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Copyright © 2013 by
Department of Civil Engineering of the University of Coimbra
All rights reserved.
Editors: Nuno Norte Pinto and Alexandre Almeida
The present volume contains the short papers and abstracts reviewed and
presented at PNUM 2013, the 2013 Annual Conference of Portuguese
Network of Urban Morphology, held in Coimbra on June 27 and 28, 2013.
Cite as:
In N. N. Pinto, A. Almeida (Eds), Book of Abstracts of PNUM 2013, the
2013 Annual Conference of Portuguese Network of Urban Morphology,
Coimbra, June 27 and 28, 2013, Coimbra: Department of Civil Engineering
of the University of Coimbra
PNUM 2013 had the institutional support of:
Com o alto patrocínio de Sua Excelência O Presidente da República
International Seminar on Urban Form
CPLP
Associação de Professores de Geografia (APG)
Universidade de Coimbra
Associação Portuguesa de Geógrafos
Associação dos Urbanistas Portugueses
Câmara Municipal de Coimbra
CIPAL – Conselho Internacional dos Arquitectos de Língua Portuguesa
Escola Superior de Gallaecia
Direcção Geral do Património Mundial
Coimbra, Portugal
Resumos PNUM 2013
Abstracts of PNUM 2013
Editado por
Edited by
Nuno Norte Pinto
Alexandre Almeida
Índice
Table of Contents
Índice ................................................................................................................... v
Comité Organizador ...........................................................................................ix
Comité Cientifico .................................................................................................x
PNUM 2013, Coimbra e a Universidade de Coimbra ........................................... 1
Resumo Submetido pelo Professor Manuel da Costa Lobo ..................................... 3
SESSÕES TEMÁTICAS ESPECIAIS.................................................................. 7
“Cinema e Forma Urbana” ..................................................................................... 9
“Detecção Remota, Análise Espacial e Forma Urbana” ......................................... 19
“O Ensino da Morfologia Urbana” ....................................................................... 31
“Forma Urbana – Regulação e Execução” ............................................................. 51
“Morfologia Urbana e Riscos Naturais” ................................................................ 69
“Coimbra e as Densidades Centrais” ................................................................... 103
“Projecto Urbano e o Ensino da Arquitectura” ................................................... 119
“Criação e Transformação do Espaço Urbano nos Territórios Coloniais Portugueses
no Longo Século XIX (1778-1926)” .................................................................... 145
“As Formas Urbanas na Periferia das Cidades” ................................................... 159
SESSÕES PARALELAS .................................................................................. 177
ÍNDICE DE AUTORES ................................................................................. 569
v
vii
Comité Organizador
Organizing Committee
Nuno Norte Pinto, Technical University of Catalonia ............ Spain
Ana Natálio, University of Porto ............................................ Portugal
Joana Dourado, University of Coimbra ................................... Portugal
Gabriela Almeida, University of Coimbra ............................... Portugal
Francisco Cruz, University of Coimbra ................................... Portugal
Nuno Ribeiro, University of Coimbra ..................................... Portugal
Leandro Cravo, University of Coimbra ................................... Portugal
Raquel Santos, University of Coimbra .................................... Portugal
Maria Leonor Nogueiro, University of Coimbra ..................... Portugal
Paula Moço, University of Coimbra ........................................ Portugal
Carlos Proença, University of Coimbra ................................... Portugal
Mónica Santos, University of Coimbra ................................... Portugal
Pedro Mariano, University of Coimbra ................................... Portugal
Tânia Ventura, University of Coimbra .................................... Portugal
Nuno Bernardo, University of Coimbra................................... Portugal
Elso Ramos, University of Coimbra ........................................ Portugal
Raquel Gomes, University of Coimbra ................................... Portugal
Alexandre Almeida, University of Coimbra ............................ Portugal
ix
Comité Cientifico
Scientific Committee
Vítor Oliveira, University of Porto, President ......................... Portugal
António Pais Antunes, Universityy of Coimbra ...................... Portugal
Jorge Correia, University of Minho, ....................................... Portugal
Karin Meneguetti, University of ............................................. Brazil
Mário Fernandes, University of Porto ..................................... Portugal
Nuno Norte Pinto, Technical University of Catalonia ............. Spain
Paulo Pinho, university of Porto .............................................. Portugal
Teresa Marat-Mendes, ISCTE - University Institute of Lisbon Portugal
Valério Medeiros, University of Brasilia ................................. Brazil
Walter Rossa, University of Coimbra ...................................... Portugal
x
PNUM 2013, Coimbra e a Universidade de
Coimbra
Nuno Norte Pinto
A Rede Portuguesa de Morfologia Urbana, a Portuguese Network of Urban
Morphology, PNUM, realiza o seu terceiro encontro anual, de 2013, em
Coimbra e na Universidade de Coimbra, no preciso momento em que
ambas, a cidade e a Universidade, são distinguidas com uma das mais
notórias distinções que actualmente se pode receber no mundo globalizado,
a de Património da Humanidade da UNESCO.
Este é um momento de grande festa, não só para a cidade como para a
Universidade, como também para o país e para a sociedade portuguesa, uma
vez que dois dos seus símbolos máximos – Coimbra, primeira capital
política do país, e Universidade, a mais antiga universidade do país –
surgem agora com o devido realce internacional, não só pelo seu património
mas pelo facto de esse mesmo património ser um misto de edificado e
cidade, de património de fruição e de utilização, de arte e de vida.
O PNUM 2013 associa-se a este encontro da melhor maneira possível.
O encontro tem por tema “Forma Urbana nos Territórios de Influência
Portuguesa Análise, Desenho, Quantificação”. O alargamento do âmbito do
encontro aos territórios de influência portuguesa ajusta-se à universalidade
da cidade e da Universidade. A análise, o desenho, e a quantificação,
ajustam-se aos caminhos científicos percorrido pelos vários investigadores
da Universidade que a estes temas se dedicam.
O encontro deste ano congrega um amplo leque de temas que se centram na
história, nas abordagens quantitativas, nas questões da escala metropolitana
e regional, no espaço público, e nas questões ambientais.
Conta com mais de 220 submissões, num programa que envolve cerca de
150 comunicações apresentadas por investigadores do Brasil, da Venezuela,
do México, da Holanda, da Alemanha, da Espanha e de Portugal.
Conta ainda com nove sessões temáticas especiais, que abordam as
temáticas do cinema, da detecção remota, do ensino da morfologia, da
execução dos planos, dos riscos naturais, das densidades urbanas, do
projecto urbanístico, da transformação urbana nos antigos territórios
coloniais portugueses, e das periferias urbanas (numa sessão organizada
pela Associação de Urbanistas Portugueses).
1
O encontro tem ainda três palestras convidadas proferidas por três notáveis
investigadores da morfologia urbana nas suas várias vertentes, o Professor
Mário Krüger, da Universidade de Coimbra, a Professora Stael Pereira
Costa da, Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil, e o Professor
Walter Rossa, também da Universidade de Coimbra.
O PNUM 2013 presta ainda uma homenagem ao Professor Manuel da Costa
Lobo, nome insubstituível do urbanismo e do ensino do urbanismo em
Portugal, um cidadão nado e criado na Alta de Coimbra, professor da
Universidade de Coimbra, que estava a trabalhar afincadamente na escrita
do seu artigo aceite no PNUM 2013, com o título “A forma urbana no
planeamento do espaço humanizado”, quando nos deixou, profundamente
saudosos da sua energia contagiante, muito mais humanos e sabedores com
os seus ensinamentos.
Por se interessarem pelo estudo da morfologia urbana; Por terem vindo a
Coimbra;
Por partilharem connosco novas perspectivas de análise, desenho e
quantificação da forma urbana;
Um bem haja para todos. ¤
¤
The traditional way to say “thank you all very much” in Portugal.
2
Resumo Submetido pelo Professor Manuel da Costa Lobo
Abstract Submited by Professor Manuel da Costa Lobo
3
A FORMA URBANA NO PLANEAMENTO DO
ESPAÇO HUMANIZADO
PROF. MANUEL DA COSTA LOBO
CESUR/IST
INTRODUÇÃO
A geometria das formas, a morfologia do território e a ocupação dos
espaços humanizados
I
II
III
IV
Métrica, imagem e significados
Cidades concentradas, compactas, lineares, radiais, multi-polares,
constelações diversas, povoamento disperso – e o desastre da
CIDADE FRAGMENTADA. Exemplos em: Portugal, Macau,
Moçambique, Brasil)
As patologias e as políticas de correcção
A IMAGEM FINAL e sua MÉTRICA
CONCLUSÕES
Como qualificar a Cidade e o planeamento dos espaços urbanos dinâmicos e
em despique
5
SESSÕES TEMÁTICAS ESPECIAIS
SPECIAL THEMATIC SESSIONS
7
“Cinema e Forma Urbana”
Coordenada pelo Arq. Luis Urbano
”Cinema and Urban Form”
Coordinated by Arq. Luis Urbano
9
Um novo olhar sobre a cidade.
Portugal entre decorated sheds e road movies.
Luís Filipe Dordio Martinho Almeida URBANO
FAUP
Entre o final dos anos 60 e inícios de 70, o cinema português, muito
influenciado pelas novas vagas europeias, hesita entre um regresso à cidade,
quase sempre representada como coisa hostil, e um retorno ao mundo rural,
visto como lugar possível para reinventar uma identidade para o país. Na
mesma altura, a arquitectura portuguesa é marcada por uma procura
constante de novas linguagens que permitam reconfigurar a herança
moderna a partir dos novos realismos. Será essa "fuga para o deserto",
abandonando a cidade tradicional e fazendo tábua rasa de um passado
demasiado saturado ideologicamente, que já não fornecia coordenadas
usáveis, que será analisada na comunicação.
Serão utilizados dois casos de estudo, paradigmáticos desse novo olhar: o
Supermercado Domus, de Álvaro Siza, 1972, um verdadeiro "decorated
shed" tal como os que Robert Venturi estudou em Learning from Las Vegas
(Siza conhece Venturi em Barcelona - "andava tudo doido com o
americano" - e quando regressa faz arquitectura pop) e "Perdido por
Cem..."' de António Pedro Vasconcelos, também de 1972, que começa
como um road movie, mas que se revela um olhar crítico sobre uma Lisboa
fechada sobre si própria, num microcosmos muito marcado pelo mundo da
publicidade.
Sobre o autor:
Luis Urbano. Arquitecto (1998), com pós graduação em “Estudos Avançados: Arquitectura,
Território e Memória” (2005). Ensina e investiga na Faculdade de Arquitectura da
Universidade do Porto, onde prepara doutoramento em Arquitectura e Cinema Portugueses e
coordena com o Prof. Alexandre Alves Costa o Projecto de Investigação “Ruptura Silenciosa.
Intersecções entre a arquitectura e o cinema. Portugal 1960-1974”. Tem escrito artigos,
apresentado conferências, organizado encontros científicos e realizado filmes
sobre as relações entre a arquitectura e o cinema.
11
A cidade as found, circa 1959
Francisco Manuel Gomes Costa FERREIRA
EAUM
Em 1959, em Otterlo, o Team X, grupo de arquitectos de que faziam parte o
casal britânico Alison e Peter Smithson, declaram a morte do CIAM
(Congres Internacionaux d’Architecture Moderne), que propunha uma
cidade organizada segundo zonas funcionais, formalizadas por uma
arquitectura límpida e geometrizada, docemente colocada sobre a paisagem.
Em oposição, os Smithsons introduziriam uma nova ética do olhar,
determinada pela incorporação da realidade as found, propondo uma
articulação orgânica entre o desenho e a pluralidade do existente,
evidenciando a ambivalência da escala, abraçando o carácter contingente da
percepção.
Em 1959, dois filmes estabelecem uma refundação fracturante, quer do
cinema enquanto disciplina, quer da forma como representam o contexto
urbano enquanto paisagem activa: Shadows, de John Cassavetes, filmado
em Nova Iorque e A Bout de Souffle, de Jean-Luc Godard, filmado em
Paris, partilham entre si a vontade de um olhar directo sobre a realidade,
traduzido na posição e movimento intuitivos da câmara, na dissimulação da
narrativa na estrutura informe da sua montagem ou no ênfase do particular
em simultâneo com a diluição do todo.
A comunicação analisará a transversalidade destes contextos, justapondo o
discurso e imagens emergentes das reflexões do casal Smithson à forma da
presença da cidade nos filmes enunciados.
Sobre o autor:
Francisco Ferreira. Arquitecto (FAUP, 1991). Docente na EAUM onde lecciona a Unidade
Curricular Cidades e Cinema em colaboração com João Rosmaninho. Mestrado em
Arquitectura Metrópolis (Departament de Composició Arquitectónica da Universitat
Politécnica de Catalunya e Centre de Cultura Contemporània de Barcelona, 2000).
Doutoramento em Cultura Arquitectónica, sob o tema The Capsule and Architectural Postwar
Avant-Garde, circa 1956 (Escola de Arquitectura da Universidade do Minho, 2010).
12
Los Angeles e “O Estado das Coisas”: cinema e
arquitectura em trânsito
João Ricardo Rosmaninho Duarte da SILVA
EAUM
“Der Stand der Dinge” (1982), de Wim Wenders, é um filme a preto e
branco que acontece entre a ruína de um objecto arquitectónico do moderno
europeu e a pujança de um território genérico do pós-moderno norteamericano. Entre um hotel em Sintra, na Praia Grande, e os boulevards,
auto-estradas e aeroportos de Los Angeles, há uma mudança de escala e
território tão forte quanto a nostalgia pelo cinema clássico e pela urbe
canónica permanece. Em “O Estado das Coisas” arquitectura e cidade
parecem perder a sua legibilidade canónica. A ideia de centro histórico
limitado e a elementar dicotomia cidade-campo, presentes na primeira parte
do filme, evoluem para uma região dispersa e são substituídas por um
espaço inclassificável segundo os modelos de análise mais disciplinares.
Numa época de posicionamento e desassossego retroactivos e após um
tempo de arquitecturas sofisticadamente desenhadas mas (ultra)passadas,
surge a hipótese de outra visão e estrutura urbanas, em circulação constante.
Na comunicação serão, ainda, incorporados outros casos de estudo como
“Zabriskie Point” (1970), de Michelangelo Antonioni, ou o documentário
"Reyner Banham Loves Los Angeles" (1972), onde se permite reconhecer
diferentes sentidos de evasão e regresso a um território específico como é a
metrópole Angelina.
Sobre o autor:
João Rosmaninho. Arquitecto (EAUM, 2002). Docente na EAUM onde lecciona a Unidade
Curricular Cidades e Cinema em colaboração com Francisco Ferreira. Mestre em Ciências da
Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa (2009). Desenvolve actualmente o
doutoramento na área de Cultura Arquitectónica. Publicou artigos na Trajectos: Revista de
Comunicação, Cultura e Educação, na colecção Opúsculos, e na Diacrítica: Série Ciências da
Literatura.
13
As visões futuristas no cinema: a morfologia da
cidade futura e a criação de cenários
Adriana AFONSO1; Sara ELOY2
1
ISCTE-IUL, 2 ISCTE-IUL/ADETTI-IUL
Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal,
[email protected], [email protected]
Palavras-chave: cinema digital, utopia, making of, cidade
Resumo
O artigo proposto pretende apresentar um estudo sobre as visões futuristas
no cinema e as técnicas utilizadas na criação dos seus cenários. Dentro
destes interessam-nos os cenários que são projectados de origem, de cidades
que não existem, assim como cenários que têm como base a cidade
existente transformada em previsões da sua configuração futura, onde
permanece parte da sua configuração original para um reconhecimento
espacial da cena. O estudo dessas técnicas de produção de cenários revela a
forte ligação existente entre o cinema e a arquitectura, na medida em que
existe um processo de criação de um cenário, que constitui um processo
projectual. Tanto o arquitecto como o cineasta criam uma manipulação
espacial para o desenrolar de uma determinada história. O movimento dos
filmes representa uma vivência dos espaços que de certa forma revela um
carácter simulador do modo como o espaço é pensado para ser vivido. Em
arquitectura essa simulação é puramente especulativa. O ser humano tem
vontades próprias ao contrário dos actores de um filme, e o papel do
arquitecto nessa manipulação nem sempre coincide com a realidade. Porém,
essa simulação poderá ser uma forma de melhor representar as ideias da
concepção do projecto.
Com o avanço tecnológico torna-se cada vez mais fácil a manipulação de
imagens reais acrescentadas de imagens virtuais que representam o rosto
idealizado da sua evolução. Perante isto, o cinema enfatiza cada vez mais a
ideia de que tudo é possível. “A multiplicidade de recursos técnicos
proporcionados pelas novas tecnologias, particularmente aqueles da
desvinculação da relação figura/fundo, vem promovendo sobreposições de
imagens e figuras, eliminação ou multiplicação (clonagem) delas,
permitindo, assim, esvaziar espaços, eliminar ou adicionar elementos,
criando multidões virtuais” (Magnavita, 2006, 105)
A morfologia urbana das cidades é alvo de constante mutação, proveniente
das transformações sempre a ocorrer da sociedade que a habita. Numa
14
perspectiva de uma transformação social, novos conceitos, novos ideais e
novos comportamentos humanos perante a forma como se vive a cidade
levam a transformações da morfologia da cidade que, a longo prazo, serão
necessárias para adaptação a novos costumes. Através do estudo de
filmologia concentrado no cinema onde se explora uma ideia de futuro
identificam-se algumas dessas transformações apresentadas para a
sociedade, nas quais o cenário é delineado e adaptado aos costumes dessas
novas vivências, e ainda a tecnologia por detrás da criação desses cenários
fictícios. (figura 1)
Figura 1- Sky Captain and the World of Tomorrow realizado por Kerry Conrad –
criação da imagem de Nova Iorque do futuro, realizada através de tecnologias
computacionais de modelação 3D e sobreposição de planos de filme (Chroma key)
(fonte: http://thecia.com.au/reviews/s/sky-captain-and-the-world-of-tomorrow.shtm)
As cidades que só existem no cinema, e que são inspiradas nas ideias do
cineasta, são cidades decerto inspiradas cidade de hoje e na cidade do
passado e revelando prospectivas ou tendências do que é a sua
transformação. As interpretações da cidade do futuro revelam a procura do
progresso e das transformações que ele provocará. “O mundo pode ser
agora fruto de uma imaginação digitalizada e controlada pelo computador”
(Costa, 2005). No estudo de filmes de carácter futurista, a cidade é uma
simulação de determinadas formas de funcionamento das cidades futuras
imaginárias “reflexo de uma época obcecada por resolver o problema de
compreender a multiplicidade de construções e representações simultâneas
que formam o mundo contemporâneo” e “as transformações atuais que
estão ocorrendo globalmente em todos os níveis da experiência humana.”
(Costa, 2005) Assim, o futuro apresentado revela o seu lado previsível de
15
evolução e o seu lado de simulação que com o avanço tecnológico foi sendo
cada vez mais facilmente realizado.
As técnicas de cenografia virtual utilizadas nesse tipo particular de filmes
para a realização dos seus cenários são técnicas que, pensadas no âmbito do
urbanismo e da arquitectura, podem criar imagens em movimento de uma
cidade como Lisboa baseada nas prospectivas da sua evolução. “No fundo,
tal como os arquitectos com os seus desenhos, os cineastas propõem
mundos futuros habitáveis” que será “uma projecção da cidade do futuro e,
por tal, não foge do campo da utopia.” (Lousa, 2010).
O estudo em causa neste artigo insere-se dentro de um trabalho de
investigação e proposta de intervenção num futuro daqui a 20 anos sobre
parte da Cidade de Lisboa. Procura-se que a cidade seja pensada como
cenário da representação da sua vivência natural, no entanto enquadrada
num tempo futuro, onde existirá uma transformação que embora
obviamente desconhecida, poderá ser imaginada consoante algumas
convicções.
Figura 2 - Imagem de uma perspectiva do futuro do eixo Norte-Sul, Lisboa (Dias et
al 2011: 20)
No estudo, centrado na zona da colina das Amoreiras, e com base nos
conhecimentos adquiridos na análise das técnicas utilizadas no cinema de
índole futurista, procura-se a criação de um prisma do futuro baseado em
convicções da sua evolução. Neste trabalho procura-se simular, sob a forma
de movimento e som, perspectivas de alguns cenários de espaços “palco
desta movimentação de diversíssimas vontades e desejos que é a
16
cidade”(Dias, 2001) imaginada para essa época futura através do
paralelismo projetual existente entre as duas artes: cinema e arquitectura.
(figura 2)
Bibliografia
[1] Costa, M. H. (2005) “O Cinema e a Imagem Urbana. Novas
Tecnologias e Novas Especialidades” in Revista Académica de
Cinema, número 3. [versão electrónica], disponível em
<http://www.estacio.br/graduacao/cinema/digitagrama/numero3/maria
helena.asp> acedido a 31 de Janeiro de 2013.
[2] Dias, M. G., Matos, M., Almeida, F., Ferreira, R. 2001, Passado
Lisboa Presente Lisboa Futuro, 1ª edição, A. M. Pereira, Lisboa
[3] Lousa, A. 2010, “Imagens em Movimento: cinema e utopia” in
Arquitrabalhos,
disponível
em
<http://arquitrabalhos.wordpress.com/2010/12/03/imagens-emmovimento-cinema-e-utopia/> consultado em 30 de Novembro de
2012.
[4] Magnavita, P. R. (2006) Arquitectura, Cinema, Tecnologia e
Cenografia Virtual. Percurso e Paisagens, disponível em
<http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rua/article/download/3177/2
286> consultado em 25 de Janeiro de 2013.
17
“Detecção Remota, Análise Espacial e Forma Urbana”
coordenada pelo Prof. José António Tenedório
”Remote Sensing, Spatial Analisys and Urban Form”
coordinated byProf. José António Tenedório
19
Detecção Remota, Análise Espacial, Forma Urbana
e três escalas de análise
Remote Sensing, Spatial Analysis, Urban Form
and three scales of analysis
José António TENEDÓRIO (Coord.)
e-GEO, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
Nota introdutória
A sessão paralela especial apresenta alguns resultados da investigação que
tem vindo a ser realizada no âmbito do grupo de Modelação Geográfica,
Cidades e Ordenamento do Território do e-GEO, Centro de Estudos de
Geografia e Planeamento Regional da Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Os trabalhos são apresentados e
discutidos segundo três escalas de quantificação e análise: macro-escala,
meso-escala e micro-escala. A quantificação das propriedades dos ‘objectos
urbanos’ quando observados por Detecção Remota (área, perímetro, altura,
volume, forma, arranjo espacial, fragmentação, entre outras) é ‘dependente
de escala’; essa ‘dependência de escala’ é não só determinada pela
resolução geométrica das imagens mas também pela semântica e pela
generalização que se lhe quer associar. Estas questões são analisadas à luz
das tecnologias de aquisição e, sobretudo, de processamento computacional
de informação obtida por sensores aéreos e orbitais.
21
[Macro-escala] Análise espacial da forma urbana
em Sistemas de Informação Geográfica
Rossana ESTANQUEIRO
e-GEO, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
No contexto da investigação de base teórico-conceptual orientada para a
operacionalização em SIG do conceito de forma urbana, inferiu-se sobre o
potencial contributo da aplicação de métricas espaciais na definição
quantitativa de conceitos espaciais maioritariamente difundidos em, e
associados a, discursos analítico-descritivos. Promove-se, assim, com esta
abordagem, um tratamento quantitativo da forma urbana baseado em shape
analysis. Consequentemente, é explorada a pertinência de noções como
grau de compacidade e, por inerência, o seu antónimo dispersão,
circularidade, alongamento, linearidade segundo eixos e de (ir)regularidade
de perímetros. Estas noções correspondem a propriedades ou características
geométricas de forma que resultam da combinação do cálculo de diferentes
parâmetros geométricos com graus de complexidade variados.
Ao nível operativo, a inexistência de um software em ambiente SIG que
disponibilizasse o conjunto de métricas sob a forma de shape indexes,
indispensável à abordagem desenvolvida, implicou a implementação e
programação computacional em open source do package “Shape Indexes”.
A componente aplicacional desta investigação traduziu-se numa
metodologia de extracção de áreas morfológicas urbanas, a partir da qual se
estabeleceu um referente espacial mínimo de análise da forma urbana – o
polígono morfológico de cidade. A delimitação destes polígonos
possibilitou, por sua vez, a extracção de informação relativa às propriedades
geométricas de forma, através do recurso à exploração de algoritmia e da
programação de dezanove índices de forma, utlizados posteriormente na
criação das tipologias de Áreas Morfológicas Urbanas das cidades
portuguesas do Continente.
22
[Macro-scale] Spatial analysis of urban shape in
Geographic Information Systems
Rossana ESTANQUEIRO
e-GEO, Research Centre for Geography and Regional Planning, Faculty of Social Sciences and
Humanities, Universidade Nova de Lisboa
In the context of conceptual and theoretical basis research oriented towards
GIS operationalization of the urban form concept we inferred about the
potential contribution of spatial metrics application in quantitative definition
of spatial concepts mostly associated with the analytical-descriptive
speeches. Hence, this approach promotes the quantitative treatment of urban
form based on shape analysis. Consequently, we explore the relevance of
notions such as degree of compactness and, consequently, its antonym,
dispersion, circularity, elongation, linearity by axis and (ir) regularity of
perimeters. These notions correspond to shape’s geometric properties or
characteristics that result from the combination of calculus with different
geometric parameters with varying degrees of complexity.
At the operational level, we observed the inexistence of GIS software that
allows the computing of the set of metrics in the form of shape indexes.
Hence, the developed approach in this thesis entailed the computational
programming and implementation in open source of the package “Shape
Indexes”. The application of this research component resulted in a
methodology of urban morphological areas extraction from which a
minimum spatial analysis of urban form was defined – the morphological
polygon of city. The delimitation of these polygons enabled, in turn, the
extraction of information on the geometric properties of the shape,
supported by the algorithms investigation and the nineteen shape indexes
programming. These were later used to create the typologies of the Urban
Morphological Areas of the Cities in Mainland Portugal.
23
[Meso-escala] Cartografia fractal das áreas
urbanas
Sara ENCARNAÇÃO
Grupo ATP, Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais, Instituto para a Investigação
Interdisciplinar & e-GEO, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade
de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
Num mundo em que o ritmo das cidades está a aumentar, o acesso imediato
a informação relevante é fundamental para a compreensão da evolução no
tempo do uso do solo e a sua consequente regulação. Nesta comunicação
será apresentada uma análise fractal espacio-temporal de uma área
metropolitana, a partir da qual foi desenvolvido um modelo que classifica
áreas construídas em cinco tipos. A partir destes cinco tipos de áreas será
explorada a relação entre a dimensão fractal local e o desenvolvimento da
mancha construída da Margem Norte da Área Metropolitana de Lisboa
(MNAML), para o período entre 1960 e 2004. Esta análise exploratória
sobre a MNAML, permitirá mostrar como algumas das dinâmicas de
crescimento encontradas podem ser relacionadas com a multitude de
mudanças sociais, económicas e políticas que caracterizaram a MNAML (e
Portugal), nos últimos 40 anos.
24
[Mesoscale] Fractal cartography of urban areas
Sara ENCARNAÇÃO
Applications of Theoretical Physics Group, Centro de Matemática e Aplicações Fundamentais,
Instituto para a Investigação Interdisciplinar & Research Centre for Geography and Regional
Planning, Faculty of Social Sciences and Humanities, Universidade Nova de Lisboa
In a world in which the pace of cities is increasing, prompt access to
relevant information is crucial to the understanding and regulation of land
use and its evolution in time. Here we will present a spatio-temporal fractal
analysis of a metropolitan area, based on which a model has been developed
which generates a cartographic representation and classification of built-up
areas into five types. Furthermore, we will explore the relation between the
local fractal dimension and the development of the built-up area of the
Northern Margin of the Metropolitan Area of Lisbon (NMAL), for the
period between 1960 and 2004. Our analysis of NMAL will show how
some of the growth dynamics encountered can be linked to the plethora of
social, economic and political changes that have taken place in NMAL (and
Portugal), during the last 40 years.
25
[Micro-escala] Uso de dados LiDAR para estudar a
volumetria urbana
Teresa SANTOS
e-GEO, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
Em planeamento, é comum a utilização de Indicadores Urbanos quando se
pretende simplificar, quantificar e comunicar informação relevante sobre
processo urbanístico. A construção destes indicadores requer informação
sobre o meio urbano. Neste contexto, uma fonte importante sobre o estado
da cidade são os dados obtidos por detecção remota. Através de técnicas de
processamento digital de imagem, o detalhe temático pode ser extraído
daqueles dados e utilizados na construção de sistemas de indicadores. As
métricas mais comuns baseiam-se em dados 2D e incluem indicadores como
área impermeável per capita ou superfície ocupada por espaços verdes.
Estas medidas têm, geralmente, como fonte primária a informação espectral
registada em imagens digitais. Mais recentemente, com o aparecimento de
sensores baseados em varrimento laser, a disponibilização de informação
sobre a altura dos objectos, permitiu a modelação 3D de áreas urbanas a
escala grande. Este trabalho explora os dados obtidos por Light Detection
And Ranging (LiDAR), juntamente com dados demográficos, como fonte
para a produção de indicadores urbanos de volumetria. O conceito é
aplicado à cidade de Lisboa, para a qual se calculou um conjunto de
medidas que incluem volume construído per capita, densidade volumétrica
ou homogeneidade volumétrica.
26
[Microscale] Characterizing urban volumetry
using LiDAR data
Teresa SANTOS
e-GEO, Research Centre for Geography and Regional Planning, Faculty of Social Sciences and
Humanities, Universidade Nova de Lisboa
Urban indicators are efficient tools designed to simplify, quantify and
communicate relevant information for land planners. Since urban data has a
strong spatial representation, one can use geographical data as the basis for
constructing information regarding urban environments. One important
source of information about the land status is imagery collected through
remote sensing. Afterwards, using digital image processing techniques,
thematic detail can be extracted from those images and used to build urban
indicators. Most common metrics are based on area (2D) measurements.
These include indicators like impervious area per capita or surface occupied
by green areas, having usually as primary source a spectral image obtained
through a satellite or airborne camera. More recently, laser scanning data
has become available for large-scale applications. Such sensors acquire
altimetric information and are used to produce Digital Surface Models
(DSM). In this context, LiDAR data available for the city is explored along
with demographic information, and a framework to produce volumetric
(3D) urban indexes is proposed, and measures like built volume per capita,
volumetric density and volumetric homogeneity are computed.
27
[Micro-escala] Avaliação de dados UAV's na
aquisição de parâmetros urbanísticos ao nível do
edifício 3D
Carla REBELO
e-GEO, Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional, Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa
As tecnologias para a aquisição de uma nuvem de pontos 3D
georreferenciada, como é o caso do sistema LiDAR (Light Detection And
Ranging) e, mais recentemente, os veículos aéreos não tripulados (UAVs),
contribuem para o desenvolvimento de metodologias que permitem a
automatização da extração de parâmetros urbanísticos associados aos
edifícios. A tecnologia UAV revela grandes potencialidades para uma
variedade de aplicações urbanas. No entanto, carece de avaliação na
extração dos parâmetros urbanos que envolvam a terceira dimensão.
Estes sistemas, permitem a realização de levantamentos fotogramétricos de
pequenas áreas urbanas, a baixa altitude, com base num veículo aéreo não
tripulado e executado segundo o plano de voo definido a priori. É composto
por um sistema de georreferenciação direta que integra GNSS (Sistemas
Globais de Navegação por Satélite) e um sistema inercial que permite medir
a atitude do avião. Operacionalmente o UAV recolhe um conjunto de pares
de imagens aéreas georreferenciadas, a partir de uma câmara digital de
pequeno formato, com elevada sobreposição longitudinal entre si (cerca de
90%). A exposição aborda o desenvolvimento de uma metodologia para a
avaliação de uma nuvem de pontos 3D obtida por UAV na extração da
altura da fachada. A aplicação é realizada sobre uma área da Amadora com
uma área total de noventa hectares e uma cobertura de onze pontos por
metro quadrado.
28
[Microscale] Evaluation of UAV 3D point-cloud
data for the acquisition of urban parameters
Carla REBELO
e-GEO, Research Centre for Geography and Regional Planning, Faculty of Social Sciences and
Humanities, Universidade Nova de Lisboa
Nowadays, the new technologies for the acquisition of dense georeferenced
3D point-cloud like airborne LiDAR (Light Detection And Ranging) system
and more recently the Unmanned Aerial Vehicles (UAVs) system, can be an
efficient solutions for the development of automated methodologies in
extraction of urban parameters associated to buildings. The UAV
technology has revealed a great potential for a variety of urban applications.
However, it lacks the evaluation in extraction of urban parameters that
involved a third dimension. This system enables a low-cost aerial
photogrammetry surveys at low altitude over small urban areas without
human intervention during the flight. This system has a direct
georeferencing system that integrates GNSS (Global Navigation Satellite
Systems) and IMU (Inertial Measurement Unit). Operationally, the UAV
collects a subset of stereo aerial images from a small format digital camera
with a higher overlapping between each other which is about 90%. To
generate the UAV point cloud the stereo aerial images pairs must be postprocessed by dense image matching techniques, allowing the identification
for each point of this cloud the coordinates xyz and RGB values.
This work addresses the development of a methodology for the evaluation
of UAV 3D point-cloud in extraction of building facade height parameter.
The study area is a small urban area of Amadora has a total area of 90
hectares and is coverage with about 11 points per square meter.
29
“O Ensino da Morfologia Urbana”
Coordenada por:
Prof. Vitor Oliveira e Prof.ª Teresa Marat-Mendes
”Teaching Urban Morphology”
Coordinated by
Prof. Vitor Oliveira and Prof.ª Teresa Marat-Mendes
31
O Ensino da Morfologia Urbana na ESG/ Escola
Superior Gallaecia
David VIANA1
1
CI-ESG/ Centro de Investigação da Escola Superior Gallaecia Largo das Oliveiras, s/n, 4920275 Vila Nova de Cerveira, Portugal (+351) 251 794 054, [email protected]
Palavras-chave: Morfologia Urbana, Ensino, Transformação Urbana,
Norte Atlântico Ibérico, Escola Superior Gallaecia
Resumo
O artigo aprofunda um long abstract [1] desenvolvido no âmbito do
Seminário “Territórios e Cidades do Norte Atlântico Ibérico”, que teve
lugar na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo (Janeiro de 2012). Os
conteúdos elaborados dão nota da experiência lectiva que tem vindo a ser
consolidada no Mestrado Integrado em Arquitectura e Urbanismo da Escola
Superior Gallaecia, nas unidades curriculares de Projecto-Urbanismo e
Dissertação. Partindo da envolvente territorial da Escola, e inerentes
dinâmicas transfronteiriças, estruturam-se exercícios académicos no quadro
da disciplina urbanística e da análise morfológica com enfoque na Galiza e
Norte de Portugal, os quais avançam com o conhecimento sobre cidades,
vilas e povoações que compõem esta intrincada euro-região de sistemas e
recursos, estruturas urbanas e ecológicas, redes e infra-estruturas,
equipamentos, organização cadastral e limites administrativos. O contexto
referido consubstancia-se enquanto espaço geográfico plural, cuja
“paisagem” urbana é marcada por diversas matrizes morfológicas e
centralidades contrastantes, caracterizada por frentes de água (marginais
fluviais, marítimas, complexos portuários, por ex.), distintas infraestruturas, dispositivos tipo-morfológicos, fluxos, tipos de mobilidade e
níveis de conectividade, entre outros elementos configuradores das
respectivas estruturas urbanas. É sobre este quadro referencial – entre
núcleos compactos e densamente ocupados e a extensão linear do espaço
urbano difuso, determinado pela fragmentação e “diluição” de limites – que
os estudantes do Mestrado Integrado em Arquitectura e Urbanismo realizam
um conjunto alargado de diagnósticos, análises e sínteses que abordam a
diversidade da condição urbana da Galiza e do Norte de Portugal e explicam
processos que promovem a transformação urbana.
O ensino da morfologia urbana surge como via determinante para a
33
prossecução de leituras críticas, interpretativas e integradas do território
transfronteiriço entre a Galiza e o Alto Minho, reconhecendo os elementos
mais relevantes da forma urbana e demais aspectos da dimensão física das
suas cidades e vilas. Compreender o Norte Atlântico Ibérico implica
analisar os respectivos espaços urbanos de modo correlacionado e
interescalar, em que os tecidos urbanos e a malha viária sejam
perspectivados a partir de abordagens inter/transdisciplinares – entre a
história, a arquitectura, a antropologia dos espaços, o urbanismo, a
[psico]geografia, a ecologia, o ambiente, a sociologia e a economia urbana,
etc. As parcelas, os quarteirões, os edifícios, as ruas, suas formas, estruturas,
dimensões, proporções e materiais, são articuladas sistemicamente,
diacrónica e sincronicamente.
Recolhem-se e analisam-se cartografias correspondentes às várias fases de
desenvolvimento das cidades e vilas; comparam-se fotos de arquivos locais
relativos a diversas épocas; relacionam-se ortofotomapas e levantamentos
fotográficos resultantes do reconhecimento do território a partir de voos
militares; identificam-se regras e padrões de textura a partir de conexões
múltiplas e diferenciadas no que concerne aos vários processos, agentes e
demais
intervenientes
(públicos/privados;
individuais/colectivos;
nacionais/regionais/locais; entre outros) na transformação urbana.
Complementarmente, consultam-se documentos históricos, dados
estatísticos e informação diversa que contribua para um entendimento mais
abrangente dos contextos analisados, não só quantitativamente, mas também
qualitativamente. No entanto, procura-se que haja uma tradução “espacial”
deste tipo de dados recolhidos e trabalhados de forma crítica e
interpretativa, para que se perceba – espacialmente – os efeitos dos
indicadores assim estabelecidos.
Cidades e vilas estudadas, como Allariz, Baiona, Moaña, Pontevedra,
Rianxo, Tui, Viana do Castelo, Vigo, Vila de Caminha, Vila Nova de
Cerveira, traduzem ora formas urbanas densas e compactas, como
fragmentadas e dispersas, ancoradas em “centros” (históricos) ou
capilarizadas em periferias. O ensino da morfologia urbana na Escola
Superior Gallaecia ancora-se na interdependência entre o enquadramento e
reconhecimento de um determinado contexto urbano (e seu suporte físico) e
a sistematização de um conjunto de conceitos, autores e obras de referência
para o urbanismo. Pretende-se que – ao analisarem morfologicamente
cidades e vilas – os estudantes estejam munidos de ferramentas teóricas que
auxiliem a saber ver e compreender, fundamentadamente, mudanças nas
formas urbanas, seus atores e principais processos.
34
Mapa 1: As diferentes tipologias de Allariz em 2010 (desenho de J. Fernadéz).
O paper contribuirá para a problemática relativa ao ensino da morfologia
urbana, apresentando o caso da ESG, enfatizando o que confere sentido,
continuidade e consolida nexos conectivos entre os modelos e aquilo que os
suportam em termos físicos, sociais, culturais, económicos e políticos.
35
Mapa 2: Esquema interpretativo dos principais vectores de expansão de Allariz
entre 2010 e 2010 (desenho de J. Fernadéz).
Referências
[1] Viana, D. (2012), Apontamentos sobre o Norte Atlântico Ibérico.
In http://www.galarq.com/gl/apontamentos-sobre-o-norte-atlanticoiberico/ | Consulta 15 de Janeiro de 2013.
36
A FORMA URBANA: leitura e interpretação de
atributos visuais
HEITOR, T.1; Bastos, F1; Carvalho ARAÚJO, V. 1
ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Construção e Território do Instituto Superior
Técnico. Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa; tel: +351 21 841 83 44/75
[email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, análise visual, leitura reflexiva,
traçado, atributos físicos e vivenciais
O artigo descreve a abordagem morfológica seguida na unidade curricular
de Projeto de Arquitetura 1 do Mestrado Integrado em Arquitetura do IST.
O artigo está organizado em três partes. Na primeira descreve-se a
abordagem morfológica seguida no programa da unidade curricular e
justifica-se a estratégia pedagógica adoptada; na segunda detalham-se as
experiências realizadas e na terceira parte discutem-se os resultados obtidos.
A abordagem adoptada nesta unidade curricular constitui-se como uma
iniciação ao estudo da forma urbana, entendida como o território da
arquitetura. Procura-se estruturar o processo de construção do conhecimento
ancorando-o numa leitura reflexiva organizada em três momentos distintos:
primeiro através de experiências diretas isto é em vivências; segundo
através da conceptualização dessas experiências isto é por confronto com
conhecimento explícito (e.g. Kevin Lynch, Norberg-Schulz, Gordon Cullen
e Edmund Bacon); terceiro através da aplicação dos conceitos adquiridos a
uma situação concreta.
O objectivo é desenvolver mecanismos cognitivos de apreensão da forma
urbana por via da experiência concreta, isto é através de processos de
observação reflexiva. Parte-se da inquirição direta da realidade para a sua
conceptualização e posterior aplicação a novas situações. Trata-se portanto
de [CAPTAR | APREENDER | CONCEPTUALIZAR] para depois
[APLICAR | TESTAR | TRANSFORMAR ].
Para o efeito recorre-se às técnicas de análise visual, entendidas como um
meio privilegiado de leitura e interpretação dos atributos visuais do espaço
urbano e de identificação dos elementos que contribuem para a
compreensão da complexidade da forma urbana e das vivências
estabelecidas. A partir da descodificação de informação captada
visualmente (sinais ou manifestações externas) é então dado inicio a um
processo intelectual de transformação daquilo que é VISTO naquilo que é
37
COMPREENDIDO. Considera-se que nesta fase do percurso académico a
complexidade da forma urbana pode ser apreendida a partir da relação
estabelecida entre ESPAÇO | INDIVÍDUOS | ACTIVIDADES i.e. o que
indivíduos e grupos fazem ou são observados a fazer num dado contexto
físico-espacial.
"Os olhos não vêem coisas mas sim figuras de coisas que significam
outras coisas."
Italo Calvino As Cidades Invisíveis Editora Teorema, Lisboa 1979
A abordagem adoptada é traduzida numa sequência de exercícios de
análise e de simulação que propõem uma reflexão sobre a cidade na sua
dupla condição: a cidade que se projeta e antecipa; a cidade que se
concretiza e experimenta. Trata-se de explorar a cidade enquanto espaço de
acção sujeito à construção, ocupação e a alteração ao longo de tempo e de
vivências sujeito à leitura e à reinterpretação.
"Marozia consiste em duas cidades: a do rato e da andorinha; ambas
mudam com o tempo; mas não muda a sua relação: a segunda é a que
está para se libertar da primeira."
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis Editora Teorema; Lisboa, 1979
A par da leitura reflexiva da cidade, focalizada nos seus atributos físicos e
vivenciais pretende-se desenvolver as competências relativas à
representação e comunicação da complexidade do espaço urbano,
estimulando a utilização criativa de modelos (2D e 3D), esquemas
conceptuais e notações gráficas (registos gráficos comentados).
A leitura proposta desenvolve-se a partir da análise sequencial de um
percurso urbano, integrado o casco histórico da cidade de Lisboa, segundo
três vectores temáticos, correspondentes a formas distintas de olhar a
cidade: 1: TRADUZIR [AFECTOS]; 2: ENTENDER [LUGARES]; 3:
RECONHECER [TRAÇADOS]
O percurso é construído a partir de dois pontos previamente definidos
(ponto de partida e ponto de chegada), devendo integrar uma sucessão de
espaços - 'momentos' ou 'episódios' - com características (físicas e
vivências) distintas, permitindo recolher experiências múltiplas. O
levantamento e o registo de informação é baseado em esquemas gráficos,
utilizando sistemas de notação criados para o efeito.
Com a análise proposta em 1 visa-se a construção de um mapa de afectos.
Trata-se de um olhar sobre a cidade autocentrado, isto é focado nas
sensações e nas emoções que foram sendo captadas e manifestadas ao longo
do percurso.
38
Na planta da cidade é assinalado o percurso realizado e são registados todos
os episódios | momentos do percurso onde ocorreram estímulos sensoriais
e reacções emotivas.
A análise proposta em 2 concentra-se na construção de um mapa de
lugares, sendo que o olhar sobre a cidade é agora centrada na identificação
de espaços portadores de expressão própria e reconhecível. A atenção é
canalizada para os aspectos relacionados com a morfologia dos lugares - o
contexto paisagístico; os tipos de espaços exteriores e edificados - e com o
modo como as pessoas os fruem, isto é para as vivências - os usos e as
actividades. Na planta da cidade são registados todos os espaços que se
constituem em lugares.
Finalmente em 3 é construído um mapa de traçados, centrando a atenção
nas métricas dos espaços exteriores de circulação e de permanência. A
análise é agora focalizada na dimensão, na escala e na forma dos espaços e
nas relações de articulação estabelecidas, utilizando como base o mapa de
cheios e vazios relativo ao troço da cidade onde está integrado o percurso
analisado nas fases anteriores.
Em intersecção com o conjunto destas três análises são executados, em dois
tempos distintos, mapas mentais do percurso experimentado que têm por
objectivo promover a transformação da observação em conhecimento
consolidado. O primeiro mapa é executado imediatamente após a primeira
exploração do local e visa registar/fixar a memória do percurso,
funcionando como uma primeira aproximação aos elementos da imagem da
cidade propostos por Lynch. O segundo mapa mental, elaborado no final,
visa corrigir o primeiro no rigor e aumentar a densidade e profundidade da
informação, hierarquizando os registos gráficos a partir das relações
estabelecidas entre os elementos da imagem da cidade e o traçado urbano.
A execução da totalidade dos mapas de registo habilita os alunos para a
segunda fase do processo de ensino-aprendizagem funcionando enquanto
estratégias de conceptualização da forma urbana.
Seguindo o método proposto, esta nova fase [APLICAR | TESTAR |
TRANSFORMAR] é traduzida num exercício de concepção de uma
configuração espacial à escala urbana, firmando um traçado que assenta e
responde a um território com um enquadramento paisagístico pré-definido.
Este exercício, desenvolvido em grupo, constitui-se como uma nova base de
reflexão das análises da fase anterior e materializa o conhecimento
adquirido com essa experiência. Contempla dois tempos consecutivos: um
primeiro momento que corresponde à invenção das linhas mestras de
estruturação do traçado urbano, a partir das condicionantes paisagísticas
lançadas pelo grupo e um segundo, que se entende como o da concretização
39
e apuramento individual das premissas iniciais, na contribuição para uma
malha diversificada mas coesa revelando as suas potencialidades de
crescimento e de conexão entre as partes, isto é, os vazios (ruas, praças) e os
cheios (edifícios).
O seu desenvolvimento faz-se através de modelos tridimensionais em
maquete ou de plantas conseguidas pelo método da colagem de imagens –
que são trabalhadas como mancha gráfica à qual é correspondido um
determinado significado –, ambas nas escalas 1:2000 a 1:500.
Imagem 1: modelação dos “cheios e dos vazios”. Recurso a maquete (2006/2007) e à
planificação obtida por colagem (2009/2010)
As diferentes abordagens dos diversos grupos potenciam o estabelecimento
de dois modos distintos de “fazer cidade”, isto é, de relacionar a dimensão
urbana com o espaço arquitectónico como um resultado da oposição entre
modelar os “vazios” para obter os “cheios” e o seu contrário.
A discussão conjunta dos resultados permite firmar um conhecimento
comum ao grupo a partir dos sucessos e insucessos de cada uma das
abordagens.
40
A Arqueologia da Cidade Contemporânea
A Análise Cartográfica e a Observação Empírica
como Metodologia de Estudo da Morfologia
Urbana
Manuel C. TEIXEIRA
CIAUD – Centro de Investigação em Arquitectura, Urbanismo e Design
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
Polo Universitário da Ajuda, Lisboa, Portugal
315- 933145175, [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, arqueologia, cartografia, observação
empírica
Para entender a forma da cidade, o principal material de estudo é a cidade
de hoje, repositório de todas os estratos que a construíram ao longo do
tempo. Passear pela cidade é um exercício de decifrar o que se esconde por
detrás de cada um dos seus elementos, como nos chamou a atenção Walter
Benjamin e Aragon. A cidade é um território surreal onde as mais
inesperadas ocorrências, coincidências e encontros de acaso acontecem.
O objectivo da comunicação é mostrar como articulando a observação
atenta da cidade de hoje com a leitura de cartografia de diferentes épocas é
possível revelar as situações do passado que determinaram tanto as lógicas
de localização e de implantação da cidade, como a sua organização urbana,
o traçado das ruas, a orientação das praças, a localização de funções, a
implantação de edifícios e mesmo alguns aspectos da sua arquitectura.
A cidade guarda em si, de forma bem visível a quem esteja com os sentidos
despertos, a evidência do seu passado, tornando possível uma arqueologia
dos seus traçados, dos seus espaços físicos, da sua arquitectura. A
arqueologia pode definir-se como o estudo científico de culturas através do
exame dos seus restos materiais. Alargando este conceito, a arqueologia
pode incidir sobre uma realidade viva e, neste sentido, podemos falar de
uma arqueologia da cidade contemporânea. Uma arqueologia que não incide
na cidade que está enterrada abaixo do solo, mas na cidade de hoje, através
41
das suas sucessivas camadas que estão entretecidas no seu tecido
construído.
A cidade que vivemos é a síntese de múltiplos estratos – físicos e temporais
– que se vão acumulando e que estão presentes, simultaneamente nos seus
traçados, nos edifícios, nos usos, muito para além das razões que lhes deram
origem. Assim acontece com antigas lógicas dimensionais que permanecem
inscritas na cidade, como o loteamento de 25 palmos, que radicava numa
razão construtiva, e permanece uma componente importante da morfologia
e da paisagem urbana, não obstante essa lógica construtiva já não se aplicar;
a localização de praças junto às portas de muralhas já desaparecidas; a praça
que resolvia inflexões de ruas motivadas por irregularidades do terreno,
hoje inexistentes; os usos que se radicam em determinadas zonas, sem razão
aparente, e que se justificam pela antiga organização funcional da cidade.
Da mesma forma, o passado rural de zonas urbanas, marcado no traçado das
suas ruas; os restos de carris que são evidência de antigas hierarquias
urbanas; o chafariz de animais que nos mostra a antiga função de campo ou
de terreiro de uma praça actual; a sedimentação histórica que ressurge
teimosamente por detrás de novas arquitecturas.
A cartografia da mesma cidade em diferentes momentos, mostra-nos esse
contínuo acrescentar, rasurar, sobrepor, tentar apagar e, apesar de tudo, a
persistência ao longo de séculos das formas urbanas anteriores, muitas
vezes transmutadas: a rua que era azinhaga rural e que mantém o seu
traçado irregular, o limite da cidade definido por uma linha de fortificação,
uma linha de água que hoje é uma Alameda, o perímetro de um quarteirão
ou o traçado de uma rua que segue a linha de um baluarte.
Desta forma, através da observação das irregularidades, das imperfeições,
dos restos esquecidos, decifra-se arqueologicamente a cidade, revelandonos o seu passado ou suscitando questões que a cartografia nos ajuda a
compreender. Tal como a relação entre a poesia e a razão de Breton e
Bachelard, a leitura de cartografia e da iconografia ajuda-nos a confirmar o
que o nosso olhar nos revelou, sugerindo-nos por sua vez novas pistas a
confirmar no local, num processo em que a observação empírica da cidade e
a análise cartográfica rigorosa se alimentam mutuamente.
42
O Ensino da Morfologia Urbana:
Definição de um Programa
Vítor OLIVEIRA
1
CITTA/ Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente
Rua Dr. Roberto Frias, s/n, 4200-465 Porto, Portugal
(+351) 225 081 903, [email protected]
Palavras-chave: Morfologia Urbana, ensino, programa, Portugal
Resumo
O artigo desenvolve um Viewpoint publicado na revista Urban Morphology
[1] descrevendo a estruturação de um Programa de Morfologia Urbana.
Apesar de ter sido concebido – e parcialmente testado – para um Mestrado
Integrado em Arquitetura, sustenta-se a sua aplicabilidade em cursos de
Geografia, História e Planeamento Urbano do Ensino Superior em Portugal.
Este Programa de Morfologia Urbana divide-se em oito secções
fundamentais. A primeira secção corresponde a uma introdução aos
principais elementos da forma urbana: os tecidos urbanos, as ruas, os
quarteirões, as parcelas e os edifícios. A necessidade de uma introdução aos
elementos fundamentais da dimensão física das cidades deve-se, em larga
medida, ao facto de a educação dos estudantes do Ensino Superior em
Portugal promover perspetivas disciplinares (arquitetónica, geográfica, entre
outras), enfatizando elementos particulares da paisagem urbana, ao invés de
incentivar abordagens integradas. Por exemplo, a educação dos arquitetos
foca-se, em larga medida, nos edifícios. Para além disso, centra-se não na
produção dos edifícios correntes, que constituem a massa edificada da
cidade e nos quais reside uma grande parte da população, mas sim no
desenho e na construção de objetos arquitetónicos de exceção.
A segunda secção centra-se nos diferentes atores intervenientes na
transformação urbana, bem como nos complexos processos associados a
essa transformação. Os estudantes devem ser capazes de compreender o
modo como cada um de nós, a nível individual, participa no processo de
transformação do território: como simples utilizador, como promotor de
uma ação de transformação das formas urbanas, como técnico responsável
pelo desenho dos novos elementos físicos, ou como construtor dessas
formas. O Programa deve também discutir o modo como nos organizamos
enquanto sociedade para construir um equilíbrio entre uma visão global da
cidade, normalmente planeada, e todo um conjunto de indispensáveis
43
contributos individuais, eventualmente associados a uma maior
espontaneidade.
Introduzidos os principais objetos de estudo da Morfologia Urbana – as
formas urbanas, os agentes de transformação e os processos de mudança – o
Programa centra-se na evolução da cidade ao longo da História. Para a
estruturação desta terceira secção adotam-se sete momentos relativamente
consensuais na literatura em história urbana: i) a cidade Grega; ii) a cidade
Romana; iii) a cidade Medieval; iv) a cidade do Renascimento; v) a cidade
Barroca; vi) a cidade do século XIX; e por fim, vii) a cidade do século XX.
A quarta secção do Programa centra-se num conjunto de casos de estudo
incluindo formas urbanas ‘tradicionais’ e ‘emergentes’. Selecionam-se
casos de estudo não só na Europa e América do Norte, mas também na
Ásia, América do Sul e África. Importa sublinhar que cada consideração
local em cada uma destas diferentes partes do mundo deve ser relacionada
com uma estrutura de pensamento morfológico mais abrangente.
A quinta secção é dedicada às cidades Portuguesas ou de origem
Portuguesa. Esta secção começa por uma análise histórica, evidenciando a
presença dos tipos de cidade identificados na terceira secção do Programa
no território Português e no território das antigas colónias Portuguesas –
partilhando aspetos comuns, mas simultaneamente ressaltando elementos
específicos. Segue-se uma análise dos elementos formais mais relevantes,
presentes nas cidades Portuguesas contemporâneas.
A sexta secção estrutura-se em três partes distintas. A primeira parte é
dedicada a um conjunto de ‘clássicos’ em morfologia urbana, incluindo
Studi per una operante storia urbana di Venezia de Muratori, Alnwick
Northumberland. A study in town plan analysis de Conzen, The image of the
city de Lynch, Townscape de Cullen, The death and life of great American
cities de Jacobs, L’ architettura della cittá de Rossi, e por fim The social
logic of space de Hillier e Hanson. A segunda parte apresenta as diferentes
abordagens morfológicas que se foram desenvolvendo ao longo das últimas
décadas, desde a abordagem histórico-geográfica até a abordagem
tipológica processual, desde a análise sintática até às várias formas de
análise espacial (incluindo isovistas, autómatos celulares, modelos baseados
nos agentes) ou até às gramáticas da forma. Por fim, a terceira parte
introduz uma questão fundamental face à grande diversidade existente em
termos de teorias, conceitos e métodos – a necessidade de desenvolver
estudos comparativos das várias abordagens.
A sétima secção centra-se num tema que tem vindo a merecer uma atenção
crescente na literatura, a passagem da descrição e explicação dos fenómenos
morfológicos para a definição de orientações prescritivas com vista à
44
produção de novas formas urbanas. Identificam-se duas atividades
eminentemente práticas que podem beneficiar deste suporte morfológico: o
planeamento urbano e a arquitetura. Se a primeira é uma potencial recetora
de teorias, conceitos e métodos à escala da cidade, a segunda encontrará
maior facilidade de articulação com uma ‘variante’ específica da morfologia
urbana, a tipologia do edificado.
Por fim, a última parte do Programa é dedicada à articulação entre o campo
de conhecimento da morfologia urbana e as dimensões fundamentais da
nossa vida coletiva nas cidades, nomeadamente as dimensões social,
económica e ambiental. Tendo em vista uma maior operacionalização deste
propósito, selecionam-se nas três dimensões genéricas três temas
específicos e procura-se fortalecer os canais de comunicação entre cada um
destes temas e o nosso campo de conhecimento.
Este artigo centra-se num tema fundamental que tem vindo
progressivamente a ser incluído no debate morfológico em fóruns
internacionais como o International Seminar on Urban Form, em particular
nas suas conferências anuais e na sua revista Urban Morphology. O
contributo fundamental do presente artigo é a proposta de um Programa
para uma disciplina de Morfologia Urbana.
Referências
[1] Oliveira, V. (2013), Manuals for urban morphological education. Urban
Morphology, 17(2).
45
Análise Morfológica de dois Bairros Sociais da Iª
metade do século XX, em Lisboa: o Bairro Social
da Serafina e o Bairro Social do Arco do Cego
Ana LOPES1, Beatriz RIBEIRO2, Marta JARDIM3, Raquel MARTINS4, Vera
CANTANTE5, Teresa MARAT-MENDES6
1,2,3,4,5
Instituto Universitário de Lisboa, ISCTE-IUL, Escola de Tecnologias e Arquitectura,
Departamento de Arquitectura e Urbanismo, Mestrado Integrado em Arquitectura
Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
1
+351 963107060, [email protected]
2
+351 911778559, [email protected]
3
+351 927561457, [email protected]
4
+351 913112561, [email protected]
5
+351 912854548, [email protected]
6
Instituto Universitário de Lisboa, ISCTE-IUL, DINAMIA'CET-IUL, Escola de Tecnologias e
Arquitectura, Departamento de Arquitectura e Urbanismo
Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
+351 917095126, [email protected]
Palavras-chave: projecto urbano, análise morfológica, Bairro da Serafina,
Bairro do Arco do Cego
Resumo
No âmbito da unidade curricular de Projecto Urbano II, referente ao 3º ano,
do presente ano curricular 2012/2013, no Mestrado Integrado em
Arquitectura, do ISCTE-IUL, foi proposta uma análise da forma urbana de
dois bairros da cidade de Lisboa.
Os dois bairros em estudo correspondem: (1) ao Bairro Social da Serafina,
projectado pelo Arquitecto Paulino Montez, cujo plano data da década de
1920, tendo sido parcialmente construído entre 1938 e 1940; e (2) o Bairro
Social do Arco do Cego, cujo projecto original data de 1918, com
construção iniciada em 1920 e finalizada em 1938. O plano deste bairro
pertence ao grupo de arquitectos Edmundo Tavares e Frederico Carvalho,
apesar do arquitecto Adães Bermudes também ter estado inicialmente
envolvido. O primeiro bairro foi atribuído no enunciado do exercício da
unidade curricular e o segundo foi posteriormente escolhido pelos discentes.
Os critérios de selecção que nortearam a selecção de ambos os bairros
foram designadamente: (1) O carácter social - Enquanto que o Bairro da
46
Serafina servia uma população mais empobrecida e desalojada em prol do
êxodo rural que se verificava na época, o Bairro do Arco do Cego teve
como principais habitantes uma população mais favorecida,
respectivamente funcionários públicos e membros de sindicatos; (2) O
enquadramento geográfico - Enquanto que o Bairro da Serafina se situa nos
limites da cidade, o Bairro do Arco Cego localiza-se no centro da cidade de
Lisboa; assim também como (3) a vivência cultural que se gerou em ambos
os bairros com base na forma urbana construída em cada bairro, visível na
figura 1.
Esta comunicação apresenta uma análise morfológica desenvolvida para os
dois bairros, atrás identificados, de forma comparativa, identificando o
método aplicado, bem como quais os principais contributos dessa mesma
análise.
Efectivamente foi possível entender a análise dos bairros face:
a) ao seu enquadramento geográfico, com análises da topografia,
exposição solar, brisas, pontos de encontro e distribuição,
talvegues e festos;
b) às suas condições demográficas, apoiada por uma análise
quantitativa de cheios e vazios edificados, número de pisos,
tipologias de habitação, número de lotes, área da estrutura viária,
espaços verdes, definição de espaços públicos.
Para a análise dos bairros recorreu-se aos seguintes elementos:
i) monografias, teses académicas, e documentos periódicos;
ii) documentação gráfica, fotografias da época e actuais, pesquisa in
loco, tabelas do registo civil;
iii) cartografia diversa, incluindo: Planta da Cidade de Lisboa de Silva
Pinto de 1911 à escala 1:2000, Planta da Cidade de Lisboa de 1948
à escala 1:2000 e de 2008 à escala 1:2000, localizadas no arquivo
da Câmara Municipal de Lisboa e no Gabinete de Estudos
Olisiponenses.
O exercício realizado permitiu verificar que o Bairro da Serafina não tendo
sido totalmente construído, consoante o plano original, sofreu alterações
significativas. Nomeadamente: (i) os espaços vazios originais deram lugar à
localização de equipamentos que vieram a colmatar necessidades entretanto
surgidas; e (ii) as ruas pedonais, intransitáveis, localizadas no interior do
quarteirão original, transformaram-se em ruas movimentadas, viárias, cujo
principal personagem é agora o automóvel e não os habitantes do bairro.
O exercício permitiu também verificar que o Bairro do Arco do Cego foi
construído na sua íntegra, face ao plano original, exceptuando a construção
do equipamento central, inicialmente proposto por Edmundo Tavares, para
47
o Teatro-Biblioteca-Circo, que deu lugar à escola primária, D. Filipa de
Lencastre. O respeito pela construção do bairro de acordo com o plano
original denota-se nas habitações do Bairro do Arco do Cego que
demonstram um carácter mais fechado perante o espaço público e verde. Os
logradouros dos quarteirões do Bairro do Arco do Cego são de pequena
dimensão, localizados no interior de cada quarteirão, contrariamente aos do
Bairro da Serafina, cujas áreas são mais generosas, mas que dependem da
sua integração com a estrutura viária.
O exercício permitiu verificar que as diferentes vivências sociais e
construtivas estão relacionadas com localização de cada bairro. É também
perceptível o funcionamento de ambos os bairros como unidades
autónomas, tal como era pretendido nos seus planos originais. No Bairro da
Serafina o recurso aos espaços públicos, hortas e ao pequeno comércio
local, permitiu responder à ausência de movimento e à distancia entre o
bairro e a cidade, tirando-se ainda proveito da topografia. No Bairro do
Arco do Cego, a presença de equipamentos de ensino e de serviço público
permitiu integrar o bairro na dinâmica da cidade. Ambos os bairros
proporcionaram aos seus habitantes diferentes qualidades de vida, mas por
sua vez adequadas aos mesmos, consoante a lógica de uma unidade
autónoma.
48
Figura 1. Imagens das vivências e edificado construído.
No topo, Bairro da Serafina em 1940 (a) e em 2012 (b). Em baixo, Bairro do Arco
do Cego em 1938 (c) e em 2013 (d). Fontes: (a) e (c) - Arquivo Municipal do
Gabinete dos Estudos Olisiponenses; (b) e (d) Fotografia dos autores do artigo, in
loco, respectivamente de Novembro de 2012 e Janeiro de 2013.
Referências
[1] Ferreira, M. J. (1994), O Bairro Social do Arco do Cego: uma aldeia
dentro da cidade de Lisboa, Vol. XXIX, nº 127, Lisboa, pp. 679-709
[2] de Vasconcelos, C. N. B. (2010), Evolução social e transformação do
espaço doméstico no Bairro Social do Arco do Cego em Lisboa: um
estudo de um quarteirão de habitações unifamiliares reabilitadas,
Dissertação de Mestrado em Arquitectura, Instituto Superior Técnico,
Lisboa
[3] Silva, C. N. (1994), Política urbana em Lisboa: 1926-1974, Livros
Horizonte, Lisboa
[4] Câmara Municipal de Lisboa (1948), Plano Director Municipal da
cidade de Lisboa, Em Linha [http://pdm.cm-lisboa.pt/ap_2.html]
acedido em Novembro de 2012
[5] Azevedo, O. P. (1998), Bairro Social do Arco do Cego: uma Ética,
uma Estética, uma Poesia, Dissertação de Mestrado, Faculdade de
Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa
49
“Forma Urbana – Regulação e Execução”
Coordenada pelo Prof. Jorge Carvalho
”Urban Form – Regulation and Implementation”
Coordinated by Prof. Jorge Carvalho
51
Projetos Urbanos: enquadramento organizacional
e financeiro
Miguel BARROS
Esta comunicação é uma revisita ao trabalho de investigação desenvolvido
para o mestrado em Planeamento do Território – Ordenamento da Cidade,
da Universidade de Aveiro, que decorreu entre 2005 e 2008, ano das provas
de discussão e defesa da dissertação, com o título “Projeto Urbano: um
Enquadramento na Atual Prática Urbanística”.
Considerando o tema de partida, o estabelecimento de uma relação entre
“Forma Urbana” e os conceitos de “Análise, Desenho, Quantificação”,
juntamente com o convite para um “enquadramento organizacional e
financeiro”, verifico que regresso (com satisfação) à abordagem dos aspetos
(chamemos-lhes intangíveis, e menos frequentes) que então se mostraram
essenciais, distintivos, permitindo evidenciar diferenças entre linhas de
orientação (de escolas e/ou protagonistas) à época. Talvez porque sejam
menos óbvios (ou atrativos?) sempre que se propõe uma análise da forma
urbana. Porque, ao invés de centrar a nossa atenção na (i)materialidade
associada ao desenho, à cultura, implícita no termo “urbanismo”, à
qualidade da imagem urbana, que é afinal um “produto”, o culminar de um
longo processo, em alternativa, nos foquemos nessa outra dimensão, a
montante, correspondente aos itens organizacional e financeiro (também de
ordem política, e conjuntural).
Tendo como referência o conceito de projeto urbano, o respetivo quadro de
aplicação, as diversas interpretações, onde se multiplicam os vários “re”s, a
que correspondem variadas formas de intervenção na Cidade existente, ou
não dependessem de um determinado contexto e programa, balizava este
enquadramento (nacional, mas com um enfoque em Lisboa) no horizonte
das duas últimas duas décadas, ou seja, destacando as “recentes” mudanças
(mais representativas) desde o início da década de noventa até ao presente,
dado que este intervalo (à escala urbana) permitiu registar uma evolução
nos modelos institucionais, ou de gestão, caraterizando-os dentro dos
parâmetros referidos.
Assim, é objetivo desta comunicação caraterizar e comparar,
retrospetivamente, expetativas com resultados, as seguintes cinco (grandes)
experiências, mesmo se nem todas concretizadas, cuja organização e
modelo de financiamento justificaram a inventariação: a primeira, é a
experiência da EXPO 98, a realização da última Exposição Mundial do
século e/ou o Projeto Urbano (de 1991-3 a 2010); a segunda, que afinal são
53
muitas, e distribuídas por todo o território (no início 18, depois 39 urbes),
refere-se ao Programa POLIS (Programa de Requalificação Urbana e
Valorização Ambiental das Cidades) que lhe sucedeu (desde 1999, sendo
que, em 2012, faltava concluir uma: a Caparica); a terceira, é a experiência
das SRUs, Sociedades de Reabilitação Urbana, também com uma cobertura
nacional e optando por um modelo empresarial de gestão (de 2004 ao
presente, não obstante a extinção de algumas, somando hoje 15); a quarta
experiência, ou melhor, aquela que foi a tentativa da sua implementação,
porque não concretizada (no modelo institucional) foi a Proposta de
Revitalização da Baixa-Chiado (de 2004-05 a... 2020); a quinta, com
idêntico revés, intitulava-se POLIS XXI, e pretendia operacionalizar a nova
“Política de Cidades”(de 2007 a 2015).
Naturalmente, com este exercício, interessa obter uma panorâmica geral,
fazer um balanço dos números globais de investimento, aferindo as
diferenças entre o que se propunha e o que efetivamente se concretizou,
além do alcance dos objetivos, as analogias entre as experiências e/ou
propostas, com especial destaque para o(s) modelo(s) organizacionais, os
poderes (grau de autonomia) e as competências , o enquadramento superior
(planeamento), os instrumentos (incluindo regimes de exceção), a
dependência dos apoios institucionais (financiamento), identificando outras
proveniências (formas de participação dos privados).
Por sua vez, ao ter sido possível acompanhar os acontecimentos,
testemunhando o advento e a (crítica ou) falência de alguns modelos de
intervenção, a que não foi alheia a questão da estabilidade governativa, da
discussão pública ou da opinião de alguns especialistas, com a subsequente
indefinição das prioridades (da Política de Cidades), ou (in)disponibilidade
de recursos, devido à crise económica-financeira, agudizada em 2008, e
subsequente pedido de assistência financeira, de 2011, obrigando a uma
mudança de paradigma (em face da diminuição de recursos, paralisia da
economia, quebra do consumo, etc).
Daí que, na reestruturação do Estado, muitos dos investimentos foram
suprimidos ou objeto de cortes, sob o argumento da execução de reformas
na administração pública. Se por vezes justificadas, outras obedeceram a
meros circunstancialismos, destruindo recursos, sacrificando o capital
humano existente, o conhecimento e as estruturas organizativas indispensáveis à prossecução de futuros projetos?-, quer na área da
reabilitação urbana quer na requalificação ambiental (zonas ribeirinhas,
industriais,etc ). É disso exemplo a Parque EXPO, que há muito se tinha
emancipado da missão original (tornando-se inclusive numa empresa
54
exportadora de serviços), algumas SRUs (duas de três na capital) ou a
EPUL, estrutura pioneira criada em 1971, embora não fosse exatamente
uma empresa municipal (pessoa coletiva de direito público, em que o capital
social é partilhado entre o Estado e o Município). Entre outros exemplos,
como é o diferendo entre a Porto Vivo e o IHRU/Governo.
Mudanças que, em vez de irem no sentido do apoio direto aos grandes
projetos, do seu financiamento a fundo perdido, são mais, e também por
força das circunstâncias, ou estas matérias não constassem do memorando
de resgate, pela via das alterações legislativas (havendo antecedentes, se
recordarmos o NRAU de 2006, pensado para complementar o modelo das
SRUs) nomeadamente no mercado de arrendamento (as alterações em vigor
desde Novembro de 2012), nos processos administrativos (mais
simplificação... em matéria de reabilitação), ou na fiscalidade, pela reforma
da tributação dos bens imóveis (aproximando o valor dos imóveis antigos
das avaliações recentes). Sem esquecer, por determinar a sua
operacionalização, o Regime Jurídico de Reabilitação Urbana, (DL
307/2009, de 23 de Outubro) que veio flexibilizar o anterior modelo, dandolhe maior versatilidade, traduzindo incentivos em benefícios fiscais.
Redução do protagonismo direto do Estado, simplificação e regulação dos
procedimentos administrativos passou a ser a tónica, o que é coerente com a
polarização da maioria das situações, muito dependentes da iniciativa
privada, a verificar-se ser suficiente a eliminação destes “bloqueios”. Até
porque projecto urbano é essencialmente estratégia, refletida na seleção
(pelo efeito indutor) e prioridade às intervenções cirúrgicas, criando as
condições para uma gestão corrente das oportunidades, para o
direcionamento do investimento público em infra-estruturas e (na
requalificação do) Espaço Público.
55
Formas Urbanas e Custo de Infraestruturas
Frederico Moura e SÁ1; Jorge CARVALHO2; Carina PAIS3
1
Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Universidade de Aveiro
Campus Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
+351 234 372 484, [email protected]
2
Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território, Universidade de Aveiro
Campus Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
+351 234 372 484, [email protected]
3
GOVCOPP, Universidade de Aveiro
Campus Universitário de Santiago, 3810-193 Aveiro, Portugal
+351 234 372 484, [email protected]
Palavras-chave: custo de infraestruturas; formas urbanas
1.
Enquadramento
Entre 2008 e 2011 foi desenvolvido um projeto de investigação alargado
(financiado pela FCT e coordenado por Jorge Carvalho) intitulado “Custos e
benefícios, à escala local, da Ocupação Dispersa” (CBOD). O projeto
calculou e comparou custos (de solo, infraestruturas e mobilidade) e
benefícios (apreço manifestado por cidadãos, através de inquérito) para
diversas formas de ocupação (concentradas e dispersas).
Neste resumo, pretendemos apresentar sumariamente uma parte dos
resultados dessa investigação, em particular os que permitem confrontar os
custos da infraestrutura-local entre diversas formas de ocupação do
território urbano.
2.
Definições elementares
Dada a natureza sinóptica deste resumo importa desde já avançar para uma
definição clara e elementar dos principais conceitos que sustentam e
informam o trabalho. Assim:
 Escala local identificada com conceito criado de Unidades Territorial
de Base (UTB), próximo ao de bairro e ao de unidade de vizinhança.
 Infraestrutura, numa perspetiva abrangente, que inclui: rede viária e
seus alargamentos funcionais; todas as redes/subsistemas técnicos de
infraestruturas, nomeadamente, drenagem pluvial, abastecimento de
água, esgotos sanitários, recolha de resíduos urbanos, iluminação
pública, fornecimento de energia elétrica, fornecimento de gás, e
56
serviços de telecomunicações; e ainda equipamentos, de educação,
desporto, lazer, segurança social e saúde.
 Formas urbanas, modelos de ocupação do território urbano,
reportados à História do Urbanismo e à ocupação real, incluindo
formas de ocupação concentrada e de ocupação dispersa.
3.
Critérios e metodologia global adotada para cálculo de
custos
Para cada uma das infraestruturas os custos considerados contemplam
custos de investimento (construção, aquisição, ou instalação inicial) e custos
de gestão e conservação, reportando-se ambos a um período de 30 anos.
Tratam-se de custos sociais (para a sociedade como um todo, não
considerando impostos) aplicáveis a situações abstratas (médias).
Consideraram-se as diversas soluções técnicas possíveis, fixando mínimos
de qualidade, delas decorrendo diferentes níveis de serviço de
infraestruturas. Deste modo, foi possível comparar custos entre formas
urbanas para um mesmo nível de serviço, mas também desenhar cenários
alternativos para diferentes formas de ocupação, visando aproximações ao
nível do custo/fogo (€/fogo/30anos).
A Infraestrutura Local (IL) é abordada sempre com detalhe, enquanto a
Infraestrutura Geral só é considerada quando a IL dela faz usos
diferenciados.
Na generalidade, adotou-se para cada uma das infraestruturas o seguinte
percurso metodológico:
 Identificação das soluções técnicas-tipo admissíveis.
 Seleção de Sistemas-padrão a considerar como alternativas (sem
prejuízo de poderem ter componentes comuns).
 Identificação das diversas componentes integrantes de cada Sistema;
e identificação daquelas cujos custos é necessário conhecer para
diferenciar sistemas.
 Abordagem de cada componente, perspetivando alternativas;
descrição das correspondentes características, essencialmente
capacidade de carga e condicionantes ou exigências funcionais;
procura dos respetivos custos.
 Organização e visão de Custos/Sistema.
57
4.
Custos das infraestruturas / UTB-Padrão: principais
resultados
O quadro seguinte traduz o custo das infraestruturas nas diversas formas
urbanas (para nível de infraestruturação similar em todas).
Quadro 1: Custos das infraestruturas (€/fogo/30anos) / UTB-Padrão.
Sinteticamente, a análise do Quadro 1 evidencia:
 O peso significativo do custo do espaço público em relação a cada
uma das outras infraestruturas.
 A proximidade de custos (na ordem dos 10.000 €/fogo/30anos) entre
as três primeiras UTB (concentradas, de formas urbanas clássicas e
modernista de edifícios coletivos).
 O custo bem maior da forma concentrada de vivendas soltas (1,7
vezes superior às restantes concentradas).
 Que as UTB dispersas de base linear de edificação continuada e de
manchas de urbanizações pontuais, apresentam custos de
infraestruturação cerca de 2,5 vezes superiores ao custo das três
primeiras UTB concentradas.
 O custo elevadíssimo (cerca de 7 vezes superior ao das três
primeiras) da UTB dispersa uniforme de edificação pontual.
Importa sublinhar, que a ampla diferença de custos encontrada aponta para a
necessidade de criar diferentes níveis de serviço em função das
características e necessidades das diferentes formas de ocupação do
território urbano.
58
À procura da boa forma urbana
Cláudia Campos dos REIS
Câmara Municipal de Aveiro
Cais da Fonte Nova, 3800 Aveiro, Portugal
+ 351 918709592, [email protected]
Palavras-chave: Desenho Urbano, Forma Urbana, Princípios
Resumo
“A qualidade de um espaço deve-se ao efeito conjunto do lugar e da
sociedade que o ocupa.”[1]
O trabalho de investigação desenvolvido centrou-se num percurso
exploratório sobre a ‘boa forma urbana’. Esta procura visa, em último grau,
conceber uma base de Princípios que podem conduzir à boa forma urbana e
que servirá para análise de fenómenos e intervenções urbanas e as
respetivas consequências na cidade.
Para tal, encetou-se uma pesquisa bibliográfica aprofundada sobre as
perspetivas de diversos autores, quanto aos princípios e conceitos
associados à Boa Forma Urbana. A partir da sistematização destes conceitos
identificaram-se princípios da Boa Forma Urbana, adotando denominações
que se apresentaram mais frequentemente ou que melhor sintetizam as
questões em causa.
“Existe uma opinião generalizada de que a maioria dos espaços urbanos não
chega sequer à medida do satisfatório – são incómodos, horríveis e
sórdidos, como se fossem medidos com alguma escala de valores absolutos.
Geralmente salvam-se desta imagem deprimente só alguns fragmentos do
ambiente urbano (...). Se pudéssemos enunciar claramente as razões pelas
quais opinamos assim, talvez fossemos capazes de programar alguma
mudança realmente efectiva.”[2]
A necessidade de sistematização dos conceitos relativos à boa forma urbana
decorre da diversidade de opiniões e nomenclaturas usadas pelos diversos
autores para descrever, a interpretação do que, para cada um, são os fatores
basilares para a boa forma urbana. Para esta análise recorreu-se a leituras
eruditas de compêndios e pensadores, procurando identificar princípios para
a boa forma urbana selecionando, posteriormente, uma linguagem de
referência.
59
Tendo como base de trabalho um quadro de sistematização dos aspectos
identificados como chave para o desenho urbano apresentado no
“Compendium 1 – Urban Design”[3] sobre princípios de desenho urbano,
alargou-se o âmbito da análise e elaborou-se um novo quadro que sintetiza e
articula os contributos de diversos autores e documentos sobre esta matéria.
Este novo quadro, ao agregar outras obras e autores, procura um
alargamento do espectro de análise, para além do desenho urbano, em
direção a uma sistematização de princípios e conceitos do que se entende
como qualidades que dão origem à boa forma urbana.
Cada princípio daí decorrente é descrito e são definidos parâmetros para a
operacionalização do mesmo, o que irá auxiliar em futuras análises. “Os
parâmetros podem ajudar a ordenar uma investigação intelectual (...) de
forma mais prática, podem usar-se para avaliar as cidades existentes, para
mostrar onde os resultados são maus e onde se pode melhorar”.[4]
Como se faz a transição da ‘Boa forma urbana’ para o Desenho Urbano e
vice-versa?
Ali Madanipour[5] (1997:19) defende que, levado a cabo seja pelo sector
público ou pelo sector privado, o desenho urbano é o processo que modela e
gera o espaço urbano. Esse espaço urbano irá, inevitavelmente, refletir os
valores e aspirações dos que o produzem. Mathew Carmona e Steve
Tiesdell[6] definem desenho urbano como: “the making of places for
people”. Mais precisamente viam-no como o processo de fazer melhores
lugares para as pessoas do que seriam produzidos de outra forma. Para
Gordon Cullen o desenho urbano é a “arte da relação”, este autor apresenta
a “visão serial” como a preocupação fundamental para o urbanista [7]
Verifica-se, pois, que cada um dos primeiros pensadores da cidade se
centrou numa faceta da cidade construída. Para Sitte ou Bacon a proporção,
abertura ou fechamento, penetração em altura, o ascendente ou descendente
apresentam-se como fatores principais de análise. Já Lynch valoriza as vias,
os limites, cruzamentos, pontos marcantes e bairros. A urbanidade de Jacobs
centra-se nas ruas através da combinação de mistura de usos, ‘fine grain’,
densidade e permeabilidade. Norbert-schulz encontra significado nas
referências à história, mitos e natureza em edifícios e paisagens.[8]
A visão integradora da teoria de desenho urbano defendida por Sternberg[9]
(2000:41) poderá “ajudar a fazer, reparar, ou preservar os aspetos do
ambiente que os mercados puros, de outra forma, iriam minar através da
fragmentação e da comodificação. Para Trancik[10] “O ato mais básico no
desenho urbano deve ser o estabelecimento do quadro de ‘regras’ para as
60
ruas, praças, e espaços abertos antes do desenho de edifícios individuais.
(...) também deve exprimir as regras de escala, e carácter para fazer ligações
coerentes e visíveis entre os novos e os velhos usos, edifícios e atividades.”
Estas apresentam-se como algumas das perspetivas analisadas e, cuja
diversidade justifica uma sistematização para favorecer uma compreensão
global. Neste sentido, é de sublinhar, que os conceitos extraídos dos
trabalhos dos autores revistos entendem-se como fontes de visão pessoal –
como inspiração para fazer melhor e não como dogmas ou receitas.
A investigação conduz, entre outras, à conclusão de que os princípios para a
boa forma urbana devem ser usados com flexibilidade sustentada num
entendimento profundo, e na análise da sua base, justificações em interrelações, e o contexto ao qual serão aplicados.
Referências
[1] Lynch, K. (1981), La buena forma de la ciudad, Gustavo Gili,
Barcelona, pp.88
[2] Lynch, K. (1981), La buena forma de la ciudad, Gustavo Gili,
Barcelona, pp.9
[3] English Partnerships (2000), Compendium 1 - Urban Design,
English Partnerships, London, pp.13
[4] Lynch, K.(1981), La buena forma de la ciudad, Gustavo Gili,
Barcelona, pp.226
A. (1997), "Ambiguities of urban design", in
Carmona, M., Tiesdell, S. (2007), Urban Design Reader,
Architectural Press, Oxford, pp.19
Carmona, M., Tiesdell, S. (2007), Urban Design Reader,
Architectural Press, Oxford, pp.1
Cullen, G. (1961), "Twonscape: introduction" in Carmona, M.,
Tiesdell, S. (2007), Urban Design Reader, Architectural Press,
Oxford.
Sternberg, E. (2000), "An integrative theory of urban design", in
Carmona, M., Tiesdell, S. (2007), Urban Design Reader,
Architectural Press, Oxford, pp.39
Sternberg, E. (2000), "An integrative theory of urban design", in
Carmona, M., Tiesdell, S. (2007), Urban Design Reader,
Architectural Press, Oxford, pp.41
Trancik, R. (1986) "what is Lost Space", in Carmona, M., Tiesdell, S.
(2007) Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford, pp.69
[5] Madanipour,
[6]
[7]
[8]
[9]
[10]
61
São Paulo e o Estatuto da Propriedade de Terras
Português
Lucia Noemia SIMONI
Doutora pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo;
Especialista em Meio Ambiente – Arquiteta da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente da
Prefeitura do Município de São Paulo
Rua Doutor José de Queiros Aranha, n. 165, ap. 1404, São Paulo, CEP: 04106061, Brasil
055-11-3876-3275, [email protected]
Palavras-chave: arruamento, renovação
Resumo
Ao longo dos três séculos de colonização portuguesa que precederam a
constituição do Brasil independente, uma das influências incidentes no meio
urbano, foi a decorrente do estatuto colonial português da propriedade de
terras.[1]
Na Colônia, a apropriação privada fundou-se no princípio de domínio
absoluto da Coroa portuguesa sobre todas as terras coloniais. A propriedade
particular derivava do domínio real por intermédio de concessões de uso, as
sesmarias. Após a Independência, a Coroa brasileira manteve o domínio
absoluto sobre todas as terras, deixando em suspenso a regulação das
concessões de terras até então definidas pelas Ordenações do Reino
Português. Apenas em 1850, o governo brasileiro regulamentou a
propriedade de terras, instituindo a compra e venda como forma privada de
apropriação de terras, deixando, porém, para posterior regulamentação a
apropriação de terras no âmbito dos rocios municipais. No Município de
São Paulo até a segunda década do século XX, ainda constatava-se a
concessão de terras municipais a particulares.[2]
O ordenamento jurídico português das terras da Colônia delegou aos
Conselhos, depois câmaras municipais, o poder de distribuição de terras no
âmbito de seus municipios e posteriormente nos territórios leigos, definidos
como rocio das vilas e cidades. As câmaras tiveram um papel decisivo na
expansão das povoações, vilas e cidades, bem como na ordenação social do
espaço territorial. No plano executivo, as câmaras adquiriram a atribuição
exclusiva de proceder ao arruamento de terras, e assim determinar a
localização e abertura de ruas, caminhos e estradas, e o desenho e
62
dimensões das datas de terras, destinadas à apropriação privada por meio de
concessões de uso.[3]
Em seus primórdios e até o princípio dos período republicano, a forma
urbana das cidades brasileiras foi se estabelecendo, por hábito e costume,
por regulamentos e por força de injunções políticas e econômicas. Sua
realização decorreu dos procedimentos das câmaras e seus arruadores, sob
influência da prática das concessões de datas de terras de origem
portuguesa. No caso do Município de São Paulo predominou a forma
urbana caracterizada pela grande extensão das quadras e a divisão em lotes
com pequena dimensão de testada e grande profundidade, decorrente do
maior valor atribuído à face para a rua.[4]
A comunicação pretende analisar o caso específico de porção central do
Município de São Paulo, que teve sua formação urbana a partir de meados
do século XIX. Situada junto à ferrovia e contemplada com a Estação da
Luz e a Estação Júlio Prestes e se estendendo até a Avenida São João, a área
de grande significado urbano, já se encontrava quase totalmente arruada em
grelha ortogonal e parcelada em grandes lotes, ao final do século XIX
(Mapa 1). Nas primeiras décadas do século XX, sofreu intervenções com
alargamento de ruas e substituição de edificações. Um processo mais
acentuado de substituição de edificações por prédios residenciais e
comerciais de vários pavimentos teve lugar nos anos 1960, com algumas
alterações nas divisas de lotes.
Atualmente, a área é objeto de inúmeras intervenções públicas capitaneadas
pela questão cultural, tais como o projeto Monumenta, Pinacoteca do
Estado, Museu da Língua Portuguesa, Estação Pinapoteca, Sala São Paulo
(Sala de Concertos), Estação intermodal Luz, e mais recentemente a
Operação Urbana Consorciada Nova Luz, a implantação do Complexo
Cultural Luz –, dentre outras. Os governos estadual e municipal, ao longo
da última década vem promovendo e planejando uma renovação ampla que
também incorpora as práticas imobiliárias presentes em toda a cidade, ou
seja, a da substituição de edificações existentes – comércio, serviços e
moradia - por novos edifícios, frequentemente com altura variando entre 25
a 30 pavimentos, em geral, destinados a um público com faixa de renda
superior à atual. [3]
A questão a ser examinada a partir da renovação urbana em curso, que
desconhece a morfologia que teve origem na prática da concessão de terras
pela Câmara Municipal, remete-se as suas consequencias socioambientais,
63
sobretudo aquelas relativas aos históricos problemas de drenagem urbana
com recorrência de pontos de alagamento na área, bem como a gentrificação
social ao não qualificar a manutenção da população usuária e moradora
atual. A definição do perímetro em estudo teve por base os croquis de
quadras da Secretaria Municipal das Finanças que permitem conhecer as
dimensões dos lotes, além de atender aos objetivos da pesquisa.[4] O
perímetro traçado sobre imagem Google com data de 2008 (Mapa 2) é
descrito pelo polígono constituído pelo eixo viário que acompanha a linha
férrea, até a Rua General Couto de Magalhães. Deste ponto segue até o
cruzamento com a Avenida Ipiranga e desta segue pela Avenida São João,
em direçao à Avenida Barão de Campinas até encontrar a Alameda Eduardo
Prado alcançando o ponto inicial junto a Alameda Cleveland.
64
Mapa 1: Planta da Cidade de São Paulo levantada pela Companhia Cantareira e Esgotos Henry
B. Joyner M. I. C.I. engenheiro chefe, 1881”
65
Mapa 2: Perímetro indicativo da área em estudo. Imagem de satélite Google dezembro/2008.
Agradecimentos
O Comité Organizador do PNUM 2013 reconhece o apoio do Prof. José
António Tenedorio doeGEO, Centro de Investigação em Geografia e
Planeamento Regional da Universidade Nova de por ter permitido o uso
deste modelo concebido originalmente por si.
Referências
[1]
Marx, Murillo (1991), A Cidade no Brasil – Terra de Quem?,
Edusp/Nobel, São Paulo.
[2]
Silva, Lígia Osório (1996), Terras Devolutas e Latifúndio – efeitos
da Lei de 1850, Editora da UNICAMP, Campinas.
Simoni, Lucia Noemia (2002), O Arruamento de Terras e o
Processo de Formação do Espaço Urbano no Município de São Paulo.
1840 – 1930, Tese de Doutorado, pp. 52-90, Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo, São Paulo.
[4] Idem Simoni, Lucia Noemia, (2002), pp.121-151.
[3]
66
Contributos para uma metodologia de avaliação
ex-ante de modelos perequativos para diferentes
configurações urbanas
João CARVALHO1; Nuno Norte PINTO2
1
Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra
Rua Luís Reis Santos, Pólo II da Universidade, 3030-788 Coimbra, Portugal
[email protected]
2
Centro de Política de Solo e Valoração, Universidade Politécnica da Catalunha
Av. Diagonal, 649, 4a planta, 08028 Barcelona
[email protected] (autor correspondente)
Palavras-chave: perequação urbanística, avaliação, implementação de
planos
Resumo
O planeamento do território é uma actividade complexa que envolve
diversos agentes e implica o estabelecimento de orientações e acções com
vista a atingir os objectivos da sociedade considerando o território como um
todo, tendo em conta simultaneamente os interesses publico e privado, em
particular dos proprietários do solo.
A integração do binómio planeamento/implementação tanto nos processos
de planeamento como na implementação dos planos é um pilar do sucesso
destes últimos. Um dos instrumentos legais disponíveis para abordar este
requisito é o modelo de compensação perequativa de benefícios e encargos
urbanísticos introduzido na lei portuguesa pelo Decreto-Lei 380/99 para
garantir a equidade no tratamento dos proprietários no âmbito das operações
urbanísticas. No entanto, mais de uma década passou sobre a introdução da
perequação na lei do planeamento e a utilização deste instrumento ficou,
numa opinião muito comum entre diversos agentes de planeamento, aquém
das expectativas.
Este artigo apresenta os primeiros trabalhos e resultados de uma
investigação que pretende desenvolver uma metodologia de avaliação exante deste instrumento de planeamento para analisar o potencial da
aplicação deste instrumento face a novos planos. Será apresentado um
conjunto de diferentes casos teóricos que ilustram diferentes configurações
urbanas, tendo como parâmetros a estrutura fundiária, o desenho urbano e
os custos/benefícios decorrentes da implementação das soluções
67
urbanísticas. Estes modelos teóricos serviram para constituir uma tabela de
classificação de um conjunto alargado de planos de pormenor aprovados e
que contemplam métodos perequativos para a implementação de sistemas
de compensação.
68
“Morfologia Urbana e Riscos Naturais”
Coordenada pelo Prof. Lusitano Santos
”Urban Morphology e Natural Risks”
Coordinated by Prof. Lusitano Santos
69
Crises e Catástrofes (ditas) Naturais. Reflexões a
Partir de Alguns Casos Registados em Coimbra
Fernando REBELO
Professor Catedrático – Departamento de Geografia da Faculdade de Letras da Universidade de
Coimbra e Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território, CEGOT
Largo da Porta Férrea, 3004-530 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351239859900, 00351962404588 Endereço Email: [email protected]
Palavras-chave: Catástrofe, Coimbra, Crise, Ordenamento do Território,
Risco, Vulnerabilidade.
Resumo
No contexto da teoria do risco, tal como tem sido entendida na escola
geográfica de Coimbra, salientar-se-ão algumas crises verificadas na cidade
e arredores.
As mais frequentes correspondem a inundações do Mondego e a incêndios
florestais de grandes proporções. Não se pode negar a sua relação com as
caraterísticas climáticas e geomorfológicas favoráveis ao seu
desencadeamento, mas também não se pode minimizar a influência humana.
No primeiro caso, através de vulnerabilidades, por vezes, antigas e difíceis
de resolver, outras vezes, recentes, resultantes da confiança que se foi
ganhando em função de grandes obras de engenharia. No segundo caso,
através de factos a diversos níveis, desde a evolução histórica da floresta à
mão humana, descuidada ou criminosa, passando pela ausência generalizada
de um ordenamento eficaz.
Mas há outras crises a ponderar. Os ventos fortes têm-se manifestado
sempre, mas nos últimos tempos parecem criar mais problemas. As chuvas
intensas que desencadeiam cheias rápidas ou simples alagamentos também
vão criando, localmente, algumas situações de crise. Movimentos de
vertente também são registados em ligação com chuvas prolongadas –
desabamentos e deslizamentos têm-se verificado de modo repetitivo em
certos locais, mas a sua gravidade não pode ser comparada com o que se
passa noutras regiões do globo, com climas e solos bem diferentes dos
nossos.
Por fim, talvez a mais assustadora das crises – a crise sísmica. Felizmente
com poucos registos de gravidade, apesar da existência de algumas
condições favoráveis, os sismos não ocorrem com frequência na região.
71
Mas um forte sismo que venha a ocorrer poderá ter consequências graves.
Poderá mesmo ser uma catástrofe.
Introdução
No contexto da teoria do risco, tal como ela tem sido entendida na escola
geográfica de Coimbra [1] [2] [3], podemos destacar algumas crises de
componente natural verificadas na cidade e arredores.
As mais frequentes e importantes ao longo da História correspondem a
inundações originadas pelas cheias do Rio Mondego. Mas também os
incêndios florestais de grandes proporções, que ocorrem por vezes na
região, podem atingir Coimbra, direta ou indiretamente. Não se pode negar
a relação que estas crises têm com os processos potencialmente perigosos
(hazards) ligados às caraterísticas climáticas, de base, ou meteorológicas, de
pormenor, e geomorfológicas favoráveis ao seu desencadeamento. Do
mesmo modo, não se pode minimizar a influência humana na sua
ocorrência. No primeiro caso, através de vulnerabilidades, por vezes,
antigas e difíceis de resolver, outras vezes, recentes, resultantes da
confiança que se foi ganhando em função de grandes obras de engenharia.
No segundo caso, através de factos a diversos níveis, desde a evolução
histórica da floresta até à mão humana, descuidada ou criminosa, passando
pela ausência generalizada de um ordenamento eficaz.
Mas há outras crises a ponderar. Os ventos fortes marcaram a memória
coletiva com uma crise importante por meados do século XX, mas nos
últimos tempos voltaram a criar alguns problemas. As chuvas intensas,
criando situações de cheias rápidas (flash floods) ou simples alagamentos
localizados, também vão oferecendo algumas situações de crise.
Movimentos de vertente também são registados em ligação com chuvas
prolongadas – desabamentos e deslizamentos têm-se verificado de modo
repetitivo em certos locais, mas a sua gravidade não pode ser comparada
com o que se passa noutras regiões do globo, por exemplo com climas
tropicais ou subtropicais e, por isso, também, com solos bem diferentes dos
nossos.
Por fim, merecerá referência talvez a mais assustadora das crises – a crise
sísmica. Felizmente com poucos registos de gravidade, apesar da existência
de algumas condições favoráveis, os sismos não ocorrem com frequência na
região. Mas um forte sismo que venha a ocorrer poderá ter consequências
graves, podendo mesmo ganhar a dimensão de catástrofe. Felizmente, têm
sido raras as verdadeiras catástrofes naturais no nosso país [4] [5] [6].
72
1. Cheias do Mondego e inundações urbanas
Há uma longa história de crises provocadas pelas cheias do Mondego tanto
nos seus campos como na cidade de Coimbra. Inundações importantes
ocorreram em épocas mais quentes e, por vezes, talvez mais húmidas,
como, por exemplo, nos séculos XV e XVI. Desapareceram casas e aldeias,
igrejas e mosteiros. Em Coimbra, ficaram bem documentados casos como
os do Convento de São Domingos, do Convento de Santa Clara e da Igreja
de Santa Cruz.
Frei Luís de Sousa, na sua História do Convento de São Domingos (12271546), dizia, referindo-se ao tempo da construção, nos inícios do século
XIII, que “o rio naquella idade corria fundo e alcantilado” [7]. Também em
Coimbra, mas na margem esquerda, o Convento de Santa Clara (Santa
Clara-a-Velha) continua como paradigma – construído na planície aluvial,
já depois do anterior (fins do século XIII), porque as cheias, então, não
seriam frequentes, rapidamente começou a sofrer os seus efeitos, até que se
revelou absolutamente necessário abandoná-lo e construir um que o
substituísse (Santa Clara-a-Nova) – séculos XVII e XVIII [8]. O
assoreamento era muito grande. As cheias continuaram a acontecer, mesmo
nos tempos que se sabe terem sido frios, no século XVIII, tornando-se
frequentes e, por vezes, catastróficas nos séculos XIX e XX. Quanto à
Igreja de Santa Cruz, também se sabe que, quando foi construída, tinha
quatro degraus para subir, mas que no século XX, antes das obras de
rebaixamento da Praça 8 de Maio, tinha sete degraus para descer, ou seja, a
sucessão das inundações na baixa da cidade levou a que a sua área
envolvente subisse com a carga sólida que as águas da cheia abandonavam.
Com dados recolhidos até antes da publicação do seu trabalho, Alfredo
Fernandes Martins considerou os caudais do Mondego oscilando entre 0 e
3000 m3 por segundo [7]. Hoje, todavia, considera-se que na cheia de 1948,
apontada como a maior do século XX em Coimbra, os caudais
ultrapassaram os 4100 m3 por segundo na Ponte de Santa Clara (4167,
segundo estimativas recentes [9], sabendo-se que as águas inundaram a
Avenida Emídio Navarro no dia 29 de janeiro [10].
A construção da Barragem da Aguieira trouxe a esperança a muitos. No
respeitante aos campos do Mondego, o Diário de Coimbra chegou mesmo a
publicar um suplemento especial com um trabalho, apoiado em grande
fotografia de uma das inundações, que se intitulava “O pesadelo acabou” (4
de fevereiro de 1982). Mas nem todos tinham esperança que isso viesse a
ser verdade. Fernandes Martins dizia, então, que lhe “dava vinte anos”. A
realidade mostrou que, 19 anos depois, os campos do Mondego voltaram a
ser inundados como já quase ninguém recordava. No centro da cidade, o
73
Choupalinho e as ruas próximas (fot. 1 e 2), da margem esquerda, ficaram
cheios de água e, para jusante, a parte ocidental da cidade e arredores periurbanos, tal como o concelho de Montemor-o-Velho, junto ao rio, foram
gravemente afetados. Em Montemor, todavia, mantinham-se riscos de
inundação, que já se haviam manifestado em 1996, contrariando a ideia de
segurança propagada em 1982. Embora em menor grau, também havia
riscos em Coimbra – bastava pensar nos caudais do Ceira, que não eram
controlados pela Aguieira. A própria barragem teria de abrir as comportas
quando a água subisse além do nível de segurança. E o Mondego, com
alguns dos seus afluentes, drena a Cordilheira Central, onde as precipitações
anuais médias ultrapassam os 2500 mm – as médias resultam de valores de
30 anos onde se encontram anos com maiores e anos com menores
quantidades…As cheias de 2000-2001 ficaram-se por caudais de pouco
mais de metade do que haviam sido os de 1948…
Recentemente, voltaram a registar-se pequenas cheias (enchentes, como
antigamente se dizia em Coimbra). Tendo sido feito um arranjo urbanístico
muito agradável na planície aluvial ou, como prefiro dizer, na planície de
inundação, o chamado Parque Verde do Mondego, verificaram-se
inundações de pouca monta, mas impeditivas da circulação de pessoas e do
funcionamento de esplanadas de cafés e restaurantes. Na edição de 1 de
abril de 2013, o Diário de Coimbra publicava na primeira página uma
fotografia da margem esquerda intitulada “Mondego está fora das margens
há já alguns dias em pleno Parque Verde do Mondego” e na última página
duas fotografias, uma das quais sob o título “Esplanada continua
completamente alagada”, referindo-se à margem direita. Na notícia em que
se integram as fotografias fala-se de caudais “por volta dos 900 metros
cúbicos por segundo”, mas adverte-se para “as variações dos caudais dos
afluentes do Rio Ceira, a montante de Coimbra” (e porque não do próprio
Ceira?) que terão levado “a Proteção Civil a avisar para a possibilidade de
‘um aumento do caudal do Rio Mondego até aos 1200 m3/s’”. Não foi a
primeira vez que o Parque Verde foi inundado – trata-se mesmo de uma
situação recorrente, que ainda dois meses e meio antes tinha acontecido (19
de Janeiro, cfr. Diário de Coimbra, 20 de janeiro de 2013, p. 2).
O facto de se ver o Mondego a galgar as margens em plena cidade com
caudais tão afastados do máximo (3000 m3/s) apresentado por Fernandes
Martins e ainda mais do valor estimado para a cheia de 1948 (4167 m3/s),
acima referidos, leva-nos a pensar na importância que o açude-ponte tem
tido para a deposição de sedimentos no leito ordinário, fazendo-o subir, isto
é, retirando-lhe profundidade – não é só o barco turístico que sofre com
isso, quase ficando impossibilitado de circular. Curiosamente, o nome desse
74
barco, “Bazófias”, corresponde à palavra que o povo de Coimbra utilizava
para o Rio Mondego que tantas vezes ameaçava, mas que, nem sempre
galgava as margens. Mas a cada ameaça corresponde também a deposição
de muita carga sólida no leito ordinário. O desassoreamento,
insistentemente solicitado, e, desde há pouco, anunciado para breve, é
absolutamente necessário.
2. Incêndios de interface urbano-florestal
Dir-se-á que existe risco de incêndio florestal desde que exista floresta, isto
é, desde que exista matéria combustível. Com a ignição haverá fogo. E o
fogo é um processo potencialmente perigoso (hazard), para o qual
poderemos alinhar vários tipos de vulnerabilidade, como sejam, antes de
mais, as próprias árvores (que têm sempre algum valor económico), mas
igualmente pessoas, barracas de madeira, casas e outras construções no
interior ou ao lado da floresta, agricultura ou pecuária ao lado da floresta
etc. O risco será grande ou muito grande se houver condições
meteorológicas favoráveis (temperaturas elevadas, baixa humidade relativa,
vento moderado a forte).
O perigo instala-se se houver ignição (através de fósforos, isqueiros,
cigarros, foguetes, etc.) que inicie um fogo. Logo detetado, o fogo pode ser
rapidamente dominado e o perigo passa. Quando o fogo avança, se o
homem não o consegue controlar, manifesta-se o risco com toda a sua
complexidade. O perigo atinge o limiar da crise.
A crise será gerida com maior ou menor dificuldade e as suas consequências
poderão ser mais ou menos profundas.
Depois de dominado o incêndio, a crise continuará com múltiplas
manifestações no tempo até se regressar à situação anterior. Se houve
mortos, ninguém os substituirá. Se se perderam casas, passará muito tempo
até ser possível reconstruí-las e, ainda mais, recomeçar a vida. E as árvores?
Há as que ficam totalmente perdidas, em cinzas. Há as que se podem cortar
e aproveitar parcialmente. Há as que recuperam por si. Quanto à
reflorestação, quantos anos demorará? Dependerá, certamente de muitos
fatores.
2005 foi ano de grandes incêndios [11]. No dia 22 de agosto de 2005, por
exemplo, Coimbra foi atingida por um fogo florestal que durava já há vários
dias. Com o apoio de fotografias tiradas de noite a partir do Penedo da
Saudade para leste (fot. 3), que circularam pela Internet, no estrangeiro
chegou mesmo a dizer-se que Coimbra estava a arder (assim me disseram
em Stavenger, Noruega, ao princípio da manhã daquele dia). O fogo tinhase iniciado no concelho de Vila Nova de Poiares e avançava para oeste em
75
função dos ventos secos que sopravam de leste. Condições de tempo
favoráveis e topografia acidentada, que dificultavam o combate, fizeram-no
aproximar de Coimbra. Que se saiba, foi o mais terrível fogo que chegou
aos limites orientais da cidade, destruindo total ou parcialmente árvores na
Mata de Vale de Canas, criando numerosas situações de pânico e atingindo
algumas casas bem mais a ocidente, desde o Tovim ao Chão do Bispo e ao
Areeiro. Foi um incêndio florestal assustador, destruidor e difícil de
combater, que se enquadra perfeitamente no conceito de “incêndio de
interface urbano-florestal”. Casas urbanas encostadas a árvores de grande
porte ou mato seco em quintais são fatores favoráveis à propagação do fogo
da floresta para as casas da cidade. O afastamento das casas de habitação da
floresta é desde há muito aconselhado como medida preventiva. No entanto,
quando o vento se apresenta com rajadas de 70-80 km/h pode lançar ramos
incandescentes a distâncias consideráveis. Inquéritos realizados na
sequência deste incêndio demonstraram que houve situações de grande
perigo a mais de 10 km para oeste de Coimbra.
Alguns anos antes, um incêndio do mesmo tipo, mas de menores
proporções, com grande intensidade entre as 2 e a 4 da manhã, fez avançar o
fogo, de leste para oeste, por diversos quintais entre o Chão do Bispo e a
área da Solum à Casa Branca. Tive a oportunidade de assistir ao modo
calmo como alguns habitantes apagavam os focos de incêndio e outros
regavam portas, janelas e telhados. Vi como “explodiam” eucaliptos quase
encostados ao Seminário dos Combonianos, no Areeiro. O vento, também
com rajadas fortes, projetava ramos incandescentes para o Pinhal de
Marrocos onde os bombeiros conseguiram chegar a tempo de vencer o
combate.
Mais recentemente, a 18 de setembro de 2012, um incêndio florestal, a leste
de Coimbra, que veio a desenvolver-se a partir das 16 horas, apesar de mais
localizado, fez despertar os medos que se compreendem depois da
experiência de 2005. Para quem o observava a partir do bairro residencial
da Solum, aparentemente, atingiu o máximo entre as 18 e as 19 horas (fot.
4). De muito menores dimensões que os anteriores, acabou por ser
facilmente combatido com o apoio de meios aéreos, não tendo atingido a
cidade.
Não há dúvidas de que a parte oriental da cidade é uma área de risco de
incêndio de interface urbano-florestal e que o risco se agrava no verão, em
especial, perante condições de muito calor, baixa humidade relativa e vento
de leste. Mas também não há dúvidas de que nestas condições não basta ter
as casas afastadas 200 metros das árvores ou cuidar muito bem dos quintais.
Terá de haver uma boa rede de bocas de incêndio, com manutenção e
76
controles frequentes, para utilização rápida dos bombeiros, mas também é
necessária uma boa consciência do risco nos habitantes, que lhes permita
defender os seus bens durante uma crise, sem pânico e com eficiência. Com
muita experiência neste tipo de incêndios florestais, Miguel Castillo e Luís
Correa propõem, todavia, uma boa prevenção para que a crise, se acontecer,
seja minimizada. Assim, falam sobre “a intervenção da população nos
trabalhos de manuseamento da vegetação combustível”, mas também sobre
“a concentração de trabalhos de limpeza em áreas periféricas, a construção
de corta-fogos ‘perimetrais’ com maquinaria pesada, a poda, o desbaste e o
transporte dos resíduos a cargo dos municípios e a adaptação de barreiras
corta-fogos em combinação com fins estéticos e paisagísticos” [12].
Nos casos acima referidos, fala-se sempre de ação direta do incêndio
florestal sobre áreas urbanas. Mas há que ter em conta também as ações
indiretas, em especial, as que se relacionam com fumos. Na sequência de
um incêndio a leste de Coimbra é natural que a cidade cheire a fumo, mais
ou menos fortemente, e fique suja com restos de vegetais queimados. Há,
todavia, na memória de alguns, o nevoeiro negro que atingiu Coimbra no
fim de tarde de 23 de julho de 1993 [13]. Quando a mudança de rumo do
vento de quadrante norte para quadrante de oeste ajudou os bombeiros a
terminar com o incêndio florestal que há vários dias atingia a Serra da Boa
Viagem, chegou a Coimbra ar húmido com fumos que tirou visibilidade
para a circulação automóvel, a ponto de obrigar à utilização dos faróis três
horas antes do habitual naquela época do ano, e que obrigou a calafetar,
com panos e toalhas, janelas e portas de muitas casas onde o ambiente
começava a tornar-se irrespirável. Uma crise inesperada a 40 km de
distância da área onde o incêndio era finalmente vencido.
3. Outros riscos pontualmente importantes
Ventos fortes
Há muito tempo que não se falava do “ciclone” de 1941. Mas os ventos
fortes que se fizeram sentir na madrugada e manhã do dia 19 de janeiro de
2013 numa grande parte do litoral do centro do país levaram os mais antigos
a recordar o trágico dia 15 de fevereiro de 1941 que, pelas consequências
que estudos em curso têm vindo a revelar já começa a caber na categoria de
catástrofe – milhões de árvores destruídas, serviços de distribuição de
eletricidade e de telefones gravemente prejudicados, casas destelhadas e
sem clarabóias, e, pior do que tudo, talvez mais de 100 mortos no conjunto
do país [14].
77
Os ventos de 19 de janeiro não atingiram a velocidade dos do “ciclone”,
que, pelo menos no Porto, se pensa que poderão ter ultrapassado os 160
km/h. Mas terão atingido os 140 no litoral, nas proximidades de Mira. Em
Coimbra falou-se em rajadas de 100, mas alguns dos problemas observados
fazem pensar em mais. Aguardam-se estudos aprofundados sobre estes
ventos de “ciclogénese explosiva” para saber um pouco mais. No entanto,
os problemas, em termos de destruição de árvores foram muitos. E a cidade
de Coimbra sofreu bastante, como os órgãos de comunicação social
informaram. Primeiro, por causa dos condicionalismos de trânsito, com
árvores caídas nas faixas de rodagem. O Diário de Coimbra do dia 20
mostrava fotografias de uma completamente atravessada na Rua de Tomar,
por trás da Penitenciária, e de outra “a caminho de Vale de Canas”, mas já
mostrava também uma fotografia do Parque Manuel Braga. No texto da
notícia, e só no que respeita ao interior da cidade, salienta-se que “o Jardim
da Sereia foi verdadeiramente arrasado pelo mau tempo” e que “no Parque
Manuel Braga, uma árvore de grande porte não resistiu e tombou
literalmente”. Era ainda cedo para saber dos estragos na Mata do Jardim
Botânico, que foram, no mínimo, impressionantes. Como também choveu
muito, foram noticiadas pequenas inundações, embora se destacasse, com
fotografia, apenas a das esplanadas do Parque Verde. Felizmente, apesar de
todos os prejuízos, não eram assinaladas vítimas. Tive a oportunidade de
observar que o trânsito na cidade e arredores sul era diminuto a meio da
manhã e talvez isso resultasse, pelo menos em parte, dos avisos específicos
sobre ventos muito fortes que se esperavam até às 11 horas. Todavia, a sul
de Coimbra, já perto do meio-dia, ainda caiu uma árvore no IC2, na área de
Condeixa, que cortou completamente o trânsito automóvel, e na autoestrada A13 a essa hora ainda se viam eucaliptos a dobrar quase até ao chão.
Ventos fortes, sem dúvida bem mais fortes do que os anteriores, são os que
se relacionam com tornados. E estes não se podem prever com precisão. Já
não será mau avisar sobre a existência de condições favoráveis para que se
formem. Ora, eles também podem ocorrer em Coimbra. Recordo um, entre
os vários que têm sido detetados no nosso país, em regra por terem criado
um cortejo de prejuízos.
Tinha já estudado, em 1978, as consequências de um tornado ocorrido nas
proximidades de Condeixa [15], quando, no dia 6 de março de 1991, à
tarde, tomei conhecimento de que um fenómeno de tipo tornado passara em
Coimbra, à hora do almoço. Este pormenor significava que, felizmente,
havia pouca gente nas ruas atingidas. Na verdade, este, que foi um pequeno
tornado, terá começado perto do Portugal dos Pequenitos e atingiu parte do
Estádio Universitário, onde dobrou até ao solo uma parte da vedação de
78
ferro e arame, o que verifiquei pessoalmente, pouco depois. Seguiu pela
Escola Silva Gaio, onde criou problemas no refeitório, atravessou o
Mondego, fez voar telhas de alguns barracões da Estação Nova (CP),
assustou algumas pessoas no cruzamento do Arnado, arrancou quatro cedros
à porta do cemitério da Conchada e terminou, dividindo-se em dois ramos,
no vale de Coselhas. Era fácil acompanhar-lhe o rasto, através da
observação dos estragos, que completei com informações de várias pessoas.
O fenómeno é assustador, mas muito localizado, pelo que pode
desencadear-se em áreas não habitadas, acabando sem deixar grandes
consequências. No entanto, quando afeta áreas habitadas, pode matar, como
foi o caso do que ocorreu em Castelo Branco, a 6 de novembro de 1954 e
que tirou a vida a cinco pessoas, três das quais alunos do Liceu que saíam
das aulas para almoçar. Tudo depende da força do tornado (hazard) e das
vulnerabilidades existentes.
“Flash floods”
Entre as várias cheias ou inundações rápidas, muitas vezes conhecidas pela
designação anglófona de flash floods, que se registaram em Coimbra, nos
últimos 25 anos, uma foi objeto de estudo geográfico [16], tendo-se
salientado, então, que a ocorrência correspondeu a uma precipitação de 93,1
mm em menos de 24 horas, ou seja, na noite de 21 para 22 de dezembro de
1989. Também se fez um estudo de outra, com maior dimensão espacial, no
Alentejo, no outono de 1997 [17], onde se verificaram algumas vítimas
mortais. Nenhuma destas crises, todavia, atingiu proporções de catástrofe,
em perdas humanas e prejuízos materiais como a que se verificou na noite
de 25 para 26 de novembro de 1967 na região de Lisboa, especialmente a
norte e a oeste. Ilídio do Amaral publicou logo uma nota importante sobre a
ocorrência, as suas causas e as suas consequências [18]. Quando, dias
depois, terminaram as informações sobre o número de mortos, já se tinham
ultrapassado os 400. Depois, continuaram a encontrar-se cadáveres, mas o
verdadeiro número nunca foi revelado, talvez porque também nunca tenha
sido conhecido com exatidão. Mais de 500, sem dúvida. Ou 700, como vai
sendo escrito agora? Nunca se saberá. A quantidade de chuva registada na
estação meteorológica do Monte Estoril foi de 60 mm das 20 às 21 horas de
25, num total de 158,7 mm entre as 10 da manhã de 25 e as 10 da manhã do
dia 26. Muitos problemas relacionados com vulnerabilidades foram desde
logo salientados por Ilídio do Amaral [1] [2] [4].
Em Coimbra, não parecem existir nem condições climáticas e de relevo,
nem vulnerabilidades favoráveis a tão grande catástrofe.
79
O risco de inundações rápidas em meio urbano tem uma base natural que é a
chuva intensa, agravada pelo escoamento muito rápido das águas pluviais
por ruas de grande declive (hazard), e uma componente humana que é a
presença das pessoas, o mobiliário urbano, as caves e os pisos térreos de
casas de habitação e lojas, as garagens, etc. e cabe na noção de
vulnerabilidade. Dir-se-á que uma eficaz rede subterrânea de escoamento
dessas águas resolve o problema. A realidade em Coimbra mostra que não é
bem assim e que a máxima de que “não há risco zero” se aplica bem a
vários casos concretos. Numa cidade em que se podem definir diversas
bacias torrenciais que a urbanização seguiu, por vezes, rigidamente, o
perigo instala-se quando se inicia um aguaceiro muito forte. A crise pode
instalar-se quando esse aguaceiro demora um pouco mais do que
habitualmente.
Na cidade de Coimbra, há exemplos em ruas que seguem antigas redes
hidrográficas de pequenas torrentes por onde a água da chuva pode correr
veloz [1] [2] – a pequeníssima torrente da Sé Velha e a pequena torrente da
Ribela. A primeira inicia-se na área da Sé Nova, onde começa a definir-se
uma bacia de receção que converge na área da Sé Velha, sendo o Quebra
Costas o seu canal de escoamento e a Porta da Barbacã o ponto onde
começa o cone de dejeção. A segunda inicia-se na área dos Olivais com os
primeiros elementos de uma bacia de receção que converge na Praça da
República, tendo o seu canal de escoamento ao longo da Avenida de Sá da
Bandeira; culmina num velho cone de dejeção, hoje quase impercetível, que
se começava a desenhar no final da Rua Olímpio Nicolau Fernandes. Podem
ainda acrescentar-se outras, periféricas, embora ainda dentro dos limites da
cidade, sendo a que se estende desde São Sebastião até à Solum uma das
que têm longa história de consequências danosas. Poderá dizer-se que todas
sofreram obras mais ou menos importantes e caras para resolver os
problemas de inundações ou alagamentos pontuais que provocam.
No entanto, a antiga Ribela merece ainda uma referência especial (fig. 1).
Na realidade, só assistindo ao vivo a uma situação de cheias rápidas se
consegue entender o que pode verificar-se, ainda hoje, na Praça 8 de Maio –
a quantidade e a velocidade da água que desce numa dessas situações pela
parte norte da Avenida de Sá da Bandeira são de tal ordem de grandeza que
derrubam qualquer “aventureiro” que teime em atravessar a faixa de
rodagem, ao mesmo tempo que a corrente passa por cima das sarjetas como
se elas não existissem. A velocidade só diminuirá na chegada à área da
Câmara Municipal. Antes das obras de abaixamento da Praça 8 de Maio, a
água separava-se em partes praticamente iguais pela velha Praça e pela Rua
da Sofia. Hoje, “prefere” a descida para a frente da Igreja de Santa Cruz
80
(fot. 5). Lembrem-se, apenas, dois casos muito semelhantes – o de 9 de
junho de 2006 e o de 20 de setembro de 2008.
Sismos
Os sismos não parecem ser frequentes em Coimbra. No entanto, entre 1998
e 2007 foram registados 15 embora o mais forte tenha sido o de 30 de abril
de 1999, com epicentro em São Pedro de Moel e uma magnitude local de
IV/V [19]. No que respeita à crise de 28 de fevereiro de 1969, foi logo
publicada uma nota de Alfredo S. Mendes que mostrava as isossistas desse
sismo, tal como foram então apresentadas pelo Instituto Nacional de
Meteorologia e Geofísica, colocando a maior parte do litoral português com
o valor VI – “intensidade em graus da escala internacional (WOOD e
NEWMANN, 1931)”. Também aí se podem ver algumas fotografias de
danos provocados em edifícios [20]. Observações que então realizei
permitiram-me verificar a existência de fendas em casas, por exemplo, na
área da Portela, no limite sul da cidade de Coimbra, no contacto entre o
Maciço Hespérico e a Orla Mesocenozóica ocidental.
Não há conhecimento de qualquer catástrofe sísmica em Coimbra, nem
quando do terramoto de 1755, mas também não há a certeza de que tal não
possa acontecer. Em estudo recente sobre a vulnerabilidade de edifícios
antigos perante o risco sísmico na baixa de Coimbra, concluiu-se, através de
simulação, que, para uma população de 1800 pessoas, haveria 265 mortos e
1478 desalojados com um sismo de grau X, o que significava uma crise com
a dimensão de catástrofe. Com um sismo de grau IX, o número de mortos
seria de 31 e o de desalojados de 1313, podendo dizer-se que a crise teria
apenas a dimensão de acidente grave. Para os graus VIII, 419 desalojados, e
VII, 30 desalojados, já não haveria mortos. Seria uma crise sísmica, com
problemas humanos razoáveis, mas não uma catástrofe, segundo as tabelas
de André Dauphiné [21].
Conclusão
O risco (probabilidade de ocorrência de acontecimento danoso), o perigo
(proximidade da manifestação do risco) e a crise (manifestação do risco fora
do controlo do Homem) constituem aquilo a que pode chamar-se a
sequência temporal do risco [22]. A catástrofe tem a ver com a dimensão da
crise. Para André Dauphiné, em termos de perdas humanas, para baixo de
100 ficariam o acidente (0 – 9) e o desastre ou acidente grave (10 – 99).
Com 100 ou mais mortos falava de catástrofe (100 – 9999), de catástrofe
81
maior (10 000 - 99 999) e de super catástrofe (100 000 a mais de 1 milhão)
[21].
Entretanto, a palavra “disaster” veio trazer alguma confusão. Na maior parte
dos autores anglófonos que a utilizam há uma identificação clara com
catástrofe. Mas ao traduzir-se à letra para português encontra-se, tal como
em francês, a palavra desastre – dizemos, por exemplo, “um desastre de
automóvel”. Mas não dizemos que um terramoto com 100000 mortos foi
um desastre, dizemos mesmo que foi uma catástrofe. Um anglófono dirá
“disaster” e temos de o aceitar. Não deveremos, todavia, introduzir a
tradução à letra, desastre, confundindo-a com catástrofe.
Concluindo, as cheias do Mondego poderão, por vezes, ao longo da História
ter sido catastróficas, com imensas destruições e muitos mortos. Mas há
muito tempo que estas crises não têm a dimensão de catástrofes. O mesmo
talvez não se possa dizer para os incêndios florestais que talvez devam ser
considerados catástrofes quando duram vários dias e fazem desaparecer
dezenas de milhares de hectares de floresta, queimando casas e até matando
algumas pessoas. André Dauphiné também falava de catástrofes para casos
de “milhões de francos” de prejuízos, independentemente do número de
mortos [21]. Se pensarmos nos casos conhecidos de ventos fortes, flash
floods, ou sismos em Coimbra não encontramos catástrofes, encontramos
crises na medida em que se trata de fenómenos que causam prejuízos, que
se trata da manifestação completa, sem controle possível pelo Homem, de
riscos que se sabia existirem.
Referências
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Coimbra, Imprensa da Universidade, 274 p. (2ª edição revista e
aumentada:
[2] REBELO, Fernando (2003) – Riscos Naturais e Acção Antrópica.
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naturais ocorridas em Portugal”. A Terra. Conflitos e Ordem.
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exemplo das cheias rápidas (flash floods) em domínio mediterrâneo”.
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82
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Coimbra, Imprensa da Universidade, 215 p
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Bacia do Mondego. Ensaio Geográfico. Coimbra, Edição do Autor,
299 p.
[8] REBELO, Fernando e DIAS, Pedro (1978) – Coimbra e Região.
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Programa Polis em Coimbra”. Territorium, 12, p. 29-53.
[10] NUNES, Mário (1990) – Coimbra. Imagens do Passado. Coimbra,
Livraria Minerva, 223 p.
[11] LOURENÇO, Luciano e RAINHA, Manuel (2006) – “As mediáticas
‘mãos criminosas’ e algumas das ‘lições dos fogos florestais de 2005’,
em álbum fotográfico. Contributo para a desmistificação dos incêndios
florestais em Portugal”. Territorium, 13, p. 71-82.
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disminución del peligro de incendios forestales en áreas de interfaz
urbano-forestal. Estudio de caso”. Territorium, 19, p. 95-100.
[13] LOURENÇO, Luciano, NUNES, Adélia e REBELO, Fernando (1994)
– “Os grandes incêndios florestais registados em 1993 na fachada
costeira ocidental de Portugal Continental”. Territorium, 1, p. 43-61.
[14] NUNES, A., PINHO, J., GANHO, N. (2011/2012) – “O ‘Ciclone’ de
Fevereiro de 1941: Análise histórico-geográfica dos seus efeitos no
concelho de Coimbra”. Cadernos de Geografia, 30/31, Coimbra (no
prelo).
[15] REBELO, Fernando (1978) – “Os temporais de 25/26 de Fevereiro de
1978 no centro de Portugal”, in DAVEAU, Suzanne et al. (1978) –
“Temporais de Fevereiro e Março de 1978”. Finisterra, 13 (26), p.
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Urbano. Análise de um caso concreto na parte oriental da cidade de
Coimbra”. Cadernos de Geografia, 11, p. 75-85.
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Outono de 1997 no Sul de Portugal”. Territorium, 5, p. 25-30.
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de 1967 na região de Lisboa”. Finisterra, Lisboa, 3 (5), p. 79-84.
[19] VICENTE, R., VARUM, H., MENDES DA SILVA, J. A. R.,
LAGOMARSINO, S. (2010) – “Avaliação da vulnerabilidade de
edifícios antigos e do risco sísmico à escala do centro histórico. O caso
da baixa de Coimbra”. Territorium, 17, p. 189-200
83
[20] MENDES, Alfredo S. (1969) – “Notícia acerca do sismo de 28 de
Fevereiro de 1989 em Portugal Continental”. Finisterra, 4 (8), p. 273277.
[21] DAUPHINÉ, André (2001) – Risques et catastrophes. Observer –
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risque”. Le Risque et la Crise, Malta, Foundation for International
Studies, 218 p., p.31-60.
84
Reserva Ecológica Nacional (REN), Riscos
Naturais e Forma Urbana
Lusitano dos SANTOS1, José FORTUNA2; Ana CARREIRÓ3; Sandra
SANTOS4
Doutor em Ordenamento do Território e Transportes – Professor Jubilado do Departamento
de Engenharia Civil da Universidade de Coimbra;
Rua Luís Reis Santos, 3030-788 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351964060725, 00351239797137 Endereço Email: [email protected]
2
Mestre em Engenharia Urbana – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Centro, Direção de Serviços do Ordenamento do Território
Rua Bernardim Ribeiro, n.º 80, 3000-069 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351919838894, 00351239400163 Endereço Email: [email protected]
3
Licenciada em Geografia – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Centro, Direção de Serviços do Ordenamento do Território
Rua Bernardim Ribeiro, n.º 80, 3000-069 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351239858211 Endereço Email: [email protected]
4
Licenciada em Geografia – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Centro, Direção de Serviços do Ordenamento do Território
Rua Bernardim Ribeiro, n.º 80, 3000-069 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351239400159 Endereço Email: [email protected]
1
Palavras-chave: Forma Urbana, Ordenamento do Território, Perímetro
Urbano, Reserva Ecológica Nacional, Riscos Naturais.
Resumo
A forma urbana encontra-se diretamente associada à morfologia urbana pois
do ponto de vista urbanístico a morfologia pode ser definida como o estudo da
forma urbana, ou seja, o estudo dos aspetos exteriores do meio urbano,
através dos quais se coloca em evidência a paisagem e a sua estrutura
(LAMAS, 1992, 37). O estudo pode ser feito a partir da análise dos elementos
morfológicos, unidades ou partes físicas que associadas e estruturadas
constituem a forma - solo, edifícios, o lote, o quarteirão, as fachadas, os
logradouros, o traçado, as ruas, as praças, os monumentos, a vegetação e o
mobiliário urbano (idem, 46). O espaço urbano e a sua forma resultará da
maneira como se agregam e articulam os diferentes elementos morfológicos.
Outro aspeto que condiciona a forma urbana, relacionado com as
características físicas do território (topografia e hidrografia, entre outros),
são os riscos naturais, pois as áreas vulneráveis condicionam usos e
85
ocupações do solo, influenciando as estratégias relativas ao sentido do
desenvolvimento do tecido urbano, quer ao nível das opções de expansão,
ou escolha de opções pela compactação e, ou reconversão dos territórios.
A análise da forma urbana pode ter diferentes âmbitos de trabalho,
dependendo da escala e da dimensão urbana destinada a estudar.
Lamas (idem, 46), ao abordar as dimensões espaciais na morfologia urbana
considera que a compreensão e conceção das formas urbanas ou do
território se coloca a três níveis distintos: a dimensão setorial, que abrange
a escala da rua, onde a forma é definida pela disposição dos diversos
elementos, como os edifícios, traçado, estrutura verde, etc. A dimensão
urbana, que engloba a escala do bairro, que pressupõe a estruturação das
ruas e praças, monumentos, jardins e áreas verdes. A dimensão territorial,
que engloba a escala da cidade inteira, onde a forma se estrutura a partir da
articulação das formas à dimensão urbana, nomeadamente pela disposição
dos seus elementos estruturantes (bairros, grandes infraestruturas viárias e
as grandes zonas verdes).
A estruturação do território pode também ser encarada sob dois aspetos:
a) As grandes unidades de ocupação urbana articuladas com as
características físicas do território, enquanto elementos condicionadores da
ocupação e uso do solo e da forma de organização espacial;
b) A forma urbana, na dimensão morfológica, ao analisar e avaliar a forma
de evolução dos diferentes elementos morfológicos
Este artigo privilegia a dimensão urbana (escala do bairro) pois pretende
evidenciar como a existência de riscos resultantes de restrições de utilidade
pública, designadamente da reserva ecológica nacional (REN) determinam e
condicionam os usos e a ocupação urbana dos territórios.
Assim, a primeira parte, para além de integrar uma breve interpretação de
conceitos e conteúdos respeitantes ao processo de urbanização, povoamento
e forma urbana, inclui também uma abordagem aos riscos naturais, com
definição da sua tipologia e à reserva ecológica nacional (REN) nas suas
componentes de riscos naturais.
Para compreensão da incidência das condicionantes na forma urbana (solo
urbanizado e solo urbanizável) é apresentada uma qualificação funcional do
solo urbano, estabelecida com base na utilização dominante e nas
características morfo-tipológicas de organização do espaço urbano, atentos
os princípios da sua multifuncionalidade. A reclassificação do solo rural
como urbano será também referida sumariamente, com o apontamento de
alguns dos principais critérios da sua excecionalidade.
Numa segunda parte será referida a delimitação da REN no âmbito da
revisão do PDM, focando os seus aspetos essenciais e os critérios que lhe
86
estiveram subjacentes. Será também referida a fundamentação para
exclusão de áreas da REN, bem como os critérios que as poderão sustentar.
Neste contexto, serão apresentados exemplos de como a delimitação da REN
influenciou o sentido das expansões e retrações de alguns perímetros urbanos
existentes incidindo assim na sua forma. Serão agregados por tipologia e
critérios de fundamentação para ocupação de áreas determinadas, para
evidenciar a ponderação da proteção da estrutura biofísica, quer em termos de
valor e sensibilidade ecológica (âmbito da sustentabilidade do ciclo da água),
quer face à exposição e suscetibilidade perante riscos naturais (critérios de
prevenção e precaução) como se exemplifica na Figura 1. São também
associadas algumas das variáveis caracterizadoras e condicionadoras da forma
urbana, exemplificando: densidade urbana (proximidade, centralidade,
dispersão periférica); uso do solo (categorias e subcategorias de espaço);
desenho urbano (conformação, compactação, reconfiguração do perímetro
urbano); qualidade dos espaços de utilização pública (equipamentos, espaços
verdes/usos compatíveis); barreiras físicas; topografia e coberto vegetal.
1
2
Fonte: C.M. de Oleiros
Figura 1 Reconfiguração 1 (área de máxima infiltração e zonas ameaçadas pelas
cheias). Reconfiguração 2 (áreas com risco de erosão)
87
Urban design in flood zones – the case of Quinta da
Boavista (Coimbra, Portugal)
RIBEIRO, Anabela S. Narciso1; BIGOTTE, João2; GRAÇA, Miguel Silva3
1
Prof. Auxiliar /Department of Civil Engineering in the University of Coimbra; Rua Luís Reis
Santos, Pólo II da Universidade 3030-788 Coimbra, Portugal (+ 351) 239 797 107,
[email protected]
2
Prof. Auxiliar Convidado / Departamento de Engenharia Civil - Universidade de Coimbra
Rua Luís Reis Santos, Pólo II da Universidade 3030-788 Coimbra, Portugal
(+ 351) 239 797 100, [email protected]
3
Prof. Auxiliar Convidado / Departamento de Engenharia Civil - Universidade de Coimbra
Rua Luís Reis Santos, Pólo II da Universidade 3030-788 Coimbra, Portugal
(+ 351) 239 797 100, [email protected]
Keywords: Urban design, Urban development, Flood zones, Risk analysis,
Coimbra (Portugal).
Abstract
To build in floodplain areas is always a risk, since absolute flooding
protection can't be fully guaranted. If there are settlements already in place,
flood damage must minimized. Some of the suitable means that can be used
are precautionary measures such as elevated building configuration or flood
adapted use. These measures help reducing the damage for buildings.
For large rivers, structural means such as dams, levees, flood diversions,
channel improvements, upstream sediment control; and non-structural
means such as flood forecasting, civil defense warning, evacuation and
community self-protection teams, can help to prevent risk. And to further
reduce flood losses, people’s motivation to invest in precaution should be
improved.
This article discusses a set of alternative solutions for the urban
development of Quinta da Boavista – a flood zone in Coimbra (Portugal).
These solutions were proposed by the students of the Urban Design course
(spring semester, 2012-13) of the Department of Civil Engineering of the
University of Coimbra (Portugal).
Their challenge was to design a new development in Quinta da Boavista, in
an area with approximately ten thousand square meters, partially along the
river Mondego margins.
88
This development plan breaks this area into two different zones – one, with
low flooding risk, where residential and mixed use is allowed; another, with
extremely high flooding risk, intended for green space.
Additionally, the existence of a water supply station and a purification plant
next to the development area raises a number of restrictions related with
security.
The alternative solutions are compared from the standpoint of design,
sustainability, and risk control and mitigation.
Map 1: Quinta da Boavista development area
Acknowledgments
Proteção Civil de Coimbra.
References
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Atmospheric Environment vol. 30, no. 3, pp. 45-65.
[2] Paukerta, Craig P., Pitts, Kristen L. Whittierb, Joanna B, Oldenc,
Julian D. (2011) ‘Development and assessment of a landscape-scale
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[4] Plat, Erich j. (2002) Urban design morphology and thermal
[5] performance. Journal of Hydrology 267 2–11.
[6] Vieira, Teresa (2012) A Ecologia como Fundamento para o Desenho
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Mochos. Dissertação de mestrado.
[7] Wheater, Howard and Evans, Edward (2009). ‘Land use, water
management and future flood risk’. Land Use Policy 26 pag. 251–264.
90
Centro Histórico de Setúbal: Vulnerabilidades na
Emergência
Manuela Maria Justino TOMÉ
Mestre em Recuperação do Património Arquitectónico e Paisagístico, Câmara Municipal de
Setúbal, Serviço Municipal de Protecção Civil e Bombeiros
Quartel dos Bombeiros Sapadores, Estrada de Algeruz, 2910-279 SETÚBAL, PORTUGAL
Telef: 00351936515905, 00351265739330 Endereço Email: [email protected]
Palavras-chave: Centro Histórico, Património, Planeamento, Setúbal.
A Cidade
A localização da cidade de Setúbal, na bacia hidrográfica do Sado, com
boas condições ambientais e recursos aquíferos, abrigada e protegida pelas
encostas da cordilheira da Arrábida, contribuiu para o estabelecimento da
actividade humana e o desenvolvimento da vida económica, que desde o
séc. VIII a.C. (SOARES, 2000, p. 113), proporcionou a instalação dos
povos fenícios, que aqui procuraram a sua auto-sustentabilidade, devido às
boas condições naturais, geográficas, ambientais, de defesa e de
comunicação, quer com o interior do país, quer com o mundo exterior.
As actividades ligadas à salga e preparação de peixe e exportação para
regiões, como a Itália e o norte da França, permitiram um grande
desenvolvimento comercial e industrial, durante a ocupação romana
(séculos I a V), com reflexos na expansão urbana tornando-se, Setúbal, à
data, um importante núcleo.
O núcleo desta urbe terá surgido junto à actual igreja de Santa Maria da
Graça, e ao expandir-se foi ocupando, por um lado, a colina da primitiva
povoação e, por outro, uma restinga que se foi formando pela acumulação
de areias. Na colina, assentava o núcleo residencial e comercial. Na zona
arenosa, mais baixa, eram construídas fábricas de produção de preparados
piscícolas (SILVA). Esta forma urbana de ocupação e, posteriormente, de
expansão, acompanhou a topografia do terreno, como pode verificar, e é
bem visível, através do respectivo desenho das curvas de nível.
Este núcleo expandiu-se, condicionado pelas características ambientais
envolventes, excedendo-se na ocupação hidrográfica do território, e
desenvolvendo-se com uma forma urbana, marcada pelos seus eixos de
circulação no sentido Nascente-Poente, em consonância com a linha de
costa do estuário do rio Sado.
91
A primeira carta de foral atribuída em 1249, pelo mestre da Ordem de
Santiago, D. Paio Peres Correia, a delimitação do termo do concelho em
1343, e a construção da primeira cintura de muralhas, construída entre 1325
e 1375, marcam a história da cidade.
É na zona mais baixa da actual cidade, que se localiza o núcleo urbano de
origem medieval, e actual centro urbano, no qual se concentram vestígios de
grande herança histórica, e valor cultural. Foi cercado pela muralha
construída no século XIV, sob os reinados de D. Afonso IV e D. Pedro I, da
qual ainda permanecem alguns troços, que formam as paredes estruturais
exteriores dos edifícios, três torres e algumas portas.
No interior da muralha, se protegia, o núcleo urbano religioso, residencial,
económico e administrativo, e que ainda hoje é o seu centro urbano,
político-administrativo, comercial e de serviços e ainda habitacional.
Nos séculos XV e XVI existiu um grande florescimento proveniente da
actividade económica da produção e comércio do sal, a que correspondeu
uma expansão urbana para nascente e para poente do perímetro de muralhas
e também à construção de obras marcantes para o urbanismo e para a
arquitectura da cidade. Remonta a esta época a importante transformação
urbana ocorrida no núcleo, que viu o seu centro urbano transferido da Praça
do Castelo1 para o Largo do Sapal2, onde ainda hoje permanece.
Com a restauração de 1640, foi construída a nova linha de defesa através da
construção duma fortificação abaluartada, segundo o projecto concebido,
em 1642, por Jean Gilot e Cosmander, que delimitou a estrutura urbana
então existente, constituindo esta, o centro urbano antigo da cidade,
vulgarmente designado de “centro histórico”, o qual conserva vestígios e
valores de um ancestral legado histórico (Figura 2). Esta estrutura urbana,
com um traçado bem definido e consolidado tinha por eixo central a Ribeira
do Livramento (Figura 1), a qual veio a transformar-se numa das principais
vias urbanas.
A, então, vila continuou a sua consolidação, interrompida pelo terramoto de
1755 que a deixou muito devastada e danificada, nas suas igrejas, palácios e
habitações. No dia 11 de Novembro de 1858, uma nova catástrofe sísmica
provocou graves danos em Setúbal, havendo notícia de que muitos edifícios
ruíram e muitos outros não ofereciam condições de segurança,
nomeadamente no Bairro do Troino. A expressão arquitectónica dos seus
arruamentos é, na generalidade, a que resulta das consequências destas
1
Posteriormente, foi designada de Praça da Ribeira e actualmente Largo do Dr.
Francisco Soveral.
2
Actual Praça do Bocage.
92
catástrofes, no entanto muito do seu património religioso, militar e políticoadministrativo persistiu a estas vicissitudes da história e ainda permanecem.
O sentido de modernidade do século XX e a rejeição da “pequenez” da
cidade histórica, provocaram alterações urbanísticas, com transformações
urbanas que vieram criar novos arruamentos, em favorecimento das actuais
principais vias de circulação (Figura 8). Na praia foi criada a principal via, a
actual Avenida Luisa Todi, e outras, paralelas à rua direita e à linha de
costa, foram alargadas, assinalando a continuação da influência marcante do
Rio Sado. Foram também criados arruamentos perpendiculares às vias de
circulação já existentes, provocando uma grande transformação urbana, no
entanto a penetração no interior da malha continua de difícil execução ou
inacessível, sobretudo a viaturas de socorro.
Com uma ocupação humana milenar, a cidade apresenta, hoje, testemunhos
desta ocupação, desde a época romana, até aos nossos dias, num conjunto
urbano densamente construído com edifícios, na sua maioria de três pisos,
marcados por uma forte escala humana, e uma identidade identificativas de
cada um dos seus espaços urbanos. Trata-se de um vasto legado
arquitectónico que constitui hoje o nosso património com valor cultural
reconhecido, quer pela classificação de monumento nacional, de interesse
público e de interesse municipal, quer pela inventariação, e uma
arquitectura inserida numa estrutura urbana caracterizada por ruas estreitas,
bastante vulnerável a grandes perdas em situações de emergência,
provocadas por acidentes com origem, na natureza, tecnológica ou social.
Potenciais Vulnerabilidades
Os factores de risco do território, com origem na natureza ou outra, aliados
às vulnerabilidades urbanas, nomeadamente a existência de valores culturais
e de vidas humanas, associada a arruamentos de reduzida largura, com raios
de viragem muito apertados, com sinuosidades, com uma malha muito
fechada de difícil penetração no interior, com a existência de impedimentos
à circulação (Figura 6), nomeadamente equipamentos urbanos (mobiliário
urbano 3 e mobiliário adicional 4), ou com estacionamento não autorizado
3
4
Incluímos neste tipo o seguinte mobiliário implantado na via pública: bancos;
cabines telefónicas; candeeiros; contentores de resíduos; papeleiras; floreiras;
pilaretes; postes de correio; sinalização de trânsito; mastros; painéis publicitários;
paragens de autocarros; parquímetros; instalações sanitárias e outros.
Incluímos neste tipo o seguinte mobiliário, quando está implantado na via pública:
área de esplanadas; toldos; anúncios luminosos e outros; grelhadores de rua;
chaminés; aparelhos de ar condicionado, poiais e outros.
93
(Figura 7) tornam ainda mais complicada qualquer operação de intervenção
em situações de emergência.
O crescimento da cidade está reflectido nos vários tipos de malha urbana
desde o complexo desenho dos arruamentos do núcleo medieval, ao
desenho ortogonal de Troino Nascente e de são Domingos, à malha de
desenho radial, a partir do Largo da Fonte Nova, no Troino Poente e ainda o
complexo resultado da ligação de malhas existentes ou da sua intercessão
por infraestruturas que rompem o sistema existente, como foi o caso da
linha de caminho-de-ferro, em 1860 (Figura 3), no entanto em todas estas
expressões encontramos semelhantes dificuldades de acesso e dificuldade
nas operações de socorro.
Temos presente uma arquitectura com uma estrutura construtiva constituída
por paredes exteriores resistentes, em alvenaria de pedra irregular e no
interior uma estrutura de separação entre pisos, escadas e estrutura da
cobertura em madeira, inserida em “lotes” de reduzidas dimensões, que
conduzem a uma taxa elevada de sobreocupação, por vezes com
compartimentos comunicantes entre si, sem a existência de elementos de
separação corta-fogo. Com uma cada vez maior redução do uso em
habitação, proliferam arrecadações, arquivos nos forros de tectos, sótãos
etc., uma acentuada degradação, em resultado de deficientes manutenções
de verificação e limpeza, e também com deficientes infra-estruturas.
As vulnerabilidades específicas e impedimentos acrescidos na prestação do
auxílio, neste espaço urbano antigo, em caso de emergência, justificaram
uma preocupação acrescida com a salvaguarda dos valores culturais e a
promoção de acções para melhoria das condições de prevenção e segurança,
face aos riscos de incêndio, inundações, sismos e outros.
Planeamento Preventivo
No âmbito da elaboração do Plano Municipal de Intervenção no Centro
Histórico de Setúbal foram efectuados vários estudos, que visaram
caracterizar as várias formas e espaços urbanas (Figura 4, Figura 5, Figura 6
e Figura 7), e dotá-los de condições adequadas, antecipadamente a
quaisquer ocorrências, nomeadamente a implementação de medidas
preventivas, para uma cada vez melhor resposta a acidentes graves e
catástrofes, na prevenção e protecção de uma importante área da cidade de
Setúbal, quer para os bens culturais, quer para as vidas humanas.
Deste modo, assumiu especial relevância a instalação dum sistema
preventivo de segurança, através da informação, da instalação de armários
de 1.ª Intervenção (Figura 9, Figura 10 e Figura 11) com os meios
94
operacionais de intervenção e de autoprotecção, disponíveis à utilização da
população, que em regime de voluntariado integre as Brigadas de Apoio
Local, e da implementação, racionalmente distribuída no espaço urbano
(Figura 12), de um sistema de sinalização e de comunicação directa, escrita
e em alta voz, através de Painéis Informativos (Figura 13, Figura 14), e de
Colunas SOS e Colunas PE (Ponto de Encontro) (Figura 15), instalados nos
espaços exteriores públicos, bem como a sinalização de caminhos de fuga
(Figura 16).
Os estudos elaborados e os equipamentos instalados, contribuem para uma
maior adaptação da cidade e resiliência da população, em situações de
emergência, e podemos considerar que permitirão, também, que em cada
cidadão exista um agente da Protecção Civil, possibilitando a garantia de
uma mais eficiente e eficaz salvaguarda dos nossos valores culturais e vidas
humanas.
Figura 1: Localização do Centro Histórico de Setúbal. Executado a partir do
Pormenor da Carta topográfica da Peninsula de Setúbal, 1816, (QUINTAS, Porto
de Setúbal, Um actor de desenvolvimento, 2003, p. 46).
95
Figura 2: Identificação dos edifícios de caracter religioso, reportados aos finais do
séc. XVII (1689 ?) e ainda existentes, intramuros. Executado a partir da carta “Cita
di Setuval, ó S. Ubes, Nel Potogallo, Del P. Cosmógrafo Coronelli”, (QUINTAS,
Porto de Setúbal, Um actor de desenvolvimento, 2003, p. 6).
Figura 3: Centro Histórico de Setúbal. Diversos tipos de malha urbana.
96
Figura 4: R. Vasco da
Gama.
Figura 5: Trav.
Da Porta do
Sol.
Figura 6: R. de
Romão Dias.
Figura 7: R.
Paulino de
Oliveira.
Figura 8: Centro Histórico de Setúbal. Rede de Acessibilidade.
97
Figura 9: Centro Histórico de Setúbal. Localização de Armários de 1.ª Intervenção.
Figura 10: Armário de 1.ª
Intervenção.
Figura 11: Armário de 1.ª Intervenção.
Equipamentos de 1.ª Intervenção e de Protecção
Individual.
98
Figura 12: Centro Histórico de Setúbal. Zonas de Evacuação, Painéis Informativos.
Colunas Pontos de Encontro, Colunas SOS e Caminhos de Fuga.
Figura 13: Plano Municipal de Intervenção no Centro Histórico de Setúbal. Imagem
constante na frente dos Painéis Informativos.
99
Figura 14: Painel
Informativo, PI 5.
Fotog. realizada por
C.M.S. / D.A.F. /
S.M.C.I. / Mário Rui
Peneque.
Figura 15: Coluna
Ponto de Encontro PE 3.
Figura 16: Sinal de
Caminho de Fuga.
Referências
[1] PIMENTEL, A. (1877). Memória sobre a História e Administração do
Municipio de Setúbal (1992, 2.ª ed., Vols. col. Biblioteca Pública
Municipal de Setúbal - Série Fac-Simile). (C. M. Setúbal, Ed.) Lisboa:
Gutierres da Silva.
[2] QUINTAS, M. d. (2003). Porto de Setúbal, Um actor de
desenvolvimento. Setúbal: APSS-Administração dos Portos de Setúbal
e Sesimbra, S.A.
[3] SILVA, C. T. (s.d.). Onde Nasceu Setúbal ?
[4] SOARES, J. (2000). Actas do Encontro sobre Arqueologia da
Arrábida. In I. P. Arqueologia (Ed.), Arqueologia Urbana em setúbal:
Problemas e Contribuições. Lisboa.
[5] SOARES, J. (2000). Arqueologia Urbana em setúbal: Problemas e
Contribuições. In A. M. FARIA, Actas do Encontro sobre Arqueologia
da Arrábida (Colecção: Trabalhos de Arqueologia; 14 ed., pp. 101130). Lisboa, Portugal: Instituto Português de Arqueologia.
100
Morfologia Urbana à Escala do Bairro Os
Condicionalismos dos Riscos Naturais. O Risco
Geomorfológico - Um Exemplo em Coimbra
Lusitano dos SANTOS1; José FORTUNA2
1
Doutor em Ordenamento do Território e Transportes. Professor Jubilado do Departamento de
Engenharia Civil da Universidade de Coimbra;
Rua Luís Reis Santos, 3030-788 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351964060725, 00351239797137 Endereço Email: [email protected]
2
Mestre em Engenharia Urbana – Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do
Centro, Direção de Serviços do Ordenamento do Território
Rua Bernardim Ribeiro, n.º 80, 3000-069 COIMBRA, PORTUGAL
Telef. 00351919838894, 00351239400163 Endereço Email: [email protected]
Palavras-chave: Coimbra, Forma Urbana, Geomorfologia, Perímetro
Urbano, Ordenamento do Território, Risco.
Resumo
Resultando a forma urbana da organização morfológica dos diferentes
elementos constituintes e definidores do espaço urbano, o seu
desenvolvimento insere-se não só no contexto urbanístico, mas também na
existência de limitações diversas, que devem ser equacionadas a montante
do desenho urbano. Este artigo trata as questões a montante a partir de uma
metodologia de análise da capacidade urbana do solo, associada à
identificação de áreas com adequabilidade preferencial a usos determinados.
A análise baseia-se num modelo que permite definir classes de aptidão para
diferentes tipos de uso, em função de critérios urbanísticos e limitações ao
crescimento urbano, incluindo a possibilidade de ocorrência de riscos
naturais. A segunda fase do modelo consiste no “zonamento das áreas de
risco” a partir de factores discriminantes, em função do tipo de risco em
análise.
Este artigo desenvolve o modelo para os riscos de natureza geomorfológica
em associação com um estudo de caso, numa área concreta da cidade de
Coimbra particularmente sujeita a este tipo de riscos.
101
Foram identificadas sete áreas homogéneas sujeitas a risco, a saber: Zonas
de Risco Tipo I, Zonas de Risco Tipo II, Zonas de Risco Tipo III, Zonas de
Risco Tipo IV, Zonas Aluvionares, Zonas de Depósitos Detríticos e Zonas
de Aterro. O uso urbano do solo depende das características de cada uma
destas Zonas, que limitam e até interditam a construção, condicionando
assim a forma urbana aos níveis urbano e territorial.
Referências
[1] Coelho, A.G. (1980) A Cartografia geotécnica no planeamento
regional e urbano. LNEC, Lisboa.
[2] Fortuna, J. (2003) Planeamento Urbano e Protecção Civil, preparar
a cidade para o risco de catástrofe. Dissertação apresentada para
obtenção do grau de mestre em Engenharia Urbana, pela Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
[3] Lamas, J. (1992) Morfologia urbana e desenho da cidade, Edição
Fundação Calouste Gulbenkien e Junta Nacional de Investigação
Científica e Tecnológica. Lisboa.
[4] Marsh, W. M. (1991) Landscape planning, environmental
applications, 2ª Edição. John Wiley & Sons, Inc. Nova Iorque.
[5] Rebelo, F. (1991) Geografia física e riscos naturais; alguns
exemplos de riscos geomorfológicos em vertentes e arribas no
domínio mediterrâneo. BIBLOS, LXVII, Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra. Imprensa de Coimbra, Lda. Coimbra.
[6] Santos, L. (1984) A Extensão da análise dos limiares ao
ordenamento sub-regional e regional. Dissertação apresentada a
doutoramento em Engenharia Civil, especialidade de Ordenamento do
Território e Transportes, pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra.
[7] Varnes, D. J. (1984) Landslide hazard, zonation: a review of
principles and practice. UNESCO.
102
“Coimbra e as Densidades Centrais”
Coordenada pelo Prof. José António Bandeirinha
”Coimbra and the Central Densities”
Coordinated by Prof. José António Bandeirinha
103
Coimbra e as Densidades Centrais
José António BANDEIRINHA
Introdução
Esta mesa propõe-se debater a cidade num sentido mais específico,
concebê-la enquanto entidade que, no quadro de determinados parâmetros,
se insinua como alternativa sólida, credível e realista, ao tão glosado
fenómeno do crescimento difuso. Propõe-se debater a subsistência da
cidade, em concorrência com, e apesar dos novos determinismos
metropolitanos, hoje tão insinuantes e atraentes, devido ao seu engagement
com a economia global, propõe-se reflectir sobre essa entidade,
ontologicamente reconhecível, que se inscreve numa matriz de continuidade
histórica, a que continuamos, e continuaremos, a chamar cidade. Os
modelos a partir dos quais podemos balizar essa entidade são globais,
embora deva reconhecer que, para o que aqui nos interessa, são de salientar
aqueles que se identificam segundo uma matriz de localização geográfica
centrada na bacia do Mediterrâneo, com especial incidência na Europa do
Sul. Há, contudo, por toda a Europa, provas incontestáveis de subsistência,
e de florescimento, de cidades de média dimensão, que não se inscrevem em
vórtices de absorção metropolitana e que se inserem em redes de
articulação, quer com as suas regiões de influência, quer com outros pólos
urbanos congéneres. Conseguimos circunscrever os seus limites, encantanos a vida dos espaços públicos, potenciada por consideráveis índices de
densidade populacional. São mais fáceis de manter e mais baratas de
infraestruturar que o espaço peri-urbano difuso. Por isso, e pela qualidade
de vida urbana, insinuam-se como uma incontestável alternativa à
metropolização global.
Numa segunda ordem de questões, propõe-se debater o papel de uma cidade
como Coimbra no âmbito da geração de uma estratégia de políticas urbanas
tendente à construção dos modelos acima referidos. A única cidade, fora das
áreas de influência metropolitana, com mais de cem mil habitantes,
suficientemente afastada dos pólos metropolitanos para gerar dinâmicas
específicas de centralidade, suficientemente central relativamente à região
que a envolve para poder dinamizar uma rede urbana regional, articulada e
alternativa.
105
Távora e o sentido das permanências na
contemporaneidade:
Do Largo de Sansão ao Plano Geral da Baixa de
Coimbra
Cátia RAMOS
Estudante de Doutoramento
Departamento de Arquitectura da FCTUC
Palavras-chave: Coimbra,
circunstâncias, cidade.
Távora,
constantes
e
permanências,
Resumo
Permanência e constante são sinónimos que definem uma realidade da
cidade. Uma realidade que sofre poucas alterações na lunga durata que
caracteriza a sua incompleta construção. Mas é concomitantemente sobre
estes valores de permanência e constância que se processa a transformação
e modificação da cidade. Permanências não são mais do que invariantes que
se fixam no modo de fazer cidade, acabando por condicionar o seu
crescimento e, consequentemente, a vida humana.
É a partir do seu valor monumental e da sua progressão linear que o
Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, se institui como constante. Símbolo
político-cultural, específico da afirmação da nacionalidade portuguesa,
Santa Cruz foi, desde a sua fundação em 1131, geratriz matricial para o
espaço circundante. Primeiramente, a poente, na sua frente urbana - Igreja
de Santa Cruz e Largo de Sansão, actual Praça 8 de Maio -, cresce um
tecido urbano cintado entre a Rua do Corvo e a Rua Direita. Numa segunda
fase, em plena renascença, sob a Rua da Sofia, segundo a lógica das
colegiadas, e por fim, no início do século XIX, pelas grandes aberturas
viárias que dividiram a outrora cerca monástica. Contudo, as circunstâncias
em que o monumento chega ao início da última década do século XX não
parecem tão claras. A ligação estabelecida pela sua frente urbana - Largo de
Sansão e tecido urbano a poente - encontra-se constrangida pela
transformação física provocada pelo aluvião do rio e sequente subida da
cota exterior do Largo. Ao mesmo tempo, a cidade prevê novos programas,
circunstâncias de uma colectividade em afirmação da pacificada relação
com o rio que quer ultrapassar débeis tramas industriais e introduzir novos
meios de mobilidade - o Metro.
106
Távora é chamado a intervir neste preciso momento (1993), naquele
contexto onde o monumento vê a sua pertinência semanticamente reduzida
dentro de um conjunto que se estende até às margens do Mondego.
A sua resposta procura ontologicamente na cidade as razões das
contradições criadas pelo tempo. Primeiro, repondo a ancestral relação entre
a frente urbana de Santa Cruz e o seu tecido urbano a poente, devolvendo à
Igreja a sua cota original, restituindo a lógica pré-existente - o Largo como
lugar colectivo - transformando as circunstâncias segundo um método
natural e pertinente de integração. Consolida-se uma realidade que
incorpora a história do lugar, os seus significados, a sua estrutura, forma e
diversidade. A partir daqui, e na proximidade com a Av. Fernão de
Magalhães, desenham-se as bases para a integração de outros tempos,
integrando formas atópicas cujas razões foram forjadas fora da malha
medieval, continuando circulações, prevendo novas mobilidades e
densidades.
Consideramos que a reflexão de Távora sobre as constantes pode ser um
contributo válido para o estudo das permanências na cidade contemporânea.
É dentro da amálgama da cidade actual, feita de uma permanente
transitoriedade, criada em extensão e ausente de densidade, que o projecto e
a análise sobre as permanências da cidade podem actuar pela reavaliação do
âmbito onde actuam, suturando, reparando, reutilizando, reconstruindo,
fomentando a sua continuidade. Continuidade entendida na medida em que
o projecto seja o resultado da adaptação das condições presentes e futuras a
cada lugar específico: atraindo fragmentos, construindo assimetrias,
variações de densidade e diversidade.
Referências
[1] Rossi, A. (2001). A Arquitectura da Cidade (2ª ed.). Lisboa: Edições
Cosmos.
[2] Bandeirinha, J. A. (2006). 1131-1993 as duas datas de um projecto
Fernando Távora, Santa Cruz e o Largo de Sansão. Revista
Monumentos, (25), 146–153.
[3] Távora, F. (1993). Teoria geral da organização do espaço: arquitectura
e urbanismo: a lição das constantes. Porto: FAUP Publicações.
[4] Távora, F. (2007). Da Organização do Espaço (7a ed.). Porto: FAUP
Publicações.
[5] Gregotti,V. (1996). Inside Architecture. MIT.
107
Arquitectura hospitalar e assistencial promovida
por Bissaya Barreto: a densidade de uma rede
Ricardo Jerónimo Azevedo e SILVA
Estudante de Doutoramento
Departamento de Arquitectura da FCTUC
Palavras-chave: Bissaya Barreto, Arquitectura hospitalar e assistencial,
Coimbra, Rede, Densidade.
Resumo
A morfologia urbana, enquanto disciplina, concentra-se na análise
comparativa das formas inerentes aos diversos assentamentos urbanos.
Nesse âmbito, a configuração resultante é examinada nas suas
“características exteriores, físicas, e na sua evolução no tempo”, tendo-se
ainda em conta a interligação dos “fenómenos que lhes deram origem”1.
Esta é a lógica aplicada ao urbanismo e à construção, mas herdada da
conceptualização pioneira levada a cabo por Johann Wolfgang von Goethe
(1749-1832), à época com incidência sobre o estudo das plantas e que
definia a morfologia como “a ciência da forma, formação e transformação
dos seres orgânicos”2.
O estudo que apresentaremos pretende ocupar-se com uma visão
abrangente, em detrimento de se focar em objectos urbanos particulares ou
especialmente significativos per si. Assim, extrapolando a aproximação
urbana para uma amplitude territorial, procuraremos examinar não a
integração e co-relação de determinados edifícios ou espaços num
aglomerado, mas antes a estrutura originada pelo somatório das partes e as
complementaridades decorrentes das mesmas. Apontaremos não só para a
configuração, mas também para o esqueleto dessa estrutura, a uma escala
regional, pois uma eventual análise da sua forma não seria, no nosso
entender, uma abordagem com especial validade produtiva.
Seguindo esta premissa, vamos abordar a lógica de implementação de uma
rede de estabelecimentos hospitalares e assistenciais construídos, no
decurso de quase cinco décadas, na Região Centro do país, por iniciativa do
médico e político Bissaya Barreto.
Neste quadro, e tendo por base esse conjunto de edifícios planeados
segundo um programa holístico, lançamos as seguintes questões: É possível
108
determinar a densidade de uma rede? Antes ainda, é possível aplicar a uma
rede, o conceito de densidade? E uma inteira região de um país, pode ser
morfologicamente analisada segundo os canónicos preceitos do urbanismo
ou da geografia? Podemos encontrar no pensamento sistémico de Bissaya
Barreto algum tipo de morfologia específica? Finalmente, de que forma
contribuiu este médico e político, e mais especificamente o conjunto de
construções que promoveu, para a densidade sistémica da Região Centro, no
contexto de uma acção político-sanitária?
Referências
[1] LAMAS, José, Morfologia urbana e desenho da cidade, Porto,
Fundação Calouste Gulbenkian / Fundação para a Ciência e a
Tecnologia, 2004, p. 37 e 38.
[2] ROSANELI, Alessandro Filla, “A morfologia urbana como
abordagem metodológica para o estudo da forma e da paisagem de
assentamentos urbanos”, in Actas do VI Colóquio QUAPÁ-SEL, São
Paulo, 2011.
109
Coimbra: Entre a Expansão Periférica e o
Esvaziamento do Centro da Cidade
Andreia Santana MARGARIDO
Estudante de Doutoramento
Departamento de Arquitectura da FCTUC
Palavras-chave: fragmentação
urbanidade, Coimbra
urbana,
despovoamento,
densidade,
Resumo
Nas últimas décadas do século XX, o crescimento urbano em Portugal foi
fortemente determinado por iniciativas privadas avulsas e interesses de
curto prazo, sobressaindo a falta de estratégias para a crescente
complexidade das realidades urbanas. A incessante dilatação dos perímetros
urbanos possibilita a disseminação da construção sobre o território até então
rural, a construção espalha-se e resultam configurações de tecidos urbanos
com padrões mais dispersos e descontínuos. O crescimento periférico
materializa-se, na sua generalidade, numa urbanização de baixa densidade,
maioritariamente monofuncional e dependente do transporte individual.
Esta expansão urbana é acompanhada por um consequente esvaziamento de
actividades e população dos centros das cidades, sobressaindo a
fragmentação e empobrecimento do tecido urbano e social de cidades cada
vez menos densas e diversificadas. Para além dos danos ambientais e
desperdícios financeiros, este tipo de crescimento disperso fragmenta a vida
e dinâmica urbana e vai contra “a própria ideia de cidade: ser um espaço
de todos” [1].
O presente artigo pretende contribuir para a discussão das medidas de
contenção do crescimento extensivo e indeterminado da cidade focando o
problema, preocupante, do esvaziamento dos seus centros. A fractura
urbana em Portugal está exposta e, apesar dos diagnósticos que atestam a
“morte das cidades”- numa atitude de renúncia perante a perscrutação da
ideia de cidade -, acreditamos que ainda existe espaço para cidade neste
dilatado, expandido, território urbano (não temos necessariamente que nos
render à cidade global ou genérica). Este espaço não precisa ser inventado
ou roubado a qualquer outro, existe (ainda que debilitado) e aguarda um
olhar mais profundo. O tema do presente artigo emerge desta constatação e
sustenta-se na convicção de que urge a reflexão sobre o esvaziamento dos
centros das cidades (e neste caso, das cidades médias). Porquê continuar a
110
esticar e multiplicar infra-estruturas e estruturas, quando possuímos um tal
número destas desaproveitadas, desabitadas, depreciadas?
Este artigo apresenta a problemática que motiva a investigação em curso
para dissertação de doutoramento. Neste sentido, inicia com o
enquadramento da temática, no intuito de apresentar a motivação e contexto
das questões abordadas. De seguida procura-se esclarecer o objectivo da
pesquisa expondo a tese que se defende. A última parte é constituída por
uma análise do caso de estudo - a cidade de Coimbra – onde é apresentada
informação geo-demográfica (população residente, número de edifícios
construídos, de edifícios vagos, movimentos da população, etc.) que revela
o esvaziamento (de população e de funções) das freguesias centrais da
cidade em oposição ao crescimento das freguesias periféricas. Este último
ponto valida a problemática inicial e reforça a motivação para avançar com
a investigação em curso. Pretende-se defender a densificação/intensificação
do centro da cidade como alternativa ao crescimento extensivo e disperso
verificado nas últimas décadas e consequente esvaziamento do centro da
cidade de Coimbra, partindo da convicção de que através do adequado
(re)aproveitamento dos espaços vazios expectantes (construídos ou livres) é
possível (re)habitar e dinamizar o centro urbano potenciando, desta forma, o
predicado essencial das cidades: o sentido de urbanidade.
A esfera onde nos inquietamos é, também, a da disciplina da arquitetura.
Importa regressar à reflexão sobre a cidade como construção sistémica,
como projeto contínuo, como processo de intrínseca relação entre o todo e
as partes, desenhado na íntima relação entre o plano, a arquitetura e o
desenho urbano, procurando reconciliar a qualidade espacial à escala micro
(variações na envolvente do edificado, tipologias habitacionais, espaços
públicos, etc.) visando não só os efeitos imediatos e locais mas prevendo
consequências numa escala mais alargada (meso escala: bairro, freguesia,
cidade, concelhos limítrofes).
Não descurando o facto de que o urbano é um tema transdisciplinar e de
que o estudo do seu território implica uma forte interação entre profissionais
de diferentes áreas, pode afirmar-se ser a disciplina da arquitetura basilar
para o projeto de “fazer cidade sobre a cidade”. Neste sentido, a
investigação em curso tem a ambição implícita de destacar esta disciplina
como ferramenta de concepção de um discurso teórico e operativo que
sustente o “crescer para dentro”, numa intenção de cerzir o existente e
(re)criar as relações entre cheio e vazio – ou, se quisermos, entre espaço
público e privado (apesar de hoje a linha que separa os dois conceitos estar
cada vez mais esbatida) – integrando a volumetria do cheio no espaço vazio
numa relação de interdependência.
111
Referências
[1] Teotónio Pereira, Nuno (2012), O Arquitecto Deverá Sempre Trazer
Algo de Novo – Manuel Graça Dias Entrevista Nuno Teotónio Pereira,
In: JA n.245 Abr/Mai/Jun.2012, pp. 9-19.
112
De Tomar a Angra: hipóteses interpretativas da
morfologia de padrão geométrico
José Cabral DIAS
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Via panorâmica S/N, 4150-755 Porto, Portugal
+351 22 605 71 00, [email protected]
Palavras-chave: Portugal, Tomar, Angra, padrão-geométrico, bastides.
Resumo
O estudo da forma urbana de Tomar parece-nos crucial para aprofundar o
conhecimento sobre a Cidade Portuguesa. Com efeito, é um exemplo maior
da definição de Jorge Gaspar (1969), ‘’a morfologia de padrão
geométrico’’, e um caso incontornável no povoamento, no que respeita à
conquista do território e à expansão ultramarina. Sabemos que as
generalizações e extrapolações são sempre abusivas, mas as hipóteses que
abrimos, embora a partir de casos singulares, são um contributo para
ulteriores relações com outros dados e exemplos.
Em concreto, pretendemos perceber que fundamentos estão subjacentes à
estrutura urbana de Tomar, ou seja, ambiciona-se identificar os pressupostos
da transposição para Portugal dos conceitos geométricos que lhe estão na
origem e de que modo se expandem para fora das fronteiras continentais.
Tomar é um assentamento vulgarmente apontado como directamente
resultante das designadas bastides. Quanto a nós, essa explicação poderá ser
simplista. O alargamento do âmbito de análise é fundamental para uma
interpretação mais sólida. A observação de carácter morfológico mostra
princípios geométricos comuns em territórios-chave para a Ordem do
Templo: no local do seu surgimento – Jerusalém; na sua sede europeia –
Paris (Marais); na sua sede, em Portugal – Tomar; e daqui para o território
insular da ilha Terceira – Angra. Conhecer os princípios em questão ajuda a
interpretar melhor o fenómeno urbano nacional.
Jerusalém é a primeira experiência urbana dos templários (a ordem é aí
fundada em 1118).
A cidade obedece a uma estruturação composta com base num referencial
ortogonal e este tem, como um dos seus pontos geradores, o elemento que
nos arriscamos a adjectivar como fundamentador da cidade, isto no sentido
113
em que o mesmo, o Monte do Templo, se assume como regulador do
traçado, referenciando-se-lhe a ordem geral.
A comparação com Tomar reconhece convergência na disposição espacial e
simbólica dos objectos arquitectónicos e expande-se a toda a organização
espacial, o que permite constatar que o modelo urbano de estruturação da
cidade em alcáçova e almedina, respeitando determinadas invariantes, se
processa em Jerusalém como em Tomar.
Em face dos paralelos que estabelecemos, e sabendo que todos os
argumentos de ordem racional contrariam o abandono da fórmula axial
ortogonal ou a sua subversão em cidades de traçado irregular ou orgânico,
temos suspeitas de que razões de índole conceptual, razões de ordem
pragmático-defensiva e de divisão fundiária na criação de cidades ex-novo,
bastaram à configuração de um modelo de cidade ou, pelo menos, a um
‘’modo-de-fazer’’ templário.
Os mesmos fundamentos sustentam o traçado da Villeneuve du Temple –
no Marais –, cuja estruturação se faz segundo uma divisão de propriedade
que lhe garante regularidade morfológica. E Angra valida uma lógica
semelhante e um modo de regulação do tecido urbano que surge em relação
directa com o de Tomar. Esta cidade, através da relação entre as suas ruas
mais significativas e com base na disposição dos seus espaços e edifícioschave – Rua de Lisboa (Direita), da Sé e do Galo; Cais da Alfândega, Praça
Velha; e a Casa da Câmara –, vê a sua estrutura urbana construir-se através
dos pontos de fundamentação desta, com base num sistema axial e de
referências análogo ao de Tomar, nos princípios e no simbolismo.
Verificamos aí a insularização, como cremos, de um modelo que, importado
de Jerusalém, entra em Portugal via Tomar. A composição axial da cidade
com origens e destinos identificáveis em pontos notáveis do espaço urbano
é a sua definição; a união da entrada de maior relevância ao centro
representativo do poder ou da administração civil ou religiosa/militar da
cidade, e a ligação, perpendicularmente a esse eixo, entre duas outras
entradas, unindo outras tantas importantes vias de trânsito e de estruturação
do território, é a sua formalização.
Por outro lado, Também em Angra – como em Tomar – a axialidade dos
eixos urbanos determina a composição da malha segundo quarteirões de
estrutura alongada; também em Angra – como em Tomar ou Jerusalém – a
axialidade dos eixos localiza, no seu ponto de cruzamento, a implantação do
mercado como importante local de troca.
Verificamos, portanto, que a permanência da composição da malha urbana a
partir de dois eixos urbanos, na linha de tradição romano-bizantina herdada
de Jerusalém, respeitando determinadas invariantes como características
114
imanentistas, e tendo como fim uma estrutura de quarteirões alongados, é
uma realidade no percurso dos Templários e dos seus herdeiros – a Ordem
de Cristo – de Tomar para Angra, ambos assentamentos fundados ex-novo,
ambos localizados em pontos e momentos-chave da expansão do território:
Tomar para a reconquista; Angra para a expansão ultramarina. Observamos,
em suma, que atribuir a estruturação de Tomar à influência da imigração de
francos e à importação das bastides é limitador no entendimento das formas
urbanas que se geram em Portugal e daqui se expandem.
O presente estudo, face a outras investigações sobre Tomar, introduz a
particularidade de procurar traduzir-se cartograficamente.
As 8 cartas-base que elaborámos cobrem os diversos períodos em que
dividimos as fases de crescimento de Tomar:
– a ocupação romana (séculos I-VI);
– a ocupação visigótica (séculos Vi-VIII);
– os primeiros anos após a formação (1162-1195);
– do Templo aos primórdiso de Cristo (1195-1420);
– sob o signo de D. Manuel (1493-1521);
– sob o signo de D. João III (1521-1557);
– sob o signo de D. Catarina ao limiar do século XX (1557-1900);
Foi, ainda, elaborada uma outra planta – nº 9 - que expressa a interpretação
do traçado de Tomar e de Angra:
– hipóteses interpretativas (modelo conceptual sobreposto aos eixos
de composição).
115
Figura 1: Jerusalém e Villeneuve du Temple (Paris); comparação de traçados.
Figura 2: Planta 9 – Hipóteses interpretativas; comparação de traçados.
116
Referências
[1] Dias, José Cabral (1999), A Evolução Urbana de Tomar: da margem
esquerda à margem esquerda… fixando a margem direita ou uma
leitura crítica dos acontecimentos, Dissertação de Mestrado em
Planeamento e Projecto do Ambiente Urbano, apresentada à Faculdade
de Arquitectura da Universidade do Porto, Texto Policopiado, Porto.
117
“Projecto Urbano e o Ensino da Arquitectura”
Coordenada pelo Prof. Gonçalo Canto Moniz
”Urban Project and the Teaching of Architecture”
Coordinated by Prof. Gonçalo Canto Moniz
119
O Ensino do Projecto Urbano
Gonçalo Canto MONIZ
Esta sessão pretende realizar uma reflexão sobre a actividade pedagógica
que tem sido desenvolvida nos cursos de arquitectura portugueses no âmbito
das disciplinas de projecto que se focam no problema do desenho urbano.
A questão da cidade constitui um dos aspectos mais evidentes da transição
lenta do sistema bela-artes para um sistema universitário do ensino da
arquitectura, que se consolidou a partir da década de noventa do século
passado.
A aproximação ao real, por oposição a uma abordagem abstracta, veio
confrontar a formação do arquitecto com a necessidade de desenvolver não
só uma perspectiva analítica sobre o urbano, como território privilegiado de
intervenção do arquitecto, como também de desenvolver uma síntese atenta
aos problemas concretos de relação da arquitectura com a cidade, através do
espaço público, das infraestruras ou do espaço construído.
Neste sentido, o abandono do plano abstracto, que impõe uma orientação
para a urbanização do território, tem vindo a ser substituído pelo projecto
urbano, que permite actuar pontual, mas estrategicamente sobre o espaço
urbano.
Em certo sentido, as estratégias de intervenção no centro, por acções
pontuais, migraram para a periferia, partindo do pressuposto que a periferia
exige uma compreensão cuidada da sua complexidade.
Assim, o problema da cidade deixa de estar relacionado unicamente com as
disciplinas de Urbanologia e é absorvida pelas disciplinas de projecto,
especialmente pelas dos últimos anos de formação, sob o desígnio do
Projecto urbano.
A expressão Projecto Urbano é naturalmente uma referência ao conceito
proposto por Manuel Solà-Morales e que foi ou tem sido uma referência
para a construção da disciplina de projecto dos últimos anos dos cursos de
arquitectura.
Nas diversas escolas de arquitectura portuguesas, o Projecto Urbano tem
sido apropriado a partir de metodologias e abordagens distintas,
confrontando o aluno com a necessidade de ter uma perspectiva estratégica,
culta e rigorosa sobre a cidade e o seu destino. Esta sessão apresenta
algumas dessas experiências pedagógicas.
121
Projecto Urbano como exercício político (da Polis)
Nuno GRANDE1
1
Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra
Colégio das Artes, Largo D. Dinis, 3000, Coimbra
+351 964644723 [email protected]
Palavras-chave: Projecto Urbano, Cidadania, Polis, Urbanduto, Coesão
Urbana
Resumo
Iniciada há duas décadas, no 5º ano do curso de Arquitectura do
DARQ/FCTUC, a disciplina de “Projecto V – Projecto Urbano” ficou,
desde logo, marcada pela visão culta e abrangente do seu primeiro regente –
Gonçalo Byrne –, o qual foi construindo, ano após ano, um cruzamento de
diferentes saberes sobre o fenómeno urbano, muito estimulante para os
alunos e demais docentes. Depois da sua jubilação, a disciplina foi sujeita a
alterações metodológicas, baseadas na recente partição do exercício em três
Design Studios, distribuídos por diferentes docentes, embora mantendo o
mesmo cruzamento disciplinar entre temas e escalas de actuação: Território
e Paisagem, Cidade e (Infra)Estrutura, Arquitectura e Memória.
A permanência nessa disciplina ao longo de toda a nossa carreira académica
(20 anos) permite-nos, hoje, perceber a sua enorme pertinência como
corolário do trajecto do aluno, isto é, como exercício teórico-prático final,
após a sua frequência das sucessivas disciplinas de Projecto que compõem o
plano curricular do actual Mestrado Integrado em Arquitectura.
O exercício do Projecto Urbano – conceito mantido, de diferentes formas,
nos novos Design Studios – exige dos mestrandos a aplicação de toda a
panóplia de conhecimentos, escalas e instrumentos de investigação e de
representação aprendidos nesse trajecto, confrontando-os com um dado
território, sobre o qual lhes é requerido que sejam muito mais do que meros
projectistas.
Partindo de uma primeira fase de trabalho de grupo, baseada no debate
permanente e em decisões tomadas colectivamente, os mestrandos
assumem: por um lado, a condição de “estrategas”, gizando e distribuindo
os diferentes programas a desenvolver; por outro, a condição de “cidadãos”,
colocando-se do lado de quem usufrui desses mesmos programas.
122
É pois possível afirmar que, ao situar o aluno a “montante” e a “jusante” do
lugar tradicional do arquitecto – isto é, enquanto indivíduo da Polis que
pensa a Polis –, a disciplina de Projecto Urbano constitui um “exercício
político” por excelência, contribuindo para a formação de cidadãos livres e
conscientes, intuito seminal da própria ideia de Universidade.
Esta visão didáctica – continuamente alimentada por Gonçalo Byrne e
demais docentes do Departamento de Arquitectura, em Coimbra, onde nos
incluímos –, foi sendo aprendida e partilhada com geografias e culturas
pedagógicas congéneres, como aquelas ensaiadas pelos professores Manuel
de Solà-Morales e Joan Busquets (em Barcelona), Marcel Smetz (Lovaina),
Bernardo Secchi (Veneza), Nuno Portas e Manuel Fernandes de Sá (Porto),
e Manuel Salgado (Lisboa). Em comum, essas experiências pedagógicas
atribuem uma especial importância à “escala intermédia”, situada entre a
Arquitectura e o Urbanismo, com a qual os mestrandos confrontam as
questões interdisciplinares do “desenho urbano”. No entanto – e lembrando
Nuno Portas –, o conceito de “desenho” encerra também o de “desígnio”, o
que exige desse instrumento, tão essencial ao arquitecto, não apenas a
capacidade de “ilustrar”, como também a de “programar” a Polis.
Esta comunicação apresenta ainda quatro estudos-de-caso recentes,
desenvolvidos na disciplina de Projecto V, do DARQ/FCTUC, sob nossa
orientação, e que ajudam a sustentar os conceitos expostos. Estes exercícios
pedagógicos englobam quatro áreas urbanas portuguesas, com escalas e
problemáticas distintas, mas onde é possível verificar uma metodologia
comum, que entende o “Projecto Urbano como exercício político”.
Esses territórios são: na Região Centro, as cidades de Coimbra (projecto
desenvolvido em 2011) e da Figueira da Foz (2012), na Área Metropolitana
de Lisboa, o Bairro da Cova da Moura, na Amadora (2010), e, na Área
Metropolitana do Porto, o Vale de Campanhã, na zona oriental desta cidade
(2013).
Nos dois primeiros casos, os mestrandos foram estimulados a pensar o
desenvolvimento das frentes fluviais urbanas do Rio Mondego, partindo da
perspectiva política de que Coimbra e Figueira da Foz são ambas “cidades
de duas margens”, e que estas se devem relacionar de forma contínua, por
intensificação dos seus atravessamentos (infra)estruturais e por colmatação
de diferentes interstícios urbanos expectantes.
Em ambos os casos, esses interstícios urbanos estão, maioritariamente,
localizados na margem esquerda do rio, sendo objecto de programas de
investimento dispersos – passeios fluviais ou marítimos, pesadas infraestruturas viárias ou portuárias (no caso do Porto da Figueira da Foz),
123
grandes superfícies comerciais ou equipamentos sociais e culturais de
dimensão regional – sem a respectiva integração num projecto global e
sustentado de cidade.
Coube aos dois exercícios de Projecto Urbano “desenhar” e “designar” a
relação desses “motores” urbanos, com outros interstícios sujeitos a
fenómenos de obsolescência funcional, mas também com os núcleos
históricos de Coimbra e da Figueira da Foz – ambos situados na margem
direita do Mondego –, traçando tecidos urbanos mais coesos em que o rio se
assume como epicentro da regeneração.
Nos outros dois casos analisados – o Bairro da Cova da Moura, na
Amadora, e o Vale de Campanhã, no Porto – os exercícios de Projecto
Urbano trataram de “romper” a segregação física e funcional gerada pela
acumulação avulsa, ao longo do tempo, de pesadas barreiras infraestruturais, entre estes núcleos e os centros dessas cidades – Vias Rápidas,
Linhas Ferroviárias, Viadutos –, restabelecendo diversos “cordões
umbilicais” entre ambos. A partir destes “cordões”, por nós designados de
“Urbandutos”, foi possível ligar, “coser” e qualificar velhos e novos
atravessamentos urbanos, entre as zonas mais segregadas e os equipamentos
colectivos envolventes. Em ambos os casos, “desenho” e “desígnio” foram,
de novo, usados como instrumentos políticos, perspectivando uma visão
dialéctica entre a coesão física e a coesão social.
Todos estes exercícios mereceram exposições e debates públicos nas
respectivas regiões, e alguns dos trabalhos foram premiados a nível nacional
(Prémios Secil Universidades 2011 e 2012); actos que, não só projectaram a
Universidade de Coimbra no espaço político e mediático, como permitiram
aos mestrandos interagir com as populações autóctones, com os decisores
locais e com o público visitante. Nesses momentos, o Projecto Urbano
enquanto exercício da Polis ganhou o seu derradeiro sentido.
124
Figura 1: Projecto Urbano no Bairro da Cova da Moura, Amadora, 2010 (Maqueta).
Prémio Secil Universidades 2011. DARQ/FCTUC
Figura 2: Projecto Urbano na Foz do Mondego, 2012 (Maqueta). DARQ/FCTUC
125
O ENSINO DO PROJECTO URBANO
Edite ROSA
(RE)INOVAÇÃO E CONTEMPORANEIDADE
O ensino do PROJECTO URBANO insere-se na procura de resposta às
actuais necessidades da transformação da cidade, no debate contemporâneo,
pelas circunstâncias do decréscimo populacional, de economia de recursos,
etc., e de aspiração da cidade europeia à globalização, de um ideal
cosmopolita e moderno, mas simultaneamente com uma identidade própria.
Se, por um lado, as actuais necessidades socioeconómicas permitem o
(re)conhecimento do debate arquitetónico em torno do âmbito dos R,
(re)converter, (re)abilitar, re)desenhar, etc., como reflexão que de modo
quase literal retorna implicitamente ao (re)uso e (re)inovação da urbe
existente, em detrimento da construção de novas cidades, por outro lado, a
vontade cosmopolita remete para visões do urbanismo moderno e do
planeamento do território, à primeira vista campos inconciliáveis. Importa
ressalvar que a identidade da cidade existente deve ser entendida nas suas
diversas e múltiplas formas. Efetivamente a cidade europeia sempre se fez
por somatório ou sobreposição de estratos formais, identificados pela sua
morfologia histórica, no estilo das suas edificações, na densidade, na escala,
etc.
CIDADE FRAGMENTADA COMO CIDADE UNITÁRIA
A abordagem especulativa actual, tomada mais por adição de vontades que
de planeamento estruturado, constrói e uniformiza cada vez mais grandes
unidades, de conjuntos e escalas cada vez maiores, sem o entendimento das
parcelas constituintes existentes. A obrigatoriedade da identificação das
partes e sobretudo da estruturação das suas ligações enquanto forma urbana,
quase sempre sem um nexo de coerência, obriga, a repensar as diversas
parcelas urbanas, como partes de um todo.
Importa assim perceber que a coerência formal da cidade actual, como um
todo, resulta da correcta ligação entre os interstícios das suas parcelas
identitárias, como refere Solá-Morales, na manutenção da leitura unitária da
cidade, mas também, uma arquitectura de diferença e descontinuidade.
(SOLÀ-MORALES, Ignasi, 2002 - Territorios)
126
“SOBRAS” DA URBE: TERRAIN VAGUE, LUGAR ESTRANHO,
PERIFERIAS
A resolução da cidade contemporânea passa, deste modo, pelo
entendimento da necessária ligação entre as diversas partes urbanas, sem as
destruir na sua matriz específica mas aos quais faltam subtis conexões.
Conexões possibilitadas pelo “vazios urbanos”, terrain vague, na definição
de Solà-Morales, lugares esquecidos que não contêm uma posição na
cidade, exteriores e estranhos, periféricos ou marginais, mas que pela sua
localização lhes conferem carácter de área expectante que permitem
transformar a sua condição de periferia, de limites ou barreiras, em pontes
ou ligações.(SOLÁ-MORALES, Ignasi, 2002 - Territorios).
AS PERIFERIAS INTERNAS: CIDADE ABANDONADA, CIDADE A
RECUPERAR, ESPAÇOS A (RE)VISITAR.
Considerando que a partir do Movimento Moderno a preocupação do debate
urbano, se centrou essencialmente na urbanização do território, numa
urbanidade que se deslocou progressivamente desde os anos 60/70 para a
periferia das cidades, resultando na criação de inúmeros novos espaços
públicos que culminaram na década de 80 na consolidação das antigas
periferias em novos polos e centralidades, que surpreende-nos na actual
cidade do seculo XXI, ao contrário, das décadas anterior, com um fenómeno
recente, de deslocalização dos espaços periféricos ou marginais para os
centros consolidados.
Actualmente a existência de “vazios” nos centros urbanos antigos parecem
contaminar as anteriores opções. No entanto, na problemática da renovação
urbana tem tardado uma visão integrada de estratégias arquitetónicas,
correlacionadas entre si. A sobrevalorização do quadro físico das áreas
urbanas antigas apenas pela salvaguarda do património edificado, aliada à
desregulação territorial, ao longo da segunda metade do séc. XX, promoveu
a sua segregação que, em conjunto com a intensificação da sua
terciarização, contribuiu para o actual fenómeno da desertificação
habitacional e da desagregação da forma urbana, conferindo-lhes uma nova
condição de “área expectante”.
A PERIFERIA DO CENTRO: TERRITÓRIO MENTAL E LUGAR
DE COMPLEXIDADE
O conceito de “cidade recuperada” nasceu de uma política operativa
coordenada para o espaço público, em Barcelona nos anos 80, através de
uma estratégia de actuação em parcelas dispersas, num tecido considerado
homogéneo, com o sentido de o reabilitar. Atualmente o contexto
127
polifacetado e dinâmico da cidade contemporânea, pressupõe entendimentos
ainda mais complexos que os dos anos 80 nas relações a estabelecer entre
estas parcelas urbanas. Fragmentos que se situam entre escalas diferentes,
relacionando “objetos”, estruturas existentes e contingências sociais que
actuem de um modo sempre interativo, criando novas “paisagens”,
demarcando os limites e potencializando a inter-relação com os lugares da
cidade, como um conjunto que não tem de ser homogéneo, mas que se
constituía como um todo. (Español, 2002)
Actualmente o ensino do projecto urbano procura estabelecer as bases, de
novos quadros de referência da “paisagem” urbana e sobretudo do
(re)desenhar da “periferia do centro” antigo como território mental, uma
aquisição do Moderno como construção pelo desenho, no sentido formal,
simbólico e ideológico da cidade contemporânea. Da necessidade de se
formular hoje alguma orientação do ensino do projecto urbano, será
conveniente fazê-lo sob duas coordenadas:
O ENTENDIMENTO DAS ESCALAS INTERMÉDIAS.
O ensino do projecto tendo por objetivo reflectir sobre as novas estratégias
geradas através de novas proposta para partes da cidade, no (re)desenho dos
seus fragmentos, interstícios urbanos, é neste sentido, mais que lidar com
um grande problema lidar com múltiplos pequenos problemas sempre
entendidos como parte integrante de uma unidade maior, o “todo” da urbe.
O que nos coloca, do ponto de vista metodológico, num posicionamento que
em detrimento da macro-escala, aposta na relação entre a micro-escala e as
escalas intermédias, privilegiando as repercussões de uma na outra.
Devendo partir para o entendimento da matriz de suporte e da dinâmica que
permita ao “fragmento” refundar, enquanto papel mediador, a ligação entre
parcelas em estudo, da cidade. Sendo a problemática central, a resolução da
passagem da pequena escala para as escalas intermédias, numa visão mais
complexa, promovendo nestes interstícios urbanos a conexão das partes
para o “todo”.
Na capacidade que a cidade tem de se expressar, em que os problemas de
intervenção no seu tecido não são problemas abstractos nem problemas que
possam ser formulados de uma única vez, senão que se propõem como
problemas concretos sobre estruturas concretas, em interstícios urbanos
centrais, mas periféricos ou marginais no seu carácter, tecido existente
consolidado mas em transformação, no sentido de testar estratégias de
actuação nestes fragmentos que encontre o (re)desenho do lugar de
complexidade contemporânea.
128
A metodologia programática proposta para o ensino do projecto urbano
centra-se na reabilitação de áreas urbanas de interesse cultural, mas que
carecem de um plano de revitalização estruturado. As estratégias de projeto
urbano da “periferia do centro” antigo devem ser entendidas enquanto
debate mais amplo sobre a realidade urbana existente, relativa à regeneração
da cidade contemporânea, espaços da memória colectiva, promotores de
novas dinâmicas imprescindíveis ao entendimento integral da cidade do
presente, cujo necessário (re)desenho responderá a novas vivências e formas
de habitar, constituido-se como tema de projecto e de investigação
pertinente.
PREPOSIÇÕES PROGRAMÁTICAS E INTEMPORALIDADE DA
FORMA
A construção da cidade moderna compreende a noção de temporalidade da
exposição do quotidiano contemporâneo, consciente do passado e do
presente que reflecte não só em preposições programáticas mas que parte da
actual postura “intemporal” de conceber a forma no necessário (re)desenho
da vocação do lugar. Modo de aprendizagem que entende os problemas de
intervenção na “cidade histórica” como problemas de arquitetura, um
diálogo desde a arquitetura do passado ao presente, a estabelecer o projecto
do “lugar”, não mais como um problema funcional mas como a expressão
de um espaço “criativo”, enquanto tema de investigação que toma como
ponto de partida a revitalização urbana que pretende legar concepções
operativas, numa multiplicidade de olhares sobre áreas urbanas pertencentes
ao imaginário colectivo e que se constituem como áreas problemáticas pela
sua desestruturação actual.
Projetar, na pequena e média escala, no centro da cidade, actua-se dentro de
um universo amplo, a partir da enfase no desenho do espaço urbano, nos
novos “objectos” e na reabilitação de estruturas existentes, identificando
e analisando procedimentos, processos e estratégias, como mecanismo de
intervenção que só terá algum significado dialogando com o presente, que
será mais ou menos eficaz, enquanto capaz, na sua concepção, de responder
à contemporaneidade implícita à intervenção arquitetónica (re)inovador do
lugar contemporâneo. Uma abordagem ampla e atualizada, a ampliação do
debate em novas visões, que possibilita sínteses critico-operativas mais
abrangentes e eficazes ao estudo da complexidade da cidade
contemporânea como um “todo”.
129
Representação e Cidadania – A Unidade
Curricular de Projecto Final em Arquitectura no
ISCTE-IUL
Paulo Tormenta PINTO
Investigador Dinamia-CET’IUL e CIAAM Departamento de Arquitectura e Urbanismo do
ISCTE-IUL,
Av, das Forças Armadas, 1649-026 Lisbon,
Telefone: 00 351 217903000, Fax: 00 351 217964710
[email protected]
Palavras-chave:
Arquitectura
Representação,
Cidadania,
Ensino
de
Projecto,
Resumo
Representação e Cidadania são argumentos utilizados para debater a
orientação da Unidade Curricular de Projecto Final de Arquitectura do
ISCTE-IU. A representação é apresentada como ferramenta de compreensão
e experimentação do território. O itinerário sobre a representação inicia-se
numa meditação a partir da ideia de “palimpsesto” em André Corboz. A
cidadania que complementa a linha de pensamento, surge a partir de da
precisão discursiva de Gonçalo Byrne e é apresentada como mecanismo
capaz de tornar relevante a acção dos arquitectos. A partir dos temas
“representação” e “cidadania” enquadra-se também a possibilidade duma
pesquisa do ensino de arquitectura com base na ideia de projecto urbano,
lançada por Nuno Portas
,,É possível, sim, atingir-se a beleza formal mas a
forma por si só nada significa, sobretudo em
Arquitectura, se não for a materialização de um
pensamento ou de uma verdade.”1
Introdução
O percurso de formação em arquitectura culmina, no caso do mestrado
integrado em arquitectura do ISCTE-IUL, na Unidade Curricular de
Projecto Final. Para além de um momento de síntese da formação obtida
nos quatro anos anteriores, é neste momento de conclusão que se soma uma
130
orientação para a tomada de uma posição cívica - alicerce dos primeiros
passos da actividade de arquitecto.
A formação em arquitectura no contexto do ISCTE-IUL, adquire uma
especificidade no contexto nacional, usufruindo de possibilidades múltiplas
para a sua integração nos vários domínios temáticos e pesquisas que se
desencadeiam no âmbito deste Instituto Universitário. A escala desta
instituição, sedeada em Lisboa, desde 1972, num notável conjunto
arquitectónico da autoria do prestigiado arquitecto Raul Hestnes Ferreira
(n.1931), permite a partilha temática entre os arquitectos e outros
intervenientes oriundos, designadamente das áreas da economia, das
ciências sociais e tecnologias.
A área de arquitectura partilha assim as inquietações sobre os temas do
mundo contemporâneo com outras áreas científicas, contribuindo para a
clarificação dos diversos assuntos através dos seus mecanismos de
linguagem. No contexto da área disciplinar da arquitectura é possível
exercer uma experimentação especifica, fundamental para um debate capaz
de incorporar uma meditação sobre a configuração do espaço, a morfologia
urbana, ou a expressão das cambiantes da paisagem.
O território emerge como conceito agregador de uma prática de acção,
potenciando a delimitação necessária para o exercício do projecto, André
Corboz (1928-2012) referia que existem tantas definições de território como
há disciplinas ligadas a ele, a dos urbanistas, por exemplo, teria “em conta
factores tão diversos quanto a geologia, a topografia, a hidráulica, o clima, a
cobertura florestal e os cultivos, as populações, as infra-estruturas técnicas,
a capacidade produtora, a ordem jurídica, o esquema administrativo, a
economia nacional, as redes de serviços, os interesses políticos, etc” 2. É na
tangencia entre o urbanismo e a arquitectura que nos interessa trazer para
cima da mesa a amplitude e complexidade de que fala Corboz. Neste quadro
de relações é possível extrair argumentos para fundamentar uma
consciência humanista mobilizadora da orientação científica presente na
formação em arquitectura. Formação esta, que se exerce por meio de
estudos de caso, elaborados a partir dos temas contemporâneos.
A experimentação é realizada por meio de respostas concretas a problemas
específicos, transformando a área de arquitectura num percurso de mediação
entre: as questões que a montante se colocam diante da sociedade, e a
consciência que a jusante é possível consolidar através de uma cidadania
activa. Deste modo, as intenções que enquadram o projecto arquitectónico
incorporam um desejo prospectivo que se estabelece através de uma interrelação permanente entre várias escalas e vários agentes.
131
É o território nacional mais próximo que normalmente se utiliza como
base de investigação. Os alunos são levados a reflectir sobre a
descodificação
de
alguns
dos
fenómenos
próprios
do
metropolitanismo contemporâneo, caracterizado pelo tecido urbano
fragmentado e denso que, na sua mancha informe, apenas oferece
“porosidades” como possibilidade de uma acção, necessariamente,
regeneradora. É na capacidade de gerar relações entre a complexidade
do território analisado em macro e a atenção à inevitabilidade de uma
intervenção em micro, protagonizada pelo rigor e precisão do gesto
arquitectónico, que se estabelece uma dialéctica que, apesar de
podermos denominar de projecto de urbano, não é mais que a
contingência da acção arquitectónica nos nossos dias.
Este procedimento convoca igualmente uma reflexão sobre a própria
redefinição programática dos espaços disponíveis, trazendo para o debate a
vocação dos lugares e as suas potencialidades. Na especificidade das acções
de projecto aceita-se o debate sobre a limitação tipológica, viabilizando-se,
em muitos casos a improbabilidade da aptidão de certas áreas urbanas,
muitas vezes exíguas, ou inadequadas aos programas pretendidos.
São as ferramentas disciplinares de representação que permitem clarificar
todo o processo de projecto e discurso a ele associado. É através destes
instrumentos que se lançam as bases de uma cidadania que envolve os
estudos de arquitectura num diálogo permanente para dentro e para fora da
sua própria disciplina.
1.
A representação
Os ensaios e projecto envolvem os alunos na aquisição de competências
pela via de uma interiorização experimental. O traço arquitectónico procura
materializar caminhos, ajustando os modelos de organização do espaço,
enraizados na cultura disciplinar da própria arquitectura, com os intrínsecos
desejos de mudança para os quais os arquitectos são convocados. É
justamente sobre o enquadramento da mudança que se opera o itinerário
científico da área de projecto de arquitectura, nomeadamente nos último
ciclo de formação. A mudança, encerra um questionamento permanente,
formulado a partir de uma vontade idealista de transformação.
Em reflexão anterior sobre o ensino de projecto, tivemos oportunidade de
expressar, num texto intitulado “Temáticas e Reflexões sobre o Ensino de
Projeto no Último Ano de Formação”, três vectores fundamentais para a
orientação do estudantes no último ano de formação: o idealismo, o papel
da história e o território, formam os vértices de uma tríade de relações que
metodologicamente, permitiram convocar diversos autores, com o objectivo
132
de articular um discurso sobre os desafios do ensino de projecto. Estes três
temas, ou vectores, de modo estratificado, apresentavam-se como bases
para, em primeiro lugar, estimular os estudantes na procura de uma
percepção crítica do mundo em que vivem, em segundo para o
reconhecimento do papel da cultura arquitectónica na elaboração de um
discurso sólido e informado acerca dos trabalhos e por último em terceiro
lugar, o território, como base de ensaio e experimentação dos conflitos, que
na paisagem contemporânea, surgem associados ao projecto.
Com um sentido mais aprofundado, importa agora clarificar um discurso
sobre a representação (e sobre as ferramentas aí incluídas). As formas de
representação permitem autonomizar as várias áreas disciplinares em
relação a temáticas eventualmente semelhantes. O estudo dos processos [e
projectos] urbanos, por exemplo, apresenta-se como matéria transversal no
quadro do ISCTE-IUL, é porém a maneira como o assunto se representa que
orienta de base o percurso prospectivo associado a cada uma da áreas
científicas que se ocupa desta temática – neste contexto, por exemplo, a
emigração ou segregação social podem transformar-se num assunto
arquitectónico, enquanto o habitar ou parcela mínima pode ser assunto da
economia, ou da sociologia.
No campo da arquitectura tem sido colocada uma tónica no pensamento
sobre o espaço e sua relação o território. É este binómio que permite
enquadrar os fenómenos sociais, que funcionam como agentes de
construção do espaço. É a partir da apreensão da espacialidade associada à
morfologia urbana que se desenvolve uma espécie de metalinguagem que
apenas pode ser fixada por meio de um processo de abstracção.
Bruno Zevi (1918-2000) reflecte num capítulo de Saper Vedere
L’Architecttura3 a representação do espaço, reflectindo sobre os
comuns meios de representação – plantas, elevações e cortes ou
secção, e fotografias. Apesar de considerar a incapacidade destes meios
de representar na plenitude o espaço, uma vez que são incapazes de
substituir a dimensão sensível do homem enquanto parte integrante
do espaço, Zevi debate em torno da planta da Basílica de São Pedro,
produzida por Michelangelo (em 1502) a importância de fixar bidimensionalmente atributos espaciais da própria arquitectura,
descodificando as intenções inerentes ao projecto. O conflito entre a
plenitude da apreensão física do espaço e o projecto do próprio
espaço, tal como enuncia Bruno Zevi, configura uma diálogo entre
abstracção e realidade ou seja, entre um devir e o mundo próprio em que
nos encontramos. Este diálogo é fundamental em arquitectura.
É através de um método de abstracção que conseguimos uma
133
tangibilidade em relação ao real. Este método, que na base encontra
uma cadência operativa entre várias escalas, permite pragmaticamente,
converter o real em algo mensurável e apto a ser transformado. Este
processo de conversão é também um processo electivo. Ao converter-se
o real numa representação a determinada escala, assume-se uma
escolha - a eleição de determinados factores em detrimento de outros.
Este processo electivo é desde logo um acto de projecto. O próprio
André Corboz enuncia este pensamento evocando a importância do
mapa sobre um território – ou palimpsesto - em permanente mutação.
A representação, activa uma leitura ou discurso de projecto, sendo
que é “enquanto projecto, que o território ganha significado”4 . Corboz
promove uma reflexão que associa a forma territorial captada pela
cartografia, tanto com o entendimento, como com o desejo de leitura
que cada lugar encerra sobre si mesmo. A hermenêutica do território é
apresentada como uma criação que a humanidade modela de acordo com
a história de cada período. A configuração da paisagem (ou face
visível de um território resultante da acumulação do tempo) adquire
assim um valor que se sobrepõe à “objectividade”5 da sua leitura,
uma vez que é neste contexto que podemos reconhecer ferramentas
operativas, nem sempre aparentes, mas que nos permitem extrair nas
entranhas da sua geografia o “insubstituível material dos solos”6. Este
princípio apresenta-se como uma constante acção de reciclagem, que
permite dar continuidade à utilização do “pergaminho”7 territorial. Na
percepção dos sulcos, ou enrugamentos do passado, procura-se o
alicerce para depositar uma nova acção capaz de responder à
necessidades
do
quotidiano.
Nesta
perspectiva,
a
acção
transformadora socorre-se de instrumentos, ou ferramentas que
suportam as decisões de leitura associadas a cada necessidade.
Diante do emaranhado de capas que se sedimentam abaixo da
superfície do solo, coloca-se a necessidade de um processo fino de
dissecação, que em última análise corresponde a uma utilização do
tempo passado como material de configuração de um tempo futuro.
É na procura de um estreitamento de laços de correlação que se
ancoram, às configurações depositadas no território, as novas
configurações. Este processo pressupõe um entendimento narrativo
do contexto, que se converte numa dialéctica capaz de gerar pontos
de observação que são, em si mesmos, argumentos de acção. Corboz
valoriza a representação cartográfica como hipótese de abstracção
narrativa do real. É contudo na base cartográfica (abstracta) que se
procede, quer ao lançamento, quer à experimentação do projecto. O
134
mapa surge como filtro, que enquadra as escolhas orientadoras da
leitura operativa do território, tornando a sua “extensão, a sua
espessura e sua perpétua metamorfose”9 em algo mensurável e
passível de ser transformado. O território, ou sítio, adquire uma
dimensão mental, tal como reflectia Eduardo Souto de Moura numa
entrevista, em 1996, onde afirmava que10:
“O sítio é um pressuposto. Não existe o sítio. O sítio
é um instrumento. É impossível fazer casas sem ter um
lápis, e ter casas sem ter um sítio. E o sítio é aquilo
que se quer que ele seja. Tentou-se ‘vender’ o sítio
como entidade objectiva, com frases como: ‘A solução
está no sítio’. A solução está na cabeça das pessoas.
O Leonardo da Vinci dizia: ‘A Arte é coisa mental’.
O sítio é coisa mental. Portanto, o sítio é tão
importante quanto as outras coisas que intervêm no
projecto.”11
Deste modo, a própria conceptualização de “território”, entre uma
definição “física e mental”12 é desde logo um acto projecto, uma
apropriação mental e narrativa catalisadora de processos operativos
de experimentação. A questão fundamental nesta acção diacrónica
passa pela autonomia linguística dos próprios mecanismos de
representação que, tal como um hipertexto, revelam caminhos que
à priori não seriam possíveis de enquadrar, justificando que o
processo de aprendizagem em arquitectura se faz experimentado o
próprio projecto, num caminho onde se consegue enquadrar um
início, desconhecendo-se os contornos da própria viagem.
Este pensamento é bem perceptível num pequeno episódio narrado
por Rem Koolhaas, em XMLXL, a propósito da maqueta de uma casa
que Mies Van der Rohe construiu, em 1912, á escala 1:1 em
Wassenaar-Holanda. Esta casa, apenas construída em tela, fora
projectada para uma milionária coleccionadora de Monderian e
Van Gogh que para se decidir sobre que projecto construiria na sua
propriedade, encomendou estudos a vários arquitectos. Um dos
arquitectos era, o então jovem, Mies Van Rohe, que vinha
recomendado por ter sido assistente de Peter Behrens. A maqueta à
escala real, representado em tela o projecto de expressão clássica
desenhado por Mies, não foi suficiente para seduzir a velha
milionária, devido à proximidade da implantação com uma linha
férrea que passava na imediações. Na fotografia deste projecto
135
apresentada por Philip Johnson no MoMA em 1947, pode
identificar-se, à porta desta casa, um personagem que aparenta ser o
próprio Mies Van der Rohe. A propósito deste incidente, Koolhaas,
questiona o impacto que esta branca e aligeirada estrutura teve
sobre Mies e sobre a dimensão têxtil da sua obra posterior, onde a
estrutura se soltará da membrana perimetral permitindo-lhe edificar
um vocabulário construído no limite do efémero e do fugaz.
Apesar da ambiguidade que envolve o incidente desta casa, é
possível depreender-se que aquilo que pode ser extraído de uma
acção como esta, não reside especialmente na aferição da
volumetria da construção em relação ao local, mas na dialéctica que
esta representação projectual, possa ter estabelecido no percurso
de arquitecto do próprio Mies Van der Rohe.13
A representação é um fenómeno que ganha autonomia e
consistência, comunicando os caminhos possíveis para onde deve
seguir um determinado projecto, ou [aparentemente] no caso de
Mies a orientação de um personagem arquitectónico. A
representação converte-se na linguagem que permite estabelecer
uma comunicação entre o mundo das ideias e mundo real.
136
2.
Cidadania
A presença de Gonçalo Byrne (n. 1941) num escasso período de 3
anos, entre 2008 e 2011, enquanto docente de Projecto Final de
Arquitectura no ISCTE-IUL, clarificou na precisão do seu discurso a
motivação do exercício da arquitectura enquanto acto de cidadania.
Distanciando-se do confronto habitual associado aos temas da
participação, Byrne pôde clarificar uma orientação motivadora para
a afirmação cívica dos futuros arquitectos.
A cidadania, resulta justamente de uma capacidade de compreensão
e leitura do modo como tempo molda a paisagem e como este
tempo, contentor de múltiplas convicções sobre vários futuros, se
expressa nos recortes do território contemporâneo. O arquitecto
exerce cidadania ao aceitar descodificar uma arqueologia que
revela a maneira como o espaço modela o projecto da própria
humanidade. Gonçalo Byrne influencia a recuperação de uma
consciência sobre a ancestralidade do próprio território, que apenas
pode ser entendida no cruzamento entre a curiosidade da história e o
exercício da representação. É aqui que se encaixa a referencia
aos “remadores”, ou vogadors, tal como denominou a
representação catalã à Bienal de Veneza de 2012, comissariada por
Félix Arranz e Jordi Badia ao retomarem como leitmotiv uma frase
de Jorge Oteiza, onde o escultor basco refere que: “aquele que forja
a frente criando algo novo faz isso como um remador, a avançar,
mas rema de costas, olhando para trás, para o passado, para o que
existe, de modo a ser capaz de reinventar suas bases.”
Apesar da consciência de reciprocidade simétrica entre a lonjura do
passado e a lonjura do futuro, emerge em Byrne a percepção da
continuidade associada á sedimentação do território, o que pressupõe
o entendimento de um processo sempre em aberto. Neste sentido
surge a necessidade de um planeamento sistemático, capaz de
mediar os interesses públicos com as dinâmicas da própria
sociedade. Este argumento clarifica-se, num debate entre o próprio
Gonçalo Byrne e o antigo Presidente da Republica, Jorge Sampaio
(n. 1939), onde são definidos os contornos da dimensão cívica da
arquitectura. De início Byrne refere que as “cidades são
“contentores de vida”14 e que para “a cidade ser viva tem de ser
aberta à transformação, e para se transformar são necessários planos
e projectos”15. O sedimento da vida, a que se refere Byrne,
137
expressa-se nos sulcos do território urbano, é neste processo que o
arquitecto é convocado a compreender o modo como as mutações
sociais, se associam às mutações do território. Tal como surge
implícito no mesmo debate, temas como as migrações, ou as
emigrações convertem-se em temas de debate arquitectónico, uma
vez que, por exemplo se revelam como fundamentais para entender
o modo como as trajectórias de vida podem criar oportunidades
económicas, ou como os novos actores oriundos de outras latitudes
(de Leste e de África) podem ser vistos como agentes determinantes
na afirmação da identidade urbana.16
A lógica que se apreende a partir de Gonçalo Byrne é do projecto
urbano, a “representação” e a “cidadania” aparecem então como
ferramentas metodológicas, onde a questão programática enquadra
um conjunto de expectativas sociais. Nuno Portas em “Da Estratégia
ao Projecto” ilustra, no plano operativo da gestão urbana, a
importância de uma estratégia capaz de harmonizar vários agentes,
em diversas fases de intervenção desencadeadas a partir do poder
central (designadamente dos municípios). Se a orientação operativa
está para além da forma arquitectónica, é porem a compreensão
física e social do território que gera argumentos de acção, para um
planeamento
emergente.
São
as
oportunidades
e
as
improbabilidades que, num processo dinâmico, surgem diante dos
decisores, configurando um processo que coloca de lado uma
“tradicional lógica sistémica (e portanto conservadora)” associada
aos vários níveis de planeamento (do plano de pormenor, ao plano
director). Neste contexto o projecto urbano funciona também como
argumento de ensaio das experiências académicas uma vez que, tal
como é apresentado por Nuno Portas, configura um processo aberto
capaz de harmonizar num tempo concreto, as relações entre as
intervenções mais localizadas, de índole urbano e as politicas
territoriais, mais alargadas, ao nível regional, ou global.17
A cidadania que Byrne reclama para os arquitectos, exerce-se na
consciência que o projecto urbano se pratica no equilíbrio
responsável entre uma herança de cultura e uma constante
necessidade de mudança que ocorre, ora no âmbito de um
planeamento prévio, ora na resposta imediata face a uma
necessidades concreta. O acto do arquitecto reside justamente na
convicção de que o território absorve os novos desafios e que tal
como um “palimpsesto”, está constantemente apto a ser reescrito,
138
carecendo de uma constante representação capaz de delinear a
orientação de um desejo a curto, médio, ou longo prazo. A
convicção estende-se igualmente à confiança no processo de
representação e por conseguinte na linguagem utilizada para fixar
num determinado momento a lógica do projecto – linguagem
esta, que na autonomia da sua expressão revela os trilhos possíveis
que permitem harmonizar os interesses da sociedade com a lógica
morfológica que sedimentou o território numa continuidade que
metaforicamente se poderia denominar de “fábrica urbana”.
Fig. 2 Gonçalo Byrne em aula de Projecto Final de Arquitectura do ISCTE-IUL
em 19 de Dezembro de 2009;
3.
Post-scriptum
Seria interessante concluir esta reflexão evocando as considerações de
Vítor Figueiredo (1929-2004) no momento da conclusão da sua
CODA (Concurso para a Obtenção do Diploma de Arquitecto), em
1959, momento em que submeteu na Escola de Belas Artes da
Universidade do Porto o projecto para uma Habitação em S. João
do Estoril. Numa vertente humanista, Figueiredo reflecte sobre a
elaboração do sentido de um projecto que seguiu o seu próprio curso,
139
superando a própria vontade do arquitecto, através de um jogo
“neoplástico patente nas plantas e cifrado no jogo de planos mais ou
menos livres tendentes à negação do volume pela redução a uma
bidemensionalidade”18. Tudo aquilo que se considerou, de modo
sério, como ponto de partida (a vontade do técnico, do cliente, e
especificidade do terreno) não foi suficientemente potente para
que o processo não envolvesse, num registo evolutivo a própria
consciência dos intervenientes. Na memória descritiva da casa
realizada para um engenheiro civil, Figueiredo medita de modo
crítico sobre um passado onde se pretendeu “integrar o homem
num real, talvez definido a partir do passado pela impotência de
se lhe juntar uma perspectiva de homem futuro”19 e não obstante
a necessidade de uma compreensão não simplista sobre uma
definição apriorística dos destinatários, “(...) o homem não é apenas
um ser situado; ainda e mais que tudo, [o homem é] um ser em
projecto”20.
Referências
[1] ARENGA, Nuno (coord.) (2012) Vítor Figueiredo: Fragmentos
de um Discurso, Circo de Ideias, Porto;
[2] BYRNE, Gonçalo Geografias Vivas VI Bienal Internacional de
Arquitectura de São Paulo, Editor Marco Buinhas, Edição
Ordem dos Arquitectos, CDN, Lisboa, 2005;
[3] CORBOZ, André “Território como palimpsesto” in AA.VV”
Teoria Crítica de Arquitectura do Século XX Caleidoscópio,
Casal de Cambra, 2011 (p. 741-852) (texto original CORBOZ,
André “La territoire comme palimpseste” in Territoire comme
palimpseste et autres essais. Paris: Lês Editions de L’imprimeur,
2001);
[4] DELEUZE, Gilles (1989) - El Pliegue, Ediciones Paidos,
Barcelona, 1989;
[5] PINTO, Paulo Tormenta - “Temáticas e Reflexões sobre o
Ensino de Projecto no Último Ano de Formação – O caso do
Mestrado Integrado em Arquitectura do ISCTE – Instituto
Universitário de Lisboa”, em V Projetar – Processos de Projeto:
Teorias e Práticas, Belo Horizonte, 25 e 28 de Outubro de 2011;
[6] PINTO, Paulo Tormenta “A construção do Território (Tempo Sítio
e Participação) Tendo em conta a reflexão sobre 3 projectos de
Arquitectura” em VITALE, Miguel (coord.) Workshop
140
Internacional Rio BR-2012, Ed. UNL, Santa Fé, República
Argentina, ISSN 1851-6662 (pág. 31 - 36);
[7] KOOLHAAS, Rem e MAU, Bruce S,M,L,XL, The Monacelli
Press, Inc, New York, 1995;
[8] PORTAS, Nuno “Da Estratégia ao Projecto”, em PORTAS,
Nuno Os Tempos das Formas” Vol. II A Cidade Imperfeita e a
fazer, Ed. Universidade do Minho, Guimarães, 2012;
[9] ZEVI, Bruno (1996) Saber Ver a Arquitetura, 5ª edição, trad. M.
Isabel Oliveira, ed. Martins Fontes, São Paulo, [texto original
ZEVI, Bruno (1948) Saper Vedere L’Architecttura, Einaudi,
141
O Ensino do Projecto Urbano na FAUP
Manuel Fernandes de SÁ1; Luis Pedro SILVA2; Teresa CALIX 1,2
Faculdade de Arquitectura UP – Centro de Estudos Arquitectura Urbanismo
Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto, PORTUGAL
+351 22 605 71 00,
2
Faculdade de Arquitectura UP – Centro de Estudos Arquitectura Urbanismo
Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto, PORTUGAL
+351 22 605 71 00, [email protected]
1,2
Faculdade de Arquitectura UP – Centro de Estudos Arquitectura Urbanismo
Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto, PORTUGAL
+351 22 605 71 00, [email protected]
1
Palavras-chave: projecto, urbano, cidade, território, arquitectura
Resumo
A disciplina de Projeto 5 (Urbano), ministrada no curso de arquitetura
define-se como uma experiencia de aprendizagem ambivalente. Por um
lado, deve constituir uma plataforma mínima para ultrapassar uma visão
essencialmente formalista da questão urbana e deve ser capaz de transmitir
aos alunos uma base de conhecimentos teóricos e projetuais que, de uma
forma aprofundada, lhes permita compreender o território e lhes forneça
uma flexibilidade profissional que fundamente a sua intervenção na cidade.
Por outro, deve permitir completar a sua formação em termos de
planeamento, permitindo-lhes transpor para esse domínio, uma maior
capacidade de intervir formalmente e, por conseguinte, de levar a
arquitectura para o campo do planeamento.
1. Objectivos
Pretende-se desenvolver um processo pedagógico que origine uma reflexão
profunda sobre o território, a cidade, o objeto ou conjunto arquitetónico e as
respectivas interações, de forma a proporcionar ao futuro arquiteto, a
capacidade de intervir num ambiente em transformação e pleno de
diferenças e incertezas. O trabalho a desenvolver deve capacitar o aluno
para a descoberta do seu próprio processo de pesquisa e de comunicação,
aprendendo a destrinçar o que é permanente e estrutural do que é passageiro
e conjuntural.
Considera-se também necessário preparar o aluno para a construção de
estratégias e ações de transformação da cidade e do território, tendo em
142
atenção as necessidades presentes e futuras da coletividade e as
consequências dessas mesmas acções.
Visa-se, ainda, transmitir que o saber urbanístico é, cada vez mais,
compartilhado por diversas formações disciplinares que se complementam,
privilegiando-se o desenvolvimento das apetências do estudante para
trabalhar em equipa.
2. Conteúdos
O tema central que estrutura o programa desta disciplina é o Projeto
Urbano, entendido como um espaço de articulação entre o Plano e o Projeto,
entre a cidade e a arquitectura.
O projeto (urbano) já não é, apenas, um “desejo vertido num desenho”
(Ascher 2001), porque deve responder às exigências formuladas num
determinado momento pela coletividade e agentes de transformação do
território, por enquadramentos operativos diversificados, por fatores de
origem endógena e exógena, e por diversos tempos de decisão e de
realização. É uma forma de intervenção com diferentes níveis de
flexibilidade, que utiliza os instrumentos de planeamento mais adequados
aos contextos urbano e social (Planos de Urbanização e Planos de
Pormenor, por exemplo), tendo por objetivo a resolução de problemas
existentes e a concretização de estratégias de transformação da cidade.
Será atribuída uma especial atenção ao Sistema de Espaços Colectivos que,
pelo seu âmbito, importância e perenidade, estrutura a forma da cidade,
relaciona os seus setores e suporta a sua transformação. Nesta perspetiva
considera-se que o projecto urbano deverá ser “elaborado como um projecto
de execução para o espaço público e como conjunto de regras processuais
ou formais para os elementos urbanos que podem ser implicados no
empreendimento ou cuja transformação é induzida por ele” (Portas, 1998).
Serão aprofundadas as questões relacionadas com a intervenção urbanística
num setor de cidade com dimensão e complexidade apreciáveis, tendo em
consideração as dinâmicas urbanas observadas, os objectivos e motivações
dos agentes que transformam o território, os instrumentos de planeamento
existentes, os sistemas estruturais que servem a área em estudo e a sua
envolvente, a gestão urbana e o desenho dos espaços públicos e privados.
3. Método
As turmas subdividir-se-ão em grupos formados por 3 a 5 elementos que
constituirão a unidade base de discussão e programação dos trabalhos.
A elaboração de trabalhos individuais e de grupo terá lugar de acordo com
um faseamento organizado em 5 entregas. A primeira, designada Esboceto
Individual terá um desenvolvimento de três semanas consistindo numa
experiência propedêutica da disciplina. A segunda, a concluir no final do
143
primeiro trimestre corresponderá a um trabalho de grupo com os objetivos
de caracterização da área abarcada pelo estudo e definição de uma estratégia
de intervenção. A terceira fase, elaborada no mês e meio subsequente
consiste na proposta de um Estudo Prévio, também no âmbito do trabalho
de grupo. Já a quarta fase, desenvolvida em igual período temporal
compreende o Projeto individual dos setores das Unidades Operativas
definidas no contexto de grupo. Nesta fase, a nível do grupo far-se-á a
avaliação e concertação dos trabalhos individuais em função do Estudo
Prévio anterior. Finalmente, na quinta fase, que se conclui no final do ano
letivo, tem preponderância o trabalho individual referente ao
desenvolvimento do Projeto do Setor e sua sistematização construtiva. Ao
nível do trabalho de grupo proceder-se-á à integração dos projetos dos
setores e à confirmação da estratégia de intervenção.
Serão organizadas sessões para o conjunto das turmas, para explanação de
temáticas que importam ao progresso dos trabalhos.
Serão ainda realizados pontos de situação em função do desenvolvimento
dos estudos, os quais poderão implicar alterações ao faseamento atrás
apresentado.
4. Avaliações
As avaliações processar-se-ão no fim de cada fase de trabalho, e incidirão
sobre o aproveitamento revelado pelo aluno na sua prestação individual e
em grupo.
A classificação final resultará da ponderação das várias avaliações e do
progresso que o aluno revelou no seu percurso pedagógico, e patente na
entrega final do trabalho.
Serão considerados os seguintes fatores gerais de ponderação: participação
e assiduidade; conhecimento das questões e problemas em estudo e
apetência para as caracterizar; capacidade de investigação, quantidade e
qualidade do trabalho desenvolvido. Entende-se como condição mínima de
avaliação do aluno uma assiduidade superior a 75%. Será dado especial
relevo à contribuição de cada aluno nos trabalhos desenvolvidos pelo grupo.
Referências
[1] ASCHER, François (2001), Les nouveaux principes de l’urbanisme – la fin des
villes n’est pas à l’ordre du jour. Ed. De L’Aube, 2001.
[2] Portas, Nuno (1998), "L'emergenza del progetto urbano". In: Revista
Urbanística, n. 110, 51-67, Roma.
144
“Criação e Transformação do Espaço Urbano nos Territórios Coloniais
Portugueses no Longo Século XIX (1778-1926)”
Coordenada por: Prof.ª Alice Santiago Faria e Prof. Sidh Mendiratta
”Design and Transformation of the Portuguese Colonial Urban Space in
the long XIX Century (1778-1926)”
Coordinated by Prof.ª Alice Santiago Faria and Prof. Sidh Mendiratta
145
A evolução urbana de Bombaim e a sua camada
indo-portuguesa, 1774-1928.
Sidh Daniel Losa MENDIRATTA1
1
Arquiteto, PhD, Professor Auxiliar
Faculdade de Comunicação, Arquitetura, Artes e Tecnologias da Informação
Universidade Lusófona do Porto
Rua Augusto Rosa, nº 24
4000-098 Porto Portugal
+351 912755074, [email protected]
Palavras-chave: Bombaim; território; paisagem; cidades
Resumo
Ao escrever nos últimos anos de Oitocentos, Gerson da Cunha identifica
três datas fundamentais no processo do crescimento urbano de Bombaim:
1802, 1818 e 1853. A primeira data confirmou, através do tratado de
Baçaim, a cedência aos ingleses de um hinterland imediatamente envolvente
à ilha de Bombaim, incluindo a ilha de Salcete, administrada de facto pelos
britânicos desde 1774. A segunda data assinala a derrota definitiva dos
maratas, sendo geralmente considerada como o momento culminante da
expansão militar britânica no subcontinente e o fim da sua última potência
rival. No ano de 1853 inaugurou-se o canal de Suez, acontecimento que teve
um impacte sem precedentes na economia da Índia britânica em geral e de
Bombaim em particular.
Este processo de expansão urbana durante o longo século XIX foi
fortemente polarizado por um conjunto preexistente de aldeias localizadas a
norte da cidade e fortificação inglesas, tanto na ilha de Bombaim como
dispersas pela mais ampla ilha de Salcete. Estas aldeias, maioritariamente
habitadas por indianos católicos, estruturavam o território anteriormente
pertencente à Província do Norte do Estado da Índia, a maior parcela
territorial administrada pelos portugueses na Ásia, à excepção de Timorleste. Durante os dois séculos de existência da Província do Norte (15341739), os habitantes das ilhas de Bombaim e Salcete foram convertidos ao
cristianismo e as suas aldeias dotadas de estruturas religiosas cristãs,
enquanto que as zonas rurais envolventes foram desenvolvidas sob foreiros
portugueses ou luso-descendentes.
Nesta apresentação, e focando especialmente as aldeias da ilha de Salcete e
o caso da vila de Taná, propõe-se demonstrar como estas aldeias
147
constituíram os pontos nodais do crescimento de Bombaim e como as suas
estruturas e paisagens de cariz indo-português foram absorvidas e
transformadas pela expansão do tecido urbano e suburbano daquela
metrópole.
148
De Pangim a Vasco: o território goês no longo
século XIX
Alice SANTIAGO FARIA
CHAM - UNL, UA e CIUHCT - UNL, UN
Avenida de Berna 26, C 1069-061 Lisboa
+ 351 21 7972151, [email protected]
Palavras-chave: India Portuguesa, cidades, Século XIX
Resumo
No início do século XIX, o Estado da Índia encontrava-se com as suas
fronteiras estabilizadas. As Províncias do Norte estavam reduzidas a
Damão, Diu e Nagar-Aveli ; o território de Goa, onde se localizava a
capital, dividia-se em Velhas e Novas Conquistas e o seu território
encontrava-se fisicamente separado do restante sub-continente indiano pela
cadeia montanhosa dos Gates Ocidentais. Com uma população
maioritariamente cristã, concentrada no território das Velhas Conquistas
(Bardez, Ilhas e Salsete) era também ai que se localizavam os principais
centros urbanos: Mapuça, Pangim e Margão. As Novas Conquistas,
anexadas na segunda metade do século XVIII, tinham uma densidade
populacional reduzida e uma população maioritariamente hindu. Ao longo
de todo o século XIX e até 1961, a população goesa manteve-se rural e os
centros urbanos eram pequenos aglomerados de baixa densidade
populacional, como se pode observar na figura 1. Após a independência do
Brasil, o interesse português apostou nos territórios africanos. Sem qualquer
importância económica para Portugal, o Estado da Índia era um territorial
periférico e marginal mas manteve alguma relevância política, na afirmação
do valor histórico do império colonial português. O seu papel simbólico,
garantiu-lhe importância e foi central na contínua afirmação do Estado da
Índia como território português.
Da história do seu espaço urbano sobressaem duas cidades que na transição
do século XIX para o XX disputaram o papel de capital do Estado da Índia:
Nova Goa (cujo centro urbano se localizava em Pangim) e Vasco da Gama.
Mas a transformação do território foi mais vasta e abrangeu todos os
aglomerados urbanos, que se desenvolveram e nos se fizeram
melhoramentos, enquadrado no esforço global de afirmação do império
português.
149
Esta apresentação pretende olhar para o desenvolvimento destes quatro
aglomerados urbanos - Mapuça, Pangim, Margão e Vasco da Gama passando de uma história urbana individual para uma análise comum.
Planeados como é o caso de Vasco da Gama, transformados como no caso
de Pangim ou regenerados e aumentados como no caso de Mapuça ou
Margão, estes são centros urbanos com histórias diversas onde tentarei
identificar as suas diferenças e complementaridades e ao mesmo tempo
processos e estratégias de crescimento comuns.
Figura 1: Vista sobre a Câmara Municipal, Margão , 1911-1913.
Agradecimentos
Agradeço a Isabel Laje a autorização para utilização das fotografias do
Álbum Tasso de Figueiredo.
Referências
[1] Faria, A. Santiago, (2010), L'Architecture Coloniale Portugaise à
Goa. Le Département des Travaux Publics, 1840-1926, Doctorat de
Université, Université Paris I, Paris
150
[2] Faria, A. Santiago, (2007), Pangim entre o passado e a modernidade:
a construção da cidade de Nova Goa, 1776-1921. Murphy, Revista de
História e Teoria da Arquitectura e do Urbanismo, 2, pp. 66-97
[3] Rossa, W. (Coord.) (2010). Ásia e Oceânia. In J. Mattoso (Dirc.)
Património de Origem Portuguesa no Mundo, Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa
151
Díli: Formação do espaço urbano numa colónia
marginal
Isabel Maria Guterres BOAVIDA1
Estudante do Programa de Doutoramento “Patrimónios de Influência Portuguesa” - Centro de
Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
Colégio de S. Jerónimo, Apartado 3087, 3000-995 Coimbra, Portugal
+351 239 855 570, [email protected]
1
Palavras-chave: Díli, Espaço urbano, Timor
Resumo
Díli foi fundada como sede da administração portuguesa em 1769. O
processo de formação do seu espaço urbano integra-se cronologicamente no
longo século XIX.
No entanto, a posição que Timor ocupava no extremo do império,
dificultava as comunicações com a metrópole, com Goa e com Macau, o
que se refletia na aplicação tardia, quando não inexistente, das políticas que
vigoravam.
Através da evolução do espaço urbano de Díli, analisar-se-á de que forma o
crescimento urbano que caracterizou o longo século XIX, se fez sentir nas
condições de extremo isolamento de Timor.
Inicialmente, Díli estabeleceu-se como praça fortificada, para abrigar a
comitiva portuguesa. Só na década de 30 do século XIX (1834-1839), foi
criada uma estrutura urbana, através da regularização dos arruamentos, e da
abertura das primeiras artérias de ligação com as zonas circundantes.
Na segunda metade do século XIX (1859-1863), a vila de Lahane começa a
surgir como pólo da cidade, transformando-se no lugar onde os europeus
estabeleciam preferencialmente residência, para se refugiarem do clima
insalubre de Díli. Nesta vila, localizada na encosta da montanha, a poucos
quilómetros do núcleo urbano, seriam construídos o hospital, e a casa do
governador.
Gradualmente, os edifícios de palapa e colmo iam sendo substituídos por
construções de carácter permanente, capazes de resistir a incêndios e
terramotos, que no passado tinham devastado da cidade.
Díli dispunha-se ao longo da linha marginal, prolongando-se para nascente,
através do Campo de China e do bairro de Bidau, e para poente, em direção
a Motael, onde foi construído o farol de apoio à entrada na baía.
152
Os terrenos pantanosos localizados a sul da cidade, representavam um grave
problema de saúde pública, que constava no leque das principais
inquietações da administração. Nos finais do século XIX, tiveram lugar as
primeiras obras de saneamento, nomeadamente, a regularização e controlo
dos cursos das ribeiras, e a drenagem dos terrenos pantanosos. A partir de
então, durante a primeira metade do século XX, procederam-se a diversas
operações de saneamento e embelezamento da cidade.
A urbanização de Díli resultou da aplicação, lenta e fragmentária, de várias
medidas, que tinham como objetivo ultrapassar as carências e dificuldades
próprias da cidade, gerindo os meios disponíveis para alcançar condições
básicas de habitabilidade, e ambicionando, ao mesmo tempo, dignificar
Díli, elevando-a à qualidade de sede administrativa colonial.
Importa ainda compreender o contexto político-administrativo que
enquadrou a urbanização de Díli. O já referido afastamento geográfico,
transformou Timor numa preocupação secundária para a metrópole, e num
peso extra para Goa e Macau, das quais dependeu administrativamente, e
que se viam obrigadas a cobrir as suas carências, quando elas próprias
sofriam privações. A dificuldade de controlo administrativo, levou a que o
domínio português de Timor se efetivasse tardiamente. O controlo da
totalidade do território só se verificou em 1913, após um longo período de
campanhas militares contra vários reinos que, desde meados do século XIX,
se revoltavam contra as imposições da administração colonial (pagamento
do imposto, prestação de serviços quase gratuita). A própria mudança da
sede da administração de Lifau para Díli, em 1769, tinha sido impulsionada
por pressões levadas a cabo por chefes locais, relativamente às quais, a
frágil estrutura portuguesa não conseguiu fazer frente.
A construção de Díli como sede administrativa esteve, assim, inserida num
período de afirmação colonial em Timor.
Os relatórios dos governadores, e sobretudo os relatórios dos quadros
superiores das repartições públicas (relatórios dos serviços de saúde,
relatórios da gerência do Banco Nacional Ultramarino, etc.), para além de
fazerem referência a vários aspetos da vida urbana, permitindo reconstruir o
processo evolutivo da cidade, remetem também para as dificuldades com
que este se processou, deixando transparecer o sentimento de impotência
perante a escassez de meios financeiros, materiais e humanos, numa cidade
onde tudo era necessário e urgente fazer.
Em Timor, a alteração política em 1910, e as que se seguiram, não terão
trazido grandes alterações, uma vez que as necessidades continuavam a ser
as mesmas. O processo de urbanização de Díli terá continuado a decorrer
153
consoante as possibilidades e, por vezes, marcada pela falta de organização
na gestão dos recursos.
Este processo moroso, só será interrompido em 1942 (Figura 1), quando, no
contexto da guerra do Pacífico, Díli foi bombardeada e reduzida a
escombros, o que obrigou à reconstrução praticamente integral da cidade, a
partir da década de 50.
Figura 1: Esquema de Díli, anteriormente à ocupação japonesa em 1942. Fonte:
“Urbanografia de Díli no Tempo da Administração Portuguesa”
Referências
[1] Banco Nacional Ultramarino (1911), Carta Redigida pelo Gerente da
Filial de Dili. 1911-03-06
[2] Banco Nacional Ultramarino (1923), Relatório do Exercício de 1923
da Filial de Díli – 2ª Parte, Díli
[3] Boavida, Isabel (2012), Urbanografia de Díli no Tempo da
Administração Portuguesa, Dissertação de Mestrado Integrado em
Arquitectura, Universidade de Coimbra
[4] Castro, Affonso de (1867), As Possessões Portuguesas na Oceania,
Imprensa Nacional, Lisboa
154
[5] Mora, António Damas, (1917), O Serviço de Saúde em Timor nos
anos 1914, 1915 e 1916 – Relatório do Delegado de Saúde, Imprensa
Nacional de Timor, Província de Timor
[6] Silva, J. Gomes da (1887), Relatorio do Serviço de Saude,
Typographia Mercantil, Macau
155
De linha a cidade - O papel do caminho-de-ferro de
Benguela no processo de sedimentação urbana na
governação de Norton de Matos
Maria Manuela da FONTE
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa, Pólo Universitário, Alto da
Ajuda, Rua Sá Nogueira 1349-055, Lisboa, Portugal
+ 351 213 615 836, TM: 917 888 170, [email protected]
Palavras-chave: colonização, população, urbanismo, cidade, território,
sedimentação
Resumo
“A África, uma espécie de quinta que a Europa decidiu
serenamente partilhar entre os seus estados mais favorecidos!” 1
Quando Portugal se desfez do Império das Índias, o Brasil surgiu como
a grande esperança e tentação. Quando o Brasil se tornou independente,
era então de esperar que as terras africanas passassem a constituir,
efectivamente, esse Império, construindo-se um novo sistema colonial
que ganha força no decorrer do século XIX, e se intensifica no século XX,
como garantia da existência da nacionalidade e continuidade da herança
imperial. Só no início do século XX, primeiro com o Capitão Paiva
Couceiro (1907 – 1909) e mais tarde (1912 e 1922) com a presença de
Norton de Matos como governador-geral, é que as referências a Angola
se começam a sistematizar e intensificar. Cada um à sua maneira, Paiva
Couceiro e Norton de Matos, marcam a diferença na governação.
Para Norton de Matos, povoar Angola significava fazer tudo em
grande escala, lançando uma das mais nítidas características da
civilização, - a urbanização. As cidades e os aglomerados deveriam
provocar o aumento de funcionários e, naturalmente, de uma imagem
portuguesa, conseguida através das “casas”. Este viria a ser um tema
chave na colonização e povoamento, onde a casa portuguesa,
intensamente adaptada, sofreria alterações, transformando-se na casa
tropical angolana de expressão portuguesa.
Foi um grande defensor da ideia de “Nação Una”, colado à
mentalidade colonizadora do seu tempo. Organizou as primeiras escolas
e missões laicas; promoveu a expansão da língua portuguesa; melhorou
156
as bases do recrutamento de funcionários públicos e, em Porto
Alexandre, criou a primeira colónia de pescadores, trazidos de Portugal,
que viria a ser apontada como um exemplo a seguir.
Foi na sua governação que o processo colonial se intensificou, o que
levou à criação de cidades de origem e, ainda, a incentivar a fixação de
populações noutras já existentes, especialmente com a construção das vias
férreas.
A construção da linha de caminho-de-ferro de Benguela, teve início
no Lobito (1899-1902) e chegaria até Teixeira de Sousa (1929), junto à
fronteira com o então Congo Belga, donde traria as riquezas aí
produzidas até ao Porto do Lobito, e daí para o mundo. Estavam lançadas
as bases para o crescimento económico da região central, abrindo
caminho do Atlântico ao Índico.
Neste processo, a escolha do sítio para a fundação da cidade do
Huambo (1912) e que viria a chamar-se Nova Lisboa (1928), além
das questões relacionadas com o clima e com a passagem da linha do
caminho-de-ferro de Benguela, foi também tomada em consideração a
sua localização central e por isso estratégica no território.
Huambo foi um dos grandes investimentos pessoais de Norton de
Matos, que quis transformá-la na nova capital de Angola e numa cidade
de referência, estrategicamente situada ao centro, para poder ter uma
abrangência geral do vasto território. Foi criticado, especialmente pela
imprensa, pela forma simples e expedita como criava cidades no sertão,
em locais ermos de habitações e habitantes.
Huambo teve um anteprojecto de um plano de cidade, da autoria do
Coronel de Engenharia Carlos Roma Machado que do nada fez
povoação e depois cidade, materializada num sistema radial a partir
duma grande praça, localizada no ponto mais alto duma colina, a partir
do qual se desenvolviam os eixos viários que, para um dos lados, se
tornavam longitudinais em relação ao caminho-de-ferro e respectiva
Estação.
O plano foi consolidado, apesar das várias críticas quanto à ausência
de critérios para a localização dos estabelecimentos comerciais e
equipamentos.
A criação de novas cidades e vilas ou o crescimento das existentes, de
que o Huambo é exemplo, fazia-se seguindo o modelo de formação de
traçado ortogonal, numa estrutura de quarteirão, na sequência do que
havia sido ensaiado em Benguela; o primeiro plano urbanístico em
Angola. O modelo do sistema ortogonal, seria mimetizado nas mais
variadas vilas que ao longo do caminho-de-ferro se construíam, - como
157
Robert Williams (Caála), Bela Vista (Catchiungo), Vila Nova (Chicala),
Langonjo, Teixeira de Sousa (Luau), Chinguar, Cunge, entre outras.
As suas estruturas urbanas reúnem em si algumas características de
homogeneidade:
Localizam-se ao longo do percurso da linha de caminho-deferro; Têm o comboio como meio de transporte principal;
Desenvolvem-se sob influência da rede ferroviária;
Apresentam crescimento reticulado através de num traçado ortogonal,
estruturado a partir da Estação e da linha de caminho-de-ferro,
fundamentalmente para um dos lados da linha.
Referências
[1] Ribeiro, Orlando (1961) Problemas Humanos e África, Separata de
Colóquios sobre Problemas Humanos nas Regiões Tropicais, da
Colecção “Estudos de Ciências Políticas e Sociais”, nº51, Lisboa,
pp. 16
[2] Nogueira, Jofre Amaral (1953) A colonização do Huambo, edição
subsidiada pela CM Nova Lisboa, pp. 61
[3] Galvão, Henrique e Selvagem, Carlos (1951) Império Ultramarino
Português - Monografia do Império, Empresa Nacional de
Publicidade, Lisboa, 4 vol.
[4] Batalha, Fernando, (1951) A Urbanização de Angola, Edição
Museu Angola, Luanda
[5] Alexandre, Valentim (2000) Velho Brasil Novas Áfricas, Portugal e
o Império 1808-1975, Edições Afrontamento, Porto
158
“As Formas Urbanas na Periferia das Cidades”
Organizada pela Associação de Urbanistas Portugueses
Coordenada pelo Arq. Rui Florentino
”Urban Form in the cities’ peripheries”
Organized by The Portuguese Association of
Coordinated by Arq. Rui Florentino
159
Entre a norma e a inovação: uma narrativa das
formas da suburbanização na periferia de Lisboa
Cristina Soares CAVACO
CIAUD, Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design
Faculdade de Arquitetura UTL, Professora Auxiliar
Direção-Geral do Território, Subdiretora-Geral
[email protected] ou [email protected]
Palavras-chave: Forma urbana, Lisboa, Periferia, Suburbanização
Resumo
Tomando como base a investigação desenvolvida no âmbito do trabalho de
doutoramento, o presente artigo pretende apresentar uma nova narrativa
para as formas da suburbanização na Área Metropolitana de Lisboa. Ao
contrário daquele que tem sido o entendimento veiculado nas últimas
décadas de que as periferias são territórios de caos e desordem, sem
desenho nem regra, a presente narrativa pretende introduzir uma leitura dos
territórios suburbanos que os configura num diálogo assíduo e incessante
entre a regra e o modelo, numa oscilação ambivalente entre a norma e a
inovação. Por um lado as formas da suburbanização veiculam a
uniformização das regras e dos padrões; por outro lado configuram uma
formulação experimental do espaço edificado da modernidade.
Com efeito, foi com a construção da periferia que, nos últimos 60 anos, se
testaram e aferiram políticas públicas, se acolheram e conformaram leis e
princípios reguladores, e se assistiu, concomitantemente, ao próprio
esvaziamento das normas, à sua transgressão e violação. Foi também com a
construção da periferia que, nos últimos 60 anos, se puseram em prática
modelos de espaço e de uso para a cidade moderna, se exploraram e
transfiguraram os argumentos e os padrões urbanísticos da modernidade e
que, no contexto da cidade extensiva, novas formas e padrões foram
progressivamente surgindo como novos cambiantes ao espaço da
modernidade.
Nesta perspetiva a tese que se pretende defender é a de que as periferias e as
formas da suburbanização, particularmente na região de Lisboa, edificam a
história do espaço urbano da modernidade, nas suas diferentes etapas e
formulações.
161
Nesta ótica, e assente numa aproximação tipológica às formas da
suburbanização, esta narrativa vem distinguir diferentes momentos e
categorias no processo de urbanização da Área Metropolitana de Lisboa –
as formas típicas da suburbanização na AML: Pegadas de arranque da
suburbanização; Fragmentos poligonais de expansão; Intervalos eruditos
de exceção; Arranjos de pormenor esporádicos; Operações urbanísticas de
grande escala.
Com base na análise de alguns casos de estudo que se centraram nos
concelhos de Almada e Odivelas, esta narrativa das formas da
suburbanização na periferia de Lisboa acaba por traçar uma viagem que
oscila entra as formas e os argumentos do projeto e urbanismo modernos, a
história do Direito do Urbanismo em Portugal, a sua normalização e as
práticas de gestão urbanística, e a concretização da cidade e do espaço
edificado no decorrer do período urbano expansionista.
Referências
[1] Allain, R (2004) Morphologie Urbaine. Géographie, Aménagement et
Architecture de la Ville. Paris: Armand Colin.
[2] Cavaco, C (2009) Formas de Habitat Suburbano. Tipologias e
Modelos Residenciais na Área Metropolitana de Lisboa. Lisboa,
FAUTL, Tese de Doutoramento.
[3] Cavaco, C (2006) «The Rule and the Model. Tracking New Methods
and Tools to Analyze and Design the Zwischenstadt» in Wang, C,
Sheng, Q, Sezer C ed. International Forum on Urbanism 2006.
Modernization & Regionalism. Re-Inventing the Urban Identity. Vol I.
Delf: IFoU. 83-89.
[4] Choay, F (1980) La Règle et le Modèle. Sur la Théorie de
l’Architecture et de l’Urbanisme, 2ª Ed. Paris: Éditions Seuil, 1996.
[5] Mangin, D (2004) La Ville Franchisée. Formes et Structures de la
Ville Contemporaine. Paris: Éditions de la Villette.
[6] Merlin, P, Choay, F (1981) Dictionnaire de L’Urbanisme et de
L’Aménagement, 2ªEd. Paris: Presses Universitaires de France, 1996.
[7] Moudon, A.V (1997) “Urban morphology as an emerging
interdisciplinary field” in Urban Morphology. Journal of the
International Seminar of Urban Form. Vol.1, 1997. 3-10.
[8] Sieverts, T (1997) Cities Without Cities. An Interpretation of the
Zwischenstadt, London & New York: Spon Press, 2003.
162
[9] Stalinov, K, Scheer, B.C (2004) Suburban Form. An International
Perspective. London & New York: Routledge, 2004.
[10] Viganò, P (1999). La Città Elementare. Milano: Skira Editores, 1999
163
A explosão das formas na região urbana do Porto
António RAMALHO
Associação dos Urbanistas Portugueses
DECivil-IST, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
00351 218418028, [email protected]
Palavras-chave: formas urbanas; modos de vida; lugares; espaços públicos;
cidade-ponto; urbano-superfície; cidade contínua; cidade fragmentada; centr
os; periferias.
Resumo
As cidades encontram-se em permanente transformação, gerando, por sobre
posição e adição, novas “formas urbanas”. Por vezes, tais formas induzem n
ovos “modos de vida”.
No urbano em transformação as novas “formas urbanas” e os “modos de vid
a” agregados, em territórios de maior concentração populacional, têm vindo
a realçar uma alegada cidade “ageográfica”, isto é, um tipo de cidade compl
etamente nova, sem um “lugar” associado a ela, onde o acontecimento mais
importante é o corte, a descontinuidade, a fragmentação.
Para isso têm contribuído as intervenções de requalificação nas áreas centrai
s / tradicionais desprendidas e excessivamente centradas na arquitectura dos
“espaços públicos”, bem como o processo de urbanização das áreas de expa
nsão periféricas em que a lógica é de sonegação daqueles espaços. Daí têm r
esultado preocupantes rupturas tipo-morfológicas e vivenciais.
É hoje indispensável uma abordagem disciplinar consubstanciada na ideia q
ue “se o planeamento urbano e o urbanismo devem ser capazes de se adapta
r a um contexto incerto e em mudança, a cidade construída deve também ela
própria ser flexível, reutilizável, transformável” (Ascher, 1998). Acontece,
porém, que essa abordagem disciplinar vem questionar o modelo “uma cida
de – um centro”, verificando-se antes uma explosão das centralidades que n
os obriga a passar da escala da “cidade-ponto” para a da “urbano-superfície
”.
O urbanismo da “urbano-superfície”, como prática orientadora da expansão
da “cidade conceptual” (entendida como a aceitação de um modelo formal ti
po), é alicerçado na dicotomia “cidade contínua” / “cidade fragmentada”, ou
em alternativa, na pródiga “cidade sem modelo”.
Já a urbanidade da “urbano-superficie”, no ensejo de readaptar a “cidade viv
ida”, é ponderada à luz dos novos “modos de vida”, suportados nos tempos
164
e distâncias de deslocação, nos espaços da hipermobilidade e nos “espaços p
úblicos”, que o poderão não ser (literalmente públicos), sem que tal reconhe
cimento constitua impedimento ao seu efectivo uso.
Esta nova cidade da contemporaneidade, no plano das políticas urbanas estr
atégicas, concretiza uma visão integradora e transversal (às “velhas” e às “n
ovas” territorialidades), direccionando a competitividade para níveis supra-l
ocais. Por outro lado, no plano das concepções urbanísticas reinterpreta a di
cotomia “cidade contínua” / “cidade fragmentada”, derivando-a para outras
considerações, como por exemplo, a “cidade das formas contínuas e das viv
ências fragmentadas” ou a “cidade das formas fragmentadas e das vivências
contínuas”.
A contemporaneidade produz um mosaico urbano onde coexistem a dispers
ão e a aglomeração, usos variados e especializados, mobilidades polares (e
m direcção aos “centros”) e mobilidades tangenciais (em direcção a aglomer
ações mais recentes das “periferias”).
As novas territorialidades geradas constituem elementos fortes na estruturaç
ão das "urbano-superfícies", funcionando como indutoras de pontos ou eixo
s de atracção e aglomeração de funções e de emprego, produtoras de novas
e diversificadas polarizações, organizadoras de novas lógicas de mobilidade
e sistemas de relações, ora fragmentando, ora fomentando a coesão funciona
l.
São estas, genericamente, as grandes questões disciplinares hoje suscitadas
pelas regiões urbanas emergentes, como a do Porto, que aqui nos servirá de
estudo de caso.
A região urbana do Porto, que se tem vindo a formar por entre conurbações
sucessivas há 40 anos a esta parte, compreende um amplo território urbaniza
do, evidenciando um sistema de povoamento disperso, não homogéneo, co
m concentrações / polarizações diferenciadas. Neste amplo território, que ch
ega a atingir 120 km de norte a sul e 50 km de este a oeste, vivem cerca de 3
milhões de indivíduos, cujas “formas e os modos” de vida fruem por entre a
s “formas e os modos” das urbes.
Agradecimentos
O autor congratula-se com a oportunidade de participar na sessão subordina
da ao tema “As formas urbanas das periferias das cidades” e agradece à Por
tuguese Network of Urban Morphology os notáveis contributos disciplinares
que tem vindo a produzir ao longo das suas actividades.
165
Referências
[1] Sorkin, M. (2004), Variaciones sobre um parque temático – La nueva
ciudad Americana y el fin del espacio público. Editorial Gustavo Gili,
Barcelona
[2] Corboz, A. (2001), Le territoire comme palimpseste et autres
essais. Les Éditions de L’Imprimeur, Paris
[3] Ascher, F. (1998), Metapolis. Celta Editora, Oeiras
[4] Portas, N. et al. (2003), Políticas urbanas – Tendências, estratégias e
oportunidades. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
[5] Font, A. et al. (2005), L’esplosione della città. Editrice Compositori,
Bologna
[6] Soja, E. (2000), Postmetropolis – Critical studies of cities and regions.
Blackwell Publishers, Oxford
[7] Ramalho, A. (2007), Princípios para a implementação do plano
pedonal em cidades de média dimensão. Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto / Faculdade de Arquitectura da Universidade do
Porto, Porto
166
O Bairro de Santa Teresa no Rio de Janeiro –
morfologia de matriz portuguesa no traçado em
colina
Fernanda MAGALHÃES
Directora de Urbanismo. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Campo Grande, 376, 1749-024 Lisboa, Portugal
00351 217515500, [email protected];[email protected]
Palavras-chave: Urbanismo de colina luso-brasileiro, Forma urbana de
matriz lusitana, Morfologia, Orografia, Património arquitectónico e
urbanístico.
Resumo
A ordem e lógica da cidade portuguesa, construída nas colinas, em terrenos
de orografia difícil, à procura de condições de defesa mas também de
funcionalidade, caracterizam um tipo de ocupação que está presente no
padrão da urbanística colonial brasileira, sobretudo em suas cidadescapitais, que se constituem numa representação direta da Metrópole no país.
Os casos de Santa Teresa e Ouro Preto, de origem lusitana menos
formalizada, e também de implantação mais tardia, mantêm essa tradição
portuguesa de traçados em encosta.
A cidade do Rio de Janeiro, marcada desde sua origem por este modelo, não
conseguiu, todavia, preservar a memória das primeiras implantações, como
o Morro do Castelo, demolido pelas reformas urbanas do início do século
XX. O Morro de Santa Teresa e sua estrutura de ocupação consolidada ao
longo do século XIX, torna-se assim, patrimônio e importante referência
para o estudo de um padrão de cidade de colina para o Rio de Janeiro,
sobretudo por ainda abrigar diversas particularidades como bairro
residencial, com seus modos de vida específicos e como testemunho vivo e
contemporâneo de uma cultura urbanística peculiar de gênese lusitana.
167
Santa Teresa, sobre a influência direta de muitos loteadores e proprietários
das chácaras locais de origem portuguesa – como a própria toponímia revela
–, que apresenta uma ocupação que serpenteia o morro com ruas muitas
vezes dispostas na diagonal das curvas de nível, inúmeras visuais e frestas
urbanas, o casario em forma de presépio e as ladeiras que confluem para
formar os seus vários largos, denúncia de forma cabal a tradição da
urbanística luso-brasileira que configura aquilo que denominamos
“urbanismo de colina”.
O estudo da estrutura urbana e malha irregulares de Santa Teresa, por meio
da leitura configuracional morfológica de seus espaços, permitiu destacar
aquilo que lhe é peculiar e que deve ser salvaguardado como valor material
e imaterial de nossa cultura, de forma a minimizar os riscos de intervenções
que venham a comprometer esses mesmos valores históricos e patrimoniais.
Referências
[1] Abreu, M. (1989), Evolução urbana no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro:
Iplanrio, Zahar
[2] Azevedo, M.D.M. de (1965). O Rio de Janeiro, sua história, factos
notáveis, homens e curiosidades, Rio de Janeiro, Livraria
Brasiliana
168
[3] Carvalho, A.L.A. de; Rocha, O.P.R.A. (1990), A Era das
Demolições: habitações populares. Rio de Janeiro: Secretaria
Municipal da Cultura
[4] Instituto Pereira Passos (2000), Anuário Estatístico da cidade do
Rio de Janeiro 1998-99. Rio de Janeiro. CD-ROM
[5] Latif, M. de B. (1969), Uma cidade nos trópicos: São Sebastião do
Rio de Janeiro 1998-99. Rio de Janeiro, Livraria Agir
[6] Marques, M.E.C.M; Siqueira, V.B.C. (1988), O Rio de Janeiro
Setecentista, Rio de Janeiro: PUC-RJ, Mimeo
169
As formas urbanas das periferias de Luanda
Rui FLORENTINO
Associação dos Urbanistas Portugueses
DECivil-IST, Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
00351 218418028, [email protected]
Palavras-chave: Luanda, Forma urbana, Periferias, Urbanização, Habitação
social, Condomínio
Resumo
O processo de industrialização e a consequente mudança dos estilos de vida
ao longo do séc. XX conduziram a uma expansão generalizada das grandes
cidades, que se materializou na urbanização das suas periferias, através de
diferentes formas, que importa sistematizar, para melhor podermos intervir
sobre elas. Enquanto capital de Angola, Luanda tem actualmente cerca de 6
milhões de habitantes e conhece uma fase de grande desenvolvimento, após
os períodos de guerra colonial e guerra civil, alcançando uma superfície de
mais de 350 km2, 7 vezes superior à de 1980.
Figura 1: Torres e “musseques”, na expansão de Luanda. Fonte:
www.pissarro.home.sapo.pt
170
Neste processo de crescimento, a par da reorganização administrativa e da
evolução social e económica, distinguem-se desde logo três formas urbanas
bem diferenciadas, que por certo se desagregam em outras tantas variantes.
A primeira é a pré-urbanização incipiente, chamada de “musseque”, que se
alastra em mancha de óleo e ocupa uma parte significativa da cidade. Estes
conjuntos têm sido objecto de diversos estudos, hoje segundo metodologias
mais participadas (Moreira, 2012), mas em qualquer caso procura-se sempre
reconfigurá-los, dotando-os de infra-estruturas necessárias para a qualidade
urbana dos seus habitantes.
Figura 2: Novos bairros na periferia de Luanda. Fonte: www.publico.pt
Uma segunda forma urbana, presente também no processo de expansão de
Luanda, é a aplicação regional das ideias de cidade modernista, que separa
as funções, com maior ou menor sensibilidade territorial. Esta “tipologia”
surge por exemplo na promoção pública de habitação social, no bairro Vida
Nova (nome elucidativo) ou na ainda urbanização “fantasma” do Kilamba,
subjacente a acordos globais. Embora possa dispor de peças arquitectónicas
interessantes, as soluções urbanísticas são na maior parte dos casos pobres,
a exemplo das conhecidas na Europa.
A terceira e mais recente forma urbana caracteriza-se pelo aparecimento de
“condomínios fechados”, na zona Sul de Luanda, e decorre da emergência
171
de uma classe social com elevado poder económico. Mas como se sabe esta
solução urbanística não garante, de igual modo, a plena integração dos seus
habitantes com a restante comunidade.
Estes diferentes tipos de formas urbanas podem encontrar-se nesta e noutras
cidades, sendo útil aprofundar o estudo das suas morfologias, para melhor
preparar, em termos técnicos, os projectos de reabilitação destas periferias.
Na presente comunicação apresentam-se parâmetros quantitativos relativos
a estas três formas urbanas em Luanda.
Agradecimentos
Em representação da Associação dos Urbanistas Portugueses (AUP), o autor
agradece aos colegas António Ramalho, Cristina Cavaco, David Viana e
Fernanda Magalhães, por aceitarem participar nesta sessão, subordinada ao
tema “As formas urbanas das periferias das cidades”, com comunicações
sobre as formas urbanas das periferias do Porto, de Lisboa, de Maputo e do
Rio de Janeiro, respectivamente.
Referências
[1] Bettencourt, A. (2011), Qualificação e reabilitação de áreas
degradadas – os musseques de Luanda. Dissertação de Mestrado, FAUTL
[2] Carvalho, J. (2003), Formas Urbanas. Minerva Coimbra
[3] Gourgel, M. (2012), A importância da arquitectura sustentável nos
países de clima tropical – análise de casos na cidade de Luanda.
Dissertação de Mestrado, IST-UTL
[4] Moreira, P. (2012), Dossier Investigação prática. In Arqa, nº 103,
Futur magazine, Lisboa
172
Maputo: mapeando contrastes morfológicos
David VIANA1
1
CI-ESG/ Centro de Investigação da Escola Superior Gallaecia
Largo das Oliveiras, s/n, 4920-275 Vila Nova de Cerveira, Portugal
(+351) 251 794 054, [email protected]
Palavras-chave: Maputo, Forma urbana, Perimapeamento, Urbanização
extensiva, Construção acelerada da periferia
Resumo
Após a independência da capital moçambicana da administração colonial
portuguesa, em 1975, a nova autoridade municipal definiu como uma das
medidas estruturantes para Maputo (perspetivando uma ampla inclusão de
população residente que permanecia excluída de dinâmicas urbanas de
“desenvolvimento” e melhoria das condições de vida) a ampliação dos limites
administrativos do espaço urbano, consubstanciando uma alargada estrutura
urbana e periurbana que passou a incluir sectores suburbanos e de periferia no
âmbito da organização citadina. Deste modo, a forma urbana daquela capital
viu serem reconfigurados os seus contornos a partir de um processo muito
rápido, que teve implicações determinantes ao nível da sua transformação e
princípios de atuação previstos nas diversas estratégias constantes nas
propostas de planos-estrutura elaborados nas décadas de 1980 e 1990.
O contexto genérico da comunicação prossegue do enquadramento referido,
considerando problemáticas relativas à forma urbana de Maputo, entendida na
sua extensão e tendo em linha de conta a consolidação acelerada de áreas
edificadas cada vez mais afastadas do dito “centro”, comumente associado à
designada «cidade de cimento». Constituem faixas periurbanas na qual
coexistem grelhas residenciais com a habitação autoconstruída e autoorganizada. A quase monofuncionalidade da “periferia” de Maputo é
acompanhada pela fragilidade infraestrutural dessa parte do espaço urbano,
onde também se verificam outros deficits, no que se refere à oferta de
equipamentos, transportes públicos e serviços urbanos, por exemplo. Não
obstante, e pese embora o reconhecimento destes (e de outros) níveis de
precaridade, a diversidade de configurações morfológicas justifica que se
analise, sem preconceitos, a forma urbana na periferia daquela cidade [1].
Neste sentido, a comunicação versará a caracterização e descrição dos
principais constituintes morfológicos que caracterizam as faixas periféricas da
173
capital moçambicana, nomeadamente no que concerne aos sistemas e redes,
aos tipos edificatórios, aos usos e tecidos. Para o efeito, apresentar-se-á um
conjunto de mapeamentos [2] respeitantes a distritos e bairros de Maputo que
traduzirão contrastes entre o que tem “forma” e o que aparentemente carece
dela, entre geometrias “lineares” e outras mais complexas, entre a pluralidade
de conformações de malhas e eixos, de “texturas” e “granulometrias”, em que
se perceberá como os distintos “fragmentos” se agregam (ou não) num
intrincado “mosaico” que transcende noções dialéticas que ainda se possam
estabelecer sobre a capital de Moçambique.
Figura 1: O bairro “radiocêntrico” de ‘Polana Caniço A’ e a grelha residencial do
‘Bairro Hulene A’. Fonte: Desenho do autor a partir da sobreposição à cartografia de
Maputo, 2005.
Av. Julius Neyerere
‘Hulene B’
‘3 de Fevereiro’
Figura 2: O modo como a geometria “rizomática” do ‘Bairro Hulene B’ se “enlaça”
com a reticula do ‘Bairro 3 de Fevereiro’ a partir da Av. Julius Neyerere. Fonte:
Desenho do autor através da sobreposição à cartografia de Maputo, 2005.
O propósito da comunicação será estabelecer, de forma sistemática, uma
correlação entre categorias de formas que marcam a extensão do espaço
174
urbano de Maputo, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento
sobre aquela capital e respetivo quadro morfológico. Pretende-se direcionar o
resultado da apresentação no sentido da prossecução de perspetivas
panorâmicas e abrangentes, capazes de integrar e articular o que se apresenta
como contraditório e pouco conciliável, desmontando clivagens e hiatos ao
nível da perceção que se pode alcançar sobre a forma urbana da “periferia” da
cidade-capital moçambicana.
Para se objetivar o acima referido, os conteúdos elaborados para a sessão
temática sobre “formas urbanas nas periferias das cidades” foram estruturados
recorrendo à análise comparativa entre as diversas partes que compõem
Maputo – tendo como base a cartografia da cidade (facultada em 2005 pelo
Prof. Luís Lage, atual Diretor do Curso de Arquitetura e Planeamento Físico
da Universidade Eduardo Mondlane). Através do redesenho desta planta geral
da capital moçambicana, foram selecionados aspetos e elementos [3]
relevantes para explicar a morfologia da “periferia” de Maputo, focando
hierarquias entre infraestruturas, conexões entre bairros, categorias de malhas,
traçados de ruas, praças e largos, nós entre eixos viários, “filamentos” e
“porosidades”, densidades, entre outros. Os mapeamentos a apresentar serão
complementados por fotografias resultantes de “trabalho de campo” realizado
em Maputo (2005 e 2012), procedendo-se a registos gráficos, a levantamento
fotográfico, de documentos históricos, consulta de informação em arquivos,
entrevistas exploratórias e desenho à vista de diversos sectores daquela
capital. O tratamento de dados consequente possibilitou sistematizar um
conjunto de referências que foram sintetizadas e interpretadas de modo a
permitirem “ler” criticamente a cidade a partir dos seus contrastes.
Por isso mesmo, a pertinência da problemática aprofundada refere-se ao
contributo dado para o estado da arte, no qual consolidam-se autores e obras
que convalidam renovados olhares sobre contextos urbanos que partilham
características como as de Maputo, configurando orientações alternativas para
o urbanismo – “Everyday urbanism” [4]; “Opportunistic urbanism” [5],
“Informal urbanism” [6], “Tactical urbanism” [7]; “Sensorial urbanism” [8];
“Chameleonic urbanism” [9]. Estas e outras aproximações a processos de
urbanismo mais inclusivos e efetivamente participados, com papel ativo das
populações, reclamam que se reconsidere o modo como se encaram as
designadas «periferias», implicando a necessidade de atualização e
reconfiguração de modelos de atuação sobre a cidade [11].
175
Agradecimentos
O autor agradece à Associação dos Urbanistas Portugueses (AUP), na pessoa
do Arq. Rui Florentino, o convite e a oportunidade de participar nos trabalhos
da sessão paralela temática: “As formas urbanas nas periferias das cidades” –
que integra o programa da Conferência Anual do PNUM 2013.
Referências
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origem portuguesa. Um contributo para a requalificação do espaço
urbano. Escuela Técnica Superior de Arquitectura / Instituto
Universitario de Urbanística – Universidad de Valladolid, Valladolid
[2] Bosselman, P. (2008), Urban transformation. Understanding city design
and form. Island Press, Washington
[3] Rodríguez-Tarduchy. M. J., Grandal, I. B., De La Fuente, E. O. (2011),
Forma y ciudad. En los límites de la arquitectura y el urbanismo. Cinter
Divulgación Técnica SLL, Madrid
[4] Chase, L., Crawford, M., Kaliski, J. (2008), Everyday urbanism. The
Monacelli Press, New York
[5] Ramírez-Lovering, D. (Ed.) (2008), Opportunistic urbanism. RMIT
University, Melbourne
[6] Brillembourg, A., Feireiss, K., Klumpner, H. (Eds.) (2005), Informal
city. Caracas case. German Federal Cultural Foudation / Prestel Verlag,
Berlin
[7] Lydon, M. (Ed.) (2011), Tactical urbanism. Short-term action. Longterm change. NexGen – Next Generation of New Urbanism, New York
[8] Zardini, M. (2005), Sense of the City: An alternate approach to
urbanism. Lars Müller Publishers, Zurich
[9] Viana, D. (2010), African cities: towards a new paradigm –
"chameleonic" urbanism for hybrid cities. In Atas: AP2009 – African
Perspectives: The Future Life of the African City Centre (Re)Sourced.
University of Pretoria, Pretoria/Tshwane: pp. 179-187
[10] Simone, A. (2004), For the City yet to come. Changing African life in
four cities. Duke University Press, London
176
SESSÕES PARALELAS
PARALLEL SESSIONS
177
Acessibilidade e forma edilícia em Natal (Brasil): a
contribuição da Avenida Eng. Roberto Freire.
Rodrigo Costa do NASCIMENTO1;
1
Centro Universitário de João Pessoa - UniPê
BR 230, Km 22, Água Fria, 58053-000, Brasil, João Pessoa/PB
(83) 9675-5152, [email protected]
Palavras-chave: Morfologia edilícia, Morfologia urbana, acessibilidade
topológica, mercado imobiliário, cosmopolitismo.
Resumo
O intenso processo de transformação urbana de Natal/Brasil (capital do Rio
Grande do Norte) desde os anos de 1980 tem gerado longos eixos viários
ladeados por edifícios que refletem e incorporam algumas forças em jogo. O
surgimento de tipos de edifícios projetados, convertidos ou adaptados para
acomodar diversificados usos, agrupados em focos de centralidades
embrionárias se apresenta como efeito dos elevados níveis de acessibilidade
topológica (Hillier, 1996) gerada pela estrutura viária. Por outro lado, a alta
acessibilidade somada ao poder de atração da paisagem costeira tropical
acelerou estratégias de marketings - públicos e privados - para promover a
campanha do turismo (Ferreira e Silva, 2008), intensificada desde os anos
de 1980, para reforçar a imagem de cidade globalizada. Esta imagem tem
sido reafirmada pelos fluxos contínuos de visitantes, temporárias e
permanentes recém-chegados - denominados como "chegantes"
(Neverovsky, 2005). Um exemplo icônico deste processo é a avenida
Engenheiro Roberto Freire, eixo comercial visualmente caótico que pode
ser tomado como uma manifestação local do conceito de "strip" (VENTURI
et al, 2003). Nesse sentido, pode-se argumentar que o conjunto edilício
construído (ou em construção) nesta avenida é a materialização de forças
como a acessibilidade viária, a pressão imobiliária e cosmopolitismo –
expresso pelo turismo – sendo coerente classificar, em tipos, a maior parte
dos edifícios. A acessibilidade viária será analisada mediante emprego da
Lógica Social do Espaço, viés investigativo pertencente à morfologia e que
conserva como um dos seus axiomas o de que a forma é váriável
independente (atuante), ou seja, a estrutura do espaço (urbano e/ou
arquitetônico) pode interferir nas relações sociais (HILLIER, 1996, p.20)
provocando desde a probabilidade de encontros até a diversidade de usos.
179
Estudos têm revelado que atributos da estrutura do espaço urbano, tais como
a acessibilidade, também estão sujeitos à interferência de outros fatores
econômicos e sócio-culturais, gerando transformações no ambiente
construído (MEDEIROS e TRIGUEIRO, 2007; CARVALHO e
TRIGUEIRO, 2007, MEDEIROS e HOLANDA, 2007, NASCIMENTO,
2011). Através dos recursos representacionais da Análise Sintática do
Espaço (ASE) que contempla, dentre outros procedimentos, a representação
linear - inserção do menor número de linhas mais longas que representam
acessos nos espaços considerando barreiras e permeabilidades – serão
analisadas medidas quantitativas que representam a elevada ou baixa
acessibilidade da avenida. A acessibilidade - aqui designada como
topológica – é conceituada como os caminhos melhor conectados entre si
considerando-se sua inserção na malha viária (HILLIER, 1996), traduzindose em medidas de integração, que medem quão profunda, ou distante, uma
linha axial está de todas as outras do sistema (HILLIER et al, 1984). A
abordagem da pressão imobiliária e da formação de tipos edilícios está
centrada nas possibilidades comerciais que se descortinaram em função do
turismo e da atração de visitantes, uma vez que este mercado utiliza a
paisagem como um dos maiores atratores. Tal argumento fundamenta-se na
idéia de que elevados níveis de acessibilidade dos eixos viários das cidades
litorâneas têm o turismo como forte aliado no incremento do mercado de
imóveis em locais de forte apelo da paisagem conforme também crê Villaça
(2001). Atualmente o cenário da Avenida Eng. Roberto Freire é constituído
tanto de edifícios desmontáveis, substituíveis e, principalmente, recriáveis
ao sabor das necessidades de mercado, quanto daqueles de maior porte/em
altura que expressam a reprodução/valorização do solo urbano e a expansão
do mercado imobiliário local (CLEMENTINO et al, 2009). Esses edifícios
seguem a lógica daquilo que os promotores locais do espaço urbano
intitulam como “turismo imobiliário”, fenômeno recorrente em Natal e em
outras capitais nordestinas litorâneas brasileiras, como estudaram Ferreira e
Silva (2008) e Silva (2010). Este artigo tem como contribuição central o
entedimento de como se dão as relações entre acessibilidade topológica e a
natureza tipológica do acervo edilício a partir da análise de como
propriedades espaciais da malha viária favorecem a geração de uma
arquitetura que atende, mesmo que parcialmente, a requisitos de mercado.
Além disso, contém uma reconstituição de parte da história do adensamento
da avenida em perspectiva diacrônica. O estudo, portanto, objetiva
compreender como a arquitetura da avenida Eng. Roberto Freire responde à
acessibilidade vis-à-vis o desenvolvimento do mercado imobiliário
mediante a leitura de um quadro morfológico sincrónico resultante da
180
análise da configuração espacial que contém a avenida (cf. Hillier e Hanson,
1984) e do inventário e classificação do acervo edilício que lá está,
considerando também o processo de cosmopolitismo (turismo) alí incidente.
Referências
[1] Carvalho, Heliana, Trigueiro, Edja (2007). The new “Cidade Nova”:
assessing effects of urban configuration and land use change in
architectural transformation. Proceedings, 6st International Space
Syntax Symposium, Istanbul Technical University, Faculty of
Architecture, Istanbul, v. 1, pp. 107.01-107.08.
[2] Clementino, Maria do Livramento, Pessoa, Zoraide (2009), Tipologia
sócio-espacial numa metrópole em formação: a RMNatal, In
Clementino, Maria do Livramento, Pessoa, Zoraide Souza. (org),
Natal: uma metrópole em formação, São Paulo, Educ – editora PUCSP, p. 73-114.
[3] Ferreira, Ângela Lúcia, Silva, Alexsandro Ferreira Cardoso da (2008),
Três momentos da urbanização turística: estado, mercado e
desenvolvimento regional no nordeste brasileiro (1997-2007), Scripta
Nova, ago, Disponível em: <http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-270/sn270-89.htm>, Acesso em: 12 dez. 2008.
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University Press.
[5] Hillier, Bill; Hanson, Julienne (1984), The Social Logic of Space.
Londres: Cambridge University Press.
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centrality forever lost and some hope: studying alternatives for requalifying an old town centre, Proceedings, 6st International Space
Syntax Symposium, Istanbul Technical University, Faculty of
Architecture, Istanbu, v. 1, pp. 036.01-036.12.
[7] Medeiros, Valério, Holanda, Frederico (2007), Structure and Size:
brazilian cities in an urban configurational world scenario,
Proceedings, 6st International Space Syntax Symposium, Istanbul
Technical University, Faculty of Architecture, Istanbu, v. 1, pp.
029.01-029.12.
[8] Nascimento, Rodrigo Costa (2011), Natal, qual é a sua cara? Análise
do perfil edilício da Avenida Eng. Roberto Freire (Natal/RN) à luz da
acessibilidade, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal.
[9] Neverovsky, Catarina (2005), Da gata borralheira à cinderela: nova
espacialidade decorrente do desenvolvimento turístico, diferenciada
pelo estilo de vida em Ponta Negra, Natal, 188 p, Dissertação
181
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo), Centro de Tecnologia,
Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
[10] Silva, Alexssandro Ferreira Cardoso da (2010), O litoral e a
metrópole: dinâmica imobiliária, turismo e expansão urbana na Região
Metropolitana de Natal. Natal, 436p, Tese (Doutorado em Arquitetura
e Urbanismo), Centro de Tecnologia, Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
[11] Venturi, Robert; Brown, Denise Scott, Izenour, Steven (2003),
Aprendendo com Las Vegas, São Paulo, Cosac & Naify.
[12] Villaça, Flávio (2001), Espaço intra-urbano no Brasil, São Paulo,
Studio Nobel, 2 ed.
182
Análise configuracional na Alameda D. Afonso
Henriques
Nádia ROMÃO1; Rúben VIEGAS1; Rosália GUERREIRO2; Sara ELOY3
1
ISCTE-IUL, 2 ISCTE-IUL/CIES-IUL, 3 ISCTE-IUL/ADETTI-IUL
Avenida das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa,
Portugal, [email protected],
[email protected] [email protected],
[email protected]
Palavras-chave: Formalidade,
espaço público, sintaxe espacial
urbanidade,
configuração
espacial,
Resumo
O estudo analisa aspectos da configuração espacial da Alameda D. Afonso
Henriques em Lisboa. Construído nos anos 40 e associado às obras do
Estado Novo, este espaço público apresenta ainda hoje um forte carácter
monumental, quer pelas suas dimensões, formalidade e simetria, quer pelo
enquadramento das massas de edificado e colocação dos edifícios públicos,
nomeadamente o Instituto Superior Técnico e a Fonte Luminosa.
Apesar do seu carácter formal, símbolo do poder ditatorial, propícia a
acontecimentos efémeros, a Alameda é também um lugar de encontro e
sociabilização característicos dos espaços públicos mais informais e de
menor dimensão.
No entanto, estas funcionalidades que aparecem dum modo espontâneo e
emergente, não acontecem duma forma homogénea, revelando certos
padrões de localização e distribuição pelo espaço. Acreditando que o
comportamento humano em termos de fluxo pedestre e na escolha dos
locais de permanência não é aleatório, embora espontâneo e inconsciente,
procura-se determinar com este trabalho quais os aspectos da configuração
espacial que justificam a opção por certos locais em detrimento de outros.
A análise fundada na teoria do Sintaxe Espacial ou Teoria da Lógica Social
do Espaço preconizada por Hillier e Hanson (1984) visa investigar o
desempenho configuracional segundo os paradigmas socio-espaciais da
“urbanidade” e da “formalidade” como define Holanda (2002).
Formalidade e urbanidade são conceitos introduzidos por Holanda (2002)
para distinguir dois tipos de espaço na cidade. Enquanto o primeiro
183
privilegia o desenho, a monumentalidade e a racionalidade dos aspectos
formais do espaço com objectivos claramente disciplinadores de
comportamentos e de afirmação do poder, o segundo refere-se não só ao
espaço enquanto realidade física mas também propiciador de
comportamentos informais e espontâneos e que têm a sua expressão
máxima naqueles espaços orgânicos da cidade construídos pelas pessoas ao
longo do tempos e sem um desenho pré-estabelecido.
A teoria da sintaxe espacial procura analisar a relação entre espaço e
sociedade ao nível dos paradigmas enunciados e baseia-se essencialmente
nos possíveis fluxos e permanências gerados por diferentes configurações
espaciais a várias escalas. Enquanto teoria sistémica permite unir uma
análise global, que fornece informações sobre o contexto urbano da cidade a
uma análise local centrada nos atributos do espaço da Alameda e na sua
relação com o contexto.
Com base nestas premissas colocam-se as seguintes questões que este
trabalho visa responder:
•
•
•
Quais os atributos configuracionais do espaço da Alameda D.
Afonso Henriques que permitem classifica-la à luz do
paradigma da formalidade e/ou da urbanidade?
De que forma a sua localização face ao contexto da cidade
contribui para a influência de cada um desses paradigmas?
Quais os atributos locais que permitem aumentar o seu
desempenho em termos de espaço de encontro e sociabilização
ou seja, quais as características configuracionais locais que
permitem aumentar o nível de urbanidade neste espaço?
Para responder a estas questões procedeu-se à recolha de dados sobre o
lugar através do mapeamento de comportamentos e atividades, contagens e
medições com o objetivo de obter informação sobre as perceções e
significados das pessoas em relação ao lugar. Também se recorreu ao uso
do vídeo time-lapse para o reconhecimento de padrões de uso e de
comportamento, e principalmente para a observação do movimento dos
peões como por exemplo o atravessamento de vias de tráfego identificando
eventuais conflitos ou oportunidades para o desenho do espaço público.
Paralelamente aos dados recolhidos na observação foram realizadas análises
no software Depthmap calculando matematicamente atributos do espaço
como mapas axiais e de visibilidade a partir da noção de potencial de
184
movimento. Estes mapas que são uma forma de representação
configuracional que revela a acessibilidade do espaço urbano através duma
escala cromática (azul, verde, amarelo, laranja e vermelho) podem,
juntamente com as observações registadas no local ajudar a definir o grau
de urbanidade e formalidade do espaço público da Alameda.
As medidas topológicas a serem exploradas são: (a) conectividade,
quantidade de conexões existentes num dado elemento integrante do
sistema de espaços públicos; (b) integração, grau de acessibilidade
topológica do elemento urbano, avaliada globalmente ou localmente; (c)
controlo, expressa o grau de importância de um espaço como ponto de
passagem em relação aos espaços circundantes (d) inteligibilidade, grau de
facilidade de leitura do espaço, tendo por base critérios de perceção
espacial, entre outras.
Os resultados sugerem que a Alameda, embora sendo um espaço de
características monumentais e formais propícia a alguns acontecimentos
efémeros, concentra também alguns espaços com maior nível de
urbanidade. A observação directa, registou um grande nível de permanência
e fluxo de pessoas junto à zona de maior integração visual local (Figura 2),
o que corresponde também à intercepção de dois dos eixos globais mais
integrados da cidade (Figura 1). É nesse local que se concentram também os
usos e actividades de maior realce. Concluímos assim que as características
de urbanidade deste espaço emergiram duma forma espontânea nas zonas de
maior potencial de movimento. A existência de usos, actividades e fluxos
nesta área, não sendo projectados de raiz, são uma consequência da
configuração espacial e um resultado emergente das relações espaciais
como afirma Hillier et al. (1993).
185
Figura 1: Mapa axial de Lisboa com a integração HH, núcleo
integrador e localização do espaço analisado
Figura 2: Mapa de Visibilidade da Alameda D. Afonso Henriques, integração
visual HH, em cima ao nível do olho e em baixo ao nível do pé.
186
Referências
[1] Project for Public Spaces (2005) How to turn a place around. A
Handbook for Creating Successful Public Spaces. New York.
[2] Turner, A. (2004) Depthmap 4: a researcher's handbook. Bartlett
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Project for Public Spaces, New York, 1980.
[4] Holanda, F. de., (2002), O espaço de Exceção. Brasília: Editora
Universidade de Brasília
[5] Hillier, B., Hanson, J., (1984), The Social Logic of Space. Cambridge:
Cambridge University Press.
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attraction in urban pedestrian movement” in Environment and
Planning B, Londres: Pion Publication, v. 20, n.1.
[7] Ghel, Jan (2010) Cities for People. Island Press.
187
Espaço público - integração espacial e social
CARVALHO, Nádia; SERDOURA, Francisco
CIAUD – Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design
Faculdade de Arquitetura, Universidade Técnica de Lisboa
Rua Sá Nogueira, Pólo Universitário, Alto da Ajuda, 1349-055 Lisboa
+351 213625138
[email protected] | [email protected]
Palavras-chave: assentamentos informais, espaço público, análise espacial,
exclusão social.
Resumo
Este trabalho tem como objectivo compreender como o planeamento de
espaço público pode contribuir para uma maior integração espacial e social
em bairros de génese ilegal, contrariando a tendência destes espaços
informais para a segregação e estigmatização, associados a uma conotação,
geralmente, negativa.
O século XX foi marcado por mudanças decisivas para o desenvolvimento e
crescimento da sociedade mundial. Em Portugal, na década de 70, a par da
Revolução de Abril, deu-se o final da Guerra Colonial e, consequentemente,
o retorno dos residentes nas antigas colónias bem como da população
natural dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP).
Simultaneamente, deu-se um movimento migratório interno, resultante da
industrialização tardia do país, protagonizado pela população portuguesa
residente nos aglomerados rurais do interior, que partia para as cidades em
busca de um rendimento regular e estável.
Todos estes factores deram origem a um crescimento desordenado e
descontrolado nas periferias das cidades, resultando em manchas
suburbanas que surgiam como adições da cidade e não como sua parte
integrante.
O caso de estudo centra-se no Bairro do Alto da Cova da Moura (BACM),
bairro de génese ilegal localizado no concelho da Amadora. Terreno
desocupado pelos seus proprietários e, posteriormente, ocupado por
população proveniente dos PALOP’s, oriundos sobretudo de Cabo-Verde.
Caracterizado por um processo de construção sem planeamento e conforme
188
era necessário, o conjunto edificado resultou numa malha urbana irregular
que se destaca no conjunto da cidade.
Segundo Arantes [1] está a formar-se um “Planeta de Favelas”, em que 40 a
70% do território das cidades de Terceiro Mundo é ocupado pelas favelas
ou “slums”, o que representa cerca de um bilião de pessoas a viver em
assentamentos informais, desprovidos das condições básicas de
habitabilidade, sejam elas, rede de saneamento ou acesso a água potável ou
electricidade.
A cidade informal caracteriza-se pelo seu crescimento irregular, formandose e desenvolvendo-se consoante as necessidades de quem as constrói,
normalmente os mesmos que a habitam.
O espaço público é lugar de socialização, de encontro e também onde se
manifestam grupos sociais, culturais e políticos que a população da cidade
exprime [2]. É, à partida, um espaço que pode ser acedido por todos e, tendo
em conta que cada indivíduo ou grupo social atribui diferentes valores ao
mesmo, pode ser gerador de coesão bem como polarizador de conflitos e
tensões sociais.
Lynch [3] refere a importância do facto do espaço ser percepcionado à
medida que é percorrido e como o desenho pode influenciar, na construção
da cidade contemporânea, a intensidade e frequência com que é vivido o
espaço público.
Os espaços públicos nos bairros são espaços de proximidade, onde se é
constrangido a ter em conta o outro e onde todos são objectos de controlo
social. As relações de vizinhança são fortalecidas pelo contacto visual
frequente e são essenciais em lugares de elevada densidade populacional,
para que se desenvolvam.
Nos assentamentos informais, geralmente, não existe espaço público
planeado e é a rua que desempenha o papel de lugar onde se desenrolam as
interacções sociais.
Recorre-se à utilização do método da Sintaxe Espacial, teoria desenvolvida
por Hillier e Hanson (1984) que permite explicar e descrever as relações
sociais que ocorrem num determinado espaço e de que forma o desenho
urbano as influencia.
Neste contexto, a rua apresenta-se como o mais comum padrão espacial da
cidade, funcionando simultaneamente como elemento determinante na
definição de fluxos de circulação mas também como elemento de copresença do espaço [4].
189
Analisam-se as medidas de dimensão global (integração e profundidade) e
local (integração, controlo, conectividade e comprimento das linhas axiais),
e posteriormente, com base nas suas correlações, calcula-se o grau de
acessibilidade, inteligibilidade e permeabilidade deste sistema urbano do
BACM.
Surge a questão: pode o espaço público tornar-se gerador de trocas
socioculturais entre as comunidades dos bairros e as restantes?
A proposta de requalificação urbana do BACM teve como base os
resultados obtidos na análise sintáctica, sendo os espaços integrantes da
rede proposta de espaços públicos (Fig. 1) escolhidos a partir dos eixos que
apresentaram valores mais elevados de integração local. Espaços que
anteriormente funcionavam como barreiras e limites do bairro com a sua
envolvente foram tratados como potenciais entradas, promovendo a
permeabilidade e contrariando a sua segregação espacial.
Através de uma segunda análise sintáctica, com base no desenho da
proposta de requalificação urbana do BACM, verifica-se que os valores das
variáveis, em geral, aumentam, isto é, o planeamento de espaço público em
bairros com estas características pode contribuir, sem dúvida, para um
melhoramento de vivências, tanto entre os seus residentes como de relações
entre estes e os habitantes dos bairros da envolvente.
Conclui-se que ao criar espaços comuns que sirvam os interesses dos
diferentes grupos, respeitando a mistura cultural e percebendo o que a
compõem e como pode resultar, talvez se consiga um espaço público onde o
convívio multicultural seja possível, bem como a troca de conhecimentos,
contribuindo para uma sociedade mais igualitária.
190
Figura 1: Rede de espaços públicos (relações existentes e relações propostas)
Referências
[1] Arantes, P., (2008). O Lugar da Arquitectura num «Planeta de
Favelas», OPÚSCULO 11 – Pequenas Construções Literárias
sobre Arquitectura -, Porto, Dafne Editora
[2] Indovina, F. (2002). O Espaço Público: Tópicos sobre a sua
Mudança, Revista CIDADES, Comunidades e Territórios, n.º 5,
Lisboa, CET- ISCTE
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Cambridge.
[4] Massachusetts.
[5] Hillier, B. e Vaughan, L. (2007). The city as one thing. In
Vaughan, Laura, The spatial syntax of urban segregation. Progress in
Planing Nº. 67 205-294.
191
Morphological Analysis of FUSETA a syntactic
approach
M.PACHECO1; T. HEITOR2
1
DECivil, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa
Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa, Portugal
(+351) 218 418 344, [email protected]
2
DECivil, Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa
Av. Rovisco Pais 1049-001 Lisboa, Portugal
(+351) 218 418 344, [email protected]
Palavras-chave: Space Syntax, Depthmap Software, Urban History, Urban
Morphology, Fuseta
Resumo
Fuseta is an old fisherman village in the eastern Algarve, southern Portugal.
A century ago, its built up fabric was characterized by an orthogonal grid
developed by the end of the 19th century. It was composed by two
independent nucleus, which were related to the economic activities of its
inhabitants - seamen and landsmen - and at same time reflected the
sociocultural division of the time between those two groups of inhabitants.
Nowadays, the urban fabric surpasses the original orthogonal grid toward
the surrounded rural areas without evidence of the social networks partitions
of the past.
This paper describes the evolution of Fuseta’s urban morphology through its
spatial configuration from the early 20th century up to the present. The
main goal is to understand the urban development process and the
relationship between urban transformations and social activity.
The almost non-existent bibliographic and cartographic sources concerning
to the urban evolution of this village enforces the use of alternative research
methods and morphological analysis procedures and tools. Together with
conventional analytical procedures based on a comparative analysis of
cartograms, visual and spatial networks’ analysis was applied using space
syntax tools (Depthmap Software). In doing so, this paper also aims to
explore the contribution made by space syntax to facilitate the comparative
study of urban form through time and the understanding of its evolution.
192
The Depthmap modelling of Fuseta allowed the production of two types of
maps that express parameters and urban concepts: a) axial maps (see map
1), which analysis concepts like connectivity, integration, synergy,
intelligibility, entropy and b) visibility maps (see map 2), which evaluates
the step depth’s parameter.
Three different models were developed in order to compare the old urban
core with the new urban area: 1) the urban core in the early 20th century, 2)
the urban core in the 21st century, and 3) the present urban area of Fuseta.
Furthermore, the study attended to the local scale, analyzing the main
squares in both aforementioned periods. This comparison allowed to
understand how the urban expansion has changed the old structure of the
village, namely how the orthogonal plan was affected by the extension of
the main street or the planning of new ones over the surrounding area, as
well as the socio-cultural relationship of the inhabitants with the urban
space.
The paper is organized in two parts: the first one gives a characterization of
the village and refers the state of art; the second one is dedicated to the
morphological analysis of the village, the methodology procedures and
some examples and analysis of axial and visibility maps parameters.
In conclusion, the appliance of the Depthmap Software on the study of the
Fuseta’s urban evolution permitted to draw a reliable parallel between the
unknown urban characteristics of the early 20th century with the present
well-known structure, at same level of measurements, detailing, information
and parameterization.
20th century
21st century
Global Integration (%)
90 – 100 %
80 – 89 %
70 – 79 %
60 – 69 %
50 – 59 %
40 – 49 %
30 – 39 %
20 – 29 %
10 – 19 %
1–
9%
193
Map 1: Global integration’s axial map of the urban centre, on the beginning of 20th
and 21st centuries.
20th century
Seamen square
21st century
Landsmen square
Dock square
Map 2: Metric step depth visibility’s maps of main squares, on the beginning of 20th
and 21st centuries.
194
Agradecimentos
The present paper is part of a PhD research, integrated in the Doctoral
Program in Architecture of Instituto Superior Técnico IST/UTL, and
supported by FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia.
Referências
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Instituto Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina, Lisbon,
Portugal.
[9] Turner, A. (2004), Depthmap 4: A researcher’s handbook, Bartlett
School of Built Environment, London, United Kingdom.
195
Questionando o urbano: viagem pela Coimbra
axial
Ana TAVARES
Departamento de Arquitectura-Faculdade de Ciências e Tecnologia-Universidade de
Coimbra Edifício Colégio das Artes, Largo D. Dinis, 3000-143 Coimbra, Portugal
+351963731396, [email protected]
Palavras-chave: sintaxe espacial, análise axial, Coimbra, viagem,
tecido urbano
Resumo
O artigo que a autora propõe para a conferência PNUM 2013, a decorrer na
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra no
próximo mês de Junho, será dedicado ao tema análise, desenho e
quantificação da forma urbana. O conceito subjacente ao artigo é o de
procurar levar o leitor numa visita ao município de Coimbra, através do seu
mapa axial.
Mapa axial é um termo referente ao universo da teoria da sintaxe espacial,
ou space syntax, originalmente desenvolvida na década de 1970 do século
passado pelos professores Bill Hillier, Julienne Hanson e colegas, na
Bartlett School - University College of London (Hillier, 2007; Hillier,
Hanson, 1993). A teoria consubstancia-se num método de análise científica
do espaço urbano e arquitectónico, e das suas relações com fenómenos de
cariz social, económico e ambiental (Space Syntax Network website, data
de consulta), cujo tratamento e processamento ocorre com a utilização de
softwares especificamente criados para o efeito.
A validade dos métodos de análise urbana e arquitectónica resultantes da
teoria da sintaxe espacial tem vindo a ser consistentemente mostrada (ver
proceedings dos simpósios organizados pela space syntax network
disponibilizados online, e também Hillier, 1999; Ratti: 2004; Hillier, Penn:
2004), no entanto, Raford (2009) observou que a abordagem às teorias e aos
métodos da sintaxe espacial pode ser demasiado complexa para arquitectos
e planeadores urbanos. Raford efectuou diversos inquéritos junto dos
círculos profissionais no Reino Unido e nos Estados Unidos da América e
concluiu que existiam dificuldades no domínio das suas metodologias e
terminologias linguísticas. Assim, e apesar do seu valor, as potencialidades
dos métodos de análise sintática derivados da teoria da sintaxe espacial não
196
foram considerados por estes indivíduos, que, não tendo formação
específica sobre a mesma, reconheceram considerá-los pouco atractivos.
Em virtude desta conclusão, e por forma a procurar contrariar as
dificuldades na compreensão e manejamento da teoria da sintaxe espacial, a
autora propõe uma abordagem mais amigável da mesma, recorrendo à
produção e processamento de uma análise sintática ao município de
Coimbra, sobre a qual sobreporá uma forma de leitura directa e intuitiva dos
resultados computacionais obtidos, consubstanciada na verificação local das
características apresentadas pelo mapa axial do município.
Para o efeito, serão primeiramente apresentadas as bases da teoria da sintaxe
espacial, descrevendo as suas diferentes aplicações e utilidade técnica,
embora explorando em maior detalhe a análise axial, objecto central do
artigo a desenvolver. Será descrito o processo utilizado na criação do mapa
axial do município de Coimbra e na produção de algumas medidas de
análise, oportunamente explicitadas e comentadas. Os resultados obtidos
com estas medidas de análise serão lidos e interpretados, nomeadamente no
que se refere às características da sua estrutura urbana e dos elementos que
compõem o município de Coimbra, sendo que após esse passo se seguirá a
viagem pelo município por forma a confrontar os resultados obtidos através
do software com a realidade que se evidenciar nos locais.
A autora procurará visitar vários sectores da cidade, definindo para isso
percursos que permitam observar as diferentes estruturas urbanas e os
diferentes elementos que as compõem, bem como as relações que estes
estabelecem entre si e com a vivência quotidiana dos indivíduos, por forma
a obter uma visão o mais alargada possível do que significa ser urbano em
Coimbra, e das metamorfoses que este conceito pode sofrer dentro do seu
perímetro.
A autora irá concluir o artigo evidenciando a assertividade dos outputs
obtidos pelo processamento informático axial do município de Coimbra, e
rematar com uma referência à importância que a sintaxe espacial pode ter na
identificação dos elementos dominantes das complexas malhas urbanas
contemporâneas.
Referências
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transformação urbana em Portugal, Argumentum Edições, Lisboa.
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architecture,
livro
electrónico,
retirado
de
197
http://www.spacesyntax.com/en/downloads/library/books.html,
em
Janeiro de 2012.
[4] Hillier, B. (2004), Rejoinder to Carlo Ratti, Environment and
Planning: Planning and Design, 31, 501-511, retirado de
http://discovery.ucl.ac.uk/1061/, em Janeiro de 2013.
[5] Hillier, B. (1999), The hidden geometry of deformed grids – or, why
space syntax works, when it looks as though it shouldn`t, Environment
and Planning: Planning and Design, 26, 169-191, retirado de
http://eprints.ucl.ac.uk/1402/, em Abril de 2012.
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University Press, Cambridge, UK.
[7] Marques, T. S. (2002), Dinâmicas Territoriais - Portugal na Transição
do século (XX-XXI, tese de doutoramento, Universidade do Porto,
retirado de http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/20855, em
Abril de 2012.
[8] Lynch, K. (2001), La Imagen de la Ciudad, Gustavo Gili, Barcelona.
[9] Peri, L. V. (2005), Paisages de la nueva centralidad – Infraestructuras
arteriales y polarización del crescimiento en la Región Metropolitana
de Barcelona, tese de doutoramento, Universidade Politécnica da
Catalunha, Barcelona.
[10] Raford, N. (2007), Social and technical challenges to the use of space
syntax methodologies as a planning support system (PSS) in American
urban design, proceedings of the 7th International Space Syntax
Symposium,
retirado
de
http://www.sss7.org/Proceedings/10%20Architectural%20Research%2
0and%20Architectural%20Design/090_Raford.pdf, em Janeiro de
2013.
[11] Ratti, C. (2004), Urban texture and space syntax – some
inconsistencies, Environment and Planning: Planning and Design, 31,
retirado
de
http://ispots.mit.edu/papers/pdf/2004_%20Ratti_Environment%20and
%20Planning%20B01.pdf, em Abril de 2012.
[12] Space Syntax Network website, http://www.spacesyntax.net/,
consultado em Janeiro de 2013.
[13] Turner, A. (2004), Depthmap 4 - a researcher`s handbook, livro
electrónico, retirado de http://discovery.ucl.ac.uk/2651/1/2651.pdf, em
Abril de 2012.
[14] Venturi, R., Izenour, S., Scott Brown, D. (2000), Aprendiendo de Las
Vegas, Gustavo Gili, Barcelona.
198
Optimal spatial configuration of cities with
HESTIA
António LORENA1
1
IN+ Center for Innovation, Technology and Policy Research,
Instituto Superior Técnico, Universidade Técnica de Lisboa
Av. Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva, 2744-016 Porto Salvo, Portugal
+351 21 0407041, [email protected]
Palavras-chave: urban morphology, land-use modeling, genetic algorithm,
linear city
Abstract
The discussion of how a city should be spatially organized is one of the
oldest problems to which no single solution exists. From Plato’s ideal city
on Laws, to Prince Charle’s experimental town of Pounbury, including Sir
Ebenezer Howard’s Letchword Garden City and Artur Soria y Mata’ Linear
city, many have proposed ideal cities. These are usually based in the
minimization of traveling or real distance to important services and assume
very simple restrictions and variations. With the advent of computer based
simulations, this problem could be solved in a more sophisticated manner.
These works resulted in more complex urban spatial configurations, such as
multi-centric cities and dispersed patterns [1, 2]. However, these methods
have not been consistently and uniformly tested, probably due to the lack of
a coherent modeling framework that can take in different theories.
We propose a modeling framework called HESTIA – Heuristics for Select
Town planning based on Influence Areas. The major purpose of the
HIESTA model is to create a tool and framework to test theories and
assumptions concerning the spatial distribution of cities. The model consists
essentially in three components: (i) the influence rules determines the
relative influence of land-use A in the utility or desirability of land-use B;
(ii) the optimization heuristic that shapes the city to an optimal
configuration; and (iii) the objective function, the performance measure that
is actually maximized. These components follow a modular approach. For
instance, one can readily alter the influence rules to test different
hypothesis, without tempering with the optimization or objective function.
199
This first application of this digital lab considers a limited number of landuse types - green spaces, work places and residences - and a mechanism for
the cohesive forces that shape land-use patters based on influence areas. The
occupied areas exert an influence roughly proportional to its size, but
saturated at some level, and that decays linearly with the distance to its
boundaries. The combination of these various influences determines the
desirability or utility of the building in each position. An optimization
heuristic based on genetic algorithms is then used to find a spatial
configuration that maximizes the desirability of the residential built
environment. The specially tailored genetic algorithm enabled us to include
phenomena such as urban sprawl and repetitive spatial patterns as natural
outcomes of urban growth.
Figure 1- Spatial configuration of cities arising from HESTIA. In the top row are the
utility maps for the residential areas that result from the spatial configuration in the
bottom row.
200
The most striking aspect of the resulting optimized cities is the linear and
alternated pattern that arises in most situations. If one looks carefully at the
results in figure 1 (bottom row), it is possible to identify some linear axis
where green spaces alternate with work buildings. A similar approach,
usually denominated the ’linear city’ has been proposed by urban planners
in the end of the XIX century [3]. This pattern can be understood
intuitively. As a river sustains both sides of the riverbank along its path, the
linear strip of green and work spaces increase the utility of the near
residential areas. This can be seen in figure 1 (top row), in which the
residential utility (i.e. how good is each zone for housing) is clearly higher
along these green-work axis.
Acknowledgements
The author is grateful to Professor Carlos Augusto Silva for his helpful
comments. The work of the author was financed by Fundação para a
Ciência e Tecnologia through grant SFRH / BD / 51134 / 2010.
References
[1] Fujita, M., Ogawa, H. (1982), Multiple equilibria and structural
transition of non-monocentric urban configurations. Regional Science
and Urban Economics, 12(2), pp. 161-196
[2] Anas, A., Kim, I. (1996), General Equilibrium Models of Polycentric
Urban Land Use with Endogenous Congestion and Job
Agglomeration. Journal of Urban Economics, 40(2), pp. 232-256
[3] Doxiadis, C.A. (1967), On Linear Cities. Town Planning Review,
38(1), pp. 35-42
201
Avaliação Computacional da Forma Urbana: a
qualidade do ambiente térmico de Brasília - Brasil
Caio F. e SILVA1; Marta A. B. ROMERO2
1
Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Campus Universitário Darcy Ribeiro - Asa Norte - Caixa Postal 04431
CEP: 70904-970 - Brasília / Brasil
+55 61 3107 7445, [email protected]
2
Universidade de Brasília, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Campus Universitário Darcy Ribeiro - Asa Norte - Caixa Postal 04431
CEP: 70904-970 - Brasília / Brasil
+55 61 31077445, [email protected]
Palavras-chave: simulação computacional, configuração urbana, distrito
federal do Brasil, conforto térmico, legislação.
Resumo
As cidades cresceram e muitos dos problemas causados pelo processo de
urbanização estão fortemente relacionados ao clima. Esta abordagem de
análise do desempenho climático dos espaços urbanos tem amparo em
diversas pesquisas, nas quais a relação entre o clima e homem e as
estratégias de desenho urbano são os grandes temas. O grande desafio posto
aos urbanistas é o estabelecimento de regras, uma forma de controlar a
qualidade do ambiente da cidade a partir do desenho que a forma urbana
oferece. Vê-se que diante dos mais diversos problemas encarados pela
sociedade atual, a cidade deve adequar em suas formas as mais diferentes
proposta, deve abrigar os mais diferentes usos, mas deve fazer isso sendo
regida pela dimensão ambiental. Além disso, o espaço urbanizado está
sendo construído, adensado e modificado sem critérios claros que
promovam a qualidade ambiental urbana, dentre elas, a qualidade do
ambiente térmico medida através de índices de conforto térmico. Este
processo de modificações do cenário urbano sem promover a qualidade
ambiental nas cidades se deve à carência de prescrições ambientalclimáticas específicas, ou mesmo de uma legislação urbanística apropriada à
cultura climática de cada lugar. Em todos os aspectos, o tema do conforto
térmico tem forte relação com a agenda ambiental debatida
internacionalmente, pois, quando é esquecido ou desprezado na elaboração
dos planos diretores das cidades, a formato da cidade traz uma configuração
que não promove o conforto, e, em consequência, exige que os edifícios
202
resolvam todas as questões relacionadas ao conforto térmico, tornando,
assim, uma cidade cada vez mais despreparada para equacionar as questões
relacionadas a este tema, e edifícios cada vez mais dependentes de
climatização mecânica, o que agrega um indesejável e alto custo ambiental.
Método: A forma urbana neste artigo é tratada em sua microescala. São
avaliados os cânions urbanos, conformados pelo grau de fechamento e
abertura no espaço urbano. Esta variação é controlada por diferentes alturas
(height) e afastamentos (wide) das edificações que conformam uma fração
do cânion urbano, nesta tese denominada de cavidade urbana. Esta cavidade
urbana tem o seu nível de conforto térmico condicionado pelas variáveis:
orientação do conjunto edificado, pelo grau de sombreamento projetado
pelos edifícios e pelos materiais conformadores da base da cavidade. Para
isso, o método de avaliação é apoiado em simulações computacionais
desenvolvidas no software ENVI-met, no qual se utilizou o índice do voto
médio predito – PMV de conforto para uma análise comparativa entre 11
(onze) modelos hipotéticos. Neste contexto, coloca-se com método que uma
das formas para avaliar os impactos ambientais gerados pelas diferentes
aglomerações urbanas, é a quantificação dos aspectos relacionados a estes
impactos, como o grau de densidade urbana. Esta análise é relevante,
sobretudo, nas regiões em expansão e com alto índice de crescimento
populacional, como é o caso do Distrito Federal do Brasil. Esta análise
possibilita compreender o potencial de aumento de densidade urbana, o que
favorece a correta articulação entre o espaço construído e o espaço natural.
Neste sentido, o método apresentado neste estudo trata do uso de software
de simulação computacional para mensurar o impacto da forma urbana
(diferentes gabaritos) na qualidade do ambiente térmico. Neste sentido,
apresenta-se numa avaliação computacional para o clima do Distrito
Federal, classificado como tropical de altitude.
Considerações finais: Discute-se aqui qual o grau de fechamento ou
abertura dos espaços urbanos, assim como qual a melhor relação entre altura
e distância entre edifícios que geram espaços urbanos mais confortáveis
termicamente. As conclusões do trabalho definem para o clima do Distrito
Federal três categorias de proporção urbana mais adequada para a
manutenção da boa qualidade do ambiente térmico urbano. Por fim, discutese que faltam regras para a construção ambiental do espaço urbano cidade,
por meio das quais a cidade possa ser manipulada com propósitos amplos e
que considerem o clima urbano como condição indissociável em sua
construção. Conclui-se que os edifícios orientados no eixo leste-oeste
203
apresentam resultados que indicam um maior grau de conforto térmico
conformado por esta configuração urbana. O artigo recomenda a exigência
das administrações locais, que ao avaliar novos projetos ou intervenções
urbanísticas na microescala urbana, o profissional utilize métodos que o
auxilie numa avaliação mais próxima do ponto de vista ambiental. Esse
processo auxiliaria o técnico (avaliador) ou projetista (arquiteto e urbanista)
a prever os impactos ambientais da microescala como o grau de conforto
térmico que o arranjo urbanístico proposto causaria. Espera-se que
ferramentas de avaliação que subsidiem esses estudos possam oferecer
insumos para a revisão dos planos diretores locais e que esses assumam uma
abordagem mais comprometida com a qualidade e a sustentabilidade
urbana.
204
Três malhas, três fluxos: análise dos níveis de
mobilidade urbana em Lisboa
Ana PAULA1, B. G. BARROS2
Universidade de Brasília (PPGT/FT), Departamento de Engenharia Civil e Ambiental –
Programa de Pós-Graduação em Transportes – Anexo SG-12 – 1º andar
Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte
CEP: 70910-900 – Brasília/DF, Brasil
2
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico – Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos – Campus Alameda
Rovisco Pais, 1 – 1049-001 – Lisboa, Portugal
+55 61 83016116, [email protected]
1
Palavras-chave: mobilidade urbana, configuração, contagens, Lisboa.
Resumo
Muitos estudos analisam como a configuração do espaço interfere no
comportamento das pessoas. Holanda (2002) afirma, inclusive, que a
arquitetura é uma via de mão dupla, pois embora seja resultante de
expectativas sociais, é capaz de produzir desempenhos não previstos, a
afetar positivamente ou negativamente os indivíduos. Com base em tais
premissas, esta pesquisa discute como distintas configurações podem ser
relacionadas a variados padrões de movimento do espaço, numa relação de
causa e efeito. Acredita-se que os diferentes desenhos da malha viária –
uma instância da arquitetura compreendida em sentido amplo, ao envolver a
escala da cidade – são emblemáticos deste potencial do espaço. Do ponto de
vista teórico, metodológico e conceitual, adotam-se as estratégias
vinculadas à Teoria da Lógica Social do Espaço (Sintaxe do Espaço), que
procura explorar, entre outros aspectos, como ocorrem as afetações
recíprocas entre o espaço construído (o edifício e a cidade) e a sociedade.
Para tanto, foram selecionados três bairros da cidade de Lisboa que
apresentam desenhos de malha emblemáticos (Campo de Ourique: malha
regular associada ao padrão do tabuleiro de xadrez, Graça: malha irregular
resultante de processos de adaptação ao sítio, e Telheiras: malha
contemporânea derivada das estratégias disseminadas com o movimento
moderno). Nestes locais, foram confrontados os potenciais da configuração
derivados dos mapas axiais e de segmentos, bem como procedidas
contagens de pedestres e veículos segundo o manual fornecido pelo Space
Syntax Laboratory, adotando-se o chamado Método do Portal. Dos achados,
205
resguardadas as mesmas condições de levantamento de campo, verificou-se
que no bairro de Campo de Ourique houve o maior fluxo médio tanto de
pedestres (191,5 ped./h) quanto de veículos motorizados (390,5 veic./h) e
não motorizados (1,6 bic./h), o que parece articular alto potencial de fluxo a
malhas regulares. O bairro da Graça obteve o segundo maior volume de
pedestres com uma média de 158 pessoas por hora e de veículos (144.8
veic./h), o que significa que mesmo sendo uma malha com uma hierarquia
pronunciada, em que o fluxo predominante tende a ficar condensado em
determinadas vias, ainda assim apresenta maior dinamismo e fluxo que
malhas contemporâneas. Telheiras, enquadrada nesta última categoria,
obteve o pior desempenho tanto em relação ao movimento de pessoas, com
uma média por hora de 58,8, quanto o de veículos, com 102,3, o que
ratificando o caráter pouco atrator/gerador, especialmente vinculado à forte
presença de grandes áreas vazias no bairro. Por outro lado, Telheiras supera
Graça somente no número de veículos não motorizados (as bicicletas), e
neste caso supõem-se que por dois motivos básicos, (a) Graça apresenta um
relevo bastante acidentado, o que desestimula o uso de bicicletas e (b)
Telheiras é o único bairro em que há infraestrutura cicloviária, então talvez
este seja um atrativo. Para complementar as contagens, desenvolveu-se a
Análise do Caminho mais Curto, ponderando a simulação de todos os
trajetos possíveis em cada bairro, originando-se de todos os arcos para todos
os arcos – o que se assemelha aos procedimentos para o cálculo dos valores
de integração. A medida derivou para o Índice de Conversão Médio em que
Campo de Ourique alcançou o menor valor com 1,34; Graça situou-se em
posição intermediária, com 1,47, enquanto Telheiras alcançou 1,76.
Assume-se que no primeiro bairro, por apresentar uma malha de maior
regularidade, há maior facilidade em alcançar os destinos, situação
progressivamente comprometida na Graça e em Telheiras, com pior
desempenho. Observa-se, portanto, que o desenho da malha viária interfere
nos processos de deslocamento, ao promover ou desencorajar o uso de
certos trajetos.
Agradecimentos
A autora agradece primeiramente à CAPES pelo auxílio financeiro durante
o estágio de doutorado em Lisboa. Às observações em relação às contagens
dos orientadores Paulo Cesar (do Brasil), José Manuel Viegas (Portugal) e
Frederico de Holanda (Brasil). Ao auxílio do Valério Medeiros com a
tradução do Manual de Observação (Contagem) do Space Syntax
Laboratory (Londres – Inglaterra). E aos amigos – Ana Galelo, Joana
Ribeiro, Liliana Magalhães, Luís Caetano, Luís Filipe e Tomás Eiró – do
206
Instituto Superior Técnico pela ajuda com as contagens no bairro de
Telheiras.
Referências
[1] Holanda, F. (2002), O espaço de exceção. EdUnB, Brasília.
207
Relações entre forma e configuração espacial
urbanas
Romulo KRAFTA
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Sarmento Leite 320, Porto Alegre 90050-170, Brasil
55 51 3308 3550, 55 51 9988 2153
[email protected]
Palavras-chave: estrutura e ordem urbana, centralidade, análise espacial
Resumo
Este artigo explora possíveis relações entre forma urbana e configuração
espacial das cidades. Forma urbana está tomada aqui como o conjunto de
características próprias do artefato urbano, tais como geométricas,
tipológicas, estilísticas, funcionais, etc.. Configuração espacial urbana é
entendida como o conjunto de componentes (células) e relações (posição,
distância, adjacência, tensão, etc.) do sistema espacial definido pelo artefato
[1] [2]. Forma e configuração são passíveis de descrições particulares, mas
deveriam manter algum grau de convergência, decorrente do fato de serem
descrições de um mesmo fenômeno. Conjectura-se se a convergência
geográfica de características de forma e configuração poderia representar
algum tipo de harmonia, indicando aquisição de significado (semântica) ou
de desempenho (otimização).
Descrições da forma urbana buscam, no limite, identificar a ordem
morfológica, ou seja, a descrição das partes, das posições relativas e das
relações internas do artefato resultante da contínua adição de objetos
discretos ao tecido urbano. Uma descrição típica da ordem morfológica
urbana envolve a explicitação dos padrões, das exceções e das regras de
articulação dos componentes do artefato urbano. Padrões são resultantes da
presença de componentes repetidos segundo regras de variação limitada,
combinados segundo regras de articulação constantes. Exceções são
resultado da quebra de uma ou de ambas regras de composição. Ordem
morfológica, como consequência, é sintetizada num mapa composto por
tantas áreas temáticas quantos forem os padrões identificados, e tantos
elementos excepcionais quantos forem as contraposições entre áreas
temáticas e elementos que as contrariem.
208
Descrições da configuração buscam revelar a estrutura espacial, ou seja, a
descrição sistêmica do papel de cada componente no conjunto de
componentes [3]. Uma descrição típica da estrutura espacial é constituída
por uma lista de todos os componentes (células) do sistema espacial, na qual
a posição de cada componente na lista indica sua hierarquia, ou ranking,
obtido pela medição sistemática de algum tipo de relação de cada
componente a todos os demais. A identificação e descrição de cada
componente de um sistema espacial envolve a desagregação da forma
construída em células elementares, bem como a decomposição do espaço
aberto em elementos discretos. O exame da relação de cada componente
com os demais envolve a definição de critérios de relacionamento, sendo os
mais comuns a distância relativa, a posição relativa e falibilidade por
supressão [4].
Como se pode inferir, as descrições de forma e configuração não são
diretamente comparáveis e uma possível relação entre elas demanda alguma
elaboração. A lista que descreve a estrutura espacial pode ser facilmente
convertida num mapa, entretanto comparação entre este e o mapa da ordem
morfológica é apenas visual. O mapa de ordem não pode ser convertido em
uma lista hierárquica, a não ser que a cada componente, isoladamente, bem
como cada agregado, seja atribuído um valor numérico, que possa ser
combinado por área temática e por algum tipo de combinado excepcional,
gerando, dessa forma, uma classificação hierárquica capaz de suportar uma
comparação quantitativa e estatística com as medidas estruturais [5].
Tendo em vista esse quadro, o trabalho aqui relatado desenvolve, primeiro,
um procedimento descritivo e analítico para a forma urbana, baseado em
critérios quantitativos e qualitativos combinados, visando produzir uma
descrição hierárquica da ordem morfológica (que assim deixaria de ser uma
descrição de ordem, estrita, para passar a uma ‘ordem estrutural’, ou uma
‘estrutura objetual’ urbana) [6]. Em segundo lugar, define um indicador de
convergência entre essa descrição e as de estrutura espacial, baseado na
correlação estatística entre partes do sistema espacial e do tecido urbano
correspondente. Em terceiro lugar, testa diferentes medidas de estrutura
espacial, buscando inferir sua maior ou menor correspondência à medida de
ordem previamente definida.
O procedimento metodológico é aplicado no bairro de Copacabana, na
cidade do Rio de Janeiro. As figuras a seguir exemplificam o tipo de
resultados obteníveis para as descrições de ordem e estrutura, partir dos
209
quais a investigação de relacionamento é levada a cabo. A tabela ilustra
uma maneira de relacionar forma e configuração, explorando a sintopia
(mesma posição geográfica) de elementos da ordem e da estrutura. Outros
procedimentos, em que uma hierarquia de elementos da forma seja
considerada, estão sendo desenvolvidos.
Fig 1: Mapa de ordem morfológica de Copacabana, obtido por método quantiqualitativo.
210
Fig 2: Mapas da estrutura espacial de Copacabana, obtidos segundo três descrições
(axial, nodal e trechos) e critério de medição por posição relativa (betweenness
ponderada por distância e tensão).
célula
Posição
estrutural
Pertencimento
Est. primária
120
1
S
121
2
S
147
3
N
114
4
S
119
5
S
122
6
S
115
7
S
146
8
N
113
9
S
116
10
S
95
11
N
145
12
S
125
13
S
convergência
77%
Tabela 1: Análise de correspondência: as unidades espaciais do mapa nodal, listadas
na coluna 1, com suas respectivas posições num ranking de medida estrutural,
listadas na coluna 2, têm sua inclusão na estrutura primária conferida e anotada na
coluna 3. A coluna 4 registra, para os núcleos de 5% e 12%, as percentagens de
coincidência respectivas.
Referências
[1] Hanson, J. (1989) Order and structure in urban design: the plans for
the rebuilding of London after the Great Fire of 1666. Ekistics , 56,
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Life Cycle Assessment Workshop & Symposium, Nizyros
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[6] Krafta, R. (2008) Fundamentos del analysis de Centralidad Espacial
Urbana. Centro-H 2, 57-72
212
Projeto Urbano e Novas Territorialidades: O Caso
De Ita- Santa Catarina/Sc/Brasil
N.C. PALMA1; G. HENDGES2
1
Profª.Dr. no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Universidade de
Santa Cruz do Sul, Brasil Jerônimo Coelho 267/41 CEP:9010241
55 51 936050000
e-mail: [email protected]
2
Mestranda. no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional Universidade de
Santa Cruz do Sul, Brasil
e-mail: [email protected]
Palavras-chave: Análise Configuracional, Auto-Organização, Relações
Socioeconômicas, Estrutura Urbana
Resumo
O desenvolvimento da cidade de Itá constitui um processo inusitado pois 16
mil pessoas foram deslocadas de onde viviam e relocadas em outra área
definida por um projeto urbano desenvolvido pela equipe da Hidroelétrica
de Itá que teve sua construção iniciada em 1967 e gerou um lago artificial
inundando a cidade original em 2000.
Essa pesquisa foca a antiga cidade Itá, o projeto implementado em 1989 e
sua configuração urbana atual. Indicadores já existentes e testados em
diversos casos reais serão utilizados para obter um quadro seguro dos dados
levantados e permitirão comparar as três fases do sistema urbano elencadas
para o estudo.
Nesse contexto serão apresentados quais são os impactos comportamentais,
socioeconômicos e culturais causados pela mudança, da configuração
espacial e da implementação da hidrelétrica sobre a população da cidade e
região, no período de 1967 a 2012.
A cidade é vista nesse trabalho como um sistema em constante evolução,
mesmo se tratando de uma cidade planejada como a nova Itá que, por sua
vez, continuou um novo processo de evolução criando novas características.
A mudança da cidade e os impactos causados pela localização da
hidrelétrica conformam um caso raro de estudo pela rapidez como
aconteceram e também pelas mudanças drásticas na população como:
mudança de localização; mudanças de vizinhanças; impactos causados pela
nova configuração espacial; mudança de base socioeconômica; criação de
novas redes socioeconômicas e interações Espaciais (Wilson, 1961).
213
Cidade Original
Figura 1. Imagem Cidade Antiga área central
A falta de postos de emprego pode ser considerada como a maior
dificuldade na antiga cidade de Itá. Por volta de 1980, a oferta mal atendia o
crescimento vegetativo da população.
Caracterização do Projeto Original
A principal preocupação do plano proposto para a cidade de Itá era oferecer
espaços e equipamentos que permitissem a manutenção das atividades
desenvolvidas pela população, procurando suprir eventuais carências de
modo a estimular o desenvolvimento dos indivíduos e da comunidade em
termos sociais, econômicos, culturais e físicos.
Figura 2. Plano Original da Cidade: desenho de 1998
214
Identificação Geral da Cidade de Itá Atualmente
Itá localiza-se no Oeste de Santa Catarina, na micro-região do Alto Uruguai
Catarinense, caracterizada pelo IBGE (2000) como microrregião de
Concórdia. Tem como fronteira Sul o rio Uruguai, limite natural entre os
Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. A microrregião é composta
por 16 municípios, cujo centro polarizador é Concórdia. A capital do Estado
de Santa Catarina, Florianópolis dista de Itá, 550 Km.
Figura 3. Localização Cidade Original e Novo Sítio Urbano da Cidade de Itá
Abordagem da Pesquisa
A perspectiva estrutural-funcionalista vê o desenvolvimento de áreas
urbanas como funções e relações espaciais necessárias para o
desenvolvimento da sociedade. Considerando o espaço urbano e regional
como uma geografia de oportunidades temos, consequentemente, a geração
de inter-relações entre lugares e funções gerando processos de interação
espacial formando um sistema urbano cuja estrutura é hierárquica e
altamente organizada.
Para avaliar esse processo de transformação territorial, espacial e relações
socioeconômicas serão utilizadas as seguintes técnicas de Análise:
215
1. Mudanças socioeconômicas na cidade e região advindas das novas
relações estabelecidas;
Figura 4. PIB da Cidade de Itá. Fonte:IBGE Cidades@
2. Configuração espacial da antiga, da planejada e da atual cidade de
Itá, sob o ponto de vista de redes complexas;
Figura 5. Mapa Axial do Plano Original
3. Distribuição espacial da população a partir de Estatística Espacial;
Figura 1. Formação de Clusters Populacionais na cidade de Itá, atualmente.
216
4. Análise de forma: A dimensão de um fractal indica o espaço ocupado
por ele que está relacionado com o seu grau de aspereza,
irregularidade ou fragmentação da forma externa e do tecido urbano
(FRANKHAUSER, 1997).
1.
A abordagem Estrutural Funcionalista e Sistêmica, permite a construção de
modelos e indicadores de desempenho que permitirão, de forma mais
objetiva, a comparação das três fases do sistema urbano e regional que serão
objeto desse estudo e as transformações geradas pela instalação da
Hidrelétrica Itá e sua mudança de território em três fases definidas para o
desenvolvimento da pesquisa.
Considera-se que a reterritorialização da cidade acabou por causar uma serie
de impactos não somente relacionado com a mudança espacial, mas também
tem a ver com mudanças socioeconômicas e criação de novas redes autoorganizadas (PORTUGALI e HAKEN;1995) definindo áreas de maior
ocupação e densidade, zonas ligadas a atividades diferentes e ainda os
fluxos gerados em função de diferentes atratividades. Essas modificações se
refletem no desenvolvimento da nova cidade fazendo emergir novos
comportamentos e propriedades, de forma sistêmica e continuada, que serão
investigadas a partir dos métodos apresentados acima.
Referências
[1] ALONSO, W. (1961). “Location and Land Use”. Cambridge,
MA: Harvard University Press.
[2] BATTY, M. (2003). “AGENT-Based Pedestrian Modelling in
Advanced Spatial Analysis, The CASA Book of GIS.” Longley, P.
And Batty, M. Eds. ESRI Press, Redlands, USA.
[3] FRANKHAUSER P. (1997). “Fractal Analysis of urban structures”,
in: E. Holm, ed. Modelling Space and Networks, Progress in
Theoretical and Quantitative Geometry, Gerum Kulturgeografi, 145181
217
[4] KRUGMAN, P. (1997). “Development, geography, and economic
theory”. Cambridge, Massachussets. MIT Press, USA.
[5] KRAFTA, R. (1994). “Modelling intraurban configurational
development”. Environment and Planning B: Planning and Design,
21, pp. 67-82.
[6] PORTUGALI, J., HAKEN, H. (1995). “A Synergetic Approach to
the Self-Organization of Cities and Settlements” (Environment and
Planning B, volume 22, pages 35-46).
[7] NOOY W., MRVAR A., BATAGELJ V(2005). “Exploratory
Social Network Analysis with Pajek”, Cambridge University Press;
UK.
[8] NÓR, S. (2001) “As transformações sócio-espaciais na área da
usina hidrelétrica de Itá.” Florianópolis. Dissertação (Mestrado).
Curso de Pós- Graduação em Geografia.UFSC (SEGAWA apud
BASTOS, 2003, p. 116)
[9] IBGE. “Censo demográfico 2010”. Disponível em:
http://www.sidra.ibge.gov.br/cd/defaultcd2010.asp?o=4&i=P
Acesso em: 12/12/2012
[10] Google Maps: https://maps.google.com.br. Acesso
29/12/12
218
Arco Metropolitano do Rio de Janeiro: lugares e
não lugares.
Inês de Azevedo ISIDORO1
1
Doutoranda do PROARQ-FAU/UFRJ
Av. Pedro Calmon s/n Predio da Reitoria 5o andar
ILHA DO FUNDÃO
20000-000 - Rio de Janeiro, RJ - Brasil
+55 21 8715-2966, [email protected]
Palavras-chave: Região Metropolitana, urbanização dispersa, transporte
rodoviário, lugar.
Resumo
A Região Metropolitana do Rio de Janeiro apresenta vestígios de uma
ocupação urbana baseada em premissas de ocupação colonial e póscolonial, que marcaram profundamente a forma de ocupação e a paisagem.
A área do entorno da Baía da Guanabara, denominado de fundo da Baía da
Guanabara e compreende uma área hoje delimitada administrativamente por
três municípios: Magé, Guapimirim e Itaboraí. Este espaço tem sido desde o
séc. XVI intensamente ocupado com sesmarias para produção agrícola e
abastecimento da cidade e do Reino e apresenta hoje territórios dispersos
entre si, resultado de diversos tipos de ocupação que responderam a
diferentes lógicas de urbanização e expansão. Trata-se de todo um espaço
não planeado e que foi sendo ocupado ao sabor dos modelos de ocupação
favorecidos pelos meios de transporte e locomoção mais fortemente
desenvolvidos: o transporte hidroviário nos sécs. XVI a XIX, o ferroviário
nos sécs. XIX e o rodoviário desde o início do séc XX.
Correspondendo ainda à lógica da ocupação rodoviária, em 2008 o Arco
Metropolitano foi apresentado como sendo a mais moderna e inovadora
rodovia expressa que, conectando o espaço metropolitano, permitiria uma
conexão até então inexistente entre as cidades-satélite da região
metropolitana.
Para este trabalho é proposta uma reflexão sobre as formas de ocupação
urbana verificadas em três municípios da Região Metropolitana do Rio de
Janeiro situados na região do que nomeado de fundo da Baía da Guanabara,
local marcado pelo início da urbanização e colonização portuguesa. A
pesquisa será constituída por duas fases: uma primeira, de cunho histórico,
219
que apresenta a evolução da região com base na implantação dos sistemas
de transporte hidroviário, ferroviário e rodoviário, aliados ao tipo de uso e
ocupação do solo; a segunda fase realizaria uma análise minuciosa do
traçado da nova rodovia e do desenho de suas margens, interceptando um
espaço de conexão com áreas urbanizadas e ocupadas. À luz desta análise
seriam discutidas as formas de ocupação do espaço à escala local, com base
em conceitos de lugar e não-lugar.
Dentro da área de análise proposta, o Arco Metropolitano apresenta diversas
peculiaridades em relação ao restante tecido metropolitano que tornam este
tipo de análise pertinente: o desenho do traçado atravessa diferentes tipos de
ocupação e uso do solo, verificando-se por um lado centralidades urbanas
dispersas entre si e situadas próximo às margens da rodovia expressa, e por
outro lado Unidades de Conservação, redutos de biodiversidade natural
representativos de importantes ecossistemas. Diferentes tipos de uso do solo
que prevêm diferentes tipos de uso e ocupação das margens da rodovia.
Ainda dentro da área de foco, o Arco Metropolitano apresenta um trecho já
construído e outro que será concluído com a duplicação de uma rodovia.
Assim, o segmento proposto, situado entre os municípios de Magé e
Itaboraí, permite adiantar uma análise tipo-morfológica quanto à ocupação
de suas margens lindeiras do segmento já construído e do segmento por
finalizar.
O tipo de análise proposto para aprofundamento da temática do espaço
urbano no contexto metropolitano possibilita a discussão sobre as formas de
ocupação metropolitana atual do Rio de Janeiro, propondo um olhar sobre
transformações de ordem global através da experiência local, isto é, do
morador. As dinâmicas sociais levam à criação de territórios locais, os quais
se encontram em conflito com o mais recente ordenamento da paisagem e
do qual o Arco Metropolitano é mais um agente transformador. A intenção
de alterar o caráter do espaço físico através de novas áreas industriais e
orientadas para o desenvolvimento econômico global coloca a rodovia
simultaneamente como um elemento de ligação e de ruptura no espaço
vivido. A percepção dos territórios locais permite-nos tecer críticas sobre os
grandes empreendimentos em construção no entorno da Unidade de
Paisagem.
Os resultados da análise visam ampliar a discussão do Arco Metropolitano
enquanto um elemento transformador tanto da paisagem quanto da
diversidade sociocultural e ambiental que constitui a Região Metropolitana
do Rio de Janeiro. Busca-se também um retrato das formas de ocupação do
espaço em questão, trazendo um aporte histórico sobre formas de ocupação
220
coloniais que se vêm alterando e constituem o tecido urbano desconexo que
se verifica nos dias de hoje.
Referências
[1] Augé, M. (1994) Não-lugares: introdução a uma antropologia da
supermodernidade, Campinas, Papirus.
[2] Rheingantz, P.A., Alcantara, D. (2009) The charming soul of a street
in Rio de Janeiro, In Revista Focus, vol VI, pp35-46.
[3] Santos, M. (1988) Metamorfoses do espaço habitado, Fundamentos
Teórico e métodológicos da geografia, São Paulo, Hucitec.
[4] Tuan, Y.F. (1983). Espaço e Lugar; A perspectiva da Experiência, São
Paulo, Difel.
221
Novos formatos urbanos no espaço
perimetropolitana de Belo Horizonte (Brasil) - O
caso do aglomerado urbano de Ouro Preto
CONTI, Alfio
Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Escola de Minas da Universidade Federal de
Ouro Preto DEARQ/EM/UFOP (Brasil)
Campus Morro do Cruzeiro s/n, Bauxita – Ouro Preto, 35.400-000, Brasil
0055 (31) 9460- 1555, [email protected]
Resumo
Este estudo tem como objetivo investigar o surgimento de novos formatos
urbanos a partir do processo de descentralização urbana de áreas
metropolitanas brasileiras, tendo como estudo de caso a zona leste-sudeste
da área perimetropolitana de Belo Horizonte e o aglomerado urbano
chefiado pela cidade histórica de Ouro Preto.
O surgimento de novos formatos urbanos é um processo em curso na área
peri-metropolitana de Belo Horizonte, especificamente na zona lestesudeste onde encontra-se o aglomerado urbano chefiado por Ouro Preto e
composto, também, pelas cidades de Mariana e Itabirito.
Depois de uma breve caracterização da área peri-metropolitana de Belo
Horizonte e da sua regionalização, é investigada a estrutura da zona lestesudeste da área peri-metropolitana de Belo Horizonte mostrando como esta
seja composta de aglomerados urbanos que se encontram em diferentes
estágios de consolidação e que polarizam áreas predominantemente rurais,
cada uma da qual com dinâmicas diferentes que dependem quer do processo
de fortalecimento dos aglomerados urbanos, quer das influências externas.
A aglomeração urbana de Ouro Preto é tomada como estudo de caso
considerando a presença de uma estrutura urbana de origem colonial e as
fortes condicionantes geomorfológicas e infraestruturais. A análise irá
apontar como o aglomerado é formado por cidades médias que
desenvolvem relações horizontais de complementaridade, trabalhando como
uma grande cidade, com diferentes e novos processos de conurbação que
fundem seus tecidos urbanos de formas diferentes, apontando limites e
desafios da preservação e do planejamento urbano e regional.
222
Agradecimentos
O presente trabalho foi desenvolvido com o apoio do Departamento de
Arquitetura da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto DEARQ/EM/UFOP.
Referências
[1] Amorim Filho (2007), O. B. A morfologia das cidades médias.
Goiânia: Vieira
[2] Amorim Filho (1984), O. B. Cidades médias e a organização do
espaço no Brasil. Revista Geografia e Ensino, Belo Horizonte, v. 2, n.
5, p. 5-34
[3] Amorim Filho (1976), O. B. Um esquema metodológico para o estudo
das cidades médias. In: ENCONTRO NACIONAL DE
GEÓGRAFOS, 2., 1976, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte:
IGC/UFMG p. 6-15.
[4] Amorim Filho, O. B.; Abreu, J. F. (2000), Ciudades intermédias y
tecnópoles potenciales em Minas Gerais - Brasil. Tiempo y Espacio,
Chillán, Universidad del Bío-Bío, v. 8, n. 9-10, p. 23-32
[5] Amorim Filho, O. B.; Arruda, M. A. (2002), Os Sistemas Urbanos. In:
BDMG Minas Gerais do Século XXI: reinterpretando o espaço
mineiro. Belo Horizonte: BDMG
[6] Amorim Filho, O. B.; Rigotti, J. I. R. (2002), Os limiares
demográficos na caracterização das cidades médias. ENCONTRO DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ESTUDOS POPULACIONAIS. 13.
Anais... Ouro Preto, p. 220-242. Meio digital.
[7] Amorim Filho, O. B.; Rigotti, J. I. R.; Campos, J. (2007), Os níveis
hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Programa de Pós-graduação em Geografia - Tratamento da Informação
Espacial, PUC Minas
[8] Amorim Filho, O. B.; Serra, R. V. (2001), Evolução e perspectivas do
papel das cidades médias no planejamento urbano regional. In:
Andrade, T. A.; Serra, R. V. (Org.). Cidades Médias Brasileiras. Rio
de Janeiro: IPEA
[9] Bauer, G.; Roux, J. M. (1976), La rururbanisation ou la ville
éparpillée. Paris: Seuil
[10] Beaujeu-Garnier, J. (1983) Les espaces périurbains. Cahiers du
Crepifs, Centre de Recherche et d`Etudes sur Paris et l’Ile de France,
n. 3
223
[11] Brunet, R. (1970), Les phénomènes de discontinuité em gèographie.
DRESCH, J. (Org.). Mémoires et documents: Centre de Recherchers et
documentation cartographiques et géographiques. Paris: Editions du
Centre National de la Recherche Scientifique
[12] Conti, A. (2009), “A zona perimetropolitana de Belo Horizonte - Uma
análise exploratória”, Belo Horizonte, tese de doutorado,
TIE/PUCMINAS
224
Atomística e Gravitação Urbana - Modelo de
Interação Regional
Leonardo LIMA1 e Romulo KRAFTA2
1
Arquiteto e Urbanista. Aluno do curso de Mestrado em Planejamento Urbano e Regional do
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR) - Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Rua Sarmento Leite, 320, 90050-170, Brasil
(+55) (51) 3308 3145, [email protected]
2
Arquiteto e Urbanista. PhD em Urban Science. Professor Titular da Faculdade de Arquitetura
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor do Programa de PósGraduação em Planejamento Urbano e Regional (PROPUR)
Rua Sarmento Leite, 320, 90050-170, Brasil
(+55) (51) 3308 3145, [email protected]
Palavras-chave: modelo, interação regional, expansão da forma urbana,
rodovias
Resumo
Nas cidades brasileiras, especialmente as do interior do Estado de São
Paulo, o processo de expansão urbana parece estar submetido a ação de uma
força centrípeta exercida por rodovias, capaz de atrair e direcionar a forma
urbana das cidades. Assumindo que a intensidade dessa força está
relacionada as interações desempenhadas por cada cidade dentro de uma
região e que rodovias são fundamentais para o processamento dessas trocas,
nosso trabalho admite que o vetor resultante das forças de interação entre
cada par de cidades tende a direcionar os eixos de expansão urbana de
ambas ao longo das rodovias que as conectam. No interior do Estado de São
Paulo, esse fenômeno parece ocorrer da seguinte forma: Rodovias, além de
intermediarem as relações regionais e apresentarem vantagens locacionais
geradas por sua centralidade; geralmente, possuem condições geográficas
otimizadas, as quais são buscadas para sua implantação (terrenos planos,
mínimas possibilidades de alagamento, entre outros). Por extensão, suas
margens tornam-se locais com excelentes condições para a implantação de
empreendimentos industriais (além das facilidades de escoamento de
produção, alcance de matéria prima e de geração de empregos). Por sua vez,
esses empreendimentos atraem zonas residenciais e, consequentemente,
uma série de prestadores de serviços e de comércio. Nesse cenário, o vetor
de expansão da forma urbana tende a ocorrer junto as margens das rodovias.
225
Figura 1 - Expansão da Forma Urbana de quatro cidades (A, B, C e D), no interior
do Estado de São Paulo, ocorrida entre as décadas de 1960 e de 2010. A linha
vermelha tracejada representa a principal conexão entre elas, a Rodovia BR-116.
Note que a interface manchas urbanas/Rodovia aumentou consideravelmente em 50
anos.
O nosso trabalho, além de apresentar um meio de avaliação do grau de
interação entre cidades, introduz um método que pode sugerir qual direção a
expansão urbana tende a seguir. Testamos nossa hipótese sobre as cidades
da região do Vale do Paraíba Paulista e os primeiros resultados parecem
positivos.
A pesquisa está dividida em duas partes: na primeira, chamada atomística
urbana, comparamos as forças de interação que mantém a coesão entre as
cidades ao núcleo de um átomo, onde a interação entre elas é proporcional a
energia que seria liberada num processo de fissão nuclear. Dessa forma, as
cidades seriam as partículas com massa (prótons e neutrôns) e suas
interações seriam as forças de coesão atômicas. Assim, obtemos um
indicador do grau de importância regional de uma determinada cidade.
Além disso, sugerimos quais cidades apresentam maior velocidade de
expansão pois, de acordo com nossa hipótese, cidades com altos valores de
interação tenderiam a se expandir mais rapidamente e mais fortemente do
que outras, devido a uma maior ocorrência de relações ecônomicas e sociais
geradas por elas. A intensidade dessas relações é quantificada por
indicadores de desempenho urbano, já difundidos em trabalhos
configuracionais anteriores [1] e [2].
Na segunda parte, chamada gravitação urbana, comparamos os valores das
forças exercidas por cada par de cidades e a direção que a expansão de suas
respectivas formas urbanas tem assumido nos últimos 50 anos. Concluímos
o trabalho fazendo um paralelo entre o modelo de interação regional
226
proposto, o grau de interação entre cada cidade da região, os indicadores de
desempenho e a evolução da forma urbana.
O nosso modelo tem origem em pesquisas que tem admitido que o grau de
interação entre cidades pode ser mensurado pelo inverso do quadrado de
suas distâncias [3], [4], [5] e [6]. Assim, assumimos que para
compreendermos esse fenômeno é, basicamente, necessário observarmos
três fatores: (i) tensão entre populações, (ii) distâncias e (iii) possibilidades
de interação entre elas. Consideramos a quantidade de linhas de ônibus
regulares que operam no Vale do Paraíba Paulista capaz de descrever de
forma significativa as interações regionais. Isto posto, nosso modelo sugere
que a força de interação entre uma cidade e a região é igual ao somatório
dos produtos da tensão entre cada par de populações de cidades e a
quantidade de linhas de ônibus regulares que as conectam, dividido pelo
quadrado de suas distâncias.
Até o momento, nosso modelo parece conseguir, ainda que de forma inicial,
descrever o grau de interação entre as cidades da região. Os primeiros
resultados têm sugerido que existe uma relação significativa entre o modelo
de interação regional proposto, os indicadores de desempenho e a evolução
da forma urbana da região nos últimos 50 anos.
Referências
[1] Krafta, R. (1994), Modelling Intraurban configurational development.
Environment and Planning B: Planning and Design, (21), p.67-82.
[2] Krafta, R. (1996), Urban convergence: morphology and attraction.
Environment and Planning B: Planning and Design 23(1) 37 – 48
[3] Jung, W. S., Wang, F. e Stanley, H. E. (2008), Gravity model in the
Korean highway, Europhys. Lett
[4] Tinbergen, J. (1962), An analysis of world trade flows. Shaping the
World Economy ed. J, Tinbergen (New York: Twentieth Century
Fund)
[5] Krings, G., Calabrese, F., Ratti, C. e Blondel, V. D. (2009), Urban
gravity: a model for inter-cities telecommunication flows, Journal of
Statistical Mechanics: Theory and Experiment. Letter.
[6] Bhattacharya, K., Mukherjee, G., Saramaki J., Kaski, K. e Manna S. S.
(2008), The international trade network: weighted network analysis
and modelling, J. Stat. Mech. P02002
227
A Rodovia BR 163 como elemento estruturador da
forma da cidade de Sinop/MT
Gisele CARIGNANI1; Rachel Coutinho M. da SILVA2
1
Prof. M.Sc.do Depto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Mato Grosso
UNEMAT
Rua Alfenas 333 apto 103 torre 1 CEP 78040600, Brasil
05565-99091971, [email protected]
2
Prof. Dra. do Depto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Av. Reitor Pedro Calmon 550, CEP 21941-901, Brasil
05521-2598-1990, [email protected]
Palavras-chave: morfologia, rodovia BR 163, Sinop
Resumo
Durante a década de 1970, o Ministério do Transporte, através do Plano de
Desenvolvimento Nacional fez a implementação de rodovias, em todo o
Brasil, levando desenvolvimento econômico e social em todas as regiões
através da malha rodoviária. O Programa de Integração Nacional (PIN), o
principal programa de políticas territoriais na Amazônia, implantou um
Plano Nacional de Viação visando a construção de um grande sistema viário
federal, dentre ele a abertura da BR 163 (Cuiabá-Santarém).
O desenvolvimento desta rodovia contribuiu para a formação de diversas
cidades em seu perímetro e a interiorização do Estado. Essas cidades
tiveram origem e desdobramentos diversos, gerando o aumento de
investimentos, comércios, serviços, e conseqüentemente, da urbanização em
suas margens. Avaliar o possível impacto da BR-163 na forma das cidades,
bem como sua influência no processo de crescimentos urbano das mesmas,
se tornou o objetivo do estudo, considerando a tendência mundial da
dispersão das cidades principalmente as que têm um elemento estruturador
marcante como este apresentado. Uma cidade em especial, Sinop, foi
implantada às margens da BR 163 oriunda de projeto de iniciativa privada,
tendo a rodovia totalmente integrada em seu desenho influenciando sua
expansão.
Samuels (1986 apud DEL RIO, 1990, p. 71) descreve morfologia urbana
como um “estudo analítico da produção e modificação da forma urbana no
tempo”, na qual são estudados “o tecido urbano e seus elementos
228
construídos formadores através de sua evolução, transformações, interrelações e dos processos sociais que os geraram”.
Lamas (2004) define que monumento é um elemento marcante no espaço
urbano, uma vez que, este determina a individualidade da cidade, sua
identidade cultural, social e histórica, e ainda compõe uma fisionomia da
cidade. Nas últimas décadas o conceito de monumento deixou de identificar
apenas objetos e edifícios isolados, mas passou a abranger conjuntos
urbanos, centros históricos e até mesmo cidades inteiras, trazendo um novo
pensar sobre o urbanismo, de forma que o patrimônio edificado, agora faça
parte da vida da sociedade.
Landim (2002) caracteriza o monumento como referencial urbano e
classifica, ainda, estruturas urbanas referindo-se às avenidas, rodovias e/ou
anel viários, cursos d’água, dentre outros, que funcionam como referenciais
e/ou marcos no espaço urbano. Dessa forma, a BR 163 enquadra-se nessa
definição, pois sua existência delimita espaços referenciando o desenho
urbano das cidades no seu percurso. Assim, sua presença é fonte de
orientação para a população, uma vez que, encontra-se inserida na vida
cotidiana da sociedade e faz parte da história e surgimento do município,
sem contar a estruturação da cidade que tem a BR como referência.
Del Rio (1990, p.85-86) afirma que:
[...] a importância da categoria de análise de “Morfologia Urbana” está em
compreender a lógica da formação, evolução e transformação dos elementos
urbanos, e de suas inter-relações, a fim de possibilitar-nos a identificação de
formas mais apropriadas, cultural e socialmente, para a intervenção na
cidade existente e o desenho de novas áreas.
Conforme o mesmo autor, para um estudo mais detalhado existem quatro
temas e elementos que compõem as premissas para o estudo da evolução e
estrutura da cidade, que resultam na morfologia urbana. São eles: os modos,
intensidades e direções em que se segue o crescimento, através de
elementos geradores e regulamentadores, como limites e superação de
limites que modificam a estruturação e define os pontos de cristalização das
cidades; o traçado e o parcelamento do solo que ordena o espaço, através da
estrutura fundiária, juntamente, com as relações de distâncias, circulação e
acessibilidade; as tipologias dos elementos urbanos, que englobam as
tipologias dos edifícios e dos lotes, bem como, sua ocupação nos
quarteirões e a disposição das praças e esquinas; e por fim, a articulação
entre cheios e vazios, público e privado e densidades.
A BR 163 inserida no desenho urbano de Sinop se tornou, sem dúvida um
elemento digno de estudo no que diz respeito à sua interferência no traçado
229
da cidade e o desdobramento de sua expansão, conforme pode ser
observado nas figuras 1 e 2.
Figura 1: BR 163 recortando a cidade de Sinop no momento de sua implantação
1974. Fonte : PM de Sinop
Figura 2: BR 163 recortando a cidade de Sinop 1988
Fonte: PM de Sinop
Referências
[1] DEL RIO, Vicente. Introdução ao Desenho Urbano no Processo de
Planejamento. São Paulo: PINI, 1990.
[2] LAMAS, José Manuel Ressano Garcia. Morfologia Urbana e Desenho
da Cidade. 3ª Edição. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
[3] LANDIM, Paula da Cruz. Desenho de Paisagem Urbana: As cidades
do interior paulista. São Paulo: Editora UNESP, São Paulo: Editora
UNESP, 2004.
230
O projeto da cidade na obra de Oscar Niemeyer
Rodrigo QUEIROZ1
1
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo
Rua do Lago, 876. 05508-080 Cidade Universitária - São Paulo – SP – Brasil
Telefone/fax: 005511 30914550, [email protected]
Palavras-chave: Oscar Niemeyer, arte moderna, arquitetura moderna,
urbanismo moderno
Resumo
Apesar de reconhecida pela liberdade formal proveniente do gesto, a
arquitetura de Oscar Niemeyer resulta de uma relação condicional entre
forma e espaço. O vazio não é o espaço aberto onde a forma se implanta,
mas é um componente do projeto. Trata-se de uma superfície projetada
simultaneamente à forma.
Em seus conhecidos desenhos, o perfil da forma não se apresenta em
tamanho exagerado, ocupando todo o campo do papel. Ao contrário, o
contorno do projeto preserva a folha vazia, como se prescindisse do vazio
que permite a forma respirar. Dificilmente o arquiteto lança mão de
perspectivas para representar seus projetos que são desenhados em
elevação, sem profundidade, apoiados sobre a linha horizontal que é, ao
mesmo tempo, chão e horizonte. Já no desenho, o arquiteto dispõe o
observador em uma posição distante de uma edificação mediada pelo vazio.
Em seus desenhos e em determinadas visadas de suas obras, não há
qualquer menção sobre a cidade real, inexiste a pré-existência construída
sequer como plano de fundo para a obra. São poucos os projetos do
arquiteto que estabelecem um diálogo com a cidade existente.
Invariavelmente, esses projetos não são definidos como conjuntos
arquitetônicos, mas como edifícios únicos, como, por exemplo, o Edifício
Copan em São Paulo (1951) ou a Sede do Partido Comunista Francês em
Paris (1963).
A relação condicional entre forma e espaço diagnosticada nos projetos de
Niemeyer é uma estratégia nitidamente tributária às vanguardas modernas.
A síntese entre planificação urbana, forma abstrata e industrialização
ampliou para a escala do espaço, e consequentemente, do urbanismo, a
abstração construtiva inerente ao pensamento da arte moderna. Entretanto, o
pressuposto da industrialização como instrumento de disseminação da “boa
forma” para todos resulta em uma disposição espacial de um modelo
231
organizado em série regular sobre uma superfície supostamente infinita.
Lembremos das propostas urbanas de Ludwig Hillberseimer.
Além do aspecto formal das edificações, a diferença entre o espaço da
cidade moderna de Niemeyer e a matriz construtiva do projeto moderno está
no fato de que o arquiteto carioca estabelece uma relação compositiva entre
as formas, nitidamente hierarquizadas a partir do programa, da
expressividade plástica e da disposição das mesmas no vazio, ao passo que
a organização serial esbarra na previsibilidade de um espaço sem
diversidade, monótono.
Oscar Niemeyer foi autor de inúmeros planos urbanos e até de cidades
inteiras, como o plano urbano de Grasse na França e a cidade do deserto de
Neguev em Israel.
A relação entre forma e vazio, como dados de um mesmo raciocínio
projetual, imune a toda e qualquer pré-existência, aponta para um dos
principais paradoxos do projeto moderno: a impossibilidade de conciliação
entre o espaço moderno e a cidade existente. O desejo por um espaço
abstrato e infinito, livre de toda e qualquer reminiscência anterior está no
cerne não somente da urbanística moderna, mas da arte moderna.
Para determinadas vertentes da matriz construtiva moderna, arte e vida
deveriam constituir uma unidade em si, sendo indistintos os limites entre
uma e a outra. Trata-se de um projeto ambicioso, que ultrapassa a fatura
isolada da pintura, da escultura, do design e da própria arquitetura. A
anulação da hierarquia entre o mundo da arte, como a tentativa de
representação literal da realidade, e o mundo real, a vida do povo, define um
dos principais anseios da arte moderna.
A utopia que move parte das vanguardas modernas apoia-se na perspectiva
da constituição de um espaço supostamente ilimitado, onde a abstração
geométrica transpõe as escalas domésticas da pintura e da escultura, e
assume a escala do espaço, e consequentemente, da sonhada cidade
moderna.
Uma típica pintura neoplasticista de Piet Mondrian não pode ser asfixiada
em uma moldura rica em ornamentações e entalhes. Seus planos
preenchidos e suas linhas pretas, verticais e horizontais, expressam um claro
desejo de expansão que pretende parametrizar, a partir de uma trama
ortogonal, racional, nada humana, todo o espaço que a circunda. Trata-se de
uma experiência que reivindica do espaço a mesma adesão à abstração
identificada na pintura.
Transposto para a escala urbana, o indesejável represamento das linhas e
planos de Mondrian em uma moldura se traduz em experiências como o
Plano Voisin (1925) de Le Corbusier para a cidade de Paris, ou o projeto de
232
Niemeyer para o Memorial da América Latina em São Paulo (1986/1990),
ambos enclaves modernos inscritos no interior da cidade real.
O espaço moderno e, consequentemente, o espaço projetado por Niemeyer,
não é o espaço do presente, mas representa situações-fragmento de uma
“terra prometida” que materializa, aqui e acolá, os mandamentos escritos
nas tábuas da modernidade pelo mestre Le Corbusier. Eis um dos dilemas
do projeto moderno: a cidade moderna se constitui como uma experiência
isolada no tempo e no espaço, na forma de um desejo de futuro apartado do
espaço da realidade, sendo assim, fadado à condição de projeto.
O sentido de urbanidade projetado por Niemeyer não remete às cidades que
conhecemos. Sua estratégia é justamente opor-se radicalmente ao modo
conservador como a cidade é construída, dividida em lotes e com suas
construções alinhadas na calçada. Em suas obras e projetos, Niemeyer
sinaliza para a possibilidade da constituição de uma convivência igualitária.
A relação condicional entre forma e espaço, identificada pela simplicidade
de um gesto reduzido ao limite do necessário que define vazio e construção
em um movimento sem interrupção, faz da obra de Niemeyer não um mero
conjunto de formas “inventivas”, mas uma hipótese de futuro, onde a
arquitetura inspira nos cidadãos o feliz sentimento de liberdade total.
Referências Bibliográficas
[1] ANDREOLI, Elisabetta, FORTY, Adrian. Arquitetura Moderna
Brasileira. Nova York: Phaidon, 2004.
[2] BORDA, Luis Eduardo. O Nexo da Forma – Oscar Niemeyer: da Arte
Moderna ao debate contemporâneo. Tese de doutorado. ECA-USP,
2003.
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Barcelona. Gustavo Gilli, 1996.
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[5] BRUAND, Yves. Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo.
Perspectiva, 1999 (3a ed.).
[6] CASANOVA, Maria; MENOR, Maria Victoria. Da Antropofagia a
Brasília: Brasil 1920/1960. São Paulo: Cosac Naify, 2002.
[7] CAVALCANTI, Lauro. Moderno e Brasileiro: a história de uma nova
linguagem na arquitetura (1930-1960). Rio de Janeiro. Jorge Zahar,
2006.
[8] COLQUHOUN, Allan. Modernidade e Tradição Clássica: ensaios
sobre arquitetura. São Paulo. Cosac Naify. 2004.
233
[9] COSTA, Lucio. Lucio Costa: registro de uma vivência. São Paulo:
Empresa das Artes, 1995.
[10] LE CORBUSIER. Precisões: sobre um estado presente da arquitetura
e do urbanismo. trad. Carlos Eugênio Marcondes de Moura. São
Paulo: Cosac Naify, 2004.
[11] NIEMEYER, Oscar. Depoimento. In: Módulo n.09, pp.03-06,
fev.1958.
[12] PEDROSA, Mario. Dos Murais de Portinari aos espaços de Brasília.
São Paulo: Perspectiva, 1981.
[13] PETIT, Jean. Niemeyer: Poeta da Arquitetura. Milão: Fidia Edizioni
D’Arte, 1998.
[14] QUEIROZ, Rodrigo C. O Desenho de um processo: os estudos de
Oscar Niemeyer para o edifício do Congresso Nacional de Brasília.
São Paulo, Dissertação de Mestrado, ECA-USP: São Paulo, 2003.
[15] _____. Oscar Niemeyer e Le Corbusier: encontros. Tese de
Doutorado. FAUUSP: São Paulo, 2007
[16] RECAMÁN, Luiz Antônio. Oscar Niemeyer: forma arquitetônica e
cidade no Brasil Moderno. Tese de Doutorado. FFLCH-USP, 2002.
234
Memória das Doze Casas. As múltiplas vidas de
um republicano lote de terreno na rua da Alegria,
no Porto.
Jorge R. PINTO1; Flávio RODRIGUES2; Eva ALBITE3; Ana NAVEGA4;
Cláudia OLIVEIRA5; Daniela RODRIGUES6; Maria LEITE7
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351933598880, [email protected]
2
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351934261435, [email protected]
3
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351222053686, [email protected]
4
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351222053686, [email protected]
5
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351222053686, [email protected]
6
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351222053686, [email protected]
7
ISCET – CIIIC - CHIP
Rua de Cedofeita, 285, 4050-180 Porto, Portugal
+351222053686, [email protected]
1
Palavras-chave: Geografia urbana histórica; Porto; Primeira República;
morfologia urbana; Francisco Xavier Esteves.
Resumo
Num tempo em que se discutem e valorizam as memórias das cidades como
nunca, talvez como forma de batalhar contra o processo massivo da
globalização que homogeneiza territórios ou como âncora identitária em
oposição a uma profunda desconfiança no futuro social e económico da
235
sociedade ocidental [1], esta comunicação pretende apresentar o processo de
construção, uso e transformação de um alargado lote de terreno, situado na
parte norte da rua da Alegria, no Porto, na transição para a I república.
O referido terreno está, hoje em dia, ocupado por um edifício em altura, de
proporções consideráveis, construído no último quartel do século XX. A sua
construção originou a demolição de um conjunto de quatro habitações,
desenhadas no princípio do século XX, por Francisco Xavier Esteves, num
loteamento promovido por Fortunato Cardoso da Costa Guimarães, numa
rua de usos mistos, tanto residenciais como industriais, em particular com a
presença significativa de fábricas de tecelagem de seda [2].
Francisco Xavier Esteves, engenheiro formado pela Academia Politécnica
do Porto, nascido em Ílhavo em 1864, responsável, entre outras obras, pela
Livraria Lello, foi presidente da Câmara Municipal do Porto (1911-1913),
da Associação Industrial Portuense (1914-1917 e 1919-1937), deputado e
Ministro do Comércio e das Finanças (1917-1918) [3]. Fortunato Cardoso
da Costa Guimarães era um brasileiro de torna-viagem, nascido em São
Pedro de Torrados, Felgueiras, em 1855, e era morador na mesma rua, num
edifício atualmente ocupado pela Escola Superior de Educação Paula
Frassinetti.
O projeto da “Villa Alegria” ocupava um terreno com cerca de 100 m2 e
previa a construção de dezasseis casas, quatro das quais com frente para a
rua da Alegria e doze para uma rua particular a abrir entre a rua da Alegria e
a Travessa das Doze Casas (ver figura 1). O projeto previa ainda a execução
de duas tipologias de edifício - central e lateral, configurando blocos de
quatro e, por isso, originando 4 quarteirões.
A comunicação pretende esclarecer a evolução histórica, morfológica e
social deste lote de terreno, antes e depois da construção (parcial) da Villa
Alegria. Por outro lado, a comunicação visa também uma reflexão sobre o
papel crucial que aquele lugar teve na propagação das ideias republicanas
pelo Porto, quer pelos eventos ali ocorridos, quer pelos residentes que
habitaram aquele conjunto edificado, quer ainda pelo facto de o engenheiro
responsável pelo projeto, Francisco Xavier Esteves, ter sido um dos 3
deputados republicanos do Porto, eleitos ainda durante o período
monárquico. Foram consultados diversos acervos, tendo assumido particular
importância o Arquivo Histórico do Porto, a Conservatória do Registo
Predial e o rol de desobriga da freguesia do Bonfim.
236
Figura 1: Planta de implantação do projeto da Villa Alegria, Francisco Xavier
Esteves, 1905.
Mapa 1: O antigo Ministro e Presidente da C.M. Porto, o Eng. Francisco Xavier
Esteves.
237
Agradecimentos
Os autores desta comunicação gostariam de agradecer à Dra. Teresa
Saavedra, pelas pistas que permitiram arrancar com a investigação, à Dra.
Catarina Seara Cardoso e à Senhora Dona Maria Elisa Carqueja Seara
Cardoso Pérez pelas múltiplas informações prestadas e à Dra. Lígia Leite
pela ajuda na dimensão gráfica.
Referências
[1] Abreu, M. (1998), Sobre a memória das cidades. Revista da Faculdade
de Letras - Geografia, I série,Vol. XIV, Porto, pp. 77-97.
[2] Pinto, J. (2011), Bonfim – Território de memórias e destinos, Junta de
Freguesia do Bonfim, Porto.
[3] Sousa, F. (coor.) (2009), Os Presidentes da Câmara Municipal do
Porto (1822-2009), CEPESE, Porto.
238
A Formação dos Núcleos Urbanos nos Açores. A
tensão entre o Assentamento de Malhas e os
Desenvolvimentos Lineares
Carlos Dias COELHO
FormaUrbis Lab, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de
Lisboa Rua Sá Nogueira, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 1349 – 055
Lisboa, 00351 213 615 000, [email protected]
Palavras-chave: Cidade Portuguesa, Açores, Cidades de Fundação, Malhas
Urbanas.
Resumo
A fundação de núcleos urbanos nos Açores ocorreu a partir dos finais do
século XV. O facto de se tratar de um território sem ocupação preexistente
veio conduzir à criação de vilas, cidades e outros povoados a partir de
modelos que podem ser considerados como exemplares de uma prática
urbanística. Esta experiência precedeu, e de certa maneira veio informar, o
processo de criação e concepção de cidades em todo o universo da expansão
portuguesa, do Brasil à África, Índia e Extremo Oriente.
Apesar da grande diversidade de situações existentes, o facto destes
assentamentos se terem criado ex-novo, sem preexistências e sem rupturas
culturais no seu desenvolvimento, aproximam-nos do modelo urbano
idealizado e dos procedimentos de implementação tradicionais, que no
Continente mais dificilmente podiam ser adoptados na sua pureza pela carga
de informação já existente, e em certas áreas de expansão tinham de se
articular com outras praticas culturais e assentamentos existentes.
Para além disso, estes núcleos sofreram uma evolução paulatina, contendo
ainda hoje as principais marcas dos modelos de formação e das vicissitudes
de evolução que permitem identificar os modelos, consoante as tipologias
tipológicas dos assentamentos.
Assim, a partir de um conjunto de núcleos urbanos tal como se apresentam
hoje, procurou estabilizar-se um quadro de referências que permita
compreender a constituição do traçado dos assentamentos e os principais
fenómenos da sua evolução. Este quadro morfológico articula as
características dos tecidos e as suas principais etapas evolutivas de modo a
considerar uma variedade de situações distintas que retratam a riqueza das
variedades urbanas em presença.
239
O estudo incide particularmente sobre os assentamentos de grupo Oriental –
Santa Maria e São Miguel – as duas primeiras ilhas encontradas e povoadas.
Distingue os núcleos que obtiveram um estatuto urbanos de vila ou cidade
próximo à sua fundação (Vila do Porto; Ponta Delgada; Ribeira Grande;
Lagoa; entre outros), dos núcleos que se desenvolveram ,por exemplo,
como expressões de uma ocupação rural (Fajã de Baixo; São Roque;
Ribeira das Tainhas; entre outros).
Metodologicamente, o quadro é construído a partir da articulação de dois
tipos de informação. A primeira consiste na caracterização física dos
diversos tecidos na situação em que se encontram hoje em dia, realizando
uma analise dos diferentes elementos urbanos e das relações entre si,
considerando tanto o conjunto urbano completo como amostras
representativas dos diferentes tecidos que o compõem. O segundo consiste
no estabelecimento das diferentes etapas formativas do cada assentamento,
de forma a permitir uma relação entre o objecto e o seu processo de
formação. Este trabalho foi realizado principalmente através de elementos
gráficas, representando para o primeiro tipo de informação os traçados e as
malhas subjacentes, assim como a disposição dos principais elementos
urbanos, e para o segundo o traçado nas principais etapas evolutivas,
tratadas de modo a permitir a comparabilidade dos distintos casos.
Do trabalho realizado pode inferir-se um conjunto de evidências que
constituem elementos de suporte a um sistema que envolve modelos e
práticas urbanísticas estabilizadas e aplicadas consoante os contextos
específicos presentes.
Destas, destacam-se em primeiro lugar questões de organização espacial das
cidades e outros assentamentos, em termos de modelo de organização e
repartição do território urbano para a sua ocupação. Este foi sobretudo
apoiado no assentamento de malhas regulares, embora muito adaptadas à
configuração do sítio, quando em núcleos com estatuto urbano reconhecido.
Nos outros assentamentos predominam as formas de organização linear, que
também se utilizam nos processos de expansão das áreas primordiais das
cidades e vilas, constituindo assim uma tensão entre dois distintos modos de
organização urbana.
240
Em segundo lugar pode verificar-se que a organização dos núcleos urbanos
se baseia tanto na utilização de modelos de organização e repartição do
solo, como em sistemas de distribuição hierárquica de determinados
elementos e funções urbanas de referência que consubstanciam aquilo que
podemos entender caracterizar este universo urbano da primeira expansão e
que organizaram os territórios urbanos até ao presente momento apesar da
natural evolução de significado de muitos destes elementos e do advento e
incorporação de situações novas resultante do natural processo evolutivo.
241
A rua de Cedofeita - do urbanismo barroco à crise
urbanística do século XIX na cidade do Porto
Flávio SILVA1; Eva ALBITE2; Jorge Ricardo PINTO1,2
1
Mestrando em Turismo no Instituto Superior de Ciências Empresariais e do
Turismo Rua de Cedofeita, 285, Porto, 4050 - 180, Portugal
+351934261435, [email protected]
Mestranda em Turismo no Instituto Superior de Ciências Empresariais e do
Turismo Rua de Cedofeita, 285, Porto, 4050 - 180, Portugal
2
1,2
+351918210113, [email protected]
Mestre em Geografia Urbana, Faculdade de Letras da Universidade do
Porto Via Panorâmica, s/n, Porto, 4150-564, Portugal
+351933598880, [email protected]
Palavras-chave: rua, Cedofeita, urbanismo, arquitetura, Porto
Resumo
A rua de Cedofeita, que tem por base numa antiga via com origens remotas,
correspondendo, em parte, à romana “Karraria Antiqua”, esta saía da porta
do Olival (uma das portas da muralha medieval afonsina do Porto), em
direção ao nordeste da Península Ibérica servindo como via de ligação entre
as várias povoações do litoral norte português. Esta via, marcada pela sua
estreitura e sinuosidade, é alargada e alinhada, em 1782, no contexto da
expansão radial da cidade do Porto, que teve como suporte os principais
eixos de ligação que serviam a cidade do Porto. Orquestrada pela Junta de
Obras Pública a rua vai ter um papel precioso no processo de urbanização
do lado ocidente da cidade do Porto, servindo como principal eixo
estruturador do espaço urbano a norte da Praça de Carlos Alberto. Este
processo inicia-se em meados do século XVIII, marcado sobretudo pelas
conceções de urbanização barroca (como a regularização das fachadas), e
que continua durante o século XIX, em que crescimento do espaço urbano
do Porto é marcado pela inexistência de um plano urbanístico, como se
pode atestar nos casos da rua dos Bragas e de Álvares Cabral, transversais à
rua de Cedofeita Assim, o presente artigo, enquadrado no tema “Análise,
desenho e quantificação da forma urbana”, tem como objetivo a
compreensão do desenvolvimento urbanístico da rua de Cedofeita,
enquadrada através de textos de autores como J. M. Pereira de Oliveira,
Bernardo José Ferrão, Anni Gunther Nonell, Francisco Barata Fernandes,
242
entre outros. Para além do contexto teórico, a metodologia contempla a
consulta de fontes primárias, como as licenças de obras requeridas à Câmara
Municipal do Porto para a rua de Cedofeita, durante o século XIX;
levantamento e análise das plantas de urbanização relacionadas com rua de
Cedofeita; análise e contextualização da referida rua no espaço urbano
portuense através das plantas da cidade do Porto, e aboletamento de 1832
do Bairro de Cedofeita e de S. Ovídio.
243
Cidade Africana Contemporânea de Ocupação
Colonial Portuguesa: Centro e Periferia.
O Encontro com o Território
Teresa Madeira da SILVA
ISCTE-IUL, DINÃMIA-CET
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
Tel: 351 217903445. E-mail : [email protected]
Palavras chave: Cidades africanas, Cidades de ocupação colonial
portuguesa, Formal e informal, Centro e periferia.
Resumo
É aceite que nas cidades africanas actuais de ocupação colonial portuguesa
se reconhecem dois tipos de estrutura urbana: por um lado, um tipo
associado a uma estrutura planeada e consolidada, construída no período de
ocupação colonial, por outro, um tipo distinto deste, que se desenvolveu,
sobretudo no período pós-independência, com uma estrutura sem
planeamento. Encontramos, assim, na maioria das cidades africanas de
origem portuguesa uma estrutura dual: o centro urbano consolidado,
construído no período colonial; e as zonas periurbanas nas margens do
centro urbano com construções precárias, feitas de materiais naturais, e
ocupando grandes extensões de território.
Esta apresentação tem como argumento principal que, tanto, a estrutura
desenvolvida no período colonial, como, a estrutura periférica não planeada,
desenvolvida posteriormente, têm, na sua origem e desenvolvimento,
relações com o território, reconhecendo-se em ambos os casos, estruturas
urbanas adaptadas às condições locais.
A partir da análise de casos de estudo de cidades africanas de ocupação
colonial portuguesa, conclui-se que a escolha do sítio, tanto para um tipo de
estrutura, como para outro é de importância capital. Tomando como casos
de estudo cidades do litorial, os primeiros assentamentos situam-se junto a
baías abrigadas, onde existem requisitos favoráveis para a criação de um
porto natural e onde as condições topográficas permitem, facilmente, a
implantação de pontos de defesa. Nos assentamentos periféricos mais
recentes, dessas mesmas cidades, a escolha do sítio é relevante estando
244
associada a factores de ordem económica e social, sendo significativo a
proximidade ao centro da cidade.
Quanto ao desenvolvimento da morfologia urbana, conclui-se que a
estrutura urbana planeada e consolidada cria relações com o território a
partir de um eixo estruturador do tipo linear, paralelo à costa e onde se
localizam os edifícios institucionais mais importantes. Através deste eixo
desenvolveram-se, posteriormente, estruturas viárias para o interior,
paralelas e perpendiculares e, onde reconhecemos uma hierarquia de ruas
principais, ruas secundárias e travessas. Relativamente à estrutura urbana,
periférica, esta corresponde em grande parte, a casas de habitação
associadas a espaços de produção agrícola familiar ocupadas, na sua
maioria, pelas populações rurais, que, por razões económicas ou mesmo
sociais, decidem preencher um território fora dos centros urbanos, mas com
alguma proximidade em relação a estes. Apesar de esse tipo de estrutura
não ter sido planeada, na maioria destes bairros reconhece-se igualmente
uma hierarquia na estrutura urbana associada às condições locais: uma rede
viária principal periférica constituída pelas vias de acesso à cidade (rodovias
de distribuição periféricas aos bairros), vias de acesso aos bairros em asfalto
deteriorado (rodovias de distribuição dentro dos bairros), caminhos de
acesso às habitações de terra batida (caminhos de pé-posto) e ainda outros
caminhos mais estreitos e tortuosos, resultante do espaço não ocupado nos
intervalos de novas construções, reconhecendo deste modo a adaptação às
condições do território.
Referências
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urbana em países da África Subsariana. Finisterra, v. 40, n. 79, p. 5372.
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portuguesa no Atlântico. Estudo comparativo e de enquadramento
Histórico-estrutural. COLÓQUIO INTERNACIONAL DE HISTÓRIA
DA MADEIRA, 1. Funchal. Actas... Funchal: Governo Regional da
Madeira, p. 247-260.
[6] FORJAZ, A. (Coord.), (2006), Moçambique, melhoramento dos
assentamentos informais, análise da situação & proposta de estratégias
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Habitat.
[7] MADEIRA da SILVA, Teresa (2012). A Cidade Africana
Contemporânea de Origem Portuguesa: São Tomé Pré e Pósindependência. Urbe. Revista Brasileira de Gestão Urbana, v.4, n.2,
pp.75-188. (ISSN: 2175-3369).
[8] MADEIRA da SILVA, Teresa (1999). Estudo Morfológico da
Cidade de São Tomé no Contexto Urbanístico das Cidades
Insulares de Origem Portuguesa. Dissertação de Mestrado em
Arquitetura e Urbanismo. Texto policopiado. Lisboa: ISCTE-IUL.
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fundações urbanas portuguesas. In: FUNDAÇÃO CALOUSTE
GULBENKIEN (Org.). Estudos de História de Arte (Homenagem a
Artur Nobre Gusmão). Lisboa: Abril, p. 430-435.
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Lisboa: J.I.U.
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transformação do uso do solo na periferia de Maputo. Cadernos da
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa –
Cidades Africanas, n. 5, p. 114-123, maio.
[12] TENREIRO, F. (1956), Cabo Verde e S. Tomé esquema de uma
evolução conjunta. Praia: Imprensa Nacional.
[13] TENREIRO, F. (1961), A Ilha de São Tomé. Lisboa: Memórias da
Junta de Investigação do Ultramar.
[14] VIAGEM A S. TOMÉ E PRÍNCIPE, (2010). Disponível em
<http://viagemastomeprincipe.blogspot.pt/>. Acesso em: 21 jul. 2012.
[15] VIANA, D. L. (2010), Cidade Africana - urbanismo [in]formal: uma
abordagem integrada e sistémica. In: CONGRESSO IBÉRICO DE
ESTUDOS [2] AFRICANOS, 7., Lisboa. Anais eletrônicos...
Disponível em: <http://repositorio. iscte.pt/handle/10071/2253>.
Acesso em: 14 jun. p. 1-17.
[16] TEIXEIRA, M. C. (1998), VALLA, M. O urbanismo português.
Séculos XIII - XVIII. Portugal - Brasil. Lisboa: Livros Horizonte.
246
A Rua Direita da Filipeia de Nossa Senhora das
Neves: morfologia urbana e história da cidade
Maria Helena de Andrade AZEVEDO1; Maria Berthilde Moura FILHA2;
1
Laboratório de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM) da Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia, Campus I, CEP 58059-900, Brasil
55 83 3216 9379, [email protected]
2
Maria Berthilde Moura Filha
Laboratório de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM) e Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia, Campus I, CEP 58059-900, Brasil
55 83 3216 9379, [email protected]
Palavras-chave: Rua Direita, Filipeia, traçado retilineo, edifícios singulares
Resumo
No livro Diálogo das Grandezas do Brasil (1966, p.20), escrito em 1618 e
atribuído a Ambrósio Fernandes Brandão, o personagem Brandônio relata
que em 1586 “...alembra haver visto o sítio onde está situada a cidade
[antiga Filipeia, atual João Pessoa], agora cheias de casa de pedra e cal e
tantos templos, coberto de matos.” Assim, o arruamento dessa povoação
teria ocorrido entre o final do século XVI e o início do século XVII.
Um plano para traçado dessa cidade é desconhecido. Entretanto, o desenho
das suas primeiras ruas permite se levantar a possibilidade de que houve ali
uma intenção de ordenamento espacial. As ruas da cidade alta,
representadas no mapa Frederica Civitas (Figura 01), revelam um conjunto
de linhas geométricas, definido por quadras regulares que se subdividiam
em lotes também regulares – elementos morfológicos do urbanismo
desenvolvido em Portugal desde a Idade Média (MOURA FILHA, 2005, p.
100).
Nas cidades lusas, é comum encontramos uma via denominada Rua Direita
sobre a qual Rossa (2002, p.223) afirma ser uma rua com imagem de
síntese, que corresponde ao arquétipo do urbanismo português. Na Filipeia,
a Rua Direita se consolidou como um eixo da cidade, interligando dois
edifícios singulares – o Convento Franciscano e a Igreja dos Jesuítas.
Dentre os equipamentos que integravam a organização das cidades
portuguesas, alguns foram implantados nas cidades coloniais e Rossa (2002,
p. 279) chama atenção para a Matriz, a Casa de Câmara e Cadeia, o
Pelourinho, a Misericórdia, os conventos das ordens religiosas e o colégio
247
jesuíta. Em Filipeia, de todos esses equipamentos, apenas a Matriz (Figura
02 - 7) não se localizou na Rua Direita.
Figura 01 – "FREDERICA CIVITAS".
Detalhe de uma imagem que ilustra o livro de Barlaeus (BARLAEUS - 1647)
Gravura de Jan van Brosterhuisen.
Fonte: REIS FILHO (2000)
1. Convento Franciscano
2. Largo da Câmara / Largo do Erário
3. Igreja da Misericórdia
4. Igreja de São Gonçalo
5. Matriz
A. Rua Direita
B. Rua Nova
Com a chegada dos franciscanos, em 1589 (PINTO, 1977, p.24), eles se
instalaram em um terreno situado de frente para o início da Rua Direita
(Figura 02 - 1), edificando o Convento de Santo Antônio, cuja implantação
é precedida por um adro trapezoidal.
Presente nas povoações que mereciam atenção da Coroa Portuguesa, a
Misericórdia (Figura 02 - 4) abrigava atividades como hospital, orfanato,
escola e igreja. Durante anos, no período colonial, em função da
precariedade da Matriz, a Misericórdia desempenhou a função de principal
igreja da cidade.
248
Outro elemento morfológico de destaque na Rua Direita é o Largo da
Câmara (Figura 02 – 2), identificado como a praça cívica de FilipéiaEm seu
entorno se situavam a segunda Casa de Câmara e Cadeia da cidade além do
açougue e do pelourinho.
Figura 04 – Detalhe da Planta da Parahyba do Norte (antiga Filipeia)
elaborada em 1855
Fonte: Desenho elaborado por Maria Helena Azevedo a partir de cópia da
planta existente no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba.
Figura 04 – Detalhe da Planta da Parahyba do Norte [antiga Filipeia] em 1855.
Fonte: Desenho a partir de cópia da planta existente no IHGP.
Rua Direita
Rua da Baixa
Rua de São Gonçalo
1- Convento Franciscano
2- Casa de Câmara e
Cadeia
3- Casa dos Contos
4- Igreja da Misericórdia
5- Igreja do Rosário dos
Pretos
6- Casa e Colégio dos
Jesuítas
7- Matriz
8- Mosteiro Beneditino
A- Beco do Carmo
B- Beco da
Companhia
9- Convento Carmelita
10– Igreja das Mercês
F- Beco do Lyceo
C- Beco do Hospital
D- Beco do Rosário
E- Beco do Barão
Já os jesuítas se instalaram próximos à aldeia dos tabajaras e ali construíram
uma igreja (PINTO, 1977, p.20), que na descrição de Herckman (1982, p.
44) “...é uma igrejinha, ou, para melhor dizer, uma simples capela com a
denominação de São Gonçalo” (Figura 02 – 6). Foi com as esmolas da
população e com ajuda vinda de Portugal que, até 1759, os padres ergueram
a casa e o colégio, ocupando toda a quadra situada ao final da Rua Direita.
A presença dos jesuítas ao norte da cidade contribuiu para a expansão
urbana naquela direção. Como era comum às igrejas terem uma implantação
destacada na malha urbana, o Conjunto Jesuíta definiu, à sua frente, um
largo regular que passou a ser conhecido como Largo do Colégio.
Assim, entendendo que há uma pluralidade de maneiras de se contar a
história, este artigo busca mais um testemunho histórico – o relato da
249
arquitetura da cidade. Na Rua Direita, a morfologia urbana e a tipologia dos
edifícios revelam a sua importância na trama urbana, permitindo contar uma
versão para a história de Filipeia.
Referências
[1] [Brandão, Ambrósio Fernandes] (1618), Diálogos das Grandezas do
Brasil. 2.a edição integral, segundo o apógrafo de Leiden. Recife:
Imprensa Universitária, 1966.
[2] Herckman, Elias (1639), Descrição da Capitania da Paraíba.
Apresentação de Wellington Aguiar e notas de Marcus Odilon Ribeiro
Coutinho. João Pessoa: A União Editora, 1982
[3] Moura Filha. Maria Berthilde (2005), De Filipeia a Paraíba: uma
cidade na estratégia de colonização do Brasil. Porto: Tese (Doutorado
em História da Arte) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
[4] Pinto, Irineu Ferreira (1977), Datas e Notas para a História da Paraíba.
João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB.
[5] Reis Filho, Nestor Goulart (2000), Imagens de Vilas e Cidades do
Brasil (1500/ 1720). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
[6] Rossa, Walter (2002), A Urbe e o Traço: Uma década de estudos sobre
o urbanismo português. Coimbra: Almedina.
250
Fragmentação social e morfotipologias urbanas
Teresa Sá MARQUES1; Paula GUERRA2; Diogo RIBEIRO3, Isabel
MARTINS4
3
4
1
Geógrafa, FLUP, CEGOT, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
2
Socióloga, FLUP, ISFLUP, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
Geógrafo, Bolseiro FCT/FLUP, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
Geógrafa, FLUP, CEGOT, CMP, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
Palavras-chave: morfotipologias, inclusão social, fragmentação social,
ordenamento do território, SIG.
Resumo
Uma das dimensões/eixos de análise da recomposição sócio-espacial do
tecido urbano centra-se no que muitos apelidam de fragmentação acelerada
das formas urbanas. Tal equivale à emergência de tendências cada vez mais
segregadoras em termos sociais na estruturação do espaço urbano levando à
existência de uma cidade retalhada espacialmente e pouco coesa
socialmente. Assim, a análise da cidade de hoje deve tomar em
consideração algumas dimensões chave de combate à fragmentação: acesso
ao mercado de trabalho, reconhecimento do capital humano e cultural das
populações, acesso a competências e programas educativos, acesso cultural
aos serviços sociais, comunidade forte baseada nas redes de vizinhança,
espaços públicos inclusivos para lazer e expressão de diferenças, acesso à
qualidade dos serviços de habitação, reconhecimento das diferenças
culturais no planeamento e no policy making, medidas antidiscriminação no
emprego e na habitação.
O estudo que temos vindo a desenvolver visa tipificar e compreender alguns
dos processos de expansão urbana (que assumem diferentes perfis,
consoante a sua génese, intensidade, extensão e morfologia) e as estruturas
sociais que caracterizam a população residente. Trata-se de uma análise a
duas escalas, uma no âmbito territorial alargado, abrangendo uma região
251
que compreende o noroeste português, e outra, em torno de quatro contextos
urbanos específicos (Viana do Castelo, Guimarães, Maia e Porto).
Depois de uma análise global em termos regionais, focamo-nos em quatro
contextos urbanos muito diferentes. O Porto, o centro regional, com uma
estrutura morfológica genericamente compacta, integra uma estrutura social
claramente fragmentada, segmentando a parte oriental da ocidental, mas
também o centro mais antigo. A Maia reflete uma morfologia urbana
própria de uma área peri-urbana, mostrando diferentes níveis de ocupação,
mas também uma estrutura social fragmentada. Em Guimarães visualiza-se
uma morfologia heterogénea, compacta em torno do centro da cidade e
difusa e polinucleada no restante território. A esta morfologia do edificado
associa-se uma estrutura social diversificada. A morfologia urbana de Viana
do Castelo reflete a encruzilhada mar/rio/serra, evidenciando-se o centro
histórico, uma primeira coroa e a expansão urbana para as periferias. Em
termos de estrutura social, as áreas mais compactas contrastam com
periferias fragmentadas socialmente.
A vulnerabilidade social associa-se a processos de envelhecimento, a idosos
a residirem isoladamente, a níveis de desemprego altos e a baixos níveis de
escolaridade. Muitas vezes, estas configurações urbanas associam-se a
contextos habitacionais com morfologias urbanas específicas (edificado
antigo, abarracados, bairros sociais, edificado degradado, etc). Assim, existe
uma imbricação forte ente fragmentações sociais e morfotipologias
territoriais e urbanas.
O objetivo reside na apresentação e explicitação de morfotipologias
territoriais e urbanas que privilegiam a dimensão social, que sejam capazes
de sustentar futuras intervenções, a várias escalas e com diferentes
objectivos, procurando articular as abordagens morfológicas com os novos
desafios em matéria de coesão territorial. Para efeitos de caracterização
integrada dos territórios em análise, aplicaram-se diversas metodologias de
tratamento e modelação de informação de distintas proveniências
(cartografia topográfica e dados estatísticos), recorrendo a técnicas e
ferramentas proporcionadas por análises estatísticas (análise de
correspondências múltiplas) e pelos sistemas de informação geográfica
(SIG).
252
Morfologias urbanas e aglomerações das
atividades económicas
Teresa Sá MARQUES1; Carlos DELGADO2; Rui DALTE1,2
1
Geógrafa, FLUP, CEGOT, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
2
Geógrafo, FLUP, CEGOT, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
1,2
Geógrafo, Bolseiro FLUP, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
Palavras-chave:
Resumo
Esta pesquisa pretende fazer o estudo das morfologias das atividades
económicas à escala regional (uma extensa área localizada no noroeste
português - Cidade-Região do Porto) e à escala local. A interação de escalas
baseou-se nomeadamente na metodologia recentemente aplicada à região
metropolitana de Barcelona, desenvolvida por Fonte et al. (2012). Tem dois
objetivos: à escala regional identifica o modelo de povoamento das
atividades económicas, reconhece e tipifica as principais aglomerações e
observa o relacionamento entre a estrutura urbana e o modelo de localização
das atividades económicas. À escala local, analisa a estrutura morfológica e
funcional das aglomerações, aprofunda o conhecimento dos diferentes tipos
de aglomeração e examina as redes de inter-relacionamento local ou supralocais.
A vertente empírica do presente estudo iniciou-se com a georreferenciação
das atividades económicas (industriais, de comércio e serviços). A
georreferenciação foi executada com recurso a software específico de
geolocalização, conciliando métodos automáticos e semi-automáticos, de
modo a ser transposta para um suporte SIG, onde se fez a respectiva análise
espacial e estatística, e cartografia temática. Em cada escala de análise,
procedeu-se à visualização da localização dos estabelecimentos económicos
e à identificação das principais aglomerações, em estreita relação com a
estrutura urbana, a rede de transportes (viária, ferroviária, entre outros) e o
sistema ambiental (rede hidrográfica, barreiras orográficas, espaços isolados
ou de baixa densidade, etc.). Uma análise mais refinada permitiu a distinção
entre diferentes períodos temporais no que respeita aos anos de implantação
253
das atividades económicas, permitindo a visualização da evolução das
morfologias económicas em confrontação com a evolução da malha urbana.
Análises posteriores permitiram cruzar a localização daqueles
estabelecimentos face aos usos do solo predominantes e calcular densidades
por agregações de áreas edificadas (Marques et al., 2009 ; Silva et al.,
2012). Posteriormente, a partir da identificação de aglomerações
económicas procedeu-se a um levantamento específico (uma ficha por
aglomeração), que compreendeu um levantamento funcional, a cartografia
dos usos, a construção de um portfólio fotográfico e uma análise do espaço
publico (sinalética, mobilidade, etc.).
Á escala regional a análise realizada permitiu identificar as tendências de
agregação funcional (pólos de aglomeração) na Cidade-Região do Porto, e
desenvolver uma tipologia morfo-funcional, que pode ser sistematizada e
caracterizada da seguinte forma:
- Centros tradicionais - antigas áreas ou ruas de grande concentração
comercial ou de serviços, onde estão a surgir novas âncoras urbanas
(centros comerciais, áreas de restauração, equipamentos de referência, etc.)
procurando revitalizar a centralidade funcional e desta forma reforçar a
atratividade urbana. Pode-se referir, a título exemplificativo: a “Baixa” e a
“Boavista” no Porto; o centro de Braga, Guimarães e Viana do Castelo,
entre muitos outros centros.
- Concentrações produtivas, aglomerações lineares ao longo dos eixos
viários principais ou em torno de áreas ou zonas industriais, mais ou menos
planeadas, ligadas a sectores industriais, a atividades de armazenagem e à
logística. Pode-se referir nomeadamente, a Via Rápida (Porto), a Via Norte,
(Matosinhos), as zonas industriais da Maia, e a forte concentração de
logística em Matosinhos ligada ao aeroporto e ao porto.
- Conglomerados de comércio-lazer, com hipermercados e centros
comerciais, grandes superfícies especializadas (de produtos de desporto,
bricolage, automóveis, brinquedos, etc.), outlets ou discounts, organizando
um aglomerado de ofertas potencialmente complementaridades. Estas
atividades desenvolvem sinergias locativas também com a restauração e a
hotelaria (hotéis e fast-food) e algumas funções de lazer (cinemas multisalas, vídeo-jogos, bowling, parques temáticos). Na Região Urbana em
análise merece destaque os conglomerados de funções em torno do MAR
Shopping,
NorteShopping,
ArrábidaShopping,
Gaia
Shopping
MaiaShopping, etc.
- Alglomerações de grandes equipamentos, onde podemos encontrar:
instalações universitárias, laboratórios de investigação e respectivos
serviços de apoio (restauração, residenciais universitárias, etc.); grandes
254
equipamentos de saúde, nomeadamente os centros hospitalares e respectivos
serviços especializados e de apoio; amplos centros desportivos, com
pavilhões cobertos e com infraestruturas externas; parques temáticos ou
grandes parques verdes; concentrações de equipamentos de justiça (“cidade
da justiça”). Na Região Urbana merece destaque nomeadamente a forte
concentração de equipamentos na zona da Asprela, no extremo Norte do
concelho do Porto, com as várias faculdades da Universidade do Porto, o
Hospital S. João, o IPO, e o Instituto Politécnico do Porto. Recentemente a
este extenso aglomerado de investimentos públicos juntou-se a Galeria
Comercial Campus S. João. A centralidade do conjunto é proporcionada
pelo cruzamento de importantes rodovias e pela rede do metro.
- Áreas produtivas terciárias (parques tecnológicos, novos parques
empresariais, parques de logística), na maioria das vezes planeados e
desenvolvidos sob uma gestão e uma imagem comuns, englobam atividades
empresariais ligadas à nova indústria (laboratórios e ateliers para o
desenvolvimento de softwares, design, publicidade, marketing, etc.) e aos
serviços (bancos, instalações desportivas, serviços de saúde e cosmética e
restauração, etc.). Nestes espaços há cada vez mais um cuidado especial
com o espaço público e com a imagem do conjunto. As denominadas
“zonas industriais” passam a “parques empresariais”. Na metrópole do
Porto pode-se mencionar o TecMaia (Maia), a Exponor (Matosinhos),
Europarque e o Portuspark (Santa Maria da Feira), o AveParque (TaipasGuimarães), etc.
- Condomínios de uso misto, são comuns em processos de reconversão de
antigas unidades ou zonas industriais, onde hoje se concentram
dominantemente atividades comerciais, de exposição, de armazenagem e de
logística, ou atividades de lazer. Na Região Urbana pode-se referir a “Zona
Industrial do Porto” (com áreas de armazenagem, de comércio,
nomeadamente automóvel, e de serviços e lazer), etc.
- Parques metropolitanos, parques temáticos, parques verdes, zonas de
grandes dimensões e de forte atratividade (supra-municipal), oferecendo
condições especiais em termos ambientais, de usufruto desportivo ou de
lazer. Na Região Urbana pode-se mencionar o “Parque da Cidade” (no
Porto), e o “Parque Biológico” (em Gaia).
255
Uma cidade desenhada para todos
Joana M. Magalhães FRANCISCO1; Inês Secca RUIVO2; Rita Assoreira
ALMENDRA1,2
CIAUD – FA -UTL
Rua Rolando Sá Nogueira - Polo Universitário - Alto da Ajuda , 1349055 Lisboa, Portugal
+351 964 923 197 , [email protected] (Joana M. Magalhães Francisco)
2
Universidade de Évora
Departamento de Artes Visuais e Design - Fábrica dos Leões, 7003-554 Évora, Portugal
+351 266 747 564, [email protected]
1,2
Faculdade de Arquitectura – Universidade Técnica de Lisboa
Rua Rolando Sá Nogueira - Polo Universitário - Alto da Ajuda , 1349055 Lisboa, Portugal
+351 213 615 817, [email protected]
1
Palavras-chave: equipamento urbano, espaço público, projecto, inclusivo,
sustentabilidade
Resumo
Este artigo baseia-se numa investigação de doutoramento em curso
intitulada «Design Inclusivo na Cidade - um contributo ao nível do
Equipamento Urbano» que incide sobre o estudo do equipamento urbano.
Questiona-se assim a exploração de possíveis soluções de desenvolvimento
de equipamento urbano inclusivo standardizado numa perspectiva de
desenvolvimento sustentável, que reflicta e reforce a identidade da cidade
onde é aplicado.
Como criar a ideia de cidade como espaço fundamental de inclusividade e
acessibilidade, propiciadora de contactos e intercâmbios? Como propor a
cidade como um projecto colectivo através da criação de equipamento
urbano inclusivo standardizado sustentável que reflicta a identidade do
local?
Neste artigo reflecte-se sobre a possibilidade da ideia de “cidade projectada
para todos”, como forma de criar uma malha urbana que confira a
maximização e qualidade do uso do espaço público do ponto de vista do
planeamento das cidades e dos seus limites, tornando-a mais amistosa para
toda a população, independentemente da idade, da condição física, social,
étnica, etc. Para isto acontecer uma solução poderá passar pelo desenho de
equipamento urbano, que deverá ter na sua génese princípios de
inclusividade, standardização, sustentabilidade e identidade/cultura.
256
Tem-se por objectivo apresentar conceitos e um possível procedimento de
avaliação e de metodologia projectual a aplicar no desenho de equipamento
urbano, com enfoque na inclusividade. Com este propósito foram
investigados diversos métodos de análise de equipamento urbano, bem
como propostas metodológicas de projecto definidas por autores como
Bernhard E. Bürdek e Bruno Munari.
Os resultados indicam a relevância de dois aspectos: 1) o desenvolvimento
de uma metodologia projectual e de avaliação de equipamento urbano que
deverá ter em consideração a inclusividade como contexto do planeamento
de uma cidade sustentável, numa perspectiva que contém factores
económicos, ambientais e sociais, numa lógica metodológica do processo de
projecto de equipamentos inclusivos. 2) a produção de objectos do nosso
quotidiano segundo visões, do ponto de vista tecnológico (standardização) e
científico que assentam em conceitos que procuram o equilíbrio entre os
factores sociais, ambientais e económicos da urbe, bem como estes deverão
expressar os contextos culturais em que surgiram e comunicar sobre os
utilizadores, os seus modos de vida e valores. Através do processo dialógico
mediado pelo design - que engloba cidade, inclusividade, standardização,
sustentabilidade e identidade - todo o equipamento urbano passa a
diferenciar e a valorizar o espaço público, e desta forma define padrões de
qualidade nas cidades.
As soluções projectuais inclusivas de equipamento urbano standardizado,
identitário do local onde se insere, numa óptica de desenvolvimento
sustentável, deverão ser um princípio a adoptar numa “cidade projectada
para todos”.
Figura 1:Beato, Lisboa, 2012
257
Mapa 1: Beato, Lisboa 2012
Agradecimentos
CML (Núcleo de Acessibilidade Pedonal) pelos elementos no âmbito do
Plano de Acessibilidade Pedonal, disponibilizados para esta investigação.
Referências
[1] Almendra, Rita, (2010), Decision Making In The Conceptual Phase Of
Design Processes: A Descriptive Study Contributing For The Strategic
Adequacy And Overall Quality Of Design Outcomes. Universidade
Técnica De Lisboa – Faculdade De Arquitectura, Lisbon
[2] Bürdek, Bernhard E. (2005). Design-The History, Theory And
Practice Of Product Design.Boston. Ma, Birkhauser-Publishers For
Architecture.
[3] Fuad-Luke, Alastair (2002). The Eco-Design Handbook. A Complete
Sourcebook For The Home And Office. London, Thames & Hudson.
[4] Munari, Bruno, (1981). Das coisas nascem coisas, edições 70.
[5] Secca Ruivo, Inês (2008). Design Para O Futuro. O Indivíduo Entre O
Artifício E A Natureza Ph.D. Thesis. Aveiro: Universidade De Aveiro.
258
Dispersão Urbana: Poder local e Sociedade
João Aparecido BAZOLLI1
1
Universidade Federal do Tocantins. Professor de Direito Urbanístico e Doutor em Geografia
Quadra 507 Sul – Alameda 10 – Lote 04, 77.016-164, Brasil
55-63-3217-2126, [email protected]
Palavras-chave: Cidade, Poder local, Dispersão urbana, Plano Diretor
Resumo
Busca-se com esforço teórico-metodológico compreender a dispersão
urbana de Palmas, capital do Estado do Tocantins – Brasil, que é uma
cidade planejada, mas apresenta sérios problemas urbanos resultantes do
crescimento desordenado e dos vazios urbanos, com reflexo direto no custo
de urbanização. Ao longo do seu processo de ocupação, a cidade mostrou
que a dispersão e os vazios urbanos revelaram-se contraditórios em relação
à proposta dos planejadores, já que a urbanização concentrada e adensada
tornou-se utópica pelo modelo de ocupação desordenado que atendia aos
interesses políticos e imobiliários.
Palmas, instalada há 23 anos na mesorregião oriental do Tocantins e conta
com uma área de 2.218,937 km2 (Mapa 1 – Localização). A população de
Palmas é de 228.297 habitantes (IBGE, 2010). Desse total, 222.000 estão na
área urbana (97,12% da população do município). O Plano Urbanístico de
Palmas de 1989 definiu o perímetro urbano em 110,8 km² e, a partir de
então, sofreu diversas alterações.
259
Mapa 1- Palmas (TO): localização (2012)
Contatou-se na análise realizada no diagnóstico do Plano Diretor e,
posteriormente, nas diversas audiências públicas realizadas para a sua
elaboração, um incômodo uníssono: a “dispersão urbana” presente na
cidade, demonstrada pelo Mapa 2 abaixo. Este problema tem como
consequência os vazios urbanos e foi apontado como o causador do caos
urbano da cidade, para Bavarelli (2010, p.9) “inviabilizam investimentos em
equipamentos, transporte coletivo e outros serviços”.
260
Mapa 2- Palmas (TO): Ocupação Urbana (1989-2010)
A preocupação central deste debate é irracionalidade que preside a dinâmica
urbana da cidade, no campo da gestão e da produção do espaço urbano. O
plano urbanístico original abriga atualmente “apenas 7% da sua população
prevista, seja 139 mil de 2 milhões de habitantes, registrando uma
ociosidade de 93%, assim, qual seria o motivo do debate acerca da expansão
urbana” (BAZOLLI, 2011, p.2).
No Brasil a Constituição Federal criou instrumentos para a Reforma
Urbana, voltados para as demandas da sociedade e dos movimentos
populares com objetivo de colocar em prática novos conceitos e
metodologias sobre a gestão do solo urbano, com caráter distributivo e forte
apelo legal.
Esta nova proposta se fortaleceu com a aprovação, em 2001, do Estatuto da
Cidade, o qual regulamentou a exigência constitucional de atendimento da
função social da propriedade urbana e da cidade.
Com forte apelo nestes instrumentos Palmas reduziu por decisão popular
seu perímetro urbano em 2007, afinal a cidade não poderia manter uma
extensão que se apresentava insustentável em termos econômicos, sociais e
ambientais.
261
Porém, nos últimos anos, o tema Plano Diretor - a partir da perspectiva de
expansão urbana - continuou, progressivamente, a ser abordado pelos
grupos econômicos como um entrave ao crescimento do mercado
imobiliário. Diante da forte pressão, o governo municipal não conseguiu
promover ações concretas para a implantação integral do Plano Diretor.
Assim (Hirao, 2009, p.6) constata “não ser do planejamento urbano o
problema, mas sim da vontade política para quebrar este ciclo de
dominação”.
Em 2011 o debate sobre os limites do perímetro urbano de Palmas voltou à
tona, devido à forte pressão política orquestrada pelo setor imobiliário.
Neste momento surgiu um forte embate travado entre os interessados pelo
espaço na cidade. De um lado, o mercado imobiliário impõe a expansão
urbana por intermédio de um grupo de vereadores. De outro lado, um grupo
de resistência, contrários à medida.
A questão central que emergiu deste problema foi a constatação de que a
força hegemônica capitalista, ocorrida sob a influência das forças
econômicas e políticas e representada pelo mercado imobiliário, se apropria
do espaço em disputa, por deliberações de gabinete. Embora a atitude
encontrou resistência do grupo de oposição, que por meio de medidas legais
impediram a expansão da cidade.
É necessário evitar o crescimento desordenado da cidade segundo,
Cymbalista (2010, p.6), “Palmas concentra o núcleo rico no seu plano
urbanístico na região central, e os pobres são expulsos para locais
distantes”. Ressalta-se que entre os doze vereadores que compunham o
Poder Legislativo local, onze deles passaram, desde junho de 2011, a
defender a expansão urbana de forma ostensiva.
Neste contexto, pode-se afirmar que as articulações políticas que modificam
a ocupação de Palmas causam os problemas urbanos observados
atualmente. Assim, foi possível compreender de que forma a cultura política
patrimonialista e clientelista influencia no planejamento urbano, na gestão
urbana, na elaboração da legislação urbanística e, sobretudo, na ocupação
da cidade.
O estudo das particularidades do presente, com identificação de problemas
existentes ou análise do real e das relações sociais concretas na práxis, para,
a partir das heranças do passado, estabelecer um comparativo entre o plano
original e a real ocupação da cidade, torna possível indicar uma nova
realidade possível, catalizadora de uma nova prática urbana em Palmas,
considerando a dialética entre a permanência e ruptura nos processos de
transformação do espaço.
262
A análise do Plano Urbanístico original confrontando-o com os problemas
atuais existentes e as relações sociais concretas na práxis possibilita um
exercício de utopia, “uma nova realidade possível”. Ao enfocar esse debate
na dimensão política e da sociedade; na disputa pelo território; na análise
jurídica e os seus reflexos legais urbanísticos e no processo legislativo,
conclui-se que a mobilização social formal e não formal para o exercício
pleno da cidadania, se converte em poder que modifica a realidade local.
Referências
[1] BARAVELLI, José Eduardo. Projeto Palmas Minha Cidade. Jornal do
Tocantins, Palmas 11 mai. 2010. Caderno Especial. p.9.
[2] BAZOLLI, João A. A dialética da expansão urbana de Palmas. Minha
Cidade,
São
Paulo,
12.135,
Vitruvius,
oct
2011
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/minhacidade/12.135/4088
>.
[3] CYMBALISTA, Renato. Projeto Palmas Minha Cidade. Jornal do
Tocantins, Palmas 06 set. 2010. Caderno Especial Aurenys. p.6.
[4] HIRAO, Flavio Higuchi. Projeto Palmas Minha Cidade. Jornal do
Tocantins, Palmas 22 nov. 2009. Caderno Especial Aureny. p.6.
[5] IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Primeiros
resultados
do
Censo
2010.
Disponível
em:
<
http://www.censo2010.ibge.gov.br/>. Acesso em 15/08/2011.
263
Rupturas Morfológicas em Tecidos Urbanos
GARATEGUY. Leonardo Müller1; KRAFTA. Romulo2
1
Programa de pós-graduação em planejamento urbano e regional - Universidade federal do Rio
Grande do Sul / Brasil – PROPUR / UFRGS.
Rua Assis Brasil, n. 1880 – Montenegro / RS, CEP: 95.780-000, Brasil
Fone: (55) (051) 9959.2050, Email: [email protected]
2
Departamento de Urbanismo - Universidade federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Rua Sarmento Leite, n. 320 – Porto Alegre / RS, CEP: 90.050-170, Brasil
(55) (051) 3308-3116, [email protected]
Palavras-chave: morfologia, rede de ruas, centralidade, relações sócioeconômicas.
Resumo
Este trabalho aborda os aspectos estruturais da morfologia das redes viárias
urbanas, uma vez que oscilações nos níveis de conectividade e continuidade
dos sistemas urbanos podem criar diferentes padrões de relacionamento
entre os elementos constituintes de tais redes. Há evidências que vinculam
descontinuidades e fragmentação da rede viária ao desempenho de sistemas
urbanos, e este trabalho procurou extrair da rede viária urbana atributos e
particularidades que concorram para tais evidências. Através de análises
como integralidade, heterogeneidade das redes espaciais urbanas e análise
de bloqueios viários o trabalho procurou evidenciar elementos (e condições)
estruturais que potencialmente prejudicam o desempenho da morfologia
urbana de cidades causando impactos de natureza sócio-econômica. Para
tanto, fez uso de medidas de diferenciação espacial nas redes em estudo, a
fim de avançar na representação de eventos que possivelmente provocam
algum tipo de ruptura na morfologia de cidades, e seus efeitos sobre a vida
de suas populações. As referidas medidas estão vinculadas ao conceito de
centralidade. Mais especificamente aos conceitos de centralidade por
proximidade, centralidade por interposição e centralidade por informação.
Ainda, utilizou-se a medida de ciclos para aferir os níveis de
distributividade de diferentes setores dos sistemas estudados. Os resultados
obtidos apontaram para a possibilidade de criação de cenários urbanos a
partir do reconhecimento estrutural da morfologia dos sistemas.
Integralidade da rede urbana foi capaz de analisar os sistemas em seus
aspectos morfológicos globais; heterogeneidade urbana ateve-se as frações
264
distributivas e hierarquizadas dos sistemas e; análise de bloqueios focou os
gargalos e afunilamentos dos sistemas em estudo.
Rupturas parciais – análise da integralidade da rede urbana: Os testes
iniciaram com a aplicação da medida de centralidade por proximidade
(acessibilidade) sobre uma grelha perfeita. É possível dizer que foram
encontrados no sistema da grelha perfeita nós com boa alcançabilidade por
proximidade. Em seguida, aplicou-se a mesma medida para um sistema real,
o sistema de Montenegro, e avaliou-se o desempenho em acessibilidade da
rede real. Em uma primeira análise o que se pode perceber foi a diminuição
dos níveis de acessibilidade da rede de Montenegro comparando-a ao seu
espelho perfeito – a grelha. Em acessibilidade a rede montenegrina
apresentou média geral de 0,6961 e queda de aproximadamente 18,7% se
comparada à grelha. Isto sugere o grau de afastamento do sistema em
relação ao seu elemento de controle, permitindo que se suponha a existência
de ruptura no padrão morfológico da rede de ruas do município. A análise
acerca de acessibilidade dos sistemas permitiu perceber também a grande
ruptura provocada pelos morros São João, da Formiga e banhado junto ao
rio Caí (ver figura 1).
Rupturas parciais – análise da heterogeneidade urbana: Os testes iniciaram
com a aplicação da medida de ciclos para o sistema da grelha perfeita. O
que se pode perceber foi a relação entre o padrão de regularidade do sistema
e seu elevado padrão de interconectividade. Na sequência dos trabalhos,
aplicou-se a medida de ciclos para o sistema real em estudo. Montenegro
revelou-se um sistema bem articulado - com bons níveis de relacionamento
entre seus elementos - em apenas alguns de seus setores urbanos. Rupturas
relacionais evidenciaram-se através de sequências de nós, encadeados ao
longo de importantes ruas do município e de tecidos urbanos com baixos
níveis de ligação entre seus elementos. Foram percebidas apenas algumas
áreas urbanas que destacaram-se devido aos padrões regulares de suas ruas
(malhas viárias ortogonais xadrez constituídas por nós com quatro relações),
formando o que alguns pesquisadores têm chamado de agrupamentos (ver
figura 1). Entretanto, é possível dizer que, na maior parte de seu território,
Montenegro apresenta-se como um sistema urbano fragmentado por conta
de descontinuidades viárias originadas pela presença de elementos naturais,
pela falta de cuidado para com as devidas “amarrações” entre seus tecidos
urbanos e pela ausência de continuidade em suas ruas.
265
Figura 1: à esquerda aplicação da medida de acessibilidade sobre o município de
Montenegro; à direita aplicação da medida de ciclos sobre o mesmo município
(formação de agrupamentos).
Rupturas totais – análise de bloqueios: os testes iniciaram com a aplicação
da medida de centralidade por informação no sistema urbano de
Montenegro, a fim de identificar pontos críticos. Em seguida foram
executadas supressões de nós que apresentaram reais possibilidades de
sofrerem bloqueios viários e que figuraram no ranking dos vinte nós com
maiores valores de CI. Finalmente, foi comparado o comportamento dos
sistemas (integral x suprimidos) através da medida de centralidade por
intermediação, a fim de reconhecer possíveis deslocamentos dos núcleos de
centralidade do sistema em decorrência da retirada de seus nós críticos.
266
Figura 04: Município de Montenegro (parcial) – mapa parcial nodal geométrico /
centralidade por intermediação.
Referências
[1] Crucitti, P., Latora, V. & Porta, S. 2006. Centrality measures in
spatial networks of urban streets, «Physical Review E», 73, 036125.
[2] Faria, A. P. N. 2008. Análise configuracional da ordem simbólica:
forma
urbana e estruturação cognitiva, Porto Alegre,
PPG/FAU/UFRGS - TESE DE DOUTORADO.
[3] Faria, A. P. N., Krafta, R., Polidori, M. C., Rodrigues, C. L. &
Granero, J. 2009. Morphometrics. Porto Alegre/Pelotas: Grupo de
Pesquisa Sistemas Configuracionais/UFRGS e LabUrb/UFPel.
[4] Krafta, R. 2008. Fundamentos del análisis de centralidad espacial
urbana. Revista de la Organización Latinoamericana y del Caribe de
Centros Históricos, 57-72.
[5] Krafta, R. 2009. Análise especial urbana: aplicações na região
metropolitana de Porto Alegre, Porto Alegre, Editora da UFRGS.
[6] Porta, S., Crucitti, P. & Latora V. 2006. The network analysis of
urban streets: a primal approach, «Environment and Planning B:
planning and design», 33 5, 705-725.
[7] Wasserman, S. & Faust, K. 1994. Social Network Analysis: Methods
and Applications, Cambridge, University Press.
267
Feições morfológicas para a contaminação
positiva: Évora
Andrea GONÇALVES1; Ana TOMÉ2; Valério MEDEIROS3
1
3
Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa
Av. Rovisco Pais, 1, Lisboa, 1049-001, Portugal
+351 961485732, [email protected]
2
Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa
Av. Rovisco Pais, 1, Lisboa, 1049-001, Portugal
+351 968154676, [email protected]
Universidade de Brasília (PPG/FAU), Instituto Central de Ciências – ICC Norte – Gleba A
Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte – Caixa Postal 04431
CEP: 70904-970 - Brasília/DF, Brasil
+55 61 96495795, [email protected]
Resumo
A presente pesquisa procura explorar os processos de contaminação positiva
inerentes ao fenómeno urbano, com origem em acções ou mudanças
implementadas no património edificado. Por contaminação positiva
entende-se a inter-relação de factores ou elementos urbanos que permite a
propagação dos efeitos de determina acção, resultando numa transformação
contínua afecta a um contexto cada vez mais abrangente do sistema urbano,
com impacto na regeneração desse sistema.
Actualmente, verifica-se um interesse crescente pela cidade herdada. Para
aspectos morfológicos a sua forma é lida, por um lado, como o resultado de
um processo de “evolução natural”, semelhante a um sistema vivo com
capacidades de auto-regeneração [1]; por outro, mediante lógicas planeadas
e implementadas por meio de projectos que evocam a eficácia da interrelação entre estratégia global e intervenção local [2]. Em ambas as visões,
é aceite que acções introduzidas nos assentamentos urbanos têm o potencial
de desencadear alterações nas dinâmicas correspondentes, promovendo um
processo de disseminação no sistema (contaminação). No entanto, esta
perspectiva encontra-se por avaliar, não existindo, ainda, ferramentas
metodológicas adequadas para alcançar esse objectivo [3].
A considerar tais premissas o presente estudo procura contribuir para o
debate por meio da experimentação de casos de estudo em Évora, Portugal,
e integra uma proposta de investigação mais vasta, pautada pela actual
perspectiva da sustentabilidade como pano de fundo para qualquer acção na
cidade. O foco é direccionado no sentido de encontrar maneiras de
269
implementar estratégias de regeneração urbana com intervenções que (1)
considerem o património edificado existente e (2) através de acções
pontuais, permitam alcançar melhorias significativas no ambiente urbano.
São estratégias que, ao reconhecer as dinâmicas de propagação inatas ao
fenómeno urbano, beneficiam-se das oportunidades para criar sinergias,
efeitos de difusão e multiplicação de cada acção.
Com referência a Évora (Figura 1), é objectivo específico deste artigo
reflectir sobre os processos de contaminação urbana existentes nesta cidade,
por meio da análise da sua morfologia ao longo do tempo. Impõe-se um
olhar para a história da cidade por meio de uma leitura comparada da
expansão e transformação urbana. Acredita-se que as alterações
identificadas na forma e configuração espacial sejam reflexo ou origem de
novas dinâmicas urbanas, que precisam de ser melhor compreendidas.
Partindo da premissa que essas alterações se disseminam no espaço e no
tempo por meio das relações sociais que lhe são inerentes, assume-se a
leitura diacrónica da contaminação urbana sob a perspectiva da Sintaxe
Espacial, proposta por Hillier e Hanson [4], e da avaliação da atractividade
do lugar segundo Whyte [5]. Os procedimentos metodológicos, por sua vez,
dividem-se em três etapas:
1) Recolha e selecção de registos cartográficos da cidade, representativos
dos seus momentos mais significativos (cidade consolidada intra-muros,
cidade consolidada extra-muros e cidade emergente), de modo construir
uma retrospectiva sobre o processo de ocupação, transformação e expansão
urbana.
2) Com base na cartografia e recorrendo a instrumentos configuracionais,
de representação e análise sintáctica da malha urbana, explora-se uma
abordagem diacrónica e relacional das características morfológicas da
cidade. Esta etapa inclui a elaboração de mapas axiais (Mapa 1) numa
lógica sequencial e afecta aos períodos mais significativos da transformação
e expansão urbana. Assim, e de acordo com a perspectiva da Sintaxe
Espacial, factores relacionados com a configuração podem ser
matematicamente medidos, claramente visualizados e, ainda, interrelacionados com as questões da atractividade, relativa a usos, actividades
ou à qualidade física do espaço.
3) Por fim, procede-se a uma leitura comparada dos mapas e o confronto
dos resultados das respectivas análises sintácticas.
Elaborada a interpretação, os achados obtidos para a cidade de Évora
reforçam a perspectiva de que o uso de ferramentas configuracionais para a
reconstrução da malha urbana ao longo do tempo, com base em registos
270
cartográficos existentes, tem vindo a revelar-se uma estratégia promissora
para compreender os processos de transformação dos assentamentos
humanos [6]. Além disso, ao serem estabelecidos os confrontos entre o
conjunto de mapas axiais do estudo de caso e os eventos históricomorfológicos predominantes, percebe-se a estreita relação entre alterações
físicas e a conformação de novos arranjos espaciais que afectam a cidade
daquela altura em diante, em graus variados. Os resultados apontam para a
robustez das ferramentas para mensurar o grau de afectação das
intervenções, observado o cenário do caso de estudo, o que colabora para a
perspectiva de propagação dos efeitos associados à contaminação positiva.
Figura 1: Évora intra-muros e extra-muros
271
Mapa 1: Mapa axial da cidade de Évora actual
272
Agradecimentos
Os agradecimentos são dirigidos à Câmara Municipal de Évora pela
cedência da cartografia digital da cidade, pela permissão do seu uso, bem
como por todo o apoio que tem sido prestado no âmbito do
desenvolvimento da investigação, na qual este estudo se insere.
Referências
[1] Saunders, P., (2001), Urban Ecology. In: Paddison, R., Handbook of
Urban Studies, Sage Publication, London, pp. 256-272
[2] Lerner, J., (2003), Acupuntura Urbana, Record, Rio de Janeiro.
[3] Portas, N., Domingues, A., Cabral, J. (2011), Políticas Urbanas II –
Transformações, regulação e projectos, Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa
[4] Hillier, B.; Hanson, J. (1984), The Social Logic of Space, Cambridge
University Press, Cambridge
[5] Whyte, W. H. (1980), The social life of small urban spaces, Project for
Public Spaces, New York
[6] Medeiros, V., Barros, A., Oliveira, V. (2011), Cartografia Histórica e
Mapas Axiais: uma Estratégia para a Leitura da Expansão Urbana, IV
Simpósio Luso Brasileiro de Cartografia Histórica, Porto
273
Évora como cidade museu. Da cognição á
contemplação espacial
NASCIMENTO, Filomena1, CAVIC, Ljiljana2, SERDOURA, Francisco3,
FERREIRA, Victor4
1
CIAUD, FA, UNIV TECN, LISBOA, Rau Sá Nogueira, Polo Universitário Alto da
Ajuda, 1349-055 Lisboa, Portugal, +(351) 965 180 401, [email protected]
2
CIAUD, FA, UNIV TECN, LISBOA Rau Sá Nogueira, Polo Universitário Alto da
Ajuda, 1349-055 Lisboa, Portugal, +(351) 961 199 988, [email protected]
3
CIAUD, FA, UNIV TECN, LISBOA Rau Sá Nogueira, Polo Universitário Alto da Ajuda,
1349-055 Lisboa, Portugal, +(351) 213 615 000, [email protected]
4
CIAUD, FA, UNIV TECN, LISBOA Rau Sá Nogueira, Polo Universitário Alto da
Ajuda, 1349-055 Lisboa, Portugal, +(351) 213 615 832, [email protected]
Palavra-chave: Cidade Museu, Análise Sintáctica Espacial,
Espaço Público, Global/Local.
Resumo
A presente proposta de trabalho centra-se na análise da malha urbana da
cidade de Évora (Alentejo, Portugal), destacando a rede de espaços públicos
existente como o objecto central de estudo. Formada por um tecido urbano
de estrutura irregular desenvolvido no interior das muralhas medievais,
Évora foi avaliada pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios
(ICOMOS), como cidade-museu. Partindo deste conceito, o estudo de Évora
como cidade museu, tem por objectivo analisar a centralidade da rede dos
espaços públicos, no caso ruas e praças, a uma escala global e local e
verificar a possibilidade de esta poder ser utilizada para a criação de um
museu a céu aberto.
Assim, os espaços públicos são examinados como possíveis espaços
centrais essenciais para o funcionamento de um museu a céu aberto: as
praças são analisadas como galerias e as ruas como os espaços de ligação
entre elas. Para verificar o potencial e a viabilidade deste sistema, formado
por praças e ruas, no cumprimento das exigências programáticas para o
funcionamento de um museu, utilizamos a teoria da Sintaxe Espacial. Aqui,
várias medidas sintácticas de primeiro e segundo grau foram calculadas,
tanto a uma escala global como a uma escala local, e ligadas entre si
originando um set metodológico como resposta à complexa relação entre o
tecido urbano existente e proposta de um museu a céu aberto para Évora.
274
Desta forma, a metodologia utilizada enfatiza não a sua utilização das
medidas sintácticas em separado, mas, sim, a sua utilização de forma mútua
e simultânea, analisando a rede do espaço público como um todo,
identificando as praças mais relevantes para a realização de um museu a céu
aberto. Explorando, ainda, as ligações mais importantes entre as praças e os
edifícios históricos que as limitam, com o objectivo de identificar a
importância deste sistema de espaços públicos para o desenvolvimento do
conceito proposto.
A conclusão mais relevante deste trabalho prende-se com o facto de as
praças terem níveis diferentes de hierarquia espacial, e, por isso, uma
importância e um papel diverso dentro do sistema, cidade-museu, proposto.
O que possibilitou a descoberta de múltiplas possibilidades do uso dos
espaços públicos, nomeadamente as entradas para o museu, as galerias de
exposição, os corredores de ligação e os espaços adjacentes que iram
suportar outros conteúdos funcionais e recreativos do museu a céu aberto.
Outra conclusão, foi a existência de correlação entre os diferentes níveis de
hierarquia das praças que se inserem dentro da malha urbana que define o
museu a céu aberto e da importância do edificado que as limita,
considerados como as obras de arte expostas nas galerias, realçando, desta
forma, para além de o valor histórico do edificado as potencialidades da
vasta e rica herança urbana de Évora.
Agradecimentos
Um sincero agradecimento ao Vasco Sousa por toda a paciência e pelas
aulas de Excel. Obrigada.
Referências
[1] Anon, Space Syntax -universal spatial rules. Disponível em:
http://system.asknow.eu/users/s_karolwawrzyniak/weblog/62e44/Spac
e_Syntaxuniversal_spatial_rules.html [01,16,2013].
[2] Anon, 1986. UNESCO Advisory Body Evaluation. Disponível em:
http://whc.unesco.org/en/decisions/3793 [12,24, 2012].
[3] Hillier, B. (2007), Space is The Machine - A configurational theory of
architecture, London: Space Syntax.
275
[4] Rodrigues, P.S. (2007), O Passado é uma cidade ideal: um olhar sobre a
patrimonização
de
Évora.
Disponível
em:
http://dspace.uevora.pt/rdpc/handle/10174/5374[12,16,2012].
[5] Simplício, M. (2009), Evolução da Estrutura Urbana de Évora: o século
XX e a transição para o século XXI. Disponível em:
http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/2668/1/Evolucao_Estrutura_
Urbana_Evora_secXX_XXI.pdf [12,15,2012].
[6] Simplício, M. (2003), Évora: Origem e Evolção de uma Cidade
Medieval.
Disponível
em:
http://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/2669/1/Evora_Origem_Evol_
Cid_Me dieval.pdf [12,15,2012].
[7] Tzortzi, K. (2010), The art museum as a city or a machine for showing
art? ARQ: Architectural Research Quarterly, 14(2), pp.129.
276
Análise configuracional da forma urbana e
estrutura cognitiva
Ana Paula Neto de FARIA1
1
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Pelotas
Rua Benjamin Constant 1359, CEP 96010-020, Pelotas-RS, Brasil
Telefone: 55-53-30283101, e-mail: [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, cognição ambiental, modelos baseados
em grafos
Resumo
O presente trabalho investiga as características configuracionais que o
sistema urbano adquire ao ser mentalmente organizado pelos indivíduos.
Para tanto, a estrutura de conhecimento amplamente compartilhada, ou
imagem pública [1], é abordada enquanto parte integrante e indissociável do
sistema urbano. A temática é tratada dentro de uma abordagem sistêmica,
com o auxílio de modelagem computacional baseada em grafos e métodos
de análise de redes.
Os elementos que compõem a imagem pública podem ser considerados
unidades de informação [2]. As mesmas possuem um caráter dual: estão
parcialmente determinadas pelo ambiente e parcialmente pelos processos
cognitivos. As unidades de informação selecionadas são responsáveis pela
compreensão do espaço urbano, transformando-o em um sistema ordenado e
significante, capaz de melhorar a capacidade de memória e processamento
das informações ambientais [3]. De certa forma, este conjunto de unidades
de informação pode ser visto como inerente e inseparável dos demais
aspectos urbanos e, desta forma, passa a fazer parte do próprio sistema
urbano.
Dentro desta premissa podemos dizer que as unidades de informação
interagem com os demais componentes do sistema urbano e, por meio das
relações
cognitivamente
geradas,
reorganizam-no
através
do
estabelecimento de novas associações entre seus componentes físicos.
Definem, assim, uma estrutura relacional que cria hierarquias e
interdependências anteriormente inexistentes. As unidades de informação,
portanto, são capazes de definir uma estrutura configuracional para o
sistema urbano distinto daquele ditado exclusivamente por seus
componentes físicos.
277
Para investigar o que acontece com a estrutura urbana quando a mesma é
estruturada cognitivamente, optou-se pelo uso de modelos baseados em
grafos. Os mesmos tem se mostrado eficientes para o estudo da morfologia
urbana e suas relações com aspectos sociais [4][5]. A estrutura física da
cidade é representada por meio dos trechos de via e praças como vértices e
as relações de permeabilidade entre estas como arestas. As unidades de
informação são representadas por um vértice conectado aos componentes
físicos por ela abarcados.
A simulação da estrutura urbana e sua comparação com o sistema urbano
cognitivamente estruturado indicaram lógicas estruturais distintas. A
estrutura de espaços físicos é condizente com uma rede geográfica em que
as conexões são ditadas pelo critério de menor custo na transposição das
distâncias euclidianas ao mesmo tempo em que estão sujeitas a
constrangimentos espaciais. Já a cidade cognitivamente estruturada é mais
condizente com uma rede onde a prioridade está na redução das distâncias
topológicas entre elementos, denunciando uma busca por conexões que
possam reduzir o número de componentes requeridos para relacionar
quaisquer locais dentro da rede [6]. As características desta última também
são condizentes com uma rede com maior estabilidade geral e maior
hierarquização entre componentes.
A análise do comportamento de diversas medidas configuracionais nas três
cidades estudadas por Lynch [1] apontam para a capacidade da estrutura
cognitiva de estabelecer associações entre locais geograficamente distantes
com um número relativamente reduzido de passos ou informações
associativas. Esta redução facilita a apreensão do espaço urbano como um
todo e pode ser descrita em termos de compressão espacial e acessibilidade
cognitiva. A compressão espacial é definida pela variação no diâmetro e
raio da rede, enquanto a acessibilidade cognitiva é medida pela
Excentricidade e Acessibilidade (inverso da distância média).
As três cidades apresentaram expressiva compressão espacial (30-70%),
mas o modo como esta acontece é distinto por cidade. Na cidade
classificada como de melhor imagem pública, a compressão é maior e
beneficia mais os elementos mais distantes dentro da rede, enquanto que nas
outras duas cidades, os ganhos com a redução das dimensões da rede são
mais homogêneos.
Para a acessibilidade cognitiva houve uma redução da Excentricidade média
e concentração das distribuições junto à média. Por outro lado, para a
Acessibilidade, as mudanças são no sentido de ampliar as diferenciações
entre espaços (figura 1). Assim, a estrutura cognitiva desempenha um duplo
papel no comportamento da rede: reduz as distâncias máximas, garantido
278
melhor alcançabilidade e, ao mesmo tempo, introduz uma maior
diferenciação entre espaços urbanos para a alcançabilidade média, de modo
a permitir uma maior hierarquização interna.
Figura 1: Frequências de distribuição para a Excentricidade (acima) e Acessibilidade
(abaixo) na rede urbana (verde) e na rede cognitivamente estruturada (azul).
Outra característica alterada pela estruturação cognitiva é a hierarquia
presente na rede descrita pela medida de Centralidade [5]. Os padrões de
distribuição da medida indicam que o espaço urbano pode ter níveis
variados de hierarquização e que a estruturação cognitiva ocorre no sentido
de ampliar esta hierarquia e, ao mesmo tempo, convergir a mesma para um
patamar similar entre cidades. Quanto menor a diferença entre o nível de
hierarquia do espaço urbano e aquele referente ao sistema cognitivamente
estruturado, melhor a qualidade da imagem pública.
As simulações foram capazes de replicar muitos dos entendimentos
constantes dos trabalhos da área cognitiva, validado, deste modo, a
metodologia empregada. A análise apontou diversas propriedades
estruturais como importantes para o entendimento do funcionamento da
cognição ambiental e do papel desempenhado pelo ambiente urbano. Muitos
dos resultados obtidos se mostraram comuns entre as cidades analisadas,
sugerindo a universalidade de algumas características configuracionais e
uma possível influência de aspectos funcionais da cognição ambiental. Foi
possível também descrever o papel desempenhado pela configuração
279
morfológica do espaço urbano nas características qualitativas do sistema
cognitivamente estruturado.
Agradecimentos
A autora agradece os financiamentos recebidos do CNPq e FAPERGS que
auxiliaram na realização deste trabalho.
Referências
[1] Lynch, K. (1960), The image of the city, MIT Press, Massachusetts
[2] Wilson, R., F. Keil (2001), The MIT encyclopedia of the cognitive
sciences, MIT Press, Massachusetts
[3] Kintsch, W. (1970), Memory and cognition, John Wiley & Sons, New
York
[4] Hillier, B., J. Hanson (1984), The social logic of space. Cambridge
University Press, Cambridge
[5] Krafta, R. (1994), Modelling intraurban configurational development.
Environment and Planning B, 21, pp. 67-82
[6] Gastner, M., M. Newman, (2006), The spatial structure of networks.
The European Physical Journal B, 49, pp. 247-252
280
Uso do solo e malha urbana: duas perspectivas
Ana PAULA2, B. G. BARROS1
Universidade de Brasília (PPGT/FT), Departamento de Engenharia Civil e Ambiental –
Programa de Pós-Graduação em Transportes – Anexo SG-12 – 1º andar
Campus Universitário Darcy Ribeiro – Asa Norte
CEP: 70910-900 – Brasília/DF, Brasil
2
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico – Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos – Campus Alameda
Rovisco Pais, 1 – 1049-001 – Lisboa, Portugal
+55 61 83016116, [email protected]
1
Palavras-chave: mobilidade urbana, configuração, contagens, uso do solo,
Lisboa.
Resumo
Este artigo visa analisar de que maneira o uso do solo interfere no modo de
utilização do espaço urbano pelas pessoas, avaliando o desempenho
comparado de diferentes malhas viárias. Para o estudo foram investigados
três bairros da cidade de Lisboa com distintos desenhos em suas malhas
viárias. O primeiro – Campo de Ourique – apresenta uma grelha
essencialmente regular com quarteirões de tamanhos semelhantes e
cruzamentos em “X”; o segundo – Graça – caracteriza-se por um desenho
de nítida irregularidade (“orgânico”) cujos quarteirões assumem tamanhos
distintos e os cruzamentos entre vias são predominantemente em “T”; e o
terceiro e último – Telheiras – cujo desenho tende à uma malha
contemporânea, o que significa maior proporção de espaços vazios em
relação aos cheios, contendo quarteirões também de tamanhos distintos,
grandes vazios urbanos e uma heterogeneidade de cruzamentos tanto em
“X” quanto em “T”. Para a verificação do uso do espaço, foram aplicadas
técnicas de modelagem configuracional vinculadas à Teoria da Lógica
Social do Espaço (Sintaxe do Espaço). Além disso, adotou-se o Método do
Portal desenvolvido pelo Space Syntax Laboratory (Londres, Inglaterra) no
qual utilizam-se portais – linhas retas imaginárias que atravessam
perpendicularmente uma via, de uma calçada a outra – para o registro de
atravessamentos. Ressalta-se que o número de portais em uma área não
deve ser inferior a 25 para que assim possa haver consistência nos
resultados. Além disso, a escolha na localização requer um planejamento
para que toda a zona de interesse seja coberta, sendo passível de
281
levantamento em faixa de tempo de duas horas. Para a pesquisa, assumiu-se
que o tempo de contagem simultânea de veículos e pedestres foi de 2,5
minutos em vias de pouco a médio movimento, entretanto aquelas de maior
movimento teriam esta medida ampliada para 5 minutos (2,5 minutos para
cada um dos dois modos de deslocamento). Ademais, os procedimentos
precisaram ser adaptados à realidade de cada bairro investigado, tendo em
vista as peculiaridades de suas respectivas malhas. Dos achados, verificouse a partir das contagens que em malhas reguladas e orgânicas há
convergência entre o uso do solo, o fluxo de pessoas oriundo das contagens
e as vias mais integradas. Por outro lado, em malhas contemporâneas esta
correspondência não acontece, aparentemente por haver uma ruptura na
estrutura urbana quanto às relações entre cheios e vazios (barreiras e
permeabilidades ao movimento) em comparação aos assentamentos
“tradicionais”. Aqui há casos de vias pouco integradas com consideráveis
fluxos de movimento em partes do dia, devido a presença de magnetos que
atraem/geram viagens. Em Campo de Ourique e na Graça, por sua vez, há
uma melhor sincronia: a localização das escolas, por exemplo, são
estratégicas, situando-se em vias de significativo movimento que
concentram as redes de transporte público. A partir dos resultados, há fortes
indícios de que a configuração urbana interfere nas relações de movimento
ao condicionar a distribuição de uso do solo: áreas mais acessíveis do ponto
de vista configuracional tendem a ser aquelas em que predominam
comércios e serviços. Entretanto, a afirmação apresenta melhor sincronia
para malhas “tradicionais” (em diferentes graus de regularidade) do que
para aquelas contemporâneas, conforme aponta o estudo.
Agradecimentos
A autora agradece primeiramente à CAPES pelo auxílio financeiro durante
o estágio de doutorado em Lisboa. Às observações em relação às contagens
dos orientadores Paulo Cesar (do Brasil), José Manuel Viegas (Portugal) e
Frederico de Holanda (Brasil). Ao auxílio do Valério Medeiros com a
tradução do Manual de Observação (Contagem) do Space Syntax
Laboratory (Londres – Inglaterra). E aos amigos – Ana Galelo, Joana
Ribeiro, Liliana Magalhães, Luís Caetano, Luís Filipe e Tomás Eiró – do
Instituto Superior Técnico pela ajuda com as contagens no bairro de
Telheiras.
282
Nova informação para as análises da morfologia
urbana
Teresa Sá MARQUES1; Mário FERNANDES2
1
Geógrafa, FLUP, CEGOT, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
2
Geógrafo, FLUP, CEGOT, Via Panorâmica, s/n, 4150-564 Porto, Portugal,
[email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana; Viana do Castelo, Guimarães, INE,
SIG.
Resumo
Em Portugal, nos últimos vinte anos, têm-se verificado um aumento dos
estudos sobre a morfologia e a morfogénese das cidades. Uns focalizam a
sua investigação sobretudo na análise dos impactos da intervenção
urbanística na morfologia urbana, numa perspectiva histórica e
privilegiando as grandes escalas urbanas. Outros abordam a morfologia
urbana pelo lado dos processos de urbanização, sobretudo focalizados nos
últimos decénios e favorecendo as escalas intermédias. As duas abordagens
visam sobretudo a sistematização de morfo-tipologias urbanas, capazes de
sustentar futuras intervenções, a várias escalas e com diferentes objectivos.
Ultimamente a investigação tem vindo progressivamente a articular as
abordagens morfológicas com os novos desafios em matéria de gestão
territorial, dedicando mais atenção ao papel dos instrumentos de gestão
territorial e às políticas urbanas. Em termos metodológicos, o recurso a
ferramentas e técnicas em SIG tem dado novos contributos às análises
morfológicas.
Pretendemos desenvolver uma análise exploratória para a caracterização das
cidades Portuguesas. A partir de diferentes bases de informação
georreferenciada (cartografia de base e dados censitários), tratadas e
modeladas com recursos a ferramentas e técnicas de SIG, podem ser
desenvolvidos diferentes produtos cartográficos de suporte digital de
utilidade para o planeamento e/ou monitorização. Nesse sentido, foram
desenvolvidas abordagens metodológicas baseadas no tratamento e análise
de um conjunto de novos indicadores disponibilizados pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE), ao nível das subsecções. A metodologia
283
desenvolvida é testada em duas cidades portuguesas, Guimarães e Viana do
Castelo.
Normalmente, as cidades apresentam características morfológicas
consentâneas com os contextos económico, social e cultural do seu
percurso, o que ajuda a explicar as semelhanças frequentemente verificadas
em tantos casos e também nos de Viana do Castelo e de Guimarães, que
apresentam várias características em comum, apesar das diferenças que
também denotam. De facto, em ambas é comum a morfologia de cariz
medieval (em Viana mais regular e em Guimarães mais orgânico), são
comuns os traços renascentistas na expansão extramuros (nomeadamente na
qualificação dos campos/rossios) e alguns sinais barrocos materializados no
edificado, evidenciando-se ainda a partilha do percurso das cidades
portuguesas na época contemporânea, observáveis nas consequências
decorrentes dos planos de melhoramentos oitocentistas, do voluntarismo da
primeira república, dos planos e ante-planos do Estado Novo, do alastrar
das periferias dos últimos trinta anos, do esvasiamento e subsequente
reabilitação dos centros históricos. As especificidades decorrem do sítio e
situação de cada uma e da matriz económica e sócio-cultural dos seus
habitantes, com reflexos na ação do poder local.
A esta leitura morfológica desenvolvida em investigações anteriores vamos
agora acrescentar novas análises recorrendo a outras fontes de informação e
outras metodologias. O objetivo é cruzar o conhecimento proveniente da
cartografia histórica e documental com uma metodologia mais racionalista,
tendo em vista a avaliação do potencial de complementaridades.
Pretende-se que a metodologia concebida possa ser de fácil replicação em
diferentes contextos urbanos, de simples manuseamento e de utilidade para
as instituições locais e regionais no quadro das suas funções e
responsabilidades. Para o desenvolvimento desta metodologia foram
consideradas as seguintes dimensões analíticas: densidades do edificado;
tipologia do edificado (isolados/geminados/em banda); volumetria (nº de
pisos, área dos alojamentos); usos do edificado (residenciais; mistos; não
residenciais; vagos; secundárias; coletivos); época de construção; tipo de
construção (estrutura de paredes de adobe ou alvenaria de pedra solta, de
alvenaria com sem placa, de alvenaria com placa). Com base nestas
dimensões foi construída uma lista de indicadores, que foram testados
individualmente cartograficamente. A estes indicadores foram
acrescentados outros concebidos com recursos a ferramentas SIG
(coeficiente de ocupação do solo; relação entre superfícies construídas e não
284
construídas, etc.) recorrendo à análise do edificado (em base vetorial, à
escala 1:2000). Posteriormente foi aplicada uma análise multivariada e uma
análise classificatória de forma a tipificar as formas urbanas. O mapeamento
e a visualização dos resultados tem uma forte expressão nesta pesquisa.
Esta síntese morfológica foi posteriormente cartografada e confrontada com
as análises morfológicas realizadas em investigações anteriores. Assim, com
esta pesquisa pretendemos cruzar conhecimentos derivados de percursos de
investigação diferentes, com recursos a fontes de informação distintas mas
potencialmente complementares.
285
Transformação da forma urbana:
Uma análise quantitativa
Eliane CONSTANTINOU
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Departamento de Arquitectura – Faculdade de Arquitectura
[email protected]
Palavras-chave: keyword 1, keyword 2, keyword 3, keyword 4, keyword 5
Resumo
O estudo investiga a dinâmica da transformação intra-urbana sob o enfoque
teórico da auto-organização, explorando a possibilidade de existência de
padrões espaço-temporais no fenômeno de alocação de tipologias funcionais
(estoques construídos e atividades) ao longo de um século, no bairro
Santana de Porto Alegre-RS-Brasil. A transformação das tipologias
funcionais e a auto-regulação do fenômeno locacional é estudada sob o
enfoque da aleatoriedade envolvida nas localizações espaciais das variáveis
tipológicas dentro de uma rede espacial de estrutura viária consolidada,
permitindo, desta forma, identificar regras micro-espaciais que estabeleçam
conversões entre as tipologias funcionais ao longo do tempo. Parte-se da
hipótese básica de que o fenômeno da transformação urbana possui o
cenário urbano presente como informação para o estabelecimento locacional
futuro, ou seja, a alocação de uma tipologia funcional em um lote depende
do estado tipológico alocado neste lote no período imediatamente anterior.
A exploração desses padrões espaço-temporais é realizada através de um
método descritivo que parte da representação estrutural da base física da
rede de lotes através da Teoria dos Grafos, explorando o comportamento
entre as tipologias funcionais no tempo, através da utilização de Cadeias de
Markov, e inferindo a respeito da auto-regulação do sistema com medidas
de Entropia de Kolmorogov e Informação de Shannon. A partir desta
análise obtêm-se as matrizes de transição de cada intervalo de tempo
correspondente entre duas décadas, chegando a um total de nove matrizes, e
três matrizes médias representando o comportamento do fenômeno
locacional no sistema em três fases distintas.
As limitações referentes a resposta espacial do modelo markoviano são
superadas através da espacialização das regras de transição na rede celular
irregular através do programa ArcView Gis 3.3. As regras são obtidas a
287
partir de matrizes condicionais de transições construídas a partir da
dependência temporal do estado do lote no tempo t+1 com o seu estado no
tempo t e com o estado da sua vizinhança no tempo t. A espacialização das
regras de transição no ArcView Gis 3.3 representa a ultima etapa do modelo
e permite a validação do método proposto, quando comparamos os locais
com maior probabilidade de mudança apresentados pelo modelo com os
locais onde de fato ocorreram as conversões entre os tipos de estoques.
Nesta etapa também são possíveis diferentes explorações como a predição
de estados futuros, análise de diferentes tipos de comportamentos entre os
diferentes tipos de estoques e atividades, e descrições de zonas mais ou
menos instáveis às transformações.
A investigação demonstra que o estado tipológico atual condensa toda a
história sistêmica definindo a qualidade de markovicidade ao fenômeno
locacional, possibilitando a inferência de possíveis estados futuros e
patamares de estabilidade sistêmica através dos padrões comportamentais
estabelecidos dentro da rede espaço-temporal.
288
Implementação de modelos dinâmicos para
simulação do crescimento urbano
BIAS, Edilson de Souza1; BRITES, Ricardo Seixas1; SANTA ROSA, Antonio
Nuno de Castro1
Universidade de Brasilia – Instituto de Geociências
Campus Darcy Ribeiro – Asa Norte, Caixa Postal 4465 Brasilia - DF
+55 61 3107-6977 e +55 61 8131-7202, [email protected]
1
Universidade de Brasilia – Instituto de Geociências
Campus Darcy Ribeiro – Asa Norte, Caixa Postal 4465 Brasilia - DF
+55 61 3107-6976 e +55 61 9304-2373, [email protected]
1Universidade de Brasilia – Instituto de Geociências
Campus Darcy Ribeiro – Asa Norte, Caixa Postal 4465 Brasilia - DF
+55 61 8143-3442, [email protected]
1
Resumo
O crescimento das regiões urbanas é um fenômeno que tem sido observado
em muitas partes do mundo e nas últimas décadas vem se caracterizando
pela mudança de grande parte da população rural para as grandes cidades.
Esse crescimento vem gerando diversos impactos, que tornam o
planejamento urbano e o ordenamento territorial cada vez mais complexos.
Diversos estudos têm demonstrado que quase todo o crescimento entre 2000
e 2030 deve ocorrer em áreas urbanas. Para análise do crescimento urbano
da região de Charleston, Carolina do Sul, Allen e Kang (2003) utilizam a
distribuição populacional e a variável de classificação de uso da terra, que
pode ser cobertura de terra (natural/antropizada) ou urbana (incluindo uso
residencial, comercial, industrial). A análise de crescimento foi efetuada
sobre o crescimento populacional, a variação da área urbana e a relação
população/área urbana, para caracterizar a evolução do grau de dispersão da
população. Costa e Silva (2007) fazem uma avaliação do crescimento
urbano para medir a meta-dispersão da região, a avaliação foi feita por meio
de uma análise multi-temporal com o mapeamento dos limites urbanos da
região urbana, sendo que o mapeamento foi baseado em imagens de satélite
e fotografias aéreas de três períodos diferentes. Com estes dados os
pesquisadores avaliaram as tendências de crescimento para entender a
expansão dos novos eixos e testar um indicador para estudos da dispersão
urbana. Já Marques e Ferreira (2006) defendem a idéia de se usar, na análise
do crescimento urbano, uma modelagem fractal. Estas pesquisas são
importantes, mas não solucionam o problema da análise do crescimento
289
urbano. O presente estudo tem como premissa que, conhecendo-se as
tendências do crescimento, é possível estabelecer modelos dinâmicos que
discretizem no tempo e no espaço as alterações da manha urbana em
ambientes que experimentam crescimento anisotrópico, analisando a
extensão do espacial e estimando a direção do mesmo. Sobre esse prisma
torna-se necessário desenvolver ferramentas que permitam simular o espaço
discreto como, por exemplo, autômatos celulares de estado e a cadeia de
Markov escondida (HMN), que descrevem a condição de um sistema num
tempo (t+1), explicada pela sua condição inicial (t0), em função de
possíveis estados futuros, ou seja, as possíveis mudanças no estado inicial
(t0) serão representadas pelas probabilidades daquele estado inicial (t0)
permanecer ou mudar para outro estado (t+1), após um determinado
intervalo de tempo (Soares Filho, 1998).
Referências
[1] ALLEN, J.; K. Lu. Modeling and prediction of future urban
growth in the Charleston region of South Carolina: a GIS-based
integrated approach. Conservation Ecology 8(2): 2. URL:
http://www.consecol.org/vol8/iss2/art2. acessado em 2013.
[2] Soares Filho, B. Modelagem da dinâmica de paisagem de uma
região de fronteira de colonização Amazônica. São José dos
Campos. pp. 105. Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) –
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1998.
[3] COSTA, S. M. F.; SILVA, D. C. . Caracterização da Dispersão
Residencial (Urban Sprawl) Utilizando Geotecnologias. In: XIII
Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, 2007, Florianópolis.
XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto. São José dos
Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2007. v. 1. p.
5167-5174.
[4] MARQUES, M. L.; FERREIRA, M. C. Aplicação da dimensão
fractal para o estudo da morfologia urbana da região
metropolitana de são Paulo. In: Lucia Helena de Oliveira Gerardi;
Pompeu Figueiredo de Carvalho. (Org.). Geografia: ações e reflexões.
1 ed. Rio Claro: AGETEO, 2006, v. , p. 411-432.
290
Compactness and Network Density: Learning from
Vernacular Patterns
Francesco ORSI1; Stefano FIORITO2; José Nuno BEIRÃO1,2
1
PhD Candidate, FAUTL
Avenida da Charneca, 421, 2750-530, Cascais, Portugal
+351911117246, [email protected]
2
PhD Candidate, FAUTL
Avenida da Charneca, 421, 2750-530, Cascais, Portugal
+351911941862, [email protected]
1,2
Assistant Professor, FAUTL
+351966552967, [email protected]
Keywords: Compactness, Extensive
Vernacular urbanism, Generative design.
territories,
Network
density,
Abstract
The present paper constitutes a part of an on-going research addressing the
issue of developing sustainable urban solutions for scattered low-density
territories throughout Portuguese territory. The main goal of the project is to
strengthen urbanity in such extensive urban territories by improving their
compactness and their continuity within the lowest manageable growth
ratio.
In fact, Portuguese contemporary urbanization displays an extensive sprawl
- which encourages land-consuming practices, causes high infrastructural
costs and poses new issues to Portuguese urban and regional policies
(Porter, 1998). Low-density developments and discontinuous urban fabrics
hastened the problem of territorial sustainability (Portas, Domingues,
Cabral, 2011). The challenge here is to rethink, reconfigure and restructure
dispersed environments, seeking for new ways of consolidating, densifying
and enhancing the coherence of existing fabrics rather than expanding their
urban footprints.
The present work is therefore performed in two stages. The first stage
analyses existing spatial configurations and street networks in order to
identify time-tested solutions by means of a generative pattern encoded as a
Shape Grammar which may be used for densification strategies. The second
stage consists on reusing such time-tested generative patterns to implement
291
a generative design system capable of guiding designers, planners and
stakeholders to intervene in such extensive territories.
Such generative system supports (1) the identification of the desirable
qualities of the patterns and (2) supports design decisions while designing
with the patterns.
At the basis of such system there is a previous study conducted by the
research team (Orsi, Fiorito, Duarte, 2012) focused on the definition of
recurrent design patterns drawn from Portuguese vernacular historical
settlements. By looking at vernacular case studies, the previous research
aimed at disclosing a wide dictionary of tradition-proven design patterns
that could be employed nowadays in rethinking extensive suburban
territories’ densification conditions. Ultimately, the present research aims at
developing a decision making support tool to help planning and designing
meaningful and coherent interventions in dispersed urban fabrics fostering
connectivity, integration and quality of life in such contexts.
In this paper we will focus our attention on the first part of the research,
namely on the relationship between urban form, density and network
density by combining Spacematrix methodologies with spatial and
accessibility analyses. The Spacematrix, developed by Berghauser Pont and
Haupt (2010), treats density as a multivariable phenomenon, approaching
and defining it in terms of three indicators, in contrast with the usual
practice of using a single indicator, such as the number of dwellings per
hectare or FSI. In Spacematrix density is defined not only as intensity (FSI)
but as a combination of intensity, compactness (GSI), and network density
(N).
In order to assess the spatial qualities of an existing street network Space
Syntax methodology, as presented by Bill
Hillier (1989), has been employed. In addition, a geographic accessibility
analysis has been performed by means of geographic information system
(GIS).
Based on mathematical methods for graph analysis, Space
Syntax methodology is able to correlate different spatial configurations with
flows of human activity through the city (Hillier, Penn, Hanson, Grajewski,
Xu, 1993). It can also help to understand how a specific urban layout can
lead to social and economic benefits such as safer public spaces (Hillier,
2004) or higher property values (Matthews and Turnbull, 2007).
292
The novel character of the present research lies in the crossing between (1)
analytical studies about urban density, density network and accessibility
performed through Spacematrix, Space Syntax, GIS and route structure
analysis — as presented by Marshall (2009) — (2) the definition of a
generative design system based on the non- linear feeding from the data
generated by such analyses — in the form presented by Beirão, Nourian,
Mashhoodi (2011) — (3) and the repertoire of time-tested solutions for
recurrent urban issues drawn from Portuguese vernacular urbanism.
Acknowledgments
We would like to thank Cristina Cavaco and José Pinto Duarte for their
comments, criticism and help. Our work would not have achieved this stage
without the discussions we had.
References
[1] Beirão, J., Nourian, P., Mashhoodi, B. (2011), Parametric urban
design: An interactive sketching system for shaping neighborhoods. In
Proceedings of the Conference eCAADe 2011. eCAADe 2011.
Ljubljiana.
[2] Berghauser Pont, M. Y., Haupt, P. (2010), SPACEMATRIX, Space,
Density and Urban Form. NAi Publisher, Rotterdam
[3] Hillier, B. (2004), Can streets be made safe?, Urban Design
International 9, pp. 31–45.
[4] Hillier, B, Penn, A, Hanson, J, Grajewski, T, Xu, J (1993), Natural
Movement - or, Configuration and
[5] Attraction in
Urban Pedestrian
Movement.
Environmental Planning B , 20 (1) pp. 29 - 66.
[6] Hillier, B. 1989, The Social Logic of Space, Cambridge University
Press, Cambridge.
[7] Marshall, S.,
(2009), Solutions
WP15 Deliverable
[8] Report: Urban Layout Structuring, Bartlett School of Planning, UCL,
London.
[9] Matthews, J & Turnbull, G 2007, Neighborhood Street Layout and
Property Value: The Interaction of
[10] Accessibility and Land Use Mix, Journal of Real Estate Finance and
Economics, 35 pp.111–141.
[11] Portas, N., Domingues, A., Cabral, J. 2011, Políticas Urbanas II.
Transformações, Regulação e Projectos.
[12] Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
293
[13] Porter, E. M., 1998, Clusters and the New Economics of Competition.
Harvard Business Review, Boston.
Previous Works
[1] Orsi, F., Fiorito, S., Duarte, J.P. (2012), The grammar of
Portuguese Urbanism. In Nexus 2012: Reletionships between
Architecture and Mathematics, Conference Proceedings - PhD Day.
Politecnico di Milano, Milano.
294
A Complexidade no Estudo e Planeamento da
Cidade: conceitos e potencialidades
João V. LOPES1; Alexandra PAIO2; Maria Rosália GUERREIRO3
1
Pós-graduando Curso de Estudos Avançados em Arquitectura Digital ISCTE-FAUP
Av. das Forças Armadas 1649-026 Lisboa, Portugal
+351 217 903 000, [email protected]
2
ISCTE-IUL Instituto Universitário de Lisboa, ADETTI-IUL, VitruviusFabLab-IUL
Av. das Av. das Forças Armadas 1649-026 Lisboa, Portugal
+351 217903442, [email protected]
3
ISCTE-IUL Instituto Universitário de Lisboa, CIES-IUL
Av. das Av. das Forças Armadas 1649-026 Lisboa, Portugal
+351 217903443, [email protected]
Palavras-chave: Cidade, Teoria da Complexidade
Planeamento, Emergência, Modelação Urbana
das
Cidades,
Resumo
Nas últimas décadas tem-se vindo a assistir à emergência de uma nova
disciplina científica que, tendo como objecto de estudo a cidade, agrega
contribuições não só da arquitectura e urbanismo, mas também das ciências
naturais e sociais, numa teoria unificadora baseada no pensamento
computacional e na complexidade. Portugali[1] apelida-a de “Complexity
Theories of Cities” (CTC).
O presente artigo irá expor as noções, as potencialidades e os futuros
caminhos da CTC, apontando a relação com o planeamento e desenho
urbano como uma das áreas de investigação da CTC em pleno
desenvolvimento. Neste sentido, é necessário fazer uma reflexão crítica
sobre a noção de complexidade, aclarar os seus conceitos fundamentais e
colocá-los numa breve perspectiva histórica, tanto da ciência, como do
urbanismo, ao longo dos últimos dois séculos. Pretende-se com esta
introdução realçar o aparecimento de um novo paradigma no pensamento
contemporâneo, fruto da revolução científica da transição para o séc. XX,
que abriu caminho à abordagem complexa (também chamada sistémica ou
ecológica) e à visão bottom-up dos processos urbanos.
Assim, elegendo o termo Complexidade para designar ideias e conceitos
oriundos de disciplinas e de tempos distintos (pensamento complexo,
ciências da complexidade, pensamento sistémico, ecológico ou sinergético)
definem-se os conceitos comuns: sistema, linearidade e não-linearidade,
295
auto-organização e emergência, padrão, caos e sensibilidade às condições
iniciais, assim como de fractalidade e auto-semelhança. A exposição destes
conceitos permite evidenciar as suas conexões e o modo como alteraram a
nossa noção de espaço e tempo, bem como o deslocamento do foco de
atenção de métodos analíticos para sintéticos e da forma para as relações e
padrões. Aponta-se ainda o aparecimento simultâneo de duas tendências nos
estudos complexos: a americana (Santa Fe Institute) e a europeia
(Congresso de Monpellier, 1984, reunindo Morin, Prigogine, Boulding).
Este conhecimento tem permitido novas disciplinas emergentes da
complexidade, muito influenciadas pelo aparecimento da internet, da
globalização e da sociedade da informação.
Neste artigo, refere-se a relação íntima da história da CTC com a da
computação e da modelação digital; desde as abordagens iniciais estáticas
focalizadas na optimização pela simulação, passando pela modelação
baseada em dinâmicas não-lineares[2] até às mais recentes recorrendo a
Autómatos Celulares e baseadas em Agentes[3], as quais fazem eco do
controverso A New Kind of Science (2002) de S. Wolfram. Através de dois
exemplos da aplicação da complexidade ao planeamento urbano demonstrase a aplicabilidade deste novo paradigma: (1) a cartografia fractal da Área
Metropolitana de Lisboa, uma ferramenta de suporte ao planeamento e à
decisão produzida por uma equipa multidisciplinar portuguesa [6]; e (2) a
Self-Planned City proposta por Portugali[5], um modelo de inclusão da
complexidade num Sistema de Planeamento Urbano democrático, autoorganizado e emergente, potenciador da criatividade, flexibilidade e
adaptabilidade urbanas, e como tal da resiliência da cidade a um futuro cada
vez mais incerto.
Em suma, o que se pretende com este artigo é através da história da CTC,
ilustrar as origens da aplicação da complexidade ao estudo e planeamento
da cidade, começando pelo pensamento seminal de Geddes, Jacobs e
Alexander, pela crise dos anos 1960 e o descrédito do planeamento, e
finalmente o surgimento das visões complexas, bottom-up, que potenciadas
pelas novas tecnologias da informação e comunicação, vêm recolocar as
visões desses pioneiros em debate[4].
A cidade como campo excepcional do estudo da complexidade, constitui-se
como um condensador de ideias oriundas das ciências naturais e sociais, da
filosofia e das artes. A CTC pode constituir-se como a disciplina agregadora
de saberes no esforço de compreender e actuar esclarecidamente na
realidade urbana, estimulando ainda o interesse de áreas científicas
estranhas a esta realidade. O papel de planeadores, urbanistas e arquitectos
será o de questionar o método das suas disciplinas no âmbito da CTC[7],
296
revalorizando a importância do Desenho como disciplina eminentemente
sintética e agregadora de saberes.
Referências
[1] Portugali, J. et al. (Eds.) (2012), Complexity theories of cities have
come of age an overview with implications to urban planning and
design. Berlin New York: Springer, pp. 1-2
[2] Allen, P. M. (1997), Cities and Regions as Self-organizing Systems:
Models of Complexity. Amsterdam: Gordon and Breach Science
[3] Batty, M. (2005), Cities and Complexity: Understanding Cities with
Cellular Automata, Agent-Based Models, and Fractals. MIT Press
[4] Batty, M., S. Marshall (2012), The Origins of Complexity Theory in
Cities and Planning, In J. Portugali et al. (Eds.), Complexity theories
of cities have come of age an overview with implications to urban
planning and design. Berlin New York: Springer, pp. 21-45
[5] Portugali, J. (2012), Complexity Theories of Cities: Implications to
Urban Planning, In J. Portugali et al. (Eds.), Complexity theories of
cities have come of age an overview with implications to urban
planning and design. Berlin New York: Springer, pp. 221-244
[6] Encarnação, S., M. Gaudiano, F.C. Santos, J.A. Tenedório, J.M.
Pacheco (2012), Fractal cartography of urban areas. Sci. Rep. 2, 527;
DOI:10.1038/srep00527
[7] Sijmons, D. (2012), Simple Rules: Emerging Order? A Designer’s
Curiosity About Complexity Theories, In J. Portugali et al. (Eds.),
Complexity theories of cities have come of age an overview with
implications to urban planning and design. Berlin New York: Springer,
pp. 281-309
297
Synchronizing Spatial Information in Complex
Urban Environments: understanding pedestrian
behavior
Teresa HEITOR1; Ana TOMÉ2; Inês RITA3
1
ICIST - Department of Civil Engineering and Architecture, Instituto Superior Técnico,
Av. Rovisco Pais 1, 1049-001 Lisboa, Portugal
00 351 218418320, [email protected]
2
ICIST - Department of Civil Engineering and Architecture, Instituto Superior Técnico,
Av. Rovisco Pais 1, 1049-001 Lisboa, Portugal
00 351 968154676, [email protected]
3
ICIST - Department of Civil Engineering and Architecture, Instituto Superior Técnico,
Av. Rovisco Pais 1, 1049-001 Lisboa, Portugal
00 351 918150113, [email protected]
Keywords: space-use analysis model; complex urban environment,
pedestrian behavior, pedestrian barriers
Abstract
How far will it be possible to stimulate pedestrian movement in urban
settings, including heavy traffic urban areas where transport infrastructure
has been designed without sufficient regard to pedestrian behavior?
This implies urban space to be reconfigured to support natural movement
paths and ensure pedestrian safety and we argue that to deliver public
spaces that will work better for the people that use them, requires per si, the
adequate development of space-use methodologies and analysis.
This paper reports to a research project on pedestrian flows aiming at
providing key evidence about the potentials and problems of walking
relative to other modes of transport in the use of an area. It seeks to identify
barriers and stimulus to pedestrian movement with the ultimate goal of
regulating urban space and activities in order to reduce the need and the cost
of motorized circulation.
The main research question is on how the configurative and environmental
properties of circulation spaces influence the user’s experience of space,
and facilitates their use. It is argued that the type of rules imposed on
298
pedestrian by space constitutes a key condition in how the pedestrian
movement naturally occurs. The answer to this question requires the
development of a space-use analysis model (SUA) capable of a systematic,
objective and non-arbitrary description.
The space-use analysis model is supported by an analytical frame based in
Kohlsdorf’s environmental perception study, in Thiel’s “notations for a
participatory envirotecture, in Hillier and Hanson “Space Syntax” theory
and Murp’s “The Hierarchy of Walking Needs” theory.
This paper considers three parts: 1) description of the methodological
procedures applied; 2) development of a case study carried out in Lisbon, 3)
discussion of the potential of the proposed method for the development of a
SUA_m.
References
[1] Kohlsdorf, M. E. (1996) A Apreensão da Forma da Cidade, Brasília:
Editora Universidade Brasília.
[2] Thiel, P (1997) People, Paths, and Purposes: Notations for a
Participatory Envirotecture, Seattle: University of Washington Press.
[3] Hillier B, Penn A, Hanson J, Grajewski T, Xu J (1993) Natural
movement: or configuration and attraction in urban pedestrian
movement - Environment & Planning B: Planning & Design Vol. 20,
29-66
[4] Murp, M. (2005) To Walk or Not to Walk? The Hierarchy of Walking
Needs Environment and Behavior, Vol. 37, No. 6, 808-836 (2005)
Environment and Behavior, Vol. 37, No. 6, 808-836
299
Forest urbanism: the structuring power of forests
in the Lisbon/Porto territory of dispersion
Wim, WAMBECQ
OSA researcher - PhD Student
KU Leuven - Department of architecture, Urbanism and Planning
Kasteelpark Arenberg 51
BE-3001 Heverlee - Belgium
[email protected]
Keywords: Landscape urbanism, Forest urbanism, Territory, Dispersion,
Transformation
Abstract
This paper will discuss the structural role of forests in territories that are
distinctively different than the compact city, often called the territory of
dispersion.
Dispersion and its design interventions are often associated with the
American suburbia developed in postwar period 1 while in fact there are
several types of dispersion with different economic origin. In Europe, the
first wave of suburbanization goes back to Middle Ages, e.g. in Belgium,
where the fertile grounds of the lower river plains allowed for food
production in any location of the territory. It led to a wide spread network of
productive entities and formed the base of current large-scale dispersion
pattern. This type of dispersion can often be found in fertile river deltas.
The second wave of suburbanization, relating to a new wave of investments,
relates to the industrial revolution. The improving mining technologies lead
to a mushroom explosion of mining pits and derivate industries spread over
the coal resource area. This created a lot of new employment with strongly
increasing populations as a result. Since most of the infrastructural
investment went into the delivery and extraction of goods, new urban
developments were mostly settled close to the industry in specific
typological neighborhoods. Only after the Second World War did the dream
of ‘the house with a garden’ becomes the dominant suburban contribution.
When we look at the European map and turn on urban tissue and forest
structures a clear contradiction can be noticed: the dispersion, tissue known
for its strong relation with open space, it is also the space where forests are
least present. (Fig. 1 Corine land-use Europe, layers urban tissue and forest)
301
So, is forest not appreciated as open space or a quality for sprawl? In any
case there exists a paradox. The suburbanization processes - the search for a
close relation with the greener countryside regardless of the type of
urbanization wave and timeframe - resulted in a high rate of forest
disappearance. At the same time we notice that many tissues today are
located close or around forest structures that do not necessarily appear as
forest on traditional mapping documents.
The Lisbon-Porto urban territory is a form of dispersion related to the fertile
Tejo-Douro low lying grounds that contain a set of rivers reaching the
Portuguese coastline and more recently because of the Lisbon-Porto
economical and administrative relation. This piece of urbanization houses
about three quarters of the Portuguese population. Contrary to other
territories of dispersion, here forests are abundantly present in a varied set
of types: protected forestscapes in national parks, artificially created and
maintained forests for production purposes, high ridge forests, dune
forests… A very diverse interplay of forested areas seems to exist (Fig. 2
Portugal: river system, Corine land-use map and population density), but its
structural capacity for urban development remains unproven.
The time is right to address this relation between forests and the urban
condition, analyze it and to take it as the departure point and actively
stimulate and intensify their sustainable collaboration. In recent months the
governmental policies regarding forests and production has been changing
without a proper effect analysis. This change should be seen as the
opportunity to redefine the relation between forest and urbanization and
how they influence each other, not only from a spatial point of view 2, but
also from benchmarks of sustainability and even for compensating Troika
budget cuts with increasing inland production while decreasing import
necessities.3
This concept of forest urbanism is not only based on an unproven reading of
the territory, but was born from the increasing ecological awareness since
the turn of the century. If we can look beyond the forest as a static land-use
zone, it can become truly structural. On one side it deals with the
contemporary sustainable demands. A forest contains the largest
contributions to biodiversity and forms the lungs of the world with caption
and storage of CO2 and the production of oxygen. Forested zones improve
rainfall infiltration while safeguarding the quality of the water winning
aquifers. Distinct locations lead to different types of forest that each
302
contributes to a production life cycle.4 On the other side it creates a specific
typological architecture. There has always been a kind of romantic view on
and mysticism revolving around living in the forest. As if it was a special
privilege. 5
The largest adversary of the forest is time. Public instances are mainly
concerned with safeguarding the existing forest stock. They do expand
when possible, but mostly the efforts are marginal. Private land owners are
encouraged to create forest through subsidies, but the productivity of a
forest (as an alternative to agriculture) and equal money return is too slow.
Only the landscape altering fast-growing exotic eucalyptus seems to be able
to convince the private entrepreneur, not counting the very few enlightened
souls that plant for the next generation.
We believe that a new mixture of these elements into a new dynamic more
open structured approach as opposition to the static policies today could
lead to the sustainable transformation and improvement of this territory of
dispersion. This paper intends to give a first contribution to a new kind of
urban transformation in the Lisbon – Porto region through the concept of
forest urbanism.
Figure 1: Land-use map Corine: urban tissue and forest
303
Figure 2: Portugal: River system, Corine land-use and population density
(http://geog.no.sapo.pt)
References
[1] DUNHAM-JONES E., WILLIAMSON J. (2011) Retrofitting
Suburbia, John Wiley & Sons, Inc.
[2] DESVIGNE, Michel (2009) Intermediate Natures, Birkhaüser, Basel Boston – Berlin
[3] CARVALHO, M. (2012) Floresta in ‘O Publico’, no8134, 16th July
2012, pg. 2-5
[4] GHIGGI, Dominique, (2010) Tree nurseries, cultivating the urban
jungle, Lars Müller Publishers
[5] HARRISON, RP. (1992) Forests, the shadow of civilization, The
University of Chicago Press
304
Os Espaços Livres de Edificação como
estruturadores da Forma Urbana
Jonathas Magalhães Pereira da SILVA1;
1
Professor Doutor do programa de pos graduação em Urbanismo – PosUrb – da PUCCampinas.
SP, São Paulo, Alameda Santos, 778 ap71, 01418-100, Brasil
55 19 3343 7088, [email protected]
Palavras-chave: forma urbana, espaços livres de edificação, unidade de
paisagem.
Resumo
O presente trabalho é fruto de pesquisa mais abrangente que busca
relacionar a forma urbana com a mudança microclimática1. Apresentamos
neste artigo a investigação a respeito da importância dos espaços livres de
edificação na constituição da forma urbana. Explicita-se o método de
análise utilizado na identificação dos padrões morfolóficos existentes.
Entende-se por espaços livres de edificação (MAGNOLI, 1982; MACEDO,
2012; MACEDO & QUEIROGA, 2009; TÂNGARI, 2007; COSTA, 2006)
todo o espaço não edificado da cidade, ou seja, as ruas, calçadas, praças,
largos, parques, quintais, lotes sem edificação, áreas de preservação
permanente consolidadas, etc. Este espaços livres de edificação estabelecem
inter-relações (dependência, complementaridade, conectividade etc.) entre
os vários tipos morfológicos que compõe o sistema espaços livres de
edificação. Chamamos de qualificação do sistema quando seus
componentes deslocam suas relações em benefício do bem estar social e
ambiental.
Padrão Urbanístico e Forma Urbana
A identificação de padrões urbanisticos auxilia na delimitação de áreas
homogêneas da Paisagem. Entretanto é necessário definir o significado da
palavra “paisagem” no campo da arquitetura e do urbanismo. A paisagem é
aqui entendida como processo e produto resultante da interação social sobre
pesquisa FAPESP-FAPERJ intitulada: “Mudanças climáticas e as formas de ocupação urbana: estudos
comparativos de tipos de ocupação e indicadores socioambientais para adaptação de situações de
vulnerabilidade e risco das regiões metropolitanas de Rio de Janeiro e Campinas.
1
305
um determinado suporte físico. Silvio Macedo define unidade de paisagem
como:
um trecho que apresenta uma homogeneidade de configuração,
caracterizada pela disposição e dimensão similares dos quatro
elementos definidores da paisagem: suporte físico, estrutura/padrão
de drenagem, cobertura vegetal e mancha urbana. Para efeito de
estudo, qualquer uma das grandes unidades de paisagem litorânea
pode ser subdividida em subunidades, de modo a permitir um
aprofundamento do conhecimento. Trata-se, portanto, de uma ótica
que observa diferentes escalas.
(PROJETO ORLA; 2002)
A unidade de paisagem, portanto, tem aqui um caráter transitório que visa
potencializar a leitura do território como um determinado objetivo. A
definição acima explicita também o caráter multiescalar, imprescindível
para a correta compreensão da paisagem.
Por meio de “unidades de paisagem” é feita a delimitação de áreas
homogêneas, caracterizadas pela forma urbana atual e as pressões de
transformação desta forma, identificadas por meio de series históricas de
aerofotos.
Uma vez identificadas as unidades de paisagem identificam-se os “tipos” de
unidades, isto é, aquelas unidades de paisagem que contem caracteristicas
semelhantes porem não se encontram conectadas de forma contínua no
território. Uma vez identificados os “Tipos” busca-se agrupa-los destacando
o elemento morfológico que se mostra comum ou determinante.
Para a definição das unidades de paisagem foram utilizados os seguintes
elementos:
 tipos de parcelamentos
 tipos edilícios (usos e ocupação)
 tipos de espaços livres de edificação
 tendências de transformação
Na busca de uma síntese, a partir das unidades de paisagem delimitadas
foram agrupadas aquelas com caracteristicas morfológicas semelhantes, o
que resultou em quatro grupos:
• Grupo I: composto por unidades de paisagem consolidadas onde o
elemento morfológico “lote” é determinante.
• Grupo II: composto por unidades de paisagem onde o elemento
morfológico “Espaço livre de edificação” é determinante.
• Grupo III: composto por unidades de paisagem onde os elementos
morfológicos “quadra” é determinante.
306
• Grupo IV: composto por unidades de paisagem onde os elementos
morfológicos “Espaço livre de urbanização” é
determinante.
Figura2: recorte do Anhumas (esquerda). Recorte do Piçarrão (direita). Fotos: autor
sobre imagem GeoI.
No presente texto apresentaremos os dois recortes da Região Metropolitana
de Campinas (SP): sub-bacia do Anhumas, localizada na região nordeste e a
sub-bacia do Picarão, localizada a sudoeste da área central. Cabe salientar
as características diversas dos dois recortes: a região do anhumas tem o solo
urbanizado mais valorizado e possui infraestrutura instalada e boa
acessibilidade, já a região do Piçarão, a sudoeste, é caracterizada por um
território urbano desestruturado e de difícil acessibilidade, o que justifica
seu baixo valor do solo.
Destacamos que, apesar da pesquisa ter delimitado uma sub-bacia como
recorte, ao estabelecermos os limites das Unidades de Paisagem, não se
restringirá a analise das unidades de paisagem, aos limites deste recorte.
Nem sempre o recorte de bacias se mostra conveniente a investigações
pretendidas. A paisagem não se limita nem a um recorte administrativo,
nem tão pouco, a um recorte físico-geográfico. A dinâmica do território, as
características fundiárias e os aspectos de acessibilidade irão influir de
forma marcante sobre o uso e ocupação do solo.
Padrão Edilício e Forma Urbana
Passa-se a indentificar os padrões edilícios de quadras tipo encontrados
dentro dos “grupos” anteriormente especificados. Objetiva-se revelar as
características morfológicas.
307
Figura2: padrão identificado no Anhumas (linha 1). padrão identificado no Piçarrão
(linha 2). Fotos: autor.
A pesquisa pretende analisar:
a) realidade - padrão existente: caracterizado pelos tipos edilícios; pelos
afastamentos e recuos do edifício em relação ao lote e pela taxa de
ocupação;
b) cenário 1 - padrão induzido: caracteristicas morfológicas possiveis de se
consolidar considerando a legislação e tendência de mercado;
b) cenário 2 - padrão de menor impacto no micro-clima: caracteristicas
morfológicas que irão impactar menos no microclima;
Cabe salientar que a pesquisa conta com especialistas na área de legislação
urbanística, de análise de mercado imobiliário e de clima urbano alem dos
autores que tratam da questão da paisagem e morfologia urbana.
Considerações Finais
Este exercício revela os elementos morfológicos chaves para a constituição
e alteração da forma urbana nos recorte estudados. Da mesma forma
apontam a presença e ausencia de grupos morfológicos e suas
conseguencias. A pesquisa não é conclusiva quanto a relação entre espaçõs
livres de edificação e a forma urbana, entretanto abre alguns pontos de
discussões que achamos pertinentes serem debatidas no II PNUM de 2013.
308
Agradecimentos
A Fapesp – Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo que
financia as duas pesquisas em andamento: QUAPA-SEL e Mudanças
Climáticas, assim como a FAPERJ como coofinanciadora da pesquisa
Mudanças Climáticas.
Referências
[1] BRASIL. (2002) PROJETO ORLA: fundamentos para gestão
integrada. Brasília: MMA/SQA; Brasília: MP/SPU. 78p
[2] MACEDO, Silvio. (2011) Paisagismo na virada do século: 1990-2010.
São Paulo: Edusp. (no prelo).
[3] MACEDO, QUEIROGA, CAMPOS, (2009) et al. Considerações
preliminares sobre o sistema de espaços livres e a constituição da
esfera pública contemporânea no Brasil. In: TÂNGARI, ANDRADE,
SCHLEE (Orgs.). Sistemas de espaços livres: o cotidiano,
apropriações e ausências. Rio de Janeiro: UFRJ.
[4] MAGNOLI, Miranda Martinelli. (1982) Espaços livres e urbanização;
uma introdução ao aspecto da paisagem metropolitana. Tese (Livre
Docência). São Paulo, FAUUSP.
[5] TÂNGARI, Vera R.; Schlee Mônica B.; Andrade, Rubens de; DIAS,
Maria Ângela. (Org.). (2007) Águas urbanas: uma contribuição para a
regeneração ambiental como campo disciplinar integrado. Rio de
Janeiro: FAU/UFRJ-PROARQ.
309
Proposta de Rede de Corredores Verdes Urbanos
para a cidade de Braga, Portugal
Martinha E. R. R. ROCHA1; Rui A. R. RAMOS2
1
Mestrado em Engenharia Urbana – Graduada, Dep. Engenharia Civil da UM
Campus de Gualtar - Escola de Engenharia, 4710-057 Braga, Portugal
+351.964318045, [email protected]
2
Departamento de Engenharia Civil da Universidade do Minho
Campus de Gualtar - Escola de Engenharia, 4710-057 Braga, Portugal
+351.253604723, [email protected]
Palavras-chave: Sustentabilidade Ambiental, Corredores Verdes Urbanos,
Braga
Resumo
A qualidade de vida em meio urbano é cada vez mais um fator competitivo
para as cidades. Além do acesso a bens e serviços, o acesso a espaços
verdes e a existência de um ambiente urbano sustentável são fatores
determinantes para garantir bons níveis de qualidade de vida. Também, a
existência de espaços verdes de qualidade pode assumir a função de
“depuração” do meio ambiente urbano. Contudo, frequentemente, nas
cidades os espaços verdes encontram-se isolados e desarticulados dos usos
das zonas envolventes, acabando por desvanecer no seio das construções e
das infraestruturas urbanas. No entanto, os espaços verdes urbanos
constituem um suporte ecológico e ambiental fundamental para a
sustentabilidade de uma zona urbana. Neste contexto, o planeamento
sustentado e integrado das cidades deve promover conexões desses espaços
verdes através de corredores verdes que privilegiem a deslocação por modos
suaves, contendo extensas faixas arborizadas, incrementando a
sustentabilidade urbana e potenciando a estrutura ecológica urbana através
da promoção do continuum naturale. Justifica salientar que no contexto da
sustentabilidade ambiental urbana o planeamento e implementação de
corredores verdes inseridos numa proposta de estrutura ecológica promove
a requalificação ambiental e paisagística do território, através da
implementação dos objetivos subjacentes à sua criação, tais como, a
proteção dos recursos naturais, a sua utilização para o recreio e lazer, a
promoção da estabilidade ecológica, a requalificação do remanescente da
paisagem cultural e agrícola e a proteção do património natural e
construído. Ainda, a rede de corredores verdes, se devidamente articulada
310
com o modelo de transportes da cidade e com a localização dos espaços de
lazer e desporto, promoverá as deslocações a pé ou de bicicleta e contribuirá
para a adoção de modos de vida mais saudáveis propiciando a prática de
desporto.
O tema desenvolvido neste estudo tem suporte na análise da possibilidade
de adaptação do conceito de corredor ecológico ao meio urbano, associando
sistemas com potencial para constituir uma Estrutura Ecológica, procurando
contribuir para a sustentabilidade ambiental da cidade de Braga. Assim, é
feita uma análise dos espaços verdes integrados nas medidas de promoção
de sustentabilidade urbana, considerando-se pertinente que os espaços
verdes funcionem de forma integrada e em rede, potenciado a respetiva
utilização. Desse modo, considera-se fundamental identificar as bases para a
criação de corredores de conectividade entre os espaços verdes, potenciando
a interação homem/natureza mesmo em meio urbano. A proposta para a
cidade de Braga apresenta as principais linhas orientadoras para a
constituição de uma rede de corredores verdes de conexão entre parques
urbanos da cidade, de forma a promover o conceito de conectividade do
continuum naturale, e implementar melhorias na qualidade ambiental
urbana. O estudo também pretende analisar e discutir a compatibilização
dos corredores verdes com algumas funções urbanas, nomeadamente:
(i) a criação de espaços adequados à prática desportiva e ao lazer;
(ii) o acesso através de modos suaves a serviços e equipamentos de apoio à
população bem como o acesso a algumas unidades comerciais que se situam
próximos da rede de corredores verdes.
Em termos metodológicos o desenvolvimento do estudo consistiu
fundamentalmente em análise de informação espacial do território. Na
primeira etapa foi feito o tratamento da informação cartográfica existente e
posterior integração em Sistema de Informação Geográfica (SIG). Já no SIG
foram identificados os principais espaços verdes da cidade com potencial
para integrar uma rede de parques urbanos. Após esta etapa inicial,
analisou-se a possibilidade de implementação de corredores verdes na atual
estrutura da cidade, tendo por base os principais eixos viários de ligação
entre os parques urbanos identificados e a sua compatibilização com modos
de transporte suaves (a pé e de bicicleta). Depois de definida a rede de
parques e de corredores verdes urbanos, procedeu-se a uma breve análise da
sua viabilidade. Por fim, avaliou-se a taxa de cobertura da rede de
corredores verdes urbanos, principalmente no centro da cidade, para
averiguar se podem constituir uma alternativa ao uso de automóvel nas
deslocações ao centro da cidade.
311
Atendendo à posição geográfica dos diversos parques, os corredores verdes
propostos coincidem na sua maioria com as vias de comunicação que os
interligam. Assim, as propostas baseiam-se sobretudo na alteração do perfil
das vias, de modo a introduzir sempre que possível, faixas de circulação
pedonais e cicláveis segregadas do tráfego automóvel por faixas de
vegetação. A via normalmente dedicada ao tráfego automóvel deverá ser
reduzida em relação à solução preconizada em arruamentos urbanos, e dessa
forma é possível utilizar o restante perfil para a circulação a pé e de
bicicleta, colocando ainda vegetação a separar a parte da via dedicada ao
automóvel da parte destinada aos modos suaves. A figura 1 apresenta a
proposta de eixos urbanos que podem integrar a rede de corredores verdes
urbanos de forma a fazer a conexão entre os parques urbanos propostos.
A concretizar, a proposta de corredores verdes deverá ser concertada com
um plano de mobilidade e uma estratégia de planeamento integrado que
adote novos modos de deslocação das populações, mas que ao mesmo
tempo lhes permita alcançar com facilidade o local onde trabalham, onde
habitam e os diversos serviços existentes no centro da cidade.
Para além dos benefícios ambientais provenientes do incremento e
estruturação dos espaços verdes urbanos, as alterações propostas conduzirão
a um embelezamento da cidade, promovendo a sua imagem e tornando-a
mais competitiva e atrativa.
Figura 1: Proposta de Rede de Corredores Verdes Urbanos para Braga
312
Jardim Shangri-lá: o ideário cidade-jardim em
Londrina
BOLONHEZI, Rosinei Henrique1; REGO, Renato Leão2
1
Rua Suécia, 67, Apucarana PR, 86808-100, Brasil.
55 43 99224996, [email protected]
2
Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Estadual de Maringá, Avenida
Colombo 5790, Bloco 32, Maringá PR, 87020-900, Brasil.
55 44 30115871, [email protected]
Palavras-chave:morfologia urbana, bairro jardim, norte do Paraná,
Londrina, Leo Ribeiro de Moraes.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo estudar a ressonância do modelo cidade
jardim no traçado do bairro Jardim Shangri-lá, projetado em Londrina, no
interior do Brasil, no começo dos anos 1950. Em forte contraste com a
forma urbana, o traçado do novo bairro, com grandes áreas verdes, se
anunciava como paraíso residencial. (ver figura 1) Durante as décadas de
1920 e 1930 o tema cidade jardim figurou na ampla gama de soluções
propostas para sanar problemas urbanos; mais que isso, o bairro jardim
disseminou-se nacionalmente como vizinhança nobre e morada de alto
estilo. Leo Ribeiro de Moraes, engenheiro sediado em São Paulo e escritor
de várias crônicas sobre o urbanismo, fora contratado para projetar o novo
bairro residencial na cidade interiorana que tratava de espelhar as conquistas
metropolitanas. Londrina prosperava com o café e modificava sua paisagem
urbana com o trabalho de engenheiros e arquitetos forâneos, particularmente
aqueles ligados ao modernismo. Para tanto, será analisada a forma do bairro
e serão apontadas as características do Jardim Shangri-lá que o remetem aos
princípios formais da cidade-jardim inglesa e dos subúrbios projetados por
Raymon Unwin e Richard Barry Parker; ao destacar tais ressonâncias
mescladas a fatores locais condicionantes, tal como a localização
geográfica, o sistema de transporte, os interesses do capital imobiliário e a
herança cultural e urbanística da cidade, vai-se concluir que este é um
precursor do bairro jardim na cidade de Londrina.
313
Figura 1: Vista aérea do Jardim Shangri- lá, na parte direita, linhas sinuosas
contrastando com a malha ortogonal herança da colonização.
Agradecimentos
Os autores reconhecem o apoio do Departamento de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Estadual de Maringá bem como o Museu
Histórico de Londrina.
Referências
[1] Aguiar, Tito Flávio Rodrigues de (2003), Jardim América, o subúrbiojardim em versão brasileira. Belo Horizonte, Varia Historia, pp. 157161.
[2] Ficher, Sylvia (2005), Os arquitetos da Poli: ensino e profissão em São
Paulo. Fapesp Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo.
[3] Howard, Ebenezer (1996), Cidades jardins do amanhã. HUCITEC,
São Paulo.
314
[4] Moraes, Leo Ribeiro de (1996), Volta Redonda. Jornal Folha da Noite,
A Cidade, pp. 02
[5] Schwartz, Widson (2004), Cafezal deu lugar à ousadia moderna.
Jornal de Londrina, A Cidade, pp. 8
[6] Schwartz, Widson (2004), Da fazenda coati ao Jardim Shangri-lá.
Jornal de Londrina, A Cidade, pp. 4B
[7] Unwin, Raymond (1984), La pratica del urbanismo. Una introducción
al arte de proyectar ciudades y barrios,GG, Barcelona.
[8] Unwin, Raymond (1909), Town planning and modern architecture at
the Hampstead Garden Suburb, Adelphi Terrace, London.
[9] Wolff, Silvia Ferreira Santos (2001), Jardim América: Primeiro bairrojardim de São Paulo e sua arquitetura, Imprensa Oficial SP, São Paulo.
[10] Yamaki, Humberto (2010), Shangri-lá, o paraíso perdido. Folha de
Londrina, Espaço Aberto, pp. 2.
[11] Yamaki, Humberto (2006), Labirinto da memória: paisagens de
Londrina, Edições Humanidades, Londrina.
315
Bicicletas em São Paulo: pesquisa sobre a
influência do traçado das ruas na implantação do
sistema cicloviário
Helena Napoleon DEGREAS¹; Paula KATAKURA²; Maria Isabel
IMBRONITO³
¹Prof. Dra. Centro Universitário FIAMFAAM
Av. Lins de Vasconcelos, 3406 - São Paulo, SP, Brasil
(5511) 992251914, [email protected]
²Prof. Dra. Centro Universitário FIAMFAAM
Av. Lins de Vasconcelos, 3406 - São Paulo, SP, Brasil
(5511) 55497448, [email protected]
³Prof. Dra. Centro Universitário FIAMFAAM
Av. Lins de Vasconcelos, 3406 - São Paulo, SP, Brasil
(5511) 55491451, [email protected]
Palavras-chave: mobilidade urbana, forma urbana, São Paulo, sistema
cicloviário, transporte.
Resumo
Este texto é parte integrante da linha de pesquisa Mobilidade Urbana e
Infraestrutura do Mestrado Profissionalizante em Urbanismo vinculado ao
programa de pós-graduação do Curso de Arquitetura e Urbanismo do
Centro Universitário FIAMFAAM.
Com o objetivo de contribuir para a discussão sobre o tema mobilidade
urbana, alunos vinculados ao Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e
Urbanismo vem desenvolvendo pesquisas que consistem no levantamento
da legislação, dados, estatísticas, estudos de caso para o planejamento
cicloviário no município de São Paulo. Paralelamente, foram elaboradas
fichas de avaliação das ciclovias (separação física isolando os ciclistas dos
demais veículos), ciclorrotas (trechos (sinalizados ou não), que representam
a rota recomendada aos ciclistas) e ciclofaixas (faixa pintada da rua/avenida
reservada aos ciclistas), ciclofaixas operacionais de lazer (fechamento de
faixas nas ruas e avenidas em caráter temporário para uso exclusivo de
ciclistas) e bicicletários (local de estacionamento exclusivo de bicicletas),
no que concerne aos aspectos espaciais (projetos implantados, inclinações,
morfologia do terreno e declividades, qualidade do piso, barreiras
construtivas, existência de equipamentos e mobiliários, contexto urbano
316
entre outros), de inserção junto ao sistema estrutural viário e de transportes
e também quanto à qualidade da sinalização implantada para a orientação e
segurança do ciclista, do pedestre e do motorista. Identificados e mapeados
os espaços e rotas destinados aos usuários de bicicletas na cidade, os alunos
iniciaram a aplicação das fichas e a redação dos relatórios de visitas
técnicas. Este material vem subsidiando a elaboração de um diagnóstico
pelos pesquisadores do programa de pós-graduação, gerando diretrizes para
o planejamento cicloviário associado a um plano de mobilidade urbana do
município.
Foto 1: Corte Via parque- estudo para a adequação Viária da marginal Tietê-Projeto
de sinalização da ciclovia autora: Paula Katakura
De acordo com a pesquisa Origem-Destino realizada em 2007 e que
abrange a Região Metropolitana de São Paulo, dos quase 25 milhões de
deslocamentos diários, cerca de 304 mil usuários de bicicleta (0,3% do total
de viagens diárias), 22% das viagens tem por motivo o alto custo do
trasnporte coletivo e 57%, a proximidade da viagem. Hoje, com uma frota
aproximada de seis milhões de veículos, uma rede de ruas que foi sendo
ampliada de forma dissociada das políticas de uso do solo, transporte e
trânsito, com implantação que foi surgindo aletaoriamente a partir do
desmembramento de glebas de terra e, quando muito, seguindo a ordem
natural de um relevo íngreme, a mobilidade urbana do cidadão é
prejudicada gerando problemas urbanos de toda a ordem.
Os levantamentos realizados pelos alunos, apontam para algumas
conclusões preliminares. Embora chamado sistema cicloviário pelo poder
público, os percursos existentes na cidade não se constituem como sistema,
ou ainda, não interligam-se entre si, ao sistema de transporte público
tampouco ao sistema viário estrutural, inviabilizando o atravessamento
entre bairros ou a conexão entre meios de tansporte. Também constatou-se
que o sistema de sinalização que deveria atender questões de orientação e
segurança do ciclista é incompleto quando não falho por não incorporar
317
pedestres e motoristas em seu projeto e planejamento. O traçado viário
constitui-se de dimensões irregulares tanto nas calçadas (de estreitas à
inexistentes obrigando ao compartilhamento de circulação de pesdestres
com bicicletas) como também em seu leito carroçável que é irregular
(estreito para comportar uma frota de aproximadamente seis milhões de
veículos); em muitos casos apresenta declividades acentuadas graças à
topografia local que é bastante movimentada; a gestão falha e irregular do
processo de manutenção das pistas associado à utilização de “lama
asfáltica” para corrigir defeitos e irregularidades gerou um piso ondulado e
com inclinações às mais diversas que dificultam a circulação de bicicletas.
Após os levantamentos e pesquisas de campo, a pesquisa apresentará
diretrizes urbanísticas, projetuais e de sinalização incorporando os três
principais usuários – ciclistas, pedestres e motoristas, contextualizando-as
às característcias morfológicas e topográficas da cidade à título de
colaboração às discussões ora existentes para a implantação de um sistema
cicloviário compreendido como transporte modal e que melhore as
condições de mobilidade do cidadão.
Agradecimentos
Especiais agradecimentos aos responsáveis pela Associação dos Ciclistas
Urbanos de São Paulo - CicloCidade e a todos os alunos do Escritório
Modelo do Curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário
FIAMFAAM que colaboraram nos levantamentos das ciclovias, ciclofaixas
e ciclorrotas.
Referências
[1] Brasil. Código de Trânsito Brasileiro. Presidência da República. Casa
Civil. Lei Nº 9.503, de 23 de Setembro de 1997. Institui o Código de
Trânsito Brasileiro. Disponível em: http://migre.me/d2IC6 Acesso em:
30.01.2013.
[2] Campos, A. C. A., Queiroga, E., Galender, F., Degreas, H., Akamine,
R., Macedo, S., Custódio, V. (Orgs.), (2012), Quadro dos sistemas de
espaços livres nas cidades brasileiras, FAUUSP, São Paulo.
[3] Macedo, S. et alii (2011), Os sistemas de espaços livres e a
constituição da esfera pública contemporânea brasileira. Relatório de
pesquisa, FAUUSP, São Paulo.
318
[4] Prefeitura do Município de São Paulo – Plano diretor estratégico do
município de São Paulo – 2002 – 2012. SEMPLA organização, São
Paulo: Ed. SENAC; Prefeitura Municipal de São Paulo, 2004.
[5] SCARINGELLA, ROBERTO SALVADOR. A CRISE DA
MOBILIDADE URBANA EM SÃO PAULO. São Paulo Perspec.
[online]. 2001, vol.15, n.1 [cited 2013-01-30], pp. 55-59 . Available
from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010288392001000100007&lng=en&nrm=iso>.
ISSN
0102-8839.
http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392001000100007.
319
«Porque assim cessam todos os inconvenientes
considerados»: Condicionantes na (trans)formação
urbana portuguesa da época moderna
Sandra M.G. PINTO
Instituto de Ciências Socais da Universidade de Lisboa (ICS-UL)
Centro de Documentação e Pesquisa de História dos Domínios Portugueses do Departamento
de História da Universidade Federal do Paraná (CEDOPE-UFPr)
Rua João Bravo nº 22 1º G 3040-379 Coimbra, Portugal
00 351 938442433, [email protected]
Palavras-chave: Portugal, Época Moderna, Forma do Edificado, Forma
Urbana, Condicionantes
Resumo
No dia 1 de Abril de 1678 a vereação da câmara de Lisboa estabeleceu por
assento camarário uma deliberação particularmente curiosa. Esta derivou de
vários requerimentos feitos por particulares com pedidos de aforamento de
umas casas que a câmara tinha recentemente construído num antigo
monturo da cidade, situado no lado de fora das Portas do Sol. A resolução
foi, precisamente, que aquelas casas nunca fossem aforadas a pessoa
alguma, mantendo-se a câmara na posse dos seus domínios direto e útil,
devendo-as ceder através de contratos de arrendamento. A razão para tal
singularidade deliberativa, numa altura em que a contração enfiteutica dos
prédios urbanos era mais usual, porque mais rentável, assentava na
necessidade de se manter inalterável a forma dos imóveis. É que, as tais
casas tinham sido projetadas tendo em conta uma série de condicionantes e
qualquer deturpação das suas caraterísticas arquitetónicas, como a
localização das janelas, o número de pisos ou a largura das paredes, causaria
grandes prejuízos aos vizinhos.
Este caso, singular pela solução encontrada que mereceu ainda o
sancionamento régio e excecional por se encontrar registado com tamanha
clareza, é bem revelador de um dos processos que então existia (e que ainda
se mantém) no ato do projeto arquitetónico: a observância das
condicionantes estabelecidas por parâmetros urbanísticos.
De facto, tal como hoje, também no passado as decisões formais, saídas da
escolha de opções físicas e materiais possíveis, estavam restringidas a uma
321
série de condicionantes legais através dos quais se avaliavam previamente
as possibilidades edificatórias e os potenciais inconvenientes a obstar.
Mas se hoje a maior parte dos parâmetros, coeficientes e índices de
edificabilidade encontram-se vertidos nos vários instrumentos de gestão
territorial e de planeamento urbanístico, antigamente, as intervenções de
formação ou transformação nos espaços urbanos portugueses regiam-se por
variáveis diferentes.
A maior parte das condicionantes eram impostas pelos edifícios existentes
circunvizinhos, com vista à sua própria proteção, e cuja fundamentação
legal encontrava-se consignada na regulação da Almotaçaria, ou ainda, nas
regras subsidiárias, sobretudo as do Direito Romano. Outras condicionantes
tinham como principal efeito a proteção dos bens públicos, e estas
derivavam das normas locais estabelecidas pelos vereadores concelhios.
Assim, alguém que se antecipasse na construção, em relação aos seus
vizinhos colaterais e fronteiros, ganhava privilégios, que seriam válidos
para o resto do tempo, pois seria pelo seu edifício que os restantes teriam de
se guiar e adaptar. E a sujeição formal podia aplicar-se inclusivamente sobre
alguém prejudicado, caso este não fizesse valer os seus próprios direitos, no
prazo de um ano e um dia.
A não observação das condicionantes em fase de projeto levava a respostas
reativas na fase de construção pelas partes ofendidas, cujas quezílias seriam
resolvidas pelas entidades competentes, o que na maioria das vezes
conduzia a embargos, onerava os custos de obra e prolongava o problema
no tempo.
Por isso a vereação de Lisboa opôs-se inflexivelmente à alteração da
estrutura arquitetónica das casas que tinha construído à Porta do Sol. Sendo
aquela uma das mais antigas e consolidadas áreas da cidade, em volta da
qual se dispunham várias casas nobres e complexos religiosos, com certeza
que a solução deve ter sido bem difícil de encontrar. Conservando-se as
casas naquele estado ‘ótimo’, mantinha-se assim o necessário equilíbrio.
Naturalmente, esta condição não tinha só aplicabilidade nas estruturas
habitacionais. Os registos mostram que também os edifícios religiosos e
militares tinham que se adaptar às estruturas envolventes.
Ora, o ato do projeto arquitetónico, que tinha assim de considerar todos os
constrangimentos existentes, levava à criação de soluções específicas que se
adequavam quase exclusivamente aos sítios em causa, ligando de modo
complexo os edifícios entre si, mas também a estrutura particular de cada
espaço urbano.
Na comunicação discutir-se-ão os principais condicionantes legais
existentes na (trans)formação urbana portuguesa da época moderna. A
322
análise será feita pela enunciação das normas e dos princípios jurídicos, e
pela exposição de alguns exemplos concretos encontrados na
documentação. O objetivo é dar a conhecer uma caraterística determinante
da intervenção construtiva e da conformação física nos espaços urbanos
portugueses antigos: a conexão de dependência e subordinação formal de
uns edifícios em relação aos outros, com impacto na própria forma urbana.
Referências
[1] Oliveira. E. (1894), Elementos para a história do Município de Lisboa,
Vol. 8, Typographia Universal, Lisboa.
[2] Pinto, S. (2012), As interações no sistema das operações urbanísticas
nos espaços urbanos portugueses até meados de Oitocentos, Tese de
Doutoramento apresentada à Universidade de Coimbra, Coimbra.
323
A apropriação tropical da Cidade-Jardim – o caso
moçambicano
Rui MENDES1; Mário G. FERNANDES2
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
1
[email protected]; 2 [email protected]
Palavras-chave: Cidades-jardim, urbanismo, geografia urbana tropical,
Moçambique
Resumo
A imensidão do espaço africano e as suas características climáticas tornouse um espaço, improvável, para a sedimentação da concepção urbana de
Ebenezer Howard. No entanto, também nas colónias, nomeadamente em
África, o modelo da “cidade-jardim” se expandiu, traduzindo todo um
repertório estilístico e urbanístico que atenuava os constrangimentos
orográficos e climáticos, se adequava à criação de uma linguagem formal de
monumentalidade para subjugação das populações locais, assim como
satisfazia a necessidade de segregação racial no espaço urbano, tão caro aos
poderes coloniais.
A expansão da cidade-jardim no espaço tropical fez-se essencialmente no
período entre as duas guerras mundiais, embora no caso do universo
colonial português tenha conhecido o seu apogeu após a II Guerra Mundial.
É em África que encontramos algumas das mais interessantes e
espectaculares realizações de cidade-jardim que serviu de modelo
económico à criação de elementos cénicos de demonstração de supremacia
do colono, permitindo, simultaneamente, a criação de um zonamento urbano
que segregava a população em estratos raciais e sociais. Foi assim um
pouco por todo o continente africano independentemente do poder colonial
dominante, fosse em Nairobi, em Dakar ou em Lourenço Marques, actual
Maputo.
As características formais das cidades-jardim europeias foram, no espaço
tropical, adaptadas à arquitectura dos trópicos e potenciadas para alojar a
população branca dominante: espaços amplos e ajardinados e arborizados,
edifícios unifamiliares de baixa volumetria, vias largas com uma orientação
que favorecesse a circulação do ar. Por sua vez, a população negra
estabelecia-se na periferia em habitações modestas e de má qualidade e sem
324
grandes preocupações higienistas, sendo estes bairros, do ponto de vista
urbanístico, encarados como provisórios em áreas de expansão das cidades.
Entre as diversas zonas urbanas eram implantados equipamentos que
serviam de cordões sanitários urbanos, nos quais predominava o verde,
como ferramenta de embelezamento do espaço urbano através da
construção de parques e campos de golfe para lazer da população branca ou
assimilada com estatuto económico.
Esta estrutura encontra-se em diferentes escalas nos espaços urbanos
analisados sendo uma consequência da dimensão da cidade mas igualmente
da função que a mesma cidade desempenhava no território. Em Lourenço
Marques/Maputo a cidade-jardim encontra-se em redor do núcleo central,
em áreas distintas consoante a classe social e racial: a nascente a população
das classes sociais mais elevadas e relacionada com a administração, a
Norte a classe média branca e a oeste a classe média assimilada e/ou baixa.
No segundo caso em apreço, a cidade de Nampula, bastião militar entre a
área norte e a área central de Moçambique, a cidade-jardim faz a ponte entre
a área comercial e administrativa e a zona militar, sendo uma área reservada
às classes sociais mais privilegiadas. Finalmente na cidade de Porto
Amélia/Pemba, devido à sua localização geográfica e climáticas aprazíveis
mas igualmente à sua dimensão, predomina na matriz original da cidade a
concepção da cidade-jardim que define esse mesmo espaço urbano.
Em suma, aquilo que permanece é que independentemente das abordagens
formais de que o conceito de cidade-jardim se revestia, estes eram espaços
concebidos para o conforto físico e psicológico do colono que, com a
descolonização, são aproveitadas pelas elites autóctones, que transformam o
carácter de zonamento racial em zonamento social e em alguns casos
étnicos.
325
Formas Urbanas Planeadas no Centro Histórico de
Évora: Génese e Evolução
MONTEIRO, Maria Filomena Mourato1; TERENO, Maria do Céu Simões2;
PEREIRA, Marízia Clara Menezes Dias1,2
1
Câmara Municipal de Évora, Divisão do Centro Histórico, Património, Cultura e Turismo,
Praça de Sertório, 7004-506 Évora, Portugal
Tel. 00351+266777000, [email protected]
2
Universidade de Évora, Departamento de Arquitetura,
Colégio dos Leões, Estrada dos Leões, Cod. Postal: 7000-208 Évora, Portugal Tel.
00351+266745300, [email protected]
1, 2
Universidade de Évora, Departamento de Paisagem, Ambiente e Ordenamento do
Território, Colégio Luís António Verney, Rua Romão Ramalho, nº 59, 7000 Évora, Portugal
Tel. 00351+266745300, [email protected]
Palavras-chave: Planeamento, Urbanismo, Évora, Centro Histórico,
Património
Resumo
Évora é uma urbe que, remontando a data indeterminada, conserva hoje
ainda o seu centro histórico circunscrito por um conjunto notável de
muralhas cuja construção data da Baixa Idade Média.
A área amuralhada, maioritariamente urbana desde finais do século XV,
integrou nos anos 40 do século XX o primeiro Plano de Urbanização desta
cidade. Nele, assim como nos planos que se lhe seguiram, tem sido proposta
constante a estruturação do referido espaço através de eixos urbanos: umas
vezes a reforçar através do seu alargamento e introdução de novas funções
dinamizadoras, no caso dos eixos pré existentes, outras com a criação de
novos eixos, neste último caso através de drásticas demolições incidindo
sobre o já consolidado, e muitas vezes, denso tecido urbano.
A localização de novos núcleos de equipamentos públicos, posicionados
junto às principais portas da muralha medieva, tem sido outra das propostas
mais constantes ao longo dos sucessivos planos. Mercados, escolas,
hospitais e mais recentemente unidades hoteleiras procuraram tais locais
estratégicos devido não só aos mais fáceis acessos e capacidade da
construção de bolsas de estacionamento exterior à muralha mas também
devido à possibilidade de tais equipamentos serem usufruídos por um maior
326
número de utentes vindos da área urbana periférica à urbe amuralhada
medieval.
Atualmente, e após a densificação progressiva de toda a malha urbana
interior à cintura medieva de muralhas, as intervenções urbanísticas
planeadas que se têm realizado têm incidido sobre os limitados e escassos
espaços livres ainda existentes.
Tais espaços encontram-se concentrados essencialmente em três tipologias
de áreas distintas:
Nas antigas cercas monástico-conventuais. No presente caso, não raras
vezes, as intervenções projetadas e posteriormente concretizadas abarcam
não só a construção dos espaços livres mas também a reformulação
maioritariamente drástica das antigas estruturas pertencentes ao complexo
religioso já desativado. Para além da eliminação dos espaços verdes que
compunham a antiga cerca, suprimindo espécies específicas a tais áreas,
muito do historial do local desaparece também, definitivamente. A
reformulação volumétrica e reorganização interior das construções,
adaptando-as às atuais e novas exigências funcionais, fazem com que as
demolições sejam correntes em tais situações. Nessas demolições para além
da organização espacial inerente à vida monástico-conventual a qual se
perde definitivamente, desaparecem também, por exemplo, a maioria dos
elementos decorativos. Neste caso ou são levados, conjuntamente com o
entulho das obras, para vazadouro público, ou em casos mais raros
introduzidos nas novas construções erigidas no local, descontextualizados
contudo, ou mesmo até em construções distantes pertencentes à mesma
firma de construção.
São casos de estudo, por exemplo os Conventos de S. Francisco e de S.
Domingos assim como do Mosteiro de Santa Mónica, cujas fundações
remontam ao século XII, do Mosteiro do Paraízo fundado no século XV e
do Mosteiro de Santa Catarina, este último com origem já no século XVI.
Nas áreas livres sobrantes, situadas entre a muralha medieval e o tecido
urbano interior já consolidado. Tais espaços constituindo anteriormente
zonas de circulação indispensáveis à defesa da cidade eram utilizadas não
só para a circulação de armamento e homens, em tempo de guerra, mas
também, em tempo de paz, serviam como áreas de pastoreio para o gado
que permanecia no interior da urbe. Grande parte de tais áreas, até devido
ao seu estatuto comunitário, foram permanecendo ao longo dos séculos
livres de edificações ou arvoredo, elementos esses que poderiam de algum
modo contribuir para uma menos eficaz ação defensiva, por parte da
327
população, diminuindo também o perigo de incêndios provocados pelo
arremesso de objetos incendiários. Atualmente devido à inexistência das
suas principais funcionalidades e à escassez de terrenos livres de construção
no interior do Centro Histórico, essencialmente após 1986, ano da
classificação pela UNESCO da cidade de Évora como Património da
Humanidade, resultou uma sequente sobrevalorização desmedida do metro
quadrado de terreno. Assim quase todos esses espaços sobrantes têm vindo
progressivamente a serem construídos. São exemplos, os casos de estudo
referentes aos espaços compreendidos entre a Porta de Alconchel e a Porta
do Raimundo, entre a Porta de Alconchel e da Lagoa, e por último entre a
Porta da Lagoa e a Porta de Avis.
Nos antigos quintalões de casas senhoriais seculares, que devido à sua
amplitude de área livre de construção têm permitido, através da aplicação
dos respetivos regulamentos dos Planos de Urbanização, a aprovação e
sequente construção de novas áreas de construção quase sempre exageradas.
A eliminação dos jardins de época, respetivas hortas assim como todas as
construções de apoio a elas associadas foram seguramente aspetos negativos
nas intervenções que deveriam ter sido mais cuidadosamente
salvaguardados. O vetusto Palácio dos Sepúlvedas, que remonta ao século
XVI, e o imponente Palácio Barahona, já do século XIX, são exemplos de
antigas construções com amplos espaços livres privados hoje, contudo, já
quase inexistentes.
Os três referidos conjuntos tipológicos de espaços permitiram, devido à sua
abundancia e distribuição na cidade de Évora, intervenções urbanísticas e
arquitetónicas marcantes, realizadas essencialmente entre os séculos XIX e
XXI.
Tais intervenções embora anulando muita da história dos respetivos locais
facultam-nos atualmente uma amostragem de intervenções diversificadas,
de realce, embora por vezes de qualidade questionável.
A diminuição substancial das manchas verdes que constituíam verdadeiros
pulmões para a urbe, servindo igualmente de abrigo a espécies animais, a
diminuição de áreas de absorção de água para o subsolo foram contudo
aspetos questionáveis resultantes de tais tipos de intervenções na cidade.
328
Análise e avaliação dos arquivos de cartografia
urbana em Lisboa no estudo da forma urbana
Mafalda SAMPAYO1; Teresa MARAT-MENDES2
1
Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-IUL, CIES-IUL
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal.
+351 217 903 000, [email protected]
2
Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal.
+351 217 903 000, [email protected]
Palavras-chave: Análise, Avaliação, Cartografia Urbana, Arquivos de
Lisboa
Resumo
A presente comunicação incide sobre um aspecto particular da análise e
quantificação da forma urbana. Mais precisamente sobre a informação
facultada pela cartografia e o seu manuseamento no auxílio ao estudo da
história urbana. Refletindo uma linha de investigação aberta por uma tese de
doutoramento [1].
É objectivo principal dar a conhecer o funcionamento dos arquivos de
cartografia urbana em Lisboa, e as dificuldades registadas aquando da
investigação de doutoramento realizada sobre a cartografia urbana de
Lisboa do século XVIII.
Neste sentido, a metodologia adoptada foi a seguinte:
i) identificação dos arquivos de cartografia urbana existentes em Lisboa;
ii) selecção dos arquivos de cartografia urbana analisados por este estudo;
iii) identificação da existência de bases de dados on-line disponíveis para
pesquisa de arquivo;
iv) identificação da existência de catálogos de cartografia urbana nos vários
arquivos consultados;
v) compilação dos critérios de catalogação nos vários arquivos consultados;
vi) trabalho de campo – visita aos arquivos consultados de forma a aferir a
sua organização temática;
vii) análise comparativa dos métodos de catalogação e organização dos
vários arquivos consultados.
329
Este estudo incide sobre 9 arquivos de cartografia urbana em Lisboa.
Nomeadamente:
1) Arquivo Cartográfico e Iconográfico da Biblioteca Nacional de
Portugal,
2) Arquivo do Museu da Cidade,
3) Arquivo Histórico do Ministério das Obras Públicas, Transportes
e Comunicações,
4) Arquivo Histórico Militar,
5) Direcção de Infra-estruturas do Exército - Gabinete de Estudos
Arqueológicos da Engenharia Militar,
6) Gabinete de Estudos Olisiponenses,
7) Instituto Geográfico Português,
8) Secção de Manuscritos Reservados da Biblioteca Nacional de
Portugal,
9) Torre do Tombo.
No decurso da investigação realizada no âmbito da tese de doutoramento [1]
constatou-se que as vantagens na consulta de fontes primárias são diversas.
Primeiro permitem uma leitura mais verdadeira e mais profunda sobre o
documento. Segundo, a descoberta de um documento pode levar à revelação
de outros igualmente importantes que poderão estar guardados junto
daquele que nos levou à pesquisa inicial. Finalmente, as fontes secundárias
emitem juízos e opiniões que podem enviesar as nossas. O estudo revelou
ainda da necessidade de aferir os modos de catalogação em prática pelos
diferentes arquivos.
Com base no funcionamento dos arquivos consultados e nas dificuldades
registadas na nossa investigação concluímos ser importante que os arquivos
portugueses:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
unifiquem a catalogação (por exemplo fazendo uso da norma
portuguesa - NP405-2 de 1998);
invistam em publicações de catálogos com fichas técnicas e
imagens dos seus acervos;
construam inventários (em formato de bases de dados) dos seus
acervos com disponibilidade on-line;
estabeleçam os mesmos critérios para a cedência de cópias (em
papel ou digitais);
incentivem exposições itinerantes em protocolo com instituições
diversas (universitárias, museológicas);
procurem a criação de um projecto on-line que disponibilize o
cruzamento das suas diferentes bases de dados.
330
Constatamos que existe um número razoável de arquivos com acervos
muito diversos, mas que o seu funcionamento ainda não é perfeito.
Experiências de integração de arquivos on-line revelam formas de como
intervir no futuro agregando um maior número de bases de dados de
arquivos.
Por último salienta-se a pertinência das facilidades dos arquivos de
cartografia urbana no auxílio do estudo da forma urbana. Uma intervenção
mais agregada das suas bases de dados bem como uma maior
disponibilidade da cartografia digitalizada, com boas resoluções, tornam-se
imperativos para a melhoria da qualidade da análise e avaliação da forma
urbana.
Incentivamos e apoiamos a discussão sobre esta temática entre as várias
partes intervenientes a fim de estabelecerem-se parcerias, e protocolos que
ajudem a uniformizar e a facilitar os sistemas à comunidade.
Referências
[1] Sampayo, M. G. T. (2012), Forma urbana da parte baixa da Lisboa
destruída: Análise e avaliação (1756-1786). Tese de Doutoramento,
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Lisboa.
331
The heritage of mega axis of the nineteen-thirties
and -forties
Christian von OPPEN1
1
Bauhaus-Universität Weimar
Schlüterstrasse 20, 10625 Berlin, Germany
+49 (0) 179 5402790, [email protected]
Keywords: Lisbon, Berlin, urban-design, dictatorships
Abstract
Albert Speers plans for the Nord-Süd Achse but also Luís Cristino da Silvas
plans for the Prolongamento da Avenida da Liberdade still fascinate its
viewer through monumentality. But these mega axes were more than bold
demonstration of power. They were strategic tools for urban development at
the beginning of the era of mega cities.
Berlin
Many elements of today’s Berlin had been developed in an urban
competition for Greater Berlin in 1908. Confronted with an uncontrolled
growth of the young German capital the participants were looking for
solutions for better transport, healthier living conditions and for a suitable
expression for a capital of an empire in the 20 th century (Bodenschatz et al.,
2010). The mediaeval layout of the old city center couldn’t comply with the
tasks of a metropolis. The streets were overcharged by traffic. A growing
bourgeoisie demanded representative buildings like theaters, museums,
schools and universities. New neighborhoods had to be integrated within
urban structure. On the basis of the competition of 1908 the urban designer
Martin Mächler (1881-1958) published in 1920 a proposal for a new northsouth axis for Berlin (AIV zu Berlin, 2009). Mächler’s intention was to
oppose a new axis orthogonal to the historically evolved east-west
orientation of Berlin.
In 1933 after takeover through the National Socialists a new master plan
(Generalbebauungplan) for the capital of the Third Reich had been
developed. Key issue of this master plan was the north-south axis (AIV zu
Berlin, 2009). The continuity in the urban design process was part of the
propaganda. The regime could prove that it was able to finish the projects
with which democracy had failed. In 1937 a new decree insured action
ability for urban infrastructure projects. It empowered the
332
Generalbauinspektor (GBI) Albert Speer (1905-1981) to act independently
from the municipality of Berlin. Urban design and architecture became the
key to enthuse the majority for the vast modernization program of the
technical and social infrastructure. Centerpiece of this program was the
north-south axis with a length of 38 kilometers. Two enormous buildings,
an assembly hall for 10 million people and a 117 meters high triumph arc,
would have dominated the middle part. (Kropp, 2009). The axis should
serve different tasks. Overall it should express the claim to power of the
new Reich. At the same time it should ensure the line of communication to
the new neighborhoods for the middleclass. Its centerpiece should constitute
through monumental buildings the new civic center.
Lisbon
One of the most prestigious projects of the Estado Novo, the extension of
the Avaenida da Liberdade (Mangorrinha, 2007), traces back to the end of
the 18th century. The Avenida da Liberdade marks a turning point in the
urban development of Lisbon. Over centuries Lisbon grew along the River
Tagus like a linear city. Finally the Avenida da Liberdade, which runs
orthogonal to the river, expanded the city to the north. Already during the
construction work a proposal was made for an extension of the avenue to
the north. However this plan ignored the hilly topography. In 1910 with the
dynamic of the first republic Miguel Ventura Terra (1866-1919) took this
topographical condition as an advantage. He projected a town hall on the
top of the park in vista of the Avenida (Morais et al., 2005).
Few years after the military coup in 1924, the municipality of Lisbon had
assigned the urban designer Jean Claude Nicolas Forestier (1861-1930) to
develop ideas of improvement. One proposal was the extension of the
Avenida da Liberdade combined with a symbolic building on the top of the
park (Tostões, 2008).
With the affirmation of the Estado Novo in the nineteen-thirties the regime
enforced the large-scale remodeling of the capital of the empire. The
designs of 1932 for the new avenue of Luís Cristino da Silva (1896-1976)
displays the shift in scales like it had been noticed for Berlin. The
monumental architecture should symbolize the regained strength of the
Imperio. Bud it also should be the new city center for the people of the
Estado Novo (Morais et al., 2005).
Finally it can be stated that both regimes had several intensions developing
a grand boulevard:
- Demonstration of power in the competition of political systems.
- To meet infrastructural needs in metropolitan scale.
333
-
To create new city centers for followers of the new states.
Figure 1: Generalbebauungsplan für die Reichshauptstadt, Nach der Planung des
Generalbauinspektors Albert Speer, 1942. Source: Landesarchiv Berlin,
Kartensammlung
Figure 2: The north-south axis of Albert Speer, around 1941. Source: Landesarchiv
Berlin, Kartensammlung
334
Figure 3: Projecto do Parque Eduardo VII e Prolongamento da Avenida da
Liberdade, Luís Cristino da Silva, 1932. Source: Fundação Calouste Gubenkian,
Bilioteca de Arte
335
Figure 4: Projecto do Parque Eduardo VII e Prolongamento da Avenida da
Liberdade, Luís Cristino da Silva, 1932. Source: Fundação Calouste Gubenkian,
Bilioteca de Arte
References
[1] Bodenschatz, Harald, Kegler, Harald (2010), Die Allgemeine
Städtebau-Ausstellung in Berlin. In PlanerIn, 2-2010, pp. 5-7
[2] Architekten- und Ingenieurverein zu Berlin (2009), Berlin und seine
Bauten, Teil I: Städtebau, pp. 174-176, DOM publishers, Berlin
[3] Architekten- und Ingenieurverein zu Berlin (2009), Berlin und seine
Bauten, Teil I: Städtebau, pp. 178-186, DOM publishers, Berlin
[4] Kropp, Alexander (2009), „Vom Generalbauinspektor genehmigt“
Albert Speers Medienpolitik als „Generalbauinspektor für die
Reichshauptstadt“ (GBI) zwischen 1937 und 1944. In
Verantwortungsvolle Wissenschat, pp. 101-109
[5] Mangorrinha, Jorge (2007), Lisboa Republicana. In Cadernos do
Arquivo Municipal, 9-2007, pp. 128
[6] Morais, João Sousa, Roseta, Filipa (2005), Os Planos da Avenida da
Liberdade e seu prolongamento, pp. 24-26, Livros Horizonte, Lisboa
[7] Tostões, Ana (2008). O Processo da Baixa. Precursores do Urbanismo
e da Arquitectura Modernos. In Câmara Municipal de Lisboa (Ed.),
1758 Lisboa o Plano da Baixa hoje, Catálogo da Exposição, pp. 195,
CML, Lisboa
Morais, João Sousa, Roseta, Filipa (2005), Os Planos da Avenida da
Liberdade e seu prolongamento, pp. 34-35, Livros Horizonte, Lisboa.
336
How to make accessible urban paths that matter –
power of usability and intelligibility
MARTINS, Carolina1; TOMÉ, Ana2; HEITOR, Teresa1,2
1
UniversidadeTécnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção
Av.RoviscoPais, 1049-001 Lisboa
(+351) 218 418 344, [email protected]
2
UniversidadeTécnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção
Av., 1049-001 Lisboa
(+351) 218 418 345, [email protected]
1,2
UniversidadeTécnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção
Av.RoviscoPais, 1049-001 Lisbon, Portugal
(+351) 218 418 2322, [email protected]
Keywords: Accessibility, Mobility, Usability, Intelligibility
Abstract
The theme – accessibility in public spaces – has strong relations to the
usability of the urban territory and, consequently, to the mobility of its
users. Public spaces should guarantee usability to the highest number of
diverse people, including people with disabilities, not only for being
physically accessible but also for their relevance in the mobility network.
The accessibility rules are the same, but the target always changes so, the
rules application doesn’t ensure usability by itself and the features resulting
in one place don’t ensure success in another.
This study aims to define how to relate accessibility and mobility, using the
concepts of usability and intelligibility, and how to ensure it in a practical
application in urban planning. Usability reflects user’s intentions, while
intelligibility (Hillier, 1996) represents the space’s capacity to be easily
legible, relating connectivity and integration (Hillier and Hanson, 1984).
The case study will focus on a poor neighborhood – J Area, Chelas, Lisbon
– that deal with different constraint and opportunities, because of their
337
context in matters of economic, social and political values that determine
priorities and life choices. It’s relevant for these users to have a faster and
cheaper way (pedestrian) of making a path, and also, they probably don’t
care if a path to services they can’t use is following the accessibility rules.
So the challenge is to guarantee the usability and intelligibility of the paths
from inside the neighborhood to the surroundings, depending on the
population’s needs, in order to become relevant for them. It will also be
primordial to re-define concepts of accessibility, mobility, usability and
intelligibility, and how to relate them.
The methodological approach is based in two complementary analyses –
user’s intentions (usability) and user’s facility to read the urban space
(intelligibility). For the first one, it is intended to observe and photograph
usability’s problems of four paths from inside J area to the supermarket, as a
primordial need of every population to shopping for food. The paths were
chosen for the fact the law was applied, resulting in physically accessible
places, but didn’t work for that specific population because it didn’t
satisfied their needs and, then, it didn’t had relevance in their daily
pedestrian mobility. Then, the data will be summarized in analysis’s sheets
and results crossed with user’s interviews. The second analysis will
consider the legibility of space, tested with software DepthMap®, through
the comparison of the J area axial maps in two states: 1) having the infrastructure paths and 2) adding the informal paths made by users. Spatial
properties like integration, choice, visibility and step depth will be
compared in both situations.
This study is divided into four main sections. The first section aims to redefine the concepts and the relations of accessibility, usability, mobility and
intelligibility and how to ensure it in a practical application in urban
planning. The second and third sections describe the implementation and
results of the usability approach and of the intelligibility approach,
respectively. The fourth section establishes correlations between the two
approaches and discusses the main findings.
As a result of this investigation, it is argued that to guarantee that an
accessible urban path is relevant in the pedestrian mobility of a population,
there’s a need to ensure people’s intentions and user’s cognition - social
dimension (Figure1). The usability approach shows that physically
accessible places have to be legible and satisfy user’s needs in their daily
routines, while the intelligibility approach will show how the informal
338
paths, made by the users themselves, show their choices of movement, the
short-cuts and the way they read the urban space. Usability links user’s
intentions/needs to the urban attributes, probably with people’s consultation
and including them in planning, while intelligibility links that same urban
attributes to the way users understand it and perceive it. So, adding
cognition and intention it’s possible to guarantee that an accessible path has
relevance in a mobility network.
Figure 1: Contributions of usability and intelligibility in making accessible
places to have relevance in pedestrian mobility; Software: LucidChart.com
References
[1] Brandão, P; (2002); O Chão da Cidade – Guia de avaliação do design
de espaço de espaço público; Lisboa: Centro Português de Design
[2] Heylighen, A; Bianchin, M. (2012). How does inclusive Design relate
to good design? Designing as a deliberative enterprise. Design Studies,
Vol. 34(1), 93–110.
[3] Handy, S. (1996), Urban Form and Pedestrian Choices: A Study of
Austin Neighborhoods, Transportation Research Record 1552
339
[4] Heitor, T. (2004) Do PUC à situação actual: a (des) configuração do
espaço público, Design Urbano Inclusivo, p. 151-155, Lisboa: Centro
Português de Design
[5] Hillier, B., 1996. Space is the machine, Cambridge: Cambridge
University Press.
[6] Hillier, B. & Hanson, Julienne, 1984. The Social Logic of Space
2003rd ed., Cambridge: Cambridge University Press 1984.
[7] Jacobs, J. (1992) [1961], The Death and Life of Great American
Cities, New York: Vintage Books ed.
[8] Swain, J; French, S. Barnes, C; Thomas, C. [Eds.] (2004) Disabling
Barriers – Enabling Environment, London: SAGE Publications Ltd
340
Como converter as pedras em pessoas? Desafios
patrimoniais para Coimbra, Património Mundial
Nuno GRANCHO1
1
Universidade de Coimbra (Instituto de Investigação Interdisciplinar (IIIUC) e Centro de
Estudos Sociais (CES)) e Fundação para a Ciência e Tecnologia
+ 351914567808, [email protected]
Palavras-chave: Património Mundial, UNESCO, Coimbra
Resumo
O ano de 2012 marcou o quadragésimo aniversário da adoção da
Convenção do Património Mundial, sob o tema "Património Mundial e
desenvolvimento sustentável: o papel das comunidades locais". Este
centrou-se sobre o caminho e os desafios que se colocam à UNESCO e aos
seus membros, através da sua Lista de Património Mundial, para considerar
novas classificações patrimoniais (património industrial, paisagens
culturais, património subaquático, nomeações de série) e, em particular, o
papel fundamental das comunidades locais na gestão e salvaguarda dos bens
inscritos.
Uma preocupação nos últimos anos é a definição da forma como o
estatuto/classificação de Património Mundial UNESCO pode contribuir
para o desenvolvimento sustentável e a melhoria da qualidade de vida das
comunidades locais.
Os modos e sistemas de gestão de ativos patrimoniais devem ser
reorientados. A sua existência e sustentabilidade não deve recair somente
sobre as autoridades públicas, mas deve ser uma responsabilidade partilhada
com o setor privado e a população local, para uma eficiente repartição das
suas potencialidades e distribuição das suas responsabilidades.
Inovação e criatividade devem estar sempre presentes para a procura de
soluções de gestão do património inovadoras que enfrentem os desafios do
século XXI, superando abordagens clássicas e generalistas, uma vez que
cada Bem patrimonial é único e contém as suas próprias idiossincrasias.
Espera-se que o 40º aniversário da Convenção tenha sido um ponto de
viragem para refletir sobre os resultados da aplicação deste texto
internacional, e sobre os desafios que terão de enfrentar a gestão de riqueza
global a partir duma perspetiva do desenvolvimento sustentável.
341
Nuno Grancho,
Universidade de Coimbra (IIIUC, Instituto de Investigação Interdisciplinar
e CES, Centro de Estudos Sociais) e Fundação para a Ciência e Tecnologia
Portugal
© Fevereiro, 2013
342
Analysis of urban morphology in core towns'
neighborhoods of Mexico
Santa Barbara neighborhood in Toluca, Mexico
RETANA, Alaide1; ORTEGA, Luz Maria2
1
Autonomus University of Baja California, Faculty of Architecture, Department of Urban and
Planning Sustainability Development
Benito Juarez Ave. Unidad Universitaria, Mexicali, Baja California, Z.C. 21280, Mexico
0052 686 566 4250, [email protected]
2
Autonomus University of Baja California, Social Researches Institute
Benito Juarez Ave. Unidad Universitaria, Mexicali, Baja California, Z.C. 21280, Mexico
0052 686 566 2985, [email protected]
Keywords: Mexican neighborhood, urban morphology, urban process,
suburbanization, dangerous spaces.
Abstract
Cities' urban morphology is the result of historic, cultural, political and
social processes. The historical cores in Mexican cities have high cultural
diversity, which also intermingle pre-Hispanic cultures with colonial forms,
as well with modernity and post-modernity irruption.
The study case is Santa Barbara's neighborhood in Toluca city (Map 1).
This city is located in the center of Mexico. During pre-hispanic time it was
called Toluca or Toluca Village. It has influences of Teotihuacan, Toltec,
Chichimec and Mexica cultures (Hernández, 2009); subsequently being
influenced by Spanish culture during colonization. In 1524, Spanish
evangelization started in Mexico and it is thought that Toluca was founded
as a city by Spanish missionaries on March 19th of 1522. However, it was
not officially considered as a city until September 12th of 1799 when
Charles IV signed the royal charter that gave it such category (Gobierno del
Estado de México, s/f).
Toluca is bounded by Tolutzin, Coporo, Apinahuzco and Zopilocalco Hills
(Gallardo & Osornio, 2009), having the case study located in the Coporo
HIll. Santa Barbara's neighborhood was the first neighborhood in Toluca's
historical core; in present time this neighborhood is considered one of the
most dangerous in the city's historical core. This situation is linked largely
343
to the urban morphology. During the period from 2000 to 2005 it had a
population loss of 16.5%, fact that it was reflected with the suburbanization
increase of the megalopolis Toluca-Mexico City-Zincantepec.
This paper will display the changes in urban morphology of the
neighborhood through the years from 1877 to 2010; as well as the changes
on the urban-architectural environment and, the influence that these changes
have had on neighborhood's population expulsion. For site analysis it was
used Ashihara's (1982) and Ching's (2008) methodology. Once having this
references, it was worked using positive and negative space analysis, main
street visual analysis, street and avenue direction analysis, street circulation
and street circulation path configuration analysis.
Map 1: Santa Barbara's neighborhood ubication
Acknowledgments
I acknowledge the support of National Council of Sciences and Technology
(CONACyT) and the Autonomous University of Baja California, for
making this research possible.
References
344
[1] Ashihara, Y. (1982). El diseño de espacios exteriores. Barcelona:
Gustavo Gili.
[2] Ching, F. (2008). Forma, espacio y orden. Barcelona: Gustavo Gili.
[3] Gallardo, G., & Osornio, L. (2009). Los archivos parroquiales de la
Villa de Toluca, 1684-1760. Papeles de población , pp. 215-243.
[4] Gobierno del Estado de México. Enciclopedia de los Municipios y
Delegaciones del Estado de México. Retrieved April 23, 2012 from
http://elocal.gob.mx/work/templates/enciclo/EMM15mexico/municipi
os/15106a.html
[5] Hernández, R. (2009). El Valle de Toluca. Época prehispánica y siglo
XVI. Zinacantepec: El Colegio Mexiquense, A.C
345
O impacto das formas urbanas distintas
Marina. SALGADO1
1
Universidade Federeal de Minas Gerais
Endereço: Rua Teixeira de Freitas, 336/1204, Bairro Santo Antônio, Belo Horizonte, 30350180, Minas Gerais, Brasil
Número de telefone internacional: 00 55 31 99971900
Endereço Email: [email protected]
Palavras-chave: forma urbana, topografia, paisagem, espaços livres,
edifícios
Resumo
O fio condutor deste artigo são as novas formas urbanas originadas pela
acelerada expansão das cidades. Percebe-se de um modo geral, que esta
expansão urbana impacta diretamente os centros históricos, tanto no que diz
respeito à sua paisagem, pela introdução de novas volumetrias, pelas
tipologias, e áreas verdes das novas edificações, quanto a sua forma urbana
pelo parcelamento do solo e forma de implantação da edificação no lote.
A partir da exposição desta problemática, a proposta do presente artigo é
explorar o impacto das novas formas urbanas na paisagem de um núcleo
histórico tombado de influência portuguesa: a cidade de Tiradentes,
localizada no estado de Minas Gerais, Brasil.
A Vila colonial oitocentista teve o seu desenvolvimento baseado na
adaptação do seu tecido urbano ao sítio natural, criando assim, vários
efeitos de perspectiva que encontram-se atualmente ameaçados pela
expansão extensiva.
Em 1999 observa-se a ocorrência de expansão da malha urbana em vários
eixos, consolidando bairros já existentes e formando novos num total de 7
bairros, além do núcleo histórico.
Será realizado um recorte no tecido urbano de Tiradentes tendo como foco o
bairro Alto da Torre para que seja feito um estudo detalhado dos impactos
deste no núcleo, analisando aspectos que dizem respeito ao diálogo entre
forma urbana e topografia e entre edifício e espaços livres comparando os
dois objetos de estudo: o centro histórico e o bairro.
1.1 Forma urbana X topografia
O traçado do núcleo histórico constitui-se de vias irregulares que se
adaptaram às características físicas acidentadas da região, à medida que a
346
cidade se desenvolvia. Por outro lado, o bairro Alto da Torre foi implantado
segundo um modelo de loteamento datado de 1993 ordenado por meio de
ruas regulares que contrariam as curvas de nível.
O efeito destes traçados distintos – irregular no núcleo histórico e regular no
bairro Alto da Torre– implantados em terreno de topografia semelhante é
claramente percebido. No primeiro, a sensação de surpresa, a descoberta aos
poucos do desconhecido à medida que se caminha, faz destes espaços uma
espécie de “labirinto mágico”. A visão da via como um todo é sempre
dificultada pela sua irregularidade, obrigando o transeunte a percorrer toda
sua extensão para então entendê-la.
O traçado do bairro Alto da Torre é previsível à medida que a partir do
ponto inicial de uma via tem-se a sua leitura como um todo. Algumas vias
apresentam declividade acentuada devido a desconsideração do relevo
acidentado.
Os quarteirões do núcleo histórico são maiores se comparados aos do bairro
Alto da Torre. Além disso, os lotes do primeiro atravessam o quarteirão de
uma rua a outra formando grandes quintais arborizados, o que, na maioria
das vezes condiciona para uma melhor qualidade ambiental. No bairro Alto
da Torre esta qualidade não existe, porque os lotes são de dimensões
reduzidas e as edificações ocupam praticamente toda sua área, o que não
favorece a existência de quintais.
O traçado irregular possibilita a criação de alguns efeitos no ambiente
urbano como por exemplo o de “recintos”. De acordo com Cullen (1971, p.
27), este espaço possui estas características: “[...] no interior, o sossego e a
tranqüilidade de sentir que o largo, a praceta, ou o pátio têm uma escala
humana. “
A idéia de “edifício-barreira” desenvolvida por Cullen, só é aplicado ao
tecido de malha irregular, pois não é possível implantar um edifício que
bloqueie a visão da continuação da via em um traçado regular como o do
bairro Alto da Torre. Assim, a construção vai estabelecer um “equilíbrio
entre o espaço delimitado e o espaço fluido”1, como se observa em alguns
exemplos do centro histórico, o que não acontece no bairro Alto da Torre.
Os efeitos apresentados –“recinto”, “edifício-barreira”– entre outros, fazem
com que o espaço seja carregado de símbolos, de identidade como é o caso
do núcleo histórico. A ausência destes, como constatado no bairro Alto da
Torre geralmente conduz a criação de ambientes monótonos, sem vida.
1.2 Edifícios X Espaços livres
1
CULLEN, 1971, p. 32.
347
A paisagem urbana é determinada principalmente pelo espaço edificado e
pela relação desta com seu entorno, seja edificado ou livre. A primeira
relação se faz entre o edifício e o lote, a forma como este é implantado no
terreno. No núcleo histórico, as construções implantam-se na testada do lote
diferentemente do bairro Alto da Torre, onde existe recuo entre a edificação
e o limite do terreno. Estes recuos apresentam-se de forma descontínua, pois
não existe um padrão seguido pelas construções. Assim Lamas (2004)
conclui: “A forma do lote é condicionante da forma do edifício e,
consequentemente, da forma da cidade.”2
A fachada é elemento por meio do qual o edifício dialoga com o espaço
urbano, “[...] é o invólucro visível da massa construída, e é também, o
cenário que define o espaço urbano.” 3 As fachadas no núcleo histórico
foram construídas seguindo uma proporção entre cheios e vazios, fazendo
com que a relação do conjunto seja harmoniosa. No bairro Alto da Torre
não existe um padrão e a diversidade de tipos edilícios não dialogam entre
si.
A partir deste elemento –a fachada– as praças, os largos, os espaços vazios
em geral são delimitados. No bairro Alto da Torre não existem praças, as
pessoas não possuem um lugar de encontro, convívio, enfim, de
manifestação da vida urbana de uma comunidade. Diferentemente, o núcleo
histórico possui uma grande variedade de largos e praças, como o largo do
Sol, largo das Forras, praça Silva Jardim, etc.
Figura 1: Vista aérea do núcleo histórico
2
3
LAMAS, 2004, p.86.
LAMAS, 2004, p.96
348
Figura 2: Vista aérea do bairro Alto da Torre
Referências
[1] Cullen, G. (1993), Paisagem urbana. Lisboa; Rio de Janeiro
[2] Garcia Lamas, J. M. Ressano (1993), Morfologia urbana e desenho da
cidade, Lisboa
[3] Lynch, K.; Camargo, J. Luis (1997) A imagem da cidade. São Paulo:
Martins Fontes
349
“A produção do espaço urbano no território usado
pela população de baixa renda: as favelas em
Brasília".
Suzana Dias Rabelo de OLIVEIRA1; Nelba Azevedo PENNA2
1
Universidade de Brasília - Departamento de Geografia
QE 26 conjunto T casa 03 - Guará 2
71.060-201 - Brasília-DF - Brasil
(+5561) 8131-9234; [email protected]
2
Universidade de Brasília - Departamento de Geografia
Campus Universitário Darcy Ribeiro
70910-900 - Brasília-DF-Brasil
(+5561)3107-7264; [email protected]
Palavras-chave: Favelas, Produção do Espaço Urbano, Segregação
socioespacial, Brasília, Urbanização brasileira.
Resumo
As metrópoles brasileiras, nos últimos 50 anos, evidenciaram um rápido
crescimento, marcado pela periferização de grandes contingentes e por um
modelo de distribuição espacial de oportunidades de forma desigual no
espaço intra-urbano. Algumas dessas grandes cidades arrefeceram seu
crescimento nas últimas décadas, como demonstra o Censo Demográfico
2010, publicado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE); outras, como Brasília, aqui assumida como o conjunto
de cidades que formam o Distrito Federal (DF) e conformam a Metrópole,
continuam crescendo em ritmo acelerado colocando-a como a quarta maior
aglomeração urbana do país. Isso reflete no seu tecido que, apesar de
planejado, passa a ter características das cidades espontâneas, seja nos
problemas cotidianos dos seus habitantes, seja na sua paisagem, fugindo da
utopia urbanística, que a originou, fazendo-a expressar traços de
desigualdades comuns a todas as grandes cidades brasileiras. Uma das
marcas dessa dupla segregação são as favelas, aonde a população de baixa
renda vai se fixar. De forma geral, essas áreas são chamadas de favelas, que
geralmente são assentamentos humanos espontâneos e não convencionais,
por isso carentes de arruamentos e serviços de saneamento básico, nos quais
as habitações são construídas geralmente pelos próprios moradores, em
áreas de domínio público ou em propriedades particulares abandonadas, e
350
sem legalização de seu uso, ou seja, o instrumento jurídico que regulariza a
terra. Em Brasília esses espaços são denominados de invasões. De forma
geral, a moradia em favelas passa pela questão fundiária, representando um
dos principais problemas a serem resolvidos no Brasil. Tal questão não é
matéria simples nem de fácil solução, principalmente nas grandes cidades
onde a demanda por moradia é bastante alta. Para Rodrigues (2001) [1] “de
alguma maneira é preciso morar”. Sendo necessário morar, é evidente que
isso representa um custo. Assim, instala-se a segregação da população de
baixa renda que vê sua capacidade de pagar por uma moradia, limitada às
áreas periféricas, e quando não, em áreas geomorfologicamente
inadequadas, constantemente assoladas por desastres. Entende-se que as
favelas não surgem por acaso, ou por um simples desejo de uma população
de baixa renda em morar em um lugar sem condições mínimas de
habitabilidade. Logo, o espaço produz sua diferenciação social a partir do
momento em que as residências são distribuídas sobre ele, configurando
assim a paisagem urbana, pois as especificidades das moradias e de sua
população estão na [...] base do tipo e do nível das instalações e das funções
que se ligam a elas, Vieira (2005) [2]. Ademais, a questão da ordem urbana
tem sido associada ao planejamento e a capacidade das cidades de reagirem
a seus problemas. No entanto, a ordem para alguns é a desordem para
outros. No caso de Brasília, que se ergue sobre as bases do urbanismo
modernista, qualquer expressão de espontaneidade seria um aviltamento ao
seu projeto. E as favelas, neste contexto, são a expressão dolorosa da
sucumbência do projeto urbanístico à desordem, sobretudo quando se
observa o tecido urbano da metrópole. Neste sentido, algumas questões
norteadoras para o artigo se colocam: De que forma as favelas tem sido
tratadas pelo poder público em Brasília, considerando o mito da cidade
planejada? Como essa população que habita as favelas se insere na vida
cotidiana da cidade, seja no uso dos bens e equipamentos sociais, seja na
sua sobrevivência por meio dos empregos? Seriam essas áreas a expressão
viva de que Brasília não conseguiu resistir ao modelo socioespacial
brasileiro das demais metrópoles? Qual o papel do planejamento urbano na
produção e gestão do espaço das favelas? Seria o Estado o responsável em
produzir e reproduzir o espaço das favelas no tecido urbano das cidades, em
especial em Brasília? Portanto, o presente artigo tem por objetivo discutir a
produção do espaço urbano no território usado pela população de baixa
renda em Brasília, capital do Brasil. Apesar de sua concepção diferenciada
das demais metrópoles do país, essa cidade não ficou imune à segregação
socioespacial, tendo assim gerado em seu tecido urbano formas espaciais de
ocupação do território denominada de favela. A metodologia adotada para a
351
construção do artigo tem como base pesquisa documental em base de dados
oficiais e revisão bibliográfica. Por fim, esse artigo justifica-se pela
interconexão de aspectos na sustentação das questões a serem discutidas,
tais como: a pobreza como manifestação do modelo histórico de
desenvolvimento do país; as migrações como um recurso de fuga das
populações mais pobres habitantes de áreas igualmente empobrecidas,
resultantes de um processo de desenvolvimento regional desigual como
expressão do problema histórico enfrentado pelo país; o papel de Brasília
nesse contexto sócio-histórico mais amplo e seu processo de
metropolização; as questões de moradia na cidade evidenciadas por meio
das favelas, que por sua vez, são a negação da propalada ordem urbana em
que está envolta; e o espaço físico e social que essas populações apropriam
dentro do tecido metropolitano de Brasília.
Referências
[1] RODRIGUES, A. M. Moradia nas cidades brasileiras. São Paulo:
Contexto, 2001. (Repensando a geografia).
[2] VIEIRA, A. B. O Lugar de cada um: indicadores sociais de
desigualdade intra-urbana. Dissertação (mestrado) – Universidade
Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia – Presidente
Prudente: [s.n.], 2005. 149 f.
352
Hybrid City Urban Genome Analysis and
Governance Evaluation
Technovation in Urban Form Analysis
FERRER, M. (LUZ); Farina TOJO, J. (Universidad Politécnica de Madrid);
REYES, R and Gómez, N.(LUZ).
Keywords: complex hybrid city, innovative governance evaluation strategy
(GES+i), local governance council (LGC), territorial genetics, urban
genome, visible management government (VMG).
Abstract
The sustainability of the multiple forms of making the hybrid-complex city
[urban genome] by the visible management government (VMG) is
evaluated using urban governance indicators. The paper argues that the
VMG builds city to legitimate itself by performance and to strengthen local
governance in a context of multiple and radical mutations that tend to dilute
and centralize the local power and fractalize the city urban genome,
deepening the socio-spatial and political segregation and the genetic
ingovernability of the hybrid city, placing the decentralized federal State,
the right to the city, the local government and governance at risk
(hypothesis). The innovative governance evaluation strategy (GES+i)
designed to assess the relationship between the forms of making the hybrid
city / urban genome (spatial variables) and governance (a-spatial variable) is
transversal and multidimensional; constructed from complexity, scenario
analysis, the formulation of new concepts, models, a new analytical strategy
the 'territorial genetics' and governance indicators, weaving three fields of
knowledge, government, city and sustainability in four phases.Concluding
that, the evaluation strategy proved the hypothesis and showed the
transversal and multilevel correlation between, the radical mutations that
contradict the constitutional governance model, the governance landscape
of Latinamerica and Venezuela, the praxis of the hybrid regimes rich in
natural resources, the perspectives of the glocal economy and expresses
sociopolitical the deficit of governance, the rule of law and social cohesion;
spatio-temporarily the hybrid disperse and diluted city (complex) and the
diluted-centralized local government. The evaluation of the VMG urban
praxis showed the correlation between governance, the production of formal
genes and city by private initiative tended to be positive and, between
353
informal genes-city production and governance negative, due to its
autopiethic-self governable character that hinders governance. The urban
praxis of the VMG contradicts the formulated governance model and thecentralized dissolution of the local government and hybrid city are sociospatial and politically unsustainable. Multiscale governance strategies to
recreate social cohesion and a management planning innovative method
(EG [PG] + i) is proposed to orchestrate, from the Local Governance
Council (LGC) and with the participation of sublocal governments and
spaces, a shared and sustainable city project.
354
Características morfométricas de lagoas urbanas
na cidade de Ribeirão Preto, SP, Brasil, em área de
descarga do Aquífero Guarani
Thais Vilela SILVA1; Raphael Calió ALEIXO1; Felippe FERNANDES1;
Anderson MANZOLI; Analu Egydio dos SANTOS1
1
UNISEB Centro Universitário
Rua Abraão Issa Halack, 980, Ribeirânia, Ribeirão Preto, SP, 14096-160, Brasil
+55 16 3603 9998, [email protected]
Palavras-chave: Morfometria; Lagoas; Ribeirão Preto, SP, Aquífero
Guarani
Resumo
Para compreender as origens dos lagos e sua forma é necessário,
inicialmente, determinar sua batimetria e suas várias profundidades.
Segundo Tundisi e Tundisi [1] a origem do lago estabelece algumas
condições morfológicas e morfométricas básicas que se alteram com o
tempo, dependendo de uma série de fatores e, principalmente, da ação do
homem e dos próprios eventos que ocorrem na bacia hidrográfica. No
contexto do planejamento e do gerenciamento dos recursos hídricos devem
ser geradas informações que garantem a confiabilidade das decisões e a
sustentabilidade dos sistemas. Assim, as características morfométricas de
lagoas complementam as informações de monitoramento de um corpo
d´água [2].
Atualmente, as áreas de recarga do aqüífero Guarani têm tido grande
importância devido ao risco de contaminação por agrotóxicos da área rural e
de chorume de antigos lixões, a fim de manter da qualidade deste recurso
subterrâneo. Dentre as áreas de recarga do Aquífero Guarani, destaca-se a
Zona de Uso Especial (ZUE) na área leste da cidade de Ribeirão Preto, SP,
Brasil local com crescimento urbano desordenado do passado o qual
resultou em um passivo ambiental e urbanístico. A mobilização do poder
público levou à elaboração de um plano de zoneamento e uso especial desta
região no ano de 2010, o qual se tornou um marco para elaboração de
práticas e medidas de monitoramento da qualidade das águas superficiais
desta região em função da sua importância. Sabe-se que o crescimento
urbano às margens de ecossistemas aquáticos causa a degradação da
qualidade das águas levando à eutrofização artificial [1]. Este processo pode
355
causar expressivos prejuízos à sociedade humana, especialmente no que
tange a problemas de saúde pública e de redução do potencial de irrigação,
de produtividade pesqueira, de balneabilidade e de inúmeras outras
possibilidades de uso pelos agentes sociais [3].
Neste sentido, o objetivo deste trabalho é descrever as características
morfométricas de duas lagoas da ZUE na cidade de Ribeirão Preto, SP,
Brasil e discutir suas implicações na limnologia deste ambientes.
Foram consideradas as lagoas do Saibro (21º11’30,41”S; 47º45’08,07”O) e
do Recreio Internacional (21º11’42,62”S; 47º43’33,63”O) na cidade de
Ribeirão Preto, SP. O levantamento batimétrico das lagoas foi realizado em
setembro de 2011 (Lagoa Recreio Internacional) e em maio de 2012 (Lagoa
Saibro). A batimetria foi realizada através do aparelho TC-400 Wild-Leica
com amostragem a cada 5 metros e em perfis perpendiculares ao eixo maior
da lagoa. Os dados foram analisados através dos softwares AutoCAD 2011
e Surfer 4.0. As variáveis consideradas foram comprimento máximo,
largura máxima, profundidade máxima, profundidade média, profundidade
relativa, volume, perímetro, área e índice de desenvolvimento de margem e
do volume.
Os resultados morfométricos encontram-se na Tabela 1. A Lagoa do
Recreio Internacional apresenta área maior do que a Lagoa do Saibro, no
entanto valores de índice de desenvolvimento de margem muito próximos,
indicando semelhança na irregularidade das margens, e estas nas duas
lagoas, se aproximam do formato circular. Quanto à profundidade relativa, a
maior porcentagem foi observada na lagoa do Saibro, indicando nesta lagoa
uma maior probabilidade de que a estratificação térmica seja mais estável.
Ambientes com essas características podem ter ausência de oxigênio na
região do hipolímnio, fator responsável por uma série de problemas na
qualidade da água. O índice de desenvolvimento de volume representa a
conformação da bacia do reservatório. Lagos ou represas que possuam este
parâmetro próximo a um têm sua bacia com a forma aproximada de um
cone. O valor de DV obtido para a Lagoa do Recreio Internacional foi de
1,5, podendo ser observado um formato levemente côncavo. As duas lagoas
apresentam macrófitas enraizadas e flutuantes que ocupam parte do
perímetro, principalmente nas margens com menor declividade.
Neste sentido, os parâmetros morfométricos apresentados neste trabalho
para as lagoas da Zona Leste de Ribeirão Preto, SP constituem uma
ferramenta inédita e valiosa para promover uma melhor gestão ambiental
dos recursos hídricos, além de complementarem o monitoramento
limnológico destas lagoas.
356
Lagoa
Lagoa do Recreio
Saibro
Internacional
Profundidade máxima (Zmáx)
m
6,58
4,50
Profundidade média (Z)
m
5,65
2,26
Profundidade relativa (Zr)
%
3,47
1,44
Volume (V)
m3
159.200
173.400
Comprimento máx (Lmáx)
m
215
422,77
Largura máx (Lamáx)
m
190
283,96
Área (A)
m2
28.193
76.870
Perímetro (L)
m
787
1.257
Índice de desenvolvimento de margem
(DL)
1,20
1,27
Índice de desenvolvimento de volume
(DV)
2,57
1,50
Tabela 1: Parâmetros morfométricos das lagoas do Saibro e Recreio
Internacional.
Agradecimentos
Os autores agradecem à UNISEB- Centro Universitário pelo apoio
institucional, ao Prof. Dr. Wagner Eustáquio Paiva Avelar da FFCLRP-USP
pelo apoio técnico e ao Comité Organizador do PNUM 2013 pela
oportunidade de participação e divulgação dos dados.
Referências
[1] Tundisi, J. G e Tundisi, T. M. Limnologia. São Paulo: Oficina de
Textos, 2008.
[2] Rebouças, A. C.; Braga, B.; Tundisi, J.G. Águas doces do Brasil:
capital ecológico, uso e conservação. São Paulo: Escrituras, 2006.
[3] Esteves, F. A. Fundamentos em limnologia. Rio de Janeiro:
Interciências. 1998.
357
Espaços públicos fortes: polaridades no tecido
urbano e na vida social
César Henriques Matos e SILVA
Núcleo de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Sergipe
Campus de Laranjeiras, Laranjeiras-SE, 49000-000, Brasil
0055-79-30441237, [email protected]
Palavras-chave: espaço público, centro de cidade, Aracaju
Resumo
É sabido que a partir do espaço público urbano, entendido como parte
constituinte da esfera pública, cria-se a possibilidade da convivência entre
indivíduos e grupos sociais diferentes, assim como se fazem visíveis os
conflitos e contradições da sociedade. À luz de um cenário de extrema
desigualdade social como encontrado nas cidades brasileiras, entendemos
que a existência de espaços públicos urbanos recheados de vida social e de
contradições inerentes à vida urbana, pode contribuir para a transformação
social. Este trabalho apresenta alguns resultados de uma tese de doutorado
cujo fio condutor é a dimensão política do espaço público. Tendo como
objeto de estudo a cidade de Aracaju, cidade localizada no nordeste do
Brasil com aproximadamente 600 mil habitantes, buscou-se investigar o
processo recente de transformação dos centros das cidades brasileiras e o
surgimento de novas centralidades urbanas. A conformação de novas
centralidades com estruturas urbanas de cunho privatista (por exemplo,
grandes shopping centers) tem como contraponto o enfraquecimento
funcional e simbólico do centro principal e seus espaços públicos. Com o
objetivo de melhor compreender as implicações destas re-significações dos
espaços públicos centrais, desenvolveu-se o conceito de espaço público
forte.
Os espaços públicos são continuamente produzidos a partir das relações
sociais e da correlação de forças existentes na sociedade urbana na qual se
inserem. São, portanto, constantemente modificados, a depender da
convergência de interesses, forças de poder, valores culturais e simbólicos
e, consequentemente, de atividades e fluxos em cada momento histórico
específico. Em uma área urbana constitui-se uma trama de espaços públicos
que se conectam, e na qual alguns destes apresentam uma maior densidade
de elementos urbanos significativos para a vida social da cidade. Em assim
sendo, designamos por espaços públicos fortes estes espaços expressivos
358
que detêm forte representatividade no imaginário dos habitantes. Podem ser
uma praça, uma rua ou um agrupamento de ruas, edificações ou outros
espaços públicos, sejam abertos ou fechados. Em resumo, estes espaços
protagonistas operam como pólos de intensa urbanidade. São espaços
dinâmicos e mutáveis, contendo textualidades espaciais que se sobrepõem
umas às outras, complementares entre si, podendo também emergir e
desaparecer ao longo do tempo.
Há uma questão de escala a ser observada. Urbanidade é definida por
Françoise Choay (1996) como “o ajustamento recíproco entre uma forma de
tecido urbano e uma forma de conviviabilidade”. Para Milton Santos
(1999), o espaço, como uma construção social, é “um conjunto de fixos e
fluxos”, produzido pela inter-relação entre a materialidade (configuração
territorial) e as relações sociais (vida que anima a materialidade). Assim, é a
escala do pedestre que produz a dinâmica das relações sociais nos espaços
urbanos – e é essa escala que define o conceito de espaço público forte, para
o qual são fundamentais as relações de proximidade entre os indivíduos e as
relações interpessoais daí decorrentes.
Em Aracaju, fundada em 1855, a rua que margeava o porto fluvial tornou-se
obviamente o primeiro espaço público forte – espaço de comércio e
sociabilidade. Ao longo das décadas, concomitantes com a paulatina
decadência do porto, nasceram novos espaços públicos fortes, mais
diversificados e heterogêneos, como a praças do Governo e da Catedral,
uma nova rua comercial – a Rua João Pessoa, espaço de sociabilidade da
elite emergente, que se diferenciou do comércio às margens do porto – e o
Mercado Municipal, da década de 1920. Os anos 60 marcaram o período de
modernização de Aracaju e de fortes investimentos públicos na
configuração do espaço urbano. Emblemático deste momento, a nova
Estação Rodoviária, de 1961, e seu entorno se constituiu em um novo
espaço público forte, enquanto nos anos 70 a Rua João Pessoa foi
transformada em rua de pedestres, consolidando-a ainda mais como espaço
de sociabilidade e lazer.
As transformações urbanas das cidades brasileiras nas últimas duas décadas
assinalaram a emergência de novos espaços privados de sociabilidade, como
os shopping centers. Do ponto de vista morfológico, estas são estruturas
arquitetônicas que se fecham, negando o entorno – suas ruas e bairros. Ao
mesmo tempo, no centro da cidade de Aracaju não identificamos o
surgimento de nenhum novo espaço público forte. Ao contrário, é
preocupante o “enfraquecimento” e a pouca vitalidade urbana de alguns dos
espaços públicos fortes centrais, não encontrando forças para se manter
como um espaço protagonista na vida da cidade.
359
Referências
[1] CHOAY, Françoise, (1996), Os Destinos da cidade européia: séculos
XIX e XX, In: RUA. Revista de Arquitetura e Urbanismo, v. 1, n. 6
(jul./dez.), Salvador, UFBA, Faculdade de Arquitetura, pp. 8-21.
[2] SANTOS, Milton (1999), A Natureza do espaço: espaço e tempo:
razão e emoção, São Paulo, Hucitec.
360
Rede viária e forma urbana – a «via-malha» como
instrumento e elemento de estabilização
morfológica
Sara Sucena GARCIA1
1
Professora Auxiliar, Universidade Fernando Pessoa
[email protected]
Resumo
A transformação da realidade urbana portuguesa a partir do último quartel
do século XX é debate que tem vindo a conquistar factos e argumentos
gradualmente consensualizados, mas está ainda longe de uma
sistematização convincente no que se refere aos instrumentos de
intervenção, ou sequer à sua caracterização, morfológica. A cidade
contemporânea – sabendo que com esta designação apenas fixamos o
objecto de estudo no tempo, no nosso tempo – é variada na sua forma, na
disposição com que peças edificadas e não edificadas se foram
confrontando no espaço ao longo de várias décadas, sendo em particular as
últimas as que trazem contribuições mais confusas para esse somatório. As
lógicas que as sustentam são variadas, desde os motivos das suas origens
aos processos que as fixam, mas a compreensão da sua linearidade escapa,
principalmente, por entre a individualidade das opções de implantação mais
recentes – elas próprias segmentadas e fragmentadas no espaço e no tempo.
Em consequência, a inteligibilidade da urbanização, principalmente da que
foi ocupando esse espaço intermédio, entre cidades tradicionais, mais ou
menos distantes, vai sendo também difícil de consciencializar. Importa, no
entanto, que o façamos, i.e., que tomemos consciência desta nova realidade
territorial como matéria de facto, que se aceita por aquilo que é, a partir do
reconhecimento das suas características próprias, pois apenas essa
compreensão confere legitimidade para intervir nestes âmbitos mais
complexos, que hoje nos representam (Sucena-Garcia, 2011).
O modo de introduzir clareza na (des)organização territorial contemporânea
através da identificação de instrumentos, elementos e princípios de
intervenção emergentes destes novos ambientes, e por isso a eles adaptados,
é o mote em torno do qual se estrutura este artigo. O estudo de uma área de
difícil apreensão visual – o Vale do Ave – oferece-se como suporte para
essa descoberta. Um dos elementos mais persistentes na caracterização e
361
explicação da sua paisagem – a rede viária – identifica-se como o objecto
concreto de trabalho, uma presença densa em todas as direcções, gravada
em talvez incontáveis variantes tipo-morfológicas. Ditadas por intuições
empíricas ou por vontades e necessidades técnicas, pouco importam,
contudo, as razões dessas origens ou desses desenhos; importa, no entanto,
recuperar esse elemento – a rede viária – como instrumento de ordem
antrópica e reinterpretá-lo como um dos instrumentos que permite aumentar
a legibilidade do território urbanizado. De entre as suas variantes,
escolhemos a estrada – a estrada nacional, a municipal – como o enfoque
principal de análise e, movendo-nos pela vontade da sua restituição ao
“reino da arquitectura” (Gregotti, 1989:5), ou ao domínio do urbanismo
(Secchi, 1989), trabalhamo-la a várias escalas e em diversas associações,
em cada uma delas explorando aspectos da sua forma e a sua contribuição
qualitativa para o espaço(s) – lugar – em que insere.
Sob o ponto de vista de uma proposta conceptual, ensaia-se a criação de
uma via-malha como «princípio organizador» da urbanização e da
paisagem, elemento estruturante que assim se afirma ao responder a três
funções: de conexão, de urbanização e de formalização (Alcalà, 2004), mas
transcendendo-as e incorporando valores paradigmáticos da sociedade
actual. A maior importância da “intraestrutura” em detrimento da
“infraestrutura” (M. Solà-Morales, 2009) é também um modo de afirmar a
vocação plural da via como elemento do território, emanando dessa
percepção a importância do que está entre as partes, no caso, entre as linhas
da infraestrutura viária; entre as “coisas”, como refere Solà-Morales, na
substância(s) concreta (feita de objectos e vivências) que preenche o espaço
entre essas «linhas». São, enfim, as potencialidades de um controlo macro e
de uma concretização micro que se exploram e ilustram, em ambos os
níveis estando em causa a vocação estruturante da rede viária, com
significado específico adequado a cada dimensão de escala. É, afinal, a
importância do projecto territorial na metamorfose da “cidade alargada”
que se defende, assumindo-se o desafio de que é possível a qualificação do
território global a partir do desenho de alguns elementos – a via-malha
pretende ser disso uma ilustração.
362
Referências
[1] Gregotti, Vittorio (1989). “La strada: tracciato e manufatto”. Casabella
(553/554): 2-5.
[2] Secchi, Bernardo (1989). “Lo spessore della strada”. In Casabella
(553-554): 38-41.
[3] Solà-Morales, Manuel (2009). “Los vacíos de la metrópolis=The voids
in the metropolis”. In la ciudad, de nuevo global=the city, global
again. Ed. Luciano G. Alfaya, Patricia Muniz. Coruña: COAG,
pp.129-39.
[4] Sucena-Garcia (2011). Red viaria y territorio en el “Vale do Ave”. La
red viaria de nivel intermedio como estructura del paisaje urbano en el
NW Portugués. Barcelona: ETSAB – Universitat Politècnica de
Catalunya. Tesis Doctoral en Urbanisme.
363
Os espaços livres na constituição da forma urbana
brasileira
Ana Cecília CAMPOS1; Eugenio QUEIROGA2; Silvio MACEDO3, Fany
GALENDER4, Vanderli CUSTÓDIO5, Rogério AKAMINE6, Helena
DEGREAS7, João MEYER8
1
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
2
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
3
Coordenador LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
4
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
5
Profa. Dra. Instituto de Estudos Brasileiros
Av. Prof.Mello Morais, trav. 8, no.14, 05508-030, Brasil
(5511) 30912398, [email protected]
6
Prof. Dr. Universidade Nove de Julho
Av. Dr. Adolpho Pinto, 109, 01156050, Brasil
(5511) 3665-9791, [email protected]
7
Prof. Dra. FIAMFAAM
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
8
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
Palavras-chave: espaços livres, forma
urbanização contemporânea, paisagem
urbana,
cidade
brasileira,
Resumo
A urbanização contemporânea brasileira, nas duas últimas décadas,
apresenta significativas transformações. Em um país com população
majoritariamente urbana, está em curso intenso crescimento de cidades de
médio e grande porte – as regiões metropolitanas estabelecidas são hoje
364
mais de 50. Verifica-se o espalhamento urbano e funcional, bem como a
desconcentração das atividades centrais e industriais em diversos núcleos
urbanos. Surgem redes de cidades determinando a criação e redesenho de
estruturas urbanas: cidades novas ou que experimentam acelerado
crescimento urbano, como aquelas em áreas de forte produção
agroindustrial.
Desde 2012, o projeto interdisciplinar intitulado “Os sistemas de espaços
livres na constituição da forma urbana no Brasil: produção e apropriação”
(QUAPÁ-SEL II), coordenado pelo Laboratório LAB-QUAPÁ da
FAUUSP, investiga relações entre sistemas de espaços livres e a forma
urbana brasileira na atualidade, considerando sua produção a partir dos
processos socioeconômicos e ambientais, seus aspectos comuns e
especificidades locais. Dentre seus objetivos está a construção de referencial
metodológico para a análise qualitativa destas relações.
Para o estudo de 35 cidades estão sendo elaborados mapas de tipologias que
embasam e são, ao mesmo tempo, resultado direto das discussões
conceituais. Aplicados aos diferentes graus de complexidade das manchas
urbanas, os mapas relacionam as seguintes categorias: parcelamento do
solo, espaços livres intraquadra e volumes construídos, em conformidade ou
não com a legislação. Possibilitam leituras diversas, combinando as
variáveis listadas, ou isolando seus componentes. Outras variáveis também
têm sido trabalhadas: vegetação arbórea intraquadra, áreas não parceladas
ou em processo de consolidação, estruturas naturais significativas como
matas e cursos d´água, e espaços livres públicos.
Qualquer que seja o processo de produção predominante, o interesse vai
além da unidade geradora de um determinado tipo, envolve a associação
entre tipos similares ou distintos, gerando diferentes tecidos urbanos.
Entender estes tecidos e suas relações, sistematizando um método que possa
ser aplicado em diferentes cidades, é o que originou os mapas, contribuindo
para um conhecimento mais consistente sobre a realidade urbana e
paisagística brasileira.
De qualquer maneira, a representação bidimensional desta configuração não
descarta a vivência destes locais e outras formas de apreensão enquanto
método, que podem complementar e enriquecer a leitura.
Inicialmente vêm sendo trabalhados os municípios de Campinas e Campo
Grande, além da Região Metropolitana de São Paulo. No caso paulistano, as
aferições preliminares já apontam, com relação aos recuos intralote, o
predomínio de extensas porções da mancha urbana de quadras com
prevalência de uma ou duas faixas de recuos, e outras com nenhum tipo de
recuo, apenas fossos ou recortes mínimos para ventilação e iluminação.
365
Mapa 1: Recuos para o município de São Paulo em desenvolvimento
(2013).
Fonte: elaborado por equipe LAB-QUAPÁ FAUUSP.
Os modelos constatados não são reinterpretação do casario colonial de
influência portuguesa com edificações no alinhamento da rua, sem recuos
laterais, com parcelamento específico do solo. Estes parâmetros ainda são
percebidos nas áreas mais centrais do município de São Paulo, onde se
originou o núcleo urbano, embora substituídos por outras edificações.
Contradizendo em muitos casos a legislação municipal, eles refletem a
prática de máxima utilização dos lotes, resultado direto da escassez de solo
urbano e de seu alto valor. Este padrão coincide, em muitos casos, com
municípios com concentração de baixa renda, sem expressiva economia
local, cujos habitantes trabalham em outras localidades dentro da metrópole
(cidades-dormitório).
Estas informações estão sendo confrontadas com os mapas sobre
porcentagem de espaços livres intraquadra (elaborados entre 2006-2011). Se
nos mapas de espaços livres intraquadra foi possível delimitar faixas gerais
(0-30%, 30-50% e acima de 50% de espaços livres de edificações), o
interesse agora recai no entendimento de como estes espaços livres se
relacionam com as formas construídas lote a lote. Do cruzamento dos dois
mapas pode-se aferir, por exemplo, de que a existência de quatro recuos não
366
garante qualidade espacial, se a predominância na quadra estiver abaixo dos
30% de espaços livres.
A implantação de novos modelos urbanísticos como os loteamentos
residenciais cercados, os condomínios horizontais e verticais de grande
porte, as áreas industriais ao longo de estradas e afastadas dos grandes
centros destacam-se nas metrópoles paulistas; se compreendidos em
conjunto com o aumento da acessibilidade (rede viária, transporte
individual), denotam novas formas de vida urbana e relações de produção
econômica.
O estudo comparativo destas cartas entre cidades permitirá estabelecer
padrões genéricos e locais tanto estruturais como específicos,
caracterizando a paisagem urbana nacional e contribuindo para a elaboração
de políticas públicas, sobretudo aquelas que incluem os sistemas de espaços
livres como um dos principais elementos estruturantes do tecido urbano.
Agradecimentos
A coordenação do laboratório LAB-QUAPÁ agradece o empenho da equipe
de estagiários que têm elaborado os mapas citados, não apenas na sua
execução, mas no desenvolvimento do método de trabalho.
Referências
[1] Campos, A. C. et al. (Orgs.), (2012), Quadro dos sistemas de espaços
livres nas cidades brasileiras, FAUUSP, São Paulo
[2] Conzen, M. (2004), Thinking about urban form: papers on urban
morphology 1932-1998, Peter Lang, Oxford
[3] Macedo, S. (2012), Paisagismo brasileiro na virada do século, EDUSP,
Editora Unicamp, São Paulo
367
A transformação dos tecidos urbanos antigos em
Portugal, evolução e conservação
José Miguel SILVA
1
FormaUrbis Lab, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa Rua Sá
Nogueira, Pólo Universitário do Alto da Ajuda, 1349 – 055 Lisboa, 00351 213 615 000,
[email protected]
Palavras-chave: Morfologia, Tecido Urbano, Morfogénese, Património,
Monumento
Resumo
O tema proposto aborda a temática da evolução morfológica dos tecidos
urbanos na sua relação particular com o edificado monumental. O estudo
tem como objectivo compreender, neste quadro específico, de que forma se
relacionam as teorias e práticas da conservação dos tecidos construídos com
a sua transformação e evolução.
Metodologicamente pretende estabelecer-se uma análise contextual e
reconstrutiva das sucessivas fases de composição dos lugares, de forma a
demonstrar como se constituem e se transformam ao longo do tempo. Estes
diferentes acontecimentos morfológicos, resultantes das influências
recíprocas entre o tecido construído e o edificado predominante, comportam
situações tão variados como as acções do projecto, do todo ou das partes, e
também das mais variadas vicissitudes na evolução dos tecidos urbanos.
Deste modo, acrescenta ao tema da conservação do espaço urbano uma
ideia de intervenção intemporal, identificando momentos concretos da
metamorfose dos lugares, sempre na relação reciproca entre o edificado
monumental e o contexto envolvente. Nesta medida, o tecido construído, as
áreas históricas, a composição espaço urbano, as vivências culturais,
identitárias e, igualmente económicas, têm origem nesta relação de avanços
e recuos que determinam a forma da cidade de hoje.
Assim, reconhecendo que o processo de transformação do tecido
monumental é dinâmico e continuo no tempo, fica demonstrado que é
possível acrescentar novas fases ao processo evolutivo dos lugares, restaurar
a sua utilidade, acrescentar novos valores patrimoniais, e concluir que não é
lícita a sua estagnação.
Para tal, da diversidade de hipóteses e soluções a analisar nas cidades de
hoje em Portugal, o estudo demonstra os aspectos práticos que despoletaram
na transformação do espaço urbano, modificando-o de acordo com as
368
diferentes noções de espaço no tempo, muitas vezes em função do edificado
monumental, considerando: métodos de sobreposição do tecido construído;
de invenção do tecido monumental; de construção de lugares
“patrimoniais”; ou de monumentalização do comum.
Para que se compreendam estas múltiplas características da metamorfose
dos tecidos urbanos antigos, são abordados em pormenor os processos de
transformação dos casos da Abadia e o “Rossio” de Santa Maria de
Alcobaça; o Adro e a Sé do Porto; o Paço dos Duques de Bragança e o
“Monte Latito” em Guimarães; o conjunto monumental de Belém/Ajuda em
Lisboa; o núcleo histórico de Vila Viçosa; o conjunto urbano de Idanha-aVelha; e o Promontório de Sagres.
Em síntese, o estudo ambiciona ser uma ferramenta critica às noções de
monumentalização e salvaguarda do património construído, propondo a
partir da leitura do espaço actual uma reflexão à cerca da evolução dos
lugares patrimoniais, demonstrando quais as razões metodológicas e
processuais que determinaram a sua mudança. Logo, contribui
positivamente para o levantamento, análise e, sobretudo, na construção de
uma base de dados representativa dos diferentes métodos implementados ou
a implementar na transformação e evolução do tecido urbano em Portugal.
O tema proposto, integra dois trabalhos de investigação elaborados na
Faculdade de Arquitectura – UTL: um, a tese de Doutoramento em
Urbanismo como o tema “Forma urbana, Evolução vs. Conservação.
Relação entre o edificado monumental e o tecido urbano”; outro, o projecto
de investigação “O Tecido Edificado na Cidade Portuguesa – Inventário
Morfológico”, financiada pelo Fundação para Ciência e a Tecnologia, com a
referência PTDC/AUR-URB/111835/2009. Em ambos os trabalhos,
contribui positivamente para o levantamento, análise e, sobretudo, para a
construção de uma base de dados representativa da transformação e
evolução do tecido urbano em Portugal.
369
[Auto]organização e forma urbana de Maputo
David VIANA1; Vítor OLIVEIRA2; Isabel RAPOSO1,2
1
CI-ESG/ Centro de Investigação da Escola Superior Gallaecia
Largo das Oliveiras, s/n, 4920-275 Vila Nova de Cerveira, Portugal
(+351) 251 794 054, [email protected]
2
CITTA/ Centro de Investigação do Território, Transportes e Ambiente
Rua Dr. Roberto Frias, s/n, 4200-465 Porto, Portugal (+351) 225 081 903, [email protected]
1,2
CIAUD/ Centro de Investigação de Arquitectura, Urbanismo e Design
Rua Rolando Sá Nogueira – Polo Universitário, Alto da Ajuda, 1349-055 Lisboa, Portugal
(+351) 213 615 817, [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, forma urbana, análise morfológica,
auto-organização, Maputo
Resumo
O artigo centra-se nos processos auto-organizados de transformação da
forma urbana de Maputo. Analisa-se a dimensão física da capital
Moçambicana a partir de teorias e técnicas de análise morfológica [1],
procurando compreender a estrutura urbana a partir das respetivas matrizes
constituintes [2], quer sejam planeadas ou auto-organizadas [3]. Pretende-se
reconhecer e caracterizar padrões formais de modo a correlacionar, crítica e
interpretativamente, as múltiplas conexões da dimensão física de Maputo.
De facto, a forma desta cidade ancora-se em lógicas densas e processos
intrincados [4], muitas vezes ‘auto-organizantes’, que traduzem micoestratégias de alteração do tecido urbano. O recurso a abordagens
quantitativas e qualitativas sócio-territoriais, para indicar e cruzar modelos
que clarifiquem a correspondência entre a forma e a função dos sistemas
espaciais comparados, visa entender não só a relevância relativa e
contextual, mas também os graus de relacionamento da composição urbana
estudada. Importa ainda aferir as potencialidades e constrangimentos de
ferramentas de análise morfológica no planeamento físico de Maputo.
Os objetivos fundamentais do artigo são:
i) tipificar padrões morfológicos a partir de formas urbanas planeadas
(resultantes da prática do desenho urbano) e auto-organizadas
(consequência de processos bottom-up de transformação da cidade [5]),
cruzando análises quantitativas e qualitativas sócio-territoriais;
ii) indicar
e
sistematizar
modelos,
no
âmbito
de
abordagens
371
morfológicas não só quantitativas (nomeadamente a Space Syntax) [6],
mas também contextuais, que contribuam para explicar regras e lógicas
que estruturam as relações entre cidadãos e espaço urbano (estudo
comparativo de distritos urbanos e seus bairros), analisando de modo
comparado os resultados obtidos;
iii) avaliar as potencialidades e os limites de abordagens morfológicas
quantitativas no planeamento urbano [7] futuro de Maputo.
O principal resultado da pesquisa é a concretização de múltiplas análises
morfológicas relativas à configuração de Maputo, em que dinâmicas
socioeconómicas e territoriais fomentam o funcionamento de uma cidade
mais compacta [8] através da relação entre fluxos de movimentos e a
estrutura organizacional da malha urbana. Analisa-se em que sentido
abordagens morfológicas – quer qualitativas, quer quantitativas como a
Space Syntax – poderão contribuir para a fusão de processos urbanos multioperativos, com estratégias de auto-replicação que promovam a
hibridização entre sistemas planeados e auto-organizados [9]. Explica-se em
que sentido os tecidos urbanos se diferenciam e como se transformam face
aos seus contextos específicos – em sequências contrastantes e relações de
similaridade entre níveis ‘inter-escalares’.
O artigo incide na caracterização de tipos de elementos fundamentais para a
forma urbana de Maputo, que consubstanciam a configuração espacial e a
sua organização dinâmica e adaptativa a estratégias auto-organizadas (autoregenerativas e com formas, mecanismos e processos auto-optimizados).
Verifica-se o conjunto de afinidades interdependentes entre as várias partes
constituintes da cidade, ao nível das vias, equipamentos e bairros.
Abordam-se (de modo autónomo e relacional) os diferentes distritos
urbanos que compõem, administrativamente, a capital de Moçambique,
analisando a sua gramática e matriz geométrica. Esta etapa envolve também
referências ao enquadramento histórico-urbano, à especificidade
sociocultural, territorial e à sistematização de elementos morfo-tipológicos
essenciais aos bairros. Aplicam-se metodologias de estudos de caso e
trabalho in situ, com instrumentos de recolha de informação aquando da
chegada ao "campo" de análise: observação "naturalista", notas de campo,
fotografias, entre outros. A investigação estrutura-se em observações no
local, análise documental, fontes oficiais e fotografias. Explicam-se
dispositivos morfo-tipológicos e a sua articulação com espaços envolventes,
percebendo a síntese física resultante através da apropriação e autoorganização espacial.
372
Mapa 1: Bairro de Malhangalene B – Distrito 1, Maputo (desenho de David
Viana).
Referências
[1] Oliveira, V. (2011), Avaliação em planeamento urbano, U. Porto
Editorial, Porto
[2] Rodríguez-Tarduchy, M. (2011), Forma y ciudad – En los limites de la
arquitectura y el urbanismo, Cinter Divulgación Técnica SLL, Madrid
[3] Angélil, M., Hebel, D (2010), Cities of change – Addis Ababa.
Transformation strategies for urban territories in the 21st century, ETH
– DARCH Faculty of Architecture, Birkhauser Verlag AG, Berlin
[4] Oppenheimer, J., Raposo, I. (2002), A cooperação direccionada para
os grupos vulneráveis no contexto da concentração urbana acelerada –
A pobreza em Maputo, Ministério do Trabalho e da Solidariedade /
Departamento de Cooperação, Lisboa
[5] Sinha, S. (2012), Architecture for rapid change and scarce resources,
Routledge, United Kingdom
[6] Hillier, B., Hanson, J. (1984), The social logic of space, Cambridge
University Press, Cambridge
373
[7] Stolk, E., Brommelstroet, M. (eds.) (2009), Model Town – Using
Urban simulation in new town planning, Martien de Vletter, SUN,
Amsterdam
[8] Mike, J., Burgess, R. (eds.) (2000), Compact cities – Sustainable urban
forms for developing countries, Spon Press, New York
[9] Viana, D. (2010), African cities: Towards a new paradigm "Chameleonic" urbanism for hybrid cities. In AP2009 Proceedings:
African Perspectives - The Future Life of the African City Centre
(Re)sourced, University of Pretoria, pp. 179-187
374
Estruturação da Forma Urbana: aspectos da
configuração e das práticas no espaço urbano
Ana Paula P. ZECHLINSKI1; Romulo KRAFTA2;
1
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Sarmento Leite, 320, 5ºandar, 90050-170, Brasil
+55 51 3308 31 45, [email protected]
2
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Rua Sarmento Leite, 320, 5ºandar, 90050-170, Brasil
+55 51 3308 31 45, [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, configuração, práticas, cooperação e
competição.
Resumo
O presente estudo pretende analisar a estruturação da forma urbana
considerando a relação entre dois aspectos específicos da morfologia
urbana: configuração e função. A configuração urbana se refere à ordenação
dos espaços no sistema espacial, descrevendo a estrutura utilizada pelas
pessoas para acessar e realizar suas atividades. As características funcionais
são as atividades, as práticas que acontecem na cidade, tendo como suporte
para sua realização os espaços abertos públicos e as edificações.
Entende-se que a estruturação da forma urbana emerge da relação entre a
configuração urbana e as práticas realizadas no espaço urbano. Por um lado,
a configuração urbana influencia a localização das atividades e, por outro
lado, as atividades atraem o movimento de pessoas influenciando, ao longo
do tempo, as transformações na configuração urbana da cidade (Krafta,
1995).
Embora as características configuracionais e das práticas estejam interrelacionadas, nem sempre há a convergência destas características nos
diferentes espaços da cidade. A configuração urbana e as práticas podem
convergir, atuando em uma lógica de cooperação, quando a intensidade das
práticas no espaço urbano está relacionada à importância dos espaços no
sistema configuracional. Em outras situações, a prática pode acontecer em
espaços configuracionalmente desfavorecidos, evidenciando uma lógica de
competição entre estas características morfológicas.
375
O objetivo do trabalho consiste em analisar as situações de cooperação e
competição entre as características configuracionais e das práticas e suas
consequências na estruturação da forma urbana. Para isso, pretende-se
representar a cidade de forma sistêmica, buscando suporte teórico e
metodológico nos estudos configuracionais urbanos (Nystuen, 1968; Hillier
e Hanson, 1984; Krafta, 1994) e nas recentes abordagens sobre redes
(Rosvall et al., 2005; Porta e Latora, 2007; Barrat et al., 2008).
A representação das características configuracionais da cidade depende de
um sistema de relações entre os espaços, enquanto as características das
práticas normalmente são representadas pela localização do espaço em que
a atividade acontece. A descrição da configuração urbana é realizada, neste
estudo, através da utilização de duas medidas de diferenciação espacial:
acessibilidade, que considera a distância de cada unidade de espaço a todos
os outros, e centralidade, medida através da identificação dos menores
caminhos entre todos os pares de unidades espaciais no sistema, sendo o
espaço mais central aquele que faz parte de um maior número de caminhos.
A descrição das práticas presentes no espaço urbano se apresenta como um
dado de uso do solo, sendo contabilizada a quantidade de atividade em cada
espaço.
O método proposto consiste em representar as características
configuracionais e das práticas para, em seguida, analisar as situações de
cooperação e competição entre elas, através de uma análise estatística de
correspondência, que possibilita verificar a associação entre as variáveis.
Pretende-se ainda analisar as diferenças entre cada uma das medidas
utilizadas para descrever a configuração urbana, em relação à sua
associação com a quantidade e a distribuição das atividades na cidade.
O estudo de caso é realizado na cidade de Jaguarão-R.S., Brasil, sendo
representada pelos trechos de via de toda a sua área urbanizada. Em um
primeiro momento, o estudo se detém na análise da associação da
configuração urbana com a distribuição das atividades de comércio.
Os resultados da análise de correspondência mostram que 52,9% dos
trechos que apresentam maior quantidade da prática de comércio coincidem
com os trechos de maior acessibilidade (figura 1). Isto não ocorre com a
medida de centralidade, em que há coincidência em apenas 5,7% dos
trechos (figura 2). É interessante perceber que as medidas de acessibilidade
e centralidade estão associadas a diferentes propriedades configuracionais
dos espaços, que devem ser consideradas e discutidas no desenvolvimento
do trabalho.
376
Figura 1: mapa da cidade de Jaguarão com a identificação dos espaços que
apresentam maior intensidade de comércio e dos espaços com maior
acessibilidade
Figura 2: mapa da cidade de Jaguarão com a identificação dos espaços que
apresentam maior intensidade de comércio e dos espaços com maior
centralidade
377
Convém ressaltar que a evidência adquirida por um espaço em decorrência
das relações no sistema configuracional e/ou pela intensidade de práticas
que apresenta pode constituir um fator determinante na estrutura e
organização dos espaços e, consequentemente, nos fluxos de
movimentação, na animação urbana ou na apropriação dos espaços pelos
indivíduos. Por isso, uma análise que verifique as situações em que há
cooperação entre estas características e as situações em que há competição
se mostra importante para compreender alguns dos aspectos que
influenciam a estruturação da forma urbana.
Referências
[1] Krafta, R. (1995), Configuração e Apropriação do Espaço Urbano. In:
Seminário Interdisciplinar sobre cidade e produção do cotidiano, 1995,
Recife. Cidade e Produção do cotidiano. Recife, PE Brasil, v. 1, pp.
83-94
[2] Nystuen (1968), Identification of some fundamental spatial concepts.
In: J. L. Berry & D. Marble (Ed.) Spatial analysis, New Jersey: P.
Hall. pp. 35-41
[3] Hillier, B., Hanson, J. (1984), The Social Logic of Space. Cambridge:
Cambridge University Press.
[4] Krafta, R. (1994), Modelling intraurban configuracional development.
Environment & Planning B: Planning and Design, London: Pion, v.
21, pp. 67-82
[5] Rosvall, M., Trusina, A., Minnhagen, P., Sneppen, K. (2005),
Networks and cities: An information perspective. Disponível em:
http://front.math.ucdavis.edu/author/M.Rosvall. Physics, Rev. Lett. 94,
028701
[6] Porta, S. Latora, V. (2007) Correlating Street Centrality and Land
Uses: an Evidence-Based Support for the Multiple Centrality
Assessment of City Spaces. In: Proceedings of 10th International
Conference on Computers in Urban Planning and Urban Management,
São Carlos: EESC/USP, 2007. CD-ROM
[7] Barrat, A., Barthélemi, M., Vespignani, A. (2008), Dynamical
Processes on Complex Networks. New York: Cambridge University
Press
378
Dos dois lados do Atlântico: comparando forma e
história em Natal e Dakar
Edja TRIGUEIRO1; Rubenilson TEIXEIRA2; Maria Heloísa ALVES³
1e2
Professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Lagoa Nova, Natal, RN, 59072-970, Brasil 55 84 3215 3776,
1
[email protected]; [email protected]
³ Graduanda Arquitetura e Urbanismo / UFRN
[email protected]
Palavras-chave: morfologia
centralidade, uso do solo
urbana,
configuração
espacial,
Dakar,
Resumo
Situadas, uma na esquina da América do Sul, outra na península que avança
mar adentro no outro lado do Atlântico, Natal e Dakar podem ser
consideradas como pontas-de-lança da expansão mercantilista europeia que
do século XV ao século XVII, funcionando como núcleos de conquista e
controle de novos territórios, visando dar suporte às relações comerciais
entre metrópoles e colônias. Suas localizações privilegiadas dos dois lados
do Atlântico também concorreram para que essas cidades assumissem
funções semelhantes em outros momentos históricos, como durante o
período da aviação pioneira (anos 1920), e na segunda guerra mundial,
quando foram pontos estratégicos na geopolítica internacional.
Neste estudo são investigadas relações entre forma e função em Natal,
Brasil, e Dakar, Senegal, mediante a análise da configuração espacial das
duas cidades em períodos sucessivos de ocupação de suas malhas viárias ao
longo do século 20. Busca-se compará-las, em perspectiva sincrônica e
diacrônica, e à luz de informações historiográficas sobre relações espaço,
arquitetura e sociedade, possibilitadas pelo trabalho de coleta de
informações em livros, documentos avulsos, artigos, mapas e fotografias.
Acreditamos que a investigação desses processos em cidades fundadas por
nações metropolitanas diferentes (Portugal e França), mas sob uma égide
político-econômica semelhante, aponta possibilidades de produção de
conhecimento sobre nosso legado urbano comum, brasileiro e africano.
379
Natal tem sido objeto de estudos nossos desde os anos 1990, que revelaram
relações entre configuração espacial e diversos fenômenos urbanos,
especialmente a formação e transformação de centralidades – e suas
implicações em termos de uso do solo, valorização imobiliária e
alteração/substituição edilícia. O desafio desta pesquisa foi replicar
procedimentos analíticos empregados no estudo de Natal para o caso Dakar,
examinando a cidade à distância e contando com pouquíssimas fontes,
sobretudo quanto à documentação cartográfica. Relatam-se aqui artifícios
empregados para contornar esses problemas, ações desenvolvidas e achados
obtidos, pontuando-os com alguns daqueles resultantes dos estudos do caso
Natal.
Em 2009 foi construída uma representação linear de Dakar tendo por base a
observação de imagens aéreas disponibilizadas no Google Earth. A
representação linear foi obtida traçando-se sobre a malha viária, o menor
número possível das mais longas retas que representam acessos diretos entre
barreiras, conforme Hillier e Hanson (1984). As interseções dessas retas são
quantificadas por aplicativos específicos em valores expressivos de interrelações axiais, integração ou acessibilidade topológica apresentados em
escala numérica ou cromática (de cores quentes para frias – vermelho,
amarelo, verde, azul – significando maior para menor acessibilidade) – os
chamados mapas axiais.
Em 2011, novas referências cartográficas (ainda que fragmentadas e pouco
claras) foram obtidas por um dos autores deste artigo em viagem ao
Senegal, o que suscitou um processo de revisão e complementação dos
dados. Aproveitou-se para atualizar o mapa axial base para uma nova versão
conforme as imagens aéreas (referentes a 2012) disponibilizadas on line.
380
Figura 17: Comparativo ente mapa axial de Dakar de 2009 e 2012.
A versão 2012 (figura 1) foi definida como base para o desenvolvimento
das representações lineares correspondentes a 1905, 1945, 1964 e 1983 a
partir das fotografias de plantas encontradas em Dakar. Através da
montagem dessas fotos, foi possível subtrair, do mapa base, as vias
inexistentes em cada período pregresso e comparar diacronicamente o mapa
atual e o da época anterior. Em 3 das plantas fotografadas (1905, 1964 e
1983), não constava a área norte da cidade onde está o aeroporto, só
representada na planta de 1945. Buscou-se, então simular possibilidades de
re-estruturação da malha viária como se segue: (1) considerando-se apenas a
área apresentada nas plantas originais; (2) planta de 1905 mais fração norte
representada na planta de 1945 (simulação do que estava por vir); (3)
plantas de 1964 e de 1983 mais fração norte conforme a imagem aérea de
2012 (figura 2).
381
Figura 18: Parte do processo de confecção dos mapas
Todas as representações lineares foram processados, pelo aplicativo
Depthmap (Turner, UCL), em mapas axiais que expressam a hierarquia de
acessibilidade e apontam a formação de centralidades.
Assim como se verificou em Natal, o núcleo integrador, ou conjunto das
vias mais acessiveis de Dakar deslocou-se, continuamente, do sítio original
da cidade em direção aos aeroportos. Em Natal, primeiro para a Ribeira
(centro urbano principal até meados do século 20), depois para a Cidade
Nova, primeira área planejada, hoje um dos subcentros multifuncionais,
reunindo residencias, comercio e serviços. Em Dakar, primeiro para o
Plateau – ainda hoje o centro formal da cidade – e, em seguida para a
Medina (bairro criado para abrigar os nativos os separando da população
branca). Em termos da configuração espacial esse processo pode ser
observado no mapa de 1945, pela presença destacada de um eixo integrador
382
correspondente à artéria que liga o Plateau à região norte da cidade, ainda
pouco ocupada.
Nos mapas axiais de 1964 e 1983, o núcleo integrador continua a deslocarse em direção norte, situação percebida tanto através dos mapas montados
mediante o acréscimo de áreas representadas na planta de 1945 quanto na
imagem de 2012. A instalação de uma base aérea nas proximidades de Natal
durante a segunda guerra, fez deslocar-se o núcleo integrador e depois a
ocupação em sua direção. O processo de reconfiguração de Dakar, com a
definição de um amplo núcleo integrador e o adensamento de ocupação na
região norte, claramente visível no mapa axial e nas imagens aéreas de
2012, reforça nossa hipótese de confluência de processos ancorados na
relação forma-função em Natal e Dakar.
Agradecimentos
CNPq e Propesq pelas bolsas de iniciação científica.
Referências
[1] HILLIER, B. e HANSON, J. The social logic of space. Cambridge
University Press, 1984
[2] TURNER, A. Aplicativo Depthmap, direitos autorais cedidos
livremente pelo University College London
383
Rethinking IST by envisioning Lisbon:
morphological analysis of IST in local and global
urban contexts
Duarte Marques NUNES1; Ana TOMÉ2; Manuel Duarte PINHEIRO3
1
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção
Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa
(+351) 218 418 344, [email protected] (correspondent author)
2
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, ICIST - Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e
Construção
Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisbon, Portugal
(+351) 218 418 345, [email protected]
3
Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior Técnico, Departamento de Engenharia
Civil, Arquitectura e Georrecursos, CEHIDRO - Centro de Estudos de Hidrossistemas
Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisbon, Portugal
(+351) 218 418 541, [email protected]
Keywords: Space Syntax,
Knowledge Clusters
Urban
Morphology,
Urban
Evolution,
Abstract
Over the past two decades, Clusters, as “geographic concentrations of
interconnected companies, specialised suppliers and service providers, firms
in related industries, and associated institutions in particular fields that
compete but also cooperate”[1], have emerged as a favoured urban
development concept. Consequently, Clusters have been developed to foster
local development and regional growth, innovation, and materialise as
potential generating poles of urban regeneration [2]. Within Cluster theory,
location has long been defined as the dominant issue. Moreover, in a society
that reorganised itself around “knowledge”, Knowledge Clusters
(agglomerations of organisations that are production-oriented towards
knowledge as output or input[3], and organized around universities or
research institutions) have been increasingly stressed as strategic agents
within wider urban networks, further highlighting the importance of
location.
384
In this context, this paper focuses on the location dynamics of Knowledge
Clusters, more specifically on the case of the Alameda Campus of Instituto
Superior Técnico. Through the study of the topological importance and
spatial configuration of the Alameda Campus and its urban surroundings,
this paper proposes a morphological interpretation of the site within both
the local (nearby surroundings), municipal (Lisbon’s Municipality - ML)
and regional (Lisbon’s Metropolitan Area - AML) contexts. In order to
interpret the importance of topological spatial configuration of the Alameda
Campus and its urban surroundings, this research uses the theory of Social
Logic of Space (Hillier and Hanson, 1984), and develops a configuracional
analysis, based on Space Syntax and the usage of DepthMap® Software.
Map 1: Axial Map of AML in 2005 (Heiror and Pinelo, 2006)
This investigation is divided into three main sections. In Section I, the
conceptual framework of Knowledge Clusters and the importance of
location within Cluster theory is briefly presented and discussed. Section II
synthetises the morphological evolution of Lisbon, based on maps provided
by Teresa Heitor and João Pinelo[4]. This section focuses on determining the
evolution of the topological centre of Lisbon, while also understanding if
385
the city’s historical centre still coincides with the current topological centre.
Moreover, the determination of the relative location of the Alameda
Campus to the city’s topological centre is also explored. Section III
comprehends the comparison between the axial map of the local
surroundings of the Alameda Campus (local scale) and the axial maps of
ML (municipal scale) and AML (regional scale) to determine
configuracional differences or similarities at different scales.
As a result of this investigation, it is argued that the morphological analysis
of the location of Knowledge Clusters, within the context of their
surroundings can explore the geographical importance of their location.
Moreover, considering the specific case study of this investigation, the
morphological evolution of the ML shows a progressive displacement of the
topological centre towards a triangular area corresponding to the
surroundings of Avenidas Novas, Av. Fontes Pereira de Melo and Duque de
Saldanha Square. The Alameda Campus is now located within the city’s
area of greatest potential for global accessibility. It has gained a greater
potential for global accessibility, given the progressive displacement of the
city’s topological centre. Thus this can justify the importance of such
geographical location, when considering it as a potential node for urban
regeneration.
Acknowledgments
The authors acknowledge the support of Prof. Teresa Heitor and Arch. João
Pinelo, for letting us use the axial maps that trace the morphological
evolution of the city of Lisbon, which were originally elaborated by them.
The authors would also like to acknowledge that this paper is part of the
corresponding author’s PhD research, which is supported by FCT Fundação para a Ciência e a Tecnologia (scholarship reference: SFRH / BD
/ 80445 / 2011).
References
[1] Porter, M. (2000), Locations, clusters, and company strategy. In G. L.
Clark, M. P. Feldman, M. S. Gertler, (Eds.), The Oxford handbook of
economic geography, pp. 253–274, Oxford University Press, Oxford.
[2] Hoeger, K. (2007), “Brandhubs: European Strategies of Corporate
Urbanism”. In Proceedings of the 4th ISUU – International Seminar on
Urbanism and Urbanization: The European Tradition in Urbanism –
and its Future, Delft, 24-27 September, TU Delft Press.
386
[3] Evers, H. (2008), Knowledge hubs and knowledge clusters: Designing
a knowledge architecture for development. ZEF Working Paper Series
No 27, Centre for Development Research, University of Bonn, Bonn.
[4] Heitor, T. and J. Pinelo (2006), Axial Maps of the morphological
evolution of the city of Lisbon (compilation), Instituto Superior
Técnico, Lisbon.
387
A configuração espacial e o uso nos espaços livres
públicos: o caso da Praça Augusto Leite, Natal/RN
Trícia Caroline, SANTANA 1; Erika Raquel, MARQUES 2; Mariana,
QUEIROZ3; Ana Flávia, CASTRO4;
1
Universidade Potiguar (UnP), Univerdade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
Rua Pst. Gabino Brelaz, 1401, Capim Macio, CEP: 59082-010, Brasil.
55-84-88249618, [email protected]
2
Universidade Potiguar (UnP)
Rua Praça Marechal Deodoro, 12, Tirol, CEP: 59014-520, Brasil
55-84-88959109, [email protected]
3
Universidade Potiguar (UnP)
Rua Travessa Coronel Estevam, 63, Dix-Sept Rosado, CEP: 59052-205, Brasil
55-84-99118958, [email protected]
4
Universidade Potiguar (UnP)
Rua Antônio Basílio, 1695, Lagoa Nova, CEP: 59054-605, Brasil
55-84-96649689, [email protected]
Palavras-chave: configuração espacial; vitalidade; espaço livre público;
praça; percepção ambiental.
Resumo
As funções dos espaços livres públicos nas cidades são inúmeras e sua
importância esta atrelada a sua forma e como eles se relacionam com os
demais elementos da malha urbana. Alguns autores falam do declínio do
uso dos espaços livres públicos (Gehl e Gemzøe,2002[1]; Frúgoli, 1995[2];
Gomes, 2002[3]; Sennet ,1988[4]), este artigo tem no cerne de suas
discussões a questão da vitalidade/animação dos espaços livres públicos,
que pode ser discutida ao menos sob dois aspectos, significando a
intensidade da vida social e de suas manifestações (um estado) e também o
ato de animar, de dar vida, (uma ação). O debate em torno dessas duas
possibilidades tem no centro de seus escritos fatores e indicadores que
relacionados dão uma ideia ampla sobre as formas de utilização efetiva dos
espaços livres públicos e se a sua configuração física influencia a presença
ou não de uma vitalidade no local. O uso dos espaços livres públicos nos
remete a noção de presença de pessoas, ignorando inicialmente as
atividades desenvolvidas por eles ou a duração de sua permanência,
entendido também como co-presença, que se manifesta na percepção dos
388
indivíduos de que estão suficientemente próximos de outros para serem
percebidos no que quer que estejam fazendo, incluindo a sua experiência
com os outros, e suficientemente próximos para que essa consciência de
que se está sendo percebido pelo outro seja, ela mesma, perceptível
(Goffman, 1966)[5]. Compreende a relevância da configuração espacial no
uso dos espaços livres público, e leva em conta o ponto de vista dos
usuários, pois compreende que a cidade não é independente dos grupos
sociais que a produzem, que nela vivem e que a transformam Panerai
(1999)[6]. Nesse sentido seu desenvolvimento foi pautado nos princípios da
psicologia ambiental, que considera as relações existentes entre usuários e
ambiente construído, nessa lógica, Ittelson, Proshansky, Rivlin, e Winkel
(1974)[7] falam da existência de um intercâmbio dinâmico entre pessoa e
ambiente. De acordo com Kopec (2006, p.9) [8], a “Psicologia Ambiental
pode ser definida como o estudo das relações simbióticas entre os humanos
e seus ambientes”. Já Castello (2004)[9] considera que as percepções
permitem que as pessoas compreendam o ambiente ao redor, enviando a
informação ao seu nível cognitivo, para a inteligência, já que não se
restringe ao nível sensitivo, chegando inclusive a direcionar
comportamentos em relação ao fenômeno a que está exposta em sua
experiência cotidiana. Ou seja, as pessoas tendem a adotar certas atitudes
em seu comportamento espacial segundo os estímulos ambientais que elas
percebem. Entende-se que o uso desses espaços está relacionado à
percepção espacial dos usuários e esperou-se compreender que
características configuracionais contribuem para o uso dos espaços público
do tipo praça. O debate considera a isnerção da praça em um sistema de
espaços livres, o que na visão de conjunto, D’Agostini e Cunha escreveram
que se trata de uma reunião de elementos em inter-relações tem um
significado. Para os autores, em uma noção de sistema deve haver a
consciência que atribui significados às relações e aos elementos que se
relacionam (2007, p.55)[10]. A Praça Augusto Leite, Natal/RN foi
selecionada para a realização a pesquisa, que como metodologia utilizou
instrumentos da Avaliação Pós-Ocupação-APO, tais como o uso de
entrevistas com os usuários, mapeamentos comportamentais centrados-nolugar (Ittelson, Proshansky, Rivlin, 1970), e Análise Walkthrough. As
análises evidenciaram um espaço com vitalidade razoável variando
principalmente em relação aos horários de uso. Percebeu-se que as
atividades desenvolvidas, são favorecidas especialmente pelas
características do lugar (características de equipamentos e mobiliário urbano
existente), mas também pela configuração de seu entorno, que apresenta
uma ampla variedade de usos e formas. As considerações finais remetem a
389
importância da presença de variadas possibilidades de atividades e funções
do espaço e da importância do entorno na promoção de vitalidade do espaço
público, entendendo a área como parte de um sistema de espaços livres
públicos presentes na cidade.
Referências
[1] Gehl, J; L. Gemzøe (2002), Novos espaços urbanos. Ed. Gustavo Gilli
S.A, Barcelona.
[2] Frúgoli Júnior, H. (1995), São Paulo: espaços públicos e interação
social. Marco zero. São Paulo.
[3] Gomes, P. C. C. (2002), A condição urbana. Ensaios de geopolítica da
cidade. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro.
[4] Sennett, R. (1988), O declínio do homem público – as tiranias da
intimidade. Companhia das Letras. São Paulo. [1ª edição 1974].
[5] Goffman, E. (1966), Behavior in public spaces: Notes on the Social
Organization of Gatherings. Free Press. New York.
[6] Pannerai, P. (1999), Análise Urbana. Editora Universidade de Brasília.
Brasília.
[7] Proshansky, H., L. Rivlin &, G. Winkel (1974), An Introduction to
Environmental Psychology. Holt, Rinehart & Winston. Nova York.
[8] Kopec, D. (2006), Enviromental Psychology for design. Fairchild
Publications Inc. New York.
[9] Castello, L. (2007), A percepção do lugar: repensando o conceito de
lugar em arquitetura-urbanismo. PROPAR/UFRGS, Porto Alegre.
[10] D'agostini, L. R., A. P. P. Cunha (2007). Ambiente. Garamond, Rio de
Janeiro.
390
Optimist Suburbia: A Urbanização da Portela
enquanto paradigma Moderno. Leitura crítica
sobre a configuração urbano-arquitetónica da
periferia norte da cidade de Lisboa
Bruno Macedo FERREIRA
Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), DINÂMIA’CET-IUL
Rua da Senhora das Candeias nº89 – Galegos Santa Maria, 4750-463 Barcelos, Portugal
+351 912109672, [email protected]
Palavras-chave: Área Metropolitana de Lisboa, Especulação Imobiliária,
Fernando Silva, Movimento Moderno, Periferia/Subúrbio
Resumo
“É lá, nas margens da periferia, que devemos observar como as coisas
tomam forma. A cidade contemporânea, aquela que é constituída por essas
periferias, deveria gerar uma espécie de manifesto, uma homenagem
prematura a uma forma de modernidade que, confrontada com as cidades
do passado, talvez parecesse desprovida de qualidades, mas na qual um dia
haveremos de reconhecer ao mesmo tempo vantagens e desvantagens (…).
[Parece-me que] devemo-nos perguntar para que direção apontam as
forças que contribuem para a definição do espaço. São elas direcionadas
para o lado do urbano ou para o seu justo oposto? Elas pedem ordem ou
desordem? Elas convergem para a continuidade ou para a
descontinuidade? Sejam quais forem as respostas, há um movimento e uma
dinâmica que precisamos conhecer, pois são a matéria do projeto”.
(Koolhaas, 1989) [1]
É inegável o crescente de importância que as áreas metropolitanas vão
assumindo nos dias de hoje, daí a necessidade de recuar ao preciso
momento da sua origem – quando o fenómeno é especialmente “realizador”.
O presente artigo pretende apresentar uma investigação que, através do
levantamento de 30 casos de estudo inéditos (Figura 1), procurou
compreender o fenómeno da ocupação habitacional da coroa norte da
periferia de Lisboa (um território urbano que hoje é tangente á CRIL e que
se expande pela estrada marginal que liga Oeiras/Lisboa/Vila Franca de
Xira).
391
Interpela-se a evolução do território construído no subúrbio (arquitetónica e
urbanisticamente) quando, no final da década de 1960, os ideias do
liberalismo, o aparecimento de grandes promotores imobiliários e uma
grande pressão demográfica reformulam o processo de crescimento urbano
e as lógicas de relações metropolitanas – da tradicional construção lote a
lote, pela produção de grandes pacotes urbanos. O fenómeno responde, na
época, à inexistência de oferta habitacional para as classes médias urbanas,
num momento em que a cidade histórica já não dá resposta no que ao
alojamento coletivo diz respeito.
A expansão da cidade histórica para lá dos seus limites formais criou uma
“outra cidade”, mais genérica, que define hoje o território metropolitano.
A construção deste território urbano da Área Metropolitana de Lisboa
(AML) foi o resultado do conflito entre diferentes agentes. Identificamos as
forças que realizaram este fenómeno de crescimento urbano, desde as
públicas, políticas, económico-comerciais, socioculturais, humanas ou
artísticas, sejam elas investidoras ou trabalhadoras. Evidencia-se assim uma
rede de conexões que constituiu a oportunidade para a desmistificação de
um território sobre o qual recai um grande número de ideias generalistas
pré-concebidas e que dificilmente encontram tradução no espaço real.
Primeiramente este processo de crescimento suburbano vai alicerçar-se em
núcleos de povoamentos pré-existentes que progressivamente se viram
cercados de edifícios novos que aquartelavam um grande número de
residentes estranhos a estes lugares – casos de Odivelas, Linda-a-Velha,
Carnaxide, Oeiras, entre outros. Gradualmente o processo vai conduzir ao
aparecimento de verdadeiras cidades novas que surgem no lugar de quintas
outrora agrícolas – Portela, Alto da Barra, Póvoa de Santa Iria, Santo
António dos Cavaleiros, Sassoeiros, Alfragide, Póvoa de Santo Adrião, etc.
[2] O território que no início dos anos 1960 era uma área rural, passa a
urbanizada no arranque dos anos de 1990 e a AML configura a sua forma
atual.
Estes grandes pacotes habitacionais de construção ex-novo encontram na
tabula rasa Moderna e no seu otimismo social um modelo de fácil
operacionalidade. Desenhados por arquitetos formados dentro dos valores
da Modernidade, este facto permite-nos igualmente identificar o momento
em que os arquitetos portugueses foram perdendo capacidade de
intervenção, passando de principais responsáveis pelo desenho do território
(até anos 50) à figura de técnicos que garantiam somente a aprovação de
projetos imobiliários.
Destacamos a figura do arquiteto Fernando Silva e o pragmatismo da sua
obra como elemento-chave para decifrarmos o crescimento suburbano que
392
caracterizou este período. A sua obra mais paradigmática – a Urbanização
da Portela (1965-1979) (Figura 2) – permite-nos traçar um modelo genérico
e uma “imagem arquitetónica” que será constantemente repetido ao longo
do processo de crescimento da AML e que marcam a paisagem periférica
portuguesa [3]. Destacamos o desenho urbano extremamente erudito que é
facilmente reproduzido (e adulterado) ao longo do processo de construção;
uma estrutura urbana centralizada e funcionalmente sectorizada (com
origem nos valores Modernos apresentados na Carta de Atenas); clara
hierarquização viária; volumes edificados puros e independentes do solo
formando torres e blocos; estandardização dos processos construtivos;
marcação horizontal dos pisos; uniformização dos vãos. Relativamente às
tipologias do edificado, identificamos três: a torre habitacional; o bloco
habitacional; o centro comercial [4].
Tentando questionar os velhos conceitos sobre o que entendemos
comummente por Modernidade arquitetónica, apresentamos uma diferente
perspetiva para este território que espera por um interlocutor – a
possibilidade de um "manifesto retroativo". Intui-se que esta será a primeira
condição para refazer uma teoria interpretativa da realidade metropolitana e
avaliar conscientemente o futuro que está reservado a este património.
Será esta a oportunidade para voltarmos ao local o crime!
393
Figura 1: Esquema 30 casos de estudo na periferia norte da cidade de Lisboa.
394
Figura 2: Ortofotomapa da Urbanização da Portela, Loures, 2010.
Referências
[1] Koolhaas, Rem (2008), Introdução à Pesquisa sobre a Cidade
Contemporânea. In Nesbitt, Kate (org.), Uma Nova Agenda para a
Arquitectura, pp358-9, Cosac Naify, São Paulo
[2] Salgueiro, Teresa Barata (1992), A cidade em Portugal: Uma
Geografia Urbana, Edições Afrontamento, Porto
[3] COELHO, Hugo Morais (2010), Portela – um modelo na difusão da
periferia: estudo do desenvolvimento da Urbanização da Portela da
autoria do arquiteto Fernando Silva, Dissertação (Mestrado Integrado
em Arquitetura), DAU ISCTE-IUL, Lisboa
395
[4] Ferreira, Bruno Macedo (2010), [in]formar a Cidade Contemporânea:
a criação de uma imagem/modelo de periferia com a obra do arquiteto
Fernando Silva, Dissertação (Mestrado Integrado em Arquitetura),
DAU ISCTE- IUL, Lisboa
396
Transição: (entre) os sentidos da forma-conteúdo :
Territorialidades e Temporalidades em São João
Del Rei
Adriana G. NASCIMENTO1; Marcelo José SILVA2
1
Maria Helena Gomes do Nascimento e Olímpio Roberto Nascimento
Rua Maestro Batista Lopes, 147 – São João Del Rei/MG, 36300-176, Brasil
+55 32 3371.8438, [email protected]
2
Ermelinda Auxiliadora da Silva e Silviano Antônio da Silva
Avenida Josué de Queiróz, 32, Ap. 405 – São João del Rei/MG. 36305-146, Brasil
+ 55 32 8815.8997, [email protected]
Palavras-chave: transição, forma-conteúdo, territorialidade, temporalidade,
urbano.
Resumo
Este artigo procura desenvolver algumas considerações acerca do processo
de transformação dos modos de ocupação urbana na cidade de São João Del
Rei, em Minas Gerais/ Brasil, desde sua implantação original no século
XVIII (vide Mapa 1), até o início do século XXI.
Ao mapearmos as mudanças significativas da transição ocorrida neste
intervalo de tempo histórico, num recorte espacial que atravessa diferentes
períodos de tempo procuramos demonstrar algumas análises baseadas em
dados e estudos sobre as formas do desenho urbano aliadas a conteúdos
geográficos e sentidos que, esquecidos e/ou ocultados na atualidade, vem
comprometendo os aspectos qualitativos e quantitativos do urbano.
Num primeiro momento, apresentamos a cidade em sua constituição, na
relação Brasil-Portugal, tratando da forma de ocupação do território e
observando uma consideração relevante : a ausência referencial de
cartografia histórica sobre a cidade. Neste sentido, apresentamos a área
central, conhecida como cidade antiga, atualmente preservada a partir de
considerações que nem sempre levam em conta a forma urbana, em especial
no que deveria tanger a noção de patrimônio cultural.
O segundo momento será dedicado à análise de ocupação do território, na
relação entre o centro e o seu entorno próximo (vide Mapa 2), e procura
retratar o modo como ocorre a expansão da cidade em meados século XX e
início do XXI, a partir de práticas e processos recorrentes na cidade. Trata
portanto das relações de temporalidade baseadas no desenho urbano e de
397
perdas estruturais e estruturantes, em especial referidas ao espaço público e
às áreas verdes e áreas livres. Em se tratando de São João Del Rei, a noção
de centralidade faz sentido na medida em que estamos em pleno período
crítico e de transição do poder municipal e de estruturação urbana, no qual a
cidade e as relações com seu entorno próximo se colocam como centrais,
seja pelo papel condensador de atribuições que atendem demanda regional,
seja pelas funções e sentidos que mantém e retém em termos infraestruturais, comerciais e simbólicos, ainda que precários ou provisórios.
Como terceiro momento, centramos nossos esforços numa tentativa de
análise teórica da forma em relação aos conteúdos em face ao que se supõe
numa sociedade dita urbana. Nesse sentido apontamos a ausência de leis de
uso e ocupação do solo, e ainda a ausência de instrumentos de organização
como o zoneamento, a despeito do Plano Diretor participativo publicado em
2006 e não colocado em prática. Estas ausências favorecem a dissimulação
na cidade de São João Del Rei e comprometem qualitativa e
quantitativamente a produção do espaço, assim como a própria forma
urbana, não apenas em seu sentido paisagístico, e imediatamente visível,
mas sobretudo naquilo que diz do invisível e que está subjacente, nos
subterrâneos das aparências.
Encerramos o artigo com alguns apontamentos e considerações analíticopropositivas que, de algum modo, possam contribuir para o debate sobre
práticas e procedimentos no e para o Urbanismo e o Planejamento Urbano e
Regional.
398
Mapa 1: Setorização tempo-espacial da área central de São João Del Rei sobre
imagem de Sérgio J. F. S. Lima publicada originalmente na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico desta mesma cidade, em 1995
e modificada por Jonas A. M. de Carvalho em 2013 .
399
Mapa 2: Mapa de figura e fundo mostrando a região central de São João Del Rei e
arredores. Desenhado com base na ortofoto da cidade, do ano de 2005 fornecida pela
Prefeitura Municipal, confeccionado por Marcelo J. Silva.
Agradecimentos
Reconhecemos a colaboração dos envolvidos na unidade curricular
Transição: (entre) escalas, tipologias, interior-exterior, em especial aos
alunos Jonas Augusto Martins de Carvalho e Marcelo José Silva, do Curso
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de São João Del Rei, à
Prefeitura Municipal, ao Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio
Cultural, ao Museu Histórico e Regional desta mesma cidade, além do
arquiteto Benedito Fernando Moreira, parceiro intelectual.
400
Referências
[1] Lefebvre, H. (2008 [1970]) A Revolução Urbana. Níveis e
Dimensões.
[2] Lefebvre, H. (2008 [1967]) O Direito à Cidade. Centauro, São Paulo.
[3] Lima, S. J. F. S. (1995), Arquitetura São Joanense do século XVIII ao
XX. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei,
Vol.VIII, Gráfica da APAE, São João Del Rei.
[4] Nascimento, A. G., (2011), Lacunas e inter-relações: entre o Direito e
o Dever do Patrimônio Cultural, Congresso Luso-Brasileiro de Direito
ao Patrimônio Cultural, UFOP - Minas Gerais, Ouro Preto.
[5] Nascimento, A. G., (2009) (arte) e (cidade): Ação Cultural e
Intervenção Efêmera. Tese de Doutorado, IPPUR, Rio de Janeiro.
[6] Nascimento, A.G., (2000), Degradação Urbana: questionamentos
sobre sua permanência e/ou transitoriedade. O caso da Zona Portuária
do Rio de Janeiro, Dissertação de Mestrado, PROURB, Rio de Janeiro.
[7] Rossi, A. (1996). A Arquitetura da Cidade. Martins Fontes, São Paulo.
[8] VIEGAS, A. (1942). Notícia de São João Del Rei. Imprensa Oficial de
Minas Gerais, Belo Horizonte, pp.14-18.
401
Bairros sociais: entre a segregação e a
fragmentação urbana
Marina Gaboleiro CARREIRAS
Centro de Estudos Geográficos – Universidade de Lisboa,
Edifício da Faculdade de Letras, Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa, Portugal
+351 962702255, [email protected]
Palavras-chave: Bairros de habitação social, Segregação, Fragmentação
socio-espacial, Segregação socio-espacial, Espaço urbano, Área
Metropolitana de Lisboa.
Resumo
Os bairros sociais, pelo seu design monótono, forma urbana compacta,
localização periférica relativa aos centros urbanos e seu carácter pontual
face à malha urbana envolvente são frequentemente apontados como
exemplo de segregação e de fragmentação urbana. Note-se que às
desvantagens territoriais anotadas somam-se ainda problemas, como
concentração de pobreza e de situações sociais desfavoráveis geradoras de
conflitos sociais e/ou de estigmatização social. Por assimilarem um
conjunto de aspectos negativos, espaciais e sociais, os bairros de habitação
social são ainda, um exemplo recorrente da separação social presente no
espaço urbano, constituindo um testemunho da fragmentação socio-espacial
como teoria explicativa da actual forma da metrópole.
Os grandes bairros sociais tiverem como antecedentes bairros operários
construídos ainda no século XIX. Os princípios higienistas foram
determinantes no combate às condições deploráveis de residência dos
trabalhadores das indústrias através de operações singulares, que não
produziram impactos quantitativos na bolsa de mercado residencial. Quando
a necessidade de investimento no parque habitacional se tornou
incontornável pela escala dos problemas habitacionais e receio de
instabilidade social, surgiram os primeiros grandes bairros habitacionais,
com uma forte intervenção estatal, até então bastante limitada. A
urbanização e construção de alojamentos foram progressivamente
intensificadas. Seguindo a lógica da produção em série a dimensão dos
bairros foi crescendo em área e em altura. A implantação dos bairros como
expansão urbana foi substituída pela ideia de cidade satélite gerando bairros
urbanisticamente independentes da envolvente. Gradualmente as
402
intervenções urbanas tornaram-se pontuais, pensadas a um nível local,
legitimadas, no caso do bairros sociais, também pelos problemas associados
à concentração de população socialmente mais vulnerável.
A imagem dos bairros de promoção pública como espaço urbano
desvalorizado tende a repetir-se, de diversos modos e com diferentes
intensidades perante várias formas de organização e de apropriação do
espaço.
No contexto português a pouca qualidade urbana do bairro de habitação
pública é aligeirada à luz do panorama do ordenamento do território,
abundante em loteamentos pontuais dispersos pelo território, delineados
tendo como prioridade a urbanização fácil e a rápida e lucrativa venda de
imobiliário. Neste sentido os conjuntos urbanos destinados a bairros sociais
constituem um reflexo do ordenamento do território português. No entanto
por estarem associados directamente a um investimento público e a
objectivos sociais específicos e não obstante o caracter social subjacente à
política de ordenamento do território e de urbanismo parece ainda mais
gravosa a periferização e a segregação dos bairros destinados a populações
com menores recursos assim como o reduzido investimento na qualidade
urbana dos mesmos - ainda que a aquisição de terrenos localizados em
situação privilegiada seja complexa e onerosa, que os municípios tenham
poucos recursos, e perante a necessária celeridade nos processos de
realojamento.
Pretende-se reflectir sobre a condição urbana dos bairros sociais de grande
dimensão e o seu entendimento como espaços segregados e/ou enclaves.
Tendo efectivamente sido construídos em situação de diferenciação urbana
e desfasamento morfológico os bairros mantiveram-se assim? Ou num
contexto de compactação e/ou de expansão urbana assistiu-se a alterações
significativas na relação urbana dos bairros com a malha urbana envolvente,
minimizando-se a percepção das diferenças urbanas?
O presente artigo estrutura-se em três pontos complementares. Numa
primeira fase, tendo presentes as mudanças sociais, económicas, ocorridas
na sociedade nas últimas décadas contextualiza-se a mutação da cidade
moderna na cidade contemporânea - fragmentada. Perante um
enquadramento das mudanças urbanas, ocorridas entre meados do séc XX e
e a actualidade, com especial destaque para a morfologia urbana, reflecte-se
sobre o crescimento urbano da Área Metropolitana de Lisboa e a construção
dos bairros de promoção pública.
Subsequentemente elabora-se uma análise empírica, exploratória, dos
padrões na localização dos bairros sociais na AML. Sendo a segregação e a
fragmentação urbana caracterizadas de forma distinta dependendo da escala
403
de análise do território, avalia-se a uma escala macro a localização dos
bairros e sua relação com os limites administrativos e perímetros urbanos.
São ainda dados complementares de análise: os programas de promoção
habitacional que estiveram presentes na génese do edificado, a evolução da
distribuição populacional na área metropolitana de Lisboa e os níveis de
integração urbana dos bairros.
Finalmente enumeram-se algumas considerações finais destacando-se a
dificuldade de valorização urbanística do bairro pela sua localização
periférica mas essencialmente pelo seu carácter de enclave. Sendo possível
identificar padrões de localização dos bairros alerta-se para a possibilidade
de construção de estratégias de actuação, evidentemente integradas, que
visem especificamente estas realidades, especialmente no actual contexto de
valorização das intervenções urbanas pontuais e locais.
Referências
[1] Antrop, M. (2004), Landscape change and the urbanization process in
Europe. In Landscape and Urban Planning, 67, pp. 9-26
[2] Hall, S. Murie, A. Knorr-Siedow, T. (2005), Large housing estates in
their historical context. In Van Kempen, R. Dekker, K. Hall, S. Tosics,
I. (Eds.), Restruturing Large Housing Estates in Europe, pp. 63-83,
Bristol: The policy press
[3] Lamas, J. M. R. G. (2011), Morfologia urbana e desenho da cidade (6ª
ed.). Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian
[4] Mendes, L. (2008), Urbanização clandestina e fragmentação socioespacial urbana contemporânea: o Bairro da Cova da Moura na
periferia de Lisboa. In Revista da Faculdade de Letras – Geografia –
Universidade do Porto, II Série, Volume II, pp. 57-82
[5] Portas, N. Domingues, Á. Cabral, J. (2007), Políticas urbanas:
Tendências, estratégias e oportunidades (2ª ed.), Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian
[6] Salgueiro, T. B. (1998), Cidade pósmoderna. Espaço fragmentado. In
Inforgeo, 12-13, pp. 225-235
[7] Salgueiro, T. B. (2000), Fragmentação e exclusão nas metrópoles. In
Sociedade e Território, 30, pp. 16-26
[8] União Europeia (2011), Cidades de amanha: Desafios, visões e
perspectivas, Comissão Europeia - Direcção geral da política regional,
Luxemburgo
404
Cais do Valongo, estetização de uma memória
Flavia OLIVEIRA
Doutoranda em Design pelo departamento de Artes & Letras, Puc-Rio. Professora Assistente
do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Puc-Rio.
Rua Paissandu, 239/ 201, Rio de Janeiro-RJ, 22210080, Brasil
5521 25532817, [email protected]
Palavras-chave: Crítica, Ruínas, Gentrificação, Moradia.
Resumo
Em seu livro Rua de Mão Única, Benjamin efetua uma operação poética de
montagem literária entre títulos e fragmentos de textos. Daí surge o conceito
de “imagem dialética”, ferramenta crítica, posteriormente explorada no livro
inacabado das Passagens parisienses. As imagens dialéticas são definidas
por seu índice histórico que as remete à atualidade1, estabelecendo uma
dialética em suspensão que nunca encontra sua síntese, mas que pretende
manter em tensão permanente seus polos opostos.
Em um destes fragmentos Benjamin dá o título de Souterrain para falar do
“ritual sob o qual foi edificada a casa de nossa vida.”2 Quando revolvemolos nos deparamos com coisas “sacrificadas sob fórmulas mágicas”, um
“apavorante gabinete de raridades.” Nossas cidades também são feitas
dessas várias camadas de esquecimento situadas sob nossos pés que teimam
em surgir na dinâmica de transformação do espaço urbano.
No Rio de Janeiro, as recentes obras de escavação para a reestruturação e
revitalização da região portuária, denominado “Porto Maravilha”,
trouxeram à tona vários problemas como a questão sobre o direito à
moradia, habitações sociais, gentrificação e também vestígios históricos
escondidos sob o cimento. O projeto, consórcio de iniciativa públicoprivado, ligado aos dois megaeventos globais, copa 2014 e olimpíadas
2016, pretende transformar a área do porto em um polo cultural, de lazer e
turismo, à exemplo das iniciativas emblemáticas realizadas em outras
capitais como Buenos Aires, Barcelona e Baltimore.
Revolvendo o solo da região, traços físicos de nossa colonização Portuguesa
foram revelados. O mais impressionante deles é o Cais do Valongo, situado
na esquina das ruas Barão de Teffé e Sacadura Cabral.
405
Figura 1: Cais do Valongo, Rio de Janeiro, 2012.
Construído em 1811, o Cais do Valongo é resultado das muitas
transformações ocorridas no espaço urbano com a chegada da Corte
portuguesa no Brasil em 1808. Com a expansão das atividades portuárias da
cidade, iniciou-se um processo de setorização espacial que ao mesmo tempo
concentrou na região do Valongo o comércio negreiro, retirou da rua Direita
uma atividade não condizente com às atribuições da principal artéria
comercial da cidade. Próximo ao cais, reforçando o caráter de maior centro
distribuidor e controlador de mão-de-obra cativa de todo o país, construi-se
o trapiche do Valongo, local de depósito e negociação de escravos. Este
entreposto aparece em uma das gravuras da obra magna do pintor oficial da
corte, o francês Jean Baptiste Debret, Voyage Pittoresque et historique do
Brésil.
Ao desembarcar no Brasil em 1816, Debret encontra um admirável mundo
novo, perdido em um continente isolado. O encantamento com as ruas,
proporcionado pela palheta viva de cores e tipos, irá fazer, aos poucos, com
que abandone o academicismo transmitido por seu professor, Jacques-Louis
406
David (1748-1825). Enquanto suas pinturas oficiais conservam o estilo
neoclássico, desenvolve uma linguagem própria através do minucioso
estudo sobre o comportamento dos habitantes em suas casas, na rua, no
comércio, através das centenas de figuras trabalhadas em separado que irão
povoar as paisagens de suas telas elaboradas a posteriori.
Na tela, Mercado de escravos da Rua do Valongo, podemos perceber este
método ao observar a construção de seus personagens.
Figura 2: Aquarela sobre papel de Debret. Mercado de escravos na Rua do Valongo,
1816-1828.
Nesta autêntica sala de venda onde “são depositados os escravos chegados
da costa africana”3, Debret posiciona à direita da tela, na parte mais
iluminada, a figura do cigano, “verdadeiros traficantes de carne humana”
contrasta com os negros. Representado como uma figura desleixada e gorda
sentada confortavelmente em uma cadeira enorme também assume uma
posição defensiva com os braços cruzados ao comercializar uma criança
negra. Em contraposição, na maioria da superfície tela, mergulhados na
sombra, dois grupos de escravos, cuja diferença revela-se nas cores distintas
do tecido que envolve seus corpos magros, aguardam tranquilamente seus
destinos. No centro, crianças sentadas em roda trazem um sopro de vida
instaurando uma certa dinâmica ao imaginarmos do que brincam.
407
Do entreposto, resta-nos apenas a imagem de Debret, mas as ruínas do cais
são atualmente o ponto-central do chamado Circuito Histórico e
Arqueológico da Celebração da Herança Africana, um roteiro a ser feito a
pé, que inclui a Pedra do Sal, o Cemitério dos Pretos Novos4, os Jardins
Suspensos do Valongo e o Largo do Depósito como podemos ver no mapa
da placa informativa feito pela prefeitura. Em nenhum outro lugar da
cidade, a evidência da opressão de nosso passado escravocrata é tão visível
e tão pública. O mar já não molha aquelas pedras que secas parecem ter se
limpado do limo do passado.
Este trabalho tem como objetivo pensar alternativas à banalização e a
despotencialização desta memória amarga revelada em nossas ruínas
portuguesas feitas por uma cartografia burocrática que pretende transformar
um episódio triste de nossa história em cenários estéreis em bens culturais a
agregarem valor afirmarem o processo de especulação imobiliária e
gentrificação que parece se afirmar na implementação pouco transparente
do “Porto Maravilha”. Que o ato de revolver a terra, se transforme em ato
crítico para se pensar a ocupação dessa área a partir de conceitos como
diversidade e heterogeneidade, e não o aplainamento de nossas camadas que
nos levam novamente ao estágio do esquecimento. Como nos ensina
Benjamin, devemos manter os polos em tensão permanente.
Referências
[1] Agamben, G. (2012). Ninfas. Hedra, (coleção Bienal), São Paulo, p.
39.
[2] Benjamin, W. (1995). Rua de mão única. Obras Escolhidas II. 5.ed.
Brasiliense, São Paulo, p. 12
[3] Debret, J. B., In Bandeira, J., P. Corrêa do Lago (2007). Debret e o
Brasil, obra completa 1816-1831, Capivara Editora, Rio de Janeiro. p.
184.
[4] Pereira, J. C. M. da Silva (2007). À flor da terra : o cemitério dos
pretos novos no Rio de Janeiro. Garamond : IPHAN, Rio de Janeiro.
408
O Programa das Casas Económicas: Morfologia e
confronto de modelos
Maria Amélia CABRITA
ISCTE-IUL Instituto Universitário de Lisboa
Av. das Forças Armadas 1649-026 Lisboa, Portugal,
Telefone/fax: 00 351 217903060, [email protected]
Palavras-chave: Estado Novo, habitação, identidade, modelos, morfologia
Resumo
A vigência do Estado Novo é marcada pelo esforço de definição e
afirmação de uma Identidade Nacional, cujos contornos passam pela
arquitetura, como forma visível de poder, através do exercício da
monumentalidade e também envolvendo a busca de um elenco de
caraterísticas, ao serviço de sínteses, adaptadas a objetivos e que pudessem
transmitir uma ideia forte, uma marca, um símbolo (Becker, 1998).
Estruturou-se, centrada no SPN/SNI e na iniciativa de António Ferro, a
construção da ideia de um país inteiramente português, se possível sem
mácula— um país ideal (Anderson, 2005). Esperava-se talvez que, apesar
do analfabetismo, todos os setores nacionais pudessem ser modelados
através da cultura, do acerto das mentalidades pelo diapasão do regime. As
iniciativas do SNI, nomeadamente o concurso da aldeia mais portuguesa, a
inclusão da arte popular nas comemorações, o Verde Gaio e outras
manifestações (Branco, 2010), mostram a intenção de trabalhar a cultura
popular, instrumentalizando-a embora em função de objetivos políticos.
É num contexto histórico e cultural que vamos encontrar o percurso
atribulado da ideia de casa portuguesa, podendo constatar-se (i) que se trata
de uma ideia adotada pela política do Estado Novo, herdada de finais do
século XIX (Leal, 2000), na recorrente busca do caráter identitário, ainda
que variassem as razões; (ii) que se prolonga até à década de 1940 e envolve
diferentes protagonismos, dos quais se destacam os etnógrafos e o arquiteto
Raul Lino, desempenhando papéis identificados pelos respetivos escritos
(Leal, 2000; Lino, 1933).
Tendo presente que o desejo de fixação de um modelo de arquitetura
portuguesa foi quase sempre contrariada pelos intervenientes particulares e
oficiais (Leal, 2000), mas que ao mesmo tempo havia um processo de
cristalização à volta do chamado “Português Suave” (Fernandes, 2003),
409
podemos ensaiar duas grandes etapas do processo associado a este tema:
antes e depois de 1945/47, datas em que, por um lado, Fernando Távora
verbera os preconceitos instalados na arquitetura, no texto O Problema da
Casa Portuguesa, preconizando um conhecimento da realidade, mormente
as lições da casa popular, “pois ela é a mais funcional e a menos
fantasiosa”, estudando “os modos como os materiais se empregaram” e por
outro lado, a partir de Lisboa, Keil do Amaral (1947) lança o repto Uma
Iniciativa Necessária (parafraseando em parte o título do artigo
Documentação Necessária, de Lúcio Costa,1938), chamando também a
atenção para as virtualidades e lições contidas na arquitetura regional e para
o interesse em lançar um Inquérito.
Sem simplificar, nem esquecer outros contributos importantes—
nomeadamente, da Geografia Humana, com Orlando Ribeiro (1939; 1945);
as pesquisas da Etnografia e Antropologia, bem como os Inquéritos à
Habitação Rural, dos engenheiros agrónomos, de 1943 e 1947— julgamos
marcar a segunda etapa a realização do 1º Congresso de Arquitetura (1948)
e, em 1955, o decreto da realização do Inquérito à Arquitetura Regional.
São estes inquéritos, bem como os trabalhos de Veiga de Oliveira (1992)
que João Leal (2000) considera constituírem epílogo da questão da casa
portuguesa.
Mas se, acompanhando alguma mudança de estratégia do regime, as
conclusões, tanto do Congresso como do Inquérito, viriam a ter alguns
reflexos na arquitetura, no urbanismo e no ensino no país, as realidades não
seguem um calendário rígido e, por muito tempo ainda, o gosto dominante
manteve-se e ciclicamente, parece voltar à casa à antiga portuguesa, como
uma persistência da memória.
Consideremos, a par desta reflexão, um componente importante da
iniciativa do Estado Novo: os programas de habitação, sobretudo o das
Casas Económicas (Baptista, 1999). Ideológicamente, também estes
projetos estavam imbuídos do espírito da casa portuguesa; a par do objetivo
da resolução do problema habitacional, mormente em Lisboa e Porto (Gros,
1982). Pretendia-se que os novos bairros proporcionassem modelos de vida
familiar, promovendo algumas relações de vizinhança, mas definindo
parâmetros urbanísticos e tipológicos que podem ser o reflexo quantitativo
daqueles objetivos, tendo como cenário a casa e o viver rurais.
Pretende-se, com esta pesquisa, dar conta das conclusões da análise tipomorfológica de alguns bairros de Lisboa significativos da 1ª fase, Alvito,
Caselas, Alto da Serafina e Alto da Ajuda, com projetos da autoria ou com a
intervenção de Paulino Montez (1897-1988) e Raul Lino (1879-1974)
(Silva, 1987). O primeiro arquiteto assumiu alguns Planos de Urbanização,
410
foi vereador da CML, professor de Urbanologia e diretor da ESBAL e Raul
Lino é um protagonista da casa portuguesa.
Pela análise tipo-morfológica, tendo como elementos quantificáveis, a
estrutura viária, o quarteirão, o lote e a construção (Moudon, 1994),
procura-se determinar que caraterísticas morfológicas poderão
corresponder, por um lado, a modelos importados modernos divulgados à
época para os estudos urbanos e por outro, a relação existente com um
possível modelo de aldeia (a mais portuguesa) e com os tipos de habitação
rural. Assumidos e vividos, desde o início, como entidades suburbanas,
longe de tudo e sem transportes, como podem ser considerados em termos
de síntese entre o rural e o urbano?
Referências
[1] Amaral, K. F. (1947) Uma Iniciativa Necessária. Arquitetura Ano
XX, nº 14
[2] Anderson, B. (2005) Comunidades Imaginadas: Reflexões Sobre a
Origem e a Expansão do Nacionalismo (Edições 70, Lisboa)
[3] Associação dos Arquitectos Portugueses (1980) Arquitectura
Popular em Portugal (AAP, Lisboa)
[4] Becker, A., Tostões, A., Wang, W. (Org.) (1998)
ARQUITECTURA DO SEC. XX – PORTUGAL (CCB, Lisboa)
[5] Baptista, L. V. (1999) Cidade e Habitação Social (Celta Editora,
Oeiras) Branco, J.F. (2010) Ascenção e queda de uma cultura
popular. Revista Anthropológicas, ano 14, vol.21(1): 13-38
[6] Fernandes, J.M. (2003) Português Suave. Arquiteturas do Estado
Novo (IPAAR, Lisboa)
[7] Gros, M. C. (1994) ‘Pequena’ História do Alojamento Social em
Portugal, Sociedade e Território 20, 80-90.
[8] Leal, J. (2000) Etnografias Portuguesas (1870-1970): Cultura
Popular e Identidade Nacional (Publicações D. Quixote, Lisboa)
[9] Lino, R. (1933) Casas portuguesas: alguns apontamentos sobre o
arquitetar das casas simples (Valentim de Carvalho, Lisboa)
[10] Montez, P. (1977) Estudos de Urbanismo em Portugal (CML, Lisboa)
[11] Moudon, A. V. (1994) Getting to know the built landscape:
typomorphology, in Franck, K. A. and Schneekloth, L. H. (eds.)
Ordering Space: types in architecture and design (Van Nostrand
Reinhold, New York), 289-311
[12] Oliveira, E. V.; Galhano, F. (1992) Arquitetura tradicional
Portuguesa (Dom Quixote, Lisboa)
[13] Ribeiro, O. (1998) Portugal o Mediterrâneo e o Atlântico (Livraria Sá
411
da Costa, Lisboa) 1ª ed. 1945
[14] Ribeiro, O. (1939) Inquérito do Habitat Rural (Instituto para a Alta
Cultura, Coimbra)
[15] Silva, C. N. (1987) Planeamento Municipal e a Organização do
Espaço em Lisboa 1926-1974 (Centro de Estudos Geográficos
Universidade de Lisboa) Távora, F. (1947) O Problema da Casa
Portuguesa. Cadernos de Arquitetura, p. 11-13
412
Novas perspectivas para a pegada de carbono:
Cálculo de emissão veicular de discentes de uma
Instituição de Ensino Superior
Wesley Aparecido SALTARELLI1; Analu Egydio dos SANTOS1;
Anderson MANZOLI1
1
UNISEB Centro Universitário
Rua Abraão Issa Halack, 980, Ribeirânia, Ribeirão Preto, SP, Brasil CEP 14096-160 /
Telefone +55 16 3603 9998 ([email protected])
Palavras-chave: pegada de carbono, inventário, emissão veicular
Resumo
O desenvolvimento econômico de um país associado ao crescimento da
urbanização aumenta a necessidade de transporte das pessoas e bens nas
áreas urbanas. Em termos gerais, pode-se afirmar que nos grandes centros
populacionais do país, segundo o IPCC (Intergovernmental Panel on
Climate Change), o CO2 emitido por veículos automotores é responsável
por 97% das emissões totais de GEE.
Segundo a Organização Mundial da Saúde o dióxido de carbono (CO2) está
associado com graves problemas de saúde pública, além dos ambientais,
trazendo diversos prejuízos à qualidade de vida da população.
Um inventário de emissões de gases poluentes pode ser usado para avaliar o
índice da qualidade do ar de uma região e suas relações com os seus padrões
de qualidade; avaliar a efetividade dos programas de controle de poluição
do ar e servir de base para a implementação de mudanças necessárias. Um
inventário de emissões serve, portanto, para o estabelecimento e efetividade
das políticas públicas relacionadas. O inventário de emissões é a primeira
etapa para a implantação de um sistema de gestão de emissões, sendo um
processo de constante evolução e de longo prazo.
Segundo YU [1], os inventários de emissões de gases poluentes refletem as
três dimensões da sustentabilidade:
a) Componente econômico: motivado pelo mercado de carbono;
b) Componente social: dirigido para as comunidades locais, e;
c) Componente ecológico: reflorestamento ou conservação florestal.
413
Neste sentido, o presente trabalho tem como proposta estimar a emissão de
CO2 emitido por veículos automotores, no trajeto realizado pelos alunos do
Centro Universitário UNISEB no percurso de sua residência até a
instituição, durante o período de um ano.
A metodologia adotada no projeto traz uma inovação para o cálculo destas
emissões, pois utiliza diferentes fatores de correção de acordo com a
quilometragem média percorrida pelo veículo [2]. Esta diferenciação se
deve ao fato de que a emissão de poluentes também está diretamente
associada à temperatura do motor no momento da combustão.
O método top-down, aconselhado pelo Ministério de Minas e Energia,
utilizado neste trabalho, com algumas modificações, foi elaborado por
Alvares e Linke [3], sob o título “Metodologia Simplificada para Cálculo
das Emissões de Gases de Efeito Estufa de Frotas de Veículos no Brasil”. O
cálculo é dividido em três etapas, sendo elas o cálculo do consumo de
energia, do conteúdo de carbono e das emissões reais de dióxido de carbono
(CO2).
O trabalho encontra-se na fase de inventário do número de alunos
matriculados regularmente nos cursos presenciais do ano de 2012 (dados
cadastrais cedidos pela secretaria sem a identificação dos discentes), forma
de deslocamento até a instituição de ensino superior (amostragem através de
questionário) e cálculo da distância média percorrida durante o período
letivo (calculado a partir de SIG). A perspectiva futura é, após os cálculos
de emissão, compensar as emissões de dióxido de carbono (CO2) por meio
do plantio de árvores, as quais removem o CO2 da atmosfera. Neste sentido,
será realizado o cálculo da área necessária para a compensação dessas
emissões por meio de plantio de árvores em áreas degradadas na bacia
hidrográfica de Ribeirão Preto – SP , recuperando a biodiversidade do
ecossistema regional, neutralizando as emissões de carbono e estimulando a
aplicação desta ferramenta de maneira contínua, induzindo ao uso mais
sustentável dos recursos locais.
Agradecimentos
À UNISEB- Centro Universitário pelo apoio institucional e pela
disponibilidade dos dados cadastrais dos alunos. Ao Comitê Organizador do
PNUM 2013 pela oportunidade de apresentar este trabalho de grande
importância para os estudos do ambiente urbano.
414
Referências
[1] Yu, C. M. Sequestro de carbono no Brasil: dimensões políticas,
socioeconômicas e ecológicas. Annablume, São Paulo. 1ª Ed. 2004.
[2] Manzoli, A. Análise das Emissões Veiculares em Trajetos
Urbanos Curtos com Localização por GPS. 2009. Tese (Doutorado em
Engenharia Civil) Escola de Engenharia de São Carlos da
Universidade de São Paulo. São Carlos.
[3] Alvares, O. M.; Linke, R. R. A. Metodologia Simplificada de
Cálculo das Emissões de Gases do Efeito Estufa de Frotas de
Veículos no Brasil. Sinal de Trânsito, São Paulo, 2002.
415
Ocupação de Vazios e Forma Urbana
Teresa Madeira da SILVA1 Marianna MONTE2
1
ISCTE-IUL, DINÂMIA-CET
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
Tel: 351 217903445. E-mail : [email protected]
2
ISCTE-IUL, DINÂMIA-CET
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
Tel: 351 217903445.
Palavras-chave: entre usos, vazios urbanos, morfologia urbana, hortas
urbanas, comércio informal.
Resumo
É aceite que, as cidades atuais sendo entidades em aberto e tendo um
desenvolvimento muitas vezes imprevisível, desenvolvem-se num contexto
de incerteza onde o planeamento tradicional, previsível, programático e
sequencial é pouco realista. Uma das consequências desse tipo de
desenvolvimento é, em muitas cidades, a existência de espaços urbanos
vazios, delimitados e abandonados comumente designados por vazios
urbanos. Estes espaços, situados normalmente em zonas centrais das
cidades ou nas suas periferias, encontram-se em terrenos expectantes muitas
vezes em situações priviligiadas: bem localizados e de dimensões
generosas. A estes aspectos positivos contrapõem-se, outros, como o seu
estado de degradação, assim como a insegurança que os caracteriza. Estas
circunstâncias, se por um lado, criam lugares pouco aprazíveis, por outro,
transformam-nos em promissoras oportunidades de ocupação temporárias.
Esta apresentação tem como objectivo principal mostrar a relação que existe
entre diferentes tipologias de vazios urbanos, característicos das cidades
contemporâneas portuguesas, e as ocupações temporárias que neles
ocorrem. Sendo estes espaços propícios a utilizações temporárias ou
espontâneas verificamos que existe uma relação entre os diferentes usos ou
ocupações e a forma urbana onde os mesmos ocorrem. Denominamos por
ocupações temporárias ou entre usos, as atividades que são implementadas
em espaços urbanos expectantes, seja por iniciativas planeadas (dentro de
processos de urbanização, requalificação ou revitalização urbana), seja por
dinâmicas informais (sem autorização legal). Os entre usos são de carácter
temporário, ou seja, geram um tipo de ocupação intermédia entre uma
416
situação de falta de usos ou abandono e a implementação de um uso futuro
com um caracter mais definitivo.
Tomaremos como casos de estudos dois tipos de ocupações temporárias: as
hortas urbanas de génese ilegal situadas nas zonas sobrantes ou intersticiais
junto a infra-estruturas de circulação, (vazios infra-estruturais na
terminologia avançada por Cristina Cavaco) e o comércio de rua informal
em vazios intersticiais, situados onde há maior tráfego pedonal.
A partir destas dois tipos de usos e tendo como referência casos, situados
nas cidades de Lisboa e Rio de Janeiro, verificamos que existem um
conjunto de características morfológicas que se repetem em determinados
vazios consoante o uso. Concluímos igualmente, que a localização e a
forma urbana são fatores decisivos para a ocorrência de tais usos em
determinadas áreas, mas fatores sociais, económicos e políticos locais
também são determinantes para sua implementação e desenvolvimento.
Referências
[1] ALFONSIN, Betânia de Moraes (s.d.). Legalidade e ilegalidade na
produção do espaço urbano: Novas trilhas para superar velhos
caminhos - Porto Alegre e o Urbanizador Social. Artigo publicado no
Urbanizador
Social.
Acessível
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http://www.urbanizadorsocial.org.br/pdf/Betania%20
Alfonsin.pdf
(em: 3.01.2013).
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Review. In The International Journal of Sociology and Social Policy,
20, 1-28.
[3] Cavaco, Cristina Soares, (2012), Os espaçamentos ilegítimos ou a
condição suburbana do vazio. In Actas do Seminário de Estudos
Urbanos.
Lisboa:
ISCTE,
2007.
Acessível
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seu
2007.saau.iscte.pt/Actas/Actas _SEU2007.../ Cristina_Cavaco2.pdf.
(em: 15.01.2013).
[4] CML (2011), Artigo 50º: Espaços verdes de recreio e produção, In
Regulamento: Revisão do PDM: Julho de 2011: Versão Final, 55-56.
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http://pdm.cmlisboa.pt/downloads/elementos_constituintes/01_regulamento/01_Reg
ulamento_com_Anexos.pdf (em: 09.06.2012).
417
[5] Coelho, Glauci e (alt.), Paisagem Urbana no Rio de Janeiro: o ProjetoUrbano na cidade entre a legalidade e a legitimidade. Acessível em:
www.ibdu.org.br/imagens/paisagemurbananoriodejaneiro.pdf.
(em:
03.01.2013).
[6] De Jesus G. (2005), Ordenando o Espaço Público: A Criação das
Feiras Livres na Cidade do Rio de Janeiro, Revista Electrónica de
geografía y Ciencias Sociales, Vol. IX, n.194.
[7] Lamas, José M. Ressano Garcia (2004), Morfologia Urbana e Desenho
da Cidade. São Paulo: Fundação Calouste Gulbenkian.
[8] Luiz, Juliana Torquato (s.d.). Materializando a cidadania nas
urbanizações não planeadas: o papel das hortas urbanas para as
comunidades (i)migrantes da Grande Lisboa Acessível em:
www.ces.uc.pt/investigacao/posters/
Juliana%20Luiz.pdf
(em:
16.09.2012)
[9] Matos, Rute Sousa (2010), A Reinvenção da Multifuncionalidade da
paisagem em Espaço Urbano – Reflexões, (Tese de Doutoramento em
Artes e Técnicas da paisagem), Évora. Universidade de Évora:
Instituto de Investigação e Formação Avançada.
[10] Monte, Marianna (2010), Informal Street Vendors and Urban Policies
in Rio de Janeiro (Tese de Mestrado em Desenho Urbano), Berlim,
Technische Universität Berlin.
[11] Kraychete G., Lara F., Costa B. (2000), Economia dos Setores
Populares: entre a Realidade e a Utopia, Vozes, Petrópolis, Rio de
Janeiro, Campinas, Salvador.
[12] Paes, Eduardo (2009), Cria o Projeto “Empresa Bacana”, regula o
tratamento diferenciado ao Microempreendedor Individual – MEI, no
âmbito da Cidade do Rio de Janeiro e dá outras providências. Decreto
N° 30588 de 7 de Abril de 2009, In Diário Oficial do Rio de Janeiro,
08.04.2009.
[13] Perlman J. (1977), O Mito da Marginalidade: Favelas e Política no Rio
de Janeiro, Paz e Terra, Rio de Janeiro.
[14] Pinto, Rute Sofia (2007), Hortas Urbanas: Espaços para o
Desenvolvimento Sustentável de Braga (Dissertação de Mestrado em
Planeamento Urbanístico). Escola de Engenharia/ Universidade do
Minho.
[15] Portas N., Domingues A, Cabral J. (2004), Políticas urbanas.
Tendências, estratégias e oportunidades. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
418
[16] Sartor, Carlos Eduardo (s.d.). Imagem da cidade – cidade da imagem:
o modelo de intervenção urbana do Rio Cidade. Cadernos da
Metrópole,
n.
4.
Acessível
em:
http://www.cadernosmetropole.net/download/cm_artigos/
cm4
_14.pdf. (em: 19.12.2012).
[17] Secretaria Especial de Ordem Pública (n.d.), Formalização do
Ambulantes,
Acessível
em:
http://www.rio.rj.gov.br/web/seop/exibecont eudo?article-id=1740822.
(em: 09.06.2012).
419
Do verde na cidade à cidade verde: uma
abordagem da forma urbana resultante dos
principios de sustentabilidade e drenagem urbana.
Luciana M. GONÇALVES1; Luana BAPTISTA2
1
Luciana Márcia Gonçalves
Rua Maestro João Seppe, 303-São Carlos/SP , 13561-180, Brasil 55 16 9782-8870,
[email protected]
2
Luana Baptista
Rodovia Washington Luis, km 235, São Carlos /SP, 13565-905, Brasil 55 16 3351-9696, ,
[email protected]
Palavras-chave: conformação urbana, planejamento urbano integrado,
ecotécnicas urbanas, drenagem urbana alternativa.
Resumo
Este artigo aborda princípios de sustentabilidade e drenagem urbana
aplicados a territórios urbanizados gerando novas formas urbanas. Busca-se
obter maior subsidio para a discussão sobre projetos de intervenção urbana
e principios de planejamento, tendo em vista os paradigmas ambientais.
Devido a extensa abrangência do tema, abordaremos a questão ambiental
com ênfase nas águas pluviais e nas áreas verdes urbanas. Foram
selecionados os aspectos relativos a três importantes questões que tem
agregado princípios e conceitos ao urbanismo contemporâneo: uso e
ocupação do solo, áreas verdes e águas pluviais.
Princípios como da ecoinovação no urbanismo aliam sustentabilidade com
inovação nos territórios urbanos. Um dos espaços urbanos onde isso se
torna evidente pela necessidade de atender as novas exigências ambientais
são as zonas de expansão urbanas, pois nelas são criados novos territórios
urbanos - proporcionando a ampliação da urbanização sobre áreas agrícolas
ou preservação ambiental. Urbanização com ecoinovação deve prever a
sustentabilidade da cidade, compatibilizar suas dimensões sociais,
econômicas e ambientais aos preceitos da urbanidade. Entre os estudos que
podem contribuir para a minimização dos impactos ao meio natural esta a
gestão das águas pluviais, captação, armazenamento e reuso visando o
desenvolvimento urbano de baixo impacto.
O conceito de desenvolvimento urbano de baixo impacto está sendo, cada
vez mais, incorporado ao planejamento. Políticas setoriais estão sendo
420
substituídas pelo enfoque integrado de desenvolvimento, articulando a
gestão das cidades com os investimentos em saneamento básico,
transportes, geração de renda e trabalho e estimulando a melhoria da
qualidade de vida nas áreas urbanas.
A noção de sustentabilidade, aqui entendida numa abordagem ambiental
integrada, implica numa necessária inter-relação entre justiça social,
qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a necessidade de desenvolvimento
[1] .
Conforme TUCCI[6], a drenagem urbana, especialmente nos grandes
centros, tem sido efetuada de forma insustentável com aumento do volume
de escoamento superficial e contaminação devido a impermeabilização,
canalização e resíduos sólidos. A proposta de desenvolvimento de baixo
impacto (LID) é uma abordagem radicalmente diferente da gestão de águas
pluviais convencional. Os objetivos são conseguidos mediante aplicação de
princípios como:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Minimização dos impactos provocados por volumes excessivos
de águas pluviais nas áreas próximas de rios e córregos,
principalmente quando neles já não existem as matas ciliares e
APPs;
Aumento da permeabilidade do solo, conservando recursos
naturais e ecossistemas, valorizando sistemas naturais de
manutenção, definindo cursos de água pluvial superficial ;
Adoção de medidas de compensação, minimização de impactos
ou mitigação;
Previsão de medidas de armazenamento de escoamento
disperso uniformemente, resultando uma paisagem com uso de
multitécnicas de drenagem;
Implementação de programas de educação pública para
manutenção e gestão da paisagem hidrologicamente funcionais;
Utilização do LID como uma abordagem inovadora para a gestão
urbana de águas pluviais que distribui estrategicamente as águas
em seu local de origem, preferencialmente integrando o
controles de águas pluviais com toda a paisagem urbana;
Aplicação de gestão integrada de manejo de águas
pluviais;
Uso de abordagem inovadora de desenvolvimento de baixo
impacto combinando técnica e design .
421
As áreas verdes urbanas são os grandes aliados do processo de aumento da
infiltração e retenção das águas durante as fortes chuvas e do aumento da
infiltração de águas pluviais na cidade, melhoram o micro clima,
principalmente nos países de clima quente como o Brasil, ajudam no
escoamento de chuvas fortes e melhoram a qualidade do ar.
Com fácil aceitação pelos usuários a área verde em áreas urbanas cresceu
em valorização e significado, buscou soluções mais simples do ponto de
vista construtivo, mas de grande relevância do ponto de vista da estrutura
verde e do sistema ambiental.
Nos municípios brasileiros, tem se buscado, ainda que motivações
econômico-políticas, a obtenção de títulos de cidades verdes, selos verdes
etc. Certificações que associam princípios de sustentabilidade como
sinonimos de qualidade de vida. Entre esses princípios destacamos:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Recuperação das matas ciliares;
Arborização urbana;
Educação ambiental, garantindo o envolvimento da população
nas políticas e ações locais, principalmente no uso e manutenção
dos espaços verdes;
Uso racional da água – possibilidade de práticas de reuso e
aproveitamento das águas da chuva;
Estrutura Ambiental – integrar propostas de infraestrutura verde,
ecotécnicas e outras ao ambiente construído;
Estrutura de drenagem sustentável;
Uso de ecotécnicas ou ecodesign urbanos;
Ampliação do conceito de “Áreas verdes” entendidas ou
estendidas para uso de “infraestrutura verde”.
A questão da presença de “áreas verdes” na composição da paisagem
urbana, tem implicações do ponto de vista das disputas pelo espaço
urbanizado, sejam nos âmbitos sociais, econômicos ou políticos. Incluemse nestes territórios as áreas de preservação ambiental, áreas para técnicas
compensatórias e demais áreas livres que compensariam o impacto causado
pelo processo de urbanização.
O processo pelo qual se realizam intervenções em áreas consolidadas da
urbanização passa por diferentes pressões da iniciativa privada incluindo a
permanência de vazios de reserva imobiliária, , vazios especulativos.
Consideramos novas paisagens urbanas, as formas resultantes desses
princípios integrados e da própria paisagem resultante do LID.
422
Referências
[1] ACSELRAD, H. (2001) Sentidos da sustentabilidade urbana. In:
ACSELRAD, H. A duração das cidades: sustentabilidade e
risco nas políticas urbanas. Rio de Janeiro: DP&A.p28-55.
[2] BAPTISTA, M.; NASCIMENTO, N. O.; BARRAUD, S. Técnicas
compensatórias em drenagem urbana. Porto Alegre: ABRH, 2005.
266p.
[3] CAVALCANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para
uma sociedade sustentável. São Paulo: Cortez. 1995. 261p.
[4] RIGHETTO, A.M.(coord) Manejo de águas pluviais urbanas.
Rio de Janeiro: ABES, 2009. 396 p.
[5] TAVANTI, D.R. Desenvolvimento urbano de Baixo Impacto
aplicado ao processo de planejamento urbano. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009.
[6] TUCCI, C.E.M. Gestão das águas pluviais urbanas. Ministério
das Cidades. Unesco. Cap. 3. 2005.
423
A Forma Urbana e o Consumo de Combustíveis:
Qual a relação Existente?
RIBEIRO, Rômulo José da Costa1; SANTOS, Weber Alves2
Universidade de Brasília – UNB, Faculdade UnB Planaltina – FUP e Programa de Pósgraduação em Arquitetura e Urbanismo – PPG-FAU-UnB
Área Universitária 01 – Vila Nossa Senhora de Fátima, 73.345-010 – Planaltina, DF, Brasil
+55 61 8118-3380, [email protected]
2
Universidade de Brasília – UNB, Faculdade UnB Planaltina – FUP
Área Universitária 01 – Vila Nossa Senhora de Fátima, 73.345-010 – Planaltina, DF, Brasil
+55 61 3107-8029, [email protected]
1
Palavras-chave: Dispersão urbana, consumo de gasolina, produção de CO2,
sequestro de CO2, equilíbrio urbano-ambiental
Resumo
O tema de dispersão urbana tem sido muito discutido e um dos aspectos
abordados é sobre o consumo de combustíveis, uma vez que esses têm
colaborado para o aumento da poluição e formação de ilhas de calor. Nessa
linha, vários estudos abordam que cidades dispersas apresentam maior
consumo de combustíveis, uma vez que o uso do veículo individual é maior
e que cidades compactas têm o consumo menor, uma vez que a proximidade
de centros de trabalho, comércio e serviços favorece o uso de transportes
coletivos. Ao estudarmos 16 Regiões Metropolitanas brasileiras (RM)
verificamos que isso não ocorre. Nosso estudo focou os anos de 2000 e
2010 (devido aos levantamentos censitários) e avaliou o consumo de
combustível (gasolina) em RM e o seu impacto na produção de CO2.
O Índice de Dispersão desenvolvido por Bertaud e Malpezzi (1999: 2003),
representa a relação da população e o seu deslocamento à Área Central de
Negócios (CBD). Esse índice indica o quanto a área urbana é dispersa.
Baseia-se nas distâncias dos setores urbanos e de sua respectiva população
ao CBD. Com isso, revela-se como a população ocupa o espaço e quão
distante ela está do CBD. Além disso, é um índice comparativo e deve ser
analisado em conjunto com outras cidades. Os autores calcularam para 50
cidades no mundo, mas a leitura desse índice é difícil, uma vez que não
segue uma escala padronizada de mensuração. Assim, fizemos a sua
normalização entre -1 e +1, de forma a obtermos os resultados dentro de
uma escala padronizada, o que facilitou a comparação entre diferentes
424
centros urbanos. O cálculo deles para o Índice de Dispersão é interessante,
pois ilustra como a população ocupa o espaço urbano, permite fazer
considerações a respeito de custos de deslocamento, implementação de
infraestrutura, urbanização, consumo de combustíveis, entre outros.
O consumo de gasolina, principal combustível fóssil utilizado nas cidades
brasileiras, foi fornecido pela Associação Nacional do Petróleo (ANP),
sendo composto pelo total de gasolina vendida por ano nos postos de
combustíveis do município.
O cruzamento do Índice de Dispersão com o consumo per capita de
gasolina apresentou correlação próxima a zero. Outras correlações
mostraram-se muito altas e positivas como consumo per capita de gasolina
com a densidade populacional e consumo per capita de gasolina com a área
urbana construída. Tal fato nos levou a indagar o motivo da dispersão
urbana não influenciar o consumo de gasolina no Brasil. A resposta foi que
o modelo econômico de cada RM reflete diretamente no uso do veículo
individual e no consumo de combustível. A partir dessa constatação
verificamos que algumas RM, apesar de não serem tão dispersas,
apresentaram alto consumo e com isso alta produção de CO 2, o que tem
acarretado no aumento da poluição atmosférica, principalmente pelo fato
possuírem maior densidade populacional próxima aos seus CBDs,
aumentando a população afetada.
Para estimarmos a produção de CO2 por RM, lançamos mão de alguns
cálculos químicos. Sabendo que a gasolina não é um composto isolado e
sim um conjunto de hidrocarbonetos (entre 5 a 10 carbonos em sua
composição), utilizamos uma aproximação considerando apenas o octano
(C8H18) como composto presente na gasolina. (adaptado de
ononada.wordpress.com, 14/01/2013).
A partir do total de gasolina consumido por RM e o consumo per capita,
calculamos o número de árvores necessárias para neutralizar a emissão de
CO2 para a atmosfera. Utilizamos para isto um modelo hipotético de árvore.
Por fim, o estoque de CO2 contido em uma árvore hipotética será o fator de
divisão do total de CO2 produzido pela queima de combustíveis nas RM e,
assim, obtivemos o número aproximado de árvores necessário para
equilibrar a produção de CO2 veicular.
Os resultados mostram que não é apenas a forma da cidade que colabora
para o consumo de CO2, existem outros fatores de grande peso, tais como a
localização e a densidade de ocupação e o modelo econômico principal da
RM. Esse agregado de fatores consegue ilustrar o modo de circulação
veicular urbano e o seu respectivo impacto na produção de CO2.
425
Esperamos que o resultado deste trabalho sirva como um modelo para
gestão urbana, que, no Brasil, está focado na expansão contínua da malha e
ampliação da frota veicular. Que este documento seja um orientador de
políticas públicas para melhoria das condições de ambiência urbana.
Referências
[1] Bertaud, A. e Malpezzi, S. (1999), The Spatial Distribution of
[2]
[3]
[4]
[5]
[6]
[7]
[8]
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Topography, Madison, Wisconsin, EUA. Disponível em: <http://alainbertaud.com/>. Acesso em: 27/03/2010.
Bertaud, A. e Malpezzi, S. (2003), The Spatial Distribution of
Population in 48 World Cities: Implications for Economies in
Transition. Madison, Wisconsin, EUA. Disponível em: < http://alainbertaud.com/>. Acessado em: 25/04/2010.
Cafundó, O. (2013), Introdução ao cálculo de emissões pessoais de
carbono. Disponível em:< http://brasildiverso.blogspot.com.br>.
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Frota de Veículos.
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Loboda, C. R. & De Angelis, B. L. D. (2005), Áreas Verdes Públicas
Urbanas: Conceitos, Usos e Funções, Guarapuava, PR, Revista
Ambiência, v 1, n 1, pp. 125-139, jan-jun 2005. Disponível em:
<http://www.unicentro.br/editora/revistas/ambiencia/v1n1/artigo%201
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O Nonada (2013), Quantidade de CO2 que 100 L de Gasolina Emitem
para a Atmosfera. Disponível em: <http://ononada.wordpress.com>.
Acessado em: 14/01/2013.
Ribeiro, R. J. C. (2008) Índice Composto de Qualidade de Vida
Urbana - Aspectos de Configuração Espacial, Socioeconômicos e
Ambientais Urbanos, Tese de Doutorado, Universidade de Brasília,
Brasília, DF, Brasil.
426
Morfologia urbana e desempenho ambiental das
cidades.
Patrícia Freitas NERBAS1
1
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (Unisinos)
Av. Unisinos, São Leopoldo, RS, Brasil
(+55) 51 81243961, [email protected]
Palavras-chave:
conceitual.
morfologia
urbana,
desempenho
ambiental,
mapa
Resumo
Com uma população mundial ultrapassando 3,3 bilhões de pessoas que
vivem em cidades, se estima que as áreas urbanas irão abrigar cerca de 80%
de toda a humanidade até o final do século (UNFPA, 2007). No atual
contexto o ambiente construído produz impactos adversos, os quais são
apontados como sendo grandes vilões das questões ambientais, por sua
natureza, abrangência e uso contínuo (MENEGEAT e ALMEIDA, 2004;
SCUSSEL E SATTLER, 2010). Cerca de 50% dos recursos naturais
extraídos da Terra são necessários para manter a indústria da construção
civil, além disso este setor necessita de 40% a 50% da energia consumida de
cada país. Nas cidades, também, ocorrem a contaminação dos recursos
hídricos e problemas de saúde humana (SATTLER, 2007). Diante de um
cenário crescente das áreas urbanizadas e dos impactos ambientais
decorrentes, se torna necessário incluir as questões ambientais nos
processos de planejamento urbano.
De acordo com Sattler (2007) é importante definir parâmetros de referência
que orientem as práticas para a construção de cidades mais sustentáveis.
Duarte e Gonçalves (2006) reforçam a necessidade de mitigar o impacto
ambiental das cidades e alcançar uma melhor qualidade ambiental urbana.
Sendo que esta busca precisa ocorrer em todos os elementos que
configuram a dimensão física das cidades.
Este contexto, aumenta ainda mais a complexidade dos projetos urbanos, os
quais necessitam da sistematização de inúmeras variáveis em cada
intervenção urbana, exigindo um processo interdisciplinar. Assim este
estudo procura compreender as implicações da forma urbana no
desempenho ambiental de cidades localizadas no sul do Brasil. A partir da
análise de comportamento entre os parâmetros da forma urbana e seus
427
respectivos desempenhos ambientais, é possível identificar prioridades na
composição dos parâmetros projetuais para a forma urbana.
Um dos maiores problemas relacionados a identificação das variáveis do
ambiente físico que influenciam o desempenho ambiental das cidades,
decorre do fato que esta relação é variável, pois depende das características
locais, dificultando generalizações sobre o desempenho ambiental dos
padrões urbanos (ALBERTI, 1999). Por isso a meta não pode ser, apenas
identificar diretrizes para conduzir os projetos urbanos. Seria importante
identificar os parâmetros para os projetos urbanos de menor impacto
ambiental (MEYER, 2004, apud MIANA, 2010) e relacioná-los com as
características de cada cidade.
Como a produção do ambiente construído é dinâmica, não existe método,
nem solução, únicos. Neste estudo esta compreensão será realizada, a partir
da construção de mapas conceituais os quais poderão subisidiar o processo
de tomada de decisão durante o desenvolvimento de projetos urbanos. A
construção do modelo conceitual foi definida, a partir do arcabouço teórico
sobre a morfologia urbana e da sustentabidade ambiental das cidades.
Um modelo teórico é uma abstração da realidade, podendo cooexistir
diferentes visões sobre qual seria o modelo, que representa de forma mais
adequada, as relações entre os conceitos objeto de estudo. Por isso, além do
mapa conceitual ter base no aporte teórico, foram realizadas entrevistas
semi-estruturadas, com coordenadores de curso da arquitetura e urbanismo
da região metropolitana de Porto Alegre/RS e especialistas da área, a fim de
identificar as diferentes visões sobre os principais elementos da forma
urbana e suas respectivas implicações no desempenho ambiental das
cidades do sul do Brasil.
A construção destes mapas pode auxiliar o entendimento e a geração de
idéias, pois demonstra relações hierárquicas entre os conceitos (LIMA,
2004). No planejamento, estes modelos são aplicados para identificar
objetivos, necessidades e recursos que integram um determinado plano.
Dessa maneira estes mapas, fornecem subsídios teóricos de forma mais
acessível para os processos de tomada de decisão (SALLES e
BREDEWEG, 2004).
O modelo conceitual tem como principal objetivo contribuir para a
apreensão das relações entre os desempenhos ambientais e os parâmetros
projetuais para a forma urbana. A partir dos dispositivos visuais, se pode
demonstrar graficamente estas relações, permitindo a análise de descrições
comparadas entre os conceitos pesquisados e as características de cada
cidade. A finalidade da descrição comparada é analisar o comportamento,
dos parâmetros projetuais para a forma urbana, a cerca dos seus respectivos
428
desempenhos ambientais. Esta é uma das formas para se identificar as
variáveis da forma urbana que podem influenciar de forma mais
significativa os desempenhos ambientais em cada localidade.
Referências
[1] ALBERTI, M. Urban Patterns and Environmental Performance: What
Do We Know? Journal of Planning Education and Research, 1999.
[2] LIMA, G. Â. B. O. Mapa hipertextual (MHTX) um modelo para a
organização hipertextual de documentos. 2004. 199f. Tese (Doutorado
em Ciência da Informação) - Escola de Ciência da Informação,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
[3] OLIVEIRA, V.V.A. Avaliação em Planeamento Urbano. Orientação
de Paulo Pinho – Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
2007. Tese.
[4] MENEGAT, R e ALMEIDA, G. Sustentabilidade, Democracia e
Gestão Ambiental Urabana. Brasil - Porto Alegre, RS. 2004. p. 174196. In: MENEGAT, Rualdo; ALMEIDA, Gerson (org.)
Desenvolvimento Sustentável e gestão Ambiental nas cidades:
Estratégias a partir de Porto Alegre. Porto Alegre, editora da UFRGS,
2004.
[5] MIANA, A. C. Adensamento e forma urbana: inserção de parâmetros
ambientais no processo de projeto. Orientação de Marcia Peinado
Alucci. São Paulo, 2010. 393 p. Tese de Doutorado (Área de
concentração: Tecnologia da Arquitetura) – FAUSP, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da USP, São Paulo, 2010.
[6] SALLES. P.; Bredeweg, B. Qualitative Reasoning about Population
and Community Ecology. AI Magazine 24 Vol. 4: p.77-90, 2004.
[7] SATTLER, M.A. Habitação de baixo custo mais sustentáveis: a casa
Alvorada e o Centro Experimental de tecnologias habitacionais
sustentáveis. Porto Alegre: ANTAC, 2007. Coleção Habitare.
[8] SCUSSEL, M.C.B; SATTLER, M.A. Cidades em (trans)formação:
impacto da verticalização e densificação na qualidade do espaço
residencial. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 10, n.3, p. 137-150,
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[9] UNFPA – United Nations Population Fund. Situação da População
Mundial 2007: Desencadeando o Potencial do Crescimento Urbano.
Fundo de População das Nações Unidas. Nova York: UNFPA, 2007,
100p.
429
Transformações urbanas e segregação espacial no
Rio Grande, RS, Brasil
Henrique Lorea LEITE
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional – UFRGS
Rua Silva Jardim, 591/505 – Porto Alegre – RS – Brasil – CEP 90450-071
+55 51 3209 5568 – [email protected]
Palavras-chave: Rio Grande, polo naval, forma urbana, segregação
espacial, desigualdade de renda
Resumo
A cidade do Rio Grande, no sul do estado do Rio Grande do Sul, o mais
meridional do Brasil, vive atualmente um processo de mudanças estruturais
em decorrência da instalação de um polo naval em seu território, desde
2006. Os impactos dos investimentos, contabilizados até o momento em R$
10 bilhões, se refletem tanto no crescimento econômico e populacional
quanto nas transformações urbanas que o município vem experimentando.
A produção bibliográfica acerca do tema aponta para: sobrecarga de
infraestruturas, elevação de preços dos imóveis, renovação de estruturas
intraurbanas e expansão da mancha urbana.[1] [2] [3] [4]
A vocação portuária do sítio em que está implantada a cidade foi
determinante tanto para a localização do primeiro assentamento que a
originou, em 1737, quanto para o seu desenvolvimento desde então. Situado
estrategicamente a meio caminho entre Laguna – a cidade mais ao sul do
território português segundo o Tratado de Tordesilhas (1494) – e Colônia do
Sacramento, o porto natural formado pela foz da Lagoa dos Patos era
apenas um entreposto (figura 1). Com a assinatura do Tratado de Santo
Ildefonso (1777), Colônia passa a ser espanhola e Rio Grande se torna o
principal porto português no sul e, com isso, consolida-se como cidade.
Desde então, o seu desenvolvimento teve duas pulsações de expansão
urbana como reflexos de investimentos na atividade portuária, nas décadas
de 1910 e 1980[5]. Assume-se neste trabalho que o Rio Grande vive
atualmente uma terceira pulsação.
431
Mapa 1:Localização. Fonte: Stamen Maps
Nesse período de aproximadamente um século, tanto a forma da cidade
quanto a sua dinâmica socioeconômica se transformaram. Se durante a
primeira pulsação os operários se instalavam nos vazios da área central
adjacentes ao porto e às indústrias, atualmente as classes média e alta
buscam moradia em novos núcleos fora do centro já saturado. Configura-se,
pois, no território da cidade, uma complexa rede de equipamentos
polarizadores de trabalho e consumo e vetores de expansão urbana de
diferentes classes sociais.
Busca-se com este trabalho contribuir para a mensuração da segregação
espacial do Rio Grande, com o objetivo de oferecer subsídio para a
avaliação do seu desempenho urbano. Para tanto, lança-se mão de
metodologia de análise de desigualdade de renda no espaço intraurbano.
Utilizam-se dados dos dois últimos censos demográficos brasileiros,
realizados em 2000 e 2010, de maneira a capturar a variação da segregação
espacial antes e depois da implantação do polo naval na cidade.
432
Mapa 2: Mancha urbana em 1922 (vermelho), 1987 (laranja) e 2013 (amarelo).
Fonte: Google Earth e Salvatori et al.
Agradecimentos
O autor agradece ao Prof. Romulo Krafta, do Programa de Pós-Graduação
em Planejamento Urbano da UFRGS, pela orientação no desenvolvimento
desta pesquisa de mestrado em geral e deste trabalho em particular, e à
Profa. Carolina Larrosa de Oliveira, do curso de geoprocessamento do IFRS
– Campus Rio Grande, por disponibilizar a base cartográfica do município.
433
Referências
[1] Feijó, F. T., D. T. Madono (2012), Polo naval de Rio Grande:
potencialidades, fragilidades e a questão da migração. In Anais do 6o
Encontro de Economia Gaúcha, maio 31-junho 1, FEE.
[2] Silva, R. P. da, R. da R. Gonçalves, A. B. K. Carvalho, C. de Oliveira
(2012), O impacto do polo naval no setor imobiliário da cidade do Rio
Grande-RS. In Anais do 6o Encontro de Economia Gaúcha, maio 31junho 1, FEE.
[3] Soares, P. R. R. (2005), Produção imobiliária e reestruturação urbana
nas cidades de Pelotas e Rio Grande (RS). In X Encontro de Geógrafos
da América Latina, março 20-25, USP, pp. 15085–15105.
[4] Ramires, P. F. (2009), Avaliação da qualidade ambiental percebida:
Balneário Cassino, Rio Grande - RS. In Anais do XIII Simpósio
Brasileiro de Geografia Física Aplicada, julho 06-10, UFV
[5] Salvatori, E., L. A. G. de P. Habiaga, M. do C. Thormann (1989),
Crescimento horizontal da cidade do Rio Grande. Revista Brasileira de
Geografia 51, pp. 27–71
[6] Krafta, R., V. Netto (2009), A forma urbana como problema de
desempenho. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais,
11(2), pp. 157-180.
[7] Mello, O. S. (2009). Análise da estrutura especial da desigualdade de
renda na RMPA, 1991-2000. In R. Krafta, (Org.), Análise espacial
urbana: aplicações na região metropolitana de Porto Alegre, pp. 73106, Editora da UFRGS, Porto Alegre
434
Descodificar as regras de implantação dos
conventos mendicantes nas cidades medievais
portuguesas
Catarina Almeida MARADO1
1
CES-Universidade de Coimbra e FCHS-Universidade do Algarve
Campus de Gambelas, 8005-139 Faro, Portugal
00351 289 800900 (ext.7627), [email protected]
Palavras-chave: cidade medieval, urbanística portuguesa, arquitetura
conventual, morfologia urbana, regras
Resumo
O surgimento das ordens mendicantes no século XIII constituiu um
importante fenómeno urbanístico. Ao longo das últimas décadas, vários
autores têm-se dedicado ao estudo deste fenómeno, investigando o papel
que estas comunidades desempenharam em termos sociais, económicos,
religiosos e urbanísticos no mundo medieval. Muitos deles abordaram
especificamente os contributos desta arquitectura para a construção das
cidades, quer no período da Idade Média quer nos séculos seguintes, em
trabalhos que se têm revelado de extrema importância no contexto da
morfologia urbana.
Partindo da análise crítica do conhecimento produzido sobre a relação das
ordens mendicantes com as cidades na Europa medieval, nesta comunicação
pretende-se verificar, para o caso português, o modo como as casas
conventuais se inseriram nos espaços urbanos.
O mapeamento da localização dos conventos fundados em Portugal pelas
comunidades mendicantes (franciscanos, dominicanos, carmelitas,
agostinhos e trinitários) entre o início do século XIII e o final do XV,
realizado no âmbito de um projecto de investigação em curso sobre os
“sistemas urbanísticos portugueses de matriz conventual”, permitiu obter
uma visão global da presença urbana destes edifícios no território
português. Foi assim possível, para o período em análise, hierarquizar as
cidades e vilas, em função do número de casas religiosas que detinham, e
simultaneamente, conhecer o processo de formação dos seus sistemas
conventuais.
Esta tarefa permitiu ainda identificar as cidades com maior número de
conventos masculinos e, sobre esse conjunto de casos, efectuar análises
435
mais pormenorizadas dos vários aspectos relacionados quer com a
instalação, quer com a participação destes equipamentos na configuração
dos espaços urbanos.
Esta comunicação incidirá particularmente sobre a primeira questão. Serão
assim analisadas as características de localização destes edifícios face à
estrutura urbana e as relações urbanísticas que estabeleceram entre si.
Procurar-se-á desta forma, reunir e confrontar um conjunto de dados que
permitam descodificar as regras de implantação dos conventos mendicantes
nas cidades medievais portuguesas.
Este conhecimento servirá de base ao desenvolvimento da investigação
sobre esta temática, que numa fase posterior se dedicará à análise do papel
desta arquitectura na configuração das cidades nos territórios de influência
portuguesa.
Referências
[1] Bruzelius, Caroline. (2008). "The Dead come to Town: Preaching,
Burying and Building in the Mendicant Orders”. In Opačić Z.;
Gajewski A. (dir.) The Year 1300 and the Creation of a new European
Architecture, Brepols, pp.203-334.
[2] Guidoni, Enrico (1981) La cittá: dal Medioevo al Rinascimento.
Roma-Bari: Laterza.
[3] Le Goff, J. (1970). « Ordres mendiants et urbanisation dans la France
médiévale: état de l’enquête ». In État de l'enquête. Annales.
Économies, Sociétés, Civilisations. 25e année, N. 4, pp. 924-946.
[4] Mattoso, J. (2002). “O enquadramento social e económico das
primeiras fundações franciscanas”. In Obras Completas. Vol. 8,
Portugal Medieval: novas interpretações. Lisboa: Círculo dos Leitores,
pp. 243-254.
436
Lost in Translation? Diu as an architectural and
urban borderland
Nuno GRANCHO
Universidade de Coimbra (Instituto de Investigação Interdisciplinar (IIIUC) e Centro de
Estudos Sociais (CES)) e Fundação para a Ciência e Tecnologia
+ 351914567808, [email protected]
Keywords: Diu, border, translation, architecture, city
Abstract
Urban space is constituted and defined also (among other things) by
physical and symbolic borders. The architectures of exclusion and inclusion
in cities - gated and ghettoised communities, urban places, streets and walls,
among other devices - and their correspondent translation in the functional
organisation of urban societies affects the way in which the city is
experienced and functionally represented and socialized.
Diu's territory is situated in a borderland, both physical and cultural, in the
southern end of the peninsula of Kathiawar, province of the ancient
kingdom of Cambay, between the gulfs of Kutch and Cambay, in the hinge
of east African coast, Persian gulf and Malabar Hindustan. Diu emerged
from the sultanate of Gujarat as a Portuguese protectorate, which would
eventually integrate the whole island and also the nearest mainland.
The paper will focus on urban history offering an interdisciplinary approach
to the urban case study of Diu (an urban settlement on the west coast of
India, a region dominated for centuries by the Portuguese, and later by other
European powers), enabling to focus on the history of the cities of Europe,
Africa and Asia. This pathway will have a comparative focus and examines
cities in colonial geographical contexts.
Diu displays a unique formal character that sets the place apart from the rest
of India, indeed even from territories held by other colonial powers.
Nuno Grancho,
University of Coimbra (IIIUC, Institute for Interdisciplinary Research and
CES, Center for Social Studies) and Fundação para a Ciência e Tecnologia
Portugal
© February, 2013
437
Entre vias urbanas e as curvas da natureza
Uma análise do desenho urbano de Olinda no
século XVI e as características topográficas do sítio
Juliana Coelho LOUREIRO
FAU/UFAL e PROURB/UFRJ
[email protected]
Palavras-chave: urbanismo colonial, Olinda, concepção urbana
Resumo
Esta comunicação tem como objetivo analisar a contribuição das
características do sítio na concepção urbana colonial portuguesa, em
especial, na vila de Olinda, nordeste do Brasil.
Fundada em 1537, essa vila foi núcleo da capitania de Pernambuco e, por
sua importância para região, foi ricamente representada pela cartografia
portuguesa e holandesa dos séculos XVI e XVII. Podemos destacar o Atlas
Albernaz e o Atlas VIngboons, que descrevem ricamente o território
conquistado. Embora tenha sido confeccionada à distância, a obra do
cartógrafo holandês Johan Vingboons (1616 -1670) é muito significativa
pois traz informações que não são objeto de representação em outros mapas.
O Mapa de Olinda, por exemplo, apresenta a delimitação dos lotes e suas
áreas edificadas e não edificadas; a apropriação das áreas verdes com uma
ampla gama de símbolos e arranjos vinculados; e uma diferenciação do
traçado das vias.
Junto ao acervo iconográfico, a vila é uma das poucas brasileiras que possui
uma Carta Foral, instrumento através do qual o donatário, Duarte Coelho,
doa a área da vila para a Câmara. Esse documento, diferente das cartas
forais portuguesas, estabelece uma série de diretrizes de apropriação do
sítio. Definindo áreas delimitadas para fins específicos, como moradia,
pastos, abastecimento, inclusive, para expansão urbana. A partir das
determinações do donatário, é possível observar que sua proposta está
estreitamente relacionada às características do sítio, dentre elas, a situação
no relevo, a proximidade de cursos d`água, a orientação geográfica.
Paralelo ao discurso do fundador, foram selecionados outros documentos
escritos, como os relatos dos cronistas que viveram ou visitaram a vila no
século XVI, dentre eles os padres jesuítas Manuel da Nóbrega, Antônio
Pires, Ruy Pereira e Frei Cardim. No século XVII, quando Pernambuco já
438
havia sido invadida pelos holandeses, podemos citar os relatos do reverendo
João Baers vindo na esquadra da Companhia das Índias Ocidentais, do
escritor Barléu, que não esteve no Brasil, e do viajante Nieuhof que
descreve a vila já incendiada. Esses relatos, além de serem importantes
fontes históricas, são testemunhos da experiência vivida no período
contemporâneo aos primórdios da formação urbana colonial. Nesses
documentos, podemos observar, dentre outros, que a sociedade se
organizava hierarquicamente no relevo, onde os nobres se localizariam na
posição mais alta do monte.
Para entender a proposta urbana de Olinda, fizemos uma análise
comparativa entre as iconografias do século XVI e XVII, a carta Foral, os
relatos dos cronistas e a planta atual do sítio histórico, onde foi possível
verificar as remanescências do desenho urbano inicial. Muitas vias
representadas na iconografia do século XVII ainda estão presente no traçado
atual da cidade e ao fazer o levantamento das mesmas, foi possível aventar
para um sistema de vias de larguras diferenciadas, onde as mais largas se
situam em linhas de cumeadas dos montes e divisores d`água e as mais
estreitas sobre talvegues, servindo, dentre outros, como coletoras de água.
Assim como as vias, os lotes também demonstram acompanhar essa
hierarquia e tiram partido da topografia sendo, por exemplo, mais largos nas
vias mais largas. A análise aponta para uma relação métrica entre as partes,
assim também comprometida com uma organização social, que se faz
refletida na forma urbana.
Essa investigação permitiu especular que Olinda se constitui a partir de uma
concepção urbana estreitamente relacionada com as características do sítio e
se conforma da morfologia do território, especificamente, através de um
traçado urbano hierarquizado pela localização topográfica, orientação
geográfica e dimensões e sentidos de vias e lotes. Olinda demonstra ser
concebida a partir do território e não sobre o território.
439
Ritmos e Ciclos das Narrativas do Urbanismo
Português: contributos para uma História
prospectiva.
Paula ANDRÉ1; Paulo Simões RODRIGUES2
1
DINÂMIA’CET-IUL
Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
(351) 934340414, [email protected]
2
CHAIA/UE
Palácio do Vimioso, Largo Marquês de Marialva, 8, 7000-809 Évora, Portugal
(351) 964252581, [email protected]
Palavras-chave: história; especificidades; raiz portuguesa; invariantes;
modus operandi
Resumo
À semelhança de José-Augusto França, afirmamos a História da Cidade
como ferramenta de actuação na realidade em que vivemos.
Sendo a História o meio pelo qual o pensamento humano desvenda a rede
complexa de contradições, heterogeneidades e harmonias, de convergências,
paralelismos e divergências, de encontros e desencontros [MATTOSO,
1997] que é o passado sem História, procurando as suas causas e efeitos, e
conferindo-lhe uma ordem e um significado que dê sentido ao presente e
abra expectativas de futuro, a História é um exercício simultaneamente
retrospectivo e prospectivo. Por isso, deve a história ser entendida como
ciência operativa de modulação do presente, mas também, pelo mesmo
motivo, vulnerável às influências das circunstâncias conjunturais das
correntes historiográficas e dos seus agentes, o que a torna por vezes
perigosamente manipulável. O Romantismo foi o período cultural em que
esta dialéctica entre passado e presente melhor se revelou, com a História
comprometida de modo explícito na legitimação dos seus dois maiores
desideratos, a identidade e a liberdade das nações e dos povos.
Queremos destacar a identidade enquanto motor da História, e sobretudo
das suas variantes de História da Arte e História da Arquitectura e do
Urbanismo, pelo modo como define o que somos no presente através das
duas principais dimensões da natureza humana, o espaço e o tempo. As
arquitecturas e as estruturas urbanas que, mais que qualquer outra
manifestação civilizacional, sinalizam o tempo no espaço [ROSSI, 1977],
440
foram e são frequentemente entendidas como expressões privilegiadas de
identidade. Esta é uma associação com particular evidência na História da
Arquitectura e do Urbanismo portugueses, desde, pelo menos, o
Romantismo, com a concepção do estilo manuelino, a procura da identidade
da casa portuguesa por etnólogos, antropólogos e arquitectos
[RODRIGUES, 2012] e a defesa da existência de um urbanismo português.
Também a história do urbanismo português tem sido marcada por ciclos de
interpretação do passado. Num desses ciclos, autores como Sérgio Buarque
de Holanda, Paulo Ferreira Santos e Nuno Portas [PORTAS, 1995]
distinguiram o urbanismo português do hispânico, sobretudo durante a
colonização do Brasil, pelo seu carácter irregular e orgânico ou espontâneo.
Noutro, com início na obra referencial Lisboa Pombalina e o Iluminismo de
José-Augusto França (edição francesa de 1962 e 1ª edição portuguesa de
1966), colocou-se a tónica no planeamento e na regularidade enquanto
valores estruturantes de uma urbanística de raiz portuguesa ou mesmo de
uma escola de urbanismo português do século XVIII [CORREIA, 1989] que
combinaria o espírito geométrico da tratadística italiana e dos estudos da
Matemática com o pragmatismo da experiência da arquitectura militar no
Império e a vontade de um poder político necessitado de eficiência e rapidez
na ocupação e organização dos seus territórios. A ideia da existência de uma
escola de urbanismo português foi ainda entendida como uma realidade pósrestauração, dirigida à actuação no Brasil durante o século XVIII e marcada
pela simbiose da modulação do espaço urbano com a arquitectura, de
grande capacidade de adaptação às características da geografia [ROSSA,
2001]. Mais recentemente, à escola de urbanismo português foi adicionada a
noção de um modus operandi de intervenção no território do urbanismo
português, de longa duração – da Idade Média ao século XX – e
caracterizado pela tríade regularidade, simetria e programa, aplicada pela
iniciativa directa do poder político [ANDRÉ, 2012].
Apesar das diferenças enunciadas, os ciclos coincidem na afirmação de uma
noção de identidade do urbanismo português, evidente na utilização de
palavras-chave como especificidades (das fundações urbanas portuguesas)
[PORTAS, 1986], raiz portuguesa (urbanística de) [CORREIA, 1989],
invariantes (da morfologia urbana portuguesa de padrão geométrico)
[ROSSA, 2001] e modus operandi (de intervir no “territorium” do
urbanismo português) [ANDRÉ, 2012]. Analisando criticamente esta
dialéctica entre a constante identitária e as diferentes definições dessa
constante identitária, é nossa intenção revelar os ritmos e os ciclos das
diferentes narrativas da história do urbanismo português, de modo a
compreendê-la como construção e processo cultural. Por isso, a nossa
441
finalidade não é elaborar uma historiografia sistemática do urbanismo
português, já realizada e actualizada por outros autores [TEIXEIRA, 1993,
ROSSA, TRINDADE, 2006], mas centrar-nos numa abordagem sincrónica,
com textos seleccionados pelo que fixaram de doutrina e paradigmas
teóricos. Como foi feito para a História da Arte Portuguesa [RODRIGUES,
2012], queremos detectar quais as narrativas hegemónicas, o alcance desses
discursos e simultaneamente distanciar-nos deles por via de uma reflexão
crítica, mas agora com o objectivo de torná-los numa ferramenta
prospectiva do presente. Deste modo, também averiguaremos como a
singularidade que a História identificou como constante do urbanismo das
cidades portuguesas ou de fundação portuguesa, a tradição de um modo de
fazer cidade, poderá vir a ser útil à resolução dos problemas que as cidades
contemporâneas enfrentam.
Referências
[1] André, P. (2012) A tríade regularidade, simetria e programa e o modus
operandi de intervir no territorium do urbanismo português, Actas da
Conferência Internacional PNUM 2012: Morfologia Urbana nos Países
Lusófonos, Lisboa, ISCTE-IUL, pp. 1456-1468
[2] Correia, J. (1995) Pragmatismo e utopismo na criação urbanística de
raiz portuguesa no século XVIII, Revista da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas, Lisboa, vol. 2, n.º 8, pp. 103-112
[3] França, J. (1966) Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Bertrand, Lisboa
[4] Mattoso, J. (1997) A Escrita da História, Teoria e Métodos, Editorial
Estampa, Lisboa
[5] Portas, N. (1995) Interrogações sobre as especificidades das fundações
urbanas portuguesas. In, Estudos de Arte e História: Homenagem a
Artur Nobre de Gusmão, Lisboa, Vega, pp. 430-435
[6] Rodrigues, P. (2012) Afinidades Electivas: História e Historiografia na
construção da identidade artística portuguesa, HESPERIA, Culturas
del Mediterráneo, nº 16, vol. 1, pp. 11-39
[7] Rossa, W. et al. (2002) – Recenseando as invariantes: alinhamento de
alguns casos de morfologia urbana portuguesa de padrão geométrico.
In A Urbe e o Traço, Coimbra, Almedina, pp. 425-443.
[8] Rossa, W., L. Trindade (2006) Questões antecedentes da “Cidade
Portuguesa”: o conhecimento sobre o urbanismo medieval e a sua
expressão morfológica, MURPHY, Revista de História e Teoria da
Arquitectura e do Urbanismo, nº 1, Março, pp. 70-109
442
[9] Rossi, A. (1977) A Arquitectura da Cidade, Edições Cosmos, Lisboa
[10] Teixeira, M. (1993) A história urbana em Portugal. Desenvolvimentos
recentes, Análise Social, vol. XXVIII (121), (2º), pp. 371-390
443
A dinamica do eixo sul do entorno de brasília:
Um estudo sobre o processo de conurbação das
cidades de Santa Maria, Gama, Valparaízo e
Luziânia
João Mendes da Rocha NETO
Géografo, Mestre e Doutor em Administração Pública pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, Professor da Universidade Aberta do Brasil/ UNB e Gestor de Políticas
Públicas do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão.
Rua 4 Sul, Residencial Águas Claras II , Bloco B, ap. 504 – Águas Claras – Brasília/DF – CEP
71.936-750
+55(61)3435-0279, [email protected]
Palavras-chave: Urbanização brasileira, Brasília, Entorno de Brasília,
produção do espaço, desigualdades espaciais
Resumo
O espaço urbano brasileiro se constituiu de forma acelerada, sobretudo nos
anos 60 e 70. Esse processo foi viabilizado não só por meio de atos
emanados do poder público, como também se desdobrou, e ainda se
desdobra, em respostas à dinâmica da economia. Brasília, assim como
outras grandes cidades não ficou a margem desse processo de inchaço,
alternando a intensidade do crescimento e, consequentemente, do aumento
da população (sobretudo em face dos fluxos migratórios). Desde a sua
criação Brasília primava, e ainda prima, por um modelo concêntrico
determinado pelo valor e uso do solo, aonde quem pode pagar pela terra fica
na área central. Assim, o impedimento para as populações de baixa renda,
aponta para as áreas afastadas, desprovidas também de questões estruturais,
localizadas, sobretudo, o Entorno. Essa disposição espacial ganha contornos
dramáticos pela ausência de políticas públicas de forma geral. Interessante
ressaltar que após a desordem criada pela obscuridade de políticas públicas
na ocupação do solo cria-se a Região Integrada de Desenvolvimento do
Entorno – RIDE, que tem como objetivo promover ações integradas entre a
União, o Distrito Federal, e os estados e municípios que compõem a região,
com vistas a solucionar problemas existentes, sabendo que aquele cinturão
interestadual em volta de Brasília e do Distrito Federal abriga bolsões de
pobreza, carência de infraestrutura e serviços de baixa dinâmica econômica.
Justifica-se então a importância de se analisar as motivações desse processo
445
que continua acontecendo, sobretudo em face do mercado imobiliário e de
suas perturbações a partir da valorização nas regiões centrais. Assim, a
cidade construída para ser modelo, se viu nivelada pelos processos que já
atingiam as demais metrópoles brasileiras. No seu projeto de cidade
administrativa, com caráter moderno, evidenciava uma estrutura urbana
única no país, tratava-se um organismo marcado pela funcionalidade. Nesse
momento a cidade despontou como um dos muitos “eldorados”, que
alimentaram os processos de desequilíbrio e produção diferenciada dos
espaços no Brasil. Já nesse momento se punha de pé uma questão: para
onde iriam os candangos – trabalhadores que vieram de todas as regiões do
país para erguer Brasília? Para esses segmentos que ficaram a margem do
planejamento urbano foi lhes sinalizada a possibilidade de se aglomerar nos
núcleos urbanos mais afastados. A cidade já “selecionava” aqueles que
teriam condições de se manter nas áreas mais centrais, em face do poder
aquisitivo. Assim, Brasília resultou em um espaço sustentado e reproduzido
pelas desigualdades sociais. A cidade moderna, simuladora de um futuro,
segrega continuamente aqueles que não são capazes de inserir-se no seu
padrão de vida, pautado pelo alto custo. Outro ponto de questionamento é:
em que medida as questões fundiárias e a ausência de planejamento
contribuíram para esse violento processo periferizador (espacial e social)?
As restrições de uso do solo, sobretudo nas áreas residenciais, atuam sobre o
mercado imobiliário brasiliense aumentando a pressão, e consequentemente
pelo valor da terra, em face da demanda, sobretudo da classe média por
moradias de qualidade próximas aos locais de trabalho. Esse processo
resulta num “empurramento” das classes sociais mais baixas para as áreas
distantes, para além dos limites políticos do Distrito Federal. Isso tem
levado a um quadro em que os trabalhadores menos qualificados são cada
vez mais “varridos” da área central, se localizando a grandes distâncias do
seu local de trabalho. O que levanta mais algumas questões: Como vem se
comportando a demanda por serviços e habitações nessas localidades do
entorno? A conurbação do Entorno Sul, às margens da BR 040, evidente em
direção a Brasília enverga-se nessa direção em razão de que? Quais são os
agentes, além dos especuladores imobiliários, que continuam a segurar
nessas cidades a mão de obra que atua no Plano Piloto? Para desenvolver o
estudo realizamos uma revisão teórica no sentido de compreender a
produção espacial dentro da lógica capitalista reprodutora de espaços e da
exclusão observada no objeto de estudo. Contamos com a pesquisa
documental nos órgãos governamentais e em arquivos públicos, que nos
deram suporte quanto aos dados estatísticos e estudos promovidos sob a
visão institucional. Explicadas algumas questões nos detivemos em analisar
446
os territórios de nosso estudo, ou seja, as cidades de Santa Maria - DF,
Gama – DF, Valparaizo – GO e Luziânia – GO, onde procuramos situar
como se apresenta a atual questão econômica e social dessas cidades e como
tais aspectos interferem no espaço produzido, entendendo a dinâmica dessa
mancha urbana às margens da BR 040.
Referências
[1] DEÁK, Csaba & SCHIFFER, Sueli Ramos (Orgs). O processo de
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[2] LEFEBVRE, Henry. O direito à cidade. (Tradução Rubens Eduardo
Frias). São Paulo: Centauro, 2001.
[3] SANTOS, Milton; SOUZA, Maria Adélia Aparecida de; SILVEIRA,
Maria Laura (Orgs) - Território Globalização e Fragmentação. 5.
ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
[4] SANTOS, Milton, SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e
sociedade no início do século XXI. - 9. ed. Rio de Janeiro: Record,
2006.
[5] SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e
Emoção. – 4. ed. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 2006.
(Coleção Milton Santos; 1).
447
Porto e cidade: Negação e complexidade nas
transformações urbanas do centro da cidade de
Vitória a partir do século XIX
BORGES, Heraldo1; CAMPOS, Martha2
1
Mestre em Desenho Urbano e Projeto do Espaço Público FA-UTL Núcleo de Estudos em
Arquitetura e Urbanismo (NAU/UFES)
Av. Fernando Ferrari, 514, CEMUNI 3, Campus de Goiabeiras, 29075-910, Vitória, ES, Brasil
+55 27 33352563, [email protected]
2
Doutora em Comunicação e Semiótica PUC-SP Núcleo de Estudos em Arquitetura e
Urbanismo (NAU/UFES)
Av. Fernando Ferrari, 514, CEMUNI 3, Campus de Goiabeiras, 29075-910, Vitória, ES, Brasil
+55 27 33352563, [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, porto, cidades portuárias, Vitória
Resumo
Esta proposta de comunicação inscreve-se no âmbito da História e da Teoria
do Urbanismo – mais precisamente no domínio da Morfologia e da
Morfogênese Urbana – e surgiu a partir da pesquisa “Porto na cidade: Uma
agenda de pesquisa exploratória” da Professora Doutora Martha Machado
Campos desenvolvida no Núcleo de Estudos em Arquitetura e Urbanismo
(NAU) na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) com apoio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Técnológico (CNPq),
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) e do Fundo de Apoio à Pesquisa do Espírito Santo (FAPES).
Prospecta-se também as relações entre cidade e porto no âmbito da interface
– formal, topológica e tipo-morfológica – edifício-rua.
O que pretende-se evidenciar são os processos de produção e evolução de
um conjunto de quarteirões edificados entre as Avenidas Governador
Bley/Beira-Mar e a Avenida Princesa Izabel no centro histórico da cidade
de Vitória, principalmente a partir das transfomações no nível térreo (résdo-chão). Fruto de aterros realizados na primeira metade do século XIX,
esta região se situa na limite entre a cidade e o porto, tendo sido sempre
uma área de intensivo uso e ocupação principalmente de atividades
comerciais ligadas à esta infraestrutura. Ao contrário do que aconteceu em
várias cidades portuárias (como Buenos Aires, Rio de Janeiro, Lisboa,
448
Barcelona, etc.), o porto de Vitória sempre se manteve no mesmo local e,
mais importante, ativo. O fragor do seus movimentos, das suas cargas, dos
seus funcionários embalaram desde sempre o desenvolvimento da capital do
Espírito Santo tendo apenas como limite uma frente edificada (os galpões)
permeada por interregnos (limitados por uma grade de ferro que não impede
a visão desde a rua). No sentido inverso, as edificações sofreram várias
interferências e modificações – como emparedamento, desafetações de uso,
obsolescência, etc. – principalmente no nível de maior interface com a rua:
o térreo, evidenciando os processos de esvaziamento e reconfiguração dos
grandes centros urbanos latino-americanos decorridos principalmente
durante a década de 80.
Calcada principalmente na cartografia e nas plantas originais aprovadas das
edificações, mas também conjugada à leitura in situ e aos acervos
fotográficos, apresentar-se-á uma leitura interpretativa das dinâmicas
urbanas verificadas desde os anos 40 até a presente data. O material
utilizado provém maioritariamente do Arquivo da Secretária de
Desenvolvimento da Cidade (SEDEC) da Prefeitura Munipal de Vitória
(PMV), do Arquivo Municipal de Vitória (AMV), do Arquivo Estadual do
Espírito Santo (AEES), do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), da
Biblioteca Municipal de Vitória (BMV), da Biblioteca Estadual (BES) e do
acervo do Núcleo de Estudos em Arquitetura e Urbanismo (NAU). Será
produzida uma planta do térreo (no estilo Noli) por década apresentando
todas as transformações identificadas.
A hipótese deste trabalho é que ao contrário do senso comum em que
acredita-se que em contextos de cidades portuárias há um claro afastamento
e uma evidente negação do porto em relação à elas, no caso da cidade de
Vitória acontece exatamente o contrário: a cidade, e a forma urbana, vira às
costas para o porto.
Referências
[1] Benevolo, L (1994 3.ª edição) – As origens da urbanística
moderna, Editorial Presença, Lisboa.
[2] Lamas, J M R G (2000 2ª edição) – Morfologia urbana e
desenho da cidade, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian.
[3] Merlin, P, Choay, F (1981) Dictionnaire de L’Urbanism et de
449
L’Aménagement, 2ªEd. Paris: Presses Universitaires de France, 1996.
Mumford, L (1998, 1ª edição 1961), A Cidade na História, suas
origens, transformações e perspectivas, S. Paulo, Martins Fontes.
[4] Rossi, A (2001, 1ª edição 1966), A Arquitectura da Cidade, Lisboa,
Edições Cosmos.
[5] Panerai, P; Depaule, J-C; Demorgon, M (1999) Analyse Urbaine,
Éditions Parenthèses, Marseille.
[6] Panerai, P (1994) O retorno à cidade: o espaço público como
desafio do projeto urbano, Projeto, 173, São Paulo, 78-82
450
Avaliação da oferta de facilidades urbanas
utilizando indicadores de desempenho e um
modelo configuracional urbano
Patricia Z. GHENO1
1
Curso de Arquitetura e Urbanismo - UNISINOS
Av. Unisinos, 950, CEP: 93.022-000, São Leopoldo/RS, Brasil
+55 (51) 35908400, [email protected]
Palavras-chave: indicadores urbanos, modelos urbanos, relação ofertademanda, planejamento urbano.
Resumo
O artigo se insere no tema "Análise, desenho e quantificação da forma
urbana" pois discute a avaliação, em sistemas configuracionais urbanos, da
relação oferta-demanda de facilidades urbanas. Os indicadores usualmente
utilizados, do tipo "quantidade por habitante", são criticados como fonte
básica de informação à tomada de decisões no planejamento urbano. Isso
porque estes indicadores não consideram a distribuição espacial das
variáveis facilidades urbanas e população, assim como suas características.
Assim, em termos de análise intraurbana, este tipo de indicador é
enfraquecido no seu papel de auxiliar à leitura do estado da cidade.
Destarte, na tentativa de avançar em relação à espacialização das variáveis
na avaliação da relação oferta-demanda, propõe-se a utilização e integração
entre indicadores e modelos urbanos. Esta integração é expressa no uso da
medida de oportunidade espacial (ver cálculo na Figura 1). A oportunidade
espacial é uma medida baseada em um modelo configuracional de
centralidade urbana e traduz o privilégio locacional de pontos de demanda
em relação à distribuição das ofertas.
Assim, o estudo busca discutir e explorar esta questão, mediante a revisão
bibliográfica, buscando o suporte teórico-metodológico, e o estudo de caso,
analisando a oferta de serviços de "educação", "saúde" e "áreas verdes" (ver
exemplo de resultado do modelo na Figura 2) na cidade de Torres, RS,
Brasil, uma cidade litorânea, de influência Portuguesa.
451
Figura 1: Ilustração do processo de cálculo da medida de oportunidade espacial
Figura 2: Exemplo de resultado da medida de oportunidade espacial em relação aos
equipamentos de saúde
As explorações feitas demonstram que, a fim de melhor servir a um sistema
de suporte à decisão, os indicadores baseados em quantidade por habitante e
os baseados em oportunidade espacial devem ser avaliados de modo
conjunto, para um juízo mais completo da realidade urbana. Isto porque
cada tipo apresenta suas virtudes e defeitos, que se complementam na
análise, como fonte de informação para decisão em planejamento urbano.
452
Referências
[1] Banerjee, Tridib (1996). Role of indicators in monitoring growing
urban regions. The case of planning in India’s National Capital
Region. Journal of the American Planning Association, 62(2), pp. 222235
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Patrícia Zwetsch Gheno; orientação de Romulo Krafta. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Arquitetura, Programa de
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453
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planning, Wiley-Interscience Publication, London
[20] Wong, Cecilia (2006). Indicators for urban and regional planning. The
interplay of policy and methods, Routledge, London
454
As novas tecnologias na Universidade
Susana FARIA1
1
Doutoranda Darq-F.C.T.U.C.
Colégio das Artes . Largo D. Dinis, 3000-143 Coimbra, Portugal 00351966096127,
[email protected]
Palavras-chave: universidade, tecnologia, retrofitting, urbanismo digital,
space syntax.
Resumo
O impacto da universidade na cidade não se reflecte apenas na relação
física, mas também na forma como se processa o intercâmbio de serviços.
O espaço universitário destinado ao ensino, investigação e administração,
configura-se num lugar “(…) for the communication and circulation of
thought, by means of personal intercourse, through a wide extent of
country.” (Newman, 1872, p.6)
Essencial ao seu funcionamento, a produção e transmissão de conhecimento
deixou, há muito, de ficar restringida às salas de aula.
A mudança, a adaptação, a integração são aspectos que adquiriram alguma
regularidade nas nossas rotinas e a inovação tecnológica apresenta-se como
uma das principais responsáveis. A tecnologia revolucionou o acesso à
informação, mudou hábitos, tendo consequências profundas nas actividades
ligadas ao ensino superior.
São assim criadas novas solicitações aos mecanismos de transmissão de
conhecimento e características específicas aos espaços de ensino dirigidos a
um público com hábitos e exigências diferentes das tradicionais. O
conhecimento é portado para novos meios sob novas formas, pelo que a sua
presença é experienciada de forma diferente. As possibilidades que acarreta
trazem necessariamente a necessidade de reformular as características e
objectivos do espaço universitário.
Se por um lado, uma maior distância do percurso entre espaços diminui a
possibilidade de uma maior variedade de interacções, por outro, esta parece
ser suprida com o ‘omnipresente’ acesso a redes virtuais de comunicação. A
tecnologia muitas vezes usada no aprimoramento da performance espacial
também contribui para a produção de espaço como catalisador social.
O contexto universitário ganha assim uma nova forma de interacção social
definindo-se assim uma nova configuração espacial. Propõe-se estudar
455
sintacticamente este mapa que se configura através da rede física e virtual
universitária.
Pretende-se assim averiguar quais as consequências espaciais e funcionais
das novas tecnologias no espaço universitário, tomando como caso de
estudo a Universidade de Coimbra.
Referências
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Learning and Teaching Council (2010). Retrofitting University
Learning Spaces - Design principles for the cost effective
redevelopment of existing spaces. Recuperado em 7 de Fevereiro,
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Univer sity%20Learning%20Spaces.pdf
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European Perspective. University of Bergen. Consultado a 4 de
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Cambridge: University Press.
[4] Hillier, B., & Penn, A. (1991). Visible Colleges: Structure and
Randomness in the Place of Discovery. Science in Context, 4(1),
(pp. 23–49). Recuperado em 17 de Junho, 2011, de
http://discovery.ucl.ac.uk/1007/1/hillier-penn-1991a.pdf.
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Historical Sketches, vol. 3. Recuperado em 1 de Fevereiro, 2013, em
http://www.newmanreader.org/works/historical/volume3/universities/cha
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[8] Vinnitskaya , Irina. (2012) Adaptation: Architecture, Technology,
and The City / INABA. 17 Dec 2012. ArchDaily. Recuperado em
7 de Fevereiro, 2013, em http://www.archdaily.com/307126
456
Esqueceram as Cidades esquecidas?
Adriana D. NOGUEIRA1; Eder D. da SILVA2
1
Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Artes e Design
Av.Silvio Teixeira, 1235-Aracaju, 49025-100, Brasil
+55 79 99336668, [email protected]
2
Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Arquitetura e Urbanismo
Av.Silvio Teixeira, 1235-Aracaju, 49025-100, Brasil
+ 55 79 99771127, [email protected]
Palavras-chave: Forma
planejamento, cidade.
urbana,
Sintaxe
espacial,
configuração,
Resumo
Este artigo aborda alguns fatores que tornaram “esquecidas” as cidades São
Cristóvão e Laranjeiras, localizadas em Sergipe, no Brasil (Figura 1). A
questão é se elas não teriam sido pensadas originalmente para realmente
serem esquecidas.
São Cristóvão, que teve origem a partir da implantação portuguesa do
século XVI, mas que acabou não se desenvolvendo tanto como algumas
outras cidades mais conhecidas internacionalmente como Salvador, Rio de
Janeiro, Belém, Ouro Preto..., embora possua um extremo valor histórico,
arquitetônico e urbanístico parece ter ficado esquecida ao longo do tempo.
De certa forma, os portugueses foram se fixando estrategicamente nos
pontos possíveis para estabelecer, defender e atacar, tratava-se de estratégia
derivada do conhecimento medievo das Artes da Guerra, engenharia e
navegação, mesmo com baixo quantitativo militar, conquistaram e
mantiveram todo o seu império por vários séculos. São Cristóvão,
localizada no alto da colina, entre o rio e o mar, foi a primeira capital do
Estado. A implantação inicial possuia a igreja-matriz, hospital –asilo dos
inocentes e palácio do governo,e as demais edificações foram se instalando
ao redor desse núcleo governamental e religioso (Figura 2). Algumas
cidades eram mais escondidas, mais estrategicamente posicionadas, entre o
mar e o interior, garantindo uma vantagem militar e geográfica. Assim,
cidades que hoje são pré-concebidas como de pouca importância no
contexto nacional seriam umas das mais importantes do período colonial,
onde, inclusive, muitas batalhas foram travadas, entre portugueses e índios,
franceses, holandeses, piratas.
457
Já Laranjeiras parece ser também uma “Cidade esquecida”. A cidade surgiu
em 1799, mas já existiam igrejas implantadas desde 1701, no alto das
colinas em sua região. A vila Laranjeiras não demonstra uma facilidade de
acesso por terra, além de ser implantada entre montanhas e colinas, longe do
mar e tendo o rio Cotinguiba margeando a cidade, de forma muito
curvilínea, o que escondia o movimento dos barcos, além das constantes
inundações devido ao período das chuvas que caiam de março a setembro,
quando era impraticável a navegação (Figura 2). A configuração urbana
inicial era linear, devido à importância que o rio Cotinguiba tinha para os
moradores, pois era por onde as mercadorias chegavam para serem
estocadas nos grandes armazens da cidade (os trapiches). Houve um período
de apogeu econômico no início do sec.XIX, mas seu crescimento foi
interrompido em meados do mesmo século, com a transferência da capital
de São Cristóvão para Aracaju, em 1855, quando muitos profissionais
(médicos, advogados) e militares, moradores da cidade, transferiram sua
moradia para a nova capital.
São Cristóvão e Laranjeiras, reconhecidas como “cidades esquecidas”,
possuem em comum a implantação a posição geográfica entre colinas e
longe do mar, mas tendo uma relação importante com os rios. Já a forma
compacta inicial de São Cristóvão difere da forma linear de implantação de
Laranjeiras, a qual se deve à topografia irregular e à localização das
primeiras edificações religiosas.
Já nos sec. XIX e XX, nenhum desses modelos urbanísticos implantados
apresentava atrativos ou caracterizava-se por trazer o progresso. Assim, São
Cristóvão e Laranjeiras caem no esquecimento; quando as inovações e
serviços chegavam para formar uma nova sociedade a partir de um traçado
urbano projetado por um engenheiro, Sebastião Pirro, na nova capital,
Aracaju, que prometia trazer o progresso do exterior, com seu traçado
retilíneo e delimitado em quadras geométricas.
Atualmente, as configurações urbanas de ambas as cidades continuam muito
fragmentadas, com vários povoados esparsos nos municípios, com
baixíssima acessibilidade e sem fortes centralidades. A intenção é de
instigar a pesquisa e a reflexão para a possibilidade de encontrar
configurações urbanas com tais características para que também possam ser
consideradas “cidades esquecidas”, na tentativa de compreender o
planejamento urbano de forma mais abrangente, pelo menos até que uma
nova configuração sócio-espacial se apresente para essas cidades, geradas a
partir de um modelo urbanístico português.
458
Legenda
Aracaju
São Cristóvão
Laranjeiras
Figura 1- Mapa de localização das cidades São Cristóvão, Laranjeiras e Aracaju.
Fonte: http://maps.google.com.br. Acessado em 03/06/2011.
Figura 2- Planta de São Cristóvão, em 1850, e Planta de Laranjeiras, em 1840.
Fonte: AZEVEDO, 1980/1975.
Referências
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Vol. I. Grupo de Restauração e Renovação Arquitetônica e
Urbanística, FAU-UFBA, Salvador
459
[2] Azevedo, P. O. D. (org.) (1980), Plano Urbanístico de São Cristóvão,
Vol. I, II, III, IV. Grupo de Restauração e Renovação Arquitetônica e
Urbanística, FAU-UFBA, Salvador
[3] Delson, R. M. (1997), Novas vilas para o Brasil-Colônia:
planejamento espacial e social no século XVIII, Ed. ALVA-CIORD,
Brasília
[4] Furtado, C. (1961), Formação Econômica do Brasil, Fundo de Cultura,
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Janeiro
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Anexo VII.
[7] Reis Filho, N. G. (1968), Evolução Urbana do Brasil (1500/1720),
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[8] Reis Filho, N. G. (2001), Imagens de Vilas e Cidades do Brasil
Colonial, Edusp, São Paulo
[9] Santos, L. S., M. T. Nunes (1999). Catálogo de Documentos
Manuscritos Avulsos da Capitania de Sergipe-1619-1822,
UFS/Departamento de História, Aracaju.
[10] Santos, Z. (2000), Laranjeiras: sua história, sua cultura, sua gente,
Prefeitura Municipal de Laranjeiras-SEMEC.
[11] Valla, M. (1998), Espaço Urbano No Recinto Fortificado Do Século
XVII: Teoria e a Prática, in Colóquio Internacional do Universo
Urbanístico Português 1415-1822. Comissão Nacional Para as
Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, pp.383-392
460
Paisagens Dispersas: estudo da produção da forma
urbana no Vetor Oeste da Região Metropolitana
de São Paulo
COELHO, Leonardo L. 1
Pesquisador do Projeto Quadro do Paisagismo no Brasil – Sistema de Espaços Livres
(QuapaSEL). Professor de Urbanismo, Paisagismo e Projeto de Edificações na Universidade
Anhembi Morumbi (Laureate Universities). Professor de Urbanismo da Escola da Cidade. Rua
Santo Amaro, 468, ap.75 – Bela Vista – São Paulo – SP , 01315-000, Brasil
+55 (11) 98189-1896, [email protected]
1
Palavras-chave: urbanização dispersa, Região Metropolitana de São Paulo,
loteamento fechado, forma urbana
Resumo
A urbanização brasileira ao final do século XX e início do XXI cresce de
maneira expressiva e apresenta novas formas de organização espacial,
sobretudo devido à consolidação de subúrbios residenciais para populações
de alto e médio poder aquisitivo; das estruturas de comércio e serviços a
eles associadas; dos distritos industriais/logísticos; e dos loteamentos
irregulares, apresentando como característica a dispersão física e funcional.
O processo de urbanização dispersa manifesta-se por meio da criação de
descontinuidades ocasionadas pela ocupação de áreas originalmente rurais,
mantendo interstícios em relação aos núcleos urbanizados originais. De
acordo com o conceito proposto por REIS FILHO (2006), a urbanização
dispersa brasileira deve ser entendida como reflexo do rearranjo das
relações produtivas em áreas metropolitanas, possuindo influência
significativa da iniciativa privada em sua estruturação.
Esse processo estabelece novas dinâmicas, tais como o maior grau de
dependência ao uso do automóvel e a criação de núcleos urbanizados com
infraestrutura autônoma de comércio, serviços e lazer. Estas dinâmicas são
favorecidas pela implantação de vias expressas, fomentada pelo Poder
Público. Como efeito, tem-se a transformação de rodovias em verdadeiras
avenidas urbanas de grande escala, cujo fluxo de veículos encontra-se cada
vez mais sobrecarregado em função das populações que as utilizam para
461
deslocamento diário entre as capitais e as áreas residenciais situadas nos
municípios das Regiões Metropolitanas.
Outro resultado desse processo é o maior isolamento das áreas urbanizadas
em relação ao entorno, na medida em que, sobretudo a partir da década de
1990, começam a ser utilizados dispositivos de bloqueio ao livre acesso de
pedestres e veículos sob o argumento de proteger-se da crescente violência
urbana.
Paralelamente e de forma conflitante, se destaca o crescimento de extensas
áreas urbanizadas com loteamentos precários e/ou irregulares, que cumprem
a função de bairros dormitório desprovidos de condições básicas de
infraestrutura, na maioria das vezes ocupando áreas ambientalmente frágeis.
Esta pesquisa de Morfologia Urbana é parte de uma tese de doutorado que
vem sendo desenvolvida há dois anos na área de Paisagem Ambiente do
programa de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo.
O objetivo deste trabalho é contribuir com o entendimento de dinâmicas que
têm se intensificado nas Regiões Metropolitanas brasileiras, sobretudo na
primeira década do século XXI, utilizando como exemplificação o Vetor
Oeste da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), que apresenta
características bastante representativas desses fenômenos.
A área de estudo (figura 1) abrange os municípios de Barueri, Carapicuíba,
Cotia, Embu das Artes, Itapecerica da Serra, Itapevi, Jandira, Santana de
Parnaíba e Vargem Grande Paulista. Sua urbanização foi estruturada pelos
eixos das rodovias Castelo Branco, Raposo Tavares, Régis Bittencourt e,
mais recentemente, pelo Rodoanel. Os maiores crescimentos populacionais
da região ocorreram a partir da década de 1970, quando a RMSP recebe
fluxos migratórios provenientes, sobretudo, da Região Nordeste do país.. O
conjunto dos municípios ocupa uma área total de cerca de 970km2 e abriga,
no ano de 2012, uma população de aproximadamente 1,7 milhões de
habitantes de acordo com informações da Fundação Sistema Estadual de
Análise de Dados (SEADE).
462
Figura 1 – Vetor Oeste da RMSP.
Fonte: Desenho do autor com base no Google Earth, 2013
Em conflito com o processo de urbanização fragmentada, a área apresenta
diversos recursos ambientais significativos e suscetíveis à degradação, tais
como as Áreas de Proteção Ambiental do Itupararanga e Várzea do Tietê; a
Reserva Estadual do Morro Grande; maciços significativos de Mata
Atlântica e áreas de mananciais.
A análise da morfologia urbana da área de estudo permite identificar
diversas dinâmicas significativas (figura 2), sendo a maioria delas
relacionadas à expansão de padrões de urbanização além dos limites
administrativos de cada município, dentre os quais se podem destacar:
- Grandes extensões contínuas de galpões de usos diversos - industriais e
de logística, condomínios empresariais e grandes centros de compra;
- Casario originado por loteamentos abertos ao acesso público, tanto
regulares quanto irregulares, compostos por casas isoladas no lote ou
geminadas e geralmente em conflito com a topografia e hidrografia ;
- Loteamentos fechados compostos predominantemente por casas
isoladas no lote.
- Condomínios horizontais compostos por casas isoladas no lote
ou geminadas.
- Condomínios e edifícios verticais, compostos por edifícios
multifamiliares acima de 3 pavimentos.
463
Figura 2 – Tecidos urbanos do Vetor Oeste da RMSP. Fonte: Desenho do autor
com base no Google Earth, 2013
Com base na análise desses padrões morfológicos, busca-se identificar
características dos atuais processos de urbanização da RMSP; de que forma
os diversos agentes contribuem para sua produção e quais os resultados
desses tipos de ocupação. Para tal, é realizada a comparação das legislações
ambientais e de uso e ocupação do solo à luz do entendimento dos atores
sociais relacionados. Ao mesmo tempo, parte-se do princípio que a
464
implantação de loteamentos fechados, condomínios horizontais e
infraestrutura correlata tem contribuído significativamente para a formação
de espaços definidos por CALDEIRA (2000) como enclaves fortificados.
Espera-se demonstrar que as ações do Poder Público por meio de
mecanismos legais urbanísticos e ambientais no Vetor Oeste da RMSP
consolidam padrões de urbanização dispersa que contribuem para a
exclusão social e degradação ambiental nos municípios.
Referências
[1] Caldeira, T. P. (2000), Cidade de Muros - crime, segregação e
cidadania em São Paulo, EDUSP, São Paulo
[2] Macedo, S. S. et al. (2007), Os sistemas de espaços livres e a
constituição da esfera pública contemporânea no Brasil. Projeto
Temático, FAUUSP, São Paulo
[3] Meyer, R. M. P. (2004), São Paulo Metrópole, EDUSP, São Paulo
[4] Reis Filho, N. G. (2006), Notas sobre a urbanização dispersa e
novas formas de tecido urbano, Via das Artes, São Paulo
465
Transformações dos espaços livres nos conjuntos
habitacionais
Maria Cristina V. TEIXEIRA1; Paulo ALONSO2; Natalia ACHCAR1,2
1
Professora Doutora da Universidade Federal de Minas Gerais
Av. Bandeirantes, 421, apto 202, Sion, Belo Horizonte, 30315-000, Brasil
0055313132235740, , [email protected]
2
Mestre da Universidade Federal de Minas Gerais
Rua Paraíba, 697 – Funcionários, Belo Horizonte, 30130-140, Brasil
[email protected]
1,2
Mestranda da Universidade Federal de Minas Gerais
Rua Paraíba, 697 – Funcionários, Belo Horizonte, 30130-140, Brasil
00553491310145, [email protected]
Palavras-chave: espaços livres em conjuntos habitacionais, apropriação do
espaço, transformação do espaço urbano.
Resumo
Os conjuntos habitacionais implantados em Belo Horizonte, Brasil, no
início da década de 2000, foram construídos através das diretrizes adotadas
pela política da Companhia Urbanizadora da cidade para atender à demanda
da população de baixa renda. Um dos principais objetivos era a construção
do maior número de unidades residenciais, concentradas em edifícios de
apartamentos com até quatro pavimentos, considerando a pouca
disponibilidade de terrenos livres e o alto valor dos mesmos. A maioria
desses conjuntos se localiza em áreas distantes do centro da cidade e em
terrenos de topografia acidentada. Este fato induz a uma padronização na
implantação do projeto, na busca de maior redução no custo da obra. Os
equipamentos dos espaços de uso coletivo desses conjuntos, quando
existem, variam de acordo com as áreas restantes da implantação dos blocos
no terreno e se compõem de quadras, playgrounds ou pequenas praças
internas. Esses espaços são necessários para incentivar a socialização dos
moradores. Os estacionamentos também são considerados áreas livres nos
projetos. Como consequência, os espaços livres desses conjuntos, embora às
vezes apresentem equipamentos para uso coletivo, são definidos no projeto
como caminhos de acesso às habitações, que nem sempre oferecem
condições de acessibilidade a todos os moradores. Com isso, os ajustes à
declividade acentuada são tratados com escadas e taludes íngremes. No
466
momento em que os conjuntos são ocupados, esses espaços livres são
apropriados pelos moradores de maneira diferenciada: no início, os espaços
coletivos são utilizados, especialmente pelas crianças, que brincam nas
quadras ou nos espaços livres improvisados. À medida que o tempo passa,
surgem divergências nas relações de convivência e esses espaços ficam
abandonados, o que às vezes torna-se perigoso, levando ao uso indevido,
inclusive ao consumo de drogas. Outro aspecto recorrente na apropriação
dos espaços livres é a privatização dos espaços livres coletivos: grande parte
das áreas livres próximas aos blocos é cercada pelos moradores que habitam
os andares térreos. O argumento é que eles têm que garantir a segurança e a
privacidade no bloco, isolando-se dos demais habitantes do conjunto,
fazendo com que não exista, entre os moradores, divisão de
responsabilidade pelo espaços livres externos a estes cercamentos. O
presente artigo pretende tratar da qualidade dos espaços livres nos conjuntos
habitacionais, avaliando os fenômenos que ocorrem nesses espaços e de que
maneira eles poderiam manter os objetivos propostos pelo projeto.
Agradecimentos
A pesquisa “Os espaços livres nos conjuntos habitacionais de Belo
Horizonte” conta com a colaboração das bolsistas graduandas em
Arquitetura e Urbanismo Anne Elly Pereira Fonseca e Carolina Vaconcelos
Dias.
467
Decoding metropolitan filaments: dynamics,
structure and fabrics
Inês Lopes MOREIRA (FCT grant)
CIAUD / Murbs – metropolitan studies and forms of urbanization research group
FAUTL (Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa) and
DUOT-ETSAB (Departamento d’Urbanisme i Ordenació del Territori de Escola Tècnica
Superior d’Arquitectura de Barcelona, Universitat Politècnica da Catalunya)
Rua Sá Nogueira | Pólo Universitário | Alto da Ajuda |1349-055 Lisboa - Portugal
[email protected]
Keywords: metropolitan Lisbon; urban morphology; specialized landscapes
Abstract
The paper presents a set of preliminary findings of the on-going PhD
research in Urbanism, addressing the specialized agglomerations of
production, distribution and consumption in metropolitan Lisbon, with a
morphological approach to their fabrics and processes of formation,
transformation and adaptation in the context of change. The main objective
is to identify and classify the specialized landscapes and their morphologies,
by revealing the dynamics of their formation/consolidation, the determinant
factors that have shaped them and to discuss their role in the overall
metropolitan structure and the way they can adapt and relate to existing
urban structure, contributing to a cohesive development of metropolitan
Lisbon.
Keeping pace with the contemporary cities and regions, Lisbon has been the
stage for a set of metropolitan dynamics of rapid urban expansion processes
and increasing functional complexity [1]. These changes have an increasing
presence in the landscape with the emergence of programmatic specialized
urban axes, deeply related to the infrastructures and indifferent to the
municipal limits.
The consolidation of the road and rail network, the motorization of the
population and the resulting changes in the way of inhabiting the city
allowed for the extension of the physical boundaries of metropolitan
Lisbon, the colonization of the mobility infrastructure and the consequent
emergence of functionally specialized urban formations, supported by the
468
blurring of traveling distances and the high degree of connectivity. Hence,
the network acts as catalyst for the polarization, characterized by the
occupation of peripheral areas in strategic locations, creating filamentary
morphologies along roads that communicate with the highway exits –
metropolitan filaments – with programs related to the secondary, tertiary
and quaternary sectors (logistics, retail, offices or R&D).
The metropolitan mobility network that consisted initially in a combination
of harbour, railway and national roads has gradually been complemented by
an articulated system of highways, that connect and structure the territory
local and nationally. According to their nature and location, the
metropolitan filaments have its genesis related to production and
distribution activities, in association with the railway and harbour
development. After the 90s, the adaptation to the new economic and social
demands of the emergent knowledge society, along with the setup of the
infrastructural network resulted in a distended urban system with axes of
great concentration of economic activities related to the tertiary and
quaternary sector and, hence, the obsolescence, restructuring and adaptation
of the vast peripheral industrial areas.
In order to contribute to the discussion of the current dynamics and the
resilience of these specialized areas, the paper approaches the uncertain
future of this complex landscape by reading at multiple scales the
interrelations of the natural ecologies, the infrastructural system, the built
environment and the void spaces [2]. Although the metropolitan filaments
result from spontaneous processes over time, parallel to the planning and
unrelated to the surrounding urban fabrics or city structure, it is claimed that
they obey to a set of morphological and location logics that can be decoded,
typified and interpreted under the analysis of their structure, fabrics and
development dynamics [3, 4]. In this sense, the paper is structured in order
to answer the following research questions:
a) what are the main changes in the economic activities and their impact in
the morphology and the functioning of the metropolitan structure, in the last
50 years?
b) what are the processes and the logics underlying the location, growth and
transformation of the metropolitan filaments and what are the natural and
anthropomorphic constrains that explain their structure and fabrics?
d) what could be the measures for their integration in the metropolitan
territory of Lisbon, in order to reduce the fractures and the territorial
discontinuities and to improve urban life?
469
The morphological changes reveal local features associated with specific
geographic, historic, social and economic conditions, which require a multilayer analysis to the recent formations and to their relationship with the
supporting urban structure. The methodology combines a theoretical with an
empirical approach, based on field work and morphogenetic analysis
resorting to the overlay of official cartography (from 1969 until 2009).
In order to contextualize and identify the processes underlying the
emergence, consolidation and adaptation of the specialized axes, the article
explores the transformations that have occurred in the metropolitan
structure over the past 50 years and identifies the main drivers and
consequences of the territorial specialization. Then, the contemporary trends
and the materialization of the changes and their territorial impact are
analysed, by resorting to case studies in metropolitan Lisbon.
References
[1] GEORGE, P. and S. MORGADO, Área Metropolitana de Lisboa
1975-2001. De la monopolaridad a la matricialidad emergente =
Metropolitan Area of Lisbon 1970-2001. From monopolarity to an
emerging matrix pattern in L'explosió de la ciutat : morfologies,
mirades i mocions sobre les transformacions territorials recents en les
regions urbanes de l'Europa Meridional, A. FONT, Editor 2007,
Ministerio de Vivienda: Madrid. p. 62-85 (edição revista).
[2] WALDHEIM, C.e., The Landscape Urbanism Reader2006, New
York: Princeton Architectural.
[3] MANGIN, D., La ville passante. Collection Grand Prix de l'Urbanisme
/ MEEDDAT, ed. A. MASBOUNGI2008, Marseille: Parenthèses.
[4] VARNELIS, K., The Infrastructural City: Networked Ecologies in Los
Angeles2008, Barcelona: Actar.
470
A forma urbana como instrumento de
compreensão da dinâmica socioespacial: Erechim –
RS
Daniella RECHE1; Murad Jorge Mussi VAZ2; Andrei Luis SIGNOR3
1
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul Av.
Dom João Hoffmann, 313, Fátima, Erechim. 99700-000, Brasil
55 54 9191 1911, [email protected]
2
Professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul Av.
Dom João Hoffmann, 313, Fátima, Erechim. 99700-000, Brasil
55 54 8136 6961 [email protected]
3
Acadêmico do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Fronteira Sul
Av. Dom João Hoffmann, 313, Fátima, Erechim. 99700-000, Brasil
55 54 8100 1999, [email protected]
Palavras-chave: forma urbana, análise socioespecial, Erechim.
Resumo
O trabalho apresenta a pesquisa desenvolvida a partir de 2011, que busca
compreender a evolução urbana da cidade de Erechim, a partir de sua
conformação espacial. Como métodos de pesquisa são utilizados
levantamento documental e trabalhos de campo nos diversos recortes
urbanos analisados; como métodos de análise, têm sido adotadas as
categorias propostas por José Lamas [1] e Maria Elaine Kohlsdorf [2].
Através dos resultados preliminares obtidos percebeu-se a possibilidade de
compreensão dos processos socioeconomicos a partir da análise formal.
A cidade de Erechim possui 96.105 habitantes (IBGE, 2010), e situa-se no
Estado do Rio Grande Sul, no sul do Brasil. Seu núcleo urbano foi resultado
dos ideiais de colonização da região do Alto Uruguai no final do século
XIX e início do século XX. Seu traçado urbano, considerado moderno para
época, traz referências positivistas então justificadas pelos ideais
progressistas do governo do Estado, na época o Partido republicano Rio
Grandense [3].
A desenho inicial da cidade (de 1914), caracteriza-se por um um traçado
em grelha de quarteirões regulares e largas avenidas sobre o qual foram
implantadas quatro vias diagonais que partem da praça central (mapa 1). O
projeto de autoria do então chefe da Comissão de Terras do Estado, o Eng.
471
Torres Gonçalves, confere posição de maior centralidade aos edificios
públicos e representativos do poder abrigando o centro político,
administrativo e religioso.
Concebendo um projeto ideal frente os princípios do governo, o engenheiro
desconsiderou o relevo acidentado sobre o qual o projeto seria implantado,
gerando uma diversidade de vias inconcebíveis sobre tal terreno. Em
resposta a isso, em 1931, os projetistas Diuner Scheneider e Longinis
Malinowski propõem uma reforma no modelo de traçado urbano da cidade.
A nova proposta, fazendo referência aos modelos de cidade jardins, trazia
um desenho acomodando as ruas à topografia (mapa 1), em especial nas
áreas periféricas do projeto inicial onde se dão os maiores desníveis onde o
traçado urbano anterior não pôde se consolidar [3].
Mapa 1: Traçado urbano de Erechim de 1914 e 1931. Fonte: AVER, 2008.
Elaboração: Autores.
Nas décadas seguintes o núcleo central de Erechim densificou-se
rapidamente, descentralizando-se a partir de 1950 com a industrialização e o
grande aumento populacional que extrapolou os limites do perímetro urbano
472
original. O rápido crescimento sem planejamento urbano fez com que a
ocupação ocorresse de forma não homogênea, criando vazios urbanos no
interior das áreas adensadas. Áreas de encosta e de alta declividade
consideradas inadequadas para a habitação passaram a ser ocupadas por
operários das fábricas que foram instaladas na cidade. Anos depois, em
1955, começaram a ser aprovados novos loteamentos às margens do
perímetro urbano mantendo o traçado em grelha, mas sem qualquer conexão
com os dois traçados anteriores iniciais, resultando em uma trama urbana
irregular com áreas segregadas (mapa 2) e vazios de alto valor especulativo.
Mapa 1: Imagem de satélite de Erechim (2009) destacando os loteamentos
sociais implantados entre as décadas de 50 e 2000. Fonte: PME e Projeto de
Extensão “Erechim para quem quiser ver, discutir e intervir”. Elaboração:
Autores.
Dentre as várias categorias de análise que poderiam ser elencadas para a
compreensão da evolução urbana da cidade de Erechim, a escolhida para as
reflexões do presente trabalho refere-se à forma urbana, como rebatimento
de desdobramentos socioeconômicos espacializados. Conforme trazido
anteriormente, Erechim teve diversos momentos desde seu desenho inicial
(1914) de forte apelo formal, passando pelo plano de 1931 e culminando
473
com um crescimento para fora de “suas fronteiras imaginárias”
impulsionado pelo mercado imobiliário, ocasionando uma ocupação a partir
de loteamentos excêntricos. Destarte, a análise de sua morfologia urbana
visa extrair elementos capazes de elucidar sua dinâmica urbana a partir da
própria configuração espacial através de categorias de análise proposta por
Lamas e Kholdsdorf em seus respectivos trabalhos. Tal perspectiva
formalista não exclui os processos de formação socioespacial que
originaram a própria cidade de Erechim tal como ela é conhecida hoje. Mas
visa possibilitar o processo de leitura e apreensão desse movimento
dinâmico através da configuração de artefatos arquitetônicos construídos e
as relações urbanas propostas por seus arranjos, sejam estes resultados
advindos de um desenho prévio ou dos aspectos econômicos que
direcionam sua ocupação.
O que revelam tais análises? Sobretudo o direcionamento dado ao
crescimento da malha urbana da cidade a partir do interesse de grupos
hegemônicos, contribuindo para uma fragmentação desmesurada do tecido
urbano através de vazios urbanos e locação de grandes parcelas
populacionais distantes do centro urbano, minimizando a possibilidade de
“direito à cidade” [4] através de mecanismos de exclusão.
Foram utilizadas as categorias apresentadas por Lamas vinculadas a
contexto, função e figura e os elementos morfológicos do espaço urbano
especificamente a parcela fundiária, o traçado e o lote, o solo,
sistematizadas em categorias de análise apresentadas por Kholsdorf (1996,p.
139-146) como o sítio físico (e suas relações com relevo e elementos
naturais), a categoria planta baixa através do tipo de malha, parcelamento e
as relações de cheios e vazios, corroborando com a compreensão da
morfologia urbana como rebatimento entre os condicionantes espaciais e a
intervenção dos diversos agentes sociais. Até o presente momento, a
pesquisa tem ratificado a análise espacial como instrumento eficaz para o
entendimento e a intervenção urbana através da visualização da
espacialização de seus processos socioeconômicos em seu desenvolver
histórico e geográfico.
Referências
[1] LAMAS, José M. R. G. Morfologia Urbana e Desenho da
Cidade.
[2] Lisboa: Fergráfica – artes gráficas SA, 2000.
[3] KOHLSDORF, Maria E. Apreensão da forma da cidade.
Brasília: UNB, 1996.
474
[4] AVER, Ivana Karine. Erechim, processo e projeto. Relações
estruturais entre traçado viário e desenvolvimento urbano.
Orientação de Romulo Krafta, Porto Alegre: UFRGS, Faculdade
de Arquitetura, 2008.
[5] LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. 5°. ed. São Paulo:
Centauro, 2009.
475
O público e o privado criando cidades:
Forma e Qualidade Urbana na Amazônia MatoGrossense
MOTTA, S. H. A.; MACHADO, D.B.P.
Palavras-chaves: forma urbana, qualidade urbana, Amazônia
Resumo
Os movimentos migratórios para a região amazônica ocorreram desde o
Brasil Colônia. A ocupação luso-brasileira, no início do século XVI, que se
deu através de missionários, droguistas do sertão e tropas de resgate e de
guerra, foi o primeiro passo para a ocupação da região. A partir da década
de 1960 iniciou-se na Amazônia mato-grossense um novo ciclo de ocupação
da região com a formação de várias novas cidades, resultado do modelo
brasileiro de desenvolvimento e das políticas desenvolvimentistas
empreendidas a partir de então, o que transformou a Amazônia Brasileira
em uma fronteira urbana. Destaca-se que a partir da década citada, na
Amazônia Mato-grossense foram criadas mais de 50 cidades.
Problema:
O Estado de Mato Grosso, com mais de 2/3 do seu território ocupado pela
bacia Amazônica, é hoje o maior produtor de grãos do Brasil. Em
conseqüência deste fato econômico, a região recebe intenso fluxo de
migrantes de várias áreas do país com transformações drásticas nas suas
novas cidades. Assim, torna-se imperativo a realização de estudos quanto a
forma urbana destas cidades e suas possíveis relações com a qualidade
urbanística das mesmas. As cidades de estudo são: Sinop – fruto de
empreendimento privado; Guarantã do Norte – projeto do governo federal;
Peixoto de Azevedo, cidade de origem espontânea e fruto do garimpo de
ouro na Amazônia. Estas cidades, implantadas na década de 70, nunca
foram estudadas.
Fundamentação Teórica:
Para LAMAS (2010:26, 34), “... a forma (física) do espaço é uma realidade
para a qual contribui um conjunto de factores socioeconômicos, políticos e
culturais.” Para o autor o desenho da cidade é um “espelho e produto da
cultura e da visão pessoal dos seus autores.” Inicialmente qualquer leitura
da cidade é eminentemente físico-espacial e morfológica, posteriormente é
476
que se dão outros níveis de leitura – históricos, econômicos, sociais, etc.
Ressalta-se que o autor entende a morfologia urbana como o estudo dos
aspectos externos do meio urbano e capaz de explicar a sua estrutura e sua
paisagem urbana. Porém, para explicar a produção de uma dada forma é
necessário o estudo de outros fenômenos, nas esferas do social, econômico,
culturais e outros, o que não tira a responsabilidade da morfologia urbana de
identificar os níveis de produção da forma urbana.
Segundo LAMAS (2010:390) “... parece existir de novo a fé e capacidade
de a FORMA URBANA contribuir a vários níveis para a qualidade de vida
dos cidadãos, recuperando as relações morfológicas que haviam
caracterizado a cidade tradicional.” KEVIN LYNCH, principalmente por
suas obras A Boa Forma da Cidade e A Imagem da Cidade, apresenta um
entendimento da forma da cidade enquanto potencialidade capaz de
influenciar na construção de uma boa cidade. O autor conclui, na primeira
obra citada, que as pessoas entendem a cidade ao seu redor de maneira
consistente e previsível, formando mapas mentais. Na busca por uma nova
teoria de modelo das cidades, o autor estipula as referências que devem ser
integradas no seguinte conjunto de dimensões: vitalidade, sentido,
adequação, acesso, controle, eficiência e justiça. O autor também discute a
questão do tamanho ideal de cidade e reforça a importância da unidade local
do bairro social e das unidades de vizinhança e uma gestão local dessas
unidades.
Para JACOBS (2000:419, 420, 421)
“A estrutura real das cidades consiste na combinação de usos, e nós nos
aproximamos de seus segredos estruturais quando lidamos com as
condições que geram a diversidade... Só a complexidade e a vitalidade de
usos dão às regiões das cidades estrutura e forma adequadas.... Essa é a
ordem essencial para a qual o desenho urbano pode contribuir. É necessário
tornar clara a extraordinária ordem funcional dessas áreas de vitalidade."
Segundo KARRUZ (aput KEINERT & KARRUZ – 2002), os indicadores
usualmente utilizados para aferir a Qualidade de Vida, como o índice de
desenvolvimento humano- IDH, e a longevidade, quando utilizada
isoladamente, não contemplam indicadores ligados diretamente a Qualidade
de Vida Urbana, isto devido estes indicadores não levarem em conta
parâmetros e fatores ligados ao viver urbano. Para tanto torna-se necessário
esforços no sentido da construção destes indicadores através de conceitos
referentes ao viver urbano.
Objetivos:
477
Definir os modelos de urbanização empreendidos nos projetos de
colonização ao longo da rodovia Cuiabá-Santarém, tendo como cidades de
estudo Sinop, Guarantã do Norte e Peixoto do Azevedo;
Definir e tipificar a forma das cidades estudadas;
Definir formas de se mensurar a qualidade urbanística das cidades
estudadas;
Conhecer a relação entre as formas das cidades estudadas e a qualidade
urbanística das cidades estudadas.
Metodologia:
Dentre as modalidades e metodologias de pesquisa utilizados, destacam-se o
estudo de caso, entendendo as cidades escolhidas como casos de estudo
particulares, representativo de um conjunto de casos análogos; a pesquisa
bibliográfica, que está sendo realizada a partir da revisão da literatura sobre
o assunto e a definição dos autores já citados, que foram utilizados como
teoria de base da fundamentação teórica; a pesquisa documental através do
estudo de documentos legais referentes à colonização da Amazônia Matogrossense e a pesquisa de campo, que ocorre em dois momentos, no
levantamento de documentos em Prefeituras, colonizadoras e no INCRA,
quanto a desenhos e planos urbanos e levantamentos realizadas nas cidades
estudadas, quanto às variáveis definidas para o estudo da qualidade urbana.
Resultados Parciais:
Os dados levantados e analisados até o momento, apontam que as cidades
planejadas, seja pelo setor público ou pelo setor privado, apresentam
melhores qualidade de vida. Dentre estas, as criadas pelo setor privado
apresentam escala monumental, com várias vias estruturais com canteiros
centrais, grandes rotatórias, praças e parques, pontos nodais e marcos de
destaque, setorização definida e desenho detalhado. As cidades criadas pelo
setor público apresentam escala humana, com vias predominantemente
locais, espaços públicos em número reduzido, setorização não rígida, pontos
nodais e marcos limitados. As cidades cridas espontaneamente, pela corrida
do ouro na Amazônia, apresentam-se caóticas, com vias estreitas e
tortuosas, lotes irregulares e menores de 125 m², inexistência de espaços
públicos como praças e parques, inexistência de marcos e pontos nodais
esparsos.
478
Referências:
[1] LAMAS, J.M.R.G. - Morfologia Urbana e Desenho da Cidade. Ed.
Fundação Calouste Gulbenkian, 5ª edição, Lisboa/Portugal, 2010.
[2] LYNCH, K. – A Boa Forma da Cidade. Edições 70,Lda.
Lisboa/Portugal, 2010.
[3] JACOBS, J. – Morte e Vida de Grandes Cidades. Ed. Martins Fontes,
São Paulo, 2000.
[4] KEINERT, T. & KARRUZ, P.(orgs) - Qualidade de Vida:
observatório, experiências e metodologias. ANNABLUME/FAPESP,
São Paulo, 2002.
479
Uso e Ocupação de Espaços Públicos Abertos
Izabele COLUSSO1; Romulo KRAFTA2
1
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Av. Sarmento Leite, 320 - CEP 90050-170 - Porto Alegre - RS - Brasil
(55) (051) 33083116 - Fax: (55) (051) 33083989
[email protected]
2
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
Av. Sarmento Leite, 320 - CEP 90050-170 - Porto Alegre - RS - Brasil
(55) (051) 33083116 - Fax: (55) (051) 33083989
[email protected]
Palavras-chave: uso do solo, espaço público aberto, apossamento,
apropriação, ocupação
Resumo
Alguns autores dizem que configuração espacial direciona movimento, que
é gerado pela interação entre as atividades [1,2,3,4]. Este artigo procura
uma correlação entre os conceitos de configuração urbana, morfologia,
movimento de pedestres [5], e uso e apossamento de espaços públicos
abertos. Uma medida chamada convergência ajudaria na verificação, pois
pode ser descrita como um grafo direcional entre oferta e demanda, onde a
demanda de pedestres está sempre convergindo, através das ofertas de
serviços do sistema urbano. Uma medida derivada desta, a potencialidade,
busca mostrar que os espaços públicos abertos adjacentes a estas ofertas são
os que atraem demanda (Figura 01), fazendo emergir os espaços públicos
que estão sentindo os efeitos atratores que algumas ofertas demonstram.
Buscamos, assim, avaliar, através de medições de potencial virtual, o
desempenho destes espaços públicos abertos da área central de Santa Maria,
com a finalidade de detectar quais são as características que fazem com que
alguns espaços tenham mais tendência a terem um uso em detrimento de
outros espaços (Figura 02). O modelo reconhece os espaços adjacentes às
formas construídas mais atratoras como os que têm maior possibilidade de
terem a si um uso associado. O confronto dos resultados indica que existe
uma correlação mediana entre tais resultados, virtual e real.
481
Figura 1 - Recorte espacial considerado na área central do município de Santa
Maria, representação espacial do recorte considerado em lotes, e representação
espacial do recorte considerado em pontos conectados. Fonte: adaptado pelos
autores
Figura 2 - Recorte do quarteirão, com o destaque em roxo dos pontos que obtiveram
maiores valores de medida de potencial virtual através do software Medidas
Referências
[1] Hillier, B. Penn, A. and Hanson, J. and Grajewski, T. and Xu, J.
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pedestrian movement’, in Environment and Planning B, 20 (1). pp. 2966.
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[2] Hillier, B (1996) ‘Space is the machine’; Cambridge University Press
[3] Krafta, R (1994) ‘Modelling intraurban configuracional development’,
in Environment & Planning B, vol 21, janeiro 1994: London, Pion
[4] Krafta, R (1995) ‘Configuração e Apropriação do Espaço Urbano’. In:
Seminário Interdisciplinar sobre cidade e produção do cotidiano, 1995,
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Recife. Cidade e Produção do cotidiano. Recife, PE Brasil, v. 1. p. 8394
[5] Krafta, R (1996) ‘Urban Convergence: Morphology and Attraction’, in
Environment & Planning B, vol 21, janeiro 1996: London, Pion
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in
<http://www.casa.ucl.ac.uk/streets.pdf#search=%22streets%20an%20a
gent%20based%20pedestrian%20model%22>
483
Incorporações residenciais verticais em São Paulo
João MEYER1, Ana Cecília CAMPOS2; Eugenio QUEIROGA3, Fany
GALENDER4, Helena DEGREAS5, Silvio MACEDO6, Rogério
AKAMINE7,Vanderli CUSTÓDIO8
1
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
2
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
3
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
4
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
5
Prof. Dra. FIAMFAAM
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
6
Coordenador LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
7
Prof. Dr. Universidade Nove de Julho
Av. Dr. Adolpho Pinto, 109, 01156050, Brasil
(5511) 3665-9791, [email protected]
8
Profa. Dra. Instituto de Estudos Brasileiros
Av. Prof.Mello Morais, trav. 8, no.14, 05508-030, Brasil
(5511) 30912398, [email protected]
Palavras-chave: incorporações, forma urbana, São Paulo, condomínios
residenciais, adensamento.
Resumo
Esta pesquisa integra o projeto interdisciplinar intitulado “Os sistemas de
espaços livres na constituição da forma urbana no Brasil: produção e
apropriação” (QUAPÁ-SEL II), coordenado pelo Laboratório LABQUAPÁ da FAUUSP, que desde 2012 investiga relações entre sistemas de
espaços livres e a forma urbana brasileira na atualidade, considerando sua
484
produção a partir dos processos socioeconômicos, seus aspectos comuns e
especificidades locais.
O objetivo da presente pesquisa é localizar, quantificar e caracterizar as
transformações nos padrões dos lançamentos residenciais verticais,
realizados por incorporadores na década de 2000, de modo a fornecer
subsídios para o entendimento da constituição da forma urbana paulistana
atual e suas implicações no sistema de espaços livres da cidade de São
Paulo.
Foram utilizados dados de dois biênios do começo e do fim da década:
2001/2002 e 2008/2009, anteriores e posteriores ao período de transição
onde emergiram os principais fatores das mudanças estudadas: (1) o novo
Plano Diretor de São Paulo e correspondente lei ordenadora do uso do solo,
(2) a capitalização das grandes incorporadoras pela abertura do capital em
bolsa e (3) a retomada dos financiamentos habitacionais, em larga escala, no
Brasil.
Os dois períodos foram comparados por meios de mapas e quantificação
dos indicadores. Os lançamentos de edifícios residenciais em geral foram
localizados em mapas base, previamente elaborados, com a delimitação de
critérios geográficos relevantes para a análise: (1) diretrizes de incentivo ou
restrição ao adensamento do macrozoneamento municipal do São Paulo, (2)
áreas nobre, intermediária ou periférica (3) município de São Paulo e outros
municípios da Região Metropolitana. Os empreendimentos foram
quantificados segundo estes critérios para cada biênio estudado.
Análisou-se também especificamente os condomínios clube (projetos com
mais de um bloco de apartamentos e com pelo menos 2.500 m² de terreno,
muitos com mais de 10.000 m²) que se caracterizam pelo cercamento de
áreas significativas do tecido urbano com provimento de espaços livres
privados. Outras características estão sendo investigadas: padrão, preços,
número de andares, bem como indicadores de aproveitamento e ocupação
do terreno e de áreas livres. Todas variáveis são avaliadas segundo sua
distribuição geográfica e frequência. Quantitativamente, as variáveis e as
compartimentações do território são apuradas tanto pelo número de
lançamentos quanto pelo número de unidades residenciais.
Os resultados preliminares mostram ter quase duplicado o volume de
unidades lançadas, porém em empreendimentos maiores. O total de
empreendimentos no município de São Paulo manteve-se quase estável.
Houve uma importante desconcentração de incorporações da região
sudoeste, a mais nobre da cidade, principalmente para o anel intermediário
da cidade.
485
Mapa 1 e Mapa 2 – Comparação dos lançamentos de condomínios residenciais
verticais na Região Metropolitana de São Paulo entre os biênios de 2001/2002 e
2008/2009 e diretrizes de adensamento do Município de São Paulo – elaboração dos
autores
Os demais municípios da região metropolitana mais que dobraram o número
de lançamentos e mais que triplicaram o número de unidades lançadas. Os
principais vetôres desta expansão foram em direção aos municípios
industriais (Osasco a oeste, Guarulhos a nordeste e ABC a Sudeste). Os
principais eixos de transporte rodo e ferroviários estruturaram os eixos de
expansão.
Dobraram os lançamentos de condomínios clube, principalmente no anel
intermediário de São Paulo e nos demais municípos da região
metropolitana, de forma semelhante ao conjunto de todos lançamentos.
486
Mesmo áreas periféricas do município de São Paulo tiveram um acréscimo
importante de lançamentos, ainda que em menor intensidade.
Ampliou-se significativamente o número de lançamentos voltado para os
grupos de renda média. E o volume de lançamentos econômicos, quase
desprezados anteriormente, passou a ser significativo frente ao total.
As diretrizes do novo Plano Diretor de incentivo do adensamento do anel
intermediário tiveram êxito no redirecionamento dos vetores de expansão da
atividade imobiliária. Mas foram claramente auxiliadas pela nova escala das
incorporadoras, agora capitalizadas, que procuraram estas regiões por
disporem de terrenos maiores, mais adequados à nova dimensão dos seus
projetos e pela necessidade de diversificarem mercados para padrões
intermediários e econômicos. Para isto contribuiu decisivamente a retomada
do crédito imobiliário para estes segmentos.
Agradecimentos
Os autores agradecem Luis Paulo Pompéia, diretor executivo da Empresa
Brasileira de Estudos do Patrimônio (Embraesp), pela cessão e permissão de
uso de informações do seu banco de dados. Também agradecem a Sofia M.
Fróis pelo geoprocessamento e tratamento e quantificação dos dados.
Referências
[1] Campos, A. C. et al. (Orgs.), (2012), Quadro dos sistemas de espaços
livres nas cidades brasileiras, FAUUSP, São Paulo
[2] Haddad, Emílio; Meyer, João F.P. The financial crisis and Brasil's
expanding market. In: BARDHAN, A.; EDELSTEIN, R.; KROLL, C.
(eds). Global Housing Markets -Crises, Policies and Institutions. New
Jersey: John Wiley & Sons, 2012. p. 491-510. (Robert W. Kold series
in finance)
[3] Macedo, S. (2012), Paisagismo brasileiro na Virada do Século,
EDUSP, Editora Unicamp, São Paulo
[4] Meyer, João F.P. Demanda residencial: Adequação da análise de
mercado imobiliário —o caso de São Paulo. São Paulo, 2008. Tese
(Doutorado). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
[5] Prefeitura do Município de São Paulo – Plano diretor estratégico do
município de São Paulo – 2002 – 2012. SEMPLA organização, São
Paulo: Ed. SENAC; Prefeitura Municipal de São Paulo, 2004.
487
A transformação da paisagem, desenho e forma
urbana: O que Vargem pode aprender com Las
Vegas?
Rogerio Goldfeld CARDEMAN1
1
Programa de Pos Graduação em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio de Janeirocompleta
Rua Embaixador Graça Aranha, 635, Rio de Janeiro, 22450-090, Brasil
+5521 99611615, [email protected]
Palavras-chave: Transformação da paisagem, desenho urbano, forma
urbana, Rio de Janeiro, Brasil
Resumo
Este artigo tem como objetivo fazer uma análise sobre a ocupação recente
da região conhecida como Vargens na zona oeste da cidade do Rio de
Janeiro e faz parte da pesquisa de doutoramento em andamento no
Programa de Pós Graduação em Arquitetura da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (PROARQ-FAU-UFRJ). Nesta pesquisa analisamos a
relação das novas edificações que surgem rapidamente com as ruas, entre o
público e o privado, e como o pedestre se apropria e participa desta relação.
A proposta da pesquisa é mostrar a transformação da paisagem dos espaços
urbanos pelo olhar do usuário como participante ativo deste espaço.
Como base teórica para estas relações entre espaços públicos e privados
usaremos o trabalho de dois autores importantes para nossa pesquisa,
Robert Venturi[1] com o seu livro “Aprendendo com Las Vegas” e “Morte e
vida das grandes cidades” de Jane Jacobs[2]. Venturi faz uma análise da
ocupação da cidade no estado de Nevada no meio do deserto mostrando
como o espaço urbano foi se desenvolvendo para atender as necessidades da
principal atividade local, o turismo dos cassinos e hotéis. Fiz uma
comparação entre a análise do autor e a análise realizada por mim em visita
a cidade no início do ano de 2013.
488
Figura 1: Foto aerea da Las Vegas Strip. Fonte: Autor, 2013.
O trabalho de Jacobs faz uma crítica ao urbanismo modernista que afastava
a vida das ruas e das calçadas criando grandes quadras, as ruas passam a ser
exclusivamente para circulação de automóveis. Como exemplo disto no
Brasil, temos dois planos feitos por Lucio Costa, o de Brasília e o plano
para Baixada de Jacarepaguá na cidade do Rio de Janeiro.
Com a análise da evolução do espaço urbano de Las Vegas podemos, de
forma proporcional, fazer uma análise da recente ocupação que ocorre
desde 2009 em Vargens. Apesar de serem em países distintos e de parecer
difícil de obter uma semelhança entre elas, a relação morfológica entre
espaços públicos e privados, construídos e não construídos em Vargens é
muito parecida com a que ocorreu na ocupação inicial de Las Vegas
relatada por Venturi. A mudança de relação entre estes espaços nos últimos
trinta anos na cidade americana serve de alerta para os gestores urbanos da
cidade do Rio de Janeiro.
Para Jane Jacobs o que dá vitalidade a um espaço urbano são as pessoas,
quando umas podem observar as outras, sentimos mais segurança de nos
apropriar do espaço público. Ao afastar os edifícios das calçadas ou os
isolar com gradeamento estamos criando espaços distintos entre público e
489
privado. Para a autora quanto mais utilização tivermos nas edificações mais
movimento teremos nestas, criando assim, uma vitalidade neste espaço. A
vitalidade da rua, este é o ponto de Jacobs que usamos para este trabalho,
queremos gente em Vargem.
Mas o que vemos em Las Vegas nos Estados Unidos que nos remete a
Vargens na cidade do Rio de Janeiro, Brasil? Em seu trabalho Venturi
descreve como se constituíam as edificações localizadas na Las Vegas Strip
onde os estacionamentos ocupavam a parte frontal dos lotes e grandes
letreiros luminosos indicavam a qual cassino pertenciam. Como as quadras
eram muito extensas afastavam os pedestres e frequentadores das ruas, ou
eles estavam hospedados nestes hotéis ou se deslocavam com carros.
Em recente visita pudemos identificar como as novas edificações
construídas na Strip passaram a se aproximar da rua, fazendo os
estacionamentos se deslocarem para os fundos. Os embasamentos dos hotéis
passam a ser ocupados por lojas com frente para as ruas e galeria de lojas
que levam aos casinos e as recepções dos hotéis. Foram criadas passarelas
que ligam vários hotéis pelos pavimentos superiores e que propiciam a inda
e vinda dos usuários sem que seja necessário o uso dos carros. Nestes
espaços o que vemos é um grande movimento de pessoas que ajudam a
ocupar os espaços públicos dos hotéis, que agora não somente se ocupam
com hóspedes, mas também com visitantes.
Neste ponto, a cidade com uma morfologia modernista, ganha a vitalidade
pregada por Jacobs e não imaginada para Las Vegas. Mas como Vargem
poderia aprender com isso? Vamos começar pela Região da Baixada de
Jacarepaguá, mais especificamente pelo bairro da Barra da Tijuca, objeto de
um plano urbanístico em 1969 elaborado pelo arquiteto Lucio Costa e
próximo à região de nosso estudo. O plano modernista de Costa criou
grandes vias e quadras, nestas quadras os parâmetros urbanísticos, como a
baixa taxa de ocupação, levaram a sua ocupação por condomínios de
edifícios localizados nos centros dos lotes. Só este tipo de implantação já
afastava os moradores das calçadas, além disto, estes condomínios se
fecharam com grades isolando assim, o não morador destes espaços.
Em Vargem, a proposta era de ocupar uma grande região com novas
edificações que atenderiam a grande demanda de moradia existente na
cidade, e talvez conseguir preços mais acessíveis aos imóveis já que a Barra
da Tijuca praticava preços comparados a região mais cara da cidade, a Zona
Sul. O discurso do órgão de planejamento da cidade à época era de que
criariam um espaço urbano semelhante ao da zona sul, onde a vitalidade e o
movimento nas ruas são constantes, porém menos denso. Mas aprovado o
Projeto de Estruturação Urbana (PEU) para a região não foi o que as
490
grandes incorporadoras começaram a implantar. O que está acontecendo
então em Vargens e o que podemos comparar a Las Vegas?
Figura 2: Foto aerea de Vargem. Fonte: SEL/RJ, 2012.
Referências
[1] VENTURI, Robert et al. Aprendendo com Las Vegas. São Paulo:
Editora Cosac Naify, 2003.
[2] JACOBS, Jane. Morte e vida nas grandes cidades. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
491
Praças de Vila Mariana: forma, gestão e
apropriação do espaço
Helena DEGREAS1; Ana Cecília CAMPOS2; Eugenio QUEIROGA3; Silvio
MACEDO4, Fany GALENDER5, Vanderli CUSTÓDIO6, Rogério AKAMINE7,
João MEYER8
1
Prof. Dra. Centro Universitário FIAMFAAM
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
2
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
3
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
4
Coordenador LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
5
Pesquisadora LAB-QUAPÁ/FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
6
Profa. Dra. Instituto de Estudos Brasileiros
Av. Prof. Mello Morais, Trav. 8, no.14, 05508-030, Brasil
(5511) 30912398, [email protected]
7
Prof. Dr. Universidade Nove de Julho
Av. Dr. Adolpho Pinto, 109, 01156050, Brasil
(5511) 3665-9791, [email protected]
(5511) 30914687, [email protected]
8
Prof. Dr. FAUUSP
Rua do Lago 876, 05508900, Brasil
(5511) 30914687, [email protected]
Palavras-chave: espaços
urbanização, paisagem.
livres,
forma
urbana,
cidade
brasileira,
Resumo
Este trabalho integra o projeto temático de pesquisa “Os sistemas de
espaços livres na constituição da forma urbana no Brasil: produção e
492
apropriação” (QUAPÁ-SEL II), coordenado pelo Laboratório QUAPÁ da
FAUUSP.
A pesquisa pretende apresentar algumas reflexões sobre o significado e o
papel desempenhado na vida urbana contemporânea de um dos elementos
morfológicos que compõem os espaços livres públicos da cidade – a praça.
A partir da análise das diretrizes para a produção dos espaços livres
públicos contidas no Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo e
associadas ao conhecimento das formas e da inserção no tecido urbano,
pretende-se exercitar uma nova abordagem que tem por objetivo colaborar
na revisão e aprimoramento das decisões de planejamento urbano quando
do tratamento de conteúdos vinculados à concepção, produção,
investimento e gestão de um sistema de espaços livres a partir de espaço
urbano já consolidado. O recorte selecionado foi a Subprefeitura de Vila
Mariana, ou ainda, o menor espaço administrativo com alguma autonomia
para a gestão de território e que incorpora diversos bairros e distritos.
Os resultados e avaliações preliminares apresentados no texto são oriundos
de um conjunto de fichas técnicas de avaliação aplicadas em visitas técnicas
a 155 espaços livres listados e definidos como praças pelo poder público
entre 2011 e 2012 por alunos do Escritório Modelo do curso de Arquitetura
e Urbanismo do Centro Universitário FIAMFAAM. Estas fichas cobriram
cerca de 40% das praças listadas pelo poder público municipal.
Simultaneamente, os alunos produziram relatórios contendo imagens,
mapas e relatos com diagnósticos preliminares. Posteriormente, os
resultados foram organizados por temas com vistas à elaboração de um
diagnóstico da situação.
Com 346.738 habitantes distribuídos numa área de 26,90 km², esse conjunto
de bairros e distritos distribuem-se em cerca de 320.000m² divididos em
150 praças e 5 largos e que são destinados ao lazer e recreação pública da
população. Em seu Plano Regional Estratégico (parte integrante do Plano
Diretor Estratégico e que tem por objetivo parcelar, disciplinar e ordenar o
Uso e Ocupação do Solo do Município de São Paulo) a Subprefeitura Vila
Mariana estabelece os objetivos de desenvolvimento urbano e ambiental
para os próximos anos, definindo objetivos e diretrizes para o
desenvolvimento humano e qualidade de vida da população.
O Plano Regional demonstra a vontade política de privilegiar ações de
requalificação e conservação de praças públicas por meio da arborização e
493
da dotação de equipamentos e mobiliários específicos destinados a idosos,
crianças, adolescentes e deficientes de acordo com sua inserção urbana.
Embora coerente no discurso sobre possíveis ações junto aos espaços livres,
não se encontram em seu texto, elementos suficientes que configurem uma
política urbana de qualificação destes espaços sob a ótica sistêmica.
Resultados preliminares identificaram diversos tipos de espaços livres
(rotatórias, canteiros centrais, alargamentos de ruas, calçadas) destinados ao
uso do público cujas características morfológicas (declividades acentuadas,
dimensões exíguas, ausência de vínculo formal e funcional com as
edificações e usos do entorno, entre outros) associadas a uma inserção
estrutural inadequada (espaços pertencentes à resolução de sistema viário,
restos de glebas e loteamentos, como exemplo) dificultam ou mesmo
inviabilizam a convivência humana.
Algumas conclusões
No município de São Paulo as praças projetadas a partir dos princípios de
desenho urbano propostos pela Cia City apresentaram qualidades formais e
estruturais cuja concepção espacial e inserção urbana estavam pautadas nas
cidades-jardim inglesas. Apresentando ainda hoje uso bastante intenso, estas
praças constituem contraponto à falta histórica de planejamento formal dos
espaços livres (públicos associados aos privados) como parte integrante da
infraestrutura urbana gerou, desde o princípio da colonização portuguesa e
formação dos primeiros núcleos urbanos até a implantação de práticas de
planejamento funcional modernista sobre o traçado colonial, gerando
problemas na qualidade de criação, localização, distribuição e programa de
atividades adequado ao uso e fruição deste tipo de espaço livre para o lazer
e recreação da população. Numa avaliação preliminar, as praças já
levantadas encontram-se majoritariamente desvinculadas dos edifícios do
entorno e de seus usos, inviabilizando a apropriação de potenciais usuários,
mostrando-se carentes de qualificação funcional, formal, ambiental, estética
e vazias de significado tanto para a cidade quanto para o cidadão.
Agradecimentos
Especiais agradecimentos a todos os funcionários da subprefeitura de Vila
Mariana e aos alunos do Escritório Modelo do Curso de Arquitetura e
Urbanismo do Centro Universitário FIAMFAAM que colaboraram nos
levantamentos das praças de Vila Mariana.
494
Referências
[1] Campos, A. C. A. (Org.) ; Queiroga, E. F. (Org.) ; Galender, F. (Org.)
; Degreas, H. N. (Org.) ; Akamine, R. (Org.) ; Macedo, S. S. (Org.) ;
Custodio, V. (Org.) (2012). Quadro dos sistemas de espaços livres nas
cidades brasileiras. 1. ed. São Paulo: FAUUSP.
[2] Galender, Fany (2012). Uma contribuição ao estudo do Sistema de
Espaços livres do município de São Paulo / Fany Galender; Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da USP, Prefeitura do Município de São
Paulo – São Paulo: FAUUSP.
[3] IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) (2011) - Censos
Demográficos / SMDU/Dipro - Retroestimativas e Projeções.
[4] Lamas, José Manuel Ressano Garcia (1993). Morfologia urbana e
desenho da cidade. Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa.
[5] Macedo, S. (2012), Paisagismo Brasileiro na Virada do Século,
EDUSP, Editora Unicamp, São Paulo.
[6] Plano Diretor Regional Subprefeitura Vila Mariana. Disponível:
http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subp
refeituras/dados_demograficos/ Acesso: 21.01.2013.
495
Sistema de espaços livres e forma urbana na ilha
de Vitória, Espírito Santo, Brasil
Eneida Maria Souza MENDONÇA1
1
Arquiteta, Doutora em Arquitetura e Urbanismo, Professora do Programa de PósGraduação em Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-Graduação em Geografia
da Universidade Federal do Espírito Santo
Rua Luiz Fraga, 69, Maruípe, Vitória, Espírito Santo, 29.043-180,
Brasil 55-027-33231616, [email protected]
Palavras-chave: espaços livres, forma urbana, paisagem, tipologia
arquitetônica e evolução urbana.
Resumo
Os estudos acerca do sistema de espaços livres relacionados à forma urbana
de Vitória, capital do Espírito Santo, no sudeste brasileiro, fazem parte de
rede que reúne diversas instituições, com coordenação geral do laboratório
QUAPÁ, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, realizando atividades específicas por núcleos regionais. O desafio do
Núcleo Vitória tem sido levantar, classificar e analisar os espaços livres da
capital e municípios vizinhos, diante de visão sistêmica. O debate
apresentado neste artigo avança nos estudos das relações entre o sistema de
espaços livres e a forma urbana no território específico de Vitória referente
à ilha, conforme Figura 1. Este recorte territorial e analítico considera a
antiguidade de sua ocupação, em meados do século XVI, por colonizadores
portugueses e as características do sítio físico da ilha, permitindo desde
então, sucessivas e diversificadas tipologias de espaços livres e formas
urbanas. A metodologia correspondeu a levantamento dos espaços livres,
sem construção (Magnolli, 1982), por meio de imagem de satélite, seguido
de classificação segundo tipologia e função (Carneiro e Mesquita, 2000 e
Macedo et al., 2006). Os espaços livres privados foram levantados por
fotografias de sobrevoo. A classificação correspondeu ao percentual de área
livre nos lotes. Visitas de campo permitiram relacionar os espaços livres
privados às tipologias arquitetônicas, observando-se volumetria e forma de
implantação no lote. Auxiliaram esse estudo, os mapeamentos do uso do
solo e de cheios e vazios, conhecido por figura-fundo, em que o destaque é
dado aos espaços construídos, conforme Figura 2. A interpretação e análise
dos dados tiveram o apoio da história e evolução urbana da região.
496
Figura 1: Foto aérea de Vitória, Espírito Santo, Brasil, com destaque para as
regiões oeste (vermelho) e leste (azul) da ilha. Fonte: Foton-ES/CAR-UFES,
2000.
Figura 2: Mapa de cheios e vazios da ilha de Vitória.
497
A ocupação inicial de Vitória, ao sul da ilha, correspondeu à decisão de
proteger a sede da capitania do Espírito Santo, antes fixada em terras
vizinhas. A partir de meados do século XVIII a economia do lugar decaiu
com a saída dos jesuítas do Brasil (Oliveira, 1975), sendo retomada com a
cultura cafeeira implantada por colonizadores, em sua maioria italianos e
alemães, a partir de metade do século XIX. Vitória, iniciou nesta época, a
ocupação das áreas oeste e leste da ilha, consolidadas respectivamente, na
primeira metade e em meados do século XX (Mendonça et al. 2009). As
ocupações das áreas continental, norte e nordeste da ilha só se realizaram na
segunda metade do século XX.
Constatou-se que a região ao sul da ilha, apresenta-se densamente ocupada
com edifícios comerciais, institucionais e residenciais de muitos
pavimentos, abrangendo praticamente toda a área do lote. A região
apresenta também concentração de edificações institucionais relativas à
colonização portuguesa, como igrejas e palácio do governo e ao início da
república, como catedral, mercado e escolas. Esta situação mista em termos
de forma de ocupação foi possibilitada pela articulação do traçado sinuoso
da cidade alta, característico da colonização portuguesa, com traçados
retificadores, de algumas daquelas vias ou das construídas posteriormente.
Observou-se ampla divergência entre a forma urbana desta região sul,
atualmente reconhecida como centro histórico, e a região leste, planejada ao
fim do século XIX, como subúrbio jardim (Andrade, 1992). Esta também
abriga edifícios comerciais, institucionais e residenciais de muitos
pavimentos, porém com forma de implantação no lote menos intensa,
resultando em forma urbana distinta daquela região por conformar-se menos
densa, abrigando atualmente população de alta renda.
A ocupação a noroeste e norte da ilha, bem como a dos morros da cidade
em geral, diferencia-se das já descritas, por apresentar-se intensamente
adensada, porém com edificações de pequeno porte, tendo em vista tratar-se
de autoconstrução, em geral realizada a partir de invasão, abrigando
população de baixa renda.
Cabe mencionar a existência de edificações residenciais unifamiliares
mantendo amplas áreas livres privadas em morros e ilhas articuladas à ilha
de Vitória, abrigando população de renda elevada.
Concluindo, cabe indicar que a caracterização apresentada sobre a forma
urbana em Vitória encontra respaldo no transcorrer histórico de sua
ocupação e no sítio físico de seu território insular, constituído originalmente
por morros e estreita faixa de terra entre estes e o mar. Neste sentido,
observa-se que o porto seguro outrora identificado, só evoluiu para o actual
498
centro metropolitano, em função dos sucessivos aterros, que politicamente
propiciaram nesta cidade, a manutenção da função de capital.
Agradecimentos
Cabe agradecer ao Fundo de Apóio à Cientica e Tecnologia da Prefeitura
Municipal de Vitória pelo apoio financeiro concedido à pesquisa que
resultou neste artigo.
Referências
[1] Magnolli, M. M. (1982), Espaços livres e urbanização: uma
introdução a aspectos da paisagem metropolitana. Tese (Livredocência) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo.
[2] Carneiro, A. R. Sá e Mesquita, L. de Barros (2000), Espaços livres
[3] do Recife. Prefeitura da cidade do Recife/ Universidade Federal de
Pernambuco, Recife.
[4] Macedo, S. Soares, Queiroga, E. Fernandes e Robba, F. (2006),
Espaços livres e espacialidades da esfera de vida pública: uma
proposição conceitual para o estudo de sistemas de espaços livres
urbanos. Universidade de São Paulo, VIII ENEPEA, São Paulo.
[5] Oliveira, J. Teixeira de (1975), História do Estado do Espírito Santo.
2ª ed. Vitória.
[6] Mendonça, E. M. Souza, Freitas, J. F. Bernardino; Campos, M.
Machado; Prado, M. Monteiro e Almeida, R. Hermanny de (2009),
Cidade Prospectiva: o projeto de Saturnino de Brito para Vitória.
EDUFES e Annablume, Vitória e São Paulo.
[7] Andrade, C. R. Monteiro de (1992), A peste e o plano. O
urbanismo sanitarista do Engenheiro Saturnino de Brito. Dissertação
(mestrado), Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade
de São Paulo, São Paulo
499
Equipamentos e transformações modernas
no espaço público de Abrantes: Três
exemplos. Assembleia de Abrantes (Raul Lino), CineTeatro São Pedro (Ruy d’Athouguia) e Grémio da Lavoura
(Duarte Castel-Branco).
GARRIDO de OLIVEIRA, Carla1;
1
Faculdade de Arquitectura da Universidade do
Porto Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto,
Portugal 00351 966388115,
[email protected]
Palavras-chave: Transformações urbanas, espaço público, equipamentos,
controvérsias modernas, Abrantes.
Resumo
A ‘Planta da Praça e Povoação d’Abrantes’, de 1817, efectua um
retrato rigoroso e consistente da estrutura urbana de Abrantes, elencando
minuciosa e seriadamente equipamentos e edifícios públicos. A partir da
sua análise, e da caracterização sucinta das relações entre as diversas
partes da estrutura urbana, incidiremos sobre três núcleos: a ‘Ermida
de São Sebastião’, a ‘Parochia de São Pedro Novo’, e os ‘Quintaes’ das
‘Obras da Praça’ junto à ‘Porta da Rua do Cabo’ (por ordem
cronológica das transformações posteriores, objecto de estudo central do
presente trabalho). Estes lugares serão significativamente transformados
ao longo do século XX, numa particularmente intensa relação entre o
redesenho dos limites do espaço público e a transformação dos
equipamentos públicos edificados.
As demolições da ermida de São Sebastião e da igreja de São Pedro
Novo darão origem aos largos fronteiros do edifício-sede da Assembleia
de Abrantes (1923-1928, uma associação cultural e recreativa) e do CineTeatro São Pedro (1947-49), respectivamente; o edifício-sede do Grémio
da Lavoura de Abrantes (1959-1961) implantar-se-á na franja de
desmantelamento das estruturas militares, inserindo-se no processo
mais lato de redefinição de novo(s) limite(s), mas também de novos
modelos urbanos. As três ‘gerações’ de arquitectos, Raul Lino (18791974), Ruy Jervis d'Athouguia (1917-2006), e Duarte Castel-Branco
501
(1927-), delinearão três arquitecturas públicas que permitem discutir em
Abrantes as controversas concepções de ‘arquitectura moderna’.
Estes novos equipamentos do século XX traçam, na singularidade
autoral, as diversas experimentações e controvérsias arquitectónicas na
procura de uma arquitectura portuguesa, entre abordagens mais
conservadoras, mais vanguardistas ou de compromisso em tempos de
revisão.
Assim, a ‘tomografia’ temporal que propomos é simultaneamente urbana
e arquitectónica, atravessando os últimos dois séculos, desde as últimas
expressões de uma ‘praça’ urbana de vocação militar, e na qual os
equipamentos públicos ‘quotidianos’ são dominantemente religiosos, até
ao século XX dos equipamentos culturais. Curiosamente, os três lugares
encontram-se espacialmente alinhados, ainda que numa relação apenas
geométrica, uma vez que a voluptuosa topografia de Abrantes força a
sua distância, conferindo a cada um a possibilidade de um protagonismo
referenciador.
Metodológica e instrumentalmente, analisaremos pelo redesenho a planta
de 1817, intermediada pela cartografia CAD actual, incidindo na
globalidade da estrutura urbana, nas escala 1:5000 e|ou 1:2000. Na
escala 1:1000 e|ou 1:500 representaremos os processos de transformação
dos três núcleos, nomeadamente a transferência da condição dos espaços,
de interiores colectivos a exteriores públicos (e inversamente), decorrente
da redefinição dos limites arquitectónicos. Por fim, procuraremos
relacionar a cronologia e as controvérsias modernas que os três casos
congregam, focando as opções tipológicas de cada equipamento, e a
participação dos respectivos espaços fronteiros na morfologia e dinâmica
urbanas.
502
Figura 1: ‘Planta da Praça e Povoação d’Abrantes’, 1817.
Tomografia espácio-temporal.
Figura 2: Transformações espaciais e formação do Largo do General Avelar
Machado, fronteiro à Assembleia de Abrantes. Evolução urbana (da direita para a
esquerda): 1817, 1920, a partir de 1930. Exemplo do processo metodológico e
recursos instrumentais, já desenvolvidos para o caso da Assembleia, a desenvolver
nos outros dois exemplos e a relacionar na estrutura urbana. [3].
503
Referências
[1] [Fonte documental] ‘Planta da Praça e Povoação d’Abrantes:
Levantada [... por] João Damasceno Pinto e [...] José António de
Abreu. Anno 1817.’ Arquivo Dr. Eduardo Campos, Câmara
Municipal de Abrantes.
[2] CORREIA, Graça. 'Ruy D'Athouguia: a modernidade em aberto'.
Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2008.
[3] GARRIDO de OLIVEIRA, C., "A Vós, ‘A Nossa Casa’.
Intersecções na arquitectura do espaço público na obra de Raul Lino: a
‘Assembleia de Abrantes’", in M. PINTO da SILVA (coord.),
'EURAU12 Porto Espaço Público e Cidade Contemporânea'. Porto,
FAUP, September 12-15, 2012. http://eurau12.arq.up.pt/.
[4] GASPAR, José Martinho (dir.). ‘Revista Zahara’, nº 1 a 6.
Abrantes, 2003 a 2005;
[5] JANA, José Eduardo Alves. ‘Cadernos para a história do
Município’. Associação de Defesa e Estudo do Património da Região
de Abrantes, 1982;
[6] LAMAS, José (coord.). ‘A Praça em Portugal’. Lisboa,
DGOTDU, 2007;
[7] MORATO, Manuel António; CAMPOS, Eduardo. ‘Memória
histórica da notável Vila de Abrantes para servir de começo aos anais
do município’. Câmara Municipal de Abrantes, 2002;
[8] ORNELAS, Cilísia. 'Recuperação de cine-teatros modernos
portugueses'. Porto: FAUP, 2006. Dissertação de mestrado, ed. autor.
[9] PORTAS, Nuno. "Grémio de Lavoura de Abrantes", in 'Jornal de
Letras e Artes', 3 de Maio de 1963.
[10] SIMÕES, Duarte Nuno. "Sede do Grémio de Lavoura de Abrantes",
in 'Revista Arquitectura', nº 74, 1962.
[11] TOSTÕES, Ana. 'Os Verdes Anos na Arquitectura Portuguesa dos
Anos 50'. Porto: FAUP publicações, 1997.
504
O cadastro portuense na 1ª metade do séc. XX.
Laboratórios tipo-morfológicos no centro urbano
Gisela LAMEIRA
Bolseira de Doutoramento da Fundação pela Ciência e Tecnologia (FCT). Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto (CEAU/FCT - Atlas da Casa)
Via Panorâmica S/N, 4150-755 PORTO, PORTUGAL
+351226057100, [email protected]
Palavras-chave: cadastro, habitação plurifamiliar, Porto, 1ª metade do
séc.XX, tipo-morfologia
Resumo
A presente proposta de comunicação inscreve-se no âmbito da História
Urbana e da Teoria da Arquitectura, procurando reconstituir, ou
reinterpretar, momentos específicos num longo processo de transformação e
consolidação urbana na Cidade do Porto. Define-se igualmente, a partir de
um entendimento de 'habitação' que decorre da convicção de que entre
espaço construído/casa e espaço livre/rua existem relações formais
intrínsecas que determinam o carácter de ambos. (âmbito)
Fundamentar esta hipótese implica relegar para segundo plano o edifício
enquanto 'objecto', e procurar na cidade 'agrupamentos, lógicas de
edificação', conjuntos que encerrem um determinado grau de urbanidade.
Estudar edifícios concentrados em determinados sectores, permite-nos
constatar o seu significado enquanto património urbano, para além das
particularidades individuais de carácter tipológico e morfológico.
No Porto, em meados dos anos 40, assistia-se à implementação de novas
estratégias relativamente à expansão da cidade, especialmente no que diz
respeito à redefinição da estrutura viária. Várias ruas integraram este
processo, ainda que em diferentes moldes, e passo-a-passo incorporaram
alterações a nível de cadastro e lógicas de construção. Este processo
acarretou inevitavelmente alterações na imagem global da cidade.
Estabelecendo como casos de estudo algumas ruas ou sectores de rua de
distinta importância, integrados no centro urbano ou em arruamentos de
expansão na 1ª metade do séc. XX, pretende-se revelar e sublinhar relações
arquitectónicas formais entre a transformação do carácter morfológico
destes sectores urbanos e a emergência, nesta época, de um novo tipo de
edifício: o ‘prédio de rendimento’. (objecto de estudo; finalidade)
505
A hipótese de investigação é que ruas de menor relevo na consolidação do
centro urbano, como a Rua de Diogo Brandão, Rodrigues da Fonseca, Alves
da Veiga, Moreira, Regeneração, Rua da Boavista, Santos Pousada,
Constituição, Campo Lindo, entre outras, foram também elas ‘laboratórios
tipo-morfológicos’, especialmente enquanto focos de re-estruturação e
actualização da cidade que se expandia em diversas direcções. (hipótese)
Em algumas destas ruas (ainda que parcialmente), e a diferentes níveis,
tanto os Serviços Municipais como os Promotores Privados, testaram em
simultâneo a adaptabilidade do cadastro urbano a diferentes formas de
quarteirão e novos modelos de habitação, e a adaptabilidade dos próprios
edifícios ao cadastro existente. De certa forma, complementavam a
transformação mais profunda ocorrida em pleno centro da cidade, em ruas
de maior significado como a Rua de Sá da Bandeira, Rua de Ceuta ou todas
as ruas perpendiculares à Avenida dos Aliados (Rua de Rodrigues Sampaio,
Ramalho Ortigão, Magalhães Lemos, por ex.).
Especificamente, será inquirida a relação entre os seguintes aspectos:
- A dimensão/métrica/largura do lote e o tipo de edifício/modelo de
habitação;
- A configuração do lote e a agregação de unidades residenciais;
- A localização do lote e a escala do edifício;
- A dimensão do lote/largura da rua e a sua hierarquia no sistema
urbano;
- O programa do rés-do-chão e a hierarquia da rua/carácter do edifício.
Neste sentido, o artigo proposto estará dividido em duas secções:
O primeiro capítulo, de carácter generalista, tem como objectivo abordar o
processo histórico de crescimento e consolidação da cidade do Porto, e
nesse sistema sedimentar os critérios de selecção de casos de estudo. A
particularidade do Porto enquanto estrutura urbana é que, ao contrário de
Lisboa, cresceu apoiado na definição e estabilização de eixos viários, em
vez de áreas/malhas planeadas de expansão, o que de certa forma constitui
uma particularidade na sua morfologia, e justifica a selecção de algumas
ruas como casos de estudo. (Figura 1)
O segundo capítulo focaliza-se sobre alguns 'sectores de rua' particulares,
grupos de edifícios com determinada escala (a partir de 4 pisos), através dos
quais se procura salientar a diversidade de tipos/tipologias emergentes, a
partir do momento em que morfologia, divisão cadastral, e lógicas de
intervenção se começam a alterar. Como metodologia, recorreu-se à análise
de elementos gráficos dos edifícios (plantas de implantação e de piso),
506
constantes nos Processos de Licença de Obra constantes nos Arquivos
Municipais do Porto, e o simultâneo confronto com a cartografia disponível
(plantas topográficas actuais e da época de formação dos lotes). (Figura 2)
Procura-se, neste percurso, esclarecer a existência (ou inexistência) de uma
relação de causalidade entre a dimensão do lote (métrica de divisão
cadastral) e a opção por determinado tipo/matriz de concepção espacial, no
que à habitação plurifamiliar de raiz diz respeito.
A finalidade da comunicação proposta é demonstrar como edifícios de
carácter comum trouxeram ‘transformações modernas’ e continuidades na
1ª metade do séc. XX, um enquadramento de investigação que se afasta da
mais divulgada ‘Arquitectura do Movimento Moderno’ da cidade do Porto.
Trata-se de um património edificado relativamente desconhecido, mas
digno de consideração já que encerra transformações profundas na tradição
construtiva portuense. (relevância)
Figura 1: Plano de Urbanização do Porto. 1962. "1.2.1.1. Desenvolvimento da
cidade. Expansões sucessivas"; "Evolução do território urbano da cidade"
507
DB1
1 2 ,7 5 m
296
69
388
39/
LO 19
622
m
13,20
apro x.
39/
LO 19
7/ 3
LO 193
x. 6,5 m
s apro
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835
5m
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las apr
3 parce
1936/
699 LO
38/
LO 19
6/
LO 193
apro x.
DB2
Figura 2: - Sectores na Rua de Diogo Brandão. Plantas do piso-tipo. Esc. 1/1000.
(desenho do autor)
Agradecimentos
Agradecemos ao Professor Doutor Francisco Barata Fernandes o
acompanhamento da investigação de doutoramento que deu origem a este
resumo, ao Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de
Arquitectura da Universidade do Porto (CEAU-FCT) e à Fundação para a
Ciência e Tecnologia (FCT) o apoio na sua execução.
Referências
[1] Barata, F., (1999), Transformação e Permanência na Habitação
Portuense. As formas da casa na forma da cidade, FAUP Publicações,
Porto
[2] Campos, E., (1932), Prólogo ao Plano da Cidade do Porto, Porto,
Empresa Industrial Gráfica, 1932
[3] Foucault, M (1969), L'Archéologie Du Savoir, Éditions Gallimard,
Paris
[4] Garret, A. A. (1974), História da evolução dos Planos de Urbanização
da Cidade do Porto, Porto, FEUP
[5] Gravato, M. A. P. R. (2004), Trajecto do Risco Urbano. A arquitectura
na cidade do Porto, nas décadas de 30 a 50 do século XX, através do
estudo do conjunto da Avenida dos Aliados à Rua de Ceuta, Tese de
Mestrado, 3 Vol. Porto, FLUP
508
[6] Moley, C., (1999), Regards sur l'immeuble privé: Architectures d'un
habitat (1880-1970), Édition Le Moniteur, Paris
[7] Oliveira, V. A. (2004), A evolução das formas urbanas de Lisboa e do
Porto, Porto: FAUP, FEUP, Dissertação de mestrado
[8] Pereira de Oliveira, J. M. (1973), Espaço Urbano do Porto: Condições
Naturais e Desenvolvimento. 1ª ed. Coimbra, Instituto de Alta Cultura
509
Campo Alegre, de matriz geométrica
Um contributo para o estudo da forma urbana do
sítio, pela morfologia do parcelamento
Sílvia Cristina Teixeira RAMOS1
1
Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto
Via Panorâmica S/N, 4150-755 Porto, Portugal
+351 22 605 71 00, [email protected]
Palavras-chave: Arquitectura, cidade, Porto, morfologia urbana, desenho
Resumo
O sítio que se domina Campo Alegre, na cidade do Porto, centra-se no local
em que se instalou o Pólo III da Universidade e dilata-se pela sua
envolvente próxima. É a primeira imagem da cidade que se oferece a quem
a ela chega, de Sul, pela Ponte da Arrábida.
A realidade que caracteriza o Campo Alegre é complexa. Compõe-se por
fragmentos múltiplos, correspondentes a fracções do desenho do sítio em
diferentes épocas, que se sedimentam ao longo do tempo. São expressão de
distintos entendimentos sobre a condição do Campo Alegre no conjunto da
cidade e reflectem a opção por diferentes lógicas conceptuais para o nortear
da sua construção.
Os desenhos realizados, ao longo do tempo, para o Campo Alegre
sobrepõem-se no espaço. Nunca o assume como tábua rasa. De cada vez,
cada desenho reconstrói o anterior, metamorfoseando-o, e serve de base à
construção dos seguintes.
Consequentemente, na contemporaneidade, e apesar da sua aparente
legibilidade, na verdade, o Campo Alegre corresponde a uma superfície
cujo desenho se caracteriza por uma espessura tal que se torna opaco e, por
isso, pouco permeável ao pensamento.
Entender a forma do sítio do Campo Alegre, na contemporaneidade,
depende, então, da leitura da sua superfície em profundidade. A construção
de tal perfil permitirá tornar mais claros os diferentes desenhos que
ordenaram a sua superfície e dos quais, hoje, apenas se reconhecem
fragmentos. Sabe-se que vários destes desenhos são conhecidos e traduzem
opções projectuais de grande importância e qualidade, no âmbito da
História da Arquitectura e do Urbanismo – desenhos da autoria de,
nomeadamente, Giovanni Muzio, Fernando Távora, Januário Godinho,
510
Arménio Losa e Cassiano Barbosa – e defende-se que a eles subjacentes
existem outros, de significado equivalente, que permanecem encriptados.
O trabalho que se propõe apresentar revela um insuspeitado desenho do
sítio do Campo Alegre, num tempo recuado, e afirma que entendê-lo traz
nova luz à forma urbana que, hoje, o caracteriza.
Com o apoio de documentos desenhados – cartografias, estudos e projectos,
registos fotográficos, etc. –, a par de outros de natureza administrativa e
fiscal – nomeadamente, inventários de bens com demarcações e
confrontações, registos de emprazamento e documentos relativos a termos e
escrituras –, regredindo do século XX ao XVI, o trabalho apresenta a
reconstrução de tal desenho e reflecte sobre o modo como se transforma ao
longo do tempo.
No seu desenvolvimento, o trabalho caracteriza o desenho descoberto como
de matriz uniforme e regular; coloca hipóteses sobre o programa a que dá
cumprimento, o agente que o promove e o modo como se implanta no
território; questiona os traçados em que se funda e as estratégias de
regulação de ocupação do território em que se enquadra. O trabalho
demonstra como, embora os desenhos que ordenaram o sítio do Campo
Alegre, ao longo do tempo, se distanciem, regra geral, nos programas, nos
agentes, nos autores e nos modelos conceptuais que lhes servem de base, é
possível identificar, na sequência do que deles resulta construído, discretas
constantes. Afirma que determinados alinhamentos, orientações e
dimensões que atravessam a totalidade da espessura do Campo Alegre em
condição de permanente contemporaneidade, remetem para tal desenho do
sítio num tempo recuado.
Este é, então, um trabalho sobre morfologia de parcelamento. Centra-se na
desconhecida estrutura ordenadora da primeira ocupação de um sítio
significativo na cidade do Porto, o Campo Alegre, e perspectiva a sua forma
urbana no século XX, afirmando tal estrutura como circunstância indelével
do seu desenho.
Agradecimentos
Este trabalho é elaborado no âmbito da dissertação de doutoramento em
curso, financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia
(SFRH/BD/85547/2012).
511
Referências
[1] Oliveira, Miguel de (1950), As paróquias rurais portuguesas: a
sua origem e formação, União Gráfica, Lisboa
[2] Trindade, Luísa (2009), Urbanismo na composição de Portugal,
[Dissertação de doutoramento apresentada à FLUC], Coimbra
[3] Cardoso, António Barros. Baco & Hermes (2003). O Porto e o
comércio interno e externo dos vinhos do Douro (1700-1756).
Grupo de Estudos de História da Viticultura Duriense e do Vinho
do Porto,
[4] Porto
[5] Nonell, Anni Günther (2002), Porto, 1763/1852: a construção da
cidade entre despotismo e liberalismo, FAUP publicações, Porto
[6] Fonseca, Madalena Pires de (2001), A indústria têxtil algodoeira
no Norte de Portugal. [Dissertação de doutoramento apresentada à
FLUP],
[7] Porto
[8] Ventura, Isabel Maria Roseler (1996), Os britânicos no Porto no
século XIX, [Dissertação de mestrado apresentada à Universidade
Portucalense], Porto
[9] Teixeira, Manuel C. (1992), As estratégias de habitação em
Portugal, 1880-1940. Análise Social, XXVIII (115), pp.65-89
[10] Lobo, Margarida Souza (1995), Planos de Urbanização. A Época
de Duarte Pacheco, Faup Publicações/DGOTDU, Porto
[11] Campo Alegre: da Nova Cidade à Universidade (1995). Boletim,
V (26-27), pp.5-11
[12] Fonseca, Teresa (1996). A construção do Pólo 3 da Universidade
do
[13] Porto: Planos, Projectos e Edifícios. [Dissertação de doutoramento
apresentada à FAUP], 1996
[14] Merlin, Pierre (ed.) (1985), Morphologie urbaine et parcellaire,
PUV, Saint-Dennis
512
Ordenamento do Território nas Ilhas dos Açores.
A fundação da vila de Ponta Delgada na ilha de
São Miguel.
Antonieta Reis LEITE
Arquiteta PhD, Prof. Auxiliar Convidada EUAC-ARCA
R. dos Combatentes 188, 4º esq, 3030-181 Coimbra, Portugal
+351933287806, [email protected]
Palavras-chave: Açores, Ponta Delgada, ordenamento do território,
urbanística portuguesa, evolução morfológica.
Resumo
O objetivo desta apresentação é mostrar algumas das soluções urbanísticas
disponíveis nos finais da Idade Média portuguesa e como estas se aplicaram
no processo de evolução morfológica de uma vila nova ultramarina, bem
como compreender a sua aplicação na escala alargada do território da ilha,
ou seja, do seu ordenamento.
Ponta Delgada é a primeira de uma série de dez vilas fundadas entre os
reinados de D. Manuel I e de D. João III nos Açores e que vieram reordenar
profundamente o território do arquipélago como um todo, estabelecendo
novas hierarquias e espaços de centralidade.
Nesse contexto São Miguel e a vila nova de Ponta Delgada fundada em
1499, configuram um estudo de caso paradigmático, quer porque
exemplificam a transformação ocorrida ao nível da grande escala do
território do arquipélago, quer ainda, porque à escala local e urbana, a
análise da sua evolução morfológica permite identificar os processos de
colonização, a normativa que a geriu e ordenou, e a passagem desse
território de matriz agrícola a espaço urbanizado.
Metodologicamente esta apresentação propõe-se “desenhar a história” e
com esta a evolução urbana e morfológica de uma vila dos primórdios da
ocupação atlântica.
Como principais recursos utilizam-se a cartografia digital atual e as fontes
históricas coevas, quer documentais quer descritivas e iconográficas, as
513
quais de vão sobrepor à cartografia atual num processo de decomposição e
recuperação do método de ocupação deste território encontrado virgem,
quer das sucessivas fases de crescimento urbano.
Independentemente do valor deste estudo de caso por si só, há que valorizálo no contexto do estudo do Universo Urbanístico Português, reconhecidas
que estão as ilhas dos Açores enquanto importante passo para se
compreender a construção de cidade portuguesa da Expansão.
514
A dimensão da Forma Urbana, Hestnes Ferreira
em continuidade com Louis Kahn
A. CHAVES
Alexandra Maria Barros Alves Chaves Silva Vidal Saraiva
Faculdade de Arquitectura e Artes. Universidade Lusíada _ Porto
Rua Dr. Lopo de Carvalho 4369-006 Porto, Portugal
00351917561379, [email protected]
Palavras-chave: Forma Urbana, Escala, Louis Kahn, Hestnes Ferreira
1 Introdução
Louis Kahn, ao longo do seu processo de análise e reflexão, sistematizou
conceitos sobre o homem, a natureza, o mundo, a ciência e a técnica, sobre
o processo de desenho e sobre a forma urbana.
O objectivo deste artigo é mostrar que Louis Kahn criou uma linguagem
própria de interpretação e concretização de relações formais, ao mesmo
tempo que desenvolve os seus edifícios, transpondo a análise formal urbana
para o desenvolvimento formal de cada unidade projectada.
Vários autores também repetem esta formalização. Como tal propomos um
método de análise comparativa entre os dois arquitectos, apoiando a nossa
análise na interpretação de uma obra de cada, de Louis Kahn, o Instituto
Salk, em la Jolla e de Hestnes Ferreira, a Escola José Gomes Ferreira, em
Benfica.
2 Na procura de uma Identidade Formal
A tradição racionalista na arquitectura moderna tende a sustentar a eficácia
de comunicação da arquitectura, na clareza lógica com que ela consegue
transmitir a relação entre necessidade e forma.
Este artigo foi elaborado a partir de um trabalho de investigação mais
alargado que coincidiu com a minha tese de doutoramento [1], realizada na
Universidade da Corunha, sob o tema A influência de Louis I. Kahn na obra
de Hestnes Ferreira, defendida em Julho de 2011.
Lamas defende, as noções de Forma Urbana e Forma do Território são
eminentemente arquitectónicas.[2]
515
A designação de morfologia resulta da análise da configuração e da
estrutura exterior de um objecto, em relação directa com os fenómenos que
a originam.
A análise formal proposta apoia-se na proposta nos quatro aspectos
defendidos por Lamas, os aspectos quantitativos, os aspectos de
organização funcional, os aspectos qualitativos e os aspectos figurativos. [3]
3 Desenho | ordem | forma
Louis Kahn tal como Hestnes Ferreira, no Instituto Salk e na Escola José
Gomes Ferreira, estruturam os seus projectos como elementos de transição
entre a escala do edifício para a escala urbana.
Ambos os arquitectos associam a forma a um conjunto de partes que
determinam um todo, dando ao conjunto final um carácter de unidade.
Cada projecto é considerado como um todo, ao qual vão associando outras
premissas - processo formal, processo conceptual - que permitem a
evolução do todo até ao momento final, a edificação - processo material.
Kahn define o desenho como algo circunstancial; a ordem como o que
determina a aparência; e a forma como algo que não existe materialmente,
algo que pode ser visto como pré-forma.
O desenho, a ordem e a forma, para Hestnes Ferreira são conceitos que se
interrelacionam e se complementam, na vontade de superar o processo
conceptual.
Com a forma quadrada e rectangular, Kahn normalmente define o módulo.
E é através da repetição e do jogo proposto entre os módulos que o autor
obtém o edifício, garantindo a unidade e a coerência formal deste.
Também Hestnes, em continuidade com Kahn, encontra na geometria e na
exploração do módulo a mesma coerência formal.
Esta análise ajuda a reforçar a ideia de formalistas, em vez de
funcionalistas, ou seja, a forma nos edifícios de ambos arquitectos é muito
mais do que consequência de uma função.
As relações formais enquanto edifícios podem ser transpostas para as
relações formais urbanas.
4 Em diálogo com a Função
Kahn define função como uma relação directa entre necessidade e uso, ao
mesmo tempo que assume a importância de a necessidade do espaço e a sua
construção não interferir na definição do mesmo.
516
Hestnes compartilha este conceito com Kahn e acentua a importância da
funcionalidade, não só como a capacidade de um determinado espaço
garantir um uso, mas também pela forma como esse espaço pode validar e
influenciar o uso proposto, com a definição da forma, dos materiais e dos
elementos.
A relação de Kahn com a função não revela em si o funcionalismo, pois a
forma não é definida nem determinada pela função. Para nós, a arquitectura
de Kahn é formalista, a escolha da forma não depende única e
exclusivamente da função, contudo é recorrente na sua arquitectura a
escolha de formas similares em diferentes projectos.
5. A qualidade dos espaços
Nas obras de Hestnes Ferreira, a relação interior exterior é normalmente
conseguida pela criação de espaços de transição, que na maioria dos seus
projectos se referem a espaços de circulação.
Tal como na obra de Louis Kahn, esta separação é realizada sem criar
barreiras físicas, conseguida em parte pela inclusão de níveis diferenciados,
pavimentação diversificada e também com a utilização de perídromo.
A Escola José Gomes Ferreira é aquela que tem a capacidade de ocupar o
terreno, implantar massas, ritmos, evocando assim a monumentalidade.
A ligação entre interior e o exterior, entre o Homem e o Mundo, ajuda-nos a
compreender a fenomenologia visual, o desenho é uma forma de consignar
a realidade, ou de transfigurá-la, ou ainda de conceber a partir dessa
realidade.
6 A comunicação estética
A comunicação estética produzida, por ambos os arquitectos, sublinha a
definição dada por Lynch [4] na classificação do design urbano segundo as
oito categorias.
Ambos arquitectos conseguem uma imagem muito forte e exclusiva do
panorama internacional.
A luz, ainda que seja um elemento exterior e contingente à arquitectura, é
um elemento determinante em termos de criação e da percepção, importante
e decisiva na obra de Louis Kahn e na de Hestnes Ferreira.
O silêncio é normalmente outro elemento exterior à arquitectura, muitas
vezes referido quando analisada a obra de Louis I. Kahn.
517
A arquitectura é um lugar de encontro entre o mensurável e imensurável. A
arte de projectar não é apenas enraizada na forma estética, mas na alma da
obra.
7 Conclusão
Depois da análise comparativa entre os dois projectos, de Louis Kahn e
Hestnes Ferreira, percebemos que independente da escala e da dimensão o
resultado final da forma não se altera.
Para tal, seguimos a definição de Lamas [5] ao estabelecer a classificação da
Forma Urbana, quer em termos de escala ou dimensão.
A arquitectura de Kahn é formalista, intensa e verdadeira, simples sem ser
minimal, revela a essência da arquitectura
Raúl Hestnes Ferreira, na sua lógica da forma, denuncia a sua matriz de
natureza funcionalista, a que se associam princípios compositivos e
linguísticos, na continuidade de Kahn.
Referências
[1] Alves, A. M. (2011), A Influência de Louis Kahn na obra de Hestnes
Ferreira, Universidad de Coruña
[2] Lamas, J.M.R.G. (2011), Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
(4ªEd.), pp. 26, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
[3] Lamas, J.M.R.G. (2011), Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
(4ªEd.), pp. 44-46, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
[4] Lynch, K. (2011), A Imagem da Cidade, pp.109-111, Edições 70 Lda.,
Lisboa
[5] Lamas, J.M.R.G. (2011), Morfologia Urbana e Desenho da Cidade
(4ªEd.), pp. 73-75, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
518
Ilha de Calor, Verde Urbano e Domo de CO2 em
Lisboa
Gustavo Macedo de Mello BAPTISTA1; Cláusio Tavares Viana TEZA1,2;
Marceli TERRA1
1
Instituto de Geociências da Universidade de Brasília
Campus Darcy Ribeiro, Asa Norte, Caixa Postal 4465, CEP 70910-900, Brasília, DF, Brasil.
+55 61 3107-6982, [email protected]
2
Curso de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Brasília
Campus I, QS 07 lote 01 – EPCT, Águas Claras, CEP 71966-700, Taguatinga, DF, Brasil.
+55 61 3356-9206, [email protected]
Palavras-chave: clima urbano, verde urbano, morfologia urbana, ASTER,
Hyperion.
Resumo
Os aglomerados urbanos experimentam alguns problemas decorrentes da
falta de planejamento e seu do crescimento desordenado. Normalmente, as
áreas destinadas à vegetação ficam restritas a parques e nas bordas das
cidades. E é por meio dessa vegetação que o conforto térmico se verifica. A
cidade de Lisboa apresenta adensamentos, principalmente nos bairros
históricos, onde não se verifica a presença significativa de verde urbano,
muito característico dos bairros mais modernos e mais bem planejados,
normalmente situados longe do CBD. Visando compreender como a
morfologia condiciona alguns fenômenos típicos das áreas urbanas, o
presente estudo objetiva avaliar a ilha de calor lisboeta, bem como a
formação do domo urbano de CO2 e sua vegetação intraurbana. A ilha de
calor é um fenômeno observado em diversas cidades e caracteriza-se por
temperaturas mais elevadas no centro urbano com a tendência de sua
redução à medida que se desloca para as zonas periféricas. Esse fenômeno é
mais percebido em áreas urbanas adensadas. Já os domos urbanos de CO 2
representam a concentração de dióxido de carbono na coluna de ar
adjacente aos alvos de superfície. Para a espacialização da ilha de calor
adotou-se a imagem do dia 26 de junho de 2004 (Figura 1) do sensor
multiespectral ASTER, acrônimo de Advanced Spaceborne Thermal
Emission and Reflection Radiometer, por meio do produto sob demanda
AST_08 - Surface Kinetic Temperature que representa a temperatura
519
radiométrica ou a temperatura emitida pela superfície. O sensor ASTER
apresenta três sistemas sensores: o VNIR, que adquire dados na faixa da luz
visível e do infravermelho próximo – até 1,2 µm; o SWIR, que obtêm dados
no infravermelho de ondas curtas, até 2,5 µm; e TIR, que atua na faixa que
vai de 8 a 14 µm, ou do infravermelho termal. Os dados AST_08 são
disponibilizados sob a forma de 16 bits e são convertidos para Kelvin e
depois para graus Celsius e a imagem foi organizada em classes de
temperatura radiométrica. Para o estudo do domo urbano de CO2, foi
escolhida a cena de 18 de maio de 2004 do sensor hiperespectral Hyperion
(Figura 2) e, por ser um dado muito ruidoso e por apresentar diversas
bandas não calibradas radiometricamente, foi necessário excluí-las. Depois
se adotou o processamento MNF – Minimum Noise Fraction, procedimento
baseado na Análise de Componentes Principais visando remover o ruído
sistemático dos dados. Após, aplicou-se, sob os dados de radiância, o índice
espectral ICO2[1] que visa estimar, por meio da feição espectral do CO2
atmosférico, centrada em 2,0 µm, o conteúdo de dióxido de carbono na
coluna de ar adjacente aos alvos de superfície, discretizado pixel a pixel. Os
resultados encontrados, por meio do fatiamento dos dados termais, mostrou
que Lisboa apresenta o fenômeno de ilha de calor, com temperaturas
radiométricas variando de 29° a 60°C, com maior concentração de
temperaturas elevadas na região do aeroporto e com o Parque Florestal de
Monsanto caracterizando-se como uma área de baixas temperaturas,
configurando área de exceção. Salienta-se que a temperatura radiométrica
apresenta valores mais elevados que a temperatura do ar, pois o ar não é
bom condutor de calor e ocorre dispersão da energia à medida que ela é
emitida pela superfície em direção aos termômetros. Além disso, o produto
AST_08 é um dado validado em diversas localidades espalhadas no planeta.
Realizando-se um transecto do aeroporto em direção ao Parque Monsanto
nota-se a presença do domo urbano de CO2 e isso também é verificado nos
bairros históricos. A investigação do verde urbano foi realizada por meio do
índice espectral CO2flux[2] que integra as feições espectrais, decorrentes da
fase clara da fotossíntese, obtidas na região do visível e do infravermelho
próximo e isso foi possível por meio dos dados Hyperion. Para tal, foi
necessária a aplicação do algoritmo de correção atmosférica FLAASH para
remover as interferências de absorção e espalhamento atmosféricos, bem
como para reduzir os dados de radiância para reflectância de superfície. As
áreas que apresentam verde urbano realizam fotossíntese e sequestram o
carbono que se encontra sob a forma de dióxido disponível na atmosfera.
Essas áreas foram ressaltadas na imagem CO2flux e, se comparada com a
imagem ICO2, apresentam inversão de proporcionalidade, pois quanto mais
520
verde urbano, menos CO2 atmosférico. Portanto, além de gerar conforto
térmico, essas áreas também funcionam como sumidouros de carbono e
incorporadores de vapor d’água no ar. Para compreender como o domo e a
ilha se desenvolvem em Lisboa adotou-se o modelo numérico do terreno,
obtido por meio de estereoscopia dos dados ASTER e pôde-se notar a
influência da topografia nesses dois fenômenos. Essas ferramentas podem
ser empregadas visando à compreensão de como a morfologia urbana
interfere na qualidade ambiental da cidade e para tal, novos estudos devem
ser incentivados.
Figura 1: Composição colorida R2G3B1 dos dados VNIR do sensor ASTER de 26
de junho de 2004 da área de estudos.
521
Figura 2: Composição colorida R29G20B11 dos dados do sensor Hyperion de 18 de
maio de 2004 da área de estudos.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao Instituto de Geociências pelo apoio necessário
para a realização do presente estudo.
Referências
[1] Baptista, G. M. M. (2004), Mapeamento do Sequestro de Carbono e de
Domos Urbanos de CO2 em Ambientes Tropicais, por meio de
Sensoriamento Remoto Hiperespectral. Geografia (Rio Claro), 29(2),
p. 189-202.
[2] Rahman, A. F., Gamon, J. A., Fuentes, D. A., Roberts, D., Prentiss, D.,
Qiu, H. (2000), Modeling CO2 flux of boreal forests using narrowband indices from AVIRIS imagery. AVIRIS Workshop, JPL/NASA,
Pesadena, Califórnia.
522
Forma urbana e clima urbano: dimensões
geobiofísicas e arquitetônico-urbanística
Vera R. TÂNGARI1; Rita de Cássia Martins MONTEZUMA2
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de
Pós-Graduação em Arquitetura
R. Jornalista Orlando Dantas, 62 apt. 403 - 22.231-010, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
55-21-25538172, [email protected]
2
Universidade Federal Fluminense, Departamento de Geografia
R. Gonzaga Bastos, 209 apt. 802 B – 20.542-000, Rio de Janeiro/RJ, Brasil
55-21-22681670, [email protected]
Palavras-chave: forma urbana; clima; classificação da paisagem; Rio de
Janeiro
Resumo
Esse artigo objetiva colocar em discussão uma categorização integrada da
paisagem no âmbito da pesquisa que envolve a análise das formas de
ocupação urbana, ecossistemas remanescentes, sistemas de espaço livre e do
micro e mesoclima urbanos, abrangendo métodos e procedimentos para
estudos nas Regiões Metropolitanas de Rio de Janeiro e Campinas. Nesse
artigo, será enfocada a área de estudo no Rio de Janeiro: Bacia dos Canais
em Jacarepaguá (figura 1).
O objetivo da pesquisa é contribuir para a implementação de processos de
adaptação dos espaços urbanos ao contexto das paisagens em que estão
inseridos, visando à mitigação de impactos resultantes das mudanças
climáticas por meio do estabelecimento das seguintes metas:
-relacionar parâmetros socioambientais (urbanísticos), físico-ambientais
(geoecológicos) e de conforto no uso dos espaços urbanos;
-gerar novas concepções de formulação da legislação urbanística e de
planos urbanos que considerem os condicionantes ambientais, climáticos, de
conforto e de risco.
-aprimorar pesquisadores e alunos, em inovações no ensino e pesquisa na
área de Geografia, Ecologia Urbana, Arquitetura e Urbanismo, com a
incorporação de metodologias de elaboração de cenários tridimensionais
conforme aspectos socioambientais, físico-ambientais e de conforto e clima
associados.
523
A estratégia adotada foi aproximar os conceitos, os métodos e os
procedimentos a fim de que de fato haja uma visão transdisciplinar,
multiescalar e integrada para lidarem com ambientes construídos em
contextos de grande complexidade.
Para esse artigo, destacamos os seguintes temas e os principais conceitos e
métodos discutidos:
-hidrologia e climatologia florestal e urbana;
-cobertura vegetal e saúde florestal;
-legislação e normas;
-tipos e características dos espaços edificados e espaços livres de edificação
Foi selecionada no Município do Rio de Janeiro uma área de expansão
urbana, na zona oeste, especificamente no setor das Vargens, que
compreende os bairros do Recreio, Camorim, Vargem Grande e Pequena.
Inclui a vertente sul do Parque Estadual da Pedra Branca e está em processo
recente de mudança na legislação urbanística, com forte pressão do mercado
imobiliário devido à influência de investimentos relacionados às Olimpíadas
de 2016.
Com vistas a possibilitar a construção de bases conjuntas de levantamento,
o mapeamento e interpretação desses dados serão analisados por
pesquisadores de formações distintas. Com base nas experiências adquiridas
pelas equipes em pesquisas anteriores, o presente artigo apresenta as
dimensões de análises propostas para categorização dos temas e assuntos,
dos dados e de sua interpretação, em duas dimensões de análise: dimensão
geobiofísica e dimensão arquitetônico-urbanística.
Dimensão geobiofísica
Essa dimensão de análise abrange o conjunto de elementos do suporte
geobiofísico, que incluem, num primeiro nível de análise: características do
relevo; da hidrologia; da cobertura e uso do solo, identificáveis através de
interpretação de imagens de satélite, fotos de sobrevoos e levantamentos de
campo.
- Características do relevo representadas pelas curvas de nível.
- Características da hidrologia referentes às bacias hidrográficas e seus
componentes, contemplando corpos hídricos potenciais e reais, tais como os
eixos de drenagem principal, canalizados ou não, rios e córregos; canais
artificiais, laguna, lagoas, lagos e reservatórios artificiais.
- Características e estratificação da vegetação e suas diversas funções.
- Características e categorias de cobertura do solo (solo exposto, rocha,
cobertura vegetal, cobertura edificada).
524
FIGURA 1: Área de estudo na capital metropolitana do Rio de Janeiro - Imagem
Geoeye, WorldView-2/GlobalGeo, julho/2011.
Dimensão arquitetônico-urbanística
Essa dimensão engloba os elementos da estrutura urbana, segundo seu perfil
funcional e formal, identificáveis através de interpretação de imagens
satélite, fotos de sobrevoos e levantamentos de campo. No primeiro nível de
análise inclui:
- Traçado urbano e tipologias construtivas, incluindo as quadras, os lotes e
as edificações.
- Sistemas de circulação: ruas (diferenciando-se calçada e leito carroçável);
rodovias (leito e faixa de domínio); ferrovias (leito e faixa de domínio);
ciclovias (rolamento).
- Sistemas de infraestrutura: dutos; linhas de transmissão de energia.
- Sistemas de espaços livres de edificação de caráter ambiental dentro ou
fora do perímetro urbano, com base nos dispositivos da legislação
ambiental, incluindo: espaços com restrições a ações de parcelamento e
loteamento, regidos por legislação de proteção ambiental; espaços sem
525
restrições a ações de parcelamento e loteamento, regidos por legislação de
proteção ambiental; unidades de conservação.
-Sistemas de espaços livres de edificação de caráter urbano, dentro do
perímetro urbano, em áreas passíveis de ações de parcelamento e
loteamento, regidas pela legislação urbanística.
As autoras apresentam mapeamentos e análise espacial feitos até o presente
para a área de estudo: cobertura, uso e ocupação do solo.
Agradecimentos
As autoras agradecem, em nome das equipes envolvidas, o auxílio à
pesquisa da FAPERJ e da FAPESP (Edital Mudanças Climáticas).
Referências
[1] MARANDOLA JR., HOGAN, D.J. As dimensões da vulnerabilidade.
São Paulo em Perspectiva, v. 20, n. 1, p. 33-43, 2006.
[2] MONTEZUMA, R.C.M e OLIVEIRA, R.R. Os ecossistemas da
Baixada de Jacarepaguá e o PEU das Vargens. Arquitextos, v. 116.3,
2010.
[3] NAME, L.P.M., MONTEZUMA, R. C. M., SESANA, E.G.
Legislação urbanística e produção de riscos: o caso do PEU DAS
VARGENS (Rio de Janeiro, Brasil). Territorium. , v.18, p.201 - 218,
2011.
[4] TÂNGARI, V. R.; SCHLLE M. B.; ANDRADE, R.; DIAS, M. A.
(Org.). Águas urbanas: uma contribuição para a regeneração ambiental
como campo disciplinar integrado. Rio de Janeiro: FAU/UFRJPROARQ, 2007.
[5] TÂNGARI, V., SCHLEE M. B. e ANDRADE, R. de (Org.). Anais
do I Seminário Nacional sobre Regeneração Ambiental de Cidades Águas Urbanas. Cd-Rom. Rio de Janeiro: FAU-UFRJ, 2005.
[6] VELOSO, H. P.; RANGEL FILHO, A. L. R.; LIMA, J. C. A.
Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistema universal.
Rio de Janeiro: IBGE, 1991.
526
People and Green Urban Spaces. The importance
of Urban Planning.
Cláudia COSTA1; Alejandro GÓMEZ2; Paula SANTANA1;
1
CEGOT - Universidade de Coimbra
Departamento de Geografia, Colégio S. Jerónimo, Largo D. Dinis, 3000-043 Coimbra,
Portugal
(00351) 239 851 350, [email protected]
2
Departamento de Geografía de la Universidad de Salamanca
Calle Cervantes s\n. 37002 Salamanca, Espanha
(0034) 923 294 500, ext. 1423, [email protected]
Palavras-chave: Urban Green Spaces, Urban Space, Coimbra, Salamanca
Abstract
In our society urban green spaces close to the main residence and to work
place have become a demand and a citizen’s right because well-being,
health and free-time are more and more appreciate [1].
To adapt urban green spaces to habitant’s requirements we should know
their main characteristics (localization, size, security, maintenance,
facilities, etc.). Literature shows that these characteristics have influence in
use, frequency of use and reasons to use (practice of physical activity, e.g.)
[2,3,4,5,6,7]. Originally, Urban Green Spaces were created as a decorative
element, but at the middle of the XX century their functions were raised and
local governments had assumed the responsibility of their maintenance,
conservation, security and they are in charge of planning and design these
public spaces. Given the many different types and forms of Urban Green
Spaces that exist, the relationship between these spaces, the utilization and
the practice of physical activity and well-being has not yet been clearly
demonstrated. There is, then, an urgent need to focus attention upon aspects
The aim of this paper is to show the localization of Urban Green Spaces and
analyse the adaptation (or not) to the citizen’s requirements in the cities of
Coimbra and Salamanca. The reasons to select these cities are related with
their resemblance, because they share a similar demography, geographical
position and origin of the cities (the importance of the University).
We analysed the use and frequency of use of Urban Green Spaces
(facilitated by their proximity to residential areas) in both cities by age and
gender. The results of the study suggest that: 1) the existence of Urban
527
Green Spaces in the vicinity of residential neighbourhoods encourages the
utilization for physical exercise, walking and recreational activities; 2) there
are strong interrelationships between the characteristics of Urban Green
Spaces and levels of well-being.
Figure 1. Motivation to use Urban Green Spaces
Font: Coimbra and Salamanca Green Urban Spaces Users Survey
We also analyse the way of local government (of two cities) have answered
to new citizen’s exigencies in terms of distribution and walking accessibility
(figure 2)
Figure 2. Walking Acccessibility Areas to the Urban Green Spaces.
528
References
[1] Sanesi, G.; Chiarello, F. (2006), “Residents and urban green spaces:
The case of Bari”. Urban Forestry Urban Greenning, 4(3-4): 125-134.
[2] De Vries, S., Verheij, R., Groenewegen, P., Spreeuwenberg, P. (2003),
Natural environments -- healthy environments? An exploratory
analysis
of
the
relationship
between
greenspace
and
health. Environment and Planning - A 35(10), pp. 1717 – 1731.
[3] Maas, J., Verheij, R., Groenewegwn, P., De Vries, S., Spreeuwenberg,
P. (2006), Green space, urbanity, and health: how strong is the
relation?. Journal of Epidemiology & Community Health, 60-7, pp.
587-592.
[4] Tzoulas, K., Korpela, K., Yli-Pelkonen, V., Kazmierczak, A.,
Niemela, J., James, P. (2007), Promoting ecosystem and human health
in urban areas using green infrastructure: A literature review.
Landscape Urban Planning 81(3), pp. 167-178.
[5] Santana, P.; Nogueira, H.; Santos, R.; Costa, C. (2007), Avaliação da
Qualidade Ambiental dos Espaços Verdes Urbanos no Bem-estar e na
Saúde. In P. Santana, P. (Ed.), A Cidade e a Saúde, pp. 219-237,
Almedina, Coimbra.
[6] Santana, P. ; Costa, C.; Santos, R. ; Loureiro, A. (2010), O papel dos
Espaços Verdes Urbanos no bem-estar e saúde das populações.
Revista de Estudos Demográficos, nº 48, pp. 6-33
[7] Gómez, A., Santana, P., Costa, C. (2012), Uso del verde urbano en
dos ciudades ibéricas: la importancia del planeamiento urbano. XIII
Coloquio Ibérico de Geografía, Santiago de Compostela, 24-27 de
Outubro.
529
Desenho e Forma Urbana nos Territórios
atravessados pelo Aqueduto das Águas Livres
Teresa MARAT-MENDES; Andreia B. SILVA
Instituto Universitário de Lisboa ISCTE-IUL, DINÂMIA’CET-IUL, Escola de Tecnologias e
Arquitectura, Departamento de Arquitectura e Urbanismo
Av. Das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa, Portugal
Telef. +351 21 7903060l, [email protected], [email protected]
Palavras-chave: Padrões Morfológicos,
Aqueduto das Águas Livres,
Forma
Urbana,
Território,
Resumo
A forma urbana das cidades esteve desde sempre directamente relacionada
com questões de ordem biofísica e de ordem infra-estrutural. Nos últimos
dois séculos, é possível verificarmos que à evolução das cidades esteve
sempre associada uma vontade de modernização, desenvolvimento e de
inovação de novas tecnologias e de redes infra-estruturais, que moldaram
por conseguinte a paisagem urbana e os territórios envolventes, ao longo do
tempo.
Esta “nova cidade”, muito mais complexa do ponto de vista formal,
descontínua e que ocupa territórios cada vez mais extensos [1], é a cidade
contemporânea. É a cidade distópica, a cidade polinucleada, a Metapolis de
François Ascher [2].
Face à dinâmica dos fenómenos urbanos, os quais carecem de um modelo
de referência [3], são necessárias novas abordagens de análise e de
intervenção que consigam responder às questões essenciais do
desenvolvimento e do planeamento urbano das cidades contemporâneas.
Nomeadamente, através de novas formas de análise que se estabeleçam
sobre os valores biofísicos e paisagísticos do território mas também sobre
questões mais imediatas impostas pelos novos processos a que a cidade
contemporânea e o desenho da sua forma urbana se encontram expostos. E,
portanto, que criticamente analisem a cultura urbana de hoje.
Esta apresentação foca no espaço público o elemento de análise primordial
para demonstrar como é que este elemento urbano tem assistido, nos
últimos dois séculos, a alterações de uso e de padrões morfológicos, que
testemunhem as relações estabelecidas entre o território e as redes de infraestruturas. Tais alterações e relações estabelecidas, colocam o espaço
530
público como o elo capaz de relacionar os novos paradigmas do
crescimento das cidades contemporâneas não só pela sua permeabilidade
aos diferentes acontecimentos e fenómenos urbanos, mas também
interveniente directo nos mesmos [3].
Esta apresentação apresenta como caso de estudo específico o Aqueduto das
Águas Livres, em Lisboa, procurando reflectir sobre: (1) O papel do
Aqueduto das Águas Livres, enquanto elemento dinamizador e criador do
espaço público na cidade de Lisboa e na sua área metropolitana e por
conseguinte, definidor de forma urbana; (2) O papel do aqueduto como
importante elemento para a análise da evolução urbana da cidade de Lisboa
e dos territórios metropolitanos atravessados por ele; e ainda (3) Novas
abordagens e métodos de análise das dinâmicas territoriais ocorridas na área
metropolitana de Lisboa.
O Aqueduto das Águas livres foi fundamental na evolução e na
determinação dos “novos” territórios metropolitanos e no estabelecimento
de novos aglomerados urbanos do chamado Termo de Lisboa. A sua
considerável extensão e difusão pelo território através das suas estruturas
subsidiárias, nomeadamente no interior dos limites da cidade de Lisboa,
conduziram à construção de inúmeros espaços públicos de referência da
cidade. O Aqueduto das Águas Livres assume um papel importante na
transformação do espaço público de Lisboa a partir do século XVIII, e na
sua organização territorial, conduzindo a alterações significativas na própria
natureza geográfica dos lugares, e na morfologia da cidade de Lisboa [4].
Argumenta-se que esta infra-estrutura poderá ter hoje, assim como teve
anteriormente, um papel fundamental nas transformações futuras da Área
Metropolitana de Lisboa, e deverá portanto ser encarada como uma espinha
dorsal do planeamento urbano a um nível metropolitano. Assim, promovese o desenvolvimento de uma nova metodologia de análise urbana que
identifique a complexidade, heterogeneidade e dinâmicas da área
metropolitana de Lisboa, assente na perspectiva do desenho da forma
urbana. Mais concretamente no que se prende ao caso de estudo em análise,
o Aqueduto das Águas Livres, pretende-se investigar qual o papel de
dinamizador urbano que o aqueduto poderá representar ao nível do
planeamento dos territórios por si atravessados, baseado numa análise
morfológica dos territórios atravessados por esta infra-estrutura.
Esta apresentação estará organizada em três partes. Numa primeira parte
introduz-se uma análise o Aqueduto das Águas Livres enquanto infraestrutura notável do ponto de vista técnico e ao mesmo tempo simbólico na
cidade. A segunda parte promove uma análise das metodologias e
abordagens actuais disponíveis para uma análise morfológica do território, a
531
fim de avaliar a sua aplicabilidade num possível quadro metodológico. E,
finalmente, a terceira parte apresenta uma análise do Aqueduto das Águas
Livres procurando-se avaliar: i) o seu nível de integração com a paisagem
urbana, ii) o seu nível de integração com o espaço público e iii) os espaços
públicos que tiveram a sua génese e/ou reforço com a construção do
Aqueduto.
Finalmente, pretende-se com a presente comunicação, trazer à discussão
pública novas formas de análise do espaço urbano, nomeadamente aplicadas
à Área Metropolitana de Lisboa, baseadas, neste caso concreto, no elemento
arquitectónico Aqueduto das Águas Livres. Por ser um elemento transversal
a 5 concelhos e 26 Freguesias da Área Metropolitana de Lisboa, o Aqueduto
das Águas Livres pode e deve ser considerado como elemento
importantíssimo na compreensão e análise dos territórios metropolitanos por
ele atravessados, numa perspectiva metropolitana e como elemento gerador
e potenciador de uma nova abordagem de planeamento destes territórios.
Referências
[1] Domingues, Á. (1995), (Sub)úrbios e (sub)urbanos - o mal estar da
periferia ou a mistificação dos conceitos?, Revista da Faculdade de
Letras — Geografia I Série, Vol. X/XI, Porto, pp. 5-18
[2] Acher, F (1998), Metapolis: acerca do futuro da cidade, Celta Editora,
Oeiras
[3] Portas, N. (2003), Espaço público e cidade emergente – Os novos
desafios in Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade, Ed.
Centro Português de Design
[4] Marat-Mendes, T (2007), Do Aqueduto das Águas Livres aos Novos
Vazios. In Actas do Seminário Estudos Urbanos – Vazios Úteis,
ISCTE,
DAU,
Lisboa.
Em
linha
[http://seu2007.saau.iscte.pt/Actas/Actas_SEU2007_files/Teresa_Mara
t-Mendes2.pdf] acedido em 7 fevereiro 2013.
532
O espaço verde in[formal] na cidade de Maputo
Joana PIMENTEL1; Teresa ANDRESEN2
1
Universidade do Porto, Faculdade de Ciências,
Rua do Campo Alegre, s/n, 4169-007 Porto, Portugal
[email protected]
2
Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos,
Universidade do Porto, Faculdade de Ciências,
Rua do Campo Alegre, s/n, 4169-007 Porto, Portugal
[email protected]
Palavras-chave: Maputo, espaços verdes, tipologias de espaço, cidade dual,
paisagem urbana
Resumo
No continente africano, muitas das capitais de origem colonial,
especialmente na África subsaariana são constituídas por duas cidades
distintas [2], uma planeada, estruturada e organizada, provida de
equipamentos coletivos, serviços básicos e infraestruturada, oposta a outra,
de crescimento muitas vezes espontâneo, carenciada de serviços básicos,
equipamentos e infraestruturas.
A cidade de Maputo tem sido estudada nesta dualidade de “cidade
cimento”/”cidade caniço” ou “cidade formal”/cidade informal” em diversas
áreas do conhecimento científico (Urbanismo, Arquitetura, Geografia,
Etnografia) em abordagens gerais à cidade [3,6,12], ou sobre aspetos
particulares de uma das cidades [1,4,10]. No entanto, no que respeita aos
espaços verdes, o conhecimento é escasso e reporta maioritariamente, à
época colonial [5,7] em que a cidade se encontrava sob jurisdição
portuguesa, tendo sido recentemente abordados os espaços verdes da cidade
informal sob o ponto de vista social [11].
A dualidade de Maputo é estudada ao nível dos espaços verdes urbanos
enquanto unidade básica que compõe a infraestrutura verde.
O crescimento da cidade é brevemente descrito, com enfase nos espaços
verdes, seguido da identificação das tipologias presentes segundo os
critérios do Landscape Institute [8] e adaptado ao contexto de Maputo.
Numa primeira fase foram identificadas diferentes formas de malhas
urbanas em planta, seguido da identificação das tipologias de espaço verde
por fotografia aérea e reconhecimento de campo, e por fim são enumerados
alguns dos serviços que prestam para a comunidade.
533
A cidade é marcada pela presença constante de vegetação que pontua os
espaços verdes de diferentes tipologias e oferece uma continuidade que se
revela essencial para a constituição de uma infraestrutura verde coerente
[9].
Nos espaços verdes, a cidade dual revela-se ao nível da inserção na malha
urbana (figura 1), na diversidade tipológica e funções desempenhadas.
Figura 1: Índice de vegetação NDVI obtido através de deteção remota em duas áreas
distintas da cidade que permite inferir algumas das tipologias de espaço verde.
Fonte: Henriques, 2008
Os espaços verdes na cidade formal são bem definidos, com grande
relevância do espaço verde público. A vegetação arbórea confere uma
estrutura marcadamente reticular, à qual se sobrepõem manchas arbóreas de
maior ou menor dimensão, enquanto na cidade informal os espaços verdes
são maioritariamente privados ou ocasionalmente institucionais,
apresentando carência de espaços verdes públicos, em que a vegetação se
apresenta de forma difusa.
Agradecimentos
Os autores agradecem à Faculdade de Arquitetura e Planeamento Físico da
Universidade Eduardo Mondlane na pessoa do seu director, Prof. Luís Lage
o acesso a bases de dados digitais e os planos pós-independência da cidade
de Maputo e à Prof.ª Maria Clara Mendes, coordenadora do Projeto de
Investigação da Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de
Lisboa, o "Urbanismo Colonial - Os Planos de Urbanização nas Antigas
Províncias Ultramarinas, 1934-1974." financiado pela Fundação para a
534
Ciência e a Tecnologia, Lisboa, 2006, o acesso aos planos de urbanização
de Lourenço Marques.
Referências
[1] AAVV (2012), Research programme: Home Space in the African
cities – Home space Maputo, Maputo
[2] Adjaye, D., Allison P. (2011), Adjaye Africa Architecture: A
Photographic Survey of Metropolitan Architecture, 7 Volumes,
Thames & Hudson, London
[3] Azevedo, M. (coord) (1969), Plano Director de Urbanização de
Lourenço Marques, Lourenço Marques
[4] Costa, A. B. (2007), O preço da sombra – Sobrevivência e reprodução
social entre famílias de Maputo, Livros Horizonte, Lisboa
[5] Gomes e Sousa, A.F. (1946), Jardins de Moçambique - Jardins de
Lourenço Marques in Moçambique, Documentário Trimestral n.°45,
Lourenço Marques: Imprensa Nacional de Moçambique, pp. 33-56.
[6] Henriques, C. (2008), Maputo, Cinco décadas de Mudança TerritorialO uso do solo observado por tecnologias de informação geográfica,
Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, Lisboa
[7] Faria, M. T. (1971), 1971, Principais componentes arbóreos da flora
dos arruamentos de Lourenço Marques, Comunicações 67, Instituto de
Investigação Agronómica de Moçambique, Lourenço Marques
[8] Landscape Institute (2009), Green infrastructure: connected and
multifunctional
landscapes
—
position
document,
(http://www.landscapeinstitute.org/PDF/Contribute/
GreenInfrastructurepositionstatementl3May09.pdf) [Janeiro 2011]
[9] Madureira, H., Andresen, T., Monteiro, A. (2011), Greenstructure and
planning evolution in Porto. Urban Forestry & Urban Greening, 10,
pp. 141-149.
[10] Morais, J.S., (2001), Maputo - Património da estrutura e forma urbanaTopologia do lugar, Livros Horizonte, Lisboa
[11] Pimentel, J., (2012), The power of shade – the green infrastructure in
African slums. Maputo’s case study. In, Proceedings of ECLAS 2012 The power of Landscape, Warsaw, September 19-22, ECLAS 2012
Press, pp 224-228
[12] Viana, D., Brandão Alves, F., (2006), Maputo, From the colonial
paradigm to the peripheralization of the contemporary urban space.
Revista Urbanistica pvs – Developing Countries, 42/43, pp. 3-10.
535
O arquiteto do Ultramar
MAIA, Célia1
1
Doutoranda em urbanismo FAUTL 2845-594 Amora, Portugal
00351 969438904, [email protected]
Palavras-chave: urbanismo, lusofonia, arquiteto
Resumo
O Congresso Nacional de Arquitetura de 1948 marca um ponto de viragem
da história da arquitetura e do urbanismo portugueses. Neste Congresso
foram levantadas questões relativas à formação académica e profissional do
arquiteto. Paralelamente a transmissão de conhecimentos entre Portugal e as
antigas províncias era evidente e encontrava-se em expansão, dado o regime
político ditatorial vigente. Os arquitetos deste período realizavam a sua
formação em Portugal na Escola de Belas Artes de Lisboa, de cariz
tradicionalista, e na Escola de Belas Artes do Porto, de cariz modernista, e
após a conclusão dos cursos seguiam de imediato para as ex-colónias,
colocando em prática os seus conhecimentos. A grande preocupação destes
arquitetos era assim a de potenciar um tipo de linguagem a que estavam
interessados em praticar. O ‘moderno’ veio assim impulsionar o
desenvolvimento destes territórios, tendo o Brasil como exemplo e
caracterizando os PALOPs (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa)
pela arquitetura praticada pelos arquitetos graduados em Portugal. Após o
25 de Abril de 1974 e da implementação da democracia em Portugal, a
maioria destes arquitetos voltaram às suas origens, embora por pouco
tempo, dada a escassez de encomendas, continuando com esta autêntica
propagação de conhecimento, e partindo, por exemplo, para o Brasil
(Simões de Carvalho (1929), Delfim Amorim (1917-1972), Conceição Silva
(1922-1982), entre outros), assim como para Macau (Manuel Vicente
(1934), Chorão Ramalho (1914-2001)), enquanto poucos permaneceram nos
territórios lusos em guerra.
Até a criação das escolas locais, nos territórios lusófonos, foi prática
comum este tipo de transmissão de conhecimentos entre os países de língua
portuguesa, que se desenvolveu com a formação académica, a prática
profissional, a docência e a direção de escolas de arquitetura. Formavam-se
nestas escolas, prosseguiram para as antigas províncias ultramarinas e
praticavam arquitetura e urbanismo, e, mais tarde, viriam a desempenhar
um papel fundamental na formação académica da arquitetura e urbanismo,
537
ocupando cargos de destaque nas diferentes instituições e fundando Cursos.
Hoje há uma relação tênue entre Portugal e as ex-colónias. Mas permanece
um aspecto que continua a unir estes territórios: o seu passado e a sua
matriz de construção arquitetônica e urbana.
Assim sendo e ainda de modo insipiente, verifica-se que a história do
urbanismo português é caracterizada pelo contributo de profissionais que se
dedicaram e buscaram a sobreposição de conhecimentos de outras
disciplinas científicas. A título exemplificativo referem-se: Nadir Afonso
(1920), Vasco V. Costa (1911-1982), Ricardo Severo (1869-1940), Pancho
Guedes (1925), Paulino Montez (1897-1988), Rogério de Azevedo (18981983), David Moreira da Silva (1909-2002), Miguel Jacobeti (1901-1970),
Faria da Costa (1906-1971), Schiappa de Campos (1926). Ainda muitos
outros profissionais merecem destaque neste estudo: Agache realizou
propostas para a Costa do Sol, Oeiras-Sto. Amaro e Carcavelos; Cristino da
Silva realizou o Plano de Fátima, Avenida da Liberdade e Jamor, e
influenciou toda uma geração, na qualidade de Professor na Escola de
Belas-Artes de Lisboa e na qualidade de arquiteto de intervenções de grande
escala; Carlos Ramos realizou propostas para a praia de Molêdo e para a
praia da rocha, onde fez tábua rasa e ignorou totalmente as pré-existências;
Raul Lino criticou a proposta de Paulino Montez para a Encarnação (1990)
e defendeu que não o urbanismo não se faz para ser visto do ar, mas sim
para ser vivido em harmonia e adaptado à envolvente e às necessidades dos
usuários; Aguiar foi autor da maioria dos Planos Municipais para as capitais
de distrito de Portugal, ‘privou’ com Agache, e foi desenhador do Plano de
Fátima de Cristino da Silva; Mário de Oliveira foi um dos poucos
culturalistas que trabalhavam em urbanismo, adequa a sua proposta às préexistências e não trabalha de acordo com regras rígidas de regra e esquadro
que classificou como antinaturais – foi o arquiteto mais ativo e
reivindicativo do Congresso de 1948.
Dentro deste conjunto de profissionais e para a realização deste artigo, será
atribuído destaque ao arquiteto Fernão Lopes Simões de Carvalho, cujo
percurso se divide entre o urbanismo e a arquitectura ao serviço da
comunidade. Simões de Carvalho, motivado pela ambição de aprender a
fazer urbanismo, depois de se formar em Portugal, especializou-se na
Sorbonne, em Urbanismo, e privou no atelier de Le Corbusier. Mais tarde,
em Angola, impulcionou novas práticas urbanas e mudou mentalidades. Em
1961, criou o Gabinete de Urbanização da Câmara Municipal de Luanda, e
no mesmo ano foi co-autor do Plano Director de Luanda (Fig.1).
Implementou os bairros de realojamento provisório que integravam os
‘indígenas’ antes destes serem transferidos para a estrutura dos planos
538
diretores que projetou. Para a realização deste tipo de realojamento
necessitou de assistentes sociais, que não existiam na altura. Planeou bairros
onde cada edifício foi estudado com todo o rigor e criou as denominadas
Unidades de Vizinhança, entre elas, o Bairro Prenda (Fig.2).
Pretende-se assim, com este artigo, demonstrar a influência que o arquiteto
do ultramar teve no planeamento do território lusófono, através do caso de
estudo de Fernão Simões de Carvalho – angolano, formado em Portugal e
especializado em urbanismo na europa – evidenciando como a difusão de
conhecimentos entre diferentes países marcou uma prática.
Figura 1: Plano Diretor de Luanda (1961-1967); PLURIS 2012, Ramos e outros.
539
Legenda 2: Bairro Prenda (Unidade de Vizinhança); PLURIS 2012, Ramos e
outros.
Agradecimentos
O Comité Organizador do PNUM 2013 reconhece o apoio do Prof. José
António Tenedorio do eGEO, Centro de Investigação em Geografia e
Planeamento Regional da Universidade Nova de por ter permitido o uso
deste modelo concebido originalmente por si.
Referências
[1] Fernandes, J. M. (2006), Arquitectos do século XX – da tradição
à modernidade, Caleidoscópio, Lisboa.
[2] Fernandes, José Manuel (202) Geração Africana. Arquitetura e
Cidades em Angola e Moçambique, 1925-1975. Lisboa: Livros
Horizonte.
[3] Lôbo, Margarida S. (1995) Planos de Urbanização à época de
Duarte Pacheco. DGOTDU, FAUP, Porto.
[4] Ramos, Tânia e outros (2012) “CENTRALIDADES
DESLOCADAS. BAIRROS
PERIFÉRICOS
E
PLANEJAMENTO
URBANO: PORTUGAL,
BRASIL E EM ANGOLA.” in 5º Congresso Luso Brasileiro para o
Planejamento Urbano, Brasília.
540
A Rua Direita da Filipeia de Nossa Senhora das
Neves: morfologia urbana e história da cidade.
Maria Helena de Andrade AZEVEDO1; Maria Berthilde Moura FILHA2;
1
Laboratório de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM) da Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia, Campus I, CEP 58059-900, Brasil
55 83 3216 9379, [email protected]
2
Laboratório de Pesquisa Projeto e Memória (LPPM) e Programa de Pós-graduação em
Arquitetura e Urbanismo (PPGAU) da Universidade Federal da Paraíba
Centro de Tecnologia, Campus I, CEP 58059-900, Brasil
55 83 3216 9379, [email protected]
Palavras-chave: Rua Direita, Filipeia, traçado retilineo, edifícios singulares
Resumo
No livro Diálogo das Grandezas do Brasil (1966, p.20), escrito em 1618 e
atribuído a Ambrósio Fernandes Brandão, o personagem Brandônio relata
que em 1586 “...alembra haver visto o sítio onde está situada a cidade
[antiga Filipeia, atual João Pessoa], agora cheias de casa de pedra e cal e
tantos templos, coberto de matos.” Assim, o arruamento dessa povoação
teria ocorrido entre o final do século XVI e o início do século XVII.
Um plano para traçado dessa cidade é desconhecido. Entretanto, o desenho
das suas primeiras ruas permite se levantar a possibilidade de que houve ali
uma intenção de ordenamento espacial. As ruas da cidade alta,
representadas no mapa Frederica Civitas (Figura 01), revelam um conjunto
de linhas geométricas, definido por quadras regulares que se subdividiam
em lotes também regulares – elementos morfológicos do urbanismo
desenvolvido em Portugal desde a Idade Média (MOURA FILHA, 2005, p.
100).
Nas cidades lusas, é comum encontramos uma via denominada Rua Direita
sobre a qual Rossa (2002, p.223) afirma ser uma rua com imagem de
síntese, que corresponde ao arquétipo do urbanismo português. Na Filipeia,
a Rua Direita se consolidou como um eixo da cidade, interligando dois
edifícios singulares – o Convento Franciscano e a Igreja dos Jesuítas.
Dentre os equipamentos que integravam a organização das cidades
portuguesas, alguns foram implantados nas cidades coloniais e Rossa (2002,
p. 279) chama atenção para a Matriz, a Casa de Câmara e Cadeia, o
Pelourinho, a Misericórdia, os conventos das ordens religiosas e o colégio
541
jesuíta. Em Filipeia, de todos esses equipamentos, apenas a Matriz (Figura
02 - 7) não se localizou na Rua Direita.
Figura 01 – "FREDERICA CIVITAS".
Detalhe de uma imagem que ilustra o livro de Barlaeus (BARLAEUS - 1647)
Gravura de Jan van Brosterhuisen.
Fonte: REIS FILHO (2000)
1. Convento Franciscano
2. Largo da Câmara / Largo do Erário
3. Igreja da Misericórdia
4. Igreja de São Gonçalo
5. Matriz
A. Rua Direita
B. Rua Nova
Com a chegada dos franciscanos, em 1589 (PINTO, 1977, p.24), eles se
instalaram em um terreno situado de frente para o início da Rua Direita
(Figura 02 - 1), edificando o Convento de Santo Antônio, cuja implantação
é precedida por um adro trapezoidal.
Presente nas povoações que mereciam atenção da Coroa Portuguesa, a
Misericórdia (Figura 02 - 4) abrigava atividades como hospital, orfanato,
escola e igreja. Durante anos, no período colonial, em função da
precariedade da Matriz, a Misericórdia desempenhou a função de principal
igreja da cidade.
542
Outro elemento morfológico de destaque na Rua Direita é o Largo da
Câmara (Figura 02 – 2), identificado como a praça cívica de FilipéiaEm seu
entorno se situavam a segunda Casa de Câmara e Cadeia da cidade além do
açougue e do pelourinho.
Figura 04 – Detalhe da Planta da Parahyba do Norte (antiga Filipeia)
elaborada em 1855
Fonte: Desenho elaborado por Maria Helena Azevedo a partir de cópia da
planta existente no Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba.
Figura 04 – Detalhe da Planta da Parahyba do Norte [antiga Filipeia] em 1855.
Fonte: Desenho a partir de cópia da planta existente no IHGP.
Rua Direita
Rua da Baixa
Rua de São Gonçalo
1- Convento Franciscano
2- Casa de Câmara e
Cadeia
3- Casa dos Contos
4- Igreja da Misericórdia
5- Igreja do Rosário dos
Pretos
6- Casa e Colégio dos
Jesuítas
7- Matriz
8- Mosteiro Beneditino
A- Beco do Carmo
B- Beco da
Companhia
9- Convento Carmelita
10– Igreja das Mercês
F- Beco do Lyceo
C- Beco do Hospital
D- Beco do Rosário
E- Beco do Barão
Já os jesuítas se instalaram próximos à aldeia dos tabajaras e ali construíram
uma igreja (PINTO, 1977, p.20), que na descrição de Herckman (1982, p.
44) “...é uma igrejinha, ou, para melhor dizer, uma simples capela com a
denominação de São Gonçalo” (Figura 02 – 6). Foi com as esmolas da
população e com ajuda vinda de Portugal que, até 1759, os padres ergueram
a casa e o colégio, ocupando toda a quadra situada ao final da Rua Direita.
A presença dos jesuítas ao norte da cidade contribuiu para a expansão
urbana naquela direção. Como era comum às igrejas terem uma implantação
destacada na malha urbana, o Conjunto Jesuíta definiu, à sua frente, um
largo regular que passou a ser conhecido como Largo do Colégio.
543
Assim, entendendo que há uma pluralidade de maneiras de se contar a
história, este artigo busca mais um testemunho histórico – o relato da
arquitetura da cidade. Na Rua Direita, a morfologia urbana e a tipologia dos
edifícios revelam a sua importância na trama urbana, permitindo contar uma
versão para a história de Filipeia.
Referências
[1] [Brandão, Ambrósio Fernandes] (1618), Diálogos das Grandezas do
Brasil. 2.a edição integral, segundo o apógrafo de Leiden. Recife:
Imprensa Universitária, 1966.
[2] Herckman, Elias (1639), Descrição da Capitania da Paraíba.
Apresentação de Wellington Aguiar e notas de Marcus Odilon Ribeiro
Coutinho. João Pessoa: A União Editora, 1982
[3] Moura Filha. Maria Berthilde (2005), De Filipeia a Paraíba: uma
cidade na estratégia de colonização do Brasil. Porto: Tese (Doutorado
em História da Arte) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
[4] Pinto, Irineu Ferreira (1977), Datas e Notas para a História da Paraíba.
João Pessoa: Ed. Universitária/ UFPB.
[5] Reis Filho, Nestor Goulart (2000), Imagens de Vilas e Cidades do
Brasil (1500/ 1720). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
[6] Rossa, Walter (2002), A Urbe e o Traço: Uma década de estudos sobre
o urbanismo português. Coimbra: Almedina.
544
A influência de Otto Koenigsberger e do curso de
Arquitectura Tropical na Architectural
Association na conformação das cidades africanas
do império português
Jorge FIGUEIRA
Investigador do CES, professor do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e
Tecnologia da Universidade de Coimbra
Largo D. Dinis, Colégio das Artes, 3000-143 Coimbra, Portugal
00351966514368, [email protected]
Palavras-chave: Otto Koenigsberger, gabinetes coloniais, cidade tropical,
África, climatologia
Resumo
Três arquitectos portugueses, Luis Possolo, António Seabra e Fernando
Schiappa de Campos, frequentaram, na década de 1950, o curso de
Arquitectura Tropical na Architectural Association, cuja primeira edição
teve início em Setembro de 1954. Trata-se de um curso pioneiro e de grande
importância histórica que visava formar arquitectos de todo o mundo, nos
temas da conformação urbana e arquitectónica em países sujeitos a
instâncias coloniais ou pós-coloniais. Otto Koenigsberger é o ideólogo deste
curso e será seu director entre 1957 e 1971. O seu trabalho é reconhecido no
planeamento urbano na Ásia, América-Latina e África. Foi também
consultor das Nações Unidas, nesta área.
A partir do acesso que tivemos ao espólio de Koenigsberger que foi
recentemente doado à Architectural Association, e que consultámos mesmo
ainda antes de estar catalogado, a presente comunicação visa identificar e
reflectir as influências e o impacto que esta figura central e o curso de que
foi mentor teve na prática dos 3 arquitectos portugueses, e por consequência
nas cidades africanas para onde projectaram, enquanto funcionários do
Gabinete de Urbanização do Ultramar.
A criação do curso de Arquitectura Tropical surgiu após a Conferência de
Arquitectura Tropical na University College London em 1953, e foi
motivada pela insatisfação dos alunos que vinham de países tropicais, e
sentiam os conteúdos ensinados nos cursos de arquitectura desfasados do
contexto tropical, onde viriam mais tarde a intervir. Otto Koenigsberger,
545
presente nessa Conferência foi convidado, com George Atkinson e Leo de
Syllas, para elaborar um programa detalhado do curso. Koenigsberger era
então professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.
Como consequência, esta abordagem “higienista” foi transposta para o
curso que teve início na Architectural Association. O curso visará este
conceito na mediação entre a arquitectura e as formas urbanas, desde logo
no intuito da prevenção de doenças, mas será progressivamente alargado a
temáticas próximas da apropriação e conforto no projecto de modelos
urbanos. Maxwell Fry e Jane Drew, também com trabalho importante nesta
área, foram professores no curso e Maxwell Fry foi indicado para o liderar
durante primeiras edições.
Podemos afirmar que o objectivo geral correspondia a uma colmatação de
um conhecimento até então bastante empírico sobre o que representava
construir nos trópicos. É assumida a existência de especificidades no
trabalho do arquitecto, quando projecta sobre aquele contexto físico e
social, o que justifica uma especialização dos seus conhecimentos. Esta
abordagem, reflectia-se de um modo antropológico sobre o homem em
relação com o clima até a uma visão mais técnica e científica, sobre a
análise dos tipos de clima e comportamento dos materiais e construções
perante a temperatura ou a insolação. A sociologia será também introduzida,
e as escalas do colectivo e da cidade: o planeamento urbano, as
infraestruturas, os programas escolar e hospitalar, a habitação de grande
densidade, e a economia são centrais. Como caso de estudo, na edição de
1957-1958, que teve como alunos António Seabra e Schiappa de Campos, o
programa é um conjunto de temas de diversas disciplinas, artísticas e
técnicas. A climatologia é um tema central assim como a engenharia,
economia, antropologia, pintura, escultur, como é notário na listagem de
disciplinas: Types of Tropical Climates, John Page; Building Materials in
Tropics, O. Koenigsberger; Earth as Building Material, G. A. Atkinson;
Urban Planning, P. Stevens; Cultural Patterns and Tropical Architecture,
P. Smithson; The Tema Village Plan, Denys Lasdun; Hospitals in the
Tropics, R. Llewelyn Davies; Schools in the Tropics, Jane Drew; Painting
and Sculpture, Eduardo Paolozzi.
O Gabinete de Urbanização do Ultramar é um núcleo de projecto urbano e
de arquitectura, que funciona sob a tutela do Ministério das Colónias, e está
associado ao quadro político e administrativo do Estado Novo.
Pretende-se levantar e reflectir sobre o impacto destas ideias no trabalho dos
três arquitectos Luis Possolo, António Seabra e Fernando Schiappa de
Campos que por indicação do estado português frequentaram o curso de
546
Arquitectura Tropical na Architectural Association, enquanto funcionários
do Gabinete de Urbanização do Ultramar, e que projectaram para os países
do então império português em África.
Agradecimentos
Professora Ana Vaz Milheiro, Investigadora Principal do Projecto de
Investigação Gabinetes Coloniais de Urbanização, FCT.
Arquitecto Bruno Gil, doutorando do Departamento de Arquitectura da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
Referências
[1] Architectural Association School of Architecture (1955), Department
of Tropical Architecture, Prospectus London: Architectural
Association.
[2] Architectural Association School of Architecture (1967), "Department
of Tropical Studies: Bibliography", London: Architectural Association
School of Architecture.
[3] Baweja, Vandana (2008), A Pre-history of Green Architecture: Otto
Koenigsberger and Tropical Architecture, from Princely Mysore to
Post-colonial London, A dissertation submitted in partial fulfillment of
the requirements for the degree of Doctor of Philosophy
(Architecture), The University of Michigan.
[4] Milheiro, Vaz Ana (2012), Nos trópicos sem Le Corbusier, Relógio
d’Água, Lisboa
[5] Saldanha, José Luis (2012), Luis Possolo, Um arquitecto do Gabinete
de Urbanização do Ultramar, CIAAM, Lisboa
547
‘Cidade de Africa que procura não sentir a Africa’
Madalena Cunha MATOS
Faculdade de Arquitectura - Universidade Técnica de Lisboa
Rua Sá Nogueira - Pólo Universitário Alto da Ajuda - 1349-055 Lisboa, Portugal
Phone: + 351 213615823, [email protected]
Palavras-chave:
Urbanismo
Colonialismo, Moçambique
colonial,
Arquitetura,
Fotografia,
Resumo
Os álbuns de Moçambique de José dos Santos Rufino, publicados em 1929
na cidade de Maputo e impressos na África do Sul, na casa representante da
firma alemã de artes gráficas, Broschek & Company, são os documentos
fotográficos e descritivos mais completos sobre a colónia até essa data.
Revestem-se da mais alta importância no conhecimento do processo de
transformação do território moçambicano e das estruturas urbanas em
particular nas primeiras décadas de 30 do século XX-, num arranque de
infraestruturação, de edificação de equipamentos e residências e de
experimentação de um novo urbanismo. A partir de 1895, com as operações
militares e a definição fronteiriça concluídas, o poder metropolitano e o
local encaram Moçambique pela primeira vez como um território à escala
de um país, como um ‘dentro’ a que era necessário dar estrutura, e como
uma plataforma de interface para si próprio e países limítrofes com o mundo
exterior. A forma a que se dispõem dar corpo a esta placa giratória da
África Oriental é constante e ganha ritmo crescente.
Porém, é com violência que se concluíra havia pouco a ‘pacificação’ do
enorme território assim unificado. E é com violência que por muito tempo
ainda haveria de se instalar em novas áreas e consolidar o poder colonial
português – assim como os poderes coloniais seus concorrentes. A corrida
pela ocupação do território ainda estava em pleno vigor.
Por outro lado, a vontade de edificar e de urbanizar eram acompanhadas por
uma determinação em fazer ‘europeu’. Vilas e cidades são locais de
instalação de hábitos, usos e expressões da sede metropolitana. A população
autóctone é incorporada nos processos produtivos mas não na sociabilidade
e lazeres dos colonos europeus.
Os dez álbuns de Santos Rufino são um auto-retrato da colónia. Realizado –
ou por fotografia pessoal ou por encomenda – por um habitante da então
Lourenço Marques, um comerciante com casa aberta na Baixa, eles são um
548
revelador de um estado de espírito e de uma vontade de imaginário europeu
no espaço africano. Retratam paisagens, estruturas urbanas, actividades e
pessoas em cuidadosos e depurados enquadramentos. Permitem detectar os
pontos de aplicação da urbanidade tal como os europeus a desejam e a
vivem.
Observam-se os tecidos urbanos em gestação ou os já consolidados.
Analisam-se os traços incompletos e contraditórios do que é lido
contemporaneidade como a negação da África no seu próprio território.
Agradecimentos
A autora agradece ao Projecto COST Action IS0904 ‘European
Architecture Beyond Europe’ e o apoio concedido pelo CIAUD.
Referências
[1] Rufino, J. dos S. (1929), Álbuns Fotográficos e Descritivos da Colónia
de Moçambique: Photographic and descriptive albums of Portuguese
East Africa. Albums photographiques et descriptifs de la colonie
portugaise de Mozambique, Hamburgo: Broschek & Company.
[2] Fernandes, J.M.; Janeiro, M.L.; Neves, O.I., (2008), Moçambique
1875-1975 Cidades, Território e Arquitecturas, Lisboa.
[3] Fernandes, J. M. (2009), Geração Africana. Arquitectura e Cidades em
Angola e Moçambique 1925-1975, 1.a edição, Lisboa, 2002, 2.a
edição, 2009.
[4] Matos, M.C., Ramos, T.L.B. & Costa, L.P. (2009) “Planned and
unplanned towns in former Portuguese colonies in Sub-Saharan
Africa: an analysis of Silveira s Iconografia” in: African Perspectives
2009 The African City Centre. (re)sourced, Pretória. URL:
http://web.up.ac.za/sitefiles/file/44/1068/3229/9086/African%20Perspe
ctives/PDF/Papers/matos.pdf
549
(Des) Continuidades na Baixa Coimbrã. O Plano
de Melhoramentos da cidade baixa sempre adiado
Margarida RELVÃO
Doutoranda em Arquitetura | CES-FCTUC
Bolseira da FCT cofinanciamento do FSE no âmbito do POPH
Colégio das Artes, Largo D. Dinis, 3000-143 Coimbra, Portugal
00351 967265643, [email protected]
Palavras-chave: Higienização, Forma Urbana, Politica municipal, Plano de
Melhoramentos
Resumo
Nesta comunicação pretendemos analisar o processo de modernização e
higienização da baixa da cidade de Coimbra, que durante o século XIX e
início do século XX motivou um conjunto de projetos e planos de
transformação da sua forma urbana.
Coimbra, fortemente marcada pela sua posição junto a um rio tempestuoso
desde o século XVIII que tentava através da técnica dominar as constantes
cheias que assolavam o bairro baixo da cidade, mas estas eram ainda ações
fragmentadas e ineficazes. O desenvolvimento da ciência e da técnica, com
destaque para os domínios da engenharia, vão permitir as obras de
encanamento do Mondego e alterar um dos elementos condicionantes da
forma urbana construída até ali, o território. De uma forma integrada
empreenderam-se um conjunto de intervenções que alteraram a frente
urbana, e a principal entrada da cidade, o Largo da Portagem, mas
limitaram-se a uma pequena faixa junto ao rio, mantendo-se inalterado o
miolo do bairro antigo.
Todavia, depois desta intervenção a edilidade desenvolve uma nova política
urbana de higienização e transformação da cidade.Com destaque para a
infraestruturação e para a expansão da cidade.
Propomo-nos aqui analisar as propostas e os debates de transformação,
higienização e aformoseamento do bairro baixo, zona insalubre e principal
centro económico da cidade. Ao longo de mais de um século foram sendo
estudados projetos e planos de acordo com os modelos internacionais de
reforma urbana. Salientamos os primeiros projetos de implantação do
matadouro e do mercado municipal e as suas repercussões quer na
comunidade quer na estratégia municipal, bem como os esforços municipais
550
para a elaboração de um Plano de Melhoramentos da cidade Baixa de
acordo com o diploma inaugural do planeamento geral da cidade, o decreto
de 31 de dezembro de 1864, que conduzem ao primeiro Plano de
Urbanização.
Projetos na sua maioria, cerceados ou não realizados, que propunham
aterrar, regularizar e aformosear, e que marcam a rutura com os modos de
construção da cidade anterior e com a sua morfologia. Importa não só
analisar os resultados destes planos e as suas adaptações, bem como as
consequências da sua rejeição que acarretam a transformação de outros
espaços e o crescimento da cidade, em detrimento da salubrização da cidade
existente.
551
A influência da localização dos colégios da
Companhia de Jesus na forma urbana das cidades
origem portuguesa no século XVI: Portugal –
Brasil.
Carla PATRÍCIO
CIAUD – Centro de Investigação de Arquitectura, Urbanismo e Design, Faculdade de
Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa
Rua Sá Nogueira, Pólo Universitário, Alto da Ajuda, 1349-055 Lisboa
[email protected]
Palavras-chave: Companhia de Jesus, colégios, forma urbana, cidades de
origem portuguesa.
Resumo
No contexto da expansão portuguesa, da demarcação do território, do
espírito missionário e mercantilista, os portugueses edificaram num
território que se estende desde o Brasil ao Japão núcleos urbanos, que no
seu traçado transitavam da forma medieval de construir e conceber a cidade
para a modernidade, através quer da experiência empírica adaptando e
estruturando territórios quer de concepções teóricas fomentadas pelo ímpeto
do Renascimento.
Neste espírito das Descobertas, da conquista de novos territórios e da
evangelização foi fundada em 1540 a Companhia de Jesus, ano da chegada
ao nosso país do Padre Francisco de Xavier com o intuito de ajudar o
monarca D. João III na missionação no âmbito do Padroado Português do
Oriente. A partir desta data e até aos dias de hoje a acção de missionação e
ensino dos padres da Companhia materializou-se na construção de
equipamentos religiosos e de ensino. Esta instituição fora fundada no
contexto da Contra-Reforma da Igreja Católica em Itália, em 1536 por
Inácio de Loyola, tendo recebido aprovação do Papa Paulo III, na Bula
Regimini Militantis Ecclesiae, em Setembro de 1540. [1]
Nos seus primeiros anos de expansão (1540 – 1758), os Jesuítas sob a
assistência dos Padroados Portugueses, fundaram num território
correspondente ao universo urbanístico português, cerca de quatro
províncias Jesuíticas e duas vice-províncias, nomeadamente a província de
Portugal, a do Brasil que posteriormente teve como sufragânea a viceprovíncia do Maranhão e Belém, e a província da China que englobava a
vice-província do Japão.
553
Nesta vasta área de expansão, a Companhia de Jesus erigiu espaços
religiosos/ensino que se podem dividir nas seguintes tipologias: residências
principais ou casas professas, colégios, missões ou reduções, aldeias e
fazendas. Os colégios pela sua magnificência, implantação e pelo facto de
se inserirem desde a sua edificação em espaços urbanos ou na sua
envolvente (com raras excepções) encontram-se assim mais directamente
ligadas ao nosso objectivo de estudo: os núcleos urbanos de origem
portuguesa.
Neste estudo que aqui nos propomos apresentar iremos analisar a relação
entre os colégios edificados pelos Jesuítas durante o seu primeiro século de
existência e o desenvolvimento das malhas urbanas nas cidades de origem
portuguesa, em que se inseriram. Neste estudo teremos em atenção as
especificidades de implantação destes equipamentos e suas contribuições
para o processo evolutivo da morfologia urbana. Procuraremos
compreender: de que forma a Companhia de Jesus, através da construção
dos seus colégios, interveio na consolidação da paisagem urbana, através da
demarcação do território, da definição de planos de enquadramento de
novas linhas de fortificações/termos urbanos e de novas zonas de expansão
da cidade; e se a imposição dos seus complexos religiosos/ensino tiveram
um papel fundamental no ordenamento da morfologia urbana,
nomeadamente, no perímetro envolvente destas implantações, na criação de
grandes eixos perspécticos, e de novos centros urbanos.
No entanto, e devido à amplitude do número de colégios e do espaço físico
de expansão da Companhia de Jesus apenas incorporaremos nesta proposta
o estudo dos núcleos urbanos cujos colégios foram edificados em Portugal e
Brasil, durante o século XVI.
Em Portugal, a Companhia de Jesus durante o seu primeiro século de
existência erigiu cerca de dez colégios, nomeadamente em: Coimbra,
Lisboa, Évora, Braga, Bragança, Funchal, Angra do Heroísmo, Ponta
Delgada e Faro. [2]
Ao Brasil, os primeiros jesuítas chegaram a Salvador, em 1549, na comitiva
do primeiro Governador Geral, Tomé de Sousa. Nesta cidade fundaram a
província do Brasil da Companhia de Jesus, e o seu primeiro colégio - o
Colégio Maximus. Durante a segunda metade do século XVI, foram
edificados cerca de três colégios em: São Paulo, Rio de Janeiro e Olinda. [3]
A Companhia de Jesus como instituição religiosa que tinha como objectivos
principais a difusão da fé cristã, a evangelização e ensino das populações,
fomentou esta acção junto das comunidades demarcando a sua presença no
território através da localização e arquitectura dos espaços religiosos/ensino
que construiu tornando-os pólos atractivos ou novos centros no desenho dos
núcleos urbanos.
554
A sua importância urbanística deve-se fundamentalmente ao facto de
normalmente darem origem a largos ou terreiros, funcionando como pólos
de atracção e de densificação do tecido urbano. Em termos de imagem
urbana é mais importante a sua massa e volumetria que o recorte
proporciona na paisagem. Estes equipamentos urbanos tinham ainda uma
grande importância como reservas e ordenadores do crescimento
urbanístico, pois por regra eram dotados de uma cerca para onde cresciam e
que parcimoniosamente iam loteando e alugando.
As características geográficas do lugar em que se implantaram, os factos
históricos que deram origem à edificação destes equipamentos, e os
postulados de edificação da Companhia de Jesus, que foram sendo
delimitados por influência papal, fomentam também a hipótese de que a sua
implantação obedecia a regras específicas de localização directamente
relacionadas quer com a topografia quer com os postulados da própria
ordem, que a enfatizavam como uma ordem “urbana” e interventiva junto
das comunidades autóctones.
Os espaços edificados pelos Jesuítas nas cidades de origem portuguesa não
só construíram efectivamente cidade, dando origem a novos centros
urbanos, constituindo-se como limite e ao mesmo tempo como ponto de
expansão, ou contribuindo para o desenho urbano da cidade periférico à sua
área envolvente. Mas a sua marca nestes territórios continuou após a
expulsão da Companhia de Jesus. Mesmo destituídos da sua função original,
devido à sua localização, dimensão, impacto arquitectónico, adaptaram-se e
originaram novas mutações na cidade, tornando-se parte representativa do
seu património cultural e/ou arquitectónico.
Referências
[1] Bangert, William (1985), História da Companhia de Jesus,
Apostolado da Imprensa, Porto.
[2] Teixeira, Manuel, Valla, Margarida (1999), O Urbanismo Português.
Séculos XIII-XVIII. Portugal-Brasil, Livros Horizonte, Lisboa.
[3] Leite, Serafim (1938-1950), História da Companhia de Jesus no Brasil,
vol. 1, Lisboa/Rio de Janeiro.
555
As ruas dos traçados ortogonais de Lisboa
Rui FLORENTINO
Instituto Superior Técnico, CESUR – Centro de Sistemas Urbanos e Regionais
Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
00351 218418301, [email protected]
Palavras-chave: Rua, Forma urbana, Lisboa, Planeamento urbano, Traçado
ortogonal
Resumo
A rua é uma estrutura urbana linear, delimitada lateralmente, que reúne três
dimensões principais: a circulatória, com a função de garantir a mobilidade
e acessibilidade; a social, com locais de passeio e encontro; e a ambiental,
com o carácter estético e de conforto. As ruas mais interessantes da cidade
são as que mantêm um equilíbrio saudável, entre estas três dimensões. Mas
considerando as urbanizações recentes e a promoção da vitalidade urbana,
devemos acrescentar também a densidade residencial e a mistura de usos, o
que nos remete de imediato para que o sucesso da morfologia das ruas seja
igualmente uma questão de planeamento.
Figura 1: O perfil da rua em função da sua orientação. Fonte: Fariña, J. (1998) La
ciudad y el medio natural. Akal Ediciones, Madrid.
556
Neste artigo, propõe-se assim o estudo das ruas como um problema urbano
integrado, não apenas de desenho, transporte ou sociologia, mas merecedor
por certo de todas essas contribuições. Em particular, queremos entender a
evolução registada pelas ruas que pertencem à família de planos de traçado
ortogonal. Tomando o exemplo de Lisboa, trata-se obviamente de formas de
crescimento urbano muito bem determinadas, no espaço e no tempo, mas a
análise comparativa resulta evidente: da clara estrutura reticular Pombalina,
de longitudinais e transversais, em relação com a arquitectura e as praças,
passou-se a um espaço público rigoroso, de grande qualidade e amplitude,
característico da burguesia (Avenidas Novas), e então depois a um desenho
urbano moderno, separando funções, já totalmente adaptado à velocidade do
automóvel (Bairro de Alvalade).
Figura 2: Área de estudo no caso das Avenidas Novas
Para tal, recorreu-se à interpretação de uma série de indicadores relativos à
morfologia urbana das ruas, aplicada a três exemplos históricos de Lisboa,
que correspondem a bairros planeados durante os séculos XVIII, XIX e XX.
Ao considerar os parâmetros de dimensionamento das ruas, estamos afinal a
discutir um tema de projecto recorrente na organização das cidades, também
aqui intermitente, desde o plano do Marquês de Pombal para a reconstrução
da Baixa, até aos nossos dias. A vitalidade urbana de muitas das ruas destes
planos de ordenamento ortorreticular está sim mais bem comprometida nos
557
novos crescimentos, caracterizados pelas medidas de promoção imobiliária
e pelos “standards” mínimos da legislação. Em definitiva, o que este estudo
confirma é a riqueza da cidade, em detrimento da suposta homogeneidade
dos traçados ortogonais, que somente a redução normativa mais recente foi
capaz de gerar.
Agradecimentos
O autor agradece ao Professor Fernando de Terán, pela orientação, e à Arq.ª
Andreia Pascoal, pela sua colaboração na parte gráfica do trabalho que está
na origem deste artigo, realizado no âmbito do Programa de Doutoramento
do Departamento de Urbanística y Ordenación del Territorio de la Escuela
Técnica Superior de Arquitectura de la Universidad Politécnica de Madrid.
Referências
[1] Florentino, R. (2005), Las calles y la ordenación ortorreticular de
ciudad y territorio: Teoría, Historia, Realidad y Proyecto en el caso de
Lisboa. Trabajo Tutelado de Investigación, DUyOT, ETSA, UPM
[2] Jacobs, A. (1993), Great Streets. The MIT Press
[3] López de Lucio, R. (2007), Construir Ciudad en la Periferia. Criterios
de diseño para áreas residenciales sostenibles. Mairea Libros, Madrid
[4] Terán, F. (1996), Calles y algo más que calles. In Urbanismo, nº 29,
Colegio Oficial de Arquitectos de Madrid, pp. 6-21
558
Morfologia urbana e história nas cidades paulistas
Pedro Ribeiro Moreira NETO1; Antonio Carlos Machado GUIMARÃES2;
Nádia SANTOS3
Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano e Regional PLUR
Universidade do Vale do Paraíba UNIVAP
Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova – CEP 12244-000, São José dos Campos SP – Brasil
1
55 12 3947 1124, [email protected]
2
55 12 3947 1127, [email protected]
3
55 12 3921 2207, [email protected]
Palavras-chave: morfologia urbana, Vale do Paraíba Paulista, Lei das
Índias
Resumo
Este artigo analisa a formação da rede urbana no Vale do Paraíba Paulista
em sua perspectiva histórica e procura demonstrar como distintas
motivações para a fundação e critérios de escolha dos sítios geográficos
determinaram diferentes configurações em seus primeiros núcleos. Sua
proposta metodológica se apoia na análise e pesquisa documental, inclusive
iconográfica, referente aos primeiros séculos da presença portuguesa no
Brasil. Seu principal objeto de estudo é a região conhecida como Vale do
Paraíba Paulista, que engloba além do vale do rio Paraíba do Sul
propriamente dito, todo o conjunto de sua bacia hidrográfica e ainda a faixa
litorânea situada entre o Atlântico e o topo da Serra do Mar.
A fundação dos primeiros núcleos urbanos nesta região remonta o século
XVII quando a partir da expansão da célula mater, São Paulo de Piratininga
criaram-se os primeiros vetores de ocupação no Sudeste. Entretanto, tal
ação não era parte específica das intenções portuguesas. Ao contrário do
Nordeste, ocupado e colonizado como projeto metropolitano de inserção no
comércio internacional, no Sudeste se estabeleceu um espaço de
concorrência e aventura, desprovido de planos de conjunto e apoiado, por
imperativos econômicos e políticos, no bandeirismo apresador que,
paradoxalmente, está na base da expansão territorial do Brasil. Neste
sentido, exploração dos sertões constituía o objetivo maior da expansão
paulista, mas, pelas próprias contingências, sua ocupação se dava por trilhas
distintas, à margem dos planos da metrópole.
Gilberto Freyre anotou São Paulo e Pernambuco como “os dois grandes
focos de energia criadora nos primeiros séculos da colonização, os paulistas
559
no sentido horizontal, os pernambucanos no vertical”, especificando que
neste caso, vertical e horizontal não era empregado no sentido sociológico
stricto sensu. Para ele, a atividade vertical dos pernambucanos se refere “à
concentração regional de esforço no estabelecimento da cultura da cana e da
indústria do açúcar, na consolidação da sociedade escravocrata e agrária”,
contraposta à atividade paulista, “a mobilidade horizontal dos caçadores de
escravos e ouro, dos fundadores de fazendas de criar nos sertões e dos
missionários” [1]. Nesse contexto, não surpreende o fato de vilas e
posteriormente cidades apresentarem morfologias discrepantes daquelas
estabelecidas na ordem do projeto nordestino. Os primeiros centros
valeparaibanos inseriam-se no padrão típico de aldeamento do Sudeste,
classificado por Sérgio Buarque de Holanda como obra de “semeadores”, de
desenvolvimento orgânico, despojado de abstrações geométricas, dispostos
ao longo do caminho, local de paragem para uma viagem maior [2]. No
fundo, tais núcleos pioneiros poderiam ser qualificados como cidades
paulistas, modelo que ditaria um padrão generalizado para a área da
expansão paulista. No entanto, como esclareceria mais tarde Nestor Goulart
Reis Filho, o modelo do “semeador”, apesar de dominante, não seria único
[3]. De fato, a chegada de Tomé de Souza à Bahia já indicava que, naquela
que seria a primeira sede da administração colonial portuguesa na América,
a concepção do espaço urbano seria bem diferente [4].
No Sudeste a situação era bastante outra. Assim como a bacia do Tietê, a
ocupação inicial da calha do Paraíba do Sul também surge da atividade
horizontal paulista como resposta às necessidades da conquista e
manutenção das terras do interior. No caso valeparaibano, a conformação
regional correspondia ao papel que tais centros iriam exercer como pouso
para as expedições que deixavam Piratininga a procura de pedras e metais
preciosos no sertão além da Serra da Mantiqueira. Portanto, não foi ao acaso
que a primeira estrutura regional correspondia a um corredor, significativo
das rotas entre São Paulo, as minas e o litoral situado ao norte de São
Vicente. Resolvidas as questões fundamentais para a fixação de cada
povoado – fortificações, igrejas, construções perenes – a região se consolida
com base no modelo econômico da agricultura de subsistência desenvolvida
em torno dos primeiros núcleos urbanos [5]. Consideradas as datas de
elevação a vila, seus primeiros centros foram respectivamente Taubaté,
Guaratinguetá e Jacareí, todos situados às margens do Paraíba do Sul.
Ocorre que a escolha do sítio e a motivação para a fundação desses
primeiros núcleos nem sempre foram análogas. Taubaté, além de preceder
as demais, teria pretensões – e obrigações – que exigiam maior perenidade
de seu núcleo original. Assim, mais que simples pouso e entreposto, seria
560
um trampolim para a expansão, posteriormente confirmada. Para tanto, foi
escolhido o local para a construção das casas seguindo um traçado
urbanístico específico. Ao contrário das demais vilas, que seguiam o padrão
“semeador”, Taubaté apresentava outra conformação urbana, imposta por
um plano que reorganizava antigas choças em ruas bem traçadas, arejadas
por todos os quadrantes, sugerindo referências à Lei das Índias, portanto
contrariando o padrão lusitano comum no Sudeste. Na continuidade deste
estudo serão abordadas as comparações entre os primeiros assentamentos do
Vale do Paraíba relacionadas às funções de cada um a morfologia a que
vieram apresentar.
Referências
[1] Freyre, G. (2003). Casa-grande & senzala: formação da família
brasileira sob o regime da economia patriarcal. 48ª edição, Global
Editora, São Paulo, SP, pp. 126
[2] Buarque de Holanda, S. (2000). Raízes do Brasil. Companhia das
Letras, São Paulo Norte, N., E. Pinto (2011), How to organize
conference materials - A manual for proceedings design, PNUM 2013
Press, Coimbra
[3] Reis Filho, N. G. (1968). Contribuição ao estudo da evolução urbana do
Brasil (1500 – 1720) Livraria Pioneira / EDUSP, São Paulo, p. 16
[4] Reis Filho, N. G. (2001). Imagens de Vilas e Cidades do Brasil
Colonial. Imprensa Oficial, São Paulo
[5] Müller, N. L. (1969). O fato urbano na bacia do rio Paraíba, Estado de
São Paulo. IBGE, Rio de Janeiro, p. 12
561
Formas arcaicas portuguesas no Nordeste
brasileiro. O desenho da Vila de Santa Cruz do
Aracati na Capitania do Ceará
Clovis Ramiro Jucá NETO
Universidade Federal do Ceará.
Rua Jaime Vasconcelos, 397, ap. 306. Código: 60165260. Fortaleza. Ceará. Brasil.
0055 85 96 26 90 56
[email protected]
Palavras-chave: Brasil, Ceará, Aracati, século XIII.
Resumo
O presente artigo tenciona apontar persistências formais dos traçados das
vilas portuguesas do século XIII nas vilas do Nordeste brasileiro, mas
especificamente na Vila de Santa Cruz do Aracati na Capitania do Ceará.
Sessenta anos após sua elevação à condição de vila, no alvorecer do século
XIX, a vila do Aracati, não passava de uma longa rua, cortada por becos e
travessas, e sem uma praça formalmente demarcada. A linearidade do
traçado das vias, paralelas ao Rio Jaguaribe, seguia a rota das boiadas. O
seu desenho urbano evidencia a persistência de formas tradicionais
arcaizantes portuguesas, como o traçado de Viana do Castelo, saltando por
cima das normas "científicas" do Renascimento e do pós-Restauração,
revelando a supremacia da geoestratégia e dos constrangimentos e
necessidades da circunstância sobre a Regra ideal.
O povoado do Aracati porto dos barcos, situado a 15 quilômetros da foz do
Rio Jaguaribe, foi elevado à condição de Vila de Santa Cruz do Aracati, no
dia 10 de fevereiro de 1748. A Carta Regia propunha para vila uma praça
com 1050 por 585 palmos, a aproximadamente 1130 m ao sul do antigo
povoado.
O controle da produção e comercialização da carne salgada produzida no
Ceará e a localização estratégica para ocupação da Capitania, foz do Rio
Jaguaribe foram as razões econômicas e políticas para a fundação da vila.
Relatos de viajantes e desenhos elaborados pelo engenheiro militar José da
Silva Paulet – 1813 – e pelo capitão engenheiro do império, João Bloem,
em 1824 (mapa 1), atestam que a vila, no primeiro quartel do século XIX,
não passava de uma longa e larga. Não há sinal da praça demonstrando que
ela não foi formalmente estruturada e que a condição periférica e residual da
562
área idealizada para sua locação no extremo sul da vila, manteve-se no
decorrer dos anos.
Mapa 01 – Planta da Vila do Aracati, Det, da Plnata da barra e Rio Jaguaribe.
Cap. Eng. J. Bloem. 1824.
Nos primeiros anos do século XIX, o seu caráter simbólico de centro cívico,
marco número um de demarcação da Vila ou de onde todo o restante se
esvai por não ocupar uma posição central na Vila, por continuar no extremo
sul do Aracati, pela transferência do pelourinho para outra praça no norte da
Vila em 1780, onde estava a Casa de Câmara e Cadeia, e pelo sentido
aglutinador do espaço setentrional do núcleo – lugar do antigo povoado onde se davam a produção da carne salgada, as transações comerciais e
onde se concentraram os setores mais abastados, a maioria dos seus
sobrados e os edifícios institucionais representativos do poder público e
religioso; e tudo isto nas proximidades do porto.
Por um lado, independentemente das condições geográficas e das distâncias
temporais, identificam-se em cidades como Funchal, na ilha da Madeira, ou
Ponta Delgada, nos Açores – na primeira metade do século XV – e em
Salvador e no Rio de Janeiro – na segunda metade do século XVI –ou
ainda, em algumas vilas paulistas do século XVII, fases da construção de
seus desenhos urbanos, tanto nas estruturas iniciais de desenvolvimento
563
como nas sucessivas de crescimento, semelhantes à do Aracati. Nelas a
forma primeira de ocupação foi “um caminho ao longo da costa, paralelo ao
mar”; assim como no Aracati, no século XVIII, foi um caminho paralelo ao
rio. Também no Aracati, a primeira rua paralela ao rio tornou-se a rua
principal do aglomerado, aonde viriam se localizar as principais atividades
econômicas e comerciais. A regularidade com que este tipo de ocupação
aparece na história do urbanismo português nos autoriza a falar do
desenvolvimento de uma cultura de desenho urbano, que pela tradição fazia
o primeiro traço do núcleo acompanhar a costa, ou as margens dos rios,
atribuindo-lhe, inicialmente, uma forma linear.
Por outro lado, a rua foi também a expressão construída, com base nas
diretrizes portuguesas, do caminho seguido pelas boiadas. Elas
acompanhavam as margens do Jaguaribe, em direção à zona de salga e de
comércio nas imediações do antigo povoado.
O que faz a vila do Aracati, em pleno século XVIII no Nordeste brasileiro,
apresentar um desenho com alguns elementos de regularidade similares aos
de Viana de Castelo no norte de Portugal, com suas ruas paralelas ao rio
entrecortadas por becos e travessas, ainda no século XIII; ou seja, uma
longa rua cortada por becos e travessas?
O resultado expressa um longo processo histórico. De um lado, os aspectos
formais vinham sendo sintetizados na prática portuguesa de fazer vilas,
dentro de uma longa temporalidade, desde as vilas planejadas do século
XIII para em seguida associar-se, a partir do século XVI, a um viés
científico inicialmente difundido pelas aulas de risco e posteriormente, no
século XVIII, pelas escolas de engenharia. Esta tradição foi passada de
geração em geração, alimentada pela ciência desde o Renascimento e
incorporada ao homem comum pela sua vivência na cidade. Ela alcança o
século XVIII com ares de cientificidade, mas nem por isto redutível como
forma de um roteiro de instalação. O plano estabelecido, do qual tanto a
tradição como a ciência são componentes, não foi a garantia de reprodução
de qualquer modelo.
Os funcionários do Senado da Vila de Santa Cruz do Aracati no Ceará
setecentista, com o saber adquirido com tempo, na medida que não tinham
uma formação técnica, sintetizaram as normativas régias com os
condicionantes do lugar, garantindo as especificidades dos diversos traçados
da Capitania, assim como os demais da América Portuguesa.
Se a primeira resposta à indagação tem sua origem nas práticas portuguesas
no século XIII e alcança o século XVIII, a segunda reside no próprio
processo de colonização do território cearense durante o setecentos, com os
condicionantes da pecuária e da política portuguesa em relação à Capitania.
564
A grande rua do Aracati ou o que ela materializava no início do século XIX,
o espaço da Vila, foi manifestação da síntese entre as normativas reais, com
seu almejado alinhamento, o pragmatismo português e os condicionantes
locais, associadas à já tradicional atividade da pecuária no antigo lugarejo
do “Porto dos Barcos”.
565
Forma Urbana e Identidade Local - São Sebastião,
São Paulo, Brasil.
Flavio Jose Nery Conde MALTA
Universidade de Taubaté- Departamento de Arquitetura
Praça Felix Guisard, 120, Taubaté, CEP: 12020-350 Brasil.
Tel.: 55+ 12-3625.4183/ [email protected]
Palavras – chave: São Sebastião, Patrimônio, Morfologia Urbana.
Resumo
São Sebastião, localizado ao norte da região costeira do estado de São
Paulo, é um município com múltiplas funções regionais, as principais sendo
o turismo e atividades portuárias ligadas ao escoamento da produção
industrial, além do petróleo importado para as refinarias da região
metropolitana do Vale do Paraíba e Baixada Santista. Suas raízes históricas
remontam ao início do período colonial português no século XVI, como
parte da capitania de Santo Amaro e depois da capitania de São Vicente. As
primeiras sesmarias em terras indígenas iniciam-se em 1586, mas somente
em 1610 é que a ocupação pelos sesmeiros possibilita a elevação de uma
pequena capela e o inicio da povoação. Em 1636 foi elevada a categoria de
Vila, condição para que fossem determinadas as medidas da sua área
comum, logradouros públicos e o rossio, área de distintos propósitos e
reserva territorial para a expansão da Vila. O povoamento de São Sebastião
se formou por consequência da ocupação das terras, e como ponto de apoio
para a economia de exportação, então ligada ao comercio de produtos
originários dos engenhos para os que vinham embarcar ouro
contrabandeado das Minas Gerais. Já no século XVII, é criada a Casa de
Câmara e a Cadeia, e assim, rompe-se a dependência administrativa com a
Vila de Santos. Em 1815, a forma urbana do núcleo central da Vila de São
Sebastião assume contornos definitivos e apresenta-se como ilustrado no
desenho de João da Costa Ferreira, da Sociedade de Geografia de Lisboa.
566
Figura 1: mapa representativo do núcleo inicial no século XIX.
As atividades econômicas foram as grandes motivadoras e responsáveis
pelas mais significativas alterações morfológicas em São Sebastião, desde
então. Bairros são criados e tornam-se referencias culturais na produção de
cerâmica utilitária. Os colonizadores portugueses chegam e constroem suas
casas utilizando grossas paredes de pedra e cal, consolidando a implantação
do sítio na área de planície entre o mar e a serra, acompanhando o desenho
da costa e limitando-se por imposição dos cursos d´água. Praças e largos
foram abertos, nem sempre obedecendo às convenções coloniais, utilizando
inicialmente as técnicas do pau-a-pique, depois transformados em
construções de pedra e cal. A morfologia do sitio central é praticamente
definida conforme o mapa adiante, que representa a área objeto de
tombamento pelo Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio
Histórico, Artístico e Turístico - CONDEPHAT, já no século XX.
567
Figura única: Área de tombamento proposto pelo Estado na década de 1960.
As características formais desta porção urbana de São Sebastião é o objeto
deste trabalho. Suas qualidades morfológicas capazes de superar o tempo
cronológico e as transformações econômicas fazem deste contexto não só
um repositório da historia do Brasil colônia, mas um espaço cuja
preservação aparece como essencial á sustentabilidade da vocação turística
local. Este trabalho pretende discutir os mecanismo locais utilizados para a
conservação das áreas de tombamento com vistas ao entendimento das
qualidades formais deste espaço urbano e sua contribuição ao
desenvolvimento do turismo local. Para tanto, em um primeiro momento
apresenta-se a importância da cultura material para a formação da
identidade local e sua relevância ao turismo contemporâneo. A seguir
apresentam-se as características morfológicas do núcleo central e suas
qualidades, para enfim discutir os mecanismos atuais de preservação e sua
eficácia diante do quadro de desenvolvimento que se apresenta para São
Sebastião neste século.
Agradecimento
O autor reconhece e agradece aos funcionários da Divisão do Patrimônio
Histórico da Prefeitura Municipal de São Sebastião pelo acesso ao material
fotográfico e documental.
568
ÍNDICE DE AUTORES
AUTHOR INDEX
569
ACHCAR ................................... 460
AFONSO1....................................... 8
AKAMINE .................. 358, 478, 486
ALBITE ...............................229, 236
ALEIXO ..................................... 349
ALMENDRA ............................. 250
ALONSO .................................... 460
ALVES ....................................... 373
ANDRÉ ...................................... 434
ANDRESEN............................... 527
ARAÚJO ...................................... 31
AZEVEDO ..........................241, 535
BANDEIRINHA .......................... 99
BAPTISTA ..........................414, 513
BARROS ....................... 47, 199, 275
BAZOLLI ................................... 253
BEIRÃO ..................................... 285
BIAS ........................................... 283
BIGOTTE ..................................... 82
BOAVIDA ................................. 146
BOLONHEZI ............................. 307
BORGES .................................... 442
BRITES ...................................... 283
CABRITA .................................. 403
CALIX ........................................ 136
CAMPOS ............ 358, 442, 478, 486
CARDEMAN ............................. 482
CARIGNANI.............................. 222
CARREIRAS.............................. 396
CARREIRÓ .................................. 79
CARVALHO ................... 50, 61, 182
CASTRO .................................... 382
CAVACO ................................... 155
CAVIC ....................................... 268
CHAVES .................................... 509
COELHO ............................233, 455
COLUSSO .................................. 475
CONSTANTINOU ..................... 281
CONTI ........................................ 216
COSTA ....................................... 521
CUSTÓDIO ................. 358, 478, 486
DALTE ....................................... 247
DEGREAS .......... 310, 358, 478, 486
DELGADO ................................. 247
DIAS .......................................... 107
ELOY ..........................................177
ELOY2 ............................................ 8
ENCARNAÇÃO ...........................18
ESTANQUEIRO ...........................16
FARIA ................................. 271, 449
FERNANDES ..................... 277, 318
FERREIRA...................... 6, 268, 385
FERRER ......................................347
FIGUEIRA ..................................539
FILHA ................................. 241, 535
FIORITO .....................................285
FLORENTINO .................... 164, 550
FONTE ........................................150
FORTUNA ..............................79, 95
FRANCISCO ..............................250
GALENDER ............... 358, 478, 486
GARATEGUY ............................258
GARCIA .....................................355
GHENO .......................................445
GÓMEZ.......................................521
GONÇALVES ..................... 263, 414
GRAÇA .........................................82
GRANCHO ......................... 335, 431
GRANDE ....................................116
GUERRA ....................................245
GUERREIRO ...................... 177, 289
GUIMARÃES .............................553
HEITOR ................ 31, 186, 292, 331
HENDGES ..................................207
IMBRONITO ..............................310
ISIDORO.....................................213
JARDIM ........................................40
KATAKURA ..............................310
KRAFTA ..... 202, 219, 258, 369, 475
LAMEIRA ...................................499
LEITE .......................... 229, 425, 507
LIMA...........................................219
LOPES................................... 40, 289
LORENA.....................................193
LOUREIRO .................................432
MACEDO.................... 358, 478, 486
MACHADO ................................470
MAGALHÃES ............................161
MAIA ..........................................531
MALTA.......................................560
571
MANZOLI ..........................349, 407
MARADO .................................. 429
MARAT-MENDES ....... 40, 323, 524
MARGARIDO ........................... 104
MARQUES ......... 245, 247, 277, 382
MARTINS ..................... 40, 245, 331
MATOS ...................................... 542
MEDEIROS................................ 263
MENDES ................................... 318
MENDIRATTA.......................... 141
MENDONÇA ............................. 490
MEYER ....................... 358, 478, 486
MONIZ ....................................... 115
MONTE ...................................... 410
MONTEIRO ............................... 320
MONTEZUMA .......................... 517
MOREIRA ................................. 462
MOTTA ...................................... 470
Nascimento ................................. 173
NASCIMENTO ...................268, 391
NAVEGA ................................... 229
NERBAS .................................... 421
NETO .......................... 439, 553, 556
NOGUEIRA ............................... 451
NUNES....................................... 378
OLIVEIRA37, 229, 344, 365, 399,
495
OPPEN ....................................... 326
ORSI ........................................... 285
ORTEGA .................................... 337
PACHECO ................................. 186
PAIO .......................................... 289
PAIS ............................................. 50
PALMA ...................................... 207
PATRÍCIO ................................. 547
PAULA................................199, 275
PENNA....................................... 344
PEREIRA ................................... 320
PIMENTEL ................................ 527
PINHEIRO ................................. 378
PINTO ........... 61, 124, 229, 236, 315
QUEIROGA ................ 358, 478, 486
QUEIROZ ...........................225, 382
RAMALHO ................................ 158
RAMOS ....................... 100, 304, 504
RAPOSO .................................... 365
REBELO .................................22, 65
RECHE ........................................465
REGO ..........................................307
REIS ..............................................53
RELVÃO .....................................544
RETANA.....................................337
REYES ........................................347
RIBEIRO ................. 40, 82, 245, 418
RITA ...........................................292
ROCHA .......................................304
RODRIGUES ...................... 229, 434
ROMÃO ......................................177
ROMERO ....................................196
ROSA ..........................................120
RUIVO ........................................250
SÁ.......................................... 50, 136
SALGADO ..................................340
SALTARELLI .............................407
SAMPAYO .................................323
SANTA ROSA ............................283
SANTANA .......................... 382, 521
SANTIAGO FARIA ....................143
SANTOS20, 79, 95, 349, 407, 418,
553
SERDOURA ....................... 182, 268
SIGNOR ......................................465
SILVA7, 102, 136, 196, 222, 236,
238, 299, 349, 352, 362, 391, 410,
451, 524
SIMONI.........................................56
TÂNGARI ...................................517
TAVARES ..................................190
TEIXEIRA .................... 35, 373, 460
TENEDÓRIO ................................15
TERENO .....................................320
TERRA ........................................513
TEZA...........................................513
TOJO ...........................................347
TOMÉ ... 85, 240, 263, 292, 331, 378
TRIGUEIRO ...............................373
URBANO ....................................... 5
VAZ.............................................465
VIANA .......................... 27, 167, 365
VIEGAS ......................................177
WAMBECQ ................................295
ZECHLINSKI .............................369
572