudo de caso realizado através de uma
pesquisa de campo – uma investigação qualitativa com informações que partem de uma observação participante
nos locais de trabalho dos professores nas escolas e conversas com os alunos estagiários do curso de Artes
Visuais, utilizando também uma entrevista aberta com o objetivo de compreender o que os diretores, professores
e estagiários percebem sobre a questão pesquisada como objeto de estudo. A pesquisa entra no âmbito de
investigação avaliativa e decisória; pedagógica e ação: primeiro porque pretende levantar as informações para
o desenvolvimento de um projeto; em segundo lugar, a investigação pedagógica tem o objetivo de otimizar o
estágio supervisionado na instituição do curso de licenciatura, junto aos professores, supervisores e estagiários
para uma mudança; em terceiro lugar a pesquisa se propõe a uma investigação qualitativa aplicada em educação
do tipo ação onde a causa social tem o objetivo de promover a mudança social na educação com a forma de
apresentação de relatório de pesquisa e um projeto para a promoção desta mudança. Para a compreensão das
dificuldades encontradas, serão apresentados alguns problemas levantados em relação às escolas que são parte
fundamental para a realização do estágio curricular obrigatório, que faz parte da formação profissional do
professor de Artes Visuais, envolve a formação acadêmica com a prática profissional de educador e consiste
na vivência do contexto escolar, ampliando o conhecimento das particularidades nas diversas escolas e séries
do ensino fundamental e médio. É parte da formação do licenciando e um campo de conhecimento para a
preparação do aluno para o ingresso no mercado de trabalho, consiste em uma caracterização da escola, estudo
do Projeto Político Pedagógico, observação das aulas do professor da disciplina de Arte e regência com a
presença do professor regente da disciplina na escola e sob a responsabilidade de um professor supervisor do
curso de licenciatura. Se os estágios forem discutidos e otimizados dentro de uma política que possibilite aos
estagiários dos cursos de licenciatura superarem as dificuldades da concretização dos estágios junto às escolas,
diretores e professores, perceberão que é um momento de integração entre curso de licenciatura e escola, da
teoria com a prática. Trata-se de um momento em que a escola não deve ficar alienada ao que acontece nos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
cursos de licenciatura, onde o estagiário desenvolve o
seu relatório como uma pesquisa de campo, permitindo
inseri-lo no universo histórico, sócio, temporal da
realidade educacional. Visa, também, em sua prática
pedagógica, mudanças da ação docente, articulando os
conhecimentos adquiridos no decorrer do curso para
a articulação no contexto escolar diante das mudanças
da sociedade e a realidade escolar, interagindo com a
escola propiciando uma interação entre o curso e a
escola. A pesquisa é o Estágio Supervisionado
Obrigatório do Curso de Artes Visuais – licenciatura
com ênfase em computação da Universidade Tuiuti do
Paraná. Tem como objetivo a aproximação da Escola
Pública e a Universidade, valorizando a profissionalização
no campo de ensino e a compreensão das dificuldades
da prática do estágio num curso de formação de
professores, prestigiando o estágio na formação
profissional do curso de licenciatura. A obrigatoriedade
do estágio curricular e a participação da escola neste
processo apresentam muitas lacunas que exigem uma
reflexão dos profissionais da educação das escolas e
dos formadores de professores. Primeiramente,
observou-se desinteresse e dificuldade no convencimento
dos professores das escolas de ensino fundamental e
médio dos espaços educacionais estaduais da
importância da realização do estágio para o licenciando
na participação do processo como parte integrante da
formação. O estágio passou a ser uma negociação do
lugar do estagiário na escola, pois alguns professores
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
não compreendem a importância da participação do
estagiário na ação profissional do professor na escola,
deixando lacunas entre a obrigatoriedade do estágio, a
participação da escola neste processo e a aceitação do
estagiário em sala. As diretrizes dos cursos de Artes
Visuais em âmbito nacional exigem uma carga horária
mínima de 400h de estágios super visionados
obrigatórios, que para serem cumpridas deveriam ter
a interferência de instâncias superiores quanto à
obrigação das escolas públicas receberem os alunos
estagiários, porque somente acontecerão mudanças e
transformações com o estímulo de um licenciado
crítico e criativo nas observações e práticas. Uma
hipótese é o distanciamento do currículo dos
professores que estão em sala com o currículo dos
cursos de licenciatura quanto ao posicionamento em
não receber estagiários para a obser vação da
metodologia, dos recursos e avaliação das aulas. O
isolamento destes professores, sem discussão com
demais profissionais, por muitas vezes serem os únicos
no ensino da arte na escola, apresentam dificuldades
no planejamento e nas metodologias contemporâneas
para elaborar as aulas, sem capacitação, desatualizados,
com uma grande jornada de horas semanais, com uma
defasagem do que estudaram, mais a falta de domínio
de conteúdo e destes relacionados com os objetivos e
finalidades do ensino da arte, mais a realidade das
escolas sem salas especiais e recursos materiais, resultam
na ineficiência, somada a isto, um aluno que traz
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diversos problemas de casa, que não tem nenhum
recurso para adquirir algum material, salas lotadas sem
espaço para o professor circular entre as carteiras, para
flexibilizar sua aula, levam o professor ao isolamento
e a recusa de mais alguém que observará tudo isto e
registrará em um relatório, este configurado na figura
do estagiário no cumprimento do seu estágio curricular
obrigatório. Outro problema observado, é que alguns
destes professores muitas vezes não sabem nem a
função da arte na educação, que arte também é
conhecimento, ensinar arte é refletir sobre a arte, que
poderá ser um fator de humanização dentro de sala
para a formação humana da sociedade. Também não
valorizam o conteúdo, nem conseguem avaliar a
influência e o alcance das atividades propostas aos
alunos, que o objetivo da disciplina não é o de formar
artistas, mas pessoas que poderão entender o que é
uma obra de arte, que poderá estimular a capacidade
artística do aluno e ou também de futuros arte
educadores, que alfabetizará esteticamente seus alunos.
Mostram pouca afinidade com o magistério, se voltam
para o magistério não tendo um perfil de licenciado,
não compreendem a relação e importância do
professor-artista, que é um pesquisador com uma
reflexão artística que tem uma formação consistente e
reflexiva para a atuação na arte e em sala de aula. No
desenvolvimento da pesquisa foi realizada uma pesquisa
de campo com a observação, conversas com os
estagiários, entrevistas respondidas pelos professores,
projetos em parceria, com oficinas nas escolas e na
universidade. Quanto aos resultados das entrevistas,
tivemos algumas seguintes respostas: professores que
não percebem a importância da parceria e como podem
desenvolver propostas a partir dos estágios; professores
que solicitam troca de informações; que concordam da
necessidade da prática para o estagiário; alguns não
sabem o que esperar da parceria; alguns solicitam
projetos de parceria; outros solicitam aulas práticas e
diferenciadas; em algumas escolas os professores
aceitam os estagiários, mas há uma grande resistência
quanto aos pedagogos e diretores; em uma das escolas
a informação obtida da pedagoga é a que a escola
sempre aceita os estagiários e alterna os períodos, sendo
um trimestre com estagiário outro não; a escola em que
desenvolvemos diversos projetos com vários alunos
estagiários no espaço da escola e na universidade,
respondeu que os cursos que é precisam deles e
autorizam quando acharem conveniente. Um dos
últimos projetos após o estágio, a direção solicitou uma
parceria para uma atividade, a qual foi realizada na
universidade, e já temos novos estagiários nesta escola,
com o objetivo da parceria atingido. Com os resultados
desta pesquisa, constatamos que para o desenvolvimento
da prática educativa dos nossos alunos estagiários
temos que aproximar a universidade da escola pensando
na construção da profissionalização do professor de
Artes Visuais e na atual identidade do profissional.
Nesta discussão sobre a realização do estágio
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
supervisionado obrigatório, verificamos as muitas
dificuldades da concretização do estágio no curso
superior de Artes Visuais - licenciatura com ênfase em
computação da Universidade. Percebemos que muitos
professores aceitaram a parceria compreendendo como
fazer deste estágio um grande projeto. Outros, não
perceberam ou não querem perceber, outros, o
empecilho é colocado pelos pedagogos e diretores
porque os professores aceitariam os estagiários em sala.
O importante é que todos percebam a importância da
participação do estagiário na ação profissional do
professor, na investigação no espaço do estágio,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
discutindo as insuficiências e colocando em prática
projetos de parcerias que auxiliem nos problemas e
projetos da escola, pois os estágios são um instrumento
de intercambio de realidades e necessidades. Como
resultado das propostas de parceria, percebesse que
temos obtido maioria de respostas positivas quanto à
proposta e ao objetivo em mostrar que a universidade
é o espaço de formação dos docentes e do exercício
da pesquisa.
Palavras-chave: arte-educação; formação de professores;
estágio curricular obrigatório; ensino de arte.
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Resumos
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
A RELAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES E O CONHECIMENTO
MEDIADA PELA TECNOLOGIA
Carlos Alves Rocha - UTP
O presente trabalho é resultado de estudos e pesquisas feitos durante a realização do projeto de pesquisa
“Formação de Professores com o Uso das Tecnologias no Ensino Presencial e a Distância Visando a Inclusão
Social”. Os objetivos que direcionaram a pesquisa citada foram: I - Mapear o sistema de relações da formação
de professor em estudo, tendo na compreensão do papel da tecnologia e do mundo do trabalho o instrumento
para identificar o padrão organizacional do curso de Pedagogia, bem como os focos de atuação dos envolvidos,
seus problemas e interferências. II - Estabelecer os elementos que definem o paradigma oriundo da relação
tecnologia e mundo do trabalho que interferem nas ações de formação, compreendendo as dinâmicas que os
move, de forma que possa contribuir para a otimização da gestão da atividade em todos os sentidos, principalmente
nos aspectos diretamente ligados ao processo ensino-aprendizagem, estabelecendo a sua identidade e
funcionalidade sistêmicas. Partindo da observação empírica de que havia uma diversidade de ações no curso de
pedagogia, demonstrando a complexidade das relações envolvidas na formação, o problema que fundamentou
foi baseado nas seguintes questões: Como se dá a articulação da formação de profissionais da educação que
permite a esse complexo de relações ter uma unidade visando um mesmo objetivo? Qual o seu padrão de
organização no qual se pode interferir nos momentos de correções de percurso e retroalimentar as ações do
processo ensino-aprendizagem? O paradigma que fundamenta essa formação sofre interferências das
transformações tecnológicas ocorridas na sociedade e no mundo do trabalho? Que interferências são essas e
quais as conseqüências? A partir desse questionamento, foi estabelecida a seguinte hipótese: Há um elemento
articulador (paradigma) capaz de estabelecer o padrão de organização da ação, que sofre interferência da
tecnologia e do mundo do trabalho, no qual é possível interferir para as correções de percurso e retroalimentação
do sistema e que é o responsável pela unidade da formação. Nesse sentido, a pesquisa acima, partiu do pressuposto
de que a escola, locus primordial da ação educativa, é um espaço que tem sofrido as mais variadas interferências
ao longo do tempo, com a ocorrência de múltiplas influências em sua história. As grandes mudanças no mundo
do trabalho e as aceleradas transformações por que passa a tecnologia, trazendo novas técnicas, novas profissões
e interesses, têm exigido uma constante adaptação e acomodação das forças produtivas aos novos tempos,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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fazendo com que a educação seja afetada no seu mister.
A grande produção material no regime de acumulação
capitalista em que está inserida a sociedade circundante,
oriundo da mundialização da economia, requer uma
reestruturação produtiva e serve de argumento para a
intervenção nas práticas escolares. Essa intervenção,
advinda do mundo do trabalho e do desenvolvimento
científico e tecnológico, não é de hoje e nem ocorre
por acaso. Alguns estudos nos levam a perceber que,
no passado, os educadores ofertavam vagas nas escolas
e estas entravam em conflito com as necessidades
demandadas pelos empresários. Estes buscavam uma
mão-de-obra com pouca qualificação, o que fazia da
escola única com qualidade igual para todos não ser
necessária. Isto se viu principalmente na primeira etapa
do processo de industrialização, pois países em
desenvolvimento, como o nosso, estabeleceram um
parque industrial razoável contando com uma mão-deobra de baixa qualificação. Nesse período, percebia-se
verificar a existência de um contingente enorme de
trabalhadores com pouca educação e, assim, mal
preparados para enfrentar a complexidade da vida.
Com o desenvolvimento tecnológico, o que se vê hoje
é outra realidade: as altas tecnologias de produção e
informação predominam e a grande maioria dos países
não se arrisca a entrar nos competitivos mercados
internacionais sem antes estabelecer um sistema
educacional sólido e que, de preferência, atinja a
totalidade da população, e não só a força de trabalho,
com oito, dez ou mais anos de ensino de boa qualidade
(SILVA FILHO, 2001, p. 87). Tomando-se essas ideias
como pressuposto para o estudo, estruturou-se o
trabalho, que foi precedido de uma pesquisa bibliográfica
intensa, que ia se renovando ao longo de sua realização.
Para esse fim, houve a participação dos alunos das
disciplinas “Tecnologia da Infor mação e da
Comunicação” e “Estudos Interdisciplinares”, que
diretamente foram envolvidos, através de atividades de
ensino e pesquisa ligadas a temática em perspectiva.
Esta pesquisa durou de julho de 2007 a julho de 2009,
não obtendo todos os resultados esperados, uma vez
que o tempo foi insuficiente para se auferir mais
conhecimentos, demandando também o envolvimento
de outras pessoas ao processo. Também foi fonte de
estudos e pesquisas, a realização do projeto de extensão
que ocorre sob os auspícios da Pró-Reitoria de
Promoção Humana, da Universidade Tuiuti do Paraná
– UTP, cuja iniciativa foi do curso de Pedagogia, a partir
de proposta do autor desta pesquisa, e que tem a
colaboração do curso de Análise e Desenvolvimento
de Sistemas da mesma universidade. Participam alunos
e professores dos cursos citados, e tem o seguinte título:
“Inclusão Digital e Social”. Trata-se de um projeto que
visou inicialmente atender a jovens em busca do
primeiro emprego e pessoas de terceira idade da
redondeza do campus “Sidney Lima Santos” (Barigui).
Hoje, além do público inicial visado, se estende também
a funcionários interessados da UTP de todos os câmpus
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
e qualquer pessoa da comunidade. Com o intuito de
introduzir no mundo da informática essas pessoas, são
transmitidos a elas conhecimentos básicos de software
e hardware, e também algum aprofundamento em áreas
do interesse das pessoas que buscam o projeto, bem
como troca de informações que possam levar a uma
melhoria das condições de cidadania e participação na
sociedade de todos os envolvidos. Nesse projeto de
extensão, há a oportunidade de se conhecer o alcance
da relação do desenvolvimento tecnológico na vida das
pessoas e a influência do mesmo em suas vidas
particulares. Além de textos apresentados em eventos,
destaca-se três produtos oriundos da pesquisa em foco:
o livro em co-autoria, com o título de “Preparação dos
Docentes no Uso das Tecnologias Assistivas para a
Inclusão de Alunos com Necessidades Especiais”,
deste autor junto com as professoras Iolanda Bueno
de Camargo Cortelazzo e Márcia Silva Di Palma,
editado pela UTP em 2008; o livro “Mediações
Tecnológicas na Educação Superior”, deste autor,
editado em 2009 pela Editora IBPEX; e o capítulo
intitulado “A Formação de Professores, a Tecnologia
e o Conhecimento: relações e interferências”, que faz
parte do livro “Educação Matemática, Tecnologia e
Formação do Professor: algumas reflexões”, organizado
pelos professores Nielce Meneguelo Lobo da Costa e
Willian Beline, que está no prelo e será editado pela
Editora FECILCAM, da Faculdade Estadual de
Ciências e Letras de Campo Mourão. São produções
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
em que aparecem alguns conhecimentos adquiridos
durante a pesquisa, destacando-se o seguinte: 1) A
formação de professores deve também se ocupar com
as transformações científicas e tecnológicas do último
século, que têm exigido adaptações e modificações em
várias atividades e setores produtivos, trazendo aos
profissionais que lidam com a formação de outros um
olhar diferente ao que vinha sendo feito em relação a
isso. Isto se dá, principalmente, pelo advento de novas
técnicas, novas profissões e interesses que devem ser
considerados no ato formativo. Esta preocupação deve
ocorrer na perspectiva de tentar entender as
interferências que tudo isso causa na educação e na
vida das pessoas, com condições de provocar discussões
que permitam o trabalho do professor de acordo com
mos novos tempos. 2) Esta observação anterior leva a
perceber que as ações de formação de professores são
ditadas por uma demanda do contexto, que interfere
na ação educacional. O que não pode ocorrer é que
essa interferência aconteça em detrimento da integridade
do ser humano em seus aspectos ambientais, sociais,
mentais e políticos. Porque se isto acontecer poderá
trazer prejuízos às pessoas, apresentando elementos
motivadores e fortalecedores da exclusão social de
muitos. 3) Deve também ser preocupação da formação
de professores, o fato de em muitas das preocupações
nas empresas hoje serem feitas em nome de uma
responsabilidade social, apregoada como uma das
finalidades essenciais de uma empresa, principalmente
309
se ela quiser obter algumas benesses do mercado e dos
órgãos financeiros, governamentais e outros. Muitas
pessoas e instituições estão criando e incentivando
atividades de inclusão, com leis, projetos e programas
que se preocupam com aqueles que são excluídos,
principalmente por causa de sua deficiência ou falta de
escolaridade. Essas ações ocorrem não porque querem
fazer o bem, mas para lhes garantir uma visibilidade
que lhes dê vida ativa no mercado, garantindo-lhes o
lucro. Há exceções a isso, mas não têm o destaque
necessário. 4) O desenvolvimento científico e
tecnológico tem trazido discussões e alterações de
conceitos que envolvem o conhecimento, principalmente
com a possibilidade dele ser elaborado e disseminado
em rede, o que traz algumas mudanças paradigmáticas.
Esses são alguns dos resultados da pesquisa, que
poderão ser aprofundados para se atingir os objetivos
esperados, o que só será permitido na continuação
prevista desse trabalho.
Palavras-chave: conhecimento; educação; formação de
professores; tecnologia.
Pesquisa
A REVISTA DO PATRIMÔNIO NA GESTÃO DE DR. RODRIGO: UM ESTUDO DO
CONCEITO DE PATRIMÔNIO PELOS TEXTOS DA REVISTA
Maria da Graça Rodrigues Santos - UTP
O Decreto-Lei n°25 (IPHAN, 2006), assinado por Getúlio Vargas em 1937, definiu as diretrizes para a preservação
do patrimônio histórico no Brasil e regulamentou o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, hoje
IPHAN, que foi criado em 13 de janeiro do mesmo ano, subordinado ao Ministério da Educação e Saúde,
dirigido por Gustavo Capanema. Os anos 1937-1945 foram marcados pela revitalização da estrutura
governamental do Estado Novo, da qual os intelectuais tiveram grande participação, frente à possibilidade de
aumentar sua atuação, mediante à proposta varguista de criar e proteger as esferas sociais da saúde, da educação,
das artes, da administração e do trabalho. Voltava-se, também, à busca da unidade nacional, e à criação da nova
sociedade brasileira. Nesse contexto, o SPHAN, como outros institutos criados, objetivava o aprofundamento
de idéias nacionalistas e a divulgação da cultura brasileira. De acordo com Miguel e Correia (2009), através dos
intelectuais a identidade nacional foi lapidada de modo a abrandar diferenças. A gestão do Órgão, a cargo de
Rodrigo Melo Franco de Andrade, marcou a fase heróica do SPHAN, que contou com o apoio dos principais
intelectuais do período, que procuravam “construir” o patrimônio nacional, com base no conceito de patrimônio
adotado e claramente evidenciado no texto do Decreto-Lei n°25. Este estudo mostra como através da Revista
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, nos quinze primeiros números que correspondem à gestão de
Rodrigo Melo Franco de Andrade, o Dr. Rodrigo - quer seja pela seleção de artigos, quer pelas idéias contidas
em alguns deles - esse conceito de patrimônio foi sendo trabalhado de modo a privilegiar as obras edificadas
do período colonial, ainda que os planos de Mário de Andrade, no seu projeto encomendado por Rodrigo Mello
Franco de Andrade e que serviu de base para o Decreto-Lei, previssem maior abrangência nos critérios de
escolha daquilo que deveria estar sob a guarda estatal. Andrade havia arrolado um conjunto de artefatos na sua
lista de bens dignos de salvaguarda no pretendido patrimônio, que incluía música e danças populares, além de
outras expressões do campo da etnologia. Naquele momento, como explica Lemos (2009), “ainda não eram
correntes as noções de “cultura material” ou de “patrimônio cultural”, idéias até então vagas e destinadas a
complicar o equacionamento de um decreto estadonovista estreante em assunto entre nós mal estudado”. A
relação dos artigos de cada revista e dos seus autores dão também a medida da participação dos intelectuais no
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
projeto cultural do Estado Novo. O uso do termo
patrimônio, adotado para caracterizar este período,
baseia-se na definição de Choay (2001), para quem este
conceito (de patrimônio), diferente de monumento, foi
utilizado inicialmente para referir-se ao conjunto de
obras, de caráter institucional, que representavam a
nação. O número um da Revista está estruturado em
quatro partes: a primeira com textos de natureza mais
abrangente apresenta artigos de Alfredo E.Taunay,
Heloisa Alberto Torres, Lucio Costa e do Rodrigo Melo
Franco de Andrade; a segunda parte é dedicada ao
mobiliário nacional; a terceira a monumentos da
arquitetura religiosa, e a quarta parte, de notas,
pequenos textos sobre temas específicos, a exemplo
do texto descritivo sobre o Museu Coronel David
Carneiro, em Curityba. No início desse número,
Rodrigo Melo Franco de Andrade, em texto denominado
Programa, justifica a ênfase nos monumentos
arquitetônicos apenas como uma primeira etapa das
pesquisas que, segundo afirma, deverão abranger além
dos imóveis, o conjunto de bens móveis e outros de
valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico, artístico,
natural e paisagístico, especificados no Decreto. Do
número dois em diante, o sumário não apresenta
estruturação mais elaborada e os quatorze textos estão
listados sem critério aparente. Intercalam-se temas
voltados a resultados de pesquisas históricas, artísticas
e arquitetônicas, a exceção de um texto resultado de
pesquisa etnográfica sobre a pesca brasileira, no
Maranhão, de Raimundo Lopes. No número três da
Revista, dos quinze textos apresentados, temos: cinco
deles são dedicados ao tema das pinturas religiosas,
principalmente; três voltados ao mobiliário; dois ao
Aleijadinho e o restante sobre casas e capelas coloniais.
No número quatro, ao lado dos estudos sobre
monumentos arquitetônicos, mobilário e desenhos de
arquitetura, são apresentadas duas biografias, um texto
sobre os ofícios mecânicos em Vila Rica no século
XVIII, além de dois estudos sobre aglomerados urbanos
e um texto mais teórico sobre o valor artístico e o valor
histórico na história da arte, ampliando o leque de
interesses sobre preservação, que caracterizou os
números anteriores. No número cinco, continuam os
estudos do patrimônio material, sobressaindo alguns
estudos sobre pintura, alfaias, um estudo teórico sobre
barroco, dois estudos sobre textos históricos e um
estudo sobre a “decoração das malocas indígenas”, que
aponta para o interesse em expressões da cultura não
erudita, um pouco na linha de Mário de Andrade, que
apresentou, no período, um estudo sobre a diversidade
cultural do Brasil. No número seis da Revista, os textos
sobre o patrimônio material continuam predominantes,
há um texto sobre mobiliário, um sobre a prataria
seiscentista do Mosteiro de São Bento, uma biografia e
“Um litígio entre Marceneiros e Entalhadores no Rio
de Janeiro”. No número sete, mais uma publicação com
mobiliário, patrimônio material, com ênfase em casas,
um texto sobre as pinturas de Franz Post e Albert
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Ekhout e outro sobre “Os Azulejos do Convento de
São Francisco da Bahia”. No número oito, os artigos
concentram-se mais uma vez no estudo do patrimônio
material e dois textos tratam de arte: um sobre os
modelos europeus na pintura colonial e outro sobre
temas pastoris na arte tradicional brasileira. No número
nove, dá-se seguimento ao tema principal e acrescentamse uma biografia e dois estudos de textos históricos. O
número dez é composto de apenas quatro artigos. Três
são estudos aprofundados de bens de natureza material
(fontes e chafarizes do Rio de Janeiro, Palácio das Torres
e o Palácio Velho de Belém) e um sobre a contribuição
de Marc Ferrez à fotografia no Brasil. No número onze,
último da gestão de Rodrigo Melo Franco de Andrade,
são mais uma vez publicados quatro artigos, todos de
grande densidade. O primeiro é um estudo completo
sobre as casas de câmara e cadeia, que se tornou um
clássico no ensino da arquitetura brasileira e foi
publicado posteriormente na Revista de n°26, assim
como o texto Arquitetura dos Jesuítas no Brasil, de
Lucio Costa, publicado originalmente no número quatro
da revista. O segundo texto é sobre a procedência da
arte de pintura na província da Bahia, com base em
manuscritos da Biblioteca Nacional. O terceiro é um
estudo sobre vestígios de Fortim Colonial no Engenho
Novo e o último apresenta um guia histórico dos
municípios do Pará. Os últimos quatro números da
Revista, publicados nos anos 1955, 1956, 1959 e 1961,
fecham o ciclo das publicações da chamada fase heróica
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
(FONSECA, 2005) do Serviço do Patrimônio, que
esteve sob a direção de Rodrigo Melo Franco de
Andrade. Os temas tratados nesses últimos números
dão continuidade à política iniciada na publicação do
primeiro número. Concluindo, observa-se que, à parte,
o privilégio dado aos bens de natureza material, os
artigos da revista têm caráter de fundamentação. Neles
estão ou eles próprios são a base da construção do
patrimônio cultural brasileiro. Os temas tratados são
preciosos por evidenciar a riqueza do patrimônio
brasileiro, todos tão importantes, naquele momento
político do Estado Novo, como explica Melo Franco
de Andrade. “trata-se, por conseguinte, de um vasto
domínio, cujo estudo reclamará longos anos de trabalho,
assim como a preparação cuidadosa numerosos
especialistas para empreendê-lo. Esta revista registrará
semestralmente uma pequena parte do que se houver
tentado ou conseguido com esse objetivo. Ela conta
com a contribuição dos doutos nas matérias relacionadas
com a sua finalidade e bem assim com o apoio e a
simpatia de todos os brasileiros interessados pelo
patrimônio histórico artístico nacional” (Revista do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1937, p. 2).
Sob outra perspectiva, a análise desses artigos evidencia
a participação dos intelectuais no projeto getulista. São
contribuições de pesquisadores e historiadores que
tiveram grande importância na definição e organização
do patrimônio nacional, incluindo o próprio Rodrigo
Melo Franco de Andrade.
313
314
Resumos
REFERÊNCIAS
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: UNESP, 2001.
IPHAN. Coletânea de Leis sobre preservação do Patrimônio. Rio de Janeiro: IPHAN, 2006.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio
de Janeiro: UFRJ; MinC – Iphan, 2005.
MIGUEL, Nádya Maria D., CORREIA, Maria Rosa dos Santos. Os intelectuais no Iphan e no Ibge na era Vargas. Anais
doV Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura. Salvador: Faculdade de Comunicação/ UFBA. 27 A 29 de maio
de 2009.
REVISTA DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Rio de Janeiro: SPHAN, 1937 – 1961. n°115.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
A UTOPIA FIN-DE-SIÈCLE DE EDWARD BELLAMY
José Antonio Vasconcelos - USP
IDENTIFICAÇÃO DO OBJETO E DA PROBLEMÁTICA: Com a expansão industrial ocorrida principalmente
a partir da segunda metade do século XIX nos Estados Unidos proliferam-se as grandes metrópoles, que já
não eram incomuns na Europa nessa época, a exemplo de Londres, Manchester, Paris e outras. Tais quais as
cidades européias, os grandes centros urbanos nos Estados Unidos encontravam problemas como a miséria, a
criminalidade e o conflito de classes, ao lado da exuberância de seus edifícios e das comodidades trazidas pela
evolução tecnológica. Neste contexto, situa-se Edward Bellamy, cuja obra principal, Daqui a cem anos (Looking
Bakward), tornou-se um dos romances mais populares na virada do século. O conteúdo de Daqui a cem anos
pode ser enquadrado nos moldes daquilo que já se havia convencionado chamar de “socialismo utópico”,
uma corrente de pensamento difusa que tem como premissa comum a transformação pacífica da sociedade
industrial e capitalista num modelo igualitário, no qual as classes sociais teriam sido abolidas. Mas por que no
tipo de organização social da cidade proposto por Bellamy interessou a intelectualidade de sua época? O que
era exatamente a cidade no final do século XIX, seus pontos positivos, negativos; e como a sociedade socialista
descrita por bellamy superava as contradições existentes na cidade administrada pela burocracia privada? Uma
hipótese que explica o sucesso de Daqui a cem anos reside no fato de que o homem do século XIX não estava
atrás de um modelo de sociedade radicalmente diferente daquele encontrado nas grandes concentrações urbanas.
O objetivo último não era fugir da cidade, mas expurgar seus pontos negativos, mantendo o modelo existente. A
América do Norte, em especial, tornou-se palco de uma série de experiências realizadas por socialistas utópicos,
que viam ali um território ainda não completamente dominado pelo espírito industrial e capitalista, e que por
isso mesmo contaria com mais chances de sucesso. Com o desenvolvimento industrial surgia uma grande
necessidade de que contingentes populacionais cada vez maiores se concentrassem em espaços cada vez mais
delimitados, pois a organização do tempo é fundamental nesse tipo de sociedade e as distâncias representavam a
perda de um valioso tempo útil a ser aplicado no processo de produção. A partir dessa organização diferenciada
do espaço, novas relações sociais tomavam lugar, criando problemas que exigiam novas soluções. Questões
como a educação, a literatura, a arquitetura, a recreação e o relacionamento entre patrões e empregados
revestiam-se de novos matizes. Talvez possamos objetar que a obra de Bellamy, desenvolvendo-se no âmbito
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
do pensamento utópico, propõe um modelo de cidade
inexistente e inválido, portanto, como fonte para uma
pesquisa histórica. Devemos considerar, entretanto, que
o pensamento utópico não é mais que uma resposta
eloqüente, que vem ao encontro de problemas reais e,
portanto, históricos. Além disso, a literatura utópica não
desempenha um papel puramente passivo, enquanto
reflexo dos padrões de comportamento vigentes, mas
participa ativamente da História enquanto formadora
de novas opiniões.
EDWARD BELLAMY E SUA UTOPIA: Ao longo da
segunda metade do século XIX surgia um novo tipo de
literatura, pois os autores românticos, que exploravam
temas como o pecado e a culpa, e desenvolvidos em
cenários pouco familiares aos leitores, cediam lugar
a uma literatura que tinha na cidade e no cotidiano
do cidadão urbano seu principal foco de atenção.
No meio dessa tendência literária situa-se Daqui a
cem anos, de Edward Bellamy, contrastando a injusta
sociedade urbana e industrial de seu tempo com uma
imaginária América socialista, na qual um governo
fortemente centralizado permitia uma vida digna a
todos os cidadãos. Daqui a cem anos foi impresso em
vários milhões de exemplares traduzido para mais de
vinte línguas, tendo sido um dos maiores Best-sellers
na virada do século. No romance o Sr. Julian West, um
jovem membro da classe mais abastada de Boston, é
transportado para o ano 2000 após uma suposta noite
de sono. Na Boston do século XX, o Sr. West tem por
anfitrião um médico chamado Dr. Leete, que tenta
explicar ao protagonista a delicada situação em que
este se encontra. A sociedade do século XX, tal como
descrita por Bellamy, não difere muito em termos de
tecnologia daquela existente no século XIX. O que
muda é a racionalidade do sistema econômico. Por
meio de uma administração pública centralizada a
produção aumenta e a jornada de trabalho diminui, pois
o que é gasto em armamentos, propaganda e complexa
distribuição de mercadorias é então canalizado para
atividades mais proveitosas, uma vez que nesta
sociedade não há mais guerras nem competição de
mercado. Diminui também o desperdício ocasionado
por empreendimentos equivocados, crises periódicas
e ociosidade de capital e trabalho. Todos trabalham,
todos possuem a mesma renda e ninguém se abstém
de uma vida farta e digna. Na sociedade capitalista
do século XIX, uma distribuição igualitária nacional
ainda não seria suficiente para acabar com a pobreza.
No ano 2000, pelo contrário, à padronização da
renda individual, soma-se o aumento da produção e
o fim do desperdício, que em conjunto oferecem o
bem estar material de toda população. Seria errôneo
afirmar que Bellamy não tenha concebido qualquer
evolução tecnológica em sua visão de futuro. Tratamse, porém, de profecias não cumpridas, ingênuas
em sua maioria, como a combustão sem fumaça ou
marquises retráteis para a proteção dos pedestres em
dias de chuva. Ainda que não desprovidas de um certo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
charme, tais profecias encontram-se muito aquém das
visões futuristas produzidas por autores como Júlio
Verne ou H. G. Wells. ÉW no aspecto econômico e
social que Bellamy se impõe, justificando assim, com
sua originalidade e sedução, a profunda influência
exercida em personalidades como John Dewey,
Eugene V. Debbs, William Allen White, e no meio
intelectual norte-americano de maneira geral. Muitos
dos intelectuais do século XIX acreditavam que a
superação das perdas que sentiam se daria por meio
de um movimento de resgate da antiga sensibilidade
rural. Nesse sentido, situa-se, por exemplo, William
Morris, um poeta e romancista britânico que elaborou
uma utopia de caráter bucólico, ou mesmo Karl Marx
e Friedrich Engels, que insinuam na Ideologia Alemã a
futura existência de um intelectual em harmonia com a
natureza. Num outro extremo, situam-se os intelectuais
que vêem no ulterior desenvolvimento da sociedade
capitalista a superação mesma das perdas trazidas pela
Revolução Industrial. É neste sentido que se dirige
a crítica de Edward Bellamy: a volta ao campo não
representa uma resposta possível ao impasse criado
pela urbanização. O home das grandes cidades não é
feliz, vive cercado pela miséria, mas ainda assim não
abandona o meio urbano diante da possibilidade de
escolha. Para ele a cidade não é intrinsecamente má: as
relações sociais e de produção, passíveis de modificação,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
é que imprimiam essa marca eminentemente negativa
das grandes cidades, e não a vida urbana enquanto tal.
Interrogado pelo seu anfitrião acerca do que mais lhe
havia chamado a atenção ao vislumbrar a cidade de
Boston de uma sacada, o Sr. West, protagonista do
romance, responde que foi a ausência de chaminés e
de fumaça. Em outras palavras, a indústria, geradora
de empregos e produtora de mercadorias que elevam
o padrão de vida do ser humano, não desapareceu
na utopia futurista de Bellamy. Sai de cena apenas a
chaminé, representação paradigmática da poluição
e insalubridade sempre presentes na sociedade
industrial. Expulso o elemento negativo, a cidade
revela-se o lugar ideal de trabalho e residência. A
obra de Bellamy torna-se, assim, uma riquíssima fonte
de dados para uma pesquisa historiográfica que se
desenvolve no âmbito da experiência urbana tal como
esta é sentida por um intelectual norte-americano
do final do século XIX. Daqui a cem anos, longe de
simplesmente apresentar uma representação vazia de
significado, por se constituir em torno de uma cidade
inexistente, oferece ao leitor atento uma crítica muito
bem elaborada da sociedade urbana da época em que
o referido romance foi escrito. Explicitar a relação
entre a proposta utópica de cidade criada por Bellamy
e as condições sociais que a inspiraram é o objetivo
maior dessa pesquisa.
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318
Resumos
REFERÊNCIAS
BELLAMY, E. Daqui a cem anos: revendo o futuro. 2. Ed. São Paulo : Record, s.d.
BLAKE, N. M. A history of American life and thought. New York : McGraw Hill, 1963.
MADISON, C. A. “Edward Bellamy, social dreamer”. The New England Quarterly.
Vol. 15, No. 3 (Sep., 1942), pp. 444-466.
PETITFILS, J-C. Os socialismos utópicos. São Paulo : Círculo do Livro, s.d.
THUMBER, C. “Edward Bellamy, the Erosion of Public Life, and the Gnostic Revival”. American Literary History, Vol.
11, No. 4 (Winter, 1999), pp. 610-641.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
APLICAÇÕES DAS LINGUAGENS DA ARTE E COMUNICAÇÃO EM INTERFACES
TECNOLÓGICAS: A “WOP ART” DE GISELLE BEIGUELMAN
William Sade Junior - UTP
INTRODUÇÃO: A partir de um contato casual com um “cartão virtual digital”, inserido no portal do UOL
[http://www.uol.com.br] que, dentre vários muito repetitivos e inexpressivos, chamou a minha atenção, pois trazia
uma linguagem diferenciada dos demais, primeiro pela sua característica verbo-visual, que trazia intrínseca no seu
conteúdo, uma linguagem própria do meio digital, conceito que eu buscava em minha pesquisa. Simples na forma,
e objetivo no seu conteúdo, mostrava na tela a mensagem “txt_me”, com caracteres brancos em fundo preto. Ao
acessar o cartão através do clicar do mouse, uma breve animação surge, apresentando caracteres e imagens que
lembram os primeiros games de console, em movimentos de revolução que formam uma espécie de tubo, que
se dissolve e torna-se novamente o “txt_me” do início. Ao fundo, um clipe de música eletrônica interage com
o movimento formado pela animação. Sendo professor das disciplinas de Hipermídia e Poéticas Tecnológicas
no Curso de Artes Visuais da UTP e tendo em vista a necessidade prática da pesquisa para o desenvolvimento
em laboratório de projetos que representem esta linguagem tecnológica em poéticas ou interfaces hipermídia,
web-arte, etc., encontrei naquele “singelo” trabalho a síntese do que eu procurava nas minhas pesquisas. A
autora, Giselle Beiguelman, artista premiada nacional e internacionalmente, pesquisadora, doutora, professora
da Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, com uma vasta e significativa obra em arte e novas
tecnologias, é encontrada na sessão cartões de arte, junto com outros dois trabalhos seus, igualmente interessantes,
pela forma e linguagem empregadas. Devido à necessidade de sistematizar a pesquisa sobre a obra da artista com
o objetivo de investigar e ordenar os vários conceitos e linguagens que envolvem o seu trabalho, e na tentativa
de organizar uma fundamentação teórica que auxilie nos projetos práticos desenvolvidos em laboratório de
informática, os paradigmas que envolvem tais conceitos, o hibridismo, as intermídias, a interseção da arte e
da comunicação, a convergência digital nas novas mídias, continuei pesquisando a obra da referida artista em
busca de novos argumentos que pudessem auxiliar no desenvolvimento do estudo das linguagens dentro do
laboratório. Entre os seus trabalhos existe um que se tornou a base deste estudo, a “Wop art”, hibridização
da tecnologia wap - wireless application protocol com o conceito de op-art ou optical-art, para gerar, segunda
Beiguelman, “sistemas sígnicos que podem ser enviados via tecnologia móvel sob a forma de arte digital.” A
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
análise dessa obra surge da possibilidade de visualizar
o encontro da tecnologia digital com uma forma de
arte “tradicional”, oportunamente pela proximidade
de linguagens. A arte contemporânea, supostamente
em crise, procura novos significados, recursos de
linguagem e espaços alternativos, e desta forma, o
encontro com as novas tecnologias informáticas e de
comunicação, pode ser uma dessas possibilidades de
resgate do significado de uma arte expressiva. Essa
expressão, passa pelo conhecimento dos recursos
de linguagem próprios do meio, no caso o digital,
embora não seja necessariamente fundamental para
uma realização artística significativa, é necessária para o
reconhecimento crítico dessa forma de arte bem como
para a formação acadêmica de pesquisa em arte. Para
Lúcia Santaella, as pesquisas em arte e comunicação
têm “negligenciado o fator semiótico das mensagens
produzidas pelas mídias”, pois segundo ela, ”(...) São
mensagens que se organizam no entrecruzamento e
na inter-relação bastante densa de diferentes códigos
e de processos sígnicos diversos, compondo estruturas
de natureza altamente híbrida.” (Santaella, 2000, p.
24). O híbrido, que a rigor é a mistura de espécies
diferentes que formam uma nova espécie, foi trazido
para os meios de comunicação por Marshall Mcluhan
como sendo “(...) o encontro de dois meios (...) do
qual nasce a forma nova”, e mais, “O momento do
encontro dos meios é um momento de liberdade e
libertação do entorpecimento e do transe que eles
impõem aos nossos sentidos.” (Mcluhan, 1964, p.
75). Esta característica não é exclusiva das mídias
eletrônicas, pois para Santaella “(...) todas as mídias,
desde o jornal até as mídias mais recentes, são formas
híbridas de linguagem, isto é, nascem na conjugação
simultânea de diversas linguagens. Suas mensagens são
compostas na mistura de códigos e processos sígnicos
com estatutos semióticos diferenciais”. (Santaella, 2000,
p. 24). Quando utilizamos as tecnologias de uma forma
geral, seja na produção ou no consumo, ela se efetua
por vias de equipamentos, máquinas ou aparelhos.
Estes dispositivos incorporam tecnologias de todo
o tipo, mecânicas ou eletrônicas; são equipamentos
fotográficos, de vídeo, máquinas de lavar, de escrever,
de costurar, aparelhos de som, rádio, televisão, pagers,
telefones celulares, notebooks, entre outros. Toda
essa tecnologia, depois de absorvida é incorporada ao
cotidiano e passa a se tornar automatizada, por isso,
não nos damos conta de como se dá o seu processo
de utilização, quem a inventou, como foi realizada, de
que forma foi construída. Enfim, ela passa a ser um
objeto cultural. Algumas técnicas, modos e termos são
adaptados de culturas anteriores e continuam sendo
utilizados de forma automática. A utilização da interface
gráfica hipermídia como mediação entre o meio digital
(emissor) e o usuário formador (destinatário), mostra
a necessidade de desenvolvimento de projetos de
comunicação que estabeleçam uma relação adequada
entre a forma de expressão e o conteúdo da mensagem.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Uma interface pode ser definida como um conjunto
de dispositivos que proporcionam a comunicação
entre dois ou mais sistemas distintos. Para Pierre
Lévy “a interface efetua essencialmente operações
de transcodificação e de administração dos fluxos
de informação”, (LÉVY, 2000, p. 176), ou seja, ela
interpreta os códigos numéricos e os converte em
informação “legível”. Em computação, cabe ao sistema
operacional e aos programas, interpretar e decodificar
a linguagem da máquina e convertê-las em informação.
O propósito da interface é estabelecer a relação de
comunicação entre o homem e a máquina através de
comandos de interatividade. Com a atual tendência à
convergência dos meios de comunicação, informáticos
e multimídia a partir do avanço tecnológico e científico
proporcionados pelo desenvolvimento da linguagem
digital, a preocupação com a adequação do meio
para essa nova linguagem é freqüente. Segundo o
IBCD (Instituto Brasileiro para Convergência Digital)
“O tema convergência vem sendo discutido desde
os anos 80, quando se reconheceu a importância
da comunicação por computadores. As barreiras
convencionais entre as indústrias mais envolvidas, são
fortes. Apesar dos avanços tecnológicos propiciarem as
condições necessárias para a convergência, o caminho
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
apenas começou.” (CONVERGÊNCIA DIGITAL,
2006) Um dos caminhos diretos para o approach
entre o novo usuário interagente e o conteúdo de
comunicação são as interfaces, sejam elas gráficas
através das telas ou suportes visuais; físicas através de
aparatos periféricos e sensores ou simbólicas através
da codificação e decodificação das linguagens naturais
do meio. Conhecer esse novo “leitor” dos signos
digitais é fundamental para decifrar os códigos culturais
envolvidos no processo.
OBJETIVOS: OBJETIVO GERAL - Analisar a obra da
Artista Giselle Beiguelman em busca de elementos sígnicos
que comprovem o seu diferencial simbólico diante da massa
de informação disponível nas novas mídias.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Organizar conceitos
teóricos que fundamentem os projetos práticos em
laboratório de informática.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: Como
corpus deste trabalho, iremos utilizar parte do conteúdo
do Website “http://www.desvirtual.com”, da artista
Giselle Beiguelmann, especificamente a obra “Wop
Art” disponível na rede e alguns elementos simbólicos
indispensáveis para a conclusão desse trabalho.
Palavras-chave: arte; comunicação; tecnologia digital.
321
322
Resumos
REFERÊNCIAS
_____. Navegar no Ciberespaço: o perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus, 2005.
ARANTES, Priscila. Arte em tempo de estética digital.
BARROS, Diana L. P. de. Comunicação, manipulação, interação: estratégias do discurso. Associação Brasileira de Lingüística
– 54ª Reunião Anual da SBPC: Conferência 4, 2001. Disponível na Internet : http://www.letras.ufrj.br/abralin/Sbpc/
conf4.htm. (ago. 2003).
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS NA PRÁTICA PEDAGÓGICA INCLUSIVA DE CRIANÇAS
COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA PERSPECTIVA DE WALLON
BUENO, Jocian Machado - UTP/FACHLA/Pedagogia/NUPPEI
O presente estudo faz parte do corpo teórico desenvolvido para a fundamentação da pesquisa de campo
futura, sobre as múltiplas linguagens na prática pedagógica inclusiva. Traz-se a reflexão de como se constitui
as múltiplas linguagens no processo evolutivo da criança a favor da construção do conhecimento, a partir das
teorias de Wallon e a importância de se compreender tais fundamentos na prática pedagógica inclusiva. Partindo
dos estudos de Wallon e de autores que discutem a prática pedagógica e a inclusão, organiza-se uma construção
teórica visando articular tais temáticas. Sabe-se, segundo Lima (2001) que é na interação com pessoas e com o
meio que a criança vai construindo sua subjetividade, sua imagem corporal, percebendo características próprias
e desenvolvendo sua autonomia. E nessa interação vai elaborando e constituindo diversas linguagens. A criança
com necessidades educacionais especiais, a aprendizagem e o desenvolvimento estão associados à apresentação
do maior número de estímulos para que ela se aproprie do meio e vá constituindo seus referenciais próprios na
interação com o outro e os objetos. Para isso, necessita que essa apropriação se dê de forma integral. Wallon
(2000) comenta que estudar o desenvolvimento da pessoa completa subentende basear este estudo numa
perspectiva dialética, fazendo com que a relação entre a pessoa com necessidades especiais e as demais, o meio
e os objetos sejam articulados e desarticulados, revelando elementos favorecedores e também dificultadores de
sua assimilação direta dos estímulos do meio. Essa visão contraditória, abrangente e dinâmica traz em seu cerne
os conflitos e as múltiplas manifestações da criança, que com suas potencialidades pessoais, vai se movendo,
agindo, falando e manifestando-se. Desta forma, vai utilizando suas múltiplas linguagens, dentre elas a corporal,
a oral, a plástica e a gráfica. Também é através destas múltiplas linguagens que o professor percebe seu aluno, e
media as possibilidades de aprendizagem, oferecendo subsídios para a reflexão pedagógica deste. Referindo-se
aos estudos de Wallon e tratando de temas como emoção, linguagem, pensamento e tantos outros, o referido
autor fornece valioso material para a adequação da prática pedagógica ao desenvolvimento da criança. Como
sua teoria tem um aspecto biológico e outro social, além do olhar dialético sobre o desenvolvimento infantil,
Wallon ainda traz a questão da totalidade e da descontinuidade no desenvolvimento, ou seja, estabelece que
esse desenvolvimento ocorre através de rupturas, conflitos e crises. Nesse sentido, ao compreender que o
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Resumos
desenvolvimento infantil está relacionado ao processo
de maturação do caráter integrado (afetivo/cognitivo/
motor), mas que se revela através das contradições e
rupturas acima citadas, Wallon apresenta a questão da
totalidade como uma possibilidade de compreender
a criança com necessidades educacionais especiais, já
que a mesma, historicamente, vem sendo estudada a
partir da fragmentação em seu desenvolvimento, na
tentativa de desvelar cada parte de sua dificuldade.
Tal perspectiva inclusiva inatista / determinista foi
preponderante, com os atendimentos educacionais
especializados imperando sobre a escola, atribuindo
ao indivíduo com deficiência a origem de suas
dificuldades e limitações, as quais dificilmente poderiam
ser modificadas por uma ação exterior, mas apenas
atenuadas (PARANÁ, 2006). Contraditoriamente a essa
concepção, a perspectiva histórico-cultural apresentada
na teoria do desenvolvimento preconizada por Wallon
estabelece que o desenvolvimento da criança é marcado
pelas alternâncias entre cognição e afeto e entre razão
e emoção, na qual a mediação do adulto encontra-se
presente e é determinante para a relação entre o sujeito
e o meio. Na teoria de Wallon, a emoção se integra
de maneira indissociável da inteligência, e ambas se
expressam através do movimento, o qual, por sua
vez, afetará as emoções e a inteligência. Wallon (1975)
ainda diz que é a partir da sua própria experiência,
das repetições, das diferenças que se apresentam, que
a criança se torna capaz de distinguir e reconhecer o
que está de acordo ou não com as suas expectativas e
necessidades, o que a leva ao aprendizado. Nessas idas
e vindas, relaciona-se com outras crianças, movimentase, agarra e manipula objetos, escuta palavras dos
adultos, repete ou fala espontaneamente, imita o que
observa, e vai construindo estados de representação,
de pensamento e de emoção. Wallon ainda comenta
que o movimento contém a representação, antes
mesmo que ela possa traduzir-se em imagem ou
explicitar os traços que deveriam compô-lo. E é a
partir dessa primeira forma de linguagem, a corporal,
que a criança vai se organizando em seu crescimento
biológico e maturacional, e pelas diferentes experiências
e vivências vai constituindo as linguagens oral, plástica
e gráfica. Independentemente de possuir necessidades
educacionais especiais ou não, toda criança estará
envolvida na interação com o meio e objetos, e terá
uma relação individual, e, portanto, uma aprendizagem
única e pessoal. Ao se referir sobre a educação inclusiva
atual, ainda nos deparamos com uma realidade
educacional excludente. As estruturas escolares, na
sua maior parte, priorizam os aspectos conteudistas e
apresentam currículos fragmentados, com atividades
voltadas a todos de forma igualitária e sem contemplar
a diversidade, que é inerente a qualquer sujeito aprendiz.
Corroboramos com a afirmação apresentada nas
Diretrizes Curriculares da Educação Especial do
Estado do Paraná (PARANÄ, 2006, p. 48) a qual
aponta que “ainda que haja uma nova compreensão
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
dos saberes e práticas da Educação Especial sendo
produzida, o enfoque da Educação Especial baseado
no déficit e na idéia de práticas de normalização
dos sujeitos, para sua migração a contextos sociais
ditos comuns, sobrevivem às novas perspectivas
emergentes”. Nesse sentido, as práticas pedagógicas
ainda se revelam voltadas a atender a dinamicidade
preconizada pelo professor, subentendendo que a
apropriação do conhecimento esteja subordinada a
tempos didáticos específicos, a tarefas escolares préestabelecidas segundo a análise exclusiva do professor,
dentre outras questões. E concordando com Amaro
e Macedo (2002), para que se construa uma escola e
uma prática pedagógica inclusiva, temos que resgatar o
desejo de aprender e ensinar, inovando e fazendo das
queixas de produtividade e das dificuldades do aluno,
e dos costumes pedagógicos parciais dos professores
um motivo de superação, construindo novas práticas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
pedagógicas, correlatas à complexidade e à diversidade
do sujeito alunado. Para tal, há necessidade de entender
como a criança apreende os conteúdos em seu processo
de desenvolvimento, como aprende e como age sobre a
realidade material, apropriando-se desse conhecimento,
dentro da escola e fora dela. Com tal afirmativa,
encontra-se nos estudos de Wallon apontamentos e
exemplos práticos de como a criança age e constrói
sua personalidade e caráter, com fundamentos que
permitem delimitar que a relação entre a razão e a
emoção deve se fazer presente para que as múltiplas
linguagens se revelem na totalidade do sujeito, tanto
para a criança com necessidades educacionais especiais
quanto para aquela que segue em seu desenvolvimento,
em um percurso único e pessoal.
Palavras-chave: múltiplas linguagens; prática pedagógica;
inclusão; Wallon.
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Resumos
BOLSAS PROUNI – PRIMEIROS RESULTADOS DE UMA ATITUDE PARA MINIMIZAR
OS EFEITOS DA DESIGUALDADE SOCIAL
Sônia Izabel Wawrzyniak - UTP
Esta pesquisa tem como objetivo identificar o processo de inclusão/exclusão dos estudantes que receberam bolsas
ao ensino superior, no período de 2005 a 2009, na Universidade Tuiuti do Paraná. O governo federal por meio da
Medida Provisória n. 213/2004 instituiu o Programa Universidade para Todos – PROUNI – quando passa a ofertar
bolsas de estudos para os cursos de graduação, em universidades particulares, podendo ser integral para quem
comprovar renda familiar per capita inferior 1,5 salário mínimo, ou parcial a quem tem renda familiar per capita que
não exceda a três salários mínimos. Uma comparação entre as bolsas encerradas integrais e parciais, nos anos de
2005 e 2009 permite constatar que o percentual de bolsas parciais encerradas são maiores do que as bolsas integrais.
Podemos constatar a interferência da distribuição de renda, que não permite aos bolsistas parciais de 50% consigam
honrar com os seus compromissos. Os alunos iniciam os seus estudos de nível superior sem ter a certeza de até
quando poderão dar continuidade. Segundo Hasenbalg (2003) o ingresso no mercado de trabalho é uma realidade
para a grande maioria dos nossos jovens, muitos desses alunos bolsistas exercem algum tipo de atividade remunerada.
Podemos perceber que a questão econômica, realmente, é um determinante na evasão do aluno na Universidade,
que o índice de encerramento de bolsas parciais supera o de bolsas integrais. Uma reflexão sobre a realidade e as
concepções de exclusão/inclusão dos alunos favorecidos com as bolsas de estudos, que beneficia ex-alunos de
escolas públicas e baixa renda. O que norteia esta discussão é uma questão macrossocial que tem como categoria
de análise a desigualdade social, a partir da o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – de 2006 que apresenta
como possível solução de muitos problemas brasileiros a melhor distribuição econômica. Com a intensificação da
globalização vivenciada nas últimas décadas, o aumento das inovações tecnológicas, o sistema produtivo e financeiro
conectados internacionalmente, vem à tona a contradição da desigualdade social. Segundo Pedro Hespanha, a exclusão
social, a marginalização e “as desigualdades não foram inventadas pela globalização. No entanto, a globalização pode
ser responsabilizada por amplificar as desigualdades geradas pelo próprio sistema capitalista em vez de promover a
sua redução” (2002, p.168). O governo federal na tentativa de romper com essa elitização proporciona a entrada de
alunos de baixa renda para a sua qualificação em curso de graduação em instituições de ensino superior particulares,
por meio de bolsas de estudo patrocinadas pelo governo. Conforme Schwartzman (2004), a desigualdade de renda e
pobreza podem ser combatidos com investimentos significativos na educação pública ou qualquer tipo de iniciativa
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ou combate à pobreza, por meio da educação. O ProUni
vem de encontro ao que Zago (2005) se refere à reduzida
representatividade no ensino superior por parte da
população de baixa renda. Não se referindo às “minorias”,
mas a uma grande parcela excluída do ensino superior
brasileiro, sobretudo considerando que a faixa etária de 18
a 24 anos apenas 9% freqüenta o ensino superior, um dos
percentuais mais baixos do mundo. Segundo um estudo
recente do Observatório Universitário da Universidade
Candido Mendes revela que 25% dos potenciais alunos
são tão carentes que não têm condições de entrar no
ensino superior, mesmo se ele for gratuito. O que reafirma
a condição de desigualdade social a que está submetida à
sociedade brasileira. A desigualdade social aqui apontada
como o maior problema para o crescimento econômico,
atinge uma parcela da população que está excluída do
conhecimento acadêmico e sem uma perspectiva de
ascensão social. Com o ProUni esta população passa
a ter um maior acesso ao ensino superior. Utilizando
o Relatório Geral dos bolsistas – MEC, fornecido pela
instituição de ensino, pode-se constatar que o número
de alunos bolsistas que deixam de freqüentar os cursos
escolhidos estão em seu maior índice entre os bolsistas
parciais, o que indica que mesmo com as bolsas de
50% e 25% os alunos que tem como origem as classes
populares sentem dificuldade em arcar com os custos do
ensino superior e mais os gastos pessoais e familiares, já
os que se encontram com bolsas integrais os índices de
desistências são quase insignificantes. Pode-se presumir
que a dificuldade para esses alunos é a questão econômica,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
pois os resultados dos ENADEs – Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes apresentam que os alunos
que entraram na universidade pelo programa tiveram
médias superiores aos demais estudantes na prova de
conhecimento geral. No primeiro semestre de 2009
ocorreram as colações dos 58 alunos que ingressaram nas
primeiras turmas que possuíam estudantes com bolsas
ProUni, nos cursos de Administração, Ciências Contábeis,
Comunicação Social – Publicidade e Propaganda, Curso
Superior de Tecnologia em Bioprocessos e Biotecnologia,
Curso Superior de Tecnologia em Estética e Imagem
Pessoal, Curso Superior de Tecnologia em Manutenção
de Aeronaves, Design Bacharelado em Moda, Educação
Física, Enfermagem, Geografia, História, Letras,
Pedagogia, Psicologia, Relações Internacionais. Entre
os quais, os cursos com maior número de bolsista
foram o curso de Pedagogia com 8 formandos, de
Psicologia, Geográfica, Curso Superior de Tecnologia
em Bioprocessos e Biotecnologias com 7 formandos.
Os cursos de Licenciaturas (Geografia, História, Letras,
Educação Física e Pedagogia) perfazem um total de 31
formandos, neste período, o que pode ser justificado em
decorrência do acesso através das bolsas que prevêem
que professores da rede pública de ensino básico em
efetivo exercício do magistério, integrando o quadro
permanente da instituição e concorrendo as vagas em
cursos de licenciatura, normal superior ou pedagogia.
Neste caso, a renda não é considerada.
Palavras-chave: desigualdade social; exclusão; inclusão.
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Resumos
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Pesquisa
CAMINHADA DE UMA PESQUISA: PRATICA PEDAGÓGICA E IDENTIDADE NA
EDUCAÇÃO DA CRIANÇA NEGRA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Daniele Cristina Rosa
INTRODUÇÃO: Meu projeto de Mestrado intitulado “Prática Pedagógica e Identidade da Criança Negra na
Educação Infantil: o que sou, aprendo através do seu olhar” nasceu das inquietações e observações realizadas
durante os últimos quatro anos (2004 a 2008) nos Centros Municipais de Educação Infantil de Curitiba –
Núcleo de Santa Felicidade, quando na condição de Coordenadora de Projeto, nos momentos de visita as salas
de crianças de zero a três anos acompanhei e participei do trabalho das educadoras da infância. Verifiquei que
absorvidas pelos rituais do cotidiano e pelas necessidades manifestas das crianças, expressam em seus diálogos
falas sutis, como: “ olha que lindo este bebe, ele é negro, é o nosso chocolate, é negro... é bonzinho, não bate
em ninguém.” Ao analisar estas falas questiono: Quais as relações entre as práticas pedagógicas da Educação
Infantil e a Identidade da criança? Como estas educadoras vêm contribuindo, em seus fazeres, olhares e falas na
formação das crianças? Pensando que a identidade não é algo inato Abramovicz (2006) aponta que na escola,
trabalha-se como se não houvesse diferenças, prega-se uma igualdade entre as crianças apesar de existirem
efetivamente praticas de diferenciação de caráter racial e estético. Há um desprestigio as demais culturas, entre
elas a cultura africana e uma falsa cultura da inexistência do racismo na escola. Este desprestígio se configura
desde o material didático a formação dos professores. Se a escola é espaço de educação, é espaço coletivo
de formação, o resgate da história e da memória do povo africano é uma oportunidade formativa. É com
este olhar que a Lei 10.639/2003 aprova o parecer CNE/ CP3/2004 instituindo as Diretrizes Curriculares
para a Educação das Relações Étnico-Raciais e o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africanas. É
importante compreender que o trabalho com as orientações Étnico-raciais, na escola, não visa exclusivamente a
valorização do negro e elevação da auto-estima das crianças afro-descendentes. Tratar de elementos da Cultura
e da História do povo africano e das relações é um componente que vislumbra a formação de todas as crianças
na perspectiva anti-racista demonstrando que diferentes raças contribuíram para a formação do povo brasileiro,
tal como ele é. Quando tratamos da construção da identidade de crianças pequenas, buscamos em Abramovicz
o entendimento que: ela é a consciência que cada um de nós tem de si próprio, ao ter da sua comunidade, da sua
classe social, do seu grupo de raça, de gênero, do pais onde vivemos. Consciência essa que se elabora na vida do
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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dia-a-dia, dando significado as relações que se dão na
família, na comunidade, na escola, no um do trabalho.
(2000,p.75) Esta consciência de si, no universo das
crianças muito pequenas é constituída em espaços
coletivos (Centros Municipais de Educação Infantil)
pelos múltiplos olhares dos educadores e outros pares.
Dessa forma, as relações estabelecidas com outras
pessoas são fundamentais na construção da identidade
de cada um. Quando tratamos sobre a identidade das
crianças negras, vislumbramos que a Educação Infantil,
como espaço formativo, deve trabalhar com vistas a
desenvolver a identidade cultural e racial das crianças
que dela participam. Falamos na constituição desta
identidade, de praticas pedagógicas que contribuam
para a constituição da mesma. Neste sentido, esta
constituição esta atrelada a dimensão histórica e por
vezes certa naturalização. Logo, ao abordar identidade
positiva, compreendemos que esta seja a capacidade de
ver-se, reconhecer seu valor e sua beleza (sua imagem)
e aceitar-se diante de si e do grupo a que pertence. É
a construção da sua auto-imagem. Segundo Algarve
(2004), a identidade é elaborada e aperfeiçoada no
decorrer da vida nos grupos a que pertencemos e para
tanto a não é fixa, vive num processo em constante
construção e recebendo percurso da vida influencias
positivas e negativas de outros grupos e pessoas. A
escola pode ser um fator de interferência na construção
da identidade negra, podendo, de acordo com a forma
com que se olha o negro e sua cultura, valorizar
as diferentes identidades, ou, discriminá-las. Para a
Educação Infantil, a especificidade da faixa etária exige
um tratamento com as questões étnicas raciais que
perpassam a formação plena da criança, conforme cita
as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil “a criança como um ser total, integral e
indivisível”. A abordagem étnico-racial na educação
infantil se referencia inicialmente no cuidar e educar,
no acolhimento da criança tal como ela é, “respeita a
cultura, corporeidade, estética e presença no mundo”
(SECAD, 2006). O entendimento de respeito traz a baila
a dimensão família e religiosidade, na qual é importante
perceber as diferentes nuances existentes e considerar a
convivência e compreensão da diversidade. E por fim,
a formação da identidade, como um elemento presente
no respeito a cultura e a corporeidade, e que exigem
no trato com a criança pequena olhar sensibilizado
do educador. A postura, as atitudes, as intenções,
as falas contribuem significativamente na formação
destas crianças. Reconhecê-las em suas diferenças
e singularidades; respeitá-las como seres diversos e
inseridos em uma cultura é papel de profissionais que
atuam com crianças pequenas. As Orientações e Ações
para as Relações Étnico-Raciais aponta: a importância
das interações positivas entre educadoras e crianças.
Relações pautadas em tratamentos desiguais podem
gerar danos irreparáveis a constituição da identidade
das crianças, bem como comprometer a trajetória
educacional das mesmas. (2006, p.38) SECAD (2006)
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
dependendo da forma como é entendida e tratada a
questão da diversidade étnico-racial, as instituições
podem auxiliar as crianças a valorizar sua cultura, seu
corpo, seu jeito de ser ou pelo contrario, favorecer a
discriminação quando silenciam diante da diversidade
e da necessidade de realizar abordagens de forma
positiva, ou quando silenciam diante da realidade social
que desvaloriza as características físicas das crianças
negras.
OBJETIVOS: Conhecer as práticas pedagógicas na
Educação Infantil e suas relações com a constituição
da identidade da criança pequena de zero a três anos;
- Discutir os impactos das praticas pedagógicas com
crianças de zero a três anos sobre a formação da
identidade na infância; - Listar práticas pedagógicas
no atendimento da criança negra sob perspectiva
antirracista e não discriminatória contribuitivas na
formação de sua identidade.
ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS:
Para realização da pesquisa várias atividades estão
sendo realizadas, como: - Identificação de bairros de
maior concentração de população negra em Curitiba
para realização da pesquisa no Centro Municipal
de Educação Infantil desta região. - Pesquisa do
Centro Municipal de Educação Infantil que há maior
concentração de crianças afro-descendentes e bem
como educadoras negras e residentes no bairro. Realização de observação participativa, perfazendo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
um total de trinta horas nas turmas que compõe a faixa
etária de creche – zero a três anos. - Anotações de
notas de campo para composição junto às observações
do trabalho. - Uso de filmagens para a realização
das observações como instrumento de técnica
observacional. - Realização de oficina temática para
os participantes da pesquisa visando a discussão e
proposição de encaminhamentos quanto a prática
pedagógica e a formação da identidade da criança
negra.
RESULTADOS ESPERADOS: O desejo é que esta
pesquisa venha contribuir com os estudos dentro da
temática relações etnicorraciais e educação infantil,
unindo duas áreas até então distantes e sem estudos
que coadunem elemento de suma importância como a
identidade negra. Outra intenção é conhecer as sutilezas
deste universo relacional que é a prática pedagógica de
zero a três anos. Um espaço, que ainda pede muitas
pesquisas, convida estudiosos a adentrar e reconhecer
educadores e crianças atuando num cenário que ainda
muito se desconhece como é este fazer e como se dá
esta pratica. Seriam as crianças totalmente manipuladas
pelos adultos? Conseguem no meio das rotinas criar
seus contextos, vidas e universos isolados dos desejos
adultos? Quais as práticas pedagógicas que marcam
esta identidade negra, que contribuem positivamente?
Elas existem como se dão? É um universo a conhecer
verdadeiramente.
331
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Resumos
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Pesquisa
CLÍTICO ACUSATIVO DE 3ª PESSOA E OBJETO NULO: UMA PESQUISA
DIACRÔNICA SOBRE A MUDANÇA LINGUÍSTICA NO PORTUGUÊS BRASILEIRO
Solange Mendes Oliveira - UTP
Neste estudo, investigam-se as mudanças sintáticas diacrônicas ocorridas na sintaxe brasileira quanto à posição
de objeto direto, como o progressivo abandono do clítico acusativo de 3ª pessoa (pronomes oblíquos o/a) e o
consequente aumento no uso do objeto nulo (omissão do objeto direto), com o objetivo de verificar se essas
mudanças realmente se deram na segunda metade do século XIX, época em que, presumivelmente, ocorreram
as transformações lingüísticas no português do Brasil. Para isso, além da pesquisa teórica, analisam-se os dados
que compõem o corpus: textos escritos em jornais do Paraná na segunda metade do século XIX. Trabalha-se
com a hipótese de que o uso do clítico acusativo está condicionado ao traço [+animado, +específico/referencial]
de seu antecedente, enquanto o do objeto nulo, ao traço [-animado, +específico/referencial] de seu referente.
A pesquisa está assim organizada: A seção 1 aborda os estudos de Mattos e Silva (2003, 2004), Houaiss (1992),
Ilari (2006) e Naro e Scherre (2007) sobre a formação histórica do português brasileiro (PB). Segundo os autores,
na ocasião do descobrimento do Brasil, viviam no país cerca de 6 milhões de indígenas que falavam cerca de
340 línguas. Esse multilingüismo seria enriquecido mais tarde pela presença do elemento africano, trazido à
força a partir de 1.549. Para Mattos e Silva (2004), até 1850, a população branca nunca ultrapassou 30% dos
habitantes – isto indica que os 70% de negros e seus descendentes adquiriram a língua do colonizador numa
situação de transmissão irregular ou de aquisição imperfeita, já que tinham a língua portuguesa como segunda
língua. O modelo da língua-alvo era, ainda, defectivo, pois o PB culto só começa a definir-se da segunda metade
do século XVIII para cá, quando o Marquês de Pombal, em 1757, define o português como a língua oficial da
colônia e implementa o ensino leigo no Brasil, incentivando o ensino da língua, antes preterido pelos jesuítas
em função da catequese, em favor da língua geral de base tupinambá, e do latim. Desde o século XVI, a política
seguida no Brasil para com os negros foi matadora de suas línguas, pois aqui chegados, eram separados, de
modo que não ficassem juntos nem por línguas, nem por etnias. Esse processo fez com que o Brasil, já no início
do século XIX, provindo de centenas de línguas, apresentasse a sua atual fisionomia linguística: uma língua
falada comum com diversificações dialetais horizontais e verticais (Houaiss, 1992). O Brasil Colônia teve poucas
escolas e poucos letrados; na verdade, não havia escolarização no Brasil até o século XVIII. Passado um século
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
da implantação da política pombalina, já nos finais do
Brasil imperial, a situação da instrução regular no Brasil
apresentava os seguintes dados do primeiro
recenseamento geral do Brasil de 1872: em 1872, entre
os escravos, o índice de analfabetos atingia 99,9% e
entre a população livre, aproximadamente 80%,
subindo para mais de 86% quando consideradas as
mulheres. A população estimada era de 4.600.000
milhões. Havia apenas 12 mil alunos matriculados em
colégios secundários e calcula-se que chegavam a 8 mil
o número de pessoas com educação superior. Um
abismo separava, pois, a elite letrada da grande massa
de analfabetos e gente com educação rudimentar. Esta
situação da escolarização ainda persistia um século
depois: nos anos 1990, apenas 10% da população
brasileira alcançavam o nível superior (Houaiss 1992).
A l í n g u a p o r t u g u e s a n o B r a s i l , p o r t a n t o,
predominantemente nas suas variantes populares e
vernáculas, deve as suas características, em geral
simplificadoras em relação ao português europeu, tanto
no plano sintático como fônico, à forma como foi
aprendida pela massa populacional predominante ao
longo do período colonial: como segunda língua, com
modelos defectivos da língua-alvo, na oralidade, sem
o controle normativo da escolarização. Isto ocasionou
a reestruturação do português europeu, que começou
a chegar aqui em 1500. O português brasileiro,
profundamente marcado pelas influências indígenas e
africanas seguiu, ao longo do tempo, uma deriva
própria; ao mesmo tempo, outra variedade do
português, usado em contextos oficiais e falado por
uma pequena parcela da população, continuou
alimentando-se de influências européias. No início do
século XX, a estrutura sintática do português do Brasil
apresentava as seguintes mudanças estruturais em
relação ao português europeu: a) uso de ele acusativo:
eu vi ele; b) uso do objeto nulo, isto é, omissão do
objeto direto quando ele consistisse num pronome
oblíquo átono: eu vi Ø (eu a vi); c) uso de mim em
lugar de eu na função de sujeito: para mim fazer; d)
uso do pronome se como reflexivo universal: eu se
lembro; e) uso de ter existencial: tem uma pessoa lá
fora; f) ampliação das perífrases verbais: vou falar em
lugar de falarei; g) falta de concordância de número
entre constituintes do sintagma nominal: as pessoa
magra; h) falta de concordância de número entre o
verbo e o sujeito: tava lá as pessoa (Naro e Scherre
2007). A seção 2 aborda as pesquisas de Cyrino (1996,
1997), Nunes (1996) e Galves (2001) sobre as variantes
do objeto direto anafórico. Essas pesquisas mostram
que a mudança no uso dos clíticos abrange ainda outro
aspecto: sua posição mudou - a próclise passou a ser a
tendência geral. Cyrino (1997) observa que o clítico
neutro, usado para substituir uma oração (“O caso he
este; dir-vo-lo-hei”), foi o primeiro a desaparecer do
PB. O segundo a desaparecer foi o clítico o quando
retoma um antecedente [+masculino/-animado] e
substituído por uma categoria vazia (“Eu vi Ø”). Por
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
último, é o clítico acusativo de 3ª pessoa com
antecedente [+animado] que cai em desuso e é
substituído pelo pronome tônico ele/ela (“Eu vi ele”).
Para Nunes (1996), uma mudança na direção da
cliticização fonológica – da esquerda para a direita, que
não permite o licenciamento do onset do clítico
acusativo – começou a se processar em meados do
século XIX, ocasionando a queda progressiva do clítico
de 3ª pessoa. A direção da cliticização fonológica do
PB atual permite que outros clíticos, exceto o de 3ª
pessoa, possam ocorrer em início de sentença,
generalizando, assim, o uso da próclise (“Me acorde às
7:00 horas”; “*O acordo às 7:00 horas”). Esse sistema
inovador, por sua vez, abriu caminho para duas novas
construções que substituíram a antiga construção com
clíticos acusativos de 3ª pessoa: construções com objeto
nulo e construções com pronome tônico na posição
de objeto direto (“Eu devolvi [Ø] para o João”; “Eu
devolvi ele para o João”). Já Galves (2001) atribui o
desaparecimento do clítico acusativo de 3ª pessoa e o
surgimento do objeto nulo ao enfraquecimento da
flexão verbal no PB atual, pois com uma concordância
fraca, o clítico acusativo, por ser o que mais apresenta
traços de concordância, deixa de ser legitimado. O
enfraquecimento da concordância no PB e as mudanças
na posição dos clíticos causaram então uma
reorganização lexical no sistema de pronomes: os
pronomes eu/ele/você começam a aparecer em
qualquer posição, inclusive na posição objeto. ExplicaTuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
se, assim, como é legitimado o pronome tônico ele/
ela em posição objeto. Em suma, com a mudança no
posicionamento dos clíticos, formas alternativas como
o objeto nulo e o pronome tônico passaram a substituir
o clítico de 3ª pessoa, provocando, assim, uma
diminuição constante no uso deste pronome. A seção
3 apresenta os objetivos da pesquisa, a metodologia,
os critérios para a seleção dos dados, o levantamento
quantitativo quanto ao preenchimento das variáveis do
objeto direto anafórico de 3ª pessoa e os
condicionamentos lingüísticos que atuaram na
realização dessas variáveis. Entre os grupos de fatores
que podem condicionar a variáveis, foram considerados:
(i) grupos lingüísticos de natureza semântica, como
animacidade do antecedente, especificidade e
referencialidade do referente; (ii) grupos lingüísticos
de natureza morfológica, como o uso de tempos verbais
simples ou compostos: [Aux + inf], [Aux + part] ou
[Aux + ger]; (iii) grupos lingüísticos de natureza
sintática, como a posição do clítico (próclise ou ênclise).
Para a análise dos dados, seguiu-se a proposta de Kato
e Tarallo (1988), que une a Sociolingüística de Labov
(1972) – para a ordenação, quantificação e análise dos
dados - à Teoria Gerativa de Chomsky (1981) – como
suporte teórico para a formulação de hipóteses e
escolha de fatores linguísticos condicionadores resultando na Variação Paramétrica ou Sociolingüística
Paramétrica. O levantamento ainda parcial dos
resultados estatísticos quanto ao preenchimento das
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336
Resumos
variáveis do objeto direto permite tecer as seguintes
considerações: nos jornais escritos no Paraná durante
a segunda metade do século XIX, o clítico acusativo
foi a estratégia preferida para a retomada de um objeto
direto anteriormente citado em 74,5% das ocorrências.
Quanto à natureza semântica do antecedente, o traço
[+animado] – 87,5% das ocorrências – e o traço
[+específico/referencial] – 90% das ocorrências –
mostraram-se relevantes para o condicionamento do
clítico acusativo. A natureza morfológica do verbo
também se mostrou um fator condicionador do clítico
acusativo, já que do total de ocorrências, 81,3% estão
marcadas pelo tempo composto [Aux + inf]. Já o traço
[-específico] do antecedente mostrou-se relevante para
a ocorrência do objeto direto nulo em 53% das
ocorrências. Este resultado comprova a nossa hipótese
inicial quanto à opção pelo clítico acusativo para
retomar um antecedente [+animado, +específico/
referencial] e pelo objeto nulo para um antecedente
[-animado]. Os resultados, ainda que parciais, sugerem
que as ocorrências da variante objeto nulo são resultado
de uma mudança gramatical em processo, e não apenas
de uma simples variação na língua, pois nota-se um
aumento significativo no uso dessa variante no decorrer
da segunda metade para o final do século XIX.
Palavras-chave: clítico acusativo de 3ª pessoa; objeto
direto nulo; mudança lingüística.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Pesquisa
CULTURA CURITIBANA: QUESTÕES DE INVISIBILIDADE
Maria Cristina Mendes - UTP
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
Paulo Leminski
Quando se analisa a relação entre a incompletude da pintura e sua relação com o meio cultural no qual ela se
insere, percebe-se que, algumas questões, mesmo que transversais à pesquisa, se destacam e se mostram relevantes.
O silêncio que permeia a produção artística local costuma invadir as salas de aula no momento de se estabelecer
referências teóricas e imagéticas. Investigar esta invisibilidade curitibana, compreender suas raízes e analisar
possíveis estratégias de reversão deste processo, é o que se propõe neste artigo. Curitiba, a capital do Estado
do Paraná, se destaca internacionalmente pela atenção dedicada aos eventos ligados à cultura: temos um público
esclarecido e espaços culturais mais do que adequados. Os curitibanos são reconhecidos por sua capacidade de
discernimento e critério em relação aos valores dos produtos culturais. Dentre as características marcantes de
sua identidade cultural, entretanto, está o mito da autofagia. Os curitibanos tendem a menosprezar o trabalho
de seus concidadãos. Os produtores culturais locais são cercados pela invisibilidade pública, o que dificulta seu
destaque na cena nacional. Atribui-se a origem deste fato à composição étnica de sua população, formada por
imigrantes, em sua maior parte, italianos, poloneses e alemães.Eles partiram da Europa no início do século XIX
e aqui se mantiveram arraigados às suas tradições, impossibilitando uma integração cultural mais produtiva. Até
meados do século XX, eles não formavam um grupo coeso e as duas Guerras Mundiais que ecoavam no
território nacional contribuíram para a desunião doa cidadãos. Para minorar algumas das divergências, priorizouse o ensino da língua portuguesa nas escolas, mas foram mantidos os clubes sociais onde as danças folclóricas
desempenhavam o papel de mantenedoras dos costumes dos descendentes dos imigrantes. A política enfatizava
a idéia de cultura nacional, enquanto alguns movimentos artísticos, como o Paranismo dos anos 1930, procuravam
desvendar a personalidade nacional. De acordo com alguns depoimentos de personalidades ligadas à cultura
curitibana, como o poeta Paulo Leminski e o escritor Cristovão Tezza, esta característica é uma especificidade
que tornou a cidade cada vez mais receptiva apenas para as produções culturais vindas de outras localidades,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
especialmente as do eixo Rio-São Paulo. Os cineastas
Valêncio Xavier e Sylvio Back têm opiniões antagônicas:
o primeiro nega a existência do processo autofágico e
o segundo afirma que Curitiba é uma cidade madrasta.
Jamil Snege escreveu um livro cujo título é: Como se
tornar invisível em Curitiba, onde trata, com certo
humor, do problema da visibilidade enfrentado pelas
pessoas que se destacam na cidade. Os anos 1970 foram
anos de arejamento e de efetiva concretização da nossa
modernidade artística. A Fundação Cultural de
Curitiba, criada na gestão do prefeito Jayme Lerner foi
inaugurada em 1973, e deu início a uma série de espaços
destinados à produção de cultura. A revitalização do
setor histórico no Largo da Ordem contribuiu,
também, para a retomada do afeto pela história da
cidade. ... os artistas plásticos que denotam a marca
dos 70 tiveram um forte convívio com os companheiros
de criação, entre cinema e cartunistas, arquitetura e
poetas, compositores e urbanismo, escritores e
publicidade, ingredientes adequados para fazer ferver
o caldeirão da criatividade, cujo fogo apresentava
dosadas parcelas de política da administração e dos
veículos de comunicação, tendo como limitação um
Estado autoritário. Naquele ambiente a criatividade,
quando não a atividade mais necessária, era também a
sobrevivência. (FONTOURA, 1986, pp.138 e 139) Os
encontros de Arte Moderna, criados por alunos da
Escola de Música e Belas Artes do Paraná, promoveram
o convívio entre distintos segmentos da cultura e
possibilitaram um profícuo diálogo com os profissionais
de renome nacional. Na sua quinta edição, no ano de
1973, “Paulo Leminski faz a apologia da semiótica e
do dadaísmo”. (ARAÚJO, 2006, p. 131). Neste
Happening, categoria inovadora do procedimento
artístico para a época, a junção entre texto e movimento,
ao definir o caráter plástico do espaço e do tempo,
indica a hibridação de linguagens que caracteriza os
caminhos do pensamento sobre a cultura na pósmodernidade. Algumas pessoas argumentam que o
“hibridismo” e o sincretismo - a fusão entre diferentes
tradições culturais – são uma poderosa fonte criativa,
produzindo novas formas de cultura, mais apropriadas
à modernidade tardia que às velhas e contestadas
identidades do passado. Outras, entretanto, argumentam
que o hibridismo, com a indeterminação, a “dupla
consciência” e o relativismo que implica, também tem
seus custos e perigos. (HALL, 2006, p. 91) No mundo
atual, onde a instantaneidade das comunicações rege a
informação, questiona-se a possibilidade de superação
deste mito. De acordo com Stuart Hall, as identidades
se tornam cada vez mais hibridizadas, e as transformações
culturais geradas pelos novos meios de comunicação
estão em constante transformação. Se os processos de
globalização são temidos pela possibilidade de
homogeneização das distinções culturais, os curitibanos
anseiam por ver o fim de sua invisibilidade, ou ainda,
desejam que sua cidade seja reconhecida não apenas
por sua qualidade urbanística, mas também por sua
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
produção artística. Transformar Curitiba em um pólo
turístico cultural é um procedimento eficaz,
especialmente num período em que a cultura se
confunde com o entretenimento e a espetacularização
da vida assume amplas proporções. O caráter receptivo
da cultura curitibana, quando aliado à ausência de uma
produção interna marcante, faz com que os caminhos
culturais se transformem muna via de mão única.
Importamos a cultura nacional e internacional sem
deixarmos nelas nossa marca. Será que realmente não
possuímos ou uma produção de qualidade ou não
sabemos como lançar mão de meios que permitam a
veiculação da produção local? Há também quem afirme
que a qualidade de nossa produção é tão potente que
nos destruímos internamente, antes mesmo de termos
a chance de mostrar o trabalho para o restante do país.
Se este fato for verdadeiro e já que, reconhecidamente
nossa produção consegue perceber o grau de excelência
das obras culturais, deveríamos ter produzido, pelo
menos, uma crítica cultural que tivesse repercussão
nacional. Isto também, até agora, não aconteceu. O
reconhecimento dos talentos locais e o resgate dos
produtores culturais que até hoje não tiveram uma
visibilidade de acordo com a qualidade de sua obra,
entretanto, são metas que precisam de estratégias
políticas eficazes para a superação deste entrave. Buscase, com este artigo, propiciar um espaço adequado para
este tipo de discussão, a fim de se compreender o
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
reduzido número de artistas curitibanos que tem seu
reconhecimento público consagrado. Sabemos que
diversos músicos curitibanos têm uma carreira bastante
relevante no exterior enquanto permanecem no
anonimato em sua própria cidade. No que se refere,
mais especificamente ao campo das Artes Visuais,
temos pouca representatividade na Bienal Internacional
de São Paulo e muito menos no exterior. E isso
acontece ao mesmo tempo em que somos a sede do
terceiro maior museu de arte da América Latina, o
Museu Oscar Niemeyer. Os artistas consagrados
nacionalmente dividem-se em pequenos grupos os
quais se ancoram na tradição autofágica dando
continuidade aos processos de invisibilidade, agora
numa escala muito mais abrangente. O silêncio que
ronda a produção dos artistas é mais significativo, nesta
análise, do que o alarde passageiro por busca de
novidades que, num segundo olhar, costumam se
mostrar desgastadas. Em Curitiba, aprendemos a
compreender o silêncio, não apenas como o silêncio
do outro, mas como nosso próprio silêncio interior,
num apaziguamento dos sentidos, que, ao mesmo
tempo em que propicia os processos solitários da
criação, inibe a crença na potência deste mesmo
trabalho diante da cena cultural em que ele deve se
inserir.
Palavras-chave: identidade cultural; autofagia; arte.
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Resumos
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, A. Dicionário das Artes Plásticas no Paraná. Curitiba: Ed. do autor, 2006.
Ed. Monte Santo, 1986.
FONTOURA, Ivens. Explosão criativa durante os anos setenta in: Tradição/Contradição.
GÓES, F. e MARINS, A. (sel.). Melhores poemas de Paulo Leminski. SP: Global, 2001.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
http://www.cristovaotezza.com.br/entrevistas/ acesso em 04/04/2009
JUSTINO, Maria José. Modernidade no Paraná: do Andersen impressionista aos anos 60 in: Tradição/ Contradição. Ed.
Monte Santo, 1986.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
DISCURSO, SUBJETIVIDADES E CUIDADO DE SI: PERSONAGENS PÚBLICOS
“LOUCOS” EM CURITIBA, SÉCULO XX
Maria Ignês Mancini de Boni - UTP
Curitiba no século XX passou por uma série de transformações que alteraram sua vida pacata e ordeira como
era definida por estudiosos. Desde o início do século sofreu problemas como adensamento populacional, falta
de moradias, insalubridade e outros que eram contornados mais em nível de discurso do que de forma prática
e efetiva. O espaço foi remodelado em diversas ocasiões no decorrer do período, seguindo ou não planos
urbanísticos, visando transformá-la em uma cidade moderna e “civilizada”. Foi assim, em 1913, com Candido
de Abreu; na década de 1920, com Moreira Garcez, posteriormente, com o Plano Agache, e com a criação do
IPPUC, em 1965, estabeleceram-se as bases para a maior reforma realizada pelos seguidos mandatos de Jayme
Lerner à frente da Prefeitura (1972/1989). Com isso, a “Cidade Sorriso” passa por transformações físicas que
modificam suas feições. As alterações propostas visavam a construção de uma urbe que transformasse a velha
Curitiba provinciana em uma cidade moderna, voltada para o século XXI.Neste espaço urbano, para além da
“civilização”, viveram personagens populares que por ousarem transgredir as regras e normas urbanas e éticas
foram taxados de excêntricos, loucos, folclóricos. Eram o Simão Bialê, a Maria Ballão, a Negra Luiza, a Maria
do Cavaquinho e também e Rubens Rilque ou “Gilda”, dentre outros. Percorrer as biografias destes personagens
em sua relação com a cidade é o propósito desta pesquisa, sob perspectiva teórico-metodológica de Michel
Foucault, abordando conceitos como discurso, subjetividades, o cuidado de si e estética da existência. O trabalho
tem como objetivos, analisar as relações entre a história de Curitiba no século XX a partir das subjetividades
pessoais de “out siders”, ou pessoas fora das normas, com as normas vigentes e a ética do momento estudado,
discutir o referencial teórico metodológico foucaultiano acerca de discurso, subjetividade, cuidado de si e estética
da existência, compreender o universo político, normativo e ético da cidade de Curitiba no século XX e estudar
as trajetórias de vida de personagens especiais no contexto normativo e ético de Curitiba no período estudado.
A proposta metodológica inside na aplicação de formulações como discurso, subjetividade, cuidado de si,
tecnologias do eu ética e estética da existência, realizadas pelo filósofo Michel Foucault em seus estudos sobre
a cultura ocidental. Dessa forma, discurso é tomado como um conjunto de enunciados que provêm de um
mesmo sistema de formação, como discurso clínico, discurso pedagógico, discurso econômico, constituído por
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
um número limitado de proposições para as quais se
pode definir um conjunto de condições de existência.
A partir do conjunto de discursos, Foucault procurava
entender a maneira como nos subjetivamos, ou seja,
como praticamos as formas de atividades sobre nós
mesmos e nos tornamos sujeitos de desejo. No
entendimento da subjetivação que resultou no sujeito
moderno, Foucault analisou um conjunto de tecnologias,
cada uma delas representando uma matriz prática, a
saber: as tecnologias de produção; as tecnologias de
sistemas de signos; as tecnologias de poder e as
tecnologias do eu. Para este estudo, interessam mais
de perto as tecnologias do poder: “...que determinam
a conduta dos indivíduos, submetem-nos a certos tipos
de fins ou de dominação, e consistem numa objetivação
do sujeito”, e as tecnologias do eu que “permitem aos
indivíduos efetuarem, por conta própria ou com a ajuda
realizarem modificações sobre seu corpo e sua alma,
pensamentos, conduta ou qualquer forma de ser,
obtendo, assim, uma transformação de si mesmo, com
o fim de alcançar certo estado de felicidade, pureza,
sabedoria e imortalidade.” Na continuação de seus
estudos, Foucault dirigiu-se à ética, reelaborando esse
conceito assim como o de moral e criou o de estética
da existência. Em suas palavras, ética deixa de ser o
estudo dos juízos morais referentes à conduta humana,
para ser o modo como o indivíduo se constitui a si
mesmo como sujeito moral de suas próprias ações. O
termo ética, refere-se a todo o domínio da constituição
de si mesmo como sujeito moral; faz referência à
relação consigo mesmo; é uma prática, um ethos um
modo de ser. Estética da existência deve ser entendida
como práticas refletidas e voluntárias através das quais
os homens não somente fixam regras de conduta, como
também procuram transformar-se, modificar-se em seu
ser singular e fazer de sua vida uma obra que seja
portadora de certos valores estéticos e responda a
certos critérios de estilo. Mas, segundo o autor, para
trabalhar com estas práticas, é preciso ter em mente
uma ressignificação do conceito de moral que ele
entende de dois modos: o primeiro como um conjunto
de valores e regras que são propostos aos indivíduos e
aos grupos, de maneira mais ou menos explicita, por
diferentes aparatos prescritivos (a família, as instituições
educativas, as igrejas, etc); o segundo como os
comportamentos morais dos indivíduos na medida em
que se adequam ou não as regras que lhe são impostas,ou
seja, um código moral é uma moralidade de
comportamentos. A posse desse referencial teórico
permite que se lance um novo olhar sobre trajetórias
de vidas singulares relacionadas à historiografia e à
história de Curitiba, estas últimas com base em estudos
como os da própria autora da pesquisa, de Erivan
Karvat, Antonio César Santos, Denison de Oliveira,
entre outros. Essa busca, inicia-se pelo estudo de
Curitiba, no período de 1970 e 1983, quando a cidade
foi palco de diversas refor mulações urbanas,
transformando-se, vertiginosamente, mas não a
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
sociedade.Neste cenário contraditório, aparece a figura
de Rubens Aparecido Rinque ou “Gilda” sempre visto
como um ser excêntrico, folclórico e louco. Seu jeito
de tratar as pessoas de forma direta e franca, mesmo
correndo riscos como o de ser maltratado não apenas
verbalmente como também fisicamente (inclusive pela
policia), permite mostrar como esse personagem
recriou sua trajetória que pode ser percebida como
técnica de subjetivação, num processo de invenção de
um novo modo de existir.De temperamento forte,
vestia-se de mulher e sua sobrevivência nas ruas se dava
às custas de pequenas chantagens, as quais praticava
com muita irreverência. “Uma moeda ou um beijo”
era seu mote de aproximação, constrangendo o cidadão
abordado, diante dos transeuntes que paravam para
aguardar o desfecho. Também usava o subterfúgio de,
a mando de alguém, amigo ou inimigo do cidadão
desatento, aplicar-lhe um sonoro beijo; o que lhe
resultou em inúmeras corridas para fugir da sanha de
suas vítimas, como também várias reclamações à policia
por parte dos desafetos que pediam ações contra aquele
indivíduo abusado. Esse personagem grangeou muitos
detratores a começar pelos senhores participantes da
“Boca Maldita”, espaço imaginário criado na Avenida
Luis Xavier, que juntamente com a Rua XV de
Novembro, representava os espaços de maior vibração
da cidade. Esse espaço, ocupado por aposentados,
políticos ou desocupados, denominou-se tribuna
Independente de Curitiba, mas acabou institucionalizado
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
pelo poder moral e lá Gilda era persona non grata, pelos
constrangimentos que causava a algum freqüentador
ilibado. Ao mesmo tempo, possuía muitos admiradores
representados por estudantes, jornalistas, intelectuais,
que a consideravam a “rainha da XV”, onde reinou por
vários anos, e era todo alegria quando travestido de
mulher dançava em frente as lojas de discos ou defronte
os cinemas e teatro; “rainha do carnaval” que adorava e
foi porta-bandeira de um bloco que a homenageava.
Travestia-se, mas em uma entrevista a um jornal afirmou
“não sou de transar com gente do mesmo sexo. Tenho
vontade de me travestir, travisto-me e curto o lance na
maior.Pena que não me compreendam”. Assim, “Gilda”
é um personagem interessante de ser estudado se aliada
à sua biografia, e independente de sua sexualidade,
estudar-se a moral da cidade que a acolheu, as relações
de poder e por que não sua ética, sua subjetividade e sua
arte de viver. Embora vivendo numa cidade
preconceituosa, provinciana, enfrentou o poder
estatizado, a polícia, o institucionalizado “Boca Maldita”,
e as suas próprias condições econômicas adversas para
“curtir” seu gosto em travestir-se e divertir-se. Não se
vinculou às regras dos cidadãos ilibados, comendadores
da Boca, mas às suas próprias, naquilo que Foucault
entende por estética da existência, ou uma maneira de
viver na qual o valor moral não provém da conformidade
com um código de comportamentos nem de um trabalho
de purificação, mas de certos princípios formais e gerais
no uso dos prazeres, na distribuição que se faz deles, nos
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Resumos
limites que se observa na hierarquia que se respeita.
Morreu em março de 1983 e recebeu diversas
homenagens, nos anos subseqüentes, de grupos teatrais
e cronistas da cidade. Rubens Rinque fez de sua vida um
reflexo de liberdade que percebia como jogo de poder.
Ele apenas gostava de afrontar a sociedade curitibana
que se queria moderna e perfeita e por isso foi alvo de
vigilância e perseguição. Desmascarou a hipocrisia com
sua “arte da existência”. Moldou sua vida a partir de
critérios próprios que demonstravam seu compromisso
ético com o presente que vivia.
Palavras-chave: discurso; subjetividade; estética da
existência; Curitiba.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
EDUCAÇÃO DO CAMPO COMO OBJETO DE ESTUDO NO CONTEXTO DAS
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Maria Antônia de Souza
Carmem Silvia Machado
Mariangela Hoog Cunha
Patrícia Correia de Paula Marcoccia
Valdirene Moraes
Jaquelne Kugler Tibucheski
Daniel Gonçalves Pinto
Márcia Rogelaine Souza
Nosso objetivo com este texto é caracterizar a educação do campo como objeto de estudo no contexto das
práticas pedagógicas. A discussão é fundamentada na experiência em desenvolvimento no Grupo de Estudos
Prática Educativa e Movimentos Sociais do Campo, no contexto da Linha de Pesquisa Práticas Pedagógicas:
Elementos Articuladores, do Programa de Pós-Graduação, Mestrado em Educação, Universidade Tuiuti do
Paraná (UTP). As primeiras pesquisas discutiram a prática do professor em escola do campo (LOPES, 2005),
sendo uma delas caracterizada como Escola Itinerante (IURCZAK, 2007). Ambas as pesquisas analisaram os
desafios postos à prática pedagógica, e que se referem ao estabelecimento de relações entre os conteúdos
escolares e as experiências de vida dos trabalhadores rurais. Focalizaram a atualidade do pensamento de Paulo
Freire no que tange à construção de uma concepção dialógica de educação, cuja intencionalidade política voltase para a transformação sociocultural. Um trabalho de conclusão de curso defendido em 2007 (CAPOBIANCO,
2007) analisou as principais demandas dos movimentos sociais do campo no estado do Paraná, e as ações
governamentais efetivadas desde 2003, quando da criação da Coordenação da Educação do Campo, na Secretaria
Estadual de Educação. A pesquisa revela que há iniciativa governamental voltada à educação do campo, a
exemplo da elaboração das Diretrizes Curriculares da Educação do Campo, realização de Seminários estaduais
para debate das políticas públicas e desenvolvimento de cursos de capacitação para os professores que trabalham
em escolas do campo. As pesquisas desenvolvidas na referida Linha de Pesquisa têm como objeto de estudo a
prática pedagógica com as seguintes especificidades: Uma delas buscou compreender a expressividade do corpo
na prática pedagógica (MACHADO, 2009); a outra analisa a prática pedagógica em classe multisseriada, numa
das Ilhas do litoral paranaense (CUNHA, 2008). Uma terceira pesquisa analisa o ensino da Geografia nas escolas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
do campo, no município de Araucária/ PR (PINTO,
2008). Existem quatro pesquisas em desenvolvimento
inicial no grupo. A primeira descreve a realidade da
inclusão escolar dos alunos com necessidades
educativas especiais nas escolas do campo. A segunda
analisa a prática educativa dos egressos de um curso
de Pedagogia do Campo. A terceira estuda a história
da prática escolar rural no município de Araucária. A
quarta descreve as ações governamentais no período
de 2007 a 2009 no estado do Paraná. Deste modo, a
educação do campo aos poucos marca lugar no curso
de Pedagogia da UTP e no Mestrado em Educação.
Como produto dessas pesquisas e como demanda do
curso de Pedagogia, no segundo semestre de 2008 teve
início a disciplina Educação do Campo, com
aproximadamente 40 alunos matriculados. É uma
iniciativa que visa discutir aspectos da realidade rural
do Brasil e caracterizar a educação do campo do ponto
de vista das experiências em desenvolvimento no Brasil
e dos documentos existentes nacional e localmente.
Tomando distanciamento da experiência local, é
possível mencionar o crescimento dos Grupos de
Pesquisa que se dedicam ao estudo da educação e dos
movimentos sociais do campo. Estudo de Schaedler
(2008), em sua pesquisa de Iniciação Científica sob
nossa orientação, constatou a existência de 40 Grupos
de Pesquisa que têm como palavras-chave educação
do campo e educação e movimentos sociais do campo.
Conforme registramos em Souza (2008): Inúmeras
universidades têm grupos de pesquisa voltados ao
debate da educação do campo e dos movimentos
sociais. Em sua maioria são grupos que se intitulam
por Educação e Trabalho ou por Educação e
Movimentos Sociais. Como linhas de pesquisa há
registro de formação de professores, prática educativa,
educação de jovens e adultos, educação do campo etc.
Constatamos que um levantamento de dados, com
resultados apresentados em <http://www.
encontroobservatorio.unb.br/metodologia.html>, cujo
acesso foi realizado em 29/07/2008, revela que: 1) 117
teses e 615 dissertações indicam entre suas palavraschaves a educação rural, desde o ano de 1987. 2) 147
Grupos de Pesquisa estão cadastrados no Diretório de
Grupos do CNPq. Eles incluem entre as suas palavraschaves a educação do campo, educação indígena,
educação quilombola, educação ribeirinha e educação
rural. 3) São grupos cuja localização ocorre, em ordem
de predominância, na Região Norte; Região Nordeste,
Região Sudeste, Região Centro-Oeste e Região Sul. São
grupos que integram 1.088 pesquisadores e 1.039
estudantes. No ano de 2005 foi realizado o I Encontro
Nacional de Pesquisadores em Educação do Campo,
na cidade de Brasília, que reuniu cerca de 70
pesquisadores. A segunda edição do Encontro ocorreu
em agosto de 2008, na Faculdade de Educação da UnB.
No ano de 2007 foi criado o Observatório da Educação
do Campo, na condição de projeto aprovado pelo
Programa do Observatório da Educação, CAPES e
FINEP. Conforme exposto em <http://www.
encontroobservatorio.unb.br/metodologia.html>, cujo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
acesso foi realizado em 29/07/2008, os objetivos do
Observatório da Educação do Campo são: “realizar
pesquisas sobre as políticas de Educação Superior
desenvolvidas pelas universidades direcionadas aos
grupos sociais rurais, produzindo subsídios para a
formulação de políticas públicas voltadas para a
promoção do desenvolvimento sustentável do
campo”. Foi um projeto proposto originalmente por
três universidades federais: Brasília, Sergipe e Rio
Grande do Norte. No ano de 2008, o número de
universidades foi ampliado para sete universidades,
com a integração do Ceará, Paraíba, Pará e Minas
Gerais. Nota-se que a Região Nordeste tem
expressividade quanto ao número de Grupos de
Pesquisa. Diante do exposto, cabe concluir que a
educação do campo tem marcado as pesquisas em
educação, tanto nos Grupos de Pesquisa, quanto nos
eventos científicos. Deve-se mencionar que os
pesquisadores despertam o interesse para a dinâmica
societária, cujos sujeitos centrais vêm sendo
movimentos sociais, universidades e o Estado.
Encontra-se em constr ução conhecimentos
educacionais que revelam a necessidade de uma
política pública que contemple os sujeitos trabalhadores.
São conhecimentos que anunciam as potencialidades
dos movimentos sociais e das instituições universitárias
na proposição e efetivação da educação do campo.
Estas potencialidades são reveladas pela presença de
pesquisadores que conhecem “de perto” a realidade
das escolas do campo e dos movimentos sociais, que
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
estão envolvidos em projetos de extensão em educação
do campo. Pela crescente produção acadêmica e
também a produção pedagógica dos movimentos
sociais, materializadas em cadernos de orientação
didática e de conteúdos. Ainda, as pesquisas denunciam
a longa trajetória de marginalização da educação rural,
bem como as fragilidades infra-estruturais, a exemplo
do transporte escolar, da precariedade das escolas, da
distância entre escola e residência dos alunos. As
pesquisas revelam uma prática educativa construída
com o esforço pessoal de muitas professoras que
ousam permanecer na escola do campo, quando não
são moradoras no lugar. Assim como os alunos, essas
professoras viajam muitos quilômetros, para chegar à
escola. Para finalizar, é pertinente lembrar o depoimento
de uma aluna da graduação, ao afirmar que a escola
em que trabalha é urbana, mas recebe muitos alunos
do campo. Em nenhum momento a equipe pedagógica
pensou em discutir o fato – origem dos alunos e
realidade rural - no contexto do Projeto Político
Pedagógico. Seria esta uma escola do campo, dado o
grande número de crianças que nela estuda? É uma
questão que merece debate na formação de professores,
pois estará diretamente ligada à prática pedagógica. A
educação do campo, como objeto de estudo, coloca
na pauta do debate acadêmico o acesso e permanência
na escola pública; a qualidade e a finalidade política
dos conteúdos escolares e o processo de formação de
professores, com a sua marca urbana e com as suas
potencialidades para superá-las.
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Resumos
REFERÊNCIAS
CABOBIANCO, Melody Rotta. Educação do campo: demandas dos movimentos sociais e ações governamentais no Paraná.
Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Pedagogia) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2007.
CUNHA, Mariangela Hoog. O ensino em classes multisseriadas numa comunidade de Ilhéus, Guaraqueçaba, Estado do
Paraná. Projeto de Pesquisa (Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008.
IURCZAK, Adelmo. Escola Itinerante: Uma experiência de educação do campo no MST. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2007.
LOPES, Liliane Moreira. A prática do professor da escola rural. Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Pedagogia)
- Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2005.
MACHADO, Carmem Silva. Educação do Campo: a expressividade dos corpos na prática educativa. Projeto de Pesquisa.
(Mestrado em Educação) - Universidade Tuiuti do Paraná, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Curitiba, 2008.
OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO DO CAMPO. Disponível em <http://www.encontroobservatorio.unb.br/
metodologia.html>. Acesso em 29/07/2008
PINTO, Daniel José Gonçalves. Ensino de Geografia nas escolas do campo. Projeto de Pesquisa (Mestrado em Educação)
- Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008.
SOUZA, Maria Antônia de. Educação do campo: demandas dos movimentos sociais, ações governamentais e impactos na
realidade escolar. Projeto de Pesquisa. Universidade Tuiuti do Paraná, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico. Curitiba, 2008.
SCHAEDLER, Lilian Cristiane Santos Leandro. Educação e movimentos sociais do campo: mapeando a trajetória dos
sujeitos pesquisadores. Iniciação científica (Graduando em Pedagogia) - Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 2008.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ENSINO DA ARTE: UMA REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
NAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE CURITIBA
Maria Francisca Vilas Boas Leffer - UTP
Este projeto parte da necessidade de refletir sobre as práticas pedagógicas do ensino da arte nas escolas públicas
do município de Curitiba. Isto se procede tendo em vista a reflexão feita sobre resultados de pesquisas de campo
desenvolvidas pelos alunos do Curso de Pedagogia na disciplina: “Ensino da Arte: Conteúdo e Metodologia I
e II”, que teve como objetivo observar a prática do ensino da Arte em escolas públicas e/ou particulares do 1º
ao 4º ano do Ensino Fundamental, tornando-se possível a análise e reflexão sobre as tendências pedagógicas
predominantes que permeiam a prática pedagógica do ensino da arte. Considerou-se nessas pesquisas as seguintes
questões: a relação do professor com o ensino da arte em sala de aula; a relação das crianças com a arte; a
relação professor/aluno no encaminhamento do processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos de arte, e
a postura do professor em relação às questões metodológicas. Dos resultados obteve-se os seguintes registros
feitos pelos alunos graduandos do Curso de Pedagogia: “Pelo que se pode observar durante a aula todas as
crianças estavam envolvidas na realização das atividades propostas pela professora. Elas diziam que gostavam
dessa aula porque podiam se sujar e também brincar”. “A professora de artes é bem dinâmica, interage com
todos os alunos”. “A professora apenas passou uma figura pronta de um palhaço para as crianças pintarem e
em seguida colarem bolinhas de papel crepom colorida, mas não explicou porque estavam pintando”. “Acredito
que pelo fato do ensino da arte não ter significado para a professora, as crianças estavam fazendo o mesmo.
A arte naquela turma não tinha nenhum significado, a não ser passar a aula pintando e contornando desenhos
prontos e iguais”. “Todos os alunos estavam em fileiras e em silêncio, de preferência sem sujar o chão, e depois
que terminaram os desenhos a professora simplesmente guardou-os em uma pasta com os devidos nomes e
disse que no final do ano entregaria aos pais”. “Apesar da decepção que senti ao presenciar essa aula, foi muito
importante essa observação para não repetir os mesmos erros com os meus alunos”. “Acredito que a professora
é de uma postura mais conservadora, onde a questão do ensino e da aprendizagem da arte restringe-se à cópia
e à repetição de modelos propostos pelo professor”. “As atividades foram feitas na mesma sala em que elas
estudam, e a professora não me deu liberdade para perguntar, mas parecia que não tinha formação exata naquilo
que estava trabalhando. Não passou segurança naquilo que estava exercendo”.“Ela apresentou às crianças um
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
papel com uma bailarina desenhada para as meninas e
um super homem aos meninos, um desenho igualmente
a todos, sem contextualizar a história, apenas impondo
o desenho que eles deveriam usar”. Em vista dos dados
levantados, e das propostas contemporâneas do ensino
da arte, se faz necessário refletir sobre as práticas
pedagógicas que permeiam o ensino da arte nos anos
iniciais do ensino fundamental em escolas do município
de Curitiba. Tendo como questionamento: Que fatores
podem estar interferindo nas práticas pedagógicas
do ensino da arte nas escolas públicas municipais de
Curitiba? Assim, o trabalho tem como metodologia,
a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo em 15
escolas do município de Curitiba do Bairro de Santa
Felicidade. Tendo como objetivos específicos: refletir
sobre as práticas pedagógicas do ensino da arte nas
escolas públicas do município de Curitiba. Este Projeto
fundamenta-se nas teorias de BARBOSA, Ana Mae.
Arte/Educação contemporânea. LOPES, Alice
Casimiro. Currículo: debates contemporâneos;
MASON, Raquel. Por uma arte-educação multicultural;
MEIRA, Marly Ribeiro. Educação estética, arte e
cultura do cotidiano; RICHTER, Ivone Mendes.
Interculturalidade e estética do cotidiano no ensino das
artes visuais; ZABALA. Antoni. A prática educativa:
como ensinar; Ivone Richter na estética do cotidiano;
Rachel Mason na arte-educação multicultural; dentre
outros autores que possam dar sustentação às questões
teóricas necessárias ao desenvolvimento da pesquisa.
Será realizado levantamento de dados na Secretaria de
Educação do Município de Curitiba para conhecimento
dos programas de ensino da arte. A pesquisa de campo
será realizada por meio de observações, entrevistas e
questionários. Alunos de várias áreas do conhecimento
poderão estar envolvidos no projeto por meio do
TCC- Trabalho de Conclusão de Curso, Cursos de
Extensão e Cursos de Especialização. Esta pesquisa
se justifica tendo em vista a importância da cultura
como objeto de estudo no ensino da arte, uma vez que
a Arte-Educação Pós-Moderna, sustenta que o ensino
da arte não pode estar alienado do que é produzido
culturalmente. A criança expressa por meio de sua
produção, o que sente, como também, faz conhecer o
que assimila do seu contexto social e de suas vivências.
Para tanto, a cultura deve ser o eixo norteador do ensino
da arte na contemporaneidade. Percebe-se que na
proposta dos PCNs/Arte há um maior compromisso
com a cultura e com a história. Nesse sentido, o
ensino da arte busca a formação de um cidadão
não só fazedor de objetos estéticos como também
de um conhecedor de culturas artísticas, requisitos
básicos para cidadania cultural, entendimento como
direito ao acesso à produção cultural. Os Parâmetros
Curriculares Nacionais também propõem o Pluralismo
Cultural como um dos Temas Transversais a serem
trabalhados nos currículos escolares da Educação
Básica. Porém, não só as questões culturais tem sido
analisadas e discutidas dentro do contexto do ensino
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
da arte. Ivone Richter (2007 p. 85) vem discutindo
além da multiculturalidade, a interdisciplinaridade
afirmando que: “Trabalhar com artes de uma forma
interdisciplinar tem se mostrado muito importante,
especialmente para projetos em ecologia e meio
ambiente. Não se trata de tomar as outras disciplinas
e integrá-las às artes, nem colocar a Arte a serviço
das outras disciplinas”. Reconhece-se que o ensino da
arte numa atitude interdisciplinar perpassa as várias
áreas do conhecimento. Um dos Temas Transversais
proposto pelos PCNs é o da Pluralidade Cultural,
sendo utilizado para indicar as múltiplas culturas
presentes hoje nas sociedades complexas. Desta forma,
o ensino da arte numa visão contemprâneas traz valores
multiculturais e interdisciplinares, que deverão ser
estudados a partir do universo cultural do aluno. Este
projeto tem como direção dois pontos fundamentais:
A pesquisa bibliográfica, e a pesquisa de campo. A
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
pesquisa bibliográfica será realizada por meio de
autores que possam dar sustentação às questões teóricas
necessárias ao desenvolvimento do trabalho, A pesquisa
de campo será realizada por uma fase exploratória de
observação, envolvendo professores e alunos de 15
escolas públicas do Município de Curitiba. O segundo
passo da pesquisa será a aplicação de um questionário,
e entrevistas envolvendo professores, gestores e alunos.
As instituições escolares estarão envolvidas em cursos
de extensão na formação continuada dos professores.
Em vista de todos os argumentos, e das propostas
contemporâneas do ensino da arte se faz necessário
refletir sobre as práticas pedagógicas que permeiam o
ensino da arte nos anos iniciais do ensino fundamental
nas escolas públicas no município de Curitiba.
Palavras-chave: ensino da arte; práticas pedagógicas;
reflexão crítica; multicultural.
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Resumos
ENTRE O CONVENTO E A CASA: EDUCAÇÃO E GESTÃO FEMININA NO
CONTEXTO DA FORMAÇÃO DO MUNDO MODERNO
Wilma de Lara Bueno - UTP
Os estudos teóricos de Joan Scott1 sinalizam pensar as diferenças mesmo em se tratando dos estudos das
mulheres, sugerindo evidentes distinções para as que pertenciam às camadas aristocráticas e as que integravam
as camadas populares. As mulheres que faziam parte da aristocracia – como rainhas ou nobres – usufruíam de
um padrão de conforto diferenciado, sem a preocupação com o trabalho forçado; já as mulheres das camadas
populares, portanto, as que trabalhavam na agricultura, na criação de animais, nas oficinas artesanais no campo
ou na cidade tinham um modo de viver distinto, uma vez que a luta pela sobrevivência dava uma tonalidade
particular ao seu cotidiano. Mas no universo das relações simbólicas, em suas manifestações com o sagrado,
como isto ocorria? O trabalho constante e a luta pela sobrevivência impediam às mulheres pobres de terem
acesso à vida religiosa? O formalismo dos gestos da vida de corte seria enfadonho para as mulheres aristocráticas
e as impelia em busca de outras razões para o sentido da vida mais plena? A vida virtuosa exerceria uma atração
distinta para as mulheres em uma determinada época? A problematização das relações de gênero trazidas por
Joan Scott sugere pensar a mulher em várias épocas e suas diferenças em relação à classe, etnia, religião, entre
outras categorias. Aos estudos de Scott, somaram-se os desdobramentos da Nova História – novos objetos,
novas abordagens e novos problemas – bem como as contribuições da História Cultural e suas aproximações
com a Literatura, Antropologia e História das Religiões, motivando historiadores e historiadoras a se empenharem
na escrita da “história a contrapelo” ou em aderir ao aceno do anjo de Paul Klee, em “libertar os oprimidos
dos escombros” para dar voz aos excluídos, em que se evidenciam as mulheres também em suas relações com
o sagrado.2 Assim, recuperar a história das mulheres religiosas, como monjas ou freiras confinadas nos conventos,
em diferentes períodos da história do Ocidente, significa recuperar trajetórias remotas e mergulhar em
documentos oficiais – uma vez que as fontes da história feminina são mais limitadas que as masculinas. Também
no universo religioso, os homens foram e são os que escrevem e fazem a história. As mulheres, que se dedicavam
à escrita, eram as rainhas, princesas ou membros das famílias aristocráticas, porém, em proporção desigual, se
comparada aos homens. Além disso, seus testemunhos nem sempre eram reconhecidos como verdadeiros pela
Igreja, pois dar autoridade às mulheres significava também reconhecer suas potencialidades, gerando possibilidades
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
perigosas para o campo das relações de poder que
sempre estiveram presentes no mundo religioso oficial.
A leitura dos textos – em suas entrelinhas, nos cochilos
de seus autores e em suas omissões – revelou que, desde
o tempo dos Pais do Deserto – Antão, Pacômio e
Basílio –, as mulheres compartilharam das experiências
religiosas masculinas, seguindo uma regra, recitando
salmos ou fazendo jejum, portanto, praticando um
conjunto de rituais que dava significado ao cotidiano
e as enlevava em busca do sagrado. Até que ponto elas
tiveram iniciativas próprias ou seguiram plenamente as
orientações masculinas, ainda é um campo a ser
investigado uma vez que somente os discursos
masculinos eram reconhecidos como verdadeiros e
legítimos. Mas as mulheres também tentaram fazer
experiências de isolamento no deserto, como faziam
os eremitas,3 mas foram combatidas, pois não podiam
expor seus corpos como a pobreza das vestimentas,
nem se mostrarem desprotegidas na solidão das
cavernas onde bandos de aventureiros estavam sempre
presentes confundindo as intenções. Se elas
pressionavam ou demonstravam iniciativas por
experiências semelhantes as dos homens, os textos
apontam que por volta do século V, na Europa
Ocidental, houve uma intensidade na criação de
conventos femininos para abrigar as mulheres, na
condição de mães, irmãs, tias, cunhadas dos fundadores
monásticos. Jovens, idosas ou viúvas, as mulheres eram
acolhidas em espaços para se encaminhar para uma
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
vida virtuosa, longe das maldades provocadas pela
traição, incesto, nascimentos de filhos bastardos que
incomodavam as famílias nobres, cuja linhagem
necessitava de preservação: Nas moradias aristocráticas,
a mulher do senhor acolhia os hóspedes. Tal como
rainha [...] cuidava das reservas da casa, do tesouro.
Incumbiam-lhe armazenar todas as prestações, todas
as oferendas e prever a respectiva redistribuição.
Dirigindo um esquadrão de servidores masculinos, ela
mantinha contactos cotidianos com o chefe deste
serviço, o camareiro. Que tipo de relações podia ela ter
com tal homem no retiro secreto, obscuro, onde se
achotavam as provisões, as jóias, os instrumentos e os
atributos do poder?[...] O pior era que se ela fosse
fecundada por um outro que não o marido, que filhos
de outro sangue que não o do pai, o do senhor, viessem
um dia a usar o nome dos antepassados dele e a recolher
a sua herança. 4 O movimento de edificação dos
conventos e mosteiro foi lento até o século X, quando
se acentuaram as iniciativas, generalizando-se o ingresso
das mulheres nesses espaços, incluindo-se então, as que
tinham vocação e as que não demonstravam nenhum
perfil para a vida reclusa. Neste sentido, os mosteiros
e conventos tornaram-se espaços conflituosos e
tensionados pela rebeldia de mulheres que não
aceitavam as condições a elas impostas. A essa rebeldia
a Igreja respondeu com a intensificação do rigor do
confinamento. Mulheres enclausuradas tinham acesso
aos familiares ou aos cultos por corredores infinitos
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Resumos
– verdadeiros labirintos – isoladas do mundo e do
convívio como amigos ou familiares. Esta recuperação
histórica é necessária, uma vez que se construiu um
pensamento generalizado sobre os lugares femininos
e as condutas das freiras e das monjas como sendo
espaço piedoso de mulheres resignadas, infelizes,
desapontadas nas iniciativas mundanas ou sem êxito
nas relações amorosas. Seria possível que uma mulher
bela e bem-sucedida nas relações amorosas buscasse a
renúncia destes prazeres para viver a solidão da clausura
ou o silêncio da cela? Os estudos revelam que no
percurso do castelo ao mosteiro ocor reram
oportunidades de a mulher da nobreza demonstrar sua
capacidade de gerenciar uma unidade religiosa também
no seu potencial administrativo, o que conferia às
mulheres, com tal iniciativa, o título de abadessa. Além
de demonstrar o sucesso de um negócio como unidade
econômica, ocasião em que poderiam estabelecer
acordos com os homens, cunhar moedas, participar
das feiras, elas também experimentavam a autonomia
o que não encontravam em nenhum outro espaço. Por
isso também entendia da leitura e da escrita. No interior
das abadias e das celas, as mulheres buscaram a
transcendência da condição feminina a elas imposta
pelo clero masculino. No silêncio da clausura, elas
podiam estudar, ler, escrever, pesquisar e criar, como
afirmava Virginia Wolf, ter “um teto todo seu”. Ao
mesmo tempo elas reproduziam as relações de
dominação existente na sociedade em geral. Monjas
afortunadas eram coroadas como rainhas no interior
dos conventos, traziam suas servas para realizar os
serviços pesados. Mulheres pobres, que desejavam
ascender à vida monástica, costumavam participar do
coro nas últimas fileiras, pois não tendo acesso à leitura
e à escrita não tinham com ler as antífonas e salmodiar.
Tais questões percorrem as intenções deste trabalho
de pesquisa, dialog ando com as produções
historiográficas do tema, com as publicações de
biografias hagiográficas e com as possibilidades de
levantamento de perfis de mulheres, cujas atuações
salpicam em documentos e textos diversos, por vezes
econômicos em dados, mas que merecem um exercício
de perseguição por parte dos historiadores. Antenada
na diversidade – mulheres aristocráticas ou mulheres
comuns – a pesquisa centra suas preocupações nas
tentativas femininas de criar uma regra, fundar um
mosteiro, construir uma comunidade, sair pelo mundo
afora para pregar o evangelho, criando um roteiro de
vida de oração, reconhecidas, controladas ou ignoradas
pelo público masculino. Régine Pernoud dialoga com
as fontes para esta recuperação e sugere ampliar o olhar
sobre a tipologia das fontes: Seria indispensável
pesquisar não somente as coleções sobre os costumes
ou os estatutos das cidades, mas também, os
cartulários, os documentos judiciários ou, ainda, os
inquéritos [...] colhidos na vida cotidiana, mil pequenos
pormenores colhidos por acaso e sem ordem
preconcebida, que nos mostram homens e mulheres
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
através dos menores atos de sua existência: aqui a
queixa de uma cabeleireira, ali a de uma salineira [...]
de uma moleira, da viúva de um agricultor, de uma
castelã, da mulher de um cruzado, etc. É por
documento deste gênero que se pode, peça por peça,
reconstituir, como em um mosaico, a história real. Ela
nos parece aí, é inútil dizer, muito diferente das
canções de gesta, dos romances da cavalaria ou das
fontes literárias que tão freqüentemente tomamos
como históricas!5 Na construção desta história, há
que se estabelecer um constante diálogo com as fontes
oficiais e com a diversidade de materiais que se
colocam à medida que novas perguntas se formulam
a partir da retomada das relações que se estabelecem
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
entre homens e mulheres em suas manifestações com
o fenômeno religioso e as práticas instituídas por estes
atores distintos, seus confrontos, parcerias, alteridades
e reconhecimentos mútuos.
Palavras-chave: história; religiosidade; gênero.
1 SCOTT, Joan. História das mulheres. In: BURKE, Peter. A escrita da
história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992.
2 BENJAMIM, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Brasiliense, 1985.
3 BERLIOZ, Jacques. Monges e religiosas na Idade Média. Lisboa: Terramar, 1994.
4 DUBY, Georges. O cavaleiro, a mulher e o padre. Lisboa: Dom Quixote,
1988, p. 37.
5 PERNOUD, Régine. O que não nos contaram sobre a Idade Média. Rio
de Janeiro: Agir, 1994, p. 114-115.
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Resumos
ENTRE O CORPO E O DESENHO
Elisa Kiyoko Gunzi - UTP
INTRODUÇÃO: A presente pesquisa intitulada Entre o Corpo e o Desenho encontra-se em andamento; traz
uma abordagem teórico-prática na linha de pesquisa em Poéticas Visuais, e está relacionada às práticas artísticas
dos ateliers no curso de Artes Visuais. Esta reflexão concentra-se na prática artística por meio da linguagem
do desenho, mais especificamente na relação entre a intenção (idéias) e o gesto do artista. O resultado deste
processo acontece pelas linhas e manchas inscritas sobre o suporte, revelando a materialidade do desenho. O
corpo do desenho acontece por meio do gesto do artista, e só se manifesta por meio de seu corpo: mãos e
braços como extensão de suas idéias; o corpo do artista viabiliza a existência dos desenhos no mundo real e
objetivo. A relação física entre o corpo do artista e o corpo do desenho acontece desde a concepção da obra.
Seu processo criativo manifesta-se durante o fazer e pode ser verificado nos esboços que antecedem a obra
final. E são justamente nos esboços que encontramos uma ligação direta com o fazer e pensar do artista:
ambos acontecem simultaneamente - o artista pensa, enquanto faz; por meio de vários rabiscos, muitas vezes
descompromissados, o desenho vai adquirindo corpo. Deste modo, esta pesquisa encontra-se atualmente focada
nesta análise estabelecida na relação entre o corpo do desenho e o corpo do artista, mais especificamente, nos
esboços que revelam as relações intrínsecas existente entre eles.
OBJETIVOS: Analisar a relação existente entre a intenção e a ação do artista dentro do processo criativo no
desenho; verificar como a ação motora do artista sobre o suporte materializa suas idéias e intenções, revelados
por meio de esboços e do objeto artístico final.
METODOLOGIA: O método de abordagem utilizado na pesquisa é o indutivo, partindo de questões abrangentes
sobre o ato de desenhar dentro do aspecto fenomenológico e também da investigação do corpo do desenho,
resultado desta ação do artista sobre o suporte. São utilizados dois métodos de procedimentos: a) histórico:
levantamento bibliográfico para fundamentação teórica; b) comparativo: relação entre a produção artística dos
alunos do atelier de desenho e de outros artistas. Relação comparativa dos esboços e do objeto artístico final.
ATIVIDADES GERAIS DESENVOLVIDAS: As principais atividades desenvolvidas nesta pesquisa até o
presente momento foram: - Pesquisar bibliografia e artistas que atuam na área do desenho para aprofundar
fundamentação teórica; - Realizar observação no atelier de desenho durante o processo de criação dos alunos;
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
- Analisar o material encontrado e observado.
RESULTADOS ESPERADOS: Os resultados
esperados desta presente pesquisa são:
- Constatar que a ação efetiva do artista no suporte
materializa suas idéias e intenções; a relação entre o
corpo do desenho e o corpo do artista. Ou seja, como
a ação motora é imprescindível para a materialização
de suas vontades e desejos no processo de criação;
- Disponibilizar este material pesquisado para o
curso de Artes Visuais, mais especificamente para a
disciplina de Atelier de Desenho, para servir de apoio
no desenvolvimento do processo criativo dos alunos
em sala de aula.
RESULTADOS ALCANÇADOS: Até o presente
momento, a pesquisa concentrou-se no levantamento
bibliográfico do material acerca do assunto pesquisado
e também na observação dos alunos trabalhando no
atelier de desenho. A pesquisa bibliográfica envolveu
busca de materiais pela internet, catálogos de museus
e livros sobre o assunto.
Atualmente, sou aluna especial do Programa de PósGraduação do Instituto de Artes da Unicamp, na
qual faço a disciplina Criatividade e Cognição, onde
tenho encontrado subsídios relacionados à prática
e teoria. Por meio da leitura dos textos e análise de
casos, constato a relação direta entre a intenção do
artista com os esboços, e que fazer e pensar estão
intimamente conectados. Deste modo, a materialização
de suas idéias dentro do processo criativo, acontece
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desde a concepção no mundo das idéias, até a ação
motora propriamente dita; o corpo das idéias que dá
corpo aos esboços e que dá corpo ao trabalho - tudo
isto manifestado por meio do gesto do artista, ou seja,
o corpo do artista. No final deste resumo, coloquei
as bibliografias consultadas que ainda estão em
processo de leitura, mas que estão contribuindo para
o aprofundamento desta pesquisa.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: A presente
pesquisa ainda encontra-se em andamento. Ela
apresenta dois pontos para análise e reflexão prática e
teórica; são os elementos motivadores que impulsionam
esta produção e que aqui serão brevemente discutidos.
São eles: o ato de desenhar e o de investigar o corpo.
É importante enfatizar que o interesse desta pesquisa
não está focado na representação do corpo humano por
meio do desenho, mas o corpo torna-se significativo
quando é analisada ação do artista ao desenhar. Desta
forma, a questão, além do ato de desenhar, envolve
também a de investigar o corpo em duas diferentes
relações - o corpo manifestando-se no trabalho do
artista pelos vestígios da sua presença física, da sua
ação sobre o suporte e também o corpo do trabalho.
Falar do corpo é também dar um testemunho sobre a
ação do artista no desenho, testar seus limites físicos,
já que, depois de horas desenhando sem interrupção,
o cansaço se manifesta. Mas o desejo de atingir
determinada meta é o elemento motivador que supera
todas as limitações existentes. Percebe-se que todo o
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Resumos
esforço despendido espera a recompensa do trabalho
acabado. O artista avança, recua, debruça-se, franze
os olhos, comporta-se com todo o corpo como um
acessório de seu olho, torna-se por inteiro órgão
de mira, de pontaria, de regulagem, de focalização.
(VALÉRY, 2003, p. 71) Flávio Gonçalves em seu texto
Um percurso para o olhar relata que, segundo Walter
Benjamin, o ser humano constrói as estruturas nas
quais ele orienta a sua existência, partindo de um ato
similar àquele da inscrição: traçar, cavar, fundar, etc.
(GONÇALVES, 2002, p. 2) Deste modo, Gonçalves
subsidiou os aspectos fenomenológicos do desenho
segundo o ponto de vista de Benjamin, reforçando
a dialética entre a linha e a relação intrínseca com a
experiência, com o fazer propriamente dito. Em Linha
de costura, Edith Derdyk compara a ação de desenhar
ao ato de costurar, semelhança com o processo do
artista ao construir os desenhos. Costurar é construir
ou reconstruir por meio de linhas, assim como o
desenho do artista adquire corpo através de milhares
de linhas que se entrelaçam, formando tramas que se
sobrepõem com as mais variadas linhas e sombras,
assemelhando-se com um tecido. Tudo isso para dizer
que sempre é uma experiência absolutamente singular.
Através da presença física da linha construída costurada
embutida no particípio do passado, esta presença
carrega certamente a memória do ato. (DERDYK,
1997) Percebemos nos escritos de Derdyk, que toda
a intenção do artista só se concretiza por meio da
ação motora. A mão torna-se um prolongamento
para realizar sua intenção. É necessário mobilizar
o corpo para que as idéias adquiram um corpo.
Portanto, Serge Tisseron enfatiza que o traço gráfico
é o testemunho preciso do gesto, ou seja, movimento
muscular e intenção ao mesmo tempo. ...o traço gráfico
é o testemunho preciso do gesto, ou seja, movimento
muscular e intenção ao mesmo tempo. Logo, se
o traço foi objeto de inúmeros estudos (tanto do
ponto de vista de seu valor testemunhal na evolução
psicomotora como do ponto de vista de seu sentido
simbólico), o gesto pelo qual ele é produzido parece
ignorado freqüentemente ou reduzido unicamente
aos significados do traço, que é seu resultado visível.
No entanto, não é absolutamente certo que as visões
decifráveis do objeto produzido, ou seja, a economia
visível da obra, sejam idênticas às que presidiram cada
momento de sua produção, inclusive a escolha de
privilegiar um meio de expressão sobre todos os outros.
Ainda, no caso do desenho, onde o gesto é considerado
como o essencial, pode-se perguntar se a verdade desse
meio de expressão não deve ser buscada no instante
espacial da sua realização. (TISSERON, 1984, p. 91)
No ato de desenhar, existe uma interdependência entre
a intenção e o gesto (da mão e/ou braço) que executa
o traço. O que o artista quer não pode se concretizar
sem o seu corpo: é ele que dá vazão ao desejo e, nesse
sentido, existe a relação do corpo no fazer, o seu próprio
corpo envolvido na ação de desenhar. As linhas que
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Pesquisa
constituem o corpo do desenho carregam a vitalidade
do gesto, voluntário e involuntário. Ao mesmo tempo,
nelas estão contidas as idéias, vontades e preguiças. E
diante desta reflexão acerca do desenho e do corpo,
venho encontrando subsídio teórico de autores que
abordam tais relações, seja do aspecto fenomenológico,
psicanalítico, entre outras questões pertinentes ao
assunto. Já o procedimento metodológico desta
pesquisa está acontecendo por meio da observação
do processo de criação no atelier de desenho, onde os
alunos desenvolvem suas atividades com o desenho.
Esta observação acontece durante as aulas, onde os
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
alunos falam sobre suas idéias sobre o que pretendem
fazer mediante uma proposta lançada em sala, realizam
esboços destas idéias, e executam o trabalho final. Toda
esta observação está contribuindo para compreender
como acontece o processo de criação no desenho. E,
juntamente com o alicerce da fundamentação teórica
reforçam o aprofundamento de dois pontos que venho
desenvolvendo nesta pesquisa, que concentram-se em
duas principais vertentes de análise: o corpo do artista
e o corpo do desenho.
Palavras-chaves: desenho; ação; corpo.
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360
Resumos
REFERÊNCIAS
DERDYK, E. Formas de pensar o desenho: desenvolvimento do grafismo infantil. Série: Pensamento e ação no magistério.
São Paulo: Scipione, 1994.
_____. Linha de costura. São Paulo: Iluminuras, 1997.
GONÇALVES, F. Um percurso para o olhar. Artigo inédito, 2002.
VALÉRY, P. Paul Valéry: Degas dança desenho. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
GOEL, Vinod. Sketches of thought. Cambridge: MIT, 1995
MASSIRONI, Manfredo. Ver pelo desenho: aspectos técnicos cognitivos. São Paulo, Martins Fontes, 1982.
VAN DER LUGT, Remko. Functions of sketching in design idea generation meetings. ACM, Nova Iorque, Estados
Unidos, 2002.
VAN SOMMERS, Meter. Drawing and Cognition, Cambridge University Press, 1984.
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Pesquisa
ESCRAVOS, LIBERTOS E INGÊNUOS NA MEMÓRIA DO PODER JUDICIÁRIO
PARANAENSE: SÉCULO XIX
Márcia Elisa de Campos Graf
Este trabalho, que é parte de um projeto maior, está direcionado para a História Social e propõe a continuidade
do estudo da sociedade escravista paranaense, abordando as políticas e as práticas de domínio em relação aos
africanos e/ou afrodescendentes, fossem eles escravos, libertos ou ingênuos, e a questão do entrelaçamento entre
cidadania e exclusão que daí resulta, na lei e na prática. Nosso intuito é, portanto, o de aprofundar a análise da
contradição, da dualidade e da incoerência que, a partir da instituição da escravidão, marcaram a existência de
indivíduos que eram diferentes pelo estatuto legal, que os distanciava entre si e em relação aos livres, mas que
permitiu a eles estabelecer uma rede de convivência que possibilitou o exercício da cidadania, consideradas as
devidas proporções, apesar do estigma da cor e da origem social que provocavam a exclusão, perdurando para
além da Abolição. Este estudo deve aprofundar análises comparativas entre as categorias jurídicas que reuniam
escravos, libertos e ingênuos, considerando os diferentes períodos e conjunturas, desde o final do século XVIII
até a Abolição da escravatura. Como fontes fundamentais foram privilegiados os processos-crime e os processos
cíveis. Nestes últimos, sobretudo os testamentos, com cláusulas referentes à destinação dos escravos, concessões
de alforrias ou de bens, e os inventários e partilhas de sucessão, nos quais constavam escravos, arrolados como
bens semoventes, mas, muitas vezes, também, como beneficiários. O levantamento dos documentos foi realizado
principalmente no Departamento do Arquivo Público do Estado do Paraná: primeiro, com base no Catálogo
Seletivo de Documentos Referentes aos Africanos e Afrodescendentes Livres e Escravos (Coleção Pontos de
Acesso 02) da Coleção Correspondências do Governo, referente ao período provincial, 1853 a 1889, do acervo
daquela Instituição; segundo, a partir dos maços de documentos relativos ao poder judiciário, que reúne mais
de 20.000 processos, no Arquivo Público do Estado, dos quais foram, até o momento, classificados, fichados
e descritos 1.250 processos, referentes aos séculos XVIII e XIX (período do qual estão ali reunidos perto de
9.000 processos), dentre os quais estamos selecionando aqueles que envolvem escravos, libertos e ingênuos,
para a análise específica a que nos propomos, sem, no entanto perder de vista as conjunturas analisadas e o
que representam os processos envolvendo esses indivíduos, especificamente, no todo desses processos, o que
implica a leitura da totalidade dos processos arrolados. Para o arrolamento desses processos contamos com
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Resumos
uma equipe permanente, constituída por alunos dos
cursos de bacharelado e de licenciatura em História da
Universidade Tuiuti do Paraná (dentro de atividades
complementares e disciplinas de Prática Profissional,
além de atividades extensionistas direcionadas para
a pesquisa), com o apoio de pessoal técnico do
Arquivo Público do Estado do Paraná, que oferece
também o respaldo material. Possibilitando, dessa
forma, não só o treinamento dos alunos na prática
da pesquisa, sobretudo em originais manuscritos,
mas também a descrição desses documentos para a
elaboração de novos catálogos que serão publicados,
numa contrapartida com a Instituição. Dentre os
processos já fichados e descritos, foi feito um recorte
correspondendo à década de 1850, por se constituir um
momento importante, um verdadeiro divisor de águas,
no que concerne à história do período escravista no
Brasil: a abolição oficial do tráfico de escravos (1850); a
promulgação da Lei de Terras (1850); início da entrada
em massa de imigrantes europeus. Desta década há um
total de 475 processos, crime e cíveis, dos quais 163
incluem escravos, libertos ou ingênuos, pouco mais
de um terço dos processos, portanto. Nesse contexto,
nossa preocupação principal no desenvolvimento
desse estudo e na análise dessa série documental,
além das outras séries que continham informações
sobre africanos e afrodescendentes analisadas em
outros momentos e que alimentaram outros trabalhos
por nós já publicados, é a seguinte: Os estudos mais
freqüentes sobre a sociedade brasileira dizem respeito
aos cidadãos ou aos não-cidadãos, ou seja, os excluídos,
numa abordagem dicotômica. De um lado, aqueles
cujos direitos eram plenamente reconhecidos e, de
outro lado, os escravos, aqueles aos quais era negado
pela lei, pelas normas que regiam a sociedade, qualquer
direito, formalmente, até quase o final do século XIX.
Ao lado dos escravos, havia ainda aqueles outros cujos
direitos eram restritos, pelas mesmas leis e normas,
os libertos (ou ex-escravos, cuja alforria poderia ser
revogada a qualquer momento), representando uma
categoria jurídica específica, e os ingênuos (filhos de
mulher escrava, libertos ao nascer) que, por sua vez,
representavam ainda uma outra categoria jurídica,
também com limites de direitos. Tanto para uns quanto
para outros, continuaria sempre pesando o estigma da
escravidão, jamais alcançariam o status de livres, com
todos os direitos decorrentes disso. Mas, e aqueles que,
de uma forma ou de outra, apesar do estatuto legal,
transitavam entre estas categorias extremas? Outro
aspecto que quero ressaltar é o fato da produção
historiográfica, com raríssimas exceções, não se ter
debruçado sobre a análise desses atores sociais, que têm
sido ignorados ou enquadrados, sobretudo ainda a partir
das normas, como elementos estanques, com categorias
rigidamente estabelecidas. Entretanto, basta ir aos
arquivos e consultar as diferentes séries documentais
que nos trazem informações sobre escravos, libertos
e ingênuos, para verificar através dessa “memória” a
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Pesquisa
presença e a prática desse “trânsito” entre escravidão,
semi-escravidão (representada pelos libertos e pelos
ingênuos) e cidadania. Uma vez que nos é dado constatar
como eles eram responsabilizados por crimes pelos quais
deviam pagar com o cumprimento de pena de reclusão
ou a morte; ou, eram vítimas, que viam seus agressores
serem punidos, mesmo que fossem seus senhores, ou
simplesmente elementos livres; tinham suas demandas
atendidas, por meio de processos encaminhados ao
poder judiciário ou às autoridades administrativas;
recebiam bens que lhes eram legados em testamento e
partilhas de sucessão; mas, também tinham a permissão
de recolher os benefícios adquiridos com trabalhos
extras, permitidos por seus proprietários; podiam
acumular pecúlio, com o qual compravam sua própria
alforria ou a de familiares, e conseguiam até possuir
Caderneta de Poupança na Caixa Econômica, como
qualquer cidadão e não como semovente, equiparado ao
gado, na condição de escravo. Para a constatação dessas
situações, a memória do poder judiciário é extremamente
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
rica e fecunda, tanto no domínio dos processos-crime
quanto dos processos cíveis, nos quais a interação entre
os escravos e semi-escravos entre si e com o restante
da sociedade apresenta-se muito nuançada. Basta ter a
paciência e o tempo necessários, além da paixão pela
pesquisa, para ler esses processos de muitas páginas
manuscritas. Processos estes que nos permitem constatar
que o “trânsito” entre escravidão, semi-escravidão e
cidadania não teve início com a Abolição da escravatura,
começou bem antes. Mas, esta antiguidade ainda não
garantiu em nossa sociedade o exercício pleno da
cidadania ao afrodescendente, daí a temática geral do
nosso projeto maior, concernente ao controle sobre os
indivíduos, à exclusão social e ao direito, tomando-se
como referência as disputas pelo poder e pelo domínio
dos espaços urbanos, que perduraram além do período
escravista.
Palavras-chave: trabalho forçado; escravidão;
cidadania.
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364
Resumos
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES: PRÁTICA PEDAGÓGICA COM
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA APOIADA PELAS TECNOLOGIAS ASSISTIVAS PARA
ALÉM DA INCLUSÃO
Iolanda Bueno de Camago Cortelazzo - UTP
Ana Irene Alves de Oliveira - UEPA
Carlos Alves Rocha - UTP
Márcia Silva Di Palma - UTP
Jamine Emmanuele Henning - APAE/SC
Fernanda C. F. Monteiro - PUC PR
Ingrid Adam - UTP
O presente projeto de Pesquisa tem como objeto a formação de professores, e como foco a formação para
uma prática pedagógica com alunos com deficiência apoiada pelas tecnologias assistivas. No período de agosto
a dezembro de 2008, fez-se um acompanhamento do processo de inclusão de dois alunos americanos que
participaram do Intercâmbio de alunos da UTP com os Estados Unidos, de professores que tinham alunos
com deficiência em suas salas de aula, e da pesquisa do Trabalho de Conclusão de Curso de uma aluna do Curso
de Pedagogia sobre a empregabilidade das pessoas com deficiência. Em paralelo, as alunas egressas dos cursos
de Graduação e do Programa de Pós-Graduação Mestrado em Educação, participantes do Núcleo de Pesquisa
em Processos Educacionais Interativos realizaram um levantamento em teses e dissertações sobre as questões
básicas do projeto: prática pedagógica, escola inclusiva, deficiências e educação. Este relato se detém na
investigação sobre os alunos estrangeiros em sala de aula da UTP. Os dados foram coletados por meio de
entrevistas abertas com os professores e com os alunos americanos e por meio dos trabalhos finais desses
alunos que deveriam relatar sua experiência em uma instituição em um contexto cultural diverso do seu e dos
seus estágios em escolas do Ensino Fundamental com crianças com necessidades especiais. Os alunos visitantes
participaram de várias disciplinas nos cursos de Licenciaturas de História, Pedagogia e Letras. Em “Práticas
Alfabetizadoras e de Letramento” sentiram as dificuldades da língua e de uma cultura diferente e serviram de
referência para as práticas alfabetizadoras inclusivas com base nas discussões sobre “concepções, metodologias
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
e avaliação dos processos de aquisição da linguagem
escrita”, orientando para a construção do conhecimento
a partir de pesquisas, materiais didáticos e paradidáticos
da área; na disciplina “Português para Estrangeiro”, os
dois alunos tiveram acompanhamento em níveis
diferentes na apresentação da “Norma culta do
Português Brasileiro e seu ensino como L2”, a
professora focalizou “a competência comunicativa:
seus componentes; ensino de língua e cultura”. Ao
mesmo tempo como futuros professores e alunos com
deficiência lingüística, foram orientados na escolha de
metodologia, na escolha e na elaboração de material
didático, e participaram da discussão sobre a avaliação;
percebendo as especificidades do ensino da língua
portuguesa a anglo-falantes e hispano-falantes. A
disciplina de estágio supervisionado “Pesquisa e Prática
Pedagógica Anos Iniciais – Estágio Supervisionado II
que é uma disciplina de formação profissional, com
carga horária de 108 horas, trabalhou a pesquisa da
prática pedagógica nos anos iniciais do Ensino
Fundamental, da Educação de Jovens e Adultos, como
elemento articulador teoria-prática. Os alunos praticam
a docência nos anos iniciais do Ensino Fundamental,
da Educação de Jovens e Adultos e na educação não
escolar; e aprenderam a partir da investigação sobre
essa prática elaborar seu projeto de docência. A partir
das entrevistas com os alunos e das observações da
professoras das três disciplinas (uma optativa, uma
prática e a de Estágio) constatou-se que os alunos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
visitantes e os professores e alunos brasileiros
vivenciaram uma experiência real de inclusão. As duas
primeiras disciplinas colocavam-nos mais em contato
com a língua estrangeira no caso deles, a língua
portuguesa. Destaca-se que os dois alunos se
matricularam no 2 semestre do estágio, pois o primeiro
não era oferecido no segundo semestre de 2008, e eles
não tinham o conhecimento que os outros já haviam
construído no primeiro semestre, mas houve uma
disponibilidade de professores e alunos para orientá-los
a superarem as dificuldades. Nas três disciplinas, as
professoras prepararam um plano de ensino para cada
disciplina, levando em conta as especificidades da
situação dos dois alunos, sem facilitar demais para eles,
que contaram, ainda, com a colaboração de boa parte
dos alunos. Verificou-se, porém que nas disciplinas
mais teóricas que exigiram maior dedicação, os alunos
não contaram com a colaboração dos colegas. Em
“Dificuldades de Aprendizagem e Intervenção
Pedagógica”, que trabalha a “aprendizagem e o sujeito
aprendente”, os alunos participaram e vivenciaram a
avaliação diagnóstica da aprendizagem e a elaboração
de uma intervenção didático-pedagógica nas dificuldades
de aprendizagem. Essa disciplina enfocou as
“dificuldades e transtornos de aprendizagem, as formas
de detectar e trabalhar com dificuldades de aprendizagem
de leitura, escrita. Em “Sociologia Brasileira” que estuda
a “produção sociológica brasileira, analisando os
trajetos da primeira geração formada nas Instituições
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Resumos
de Ensino Superior no Brasil, tendo como ponto de
partida a sociologia frente à construção da identidade
nacional”, os alunos sentiram a diferença da cultura e
a dificuldade da leitura em língua portuguesa de textos
mais densos e mais reflexivos. Em “Fundamentos da
Educação Especial e Inclusiva 2” participaram das
discussões sobre “a importância do papel do professor
diante da perspectiva inclusiva nos dias atuais”. As
professoras procuraram fazer com que os alunos
participassem mas não desenvolveram nenhum
trabalho específico de acompanhamento para os dois
alunos. Como a metodologia incluía aulas expositivas,
leitura e discussão de textos teóricos; análise de vídeos
e depoimentos de alunos inclusivos deficientes com
posterior discussão; e grupos de discussão seguidos de
seminários temáticos, o processo de aprendizagem
dependeu mais da autonomia dos alunos e de suas
interações com os colegas. A aluna Alisa escreveu que
era necessário “se ter uma mentalidade da inclusão e
que as pessoas precisam aceitar as pessoas com as quais
se relacionam, sem se importar com as suas diferenças”.
No final do semestre a aluna escreveu que, “vir a um
país novo e não falar a língua local foi muito difícil. Ela
pontuou que “era extremamente difícil relacionar-me
com as pessoas quando a barreira estava na língua de
alguma forma. Em minhas classes, eu não falava com
os outros alunos, e eu não estava em um grupo com
os outros estudantes”. Indicava nesse relato a não
inclusão dos colegas de sala. “Eu tive uma espécie de
deficiência verbal em minhas classes e eu precisava de
mais atenção do que os outros alunos para aprender o
material. Foi interessante a consciência que a aluna
tinha de sua deficiência e da sua superação. “Fiz exame
do esforço em minha parte e na parte de meus pares
fazer o inclusão possível, mas para o fim do semestre
onde eu sentia incluída mais em minhas classes porque
eu poderia compreender mais da língua”. O aluno
James escreveu: “Nas salas de aula da Tuiuti, nós
observamos que os professores da área de educação
especial incluíam e reconheciam as habilidades e
necessidades de todos os alunos muito mais frequência
do que os professores de outras áreas”. O aluno
também teve a percepção da diferença de tratamento
dos professores apontando formas diferentes de agir:
“Houve uma aula em que a professora replanejou para
nos incluir. Houve também casos de aulas, em que as
professoras reorganizaram os grupos para nos incluir
a cada aula”. Reitera na escrita o que já havia indicado
em sua fala, no acompanhamento que se fazia com os
alunos: “Houve aulas em que os professores falavam
muito rapidamente e nós não entendíamos nada e
ficamos sem entender”. Indicaram, também, a
aproximação dos colegas de classe: “Alguns alunos
perguntavam se havíamos entendido e se dispunham
a nos explicar. Se nós tivéssemos perdido material,
houve alunos que nos ajudaram. No geral, sentimos
que os alunos e professores da Tuiuti nos ajudaram
muito e nos sentimos incluídos na maioria de nossas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
aulas”. Os depoimentos dos alunos que são muito mais
extensos do que essas citações demonstraram a
fragilidade do processo, mas que ele está em construção.
Entre os resultados já encontrados podem se destacar
do ponto de vista metodológico o aprofundamento
sobre a pesquisa colaborativa. Ao se considerar que a
comunidade é o contexto para a aprendizagem, quando
se discute educação; a comunidade é vista como um
grupo de pessoas cujos valores são comuns com as
pessoas trabalhando juntas para criarem um ambiente
de respeito, de fortalecimento, e de pertença. Há uma
sinergia que torna o grupo mais produtivo e os
membros podem estar em diferentes níveis de
desenvolvimento sem serem julgados ou rejeitados.
Constatou-se a fragilidade do conhecimento dos
docentes em relação à deficiência, ao que se referem
as necessidades especiais, a o desconhecimento do que
são e para que servem as tecnologias Assistivas
demonstrando, por tanto a necessidade de
aprofundamento sobre a inclusão e as tecnologias
assistivas em cursos de licenciatura, em especial na
Pedagogia;. Constatou-se, ainda, que é necessário
promover a interação entre professores e realizar a
interdisciplinaridade na educação de alunos com
necessidades especiais; planejar e acompanhar as
atividades desenvolvidas nos estágios e nas práticas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
educacionais; preparar o professor e a equipe
multidisciplinar para a prática pedagógica inclusiva; e
reforçou-se a consciência de que embora a UTP tenha
uma Comissão Inclusiva, ainda não possui de fato um
programa consolidado de educação inclusiva.Como
resultante das discussões decorrentes desta pesquisa e
das anteriores correlatas, as pesquisadoras Ingrid Adam
(pedagoga e designer gráfico) e Fernanda Cândido
Figueiredo Monteiro (terapeuta ocupacional com
especialização em ergonomia) elaboraram um projeto
de pesquisa para dar continuidade à pesquisa: “A
Interface entre a Pedagogia e a Terapia Ocupacional
nas Tecnologias Assistivas”. Esse projeto apóia-se nas
descobertas conjuntas sobre as dificuldades que os
professores têm em lidar com as dificuldades de
aprendizagens dos alunos, e que para o professor
exercer uma prática pedagógica inclusiva não basta ter
um curso preparatório; é necessário se articular com
outros profissionais, para trabalhar outras dimensões
das deficiência, apoiados nas tecnologias dependentes
e independentes de eletricidade utilizadas por outros
profissionais, e que na prática pedagógica se tornam
tecnologias assistivas.
Palavras-chave: deficiência; formação de professores;
inclusão.
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368
Resumos
FORMAÇÃO E TRABALHO PROFESSORES EM TEMPOS DE HEGEMONIA
NEOLIBERAL
Adriana de Fátima Franco - UTP
Adolfo Ignacio Calderón - UTP
Maria de Fátima Rodrigues Pereira - UTP
Esta mesa redonda tem o pressuposto da indissociabilidade entre a formação e o trabalho docente. Traz
elementos para compreendermos as políticas de formação de professores e o trabalho docente no contexto da
hegemonia das políticas neoliberais e do decorrente processo de mercantilização da educação. Nas últimas três
décadas, a formação e o trabalho de professores tem sido objeto de debates, pesquisas, políticas, regulamentações.
O tema, hoje, sem dúvida, adquiriu centralidade para a educação formal. Vem sendo tratado no conjunto das
reformas curriculares, das políticas de avaliação e das de financiamento produzidas no contexto histórico da
reorganização produtiva do capital monopolista. Sobre ele, muito tem sido escrito no Brasil e em outros países.
Insiste-se no estudo deste tema a que muitos já se dedicaram. Entende-se que, se a pretensão é conhecer para
além de uma visão idealista e fenomenológica, a formação e o trabalho dos professores, é preciso desvelar as
relações reais. Ou seja: a formação (educação) e o trabalho de professores explicam-se no conjunto das múltiplas
determinações históricas- uma rica totalidade- de uma dada formação social. Trabalho e educação são relações
sociais que expressam a produção da existência humana. Em todos os modos de produção da existência há
trabalho humano e educação. Estas duas atividades são especificamente humanas, têm caráter de centralidade
e andam imbricadas. O modo de produção capitalista, sistema produtivo alienado coercitivamente e/ou por
consentimento aos interesses da burguesia, entre outros empreendimentos criou os sistemas escolares, tem
definido a formação especifica dos professores para atuarem nas escolas. Criou instituições, programas de
estudos, estágios, certificações, normatizações que vêm regulamentando e avaliando o trabalho educativo formal.
Na ordem burguesa, educação e trabalho dizem respeito a interesses antagônicos: aos do capital e aos do
trabalho, pois, tanto podem concorrer pra manterem a ordem social como para superá-la. A natureza do trabalho
do professor caracteriza –se pela não-separação entre saber (o saber enquanto meio de produção é-lhe
indispensável seja em menor ou maior grau) e trabalho, teoria e prática, mesmo quando se proclama a sua
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
separação. Assim, a formação de professores é
estratégica em toda e qualquer formação social, e por
isso é preciso dizer como ela é feita e com que intenções
ou finalidades. Nas sociedades, sob o modo de
produção capitalista, em que o trabalho é subsumido
pela burguesia, o trabalho do professor, em virtude da
necessidade da posse de meios de produção mesmo
em sistemas e estruturas com interesses burgueses,
pode ser uma mediação na superação das relações
sociais de produção conduzidas, ou nas quais a
burguesia tem a hegemonia. Ciência e técnica são
fundamentais ao trabalho do professor e, portanto, à
sua formação. Nas últimas décadas, um conjunto de
leis, decretos, resoluções e pareceres foram definindo,
disciplinando, controlando e desonerando o Estado da
formação de professores segundo as grandes decisões
feitas nas conferências mundiais. Assim, um número
nunca antes produzido de regulamentações foi
formatando, cercando, disciplinando, controlando a
formação de professores e os sentidos foram: a)
acentuação da fragilização da formação dos professores
agora entregue, em sua maioria, à iniciativa do
empresariado e conformada, portanto, à obtenção do
lucro; b) conseqüente desapropriação dos professores
dos seus instrumentos como as teorias, os conteúdos,
os métodos (instrumentos de trabalho); c) interferência
da lógica da produtividade através dos financiamentos
e processos de avaliação; d) barateamento em tempo
e recursos da formação e dos espaços de trabalho dos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
professores, as escolas estão pobres de espaços, livros,
laboratórios e quando os há os professores não sabem
usá-los e não têm suportes pedagógicos para tal; e)
desconfiança da ciência e da filosofia como
conhecimentos necessários à escola; f) defesa da razão
instrumental e das respostas imediatistas-princípios da
organização do mercado. Ou seja, se durante as décadas
de 1960 e 1970 a formação de professores ainda
assentava em princípios da ciência – agora se inverte o
eixo estruturante da formação. Não são as disciplinas,
os conhecimentos, mas a flexibilidade de lidar com
situações que vêm do mundo da produção e do
consumo. Fecha-se o cerco. A formação é formatada
na razão instrumental. Ela torna-se rígida nos eixos
estruturantes das demandas e flexível nas respostas
dentro dessas demandas. Por isso, também o ataque à
formação nas universidades que, em princípio, pelo seu
ethos, se reporta à ciência e a conhecimentos universais,
ciosas do seu status de independência à submissão das
organizações do mercado. Nesse cenário, convenientes
seriam evidenciar os estudos existentes sobre a
precarização do trabalho docente, nos quais se destacam
três vertentes claramente definidas: a) estudos sobre a
flexibilização dos contratos de trabalho, que tem em
seu cerne discussões em torno da chamada acumulação
flexível e o surgimento de estratégias para a flexibilização
trabalhista, contratos temporários, parciais, terceirizados
muitas vezes sem o amparo da legislação trabalhista;
b) estudos sobre os processos pedagógicos e o saber
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Resumos
fazer, focando as políticas educacionais e os impactos
diretos ou indiretos no exercício da função docente,
na gestão escolar, nas estruturas administrativas, nas
jornadas de trabalho e no cotidiano do exercício da
docência e c) estudos sobre a saúde do docente
trabalhador e sobre as formas de regulação do exercício
da docência e sua relação direta com a qualidade de
vida dos professores, a saúde física e mental.
Especificamente, sobre a primeira vertente, chama
atenção a realidade do magistério público, marcado
pela insegurança e instabilidade do trabalho temporário,
e na maioria das vezes, sem nenhum direito trabalhista,
como licença médica, férias, décimo terceiro salário.
Os professores temporários ora estão empregados, ora
desempregados. Inclusive, embora os contratos sejam
anuais, em muitas situações, nada garante a vigência
total do contrato, caso um professor efetivo reassuma
suas aulas, fato que gera a fragmentação do trabalho
pedagógico pela rotatividade dos professores e o
desestimulo quanto às ações pedagógicas contra o
fracasso escolar. Ressalte-se que o fato de ser professor
efetivo, não significa que não realize um trabalho
precarizado, uma vez que a dupla ou tripla jornada,
resultante dos baixos salários, é uma realidade presente
no trabalho docente. A precariedade do trabalho do
magistério do setor privado é também fato de
preocupação diante das estratégias de empresários da
educação, pautadas pela maximização dos recursos e
redução de custos, alicerçadas em esquemas contratuais
que visam explorar ao máximo o trabalho docente, com
claros reflexos para a qualidade de vida dos professores.
O tema formação e trabalho de professores precisa ser
entendido à luz de concepções a respeito de homem,
de escola, de educação e de mundo de trabalho. O
pensamento liberal traz como concepção a idéia de que
o homem é um ser naturalmente humano, dotado de
potencialidade e dons. A formação de professores
olhada deste ângulo pressupõe que neste profissional
esteja presente a semente do “bom professor”, o bom
professor nasce marcado (com dons). Contrapondo-se
a essas idéias, entende-se o homem enquanto ser sóciohistórico, isto é, o homem enquanto ser concreto,
social, histórico, e cultural, que constrói sua humanidade
na interação com outros homens, onde os processos
psicológicos não são dados e, sim, construídos nesta
rede. A esse respeito temos, ainda, que considerar um
fato importante que diz respeito a relação dialética entre
indivíduo e sociedade, síntese de um sistema ao mesmo
tempo em que é produzido. Nesta perspectiva crítica,
parte-se da compreensão de que aos professores cabe,
na divisão social do trabalho, no atual modo de
existência transmitir conhecimentos que foram
sistematizados ao longo da história, pelos homens. Se
a escola é a instância socializadora do conhecimento
historicamente acumulado e se a finalidade da ação
docente se concretiza na tarefa de ensinar e ensinar
bem, temos que o trabalho docente revela relações
sociais, valores e ideologia. Neste sentido, as relações,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de produção de conhecimento existentes numa
instituição escolar são únicas, resultado de múltiplos
fatores, em uma realidade específica que adquirem
forma própria, pela singularidade e historicidade dos
indivíduos que a compõe. Assim, entender o professor
enquanto totalidade, enquanto par dialético (professoraluno), sendo necessário que, na reflexão sobre a prática
da atividade docente, o professor não se exclua, antes
considere para a relação professor-aluno, como algo
que jamais poderá ser compreendido isolando cada um
dos seus elementos (professor-aluno). É necessário que
o professor se perceba como elemento constitutivo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
das práticas, percepções e sentimentos dos alunos.
Portanto, pensar a intervenção junto a professores
significa, também, pensar a totalidade institucional e,
de forma mais ampla pensar a própria sociedade.
Diante disso, é fundamental a construção de espaços
para reflexão sobre os significados de suas ações, sobre
a sala de aula enquanto um espaço de formação social
da mente, sobre o papel do outro na constituição do
sujeito, sobre a formação e o trabalho para tal na
totalidade do tempo histórico sob a hegemonia de
políticas neoliberais que fragilizam a formação e o
trabalho dos professores.
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Resumos
FORMAS E (RE)FORMAS: A RECEPÇÃO DE SHAKESPEARE NO SÉC. XIX
Cristiane Busato Smith - UTP
A presente pesquisa partiu de alguns pressupostos importantes que passo a delinear. A recepção da obra
shakespeariana é um estudo estimulante e mais do que revelar aspectos intrínsicos à obra do autor, nos permite
antever as diferentes maneiras pela qual o autor foi lido e interpretado em determinado período. Sob esta ótica,
os estudos shakespearianos revelam aspectos instigantes da cultura pela qual ele foi apropriado, fazendo valer
as palavras do crítico shakespeariano Terence Hawkes (1986), “Shakespeare does not mean; we mean Shakespeare”
[Shakespeare não significa; nós significamos Shakespeare, minha tradução]. Por outro lado, a recepção de
Shakespeare ao longo dos séculos ilustra que ele nem sempre foi considerado um autor consagrado. Seu
desprestígio, no período conhecido por “Restauração” (1660-1682), advinha da premissa que sua obra violava
os rígidos princípios néo-clássicos franceses. No entanto, o século XVIII recupera a imagem do Bardo e aceita
as suas ‘idiossincrasias’ como sinal inequívoco de sua genialidade. Porém, é apenas na Inglaterra Vitoriana que
Shakespeare toma um vulto de proporções gigantescas e se torna um escritor totalmente canonizado. Pode-se
dizer que a “invenção” contemporânea (XX e XXI) de Shakespeare deve muito ao fenômeno da popularidade
que o escritor atingiu na era vitoriana. Dentre os aspectos que comprovam a popularidade do autor na época
estão: a proliferação dos estudos críticos; a incorporação compulsória de algumas de suas obras na grade
curricular; a preconização da leitura dos ‘textos familiares’ de Shakespeare no âmbito do lar (principalmente
para mulheres, jovens e crianças); a popularidade das produções teatrais de algumas de suas peças (nos teatros
mais ‘sofisticados’e também nos teatros populares); a presença de imagens de seus personagens que figuram
amplamente em museus, exposições, catálogos e livros ilustrados; o prestígio que a literatura (principalmente
em romances e poemas) dá ao autor em forma de paródia. Em suma: Shakespeare se torna um culto. Cabe
também ressaltar que a época vitoriana (séc. XIX) testemunhou grandes mudanças na política social, nas relações
econômicas, na ciência, na filosofia, nas comunicações e nos transportes. Um período de paradoxos sócioculturais muito intensos, não apenas o modo de vida parecia mudar rapidamente, mas também as condições
materiais para aqueles que viviam naquele período. Além dos contrastes entre o urbano e o real, o rico e o pobre,
o masculino e o feminino, existiam imensas disparidades na renda, na educação, nas expectativas, nas
oportunidades e nos estilos de vida para os vitorianos. Há vários estudos que recuperam o período vitoriano
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
como a emergência da “consciência cultural” pós
revolução industrial (Reynolds e Humble, 1993), e
enfatizam a necessidade da classe burguesa em
‘construir’ valores essenciais calcados numa moralidade
excessiva. Uma das maneiras de alicerçar os valores
morais adequados para a época foi a leitura pedagógica
da obra shakespeariana. Shakespeare é então apropriado
por e para um projeto com claras tendências
moralizadoras. Neste processo, verifica-se um
fenômeno curioso: as obras de Shakespeare, por
conterem elementos dissonantes do que se professava
(i.e., moralidade a toda prova), foram alteradas sem
escrúpulos. Esse processo se dá, grosso modo, da
seguinte forma: palavras, falas e cenas são modificadas
ou inteiramenete cortadas, traços considerados
“imorais” ou perigosos de seus personagens são
cortados ou grandemente abrandados, os finais são
alterados, dentre outras manobras textuais. A família
burguesa, pode-se afirmar com segurança, lia um
Shakespeare reformado, ou, mais propriamente dito,
“deformado”. Com base nos delineamentos acima, esta
pesquisa se justifica na medida em que os estudos
shakespearianos fazem parte evidente das ementas de
Literatura Inglesa dos Cursos de Letras no Brasil (e
desta instituição), além de serem contemplados pelas
provas do Enade tanto para alunos de Letras Inglês
como para os alunos que tenham optado por outra(s)
línguas e literaturas correspondentes. O Enade, não
custa ressaltar, reflete a necessidade de se ler Shakespeare
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
como uma manifestação que permeia a cultura como
um todo, sem pensar em fronteiras. Shakespeare, sob
esta ótica, não deve ser visto apenas como um escritor
inglês, dado a sua permeabilidade na cultura ocidental.
No que tange a cultura brasileira especificamente, a sua
presença encontra-se revererenciada de maneiras
diferentes por escritores, tradutores, adaptadores,
dramaturgos e em eventos literários e teatrais que se já
se firmaram nacionalmente. A vantagem de se estudar
Shakespeare da perspectiva dos estudos culturais é que,
para citar apenas uma possibilidade, podemos ensejar
cotejos com a literatura brasileira. Basta lembrar das
intertextualidades na obra de escritores brasileiros tão
diversos como Machado de Assis, Dalton Trevisan,
João Cabral de Melo, Clarice Lispector, Ariano
Suassuna, para citar apenas alguns. Todavia, nossos
encontros com Shakespeare não se limitam à literatura,
eles se estendem até a televisão em novelas e séries
como Otelo de Oliveira, que recria, de maneira criativa
a tragédia Otelo, o Mouro de Veneza. Outra manifestação
que evidencia como Shakespeare encontra-se inserido
na nossa tessitura cultural é o Festival de Teatro de
Curitiba, que, desde seu início, tem em Shakespeare seu
autor mais encenado. Percebe-se que, ao abordar
Shakespeare, desta perspectiva, estamos automaticamente
contemplando a literatura brasileira, a história do nosso
teatro em adaptações, re-escrituras e performances, e,
não menos importante, refletindo sobre os significados
que esta presença traz para o mundo contemporâneo.
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374
Resumos
Em suma, fica evidente que um estudo que nos auxilie
a entender a construção sócio-cultural de Shakespeare,
propiciada por fatores diversos no século XIX,
contribui para o entendimento de como nossa época
re-ativa e re-trabalha o autor. Um dos objetivos
específicos deste estudo é o de verificar como dois dos
maiores fenômenos editoriais da obra shakespeariana
do século XIX, The Family Shakespeare (1809), de
Henrietta e Thomas Bowdler, e Tales from Shakespeare
(1809), de Charles e Mary Lamb, modificaram Hamlet
(1601), influenciando desta forma, a recepção da obra
pela cultura da época. Partindo do pressuposto que
nenhuma dessas alterações foram feitas no vácuo, ou
seja, as chamadas ‘expurgações textuais’ constituem
um construto social de uma ideologia dominante que
se nutre da reputação do “maior escritor da nação
inglesa” para disseminar conceitos e noções importantes
para a cultura da época (PAVIS, 2001), esta análise se
beneficiará, principalmente, em dois âmbitos. Pretendese contribuir para que ocorra o que Raymond Williams
(2001) denomina de recuperação do “registro
documental de uma cultura”, i.e., resgatar uma obra
(The Family Shakespeare) rara que somente se encontra
em bibliotecas especializadas na Inglaterra e é
desconhecida no meio acadêmico brasileiro. O segundo
aspecto é o de iluminar facetas da cultura vitoriana, um
período determinante na história da literatura inglesa.
É, por exemplo, neste momento que a crítica literária,
tal qual hoje a concebemos, se firma na academia. É,
também, neste período fecundo para a literatura, que
o romance emerge na sua plenitude. Um dos
argumentos que este trabalho pretende defender é o
de que, sem entendermos esse momento crucial na
recepção da obra shakespeariana, não conseguimos
obter a real dimensão do que Shakespeare se tornou
na contemporaneidade, i.e., o que muitos críticos
denominam de a “indústria shakespeariana”. Em outras
palavras, a crítica shakespearina dos séculos XX e XXI
estabelece um diálogo com os grandes críticos
shakespearianos do século XIX, seja para criticar e
desconstruir os pressupostos de seus antepassados, seja
para desenvolver suas idéias, seja para afirmá-las e
consolidá-las. Cabe ressaltar que é a partir do fenômeno
da assimilação do autor pela cultura e pela crítica
vitoriana que Shakespeare se tornou, na atualidade,
uma espécie de “selo de garantia”, um “produto
cultural”, como afirmam Terence Hawkes (1986) e
Gary Taylor (1989), apropriado igüalmente pela
indústria da alta cultura (na crítica literária; em festivais
de teatro consagrados, em filmes dirigidos para os
estudiosos, nos cursos acadêmicos) e pela cultura
popular (em adaptações cinematográficas
hollywoodianas feitas para o grande público; nos
festivais de teatro fringe; nas novelas televisivas; na
“réplica idêntica” do Teatro “The Globe” (o teatro de
Shakespeare), em Londres; em palestras para executivos;
e, até mesmo, em camisetas, canecos, etc.,), ou seja, o
mero rótulo “Shakespeare” se tornou garantia de uma
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
‘boa venda’. No que diz respeito a resultados, esta
pesquisa já rendeu vários frutos, dentre eles a
participação e apresentação de comunicações em
quatro eventos no ano de 2008 e a publicação do artigo
completo “Teatro e Pintura em Diálogo: Ellen Terry
e a Ofélia de Shakespeare” nos anais do V Congresso
Brasileiro de Pesquisa e Pós Graduação em Artes
Cênicas. No ano de 2009, tive a satisfação de publicar
o capítulo “A esteticização da morte da Ofélia de
Shakespeare: um passeio intermidiático entre a
literatura e a pintura” no livro Shakespeare sob
múltiplos olhares (orgs. Anna Stegh Camati e Célia
Arns de Miranda) e tive a honra de ter o artigo “Ophelia
and the perils of the sacred feminine” aceito pelo
prestigiado periódico europeu Multicultural
Shakespeare, que será publicado em 2010. Fiel à idéia
de um Shakespeare cultural e verdadeiramente
multidisciplinar, publiquei o artigo “Shakespeare e a
Astronomia: a visão de sua época” na Revista Eletras
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
da UTP, tema inédito na academia brasileira. A revista
Letras da UFPR aceitou o artigo no qual exponho
minhas primeiras reflexões sobre a edição The Family
Shakespeare, intitulado: “Nem anjo, nem demônio:
uma análise cultural da apropriação da Ofélia de
Shakespeare em The Family Shakespeare” que deve ser
publicado neste ano. Ainda em 2009, participarei de
três eventos, incluindo o Congresso da Abrace na USP,
aonde apresentarei a comunicação intitulada “A
dialética texto e cena no monólogo de Gertrudes de
Hamlet”, cujo artigo também já foi aceito. Em outubro
de 2009, ministrarei a palestra “Shakespeare entre artes”
convidada pelo Mestrado em Estudos Literários da
UFPR. Espero, com os resultados da presente pesquisa
contribuir para um debate salutar nos Estudos
Shakespearianos no Brasil e ensejar novas pesquisas.
Palavras-chave: estudos shakespearianos; estudos
multiculturais; estudos intererartes.
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Resumos
GRUPO DE ESTUDOS SOBRE POLÍTICAS EDUCACIONAIS E SOCIOAMENTAIS:
UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Carlos Alves Rocha – UTP
Maria Cristina Borges da Silva – UTP
Mario Sergio Cunha Alencastro – UTP
Marilene Zazula Beatriz - UTP
Este trabalho tem por objetivo relatar e compartilhar as experiências de um de um grupo de estudos em seu
processo de construção e amadurecimento. É fruto da evolução das reflexões desenvolvidas no Grupo de
Estudo sobre Políticas Educacionais e Socioambientais (GEPESA), que reúne alunos e professores dos Cursos
de Pedagogia, Geografia, Administração e Psicologia da Universidade Tuiuti do Paraná, da Faculdade de Ciências
Humanas Letras e Artes, do curso de Pedagogia e de outros profissionais de outras instituições. O grupo está
inserido no NEPE, Núcleo de Pesquisas Educacionais, do curso de Pedagogia. O objetivo do GEPESA é
aprofundar as reflexões acerca da formação profissional no âmbito dos cursos de graduação sobre a Educação
para Sustentabilidade, investigando como os vários conceitos permeiam as diferentes formações. Para tanto,
vários documentos têm sido analisados e amplamente discutidos, entre eles pode-se citar os resultados de
conferências e relatórios mundiais, leis, decretos, pactos que discutem um novo modelo civilizatório para gestão
e planejamento. Estes documentos incluem todos os segmentos da sociedade, já que nenhum setor pode absterse desta discussão. Na educação, anunciam a necessidade de inseri-los deste a Educação Infantil até a PósGraduação. Assim, há necessidade de implantar na formação profissional de todas as áreas de conhecimento
discussões sobre sustentabilidade. Ao longo das últimas três décadas discute-se a temática ambiental na formação.
Durante este período ocorreram muitas evoluções nos conceitos, e percebe-se que muita coisa mudou. Hoje
são vários setores da sociedade que já incorporaram a dimensão ambiental em seus discursos. Mas será que este
fato é realmente positivo? Transcorrido mais de trinta anos, que evoluções efetivas aconteceram? Qual tem sido
o papel das Universidades no que diz respeito à formação profissional para a sustentabilidade? Está-se formando
para o mundo do trabalho ou apenas para o mercado de trabalho? Busca-se a responsabilidade socioambiental
ou ambientalismo de resultados a serviço de uma disfarçada racionalidade instrumental? Deseja-se criar uma
massa crítica que seja capaz de reagir e propor novas mudanças? Ou ainda estamos adestrando sem ter clareza
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
para onde o futuro nos conduz? Brugger (1994),
analisando propostas oficiais no documento “Estratégia
Internacional de Ação em Matéria de Educação e
Formação Ambientais para o decênio de 1990”, do
PNUMA/UNESCO apontou seu predomínio técnico
e naturalizante em detrimento dos aspectos éticos e
políticos da questão ambiental. Segundo a autora o
conteúdo do documento mostra uma tendência a uma
educação adestradora que define como “uma instrução
de caráter, essencialmente técnico, fruto de uma visão
de mundo cientificista e unidimensional”. BRUGGER
(1994, p.14). Desta forma, é necessário compreender
se o projeto sustentabilidade que está em construção,
se apóia na estratégia participativa e democrática de
ampla discussão com a sociedade, ou se ainda hoje “é
possível, mais do que nunca, ocultar sob a fachada de
um saber “técnico” uma decisão na verdade política.
Da mesma forma, o universo da locução técnica serve
para reproduzir e legitimar o status quo e repelir outras
alternativas, que porventura se coloquem contra ele”.
BRUGGER, (1994, p.8). Instigados por estas e outras
questões, tiveram início as atividades do GEPESA, que
pretende ensejar com os seus participantes conceitos
advindos da transdiciplinaridade, pois como aborda
Nicolescu, (2001, p.9) os pesquisadores que entendem
este processo “aparecem como resgatadores de
Esperanças”, pois, constroem um novo momento de
idéias e um projeto para o Futuro, e o conceito de
sustentabilidade se encaixa nesta perspectiva. Neste
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
contexto e após longas horas de estudos e discussões
entre os participantes o GEPESA decidiu contribuir
com o debate de forma mais efetiva, organizando e
ofertando um curso de Pós-Graduação em Educação,
Ambiente e Formação Humana para a Sustentabilidade,
ofertada pela Universidade Tuiuti do Paraná, ligado a
Faculdade de Ciências Humanas Letras e Artes e ao
Curso de Pedagogia. A decisão de ofertar o curso de
Pós-Graduação voltado à Formação Humana é atender
às diretrizes do Ministério da Educação - MEC e do
Ministério do Meio Ambiente MMA, e também da
UNESCO que determina a implementação da Década
da Educação para o Desenvolvimento Sustentável
(2005-2014), e que reforça mundialmente o papel da
sustentabilidade a partir da Educação e que se propõe
a potencializar as políticas, os programas e as ações
educacionais já existentes nessa área, bem como
multiplicar oportunidades inovadoras.1 Desta forma,
as atividades acadêmicas que estão sendo desenvolvidas
no curso contribuem para fomentar um maior número
de pesquisas em educação, ambiente e sustentabilidade
para que seja possível criar bases para o desenvolvimento
sustentável, visando mudanças no pensar e no agir
cotidiano. A instrumentalização da dimensão ambiental
enquanto objetivo de inserção educacional é exercida
neste curso, que se destina à profissionais de formação
diversificada, propiciando uma visão holística e
transdisciplinar desta instigante temática. O principal
objetivo do curso é produzir, ampliar e difundir
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Resumos
conhecimentos sobre gestão, educação e inovações
tecnológicas, voltadas à sustentabilidade socioambiental.
Pretende-se desenvolver investigações nas áreas da
educação social, gestão de organizações públicas,
privadas e não governamentais, fomento de incubadoras,
projetos baseados em tecnologias limpas, proteção e
conservação ambiental, levando ainda em consideração
os aspectos, dos direitos humanos, cidadania,
desenvolvimento de comunidades, movimentos sociais,
medidas socioeducativas, economia solidária e
responsabilidade socioambiental empresarial. A
construção deste curso de Pós-Graduação se dá pelo
engajamento dos professores que atuarão no curso,
empenhados em fomentar na UTP novas dinâmicas
de trabalho associadas aos princípios da sustentabilidade,
como recomendados pelo Capítulo 36 da Agenda 212,
que é um plano de ação para ser adotado global,
nacional e localmente, por organizações do sistema das
Nações Unidas, governos e pela sociedade civil. Além
do documento em si, a Agenda 21 é um processo de
planejamento participativo que resulta na análise da
situação atual de um país, estado, município, região,
setor e planeja o futuro de forma socioambientalmente
sustentável. O curso, por estar ligado às diferentes
faculdades da UTP (FACHLA, FACET, FCSA e
FCBS), tem caráter transdisciplinar. Os produtos
derivados deste curso abrem espaço para intercâmbios
nacionais e internacionais tais como o International
Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI)
e a vários programas de pesquisa mantidos pelo
PNUMA. Importante salientar que o grupo de
professores que participam do curso atuam de forma
autogestionada no sentido de buscar uma gestão
democrática. Há reuniões semanais onde cada decisão
é debatida de forma exaustiva, deliberando-se em nome
de todos. As informações circulam livremente e não
há hierarquia. As decisões tomadas nas reuniões devem
ser seguidas por todos. Ou seja, todos são coresponsáveis por tudo o que acontecer com o ou no
curso de pós-graduação. Neste sentido, pode haver
desgastes nas relações, pois os conflitos existem e
devem ser administrados por todos. Para determinados
tipos de decisões-chave, pode ser necessária uma busca
de unanimidade, mas para as mais importantes o
consenso é suficiente, desde que seja realmente um
consenso. O importante é que o próprio grupo perceba
seu movimento e possa crescer tanto tecnicamente
quanto emocionalmente para o bem comum. A referida
Pós-Graduação, já produziu a realização de dois
Seminários convidando a comunidade em geral para
participar do debate, tais como: profissionais de
formação diversificada, gestores de empresas públicas
e privadas, professores de todos os níveis e modalidades
de ensino e interessados nos temas supramencionados.
Além de participar do debate, o objetivo dos Seminários
é: debater e contribuir com o maior número de pessoas
possíveis em face da temática e também convidá-los a
integrar o curso de pós-graduação. O primeiro
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Seminário foi denominado de “Formação Humana e
Desenvolvimento: os Desafios da Sustentabilidade”, e
abordou temas ligados aos desafios da sustentabilidade
em uma visão transdisciplinar envolvendo todos os
professores do curso que se disponibilizaram a proferir
palestras que versavam sobre diferentes abordagens
sobre a sustentabilidade. Foi um seminário que permitiu
ao grupo avaliar o interesse dos participantes sobre a
temática, e, sobretudo tudo interagir com os
participantes. O segundo Seminário intitulado: “II
s e m i n á r i o s o b r e Fo r m a ç ã o H u m a n a p a r a
Sustentabilidade: Políticas Ambientais e Educacionais”
teve como abordagem as políticas educacionais e
ambientais e os desafios da sustentabilidade, relacionadas
com o desenvolvimento e a formação humana. Este
segundo seminário foi fruto de reflexões relativas ao
primeiro módulo do curso com o desenvolvimento de
palestras e debates sobre: As políticas educacionais e
seus reflexos na construção da sociedade brasileira –
População e Saúde nas Políticas - As discussões
ambientais e as Políticas Ambientais: Os vários
discursos sobre o Aquecimento Global - As discussões
sobre a escassez da água e as políticas públicas para os
recursos Hídricos, - Alguns instrumentos que dispomos
para construção de Políticas Públicas: A Agenda 21
como exemplo. As palestras deste seminário foram
proferidas pelos próprios alunos da pós-graduação,
entre eles profissionais das áreas de: Pedagogia,
Psicologia, Bacharel e licenciado em Educação Física,
Administrador de Empresas e Gestor ambiental. Os
textos das palestras foram produzidos com orientação
de dois dos professores do curso, a saber: o professor
responsável pelo módulo e o professor de metodologia,
que participa ativamente de toda a construção da
pesquisa dos alunos desde o primeiro até o último
módulo do curso. Após a rica experiência vivida pelo
grupo de professores e alunos, esperamos continuar
contribuindo com a sociedade para a Formação
Humana, divulgando e debatendo por intermédio de
outros seminários dos próximos módulos.
Palavras-chave: formação; sustentabilidade; políticas.
1 Ver MEC – Cadernos SECAD 1. Disponível em: < http://portal.mec.
gov.br/secad/arquivos/pdf/educacaoambiental.pdf>
2 A Agenda 21, documento também concebido e aprovado pelos
governos durante a Rio 92.
REFERÊNCIAS
BRÜGGER, Paula. Educação ou adestramento ambiental? Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1994, 142 p.
NICOLESCU, B. O manifesto da transdiciplinaridade. São Paulo: Trion, 1999.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
HABITAÇÃO NO BRASIL: HISTÓRIA E PLANEJAMENTO
Cleide Meirelles Esteves Piragis - UTP
A questão da habitação no Brasil é intrínseca ao próprio planejamento da política econômica. O aspecto mais
relevante acentua-se no modelo da pobreza urbana, provocando impactos nos programas do governo face às
condições de bem-estar da cidade. Nesse sentido, cabe ressaltar duas contribuições principais: avaliação desses
programas, durante e após a implantação, com o objetivo de verificar o desempenho re-distributivo e não
somente dar acompanhamento financeiro, mas controlar a incidência dos benefícios gerados pelos projetos de
modo a mantê-los permanentemente, favorecendo as moradias de baixas rendas; e a segunda contribuição
torna-se praticamente extensão da primeira, possibilitando a redução dos índices de pobreza urbana. Desde os
anos 30, quando a indústria começou a liderança na economia do Brasil, as desigualdades nas diversas escalas
geográficas, sejam entre macrorregiões, sejam em nível de microrregiões, como entre componentes de mesma
área metropolitana, vêm se acentuando quanto aos níveis de desenvolvimento, provocando uma forte pressão
no sentido de ocupação dos espaços urbanizados e inúmeras mudanças na questão da composição da estrutura
social. Deve-se considerar também que a imigração estrangeira teve papel significativo no desenvolvimento do
Sul. No caso de São Paulo, a imigração se relaciona à expansão cafeeira sobre terras de mata e á colonização
urbana com europeus. Considerando a metodologia para a execução desta pesquisa, além das fontes com base
em documentação primária, tais como: relatórios confidenciais, atas, e outros, observaram-se informações
estatísticas governamentais, documentos esses, que possibilitou identificar que houve um declínio das taxas de
imigração das regiões Nordeste em favor aos aumentos das taxas da região do Sul do país. Mais recentemente
são significativos os movimentos migratórios, principalmente de gaúchos que vieram ao Paraná, e se dirigiram
depois, com outras levas de migrantes, para as regiões de Mato-Grosso, Goiás e Amazonas. Em conseqüência
das migrações ocorridas durante as décadas de 1940, 1950 e 1960, o crescimento da população do Paraná foi
mais significativo que de qualquer outro Estado brasileiro. Segundo pesquisa desenvolvida por equipe de
professores da Universidade Federal do Paraná o crescimento demográfico do Paraná foi acompanhado pelo
desenvolvimento urbano, ou seja, pelo aumento do número de cidades e pela concentração populacional em
núcleos urbanos. Contudo, embora elevado o número de núcleos urbanos que surgiram, a maioria da população
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
atual do Paraná continua predominantemente rural1
nesse período. Em todo o Estado do Paraná, o processo
de ocupação foi sucedido de inúmeros conflitos, isto
porque a negociação de terras, desenvolvidas entre
1947 e 1950, com a cumplicidade de autoridades
estaduais, resultou em violência e desapropriação. Já
em 1930, os abusos por parte do Governo de Mário
Monteiro TOURINHO, “decorrentes de concessões,
a título gratuito ou por preço reduzido de terras
devolutas às empresas de construções de estradas e de
colonização, bem como as legitimações de grandes
áreas que se foram processando, deram em resultado,
a formação dos latifúndios prejudiciais aos supremos
interesses da Nação.” 2 Em 1951, o Governo do Estado
declarara de utilidade pública as terras litigiosas de
várias localidades, cujos títulos haviam sido
irregularmente expedidos pela administração anterior,
fundamentando-se no preceito constitucional do
interesse social, ocorrendo, portanto, a primeira
desapropriação no Brasil com base no interesse social.
Sobre este contexto, é importante que se faça a
avaliação do papel que as políticas de desenvolvimento
regional desempenham no processo de planejamento
nacional e que não podem ser realizadas apenas a partir
das intenções que são explicitadas nos documentos do
governo ou nas diretrizes e objetivos das instituições
públicas, mas, principalmente, a partir da análise do
processo decisório que ocorre na dinâmica das
organizações políticas. A partir da década de 1940,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
várias foram as tentativas de coordenar, controlar e
planejar a economia do país. Contudo, até 1956, elas
consistiram em propostas, como é o caso do relatório
SIMONSEN, entre 1944 e 1945; mais em diagnósticos,
quando se trata da Missão Kooke (1942-1943), Missão
Abbink (1948), da Comissão Mista Brasil – EUA (19511953), no governo Vargas. Para acentuar a evidente
preocupação, com a questão de investimentos
direcionados de forma direta ou indiretamente, para
construção de casas e apartamentos, ou até aquisição
de terras Octávio G. de BULHÕES relata em sua obra
à margem de um relatório, o seguinte: “O investimento
... em bens imóveis tem causado uma pressão intensa
e contínua sobre o sistema bancário, proveniente de
todos os outros setores da economia, e destinado a
obter os fundos necessários à manutenção e ampliação
das atividades existentes. As taxas de juros têm sido
impelidas para mais alto do que deveriam ser
normalmente. Há, por conseguinte, uma tentação
contínua no sentido de financiar as despesas do capital
por medidas inflacionistas.”3 Por volta de 1947, o
capitalismo industrial esteve apenas começando no
Brasil, seu desenvolvimento foi dificultado pela
mentalidade de alto lucro unitário e pela escassez de
especialistas e técnicos no domínio administrativo dessa
área. Em função disso, havia uma forte atração da
propriedade imobiliária como campo de investimentos
dos lucros da indústria, comércio e exportação agrícola.
Durante o pós-guerra, a concentração do potencial de
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Resumos
investimento brasileiro direciona-se para a construção
de edifícios comercias e de apartamentos para os
grupos relativamente pequenos de pessoas ricas. A
Comissão Abbink considerava que a tentativa rigorosa
do governo no sentido de dar nova direção ao fluxo
das economias da nação, seria a única base sólida sobre
a qual poderiam ser efetuados os planos financeiros de
desenvolvimentos. A execução dessa política contendo
as forças inflacionárias tenderá a limitar as oportunidades
de obtenção de altos lucros na especulação de imóveis
e mercadorias e aumentar as vantagens relativas de
investimentos mais construtivos. O governo pode
desestimular, porém, um investimento excessivo em
bens imóveis urbanos, tributando mais pesadamente
os lucros do capital obtidos nesta espécie de
investimento.4 A política destinava-se a restringir o
investimento das instituições de economias coletivas
em bens móveis e desaconselhar o emprego indevido
dos recursos dos bancos particulares para financiamento
de projetos especulativos. Ainda armazenando esforços
no sentido de racionalizar o processo orçamentário,
surge o Plano Salte, na mensagem n° 196, de 10 de
maio de 1948, no Governo Dutra. Este foi elaborado
com deficiências graves em sua previsão financeira e
não relacionou o orçamento com sua aplicação, dando
origem a problemas de ordem técnica, enfrentadas com
relativo êxito no plano que antecedeu – Plano de Obras.
O Plano Salte, propondo medidas puramente setoriais,
como é o caso do petróleo ou do café, não se
concretizou como uma experiência propriamente na
área de habitação. A questão habitacional e urbana
coloca-se no país a partir dos anos 50, ligada diretamente
ao processo de incremento do setor industrial,
especialmente por empresas estrangeiras, e aos fluxos
migratórios internos oriundos do campo para centros
urbanos megalopolizados. A princípio, os imigrantes
se ajustavam junto às plantas industriais, criando-se as
vilas operárias em cidades como São Paulo, Rio de
Janeiro e, em menor escala, Belo Horizonte e Curitiba.
O avanço do crescimento da política habitacional
voltada para a garantia da presença próxima de
trabalhadores ao local de trabalho cria o inevitável
reflexo da especulação imobiliária urbana. Em alguns
casos, a própria empresa assegurava ao trabalhador a
moradia, e perder o emprego representava perder a
casa.5 Desde o período Vargas até 1964, o setor público
criou e desenvolveu mecanismos próprios de intervenção
no setor habitacional, com o objetivo de atender
necessidades existentes e avolumadas pela incidência
do capital de risco. Nessa época surgiram a Fundação
da Casa Popular e as Carteiras Hipotecárias, vinculadas
aos Institutos de Previdência e às Caixas Econômicas
Federais e Estaduais. Os mecanismos eram políticos,
marcados pelo clientelismo no atendimento, pela
inoperância de seus agentes, pela escassez de recursos,
pela corrupção, pelo paternalismo e favoritismo;
obviamente com resultados bastante insignificantes,
isto porque todos esses órgãos produziram juntos
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Pesquisa
apenas 120 mil unidades até 1964, protegendo
praticamente o seguimento da população de altas
rendas. Para se ter uma idéia mais precisa a Fundação
da Casa Popular, em seus dezoito anos de funcionamento
e com a finalidade de intensificar a produção de
habitação para famílias de baixa renda, financiou apenas
17 mil moradias. Acumulando experiência, várias foram
às tentativas brasileiras para implantar a técnica do
planejamento nas atividades do setor público, porém,
nenhum dos planos brasileiros chegou, sequer, a atingir
o seu objetivo final, exceto o chamado Programa de
Metas, que, curiosamente, não pretendeu ser um plano,
no sentido técnico da palavra. Somente em 1964, junto
às contingências históricas, o setor habitacional e
urbano passaria por rearticulações profundas,
inserindo-se no quadro de transformação e mudanças
do direcionamento da política econômica institucional
do país, no mandato Castelo Branco. Em síntese, é
possível perceber que a iniciativa de se instituir o BNH
teve a sua concepção na política, e não na causa social
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
propriamente dita, uma vez que o descompasso entre
o país real e suas instituições caracterizava-se por vários
fenômenos, em especial, pela mobilização social e
ecológica das massas rurais e a vacância política que
essas migrações acarretariam, sendo inevitavelmente
um agravamento das condições de vida urbana. Assim,
essa nova camada social, sem preparo para a vida
urbana, e por isso mesmo marginalizada, desassistida,
socialmente ressentida e desprovida de liderança
autêntica, acabaria por provocar um desequilíbrio
eleitoral.
Palavras-chave: habitação; planejamento; urbanismo;
políticas públicas; investimento.
1 BALHANA, A. Pilatti; MACHADO, B. Pinheiro; WESTPHALEN, Cecília.
História do Paraná. Curitiba: Grafipar, 1969, p. 245.
2 WESTPHALEN, Cecília et al., p. 211.
3 BULHÕES, Octávio Gouvêa. A margem de um relatório. Rio de Janeiro:
Edições Financeiras, 1950, p. 343.
4 BULHÕES, O. Gouvêa. P. 264.
5 RIBEIRO, L. C. de Queiroz & PECHMAN, Robert M. p. 24.
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384
Resumos
HEGEMONIA CATÓLICA: DE MEDELLÍN A APARECIDA
Vera Irene Jurkevics - UTP
Esta comunicação é resultado de uma parte do projeto de pesquisa em andamento, A Concepção de Religiosidade
Popular para o Conselho Episcopal da América Latina (CELAM), que visa analisar as profundas transformações
operadas, a partir de meados do século passado, no interior da Igreja latino-americana e identificar qual a leitura
que esta instituição faz das manifestações de piedade e fé popular. Nas últimas décadas, um número expressivo
de pesquisas acerca de história religiosa e história das religiões vem sendo desenvolvido e, aspectos tidos até
então como objetos da sociologia, da antropologia e da teologia, passaram a objetos de estudo e reflexão da
história. Por outro lado, se antes os historiadores se detinham na história das relações institucionais da Igreja,
priorizando as relações entre Estado e Igreja, mais recentemente tem se multiplicado as investigações que
enfatizam os comportamentos e atitudes dos diferentes grupos religiosos, em suas múltiplas expressões de
religiosidade. Nesse sentido, nosso projeto visa estabelecer uma relação dialógica entre o institucional/oficial e
o desclericalizado/oficioso, buscando ainda, detectar onde, em que momento e com que intensidade se pode
estabelecer uma intercessão entre eles. Para tanto, essa pesquisa se desdobra em dois momentos. O primeiro,
se refere à análise dos documentos oficiais produzidos pelos órgãos oficiais da Igreja, e está, em princípio
concluído, uma vez que, em um projeto em andamento é sempre prematuro afirmar que um segmento já está
finalizado, na medida que novos elementos, até então desconsiderados podem exigir uma pesquisa complementar.
Essas fontes, os documentos oficiais produzidos pelo CELAM, sinalizam as transformações ocorridas na esfera
institucional acerca das diretrizes estabelecidas a partir do episcopado latino-americano ao longo de suas cinco
conferências, quatro delas alinhadas com o Concílio Vaticano II (1962-1965), uma vez que a primeira o antecedeu.
Num segundo momento, esta pesquisa se debruçará na identificação das manifestações de religiosidade popular
dos povos latino-americanos para detectar a ação da Igreja no que se refere à religiosidade popular e sua reação
em torno das práticas declericalizadas. Para tanto, o ponto de partida é contextualizar a Igreja a partir da Segunda
Guerra Mundial. O contexto europeu, pós 45, com a derrota do nazi-fascismo, a emergência da Guerra Fria, a
vigência de diferentes sistemas econômicos, exigiu um redirecionamento da estrutura eclesiástica, idealizada,
fundamentalmente, em torno de uma convivência pacífica e harmoniosa, que buscou o diálogo ecumênico com
outras povos e expressões religiosas. Vale ressaltar, no entanto, que antes mesmo da realização do Vaticano II,
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Pesquisa
em 1955, o então papa Pio XII, havia aprovado um
encontro do bispado latino-americano por ocasião do
Congresso Eucarístico Internacional, no Rio de Janeiro,
quando um grupo expressivo de sacerdotes latinoamericanos, defendeu que a reunião deveria se centrar
em questões emergenciais da religiosidade dos
diferentes povos da América Latina, com ênfase na
conquista apostólica, visto que há muito a escassez
apostólica delineava a debilidade da Igreja em nosso
continente. Outros temas também estiverem presentes
nesses debates, por estarem imbricados com a realidade
social e política vigente, sobretudo a exploração
campesina e a segregação social, inclusive no interior
da própria Igreja, uma vez que vários membros da
instituição que estava sendo criada apontavam que
negros e índios, mesmo tendo assimilado a fé e o culto
cristão, nunca haviam sido contemplados com uma
pastoral direcionada a eles. Assim, esse encontro que
criou o Conselho Episcopal Latino-Americano,
materializou-se na I Conferência Latino-Americana,
que discutiu temas considerados emergenciais: a
educação, os meios de comunicação e a influência da
Igreja na cultura, além de outros, velhos conhecidos,
como o laicato, a maçonaria, o protestantismo, o
comunismo e, em especial, no Brasil, o espiritismo.
Após o Concílio Vaticano II, boa parte do episcopado
latino-americano procurou traduzir em ações as
disposições conciliares e, de acordo, com os problemas
mais expressivos do subcontinente, promoveu, pouco
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
depois, em 1968, a II Conferência Episcopal LatinoAmericana, efetivada em Medellín, na Colômbia, sob
a temática Opção pelos Pobres, a partir de um atento
estudo da realidade sócio-econômica, política e eclesial,
em que a prioridade era ação, muito mais que as
palavras, o que resultou, pouco depois, na difusão das
Comunidades Eclesiais de Base (as CEBs), sustentadas
teoricamente na Teologia da Libertação. Esta disposição
considerada muito avançada pelos setores mais
conservadores da Igreja, no encontro de Puebla, no
México, em 1979, sofreu um arredondamento, e a
anterior opção pelos pobres se transformou em Opção
preferencial pelos pobres. As propostas das CEBs e a
polêmica em torno da Teologia da Libertação
provocaram um realinhamento da Santa Sé. Entre
Medellín e Puebla, praticamente dez anos depois,
percebe-se uma retomada gradual, mas evidente, do
controle exercido pelo episcopado mais conservador,
já que, circunstancialmente, a Igreja se voltaria para os
pobres, mas não exclusivamente, esvaziando, em boa
parte, a proposta anterior. Nossa análise aponta que,
esse redirecionamento visava enfraquecer a discussão
em torno da Teologia da Libertação e, traduziu-se, na
prática num retrocesso da ação dos leigos, dentro e
fora dos locais consagrados. Dessa forma, enquanto o
pobre, em Medellín, foi contemplado com um olhar
mais fraterno, inclusive no que se refere às suas
manifestações de fé, em Puebla ele foi diluído, uma vez
que o bispado demonstrou especial preocupação com
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Resumos
os jovens, uma vez que via neles, uma força
transformadora da sociedade, capaz de renovar a
cultura e de dinamizar toda a sociedade. Ao optar pelos
jovens, a Igreja evangelizadora convidava-os a
encontrarem nela o lugar de comunhão com Deus e
com os homens, na construção de uma sociedade mais
fraterna e mais justa, num claro esvaziamento do
comprometimento dos representantes da Igreja com
o aspecto político e social, apesar da promessa de
continuidade do caminho de renovação da Igreja, desde
a realização do Vaticano II. Puebla, por exemplo,
lembrou os indígenas e afro-americanos somente
quando os comparou com as feições sofredoras do
Cristo, considerando-os os mais pobres entre os
pobres, sem sinalizar, no entanto, as marcas específicas
de sua pobreza: a marginalização e a discriminação, em
função de sua alteridade cultural. Assim, pregava
Comunhão e Participação e a integração dos jovens
seria canalizada através de diferentes pastorais, a fim
de que jovens operários e camponeses, estudantes
secundaristas e universitários fossem assistidos de
acordo com sua situação concreta. Essa tendência, de
certa forma, foi reforçada, em 1992, na IV Conferência,
em Santo Domingo, na República Dominicana, por
ocasião das comemorações dos 500 anos da conquista
da América Latina e que se identificou com a temática
A Unidade e a Pluralidade das Culturas LatinoAmericanas - A Evangelização no Presente e no Futuro,
e centrou as discussões em torno da diversificação
cultural e histórica dos povos da América Latina e do
Caribe, uma vez que o Caribe não se considera incluído
na realidade latino-americana e que a expressão “latino”
não consegue recobrir sua diversidade étnica, cultural
e religiosa enfatizando as fronteiras entre os povos
latinos, de substrato católico e os caribenhos, de
substrato protestante, seja ele luterano, calvinista ou
anglicano. Esse mosaico étnico-religioso foi ainda
reforçado, ao longo do século XIX, por migrantes
vindos das colônias européias da Ásia, como chineses,
hindus, indonésios, japoneses, turcos e árabes. Diante
desse quadro, os bispos delegados de Santo Domingo
se depararam com algumas problemáticas fundamentais,
tais como, o direito constitucional da existência de
outras igrejas cristãs e não-cristãs, como as dos
indígenas e as afro-americanas, e sua liberdade de culto;
a existência, muitas vezes, de uma dupla pertença e de
uma dupla prática, a do catolicismo e a das religiões
tradicionais, bastante difusas por todo o continente
além do direito dos povos indígenas e das populações
afro-americanas, já batizadas, viverem seu cristianismo,
segundo suas raízes culturais e seus costumes. Com era
de se esperar, diante dessas questões polêmicas, muitas
foram as vozes de resistência, pois enquanto alguns
defendiam que a inculturação é um processo de cada
comunidade ou povo, devendo por isso ser articulado
à tarefa de evangelização, a perspectiva aprovada
colocava, no centro da questão a própria Igreja, fazendo
dos povos e das culturas objetos próprios de sua ação.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Este ponto parece ser fundamental para responder
tanto às inquietações acerca dos pobres em Medellín
e Puebla, quanto à multiplicidade de perfis culturais,
em Santo Domingo. A Igreja, ao que tudo indica, não
se dispõe a ir ao encontro do povo, do pobre, do negro,
do índio, ou quem quer que seja o outro. Antes, espera
que venham a ela, se ajustando, se adaptando às suas
diretrizes, que, em linhas gerais, foi a postura adotado
por ocasião do Concílio Ecumênico Vaticano II,
quando sinalizou com o retorno dos irmãos separados.
Os três problemas-chaves priorizados em Santo
Domingo, Nova Evangelização, Promoção Humana e
Cultura Cristã exigiram a reflexão de um outro modelo
de Igreja, uma vez que resolvê-los com o modelo
tradicional, piramidal centralizado e não-participativo,
era impraticável. Em linhas gerais, essa seria uma forma
de encarar as exigências pastorais daquele momento,
sem preterir Medellín ou Puebla. Ou seja, seria assumir
um compromisso com uma nova evangelização dos
povos latino-americanos, com uma promoção humana
integral e através de uma evangelização inculturada. A
justificativa dessa continuidade, também esteve
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
presente no último encontro do bispado latinoamericano realizado em Aparecida, em maio de 2007,
cujo maior desafio era dar um novo impulso e revigorar
a missão católica na América Latina e no Caribe, que
enfatizou o caráter missionário de toda a Igreja,
envolvendo, além de toda a classe sacerdotal, cada um
dos discípulos. A preocupação com os desafios
sinalizados para o século XXI apontou para a
necessidade de que toda comunidade se empenhe em
propagar a “verdadeira” fé católica, uma vez que o
número de novas igrejas e grupos religiosos tem
indicado, cada vez mais, um esvaziamento nas fileiras
católicas, ainda que de longe a Igreja Católica se
mantenha hegemônica, segundo os números oficiais.
Por outro lado, vale lembrar que, apesar de todos os
esforços, as manifestações de fé tem se multiplicado,
o que justifica, na visão da Igreja, um empenho
redobrado para que a sua unidade e a sua universalidade
seja mantida.
Palavras-chaves: Igreja; América Latina; Religiosidade
Popular.
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Resumos
INCLUSÃO EM DEBATE
Ademir Valdir dos Santos - UTP
Elaine Cristina Gonçalves - UTP
Ingrid Adam - UTP
Viviane Regiani - UTP
A proposta desta mesa redonda é a discussão crítica e aberta da natureza do atendimento dos alunos da Educação
Especial, na rede regular de ensino, segundo a proposta de Educação Inclusiva vista pelas pesquisadoras, a partir
da temática Prática Pedagógica. Esta discussão tem por objetivo expor as reflexões alcançadas no processo de
pesquisa, com o intuito de ampliar o fórum de discussão sobre o que seriam as práticas inclusivas e como se
estabelece essa prática com a interferência da dicotomia clínico-pedagógica. Inicialmente, o debate inicia-se com o
relato das considerações de práticas vivenciadas e esperadas em uma sala de aula do ensino regular e suas nuances
observadas a partir da pesquisa participante. Assim, diante do quadro evolutivo da diversidade que permeiam
as escolas e das múltiplas variáveis que configuram este decurso complexo, coloca-se a necessidade de pensar a
Educação no processo de ensino-aprendizagem. Porém, sabemos que pensar o trabalho com alunos deficientes
demanda esforços para desenvolver o que se planeja. Repensar a prática - até então implementada com os
alunos deficientes que, por algum motivo, estão limitados em suas expectativas ou capacidades de se integrarem
socialmente, de se incluírem na escola e de serem produtivos economicamente - demandam especificidades
que necessitam de uma gama de conhecimentos do educador, não sendo tarefa fácil, posto que a formação
inicial e continuada desse profissional precisa estar em contínuo ir e vir de construções e reconstruções do seu
saber, que possam subsidiar a sua atuação em sala de aula. Esse saber se configura em todo um processo, que
abrange desde mudanças de paradigmas que o professor possa querer, como também mudanças em relação
às ações que possam viabilizar políticas de formação inicial e continuada para o atendimento desse aluno com
deficiência. Diante deste contexto, a necessidade de observar situações de atendimento docente ao aluno com
deficiência, em sala de aula, no ensino regular, o que implica em diferentes desafios à prática docente, nos
remete a perguntar: Quais são as práticas docentes em classes regulares nos Anos Iniciais com alunos que
apresentam deficiência física? A educação do deficiente na escola, mais precisamente no ensino regular, alerta
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
para a promoção de um ensino que corresponda não
somente às necessidades específicas deste aluno, mas
que corresponda aos interesses e necessidades de
todos os alunos da classe. Com isso, o aluno incluído
necessita de apoios e complementos pedagógicos, de
metodologias e tecnologias de ensino diversificadas,
bem como a organização pelas escolas especiais de
propostas curriculares articuladas ao sistema regular de
ensino. É preciso insistir também no fato de que esta,
por certo, não é tarefa simples ou de fácil condução.
Sem dúvida, saber a respeito das variáveis sobre a
questão do conhecimento que o aluno precisa e propor
desafios de que necessita para aprimorar seus saberes,
depende e muito da intervenção que o professor estará
fazendo ou adequando na sua prática para permitir
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
dar uma resposta adequada às necessidades pessoais
de todos, não perdendo a especificidade de cada um
dos alunos envolvidos no processo de aprendizagem.
Partindo da ideia do professor como agente formador,
contribui com a inclusão de alunos com Necessidades
Educacionais Especiais em suas turmas de ensino
regular as contribuições obtidas por meio de sua
formação inicial e continuada, se são relevantes ou
não para a sua prática educativa. E, finalmente, com
estas reflexões postas, tratar-se-á da contextualização
da dicotomia clínico-pedagógica vista nas práticas ainda
iniciantes de uma educação inclusiva.
Palavras-chave: educação inclusiva; prática pedagógica;
dicotomia clínico-pedagógica.
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Resumos
INTELECTUAIS E PODER: A REVISTA ANHEMBI E A FACULDADE DE FILOSOFIA,
CIÊNCIA E LETRAS DA UNIVERSIDADE DOPARANÁ (1955-1957)
Valeria Floriano Machado de Souza - UTP
Objetivamos, neste trabalho, apresentar um conflito ocorrido na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná
- portanto, aparentemente local, mas que alcançou grande divulgação através de jornais diários e revistas de cultura
- tornando-se apêndice de uma ampla discussão nacional em torno da configuração e do controle do campo
intelectual na área da educação a partir da segunda metade da década de 1950. Neste sentido, a presente pesquisa,
buscou analisar os dados da pesquisa iniciada em março de 2006, onde apontamos a importância dos grupos de
intelectuais, que contribuíram - para a divulgação, de determinados conhecimentos, influenciando efetivamente
na formação de um campo intelectual em Curitiba. Durante o perído da pesquisa, além do arrolamento e análise
da atas da congregação da Universidade, no qual iniciamos uma reflexão acerca do papel da revista Anhembi, em
conjunto com alguns professores, que tornaram pública as constanteS intervenções e concursos públicos na
Universidade do Paraná. A construção do objeto de pesquisa, e sua problematização, se conformaram a partir de
determinadas opções teóricas. Neste sentido, utilizamos o conflito como ponto de partida para analisar a
configuração do campo intelectual. A noção de campo se constitui num recurso que permite certa operacionalidade,
no sentido de analisar os produtos culturais revistas, livros, artigos), bem como os seus produtores (os agentes que
se manifestaram no conflito). Sendo o campo o território estruturado a partir de uma gama específica de interesses,
faz-se necessário, para determinados campos existirem, segundo Bourdieu, idéias e instituições que lhes dêem
apoio efetivo e assegurem sua existência. A compreensão do campo intelectual, assim como no campo científico,
necessita do estudo das instituições que o legitimem. A presente pesquisa busca apresentar um conflito ocorrido
na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná - portanto, aparentemente local, mas que alcançou grande
divulgação através de jornais diários e revistas de cultura - tornando-se apêndice de uma ampla discussão nacional
em torno da configuração e do controle do campo intelectual na área da educação a partir da segunda metade da
década de 1950. Fundamentalmente, o início dos embates, e seu acirramento teve como estopim um concurso
público, ocorrido na Faculdade de Filosofia da Universidade do Paraná, para professor, realizado em 1955, e as
reclamações decorrentes de seu resultado, dadas supostas irregularidades no encaminhamento do processo. As
críticas apontavam para a necessidade de se moralizar as universidades, através da instauração de um ethos acadêmico,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
que se notabilizaria, no deslindar das discussões,
compatível com um projeto educacional que se pretendia
construir. Assim, buscamos reconstituir o embate a partir
da sua publicidade, identificar os atores envolvidos - e
suas impressões - e os seus desdobramentos. A
publicidade dos conflitos, que revelou, desde 1955,
acontecimentos ocorridos no interior da Universidade
do Paraná, passou a ser discutido juntamente com outras
questões referentes às Universidades brasileiras,
principalmente no que se referia a seu próprio papel. A
divulgação das polêmicas locais se deu, primeiramente,
a partir de notas na Revista Anhembi contra a figura do
Diretor da Faculdade de Filosofia, professor Homero
Batista de Barros. O Paraná vivia, então, um momento
em que um projeto de modernização e um ideal de
modernidade ocupavam a agenda local. A Comemoração
do primeiro Centenário da Emancipação Política, em
1953, teve em Curitiba o palco apropriado para anunciar
a modernização que se vislumbrava. A implantação de
algumas obras definidas pelo Plano Agache incrementou
o uso racional do espaço, que se pretendia planejado,
racional e moderno e que começava a modificar a
paisagem de sua capital. A construção do Centro Cívico,
do Teatro Guaíra, do Prédio da Biblioteca Pública e do
Colégio Estadual do Paraná eram obras marcadas por
formas modernas e grandiosas e que pareciam atestar a
renovação da capital do Estado. Um novo Paraná se
assentava sob a égide de uma capital de grande
envergadura. Este contexto pode ser notado a partir,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
também, da produção intelectual do período. Em 1953,
por exemplo, Temístocles Linhares enfatizava as
transformações da última década como um marco sem
precedentes na experiência econômica e social,
destacando as especificidades regionais em relação a
outras regiões brasileiras. De maneira similar, Wilson
Martins, em “Nota para a segunda edição” de “Um Brasil
Diferente: ensaio sobre o fenômeno de aculturação no
Paraná”, sugeria, em 1989, que a obra deveria ser lida no
contexto de sua produção. Temístocles Linhares e
Wilson Martins, da mesma forma que nos dão pistas
para uma possível caracterização do período em estudo,
foram também protagonistas dos eventos que afetaram
a tranqüilidade da Faculdade de Filosofia, de que
falávamos acima. Ambos se posicionaram tanto frente
ao embate local, bem como em relação às questões
debatidas na configuração nacional. Professores
vinculados à Universidade do Paraná, ambos pensaram
o Estado e se inseriram nos debates nacionais em torno
da Educação. Suas posições podem ser avaliadas a partir
de suas respostas a um Inquérito, promovido pela Revista
Anhembi sobre a situação da Educação no Brasil.
Enquanto Martins destacaria a importância de uma
política educacional para a superação do atraso,
caracterizando a educação como uma instituição que
não cumpria as suas finalidades, Linhares ressaltava o
sucesso do ensino primário no Paraná, definindo como
degradante a situação do ensino secundário. Assim como
Wilson Martins, Temístocles Linhares assinala a falta de
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392
Resumos
uma legislação ou de uma política de educação que
orientasse e definisse a atuação dos professores. A
participação de ambos num debate que, ainda que
nacional, até então se mostrava ausente da participação
paranaense, parece sugerir que o envolvimento, de
Linhares e Martins, através da inserção promovida pelas
posições tomadas frente aos problemas atrelados ao
campo educacional, mirava o seu ingresso e seu
conseqüente reconhecimento no campo intelectual. Por
fim, Temístocles Linhares e Wilson Martins – “intelectuais
que viveram um novo surto de desenvolvimento, muitas
vezes ligados aos poderes públicos, e que ao perceberem
as aparências evidentes ou ocultas, as avaliaram e
registraram” (BURMESTER, PAZ e MAGALHÂES,
1986:146) – marcavam suas posições no momento em
que o “espetáculo da prosperidade” se assentava no
discurso da “modernidade no/do Paraná”. Foram,
portanto, espectadores e intérpretes deste processo, se
posicionando frente às questões nacionais, num mesmo
contexto que outros atores que participavam na
configuração do campo intelectual entravam em disputa
pela legitimidade em torno do projeto educacional. Após
a Segunda Guerra Mundial - diante da crise social em
escala mundial que exigia a reconstrução de todas as
esferas da vida social, bem como o conhecimento efetivo
sobre a realidade nacional - viveu-se um contexto
propício para a reorganização do sistema de ensino no
Brasil. Assim, da mesma forma que a década de 1950
marcou rumos do ensino superior no Brasil - pois com
a federalização muitas instituições de ensino, particulares
ou mantidas pelos estados, passaram a ser financiadas
e/ou subordinadas ao Ministério da Educação do
governo federal - definiu também uma nova configuração
nos espaços universitários, dado que transformações
significativas nas carreiras docentes se efetivaram, uma
vez que professores catedráticos tornaram-se funcionários
públicos federais. Assim, do catedrático ao professorpesquisador, viu-se surgir, naquele período, um campo
intelectual com atores participantes, críticos,
colaboradores e/opositores das/nas decisões das
políticas educacionais. A Faculdade de Filosofia do
Paraná, neste sentido, e da mesma forma, deve ser
analisada a partir das determinações ocorridas com a
federalização das universidades e também, ou
principalmente, identificando a configuração do campo
intelectual após os conflitos narrados durante este
trabalho. A construção do objeto de pesquisa, e sua
problematização, se conformaram a partir de
determinadas opções teóricas. Neste sentido, utilizamos
o conflito como ponto de partida para analisar a
configuração do campo intelectual. A noção de campo
se constitui num recurso que per mite certa
operacionalidade, no sentido de analisar os produtos
culturais (revistas, livros, artigos), bem como os seus
produtores (os agentes que se manifestaram no conflito).
Sendo o campo o território estruturado a partir de uma
gama específica de interesses, faz-se necessário, para
determinados campos existirem, segundo Bourdieu,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
idéias e instituições que lhes dêem apoio efetivo e
assegurem sua existência. A compreensão do campo
intelectual, assim como no campo científico, necessita
do estudo das instituições que o legitimem. (ORTIZ,
2003). Ainda que possamos definir, portanto, o campo
intelectual como uma configuração que se estabelece a
partir das relações objetivas - entre atores e suas posições
- em diferentes espaços intelectuais, parece-nos útil
acrescentar que estas mesmas posições se definem nas
determinações que o campo impõe aos atores que nele
participam. O campo é um espaço de luta de agentes e
de instituições pelo monopólio da violência simbólica
legítima no seu interior e pela posse do capital próprio
desse campo. É nesse sentido que se pode falar do campo
religioso, do campo político, do campo artístico, do
campo educacional. As relações de força simbólicas que
demarcam os limites de cada campo estão baseadas nas
relações de força material entre grupos e/ou classes
sociais, dominantes e dominados, mas de uma maneira
tal que as dissimulam e as reforçam. (Bourdieu, 1996) A
partir desta noção, como dissemos anteriormente, é
possível examinar a inserção dos atores envolvidos nos
embates em diferentes espaços de sociabilidade, nos
quais os acadêmicos tiveram participação efetiva. O
sentido simbólico revelado nestes espaços seria resultado
de relações afetivas, podendo ser hostis ou não, em
relação às posições de poder que estes atores ocupavam.
A participação em associações, em grupos de estudos,
em revistas literárias ou em espaços de circulação de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
idéias, indicam as relações que os atores estabeleceram
no campo intelectual local e nacional, uma vez que, se
pode dizer, as publicações de artigos em revistas de
circulação nacional, apontam para concepções teóricas
e políticas que se constituíram em elementos de
diferenciação entre os grupos de professores da própria
universidade do Paraná. Assim, nesta pesquisa, busca-se
reconstituir através da leitura das atas do Conselho
Universitário e dos artigos da Revista Anhembi, como
também dos jornais locais e nacionais, a cronologia do
embate travado entre a Faculdade de Filosofia da
Universidade do Paraná e Anhembi. Em linhas gerais,
ao tornar público o conflito, e ainda ao utilizar as revistas
e jornais como instrumento de divulgação, o que se revela
é a luta entre os possuidores de capitais diferentes que
visavam a transformação ou manutenção do campo
intelectual. As lutas que ocorrem no campo intelectual
revelam a oposição entre, de um lado os defensores de
um modelo educacional fundado no pensamento católico
e, de outro, os defensores da proposta do Estado, que
definia a obrigatoriedade da educação pública. Assim, se
o que estava em jogo na rivalidade entre os participantes
era o domínio do campo intelectual, ou o controle da
legitimidade intelectual, o objetivo último – em todos os
casos – parece ter sido a imposição de uma definição
acerca do próprio papel do intelectual militante.
Palavras-chave: intelectuais; educação; campo
intelectual.
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Resumos
REFERENCIAS
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
LETRAMENTOS DIGITAIS ESSENCIAIS PARA A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA
DE PROFESSORES DE LÍNGUA INGLESA
Carla Maria Forlin - UTP
Pretende-se com esta pesquisa avaliar o letramento digital dos alunos de Letras da Universidade Tuiuti do Paraná,
especificamente, os estudantes da que seguirão sua vida profissional como professores de Língua Inglesa. Para tanto,
como passo inicial essencial em todo processo de pesquisa, faço uma revisão da bibliografia para fundamentar o trabalho
proposto. É o que será apresentado nesta comunicação. Como resultado parcial desta primeira etapa, apresentarei
a concepção de letramento que norteará o trabalho, uma conceitualização de letramentos digitais e quais seriam os
letramentos digitais essenciais aos professores de Língua Inglesa.
INTRODUÇÃO: Sou professora de língua inglesa do curso de Letras. No início do semestre 2/2009, ao fazer uma
breve pesquisa entre os alunos que incluía sua freqüência de acesso a email e a agregadores de feeds, notei que apenas
um entre todos os alunos sabia o que era um agregador de feed. Esta foi a minha motivação para esta pesquisa. Tratarei
nesta comunicação da primeira etapa desta pesquisa, isto é, da revisão da literatura, que estará organizada da seguinte
maneira: (1) o conceito de letramentos; (2) A formação dos professores de línguas estrangeiras; (3) os letramentos digitais
essenciais. 1. Objetivos: Espera-se que os futuros professores, uma vez expostos ao uso de ferramentas disponíveis
via computador e Internet, possam se apropriar com mais autonomia e competência das diversas ferramentas em seu
processo contínuo de formação profissional. 2. Atividades gerais desenvolvidas: Como etapa inicial essencial a toda
pesquisa, estou fazendo uma revisão da literatura nos temas: letramentos, formação de professores de língua inglesa e
letramentos digitais essenciais. 2.1. Letramentos: Segundo SOARES 2002, “letramento são as práticas sociais de leitura
e escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem como as conseqüências delas sobre a sociedade”.
Nessa concepção, o letramento digital é colocar em ação o letramento na mídia digital. 2.2. Formação de professores de
língua inglesa: Discutir problemas existentes nos cursos de formação de professores de línguas estrangeiras (LE) vem
sendo interesse de vários profissionais ao longo das últimas décadas (EGITO 2008, MATTOS 2003, CELANI 2002-a,
b). Descrever, compreender e discutir o processo de formação de professores de LE tem sido alvo de preocupação
de inúmeros desses estudos e daqueles que se dedicam à pesquisa em ensino-aprendizagem de línguas (SARMENTO
2004, DELGADO 2004, NORTON 2001). Profissionais brasileiros de diferentes estabelecimentos de ensino têm
apresentado publicações a respeito do assunto (MIZUKAMI 2006, MATTOS 2003, CELANI 2002, LEFFA 2001)
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Resumos
com o intuito de nos alertar para as lacunas e dificuldades
encontradas na formação (inicial e continuada) do
professor de LE. Para CELANI (2002), o interesse pelo
desenvolvimento da área de formação continuada1 de
professores de LE tem crescido nas últimas décadas
devido à 1 Celani utiliza o termo “formação contínua”.
Para este estudo, os termos contínua, continuada e
permanente são equivalentes. situação de abandono na
qual grande parte dos profissionais se encontra, pois
mesmo depois da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (1996) ter inserido a obrigatoriedade de oferta
de uma LE na educação fundamental, a situação de ensino
nas escolas não parece ter melhorado. Embora haja um
estado de carência geral em todos os tipos de escola, a
escola pública parece ter a situação mais preocupante,
onde o ensino de LE, particularmente da LI, ainda
segundo CELANI, encontra-se totalmente à deriva, com
professores, pais e alunos muitas vezes perguntando a
mesma coisa: O que estamos fazendo aqui? Para que
servirá esta tentativa frustrada de se ensinar/aprender
outra língua? Encarando este quadro um tanto trágico
e sem esperanças, profissionais da área têm construído
em suas pesquisas espaços para que possam refletir
conjuntamente sobre insatisfações e, assim, nas trocas de
experiências, solucionar momentaneamente dificuldades.
Segundo CELANI (2002) alguns dos assuntos abordados
nestas pesquisas são, por exemplo, a identidade e a
autoimagem do docente; o currículo dos cursos de Letras
e em especial a prática de ensino nos cursos de licenciatura
com uma abordagem tecnicista; a ausência de diálogo
entre a universidade e as escolas de ensino regular; a
ênfase no ensino da LE e não na formação profissional
do professor durante o curso de licenciatura (CELANI,
2002). CELANI (2002, p. 22) enfatiza a importância de
se perceber a educação continuada como um processo, e
não como um produto (algo que sirva apenas para emitir
um certificado, por exemplo). A educação contínua não
pode ser vista em termos apenas de produtos – resultados
de cursos, por exemplo -, mas sim deve ser entendida
em termos de um processo que possibilita ao professor
educar-se a si mesmo, à medida que caminha em sua
tarefa de educador. É uma forma de educação que não
tendo data fixa para terminar, permeia todo o trabalho
do indivíduo, eliminando consequentemente a ideia de
um produto acabado – por exemplo, dominar uma certa
técnica -, em um momento ou período determinados. A
educação continuada deve ser pensada como um caminho
que permeia toda a vida profissional do professor.
Segundo CELANI, cursos esporádicos, seminários e
demais encontros profissionais ocasionais são eventos
nos quais os avanços das pesquisas e novos materiais são
mostrados e discutidos, porém, pela falta de comunicação,
pela falta de integração com o trabalho cotidiano ou
pela falta de continuidade estes conteúdos (que não são
calcados nas necessidades do professor) se mostram
insuficientes. Logo, continua ela, é motivo de frustração
entre os educadores e um desperdício do ponto de vista
econômico a não transformação da prática quando os
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
professores retornam às suas salas de aula. Segundo ela, a
falta de acompanhamento em forma de apoio continuado,
de avaliação e a falta de uma base conceitual clara são
as causas da situação deprimente do ensino de língua
inglesa no Brasil. Para CELANI, haveria várias maneiras
de se desenhar um programa de formação continua de
professores de inglês. Ela enfatiza:
... a necessidade de um processo longo e continuado, conjugado
estreitamente com a prática de sala de aula, no qual a transmissão
de conhecimento ocupa posição de menor destaque, privilegiando-se
o desenvolvimento de um processo reflexivo que fatalmente exigirá
mudanças em representações, crenças e práticas. (CELANI
2002, p. 23)
Esta visão de processo continuado implica em disposição
pessoal, e de tempo para que o processo se concretize.
Um dos problemas enfrentados então, pelos professores,
é ter tempo disponível (muitos trabalham até três turnos).
Outra complicação, segundo CELANI, seria dispor de
pessoal suficiente para acompanhar os professores em
suas escolas. Outro viés a ser desenvolvido na educação
continuada, além dos aspectos teóricos do processo de
ensino/aprendizagem e de novas ferramentas didáticas
(livros didáticos, para-didáticos e novas tecnologias em
geral), é a questão da capacitação linguística. Entendendo
a língua como discurso, a proposta de Celani para a
educação continuada de professores entende que o
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
ensino e a aprendizagem são inseparáveis, pois aprender
pressupõe uma mudança no comportamento do aprendiz
(como resultado de interações sociais) e, por que não,
no comportamento do professor. Uma tentativa de
solucionar este problema seria o desenvolvimento dos
multiletramentos digitais, entre eles, o PLN (Professional
Learning Network) desde a formação inicial. 2.3.
Letramentos digitais essenciais: De acordo com discussão
acontecida online, na comunidade virtual WebHeads in
Action, foi abordado que os letramentos digitais essenciais
para os professores de língua inglesa são: a. PowerPoint ou
ferramentas de apresentação b. Fazer buscas e pesquisas na
internet (uso de sites de busca, bem como conhecimento
de strings para pesquisa) c. Utilizar agregadores de feeds
(netvibes e Google read por exemplo) d. Compartilhar
e escrever textos colaborativamente (blogs e wikis) e.
Participar de PLNs (Professional Learning Networks
– em português: redes de aprendizagem profissionais).
Exemplo: Ning e twitter f. Comunicação virtual síncrona.
Exemplo: programas de mensagens instantânea tais como
Microsoft Messenger e Skype g. Comunicação virtual
assíncrona. Exemplo: uso de fóruns em salas virtuais.
h. Produção de objetos de aprendizagem tais como vídeos
e podcasts. Exemplo: uso dos programas grátis Free
Recorder, Flipz, Audacity e CamStudio.
Palavras chave: letramentos digitais; formação de
professores; novas tecnologias.
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Resumos
REFERÊNCIAS
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Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
LITERATURA. HISTÓRIA. CIÊNCIA: INDAGAÇÕES SOBRE O REALISMO/
NATURALISMO, A HISTORIOGRAFIA E A CONSTITUIÇÃO DA CRÍTICA
MODERNA
Erivan Cassiano Karvat - UTP
Este ensaio é parte integrante da pesquisa NARRATIVAS DE MODERNIDADE: reflexões sobre a crítica literária,
a criminologia e a literatura em fins do século XIX – um exercício de história da leitura, que busca levantar questões
acerca da relação entre os discursos da literatura, da crítica literária e da história – num trabalho de investigação que
tem se voltado à constituição das idéias sobre a literatura na Modernidade de fins do século XIX, focando as diferentes
vertentes literárias do período – e, principalmente, as tendências realistas-naturalistas – e mais especificamente as
relações entre o estabelecimento desta crítica a par da constituição dos princípios de cientificidade do período,
notadamente as ciências experimentais. As relações entre ciência e literatura podem, neste sentido, ser lidas por dois
diferentes aspectos, ainda que complementares: primeiro, pela própria construção de uma crítica literária, que buscando
superar as premissas românticas, embasa-se nos modelos e premissas dados pelas ciências do período e, segundo,
pela influência destas ciências na constituição de diferentes estéticas: realista, naturalista e/ou impressionista. Assim,
as ciências forneceriam fundamentos para a problematização da literatura, que se torna alvo das falas autorizadas dos
críticos, bem como das falas competentes dos cientistas, além de servir de fonte para a elaboração do próprio texto
literário. Curiosamente, os mesmos princípios que norteiam o objetivismo científico – na biologia, na medicina ou na
psiquiatria – parecem fornecer elementos para o experimentalismo do texto literário. Neste sentido, a pesquisa, em
âmbito geral, se propõe a indagar a respeito das diferentes posturas críticas, e suas leituras, realizadas ao longo dos
séculos XIX e XX, recuperando as diferentes modalidades e mecanismos de leitura praticados ao longo do tempo, a
partir da constituição das chamadas “comunidades de leitores”, investidas de “leituras autorizadas” – através do recurso
aos “mesmos estilos de leitura e as mesmas estratégias de interpretação” - estabelecendo determinadas propostas de
sentido e significação para estes textos. Assim, é interessante que se perceba as diferentes recepções e /ou leituras, e
que resultando de estratégias próprias de interpretação e embasando-se na autoridade concedida principalmente pelo
emprego de diferentes preceitos, avalia, recomenda ou nega determinados textos e/ou autores. Daí a necessidade de
inscrever estas interpretações numa história da leitura, cabendo ao historiador a recuperação das diferentes modalidades
e mecanismos de leitura praticados ao longo do tempo. Ainda para quem parte da Teoria da História, como é nosso
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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caso, um problema interessantemente se levanta: a par das
exigências dos métodos experimentais, as formulações
realistas/naturalistas, em certa medida, informarão os
textos de história do período. Contudo, estes mesmos
textos serão negados pela escrita da história, dado o caráter
ficcional daquelas. Voltando à história intelectual, cabe-nos
perguntar acerca dessa relação (história x Romance, ou
Literatura) e do papel desempenhado pela trama narrativa
romanesca na escrita da história.
LITERATURA. HISTÓRIA. CIÊNCIA: indagações
sobre o realismo/naturalismo, a historiografia e a
constituição da crítica moderna – parte da premissa de
que a compreensão acerca da segunda metade do século
XIX, no Ocidente, exige atenção sobre as implicações das
técnicas e do cientificismos que circulavam no período – e
que, em certo sentido, inclusive lhe produziram sentido
– uma vez que afetaram todas as dimensões da vida
social daquele contexto. A ciência - quase que sacralizada,
tornada como que uma religião (como denunciaria
Nietzsche) – passou a orientar, ditando “visões de
mundo”, estabelecendo inclusive referências para o
universo estético e filosófico. Neste sentido, é que se faz
possível entendermos os chamados realismos (realismonaturalismo), comuns àquele tempo, uma vez que tal
tendência tinha, entre outros, sua sustentação baseada
nas referências dos evolucionismos, social e biológico,
no predomínio das técnicas e da razão, bem como nas
explicações de fundo sociológico, marcadamente aquelas
de viés deterministas. Opondo-se às tendências estético-
literárias anteriores, e fundamentalmente ao Romantismo,
mas ainda assim carregando, subliminarmente, elementos
deste, o realismo supunha uma descrição fiel da realidade,
realidade esta regida por leis orgânicas e, logo, objetiváveis
pelo uso da razão e da ciência. Estética tornada
hegemônica, o(s) realismo(s) passou/passaram a ditar
as regras do universo estético literário, determinando
seus conceitos e definindo o que era literatura, ou que
deveria ser – sua função – o papel do autor, etc. A par
disto, fomentou uma redefinição da noção de crítica
literária, e de crítico, contribuindo para a fundamentação
de uma nova crítica, da mesma forma pautada pelos
elementos dados pelos cientificismos. Fundamentação
problematizada inclusive à própria época pelos textos de
Gustave Lanson, talvez o crítico mais influente do período
– passagem do século XIX para o XX – e principalmente
no seu artigo La Littérature et la Science, de 1895. Além de
Lanson, mais dedicado à constituição da história literária,
cabe citar também Hippolyte Taine, que se pautando pela
ênfase no papel determinante da raça, meio e momento,
acabou por ser considerado o considerado o fundador
da sociologia na arte. Neste sentido, este texto, levanta
questões acerca da relação entre os discursos da literatura,
da crítica literária e da história partindo dois documentos
seminais: O Romance Experimental, de Emile Zola –
considerado um dos nomes mais proeminentes dessa
corrente – publicado em 1880 e de O Naturalismo em
Literatura, do polemista Sílvio Romero, editado em 1882.
A partir de ambos, busca-se promover um exercício de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
história da leitura: por um lado, Zola dialoga e se apropria da
Introdução à Medicina Experimental, do fisiologista Claude
Bernard, texto de 1865, que definiu os princípios de toda
pesquisa científica, e através do qual o literato pretendeu
apontar o caminho da cientificidade para a elaboração da
literatura e, por outro, observa a recepção de Romero às
idéias de Zola, apontando seus supostos equívocos. Para
Zola, cabia simplesmente a realização de um trabalho de
adaptação (“pois”, segundo ele, “o método experimental
foi estabelecido com uma força e uma clareza maravilhosas
por Claude Bernard”) da medicina experimental à literatura.
Seria assim a literatura deteminada e orientada pela ciência,
regida por princípios. A literatura realista, ou ainda melhor,
a literatura de verve naturalista, pautada pelos princípios
das ciências promoveu, principalmente, a observação
minuciosa das mudanças sociais, do surgimento de
novos valores e dos conflitos. Da mesma forma, focava
a existência dos tipos patológicos, tornados personagens
das suas tramas. Romero, por seu turno - pautado pela
premisa de que “a lei que rege a literatura é a mesma que
dirige a história em geral” - envereda para a crítica do
próprio entendimento que Zola demonstrava da literatura.
Recorrendo a Taine e a Henry Thomas Buckle, duas leituras
que sustentariam a sua concepção de “crítica histórica”,
o crítico brasileiro discordava das apreciações estéticoliterárias de Zola. Ainda que curiosamente ambos estejam
num mesmo cenário e partindo de leituras e orientações,
por vezes, muito próximas. Recepção e apropropriação,
acima, apontados, nos remetem às problemáticas da hoje
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
denominada História da Leitura e que apresenta diferentes
possibilidades metodológicas e de abordagem. Desta
forma, as expressões tornadas conceitos (ou ferramentas)
permitem a aproximação ao complexo universo que toca
a leitura e as interpretações. Fundamentalmente, ambos
exigem que tratemos de uma leitura, e, portanto, de
um leitor, contextualizado e informado historicamente.
Neste sentido, entendemos com Roger Chartier que
“o historiador deve buscar um meio de determinar os
paradigmas de leitura predominantes em uma comunidade
de leitores, num dado período e lugar”, pois, com isso, querse acreditar, nos aproximam-nos das chamadas estratégias
de leitura, apontadas acima, reveladoras das formas de
apropriação e manipulação dos próprios textos. A recepção,
ou a “a relação entre literatura e leitor”, como que define
Hans Robert Jauss, um de seus principais teóricos, possuiu,
além de uma dimensão estética, outra, histórica e que se
manifesta na “possibilidade de, numa cadeia de recepções,
a compreensão dos primeiros leitores ter continuidade e
enriquecer-se de geração em geração, decidindo, assim, o
próprio significado histórico de uma obra”. Em outras
palavras, nenhum texto sai incólume à leitura. O que, em
grande medida, provoca a interação entre história e crítica,
numa aproximação mútua e na qual – e da qual – ambas
se informam. Cabe, assim, ao historiador voltar-se sobre
estes textos e suas “leituras”. Esta é nossa intenção neste
trabalho.
Palavras-chave: realismo; historiografia; crítica literária.
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Resumos
MANUEL DE MORAES: UM RELIGIOSO CAMALEONICO
Maria Aparecida de Araújo Barreto Ribas - UTP
Objetivo: Historicizar, a partir da análise da trajetória individual, a problemática conversão ao protestantismo
por parte de católicos na América Portuguesa. No caso aqui, especificamente a conversão de um padre mameluco,
a religião Reformada. Através dos fragmentos que nos restaram da trajetória de Manuel de Moraes, o padre
mameluco, várias questões podem ser colocadas e desenvolvidas: as motivações que os impulsionaram em
direção ao calvinismo; as implicações, repercussões e desfechos de seu trânsito religioso no contexto mais
envolvente da dinâmica dos conflitos coloniais. Manuel de Moraes era um padre mameluco que por ocasião da
tomada de Pernambuco pelos neerlandeses, era, segundo informação do índio Antônio Felipe Camarão, superior
dos índios na aldeia Meritiba, onde lhes ensinava doutrina. Ainda, de acordo com Camarão, o padre Moraes
havia sido seu companheiro de armas durante dois anos na guerra de resistência.1 De fato, pelo cotejo desse
depoimento com as informações contidas nas Memórias diárias da guerra do Brasil, parece certo que o padre
Manuel de Moraes e o índio Antônio Felipe Camarão lutaram juntos na guerra de resistência desde os primeiros
dias de 1630 até o fim do ano de 1632. Narra o cronista que, no princípio de março de 1630, “os índios de
Antônio Felipe Camarão (...), com o padre Manuel de Moraes, a quem obedeciam”, estavam juntos na defesa
da vila de Santo Amaro.2 Em junho de 1631, temos notícia de que Manuel de Moraes ainda se encontrava em
Santo Amaro. “O posto de Santo Amaro (...) não deixou de ser assistido pelos capitães que guardavam os
caminhos da vila, e pelos índios comandados por Antônio Felipe Camarão, e seguidos pelo padre Manuel de
Moraes”.3 Em 29 de outubro de 1633, Manuel de Moraes chegou à região da Paraíba já sem o companheiro de
guerra Antônio Felipe Camarão. Também no começo do ano de 1634, quando Duarte Coelho faz referência,
em seu diário, aos índios comandados por Camarão, já não cita a Manuel de Moraes.4 Seja qual tenha sido o
motivo pelo qual o militar índio e o padre mameluco já não lutarem juntos, o fato é que ambos continuaram
empenhados na guerra de resistência. No caso do padre, ao menos por mais um tempo. Segundo o historiador
Charles Boxer, Manuel de Moraes esteve envolvido na guerra de resistência por mais ou menos quatro anos,
durante os quais “instigara os fiéis contra os invasores hereges, distinguindo-se ele próprio em muitas guerrilhas
e escaramuças”.5 Nos primeiros dias de dezembro de 1634, os flamengos cercaram o forte de Cabedelo, na
Paraíba. Em socorro aos sitiados, Martim Soares Moreno — que se encontrava no quartel de Cunhaú, no Rio
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Grande — enviou à frente o capitão Leonardo de
Albuquerque com a sua companhia, seguindo logo
depois ele próprio com a companhia do capitão João
da Silva e Azevedo, alguns moradores do Cunhaú, e
mais os índios das aldeias do Rio Grande. Esses índios
eram liderados pelo belicoso padre Manuel de Moraes.
Mas, em 1634, o padre mameluco surpreende os seus,
rendendo-se ao inimigo: os odiosos holandeses
calvinistas. Até esse ato extremo, Manuel de Moraes
constituía, certamente, um orgulho para a Companhia
de Jesus. Menino mameluco nascido por volta de 1595
na vila de São Paulo, da capitania de São Vicente,
Manuel, por imposição de um pai que demonstrava
grande fervor religioso6, ou então por desejo próprio,
inclinou-se à religião. Ainda bem jovem Manoel de
Moraes partiu para a capitania da Bahia, onde, no
Colégio dos Jesuítas, dedicou-se aos estudos. Tornouse religioso da Companhia de Jesus, onde prestou os
votos ordinários.7 No recrutamento de “soldados de
Cristo” entre os rebentos desses cruzamentos étnicos
talvez residisse o orgulho, talvez a perspicácia, dos
padres jesuítas. Manuel de Moraes poderia representar
o início de uma nova “safra” de religiosos do novo
mundo: os mamelucos, filhos dos portugueses com os
naturais da terra. Desde a tenra idade, os jesuítas
investiram muito na formação de Manuel de Moraes,
e especialmente o provincial Domingos Coelho, que
havia apostado muito em sua disciplina.8 Afinal, a
formação de um religioso mameluco para atuar nas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
terras coloniais, certamente seria de grande valia. Para
além de ser o resultado do encontro entre duas culturas,
a cristã e a tupinambá, o mameluco se caracterizava,
sobretudo, por viver entre elas. E este viver entre as
duas culturas “não se dava apenas quando o mameluco
deixava o território colonizado e se imiscuía sertão
adentro. (...). Mas dentro da própria casa os mamelucos
viviam a tensão de estar entre duas culturas (...)”.9
Situação de hibridismo ou mestiçagem certamente
vivenciada pelo ex-padre. Manuel era filho de pai
mameluco com mãe portuguesa, mas ainda assim viveu
esta situação de fronteira cultural, sobretudo em São
Paulo. Justamente aí talvez residisse a importância do
padre mameluco enquanto um “protótipo” no projeto
evangelizador jesuíta pensado a longo prazo. O certo
é que a ambivalência mameluca, gestada pelo nascer e
pelo viver entre dois mundos, tornava Manuel um
religioso especial ou fundamental no trato com o
gentio; assim, não é de admirar que tenha ele atuado
como instrutor religioso, “língua e intérprete”,10 e, por
ocasião da guerra de resistência, também como capitão
dos gentios, que lhes eram obedientes. Com efeito, a
utilidade dos mamelucos era estratégica, seja na guerra
terreal, seja na espiritual. Manuel contou ao inquisidor
que servira na guerra de Pernambuco, “com licença e
ordem de seus superiores da Companhia [de Jesus]”,
que o enviara ao front por ter ele “grande notícia do
gentio, e este obedecer facilmente a suas ordens (...)”.11
Duarte Coelho também registrou a obediência dos
403
404
Resumos
índios a Manuel de Moraes: “Os índios de Antônio
Felipe Camarão fizeram o mesmo, com o padre Manuel
de Moraes a quem obedeciam”.12 Evidentemente, no
contexto de uma guerra encarniçada, essa “obediência
do gentio” a um líder religioso-militar mameluco pesou
bastante na avaliação do trânsito do padre entre uma
potência colonial e outra, entre uma fé cristã e outra.
Para além do constrangimento ou consternação que
os jesuítas sentiram diante da adesão de um de seus
mais destacados membros à religião de Calvino —
afinal, outros fiéis, contaminados pela mesma heresia,
poderiam seguir-lhe o exemplo —, a traição de Manuel
de Moraes envolvia ainda outra questão de extrema
importância: a mudança de partido dos índios
obedientes ao padre. De um e de outro lado, era clara
a necessidade dos aliados indígenas na guerra que se
instaurara em 1630 pela posse de parte do Brasil
colonial; e também neste aspecto o apoio do padre
mameluco era estratégico. Mas, numa guerra, há
estratégias e estratégias. Se, para os luso-brasileiros,
Manuel de Moraes era estratégico por conta de sua
estreita relação com o gentio da terra, seu poder de
liderança e coragem à frente das batalhas, para os
neerlandeses a importância atribuída ao padre
mameluco parece decorrente de outras questões. Como
dito, os índios eram, para os neerlandeses, os aliados
fundamentais da conquista. Nesta busca de alianças
com os autóctones, ou nos esforços para sua
manutenção, acredito que os neerlandeses viram em
Manuel bem mais que um perito nas táticas de guerrilha
ou um líder dotado de especial carisma [“uma pessoa
a quem todos os índios obedeciam”]. O padre poderia
ser estratégico, é certo, mas não à frente das batalhas
ou na política de arregimentação dos índios para o lado
da WIC; mas sim — e com o perdão do anacronismo
no for necimento de preciosas infor mações
“etnográficas” sobre os indígenas, necessárias à
implantação de uma política de alianças mais sólida e
continuada, e que incluía uma política missionária numa
ocupação que se desejava definitiva. Mestiço, grande
conhecedor da cultura e da língua do gentio13, das
estratégias de aldeamento elaboradas pelos jesuítas
— ele mesmo, como vimos, fora superior de aldeia —,
formado em teologia pelos jesuítas, Manuel reunia em
si características e saberes híbridos importantes para
auxiliar os flamengos na elaboração de um projeto com
vistas a estabelecer alianças e reforçar as já existentes
com os índios nas capitanias conquistadas. Afinal, era
tido pelas fontes neerlandesas como “a maior
autoridade sobre todos os selvagens daquela região”.14
Essa sua importância como fonte de saberes explica
inclusive seu rápido translado para a Europa: tendo-se
bandeado para os flamengos nos últimos dias de 1634,
já no início de 1635 foi enviado às Províncias Unidas.
Manuel de Moraes desembarcou nas Províncias Unidas
no primeiro semestre de 1635; em junho daquele
mesmo ano, já fora consultado pelos Dezenove
Senhores quanto à forma de melhor governar o Brasil
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
holandês. Por certo, a consulta era bastante específica
e dizia respeito à melhor maneira de governar os índios
das capitanias conquistadas, pois os Dezenove
Senhores, entre os quais Joannes de Laet, tinham
Manuel de Moraes como “homem muito experiente”
nos assuntos de “governo dos índios tupis”.15 Com
efeito, numa carta16 enviada pelos Dezenove Senhores
ao Conselho Político do Recife, datada de 1º de agosto
de 1635, constata-se que, de fato, Manuel fora
consultado a respeito da administração dos brasilianos,
e que fornecera um plano de governo para os indígenas.
Com efeito, no plano que esboçou para a WIC, Manuel
propunha o reconhecimento das lideranças indígenas
leais e o reforço da missionação calvinista nas capitanias
conquistadas. Ipso facto, a direção da WIC recomendou
à direção do Brasil holandês a premente necessidade
de conversão dos índios ditos brasilianos ao calvinismo,
informando-os que, para este intento, contavam com
um plano elaborado por Manuel de Moraes.
Palavras-chave: Brasil holandês; Brasil colônia;
religião.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
1 ibid. s/p.
2 COELHO, op. cit., p.64.
3 ibid., p. 87.
4 ibid., p. 180.
5 BOXER, Os holandeses no Brasil, op. cit., p. 82.
6 Devoto de São Sebastião, que a seu pedido, quando de sua morte, foi enterrado mosteiro dos jesuítas, em São Paulo. Informação cedida por Ronaldo
Vainfas.
7 ibid., p. 61.
8ARCHIVUM ROMANUM SOCIETATIS IESU (ARSI), Códice Brasile. Fotogramas
477-477v, 485-486. Agradeço a Ronaldo Vainfas por me ceder fonte de sua
pesquisa.
9 RIBAS, Maria A. A. Barreto. O Pão do outro: alimentação e alteridade noBrasil
Colonial. (1500-1627). Niterói. Universidade Federal Fluminense: Dissertação
de Mestrado, 2002, p. 82.
10 Processo de Manuel de Moraes, op. cit., passim.
11 Processo de Manuel de Moraes, op. cit., p. 56.
12 COELHO, op. cit., p. 64.
13 Manuel de Moraes era grande conhecedor da língua dos indígenas tendo
elaborado um Dicionário da Língua Tupi e a obra História da América, cujos
originais receberam mais tarde elogios do filólogo Hugo de Groot. No registro
da Câmara de Amsterdã encontra-se uma nótula que diz haver ele pedido à
Companhia pelo seu Dicionário Brasílico e História do Brasil, para fazer frente às
despesas do seu casamento, a soma de 1500 florins de uma vez e 800 florins
anuais de pensão. A Câmara mandou dar-lhe 300 florins e declarou que não
achava estranho o seu pedido e o apresentaria à assembléia para resolver.
14 SILVA, op. cit., p.89.
15 Carta dos Herren XIX para o Conselho Político do Recife em 1 de agosto de
1635, op. cit.
16 ibid.
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Resumos
MEMÓRIAS DA CIDADE: TRAJETÓRIAS EM CONFRONTO NO ESPAÇO URBANO
(CURITIBA, 1959)
Etelvina Maria de Castro Trindade - UTP
Em 8 de dezembro de 1959 foi deflagrada, em Curitiba, a chamada “Guerra do Pente”, um conflito em que
estiveram envolvidos os habitantes locais em oposição aos comerciantes árabes, judeus e italianos, estabelecidos
na cidade. Ao entardecer daquele dia, um subtenente da Polícia Militar havia adentrado uma pequena loja situada
à Praça Tiradentes onde adquiriu um pente de pouco valor e solicitou uma nota fiscal, que lhe daria direito a
prêmios, em função do estabelecido pela nova legislação tributária promovida pelo então governo Moisés
Lupion. O proprietário do estabelecimento, um comerciante sírio de poucas letras ou pouco conhecimento da
língua nacional, solicitou a uma funcionária o preenchimento da nota, na qual a compra foi registrada sob a
rubrica “despesas” – o que não foi aceito pelo comprador. O desentendimento daí decorrente resultou em uma
violenta discussão seguida de embate físico em que o militar teve a sua tíbia direita fraturada pelo comerciante
e seus auxiliares. Ao presenciarem o incidente, populares iniciaram um extenso “quebra-quebra” que, iniciado
no estabelecimento em questão, acabou por assolar todo o perímetro central da cidade, envolvendo a população,
as polícias civil e militar, o corpo de bombeiros e grande parte das autoridades políticas e administrativas, tendo
sido depredadas inúmeras lojas, carrinhos de vendedores de frutas, bancas de revistas e até edifícios públicos.
Durante vários dias, a imprensa local noticiou os fatos posicionando-se de acordo com a orientação de cada
periódico. (Gazeta do Povo, Diário do Paraná, Tribuna do Paraná, 8-9-10 dez. 1959). As explicações mais
freqüentes discorriam preconceituosamente sobre a condição sócio-econômica dos manifestantes e as
representações atribuídas a eles, como “desordeiros”, “vadios” ou “desocupados”. Algumas publicações buscaram
também explicar o sucedido mediante tímidas observações sobre a atuação dos governos nacional e local.
Assinalava-se ainda a inflação galopante, a carestia de vida ou a ineficiência das autoridades policiais como
responsáveis pelas desordens e pela insatisfação popular. Sobre racismo ou xenofobia quase ou nada se falou.
Durante o conflito que envolveu estabelecimentos comerciais pertencentes a proprietários de origens diversas,
um imigrante de origem síria, que chamaremos de Munir Hassan1, reagiu à ação dos manifestantes, com uma
ação e uma fala que reafirmavam seus direitos como homem laborioso e como cidadão brasileiro, conforme se
pode depreender do depoimento seu filho, em entrevista concedida cinqüenta anos depois: Pois é. Então naquela
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
época, nós estávamos junto com ele ali na loja, quando
veio a turba que estava destruindo tudo. Ele pegou o
metro de madeira e enfrentou a turba na porta da loja
dele e ele dizia para as pessoas: “Eu sou muito mais
brasileiro do que vocês são brasileiros! Porque eu dou
comida e dou trabalho para vocês e vocês estão só
quebrando, só fazendo bagunça! Então vocês não me
chamem de turco, de árabe, de sem vergonha ou
qualquer coisa assim, porque eu sou muito mais
brasileiro do que vocês!”. (HMJ, 2008: 5).2 Ser muito
mais brasileiro que os próprios brasileiros, como disse
Hassan, em defesa própria, é uma frase que abre
caminho para um rol de reflexões sobre dois elementos
primordiais quando se trata de questões ligadas à
identidade e à inserção social: cidadania e trabalho. No
que concerne à reivindicação de seus direitos civis,
muito ligada às questões de identidade, contrariamente
à posição do outro sírio que deflagrou o conflito, a fala
de Munir Hassan, durante o incidente de que participou,
aponta para uma elaboração bem mais complexa.
Partindo-se da afirmação de um indivíduo de origem
árabe que diz “sou muito mais brasileiro que vocês”,
chega-se à evidência do que, durante algum tempo, foi
denominado como um fenômeno de “dupla identidade”,
pela qual os indivíduos adotam lealdades simultâneas
em determinados aspectos da vida, podendo inclusive
acontecer, em certas circunstâncias, que uma dessas
lealdades prevaleça sobre as outras. Trata-se de um
fenômeno que ocorre frequentemente em momentos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de crise quando imigrantes tendem a declarar uma
dupla filiação de cidadania – caso, por exemplo, dos
alemães radicados no Brasil no desenrolar da Primeira
Guerra Mundial, quando tentavam ser, ao mesmo
tempo, brasileiros e imigrantes, afirmando: “Queremos
ser e permanecer: homens alemães, honestos e bons
cidadãos brasileiros”. (WILLEMS apud TRINDADE,
2004: 59). Já Munir, mesmo reconhecendo sua
identidade árabe, chega a colocar sua “brasilidade” em
confronto com a dos próprios brasileiros. Essa atitude
aparentemente paradoxal põe em xeque a concepção
que vê a identidade como um atributo original e
permanente, eliminando a idéia de uma suposta
essência que a definiria. (CUCHE, 1999: 183). A partir
daí, é possível compreender a construção da identidade
a partir da análise das divisões e dos antagonismos
sociais que produzem “posições em que diferentes
elementos e identidades podem ser articulados”.
(LACLAU, 1996). Em vista disso, na posição dos
imigrantes, a construção da auto-imagem não pode
estar isenta das estratégias geradas em função do
confronto com os demais e que são estruturadas
conforme “critérios de aceitabilidade, de admissibilidade,
de credibilidade que se fazem por meio da negociação
direta com outros”. (POLLAK, 1992: 205). Sabendo-se,
entretanto, que a concepção analítica de “dupla
identidade” tem uma acepção negativa e ideológica,
pela qual se buscam desclassificar e cooptar grupos
resistentes que compõem populações vindas da
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Resumos
imigração, pode-se chegar à constatação de que não
existe uma identidade “unidimensional”, nem também
uma “dupla identidade”, mas um caráter de identidade
que se presta a diversas interpretações ou manipulações.
Na ocorrência em estudo, a idéia de “identidade dupla”
deve, por conseqüência, ser substituída pela de
“identidade mista”, no sentido de uma pertença do
indivíduo a várias culturas das quais faz uma síntese
própria e original, embora se trate de uma fabricação
feita “somente em função de um contexto de relação
específico a uma situação particular”. (CUCHE, 1999:
193). Por isso mesmo, a frase de Hassan, se examinada
à luz de tais constatações, torna-se exemplar. Ao
declarar-se muito mais brasileiro do que os próprios
brasileiros, ele reafirma uma identificação, enquanto
toma posse de outra, numa estratégia implícita de
negociação. Munir Hassan não está rejeitando a sua
origem árabe: pelo contrário, é justamente no fato de
ser também árabe que reside sua superioridade. Nessa
mesma direção, outros os elementos podem ser
utilizados para compor essa “fabricação” identitária;
dentre eles, a dignificação pelo trabalho, implícita na
segunda parte da fala do comerciante sírio: “(...) dou
comida e dou trabalho para vocês e vocês estão só
quebrando e fazendo bagunça (...)” (HMJ., 2008: 5).
Esse segundo elemento na declaração de Hassan, a
valorização pelo trabalho, refere-se igualmente a uma
questão muito presente na identificação do indivíduo
imigrante, a preocupação de introduzir em seu discurso
um critério carregado de significado simbólico: a crença
no pertencimento a uma comunidade superior por sua
capacidade inata para o trabalho e para o progresso.
Essa tese, presente na maioria das manifestações de
imigrantes – sobretudo de alemães – em Curitiba,
contribuiu para a idéia de “superioridade racial” de todos
os imigrantes, o que estimulava um ufanismo nacionalista
afirmado em oposição aos demais. Fica bem clara, na
colocação do comerciante, a ideologia que exalta a
contribuição econômica e cultural da sua comunidade
de origem e sua pertinência étnica. Pode-se ver aí uma
reafirmação do papel civilizador do estrangeiro, seu
pioneirismo e a capacidade de construir uma sociedade
organizada e laboriosa. Em contrapartida, mercê dos
estereótipos que se desenvolvem contra os elementos
locais, está implícita a imagem de um brasileiro avesso
ao trabalho e indolente: “vocês estão só quebrando e
fazendo bagunça!” Não se trata aqui somente de ser um
indivíduo laborioso, mas também de ser aquele que
fornece as condições de subsistência aos elementos
locais: “dou comida e dou trabalho para vocês”. (HMJ,
2008: 5). Colocada em conjunto com a primeira parte
da fala em que é reivindicada a brasilidade, a que se refere
ao trabalho referenda aquela, na medida em que o
exercício do labor consciente e responsável dá ao
imigrante direitos simbólicos de cidadania, sobretudo
por garantir o sustento daqueles que o discriminam e
perseguem. Hassan cai então na armadilha de, ao tentar
constituir uma identidade própria, estabelecer critérios
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de exclusão semelhantes aos construídos pelos
componentes do grupo dominante – o que leva a uma
conclusão que evidencia a falência dos pressupostos
norteadores de seu discurso. Por todas essas injunções,
e mesmo que o relato do incidente não corresponda
linearmente ao ocorrido, certos valores ganham espaço
na lembrança do filho: traços de atitudes que marcaram,
e ainda marcam, estratégias de construção de identidades
em populações emigradas, ou em seus descendentes. O
que leva a considerar a memória como “elemento
constituinte do sentimento de identidade, tanto
individual como coletiva, na medida em que ela é
também um fator extremamente importante do
sentimento de continuidade e de coerência de uma
pessoa ou de um grupo, em sua reconstrução de si”.
(POLLAK, 1992: 205). Validade que permanece, mesmo
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
quando se levam, em conta, as considerações dos
estudiosos sobre as dificuldades relativas ao uso da
memória em trabalhos de cunho sociológico ou histórico.
Isso porque, o papel de Hassan no conflito urbano de
que foi um dos protagonistas, pode servir de “referendum”
às análises que, usando o instrumento da memória,
tentam reconstruir a complexa urdidura onde as
representações individuais e as demandas coletivas
compõem a trama do tecido social de determinadas
épocas e locais.
Palavras-chave: conflito urbano; preconceito;
cidadania.
1 Pseudônimo destinado a preservar o anonimato do personagem e
de sua família.
2 Entrevista concedida por MHF, em 18 de out. de 2008.
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Resumos
MUDANÇA LINGÜÍSTICA: A OCORRÊNCIA DE EMPRÉSTIMOS E ESTRANGEIRISMOS
DA LÍNGUA INGLESA NA LÍNGUA PORTUGUESA, ENCONTRADOS NAS REVISTAS
MONET DE MARÇO DE 2007 E JULHO DE 2008
Auricéia Dumke
Qualquer língua viva do mundo muda constantemente. Novas palavras, pronúncias e formas gramaticais
entram em uso ao mesmo tempo em que outras tantas caem em desuso. Quando duas ou mais línguas entram
em contato, uma ou ambas podem se modificar. Segundo a lingüista britânica Jean Aitchison, “As causas dessa
mudança se apresentam numa camada dupla. Na camada superior, Estão os “gatilhos sociais” – a moda, a
influência estrangeira, as necessidades sociais etc. – que, disparam ou aceleram causas mais profundas, tendências
escondidas que podem estar adormecidas, latentes, dentro da língua” (Bagno 2003: 112) A razão mais comum
para que um falante queira empregar uma palavra estrangeira é que a palavra denomina algo novo. Outra razão
é o prestígio: algumas palavras entram para o vocabulário de outra nação devido ao prestígio que o domínio de
tal idioma confere ao seu usuário. Assim, pode-se fazer a distinção entre empréstimo lingüístico e estrangeirismo.
Os empréstimos lingüísticos são recursos que utilizamos de outra língua para nomear algo que não temos em
nossa língua materna. Os estrangeirismos são recursos utilizados de outra língua quando temos o equivalente
na nossa língua materna. Segundo Carvalho (1989), os empréstimos / estrangeirismos originam-se no momento
em que objetos, conceitos e situações nomeados em língua estrangeira transferem-se para outra cultura. O
falante adapta ou acomoda a seu sistema, um elemento de um sistema diverso. Na era da globalização, a língua
mais freqüentemente citada neste aspecto é o inglês. Mas como uma língua chega a atingir um status global?
De acordo com Crystal (2003), uma língua atinge um status global quando desenvolve um papel especial que é
reconhecido em cada país. Conforme Pedro M. Garcez e Ana Maria Zilles (2001), “Não há dúvida de que há
uma avalanche de anglicismos. Por um lado, há os termos da tecnologia e da pesquisa avançada, desenvolvida
e registrada quase hegemonicamente nessa língua. De outro lado, há o universo do consumo e dos negócios.
O apelo da máquina capitalista globalizante é forte demais para que a mídia da informação, do entretenimento
e, principalmente, da publicidade possa ou queira deixar de explorar as associa- coes semióticas entre a língua
inglesa e o enorme repositório de recursos simbólicos, econômicos e sociais por ela mediados” (Faraco 2001:
22-23). A variedade tecnológica começou a ficar mais disponível ao grande público por volta do ano 2000, pois
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
os preços dos computadores ficaram mais acessíveis.
Crystal (2005) afirma que a internet gera uma troca
de experiências entre idiomas sem precedentes na
história da humanidade. Muitas línguas ostentaram
momentos revolucionários, mas eles ocorreram em
épocas e por razões distintas. A Revolução Francesa
teve implicações importantes tanto para o francês
quanto para as línguas minoritárias da França, mas
desempenhou pouca influência lingüística em outros
lugares. É raríssimo ver mudanças tão globais capazes
de afetarem todas as línguas. Porém, desde que as
comunidades possuam um computador, a internet é
capaz. Esta pesquisa pretendeu buscar evidências que
comprovem a incidência, bem como classificar os tipos
de itens em inglês encontrados na língua portuguesa,
através do levantamento de dados realizado nas
revistas Monet de março de 2007 e julho de 2008, para
verificar se o emprego dos mesmos vem aumentando,
contribuindo para a mudança lingüística, se é um
emprego necessário (empréstimos), ou se existem os
equivalentes em português (estrangeirismos). Trabalhase com a hipótese de que a maioria dos itens em inglês
encontrada não é necessária, devido à existência dos
seus equivalentes em nossa língua materna. Pretendeuse também, aprofundar as questões teóricas da mudança
lingüística a fim de buscar as causas para a adoção de
estrangeirismos. A pesquisa buscou embasamento
teórico principalmente nos estudos realizados pelos
seguintes autores: Bagno (2003), Carvalho (1989),
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Crystal (2000, 2003, 2005), Faraco (2001), Haugen
(1972), Hockett (1965), Jenkins (2007), e Weinreich
(1964) Segundo Carvalho (1989), as línguas se refazem
continuamente, porém se fundamentando em modelos
anteriores. A adoção de um termo estrangeiro pode ser
um ato de cultura e gosto, mas é sempre gerada por
uma necessidade prática. As mudanças começam a se
desenvolver como deslocamento de uma norma. A
percepção das mudanças ocorridas será comprovada
se estas forem aplicadas por vários falantes, salvo
em raros casos. Desta forma torna-se praticamente
impossível descobrir quem ou quando começou uma
inovação lingüística. A inovação lingüística ocorre
através dos empréstimos ou dos estrangeirismos. Os
empréstimos lingüísticos são recursos que utilizamos
de outra língua para nomear algo que não temos em
nossa língua materna. Os estrangeirismos são recursos
utilizados de outra língua quando temos o equivalente
na nossa língua materna, podendo ser considerados
desnecessários. A reação das pessoas varia muito em
relação a esses influxos, algumas os acolhem bem,
considerando-os fontes de riqueza léxica, outras
os condenam, entendendo-os como um ataque aos
valores tradicionais da língua. O número e o tipo de
palavras emprestadas de outra nação nos mostra em
que atividades uma foi superior à outra. De acordo com
Crystal (2005), cerca de 80% de todos os filmes lançados
em cinema são falados em inglês. A influência deles
sobre o público que os assiste é incerta, mas muitos
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Resumos
observadores concordam com a opinião do diretor
Wim Wenders: “As pessoas acreditam cada vez mais no
que vêem e compram aquilo em que acreditam... Elas
usam, dirigem, vestem, comem e compram o que vêem
nos filmes.” As pessoas imitam aqueles que admiram e
que geralmente são considerados superiores. Podemos
ligar o fenômeno da moda com a idéia de prestígio,
uma vez que, algo que está na moda é imitado /
seguido por outras pessoas que, por sua vez imitam por
razões de prestígio. Quando um elemento estrangeiro
é introduzido em uma língua, ele passa por muitas
mudanças, normalmente visando à simplificação.
Podem ocorrer mudanças na pronúncia devido à
inexistência de sons na língua materna, na ortografia
consoantes ou vogais podem ser eliminadas ou inseridas,
de acordo com a palavra emprestada. Hockett (1965),
diz que “Quem toma emprestado nem sempre importa
completamente as palavras usadas pelo Doador”, e ele
continua, afirmando que “três coisas distintas podem
acontecer, dando origem respectivamente a loanwords,
loanshifts, e loanblends, que é a terminologia seguida
por Haugen (1972), incluindo loan translations e
semantic loans. Weinreich (1964), acrescenta loan
translation à esta lista, que ele subdividiu em: loan
translations propriamente dito, loan renditions e loan
creations. Loanword – (Empréstimo de palavra): É a
nova forma no idioma do falante, quando ele adota a
palavra do doador juntamente com o objeto ou prática.
Loanshifts – (Mudança no empréstimo): O falante pode
adaptar o material disponível em sua própria língua
para evitar usar as palavras do doador, junto com o
novo item cultural, que pode ser um objeto ou prática.
Semantic loans – (Empréstimos Semânticos): O novo
significado é a única evidência do empréstimo. Loan
translations – (Tradução de empréstimos): O modelo
é reproduzido exatamente, palavra por palavra. Loan
renditions – (“Rendições” de empréstimos): O modelo
apenas dá uma idéia geral para a reprodução (ex.
wolkenkratzer = cloud scraper = sky scraper = arranhacéu). Loan creations – (Criação de empréstimos):
Criação de novas palavras, estimulada não por inovações
culturais, mas pela necessidade de equiparar itens/
nomenclaturas utilizadas em uma língua em contato.
Loanblends – (Mistura nos empréstimos): Parte do
modelo é importado, e parte dele é substituída por
termo já existente na língua do que faz o empréstimo.
O resultado pode ser um tipo de palavra híbrida. O
primeiro passo foi a escolha de duas revistas Monet,
de março de 2007 e de julho de 2008. As revistas
escolhidas divulgam mensalmente a programação
da rede de televisão a cabo Net, o que direciona os
possíveis tipos de itens em inglês para a área de filmes,
cinema, televisão, etc. As duas revistas foram analisadas
página por página, com exceção das programações
dia-a-dia, pois as mesmas mantêm muitos nomes de
filmes em língua estrangeira. Os dados foram coletados
através de anotações de todos os itens encontrados
nas seções selecionadas. Após o levantamento, foi
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
feita a comparação da incidência para calcular o
percentual da diferença de ocorrência entre as duas
revistas. O próximo passo foi classificar os tipos
de empréstimos obtidos. Com o levantamento dos
dados coletados nas revistas selecionadas, foi possível
obter a diferença da proporção de ocorrência de itens
em inglês através do cálculo de porcentagem. Na
revista Monet de março 2007, foram encontrados
167 itens; e na revista Monet de julho de 2008, foram
encontrados 155 itens. Percebe-se uma redução de
7,2% na freqüência do uso de itens de língua inglesa,
comparando a incidência nas duas revistas. Com este
resultado, podemos concluir que a hipótese de que a
ocorrência de itens de língua inglesa está aumentando
nas revistas Monet, não recebeu confirmação, uma
vez que há mais itens na revista de março de 2007
(167), do que na revista de julho de 2008 (155). De
acordo com a definição de tipos de empréstimos,
podemos observar que as ocorrências encontradas
foram de Loanwords, Loanblends e Loan Creations;
formados por substantivos e/ou adjetivos. Exemplos
de Loanwords mais freqüentes nas duas revistas:
mixer, site, reality shows, rock, Pay-per-view, games,
hits, quiz, pop, serial killer, shows, show business,
happy hour, rock’n’roll. Exemplos de Loanblends:
“um setzinho de oito músicas”, videoclipes, geração
multimidiática, holliwoodianas, clique (ao alcance
de um clique), camarins glamourosos. Exemplos de
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Loan Creations: Games interativos, mundo fashion,
Projeto Constellation. Aqui não haveria a necessidade
da utilização dos itens em inglês, por termos os
equivalentes em português. O Brasil esteve e continua
em contato com nações falantes de língua inglesa, o que
aumenta cada vez mais com a internet. Considerando
a área de filmes, transmissões de TV, a maioria dos
itens utilizados pode ser considerada desnecessária, já
que seus equivalentes existem em língua portuguesa,
tratando-se então de estrangeirismos. A razão para a
utilização destes estrangeirismos poderia ser classificada
como “atração” – pelo conhecimento da arte de fazer
filmes dos falantes de língua inglesa – as pessoas da
área acham que serão entendidas por quem lida/ gosta
de filmes, TV; já que, de acordo com Crystal (2005),
cerca de 80% de todos os filmes lançados em cinema
são falados em inglês. A chance para que muitos destes
itens entrem para o vocabulário dos brasileiros é muito
remota, por serem termos usados apenas por pessoas
de um determinado ramo, e não pela população inteira.
Outros, já fazem parte do nosso dia-a-dia, como por
exemplo, site, rock, games, happy hour. Com relação à
hipótese de que a utilização de itens em inglês estaria
aumentando, esta não se confirma, pois o levantamento
dos dados comprovou um decréscimo de 7,2%.
Palavras-chave: empréstimo lingüístico; estrangeirismo;
prestígio.
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Resumos
NO RASTRO DA VIOLA ESTUDO SOBRE PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL
POR MEIO DA MÚSICA DE BELARMINO E GABRIELA
Lilia Maria da Silva - UTP
A busca do homem por algo que o identifique e que o torne comum aos seus é fator primordial para a manutenção
das sociedades humanas. Sendo naturalmente um ser social, o sentimento de pertencimento aliado à identificação
com o grupo, os hábitos, usos, costumes, saberes e fazeres faz com que as comunidades se reconheçam e se mantenham
vivas ao longo dos tempos. Partindo deste pressuposto, podemos afirmar que a memória da comunidade e de suas
manifestações culturais é que a torna singular? A transmissão de seus valores através das gerações contribui para sua
permanência e consolidação? A preservação da memória está intimamente ligada às representações simbólicas que
o indivíduo tem sobre si mesmo (memória individual) e o meio em que vive (memórias coletivas). Esse aspecto da
memória está relacionado com o conceito de identidade, ou seja, com a noção de pertencimento de um indivíduo
em seu grupo. O reconhecimento de si próprio nos outros. Esse conceito norteador de valorização das vivências e
das memórias coletivas é o que permeia a idéia de patrimônio cultural e nos faz refletir sobre o passado das sociedades
e a relevância para seu presente. São os “lugares de memória”, como definiu o historiador Pierre Nora, ou seja, os
“locais materiais ou imateriais nos quais se cristalizam as memórias familiares, de uma nação ou de um grupo.”1 Nesse
sentido, um aroma, um sabor, uma música ou até mesmo um símbolo da pátria podem reavivar o sentimento de
pertencimento em um indivíduo ou do grupo como um todo. Assim sendo, trabalhar com conceito de patrimônio
cultural é acima de tudo, a busca pelo conhecimento de uma comunidade. Seus valores, seus bens tangíveis (móveis
e imóveis) e intangíveis (saberes e fazeres) e tudo aquilo que a torna singular. As análises de suas referências culturais
podem elucidar questões de preservação, de hábitos e tradições assim como seu modo de vida, seus rituais, religiões,
usos e costumes. Para explorar melhor os âmbitos afetivo e social que identificam o sentimento de identidade dos
indivíduos em suas comunidades, utilizaremos como ferramenta de apoio à construção e resgate de um patrimônio,
a memória que como diz Jacques Le Goff tem a capacidade de “presentificar o Passado.” 2 Dessa forma, conceitos
como referências, identidade, patrimônio e pertencimento também são importantes e bastante recorrentes quando
o assunto é preservação do patrimônio cultural material e imaterial de uma sociedade. O presente trabalho, objetiva
fazer uma análise da evolução do conceito de patrimônio cultural. Iniciaremos os estudos partindo da construção do
conceito, surgido no período de 1789. Se, no início, a preservação do patrimônio havia sido pensada somente como
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
um meio de salvaguardar da depredação e da pilhagem as
obras de artes e os edifícios monumentais da França pós
Revolução, posteriormente foi adquirindo um aspecto
mais denso relacionado com a proteção do patrimônio
cultural das sociedades. Ao longo dessa trajetória, o
patrimônio cultural sofreu muitos revezes. Algumas
perdas, irreparáveis, como a derrubada de grandes
conjuntos arquitetônicos monumentais em nome da
modernização e higienização dos espaços urbanos,
defendidas por algumas correntes de pensamento e outras
que, pregavam a totalidade da preservação do bem, sem
que se pudessem alterar os espaços do entorno dos
monumentos e edifícios históricos dificultando assim a
utilização do bem preservado. Ao longo de sua trajetória,
o patrimônio cultural incorporou sob sua responsabilidade
a identificação, conservação e a proteção das tradições e
das manifestações da cultura popular por meio de
registros, inventários e suporte econômico para tais
saberes, assim como a transmissão desses conhecimentos
por meio da educação formal e informal. Finalmente, a
junção dessas duas concepções fez nascer uma nova
corrente de pensamento. A utilização consciente dos
edifícios históricos e seu bom uso fizeram com que
também a comunidade se sentisse responsável pelos bens
preservados. Ganharam o patrimônio histórico, as cidades,
as futuras gerações. Ganhamos todos nós. Mas
recentemente, alguns países preocupados com sua cultura
tradicional reivindicaram também a preservação, não só
de seus monumentos arquitetônicos, mas também de suas
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
manifestações culturais mais autênticas. A partir desse
momento, o conceito de patrimônio cultural ganhou mais
uma vez, incorporou sob sua responsabilidade a
preservação da cultura dos povos, garantindo a continuidade
através do registro, da documentação e do suporte da
transmissão dos saberes às novas gerações. Dessa forma,
propiciou a manutenção das tradições e valorizou as mais
variadas manifestações culturais garantindo assim a
dinâmica das sociedades e a diversidade cultural. Para que
faça sentido a preservação de bens tangíveis e intangíveis
em uma sociedade, é necessário que eles sejam relevantes
para as comunidades, no sentido de despertar na memória
das pessoas, sentimentos de pertencimento e de identidade
com o passado comum. A preservação dos monumentos
e de monumentos históricos está intimamente ligada à
memória coletiva. Sendo assim, são esses os valores que
respaldam a preservação dos bens patrimoniais. Ao nos
deparar com esses conceitos, buscamos a melhor forma
possível para alcançar meus objetivos. Pensando sobre a
análise do tema proposto e o conceito de patrimônio
imaterial, o referencial teórico utilizado para o
desenvolvimento desse estudo foi imprescindível para a
condução das análises de patrimônio cultural. A autora
Françoise Choay3 contribuiu para os estudos referentes
ao desenvolvimento do conceito de patrimônio desde sua
origem até as discussões mais atualizadas sobre preservação
das manifestações culturais. Num segundo momento, a
utilização do texto de Eric Hobsbawm4 tornou possível
a análise da música popular brasileira rural. Sua apropriação
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Resumos
pela indústria fonográfica e a disseminação no espaço
urbano. Finalmente, buscamos responder a questão: A
música sertaneja pode ser vista como patrimônio cultural
imaterial de uma sociedade? E a construção desse gênero
musical, que aos poucos foi incorporado ao ambiente
urbano, pode ser tratada como resgate de tradições e
elemento identitário da cultura brasileira? Utilizando como
referencial as décadas de 1940 a 1960, ou seja, o apogeu do
rádio, procuramos responder e interpretar essas questões.
Além disso, buscamos rever a trajetória da carreira e da
produção artística dos músicos Belarmino e Gabriela e a
relevância de sua obra para a formação da identidade
musical paranaense, que se apropriaram de tradições rurais
para valorizar o homem sertanejo no ambiente urbano.
Durante sua longa carreira, com músicas de versos simples
e humor inocente, a dupla consolidou a imagem do
sertanejo, do caipira sulista, mostrando as diferentes faces
do Paraná rural. A expressão de sua arte consistia na
valorização do homem do campo, de seu jeito simples e
trabalhador, de sua responsabilidade diante da vida e do
meio ambiente. Ao iniciarmos essa pesquisa, o foco
principal estava direcionado na produção artística da dupla
Belarmino e Gabriela. O objetivo proposto inicialmente
respaldar e entender a produção artística dos músicos como
um patrimônio cultural imaterial. No transcorrer desse
estudo percebemos que, da forma como havíamos
proposto o trabalho inicialmente, seria errôneo
permanecermos nessa linha de estudo, pois o conceito de
patrimônio imaterial se fundamenta primordialmente na
conjunção de um saber de domínio público. Algo que tenha
relevância para a comunidade, que a identifique, mas que
também esteja disponível ao usufruto de todos. Como
então, trabalhar com a carreira dos músicos, que tinham
uma autoria definida, que marcaram gerações com o
fortalecimento de uma identidade forjada no espírito do
homem rural paranaense? Partimos então para a exploração
da música sertaneja como patrimônio imaterial. O universo
simbólico que permeia esse estilo musical vem de encontro
com a definição de patrimônio imaterial. Ser de domínio
público, relevante para um meio social e servir como
elemento identificador. Ao concentrar a pesquisa nesse
enfoque, encontramos um solo fértil para o desenvolvimento
de nossos estudos, visto que a música sertaneja e a
preservação do patrimônio cultural imaterial despertam
muitas questões que, poderão ser aprofundadas em novos
estudos. Além da música, o conceito de patrimônio cultural,
por se tratar de um tema relativamente recente, sugere temas
para os variados campos de pesquisa.
Palavras-chave: patrimônio; patrimônio cultural; música
sertaneja.
1 HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. A memória pública. Disponível
em: www.miniweb.com.br/ lugares_memória.html. Acesso em: 25
mai. 2009.
2 Jacques Le Goff. História e memória. São Paulo: Editora da Unicamp,
1994, p. 419.
3 CHOAY, Françoise. Alegoria do Patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001.
4 HOBSBAWM, Eric; RANGER, Terence. A invenção das tradições. São
Paulo: Paz e Terra, 1997.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
O INSTITUTO BRASILEIRO DE FILOSOFIA: UMA TENTATIVA DE CONSTRUÇÃO
DE HEGEMONIA CONSERVADORA
Rodrigo Jurucê Mattos Gonçalves - Escola Mosaico
Pedro Leão da Costa Neto - UTP
O objetivo do presente trabalho é analisar a tentativa de elaboração de um projeto hegemônico conservador
realizada pelo Instituto Brasileiro de Filosofia. O IBF foi criado na cidade de São Paulo, em 1949 e entre seus
fundadores podem-se destacar, Miguel Reale, Vicente Ferreira da Silva, Luiz Washington Vita, e segundo os
seus Estatutos tinha, entre seus objetivos, o de: “promover o desenvolvimento da cultura filosófica em nosso
país mediante cursos, conferências, seminários (...)” . A identificação do IBF, como Instituição representativa
do pensamento conservador no Brasil, já foi destacada por diferentes autores. Paulo Eduardo Arantes, em
seu ensaio dedicado a João Cruz Costa , identifica nos anos 50-60, três diferentes posições filosóficas, que
corresponderiam a diferentes posições ideológicas: 1) a “esquerda transcendental”, que se constituiu em torno
do departamento de filosofia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCLUSP), e que pressupunha que suas técnicas filosóficas mais rigorosas corresponderiam a posições políticas mais
avançadas. Arantes, seguindo as observações de Antônio Cândido que caracterizou a obra Raízes do Brasil de
Sérgio Buarque de Holanda como representante de um radicalismo potencial das classes médias, atribuirá esta
mesma caracterização ao próprio Antônio Cândido e outros professores da FFCL – USP; 2) o “nacionalismo
existencialista” que se constituiu em torno do Instituto Superior de Estudos Brasileiros – ISEB, e que visava
elaborar, a partir de conceitos originários principalmente da filosofia existencialista, um fundamento filosófico
para um projeto nacional-desenvolvimentista; e 3) a “direita” do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF),
diferentemente das duas concepções anteriores, que elaboraram diferentes visões críticas em relação à formação
histórica e intelectual brasileira que, propunha, ao contrário, uma análise positiva do nosso passado histórico.
No mesmo sentido, Leandro Konder em sua análise dos intelectuais brasileiros nos anos 50-60 apresentou
uma tipologia, aonde ressaltava a importância das opções filosóficas e das posições teórico-políticas para a
formação das diferentes tendências existentes entre os intelectuais, em um sentido amplo, e os historiadores, de
maneira específica: 1) a “perspectiva conservadora” citando, por exemplo, Djacir Menezes (próximo ao IBF) que
ressaltava a dimensão da continuidade no processo histórico brasileiro, de maneira a repelir o reconhecimento
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
da importância da ruptura Menezes afirmando, assim,
o seu estreito compromisso com a ordem. Konder
identifica, nessa concepção, uma desenvolta apologia
das forças que têm comandado nossa história; 2) a
“tendência nacional-desenvolvimentista”, agrupada
primeiro em torno do IBESP, e que depois dará origem
ao ISEB, que pretendia entender a nossa história à luz
de um projeto comprometido com a promoção de um
desenvolvimento nacional autônomo; 3) a “perspectiva
marxista”, sobre a qual Konder faz uma distinção,
separando o marxismo ortodoxo doutrinário por um
lado, e, por outro, a corrente representada por dois
intelectuais socialistas independentes: Antônio Cândido
e Florestan Fernandes. O autor sublinha igualmente a
importância do grupo de jovens professores da USP
que se reuniram em um Seminário para elaborar uma
leitura de O Capital. Na cidade de São Paulo, a oposição
entre os projetos representados pela da Faculdade de
Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São Paulo
da USP e pelo IBF assumiu contornos particularmente
antagônicos. Criada em 1934, a FFCL foi concebida
como o centro da futura Universidade - e também como
forma de superar a estrutura das escolas profissionais
isoladas representadas pela Faculdade de Medicina,
pela Politécnica e pela Faculdade de Direito. Para a sua
efetivação, a nova faculdade contou com a ajuda de uma
“missão cultural francesa” que representou uma forte
descontinuidade com a tradição cultural e de ensino da
cidade. Até esta data, o ensino da Filosofia, na cidade
de São Paulo estava representado: por um lado, pela
Faculdade Livre de Filosofia e Letras de São Paulo
criada em 1908 pelos beneditinos de São Paulo, e que
funcionou até 1937 - com uma interrupção entre 1918
e 1921 - quando foi reconhecido pelo governo federal
e integrada a Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo em 1946-1947, e por outro lado, pela Faculdade
de Direito de São Paulo criada em 1827 ; no interior da
qual tinham se formado a grande parte dos membros do
IBF. O novo estilo de ensino da filosofia, representado
pelo ensino dos professores franceses vai rapidamente
entrar em choque com a tradição de ensino da filosofia
representada pela Faculdade de Direito. Referindo-se
ao destaque dado pelo IBF, ao pensamento filosófico
no Brasil, Tânia Gonçalves sublinha o seu caráter
ideológico: “Para dar legitimidade ao Instituto diante
do método francês de estudos filosóficos, Miguel Reale
elege um assunto próprio para o grupo do IBF – a
tradição filosófica brasileira esta que sempre esteve
ligada à tradição das faculdades de direito do Brasil,
especialmente São Paulo e Recife. Podemos afirmar que
o programa de recuperação da história do pensamento
filosófico no Brasil correspondia a uma nova leitura
conservadora da História do Brasil, que assumirá
contornos cada vez mais claros com a aproximação
de Antonio Paim e Paulo Mercadante a Miguel Reale,
ao IBF e a escola culturalista. Uma vez reconstruída,
em linhas gerais, o projeto hegemônico conservador
do IBF, no interior das principais tendências existentes
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
nas décadas de 50 e 60, tentaremos analisá-lo a
partir das observações efetuadas por Antonio
Gramsci, elaborada nos Cadernos do Cárcere, sobre
a “concepção positiva da revolução passiva”, no qual
são criticadas as concepções históricas de Croce
apresentadas em seus livros Storia dell’Europa nel
secolo XIX e Storia d’ Italia dal 1871 al 1915, onde
todos os momentos de ruptura e luta de classes se
dissolvem – são escamoteados, no que Gramsci
caracterizou como “história fetichista”. Este programa
de pesquisa correspondia à uma prática intelectual
orgânica . Neste sentido, o IBF possuía uma (1) política
de formação filosófica, que passou a ser realizada a
partir de 1952, quando, através do financiamento da
Secretaria de Cultura da Municipalidade de São Paulo,
foram organizados cursos de extensão cultural. O então
governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira
Garcez e o prefeito da cidade de São Paulo, Armando
Arruda Pereira, consideraram, na época, que o IBF
era uma “entidade de utilidade pública” . Esses cursos
ocorreram continuamente de 1952 a 1965. (2) Uma
política editorial, com financiamento obtido junto ao
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
empresariado, à Editora da USP (da qual Reale fora
Reitor por duas vezes), ao Governo do Estado de S.
Paulo, à Prefeitura da Capital, ao Instituto Nacional do
Livro (INL). A categoria do aparelho de hegemonia
filosófico (a.h.f.), desenvolvida por Christine BuciGlucksmann , é de particular importância para a análise
do IBF, pois nos dá indicações precisas para uma
problematização rigorosa. Segundo a autora, o a.h.f.
tem por objetivo “a difusão de uma filosofia, de uma
concepção geral da vida”, de uma estrutura ideológica
que compreende “uma organização material que visa
a manter, defender, desenvolver a ‘frente teórica e
ideológica’. O a.h.f. portanto faz parte ‘do formidável
complexo de trincheiras e fortificações da classe
dominante’.” Assim, o IBF é, verdadeiramente, um
a.h.f., onde confluem o trabalho intelectual em sentido
estrito (das pesquisas, dos estudos, etc.), e o trabalho
intelectual em sentido lato, no sentido da organização
– conforme definido por Antonio Gramsci.
Palavras-chave: Instituto Brasileiro de Filosofia; revolução
passiva; aparelho de hegemonia filosófico (a.h.f.).
419
420
Resumos
O MOVIMENTO DOS ARTE-EDUCADORES NO BRASIL NA DÉCADA DE 1980
Josélia Schwanka Salomé - UTP
As metodologias para o ensino da arte vêm historicamente, se distanciado das questões que envolvem o
conhecimento do sensível e centram-se nas questões que envolvem o conhecimento dos códigos desta
linguagem, o que tem provocando uma real perda da expressão individual dos alunos. Nesta perspectiva
de discussão, o presente trabalho busca atentar para a necessidade da valorização do potencial criador dos
alunos nas aulas de arte do ensino fundamental. Essa discussão se dá a partir do resgatar, na história da
educação brasielira, o movimento de arte-educadores da década de 1980. A pertinencia deste projeto se dá
na necessidade de entender este momento histórico e de se revitalizar a discussão sobre o papel da arte na
educação escolar, levantando os dados referentes principalmente ao Manifesto Diamantina e as propostas
consolidadas nos encontros da FAEB (Federação de Arte Educadores do Brasil) na década de 1980. Para
que se alcancem os objetivos propostos, partir-se-á de um levantamento bibliográficas da área em questão
e posteriormente para a pesquisa de campo buscando os documentos acima citados, nas bibliotecas das
universidades que participaram destas ações: UFPR, UNICAMP, PUC/SP, USP e UDESC. Alguns autores
como Ana Mae Barbosa e João Francisco Duarte Junior possuem pesquisas e trabalhos publicados no sentido
desta investigação, além dos informes editados pelas associações dos arte-educadores, publicados na época
dos movimentos e que servirão de mote para um maior aprofundamento nos documentos do período. Assim,
esta pesquisa procura, em seu conteúdo, analisar este movimento da história, buscando elucidar fatos e gerar
indagações. As últimas décadas do século XX no Brasil, no que concerne à arte-educação, foram marcadas
por diversas tentativas de se buscar uma melhor compreensão acerca do ensinar e aprender arte na escola.
Estas discussões vêm de encontro a uma série de políticas públicas adotadas pós-período de 1964, pois
neste momento histórico, a tendência pedagógica tecnicista oficializa-se no Brasil visando à reordenação do
sistema educacional, pregando a neutralidade científica e inspirada nos princípios de racionalidade, eficiência
e produtividade, o que elimina a possibilidade de trabalho com a expressão criadora. A perda da sensibilidade
na educação escolar foi reforçada pela tendência pedagógica tecnicista, cujo auge deu-se em 1970, no Brasil,
com sua implementação durante o regime militar que vigorava no país. A partir da valorização dos processos
de industrialização e do desenvolvimento econômico, viu-se a necessidade de formação de mão-de-obra
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
para atender a este novo modelo econômico. Como
prática artística na escola, nesse momento histórico,
os manuais didáticos e receitas prontas para as aulas de
arte, são as metodologias e recursos utilizados, o que
leva a um esvaziamento da capacidade de expressão
individual. Esta metodologia de ensino da arte ainda
é bastante presente na Educação Básica, mesclada às
tentativas de trabalho com as leituras de imagem e com
os livros didáticos que voltam ao cenário educacional.
A partir destas premissas, o presente trabalho busca
discutir estas metodologias para o ensino da arte,
presentes na década de 1990, reflexos da história
da educação em arte que tivemos até então. Sob
determinados aspectos, a metodologia do ensino da
arte desenvolvida durante o tecnicismo na educação,
dá continuidade à pedagogia da Escola Nova quando
propõe o aprofundamento às questões da ênfase no
método e nos processos, mas se contrapõe na medida
em que automatiza estes processos nos sujeitos.
Nesta tendência, nem o aluno, nem o professor têm o
papel de destaque, mas sim a organização pedagógica
operacional e técnica, transpondo para a escola o
sistema de produção fabril, onde o que importa é o
processo, o aprender a fazer e onde o
Marginalizado será o incompetente (no sentido técnico
da palavra), isto é, o ineficiente e improdutivo. A
educação estará contribuindo para superar o problema
da marginalidade na medida em que formar indivíduos
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
eficientes, isto é, aptos a dar a sua parcela de contribuição
para o aumento da produtividade da sociedade.
(SAVIANI, 2002., p.13)
Diante desse quadro, os rumos que o ensino da arte
toma após a implementação dos cursos de formação dos
professores têm, nas associações dos Arte–Educadores
os movimentos para tentar mudar os rumos da arte na
escola. Alguns desses movimentos tiveram importância
fundamental nas discussões sobre a polivalência e
os conteúdos para a área, como o encontro de arteeducadores realizado na Universidade de São Paulo em
1983 e que contou com mais de dois mil professores
de arte do país e que discutiu os aspectos políticos que
tentavam imobilizar o ensino da arte nesse momento
histórico. E assim, diversos outros encontros que
culminaram em documentos e resoluções propondo
alterações significativas nos currículos das escolas.
(BARBOSA,1999) Esses movimentos, entretanto,
foram diluídos pelo sistema político dominante
neste período (1970-1980), que procurava veicular
sentidos que nada tinham a ver com a realidade que se
apresentava, buscando moldar um padrão para que os
pensamentos e sentimentos deixassem de ser críticos
e se tornassem consumistas. A televisão entrou como
um veículo de difusão e de homogeneização cultural,
impondo a forma de pensar e de sentir, levando o
ensino da arte a um processo de tecnicização. Esta
visão de educação, apesar de pretender, não conseguiu
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Resumos
a superação da marginalidade, pois o próprio processo
gerou este resultado. Sem ter a mediação crítica
que perceba esta conseqüência, temos nesta teoria
apresentada, a reprodução da sociedade na qual
ela está inserida, sem a preocupação com as classes
menos favorecidas. Na relação com a educação as
discussões sobre a necessidade de privilegiamento
da expressão individual se deparam com a visão de
arte predominante nas escolas, permeada ora por um
tecnicismo exacerbado onde o que importa é um saber
fazer sem o compromisso com uma fundamentação
teórica, ora por uma idéia equivocada de dom e de
talento, onde se exclui qualquer possibilidade de
desenvolvimento da capacidade de criação artística.
Há ainda a ausência de uma metodologia que
direcione o trabalho educativo pautado na proposta de
que arte não deve ser ensinada, mas expressada através
de propostas voltadas à livre-expressão. Contudo,
alguns movimentos já se fazem sentir em algumas
discussões na área, voltadas a ampliar o acesso à
compreensão da arte enquanto produção humana
visando permitir que o homem compreenda o mundo
em que vive e dele participe ativamente. (DUARTE
JR, 2000) Apesar de o quadro parecer desanimador,
muitos educadores vêm lutando para alterar essa (des)
ordem, discutindo a educação e o papel da escola na
sociedade contemporânea, salientando que o trabalho
com a aprendizagem dos sentidos, que envolve o
trabalho com o sensível, vai implicar numa tomada
de consciência por parte dos professores, alunos e
todos os integrantes do processo educacional, quanto
a necessidade de se trabalhar a arte numa práxis
superadora que busque novas percepções e novos
olhares sobre o mundo e a vida. Na realidade atual,
diante da sua complexidade, podemos encontrar
professores que possuem uma formação tradicional,
exercem uma prática escolanovista e, em sua atuação
se limitam a executar ordens e planos vindos de cima,
impostos pelas leis ou por seus pares. Por outro
lado, observa-se um grupo de professores que vêm
tentando resistir, voltando-se para uma organização
em classe que vai à busca de alternativas para esses
impasses na educação. O que importa é a construção
de uma proposta pedagógica que esteja diretamente
articulada com a pluralidade das determinações sociais,
buscando superar a fragmentação e os reducionismos
presentes na educação e que seja comprometida com
a socialização dos conhecimentos. Relacionando
esta teorização com o ensino da arte, estas questões
endossam a necessidade dessa área do conhecimento
ser vista na perspectiva da representação artística
como o reflexo de uma realidade historicamente
construída na relação homem e mundo, homem e
humanidade. Como afirma Lukács (1978, p.287)
A continuidade do desenvolvimento da humanidade tem
a seu favor uma sólida base material [...] Contudo, para
a arte, ela serve apenas como mediação para a realização
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
de sua tarefa, a de representar o homem, o seu destino, os
seus modos de manifestação.
As discussões advindas dos movimentos dos arteeducadores reforçam as questões trazidas neste trabalho
especialmente no que diz respeito à necessidade
de se buscar definir uma identidade para a área de
arte na educação escolar. Os diferentes documentos
coletados no período desta pesquisa, como o Manifesto
Diamantina, a Carta de Protesto de Brasília, a Carta
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
de São João Del- Rei dentre outros, ainda estão em
fase de análise por parte do pesquisador e de antemão
podemos afirmar que estes documentos apontam para
a necessidade da compreensão acerca da abrangência
da área de Arte na educação escolar e de um maior
compromisso por parte das políticas públicas para a
educação.
Palavras-chave: arte-educação; artes visuais; políticas
públicas.
423
424
Resumos
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva, 1999.
DUARTE JR., João-Francisco. O sentido dos sentidos : a educação (do) sensível. Curitiba : Criar, 2000.
LUKÁCS, G. Introdução a uma estética marxista: sobre a categoria da particularidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1978.
SAVIANI, Dermeval. Escola e democracia : teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre a educação política.35. ed. revista – Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
O SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL (SENAI): CRIAÇÃO
E PROPOSTA S EDUCATIVA S / CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO SOCIAL
BRASILEIRA
Filipe Pêgo Camargo - UTP
Este texto refere-se ao estudo que fazemos, como bolsista de iniciação científica da Universidade Tuiuti do
Paraná, do Projeto de Pesquisa intitulado: O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai): Criação e
Propostas Educativas/ Contribuições à Formação Social Brasileira. Procura 1. compreender, e explicar o papel
que o SENAI vem tendo, historicamente, suas estruturas, políticas de ensino e resultados na formação social
brasileira; 2. analisar e explicar as forças sociais que criaram o SENAI; 3. oportunizar o entendimento do papel
social do Senai; 4. possibilitar a compreensão da atuação do Senai na educação, qualificação e requalificação do
trabalhador brasileiro. Nesta etapa procedemos à revisão bibliográfica, iniciamos a coleta de documentos, as
visitas ao Senai de Curitiba, as consultas na sua biblioteca e elaboramos a primeira síntese intitulada: A conjuntura
histórica da Era Vargas (1930-1945): bases para a criação do SENAI. O estudo do processo histórico brasileiro
mostra-nos um Estado dominado majoritariamente por suas elites. Este fato evidencia-se nas transições políticas
que a nação teve em seu percurso histórico. Sendo estes respectivamente: Colônia, Império e República, este
último vigente. Enquanto colônia de Portugal participou como fornecedor de matérias primas, produtos que
interessavam aos comerciantes portugueses e seus aliados, nomeadamente os ingleses. No período de transição
da Colônia para o Império, manteve-se a mesma estrutura econômica. Apropriadamente, Florestan Fernandes
salienta que a Independência do Brasil foi uma “revolução política” tão somente, devido à estabilidade das
estruturas sócio-econômicas, que estavam e se mantiveram ainda por longo período. Porém no último quarto
do século XIX, paulatinamente, o trabalho escravo foi sendo substituído pelo trabalho livre, feita a proclamação
da República. O país começava a crescer demograficamente e economicamente, com isso a chegada dos imigrantes
e investimentos feitos no plantio de café, iniciam-se novos rumos sócio-econômicos, pautados pela concentração
de renda o maior poder da aristocracia agrária, uma economia dependente das exportações. No período inicial
republicano o café foi o elemento primeiro desta economia. Sustentado pelas exportações, o Brasil até à Revolução
de 1930, não conseguiu formar um mercado interno consistente. A burguesia brasileira formou-se associada e
dependente da burguesia internacional. Somente a partir de 1930 podemos falar de um processo de industrialização.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
Na Primeira República o poder político concentrou-se
nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, foi a política
conhecida por “café-com-leite”, quando os cafeicultores
paulistas e os produtores de gado bovino/leiteiro de
Minas Gerais, alternavam os presidentes republicanos,
visando assim à manutenção da política econômica
vigente. A ascensão de Getúlio Vargas à presidência
com a Revolução de 1930 marca o início de uma
conjuntura de expansão industrial. O final da política
“café-com-leite” explica-se na conjuntura internacional
da crise de 1929, quando ocorreu a queda da Bolsa de
Nova York. Este período (1929-1930) coincide com a
maior produção de café da história do Brasil, assim,
devido à crise o produto ficou sem um amplo mercado
consumidor, deixando seus produtores em conseqüente
crise. É importante observar que a crise cafeeira
resultou na queda de valorização do produto (café) e
na desestabilização política da aristocracia agrária,
contudo, não significou que estes “aristocratas”
perdessem seu poder tanto econômico quanto político.
Pelo contrário, os núcleos industriais existentes no
Brasil antes da década de 1930 e posterior a esta, foram
implantados em sua maior parte, pelas inversões feitas
dos lucros excedentes da produção cafeeira. Por isso,
apesar da relevante mudança sócio-econômica ocorrida
no Governo Provisório, não se pode ocultar que Vargas
contou com o apoio de parte dos cafeicultores. Estes
que no referente contexto não estavam satisfeitos com
a política “passiva” do então presidente Washington
Luís, que não agiu diretamente a favor dos produtores
de café durante a crise. O contínuo declínio das
exportações de café poderia significar uma catástrofe
para Getúlio Vargas. Por isso, o Governo Provisório
agiu como financiador dos cafeicultores, inclusive
perdoando parcelas das dívidas que possuíam. Contudo,
apesar dos problemas resultantes da crise cafeeira, em
tempos de lucratividade do café, parte deste lucro foi
dinamizada para as cidades, e aplicada inclusive na
instalação de indústrias. Estas foram a base para a
ascensão econômica do país no conjunto dos países
industrializados. Neste contexto histórico brasileiro,
duas propostas estavam claras: A primeira é que a
economia precisava crescer, e a segunda é que o
investimento no mercado interno deveria ser a solução
para a primeira proposta, em virtude da fragilidade com
que se deparava o setor exportador. No que tange à
aceleração econômica brasileira, uma das primeiras
medidas tomadas pelo Governo Provisório foi à criação
do Ministério do Trabalho, da Indústria e do Comércio
entre 1930/31. Nesta conjuntura, houve um crescimento
demográfico nas cidades, formando-se assim um
proletariado urbano. Além da criação de um ministério
destinado ao trabalho, Vargas reformulou as políticas
de atendimento às reivindicações trabalhistas e sociais.
Dentre as medidas do Governo Provisório, destacamse no campo trabalhista: a jornada de trabalho de 8
horas diárias, um dia de descanso remunerado por
semana, e a criação do salário mínimo no período do
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
Estado Novo. No campo social foi feita a regulamentação
do voto feminino, o voto secreto e a diminuição da
idade eleitoral de 21 anos para 18. As associações
sindicais foram fomentadas e controladas. A
Constituição de 1934 assegurou a representação de
“quarenta deputados dos diversos setores profissionais,
tanto patronais como de empregados” (PEDRO, p.413)
no governo Vargas. Aprofundando a questão industrial,
para a análise do desenvolvimento industrial (indústria
de base) que ocorreu no Brasil, a partir de 1930, este
texto destaca ações que contribuíram para a aceleração
industrial do país como a política protecionista que
Vargas adotou para estimular a expansão do mercado
interno, aumentando as tarifas dos produtos importados.
Um elemento importante desta conjuntura foi o
aproveitamento da capacidade ociosa das indústrias
instaladas no Brasil no período da República Velha,
quando parcela dos lucros dos cafeicultores foi
empregada em indústrias de produtos não duráveis,
como alimentícios e principalmente têxteis. Neste
aspecto, (FURTADO, 1971, p. 198) escreve: “Entretanto,
o fator mais importante na primeira fase da expansão
da produção deve ter sido o aproveitamento mais
intenso da capacidade já instalada no país. Bastaria citar
como exemplo a indústria têxtil, cuja produção
aumentou substancialmente nos anos que se seguiram
à crise sem que sua capacidade produtiva tenha sido
expandida”. O mesmo autor informa que: “A produção
industrial cresceu em cerca de 50 por cento entre 1929
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
e 1937 e a produção primária para o mercado interno
cresceu em mais de 40 por cento no mesmo período.
Dessa forma, não obstante a depressão imposta de
fora, a renda nacional aumentou em 20 por cento entre
aqueles dois anos (1929-1931).” (IDEM, p.200). No
período do Estado Novo (1937) a economia brasileira
continuava a crescer, bem verdade convivendo com
dívida externa provocada por empréstimos destinados
ao setor industrial. Na tentativa de aumentar a
rentabilidade econômica o governo brasileiro suspendeu
o pagamento da dívida, fomentando ainda mais o
mercado interno. Esta a conjuntura histórica brasileira
entre 1930-1945 explica a criação do Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial – SENAI-, instituição que
proporcionou uma base estrutural para dar força ao
novo grupo emergente, o grupo dos empresários
ligados à industria. Este texto procurou apresentar
através de uma análise da conjuntura histórica, que o
processo de expansão da indústria ocor rido
principalmente a partir da década de 1930 mudou
significativamente a sociedade brasileira, trazendo
consigo metamorfoses econômicas, sociais e culturais,
deslocando grande parcela do proletariado rural para
o mundo urbano, intensificando a modernização das
cidades e criando também todo um estilo urbano de
vida, diante de tais acontecimentos. Enfim, o SENAI
veio colocando-se na capacitação e educação da classe
trabalhadora brasileira, divulgando a ideologia de
corporativismo entre as classes para o crescimento
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Resumos
econômico do Brasil. Recorremos para a elaboração
deste texto às contribuições dos seguintes autores e
respectivas obras: FERNANDES. Florestan. A
Revolução Burguesa no Brasil: ensaio de interpretação
sociológica. Rio de Janeiro: ZAHAR. 1975; FURTADO,
Celso. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro:
Nacional, 1971; FAUSTO Boris. O Brasil Republicano
-Economia e Cultura (1930-1964). In_ Capítulo I: O
Brasil e a economia mundial (1929-1945), Capítulo IV:
Interpretação do Brasil: Uma experiência histórica de
desenvolvimento. São Paulo. DIFEL. 1984; PEDRO,
Antônio. História da civilização ocidental: ensino médio:
volume único/ Antônio Pedro, Lizânias de Souza Lima.
São Paulo: FTD, 2004 – (Coleção Delta). ARANHA,
Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à
filosofia / Maria Lúcia de Arruda Aranha, Maria Helena
Pires Martins. – São Paulo: Moderna, 1986.
Palavras-chave: Senai; conjuntura; história;
industrialização.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
O TUTOR NA EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: DIMENSÕES E FUNÇÕES QUE
FUNDAMENTAM SUA PRÁTICA TUTORIAL
Everaldo Moreira de Andrade - UTP/UP
Desde o final do século XX, e nesse início de século XXI, tem se delineando uma grande transformação nos
procedimentos de ensino-aprendizagem associados aos processos de disseminação de informação e ao uso de novas
tecnologias. Uma parte significativa desta transformação está relacionada ao uso da Educação a Distância como
forma de atingir novos públicos e desenvolver novas metodologias de ensino. A educação a distância utiliza-se de
desenvolvimentos tecnológicos para disseminar informação para estudantes através de outros canais que não os
tradicionais. Será destacada, aqui, a importância da ação do tutor na Educação a Distância abordando, em especial,
as competências que lhe são necessárias. Também discorre sobre suas funções e as dimensões da tutoria nos cursos
a distância. Sinaliza que o tutor tem uma atuação de enorme importância na articulação do diálogo, comunicação,
orientação e informação na construção de conhecimentos. A Educação a Distância (EAD) é uma modalidade
educativa que caminha para a democratização do saber e amplia oportunidades de acesso ao conhecimento. O
processo educacional brasileiro está passando por grandes transformações: levar conhecimento de qualidade a todos
é o grande objetivo da educação. Para que seja uma realidade atual, foi necessário incorporar novas metodologias que
viessem contribuir nessa trajetória, nesse bojo está a educação a distancia, que pegou o suporte das novas tecnologias
educacionais, indo ao encontro de conhecimento nunca antes observado, lembrando sempre da complexidade tanto
educacional como do próprio território brasileiro, com grande extensão territorial e a diversidade da região Norte
do país, regiões que nunca tiveram acesso à educação de qualidade. Atualmente, já há interesses públicos e privados
para a organização de uma rede de EAD, que pretende levar o ensino a todos que estão excluídos desse processo.
Ao falar-se em educação a distância, surge neste cenário uma figura determinante: o tutor, que no desenvolvimento
da prática pedagógica deve ser observador, deve saber interpretar as observações feitas, além de tomar decisões para
intervir nas situações de ensino, sendo tão ativo quanto o aluno num processo significativo de aprendizagem. Tornamse fundamentais suas competências científica e pedagógica e suas atitudes em relação ao processo de transformação
e assimilação de conhecimentos, que estão inseridos na aprendizagem dos alunos. Assim, o professor tem como
funções primordiais ensinar e avaliar. Sabe-se que a tutoria na educação a distância é um parâmetro novo em educação.
Assim, surge um novo modelo de educação e uma nova função em educação, pois o tutor é um educador à distância,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
superando o conceito reducionista de uma proposta
educacional técnica. Entende-se que a educação a
distância é uma prática que permeia as necessidades e
habilidades de cada aluno e do grupo de alunos em si,
ocorrendo de modo presencial e virtual. O tutor é um
professor que atua nas situações programadas de ensino
e aprendizagem e de orientação assistida nos processos
de educação à distância. Ele desenvolve uma relação
direta com os alunos, ajudando-os na compreensão e na
aproximação dos conhecimentos, empregando diversos
meios para o ensino dos conteúdos. Tais meios envolvem
materiais impressos, vídeo, telefone/fax e outros suportes
de tecnologia da informação e comunicação. Na EAD,
o ensino se baseia no uso da tecnologia para superar
barreiras de tempo e espaço e a mediação é exercida por
um tutor, a (re) construção do conhecimento se dá num
ambiente on-line, com seus objetos de aprendizado e
biblioteca virtual. Assim, os cursos à distância primam pela
intermediação entre o aluno e os objetos de aprendizagem
disponíveis com a participação do tutor. Assim, o
tutor deve ser capaz de estimular a (re) construção
do conhecimento, de modo a incentivar a adoção de
uma postura investigativa e crítica frente às disciplinas;
articular teoria e prática, de modo a estimular a discussão
da experiência dos alunos; direcionar as discussões, de
modo a aprofundar o conteúdo disponibilizado nas
disciplinas; avaliar os trabalhos dos alunos, de modo a
valorizar o conhecimento por eles demonstrado; sintetizar
o conteúdo e as atividades realizadas, de modo a minimizar
a defasagem na aprendizagem. O trabalho do tutor em
um curso na modalidade de Educação a Distância – EaD
deve estar voltado para a satisfação das necessidades
emergenciais e em longo prazo dos alunos, pois estes
encontram uma possibilidade de construir conhecimento
dentro da sua limitação de tempo. Neste contexto, a
liderança do tutor torna-se essencial para conseguir
manter o grupo de alunos unidos e com objetivos bem
traçados para conseguir realizar os estudos com segurança
e determinação. Na modalidade de ensino a distância, o
tutor tem papel fundamental para o desenvolvimento do
aluno durante o curso. Seja na forma de transmissão de
conhecimentos, ou ainda incentivando o estudante na
sua caminhada diária. Historicamente, novas tecnologias
foram surgindo e o papel do tutor teve que ser readaptado
na modalidade de EaD, trazendo novas exigências para
o cargo, bem como novas necessidades de habilidades
específicas deste profissional. Mas, atualmente, quais serão
as funções do tutor no EaD? E as qualificações necessárias
para que uma pessoa possa exercer a função de tutor?
Neste trabalho, pretendemos abordar as diversas funções
do tutor, suas interligações, os requisitos necessários para
a sua contratação, bem como um pouco da história da
tutoria e do Ead no Brasil e no mundo. Não pretende de
forma alguma, esgotar os temas sobre este assunto tão
novo e tão importante, mas sim, levantar novos debates
e estudos, sobre este assunto.
Palavras-chave: educação a distância; tutor;
tecnologias.
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Pesquisa
O TRABALHO COM PORTFÓLIOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NOS ANOS INICIAIS
DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS ESCOLAS DE CURITIBA-PR – CONTRIBUIÇÕES
E DIFICULDADES
Neyre Correia da Silva - UTP
O presente trabalho tem por finalidade apresentar resultados de uma pesquisa iniciada em março de 2006, intitulada,
na época, “Práticas de avaliação em alfabetização: crenças e dilemas dos docentes”, tendo como principal objetivo,
naquele momento: identificar práticas de avaliação em alfabetização que vinham sendo desenvolvidas por professores
que atuavam no início do Ensino Fundamental (EF), nas escolas da Rede Municipal de Ensino (RME) de CuritibaPR. A pesquisadora, desde 2001, vinha trabalhando com as disciplinas Avaliação Educacional I e II, que faziam
parte da grade curricular do curso de pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Gradativamente foi
aprofundando seus questionamentos a respeito das práticas avaliativas escolares, e começou a dedicar especial
atenção e a empreender estudos sobre o trabalho com portfólios como forma de proceder a avaliação da
aprendizagem. O trabalho com portfólios estava sendo recomendado pela Secretaria Municipal de Educação
(SME) como meio para avaliar o processo de aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, não apenas em
alfabetização, nos anos iniciais do EF. Mas, segundo depoimentos dos professores, pedagogos, diretores etc.,
informalmente coletados durante sua participação da oficina “A Construção de Portfólios no Processo de Avaliação
da Aprendizagem”, na Semana de Estudos Pedagógicos / (maio) 2007 da RME de Curitiba, algumas dificuldades
estavam surgindo ao trabalhar com portfólios: grande diversidade de práticas, muitas vezes incongruentes; a falta
de clareza sobre as concepções teóricas que subsidiam este trabalho; a compreensão do portfólio como um processo
de arquivamento de produções do aluno, organizado única e exclusivamente pelo professor; dificuldades em
interpretar a coletânea de materiais inseridos nos portfólios; e a identificação dos portfólios com dossiês para
assegurar, documental e formalmente, a retenção de alunos em determinadas etapas de ensino. No segundo
semestre do ano de 2007, a pesquisadora trabalhava como docente da disciplina Avaliação Educacional II, com
duas turmas do curso de pedagogia da UTP que, simultaneamente, estavam concluindo o referido curso em
diferentes habilitações: Educação Infantil e Gestão Escolar, e Anos Iniciais e Gestão Escolar. Durante as discussões
especificamente propostas pelos conteúdos da disciplina em foco, surgiram importantes questionamentos sobre
a prática com portfólios tanto em Educação Infantil (EI) como nos anos iniciais do Ensino Fundamental. Assim,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
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Resumos
parte da pesquisa orientou-se para analisar crítica e
reflexivamente as práticas de avaliação no que se referiam
ao trabalho com portfólios pelos professores /
educadores e equipe pedagógica que atuavam em escolas
públicas e particulares de EI no município de CuritibaPR. E, concomitantemente, procurou analisar as práticas
de avaliação em alfabetização no que se referiam ao
trabalho com portfólios, nos anos iniciais do EF nas
escolas da RME de Curitiba-PR. Para cumprir com tais
objetivos foram realizadas duas etapas de coleta de
dados: 1ª) Durante o mês de outubro de 2007 realizaramse 34 entrevistas, a partir de roteiro semiestruturado de
questões, sendo que dezenove entrevistas procediam de
docentes e profissionais que foram pesquisados na
condição de atuantes em Educação Infantil. Doze
entrevistadas atuavam em turmas de anos iniciais do EF,
nas escolas municipais de Curitiba-PR, e três estavam
em outras categorias, diferentes das citadas acima
(escolas de municípios adjacentes à Curitiba, escolas
privadas e de anos finais do EF. Estas entrevistas foram
efetivadas por acadêmicas que na época cursavam o
sexto período do curso de pedagogoia da UTP; 2º) nos
dias 29 e 30 de julho de 2008, durante o desenvolvimento
da oficina “Práticas de avaliação em alfabetização,
trabalhando com o portfólio”, por ocasião da Semana
de Estudos Pedagógicos – 2008 / Seminário de Língua
Portuguesa e Literatura da RME de Curitiba, organizada
e realizada pela SME desta cidade, noventa e dois
professores e profissionais (pedagogos, diretores etc.),
responderam às questões apresentadas, em forma de
questionário, a respeito do trabalho com portfólios. A
pesquisa sobre a utilização dos portfólios na educação
infantil justificou-se em função da presença de poucos
trabalhos relativos à problemática, e em face de
questionamentos inaugurados por ocasião dos debates
com as alunas do curso de pedagogia da UTP, na
disciplina citada acima, durante o segundo semestre de
2007. E a pesquisa a respeito do trabalho com portfólios
nos anos iniciais do EF, em escolas municipais
curitibanas, principalmente, quando se abordaram as
noventa e duas professoras e profissionais da educação
justificou-se pela necessidade de empreender pesquisa
mais sistematizada com número representativo de
pessoas acerca da temática proposta. Realizou-se o
levantamento bibliográfico acerca da temática proposta,
priorizando trabalhos que tinham como objeto de estudo
a avaliação por meio de portfólios em Educação Infantil
e em Ensino Fundamental: Shores e Grace (2001),
Parente (2004), Lusardo (2006), Frison (2008) e Villas
Boas (2006; 2007). O portfólio é definido como uma
coleção de itens que revela, conforme o tempo passa,
os diferentes aspectos do crescimento e do
desenvolvimento de cada criança. A estratégia comum
do trabalho por meio dos portfólios é basicamente
colecionar amostras de trabalhos realizados durante a
atividade pedagógica, educativa. De acordo com Villas
Boas (2007), em educação o portfólio apresenta várias
possibilidades e, entre elas, configura-se como uma
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
construção do aluno, caracterizando-se como uma
coleção de produções, as que representam evidências de
sua aprendizagem. Os portfólios devem ser organizados
pelos próprios alunos de forma que eles e os professores,
conjuntamente, possam, acompanhar a sua evolução.
(VILLAS BOAS, 2006). Os dados obtidos nas duas
etapas da pesquisa foram sistematizados pela aluna do
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica
(PIBIC), da UTP, Cinthia de Souza Barros, sob
orientação da pesquisadora e autora deste trabalho.
Concomitante à exposição quantitativa e descritiva dos
dados, mediante a composição de quadros e gráficos,
também organizada pela aluna acima referida, foram
realizadas análises a partir de uma abordagem crítica e
reflexiva, na medida em que se buscam correlações entre
dados produzidos e circunscritos pela pesquisa, e a
introdução de elementos que revelassem a dialeticidade
dos fenômenos em foco. Observou-se que a maior parte
das entrevistadas afirmava já possuir conhecimentos e
trabalhar com portfólios há algum tempo, tendo tido
contato com essa prática por meio da equipe pedagógicoadministrativa das escolas. Nas respostas, evidenciou-se
que são as professoras que organizavam os portfólios,
com pouca participação dos alunos na elaboração dos
mesmos. Verificaram-se dados que sugerem a necessidade
de novas investigações: entre os depoimentos formais
e informais das profissionais encontrou-se o relato de
que não se sabia precisar exatamente quando, como e
por quem o trabalho com portfólios passou a ser
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
recomendado na RME. Pensa-se que esses dados são
muito importantes para dimensionar as concepções e
práticas de avaliação da aprendizagem por meio de
portfólios no contexto local, auxiliando na compreensão
dos motivos que geraram determinadas práticas, como
a de usá-los como meio documental obrigatório, como
dossiês, para atestar a necessidade de alguns alunos serem
retidos ao fim das etapas de cada Ciclo de Aprendizagem.
Com relação às práticas com portfólios na EI, foram
entrevistadas dezenove profissionais atuantes nesta
modalidade de ensino, sendo que dezoito trabalhavam
diretamente com crianças de dois a seis anos de idade,
e uma foi pesquisada na condição de coordenadora
pedagógica. Em EI, chamou a atenção também a limitada
participação das crianças no processo de composição e
de manuseio, ou mesmo de apresentação às famílias, a
respeito dos portfólios, sendo que as profissionais
afirmavam que era o professor que, na maioria das vezes,
compunha esse procedimento de avaliação. Os resultados
indicavam a importância de trabalhar aspectos relativos
à formação de professores, educadores e pedagogos,
não apenas no sentido de aprenderem a utilizar o
portfólio como meio de avaliação em EI, mas também
de compreenderem as concepções de criança, de
desenvolvimento, de educação e de avaliação que lhe são
subjacentes.
Palavras-chave: educação infantil; ensino fundamental;
avaliação; portfólios.
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Resumos
OLHARES FRANCESES SOBRE A TERRA BRASILIS
Pedro Henrique Ribas Fortes - UTP
A realização deste estudo se projetou a partir de reflexões sobre as representações reproduzidas nas obras do franciscano
André Thevet e do calvinista Jean de Léry, que se remeteram a empreitada conhecida como França Antártica na atual
Baía da Guanabara entre 1555 e 1558. A intenção foi perceber sobre qual ótica esses dois franceses, um católico e o
outro calvinista respectivamente, construíram suas representações sobre o Brasil do século XVI. A partir de então,
surgiu a oportunidade de transformar esse interesse de pesquisa em uma monografia, como requisito para a graduação
no curso de história da Universidade Tuiuti do Paraná. Nesta pesquisa foram utilizadas como fontes primárias as obras
do frei André Thevet - Singularidades da França Antártica (1557); e do reformado Jean de Léry – Viagem a Terra do
Brasil (1578). Os autores, por vezes maravilhados com a terra, descrevem a natureza geográfica, a fauna e flora da
Baía da Guanabara no século XVI, além dos hábitos e costumes dos nativos que ali viviam. O método adotado para
a pesquisa, consiste em verificar a partir da leitura de Thevet e Léry, de que maneira se forjaram as representações que
estes franceses tiveram da Terra Brasilis e de que forma a produção desses relatos foi modelada a partir de resquícios
do pensamento medieval, existente na mentalidade do homem do século XVI. Resta ainda entender, de que forma
essas permanências influenciaram os discursos sobre o indígena, caracterizado na figura do outro. Para tal reflexão
foi necessária uma pesquisa sobre as obras historiográficas, artigos, teses e publicações acadêmicas que tratam dos
temas relacionados às indagações que o presente trabalho se propõe.
UM NOVO MUNDO ALÉM MAR: O expansionismo marítimo português, a partir de 1500, abriu os olhos do
mundo para a existência das terras que futuramente se constituiria em uma grande parte do Brasil. Inicialmente, o
reino português não articulou um projeto colonizador que pudesse abarcar, com propriedade, a extensa e grandiosa
porção de terras reivindicadas pelos lusitanos e legitimadas, segundo estes, pela assinatura do tratado de Tordesilhas
entre Portugal e Espanha. Isso abriu margem para uma série de investidas e atividades exploratórias por parte de
outras nações européias na costa brasileira, como Espanha, Alemanha e França. Traficando as riquezas naturais
da terra para o Velho Mundo, como o pau brasil e algumas espécies de animais, se aproximaram dos naturais da
Terra Brasilis através de alianças baseadas no escambo. Os franceses estiveram presentes, nesse contexto, desde os
primeiros anos das descobertas do litoral brasileiro, abastecendo suas feiras com produtos oriundos da inexplorada
terra. Através de uma política de alianças com os indígenas, principalmente com o povo Tupinambá, já na primeira
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
metade do século XVI, o Brasil se encontrava repleto de
marinheiros, exploradores e alguns religiosos franceses,
que atuavam como pontes comerciais e culturais entre a
França e as terras dos nativos aliados. Até então o capital
privado financiava essas expedições. O reino francês só
iria participar ativamente dessa exploração a partir de
1555 com a tentativa da fundação de uma colônia livre
para os calvinistas que eram perseguidos na França,
durante a reforma protestante. A empresa que ficou
conhecida como França Antártica atraiu a atenção de
diversas personalidades da sociedade francesa. Entre estas
figuras marcantes, o frei André Thevet e o huguenote
Jean de Léry, os principais responsáveis pela divulgação
da França Antártica, relatando em suas obras o que viram
e perceberam, neste Brasilis. Thevet e Léry descreveram,
além da expedição, a natureza da nova terra e a população
que ali vivia. Seus ricos relatos demonstraram-se como
uma das mais preciosas fontes sobre o estudo do povo
Tupinambá e da natureza da cidade do Rio de Janeiro no
século XVI. Estes autores embevecidos pelas descobertas
e cautelosos nesta terra estranha demonstraram em seus
relatos características e resquícios de uma mentalidade
mitológica oriunda do rico universo do imaginário
medieval. Em meio as suas descrições percebe-se
que apesar de se situarem temporalmente no que a
historiografia tradicional convencionou denominar de
Renascimento do século XVI, os autores demonstraram
fortemente que o maravilhoso e o fantástico – o mundo das
mirabilis – norteavam suas descobertas. Freqüentemente,
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Thevet e Léry descreveram o outro, o diferente de si, no
caso o indígena, a partir de representações que tinham uma
origem antiga e mítica nas sociedades européias. Dessa
forma, as novas projeções que foram direcionadas ao
nativo brasileiro e a sua forma de convivência com a terra
foram norteadas por condicionamentos pré-existentes na
mentalidade desses franceses através de uma tradução do
desconhecido para seu universo mental. As representações
que foram constituídas, por estes franceses do século XVI,
a respeito dos rituais Tupinambá como as cerimônias
de antropofagia, cauinagem e mesmo a nudez foram
orientadas, sobre este enfoque, por certos arquétipos
que permeavam a mentalidade desses visitantes do Velho
Mundo. Orientavam-se pela capacidade que tinham de ler o
mundo a sua volta. As formulações teóricas desenvolvidas
por Florestan Fernandes na densa obra intitulada “A
função social da guerra na sociedade tupinambá”, foram
utilizadas para demonstrar pontualmente a importância
que detinha essa sociedade em torno das guerras e dos
rituais que seguiam a captura de um inimigo. Como o
pensamento da “guerra por vingança”, reguladora social,
segundo o autor no plano de uma perspectiva mágicoreligiosa.1 Cabe ainda demonstrar o ponto de vista de
Roberto Gambini em seu livro “O espelho índio: os
jesuítas e a destruição da alma indígena” sobre a questão
da antropofagia e a visão que tinham os autores do século
XVI desse ritual. Segundo o autor, é preciso relativizar e
comparar esses discursos com a questão da Eucaristia na
sociedade cristã.2 Além da suspeita com as características
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Resumos
maléficas de alguns hábitos e costumes dos indígenas, os
autores demonstraram em certos momentos um certo
tom de deslumbramento, para com as novas terras. Em
algumas vezes, é possível fazer uma aproximação entre a
utopia medieval conhecida como o fabliau da Cocanha,
escrito no século XIII, e os relatos produzidos por estes
viajantes. Entre as publicações que analisados sobre as
permanências do imaginário medieval no século XVI,
saliento o brilhante trabalho da historiadora Carmen
Licia Palazzo, “Entre mitos e utopias e razão: Os olhares
franceses sobre o Brasil (Séculos XVI – XVIII)”.
Nesta publicação, a pesquisadora faz uso do enfoque
teórico da longa duração, para perceber de que forma
as permanências do imaginário medieval transportam-se
para o Brasil.3 Para o europeu do século XVI que visitava
o litoral brasileiro, o indígena representava a figura do
outro por excelência. Este homem guardava em seu
bojo uma série de compreensões do distante geográfico,
principalmente em relação ao oriente e a Índia, terras onde
estavam depositadas os sonhos e devaneios da cristandade
ocidental. Como argumenta Laura de Melo e Souza,
o Brasil vai receber um imaginário bem estabelecido e
concreto em relação ao distante e o fantástico. Foram
projetados nas praias brasileiras os medos e sonhos
que estavam enraizados na mentalidade dos homens
europeus.4 As óticas católica e reformada divergem
em alguns pontos e convergem em outros ao tratar da
Terra Brasilis. Crentes na palavra de Deus, bem como
em suas interpretações particulares sobre o cristianismo,
transferiram para além-mar suas projeções que na
perspectiva desse trabalho transbordava o pensamento
do medievo, decifrando o outro para suas concepções
e deixando ecoar por entre suas produções literárias a
imagem de um passado de imagens fabulosas. Percebe-se
uma nova forma de observar o estudo dos primórdios do
Brasil no século XVI. Uma forma que se originou devida
as pacientes observações destes viajantes e a capacidade
que tinham suas férteis mentes de atrelar o desconhecido
com o horizonte mitológico, que não dificilmente,
confundia a estranha realidade da Terra Brasilis, com
ficções familiares. Thevet e Léry apresentaram para a
Europa do século XVI, uma terra onde seus medos se
encontravam com os seus mais divinos desejos. Um lugar
onde o sentimento de diferença e repulsa com relação ao
outro podia se reencontrar com o conforto de seus antigos
sonhos e pesadelos.
Palavras-chave: Brasil colônia; imaginário medieval;
representações permanências, o ”outro”.
1 FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade Tupinambá. São Paulo: Globo, 2006.
2 GAMBINI, Roberto. O espelho índio: os jesuítas e a destruição da alma
indígena. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1988 ; ver também: W.
Arens. The man-eating myth: anthropology & antropophagy. Eua:
Oxford University Press, 1980.
3 PALAZZO, Carmen Lícia. Entre mitos, utopias e razão: os olhares franceses
sobre o Brasil (séculos XVI a XVIII). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.
4 SOUZA, Laura de Mello. O diabo e a Terra de Santa Cruz.: feitiçaria
e religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo: Companhia das letras,
1986.
Tuiuti: Ciência e Cultura, n. 40, p. 55-541, Curitiba, 2009.
Pesquisa
ORAÇÕES HERÉTICAS NA VISITAÇÃO DO SANTO OFÍCIO AO ESTADO DO
GRÃO-PARÁ E MARANHÃO EM 1763
Alexandre Ribeiro Martins – PUC
No período setecentista, a metrópole lusitana estendeu, com muito zelo, a sua vigilância inquisitorial às terras
ultramarinas. Efetivamente a prática pastoral do Santo Ofício a terra Brasilis se deu por meio das chamadas
visitações, que, segundo Novinsky, foram em número maior do que se supunha1. Dentre elas, as quatro principais
visitações do Santo Ofício da Santa Inquisição:2 a primeira entre 1591-1595; a segunda entre 1618-1621; a terceira
em 1627, pouco conhecida, realizada no Rio de Janeiro “para dar continuidade à ação do tribunal do Santo Ofício
da Inquisição de Lisboa”3; e a quarta entre 1763-1769. A Visitação ao Estado do Grão-Pará e Maranhão em
1763, pelo visitador oficial Giraldo Joze de Abranches, outrora Inquisidor Apostólico da Inquisição de Évora,
enviado pela diocese de Lisboa, que, ao assinar a ata de comissão da visitação ao trópico, expõe a seriedade com
que seria promulgado o Ofício Divino: No delicto, E crime de herezia,E apoztazia, no de peccado nefando,
ou Em Outro qualquer, que pertença Ao Santo Officio da Inquizicão, tomar aprezentacoens E quais quer
denunciacoens e informacoens Testemunhadas Contras ellas E aSim Oz fautores, receptores, a defensores das
mesmas E pera que possa fazer, e faca Contra Oz culpados acada hum delles processos imforma descida de
Direyto, Sendo necessário Segundo a forma d aBulla da Inquizição e Breves Concedidos ao Santo officio,E pera
que possa prender Aos dittos Culpados, e Sentencialos Em final Conforme o regimento, e fazer todas as mais
couzas, que ao dito cargo de Inquizidor, e Vizitador do Santo Officio pertençen; E pera todo o Sobre ditto e
Suas dependências lhe cometemos, Nossas vezes, a damos inteyro poder4. Uma vez oficializada a visitação ao
Estado do Grão-Pará e Maranhão, várias foram as denúncias e confissões de heréticos acusados ou arrependidos,
contabilizando um total de 46 casos registrados em ata. Dentre eles, um tornar-se-á objeto de análise e pesquisa
para elaboração deste trabalho, perpassando as várias práticas heréticas, para lançarmos um olhar atento a
recitação de uma oração, cuja invocação referia-se a um santo católico, contudo, ressignificado pela crendice
popular, na Oração de Sam Marcos de Veneza. Esta oração encontra-se presente em três casos de confissão
registrado em ata: a , próprios dos autóctones, negros africanos, mulatos brasileiros e brancos portugueses.
Provavelmente, a questão central esteja focada na crendice popular colonial que não se pautava tanto na história
real do santo, mas em um imaginário que foi criado, perante a força de sua palavra, para então, interceder para o
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Resumos
sucesso amoroso do pedinte. Foi assim que aconteceu
com Manoel Pacheco de Madureyra, aos quatro dias
do mês de novembro de 1765, que, ao apresentar-se à
mesa inquisitorial, confessou que um índio forasteiro
havia lhe ensinado a oração de Sam Marcus, da seguinte
forma: de Manoel Pacheco5, de Manoel Nunes da Silva6
e de Lourenco Rodrigues7. Do ponto de vista teológico,
a oração “(...) é a elevação da alma a Deus ou o pedido a
Deus dos bens convenientes”8. É a forma que a criatura
estabelece relação com o Criador. Contudo, esta oração
não deveria acontecer deliberadamente, pois, “não
sabemos o que seja conveniente pedir”9. É por isto
que a Igreja, justificada pela inspiração do Espírito
Santo, tinha em suas fórmulas litúrgicas a maneira
correta de orar, conforme já dizia Santo Agostinho,
conscientizando que “o homem é o mendigo de
Deus”10. Em desdobramento a esta realidade, qualquer
manifestação de oração que não brotasse do seio da
Igreja, era vista com desconfiança pelos olhares atentos
dos cristãos responsáveis pela manutenção da fé em
detrimento as possíveis práticas de heresia. Invocado
como Sam Marcos de Veneza, o 34º papa católico,
Marcos, do ano de 336, é um santo italiano canonizado
do qual temos muito pouco acesso a sua história
oficial, já que pertencia ao cristianismo antigo carente
de fontes. Sua história foi certamente reinterpretada,
sendo subentendido nas orações como alguém que
acalmou leões com a palavra divina, provavelmente
porque foi confundido com um mártir ou ao menos,
com alguém que tivesse enfrentando um risco real
de martírio. Contudo, a sua história oficial em nada
menciona tais acontecimentos, mas sim, o de ser o
primeiro papa a documentalmente arquivar e divulgar
os nomes dos cristãos que morreram mártires, por
meio do Depositio martyrum11. A oração herética era
recitada sempre com um objetivo em comum: abrandar
o coração de uma mulher, fazendo-a apaixonar-se pelo
suplicante. Mas qual era a relação entre a invocação
do santo casto e o abrandamento do coração de
uma mulher? Segundo Roger Chartier, devemos nos
atentar “às estratégias simbólicas que determinam
posições e relações e que constroem, para cada classe,
grupo ou meio, um ‘ser percebido’ constitutivo de sua
identidade”12, efetivando representações. Conjecturar,
portanto, a indagação acerca do porquê desta
assimilação dicotômica, faz-nos compreender um signo
de pensamento teórico representativo, que estabelece
possibilidades de entendimento das modalidades
variáveis que discriminam categorias de significados13
São Marcus de Veneza te marque: JEsu Christo
teabrande a hostia consagrada te confirme: Santo,
Teror, Querer, Total: Marcus com osTouros bravos
encontrastes, com a vossa Santa palavra os abrandastes,
assim vos peço que abrandeis ocoração de fulana=14
Entretanto, Manoel Pacheco ao perceber que a oração
não surtira efeito algum, buscou compatibilizar-se
novamente a ortodoxia da fé católica por meio da
confissão. Da mesma forma aconteceu aos três dias do
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Pesquisa
mês de abril de 1766, na confissão de Manoel Nunes
da Silva, que cometeu o mesmo pecado, tangenciando
uma blasfêmia, já que pronunciara heresias. Instigado,
o confessor afirmou que após aprender a oração,
não hesitou em recitá-la: =Fulana Sam Marcos
deVeneza te Marque, a Hostia Consagrada EoEspirito
Santo meconfirma natua uontade, paraquetodos
tepareçam terra, E Eu So Fulano te pareça Perolas,
eDiamantes. Oh Gloriozo Sam Marcos, que aosaltos
montes Subistes aosTouros brauos encontrastes
Comoofa