bibliotecas, leituras e leitores: um estudo no contexto da

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bibliotecas, leituras e leitores: um estudo no contexto da
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS
BIBLIOTECAS, LEITURAS E LEITORES:
UM ESTUDO NO CONTEXTO DA UFMT
CUIABÁ-MT
2012
CARLOS HENRIQUE TAVARES DE FREITAS
BIBLIOTECAS, LEITURAS E LEITORES:
UM ESTUDO NO CONTEXTO DA UFMT
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Federal
de Mato Grosso como requisito para a obtenção
do título de Mestre em Educação na Linha de
Pesquisa Organização Escolar, Formação e
Práticas Pedagógicas, Grupo de Pesquisa,
Tecnologias da Informação e Comunicação na
Educação.
Orientadora: Profa Dra Kátia Morosov Alonso.
Co-orientador: Prof. Dr. Cristiano Maciel.
CUIABÁ-MT
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.
F866b
Freitas, Carlos Henrique Tavares de.
Bibliotecas, leituras e leitores : um estudo no contexto da UFMT / Carlos
Henrique Tavares de Freitas. – 2012.
312 f. : il. (algumas color.) ; 30 cm.
Orientadora: Kátia Morosov Alonso.
Co-orientador: Cristiano Maciel.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de
Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação, 2012.
Inclui bibliografia.
1. Leitura. 2. Leitor meditativo. 3. Leitor imersivo. 4. Biblioteca universitária.
5. Bibliotecas digitais. 6. Bibliotecas virtuais. 7. Tecnologias da Informação e
Comunicação. 8. Ciberespaço. 9. Biblioteca Central da UFMT. I. Título.
CDU 028-051:004.738.5(817.2)
Ficha catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Carlos Henrique T. de Freitas. CRB-1: 2.234.
Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.
DEDICATÓRIA
À minha mãe, Iraci Tavares de Freitas, pelo amor, carinho e atenção que sempre me
dedicou e dedica, mesmo à distância.
Ao meu pai, Nicanor Pires de Freitas, exemplo que serve de inspiração para
trabalhar, insistir e lutar por uma vida melhor e de modo digno.
Aos meus irmãos, Márcio Tavares de Freitas, Jerry Tavares de Freitas, Roberto
Tavares de Freitas, e à minha irmã igualmente querida, Marcela Tavares de Freitas, por tudo o
que representam em minha vida.
Aos meus sobrinhos queridos, Hugo Cézar, Ana Lethícia, Ana Carolina e Arthur
Felipe, com os quais não tenho a possibilidade de conviver mais devido à distância e ao
trabalho, mas que, assim como todos os meus familiares, estão sempre presentes em meu
coração.
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela saúde, pelos amigos e pela oportunidade de estar nesse momento
concluindo um curso de mestrado.
À minha família, meus pais, irmãos, sobrinhos e outros parentes, por tudo de bom
que representam na minha vida.
À Professora Doutora Kátia Morosov Alonso, por acreditar em minha capacidade e
dedicar seu tempo e atenção para me auxiliar na construção deste conhecimento.
Conhecimento este que não seria possível sem orientações muito importantes que
demonstram um equilíbrio de erudição e sabedoria que servem de base para o crescimento de
seus orientandos.
Ao professor Doutor Cristiano Maciel, pela atenção, orientações, apoio e confiança
que sempre inspirou durante todo o curso de mestrado. Professor e pesquisador dedicado que
mesmo com muitas responsabilidades, sempre conseguiu auxiliar muito seus co-orientandos.
Se eu posso ser digno de algum mérito, grande parte do mesmo se deve à presença
destes dois importantes professores que conheci e me inspiraram muito nestes dois últimos
anos, quando eu voltei novamente a me dedicar à atividade pesquisa, pela qual nunca deixei
de me interessar.
Aos amigos do Grupo de Pesquisa Tecnologias da Informação e Comunicação na
Educação, Valtrícia Lucelita Frozi, Francisco Carlos Nogueira, Ana Paula Kuhn, entre outros
com os quais tive a oportunidade de discutir questões importantes relacionadas às pesquisas
em andamento, enquanto também construía grandes amizades.
Aos meus amigos da Biblioteca Central da UFMT, aos quais agradeço pela amizade,
confiança, profissionalismo e apoio durante o período em que trabalho nesta Unidade. Eu
iniciei a pesquisa neste ambiente com a perspectiva de contribuir com o desenvolvimento
deste setor importante para a UFMT. Agora, terminando o curso e em um novo momento
profissional, posso contribuir ainda mais com a biblioteca e a instituição. Mas sem o apoio
destas pessoas importantes, muita coisa não seria possível nesta empreitada. Por tudo isso e
pela amizade de todos, meus sinceros agradecimentos.
A todas as pessoas que colaboraram com a pesquisa, usuários/leitores da Biblioteca
Central da UFMT, sem os quais, não seria possível conhecer e produzir conhecimento.
A todos os demais amigos, colegas de curso e outros, incluindo aqueles que, por
alguma falha minha, eu não tenha me recordado nesse momento, meus sinceros
agradecimentos.
Desde Alexandria, o sonho da biblioteca universal
excita as imaginações ocidentais [...] Com o texto
eletrônico, a biblioteca universal torna-se inimaginável
(senão possível) sem que, para isso, todos os livros
estejam reunidos em um único lugar. Pela primeira
vez, na história da humanidade, a contradição entre o
mundo fechado das coleções e o universo infinito do
escrito perde seu caráter inelutável.
(Roger Chartier)
Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.
(Renato Russo)
RESUMO
As Tecnologias da Informação e Comunicação são elementos importantes para o acesso à
informação, a produção de novos conhecimentos e o desenvolvimento científico, estando
presentes também no contexto do ensino superior e no ambiente das bibliotecas universitárias,
tanto como recursos de informatização dos serviços técnicos e da gestão destas Unidades,
quanto no desenvolvimento de produtos e serviços baseados em conteúdos digitais de
informação. Nesse sentido, este estudo tem por objetivo investigar as características dos
leitores e dos tipos de leitura desenvolvidos na Biblioteca Central da Universidade Federal de
Mato Grosso, considerando que, atualmente, os recursos de leitura e pesquisa tradicionais
dividem espaço com novos produtos e serviços, influenciados pelas Tecnologias da
Informação e Comunicação. Para tanto, envolve uma pesquisa exploratória baseada em uma
abordagem qualitativa, tendo como instrumentos de coleta de dados, a observação, o
questionário, a entrevista estruturada e a observação participante. A pesquisa de campo foi
dividida em duas etapas principais, sendo a primeira, a elaboração de um perfil
socioeconômico e cultural, e a segunda etapa, a realização de entrevistas e observações dos
processos de navegação dos usuários/leitores da biblioteca. Na primeira etapa, entre outros
aspectos, observamos que os leitores da Biblioteca Central correspondem a um público
diversificado e dinâmico, composto, em sua maioria por alunos de cursos de graduação que se
encontram cadastrados no Sistema Pergamum. A maioria dos usuários/leitores utiliza a
biblioteca frequentemente, sendo constatada também uma quantidade significativa de
visitantes que utilizam o ambiente de estudo para concursos e similares. A pesquisa
acadêmica corresponde à maior razão de uso da biblioteca e, quanto aos produtos e serviços,
observou-se que os livros, a consulta local, o serviço de circulação de materiais bibliográficos
e a utilização do ambiente para estudo são os recursos mais utilizados pelos leitores, havendo
um baixo índice de uso das Tecnologias da Informação e Comunicação no ambiente da
biblioteca, bem como dos serviços informatizados. A segunda fase da investigação
compreendeu três momentos: abordagem dos sujeitos (quando ocorreu o agendamento das
entrevistas e observações), entrevista estruturada e observação participante. As entrevistas
envolveram questões referentes às características dos leitores, suas relações com as
tecnologias, com o ciberespaço, produtos e serviços da Biblioteca Central. A observação
participante explorou a solução de três problemas de navegação propostos aos pesquisados,
qual seja, a realização de uma pesquisa genérica, a realização de uma pesquisa acadêmica e a
exploração dos serviços on-line da Biblioteca Central (pesquisas no catálogo eletrônico,
reservas, renovações etc.). Concluiu-se que todos os usuários pesquisados nesta etapa do
estudo apresentaram características de leitores imersivos, mas alguns também se destacaram
como leitores meditativos, sendo que estes perfis são influenciados pelo ambiente, situação e
objetivos de pesquisa, bem como pela cultura dos leitores. Além disso, se por um lado, o fato
de serem leitores imersivos não significa que prefiram utilizar apenas o ciberespaço, em
detrimento dos livros e demais materiais impressos, esta mesma prerrogativa também não
significa que estes leitores conhecem, dominam e utilizam amplamente os serviços eletrônicos
da Biblioteca Central da UFMT.
Palavras-Chave: Leitura. Leitor meditativo. Leitor imersivo. Biblioteca universitária.
Bibliotecas digitais. Bibliotecas virtuais. Tecnologias da Informação e Comunicação.
Ciberespaço. Biblioteca Central da UFMT.
ABSTRACT
The Technologies of the Information and Communication are important elements for the
access to the information, the production of new knowledge and the scientific development,
being present also in the context of the higher education and in the environment of the
academical libraries, as much as resources of computerize of the technical services and of the
administration of these Units, as in the development of products and services based on digital
contents of information. Thereby, this study has for objective to investigate the readers'
characteristics and of the reading types developed at the Central Library of the Mato Grosso
Federal University, considering that, nowadays, the reading resources and traditional research
divide space with new products and services, influenced by the Technologies of the
Information and Communication. Accordingly it involves an exploratory research based in a
qualitative approach, tends as instruments of collection of data, the observation, the
questionnaire, the structured interview and the participant observation. The field research was
divided in two main stages, the first main was the elaboration of a socioeconomic and cultural
profile, and the second stage was the accomplishment of interviews and observations of the
processes of navigation of the users/readers of the library. In the first stage, among other
aspects, we observed that the readers of the Central Library correspond to a diversified and
dynamic public, composed, in its majority for students of degree courses that they are
registered in the Pergamum System. Most of the users/readers uses the library frequently,
being also verified a significant amount of visitors that use the environment study for contests
and similar. The academic research corresponds to the largest reason of use of the library and,
and the products and services, it was observed that the books, the local consultation, the
service of circulation of bibliographical materials and the use of the atmosphere for study are
the resources more used by the readers, having a low index of use of the Technologies of the
Information and Communication in the environment of the library, like of the computerized
services. The second phase of the investigation understood three moments: approach of the
subjects (when it happened the scheduling of the interviews and observations), structured
interview and participant observation. The interviews involved questions about the readers'
characteristics, their relationships with the technologies, with the cyberspace, products and
services of the Central Library. The participant observation explored the solution of three
navigation problems proposed to those researched: the accomplishment of a generic research,
the accomplishment of an academic research and the exploration of the on-line services of the
Central Library (researches in the electronic catalog, reservations, renewals etc.). It was
concluded that all of the users researched in this stage of the study presented characteristics of
immersive readers, but some readers also stand out like a meditative readers, and these
profiles are influenced by the atmosphere, situation and research objectives, as them culture.
Besides, on the hand, the fact of they be immersive readers it doesn't mean that they prefer
just use the cyberspace, to the detriment of the books and too much materials printed papers,
this same prerogative doesn't also mean that these readers know, they dominate and they use
the electronic services of the Central Library of UFMT thoroughly.
Keywords: Reading. Meditative reader. Immersive Reader. Academical library. Digital
libraries. Virtual libraries. Technologies of the Information and Communication. Cyberspace.
Central Library of UFMT.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Evolução tecnológica da biblioteca. .................................................................... 44
Figura 2 - Vista aérea da UFMT. ....................................................................................... 124
Figura 3 - Vista da parte da frente da Biblioteca Central da UFMT. .................................. 125
Figura 4 - Mapa do Campus da UFMT de Cuiabá-MT. ..................................................... 127
Figura 5 - Servidores na Gerência de Processos Técnicos (GPT) da Biblioteca Central. .... 128
Figura 6 - Catálogo on-line do Sistema de Bibliotecas da UFMT,
utilizando o software Pergamum. ..................................................................... 129
Figura 7 - Organograma da Biblioteca Central da UFMT. ................................................. 131
Figura 8 - Acervo bibliográfico do 4º Piso da Biblioteca Central da UFMT. ...................... 132
Figura 9 - Acervo bibliográfico do 5º Piso da Biblioteca Central da UFMT. ...................... 133
Figura 10 - Acessos ao Portal de Periódicos da CAPES na UFMT (2001-2009). ............... 135
Figura 11 - Usuários/leitores acessando a Internet nos Computadores da Biblioteca
Central. ........................................................................................................... 140
Figura 12 - Categorias de usuários da Biblioteca Central da UFMT................................... 164
Figura 13 - Percentual de Usuários da Biblioteca Central da UFMT. ................................. 167
Figura 14 - Frequência de uso da Biblioteca Central da UFMT. ........................................ 167
Figura 15 - Finalidade de uso da Biblioteca Central da UFMT. ......................................... 168
Figura 16 - Produtos mais utilizados na Biblioteca Central da UFMT................................ 170
Figura 17 - Serviços mais utilizados na Biblioteca Central da UFMT. ............................... 171
Figura 18 - Utilização de microcomputador....................................................................... 173
Figura 19 - Meios de comunicação mais utilizados. ........................................................... 175
Figura 20 - Recursos da Internet mais utilizados. .............................................................. 176
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Características das Gerações. .......................................................................... 110
Quadro 2 - Quantitativo de Cursos de Graduação oferecidos pela UFMT. ......................... 126
Quadro 3 - Quantitativo de Cursos de Pós-Graduação oferecidos pela UFMT. .................. 126
Quadro 4 - Acervo bibliográfico do Sistema de Bibliotecas da UFMT. ............................. 130
Quadro 5 - Acervo bibliográfico da Biblioteca Central da UFMT. .................................... 132
Quadro 6 - Acessos ao Portal de Periódicos da CAPES na UFMT (2001-2010). ............... 134
Quadro 7 - Indicadores de uso da Biblioteca Central da UFMT em 2011. ......................... 138
Quadro 8 - Distribuição dos questionários aplicados e respondidos (1ª fase da pesquisa). . 163
Quadro 9 - Critérios observados nas entrevistas e nos processos de navegação.................. 179
Quadro 10 - Quantitativo de empréstimos realizados pelos usuários/leitores
entrevistados até 2011. .................................................................................. 192
Quadro 11 - Características do usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT. ............. 218
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPEd
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
BDTD
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações
BC/UFMT
Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso
BIBES
Bibliotecas de Instituições Brasileiras de Ensino Superior
CAPES
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CAT
Coleção Amidicis Tocantins
CBBU
Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias
CCN
Coleção Cesário Neto
CDB
Coleção Documentos Brasileiros
CGL
Coleção Gervásio Leite
CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
COLE
Congresso de Leitura do Brasil
CTR
Coleção Tongate Rodrigues
CUA
Campus Universitário do Araguaia
CUR
Campus Universitário de Rondonópolis
CUS
Campus Universitário de Sinop
DSpace
Institutional Digital Repository System
DSI
Disseminação Seletiva da Informação
ENDIPE
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
FAeCC
Faculdade de Administração e Ciências Contábeis
FD
Faculdade de Direito
FEA-USP
Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de
São Paulo
Federação Brasileira das Associações de Bibliotecários, Cientistas da
Informação e Instituições
FEBAB
FINEP
Financiadora de Estudos e Projetos
GDPE
Gerência de Documentação e Programas Especiais
GSL
Gerência de Serviços ao Leitor
GPT
Gerência de Processos Técnicos
GT
Grupo de Trabalho
HUJM
Hospital Universitário Júlio Müller
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBICT
Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
ICHS
Instituto de Ciências Humanas e Sociais
IE
Instituto de Educação
IEEE
Institute of Electrical and Electronic Engineers
IES
Instituições de Ensino Superior
IL
Instituto de Linguagens
Inep
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
ISC
Instituto de Saúde Coletiva
LêTECE
Laboratório de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação
na Educação
MEC
Ministério da Educação
NEDIHR
Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional
OPAC
Online Public Access Catalog
PROSSIGA
Programa de Informação e Comunicação para a Pesquisa
PUC
Pontifícia Universidade Católica
SEER
Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas
SciELO
Scientific Electronic Library Online
OJS
Open Journal Systems
RI
Repositório Institucional
STI/UFMT
TIC
Secretaria de Tecnologia da Informação da Universidade Federal de Mato
Grosso
Tecnologias da Informação e Comunicação
UB
Universidade do Brasil
UDF
Universidade do Distrito Federal
UESB
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UFMT
Universidade Federal do Mato Grosso
UNESCO
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USP
Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 15
2. AS BIBLIOTECAS E A LEITURA .............................................................................. 24
2.1 Interfaces entre a Ciência da Informação e a Ciência da Educação.................................. 25
2.2 Aspectos do Contexto Histórico das Bibliotecas ............................................................. 30
2.3 As Bibliotecas na Era da Informação .............................................................................. 38
2.4 A Biblioteca Virtual e as Novas Possibilidades de Acesso ao Conhecimento .................. 43
2.5 A Biblioteca Universitária no Brasil ............................................................................... 51
2.5.1 Organização do Conhecimento .................................................................................... 62
2.5.2 Produtos e Serviços de Informação .............................................................................. 67
2.6 Pressupostos Teóricos do Processo de leitura ................................................................. 72
2.6.1 Aspectos Conceituais do Ato de Ler ............................................................................ 74
2.6.2 Leitura na Escola ......................................................................................................... 85
2.6.3 A Biblioteca e o Incentivo à Leitura ............................................................................ 94
2.6.4 Novos Leitores para uma Nova Biblioteca ................................................................. 107
3 A BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT ..................................................................... 124
3.1 Acervo Bibliográfico .................................................................................................... 131
3.2 Produtos e Serviços ...................................................................................................... 136
3.3 Indicadores de Uso da Biblioteca Central ..................................................................... 137
4 O PERCURSO DA PESQUISA .................................................................................... 142
4.1 Critérios da Pesquisa: Primeira Etapa ........................................................................... 152
4.2 Critérios da Pesquisa: Segunda Etapa ........................................................................... 153
4.2.1 Etapas das Entrevistas/Observações........................................................................... 155
4.3 O Escopo da Pesquisa Bibliográfica ............................................................................. 158
5 REFLEXÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA ................................................... 162
5.1 Perfil Socioeconômico e Cultural dos Usuários/Leitores da Biblioteca Central ............. 163
5.2 Considerações Sobre as Entrevistas e Observações ....................................................... 177
5.2.1 Os Processos de Leitura............................................................................................. 181
5.2.2 Os Leitores e o Ciberespaço ...................................................................................... 195
5.2.3 A Biblioteca Central e os Serviços On-Line ............................................................... 205
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 210
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 224
APÊNDICE A - Perfil Socioeconômico e Cultural dos Usuários/Leitores
da Biblioteca Central da UFMT.............................................................. 234
APÊNDICE B - Instrumento Particular de Autorização de Uso de Imagem,
Som e Voz, Dados e Informações Coletadas............................................ 240
APÊNDICE C - Tópicos da Entrevista Estruturada ........................................................... 243
APÊNDICE D - Transcrição dos Dados Coletados por meio da Entrevista
Estruturada e dos Processos de Navegação ............................................. 246
APÊNDICE E - Endereços Eletrônicos de Bibliotecas Digitais e Virtuais ......................... 310
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1 INTRODUÇÃO
Este estudo tem por interesse analisar as características dos leitores e dos tipos de
leitura diante da influência das TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) no contexto
da Biblioteca Central da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), buscando também
contribuir para com o desenvolvimento dos produtos e serviços de informação da própria
biblioteca, uma vez que colabora para delinear o perfil de seus leitores.
Na sociedade contemporânea, a informação flui com maior intensidade e por meio de
diversos outros recursos não convencionais, caracterizando um novo processo, marcado, por
um lado, pelo seu reconhecimento como insumo indispensável para o desenvolvimento
humano, e por outro, pelo desenvolvimento acelerado dos processos comunicativos, em que o
imperativo tecnológico e a mediação do acesso à informação, agem como mecanismos de
ligação entre o acervo crescente de conhecimentos e os indivíduos que deles necessitam.
Nesse ambiente, as bibliotecas, que antigamente desempenhavam principalmente
atividades voltadas para a “guarda” e “preservação” de documentos, passam a atuar cada vez
mais como grandes sistemas de informação, operando em redes, utilizando novos recursos
tecnológicos e informacionais, e provendo novos produtos e serviços de informação que as
tornam centros ativos para a “disseminação e produção de novos conhecimentos”.
Dessa forma, as TIC vêm contribuindo para uma transformação no ambiente das
bibliotecas universitárias, tanto em termos de informatização de seus recursos de gestão,
processos e serviços básicos, quanto no que concerne aos próprios conteúdos digitais de
informação que emergem e se proliferam constantemente (bancos e bases de dados,
bibliotecas digitais, periódicos eletrônicos etc.), exercendo influências sensíveis sobre os
usuários/leitores, o que nos permite lançar questionamentos da seguinte ordem:
Quais as principais características dos leitores e dos tipos de leitura desenvolvidos na
Biblioteca Central da UFMT? Estes leitores são, sobretudo, leitores meditativos (tradicionais),
moventes ou mesmo imersivos (que utilizam os recursos do ciberespaço para suas atividades
de leitura e pesquisa)? É possível compreender esse tipo de leitura apenas como um processo
básico de decifração letrada, ou, nesse contexto, a leitura pode ser concebida sob uma
perspectiva ampliada, que não se limita exclusivamente aos livros e demais materiais em que
impera uma leitura sequencial?
16
Questões dessa natureza não podem ser ignoradas, uma vez que a universidade é um
ambiente essencial para o desenvolvimento científico, a produção de novos conhecimentos e a
transformação da sociedade, e a leitura e a pesquisa, por sua vez, são pontos de partida para a
multiplicação do conhecimento humano, ancoradas nas bibliotecas como instituições que se
dedicam à organização, processamento e comunicação desse conhecimento.
Desse modo, o Objetivo Geral deste estudo é analisar as principais características dos
leitores e dos tipos de leitura desenvolvidos na Biblioteca Central da UFMT, diante da
influência das TIC e demais recursos do ciberespaço, o que repercute nos diversos produtos e
serviços de informação e, portanto, nas próprias atividades de leitura e pesquisa.
Além disso, considerando que para se atingir este objetivo maior, são necessárias
algumas etapas ou partes importantes para a condução da pesquisa, elencamos a seguir os
seguintes Objetivos Específicos:
Analisar a literatura especializada referente às bibliotecas, ao livro, à leitura e aos
produtos e serviços informacionais em bibliotecas, numa perspectiva histórica;
Identificar as principais transformações resultantes da aplicação das TIC em
bibliotecas universitárias;
Caracterizar a Biblioteca Central da UFMT;
Investigar o perfil socioeconômico e cultural dos usuários/leitores da Biblioteca
Central.
Investigar
as
principais
características
da
leitura
desenvolvida
pelos
usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT;
Identificar o perfil dos usuários da Biblioteca Central, seus interesses de pesquisa
e leitura, bem como formas de utilização dos recursos disponíveis, entre outras
características;
Contribuir com o desenvolvimento dos produtos e serviços de informação da
Biblioteca Central da UFMT.
A Universidade tem no ensino, na pesquisa e na extensão, seu principal objetivo, e as
bibliotecas universitárias são unidades que devem contribuir para com estas funções. O
público deste tipo de biblioteca compreende principalmente a comunidade acadêmica
universitária, composta por alunos de cursos de graduação e pós-graduação, professores e
17
funcionários. Assim, os produtos e serviços da biblioteca universitária devem ser voltados
para esses usuários/leitores, que buscam, neste ambiente, informações que atendam suas
necessidades de pesquisa acadêmica.
Recentemente, tem se proliferado no meio acadêmico e científico discussões e
estudos envolvendo automação de bibliotecas, bibliotecas virtuais, digitalização de
documentos e acervos, acesso livre a publicações, entre outros. Estas preocupações, embora
relativamente recentes, não apresentam, contudo, menor relevância em relação a questões
consideradas tradicionais para as bibliotecas.
Dessa forma, investigar as questões referentes às TIC no ambiente das bibliotecas
universitárias, no que se refere aos leitores, à leitura e aos produtos e serviços de informação,
evidencia também uma busca particular por um olhar e compreensão adequados desse
cenário, deixando de lado o senso comum e a suposição para chegar a resultados científicos
palpáveis, coerentemente com o estado-da-arte da moderna biblioteca universitária.
Do ponto de vista institucional, este estudo torna-se relevante para Biblioteca
Central, bem como para a Universidade Federal de Mato Grosso, na medida em que pode
contribuir com o desenvolvimento de um setor muito importante para a ampliação do
conhecimento da comunidade acadêmica universitária.
Embora seja evidente que muitas pessoas ainda não têm acesso a todos os benefícios
que a tecnologia pode proporcionar (inclusive acesso à Internet), é importante pontuar que as
inovações tecnológicas já estão bastante presentes na sociedade. Por conseguinte, as
bibliotecas não podem ignorar este fato, principalmente as bibliotecas universitárias que
devem inovar constantemente para atender a uma comunidade de usuários que necessita
acessar informações atualizadas, utilizar recursos tecnológicos que contribuam para suas
pesquisas/estudos, de modo que possam multiplicar seus conhecimentos no ambiente
universitário e estender esse conhecimento à sociedade de que fazem parte.
O interesse pessoal sobre o tema decorre de minha própria história de leitura. Cursei
o então chamado Primeiro Grau na Escola Mista Rural Santo Antônio de Pádua, localizada no
Distrito de Placa de Santo Antônio, Município de Juscimeira (entre as cidades de Juscimeira e
Santa Elvira), em Mato Grosso. Neste ambiente escolar tradicional, convivi com as limitações
da pequena escola, onde tínhamos que aprender por meio de atividades repetitivas e da
decoração de textos. A leitura, nesses momentos, era baseada principalmente no livro didático
18
e trabalhada em sala de aula como uma obrigação, não muito distante das atividades de
decoração da tabuada e de memorização de respostas de questionários.
Eram comuns atividades de leitura em dupla, em que um aluno lia até um ponto da
história e o outro, que acompanhava com os olhos, continuava a leitura. Esse tipo de leitura
apresentava um aspecto negativo, pois desde cedo, as atividades de leitura eram trabalhadas
como uma obrigação desinteressada.
Por outro lado, foi nesse ambiente em que fui alfabetizado que me formei como leitor
e pude me lançar em outros caminhos de leitura; por isso, considero que, independente das
condições, pude absorver positivamente os principais aspectos da alfabetização, que também
(e principalmente) foi fruto do valioso esforço de meus pais em manter seus cinco filhos
estudando ao mesmo tempo.
Mas após aprender a decodificação da palavra, das frases e dos parágrafos, daí a se
aventurar em outras leituras era uma questão relativa, sobretudo sendo esta aventura, algo
espontâneo. A Escola Santo Antônio de Pádua, não tinha biblioteca e não tive contato com
muita coisa além do material escolar básico e dos livros didáticos trabalhados em sala de aula.
Além disso, o acesso aos livros era algo praticamente impossível em um pequeno vilarejo em
que sequer havia livrarias e bibliotecas públicas. As limitações financeiras de minha família
era outro fator que pesava.
Nesse cenário, o que mais me interessou na leitura foram os gibis, que conheci por
intermédio de meus irmãos. Logo me tornei um leitor fluente e ávido por diversos tipos de
histórias de quadrinhos, desde as histórias infantis da Turma da Mônica, personagens da
Disney e outros, até histórias de faroeste, suspense e aventura, como Tex, Zagor e Akim.
Provavelmente a leitura tenha se tornado um vício, uma vez que cheguei ao ponto de ler todos
os gibis que tinha em casa, além dos gibis emprestados por amigos (gibis que não eram
poucos).
Esse tipo de leitura popular, financeiramente mais acessível, era ao mesmo tempo um
objeto de interesse, curiosidade e imaginação, enquanto contribuía para me tornar fluente e
dinâmico no ato de ler. E como era comum nessa época, os filmes de ação eram outra atração
para as crianças de minha idade, sendo outra aventura que me prendia a atenção, embora
desde cedo também eu já houvesse começado a trabalhar para ajudar meus pais.
Nessa época, tínhamos uma televisão (que ainda era um pouco cara) e com as
histórias em quadrinhos que lia, os filmes, desenhos animados e todas as outras coisas que
19
assistia na TV, eu não imaginava naquela época, exceto pelos filmes de ficção, que os
computadores um dia ocupariam tanto espaço no meu cotidiano e que seria capaz de
influenciar tanto as atividades de leitura, pesquisa e trocas de informação das pessoas. A título
de curiosidade, neste momento de minha vida ainda não sabia o que era ou viria a ser a
Internet, nem mesmo pelos programas de televisão.
Entre o fim da infância e o início de minha adolescência, os primeiros filmes de que
me recordo que mostravam computadores ou outros recursos tecnológicos, os apresentavam
em meu universo particular como coisas fantásticas e, evidentemente, eu não considerava que
teria acesso a recursos dessa natureza, ou, talvez, não tão rápido como aconteceu logo no final
da minha adolescência quando me mudei para Rondonópolis.
Desse modo, me formei como leitor tradicionalmente, no banco da escola com os
exercícios de alfabetização, partindo do desenho das letras e da pronuncia de seus sons para a
escrita das palavras e a montagem de frases que aprendi a ler e a escrever, avançando de
acordo com os períodos e programas de ensino tradicionais. Mas foi com a leitura de gibis,
que entrelaçavam as imagens e as histórias de fantasia, que realmente me tornei um leitor,
lendo fluente e interessadamente e buscando o sentido para as coisas. Com isso, eu tanto
podia ler mais rápido, como mais devagar, conforme quisesse apreciar a história e as imagens,
ou mesmo tentar entender melhor alguma parte.
Mesmo tendo sido alfabetizado e aprendido a ler na escola, foi fora dela que me
tornei de fato um leitor. Infelizmente, anos mais tarde, como estagiário do Curso de
Biblioteconomia do Campus de Rondonópolis, pude ver que alguns alunos da rede pública de
ensino também não tinham na escola, um local atrativo para se tornarem leitores. Não é difícil
localizar ambientes em que a biblioteca escolar incorpora ainda uma aura de punição, como
um local reservado para colocar os alunos de castigo, ou mesmo para desenvolver tarefas
rotineiras de cópias e leituras de forma disciplinada, parecidas com aquelas de minha infância.
Mas bons exemplos também existem e podem ser encontrados em várias escolas, uma vez que
a leitura, enquanto prazer, lazer e objeto de crescimento cultural, também tem na escola e na
biblioteca, ambientes propícios para sua propagação.
Provavelmente a Internet tenha despertado meu interesse por ter apresentado
algumas características que estiveram bastante presentes na minha história de leitor: a
primeira, é a mescla de imagens e texto, pois a leitura no ciberespaço é uma leitura que se
desvela na tela dos computadores (TOSCHI, 2010).
20
Embora se assemelhe um pouco à televisão, uma das primeiras tecnologias da
informação com que tive contato, o aspecto inovador e midiático proporcionados pela Internet
também chamou a atenção, tanto pelas suas novas possibilidades quanto por minha
experiência anterior de leitura e informação: era como se pudesse juntar ao mesmo tempo os
recursos das histórias em quadrinhos com a televisão, porém, indo muito além de tais
recursos, pois a leitura no ciberespaço é carregada de imagens e altamente interativa.
Além disso, as TIC e o ciberespaço assinalavam uma transformação cultural e,
portanto, para minha geração, era uma novidade atraente, sedutora. A amplitude do
ciberespaço, que parece dar corpo às fantasias que antes eram comuns na literatura ou nos
filmes de ficção, enquanto abre as portas para novos recursos hipermidiáticos é algo que
seduz as pessoas de diversas gerações e isso não foi diferente comigo.
Assim, embora até o final da adolescência eu não tenha tido muito acesso às TIC e à
Internet, estes recursos despertaram minha atenção e suas novas possibilidades de leitura e
interação podem ser comparados aos efeitos causados pelas primeiras leituras de gibis em que
me aventurei. Ainda que por conta de minhas condições financeiras tenha utilizado estes
recursos com mais frequência tardiamente, os mesmos foram assimilados sem muitas
dificuldades e fui me tornando aos poucos um leitor imersivo.
Desse modo foi que, ao ingressar no Curso de Biblioteconomia da UFMT, despertei
mais interesse pelas disciplinas que envolviam as novas tecnologias, como por exemplo,
Informática Documentária, e Serviços e Produtos de Informação. Ou seja, ao ingressar no
Ensino Superior, eu já tinha um interesse natural pelas TIC e esse gosto também veio se
moldando na minha área de formação profissional ao longo da fase acadêmica.
Nesse momento em que os interesses pessoais se entrelaçaram com os interesses
acadêmicos, espontaneamente eu me dedicava mais à temática das TIC aplicada às
bibliotecas, questão que alimentava um desejo natural de saber, estimulava a imaginação e
abria novas perspectivas profissionais na área da Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Por essa razão, ainda na graduação, participei de um Grupo de Pesquisa da UFMT,
(que na época se denominava Estudos Avançados em Informação), participei do Projeto
Biblioteca Digital de Teses e Dissertações e desenvolvi um trabalho de conclusão de curso
sobre bibliotecas virtuais (FREITAS, 2006).
Nesse sentido, meu interesse pessoal em desenvolver esta pesquisa tem raízes na
minha história de vida e na minha história particular de leitura e se consolida com o
21
descobrimento e uso das TIC, que contribuíram para despertar também meu interesse
acadêmico por este tema. Embora atualmente se reconheça que o acesso e uso das TIC tenha
uma conotação cultural muito forte para as novas gerações, desconsiderando esta história
particular, provavelmente em outras condições, eu não tivesse me interessado por este mesmo
objeto de estudo.
Por outro lado, proveniente do período de graduação em Biblioteconomia, o interesse
acadêmico por esta pesquisa, foi ampliado e renovado no Curso de Mestrado em Educação da
UFMT, especificamente no Grupo de Pesquisa “Tecnologias da Informação e Comunicação
na Educação”, justamente em um momento que me encontro trabalhando em uma biblioteca
universitária.
O relacionamento com o este grupo de pesquisa evidencia uma aproximação teórica
entre a Biblioteconomia e a Educação em um ponto que é comum às duas áreas e ao mesmo
tempo não é exclusivo de nenhum campo do saber: As Tecnologias da Informação e
Comunicação. Significativamente presentes na área da Biblioteconomia e Ciência da
Informação, as TIC constituem no Mestrado em Educação uma área de pesquisa
interdisciplinar bastante relevante tanto para a Educação quanto para as demais áreas com as
quais estabelece interface por meio das pesquisas e da produção de conhecimentos científicos.
Do lado da Ciência da Informação, além das TIC (que influenciaram o próprio
surgimento dessa área), outra característica que contribui para reforçar uma aproximação com
a área de Educação é a sua própria natureza interdisciplinar (LE COADIC, 2004), ou seja, os
estudos nessa área perpassam as fronteiras tradicionais das disciplinas, numa perspectiva
colaborativa, em que as interações podem contribuir para a construção de um conhecimento
mais amplo e significativo para ambas as áreas envolvidas, embora o objeto de estudo possa
ser investigado com ênfase, sobretudo, em uma ou outra área.
Além disso, especificamente o Grupo de Pesquisa “Tecnologias da Informação e
Comunicação na Educação” se situa em uma área de fronteira, pois lida com pesquisas
igualmente interdisciplinares por envolver as TIC, que estão presentes em todos os setores da
atividade humana.
Desta interação interdisciplinar, pode surgir, assim, um conhecimento ampliado e
significativo para as três vertentes envolvidas nessa pesquisa: A Computação, a
Biblioteconomia (e Ciência da Informação) e a Educação, sendo esta última a área em que o
enfoque do estudo é maior, uma vez que é interesse desta pesquisa conhecer o leitor e a leitura
22
desenvolvida na Biblioteca Central, não se pautando apenas no uso dos produtos e serviços,
nem na tecnologia destes produtos, mas na forma como os usuários se relacionam com tais
recursos, sobretudo enquanto leitores.
Convém ressaltar que o presente trabalho também está alinhado às investigações do
Grupo de Pesquisa “Laboratório de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e
Comunicação na Educação – LêTECE1”, que entende que as TIC podem contribuir
positivamente para o avanço do conhecimento no contexto educacional.
Sobre a pesquisa de campo, é importante ressaltar que mesma está dividida em duas
etapas principais, sendo a primeira a identificação de um “Perfil Socioeconômico e Cultural
dos Usuários/Leitores da Biblioteca Central” e, a segunda etapa, a realização de
entrevistas/observações com um grupo representativo desses mesmos leitores.
Por outro lado, quanto à estrutura do presente trabalho, o mesmo está organizado em
uma parte introdutória, a qual é seguida de um capítulo amplo, referente ao estudo teórico que
dá sustentação à pesquisa (capítulo 2), de um capítulo referente à contextualização da
Biblioteca Central da UFMT (capítulo 3), do percurso metodológico da pesquisa (capítulo 4),
das reflexões sobre os dados coletados (capítulo 5) e, por fim, das considerações finais
(capítulo 6) aos quais seguem ainda as referências e apêndices.
No segundo capítulo, abordamos como tema principal as “bibliotecas e a leitura”,
explorando aspectos do contexto histórico das bibliotecas que vêm desde o seu surgimento,
perpassam pelas suas transformações, até chegar à biblioteca contemporânea. Atenção
especial também é dedicada à questão da leitura e dos leitores, levando em conta os
pressupostos teóricos e seus contornos conceituais, bem como discutindo as questões
referentes à formação do leitor nas escolas e a função das bibliotecas para o incentivo à
leitura, além de novas configurações ou tipos de leitor que surgem na atualidade.
O terceiro capítulo foi reservado à apresentação do lócus da pesquisa, a Biblioteca
Central da UFMT, a qual, inserida em um contexto institucional, foi descrita conforme alguns
dos critérios que melhor identificam as unidades de informação: objetivos, acervo
bibliográfico, produtos e serviços e indicadores de uso.
O percurso metodológico do estudo, explorado no quarto capítulo, ressalta a
abordagem qualitativa da pesquisa exploratória, que compreendeu quatro técnicas de coleta de
1
Página eletrônica do Grupo de Pesquisa nos Diretórios dos Grupos de Pesquisa no Brasil, do CNPq:
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0332708S29JVBL.
23
dados para dar conta dos resultados a que se chegou. Nesse sentido, este capítulo detalha
todas as fases da pesquisa, desde o perfil socioeconômico (primeira etapa) até as
entrevistas/observações (segunda etapa), além de abordar o escopo da pesquisa bibliográfica
empreendida.
As reflexões sobre os dados da pesquisa, abordadas no quinto capítulo, evidenciam o
perfil socioeconômico e cultural dos usuários/leitores, bem como as considerações referentes
às entrevistas e observações, articuladas em torno dos processos de leitura, das discussões
envolvendo os leitores e o ciberespaço e, da Biblioteca Central e de seus serviços
disponibilizados de forma on-line.
Estas questões também são ressaltadas e discutidas nas considerações finais de uma
forma mais integrada, uma vez que, nessa parte, buscamos estabelecer uma relação entre a
teoria abordada e os resultados obtidos, atentando para os objetivos do estudo, razão pela
qual, procuramos, finalmente, caracterizar os tipos de leitores investigados.
24
2. AS BIBLIOTECAS E A LEITURA
As bibliotecas são instituições básicas para o desenvolvimento social, pois coletam,
organizam e disponibilizam o acesso a diversos recursos de informação voltados para seu
público leitor. Assim, desempenham um papel essencial para que as pessoas possam ter
acesso à informação e usufruir do conhecimento, de modo que se tornem indivíduos críticos,
capazes de contribuir de maneira significativa para a melhoria das suas condições de vida e
para o desenvolvimento de sua sociedade.
Porém, nem sempre foi assim e provavelmente, as bibliotecas ainda passarão por
muitas transformações em razão de lidar com o conhecimento humano, que é, por natureza,
dinâmico. Em outras épocas, o acesso às bibliotecas era uma dádiva de poucos e a instrução e
o domínio da leitura, um luxo muito raro.
Tais foram as transformações ao longo dos anos que, além de se abrir ao público, as
bibliotecas tiveram que acompanhar a dinâmica da explosão bibliográfica, com o advento da
imprensa e outras tecnologias, e se especializarem, dando origem às bibliotecas escolares,
bibliotecas
públicas,
bibliotecas
universitárias,
bibliotecas
especiais
e
bibliotecas
especializadas, entre outras.
Estas transformações também tiveram impactos significativos entre o público leitor,
que estabelece, por meio do processo de leitura, uma relação de construção de significados
para obter a compreensão a partir contato do objeto de leitura com seus conhecimentos e
experiências. Nesse sentido, a leitura se revela um processo em que o leitor possui grande
responsabilidade e um papel ativo, embora também seja um ato peculiar, isto é, característico
do tipo de diálogo que estabelece com o texto escrito, impresso ou apresentando sob outras
formas.
A leitura, as bibliotecas e os leitores se tornaram elementos indissociáveis quando a
sociedade passou a dominar os inúmeros avanços técnicos, tecnológicos e mesmo culturais.
Embora as bibliotecas não sejam o único ambiente de leitura, esta instituição tem um papel
social importante no incentivo e formação de leitores. Por outro lado, mesmo levando em
conta as particularidades dos diferentes momentos históricos, tratar da leitura ou dos leitores
sem considerar o papel das bibliotecas pode conduzir a uma análise estreita, pois as
bibliotecas possuem uma longa história de organização do conhecimento e, portanto, de
25
relações e práticas de leitura, enquanto que os leitores, por sua vez, encontram nesse ambiente
os produtos de seus desejos.
Diante desse cenário, nossa reflexão envolverá um contexto que perpassa a história
das bibliotecas e sua relação com os leitores e os processos de leitura, a fim de compreender o
ambiente da biblioteca universitária contemporânea e seus leitores de forma integrada, ou
seja, sem desprezar o sentido histórico por trás desses elementos. Para tanto, inicialmente, se
faz necessário elucidar algumas questões conceituais referentes à abrangência desse estudo,
uma vez que, como o mesmo é interdisciplinar, a delimitação de um enfoque principal é
indispensável.
2.1 Interfaces entre a Ciência da Informação e a Ciência da Educação
A área da Ciência da Informação e a área da Educação apresentam arcabouços
teóricos particulares, referentes às pesquisas desenvolvidas nestes campos. Todavia,
dependendo do objeto de estudo e considerando a interdisciplinaridade implícita nas pesquisas
desenvolvidas nestas áreas, algumas interseções podem ser identificadas entre a
Biblioteconomia (que está inserida no conjunto de disciplinas da Ciência da Informação) e a
Ciência da Educação.
Assim, inicialmente, convém destacar alguns conceitos abordados no presente
estudo, uma vez que a pesquisa atravessa áreas distintas, além do fato de que, mesmo em uma
determinada área, é possível encontrar conceitos significativamente diferentes para um
mesmo termo.
Entre os vários conceitos para informação, encontrados na literatura científica, como
pode ser visto em MacGarry (1999), optou-se por adotar no presente estudo, o conceito
utilizado por Le Coadic (2004, p. 4), relacionado com a cognição e a comunicação humanas,
qual seja, “um conhecimento inscrito (registrado) em forma escrita (impressa ou digital), oral
ou audiovisual, em um suporte” e que “comporta um elemento de sentido”.
Embora em muitas situações, outras definições sobre o conceito de informação
também possam ser empregados com propriedade, a opção por esse conceito consiste no fato
de que, é um significado dessa natureza que a informação adquire no contexto das bibliotecas,
26
um elemento de sentido, esteja ele inscrito em um livro impresso, ou mesmo armazenado nas
memórias digitais de uma base de dados e visualizado na tela de um microcomputador.
Não obstante, “a informação só interessa se circula, e, sobretudo, se circula
livremente” (LE COADIC, 2004, p. 26), o que condiz com seu aspecto comunicativo e social.
Ou seja, a informação e o documento (quaisquer que sejam suas características), enquanto
objetos de leitura pressupõem a existência de um usuário, de um leitor, que usufrua destes
recursos ou insumos e possa produzir novas informações e conhecimentos, de maneira cíclica
e contínua.
Atualmente, existe um movimento global preocupado com as discussões referentes
ao acesso livre às publicações científicas, como relata o Coordenador-Geral de Pesquisa e
Manutenção de Produtos Consolidados do IBICT (Instituto Brasileiro de Informação em
Ciência e Tecnologia) Hélio Kuramoto (2008), sendo que o Brasil recentemente já ocupava a
vanguarda da disseminação do conhecimento no meio público, com grande impacto entre a
comunidade científica. Alguns indicadores desse avanço em nível nacional são informados no
site da instituição anteriormente mencionada:
Graças aos esforços empreendidos por organismos estatais, como o Instituto
Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), unidade de pesquisa
vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, o Brasil já é a 5ª maior nação do
mundo em número de repositórios digitais, à frente de potências econômicas como
França, Itália e Austrália, possui a 2ª maior Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações do planeta (a BDTD), e ocupa o 3º lugar em quantidade de publicações
periódicas de acesso livre.
No total, o Brasil tem mais de 50 repositórios institucionais (bibliotecas digitais
contendo a produção científica de uma instituição), dispõe de um acervo de
aproximadamente 75 mil teses e dissertações em texto integral, disponíveis somente
na BDTD, e mais de 500 publicações periódicas eletrônicas oferecidas na Web
graças à utilização do pacote do Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas
(SEER), versão customizada do pacote de software Open Journal Systems, software
desenvolvido pelo Public Knowledge Project (PKP) (IBICT, 20092).
Transcorridos três anos de divulgação desses dados, é sensato considerar que os
mesmos não estejam devidamente atualizados, porém, sendo alguns dos indicadores amplos e
mais recentes localizados, apresentam um relativo panorama do avanço das políticas
nacionais para levar a efeito o acesso livre às produções científicas.
2
Informação extraída de documento acessado em meio eletrônico.
27
No Brasil, o movimento global que empreende esforços para tornar o acesso livre às
publicações científicas em realidade envolve diversas instituições, como o próprio IBICT, a
FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), a base de dados pioneira SciELO (Scientific
Electronic Library Online) e diversas universidades federais brasileiras que geralmente
aderem às iniciativas estatais, além, é claro, da comunidade científica, que não se restringe
apenas às universidades.
Muitas instituições brasileiras se encontram em estágio diferenciado de
desenvolvimento destas iniciativas, as quais estão sujeitas a uma variedade de barreiras ou
desafios que exigem reposicionamentos de formas de lidar com a informação, perpassando
questões como estratégias de implantação, aparato tecnológico, logística e suporte técnico,
recursos humanos, políticas nacionais e institucionais, e mesmo aspectos da própria
comunicação científica.
Por outro lado, o acesso livre, embora essencial para o desenvolvimento científico, é
apenas um dos aspectos3 relacionados diretamente às atividades de leitura e pesquisa
desenvolvidas pelos usuários/leitores nas bibliotecas universitárias. Por exemplo, esses
mesmos leitores geralmente estabelecem interface com bancos e bases de dados digitais de
conteúdo pago, ou seja, de acesso restrito, a exemplo do Portal de Periódicos da CAPES
(Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), embora este portal também
disponibilize o acesso a conteúdos livres.
Considerando então que os usuários/leitores se encontram diante de recursos que
envolvem habilidades e técnicas de leitura substancialmente diferentes das formas de leitura
tradicionais, torna-se indispensável levar em conta a existência de novos tipos de leitura, bem
como de novos perfis de leitores, sintonizados ao estado-da-arte das TIC nas bibliotecas
universitárias.
Assim, neste trabalho, mobiliza-se também um conceito amplo de leitura, o qual é
proposto e empregado por Santaella (2007) em seu estudo, ou seja, um conceito expandido, ao
qual chegaremos após analisar desde a leitura linear de textos impressos e a posterior leitura
de imagens e sinais, que encaminham o sujeito para o contexto da leitura hipertextual do
ciberespaço, que o mesmo desenvolve pelos diversos recursos da linguagem hipermidiática.
3
Nesse caso, este aspecto diz respeito, sobretudo, a questões políticas e econômicas envolvidas na forma de
prover o acesso às publicações científicas, mesmo que não seja isolado de outros fatores, como o tecnológico, o
técnico, o operacional etc.
28
Isso porque, torna-se evidente que utilizar uma biblioteca não significa simplesmente
acessar e ler sequencialmente um livro impresso, mas poder usufruir de uma variedade de
recursos, produtos e serviços de informação que permitem ao usuário (ou leitor), interagir
com as informações em seus diversos formatos.
Ao tratar de uma questão recorrente no contexto das bibliotecas, a “possibilidade” de
mudança do paradigma do acervo para o paradigma do acesso à informação, utiliza-se como
base, o conceito de paradigma de Thomas Kuhn, um dos teóricos de maior referência nesse
assunto, que define os paradigmas como formas de se olhar a realidade, modelos que guiam o
desenvolvimento científico e que podem ser desafiados e substituídos como condição para o
progresso da ciência: “Um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham
e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um
paradigma” (KUHN, 2007, p. 221).
Observa-se que muitos estudos discutem uma mudança do paradigma do acervo para
o paradigma do acesso, sendo que, aportado em Kuhn (2007), procuramos compreender o
conceito de paradigma e considerar a existência dessas posições teóricas, sem, contudo,
adentrar com profundidade na problemática. Um exemplo dessa distinção entre acervo e
acesso pode ser encontrado no estudo de Rezende e Marchiori (1994, p. 351):
A preocupação com o acesso e não propriamente com o acervo, o trabalho com
informação e não necessariamente com o documento, é considerada por Battin
(1993) como uma mudança de paradigma na área da biblioteconomia, provocado
pelas intensas modificações no campo de atividades de informação (em conjunto
com as novas tecnologias) trazendo impactos na estrutura de trabalho dos
profissionais da informação e na formação acadêmica do bibliotecário.
Entretanto, a despeito destas questões, prefere-se referir à “possibilidade” de
mudança de paradigmas do que considerar que tal mudança já ocorra plenamente, tendo em
vista que acervo e acesso ainda não são desvinculados, além do que, não se pode afirmar sem
reservas que os acervos físicos são meramente dispensáveis. Em muitos casos, a digitalização
depende de acervos físicos, bem como o acervo físico ainda se constitui em um dos principais
produtos de muitas bibliotecas, senão da maioria. Há ainda as bibliotecas que se preocupam
em preservar a memória bibliográfica, seja institucional ou mesmo nacional, e para estas, o
acervo físico também é de um valor indiscutível.
29
Por razões dessa natureza, não se acredita simplesmente que o “paradigma do
acervo” tenha sido superado por um “paradigma do acesso à informação”, uma vez que
embora em vários casos o interesse por um ou outro possa ser maior, ambos apresentam
importância relativa e não estão necessariamente desvinculados entre si no momento presente
e em todos os contextos.
Assim como existem bibliotecas que devido a suas funções, seus objetivos, ao perfil
de seus usuários e ao leque de atividades e serviços, investem na preservação dos
documentos e da memória de um determinado país (as bibliotecas nacionais, por
exemplo), outras, como as bibliotecas especializadas, orientam-se para a busca da
informação, independentemente de ela existir em seu acervo interno. As bibliotecas
escolares, públicas e universitárias estão em uma situação mais delicada, uma vez
que sua função é tanto preservar, no sentido de construção e manutenção de um
acervo que previna e antecipe as necessidades de informação de seus usuários,
quanto localizar itens demandados que têm grande chance de não se encontrarem no
acervo interno (MARCHIORI, 1998, p. 51-52).
Quanto à área de conhecimento na qual se situa esse estudo, é possível compreendêlo a partir da área da Ciência da Informação, uma vez que a Biblioteconomia é considerada
uma de suas primeiras disciplinas, uma “prática de organização” que se preocupa
tradicionalmente com os problemas suscitados pelos acervos, pelas bibliotecas e pelos leitores
(LE COADIC, 2004, p. 12-13).
Entretanto,
uma
forte
característica
da
Ciência
da
Informação
é
sua
interdisciplinaridade. Embora, não se verifique na obra de Le Coadic (2004) a área de Ciência
da Educação entre as áreas de conhecimento que colaboram entre si no contexto
interdisciplinar da Ciência da Informação, podem ser facilmente verificados vários temas de
interesse comum entre a Biblioteconomia e a Educação, como por exemplo, os estudos
voltados para a leitura e aprendizagem, a aquisição de conhecimentos no contexto das
bibliotecas, a história do livro e da biblioteca, as interações entre processos de leitura e a
formação cultural etc.
Le Coadic (2004, p. 20) explica que “a interdisciplinaridade traduz-se por uma
colaboração entre diversas disciplinas, que leva a interações, isto é, uma certa reciprocidade
nas trocas, de modo que haja, em suma, enriquecimento mútuo”.
Assim sendo, uma pesquisa sobre bibliotecas universitárias, que envolve uma
abordagem no contexto da Ciência da Educação, pode proporcionar uma interação
interdisciplinar entre a Biblioteconomia e a Ciência da Educação mais abrangente e
30
proveitosa, do ponto de vista do objeto de pesquisa investigado, do mesmo modo que
Santaella (2007), ao expandir o conceito de “leitura” obtém um perfil cognitivo do leitor
imersivo no ciberespaço, de forma mais significativa do que se limitasse sua abordagem.
Portanto, embora nesse estudo sejam mobilizados outros conceitos subsidiários da
Biblioteconomia e outras áreas afins, o enfoque da pesquisa é sobretudo na área de Ciência da
Educação.
Em um primeiro momento, serão apresentados aspectos do contexto histórico das
bibliotecas, desde a Antiguidade até o presente, as transformações ocorridas nesse ambiente
informacional, suas características principais e seus usuários, genericamente referidos como
leitores, que podem ser tanto contemplativos, quanto moventes e mesmo imersivos
(SANTAELLA, 2007). Compreendendo a configuração desse cenário, poderá se chegar ao
contexto atual das bibliotecas universitárias e particularmente da Biblioteca Central da
UFMT, de modo que se possa identificar seus produtos e serviços, mas também as
configurações que envolvem seus usuários/leitores, que são a razão de ser de qualquer
unidade de informação.
2.2 Aspectos do Contexto Histórico das Bibliotecas
Um estudo histórico significativo sobre a história das bibliotecas remontaria a cerca
de 3.000 a.C. e, evidentemente, se cruzaria em vários pontos com a história da palavra escrita,
dos registros de conhecimento, dos processos comunicativos e a própria história do livro.
Embora seja comum identificar o livro como o principal produto de uma biblioteca,
sabe-se que os primeiros registros de conhecimento de que se tem notícia eram, sobretudo,
“minerais” (tabletes de argila), “vegetais” (rolos de papiros) e “animais” (pergaminhos de pele
animal). Portanto, foi a partir do fervilhar de diversas inovações técnicas históricas, como a
invenção do papel4 (cerca de 140 a.C. na China) e sua afirmação como instrumento de escrita
4
A data de invenção do papel não é precisa. Dentre as obras pesquisadas, Milanesi (2002, p. 24-25), comenta
que o papel já existia na China desde o século II d.C., tendo entrado na Europa no final da Idade Média,
inicialmente na Espanha, trazido pelos árabes, e passando a ser fabricado neste continente a partir do século XIII,
contribuindo para a ampliação do uso da escrita, principalmente a partir da invenção da imprensa. Por outro lado,
Martins (2002, p. 111-112), explica que os chineses já fabricavam livros desde 213 a.C., utilizando seda e
posteriormente papel de seda e, embora a invenção do papel tenha sido atribuída à Ts‟ai Lun, diretor das
31
no Ocidente, o advento do códice ou codex (manuscritos medievais encadernados) e o
advento da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg (cerca de 1450), que vieram a surgir os
livros, similares aos que se conhece na atualidade (MARTINS, 2002).
Por outro lado, as bibliotecas são instituições milenares que existem antes mesmo
dos livros como os conhecemos. Aliás, ao analisar os estudos referentes ao surgimento da
escrita e dos primeiros registros do conhecimento humano, até chegar às instituições
utilizadas historicamente para “guarda” desses materiais, depara-se com um conceito de
biblioteca particularmente diferente do que se observa atualmente, sem desconsiderar as
transformações próprias que se sucederam nesse ambiente ao longo dos tempos, marcadas por
características singulares.
Ou seja, inicialmente, as bibliotecas tinham como finalidade principal a guarda e a
preservação da memória escrita, característica essa que demorou bastante tempo para sofrer
transformações, uma vez que essas instituições representavam a maneira como as autoridades
de cada época lidavam com o conhecimento no contexto social.
Entre as bibliotecas da Antiguidade, destacam-se, principalmente, as bibliotecas
egípcias, e entre todas estas, a Biblioteca de Alexandria (fundada durante o reinado de
Ptolomeu Soter, que faleceu em 283 a.C.), com seus mais de setecentos mil volumes de
manuscritos foi considerada a mais famosa de todas. Entretanto, esta famosa biblioteca foi um
dos tesouros da Antiguidade que desapareceu diante de incêndios tanto acidentais quanto
intencionais, além de invasões. Outra biblioteca que também desapareceu nesse período foi a
Biblioteca de Pérgamo, por razões semelhantes, já que seus manuscritos haviam sido
saqueados e posteriormente incorporados ao acervo da Biblioteca de Alexandria.
Também podiam ser encontradas bibliotecas judaicas, como a de Gaza, bem como
bibliotecas na Mesopotâmia, sendo a mais conhecida a Biblioteca de Nínive, localizada no
palácio do Rei Assurbanipal (contendo tabletes de argila). Outras bibliotecas menores
existiam também em Susa, Ardevil e na Cesaréia. Enfim, na Grécia, a primeira biblioteca foi
estabelecida em Psístrato, mas esta já tinha um caráter de biblioteca pública e procurava
reunir, entre outros as obras de Homero.
Oficinas Imperiais, no ano de 105 d.C., o autor revela que descobertas recentes em um túmulo na província de
Chen-Si, datando de cerca de 140 a.C. comprovam que o papel de celulose já existia na China quase dois séculos
antes de Cristo.
32
Enquanto podiam ser consideradas como expressão de poder e de preocupações com
a preservação dos escritos, internamente, estas bibliotecas eram organizadas de acordo com os
recursos disponíveis na época e com os tipos de materiais que compunham seus “acervos”.
Com isso, as características dos materiais de escrita influenciavam em larga escala as
características das próprias bibliotecas (para não se esquecer das formas de leitura), o que não
pode ser comparado bruscamente com outros contextos, levando em conta que as práticas e
tecnologias então disponíveis representavam formas comuns de lidar com estes materiais, ou
seja, formas típicas destes períodos.
Em Alexandria, o texto se apresentava ainda sob a forma de rolos. Com mais de
quinhentos mil rolos, a biblioteca de Alexandria dispunha, de fato, de um número de
obras muito menos significativo, já que uma obra podia ocupar, sozinha, dez, vinte,
até trinta rolos. O catálogo da biblioteca era constituído de cento e vinte rolos. É
possível imaginar as operações manuais que a busca do universal exigia
(CHARTIER, 1998, p. 118).
Essa busca pelo universal, comentada por Chartier (1998), se refere ao mito de reunir
em um só local, todos os documentos produzidos pela humanidade, o que ganhou novos
contornos com o advento das técnicas eletrônicas de armazenamento, processamento e
comunicação da informação, sem, contudo, tornar-se um fato concreto, uma vez que existem
outros aspectos além das técnicas de produção e difusão de informações que influenciam esta
questão de universalidade.
Assim, voltando às transformações que ocorreram nas bibliotecas entre a
Antiguidade e o período medieval, convém ressaltar que estes ambientes se modificaram
principalmente no que diz respeito ao material de que eram feitos os assim chamados “livros”,
do que quanto ao seu funcionamento, natureza e finalidades.
[...] as bibliotecas medievais são, na realidade, simples prolongamentos das
bibliotecas antigas, tanto na composição, quanto na organização, na natureza, no
funcionamento: não se trata de dois “tipos” de biblioteca, mas de um mesmo tipo
que sofreu modificações insignificantes decorrentes de pequenas divergências de
organização social. [...]
[...] A partir de 1470, isto é, já no século XV, começam a aparecer o que
chamaríamos de formatos modernos, isto é, livros menores, com a folha dobrada, da
mesma forma por que apareceram as primeiras margens. Essas datas todas já nos
colocam em plena Idade Média, onde entramos insensivelmente: ainda por aí se vê
que as bibliotecas medievais, como as dissemos, não passam de prolongamentos das
bibliotecas antigas (MARTINS, 2009, p. 71-80).
33
Como eram construídas no âmbito de determinadas instituições, de acordo com a
entidade mantenedora, as bibliotecas medievais podiam ser classificadas em bibliotecas
monacais, bibliotecas de universidades e em bibliotecas particulares, sendo que o pensamento
predominante na Idade Média era, principalmente, a manutenção de bibliotecas monásticas,
ou seja, religiosas, conforme se observa nas obras dos teóricos da história do livro e da leitura.
Assim, até a Renascença, as bibliotecas eram consideradas locais sagrados ou ao
menos religiosos, longe do alcance dos profanos, sendo seu acesso permitido apenas àqueles
que pertenciam a uma determinada “ordem” ou “corpo” religioso. Se a biblioteca medieval
era considerada um lugar sagrado, o “livro” e a palavra escrita eram considerados elementos
portadores de poderes maléficos para os “não iniciados”, algo não muito diferente dos mitos
da Antiguidade.
Nesse sentido, desde a Antiguidade até a Idade Média, o que mais se transformou no
contexto das bibliotecas foram os suportes físicos dos materiais de leitura, mais ainda do que
a própria função das bibliotecas, enquanto que o acesso à leitura, ao conhecimento e, portanto,
a essas bibliotecas continuou bastante restrito nesses períodos.
Revela-se, assim, um controle do conhecimento por parte daqueles que detinham o
poder e, muitas vezes, as condições de usufruir desse conhecimento, seja pela instrução
letrada, seja pelas condições econômicas, ou mesmo pela ligação a alguma ordem religiosa ou
outro tipo de grupo dominante. Torna-se evidente que, nesse período medieval, o monopólio
do conhecimento era considerado uma forma de manutenção do poder e da sobrevivência dos
mitos ainda presentes de forma culturalmente marcante.
Em parte, corrobora com esse ponto de vista, o argumento de Burke (2003), quando,
ao tratar do controle do conhecimento, especificamente da guarda e recuperação da
informação, entre o fim da Idade Média e o início do período moderno, explica sobre o
surgimento dos arquivos, ligado aos governantes, como forma de monopolizar o poder por
intermédio do monopólio da informação (ou de alguns tipos de informação).
Por outro lado, se o período marcado pelo Renascimento e pelo Iluminismo permite
lançar algumas discussões a respeito do que alguns estudiosos denominam como “trevas” que
envolviam a Idade Média e supostamente bloqueavam o desenvolvimento, é importante que
tais considerações sejam apresentadas com as devidas reservas, a fim de ponderar que,
também ocorreram importantes transformações nesse período que atestam que tal cenário não
bloqueava completamente o desenvolvimento intelectual.
34
Martins (2002), por exemplo, comenta sobre os diferentes pontos de vista a respeito
da perspectiva histórica envolvendo as obras escritas, chegando à conclusão de que este
contexto não pode ter sido apenas afetado por um possível “obscurantismo” da Idade Média,
tendo em vista que a história do livro não o encara como objeto literário, mas como coisa,
algo que nunca deixou de existir, qualquer que fosse o nível de desenvolvimento popular.
A Renascença não teria sido possível, no que concerne às obras escritas, se a Idade
Média não tivesse possuído esses enormes silos que foram as bibliotecas monásticas,
universitárias e particulares. Eis porque os historiadores da cultura, vendo
exclusivamente o que foi conservado, se recusam a enxergar na Idade Média uma
era de ignorância e obscurantismo, da mesma forma que os historiadores sociais,
vendo exclusivamente o que não foi difundido, acusam-na de todas as faltas contra a
inteligência. Uma vista mais eqüitativa tem sido a de certos estudiosos modernos
[...] que, reunindo as duas qualidades, podem perceber sem dificuldade as duas faces
da questão, o verso e o anverso da medalha (MARTINS, 2002, p. 96-97, grifos do
autor).
Assim, o “obscurantismo” relacionado Idade Média, é algo típico da abordagem de
cada pesquisador e de suas influências, principalmente devido à área de estudo em que
congrega. Não obstante possam ser identificados argumentos relevantes sob os diversos
pontos de vista, não parece razoável considerar que “o que foi conservado” tenha sido menos
importante do que aquilo “que não foi difundido”, no que se refere ao conhecimento
registrado.
A trajetória histórica das bibliotecas também está relacionada à visibilidade
conquistada pelos letrados europeus na Idade Média, o que, aliado ao desenvolvimento das
universidades, contribuiu para a crescente divisão do trabalho, associada ao desenvolvimento
das cidades (BURKE, 2003). Nesse contexto, o surgimento das universidades se mostrou
como um dos acontecimentos medievais que exerceu grande influência na história da
civilização e na história do livro, uma vez que representou o início de um rompimento com a
tradição secular religiosa a que estavam presos os escritos, as bibliotecas e a própria
sociedade.
A ascensão das universidades, ainda na Idade Média e caminhando para a
Renascença, contribuiu para a expansão dos livros para além das temáticas religiosas. Embora
as primeiras universidades ainda carregassem muito da atmosfera religiosa, “as bibliotecas
universitárias pré-renascentistas já apontavam para novas práticas que deram para a biblioteca
o caráter de espaço de liberdade e de conhecimento” (MILANESI, 2002, p. 24).
35
Portanto, as bibliotecas universitárias da Alta Idade Média tiveram um grande
desenvolvimento no decorrer do século XV, quando, concomitantemente, a riqueza material
das universidades também aumentou. Já no princípio da Renascença é que as bibliotecas
começam a adquirir um “sentido moderno”, e igualmente, nesse período, juntamente com o
livro é que surgiu a figura do bibliotecário.
Outro fator que também concorreu para a socialização do conhecimento e a
modernização das bibliotecas, além de implicar em grandes transformações socioculturais e
tecnológicas, sobretudo no mundo ocidental, foi, sem dúvida, a invenção da imprensa por
volta do ano 1450, a qual é atribuída ao alemão Johannes Gutenberg.
A primeira transformação que afeta as práticas de leitura na época moderna é
técnica: ela revoluciona, na metade do século XV, os modos de reprodução dos
textos e de produção do livro. Com os caracteres móveis e a prensa de impressão, a
cópia manuscrita não é mais o único recurso disponível para garantir a multiplicação
e a circulação dos textos. Por baixar muito o custo de fabricação dos livros, dividido
pela totalidade dos exemplares de uma mesma tiragem, por abreviar a duração de
sua fabricação, que era longa ao tempo do manuscrito, mesmo após a invenção da
pecia e a divisão do livro a ser reproduzido em cadernos separados, a invenção de
Gutenberg permite a circulação dos textos numa escala antes impossível. Cada leitor
pode ter acesso a um número maior de livros; cada livro pode atingir um número
maior de leitores. Além disso, a imprensa permite a reprodução idêntica (ou quase,
em razão de eventuais correções durante a tiragem) de um grande número de
exemplares de textos, o que transforma suas próprias condições de transmissão e de
recepção (CAVALLO; CHARTIER, 1998, p. 26).
Com a imprensa, a produção de cópias de manuscritos aos poucos foi perdendo
espaço para a tipografia, diante do barateamento da produção de livros, decorrente, entre
outros fatores, da relativa facilidade de composição dos tipos móveis e da disponibilidade de
matéria prima barata, o papel. Essa difusão do livro impresso também exerceu grande
influência sobre a criação e ampliação de bibliotecas, produzindo, por um lado, a quebra do
monopólio do conhecimento e, por outro, o excesso de publicações, gerando uma “explosão
informacional”.
Se antes da proliferação dos livros impressos a busca de um título exigia muita
paciência e até mesmo muito esforço físico para percorrer grandes distâncias,
depois, surgiu um novo fenômeno: a possibilidade de perder-se na vasta produção de
obras. Em menos de duzentos anos, passou-se da escassez ao excesso (MILANESI,
2002, p. 26-27).
36
Esse crescimento das publicações também foi impulsionado pelo surgimento dos
jornais, no século XVII (com impacto na vida política), e das revistas e publicações
periódicas, que se destinavam a manter os especialistas atualizados e representavam a
urgência de divulgação dos assuntos, antes mesmo do processo de editoração dos livros.
Outra preocupação comum nessa época foi a elaboração de bibliografias 5 e de resenhas, que
auxiliavam na seleção da crescente produção editorial. Aliado a isso veio a preocupação dos
bibliotecários em elaborar novas formas para organização dos acervos.
Assim, se por um lado a socialização do livro representou uma revolução, por outro
lado, a grande quantidade de publicações também trouxe diversos problemas, sendo que, no
contexto das bibliotecas, o principal problema era lidar com esse volume de documentos, em
termos de quantidade, espaço físico e, principalmente, de organização. Em vista da
especialização contínua e rápida do conhecimento humano, a seleção de documentos, levando
em conta determinados critérios, foi uma resposta relativamente útil encontrada pelas
bibliotecas para lidar com esta questão.
Compreendendo que o livro, a leitura e a biblioteca são elementos diretamente
relacionados, convém ressaltar que a transformação da técnica de produção do livro advinda
com a imprensa, embora significativa, não implicou em um rompimento fundamental na
história da leitura, uma vez que o livro não rompeu definitivamente com os manuscritos que o
antecederam, reproduzindo, assim, muitas de suas características físicas. “Há, portanto, uma
continuidade muito forte entre a cultura do manuscrito e a cultura do impresso, embora
durante muito tempo se tenha acreditado numa ruptura total entre uma e outra” (CHARTIER,
1998, p. 9).
Posteriormente, a industrialização da produção de livros com as revoluções
industriais e, mais recentemente, as modernas técnicas de impressão, também contribuíram
para tornar o livro e a leitura mais presentes na sociedade. Nas bibliotecas, os livros também
se tornaram acessíveis em uma escala singular, sem deixar de levar em conta que as
transformações provenientes da revolução eletrônica, como as novas técnicas de
armazenamento e transferência de informações, também impuseram uma possibilidade de
separação entre a informação e os livros impressos, entre outros objetos de leitura.
5
Milanesi (2002, p. 27-28) explica que as bibliografias surgiram para “domar o aparente descontrole editorial”,
mas tendo em vista que não seria possível a um indivíduo dominar todas as áreas de conhecimento, passaram a
ser elaboradas bibliografias setoriais, destinadas a grupos específicos. Mais tarde essas bibliografias foram
enriquecidas pelas resenhas de especialistas, que auxiliavam no processo de pesquisa.
37
Outra questão importante a ressaltar é que, as “revoluções da leitura” não estão
diretamente relacionadas à transformação da técnica de produção de livros que a imprensa
representou, como se percebe na obra de Cavallo e Chartier (1998) e em Chartier (1999).
A primeira “revolução da leitura” da Idade Moderna é, pois, muito independente da
revolução técnica, que modifica, no século XV, a produção do livro. Ela se enraíza,
sem dúvida, na mutação que transforma, nos séculos XII e XIII, a própria função do
escrito, quando, ao modelo monástico da escrita que confere ao escrito uma tarefa de
conservação e de memória largamente dissociada de qualquer leitura, sucede o
modelo escolástico da escrita que faz do livro ao mesmo tempo o objeto e o
instrumento do trabalho intelectual. Seja qual for sua origem, a oposição entre
leitura necessariamente oralizada e leitura possivelmente silenciosa marca uma
divisão capital. A leitura silenciosa, de fato, instaura uma relação com o escrito que
pode ser mais livre, mais secreta, totalmente interior (CAVALLO; CHARTIER,
1998, p. 27-28).
Assim, a primeira revolução da leitura compreendeu a afirmação da técnica de leitura
silenciosa, embora a mesma já fosse conhecida desde a Antiguidade Clássica greco-romana.
A segunda revolução, ocorrida na Idade Moderna antes da industrialização do livro, embora
apresente contestações de alguns teóricos, correspondeu à instauração da leitura extensiva
(mais variada, livre e efêmera), em detrimento da leitura intensiva (circunscrita a um conjunto
limitado de livros, respeitosa e repetitiva). Por fim, a terceira revolução da leitura, se refere a
uma forma de leitura contemporânea, abrangendo a transmissão eletrônica de textos e a leitura
na tela do computador, cujas características indicam uma maneira de ler particularmente
diferente (CAVALLO; CHARTIER, 1998).
Observa-se que desde o final do século XVI até a atualidade, a biblioteca passou por
um processo gradativo e ininterrupto de transformação, caracterizado essencialmente pela sua
laicização, democratização, especialização e socialização, em estreita sintonia com as
transformações que conferiam aos livros e demais recursos de informação novas
possibilidades, bem como à leitura e aos leitores, novos contextos e configurações.
De uma instituição fechada e sagrada, a biblioteca então se transveste em um local
pouco a pouco mais atrativo para os leigos, o que foi possível ao acompanhar a evolução
social, mais nítida a partir do Renascimento. De uma instituição mais aberta, a um ambiente
mais democrático, antes mesmo que a democracia chegasse ao governo, tendo a imprensa e o
livro, um papel fundamental nessa mudança. De um ambiente mais agradável e democrático,
a um universo de possibilidades concebido pela especialização inevitável do saber, que
chegou às bibliotecas por meio de seu amplo público leitor e, por fim, desse ambiente
38
especializado a um espaço social de leitura, que deixou de ser um depósito de livros, sagrado
e intocável, para se configurar como um ambiente de multiplicação do conhecimento humano.
São estes os quatro caracteres principais que Martins (2003) identifica na evolução recente da
biblioteca moderna.
Foi nesse contexto de especialização que surgiram as bibliotecas públicas (voltadas
para um público mais amplo, a comunidade em geral), se firmaram as bibliotecas
universitárias (com seu teor acadêmico, voltadas para as atividades de ensino, pesquisa e
extensão), bem como surgiram diversos outros tipos, como as bibliotecas especializadas
(especializada em uma determinada área do conhecimento), as bibliotecas nacionais (guardiãs
da memória bibliográfica dos países), as bibliotecas especiais (cujo foco é o atendimento a um
público com necessidades especiais) e as bibliotecas escolares (voltada para as atividades de
pesquisa escolar e o incentivo à leitura).
Gradativamente, a biblioteca deixa de ser uma depositária de publicações e um local
físico onde se encontrem livros para leitura (não esquecendo dos livros acorrentados
nas estantes na Idade Média), mas uma entidade social, como tem sido as bibliotecas
públicas; abertas à comunidade, sem qualquer restrição ou preconceito (MACEDO;
MODESTO, 1999a, p. 40).
Após analisar alguns aspectos do contexto histórico das bibliotecas, os quais se
entrelaçam com a história do livro e da leitura, observa-se que foi entre o fim da Idade Média
e o início da Idade Moderna que a biblioteca deixou, gradativamente, de ser um local
privilegiado para a “guarda de documentos” para ir se transformando no espaço para
“disseminação do conhecimento”. Já a guarda e preservação da memória documental é uma
função que atualmente compete principalmente às bibliotecas e arquivos nacionais,
instituições que oferecem um acesso mais facilitado enquanto fontes de pesquisa do que em
outros períodos.
2.3 As Bibliotecas na Era da Informação
A Revolução Industrial, que começou ainda na segunda metade do século XVIII, na
Inglaterra e posteriormente chegou aos Estados Unidos, trouxe consigo muitas inovações que
39
se tornaram aplicações práticas no início do século XIX. A descoberta do vapor resultou no
surgimento de uma maquinaria que alavancou a industrialização, atingindo inclusive a
produção tipográfica, mas que também proporcionou a criação de máquinas utilizadas no
transporte, como o trem de ferro e o navio, que passaram a transportar tanto pessoas quanto os
mais variados tipos de carga.
Assim, os meios de transporte contribuíram para o fluxo de revistas, jornais e livros,
auxiliando a disseminação física da informação, principalmente aos portos e às cidades
interioranas alcançadas pela malha ferroviária. Os produtos impressos e principalmente os
jornais se proliferaram rapidamente, sendo disseminados pelas ferrovias que se estendiam às
regiões agrícolas e, com isso, contribuíam para a aceleração das trocas informacionais e o
desenvolvimento econômico, bem como para a circulação de novos produtos. Nesse
ambiente, a ampliação das condições e dos veículos circulação da informação, representou
uma transformação dinâmica na disseminação do conhecimento e dos bens culturais.
Estas questões refletem alguns dos efeitos da industrialização sobre o cotidiano das
pessoas, como por exemplo, o acelerado fluxo de informações, que influenciou algumas
vertentes da experiência humana (a sociedade, a cultura, a economia e a política). A frase de
Norbert Wiener, “viver de fato é viver com informação” (WIENER, 1960 apud MCGARRY,
1999, p. 3), embora engendrada em outro contexto e com outro objetivo, também serve para a
compreensão desse cenário, em que a informação se torna um elemento abundantemente
presente na vida das pessoas, algo essencial, compreendendo o conteúdo permutado com o
mundo, enquanto representa a participação dos indivíduos nesse mundo.
O segundo momento da Revolução Industrial, caracterizado pelo advento da
eletricidade, a partir de 1870 também foi inovador. Juntamente com a eletricidade veio o
automóvel, que representava uma personalização do transporte que não poderia ser
proporcionada pelo trem a vapor, o telégrafo, uma forma mais rápida de transmissão de
informações, o rádio (a partir de 1901), que impôs a simultaneidade na transmissão de
notícias, e a televisão (a partir de 1930), que além dessa simultaneidade se fixou como um
instrumento de comunicação que influenciava a moda, os costumes e os valores sociais. A
esse respeito, Milanesi (2002) apresenta uma postura bastante crítica:
40
Nas sociedades mais cultas, a televisão plasmou-se à sua cultura, nas sociedades de
baixo padrão educacional, a televisão foi plasmada.
[...] A televisão age de tal forma que é o suficiente para as necessidades
informacionais da população. Nesse sentido, outras possibilidades de acesso ao
conhecimento – como o livro – passa a ser um excesso e, ainda, desconfortável: é
preciso ler, imaginar, refletir. A televisão parece fazer isso pelo telespectador
(MILANESI, 2002, p. 43-44).
Transformações acontecendo cada vez mais rápidas, o livro e a leitura estando cada
vez mais presente no cotidiano das pessoas, novos meios de comunicação interferindo no
comportamento e na cultura da sociedade e criando uma homogeneização de valores e
costumes que sugere uma “globalização”, fazem crer que o domínio do vapor e da eletricidade
contribuiu para aproximar as pessoas pelas novas possibilidades de trocas informacionais e
comunicativas. Mas outra revolução igualmente importante também vinha se forjando,
provavelmente em função dessa integração global, bem como em razão dos esforços
científicos e tecnológicos que conceberam inovações que revolucionariam ainda mais o
cenário das bibliotecas.
O período a partir de 1945, maculado por um lado pelas consequências devastadoras
da Segunda Guerra Mundial, representou, por outro lado, uma era de grande desenvolvimento
tecnológico, que trouxe profundas transformações para a área da informação 6, influenciado
pelas pesquisas científicas e tecnológicas e pelo aumento da quantidade de informações
resultantes de tais pesquisas.
No período imediato à I Guerra Mundial, o capitalismo sofreu transformações que se
caracterizaram pela participação do Estado na vida econômica, gerando ruptura
parcial e aparente com os cânones do liberalismo clássico. Esse período, intitulado
neocapitalismo e gestado após a crise de 1929, em verdade, constitui-se em falsa
mudança, já que preservou a hegemonia burguesa, com os princípios básicos do
capitalismo: propriedade particular, lucro e desigualdade social, entre outros.
No contexto acima sumarizado, o desenvolvimento científico e tecnológico,
proveniente dos esforços de guerra dos anos 30, passou a permear o capitalismo
industrial, que se deparou com o crescimento exponencial da informação. A
denominada explosão da informação caracterizou esse momento, em que a
informação se torna basilar para o progresso econômico, ancorado no binômio
ciência e tecnologia (PINHEIRO; LOUREIRO, 1995, p. 42).
Le Coadic (2004) explica que até 1950, o papel e o livro representavam a base do
sistema técnico implantado no setor da informação. Já entre 1948 e 1981, a descoberta do
6
Surge nesse período, a Ciência da Informação, que tem em Vannevar Bush seu predecessor histórico (LE
COADIC, 2002).
41
transistor e dos primeiros suportes imateriais da informação levou a uma revolução
tecnológica e informacional. A partir de 1981, o surgimento da microinformática, dos
computadores pessoais e das redes de transmissão de sinais (Internet, Intranet e Extranet), foi
acompanhado, de forma dinâmica, pelo surgimento dos bancos e bases de dados, serviços de
correio eletrônico, transferência de arquivos e de uma grande quantidade de recursos que
utilizam a informação armazenadas em memórias eletrônicas que se espalha pelas redes de
computadores interligados remotamente.
Resumidamente, as evoluções técnicas desde 1948 consistiram em passar da
eletricidade à eletrônica, do fio de cobre à fibra ótica, do analógico ao digital e do
eletromagnético ao optoeletrônico, ou seja, “as técnicas eletrônicas de informação exigem, de
modo privilegiado, quatro apoios técnicos (microeletrônica, informática, telecomunicações e
mídias eletrônicas) ou são fruto da fusão deles” (LE COADIC, 2004, p. 90).
Esse
rápido
desenvolvimento
tecnológico
que
concebeu
computadores
e
equipamentos sempre mais potentes e portáteis, redes informacionais e uma grande variedade
de novos recursos digitais de informação afetou as bibliotecas de tal modo que seu exame,
ainda que preliminar, pode ajudar a compreender um pouco sobre o cenário das bibliotecas
contemporâneas.
No caso dos computadores, embora tenham surgido logo depois da Segunda Guerra
Mundial e em pouco tempo tenham se popularizado (menos de trinta anos), o mesmo passou
um longo período sendo utilizado principalmente como artefato de cientistas, sendo que nas
bibliotecas sua incorporação foi receosa, mecânica e tardia (por volta das duas últimas
décadas do século XX), uma vez que antes de chegar à biblioteca para ser usado
coletivamente, já estava em poder dos indivíduos. Outro alerta, no tocante às redes eletrônicas
de informação, parece igualmente importante:
Outra profecia não foi feita e essa de graves conseqüências: a interligação desses
computadores formando redes. Em menos de duas décadas, as grandes máquinas
evoluíram para pequenos e potentes engenhos capazes de armazenar volumes
gigantescos de informação e processá-los em velocidade ano a ano maior. Ao
estabelecer a possibilidade de conectar esses computadores pessoais entre si e a
grandes computadores, estava desenhada a internet. E com ela estabelecia-se um
novo panorama para a informação: todo o conhecimento poderia estar na memória
dos computadores e esse conhecimento seria alcançado a qualquer momento por
qualquer indivíduo que tivesse um computador e um telefone para a conexão. Além
disso, caía a barreira entre o escritor e o leitor: todos podiam desempenhar esses dois
papéis. Desenhou-se, rapidamente, um cenário de perplexidade a respeito da
informação na sociedade e do destino das bibliotecas. Em países onde elas nem
mesmo existiam de maneira suficiente e adequada, discutia-se o sentido de sua
existência (MILANESI, 2002, p. 32).
42
Se a incorporação dos computadores na biblioteca foi lenta, a chegada da Internet
também apresentou limitações bem características. Mas passado o que parece ser um
momento de impacto inicial, as transformações parecem fluir a velocidades típicas da
Sociedade da Informação. Inicialmente focadas na automação de seus processos técnicos e na
disponibilização de catálogos eletrônicos via web (OPACs), os sites informativos de
bibliotecas foram se transformando cada vez mais em sistemas que disponibilizam textos
completos ou provém o acesso a tais textos por meio dos diversos recursos do ciberespaço,
como os bancos e as bases de dados, as bibliotecas digitais e virtuais etc. (LEVACOV, 1997).
A explosão quantitativa da informação e a redução do tempo para sua disseminação,
comunicação, implicou em grandes fluxos informacionais, que caracterizam esse período
histórico (LE COADIC, 2004). É nesse período que surge o paradigma da Sociedade da
Informação, alavancando uma nova explosão informacional que já tivera início a partir da
invenção da imprensa.
Nesse contexto, uma transformação gradual passou a ocorrer no ambiente das
bibliotecas, envolvendo a própria função destas instituições, que vão deixam de ser
consideradas meros locais para a “guarda de documentos” e vão se tornando, cada vez mais,
centros ativos de disseminação de informações, podendo utilizar variados recursos
tecnológicos aliados às técnicas de tratamento da informação dos profissionais que atuam
nesse meio. É nesse sentido que explicam Macedo e Modesto (1999a, p. 40), que “já pela
década de 60 o material básico incorporado em bibliotecas desprende-se do termo „livro‟ e
„documento‟ para algo mais procedente: a informação”.
Assim, ocorreram muitas transformações no ambiente das bibliotecas, seja em seus
processos técnicos, seja no seu instrumental tecnológico (computadores, bancos e bases de
dados etc.) que implicaram em novos produtos e serviços de informação (objeto deste estudo).
Entretanto, uma mudança significativa diz respeito à valorização do “acesso à informação”,
em contraponto à tradicional “guarda de documentos” (FREITAS, 2006; MARCHIORI,
1998). Enfim, aos produtos e serviços tradicionais das bibliotecas, muitos outros recursos
foram agregados, resultantes da aplicação das Tecnologias da Informação e Comunicação.
43
2.4 A Biblioteca Virtual e as Novas Possibilidades de Acesso ao Conhecimento
A fim de situar, nesse contexto histórico, um novo conceito de biblioteca, parece
relevante ter em conta que o mesmo é resultante, dentre outros, de um processo de
desenvolvimento tecnológico e informacional, em que a informação, nesse momento, não se
prende mais a um objeto físico, e a palavra biblioteca, com o auxílio das novas tecnologias,
consegue se dissociar da noção de espaço, criando um sentido inovador.
Graças às novas tecnologias da informação está sendo modelado o que Browning
chamou de “bibliotecas sem paredes para livros sem páginas”. Neste e em outros
campos, estas novas tecnologias estão gestando os sinais que começam a redefinir o
que a informação e a comunicação virão a ser no Terceiro Milênio, bem como a
cultura e os comportamentos que elas oportunizarão (LEVACOV, 1997, p. 125).
Diferentes abordagens podem ser identificadas a fim de contextualizar a biblioteca
virtual na história da evolução das bibliotecas. Sob a influência das tecnologias vigentes em
cada época, Landoni et al (1993 apud OHIRA; PRADO, 2002), apresentam três momentos
característicos:
A biblioteca tradicional, que existe antes da invenção da imprensa e pressupõe um
espaço físico bem delimitado, além de produtos e serviços de forma mecânica. Seu horizonte
temporal vai desde Aristóteles até o início da automação em bibliotecas. Assim, seu acervo
conheceu diferentes tipos de materiais escritos, desde os tabletes de argila até os materiais
impressos.
A biblioteca moderna ou automatizada, que utiliza a tecnologia dos computadores
em seus serviços meio e fins, e, representaria os primeiros passos rumo à biblioteca eletrônica.
A introdução da tecnologia da informação proveu primeiramente os serviços básicos
(catalogação, indexação e organização do acervo) e, posteriormente, processos de
disseminação e recuperação de informações em redes eletrônicas.
A biblioteca contemporânea, que utiliza a informação no suporte digital, a partir do
advento do CD-ROM e com maior impacto com o surgimento da Internet e a expansão do
ciberespaço. Essa biblioteca consistiria em uma nova possibilidade para a pesquisa e
recuperação on-line de informações integrais de documentos em formato digital, sendo a
expressão de diferentes denominações.
44
Outra abordagem nesse sentido é a análise de Cunha (2000, p. 75) a respeito da
evolução das bibliotecas, na qual o autor as agrupa da seguinte forma:
Era I – Tradicional moderna.
Era II – Automatizada.
Era III – Eletrônica.
Era IV – Digital e Virtual.
Embora não se aprofunde nas particularidades de cada segmentação, Cunha (2000)
explica que em todas as épocas as bibliotecas foram dependentes da tecnologia da
informação, citando como exemplos a passagem dos manuscritos para a utilização de textos
impressos, o acesso a base de dados bibliográficos de textos impressos, armazenados nos
grandes bancos de dados, a utilização de CD-ROM até chegar ao advento da biblioteca
digital, no final dos anos de 1990, concluindo que, embora sendo altamente dependentes das
diversas tecnologias da informação, nos últimos 150 anos, as bibliotecas sempre
acompanharam e venceram os novos paradigmas tecnológicos. Assim, percebe-se alguma
semelhança entre esta e a classificação anterior, de Landoni et al (1993 apud OHIRA;
PRADO, 2002).
Figura 1 - Evolução tecnológica da biblioteca.
Fonte: Cunha (2010, p. 75).
45
Independentemente de qualquer análise, fica evidente que este é um novo momento
tanto na história do livro quanto da biblioteca. A biblioteca se torna um sistema que pode
apresentar diversos tipos de informação, em variados formatos e possibilitar diferentes graus
de interatividade com seus leitores, sendo as bibliotecas eletrônicas, digitais e virtuais, as
maiores expressões desse fato. Além disso, a organização desse conteúdo informacional
suscita preocupações inéditas, enquanto que parece crucial entender satisfatoriamente o que é,
ou “o que vem sendo” essa nova biblioteca.
Embora no contexto presente sua relevância pareça ser algo bastante patente, é
indispensável, ainda que de modo breve, refletir sobre os conceitos que envolvem as
bibliotecas eletrônicas, digitais e virtuais, uma vez que o maior consenso que se verifica na
literatura especializada é a própria falta de consenso a respeito de tais denominações.
É por essa razão que Tammaro e Salarelli (2008, p. 116) alertam que, quanto à
definição de biblioteca digital, “existem diversas formulações, sem que se haja logrado chegar
a um consenso sobre um texto em comum”. A seguir, os autores reforçam o problema
mencionando outros dois termos que costumam ser empregados como sinônimos: “biblioteca
eletrônica” e “biblioteca virtual”, e acrescentando que existem também afinidades com os
termos “biblioteca híbrida” e “biblioteca multimídia”. Igualmente é possível identificar essa
preocupação em Macedo e Modesto (1999b, p. 63), que procuram explicar essas confusões
em função do momento de transição que ocorre entre o tradicional e o inovador:
Surge, obviamente, nova terminologia em contínua ascendência, porém em
contradição entre os autores, confundindo as pessoas, necessitando, pois, de precisão
na conceituação. Se há diferenças em nomeá-la como biblioteca eletrônica, digital
ou virtual, uma caracterização deveria excluir a outra. Logo, estas questões
perturbam a mente de todos nós.
Ora, além desses autores, esse mesmo problema é evidenciado nos trabalhos de
Levacov (1997), Cunha (1997, 1999, 2000, 2008), Drabenstott e Burman (1997), Marchiori
(1998, 2002), Rowley (2002) e Ohira e Prado (2002), apenas para destacar alguns dos
estudiosos que mais têm se debruçado sobre o assunto. Vale ressaltar que essas pesquisas
incluem revisões de literatura de abrangência nacional e internacional e são produtos de
livros, artigos publicados em periódicos científicos conceituados, além de investigações de
nível de doutorado. Ou seja, estes e vários outros autores citados pelos acima mencionados
vêm desenvolvendo pesquisas e estudos criteriosos e discorrendo sobre questões e problemas
46
similares a respeito dessa temática, o que leva a crer que esta não seja uma questão
meramente superficial.
Concordando com Macedo e Modesto (1999b), parece que essa situação é algo
característico desse momento de transição tecnológica que também vem afetando as
bibliotecas. Porém, se muitos autores compartilham dessa preocupação, não se localizou
nenhum estudo que buscasse estabelecer o norte conceitual necessário, embora de modo mais
ou menos convergente ou divergente, aqueles que discorrem sobre o assunto procuram seguir
alguma definição em particular.
Por outro lado, discorda-se do fato de que a noção de sinônimo sirva para
compreender satisfatoriamente esses diferentes conceitos, uma vez que, as bibliotecas
eletrônicas, virtuais e digitais, apresentam determinadas características particulares, que
permitem alguma distinção. Ainda que não seja preocupação desse estudo discutir respostas
ao problema conceitual (problema que, todavia, parece requerer tal atenção) é importante
reconhecer a existência destas divergências, a fim de empregar aqueles conceitos que se
considera mais apropriados com a devida cautela, o que se pretende ao adotar as definições
apresentadas a seguir.
A biblioteca eletrônica pode ser compreendida como a réplica eletrônica de uma
biblioteca tradicional, ou seja, utiliza-se de recursos de hardware e software computacionais
para os procedimentos de busca, leitura e recuperação das informações, que podem estar
armazenadas em mídia eletrônica ou mesmo em suportes impressos. Na biblioteca eletrônica a
informação impressa coexiste com a informação em formato digital, e são utilizados recursos
eletrônicos, inclusive redes eletrônicas de informação, como a Internet. Ou seja, a mesma
implica no conceito de uma biblioteca com seu acervo, catálogo e serviços desenvolvidos em
suporte eletrônico, por isso trata de um conceito mais abrangente. Entretanto, na prática, esta
parece ser uma das denominações mais conflitantes, principalmente com relação às
bibliotecas digitais, provavelmente devido à confusões estabelecidas entre os termos
“eletrônico” (referente à tecnologia eletrônica) e “digital” (relacionado ao formato de
armazenamento da informação).
A biblioteca virtual corresponde a um sistema de realidade não-presencial, que
envolve recursos específicos de tecnologia de realidade virtual, combinando softwares e
hardwares apropriados que interligados permitem reproduzir um cenário imersivo de uma
biblioteca. Além das tecnologias dos computadores, utiliza-se também das redes eletrônicas e
de acessos remotos. Nesse caso, o conceito de “virtual”, apresentado por Lévy (2001), embora
47
também
faça
aflorar
diferentes
interpretações,
contribui
para
se
compreender
satisfatoriamente a noção de biblioteca virtual, uma vez que, uma das características mais
comuns desta biblioteca é que a mesma não existe fisicamente, mas exista em potência, ou
seja, uma “biblioteca sem biblioteca” (SOUZA, 1999, p. 107). Assim, ainda que não envolva
tecnologias altamente imersivas, a biblioteca virtual pressupõe uma biblioteca acessível em
rede e dissociada da noção de espaço físico.
Já a biblioteca digital oferece uma perspectiva um pouco diferente, sendo uma das
definições que apresenta maior concordância entre os autores, tendo em vista que os mesmos
a utilizam geralmente para se referir à forma de apresentação digital do acervo. Sobre o
conceito de “digital”, Lévy (2001) o usa para descrever as informações digitalizadas, ou seja,
informações traduzidas em números (dígitos binários) que são armazenados nas memórias
eletrônicas e, ao serem pesquisados os documentos digitais, estas informações são
processadas e decodificadas, podendo ser visualizadas em alguma forma de apresentação.
Assim, na biblioteca digital, todos os recursos informacionais estão disponibilizados em um
formato processável por computador, sendo que o armazenamento, a preservação, a
recuperação, o acesso e a apresentação das informações ocorrem devido ao emprego da
tecnologia digital, bem como envolve o uso das redes de computadores (MACEDO;
MODESTO, 1999b). Ou seja, a biblioteca digital não compreende o uso de materiais
convencionais impressos, tais como livros e revistas, mas exclusivamente informações em
formato digital.
Outros termos podem ser encontrados com alguma aproximação ou distanciamento
em relação àqueles anteriormente mencionados, como “biblioteca híbrida”, “nova biblioteca”,
“biblioteca global”, “biblioteca polimídia” etc., mas os mesmos serão deixados de lado, não
pelo fato de não terem apresentado repercussão equivalente, mas principalmente por não
parecer conveniente examiná-los exaustivamente nesse momento, tendo em vista que os
conceitos de biblioteca virtual, biblioteca digital e de biblioteca eletrônica, são alguns dos
mais relevantes para compreender as novas perspectivas que as bibliotecas assumem na
atualidade.
Levando em conta o conceito de biblioteca eletrônica como aquela em que a
informação impressa coexiste com a informação em formato digital, utilizando-se da
tecnologia e das redes eletrônicas de informação e comunicação, podem ser identificadas
várias instituições que embora tenham seus acervos físicos, disponibilizam produtos e
serviços no ciberespaço em sites específicos. Entre exemplos de bibliotecas eletrônicas, pode-
48
se destacar a Biblioteca do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo 7, e a Biblioteca Virtual
da América Latina8, que apesar do nome, é um sistema que também depende do acervo físico
da Biblioteca Latino-Americana Victor Civita da Fundação Memorial da América Latina. Ou
seja, os produtos e serviços dessas bibliotecas não são completamente digitais. Entretanto, não
se pretende aprofundar ainda mais em tais discussões.
O Programa Prossiga, do Ministério da Ciência e Tecnologia do Brasil, disponibiliza
em parceria com diversas instituições, Bibliotecas Virtuais Temáticas9, identificadas como
coleções referenciais de informações disponíveis na Internet, podendo estar acessíveis em
texto integral, inclusive em outros sites (por meio de links). Existem ainda outras bibliotecas
virtuais na Internet, como por exemplo, a Biblioteca Virtual em Saúde 10 e a Biblioteca Virtual
de Direitos Humanos11. Além disso, com acesso restrito podem ser encontradas, ainda,
bibliotecas virtuais em empresas, como se verifica nos trabalhos de Rezende (1997),
Marchiori (1998, 2002) e Rezende e Marchiori (1994).
Entre as bibliotecas digitais, se encontra a Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações12, projeto desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e
Tecnologia (IBICT) em parceria com as Instituições de Ensino Superior e de pesquisa do
Brasil. Outros exemplos de bibliotecas digitais são a Biblioteca Nacional Digital do Brasil13, o
Portal Domínio Público14, a Rede Biblioteca Digital Mundial de Teses e Dissertações15
(Networked Digital Library of Theses and Dissertations) e a Biblioteca Digital Mundial16. O
SciELO parece mais apropriadamente uma biblioteca digital do que uma biblioteca eletrônica,
uma vez que disponibiliza informações eminentemente em formato digital.
Ao navegar pelas bibliotecas eletrônicas, digitais e virtuais é possível a qualquer
leitor se questionar se existe uma distinção clara sobre cada tipo, uma vez que algumas
instituições parecem não se ater aos limites terminológicos que as circundam, e se o próprio
ciberespaço é um convite à quebra dos limites tradicionais que envolvem a tecnologia e a
informação. Entretanto, não parece sensato generalizar e colocar no mesmo patamar, sem
nenhuma distinção, uma biblioteca baseada em conteúdos inteiramente digitais, um sistema de
7
Disponível no endereço eletrônico: http://www.biblioteca.tj.sp.gov.br/acervo/principal.nsf.
Disponível no endereço eletrônico: http://www.bvmemorial.fapesp.br/php/index.php?lang=pt.
9
Disponível no endereço eletrônico: http://www.prossiga.br/bibliotecas/.
10
Disponível no endereço eletrônico: http://regional.bvsalud.org/php/index.php?lang=pt.
11
Disponível no endereço eletrônico: http://www.direitoshumanos.usp.br/.
12
Disponível no endereço eletrônico: http://bdtd.ibict.br/.
13
Disponível no endereço eletrônico: http://bndigital.bn.br/.
14
Disponível no endereço eletrônico: http://www.dominiopublico.gov.br/.
15
Disponível no endereço eletrônico: http://www.ndltd.org/.
16
Disponível no endereço eletrônico: http://www.wdl.org/pt/.
8
49
realidade virtual, uma biblioteca virtual focada no acesso à informação, ainda que remeta a
outros sites, ou mesmo uma biblioteca em que a informação em formato impresso é tão
importante quanto à informação acessada on-line em texto digital.
Ter em conta critérios que permitam interpretar e compreender essas bibliotecas se
torna relevante a fim de que a generalização não induza a adotar, indiscriminadamente,
posições extremas, como por exemplo, comparar à Internet como uma biblioteca digital ou
uma biblioteca virtual. Pode pesar nesse caso o fato da informação estar armazenada em texto
digital, bem como, acessível remotamente, independente do espaço físico e, de certo modo,
organizada com determinados instrumentos. Entretanto, por outro lado, como demonstra
Rowley (2002, p. 4), pode-se argumentar, por exemplo, que a Internet “não atende a alguns
dos critérios exigidos por uma biblioteca, como uma população definida de usuários e
recursos auxiliares de busca suficientemente complexos”. Mas o que parece mais relevante
aos leitores são os benefícios, e não necessariamente o conceito, razão pela qual se acredita
que, independentemente da terminologia, acessar a informação integral, remota e
instantaneamente, são características cruciais dessa biblioteca que rompe com os tradicionais
limites físicos, espaciais, temporais.
O rompimento com estas características atestam uma transformação no conceito de
biblioteca, uma vez que tradicionalmente, a biblioteca é conhecida como uma instituição que
utiliza um espaço físico para organizar seus produtos físicos para consultas locais ou
empréstimos de materiais bibliográficos também localmente. Na biblioteca tradicional, o
tempo de uso dos recursos de informação é o período de funcionamento da biblioteca ou
ainda, o prazo de duração do empréstimo dos materiais do acervo.
Trata-se, assim, de um local geograficamente situado e fisicamente construído,
contendo materiais bibliográficos igualmente físicos e com um tempo de uso determinado
pelo seu horário de funcionamento. No caso do regulamento da biblioteca permitir a
circulação do acervo (empréstimos, devolução e renovações de empréstimos) pode haver uma
ampliação destas condições de uso, uma vez que, assim, os limites físicos, temporais e
geográficos são relativamente transgredidos pela possibilidade de utilização do material
impresso em outros ambientes e em outros horários.
Entretanto, permanecem imutáveis as características dos materiais físicos, cujo uso
se desdobra na forma característica de uma leitura meditativa. As TIC e o ciberespaço
estabelecem sobre este quadro, uma influência significa ao transformar o conceito de
50
biblioteca, as características dos seus produtos e serviços de informação e a própria cultura
dos leitores.
A digitalização da informação, a automatização dos serviços da biblioteca e a
portabilidade proporcionada pelas TIC são exemplos marcantes de um cenário em que os
aspectos tradicionais das bibliotecas não exercem mais a mesma influência que outrora.
Embora se reconheça a importância dos produtos e serviços tradicionais, em especial do livro
impresso, os quais ainda vigoram como recursos indispensáveis de pesquisa, deixar de
considerar a influência das TIC sobre as bibliotecas pode incorrer em uma compreensão
limitada sobre sua configuração contemporânea.
Nesse novo contexto, o leitor pode utilizar a biblioteca localmente, obedecendo às
suas fronteiras tradicionais, mas pode também extrapolar estes limites para outros territórios,
praticamente incomparáveis aos aspectos anteriores. A biblioteca é um cenário que se abre ao
ciberespaço, mas é primordial considerar que estes recursos estão em contato com os leitores
em todos os ambientes em que transitem (em casa, no trabalho, na sala de aula, nos demais
locais públicos etc.). O leitor pode consultar o acervo de inúmeras bibliotecas
instantaneamente e de modo inteiramente on-line, seja em um computador convencional, em
um notebook ou mesmo em um celular ou outros recursos portáteis que ofereçam acesso à
Internet. Ainda com relação aos serviços oferecidos pela biblioteca, o leitor pode renovar o
empréstimo de livros, reservar obras, baixar textos integrais de artigos de periódicos,
trabalhos acadêmicos como monografias, teses ou dissertações, e-books, entre outros. Ao
explorarmos a experiência de outros países, evidentemente encontraremos outras
possibilidades de uso dos recursos de informação que também extrapolam os limites
tradicionais das bibliotecas e que beiram à ficção científica, mas que em pouco tempo se
tornam comuns devido ao rápido avanço da tecnologia.
Assim, uma característica desse contexto tecnológico e informacional parece ser o
fim da exigência de uma presença fixa para acessar uma informação, ou simplesmente para
fazer algo cotidiano, uma vez que muitos aspectos das relações humanas foram incorporados
ao ciberespaço, o que não é diferente no caso da biblioteca. O leitor pode não estar presente
fisicamente na biblioteca e utilizar muitos de seus serviços eletrônicos de modo remoto,
enquanto que, mesmo quando se encontra na biblioteca, pode utilizar apenas seus serviços
eletrônicos (ou não) e navegar por fontes de informação em ambientes externos, cuja
localização física é totalmente irrelevante. Isso marca uma separação entre a presença e o
acesso, entre o físico e o virtual, muito comum na biblioteca contemporânea.
51
Essas mesmas características também são indicadores de uma possível mudança
paradigmática comentada por alguns autores da área da Ciência da Informação quando
defendem que o “paradigma do acesso à informação” venha substituindo o “paradigma do
acervo”, o que deve ser considerado com as devidas reservas.
As TIC e o ciberespaço proporcionam um tipo de mobilidade que envolve tanto as
pessoas, quanto as informações, os serviços e as próprias tecnologias. Não obstante, é
possível observar no comércio, na cultura, nas artes e em outros aspectos da vida cotidiana,
várias influências deste contexto tecnológico, sendo que, os indivíduos parecem apresentar
uma existência real e outra virtual, o que é visível ao tentar distinguir sua vida no mundo
físico de sua “movimentação” virtual no ciberespaço, caracterizada pela sua identidade nas
redes sociais, suas trocas de informação por e-mails e bate-papos, em suma, por toda a sua
experiência imersiva.
As pessoas que nas bibliotecas compreendemos como leitores, nas escolas como
alunos, no comércio como clientes, na sociedade como cidadãos, entre outras configurações
possíveis, são indivíduos expostos a uma intensa carga tecnológica e informacional que
caracteriza sobremaneira suas identidades, sua cultura e seus comportamentos, de modo que,
navegar no ciberespaço não seja uma novidade à opção de ler um livro, assim como comprar
um produto pela Internet não seja menos comum do que ir pessoalmente à loja para cumprir
esse objetivo.
Dessa forma, consciente das características desse ambiente contemporâneo, do atual
estágio de desenvolvimento das bibliotecas e dos recursos informacionais, bem como do perfil
dos leitores, entende-se que as bibliotecas eletrônicas, as bibliotecas digitais e virtuais são
alguns dos resultados do estado-da-arte do desenvolvimento tecnológico e informacional,
cujos impactos provavelmente ainda se farão sentir por algum tempo, embora reconheçamos o
caráter altamente dinâmico das inovações tecnológicas.
2.5 A Biblioteca Universitária no Brasil
Sobre a história das bibliotecas no Brasil colonial, Schwarcz e Azevedo (2002 apud
REIS, 2008, p. 48) explicam que, nesse período, a Igreja era o “centro da vida religiosa, social
52
e mundana”, local em que se misturavam “assistentes cheios de fé, conversadores inveterados,
pares amorosos e negociantes, como se o espaço fosse propício para os mais diferentes
propósitos”. Consequentemente, o saber era produto de ostentação e a biblioteca,
transformada em “moeda de prestígio”, ainda não estava acessível.
Nessa época, era nos conventos dos franciscanos e dos carmelitas instalados em
Olinda, bem como dos beneditinos, instalados em Salvador e dos capuchinos, no Maranhão,
que se concentrava a informação que seria posteriormente disseminada com o auxílio dos
jesuítas da Companhia de Jesus, cujo objetivo era a catequização dos índios e a instrução dos
colonos e demais moradores locais. Assim, a Igreja perdura como a única instituição
educadora até o fim do século XVIII (REIS, 2008).
Embora no século XVII tenham sido implantadas várias academias literárias, pela
elite e, mesmo que no início do século XVIII, os impressos e as bibliotecas de conventos
tenham se multiplicado, as mesmas ainda continuavam como representantes de status social, e
a Igreja, detentora de terras, imóveis e poder (além de bibliotecas). Foi então que essa
situação sofreu uma grande mudança:
No Brasil as bibliotecas começaram a surgir nos estabelecimentos religiosos até que
o Marquês de Pombal, ministro português, decreta que a partir de 1755, os índios
passam a depender das autoridades seculares e não dos missionários. Em 1773, o
Marquês de Pombal obtém do papa Clemente XIV a extinção das ordens dos jesuítas
responsáveis pelo ensino em todo o território português, do reino e das colônias,
conseqüentemente, todos os bens dos jesuítas nas colônias são confiscados (REIS,
2008, p. 49).
Dessa forma, influenciado pelas ideias iluministas, o Brasil inicia ainda no século
XVIII um novo período e o livro e a biblioteca adquirem, assim, novas perspectivas em nosso
país. Os brasileiros passam a se formar em cursos superiores na Europa, principalmente na
Universidade de Coimbra e, aos poucos, vão sendo instaladas escolas na Bahia, Rio de Janeiro
e Pernambuco, a fim de substituir o ensino anteriormente ministrado pelos jesuítas.
Outro acontecimento de consequências significativas foi a transferência da família
real portuguesa para o Brasil no início do século XIX, com a qual veio a Biblioteca Real,
posteriormente Biblioteca Nacional do Brasil, que estimula a necessidade de criação de
53
bibliotecas no Brasil, biblioteca esta que, desde 1992, funciona como sede do Sistema
Nacional de Bibliotecas Públicas17.
Convém ressaltar que, embora tenha se desenvolvido, principalmente a partir do
século XVIII, a consciência sobre a importância do livro e da biblioteca no Brasil, as
primeiras bibliotecas públicas foram desenvolvidas pela iniciativa privada, como a Biblioteca
Pública de Salvador e os Gabinetes Portugueses de Leitura.
Foi apenas a partir do Estado Novo que o Instituto Nacional do Livro passou a
implantar bibliotecas públicas municipais, em parceira com as prefeituras, e já na década de
1970 a concepção de leitura como um elemento importante no processo educacional veio se
firmando no Brasil, o que, na prática ainda apresenta limitações. Porém, estas políticas
também podem ter concorrido, por outra via, para que as bibliotecas públicas
desempenhassem o papel de bibliotecas escolares, se focando mais na pesquisa acadêmica do
que no incentivo a atividades comunitárias de leitura por lazer.
Críticas à parte, ainda que tardiamente os efeitos da revolução tipográfica tenham se
impostos com maior força na realidade brasileira, o livro e a biblioteca semearam os frutos da
possibilidade de acesso a um conhecimento que historicamente foi privilégio de uma minoria,
seja pelas condições limitadas do ensino público, seja pelas limitações impostas para se
acessar o acervo de uma biblioteca. Guardadas as devidas reservas, no momento presente,
diante das possibilidades de acesso à bibliotecas e à informação, um dos desafios têm sido
encontrar o que se procura em meio à enxurrada de informações que bombardeiam os sentidos
dos leitores, uma das características da atual Sociedade da Informação.
As universidades evidenciam a importância do conhecimento e da atividade de
ensino como elementos capazes de transformar a condição humana, uma vez que atuam como
instrumentos capazes de auxiliar os indivíduos na aquisição, construção e ampliação de seus
conhecimentos acadêmicos e científicos, condição necessária para o desenvolvimento dos
mesmos de modo crítico e participativo na sociedade regional e global da qual fazem parte e
devem agir como parte.
Como a biblioteca universitária é parte integrante de uma IES, parece razoável
refletir sobre a mesma a partir do contexto em que se encontra inserida, ou seja, o ambiente
universitário, aqui examinado brevemente a partir de dois momentos: primeiramente, levando
17
O Decreto nº 520, de 13 de maio de 1992, institui o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e dá outras
providências (BRASIL, 1992).
54
em conta seu surgimento histórico na Idade Média e, posteriormente, retomando seu
surgimento tardio no Brasil Colonial, a partir de quando vem se forjando e constituindo aos
poucos algumas características que compõem sua identidade nos dias atuais.
Sob uma perspectiva histórica, é possível encontrar em Burke (2003) um estudo a
respeito da sociologia do conhecimento que tem como limites cronológicos o Renascimento e
o Iluminismo, localizando-se no início da Era Moderna, definido pelo autor como o período
situado entre a invenção da imprensa por Gutenberg (em 1450) e a publicação da primeira
enciclopédia, por Diderot (em 1750). Como admite a necessidade de transgredir os limites
cronológicos estabelecidos para desenvolver seu estudo, Burke (2003) inclui em sua análise o
“surgimento das universidades”, no século XII (Idade Média), que, assim como o surgimento
dos letrados europeus, seria o resultado da crescente divisão do trabalho associado ao
surgimento das cidades.
Desde que surgiram, as universidades representaram um elemento inovador, mesmo
no período medieval e a despeito das limitações a que estiveram submetidas. Nessa época,
alunos e professores eram, sobretudo, ligados ao clero e a ordens religiosas, e, embora a
universidade fosse expressão de status, a atividade de ensino não recebia ainda o devido
valor, pois à exceção de alguns professores de renome, pagava-se muito pouco por esse modo
intelectual de ganhar a vida. Contudo, também nesse contexto, tal foi o impacto da revolução
tipográfica (século XIII) que novas oportunidades foram surgindo para os letrados, seja na
área da impressão tipográfica, ou mesmo em Igrejas e Estados (também impulsionados pela
Reforma), de modo que na metade do século XVII já havia mais estudantes do que a demanda
por serviços que exigissem alguma erudição.
Foi nesse cenário de oportunidades e de dificuldades que se forjou, para Burke
(2003), uma diferenciação estrutural entre os letrados europeus, destacando-se os escritores e
um pequeno e influente grupo, cuja atividade principal era pesquisar, coletar informações e
organizar esses conhecimentos. Os professores universitários também começaram a se firmar
como um grupo distinto e o ensino, nesse momento, já começava a ser encarado como uma
vocação. A partir de 1700, consequentemente, outras oportunidades foram surgindo, como por
exemplo, em organizações cientificas e inclusive nas próprias universidades, não apenas como
professor ou escritor.
Assim, as universidades, de acordo com o conceito Ocidental ora apresentado,
surgem ligadas à Igreja, instituição detentora do poder na Era Medieval. Historicamente, se o
conhecimento pode ser considerado um instrumento de poder, conforme passa a ocorrer o
55
desenvolvimento das universidades, observa-se que o saber acadêmico vai se constituindo
como um dos elementos fundamentais para o exercício da autonomia que o conhecimento
pode proporcionar, enquanto que o ensino vai adquirindo os contornos de uma atividade
intelectual mais definida e indispensável para a o acesso ao conhecimento, instrumento que
possibilitaria aos estudantes, nesse momento, ingressar em um mercado de trabalho intelectual
que se ampliava e se desenvolvia junto com as transformações sociais.
Surgindo também nesse período, as bibliotecas universitárias têm estado relacionadas
às transformações sociais e tecnológicas que se sucederam e influenciaram a universidade. A
biblioteca encontra, assim, na recém-criada instituição universitária, o espaço necessário para
uma de suas configurações que predomina até os dias atuais, guardadas as devidas proporções
dessa comparação.
Particularmente, não parece precipitado considerar que as bibliotecas universitárias
tenham se originado no cruzamento entre as transformações que as bibliotecas sofrem a partir
da Idade Média e a própria formação das universidades, em um momento de transição, a
caminho do Renascimento, levando a crer que ambos, universidade e biblioteca universitária,
fazem parte ainda de um conjunto maior de transformações que envolvem toda a sociedade a
partir desse período.
[...] Oxford, Sorbonne, pioneiras, tiveram grandes bibliotecas. Os livros, de acordo
com o seu valor – copiados à mão e ricamente ornamentados – ficavam presos por
correntes à estantes, mas de maneira que pudessem ser levados à mesa de leitura.
Essas bibliotecas carregavam, fortemente, a atmosfera religiosa em sua arquitetura e
nas ações de seus freqüentadores. O ato de ler revestia-se de tal importância que não
se entrava no recinto da leitura sem que os leitores usassem a beca.
As bibliotecas universitárias pré-renascentistas já apontavam para novas práticas que
deram para a biblioteca o caráter de espaço de liberdade e de conhecimento
(MILANESI, 2002, p. 23-24).
É nesse contexto que as bibliotecas caminham para um distanciamento em relação ao
controle religioso ao qual tinham estado sujeitas durante praticamente toda a Idade Média e
ganhando mais força ainda quando, em 1450, surge a imprensa e, com ela, vêm à tona as
consequências da revolução tipográfica.
De modo inovador, a imprensa, que contribui para a democratização do acesso ao
conhecimento também influencia consideravelmente as bibliotecas. Martins (2002) destaca a
laicização, a democratização, a especialização e a socialização como características das
transformações que envolveram as bibliotecas desde os fins do século XVI. Estas
56
características diretamente relacionadas entre si, juntamente com as transformações sociais e
culturais (como o Renascimento), bem como tecnológicas (com destaque nesse momento para
a invenção da imprensa), contribuíram assim para delinear a identidade da biblioteca
universitária, um dos tipos de biblioteca que, embora ainda recente, foi deixando para trás os
preceitos medievais e construindo um novo sentido.
Já no contexto latino-americano, especificamente no Brasil colonial, a universidade
se instalou tardiamente, pois enquanto em outras colônias da América Espanhola havia várias
universidades, nosso país ficava restrito à educação religiosa ministrada pelos jesuítas e o
ensino superior era oferecido apenas na metrópole portuguesa, sobretudo na Universidade de
Coimbra (MENDONÇA, 2000).
Com relação a esse contexto, Reis (2008) explica que no Brasil colonial, a Igreja,
detentora do poder religioso, esteve à frente das atividades de ensino até a segunda metade do
século XVIII, quando o Marquês de Pombal, ministro português, decreta em 1755, que os
índios passam a depender das autoridades seculares, e não mais dos religiosos. Pouco tempo
depois, em 1773, o ministro consegue junto ao Papa Clemente XIV, a extinção de todas as
ordens religiosas responsáveis pelo ensino no território português e nas colônias. A partir de
então, o governo passa a investir, aos poucos, na criação de escolas para oferecer o ensino
anteriormente ofertado pelos jesuítas, embora muitos alunos ainda continuem a se formar na
metrópole portuguesa.
Mesmo rompendo com a instituição de ensino jesuítica, o desenvolvimento de um
sistema de ensino no Brasil foi resultado de um processo moroso e marcado pelos interesses
do Estado. Atesta esse argumento o fato de que o ensino superior em nosso país foi
desenvolvido inicialmente a partir de academias e institutos isolados, que estavam a serviço
dos interesses militares do governo colonial.
Ao longo dos governos imperiais, também foram poucas as iniciativas para a criação
de uma universidade no Brasil, embora houvesse uma demanda nesse sentido, que trazia à
tona o atrito entre os interesses de diferentes grupos. Nesse sentido, foi apenas entre os anos
de 1920 e 1940 que houve a institucionalização da universidade no Brasil, tendo como marco
a criação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1920, como aponta Mendonça
(2000).
O período que se sucede na história política, econômica e social do país viria a
influenciar e caracterizar os rumos da educação, sobretudo do ensino superior e mais
57
especificamente ainda, da instituição universitária brasileira, que atravessou um momento de
transformação em sua identidade, entre outros acontecimentos, quando da criação da
Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Distrito Federal (UDF). Entretanto,
estas viriam a sofrer as imposições do Governo com a criação da Universidade do Brasil
(UB), projeto que influenciou os rumos do ensino universitário.
Nesse ritmo, ao longo dos anos 1950 e 1960 o ensino superior se expandiu no Brasil,
aumentando a quantidade de universidades e ampliando os debates envolvendo a Reforma
Universitária. Uma característica dos anos 1970 foi o estímulo governamental para a oferta de
ensino superior privado, razão pela qual se multiplicaram as instituições voltadas para a oferta
desse tipo de ensino e, já a partir dos anos 1980, com a redemocratização, foram retomados
novamente os debates em torno dos rumos da universidade em nosso país.
Observa-se, então, que universidade se institucionaliza no Brasil entre os anos 1920 e
1968, quando vai assumindo sua configuração atual, sendo, portanto, nesse contexto que a
biblioteca universitária vai se moldando como parte desta instituição.
Dessa forma, no século XX, quando o campo educacional passa por um processo de
crescimento e amadurecimento, sendo implantadas diversas IES, surgem as bibliotecas
universitárias em nosso país, como parte integrante do sistema educacional, conforme explica
Reis (2008, p. 51):
O desenvolvimento no plano social, político e científico define um novo ambiente
favorecendo a introdução do conhecimento científico no País, incluindo a
implantação das universidades que contribuem para o desenvolvimento cultural e
científico, provocando mudanças estruturais importantes. No cenário brasileiro,
surgem as bibliotecas universitárias, elo de ligação entre a necessidade de
informação do usuário e o recurso informacional destinado a toda a coletividade;
aflora assim, um novo ambiente e mudanças ocorrem sob a influência das novas
tecnologias intelectuais.
Em termos legais, Lemos (1974 apud OLIVEIRA, 2004, p. 25) ressalta que, desde
1963, o Conselho Federal de Educação torna obrigatória que as IES, entre outros requisitos,
tenham uma biblioteca, a fim de que consigam reconhecimento. Porém, Oliveira (2004, p. 26)
reforça ainda que foi em decorrência da Reforma do Ensino Superior, em 1968, que as
bibliotecas universitárias passaram a ser consideradas obrigatórias nas IES. Enquanto que à
estas instituições compete a elaboração de objetivos gerais de ensino, cabe à biblioteca
universitária a interpretação de tais objetivos, de modo a adequar os meios aos fins,
58
assegurando, ainda, eficácia na realização dos objetivos específicos, condizentes com o
contexto micro e macro do sistema educacional (OLIVEIRA, 2004).
Entre a legislação que dispõe sobre questões referentes às bibliotecas universitárias,
pode ser apontado ainda o Decreto nº 5.773, de 09/05/2006 (BRASIL, 2006a), a Lei Federal
nº 10.861, de 14 de abril de 2004, (BRASIL, 2004), a Portaria MEC nº 563, de 21/02/2006
(BRASIL, 2006b), a Portaria MEC nº 2.864, de 24/08/2005 (BRASIL, 2005) e a Portaria
CAPES nº 13, de 15/02/2006 (BRASIL, 2006c).
Assim, a biblioteca universitária passa a dispor de instrumentos legais que
legitimizam seu caráter e objetivos, ou seja, se fundamenta como parte integrante do ensino
superior, com papel indispensável para o avanço científico e tecnológico das várias áreas do
conhecimento humano. É por essa razão que se configura como uma unidade essencial para
que a universidade atinja suas finalidades, pois o ensino, a pesquisa e a extensão também
passam pela biblioteca, ou melhor, também transitam pelo acervo de conhecimentos
organizado e disponibilizado pelas bibliotecas universitárias.
Assim como a universidade deve estar voltada para as necessidades educacionais,
culturais, científicas e tecnológicas do País, as bibliotecas devem trabalhar visando a
esses mesmos objetivos, condicionadas que são às finalidades fundamentais da
universidade. Por isso, as bibliotecas devem participar ativamente do sistema
educacional desenvolvido pela universidade. Do mesmo modo que não há sentido
em universidades desvinculadas da realidade sócio-econômica, as bibliotecas
universitárias só poderão ter sentido se estiverem em consonância com os programas
de ensino e pesquisa das universidades a que pertencem (FERREIRA, 1980, p. 7).
Entende-se, nesse caso, que as universidades, com seus cursos de formação superior,
devem ser orientadas às necessidades educacionais, culturais, científicas e tecnológicas, o que
geralmente tem reflexos nos diferentes contextos regionais com suas diversas realidades
socioeconômicas. Não obstante, as bibliotecas universitárias, como unidades vinculadas aos
objetivos institucionais de ensino, pesquisa e extensão, devem prover condições para o
cumprimento destas finalidades, como por exemplo, a aquisição, processamento e
disponibilização de acervo bibliográfico para atender as bibliografias básicas e
complementares dos cursos, a participação nos programas institucionais como unidade de
referência em pesquisa e, o engajamento na discussão de políticas voltadas para o
desenvolvimento científico e cultural das IES, entre outros.
59
Embora a informatização dos processos, produtos e serviços de informação possa
revelar uma disparidade entre a incorporação das TIC nas bibliotecas e sua inserção limitada
nos programas de ensino dos cursos superiores, convém ressaltar que a consonância
informada pela autora anteriormente citada, ao que tudo indica, está mais orientada aos
recursos de informação integrantes dos programas de ensino dos cursos (acervos de livros,
periódicos etc.) compreendendo-se que a incorporação das TIC nos programas de ensino é de
uma ordem que foge ao âmbito das bibliotecas, estando, assim, mais ao nível dos colegiados e
dos setores da administração superior, uma vez que envolve questões político-pedagógicas.
Por outro lado, embora as unidades de informação tenham alcançado avanços
tecnológicos significativos, os materiais impressos (como por exemplo, o livro impresso)
ainda são os principais produtos de informação das bibliotecas universitárias e, nesse sentido,
se considerarmos que os programas das disciplinas giram em torno destes recursos, a
biblioteca demonstra que também não está desvinculada deste contexto.
Embora algumas definições identifiquem a biblioteca universitária em termos de seus
propósitos, ou seja, voltada para as necessidades informacionais de sua comunidade
acadêmica, seus usuários reais, ou mesmo, em função de seus componentes (pessoas, coleções
e prédios), existem ainda definições que as consideram enquanto instituições que servem aos
estabelecimentos de ensino superior, podendo ainda estar acessíveis ao público em geral, ou
seja, seus usuários potenciais.
De todo modo, acredita-se que as definições que situam a biblioteca universitária em
relação às IES igualmente permitem compreender seu amplo conceito no que se refere ao
ensino superior, pois ao contrário do que o nome pode levar a crer, as bibliotecas
universitárias não são restritas a universidades, mas também são partes integrantes de
quaisquer estabelecimentos de ensino superior, sejam estes faculdades, centros universitários,
faculdades integradas, universidades, ou mesmo centros e institutos de educação tecnológica.
Embora tais instituições possam apresentar estrutura organizacional e administrativa distintas,
devem, obrigatoriamente, seguir a legislação educacional específica, uma vez que são IES. Da
mesma forma, embora nesse contexto as bibliotecas possam dispor de diversas estruturas
administrativas ou organizacionais, estas são igualmente bibliotecas universitárias, uma vez
que estão vinculadas ao ensino superior por meio de suas principais instituições. É por essa
razão que se defende que o conceito de biblioteca universitária pode ser melhor compreendido
como se referindo ao conjunto de bibliotecas de IES.
60
Em um espectro ainda mais amplo, mas não menos relevante, Tarapanoff (1980 apud
OLIVEIRA, 2004, p. 27) faz a seguinte contextualização:
[...] a biblioteca universitária, como parte integrante da sociedade na qual opera,
reflete as características gerais do País, seu grau de desenvolvimento, sua tradição
cultural, seu problemas e prioridades sócio-econômicas. [...] A universidade e a
biblioteca universitária brasileira são produtos da história social, econômica e
cultural do País, bem como das características regionais brasileiras aos mais
variados segmentos sociais.
De fato, assim como as universidades em geral surgem em meio a transformações
sociais e juntamente com elas surgem as bibliotecas universitárias, no contexto brasileiro, as
bibliotecas universitárias são o produto das transformações envolvendo o desenvolvimento do
ensino superior e, se encontram identificadas nesse contexto social por meio das
características regionais que compartilham com as diversas IES de que fazem parte.
Por outro lado, Cunha (2000), já apresenta algumas preocupações similares e outras
bem distintas em relação à Ferreira (1980), que talvez possam ser compreendidas pelo período
em que cada estudo se situa. Ao analisar a situação das universidades, o autor aborda também
a globalização econômica e critica a influência do mercado sobre os rumos do ensino
superior, argumentando que “as mudanças nos objetivos e no gerenciamento estão deixando o
futuro das universidades ao sabor da inconsistência do mercado global” (CUNHA, 2000, p.
72).
Nesse estudo, o referido autor faz uma projeção dos principais tópicos que
provavelmente terão maiores impactos no contexto das bibliotecas universitárias brasileiras
para os próximos dez anos, ou seja, tendo como data limite o ano de 2010. No que se refere ao
contexto do ensino, talvez algumas de suas previsões mais sensatas estejam relacionadas às
transformações da estrutura de controle referentes ao ensino, à influência do mercado, aos
impactos da tecnologia da informação e do ciberespaço, bem como à criação de instituições
virtuais de ensino e à expansão do ensino a distância.
Em termos de quantidade de IES em nosso país, de acordo com os dados oficiais
mais recentes de que se tem notícia, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) 18, em 2008 o Brasil contava com 2.252 IES,
das quais, 236 eram públicas e 2.016 privadas. Quanto às bibliotecas universitárias, seguindo
18
Disponível no endereço eletrônico: http://www.inep.gov.br/superior/censosuperior/sinopse/default.asp.
61
os dados da Comissão Brasileira de Bibliotecas Universitárias (CBBU), disponíveis em sua
base de dados BIBES19, podem ser localizadas um total de 1.028 bibliotecas universitárias,
sendo 606 de instituições públicas e 422 de instituições particulares. Esses dados refletem, por
um lado, um atraso de dois anos quanto às estatísticas oficiais envolvendo as IES, e, por outro
lado, uma provável necessidade de atualização dos indicadores da quantidade de bibliotecas
universitárias existentes no país, uma vez que demonstra haver menos da metade de
bibliotecas universitárias em relação à quantidade total de IES, tendo como base dados de
2008.
Enfim, um panorama atual das bibliotecas universitárias em nosso país revela que as
mesmas vêm atravessando as mudanças globais relacionadas à tecnologia da informação. Se
por um lado, existem dificuldades a serem superadas, potencial a ser reconhecido e
investimentos e melhorias a serem feitos, por outro, muitas das bibliotecas que
implementaram tardiamente os computadores em seus serviços internos já dispõem de
catálogos on-line, acesso à Internet, a bancos e bases de dados, portais de periódicos,
bibliotecas digitais e virtuais. A esse respeito, o projeto Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações coordenado pelo IBICT é o resultado da parceria mantida com as IES, que
desenvolvem suas próprias bibliotecas digitais.
Assim como as bibliotecas sofreram os impactos das revoluções industriais e
tecnológicas, as bibliotecas universitárias tiveram que se adequar a essas transformações,
ainda que com maior ou menor velocidade, uma vez que a universidade, como ambiente
voltado para a pesquisa, o ensino e a extensão, necessita de informações e serviços adequados
às exigências de sua comunidade acadêmica. A biblioteca universitária, com seu acervo,
produtos e serviços voltados para atender as necessidades informacionais das IES (que ganha
corpo em seus usuários-leitores) é, assim, um dos resultados dessas transformações contínuas
e sua identidade enquanto unidade de informação universitária não é estática, se levar em
consideração, por exemplo, as primeiras bibliotecas universitárias, as bibliotecas posteriores,
com seus catálogos em fichas e as atuais bibliotecas universitárias, que dão acesso tanto ao
acervo local quanto a documentos digitais armazenados remotamente.
19
Disponível no endereço eletrônico: http://www.cbbu.org/index.php?option=com_content&view=article&id=
12&Itemid=2.
62
2.5.1 Organização do Conhecimento
Historicamente, a escrita e o registro do conhecimento em um suporte espacialtemporal permitiu ao mesmo se perpetuar e romper fronteiras tradicionais. Entre o alvoroço
gerado pelas técnicas e tecnologias empregadas para o registro do conhecimento, em
particular a imprensa e mais tarde as TIC, pode-se imaginar os impactos sociais e culturais
gerados por formas consideradas revolucionárias em cada momento histórico, mas nem por
isso totalmente bruscas, pois conforme explica Chartier (1998) a revolução envolvendo o livro
fez com que convivessem, paralelamente, diferentes culturas (a cultura do manuscrito e a
cultura do impresso), sendo possível um processo de continuidade entre uma cultura que
surge e outra que tende a permanecer na história.
Entre as principais preocupações suscitadas pelo aumento da quantidade de
documentos e pela diversificação dos suportes, se encontra, a princípio, a guarda e
posteriormente a organização, desenvolvimento de formas de acesso e possibilidades de uso
de tais documentos, questões bastante presente nas bibliotecas contemporâneas.
Nas antigas bibliotecas, com seus acervos constituídos de tabletes de argila,
pergaminhos e papiros, a quantidade ainda relativamente limitada de documentos não isentava
de preocupações referentes ao seu armazenamento. Tornou-se comum, durante um longo
período, a reclusão desse acervo a ambientes restritos, muitas vezes religiosos. Entretanto,
embora existam informações a respeito da quantidade de obras e tipos de suportes
empregados para o registro do conhecimento, além de algumas técnicas peculiares, observa-se
que, de acordo com os estudiosos pesquisados, pouco se sabe sobre as técnicas de organização
das bibliotecas da Antiguidade.
A esse respeito, Chartier (1998, p. 118) comenta brevemente que na Biblioteca de
Alexandria, com seus mais de 500.000 rolos de manuscritos (uma obra sozinha poderia
ocupar entre 10 e 30 rolos), o catálogo da biblioteca era constituído de 120 rolos,
provavelmente de difícil manuseio para pesquisas. Isso demonstra que, salvo as
particularidades, já existia nessa época alguma preocupação com o controle do acervo.
Outra técnica de organização e controle de que se tem notícia remonta à Idade Média
e envolve as bibliografias primitivas, listas elaboradas pelas bibliotecas dos mosteiros
medievais:
63
Determinadas obras, cópias raras, talvez únicas, que pertenciam a um monastério
atraíam o interesse de estudiosos que para lá ocorriam, percorrendo longos caminhos
para ter acesso ao códice precioso. Esses peregrinos da leitura iam de mosteiro em
mosteiro, atravessando a Europa em busca de uma obra. A relação de livros das
bibliotecas, primitivas bibliografias, passou a ser essencial para que não se perdesse
uma viagem de semanas em busca de um texto inexistente (MILANESI, 2002, p.
23).
Mas as preocupações com a organização dos acervos de conhecimento armazenado
nas bibliotecas se tornaram ainda mais complexas a partir da revolução da imprensa e a
consequente explosão informacional. Enquanto as bibliotecas viam seus acervos se ampliar
cada vez mais rápido, surgia o problema do espaço físico, da diversidade de assuntos e das
exigências dos novos públicos.
Dentro dessa nova perspectiva do conhecimento dada na Renascença somada à
imprensa e à proliferação dos livros, as bibliotecas buscaram novas formas de
organizar os acervos. Se antes os manuscritos eram separados por língua, depois, os
impressos foram ordenados por assuntos. O aumento progressivo de impressos
exigiu dos bibliotecários a invenção de novos meios para vencer o que ameaçava
confundir de vez os que precisam encontrar nos livros respostas para suas dúvidas
ou, simplesmente, enlevar-se (MILANESI, 2002, p. 27).
Assim, se na Idade Média, antes da invenção da imprensa, as bibliotecas já lançavam
suas pioneiras bibliografias, no século XVI já se buscava criar uma bibliografia universal,
como uma tentativa de domar o descontrole editorial. Entretanto, essa bibliografia universal
foi cedendo espaço a bibliografias setoriais, especializadas em determinadas áreas do
conhecimento e se enriquecendo com os resumos de especialistas. Nessa mesma linha, Zaher
e Gomes (1972, p. 5) afirmam o seguinte:
Atividade que floresceu graças à invenção da imprensa a bibliografia teve, desde o
início, como um de seus objetivos o de divulgar o conhecimento acumulado nos
livros. De um lado apareceram os repertórios dos livreiros, como publicidade de
seus estoques, e que se transformaram, em alguns casos, em bibliografias nacionais.
De outro, surgiram as bibliografias especializadas, inicialmente de caráter
internacional, como reflexo da erudição de seus autores.
[...] é evidente que a possibilidade de rápido conhecimento de novas informações
para utilização ou desenvolvimento dependia da existência de repertórios
organizados de maneira adequada.
Assim, reconhecida, desde logo, como um indispensável instrumento para a
pesquisa e para o desenvolvimento científico-tecnológico, a bibliografia foi objeto
de preocupação de estudiosos que procuraram aprimorar técnicas e métodos para
melhor controlar e divulgar o material bibliográfico existente.
64
Foram essas mesmas preocupações com o controle bibliográfico que concebeu, mais
tarde, no século XX, a Documentação e a Ciência da Informação, que trouxeram grandes
contribuições para a organização do documento e, sobretudo, da informação em bibliotecas,
como a padronização dos serviços técnicos, a indexação e os sistemas de classificação de
assuntos, além das possibilidades de uso das TIC no tratamento e recuperação da informação
(ZAHER; GOMES, 1972).
Ortega (2002), além de abordar o surgimento das bibliografias universais, nos fins do
século XV, acrescenta o fato da posterior proliferação das bibliografias especializadas e dos
catálogos das bibliotecas particulares. Tais inovações significaram, para as bibliotecas, novas
formas para auxiliar na organização de seus acervos:
A esta altura, era claro para os profissionais das bibliotecas, a necessidade de
bibliografias para o seu trabalho. Até 1840, nenhuma biblioteca tinha índice de
assunto de seus acervos, até porque, nenhuma estava completamente catalogada:
eram verdadeiros museus de livros. A partir desta data, catálogos de autor e assunto
passaram a ser empregados e as bibliografias foram se aperfeiçoando (ORTEGA,
2002, p. 16).
Enquanto se observa críticas de alguns teóricos quanto à lentidão da aplicação efetiva
dos computadores e da Internet no contexto das bibliotecas, Zaher e Gomes (1972, p. 6) por
sua vez, procuram discorrer sobre o impacto dessa aplicação para a área da informação,
explicando que “o emprego do computador no tratamento e recuperação da informação, de
maneira sistemática a partir da década de 1950, trouxe novas perspectivas para a bibliografia,
para a documentação e para os serviços das bibliotecas especializadas”.
Outras soluções como as microformas, surgidas a partir da segunda metade do século
XX, também pareciam oferecer respostas (mas apenas parciais) para o problema do
armazenamento, uma vez que persistia o problema da recuperação da informação. A
obsolescência do conhecimento era outra ameaça reforçada pelas limitações das condições de
distribuição dos materiais impressos. Assim, conforme se observa na literatura pesquisada, o
espaço de armazenamento e a velocidade de disseminação e de acesso da informação foram
problemas que encontraram respostas, pelo menos parciais, no transcorrer do século XX, mas,
outros ficaram sem resposta (ou ao menos respostas satisfatórias) até os dias atuais.
65
No contexto das bibliotecas, os computadores também têm servido para auxiliar nos
serviços de organização da informação da informação em bibliotecas, inclusive nas
bibliotecas universitárias. Sabe-se que na França, as experiências com automação
documentária tiveram início em 1937, sendo que nas bibliotecas, também na metade da
década de 30, nos Estados Unidos, foram empregadas técnicas de cartões perfurados para
registrar e emprestar materiais bibliográficos. Contudo, observa-se que a disseminação da
automação ocorre de fato entre o final dos anos 50 e o início da década de 60.
No Brasil, os computadores foram introduzidos com certo atraso nas bibliotecas, no
final do século XX, sendo utilizados inicialmente, para atividades mecânicas, ou seja, como
um instrumento que viria a substituir as fichas de catálogos datilografadas. Robredo e Cunha
(1994) comentam sobre a utilização dos computadores nas atividades de processamento da
informação documentária, bem como em tarefas administrativas e gerenciais. Entre outros
produtos dessa aplicação destacam os cartões perfurados, fitas de papel perfurado, fita
magnética, disquete etc., que serviam para alimentação do sistema informatizado.
Tal foi a modificação desse cenário, que na atualidade a alimentação de sistemas
ocorre diretamente em microcomputadores, de forma bem mais simples. Além dos
microcomputadores, as redes eletrônicas de informação adquirem fundamental importância
nesse processo, de modo que é possível acessar documentos remotos em formato digital
instantaneamente. Nesse sentido, para os leitores, a aplicação das TIC nas bibliotecas
universitárias representa uma forma inovadora de organização e acessibilidade da informação.
Tanto de modo tradicional quanto automatizado, as bibliotecas vêm desenvolvendo
ou aplicando processos técnicos já consagrados que servem para o registro, descrição e
organização dos documentos e, de um modo mais genérico, para a organização do
conhecimento a fim de atender seu público leitor. Esse tratamento informacional que as
bibliotecas conferem aos documentos que compõem o acervo pode ser definido da seguinte
forma:
Nas bibliotecas e nos sistemas de informação e de recuperação da informação o
tratamento da informação é definido como a função de descrever os documentos,
tanto do ponto de vista físico (características físicas dos documentos) ou do ponto de
vista temático (ou de descrição do conteúdo). Essa atividade resulta na produção de
representações documentais (fichas de catálogo, referências bibliográficas, resumos,
termos de indexação, etc.) que não apenas se constituem de unidades mais fáceis de
manipular num sistema de recuperação da informação (comparado ao documento em
sua íntegra), como também representam sínteses que tornam mais fácil a avaliação
do usuário quanto à relevância que o documento integral possa ter para as suas
necessidades de informação (DIAS, 2006, p. 67-68).
66
O autor segue explicando sobre outras funções que ocorrem dentro da biblioteca
(como a seleção de documentos), bem como sobre as atividades que são desenvolvidas fora de
seu âmbito (criação e a manutenção de linguagens e códigos) e que, igualmente, são
fundamentais para o tratamento da informação. Por outro lado, o autor também se preocupa
com o tratamento da informação em bibliotecas digitais, reconhecendo o potencial dos
recursos eletrônicos e suas limitações, mas não deixando de destacar a relevância de se
empregar instrumentos técnicos tradicionais que atendem aos requisitos desse novo contexto.
Dias (2006, p. 74) conclui que, em ambos os contextos, o tradicional e o digital, “o tratamento
da informação permanece como uma atividade crucial, pois cumpre função fundamental no
trabalho de facilitar o acesso à informação”.
Esse tratamento está implícito nos catálogos de fichas, livros de registro,
bibliografias e demais listagens de bibliotecas que porventura ainda não disponham de
computadores, bem como é a base dos sistemas de buscas locais e on-line dos catálogos
informatizados de bibliotecas, da organização do acervo em áreas de conhecimento humano
etc.
Quando um leitor busca todos os livros de um autor que pode ter vários nomes,
pseudônimos, ter publicações em várias áreas, ou quando procede em suas buscas as mais
variadas, é essa organização do conhecimento que vai servir como uma espécie de
instrumento de comunicação entre esse leitor e o acervo que se encontra à sua disposição e
que, poderia não ser encontrado e estar localizado simplesmente a um passo ou a alguns
cliques do mouse do computador, se não fosse devidamente organizado.
Assim como em um site de buscas na Internet20, em um portal de periódicos, em uma
base de dados, o tratamento e organização de conteúdos informacionais em seus diversos
formatos e linguagens servem como guias de múltiplas faces e interfaces, ora visíveis, ora
invisíveis, ora mais, ora menos eficientes, mas o mais importante é que auxiliam os leitores a
caminhar, ou melhor, a navegar em um grande oceano de informações que se multiplica a
cada instante e em diversos sentidos, tendo na biblioteca universitária, uma dessas vias de
navegação que requer instrumentos de orientação adequados.
20
Embora estes recursos eletrônicos possam apresentar outras características quanto ao tratamento da
informação, como indexação automática e em linguagem natural, que ocorre em muitos casos.
67
Tendo em vista esses pressupostos, essa organização do conhecimento não ocorre de
maneira arbitrária. Ao contrário, envolve diversos critérios, entre os quais, as necessidades
informacionais dos leitores, considerados a razão de ser das bibliotecas. A seleção de acervo e
de diversos outros recursos de informação de uma biblioteca universitária, por exemplo, tem
como critério principal, a bibliografia básica e complementar 21 dos cursos de graduação e pósgraduação, ou seja, as obras essenciais para a formação do conhecimento acadêmico e
científico desses usuários, leitores e pesquisadores. Não obstante, a formação de coleção de
periódicos, bem como a assinatura de portais de periódicos, bancos e bases de dados, são
desenvolvidas e mantidas de acordo com as necessidades e uso desses recursos
informacionais pela comunidade acadêmica. Dito de outro modo, seja de caráter escolar,
especializado, universitário, ou mesmo seja um sistema virtual, em qualquer desses casos, a
biblioteca gira em torno de seus usuários, de seus leitores.
2.5.2 Produtos e Serviços de Informação
Entre outras definições, “produto” geralmente remete à ideia de algo físico, “aquilo
que é produzido; resultado da produção” (PRODUTO, 2004, p. 2305), uma obra, algo
tangível, fisicamente palpável e facilmente quantificável. No caso de uma biblioteca, os
produtos mais comuns são livros, periódicos (revistas, jornais e boletins), obras de referência
(atlas, enciclopédias, dicionários, guias, anuários etc.), coleções especiais, recortes (produtos
de hemeroteca), trabalhos acadêmicos (monografias, teses e dissertações).
Quanto aos serviços, Santos (2000 apud SANTOS; FACHIN; VARVAKIS, 2003, p.
86), explica que estes possuem “três características principais: intangibilidade, simultaneidade
(entre produção e consumo) e participação do cliente/usuário”. De fato, em bibliotecas, por
exemplo, os serviços são orientados pelas necessidades dos leitores, tendo como base para
avaliação a satisfação dos mesmos.
21
Seguindo as recomendações do Ministério da Educação, geralmente, as bibliotecas universitárias adquirem,
em média, 05 títulos da bibliografia básica para cada disciplina, sendo um exemplar para cada 10 alunos. Quanto
à bibliografia complementar, geralmente é adquirido na proporção de 03 títulos por disciplina e a quantidade de
exemplares corresponde à média de uma obra para cada 20 alunos. Já no caso dos livros importados em outros
idiomas, geralmente é adquirido um exemplar de cada título.
68
De um modo geral, as bibliotecas são consideradas grandes unidades de informação,
composto por serviços específicos, orientados de acordo com as necessidades informacionais
dos seus usuários ou leitores. Dessa forma, no ambiente das bibliotecas universitárias, os
serviços mais comuns em são: Empréstimo domiciliar de obras, consulta local ao acervo,
serviço de referência (orientação), serviço de comutação bibliográfica, disseminação seletiva
da informação (DSI), empréstimo entre bibliotecas, orientação em normalização bibliográfica
etc.
Embora haja uma padronização, em relação ao tipo de biblioteca, pode haver alguma
variação quanto aos produtos e serviços, uma vez que o leitor de uma biblioteca pública é
diferente do leitor de uma biblioteca universitária. Ainda que possam ser encontradas algumas
semelhanças e outras questões a ponderar, alunos e professores dos cursos de graduação
buscam nos livros acadêmicos a leitura necessária para suas atividades acadêmicas, enquanto
que os leitores de uma biblioteca pública buscam geralmente informações comunitárias, livros
de assuntos diversos que apresentam uma linguagem mais popular, buscam, sobretudo, uma
leitura por lazer.
Portanto, os produtos formam a base intelectual de uma biblioteca, ou seja, seu
acervo de documentos e informações, enquanto que os serviços representam estratégias,
métodos e rotinas organizadas para promover a utilização dos produtos da biblioteca. Por essa
razão, ao emprestar um livro em uma biblioteca o leitor está usufruindo tanto de um produto
(livro) quanto de um ser um serviço (empréstimo domiciliar). Igualmente, ao consultar um
portal de periódicos eletrônico, disponível na biblioteca universitária, os leitores estão
utilizando tanto produtos (artigos em formato digital), quanto serviços de informação (portais
de periódicos, bases de dados etc.) disponibilizados pela instituição. A principal diferença
identificada entre esses casos se deve aos recursos tradicionais e aos novos recursos
proporcionados pelas TIC em termos de produtos e serviços de informação, conforme se
observa a seguir.
Juntamente com as TIC vieram novas possibilidades de tratamento e acesso a
informações que causaram grandes impactos na função desempenhada pelas bibliotecas
universitárias. Esses serviços e produtos, geralmente são focados na perspectiva de acesso a
recursos digitais de informação, ou ainda, compreendem serviços orientados pelas
necessidades específicas de determinados usuários ou grupos de usuários com características
comuns e que a tecnologia permite atender com alguma satisfação.
69
Assim, entre os serviços resultantes da aplicação das TIC no contexto das bibliotecas
universitárias, pode-se destacar:
Bibliotecas virtuais, bibliotecas digitais e bibliotecas eletrônicas: algumas
bibliotecas universitárias dispõem de recursos e instrumentos que as qualificam enquanto
bibliotecas eletrônicas, podem ainda desenvolver bibliotecas digitais, como já ocorre em
muitas universidades com suas Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações ou, podem ainda
desenvolver ou prover acesso a bibliotecas inteiramente virtuais.
Serviços de referência virtual: uma das possibilidades proporcionadas pelas TIC
tem sido o desenvolvimento de serviços de referência virtual, em que os bibliotecários
prestam orientação ou mesmo auxiliam nas pesquisas dos leitores de modo on-line,
utilizando-se de e-mail ou mesmo de ferramenta de bate-papo (chat).
Levantamentos bibliográficos: consiste na elaboração de listas ou relatórios
específicos do acervo, solicitados pela comunidade acadêmica. Com as TIC, esse serviço já
pode ser realizado pelo próprio pesquisador ou leitor, mas geralmente se recorre a um
profissional da biblioteca, que além de efetuar o levantamento, pode encaminhá-lo
instantaneamente via e-mail.
Sumários correntes eletrônicos: algumas instituições, devido à necessidade de
divulgação
do
conteúdo
de
obras
recém-adquiridas
(principalmente
periódicos),
encaminhavam uma cópia dos sumários desses materiais, para que fosse analisado de antemão
o interesse na publicação. Nos últimos tempos, esse serviço pode ser desenvolvido de maneira
informatizada, sendo que os sumários são digitalizados e encaminhados via e-mail aos
interessados. Esse serviço, quando desenvolvido com a necessária eficiência representa uma
relação de maior efetividade do serviço de disseminação de informações da biblioteca. Um
serviço parecido tem sido a divulgação de novas aquisições, que pode ocorrer em murais ou
mesmo como um serviço personalizado de disseminação seletiva da informação.
Disseminação Seletiva da Informação (DSI): serviço personalizado que se inicia
com a criação de um perfil ou mesmo com o levantamento a respeito de assuntos de interesses
dos leitores. Dessa forma assim que um material de potencial interesse é adquirido e
processado, sendo incorporado ao acervo, um sistema informatizado encaminha uma
mensagem de aviso aos leitores, via e-mail. Os sistemas informatizados de biblioteca
geralmente incluem esta função entre seus módulos.
70
Portais de periódicos: portais que reúnem um conjunto de bancos e bases de dados
em um único site, provendo além do acesso a tais fontes de informação, que podem ser de
acesso gratuito ou mesmo privado (custeado pela universidade), mecanismos de busca e
consulta a bases de dados especializadas e multidisciplinares, abrangendo desde bases de
textos completos, resumos, referências, patentes, estatísticas, normas técnicas até mesmo a
livros digitais, entre outros. Um dos exemplos bem conhecidos é o Portal de Periódicos da
CAPES.
Periódicos eletrônicos: embora exista uma grande quantidade de periódicos
eletrônicos de acesso livre também disponíveis em portais de periódicos, é possível acessar os
mesmos em seus sites, utilizando-se de computadores conectados à Internet e disponibilizados
em bibliotecas universitárias para esta finalidade. Existe uma tendência de crescimento da
disponibilização de periódicos eletrônicos de texto integral na Internet, o que também é
beneficiado pelas TIC no que se refere às ferramentas e padrões para acesso livre às
publicações eletrônicas que vêm sendo desenvolvidas.
Bancos e bases de dados: os bancos de dados correspondem grandes empresas que
comercializam bases de dados (produzidas por serviços especializados de indexação e
resumos), fornecendo acesso a tais bases, que podem ser disponibilizadas em diversos
formatos, inclusive no meio eletrônico, estando acessível on-line. (CENDÓN, 2003, p. 226227). Muitos desses bancos são estrangeiros, e suas bases costumam apresentar alto custo. No
Brasil, alguns bancos e bases de dados estão acessíveis on-line, por exemplo, no Portal de
Periódicos da CAPES. Entretanto, de acordo com a necessidade e a critério da IES e das
bibliotecas universitárias, novos bancos e bases de dados podem ser disponibilizados aos
leitores, sendo essa uma das possibilidades proporcionadas pelas TIC.
Serviço de comutação: esse serviço, em nosso país, tem no COMUT 22 (Programa de
Comutação Bibliográfica), desenvolvido pelo IBICT, um de seus principais modelos.
Consiste na possibilidade de solicitar cópias de documentos impressos que podem ser
encontrados apenas em bibliotecas localizadas remotamente. Para tanto, o leitor deve se
cadastrar no Programa, via Internet, e solicitar a cópia do documento desejado junto a uma
biblioteca intermediária que participe do COMUT. O leitor também pode fazer o pedido
diretamente, pela Internet, sem necessitar da intermediação da biblioteca, mas, em todo caso,
deve adquirir os bônus referentes ao pagamento das cópias solicitadas, que podem ser pagos
na forma de boleto bancário.
22
Disponível no endereço eletrônico: http://comut.ibict.br/comut/.
71
Catálogos on-line: os catálogos on-line, também conhecidos como OPAC (On-line
Public Access Catalog), ou seja, catálogo de acesso público em linha, como o próprio nome
diz, consistem basicamente nos catálogos das bibliotecas disponibilizados no meio eletrônico
(pelas redes eletrônicas como a Internet), geralmente no site da IES, e quando possível no site
ou home-page das próprias bibliotecas universitárias. É possível realizar diversos tipos de
busca, como por exemplo, por autor, título, assunto, editora, série, entre outras, além de
buscas avançadas. É possível verificar ainda se o item localizado se encontra emprestado ou
disponível para empréstimo, além de confirmar as demais informações sobre as obras. Trata
de uma inovação muito grande em relação aos tradicionais catálogos em fichas impressas,
disponíveis apenas no espaço físico das bibliotecas.
Sistema personalizado de acesso do usuário: consiste em um ambiente eletrônico
em que o leitor pode acessar seus dados cadastrais junto a biblioteca, verificar as obras
emprestadas, data de empréstimos e devoluções, personalizar seu perfil incluindo assuntos de
interesse, visualizar seu histórico de empréstimos etc. O leitor também pode efetuar ou
cancelar reservas de obras, bem como renovar empréstimos dos livros já emprestados.
Contudo, vale ressaltar que tais recursos vão depender do potencial do software de que a
biblioteca universitária dispõe, bem como de suas políticas e normas quanto ao uso do acervo.
Site da biblioteca: algumas bibliotecas universitárias, além dos seus catálogos, já
disponibilizam informações no site da IES. Por outro lado, outras bibliotecas já têm os seus
próprios sites, onde disponibilizam além de produtos e serviços, informações de interesse de
sua comunidade de usuários ou leitores. A esse respeito, vale acrescentar que a Portaria MEC
nº 2.864, de 24/08/2005, determina que as IES devem tornar públicas e manter atualizadas,
em suas próprias páginas eletrônicas, informações sobre as condições de oferta de cursos,
incluindo, entre outras, no mínimo a “descrição da biblioteca quanto ao seu acervo de livros e
periódicos, por área de conhecimento, política de atualização e informatização, área física
disponível e formas de acesso e utilização” (BRASIL, 2005).
Outros sites e demais recursos eletrônicos: dependendo da área de atuação
acadêmica dos leitores, os mesmos poderão encontrar uma variedade de sites em que podem
complementar suas pesquisas ou mesmo navegar para se informar e se manterem atualizados.
Nesse sentido, podem dispor ainda de ferramentas como planilhas e editores de texto, além de
e-mails e fóruns de discussão. Dependendo das normas das bibliotecas, podem existir
restrições quanto ao conteúdo de determinados sites, como por exemplo, sites de conteúdo
pornográfico e de apologia à violência, ou mesmo sites de jogos on-line.
72
Portanto, esses são alguns dos principais produtos e serviços das bibliotecas
universitárias que envolvem a aplicação das TIC. Embora não sejam os únicos, a
disponibilidade e utilização de tais recursos é um fator que depende das necessidades dos
leitores, dos recursos financeiros e tecnológicos disponíveis, bem como das normas e políticas
da biblioteca ou mesmo da instituição.
2.6 Pressupostos Teóricos do Processo de leitura
A leitura é algo essencial nas atividades humanas, servindo de instrumento para a
percepção e interação com a cultura e o saber e podendo promover o desenvolvimento social,
enquanto concorre para a formação de indivíduos críticos e ativos em relação às diversas
questões de seu cotidiano. Assim, preliminarmente, pode-se dizer que a leitura sofre
influência do ambiente familiar e escolar (onde se formaliza por meio das atividades
educativas), chegando a alcançar, no plano social, uma vertente emancipadora, enquanto
conduz às pessoas ao exercício da cidadania e, portanto, a uma melhor condição de vida.
Levando em conta que o objetivo deste estudo está relacionado aos leitores e tipos de
leitura desenvolvidos na Biblioteca Central da UFMT, considerando a influência das TIC
nesse ambiente, evidentemente, sua sustentação teórica está construída, entre outros, em torno
dos elementos do leitor, da leitura, da biblioteca universitária e das TIC. Porém, ao tratar das
questões inerentes à leitura e aos novos tipos de leitores, é apropriado levar em conta que a
leitura é uma atividade elementar, proveniente de uma base anterior ao quadro observado na
biblioteca universitária, assim como os próprios leitores e, que convém observar alguns
aspectos básicos e importantes relativos ao ato de ler nesta mesma instância.
Assim, esse capítulo se propõe a discutir estes aspectos, organizados, de modo geral,
na forma dos seguintes tópicos:
Aspectos conceituais do ato de ler;
Leitura na Escola;
A Biblioteca e o incentivo à leitura.
73
Na primeira parte, será desenvolvido um recorte teórico sobre algumas questões
fundamentais relacionadas ao ato de ler (conceitos, amplitude, aspectos cognitivos etc.) e aos
próprios leitores, a fim de compreender os pressupostos teóricos envolvidos no ato de ler.
A seguir, foram selecionadas duas instituições importantes para explorar as questões
inerentes ao desenvolvimento e incentivo à prática da leitura: a escola e a biblioteca. No caso
do ambiente escolar, é nele que a leitura, resultante de um processo de escolarização, se
formaliza e se concretiza no cotidiano dos alunos/leitores.
Conforme observa Oliveira (2005b, p. 118) “o processo de escolarização introduz a
criança num ambiente no qual os saberes sobre a leitura são sistematizados. Esse processo
deve possibilitar a decodificação e a compreensão dos mais variados textos”. Ou seja, embora
seja indispensável considerar que a leitura não se origina necessariamente, interpretando o
argumento da autora, podemos afirmar que é na instituição escolar que a leitura ganha corpo,
forma e rosto, uma identidade que, imbuindo-se de aspectos positivos ou negativos, fará parte
da vida dos leitores por toda a vida.
Por outro lado, se o aluno tem na escola o ambiente educacional que formaliza o
ensino e as atividades de leitura, nas bibliotecas, enquanto leitor, encontra um ambiente
cultural que pode ser propício para expandir sua prática de leitura, independente do fato de a
mesma configurar um hábito ou gosto. Assim, a biblioteca é outro ambiente que, de modo
geral, contribui para o incentivo às atividades de leitura da população.
[...] ensino e biblioteca são complementares [...]; ensino e biblioteca não se excluem,
completam-se. Uma escola sem biblioteca é um instrumento imperfeito. A biblioteca
sem ensino, ou seja, sem a tentativa de estimular, coordenar e organizar a leitura,
será, por seu lado, instrumento vago e incerto (LOURENÇO FILHO, 1944 apud
SILVA, 1985, p. 28).
Conforme este argumento pontua, existe uma inter-relação entre escola e biblioteca
no que se refere à formação do leitor e incentivo à leitura. No que concerne às bibliotecas,
convém ressaltar que especificamente quanto ao incentivo à leitura, a biblioteca escolar e a
biblioteca pública ocupam, na realidade brasileira, provavelmente as funções mais
importantes para propiciar essa finalidade, embora sejam instituições que não recebem a
merecida atenção por parte das autoridades competentes.
74
Convém ressaltar que existem várias outras instituições que, pelos seus papéis,
impossibilitam considerar o desenvolvimento da leitura somente no ambiente das escolas e
das bibliotecas, sendo que Silva (1985, p. 54) considera a “escola e a família como os
elementos básicos para a formação e a orientação de leitores”. Outro exemplo disso é possível
constatar a partir do trabalho de Oliveira (2005b), que investiga a relação da leitura e da
literatura infantil com a doutrinação das crianças, no qual fica evidente a influência das
ideologias religiosas na formação de leitores em escolas confessionais.
Entretanto, nesta oportunidade, procuraremos abordar com mais ênfase, sobretudo a
instituição escolar e a biblioteca e não nos aprofundaremos nas questões referentes à formação
de leitores no âmbito familiar, religioso ou mesmo em outros meios; isso porque, embora se
reconheça a influência de outros organismos, a escola e a biblioteca são instituições de cunho
educacional e cultural e estão relacionadas ao universo deste estudo, com influências sobre o
perfil dos alunos/leitores da biblioteca universitária.
2.6.1 Aspectos Conceituais do Ato de Ler
Considerando que alguns teóricos se referem à leitura como “ato de ler” e atentando
para o aspecto etimológico da palavra “ato”, localizada no Novo Dicionário Eletrônico
Aurélio (2004), observamos que este verbete significa, entre outros, “o que se está fazendo”
ou simplesmente “ação”; evidentemente este substantivo combina com inúmeras outras
palavras, mas alguns de seus significados (enquanto atividade, ação) parecem adequados para
começar a entender o sentido do “ato de ler”, pois as conceituações teóricas sobre a leitura
costumam defini-la como uma ação, uma atividade, ou seja, algo dinâmico. Desse modo, o ato
de ler ou simplesmente a leitura, compreende uma ação, uma atividade que se concebe na
prática.
Porém, genericamente, uma ação/atividade pode ser realizada tanto de forma
mecânica e desinteressada, quanto de forma diferenciada, ou seja, com ou sem sentido.
Curiosamente o mesmo parece ocorrer com o ato de ler. Podemos simplesmente passar os
olhos sobre um texto por horas e de fato não estar lendo nada, assim como podemos ler em
apenas alguns segundos um pequeno trecho que significativamente apresentou muita
contribuição para nosso conhecimento interno.
75
Convém ressaltar que a figura do “leitor”, como se conhece na atualidade,
corresponde a uma noção moderna, tendo em vista que, desde a Antiguidade até a Idade
Média, a mesma não apresenta uma existência concreta, devido à lentidão dos processos de
instrução letrada, inclusive entre as classes que detinham o poder (MARTINS, 2002, p. 74).
No âmbito da história do livro e da leitura, ao dialogar com Gerard Lebrun sobre a
leitura enquanto algo sagrado (noção típica da Idade Média), Chartier (1998, p. 91) argumenta
sobre a amplitude envolvendo o conceito de leitura:
[...] Ler, leitura, essas palavras armam ciladas. Existe algo mais universal? Há
leitores em Roma, na Mesopotâmia, no século XX. É uma invariante, sempre se leu,
e nunca se leu o suficiente, isto depende do ponto de vista. [...] há esta
multiplicidade de modelos, de práticas, de competências, portanto há uma tensão.
Mas ela não cria dispersão ao infinito, na medida em que as experiências individuais
são sempre inscritas no interior de modelos e de normas compartilhadas.
Oliveira (2005b, p. 115) também informa sobre a existência uma variedade de
conceituações acerca da leitura:
São muitas as conceituações de leitura: umas demonstram a parcialidade do
processo ou convergência, privilegiando, ora aspectos referentes à língua, ora
aspectos socioculturais. Há autores cujos conceitos privilegiam os dois aspectos, o
que torna o conceito mais abrangente.
O que praticamente os conceitos sobre leitura propõem atualmente é que o sentido
da leitura é sempre a busca de significados pelo leitor.
Ainda com base no Novo Dicionário Eletrônico Aurélio (2004), é possível encontrar
várias definições sobre o que pode ser leitor e leitura, sendo que as seis definições
identificadas para o termo “leitor”, é apenas uma pequena expressão dessa multiplicidade;
desse modo, enquanto o termo “leitura” também pode comportar vários significados
funcionais, delimitaremos um pouco mais sua área de abordagem, a qual, ainda assim,
apresenta uma riqueza e diversidade conceitual.
Tendo em vista alguns contornos que podem delimitar o entendimento do que é
leitura, como modelos e normas compartilhadas, pretende-se discutir, para os fins deste
estudo, os conceitos de leitura relacionados com as áreas de Educação, Biblioteconomia e
mesmo Linguística, a fim de evidenciar as principais facetas que a leitura e o leitor assumem
no momento presente, sobretudo no contexto das bibliotecas.
76
Sendo patente que a leitura emerge da interface estabelecida entre o leitor e os
diversos documentos, mídias, recursos ou mesmo suportes de informação, por outro lado,
convém ressaltar que tal atividade não compreende uma ação passiva e unidirecional, como se
o leitor agisse como um simples receptor de informações e conhecimentos impostos à sua
compreensão.
Assim, observa-se de forma recorrente nas obras de alguns estudiosos a concepção
de leitura como um processo em que o leitor também atua de forma ativa na construção do
sentido do texto, ou seja, a leitura enquanto um processo relacionado à compreensão do leitor.
A diversidade cultural do leitor sobre o objeto de leitura, representada por suas
particularidades e conhecimentos prévios, compreende um aspecto significativo destacado por
Chartier (apud BELOTO SOBRINHO, 2010, p. 70), que alude ao escritor espanhol Fernando
Rojas para explicar que “as recepções diversas de um texto estão largamente dependentes do
próprio leitor e de suas pluralidades de leituras e expectativas”. Com base neste argumento, o
leitor transporta parte de sua carga pessoal e cultural ao processo interpretativo que a leitura
ativa, podendo gerar uma significação diferente da pretendida pelo autor, sendo esta distorção
proveniente da própria particularidade do leitor.
Nesse período (final do século XIV), o escritor espanhol destacou pelo menos três
tipos de leitura, quais sejam:
Uma primeira leitura que se produz dentro de alguns aspectos de seus episódios,
sem que se estabeleça entre eles uma relação;
Outra leitura prende-se à condução de fatos que não ofereçam dificuldades de
memorização, tais como lugares comuns, expressões feitas, não produzindo assim
nenhuma relação intima ou individualizada entre o leitor e aquilo que ele lê;
Uma outra, que considera como uma leitura correta e proveitosa da mesma
(CHARTIER, 2001, p. 122-123 apud BELOTO SOBRINHO, 2010, p. 70).
Assim, não é fato recente na teoria que a leitura permite diferentes interpretações por
parte de quem lê, interroga o texto, o questiona em busca de um significado. Embora nas mais
diferentes atividades cotidianas, a leitura assume diversas facetas, variando de acordo com a
ocasião, objetivos e expectativas, sendo este um momento que depende tanto do autor (com
sua intencionalidade), quanto do leitor do texto (com sua possibilidade interpretativa), que
trazem consigo toda uma carga cultural anterior.
77
Entretanto, Silva (1985a) também alerta para a influência da ideologia tecnocrática
sobre a leitura, expressa na discriminação, falseamento de conteúdos inseridos nos livros,
mediocridade, submissão ao texto-juiz, recepção mecânica e não-significativa etc. Não
obstante, autores como Lajolo (1997) e Freire (2001a) também criticam fatores externos ao
autor e ao leitor, ou seja, fatores próprios do cotidiano escolar, que influenciam na atividade
de leitura, demonstrando que outros elementos como a política educacional e o próprio
mercado também podem interferir nas condições de formação de leitor.
Em outra obra, Chartier (1998, p. 77) destaca a característica relativista23 da leitura,
que varia de acordo com tempos e lugares, objetos lidos e suas razões:
A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a bela
imagem de Michel de Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras alheias.
Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente –
o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda a história
da leitura supõe, em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte
aquilo que o livro lhe pretende impor. Mas esta liberdade leitora não é jamais
absoluta. Ela é cercada por limitações cercadas das capacidades, convenções e
hábitos que caracterizam, em suas diferenças, as práticas de leitura. Os gestos
mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas
atitudes são inventadas, outras se extinguem. Do rolo antigo ao códex medieval, do
livro impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história
das maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro, os
possíveis usos da escrita e as categorias intelectuais que asseguram sua
compreensão.
Este historiador comenta ainda sobre uma ruptura que houve na área da leitura a
partir do século XVIII. No período imediatamente anterior, os leitores liam em locais
fechados, retirados, imóveis, privados em seus gabinetes e suas salas, típico de um momento
em que a leitura ainda se prendia muito às normas morais da sociedade. A leitura era,
portanto, nitidamente censurada e separada do divertimento mundano, da expressão e
manifestação de comportamentos espontâneos e afetivos.
Porém, a partir do século XVIII, a leitura se firmou como algo mais livre,
independente de restrições, de um ambiente fechado e inóspito, como comprovam as pinturas
produzidas nesta época. Ou seja, “a história das práticas de leitura, a partir do século XVIII, é
também uma história da liberdade na leitura” (CHARTIER, 1998, p. 78).
23
Embora com conotação parecida, nesta parte, não estamos nos referindo ao Relativismo, enquanto doutrina
filosófica que afirma que as verdades variam de acordo com a época, lugar, grupo social e indivíduos.
78
Modernamente, a experiência da leitura enquanto ato de compreensão de mundo
(SILVA, 1985b), implica um exercício de reflexão, de questionamento, e por isso mesmo
pressupõe uma interação crítica de mão dupla, ou seja, enquanto o leitor procura compreender
os sentidos que lhe são apresentados por meio do texto, também atribui sentidos ao texto,
plasmando o mesmo de acordo com a sua compreensão, de acordo com a fruição de sua
leitura.
[...] o leitor curioso e interessado é aquele que está em constante conflito com o
texto, representado por uma ânsia incontida de compreender, de concordar, de
discordar – conflito, enfim, onde quem lê não somente capta o objeto da leitura,
como transmite ao texto lido as cargas de sua experiência humana e intelectual
(SAFADY, 1968, p. 13 apud SILVA, 1985b, p. 44).
Por outro lado, Freire (2001a) apresenta uma reflexão crítica sobre o ato de ler,
vinculando a leitura à experiência com o mundo, algo que acontece antes do aprendizado da
palavra escrita, mas se alonga com a escolarização. Para demonstrar seu conceito de leitura, o
autor retoma sua infância e o contexto particular de suas “leituras do mundo”, conforme
descrito a seguir:
A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas
da minha mãe –, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi o meu primeiro
mundo. Nele engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele
mundo especial se dava a mim como o mundo de minha atividade perceptiva, por
isso mesmo como o mundo de minhas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”,
as “letras” daquele contexto – em cuja percepção me experimentava e, quanto mais
o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber – se encarnavam numa série de
coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão eu ia apreendendo no meu trato com
eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais.
Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto, se encarnavam no canto dos
pássaros – o do sanhaçu, o do olha-pro-caminho-que-vem, o do bem-te-vi, o do
sabiá; na dança das copas das árvores sopradas por fortes ventanias que anunciavam
tempestades, trovões, relâmpagos; as águas da chuva brincado de geografia:
inventando lagos, ilhas, rios, riachos. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele
contexto se encarnavam também no assobio do vento, nas nuvens do céu, nas suas
cores, nos seus movimentos; na cor das folhagens, na forma das folhas, no cheiro
das flores – das rosas, dos jasmins – no corpo das árvores, nas cascas dos frutos. Na
tonalidade diferente de cores, de um mesmo fruto em momentos distintos: o verde
da manga-espada verde, o verde da manga-espada inchada; o amarelo-esverdeado da
mesma manga amadurecendo, as pintas negras da mesma manga amadurecendo. A
relação entre estas cores, o desenvolvimento do fruto, a sua resistência à nossa
manipulação e o seu gosto. Foi nesse tempo, possivelmente, que eu, fazendo e vendo
fazer, aprendi a significação da ação de amolegar. (FREIRE, 2001a, p. 12-13).
79
Além disso, o autor em questão discorre sobre sua infância, suas primeiras
experiências com a leitura da palavra escrita, com a ajuda de seus pais, e, posteriormente na
escola formal básica, passando pelo ginasial, até chegar à sua experiência enquanto professor
de língua portuguesa. Nesse movimento, a compreensão crítica do ato de ler, se constitui
através da sua prática.
Observa-se, portanto, que em sua concepção primeira sobre leitura, a mesma não é
vinculada ao mundo dos textos e das palavras, mas à visão e compreensão das coisas do
mundo cotidiano. O ato de ler, segundo Freire (2001a, p. 11):
[...] não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita,
mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo
precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da
continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente.
A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção
das relações entre o texto e o contexto.
Assim, o referido autor, reconhecido pelo trabalho voltado para a educação popular,
preocupado com a escolarização, bem como com a formação da consciência política,
apresenta uma visão particular de leitura, não vinculando a mesma apenas à decifração de um
código escrito e, portanto, não sendo dependente da instrução escolar. A leitura, na visão do
educador, se inicia fora da escola, no mundo como o percebemos, e se expande com o
aprendizado escolar, ampliando as leituras de mundo.
Tendo em vista o interesse do presente estudo e considerando o enfoque do autor na
educação popular, procuramos reter deste autor, sobretudo seu argumento de que linguagem e
realidade, texto e contexto, estão ligados dinamicamente, sendo uma condição para uma
leitura crítica. A leitura crítica compreende, assim, um processo reflexivo e qualitativo, que
permite ao leitor se voltar para o mundo e questionar o mesmo, lendo criticamente qualquer
que seja o texto, na medida em que participa e compreende este mundo do qual faz parte.
Esse aspecto destacado (compreensão do mundo) é um ponto convergente
encontrado em Silva (1985b), porém, com um enfoque diferente. A compreensão, apontada
por este último autor, se revela uma forma de atribuição de significados ao texto de modo
dinâmico, transformando esse texto e se transformando na medida em que desenvolve a
leitura. Portanto, compreensão é algo dinâmico e está relacionada à transformação cognitiva
80
dos conceitos pré-estabelecidos do leitor, de onde provêm os significados atribuídos ao texto
em leitura.
[...] ao experienciar a leitura, o leitor executa um ato de compreender o mundo. De
fato, o propósito básico de qualquer leitura é a apreensão dos significados
mediatizados ou fixados pelo discurso escrito, ou seja, a compreensão dos
horizontes inscritos por um determinado autor, numa determinada obra. O
“compreender” deve ser visto como uma forma de ser, emergindo através das
atitudes do leitor diante do texto, assim como através do seu conteúdo, ou seja, o
texto como uma percepção ou panorama dentro do qual os significados são
atribuídos. Neste sentido, não basta decodificar as representações indicadas por
sinais e signos; o leitor (que assume a o modo da compreensão) porta-se diante do
texto, transformando-o e transformando-se (SILVA, 1985b, p. 43-44).
Diferente da situação de diálogo face-a-face, a compreensão estabelecida no processo
de leitura é caracterizada pela ausência de outra pessoa, ou seja, um interlocutor, nesse caso
representado pela função do autor do texto escrito. Desse modo, as condições de percepção e
atribuição de significados ao texto escrito se situam em um patamar bem diferenciado em
relação ao diálogo face-a-face, exigindo do leitor uma interação maior com o conteúdo de
leitura e abrindo mais espaço para que seu exercício reflexivo de atribuição de significados ao
texto flua de modo livre.
Foucambert (1994, p. 5), também caracteriza a leitura como um processo de
atribuição de significado à escrita:
Todos sabem que há diferença entre ver e olhar, ouvir e escutar... Ler não é apenas
passar os olhos por algo escrito, não é fazer a versão oral de um escrito. Quem
ousaria dizer que sabe ler latim só porque é capaz de pronunciar frases escritas
naquela língua?
Ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo, significa que certas
respostas podem ser encontradas na escrita, significa poder ter acesso a essa escrita,
significa construir uma resposta que integra parte das novas informações ao que já
se é.
Um poema ou uma receita, um jornal ou um romance, provocam questionamentos,
exploração do texto e respostas de natureza diferente; mas o ato de ler, em qualquer
caso, é o meio de interrogar a escrita e não tolera a amputação de nenhum de seus
aspectos.
Seja por meio da recepção de significados, da atribuição de sentidos, ou mesmo, pela
exposição de sentidos, a leitura do texto escrito proporciona ao leitor (e também ao autor)
uma forma de comunicação particular, dinâmica e ampla, que também caracteriza a sua
existência no mundo.
81
Para Mangel (1997, p. 198 apud OLIVEIRA, 2005b, p. 116), a leitura é comparada a
um processo de degustação, sendo que “os leitores saboreiam o livro, encontram em sua
leitura alimento, ruminam o texto ou o devoram de uma sentada. O texto é assim colocado
com alimento a ser servido no banquete”. Ou seja, nessa concepção, a leitura é tomada como
uma função essencial, como a respiração, por exemplo, e toda a sensibilidade perceptiva
envolvida no ato de ler, desde o folhear até a inalação do cheiro do papel impresso, são
indicadores de uma relação íntima estabelecida com o objeto de leitura.
Não obstante, embora a leitura também esteja relacionada a um problema social
(educação pública, acesso aos bens culturais etc.), a mesma também envolve um prazer
pessoal:
Os prazeres da leitura são múltiplos. Lemos para saber, para compreender, para
refletir. Lemos também pela beleza da linguagem, para nossa emoção, para nossa
perturbação. Lemos para compartilhar. Lemos para sonhar e para aprender a sonhar
[...]
A leitura foi muitas vezes comparada à alimentação. Um texto, conforme nossa
fome e nossa disposição momentânea, a gente engole, devora, mastiga, saboreia
(MORAIS, 1996, p. 12-13).
Outro conceito apresentado por Silva (2005), desta vez com um teor político, aborda
a leitura como um instrumento de luta contra a dominação, tendo em vista que vivemos em
uma sociedade em que o acesso à escrita e ao livro ainda se constitui em um privilégio de
determinadas classes, sendo que a leitura crítica pode contribuir para reverter este quadro de
alienação política.
Levando em consideração as contradições presentes na sociedade brasileira, eu diria
que ler é, numa primeira instância, possuir elementos de combate à alienação e
ignorância. Para ser compreendida, esta definição deve levar em conta a própria
estrutura subjacente à sociedade brasileira, ou seja, a dicotomia das classes sociais,
mantida pela ideologia (ou visão de mundo) da classe que está no poder. Dominar o
mecanismo da leitura e ter acesso àqueles livros que falam criticamente e a respeito
da estrutura hierárquica, ditatorial e discriminatória, da estrutura, enfim, injusta da
nossa sociedade é ser capaz de detectar aqueles aspectos que, através das manobras
ideológicas, servem para alienar, massificar e forçar o povo a permanecer na
ignorância. Dessa forma, a pessoa que sabe ler e executa essa prática social em
diferentes momentos de sua vida tem a possibilidade de desmascarar os
ocultamentos feitos e impostos pela classe dominante, posicionar-se frente a eles e
lutar contra eles (SILVA, 2005, p. 49, grifos do autor).
A leitura e compreensão do texto escrito na forma mencionada, enquanto um
processo ativo no qual o leitor impõe sua personalidade sobre o objeto da leitura, também
82
encontra eco em Kleiman (1997), que estuda os aspectos cognitivos da leitura do texto escrito
ou impresso, o que permite lançar um olhar diferenciado e analítico sobre o complexo ato de
ler.
Uma vez que a leitura envolve um processo de compreensão e de construção de
significados, o que opera ao nível cognitivo, ou seja, da consciência deste leitor, convém
examinar os seguintes aspectos da obra desta autora:
O papel do conhecimento prévio na leitura;
Objetivos e expectativas (hipóteses) da leitura;
A interação na leitura de textos.
Primeiramente, com relação ao conhecimento prévio, este se revela indispensável
para que haja compreensão no processo de leitura, pois está relacionado ao aprendizado
anterior, aos conceitos memorizados e às relações internalizadas na mente que vêm à tona
quando do embate com o texto escrito, na tentativa de atribuir sentido ao produto da leitura.
A compreensão de um texto é um processo que se caracteriza pela utilização de
conhecimento prévio: o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento
adquirido ao longo de sua vida. É mediante a interação de diversos níveis de
conhecimento, como o conhecimento lingüístico, o textual, o conhecimento de
mundo, que o leitor consegue construir o sentido do texto. E porque o leitor utiliza
justamente diversos níveis de conhecimento que interagem entre si, a leitura é
considerada um processo interativo. Pode-se se dizer com segurança que sem o
engajamento do conhecimento prévio do leitor não haverá compreensão.
(KLEIMAN, 1997, p. 13).
Este conhecimento prévio, segundo a autora, pode ser de natureza linguística
(conhecimento implícito aprendido no cotidiano, nas relações com a língua materna), textual
(conjunto de noções e conceitos sobre o texto) ou ainda, pode ser um conhecimento do mundo
(conhecimento enciclopédico, que abrange desde os conceitos aprendidos nas relações
práticas e por meio dos saberes, quanto nas relações utilitárias do dia-a-dia). Assim, é esse
conhecimento prévio que fundamenta as inferências do leitor na construção do sentido do
texto escrito.
Outro ponto abordado diz respeito aos objetivos e expectativas de leitura. Esse
aspecto em si se diferencia do anterior (que leva em conta os conhecimentos mútuos de autor
83
e leitor) por não ser uma abordagem genérica, mas voltada especificamente para os leitores e
à atividade de leitura.
Com relação aos objetivos, sua importância fundamental reside no fato de que
“compreendemos e lembramos seletivamente aquela informação que é importante para o
nosso propósito”, tendo em vista que “nossa capacidade de processamento e de memória
melhoram significativamente quando é fornecido um objetivo para uma tarefa” (KLEIMAN,
1997, p. 30-31). Assim, o estabelecimento de um objetivo na leitura contribui para atribuir
sentido e maior interesse durante o seu processamento, por meio de estratégias
metacognitivas.
Por outro lado, as hipóteses, que estão relacionadas aos próprios objetivos, são
igualmente importantes, pois influenciam a formulação de expectativas no decorrer do
processo de leitura. As hipóteses são, assim, essenciais para a compreensão, ou seja, para que
a leitura flua com sentido, o que significa que seja processada e compreendida de fato pelos
leitores.
A autora explica que, nesse processo dinâmico em que se constitui a leitura, a
formulação de hipóteses e expectativas se desenvolve rapidamente e impregnada de
inferências, ao passo que a visão acompanha pontos específicos da leitura textual sequencial
(sacádica), mas não exatamente linear, cujo avanço com sucesso pode assegurar a
compreensão no processo de leitura.
Além do conhecimento prévio, dos objetivos e da formulação de hipóteses, a
interação é outro ponto importante a destacar nesse processo. De modo resumido, a leitura em
si envolve uma interação própria do tipo de contato com o texto impresso (diferente da
interação face-a-face, que ocorre no diálogo), que situa autor e leitor em um contexto
específico, ambos relacionados, embora em papéis bem distintos.
E começaremos definindo a atividade de leitura como uma interação a distância
entre leitor e autor via texto. A ação do leitor já foi caracterizada: o leitor constrói e
não apenas recebe, um significado global para o texto; ele procura pistas formais,
antecipa essas pistas, formula e reformula hipóteses, aceita ou rejeita conclusões.
Contudo não há reciprocidade com a ação do autor, que busca, essencialmente, a
adesão do leitor, apresentando para isso, da melhor maneira possível, os melhores
argumentos, a evidência mais convincente da forma mais clara possível,
organizando e deixando no texto pistas formais a fim de facilitar a consecução de
seu objetivo (KLEIMAN, 1997, p. 65).
84
Ou seja, o autor, ao escrever o texto, o faz de forma direcionada, objetiva, deixando
pistas, marcas formais e uma organização textual clara que leva em conta o tipo de texto e seu
conhecimento particular, considerando, inclusive, particularidades inerentes ao seu público
leitor.
Ainda que esteja fazendo apenas anotações para que leia posteriormente, mesmo
assim ocorre um “direcionamento” na produção do texto. Entretanto, esse direcionamento não
implica necessariamente em uma interação harmoniosa.
A nosso ver a interação via texto escrito está sujeita às variáveis deste contexto,
sendo que mesmo que os leitores apresentem um perfil em comum (por exemplo, leitores de
um artigo científico, leitores de jornais, leitores de romances), os mesmos chegam ao texto
com diversos tipos de conhecimentos prévios, questionamentos, opiniões e objetivos, o que
faz com que a leitura envolva um “choque de tensões cognitivas”, de cujo embate o leitor
deverá construir sua compreensão.
Assim, resumidamente, o autor escreve para um leitor e o faz deixando marcas de
sua autoria no texto, as quais são essenciais para uma leitura crítica. Do seu lado, o leitor
encontra no texto tais marcas e pistas, mas sob suas influências particulares (conhecimento
prévio, objetivos, hipóteses etc.) este desenvolve a leitura como uma “reconstrução de
sentidos”, isso concebendo a leitura enquanto um processo crítico e não meramente mecânico.
Porém, a leitura crítica enquanto um processo de natureza reflexiva, também está
sujeita aos riscos inerentes ao tipo de contato estabelecido pela leitura do texto escrito ou
impresso e, para que a mesma ocorra efetivamente, torna-se indispensável considerar a
amplitude do próprio conhecimento. Como se portar criticamente diante de um texto que pode
refutar nosso próprio conhecimento prévio? Como validar em nossas estratégias
metacognitivas, algo possivelmente desconhecido?
Questões dessa natureza parecem sugerir uma dicotomia fundamental no processo de
leitura crítica, que tanto pode conduzir para uma atitude positiva do leitor, quanto pode
encaminhar o mesmo para uma decisão bastante negativa: Confiar ou desconfiar? Acreditar
ou questionar? Acatar ou refutar?
Em última instância, a percepção das marcas de autoria no texto é essencial para a
leitura crítica. O senso crítico é definido como uma atitude de descrença, de
ceticismo, que faz com que exijamos evidências para as opiniões e idéias que são
apresentadas, e que podem servir de base para a formação de opiniões e idéias
próprias. Essa atitude implica, necessariamente, uma análise do texto prévia a
qualquer discussão; pressupõe uma interação, um escutar o outro.
85
Isso parece fácil quando o texto do outro vem apenas ecoar nosso conjunto de
crenças e opiniões, mas se torna difícil quando há diferenças. Limitar a nossa leitura
àqueles textos coincidentes com nossas crenças, idéias e opiniões é limitar
desnecessariamente uma atividade cujo grande mérito é o fato de nos permitir o
acesso a outros mundos, além daqueles acessíveis através da experiência direta
(KLEIMAN, 1997, p. 76).
Desse modo, levando em conta as concepções de leituras observadas anteriormente,
que geralmente estão relacionadas à construção de significados pelos leitores, entende-se que
um dos riscos mais comuns de interação na leitura do texto escrito é, por assim dizer, uma
possível “contaminação” a que o leitor pode se deixar vitimar, quando impõe ao texto suas
pré-concepções, refutando o novo, o desconhecido, as possibilidades de expandir seu
conhecimento. Ao agir assim, não há leitura crítica, mas um processo enviesado em que se
extrai do texto meros argumentos (geralmente distorcidos) para uma interpretação estreita,
como se o leitor, já tivesse decidido o que é certo ou errado antes mesmo de ler, de refletir e
de imaginar as possibilidades que um mundo complexo tem a oferecer.
Ou seja, para que se realize uma leitura crítica deve-se desconfiar do texto, mas é
fundamental que o leitor esteja ciente que nunca sabe de tudo, o que é comum na sociedade
contemporânea em que o conhecimento humano atinge níveis cada vez maiores de
especialização, impossibilitando às pessoas um conhecimento, ao mesmo tempo, amplo e
acabado. Além disso, o processo de aprender o novo, criar e reformular conceitos e expandir
as ideias é algo contínuo, comum na vida em sociedade. O leitor está sempre lendo e,
portanto, aprendendo, conhecendo, reformulando e expandindo seus conceitos, sendo
indispensável reconhecer este processo como algo natural e necessário.
2.6.2 Leitura na Escola
Na sociedade contemporânea, em que a educação está relativamente presente no
âmbito social, a leitura se mostra como forma de interação com o mundo e de integração
cultural dos indivíduos. Entretanto, o real acesso à leitura depende da oferta de condições
essenciais para sua aquisição e compreensão crítica e criativa, ou seja, não basta que o
indivíduo seja simplesmente alfabetizado, mas, sobretudo, que seja munido de um espírito
86
leitor crítico, questionador e desafiador e que, além do “hábito”, adquira um “gosto” pela
leitura.
Convém ressaltar que a instrução formal e a leitura não começam necessariamente na
escola e que, no contexto de uma mesma instituição, a leitura pode apresentar grandes
mudanças ao longo dos anos. Chartier (1998, p. 113), por exemplo, aborda em seu estudo a
escola, a Igreja, a família e a biblioteca, lembrando que estas instituições se inscrevem em
diferentes perspectivas históricas, tendo “razões próprias que explicam sua incerteza”.
Na realidade brasileira, Silva (1985a, p. 55) menciona algumas instituições
importantes para o desenvolvimento da leitura (a Biblioteconomia, a Igreja brasileira, alguns
sindicatos, eventos etc.), utilizando, em seu discurso a escola e a família como os elementos
fundamentais para a formação de leitores críticos.
Remetendo à influência da instituição familiar na alfabetização e no ensino da
leitura, podemos tomar como exemplo o caso do educador Paulo Freire (2001a, p. 15), que
explica que foi alfabetizado pelos pais, no chão de casa, e que quando chegou à escola, já
estava munido desta habilidade escolar mais elementar.
Desse modo, nos interessa neste momento examinar a leitura no contexto escolar,
conscientes de que “em nossa cultura, quanto mais abrangente a concepção de mundo e de
vida, mais intensamente se lê, numa espiral quase sem fim, que pode e deve começar na
escola, mas não pode (nem costuma) encerrar-se nela” (LAJOLO, 1997, p. 7). Ao dizer que a
leitura pode e deve começar na escola, a autora não nega a existência de outras instituições,
porém enfatiza o compromisso da escola com a leitura.
Instituição reconhecida pela sua responsabilidade na educação dos indivíduos, a
escola cumpre a função essencial de preparar as pessoas com os conhecimentos
historicamente constituídos para a inserção de modo participativo no meio social. Aos
primeiros passos iniciados na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, devem se seguir
outros igualmente importantes no Ensino Médio, que possibilitem não apenas agregamento de
conhecimentos, acesso ao Ensino Superior e incorporação ao mercado de trabalho
(geralmente uma das justificativas para a escolarização), mas a concepção de pessoas críticas,
ativas e participativas nas questões sociais, exercendo seus direitos e deveres como
verdadeiros cidadãos.
87
Assim, não parece apenas uma aspiração filosófica, mas uma necessidade evidente,
que a escola tenha, entre outras, a função de preparar o indivíduo para o mundo, incentivar o
pensamento, a curiosidade, a reflexão e seu espírito criativo.
[...] por desencadear um processo de democratização do saber e maior acesso aos
bens culturais, a escola é um elemento de transformação que não pode ser
negligenciado. E este fator relaciona-se especialmente com a leitura, o que pode ser
comprovado, num primeiro momento, a partir das distintas políticas de alfabetização
que caracterizam os países do Terceiro Mundo. Com efeito, os povos emergentes,
em virtude de sua urgência de emancipação nacional, desencadeiam programas de
alfabetização em massa, através de campanhas patrocinadas pelo Estado, sobretudo
quando este se proclama de extração popular (ZILBERMAN, 1991, p. 15).
A leitura é entendida nessa concepção como mecanismo para a subversão de uma
condição social de inferioridade, um caminho para a autonomia e apropriação dos bens
culturais, uma possibilidade de emancipação. “Por isto, num caso e no outro [como forma de
desenvolvimento social ou enquanto emancipação], a conquista da habilidade de ler é o
primeiro passo para a assimilação dos valores da sociedade” (ZILBERMAN, 1991, p. 16).
Silva (1991) apresenta alguns questionamentos quanto ao que se espera da escola
com relação à leitura e quanto ao que se espera da leitura:
Por que as famílias enviam seus filhos à escola? Para atender a muitos propósitos,
dentre os quais, o “aprender a ler” e, mais tarde, o “ler para aprender”. Quer dizer,
conseguir que a criança torne-se capaz de compreender os diferentes tipos de texto
em sociedade e, assim, possa participar da dinâmica que é própria do mundo da
escrita. Esta expectativa social deve ser assumida e cumprida pela escola através de
ações docentes – observar criticamente o que ocorre na sociedade – e das práticas
curriculares. Tal atitude de observação é de grande importância para se delinear o
objetivo visado pelas práticas de leitura: a educação de um tipo específico de leitor.
Leitores e leituras para quê? Para a reprodução ingênua dessa sociedade ou para o
enfrentamento de suas contradições e de seus desafios? (SILVA, 1991, p. 46-47).
Ao primeiro questionamento o autor explica que um dos propósitos das famílias
levarem seus filhos à escola é a aprendizagem da leitura, para que a criança se torne um
cidadão participativo na sociedade. Nos questionamentos finais o autor lança opções para
reflexão, que leva a questionar se o papel da leitura proporcionada pela escola deve ser o de
meramente instruir mecanismos básicos de repetição das estruturas sociais vigentes, ou, se a
leitura teria por objetivo conduzir o leitor além das amarras sociais.
88
Obviamente o autor deixa claro na sequência, o que parcialmente respondeu com
relação à primeira pergunta, ou seja:
Creio não estar errado quando afirmo que, ao nível das intenções, todos nós
desejamos formar leitores questionadores, capazes de se situar conscientemente no
contexto social e, ao mesmo tempo, de acionar processos de leitura (praticados e
aprendidos na escola), no sentido de participar da conquista de uma convivência
mais feliz e menos injusta para todos (SILVA, 1991, p. 47).
Porém, embora em tal ocasião o autor não se aprofunde neste aspecto, sua moderação
é oportuna uma vez que se limita ao que se espera, “ao nível das intenções”, o que nos
permite trazer à tona a contradição entre o que se espera e o que realmente e tradicionalmente
existe, ou seja, o contraste entre o ideal e o real, vigorosamente comentado pelo mesmo autor
em outra de suas obras:
[...] Sendo as finalidades da leitura pré-determinadas pela política educacional em
vigor e tendo sido esta política formulada segundo a ideologia da tecnocracia, fica
mais fácil ver e sentir as suas consequências na área da leitura: discriminação (uns
lêem; outros não), falseamento dos conteúdos inseridos nos livros, mediocridade
(não questionamento dos conteúdos), submissão ao texto-juiz, recepção mecânica e
não-significativa, etc.
Uma outra consequência drástica que merece ser aqui ressaltada diz respeito à
“interpretação única” do texto indicado para leitura. Isto quer dizer que o professor
ou o próprio livro didático possui a chave da interpretação e ao aluno-leitor não é
dada a chance de propor outras interpretações possíveis ao documento escrito.
Elimina-se a etapa reflexiva da leitura, fazendo com que o leitor se enquadre na
interpretação fornecida, pronta e “certa”. A divergência, o conflito, a rebeldia são
imediatamente abafados durante a aula de leitura – estas transformam-se em meros
exercícios de reprodução e de acatamento de “produtos” anteriormente definidos.
Por exemplo, “extrair a idéia central do texto”, uma habilidade bastante citada em
manuais de ensino, significa detectar e repetir a idéia colocada no quadro de resposta
do livro didático. O processo de imbecilização dos leitores, executado através da
apresentação de textos socialmente inócuos e de uma abordagem metodológica
opressiva e retrógrada, cumpre uma função meticulosamente calculada pelo poder
dominante, ou seja, a permanência da consciência ingênua, do irracionalismo entre
as massas populares (SILVA, 1985a, p. 27-28, grifos do autor).
Com essa visão crítica o autor discorre sobre leitura na realidade brasileira, cuja
duvidosa evolução seria mais bem caracterizada como uma “soma de carências”, justificada,
sobretudo, pela ausência de uma política efetiva voltada para a formação de leitores e o
desenvolvimento da leitura.
89
Tais carências têm reflexos evidentes nos fortes argumentos empregados pelo autor:
discriminação24, falseamento dos conteúdos inseridos nos livros, mediocridade, submissão ao
texto-juiz, recepção mecânica e não-significativa, interpretação única, imbecilização dos
leitores e, permanência da consciência ingênua e do irracionalismo entre as massas populares.
Embora a obra em questão não seja contemporânea, parece sensato considerar que tais
problemas ainda não foram superados na sociedade brasileira atual.
De modo geral, Lajolo (1997) aponta para preocupações similares. Entre outras, a
autora critica a forma como a leitura é tratada em sala de aula (como uma obrigação), a
adoção religiosa de livros didáticos e paradidáticos, das atividades prescritas nos livros
literários (as sugestões de atividades) e as análises superficiais que anulam a riqueza
produzida pela ambiguidade interpretativa dos alunos. A leitura possui, assim, uma
particularidade que lhe é própria e que nenhuma estratégia pedagógica descontextualizada,
ainda que supostamente mais motivadora pode suplantar.
Considerando que a literatura em sala de aula é uma das formas de incentivar o gosto
e desenvolvimento do processo de leitura, um dos aspectos criticados é a “uniformização”
implícita nas “atividades prontas” dos livros didáticos e paradidáticos:
O depoimento de João Carlos Marinho25 registra o momento em que os professores
delegam a terceiros o planejamento das suas atividades de leitura que desenvolverão
com seus alunos. Se na origem dessa distorção está o despreparo do magistério, seu
achatamento salarial, a precariedade das condições de seu exercício profissional,
reconhecer tudo isso não diminui a gravidade do fato de que a leitura patrocinada
pela escola de hoje parece sofrer de uniformização (LAJOLO, 1997, p. 14-15, grifo
da autora).
Em mais de uma ocasião a autora critica o fato de os professores utilizarem, já como
um hábito, as sugestões de atividades propostas pelos livros literários destinados ao público
infantil, aceitando esta interferência externa sobre aquele que deveria ser o motivo de seu
maior empenho: o planejamento didático de suas aulas.
24
O aspecto da discriminação, comentado pelo autor, diz respeito à relação entre escolarização e leitura,
considerando que o acesso à escola é uma das condições para o acesso à leitura e, que essa condição não é
igualmente possibilitada a todas as crianças, razão pela qual, algumas destas ficam marginalizadas de usufruir
dos bens culturais.
25
Marisa Lajolo inclui em sua obra um texto de João Carlos Marinho, autor do livro “O gênio do crime”, no qual
ele explica que, a seu pedido, a editora não havia preparado uma “ficha de leitura” ou “ficha de interpretação”
para a obra, pois isso cercearia os métodos de trabalho dos professores, que derivam de suas próprias
particularidades em conjunção com as características de suas turmas. Porém, devido aos insistentes pedidos, o
autor passou a incluir algumas “alternativas” ou “sugestões” de método de trabalho em classe.
90
Ao
contrário
do
acatamento
dessa
condição
passiva,
da
massificação
descontextualizada da leitura nas salas de aula, cuja maior riqueza é a diversidade cultural dos
alunos, ao contrário da uniformização que camufla prejudicialmente os riscos da alienação da
leitura, ao contrário do abraçamento acrítico da burocracia tecnocrática que conduz a escola a
um papel de reprodutor da ideologia dominante, em suma, em contraponto a todo esse
cenário, as atividades de leitura adquirem sentido significativo por meio do planejamento do
professor com relação às atividades de leitura apropriadas para cada turma e do diálogo com
os alunos e com suas leituras, conduzindo para longe de todos os aspectos anteriormente
criticados e infelizmente arraigados no ensino em nosso país.
O aprendizado significativo da leitura no contexto escolar também não está ligado à
quantidade de texto ou de livros que devem ser lidos pelos alunos. Assim como decorar ou
memorizar não significa compreender, a quantidade não está relacionada à qualidade da
leitura, como bem explica por Freire (2001a, p. 17-18, grifos do autor):
Creio que muito de nossa insistência, enquanto professoras e professores, em que os
estudantes leiam, num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na
compressão errônea que às vezes temos do ato de ler. [...]
A insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a
serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica
da palavra escrita. Visão que urge ser superada. A mesma, ainda que encarnada
deste outro ângulo, que se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando
identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas
escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que
dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia...
Este autor critica a quantidade em detrimento da qualidade, reforçando a necessidade
de um devido aprofundamento nos textos, preocupando-se com a compreensão, e não com a
simples memorização.
Exemplo disso é relato de seus momentos de leitura crítica quando cursava o ginasial
e, posteriormente, já como professor de língua portuguesa também do curso ginasial:
momentos em que “os alunos não tinham que memorizar mecanicamente a descrição do
objeto, mas apreender a sua significação profunda” (FREIRE, 2001a, p. 17). Ou seja, para o
autor, a leitura enquanto pura descrição de um objeto, com o interesse de memorização, não
se constitui em uma leitura real e, portanto, não implica na produção de conhecimento sobre o
objeto.
91
Outro esclarecimento prestado pelo autor refere-se às obras clássicas, reforçando a
necessidade de educadores e educandos lerem seriamente os clássicos nos diversos campos do
saber, explorar os textos e desenvolver uma disciplina intelectual.
Convém destacar também um aspecto significativo imbuído na formação de leitores,
qual seja, a “ideologia” por trás da política educacional. Silva (1985a) alerta para o risco de
alienação por conta da ideologia tecnocrática, que visa assegurar a hegemonia das classes
dominantes, em contraste com a subserviência da parcela da população marginalizada.
Por outro lado, a escola e, especificamente a literatura infantil podem agir no sentido
de formar leitores segundo a doutrina religiosa da instituição escolar, o que pode tornar a
concepção de leitura prejudicialmente influenciada pelos moralismos sociais e religiosos,
conforme explica Oliveira (2005b, p. 124):
A escola tem inseridas em seu projeto concepções de sociedade e homem, que
podem culminar na formação de dois tipos básicos de leitor: leitores que consigam
fazer leitura polissêmicas de mundo, ou, ao contrário, leitores “encarcerados” em um
mundo de leituras nas quais o sentido esteja circunscrito ao domínio dos
moralismos: normas sociais e religiosas a serem seguidas sem que se discuta o valor
que têm para a existência humana.
Nesse sentido, embora seja comum verificar nos discursos de diversos teóricos
críticas referentes à forma como a leitura é trabalhada em sala de aula na realidade brasileira,
em que pesem, principalmente, as acusações de leitura mecânica, desinteressada, impositiva,
quantitativa e memorizadora, a autora supracitada explica que os dois caminhos são possíveis,
ou seja, formar leitores capazes de ler uma diversidade de textos, ou mesmo, leitores
alienados.
Tendo em vista que é um processo de atribuição de significado, bem como objeto da
cultura, decorrente da necessidade humana, “a leitura pode tornar-se, tanto instância alienante
como possibilidade libertadora; constituir-se em veículo para a doutrinação e alienação da
consciência, quanto pode ser forma de expressão para mudança da mentalidade social”
(OLIVEIRA, 2005b, p. 105).
Em seu estudo sobre os aspectos cognitivos envolvidos no processo de leitura,
Kleiman (1997) destaca a importância do estabelecimento de objetivos e propósitos claros
para que a leitura ocorra de modo significativo, razão pela qual faz a seguinte crítica:
92
Cabe notar aqui que o contexto escolar não favorece a delineação de objetivos
específicos em relação a essa atividade. Nele a atividade de leitura é difusa e
confusa, muitas vezes se constituindo apenas em um pretexto para cópias, resumos,
análise sintática, e outras tarefas do ensino de língua. Assim, encontramos o
paradoxo que, enquanto fora da escola o estudante é perfeitamente capaz de planejar
as ações que o levarão a um objetivo pré-determinado (por exemplo, elogiar alguém
para conseguir um favor), quando se trata de leitura, de interação à distância através
do texto, na maioria das vezes esse estudante começa a ler sem ter idéia de onde
quer chegar, e, portanto, a questão de como irá chegar lá (isto é, das estratégias de
leitura) nem sequer se põe (KLEIMAN, 1997, p. 30).
Observa-se que essa crítica é algo recorrente na obra da autora. Além disso, ao
discorrer sobre a importância dos objetivos e das hipóteses, enquanto atividades
metacognitivas que pressupõem o controle consciente sobre o próprio conhecimento, a autora
reforça que “elas se opõem aos automatismos e mecanicismos típicos do passar do olho que
muitas vezes é tido como leitura na escola” (KLEIMAN, 1997, p. 44).
Assim, a autora supracitada questiona a leitura trabalhada de forma mecânica e sem
objetivos na sala de aula. Porém, se para que a leitura flua há a necessidade de objetivos
definidos (sobretudo objetivos pedagógicos) e de motivação por parte dos alunos (que devem
ou deveriam ter seus próprios objetivos), o que nem sempre caminha em sintonia, como
desenvolver uma leitura significativa sem transformar essa atividade em um processo
enfadonho e maçante por ser, em si mesmo, algo pré-determinado?
A este questionamento, a autora responde mostrando que, a despeito das críticas
apresentadas, embora os alunos estejam desinteressados, acostumados à imposição de
objetivos por parte da escola, é possível trabalhar a leitura e, ao mesmo tempo, ir despertando
aos poucos o interesse dos alunos.
Nesse sentido, a leitura é um dos recursos básicos na descoberta das relações entre
texto e contexto, na formulação de sentidos que são atribuídos às coisas com base nas regras
linguísticas e, por assim dizer, é também com a leitura, se bem trabalhada, que o aluno terá
oportunidades para melhor compreender o mundo ao seu redor nos seus mais diversos
aspectos, costumeiramente organizados nos programas de ensino (história, ciências,
sociedade, cultura etc.).
Recentemente, as transformações sociais e tecnológicas também chegaram às escolas
e à área da leitura. A popularização dos computadores e do acesso à Internet, por exemplo, é
algo relativamente presente no cotidiano dos alunos, embora, ao que parece, ainda não tenham
adentrado significativamente as escolas brasileiras.
93
Em uma obra mais recente, Silva (2003) também se preocupou com as possibilidades
abertas pela leitura nos “oceanos” da Internet, trazendo à tona também algumas questões
relacionadas ao ambiente escolar.
Creio não estar errado em afirmar que cabe à escola e ao professor organizar e
implementar práticas de leitura / escrita que levem os estudantes ao domínio de
competência para o manejo dos dois tipos de textualidade (impressa e digital),
mesmo porque há vantagens e desvantagens em ambas, além de usos sociais
próprios de cada uma delas. Outrossim, sabendo que a freqüência a estes dois
mundos multiplicará exponencialmente a exposição dos estudantes a uma grande
variedade de textos, caberá aos professores estabelecer critérios de busca e
seletividade de modo a, inclusive, gerar significação para as buscas e pesquisas
através da leitura (SILVA, 2003, p. 123).
Consciente da diferença entre a leitura do texto impresso e a leitura do texto
eletrônico, a escola e, nesse caso, o professor, deve levar em conta esta questão nos seus
programas de formação de leitor. Essa prerrogativa depende, primeiramente, de condições
básicas, tanto materiais (equipamentos, infraestrutura etc.), quanto humanas (profissionais que
dominem os recursos tecnológicos) e pedagógicas (trabalho pedagógico efetivo de
desenvolvimento da leitura de textos digitais), numa conjunção cuja sintonia pode assegurar
ou dificultar a qualidade do trabalho educativo.
Ao buscar nos estudos de Silva (1985a; 1991; 2003), Zilberman (1991), Lajolo
(1997), Kleiman (1997), Freire (2001a) e Oliveira (2005b) elementos para discutir as questões
relacionadas à leitura e a escola, não se pretendeu reduzir esse tema simplesmente a estes
autores citados, tampouco apenas aos problemas e aspectos levantados. Também não se
pretendeu repetir mecanicamente tais teorias ou levantar uma exposição de ideias com o
intuito de meramente concordar com o que está exposto nas obras consultadas.
Ao contrário, sendo tais obras resultantes de anos de experiências pedagógicas,
acredita-se que os autores são apropriadamente qualificados para subsidiar o enfoque no
desenvolvimento da leitura no cotidiano escolar. Por essa razão, acredita-se que a leitura,
embora seja uma das questões basilares da escola, apresentou e apresenta uma necessidade de
maior atenção tanto por parte do Estado, quanto por parte dos próprios educadores.
A leitura, enquanto atividade crítica, não pode ser conduzida por programas de
ensino enrijecidos, ancorados no tecnicismo e na ausência de um compromisso efetivo em
formar alunos críticos e preocupados com a realidade social. Os professores, sejam
instigadores da leitura textual impressa ou digital, devem localizar nos instrumentos de
94
leitura, as possibilidades de dotar os alunos de um espírito leitor crítico, criador e
questionador. Embora ainda possa ser elencada uma variedade de outros argumentos
plausíveis, é possível que, desse modo, sejam alcançadas algumas das condições necessárias
para que a leitura crítica e espontânea se torne mais uma prática efetiva do que um discurso
acadêmico na realidade brasileira.
2.6.3 A Biblioteca e o Incentivo à Leitura
Na área Biblioteconomia, o leitor muitas vezes é definido como sinônimo de usuário,
ou seja, os usuários de bibliotecas e demais unidades de informação, cujas necessidades
informacionais orientam o desenvolvimento de coleções (acervo), bem como os produtos e
serviços de informação. Como informam Dias e Pires (2004, p. 7), o conceito de usuário é
mais amplo, podendo se referir tanto a um usuário de uma base de dados, quanto àquele que
solicita um serviço. Costuma ser empregado, ainda, o conceito de cliente, mais próximo do
conceito comercial (marketing).
As autoras apresentam ainda a definição de “comunidade”, se referindo ao público
que frequenta ou poderia frequentar uma biblioteca, donde introduzem os conceitos de
“usuários reais” e “usuários potenciais”, que contribuem para compreender como se
configuram os usuários dos diferentes tipos de biblioteca:
O termo comunidade é utilizado quando se quer referir ao público que freqüenta ou
poderia freqüentar a biblioteca pública. Para esta, comunidade se refere as pessoas
que residem na jurisdição política servida por ela; para a biblioteca escolar, são
todos os alunos matriculados e os professores; para a biblioteca universitária, são os
corpos docente, discente e funcionários; para a biblioteca especializada é a
companhia, a instituição comercial, a fundação ou a empresa que a criou. A
comunidade não é constituída somente de usuários reais, mas inclui todos os
usuários potenciais [...]. Usuários reais são definidos como aqueles que utilizam os
serviços, e usuários potenciais como o total de usuários que podem utilizar o serviço
de informação (DIAS; PIRES, 2004, p. 7, grifo das autoras).
O serviço bibliotecário é, sobretudo, um serviço técnico, natureza própria de uma
formação acadêmica voltada para a prática da gestão de bibliotecas e seus serviços. Contudo,
existe a preocupação com o incentivo à leitura, uma vez que, apoiada em práticas
95
biblioteconômicas, as bibliotecas devem promover o acesso e uso de seus acervos. Encontrase justamente aí o sentido do fazer biblioteconômico, como regem as cinco leis da
Biblioteconomia, enunciadas em 1931 pelo bibliotecário indiano clássico S. R. Ranganathan.
Vale ressaltar que Ranganathan usa o termo “leitor” em suas leis, cuja modernidade e
flexibilidade Figueiredo (1992) ainda defende muito tempo depois:
1.
Os livros são para o uso.
2.
A cada leitor seu livro.
3.
A cada livro seu leitor.
4.
Poupe o tempo do leitor.
5.
Uma biblioteca é um organismo em crescimento.
Sob uma perspectiva pedagógica, o conceito de leitor parece ser o mais comum de se
verificar, estando associado ao indivíduo que realiza a leitura (geralmente o aluno), seja na
biblioteca, seja na escola, seja em qualquer outro ambiente. O leitor encontra na leitura uma
forma de interagir com o mundo, com as ideias, uma forma de aprender, conhecer e se
socializar, colocando “uma parte de si” em seu objeto de leitura. Desse modo, a leitura é
vinculada ao processo de ensino-aprendizagem, embora não seja restrita apenas à leitura da
palavra escrita. O educador Paulo Freire, por exemplo, explica que a leitura é associada à
compreensão, e que, anterior à leitura da palavra, existe outra, de cunho sensorial, a “leitura
do mundo”, que complementa a leitura da palavra, não sendo, porém inferior a esta (FREIRE,
2001b).
Assim, sendo a escola a instituição educacional fundamental na formação de leitores,
a Biblioteconomia e, portanto, as bibliotecas, também têm uma parcela de responsabilidade
igualmente importante. Para melhor delinear essa relação a partir da sua base, é conveniente
ressaltar que para uma real valorização e incentivo à leitura é necessário primeiramente uma
biblioteca escolar funcionando de forma adequada no ambiente acadêmico, por ser este o
local de onde os leitores podem despontar para o universo da leitura.
Para que os objetivos da educação possam ser atingidos, é necessário que os meios
utilizados sejam compatíveis e eficazes.
Entre os diversos meios educativos, encontra-se a biblioteca – recurso indispensável
para o desenvolvimento do processo ensino-aprendizado e formação do educando.
Pode-se afirmar que uma escola sem biblioteca é uma instituição incompleta, e uma
biblioteca não orientada para um trabalho escolar dinâmico torna-se um instrumento
estático e improdutivo dentro desse contexto (AMATO; GARCIA, 1989, p. 11).
96
Porém, contemplando a realidade brasileira, é possível observar o despreparo e o
descaso a que as bibliotecas escolares comumente estão sujeitas:
Quando pensamos em bibliotecas escolares no contexto da educação brasileira,
imediatamente nos deslocamos à esfera do acaso, desprezo e esquecimento, para
cair, de chofre, no mundo da marginalidade. Isto porque a biblioteca, em termos de
possibilidade, vivência de estudo e pesquisa ainda se apresenta e se coloca como um
apêndice secundário das escolas, nem sempre levada muito a sério pelas autoridades
e, por isso mesmo, raramente se transformando num objeto de preocupação ou
investimento (SILVA, 1991, p. 109).
Essas críticas são postas tanto para o governo, com sua política educacional que
pouco ou quase nada privilegia as bibliotecas escolares, como também aos próprios
bibliotecários, no que se refere ao tecnicismo, falta de integração com o trabalho pedagógico e
de conhecimento do trabalho de pesquisa escolar.
Nessa mesma linha crítica, Oliveira (2005a)26, e Pereira (2005)27 reforçam a pouca
atenção dedicada à biblioteca escolar, abordando desde política educacional e estrutura física,
até mesmo ao incentivo a leitura.
A biblioteca escolar tem sido relegada ao abandono pelas políticas educacionais. Os
estudos e pesquisas têm mostrado que poucas escolas apresentam projetos
satisfatórios de biblioteca escolar. Na maioria das vezes, a escola arranja uma sala
qualquer, coloca algumas estantes, um punhado de livros didáticos, sobra daqueles
que o governo manda para os professores, e mais alguns que as editoras enviam em
suas campanhas publicitárias na tentativa de cooptar o professor, e assim está
instalada a biblioteca. Para o usuário, pode se tornar um espaço do castigo ou para
copiar verbetes de enciclopédias, trechos de livro para as “pesquisas” exigidas pelos
professores.
É lamentável a incompreensão tanto por parte dos governantes quanto por parte das
próprias escolas, do que pode representar a biblioteca escolar no contexto educacional. Mais
que um espaço de castigo, de “guarda” de material que pouco incentiva a leitura, mais que um
espaço ideológico que denote o mero cumprimento de uma obrigação, a biblioteca escolar
pode contribuir positivamente para promover as atividades culturais e de leitura, em estreita
sintonia com o ensino-aprendizagem. Ou seja, “pode” porque, em linhas gerais, a biblioteca
26
27
Documento acessado em meio eletrônico.
Documento acessado em meio eletrônico.
97
ainda não incorpora essa responsabilidade como deveria, havendo um distanciamento entre o
que é necessário e o que realmente ocorre no espaço escolar.
Assim, na prática fica evidente que as bibliotecas escolares refletem uma série de
carências também relacionadas à pouca valorização do ensino e da cultura em nosso país, pois
raramente se encontra, sobretudo na grande rede de escolas públicas estaduais e municipais
brasileiras, bibliotecas escolares que estejam funcionando em condições adequadas. Isso
porque, no mínimo, deveria haver a figura de um profissional bibliotecário trabalhando nesses
espaços, políticas contínuas de atualização dos acervos escolares, espaço apropriado, acesso
às tecnologias da informação e práticas efetivas de incentivo à leitura.
Entre tais práticas podemos citar os empréstimos de livros, concursos literários,
exposições das produções dos alunos, atividades como contação de histórias, dramatizações,
visitas de escritores, palestras, integração às atividades curriculares e valorização do ambiente
como um local agradável para a realização de leitura espontânea, por lazer etc. Ou seja, são
atividades que dependem de vários fatores e que na prática infelizmente não acontecem como
deveriam.
A difícil relação professor-bibliotecário também é acusada por Silva (2005), trazendo
à tona críticas de ambas as partes, que demonstram a necessidade de integração do trabalho
destes profissionais para o efetivo funcionamento da biblioteca escolar, para o incentivo a
leitura e, consequentemente, para uma educação de qualidade.
Por outro lado, o autor também explicita um cenário de perspectivas positivas,
demonstrando que as transformações ocorridas recentemente na área da Educação e da
Biblioteconomia abrem novas possibilidades para a melhoria das bibliotecas escolares e com
isso, do incentivo à leitura nas escolas:
No final da década passada, aumentando significativamente no início desta década,
houve um questionamento muito grande a respeito do “tecnicismo” que imperava no
campo da educação e da biblioteconomia. Hoje, mesmo vivendo numa fase de
transição, podemos afirmar que esse questionamento foi extremamente profícuo e
enriquecedor à medida em que se trouxe à tona o caráter político e social das
práticas escolares e biblioteconômicas, abrindo os nossos olhos para o fato de que as
condições precárias de funcionamento das escolas e das bibliotecas atendiam a
objetivos muito bem calculados pelo poder até então dominante. As recorrentes lutas
do professorado brasileiro por melhores salários e condições de ensino foram, sem
dúvida, conseqüências de uma conscientização de cunho político. Na área
biblioteconômica, a reforma do currículo das escolas de biblioteconomia,
privilegiando as disciplinas de cunho social, e as contínuas reflexões sobre as quais
as funções do bibliotecário em nossa sociedade são também produtos de uma
consciência crítica mais avançada. Dessa forma, escola e biblioteca passaram a
98
perceber mais claramente a relação de suas funções com a política do contexto
social, revertendo (e por vezes virando de cabeça para baixo) o processo de
influência – mais especificamente, ao invés de somente serem influenciadas de fora
para dentro, principalmente por normas pré-estabelecidas e elaboradas em
gabinetes, estas instituições iniciaram um movimento de dentro para fora,
denunciando o abandono em que se encontravam e estabelecendo propostas de
mudança (SILVA, 2005, p. 70-71, grifos do autor).
Uma conquista recente, fruto do empenho dos Conselhos Regionais e do Conselho
Federal de Biblioteconomia, foi o sancionamento da Lei 12.244, de 24/05/2010, que dispõe
sobre a universalização das bibliotecas nas instituições de ensino brasileiras. Embora seja
sintética e ainda dependa de tempo para vigorar efetivamente, em termos do prazo máximo de
adequação previsto (10 anos), a legislação ganha força por tornar obrigatória uma atribuição
inerente ao próprio Estado (principalmente no caso dos Governos Estadual e Municipal) e às
instituições de ensino privado, qual seja a instalação e manutenção de bibliotecas escolares,
bem como a contratação de bibliotecários:
Art. 1º As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino
do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei.
Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se biblioteca escolar a coleção de livros,
materiais videográficos e documentos registrados em qualquer suporte destinados a
consulta, pesquisa, estudo ou leitura.
Parágrafo único. Será obrigatório um acervo de livros na biblioteca de, no mínimo,
um título para cada aluno matriculado, cabendo ao respectivo sistema de ensino
determinar a ampliação deste acervo conforme sua realidade, bem como divulgar
orientações de guarda, preservação, organização e funcionamento das bibliotecas
escolares.
Art. 3º Os sistemas de ensino do País deverão desenvolver esforços progressivos
para que a universalização das bibliotecas escolares, nos termos previstos nesta Lei,
seja efetivada num prazo máximo de dez anos, respeitada a profissão de
Bibliotecário, disciplinada pelas Leis nºs 4.084, de 30 de junho de 1962, e 9.674, de
25 de junho de 1998.
Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação (BRASIL, 2010).
Entretanto, se no artigo 2º são abordadas especificamente as bibliotecas escolares, o
artigo 1º, assim como a própria descrição da Lei, se refere genericamente às bibliotecas dos
sistemas de ensino público e privado do país, o que, em tese, abrange ainda as bibliotecas
universitárias.
99
Convém ressaltar que, entre os Instrumentos de Avaliação do INEP28 tanto para
autorização, quanto para reconhecimento e renovação de reconhecimento dos cursos de
graduação, constam exigências específicas relacionadas aos cursos (incluindo o acervo das
bibliotecas universitárias) e, nesse contexto, o bibliotecário também é um funcionário
indispensável, tanto em função das necessidades próprias do ambiente de trabalho, quanto
como exigência das comissões de avaliação do MEC (Ministério da Educação).
Com isso, embora com atraso, a Lei nº 12.244/2010, vem a trazer, de fato, novas
perspectivas para o incentivo à leitura, sobretudo nas bibliotecas escolares. Diante da
realidade brasileira, em que muitas escolas nem ao menos têm biblioteca escolar ou, quando
muito, dispõem uma sala de aula desativada onde os livros costumam ser guardados, essa Lei
poderá representar grandes mudanças, envolvendo uma profunda reestruturação nos sistemas
de ensino municipais e estaduais, a fim de prover as escolas com as condições básicas para o
funcionamento de suas bibliotecas (infra-estrutura, acervo, recursos humanos - bibliotecários).
Por outro lado, para a área de Biblioteconomia, esta regulamentação torna concreto o
amplo mercado de trabalho que antes era apenas potencial. Isso também implica em repensar
estrategicamente a formação do bibliotecário, com vistas a suprir a maior demanda de
profissionais que deverá surgir principalmente nas escolas de ensino público.
Como é sabido que em muitos casos as leis não são respeitadas como se deveria, os
órgãos fiscalizadores, nesse caso os Conselhos Regionais de Biblioteconomia, devem
acompanhar com rigor a aplicabilidade da legislação, uma vez que compete aos mesmos a
fiscalização do correto exercício profissional. Com isso, indiretamente, estas autarquias
também podem contribuir para que se tenham mais bibliotecários atuando nas escolas.
Do lado do poder público estadual e municipal, parece apropriado que os governos e
as prefeituras comecem a adequar seus sistemas de ensino para as mudanças necessárias o
quanto antes (aquisição e manutenção de acervos apropriados, criação de legislações estaduais
e municipais específicas, realização de concursos públicos para a contratação de bibliotecários
e outros profissionais, reformas, ampliações, aquisição de mobiliários e equipamentos etc.), a
fim de que não utilizem o prazo determinado no artigo 3º para adequação à Lei (10 anos),
como uma justificativa para o protelamento de uma decisão de suma importância para a
educação brasileira.
28
Disponíveis no site: http://portal.inep.gov.br/superior-condicoesdeensino-manuais.
100
Conforme informado anteriormente, a formação de leitores geralmente tem início na
escola, e por isso, a biblioteca escolar tem um papel importante para incentivar e mesmo
cultivar o gosto pela leitura entre os alunos. Nesse ponto, o cenário nacional apresenta
dificuldades ligadas à própria concepção de política educacional, mas apresenta, também,
relativos avanços.
Havendo um trabalho efetivo, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Médio, o
aluno tem a possibilidade de utilizar a biblioteca escolar para cultivar suas atividades de
leitura. Mas este, não é o único ambiente em que poder ter acesso aos livros e à leitura.
Dependendo da influência familiar, o aluno pode ter acesso aos livros (e inclusive aprender a
ler) antes de mesmo de ir para a escola, e continuar ampliando suas leituras no ambiente
familiar ao longo de sua vida.
Por outro lado, embora sejam publicadas algumas edições literárias condensadas e
com um custo mais acessível, nem todas as pessoas têm as mesmas condições de adquirir os
livros que gostariam para suas atividades de leitura. Estas são algumas das lacunas
preenchidas (ou que devem ser preenchidas) pelas bibliotecas públicas no incentivo à leitura,
sejam elas estaduais ou mesmo municipais.
Dessa forma, o adjetivo pública, que contemporaneamente se juntou ao nome da
biblioteca, não corresponde apenas ao desejo de identificá-la como organismo
mantido pelo governo ou por entidades particulares, mas aberto a todos os
interessados. Não. A palavra pública tem aí, um sentido mais profundo e deve ser
encarada em toda a extensão do seu significado (MARTINS, 2002, p. 325-326,
grifos do autor).
Cain (1939 apud MARTINS, 2002, p. 326) reforça a necessidade de encarar com
vigor o caráter de “serviço público” deste tipo de biblioteca, o que implica em flexibilidade e
adaptação a exigências variadas, para que se tenha um serviço sólido e durável. Em nosso
contexto, flexibilidade e adaptação são critérios que estão relacionados ao próprio trabalho do
profissional bibliotecário, na organização, administração e dinamização de bibliotecas
públicas, bem como ao próprio Estado, no que concerne ao provimento de condições
essenciais para a instalação, modernização e manutenção de bibliotecas públicas estaduais,
municipais e comunitárias em funcionamento adequado, isto é, dispondo de acervo atualizado
com frequência, de bibliotecários e outros profissionais, além de condições estruturais
apropriadas (mobiliário, equipamento, climatização etc.).
101
No Brasil, o reconhecimento da importância da leitura como elemento decisivo no
processo educacional é relativamente recente, datando da década de 1970. Porém, essa
questão não costuma ser tratada com a merecida atenção, como historicamente comprova a
imposição vertical de bibliotecas pelo poder público que, em seguida, desaparecem pela
descontinuidade
de
políticas
culturais
e
educacionais,
tão
comum
em
países
subdesenvolvidos. Nesse cenário, em que já foi há muito tempo distorcido o caráter da
biblioteca escolar, distorce-se também o conceito de biblioteca pública.
Foi na década de 70 que se firmou no Brasil a idéia da necessidade de leitura como
fator decisivo no processo educacional. A implantação, por lei, da pesquisa escolar,
levou milhões de crianças e adolescentes às bibliotecas à cata de algum texto que,
reproduzido, poderia atender à expectativa de professores. Essa prática, quase
sempre mera cópia de enciclopédias, tornou-se corrente nas bibliotecas públicas e
não nas bibliotecas escolares. E pelo simples e dramático fato de existirem muitas
escolas sem biblioteca. Não existem dados, mas pode-se afirmar que a maioria delas
tem no professor a maior e única fonte de informação (MILANESI, 2002, p. 47).
Mas os problemas relativos ao ensino não se restringem às condições limitadas em
que se encontram as bibliotecas e à necessidade de reconhecimento da importância da leitura,
uma vez que estes problemas também se relacionam a outros não menos relevantes. Outro
elemento muito importante é a pesquisa escolar, a qual, em muitos contextos não vai além de
meras cópias de textos, seja de livros e outros materiais impressos, seja da própria Internet.
No modelo pedagógico atual, em que, de modo geral, a leitura ainda não recebe a
merecida atenção, consequentemente a pesquisa escolar também necessita de um salto
qualitativo, uma vez que a leitura crítica é essencial para um modelo de pesquisa que
privilegie o aprendizado, o conhecimento e a compreensão efetiva dos fatos, para além da
mera cópia, ou seja, da reprodução manuscrita ou digital de trechos de textos desprovidos de
sentido para o aluno pesquisador.
Entretanto, o próprio modelo pedagógico parece influenciado por uma cultura típica
dos países que pouco valorizam a educação e a cultura. Isso porque enquanto os meios de
comunicação de massa oferecem atrativos sedutores para a grande maioria da população, a
leitura, o estudo, e a pesquisa escolar parecem transmitir uma noção arraigada de “obrigação”,
na contramão das possibilidades de emancipação e valorização humana que podem
proporcionar às pessoas. Assim, é indispensável que as políticas educacionais e culturais
levem em conta este amplo contexto sociocultural brasileiro em que as bibliotecas, para
102
incentivar o gosto pela leitura e uma pesquisa escolar de qualidade, sejam reconhecidas em
seus múltiplos contextos, e que a própria pesquisa escolar seja incorporada ao cotidiano
social, extrapolando os limites das cópias descontextualizadas.
Reforçando um pouco mais este quadro, conforme se observa em sintonia com
alguns dos problemas que ocorrem no contexto escolar, como por exemplo, a leitura mecânica
e quantitativa, a leitura-memorização, e a falta de objetivos, entre outros (FREIRE, 2001;
KLEIMAN, 1997; LAJOLO, 1997; SILVA, 1985), estes problemas são transpostos para o
ambiente das bibliotecas públicas, na medida em que as mesmas tentam suprir o papel da
precária rede de bibliotecas escolares.
O autor continua observando, de modo oportuno:
As bibliotecas municipais são, na prática, bibliotecas escolares. Perdeu-se a idéia da
informação pública para que fosse possível sobreviver uma prática de pesquisa que
pouco se relaciona com a educação. As bibliotecas fizeram, pois, no século XX, um
trajeto rumo aos currículos escolares, e, por isso, entre outros motivos, deixaram de
lado a população. A ação do Governo ao criar bibliotecas municipais, pretendeu
implantar o gosto pela leitura, mas essa cedeu à necessidade de pesquisa –
distanciada do prazer que os livros poderiam dar. Com isso, o que seria pública
transformou-se em escolar. O público ficou com o rádio e a televisão como fontes de
informação. E os escolares com a pesquisa obrigatória. Enquanto a informação dos
livros tornou-se uma obrigação aborrecida, a informação da mídia buscava o prazer
para garantir a audiência (MILANESI, 2002, p. 47-48).
Assim, outra problemática que se apresenta é que, se a leitura não é uma atividade
que dá prazer, interessante em si mesma, se ela sempre foi inculcada como obrigação desde o
contexto escolar, por que e para quê ler? Para quê frequentar bibliotecas públicas?
A falta de preocupação efetiva por parte das bibliotecas em exercer suas funções
essenciais (tanto a biblioteca escolar quanto a biblioteca pública), dificulta a criação do
“gosto” (e não hábito) pela leitura, abrindo uma lacuna ocupada pela sedução dos meios de
comunicação de massa, o que, só vem a alimentar o ciclo de alienação e hegemonia por parte
das classes dominantes. Esse ciclo vicioso concorre não para formar leitores de fato, mas para
formar indivíduos repetidores de uma cultura que pouco valoriza a leitura e o pensamento
crítico.
Talvez uma alternativa para demover essa problemática seja encontrada na pista
fornecida por Chartier (1998, p. 119), que explica que, “na biblioteca pública, você deve
encontrar livros que não procura, como se fossem eles que o procurassem”.
103
Embora este autor não estivesse, em tal contexto, desenvolvendo uma apreciação
detalhada sobre os objetivos da biblioteca pública, sua argumentação ganha força ao ser
contrária à atmosfera carregada de obrigações que alicerceia muitas das bibliotecas púbicas.
Ora, a biblioteca pública deveria estar mais próxima a um centro cultural ativo, do que a uma
biblioteca escolar.
O próprio manual da Biblioteca Nacional reconhece que “os estudantes são os
maiores usuários da biblioteca pública, mesmo em países onde existe um sistema eficiente de
bibliotecas escolares” (BIBLIOTECA NACIONAL, 2000, p. 31). Dito isso, a obra reforça
ainda a importância de levar em conta esse grupo de usuários e manter um relacionamento
estreito e vantajoso com as escolas, para que ambas as instituições atinjam sucesso;
entretanto, é importante tomar o cuidado de não “escolarizar” a biblioteca pública, além do
que de fato já ocorre historicamente no Brasil.
O Manifesto da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura) para a biblioteca pública a define da seguinte maneira:
A biblioteca pública é o centro local de informação, disponibilizando prontamente
para os usuários todo tipo de conhecimento. Os serviços fornecidos pela biblioteca
pública baseiam-se na igualdade de acesso para todos, independentemente de idade,
raça, sexo, religião, nacionalidade, língua ou status social (BIBLIOTECA
NACIONAL, 2000, p. 18).
Existe, assim, uma preocupação para que a biblioteca pública seja um ambiente para
a democracia no acesso à informação por parte do público, sem distinções de qualquer ordem.
Porém, ao sistematizar o manifesto, a UNESCO, ao longo dos anos, veio transformando o
conceito de biblioteca pública.
A primeira versão do Manifesto da Biblioteca Pública, publicado em 1949, destacava
a preocupação com o ensino e a educação popular. Já a segunda versão do documento,
publicada em 1972, de grande repercussão na América Latina, ampliava mais o âmbito de
atuação da biblioteca pública: educação, cultura, lazer e informação. A terceira e última
versão do Manifesto da Biblioteca Pública 29, publicada em 1994, atualizou o conceito de
biblioteca pública, destacando como básicas suas missões relacionadas à informação,
alfabetização, educação e cultura, incorporando, inclusive, o acesso às novas tecnologias.
29
Também disponível em: http://archive.ifla.org/VII/s8/unesco/port.htm.
104
Esse estatuto também é fruto do engajamento político das instituições
biblioteconômicas brasileiras como a FEBAB (Federação Brasileira das Associações de
Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições), representado, assim, as preocupações
regionais com a preservação da memória social e a disseminação da propriedade cultural da
comunidade.
Assim, com relação à leitura, a biblioteca pública tem um papel diferente da
biblioteca escolar. A biblioteca pública é um ambiente para a difusão da cultura da
comunidade, do acesso ao conhecimento e preocupa-se com um público bastante amplo: a
comunidade em geral, que pode compreender desde os alunos de Ensino Fundamental, até
pesquisadores especialistas, aposentados, donas de casa, trabalhadores que a procuram como
instrumento de lazer etc., ou seja, qualquer usuário em potencial desse serviço público.
Todavia, conforme se observa no Manifesto da UNESCO, a biblioteca pública
apresenta uma íntima relação com a educação dos indivíduos. Relação esta já informada de
forma crítica por Milanesi (1988; 2002), que relata as mudanças ocorridas nas bibliotecas
públicas, para atender às demandas de alunos que não dispunham de bibliotecas escolares.
Com base no discurso deste autor, percebe-se dois aspectos básicos da relação entre
biblioteca pública e educação. Concordando com o Manifesto da UNESCO, a biblioteca
pública também tem uma responsabilidade clara com a educação dos indivíduos, formalmente
iniciada nas escolas. Como pontua Milanesi (1998), as próprias “obrigações escolares”
contribuíram para concretizar o projeto de biblioteca pública no Brasil. Assim, reconhecer a
responsabilidade educativa dessa instituição pública, é admitir a relação fundamental entre
cultura e educação na criação de condições para a formação e manutenção de leitores críticos,
que dominem os conhecimentos humanos e tenham acesso aos bens culturais organizados nas
diversas instituições promotoras da cultura, como as bibliotecas, os museus e os centros
culturais, entre outros.
Por outro lado, essa responsabilidade não deve justificar uma “perversão” do sentido
da biblioteca pública, pois ela também não deve assumir responsabilidades próprias das
escolas. O público escolar não deve ser a prioridade na biblioteca pública, pois a comunidade
em geral consiste em um público leitor amplo e diversificado, cujas necessidades de leitura e
informação vão além das obras literárias, dos livros paradidáticos e das enciclopédias. Parece
apropriado que a biblioteca pública, para fazer valer o seu papel, assuma o caráter de um
centro cultural, conforme proposto por Milanesi (2002), ou seja, uma instituição voltada para
105
a vida da cidade, em que não há nenhuma obrigatoriedade de uso da informação, aspecto este
que também se aproxima ao conceito apresentado por Chartier (1998).
Além das bibliotecas escolares e das bibliotecas públicas, outra categoria de
biblioteca, as bibliotecas universitárias, também são importantes para as atividades de leitura
e pesquisa, porém, nesse ambiente em particular, o foco é um pouco diferente. Embora seja
possível incrementar outras obras no acervo para incentivar uma leitura descompromissada,
por lazer, estes ambientes se prestam essencialmente à pesquisa acadêmica universitária.
Entretanto, diante da realidade brasileira de bibliotecas escolares e públicas
deficientes, não é raro o aluno chegar ao ensino superior apresentando dificuldades de leitura
e interprestação de textos e, inclusive, não ter utilizado uma biblioteca anteriormente.
Os alunos que entram na universidade carregam os problemas de um ensino
fundamentado na reprodução e não são capazes de se livrarem deles. Os calouros,
anualmente, avançam sobre a universidade moldados pelo ensino público e
modelando, de acordo com a fôrma escolar, a instituição universitária, que não
encontra meios de reação. Por isso, a biblioteca universitária perde parte de suas
possibilidades. A maioria delas é precária, inoperante, mas algumas mostram que os
benefícios nem sempre são utilizados como deveriam (MILANESI, 1988, p. 67).
Assim, este autor acredita que a biblioteca universitária repercute os problemas
provenientes do ensino fundamental e médio. Sua crítica não se pauta essencialmente na
biblioteca, mas, primeiramente, no sistema de ensino, incluindo o ensino superior, o qual,
segundo o autor, engendraria ainda mais este cenário, uma vez que apenas na pós-graduação é
que, efetivamente, os alunos são preparados para atividades de leitura mais críticas e para a
pesquisa científica.
Uma tentativa de reverter as dificuldades de leitura e interpretação de texto dos
alunos que ingressam no ensino superior é apresentada por Barzotto (2005, p. 97):
De imediato, afirma-se que o ensino fundamental e médio não tem conseguido
formar leitores como se espera, ficando sob a responsabilidade da Universidade a
superação dessas condições de leitura de seus novos alunos. Isso tem garantido a
presença da disciplina de língua portuguesa em muitos currículos de graduação, das
mais diferentes carreiras, como uma tentativa de contribuir para melhorar a leitura e
a interpretação de textos destes alunos.
Assim, a disciplina de língua portuguesa reforça, no ensino superior, uma tentativa
de corrigir as dificuldades básicas herdadas desde a formação inicial do aluno/leitor. E isso se
106
tem dado tanto de maneira especializada (com base nos aspectos próprios da língua
portuguesa), como de forma integrada, ou seja, com esta disciplina vinculada à outras
disciplinas do curso.
Entretanto, Barzotto (2005) revela que embora esse trabalho seja relevante, esta
disciplina ainda não tem recebido o devido reconhecimento entre as disciplinas que, de fato,
produzem pesquisas que originam ensino e extensão. A disciplina fica, assim, enfraquecida
entre as demais disciplinas dos currículos, sobretudo, devido ao seu status de disciplina
auxiliar, o que faz com seja tratada com descaso principalmente nos cursos da área de
Ciências Exatas.
Uma vez colocada em pauta a preocupação em trabalhar a disciplina de língua
portuguesa no ensino superior para sanar as dificuldades de leitura e interpretação de texto,
por outro lado, para que os graduandos desenvolvam uma experiência produtiva na
universidade, Almeida Filho (2005, p. 109) reforça a necessidade de explicitar ações positivas
para o percurso do aluno no ensino superior. Entre tais ações, destaca o seguinte:
Os estudantes terão de aprender a estudar, a ler e ler mais, a ler mais de uma vez
alguns textos, para conhecer posições com clareza e para dialogar com os textos
fortalecendo argumentos próprios. Para isso, o uso de bibliotecas bem equipadas,
que os alunos têm a obrigação de ajudar a manter atualizadas, com a indicação de
suas necessidades, será de vital importância.
Almeida Filho (2005) retorna à raiz do problema, destacando a necessidade de mais
estudo e comprometimento do aluno com a leitura e inclusive com a biblioteca, o que reforça
a importância da integração entre alunos/leitores e suas bibliotecas.
Enfim, resumidamente observa-se que, o Brasil carece de bibliotecas escolares
devidamente equipadas. Como não tem bibliotecas escolares suficientes para suas pesquisas
acadêmicas, os alunos acabam recorrendo demasiadamente às bibliotecas públicas, que, em
nossa cultura, já se desvirtualizaram significativamente, ao ponto de exercerem funções
típicas de bibliotecas escolares. A biblioteca universitária, por sua vez, se encontra em outra
ponta, mas também o ensino superior sente os efeitos dos problemas referentes à leitura e às
bibliotecas escolares e públicas.
Isso reflete a mesma fragilidade localizada no ensino: a falta de uma política
educacional e cultural séria e comprometida com a formação de leitores esclarecidos, que
tenham na leitura, bases para seu desenvolvimento intelectual e social.
107
Embora existam também outros tipos de bibliotecas, as bibliotecas escolares,
públicas e universitárias foram destacadas por serem aquelas ligadas diretamente à formação
de leitores e com papéis significativos. Em especial, se os dois primeiros tipos de bibliotecas
(escolares e públicas) tivessem um funcionamento mais adequado, muitos dos problemas
referentes à leitura e interprestação de textos no ensino superior poderiam ser equacionados,
pois estes três ambientes estão intimamente relacionados.
Curiosamente, vivemos em um momento histórico em que determinados leitores com
seus tradicionais problemas de leitura e interpretação de textos, podem conviver com outros
tipos de leitores, que navegam no ciberespaço e utilizam recursos hipermidiáticos altamente
interativos. Estes leitores, típicos do ciberespaço, desenvolvem uma forma particular de
leitura e podem encontrar na biblioteca moderna, novas possibilidades para suas atividades de
leitura/navegação, sendo estes alguns dos elementos a serem discutidos a seguir.
2.6.4 Novos Leitores para uma Nova Biblioteca
As bibliotecas sempre estiveram influenciadas pelas transformações sociais, sendo
elas um dos reflexos dessas transformações e também agentes de importantes mudanças. Ao
longo dos tempos, o público leitor foi se tornando cada vez mais complexo e os livros e
demais objetos de conhecimento, igualmente se fundem a diferentes suportes, apresentam
novas características e propriedades. Dessa forma, nos dias atuais, é possível pensar em
biblioteca sem necessariamente, imaginar um local silencioso cercado de livros, mesas e
cadeiras, assim como é possível pensar em leitura sem pensar em um livro para manusear e
marcar as páginas e, indo mais longe, sem conceber a leitura como algo dependente apenas da
tradicional decifração sequencial de caracteres impressos. Por razões dessa natureza, é
possível conceber ainda um tipo de leitor inteiramente novo, que pode navegar, ouvir, sentir e
tocar em diversos sentidos os objetos de seu saber.
Assim, interessa discutir nessa parte essas possibilidades que se relacionam com a
concepção de um novo tipo de leitor, levando em consideração que a biblioteca universitária,
com seus produtos e serviços, também proporciona tanto a leitura tradicional quanto novos
tipos de leitura. Enquanto o contexto de inovação tecnológica proporcionado pelas TIC
contribui com novas formas de organização e tratamento da informação, para os leitores, isso
108
representa novos paradigmas para o acesso ao conhecimento, e acompanhar essa evolução é
essencial para o avanço das bibliotecas.
Geralmente, a literatura que trata dos produtos e serviços de informação e das TIC
em bibliotecas está relacionada às questões de acesso remoto à informação on-line, por meio
de redes de computadores e da Internet, sendo que estas características surtiram grandes
transformações nesse ambiente, uma vez que os tradicionais materiais impressos
costumeiramente incorporavam uma aura de tradicionalismo ao conceito de biblioteca.
Porém, ao contrário do antigo cenário de vanguarda que esteve tradicionalmente
associado à ideia de biblioteca, atualmente, esta unidade de informação incorporou e continua
a incorporar as TIC no seu ambiente, em sintonia com o que acontece em todos os setores da
sociedade. Do mesmo modo, os leitores que frequentam a biblioteca não são mais apenas os
leitores tradicionais que procuravam ler livros impressos de forma meditativa, silenciosa,
sequencial e vagarosa.
Esse perfil de leitor veio se transformando ao longo dos anos, dando espaço aos
leitores moventes e aos leitores imersivos, como bem observa Santaella (2007), ou seja,
leitores que apresentam novas características de leitura, típicas do ambiente contemporâneo
marcado pelas formas inovadoras de comunicação e pelo dinamismo do conteúdo e da
linguagem hipermidiática do ciberespaço.
Porém, nem todos os leitores se comportam igualmente com relação às TIC, sendo
comum encontrar, em qualquer ambiente, aqueles que têm mais familiaridade com os recursos
tecnológicos em contraste com aqueles que têm pouca ou nenhuma familiaridade, ou mesmo
interesse em manipular tais recursos. E isso não é diferente nas bibliotecas. Para este último
grupo de pessoas, a despeito de considerar esse fato uma questão de resistência, o
consideraremos do ponto de vista da formação cultural dos indivíduos, sobretudo quanto ao
aspecto do contato e interação dos mesmos com o contexto tecnológico.
Para Diana Oblinger e James Oblinger (2005), os indivíduos naturais do ambiente
tecnológico atual, os quais nasceram em meio às tecnologias, ou, como se referem em um
exemplo singular, que “nunca conheceram a vida sem a Internet”, estes são chamados de
“Geração Net” (Net Generation).
109
A exposição às Tecnologias da Informação começa em idades muito baixas. As
crianças, aos seis anos de idade ou mais, gastam uma média de duas horas por dia
usando mídia de tela (TV, vídeos, computadores, vídeo games), que quase iguala a
quantidade de tempo que eles gastam jogando fora (1:58 horas contra 2:01 horas).
Ambos excedem significativamente a quantidade de tempo de leitura (39 minutos).
A metade das crianças nesta faixa etária já usou um computador; entre os 4 e 6 anos
de idade, 27% gasta uma hora um dia (1:04) ao teclado. “Não são apenas os
adolescentes que estão ligados e sintonizados, os bebês em fraldas também estão.”
Enquanto as gerações anteriores foram introduzidas à informação através da
impressão, esta geração toma um caminho digital (OBLINGER, D.; OBLINGER,
J., 2005, p. 2.2, tradução e grifos nossos 30).
Com relação ao exposto anteriormente, convém destacar que o uso de mídia de tela
(TV, vídeos, computadores, vídeo games) também pode pressupor atividades de leitura, uma
vez que, conforme explica Santaella (2007), a leitura também envolve o ciberespaço e as
redes eletrônicas de informação e comunicação. Portanto, é prudente considerar que, no
contexto contemporâneo, as TIC estão significativamente presentes no cotidiano das crianças
e que, embora este acesso envolva mais tempo do que aquele tradicionalmente despendido
para leitura, o próprio relacionamento com as TIC também pode implicar em novas formas de
leitura, considerando a leitura sobre uma perspectiva ampliada, como a leitura imersiva, que
ocorre por meio das telas dos computadores e demais equipamentos eletrônicos conectados ou
não em rede.
A Geração Net apresenta características singulares aos indivíduos desse grupo
(crianças, adolescentes e estudantes universitários, entre outros) e sua aprendizagem é
diferenciada das gerações anteriores. O quadro seguinte, localizado na obra dos autores
citados, destaca alguns atributos marcantes de algumas gerações, incluindo a Geração Net:
30
Texto original:
Exposure to IT begins at very young ages. Children age six or younger spend an average of two hours each day
using screen media (TV, videos, computers, video games), which nearly equals the amount of time they spend
playing outside (1:58 hours versus 2:01 hours). Both significantly exceed the amount of reading time (39
minutes). Half of the children in this age group have used a computer; among 4-to-6-year-olds, 27 percent spend
over an hour a day (1:04) at the keyboard. “It‟s not just teenagers who are wired up and tuned in, it‟s babies in
diapers as well.” While earlier generations were introduced to information through print, this generation takes a
digital path.
110
Veteranos
Baby Boomers
Geração X
Geração Net
1900–1946
1946–1964
1965–1982
1982–1991
Descrição
Grande Geração
Geração Me
Geração Latchkey
Millennials
Atributos
Comando e controle
Auto-sacrifício
Otimista
Viciado em
trabalho
Independente
Cético
Esperançoso
Determinado
Gosta de
Respeito pela
autoridade
Família
Envolvimento
comunitário
Responsabilidade
Trabalho ético
Atitude positiva
Liberdade
Multitarefa
Equilíbrio trabalhovida
Ativismo público
A mais recente
tecnologia
Pais
Desperdiçar
tecnologia
Preguiça
Voltar aos anos 50
Burocracia
Exagero
Qualquer coisa
lenta
Negatividade
Data de
Nascimento
Não gosta de
Quadro 1 - Características das Gerações.
Fonte: Traduzido de Diana Oblinger e James Oblinger (2005, p. 2.9).
Observa-se um panorama de quatro gerações com destaque para determinados
atributos; porém, os autores destacam que outros atributos também revelam tendências destas
gerações, como por exemplo, atitude para trabalhos variáveis ou lugar de comunidade.
Ressaltam ainda que “um dos atributos mais notáveis é a atitude para a Internet. Para a
Geração Net, a Internet está como oxigênio; eles não podem se imaginar capazes de viver sem
isto” (OBLINGER, D.; OBLINGER, J., 2005, p. 2.9, tradução nossa31).
Assim, fica evidente a existência de diferentes gerações com diferentes atributos, que
podem tomar ainda outras extensões. A Geração X compreende a geração que presenciou a
popularização das Tecnologias da Informação, tendo a possibilidade de acesso e utilização
destes recursos e, consequentemente, estando sujeita a todas as implicações que esse tipo
contato representa para a cultura do referido grupo (problemas técnicos, dificuldades de
compreensão, facilidades de uso, adaptação etc.).
Por sua vez, a Geração Net, conforme denominação atribuída pelos autores,
compreende um grupo de indivíduos de outra formação cultural, pois as Tecnologias da
Informação, incluindo os computadores e a Internet, estão presentes desde o nascimento dos
mesmos, embora se pese o fato de que nem todas as pessoas têm o mesmo tipo de acesso a
31
Texto original:
One of the most striking attributes is the attitude toward the Internet. For the Net Gen, the Internet is like oxygen; they can‟t
imagine being able to live without it.
111
estes recursos. Assim, esta geração, também descrita como “Millennials”, é uma geração mais
dinâmica, que pensa, aprende e age de modo bem distinto da geração anterior.
É possível encontrar também na literatura a denominação de Geração “N-Gener”, ou
“Geração Y”, alguns dos conceitos bastante explorados pelo canadense Don Tapscott (1999
apud SO, 2007). Na visão deste autor, esta geração de indivíduos nasceu na era da Internet e a
utiliza como algo natural e cotidiano por meio do qual se comunicam, brincam, estudam,
fazem amizades, desenvolvem a criatividade, a interatividade e a participação nas diversas
formas de expressão potencializadas pelas redes eletrônicas. Assim, são características da
personalidade do N-Gener:
Aceitação da diversidade: o importante na comunicação virtual na web é o que
se tem a dizer e não quem está comunicando. (Entretanto, não invalidam os
ataques racistas aos componentes de comunidades virtuais);
Curiosidade: a internet é um novo mundo a explorar;
Auto-afirmação e autoconfiança: o acesso à mídia faz com que o N-Gener
procure o que quer e precisa, sem o direcionamento de um adulto. (uma falsa
idéia de que os sites não são monitorados por este último);
Crítica e contestação: o N-Gener possui todas as ferramentas para pensar
criticamente, desafiar idéias e pessoas.
(TAPSCOTT, 1999 apud SO, 2007, p. 16, grifos da autora).
Outra denominação, porém mais recente, também é apresentada por esse autor para
se referir aos indivíduos nativos do ambiente digital: “Geração Z”. Trata-se de uma
terminologia em fase de consolidação, conhecida como “Z”, devido ao processo de “zapear” 32
a informação, que é uma característica dos indivíduos que fazem várias coisas ao mesmo
tempo.
[...] eles querem estar conectados com amigos e parentes o tempo todo, e usam a
tecnologia – de telefones a redes sociais – para fazer isso. Então quando a tevê está
ligada, eles não ficam sentados assistindo a ela, como seus pais faziam. A tevê é
uma música de fundo para eles, que a ouvem enquanto procuram informações ou
conversam com amigos on-line ou por meio de mensagens de texto. Seus telefones
celulares não são apenas aparelhos de comunicação úteis, são uma conexão vital
com os amigos (TAPSCOTT, 2010 apud CERETTA; FROEMMING, 2011, p. 19).
32
Verbo que serve para designar o ato de mudar constantemente o canal de televisão, geralmente através de um
controle remoto.
112
Esta geração é colocada em um patamar posterior à Geração Y, uma vez que são
naturais de um ambiente e momento histórico altamente tecnológico, em que os
computadores, a Internet e as rápidas velocidades de conexão e trocas de informações não
representam novidades e não causam mais nenhum deslumbramento. Por essa razão, esse é o
público mais jovem dentre todos os demais.
Nesse sentido, Tapscott (2010 apud CERETTA; FROEMING, 2011) apresenta oito
normas que caracterizam a Geração Z, ou Geração Internet, quais sejam a liberdade, a
customização, o escrutínio (ligado à atitude investigativa), a integridade, a colaboração, o
entretenimento, a velocidade e a inovação.
Prensky (2001) também investiga estes grupos e algumas destas mesmas
características, porém, utiliza outras denominações para se referir ao que Diana Oblinger e
James Oblinger (2005) classificam como Geração X e Geração Net, e Tapscott (1999 apud
SO, 2007) nomeia como Geração N-Gener, ou Geração Y, ou ainda como Geração Z
(TAPSCOTT, 2010 apud CERETTA; FROEMMING, 2011).
Discorrendo do ponto de vista da educação, Prensky (2001) explica que os alunos de
hoje não são mais os mesmos para os quais o sistema educacional foi criado. Assim,
conceitua estes alunos como “Nativos Digitais”, ou seja, falantes nativos da linguagem digital
dos computadores, vídeo games e Internet, com os quais os professores geralmente têm
dificuldades de relacionamento, sobretudo, por serem de outra geração, pois não nasceram no
“mundo digital”, apenas incorporaram as tecnologias em algum momento de suas vidas. Este
último grupo, o autor denomina como “Imigrantes Digitais”.
Como deveríamos chamar estes “novos” alunos de hoje? Alguns se referem a eles
como N-[de Net]-gen ou D-[de Digital]-gen. Porém a denominação mais utilizada
que eu encontrei para eles é Nativos Digitais. Nossos estudantes de hoje são todos
“falantes nativos” da linguagem digital dos computadores, vídeo games e da
internet.
Então o que faz o resto de nós? Aqueles que não nasceram no mundo digital, mas
em alguma época de nossas vidas, ficou fascinado e adotou muitos ou a maioria dos
aspectos da nova tecnologia são, e sempre serão comparados a eles, Imigrantes
Digitais (PRENSKY, 2001, p. 1-2, tradução nossa33).
33
Texto original:
What should we call these “new” students of today? Some refer to them as the N-[for Net]-gen or D-[for digital]gen. But the most useful designation I have found for them is Digital Natives. Our students today are all “native
speakers” of the digital language of computers, video games and the Internet.
So what does that make the rest of us? Those of us who were not born into the digital world but have, at some
later point in our lives, become fascinated by and adopted many or most aspects of the new technology are, and
always will be compared to them, Digital Immigrants.
113
Em suma, observa-se uma diversidade de conceitos na literatura, bem como de datas
e períodos diferentes atribuídos à ascensão e duração de uma ou outra geração, demonstrando
que uma divisão cronológica e mesmo a distinção terminológica é algo relativo a se
considerar. Porém, existe uma semelhança de períodos e de definições, deixando evidente a
existência de um grupo de indivíduos que, como afirma Prensky (2001), são Imigrantes
Digitais (Geração X) e outro grupo de indivíduos que já nasceram no ambiente tecnológico,
como Nativos Digitais (Geração Net, Geração N-Gener ou Geração Y, Geração Z).
Além disso, ao atentarmos para o quadro apresentado por que Diana Oblinger e
James Oblinger (2005), observa-se que existem ainda outras duas gerações (Os Veteranos e os
Baby Boomers) que, embora não tenham entrado em contato com a tecnologia da mesma
forma que as gerações posteriores, compreende dois grupos de indivíduos que, em maior ou
menor grau podem ser Imigrantes Digitais, ou mesmo, de acordo com outras variáveis
culturais, podem estar à margem da sociedade tecnológica.
Esse público distinto, que vai desde os Imigrantes (incluindo-se aí todas as gerações
anteriores que tiveram que se adaptar às TIC) até os Nativos Digitais está presente em todos
os ambientes sociais, desde os lares, as escolas, as universidades, o comércio, às bibliotecas,
entre outros. Ao utilizar os serviços de uma biblioteca ou mesmo ao realizar suas atividades
de estudo, pesquisa e leitura, suas características vêm à tona, podendo ser visíveis na forma
como se relacionam com os recursos tecnológicos, com os materiais de leitura, e no próprio
processo de leitura.
Como a biblioteca universitária serve como suporte às atividades de ensino, pesquisa
e extensão da comunidade acadêmica, é compreensível que o aspecto da leitura muitas vezes
passe despercebido, ou não receba a devida atenção por parte dos pesquisadores. Contudo,
como a leitura assume um papel essencial para a formação de indivíduos críticos, uma
biblioteca, mesmo sendo focada em materiais de natureza técnica e didática, não deixa de ter
uma responsabilidade efetiva com o processo de leitura.
Longe de ser um mero artifício mecânico por meio do qual um aluno absorve o
conteúdo dos livros, a leitura, mesmo quando envolve conteúdos técnicos, acadêmicos ou
científicos, ativa os mesmos pressupostos discutidos anteriormente, como compreensão,
conhecimento prévio, objetivos, expectativas (hipóteses) e interação. Dito de outro modo,
também na biblioteca universitária o leitor interage com os materiais de leitura em busca de
114
um significado, de um objetivo, de conhecimentos, processo típico da ecologia desse
ambiente e ainda mais enriquecido pela compreensão das diferentes gerações de leitores que
podem ser aí encontradas.
Por outro lado, embora se compreenda que a organização e disponibilização de
acervos ou outros recursos de informação nas bibliotecas universitárias são voltados para seu
acesso e uso por parte dos usuários/leitores, estes ambientes também possibilitam outro tipo
de “relacionamento”, uma vez que potencializam um processo comunicativo entre os
indivíduos.
O leitor que procura a biblioteca universitária para emprestar um livro, por exemplo,
geralmente tem a intenção de utilizar o material para sua pesquisa acadêmica, seja para o
desenvolvimento de algum trabalho, de alguma atividade didática, ou mesmo para estudar e
aprofundar algum conteúdo, entre outras possibilidades. O mesmo pode acontecer quando o
aluno utiliza um computador da biblioteca para pesquisar na Internet algum conteúdo para seu
trabalho acadêmico.
Ao atender necessidades dessa natureza, ou seja, ao aproximar usuários/leitores e
produtos de informação, respeitando-se a consciência destes leitores, a biblioteca (e os
profissionais da informação) cumpre sua função de mediação de discursos e intermediação do
conhecimento, enquanto que os leitores por sua vez, também podem ser considerados
consumidores de informações e conhecimentos, sendo este conhecimento equivalente a um
“insumo” que, incorporado ao “fazer” dos indivíduos, implica na apropriação e na construção
de seus próprios “saberes” (ARAÚJO; FREIRE, 1999).
Porém, ao disponibilizar e promover o acesso a computadores, sistemas e redes
eletrônicas de comunicação, a biblioteca universitária oferece possibilidades que perpassam a
busca, localização e consumo de informações, na medida em que envolvem a interação entre
os indivíduos, direta ou indiretamente, ou seja, possibilita uma interação mediada por
computador, que não se prende apenas a recursos tecnológicos e produtos de informação, mas
se alça ao nível da cognição, da comunicação e da interação humana.
Por essa razão é que se entende que a leitura na biblioteca universitária
contemporânea, também permite incorporar a perspectiva do “interagente”, termo este
proposto por Primo (2008), para se referir aos participantes da interação, aos interlocutores
que estabelecem um processo de interação mediada por computador.
115
Este autor critica o enfoque tecnicista que tem sido dado às características dos
equipamentos, programas, redes e similares, em detrimento do que se passa com os próprios
interagentes, envolvidos no processo, considerando que “a interação não pode ser reduzida à
transmissão de informações [e] que a cognição não deve ser reduzida à simples cópia do real”
(PRIMO, 2008, p. 228). Além disso, critica, e procura evitar o uso dos termos “usuário”,
“receptor” e “interatividade”, por apresentarem limitações do ponto de vista da comunicação e
da teoria da cibercultura.
A este respeito, convém ressaltar que, neste trabalho optamos por empregar o termo
“usuário/leitor” para se referir ao público que utiliza os produtos e serviços da biblioteca
universitária, porque na área biblioteconômica o termo “usuário” não comporta um
significado tecnicista e reducionista, sendo amplamente utilizado, além do que, aqui este
usuário é abordado enquanto um “leitor”, haja visto que o estudo se desenvolve sob o enfoque
da área da Educação.
Considerando que o presente estudo é pertinente tanto para a área da Educação,
quanto para a Ciência da Informação, buscamos utilizar um termo que atendesse
satisfatoriamente estas duas áreas de conhecimento. Observamos que, em alguns casos, o
termo “usuário” parecia mais adequado, sobretudo quando pretendíamos designar o sujeito
que utiliza os produtos e serviços da biblioteca, enquanto que em outros momentos, o termo
“leitor” apresentava uma conotação mais apropriada, especialmente quando o foco se
encontrava na interação com os recursos de leitura, ou seja, na leitura em si. Em determinados
momentos utilizamos esses termos isoladamente, mas em geral, utilizamos “usuários/leitores”
para nos referir aos sujeitos pesquisados, de modo que entendemos que esses termos juntos
incorporam uma abrangência conceitual maior.
Assim, a biblioteca universitária atual é um ambiente em que os usuários/leitores
podem desenvolver vários tipos de interação, como verdadeiros interagentes. Isso porque
atualmente as bibliotecas incorporaram muitos recursos das TIC aos seus produtos e serviços
(computadores, sistemas informatizados, Internet, bancos e bases de dados etc.), permitindo
interações mediadas por computador que vão desde a interação em sites, blogs, bases de
dados e sistemas de informação, quanto a diversos outros tipos de comunicação entre os
indivíduos, instituições e sistemas complexos, por meio de computadores.
Para além da utilização do acervo e demais produtos e serviços de informação, para
além das possibilidades de consumo de informação e conhecimento, as bibliotecas, com o
auxílio das TIC, também potencializam um meio de interação com o mundo, ou seja, com um
116
escopo social amplo, dinâmico e inovador, marcado pelas múltiplas possibilidades de
pesquisa, leitura, interação e socialização.
Além disso, na medida em que podem ser consumidores de informações e
conhecimentos, e, simultaneamente ou não, “interagentes”, os leitores também podem ser
considerados produtores de informação e conhecimentos para as bibliotecas e suas
instituições. Considerando que a biblioteca presta suporte às atividades de pesquisa acadêmica
e, dessa forma, estimula a produção de conhecimento na universidade, os usuários/leitores
também contribuem para ampliar esse universo de conhecimento, por meio das suas
produções acadêmicas/científicas, como teses, dissertações, artigos científicos e mesmo
livros.
Naturalmente, no ciberespaço as barreiras entre autor e leitor se dissolveram muito,
sendo comum que os leitores-internautas se tornem autores e editores de conteúdos digitais,
numa escala sem precedentes, sendo esta uma das características que influenciam o
desenvolvimento de um conhecimento social e, portanto, coletivo.
Da mesma forma, não se trata de uma metáfora, mas de uma questão concreta, que os
usuários/leitores também são sujeitos na produção de informações e conhecimentos que, em
algum momento são incorporados aos acervos das bibliotecas universitárias, independente do
grau em que ocorra esta inclusão e, a despeito da possibilidade de serem ou não interagentes
de fato.
Embora não se restringindo ao ambiente das bibliotecas, Santaella (2007) identifica,
em seu estudo, três tipos característicos de leitores desde o período medieval até a
contemporaneidade, com o interesse de delimitar o perfil cognitivo do leitor imersivo, típico
desse novo contexto em que o ciberespaço e sua linguagem, a hipermídia, proporcionam uma
interatividade que marca uma nova forma de leitura.
Para tanto, a autora discorre sobre a evolução do livro, da leitura, e do próprio leitor,
expandindo assim o conceito de leitura, não se limitando à decifração de caracteres escritos,
mas envolvendo todas as formas híbridas de signos e processos de linguagem a que estão
expostos os leitores.
[...] precisamos dilatar sobremaneira nosso conceito de leitura, expandindo esse
conceito do leitor do livro para o leitor da imagem e desta para o leitor de formas
híbridas de signos e processos de linguagem, incluindo nessas formas até mesmo o
leitor da cidade e o espectador de cinema, TV e vídeo, também considerados neste
trabalho como um dos tipos de leitores, visto que as habilidades perceptivas e
117
cognitivas que eles desenvolvem nos ajudam a compreender o perfil do leitor que
navega pelas infovias do ciberespaço, povoadas de imagens, sinais, mapas, rotas,
luzes, pistas, palavras, textos e sons. Se, de um lado, minha proposta é muito
específica, a saber, delinear o perfil cognitivo desse novo leitor, é necessário ampliar
a concepção mesma do que seja a prática da leitura (SANTAELLA, 2007, p. 16-17).
Assim, explica ainda que esta dilatação ou expansão do conceito de leitura tem
recebido uma reação contrária por parte de alguns estudiosos da leitura, presos à noção de
leitura como decifração letrada, fazendo menção, entre outros, ao historiador francês Roger
Chartier, citado anteriormente. Para Santaella (2007), a leitura percorre não apenas o ambiente
do texto escrito, como também das imagens, signos, sons e demais recursos perceptivos. A
leitura não se limita ao livro, como também compreende os jornais, revistas e uma profusão
de recursos trazidos pela comunicação e publicidade que se incorporaram ao cotidiano
urbano. Enfim, a leitura envolve ainda o ciberespaço e a linguagem hipermídia,
potencializados pela tecnologia dos microcomputadores e das redes eletrônicas de
informação.
É nesse contexto que se forma a multiplicidade de leitores que a autora agrupa em
três tipos principais, a fim de examinar, com mais profundidade, o modelo perceptivo
cognitivo do leitor imersivo, ainda pouco explorado:
Leitor contemplativo: leitor da idade pré-industrial, do livro impresso e da imagem
expositiva e fixa, que surge no Renascimento e tem sua hegemonia até meados do século
XIX. Historicamente, esse tipo de leitor atravessou o surgimento da leitura silenciosa em
bibliotecas, passou pelo advento do livro impresso e suas transformações, e se caracterizou
como um leitor contemplativo de objetos imóveis e manuseáveis, ligado, principalmente, à
leitura linear do texto sequencial e geralmente estruturado em linhas e parágrafos que
intercambiam informações com o cognitivo, contribuindo para transformar o conteúdo
captado em conhecimento.
Esse tipo de leitor ainda é bastante encontrado nas bibliotecas universitárias, uma vez
que o livro impresso é o principal produto de informação deste ambiente. A leitura
contemplativa ainda retoma um aspecto histórico, pois ao longo dos séculos este é o tipo de
leitura mais comumente praticada nas bibliotecas, e, um aspecto cognitivo, levando em conta
a atenção e outros requisitos necessários para a compreensão do objeto de leitura (silêncio,
meditação, reflexão etc.).
118
Tradicionalmente, desde a Idade Média, as bibliotecas são ambientes onde a leitura
silenciosa é uma norma a ser seguida e essa regra já se incorporou à própria cultura das
pessoas, como fundamentação para compreender o que se lê. Essa questão também está bem
enraizada na biblioteca universitária, ambiente este em que, assim como as demais
bibliotecas, existem cartazes visíveis clamando por silêncio e respeito ao direito de leitura dos
demais indivíduos que pode ser comprometido pelo barulho que distrai, incomoda e retira o
leitor de sua individualidade meditativa de leitor contemplativo.
A leitura meditativa, como o próprio nome demonstra, é uma leitura em que a
particularidade, a concentração e a meditação são condições necessárias para a compreensão.
Compreender esta característica significa compreender o comportamento dos leitores mais
comuns e tradicionais das bibliotecas, inclusive da biblioteca universitária.
Leitor movente, fragmentado: esse tipo de leitor é aquele que interage com um
mundo dinâmico, híbrido, composto por misturas de signos, surgido no contexto do
capitalismo, da Revolução Industrial e modelado na urbanização crescente que trouxe consigo
novas formas de leitura e comunicação, como o jornal e a fotografia, até chegar à revolução
eletrônica, que teve como uma de suas características o advento da televisão.
Esse é o leitor inserido no contexto da modernidade, em um mundo que se apresenta
como um devir constante, no qual a experiência humana se torna efêmera e fugidia, o
consumismo se camufla na imposição sedutora da propaganda, e a leitura, se torna um jogo
rápido de captação de estímulos perceptivos fragmentados os mais diversos; por outro lado,
vale ressaltar que este é um indivíduo intermediário que prepara as bases perceptivas para um
novo tipo de leitor que surge em períodos mais recentes.
O leitor movente é uma figura contemporânea e sua identidade denota a
transformação sensorial e cognitiva pela qual as pessoas vêm passando nos últimos tempos,
em função das mudanças sociais, culturais, tecnológicas e informacionais. Este tipo de leitor
capta com mais facilidade os signos, as imagens, as mensagens curtas e os códigos que
surgem na experiência cotidiana e exigem uma leitura e compreensão mais dinâmica.
Mas, qual a relação deste tipo de leitor com a biblioteca universitária? Em busca de
uma relação com os usuários/leitores deste ambiente, provavelmente seja coerente considerar
que este tipo de leitor, parece mais presente na sociedade do que nas próprias bibliotecas. Ou,
ao menos, nas bibliotecas, possamos encontrar esse tipo de leitor plasmado com os leitores
imersivos, dadas as similaridades de algumas de suas características.
119
No meio social, o leitor meditativo ocupa um espaço, por assim dizer essencial, uma
vez que a comunicação e interação cotidianas exigem que se evite uma carga informacional
visível e se apele para os conhecimentos prévios, para a abstração e a compreensão. Outdoors,
fachadas de lojas, anúncios, panfletos, sinalizações diversas, exploram os signos e textos
sintéticos que exigem que o indivíduo depreenda instantaneamente os sentidos embutidos nas
mensagens. Jornais e revistas, por exemplo, costumam trazer, nas primeiras páginas, extratos
dos conteúdos principais, manchetes e textos que costumam ser mais consultados que as
próprias informações integrais. Os noticiários televisivos parecem seguir essa mesma lógica,
pois logo no início é apresentado um resumo das principais notícias. Indo um pouco mais
além, os próprios sites costumam ser elaborados respeitando a hierarquia e o equilíbrio entre
os pequenos trechos de informações que devem ser mais chamativos e o conteúdo integral,
geralmente organizado em páginas mais extensas e menos visíveis. Tudo isso parece cativar o
leitor e respeitar seu desejo de ir direto ao que interessa.
Assim, a instantaneidade se revela como uma das características do ambiente
informacional contemporâneo, e a consciência das pessoas se orienta de modo prático,
aleatório e bastante rápido em busca dos estímulos perceptivos visuais que lhes transmitam
imediatamente um resumo do que lhes interessa saber. Aprofundar ou não em conteúdos mais
extensos é uma possibilidade, mas nem sempre uma necessidade ou uma preferência.
No contexto das bibliotecas, os leitores meditativos também encontram sinais,
cartazes, imagens e mensagens fragmentadas que abstraem com facilidade. Os jornais e as
revistas são exemplos de outros produtos de leitura movente na biblioteca universitária.
Entretanto, parece razoável que a navegação no ciberespaço é o elo que une leitores
fragmentados e imersivos, pois nesse ambiente, a leitura imersiva seguindo estímulos
perceptivos semelhantes, se desenvolve de maneira dinâmica, multidirecional, fragmentada e
aleatória.
Nesse sentido, cabem assim duas considerações sobre esse tipo de leitor: nas
bibliotecas universitárias, as evidências parecem indicar a existência de um grupo de leitores
meditativos e outro grupo de leitores moventes/imersivos (estes últimos aproximados pelas
suas similaridades). Além disso, como esta classificação tripla apontada por Santaella (2007)
também pode se referir ao perfil dos leitores, é possível encontrar, nas bibliotecas
universitárias, leitores com características meditativas, moventes e imersivas em maior ou
menor grau.
120
Por outro lado, também é possível encontrar nas bibliotecas indivíduos que
apresentam, ao mesmo tempo, as características dos três perfis de leitores definidos por
Santaella (2007), ou seja, com características tanto de leitores meditativos e moventes, quanto
de leitores imersivos. Isso porque, embora haja uma tendência para uso das TIC,
circunscrever os leitores a um perfil rígido pode limitar as múltiplas possibilidades de leitura
existentes nas bibliotecas atualmente (e não apenas nas bibliotecas), como por exemplo, os
livros e demais materiais bibliográficos impressos, jornais, revistas, obras de arte, textos
eletrônicos, vídeos, áudio etc. Desse modo, ao reconhecer a importância das TIC nesse
contexto, bem como suas características peculiares e inovadoras no que diz respeito à leitura,
não se pretende condicionar a leitura contemporânea a um perfil exclusivo de leitor.
Leitor imersivo, virtual: esse é o leitor que surge na chamada “era digital”, no
início do século XXI, juntamente com o ciberespaço. Trata-se de um leitor de ambientes
virtuais de informação, onde a percepção salta de um ponto ao outro, de um nó ao outro de
conexões não-lineares de informações relacionadas e, onde se encontra uma liberdade para
guiar a leitura por um caminho escolhido pelo próprio leitor. O ciberespaço é um ambiente
que está em todos os lugares e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum. É o espaço virtual em que
a digitalização confere um tratamento informatizado a textos, imagens, áudio e vídeo e onde,
juntamente com as redes de informação e comunicação, se constrói e reconstrói a cada
instante novas arquiteturas, produtos e serviços que chegam em pouco tempo ao alcance do
mouse, da tela do computador e, com isso, da percepção humana.
Esse tipo de leitor é característico da sociedade contemporânea e, como não poderia
ser diferente, também permeia o ambiente das bibliotecas universitárias, local em que as TIC
foram introduzidas tardiamente para incorporar inovações que já vinham ocorrendo há mais
tempo no meio social.
De todo modo, geralmente, em todas as bibliotecas universitárias existem
computadores disponíveis aos leitores para pesquisa, troca de informações, realização de
trabalhos acadêmicos, entre outras atividades semelhantes. Nesse ambiente, é possível acessar
bancos e bases de dados, produzir e disponibilizar conteúdos na Internet (upload), bem como
fazer download de arquivos de texto, áudio e vídeo. Em algumas bibliotecas é possível até
mesmo acessar redes sociais e comunicadores instantâneos, bem como jogos e outros
conteúdos e recursos que em muitas bibliotecas não são permitidos. Mesmo que não se
interessem em utilizar os recursos da biblioteca, é possível que os leitores imersivos acessem
redes de Internet sem fio e naveguem no ciberespaço com seus próprios equipamentos.
121
Embora não se pretenda debater as restrições de acesso ao ciberespaço, uma vez que
as mesmas podem envolver políticas não só das bibliotecas como também da própria
instituição a que as mesmas são vinculadas, observa-se na biblioteca universitária condições
razoavelmente propícias para os leitores imersivos; porém, há que se considerar que o que
atrai este tipo de leitor é bastante diferente do que atrai o leitor meditativo. Enquanto um
parece mais focado no documento impresso, físico, e no espaço adequado para sua leitura e
mobiliza uma forma de leitura sequencial, o outro, prefere ler aleatoriamente, navegar pelos
documentos digitais, abstrair rapidamente o que interessa, copiar, “baixar” e saltar para outro
site e continuar navegando.
Enfim, embora dependa de uma estrutura e equipamentos físicos, o leitor imersivo
navega em um ambiente em que tempo, espaço e matéria são irrelevantes: ele pode navegar a
partir de sua casa, do shopping, de uma praça, em suma de qualquer lugar, inclusive da
biblioteca. Ele pode ainda consultar o acervo da biblioteca pelo catálogo on-line enquanto a
mesma está fechada ou localizada longe de sua casa, ou ainda, pode baixar um livro digital,
uma tese, uma dissertação, um artigo científico ou qualquer outro conteúdo que nem mesmo
esteja disponível na biblioteca.
Conforme Prensky (2001) explicou, os Nativos Digitais requerem compreensão por
parte dos professores, que geralmente são Imigrantes Digitais, para o sucesso das atividades
de ensino. Fazendo um paralelo com estes conceitos, conclui-se que os leitores imersivos nas
bibliotecas universitárias tanto podem ser Nativos quanto Imigrantes Digitais, mas ambos
podem fazer um uso intenso das TIC, o que faz com que seja relevante questionar se, assim
como os professores Imigrantes Digitais, as bibliotecas estão preparadas para esse público
altamente interativo, que conhece o que há de mais novo no mercado e incorpora as
tecnologias em seu cotidiano de modo extremamente natural.
Santaella (2007, p. 19) ressalta que essa tipologia pautada em três tipos de leitores
não se baseia na distinção entre tipos de linguagem ou processos de signos, nem nos suportes
ou canais de comunicação, mas nos “tipos de habilidades sensoriais, perceptivas e cognitivas
que estão envolvidas nos processos e no ato de ler, de modo a configurar modelos cognitivos
de leitor”, ou seja, sua abordagem se interessa pela maneira como emergem os novos leitores
no contexto de suas experiências cognitivas com esses novos ambientes de leitura. É nessa
perspectiva que são examinados o ciberespaço e sua linguagem, a hipermídia, onde se fundem
diversas possibilidades de leitura e interatividade.
122
De acordo com o nível de intimidade com os recursos tecnológicos e o ciberespaço,
três tipos de “usuários” também são abordados no estudo em questão, a saber: o novato, o
leigo e o experto, os quais, a autora associa aos internautas errante, detetive e previdente, ao
considerar os tipos de inferência e raciocínio envolvidos no processo de navegação:
[...] as diferenças específicas que se apresentam nos processos de navegação
exibidos pelos novatos, pelos leigos e pelos expertos demonstram corresponder cada
uma delas à dominância de um dos tipos de inferências. Os novatos exibem a
predominância da abdução, os leigos, da indução, e os expertos, da dedução. Vem
daí os três tipos de internautas revelados por essa pesquisa: (a) o internauta errante,
aquele que pratica a arte da adivinhação [...] (b) o internauta detetive, aquele que
segue pistas e aprende com a experiência [...] e (c) o internauta previdente, aquele
que sabe antecipar as conseqüências de suas ações [...] (SANTAELLA, 2007, p. 8990, grifos da autora).
Assim, os traços caracterizadores desses três tipos de “leitores imersivos” são
sintetizados da seguinte forma: o internauta errante corresponde àquele que navega baseado
no instinto para adivinhar, orientado pelas inferências abdutivas, um explorador aleatório do
campo de possibilidades da hipermídia. O internauta detetive é aquele leitor que, baseado nas
inferências indutivas, navega com disciplina pelas pistas e trilhas de índices do ciberespaço,
com estratégias de buscas baseadas em tentativa e erro, com capacidade adaptativa, memória
operativa aguçada e apoiado na experiência como recurso para a aprendizagem. E por fim, o
internauta previdente corresponde a um leitor habilidoso, portador de uma memória de longa
duração e focado nas inferências dedutivas, já apresentando alguma familiaridade com os
recursos do ciberespaço e com a linguagem hipermidiática, bem como se movimentando de
modo a prever as consequências de suas escolhas, uma vez que já tem internalizado os
esquemas gerais dos processos de navegação.
Observa-se que Santaella (2007) apresenta uma perspectiva histórica dos diferentes
tipos de leitores (o contemplativo, o movente e o imersivo). Se concentrando especificamente
nos leitores imersivos ou virtuais, a referida autora apresenta uma distinção entre os três tipos
de usuários que utilizam o ciberespaço (novato, o leito e o experto), aos quais, relaciona com
três tipos de internautas (o errante, o detetive e o previdente) levando em conta o raciocínio e
a forma de navegação envolvidos. Entretanto, a autora apresenta uma análise flexível ao
concluir que estes tipos de leitores imersivos podem representar também estilos de navegação:
123
Há assim, internautas que, não obstante já sejam expertos, têm um estilo de
navegação errante. Outros apresentam um estilo detetivesco e outros, ainda, um
estilo previdente.
Entretanto, a figura ideal do leitor imersivo deveria ser aquela capaz de misturar de
modo equilibrado os três tipos de leitura imersiva: o errante, o detetivesco e o
previdente. O ideal é que esse leitor não se entregue às rotinas sem imaginação do
previdente, mas se abra para surpresas, entregue-se às errâncias para poder voltar a
vestir a roupagem do detetive, farejando pistas (SANTAELLA, 2007, p. 180).
Dessa forma, ressalta ainda alguns pontos comuns aos três tipos de leitores, que se
constituem na marca registrada do leitor imersivo, quais sejam a interatividade e as
transformações sensórias, perceptivas e cognitivas envolvidas nesse tipo de leitura.
Se é possível encontrar em Chartier (1998) e Martins (2002), além de outros autores,
aspectos que se considera bastante relevantes para a compreensão do conceito de “leitor” e de
“leitura” contemporâneos, parece que Santaella (2007) oferece uma definição não menos
importante, tendo em vista os objetivos deste estudo, uma vez que seu conceito de leitura e de
leitor é mais abrangente.
Nesse sentido, emprega-se, nesta pesquisa, os conceitos de leitor e de leitura
apresentados por Santaella (2007), uma vez que esta é a definição que melhor caracteriza o
usuário ou “leitor” típico das bibliotecas universitárias, ou seja, um leitor que interage com
diversas formas de leitura, desde livros e outros materiais impressos (como um leitor
meditativo), passando por vídeos, imagens e outros signos (como um leitor movente), até
chegar ao ciberespaço e à linguagem hipermídia, presente nas redes eletrônicas de informação
e comunicação, nos bancos e bases de dados, nos portais de periódicos e nos diversos
recursos, produtos e serviços de informação (como um leitor imersivo).
Por essa razão, embora não seja único, o conceito de leitor imersivo, junto com os
demais apresentados por Santaella (2007), auxiliam na compreensão do perfil desses leitores
que se constituem, principalmente, da comunidade acadêmica universitária e apresentam
características e habilidades de navegação, cognição e aprendizagem que não podem ser
ignoradas ou simplesmente generalizadas a uma noção de leitor restrito apenas ao texto
impresso.
124
3 A BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT
Analisar o panorama das bibliotecas universitárias em nosso país fornece subsídios
para um entendimento contextualizado do cenário em que surgiu a Biblioteca Central da
UFMT. Criada em 10 de dezembro de 1970, por meio da Lei nº 5.647 (BRASIL, 1970), a
Universidade Federal de Mato Grosso, desde então vem contribuindo com o desenvolvimento
da região mato-grossense, atuando nas áreas de ensino de graduação, pós-graduação, pesquisa
e extensão, e mantendo os campi de Cuiabá, Rondonópolis, Araguaia (Pontal do Araguaia e
Barra do Garças), além da presença em outras regiões por meio de diversos projetos e
parcerias, conforme informações disponíveis no site da instituição34.
Portanto,
a
UFMT
surgiu
em
um
período
imediatamente
posterior
à
institucionalização da universidade no Brasil, que segundo Mendonça (2000), ocorreu entre os
anos de 1920 e 1968. Foi também por volta dessa época que as bibliotecas universitárias
brasileiras se consolidaram, uma vez que desde 1968 as mesmas já eram consideradas
obrigatórias nas IES (OLIVEIRA, 2004).
Figura 2 - Vista aérea da UFMT.
Fonte: http://www.ufmt.br/ufmt/site/secao/index/Cuiaba/1.
34
Disponível no endereço eletrônico: http://www.ufmt.br/.
125
Nesse contexto, dois anos após a fundação da UFMT, ou seja, em 1972, o Conselho
Diretor da Universidade, por meio da Resolução CD nº 38/72 resolveu criar a “Biblioteca
Central e Documentação”35, que assim como os demais órgãos suplementares constituídos
pela mesma resolução tinha o objetivo de desenvolver atividades de natureza técnica, cultural,
recreativa e de assistência.
Figura 3 - Vista da parte da frente da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Fotografia creditada a Dafne Spolti, fornecida pela Assessoria de Comunicação da UFMT.
Vale ressaltar que, as instalações que atualmente abrigam a Biblioteca Central foram
inauguradas em 1980 e que, no bloco da Biblioteca Central funcionam também as instalações
da Reitoria, Vice Reitoria e Cerimonial da UFMT.
Em termos de recursos humanos, atualmente, a UFMT possui um quadro de 823
professores doutores, 543 professores mestres, sendo um total de 1.507 professores, além de
1.555 servidores técnicos administrativos para o desenvolvimento de atividades junto às
unidades acadêmicas e administrativas da Instituição. Quanto ao corpo discente, este
corresponde a aproximadamente 22.000 alunos36.
35
Atualmente este setor é conhecido apenas pelo nome “Biblioteca Central”, ou pelas siglas BC (Biblioteca
Central) e BC/UFMT (Biblioteca Central da Universidade Federal de Mato Grosso).
36
Dados extraídos de um vídeo institucional organizado em fevereiro de 2012.
126
Na área de graduação, a UFMT oferece um total de 108 cursos, distribuídos pelos
seus 04 campi e 17 polos, abrangendo as modalidades de ensino presencial e à distância.
Além disso, a Instituição oferece ainda cursos de extensão relevantes para a comunidade
local.
Campus
Cuiabá
Rondonópolis
Araguaia - Campus I
Barra do Garças
Araguaia - Campus II
Pontal do Araguaia
Sinop
Modalidade
Quantidade
Presencial
52
À distância
Presencial
07
21
À distância
Presencial
01
08
À distância
01
Presencial
08
À distância
0
Presencial
10
À distância
0
Quadro 2 - Quantitativo de Cursos de Graduação oferecidos pela UFMT.
Fonte: Dados da Coordenação de Ensino de Graduação da UFMT (fev. 2011),
atualizados com dados do site da UFMT em fev. 2012 (www.ufmt.br).
Quanto aos cursos de Pós-Graduação, são oferecidos pela UFMT desde cursos de
especialização, quanto mestrado e doutorado, abrangendo as modalidades de ensino
presencial e à distância. No quadro a seguir, é possível observar a distribuição desses cursos
pelos campi da UFMT, sendo maior a concentração de cursos no Campus de Cuiabá.
Campus
Tipo de Curso
Modalidade
Doutorado
Cuiabá
Doutorado
Interinstitucional
Mestrado
Especialização
Rondonópolis
Araguaia - Campus I
Barra do Garças
Araguaia - Campus II
Pontal do Araguaia
Sinop
Mestrado
Especialização
Mestrado
Especialização
Mestrado
Especialização
Mestrado
Especialização
Quantidade
07*
Presencial
À distância
Presencial
Presencial
Presencial
Presencial
07
28
53
02
02
03
01
0
0
0
01
0
Quadro 3 - Quantitativo de Cursos de Pós-Graduação oferecidos pela UFMT.
Fonte: Dados da Coordenação de Pós-Graduação da UFMT (fev. 2011),
atualizados com dados do site da UFMT em fev. 2012 (www.ufmt.br).
* Incluindo o curso de Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática
(REAMEC), que está em fase de implantação.
127
Ao todo, a UFMT oferece 33 cursos de mestrado, 07 cursos de doutorado, cerca de
80 especializações, além de 06 programas de doutorado interinstitucionais 37.
A UFMT tem seu campus e sede administrativa instalados em Cuiabá, Capital de
Mato Grosso, cidade conhecida nacionalmente pelo calor típico da região. É também nesse
campus que se encontra a Biblioteca Central da UFMT, conforme pode ser visualizado no
mapa constante na imagem seguinte.
Figura 4 - Mapa do Campus da UFMT de Cuiabá-MT.
Fonte: Site da UFMT (www.ufmt.br).
Além da Biblioteca Central, para dar apoio às atividades de ensino, pesquisa e
extensão desenvolvidas pela UFMT, a Instituição mantém bibliotecas regionais em seus
outros três campi, além de algumas bibliotecas setoriais. Trata-se de uma ampla comunidade
acadêmica, que utilizam os serviços das bibliotecas da UFMT, desde o empréstimo domiciliar
de livros até a consulta a bases de dados e periódicos eletrônicos disponibilizados pela
instituição.
A Biblioteca Central da UFMT tem por objetivo principal servir como suporte às
atividades de ensino, pesquisa e extensão da instituição e para isso mantém serviços de
consulta e empréstimo de materiais bibliográficos, orientação aos usuários no uso dos
37
Dados extraídos de um vídeo institucional organizado em fevereiro de 2012
128
recursos internos e externos da biblioteca, levantamentos bibliográficos com os recursos
internos e através de outros sistemas disponíveis etc.
No início de suas atividades, os serviços deste setor eram executados de forma
manual, no que se refere aos trabalhos de catalogação, circulação (empréstimo, renovação,
devolução), tombamento, entre outros. Assim, em um primeiro momento, a biblioteca contava
com um catálogo manual para pesquisa e localização de obras, sendo dividido em catálogos
de autor, título e assunto, os quais eram alimentados com fichas catalográficas elaboradas
pelos bibliotecários da instituição.
Figura 5 - Servidores na Gerência de Processos Técnicos (GPT) da Biblioteca Central.
Fonte: Acervo pessoal do pesquisador.
No decorrer do tempo, não apenas a quantidade de obras aumentou no acervo, como
também houve a informatização da biblioteca, mais precisamente em março de 1993, quando
foi implantado o Sistema CDS/ISIS para a catalogação e registro das obras e o Sistema EMP,
a fim de atender o serviço de circulação (empréstimo, renovação e devolução de obras).
Já em outubro de 2007, a Biblioteca Central buscando melhorias e agilidade em seu
trabalho avançou ainda mais quanto à informatização, ao migrar do Sistema CDS/ISIS para o
moderno Sistema Pergamum (software desenvolvido pela PUC do Paraná). Entre outras
129
possibilidades, esse novo sistema permite que se gerencie não só a própria Biblioteca Central,
mas também as Bibliotecas Regionais distribuídas nos campi da UFMT localizados nas
cidades do interior do Estado, que integram o Sistema de Bibliotecas da UFMT. Além disso, o
software permite ainda a integração das Bibliotecas Setoriais da instituição nesse mesmo
sistema, proporcionando, de um modo geral, melhorias referentes ao desenvolvimento de
trabalhos cooperativos entre todas as bibliotecas da Instituição.
Figura 6 - Catálogo on-line do Sistema de Bibliotecas da UFMT, utilizando o software Pergamum.
Fonte: Acervo pessoal do pesquisador.
No momento, o Sistema de Bibliotecas da UFMT é constituído por uma Biblioteca
Central (Campus de Cuiabá), quatro bibliotecas regionais, e quatro bibliotecas setoriais,
espalhadas por todos os campi da Instituição.
Convém ressaltar que, no Campus de Cuiabá, além da Biblioteca Central, existem
outras bibliotecas setoriais, como a Biblioteca Setorial do IL (Instituto de Linguagens), a
Biblioteca Setorial do NEDIHR (Núcleo de Documentação e Informação Histórica Regional)
a Biblioteca Setorial do ICHS (Instituto de Ciências Humanas e Sociais), a Biblioteca Setorial
da FAeCC (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis) e a Biblioteca Setorial do ISC
(Instituto de Saúde Coletiva).
130
Entretanto, essas bibliotecas não utilizam o Sistema Pergamum e não têm um amplo
suporte da Biblioteca Central, tanto pela quantidade limitada de bibliotecários na Instituição,
quanto devido à política da UFMT que é de privilegiar a ampliação de sua Biblioteca Central
para suporte aos cursos de graduação e pós-graduação, uma vez que é a mesma que atende as
principais necessidades de informação dos alunos e é frequentemente avaliada pelas
comissões do MEC.
Assim, no Campus de Cuiabá, as únicas bibliotecas setoriais que utilizam o Sistema
Pergamum são a Biblioteca Setorial do IE (Instituto de Educação), a Biblioteca Setorial do
HUJM (Hospital Universitário Júlio Müller), e a Biblioteca Setorial da FD (Faculdade de
Direito), conforme se observa no quadro seguinte:
Biblioteca
Campus
Universitário
Biblioteca Central
Títulos
Exemplares
79.126
197.451
Biblioteca Setorial do IE
--
8.158
Biblioteca Setorial do HUJM
4.486
5.550
Biblioteca Setorial da FD
1.091
1.271
Cuiabá
Biblioteca Regional do CUR
Biblioteca Setorial do Núcleo de História
22.067
Rondonópolis
51.219
85
100
0
0
Araguaia
18.798
35.266
Sinop
4.225
18.220
Biblioteca Setorial do Núcleo de Educação
Biblioteca Regional do CUA
(Campus I - Barra do Garças)
Biblioteca Regional do CUA
(Campus II - Pontal do Araguaia)
Biblioteca Regional do CUS
Quadro 4 - Acervo bibliográfico do Sistema de Bibliotecas da UFMT.
Fonte: Dados das Bibliotecas da UFMT (atualizados em dez. 2011).
Quanto à sua estrutura administrativa, a Biblioteca Central se encontra
hierarquicamente subordinada à Vice-Reitoria da instituição, sendo estruturada internamente
em Coordenação, Gerência de Processos Técnicos (GPT), Gerência de Serviços aos Leitores
(GSL) e, Gerência de Documentação e Programas Especiais (GDPE).
131
Figura 7 - Organograma da Biblioteca Central da UFMT.
A Biblioteca Central, desde o início de suas atividades, se caracterizou como uma
biblioteca universitária de caráter público, pois não privilegiava apenas a comunidade interna,
como também a comunidade local.
Entretanto, alguns serviços, como o empréstimo domiciliar, por exemplo, são
direcionados, exclusivamente, à comunidade interna. Dessa forma, enquanto que a
comunidade local pode utilizar a biblioteca para pesquisa e estudo, ou seja, seus serviços
locais, a comunidade acadêmica, composta por alunos dos cursos de graduação e pósgraduação, professores, e demais servidores (inclusive servidores aposentados) ligados à
Instituição podem se registrar na Biblioteca e utilizar todos os produtos e serviços disponíveis.
3.1 Acervo Bibliográfico
Quanto ao acervo bibliográfico, de acordo com dados atualizados em dezembro de
2010, a Biblioteca Central possui, 79.126 títulos e 197.451 exemplares de livros. Convém
ressaltar que este acervo específico compreende, além dos livros do acervo geral, os folhetos,
as obras de referência (enciclopédias, dicionários, anuários, atlas, almanaques etc.) e os livros
da Coleção Mato Grosso (ambos localizados na Hemeroteca), além das coleções especiais
Amidicis Tocantins (CAT), Cesário Neto (CCN), Gervásio Leite (CGL), Tongate Rodrigues
(CTR) e da Coleção Documentos Brasileiros (CDB). Essas coleções especiais se encontram
em sala de acesso restrito, estando disponíveis apenas para consulta local.
132
Tipo de Material
Títulos
Exemplares
Livros
79.126
197.451
Periódicos
2.899
35.676
Folhetos
4.516
4.521
TCC - Graduação
3.881
3.881
TCCP - Especialização
7.310
7.310
Teses / Dissertações
3.970
3.970
539
539
Outros materiais multimídia
Quadro 5 - Acervo bibliográfico da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Dados da Biblioteca Central da UFMT (atualizados em dez. 2011).
Quanto à localização e formas de utilização, o acervo de livros se encontra
distribuído em três pisos, além do térreo, sendo que neste último local se localiza o setor da
Hemeroteca, em que estão organizadas as obras de referência, os periódicos, os folhetos e os
trabalhos acadêmicos, além da Coleção Mato Grosso. De todo o acervo localizado na
Hemeroteca, apenas os livros da Coleção Mato Grosso podem ser emprestados, desde que não
sejam exemplares-reserva.
Figura 8 - Acervo bibliográfico do 4º Piso da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Fotografia creditada a João Conceição, fornecida pela Assessoria de Comunicação da UFMT.
133
As demais coleções especiais (CAT, CCN, CGL, CTR e CDB) estão localizadas no
segundo piso (no nível do saguão de entrada), próximo do setor administrativo da Biblioteca
Central. Estas obras estão disponíveis apenas para consulta local, por se tratar de um acervo
histórico com estado de conservação bastante delicado. Entre os livros dessas coleções podem
ser encontrados desde obras mais contemporâneas até mesmo a obras raras.
Todos os demais livros do acervo geral que se encontram distribuídos nos três pisos
superiores podem ser emprestados normalmente pelos usuários da Biblioteca Central, sem
qualquer restrição por conta de exemplares-reserva.
Figura 9 - Acervo bibliográfico do 5º Piso da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Fotografia creditada a João Conceição, fornecida pela Assessoria de Comunicação da UFMT.
Quanto às publicações periódicas, a Biblioteca Central possui um vasto acervo de
revistas e boletins informativos, constituído de 2.837 títulos e 34.856 fascículos. Atualmente
não há mais assinatura de publicações periódicas impressas e esse acervo físico vem sendo
incrementando exclusivamente por doações. Porém, o fato da biblioteca não assinar mais
periódicos impressos se deve à influência de uma política da CAPES, que estimula o acesso
às publicações eletrônicas disponíveis por meio de seu Portal de Periódicos, o qual se
constitui em uma ferramenta tecnológica abrangente para o apoio à pesquisa acadêmica e
científica.
134
Conforme se observa nos indicadores do Geocapes38, em dez anos de uso do Portal
de Periódicos da CAPES, a quantidade de acessos às publicações periódicas eletrônicas
cresceu bastante na UFMT. Ao longo desse período, o acesso à bases de dados de texto
completo saltou de 3.051 para 111.729 acessos, enquanto que o acesso à bases de dados
referenciais cresceu ainda mais, saltando de 5.879 para 246.781 acessos, o que assinala um
aumento substancial na utilização desses recursos no contexto da instituição.
Essa evolução pode ser observada no quadro seguinte, cujos dados foram
pesquisados no Geocapes e organizados cronologicamente para uma apresentação
comparativa.
Ano
Bases de Dados
Referenciais
Bases de Dados de
Texto Completo
Total
2010
246.781
111.279
358.060
2009
213.467
70.988
284.455
2008
151.460
62.294
213.754
2007
130.201
57.595
187.796
2006
99.305
33.706
133.011
2005
34.747
29.444
64.191
2004
6.664
26.386
33.050
2003
16.627
15.399
32.026
2002
1.326
5.199
6.525
2001
5.879
3.051
8.930
Quadro 6 - Acessos ao Portal de Periódicos da CAPES na UFMT (2001-2010).
Fonte: Dados extraídos do aplicativo estatístico Geocapes, atualizados em fev. 2012
(http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#).
O Geocapes é um aplicativo estatístico utilizado pelo Portal de Periódicos da
CAPES, sendo a principal fonte de informação para a verificação de estatísticas de uso desta
ferramenta, embora também possam ser retiradas estatísticas de bases de dados específicas, a
partir destes outros ambientes. Convém ressaltar que a estatística mais recente disponível no
Geocapes é referente ao ano de 2010, e atualmente a Biblioteca Central da UFMT aguarda a
divulgação de indicadores mais atualizados para conhecer a situação do acesso e uso do Portal
de Periódicos na Instituição.
38
Disponível em: http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#.
135
Figura 10 - Acessos ao Portal de Periódicos da CAPES na UFMT (2001-2009).
Fonte: Dados extraídos do aplicativo estatístico Geocapes atualizados em abr. 2010
(http://geocapes.capes.gov.br/geocapesds/#).
Outros materiais igualmente importantes para a pesquisa são os trabalhos acadêmicos
(monografias, teses e dissertações), que correspondem, juntos, a 15.161 exemplares do acervo
total da Biblioteca Central. Atualmente existe uma tendência à criação de repositórios
institucionais digitais para a organização e disponibilização de trabalhos acadêmicos, bem
como à criação de bibliotecas digitais nas universidades brasileiras.
Nesse sentido, com o apoio da STI/UFMT (Secretaria de Tecnologia da Informação
da UFMT), a Biblioteca Central está reativando a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações,
bem como está empenhada na manutenção de outros sistemas importantes para a divulgação
da produção científica da Instituição, como o Portal de Periódicos Científicos da UFMT, que
emprega o software SEER/OJS39, e o RI (Repositório Institucional, que utiliza o software
DSpace40), além de estar trabalhando na implantação da Biblioteca Digital de Monografias de
Graduação e de Especialização (que também emprega o sistema DSpace).
39
Conforme descrição constante na página eletrônica do SEER, no site do IBICT, o Open Journal Systems é
um software desenvolvido pela Universidade British Columbia para a construção e gestão de publicações
periódicas eletrônicas. No Brasil foi traduzido e customizado pelo IBICT, recebendo o nome de Sistema
Eletrônico de Editoração de Revistas (SEER).
40
O DSpace (Institutional Digital Repository System) é proveniente de um projeto colaborativo da MIT
Libraries e Hewlett-Packard Company. Este sistema livre foi desenvolvido para a elaboração de repositórios
digitais e a preservação digital e envolve funções como a captura, a distribuição e a preservação da produção
intelectual. Trata-se de um software de fácil adaptação que permite a gestão da produção científica a partir de
quaisquer tipos de materiais digitais, provendo maior visibilidade e garantindo a acessibilidade a estes recursos.
136
Tais sistemas vêm a amenizar, em parte, alguns dos problemas decorrentes da
necessidade de espaço físico na Unidade, enquanto servem para possibilitar agilidade e
eficiência na pesquisa em periódicos institucionais, monografias, teses e dissertações,
representando vantagens para os usuários/leitores que necessitem realizar suas pesquisas,
independente de terem que se deslocar à Biblioteca ou, ainda, independente desta estar
fechada, entre outras possibilidades.
Outras mudanças recentes perceptíveis na Biblioteca Central é a criação do seu site41
e a reorganização do layout de alguns ambientes, devido à necessidade de melhor
aproveitamento do espaço físico, bem como para possibilitar a expansão do acervo, pois como
rege a quinta Lei da Biblioteconomia, “uma biblioteca é um organismo em crescimento”
(FIGUEIREDO, 1992, p. 186).
3.2 Produtos e Serviços
Atualmente, os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca Central da UFMT são
os seguintes:
Empréstimo domiciliar (serviço oferecido exclusivamente à comunidade
acadêmica);
Consulta local (serviço oferecido a todos os usuários ou leitores);
Consultas ao acervo pelo catálogo on-line (consultas ao catálogo informatizado
utilizando terminais disponíveis na biblioteca ou mesmo via Internet, por meio do
endereço eletrônico www.biblioteca.ufmt.br);
Levantamentos bibliográficos (realização de pesquisas específicas para atender a
comunidade acadêmica);
Salas de estudo coletivas;
Reserva e renovação de empréstimos de livros via Internet (disponível no
endereço: www.biblioteca.ufmt.br);
41
Disponível em: http://www.ufmt.br/biblioteca.
137
Reserva e renovação de empréstimos de livros na biblioteca pelos próprios
leitores (utilizando terminais disponibilizados aos leitores para essa finalidade);
Serviço de referência (serviço de apoio aos usuários ou leitores, a fim de
solucionar dúvidas quanto à utilização da biblioteca e auxiliar nas pesquisas ou
questões afins);
Sala de Acesso à Internet, contendo 30 computadores para pesquisas on-line,
bancos e bases de dados, livros, periódicos eletrônicos e realização de trabalhos
acadêmicos. Além desses computadores, são oferecidos pela biblioteca 08 (oito)
terminais exclusivos para consulta ao acervo, reserva e renovação de obras, mais 8
(computadores) para pesquisas do público em geral (disponíveis no saguão de
entrada da biblioteca);
Gerência de Serviço ao Leitor (serviços de apoio às pesquisas dos usuários,
incluindo orientações diversas e a realização de visitas orientadas por um
bibliotecário);
Acesso a sites, portais e bases de dados (com a disponibilização de computadores
para pesquisas, a Biblioteca Central possibilita o acesso a uma grande variedade de
bases de dados gratuitas - Portal Domínio Público, SciELO, Biblioteca Digital de
Teses e Dissertações etc. - mas também possibilita o acesso a bases de dados pagas,
via Portal de Periódicos CAPES, como por exemplo o Scopus, Web of Science,
Science Direct, EBSCO42, IEEE etc.).
3.3 Indicadores de Uso da Biblioteca Central
Alguns dos principais dados que refletem a atividade de uma biblioteca podem ser
extraídos por meio de relatórios automáticos, desde que o sistema esteja funcionando
perfeitamente e não haja nenhuma correção a ser feita nos dados registrados. Todavia, a
42
A EBSCO é uma grande empresa de atividades variadas cuja sigla é um acrônimo derivado do nome de seu
fundador, Elton Bryson Stephens. Inclui diversos serviços de informação, como a EBSCOhost, a EBSCO
Discovery Service e a Academic Search Premier, entre outros, sendo a mais completa base de dados
multidisciplinar do mundo e abrangendo uma variada coleção de periódicos científicos internacionais.
138
identificação de erros por si só não deve significar alarde, uma vez que uma das finalidades
dos relatórios de bibliotecas é localizar erros para proceder à correção dos mesmos.
Assim, embora o Sistema Pergamum tenha sido instalado há mais de três anos, há
que se considerar que este período não pode ser considerado muito tempo para correção total
de erros, levando em conta o tamanho do acervo migrado e a quantidade limitada de
funcionários na Biblioteca Central. Por essa razão, ainda existem alguns dados que necessitam
de atenção, como por exemplo, os dados referentes ao cadastramento de usuários e Unidades
Organizacionais (Institutos, Faculdades, Cursos etc.), que ainda não estão devidamente
padronizados e implicam em relatórios limitados.
Por outro lado, devido a uma limitação (ou característica) do relatório de usuários
inscritos na biblioteca, não é possível separar completamente a quantidade de usuários
inscritos e regulares no período, uma vez que muitos usuários se encontram com situação de
“afastamento”, por terem devolvido livros em atraso, juntamente com outros usuários em
situação de “afastamento”, que não estão mais estudando ou vinculados à Instituição. Em face
disso, tomou-se como base de cálculo a quantidade de usuários ativos e inscritos no período,
independente da situação de afastamento, uma vez que os usuários inscritos no período devem
permanecer por pelo menos um semestre vinculados a algum curso da UFMT.
Desse modo, uma vez que já apresentamos alguns indicadores referentes ao
acesso ao Portal de Periódicos da CAPES, o quadro seguinte, apresenta a quantidade e
usuários inscritos em 2011, e o total de usuários com o cadastro ativo nesse período, além dos
dados referentes à consulta local (quantidade de usuários/leitores em pesquisa na Unidade), e
o quantitativo anual de empréstimo de livros. A quantidade de leitores inscritos e os
empréstimos de livros registrados têm por base os relatórios do Sistema Pergamum, enquanto
que o índice de consulta local é baseado na circulação dos usuários registrada nas catracas de
entrada da Biblioteca Central.
Indicador
Usuários/Leitores
Quantitativo
2.450 (inscritos no período)
18.545 (total)
Consulta local
373.850
Empréstimos de livros
44.088
Quadro 7 - Indicadores de uso da Biblioteca Central da UFMT em 2011.
Fonte: Dados da Biblioteca Central da UFMT (atualizados em dez. 2011).
139
Percebe-se, com estes dados, uma queda em relação aos quantitativos registrados no
ano passado, o que possivelmente seja explicado pelo período de aproximadamente três meses
em que a Biblioteca Central teve que ficar fechada por conta da greve dos docentes e dos
servidores técnico administrativos da UFMT.
Vale ressaltar que os dados do quadro anterior são referentes apenas aos usuários
devidamente cadastrados na Biblioteca Central, sendo esse grupo composto por alunos
regulares de cursos de graduação e pós-graduação, professores, técnicos administrativos e
servidores aposentados, todos com algum vínculo com a Instituição. Ao se cadastrar na
biblioteca esses usuários podem usufruir de todos os seus produtos e serviços, tais como a
consulta local, o empréstimo domiciliar de livros e até mesmo o acesso a bancos e bases de
dados disponibilizadas pela Instituição. Esses são considerados os “usuários reais” da
biblioteca, ou seja, aqueles para quem a Unidade deve servir como suporte nas atividades de
ensino pesquisa e extensão.
Entretanto, muitos “usuários potenciais” também frequentam a Biblioteca Central,
encontrando na mesma um ambiente propício para as suas atividades de leitura, pesquisa,
estudo e lazer. Esse grupo é composto por pessoas da comunidade local, ou seja, pessoas que
embora não tenham nenhum vínculo com a Instituição, utilizam o ambiente da biblioteca, bem
seus produtos e serviços que estão disponíveis localmente e abrangem desde o acervo de
livros, periódicos e trabalhos acadêmicos, até recursos como computadores com acesso à
Internet, para a pesquisa, informação e comunicação.
140
Figura 11 - Usuários/leitores acessando a Internet nos Computadores da Biblioteca Central.
Fonte: Fotografia creditada a João Conceição, fornecida pela Assessoria de Comunicação da UFMT.
No ano de 2008, a Coordenação da Biblioteca Central, por meio de seus
funcionários, realizou uma pesquisa para identificar a demanda de usuários na biblioteca no
período noturno, como subsídio para avaliar a possibilidade de alteração do horário de
fechamento da biblioteca, devido número reduzido de funcionários. Essa pesquisa também
pode ser considerada um indicador de uso da biblioteca, sobretudo no período noturno, pois
foi desenvolvida justamente para que a Coordenação da Biblioteca Central analisasse a
utilização da biblioteca nesse turno antes de tomar uma decisão que poderia ter grande
impacto para os usuários/leitores.
Foram pesquisados os tipos de usuários que frequentam a biblioteca e a finalidade de
suas visitas e pesquisas. A pesquisa foi realizada de 03/03/2009 a 29/04/2009 (36 dias), sendo
conduzida a cada dia por um bibliotecário da Biblioteca Central.
Uma etapa da entrevista era realizada antes das 20 horas, sendo entrevistados todos
os usuários que se encontravam na biblioteca. Outra etapa era realizada depois das 20 horas,
sendo entrevistados os usuários que chegavam à biblioteca no período noturno, quando os
mesmos estavam passando pela catraca instalada na entrada da biblioteca.
Considerando os usuários entrevistados antes das 20 horas, foi constatado um fluxo
médio diário de 35,11 alunos de graduação (56%), seguido por 24,08 visitantes (39%), sendo
141
estes os tipos de usuários que mais frequentaram a biblioteca no período imediatamente antes
das 20 horas. Quanto ao uso da biblioteca nesse horário, 47% a utilizam para outras
finalidades (estudo para concursos, vestibulares etc.); 41 % dos usuários realizavam pesquisas
no acervo da biblioteca, enquanto que 11% faziam pesquisas na Internet, sendo estes os
números mais expressivos.
Observou-se que os usuários que mais frequentam a biblioteca depois das 20 horas
eram alunos de graduação, representados por uma média diária de 18,25 (76%), seguidos por
visitantes não vinculados à Instituição, correspondentes a uma média diária de 4,33 (18%).
Embora a maioria dos usuários que frequentam a Biblioteca Central após as 20 horas fosse de
alunos de graduação da UFMT, os mesmos utilizam a biblioteca principalmente para outras
finalidades (45%). Apenas 27% dos usuários desse período usavam o acervo local para
pesquisas, enquanto que 23% vinham à biblioteca apenas para realizar empréstimos ou
devoluções de livros.
Com relação ao objetivo dessa pesquisa, concluiu-se que embora fosse menor a
frequência de usuários no período noturno, a maioria era composta por alunos de graduação
da Instituição, razão pela qual a Coordenação da Biblioteca Central decidiu estabelecer uma
escala rotativa de funcionários para dar apoio nesse horário, sem que fosse necessário fechar a
biblioteca mais cedo, o que prejudicaria os usuários que a frequentavam nesse horário.
142
4 O PERCURSO DA PESQUISA
Este estudo envolve uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa, uma vez
que tem por interesse identificar as características dos leitores e dos tipos de leitura que
surgem sob a influência das TIC na Biblioteca Central da UFMT. Para Gil (1999, p. 43), as
“pesquisas exploratórias são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral, de
tipo aproximativo, acerca de determinado fato”.
Embora o pesquisador possua conhecimentos relacionados ao ambiente de pesquisa,
a Biblioteca Central da UFMT, e aos seus usuários/leitores, decorrentes da prática profissional
cotidiana, é indispensável conhecer de modo sistematizado o perfil destes usuários até chegar
a observação dos seus processos de pesquisa enquanto leitores, a fim de compreender
cientificamente as características dos mesmos neste contexto.
Trata-se de uma abordagem qualitativa, uma vez que, embora sejam utilizados dados
quantitativos, os mesmos são tomados enquanto subsídios para o processo interpretativo, ou
seja, como fontes que possibilitem, junto a outras informações e fatos elencados, compreender
melhor a realidade observada. Ou seja, não se pretende pautar em tendências numéricas, pelos
índices de maior frequência de uma ou outra questão investigada, mas usar estes dados junto a
outros fatos e observações como instrumentos de uma reflexão e discussão e discussão mais
ampla.
O conceito de pesquisa qualitativa que utilizamos é baseado em Denzin e Lincoln
(2006), os quais explicam sobre a dificuldade de se conceituar a pesquisa qualitativa, que teria
um significado diferente em determinados momentos históricos. Ainda assim, os autores
ponderam o seguinte:
No entanto, pode-se oferecer uma definição genérica, inicial: a pesquisa qualitativa é
uma atividade situada que localiza o observador no mundo. Consiste em um
conjunto de práticas materiais e interpretativas que dão visibilidade ao mundo. Essas
práticas transformam o mundo em uma série de representações, incluindo as notas
de campo, as entrevistas, as conversas, as fotografias, as gravações e os lembretes.
Nesse nível, a pesquisa qualitativa envolve uma abordagem naturalista,
interpretativa, para mundo, o que significa que seus pesquisadores estudam as coisas
em seus cenários naturais, tentando entender, ou interpretar, os fenômenos em
termos dos significados que as pessoas a eles conferem (DENZIN; LINCOLN,
2006, p. 17).
143
Com relação à distinção entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, os autores
anteriormente citados mencionam que os estudos quantitativos “enfatizam o ato de medir e de
analisar as relações causais entre variáveis, e não processos”. Por outro lado, “a palavra
qualitativa implica uma ênfase sobre as qualidades das entidades e sobre os processos e os
significados que não são examinados ou medidos experimentalmente [...], em termos de
quantidade, volume, intensidade ou freqüência” (DENZIN; LINCOLN, 2006, p. 23, grifo do
autor).
Rocha e Barreto (2008) também analisam estas duas metodologias ou formas de
abordar o problema de pesquisa, ou seja, quantitativa e qualitativamente, explicando que
alguns teóricos defendem que estas duas formas não são excludentes, mas complementares.
Constatamos então que, as pesquisas qualitativas e quantitativas são, sim, de
natureza diferenciada, mas não se excluem. O fato de a opção metodológica ser de
ênfase qualitativa, não significa que não possamos fazer uso, em determinados
momentos, de instrumentos típicos de uma pesquisa quantitativa. Se a pesquisa está
voltada para e pela comunidade, suas técnicas e instrumentos, quaisquer que sejam,
terão sempre essas características. Como diz Demo (2004), o ideal é juntar as duas
possibilidades para pesquisar a qualidade e a quantidade, o mensurável e
imensurável, o linear e o não linear (ROCHA; BARRETO, 2008, p. 20).
Além disso, as referidas autoras destacam algumas das principais características da
pesquisa qualitativa, as quais são importantes para auxiliar o pesquisador na escolha de qual
abordagem é mais apropriada para sua investigação:
 imersão do pesquisador no contexto do pesquisado, para vivenciar as experiências
analisadas;
 reconhecimento dos pesquisados como sujeitos do conhecimento e das práticas
vivenciadas;
 valorização e interpretação dos fenômenos, com base nas perspectivas dos
sujeitos informantes;
 informações e/ou dados mediante contato interativo do pesquisador com os
sujeitos em estudo;
 análise das informações como processo interativo entre dados e/ou informações,
realizada prioritariamente de forma descritiva e baseada na análise de conteúdo e
do discurso (BARDIN, 2006) e quadro teórico constituído pelo pesquisador, sem
preocupação em enumerar, medir e apresentar análise estatística;
 resultado da pesquisa como fruto de trabalho coletivo que envolve pesquisadorpesquisado;
 e valorização das falas e/ou silêncios dos sujeitos pesquisados.
(ROCHA; BARRETO, 2008, p. 22-23).
144
Desse modo, entende-se que a presente pesquisa envolve uma abordagem qualitativa,
na medida em que atende a vários desses critérios e pelo fato de utilizar os dados quantitativos
como subsídios para uma análise e interpretação de cunho qualitativo.
Nesse caso, o pesquisador procurou conhecer os usuários/leitores da Biblioteca
Central para, posteriormente, investigar os aspectos de seu perfil relacionados ao uso das TIC,
do ciberespaço e dos processos de leitura. Essa busca pelo conhecimento não ocorre de
maneira engessada e arbitrária, uma vez que, seguindo uma metodologia científica, leva-se em
conta a especificidade de seus procedimentos de navegação, os comportamentos dos leitores,
suas características e experiências, suas preferências e práticas de leitura, bem como se
compreende que, sem o envolvimento e colaboração dos pesquisados, não se constrói
conhecimento e não se faz ciência.
Como técnicas de coleta de dados foram adotadas os critérios metodológicos da
aplicação de questionários, de entrevistas e da observação participante. Além disso, a
observação foi uma técnica presente em todas as fases de campo da pesquisa, desde as
primeiras verificações realizadas no ambiente, passando pela 1ª Fase da investigação (Perfil
Socioeconômico e Cultural), que envolveu a abordagem de sujeitos para a aplicação de
questionários, até a 2ª Fase (Entrevistas/Observações), nas quais foram empregadas as
técnicas da entrevista (que também pressupõe uma abordagem) e da observação participante,
esta última com uma participação maior do pesquisador na orientação/condução dos processos
a serem observados.
Assim, as técnicas de coleta de dados empregadas compreenderam:
Questionários;
Entrevistas;
Observação;
Observação participante.
Como explica Gil (1999), a elaboração de um questionário consiste, basicamente, na
tradução dos objetivos da pesquisa em questões específicas, cujas respostas, devem
proporcionar os dados requeridos para o teste de hipóteses ou o esclarecimento do problema
de pesquisa.
145
Pode-se definir o questionário como a técnica de investigação composta por um
número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas,
tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses,
expectativas, situações vivenciadas etc. (GIL, 1999, p. 128).
Dessa forma, as questões compreendem o elemento fundamental do questionário e a
definição coerente destes elementos, nesta pesquisa, teve como base os aspectos considerados
essenciais a se observar, como tipo (questões fechadas, questões abertas), conteúdo, escolha
das perguntas, formulação, número adequado, ordem das perguntas, cuidados com a
prevenção de deformações e apresentação visual do questionário (apresentação da pesquisa,
visualização gráfica e introdução do questionário).
Nesse sentido, o questionário deste estudo mesclou algumas questões quantitativas e
qualitativas (vínculo com a instituição, cadastro do leitor na biblioteca etc.), organizadas na
forma de perguntas fechadas (a maioria) e abertas. Com relação às questões abertas, as
mesmas eram poucas, sendo partes das questões maiores, quando nenhuma das alternativas
propostas atendia o tipo de resposta formulada pelo leitor; a última questão consistiu em uma
questão aberta e mais ampla, pois abria espaço para que os leitores fizessem alguma
observação que julgassem relevante para a pesquisa.
O emprego desta técnica em campo, que ocorreu na 1ª fase da pesquisa, teve por
objetivo obter dados e informações que permitissem conhecer os usuários da biblioteca, suas
condições sociais e suas características culturais. Essa caracterização, cujos critérios estão
delineados mais adiante, em consonância com que o autor anteriormente explicou, procurou
incorporar ou traduzir em questões os objetivos da pesquisa, especificamente da sua primeira
fase.
Outra técnica de coleta de dados, a aplicação de entrevistas, se constitui em uma
importante fonte de dados para pesquisa, embora apresente vieses que podem se localizar
tanto em fatores externos ao observador, como por exemplo, o roteiro e o entrevistado, quanto
no próprio processo de interação estabelecido entre o entrevistador e o entrevistado. Haguette
(1995, p. 86, grifos da autora) assim define esta técnica:
A entrevista pode ser definida como um processo de interação social entre duas
pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a obtenção de
informações por parte do outro, o entrevistado. As informações são obtidas através
de um roteiro de entrevista constando de uma lista de pontos ou tópicos previamente
estabelecidos de acordo com uma problemática central e que deve ser seguida. O
processo de interação contém quatro componentes que devem ser explicitados,
146
enfatizando-se suas vantagens, desvantagens e limitações. São eles: a) o
entrevistador; b) o entrevistado; c) a situação da entrevista; d) o instrumento de
captação de dados, ou roteiro da entrevista.
A fim de minimizar as possibilidades de desvio e dispor de mecanismos de controle
que, se necessário, sejam mobilizados adequadamente para a condução coerente deste
processo, bem como para conhecer melhor a natureza dos dados que serão obtidos, torna-se
necessário problematizar os componentes acima destacados, no que tange à nossa
investigação:
a) O entrevistador - O entrevistador é um bibliotecário e gestor na Biblioteca
Central, que corresponde ao lócus da pesquisa. Desse modo, procura se pautar
pela objetividade, respeitando as características inerentes aos leitores, procurando
direcionar a pesquisa dentro da proposta previamente definida, respeitando o
roteiro estabelecido, mas sem coagir ou influenciar as respostas;
b) O entrevistado - O entrevistado compreende uma amostra de leitores da
Biblioteca Central que já estão vinculados à Instituição há pelo menos 01 ano e
apresentam algum contato prévio com a biblioteca, lócus da pesquisa.
Compreende alunos, funcionários e professores da Instituição que possuem
diferentes tipos de conhecimento relacionados às tecnologias e se encontram em
diferentes níveis de leitura;
c) A situação da entrevista - A situação da entrevista está bem delimitada. Trata-se
de uma entrevista estruturada previamente agendada com os entrevistados, sendo
que os mesmos assinam um termo de autorização de uso de imagem, por envolver
gravação de áudio e vídeo. Assim, a entrevista é realizada na Secretaria da
Biblioteca Central, que é um ambiente mais reservado para interagir com os
entrevistados;
d) O instrumento de captação de dados, ou roteiro da entrevista - O roteiro da
entrevista envolve tópicos/questões de identificação dos leitores e de investigação
do uso das TIC, do ciberespaço, e dos procedimentos de pesquisa, navegação e
uso dos recursos da Biblioteca Central. O mesmo consta no Apêndice C.
147
A entrevista é uma das técnicas de coleta de dados mais utilizada nas Ciências
Sociais, podendo ser definida como uma forma de interação social entre um investigador e um
investigado, um diálogo estabelecido em busca de informações.
Pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente
ao investigado e lhe formula perguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que
interessam à investigação. A entrevista é, portanto, uma forma de interação social.
Mais especificamente, é uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes
busca coletar dados e a outra, se apresenta como fonte de informação (GIL, 1999, p.
117).
Para este autor, a entrevista apresenta vantagens e desvantagens. Entre as vantagens,
destaca, por exemplo, a possibilidade de obter um maior número de respostas, a flexibilidade,
a possibilidade de captar a expressão corporal do entrevistado, tonalidade de voz e ênfase nas
respostas, bem como o fato de não exigir que a pessoa entrevistada saiba ler e escrever.
Como limitações ou desvantagens, destaca como exemplos a falta de motivação do
entrevistado para responder as perguntas, a compreensão inadequada do significado das
perguntas, o fornecimento de respostas falsas, consciente ou inconscientemente, a influência
das opiniões pessoais do entrevistador sobre as respostas do entrevistado, entre outras.
Ou seja, percebe-se que a entrevista, embora sendo uma técnica de coleta de dados
flexível, também apresenta riscos, que podem se situar tanto no universo do entrevistador,
quanto do entrevistado, e, portanto, exige rigor científico e metodológico, pois, como informa
Haguette (1995, p. 86-87):
[...] enquanto instrumento de coleta de dados, a entrevista, como qualquer outro
instrumento, está submetida aos cânones do método científico, um dos quais é a
busca de objetividade, ou seja, a tentativa de captação do real, sem contaminações
indesejáveis nem da parte do pesquisador, nem de fatores externos que possam
modificar aquele real original.
Na prática, essa captação do real pode se revelar uma aproximação, pois existem
diferentes formas de ver um mesmo objeto, sendo que todas podem representar aspectos
objetivos do mesmo, dependendo da forma com se observa, e não menos significativos. Além
disso, a interferência do entrevistador é um fato que, neste tipo de investigação deve ser
controlada, seguindo os objetivos e cuidados da entrevista estruturada: não se trata de evitar
148
interferência, mas de evitar interferências negativas, que prejudiquem uma aproximação
produtiva do real.
Nesse sentido, nesta pesquisa, optamos por empregar a técnica da entrevista por
considerar que a mesma permite captar aspectos relevantes do objeto investigado, podendo ser
adaptada no decorrer dos questionamentos, uma vez que é flexível e interativa. Contudo,
elaboramos os tópicos da entrevista a priori, na forma de questões, a fim de otimizar o tempo
e evitar o risco de fugir do objetivo e sobrecarregar os entrevistados, o que poderia prejudicar
o conteúdo.
A observação participante corresponde à outra técnica empregada neste estudo,
juntamente com o questionário. A observação como técnica de coleta de dados consiste na
utilização dos sentidos humanos na obtenção de informações a serem registradas. Por sua
natureza, também está sujeita a riscos e também apresenta vantagens, porém, de todo modo,
compreende um procedimento científico, na medida em que atende ao objetivo de pesquisa, é
sistematicamente planejada e é passível de verificação e controle de validade e precisão.
Gil (1999) explica que, de acordo com os meios empregados, a observação pode ser
estruturada ou não estruturada e que, segundo o grau de participação do observador, a
observação pode ser participante ou não participante. O autor complementa que, uma vez que
a observação participante, naturalmente tende a adotar formas não estruturadas, é possível
lançar mão de uma classificação que combina os dois critérios, resultando assim, na
observação simples, na observação participante e na observação sistemática.
Diante da imprecisão conceitual da observação participante nas Ciências Sociais,
Haguette (1995, p. 69), discute algumas definições clássicas para essa técnica, que apresenta
diferenças substanciais:
[Eduard C. Lindeman e Florence Kluckhohn] exibem a convicção de que a
observação participante se resume a uma importante técnica de coleta de dados,
empreendida em situações especiais e cujo sucesso depende de certos requisitos que
a distinguem das técnicas convencionais de coletas de dados, tais como o
questionário e a entrevista. Schwartz e Schwartz concebem a observação
participante não só como um instrumento de captação de dados mas, também, como
instrumento de modificação, do meio pesquisado, ou seja, de modificação social.
Finalmente, Bruyn diverge de seus antecessores por entender que a observação
participante representa um processo de interação entre a teoria e os métodos
dirigidos pelo pesquisador na busca de seu conhecimento não só da “perspectiva
humana” como da própria sociedade.
149
Conforme se percebe, a observação participante, na visão dos teóricos varia de uma
importante técnica de coleta de dados, a um instrumento de modificação social e mesmo a um
processo de interação entre a teoria e os métodos do pesquisador. Por outro lado, Gil (1999, p.
113) apresenta a seguinte definição para a observação participante:
A observação participante, ou observação ativa, consiste na participação real do
conhecimento na vida da comunidade, do grupo, ou de uma situação determinada.
Neste caso, o observador, assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um
membro do grupo. Daí por que se pode definir observação participante como a
técnica pela qual se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior
dele mesmo.
Este autor destaca a importância do observador se integrar ao grupo que investiga,
para observá-lo de seu interior. Essa integração pode ser natural, quando o pesquisador
pertence à mesma comunidade do grupo que investiga e sua integração ocorre sem problemas,
ou artificial, quando o pesquisador não é um membro e sua integração ao grupo envolve uma
série de variáveis que podem contaminar a coleta de dados.
Nesse sentido, empregamos a observação participante desde o início da presente
pesquisa, e, intensamente, no seu final, nas observações dos processos de navegação, por
meio do qual se evidenciou na prática as características dos leitores durante suas atividades
navegações no ciberespaço. Estas observações também tinham um direcionamento, pois nos
interessava observar o processo de pesquisa geral, um processo de pesquisa acadêmica e, a
utilização dos serviços on-line da Biblioteca Central.
A observação participante se mostrou uma técnica de coleta de dados de grande
valia, sendo que sua fundamental importância nas observações dos processos de navegação se
deve à própria natureza do trabalho. Ao interagir com os leitores, solicitando que os mesmos
realizassem determinados processos de busca e navegação, o pesquisador, embora tenha que
se pautar pela ética, não pode ser neutro. É necessário explicar, orientar, deixar claro o que se
espera em cada atividade. Mesmo assim, algumas vezes, os leitores necessitam de mais
informações, às vezes esquecem o que foi dito ou mesmo, não tem condições de compreender
exatamente o que se pretende.
Assim, em todas as observações dos processos de navegação, o pesquisador teve que
interferir no sentido de conduzir o rumo das atividades, facilitar a compreensão das questões
para os sujeitos investigados e explicar o que se pretendia em cada uma das três atividades.
150
Em determinados casos, a falta de compreensão sobre algo atestava questões que os sujeitos
desconheciam, sendo passíveis de registro. Algumas vezes, ciente da limitação dos leitores e
feitas as devidas considerações e registro da situação, o leitor era orientado sobre como
poderia ser realizada aquela atividade que ele então desconhecia.
O lócus da pesquisa é a Biblioteca Central da UFMT, a qual foi investigada a partir
de uma amostra previamente definida de seus usuários/leitores. Entretanto, para atingir o
objetivo principal do estudo, e investigar um grupo de usuários representativo do público
leitor da Biblioteca Central, a pesquisa foi dividida em duas etapas, sendo delimitados alguns
critérios em cada uma destas etapas:
1) Determinação de um perfil socioeconômico e cultural, a partir da aplicação de
questionários que exploraram desde dados pessoais, sociais e culturais, até
questões de cunho qualitativo, como uma primeira aproximação e análise do
conjunto total de usuários/leitores da biblioteca;
2) Realização de entrevistas/observações direcionadas aos usuários devidamente
cadastrados na biblioteca, visando explorar questões específicas referentes ao uso
dos recursos tecnológicos, no que diz respeito aos produtos e serviços, bem como
às atividades de pesquisa e leitura;
Convém ressaltar que as entrevistas e observações tiveram os dados coletados tanto
por meio de anotações em formulário, quanto principalmente por intermédio de gravações de
áudio e vídeo. As gravações de vídeo são vantajosas por permitirem captar diversos detalhes
que normalmente passariam despercebidos por conta do tempo gasto em anotações, bem
como devido ao ritmo da entrevista, que requer diálogo e exige anotações rápidas. Além
disso, essa técnica libera o pesquisador para realizar observações mais proveitosas, podendo
tanto explorar os aspectos visíveis do comportamento (deixando a captura das partes comuns
à câmera filmadora), quanto por poder explorar com mais detalhes as próprias gravações.
Preece, Rogers e Sharp (2005), ao tratar das questões, formas e técnicas de
observação de usuários como fundamento para o design de interação, destacam alguns
aspectos, pontos fortes e problemas relacionados à gravação de vídeos:
151
O vídeo tem a vantagem de captar tanto dados tanto visuais como de áudio, mas
pode ser invasivo. No entanto, as câmeras digitais portáteis são bastante móveis, não
muito caras e comumente utilizadas.
Um problema de se usar esse sistema deve-se ao fato de que a atenção fica voltada
para o que é visto através das lentes. É fácil deixar passar outras coisas, que estão
acontecendo fora do foco da câmera. Quando a gravação é realizada em ambientes
ruidosos, como em salas com muitos computadores, em ambientes externos ou em
locais como muito vento, o som pode ser abafado.
As análises de dado em vídeo podem exigir bastante tempo, uma vez que há muito o
que se anotar. É comum dispor de mais de 100 horas de análise para uma hora de
gravação, pois cada gesto e expressão falada são analisados. Todavia, esse nível de
detalhe geralmente não é necessário por que os avaliadores, em geral, enfocam
episódios particulares e utilizam a gravação toda somente para uma informação
contextual e como referência (PREECE; ROGERS; SHARP, 2005, p. 394).
Estas particularidades devem ser observadas uma vez que as oportunidades de coleta
de dados podem não mais se repetir e, mesmo que isso ocorra, é possível que determinadas
questões não sejam observadas como poderiam ser da primeira vez. A gravação de vídeos, por
ser invasiva, mesmo que sejam resguardadas as identidades dos pesquisados, pode implicar no
risco de inibir a participação de alguns possíveis colaboradores, ou mesmo, influenciar em
uma forma de comportamento diferente destes sujeitos diante da câmera. Os demais
problemas destacados pelos autores supracitados também podem ocorrer, o que exige do
pesquisador extrema atenção ao lidar com a gravação de vídeo, de modo a explorar seus
aspectos positivos, minimizar os aspectos negativos e obter uma coleta de dados produtiva, o
que também implica em uma pesquisa de melhor qualidade.
Nesse sentido, com a gravação de vídeo podem ser obtidos dados e observações
bastante significativos, tanto nas entrevistas quanto nas observações dos processos de
navegação. No caso das entrevistas, além dos fatores anteriormente citados, entende-se que a
mesma confere maior liberdade ao pesquisador e ao pesquisado para estabelecerem um
diálogo fluente e progressivo, embora o mesmo gire em torno das questões estratégicas da
entrevista estruturada. No que concerne às observações dos processos de navegação, a
gravação destes procedimentos amplia as possibilidades tanto de captura dos aspectos
referentes aos percursos, formas e técnicas de navegação dos leitores, quanto a própria captura
das imagens das telas, as quais revelam a interação estabelecida entre o leitor e o ciberespaço,
perceptível pelas ações dos sujeitos e pelo feedback apresentado na interface do computador.
152
4.1 Critérios da Pesquisa: Primeira Etapa
A primeira etapa da pesquisa, a aplicação de questionários para a elaboração de um
perfil socioeconômico e cultural, foi aplicada em dois dias, a todos os usuários que estiveram
presentes na Biblioteca Central, uma vez que nesse momento ainda não era necessário
delimitar esse público, mas conhecê-lo em suas diversas facetas, desde os usuários reais
(comunidade acadêmica em geral), até os usuários potenciais (visitantes etc.).
O único requisito para participar desta etapa era ser usuário da biblioteca, ou seja,
estar utilizando quaisquer dos produtos ou serviços da Biblioteca Central. Além disso, embora
não fosse necessariamente um requisito, era importante que o usuário estivesse à vontade para
colaborar com a pesquisa, uma vez que era um questionário de 46 questões. Para tanto, em
muitas abordagens explicamos sobre a importância da pesquisa, o que ajudou a despertar em
muitos usuários o interesse em colaborar com a mesma.
O objetivo dessa etapa foi conhecer os usuários da biblioteca, ou seja, quem são,
quais suas condições sociais e suas características culturais. Ao mesmo tempo, esse
questionário já incluía algumas questões qualitativas, que permitiriam direcionar a pesquisa
posteriormente (questões referentes ao vínculo com a Instituição, se eram alunos, se estavam
cadastrados na biblioteca etc.).
Ou seja, pretendeu-se realizar uma caracterização aprofundada dos usuários, que,
embora contemplasse os aspectos socioeconômicos e culturais, fornecesse ainda elementos de
análise que permitissem, em um momento seguinte, investigar mais detalhadamente o sujeito
principal da pesquisa, os alunos e demais usuários/leitores devidamente cadastrados na
Biblioteca Central.
As quarenta e cinco questões ficaram organizadas da seguinte forma:
I - Dados Pessoais - 06 questões.
II - Dados Socioeconômicos - 23 questões.
III - Dados Culturais, Esporte e Lazer - 16 questões.
Convém destacar que o instrumento de coleta de dados foi elaborado tendo como
base, principalmente, o Questionário socioeconômico que fazia parte do Manual do Candidato
do vestibular da UFMT, do processo seletivo de 2009, por ser um instrumento de pesquisa
153
adotado na instituição para o levantamento desse tipo de informações. Porém, também foram
consultados outros questionários, como por exemplo, o questionário de perfil socioeconômico
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia - UESB. Além disso, algumas questões
também foram inseridas de acordo com o objetivo da pesquisa, de modo a propiciar o
levantamento de um perfil socioeconômico que contemplasse também aspectos mais
específicos do estudo. O questionário integral se encontra no Apêndice A deste estudo.
4.2 Critérios da Pesquisa: Segunda Etapa
Após o estabelecimento desse perfil socioeconômico foi possível conhecer os leitores
da Biblioteca Central, analisar alguns aspectos de suas relações com os produtos e serviços e,
direcionar de forma apropriada a pesquisa no decorrer da segunda etapa, de modo a realizar
entrevistas e observações diretamente com aqueles usuários mais representativos do público
típico da biblioteca.
Desse modo, para a segunda etapa da pesquisa (entrevistas/observações), foram
definidos os seguintes critérios:
1) Técnica de pesquisa: entrevistas e observações, incluindo a verificação de
estatísticas de uso da biblioteca pelo Sistema Pergamum;
2) Quantidade de usuários/leitores a serem pesquisados: 11 sujeitos, sendo 5
alunos de graduação, 3 alunos de pós-graduação, 2 técnicos administrativos e 1
professor;
3) Requisitos principais:
1º - Estar cadastrado no sistema da biblioteca e com seu cadastro ativo;
2º - Ser aluno de graduação ou pós-graduação, técnico administrativo ou professor
da UFMT;
3º - Caso seja aluno, ter pelo menos um ano de curso e não estar concluindo o
curso;
4º - Caso seja professor ou técnico administrativo, ter pelo menos um ano de
instituição;
154
5º - Não estar utilizando a Biblioteca Central pela primeira vez e apresentar uma
frequência de uso anterior;
6º - Ter disponibilidade de tempo e interesse em contribuir com a pesquisa.
O estabelecimento dessas condições teve por objetivo assegurar que fossem
investigados os leitores correspondentes ao grupo de “usuários reais” da biblioteca, ou seja,
aqueles leitores que podem usufruir de todos os produtos e serviços ofertados, desde a
pesquisa eletrônica em bancos e bases de dados no ambiente da biblioteca, até o empréstimo
domiciliar de livros, reservas, renovações on-line etc.
A segunda fase do estudo teve início com a realização de algumas observações e de
uma abordagem com determinados usuários, a fim de identificar aqueles que participaram da
primeira etapa da pesquisa. Como na etapa inicial foram abordados todos os usuários que
estiveram presentes na Biblioteca Central e como se trata de um público regular, a
identificação e abordagem dos leitores não apresentou problemas na segunda etapa.
Um dos instrumentos de coleta de dados empregados nesta fase da investigação, foi a
entrevista estruturada, baseada em tópicos que exploraram aspectos previamente definidos,
mas que também permitam registrar observações úteis para a pesquisa. Além das entrevistas,
utilizou-se um diário de campo para registrar demais informações relevantes, obtidas por meio
de observação dos sujeitos.
Outro instrumento de coleta de dados, a observação participante, foi empregada para
observar a solução de três problemas de navegação propostos aos usuários/leitores. Por meio
destas atividades, os leitores realizaram processos de navegação no ciberespaço com o uso de
um computador no ambiente da Biblioteca Central. Especificamente, foram explorados os
processos de navegação, uso de recursos da Internet, bem como o uso dos recursos on-line da
Biblioteca Central, entre eles, o catálogo eletrônico e o sistema de acesso restrito dos usuários.
As entrevistas/observações foram gravadas em vídeo, uma vez que, conforme reforça
o estudo de Santaella (2007), as gravações de vídeo comprovam ser um material rico para
análise, bem além das descrições verbais e de um questionário com questões definidas a
priori. Assim, esta possibilidade de obter maior proveito durante o registro dos dados das
entrevistas e observações nos despertou o interesse e motivação por empregar o referido
procedimento.
155
Convém ressaltar que não se pretendeu empregar as gravações de vídeo da mesma
forma que a autora anteriormente citada, que as utilizou como subsídio para análise da
coordenação motora de usuários novatos do ciberespaço. As mesmas foram empregadas como
recursos de registro dos dados das entrevistas e observações, que contribuem para a percepção
de comportamentos e atitudes captados com mais detalhes em vídeo do que se dependesse de
registros escritos e da memória humana. Também não se pretendeu realizar uma análise dos
gestos e reações dos entrevistados em um nível complexo, mas utilizar tais expressões do
comportamento como um tipo qualitativo de observação.
Enfim, o objetivo principal desta etapa foi indagar, observar e analisar as formas com
que os usuários utilizam a biblioteca, as TIC e o ciberespaço nas suas atividades de pesquisa
cotidiana. Ou seja, como se relacionam com os produtos e serviços, com os recursos digitais
de pesquisa e, como se comportam enquanto leitores e pesquisadores.
4.2.1 Etapas das Entrevistas/Observações
1º Momento - Abordagem dos sujeitos.
Tempo de duração: Sem tempo de duração pré-definido.
Inicialmente foi realizada uma abordagem informal aos sujeitos, a qual visava a
identificação, seleção e convite para que participassem das entrevistas e observações. Os
sujeitos foram informados sobre a pesquisa e sua nova etapa e, nos casos em que atendiam aos
requisitos estabelecidos, foram convidados a participar do estudo. Nesse momento foram
coletados dados de contato e agendado um horário conveniente, bem como, foram assinados
os “Termos de Autorização para Gravação e Uso de Imagem”, em que os usuários
autorizaram a gravação das entrevistas e observações e a utilização do áudio e vídeo
resultantes para a finalidade exclusiva de pesquisa acadêmica, sem fins lucrativos.
Critérios de seleção dos sujeitos: Foram levados em conta os critérios de seleção
anteriormente delimitados, referentes à quantidade de usuários/leitores e suas categorias (11
leitores, sendo 5 alunos de graduação, 3 alunos de pós-graduação, 2 técnicos administrativos e
1 professor), bem como os requisitos quanto às características de uso da Biblioteca Central
também descritos anteriormente:
156
1º - Estar cadastrado no sistema da biblioteca e com seu cadastro ativo;
2º - Ser aluno de graduação ou pós-graduação, técnico administrativo ou professor da
UFMT;
3º - Caso seja aluno, ter pelo menos um ano de curso e não estar concluindo o curso;
4º - Caso seja professor ou técnico administrativo, ter pelo menos um ano de
instituição;
5º - Não estar utilizando a Biblioteca Central pela primeira vez e apresentar uma
frequência de uso anterior;
6º - Ter disponibilidade de tempo e interesse em contribuir com a pesquisa.
2º Momento - Entrevista Estruturada.
Tempo de duração: Aproximadamente 20 minutos.
A entrevista estruturada foi baseada em tópicos explorados oralmente, com registro
por meio de anotações em formulário e gravação de áudio e vídeo.
Estes tópicos tinham por objetivo identificar as características dos leitores e suas
relações com as TIC, com o ciberespaço e os produtos e serviços das bibliotecas, procurando
compreender as configurações que estes sujeitos apresentam.
3º Momento - Solução de Problemas.
Tempo de duração: Aproximadamente 25 minutos.
Foram realizadas observações sobre o processo de navegação e buscas no
ciberespaço, bem como de uso dos recursos on-line da Biblioteca Central da UFMT. Para
tanto, conforme planejado previamente, propusemos três problemas para que os
usuários/leitores resolvessem, sendo orientados e questionados em determinados momentos.
Estas observações foram gravadas em áudio e vídeo.
Problema 1 - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço.
Descrição do problema: Localize uma informação atualizada sobre o andamento
das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo.
157
Orientações básicas:
Efetuar uma busca em qualquer site de seu interesse;
Apresentar o resultado de sua busca.
Problema 2 - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço.
Descrição do problema: Localize uma informação relevante para sua pesquisa
acadêmica na Internet.
Orientações básicas:
Efetuar uma busca sobre um conteúdo de seu interesse acadêmico na Internet (em
qualquer site);
Analisar as informações localizadas quanto à confiabilidade (explicar se e porque
usaria esse material em um trabalho acadêmico).
Problema 3 - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central.
Descrição do problema: Acesse a página da Biblioteca Central e utilize o catálogo
on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados para o usuário/leitor.
Orientações básicas:
Acessar o site da UFMT;
Localizar informações sobre a Biblioteca Central no site da UFMT;
Localizar o catálogo on-line na página eletrônica da Biblioteca Central
Realizar três buscas no catálogo on-line (pesquisar por título, autor e assunto);
Verificar todos os detalhes de um dos materiais identificados;
Tentar realizar uma reserva on-line;
Localizar os recursos que permitem selecionar diferentes materiais de pesquisa
(livros, periódicos, artigos etc.) e os recursos que permitem realizar outros tipos
de pesquisa.
Se possível, acessar a área restrita de usuário da Biblioteca Central e seus recursos
(renovação, reserva, material pendente, histórico, consulta sugestões etc.).
158
Convém ressaltar que, inicialmente, as entrevistas e observações foram previstas para
as primeiras semanas de novembro, período em que a Biblioteca Central costuma ter um fluxo
regular de usuários. Entretanto, devido ao fato de vários alunos terem agendado as entrevistas
e não comparecerem, o que nos levou a recorrer a outros colaboradores, as entrevistas se
estenderam até a primeira quinzena do mês de dezembro de 2012.
4.3 O Escopo da Pesquisa Bibliográfica
Como fundamentação teórica, foi realizada uma pesquisa bibliográfica referente ao
objetivo principal do estudo e temas relacionados, principalmente em fontes de informação da
área de Educação, Biblioteconomia e Ciência da Informação. Por outro lado, também foi
realizada uma caracterização sucinta do ambiente da pesquisa de campo, a fim de apresentar
na forma de uma descrição, as características, objetivos, produtos e serviços da Biblioteca
Central.
Além das fontes de informação mencionadas no decorrer do referencial teórico,
também foram realizadas pesquisas em algumas fontes de informação da área de Educação,
sendo empregados alguns textos de acordo com a necessidade de desenvolvimento dos temas
abordados. As fontes pesquisadas foram as seguintes:
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação43 (ANPEd),
envolvendo trabalhos dos últimos seis anos de edição do evento (27ª a 32ª edição),
exceto 2010, cuja edição ainda não havia ocorrido. Foram verificados,
especificamente, os trabalhos do GT 10 – Alfabetização, leitura e escrita, e do GT
16 – Educação e comunicação, trabalhos de GEs, trabalhos encomendados e
outros. Nesse sentido, não foram encontrados trabalhos altamente relacionados, ou
seja, que abordassem a leitura e os leitores no contexto das bibliotecas
universitárias. Foram encontrados trabalhos moderadamente relacionados, que
abordavam o computador, a leitura, a Internet e o ciberespaço, os quais não foram
citados por já ter sido utilizado um referencial específico a esse respeito
43
Disponível no endereço eletrônico: http://www.anped.org.br.
159
(CHARTIER, 1998; SANTAELLA, 2007), e para não estender mais os assuntos
relacionados ao objeto principal da pesquisa.
Revista Educação & Sociedade44: periódico disponível em texto integral digital
no SciELO. A partir do sumário deste periódico, foram verificados os artigos
referentes aos últimos cinco anos (do volume 26, número 90 de 2005 ao volume
30, número 109 de 2009), além do número 111 do volume 31, referente ao ano de
2010. Nesse periódico também foram encontrados artigos relacionados às TIC e à
leitura, mas nenhum artigo diretamente relacionado à leitura em bibliotecas
universitárias no recorte de tempo acima delimitado.
Revista Ciência da Informação 45: periódico disponível em texto integral digital
tanto no SciELO46 (de 1997 até o presente), quanto no site do IBICT47 (de 1995
até o presente), utilizando o Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas
(SEER). Nesse periódico foram verificados os artigos referentes aos últimos cinco
anos (do volume 34, número 1, de 2005 ao volume 38, número 3, de 2009), a
partir do SciELO. Entretanto, também foram utilizados artigos aleatórios de
períodos anteriores, devido à relevância dos mesmos. Nesse sentido, além de
estudos referentes à área da Ciência da Informação, também foram pesquisados
nesse periódico artigos relacionados à área da Educação, especificamente no que
se refere ao leitor e à leitura em biblioteca universitária, não sendo localizado
nenhum artigo da área de Educação diretamente relacionado ao objetivo do
estudo;
Congresso de Leitura do Brasil (COLE)48: foi realizada uma pesquisa desde sua
15º edição, em 2007, até sua 17º edição, em 2009, sendo que a 18º edição está
prevista para o período de 16 a 20 de julho de 2012. Nesse congresso foram
analisadas, sobretudo as comunicações do Seminário sobre Bibliotecas. Os anais
deste evento possuem muitas comunicações relacionadas à leitura e às bibliotecas,
44
Disponível no endereço eletrônico: http://www.scielo.br/scielo.php/script_sci_serial/pid_0101-7330/lng_pt/
nrm_iso.
45
Esse periódico apresenta estudos da área interdisciplinar da Ciência da Informação, mas também de outras
áreas, entre elas a Educação. Por essa razão sua versão on-line, possui Qualis A2 na área de avaliação das
Ciências Sociais Aplicadas I, e Qualis B1 na área interdisciplinar. Sua versão impressa também possui Qualis B1
na área da Educação (ano base: 2008).
46
Disponível no endereço eletrônico: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=01001965&lng=en&nrm=iso.
47
Disponível no endereço eletrônico: http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf.
48
Disponível no endereço eletrônico: http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/.
160
porém, embora tenhamos verificado várias destas comunicações, não foram
mobilizados muitos trabalhos, uma vez que os livros consultados foram as obras
que mais forneceram subsídios para discutir as questões relacionadas à leitura, e
os mesmos abordavam temas que eram recorrentes também nas comunicações
deste evento, sobretudo com relação à biblioteca escolar e o incentivo à leitura.
Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino (ENDIPE): foi realizada
uma pesquisa para acessar os anais eletrônicos do ENDIPE, desde sua 13ª edição,
ocorrida em 2006, até sua 15ª edição, de 2010 (a 16ª edição do evento está
prevista para 23 a 26 de julho de 2012). Não foram localizados o site ou as
comunicações referentes à 13ª edição do evento na Internet. Quanto ao 14º
ENDIPE49, não havia no site nenhuma comunicação ou artigo integral. Já no site
do 15º ENDIPE50, foi localizada entre as publicações, uma obra relacionada aos
assuntos de pesquisa, intitulada “Avaliação Educacional, Educação a Distância e
Tecnologias da Informação e Comunicação, Educação Profissional e Tecnológica,
Ensino Superior, Políticas Educacionais”. Nessa publicação, verificamos que
havia um capítulo relacionado às TIC, porém, ao examinar os assuntos discutidos,
observamos que os mesmos estavam moderadamente relacionados aos objetivos
principais do estudo, sendo que englobavam apenas alguns dos pontos de interesse
já explorados em livros, como por exemplo, o conceito de ciberespaço e
hipermídia apresentados por Santaella (2007).
Outras fontes eletrônicas: Ao pesquisar na Internet de modo aleatório, também
foram encontrados trabalhos moderadamente relacionados ao estudo na Revista
Estudos Avançados51 (FREIRE, 2001) e na Revista Brasileira de Educação 52
(MENDONÇA, 2000), publicada pela ANPEd, que embora não sejam muito
recentes, foram alguns dos trabalhos que forneceram subsídios relevantes para a
presente pesquisa.
Portanto, nas fontes de informação na área de Educação e nos períodos acima citados
foram identificados alguns trabalhos relacionados aos assuntos da pesquisa, mas poucos
49
Disponível no endereço eletrônico: http://www.pucrs.br/eventos/endipe/index.php.
Disponível no endereço eletrônico: http://www.fae.ufmg.br/endipe/.
51
Disponível no endereço eletrônico: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_serial&pid=0103-4014&lng=pt
&nrm=iso.
52
Disponível no endereço eletrônico: http://www.anped.org.br/rbe/rbe/rbe.htm.
50
161
trabalhos altamente relacionados ao objetivo principal deste estudo, ou seja, a leitura, os
leitores e as TIC no contexto da biblioteca universitária.
Além disso, não foram identificados estudos similares ao que fora proposto por esta
pesquisa, embora também tenham sido utilizados referenciais da área de Biblioteconomia e
Ciência da Informação, a fim de construir uma fundamentação teórica interdisciplinar, como
um esforço de tentar compreender um pouco melhor o objeto pesquisado.
162
5 REFLEXÕES SOBRE OS DADOS DA PESQUISA
Conforme descrito anteriormente, este estudo abrangeu duas etapas principais, sendo
a primeira, a elaboração de um perfil socioeconômico e cultural, e a segunda, a fase de
entrevistas e observações sobre os processos de navegação dos usuários/leitores.
Na primeira fase, o interesse era, por meio do estabelecimento de um perfil, realizar
uma primeira aproximação a estes leitores, explorando também questões estratégicas que
permitisse além de discussões, algum direcionamento na etapa seguinte.
A segunda fase representou um aprofundamento maior, pois foi dividida em três
momentos: abordagem dos sujeitos, entrevista estruturada e observação participante.
Inicialmente, foi realizada a abordagem dos possíveis pesquisados, selecionando e
identificando aqueles que concordaram em participar da pesquisa, com agendamento das
entrevistas/observações tão logo os mesmos se dispunham a participar.
Em um segundo momento foram aplicadas entrevistas que exploravam questões
referentes às características dos leitores, suas relações com as TIC, com o ciberespaço,
produtos e serviços da Biblioteca Central. Na sequência ocorreu o terceiro momento, que
envolveu a técnica de observação participante, compreendendo a solução de três problemas de
navegação específicos propostos aos pesquisados: a) realização de uma pesquisa genérica com
tema definido pelo pesquisador; b) realização de uma pesquisa acadêmica de livre escolha dos
pesquisados e; c) exploração de recursos específicos dos serviços on-line da Biblioteca
Central (pesquisas no catálogo eletrônico, reservas, renovações etc.).
Desse modo, a pesquisa buscou, por meio de sua abordagem e destas técnicas de
coletas de dados, obter informações que fornecessem respostas relativamente confiáveis aos
objetivos previamente estabelecidos. As etapas aqui resumidas e abordadas com mais detalhes
anteriormente, representam o ponto de partida das discussões deste capítulo, no qual são
analisados o perfil socioeconômico e cultural dos usuários/leitores, bem como as entrevistas e
observações desenvolvidas, considerando os aspectos dos processos de leitura, as reflexões
envolvendo os leitores e o ciberespaço e, as questões referentes à Biblioteca Central da UFMT
e os seus serviços on-line.
163
5.1 Perfil Socioeconômico e Cultural dos Usuários/Leitores da Biblioteca Central
A pesquisa voltada para a delimitação de um perfil socioeconômico e cultural dos
usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT foi aplicada nos dias 28 e 30 de março de
2011, e pretendeu desenvolver uma caracterização dos produtos e serviços oferecidos pela
referida biblioteca e, principalmente do seu público leitor.
No dia 28 de março foram aplicados 200 questionários pela manhã, 150 à tarde e 150
à noite, sendo recolhidos 140 questionários de manhã, 79 à tarde e 100 questionários à noite.
Já no dia 30 de março foram aplicados e recolhidos menos questionários, uma vez que devido
à frequência de alguns usuários, os mesmos já haviam respondido o questionário no primeiro
dia de aplicação. Dessa forma, no dia 30 de março foram aplicados 100 questionários de
manhã, 100 à tarde e outros 100 à noite, sendo recolhidos 46 questionários pela manhã, 60 à
tarde e 55 à noite.
No total, foram aplicados 750 questionários, e respondidos 480 questionários,
conforme descrito no quadro a seguir:
DATA
QUESTIONÁRIOS
28/04/2011
(manhã)
Aplicados
200
Respondidos
140
28/04/2011
(tarde)
Aplicados
Respondidos
Aplicados
Respondidos
Aplicados
150
79
100
100
100
28/04/2011
(noite)
30/04/2011
(manhã)
30/04/2011
(tarde)
30/04/2011
(noite)
Respondidos
46
Aplicados
Respondidos
Aplicados
Respondidos
100
60
100
55
TOTAL
Questionários
Aplicados
TOTAL
Questionários
Respondidos
750
480
Quadro 8 - Distribuição dos questionários aplicados e respondidos (1ª fase da pesquisa).
Como essa pesquisa mesclava as questões de natureza socioeconômicas e culturais,
com questões qualitativas, apresentaremos nessa análise, principalmente os dados qualitativos
164
extraídos da pesquisa, tanto porque o estudo ainda se encontra em desenvolvimento, quanto
pelo fato de que são principalmente estes dados que oferecem maiores subsídios para o
desdobramento da fase posterior, as entrevistas e observações.
Figura 12 - Categorias de usuários da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Conforme se observa no gráfico anterior, a maioria dos usuários/leitores, ou seja,
73%, são de alunos de graduação da UFMT, seguidos por alunos visitantes (11%) e de alunos
de pós-graduação da instituição (10%). Esses dados refletem uma tendência de uso crescente
da Biblioteca pelos usuários da comunidade, principalmente por pessoas que usam o ambiente
da biblioteca para se prepararem para concursos públicos. Muitas vezes, esse público tem se
revelado mais exigente, tanto em termos de espaço físico, quanto de materiais para consulta
local.
Convém ressaltar, com relação à estrutura física, que atualmente a Biblioteca Central
possui um espaço limitado e um número crescente de usuários. Quanto aos livros e demais
materiais para consulta local, os mesmos são adquiridos com base nas demandas dos cursos
de graduação e pós-graduação, ou seja, priorizando o atendimento dos usuários/leitores da
instituição. Por essa razão, livros, apostilas e materiais similares específicos para concursos
públicos não constam no acervo da biblioteca, embora seja importante lembrar que muitos dos
materiais disponíveis para atender os cursos da instituição também podem ser muito úteis para
a consulta de candidatos de concursos e afins.
De todo modo, esses dados, obtidos no período de aplicação da pesquisa, refletem
que a maioria dos usuários da Biblioteca Central, são alunos de cursos de graduação. Também
165
revela que os alunos de cursos de pós-graduação ainda utilizam pouco a Biblioteca Central, o
que, preliminarmente, pode ter duas razões: o fato de haver na instituição, bibliotecas setoriais
que também atendem a esse público e o fato de uma parcela de estudantes de pós-graduação
ser proveniente de outras cidades e ter dificuldade com prazos de devolução de livros e
mesmo com a utilização da biblioteca para consulta local. Ainda assim, reflete ainda a
necessidade de maior divulgação dos produtos e serviços da biblioteca a esse público, visando
aumentar o índice de uso que os mesmos podem fazer dela.
Por outro lado, convém fazer algumas considerações a respeito da relação
quantitativa entre a comunidade acadêmica universitária e os sujeitos que foram investigados:
Os dois professores investigados (que não chegaram a representar 1% do total pesquisado)
equivalem a 0,13% do total de professores existentes no Campus de Cuiabá em 2011. Por
outro lado, os quatorze Técnicos Administrativos pesquisados, equivalem a 0,91% do total
existente na UFMT (não tivemos acesso a este indicador separado por campus universitário).
Quanto aos alunos de graduação investigados nesta etapa (344), os mesmos
equivalem a aproximadamente 3,3% do total de alunos de graduação do Campus de Cuiabá
em 2011 (10.447 alunos), enquanto que os alunos de pós-graduação (46) representam 3,25%
do total de alunos de pós-graduação da UFMT. Como não tivemos acesso aos dados dos
alunos da pós-graduação divididos por campus universitário, não foi possível traçar um
percentual limitado apenas ao campus de Cuiabá, razão pela qual esses indicativos percentuais
se aproximam (3,3% e 3,25%). Assim, considerando essa ressalva, observa-se que, a maioria
dos alunos de graduação pesquisados também reflete, mesmo que parcialmente, o fato de que
a comunidade acadêmica universitária é composta, principalmente, por alunos de cursos de
graduação, sendo que mais da metade destes cursos, são ofertados no Campus de Cuiabá.
Com
relação
aos
usuários
ainda
cabem
duas
considerações
relevantes:
primeiramente, os visitantes, em sua maioria candidatos a concursos públicos, que se
revelaram uma grande quantidade de usuários identificados na pesquisa, é um público que
aumenta em períodos regulares, próximo da época de realização de concursos públicos e não
seria estranho que uma pesquisa similar a esta, ocorrida em outro período, pudesse mostrar
facilmente uma variação nesses dados.
Em segundo lugar cabe uma observação igualmente senão mais relevante em relação
aos usuários da Biblioteca Central: trata-se de um público em movimento, dinâmico. Isso
porque, do ponto de vista do ingresso na instituição, pode-se encontrar na Biblioteca Central,
calouros, alunos de anos ou séries intermediárias e mesmo alunos em fase final de conclusão
166
de seus cursos. Obviamente, essas características também podem interferir na relação que os
mesmos têm com a biblioteca. Os calouros geralmente têm um pouco mais de dificuldade de
usar a biblioteca, principalmente com relação às normas de uso (prazos para empréstimos,
afastamento por atraso, renovações, uso de armários etc.). Esse entendimento passa a ser mais
claro na medida em que os alunos passam a ter contatos frequentes com a biblioteca,
aproximadamente após o primeiro ano de curso. Dependendo do curso, pode ser comum que
um aluno em fase final use mais ou menos a biblioteca. Por exemplo, alunos na fase final do
curso de Medicina costumam utilizar mais a Biblioteca do Hospital Universitário Júlio
Müller, devidos às atividades práticas que têm que realizar no referido hospital. Por outro
lado, alunos em fase de concluir outros cursos podem depender ainda mais da biblioteca para
suas pesquisas de Trabalho de Conclusão de Curso.
Dessa forma, os usuários/leitores não são facilmente segmentáveis em alunos de
graduação, alunos de pós-graduação, professores, técnicos administrativos e visitantes, pois é
necessário considerar que mesmo entre estes existem algumas características que interferem
na forma e intensidade com que os mesmos se utilizam da Biblioteca Central. Por essa razão,
é necessário considerar que por ser um período de início de ano letivo, a grande quantidade de
alunos de alunos de graduação pode ser justificada (apenas em parte) pelo ingresso de novos
alunos na instituição, que necessariamente podem não utilizar todos os recursos da biblioteca
ainda. Por outro lado, ainda assim, este costuma ser o maior público da Biblioteca Central,
conforme pode ser observado em uma pesquisa interna realizada na Biblioteca Central de
03/03/2009 a 29/04/2009, e posteriormente na pesquisa de especialização da bibliotecária
Dilma Machado de Barros (2010, p. 31), o que demonstra haver uma uniformidade nesses
dados.
A questão de número 3.2 visava identificar a quantidade e percentual dos usuários
que estavam devidamente cadastrados na Biblioteca Central da UFMT. Dessa forma,
percebemos que a grande maioria dos usuários, ou seja, 82%, estava cadastrada na biblioteca.
167
Figura 13 - Percentual de Usuários da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Cruzando esses dados com as informações anteriores, observa-se que a maioria dos
usuários/leitores são alunos de graduação e que a maioria também está cadastrada no sistema
da biblioteca, podendo usufruir de todos os seus produtos e serviços.
A questão posterior visava saber qual era a frequência de uso da biblioteca por parte
dos usuários/leitores que participaram da pesquisa. Assim, observou-se uma tendência de uso
da biblioteca que variou entre diariamente (38%) e semanalmente (35%), seguidos, à certa
distância, pelo grupo que utiliza a biblioteca eventualmente (16%). O gráfico seguinte
apresenta esses dados:
Figura 14 - Frequência de uso da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
168
Portanto, a maioria dos usuários utiliza a Biblioteca Central todos os dias ou, pelo
menos uma vez na semana, sendo estes os dados mais expressivos. A frequência de uso da
biblioteca pode ser interessante para conhecer seus produtos e serviços e, no diz respeito ao
objetivo deste estudo, inclusive a utilização dos recursos tecnológicos da biblioteca, como a
renovação on-line, a pesquisa em portais de periódicos, o uso do catálogo eletrônico etc.
Dessa forma, restava também saber qual a finalidade com que os usuários utilizavam
a biblioteca. Sendo que a maioria era de alunos de graduação, que já estavam cadastrados na
biblioteca e a utilizavam com alguma frequência, era de se esperar que a pesquisa acadêmica
fosse a mais visada, o que foi confirmado na questão 3.4, descrita no gráfico seguinte:
Figura 15 - Finalidade de uso da Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Com essa questão, percebeu-se que a pesquisa acadêmica era a principal finalidade
de uso da Biblioteca Central (64%). Porém, também percebeu-se que o uso da biblioteca para
preparação para concursos e similares era a segunda principal razão de uso (19%), à frente do
acesso à internet (11%) e da leitura por lazer (11%).
Dessa forma, voltando à figura 12, observamos que os visitantes (11%)
representavam um público expressivo na Biblioteca Central. Somando se a esse índice aqueles
que se incluíram na categoria “outros” (que também eram na realidade visitantes, conforme
observado nas descrições dessa alternativa), obtém-se um percentual de 14% de usuários
visitantes, ou seja, sem nenhum vínculo com a instituição. Relacionando esses dados com a
figura 15, observa-se que quase um quinto (1/5) dos usuários utiliza a biblioteca para
preparação para concursos e similares. Ou seja, fazendo uma aproximação desses dados,
169
pode-se considerar que entre 14% a 19% dos usuários estão entre o grupo de visitantes que
utilizam sobretudo o ambiente físico da biblioteca e a consulta local de obras do acervo como
preparação para concursos e similares.
Pode-se dizer que esses dados refletem uma tendência que foi observada nos dias em
que a pesquisa foi aplicada e da forma como foi aplicada. Essa tendência, como é natural de
dados quantitativos, não expressa aspectos muito isolados, mas uma quantidade auferida ao
término de um período investigado, a qual converge em alguns pontos e pode divergir em
outros. Se entre os visitantes existem aqueles que estudam para concursos com apostilas e
outros materiais próprios, por outro lado, há também aqueles que utilizam apenas os materiais
da biblioteca e ainda, outros que mesclam esses materiais em seus estudos. Porém, de um
modo geral, são todos visitantes, cuja proporção coincide, sem muita divergência, com a
proporção dos usuários que utilizam a biblioteca para preparação para concursos, o que, salvo
as diferenças, acredita-se que permite tecer a aproximação entre esses dois quesitos.
Outro detalhe percebido nessa questão é o baixo índice de utilização da biblioteca
para acesso a Internet (11%), pois se acreditava que esse quantitativo seria mais expressivo.
Na Biblioteca Central existem 9 computadores disponíveis para acesso à Internet por parte da
comunidade local (visitantes), mais uma Sala de Internet equipada com 30 computadores, de
uso exclusivo da comunidade acadêmica. Geralmente, esses equipamentos têm grande
procura, mas os dados mostram que mesmo assim, pouco mais de um décimo (1/10) dos
usuários pesquisados declararam utilizar esse recurso de pesquisa. Isso leva a considerar que
esses usuários podem estar acessando a Internet com computadores pessoais, como notebooks
(o que é comum na biblioteca), ou mesmo que a quantidade de computadores disponíveis não
estaria atendendo toda a demanda. Outras justificativas possíveis é que esses usuários podem
preferir não acessar a Internet da biblioteca, por causa de normas e restrições, ou mesmo
espontaneamente, por preferir usar o ambiente para estudo mesmo. Contudo, como não era
objetivo desta pesquisa se aprofundar muito nesses aspectos, detemo-nos apenas em
considerar essas possibilidades, sendo mais importante nesse momento saber que o serviço de
acesso à Internet, disponibilizado pela Biblioteca Central, não tem uma utilização massiva por
parte dos usuários investigados no período em questão.
170
Figura 16 - Produtos mais utilizados na Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Com relação aos produtos mais utilizados na Biblioteca Central, constatou-se que o
livro, com 74% da preferência ainda é o principal produto bibliográfico de pesquisa, seguido
de longe pelos trabalhos acadêmicos (10%), periódicos (7%) e outros recursos, representados
a figura 16. Vale ressaltar que essa pergunta se restringia aos produtos, e como na Biblioteca
Central os produtos disponíveis para pesquisa são materiais bibliográficos, não foram
incluídos nessa questão outros produtos ou mesmo serviços de acesso a materiais nãobibliográficos.
Na Biblioteca Central existe ainda uma quantidade de materiais multimídia,
especificamente CD-ROM e DVD-ROM, os quais aparecem no Quadro 5. Porém, os mesmos
não foram considerados como produtos independentes nesta questão, uma vez que são
materiais adicionais, complementares dos livros impressos, podendo ser emprestados apenas
por quem empresta seus respectivos exemplares (até porque, individualmente, não costumam
ser utilizados, por serem conteúdos de apoio aos livros).
Quanto aos serviços, a consulta local e a utilização do ambiente para estudo com
material próprio, ambos com 19% e o serviço de circulação (empréstimo, devolução e
renovação de livros), com 18%, foram os itens mais expressivos. Embora a Biblioteca Central
esteja quase toda climatizada, sendo um ambiente confortável para estudo, a grande utilização
do ambiente para estudo com material próprio demonstra que a necessidade de um olhar mais
apurado. Para os visitantes, sobretudo os candidatos a concursos, é justificável a utilização do
ambiente para estudo com materiais próprios, como apostilas específicas, por exemplo.
Porém, para alunos da instituição, é importante considerar ainda a questão aberta, que
171
solicitava alguma observação complementar e foi um espaço utilizado para críticas quanto ao
acervo da biblioteca, principalmente quanto à necessidade de atualização.
Cabe ressaltar, por outro lado, que a formação do acervo depende não apenas da
biblioteca, mas, primeiramente, da solicitação dos Institutos/Faculdades, para a aquisição e
inclusão no acervo da biblioteca dos livros das bibliografias básicas e complementares dos
cursos. E nessa parte, também entram outros fatores e etapas, como a disponibilidade de
recursos, prazos para a execução dos procedimentos dos processos de compras, recebimento e
tratamento técnico (classificação, catalogação etc.) até chegar à disponibilização desses livros
no acervo. Dessa forma, é importante observar que a atualização do acervo é um processo
contínuo, que não depende exclusivamente da Biblioteca Central, embora uma parte
significativa desse processo seja realizada pela biblioteca.
Ainda com relação à grande parcela de usuários/leitores que declararam utilizar a
biblioteca para estudo com material próprio, convém ressaltar que há também alunos que,
embora não necessitem utilizar os recursos da biblioteca utilizam seu ambiente devido ao
conforto térmico para estudo. E como esta era uma questão em que mais de uma alternativa
poderia ser assinalada, foram poucos os casos em que os usuários declararam utilizar a
biblioteca apenas para uma ou outra finalidade, o que é possível compreender dada a
variedade de alternativas possíveis.
Figura 17 - Serviços mais utilizados na Biblioteca Central da UFMT.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Outro fato que ficou evidente nessa questão foi que os serviços que envolvem o uso
dos recursos eletrônicos do ciberespaço ainda apresentam uma utilização moderada se
172
comparados aos serviços tradicionais comentados anteriormente (consulta local, empréstimo
domiciliar etc.). A utilização da Internet para pesquisas diversas (8%), a reserva e renovação
on-line (6%), o acesso a bases de dados on-line (3%) e ao Portal de Periódicos da CAPES
(1%), que já inclui muitas bases de dados, bem como a consulta ao catálogo eletrônico da
biblioteca (4%), demonstram que os serviços que utilizam os recursos eletrônicos ainda são
recursos, e não os elementos principais das pesquisas da comunidade acadêmica.
Convém destacar que a mobilidade proporcionada pelas TIC e pelas redes eletrônicas
de informação permite que os usuários/leitores acessem muitos dos serviços eletrônicos
oferecidos pela Biblioteca Central independente da utilização do seu espaço físico. A reserva
e a renovação de empréstimos de forma on-line, o acesso a bancos e bases de dados via Portal
de Periódicos da CAPES e a consulta ao catálogo eletrônico da biblioteca são exemplos
dessas alternativas.
Esta questão aliada à possibilidade dos usuários/leitores utilizarem a Biblioteca
Central com objetivos definidos, centrados nos livros impressos, os quais são os principais
produtos disponibilizados (Figura 16), pode influenciar tanto a utilização limitada dos
serviços eletrônicos, quanto a baixa utilização deste ambiente para acesso à Internet (Figura
15), embora a maioria dos usuários, ou seja, 78% declare fazer algum uso de
microcomputadores, independente do local em que utilizam estes recursos (Figura 18). Esta
reflexão procura, assim, não estabelecer uma distinção radical entre leitores meditativos ou
imersivos, considerando que existem fatores que podem influenciar tanto no uso dos recursos
da biblioteca, sejam eles tradicionais ou eletrônicos, quanto no próprio perfil que os leitores
podem apresentar nesse ambiente e fora dele.
É evidente que o catálogo eletrônico e a reserva e renovação eletrônica de livros
emprestados são serviços complementares ao serviço de circulação de materiais
(empréstimos, devolução, renovação etc.) e que estes, são inicialmente serviços físicos, e não
eletrônicos. Entretanto, é também evidente a relevância de artigos eletrônicos, bancos e bases
de dados on-line, como por exemplo, os recursos oferecidos pelo Portal de Periódicos da
CAPES, SciELO, Portal Domínio Público, Biblioteca Digital de Teses e Dissertações e outros
similares que incluem conteúdo integral, para ampliação das possibilidades de pesquisa dos
usuários.
Dessa forma, com base nos dados coletados, constata-se que, independente da
finalidade do serviço eletrônico disponível na biblioteca, “de modo geral”, estes ainda se
revelam como recursos de apoio às pesquisas acadêmicas, e não como os objetos principais da
173
pesquisa. Confrontando esta análise com Santaella (2007), podemos dizer que na Biblioteca
Central, os usuários correspondem principalmente às definições de leitores meditativos
apresentadas pela autora, embora existam ainda alguns leitores imersivos, que utilizam os
diversos recursos do ciberespaço oferecidos pela biblioteca. Não se trata de avaliar o grau de
imersão desses usuários/leitores, mas em que ponto os mesmos são imersivos, e este ponto é o
do uso dos recursos eletrônicos disponíveis, o que, conforme dito anteriormente ainda se
revela moderado.
A pergunta de número 3.8 questionava se o usuário/leitor da Biblioteca Central
utilizava microcomputador, independente do local, ou seja, poderia ser na biblioteca, no
trabalho, na faculdade, em casa ou em qualquer outro lugar. A finalidade era somente saber se
o usuário/leitor utilizava esse recurso. A grande maioria, ou seja, 78% afirmou utilizar
microcomputador diariamente, enquanto que 21% afirmou utilizar eventualmente, sendo que
apenas 1% afirmou não utilizar microcomputador.
Figura 18 - Utilização de microcomputador.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
De acordo com estes dados, observa-se que a esmagadora maioria dos usuários
pesquisados faz algum uso de microcomputadores, e dentre estes, a maior parte os utiliza
diariamente. Estes dados contrastam com o pequeno grupo de 11% dos usuários que utiliza a
biblioteca com a finalidade de acessar a Internet (Figura 15), e com a pequena quantidade de
usuários que utiliza os serviços informatizados da biblioteca, descritos na Figura 16.
Embora
esta
questão
visasse
apenas
saber
se
os
usuários
utilizavam
microcomputadores, entende-se que 99% dos mesmos faz algum uso destes equipamentos, o
174
que pode incluir também os computadores da Biblioteca Central. E como já observado
anteriormente, no que se refere ao acesso à Internet e demais recursos do ciberespaço, esse
uso ainda é limitado. Contudo, é importante considerar que os usuários da Biblioteca Central,
de um modo geral, estão habilitados a utilizar esses equipamentos, o que a utilização e de seus
recursos sejam passíveis de serem explorados pela biblioteca.
Voltando às reflexões em torno dos conceitos de leitor propostos por Santaella
(2007), parece instigante o fato de que a grande maioria dos leitores da Biblioteca Central
utilize microcomputador, embora poucos declarem utilizar a biblioteca para acesso a Internet.
Tal contraste leva a refletir sobre a razão de ocorrência dessa questão, pois se é certo que o
simples uso de um microcomputador não garante que o usuário saiba como acessar a Internet
e a utilize de fato, conceber o acesso a esta rede como algo independente da utilização do
microcomputador também representaria uma reflexão limitada. Dessa forma, a respeito dessa
questão, compreende-se que uma grande parte desses usuários sejam leitores imersivos em
outros ambientes, embora na Biblioteca Central possam revelar características mais evidentes
de leitores meditativos, ou seja, aqueles que utilizam principalmente os livros impressos e
produtos similares.
Em face disso, propõe-se também que três razões podem influenciar o tipo de uso
que os usuários/leitores fazem da biblioteca, determinando, assim, as características
apresentadas pelos mesmos, exclusivamente neste ambiente:
a) O objetivo de uso da biblioteca por parte dos leitores. Mesmo sendo leitores
imersivos, os leitores utilizam a biblioteca para finalidades específicas, voltadas
para o acesso e uso dos livros e demais materiais impressos;
b) A situação ou ocasião em que ocorre o uso da biblioteca. Mesmo como leitores
imersivos que utilizam a biblioteca central com objetivos definidos, como leitores
meditativos, também existem momentos que se pode ser necessário lançar mão de
determinados recursos tecnológicos nesse ambiente. Isso pode variar de acordo
com a situação, ou seja, se, por exemplo, o leitor não ficou satisfeito com uma
pesquisa realizada em um livro, ele pode fazer outras pesquisas na Internet para
atender suas necessidades acadêmicas;
c) A influência da própria missão da biblioteca, que ainda traduz seu conceito
tradicional para os usuários/leitores que a procuram por causa de seus produtos
175
principais, os livros impressos, e não para outras finalidades de pesquisa, embora
as mesmas sejam possíveis.
Essa reflexão nos mostra que, mesmo que este estudo envolva um recorte
metodológico consciente, em função dos objetivos e da situação de uso, não seria improvável
que, em outras ocasiões, os leitores investigados apresentassem outras características
preponderantes. Se por exemplo, a abordagem ocorresse em um momento em que o acervo da
biblioteca estivesse defasado e não atendesse as principais necessidades de um determinado
grupo de usuários/leitores, era possível que os mesmos estivessem utilizando outros recursos
de informação e, com isso, poderiam não apresentar características de leitores imersivos nesse
ambiente.
Outra questão relacionada à anterior era saber, entre algumas alternativas sugeridas,
quais os meios de comunicação mais utilizados pelos usuários/leitores. Entre as alternativas
foram incluídos também os livros, pelo seu caráter de instrumento de comunicação de ideias e
conhecimentos, embora sendo portador de uma natureza que lhe é peculiar.
Figura 19 - Meios de comunicação mais utilizados.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Nessa questão, observou-se que, dentre as alternativas disponíveis, a Internet (51%) é
o meio de comunicação mais utilizado. Em segundo lugar destaca-se a televisão (19%) e em
seguida os livros (13%) sendo estes as opções mais expressivas. Essa constatação parece vir
de encontro à observação anterior, de que uma grande parte dos usuários possam ser leitores
176
imersivos em outros ambientes, embora possam ser apenas leitores meditativos na Biblioteca
Central.
A questão seguinte se restringia ao uso dos recursos da Internet. Ou seja, dentre os
51% dos usuários que afirmaram utilizar a Internet como principal meio de comunicação, os
quais foram descritos no gráfico anterior, pretendeu-se, com esta questão, explorar qual o uso
que os mesmos fazem do ciberespaço.
Nesse sentido, 26% dos usuários afirmaram utilizar o correio eletrônico (e-mail),
18% utilizam os sites de pesquisa acadêmica/científica, 15% utilizam as redes sociais, 11%
utilizam a Internet para acessar músicas, 8% para acessar vídeos, 6% para utilizar
comunicadores instantâneos e também para acessar sites de entretenimento, entre outros
descritos na figura seguinte:
Figura 20 - Recursos da Internet mais utilizados.
Fonte: Pesquisa direta realizada entre nos dias 28 e 30 de abril de 2011.
Observa-se que a troca de informações eletrônicas é o maior atrativo do ciberespaço,
seguido pelos sites de pesquisa acadêmica/científica, bem como pelo uso das redes sociais. No
que se refere à Biblioteca Central, cabe destacar que os computadores disponíveis para acesso
a Internet possuem restrições de uso, principalmente à sites de conteúdo impróprio, redes
sociais e comunicadores instantâneos. Tal fato se deve à prioridade que se atribui ao uso dos
equipamentos como recursos para a pesquisa acadêmica, bem como para evitar que os
computadores sejam danificados por vírus e outros programas de origem duvidosa.
Entretanto, como essa questão não era limitada ao uso da Internet na Biblioteca Central,
acredita-se que essas restrições não tenham interferido nos dados coletados, inclusive porque
177
15% dos usuários afirmou utilizar a Internet para acessar redes sociais, e estas não estão
disponíveis nos computadores da biblioteca.
5.2 Considerações Sobre as Entrevistas e Observações
As entrevistas e observações dos processos de navegação dos usuários/leitores da
Biblioteca Central foram realizadas entre os dias 10 de novembro e 22 de dezembro de 2011,
na secretaria da biblioteca. As entrevistas estavam previstas para acontecer em outubro,
porém, por conta do retorno da greve, o funcionamento da Biblioteca Central estava alterado,
uma vez que em outubro havia uma quantidade maior de usuários querendo utilizar a
biblioteca, o que também gerou algumas dificuldades para os funcionários deste setor.
Entretanto, na medida do possível, as entrevistas foram sendo agendadas e tiveram
início em novembro. Uma das dificuldades encontradas para a realização das entrevistas foi o
fato de que alguns usuários agendaram as pesquisas e posteriormente não compareceram.
Após algumas tentativas de contato sem sucesso, decidiu-se por convidar outros usuários a
participar da pesquisa, haja visto que uma das condições para a realização da entrevista é
justamente a disponibilidade espontânea do pesquisado para contribuir com a investigação.
Outra dificuldade constatada foi que, pelo fato de as entrevistas/observações
envolverem gravações de vídeo, muitos leitores, mesmo demonstrando interesse em
colaborar, desistiam de participar da pesquisa, evidentemente por questões de inibição
pessoal. Esta foi uma dificuldade significativa e bastante perceptível, mas acredita-se que o
tempo de duração das entrevistas/observações (aproximadamente entre 20 e 40 minutos),
também tenha sido um dos fatores que dificultaram a realização desta etapa da pesquisa.
Dificuldades à parte, como não faltaram leitores interessados em colaborar com a
pesquisa, concordando com suas condições, a realização das entrevistas/observações foi
bastante produtiva, tanto pela organização deste momento em duas etapas (entrevistas e
observações) que permitiram coletar dados de suma importância, quanto pelas próprias
questões observadas junto aos leitores-colaboradores. A técnica de gravação de vídeos, que
por um lado inibiu a participação de alguns usuários/leitores na pesquisa, por outro se
mostrou uma fonte de análise bastante rica, dadas todas as nuances e detalhes registrados que,
178
de outra forma, provavelmente não seriam satisfatoriamente coletados. A gravação se tornou
tão interessante que, em determinados momentos, o foco era principalmente na entrevista e
não na realização de anotações (pois tudo estava sendo gravado em vídeo), o que liberava o
entrevistador para questionar de modo mais livre e otimizar o tempo disponível. Por outro
lado, durante determinados momentos, como por exemplo, os processos de navegação, tanto
as entrevistas quanto as observações anotadas manualmente se revelaram igualmente
relevantes.
Assim, foram nessas condições que realizamos a coleta dos dados, que se encontram
detalhadamente transcritos no Apêndice D. Convém ressaltar que a transcrição das entrevistas
e observações foi organizada procurando seguir uma ordem lógica para o agrupamento das
informações, as quais foram primeiramente separadas por cada leitor.
Com o intuito de preservar a identidade dos leitores, estes foram identificados na
redação da pesquisa, com as letras do alfabeto latino, indo do Leitor A ao Leitor K. Assim, os
Leitores A, B, C, D e E, são representados por alunos de graduação; os Leitores F, G e H,
correspondem a alunos de pós-graduação; os Leitores I e J são funcionários efetivos e o Leitor
K, corresponde a uma professora efetiva da UFMT. Assim, totalizaram onze usuários/leitores
entrevistados.
Com base nos dados coletados e transcritos no Apêndice D, foi elaborado o Quadro
9, o qual é representativo dos principais quesitos explorados na pesquisa, tanto nas entrevistas
quanto nas observações dos processos de navegação no ciberespaço.
Não se pretendeu, com isso, a elaboração de uma mera síntese para simplesmente
quantificar e condensar os dados, inclusive por que se trata de uma pesquisa qualitativa, na
qual existem critérios subjetivos e que fazem sentido em um dado contexto. Além disso, não
parece apropriado resumir uma grande quantidade de informações relevantes em uma
apresentação gráfica com o interesse de reduzir fatos e significados.
Desse modo, o quadro seguinte foi elaborado, sobretudo, com o interesse de permitir
uma visualização dos principais fatos constatados por meio da pesquisa, contribuindo para
analisar, discutir e apresentar algumas considerações sobre as questões evidenciadas.
179
IDENTIF.
DO
LEITOR
PROCESSOS DE
NAVEGAÇÃO NO
CIBERESPAÇO
ACESSO E USO DAS TIC E DO CIBERESPAÇO
(ENTREVISTAS)
TIPO
FREQUÊNCI
A DE USO
DA BC
USO DAS
TIC NA BC
USO DAS
TIC EM
OUTROS
AMBIENTES
NAVEGAÇÃO
E USO DOS
RECURSOS DO
CIBERESPAÇO
USO DOS
RECURSOS
ON-LINE DA
BC
LEITURA
HIPERTEXTUAL
NO
CIBERESPAÇO
PESQUISA
GERAL NO
CIBERESPAÇO
Aluno de
Graduação
Aluno de
Graduação
Aluno de
Graduação
Aluno de
Graduação
Aluno de
Graduação
A
A
A
A
I
A
A
A
I
B
A
A
I
B
B
I
I
B
B
B
A
I
B
I
I
I
B
I
I
A
A
I
A
A
A
I
A
B
I
I
I
I
I
I
I
I
B
I
I
I
A
I
A
I
Leitor G
Aluno de PósGraduação
Aluno de PósGraduação
A
B
A
I
B
A
I
A
B
Leitor H
Aluno de PósGraduação
I
B
I
I
I
A
I
A
I
Leitor I
Funcionário
B
B
I
I
I
A
I
B
I
Leitor J
Funcionário
B
B
I
I
B
I
I
I
B
Leitor K
Professor
B
B
A
A
N
I
A
A
N
Leitor A
Leitor B
Leitor C
Leitor D
Leitor E
Leitor F
PESQUISA
ACADÊMICA
NO
CIBERESPAÇO
USO DOS
RECURSOS
ON-LINE DA
BC
Quadro 9 - Critérios observados nas entrevistas e nos processos de navegação.
Escala: A – Alto. I – Intermediário. B – Baixo. N – Nenhum.
Convém ressaltar que algumas informações não cabem nesta apresentação, uma vez
que equivalem a características para serem analisadas e interpretadas, e não apresentadas em
uma escala classificatória, como por exemplo, as questões relacionadas à preferência de
leitura, e ao interesse por determinados recursos do ciberespaço, entre outros. Todavia, tais
aspectos também foram devidamente analisados.
Quanto aos critérios explorados no quadro, os mesmos tiveram como base os tópicos
da entrevista estruturada e das observações dos processos de busca, sendo que se estabeleceu
uma aproximação entre os principais tópicos da investigação de modo a agrupar informações
de natureza semelhante, também levando em conta os objetivos da pesquisa.
Dessa forma, os tópicos em questão são os seguintes:
Frequência de uso da BC – Visa analisar com que frequência o aluno utiliza a
Biblioteca Central (diariamente, semanalmente, mensalmente etc.), além de
algumas questões relacionadas às suas pesquisas cotidianas;
Uso das TIC na BC – Análise dos tópicos relacionados ao acesso e utilização das
TIC no ambiente da Biblioteca Central (computadores e Internet, rede wireless,
sistema da biblioteca etc.);
180
Uso das TIC em outros ambientes – Análise dos tópicos relacionados ao acesso
e utilização das TIC em outros ambientes (em casa, no trabalho, na faculdade
etc.);
Navegação e uso dos recursos do ciberespaço – Agrupa as questões referentes à
navegação no ciberespaço, levando em conta o uso dos seus diversos recursos,
como e-mails, sites de busca, redes sociais e procedimentos de navegação, ou seja,
quesitos que contribuem para compreender o leitor, como um usuário novato,
intermediário ou avançado do ciberespaço;
Uso dos recursos on-line da BC – Explora as questões relacionadas ao
conhecimento, acesso e uso dos recursos on-line da Biblioteca Central (catálogo
on-line, reservas e renovações, área restrita e seus recursos, entre outros), bem
como a avaliação do usuário quanto a estes serviços;
Leitura hipertextual no ciberespaço – Analisa a compreensão crítica do uso de
recursos de leitura no ciberespaço, incluindo a leitura enquanto navegação pelo
conteúdo hipertextual; a variação de intensidade leva em conta o conhecimento,
uso e compreensão da navegação hipertextual;
Pesquisa geral no ciberespaço – Observação do processo de pesquisa geral no
ciberespaço, em que o autor realiza um procedimento de navegação e pesquisa por
um conteúdo solicitado pelo pesquisador;
Pesquisa acadêmica no ciberespaço – Observação do processo de pesquisa
acadêmica no ciberespaço, por meio do qual o usuário/leitor realiza uma pesquisa
de um conteúdo de seu interesse acadêmico, de livre escolha do pesquisado;
Uso dos recursos on-line da BC – Observação do acesso e uso dos serviços online da Biblioteca Central (buscas no catálogo eletrônico, reservas e renovações de
modo on-line, área restrita do usuário/leitor etc.).
De forma alguma a escala empregada no quadro anterior pretendeu comparar
diretamente os quesitos aqui observados independentemente e sob uma variação de
intensidade (alto, intermediário, baixo e nenhum), com os tipos de usuários (novatos, leigos e
expertos), de navegadores (internauta errante, detetive e previdente), ou mesmo de leitores
(meditativos, moventes e imersivos) propostos por Santaella (2007).
181
A referida escala corresponde a um índice, um subsídio para analisar e refletir sobre
aspectos parciais, contribuindo, a partir de uma análise mais ampla, para delinear o perfil dos
usuários/leitores da Biblioteca Central.
Com base nos objetivos da pesquisa, definimos três categorias para análise dos dados
coletados por meio das entrevistas e observações, sendo elas: os processos de leitura, os
leitores e o ciberespaço e, a Biblioteca Central e os serviços on-line.
Na primeira parte, analisamos os processos de leitura e suas características no
ciberespaço, cruzando os dados obtidos por meio da pesquisa de campo com o arcabouço
teórico. Esta mobilização entre da teoria para análise dos dados também é utilizada nas partes
seguintes, sendo que, quanto aos leitores e o ciberespaço, exploramos com mais ênfase os
tipos de usuários (novatos, leigos e expertos), de internautas (errantes, detetives e previdentes)
e de leitores (meditativo, movente e imersivo) descritos por Santaella (2007), uma vez que os
conceitos de leitor empregados por esta autora podem contribuir para compreender o perfil do
leitor da Biblioteca Central da UFMT.
Na terceira e última parte, exploramos os dados referentes à Biblioteca Central da
UFMT e seus serviços on-line, também mobilizando, tanto quanto possível, a teoria referente
a este tópico. Nesta parte procuramos algumas respostas referentes ao aspecto da utilização
dos produtos e serviços on-line da biblioteca, tanto por meio das entrevistas e observações,
quanto retomando algumas questões importantes observadas ainda na primeira fase da
pesquisa.
5.2.1 Os Processos de Leitura
O processo de leitura assume, no ciberespaço, uma nova condição, qual seja o papel
de uma “leitura imersiva” conforme aponta o estudo de Santaella (2007). Chartier (1999, p.
12), por sua vez, explica que “a revolução do livro eletrônico é uma revolução nas estruturas
do suporte material do escrito assim como na maneira de ler”, ou seja, rompe-se com a
tradicional relação estabelecida entre o livro, como objeto ou suporte físico da leitura e
impõe-se um novo suporte e objeto, as memórias eletrônicas e a tela do computador, que
transformam o processo tradicional de leitura sequencial.
182
Também nessa linha, Toschi (2010) comunga com estes autores que o ato de navegar
no ciberespaço envolve um procedimento de leitura na tela do computador, uma leitura
dinâmica, de imagens, de sons e movimentos.
A pergunta que questionava as preferências dos usuários/leitores ao pesquisar uma
informação atualizada, rápida e confiável tinha por objetivo investigar não apenas as
preferências dos usuários, como também suas características de leitura diante destes três
aspectos. A atualização e a rapidez no acesso às informações são fatos evidentes no
ciberespaço, inclusive na área acadêmica, uma vez que muitos artigos e publicações
periódicas científicas são publicados quase que instantaneamente no espaço virtual.
Embora haja uma série de critérios editoriais para a publicação impressa, a
confiabilidade atribuída ao material impresso também incorpora uma característica cultural,
pois mesmo que este recurso não acompanhe a rápida frequência de atualização do conteúdo
digital, em geral, os livros e similares possuem reconhecida relevância e confiabilidade por
parte dos usuários das bibliotecas, ainda que nem todos os livros impressos estejam sujeitos
ao mesmo crivo editorial e tenham sua relevância razoavelmente reconhecida pelos
pesquisadores.
Assim posta a questão, há que se ter em conta que a validade dos conteúdos, que
culturalmente parece mais evidente nos materiais impressos, também é algo relativo. Isso
porque, atualmente, inúmeros materiais de acesso digital, como os periódicos científicos e os
próprios livros eletrônicos, também possuem valor editorial amplamente reconhecido e tem
ocupado espaço fundamental no que se refere à difusão e circulação do conhecimento na
sociedade. Além disso, muitos desses materiais sequer são publicados na forma impressa.
Existe, portanto, uma tendência evidente de proliferação dos recursos informacionais
entre as novas mídias e padrões de organização e disseminação da informação digital, sendo
que questões de confiabilidade não são necessariamente barreiras que invalidam o
conhecimento disseminado por meio das TIC, uma vez que coexistem, paralelamente,
conhecimentos de alta relevância em contraste com análises superficiais, tanto no meio
impresso quanto no ambiente digital.
Tendo em vista estas considerações, a questão que se deteve nas preferências de
pesquisa entre uma informação atualizada, rápida e confiável, por parte dos leitores da
Biblioteca Central da UFMT, foi analisada sem qualquer “contaminação” por parte dos
183
pesquisadores quanto a uma visão limitada de que os materiais impressos sejam mais válidos
e importantes do que o material digital.
Além disso, como o público pesquisado é composto por usuários/leitores da
Biblioteca Central da UFMT que tem acesso não apenas aos recursos tradicionais, como
também aos recursos digitais de informação, esse questionamento também contribuiu para o
levantamento de subsídios para conhecer melhor o perfil do leitor da Biblioteca Central.
O Leitor A e o Leitor D demonstraram possuir uma compreensão maior do processo
de leitura/navegação possibilitada pelo ciberespaço, inclusive no que concerne à leitura
hipertextual. No caso do Leitor A, o mesmo ainda atentou criticamente para o risco dos
hiperlinks dispersarem a atenção do leitor, perdendo o foco da pesquisa. Ao buscar uma
informação atualizada, rápida e confiável, o Leitor A informou que prefere utilizar a Internet
ao invés de pesquisar as fontes impressas, uma vez que as informações eletrônicas são mais
dinâmicas e também é possível localizar nesse ambiente fontes confiáveis.
A leitura hipertextual, utilizada nesse estudo para se referir à leitura potencializada
pelos hiperlinks incorporados ao texto eletrônico, é um tipo de leitura ramificada, cujos
caminhos são de escolha do próprio leitor. Assim, ao ler um texto eletrônico, o leitor poderá
encontrar no mesmo diversos hiperlinks que relacionarão as informações vinculadas a outros
blocos de informações com conteúdos complementares ou de alguma forma relacionados.
Este relacionamento hipertextual é um dos traços definidores da linguagem hipermidiática do
ciberespaço, juntamente com a hibridização das linguagens, o cartograma navegacional e a
interatividade (SANTAELLA, 2007).
Desse modo, a linguagem hipermidiática possui, além de seus diversos recursos de
texto, vídeo e áudio, diversas conexões hipertextuais que subsidiam um processo de leiturainteração diferenciado e, por essa razão, objetivou-se explorar junto aos usuários/leitores,
entre outras, a sua impressão (e implicitamente sua compreensão) da leitura hipertextual, uma
vez que esta contribui para compreender se os mesmos são leitores de tendências meditativas,
moventes, ou mesmo imersivas.
Por ser aluno do Curso de Ciência da Computação, o Leitor D admitiu que a leitura
on-line parece mais atrativa, uma vez que é mais prática e permite compreender melhor a
teoria de sua área do que a leitura com material impresso. Outra vantagem elencada pelo
aluno é a possibilidade de acessar novas informações de modo mais rápido, diferente do que
ocorre com o material impresso. Nesse mesmo sentido, quando busca uma informação
184
atualizada, rápida e confiável, o aluno prefere acessar a Internet, tendo em vista o dinamismo
proporcionado pela rede. No caso da leitura possibilitada pelo conteúdo hipertextual, o aluno
ressaltou a praticidade gerada pelo conteúdo que emprega este recurso, que permite ao leitor
navegar por diversos links que enriquecem ainda mais o texto.
A respeito desse dinamismo proporcionado pelo conteúdo digital, considerando,
principalmente, a atualização das informações, Almeida (2003a, p. 36) enfatiza o seguinte:
No mundo acadêmico, já existe até um ditado que se você lê um artigo científico,
publicado em papel, você está totalmente desinformado. A publicação impressa
serve, hoje, mais como um fator de prestígio, do que como um meio de
disseminação de informações. A informação circula com muito mais rapidez no
mundo virtual entre os pesquisadores do mundo inteiro.
Além disso, os Leitores A e D apresentaram sintonia na preferência por consultar as
fontes eletrônicas para acessar informações atualizadas, rápidas e confiáveis, bem como
concordaram que, preferem ler livros e textos impressos a ler diretamente na tela do
computador, seja pelo gosto e familiaridade com o livro impresso (Leitor A), seja pelo
cuidado com a saúde dos olhos (Leitor D).
Nesse particular, o Leitor D ainda acrescentou que para acessar a informação de
modo mais dinâmico e até para compreender melhor, prefere ler diretamente na tela do
computador. Ressaltou ainda que existem recursos que apenas poderão ser acessíveis pela
Internet, como por exemplo, as animações, que ajudam a compreender de uma forma que
atualmente seria impossível com o material impresso. Enfim, considerando o conforto, o
aluno prefere ler o material impresso, mas considerando a qualidade da informação, o aluno
prefere ler diretamente na tela do computador, usufruindo dos recursos da hipermídia.
Embora utilizem os materiais tradicionais impressos, pode ser dizer com segurança
que estes dois usuários (Leitores A e D) se revelaram leitores imersivos, ou seja, leitores que
transitam pelo ciberespaço com intimidade, agilidade e eficiência, como comprovaram tanto
nas entrevistas quanto nos processos de navegação.
No que se refere ao hipertexto, o Leitor B, que prefere ler livros e textos impressos a
ler na tela do computador, demonstrou limitações evidentes, uma vez que não compreende os
recursos de leitura hipertextual. Ainda que lhe tenha sido explicado sobre tais recursos, o
mesmo confundiu o hipertexto com os subtítulos dos blocos de informações dos textos
eletrônicos. Além da preferência por manipular o material impresso, e da preocupação com a
185
saúde dos olhos, o aluno acrescentou que o custo envolvido com a impressão de materiais de
leitura também pode influenciar na escolha do suporte, se impresso ou on-line.
Levando em conta que o aluno faz um alto uso das TIC, tanto na Biblioteca Central
quanto em outros ambientes, que navega e utiliza regularmente alguns recursos do
ciberespaço, bem como o fato de ter se destacado razoavelmente nos processos de navegação
geral e acadêmica, ainda que não tenha apresentado uma compreensão básica do processo de
leitura hipertextual, o Leitor B se revelou um leitor imersivo.
Isso já havia sido assumido quando, na própria transcrição dos dados, o mesmo foi
classificado como um usuário leigo do ciberespaço, equivalente a um navegador detetive, uma
vez que este tipo de internauta corresponde a um dos perfis cognitivos de leitor imersivo,
definido por Santaella (2007, p. 175-176).
O Leitor C revelou que acha interessante a leitura hipertextual, uma vez que a ligação
dos assuntos facilita a pesquisa, dispensando o usuário de repetir uma busca para localizar
uma informação relacionada ao conteúdo ora consultado. Embora em tal comportamento de
busca possam estar implícitos outros fatores determinantes, é importante destacar que essa
preferência também traz à tona uma das características dos leitores imersivos, a rapidez na
busca por informações, uma vez que, para o referido leitor, se no texto pesquisado houver
links para informações relacionadas, torna-se mais eficiente acessar estes links para obter
novas informações do que fazer novas buscas.
Esta aluna (Leitor C) demonstrou utilizar com frequência as TIC, citando
especificamente os computadores e a Internet. Sobre o formato preferido para leitura, a aluna
explicou que prefere ler livros e textos impressos do que ler diretamente na tela do
computador, uma vez que, com o material impresso se concentra mais no que está lendo e
acompanha melhor o conteúdo, enquanto que na Internet se dispersa facilmente. Esse
argumento converge com a razão que deu para não acessar as TIC na Biblioteca Central, uma
vez que a aluna informou que utiliza este ambiente principalmente para estudar ou para
emprestar livros.
Dessa forma, o Leitor C se revelou um leitor imersivo, mas com preferências de uso
da biblioteca e de recursos de leitura bem definidos. Para sua leitura e estudo acadêmico,
ficou evidente que prefere utilizar os livros e materiais impressos, sendo este um dos
principais motivos de utilizar a Biblioteca Central. Assim, embora esta aluna seja uma leitora
186
imersiva, que faz uso constante das TIC e está habituada ao uso de alguns dos principais
recursos do ciberespaço, também apresenta suas características de leitora meditativa.
Uma particularidade afirmada pelo Leitor E, foi o fato de que, além de preferir ler
livros e materiais impressos, por outro lado, não gosta de ler na Internet, ou seja, na tela do
computador, utilizando este recurso apenas como complemento de seus estudos. Esta aluna
demonstrou reservas em suas pesquisas na Internet, explicando que quando busca uma
informação atualizada, rápida e confiável, primeiramente recorre a alguma pessoa de
confiança para tentar se informar, acessando a Internet apenas como segunda opção; nesse
mesmo sentido, ressaltou que se cerca de cuidados ao realizar uma pesquisa acadêmica na
Internet, tendo em vista que sua área é subjetiva e existem muitas interpretações equivocadas
disponíveis on-line.
A leitura realizada na tela do computador, seja textual, hipertextual, possua sons,
imagens ou mesmo movimentos, adquire uma condição diferenciada e mais dinâmica do que
o processo de leitura tradicional. É com base nesse pressuposto que estamos analisando os
dados coletados nas entrevistas com relação aos procedimentos de leitura informados pelos
usuários/leitores.
Sobre a leitura hipertextual, o Leitor E acha facilitadora, porém faz uma crítica
quanto ao fato de muitas pessoas terem mais interesse em utilizar a Internet do que os livros
para suas pesquisas, impulsionadas pelas facilidades proporcionadas pela rede e com falta de
interesse em conhecer o conteúdo dos livros. Dessa forma, a aluna, embora confirme que
utilize a Internet e as TIC com frequência, tem certas reservas quanto ao uso do conteúdo
eletrônico e preferência pelo material impresso.
Desse modo, tendo em vista as questões observadas, o Leitor E demonstrou ser um
leitor que oscila entre meditativo e imersivo. No que diz respeito à pesquisa acadêmica, a
aluna se revelou, sobretudo uma leitora meditativa, evidenciando sua preferência por livros e
demais materiais impressos e com um posicionamento mais crítico com relação às pesquisas
realizadas na Internet. Por outro lado, enquanto usuária do ciberespaço com outras finalidades
demonstrou ser uma leitora imersiva, utilizando com muita frequência as TIC, conhecendo os
principais recursos do ciberespaço e sabendo se orientar/navegar neste ambiente virtual com
relativa habilidade.
Os Leitores F, G e H, todos alunos de pós-graduação, demonstraram características
semelhantes enquanto leitores. O Leitor F, explicou que gosta da leitura hipertextual, porém
187
advertiu que este tipo de leitura pode fazer o navegador fugir do seu objetivo de pesquisa.
Este cuidado com a objetividade da leitura/navegação também foi destacado anteriormente
pelo Leitor A, bem como pelo Leitor G, que relatou que não gosta de acessar os links
presentes no texto por ter passado por experiências negativas com conteúdos ligados mas sem
muita relação com o conteúdo original, ou mesmo com textos vinculados complexos e de
difícil compreensão.
Este olhar mais atento relatado por estes três leitores revela uma das características
da leitura do conteúdo hipertextual, que pode ser compreendida como um contraponto da
possibilidade do leitor navegar livremente pela rede, ou seja, a facilidade de se perder. Ao
discorrer sobre os nexos e conexões estabelecidos pelo hipertexto e sua relação com o leitor,
Santaella (2007), destaca a amplitude e características da linguagem hipermidiática e os riscos
que se impõem ao leitor:
[...] Transitando entre informações modularizadas, reticuladas, as opções do
caminho a ser seguido são de inteira responsabilidade do leitor. A hipermídia não é
feita para ser lida do começo ao fim, mas sim através de buscas, descobertas e
escolhas. Esse percurso de descobertas, entretanto, não cai do céu. Ao contrário,
para que ele seja possível, deve ser suportado por uma estrutura que deseja um
sistema multidimensional de conexões. A estrutura flexível e o acesso não linear da
hipermídia permitem buscas divergentes e caminhos múltiplos no interior do
documento. Quanto mais rico e coerente for o desenho da estrutura, mais opções
ficam abertas a cada leitor na criação de um percurso que reflete sua própria rede
cognitiva.
Hipermídia significa, sobretudo, enorme concentração de informação. Ela pode
consistir de centenas e mesmo milhares de nós, como uma densa rede de nexos. A
grande flexibilidade do ato de ler uma hipermídia, leitura em trânsito, funciona,
contudo, como uma faca de dois gumes. Ela pode se transformar em desorientação
se o receptor não for capaz de formar um mapa cognitivo, mapeamento mental do
desenho estrutural de um documento (SANTAELLA, 2007, p. 50).
Complementando o grupo dos alunos da pós-graduação, o Leitor H explicou que
considera a leitura hipertextual boa, uma vez que permite ao leitor ampliar sua leitura a
medida que navega, dependendo do interesse do mesmo para se aprofundar no assunto do
modo que desejar. Embora a aluna em questão utilize a navegação por hiperlinks sobretudo
como algo complementar, a mesma demonstrou conhecimento da estrutura do conteúdo
hipertextual e das possibilidades proporcionadas pela hipermídia.
Além disso, os Leitores F, G e H também concordaram que preferem ler livros e
textos impressos a ler diretamente na tela do computador. Segundo a aluna denominada para
os fins desta pesquisa como Leitor F, sua preferência por livros e demais materiais impressos
188
se deve à natureza dinâmica do conteúdo digital, uma vez que a mesma considera o material
impresso melhor para sua assimilação. Porém, para o Leitor G, sua preferência de leitura se
explica em função do conforto e da possibilidade de manuseio do material impresso, enquanto
que o Leitor H enfatizou o gosto que tem por manusear e mesmo colecionar livros impressos.
Ao pesquisar uma informação atualizada, rápida e confiável, o Leitor F explicou que
geralmente recorre à Internet, atentando para a confiabilidade do site consultado. Por outro
lado, para o Leitor G, costuma utilizar a Internet para acessar informações com estas
características por considerar mais fácil recorrer à rede do que aos materiais impressos, bem
como por ter habilidade para navegar na Internet que lhe permite ser seletiva quanto à
confiabilidade dos sites em que navega.
Já o Leitor H, revelou que procede de modo mais cauteloso, pois, segundo esta aluna,
ao pesquisar uma informação rápida a aluna costuma recorrer à Internet; porém, considerando
a necessidade de informação atualizada, pode recorrer tanto a livros e demais materiais
impressos, quanto à Internet. Considerando o critério da confiabilidade a aluna prefere
recorrer aos materiais impressos, pois para este objetivo, não confia suficientemente na
Internet.
Nesse sentido, os alunos de pós-graduação, enquanto leitores, apresentaram
características semelhantes, salvo algumas particularidades. O Leitor F, admitiu que o
dinamismo proporcionado pelo conteúdo digital dificulta sua compreensão e por isso prefere
os materiais impressos. Já o Leitor G demonstrou uma frequência maior do que os Leitores F
e H em alguns quesitos relacionados às TIC, navegação no ciberespaço, e procedimentos de
leitura imersiva (embora não goste de explorar a leitura hipertextual). Por outro lado, o Leitor
H demonstrou mais confiabilidade com os livros e materiais impressos do que com a Internet,
algo similar ao que demonstrou o Leitor E, uma aluna de graduação em Direito que deixou
bastante evidente sua preferência pelos materiais impressos e sua desconfiança com o
conteúdo do ciberespaço.
Assim sendo, os dados observados permitem concluir que o Leitor F é, ao mesmo
tempo, um leitor meditativo e imersivo enquanto usuário da Biblioteca Central, sendo que,
determinados aspectos, como o tipo de leitura de interesse (e suas razões), bem como algumas
dificuldades de navegação, tendem a reforçar um pouco mais sua identidade de leitor
meditativo. Quanto ao Leitor G, o mesmo também se revelou um leitor imersivo e meditativo,
porém, com maior predisposição à leitura imersiva. Por fim, o Leitor H, que também é uma
leitora imersiva, também não deixa de ser uma leitura meditativa, demonstrando em
189
determinadas ocasiões, forte tendência meditativa (preferência e gosto por livros e materiais
impressos, utilização da Internet para suas pesquisas acadêmicas com reservas etc.).
Por outro lado, de modo geral e proporcionalmente, observou-se que estes
usuários/leitores fazem um uso mais frequente da Biblioteca Central do que os próprios
alunos de graduação, o que, aliado ao fato de terem um comportamento mais objetivo de
pesquisa acadêmica e de uso do ambiente, também pode contribuir para delinear seu perfil de
leitores imersivos conscientes do uso que fazem tanto do material impresso quanto
hipermidiático.
Dando sequência nas análises, o Leitor I apresentou uma estreita semelhança com o
Leitor H, quanto ao gosto pela leitura, pois também prefere ler livros e textos impressos do
que ler diretamente na tela do computador, pelo simples fato de gostar de ler e manipular os
livros impressos, nesse caso, desde sua infância (influência familiar). Além disso, esta aluna
(Leitor I) destacou que possui um problema de visão que torna incômoda a leitura na tela
devido à claridade, além do próprio desconforto imposto por este tipo de leitura. De modo
bastante parecido, o Leitor J, também prefere ler livros e textos impressos por ter problema de
visão e por achar que a tela cansa mais os olhos. Este Leitor também ressaltou o conforto
proporcionado pela leitura tradicional, bem como a possibilidade de se acomodar da maneira
mais agradável com o livro em mãos para realizar a leitura.
De modo geral, no que se refere à busca por uma informação atualizada, rápida e
confiável, o Leitor I, procura primeiramente o material impresso disponível na biblioteca e
utiliza a Internet apenas como complemento. Quando se pauta apenas pela rapidez, a
funcionária recorre a Internet, mas com alguma reserva. O critério da confiabilidade pode
direcionar a funcionária tanto aos materiais impressos (primeira opção), quanto à consulta a
terceiros, e também nesse caso, a utilização da Internet fica como última opção. No caso do
Leitor J, que também utiliza e trabalha com a Internet cotidianamente, quando necessita de
uma informação atualizada, rápida e confiável, a mesma recorre à Internet, porém, como
utiliza a biblioteca exclusivamente para fins acadêmicos, também recorre aos materiais
impressos para obter materiais confiáveis para suas pesquisas.
Ambos os leitores anteriormente citados são funcionários da Instituição e utilizam a
Biblioteca Central como fonte de suas pesquisas acadêmicas. Porém, o leitor I utiliza o
ciberespaço com mais reservas e, embora tenha revelado um conhecimento razoável de alguns
dos principais recursos desse ambiente, opta por utilizar livros e materiais impressos pelo
próprio prazer de ler proporcionado pelo livro enquanto objeto de leitura.
190
Assim, quanto à preferência de leitura, esta servidora (Leitor I), prefere utilizar
primeiramente os materiais impressos. Por outro lado, embora compreenda e ache válida a
leitura hipertextual, este tipo de leitura não seduz a servidora, uma vez que, de modo geral,
não costuma utilizar e sim evitar os links presentes no texto. Dessa forma, esta funcionária se
revelou tanto como uma leitora meditativa, quanto como uma leitora imersiva, com baixo
grau de imersão espontânea no ciberespaço.
O Leitor J por sua vez, considera a leitura hipertextual interessante, se pautando pela
rapidez de obter uma informação que poderia ter que pesquisar novamente para acessar. Por
conseguinte, esta funcionária demonstrou ser uma leitora imersiva com conhecimentos
intermediários do ciberespaço, utilizando principalmente os recursos básicos que lhe
proporcionam mais segurança, estando em um nível de “busca”, típico de um navegador
detetive, conforme explicado no subcapítulo anterior. Essa característica de leitura não
significa que a servidora seja essencialmente uma leitora imersiva, uma vez que, a mesma
recorre à Biblioteca Central principalmente para acessar os livros e demais materiais
impressos e que também considera esta forma de leitura mais cômoda e confortável. Porém,
de modo mais sensato, os dados observados por meio desta pesquisa, evidenciam que se trata
de uma leitora imersiva enquanto navegadora que acessa a Internet cotidianamente,
independente da finalidade e da forma como navega, e como uma leitora meditativa, no que
concerne às pesquisas acadêmicas em que necessita de mais confiabilidade, bem como pela
própria preferência de leitura, influenciada pelas características peculiares dos materiais
impressos enquanto objetos de leitura.
Convém ressaltar que os Leitores I e J são funcionárias da Instituição que já possuem
um tempo razoável de contato com a tela do computador e, como possuem problemas de
visão, também alegaram esta como uma das razões para preferirem ler livros e materiais
impressos a ler diretamente na tela do computador.
Não foi questionado a estas funcionárias se o problema de visão das mesmas seria
decorrente da exposição acentuada à tela de computador, pois este não era um dos interesses
da pesquisa; especialistas da área médica poderiam dar as respostas científicas mais
adequadas à possibilidade da tela do computador prejudicar a visão, entretanto, é evidente a
qualquer leigo que a exposição acentuada e descuidada a qualquer fonte luminosa, como a tela
de um computador, pode prejudicar a visão.
Isto também deve ser considerado como uma questão a se pensar no caso dos leitores
imersivos, uma vez que a tecnologia está cada vez mais presente na atividade humana; desde
191
o trabalho até as residências, as pessoas lidam com computadores, notebooks, televisão,
telefones celulares e tablets, entre outras fontes de informação atualmente indispensáveis, que
emitem a luminosidade característica da tela do computador em que se “atualiza” o conteúdo
do ciberespaço, usando aqui um termo próprio de Lévy (2001).
O Leitor K é uma professora que demonstrou características de leitura e de
relacionamento com a Biblioteca Central bastante significativas. Trata-se de uma leitora de
fato imersiva, pois a mesma utiliza frequentemente as TIC, compreende a leitura hipertextual
presente no ciberespaço, conhece e utiliza diversos recursos deste ambiente virtual, inclusive
recursos de pesquisa acadêmica/científica mais sofisticados, bem como demonstrou relativa
facilidade nos processos de navegação que lhe fora solicitado. Entretanto, as características de
leitora meditativa também surgem quando a professora explica que prefere ler livros e textos
impressos a ler diretamente na tela do computador, devido ao gosto por tatear, folhear os
materiais impressos, fazer anotações nas páginas etc. Além disso, a professora ressaltou que,
independente da evolução da Internet, não há como prescindir do livro impresso.
Desse modo, embora não se pretenda generalizar, a leitura imersiva e a leitura
meditativa demonstraram ocupar posições relativamente definidas para esta leitora: o lugar da
meditativa é aquele em que a professora se identifica enquanto usuária de um “objeto físico”
que pode manipular do modo que melhor lhe convier para sua leitura e compreensão, como
algo cultural, uma finalidade que não pode ser preenchida pela leitura imersiva, embora seja
uma leitora com alto grau de imersão. Por outro lado, o espaço reservado à leitura imersiva é
aquele da leitura enquanto relacionamento essencialmente com a “informação”, e não com o
documento (objeto físico e informação); trata-se de um processo mais dinâmico e efetivo em
que os atributos físicos do suporte da informação não fazem diferença, pois é uma
leitura/navegação que realiza enquanto pesquisa e examina artigos científicos, notícias
jornalísticas, e mesmo quando troca e-mails, navega pelas redes sociais ou utiliza outros
recursos do ciberespaço que caracterizam o perfil do leitor imersivo. Por todos os aspectos
observados, conclui-se, assim, que esta é uma leitora de características meditativas e
imersivas, com grande inclinação à leitura imersiva.
Com o interesse de obter o máximo de subsídios para compreender as características
dos usuários/leitores da Biblioteca Central, também foram examinados os relatórios do
Sistema Pergamum (sistema informatizado da Biblioteca Central), para a coleta de dados
quantitativos a serem considerados nas análises qualitativas. Desse modo, o quadro a seguir,
192
resume em termos numéricos todos os empréstimos realizados pelos usuários/leitores da
Biblioteca Central que foram entrevistados, até a data de 2011.
IDENTIF.
DO
LEITOR
TIPO DE USUÁRIO
QUANT.
EMPRÉST.
2011
QUANT.
EMPRÉST.
2010
QUANT.
EMPRÉST.
2009
QUANT.
EMPRÉST.
2008
Leitor A
Aluno de Graduação
13
54
58
32
Leitor B
Aluno de Graduação
6
22
4
5
Leitor C
Aluno de Graduação
5
8
Leitor D
Aluno de Graduação
13
29
Leitor E
Aluno de Graduação
27
24
Leitor F
Aluno de Pós-Graduação
15
Leitor G
Aluno de Pós-Graduação
17
Leitor H
Aluno de Pós-Graduação
14
Leitor I
Funcionário
18
Leitor J
Funcionário
12
Leitor K
Professor
4
22
QUANT.
EMPRÉST.
2007
2
1
7
2
2
9
4
Quadro 10 - Quantitativo de empréstimos realizados pelos usuários/leitores entrevistados até 2011.
Fonte: Relatórios do Sistema Pergamum, da Biblioteca Central da UFMT.
Quanto ao empréstimo de livros, observa-se que o Leitor A, compreendido com um
leitor imersivo, tem realizado uma quantidade significativa de empréstimos destes materiais.
Os leitores D e E, também têm emprestado uma quantidade significativa de livros nos últimos
dois anos. Convém ressaltar que o Leitor D, também apresentou características altamente
imersivas, juntamente com o Leitor K (professora), que embora tenha poucos empréstimos
registrados, afirmou que utiliza muito os livros particulares.
Os alunos de pós-graduação, bem como os funcionários, apresentaram uma
frequência de empréstimos, sobretudo no ano de 2011. Convém ressaltar ainda que os
usuários que vêm emprestando livros há mais tempo ainda não se encontravam em final de
curso quando foi realizada a pesquisa, pois os alunos A e B eram alunos do terceiro ano de
seus cursos; os demais empréstimos antigos são decorrentes de outros cursos anteriormente
cumpridos pelos usuários/leitores em questão.
Com relação ao ano de 2011, é importante destacar ainda que uma greve dos técnicos
administrativos federais, de aproximadamente três meses, fez com que a Biblioteca Central
193
ficasse fechada e os usuários deixassem de emprestar livros nesse período; além disso, em
2011 houve também uma greve dos docentes da Instituição, que contribuiu para alterar um
pouco o calendário acadêmico.
Desse modo, estes dados contribuem para demonstrar que mesmo os usuários da
Biblioteca Central que se revelaram como leitores imersivos, são, por outra via, leitores
meditativos, levando em conta seus objetivos de pesquisa acadêmica, suas preferências de
leitura para tal finalidade e mesmo para outras finalidades.
No que se refere ao questionamento sobre a preferência entre ler livros e demais
materiais impressos ou ler na tela do computador, uma das questões ligadas diretamente ao
objetivo da pesquisa, resumidamente, todos os usuários/leitores entrevistados foram unânimes
em preferir ler livros e materiais impressos, pelas razões apresentadas a seguir:
Possibilidade de contato físico com os livros (tatear, folhear, marcar as páginas
etc.), sendo esta a principal razão;
Praticidade para leitura e movimentação das páginas;
Comodidade para manusear o material impresso;
Conforto para manusear o material impresso e poder ler em qualquer lugar e
acomodado em diversas posições;
Cuidado com a saúde dos olhos (quatro usuários atentaram para esta questão,
sendo que dois informaram que possuem problemas de visão);
Facilidade de concentração no que está lendo e melhor compreensão;
Confiabilidade proporcionada pelo material impresso;
Gosto pelo material impresso, por adquirir e colecionar livros para leitura;
Hábito de leitura (implícito).
Observa-se, assim, várias características inerentes aos livros enquanto objetos físicos
de leitura, desde questões próprias do manuseio destes materiais, acomodação e conforto para
a realização da leitura, até o próprio gosto e hábito de leitura. Embora não seja relacionada ao
gosto ou hábito de leitura, a saúde dos olhos foi uma das questões atentadas por quatro dos
onze usuários entrevistados que também merece atenção, conforme comentado anteriormente.
194
Os Leitores E, F e I, afirmaram que preferem imprimir o material que consultam na
Internet, como por exemplo, os artigos acadêmicos, para poder realizar suas atividades de
leitura e estudo acadêmico. Por outro lado, ainda que tenham este mesmo interesse, os
Leitores A, B e G explicaram que podem não imprimir determinados materiais para estudo e
sim ler diretamente na tela do computador, devido ao custo envolvido, o que confirma a
influência da questão financeira sobre a escolha do tipo de leitura a ser desenvolvida,
dependendo da situação.
Nenhum dos usuários/leitores admitiu que “prefere” ler exclusivamente na tela do
computador. Alguns, como os Leitores A e D, admitiram que preferem ler livros e materiais
impressos, mas reconheceram que, dependendo da situação, torna-se mais viável a leitura na
tela. A este respeito, o Leitor A, ponderou que a escolha do tipo de leitura também sofre
influência do custo financeiro (o que também foi reconhecido pelos Leitores B e G), ou seja,
dependendo da quantidade de material a ser impresso às vezes torna-se inviável a impressão, e
por isso, não se trata de uma questão de “preferência” condicionando o tipo de leitura a ser
desenvolvida, mas de “viabilidade”, confirmando o que foi reiterado anteriormente.
Entre os aspectos negativos apontados pela leitura na tela foi destacado, sobretudo, o
fato de ser uma leitura cansativa, o dinamismo do conteúdo digital (nesse caso por dificultar a
compreensão) e a possibilidade de dispersão da Internet para quem pretende estudar.
Curiosamente, o mesmo dinamismo do conteúdo digital também foi apontado pelo Leitor D
para considerar a leitura on-line mais atrativa do que a leitura do material impresso.
Isso demonstra que os usuários/leitores em que imperam, sobretudo, as
características de leitores meditativos (como por exemplo, o Leitor F), estão habituados a ler e
compreender em um ritmo diferenciado daqueles leitores que possuem características mais
latentes de leitores imersivos, como por exemplo, os Leitores A, D e K.
Uma questão relevante destacada pelo Leitor D foi o fato de ressaltar que existem
recursos que apenas poderão ser acessíveis pela Internet, como por exemplo, as animações,
que ajudam a compreender de uma forma que atualmente seria impossível com o material
impresso. O aluno ainda explicou que sua área (Ciência da Computação) tem uma rápida
frequência de atualização, e por isso, a leitura on-line é mais atrativa e prática para a aquisição
de novos conhecimentos. Diante destes argumentos e das observações do desempenho do
aluno nos processos de navegação, percebe-se que as áreas de formação dos usuários/leitores
também podem influenciar nos seus perfis enquanto leitores meditativos, moventes ou mesmo
imersivos.
195
Com relação à leitura hipertextual, convém ressaltar ainda que, mesmo nos casos em
que os alunos evitam utilizar os links presentes no texto, como o Leitor G e o Leitor I, a
leitura hipertextual pode estar ocorrendo, pois são várias as conexões possíveis na hipermídia,
como informa Santaella (2007), e o leitor pode navegar e utilizar estes recursos mesmo sem
tomar consciência do processo ramificado ao qual se incorpora ao explorar o ciberespaço,
uma vez que esta é uma das características inerentes à própria estrutura do mundo virtual.
Desse modo, as questões referentes à leitura hipertextual contribuíram para observar a
compreensão dos usuários acerca do ciberespaço e das possibilidades de navegação presentes
em sua estrutura multi-direcional. Em alguns casos, mesmo explicando com antecedência
sobre este tipo de leitura, ficou evidente que determinados leitores ainda não possuem a
mínima compreensão, embora naveguem com relativa facilidade na Internet. Em outras
ocasiões, não apenas a compreensão, mas também argumentos críticos imergiram deste
questionamento, e igualmente contribuíram sobremaneira para o delineamento dos perfis dos
usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT.
Finalmente, convém ressaltar que, devido ao recorte da pesquisa envolver uma
comunidade já delimitada (usuários/leitores da Biblioteca Central), que evidentemente
utilizam a biblioteca para atender suas necessidades de pesquisa acadêmica, o fato de os
mesmos preferirem ler livros e textos impressos não pode ser encarado com muita
perplexidade, mas como uma constatação contextualizada; ademais, na primeira etapa da
pesquisa (Perfil Socioeconômico e Cultural dos usuários/leitores da Biblioteca Central),
observou-se que os livros são os produtos mais utilizados da Biblioteca Central. Assim, o fato
de os usuários entrevistados preferirem utilizar livros e materiais impressos, por um lado
mostra uma sintonia, confirmando que os usuários/leitores que participaram das entrevistas e
observações correspondem de fato ao público cotidiano da Biblioteca Central e por outro
lado, demonstra um traço da identidade destes mesmos usuários, que oscilam, na maioria,
entre leitores meditativos e imersivos.
5.2.2 Os Leitores e o Ciberespaço
Retomando o que já foi ponderado anteriormente, os usuários/leitores não são
facilmente segmentáveis em alunos de graduação, alunos de pós-graduação, professores,
196
técnicos administrativos e visitantes, uma vez que entre estes diferentes tipos existem
características que interferem na forma e intensidade com que os mesmos se utilizam da
Biblioteca Central. Esta etapa da pesquisa permitiu evidenciar esta observação, como se pode
perceber, por exemplo, ao comparar os interesses de pesquisa dos funcionários da UFMT,
com os dos professores e dos alunos.
Os dois servidores entrevistados, embora sejam classificados como funcionários da
Instituição, demonstraram utilizar a biblioteca com finalidade acadêmica, e nesse ponto,
podem ser comparados aos alunos de graduação e de pós-graduação. Por outro lado, de modo
geral, os alunos revelaram um uso mais frequente da Biblioteca Central e maior domínio das
TIC. Isso pode ser explicado em parte porque na Instituição existem servidores que estudam e
trabalham paralelamente, sendo que o uso da biblioteca pode ser limitado ao nível básico,
enquanto que muitos alunos não trabalham e tem mais tempo disponível para utilizar a
biblioteca; além disso, por serem mais jovens, os alunos também costumam ter mais
intimidade com os recursos tecnológicos.
Quanto ao uso dos recursos on-line da Biblioteca Central, independente dos tipos de
usuário, estes oscilaram entre baixo e intermediário. Convém ressaltar ainda que a professora
entrevistada, embora utilize muito as TIC e os recursos de pesquisa bibliográfica, revelou não
conhecer os serviços on-line da Biblioteca Central. A entrevista desta professora levanta ainda
uma questão importante relatada por outros leitores entrevistados, qual seja a necessidade de
divulgação dos serviços on-line da Biblioteca Central.
Embora tenha um histórico de uso intenso da biblioteca no passado e bastante
domínio das TIC e da navegação no ciberespaço, a professora desconhecia o catálogo
eletrônico da Biblioteca Central e outros recursos importantes que poderia usufruir caso
tivesse recebido uma orientação apropriada. Dessa forma, não é que a professora não tivesse
interesse de utilizar tais recursos, mas que realmente não utilizava por desconhecer os
mesmos.
Além disso, as observações envolvendo a professora servem de fundamento a duas
considerações no mínimo bastante interessantes: a primeira questão, é que, tendo acesso aos
periódicos e outros recursos de informação on-line, a professora revelou que este acesso
concorreu para que diminuísse o uso frequente que fazia da biblioteca. Ou seja, enquanto que
a professora se revelou uma leitora imersiva com uso constante de recursos eletrônicos para
sua pesquisa acadêmica, essas características também influenciaram na diminuição de sua
frequência e uso da Biblioteca Central.
197
Por outro lado, a professora representa uma tendência observada entre os professores
em geral, pois muitos optam por comprar os livros de que necessitam e constituir seus acervos
particulares, do que emprestar os livros da Biblioteca Central e utilizar outros recursos de
informação igualmente relevantes, uma vez que confirmou ter alguns materiais particulares
que utiliza com frequência.
Quanto aos alunos de graduação, dos cinco alunos pesquisados, três podem ser
considerados usuários leigos, enquanto que dois correspondem, mais apropriadamente a
usuários expertos. Para compreender os alunos nessa classificação, levou-se em conta o
acesso e uso das TIC (independente do ambiente), o uso dos recursos do ciberespaço, e os
processos de navegação e buscas gerais e acadêmicas na Internet, entre outras questões
observadas quanto à navegação e imersão no ambiente virtual. Além disso, o embasamento
científico para esta aproximação busca aporte em Santaella (2007, p. 65), que explica que os
usuários leigos são aqueles que têm que “aprender a se virar”, uma vez que já aprenderam
algumas rotas do ciberespaço e seguem descobrindo outras, avançando por tentativa e erro.
Por outro lado, quanto aos usuários expertos do ciberespaço, Santaella (2007, p. 66)
explica o seguinte:
O experto, por fim, tem conhecimento dos aplicativos no seu todo, manipulando as
ferramentas e os comandos com desenvoltura e velocidade. Transita pela rede com
familiaridade em função da representação mental clara que tem da estrutura, da
qualidade e das idiossincrasias dos mecanismos de navegação.
Dessa forma, considerando que a autora anteriormente citada explica que em cada
um dos tipos de usuários do ciberespaço identificados em seu estudo (novatos, leigos e
expertos) impera um tipo de raciocínio peirceano, de modo a classificar os internatas em
“errantes” (que se baseiam em um raciocínio abdutivo), “detetives” (que se baseiam na
indução) e “previdentes” (que se baseiam na dedução), é possível compreender os Leitores A
e D como usuários expertos ou navegadores previdentes, ao passo que os mesmos possuem
roteiros de buscas e navegação mais elaborados, eficientes e rápidos, imperando, sobretudo o
processo de “elaboração” em suas navegações. Isso significa dizer que os mesmos possuem
uma coleção de conhecimentos ou “esquema geral de navegação” sofisticado, eficiente e
adaptável, dependendo da situação de navegação em que se encontrem (SANTAELLA, 2007,
p. 68).
198
No caso dos Leitores B e C, pode se afirmar mais apropriadamente que os mesmos
correspondem a usuários leigos, uma vez que não são mais usuários errantes, que estão
aprendendo a navegar pelo ciberespaço, mas também não demonstraram ser, enfim, usuários
expertos em suas entrevistas e processos de navegação. Embora utilizem as TIC com
frequência, os mesmos ainda demonstraram características próprias de usuários leigos
(hesitação, operações repetitivas, avanço por tentativa e erro etc.) e não apresentaram uma
utilização avançada dos recursos do ciberespaço que evidenciasse uma “compreensão” e
“elaboração” instantânea de seus procedimentos de navegação, o que é comum aos usuários
expertos.
A classificação destes usuários como leigos, no que se refere ao ciberespaço, não se
pauta em limitações, mas sim em características, ou seja, no perfil de leitor dos referidos
usuários. Tal compreensão também leva em conta o ambiente altamente dinâmico, complexo
e estressante que pode se revelar o mundo virtual, como chama a atenção Almeida (2003b, p.
91, grifos do autor):
Toda informação tem efeito marcante sobre nossas vidas e nossos hábitos. O leitor,
ao navegar pela Internet, certamente não lerá da mesma forma que lê um livro
impresso. A enorme quantidade de informação e as limitações da tecnologia o
expõem a um stress constante. O leitor-navegador tem um mundo ao alcance do
clique do mouse. O que deve ser lido? O que é informação verdadeira e o que é lixo?
Será que uma fonte de informação mais abrangente e confiável não está ao alcance
de um clique do mouse? Basta o texto se tornar levemente monótono para que o
leitor dirija-se a outras paragens, provavelmente para nunca mais voltar.
O autor explica ainda que a seleção de um conteúdo potencialmente útil em meio a
esse oceano de informações não é uma tarefa fácil, e que “o discernimento e a vivência do
leitor são os únicos recursos para verificar a validade das informações” (ALMEIDA, 2003b,
p. 91). Isso pode ser tanto mais válido ao considerar que o chamado “lixo” informacional
pode representar um conceito antes de tudo relativo. Embora realmente existam conteúdos na
Internet que possam ser considerados supérfluos, muitas informações consideradas
desnecessárias podem ser úteis para outros leitores, o que vincula a validade destes conteúdos
ao perfil dos usuários a que os mesmos são direcionados.
Voltando aos leitores, no caso do Leitor E, embora o mesmo utilize a biblioteca com
frequência, faz um baixo uso das TIC tanto em casa quanto em outros ambientes e utiliza de
forma moderada o ciberespaço e seus recursos. Porém, a aluna também revelou conhecer
199
razoavelmente recursos importantes de navegação e orientação no ciberespaço, além de
possuir uma habilidade de navegação que permite considerá-la, de modo geral, como um
usuário leigo deste ambiente virtual.
Não é uma tarefa simples atribuir uma classificação a um usuário/leitor, uma vez que
entre os usuários de um mesmo nível existem sempre alguns em estágios diferenciados.
Porém, no caso da aluna acima citada, seria um erro evidente considerar a mesma como um
usuário novato (sem intimidade com o ciberespaço) ou ainda como um usuário experto (com
alto grau de domínio dos recursos do ciberespaço), razão pela qual, acredita-se que a
classificação mais adequada para a mesma seja realmente como uma usuária leiga, de
características detetivescas, que possui um conhecimento e prática de navegação que não
podem ser desconsiderados.
No que concerne aos alunos de pós-graduação, os Leitores F, G e H podem ser
considerados usuários leigos do ciberespaço, equivalentes a navegadores detetives. Percebeuse que os mesmos possuem como características comuns a objetividade em seus processos de
navegação e um domínio maior da pesquisa acadêmica, utilizando a Internet com um pouco
mais de disciplina, o que também é típico dos navegadores detetives, além de uma
compreensão diferenciada da leitura/navegação hipertextual.
Enfim, outra característica comum aos alunos de pós-graduação foi o fato de os
mesmos utilizarem pouco as TIC no ambiente da biblioteca e mais em outros ambientes,
embora sejam usuários/leitores razoavelmente frequentes na Biblioteca Central. Acredita-se
que isso decorra do perfil destes alunos, pois os mesmos costumam utilizar notebook ou
materiais particulares, conforme declarado por duas das três alunas desse grupo. Isso também
parece convergir em direção às suas características de uso da biblioteca, ou seja, este grupo de
alunos demonstrou utilizar a biblioteca em função de seus materiais impressos (livros e
similares) ou utilizar o próprio espaço para suas pesquisas acadêmicas, geralmente com
materiais particulares.
O Leitor F demonstrou algumas dificuldades relacionadas ao acesso e uso de alguns
dos recursos do ciberespaço, se destacando principalmente no processo de pesquisa
acadêmica, em sintonia com o que respondeu na parte da entrevista relacionada ao uso da
Internet como fonte de pesquisa acadêmica.
Outra característica deste leitor foi a sua disciplina e objetividade, observada quando
a aluna afirmou que não utilizava alguns recursos do ciberespaço por trabalhar e ter um tempo
200
restrito para suas pesquisas e mesmo quando mencionou um aspecto negativo da leitura
hipertextual: a possibilidade de dispersão do leitor/navegador. Essa característica também foi
confirmada ao se constatar sua maior eficiência no processo de pesquisa acadêmica, embora
conhecesse com antecedência o site consultado.
No caso do Leitor G, a aluna demonstrou ser um usuário leigo, com algumas
características que a assemelham a um usuário experto. Analisando sua entrevista e processo
de navegação, percebeu-se que a mesma utiliza frequentemente as TIC e alguns dos principais
recursos do ciberespaço, revelando uma compreensão crítica do processo de leitura/navegação
e um uso mais eficiente da pesquisa acadêmica. Porém, observou-se que a aluna se concentra
principalmente em processos de busca e, embora tenha sido mais eficiente no processo de
pesquisa acadêmica, demonstrou já conhecer o site e ter acessado anteriormente o mesmo
caminho pelo qual navegou, o que explica parcialmente a velocidade desse processo de
navegação. Dessa forma, a aluna corresponde a um usuário leigo do ciberespaço, um
navegador detetive que trilha a rede com alguma experiência e utilizando disciplina e suas
inferências indutivas para escolher os caminhos mais apropriados a seguir.
Por outro lado, esta mesma aluna revelou utilizar pouco as TIC no ambiente da
Biblioteca Central por recorrer a este ambiente, sobretudo, para acessar os livros impressos. A
aluna também demonstrou objetividade ao explicar que evita explorar os links presentes nos
textos on-line por já ter acessado conteúdos com pouca relação com o conteúdo principal.
Também nesse caso, a aluna procedeu com mais agilidade e definição em sua pesquisa
acadêmica. Embora já conhecesse a fonte consultada, a mesma revelou seletividade e
eficiência na localização de uma informação potencialmente útil à sua pesquisa acadêmica,
diferente do resultado da sua pesquisa geral, que não trazia uma informação recente e não foi
motivo de uma pesquisa mais aprofundada.
Quanto ao Leitor H, a aluna também demonstrou ser um usuário leigo, com
conhecimento intermediário dos recursos da Internet e dos processos de navegação no
ciberespaço. A aluna revelou já conhecer algumas técnicas de navegação que permitem
usufruir com segurança de conteúdos de seu interesse e navegar de forma mais objetiva;
porém, ainda não pode ser considerada uma usuária experta, pois não demonstrou velocidade
acima do normal e reconhecimento instantâneo dos recursos, estando mais articulada aos
processos de “busca” (típico dos usuários leigos) do que aos processos de “elaboração”
(característico dos usuários expertos), em suas navegações.
201
Embora sendo uma aluna de um curso de especialização a aluna denominada como
Leitor H demonstrou agilidade tanto em sua pesquisa geral, quanto na pesquisa acadêmica.
Porém, demonstrou ainda confiar mais nos materiais impressos e compreender e utilizar a
leitura/navegação hipertextual com reservas. Mas as características mais evidentes em seu
processo de navegação foram a seletividade e objetividade, sobretudo no caso da pesquisa
acadêmica.
Quanto aos funcionários da UFMT que participaram da pesquisa, os Leitores I e J, os
mesmos apresentaram em comum um baixo índice de frequência na biblioteca, bem como o
baixo uso das TIC nesse ambiente. Ainda assim, tendo em vista que utilizam as TIC
regularmente em outros ambientes, bem como utilizam alguns dos principais recursos do
ciberespaço, compreendem de maneira regular o processo de leitura/navegação no ambiente
virtual e também com base nos processos de navegação observados, pode-se classificar estes
como usuários leigos ou navegadores detetives.
Uma das particularidades destes usuários/leitores é que os mesmos, embora
cadastrados como funcionários, demonstraram utilizar a Biblioteca Central para atender suas
necessidades de pesquisa acadêmica, e não suas para suprir alguma necessidade informacional
de sua área ou setor de trabalho na Instituição. Nesse ponto, os mesmos se assemelham tanto
aos alunos de graduação, quanto aos alunos de pós-graduação.
O Leitor I, uma funcionária que trabalha em uma biblioteca setorial da UFMT,
forneceu informações relevantes para análise, especialmente por trabalhar com o mesmo
sistema informatizado da Biblioteca Central, o Sistema Pergamum. A funcionária apresentou
um conhecimento de informática decorrente de sua prática profissional e cotidiana, e não de
seu interesse espontâneo de explorar o ambiente ou de realizar pesquisas acadêmicas na
Internet. Pelo contrário, o perfil da funcionária revelou que a mesma prefere utilizar os
materiais impressos em suas pesquisas acadêmicas, utilizando a Internet apenas até onde se
sente segura. No caso de outros tipos de navegação utiliza a Internet ainda com certas
reservas, não indo muito além dos recursos conhecidos, pois, como revelou, não costuma
explorar e descobrir por tentativa e erro.
Deste modo, embora não tenha um conhecimento muito amplo do ciberespaço, a
servidora demonstrou que também não é necessariamente uma usuária novata deste espaço
virtual, revelando que conhece razoavelmente recursos básicos da Internet, e que compreende
inclusive recursos mais complexos, como a navegação hipertextual, a qual evita utilizar por
falta de interesse.
202
O Leitor J também demonstrou ser um usuário leigo do ciberespaço. Como um
navegador detetive, utiliza a experiência para direcionar suas pesquisas e, diferente da outra
funcionária entrevistada, que revelou evitar ficar explorando recursos desconhecidos e se
concentrar mais nos recursos com os quais se sente segura, esta servidora revelou que
geralmente explora e aprende por tentativa e erro, o que demonstra que também se encontra
em um estágio intermediário de uso dos recursos do ciberespaço.
A referida servidora conhece e utiliza diversos recursos tecnológicos, incluindo o uso
cotidiano que faz da Internet como fonte de pesquisa para suas atividades de trabalho.
Também utiliza a Internet como recurso de pesquisa acadêmica e demonstrou compreender as
relações das informações ligadas por meio de hiperlinks, que permitem uma forma de
leitura/navegação diferenciada. Por outro lado, embora conhecesse os recursos básicos de
buscas no site Google, em sua pesquisa geral, utilizou como expressão de busca uma frase
com palavras desnecessárias, e não apenas palavras-chave. Esse é outro indicador que os
procedimentos de navegação da servidora em questão estão em um nível de “busca”, típico de
um navegador detetive, ou seja, não mais em um nível básico de “compreensão”, mas também
não ainda em um nível avançado de “elaboração” que poderia lhe conferir maior agilidade em
suas navegações.
O Leitor K é uma professora da UFMT que trabalha na Instituição há
aproximadamente quatorze anos e possui um histórico de relacionamento com a Biblioteca
Central bastante interessante, no diz respeito a este estudo. A professora foi uma assídua
frequentadora da biblioteca desde antes da sua informatização, tendo presenciado o período de
transição em que a biblioteca passou a usufruir de um sistema informatizado e a oferecer
novos serviços a seus usuários/leitores.
Porém, a professora voltou a frequentar a biblioteca apenas recentemente, sendo que
um dos motivos de tal ausência foi que esteve afastada para seu doutorado; além disso,
explicou que o uso intenso que faz do Portal de Periódicos da CAPES, bem como o fato de
utilizar seus materiais particulares para estudo, também contribuíram para este
distanciamento. Por outro lado, como foi constatado na entrevista e nos processos de
navegação, a professora acessa e utiliza com frequência as TIC e os recursos do ciberespaço,
possuindo um conhecimento avançado tanto em pesquisas gerais, quanto em pesquisas
acadêmicas/científicas, de modo que possa ser classificada como um usuário experto ou um
navegador previdente do ciberespaço.
203
Nesse sentido, o fato de ser um usuário experto do ciberespaço foi um dos motivos
que concorreu para reduzir o uso que fazia da biblioteca, sendo que nem mesmo conhecia
ainda o atual catálogo on-line da Biblioteca Central. Assim, embora possa ser considerada
uma leitora de fato imersiva, a professora ainda não conhecia os serviços on-line
disponibilizados pela biblioteca, o que pode ser explicado parcialmente pela necessidade de
divulgação destes recursos junto à comunidade acadêmica. Além disso, a professora revelou
uma característica típica dos professores, o fato de manter um acervo particular de livros que
contribui para que utilize com menos frequência as obras disponíveis na biblioteca.
Considerando a relação com o ciberespaço, quanto aos perfis destes leitores, talvez
seja sensato considerar ainda a influência da cultura tecnológica, pois, aportados em Prensky
(2001), podemos encontrar nesse ambiente, tanto Nativos, quanto Imigrantes Digitais.
Como Imigrantes Digitais, podemos destacar, portanto, os Leitores I, J e K, que
compreendem dois funcionários técnico-administrativos e uma professora que também
trabalha na Instituição e, pela idade e de acordo com os dados relatados, tiveram contato com
as tecnologias ao longo de suas vidas, diferentes daqueles que, desde crianças, estiveram em
contato com as TIC e o ciberespaço.
A influência cultural é bem perceptível no caso do Leitor I, que corresponde a uma
servidora que trabalha na Instituição e utiliza as TIC com reservas, apenas para o que é
estritamente necessário. Este leitor, assim como todos os outros, não gosta de ler diretamente
na tela do computador e, acrescenta o fato de gostar de ler, manipular, tatear e folhear os
livros no formato impresso, justificando que teve muito contato com tipo de material desde
criança no ambiente familiar, por ser filha de professora. Assim, a cultura da utilização do
livro como objeto leitura e do processo de leitura tradicional é algo bastante presente na
história e na realidade da leitora, contribuindo para delinear seu perfil: mesmo que apresente
algumas características de leitora imersiva, a mesma não deixa de ser uma leitora
essencialmente meditativa.
A título de exemplo, o aspecto da influência familiar para a formação do leitor pode
ser exemplificado da seguinte forma:
Feitas as devidas colocações, podemos imaginar um lar cujo ambiente seja rico em
estímulos que propiciem ou facilitem a formação e o amadurecimento do ser-leitor.
Aqui existem livros em abundância e diversidade, organizadamente colocados em
um espaço específico da casa (biblioteca familiar) e sempre renovados à luz das
necessidades de leitura da família. Aqui existem leitores que dedicam parte de seu
204
tempo a ler e a discutir o que foi lido com outros membros da família. Aqui o
entusiasmo pela leitura é tal que obrigatória e inevitavelmente envolve os adultos e
as crianças. Aqui os livros não são objetos de decoração, mas instrumentos de
conscientização, atualização e prazer estético. Aqui as pessoas fazem visitas
freqüentes às bibliotecas da cidade; decidem conjuntamente os livros a serem
adquiridos nas livrarias. Aqui, o valor da leitura está “amarrado” à noção de trabalho
e, portanto, ao posicionamento crítico do ser no mundo (SILVA, 1985a, p. 57).
Evidentemente, no contexto familiar, alguns desses aspectos podem se fazer
presentes, enquanto outros não, ou ainda, podem ser encontradas outras características não
comentadas pelo autor. Porém, observa-se que um ambiente familiar que valoriza e reconhece
a importância da leitura, contribui para a formação do leitor com “gosto” pela leitura,
conforme declarado pelo Leitor I.
Não procuramos nos atentar a questões específicas a fim de identificar e
compreender as características dos Nativos ou dos Imigrantes Digitais, uma vez que, este
estudo tem outro objetivo. Essa questão foi possível de se observar no decorrer da pesquisa
como uma característica complementar de cunho qualitativo, uma vez que, o aspecto
tecnológico da influência cultural também exerce influência sobre os perfis dos leitores.
Entretanto, também é natural encontrar casos que fogem a estas regras gerais, como por
exemplo, o caso da professora pesquisada (Leitor K), que, mesmo sendo de uma geração
anterior à dos demais leitores, ou seja, mesmo sendo uma Imigrante Digital, se mostrou
altamente imersiva, demonstrando ter se apropriado significativamente dos recursos
tecnológicos com os quais teve contato.
Quanto aos demais leitores, levando em conta a variação de idade, é possível
encontrar leitores mais jovens, com características de Nativos Digitais, como também, em
menor quantidade, alguns leitores com mais idade, que provavelmente podem ser
classificados como Imigrantes Digitais. Entretanto, a caracterização atribuída aos leitores
enquanto Nativos ou Imigrantes Digitais é acidental, procurando levar em conta este aspecto
cultural para não deixar de evidenciar tal influência.
Nesse sentido, também é importante ter em conta que outras variáveis podem
interferir no aspecto tecnológico da identidade cultural (condições sociais, econômicas, acesso
à educação etc.), além, é claro, da influência de outros contextos (formação familiar, religiosa,
grupo social etc.) que também podem contribuir para moldar a cultura deste leitor. Portanto,
entende-se, assim, que a característica tecnológica é um dos aspectos da identidade cultural
dos indivíduos, nesse caso de suma importância, porém não sendo único.
205
5.2.3 A Biblioteca Central e os Serviços On-Line
A finalidade das questões referentes ao uso da Biblioteca Central da UFMT era
conhecer principalmente a frequência de uso deste ambiente, características de utilização das
TIC na biblioteca e, uso dos serviços on-line da Biblioteca Central, sendo que para atender a
este último aspecto, foram empregadas as técnicas de entrevistas e também de observações
dos processos de navegação.
Um dos critérios elencados para que o usuário participasse desta etapa da pesquisa
era que apresentasse uma frequência de uso da Biblioteca Central, entretanto, não foi
especificado se deveria ser uma frequência alta, média ou mesmo baixa, pois este
direcionamento poderia descaracterizar o público da pesquisa. Por exemplo, seria uma
incoerência selecionar apenas os usuários que frequentam a biblioteca diariamente e tomar
este como sendo o público real da comunidade acadêmica universitária, enquanto que na
primeira etapa da pesquisa (Perfil Socioeconômico e Cultural dos usuários/leitores da
Biblioteca Central), constatou-se, sobretudo, uma frequência que varia entre diariamente,
semanalmente e eventualmente (indicadores mais expressivos).
Desse modo, observou-se que os Leitores A, E e G, são os leitores mais frequentes
na Biblioteca Central, enquanto que os Leitores D, F e H utilizam a biblioteca de maneira
moderada, e os Leitores B, C, I, J e K, utilizam a biblioteca muito pouco atualmente. Isso
mostra que entre os alunos entrevistados, proporcionalmente, os que utilizam a biblioteca com
mais frequência são os alunos de pós-graduação e os alunos de graduação; por outro lado,
dois alunos de graduação e todos os dois funcionários, além da professora entrevistada,
demonstraram utilizar a biblioteca com pouca frequência.
A frequência de uso é um dos indicadores das características da biblioteca e de seus
usuários/leitores. Conforme observado, praticamente a metade dos leitores utiliza a Biblioteca
Central regularmente (índice variando entre intermediário e alto), enquanto que a outra
metade utiliza pouco esse mesmo ambiente. Essa frequência foi observada não com base em
critérios previamente definidos, mas de forma aberta, embora sendo uma entrevista
estruturada. O leitor tinha a liberdade de responder este tópico conforme sua utilização
cotidiana da biblioteca, sem se encaixar em uma escala.
206
O Leitor A, por exemplo, que como vimos no Quadro 10, foi o sujeito pesquisado
que mais emprestou livros até o ano de 2011, embora nos dois últimos meses não tenha
utilizado a biblioteca com frequência, nos períodos anteriores utilizou bastante este ambiente,
praticamente todos os dias de funcionamento. Em outro extremo, o Leitor K, que teve o
menor índice de empréstimos registrados, foi, usando suas palavras, uma “assídua
frequentadora” da biblioteca, que se afastou da Instituição por conta do seu doutorado,
retornando há pouco tempo a frequentar a biblioteca.
Esses dois tipos de usuários, embora de categorias diferentes (sendo um aluno de
graduação e uma professora) são considerados leitores imersivos que também utilizam os
livros impressos da biblioteca. No caso da professora, particularmente, como utiliza muito os
recursos eletrônicos e tem materiais próprios, seu índice de uso da biblioteca é bem menor,
mesmo reconhecendo a importância desse ambiente para suas atividades de pesquisa e as
atividades de seus alunos.
Diante disso, mesmo levando em conta a possibilidade de que “a grande mudança na
área de biblioteconomia é a mudança do paradigma do acervo para o paradigma da
informação” (VALENTIM, 1995, p. 4), parece prudente considerar-se que, na Biblioteca
Central e na própria UFMT esses dois paradigmas se mostram presentes, pois um elemento
não exclui o outro.
Ao comprovar que o Leitor A, um usuário com todas as prerrogativas de um leitor
imersivo, utiliza bastante os livros impressos, bem como o Leitor K, igualmente imersivo,
também utiliza regularmente os materiais impressos (embora utilize pouco tais recursos no
ambiente da biblioteca), pode-se dizer que estes leitores não estão presos exclusivamente a
um ou outro tipo de paradigma. Ou seja, tanto o acervo quanto o acesso à informação
remotamente, de forma on-line, são elementos indispensáveis no contexto da biblioteca
universitária.
Por outro lado, uma das características da atualidade é o reconhecimento da
importância do acesso à informação, o que, a despeito de discussões paradigmáticas, é algo
evidente na biblioteca contemporânea.
A nova biblioteca será provavelmente virtual, porque a informação estará em todos
os lugares e poderá ser acessada através de redes de telecomunicação de qualquer
lugar, por qualquer pessoa, além disso, a obtenção da informação -- um problema
nos dias atuais --, será fácil e rápida, já que a tecnologia óptica tem tido evoluções
fantásticas na capacidade de armazenamento de texto, imagem, som etc.
(VALENTIM, 1995, p. 4).
207
As possibilidades oferecidas por esse novo tipo de biblioteca são uma realidade para
os leitores pesquisados, conforme observado nos processos de navegação. Tendo como base o
recorte estabelecido, embora o uso das TIC seja maior em outros ambientes do que na
Biblioteca Central e mesmo que nem todos os leitores pesquisados utilizem amplamente os
serviços eletrônicos da biblioteca, os mesmos demonstraram ser leitores imersivos que sabem
utilizar, em menor ou maior grau, os recursos do ciberespaço, tanto para suas pesquisas
básicas, quanto para suas pesquisas acadêmicas/científicas.
Assim, quanto ao uso das TIC na Biblioteca Central, com exceção dos Leitores A e B
(que utilizam muito) e do Leitor D (que utiliza de forma moderada), todos os demais
usuários/leitores utilizam muito pouco estes recursos tecnológicos.
O uso dos recursos on-line da Biblioteca Central, que foi observado tanto a partir das
entrevistas, quanto por meio de um processo de navegação realizado pelos próprios leitores,
também forneceu dados relevantes para reflexão. É importante enfatizar que nenhum dos
usuários pesquisados demonstrou utilizar amplamente estes recursos. Apenas os Leitores A,
D, E, F, H e I demonstraram utilizar, de forma moderada, estes recursos em suas navegações e
buscas on-line. Os Leitores B, C, G e J utilizam muito pouco estes recursos, enquanto que o
Leitor K (professora), nunca utilizou os recursos on-line da Biblioteca Central (dados
apresentados de maneira mais condensada no Quadro 9).
Para início de análise, é importante destacar que as entrevistas coincidiram com os
processos de observações realizadas nesta etapa, ou seja, uma vez que cada leitor respondeu
que utilizava de uma ou outra forma (ou mesmo que não utilizava) os recursos on-line da
Biblioteca Central, o último processo de busca, que consistiu justamente na exploração prática
de alguns destes recursos, serviu para comprovar os depoimentos dos usuários/leitores.
Assim, esta constatação permite lançar uma questão: com que finalidade estes
usuários/leitores procuram a Biblioteca Central da UFMT? Esta questão foi explorada na
primeira etapa da pesquisa, quando observamos que a pesquisa acadêmica é a principal
finalidade de uso da biblioteca (64%), conforme descrito na Figura 15. Porém, a pesquisa
acadêmica em si não indica os recursos envolvidos, ou seja, o aluno pode pesquisar nos livros
ou mesmo na Internet.
Constatamos, entretanto, que os livros impressos são os principais produtos da
Biblioteca Central (Figura 16), que existe uma baixa utilização desse ambiente para acesso a
Internet (Figura 15) e que, embora a maioria dos alunos utilize computadores regularmente
208
(Figura 18), os mesmos utilizam muito pouco estes recursos no ambiente da biblioteca (Figura
17). Estas questões vieram a ser confirmadas por meio das entrevistas, uma vez que
observamos que os usuários/leitores utilizam os computadores e apresentaram um domínio,
em geral, razoável dos procedimentos de navegação no ciberespaço, em contraste com a
pouca utilização das TIC na biblioteca e mesmo a baixa utilização dos serviços eletrônicos
oferecidos pela Biblioteca Central.
Isso reforça, mais uma vez, a reflexão de que no contexto da biblioteca universitária,
o acervo físico não é menos importante que o acesso à informação em outros suportes ou
meios, como por exemplo, o meio eletrônico. Conforme argumentado em outra ocasião, o
objetivo, a ocasião e a própria missão da biblioteca parecem concorrer para determinar o tipo
de uso que os leitores fazem da biblioteca, bem como seus próprios perfis.
Com relação à escala de intensidade apresentada no Quadro 9, convém ressaltar que
foram considerados em uma escala intermediária (I) os leitores que conseguiram localizar e
utilizar razoavelmente os recursos de busca no catálogo on-line (seja por título, autor ou
assunto), de modo que compreendessem e localizassem sem maiores dificuldades o material
pesquisado (se o mesmo constasse no acervo), além de demonstrar conhecimento do recurso
de renovação dos empréstimos on-line, pois considera-se como básico apenas a realização de
uma pesquisa com sucesso no catálogo on-line. Os alunos que apenas conseguiam consultar o
catálogo on-line, demonstrando dificuldade e desconhecimento de qualquer outro recurso,
inclusive da localização do site da Biblioteca Central (que aparece na página inicial do site da
UFMT), foram considerados como leitores com baixo índice de utilização dos recursos online.
Por fim, um alto índice de utilização significaria que o leitor acessou o catálogo online, realizou um dos procedimentos de busca com sucesso e demonstrou conhecimento das
reservas e renovações on-line, bem como de alguns dos recursos da área de acesso restrito.
Porém, nenhum dos leitores demonstrou fazer tal utilização, sendo que a professora
entrevistada inclusive desconhecia e nunca havia utilizado quaisquer destes recursos.
Observando de uma maneira mais integrada, os Leitores B, C, J e K, foram os que
apresentaram, individualmente, a menor frequência de uso da Biblioteca Central, incluindo o
uso das TIC nesse ambiente e o uso dos recursos on-line. Isso permite considerar que, mesmo
que dois dos cinco alunos entrevistados utilizem pouco os recursos da Biblioteca Central,
entre os professores e servidores o índice de utilização pareceu ser ainda bem mais limitado.
209
O Leitor I, também apresentou uma baixa frequência de uso da Biblioteca Central e
das TIC nesse ambiente, entretanto, contrastando com um conhecimento intermediário dos
serviços on-line da biblioteca. Porém, por se tratar de uma funcionária que trabalha em uma
biblioteca setorial e utiliza nas suas atividades cotidianas o mesmo sistema da Biblioteca
Central (Sistema Pergamum), seu conhecimento dos recursos on-line bem como as demais
características de frequência e uso da Biblioteca Central devem ser considerados com as
devidas reservas, tendo em vista que não decorrem de sua relação enquanto usuário/leitor da
biblioteca, mas do fato de ser uma funcionária que trabalha com estes recursos eletrônicos em
outro setor.
Quanto aos Leitores A, D, E (alunos de graduação), F e H (alunos de pós-graduação),
embora os mesmos apresentem baixa utilização das TIC na Biblioteca Central, de modo geral,
estes apresentaram um uso moderado deste ambiente, uma vez que demonstraram índices de
frequência da biblioteca e de uso dos recursos on-line variando, na escala, entre “Alto” e
“Intermediário”. Por outro lado, mesmo que o Leitor G utilize a Biblioteca com grande
frequência, o mesmo utiliza pouco as TIC nesse ambiente, como também utiliza muito pouco
os serviços on-line da Biblioteca Central.
210
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os objetivos do presente estudo, procuramos analisar as principais
características dos leitores e dos tipos de leitura desenvolvidos na Biblioteca Central da
UFMT, sob a influência das Tecnologias da Informação e Comunicação e demais recursos do
ciberespaço. Nesse sentido, foi empreendido um estudo exploratório centrado em uma
abordagem de natureza qualitativa e aportado em quatro técnicas de coleta de dados
(observação, questionários, entrevistas e observação participante), que abrangeram duas fases
principais.
Como toda investigação que preza pela coerência científica deve estar articulada
metodologicamente de forma razoável, buscamos, no percurso deste trabalho, nos questionar
se as discussões que surgiam caminhavam em direção ao objetivo do estudo. Ou seja, as
diversas questões discutidas conduziam às reflexões sobre a leitura, os leitores e as TIC no
contexto da Biblioteca Central da UFMT?
Nesse sentido, consideramos produtivo o desenvolvimento deste percurso, haja visto
que o mesmo permitiu elucidar algumas questões problematizadas, as quais trataremos com
mais detalhes nessa ocasião.
A fundamentação teórica procurou situar a Biblioteca Central da UFMT no contexto
das diversas transformações que conceberam a biblioteca universitária contemporânea, com
seus novos produtos e serviços de informação. Desse modo, inicialmente, procedemos ao
estudo da literatura especializada que tratava da história das bibliotecas, do livro e outros
registros de conhecimentos, bem como dos produtos e serviços de informação, da leitura, dos
leitores e das TIC, sob uma perspectiva histórica.
Constatamos que as bibliotecas são instituições milenares que sofreram diversas
transformações ao longo dos tempos, sendo que, entre as mais significativas, podemos
destacar:
Popularização – em estreita relação com a democratização do acesso ao
conhecimento, a biblioteca se transformou em uma instituição popular e
relativamente democrática, bem diferente de sua natureza original.
211
Informatização – embora tenham chegado com atraso nas bibliotecas, as TIC têm
se revelado um importante recurso de informação e comunicação essencial para as
bibliotecas universitárias;
Virtualização da informação – com o surgimento das bibliotecas digitais e
virtuais, bancos e bases de dados, entre outros recursos similares, a transformação
dos suportes tradicionais de informação e das novas formas de comunicação
altamente dinâmicas revelaram possibilidades inovadoras de multiplicação do
conhecimento humano à frente do conceito de biblioteca tradicional;
Possível mudança paradigmática – a perspectiva de mudança do foco centrado
no acervo para o foco centrado no acesso à informação é uma questão diretamente
relacionada aos usuários/leitores, às TIC e outras transformações socioculturais.
Por outro lado, os usuários/leitores também não são mais o mesmo público passivo
típico das bibliotecas antigas. Pelo contrário, na atual Sociedade da Informação, a biblioteca é
“uma” das muitas fontes de informação disponíveis às pessoas, embora não se deixe de levar
em conta sua importância fundamental para a leitura e o acesso ao conhecimento.
Enquanto uma das fontes de informação que se oferecem ao leitor, provavelmente
não é exagero propor que as bibliotecas compreendem um dos recursos que competem pela
atenção desse sujeito, com seus acervos, produtos e serviços hibridizados que denotam um
misto entre o tradicional e o contemporâneo.
Nesse sentido, com base nos teóricos revisados, observou-se que, de modo geral, os
leitores, bem como os recursos de leitura, também atravessaram algumas transformações, as
quais foram resumidas a seguir, a fim de evitar separar esses dois elementos:
Transformação dos objetos de leitura – das inscrições rupestres e tabletes de
argila aos papiros, pergaminhos, códices, aos livros e demais recursos, até chegar
aos ambientes virtuais, os objetos de leitura sofreram transformações
significativas;
Transformações das formas de leitura – embora atualmente o processo de
leitura tradicional coexista com o processo de leitura no ambiente virtual, entre
essas duas formas se localizam várias transformações que repercutiram nos
212
suportes, nas práticas, nos indivíduos e nas instituições, entre outros aspectos que
poderiam ser destacados;
Transformações da concepção 53 de leitor – dos leitores tradicionais, aos
modernos e fragmentados até chegar aos leitores virtuais, situados em um
momento histórico em que convivem juntamente os chamados imigrantes e
nativos digitais, percebe-se uma modificação marcante na figura do leitor. Essa
alteração aparenta um aspecto cumulativo, pois uma forma de leitura não exclui
outra, porém, os leitores virtuais correspondem ao perfil mais sintonizado ao
ambiente tecnológico e informacional contemporâneo.
Estas transformações não estão limitadas a contextos fechados, mas envolvem
aspectos amplos, como a cultura, a economia, a sociedade e a tecnologia, entre outros. Assim
como a cultura influencia a tecnologia, e vice versa, as inovações ocorrem colocando em
contato os diversos aspectos da tessitura humana, ou seja, uma transformação tecnológica tem
implicações que abrangem a cultura, a economia e a sociedade; além disso, parece haver uma
reciprocidade ou, ao menos uma relação no sentido de que as transformações, embora se
originem e compreendam um destes aspectos (como por exemplo, o tecnológico), também
possam influenciar e serem influenciadas por outros contextos (como por exemplo, o contexto
social).
Em face disso, ao conceber que atualmente existe um tipo de leitor diferente do que
houve em outros momentos, compreende-se que se trata de um produto dessa forma antiga de
leitor em conjunção com os diversos tipos de transformações a que o mesmo esteve sujeito ao
longo dos tempos. Embora o leitor seja uma figura individual, o mesmo incorpora traços de
uma coletividade cumulativa e inovadora, resultante dos diversos tipos de leitor que o
antecederam e que lhe emprestaram suas características e aspectos, para que fossem
absorvidas e transformadas em novas formas de leitura.
Como atualmente o leitor se encontra em um ambiente em que as Tecnologias da
Informação e Comunicação estão significativamente presentes, embora sua formação valorize
aspectos da cultura escrita e impressa, a cultura tecnológica exerce influência marcante na
delimitação de sua personalidade; por outro lado, torna-se essencial ponderar que também
53
Entendemos por concepção, uma noção, uma ideia, um conceito, ou seja, a compreensão que se tem acerca de
algo ou, nesse caso específico, de alguém (o leitor).
213
existem casos em que os materiais impressos e a forma de leitura tradicional sejam,
independente do contexto, os recursos preferidos por determinados leitores.
Um dos aspectos comuns e contextualizado, entre as transformações envolvendo os
leitores/processos de leitura e as bibliotecas, diz respeito às TIC. Especificamente quanto à
biblioteca universitária, os aspectos destacados anteriormente (popularização, informatização,
virtualização da informação e possível mudança paradigmática), são indícios de como este
ambiente se modificou ao longo do tempo; porém, a informatização, com a incorporação das
TIC e das redes eletrônicas de informação, possibilitou uma popularização ainda maior dos
recursos informacionais, contribuindo para que as bibliotecas atingissem um nível de
organização e funcionamento diferenciado.
Se até a segunda metade do século passado os grandes catálogos de ficha
compreendiam uma das tecnologias fundamentais para as bibliotecas, atualmente, o acervo
pode ser consultado remotamente com riqueza de detalhes de forma on-line. Comparações
semelhantes podem ser feitas com relação aos periódicos impressos e aos periódicos digitais,
bem como entre outros recursos físicos de informação e os bancos e bases de dados digitais.
Nesse sentido, nas bibliotecas as TIC e as redes eletrônicas de informação
representaram avanços tanto na organização administrativa, com a informatização dos
serviços e processos técnicos e novas possibilidades de gestão da informação, quanto no que
se refere à própria informação, com a digitalização da informação, com o surgimento das
bases e bancos de dados on-line, bibliotecas digitais, periódicos eletrônicos, entre outros.
Essas duas frentes, por sua vez, representaram grandes avanços para os próprios
usuários/leitores e, como estes correspondem à razão de ser das bibliotecas, também
influenciaram a incorporação destes recursos neste ambiente, uma vez que, se as TIC já
estavam presentes em vários outros setores, tornava-se essencial que as bibliotecas e,
consequentemente seus leitores, tivessem a possibilidade de usufruir dessas inovações.
Assim, essas transformações foram sentidas imediatamente pelos leitores, pois não
há como considerar a biblioteca sem levar em conta seus usuários/leitores. No caso dos
leitores e dos processos de leitura, a influência das TIC também foi fundamental para a
transformação dos seus “objetos” e formas de leitura, bem como de sua identidade enquanto
leitor.
214
O leitor meditativo antigo, atualmente convive com outros tipos de leitor, mas na
atualidade o ciberespaço e as TIC exercem grande influência sobre as formas com que se lê, e
o que se lê.
Outros fatores também são importantes, como o ambiente, a situação, os objetivos e
a cultura dos leitores. Atualmente existem leitores que não tiveram acesso às TIC desde sua
infância e são acostumados à cultura impressa, aos livros e revistas tradicionais, podendo ser
internautas ocasionais; por outro lado, existem leitores que, desde cedo se habituam a lidar
com computadores e a Internet, com jogos on-line, mídias digitais, celulares entre outras
tecnologias dessa natureza, alguns dos quais já são incorporados aos currículos escolares.
Essa miscigenação de tipos de leitores é bastante comum e caracteriza a cultura dos
indivíduos e influencia suas preferências e gostos por determinadas formas de leitura.
Existem outros casos em que o próprio ambiente e os objetivos determinam o tipo de
leitura, estratégias e recursos mobilizados. Como observamos em nosso estudo, existem
usuários que, mesmo tendo um perfil de leitores virtuais, utilizam a biblioteca para consultar
os livros e materiais impressos, uma vez que alguns recursos on-line ele pode acessar a partir
de outros ambientes.
Não se trata de deixar de ser um leitor imersivo/virtual, mas de se adaptar à situação
que requer a utilização de livros impressos e a leitura sequencial. A maioria dos leitores que
procuram a biblioteca tem como “objetivo” acessar os livros e outros materiais impressos para
suas pesquisas acadêmicas e, esse ambiente em que as tecnologias não são mais novidades,
tem nos livros e materiais impressos seus principais recursos de leitura.
Assim, o perfil do leitor contemporâneo é semelhante ao de um ator: se for um
imigrante ou nativo digital, pode apresentar uma ou outra característica mais preponderante,
porém, o mesmo também pode proceder de formas diferentes dependendo da situação, dos
objetivos e do ambiente de leitura.
O entendimento de que o perfil do leitor imersivo/virtual é o mais comum, decorre da
própria cultura tecnológica atual, mas leva em conta que, na atualidade não existe
exclusivamente um tipo de leitor, pois um mesmo leitor pode, ao mesmo tempo, desenvolver
formas de leitura substancialmente diferentes. E reforçando o que foi dito anteriormente, as
TIC parecem ser o elemento de influência mais marcante e comum entre as transformações
por que passaram as bibliotecas, os leitores e os processos de leitura.
215
Após realizarmos um estudo teórico que nos permitisse lançar estas considerações,
chegamos à Biblioteca Central da UFMT, onde contextualizamos nossa investigação. Esta
biblioteca é um ambiente importante para o apoio às atividades de ensino, pesquisa e extensão
desenvolvidas pela Instituição, e vem passando por transformações envolvendo as TIC e o
ciberespaço desde o início da década de 1990, e, com mais força ainda a partir da virada do
século, quando além dos processos técnicos, outros recursos se tornaram acessíveis, como por
exemplo, o Portal de Periódicos da CAPES, a Sala de acesso à Internet, a rede de Internet sem
fio etc.
Assim, investigamos este ambiente conscientes de que o leitor, tem à sua disposição
uma variedade de recursos informacionais e tecnológicos, como também encontra na
biblioteca os tradicionais recursos de informação, como os livros impressos, obras de
referências, periódicos e trabalhos acadêmicos, entre outros. Interessou-nos, portanto,
conhecer as principais características dos leitores e dos tipos de leitura desenvolvidos neste
local, considerando que, em decorrência das TIC, o mesmo mescla o tradicional e o digital.
A primeira fase da pesquisa (Perfil Socioeconômico e Cultural) visava apresentar um
“perfil geral” dos usuários da biblioteca, incluindo ainda algumas questões qualitativas,
analisadas anteriormente, que permitissem estabelecer determinados critérios para direcionar
a investigação em um segundo momento, que consistia de entrevistas/observações.
Embora o instrumento de coleta de dados tenha sido objetivo, não houve necessidade
de aprofundamento em outros aspectos desse perfil, sendo selecionadas para análise apenas as
questões que forneceram elementos suficientes para o desenvolvimento do estudo (questões
qualitativas).
Embora os resultados obtidos nesse momento ainda não permitissem pontuar sobre
questões mais amplas, este perfil socioeconômico e cultural contribuiu para conhecer mais de
perto o público leitor da Biblioteca Central sob determinados aspectos que podem ser
considerados indispensáveis e, cujas observações mais significativas foram as seguintes:
Os leitores da Biblioteca Central correspondem a um público diversificado e em
movimento, dinâmico (em diversos estágios de formação acadêmica e podendo
ser enquadrados em diferentes categorias), características que também
influenciam o uso que fazem da biblioteca;
216
A maioria dos usuários/leitores da Biblioteca Central é de alunos de cursos de
graduação da UFMT;
A maioria dos usuários/leitores que frequentam a Biblioteca Central está
devidamente cadastrada no sistema da biblioteca (Pergamum);
Constatou-se uma quantidade significativa de visitantes e, igualmente, de
usuários/leitores que utilizam a biblioteca como ambiente para estudo para
concursos e similares; porém, a pesquisa acadêmica corresponde à maior razão de
uso da biblioteca;
A maioria dos usuários/leitores utiliza a Biblioteca Central pelo menos uma vez
ao dia ou uma vez na semana (principalmente);
Embora a maioria dos usuários/leitores utilize microcomputadores e a Internet
como o principal meio de comunicação, constatou-se um baixo índice de uso da
Internet e dos computadores da Biblioteca Central; também se observou um baixo
índice de uso dos serviços informatizados da biblioteca;
De modo geral, os serviços informatizados oferecidos pela biblioteca (renovação
eletrônica, acesso a bases de dados, catálogos eletrônicos etc.) parecem ser
recursos de apoio às pesquisas acadêmicas, e não os objetos principais da
pesquisa;
É possível que uma grande parte dos usuários sejam leitores imersivos em outros
ambientes, embora na Biblioteca Central atuem principalmente como leitores
meditativos;
Os livros são os produtos da Biblioteca Central mais utilizados, mantendo ampla
vantagem sobre os demais;
A consulta local, a utilização do ambiente para estudo com material próprio e o
serviço de circulação (empréstimo, devolução e renovação de livros), são os
serviços mais procurados pelos usuários/leitores.
A Internet é o meio de comunicação mais utilizado pelos usuários/leitores;
O e-mail, os sites de pesquisa acadêmica/científica e as redes sociais são os
recursos da Internet mais utilizados pelos usuários/leitores.
217
Estas observações apresentaram alguns pontos importantes e serviram de base para
alguns questionamentos que foram mais bem discutidos após as entrevistas e observações.
Porém, além de chegar a pontos importantes para o direcionamento da pesquisa na etapa
subsequente, estes resultados obtidos também se mostraram relevantes fontes de reflexões e
considerações que foram tecidas desde a análise de dados e foram resumidas nos tópicos
elencados anteriormente.
A segunda etapa da pesquisa, as entrevistas e observações, estavam inicialmente
previstas para ocorrer na primeira quinzena de novembro de 2011, porém, em função da greve
dos servidores técnico-administrativos e dos docentes da UFMT, que durou aproximadamente
três meses e alterou um pouco o ritmo de funcionamento da Biblioteca Central, esta fase se
estendeu até dezembro.
Com relação aos tipos de leitores abordados por Santaella (2007), todos os usuários
pesquisados podem ser considerados leitores imersivos, em menor ou maior grau, ou seja,
embora na Biblioteca Central a maioria dos leitores utilizem os produtos físicos e os serviços
tradicionais, por outro lado também apresentam características típicas de leitores imersivos, o
que demonstra a importância do contexto, nesse caso, a biblioteca, sobre os objetivos de
leitura e pesquisa.
Como nos pautamos em Santaella (2007) a fim de desenvolver este estudo
compreendendo a existência de diferentes tipos de leitores, procuramos apresentar no quadro
seguinte a relação entre os sujeitos pesquisados, os tipos de leitores (meditativos, moventes e
imersivos), os tipos de usuários do ciberespaço e, os tipos de navegadores abordados pela
referida pesquisadora.
218
IDENTIF.
DO
LEITOR
TIPO DE
USUÁRIO
NAVEGADOR/
INTERNAUTA
TIPO DE
LEITOR
USUÁRIO DO
CIBERESPAÇO
IMERSIVO
EXPERTO
PREVIDENTE
(Influência dos tipos de
raciocínio: abdutivo,
indutivo e dedutivo)
Leitor A
Aluno de Graduação
Leitor B
Aluno de Graduação
IMERSIVO
LEIGO
DETETIVE
Leitor C
Aluno de Graduação
MEDITATIVO IMERSIVO
LEIGO
DETETIVE
Leitor D
Aluno de Graduação
IMERSIVO
EXPERTO
PREVIDENTE
Leitor E
Aluno de Graduação
LEIGO
DETETIVE
Leitor F
Aluno de Pós-Graduação
LEIGO
DETETIVE
Leitor G
Aluno de Pós-Graduação
LEIGO
DETETIVE
Leitor H
Aluno de Pós-Graduação
LEIGO
DETETIVE
Leitor I
Funcionário
LEIGO
DETETIVE
Leitor J
Funcionário
LEIGO
DETETIVE
Leitor K
Professor
EXPERTO
PREVIDENTE
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
MEDITATIVO IMERSIVO
Quadro 11 - Características do usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT.
Concluímos ainda que os leitores imersivos que utilizam a Biblioteca Central da
UFMT devem ser compreendidos com atenção, especialmente quanto a duas questões:
1) O fato de serem leitores imersivos não significa que prefiram utilizar apenas o
ciberespaço, em detrimento dos livros e demais materiais impressos;
2) O fato de serem leitores imersivos não significa que conhecem, dominam e
utilizam amplamente os serviços eletrônicos da Biblioteca Central da UFMT.
Em primeiro lugar, a utilização dos serviços on-line da Biblioteca Central também é
afetada pela necessidade de maior divulgação destes recursos junto à comunidade acadêmica
universitária. Por outro lado, o “interesse” que dita as preferências de navegação dos
usuários/leitores no ciberespaço e influencia os perfis destes leitores imersivos, também
concorre para que os mesmos utilizem apenas os recursos da Biblioteca Central que mais lhes
convém.
219
Esta ideia ganha força justamente nos depoimentos dos usuários/leitores que
desconheciam muitos dos serviços on-line da Biblioteca Central, mas sabiam realizar
pesquisas básicas, a fim de solucionar suas necessidades imediatas de localizar os livros de
que precisavam. Com isso, não iam muito além dos procedimentos básicos, uma vez que já
tinham satisfeito suas necessidades, seus interesses principais de pesquisa.
Essa característica também varia de acordo com os tipos de usuários, pois embora
tanto os alunos de graduação quanto de pós-graduação tenham demonstrado conhecer pouco
os serviços on-line da biblioteca, os alunos de graduação possuem um tempo maior para
utilizar estes recursos, uma vez que seus cursos têm uma duração de no mínimo quatro anos,
enquanto que os cursos de pós-graduação varia, na maioria de um ano e meio (especialização)
a dois anos (mestrado) ou, com menos frequência, a quatro anos (doutorado). Outro fator a
ponderar, é que, em geral, os alunos de pós-graduação se revelaram mais objetivos em seus
processos de leitura e pesquisa, como usuários/leitores que utilizam a biblioteca e o próprio
ciberespaço de modo mais direcionado e crítico.
A maioria dos alunos de graduação demonstrou utilizar as TIC em outros ambientes,
razão pela qual, ao chegar à Biblioteca Central, geralmente já conhecem e utilizam as
tecnologias da informação e o ciberespaço. Alguns inclusive utilizam estes recursos na
própria biblioteca, entretanto, embora apresentem relativa facilidade para desenvolver suas
pesquisas gerais e acadêmicas de forma on-line, utilizam pouco os serviços eletrônicos da
Biblioteca Central.
Constatou-se assim, que nesse ambiente, de fato a leitura imersiva está sujeita aos
objetivos de leitura pretendida. Como exemplo, podemos destacar o Leitor K, que
corresponde a uma professora com grande domínio dos recursos das TIC e da Internet, sendo
que, porém, desconhecia quase que completamente os serviços eletrônicos da Biblioteca
Central. A professora demonstrou que acessa bastante os bancos e bases de dados, e conhece
razoavelmente estes serviços, como uma leitora imersiva, mas que não acessa estes serviços
na biblioteca, pois já o faz em sua casa ou na sua sala particular, no Instituto em que leciona.
Embora tenha um histórico que comprove seu envolvimento com a biblioteca e seja
uma leitora meditativa e imersiva, a professora utilizava apenas os recursos conhecidos e
estava voltando a utilizar a biblioteca em função da graduação de seus alunos. Outra questão
que interferiu no uso que fazia da biblioteca foi o desconhecimento de alguns recursos,
sobretudo os serviços on-line, razão pela qual nunca os utilizou na prática. Isso também atesta
a necessidade de realização de ações de marketing dos produtos e serviços da biblioteca, a fim
220
de divulgar fora das paredes da biblioteca as possibilidades de pesquisa que este ambiente
oferece.
Com relação à observação participante, o fato de o pesquisador ser um aluno de pósgraduação com alguns conhecimentos de informática também contribuiu para facilitar o
desenvolvimento desta fase da pesquisa, uma vez que permitiu um comportamento típico de
um membro do grupo avaliado, o que era muito válido ao reconhecer instantaneamente
determinadas dificuldades dos leitores, suas preferências e procurar obter depoimentos que se
aproximassem ao máximo possível do real.
Embora os leitores tenham oscilado em determinados momentos entre meditativos e
imersivos, não se procurou discutir em que nível são mais ou menos meditativos ou
imersivos, uma vez que não era interesse da presente pesquisa tal detalhamento, e sim
conhecer estes usuários/leitores nos processos de suas relações de leitura e das relações de uso
que fazem da Biblioteca Central.
Desse modo, tendo em vista a metodologia adotada para dar respostas ao objetivo
deste estudo, concluímos que os usuários da Biblioteca Central apresentam perfis que variam
de leitores meditativos a leitores imersivos, conforme apresentado no quadro 11.
Uma vez que vivemos em uma sociedade tecnológica e informacional,
provavelmente se cogitasse que estes usuários fossem considerados, sobretudo, leitores
imersivos; porém, o fato de serem usuários de uma biblioteca universitária que, como
observamos na primeira fase da pesquisa, tem como produtos mais utilizados os livros (74%),
e como serviços mais utilizados, a consulta local às publicações impressas (19%), a utilização
do ambiente para estudo (19%) e, o serviço de circulação (18%), que compreende os
empréstimos, devolução e renovação de empréstimos de materiais bibliográficos, parece
prudente considerar que o ambiente, a situação e os objetivos de pesquisa, bem como a cultura
desses leitores contribuem para que sejam considerados, em sua maioria, leitores meditativos
e imersivos.
Além disso, há outra questão que convém reforçar, a fim de evidenciar um aspecto
contextual indispensável. Na biblioteca universitária, as atividades de leitura geralmente são
condicionadas pelas necessidades de pesquisa acadêmica (conforme comprovado pela
pesquisa), o que torna essa leitura dinâmica e fragmentada. Na universidade é comum a
utilização de cópias de trechos de livros e mesmo os empréstimos de livros técnicos nas
bibliotecas universitárias se prestam, na maioria das vezes, a um tipo de leitura seletiva,
221
dirigida aos conteúdos exigidos pelos diversos cursos. Essa mesma característica também está
presente na pesquisa no ciberespaço, que mobiliza uma leitura seletiva e altamente
fragmentada, embora de outra forma; assim, por envolver os diversos recursos hipermidiáticos
do ambiente virtual, a navegação no ciberespaço proporciona um tipo de leitura mais
dinâmica, rápida e eficiente (leitura imersiva) e também relacionada ao contexto maior que a
exige (no caso de um curso universitário) e que a apoia ou subsidia (no caso da biblioteca
universitária), sendo este último no qual detivemos nosso enfoque.
Dessa forma, como compreender estes indivíduos desvinculados deste contexto que
os torna alunos, professores e funcionários, que por sua vez se tornam usuários/leitores e,
portanto, sujeitos da pesquisa? Embora algumas pessoas utilizem a biblioteca como recurso de
lazer, a maioria a utiliza com objetivos acadêmicos bem definidos, ou seja, consultar um livro
para estudar, pesquisar um assunto para uma disciplina, emprestar uma obra etc. A pesquisa
no ciberespaço também está relacionada a esta influência acadêmica, como comprova o
aumento dos acessos ao Portal de Periódicos da CAPES (Quadro 6 e Figura 10), bem como os
próprios depoimentos coletados dos usuários/leitores nas entrevistas e constatados na prática
por meio dos processos de navegação. Mesmo sendo evidente esta questão, convém, portanto,
reforçar que a influência institucional é um fator significativo na identidade do leitor.
Embora considerando as exceções e reconhecendo o variado uso do ciberespaço para
comunicação e socialização (muitas vezes de forma simultânea às atividades diárias, ao
trabalho etc.), geralmente quem pretende apenas acessar a Internet e navegar sem
compromisso procura uma lan-house ou faz isso de sua própria casa, quando tem acesso à
Internet, e não necessariamente procura uma biblioteca.
Assim, não parece suficiente analisar as características dos leitores da biblioteca
universitária sem estar atento aos aspectos contextuais em que os mesmos se inserem e se
tornam sujeitos que nos interessa observar. E é nesse sentido que o contexto universitário e,
portanto, a instituição “biblioteca universitária” e sua missão, também influenciam
significativamente as características dos leitores, independente do fato de serem meditativos
ou leitores imersivos.
Estas questões também demonstram uma integração das partes da pesquisa com o
todo, pois embora a primeira etapa tenha envolvido principalmente dados quantitativos,
buscamos explorar os aspectos qualitativos relacionados ao perfil dos leitores (incluindo
detalhes inerentes ao contexto) para posteriores análises, pois reconhecemos que, por si só,
algumas informações ainda eram insuficientes para permitir lançar outras reflexões.
222
Exemplos dessas reflexões foram apresentados no capítulo 5.2.1, que desenvolve as
análises das entrevistas/observações no que se refere aos processos de leitura, sendo que uma
das constatações importantes a que se chegou foi a unanimidade de que os usuários/leitores
pesquisados, mesmo podendo ser considerados leitores imersivos, por vários motivos
significativos, preferem ler livros e materiais impressos a ler diretamente na tela do
computador.
Espera-se que esta pesquisa renda futuros desdobramentos, uma vez que a biblioteca
universitária, as TIC, e os leitores ainda oferecem vários aspectos importantes para posteriores
investigações, como por exemplo, o estudo dos usuários/leitores enquanto Nativos Digitais ou
Imigrantes Digitais, enfoque que pode ser mais bem aprofundado. A compreensão dos
sujeitos enquanto Nativos ou Imigrantes Digitais demanda que se observe a história destes
indivíduos, suas características familiares, econômicas e culturais, sua faixa etária, bem como
o acesso e uso das tecnologias, o que também foge um pouco do ambiente da biblioteca.
Em outra ocasião, foi discutido sobre a portabilidade dos instrumentos tecnológicos,
o que faz com que o aluno, por exemplo, possa renovar um livro emprestado pela Internet a
partir de seu aparelho celular; ou seja, utiliza a biblioteca sem se dirigir a ela. Igualmente, este
aluno pode realizar uma miríade de pesquisas sem utilizar quaisquer serviços da biblioteca,
diante da “expansão do conceito de biblioteca”, potencializado pelas TIC, que faz com que o
acesso à informação rompa com as limitações impostas pelas tradicionais barreiras físicas,
geográficas e temporais.
Estes são exemplos de alguns estudos que podem ser realizados a partir dos
usuários/leitores da Biblioteca Central, cujos aspectos se relacionam a esta pesquisa em
alguns pontos. Porém, embora seja importante que esta investigação tenha posteriores
desdobramentos, cabe destacar que, estudos com outros direcionamentos também são
necessários para compreender melhor este contexto e seus principais sujeitos, os
usuários/leitores.
Enfim, acredita-se que esta investigação, seguindo seus objetivos, apresentou
respostas importantes aos questionamentos levantados, as quais colaboram para o
conhecimento do perfil e características dos usuários enquanto leitores da Biblioteca Central
da UFMT, razão pela qual, contribui para o desenvolvimento dos produtos e serviços
oferecidos pela biblioteca e para as formas com que se olha para estes usuários/leitores.
223
Representa ainda um conhecimento importante para a Instituição, pois existem
poucos estudos referentes às suas bibliotecas e, especificamente à Biblioteca Central da
UFMT, que atravessa um momento de inovação, com seus diversos produtos e serviços
voltados para seus usuários/leitores, enquanto tem uma importante função relacionada ao
objetivo da Universidade, qual seja promover o ensino, a pesquisa e a extensão nos diferentes
ramos do conhecimento, bem como a divulgação científica, técnica e cultural.
Como todo conhecimento científico, não se postula ter atingido uma “verdade”, mas
uma aproximação da realidade, com base na forma com que se empreendeu a pesquisa e nos
recortes delimitados e explorados. Dito de outro modo, cada pesquisa representa um “olhar”
sobre a realidade e, portanto, dependendo da abordagem, este olhar pode ser diferenciado,
trazendo à tona questões que, sob outros ângulos, provavelmente não apareceriam.
Nesse sentido, torna-se indispensável considerar que este estudo representa um
“olhar” sobre os leitores da Biblioteca Central que poderá ser ampliado ou tomar outras
dimensões conforme novas investigações nesse sentido sejam empreendidas, uma vez que o
conhecimento é dinâmico e multidisciplinar. Espera-se, assim, que estes resultados não se
estagnem, mas que, ao contrário, se ampliem e contribuam de fato para melhorias referentes à
Biblioteca Central da UFMT, o que pode repercutir na Instituição como um todo.
224
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234
APÊNDICE A - Perfil Socioeconômico e Cultural dos Usuários/Leitores da
Biblioteca Central da UFMT
235
Cuiabá, 28 de março de 2011.
Prezado Usuário/Leitor,
Sou bibliotecário e aluno do curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal de
Mato Grosso, na Linha de Pesquisa “Organização Escolar, Formação e Práticas Pedagógicas” e no
Grupo de Pesquisa “Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação”. Minha pesquisa
envolve a investigação do perfil dos usuários/leitores da Biblioteca Central da UFMT e a utilização
dos novos produtos e serviços de informação.
Por essa razão, necessito de sua colaboração nessa pesquisa, respondendo o presente
questionário com sinceridade e senso crítico, pois dessa forma poderemos contribuir para o
desenvolvimento dos serviços oferecidos por esta biblioteca. Ressalto que não é necessário se
identificar para responder ao questionário.
Agradeço antecipadamente sua colaboração, pois sem a sua ajuda não poderia desenvolver a
contento este estudo.
Cordialmente,
Carlos Henrique Tavares de Freitas.
PERFIL SOCIOECONÔMICO E CULTURAL DOS USUÁRIOS/LEITORES
DA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFMT
I - DADOS PESSOAIS
1.1) Qual seu gênero?
( ) Masculino.
( ) Feminino.
1.2) Em que faixa etária você se insere?
( ) Até 19 anos.
( ) 20 a 25 anos.
( ) 25 a 30 anos.
( ) Mais de 30 anos.
1.3) Qual sua cor/etnia?
( ) Branco(a).
( ) Pardo(a), Mulato(a).
( ) Negro(a).
( ) Amarelo(a).
( ) Indígena.
1.4) Qual sua nacionalidade?
( ) Brasileiro(a).
( ) Outra. Informar:___________________.
1.5) Onde você nasceu?
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
) Acre.
) Alagoas.
) Amapá.
) Amazonas.
) Bahia.
) Ceará.
) Distrito Federal.
) Espírito Santo.
) Goiás.
) Maranhão.
) Mato Grosso (capital).
) Mato Grosso (interior).
) Mato Grosso do Sul.
) Minas Gerais.
) Pará.
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
(
) Paraíba.
) Paraná.
) Pernambuco.
) Piauí.
) Rio Grande do Norte.
) Rio Grande do Sul.
) Rio de Janeiro.
) Rondônia.
) Roraima.
) Santa Catarina.
) São Paulo.
) Sergipe.
) Tocantins.
) Outro País.
236
1.6) Onde você reside atualmente?
(
(
(
(
(
) Cuiabá.
) Várzea Grande.
) Rondonópolis.
) Barra do Garças.
) Sinop.
( ) Em outro município do interior de Mato
Grosso.
( ) Em outro Estado.
( ) Em outro País.
II – DADOS SOCIOECONÔMICOS
2.1) Qual seu estado civil?
( ) Solteiro(a).
( ) Casado(a).
( ) Outro.
2.2) Quantas pessoas moram em sua casa? (incluindo você)?
(
(
(
(
) 2 pessoas.
) 3 pessoas.
) 4 pessoas.
) 5 pessoas.
( ) 6 pessoas.
( ) Mais de 6 pessoas.
( ) Moro sozinho.
2.3) Quem mora com você?
( ) Moro sozinho(a).
( ) Pai.
( ) Mãe.
( ) Esposa/marido/companheiro(a).
(
(
(
(
) Filhos.
) Irmãos.
) Outros parentes.
) Amigos ou colegas.
2.4) Qual o tipo de residência em que você mora?
(
(
(
(
(
) Própria, não quitada.
) Própria, quitada.
) Moradia alugada.
) Residência de parentes.
) Residência de amigos.
( ) Habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel,
república etc.
( ) Residência mantida pela família para moradia do
estudante.
( ) “Casa do estudante”, mantida por IES.
( ) Outra situação.
2.5) Onde fez seus estudos de Ensino Fundamental ou equivalente?
( ) Todo em escola pública.
( ) Todo em escola particular.
( ) Misto (parte em escola pública, parte em escola
particular).
2.6) Onde concluiu ou concluirá o Ensino Médio ou equivalente?
( ) Todo em escola pública.
( ) Todo em escola particular.
( ) Misto (parte em escola pública, parte em escola
particular).
2.7) Que curso de Ensino Médio ou equivalente você concluiu ou concluirá?
( ) Regular.
( ) Supletivo.
( ) Profissionalizante.
( ) Técnico.
( ) Outro.
2.8) Em que turno você frequentou o Ensino Médio ou equivalente?
(
(
(
(
) Matutino.
) Vespertino.
) Noturno.
) Integral.
( ) Maior parte matutino.
( ) Maior parte vespertino.
( ) Maior parte noturno.
2.9) Você frequentou ou frequenta curso pré-vestibular?
( ) Não.
( ) Sim, por menos de um semestre.
( ) Sim, por um semestre.
( ) Sim, por mais de um semestre.
2.10) Você fez ou está fazendo curso superior?
( ) Sim, fora da UFMT, em Mato Grosso.
( ) Sim, na UFMT.
( ) Sim, em outro Estado.
( ) Não.
237
2.11) Você fez ou está fazendo curso de pós-graduação?
( ) Sim, fora da UFMT, em Mato Grosso.
( ) Sim, na UFMT.
( ) Sim, em outro Estado.
( ) Não.
2.12) Caso tenha feito ou esteja fazendo pós-graduação, qual o tipo de curso?
( ) Especialização.
( ) Mestrado (aluno regular).
( ) Mestrado (aluno especial, ouvinte etc.).
( ) Doutorado (aluno especial, ouvinte etc.).
( ) Pós-Doutorado.
( ) Não estou cursando.
2.13) Você exerce atividade remunerada?
( ) Não.
( ) Sim, em tempo parcial, até 30 horas semanais.
( ) Sim, em tempo integral, por mais de 30 horas
semanais.
( ) Sim, mas é trabalho eventual.
2.14) Caso a resposta anterior seja positiva, qual o vínculo?
( ) Estágio.
( ) Emprego fixo particular.
( ) Emprego autônomo.
( ) Emprego fixo federal/estadual/municipal.
( ) Não exerce atividade remunerada.
2.15) Qual sua renda mensal individual?
(
(
(
(
(
(
(
) Nenhuma.
) Até 1 salário mínimo (até R$ 545,00).
) Até 2 salários mínimos (até R$ 1.090,00).
) Até 3 salários mínimos (até R$ 1.635,00).
) Até 4 salários mínimos (até R$ 2.180,00).
) Até 5 salários mínimos (até R$ 2.725,00).
) 5 a 8 salários mínimos (R$ 2.725,01 a R$ 4.360,00).
( ) Mais de 8 salários mínimos (mais de R$ 4.360,00).
( ) Pensão alimentícia ou similar. Valor
atual:_____________.
( ) Benefício social governamental.
Qual?________________.
Valor atual: ___________________.
2.16) Qual é a sua participação na vida econômica de sua família?
( ) Você não trabalha e seus gastos são custeados.
( ) Você trabalha e é independente
financeiramente.
( ) Você trabalha, mas não é independente
financeiramente.
( ) Você trabalha e é responsável pelo sustento da
família.
2.17) Qual a renda mensal de sua família?
(
(
(
(
(
) Até 1 salário mínimo (até R$ 545,00).
) Até 2 salários mínimos (até R$ 1.090,00).
) Até 3 salários mínimos (até R$ 1.635,00).
) Até 4 salários mínimos (até R$ 2.180,00).
) Até 5 salários mínimos (até R$ 2.725,00).
( ) 5 a 10 salários mínimos (R$ 2.725,01 a R$ 5.450,00).
( ) 10 a 15 salários mínimos (R$ 5.450,01 a R$
8.175,00).
( ) Mais de 15 salários mínimos (mais de R$ 8.175,00).
2.18) A situação conjugal de seus pais é:
( ) Vivem juntos.
( ) Separados.
2.19) Qual o nível de instrução do seu pai?
(
(
(
(
(
) Analfabeto.
) Lê e escreve, mas nunca frequentou escola.
) Ensino Fundamental incompleto.
) Ensino Fundamental completo.
) Ensino Médio incompleto.
(
(
(
(
) Ensino Médio completo.
) Ensino Superior incompleto.
) Ensino Superior completo.
) Não sabe informar.
(
(
(
(
) Ensino Médio completo.
) Ensino Superior incompleto.
) Ensino Superior completo.
) Não sabe informar.
2.20) Qual o nível de instrução da sua mãe?
(
(
(
(
(
) Analfabeta.
) Lê e escreve, mas nunca frequentou escola.
) Ensino Fundamental incompleto.
) Ensino Fundamental completo.
) Ensino Médio incompleto.
2.21) Qual seu principal meio de transporte ou locomoção?
( ) A pé/carona/bicicleta.
( ) Transporte coletivo.
( ) Transporte escolar.
( ) Transporte próprio (carro/moto).
238
2.22) Você possui algum plano de assistência médica?
( ) Não.
( ) Sim.
2.23) Caso necessite de atendimento médico, você procura preferencialmente:
( ) Rede pública.
( ) Serviços particulares.
( ) Convênios.
III – DADOS CULTURAIS, ESPORTE E LAZER
3.1) Em que categoria de usuário/leitor da Biblioteca Central você se insere?
( ) Aluno de graduação da UFMT.
( ) Aluno de pós-graduação da UFMT.
( ) Professor da UFMT.
( ) Técnico Administrativo da UFMT.
( ) Visitante (usuário externo).
( ) Outro. Especificar:_________________.
3.2) Você está cadastrado na Biblioteca Central?
( ) Sim.
(
) Não.
3.3) Qual a frequência com que você utiliza a Biblioteca Central?
( ) Diariamente.
( ) Semanalmente.
( ) Quinzenalmente.
( ) Mensalmente.
( ) Eventualmente.
3.4) Com que finalidade você utiliza a Biblioteca Central?
( ) Pesquisa acadêmica.
( ) Acesso à Internet.
( ) Leitura por lazer.
( ) Preparação para concursos e similares.
3.5) Quais produtos da Biblioteca Central você utiliza com maior frequencia?
( ) Livros.
( ) Folhetos.
( ) Obras raras/coleções especiais.
( ) Obras de referência (atlas, dicionários,
enciclopédias etc.).
( ) Periódicos (revistas, jornais, boletins etc.).
( ) Trabalhos acadêmicos (monografias, dissertações
e teses).
3.6) Quais serviços da Biblioteca Central você utiliza com maior frequencia?
( ) Consulta local às publicações impressas (livros
etc.).
( ) Serviço de circulação
(empréstimos/devolução/renovação).
( ) Serviço de referência/atendimento ao leitor.
( ) Serviço de comutação bibliográfica.
( ) Levantamentos bibliográficos.
( ) Consulta ao catálogo eletrônico da biblioteca.
( ) Reservas e renovações on-line de livros.
( ) Acesso a bases de dados on-line, bibliotecas digitais
etc.
( ) Acesso ao Portal de Periódicos da CAPES.
( ) Acesso à Internet (pesquisas diversas, comunicação
etc.).
( ) Acesso à Internet com notebook pessoal (rede sem
fio).
( ) Salas de estudo individuais.
( ) Utilização do ambiente para estudo com material
próprio.
3.7) Que tipo de leitura mais lhe agrada?
( ) Atualidades.
( ) Suspense.
( ) Literatura clássica.
( ) Esportes.
( ) Ciência e tecnologia.
( ) Outros.
3.8) Você utiliza microcomputador?
( ) Sim, diariamente.
( ) Sim, eventualmente.
( ) Nunca.
3.9) De que meio de comunicação você mais se utiliza?
( ) Rádio.
( ) Jornal.
( ) Revista.
( ) Televisão.
( ) Livros.
( ) Internet.
( ) Outros.
239
3.10) Quais os recursos da Internet você mais utiliza?
(
(
(
(
(
(
) E-mail.
) Redes sociais.
) Comunicadores instantâneos.
) Blogs.
) Grupos de discussão.
) Vídeos.
(
(
(
(
(
(
) Músicas.
) Jogos.
) Sites de entretenimento.
) Sites de pesquisa acadêmica/científica.
) Outros. Especificar: ___________________.
) Não utiliza.
3.11) Além de livros escolares, em média, quantos livros você costuma ler por ano?
( ) Nenhum.
( ) De 1 a 2 livros.
( ) De 2 a 4 livros.
( ) De 4 a 6 livros.
( ) De 6 a 8 livros.
( ) Acima de 8 livros.
3.12) Você é fumante?
( ) Sim.
( ) Não.
3.13) Você consome bebida alcoólica?
( ) Diariamente.
( ) Finais de semana.
( ) Eventualmente.
( ) Nunca.
3.14) Que tipo de atividade física/esportiva você desenvolve preferencialmente?
( ) Atividades aeróbias (caminhada, natação,
hidroginástica etc.).
( ) Ciclismo, corrida.
( ) Ginástica de academia e musculação.
( ) Desporto individual (tênis, lutas, escalada etc.).
( ) Desporto coletivo (futebol, basquete, vôlei etc.).
( ) Nenhuma.
3.15) Exceto trabalho e estudo, quais atividades mais ocupam seu tempo?
(
(
(
(
(
(
(
) Leitura.
) Televisão.
) Internet.
) Cinema.
) Teatro.
) Dança.
) Artes plásticas.
(
(
(
(
(
(
) Música.
) Atividades físicas/esportivas.
) Passeios e viagens.
) Festas.
) Religião.
) Outros.
3.16) Caso julgue necessário, faça alguma observação complementar:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________.
240
APÊNDICE B - Instrumento Particular de Autorização de Uso de Imagem,
Som e Voz, Dados e Informações Coletadas
241
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
MESTRADO EM EDUCAÇÃO
INSTRUMENTO PARTICULAR DE AUTORIZAÇÃO DE USO DE IMAGEM,
SOM E VOZ, DADOS E INFORMAÇÕES COLETADAS
Declaro, por meio deste termo, que concordei em ser entrevistado(a) e/ou participar na
pesquisa de campo referente à dissertação intitulada Novas perspectivas para a leitura e
pesquisa na Biblioteca Central da UFMT, desenvolvida por Carlos Henrique Tavares de
Freitas. Fui informado(a), ainda, de que a pesquisa é orientada pela Professora Doutora Kátia
Morosov Alonso (Instituto de Educação) e co-orientada pelo Professor Doutor Cristiano
Maciel (Instituto de Computação), a quem poderei contatar/consultar a qualquer momento que
julgar necessário através do telefone (65) 3615-8438 (NEAD) ou pelos endereços eletrônicos
[email protected] e [email protected].
Afirmo que aceitei participar por minha própria vontade, sem receber qualquer incentivo
financeiro ou ter qualquer ônus e com a finalidade exclusiva de colaborar para o sucesso da
pesquisa. Fui informado(a) dos objetivos estritamente acadêmicos do estudo, que, em linhas
gerais, é: Analisar as principais características dos leitores e dos tipos de leitura
desenvolvidos na Biblioteca Central da UFMT, sob a influência dos novos produtos e
serviços de informação e demais recursos do ciberespaço.
Fui também esclarecido(a) de que não serão abordados temas estritamente pessoais que gerem
algum tipo de constrangimento, uma vez que a coleta e usos das informações por mim
oferecidas respeitam aspectos éticos e morais, se limitando pura e simplesmente ao objetivo
da pesquisa anteriormente informada.
242
Minha colaboração se fará por meio de:
1) Entrevista estruturada - Conduzida oralmente pelo entrevistador, com a coleta de
dados em texto (formulário) e gravações de áudio e vídeo;
2) Observações de processos de buscas e navegações no ciberespaço (com o uso de
microcomputador) - Orientada pelo pesquisador, com a coleta de dados em texto
(formulário) e gravações de áudio e vídeo.
OBS.: Estima-se que a duração de cada uma das etapas poderá ser de 10 a 35 minutos.
Fui informado que o acesso e a análise dos dados coletados se farão apenas pelo
pesquisador(a) e/ou seu(s) orientador(es). Também estou ciente de que posso me retirar desta
pesquisa a qualquer momento, sem sofrer quaisquer prejuízos, sanções ou constrangimentos.
Assim sendo, resguardado meu anonimato, abaixo assinado e identificado, autorizo, no Brasil
e em qualquer outro país, o uso de todos os dados e informações por mim fornecidos, com
finalidade exclusivamente acadêmica e atesto o recebimento de uma cópia assinada deste
documento.
Cuiabá, ____ de ________________ de 2011.
Assinatura do(a) participante: ________________________________________
Assinatura do pesquisador: ___________________________________________
Assinatura do(a) testemunha(a): _______________________________________
243
APÊNDICE C - Tópicos da Entrevista Estruturada
244
Tópicos da Entrevista Estruturada
Identificação prévia.
Tipo de usuário/leitor, frequência de uso da biblioteca, relação com as TIC.
Você tem acesso à Internet e às TIC fora da Biblioteca Central?
Você utiliza a Internet e recursos similares na Biblioteca Central?
Você se considera um usuário novato, intermediário ou avançado com relação ao
ciberespaço?
Utiliza ferramentas de busca na Internet? Se utiliza, quais?
Utiliza e-mails e comunicadores instantâneos? Se utiliza, quais?
Utiliza redes sociais? Se utiliza, quais?
Acessa filmes e músicas pela Internet?
Produz conteúdos na Internet (blogs, sites, arquivos diversos)?
Disponibiliza conteúdos na Internet (texto, áudio, vídeo, jogos, arquivos
diversos)?
Quais sites costuma usar com mais frequência?
Quando começa a navegar por ambientes desconhecidos, como se orienta nesses
ambientes?
Em suas navegações na Internet, já ocorreu de se confundir e não conseguir voltar
atrás para refazer sua pesquisa?
Como se comporta ao se deparar com situações desconhecidas?
Utiliza a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas? Quais recursos?
Utiliza livros eletrônicos?
Conhece periódicos (revistas) e artigos científicos eletrônicos?
Você conhece o Portal de Periódicos da CAPES? Já utilizou esse recurso?
Você prefere ler livros e textos impressos ou ler na tela do computador? Justifique
sua preferência.
Quando busca uma informação atualizada, rápida e confiável, você prefere
consultar materiais impressos ou a Internet? Justifique sua resposta.
Qual sua impressão sobre a leitura hipertextual (leitura em que você clica nas
palavras e é direcionado para outro texto)? Justifique sua resposta.
245
Utiliza os serviços on-line da Biblioteca Central (catálogo on-line, reservas,
renovações etc.)? Qual sua avaliação destes recursos?
246
APÊNDICE D - Transcrição dos Dados Coletados por meio da Entrevista
Estruturada e dos Processos de Navegação
247
Transcrição dos Dados Coletados por meio da Entrevista Estruturada
e dos Processos de Navegação
As entrevistas e observações dos processos de navegação dos usuários/leitores foram
realizadas entre os dias 10 de novembro e 22 de dezembro de 2011, na secretaria da
Biblioteca Central. De modo geral, as informações coletadas de cada leitor estão apresentadas
na seguinte ordem:
Nome do Leitor (identificação atribuída para preservar a identidade do leitor);
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca;
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço;
Navegação no ciberespaço;
Processo de leitura.
Observação dos processos de navegação:
 1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço;
 2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço;
 3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central.
Durante a transcrição dos dados, também foram feitas algumas considerações
oportunas, sendo que, estas informações são analisadas de modo mais aprofundado no item
7.2 (Análises e Considerações Sobre as Entrevistas e Observações), no qual são tecidas as
considerações possíveis sobre os diferentes tipos de usuários/leitores, sobre os processos de
leitura, bem como sobre o uso da Biblioteca Central e dos serviços on-line.
Entrementes, os dados transcritos a seguir correspondem ao pontapé inicial dos
desdobramentos posteriores, sendo que, para evitar ruídos na comunicação e como a pesquisa
se pautava em determinados aspectos com maior ênfase (os processos de leitura e navegação,
por exemplo), os dados foram transcritos utilizando-se as palavras do pesquisador e, tanto
quanto possível, procurando preservar as expressões e termos enfatizados pelos pesquisados.
248
Leitor A
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor A é um aluno de graduação do Curso de Licenciatura em Física. Nos seis
meses anteriores o aluno não vem utilizando a Biblioteca Central, porém nos últimos dois
meses utilizou a biblioteca com bastante frequência, praticamente todos os dias de
funcionamento.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
Quanto às TIC, o aluno, além de confirmar que faz uso, explicou que tem acesso
tanto fora quanto no próprio ambiente da Biblioteca Central, utilizando, por exemplo, a
Internet para troca de e-mails e o sistema para consultas ao acervo. Na sequência, o aluno
respondeu que com relação ao ciberespaço, se considera um usuário que oscila entre
intermediário e avançado.
Quanto aos recursos da Internet, como os sites de busca, e-mail (Hotmail) e
comunicadores instantâneos, também informou que utiliza, enquanto que no que se refere às
redes sociais (nesse caso o Orkut) informou já ter utilizado, mas que atualmente não utiliza
mais. O site mais utilizado pelo aluno é o Hotmail, o provedor de seu e-mail e o Google, para
busca de artigos.
O aluno não acessa filmes e músicas pela Internet, mas possui um blog criado por
conta de um estágio curricular; assim, já produziu e disponibilizou conteúdo on-line, como
notas de aula, vídeos etc.
Navegação no ciberespaço:
Quando questionado como fazia para se orientar por ambientes desconhecidos no
ciberespaço, o aluno explicou que procura se atentar aos detalhes do site que inspiram
confiança, mas que quando não consegue verificar tais informações ou mesmo quando o site
não o satisfaz, abandona o ambiente simplesmente. Quanto às situações desconhecidas de
249
modo geral, o aluno explicou que quando não consegue solucionar sozinho, ou pede ajuda ou
pesquisa na Internet uma forma de solucionar o problema (se atentando para fontes
confiáveis).
Ainda sobre a navegação, o aluno também confirmou que já aconteceu de estar
navegando na Internet e de repente não conseguir recuperar alguma informação visualizada
anteriormente, quando acontece algum erro.
O aluno utiliza a Internet para complementação de suas pesquisas acadêmicas,
citando como exemplo artigos, teses e dissertações; também informou que utiliza livros
eletrônicos (em formato PDF), conhece e utiliza os periódicos científicos eletrônicos, bem
como o Portal de Periódicos da CAPES, embora não conheça ainda a nova versão do referido
Portal.
Sobre a utilização dos serviços on-line da Biblioteca Central, o aluno confirmou
que utilizou e utiliza, tanto remotamente (de casa) quanto na própria Biblioteca Central.
Processo de leitura:
Sobre a preferência de um formato para leitura, o aluno respondeu que prefere ler
livros e textos impressos do que ler diretamente na tela do computador, uma vez que gosta de
manusear, de ter contato físico com os livros, apalpar, folhear etc. Outro argumento do aluno
foi a respeito de poder avançar ou recuar na leitura de um livro manualmente de uma forma
mais prática do que se estivesse navegando em um documento digital. Resumindo, a resposta
do usuário está relacionada ao gosto e à familiaridade com o livro impresso, bem como com o
próprio hábito de leitura deste tipo de material.
Quando busca uma informação atualizada rápida e confiável, o usuário explicou que
prefere acessar a Internet do que as fontes impressas, uma vez que atualmente as informações
são divulgadas no meio eletrônico rapidamente e também que existem diversas fontes
confiáveis no ambiente virtual, citando com exemplo as revistas científicas.
Sobre a leitura hipertextual proporcionada pelo ciberespaço, o aluno explicou que os
links tiram um pouco da atenção do que o aluno poderia descobrir se explorasse mais as
páginas. Ou seja, segundo o mesmo, a facilidade de navegação também pode fazer o aluno se
distrair e perder o foco da pesquisa pretendida.
250
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Nesta atividade, foi solicitado ao aluno que realizasse uma busca sobre o andamento
das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo. De acordo com as orientações recebidas sobre a
busca, inicialmente o aluno abriu o navegador Google Chrome e acessou a página de pesquisa
do Google. Como já tem um conhecimento prévio sobre o assunto, digitou no buscador o
nome do órgão responsável pelas obras: “agecopa”. Depois foi selecionando alguns sites após
consulta e abrindo estas páginas em novas guias, para manter os resultados de pesquisa. Com
isso abriu simultaneamente vários sites. No primeiro deles, chamado Copa no Pantanal
(http://www.copanopantanal.com.br), acessou uma informação sobre licitação. Antes de
conferir o carregamento da página acessou as novas guias para visualizar outros sites abertos.
Rapidamente visualizou os demais sites e retornando ao primeiro site visitado selecionou
outra notícia. O aluno explicou que já havia feito uma busca similar anteriormente e, em outro
site, localizou um vídeo com informações recentes sobre a duplicação da Ponte Mário
Andreazza. Na mesma página localizou algumas fotos sobre a referida obra.
Resumidamente, o Leitor A demonstrou realmente ser um usuário avançado do
ciberespaço, pois mescla o uso dos recursos tecnológicos disponíveis com a habilidade de
navegações eficientes e rápidas, já tendo internalizado determinados endereços de navegação
dependendo do tipo de informação que procura.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, foi solicitado que o aluno localizasse uma informação relevante para
sua pesquisa acadêmica ou científica na Internet. Também foi explicado que a escolha do
assunto era livre, sendo que poderia ser inclusive um assunto que o mesmo estivesse
necessitando naquele momento.
O aluno acessou a página eletrônica do Google e como disse que já tinha algo em
mente, digitou sem demora o termo de busca “The Hubbard model”. Porém, após visualizar
os resultados de busca mudou sua pesquisa para “An introduction to the Hubbard model”, e,
251
nos resultados de busca, acessou a opção para artigos acadêmicos, do Google, sendo
redirecionado para os resultados de pesquisa no Google Acadêmico (abrindo o link em nova
guia). O aluno explicou que nesse caso ele clica nos resultados para verificar a confiança do
artigo. Ao fazer isso com o primeiro item recuperado, foi redirecionado para a base de dados
SpringerLink, onde estava localizado o artigo, que abandonou por não achar interessante. O
aluno informou que para este tipo de informação tem preferência por artigos de periódicos,
uma vez que sempre é divulgada alguma informação atualizada nos artigos. Para outras
finalidades, admite poder utilizar o material impresso, mas para esta necessidade prefere
artigos científicos.
Posteriormente, acessou outro artigo de sua pesquisa, na base de dados Physical
Review B, explicando que se trata de um site de uma revista científica onde são submetidos os
artigos, sendo uma fonte extremamente confiável. A seguir, clicou em um link para
demonstrar que também acessa estes artigos em formato PDF. Nesse caso, acessou o artigo
intitulado “Two-dimensional Hubbard model: Numerical simulation study”. O aluno
informou que não tem dificuldade para entender os textos em língua inglesa e, à medida que
explorou o artigo, demonstrou bastante interesse pelo mesmo, mesmo este sendo um estudo
publicado em 1º de abril de 1985.
Dessa forma, assim como no processo de navegação anterior, também quanto às suas
pesquisas acadêmicas o aluno demonstrou domínio da tecnologia utilizada, conhecimento
sobre pesquisas on-line, conhecimento de determinadas bases de dados on-line em sua área e
compreensão razoável de língua inglesa. Vale ressaltar que as bases de dados internacionais
pesquisadas são de acesso pago pela UFMT e estão disponíveis tanto pelo Portal de
Periódicos da CAPES quanto por meio de acesso direto; este não é um recurso exclusivo da
Biblioteca Central, mas de toda a Instituição, uma vez que o acesso pode ocorrer por meio de
qualquer computador instalado nos campi da UFMT. Porém, também nessa parte, é
importante observar que a Biblioteca Central contribui para promover o acesso a recursos
digitais de informação de grande importância para a pesquisa acadêmica/científica.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta atividade, foi solicitado que o Leitor A acessasse a página da Biblioteca
Central e utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum
252
voltados para o usuário/leitor. Essa etapa foi orientada aos poucos, pois haviam alguns
requisitos previamente delimitados a serem observados.
Antes de apresentar os passos iniciais a serem realizados o aluno já acessou o site da
UFMT, e embora não tenha localizado o link para a página eletrônica da Biblioteca Central,
digitou o endereço de acesso direto ao catálogo on-line (www.biblioteca.ufmt.br). Ele
explicou que as pessoas costumam decorar alguns passos e age nesse sentido, ao já ter
decorado o endereço do catálogo on-line. Outro costume do aluno é adicionar os endereços
preferidos aos seus “Favoritos”.
Após solicitar ao aluno que ele realizasse três buscas, uma por filtro, uma por título e
outra por autor, ele começou pesquisando por título a seguinte expressão: “teoria da
aprendizagem significativa”; após obter os resultados, verificou alguns e encontrou mais
abaixo na tela o livro que estava querendo, intitulado: A teoria da aprendizagem significativa
e sua implementação em sala de aula. Vale lembrar que ele não aplicou o filtro correto para
recuperar por título, pois apenas visualizou o filtro de ordenação dos resultados, pensando que
este seria o filtro de pesquisa. Independente disso, como fez uma pesquisa livre e sabia o
título da obra conseguiu localizá-la. Como o aluno é um usuário assíduo da biblioteca, ao
examinar o “número de chamada” 54 da obra, na tela de pesquisa, logo explicou em que piso
da biblioteca o livro estava disponível. Quase que espontaneamente o aluno acessou os
demais dados do livro e comentou sobre o mesmo, demonstrando conhecimento prévio sobre
o autor da obra e o assunto. Quando questionado se sabia o procedimento para reserva da
obra, o aluno explicou que nunca reservou um livro e que já tentou uma vez, mas que talvez
por insegurança, por ser a primeira vez, não realizou a reserva; além disso, informou que para
evitar transtornos prefere não usar o recurso. Desde então, sempre que precisa, vem à
biblioteca e faz o empréstimo da obra, utilizando no máximo a renovação on-line. Assim,
aproveitando a ocasião, explicamos ao aluno como funciona o procedimento de reserva.
A seguir, realizou uma pesquisa por assunto, com a palavra-chave “termodinâmica”,
e localizou algumas obras. Nessa ocasião, foi explicado com ao aluno sobre o uso dos filtros,
54
O “número de chamada” corresponde às informações para localização do livro no acervo. Este é um termo
técnico da área de Biblioteconomia utilizado para se referir aos códigos numéricos e textuais que servem para
descrever e organizar os livros no acervo e que constam nas etiquetas apostas na lombada das obras. Estas
informações ou “números de chamada” são compostas de um número de classificação do assunto principal do
item (nas bibliotecas da UFMT, o código de classificação adotado é a CDU – Classificação Decimal Universal),
um número de classificação de autor e título (na Biblioteca Central, adota-se para esta finalidade a Tabela de
Cutter), o número de edição, volume (quando houver) e exemplar (aparecendo a partir do segundo exemplar).
Outras informações adicionais também podem aparecer na etiqueta, mas estas são as principais informações do
número de chamada utilizadas nas bibliotecas da UFMT.
253
e percebeu-se que ele não tinha ainda o costume de buscar por assunto. Posteriormente, o
aluno realizou uma busca com o nome do autor Mário José de Oliveira. Porém não conseguiu
localizar a obra, sendo então explicado ao mesmo que, usando os filtros de índice, conforme
orientado anteriormente, a busca por autor deve ser feita com o nome invertido padronizado
(Oliveira, Mário José de); pesquisando desta forma o aluno conseguiu localizar duas obras do
referido autor. A seguir o aluno verificou os detalhes de uma das obras pesquisada,
demonstrando conhecer a mesma e os autores.
Sobre o uso de outros filtros, como por exemplo, por tipo de obra, o aluno explicou
que já tentou, mas não utiliza por não sentir esta necessidade, pois segundo ele, o mesmo
utiliza o que é mais rápido e prático, pois muitas vezes já sabe o que vai pesquisar e não tem
dificuldade para filtrar o conteúdo encontrado. Explicou ainda que, em último caso é que pode
usar tais filtros.
Para concluir, foi solicitado que o aluno acessasse a área restrita do aluno/usuário da
biblioteca, que tem um link disponível no próprio catálogo on-line (Acesso Usuário). Porém
como o aluno estava com dificuldade para efetuar o login no sistema (é necessário informar o
número da carteira de usuário e a senha de empréstimo), o pesquisador acessou com login e
senha próprios para explorar os recursos. Nesta parte, confirmamos que o aluno realmente
utiliza apenas a renovação de livros, por ser o serviço que considera mais necessário. Os
demais recursos (reserva, histórico, consulta sugestões etc.) informou não utilizar por não ter
necessidade. Isso também ocorre com a opção para verificar material pendente (livros
emprestados), uma vez que o aluno tem acesso às mesmas informações na opção para
renovação.
O aluno acrescentou que seria bom se o sistema tivesse uma aparência menos
“sisuda”, como algo mais jovial, que interagisse um pouco mais. Na hora de sair do sistema,
teve uma dificuldade com um ícone e fez uma crítica relevante sobre o mesmo, cuja imagem
dá a entender outra coisa. Por fim, o aluno lembrou a sua senha de acesso, que havia
esquecido, e acessou novamente o sistema com seus próprios dados, fez alguns dos
procedimentos já descritos e apresentou ainda algumas considerações sobre o sistema.
Percebeu-se que, embora o aluno seja um usuário do ciberespaço que oscila entre
intermediário e avançado e, ainda que seja assíduo na Biblioteca Central, o mesmo não utiliza
alguns dos principais recursos on-line da biblioteca, se atendo apenas àqueles que atendem
sua necessidade principal de informação (consultas ao catálogo on-line e renovação de livros).
No caso dos filtros de pesquisa, por exemplo, não utiliza por não julgar conveniente e
254
observamos que ele obteve resultados efetivos pesquisando sem o filtro de título (pesquisa
livre); ao ser instruído sobre como utilizar o filtro do índice de autores, inicialmente isso
dificultou a localização dos registros por ser acostumado a digitar os nomes dos autores na
forma direta, e não na forma invertida (que começa pelo sobrenome).
Neste caso, não é porque o aluno possui um domínio mais avançado de navegação no
ciberespaço ou mesmo por ser assíduo na biblioteca que utiliza amplamente seus recursos online; por outro lado, o fato de não utilizar muitos destes recursos, sejam mais ou menos
avançados, também não significa que o aluno seja leigo no ambiente virtual. Parece que seu
conhecimento de navegação, sua prática de pesquisa, ou seja, o modo como dirige suas
buscas, navegações e seleção de conteúdo, contribuem para que seja mais seletivo e utilize,
sobretudo, os recursos do sistema on-line da Biblioteca Central que mais lhe interessam.
Enfim, o aluno demonstrou senso crítico e também objetividade e eficiência em todas
as suas pesquisas, coerente com seu argumento sobre a leitura hipertextual, no que se refere à
importância de o leitor/navegador não perder o foco em suas navegações.
Leitor B
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor B é um aluno de graduação do 3º ano do Curso de Licenciatura em Música.
O aluno informou que quando começou a estudar, utilizava mais a biblioteca e que agora está
utilizando menos vezes.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
O aluno explicou que, quanto às TIC, utiliza mais a Internet. Em casa não tem acesso
à Internet, então ele costuma vir à biblioteca para realizar pesquisas na Internet, verificar o
texto de algum autor, artigos, baixar músicas etc. Quanto aos livros ele revelou que utiliza
bem pouco. Além da Biblioteca Central, aluno explicou que, mesmo não tem acesso à Internet
em casa, utiliza um laboratório de informática no bloco do Curso de Música, além da
255
biblioteca setorial. O aluno acrescentou que tem dificuldade para utilizar a Biblioteca Central
também devido à grande distância da mesma para o bloco em que estuda, sendo complicado
se ausentar nos intervalos de aula. Neste ponto fez elogios à Biblioteca Setorial.
O aluno se considera um usuário intermediário do ciberespaço, utilizando como
ferramentas de busca, sobretudo o Google, o YouTube (devido às necessidades próprias de
seu Curso de Música), o Scielo e outros meios de comunicação. Sobre e-mails e
comunicadores instantâneos o aluno informou que utiliza todos os dias, constantemente,
citando o Gmail, o Hotmail e o Messenger. Utiliza também redes sociais, neste caso Facebook
e Orkut, e acessa filmes e músicas pela Internet.
O aluno produz e disponibiliza conteúdos na Internet, informando que possui blog,
produz e posta vídeos no YouTube. Dos sites que utiliza com mais frequência fez menção ao
Google, ao site Notícia News, o Portal Terra, o site da UFMT e o site Aprova Concursos.
Navegação no ciberespaço:
Sobre a navegação no ciberespaço, especificamente por ambientes desconhecidos, o
aluno informou que procura não ficar navegando aleatoriamente, mas procura explorar sites
conhecidos, indicados por amigos etc. Ou seja, procura ser objetivo nas buscas para não se
perder nas possibilidades oferecidas pela Internet.
O aluno explicou que já aconteceu de acessar sites confiáveis e aparecerem muitas
paginas de vírus e propagandas, gerando transtornos. Também teve problemas com vírus
instalados em computadores, perdendo muitos arquivos importantes armazenados em seu
pendrive. Quando questionado como se comportava nestas e em outras situações
desconhecidas de navegação, o aluno reiterou que também já teve problemas com sites em
língua estrangeira, e que nestes casos, tenta explorar outras ferramentas em busca de solução
(como, por exemplo, ferramentas de tradução); se não conseguir se orientar, então procura
pesquisar em outros sites.
O aluno utiliza bastante a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas, e
confirma utilizar com frequência os periódicos e artigos científicos eletrônicos. Quanto aos
livros eletrônicos, utiliza muito pouco, por ainda não conhecer uma ferramenta para “baixar”
estes materiais.
256
Quanto aos serviços on-line da Biblioteca Central, o aluno informou que utiliza a
pesquisa on-line e que já fez a reserva de livros. O aluno disse que considera estes recursos
bons, porém, ressalta que deveria haver um treinamento para os alunos e demais usuários da
biblioteca, pois quando frequentava mais a biblioteca, era comum os alunos se informarem
com os colegas sobre o uso destes recursos e nem todos sabiam como utilizar corretamente
tais recursos.
Processo de leitura:
O aluno prefere ler livros e textos impressos a ler na tela do computador, uma vez
que, segundo o mesmo, prefere ter o material à mão para visualizar; também explicou que a
tela do computador pode prejudicar a visão, então acha melhor o material impresso. Porém,
também ponderou que isso envolve um custo e que utiliza mais o computador por causa deste
custo, que, dependendo da quantidade de material a ser impresso às vezes torna inviável a
impressão.
Quando busca uma informação atualizada, rápida e confiável, o aluno costuma
procurar mais a Internet, devido à facilidade de acesso e rapidez; apesar das dificuldades de
acesso que existem, em geral, comenta que também já existem avanços, como a Internet
gratuita disponível para a população.
A respeito da leitura hipertextual, proporcionada pelo ciberespaço, o aluno disse que
gosta destes recursos da Internet e se confundiu um pouco com os subtítulos dos blocos de
informação (apesar de receber uma explicação prévia sobre os hipertextos e hiperlinks) que
permitem uma visão resumida dos blocos de conteúdo. Pelo uso que faz da Internet, é
possível que o aluno utilize estes recursos (inclusive porque existem links que permitem
navegar em uma mesma página), embora ainda não o compreenda bem e explica que gosta
dos recursos de leitura da Internet.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
257
Nesta parte, solicitamos ao aluno que realizasse uma busca sobre o andamento das
obras de Cuiabá para a Copa do Mundo e observamos o procedimento de navegação
empregado. O aluno abriu o navegador Google Chrome e pesquisou as palavras “tvca mt”,
localizando o site da TV Centro América de Mato Grosso, no qual, após efetuar uma busca de
notícias e navegar um pouco, localizou um vídeo que informava que as obras de mobilidade
urbana ainda não haviam começado em Cuiabá. Entretanto, o vídeo estava disponível entre as
notícias da página inicial e o aluno apresentou um pouco de dificuldade para encontrar a
informação específica pelo próprio recurso de pesquisa do site.
De todo modo, o aluno atingiu o objetivo previsto, que era localizar alguma
informação atualizada sobre o andamento das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo.
Percebeu-se com isso que, apesar de ainda não conhecer muitos recursos de navegação
oferecidos pelo site, neste caso, o aluno prefere utilizar um site de notícias para sua pesquisa,
ou seja, um site específico que pode atender a busca por uma informação de noticiário e
atualizada.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Para localizar uma informação relevante para sua pesquisa acadêmica ou científica
na Internet, o aluno acessou o Google e pesquisou a expressão “revista de música abem”,
acessando o site da Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), em cuja página
haviam várias edições on-line da Revista da ABEM. Após uma rápida visualização, acessou o
sumário do número 4 da revista, de setembro de 1997 e acessou o primeiro artigo da lista, no
formato PDF, com o título “O modelo da Educação Musical no Brasil: um drama em três atos
incongruentes”, de autoria de Ilza Nogueira.
O aluno explicou que ao localizar um artigo de interesse, ele costuma acessá-lo para
realizar seus estudos, conforme o fez neste caso, em que queria fazer uma pesquisa sobre
música e educação; também confirmou que já utilizou esta revista outras vezes e que ela
atende suas necessidades de pesquisa, uma vez que é direcionada à área de Música, tem todas
as edições on-line com artigos no formato PDF e pelo fato de ser da Associação Brasileira de
Educação Musical. Além deste site, o aluno também informou que utiliza o SciELO para suas
pesquisas acadêmicas.
258
Observa-se que o aluno tem alguns sites pré-definidos tanto para suas pesquisas
gerais quanto para suas pesquisas acadêmicas, demonstrando objetividade nas suas buscas,
embora seja um usuário intermediário do ciberespaço. O aluno informou anteriormente que
utiliza bastante a Internet e principalmente artigos eletrônicos em suas pesquisas, e isto,
embora não seja necessariamente o único motivo, pode concorrer para que tenha um
direcionamento a fontes específicas da sua área, evitando depender muito de pesquisas gerais
em buscadores com o Google.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Sobre o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central, conforme orientações
recebidas, o aluno chegou sem dificuldades ao catálogo on-line da Biblioteca Central,
demonstrando já ter acessado este recurso. Porém, o aluno apresentou dificuldade para
selecionar, sozinho, os filtros de pesquisa, dando sequência após orientação. Pesquisando por
autor, o aluno não localizou nenhum registro com o nome “Vila Lobos”. Após alterar o nome
e realizar uma busca livre, foram encontrados alguns resultados que permitiram verificar que
o nome do autor estava digitado errado e deveria ser “Villa-Lobos”. Ao refazer a pesquisa não
foi localizado o registro do autor, mas, demonstra que não havia obras deste autor e sim obras
que falavam sobre ele.
Em seguida, o aluno pesquisou pelo assunto “música instrumental brasileira” e
encontrou duas ocorrências de palavras-chave vinculadas a obras do acervo. Verificando as
ocorrências, localizou os registros de uma dissertação, um livro e um folheto. Na pesquisa por
título, o aluno pesquisou o título “música folclórica”, encontrando três registros da obra
“Música folclórica do médio São Francisco”.
O aluno confirmou que não sabia verificar as demais informações sobre a obra, nem
conhecia o número de chamada ou sabia que ele correspondia às informações da etiqueta para
localizar os livros no acervo. Nessa ocasião, o aluno informou que sabe onde estão
localizados os livros de música e reclamou que os mesmos estão escassos. Provavelmente em
função disso, não faça tanto uso do sistema para pesquisa.
Observou-se também que o aluno não conhecia os filtros para selecionar uma
determinada biblioteca para pesquisa dentre as demais bibliotecas da UFMT, por tipo de obra,
259
ou mesmo as pesquisas diferentes da pesquisa geral disponibilizada na página inicial de
consulta.
O aluno nunca havia feito reservas ou renovações on-line. Havia feito apenas
renovações no balcão de atendimento da Biblioteca Central; dessa forma, foi explicado ao
mesmo como realizar estes procedimentos. Para explicar como funciona a renovação e
explorar os outros itens elencados na pesquisa, solicitou-se que o aluno acessasse a área
restrita do usuário/leitor.
Constatou-se, enfim, que o aluno não conhecia nenhum dos recursos on-line
acessíveis na área restrita (renovação, reserva, material pendente, histórico, consulta sugestões
etc.) e, à medida que os mesmos eram apresentados, o aluno demonstrava interesse em utilizálos. Resumidamente, alinhado ao que o aluno argumentou na entrevista, o mesmo sente falta
de orientações para utilização destes recursos, seja um curso ou mesmo um treinamento de
usuários e, se isso lhe tivesse sido possibilitado, provavelmente ele faria uso de alguns dos
recursos não utilizados, bem como um melhor uso daqueles recursos que conhece e utiliza
pouco.
Leitor C
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor C é uma aluna de graduação do 6º semestre do Curso de Administração. A
aluna informou que ultimamente não tem utilizado muito a biblioteca, mas que antigamente
utilizava bastante.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
Quanto às TIC, a aluna informou que utiliza bastante computadores e a Internet. A
aluna explicou que tem acesso e utiliza a Internet em casa enquanto que na Biblioteca Central
ela não costuma utilizar, pois vem à biblioteca para emprestar livros ou estudar.
260
A aluna se considera um usuário intermediário do ciberespaço, utiliza sites de busca
(apenas o Google), e-mail (Hotmail), redes sociais (Facebook), além de acessar músicas pela
Internet. Porém, também informou que não produz ou disponibiliza conteúdos na Internet
(embora o próprio Facebook seja um ambiente que permite a produção e disponibilização de
conteúdos on-line). Entre os sites, utiliza com mais frequência o Google, Globo.com (para
notícias) e o Facebook.
Navegação no ciberespaço:
Quando questionada sobre como procederia ao navegar por ambientes desconhecidos
na Internet, a aluna respondeu que não tem problemas, mas quando se depara com algum
ambiente que não consegue compreender ou navegar procura evitar. Ao lidar com situações
desconhecidas em geral, relacionadas às tecnologias, a aluna explicou que prefere procurar a
ajuda de alguém que tenha mais conhecimento.
Outra questão relacionada ao processo de navegação era saber se a aluna já havia se
confundido alguma vez e não conseguido mais recuperar algum conteúdo relevante que
localizou, uma vez que a Internet além de ter vários recursos e proporcionar vários caminhos
a seguir, é um ambiente em que muito conteúdo é disponibilizado, modificado ou mesmo
excluído da constantemente. Neste ponto, a aluna respondeu que a principal dificuldade que
encontrou foi a de abrir e lidar com várias janelas de navegação simultaneamente, como faz,
por exemplo, durante suas pesquisas acadêmicas.
Assim, a aluna utiliza a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas.
Sobre os livros eletrônicos, explicou que se tiver alguma indicação de um professor ela utiliza
e que já teria feito uso deste tipo de material; além disso, a aluna informou que conhece os
periódicos e artigos científicos eletrônicos, embora não possa citar nenhum em específico e
desconheça o Portal de Periódicos da CAPES.
Sobre a utilização dos recursos on-line da Biblioteca Central, a aluna informou que
utiliza principalmente o catálogo eletrônico para consultar livros.
261
Processo de leitura:
A aluna informou que prefere ler livros e textos impressos do que ler diretamente na
tela do computador, uma vez que, com o material impresso se concentra mais no que está
lendo e acompanha melhor o conteúdo, enquanto que na Internet se dispersa facilmente.
Sobre a leitura hipertextual, a aluna respondeu que acha interessante, pois a ligação
dos assuntos facilita a pesquisa na medida em que o usuário não precisa repetir uma busca
para acessar uma informação que pode estar vinculada ao conteúdo consultado.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Esta atividade teve início com uma explicação geral feita à aluna sobre como seriam
realizadas as observações dos processos de navegação; nesse sentido, inicialmente foi
solicitado a ela que realizasse uma busca sobre o andamento das obras de Cuiabá para a Copa
do Mundo. A aluna escolheu o navegador Google Chrome e, a partir da página inicial do site
acessou diretamente o site Mídia News (www.midianews.com.br), no qual acessou o link
Cuiabá 2014. Nesta página, localizou uma matéria recente (do mesmo dia da pesquisa) sobre
dois senadores que comentavam sobre o atraso nas obras para a Copa de 2014 em Cuiabá. A
aluna mostrou que havia outras notícias e explicou que se trata de um site com conteúdo de
teor político. Em suma, observou-se que a aluna foi rápida e eficiente em sua pesquisa e
provavelmente já havia utilizado esta fonte de pesquisa.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, foi solicitado que a aluna localizasse uma informação relevante para
sua pesquisa acadêmica ou científica na Internet. Dessa forma, a aluna acessou o site Google,
e, a partir do mesmo, o link para o Google Acadêmico. Neste buscador, digitou a palavrachave “business model” e localizou alguns artigos; posteriormente, insatisfeita, alterou e
pesquisou mais duas vezes com as expressões “modelo de negócios” e “modelo de negócios
262
planejamento estratégico”, localizando e examinando brevemente alguns dos resultados das
duas primeiras páginas de pesquisa nesta última busca.
Em seguida, modificou novamente sua expressão de busca para “análise ambiente
interno” e acessou o primeiro item localizado, uma resenha no formato PDF, feita tendo como
base a obra “Administração estratégica: planejamento e implantação da estratégia”. A aluna
explicou que estava realizando uma pesquisa para a matéria de Planejamento Estratégico, e
procurou pesquisar um conteúdo relacionado ao ambiente interno. De fato, no material
pesquisado constava o sumário da obra resenhada, com capítulos voltados para a análise de
ambiente, que a aluna examinou de modo rápido em seguida, juntamente com outros trechos.
A aluna informou que provavelmente utilizaria o conteúdo localizado em algum
trabalho acadêmico, embora não tenha dado certeza. Também respondeu que utiliza não só o
Google Acadêmico, como também o próprio site do Google; especificamente quanto à
pesquisa acadêmica, entre o material clássico de sua área e o material on-line em geral, a
aluna respondeu que se orienta muito pela indicação de professores, a fim de acompanhar
melhor as aulas.
Desta forma, a aluna procede moderadamente em suas pesquisas acadêmicas, sem
preferência por fontes específicas de sua área e, sem demonstrar conhecimento sobre recursos
mais elaborados de pesquisa além do Google Acadêmico, embora tenha apresentado
facilidade e rapidez no processo de navegação pela Internet.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
No que se refere ao uso dos recursos on-line da Biblioteca Central, conforme
orientações recebidas, a aluna chegou sem dificuldades ao catálogo on-line e deu início às
pesquisas por título, autor e assunto. Na pesquisa por título, sem selecionar nenhum filtro, a
aluna digitou a expressão “teoria geral da administração” e localizou vários títulos. A seguir,
examinou brevemente estes resultados e rapidamente selecionou a obra de seu interesse, e
verificou as informações adicionais, observando que a mesma era mais recente que as demais.
Tratava-se da oitava edição revista e atualizada da obra “Introdução à teoria geral da
administração”, do autor Idalberto Chiavenato, publicada em 2011.
A seguir, como a aluna estava prestes a iniciar a busca por autor e apresentava
dificuldade de compreensão do filtro a ser selecionado, foi explicado para a mesma sobre a
263
diferença entre os filtros de pesquisa e de ordenação dos resultados de busca. A simples
confusão efetivamente não alteraria nada na busca, mas neste ponto o pesquisador interferiu
no sentido de orientar a aluna que se encontrava em um impasse; diante deste impasse,
percebeu-se que a aluna não tinha intimidade com estes recursos, o que também é um dado de
relevância para o presente estudo. A aluna pesquisou com o nome do autor “Joaquim de
Moura Nicácio” e localizou uma obra, na pesquisa por palavra com o filtro de autor. A seguir
conferiu também as informações adicionais da obra.
Na pesquisa por assunto, a aluna selecionou a opção específica e realizou a busca,
mas explicou que geralmente faz uma pesquisa livre. A aluna fez a pesquisa com o assunto
“planejamento estratégico” e localizou 171 resultados para sua busca. A seguir, selecionou
um dos resultados de sua busca, a obra “Administração estratégica: planejamento e
implantação da estratégia”, e acessou a parte em que visualiza as demais informações do
livro.
Quanto aos recursos que permitem selecionar diferentes tipos de materiais (livros,
artigos, periódicos, teses etc.) e diferentes bibliotecas da Instituição, bem como os diferentes
tipos de pesquisa, como, por exemplo, a Pesquisa Avançada, observou-se que a aluna não
conhecia e nem fazia uso dos mesmos.
A aluna também demonstrou não utilizar o serviço de reservas on-line
disponibilizado pela Biblioteca Central, bem como os outros recursos disponíveis na área de
acesso restrito do aluno (renovação, reserva, material pendente, histórico, consulta sugestões
etc.). Assim, percebe-se que, embora tendo um conhecimento razoável de navegação no
ciberespaço, esta aluna também utiliza muito pouco os serviços on-line da Biblioteca Central.
Leitor D
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor D é um aluno de graduação do 4º semestre do Curso de Ciência da
Computação. Nos dois últimos bimestres o aluno utilizou pouco a Biblioteca Central, porém,
nos primeiros dois semestres utilizou bastante a biblioteca.
264
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
Quanto às TIC, o aluno informou que utiliza bastante principalmente notebook, em
casa, na faculdade etc.; explica que a comodidade também influencia o uso que faz da Internet
e, menciona também o uso de celular, que possui diversos recursos de informação.
O aluno informou que tem bastante acesso às TIC no ambiente da Biblioteca Central.
Explicou que tem acesso ao laboratório de informática, embora nunca o tenha utilizado, já
utilizou algumas vezes os terminais de consulta ao acervo e, acrescentou que, no mesmo dia
da pesquisa, fez uso da rede de Internet sem fio da biblioteca. Quanto aos demais recursos do
ciberespaço, o aluno geralmente faz uso fora do ambiente da Biblioteca Central ou mesmo
neste ambiente, com seu notebook.
Com relação ao ciberespaço, o aluno informou que se considera um usuário
avançado, uma vez que, provavelmente por já ter um “amadurecimento” quanto ao uso das
tecnologias, não cai em golpes e coisas do gênero, tendo facilidade para identificar problemas
e riscos no processo de navegação.
Quando questionado sobre o uso de ferramentas de busca na Internet o aluno
respondeu que já utilizou algumas, quando o Google era menos popular, mas que atualmente
utiliza somente o Google. O aluno utiliza e-mails (Hotmail), redes sociais (Facebook) e o
comunicador instantâneo Messenger, além do comunicador instantâneo do Facebook. Outra
rede social que já utilizou foi o Orkut, mas explica que praticamente não utiliza mais por já ter
caído em desuso. Além disso, o aluno acessa bastante filmes para assistir on-line e músicas
para ouvir ou mesmo para assistir pelo YouTube.
Quando questionado se produz e disponibiliza conteúdos na Internet o aluno
respondeu que não produz tanto quando disponibiliza, pois o mesmo cria sites para a Internet;
nesse sentido, explicou que administra dois sites e posta muito conteúdo de terceiros, ou seja,
conteúdos que os donos destes sites solicitam que seja disponibilizado nos referidos
ambientes. O aluno informou ainda que não utiliza blogs e que os sites mais acessados por ele
são o Google (em primeiro lugar), o site Baixaki, Globo.com, TecMundo, o site da UFMT e a
página eletrônica da Biblioteca Central.
265
Navegação no ciberespaço:
Sobre seu comportamento ao se deparar com ambientes desconhecidos na Internet, o
aluno informou que procura observar o link, ou seja, o domínio 55 do site, para se orientar e
certificar que está navegando em um site oficial. Comentou ainda sobre os alertas de
segurança dos navegadores de Internet e os antivírus. Sobre situações desconhecidas em geral
(não apenas restritas ao ciberespaço), como por exemplo, problemas técnicos, o aluno
explicou que geralmente não encontra dificuldade; se for um problema que lhe impossibilita
de acessar a Internet e não souber solucionar, ele rapidamente procura outro computador,
acessa a Internet e pesquisa uma solução para o problema. Se o aluno souber a solução do
problema ele procura resolver; caso o computador com problemas ainda assim acesse a
Internet, o aluno navega na própria máquina em busca da solução. Resumindo, o aluno
confirma não ter muita dificuldade quanto a estas questões.
Quando questionado se nas suas navegações pela Internet o aluno teria tido
problemas para recuperar algum conteúdo visualizado anteriormente, o mesmo respondeu que
já passou por este tipo de situação, citando como exemplo, quando acidentalmente fecha a tela
durante a navegação. Nesse caso, geralmente verifica o histórico do navegador de Internet;
caso o histórico tenha sido apagado, procura se lembrar de trechos do conteúdo para tentar
recuperar em um site de buscas. Basicamente seu procedimento é este, e, embora já tenha
conseguido localizar novamente algum conteúdo desta forma, confessa que também já
aconteceu de não conseguir recuperar um determinado conteúdo.
O aluno utiliza bastante a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas,
ainda mais que na área de tecnologia as informações se atualizam constantemente e existe
uma dificuldade para o material impresso acompanhar esta atualização; dessa forma, como o
conteúdo na Internet é mais dinâmico, é fundamental o uso deste ambiente em suas pesquisas.
Entre os recursos da Internet o aluno citou como exemplo, os livros digitais, sites relacionados
à área de Informática, revistas on-line.
Quanto aos periódicos científicos, o aluno explicou que não costuma utilizar, mas
sim revistas especializadas, como por exemplo, a Linux Magazine, que embora seja paga,
55
O domínio é o endereço do site, ou seja, um nome único, em cuja composição existem informações que
contribuem para identificar o seu ramo de atividade. Por exemplo, existem domínios com terminação em “.com”
(para instituições comerciais), “.org” (para organizações), “.gov” (para instituições governamentais) e “.net”
(para sites com conteúdos referentes à Internet). É possível também acrescentar a terminação referente ao país,
como por exemplo “.br”, empregado para sites brasileiros. Muitos sites seguem estas regras, embora, na
atualidade, os domínios são mais flexíveis.
266
disponibiliza edições anteriores, após determinado período, e mesmo não sendo uma
publicação científica possui conteúdo relevante para suas pesquisas acadêmicas. No que se
refere ao Portal de Periódicos da CAPES, o aluno informou que já o acessou apenas uma vez,
mas que não chegou a utilizá-lo de fato.
Sobre a utilização dos recursos on-line da Biblioteca Central, o aluno explicou que já
utilizou o catálogo eletrônico para realizar consulta ao acervo de livros e que também já
utilizou o serviço de renovação de empréstimos. Também já consultou a data de vencimento
do material emprestado (acessível por meio da área restrita), até para poder renovar os
empréstimos.
Quanto à avaliação destes recursos, o aluno respondeu que por alto estão ótimos, e
comentou sobre a possibilidade de pesquisar um livro de modo on-line, verificar
instantaneamente se o mesmo está disponível ou não, sobre a possibilidade de renovar o
empréstimo remotamente e receber o comprovante de renovação por e-mail. Enfim,
considerou muito bons estes recursos, pois geram uma grande comodidade para o usuário,
sendo esta a função das TIC, ou seja, dinamizar a informação; além disso, informou que é
imprescindível para a instituição, seja pública ou particular, que exista este tipo de recurso.
Processo de leitura:
O aluno informou que prefere ler materiais impressos, até porque a tela do
computador pode irritar os olhos se utilizar o equipamento com frequência; por outro lado,
para ter uma maior dinâmica no acesso à informação e até para compreender melhor, o aluno
prefere ler diretamente na tela do computador. Além disso, existem recursos que apenas
poderão ser acessíveis pela Internet, como por exemplo, as animações, que ajudam a
compreender de uma forma que atualmente seria impossível com o material impresso. Ou
seja, considerando o conforto, o aluno prefere ler o material impresso, mas considerando a
qualidade da informação, o aluno prefere ler na Internet.
Outra questão ponderada pelo aluno foi que, em função de sua área de formação ser a
Computação, a leitura on-line parece mais atrativa, pois é mais prática e permite compreender
melhor a teoria do que a leitura com material impresso. Além disso, embora a Internet
disponibilize conteúdos multimídias, segundo o aluno, outra vantagem da rede é a rapidez e
267
praticidade para obter uma informação e conhecer um assunto novo, diferente do material
impresso.
Inclusive quando busca uma informação atualizada, rápida e confiável, o aluno
prefere utilizar a Internet, pois o conteúdo disponibilizado na Internet é muito mais dinâmico
e prático que o conteúdo impresso, os livros demoram um tempo maior para lançamento de
novas edições (sendo este um problema na área de Computação que possui uma rápida
atualização do conhecimento), e o material impresso está sujeito aos riscos de desgaste físico.
Quanto à confiabilidade, o aluno explicou que geralmente confia no conteúdo on-line, pois
embora nenhum site seja totalmente confiável, por estarem sujeitos a ataques de hackers56,
por exemplo, dependendo da pesquisa, procura utilizar principalmente os sites específicos
(como por exemplo, o site da Sociedade Brasileira de Computação), com conteúdo produzido
por pessoas da área, o que assegura um pouco mais de confiabilidade.
Sobre a leitura possibilitada pelo conteúdo hipertextual, o aluno considera que o
texto que utiliza este recurso gera uma praticidade muito maior na forma de realizar a leitura,
pois o leitor pode avançar, recuar, ou seja, acessar diversos links que enriquecem ainda mais o
texto; assim, esta praticidade aliada à confiabilidade da fonte pode gerar uma pesquisa
bastante produtiva.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Nesta atividade, foi solicitado que o aluno realizasse uma busca sobre o andamento
das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo, tendo ele recebido as mesmas instruções que os
outros participantes da pesquisa. O aluno acessou o navegador Google Chrome e, na própria
barra de endereços do site realizou sua pesquisa, digitando as palavras “copa 2014 cuiabá” e
copiando o texto no mesmo instante. A seguir, na página do Google contendo os resultados da
pesquisa, selecionou, no menu superior, a opção “Notícias”, tendo acesso apenas à busca de
notícias do Google; nesta parte colou o conteúdo copiado e refez a pesquisa; a seguir,
56
Pessoas geralmente mal-intencionadas e com conhecimento avançado em Informática que invadem os
sistemas de segurança de sites remotamente, de forma não autorizada, podendo causar graves problemas em tais
sistemas.
268
examinou os resultados encontrados e selecionou um destes, que o navegador abriu em nova
guia.
Voltando novamente à página inicial Google refez novamente sua busca e selecionou
o primeiro resultado, o site Copa no Pantanal (http://www.copanopantanal.com.br), também
em nova guia. Neste site, localizou várias informações sobre as obras da Copa do Mundo de
2014
em
Cuiabá.
Visualizando
outro
site
que
havia
buscado,
o
D24am
(http://www.d24am.com), localizou uma notícia recente na qual o Governo do Estado de
Mato Grosso informava que viria um valor do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) para o pagamento de obras em Cuiabá.
Sobre seu processo de busca, o aluno explicou que quando realiza uma pesquisa em
que quer saber as últimas informações daquele assunto, ele utiliza o Google Notícias; porém,
como se lembrou de que havia um site oficial sobre a Copa do Mundo no Mato Grosso, o qual
já tinha acessado, realizou a pesquisa no Google para acessá-lo novamente.
Sobre a escolha do navegador, o aluno explicou que prefere utilizar o Google
Chrome porque o navegador é mais leve e vantajoso, enquanto que o Internet Explorer tem
vários problemas (é lento, tem um visual muito poluído, trava muito, tem muitos recursos
desnecessários e possui falhas de segurança). O aluno disse que utilizava o navegador Mozilla
Firefox e ainda o utiliza às vezes, uma vez que é muito mais rápido que o Internet Explorer;
porém, desde que passou a utilizar o Google Chrome tem dado preferência a este navegador.
Observa-se que o aluno possui um conhecimento mais avançado de informática, dos
recursos do ciberespaço e de técnicas de navegação e buscas on-line, que permitem buscar,
selecionar e acessar a informação necessária com eficiência e relativa confiabilidade. Em sua
pesquisa, acessou a informação solicitada rapidamente e em duas fontes diferentes, sendo uma
delas o site oficial da Copa do Mundo no Mato Grosso, que apresentava não apenas uma, mas
várias notícias recentes sobre o andamento das obras para o evento.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, foi solicitado que o aluno localizasse uma informação relevante para
sua pesquisa acadêmica ou científica na Internet, fornecendo a ele as mesmas orientações
repassadas aos demais participantes da pesquisa. Na barra de navegação do Google Chrome o
aluno digitou a expressão de busca “análise e organização de sistemas”. Ao verificar os
269
resultados obtidos, acessou uma das ocorrências e, simultaneamente, continuou examinando
os outros resultados de sua busca (utilizando o recurso de guias do navegador).
O aluno explicou que uma coisa que observa com frequência, é o link do site nos
resultados de busca, como por exemplos os arquivos em PDF, que dão acesso a documentos
nesse formato. O aluno acessou o primeiro arquivo localizado (um material didático sobre
Organização, Sistemas e Métodos - OSM) e informou que o texto tinha o conteúdo que estava
procurando e que agora ele tinha que saber a fonte do arquivo (quem criou), se é confiável.
Em se tratando de um trabalho de um acadêmico, o aluno disse que geralmente confia na
fonte, embora com reservas, pois é necessário ler para analisar se as informações são
coerentes; o aluno também informou que prefere não fazer sua pesquisa a partir de outro
trabalho, pois geralmente já se trata de algo reduzido, resumido, e não é interessante o aluno
resumir um resumo. Ainda explicando sobre sua pesquisa, o aluno modificou a expressão de
busca para “organização de sistemas e métodos”, a fim de mostrar que é comum encontrar
conteúdos de acadêmicos.
Para dar um exemplo de outra pesquisa, o aluno explicou que se fosse pesquisar
sobre o Sistema Operacional Linux acessaria a Revista Linux Magazine (http://www.linuxmagazine.com.br), a qual localizou pelo Google e acessou. Esta revista tem o conteúdo
produzido por profissionais da área de tecnologia, e quando o aluno sabe onde pesquisar
determinadas informações, como neste caso, recorre diretamente a estas fontes. Outro site
especifico
apresentado
pelo
aluno
foi
o
Clube
do
Hardware
(http://www.clubedohardware.com.br), que também tem muito material relevante produzido
por profissionais da área de tecnologia, tanto sobre hardware quanto sobre software.
Embora não tenha localizado nenhum artigo científico, o aluno não teve dificuldade
para localizar um conteúdo de relevância, ou seja, que poderia utilizar em sua pesquisa
acadêmica e, além disso, apresentou outras fontes especializadas de pesquisa dependendo do
assunto que estiver procurando. Por outro lado, quanto à seleção de conteúdo, o aluno também
apresentou uma visão crítica ao considerar que existem trabalhos acadêmicos disponibilizados
na Internet que já são uma redução de outros trabalhos e, portanto, devem ser analisados com
as devidas reservas.
270
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Neste momento, foi solicitado ao aluno que acessasse a página da Biblioteca Central
e utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados
para o usuário/leitor. Imediatamente o aluno acessou o catálogo on-line da biblioteca,
digitando o seu endereço eletrônico (http://www.biblioteca.ufmt.br), sem necessidade de
acessar o site da UFMT, a página da Biblioteca Central e, posteriormente, o catálogo on-line.
Como o aluno demonstrou autonomia em sua navegação e acessou primeiramente a área
restrita do aluno (Acesso Usuário), as observações desta etapa tiveram início com este
recurso.
No momento o aluno não tinha material emprestado em seu nome, mas demonstrou
que anteriormente já havia utilizado a opção de renovação dos empréstimos e alterado alguns
dados pessoais. Também revelou que já havia acessado a opção de alteração de senha, embora
não tenha conseguido alterá-la. O aluno também conhecia e já tinha utilizado o histórico de
empréstimos (como demonstrou ao refazer uma pesquisa de seu histórico), bem como a opção
para verificar material pendente. Por outro lado, o aluno informou que nunca fez reservas e
também não conhecia a consulta de sugestões, disponibilizada neste espaço.
Posteriormente, o aluno acessou o catálogo on-line para a realização das buscas por
título, autor e assunto. Na busca por título, o aluno digitou a expressão “Lógica Digital”, fez a
busca e localizou alguns resultados, embora não tenha selecionado o filtro de título; ao
questionar se o aluno estaria buscando um título já conhecido ou se queria verificar se havia
um determinado título na biblioteca, ele respondeu que se tratava de uma matéria de seu curso
e que gostaria de ver se tinha algo sobre ela na biblioteca; usando como base um dos
resultados encontrados, ele disse que os livros que tratam desse assunto geralmente são de
“eletrônica digital”, e que também poderia buscar por este título para localizar tais resultados.
Ou seja, o aluno localizou os livros que queria, agindo como um usuário que quer
buscar uma obra, mas não sabe seu título em específico; porém ao invés de pesquisar por
título, fez uma pesquisa livre, sem filtros, utilizando um assunto, uma vez que não tinha um
título em mente. Por um lado é relevante considerar que, independente da busca ser por título,
autor ou assunto, para o leitor, o mais importante é localizar a obra que procura. Entretanto,
do ponto de vista da pesquisa, observou-se que o aluno não conhece muito sobre o recurso da
busca por título disponível no catálogo on-line e não compreende que é um tipo de busca que
serve para localizar algum título conhecido, no todo ou ao menos em parte.
271
Na busca por assunto, o aluno selecionou um filtro específico e pesquisou a palavrachave “circuitos integrados”, localizando 21 resultados. Quanto à busca por autor, o aluno
preferiu não realizar, pois nunca utilizou este tipo de busca, talvez por não ter preferência por
um ou outro autor, conforme justificou.
Sobre os detalhes adicionais da obra, o aluno explicou que verifica as informações
nos resultados de busca, pois permitem confirmar se a obra é atualizada, e também
demonstrou que acessa as demais informações do registro no sistema, onde é possível
verificar inclusive a disponibilidade do material para empréstimo. Sobre os demais filtros, o
aluno demonstrou já conhecer e ter utilizado a pesquisa por uma determinada biblioteca,
enquanto que não conhecia o filtro por tipo de obra e os demais tipos de busca além da
Pesquisa Geral.
Desse modo, observou-se que o aluno faz uso moderado dos recursos on-line da
Biblioteca Central, utilizando, sobretudo, aqueles que atendem sua necessidade principal de
pesquisa acadêmica, ou seja, consulta ao acervo e renovações de empréstimos de forma online; no caso do catálogo eletrônico, que é algo básico para as pesquisas dos alunos/usuários,
ainda desconhece algumas ferramentas, mas demonstrou não ter interesse em utilizar e se
revelou satisfeito com os recursos que já utiliza.
Leitor E
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor E é uma aluna de graduação do 2º ano do Curso de Direito que utiliza a
Biblioteca Central praticamente todos os dias, sendo muito raro quando não vem à biblioteca.
Inclusive por isso, a aluna informou que até conhece todos os funcionários da Biblioteca
Central.
272
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
Quanto às TIC, a aluna informou que utiliza bastante os computadores e aparelhos
celulares, acessando a Internet nestes dois equipamentos. Segundo a aluna, é mais cômodo
utilizar computador para estudar devido ao grande volume dos códigos da área de Direito.
Apenas em último caso a aluna utiliza as TIC disponibilizadas pela Biblioteca Central, ou
seja, ela utiliza mais esses recursos em outros ambientes.
Com relação ao ciberespaço, a aluna se considera um usuário intermediário. O
Google é a única ferramenta de busca utilizada; além disso, utiliza frequentemente e-mail
(Gmail, Hotmail e Yahoo) e redes sociais (Facebook e Twitter), além de acessar muitos filmes
e músicas pela Internet. Quanto aos comunicadores instantâneos a aluna disse que tem, mas
não utiliza por falta de tempo.
Sobre produzir conteúdos na Internet a aluna disse que atualmente não o faz por falta
de tempo, embora já tenha tido blog quando começou a estudar Direito. Quanto aos sites mais
acessados, a aluna informou que acessa o site G1 diariamente, e não quis citar outros.
Segundo ela, suas navegações são bem objetivas e, por conta dos estudos, ela abre mão de
outras coisas.
Navegação no ciberespaço:
Quando tem algum problema com navegação em ambientes desconhecidos, a aluna
disse tem o costume de navegar em busca de uma solução para o problema e que geralmente
encontra uma informação rapidamente nessas situações. Ela explicou ainda que as pessoas
costuma chamar este tipo de usuário que sempre recorre à Internet e localiza qualquer
informação, de “scouter”. A aluna disse ainda que nunca aconteceu de não localizar alguma
informação visualizada anteriormente em suas navegações, pois sempre consegue uma forma
de achar novamente a informação, seja visualizando o histórico, ou mesmo, tentando se
lembrar de uma palavra-chave utilizada anteriormente na sua pesquisa.
Quanto à situações desconhecidas de uma maneira geral, seja na Internet ou mesmo
com relação às TIC, a aluna disse que nestes casos procura uma pessoa que conheça mais do
assunto e nesse caso costuma recorrer primeiramente ao seu irmão.
273
A aluna utiliza a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas, citando os
artigos como alguns dos recursos que utiliza. Além disso, conhece e utiliza os periódicos e
artigos científicos; porém, embora saiba como acessar, nunca acessou e utilizou o Portal de
Periódicos da CAPES.
Sobre os serviços on-line da Biblioteca Central, a aluna confirmou que os utiliza e
que depois que aprendeu a fazer a renovação de empréstimos on-line, nunca mais renovou
diretamente na biblioteca. A aluna considera esse serviço muito fácil de utilizar e disse que
muitos usuários o desconhecem, pois já teria até mesmo orientado uma professora como fazer
renovações. Quanto às reservas on-line, a aluna disse que nunca utilizou este serviço.
Processo de leitura:
A aluna prefere ler materiais impressos, e disse que adora livros e utiliza a Internet
apenas como complementação de suas leituras de livros. Inclusive, a aluna disse que muita
coisa que o próprio professor fala em sala de aula, ela só acredita quando lê em um livro, ou
seja, uma fonte autorizada sobre o assunto. Resumindo, a aluna gosta de ler material impresso
e assume que não gosta de ler na Internet e a utiliza como complemento de seus estudos (a
aluna ressaltou, inclusive, que imprime os artigos que localiza para leitura).
Quando procura uma informação atualizada, rápida e confiável, a aluna disse que
primeiramente procura localizar alguma pessoa que sabe sobre o assunto para se informar. Se
esta pessoa tiver ou indicar algum conteúdo na Internet ela recorre à rede para ler o material,
mas, ressaltou que é importante tomar cuidado com o conteúdo disponível na Internet, pois,
no caso do Direito, por exemplo, explica que existem muitos posicionamentos errados, ou
seja, que não são amplamente aceitos.
Se for procurar uma informação rápida, a aluna disse que seu procedimento é
geralmente este, senão, ela recorre aos livros impressos, nos quais tem mais confiança. A
aluna explicou ainda que tem muitos livros em casa, e que adquire constantemente estes
materiais, pois utiliza a Internet apenas como apoio.
Sobre a leitura hipertextual, a aluna acha facilitadora, porém faz uma crítica quanto
ao fato de muitas pessoas terem mais interesse em utilizar a Internet do que os livros para suas
pesquisas, impulsionadas pelas facilidades proporcionadas pela rede e com falta de interesse
em conhecer o conteúdo dos livros. Dessa forma, a aluna, embora confirme que utilize a
274
Internet e as TIC com frequência, tem certas reservas quanto ao uso do conteúdo eletrônico e
preferência pelo material impresso.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Iniciando esta etapa, o pesquisador solicitou que a aluna realizasse uma busca sobre
o andamento das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo, e a mesma recebeu as mesmas
instruções que os outros participantes da pesquisa. A aluna acessou o navegador Google
Chrome, pois o considera mais rápido, e, na própria barra de endereços do navegador efetuou
sua busca com o texto “copa do mundo Cuiabá". Posteriormente, acessou o link de notícias do
Google e refez a sua busca nesta página eletrônica com o mesmo texto; a aluna abriu uma
nova guia do navegador e acessou o primeiro resultado de busca, em que localizou uma
informação veiculada no mesmo dia da pesquisa, sobre um político que negava ter se unido a
empreendedores para implantar o sistema de transporte VLT em Cuiabá. O site em que
localizou a notícia foi o Jornal Nortão On-line (http://www.onortao.com.br), e o mesmo tinha
um teor político, pois apresentava várias matérias de determinados políticos.
Em seguida, a aluna acessou novamente a página inicial de busca do Google e refez
sua busca com as mesmas palavras que pesquisou anteriormente. Após verificar rapidamente
os resultados, acessou duas ocorrências, abrindo-as em novas guias. O primeiro resultado de
pesquisa escolhido foi o site Copa no Pantanal (http://www.copanopantanal.com.br), que a
aluna percebeu ser o site oficial do evento e que trazia diversas informações sobre a Copa do
Mundo
em
Mato
Grosso.
Outro
site
escolhido
foi
o
UOL
(http://esporte.uol.com.br/futebol/copa-2014/cidades/cuiaba.jhtm), no qual foi acessada a
página de esportes que tinha previsão de investimentos de Cuiabá, embora não fosse muito
recente.
A aluna confirmou que já havia utilizado o Google Notícias outras vezes, e que
quando pesquisa uma informação de notícia costuma proceder como fez, abrindo vários sites
para ler e comparar e até por isso abre várias guias. Também confirmou a preferência por
pesquisar diretamente na barra de endereços quando não está na página do site de buscas.
Com isso, a aluna atendeu satisfatoriamente ao que foi solicitado nesta etapa e demonstrou
habilidade de navegação, conhecimento dos recursos de busca e agilidade para localizar este
275
tipo de informação (notícias). O que a aluna poderia ter feito para ter uma busca mais
qualitativa seria explorar um pouco mais os sites escolhidos (principalmente o site Copa no
Pantanal, por ser um site oficial), e verificar se as matérias eram mesmo recentes e tratavam
do assunto específico solicitado, ou seja, o andamento das obras para a Copa do Mundo em
Cuiabá.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta etapa foi solicitado à aluna que localizasse uma informação relevante para sua
pesquisa acadêmica ou científica na Internet, e foram fornecidas as orientações necessárias.
Pelo
Google
a
aluna
localizou
e
acessou
o
site
JusBrasil
(http://www.jusbrasil.com.br), fez uma pesquisa com a palavra-chave “responsabilidade
civil”, e localizou várias notícias sobre o assunto. Ainda no próprio site, explicou que gosta
dele porque, além das notícias, pode pesquisar legislação, os conteúdos dos diários oficiais e
as jurisprudências de cada um dos tribunais.
Posteriormente, voltou ao Google e pesquisou a expressão “aborto anencefálico”,
examinou os resultados de busca e acessou o primeiro, o artigo “Aborto anencefálico - direito
não é religião”, no Portal Jurídico Jus Navigandi (http://jus.com.br), que a aluna gosta de
utilizar em busca de artigos.
A aluna geralmente utiliza o Google como um ponto de partida de suas pesquisas
acadêmicas no ciberespaço, sendo que também conhece alguns sites que já acessa diretamente
para pesquisar nos seus próprios conteúdos, tendo em conta sua área de formação acadêmica.
A aluna confia e já utilizou o conteúdo do site JusBrasil em suas pesquisas acadêmicas e,
inclusive, em um processo que abriu contra o Colegiado de Curso, no qual incluiu muita
jurisprudência pesquisada no referido site.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta etapa observamos o uso do catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do
sistema Pergamum voltados para o usuário/leitor. A aluna acessou o site da UFMT e a página
eletrônica da Biblioteca Central, tendo acesso posteriormente ao catálogo on-line sem
dificuldades, antes mesmo de receber as instruções do caminho para acessar o referido
276
catálogo. Na pesquisa por autor, após selecionar um filtro de pesquisa, a aluna pesquisou o
autor “Carlos Roberto Gonçalves”, localizando 33 obras do mesmo. Rapidamente observou os
resultados da pesquisa e selecionou um, o registro do livro “Direito civil: parte geral”, décima
oitava edição de 2011. Verificou os detalhes da obra e descobriu que o livro estava disponível
na Biblioteca Setorial da Faculdade de Direito.
Posteriormente,
realizou uma
busca pelo
assunto
“direito
internacional”,
selecionando um dos filtros apropriados para a busca. Com isso, localizou 243 obras em sua
pesquisa, e selecionou uma para verificar as demais informações, o livro “Actos
internacionaes vigentes no Brasil”, de Hildebrando Accioly; se tratava de uma obra mais
antiga, publicada em 1927, e que tinha um exemplar disponível em uma das coleções
especiais da Biblioteca Central. A aluna ressaltou que nunca havia utilizado este tipo de
busca.
Na busca por título, a aluna pesquisou as palavras “direito penal”, utilizando o filtro
de título. Assim, obteve 294 resultados de busca e disse que estava com dificuldade para se
lembrar de mais algum título naquele momento.
A aluna ainda não conhecia os diferentes tipos de pesquisa, além da Pesquisa Geral,
que é padrão na página inicial do catálogo on-line. Também não conhecia o serviço de reserva
de livros, e o filtro por tipo de material (livros, periódicos, Teses etc.); por outro lado,
conhecia e utilizava o recurso de seleção para pesquisar em uma determinada biblioteca.
Quanto aos recursos da área restrita do aluno na biblioteca (Acesso Usuário), quando
a aluna acessou este ambiente, confirmamos que ela estava com três livros emprestados e que
um destes já havia renovado anteriormente pelo sistema. A aluna demonstrou ainda conhecer
a opção para verificar os materiais pendentes, enquanto que o histórico de empréstimos, a
consulta a sugestões e reservas, a aluna ainda não conhecia.
Enfim, observou-se ainda que, o fato de ser assídua na Biblioteca Central e saber
onde localizar fisicamente muitos dos livros de sua área inibe um pouco o uso do catálogo online para pesquisar e localizar os livros no acervo. Ainda assim, consegue utilizar
razoavelmente os recursos que tem interesse, consegue localizar os livros quando disponíveis
por meio da consulta ao catálogo on-line, verificar os materiais pendentes e realizar
renovações de empréstimos de forma on-line.
277
Leitor F
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor F é uma aluna de pós-graduação, especificamente do Curso de Mestrado em
Ciências Florestais e Ambientais. A aluna utiliza a biblioteca com frequência, pelo menos
uma vez por semana.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
A aluna utiliza bastante as TIC, diariamente fazendo uso de diversos recursos
tecnológicos de informação e comunicação. Com relação ao ciberespaço, a aluna se considera
um usuário intermediário, pois, conforme explica, não consegue realizar certas buscas.
Quando questionada se utiliza ferramentas de busca, a aluna respondeu que utiliza
primeiramente o Google e, também, as páginas de revistas específicas de sua área. Quanto aos
e-mails e comunicadores instantâneos, a aluna informou que os utiliza, citando como
exemplos o Gmail e o Hotmail, e seus comunicadores instantâneos (Messenger e Gtalk), além
do Skype. Quanto às redes sociais, a aluna informou que utiliza o Skype e o MSN, e que não
utiliza Twitter, Orkut ou Facebook.
Sobre acessar filmes e músicas pela Internet, a aluna respondeu que raramente
acessa, por ser material “pesado”57 e devido à falta de tempo, uma vez que trabalha. A aluna
também não produz nem disponibiliza conteúdos na Internet. Quanto aos sites que utiliza com
maior frequência, a aluna explicou que utiliza sites do Governo, ou seja, sites voltados para
sua pesquisa acadêmica.
Sobre o acesso e uso das TIC no ambiente da Biblioteca Central, a aluna informou
que geralmente utiliza materiais particulares, mas que também acessa e utiliza os recursos
oferecidos pela Biblioteca Central. Por outro lado, fora do ambiente da Biblioteca Central a
aluna também tem acesso a estes recursos e os utiliza.
57
Ou seja, arquivos que ocupam muito espaço de armazenamento e são de difícil transferência devido à
velocidade da conexão da Internet e tempo necessário para transferência.
278
Navegação no ciberespaço:
Quando questionada sobre a forma de orientação por ambientes desconhecidos, em
se tratando do ciberespaço, a aluna respondeu que os sites desconhecidos que encontra,
geralmente estão em outra língua e nesse caso utiliza uma ferramenta de tradução para
compreender melhor estes sites. De modo geral, ao se deparar com situações desconhecidas
relacionadas às TIC, a aluna explicou que recorre a especialistas, assistência técnica, ou
mesmo colegas que compreendem um pouco mais dos recursos que apresentam problema,
para buscar alguma orientação.
A aluna também explicou que em seus processos de navegação, já ocorreu de tentar
recuperar uma informação verificada anteriormente e não conseguir mais localizar a mesma e
que isto atrapalha bastante, pois às vezes se trata de um conteúdo extremamente necessário
que não consegue recuperar novamente.
Conforme explicado anteriormente, a aluna utiliza a Internet para complementar suas
pesquisas acadêmicas. Entre alguns recursos questionados, também confirmou que utiliza
livros eletrônicos, bem como conhece e utiliza os periódicos (revistas) e artigos científicos
eletrônicos. Outro recurso utilizado é o Portal de Periódicos da CAPES, que além de ser uma
fonte de pesquisa, também transmite confiabilidade às pesquisas realizadas pela aluna.
A aluna disse que utiliza alguns dos serviços on-line da Biblioteca Central, neste
caso, a consulta aos livros (catálogo on-line), geralmente na própria biblioteca, nos terminais
de pesquisa, e as renovações on-line dos materiais emprestados.
Processo de leitura:
A aluna explicou que prefere ler livros e textos impressos a ler na tela do
computador, pois o conteúdo digital é muito rápido, dinâmico, enquanto que o material
impresso é melhor para sua assimilação. Assim, procura imprimir o material que utiliza como
fonte de estudo.
Quando necessita de uma informação atualizada, rápida e confiável, a aluna explicou
que entre os materiais impressos e a Internet, pode escolher a Internet, desde que seja um site
mais confiável, como, por exemplo, de uma revista, de uma entidade científica, ou mesmo de
um órgão público. Para informações gerais pode até acessar o Google, mas dependendo da
279
informação, recorre a outras fontes, citando como exemplo revistas científicas. De todo modo,
entre o material impresso e o digital, em se tratando de pesquisas de assuntos gerais (não
necessariamente científicos), ao buscar uma informação atualizada, rápida e confiável, a aluna
confirmou preferir acessar a Internet.
Sobre a leitura hipertextual, a aluna explicou que gosta deste tipo de
leitura/navegação, pois o acesso entre os assuntos relacionados é rápido; porém, ressalta que
às vezes, esta forma de leitura faz fugir do objetivo principal de pesquisa.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Nesta atividade, solicitamos à aluna que realizasse uma busca sobre o andamento das
obras de Cuiabá para a Copa do Mundo. De acordo com as orientações recebidas sobre a
busca, inicialmente a aluna realizou a pesquisa na barra de pesquisa do Google, recurso
instalado no navegador Internet Explorer, digitando os termos “copa mt 2014”. O primeiro
resultado localizado foi acesso, ou seja, o site denominado Copa no Pantanal
(http://www.copanopantanal.com.br).
Neste site, a aluna localizou uma notícia atualizada que tratava da possibilidade de
fiscalização do TCU sobre as obras do VLT em Cuiabá. Além desta notícia, na página inicial
havia vários outros links de matérias atualizadas sobre o tema, uma vez que o site escolhido é
bem específico e atualizado constantemente.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, solicitamos à aluna que localizasse uma informação relevante para
sua pesquisa acadêmica ou científica na Internet, sendo repassadas à aluna as mesmas
orientações que foram repassadas aos demais entrevistados. Pela barra de pesquisa do Google,
a aluna pesquisou e acessou o site da CETESB (http://www.cetesb.sp.gov.br), que
demonstrou conhecer com antecedência, explicando que o site do órgão possui normativas
importantes para sua área de formação. Após tentar realizar duas buscas no site sem
resultados, a aluna acessou o menu “Serviços”, e o submenu “Normas Técnicas CETESB”, e,
280
nesta parte, o link “Normas Técnicas Vigentes”, onde localizou a Norma Técnica nº P4.233,
referente a lodos de curtumes, que já havia utilizado anteriormente, junto com outra norma.
Quanto à fonte de informação escolhida, o site da CETESB, a aluna demonstrou
bastante conhecimento sobre o mesmo, explicando que para sua pesquisa acadêmica esta
fonte governamental é fundamental e confiável.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Assim que a aluna começou a utilizar o computador já acessou o site da UFMT e a
página eletrônica da Biblioteca Central, embora não tenha localizado inicialmente o link que
dá acesso ao catálogo eletrônico, por não conhecer ainda esta página. Como a aluna já acessou
esta página, começamos os processos de navegação justamente pela terceira atividade de
navegação.
Assim, após orientar sobre a localização do link e acessar o catálogo eletrônico, a
aluna foi orientada sobre as etapas desta atividade, na qual seria necessário que ela utilizasse o
catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados para o
usuário/leitor. Após acessar o catálogo eletrônico, foi solicitado que a aluna realizasse três
buscas, uma por título, uma por assunto e outra por autor, sendo as informações a serem
pesquisadas de livre escolha da aluna. A aluna manteve a busca por palavras habilitada e
realizou uma busca pelo título “código florestal”, localizando 11 resultados. Após isso,
modificou o critério de busca e buscou por assunto a mesma palavra-chave, localizando duas
obras. A seguir, realizando a busca por autor, após selecionar a opção referida no sistema,
conseguiu localizar algumas obras na terceira tentativa, alternando nomes diferentes dos
autores pesquisados, na medida em que não obtinha os resultados esperados.
Quando questionada sobre como fazia para verificar outros detalhes de uma
determinada obra localizada, a aluna respondeu que geralmente só verifica até a página de
resultados de pesquisa, pois ali já tem os dados para localização do livro no acervo; quando
explicado para a aluna sobre a opção para verificar os detalhes da obra, a aluna não se
lembrava de ter acessado, mas quando acessamos esta parte ela se recordou de já ter
visualizado, quando estava em outra cidade.
Sobre as reservas on-line, a aluna afirmou que nunca tentou usar este recurso e o
mesmo foi apresentado a ela. Sobre o filtro que permite selecionar uma determinada
281
biblioteca (uma vez que pelo sistema é possível pesquisar em todas as bibliotecas da UFMT),
a aluna confirmou utilizar e acessou espontaneamente o recurso. Sobre o filtro por tipo de
obra, a aluna explicou não utilizar este recurso, e o mesmo também foi apresentado a ela.
Quanto aos outros tipos de busca, além da pesquisa geral que vem previamente selecionada, a
aluna confirmou nunca ter utilizado nenhuma das outras formas de busca.
Ao acessarmos a área restrita do aluno, confirmamos que a aluna só havia acessado
este ambiente para a realização de renovações, embora tenha tido um pouco de dificuldades
durante o login. A aluna disse que acessava esta área apenas mesmo para realizar renovações,
uma vez que desconhecia os outros recursos. Ainda segundo ela, a mesma tinha acessado
antes da greve, o que pode explicar a dificuldade inicial de acesso.
Observou-se que a aluna tem um conhecimento básico sobre buscas no sistema da
biblioteca. Embora conheça alguns filtros e consiga identificar o material de que necessita
para posteriormente o localizar nas estantes, procura fazer uso, sobretudo, dos recursos que
conhece e que satisfazem sua necessidade imediata de informação, sendo a renovação on-line
o serviço que vai um pouco além dos serviços básicos que utiliza.
Leitor G
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor G é uma aluna de pós-graduação, especificamente do Curso Mestrado em
Agronegócios e Desenvolvimento Regional, do Departamento de Economia. A aluna utiliza a
Biblioteca Central com muita frequência, praticamente todos os dias da semana, uma vez que
o acervo da sua Biblioteca Setorial não lhe atende satisfatoriamente. Outra questão que
facilita o uso da Biblioteca Central é o fato da aluna morar próximo da Biblioteca Central,
sendo que esta fica no caminho entre onde ela mora e o bloco do seu curso. Inclusive, a
primeira abordagem à aluna foi feita em um sábado, quando a mesma esteve na biblioteca
para estudar e emprestar livros.
282
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
A aluna utiliza bastante as TIC, sobretudo, fora do espaço da Biblioteca Central, pois
informou que, neste ambiente, utiliza muito pouco as TIC e recorre mais aos livros. Quanto ao
ciberespaço, a aluna se considera um usuário avançado, por utilizar a Internet todos os dias.
Embora o uso intenso de um recurso não garanta que ele esteja sendo explorado da melhor
maneira, ao responder esta questão, a aluna foi informada de que esta pergunta não estava
relacionada apenas à quantidade de acesso, mas, principalmente ao conhecimento e facilidade
de uso dos recursos do ciberespaço nas navegações.
Sobre as ferramentas de busca utilizadas, a aluna informou utilizar o Google para
localizar artigos, e o YouTube, quando precisa localizar especificamente vídeos. Quanto a
outros sites, a aluna também utiliza o site do IMEA, Instituto Mato-Grossense de Economia
Agropecuária (http://www.imea.com.br), da SEFAZ, Secretaria de Fazenda do Estado de
Mato
Grosso
(http://www.sefaz.mt.gov.br)
e
da
Receita
Federal
do
Brasil
(http://www.receita.fazenda.gov.br), para suas pesquisas, pois são fontes de informação
confiáveis. Além destas fontes, fez referência também a outro site que utiliza para pesquisar
sobre tributação, do qual não se lembrou na ocasião, e aos sites acadêmicos, para pesquisas de
artigos acadêmicos.
Utiliza e-mails diariamente (Hotmail e Yahoo), bem como comunicadores
instantâneos (Messenger) e redes sociais (Facebook). Acessa filmes (raramente) e músicas
pela Internet (com mais frequência), não produz e nem disponibiliza conteúdos na Internet.
Ainda quanto aos sites utilizados com frequência, além daqueles anteriormente citados, fez
referência
ao
Vagalume
(http://www.vagalume.com.br)
e
RadioUol
(http://www.radio.uol.com.br), que utiliza para ouvir músicas.
Navegação no ciberespaço:
Quando questionada sobre seu procedimento ao navegar por ambientes
desconhecidos, a aluna respondeu que, em se tratando de sites em língua estrangeira, por
exemplo, recorre à ferramenta de tradução do Google para compreender um pouco melhor o
conteúdo do site. Quando a questão não é esta, ela explicou que segue explorando e testando o
283
site até descobrir o que pretende. Senão for possível, ela recorre a alguém que conheça o site
em busca de explicação.
A aluna informou ainda que não se recorda, em suas navegações na Internet, de ter
deixado de recuperar algum conteúdo interessante visualizado anteriormente, uma vez que
sempre que se interessa por algum conteúdo, ou ela baixa o arquivo ou mesmo copia o
endereço para um editor de texto para acessar futuramente, antes de prosseguir navegando.
Ao se deparar com situações desconhecidas, de modo geral, não restritas ao
ciberespaço, a aluna explicou que não tem intimidade com questões técnicas, e, nesse caso,
costuma recorrer a amigos ou então, procura um técnico especializado.
Conforme informado anteriormente, a aluna utiliza a Internet em suas pesquisas
acadêmicas, inclusive artigos acadêmicos, embora não conheça o Portal de Periódicos da
CAPES. Também não utiliza livros eletrônicos, porque, explica não encontrar os materiais da
sua área disponíveis na Internet, inclusive devido à questões de direitos autorais.
Dos serviços on-line da Biblioteca Central da UFMT, a aluna utiliza apenas a
consulta ao catálogo eletrônico para verificar a disponibilidade de livros para empréstimos.
Até onde utiliza estes recursos, a aluna disse que considera os mesmos bons. Ela informa que
tem mais dificuldade para localizar os livros nas estantes, mas que no site de buscas, a
localização das obras é rápida.
Processo de leitura:
A aluna prefere ler livros e textos impressos a ler na tela do computador, por achar
cansativa a leitura na tela e pelo fato de gostar de grifar o texto; embora consiga também
marcar o texto pelo computador, explica que tem que ficar movimentando a página do
documento e que isso dificulta um pouco, enquanto que acha o material impresso mais
cômodo para manusear e mais fácil para identificar visualmente um determinado trecho, uma
determinada página etc. Outra questão levantada pela aluna foi o conforto de poder pegar o
material impresso nas mãos, mudar de posição após um tempo de leitura, deitar-se para ler, ou
seja, condições de conforto não proporcionadas pelo computador.
A aluna explicou que a questão financeira também interfere na sua escolha de leitura.
Quando tem que ler um material digital muito extenso, cuja impressão tem um custo alto, ela
opta por ler diretamente na tela do computador. Porém, pela questão do conforto, ela prefere
284
ler os materiais impressos. Geralmente a aluna imprime seus materiais de leitura; apenas
quando é um material muito grande é que ela não imprime.
Quando questionada sobre qual sua preferência quando busca uma informação
atualizada, rápida e confiável, a aluna explicou que prefere utilizar a Internet aos materiais
impressos, porque, argumenta, nesse caso é mais fácil recorrer à Internet do que a um livro
impresso. A aluna explicou que costuma localizar o que busca rapidamente na Internet e que
também pesquisa em sites menos conceituados, pois os mesmos contêm definições mais
fáceis de entender. Porém, levando em conta a confiabilidade, quando necessário ela também
tenta localizar as informações que necessita em sites mais confiáveis para poder citar em suas
pesquisas, o que pode ser um pouco mais demorado.
Levando em conta esta resposta e o fato de que aluna prefere ler livros e textos
impressos, observa-se que para o leitor, a escolha de um suporte de leitura, seja impresso ou
mesmo digital, é algo que varia de acordo com sua finalidade de leitura. Como não se trata de
uma leitura mais apurada em que precisaria analisar, rever e fazer anotações, e sim uma
leitura informativa, mais dinâmica, a aluna prefere acessar uma informação (e ler) nesse caso
diretamente na tela do computador.
Sobre a leitura hipertextual, a aluna disse que evita e que não gosta de ficar
acessando os links presentes nos textos, uma vez que teve algumas experiências de que não
gostou, com textos vinculados mais complexos e de difícil compreensão e mesmo com textos
com pouca relação efetiva com o conteúdo com o qual estava vinculado. A aluna informou
que quando está lendo um texto na Internet e o mesmo tem hiperlinks, dificilmente os acessa.
Se tiver alguma dúvida, ela prefere anotar as palavras e depois recorrer a um professor para
solicitar orientação, ou então pesquisar em um dicionário, ou mesmo pesquisar no Google.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Após receber as orientações para a realização desta atividade, a aluna acessou o
navegador Google Chrome, acessou a página do Google e fez uma pesquisa com o texto
“copa do mundo Cuiabá”. Após examinar alguns dos resultados, acessou o site
GloboEsporte.com (www.globoesporte.com), e verificou uma notícia que tinha o seguinte
285
título: “Cuiabá espera crescer 30 anos em três com realização da Copa de 2014”. Embora não
sendo muito recente, a notícia falava também do andamento das obras para a Copa do Mundo.
Como os dois navegadores de Internet estavam com problema de travamento, a aluna
não conseguiu acessar outro site verificado nos resultados de pesquisa, e informou que
acessou o site GloboEsporte.com por ser conhecido, mas que quando não tem um site como
referência para o assunto que está pesquisando, recorre mais ao Google mesmo.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, após receber as devidas orientações, a aluna pesquisou e acessou
pelo Google o site da Secretaria de Estado de Fazenda do Estado de Mato Grosso
(http://www.sefaz.mt.gov.br), no qual acessou o menu “Finanças Públicas” e, posteriormente,
o submenu “Fundo Part. Municípios”. Na tela que se abriu, disse que iria pesquisar o ICMS,
pois estava mesmo necessitando da informação; ainda segundo a aluna, essa informação
também está disponível no Diário Oficial do Estado, mas ela acha mais fácil pesquisar no site
em questão.
Dessa forma, na primeira tabela da tela, selecionou a opção para verificar o ICMS de
2011, e foi mostrada uma nova janela com os meses para seleção e verificação das
informações. A aluna comentou que, como os dados não estavam fechados, ela ainda não
tinha acesso ao valor total, apenas até o mês de setembro, e que os dados visualizados, haviam
sido lançados recentemente, pois ainda não os havia visto; ainda assim, a aluna acessou o mês
de janeiro para mostrar os dados em PDF. Ela disse poderia conseguir algumas destas
informações em artigos, mas seriam dados avulsos, enquanto que pode acessar todos os dados
disponibilizados no site da secretaria, que é uma fonte confiável para pesquisa.
Observou-se que a aluna conhece e utiliza fontes especializadas para acessar
informações relevantes de sua área no ciberespaço. Embora não tenha acessado artigos
científicos ou similares, localizou, sem dificuldades, informações oficiais de que estava
necessitando para sua pesquisa acadêmica, em uma fonte confiável.
286
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta atividade, solicitamos à aluna que acessasse a página da Biblioteca Central e
utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados
para o usuário/leitor. O acesso ao catálogo on-line foi realizado normalmente, pelo site da
UFMT e pela página da Biblioteca Central. Na primeira busca realizada, a aluna selecionou
um filtro de Título, e digitou o título “O capital”, e marcou apenas a Biblioteca de Cuiabá para
realizar sua busca, localizando, em seguida, um total de 63 resultados. Assim, examinou
brevemente os resultados de busca e selecionou uma obra mais atualizada para verificar os
demais detalhes, demonstrando também saber como verificar a quantidade de exemplares
disponíveis na biblioteca.
A seguir, a aluna procedeu à busca por autor. Selecionando o filtro apropriado,
digitou o nome “Celso Furtado”, localizando 46 obras. Navegando um pouco nos resultados,
ela acessou um dos resultados na segunda página de apresentação. A obra em questão é a
“Formação econômica do Brasil”, décima nona edição de 1984, e a aluna verificou que havia
um exemplar disponível para empréstimo.
Quanto à busca por assunto, a aluna disse nunca ter pesquisado, mas fez um teste,
com o assunto “substituição da importação”, e não conseguiu localizar nenhuma obra.
Posteriormente, refinando mais sua busca logrou êxito, embora sendo uma busca muito mais
ampla apenas com a palavra “substituição”.
Durante esta etapa, observou-se também que a aluna não conhecia o filtro por tipo de
material bibliográfico e os outros tipos de pesquisa, enquanto que o filtro por Biblioteca ela
demonstrou saber utilizar durante suas buscas. Os demais recursos, alvo desta observação,
nunca haviam sido utilizados pela aluna (reservas e renovações on-line e todos os recursos da
área restrita do aluno) e foram apresentados brevemente. Dessa forma, observou-se que a
aluna faz um baixo uso dos recursos on-line da Biblioteca Central, embora tenha habilidade
para recuperar o material de que necessita com o catálogo on-line, que é o único destes
recursos que utiliza.
287
Leitor H
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor H é uma aluna de graduação em Ciências Contábeis e de pós-graduação,
especificamente do Curso de Especialização em Auditoria e Controladoria no Setor Público,
sendo que, no momento da entrevista, informou que estava em fase de conclusão dos dois
cursos. A aluna informou que estava utilizando a Biblioteca Central mais por conta da pósgraduação do que para atender suas pesquisas da graduação, ressaltando que o tema da
pesquisa da pós-graduação é o mesmo do Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação e
por isso também utilizava praticamente o mesmo material.
Como a aluna utilizava a Biblioteca Central, sobretudo para atender suas pesquisas
de pós-graduação, a mesma foi considerada, para efeito de uma classificação enquanto
usuário/leitor da biblioteca, nesse grupo de usuários de pós-graduação.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
A aluna informou que utiliza as TIC em suas atividades, mas que na Biblioteca
Central utiliza apenas a energia elétrica para conectar seu notebook e acessar a Internet, uma
vez que também não utiliza a rede de Internet sem fio da biblioteca. Dessa forma, respondeu
ainda que utiliza os recursos tecnológicos em sua própria casa.
Com relação às TIC e à Internet, a aluna respondeu que se considera um usuário
intermediário, uma vez que ocupa bastante estes recursos. Sobre as ferramentas de busca na
Internet, explicou que utiliza o Google, que é o principal site de buscas; além disso, informou
que utiliza um e-mail e não utiliza comunicadores instantâneos ou redes sociais, relatando que
já teve uma rede social, mas que atualmente não tem mais, pois descobriu que a finalidade
deste recurso não era aquela que ela queria.
A aluna informou que acessa filmes e músicas pela Internet, e, com relação à
produção ou disponibilização de conteúdos na Internet, a aluna respondeu que não utiliza a
rede para esta finalidade. Em se tratando dos sites acessados com mais frequência, além do
Google, citado anteriormente, a aluna respondeu que depende da finalidade: por exemplo,
288
para pesquisar sobre a idoneidade de uma pessoa, utiliza o site do Tribunal de Justiça.
Também nesses casos, costuma recorrer ao Google, que é o site que utiliza com mais
frequência.
Navegação no ciberespaço:
Sobre a navegação por ambientes desconhecidos na Internet, a aluna explicou que
não fica explorando muito, pois geralmente acessa os sites que realmente deseja acessar; ou
seja, não tem o costume de observar o mapa do site, sendo raro ficar explorando recursos
desconhecidos.
Em suas navegações pela Internet, já aconteceu de a aluna deixar de localizar um
conteúdo visualizado anteriormente, mas isso é muito raro e depende mais de situações
pontuais, como por exemplo, quando é solicitada alguma senha, ou mesmo quando o
navegador fica off-line, situações em que admite que possa não conseguir localizar mais tal
conteúdo. A aluna se lembra de um caso destes, quando ficou sem acesso à Internet, e nesse
caso recorreu ao histórico do navegador de Internet para tentar localizar o conteúdo.
Sobre situações desconhecidas, em geral, relacionadas às TIC, e não restritas à
navegação no ciberespaço, a aluna respondeu que costuma ser autodidata, e que também
recorre ao seu irmão. O fato de compreender um pouco de inglês também ajuda em suas
navegações, pois ocorre de se deparar com páginas com conteúdo em língua inglesa. Há casos
também em que a aluna recorre a outras leituras e dicionários para compreender melhor
alguma informação veiculada em um site que não conhece bem. Enfim, a aluna conclui
retomando que quando não consegue solucionar ou compreender algo sozinha recorre ao seu
irmão.
No caso de vírus de computador, e-mails, spam, ou outros recursos ou links
suspeitos, a aluna procura evitar; ressalta ainda que costuma de verificar algumas informações
na barra de status do site para confirmar se os links que vai acessar são seguros, se são mesmo
daquele site etc. Ou seja, a aluna já possui uma técnica de navegação que serve como
orientação para evitar riscos e problemas relacionados à navegação no ciberespaço.
A aluna utiliza a Internet para complementar suas pesquisas acadêmicas, citando
como exemplo um site de uma instituição em que fez sua pesquisa; além disso, informou que
conhece os periódicos e artigos científicos eletrônicos e, nesse caso, mencionou que utiliza
289
frequentemente o SciELO. Também citou o site da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), o qual também utilizou em sua
pesquisa, e comentou sobre outros sites de universidades nos quais também pesquisou artigos
eletrônicos. Por outro lado, a aluna revelou que não utiliza livros eletrônicos e que também
não utiliza o Portal de Periódicos da CAPES.
A aluna informou que utiliza os serviços on-line da Biblioteca Central, confirmando
que gostou muito da possibilidade de realizar renovações dos empréstimos de livros de modo
on-line. Além disso, também utiliza com frequência o catálogo eletrônico da biblioteca para
realizar suas pesquisas acadêmicas.
Processo de leitura:
A aluna informou que prefere ler livros e textos impressos do que ler diretamente na
tela do computador, provavelmente pelo costume que tem de querer virar a página do livro.
Além disso, informou que gosta de colecionar livros, tendo até uma biblioteca particular.
Quando começou a cursar a graduação a aluna não tinha este costume e utilizava mais as
cópias, explicando que foi ao longo da pós-graduação que passou a adquirir os livros que tem.
Quando busca uma informação rápida a aluna costuma recorrer à Internet; no caso de
necessitar de uma informação atualizada, pode recorrer tanto a livros e demais materiais
impressos, quanto à Internet. Para obter uma informação confiável, a aluna prefere recorrer
aos materiais impressos, uma vez que, para este objetivo, não confia tanto na Internet.
Sobre a leitura hipertextual, a aluna informou que acha boa, pois a pessoa que está
lendo pode ampliar sua leitura à medida que navega. A aluna ressaltou que isso também
depende do interesse do leitor, pois se ele quiser se aprofundar no assunto, pode acessar os
links até realizar o processo de leitura que deseja. Por fim, a aluna também revelou que utiliza
esse tipo de leitura explorando os links mais como algo opcional, ou seja, algo próximo de um
complemento de sua pesquisa ou leitura.
290
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Após receber as orientações necessárias para esta atividade, a aluna inicialmente
acessou o navegador Internet Explorer, mas informou que utiliza o navegador Mozilla Firefox
quando acessa a Internet em sua casa. A aluna explicou sabe que o órgão que trabalha com as
obras da Copa do Mundo no Mato Grosso é a Agecopa, atualmente se chamando Secopa, e,
por essa razão, fez uma pesquisa na barra de buscas do Google com a palavra “Secopa” e,
posteriormente alterou sua busca para “Secopa Mato Grosso”, uma vez que não havia
localizado sites de seu interesse.
Ao examinar os resultados de sua segunda pesquisa, a aluna acessou o Portal da
Copa (http://www.copa2014.gov.br/tags/secopa). Como não localizou as informações
pretendidas neste site, fez outra pesquisa e localizou o site da Secretaria Extraordinária da
Copa do Mundo em Cuiabá (http://www.cuiaba2014.mt.gov.br), onde localizou um link
específico para acompanhar o andamento das obras da Copa do Mundo. Acessando este link,
a aluna teve acesso a uma relação de obras em andamento que poderia acessar, verificar
informações e fotos, ocasião em que examinou algumas fotos de obras em vias públicas da
capital mato-grossense.
Dessa forma, a aluna fez várias buscas e localizou informações recentes oficiais
sobre o andamento das obras da Copa do Mundo em Cuiabá, no site da Secretaria da Copa em
Mato Grosso. Com isso, a aluna demonstrou ser seletiva em suas navegações, procurando
recorrer a informações confiáveis, oficiais, aliando a agilidade proporcionada pela Internet aos
seus critérios próprios de seleção dos conteúdos que julgar relevantes.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Após receber todas as instruções necessárias para esta etapa, a aluna a começou
explicando que geralmente utiliza o Google em suas pesquisas acadêmicas. Utilizando a barra
de pesquisa do Google, fez uma busca pelo assunto “balanços públicos”. Ao examinar os
resultados da busca, informou que costuma observar o formato do arquivo localizado, tendo
preferência por aqueles que estejam no formato PDF, principalmente quando pesquisa artigos.
291
Observando o extrato da segunda ocorrência dos resultados de pesquisa, verificou ainda que a
mesma se tratava de um documento de um Congresso do Conselho Federal de Contabilidade.
Dessa forma, acessou o artigo, intitulado “Análise e interpretação das demonstrações
contábeis no setor público”. Ao analisar o texto do documento, informou também que
costuma levar em consideração seu ano de publicação, uma vez que na sua área é importante
pesquisar artigos com um prazo médio de cinco anos de publicação. Enfim, a aluna informou
que utilizaria o documento consultado em sua pesquisa com segurança e confiança, por ser
um documento de um evento especializado.
Além disso, quando questionada sobre seu procedimento de pesquisa acadêmica, que
partiu do Google, a aluna respondeu que também acessa diretamente sites especializados da
sua área, inclusive sites de revistas científicas. Assim, ainda em sua navegação pela Internet,
mostrou o site da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de
São Paulo (FEA-USP), que acessa frequentemente, confirmando que conhece e utiliza os
periódicos eletrônicos da instituição.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
O objetivo desta atividade era que a aluna acessasse a página da Biblioteca Central e
utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados
para o usuário/leitor. Dessa forma, após as devidas orientações, a aluna iniciou este processo
de navegação acessando o site da UFMT e a página da Biblioteca Central, até chegar ao
catálogo on-line, demonstrando já ter utilizado anteriormente esse ambiente.
No catálogo on-line, a aluna pesquisou primeiramente por autor. Para tanto,
selecionou o filtro específico, mas explicou que às vezes faz pesquisa livre, sem usar nenhum
filtro. Como geralmente costuma fazer, digitou o sobrenome do autor, neste caso, “Kohama”,
e localizou seis registros. A aluna informou ainda que se quiser pode filtrar mais, pelo tipo de
obra, pois geralmente exclui monografias e outros documentos, uma vez que para sua
pesquisa só servem os livros.
Sobre as informações necessárias para identificação das obras e sua localização no
acervo, embora a aluna tenha demonstrado que ainda não tinha acessado a parte em que se
visualizam as demais informações dos registros, mostrou que conhecia as informações do
292
número de chamada e sabe verificar se a obra constava no acervo da Biblioteca Central ou
mesmo se pertencia à outra biblioteca da UFMT.
Quanto à pesquisa por assunto, a aluna pesquisou e localizou dois registros com a
palavra-chave “balanços públicos”. Em seguida, a aluna ainda realizou outra pesquisa, desta
vez por título, localizando também alguns registros. Em todos os procedimentos de pesquisa
no catálogo on-line, a aluna demonstrou conhecimento de alguns filtros de pesquisa (por
autor, por título e por assunto), além de saber como restringir a busca por biblioteca e por tipo
de obra.
A aluna demonstrou não conhecer os demais tipos de pesquisa e a reserva on-line,
além de alguns recursos da área restrita (Acesso Usuário), como a opção de reserva, material
pendente, histórico, consulta sugestões e outros. Porém demonstrou conhecer e utilizar o
serviço de renovação on-line do empréstimo de obras, do qual também revelou gostar muito.
Assim, observou-se que a aluna conhece e utiliza regularmente alguns dos recursos
on-line da biblioteca Central, especificamente o catálogo eletrônico e a renovação on-line do
empréstimo de livros. Utilizando estes recursos, consegue localizar as obras de seu interesse e
usufruir melhor os serviços disponíveis, considerando que tem preferência por utilizar livros e
demais materiais impressos, e que estes se constituem no principal produto da biblioteca.
Leitor I
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor I é uma aluna de pós-graduação em Gestão de Pessoas do ICE (Instituto
Cuiabano de Educação) e funcionária (servidor público) de uma Biblioteca Setorial da
Universidade Federal de Mato Grosso. A frequência de uso da Biblioteca Central é muito
baixa, porque a aluna está em fase de concluir sua monografia e já terminou suas aulas. Além
disso, muito do que precisa resolver, consegue resolver a distância, por trabalhar na Biblioteca
Setorial. Dessa forma, o uso da Biblioteca Central era mesmo para atender as necessidades
acadêmicas da Pós-Graduação, e não para atender as necessidades do ambiente de trabalho.
293
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
Quanto ao uso das TIC, a aluna informou que não utiliza muitos recursos
tecnológicos, porém utiliza frequentemente, tanto no trabalho (computador) quanto em casa
(notebook), e celulares (uso básico, ligação, mensagens e, raramente fotografias). Respondeu
ainda que não utiliza i-phone ou tablets. Quanto ao uso das TIC no ambiente da Biblioteca
Central, a aluna explicou que utilizou computadores há muito tempo, quando cursou
graduação na Instituição, mas apenas para consultar o acervo. Recentemente ela apenas
utilizou a consulta ao acervo de forma on-line, fora do ambiente da biblioteca, lembrando que
não utiliza ou utilizou os computadores da biblioteca para suas pesquisas acadêmicas, pois
isso geralmente faz de casa mesmo.
Com relação ao ciberespaço, a aluna se considera um usuário intermediário,
explicando que utiliza a Internet com frequência, mas não faz muita coisa além de suas rotinas
de checar e-mails, visitar redes sociais e realizar buscas (nada muito aprofundado). Quanto às
ferramentas de busca utiliza o Google e o Bing, utiliza com frequência e-mails (Hotmail,
Gmail e e-mail institucional), e, utiliza com menos frequência os comunicadores instantâneos
Messenger, GTalk e Skype, pois tem utilizado mais o comunicador instantâneo do Facebook,
que também é a rede social de sua preferência (sua conta do Orkut está ativa mas sem
atualização).
A servidora não acessa filmes e músicas pela Internet, e também não produz
conteúdo na rede; por outro lado, disponibiliza conteúdos na Internet, nesse caso apenas tem
disponibilizado fotos na rede social que utiliza. Quanto aos sites utilizados com mais
frequência, além do Google e do Facebook, citou o MSN, Globo.com, e blogs de interesses
diversos.
Navegação no ciberespaço:
Ao navegar por ambientes desconhecidos a servidora explicou que, geralmente, se
não compreender muito bem o site, acaba se distanciando um pouco, pois não tem o costume
de ficar explorando muito para descobrir como funcionam os recursos. Se for uma ferramenta
que precisa muito utilizar, então nesse caso procura orientação de outra pessoa. Se estiver
294
sozinha e eventualmente precisar mesmo mexer com o ambiente desconhecido, então nesse
caso pode explorar um pouco, mas ressalta que é muito difícil.
De uma maneira geral, com relação a situações desconhecidas envolvendo as TIC,
como por exemplo, funcionamento de equipamentos, vírus etc., a servidora informou que
costuma mexer até onde se sente segura. Com relação a vírus, se tiver alguma desconfiança,
como ocorre, por exemplo, com e-mails suspeitos, ela costuma excluir; porém, se estiver
dando algum problema com equipamento, ela procura colegas de trabalho, familiares, ou
mesmo técnicos de informática. Raramente recorre a manuais de equipamentos e reforça que
tem uma relação de distanciamento com esta questão.
Ainda quanto às navegações pela Internet, a servidora não se recorda de ter deixado
de recuperar algum conteúdo importante verificado anteriormente. Citando o exemplo de
quando estava pesquisando para sua monografia, quando verificava alguns dos itens
localizados, sempre retrocedia à página anterior para acessar novamente os resultados de
busca, com isso, não se recorda de deixado de recuperar algo importante que tenha verificado.
A servidora informou que utiliza a Internet para complementar suas pesquisas
acadêmicas, citando como exemplo o Sistema Pergamum (uso do sistema para consulta ao
acervo), o site de buscas Google e outros sites abertos. Não utiliza livros eletrônicos, e
embora conheça artigos e periódicos eletrônicos, informou que não utiliza estes materiais em
suas pesquisas, tanto é que até mesmo desconhece o Portal de Periódicos da CAPES;
raramente quando necessita consultar algum artigo, utiliza os periódicos impressos de seu
próprio local de trabalho.
A servidora utilizou os serviços on-line da Biblioteca Central por conta de sua
necessidade de material para a pós-graduação. Além disso, também tem utilizado com
frequência por conta de seu trabalho, pois trabalha em uma biblioteca setorial; o sistema ainda
é algo novo que tem que operar e orientar os usuários da biblioteca em que trabalha. Assim,
atualmente utiliza mais os serviços on-line (voltados para sua biblioteca) como servidora, do
que como usuária da Biblioteca Central.
Por trabalhar com dois sistemas em seu setor, sendo um, o antigo sistema da
biblioteca setorial (com recursos mais limitados) e outro o Sistema Pergamum, a servidora
considera os este segundo bastante sofisticado, muito mais ágil e amplo para as buscas, com a
possibilidade de buscar por diversos entradas (título, autor, assunto, ISBN etc.), pesquisar em
diferentes bibliotecas da UFMT, acesso remoto, ou seja, seus recursos contemplam mais o
295
acervo total da UFMT. Também comentou sobre a importância das referências bibliográficas
geradas pelo sistema Pergamum, para incluir nos trabalhos acadêmicos, uma vez que são
apresentadas na forma padronizada.
Sobre o comportamento de alguns usuários/leitores da biblioteca setorial em que
trabalha, a servidora reiterou que, muitos usuários preferem procurar o livro na estante,
visualmente, do que pesquisar no sistema para posteriormente localizá-los.
Processo de leitura:
A servidora não gosta de ler diretamente na tela do computador, pois acha cansativo
e, além disso, possui um problema de visão e a luz do computador incomoda. Informou ainda
que gosta de ler livros, de ter o prazer de manipular, tatear, folhear, fazer várias anotações
etc., enfatizando que com certeza prefere ler livros e materiais impressos. Se tiver algum
arquivo para ler na tela do computador e for extenso, prefere imprimir para ler manipulando o
papel. A servidora também destacou que esta é uma história de família, pois teve acesso a
livros desde criança.
Quando busca uma informação atualizada, rápida e confiável, a servidora informou
que se tiver algum material que trata do assunto na biblioteca, então recorre primeiro ao livro
impresso e utiliza a Internet como complemento. Em termos de obter uma informação
rapidamente, a servidora recorre a Internet, mas sempre com alguma desconfiança. Em termos
de obter uma informação mais confiável, a servidora informou que além de utilizar os livros,
pode conversar com outras pessoas. Para buscar uma notícia, por exemplo, recorre a um site
de notícias na Internet. Porém, ressalta que sempre que possível, recorre primeiro aos
materiais impressos e em segundo plano à Internet.
Sobre a leitura hipertextual, se for algum material muito importante e dependendo do
site em que esteja navegando, a servidora admitiu que possa até explorar alguns links do
texto; porém, de maneira geral, não tem o costume de utilizar os links presentes nos textos que
consulta. Por outro lado, embora evite utilizar estes links em suas leituras, a servidora
explicou que acha interessante e válido a possibilidade de agregar mais informações para
aprofundar o texto.
296
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Após receber as orientações básicas para proceder à esta busca, a aluna inicialmente
abriu o navegador Internet Explorer e digitou na barra de pesquisa do Google a expressão de
busca “Obras da copa em Cuiabá”; a seguir, examinou brevemente os resultados obtidos e
selecionou um destes, que era referente às notícias do Google para as obras da Copa do
Mundo em Cuiabá.
Assim, verificou algumas das notícias e comentou um pouco sobre alguns sites que
não conhecia, até que abriu um site para examinar a informação que o mesmo trazia, pois se
tratava de uma revista conhecida. A aluna explicou que geralmente quando encontra algum
site de conhecido, ela prefere pesquisar nestes ambientes. Sobre sua preferência de mídia
(texto, áudio, vídeo etc.), dependendo de sua pesquisa na Internet, a aluna explicou que
prefere utilizar textos mesmo.
A notícia era referente a uma fraude no Ministério das Cidades, que aumentaria o
custo de uma obra da copa em 700 milhões de reais, sendo que, se tratava da obra de
mobilidade urbana de Cuiabá. Para a pesquisa foi acessado o site da Revista Época
(http://revistaepoca.globo.com).
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, após receber as devidas instruções, a aluna deu início a uma
pesquisa acadêmica na Internet. A aluna explicou que iria fazer novamente uma pesquisa
acadêmica que realizou para sua monografia. Para tanto, acessou o catálogo on-line da
Biblioteca Central e realizou uma pesquisa no índice de assuntos, com o texto “qualidade de
vida no trabalho”, localizando alguns resultados.
Repetindo seu procedimento comum de busca, a servidora exibiu alguns dos
resultados pesquisados no catálogo on-line e explicou que geralmente verifica as obras de
interesse e anota os dados para localização do acervo. Se o material impresso for suficiente
para atender suas necessidades, ela explicou que não utiliza outras fontes de pesquisa. A aluna
informou que quando cursou sua graduação em Letras, havia alguns sites indicados pelos
297
professores e que tinha segurança para acessar estas fontes; em outras circunstâncias, porém,
ela faz sua pesquisa na Internet com certa desconfiança, e apenas quando os materiais
impressos não satisfazem sua pesquisa.
Embora a aluna não tenha feito uma pesquisa em algum site especializado, ou
mesmo em algum buscador, a mesma se aproximou bastante do uso que faz das TIC no
cotidiano, sendo coerente com os seus posicionamentos durante a pesquisa e, revelando a
preferência por pesquisar nos livros e materiais impressos e utilizar a Internet com certo
distanciamento.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta atividade, foi solicitado à servidora que acessasse a página da Biblioteca
Central e utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum
voltados para o usuário/leitor. Uma vez que já havia sido realizada uma pesquisa por assunto
na atividade anterior, revelando que a servidora estava familiarizada com este tipo de busca,
foi realizada então uma busca por título. Selecionando o índice de título, a servidora
pesquisou a expressão “metodologia do trabalho científico”, obtendo 37 resultados de obras
com este título.
A seguir, selecionou o índice de autor e pesquisou com o texto: “Assis, Machado
de”, obtendo um resultado de 266 títulos. A aluna acessou os dados de um das obras
localizadas, intitulada “50 contos” e verificou os exemplares disponíveis, demonstrando
conhecer estes recursos.
A servidora demonstrou conhecer bem o filtro por biblioteca, uma vez que orienta os
alunos da biblioteca em que trabalha para selecionar a biblioteca em questão para refinar as
buscas. Quanto ao filtro por tipo de obra explicou que não utiliza com frequência, pois em sua
biblioteca trabalha mais com os livros, que são os únicos materiais catalogados no sistema
Pergamum, enquanto que os demais materiais ainda se encontram no sistema antigo, como os
trabalhos acadêmicos, ou também são pouquíssimos e igualmente constam no sistema antigo,
como é o caso dos periódicos.
Quanto às reservas e aos demais tipos de pesquisa, observou-se que a servidora ainda
não tinha utilizado; no caso da área restrita (Acesso Usuário), ela já conhecia, mas tinha
298
acessado pouco, sendo que ainda não tinha utilizado de fato a renovação, reserva, material
pendente, histórico e consulta sugestões.
Assim, observou-se que a servidora conhece e utiliza o catálogo on-line e outros
recursos do sistema Pergamum, devido ao fato de trabalhar em uma biblioteca setorial, e não
como usuária da Biblioteca Central da UFMT. Mesmo não utilizando todos os recursos online, conhece bem alguns recursos de modo que inclusive presta orientações aos alunos que
utilizam a biblioteca em que trabalha. Enquanto fez uso da Biblioteca Central, entre os
serviços on-line, o principal recurso utilizado foi o catálogo eletrônico; essa forma de
utilização da tecnologia também revela uma característica própria do perfil da servidora, que
utiliza os serviços da Internet com reservas, privilegiando o uso de livros e outros materiais
impressos em sua pesquisa.
Leitor J
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor J é uma servidora pública da Universidade Federal de Mato Grosso,
exercendo suas funções em um dos setores da Pró-Reitoria Administrativa desde agosto de
2008. Quanto à utilização da Biblioteca Central, a servidora explicou que não a utiliza para
apoio às suas atividades do trabalho, mas para atender suas necessidades acadêmicas, uma vez
que é aluna de um curso de graduação. Quanto à frequência de uso, a servidora informou que
utiliza a biblioteca mensalmente para empréstimos de livros.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
A servidora explicou que utiliza diversos recursos tecnológicos, como computadores
convencionais, notebooks, celulares etc., fazendo uso destes recursos em outros ambientes,
como também na Biblioteca Central. Como a servidora utiliza a biblioteca mensalmente, o
uso que faz das TIC nesse ambiente pode ser considerado baixo. Também informou que, com
relação às tecnologias, se considera um usuário intermediário. Quanto às ferramentas de
299
busca, informou que utiliza o Google, e acrescentou ainda o site Biblioteca Central (pois dá
acesso ao SciELO), o 4Shared, o Portal de Periódicos CAPES, o Portal Domínio Público,
sendo estes os que mais utiliza.
Sobre os e-mails, informou que utiliza o Hotmail, e o e-mail institucional da UFMT;
além disso, utiliza comunicadores instantâneos (Messenger e comunicador instantâneo do
Facebook) e redes sociais (Facebook). Não costuma acessar filmes e músicas pela Internet
com frequência e também não produz ou disponibiliza conteúdos na Internet; utiliza, por
exemplo, o 4Shared para fazer o download de textos, resumos, e-books etc.
Ainda quanto aos sites mais utilizados no dia-a-dia, explicou que utiliza muito o
Google, mas que também são muitos os sites acessados. Geralmente, quando se trata de uma
pesquisa para seu setor de trabalho, costuma utilizar os sites de universidades, do Ministério
do Planejamento e do Ministério da Educação.
Navegação no ciberespaço:
Quando questionada sobre seu comportamento de navegação ao se deparar com
ambientes desconhecidos no ciberespaço, a servidora explicou que segue testando, por
tentativa e erro, para conhecer melhor o site. Explicou ainda que já se deparou com este tipo
de situação, pois às vezes, ao realizar uma pesquisa (dependendo da palavra-chave), já
localizou sites impróprios, que podem causar constrangimentos. Além disso, em suas
navegações pela Internet, já ocorreu de passar por uma informação importante e perdê-la
totalmente, não conseguindo mais localizá-la.
Conforme informado anteriormente, a servidora utiliza a Internet para complementar
suas pesquisas acadêmicas, acessando recursos tais como livros eletrônicos e portais de
periódicos (Portal de Periódicos da CAPES). Quanto aos recursos on-line da Biblioteca
Central, a servidora respondeu que os utiliza, e que os considera muito bons.
Processo de leitura:
Quando questionada se preferia ler livros e textos impressos ou ler diretamente na
tela do computador, a servidora respondeu que, por enquanto, ainda prefere ler os materiais
impressos, pois acha mais confortável. Por ter problema de vista, acredita que a tela cansa um
300
pouco mais a visão e, além disso, se estiver em casa, se sente mais confortável por ter um
local para se acomodar para realizar a leitura.
Com relação à leitura hipertextual, a servidora acha interessante, pois quando o texto
está vinculado por um link, fica mais fácil e rápido de obter uma informação que só iria obter
posteriormente.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Nesta atividade, solicitamos à servidora que realizasse uma busca sobre o andamento
das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo. Dessa forma, a servidora acessou o Google
Chrome e digitou o texto: “informação das obras para a Copa de 2014 em Cuiabá”, na barra
de endereços do navegador, localizando alguns resultados exibidos na página do Google.
Acessando
o
primeiro
resultado,
encontrou
o
Portal
2014
(http://www.portal2014.org.br), o qual continha algumas informações sobre Cuiabá, por ser
uma cidade-sede da Copa do Mundo de 2014, mais algumas notícias no rodapé do site, que
tratavam das obras em Cuiabá, com diversas questões relacionadas, como fiscalização,
execução, desenvolvimento etc.
Observou-se que a servidora procedeu de modo bem sucinto em sua pesquisa,
embora não tenha conseguido encontrar um conteúdo mais abrangente, ainda que fosse uma
notícia. A mesma também revelou dificuldade com os passos iniciais, pelo fato de estar
habituada a acessar a Internet de seu computador, com sua página inicial. Dessa forma, de
fato a usuária demonstrou estar em uma fase intermediária de uso dos recursos do
ciberespaço.
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Foi solicitado à servidora que localizasse uma informação relevante para sua
pesquisa acadêmica ou científica na Internet e explicasse por que confiaria no material e na
sua fonte. Dessa forma, a servidora realizou uma pesquisa no Google com o texto “estruturas
301
elementares do parentesco”, referente a uma pesquisa acadêmica que está desenvolvendo.
Assim, localizou alguns resultados que foram analisados em seguida.
Verificando o primeiro resultado, a servidora constatou se tratar de um texto da
Wikipédia e informou que não confiava no material para consulta. Posteriormente, acessou
outro texto, em PDF, e pelo endereço do site, constatou que se tratava de um texto da UFPR
(Universidade Federal do Paraná). O texto em questão era uma tradução da análise de Simone
de Beauvoir sobre a obra de Claude Lévi-Strauss, chamado “As estruturas elementares do
parentesco”. A servidora informou confiar neste texto, inclusive devido ao fato de ser
disponibilizado pelo site da UFPR.
Além disso, a servidora também mostrou que costuma acessar textos do site 4Shared
(http://www.4shared.com), um dos sites localizados em sua busca no Google. Com isso,
percebeu-se que a servidora é seletiva em suas pesquisas acadêmicas, possui critérios de
escolha de material de acordo com a confiabilidade das fontes acessadas e conhece e utiliza
recursos para acessar e fazer o download de materiais, como é o caso do site 4Shared. Por
outro lado, não demonstrou o acesso e uso de alguma fonte especializada, embora tenha
afirmado conhecer e utilizar o Portal de Periódicos da CAPES, o Portal Domínio Público e o
SciELO.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta etapa das observações, foi solicitado que a servidora acessasse a página da
Biblioteca Central e utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema
Pergamum voltados para o usuário/leitor. Selecionando o filtro de título, a servidora realizou
uma busca, de uma obra que trata de “sociedades indígenas”, mas não localizou nenhum
resultado. A seguir, fez uma nova busca pelo título “as estruturas elementares do parentesco”,
localizando 03 obras.
Ao fazer a busca por assunto, a servidora selecionou, primeiramente, a Biblioteca de
Cuiabá para restringir sua pesquisa, pois havia informado anteriormente que conhece e
normalmente utiliza este recurso. Dessa forma, após selecionar o filtro de assunto, pesquisou
por “parentesco”, localizando 10 obras que tratam deste tema. Convém ressaltar que a
servidora ainda não tinha feito nenhuma pesquisa por assunto no catálogo on-line.
302
Na busca por autor, após selecionar o filtro apropriado, a servidora pesquisou por
“Roberto da Matta”, localizando uma obra do autor: “Índios e castanheiros: a empresa
extrativa e os índios no médio Tocantins”. Quanto aos demais detalhes da obra, a servidora
ainda desconhecia esta opção, bem como o serviço de reservas on-line.
A servidora já tinha acessado a área restrita (Acesso Usuário), apenas para
renovações, sendo que ainda não conhecia os recursos de reserva, material pendente,
histórico, consulta sugestões, dados pessoais e outros. Além disso, convém ressaltar que a
servidora estava suspensa por estar com materiais atrasados.
Com relação ao filtro por demais tipos de obras, a servidora ainda não conhecia e
explicou que já pesquisou periódicos, mas em sites de outras universidades. Além disso, a
servidora também não conhecia os demais tipos de busca, que são alguns dos recursos
disponíveis no catálogo on-line da Biblioteca Central. Assim, observou-se que a servidora
utiliza pouco os serviços on-line da Biblioteca Central, e que a oportunidade da pesquisa
também colaborou para que compreendesse um pouco mais sobre os recursos.
Leitor K
Apresentação e frequência de uso da Biblioteca:
O leitor K é uma professora, doutora, de um Curso de Mestrado da UFMT e trabalha
na Instituição desde 1997, portanto há quase quinze anos. Nesse ínterim, já ministrou aulas na
Faculdade de Enfermagem e Nutrição (durante cinco anos) e atualmente é professora do
Mestrado do Instituto de Saúde Coletiva (ISC).
A professora explicou que quando chegou na Instituição utilizava a Biblioteca no
mínimo uma vez por semana, pois estava terminando o doutorado. Utilizando suas próprias
palavras, a mesma foi uma “assídua frequentadora” da Biblioteca Central. Porém, com a
chegada do Portal de Periódicos da CAPES, ela passou a ter um contato menor com a
biblioteca, pois passou a utilizar tanto os materiais próprios, na sua casa e na sua sala de
estudos, quanto o próprio Portal de Periódicos, via Internet. A professora explicou também
que ainda mantém contato e pede para que os alunos façam pesquisas na biblioteca, pois
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ministrou durante oito anos a disciplina de Metodologia Científica para os alunos do primeiro
ano do Curso de Nutrição, e tinha uma aula de buscas na biblioteca, planejada com
antecedência. Com isso, fazia seus alunos frequentarem bastante a biblioteca, realizando
inclusive reuniões de grupo no setor da Hemeroteca, a fim de tornar a relação dos alunos de
graduação com a biblioteca cada vez mais fácil, e mais livre, facilitar e tornar mais agradável
este ambiente, mostrar aos mesmos os vários espaços existentes na biblioteca para pesquisa e,
as formas de busca dos livros e dos periódicos. Sobre esse tipo de uso da biblioteca, a
professora informou que faz antes mesmo da informatização do setor, ou seja, desde a época
dos catálogos de fichas impressas, tendo presenciado o processo de modernização da
biblioteca. Nos últimos três anos a professora usou muito pouco e neste ano está voltando a
usar mais a biblioteca em função da graduação dos seus alunos de do Curso de Saúde
Coletiva. Ainda sobre a relação com a biblioteca no período de transição, a professora se
lembra que houve uma época que apresentava aos seus alunos as duas formas de pesquisar os
livros, ou seja, os armários com as fichas impressas e os terminais de pesquisa
(computadores), que estavam sendo implantados.
Acesso e utilização das TIC e demais recursos do ciberespaço:
De modo geral, a professora explicou fica “logada” o tempo todo, pois utiliza as
tecnologias com frequência, o dia todo, uma vez que trabalha quase nos três turnos,
orientando alunos de manhã e de tarde e ministrando aulas à noite. Nesse tempo em que
permanece na Universidade, a professora fica sempre on-line, e em geral faz muitas buscas na
Internet, uma vez que ultimamente trabalha com revisão sistemática e dá aula de busca
bibliográfica. Outros recursos que utiliza são os “search alerts” (alertas de busca) de algumas
bases de dados on-line, como o Scopus, Web of Science e Medline, recebendo com frequência
resultados de buscas automáticas nestas bases. A base de dados mais utilizada, com finalidade
acadêmica, é o SciELO, pois possui muito material em língua portuguesa; em segundo lugar,
utiliza o Medline, por conta da revisão sistemática com que trabalha (começando sempre pelo
Medline e posteriormente indo para as outras bases – SciELO, Web of Science, Scopus etc.).
Resumindo, a professora está sempre utilizando estes recursos tecnológicos, sobretudo para
suas pesquisas acadêmicas e científicas, sendo que para umas buscas informais utiliza muito o
Google. Nesse sentido, quando questionada sobre o uso de um dos recursos deste buscador
genérico, o Google Acadêmico, a professora explicou que o utiliza como um buscador, e não
304
como uma base de dados, uma vez que o mesmo é diferente das bases de dados que são
disponibilizadas por editores científicos. Ou seja, a professora explicou utilizar este recurso
devido as suas aulas de graduação e também pelo fato de o mesmo ter um filtro acadêmico,
remetendo a materiais também disponíveis em bases de dados e por ser um bom buscador.
Com relação ao ciberespaço, a professora se considera um usuário avançado. Utiliza
e-mails (Hotmail) e comunicadores instantâneos (Messenger), redes sociais (Facebook), não
acessa filmes e músicas pela Internet e não produz nem disponibiliza conteúdos na Internet.
De todos os sites utilizados, o Google é utilizado com mais frequência.
Além disso, o Google é a principal ferramenta de busca utilizada pela professora para
suas pesquisas genéricas. Para buscas científicas a mesma utiliza o SciELO e para realizar
suas revisões sistemáticas utiliza, sobretudo, o Medline.
Sobre o acesso e uso das TIC no ambiente da Biblioteca Central, a professora
informou que não tinha conhecimento de alguns dos novos recursos (neste caso, a
disponibilização da Internet sem fio), sendo uma novidade recente para ela; quanto ao
laboratório de informática, ela explicou que presenciou sua inauguração, há mais de cinco
anos, e tentou utilizar este serviço, mas nunca conseguiu, por conta de problemas de
funcionamento daquele espaço, até que parou de dar aulas de Metodologia Científica e não
teve mais informações sobre o funcionamento do laboratório. Recentemente, foi informada
que o ambiente está funcionando e é um bom espaço para ministrar cursos e, por essa razão,
está pensando na possibilidade de utilizar o mesmo para ministrar um curso de busca
bibliográfica no ano de 2012. Sobre o catálogo eletrônico da biblioteca, a professora explicou
que faz algum tempo que não o utiliza, mas que quando vem fazer alguma pesquisa na
biblioteca, costuma recorrer primeiramente aos terminais de busca, pelo fato de utilizar
materiais de várias áreas do conhecimento.
A professora também acessa e utiliza as TIC fora do ambiente da Biblioteca Central,
tanto com finalidade acadêmica e científica, quanto para outras finalidades, como atualização,
comunicação (e-mails, bate-papos, comunicadores instantâneos etc.) e socialização (redes
sociais).
305
Navegação no ciberespaço:
Sobre seu comportamento ao lidar com ambientes desconhecidos na Internet, a
professora explica que segue observando a página inicial do site, verificando se encontra
algum conteúdo de seu interesse, clicando nos links que podem levar a algum conteúdo
interessante, e assim sucessivamente. Caso não goste do ambiente, volta para o Google e
realiza novas buscas para verificar se consegue uma informação mais rápida. No caso de
situações desconhecidas, em geral, em se tratando de processos de navegação a professora
procura ser objetiva, ou seja, se o conteúdo não interessa ela parte para outras buscas.
A professora informou ainda que algumas poucas vezes, em seus processos de
navegação, já aconteceu de não conseguir mais recuperar um conteúdo localizado
anteriormente.
A professora informou que utiliza a Internet para complementar suas pesquisas
acadêmicas, porém, não utiliza livros eletrônicos. Conhece e utiliza os periódicos e artigos
científicos eletrônicos, inclusive fazendo uso constante do Portal de Periódicos da CAPES.
A professora disse que não utiliza e nunca utilizou os serviços on-line da Biblioteca
Central (catálogo on-line, reservas, renovações etc.). Porém, anteriormente a professora
revelou utilizar a página de consulta ao acervo e provavelmente não conheça esse sistema de
busca como o próprio catálogo eletrônico.
Processo de leitura:
A professora prefere ler livros e textos impressos a ler na tela do computador.
Argumenta que gosta de folhear, tatear as páginas impressas dos livros, fazer anotações nas
páginas, observações, anotar o próprio nome etc. Independente da evolução da Internet, a
professora reconhece que não há como prescindir do uso do livro. É possível que não imprima
artigos científicos, tanto quanto imprimia antigamente, pois descobriu recentemente um
recurso para fazer marcação em artigos científicos, mas gosta dos livros impressos e de suas
características físicas, como a cor da capa, imaginar a localização de um trecho na página do
livro, ou seja, gosta de localizar isso fisicamente.
Sobre a leitura hipertextual, baseada em links, a professora acha interessante e
considera que facilita muito a leitura, lembrando nesse caso, da Wikipédia, que possui muitos
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conteúdos relacionados por hiperlinks, onde o leitor pode navegar pelos conceitos de seu
interesse, avançar ou recuar nos seus processos de leitura e pesquisa etc.
Observação dos processos de navegação:
1ª atividade - Observando o processo de navegação e buscas no ciberespaço:
Nesta atividade, solicitamos à professora que realizasse uma busca sobre o
andamento das obras de Cuiabá para a Copa do Mundo. De acordo com as orientações
recebidas sobre a busca, inicialmente a professora abriu o navegador Internet Explorer que
tinha como página inicial o site da UFMT. A seguir, utilizando o recurso da barra de buscas
do Google, incorporada ao navegador, digitou sua expressão de busca (copa mundo 2014) e
utilizou também o recurso do Google que sugere expressões a medida que digita para realizar
sua busca. A professora fez uma breve análise dos resultados obtidos e optou pelo primeiro, o
Portal 2014 (http://www.portal2014.org.br), com enfoque turístico e de negócios, que possuía
várias informações sobre a Copa no Brasil, entre elas notícias, infra-estrutura, negócios do
mercado do futebol e informações sobre as cidades-sede. Rapidamente a professora
identificou as informações referentes ao site e ao sindicato que o mantém, entre outras
informações gerais disponíveis na página inicial.
Para localizar a informação específica sobre o andamento das obras de Cuiabá para a
Copa do Mundo de 2014, a professora recorreu à busca interna do site, digitando a palavrachave “Cuiabá” e localizando alguns resultados, sendo um deles uma informação referente ao
espaço onde será realizada a Fan Fest, que foi divulgado após uma visita dos representantes
da FIFA que estiveram recentemente na capital matogrossense. Outra informação igualmente
recente foi verificada na sequência, referente à declaração do Ministro das Cidades sobre a
mudança do projeto de mobilidade urbana de BRT para VLT. A seguir, como os demais
resultados de busca eram antigos, a professora voltou à página de buscas do Google e
explorou outro site, intitulado Copa 2014 (http://www.copa2014.turismo.gov.br), um site do
Ministério do Turismo. Após um rápido exame do site, a professora realizou uma busca
interna com a palavra-chave “Cuiabá”, mas ao verificar os resultados, logo observou que as
informações específicas que queria encontrar eram mais antigas que as existentes no outro
site, concluindo que não valia a pena explorar mais esta fonte. Assim, retornou novamente ao
Google, e analisou outros resultados de sua pesquisa inicial, com base nos endereços e
307
resumos de cada ocorrência apresentada pelo Google (Wikipédia, site da FIFA, da Revista
Veja e OPortal.net), optando pelo site da FIFA em língua portuguesa. Pesquisando sobre
Cuiabá neste site, a professora localizou informações turísticas e informações referentes à
infra-estrutura da cidade para a Copa do Mundo, porém, não localizou informações
atualizadas sobre o andamento das obras, razão pela qual concluiu que o primeiro site visitado
era o que mais atendia suas necessidades de informações neste momento, explicando que se
realmente se interessasse por este tipo de informação adicionaria este site aos seus
“Favoritos”58, a fim de agilizar suas pesquisas.
Quando questionada sobre o fato de ter explorado vários sites e comparado as
informações localizadas, a professora respondeu que, dependendo do seu grau de interesse ela
realiza várias buscas, citando como exemplo alguns sites de notícias que possui em seus
“Favoritos” (RDNews, G1, Olhar Direto, 24 Horas News).
2ª atividade - Observando o processo de pesquisa acadêmica no ciberespaço:
Nesta atividade, solicitamos à professora que localizasse uma informação relevante
para sua pesquisa acadêmica ou científica na Internet. Foi explicado que a escolha do assunto
era livre, poderia ser inclusive um assunto que a professora realmente estivesse necessitando
naquele momento. A escolha das fontes de pesquisa também ficaram a critério do próprio
leitor/pesquisador. A professora explicou que geralmente começa pelo SciELO ou pelo
Medline. Como a informação pode ser utilizada em uma aula, ela escolheu começar a busca
pelo SciELO (a partir de outra busca realizada no Google para localizar o SciELO). Nesta
base, selecionou a opção “Brasil”, que dá acesso às 270 coleções de publicações periódicas
nacionais, que também é a página deste site que a professora mais utiliza. A seguir, no menu
“Artigos” selecionou o “índice de assuntos”, mas a seguir selecionou a pesquisa avançada e
cruzou as palavras-chave “sono” e “obesidade”, ambas para serem recuperadas como palavras
do título dos artigos, sendo esta última opção um dos critérios da própria professora para obter
uma busca mais refinada. Com esta busca a professora obteve um resultado de seis artigos e
após analisar as informações das referências de cada um dos resultados, concluiu que dois dos
artigos poderiam lhe interessar, por causa da sua área de atuação (Epidemiologia), por serem
estudos quantitativos e de acompanhamento, relacionando os dois temas de interesse, sono e
obesidade.
58
Recurso dos navegadores de Internet que permite criar uma relação de endereços preferidos para navegação.
308
Quanto à confiabilidade da fonte pesquisada, a professora confirmou confiar na base
de dados SciELO para a realização de suas pesquisas acadêmicas.
Para complementar esta etapa, solicitamos à professora que realizasse, de modo
semelhante, uma pesquisa com interesse científico. Nesse caso, a professora explicou que
recorre primeiro ao Medline, e fez uma busca na barra de pesquisas do Google pelo site
PubMed, por meio do qual costuma acessar o MedLine. No Pubmed, a professora acessou a
opção de pesquisa avançada e fez uma busca com os termos “anemia” e “child”, ambos como
palavras do título dos artigos. Com essa busca, localizou 341 artigos. Para ampliar ainda mais
a busca, fez um truncamento, incluindo um asterisco após a palavra “child”, obtendo 2.103
resultados, uma vez que com esse recurso, são buscadas outras palavras que tem o “child”
como radical (por exemplo, “children”). A professora explicou que por ser uma busca
abrangente, também pode incluir outras palavras para obter um resultado mais refinado,
sensível. Informou também que este tipo de busca de caráter mais científico, é realizada
quando está produzindo algum artigo científico, ou mesmo trabalhando com revisão de
literatura. Observa-se que a professora possui um conhecimento avançado de pesquisas em
bases de dados on-line, conhecendo desde recursos simples a recursos mais avançados, e
tendo já definido algumas fontes relevantes para suas pesquisas de rotina, tanto de cunho
acadêmico quanto científico.
3ª atividade - Observando o uso dos recursos on-line da Biblioteca Central:
Nesta atividade, pedimos que a professora acessasse a página da Biblioteca Central e
utilizasse o catálogo on-line da biblioteca e outros recursos do sistema Pergamum voltados
para o usuário/leitor. Essa etapa foi orientada, tanto como procedimento padrão, por haver
alguns recursos específicos que pretendemos explorar, quanto pelo fato de a professora
afirmar anteriormente não ter utilizado tais serviços. Antes de receber a orientação, a
professora já começou a acessar o site da UFMT para realizar a atividade, o que revela
autonomia e decisão por conhecer este ambiente. Entretanto, a professora não conseguiu
localizar imediatamente a página da Biblioteca Central, por ainda não conhecer este recurso
ainda novo. Na página eletrônica da Biblioteca, orientamos a professora a localizar e acessar o
catálogo on-line da Biblioteca, que ela afirmava não ter acessado ainda, o que constatamos de
fato na prática. Assim, nesta etapa, cujo objetivo era observar o uso dos recursos eletrônicos
da Biblioteca Central, realizamos uma breve apresentação das etapas que seriam exploradas
309
(consultas ao catálogo, acesso à área restrita dos usuários, verificação dos detalhes dos
materiais, identificação e uso de filtros de pesquisa, realização de reservas, renovações,
verificação de materiais pendentes, histórico, consultas a sugestões etc.).
Observou-se que, pelo fato de a professora possuir experiência com buscas em bases
de dados e interesse em conhecer os recursos da biblioteca, as orientações foram produtivas e
a professora exprimiu satisfação por descobrir que a biblioteca dispunha de tais recursos. Pelo
perfil da professora, provavelmente se tivesse voltado a frequentar a biblioteca há mais tempo,
já estaria utilizando estes recursos e divulgando os mesmos aos seus alunos, o que também
seria bastante produtivo para a Biblioteca Central.
310
APÊNDICE E - Endereços Eletrônicos de Bibliotecas Digitais e Virtuais
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Endereços Eletrônicos de Bibliotecas Digitais e Virtuais
Banco de Teses
http://capesdw.capes.gov.br/capesdw/
Biblioteca Digital da Câmara dos
Deputados
http://bd.camara.gov.br/bd/
Biblioteca Digital de Obras Raras
e Especiais
(da USP)
http://www.obrasraras.usp.br/
Biblioteca Digital de Obras Raras
e Especiais
(do Observatório Nacional)
http://www.docvirt.no-ip.com/obnacional/principal.htm
Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações
http://bdtd.ibict.br
Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da USP
http://www.teses.usp.br/
Biblioteca Digital do Senado
Federal
http://www2.senado.gov.br/bdsf/
Biblioteca Digital Jurídica - STJ
http://bdjur.stj.gov.br/xmlui/handle/2011/17962
Biblioteca Digital Mundial
http://www.wdl.org/pt
Biblioteca Digital Mundial de
Teses e Dissertações
http://www.ndltd.org
Biblioteca Digital UGF
http://posugf.com.br/biblioteca/
Biblioteca do Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo
http://www.biblioteca.tj.sp.gov.br/acervo/principal.nsf
312
Biblioteca Nacional Digital do
Brasil
http://bndigital.bn.br
Biblioteca Virtual da América
Latina
http://www.bvmemorial.fapesp.br/php/index.php?lang=pt
Biblioteca Virtual de Direitos
Humanos
http://www.direitoshumanos.usp.br/
Biblioteca Virtual de Literatura
http://www.biblio.com.br/
Biblioteca Virtual do Amazonas
http://www.bv.am.gov.br/portal/
Biblioteca Virtual em Saúde
http://regional.bvsalud.org/php/index.php?lang=pt
Bibliotecas Virtuais Temáticas
http://www.prossiga.br/bibliotecas
Portal Domínio Público
http://www.dominiopublico.gov.br