Sociedade - Universidade Federal de São Carlos
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Sociedade - Universidade Federal de São Carlos
Sociedade Avaliação ergonômica identifica necessidade de instrumentos de trabalho mais confortáveis para os carteiros de todo o país Valda Rocha Sob sol ou chuva, o carteiro é personagem imprescindível no cotidiano das cidades. Pelo Brasil inteiro, o profissional é imediatamente reconhecido por todos. Sempre tem à cabeça um boné azul, nos ombros bolsa da mesma cor, vestido de camisa amarela e calça azul e, nos pés, sapatos pretos. E foi exatamente nos sapatos que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) encontrou um dos pontos de grande insatisfação da categoria. Teó A empresa repassou as queixas mais freqüentes para o grupo Ergo&Ação, do Departamento de Engenharia de Produção (DEP) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), a fim de buscar soluções que convergissem para uma adequação dos instrumentos de trabalho à rotina desses profissionais. A necessidade de reformulações foi reforçada pelos dados relativos a licenças e afastamentos médicos disponibilizados pela empresa, além de informações levantadas por pesquisas de avaliação ortopédica e de entrevistas com os trabalhadores. *Primeiro verso da canção “Carteiro”, de Lupicínio Rodrigues e Felisberto Martins (1942). dez|2002 53 54 Sociedade Frente à solicitação, o Ergo&Ação, coordenado por Nilton Luiz Menegon, iniciou o desenvolvimento do trabalho, que tinha por meta definir novas especificações para as ferramentas e dispositivos de trabalho dos carteiros. Entre estas estão as relativas aos calçados, que podem ser usadas tanto para que os correios identifiquem critérios de avaliação e escolha, quanto para que os fabricantes introduzam novas características nos produtos disponibilizados no mercado. A equipe, formada por profissionais dos departamentos de Engenharia de Produção e de Educação Física da UFSCar, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e da COPPE/UFRJ (Instituto Alberto Luiz de Coimbra de PósGraduação e Pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro) utilizou os princípios do projeto denominado “Ergonomia no Processo Produtivo”. Os conceitos ergonômicos são compostos a partir do reconhecimento de determinada atividade, respeitando as características próprias para o bom Flávio Sganzerla Nos sapatos, os Correios encontraram um dos pontos de grande insatisfação dos carteiros desempenho das funções exigidas. “Ergonomia constitui-se em um processo de introdução de mudanças, que busca a ampliação dos espaços de regulação na atividade de projetistas e dos trabalhadores”, define Menegon. No caso dos correios, foi necessário, inicialmente, conhecer todo o funcionamento das unidades postais, de modo a identificar as muitas categorias de equipamentos envolvidos no processo produtivo, desde a postagem da carta até a entrega ao destinatário. Foram verificadas 25 categorias, que vão das mesas e estantes de triagem de cartas nas unidades postais até o uniforme do carteiro. Questionário A partir desse raio X, foi realizada uma pesquisa nacional enfocando vários dos itens utilizados. No caso do calçado, foram aplicados dois questio- nários. O primeiro, de percepção subjetiva de conforto, trazia perguntas que sugerem a opinião do carteiro em relação a flexibilidade, aquecimento, impermeabilidade e tamanho do calçado, entre outros. Já no questionário ortopédico, os trabalhadores passaram por uma avaliação médica, na qual foram avaliadas questões sobre graus de amplitude dos movimentos dos pés, sensibilidade, deformidades, presença de calosidades e de doenças dermatológicas, entre outras. Embora os questionários fossem formados majoritariamente por questões fechadas, foram aplicadas duas perguntas abertas no final do instrumento sobre conforto. Em uma, os entrevistados indicaram regiões de desconforto nos pés em função do uso do calçado fornecido pela empresa e, na outra, fizeram sugestões para um bom sapato a ser utilizado no dia-a-dia. Os carteiros puderam indicar, em desenhos de pés impressos nos formulários, os locais exatos onde porventura sofressem com dores. “Essa metodologia facilitou o trabalho de apuração da pesquisa, já que não foi preciso definir nominalmente as regiões anatômicas”, explica Paula Menegon: “Conceitos ergonômicos são compostos a partir do reconhecimento de determinada atividade, respeitando as características próprias para o bom desempenho das funções exigidas” dez|2002 Cruzamento de informações revelou relações entre o calçado e dores e acidentes do solado ou da palmilha, o que restringe a desenvoltura das articulações responsáveis pelo andar”, afirma Paula. Foram encaminhados quatro mil questionários para carteiros de dezesseis Estados e do Distrito Federal, sendo considerados válidos 3.744 formulários. A partir dos resultados obtidos, foi possível analisar as características do calçado em uso em relação a conforto e segurança, assim como cruzar essas informações com os dados do questionário ortopédico. Outro índice importante verificado foi o de torções de tornozelo durante o trabalho devido à caminhada em terreno irregular. Dos entrevistados, 35% tiveram o problema, que, segundo Paula, pode ser resultante de inadequações no cabedal (parte superior) do calçado, que deveria ter contrafortes laterais, capazes de favorecer a estabilidade da articulação e, assim, prevenir entorces. Foram registradas queixas também em relação ao aquecimento e à permeabilidade do calçado. O relato de altas temperaturas aparece em 56% das entrevistas, principalmente entre os carteiros dos Estados do Norte e Nordeste. Na Bahia, por exemplo, o índice de queixas chega a 71%. Em relação à permeabilidade, quase a totalidade dos carteiros (94%) apresentou algum tipo de reclamação. Concluída a tabulação, verificou-se que existe uma relação entre as características do calçado – como flexibilidade da sola e da palmilha – e queixas de dores articulares. A pesquisa revelou que 65% dos trabalhadores consideram a sola rígida e, conseqüentemente, 72% relataram dores na parte anterior da tíbia (canela).“Esse fato implica em muito esforço físico ao caminhar, possivelmente causado pela falta de flexibilidade A variável fôrma revelou que 67% dos profissionais consideram o calçado apertado. O maior índice de queixas neste sentido refere-se à largura do sapato (46%). As dimensões do bico respondem por 24% das reclamações. Já o calcanhar foi citado por 18% dos entrevistados e o peito do pé por 12%. Pesquisas mostram que o que gera tais queixas é o fato da indústria de calçados brasileira disponibilizar, no mercado Hentschel L. da Costa, professora do Departamento de Educação Física da UFSCar e uma das coordenadoras do projeto. Respostas dez|2002 55 Arquivo ECT Sociedade Equipamentos identificados vão desde as mesas e estantes de triagem de cartas até o uniforme e o sapato interno, modelos de fôrma com uma única largura e somente opções de números inteiros para o tamanho. As reclamações em relação à palmilha giram em torno do conforto e da higiene. Dos entrevistados, 64% consideram a palmilha pouco macia e 65% atribuem a ela um odor desagradável (os calçados não possuem palmilhas removíveis, o que torna a lavagem impossível). Outro passo Os resultados do levantamento mostraram como não deve ser o calçado utilizado pelos carteiros. A partir disso, a equipe do projeto detalhou algumas recomendações. A proposta para a fôrma é que sejam adotados números inteiros e meios, além do fornecimento de um gabarito que simule o teste de calce do carteiro e, assim, 56 Sociedade possibilite a solicitação do tamanho correto. Em relação ao material do cabedal, os pesquisadores consideram o couro o mais indicado, por melhorar a permeabilidade, favorecendo a transpiração e reduzindo o aqueci- mento. Além disso, é um material com qualidades de modelagem aos diferentes tipos de pés. O cabedal deve também ser forrado, o que elimina o contato direto com as costuras. As palmilhas devem ser macias e passíveis de remoção e lavagem, além de inertes à pro- liferação de fungos. Já a sola deve ser flexível e possuir sulcos e biqueira, para facilitar a função de direcionamento. O estudo também definiu ações a partir das variáveis de segurança, no que se refere à sola e ao cabedal. Este último Quando o carteiro chegou, e o meu nome gritou... A história dos serviços postais no Brasil Atualmente, é provável que um grande número de pessoas prefiram a Internet e seu correio eletrônico a receber uma carta pelas mãos de um carteiro. No entanto, é inegável a importância desses profissionais na história da comunicação a distância no mundo. Tambores, sinais de fumaça e pombos-correio parecem situações muito longe da realidade atual, exatamente porque, em algum momento da história das civilizações, surgiram os mensageiros, que percorriam grandes distâncias a fim de possibilitar a comunicação entre as pessoas. No ano 10 aC, por exemplo, o imperador romano Otávio Augusto decidiu construir estradas para que os mensageiros desempenhassem sua tarefa. Os povos incas faziam um revezamento: a cada cinco quilômetros, um homem esperava o outro, interceptando a mensagem e seguindo adiante até Entrega domiciliar o próximo interceptor. começa em 1844; O percurso era feito por transporte aéreo é uma estrada de pedra com cerca de oito mil de 1927 quilômetros de extensão entre a Colômbia e o Chile. No Brasil, o mensageiro foi chamado pela primeira vez de carteiro após um decreto publicado em 29 de novembro 1842, no qual foram detalhados os deveres do carteiro, bem como a punição para os profissionais relapsos e a perda do direito ao serviço de entrega postal de toda pessoa que maltratasse o seu mensageiro. Mas, a primeira correspondência oficial brasileira é de 1.500, quando a imortalizada carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel, foi escrita, descrevendo com riqueza de detalhes as maravilhas da terra recém-descoberta por Pedro Álvares Cabral. Naquele tempo, os problemas de ligação postal entre Portugal e a Colônia eram imensos, por falta de uma estrutura que possibilitasse locais fixos de despacho e recebimento de correspondências. Em uma tentativa de minimização desses entraves, foi criado o “Correio-Mor das Cartas do Mar”, em 1673. Mas as dificuldades só foram efetivamente solucionadas com a criação dos Correios Marítimos, em 1798, que estabeleceu uma ligação postal regular entre o Rio de Janeiro e Lisboa. No mesmo ano, foi aberta a primeira agência postal na cidade de Campos (RJ) e, em 1801, foi instituído no país o serviço de caixas postais. A entrega domiciliar teve início em 1844 e, em 1927, o transporte de correspondência por via aérea foi incorporado aos correios, com entregas na América do Sul e Europa. O Departamento de Correios e Telégrafos (DCT) foi instituído em 1930, no governo de Getúlio Vargas. O DCT originou, em 20 de março de 1969, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a ECT conta com 82 mil funcionários, 21 mil colaboradores indiretos e 10.500 agências, além de milhares de caixas de coleta. A empresa movimenta um volume diário de 24,9 milhões de objetos postais, que incluem cartas, impressos e encomendas. Ao todo, 99,4% da população brasileira é atendida pelas agências espalhadas pelo país e 77% dos brasileiros usufruem o benefício da entrega postal domiciliar. dez|2002 Sociedade 57 Antigo x Novo A partir desse detalhamento, o projeto começou uma nova etapa, com um seminário na cidade de São Paulo, em dezembro de 1999. O evento contou com a participação dos profissionais já envolvidos e de representantes da Centropé/Dr. Sholl (empresa de calçados ortopédicos); do Laboratório de Biomecânica de Marcha e Calçados Esportivos do Departamento de Biomecânica da Universidade de São Paulo (USP); e do Centro de Tecnologia em Couros, Calçados e Afins (CTCCA) do Rio Grande do Sul, responsável pelos testes de concessão do selo de conforto para calçados; além de empresas da indústria calçadista. Na ocasião, foi lançada a proposta de construção de um novo calçado que respeitasse as especificações identificadas pela pesquisa. “A estratégia adotada foi repassar as características desejáveis de conforto e segurança para os fornecedores, deixandoos livres para apresentarem seus próprios modelos”, conta Menegon. Lançado o desafio, três empresas apresentaram modelos para a avaliação, dividida em duas etapas. dez|2002 Fôrma: números inteiros e meios e gabarito que simule o teste de calce, para facilitar a escolha. Cabedal: de couro, com forro e contraforte. Palmilhas: macias, removíveis e inertes à proliferação de fungos. Sola: flexível, com sulcos e biqueira, além de prevenir deslizamentos. Comparação entre os modelos antigos (esquerda) e os que seguem as recomendações de conforto e segurança A primeira fase, eliminatória, teve quatro modalidades de testes. Um deles, realizado por meio de um aparelho pneumático de impacto mecânico, mediu a proporção entre a capacidade de carga e a deformação ocorrida, através das variáveis de elasticidade e densidade da sola e de flexibilidade do antepé. A avaliação biomecânica identificou a relação entre o calçado e o movimento humano, através de indicadores de impacto, pressão plantar e estabilidade médio-lateral do calçado. O professor da Universidade Estadual de Santa Catarina (Udesc) e membro do CTCCA Aluízio Otávio V. Ávila conta que, para medir a pressão plantar, por exemplo, são colocadas palmilhas sen- sorizadas nos modelos em teste. “Essa malha de sensores ligada a um computador é capaz de medir, durante a marcha, a distribuição da força utilizada por toda a área do pé ao caminhar, respeitando o limite de 290 kg/ Pascal, medida padrão adotada para os calçados destinados aos carteiros”, explica Ávila. Na seqüência, foram realizados testes de percepção do carteiro, com a aplicação de perguntas sobre funcionalidade do calçado e eventual incidência de lesões e, também, testes ortopédicos, nos quais são avaliadas as medidas de comprimento, largura e circunferência do calçado e características antropométricas dos pés relacionadas à fôrma. Arquivo ECT deve ser provido de contraforte. A sola deve ser de um material que previna deslizamento em pisos molhados, além de possuir proteção adequada na região dos dedos. Sociedade equipe considerou o modelo apresentado e repassou o problema para o fabricante. Protótipos Um dos três modelos apresentados foi eliminado na primeira etapa. O segundo modelo apresentou adequações às variáveis de segurança, mas não seguiu as especificações de conforto necessárias. Mesmo assim, esses calçados foram para teste de campo, sendo rejeitados a partir do segundo dia de uso. O terceiro modelo, aprovado nas avaliações preliminares, foi a campo com a realização de testes com dois pares, um em São Carlos e outro em Florianópolis. Eles obtiveram avaliações superiores às dos calçados tradicionalmente utilizados; porém, apresentaram problemas de resistência mecânica na junção da sola com o cabedal (ou seja, os calçados furaram durante os testes). A O protótipo passou por reformulações e novos testes, até a definição do modelo que foi a campo em maior escala, com a distribuição de 50 pares em sete capitais do país e uma cidade do interior de São Paulo (Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Manaus, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belém e Bauru). Os carteiros do Ceará Francisco Eduardo L. Cavalcante e Antônio Matos de Sousa, que participaram dos testes, realizados no segundo semestre de 2001, reforçam as avaliações preliminares de que o novo calçado é bem mais confortável do que o anterior.“O tênis é mais macio, não permite a entrada de chuva, mas ao mesmo tempo possibilita uma melhor transpiração e uma temperatura interna amena”, comenta Sousa, que percorre cerca de 17 quilômetros por dia. Depois das muitas etapas vencidas, em 2003, a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) concedeu o selo conforto ao novo modelo, após submetê-lo aos testes do CTCCA. Segundo a coordenadora do Departamento de Saúde dos Correios, Simotea Hoffmeister, já foram adquiridos sete mil pares do tênis, para serem distribuídos no primeiro semestre deste ano. Assim como o sapato, outros produtos passaram por um minucioso processo de especificação e aguardam aprovação. O uniforme deve receber versões para o verão, com bermuda para os homens e saia-calça para mulheres, acompanhadas de camisetas. Outros produtos – como protetor solar, óculos de sol, patinetes, carrinho de mão e bicicleta – também estão sendo avaliados. Uniformes para o verão e produtos como protetores solares, carrinho de mão e bicicleta estão em fase de especificação Arquivo ECT ECT Arquivo 58 dez|2002 59 Sociedade Ergonomia cria tensão com o modelo de racionalidade produtiva vigente Na Embraer, mais de 50 instrumentos e dispositivos foram alterados desde 2001 É a partir desses conceitos que o grupo desenvolve novas estratégias de funcionamento que equacionam, em patamares superiores, critérios de eficácia produtiva e de bem estar humano. Em trabalho com a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica), o grupo implementou alterações em cerca de 50 instrumentos e dispositivos utilizados na montagem das aeronaves, desde junho de 2001 até o momento. Uma dessas alterações aconteceu na luva de absorção de impacto dos marteletes pneumáticos utilizados pelos operadores na montagem estrutural das aeronaves. Menegon conta que o equipamento anterior limitava os movimentos da mão, devido à inflexibilidade do material utilizado. “Usando como modelo uma luva de dez|2002 ciclista e com a colaboração de um fabricante nacional, adaptamos o produto de forma a garantir o conforto sem alterar a segurança do funcionário e, principalmente, permitindo maior liberdade de movimentos na execução dos trabalhos. O resultado tem sido muito bom.” Cadeira Outro exemplo de ação ergonômica na linha de montagem da Embraer é o da cadeira do chapeador (funcionário responsável pela montagem estrutural da aeronave). A função exige posições de trabalho extremas; por isso, os trabalhadores improvisam cadeiras e outros dispositivos para melhorar o equilíbrio. A cadeira utilizada a princípio possuía regulagem por meio da inclinação do encosto. Segundo o coordenador do Ergo&Ação, o principal problema encontrado era a sustentação da postura por meio da musculatura da região do pescoço. presa de São Carlos. A cadeira possui um ângulo fixo entre o assento, o encosto e o apoio para cabeça. A regulagem da altura dá-se pelo giro do conjunto em até 45 graus em relação ao eixo horizontal e pela translação em até 30 centímetros na direção vertical. A solução foi transferida para um fornecedor da Embraer, que aprimorou o conceito e irá fornecer em breve o primeiro lote com 30 unidades. Variações estão sendo desenvolvidas para outras aplicações, em situações de trabalho na parte inferior das aeronaves. Embraer Com mais de 30 anos de experiência, a Embraer é a quarta maior fabricante de aeronaves comerciais do mundo (atuando em projeto, fabricação, comercialização e pós-venda). Em 2002, foi a segunda maior empresa exportadora do Brasil. Atualmente, emprega cerca de 12 mil funcionários e gera mais de três mil empregos indiretos. Detectado o problema, foram pesquisadas soluções que mantivessem fixo o ângulo entre o assento e o encosto, como em modelo disponível no mercado americano.“Além de cara, a solução inicialmente encontrada possuía mais um inconveniente: o ângulo de 90 graus entre o encosto e o assento era inaInstrumentos e dispositivos desenvolvidos dequado para a atividade dos chaa partir das recomendações do grupo peadores”, revela Menegon. A partir Ergo&Ação, para a ECT e a Embraer das considerações biomecânicas e das características da atividade desses funcionários, buscou- -se uma outra alternativa. O primeiro protótipo foi construído com componentes padrão do mobiliário para escritório. Flávio Sganzerla Nos dicionários, ergonomia é “um conjunto de estudos que visam à organização metódica do trabalho em função do fim proposto e das relações entre o homem e a máquina”. Para o grupo Ergo&Ação, a ergonomia é muito mais do que isto. É uma técnica social que visa recuperar as relações intrínsecas entre os produtos consumidos e as atividades de trabalho necessárias para sua materialização. Em síntese, a carta pressupõe o carteiro, assim como o avião pressupõe o chapeador de montagem estrutural, e vice-versa. Segundo o coordenador do grupo, ao recuperar tais relações, a ergonomia cria uma tensão com o modelo de racionalidade produtiva vigente, questionando as representações sociais acerca do que é a técnica, o trabalho e o próprio homem no interior de uma situação produtiva.“Obviamente essa tensão não se resolve de forma unilateral. É necessário criar um processo de negociação e de construção de novas representações sociais em relação ao trabalho numa situação específica”, afirma Menegon. O conceito final, testado e aprovado pelos operadores, foi confeccionado pelo grupo do DEP/ UFSCar em parceria com a metalúrgica Benetto, uma pequena em-