É... O Carnaval nãO surgiu dO nada. - Beija-Flor

Transcrição

É... O Carnaval nãO surgiu dO nada. - Beija-Flor
É... O Carnaval
não surgiu do nada.
RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
Enfim, mais um Carnaval!
Após meses de espera, aqui estamos nós, participando da mais colorida e animada festa popular do planeta.
Uma festa que, como disse o Mestre Anizio,
“não surgiu do nada”.
Se hoje podemos nos vangloriar de sermos o mais
importante evento cultural do país - em termos
de atrativo turístico -, isso se deve a grandes homens que
tomaram para si esse desafio e persistiram em fazê-lo viável, a
despeito das dificuldades e obstáculos.
Lideranças que em suas comunidades mobilizaram e ainda mobilizam cidadãos e trabalhadores para estarem o ano inteiro
envolvidos em realizações e ensaios buscando oferecer ao público um espetáculo ímpar.
Um espetáculo que leva aos quatro cantos do planeta a
imagem do Brasil que dá certo - organizado, disciplinado e
eficaz.
Mas quando o Anizio fala que o Carnaval “não surgiu do nada”, ele
não fala apenas dos esforços de articulação social e política e dos
investimentos que os patronos fizeram em suas comunidades.
O Carnaval carioca não surgiu do nada porque suas origens não
são o resultado de decisões políticas e sim da força das comunidades, que explodiam sua criatividade através das rodas de
samba e dos blocos de rua.
O que Anizio e outras lideranças fizeram foi fortalecer e incentivar economicamente esse manancial de arte e cultura.
É lógico que seus méritos são imensos, mas queremos destacar, também, que o Carnaval não é como alguns desatentos dizem, apenas um produto cultural para gringos.
O Carnaval é, inegavelmente, a mais densa, intensa e
poderosa manifestação do sambista fluminense
e deve ser defendido até as últimas forças por
todo cidadão que preza a arte popular.
É nesse palco, do Carnaval, que presenciamos momentos emocionantes e inesquecíveis de superação humana.
É... O Carnaval “não surgiu do nada”.
O Carnaval carioca é, e sempre será,
o resultado glorioso dos sonhos e
das realizações do cidadão brasileiro colocados na avenida com
muito amor e arte, sempre a serviço de um mundo mais bonito e feliz.
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SEMPRE POR
PAIXÃO!
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
O Desfile de Carnaval, como hoje é conhecido mundialmente, não surgiu assim da
noite para o dia e nem foi obra do acaso.
Foram muitos os dedicados colaboradores que trabalharam para a construção do
Maior Espetáculo Popular da Terra na cidade do Rio de Janeiro.
Contribuíram com trabalho, dinheiro, ideias e negociações, sempre em favor da
arte e do espetáculo - e com muita, muita paixão.
Lutei muito, enquanto alguns desistiram, para fazermos o Desfile de Carnaval
como é hoje, e me orgulho muito de fazer parte dessa linda e grandiosa história.
Isso ninguém nunca irá tirar de mim.
Anizio
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e-mail: [email protected]
Produção
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA
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Editores
Ricardo Da Fonseca
Hilton Abi-Rihan
Jornalista Responsável
Ricardo Da Fonseca, MTb RJ23267JR
Redação
Hilton Abi-Rihan, Marcela Josuá, Miro Lopes, Ricardo
Da Fonseca
Transcrição de áudio
Marcela Josuá
Projeto Gráfico
R. Gatto
Leonardo Legey
Edição e Tratamento de Imagens
R. Gatto
Leonardo Legey
Agradecimentos
Ary Rodrigues, Bianca Behrends, Felipe Ferreira, Hiram
Araújo, Isabela Dantas, Jorge Castanheira, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, Luís Carlos “Toro”, Luís Fernando Vieira, Maria Augusta Rodrigues, Pináh Ayoub, Ruy
Ayres “Tecnocrata”, Ubiratan Guedes, Ubiratan Silva,
Vicente Dattoli e Zeza Mendonça.
Revisão de Texto
Marco Antonio Nicolau
Fotografia
Henrique Matos, Humberto Souza, Leonardo Legey e
Ricardo Da Fonseca.
Esclarecimento
A escolha e seleção das fotografias que ilustram a
edição 2013 da revista Beija-Flor de Nilópolis - uma
escola de vida, seguem critérios estritamente artísticos e jornalísticos (transmissão de uma determinada
mensagem), ainda que de modo subjetivo, e não indicam, direta ou indiretamente, preferências específicas
do GRES Beija-Flor de Nilópolis (ou de sua diretoria) e/
ou da WideBrasil Comunicação Integrada por pessoas
ou alas.
A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma
publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e
produzida pela WideBrasil Comunicação Integrada.
As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição dos editores nem da agremiação.
É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte.
Fevereiro de 2013 - Tiragem: 60 mil exemplares
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
G.R.E.S. BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
Diretoria Executiva:
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REVERÊNCIA
Iniciamos mais um Carnaval com muita garra e alegria!
O clima que envolveu nos últimos meses o barracão e a quadra finalmente chegará à
Marquês de Sapucaí através da Beija-Flor de Nilópolis, liderada pelo experiente Laíla
e “puxada” pelo nosso Neguinho da Beija-Flor, ao som da bateria dos mestres Rodnei e Plínio. Isso sem falar no nosso primeiro casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira,
Claudinho e Selminha Sorriso, que darão o tom de graça e de leveza ao desfile.
Tenho certeza de que essa energia que cada componente da azul e branco levará para
o desfile irá contagiar o público presente – um público que sempre nos recebeu com
o coração aberto.
É para esse público que montamos esse espetáculo!
E sempre foi assim. A comunidade nilopolitana sempre se dedicou com carinho e esmero para levar ao público presente tudo o que de melhor ela tem: alegria, harmonia,
emoção, beleza, vida...
A sinceridade dessa comunidade, que acompanho praticamente desde que nasci, é que
me faz ter orgulho de ser nilopolitano e azul e branco.
Um orgulho que aprendi com meus pais – Nelson e Marlene – e que é um dos grandes
tesouros que eles deixaram como legado para mim.
Não poderia, por essa razão, deixar de agradecê-los e de fazer uma homenagem especial a minha querida mãe, que nos deixou em 2012 para
reencontrar meu pai e meu avô José Sennas em uma nova dimensão
espiritual.
Marlene me faz muita falta.
Com seu jeito carinhoso, mas durão, muitas vezes ela foi capaz
de me mostrar o melhor caminho a seguir quando, distraído,
pensava em seguir pequenos atalhos.
Com papai, Da. Marlene também foi um apoio emocional importante. Quando papai sofria pela solidão da liderança e seus filhos
pequenos não entendiam as suas angústias, era minha mãe o esteio
e o porto seguro, a presença que realimentava a alma do meu pai –
esse líder, que ao lado de quem considero hoje meu segundo pai (tio
Anizio), adotou a comunidade nilopolitana e fez dela a sua razão de
viver.
Por isso, Marlene fará falta.
Nesse instante de reflexão, quero pedir a todos vocês, leitores da revista,
que por um momento se lembrem dela, de Da. Marlene Sennas David,
com respeito e alegria, porque “a mãe” está agora ao lado do grande amor
de sua vida, nos protegendo e velando por todos nós.
Nelsinho David
presidente administrativo
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UMA VIDA CHAMADA
BEIJA-FLOR DE NILÓPOLIS
RICARDO DA FONSECA
A cultura de uma nação é feita pelo retalho independente
das manifestações de seu povo. Por essa razão, não se deve
esperar que uma nação seja representada culturalmente
por uma única, homogênea e ortodoxa manifestação.
Não. A cultura verdadeira, filha dos costumes e das tradições dos Homens em suas tribos, grupos e regiões, é
multifacetada, dispersa e não pode ser tratada como um
produto de prateleira, ajustada a regras e definições acadêmicas para uma “melhor compreensão”.
A cultura não pode, também, ser valorizada como cultura somente quando o Poder Público assim a reconhece.
Afinal, cultura é, talvez, uma das manifestações humanas
mais complexas de ser identificada e classificada.
Ainda hoje, por essa dificuldade de identificação e
compreensão, diversas manifestações
culturais são ignoradas
pelo Poder
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Público e pela sociedade e acabam se restringindo ao anonimato em pequenas localidades. Outras são reconhecidas
apenas depois de anos de seu surgimento e consolidação.
As escolas de samba e seus desfiles fazem parte de um caso
desses: durante anos refletiram os hábitos e os costumes de
um povo em uma localidade sem que tenham obtido qualquer apoio ou reconhecimento como manifestação cultural. O principal prejuízo, sob a perspectiva da história, foi o
desinteresse pela sua documentação e registro.
Foi necessário o espetáculo alcançar um nível de grandiosidade mundial - carregando consigo as cifras de um
mundo globalizado - para que lideranças
da sociedade, especialmente os chamados “intelectuais” (?) e os governantes voltassem
seus olhares para essas importantes instituições culturais, que sempre foram
protegidas e amparadas pelos seus
“patronos” locais.
Hoje, pesquisadores e
estudio-
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sos olham o Carnaval e o desfile das escolas de samba
sob uma nova perspectiva, buscando encontrar indícios de
uma história vivida e não documentada.
2013 - O ANO DA SERPENTE E DA
BEIJA-FLOR
Para a equipe da revista Beija-Flor de Nilópolis, 2013 é um
ano especial porque marca os 65 anos de fundação da
agremiação nilopolitana. Uma agremiação batalhadora,
de origem humilde, mas que com muito trabalho e dedicação digna dos grandes homens e mulheres alcançou os
mais altos patamares de evolução e sucesso no Carnaval.
Uma escola de samba e de vida, com histórias recheadas
de emoções e significados.
ORIGENS
É comum ouvirmos que as melhores ideias surgem quando menos se espera.
Foi dessa maneira que, em 1948, em um bate papo informal entre amigos, surgiu a semente do que viria a ser a
mais importante agremiação de samba do século XXI – a
nossa querida Beija-Flor de Nilópolis.
Parecia um dia como qualquer outro onde, reunidos em
um costumeiro ponto de encontro de sambistas de Nilópolis, Milton de
Oliveira (Negão da Cuíca), Helles
Ferreira da Silva, Walter da Silva,
Edson Vieira Rodrigues (Edinho do
Ferro-Velho), José Fernandes da Silva e Hamilton Floriano batucavam
na mesa de um bar, entre copos de
cerveja e conhaque, quando um deles teve a grande ideia. E que ideia! O
objetivo inicial era preencher o espaço
vazio com o fim dos blocos do Irineu
Perna-de-Pau e dos Teixeira. Com o consentimento de todos, estava sendo fundado, então, o mais novo bloco carnavalesco
da Baixada Fluminense: a Associação Carnavalesca Beija-Flor.
Não se sabe ao certo a verdadeira origem do
nome da associação. A mais confiável é relacionada à mãe de um dos integrantes, Milton
de Oliveira, dona Eulália. Conta-se que ela adorava pássaros e possuía na varanda de casa inúmeros bebedouros para beija-flores. Outra versão
seria a de que um rancho carnavalesco que desfilava pelas
ruas da Baixada Fluminense teria servido como fonte de
inspiração. As especulações, no entanto, não param por
aí. Uma última versão garantiria que, enquanto os sambistas discutiam o nome do bloco, um beija-flor resolvera dar o ar de sua graça, iluminando suas mentes. Enfim,
não importa de onde o nome veio e sim a trajetória desse
bloco carnavalesco, recheada de histórias emocionantes
e que culminou no surgimento da principal agremiação
de Carnaval do planeta, amada, reverenciada e respeitada
pelo que realizou e permanece realizando dentro e fora
da avenida.
O BLOCO NA RUA
O primeiro desfile da Associação Carnavalesca Beija-Flor
aconteceu em Nilópolis no Carnaval do ano seguinte à
sua fundação, isto é, em 1949, quando aproximadamente
40 foliões, acompanhados de instrumentos adquiridos em
blocos anteriores, foram às ruas. Neste ano não desfilaram
com fantasia, mas com muita alegria. Já no ano seguinte, as
cores azul e branco foram inseridas no bloco e caíram nas
graças dos foliões. Integrantes mais antigos da Beija-Flor de
Nilópolis, que também participaram do bloco em 1949, contam que o desfile foi um sucesso, não houve ninguém que
não quisesse participar. Entretanto, engana-se quem pensa
que qualquer pessoa poderia fazer parte desta animada festa. Para pertencer ao grupo, tinha que ser de família conhecida. Era uma iniciativa muito organizada.
Com todo o sucesso, não demorou para que o bloco de
Carnaval Beija-Flor se transformasse em uma agremiação
de samba. Foi assim que, quatro anos depois e por iniciativa própria, o compositor Silvestre David dos Santos (mais
conhecido como Cabana) inscreveu a associação na Confederação das Escolas de Samba como Grêmio Recreativo
Escola de Samba Beija-Flor para o desfile do ano seguinte
no Grupo II.
Para assumir a presidência dessa nova fase que a escola
vivia foi eleito José Rodrigues Senna, que seria, no futuro,
a ligação da agremiação com a família Abrão David. Sua
filha, Marlene Sennas David, em depoimento dado à nossa
equipe há alguns anos, era só elogios ao pai: “Meu pai era
uma pessoa muito séria, responsável. Tinha um currículo invejável como militar da Marinha, com uma grande
experiência em administração e muito bem relacionado
com todos”. Naquela época, conta Marlene, “as escolas de
samba não tinham a grandiosidade e o suporte financeiro que atualmente possuem e foi com muita luta e garra
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que a Beija-Flor foi adquirindo seu espaço no mundo do
Carnaval. A Beija-Flor, semelhantemente a outras escolas
pequenas, só conseguia colocar o pé na avenida porque
seus representantes, como meu pai, criaram um livro de
ouro que percorria todo o comércio da região”.
Em conversas realizadas entre a equipe de produção da
revista com integrantes da Velha Guarda nilopolitana,
muitos foram os relatos emocionados confirmando a dedicação da dupla para dar uma melhor qualidade de vida
aos moradores do município.
ENSAIOS PARA A VITÓRIA
REENCONTRO COM A ELITE DO
CARNAVAL
Chega 1954 e a estreia da Beija-Flor no Carnaval carioca
prenuncia a força dos tempos que estavam sendo construídos. De autoria do próprio Cabana, o enredo “O caçador
de esmeraldas”, que falava sobre o movimento bandeirante,
consagra-se campeão do 2º Grupo conquistando o direito
de desfilar no Grupo I no ano seguinte. Era a Beija-Flor de
Nilópolis chegando à elite do Carnaval da Guanabara, levando ao delírio a nação nilopolitana e da Baixada Fluminense.
Disputando com poderosas agremiações como Estação
Primeira de Mangueira, Império Serrano, Portela e Acadêmicos do Salgueiro, aquele pequeno bloco, agora agremiação de Carnaval, que despontou em um barzinho na
Baixada Fluminense, permaneceu no Grupo I durante oito
anos (só 29 anos depois surgiria o Grupo Especial). Infelizmente, ou talvez como parte de um processo necessário
de aprendizagem e amadurecimento - os ensaios para a
vitória -, a agremiação enfrentou momentos difíceis, que
culminaram no rebaixamento para o Grupo II e um ano
depois para o Grupo III.
NOVOS TEMPOS SE APROXIMAM
Mas fortes rajadas de ventos renovadores se aproximavam da
Beija-Flor. Era a chegada dos filhos de Da. Júlia Abrão e de seu
Abrão David à frente da escola de samba nilopolitana.
Apaixonados por samba, nascidos e criados em Nilópolis,
Anizio Abrão David e seu irmão Nelson Abrão David começaram a criar laços mais estreitos com a escola, os quais
nunca mais foram desfeitos. Felizmente.
Em 1967, Anizio e Nelson deram todo o apoio possível
ao presidente da escola, Heitor Silva, fazendo com que a
agremiação voltasse a desfilar em 1968 no Grupo II. Nesse
ano, Anizio assume a presidência da escola e juntamente
com Nelson iniciam um consistente trabalho dentro e fora
da agremiação, por entenderem que a sua escola de samba
do coração poderia oferecer ao nilopolitano e ao morador
da Baixada Fluminense muito mais do que desfiles e títulos. Foi assim que os irmãos David iniciaram um trabalho
filantrópico na área da educação básica e fundamental
que até hoje beneficia os moradores da região.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Em 1973 foi a vez de Nelson assumir a presidência da escola. Já focados em fazer da Beija-Flor de Nilópolis uma
grande agremiação de Carnaval, Anizio e Nelson começaram a investir recursos próprios em favor dessa transformação. O primeiro resultado importante foi também
um passaporte para desfilar no ano seguinte no Grupo I.
A Beija-Flor de Nilópolis conquistou o 2º lugar no desfile
realizado em 1973 na Avenida Presidente Antonio Carlos.
E foi assim que a escola voltou a aparecer de forma definitiva no extinto Grupo I. Em 1974, com o enredo “Brasil
ano 2000”, conquistou o sétimo lugar, disputando colocações com tradicionais escolas de samba. Um sinal de que
o sonho era possível.
SONHO REALIZADO
Cientes de que o sonho de colocar a agremiação no rol das
principais escolas de samba do Carnaval era realizável, os
irmãos David não economizaram. A “peso de ouro” contrataram três grandes nomes do Carnaval carioca – João
Trinta, Laíla e Viriato –, os quais, cada um em sua área,
prepararam um desfile magistral para 1976.
Foi a grande reviravolta do Carnaval. Com um enredo
abordando um dos principais passatempos do carioca na
época – o jogo do bicho –, a Beija-Flor de Nilópolis ousa
e revoluciona, levando à avenida o enredo “Sonhar com
Rei dá Leão”.
É claro que o resultado não poderia ser diferente. A escola
surpreendeu, encantou e conquistou a todos com o seu
desfile – dos torcedores aos jurados –, o que resultou em
um merecido título que mudaria sua história e a do Carnaval carioca.
BAMBAS NA AVENIDA
Mas não se pode falar na história da Beija-Flor de Nilópolis
sem falar em alguns bambas que lideraram essa revolução
estética e conceitual levada para a avenida: João Jorge
Trinta, Luiz Fernando do Carmo (Laíla) e Viriato Ferreira.
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Essa trinca chegou para revolucionar a Beija-Flor de Nilópolis e o Carnaval, sendo os grandes responsáveis pela
introdução na avenida de carros alegóricos mais altos e
grandiosos, como o que levou o público ao delírio no desfile de 1976: “Com as arquibancadas cada vez mais altas,
já havíamos observado que os carros não ficavam bem
visíveis aos olhos do público. Por isso, resolvemos crescer verticalmente nosso desfile, especialmente com carros alegóricos maiores e bem adereçados de cima a baixo.
Sobre o carro que conquistou o público, me lembro muito
bem dele. Era uma enorme alegoria com casal de negros
adormecidos e rodeados de figuras alegóricas – elefantes, cobras, gatos, borboletas – que simbolizam os sonhos.
Na alegoria, incluímos folhas prateadas representando o
dinheiro da época. Acho que eram réis.”, relembra com orgulho Laíla.
Outra importante figura da escola surge, também, nesta
época: Luís Antônio Feliciano Marcondes, que futuramente viria a ser conhecido como Neguinho da Beija-Flor. Luís
Antônio foi um dos compositores do samba vitorioso “Sonhar com Rei dá Leão”. Com sua voz notável e simpatia,
ao lado do puxador Zambia, ganhou o carinho do público
tornando-se o intérprete oficial da agremiação, onde permanece soberano
há 37 anos.
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REVOLUÇÕES NA AVENIDA
Desde que deu início a essa revolução estética, os desfiles da Beija-Flor são marcados pelo luxo, pela beleza e
pela criatividade. Para se ter uma ideia da força criativa
da agremiação, hoje se fala que uma inovação é colocar
na avenida duas baterias, mas já em 1977, há 36 anos, a
nilopolitana colocou em seu desfile duas baterias. É o próprio Laíla, um dos idealizadores e condutores
dessa inovação, que nos lembra: “Nesse ano,
ao montar a escola na avenida – desfilamos da
Praça XI para a Praça da Bandeira –, eu botei duas
baterias, a oficial na frente da escola e também
peguei um grupo que trabalhava comigo no
Renascença e no Bola Preta, que eram músicos do Canarinho das Laranjeiras, e fiz uma
bateria de apoio com 90 pessoas. O desempenho deles foi perfeito porque, além da
competência que tinham, eu soube posicioná-las do modo correto. As duas
baterias começaram a tocar
juntas, mas a segunda
seguia uma dinâmica menor
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
que a principal , que ia se afastando. Até que eu dava a
ordem para a bateria de apoio tocar dentro da pulsação
normal.” O ano de 1977 também foi o ano do primeiro
bicampeonato da escola, que reservaria mais surpresas,
inovações, arte e emoção para o Carnaval carioca.
Foi assim que, em 1989, com o enredo “Ratos e Urubus,
larguem a minha fantasia”, a escola novamente renovou
e fez da Marquês de Sapucaí o palco do mais vibrante e
emocionante desfile de Carnaval de todos os
tempos. Abrindo o desfile com a diretoria vestida com uniformes de gari, componentes fantasiados de mendigos e uma enorme escultura - o Cristo
Mendigo - para coroar o que seria um belíssimo desfile, a Beija-Flor de Nilópolis atingiu o ápice de conexão com o público.
Tendo a escultura da sua principal alegoria – o
Cristo Mendigo – proibida de entrar na avenida
por
uma
decisão judicial movida por
re p re s e n tantes da Igreja Católica, o
carnavalesco
Joãosinho
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Trinta contornou essa abusiva decisão envolvendo o Cristo
Mendigo em plásticos pretos e em uma faixa onde se lia a
antológica frase: “Mesmo proibido, olhai por nós”.
A Rainha dos Destaques, Isabela Dantas, estava na avenida
em “Ratos e Urubus” no carro abre-alas – “a nobreza do
lixo” –, que tinha também a presença do destaque Jésus
Henrique no papel de urubu e Isidoro Santos que, fazendo o papel de rei, fazia par com Isabela. Segundo ela, “o
enredo foi desenvolvido com muita inteligência, e todo o
desfile estava lindo. Minha roupa, envelhecida em razão
do enredo, parece que tinha sido tirada do lixo e guardada
dentro do baú. Estava maravilhosa. Me lembro da atriz e
cantora Zezé Motta, que desfilava como mendiga. Estava
tudo lindo, e não tinha dúvida de que o título seria nosso.
Mas o grande momento do desfile foi quando, por ordem
de Joãosinho, os desfilantes retiraram os plásticos negros
desse Cristo Mendigo e proibido, que não era propriedade
da Igreja. Desse Cristo que estava ao lado de todos, inclusive dos menos favorecidos e dos menos afortunados”,
lembra emocionada.
E as lembranças de Isabela são tão verdadeiras, e aquele
momento foi tão único que um dos baluartes do Carnaval
carioca, o carnavalesco Fernando Pamplona, visivelmente
emocionado, dá uma comovente declaração ao vivo na TV
Manchete durante a transmissão: “Esse é um momento
glorioso... glorioso, glorioso, gente. O povo aplaude quem
tem coragem. Estão tirando o plástico negro de
cima do Cristo Mendigo. Acompanhem
pelo amor de Deus. Acompanhem
o povo em êxtase. Vocês jamais
vão ver um espetáculo tão bonito,
gente..”.
Apesar da apresentação épica a escola acabou não conquistando o título, mas esse
desfile sempre será
lembrado como
um dos mais
emocionantes
protagonizados na Sapucaí.
RPD - REVOLUÇÕES POR DESFILE
E as revoluções não pararam por aí. Apesar de “Ratos e
Urubus” ter sido um desfile incomparável, único e emblemático para a nação do Carnaval, outros desfiles da azul
e branco levaram para a avenida inovação e criatividade.
Dessa vez, o novo marco apresentado pela Beija-Flor de
Nilópolis surgiu através do competente trabalho desenvolvido pela bailarina e coreógrafa Ghislaine Cavalcanti. Pela
primeira vez na história do Carnaval uma escola de samba
leva para o desfile uma Comissão de Frente composta por
bailarinas: “Preparei 15 bailarinas de dança clássica para
abrir o desfile da Beija-Flor. Ensaiamos exaustivamente
para alcançar o nível de qualidade que pretendia impor
ao desfile. E o sucesso foi enorme. O público reconheceu o
trabalho pioneiro realizado com bailarinas na Comissão de
Frente desfilando com graça e beleza do início ao fim. Uma
outra inovação que propusemos e depois foi seguida por
outras escolas foi referente à indumentária das integrantes da Comissão. Colocamos roupas leves, com os braços
e os corpos soltos, que permitiam às componentes maior
leveza e agilidade nos movimentos. As Comissões de Frente passaram a levar para a avenida performances próprias
e não tenho dúvida que dei minha contribuição. A partir
daquela apresentação, no carnaval de 1997, as escolas começaram a discutir possibilidades para as suas Comissões
de Frente. E isso me gratifica muito. Contribuímos para a
evolução do espetáculo e meus esforços foram recompensados com seis títulos de campeã“, destaca orgulhosa.
Apesar de desfiles desenvolvidos sempre com cuidado,
qualidade e criatividade, os resultados não vieram. Foi então que, com a saída de Milton Cunha, a agremiação nilopolitana novamente protagonizou inovações conceituais
no Carnaval. “Os resultados não estavam chegando e achei
que estava faltando uma ligação mais forte da escola e do
barracão com o carnavalesco. A figura de um carnavalesco único estava criando estrelismos demasiados, quando,
na verdade, a grande estrela do Carnaval é o desfile, com
suas alegorias e seus desfilantes. Queria criar o Carnaval
dentro do barracão. Chamei o Laíla e disse que para o Carnaval de 1998 a Beija-Flor não teria mais carnavalescos”,
lembra Anizio. Laíla, então, deu andamento a essa ideia
e a figura do carnavalesco passou a ser representada por
uma comissão de carnaval, com sete integrantes. A direção desta comissão ficou por conta de Laíla, que apoiou
incondicionalmente a proposta de Anizio. “A iniciativa deu
certo. No ano seguinte da montagem da comissão de carnaval, conquistamos o primeiro lugar no Grupo Especial
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com o enredo ‘O mundo místico dos Caruanas nas águas
do Patu-Anu’. Foi o fim de um jejum de quase 15 anos.
A partir daquele ano, fomos vice-campeões 5 vezes e 7
vezes campeões. Hoje, temos uma equipe fortíssima que
nos permite entrar na avenida para vencer, com a certeza
de termos realizado um trabalho sério e competente. E os
resultados nos dão a certeza de que criamos o caminho
certo para trilhar”, reforça Laíla.
Outras importantes inovações foram levadas para o Carnaval carioca, algumas pouco percebidas pelo público,
outras bem evidentes e que marcaram ainda mais os compromissos sociais e culturais da Beija-Flor de Nilópolis. É
o caso da valorização dos componentes da comunidade
“A Beija-Flor de Nilópolis tem uma história muito significativa, de superação.
Não só dos componentes, mas da escola
como um todo.
As pessoas falam hoje da Beija-Flor com
respeito, mas isso é resultado de uma
conquista. Conquistamos o respeito das
outras escolas, que já chegaram a debochar da escola chamando de “escola
da roça”.
Hoje essas escolas nos copiam, porque
sabem que nós somos vanguarda. Outras escolas se esforçam para ocupar o
posto que conquistamos de escola criativa. Permanecem, então, se mirando no
que fazemos.
Somos referência no carnaval.
E sempre seremos, porque uma vez conquistado esse espaço, a nação nilopolitana não vai ceder ele com facilidade.
Tenho muito orgulho de ter dado início,
junto com o Anizio, Nelson, João Trinta
e Viriato, a essa história.
Tenho muito orgulho dessa minha comunidade que faz sermos o que somos”.
na composição das alas e, consequentemente, dos desfiles. Um conceito desenvolvido pelo diretor de Carnaval da
azul e branco, Laíla, e que tem feito uma enorme diferença
na avenida: “Desde quando instituí, com apoio e aprovação do Sr. Anizio, que as alas de comunidade seriam
compostas realmente de pessoas da comunidade e com
controle de presença aos ensaios, os desfiles da Beija-Flor
ganharam em volume, qualidade e força. Uma energia que
contagia o público pela emoção e sinceridade. O público
presente na Sapucaí e os telespectadores veem claramente o amor com que os componentes da escola desfilam”,
conclui Laíla.
MARCAS NO CAMINHO
Histórias e momentos construídos e vividos pela agremiação nilopolitana que foram divididos com centenas de
milhares de brasileiros através de desfiles memoráveis, esteticamente perfeitos e encharcados de amor pelo samba
e pelo Carnaval.
Oxalá essa escola de samba vitoriosa e seus componentes
tenham muita saúde e energia para continuarem fazendo parte essencial da história do samba e do Carnaval
carioca.
Laíla
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1954 / 2013
UMA ESCOLA DE SAMBA
E DE GUERREIROS
Em 2013 a Beija-Flor de Nilópolis completará 65 anos de
fundação. Em homenagem à agremiação e aos seus componentes, que construíram uma história de garra, amor,
alegria e criatividade, a revista Beija-Flor de Nilópolis
apresenta os desfiles da escola e os sambas-enredos, que
emocionaram o folião ao longo desses anos.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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Fevereiro 2013
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DESFILE
1954
O caçador de esmeraldas
Colocação: 1º lugar - Grupo II
Local do desfile: Praça XI
Autor: Cabana
Compositor: Osório de Lima
Presidente da Escola: José Rodrigues Senna
Apresentamos neste carnaval
Uma história importante
Na qual mencionamos
Fernão Dias Paes
Este grande bandeirante
Que cuja vida dedicou em prol
De esmeraldas no sertão
E após tornar-se feito seu grande ideal
Tombou junto ao rio das Velhas o imortal
Pela riqueza da nossa nação
Bartolomeu Bueno da Silva,
Borba Gato, Antônio Arzão
Os heróis aventureiros
Que no Brasil inteiro
Deixaram fama, glória e tradição
La la laia la la ia...
Samba-enredo sobre o movimento bandeirante, iniciado
em meados do século XVII. Os bandeirantes foram uma
espécie de desbravadores do Brasil. O objetivo era buscar
riquezas naturais. Na letra da música são destacados os
principais nomes desse movimento: Fernão Dias Paes, Manuel da Borba Gato, Bartolomeu Bueno da Silva e Antônio
Raposo Tavares.
Foi que durante sete anos
Explorou alguns sertões
Seus feitos rutilantes
Refletem radiantes
Dentro em nossos corações
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
1955
Páginas de ouro da poesia brasileira
Colocação: 6º lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Presidente Vargas
Autor: Nilo
Compositor: Osório de Lima
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1959
Copa do Mundo
Colocação: 9° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Augusto de Almeida
Compositor: Pardal
Presidente da Escola: José Rodrigues Senna
1956
O gaúcho
Colocação: 10° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Presidente Vargas
Autor: Nilo
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1957
Riquezas áureas do Brasil
Colocação: 7° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Augusto de Almeida
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1958
Exaltação às forças armadas
Colocação: 10° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Benedito dos Santos
Compositor: Vacele
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
Fevereiro 2013
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
1960
Regência Trina
Colocação: 6° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Augusto de Almeida
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1961
Homenagem a Brasília
Colocação: 8° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Praça XI
Autor: Josefá
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1962
Dia do Fico
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Presidente Vargas
Autor: Cabana
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: José Rodrigues Sennas
1963
O Guarani
Colocação: 10° lugar- Grupo I
Local de Desfile: Candelária
Autor: Josefá
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: Alberto Emiliano da Silva
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1964
Café, riqueza do Brasil
Colocação: 12° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Cabana
Compositor: Cabana
Presidente da Escola: Helles Ferreira da Silva
1965
Lei do Ventre Livre
Colocação: 3° lugar - Grupo III
Local de Desfile: Praça XI
Autor: Cabana
Compositor: Nicanor de Oliveira E Timbó
Presidente da Escola: Arthur Severiano Pinto
1969
Paquete do exílio
Colocação: 9° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Cabana
Compositor: Ivancué
Presidente da Escola: Heitor Silva
1970
:
Rio, quatro séculos de glória
Colocação: 6° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Abílio
Compositor: Walter de Oliveira
Presidente da Escola: Heitor Silva
1966
Fatos que culminaram com a
Independência do Brasil
Colocação: 3° lugar - Grupo III
Local de Desfile: Praça XI
Autor: Augusto de Almeida
Compositores: Timbó e Jair.
Presidente da Escola: Heitor Silva
1967
A queda da monarquia
Colocação: 2° lugar - Grupo III
Local de Desfile: Praça XI
Autor: Augusto de Almeida
Compositor: Anézio
Presidente da Escola: Heitor Silva
1968
Exaltação a José de Alencar
Colocação: 9° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Rio Branco
Autor: Anézio
Compositor: Anézio
Presidente da Escola: Anizio Abrão David
Fevereiro 2013
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1971
Carnaval, sublime ilusão
Colocação: 7° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Abílio
Compositor: Walter de Oliveira
Presidente da Escola: Heitor Silva
1974
1972
Colocação: 7° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Manuel Antônio Barroso
Compositores: Walter de Oliveira e João Rosa
Intérprete: Zamba
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Bahia dos meus amores
Colocação: 6° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Abílio
Compositores: Isaias Pereira e Sebastião
Adilson
Intérprete: Sílvio
Presidente da Escola: Heitor Silva
1973
Educação para o desenvolvimento
:
Brasil ano 2000
1975
O grande decênio
Colocação: 7° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Manuel Antônio Barroso
Compositor: Bira Quininho
Intérprete: Bira Quininho
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Colocação: 2° lugar - Grupo II
Local de Desfile: Av. Presidente Antônio Carlos
Autor: Manuel Antônio Barroso
Compositores: César e Darvin.
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
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DESFILE
1976
Sonhar com rei dá leão
Colocação: 1º lugar - Grupo I
Local do desfile: Mangue
Autor: Joãosinho Trinta
Compositor: Neguinho da Beija-flor
Intérpretes: Neguinho da Beija-flor e Zamba
Presidente: Nelson Abrão David
Sonhar com anjo é borboleta
Sem contemplação
Sonhar com rei dá leão
Mas nesta festa de real valor, não erre não
O palpite certo é Beija-flor (Beija-flor)
Cantando e lembrando em cores
Meu Rio querido, dos jogos de flores
Quando o Barão de Drummond criou
Um jardim repleto de animais
Então lançou...
Um sorteio popular
E para ganhar
Vinte mil réis com dez tostões
O povo começou a imaginar...
Buscando... no belo reino dos sonhos
Inspiração para um dia acertar
Sonhar com filharada... é o coelhinho
Com gente teimosa, na cabeça dá burrinho
E com rapaz todo enfeitado
O resultado pessoal... É pavão ou é veado
Desta brincadeira
Quem tomou conta em Madureira
Foi Natal, o bom Natal
Consagrando sua Escola
Na tradição do Carnaval
Sua alma hoje é águia branca
Envolta no azul de um véu
Saudado pela majestade, o samba
E sua brejeira corte
Que lhe vê no céu
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“Sonhar com rei da Leão” foi o marco de ascensão da Beija-Flor de Nilópolis, uma escola de samba da baixada fluminense
desconhecida do grande público. Segundo Anizio, “estávamos dando início a um projeto de transformação da Beija-Flor
de Nilópolis. O primeiro passo foi contratar profissionais de qualidade reconhecida, como o João Trinta, o Laíla e o Viriato.
Sabíamos da competência deles e entendíamos que bastava um bom investimento para a escola fazer um belo carnaval.“
E foi o que aconteceu. Valendo-se de uma arraigada tradição carioca, João Trinta e sua equipe desenvolveram um enredo
bem popular, sobre o Jogo do Bicho e o universo onírico e de divertimento que o envolve.
O desfile foi um sucesso porque foi capaz de unir com qualidade e bom gosto diversos ingredientes: primeiro, era um
enredo que falava diretamente ao povo da fluminense, que se identificava com o que via na Avenida, já que o Jogo do
Bicho era uma modalidade de jogo amplamente praticada pelo carioca. Segundo, porque a Beija-Flor de Nilópolis levou
para o desfile de 1976 componentes em fantasias bem feitas e cuidadosamente adornadas, carros alegóricos luxuosos,
imponentes e verticalizados para atender o público presente nas arquibancadas, cada vez mais altas. E terceiro, porque
foi um desfile solto, alegre, brincalhão. Tudo que o público queria ver. Viu e se emocionou.
O presidentre do Conselho Consultivo, Ary Rodrigues lembra que em todo período que antecedeu o desfile, os colegas e
amigos das quatro principais escolas de samba da época brincavam e debochavam da Beija-Flor, chamando-a de “escola
da roça”. Inegavelmente, “a escola da roça” e seu desfile deram início a uma revolução no carnaval carioca.
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DESFILE
1977
Vovó e o rei da Saturnália na
corte egipciana
Colocação: 1º lugar - Grupo I
Local do desfile: Av. Presidente Vargas
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Savinho e Luciano
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Caiu dos olhos da vovó
(Lalaiá, laiá)
Uma lágrima sentida
Lembrando imagens de criança
Do velho tempo que passou
O seu pranto é colorido
Nas vivas cores da televisão
Que hoje assiste recordando
Formosos ranchos
e grandes sociedades
No esplendor da noite
Como era lindo a presença do dia
A corte egipciana
Enredos de nostalgia
Não chore não vovó
Não chore não
Veja quanta alegria dentro da
recordação
Relembre a graça do entrudo
E o fascínio do baile de Veneza
Lá em Roma Pagã
Para festejar a primavera
Colhiam frutos e faziam orgia
Que começavam ao
romper do dia
E vinha um rei
Num belo carro naval
Alegrando a saturnália
Inventando o carnaval
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
(De lá pra cá)
De lá pra cá
Tudo se transformou
Mas a vitória da folia ficou
No encanto do meu povo
que brinca
Sambando quando samba a
Beija-Flor
(Vovó)
A Saturnália era um festival romano em honra ao deus
Saturno que ocorria no mês de dezembro, no solstício de
inverno. As festas duravam quatro dias onde ninguém trabalhava, banquetes eram servidos e presentes oferecidos.
Subvertia-se a ordem social: os escravos se comportavam
temporariamente como homens livres. Era escolhido um
rei que fazia o papel de Saturno.
Quando soube que a Beija-Flor havia conquistado o título, Anizio foi entrevistado pelas rádios disse que haveria
chope para todos em Nilópolis, acenando para a plateia e
foi carregado até a rua. A comemoração maior ocorreu na
Rua Mirandela, lotada pela multidão, enfeitada com gambiarras e até um palanque. “Quando souberam da vitória
da escola, os integrantes começaram a cantar o samba-enredo e a suspender nos ombros, Nelson. Da cidade até
Nilópolis, Anizio fez um cortejo, aonde ia acenando de pé
para quem encontrasse no caminho e gritando “Olha o bi
da roça”, ironizando outras escolas e se defendendo de
que Nilópolis é interior do Rio. Usava uma faixa de bicampeão antes mesmo de saber o resultado.
O cortejo contornou a Praça Paulo de Frontin com a multidão em delírio. As pessoas cantavam o samba-enredo e
gritavam: “Nilópolis, a capital do samba!”. Na praça, uma
faixa dizia: “Beija-flor, bicampeã do povo”.
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DESFILE
1978
A criação do mundo na
tradição nagô
Colocação: 1º lugar - Grupo I
Local do desfile: sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Neguinho da Beija-flor, Gilson
Doutor e Mazinho
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente: Nelson Abrão David
Bailou no ar
O ecoar de um canto de alegria
Três princesas africanas
Na sagrada Bahia
Iyá Kalá, Iyá Detá, Iyá Nassô
Cantaram assim a tradição Nagô
(Olurun)
Olurun! Senhor do infinito!
Ordena que Obatalá
Faça a criação do mundo
Ele partiu, desprezando Bará
E no caminho, adormecido, se perdeu
Odudua
A divina senhora chegou
E ornada de grande oferenda
Ela transfigurou
Cinco galinhas d’Angola e fez a terra
Pombos brancos criou o ar
Um camaleão dourado
Transformou em fogo
E caracóis do mar
Ela desceu, em cadeia de prata
Em viagem iluminada
Esperando Obatalá chegar
Ela é rainha
Ele é rei e vem lutar
(Ierê)
Iererê, ierê, ierê, ô ô ô ô
Travam um duelo de amor
E surge a vida com seu esplendor
É considerado um dos melhores sambas da escola. O tema
sobre a África e africanidades sempre se fez presente nos
desfiles da Beija-Flor de Nilópolis.
No início do desfile de 1978, Laíla discursa no auto-falante, mexendo nos brios da nação nilopolitana e conclamando-a para a vitória: “Atenção componentes da Beija-Flor!
Quando ganhamos o carnaval em 76 disseram que foi por
acaso. Ganhamos novamente em 77 e disseram que foi
por acaso. Agora contamos com vocês para ganhar no
gogó. No gogó”.
O resultado não podia ser outro: a escola passou garantindo assombro, canto e alegria. De acordo com relatos de
especialistas da época a agremiação fez um desfile perfeito, “Sustentou na bateria, não atravessou, não errou,
deslumbrou”.
Nos jornais da época lia-se, com ênfase, que a presença de
Anizio deu um gás a mais para a escola, relatando que “por
volta das 20h, o povo na quadra gritava ‘Anizio cadê você,
estou aqui só para te ver’ ”.
Fevereiro 2013
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
1979
O paraíso da loucura
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Savinho, Luciano e Walter
de Oliveira
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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DESFILE
1980
O sol da meia-noite:
uma viagem ao país das maravilhas
Colocação: 1º lugar - grupo I
Local do desfile: sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Zé do Maranhão, Wilson Bombeiro e Aluizio
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente: Nelson Abrão David
Preta velha imaginou uma estória e vai contar
Preta velha já falou que nós vamos viajar (Galopando)
Galopando em cavalos alados
Chegamos ao país das maravilhas
Iluminado pelo sol da meia-noite
Bela fantasia infantil
Recebidos por soldadinhos de chumbo
Entramos na floresta encantada
Brincamos com cata-ventos, pipas e piões
No enlace da barata e dom ratão
Jogar xadrez, pique-bandeira
Pular carniça tudo é brincadeira
Um gênio cria fogos de artifício
Os animais falam e as flores cantam
Neste lindo encanto eis o resplendor
E a magia das mil e uma noites
Chapeuzinho, lobo, Cinderela a gata
Branca de neve e os sete anões
A chita correndo com o saci pererê
E todos falando a lingua do P
P B P ru P xa}
Levantando a poeira}
Até a bruxa vem brincar}
Olha ciranda vamos todos cirandar
E na terra dos brinquedos
Todo mundo recordar
Índio, malandro, a baianinha, oriental
Outra vez eu sou criança e Beija-Flor no carnaval
O samba-enredo falava sobre o sonho infantil. O carrossel, que trazia as mulatas de Nilópolis e uma iluminação
impactante, era de deixar todos surpresos. O refrão, que
acompanha a língua do P, fez toda a arquibancada sacudir.
O tema foi mostrado através de alas muito bem planejadas, com cores e tons predominantes no azul e branco
sempre combinados ao prata.
Pela primeira vez, o desfile foi realizado no sentido Presidente Vargas-Catumbi, que vigora até hoje. A grande
polêmica foi o não julgamento dos quesitos “comissão de
frente” e “mestre-sala e porta-bandeira”. O tempo do desfile diminuiu de 80 para 70 minutos.
Fevereiro 2013
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
1981
Carnaval do Brasil, a oitava das sete
maravilhas do mundo
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Neguinho da Beija-Flor, Dicró e
Picolé.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
1982
O olho azul da serpente
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Wilson Bombeiro, Carlinhos
Bagunça e Joel Menezes.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
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Fevereiro 2013
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DESFILE
1983
Colocação: 1º lugar - Grupo I
Local do desfile: SAMBÓDROMO
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Neguinho da Beija-flor e Nego
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente: Nelson Abrão David
Ô ô ô Yaôs quanto amor
As pretas velhas Yaôs
Vêm cantando em seu louvor
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
A constelação
De estrelas negras que reluz
Clementina de Jesus
Eleva o seu cantar feliz
A Ganga-Zumba
Que lutou e foi raiz
Do negro que é arte, é cultura
É desenvoltura deste meu país
Êh ! Luana
O trono de França será seu baiana
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A grande constelação das
estrelas negras
Pinah êêê Pinah
A Cinderela negra
Que ao príncipe encantou
No carnaval com o seu esplendor
Grande Otelo homem show
Em talento dá olé
E o mundo inteiro gritou, Gol!
(É gol)
Gol do grande Rei Pelé
Ô Yaôs
O objetivo do enredo era homenagear personalidades negras de destaque como Pelé, Grande Otelo, Clementina de
Jesus, Ganga Zumba e a passista da escola Pinah – que
sambou com o príncipe Charles em uma apresentação no
Palácio da Cidade.
Comparado ao desfile anterior, nesse ano a Beija-Flor de
Nilópolis teve mais liberdade, já que a Riotur decidiu abolir
as restrições como a proibição de figuras vivas em cima de
alegorias e a limitação de quatro carros alegóricos.
A agremiação, nesse ano, desfilou com quase três mil componentes. Às 11h15 da manhã. O público chegou a gritar
o “Já ganhou!” tamanho o impacto da entrada da escola.
Comissão de frente formada por negros altos vestidos de
branco foi um sucesso. Destaque, também, para o carro
Abre-alas que era todo espelhado. Pela sua perfeita performance, o Mestre-Sala Élcio PV ganhou o Estandarte de
Ouro.
Pinah, a cinderela negra, lembra muito bem do desfile:
“Nesse ano, só tinha gente fera sendo homenageada. E foi
um momento lindo, porque eu já vinha me destacando
na escola, graças ao Joãozinho e ao Anízio, que me deram
uma grande oportunidade. Eu desfilava em uma Carruagem do Palácio de Buckingham e me lembro da emoção
que foi ao passar na avenida e ouvir as pessoas cantando
e gritando o meu nome, no ponto alto do samba. Neguinho foi muito feliz nesse samba. Mas o que considero
mais importante do que um desfile lindo e o título, foi a
ousadia do Anizio e da Beija-Flor em fazer um enredo dando ao negro um papel de destaque, afinal, naquela época
ser negra não era fácil, e um enredo valorizando o negro,
reconhecendo seu valor, causou um enorme impacto no
público e na imprensa”.
Fevereiro 2013
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
Um gigante em berço esplêndido
As mágicas luzes da ribalta
Colocação: 3° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Neguinho da Beija-Flor e Nego
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 4° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Mazinho e Gilson Doutor.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Anizio Abrão David
1985
1988
A Lapa de Adão e Eva
Sou negro, do Egito à liberdade
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Zé do Cavaco, Carlinhos Bagunça, Carnaval, H.O. e Patrício
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 3° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Ivancué, Claúdio Inspiração,
Marcelo Guimarães e Aluízio Santos.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Anizio Abrão David
1986
Ratos e urubus, larguem minha fantasia
O mundo é uma bola
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Betinho e Jorge Canuto.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
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1987
1984
Revista Beija-Flor de Nilópolis
1989
Colocação: 2° lugar - Grupo I
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Betinho, Glyvaldo, Zé Maria e
Osmar.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Anizio Abrão David
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1990
1994
Todo mundo nasce nu
Margaret Mee, a dama das bromélias
Colocação: 2° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Betinho, Jorginho, Bira e Aparecida.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Anizio Abrão David
Colocação: 5° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Milton Cunha
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Compositores: Arnaldo Matheus, J. Santos e
Almir Moreira.
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Alice no Brasil das maravilhas
1991
Bidu Sayão e o canto cristal
Colocação: 4° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Pelé, Cláudio Inspiração, Tonho
Magrinho e Paulo Roberto
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Nelson Abrão David
Colocação: 3° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Milton Cunha
Compositores: Bira, Zé Carlos do Cavaco, Tião
Barbudo, Dequinha Pottiêr e Jorginho.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
1992
1996
1995
Há um ponto de luz na imensidão
Aurora do povo brasileiro
Colocação: 7° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Joãosinho Trinta
Compositores: Dinoel Sampaio, Itinho e Neguinho da Beija-Flor.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Luiz Carlos D. Baptista
Colocação: 3° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Milton Cunha
Compositor: Miro Barbosa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
1993
Uni-Duni-Tê, a Beija-Flor escolheu você
Colocação: 3° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Maria AugustA RODRIGUES
Compositores: Wilson Bombeiro, Edeor de Paula e Sérgio Fonseca.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Luiz Carlos D. Baptista
1997
A Beija-Flor é festa na Sapucaí
Colocação: 4° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Milton Cunha
Compositores: Wilson Bombeiro, J. Santos,
Arnaldo Matheus e Almir Sereno
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Fevereiro 2013
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DESFILE
1998
O mundo místico dos Caruanas
nas águas do Patu Anu
Colocação: 1º lugar - Grupo Especial
Local do desfile: Sambódromo
Autor: COMISSÃO DE CARNAVAL (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Caralho, Nelson Ricardo, Amarildo Mello, Vitor Santos e Paulo Fuhro).
Compositores: Alencar de Oliveira, Wilsinho
Paz, Noel Costa, Baby e Marcão
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente: Farid Abrão David
Beija-flor
E o mundo místico dos Caruanas
Nas águas do Patu-Anu
Mostra a força do teu samba
Contam que no início do mundo
Somente água existia aqui
Assim surgiu o girador, ser criador
Das sete cidades governadas por Auí
Em sua curiosidade, aliada à coragem
Com seu povo ao fundo foi tragado
O que lá existia aflorou, o criador semeou
Surgindo os seres viventes em geral
E de Auí se deu a flora, fauna e mineral
Sou Caruana eu sou
Patu-Anu nasceu do girador, obá
Eu trago a paz, sabedoria e proteção
Curar o mundo é minha missão
Pajé, a pajelança está formada
Eu vou na barca encantada
Anhangá representa o mal
Evoque a energia de Auí
Pra vida sempre existir
Oferenda ao mar pra isentar a dor
Com a proteção dos caruanas Beija-flor
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
A pajelança hoje é cabocla
Na Ilha de Marajó, vou dançar o carimbó
Lundu e siriá, marujada e vaquejada
Minha escola vem mostrar
O folclore que encanta
O estado do Pará
O G.R.E.S. Beija-Flor mostra ao mudo uma cultura milenar
trazendo para a avenida esse samba-enredo. Teve como
base o livro “O mundo místico dos Caruanas e a revolta de
sua ave”, escrito pela Pajé Zeneida Lima, da Ilha de Marajó.
O tema foi a “Pajelança Cabocla”, herança das tribos que lá
habitavam e que foram sendo dizimadas. Hoje, em vez de
índios, a Ilha abriga caboclos que continuam a “Pajelança”.
O pajé caboclo evoca o Caruana Beija-Flor, energia guardiã
do culto e da doutrina. Auí, líder do povo do Girador, e seu
povo são transformados em Caruanas, energias encantadas auxiliadoras do mundo dos vivos. E do Girador nasceu
o “Patu-Anu”, o grande mistério das águas onde lhe foram
delegados os poderes de criação de vários elementos que
compunham o mundo da encantaria.
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Fevereiro 2013
35
DESFILEs
BEIJA-FLOR
1999
Araxá, lugar alto onde primeiro se
avista o sol
Colocação: 2° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e
Shangai)
Compositores: Wilsinho Paz e Noel Costa
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
A saga de Agotime- Maria Mineira Naê
Colocação: 2º lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e
Shangai)
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Compositores: Déo, Caruso, Cleber e Osmar
Presidente da Escola: Farid Abrão David
2002
2000
O Brasil dá o ar de sua graça. De Ícaro
a Rubem Berta, o ímpeto de voar
Colocação: 2° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Nelson Ricardo e
Shangai)
Compositores: Igor Leal e Amendoim da Beija-Flor
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Colocação: 2º lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, Cid Carvalho, Victor santos e
Shangai)
Compositores: Wilsinho Paz, Elcy, Gil das Flores, Alexandre Moraes, Tamir, Tom-Tom e Igor
Leal
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Brasil, um coração que pulsa forte.
Pátria de todos ou terra de ninguém?
36
2001
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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DESFILE
2003
O povo conta sua história:
saco vazio não para em pé.
A mão que faz a guerra faz a paz
Colocação: 1º lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
AUTOR: COMISSÃO DE CARNAVAL (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai)
COMPOSITORES: Betinho, J. C. Coelho, Ribeirinho,
Glyvaldo, Luis Otávio, Manoel do Cavaco,
Serginho Sumaré e Vinícius.
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
Presidente: FARID Abrão David
Oh!!! meu Brasil (bis)
Overdose de amor nos traz
Se espelha, na família “beija-flor”
Lutando eternamente pela paz
Luz divina luz que me conduz
Clareia meu caminhar clareia
Nas veredas da verdade: cadê a felicidade
Aportei, num santuário de ambição
E o índio muito forte resistiu
A tortura implacável assistiu
Enquanto o negro cantava saudade
Da terra mãe de liberdade
Na frança é tomada a Bastilha
O povo mostra a indignação
Revoltado com o diabo
Que amassou o nosso pão
Grito forte dos palmares... Zumbi
Herói da inconfidência... Tiradentes
Nas caatingas do nordeste... Lampião
Todos lutaram contra força da opressão
Nasce então
Poderosa, guerreira
E desenvolve seu trabalho social
Cultural aos pobres, abrigou maltrapilhos
Fraternidade, de modo geral
Brava gente sofrida da baixada
Soltando a voz no planeta carnaval
Eu quero: liberdade, dignidade e união
Fui lata, hoje sou pirata
Lixo ouro da região
Chega de ganhar tão pouco
Tô no sufoco: vou desabafar
Pare com essa ganância, pois a tolerância
Pode se acabar...
O enredo era uma crítica social às injustiças que o povo
brasileiro sempre sofreu: fome e miséria. “A mão que faz a
guerra faz a paz” aborda os erros e acertos que ajudaram a
formar a humanidade. A ideia inicial era falar sobre a fartura de comida, mas depois de pensar que nesse país onde
muita gente morre pela falta dela, o diretor de harmonia,
Laíla, decidiu o tema. A proposta da comissão de carnaval
era mostrar a situação social em que vive o Brasil; apontar
a origem das diferenças sociais; sensibilizar as pessoas e,
principalmente, os governantes do país. O desfile aborda
alguns dos principais “heróis” da população, que à sua
maneira lutaram pelo nosso país: Lampião, Zumbi dos Palmares e Tiradentes.
Fevereiro 2013
37
DESFILE
2004
ManÔA, Manaus, Amazônia.
Terra santa, que alimento o corpo
equilibra a alma e transmite a paz
Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai)
CompositorES: Cláudio Russo, Zé Luís, Marquinhos, Jessi e Leleco
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID
A ambição cruzou o mar
Trazida pelo invasor
A Espanha veio explorar
Pilhar e semear a dor
Amazônia Terra Santa
Dos igarapés, mananciais
Alimenta o corpo, equilibra a alma
Transmite a paz
Brilhou o Eldorado no coração da mata as guerreiras
Belezas naturais, riquezas minerais
O reino de Tupã ergue a bandeira
Êh! Manôa
Minha canoa vai cruzar o Rio Mar
Verde paraíso é onde Iara me seduz com seu cantar
Força, mistério e magia
Fruto da energia o meu guaraná
A lágrima que o trovão derramou
A terra guardou semente no olhar
Maués, Anauê cultura milenar
Anauê, Manaus, Mamirauá
Viva a Paris Tropical
Água que lava minh´alma
Ao matar a sede da população
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Caboclo ê a homenagem hoje é
A todo povo da floresta um canto de fé
Se Deus me deu vou preservar
Meus filhos vão se orgulhar
A Amazônia é Brasil, é luz do criador
Avante com a tribo Beija-Flor
Considerado o melhor samba-enredo de 2005 pela crítica
especializada, mostra a Amazônia como o verdadeiro Eldorado do séc. XXI. Desperta a consciência sobre a importância de se preservar a região chamada de “pulmão do mundo”. A mensagem que a escola buscou passar aos jurados
e ao público foi a de que dias melhores virão, desde que
sejam respeitados e preservados corretamente a mata e os
rios. Os oitos setores contaram a história da fauna, flora e
da abundância do maior reservatório de água potável do
mundo que estão sendo desmatados e prejudicados pela
invasão do homem. O desfile contou também com a lenda
dos guardiões que protegem a floresta. A ideia do enredo
partiu de Laíla, quando o mesmo visitou Parintins para assistir a festa local.
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DESFILE
2005
O vento corta as terras dos pampas.
Em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Guarani.
Sete povos na fé e na dor. Sete missões de amor.
Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: SAMBÓDROMO
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai)
CompositorES: j.c. coelho, ribeirinha, adilson,
china, serginho sumaré, domingos p.s., sidnei de
pilares, zequinha do cavaco, wanderley novidade, jorginho moreira, paulinho rocha e walnei rocha.
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID
Em nome do pai,do filho
A beija-flor é guarani
Sete povos na fé na dor
Sete missões de amor
Clareou...
Anunciando um novo dia
Clareou...
Abençoada Estrela-guia
Traz do céu a luz menino
Em mensagem do divino
Unir as raças pelo amor, fraternizar
Acompanhia de Jesus
Restaura a fé e a paz vai semear
Os jesuítas vieram de além-mar
Com a força da fé catequizar... E civilizar
Na liberdade dos campos e aldeias
Em lua cheia, canta e dança o guarani
Com tubichá e o feitiço de crué
Na yvy maraey, aiê...Povo de fé
Surgiu
Nas mãos da redução a evolução
Oásis para a vida em comunhão
O paraíso
Santuário de riquezas naturais
Onde ergueram monumentos
Imensas catedrais
Mas a ganância
Alimentada nos palácios de Madri
Com o tratado assinado
A traição estava ali
Oh Pai, olhai por nós!
Ouvi a voz desse missioneiro
O vento cortando os pampas
Bordando a esperança
Nesse rincão brasileiro
Nesse ano, a Beija-flor apresentou na avenida histórias das
ações dos jesuítas no sul do Brasil, fundamental para o desenvolvimento da região. O começo do enredo fala sobre Jesus Cristo, que deu nome a chamada ‘Companhia de Jesus’ –
criada para alcançar fiéis em tempos de crise do catolicismo
- . O desfile também abordava o ‘Sete Povos das Missões’,
região de instrumento de preservação da vida e cultura dos
índios onde os jesuítas, os capacitavam para ganhar a vida,
seja na agricultura, na pesca ou em trabalhos manuais. A ideia, conta Laíla , “surgiu quando em 99 visitei Porto Alegre e fui convidado a conhecer as sete cidades das
Missões. Fiquei bem impressionado com a cidade de São
Miguel”. Naquele ano, a escola se apresentou mais leve,
colorida e com cores mais suaves.
Fevereiro 2013
39
DESFILEs
BEIJA-FLOR
2006
Poços de Caldas derrama sobre a
Terra suas águas milagrosas: do caos
inicial à explosão da vida, Água... a
nave mãe da existência
Colocação: 5° lugar - Grupo Especial
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, Cid Carvalho e Shangai)
Compositores: Wilsinho Paz, Noel Costa, Alexandre Moraes E Silvio Romai
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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DESFILE
2007
Áfricas. Do berço real
à corte brasiliana
Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: SAMBÓDROMO
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva E Cid Carvalho)
CompositorES: Claudio Russo, J. Velloso, Carlinhos do Detran e Gilson Dr.
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID
Sou quilombola Beija-Flor
Sangue de Rei, comunidade
Obatalá anunciou
Já raiou o sol da liberdade
Olodumarê, o deus maior, o rei senhor
Olorum derrama a sua alteza na Beija-Flor
Oh! Majestade negra, oh! Mãe da liberdade
África: o baobá da vida ilê ifé
Áfricas: realidade e realeza, axé
Calunga cruzou o mar
Nobreza a desembarcar na Bahia
A fé nagô yorubá
Um canto pro meu orixá tem magia
Machado de Xangô, cajado de Oxalá
Ogun yê, o Onirê, ele é odara
É Jeje, é Jeje, é Querebentã
A luz que bem de Daomé, reino de Dan
Arte e cultura, Casa da Mina
Quanta bravura, negra divina
Gamboa, a Pequena África de Obá
Da Pedra do Sal, viu despontar a Cidade do Samba
Então dobre o Run
Pra Ciata d`Oxum, imortal
Soberana do meu carnaval, na princesa nilopolitana
Agoyê, o mundo deve o perdão
A quem sangrou pela história
Áfricas de lutas e de glórias
Resgatar a importância do negro na construção da identidade brasileira. Esse foi o objetivo do enredo escolhido
pela escola de Nilópolis. Ele buscou fugir do estigma de
que a África é sinônimo de miséria e pobreza, visando ressaltar a beleza e a coragem do povo africano na época da
escravidão.
É exposta a África real e as Áfricas existentes no Brasil:
quilombos, terreiros de candomblés e de magia, as festas
folclóricas como o maracatu, maculelê e o afoxé.
A Comissão de Frente foi formada por jovens negros da
comunidade.
A ideia do enredo é antiga. O carnavalesco iniciante na
Beija-flor, Alexandre Louzada, conta que desde a época
que trabalhava na Porto da Pedra (2003) tinha vontade de
fazer um tema voltado ao negro.
Zumbi é rei
Jamais se entregou, rei guardião
Palmares, hei de ver pulsando em cada coração
Galanga, pó de ouro e a remição, enfim
Maracatu, chegou rainha Ginga
Fevereiro 2013
41
DESFILE
2008
Macapaba – Equinócio solar:
viagens fantásticas ao meio
do mundo
Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: SAMBÓDROMO
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva E ALEXANDRE LOUZADA)
Compositores: Cláudio Russo, J. Veloso, Carlinhos do Detran e Gilson Doutor
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID
O meu valor me faz brilhar
Iluminar o meu estado de amor
Comunidade impõe respeito
Bate no peito eu sou Beija-Flor
É manhã
Brilho de fogo sob o sol do novo dia
Meu talismã, a minha fonte de energia
Oh deusa do meu samba, a flor de Macapá
No manto azul da fantasia
Me faz mais forte, extremo Norte
A luz solar, ilumina meu interior
Vou viajar na Linha do Equador
Emana ao meio do mundo a beleza
A força da Mãe Natureza, é Macapaba
O rio beijando o mar, encontro das águas
Marejando meu olhar
Quem foi meu Deus que fez do barro poema
Quem fez meu Criador se orgulhar
Os Cunanis, Aristés, Maracás,
Foram dez, foram mais, pelo Amapá
Um dia, navegando em rios de Tupã
A viagem fantasia, dos filhos de Canaã
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
A mágica da terra, a cobiça atraiu
Ibéria se enleva no Brasil
A mão de Ianejar
Na fortaleza pela proteção da vida
Em São José de Macapá
Brilha Mairi a minha estrela preferida
Herança moura em Mazagão
Retiro meu chapéu de bamba e assim
O marabaixo ao marco zero cai no samba
Soam tambores no tocar do tamborim
“O enredo de 2008 surgiu ocasionalmente”, diz Alexandre
Louzada. Em um encontro não combinado com o secretário de cultura de Macapá, Sérgio Lemos, Louzada foi
convidado para ministrar lá um workshop sobre carnaval.
Quando chegou, Louzada ficou impressionado com a riqueza do local, as histórias e a cultura. Macapaba tem várias histórias interessantes como ter pertencido à França,
à Espanha, mas nunca chegou a ser conquistada porque
a população sempre batalhou. O enredo foca na chegada
de pessoas à região; não fala sobre botos, sereias e outras
lendas.
A fim de adotar um desfile mais solto, a Comissão de Carnavalescos resolveu diminuir o número de alas, facilitando a mensagem que a escola quer passar para o público.
A grandiosidade das fantasias permaneceu, a escola veio
mais colorida, com mais cores e energia.
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
2009
No chuveiro da alegria, quem banha o
corpo lava a alma na folia
Colocação: 2° lugar - GRUPO ESPECIAL
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva e ALEXANDRE LOUZADA)
CompositorES: TOM-TOM, MARCELO GUIMARÃES,
LOPITA, JORGE AUGUSTO E VENI VIEIRA
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
2010
Brilhante Ao Sol Do Novo Mundo, Brasília: Do Sonho à Realidade, A Capital
da Esperança
Colocação: 3° lugar - GRUPO ESPECIAL
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva e ALEXANDRE LOUZADA)
CompositorES: PICOLÉ DA BEIJA-FLOR, SERGIONHO
SUMARÉ, SAMIR TRINDADE, SERGINHO AGUIAR, DISON
MARIMBA E ANDRÉ DO CAVACO
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Presidente da Escola: Farid Abrão David
Fevereiro 2013
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DESFILE
2011
A simplicidade de um rei
Colocação: 1° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: SAMBÓDROMO
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio, Ubiratan Silva, VICTOR CAMPOS E ALEXANDRE LOUZADA)
Compositores: Samir Trindade, Serginho Aguiar,
JR. Beija-Flor, Sidney de Pilares, Jorginho Moreira,
Théo M. Netto, Mourão e Cleber do SindicaTO
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: FARID ABRÃO DAVID
Meu Beija-Flor chegou a hora
De botar pra fora a felicidade
Da alegria de falar do Rei
E mostrar pro mundo essa simplicidade
A saudade
Vem pra reviver o tempo que passou
Ah! Essa lembrança que ficou
Momentos que não esqueci
Eu cheio de fantasias na luz
do Rei menino
Lá no seu Cachoeiro
E lá vou eu... De calhambeque a onda me levar
Na jovem guarda o rock a embalar... Vivendo a paixão
Amigos de fé guardei no coração
Quando o amor invade a alma... É magia
É inspiração pra nossa canção... Poesia
O beijo na flor é só pra dizer
Como é grande o meu amor por você!
Nas curvas dessa estrada a vida em canções
Chora viola! Nas veredas dos sertões
Lindo é ver a natureza
Por sua beleza clamou em seus versos
No mar navegam emoções
Sonhar faz bem aos corações
Na fé com o meu Rei seguindo
Outra vez estou aqui vivendo esse momento lindo
De todas as Marias vêm as bênçãos lá do
céu
Do samba faço oração, poema, emoção!
O tema de 2011 conta a história de
Roberto Carlos, o Rei. Fatos de sua
vida e curiosidades serão levados ao
público que só conhece sua vida
profissional. Divididos em 54 alas.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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DESFILEs
BEIJA-FLOR
2012
São Luís - O Poema Encantado
do Maranhão
Colocação: 4° lugar - Grupo ESPECIAL
Local de Desfile: Sambódromo
Autor: Comissão de Carnaval (Fran-Sérgio,
Ubiratan Silva, VICTOR SANTOS E ANDRÉ CEZARI)
Compositores: J. Veloso, Adilson China, Carlinhos do Detran, Samir Trindade, Serginho
Aguiar, JR Beija-Flor, Silvio Romai, Hugo Leal,
Gilberto Oliveira, Ricardo Lucena, Thiago Alves
e Romulo
Intérprete: Neguinho da Beija-flor
PRESIDENTE DA ESCOLA: NELSON SENNAS DAVID
Tem magia em cada palmeira que brota em seu chão
O homem nativo da terra
Resiste em bravura
A dor da invasão
Do mar vêm três coroas
Irmaão seu olhar mareja
No balanço da maré
A maldade não tem fé sangrando os mares
Mensageiro da dor
Liberdade roubou dos meus lugares
Rompendo grilhões, em busca da paz
A força dos meus ancestrais
Na casa nagô a luz de Xangô Axé
Mina Jêje um ritual de fé
Chegou de Daomé, chegou de Abeokutá
Toda magia do vodun e do orixá
Ê rainha o bumba-meu-boi vem de lá
Eu quero ver o cazumbá, sem a serpente acordar
Hoje a minha lágrima transborda todo mar
Fonte que a saudade não secou
Ó Ana assombração na carruagem
Os casarões são a imagem
Da história que o tempo guardou
No rádio o reggae do bom
Marrom é o tom da canção
Na terra da encantaria a arte do gênio João
Meu São Luís do Maranhão
Poema encantado de amor
Onde canta o sabiá
Hoje canta a Beija-Flor
Fevereiro 2013
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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Fevereiro 2013
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A BEIJA-FLOR PEDE PASSAGEM
E EXIGE RESPEITO AO CARNAVAL
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
(Boni)
Carnaval e futebol são duas paixões do povo brasileiro assim como a televisão no Brasil. Desconhecer esses pilares
da cultura popular brasileira e atribuir a eles a pecha de
“panis et circenses” é manifestação fascista, autoritária,
ditatorial e uma perigosa ameaça à liberdade democrática.
Quem quer controlar o que é do povo, quer, na verdade,
controlar o povo.
As Escolas de Samba, que nasceram nos morros e nas comunidades mais humildes, são vítimas preferidas desse
desejo de tutela e de controle. É uma pena que as autoridades pensem pequeno e entendam o Carnaval apenas como um evento turístico. Não é: o Carnaval é uma
manifestação cultural popular e legítima. E as Escolas de
Samba, em especial, precisam de investimentos. O desfile
das Escolas, em si, é tão somente o fecho de um esforço
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
humano brutal e de um amor descomunal pelo evento.
Não sou chovinista e não tenho preconceito contra artistas
internacionais. Mas escorre grana grossa dos cofres públicos e dos anunciantes para pagar “shows” milionários de
invasores culturais, enquanto se ouve besteiras do calibre de
que “o dinheiro da subvenção doado às Escolas de Samba
dá para fazer um razoável desfile”. Dá para fazer??? Que é
isso? Tem que haver verba para fazer, de verdade, o maior
espetáculo da Terra e as Escolas já provaram que têm capacidade para isso. Nada contra um “Rock in Rio”, do competente e empreendedor Medina, um Steve Wonder, Lady
Gaga, Madonna ou qualquer grupo e cantores de fora. Mas
são espetáculos sem qualquer cunho de cultura local, absolutamente inferiores e apagados perto da criatividade, da
importância, da magnitude e do brilho das Escolas de Sam-
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ba. Para fazer o que precisa ser feito e não para “o que dá
para fazer” é necessário que o poder público reavalie a sua
política de investimentos e passe a priorizar o nosso Carnaval. Vamos acabar com a conversa fiada e, em detrimento
do lixo cultural estrangeiro, vamos dar prioridade ao que é
bom e autenticamente brasileiro. Atualmente, as Escolas
estão correndo atrás dos enredos vendidos para patrocinadores, para garantir a produção do desfile e a sobrevivência do Carnaval. É um risco incrível para a degeneração do
espetáculo. Em alguns anos, essa prática autofágica levará
as Escolas de Samba a consumir o restante da carne magra
e da pele seca que esconde seus problemas. Sem os patronos, já teriam virado pó ou retornariam aos primórdios do
amadorismo que antecederam os reformadores Fernando
Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãozinho Trinta e Laila.
É preciso lembrar como eram os desfiles antigamente. Uma
das melhores formas de constatar isso é pegar o primeiro
desfile de João Trinta, na Beija-Flor, em 1976, e ver o que o
Anízio Abrão David fez na agremiação de Nilópolis. Tenho
um vídeo editado para quem quiser ver e posso enviá-lo a
quem solicitar. A Beija-Flor cresceu aos saltos e foi com
investimento, paixão e amor. A Beija-Flor é um
“case” para ser estudado, matéria rica para compreensão da evolução das Escolas de Samba.
Documento importante de como o Carnaval
é Cultura e não reles instrumento de arrecadação turística. É uma atividade particular,
do povo e não instrumento político. É a prova cabal de
que apaixonados como Anizio Abrão David têm que ser
reconhecidos pelo que fizeram para o nosso Carnaval e
para as comunidades que dele participam.
Salve o Anízio!
Do alto de seus 12 campeonatos, a Beija-Flor pede passagem e exige respeito ao Carnaval.
Fevereiro 2013
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Lazer
Transporte
Criar cavalo Mangalarga Marchador
não é um bicho de sete cabeças!!!
Lida com gado
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Ecoturismo
Esporte
www.beija-flor.com.br
Sabe por que?
Porque ele é dócil, confortável,
rústico e econômico.
Um cavalo popular, para
todas as idades.
Mangalarga Marchador,
do tamanho do seu sonho,
ao alcance de qualquer um.
Um amigo fiel!
Equoterapia
Você também pode ter um!
Docilidade
Av. Amazonas, 6.020
Parque da Gameleira
Cep 30.510-000
Belo Horizonte/MG
31. 3379.6100.
www.abccmm.org.br
[email protected]
Fevereiro 2013
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AMIGO FIEL
do cavalo do amanhecer ao Mangalarga Marchador
Inicia-se mais um espetáculo de cores, imagens e alegria, apresentado ao público presente no
Sambódromo e a milhares de lares, no Brasil e no mundo: é o Desfile das Escolas de Samba do
Grupo Especial.
Abrilhantando e valorizando o momento, vem a principal agremiação de Carnaval da atualidade
com um desfile sobre a trajetória do cavalo no tempo, destacando a raça Mangalarga Marchador,
uma raça genuinamente brasileira e que por seus atributos e qualidades tem despertado o interesse cada vez maior de criadores e usuários comuns.
Mas como surgiu a ideia de um enredo sobre cavalos e a raça Mangalarga Marchador?
O INÍCIO
Desde que surgiu essa ideia de enredos patrocinados, pela
sua posição no universo do Carnaval, a Beija-Flor de Nilópolis tem recebido muitas propostas de enredos institucionais, sejam estatais ou privados. Isso porque empresários e
governantes compreenderam a força de alavancagem que o
desfile de uma agremiação do porte e credibilidade da Beija-Flor de Nilópolis pode oferecer aos seus negócios, o que
tem tornado o Carnaval carioca um dos centros de atenção
dos departamentos de marketing das grandes empresas e
instituições – e dos governos. Essa nova postura fica evidente na afirmação de Magdi Shaat, presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador (ABCCMM), entidade patrocinadora do desfile da
Beija-Flor de Nilópolis: “No Carnaval de 2012 participamos
como observadores, e ao constatarmos a grandeza, a magia
e o esplendor do evento não tivemos dúvida de que seria
uma excelente oportunidade de divulgação da raça. Temos
inúmeros criadores e associados no Rio de Janeiro que há
tempos vinham trabalhando a ideia de o cavalo Mangalarga
Marchador estar de alguma forma presente no Carnaval.”
Assim como a Associação, outros interessados procuraram a
Beija-Flor de Nilópolis na busca para dar início a uma parceria de qualidade. Como sempre, as propostas são avaliadas
pela presidência da agremiação e pelos carnavalescos, que
dão seus pareceres. “No início, a gente ficou um pouco preocupado, porque não sabíamos se dava um enredo bonito”,
confessa Fran Sérgio, carnavalesco da comissão há 16 anos
e que já contabiliza sete campeonatos na Azul e Branco.
“Aí aprofundamos a pesquisa sobre o tema e descobrimos
que daria um enredo maravilhoso falar desse que é um dos
mais belos animais, que conduziu o ser humano através da
sua evolução e de eras da Humanidade. Afinal, foi no dorso do cavalo que o homem se tornou um rei”, conta Fran.
O carnavalesco Victor Santos, que retornou à Comissão de
52
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Carnaval há 4 anos e já tem um campeonato nesta nova
fase, concorda com Fran e confessa que “no início achei que
não teríamos condições de fazer um Carnaval só falando
de cavalos em uma escola do tamanho da Beija-Flor. Achei
que chegaria um momento que não teríamos mais opções
de coisas para serem apresentadas em alegorias e fantasias.
Mas tem muito mais e é até difícil fazer um Carnaval contando tudo a respeito do cavalo. É muita coisa.”
A escolha do tema gerou inquietação também na nação
beija-florense, como bem lembra André Cezari, que completa seu quarto Carnaval na Beija-Flor e o segundo na Comissão de Carnaval: ”No início passamos por um pouco de
dificuldades perante a aceitação do enredo. A comunidade
não entendia como seria possível desenvolver um enredo
como este sem ‘forçar a barra’, mas como ela confia muito
na escola, gradualmente foram relaxando e vendo que estávamos sim com um grande enredo”.
PESQUISA – A CHAVE DO BAÚ DE
TESOURO
Em um ambiente que é visitado pela insegurança, por menor que seja, pode-se avaliar a importância do conhecimento mais aprofundado. Foi nessa hora que a pesquisa
se fez o grande elo conciliador entre os interesses do patrocinador e da direção da agremiação, comprometida em
produzir um espetáculo com a qualidade da marca Beija-Flor de Nilópolis. Para essa essencial missão, a agremiação
nilopolitana contou com uma das suas grandes estrelas
anônimas, disfarçada sobre um largo sorriso: a carnavalesca Bianca Behrends.
Acumulando uma grande experiência em pesquisa e documentação, Bianca apresentou à equipe importantes
subsídios para o desenvolvimento de um enredo atraente
e de qualidade. “Nós analisamos o que é possível ou não
de ser realizado no Carnaval dentro do tema proposto,
www.beija-flor.com.br
porque às vezes quem está de fora tem uma ideia muito diferente de como
é desenvolver um Carnaval na avenida, com seus carros alegóricos, suas alas.
Por isso, nos obrigamos a fazer uma profunda e cuidadosa pesquisa, que nos
permitiu identificar pontos que seriam denominadores comuns aos interesses
do patrocinador e da escola – que é realizar um belo e inesquecível espetáculo”,
esclarece Bianca. Ubiratan Silva, o Bira, que integra a comissão desde sua formação, ressalta que “a escola desenvolve uma pesquisa muito aprofundada das
coisas, e graças a Deus acaba descobrindo ramificações da história que rendem
plasticamente belíssimas fantasias e grandiosas alegorias. Conseguimos reunir
informações históricas que supriram as necessidades dos patrocinadores. Coisas importantes que a gente espalhou pela escola inteira. É claro que a gente
tem uma coerência. Fantástica é a própria historia do cavalo que o povo não
sabe, mas vai conhecer na Passarela do Samba”.
QUEM VIVER VERÁ
A Comissão de Carnavalescos (André, Bianca, Bira, Fran e Victor) é unânime em
afirmar que o desfile da Azul e Branco de Nilópolis tem tudo para conquistar o
público e os jurados. Apostam no desfile como um todo, no conjunto, na harmonia e na alma que os componentes soltam através de suas vozes na avenida.
Mas não abrem mão de chamar a atenção para aspectos pontuais do desfile: “A
Beija-Flor é uma escola muito constante. Nós trabalhamos para que o desfile
seja uma constante de picos altos, mas eu acho que neste ano o ponto alto será
o verso do samba, que fala ‘Sou puro samba azul e branco’. A arquibancada vai
responder de acordo com o que ela estiver cantando e vendo, não só pelo desfile em si, mas pelo samba. O nosso Carnaval está belíssimo, e este ano o ponto
forte é o samba da escola”, diz, convicta, Bianca. Para André Cezari, o “gran
finale” será o clímax do desfile: ”Na verdade, o gran finale é uma grande ópera,
como se todas as raças estivessem fazendo reverências ao Mangalarga Marchador. É, realmente, a nossa apoteose”, afirma. Já Victor Santos, Fran e Bira
apostam nas novidades da Comissão de Frente: “Eu aposto minhas fichas todas
na Comissão de Frente. Ela vai surpreender na própria figura do São Jorge. É
o primeiro cavalo a entrar e o quadro é fantástico”, revela Victor Santos. Mas
ele também conta com uma carta na ‘manga justa’: “Sempre que se puxa essa
paixão do componente pela escola, se tem um grande resultado no samba”.
“Preparamos uma Comissão de Frente muito especial em todos os sentidos”,
declara Fran Sérgio. “Especialmente no que representa dentro do enredo, na
nossa fé e na nossa devoção. Então a Beija-Flor vai entrar emocionando as pessoas com a história que vai ser contada inicialmente pela Comissão de Frente”.
Para Bira, “a escola vem com uma Comissão de Frente grandiosíssima, talvez
a maior que tenha sido vista na Passarela do Samba, em termos de elementos
alegóricos e quantidade de artistas. São 25 atores, bailarinos, ‘performances’,
– e isso já no início do desfile. Temos uma tecnologia de movimentos que
é totalmente nova. Uma tecnologia mais realística unida à de Parintins, que
a gente conseguiu utilizando látex em algumas esculturas que terão textura
mais suave e movimentos mais naturais. Isso é uma grande novidade”.
Todos os integrantes da Comissão de Carnaval estão confiantes, afirmando
que a escola está com tudo preparado para disputar e levar esse título para a
comunidade de Nilópolis. Segundo eles, a Beija-Flor vai pra avenida como um
rolo compressor.
Quem viver, verá.
Fevereiro 2013
53
AMIGO FIEL
O desenvolvimento do enredo “Amigo Fiel - Do cavalo do amanhecer ao Mangalarga Marchador”
não só vem possibilitando à Beija-Flor de Nilópolis brigar pelo título de campeã abordando uma
temática que oferece diversas possibilidades, como também transformou-se em um importante
canal de promoção e divulgação da raça. Com o objetivo de conhecer um pouco mais a respeito
do Mangalarga Marchador, a revista Beija-Flor de Nilópolis entrevistou o presidente da Associação
Brasileira dos Criadores de Cavalo Mangalarga Marchador, Magdi Shaat, um criador apaixonado.
O cidadão comum é bem receptivo ao assunto
cavalo, mas muitos não se veem como potenciais
criadores. Especialmente em relação à raça Mangalarga Marchador, é possível uma pessoa comum e
sem muitos recursos se tornar um criador?
Magdi Shaat - É perfeitamente possível uma
pessoa se tornar criador da raça. Mas é preciso
antes definir o conceito de criador. Ser criador é
ter um ou mais matrizes e delas produzir e comercializar seus produtos. Para tanto, é preciso
viabilizar uma logística racional, com pastagem
de boa qualidade e instalações rústicas e funcionais, já que a criação de animais confinados em
cocheiras é onerosa e de difícil economicidade.
Na impossibilidade de não ter a estrutura mencionada anteriormente, o interessado, que nós
chamamos de usuário, seja ele do meio urbano
ou rural, e não necessariamente rico, pode ter em
um pequeno espaço um ou mais cavalos castrados
ou fêmeas, que poderão ser usados de várias formas: para o lazer, esporte, lida com o gado, e até
mesmo com a possibilidade de estabelecer atividades de compra e venda, aluguel para passeios
ou entretenimento, como já fazem hoje inúmeras
54
Revista Beija-Flor de Nilópolis
pousadas e hotéis rurais pelo país afora, que
oferecem a seus hóspedes este tipo de serviço.
A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM) valoriza
muita a figura do sócio-usuário (que é a que
mais tem atraído novos adeptos para a raça),
constituída de pessoas de todas as camadas sociais, que moram no campo ou na cidade. Esta
categoria, inclusive, está contemplada no Estatuto da instituição.
Nos Estados Unidos e Europa, este conceito, de
que criar cavalos é uma atividade para pessoas abastadas, é uma mentalidade do passado.
A maioria dos criadores e usuários de raças de
equinos criam seus animais nos quintais de suas
casas, em pequenas propriedades. Eles não são
ricos e nem possuem áreas extensas de terra. É
preciso desmistificar este conceito no Brasil. Nossa expectativa é que com esta parceria estabelecida entre a ABCCMM e a Beija-Flor nós possamos
explicar e difundir, cada vez mais, a ideia de que
nosso cavalo é popular e que também pode ser
criado numa chácara, num sítio ou numa pequena propriedade.
www.beija-flor.com.br
Que tipo de retorno financeiro um criador de
Mangalarga Marchador
pode obter com uma
criação desse animal?
Magdi Shaat - Apesar
de ter respondido parte
desta pergunta acima,
é importante frisar que,
para conseguir resultado financeiro positivo,
é necessário ter custo
baixo. Isto implica em
adquirir animais qualificados, ter planejamento e manejo corretos. Para se ter uma
ideia , o custo de manutenção de um cavalo/
mês vai de R$100,00
(cavalo criado em regime de pasto) até um
salário mínimo (gasto
com baia, treinamento
e ração).
O que poucos sabem é
que o custo de um cavalo popular é o mesmo de
uma moto, tendo ainda
como diferencial e vantagem o fato de que a sua
manutenção é mais barata e a vida útil é muito
maior, porque um cavalo vive em média 23 anos.
Se o cavalo é um bem de capital isto significa
dizer que ele é comercializável, podendo ser vendido para fins de lazer, transporte, lida, aluguel,
além de ser utilizado em tratamentos de Equoterapia, cujos resultados têm sido muito promissores. Evidentemente que o retorno financeiro está
inserido nestes itens.
Como presidente da ABCCMM, como avalia o
mercado nacional e internacional para o Mangalarga Marchador?
Magdi Shaat - A raça Mangalarga Marchador
cresceu muito nos últimos anos e hoje temos
números que comprovam a grandeza do nosso
setor e sua posição de destaque no país, seja nos
aspectos econômico, social, ambiental, cultural
e político.
A Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo
Mangalarga Marchador (ABCCMM) possui 7 mil
sócios e mais de 30 mil criadores da raça Mangalarga Marchador, 58 núcleos nos principais
estados brasileiros, sendo 4 no exterior: Alemanha, Itália, Estados Unidos e Argentina.
Realiza anualmente, desde 1982, uma das maiores exposições de uma mesma raça da América
Latina, se não for a
maior: a Exposição
Nacional, que em
2013 completará a
sua 32ª edição.
Quais são as principais utilizações do
Mangalarga Marchador?
Magdi Shaat - As
principais utilizações do cavalo Mangalarga Marchador
são: 1 – Produção
de animais para melhorar o rebanho nacional e exportação
para o mercado europeu; 2 – Produção
de animais qualificados para competir
nos eventos oficiais
da raça; 3 – Produção de animais para
atender a demanda
de esportistas, lida
nas fazendas, transporte de pessoal,
provas funcionais,
setor de turismo, lazer e cavalgadas, atividades
de Equoterapia; e 4 – Bem de capital.
E por que um desfile sobre Mangalarga Marchador?
Magdi Shaat - Se você traduzir o Carnaval em
números terá a resposta. A Rede Globo de Televisão transmite a cobertura internacional para 115
países dos cinco continentes com público estimado de 580 mil assinantes. Isso sem falar na
cobertura nacional que atinge milhões de espectadores potenciais, e que é replicada nas revistas,
sites especializados, rádios, entre os formadores
de opinião do país.
Visualizamos o Carnaval não só como a maior festa popular do Brasil, mas como um grande canal
de divulgação da raça, cuja dimensão ainda não
temos condições de mensurar porque trata-se de
uma experiência única. Nunca na história da raça
foi feito um trabalho de marketing deste vulto.
Queremos com o desfile mostrar que o Mangalarga Marchador faz parte da cultura brasileira,
é um patrimônio nacional de grande riqueza sob
vários aspectos. Todo o trabalho de pesquisa desenvolvido pela Beija-Flor, que culminou com a
criação do enredo, das alegorias e fantasias, e
que nós acompanhamos de perto, foi feito com
base em informações e fontes históricas fidedignas, oficiais e técnicas.
Fevereiro 2013
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56
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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SEMPRE MAIS.
É esse o lema do 1o. Casal de Mestre-Sala
e Porta-Bandeira, Claudinho e Selminha
Sorriso.
Empenhados em fazer uma apresentação
perfeita, com leveza e alegria, o casal teve
seu desempenho reconhecido pelos jurados
do Desfile de 2012, que os deu uma bonificação de nota 0,2.
Parabéns, Claudinho! Parabéns, Selminha!
Parabéns Beija-Flor de Nilópolis!
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Fevereiro 2013
Amigo Fiel
Do Cavalo do Amanhecer ao
Mangalarga MarchadoR
SETOR
01
“Origem Primitiva - O Cavalo do Amanhecer e a Evolução”
DESFILE 2013
São Jorge, Cavaleiro Corajoso, Guerreiro da Capadócia... Abre e Ilumina os Nossos Caminhos!
Comissão de Frente
A relação de amizade e cumplicidade entre o Homem e
o cavalo é milenar. Quando pensamos no belo elo entre
cavalos e cavaleiros, é inevitável visualizarmos a clássica
imagem do guerreiro da Capadócia montado em seu cavalo branco.
Imortalizado no conto em que mata o monstruoso dragão
e salva a princesa, sob a luz da lua, São Jorge – talvez
o mais exímio cavaleiro de todos os tempos – e seus fiéis soldados, saúdam o público e pedem passagem para
a Agremiação, deixando ao longo da Passarela do Samba,
um rastro de fé, devoção, bênçãos e proteção.
A Lenda do Dragão e a Princesa
1º casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Segundo um conto, Jorge foi informado que em certo lugar, existia um enorme dragão, cujo hálito venenoso podia
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
matar toda uma cidade, e cuja pele não poderia ser perfurada nem por lanças e nem por espadas. Todos os dias, ele
exigia o sacrifício de uma bela donzela, mas todas as meninas da cidade já haviam sido mortas, só restando a filha
do Rei, que seria sacrificada no dia seguinte, ou concedida
em casamento ao valente guerreiro que matasse o dragão.
Determinado a salvar a princesa, Jorge depara-se com a
fera, rosnando tão alto quanto o som de trovões; mas não
se intimida, e enterra sua lança no monstro, matando-o.
Por sua bravura e grandioso feito, enfim casa-se com a
Princesa, vivendo a cortejá-la.
Pintura Rupestre
Na Terra Primitiva, tanto as atividades cotidianas, como os
fatos importantes, eram registrados pelos Homens das Cavernas, através das pinturas rupestres, assim como a existência de algumas espécies animais, onde o cavalo já se
destacava; sinalizando que, desde os primórdios, o cavalo
é o mais belo elo de ligação entre o Homem e a natureza.
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SETOR
02
“O Fiel Amigo dos Viajantes (Transporte, Comércio e Agricultura)”
Terras Pantanosas
Há milhões de anos atrás, uma pequena criatura semelhante a uma lebre, possuindo quatro dedos nas patas dianteiras
e três em cada pata traseira, corria através de terras pantanosas, densas e úmidas vegetações rasteiras, alimentando-se de suculentas plantas e pastagens. Pelo fato de poder
fugir e esconder-se de seus predadores, o pequeno mamífero conseguiu prosperar. Esse animal era o Hyracohterium ou
Eohippus, antepassado do cavalo moderno.
Vegetação Rasteira / Relva Verde – As Novas Pastagens
2º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
Através do estudo da história do cavalo, tem-se conhecimento dos efeitos causados pelas crescentes mudanças
do meio-ambiente, na batalha do animal por sobrevivência, e das adaptações que se fizeram necessárias durante
o processo de sua evolução. A mudança das pastagens de
arbustos e musgos dos pântanos para grama, contribuiu
enormemente para as futuras mutações da espécie.
Vegetação Rasteira / Extensas Planícies Gramadas
Com a mudança gradual do clima, a Terra se tornou mais
seca, e os pântanos foram cedendo lugar a extensas planícies
gramadas. De Eohippus, passados milhões de anos, o cavalo
evoluiu para Mesohippus, maior e mais musculoso, possuindo
três dedos e patas mais longas. Sendo os seus dentes, ligeiramente modificados, mais adequados para puxar a grama do
que para pastar nos arbustos e musgos dos pântanos.
O Animal Evoluído - Equus
Depois de algumas mutações ocorridas ao longo de períodos distintos da Pré-História, surgiu o Equus, o cavalo moderno, o mais semelhante ao cavalo tal qual conhecemos
atualmente. Pequeno, mais robusto e fértil, era capaz de
suportar os mais rudes climas, e por essa razão conseguiu
espalhar-se pelo mundo.
A Era Glacial - O Mundo Branco
Em tempos remotos, cavalos selvagens se difundiram pela
Ásia e pela Europa; todavia, as vastas manadas foram se esgotando, em função de caçadas e capturas para domesticação.
Acredita-se que o Tarpan (cavalo selvagem da Tartária) seja o
antecessor do cavalo Árabe e de outros puros-sangues, e que
tenha evoluído durante a Idade do Gelo, quando os cavalos
que viviam em florestas foram forçados a se deslocar para
no sentido Sul, onde enfim cruzaram com animais locais que
viviam nas planícies, assegurando a perpetuação da espécie.
O Arado da Terra - Agricultura
O processo evolutivo da Terra e das espécies deu origem
à grande uma diversidade de raças, tamanhos, formas e
pelagens, a qual pode ser apreciada nos tempos atuais. E o
cavalo que durante muito tempo teve um papel importante no transporte e nos trabalhos agrícolas, na Idade Média
passou a ser utilizado também enquanto instrumento que
ajudou o homem a lavrar os campos, um animal apto para
a arar a terra, assim como o boi.
Fevereiro 2013
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SETOR 03
“O Florescer das Grandes Civilizações”
O Conquistador do Mundo Antigo - Alexandre o
Grande
Alexandre, o Grande, rei da Macedônia, era jovem, bonito,
musculoso e extremamente carismático. Também chamado de “O “Senhor da Guerra”, por ser implacável, determinado, perspicaz e temido, era um general de extraordinária habilidade e sagacidade, um dos maiores combatentes
militares que o mundo já viu. Montado em seu fiel cavalo
Bucéfalo, foi o célebre conquistador da Babilônia, proporcionando uma das maiores expansões territoriais já registradas em um curto período de tempo.
As Cruzadas - Os Cavaleiros da Ordem do Templo
As cruzadas foram expedições medievais realizadas em
nome de Deus, onde os cavaleiros da Ordem do Templo,
que compunham cavalaria medieval, eram enviados à Palestina para recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à
Jerusalém, na Guerra pela Terra Santa.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Presente de Grego - O Cavalo de Tróia
Ao longo da História, os homens travaram guerras. Uns por poder, outros por terras, por glória, por honra... e mesmo por amor.
Na Grécia Antiga, a paixão entre Páris, filho do Rei Príamo,
Príncipe de Tróia, e Helena, a Rainha de Esparta, desencadeou uma guerra que devastou toda uma civilização.
Tudo começou quando o príncipe troiano foi à Esparta, em
missão diplomática, e acabou se apaixonando por Helena.
Páris roubou Helena de seu marido, o Rei Menelau, e este
foi um insulto considerado intolerável. Em defesa da honra da família, a afronta a Menelau foi considerada também
uma afronta a seu irmão, Agamenon, o então poderoso
Rei de Micenas, que rapidamente reuniu todas as tribos da
Grécia para trazer Helena de volta, resguardando a dignidade e a reputação de seu irmão.
Na verdade, a busca de Agamenon por honra foi suplantada por sua ganância, visto que ele precisava controlar
Tróia para garantir a supremacia de seu vasto império.
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Aquiles, jovem rebelde e com sua fama de guerreiro aparentemente invencível, impulsionado por sua sede insaciável por glória e reconhecimento, concorda em atacar os
portões de Tróia sob a bandeira de Agamenon.
Tróia, a cidade cercada de muralhas, comandada pelo Rei
Príamo e defendida pelo poderoso príncipe Heitor, era
uma fortaleza que até então nenhum exército jamais conseguira invadir.
Dois mundos entraram em guerra por honra e poder. O
cerco grego à Tróia durou cerca de uma década, e milhares
pereceram em busca de glória.
Cansados da batalha exaustiva, sangrenta e infrutífera,
os gregos têm a brilhante ideia de presentar os troianos
com um grande cavalo de madeira. Disseram aos inimigos
que estavam desistindo da guerra, e que o cavalo era um
presente para selar a paz. Os troianos aceitaram a oferta,
e deixaram o enorme cavalo ser conduzido para dentro de
seus muros protetores.
Com o povo em festa, e após muita comemoração, os troianos foram dormir exaustos. O que eles não sabiam, é que o
cavalo de madeira estava recheado com centenas de soldados gregos, e o tal presente de grego, que grande ironia, não
era um agrado, e sim o meio encontrado pelos gregos para
invadir e atacar a cidade de Tróia até a sua destruição.
Os Cavaleiros da Távola Redonda - Símbolos de Glória
Os cavalos montados pelos Cavaleiros da Távola Redonda –
homens premiados com a mais alta ordem da Cavalaria da
Corte do Rei Artur – certamente também eram considerados
heróis, por contribuírem diretamente para as múltiplas vitórias dos lendários guerreiros, verdadeiros símbolos de glória.
O Mongol - Imperador das Estepes - Gengis Khan
Gengis Khan, foi um conquistador e imperador mongol
que unificou os povos mongóis sob seu comando, utilizando a cavalaria de forma inédita, como atualmente se
usam os carros blindados. Gênio militar, introduziu ainda a
estratégia de cercar as cidades a partir dos campos.
O Exército de Terracota do Imperador - Os Guerreiros
de Xian
3º Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira
O Exército de Terracota, Guerreiros de Xian ou ainda Exército do Imperador Qin Shihuang, é uma coleção chinesa de
mais de oito mil figuras de guerreiros e cavalos esculpidos
em terracota (uma espécie argila), em tamanho natural, e
encontradas próximas ao mausoléu do primeiro imperador
da China. Os guerreiros, cujas expressões são individualizadas, e as cavalarias foram descobertos em 1974. Fevereiro 2013
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SETOR 04
“O Fogo Cigano da Purificação”
O Poder do Encantamento - Os Unicórnios
O Unicórnio é um animal mitológico que tem a forma de um
cavalo com um único chifre na testa, em forma de espiral.
Sua imagem está associada à pureza e à força e, segundo
a lenda, são seres dóceis, sendo as donzelas, moçasdotadas
de pureza, aquelas que têm maior facilidade para tocá-los.
Homens-Cavalos - Os Centauros
Na mitologia grega, os centauros – “matador de touros”
– são seres com o torso e cabeça de humanos e o corpo
de cavalo, que viviam na região da Tessáilia. Na cultura
popular, são retratados como criaturas sábias, nobres, inteligentes, orgulhosas e festeiras, e ainda como uma raça
feroz e valente.
Com Asas Surgiu
no Infinito - Pégasus
Pégasus ou
Pégaso, “o
cavalo voador”, é um
cavalo
alado,
símbolo da imortalidade. Figura originária da mitologia
grega, presente no mito de Perseu e Medusa, Pégasus era
o cavalo de Zeus, o amo do céu e da terra.
Xamanismo - Liberdade de Espírito, Força e Clarividência
Para os xamãs, o cavalo simboliza poder interior, liberdade de
espírito, viagem xamânica, força e clarividência. Sendo ainda
considerado um veículo seguro para a realização de viagens
tanto no mundo físico, quanto no mundo espiritual.
Magia do Cavalo Hindu
Para a religião hindu, o cavalo é um animal divino. Os hinduístas acreditam que Kalki - o décimo e último grande
Avatar de Vishnu, um popular e venerado deus hindusurgiria montado em um cavalo, para anunciar o fim da
escuridão, eliminando o mal e possibilitando o início de
um novo ciclo; demonstrando assim, que o cavalo sempre
teve um papel muito importante na cultura indiana.
A Magia Cigana
Musa das Passistas: Charlene Costa
A Magia Cigana (Passistas)
Os ciganos são um conjunto de comunidades alegres, festeiras e nômades que, de tempos em tempos, migram
com seus acapamentos transportados por cavalos
e carroças. Para o povo cigano, a sua identidade
cultural se mantém viva principalmente através das festas e rituais, cujas celebrações são
fartas de música, dança, brilho, maquiagem e sensualidade.
A Aventura se Torna Canção
Intérprete: Neguinho da Beija-Flor
Tesouro Cigano
Rainha de Bateria: Raíssa de Oliveira
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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O Poder Cigano (Bateria)
“Embaixo do céu límpido, no meio de um vale, um acampamento cigano. Suas barracas, seus cavalos e uma fogueira
ao centro, servindo a todo o acampamento”. O silêncio da
tarde e a solidão da noite são quebrados com o som de diversos instrumentos musicais, indispensáveis para garantir a
animação das múltiplas e alegres festas ciganas.
A Dança Cigana
A relação do povo cigano com o cavalo é extrema cumplicidade e misticismo. Por serem um povo alegre e festeiro,
giros, rodopios e violeiros são abundantes nessas festanças, que podem durar até três dias inteiros, sempre com
muita beleza, ornamentação e fartura, que retratam bem
a sua imensa vivacidade.
Matriarcas Ciganas (Baianas)
O cavalo e o povo cigano têm uma relação de extrema
cumplicidade e misticismo. Na época das caravanas, quando morria o chefe do acampamento, seu cavalo era sacrificado e queimado, pois existia a crença de que, reduzindo-o à cinzas, ele estaria purificado (pois para o cigano o
fogo tudo purifica), e dessa forma poderia conduzir a alma
de seu dono ao reino do céu.
A Força dos Ciganos
Os Ciganos são populações que vivem em comunidades
que possuem seus próprios códigos de conduta, e cuja a
vida em sociedade é determinada pela convivência entre
grupos familiares. Por serem nômades, consideram o cavalo o melhor amigo do Homem, pois poupa-lhes as forças,
os conduz pelos caminhos, puxa as suas carroças e, por
muito tempo, foram a principal fonte de comércio cigano.
Fevereiro 2013
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samba de volume
na avenida
MIRO LOPES
Desfile de Carnaval é soma de ingredientes: é cor, é alegria, é ritmo, é harmonia.
Sem esses elementos evoluindo equilibradamente na avenida, impossível se ter um desfile
campeão.
Um som ritmado, afinado, harmonioso, limpo e encorpado são elementos essenciais de um
desfile, e seu manuseio inadequado pode arremessar os componentes aos umbrais do descompasso na avenida. Ou alçá-los aos céus da arte plena e do êxtase.
Pensando nisso, a agremiação nilopolitana decidiu reorganizar a dinâmica de trabalho das vozes e dos instrumentos que acompanham e dão sustentação à liderança musical do intérprete
oficial da escola, Neguinho da Beija-Flor, na avenida. Dividir para multiplicar. Foi essa a solução
técnica definida, na qual cada grupo de quatro cantores se revezam a cada cinco passagens
durante o desfile.
Para Neguinho, “as vozes de apoio dos meus cantores encorpa mais o samba, fica mais gostoso, fica mais potente,
mais encorpado. Hoje entro na avenida tranquilo e seguro,
porque sei que Jorginho, Gilson Bacana, Marcelo Guimarães, Nego Lindo, Bacaninha, Nino Milênio e Cacau Caldas
seguram a peteca com competência, emoção e muito profissionalismo. O resultado é o que o público ouve na Marquês de Sapucaí”.
O mais antigo componente do grupo de vozes junto ao
carro de som da Beija-Flor é Jorginho, na pia batismal
Jorge Elias Franques Leite, nilopolitano. Desde criança frequentava a quadra levado pela mãe. Aos 14 anos começou
a trabalhar no barracão e em 1983 passou a participar
efetivamente dos ensaios e
eventos da escola.
Indicado pelo padrasto,
que era compositor do bloco Cem,
onde exerci-
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
tava seu dom vocal, Jorginho fez um teste e foi admitido no grupo. São 30 anos de estrada, onde não faltaram
momentos inesquecíveis e memoráveis, como ao cantar
“As mágicas luzes da ribalta”. “É inesquecível porque foi a
minha estreia”, afirma.
Gilsineide Freitas Moreira, 42 anos, itaboraiense, é Nego
Lindo. Foi da Viradouro e da São Clemente, mas ele revela:
“Um sonho que eu tinha era cantar ao lado do Neguinho.
Falei diretamente com ele desse meu sonho”. Diante da
possibilidade dessa ideia se tornar realidade, Nego Lindo
deu um tempo para aprimorar seu canto. “Tive um inesquecível começo porque a Beija-Flor conquistou seu segundo bicampeonato, com “Macapaba” (2008). Participar
do grupo de vozes que dá apoio ao intérprete oficial é o
lugar onde eu sempre quis estar. Eu quero é fazer parte do
time”, acentua Nego Lindo.
Um dos mais novos componentes do carro de som é Nino
Milênio, batizado Cristiano Nunes Gonçalves, 23
www.beija-flor.com.br
anos, nascido em Duque de Caxias. Aos 11 anos descobriu que bateria oficial para apresentações fora do Carnaval, Bacaseu caminho era cantar e foi fazer aulas com o professor Ja- ninha também era intérprete. Há 4 anos, escalado pelo
ckson Martins. Em 2005, Nino decidiu participar das disputas diretor Laíla, fez teste para atuar no carro de som. “Eu via
de enredo como intérprete. Chegou à Beija-Flor na disputa o Neguinho e meu pai pela TV cantando na avenida, não
de “Macapaba”, e ficou seduzido “pelo brilho e pelos belos sabia se cantava junto ou chorava de alegria, e acabei fasambas da azul e branco”. Ano passado, Laíla o chamou para zendo disso meu sonho. Por isso, cantar com eles na aveser um dos cantores de apoio. “Entrar na avenida cantando nida é muito importante pra mim”.
com Neguinho da Beija-Flor é inesquecível para qualquer in.
vação
o
térprete” – e para o novato Nino não foi diferente.
n
re
sta na oda essa
Cacau Caldas é a única cantora do grupo de vozes
o
ap
r
o
de apoio e está há apenas 5 meses na azul e branco. “A BEIJA-fl
que t
er
v
go na
em
mi
d
o
Chegou ano passado para defender um samba cono
c
p
cês
e está eração de
u
corrente e ficou, indicada pelo então diretor Walber Vo
q
a
d
Frutuoso. Na certidão, Cacau foi registrada como Eu- molec a
ova g
n
a
d
é
dóxia Perpétuo Caldas há 36 anos. É funcionária públivenida
otada
ca, mas o dom de cantar é um bônus de Deus. “Sempre a
ar
g
.
os
gostei de cantar e o samba é o gênero com o qual eu me músic
e suas
rque essa
o
p
iz
l
samba
e
identifico muito. Meu melhor momento é o atual, esse
o
Fico f
ando
v
que estou vivendo agora na Beija-Flor, minha escola de
está preser.
coração”, diz, convicta.
Com um acervo de 65 músicas gravadas na voz de diver- tradições
rtante.
o
lor
imp
sos artistas, além de suas próprias gravações, o carioca
Beija-F
ito
a
u
d
o
m
h
é
Marcelo Guimarães começou sua carreira na ala de com- E isso
Neguin
positores da Beija-Flor levado por Dicró, em 1986. “Era o
início de uma paixão, que me deu a honra de ganhar dois
sambas-enredos. Após a vitória do nosso samba em 2009
(“No chuveiro da alegria”), recebi o convite de Neguinho
da Beija-Flor para ser um dos intérpretes de apoio no carro
de som. É impossível descrever a emoção e a alegria que
senti ao ouvir todo aquele povo cantando a nossa obra na
avenida, quando pela primeira vez tive a honra de cantar
ao lado do nosso intérprete oficial”, enfatiza Marcelo, que
está preparando um novo CD, com produção de Neném
Chama e repertório de diversos autores consagrados.
Bacaninha, Gilson Carlos Esperança Conceição, 21 anos,
é cria da casa. Herdou nome, apelido e o talento do pai,
Gilson Bacana, para o projeto de bateria mirim, dirigido por Douglas Botelho. Aprendeu a tocar instrumentos
de percussão. Adotado pela
Fevereiro 2013
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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SETOR 05
“A Estrela que Voa - O Alter Real na
Corte Lusitana”
Germânicos – A Influência Genética
Os cavalos Germânicos (Rússia, Ucrânia etc.) integram
uma das raças da tríade equina que originou a raça Andaluza, juntamente com os cavalos Berberes e da Península
Ibérica (Portugal e Espanha), estando presentes na genética do Mangalarga Marchador.
O Cavaleiro Andante
O cavalo Andaluz(a), originário da região de Andaluzia, na
Espanha, e do Alentejo, em Portugal, é representado pelo
famoso cavalo Rocinante, o companheiro inseparável de
Dom Quixote de La Mancha. As éguas Andaluzas foram
aquisições da Coudelaria de Alter do Chão para a formação do Alter Real, estando presentes no DNA do Mangalarga Marchador.
A Joia Rara de Alah – O Beduíno
Os cavalos Berberes (Norte da África – Líbia e Marrocos),
amplamente utilizados pelos beduínos, os “homens do
deserto”, compõem uma das raças da tríade equina que
originaram a raça Andaluza, contribuindo também para a
origem da raça Alter Real, uma vez que uma preciosa égua
Berbere foi introduzida na Coudelaria de Alter do Chão.
Dessa forma, os cavalos Berberes estão presentes ainda, no
código genético do Mangalarga Marchador.
Jorge III do Reino Unido
Durante o Reinado de Jorge III do Reino Unido – rei da Grã-Bretanha, foram introduzidas dezenas de éguas inglesas
na Coudelaria de Alter do Chão, as quais contribuíram para
a formação genética do cavalo Alter Real e, consequentemente, estão presentes no gene do Mangalarga Marchador.
Real Montaria
O cavalo Alter Real, que tem origem na raça Andaluz(a), é
uma raça portuguesa desenvolvida com o objetivo de servir à nobreza. Estimado pela Coroa lusitana, é inteligente,
dócil, sensível, corajoso e detentor de um caráter próprio
inconfundível; além de possuir aparência deveras vistosa,
o que torna o alazão da Coroa – raça estimada para os serviços e regalos de príncipes e nobres europeus – evidente
por sua beleza e funcionalidade.
Fevereiro 2013
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SETOR 06
“Estrada Real e o Barão de Alfenas O Amigo do Rei”
Governador Geral do Brasil – Tomé
de Souza
Os primeiros cavalos chegaram
ao Brasil principalmente com
Tomé de Souza, o primeiro
Governador-Geral, no século
XVI, e foram os animais melhor aportados. A princípio, o
interesse dos portugueses na
colônia era apenas extrativo, não tendo
eles se preocupado em estabelecer uma
seleção dos
animais, mas apenas uma criação rudimentar que atendesse às necessidades imediatas. Esta criação cresceu
tanto numericamente, que daqui foram exportados cavalos para outras colônias portuguesas.
O Luxo do Café
A utilização dos cavalos para transportar os grãos de café
pelos caminhos da Estrada Real, de Minas Gerais para o
Rio de Janeiro, contribuiu enormemente para a prosperidade do Brasil-colônia, e também para ostentar todo o
luxo que Ciclo do Café proporcionou à Corte Portuguesa.
A Riqueza da Mineração
Chama-se Ciclo do Ouro ou Ciclo da Mineração o período
da História do Brasil em que a extração do ouro encontrado nas minas, e a exportação desse metal precioso,
dominavam a dinâmica econômica da colônia, ocorrendo do final do século XVII – com a descoberta em Minas
Gerais – até o final do século XVIII. Cavalos galoparam
a riqueza da mineração ao longo da Estrada Real, provendo a Corte Portuguesa sediada no Rio de Janeiro e
levando prosperidade para as cidades e famílias mineiras
que viviam da extração.
O Celeiro Real - As Minas Gerais do Brasil
A fartura e a prosperidade de Minas Gerais foram essenciais para o sustento e sobrevivência da Família Real no
Brasil, então sediada no Rio de Janeiro, onde muitos produtos e mantimentos eram escassos e só chegavam trazidos de Minas, através da Estrada Real, fazendo do Estado,
o grande provedor da nobreza.
68
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Tropeiros
Os tropeiros são os condutores das tropas de
cavalos e das comitivas
de muares que realizavam
viagens entre as regiões de
produção e os centros consumidores, utilizando-se, principalmente da
Estrada Real. Além de seu
importante papel na economia, o tropeiro teve
importância cultural relevante, enquanto veiculador
de ideias e notícias entre as
aldeias e as comunidades distantes entre si, principalmente numa época em que as estradas eram escassas no Brasil.
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SETOR 07
“A Capital da Realeza no Brasil”
Cavalgadas Nesse Mundo de Meu
Deus
Devido à sua rusticidade, comodismo e docilidade, as viagens de longa distância, conhecidas como Cavalgadas, eram feitas sobre o dorso
do cavalo Mangalarga Marchador.
Tal aptidão foi um dos três aspectos
considerados imprescindíveis para a
formação, seleção e determinação da raça.
A Agilidade na Lida no Campo
A utilização do cavalo Mangalarga Marchador
no campeio, devido à sua agilidade superior à do
gado, foi um dos três aspectos considerados essenciais
para a formação, seleção determinação da raça.
O Teste Aristocrata Rural - As Caçadas
A valentia, a inteligência e a habilidade para saltos são
características que fizeram do Mangalarga Marchador a
raça preferida para a realização de caçadas, atualmente
denominadas provas funcionais. Esta atividade foi um dos
três aspectos relevantes para a formação, seleção e determinação da raça.
guinho, que foi dado como herança do Barão de Alfenas
à sua neta Gabriela.
A Era de Ouro da Beleza - Belle Époque
Quando a Família Real se transferiu para a colônia, o Rio
de Janeiro – que era abastecido com os produtos procedentes das Minas Gerais e trazidos para cá através da Estrada Real – ficou sendo a capital da realeza no Brasil.
Junto com seus pertences, os nobres portugueses trouxeram consigo todo o luxo, o requinte, o glamour, o bom
gosto e a sofisticação tão intrínsecos à fidalguia, os quais
se estenderam aos seus descendentes, além da influência
da chamada Belle Époque, a “bela época” de profundas
transformações culturais. Tais membros da nobreza frequentemente realizavam passeios elegantes no Rio Antigo, montados ou utilizando bondes puxados por cavalos
da raça Mangalarga Marchador.
Realeza Brasileira
Destaque de Chão: Jaqueline Farias
O Garanhão Brasileiro - Mangalarga Marchador
O Mangalarga Marchador é uma raça nacional de grande
beleza morfológica, que se destacou pelo andamento cômodo e pelo temperamento dócil, e que apresenta ainda,
como principal característica, a marcha batida ou picada.
É um cavalo rústico, funcional e com temperamento de
cela, sendo que os melhores exemplares do garanhão brasileiro são criteriosamente selecionados, objetivando manter o alto padrão de
reprodução da espécie.
O Sonho em Brinquedos de Pau
O cavalinho-de-pau é um brinquedo
clássico da infância, muito desejado
pelas crianças, o qual desenvolve a coordenação motora e explora o imaginário infantil. Em documentos regionais, há
registros da existência de um pôtro de nome Mangalar-
Fevereiro 2013
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SETOR 08
“A Raça Mangalarga Marchador - O Cavalo sem Fronteiras “
Peão
Os peões são os empregados das fazendas e das estâncias,
responsáveis pelas tarefas de manejo do gado e no trato
com os cavalos, incluindo a doma e a higiene dos animais.
Os Ferrageadores
O universo que envolve a criação do Mangalarga Marchador é um fenômenos na economia brasileira, o qual
implica no emprego de variados e múltiplos profissionais,
como o ferrageador, pessoa responsável pela colocação
e manutenção da ferradura nos cavalos, peça utilizada
para proteger os cascos do animal. Assim como o trevo
de quatro folhas, há registros de que esse objeto já era
considerado um amuleto poderoso desde a Grécia antiga.
Primeiro, porque era feito de ferro, elemento que os gregos acreditavam proteger contra todo mal. Além disso, seu
formato lembrava a Lua Crescente, símbolo que afastava a
infertilidade e a má-sorte.
Prova Funcional – A Arte da Montaria
A montaria é uma arte que exige concentração e habilidade por parte do cavaleiro e também do cavalo, visto que
o sincronismo entre ambos é imprescindível. Devido à sua
velocidade constante, o Mangalarga Marchador é utilizado na realização de provas funcionais.
70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
O Tratamento e a Cura - Equoterapia
O cavalo Mangalarga Marchador é utilizado na Equoterapia, um método terapêutico e educacional que busca o
desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais. A raça foi escolhida para
esta finalidade devido à sua docilidade e marcha macia
e cômoda, caracterizada pelo denominado tríplice apoio.
A Expansão da Raça Brasileira - Exportação
O cavalo Mangalarga Marchador se tornou um cavalo sem
fronteiras ao ser exportado para o mundo inteiro, mantendo inalteradas as suas múltiplas qualidades. Almejando
aumentar ainda mais os índices de exportação, um canal
de televisão e diversos eventos promovem essa raça verdadeiramente nacional, que tem o céu como limite.
Criadores de Cavalos (Velha Guarda)
Cresce a cada ano a admiração pelo Mangalarga Marchador, e
já são quase 6.000 associados à Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Mangalarga Marchador, e cerca de 400.000
animais espalhados pelo país. Os apaixonados criadores, admiradores e profundos conhecedores de cavalos da raça Mangalarga Marchador a fazem brilhar, provando junto com a Beija-Flor, que sem sombra de dúvidas, ele é um Amigo Fiel.
Puro Sangue Azul e
1° Passista:
Cássio Dias
Branco
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Ecoturismo
Esporte
Transporte
Docilidade
Lazer
Criar cavalo Mangalarga Marchador
não é um bicho de sete cabeças!!!
Sabe por que?
Porque ele é dócil, confortável,
rústico e econômico.
Um cavalo popular, para
todas as idades.
Mangalarga Marchador,
do tamanho do seu sonho,
ao alcance de qualquer um.
Um amigo fiel!
Você também pode ter um!
Lida com gado
Equoterapia
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Parque da Gameleira
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Belo Horizonte/MG
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Fevereiro 2013
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RAISSA DE OLIVEIRA
O Desfile das Escolas de Samba do Grupo Especial é um acontecimento de proporção global. Não é somente
transmitido para todos os estados brasileiros como também para mais de 120 países ao redor do planeta.
Um evento com tamanha repercussão acaba sendo, também, um poderoso meio de divulgação e promoção,
seja de temas que viram enredos, seja de pessoas que se promovem nas mais variadas mídias. Por essa
razão, o posto de Rainha de Bateria é muito cobiçado por grandes estrelas e personalidades que vivem de
sua imagem pública, nem sempre integrantes da comunidade.
Na Beija-Flor de Nilópolis a história é outra. Em uma escola eminentemente de comunidade, o posto de
Rainha de Bateria sempre foi de pessoas ligadas à comunidade, por ordem e determinação do seu patrono,
Anizio, que não abaixa a guarda se o assunto é preservar a Beija-Flor de influências que alterem suas características populares. Aqui, ser Rainha de Bateria é o coroamento de uma vida ligada ao samba, à Beija-Flor
de Nilópolis e a sua comunidade.
Em reconhecimento ao que vem fazendo pela agremiação, conversamos com a Rainha de Bateria da agremiação, Raíssa de Oliveira, que assumiu o posto que durante anos foi da simpática Sonia Capeta.
A Beija-Flor é a única escola do Grupo Especial
que mantém como Rainha de Bateria uma integrante da própria comunidade. O que significa
para você ser a Rainha de Bateria de uma agremiação do porte da Beija-Flor?
Raíssa – A característica da Beija-Flor é a própria comunidade. Então eu me sinto privilegiada
em fazer parte dessa escola e vir apresentando
a azul e branco à frente da bateria. Para mim,
é uma honra enorme. A Beija-Flor inovou não
só ao dar o título de Rainha de Bateria a uma
menina de 12 anos da comunidade, mas inovou
também na maneira como essa escolha se deu. A
escola promoveu um concurso com diversas passistas, todas elas muito talentosas. Várias delas
poderiam representar a escola, mas Deus me deu
esse prêmio, e conquistei esse privilégio. É um
orgulho muito grande representar a minha escola, que eu amo de coração.
Você é a Rainha de Bateria que está há mais tempo à frente de uma bateria de escola de samba. A
que você credita este sucesso e esta constância?
Raíssa – Em primeiro lugar, eu devo essa constância e o sucesso que tenho como Rainha de
Bateria à forma como a Beija-Flor de Nilópolis
é conduzida, valorizando pessoas simples e da
comunidade como eu. Me refiro especialmente
ao Laíla e ao seu Anizio, porque eles acreditaram
em mim e na sua comunidade. E a comunidade
também confia em mim e me prestigia, o que
me dá respaldo na escola. É lógico que acima de
todos eles está o meu Deus, a quem respeito e
sou agradecida.
Ser escolhida com tão pouca idade para ser Rainha de Bateria atrapalhou, de alguma forma,
seus estudos? Sente que perdeu um pouco esta
fase da vida?
Raíssa – De maneira alguma, isso nunca me atrapalhou. Pelo contrário, os integrantes da escola
72
Revista Beija-Flor de Nilópolis
sempre me incentivaram e me cobraram estudo e
conhecimento. Para você ter uma ideia, a minha
faculdade é paga pelo seu Anizio, porque se dependesse das minhas condições financeiras não
teria oportunidade para fazer uma. O que eu sou
e o que eu serei eu devo ao seu Anizio.
Quais são as características primordiais para ser
uma Rainha de Bateria como você? Inspira-se em
alguém?
Raíssa – Acima de tudo, precisa ter samba no pé,
ter carisma, e humildade. Porque através dessas
qualidades você vai conquistando as pessoas. Em
relação à admiração, respeito muito a Luiza Brunet e a Juliana Paes. Elas são fantásticas.
Qual o desfile da Beija-Flor que mais te marcou?
Por quê?
Raíssa – O primeiro ano como passista, porque
sempre tive o sonho de sair na Beija-Flor, e também o primeiro ano como Rainha de Bateria, no
ano de 2003 com o enredo “O povo conta a sua
história: saco vazio não pára em pé. A mão que faz
a guerra faz a paz “.
O que você espera do Desfile das Escolas de Samba neste ano?
Raíssa – A comunidade está muito radiante, a
escola trabalhou o ano inteiro. O Carnaval acaba para as outras pessoas, mas para a Beija-Flor
não. O pessoal do barracão continua a todo vapor trabalhando. E eu tenho certeza que a escola irá se apresentar maravilhosamente bem, até
porque a nossa comunidade está com o samba
na ponta do pé e na ponta da língua. E tenho fé
que ela conquistará o título. Com muita garra,
com muito suor e com muito samba no pé seremos campeões. E eu só espero a vitória.
O que a Beija-Flor representa para você?
Raíssa – Ela é minha família. Não tenho palavras
para dizer o que ela significa para mim. Tudo o que
eu sou atualmente e serei no futuro eu devo a ela.
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Fevereiro 2013
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PRATA DA CASA
MARCELA JOSUÁ
82 anos. Uma vida. Este é o tempo que, juntas, Aline, Charlene, Elaine e Jaqueline estão na Beija-Flor. Consideradas,
entre tantas outras, “pratas da casa” pela agremiação, essas passistas têm muita história boa para contar. Elaine,
por exemplo, já desfilou com água nos joelhos quando era
pequena. Charlene não entendia o que era a expressão
“chora cavaco” e achava que era “chora cavalo”. Algumas
das histórias por uma escola que tem muito o que mostrar.
ALINE SOUZA
Podemos dizer que Aline Souza é a prata das pratas. Com
34 anos, está na escola há 27: “Desfilo desde os 7 anos na
ala mirim. Com 12 anos, fui para a ala de passistas com o
Milton Cunha. E estou lá até hoje. Nunca tive outra escola. Minha vida é e sempre foi a Beija-Flor.” Mãe de cinco
filhos, Aline nos conta que mora em uma das casas da escola e que a Beija-Flor está presente na sua vida todos
os dias. “Meus filhos estudam através da Beija-Flor, o que
representa uma economia muito grande nas despesas de
casa. Ela é tudo para nós”.
Trabalhando atualmente no projeto “O Sonho de um Beija-Flor” como diretora da ala de passistas, Aline conta que
ele é sua única fonte de rendimento. Sobre o futuro dessas
crianças como passistas e bateristas, ela não desanima:
“Estamos batalhando para que novos passistas e bateristas
abrilhantem a avenida, como
os antigos fizeram”.
Do pai, Jorge Damur, falecido
em 1997, Aline conta que ele
não poderia ter deixado herança melhor. Com seu bom humor, ela brinca dizendo que ele
não deixou nenhum bem material: “eu costumo dizer que
meu pai não deixou nenhuma herança física como casa,
apartamento ou barco. Ele me
deixou a Beija-Flor de Nilópolis.
E isso não tem preço.” Aos leitores e torcedores da escola, ela
agradece o carinho e o amor.
Manda um beijo especial para a
nossa porta-bandeira Selminha
Sorriso e para nosso diretor de
Carnaval, Laíla, falando o quanto Selminha é especial na sua
vida.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
CHARLENE COSTA
À primeira vista, Charlene Costa parece ser uma mulher
tímida e de pouca fala. No entanto, quando ela começa
a falar, não para mais. Foi preciso apenas duas perguntas
para que ela contasse sua trajetória de 18 anos de Beija-Flor. De carnaval, Charlene tem 24. E isso, não é uma
crítica, mas um elogio a uma menina que fala bem, com
qualidade e inteligência.
Nascida em Duque de Caxias, começou no mundo do
samba aos 7 anos na Acadêmicos do Grande Rio, quando
conheceu Laíla. Sua paixão, conta, sempre foi a Beija-Flor,
mas como nasceu no município de Caxias, frequentava a
agremiação. Em 94, sua mãe realizou seu grande sonho
levando-a para assistir ao desfile da Azul e Branco no setor
5 da avenida. “Me lembro muito bem, pois na época eu
ouvia os discos de vinil e não entendia o que era ‘chora
cavaco’; eu entendia ‘chora cavalo’. Eu falava pra minha
mãe: “Quando eu crescer, me leva para essa escola?”. Até
que, num sábado, 29 de novembro, ela participou de um
concurso de passistas na escola. “Naquela época, só dava
mulherão alta, e eu, toda mirradinha, com 12 anos. Quando cheguei ao camarim e vi todas elas falei: ‘Tô frita, o
que eu vim fazer aqui?’ Mas, graças a Deus, sem conhecer
ninguém, eu ganhei. Todos os jurados votaram em mim.”
Charlene
Elaine
www.beija-flor.com.br
Ao falar do pai, falecido em 2001, Charlene, emotiva, lembra:
“Tenho uma dívida de gratidão com a Beija-Flor pelo resto da
vida. Quando Laíla ficou sabendo do ocorrido, me chamou para
vir ao barracão e me levou ao Anízio. Na época, meu pai era
aposentado. Passamos por uma situação complicada, onde não
tínhamos dinheiro. Quando cheguei ao barracão, seu Anizio me
deu o dinheiro para que a gente pudesse suportar os meses que
viriam, e pediu para eu escolher o curso que eu quisesse fazer
de graduação que ele arcaria com os estudos. Eu escolhi Letras
(Português-literatura) e a única coisa que ele cobrava eram as
notas, queria saber como eu estava indo.” Após fazer uma pós
graduação em Língua Portuguesa, Charlene atualmente cursa
o quinto período de Direito.
À Beija-Flor, Charlene só tem a agradecer: “No momento em que eu mais precisei, ela me acolheu e deu todo o
suporte necessário, tanto financeiro quanto psicológico, e
nunca vou me esquecer dessa dívida de gratidão.” Aos leitores e torcedores da Beija-Flor, Charlene agradece a todos
que torcem por ela, e diz que cada palavra de carinho é um
incentivo para que ela faça o melhor possível na avenida
para que sua escola de coração conquiste o campeonato.
JAQUELINE FARIA
Modelo e dançarina, com 29 anos, está presente na Azul e
Branco desde os 14. Sua relação com o samba é, podemos
dizer, hereditária: seus pais eram ligados ao Acadêmicos do
Salgueiro. Na Beija-Flor começou com o seu tio, Alexandre,
que tocava na bateria da agremiação. Até que, conhecendo
a ala de passistas conheceu Edinho Passista, a quem ela credita tudo o que sabe até hoje. “Entrei aos 14 como passista e
em 2007 já me consagrei como Rainha do Carnaval. Depois
ganhei destaque como musa”.
Jaqueline
Toda mulher gosta de se sentir bonita. E Jaqueline sabe muito bem disso. Só que, ao contrário de muitas, ela prefere ser
destaque de chão a ser destaque de carro. “No chão, podemos sentir mais o carinho do público, que é muito especial
e gostoso. Além de ver tudo mais de perto, né?”
Antes de encerrar a entrevista, Jaqueline faz uma crítica
àquelas “que querem aparecer:”. “Eu costumo dizer que samba é um dom. Você tem que desfilar porque você ama. E tem
gente que está aí apenas para divulgar a imagem. Já eu, gosto
e cresci no samba. Pra mim é amor de verdade.” Deixando um
beijo e agradecendo o carinho de todos, Jaqueline mais uma
vez reforça seu amor pela escola ao dizer que “representar a
agremiação na avenida é inexplicável e maravilhoso.”
ELAINE LIMA
Quem vê Elaine Lima pela primeira vez não imagina que
por trás de seu rosto delicado há uma mulher determinada
e forte. “Minha principal característica é a sinceridade, e eu
percebo que muita gente não gosta disso, prefere ser paparicada”. E assim começamos a entrevista com esta guerreira
que atualmente cursa Publicidade e trabalha na ONG Espaço
Cultural Rayd, na qual é madrinha. Conduzida por Diego David e Raissa de Oliveira, a ONG é voltada para a área de saúde,
atendendo pessoas da terceira idade e crianças carentes. Mas
vamos falar do que realmente importa. A relação de Elaine
com o samba começou muito cedo. Foi por meio de sua mãe,
Jurema, que ela se apaixonou pela escola: “O sonho da minha
mãe era que eu me tornasse passista da Beija-Flor, e não de
outra escola. Aos 10 anos idade, ela me levava aos ensaios
e me encantei. Comecei a desfilar em 83, com 11 anos, no
enredo ‘O mundo é uma bola’. Na ocasião e eu vim na ala
das crianças, e como eu era pequena, desfilava com a água
no joelho. Mas o amor pela escola falava mais alto e encarei de
Aline
frente o resto do desfile”.
Sobre o que a Beija-Flor representa para ela, diz, enfática: “Ela é a minha vida.
Tenho muito amor pela
agremiação e pelo o que ela
representa para mim e para
as outras pessoas”. E se você
pensa que a relação com o
samba na vida de Elaine
acaba por aí, está muito enganado. Sua filha Laiza, 13
anos, desfilou pela primeira
vez aos 10 anos na bateria e
é apaixonada por música.
Para os leitores e para quem
gosta dela, Elaine deixa um
agradecimento e um beijo muito grande. “E pra quem não
gosta?”, perguntamos. E com
uma irônica sinceridade, Elaine
responde: “Deixo dois beijos”.
Fevereiro 2013
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J. Velloso
campeão da ponte-aérea
RIO – A vitória, às vezes, conspira contra. Depois cansa. E
J. Velloso, com dois ll, apostou nesse cansaço e, depois de
chegar a onze finais do concurso de samba-enredo na Beija-Flor de Nilópolis, viu vitorioso o samba que compôs em
parceria com Claúdio Russo, Gilson Dr. e Carlinhos Detran.
Era o hino para o enredo “Áfricas, do berço real à corte brasiliana”, de 2007. O êxito foi além: levou a Beija-Flor ao seu
11º campeonato no Carnaval carioca. Definitivamente, os
louros resolveram mais uma vez descansar sobre o inspirado
samba que falava das muitas “Áfricas” em que se transformou o Rio colonial com o tráfico de escravos a partir de
1630, e Velloso e seus parceiros ganharam o Estandarte de
Ouro, laurel concedido pelo O Globo aos melhores do Carnaval carioca. Três vitórias de uma só tacada!
“Ganhar, sempre, sempre é muito satisfatório”, festeja J.
Velloso, que este ano está novamente entre os vencedores
do samba-enredo para o tema “Amigo Fiel, do Cavalo do
Amanhecer ao Mangalarga Marchador”, em parceria com
Cláudio Russo, Marquinho Beija-Flor, Ribeirinho, Gilberto
Oliveira e Dilson Marimba.
Velloso começou no mundo do samba como ritmista na
União da Ilha, em 1970. Dez anos depois, foi para Nilópolis,
cidade onde nasceu e vive até hoje com a mulher, Rosemary,
companheira de luta, de vida e desfile – e seus filhos Danilo,
Allan, Igor e Irving. Ingressou na bateria tocando tamborim.
Com determinação e teimosia, durante 17 anos participou
dos concursos de samba-enredo. “Graças a Deus, sempre fui
contemplado como finalista, mas perdendo nas finais. Dava
uma tristeza e eu ia embora”.
Onze vezes bateu na trave, até que fez as pazes com a vitória, que decidiu fazê-lo uma cabeça coroada, e no ano seguinte garantiu para Velloso e seus parceiros Cláudio Russo,
Marquinho Beija-Flor, Ribeirinho, J.Coelho mais um campeonato e, para a Beija-Flor, o bicampeonato com “Macapaba
– Equinócio Solar: Viagens Fantásticas ao Meio do Mundo”,
com o inesquecível grito de guerra/refrão: “O meu valor me
faz brilhar / Iluminar o meu estado de amor / Comunidade
impõe respeito / Bate no peito, eu sou Beija-Flor”. “Interessante é que foi a última coisa que a gente fez no samba. Até
então, o refrão não saia”, revela Velloso.
76
Revista Beija-Flor de Nilópolis
São Paulo,
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SÃO PAULO – Em 2009, J. Velloso foi convidado pela diretoria do GRES Nenê da Vila Matilde para se inscrever na
disputa do enredo “60 Anos – Coração Guerreiro, a Grande
Refazenda do Samba”. Chamou o poeta Cláudio Russo e o
sambista Marquinho Beija-Flor para a parceria. O samba
ganhou todas as notas 10 e, de quebra, o Diário de S. Paulo conferiu o prêmio de melhor samba do ano.
Com o samba “A Água Nossa de Cada Dia.”
vitorioso no ano seguinte, Velloso e seus
parceiros recolocaram a Nenê no grupo
especial e ganharam mais um prêmio do
Diário. Em 2011, venceu com “Salis Sapientiae – uma História do Mundo”. Foram
todos notas DEZ. “Independente da escola cair ou não, a parte do samba-enredo
ganhou quatro notas DEZ em todos os
sambas”, festeja Velloso.
Para o Carnaval de 2013, Velloso,
Cláudio Russo, Marquinhos Beija-Flor e seus
parceiros paulistas
emplacaram
o samba-enredo sobre “Da Revolta dos
Búzios à Atualidade.
A Nenê canta a Igualdade”.
www.beija-flor.com.br
A emoção está de volta
LUÍS FERNANDO VIEIRA
Hoje o samba está em alta na mídia e na sociedade, mas
quando começou era discriminado, proibido, e dava prisão
para seus participantes, a ponto de sair nota em jornal comentando que fulano de tal, pardo, foi preso no Largo da Carioca portando violão. Vejam só, navalha podia, mas violão...
Quando não dava cadeia, os sambistas iam para o sal, embarcavam o dito cujo para fora da baía, e o colocavam no
mar, limpando cascos de navios.
O povo que não tinha condições de morar em casa grande
para se abrigar junto ao piano, fazer um sarau, se reunia próximo a sua comunidade depois de um jogo de futebol para,
em grupo, comemorar, vencedores e vencidos, um bom “rango”, regado a “cerva”, onde não faltava uma boa batucada.
Com o tempo esses grupos foram se organizando e, próximo
ao Carnaval, faziam almoços bem servidos pelas tias baianas
e, baianas e matriarcas das famílias, verdadeiros banquetes
com comidas de “sustança” (feijoada, mocotó, angu e coisa e tal), tudo regado a cerveja e uma cachaça pura, ou a
batidas (limão, maracujá, amendoim, etc.). Nessas festanças
eram sorteados brindes, faziam-se bingos e rifas, passava-se
o livro de ouro no comércio, enfim, tudo que pudesse reverter em dinheiro para a compra de fantasias, instrumentos,
adereços, colocando literalmente o bloco na rua.
Os blocos se organizavam em agremiações, logo chamadas pelos sambistas de escolas de samba, e o objetivo era
crescer para se tornar rancho, na época a mais importante
organização carnavalesca.
Nas escolas de samba, o compositor é o que tinha maior
importância na comunidade, era ele seu principal dirigente e o objetivo maior do sambista. Para ser compositor tinha que se fazer samba de improviso, versar, musicar e
tocar um instrumento de percussão para ter a aprovação
dos compositores mais antigos.
Na década de 20, até meados da década de 30, não havia
samba de enredo, porque simplesmente não havia enredo. A escola escolhia fantasias aleatórias, e com sambas
cantados nas quadras saíam para as ruas com a primeira
estrofe pronta. Os versadores, os mestres de canto, faziam
durante o desfile o restante dos sambas, improvisados na
rua, seguidos pelo coro das pastoras que o repetiam até
toda a escola cantar. O desfile não tinha tempo estipulado,
e dava para se cantar dois ou mais sambas.
Durante o resto do ano, nas reuniões festivas, antes e
depois dos comes-e-bebes, o samba comia solto, sempre
usando um tema do cotidiano, humor, amor, tudo era en-
focado, nas mais diversas formas, do lírico ao satírico, mas
com muita arte, expressão maior da emoção.
Nesse começo do samba, as gravadoras estavam surgindo, e com o disco, o rádio ganhou uma importância muito
grande. Com os artistas se apresentando nos auditórios e
excursionando Brasil afora, os cantores do rádio precisavam
se munir com boas músicas, e as quadras de samba eram o
local certo para se escutar as novidades, e muitas vezes entravam outras pessoas (cantores, produtores, divulgadores
etc.) na parceria das músicas que seriam gravadas.
Surge o “comprositor”, que comprava parte da música ou
ela toda para depois ganhar dinheiro na venda dos discos
e nos direitos autorais.
Com o sucesso das escolas de samba, os autores dos sambas de enredo, o sambista, ficou direcionado para esta
vertente do samba. Com isso, sambas de quadra ficaram
relegados a espaços menores, fora das escolas, participando nas rodas de samba dos botecos ou nos pagodes de
praças e clubes, e o sambista passou a gravar diretamente
suas músicas e valorizá-las ainda mais.
Na virada deste século, os dirigentes das escolas de samba
voltaram seu olhar para o potencial que o sambista tem, e
com o seu poder de comunicação o samba tenta recuperar
o tempo perdido com concursos de samba de terreiro nas
festas em suas quadras durante todo o ano.
É a retomada das tias e suas comidas caseiras em volta
de um bom samba de terreiro, onde o compositor pode
novamente mostrar suas poesias, falando do cotidiano
através do coração, exercendo toda sua criatividade, toda
sua emoção.
_______________
Sobre o autor:
Luis Fernando Vieira é pesquisador da cultura popular,
escritor, poeta, letrista, produtor musical e pesquisador
do Instituto Cravo Albin, bacharel em administração na
Faculdade Estácio de Sá e pós-graduado na Universidade Simonsen. Professor na Faculdade Hélio Alonso
(FACHA). É fundador e membro da “Associação dos Escritores, Pesquisadores e Divulgadores da MPB” (AESP-MPB) e membro da “Sociedade de Amigos da Rádio
MEC” (SOARMEC). Fundou com Hiran Araújo o Instituto do Carnaval, na Universidade do Carnaval, primeira
faculdade a estudar o Carnaval. Membro da Academia
Brasileira da Cachaça, na qual ocupa a cadeira número
21, tendo como patrono o compositor mangueirense
Padeirinho. Fez diversas palestras sobre a MPB no Brasil
e no exterior (Argentina, Alemanha e Portugal).
Fevereiro 2013
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UM CARNAVAL DE EXCELÊNCIA
Jorge Castanheira, presidente da Liesa
Planejar, produzir e apresentar, todos os anos, o desfile das Escolas de Samba é
sempre um grande desafio. Um desafio que se torna ainda mais difícil quando as
apresentações acontecem no início do mês de fevereiro, como em 2013. O tempo
é mais curto, as atividades precisam ser executadas de forma mais rápida e, claro,
não são admitidos erros.
O Carnaval deste ano terá esta característica. No segundo domingo de fevereiro as
agremiações que compõem o Grupo Especial já estarão se exibindo para o público
que mais uma vez irá lotar o Sambódromo e também para todos os milhões de
telespectadores que acompanharão, por meio das imagens geradas pela TV Globo,
o nosso Carnaval em todo o Brasil e pelo mundo afora.
As Escolas, cada vez mais empenhadas em conquistar o título de campeã, realizaram, ao longo do ano, tudo que lhes foi possível para alcançar a glória do
primeiro lugar. Com grandes enredos, belos sambas-enredos, belíssimas alegorias
e fantasias, todos buscaram fazer o seu melhor, em cada um dos dez quesitos em
julgamento.
Com a Beija-Flor de Nilópolis não é diferente, pois todos os seus segmentos se
empenham ao máximo.
Quando falamos das Escolas de Samba e todas as suas dificuldades, falamos, também, dos desafios que a Liga enfrenta para que toda a estrutura necessária para
este grande evento esteja pronta.
E nesse sentido o Carnaval de 2013 terá muitas características novas.
Serão quatro dias de grandes espetáculos. Ou melhor, cinco. Começaremos na sexta-feira de Carnaval com a recém-criada Série A, cujos desfiles se prolongarão para o
sábado. Domingo e segunda-feira, sabemos todos, vêm
as 12 grandes Escolas do Grupo Especial. Encerrando o
período de competição dos desfiles nos dias de Carnaval, terça-feira será a vez das crianças com os Desfiles
das Escolas Mirins. No sábado seguinte, no Desfile das
Campeãs, teremos mais uma noite de espetáculo com
um brinde que as nossas seis Escolas primeiras colocadas oferecerão aos apaixonados pela folia.
E todos estes desafios só estão sendo possíveis de serem superados porque a LIESA e as Escolas contam, a
cada ano, com novos e entusiasmados parceiros que,
confiando na qualidade do espetáculo que é apresentado por todas as agremiações, vêm fazer parte desta
grande família do Carnaval carioca, tornando possível
a manutenção do título de maior espetáculo da Terra.
Que tenhamos todos um grande Carnaval e que os
melhores e que mais se esforçaram durante todo o ano
se consagrem como os verdadeiros vencedores.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2013
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Pode chegar...
É samba de raiz.
MIRO LOPES E RUY TECNOCRATA
Além dos poucos blocos carnavalescos que promovem roda de samba regularmente, são raros os
‘terreiros’ onde se pode ouvir um bom samba de raiz. Os aficionados desde gênero autêntico, também conhecido como samba de quadra e de terreiro, procuram abrir espaço para mostrar suas
criações, como os encontros realizados periodicamente no Unidos do Ponto, novo refúgio dos compositores radicados em Nilópolis e no bar do Alje Bar, no bairro Caonze, em Nova Iguaçu, onde o
samba rola solto, sempre com convidados do mais alto nível.
Afora isso, esses artistas da letra e da melodia mostram suas composições em rodas de samba na
Pedra do Sal, na Lapa, e nas escolas de samba em geral.
A revista Beija-Flor de Nilópolis faz uma homenagem a esses sambistas que não deixam a peteca
cair, e conta um pouco da produção musical de alguns desses baluartes da Baixada Fluminense.
Pinga começou no samba aos 27 anos com a música ainda inédita O Culpado Foi Você: “O culpado foi você por tua
nega te deixar, porque mulher se trata com jeitinho, com
muito amor e carinho para não lhe magoar”. O amigo compositor Chocolate, conhecedor de algumas de suas letras
musicais, o convidou para escrever samba-enredo. Foi campeão dos sambas-enredos na BC Mocidade Unida de Miguel
Couto (73), GRES Arrastão de Cascadura (79), GRES Império
da Tijuca (85), entre tantos outros. Nos anos 80/90 começou
a ter algumas músicas gravadas por intérpretes conhecidos
da mídia, entre eles Mestre Marçal que gravou Temporal.
Mas o principal intérprete das composições de Pinga foi Bezerra da Silva, que gravou O Malandro era Forte, Quem Usa
Antena É Televisão, Vai Pagar Caro Informante, Meu Samba
é Duro na Queda, Sou Cadeado, Jornal da Pedra, Preço da
Glória, A Vida do Povo, Um Comédia nas Paradas, Cachorrinho de Polícia, Foi o Dr. Delegado que Disse, Ele Cagueta
com o Dedão do Pé, Nunca Vi Ninguém dar Dois em Nada,
Eu Andava nas Trevas e Conselho de Luz.
Menílson, cidadão do samba com composições como Batuque envolvente... “Reluz no rosto da massa, felicidade
que passa por gerações, inspirado em grilhões e correntes. Taí o Samba, Taí o Samba, mantendo a sua raiz. Taí o
Samba fazendo o povo feliz. Na igualdade das raças, com
a divina graça consciente/ ele vai, pelas veredas do mundo
semeando amor profundo, levando a paz. Guerreiro valente seu bom ambiente é meu bem estar, taí o Samba com a
proteção de Oxalá”. Aviso de Xangô (Genário no LP Bebeto
de São João), Nunca Vi Ninguém Dar Dois em Nada e Ele
Andava nas Trevas – essas duas últimas músicas gravadas
por Bezerra da Silva. Menilson compôs, também, diversos
sambas-enredos para escolas de samba e blocos de Car-
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
naval, entre eles Acadêmicos de Miguel Couto, BC Passo
do Ganso, Imperatriz Iguaçuana, Arrastão de Cascadura e
Leão de Nova Iguaçu.
Roxinho é Mesquitense de Santa Elias. Filho de família de
sambistas, já aos 12 anos compôs sua primeira música,
Carta Fora do Baralho... “caí do galho nesse tal jogo do
amor, sou carta fora do baralho...”; aos 18 anos compõe
para João Conga gravar Maria Gasolina. Tem suas músicas
eternizadas na discografia de Bezerra da Silva: Minha Sogra Parece Sapatão, Fui Obrigado a Chorar, Povo da Colina
e A Semente. Gravou com a Ala dos Compositores da GRES
Beija Flor de Nilópolis – Nossa Devoção Vol. 1 e Vol. 2 com
as músicas: Meu Samba e Minha Devoção, Vovô Cantou
pra Subir, Bíblia, Enfeitiçado e Taí O Samba...taí o Samba de
melhor qualidade, Samba de Raiz de primeira, carrego essa
bandeira pra manter a tradição.
Valmir da Purificação, oriundo de Salvador, Mesquitense
há 35 anos, começou no samba aos 24 anos através do amigo compositor Tieres Carnaval. Sua primeira composição foi
Não vou chorar (GRES Amizade de Banco de Areia, anos 80).
Daí foi um pulo para ter algumas músicas gravadas por Bezerra da Silva, como Língua de Tamanduá, A Semente, Povo
da Colina... ”que mal lhe fez o meu povo humilde da colina,
que mora lá em cima vivendo uma vida de cão...Povo da
Rua...se quiser dar comida pro povo da rua comer, não é da
minha conta, mas eles estão sem trabalhar...”, Crocodilo de
Dois Pés (Cesar Dicró) e AS DP´s da Baixada.
Adelzonilton é um verdadeiro malandro carioca, morador
do bairro da Chatuba, hoje município de Mesquita. Aos 9
anos foi apresentado ao Nelson do Cavaquinho, e a partir deste momento passou a ser o carregador oficial de
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seu instrumento musical. Mais tarde e através dele entrou
para o mundo artístico. Compôs sua primeira música Pode Acreditar em Mim - em 1984, gravada por Bezerra da
Silva. A partir daí começou a escrever com exclusividade
para Bezerra: Defunto Caguete, Batina do Padre, Eu Não
Sou Santo, Malandragem Dá Um Tempo, Deixa Uma Palha
Pro Véio Queimar, Pobre Aposentado, Dois Venenos Juntos,
Sujou Sujou, Cabeça De Malandro Esperto, A Fumaça Já
Subiu Pra Cuca. E também mais tarde na fase Bezerra Gospel: Achei A Vida, Teu Sangue É Meu Nome, Casa Santa, A
Vida Que Deus Me Deu, entre outras.
Jairo Bráulio é um
menestrel do samba
de roda como cantor
e compositor. Sua
vida de sambista começou como compositor de músicas
para os saudosos
blocos carnavalescos
BC Bafo da Cobra e
BC Xuxu, nos anos
60. Ingressou na Ala
de Compositores do
então BC Leão de
Iguaçu, hoje GRES
Leão de Nova Iguaçu,
tendo em sua galeria
de títulos cinco campeonatos de sambas-enredos: E eles vieram de além mar; Canto, encantos e recantos da Bahia; Oba oba ziriguidum skindo; O que é que a
baixada tem; Quem te viu Quem TV. Foi compositor da GRES
Unidos da Ponte e GRES Mocidade Independente de Padre
Miguel. Participou ativamente de vários projetos musicais,
como o Seis e Meia no Teatro João Caetano e Sombra da Terra , no SESC, com Noca da Portela. O Cantor Jairo Bráulio já
teve passagem por alguns grupos de samba, como Sambalaço Show, Lá Vem Samba, Nova Safra e Fino do Samba. No
CD Sambaixada, interpretou Saudades de Mim e Vou Morar
na Roça.
Jorginho do Pandeiro, morador do Rancho Novo, Nova
Iguaçu, começou sua carreira de músico há mais de 40
anos na Bateria Mirim da Mangueira tocando repique,
aos 13 anos. Aos 16 fez parte do Grupo os Batuqueiros
de Caxias, depois Grupo Lá Vem Samba e posteriormente
Grupo Pirraça. Compôs sua primeira música aos 40 anos –
Sonhando Acordado - e ganhou alguns prêmios: Melhor
Intérprete de Samba (93), Disco de Ouro (com Me Leva pra
Casa), Pandeiro de Ouro (Quatro anos). Participando de todas as formações do Grupo Pirraça durante 17 anos, gra-
vou 3 LPs – Força Maior (89), Eterna Procura (91), Quem de
Nós (93), e 3 CDs – Tentação, Me Leva pra Casa, Ao Som do
Amor. Atualmente integra o Grupo Panela de Barro.
“O canto do negro é um lamento na senzala do senhor...
chibata comia a toda hora, sem água, sem roupa, sem alimento...” Com esses versos da música “Lamento do Negro”, gravada e imortalizada por Dona Ivone Lara, mais um
bamba se apresenta: Caboré. A música citada anteriormente tem como parceiros Fumaça do Salgueiro e Heitor
dos Prazeres Filho. Caboré também tem músicas na discografia de Bezerra da Silva: Nunca Vi Ninguém Dá Dois
em Nada, Foi o Dr. Delegado Que Disse e Preço da Glória.
Compôs, ainda, com seu parceiro Roxinho a inédita Morena: “Morena me empresta teu sorriso, me empresta tua
boca, que Eu quero provar teu sabor; me dê um pouquinho do teu carinho, para aliviar minha dor”. Sempre polêmico, mas conhecedor do que faz, é um cidadão do samba
sempre pronto para participar de uma boa roda de samba.
Como cantor, Caboré tem um repertório amplo e diversificado, mas tem suas preferências: Nelson Cavaquinho/
Guilherme de Brito (“Amor Perfeito”, ”Gotas de Luar”, “A
Vida”, “Não é só Você”, ”Quando eu me chamar saudade”,
”A Flor e o Espinho”), Candeia (“Pintura sem Arte”, ”Filosofia do Samba”) Wilson Bombeiro/Anésio (“Silêncio Tamborim”), Léo (“Lágrimas”) e Barbado/Jorge Portela/Manteiga
da Portela (“Sorriso Negro”)
Carlinhos Cachambi, 65 anos, é um poeta e compositor com samba na veia. Literalmente. Primo de Beto sem
Braço, amigo de Guará, é filho e sobrinho de sambista.
Conhece muitos baluartes e aprendeu muita coisa com
eles. Sua primeira gravação foi “Papo informal”, com Jair
Rodrigues. Em 2001, Flávio Oliveira lançou o disco “Tem-
Fevereiro 2013
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po de recomeçar”, destacando seu samba “Pagode do
Boulevard”. Em “O samba descontraído de Capri”, primeiro
LP de Capri, está incluído seu “Cambono bom”. Neguinho
da Beija-Flor gravou “Ousadia” e, em 2002, Leci Brandão
regravou “Pomba rolou”, que foi lançada, anteriormente,
por Jovelina Pérola Negra. Gravou oito composições com
a sambista paulista Julia Poti, entre elas “Deixa clarear”.
Com o conjunto Nosso Samba também gravou “Tem que
aprender a lutar pela sobrevivência / Tem que saber o
que vai na sua consciência...”. Depois de dar um tempo
no Nordeste, onde aproveitou para preparar um novo
CD com sambas de quadra intitulado “Semente do meu
chão”, Cachambi está de volta à Nilópolis, onde frequenta o Lisboa, clube que promove rodadas de samba.
Pelé da Beija-Flor, tem uma especial admiração por Cartola. A influência vai além do gosto pelo samba. A mãe era
mangueirense. “Aliás, tenho muitos parentes na Mangueira”, revela. Sempre compôs sambas de raiz, mas somente
duas músicas foram gravadas: “Inspiração do Poeta”, no
primeiro CD da Ala de Compositores da Beija-Flor e “Desejo de amar”. Pelé começou moleque no Unidos do Cabral
do Cachambi, e depois que foi para Nilópolis se integrou
aos blocos “Baixada do Sapo” e “Deixa comigo”, participando com Jacy Inspiração de concursos de sambas de
quadra. Foi quando Ramildo o viu e o convidou Pelé para
integrar a ala de Compositores da Beija-Flor. Na época,
para concretizar a inclusão de novos componentes, era
necessário fazer três sambas de quadra, com tema ditado
pelo compositor Cabana. Superado esse obstáculo, viveu
seu desfile de glória em 1991 com o enredo “Alice no Brasil das Maravilhas”. Pelé frequenta as rodas de samba dos
blocos da Baixada Fluminense, como o Unidos do Ponto,
criado por Wilson Bombeiro e outros sambistas, que reúnem seus componentes para trocarem ideias e mostrarem
suas novas composições na Praça Benedito Vaz.
Wilson 70, do alto do seu 1 metro e noventa de altura
e 76 anos, lembra que saía para cantar seus sambas com
Cabana (Silvestre David dos Santos), Osório Lima e mais
dois ou três compositores: “A gente parava em qualquer
bar da vida e o couro comia”. “70” nasceu no berço tijucano
do samba. Foi mascote da comissão de frente da Império
da Tijuca, onde a mãe, Dona Maria Rosa, era diretora da
ala das baianas. Viúvo de Marluce, que desfilava na ala
“8 ou 80”, hoje “70” curte a tranquilidade de sua aposentadoria, às vezes compondo, outras vezes lembrando
os sambas de terreiro, como aqueles que Cabana gravou,
“Colombina” e “Denúncia vazia”: “Meu coração está vazio/
Não tem ninguém morando, agora não/A inquilina que
eu tinha/ enganou-me, eu mandei embora/ Quem quiser
ocupar tem que pagar grande fiança/Quero sinceridade e
compreensão/ para ser a locatária do meu coração...”
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Com 13 anos, “70” veio morar no bairro nilopolitano de
Olinda. Ainda moleque aprendeu a tocar surdo, caixa e
batia tarol com uma só mão e logo passou a fazer parte
do bloco Às de Ouro. Lá ficou conhecido por “Formiga”,
referência ao morro onde viveu a infância. Formiga conta
que, naquele tempo, também ia até o Centro para participar do bloco carnavalesco Beija-Flor, e quando foi elevado
à condição de escola de samba, Formiga já integrava sua
bateria. Paralelamente, exercitava sua vocação de compositor no bloco Centenário, também em Nilópolis.
Aos 19 anos, já trabalhando como condutor de bonde
com a placa 28-70 no boné, perde o codinome Formiga
e passa a ser conhecido como “70”. Heitor Silva sugeriu
que “70” participasse também da ala dos compositores
da Azul e Branco, onde disputou diversos concursos de
samba-enredo.
Tom-Tom é compositor, maestro e produtor musical.
Quis o destino que nascesse na terra de Noel, não bastassem duas gerações de sua família serem formadas por
músicos. Aos 7 anos, começou a estudar música e acabou
por se tornar um dos mais completos musicistas brasileiros. Bem antes, já tinha o apelido familiar que virou nome
artístico. Tinha 4 anos quando aprendeu a solfejar o refrão de uma música da Beth Carvalho (ele solfeja para o
repórter “tom-tom-tom-tom”) antes mesmo de aprender
a letra. “Eu vivia cantando isso, aí meu pai me colocou o
apelido de Tom-Tom. Aos 12, fui convidado para ir para
ao conjunto mirim da Beija-Flor. Aí o Neguinho da Beija-Flor estava lançando um vinil, me viu tocando e disse
pro Joãosinho Trinta: Vou levar ele pra tocar comigo”. O
pai teve que dar uma autorização para ele acompanhar
Neguinho nas viagens. “Foi ele quem abriu o caminho
da música pra mim”, confessa Tom-Tom. Através do seu
trabalho com Neguinho, conheceu muitos compositores
de outras escolas. Como tinha muito conhecimento em
música, volta e meia vinha um compositor pedindo pra
Tom-Tom: “Dá uma ajeitadinha aqui pra mim”. “Depois
que várias composições nas quais dei uma ‘ajeitadinha’
foram campeãs, comecei a notar que o que eu fazia tinha um certo valor no concurso de samba-enredo”. Foi
vencedor dos sambas-enredos da Beija-Flor “O Brasil dá
o ar de sua Graça, de Ícaro e Ruben Berta, o Ímpeto de
Voar” e “No chuveiro da alegria, quem banha o corpo,
lava a alma na folia”. “Eu gravei muita coisa aí. Fiz muita
coisa de samba de raiz. Tem uma que diz assim: Quem
não conhece a moça ali do canto / Derramando tanto
pranto / O seu nome é Magali / Descabelada, embriagada
mal vestida / Mas já foi a mais querida / Que existiu por
aqui”. É “Magali”, gravada por Neguinho da Beija-Flor no
LP “Bem Melhor que Você”.
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Wilson Bombeiro vive em Nilópolis desde 1945. “Tive a
felicidade de sair no primeiro desfile, que foi “O Caçador
de Esmeraldas”, e de ganhar quatro sambas-enredos”,
comemora. Esteve na Portela e na Mocidade por uma década, até fixar-se definitivamente na ala de compositores
da Beija-Flor. É considerado seu mais antigo integrante.
Em 1971, Candeia gravou de sua autoria “Silêncio tamborim”, no LP “Seguinte... Raiz”. Sônia Lemos interpretou
de sua autoria “Voltei” no LP “Pérola de Agonitá” (1976).
Neste mesmo ano, Leci Brandão, no disco “Questão de
gosto”, interpretou “Epitáfio de um sambista”, no qual
Bombeiro escreveu: “A pedra do meu epitáfio/Quero que
seja no Estácio/Com a seguinte inscrição/Jaz aqui mais
um sambista/Que morreu em plena pista/pela escola do
seu coração”. No ano seguinte, Tião Motorista incluiu no
disco Meu interior, “Apesar de tanto amor”, de Bombeiro.
Zilá Machado gravou “Sonho na calçada”, no LP “Já se
dança samba como antigamente” (1979). Em 1988, Alcione cantava “Te dei um tesouro / Apesar de pobre /
Meu coração de ouro / Troquei pelo teu de cobre”, sua
música-titulo do LP “Ouro e cobre”. Outra interpretação
de Marrom: “É você partiu um dia /deixando comigo a
dor / a nossa cama está vazia / refletindo nosso amor /
mas você quer voltar / eu não lhe darei perdão...”, de “Impossível recomeçar”, também gravada por Mestre Marçal.
Ano passado, Bombeiro gravou no CD da Ala dos Compositores, “Bicheiro Apaixonado”.
Gilson Doutor, com seu conjunto de bailes, animava, na
década de 60, os clubes do Rio e da Baixada. Mas sempre
teve interesse especial em compor e cantar samba. Assim
surgiram Madrugada de Samba na Vila, Mulher que Pas-
sa, Pranto que derrama, Bola de Vento, além de versos que
revelam sua inspirada vocação de sambista: “Marquei com
ela de sair na quarta-feira/Foi besteira, ela não apareceu/
Fui cantar samba na Portela e na Mangueira/E, no meio de
cobra-criada, meu samba venceu!” Também em samba ele
atribui à Beija-Flor suas concepções acerca de si e da vida,
em “Você bateu forte no peito”, no qual canta: “Teu Azul e
Branco me trouxe alegria/E fez nascer a minha filosofia”. Há
quase duas décadas, é presidente da Ala de Compositores da
Beija-Flor de Nilópolis e assíduo concorrente dos concursos
de samba-enredo, tendo sido contemplado com três campeonatos: “A criação do mundo segundo a tradição Nagô”
(1979), “Áfricas” (2007) e “Macapaba” (2008).
O sambista romântico de Nilópolis
Inspirado letrista e musicista de Nilópolis, onde nasceu e
vive há sete décadas, Toso Gomes é um legado da música popular brasileira. Presença obrigatória nas chamadas
“paradas de sucesso” da época de ouro do rádio, foi sucesso nacional com o “Ninguém é de ninguém”, lançado por
Cauby Peixoto e que ganhou mais 25 gravações de famosos da época, como Ângela Maria e Elza Laranjeiras. Amigo
de João do Vale, João Nogueira e Chico Buarque, se dizia
“presente” nas domingueiras futebolísticas do Politeama
na Barra da Tijuca. Mas seu elo com o samba também é
anterior e faz parte do seu patrimônio musical, com destaque para “Nossa vez de amor” (parceria com Manoel da
Conceição), lançada por Elizete Cardoso, “Bagaço’ e “Boatos”, gravados pela baiana Alice Gonzaga, e “Julga-me”,
gravado por Walter Levita e pela sambista paulista Vera
Lúcia. Teve, entre seus parceiros mais frequentes, Umberto
Silva, Luiz Mergulhão e Antonio Correia.
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FATOS QUE TRANSFORMARAM
O CARNAVAL PARA SEMPRE
RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
O radialista Hilton Abi-Rihan é um dos grandes amigos de Anizio. Há muitas décadas.
Já se tornou tradição o encontro semanal onde eles se reúnem para um bate-papo descontraído, que
também conta com a presença constante do amigo Ubiratan Guedes. Nesses encontros, os três discutem
os mais variados assuntos, de futebol a Carnaval. De política internacional à culinária.
É assim que fortalecem seus laços de afeto e amizade.
No domingo, dia 2 de dezembro de 2012, Abi-Rihan deixou de ser apenas o amigo para exercer o papel
de entrevistador, conduzindo uma agradável conversa sobre os tempos idos do Carnaval, quando a Beija-Flor de Nilópolis iniciou uma brilhante e colorida revolução no maior espetáculo a céu aberto do planeta.
Estive na casa de Anizio naquele domingo e, exercendo o papel de editor da revista Beija-Flor, organizei e fiz
pequenos ajustes no bate-papo daquele dia para adaptá-lo ao formato de entrevista. Aqui, na redação da
revista, tive a valiosa colaboração da jornalista Marcela Josuá, que realizou a transcrição de toda a conversa.
Abi-Rihan – Anizio, você está no Carnaval há muito
tempo, e todos sabem a revolução que você bancou
ao abrir as portas da Beija-Flor para o João Trinta, o
Laíla e o Viriato desenvolverem carnavais sensacionais na agremiação. Mas muita gente não sabe que
você já foi Mangueira. É verdade, Anizio?
Anizio – O Djalma dos Santos, da Mangueira, era meu
amigo e me ajudou bastante no mundo do samba. Por
causa da nossa amizade, acabava frequentando bastante a quadra. Nessa época, a Beija-Flor ainda estava no
segundo grupo. Mas quando ela subiu, o coração bateu
mais forte e fiquei com a Beija-Flor.
Ubiratan – Isso que o Anizio falou era normal. E ainda
é assim hoje em dia. Você tem uma escola de coração,
de grande afinidade, mas, às vezes, essa escola faz parte da série A. Isso é muito comum nas comunidades.
Se você mora, por exemplo, em Cascadura, pode torcer
para o Arrastão, mas ainda assim você também tem
uma escola para a qual torce no Grupo Especial. Se a
sua escola da série A chega ao Grupo Especial, o natural é que você abandone a escola que torcia no Grupo
Especial para torcer pela agremiação que estava com
você e na sua comunidade desde o início.
Abi-Rihan – É. E a Beija-Flor chegou ao Grupo I, que
era a elite do Carnaval na época, e acabou se tornando a grande revelação no Carnaval de 1976. Você se
lembra, Anizio?
Anizio – Lembro-me muito bem daqueles dias, quando a Beija-Flor se preparou para ganhar o seu título no
Carnaval da cidade do Rio de Janeiro. Foi um momento marcante na história da Beija-Flor, mas foi também
84
Revista Beija-Flor de Nilópolis
marcante para o Carnaval carioca, já que ele cresceu e
se transformou a partir daquele desfile em 1976.
Abi-Rihan – A ideia do enredo foi sua e do Nelson,
seu irmão, não é mesmo?
Anizio – Foi. A ideia do enredo era bem próxima do que
o João Trinta desenvolveu para a avenida, mas nossa
ideia inicial era chamar o enredo de “Natal – Homem
de um braço só”, onde faríamos uma homenagem ao
Natal, ídolo e benfeitor da Portela e da comunidade
de Madureira. Chegamos a nos encontrar com a diretoria da Portela para que ela nos autorizasse. Foi em
um almoço organizado pelo Hiram Araújo. A Portela
autorizou, mas quando passamos para o João Trinta o
enredo definido, ele nos pediu um tempo porque queria estudá-lo com mais cuidado. Quando terminou de
ler e pensar no enredo, ele nos procurou e a primeira
coisa que disse foi o seguinte: “Vai ser um desfile lindo!
O público verá um desfile que nunca viu antes. Estou
cheio de ideias, mas a primeira coisa que precisamos
fazer é mudar o título do enredo. Sonhar com rei dá
leão. O que vocês acham?” Nessa hora a gente teve a
certeza de que o investimento que fizemos em trazer
para a Beija-Flor o João Trinta traria os resultados que
pretendíamos para a escola e para a comunidade. De
lá pra cá, o Carnaval mudou completamente, e a Beija-Flor foi a grande responsável por isso.
Ubiratan – Fui criado em uma comunidade carente no
Andaraí e meu pai era ligado à escola de samba Floresta do Andaraí. Cresci, por isso, no samba e quando
olho o Carnaval carioca da atualidade, não há como
não fazer uma comparação do passado com o que
www.beija-flor.com.br
vemos hoje na avenida. Faço, então, um retrospecto
buscando pontuar algumas importantes mudanças
que ocorreram através dos anos e me vem à cabeça a
grande evolução promovida pelas Comissões de Frente, que antigamente vinham de cartola na mão, apresentando a escola. Era essa a função da Comissão de
Frente: apresentar à escola ao público e aos jurados.
Imaginem só: eles não tinham nenhuma ligação com
o enredo e não contavam ponto, apesar de ser um
item obrigatório. Para mim, as primeiras e consistentes mudanças na Comissão de Frente surgiram com o
Salgueiro de Arlindo Rodrigues e Fernando Pamplona,
em 1965, com o enredo “História do Carnaval Carioca”,
quando a agremiação levou para a avenida uma Comissão de Frente formada por 20 homens vestidos de
burrinhas. A partir daquele ano, a Comissão de Frente
passou a ter que estar interligada ao enredo. Hoje, a
Comissão de Frente é parte integrante do enredo, conta ponto. Me lembro, também, que naquela época as
escolas não podiam colocar figuras vivas em cima dos
Abi-Rihan – E o público reconhece a coragem e a
ousadia da Beija-Flor, não é? Você sempre bancou,
Anizio, as ideias revolucionárias dos carnavalescos.
Não só com João Trinta. Recordo aqui o desfile em
que a Beija-Flor homenageou a Diva da Ópera, a cantora lírica Bidu Sayão. Na época o carnavalesco era
o Milton Cunha, e me lembro muito bem que você
bancou inclusive a viagem dele para os Estados Unidos para propor o tema à homenageada, que morava
em uma cidadezinha escondida dos Estados Unidos.
Ubiratan – Tenho certeza de que uma das grandes
forças da Beija-Flor é essa predisposição do Anizio
para bancar grandes e desafiadoras ideias. Foi assim
com a criação da Comissão de Carnaval. Uma ideia
que hoje é replicada por diversas escolas.
carros alegóricos. A escola que colocasse perderia seis
pontos. E a Beija-Flor foi lá e, arriscando, colocou pessoas sobre os carros e arrasou. Por incrível que pareça,
o desfile de Carnaval já foi realizado com manequins
sobre os carros alegóricos e foram a Beija-Flor e a Imperatriz que iniciaram essa mudança que o público
Anizio – O João Trinta foi dispensado por mim porque
desrespeitou a diretoria da escola, colocando uma figura nua na avenida. Criatividade e inovação são bem-vindas, mas temos que respeitar alguns pensamentos.
E o João sabia o que pensávamos a respeito desse assunto. Quando o dispensamos, o primeiro pensamento
presente gostou e aprovou plenamente. Quem não se
recorda do Arlindo Rodrigues, que como carnavalesco
do Salgueiro fazia até as unhas dos manequins? (risos)
Anízio – Provamos que o Carnaval podia ser muito
mais bonito com as figuras vivas.
Fevereiro 2013
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foi: Quem será
o substituto? Maria
Augusta ficou na escola dois anos.
Minha sogra, a Graça, que gostava muito do
trabalho do Milton Cunha, me pediu para darmos
uma oportunidade a ele, que se apresentava como um
homem inteligente e culto, com várias ideias... Também ficou dois anos. Mas os resultados não estavam
chegando e achei que estava faltando uma ligação
mais forte da escola e do barracão com o carnavalesco. Queria criar o Carnaval dentro do barracão. Chamei o Laíla e disse que, a partir daquele momento, a
Beija-Flor não teria mais carnavalescos. Montamos,
então, o que todo mundo já conhece como Comissão
de Carnaval. A partir da criação da Comissão, voltamos a ganhar vários títulos. Acho que foi uma decisão
muito boa para a escola.
Ubiratan – Anizio, quando você fala em boas decisões para a Beija-Flor, acredito que essas boas decisões acabaram sendo, também, boas para o Carnaval
carioca porque influenciaram e lideraram importantes mudanças nessa maravilhosa festa. O papel
transformador da Beija-Flor é inegável, e alguns momentos em que a escola ousou me vêm
à cabeça. Mas acho que um dos mais
emblemáticos foi você ter feito a estrela do espetáculo ser o integrante da comunidade nilopolitana. Você não trouxe
artista de fora para abrilhantar os desfiles da escola: Pinah, Neguinho, Soninha
Capeta, Edson Passista, Selminha, Neide
Tamborim, Raíssa... E tantos outros. E isso
foi uma sacada fundamental, porque quem
é componente tem que amar a escola. E dar
reconhecimento e oportunidades aos seus
componentes é um importante instrumento de motivação e incentivo. Para mim, essa
é uma das mais fortes razões para essa escola
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
ser grandiosa e ter componentes que cantam com
o coração na mão. É um momento inesquecível estar na avenida e ouvir os componentes da Beija-Flor
cantando o samba-enredo com emoção e garra. Mas
eles fazem isso porque amam realmente essa escola.
Anizio – Esse amor que o componente tem pela escola é muito grande. Você tem razão. E tenho certeza de
que o componente vê que nós, da diretoria, fazemos
mais do que o possível para que ele permaneça na
escola. Oferecemos uma estrutura séria – a melhor
das escolas de samba na atualidade. Oferecemos
sambas-enredos de qualidade, fantasias e adereços da melhor origem. Além disso, nossa escola é a que
leva os maiores carros alegóricos para a avenida – um
carro que não quebra, pois temos uma equipe de ótimos profissionais. Nossos ferreiros e carpinteiros trabalham com muita seriedade e responsabilidade os carros
alegóricos para que passem na avenida com força e segurança. E isso é importante para o nosso componente.
Ele sabe que estamos juntos, trabalhando em todos os
detalhes para fazer um desfile campeão. Na verdade,
para fazer uma escola campeã em tudo que faz.
Ubiratan – É verdade. Aproveito o que você falou,
Anizio, e destaco o trabalho maravilhoso e competente que você e a Beija-Flor realizam no âmbito social e esportivo. É uma escola campeã em tudo o que
faz. Isso sem falar na revista da Beija-Flor, feita pelos
nossos amigos Abi-Rihan e Ricardo Da Fonseca. Se
não me engano, estamos entrando na 12ª edição da
revista e a cada ano ela se supera – em beleza plástica
e em conteúdo. É como você disse, Anizio, a Beija-Flor
é uma escola campeã em tudo que faz.
www.beija-flor.com.br
UMA ÁRVORE
DE BONS FRUTOS
VICENTE DATTOLI
Desde pequeno escuto dizer que ninguém atira pedras em
árvores que não dão frutos.
E esta frase sempre me vem à mente quando vejo as críticas que são feitas à atuação da Liga Independente das
Escolas de Samba, pelos mais variados motivos.
Não estou dizendo que a entidade não cometeu ou que
não cometa erros. Nada disso. Mesmo porque o que é certo para alguns pode ser errado para outros, principalmente no que diz respeito à organização, decisões, estrutura.
O que tenho certeza, e não há como negar tal fato, é de
que os desfiles das Escolas de Samba ganharam uma nova
dimensão, um formato de maior organização desde que a
Liga, fundada em julho de 1984, passou a ser a coordenadora artística do espetáculo.
Os primeiros anos, é claro, foram difíceis. Ninguém nasce
sabendo. Mas o desejo de acertar, o empenho e o amor
que os dirigentes sempre demonstraram, aliados ao comprometimento de todos, fez com que as coisas avançassem.
Vejam, por exemplo, o caso dos compositores de
samba-enredo. Foi graças à
atuação do
ex-presidente da Liga,
Anizio
Abrão David, que
e l e s
passaram a receber,
diretamente, os direitos autorais de suas obras executadas
durante os desfiles do Grupo Especial. Sem intermediários e
com rapidez. Se hoje isso parece não fazer diferença, basta
lembrar que nosso país já teve meses de inflação superior a
40% para saber o quanto os valores eram corroídos.
Mas há mais, muito mais.
Hoje, todas as Escolas de Samba do Grupo Especial têm como
realizar seus desfiles com dignidade, resultado de um trabalho exaustivo das direções que passaram pela Liga e sempre
buscaram mais recursos e melhores condições para todos,
sem distinção. As verbas são distribuídas de forma equitativa, com pequeno diferencial apenas no tocante ao montante
dos ingressos, baseado na colocação do ano anterior.
As apresentações começam nos horários estipulados. O regulamento é respeitado, sem “viradas de mesa”. As regras
são estabelecidas em consenso entre as agremiações. Enfim, tudo é feito para que o desfile das Escolas de Samba
se desenvolva e ganhe, a cada ano, mais importância e
qualidade, trazendo mais turistas para nossa
cidade e ajudando a divulgar
nossa cultura
no exterior.
Talvez por isso tantas pedras sejam
atiradas nesta árvore que
tanto
frutifica.
Fevereiro 2013
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Velha Guarda Show
canta a história da Beija-Flor
em bom tom...
MIRO LOPES
Sergio Continentino
Seja através de belíssimas apresentações da Comissão de
Frente, como a apresentada pela coreógrafa Ghislaine Cavancanti no Desfile de 2004, ou da força e elegância dos
casais de Mestre-Sala e Porta-Bandeira, a Beija-Flor de
Nilópolis não abre mão de levar ao público que a prestigia
momentos de luxo, glamour e beleza ao cruzar a avenida.
Mas o público sabe que Carnaval não é só luxo e glamour,
que ele é um componente essencial, mas não é absoluto,
e que a agremiação nilopolitana sabe bem temperar esse
molho para fazer um grande Carnaval.
E é aproximando-se do término do grandioso desfile da
agremiação que se vê como a Beija-Flor de Nilópolis
sabe, como poucos, cuidar dos seus “temperos”. É assim
que, fechando com a apresentação da escola na Sapucaí,
uma plêiade de heróis anônimos caminha na Avenida,
cumprimentando a todos com carinho e muita humildade.
Não precisam de brilho em suas indumentárias, porque o
brilho que carregam é interior, fruto de uma vida digna e
nobre, dedicada de corpo e alma à Beija-Flor.
Estamos nos referindo aos baluartes da Beija-Flor de Nilópolis - os integrantes da Velha Guarda.
Inegavelmente, a mais elegante ala de uma escola de samba.
Formada por fundadores e celebridades forjadas pela vivência e dedicação à escola, a Velha Guarda da Beija-Flor
é uma verdadeira galeria de nobres, que dispensam cetro
e coroa. Eles representam a história do grêmio recreativo.
Cada integrante tem a tradição vincada nos traços que o
tempo lhe desenhou no rosto ao longo dos anos.
Débora
Wanderly
88
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
No passado, abria o desfile. Atualmente, fecha a travessia
da agremiação nilopolitana pela Passarela do Samba.
É fecho de ouro!
Como se isto não bastasse, a Velha Guarda desenvolve
outra importante atividade para exaltar o nome da agremiação nilopolitana fora do calendário momesco, tendo
a música e o canto como os ingredientes principais dessa receita: “Seguimos um caminho já trilhado por outras
coirmãs, e durante o ano todo realizamos apresentações
públicas onde contamos a história da Beija-Flor através da
interpretação de antológicos sambas-enredo. Cantamos a
história da Beija-Flor e relembramos importantes nomes
presentes na história da nossa querida escola. Nomes
como Cabana e Osório...”, esclarece Débora Rosa Cruz.
De acordo com seu idealizador e diretor geral, Márcio Andrade (Márcio Frigideira), “Estreamos, a convite de Jorge
Aragão, no show “Samba de Bambas”, no Canecão – então, a maior casa de espetáculo do Rio de Janeiro. Em
Poços de Caldas nos apresentamos no Palace Cassino, e
fomos muito bem recebidos pelo público presente, formado por locais e turistas de todo o Brasil. Essa repercussão
reforça a importância da Velha Guarda Show, afinal, nossas meninas e rapazes estão divulgando a Beija-Flor nos
mais variados cantos do país. Um orgulho para todos nós.”,
declara emocionado.
ra, Odracir Sisi e Paulo Magno Sapury (percussão), Gisele
Figueira (flauta transversa), e os arranjos de Monica Maia.
Para contratar o espetáculo da Velha Guarda Show, basta entrar em contato com Greyce Valle, responsável pelos
shows da Beija-Flor de Nilópolis: (21) 7812-8789 ou
[email protected].
Antônio Januário
Tendo no vocal Débora Rosa Cruz,
Marly Alvarenga, Celia Natalino, Wanderly de Oliveira,
Neusa Celia, Sergio Continentino (Sebinho) e Antônio Januário (Tuninho), a Velha
Guarda Show conta com a competência musical de Alvino (violão), Wellington (cavaco), Celso
Paduana (surdo), Marcio Frigidei-
Celia
Marly
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Mãos à obra!
RICARDO DA FONSECA E MARCELA JOSUÁ
A República Federativa do Brasil, com seu sistema Presidencialista, tem sua estrutura
dividida em três poderes independentes entre si: Executivo, Legislativo e Judiciário.
Cada um com sua função: o Executivo age na execução de programas e serviços
públicos; o Legislativo elabora as leis e o Judiciário garante os direitos individuais,
coletivos e sociais.
Esses três poderes formam o chamado Poder Público, que tem sua eficácia posta em xeque todos os dias pelos cidadãos mais atentos.
Quando a atual Constituição Federal foi promulgada, em 5 de outubro
de 1988, foi considerada o auge do processo de redemocratização brasileira. Sétima versão na história da República, é um conjunto de normas
de governo que limita e enumera os poderes e funções de uma entidade
política. É a lei fundamental e suprema do país.
O artigo 3º dessa Constituição atribui como objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil:
“I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. “
Infelizmente, o Estado na sua totalidade não vem conseguindo cumprir suas obrigações
constitucionais como a sociedade esperava e, com isso, acaba deixando a população, que
confia na sua eficácia, desamparada.
Sob uma determinada perspectiva, podemos ver que essa incapacidade em realizar gera
graves consequências para o cidadão brasileiro.
Basta olhar ao redor que poderemos ver hospitais públicos desaparelhados e com uma
descontrolada superlotação, incapazes de oferecer o alento e o cuidado esperado. Se
olharmos para o sistema de educação, não teremos grandes surpresas: veremos crianças
90
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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e jovens em idade escolar fora do ambiente educacional
ou, quando matriculadas no sistema de educação, vitimizadas por um ensino insuficiente, limitado e inadequado frente aos desafios do século da comunicação e
da informatização.
Ficaríamos horas abordando fatos que confirmam a
incapacidade - intencional ou não - do Estado em oferecer a todo o povo que o constrói o mínimo de bem-estar social.
Mas o aspecto que pretendemos tratar aqui ultrapassa
esta abordagem.
Na verdade, com o Estado não cumprindo e deixando
de prover as condições básicas para a conservação do
indivíduo na sociedade, os cidadãos mais esclarecidos
e articulados, que possuam instrumentos próprios de
sobrevivência, acabam construindo sua vida e de seus
descendentes sem contar com o Estado.
É uma questão de escolhas e possibilidades.
E esses, que conseguem se manter fortes e protegidos
por suas próprias forças, acabam não tendo olhos para
a realidade que se debate ao seu lado - uma realidade
não tão próxima, mas a seu lado.
Nessa realidade, uma importante e considerável parcela da sociedade brasileira, sem poder contar com
o Estado na sua plenitude e sem poder contar com
a colaboração dos mais ricos são obrigados a se
submeter ao que o Estado oferece.
Sabem que não é o ideal de uma vida. Sabem
que seus filhos não estarão nas melhores redes
de ensino. Sabem que não terão disponíveis os
melhores nem o mais ágeis sistema de saúde.
Mas é o que têm.
GOTAS EM UM OCEANO.
MAS O OCEANO NÃO É
FEITO DE GOTAS D’ÁGUA?
Mas a insatisfação que muitos brasileiros têm
nutrido com a atuação do Poder Público em sua
missão constitucional tem motivado o surgimento
de importantes movimentos sociais que buscam
oferecer ao cidadão – sem discriminação – bem-estar social nas diversas áreas, inclusive nas artes,
saúde e educação.
Não é um desafio fácil de empreender, mas a certeza que esses idealistas nutrem, de que podem
Fevereiro 2013
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fazer a diferença, os tem levado
à grandes realizações.
As ações realizadas pela Beija-Flor de Nilópolis são, indiscutivelmente, uma delas.
OBRAS SOCIAIS DA BEIJA-FLOR DE
NILÓPOLIS
Sob o patrocínio de seu presidente de honra, Anizio Abrão
David, a Creche Julia Abrão David, o Educandário Abrão
David e o Centro de Atendimento Comunitário (CAC)
são provas de que é possível, sim, com uma boa dose de
vontade, articulação e recursos, oferecer alternativas de
qualidade aos cidadãos menos favorecidos de recursos
econômicos.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Creche Júlia Abrão David
Quando os pais matriculam seus filhos em uma creche, a
principal preocupação é saber se as necessidades dos seus
pequeninos serão atendidas – sejam nas questões relacionadas à educação e alimentação, sejam nas relacionadas
aos cuidados do dia a dia.
Pois bem. Quando a Creche Júlia Abrão David foi inaugurada, em 9 de maio de 1980, atendia inicialmente 60
crianças. Não era um número compatível com a forte estrutura do lugar, mas depois de ver que lá as crianças eram
bem tratadas e recebiam ensino de qualidade, a demanda
aumentou e a necessidade de atender um contingente
maior foi crescendo até chegar a 280 crianças em 2012.
Fundada com o nome de Creche Beija-Flor, mudou de
nome anos mais tarde para ‘Júlia Abrão David’ em homenagem à mãe dos irmãos Anizio, Nelson e Farid A. David, a
grande incentivadora da instalação da Creche.
A faixa etária matriculada na Creche Júlia Abrão David
varia entre seis meses e seis anos de idade em regime de
semi-internato, e de acordo com a
idade elas ficam
no Berçário
(de 6 meses
a 2 anos),no
Infantil (3
anos),
no
Infantil 2 (4
anos) e no
Infantil 3 (5
anos).
Quando completam 6 anos, elas
seguem automaticamente para o
Educandário - outra obra de suporte
e assistência social
criada pelos filhos de
Da. Júlia.
Na Creche, o atendimento dos pequenos é
realizado com muito carinho e amor pelas professoras ou “tias”, como são
chamadas. Os pequeninos
www.beija-flor.com.br
são tra- zidos pelos seus pais ou responsáveis às
07h40, permanecendo dentro da Creche até às 19h.
Ao longo do dia são feitas quatro refeições: café da manhã, almoço, lanche e jantar, todas preparadas por nutricionistas que se comprometem em atender às necessidades nutricionais dos pequenos: alimentos frescos, ricos em
proteína e com pouco carboidrato integram o cardápio.
Tudo isso aliado à práticas que são essenciais ao desenvolvimento da inteligência e percepção de qualquer criança.
Assim, eles têm energia de sobra para desfrutar de todos
os benefícios que a Creche Júlia Abrão David oferece.
A equipe de trabalho conta com profissionais altamente
qualificados e preparados para receber e educar os pimpolhos: assistência médica, odontológica, auxiliares de serviços gerais e uniforme fazem parte do pacote.
Tudo gratuito.
Buscando dinamizar o dia dentro da Creche, e torná-lo
sempre agradável, as crianças matriculadas são divididas
em dois grupos: no turno da manhã o primeiro grupo estuda na sala de aula, enquanto o segundo fica no pátio
com as recreadoras em atividades livres e educativas. No
turno da tarde, a situação se inverte. Esse sistema tem
dado certo, pois as crianças não ficam sobrecarregadas de
estudos e nem de recreação e, por serem novas, a permanência na creche não torna-se cansativa.
Quem não conhece e visita o lugar pela primeira vez fica
surpreso com o que vê: crianças sorridentes e o bom preparo dos funcionários da casa ao atender o público só
confirmam que lá todos são sempre bem-vindos.
Nossa equipe teve essa comprovação.
Fomos recebidos com simpatia pela diretora da instituição, Da. Maria de Lourdes Goulart - leal trabalhadora que
permanece há mais de 33 anos à frente da Creche e que é,
também, uma de suas fundadoras.
Enquanto esperávamos para conhecer as instalações, Maria de Lourdes nos ofereceu um copo d’água gelada, amenizando o calorão que fazia lá fora. Quando acabamos, ela
nos mostrou todas as instalações da Creche com atenção
e paciência.
Pedimos licença, entramos na sala do Infantil 2 e cumprimentamos as crianças.
A receptividade delas foi indescritível.
O semblante de cada uma era de uma felicidade e alegria tão grandes que não dava vontade de sair. E assim
foi, cada lugar da creche que visitávamos era uma
surpresa.
Energia boa, rara
de se encontrar
em um estabelecimento de ensino.
Depois de conhecer
a Creche, encerramos
nossa visita com um
bate-papo
animado,
onde Maria de Lourdes
nos deu a sua visão daquela
realidade: “A creche não é
só um elemento de preparo
para o ensino fundamental,
mas é uma verdadeira e importante
extensão do lar. Nós
apoiamos e damos
suporte. Buscamos dar
às crianças tudo aquilo
que elas não podem ter
em casa. Precisamos
pensar aqui como um
segundo lar para elas”.
Quem pensa que a preocupação, a atenção e o
cuidado são voltados apenas
para as crianças de Nilópolis, se
engana. Moradores de São João
de Meriti, Belford Roxo, Paracambi, Mesquita, Queimados, Japeri, entre outras
localidades da baixada
fluminense, também são beneficiados pelo ótimo serviço
e trabalho idealizados pelos
irmãos David e colocados
em prática cotidianamente pela equipe de
Maria de Lourdes.
Para matricular a criança,
o critério para o ingresso é
possuir uma renda familiar
de até três salários mínimos.
Caso o pai ou a mãe estejam
desempregados, é oferecido
Fevereiro 2013
93
auxílio nessa hora tão difícil. A direção mantém vínculo
com indústrias e comércios da região e, de acordo com a
vocação de cada um, ajuda na indicação de um trabalho
digno que seja capaz de sustentar a família. A mãe de um
dos aluninhos reforça: “Sem essa creche, eu e meu marido
estaríamos passando dificuldades para educar nossas crianças. Seu Anizio é um anjo que Da. Júlia deu a Nilópolis”.
A Creche fez e continua fazendo história.
Há 33 anos, não garante apenas abrigo, alimento e educação às crianças. Ela provê muito mais. Estabilidade
emocional, proteção e carinho, formas encontradas de
influenciar positivamente a vida de muita gente.
Educandário Abrão David
Inaugurado em 19 de fevereiro de 1987, o Educandário
Abrão David foi criado com o objetivo de dar continuidade
à excelente educação e qualidade de ensino fornecidos na
Creche. De que adiantaria as crianças terem uma ótima
assistência se quando saíssem de lá fossem “jogadas” para
um sistema educacional fraco e cheio de falhas?
Anizio ressalta: “Essa preocupação fez com que eu resolvesse trabalhar para a construção de uma
obra educacional mais ampla e completa.
Uma obra que fosse capaz de oferecer
um ensino de qualidade e, também,
cuidar das crianças depois que
elas terminassem o seu
tempo de permanência
na
Creche, isto
é, a partir
dos
6
anos
94
Revista Beija-Flor de Nilópolis
até a sua adolescência”, relata o benfeitor.
Matriculadas automaticamente no Educandário ao sair da
Creche Júlia Abrão David, as crianças continuam a receber, além de uma educação qualificada, os mesmos benefícios obtidos na Creche, como as quatro refeições diárias,
tratamento odontológico e assistência médica.
O Educandário atende atualmente 1260 alunos, dos 6 aos
16 anos de idade. Com uma estrutura própria que conta
com 13 salas de aula, laboratórios de ciências e informática,
biblioteca, refeitório, dependências administrativas e cozinha industrial, a instituição impressiona pela grandiosidade.
É considerada por pais e professores a melhor escola da
baixada fluminense, ultrapassando, inclusive, o nível das
particulares.
Anderson Machado, 48 anos, coordenador e secretário do
instituto, trabalha há 25 anos com a família Abrão David e
comprova o sucesso do ensino: “Viramos referência no município. Nenhuma outra escola adota um livro didático antes
de nós. Se a gente ainda não tem a relação dos que vão ser
utilizados pelos alunos e professores, nenhuma outra tem”.
Assim como na Creche, alunos de outras regiões também podem usufruir dos serviços realizados pela organização. A proposta é ensinar e preparar as
crianças e os jovens para serem brasileiros de valor, transmitindo, além
do conhecimento escolar, amor
à cultura e o exemplo de bons
comportamentos. Em datas
comemorativas, por exemplo,
são promovidos trabalhos,
pesquisas e comemorações
para que haja uma integração maior da comunidade
com a cultura do país. Desde pequenos, os estudantes
aprendem noções de civismo, como cantar o Hino
Nacional e a ter postura de
respeito com a pátria.
O presidente do Conselho Deliberativo da escola Beija-Flor de Nilópolis e
amigo de Anizio há 40 anos,
Ary José Rodrigues, reflete
sobre a importância do trabalho realizado pelo Educandário: “Todo mundo sabe que as
escolas públicas atualmente
www.beija-flor.com.br
estão muito aquem do que queremos para nossos filhos
e netos. Eu vivi uma época em que as melhores escolas
eram as públicas. Hoje isso mudou. Querem que as famílias coloquem seus filhos nas escolas particulares. Mas isso
custa dinheiro, e muitas vezes um dinheiro que os pais
não podem pagar. Seus filhos então não merecem um estudo de qualidade? Uma ova! Merecem sim. E graças ao
Anizio elas, aqui em Nilópolis, tem esse ensin o
– o que gostaria que meus netos tivessem. Pena que nem sempre
surjam no país homens como
o Anizio, que divide a sua riqueza em forma de oportunidades para os mais pobres.
Por isso acho ele um cara
genial e que merece todas
as coisas boas da vida. Ele
não pensa só nele não. E
é isso que muito figurão
não entende. mas o que a
gente pode fazer, não é?
Cada um pensa - bem
ou mal - com a sua
cabeça. Eu, de minha
parte, continuarei
sempre defendendo o trabalho iniciado pelo Anizio, tendo a
certeza de que muitos
homens, trabalhadores e
pais de família da atualidade, só
conseguiram ultrapassar as dificuldades porque receberam
carinho, educação e, acima
de tudo, respeito de todos
os trabalhadores
da Creche e do
Educandário que
o Anizio construiu.
E só Deus poderá recompensá-lo por isso.”, conclui, sem-
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Dessa maneira, podemos constatar que a Creche e
o Educandário não apenas fornecem o aspecto
material e básico para as crianças e jovens.
Eles vão além. Colaboram no crescimento
pessoal fazendo destes um ser humano melhor e mais feliz.
Centro de Atendimento Comunitário
pre emocionado, o velho amigo Ary
Rodrigues.
Maria de Lourdes Goulart, diretora também do Educandário, ressalta que a importância do instituto ultrapassa
os limites físicos dele próprio. Lá, eles podem ser amparados e ouvidos pelos educadores: “Existe um trabalho
importantíssimo desenvolvido aqui, que é servir de porto
seguro para essas crianças e jovens que por vezes passam
por problemas de relacionamento em suas casas. Aqui eles
podem contar suas dificuldades e nós, no papel de pedagogos, podemos auxiliá-los com orientações ou simplesmente ouvindo esse momento de desabafo”.
Com carinho, respeito, amor e atenção, ingredientes fundamentais na construção e no
desenvolvimento dos homens, o Educandário auxilia na formação destes,
tornando-os responsáveis, cultos,
mais felizes e preparados para
viver experiências enriquecedoras ao longo
da vida.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Anizio pensou mesmo em tudo.
Muito antes do surgimento da Faetec (Fundação de Apoio à Escola Técnica) em junho de 1997, criada pelo Governo do Estado
do Rio de Janeiro, Anizio já sabia que o desenvolvimento regional do estado - e da baixada fluminense - estava
atrelado à possibilidade de os jovens ingressarem no mercado de trabalho já capacitados, especialmente através
dos cursos de ensino técnico de qualidade gratuitos.
Dando continuidade a essa verdadeira revolução educacional em Nilópolis, com a Creche Júlia Abrão David e o
Educandário Abrão David, em 3 de agosto de 1991 surgia,
então, o CAC/NAD (Centro de Atendimento Comunitário
Nelson Abrão David), que se tornou um dos principais centros de educação profissional gratuito da baixada fluminense, e que vem fazendo história ao preparar jovens e adultos
para o mercado de trabalho.
Hoje, o CAC/NAD oferece aos interessados que desejem
garantir seu lugar ao sol cursos técnicos dos mais
variados, e a única condição que é impos-
www.beija-flor.com.br
ta ao pretendente pela direção do CAC/NAD, na pessoa do
seu administrador Aroldo Carlos, é ser maior de 16 anos
e comprovar estudar na rede pública. Vale lembrar que
todos os cursos são gratuitos e que todos os jovens, até
os que não estudaram nas obras sociais da Beija-Flor de
Nilópolis, podem participar.
Outra importante regra que é levada bem a sério é a que
permite que cada aluno só faça um curso por vez. Como o
intuito é formar mão-de-obra qualificada ao mercado de
trabalho, o aluno só pode começar outro se tiver terminado o anterior.
As aulas, ministradas por profissionais altamente preparados e qualificados, têm parceria com duas grandes
empresas, o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial) e o SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial).
Na parceria com o SENAC, a iniciativa possui mais de 20
opções de cursos profissionalizantes, dentre eles fotografia, modelo e manequim, espanhol, informática e estilismo.
Já no setor industrial, aulas de refrigeração, marcenaria e
conserto de eletrodomésticos fazem parte do cardápio.
Aroldo lembra que após o término do curso muitos jovens
vão trabalhar na escola de samba de Nilópolis: “Muitos dos
nossos alunos - especificamente os que fizeram parte das
aulas de adereços, fantasias, serralheria e
marcenaria - são aproveitados pela
própria Beija-Flor de Nilópolis.”
Outro fato que vale ser destacado é que o CAC/NAD, além
de oferecer à população a
chance de aprender uma
profissão,
fornece aos alunos
inscritos refeição
(almoço e lanche)
e transporte. “Entendemos que muitos desses jovens não
têm condições econômicas para arcarem com as despesas de transporte e alimentação,
que geralmente ultrapassam o orçamento da família. E
como em sua maioria eles ainda não estão trabalhando, o
principal risco de não terem esse subsídio oferecido pelo
CAC/NAD é abandonarem o curso e não se qualificarem,
engrossando as fileiras dos brasileiros sem qualificação
profissional e que são obrigados a aceitar subempregos,
com salários e condições de trabalho muito aquém do
que merecem como cidadãos. O subsídio que o CAC/NAD
oferece é, com certeza, um importante complemento do
projeto”, comenta Aroldo.
De acordo com estimativas, até 2012 foram beneficiadas
mais de 50 mil pessoas, entre jovens e adultos.
E é dessa maneira que o CAC/NAD, juntamente com a Creche e o Educandário, minimiza as desigualdades, tão gritantes na sociedade brasileira, desenvolvendo e formando
cidadãos dispostos e cada vez mais qualificados para entrarem no mercado de trabalho, para que construam suas
famílias e seus destinos com dignidade. A mesma dignidade que queremos para nossos filhos e para nós mesmos.
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SONHO DO BEIJA-FLOR
Projeto “Sonho de um Beija-Flor”
É notável a importância do esporte na vida de uma pessoa,
principalmente nas crianças. Recomendada por especialistas, a prática de exercícios físicos é fundamental para o
desenvolvimento do corpo e da mente e o incentivo deve
começar desde a infância. Pensando nisso, é que o presidente de honra da Beija-Flor, Anizio, concebeu o projeto
“Sonho de um Beija-Flor”.
Inaugurado em 2005 e realizado no complexo esportivo
localizado ao lado da quadra da agremiação, as crianças
e jovens da região recebem aulas de diversas atividades
esportivas (capoeira, natação, jiu-jitsu entre outros) e artísticas (balé, dança de rua, música, etc). Até o final de
2012, mais de 2 mil alunos já haviam sido beneficiados
com essas práticas.
A proposta do projeto não é apenas elevar a qualidade de
vida dessas crianças e jovens. Ele valoriza o potencial de
cada uma, reconhecendo seus talentos e fazendo-os acreditar que seus sonhos podem se tornar realidade.
E podem. Basta que tenham oportunidades para mostrar
o potencial que carregam dentro de si.
PARCERIA DE PESO
Em 2008, o projeto patrocinado pela Beija-Flor de Nilópolis ganhou uma importante parceria: a Petrobras. A área
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de Responsabilidade Social da empresa assinou um acordo
no qual presta apoio através de recursos financeiros para a
implantação de um centro esportivo de excelência e para
o pagamento de professores. Elan Santiago, professor e
idealizador das aulas de jiu-jitsu, ressalta a importância
da Petrobras na iniciativa. Segundo ele, a ajuda que ela
oferece “dá um gás bem maior e é muito importante para
todos nós”. A Petrobras é conhecida por patrocinar diversos outros projetos e ações sociais.
A partir dessa parceria, o “Sonho de um Beija-Flor” ganhou
uma nova dinâmica e um novo gás. Segundo Anizio, “A
participação da Petrobras no projeto não só valoriza o trabalho que realizamos como, através da sua experiência em
projetos semelhantes, nos ajuda a realizar as ações do projeto de um modo mais profissional. Atualmente, a equipe
que administra o projeto aplica rotinas e processos que
antes não conhecíamos. É uma parceria muito importante,
onde todos saem ganhando.”
Atualmente, o projeto desenvolve as seguintes atividades
esportivas: futebol, basquetel, voleibol, futsal (masculino e
feminino), jiu-jitsu, karatê, judô, capoeira, natação e tênis
de mesa.
E buscando oferecer às crianças e aos jovens da região
uma abordagem mais completa, o “Sonho de um Beija-Flor” contempla, também, as seguintes atividades artísticas:
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Balé
O projeto “Aprendendo com o balé” é comandado há 11
anos pela coreógrafa e professora Ghislaine Cavalcanti.
Em grupos de no máximo 25 alunos, crianças e jovens de
5 a 17 anos têm aulas de balé clássico, jazz e sapateado. Ghislaine é formada pela Escola de Dança do Theatro
Municipal em 1973, trabalhou na Walt Disney Company
e durante seis anos integrou a Companhia de Balé da Espanha. Para ela, o contato com a dança é imprescindível,
ainda mais em uma comunidade onde a presença da veia
artística é intensa como em Nilópolis: “A arte é uma manifestação humana que deve estar sempre sendo evocada,
a dança auxilia no desenvolvimento da sensibilidade e da
percepção auditiva, visual e emocional”. O sucesso do programa é tão grande que quem deseja matricular seu filho
em uma aula, tem que aguardar na fila de espera.
Passista Mirim, Mestre-Sala e
Porta-Bandeira
Não tem como pensar na Beija-Flor de Nilópolis sem
lembrar de carnaval. Com o objetivo de formar passistas,
mestres-salas e porta-bandeiras, o curso surgiu. Os alunos
recebem aulas práticas e teóricas. Nas práticas aprendem
passos, molejos e coreografias; nas teóricas, fundamentos
que explicam a história, conceitos e fundamentos da arte
do samba.
Os criadores são figuras carimbadas do carnaval carioca: o
casal de mestre-sala, Claudinho, e a porta-bandeira, Selminha Sorriso. Com o objetivo de oferecer mais do que
a comunidade vê nos desfiles, em 2006 resolveram abrir
uma turma para ensinar e difundir todo o conhecimento
que tinham na arte do bailado. Dessa forma, eles apresen-
taram o projeto para Anizio e ele, claro, deu carta branca.
“Os alunos não aprendem só a dançar e a conquistar o
público, mas também a interagir, a dividir e ter disciplina”
diz Selminha.
Como em todos os outros cursos oferecidos, a condição
estabelecida para se manter na atividade é estar matriculado no colégio público e passar no ano.
Bateria mirim
As aulas de percussão, coordenadas pelo Mestre Rodney
juntamente com outros quatro integrantes (Mestre Plínio, Saú, Cléo e Pó de Mico), contam com a participação
de 120 alunos. Durante todos os sábados, de 9h às 13h
(dependendo do ritmo da aula, pode chegar até às 15h),
crianças e jovens de oito a 17 anos aprendem como tocar
a percussão de carnaval. A idéia, renovadora, do projeto
teve início com o Diretor de Harmonia, Laíla, que sentiu a
necessidade de complementar com mais uma aula/projeto
o grandioso trabalho social da Beija-Flor de Nilópolis.
Há mais de dois anos em vigor na quadra da escola, o projeto foi aplicado antes mesmo da parceria com a Petrobras,
empresa sempre voltada às obras sociais, e que deposita
não apenas recursos financeiros, mas força e confiança em
um futuro melhor. A ela, não interessa o valor financeiro
arrecadado por meio dessa parceria, e sim, o valor moral,
estampado em um sorriso no rosto de cada um desses futuros cidadãos.
Para o Mestre Rodney, o projeto não só ensina a tocar
percussão de carnaval como auxilia na formação de um
ser humano cada vez melhor: “Antes da aula prática, há
o coleguismo, respeito ao próximo e companheirismo.
Ensinamo-los a serem pessoas de bem.”
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FELIPE FERREIRA
O Carnaval é azul!. E verde, vermelho, branco, amarelo,
dourado, preto, prata... Enfim, basta olhar o desfile das
escolas de samba no Sambódromo para a gente ver que
o Carnaval não tem uma só cor, mas toda a gama cromática. Falo isso para poder introduzir um tema que, à
primeira vista parece bem espinhoso. Como dizer que o
Carnaval não é uma festa negra? Como negar a presença
tão forte de um ritmo e de uma história nos quais a participação dos afrodescendentes é tão óbvia? Comecemos
do começo. O Carnaval é uma espécie de resposta que o
povo medieval deu à instauração do período da quaresma
pela Igreja a partir do século XI. Em suma, o Carnaval é
europeu. Ele chegou até nós junto com os portugueses
que vieram colonizar nosso país. Mas chegou muito diferente do que é hoje. Tão diferente que, por aqui, nem
se chamava Carnaval, mas entrudo. Tão diferente que não
tinha desfiles, cantos, danças ou fantasias como agora.
O entrudo era uma brincadeira que consistia em pregar
peças nos amigos, vizinhos ou mesmo nos desconhecidos que passassem por perto durante os dias anteriores à
quarta-feira de cinzas. Durante três séculos a brincadeira
foi se aprimorando no Brasil e no início dos anos 1800
tinha virado uma verdadeira mania nacional. Todo mundo
“jogava o entrudo”. Dentro das casas, senhores, senhoras,
mocinhos e mocinhas das melhores famílias lançavam,
uns sobre os outros, bolinhas de cera cheias de água, os
famosos “limões de cheiro”. Era o “entrudo familiar”. Nas
ruas a coisa era bem diferente. Dominadas pelos escravos
que ocupavam os espaços públicos das cidades, as ruas do
Rio de Janeiro e das principais cidades do país eram palco,
no período de Carnaval (ou seja, nos dias de entrudo), de
grandes batalhas de água jogada em baldes, bacias, gamelas ou o que mais pudesse servir para carregar líquidos. Este “entrudo popular” acontecia basicamente entre
escravos, mas atingia também quem passasse por perto
desavisadamente. Sem conhecer o costume, os turistas
da época (conhecidos, então, como viajantes) eram alvos
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de grandes banhos, tanto ao passar pelas ruas quanto ao
visitar alguma família, e desancavam o entrudo em seus
relatos de viagem. Para acabar com essa “bagunça”, as famílias abastadas trataram de implantar aqui as novas modas Carnavalescas trazida de Paris: os bailes à fantasia e os
passeios de carruagem. Tudo muito elegante, bonito e civilizado, mas, convenhamos, pouco original visto que outras
cidades, como Nice, na França, Nova Orleans, nos Estados
Unidos ou Montreal, no Canadá, também copiaram este
modelo. E é aí que entram os negros com sua cultura.
Sabemos que na África daqueles tempos ainda não havia
Carnaval, mas os escravos que aportaram no Brasil já gostavam de uma boa comemoração. Os congos ou congadas
eram uma destas manifestações festivas incentivadas pela
Igreja e consideradas como uma boa forma de aproximar
os negros da fé católica. No Rio de Janeiro, estas danças
se apresentavam como uma espécie de desfile, no qual um
séquito, composto de rei, rainha e toda uma corte com duques, príncipes, barões e embaixadores, se deslocava pelas
ruas ao som de tambores e chocalhos. Como precisavam
de autorização especial para se apresentar, esses cucumbis, nome pelo qual a manifestação era conhecida no Rio
de Janeiro, acabavam sendo presença constante durante
os dias de Carnaval. Isso acontecia por que neste período havia certa “boa vontade” da polícia. Afinal, o Carnaval
não é a época do relaxamento das regras sociais?
Disputando espaço com as sociedades carnavalescas
mais ligadas à elite que desfilavam pela cidade durante
o período momesco da segunda metade do século XIX, os
cucumbis rapidamente perceberam o valor da folia e muitos deles se transformaram em “cucumbis carnavalescos”,
ou seja, grupos de negros organizados especialmente para
sair durante os dias de Carnaval. Com suas danças, ritmos
e instrumentos “selvagens”, é claro que esses grupos iriam
chamar a atenção da população da cidade que saía às ruas
para ver os blocos passarem e mesmo das sociedades carnavalescas que se encantavam com a alegria e esponta-
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neidade dos cucumbis. Estes, por sua vez, se maravilhavam
com a forma de organização, as fantasias e as alegorias
das sociedades carnavalescas a ponto procurarem incorporar essas características a seus desfiles. Ou seja, em
alguns anos, a interinfluência desses grupos faria surgir
nas ruas do Rio de Janeiro, novas formas de brincadeiras
carnavalescas que reuniam tudo de bom de cada uma das
manifestações: os ritmos negros se casariam com as marchas europeias, o gosto pelas contas e cores dos escravos
se reuniria aos tecidos e brilhos da alta moda, e por aí foi.
Estava dado o primeiro passo para o surgimento de uma
festa carnavalesca com o jeito, a bossa e o gosto pela mistura do povo brasileiro.
Mas a contribuição negra à transformação do Carnaval
europeu em festa brasileira não ficaria por aí. No início do
século XX, nos morros da periferia do Rio de Janeiro, um
novo ritmo iria surgir, reunindo toda a sabedoria musical
africana às harmonias das modas populares luso-brasileiras.
Era o samba que pedia passagem, mostrando que estava
chegando a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor.
Produto genuinamente carioca, o novo ritmo incentivaria o
surgimento, nas favelas da cidade, dos chamados grupos de
samba de morro. Estas turmas de sambistas maravilharam
os intelectuais da época com o som de seus instrumentos e
a harmonia de seu canto. É destes grupos que surgiram os
primeiros “conjuntos” que se tornariam as escolas de samba.
Daí pra frente, a história é conhecida de todo brasileiro que
se preze. Aquelas primeiras escolas, com sua beleza singela
e sua rica musicalidade, souberam negociar com os desejos
e anseios da sociedade, transformando-se, pouco a pouco,
nas grandiosas agremiações de hoje.
Sua grandiosidade, entretanto, não está só no luxo, na imponência ou na dimensão gigantesca dos desfiles. O que
é grande nas escolas de samba, e falo de todas elas, sejam
do Grupo Especial, sejam dos grupos de acesso, é sua capacidade de representar toda uma história de encontros e
reuniões. Uma história que, sabemos, começou na Idade
Média, na Europa, mas que aqui representa um momento
de colaboração e de miscigenação sem igual no mundo.
Uma história que é negra, sim, mas também azul, verde,
vermelha, branca, ouro, e prata em toda pista, ecoando o
som de um tambor.
_______________
Sobre o autor:
Felipe Ferreira é coordenador do Centro de Referência do
Carnaval na UERJ, editor da revista TECAP: Estudos de Carnaval e professor de Arte e Antropologia no Instituto de
Artes da Uerj. Autor de diversos livros sobre o carnaval,
está envolvido diretamente com o tema, seja como jurado
do prêmio Estandarte de Ouro, cronista do Pasquim 21,
formador de julgadores de escolas de samba ou organizador do prêmio Parangolé: arte e carnaval.
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Eu vou cavalgar, pra encontrar
A minha história nesse mundo de meu Deus!
Venho de longe de uma era milenar,
Fui coroado quando o dia amanheceu!
Brilha, estrela guia... Um viajante, a sua sede a matar!
Presente de grego, que grande ironia
Herói das batalhas, real montaria!
Com asas surgiu do infinito, tão claro mito..
A joia rara de Alah!
Cigano... Buscando a purificação!
Mostrando elegância e bravura,
A minha aventura se torna canção!
É o bonde que vai, carruagem que vem...
Na viagem que trás, o amor de alguém!
Indomável corcel, alazão da Coroa...
Troféu da nobreza, estrela que voa!
Amigo do Rei, pela estrada lá vai o Barão!
Sul de Minas Gerais, galopei...
A riqueza da mineração!
Café me fez marchar...
Ao Rio da corte a bailar!
Acreditar... Que fui a raça escolhida!
Sou um puro sangue azul e branco,
Um acalanto... a mais sublime criação!
Sou eu o seu cavalo de batalha,
Se a memória não me falha...
Chegou a hora de gritar é campeão!
Sou Mangalarga Marchador!
Um vencedor, meu limite é o céu!
Eu vim brilhar com a Beija-Flor...
Valente guerreiro, amigo fiel!
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Autores: J. Veloso, Ribeirinho, Marquinho Beija-Flor, Gilberto, Silvio Romai e Dilson Marimba. Participação: Claudio Russo e Miguel
Amigo Fiel, do cavalo do amanhecer
ao Mangalarga Marchador

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