1000 Mile Trial: A participação portuguesa

Transcrição

1000 Mile Trial: A participação portuguesa
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30 de Julho de 2014
1000 Mile Trial: A participação portuguesa
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(London- Edinburgh -London)
Em 1900, no intuito de promover o recém nascido automóvel, diversos fabricantes e
proprietários entenderam organizar uma volta à Grã Bretanha, unindo Londres – Edimburgo
– Londres, denominada The 1900 One Thousand Mile Trial. O sucesso da empreitada está no
número de carros que, apesar das estradas então existentes e dos rudimentares meios de
navegação, chegaram ao fim. Das 84 equipas inscritas, 47 lograram atingir a meta.
HERO (Historic Endurance Rallying Organisation), empresa inglesa da especialidade, e que
trouxe recentemente até nós o London – Lisboa Rally, entendeu promover uma reedição desta
epopeia, desta feita reservada a carros anteriores à 2ª Guerra Mundial. Denominada
Thousand Mile Trial, levou 42 carros clássicos a percorrer em 7 dias (de 12 a 19 de Julho
2014) um percurso tão próximo do original quanto possível. Fizeram um excelente trabalho e
mostram-se à altura no terreno. Uma organização muito competente e profissional.
Depois da partida dada no Royal Automobile Club em Woodcote (arredores de Londres),
patrocinador do evento, pela mesma bandeira utilizada na 1ª edição!, foram 1200 milhas
(1900 kms), muitas em estradas vicinais em que dificilmente cruzavam dois carros, feitas com
um ritmo acelerado e envolvendo pelo meio muitas provas de regularidade e navegação (26),
de velocidade e perícia (23). Pilotos e máquinas foram duramente postos à prova. Das 42
equipas iniciais sobreviveram 34 e entre elas, 5 equipas portuguesas.
A beleza da paisagem, a graça das aldeias atravessadas, os palácios e castelos visitados,
constituíram momentos inesquecíveis. Entre eles o Barnard Castle, que foi palco da infância
da Rainha Mãe. E onde foram servidos os tradicionais scone com chá.
E se a culinária inglesa ainda tem muito que aprender, tivemos um jantar esplendidamente
preparado por vários de chefes de cozinha no Royal Automobile Club (em Londres), e um
jantar de gala no Iate Royal Yacht Britannia (em Edimburgo).
O dia começava bem cedo, com a partida do primeiro carro dada às 8 horas da manhã. Depois
tínhamos pela frente cerca de 200 milhas (300 kms). Muitas delas nas tais estradas estreitas,
sinuosas e de piso duvidosos, e trânsito contrario de provocar calafrios (que o diga quem
bateu). Obrigavam a uma condução cuidada mas rápida e uma navegação, geralmente por
road book, atenta. Atrasos superiores a duas horas (facilmente ultrapassados no caso de
surgir alguma avaria) representavam ficarmos abandonados à nossa sorte, já que uma vez
ultrapassados pelo carro vassoura acenavam-nos um adeus. A nossa equipa experimentou a
dureza desta situação quando tivemos uma avaria no sistema eléctrico do carro. Não fora a
simpatia e ajuda da população local, e isto num domingo, ainda por lá estaríamos. E pelo meio
vinham as provas variadas. As de regularidade, muitas vezes sem road book e navegação por
carta (escala 1:50.000), e médias da ordem dos 40 a 50 kms/hora (um suicídio nas condições
vigentes). Para nós, sem instrumentação de navegação para além do odómetro do carro (cuja
agulha teimava em tapar o correspondente número das unidades!) era um martírio. Está de
parabéns a minha navegadora Ana. Mas também havia as provas de velocidade, em pistas de
kart, circuitos famosos e nos tradicionais Hill Climbing (rampas) tão populares na Inglaterra.
Assim tivemos ocasião de acelerar no aeródromo de Dunsfold (palco das conhecidas proezas
da Top Gear), subir as célebres rampas de Prescott Hill Climb e Harewood Hill Climb. Aqui,
embora com apenas 850 cc, a leveza dos nossos MG permitia fazermos tempos interessantes.
Já os nossos dois Rolls sofriam E finalmente havia as provas de perícia, onde novamente os
MG se mostravam ligeiros.
Das 42 equipas concorrentes, na sua maioria britânicas, 6 eram portuguesas, de longe a maior
participação estrangeira.
Cindo dos seis carros portugueses lograram cortar a meta, tendo o Rolls de Eduardo Neves
tido problemas de embraiagem que o impediram de fazer apenas a última etapa.
De realçar o brilhante comportamento dos 3 MG Midget e suas equipas que, apesar dos seus
minúsculos motores e rudimentar instrumentação de navegação (apenas os odómetros
originais, felizmente em milhas), conseguiram acompanhar o ritmo da coluna, cumprindo o
seu percurso e fazendo alguns brilharetes nas provas de velocidade e perícia.
Merece também referência especial a equipa do Rolls Royce Phantom, viatura que
normalmente está no Museu do Caramulo, enorme em dimensões, peso (3,5 toneladas) e
cilindrada. Não foi obra fácil para a equipa Gouveia e Lacerda pilotar este “monstro” por
estradas tão estreitas e sinuosas. Os sustos foram vários, incluindo um ligeiro toque de frente
a frente! Igualmente de realçar a presença sempre simpática do casal Romão de Sousa, uns
veteranos nestas lides, e que incluem no seu palmarés a participação no famoso rally Paris –
Pequim. Estão pois de parabéns.
De parabéns estão também Eduardo e Mavildia Neves que arrecadaram o prémio de carro
mais “Elegante”. E havia carros fantásticos a competir, como um Triumph Dolomite 8C de
1934 (raríssimo pois só 2 foram construídos), um Aston Martin Le Mans de 1933, um Alfa
Romeu 6C SS “Torpedino” de 1938 (de carroçaria toda em alumínio), um Bentely 3/4.5 de
1925 (o primeiro Bentley a ter entrado em Le Mans), um MG K3 de 1934 (que no seu tempo
participou nas 1000 Miglia), e muitos outros.
Antero Brochado e Bety Carvalho, sempre em equipa com Manuel Enes e Alexandra Pombo,
levaram o seu MG Midget ao 3º lugar da sua classe, sendo portanto o único carro português
que se classificou em lugares do podium. Um feito.
Finalmente entendeu a HERO atribuir à equipa Pedro Villas Boas e Ana Barbosa o prémio da
equipa que melhor representou o “Espírito do Rally”, pela forma como soube resistir às
adversidades da Prova. Foi para nós grande surpresa, Uma referência final a Agostinho
Macedo, da Robalo &a Macedo (o que dá vida aos MG), que tão bem soube preparar os
pequenos MG Midget J2. Três à partida – Três à chegada foi um feito.
Texto: Pedro Villas- Boas