JC Relations - Jewish

Transcrição

JC Relations - Jewish
Jewish-Christian Relations
Insights and Issues in the ongoing Jewish-Christian Dialogue
Yaron, Weiss e Klein-Rusteberg | 01.08.2006
Anti-semitismo novo
Kalman Yaron, Konrad Weiss, e Karl h. Klein-Rusteberg
Exílio e Redenção por Kalman Yaron
Anti-semitismo e inimizade contra Israel na DDR por Konrad Weiss
Anti-semitismo novo como história(s) sem fim1 por Karl h. Klein-Rusteberg
Quão morto está Hitler?
“Paz” é hostil aos judeus?
Exílio e Redenção
Kalman Yaron
Enquanto o Sionismo dedica a sua atenção ao aspecto territorial e nacional do povo
judaico, o Judaísmo de Toráh dirige o seu olhar à revelação divina no monte Sião. A
contradição entre aqueles que procuram normalidade e aqueles que acentuam
especialidade judaica, é tão antiga que o próprio Judaísmo. Essa discórdia encontrou
a sua expressão profunda no julgamento de uma das figuras mais significantes na
vida espiritual judaica no tempo pós-talmúdico, o Gaôn Saadya ben Yosef (882-942),
diretor da escola rabínica alta de Sura. Na sua obra Fé e Saber disse: “Os judeus são
um povo pela força da Toráh” e. por isso, sujeitos ao judô celeste. Uma grande
história de efeito tinha também Nm 23,9: “Veja aí, um povo, mora separado e não se
deixa contar entre os povos.” Por essa razão, judeus observantes se identificam hoje
antes com a geração do deserto do que com os colonos hebraicos em Canaã, com
Moisés o servo de Deus, e não com Yosuá, o lutador pela terra prometida, e não com
os pioneiros sionistas.
A preferência da Toráh antes da Terra Israel se mostra já nos exilados em Babilônia
(586-538 antes [do ponto zero] da contagem de tempo). Até depois de lhes ser
permitido a volta a Sião, a maioria se decidiu a permanecer no exílio, onde tinham
sucesso, oravam pela restituição de Sião e construíram duas academias judaicas do
Talmude impressionantes. No mesmo tempo, uma academia judaica importante foi
fundada no Egito, a qual concorria com a reputação de Jerusalém. Quando, porém, a
população judaica da Alexandria chegou sob influência helenista e a língua grega
entrou ao lugar do hebraico, o teor original da Toráh não foi mais entendido
comumente. A tradução da Toráh ao grego (Setenta) testemunha o afastamento dos
judeus da cultura hebraica.
Também hoje, tanto na ortodoxia judaica como em Jerusalém como também em
Brooklyn e alhures, a fidelidade à sua pátria histórica e à cultura hebraica fidelidade
obrigatória faz falta. Prefere a língua yídiche à hebraica e, enquanto os ultraortodoxos (haredím) em Israel se sentem como estranhos no estado sionista e se
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recusam a seguir a convocação ao serviço militar, tão muitos desfrutam em Brooklyn
as alegrias da vida no exílio, deixando-se serem servidos por não-judeus e rejeitando
o Estado ateu de Israel.
Ter estado e reinado próprio, exceto o reinado davídico, jogavam papel somente
pequeno na história judaica. A todos os sacerdotes estava imposto serem guardiões
do culto divino e portadores da tradição judaica. Mais tarde o eram os rabinos, os
intérpretes da Toráh, os quais estavam na vanguarda da jerarquia israelita-judaica.
Na realidade, nunca havia um estado judaico correspondente ao entendimento
ortodoxo, nem em Israel nem alhures. Isso inclui ironicamente: O Estado de Israel é
judaico de jure, mas não de facto. O próprio Herzl se esforçava antes para um
“estado de judeus” (um estado de judeus governado por judeus) do que duma
teocracia judaica. Isso vale igualmente para a maioria judaica em Israel, a qual
prefere um “estado pluralista dos judeus” a um “estado judaico” voltado para trás.
De fato, os judeus passavam muitas vezes melhor quando foram dominados por nãojudeus, pois estes os isentavam do serviço militar, de tarefas de administração e
responsabilidade política, possibilitando-lhes, com isso, guardar a Halakáh,
independentemente de obrigações territoriais. A ironia é que um estado judaico,
assim, possa existir teoricamente só no tempo messiânico ou, porém, numa teocracia
correspondente. Depois gerações da entrega entre os povos, os haredím não
estavam preparados para um encontro com um estado moderno.
O destino de Yigal Elam do Judaísmo rabínico como nação de religião acerta no cerne:
Uma nação de religião é, nesse contexto, uma religião que se apresenta um como
grupo de parentes próximos e se entende como povo escolhido. Sem a tarefa divina,
a sua existência perde a sua significação. Uma nação de religião, então, se realiza no
povo e não num território. Para a nação de religião conta somente a confirmação do
reinado de Deus. Um rei mundano e um estado terrestre são irrelevantes para ela.
Daí, se exige da ortodoxia judaica que não antecipe a vindo do messias e que não
volte à Erets Yisroel antes do tempo.
Os judeus sobreviveram a sua sorte pesada, portanto, não apesar do exílio, mas sim
por causa do exílio. Sobreviveram porque criavam uma convicção de Toráh, a qual
não estava ligada nem numa pessoa nem num lugar. Essa convicção de Toráh se
parece com a Arca da Aliança móvel no deserto: Era carregada pelos sacerdotes e
assumida mais tarde pelos rabinos. Estes deram à Toráh a preferência perante as
cerimônias régias. Apesar disso, se exigia dos judeus um preço insuportável pela
abstenção política. Foram condenados a uma pseudo-existência, privados da
autodeterminação e entregues à perseguição. Numa apresentação rabínica de
Shemaya (50 antes da contagem do tempo) se reflete o fato de que os judeus
abandonaram a política: “Ama o trabalho, odeia a dominação e não te familiariza com
detentores de poder” (mAv 1,10). O rábi Shemaya bem Hakana diz: “Quem tomar
sobre si o jugo da Toráh, será liberado do jugo da dominação.”
Pensar político da ressurreição de Bzar-Kokba até à fundação do Estado de Israel faz
ponte sobre a distância entre o exílio (gola) e redenção (gueula). No entendimento
popular, o exílio é subjugação sob os não-judeus, redenção, no entanto, a época na
qual os judeus viverão em paz e bem-estar na sobra das asas de Deus. Redenção
significa, nesse contexto, o fim de política e do poder de coação e crueldade incluídas
nela. O filósofo americano Michael Walzer escreveu: “Aqui jazem talvez as raízes
judaicas do prognóstico de Marx de que o estado vá desaparecer e de que isso só
seja bem sucedido no fim dos dias” (Arts and Letters, Jerusalém Post, The Space
between Exile and Rdemption, 29.9.2000).
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Exilo era um sinal principal da história da vida do povo judaico. Por isso era e é, na
cultura política israelense, dominante a imaginação do surgimento dum estado
soberano. As atitudes diferentes referente ao surgimento do estado judaico se
deixam mostrar em três correntes:
1. os colonos na Judéia e Samaria e a doutrina destes do “Israel Grande”,
2. a ultra-ortodoxia, que espera a vindo do messias
3. e os adeptos do “Movimento de Paz Agora”, que ambicionam um convênio de
paz.
A política israelense fica, com isso, presa como numa trápola – entre exílio e
redenção – entre experiências existentes e sonhos messiânicos. Mas finalmente,
Israel não vai poder escapar da realidade política, precisando seguir o princípio de
que política é a arte do possível.
Texto alemão
Anti-semitismo e inimizade contra Israel na DDR
Konrad Weiss
(DDR = Deutsche Demokratische Republik [República Democrática Alemã], a
antiga ‘Alemanha Oriental’)
Assunto não somente histórico
Na DDR, o antifascismo era doutrina de estado. A DDR se definia a si mesa como
antifascista. Mas é que a DDR era realmente um estado antifascista?
Depois da reunificação, a palavra do antifascismo decretado entrou na moda. Não o
estimo, pois, no começo, não estava decretado nem mais nem menos como na
Alemanha ocidental. Aqui como aí eram alguns poucos homens e mulheres
individuais que podiam dizer de si com razão: Lutei contra o nazismo. A maioria dos
alemães marchou junto, se calara, sofrera.
Essa maioria acordara em maio de 1945 como de um sonho mal. Só a destruição do
país, os milhões de mortos, as imagens dos campos de extermínio abriram os olhos.
No ocidente como no oriente, chegou a se vivificar a vontade de construir um país
melhor. Isso dava, depois da liberação, às pessoas nova força para viver de novo, agir
de novo, pensar de novo. Muitos se soltaram do que lhes valia até agora, mudaramse, chegaram, de co-correntes e co-perpetradores dos nazistas, a serem antifascistas.
Isso ninguém deve difamar como decretado.
Mas à verdade pertence também que nisso havia déficits, com os quais temos até
hoje a disputar: A culpa horrenda foi reprimida e meticulozada. Restos da ideologia
marrom faziam das suas no subconsciente. As raízes totalitárias, antidemocráticas do
sistema não foram realmente reconhecidas e erradicadas. Perpetradores escaparam
da punição ou encontraram abrigo clandestino, e não poucos chegaram a ser outra
vez a serem ferramentas extorquíveis, complacentes. Tudo isso estava assim no
oriente como no ocidente.
Na zona ocupada pelos soviéticos e depois na DDR, porém, se acrescentava que o
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poder vencedor instalara outra vez um sistema totalitário, o qual não menos
misantropo que o recém superado. O stalinismo na DDR impossibilitava antifascismo
real. Antifascistas corajosos, que acabarem de escapar dos campos de concentração,
chegaram a ser beleguins do sistema novo, chegaram a serem esbirros, traidores dos
seus ideais. Não duvido que muitos agiam de boa fé, vendo primeiro no socialismo
stalinista e a seguir no real de fato a alternativa. Objetivamente, porém, cooperavam
a impedir e destruir liberdade, democracia e humanidade. Por isso, aquilo na DDR era
um antifascismo quebrado. Quebrado, como se quebra a sua palavra. Quebrado,
como ideais quebram.
Isso mal chega a ser tão claro como na inimizade da DDR a Israel e no anti-semitismo
da SED [Sozialistische Einheitspartei Deutschlands = Partido de União Socialista da
Alemanha, o “partido” da DDR]: Alemães, depois de Auschwitz, voltaram a perseguir
judeus e os expulsaram do país, solidarizam-se com os inimigos sangrentos de Israel,
dando-lhes dinheiro, armas e ajuda fraternal para a luta contra os sobreviventes da
Shoáh. Esse um dos capítulos mais horrendos nos quarenta anos da DDR. Não, essa
DDR não era um estado antifascista, a SED não era um partido antifascista. Pois pode
haver um antifascismo que seja anti-semítico? Será que uma sociedade é antifascista
que negue aos sobreviventes da Shoáh o direito a vida e lhes recuse a solidariedade?
Será que um país seja antifascista, no qual era a política de governo, durante
decênios, passar em silêncio tudo o que é judaico: a religião e cultura judaicas,
história e tradição judaica, a realização por judeus na história alemã?
Na primavera de 1980, trabalhei com o escritor Walther Petri num filme sobre o diário
de David Rubinowicz, um moço da Polônia, o qual 1942 morreu em Treblinka.
Quisemos fazer esse filme documentar para crianças, porque então, pelo fim da
década dos setenta, chegaram a serem visíveis os primeiros indícios para um novo
radicalismo de direita na DDR. Só durante o trabalho chagamos a ter consciência de
que toda uma geração tinha crescido sem qualquer saber sobre judeus e Judaísmo. A
educação antifascista era entorpecida, formalizada, fria, alheada; as visitas dos
lugares comemorativos eram exercícios obrigatórios não amados, as quais mais
prejudicavam que ajudavam. O nacionalsocialismo era para essas gerações uma
verdade de livro escolar, a qual não tinha nada a ver com a vida própria. E: Israel era,
para eles, um país inimigo.
Durante meio ano lutamos por esse nosso filme. Um argumento contra o filme era
que pudesse despertar simpatia para a criança judaica Dawid e, com isso, simpatia
para Israel. Um outro era, que não lhe déramos um final “otimista”, mas ou
deixássemos terminar em um qadísh, a lamentação fúnebre judaica, com o
sentimento de luto pelas vítimas da Shoáh. E finalmente, que faláramos do povo
judaico. Segundo a doutrina dominadora na DDR, não havia povo judaico. Mesmo a
palavra judeu se evitava. Num cenário ao filme, que eu recebera de volta de alguma
repartição estadual, a palavra judeu ou judaico, cada vez quando aparecia, estivera
sublinhada em vermelho. A perífrase habitual era “co-cidadão judaico” ou “cidadão
de origem judaica” – logo uma designação ao mesmo tempo excluidora e difamadora,
assim que um judeu não pudesse não ser bem naturalmente um alemão. Também
Israel não era, por assim dizer, um estado judaico, o estado dos judeus, mas um,
assim verbalmente “zionistisches Gebilde” [criação sionista]. Tão desmascaradores
conceitos podem ser. O anti-sionismo dos Realsozialisten [Socialistas Reais] era na
verdade anti-semitismo.
No trabalho para o filme Dawids Tagebuch [O Diário de Davi] e dez anos depois no
filme sobre Janusz Korczak Ich bin klein aber wichtig [Sou pequeno, mas importante]
colaboramos estreitamente com o Instituto Histórico Judaico. O então diretor, o dr.
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Zymunt Hoffmann, possibilitara a Walther Petri e a mim trabalhar com os originais
dos arquivais. Podíamos então tomar nas mãos as fotografias de famílias judaicas da
Polônia ou documentos do Gueto de Varsóvia em originais. Esse imediato é muito
importante num trabalho tal, que, portanto, não se tem de ter com cópias somente,
mas sim que as histórias, no sentido mais verdadeiro da palavra, cheguem a ser
tangíveis.
Igualmente importante era para nós procurar lugares originais, p.ex. a Dom Sierot, o
orfanato de Korczak na Krochmalna. Ou andar pelas estradas do antigo Gueto de
Varsóvia. É que ali tudo fora queimado e destruído até os muros fundamentais, nas
ruas nada mais lembrava propriamente do bairro judaico. Só os nomes das ruas
ficaram, o caminho que Korczak andara com as crianças: Sliska, Sosnowa, Twarda, a
rua Zamenhof e, no mercado de verduras da rua Slawki então o “ponto de
transbordo”. Também num caminho tal, o imediato da história está percebível.
Dum modo tal de se adquirir história a SED não pensava nada. Queria que o modo de
ver fixado por ela dogmaticamente fosse aceito sem fazer perguntas. Pelo seu
silêncio sobre tudo que é judaico, sobre religião, história, tradição e cultura judaicas,
a DDR se fazia completadora do Holocausto: Um povo judaico, um estado judaico,
vida judaica, segundo a vontade da SED, não devia ter. Umas poucas centenas de
judeus nas comunidades em extinção foram toleradas, não deviam ser mais.
Na concepção do mundo pretensamente “científica” dos marxistas não havia lugar
para culpa, arrependimento e penitência. O falhar horrível dos alemães foi
anonimizado com a tabuada simples da doutrina de classes: O fascismo, assim a
opinião doutrinal corrente, era a expressão agressiva do capitalismo, o antisemitismo servia “ao desviar as massas da política de exploração da classe
dominadora”. O dogma poupava a discussão com a culpa própria. Para a SED, o
sionismo era, fiel à análise antiquada de Lênin, “um movimento nacional-socialista da
burguesia judaica internacional, existindo somente a deter o proletariado judaico da
luta de classes”.1 Esse teorema valia até por fim.
Em 1980 apareceu um relato de viagem sobre Israel, viagem à terra louvada por
Walter Kaufmann, provavelmente o único livro que relatava, nos tempos da DDR, um
pouco mais amigavelmente de Israel. Mas mesmo isso era suspeitoso para os
censores da SED. Logo, um prefácio devia ser anteposto ao livro, aliás um
procedimento para ajustar ideologicamente textos não agradáveis. Nesse prefácio de
A. Jörgensen diz:
“Mais que a burguesia de outros países, a israelense engrenou as suas
alavancas ideológicas e políticas para a condução da contradição fundamental
dessa sociedade surgida em Israel, hoje já de monopólio capitalista, com o
nacionalismo burguês, este que ali tem a forma do sionismo. Para que os
trabalhadores não percebessem o contraste das classes no interior da nação,
(…) burguesia e oportunistas da direita, com a ajuda do sionismo, o qual
apresentavam como ‘movimento nacional libertador dos judeus’, desenharam
aos trabalhadores judaicos, ao homem na rua, durante decênios uma imagem
do mundo falsa. Fizeram inimigos principais ‘dos judeus’ por um tempo ‘os
alemães’ – indiferente se antifascistas ou fascistas -, antes de todos, porém
‘os árabes’. 2
Citei essa geringonça marxista tão explicitamente, porque essa linguagem revela o
sem-espírito que dominava na DDR e no qual a maioria dos cidadãos da DDR foi
educada. Não de devia subestimar o efeito ainda perdurante duma indoutrinação
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ideológica tal; até hoje, um anti-sionismo e anti-semitismo latentes continuam
atuando em muitos alemães orientais.
Aí não havia lugar para o Israel real, possivelmente nem para simpatia com o estado
judaico. Nisso, a fundação de Israel fora inteiramente acolhida bem. O historiador
Helmut Eschwege descreve nas suas lembranças3 que, por motivo da declaração de
independência de Israel, foi realizado um ato solene, na qual participaram também
representantes da direção a SED do país. Wilhelm Pieck, então presidente da SED,
acolheu bem a decisão das Nações Unidas de dividir a Palestina em um estado árabe
e um judaico. A SED consideraria a criação dum estado judaico uma contribuição
essencial para possibilitar as pessoas às quais o fascismo de Hitler atribuiu os
sofrimentos mais graves, a construção duma vida nova. Numa comunicação do
serviço de imprensa da SED do 8 de maio de 1948 se diz ainda:
“Desde meses, lutas vigorosas entre as forças da Haganáh e da Legião
Arábica estão em marcha, as quais custaram mais 2400 vítimas de morte e
5100 feridos. À Jewish Agency e à Haganáh, portanto, não ficou alternativa
outra de ou capitular perante a Legião Árabe, a qual preponderantemente
está composta de elementos fascistas de numerosas nacionalidades e a qual
está em parte sob a liderança de pessoas da SS alemã do exército de
Rommel, ou empregar tudo para realizar a divisão da Palestina e, com isso,
realizar a decisão com forças próprias. (…) O primeiro passo para isso era a
formação dum governo do estado judaico, a qual se realizou em 4 de maio de
1948. Pela primeira vez depois de agora 2000 anos, o gabinete dum governo
nacional judaico se reuniu.”4
Quão diferente soa isso que as mentiras de propaganda sobre Israel divulgadas a
seguir durante decênios! A mudança veio em novembro de 1952 com o processo
Slánsky em Praga, num tribunal repugnante de espetáculo. Rudof Slánsky e mais
outros 13 acusados, entre eles 11 judeus, foram acusados de traidores, conspiradores
e espiões, e condenados. Esse processo desatou também na DDR uma onda da
perseguição e humilhação. As salas da comunidade judaica foram revistadas,
regedores de comunidade interrogados e numerosos judeus presos. Deveriam,
segundo as “lições do processo contra o conspiracismo de Slánsky”5, assim uma
resolução do ZK [Zentralkommitee = Comitê Central] da SED (20 de dezembro de
1952), em processos de espetáculo semelhantes, ser desmascarados como “agentes
da oligarquia de finanças internacional” e condenados como “agentes da conspiração
judaica mundial”. Não é isso a linguagem de Goebbels e Himmler? Naquele tempo,
cerca de 20.000 judeus fugiram da DDR.
Às vítimas pertencia como membro do escritório político da SED, Paul Merker, a quem
os seus companheiros repreenderam por se ter empenhado pela indenização
referente às vítimas dos nazistas. Numa resolução do ZK diz:
“A traficância de bens do povo alemão exigiu com as palavras: ‘A indenização
do dano causado a cidadãos judaicos se efetua tanto aos que regressam
como aos que querem ficar no exterior’. Merker falsifica os proveitos máximos
expressados pelos capitalistas de monopólio para propriedade pretensa do
povo judaico.”6
Isso, agora, desmascara a SED de todo. Um partido que designa esforços pela
indenização nas vítimas da Shoáh como “traficância de bens do povo alemão” não
podia ter levado a sério o esforço de erigir na Alemanha uma ordem básica
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antifascista-democrática. É francamente trágico como as vítimas de um sistema
totalitário chegaram a ser perpetradores no outro, no socialismo real. Ainda hoje é
que o partido sucessor da SED, o PDS, tem dificuldade de perceber as semelhanças
fatais de sistemas totalitários, para não falar em discuti-las.
A virada total da SED e o aprisionamento de muitos judeus levou em 1952/1953 a um
novo êxodo de judias e judeus da Saxônia e Turíngia, de Mecklenburg e SaxôniaAnhalt, de Brandeburgo e Berlim Oriental. Cerca de vinte mil sobreviventes da Shoáh
fugiram então da DDR. Uma comunidade judaica muito envelhecida, a qual afinal, no
fim da dominação da SED, contava ainda apenas 600 membros.
Em 1967, com a Guerra-dos-Seis-Dias, começou uma nova campanha difamatória
contra o estado judaico. Numa tomada de posição do Instituto para Direito dos Povos
na universidade Humboldt em Berlim, os professores Alfons Steiniger, Bernd Gräfrath
e Edith Öser declararam Israel “transgressor internacional de direito” e “estado
agressor”. Embora o fechar da estrada de Tirãn pelo Egito, o que era o motivo para a
guerra do ano de 67, tivesse bem univocamente infringido contra a convenção das
Nações Unidas sobre águas soberanas e zonas limítrofes do ano 1958, os peritos de
leis internacionais da SED, conforme o pedido recebido, fizeram Israel o culpado,
afirmando que a luta dos estados árabes contra Israel fosse legal. Essa tomada de
posição dos assim chamados peritos em direitos internacionais da Universidade de
Humboldt foi publicada em 8 de junho de 1967 no Neues Deutschland e da outra
imprensa sincronizada da DDR. Resumindo diz:
“A luta dos estados árabes contra a agressão israelense e pela sua soberania
e integridade territoriais é legítima. O assalto, ao qual Israel foi animado pelos
seus aliados imperialistas em Washington e Bona, é rompimento flagrante do
direito internacional. O povo da República Democrática Alemã está solidário
ao lado dos povos arábicos, os quais lutam pela sua liberdade e
independência nacionais.”7
Segundo esse modelo banal se continuava sempre a argumentar: Israel com
agressor, os estados árabes como vítimas. Nesse modelo cabe que não foi relatado
sobre os atos sem número de terror dos palestinenses contra Israel. E quando apesar
disso, então em palavras magras e de modo algum desaprovando, também quando
as vítimas eram crianças em ônibus de escola ou transeuntes desinteressados. É que
eram somente, não pode ser interpretado de outro jeito, eram somente judeus…
A mídia sujava e difamava Israel sempre onde for possível. Aí havia no órgão da CDU
[Christlich-Demokrátische Union] Neue Zeit para ler do “homicídio de Bona no Médio
Oriente”, pois a Alemanha Ocidental teria dado à bomba uma corrente de armas por
mais que 600 de marcos”8, sendo essa a cara da indenização da Alemanha Ocidental.
O mesmo jornal culpava os políticos israelenses líderes por não terem sido
perseguidos do regime nazista ou precisado fugir da Alemanha.9 David Ben Gurion,
assim o jornal, até teria dado então ao chanceler de Bona a afirmação por carta de
que Israel iria fazer tudo para que, no processo de Eichmann, não fosse tingido o
prestígio da Alemanha.
No meu arquivo tenho um poema daqueles dias, o qual do mesmo modo poderia ter
estado no Stürmer [a revista dos nazistas naquela época; trad.]. Esse poema de
Rudolf Riff, o qual a Magdeburger Volksstimme, o órgão da SED daquela região,
imprimiu em 1967, é prova convencedora do caráter anti-semítico desse partido.
Portanto vou, seja tão indigesto como é, citar aqui. Peço que prestem atenção à
confusão indizível de pronunciamentos políticos com elementos religiosos da tradição
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judaica e cristã. Só o apontamento de Gólgota, ao lugar da execução de Jesus, é
infame nessa conexão. A SED se põe, com isso, na tradição má do anti-semitismo
religioso:
Oh Israel!
Oh Israel! Afiaste a espada
e ensinaste aos teus filhos roubo e assassínio,
e atrevido tomaste posse de terra alheia
e esvaziaste bolsas alheias como um ladrão.
Bateste a paz, atrevido, na cruz,
pregas diariamente novos pregos na sua carne,
e a sua coroa de espinhos deve carregar,
porque o flagelas toda hora, batida por batida.
Ousas ainda te pavonear como vencedor
e fazes alarde do teu poder de armas.
Sim, os teus altaneiros não são avaros de armas,
porque precisam de ti na Batalha Grande,
a qual já se inflamou entre bom e mal,
quando, pela primeira vez, a injustiça pegou o poder –
sentiste quando se exilou outrora
o teu povo da Palestina, jovens e velhos…
Mas ai de ti, quando em loucura cega
ameaças aos vizinhos com novo Golgatá,
quando levantas a bandeira sangrenta da guerra
para façanha novamente planejada, nefasta!
Os povos não toleram cadeias de escravo.
Oh guarda-te de novo rompimento de paz,
pois Jeová nenhum te salvará então
da sentença severa da desforra!10
Não menos infame era aquela argumentação da SED, a qual imputava aos judeus
uma co-culpa no Holocausto. Essa tese aparece primeiramente em 1965 na revista
oficiosa Staat und Recht [Estado e Direito] num artigo dos juristas de estado Walter
Muller, Ingo Steiner e Horst Westphahl. Nesse diz:
“O palavreado mentiroso duma pretensa indenização referente às pessoas judaicas
que vivem em Israel só quer disfarçar o fato de que o militarismo alemão e os
culpados pelas perseguições fascistas dos judeus voltam outra vez a pôr uma
população judaica – e desta vez antes de todas aquela de Israel – sem escrúpulos no
serviço dos seus fins expansionistas.”11
Essa tese foi estendida e pertencia a seguir ao repertório fixo do anti-semitismo realsocialista. Tinha também conseqüências práticas para os perseguidos judaicos do
regime nazista, que viviam na DDR. Foram tratados, pela SED, como antifascistas de
segunda classe, como “vítimas” que recebiam uma subvenção menor que os
“combatentes” não-judaicos. Essa desigualdade só foi eliminada em 1990 pela
câmara popular livremente eleita. Ao mesmo tempo, porém, se indignaram
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hipocritamente de todos que chamavam o anti-semitismo da DDR pelo nome,
fazendo-os depressa “odiadores de judeus do império nazista e dos nazistas na
Alemanha Ocidental”. A difamação desses de má vontade seria inversão de todos os
valores, Paul Markowski declarou em 4 de junho de 1967 no colóquio dominical no
Deutschlandsender [Emissora da Alemanha]:
“Finalmente demonstramos que exterminamos o anti-semitismo no nosso
território… Devemos também apontar para que se nem pode nem deve
identificar com as pessoas de origem judaica, as quais vivem em todos os
países do mundo. Há no mundo cerca de 13 milhões de origem judaica, que
não vivem em Israel, enquanto em Israel 2,2 milhões de habitantes judaicos
estão domiciliados.”12
Tão simples era isso…
Enquanto desde o começo da década dos setenta, no resultado da política de
distensão, o clima internacional melhorava aos poucos, continuou frio entre Israel e a
DDR. A batalha de propaganda contra o estado judaico continuava bramindo até
muito para dentro da década dos 80. A mídia da DDR injuriava Israel com injúrias
verbais cada vez novas, uma notícia de horror corria atrás da outra: Um rasto de
sangue correria pelo caminho de Israel; exerceria uma política de roubo indisfarçado
e de terror estadual organizado; teria criado desde decênios uma atmosfera de
chauvinismo, incitamento e racismo. Mesmo diante do conceito fascista horrível de
“solução final” a SED não recuava: Em 1982, um comentador da Berliner Zeitung
[Jornal Berlinense], Klaus Wilczynski, escreveu que Israel queria continuar as
operações militares no Líbano “até à solução final”.13
Havia, porém, também na DDR tentativas de reagir contra o anti-sionismo e antisemitismo da SED e dos partidos de bloco. Como para os cidadãos da DDR as
possibilidades de viajar eram excessivamente restritas, sendo uma viajem a Israel
quase impossível, também ninguém se podia informar sobre o Israel real e a vida dos
judeus ali. Sobretudo às Igrejas se deve agradecer que, apesar disso, havia começos
dum diálogo com o Judaísmo e informações alternativas sobre o Estado de Israel,
sobre sua tradição religiosa e cultural, sobro o seu desenvolvimento político e
econômico, sobre as suas pessoas e o dia-dia destas. A confissão de culpa de
Estugarda trouxera para a Igreja Evangélica, o Concílio Vaticano para a Católica, uma
mudança de pensar. Também os grupos para o colóquio judaico-cristão que havia em
vários lugares, realizavam um trabalho importante de esclarecimento.
Em 1958 foi fundada, por Lothar Kreyssig, a Aktion Sühnezeichen [Ação Sinal de
Penitência], originalmente ainda uma organização pela Alemanha toda, a qual se
dera como fim a reconciliação com os países anteriormente inimigos. Primeiro na
Holanda, Noruega, Inglaterra e Grécia, mas logo também em Israel, jovens
voluntários trabalhavam por um ano na reconstrução de igrejas e sinagogas
destruídas e em projetos sociais. Aos jovens da DDR era proibida a participação no
trabalho de reconciliação também em Israel. Encontraram outras formas de emprego,
seja na DDR ou nos estados da Europa oriental. Assim, mulheres e homens jovens da
Aktion Sühnezeichen trabalhavam em cemitérios judaicos, e campos de concentração
de outrora ou em estabelecimentos sociais para deficientes, os quais foram
designados pelos nacional-socialistas como indignos de viver e exterminados.
A Ação ajudou a numerosas pessoas jovens na DDR a se arranjar ativamente com a
culpa e responsabilidade alemãs e chegar a saber mais e outras coisas sobre o
Judaísmo e o Estado de Israel do que na escola ou nos jornais. Não é acaso que
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muitas delas chegaram ativas mais tarde em grupos oposicionais e, finalmente, no
movimento de cidadãos. Muitos membros das comunidades judaicas na DDR, assim
também o historiador criticador do sistema Helmut Eschwege e numerosos hóspedes
de Israel, se puseram, por decênios, atrás do colóquio com alemães orientais jovens
na Aktion Sühnezeichen. Helmut Eschwege, em tais atos, falou várias vezes sobre
também perseguições anteriores de judeus na DDR, algo que, enquanto sei, ninguém
fez na DDR, também não da comunidade judaica.
Outras alternativas eram os círculos de trabalho para o colóquio cristão-judaico.
Também na semana da fraternidade, respectivamente da Semana da Fraternidade,
respectivamente da Década de Paz, a relação alemã-israelense continuava a ser
repetidamente tematizado, igualmente nas academias evangélicas e
Kirchenzeitungen [Jornais Eclesiais (são semanais de cada diocese alemã; trad.].
Essas disposições eclesiais realizam um trabalho importante de esclarecimento.
Outras formas de organização, sobretudo fora das Igrejas, não eram possíveis na
DDR. A fundação duma sociedade de amizade DDR-Israel, p.ex., teria sido um crime
de estado; só em 1990 isso chegou a ser possível.
Apesar da atitude hostil do Estado da SED a Israel, nasceu um número imponente de
livros e filmes a assuntos judaicos e à história dos judeus na Alemanha, também à
perseguição dos judeus e extermínio de judeus, da Shoáh. E finalmente também
alguns poucos trabalhos sobre Israel. Mas isso contradiz só aparentemente à tese de
que a DDR era anti-sionista e anti-semita. Pois todos esses trabalhos foram
conseguidos por escritores, fazedores de filme e publicistas em por vezes em lutas de
muitos anos contra a linha do partido, contra a censura e a burocracia de cultura.
O historiador Helmut Eschwege precisava de oito anos até a sua documentação
importante Distintivo J sobre a perseguição de judeus fosse impressa. O seu volume
Die Synagoge in der deutschen Gechichte [A Sinagoga na História Alemã] jazia de
1967 a 1980 na impressora. A sua obra maior sobre a história dos judeus na região
da DDR de então não está sendo impressa até hoje. Aos trabalhos mais importantes
sobre os assuntos judaicos que saíram na DDR, a biografia de Moses Mendessohn
Herr Moses in Berlin de Heinz Knobloch pertence, a qual para muitos leitores na DDR
chegou a ser o primeiro contato com assuntos judaicos em geral. Coisa semelhante
vale para a peça de Erwin Sylvanus Korczak und die Kinder [Korcza e as Crianças], a
qual foi encenada também na DDR. Vi-a no início da década dos 60 numa encenação
impressionante dos Palcos Urbanos em Magdeburg, com Walter Bechstein no papel
de titular. À matéria de ensino na escola pertenciam – pelo menos no meu tempo de
escola – Professor Mamlock de Friedrich Wolf, Die Sonnenbrucks de Leon Kruczowski
e, naturalmente, Das Siebte Kreuz [A Sétima Cruz] de Anna Seghers.
Das publicações primitivas de belas-letras tenho lembradas especialmente Das Haus
in der Karpfengasse [A Casa na Viela das Carpas] de Ben-gavriel, um livro sobre
judeus e perseguição tchecos, e a Warschauer Karwoche [A Quaresma de Varsóvia]
de Jersy Andrzejewski. Dos filmes quero mencionar o filme de televisão Die Bilder des
Zeugen Schattmann [As Imagens da Testemunha Schattmann], o qual foi feito por
Kurt Jung Ahlsen em 1972 segundo a romance de Peter Edel, e no qual apresentou
também rituais religiosos judaicos. Sim, havia algumas coisas – mas muito destas
podia, o quero repetir expressamente, ser conseguido somente em lutas de muitos
anos contra censura e a burocracia de cultura. E sei também que ainda mais
escritores, publicistas e fazedores de filmes na DDR trabalharam em assuntos
judaicos, mas os livros e filmes deles não tinham permissão de serem publicados.
Algumas coisas desses saíram então depois de 1989, p.ex. o livro Ahawa. Das
vergessene Haus [Ahawa. A Casa Esquecida] sobre o destino dos judeus na
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Auguststraße berlinense de Regina Scheer.
Uma mudança gradual no relacionamento às comunidades judaicas e então também
a Israel começou pelos meados do decênio dos oitenta. Honecker quis ser hospede de
estado em Washington e arranjar créditos dos EUA para a economia doente da DDR.
Por isso se esforçava para melhorar os relacionamentos aos EUA. Contra isso, as
associações judaicas aí protestavam. Isso urgia a SED a mudar a sua política: Em
1986, por incumbência de Honecker, o cemitério da comunidade Addas Jisroel foi
restaurado. Em 1987, a sinagoga de Berlim oriental podia ser restaurada com meios
públicos e, depois de uma vacância de dois decênios, investido um rabino. Em
cemitérios judaicos, os quais até então foram cuidados mais mal que bem,
realizavam-se agora também empregos da FDJ [Freie Deutsche Jugend = Juventude
Livre Alemã].
Em 1988, na esplanada do Dia de 50 Anos do Pogrom Grande do 9 de novembro de
1938, havia uma plenitude de atividades de atos e publicações a assuntos judaicos,
uma campanha autêntica, a qual já outra vez tinha efeito contra-producente. Heinz
Galinski, o presidente do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, se encontrou
com Honecker exortando a objetividade na reportagem sobre Israel. O secretário de
estado para questões eclesiais viajou com uma delegação do governo a Israel. Aos
poucos, o clima melhorou; a mídia começou a reportar sobre Israel mais e mais
objetivamente, também sobre terra e pessoas, sobre cultura e sociedade, sobre
religião e tradição. Timidamente começou um intercambio de cultura.
Uma confissão de culpa referente aos judeus e Israel, porém, os detentores de poder
da DDR não conseguiam a pronunciar até o fim. Isso ficava reservado a Câmara do
Povo livremente eleita. Já a Mesa Redonda, na sua 16ª sessão em 12 de março de
1990, já assumira uma declaração de que, face à responsabilidade especial dos
alemães perante o povo judaico devessem ser assumidos na Constituição da
Republica Democrática Alemã os princípios seguintes:
1. uma obrigação expressa do estado para cultivar, preservar e para proteger as
tradições religiosas e culturais dos judeus;
2. uma obrigação expressa para a conservação de cemitérios judaicos e tais
edifícios e memoriais que lembram da história dos judeus na Alemanha;
3. a obrigação de asilo da Republica Democrática Alemã para judeus
perseguidos.14
A minha primeira atividade como parlamentar da Câmara do Povo eleita era então,
estimular uma confissão de culpa referente a Israel e a co-redigir, a qual então
chegou a fazer parte duma declaração comum, a qual a Câmara do Povo despachou
na sua segunda sessão em 12 de abril de 1990. Nessa, o Parlamento da DDR, em
nome das cidadãs e cidadãos da Alemanha oriental, se confessa à coresponsabilidade pela humilhação, expulsão e assassínio de mulheres, homens e
crianças judaicos, pedindo perdão a todos os judeus do mundo. Do povo de Israel se
pede perdão pela hipocrisia e inimizade da DDR perante o Estado de Israel e pela
perseguição e degradação de co-cidadãos judaicos depois de 1945:
Nós, os primeiros parlamentares livremente eleitos da DDR, nos confessamos
à responsabilidade dos alemães na DDR pela sua história e seu futuro,
declarando unanimemente pelo público mundial:
11 / 19
Por alemães foi causado, durante o tempo do Nacional-Socialismo, mal
imensurável. O Nacional-Socialismo e ilusão racista levaram a assassínio de
povos, especialmente de judeus de todos os países europeus, nos povos da
União Soviética, no povo polonês e no povo Sinti e Roma.
Essa culpa não deve jamais ser esquecida. Dela queremos derivar a nossa
responsabilidade para o futuro.
O primeiro parlamento livremente eleito da DDR se confessa, em nome de
todas as cidadãs e cidadãos deste país, para co-responsabilidade pela
humilhação, expulsão e assassínio de mulheres homens e crianças. Sentimos
tristeza e vergonha, confessando-nos a essa carga da história alemã.
Pedimos aos judeus no mundo inteira perdão pela hipocrisia e inimizade da
política oficial da DDR referente ao Estado de Israel e pela perseguição e
degradação de co-cidadãos judaicos depois de 1945 no nosso país.
Declaramos querer fazer tudo o que nos for possível para contribuir a sarar os
sofrimentos psíquicos e corporais e intervir para uma indenização justa de
danos materiais.
Sabemo-nos obrigados a fomentar e proteger a religião, cultura e tradição
judaicas na Alemanha de modo especial e permanentemente cuidar e
preservar cemitérios, sinagogas e memoriais judaicos.
Vemos tarefa especial em educar a juventude do nosso país no respeito pelo
povo judaico e no proporcionar saber sobre a religião, tradição e cultura
judaicas.
Intervimos especialmente para conceder asilo a judeus perseguidos na DDR.
Declaramos que queremo-nos esforçar pelo estabelecimento de relações
diplomáticas e contatos múltiplos ao Estado de Israel.15
A declaração foi incluída no acordo entre os governos da República Federal da
Alemanha e da República Democrática Alemã do 23 de setembro de 1990 para a
execução e interpretação do tratado de unificação – artigo 2 – e é, com isso, até hoje
lei federal vigente.
Numa das sua últimas sessões, a Câmara do Povo se distanciou finalmente também
da resolução sobre sionismo da UNO do 10 de novembro de 1975, com a qual a DDR
concordara a seu tempo.16 Nessa resolução, a Resolução 3379 da Reunião Plena XXX,
fora, com uma maioria dos países árabes e socialistas, o sionismo condenado como
“uma forma de racismo”. A Câmara se distanciou do consenso do governo da DDR
com essa resolução fatal, ideologicamente ditada da UNO, na qual o sionismo fora
igualado com discriminação racista. Aquele consenso dum governo alemão era, face
à perseguição racista à qual os judeus foram expostos na Alemanha, uma
monstruosidade. A isso, já as Igrejas apontaram na esplanada da resolução,
exortando o governo da DDR a não concordar com isso. Em 1990 então, o pedido de
revogar esse consenso, como iniciativa inter-fracionária com assinaturas de
parlamentares de todos os partidos democráticos, não porém do PDS, apresentada à
Câmara do Povo.
Assim podia começar, ainda antes da reunificação, o processo de reconciliação entre
12 / 19
a Alemanha oriental e Israel, entre alemães orientais e judeus. Uma sociedade de
amizade DDR-Israel nasceu. O governo da DDR pôs à disposição 6,2 milhões de DM
[Deutsche Mark = marcos alemãos] para a fundação AMCHA, em cujo presídio
colaboro até hoje. Finalidade dessa fundação é aprontar meios para a cuidação psicosocial de vítimas da perseguição aos judeus alemã e das crianças destes. Pois ainda
há muitos, também na segunda geração, que são traumatizados. Era importante que
pelo menos essa tentativa modesta duma indenização podia ser iniciada ainda em
tempos da DDR.
`AMKA é palavra hebraica significando “Teu povo”. AMCHA é nome duma organização
de utilidade pública israelense, a qual foi fundada em 1987 por sobreviventes do
Holocausto para sobreviventes do Holocausto. AMCHA – o Centro Israelense Nacional
para acompanhamento de sobreviventes do Holocausto e das crianças destes é em
Israel a instituição única que oferece a atingidos ajuda psico-social no alívio de danos
tardios da perseguição nazista.
Email na Alemanha: [email protected]
Pede envio de contribuição à conta bancária de
AMCHA Alemanha e. V.
Konto-Nr.: 79 55 50
Banco: EDG Filiale Berlin
BLZ: 100 602 37
No verão de 1990, as duas presidentas dos dois parlamentos alemães, Rita Süßmuth
e Sabine Bergmann-Pohl viajavam juntas a Israel. Acompanhei-as nessa viagem e
experimentei com que simpatia quase todos os políticos israelenses receberam as
mudanças na Alemanha, com que disposição à reconciliação também na parte do
país, que era, não só doze, mas ainda mais quarenta anos anti-semita, e que quis
negar o direito de existir a Israel.
Ao programa pertencia também uma visita na Knesset, do parlamento israelense.
Essa visita era acompanhada por uma dissonância ou, tomando hábitos diplomáticos
como critério, uma afronta veemente das hóspedes alemãs. Pois o presidente
israelense do Parlamento, Dov Schilansky, se recusou a receber as visitantes alemãs
pedindo licença durante a nossa presença. No lugar, nos recebeu na Knesset o seu
lugar-tenente. Na imprensa israelense foi isso veementemente criticado.
Dov Schilansky era sobrevivente da Shoáh. Experimentara coisas horríveis dos
alemães e sofrera em vários campos de concentração. Quase toda a família dele foi
assassinada por alemães. Por fim, Schilansky esteve num campo exterior de Dachau,
onde as pessoas foram destruídas, não por gás ou balas de fuzil, mas sim por
trabalho. Então jurara nunca mais falar uma palavra alemã ou dar a mão a um
alemão.
Esse juramento não queria romper nem como presidente da Knesset. Portanto não
recebeu as presidentas de parlamento alemãs. Mas as convidou e a mim na mesma
noite a si para a sua casa. O presidente Schilansky nos recebeu com a sua mulher na
porta e nos levou para dentro da casa. Sob lágrimas nos contou o que sofreu por
alemães. Depois de algumas frases começou a falar alemão, pela primeira vez desde
quarenta anos. Assim ficamos sabendo a história do seu juramento. Que o rompeu
naquela noite aconteceu, como disse, também por respeito da revolução pacífica dos
alemães orientais. Que superaram o segundo sistema totalitário em solo alemão por
força própria era, para ele, a confirmação definitiva de que a Alemanha tinha
chegado a ser diferente. Na despedida nos, alemães, deu a mão. Ele, como também
outros parceiros do colóquio, expressaram a sua esperança de que também entre
13 / 19
israelis e palestinenses possam cair os muros, assim como na Alemanha. Uma
esperança, a qual ainda não se cumpriu. Mas quem de nós acreditara na caída do
Muro de Berlim?
Notas literárias
1
a
16
: No fim do texto alemão!
Texto alemão
Anti-semitismo novo como história(s) sem fim
1
Karl h. Klein-Rusteberg
Hannah Arendt, judia alemã na América e teórica do século 20, era que se pronunciou
criticamente ao título da uma das suas obras mais significantes “Elementos e Origens
de Dominação Total”. A fala das “origens” era para a pensadora da liberdade
linguisticamente perto demais a “causas” e, com isso, perto demais à idéia duma
automatização do próprio caminho de pensar: da causa ao efeito. Nesse caminho, o
pensar se põe no perigo de supor à realidade pensada uma lógica que não pode
chegar a corresponder à realidade complexa do agir humano. Responsabilidade
política não se deve reportar à conseqüência lógica como quase-regularidade do agir.
O pôr em perigo a liberdade política recorrendo à lógica legal histórica vale, para
Arendt, como elemento fundamental da restrição de liberdade.
Discussões políticas sobre “causas” se prolongam em never ending stories [histórias
que nunca acabam]. Numa cadeia genealógica assim assumida não parece haver
nenhuma interrupção, nenhuma decisão – nem catástrofes nem passos da liberdade
parecem pensáveis. Em vez de perceber fatos, somos salvos de surpresas. Mas onde
ficam a admiração e a perplexidade? Como surgiriam o perguntar e a autointerrogação? Finalmente, se poderia completar com Arendt: onde ficaria o pensar? O
político aprofunda sem surpresas, chamadas de “acidente” na historiografia! Como se
pudesse discriminar “bom” e “mal”? Onde ficará “melhor” ou “pior” em vista de
comparações político-históricas?
Mas quem queria, em vista do século 20, afirmar seriamente que não houvesse
surpresas – para o bom, como para o mal? O próprio totalitarismo era, para Hannah
Arendt, uma forma nova de domínio – não ditadura, não tirania, não despotismo. O
totalitarismo lhe passou por surpresa extensa, totalmente má, um sem igual
histórico.
Os fenômenos, com os quais não só a Europa foi confrontado depois das mudanças
ao redor do ano de 1989, podem ser descritos como conglomerado de surpresas.
Orientações e coordenadas políticas, até lá chegadas a serem estabilizadas e
predominantes pela ordem bipolar também no pensar ocidental, senão foram
perdidas, foram “poderosamente” perturbadas. E isso vale até para fenômenos e
suposições básicas, das quais queríamos ainda faz poucos anos afirmar com certeza
máxima que isso seria “assim” ou mesmo “assim”.
A esse conglomerado de surpresas pertence também o fenômeno conhecido de há
muito e sempre desconcertantemente novo daquilo que está sendo chamado antisemitismo novo em obras científicas, tomadas de posição políticas e na mídia.
O que é “novo” no anti-semitismo novo? O que é “antigo” neste anti-semitismo
agindo na Europa? É que o momento de insegurança, de surpresa e de
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desestabilização do nosso pensar de estar sendo confrontado mesmo no presente de
modo tão claro com esse fenômeno – o qual, com remessa a Auschwitz, pensávamos
que fosse o mais dominado – a questões novas? Os nossos modelos de pensar
estabilizados durante decênios são capazes de tomar conhecimento de tomar
literalmente conhecimento de desenvolvimentos novos? O será que se somente trate
de adaptar os antigos, então lições da história dos anos pré-89 a condições novas?
Assim, teríamos de lidar com uma nova peça de ensino ao assunto “tradição e
renovação”.
Orientando-se pelo escritor George Bernanos (1888-1947), o filósofo francês Alain
Finkelkraut menciona a indicação de que Hitler teria feito desonra ao anti-semitsmo.
“Cinqüenta anos os judeus foram protegidos pelo dique protetor do Nacionalsocialismo.”2
O que chegou a ser feito desse dique de proteção? O dique foi derribado ou chegou a
ser poroso pelas fricções e pelas rupturas (da história) do tempo? Porque, em todo o
caso, o dique não mais cumpre a função da proteção? Ou era que não queríamos
olhar para o outro lado deste dique e assim também, nos tempos guardados pela
veda da intimidação mútua, não queríamos ver e não poderíamos pensar a presença
do anti-semitismo em forma nova?
Então esse dique teria sido propriamente, não um dique de proteção, mas sim um
dique da percepção, cuja cimentação pela ordem estável do mundo acima
mencionada e como oferta em pensar estável parecia segurado e segurador. As
formas e condições da Guerra Fria e da ordem bipolar cunhavam também a nossa
memória e, assim, as lições da história muito citadas e conjuradas? Não será que
então continua valendo a pergunta: “O que a Guerra Fria, respectivamente a ordem
bipolar do mundo, fizeram com o relacionamento cristão-judaico na Europa?”
Para a aproximação a essa pergunta, convido para um rodeio de pensar pela
América. Esse rodeio leva a duas discussões exemplares. São discussões e
controversas dos desenvolvimentos político-culturais nos EUA da perspectiva judaicaamericana, que oferecem relevos à Europa, não para serem comparados como
congruentes como os desafios nossos, mas sim para serem úteis para o nosso
entender no contraste América/Europa em vista dos nossos relacionamentos
surpreendentemente mudados e acontecimentos no tempo presente. Nisso, não se
trata de somar ou reduzir globalmente as nossas questões. Mas se trata da
experiência real dum anti-semitismo que aparece global, o qual nos esforçamos
conhecer e pôr novamente em ordem nos seus complexidades e contextos, em
condição completamente mudadas como as conhecemos do tempo bipolar de ordem.
A isso ajuda o olhar transatlântico.
Quão morto está Hitler?
Hitler teria feito desonra, assim então Finkelkraut. A desonra teria sido anulada, o
anti-semitismo está presente na Europa.
“Hitler Is Dead” [Hitler Está Morto], assim o crítico de litaratura Leon Wieseltier
poucas semanas depois dos ataques ao World Trade Center e ao Pentagon numa
contribuição ao debate sobre a significação e percepção desse ataque para judeus
nos EUA 3 na revista The New Republic. Wieseltier escreve:
“É que história jamais tem brincado tão sem vergonha com um povo como a história
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com os judeus nos anos dos 40? Era um decênio de cinza e mel; um decênio tão
batente e marcante que pôs à prova a capacidade daqueles que o experimentaram a
manterem um olhar firme do mundo e a fé no mundo.”
Com a sua contribuição, o autor quis prevenir de analogias históricas, as que
possivelmente, perante o 11 de setembro de 2001 e os desafios do terrorismo djihad,
conduzissem à pista errada. A contribuição de Leon Wieseltier pode também ser lida
como lembrança de que, com o olhar ao passado sempre presumido como instrutivo,
não possamos conhecer o desfecho de desenvolvimentos atuais, então de presente
novo.
Se for possível, poderemos perguntar, apoiando-nos em Wieseltier, apontadamente
que “Hitler” – como encarnação negativa predominante da instrução pela história de
sáculo 20 – até estorva a percepção de fatos, quando queremos entender fenômenos
e acontecimentos e os pretendemos avaliar mais nos seus alcances e conseqüências
potenciais?
Nos anos de 1948, Simon Rawidowicz, Como Leon Wieseltier ainda escreve, “um
escrito grande de pessimismo” sob o título Das ewig sterbende Volk [O povo
perpetuamente morrendo]. Segundo Rawidowicz, quase não havia geração judaica
nos tempos da diáspora que não tivesse partido disto que, com ela, seja agora
alcançado o último elo da cadeia de Israel. Cada geração via o abismo para dentro do
qual estava ameaçada de ser arrancada. “Deu muitas vezes a impressão”, assim
Rawidowicz citado por Wieseltier, “de como a maioria preponderante do nosso povo
tivesse sido impelida do pânico de serem os últimos.”4
Nas semanas depois do 11 de setembro de 2001 ele, Wieseltier, teria precisado
muitas vezes pensar no escrito pessimista de Rawidowicz. Pois também agora
haveria esse pânico judaico. O conflito israelense-palestinense, o anti-sionismo
virulento, o anti-semitismo no mundo árabe e o aumento de palavras e atos antijudaico na Europa, tudo isso levou judeus a acharem novamente que seriam o elo
último na cadeia de Israel.
Wieseltier questiona e critica essa atitude. Judeus estariam afundados na fantasia do
desastroso, perder-se-ia a revisão intelectual. Uma das formulações apontadas do
autor: Medo teria chegado a ser a prova de autenticidade. Analogias imprecisas e
veementes estariam onipresentes. A fantasia de holocausto se poderia ouvir e ler em
toda parte. O tema próprio nas discussões sobre inimizades dos palestinenses para
com Israel porém – assim Wieseltier adverte – carrega outro título: Hitler.
Wieseltier prova os seus argumentos, os quais provocaram crítica mais veemente
também de amigos publicísticos mais íntimos, com exemplos numerosos. Aí tem Ron
Rosenbaum a ler no NEW YORK OBSERVER, que escreve do “Holocausto segundo”.
Ou George Will, outro publicista americano conhecido, escreveu uma coluna sob o
título “Solução Final, Parte Segunda”. Israel agora viveria daquilo do que se achava
que nunca mais se repetiria. E com Wieseltier seja citado como comentador último
Charles Krauthammer, que caracterizou o massacre de Peçah de Netanya, no qual,
em 22 de março de 2002, vinte-e-duas pessoas foram mortas por assassino suicida e
cento-e-quarenta feridas, no WASHINGTON POST como “A nova noite de cristais”.
Pombas bem como falcões, Wieseltier constata, estariam enervados. No NEW YORK
MAGAZINE liberal estava para ler que não lhe estranharia se um dia estivesse
colocado um alto-falante na Time Square e uma voz notificasse: “Todos os judeus
têm de aparecer na Time Square!”
16 / 19
Essas fantasias, complementadas por outros exemplos, Wieseltier chama de
grotescas. Assim, o massacre do Peçah não teria sido uma segunda noite de cristais.
Vinte-e-dois judeus foram assassinados, depois da destruição duma base terrorista
por Israel. Só um bobo poderia crer que o massacre fosse um prelúdio para a
extinção dos judeus em Israel. Traçar essa analogia se deve antes de tudo à
suposição de que não haveria solução política no conflito israelense-palestinense,
finalmente também não teria sido possível um processo como o Terceiro Reich.
Segundo Wieseltier, não se trata em tudo isso de argumentos realmente históricos.
Antes, são argumentos políticos historicamente disfarçados. Resultado de disfarce tal
é a paralisia do pensar e da diplomacia.
Força nenhuma é como a outra, continua. No entanto, o “pensar em tipologias”
estaria predominante para o pensar sobre história judaica nos últimos séculos.
Sempre se trataria do mesmo inimigo e seria uma guerra que estaria sendo feita. O
problema não seria o pensar histórico de modo algum. Pelo contrário, seria antes o
pensar não-histórico. Este pensar faria todas as diferenças indistintas, apagando com
isso as diferenças. “Historiosofia não é estratégia” não é estratégia, Wieseltier
escreve. Pensar histórico, porém, é concreto. Está orientado em experiências, é
prático e secular.
Para isso, porém – relacionado à experiência, prática, secular – está a revolução do
espírito judaico. Depois dos anos da década dos 40 do século 20, a história para
judeus justamente não é somente fatal. Judeus aprenderam a dar pelo seu destino
também por interesses. Essa lição se chama de sionismo. Nunca teria sido nascido
um estado judaico sem esse movimento e revolução. Os dilemas de presente judaico
não podem ser entendidos sem as descontinuidades ao passado judaico5.
Uma dessas descontinuidades de história judaica – aqui mencionado
exemplarmente – é para Leon Wieseltier a rivalidade pacífica por futuro
judaico entre Israel e a vida judaica nos EUA, “entre soberania e pluralismo”,
como ele o formula.
Com a revolução do espírito judaico, os judeus perceberam e mostraram: Não somos
mais o elo último da cadeia das gerações. Não para destruir o inimigo único, mas sim
para o negar, Israel foi criado.
Até isso um sumário somente breve sobre os argumentos críticos de Leon Wieseltier,
cuja referência às tradições e interpretações Amaleq extensas e controversas, as
quais imprimam a crítica de Wieseltier, não serão mais apresentadas aqui.
Uma pergunta central para as “sociedades para cooperação cristã-judaica” seria
aquela pelo valor de posição que a posição de questão de Leon Wieseltier possui
também para os participantes não-judaicos no tempo presente, então depois de
1989.
Se a Fundação do Estado de Israel for revolução do espírito judaico e o resultado
desta, pode-se perguntar se nós na Europa também não só lembramos um
acontecimento historicamente aproximante, experimentamos uma “revolução do
espírito”, podendo então atar nele para motivação e força na crítica e na luta contra o
anti-semitismo não somente de “Hitler”?
Sabemos do perigo da comparação presunçosa, substituidora, quando história judaica
estiver sendo comparada como contínuo comemorativo com história profana, geral.
17 / 19
Quando então não se tratar de comparabilidade ou analogias: será, p.ex., a entrada
dos EUA na história européia no ano de 1944, no seu peso de importância
semelhante à revolução mencionada? De outro lado: A imagem de revolução de
espírito na fundação do Estado de Israel chegaria assim mais compreensível a
cristãos? Essas perguntas precisam ficar abertas.
A contribuição de Wieseltier nasceu no ambiente temporal próximo do 11 de
setembro de 2001. Mas as questões de Wieseltier não se devem de jeito algum
somente à imediação do choque “11 de setembro”. São antes questões que o autor
formulou varias vezes antes em vista de historiografia judaica.
A remissão a uma discussão ulterior a partir dos EUA deve contrastar e revisar as
posições de perguntas até agora levantadas. Essa discussão se desenvolveu três
anos depois do 11 de setembro, então em espera maior, embora não menos
expressivo. Acentuam a pergunta pelas descontinuidades históricas em forma da
romance, deixando-se ler como consulta literária de Wieseltier. O contraste de ambos
os autores se forma primariamente perante o fundo da questão da confiança judaica
na republica americana. Trata-se de um apontamento breve ao até agora mais nova
romance de Philip Roth, a qual transfere a experiência de núcleo histórica do século
20 na história americana literariamente.
“Paz” é hostil aos judeus?
Num ensaio sobre o nascimento da sua romance The Plot Against America {O Complô
Contra América]6, Philip Roth conta como, estimulado e impressionado pela biografia
do historiador Arthur Schlesinger jr., se lembrou que os decênios dos 30 e 40 do
século passado cunhavam claramente também a ele. Interessava-se na biografia do
historiador muito especialmente pelos acontecimentos daquele tempo, os quais
deixaram apreensão tão profunda na sua família, sobre aquilo que acontecia na
Europa e na América. Já antes que ele, Philip Roth, entrara na escola, sabia algo do
anti-semitismo dos nacional-socialistas e do anti-semitismo na América. Este último
era cunhado pelas figuras seculares como Henry Ford e Charles Lindbergh, que
estavam naquele tempo semelhantemente famosas como as estrelas de cinema
Chaplin e Valentino. Acrescentou-se o pregador no rádio Charles Coughlin, o ministro
anti-semita de propaganda da nação, como Roth o chama.
Durante a leitura da biografia de Schlesinger, Roth encontrou uma anotação:
Schlesinger apontou ao que alguns republicanos se pronunciaram para fazer Charles
Lindbergh candidato para as eleições para presidente. Na margem do texto de
Schlesinger, Roth, outra vez, escreveu a sua anotação: O quê se os republicanos
tivessem feito isso?
Entre essa questão anotada do ano de 2000 e o assentar da romance jazem três anos
de trabalho. O resultado é a romance saída em 2004 The Plot Against América
[OComplô Contra América].
Com a romance, Roth persegue a intenção de examinar a questão de que poderia ter
acontecido, se a candidatura de Lindbergh tivesse chegado a ser real e de a soletrar
em pormenores. Roth via a sua tarefa em mudar a realidade histórica fazendo
Charles Lindbergh o 33º presidente da América, tudo o restante, porém, manter tão
perto quanto lhe era possível à verdade de fatos. Quis deixar aparecer a atmosfera
daquele tempo genuína, apresentando uma realidade tão autenticamente como no
livro de Arthur Schlesinger, mesmo se, em diferença ao historiador, a história der
uma virada que ela não tomou. Aqui, então, jaz a virada para a romance. Roth se
18 / 19
criou, assim, uma possibilidade, come escreve, “de buscar de volta” os seus pais “da
sepultura, refazendo-os outra vez aquilo que eram nos últimos anos da década dos
30 na altura da sua força”. E tudo isso sob a pressão enorme duma crise judaica dos
últimos anos da década dos 30 e dos primeiro da década dos 40, com a qual um
nascido em New Jersey nunca se via confrontado antes. Semelhantemente como
Roth, pelo trabalho de vários ano
19 / 19
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