história do rugby

Transcrição

história do rugby
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA E ESPORTE
HISTÓRIA DO RUGBY
Gabriel Colini Cenamo
SÃO PAULO
2010
HISTÓRIA DO RUGBY
GABRIEL COLINI CENAMO
Monografia apresentada à Escola de
Educação
Universidade
Física
de
e
São
Esporte
Paulo,
da
como
requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Educação Física.
ORIENTADOR: PROF. DR. LUIZ EDUARDO P. B. T. DANTAS
AGRADECIMENTOS
À minha família, por acreditarem nos meus sonhos e darem todo o suporte
e apoio às minhas decisões.
À Monique, pelo carinho, compreensão, paciência e toda a ajuda que me
deu durante a elaboração dessa monografia.
Ao Bandeirantes Rugby Clube, minha segunda família e a todos os irmãos
com quem pude compartilhar conquistas, momentos de alegria e de tristeza
durante os últimos dez anos de rugby.
Ao professor Luiz Eduardo P. B. T. Dantas, pelas orientações e conselhos
que ultrapassam as páginas dessa monografia e os muros da faculdade.
Ao amigo Antonio Martoni, por me ensinar grande parte do que eu sei
sobre rugby hoje, além de contribuir imensamente com essa monografia.
Aos amigos rugbiers Timmy Baines, Mauricio Coelho, João Nogueira,
Flávio Machado e Paulo Meireles, pelos materiais e informações compartilhadas
durante a elaboração dessa monografia.
Aos amigos da Escola de Educação Física e Esporte da USP, por tudo que
passamos juntos ao longo desses 6 anos de faculdade.
Aos amigos da Facultad de Educación Fisica da Universidad Nacional de
Tucumán - ARG, em especial aos professores Sergio Wilde e Fernando
Erimbaue, pelo enorme aprendizado que me proporcionaram.
SUMÁRIO
Página
RESUMO .............................................................................................
i
1
INTRODUÇÃO .....................................................................................
01
2
REVISÃO DA LITERATURA ................................................................
04
2.1
História do Rugby no Mundo ................................................................
04
2.1.1 Jogos com Bolas ..................................................................................
04
2.1.2 Rugby School ......................................................................................
05
2.1.3 Difusão do Rugby na Europa ..............................................................
07
2.1.4 Difusão do Rugby pelo Mundo ...........................................................
09
2.1.5 Rugby Union X Rugby League ...........................................................
11
2.1.6 O Início do Século XX ........................................................................
11
2.1.7 O Período de Guerras (1914-1945) ......................................................
12
2.1.8 O Período Pós-Guerras .........................................................................
15
2.1.9 Da Popularização do Esporte à Era Profissional ..................................
16
2.2
História do Rugby no Brasil .................................................................
27
2.3
Aspectos Formativos do Rugby ...........................................................
39
3
DISCUSSÃO .......................................................................................
45
3.1
Espírito do Rugby X Profissionalismo .................................................
45
3.2
Ensaio sobre a difusão do Rugby no Brasil: perspectivas para os próximos
anos ....................................................................................................
47
4
CONCLUSÃO .....................................................................................
50
5
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................
52
RESUMO
História do Rugby
Autor: GABRIEL COLINI CENAMO
Orientador: PROF. DR. LUIZ EDUARDO P. B. T. DANTAS
O rugby é considerado um esporte intrinsecamente formativo, em função
dos valores associados à sua prática. Atualmente vive um período de expansão
no mundo, influenciado pelo início da era profissional em 1995 e pela inclusão da
modalidade nos Jogos Olímpicos a partir de 2016. No Brasil também se observa o
crescimento do rugby, com o aumento no número de praticantes e maior
exposição da modalidade nos meios de comunicação. Esse aumento no processo
de difusão do esporte gera a necessidade de uma melhor compreensão do rugby,
para que o crescimento desse esporte no Brasil venha acompanhado de uma
melhor organização da prática e melhora da qualidade do rugby praticado no país.
Esse estudo buscou analisar o processo de difusão do rugby no Brasil e no
mundo, através de uma revisão histórica, onde foram considerados também os
aspectos formativos e educacionais intrínsecos a esse esporte. Em função da
carência de publicações sobre a história do rugby brasileiro, foram realizadas
comunicações pessoais com jogadores e dirigentes que fazem parte da história
desse esporte no país. Concluiu-se que a difusão do rugby nacional esteve
relacionada principalmente às ações de indivíduos ou entidades ligados ao
ambiente esportivo do rugby, e mais recentemente ao aumento da exposição do
esporte nos meios de comunicação. Para manutenção dos valores intrínsecos ao
esporte, viu-se necessária a transmissão do espírito do rugby em equilíbrio com a
transmissão de aspectos relacionados diretamente ao jogo.
1
1
INTRODUÇÃO
O esporte esteve presente em diversas civilizações e em diferentes
momentos ao longo da história. Na antiga Grécia existia um jogo com bola,
chamado “harpaston”, cujo objetivo era transportar uma bola feita de couro de
animais para um local delimitado. Esse jogo é visto como a origem de outros
jogos, praticados por toda a Europa ao longo do Império Romano e mais tarde,
durante a Idade Média. Na Inglaterra, as regras foram modificadas durante os
anos, influenciando no surgimento de um esporte que mais tarde seria muito
popular em todo mundo, o football (futebol) (ANTUNES, 1992; DUARTE, 2000).
Na cidade de Rugby, dentro de uma universidade de mesmo nome, o
football foi interpretado de uma maneira distinta de outros locais da Inglaterra,
resultando em uma variação do esporte, que passou a ser conhecido como rugby
football, e mais tarde apenas rugby (GARCIA, 1964).
O esporte, apesar de ainda pouco difundido no Brasil, é hoje uma das
modalidades com maior número de praticantes espalhados pelo mundo, em
especial entre ex-colônias britânicas. Países com maior tradição no esporte
movimentam milhares de pessoas em função de eventos e partidas de rugby.
Recentemente reincorporada ao programa Olímpico, a modalidade fará sua
reestréia nos Jogos do Rio de Janeiro em 2016, com a expectativa de superar
públicos de esportes mais tradicionais e conhecidos pelos brasileiros.
Como outros jogos de invasão, para pontuar no rugby é preciso conquistar
“território” da equipe adversária. Para isso, o time atacante deve se preocupar em
desorganizar a defesa adversária para assim conseguir marcar pontos. As regras
possibilitam a utilização do contato físico como estratégia para provocar
desorganização defensiva e tornam a participação coletiva como algo
imprescindível, tendo em vista a manutenção da posse de bola para oferecer
continuidade ao jogo e conquistar o objetivo de marcar mais pontos do que o
adversário. Essas características fazem do rugby um esporte onde a participação
coletiva seja indispensável.
2
Por ser caracteristicamente um esporte de muito contato físico, são
necessárias regras que visem à segurança dos jogadores, e mais do que isso,
valores. Atitudes como lealdade, união, respeito mútuo, trabalho em equipe,
cooperação, responsabilidade, igualdade e disciplina são aspectos intrínsecos
dessa modalidade esportiva, podendo assim ser considerado um esporte
intrinsecamente formativo. Essa “essência” de caráter formativa é nomeada pelos
praticantes do rugby de “Espírito do Rugby”.
Tradicionalmente amador, o esporte foi visto durante muitos anos como um
esporte elitista, mas como o passar do tempo foi se tornando muito popular em
alguns países da Oceania, Europa e África. Em 1995, a entidade máxima do
esporte passou a permitir o profissionalismo, até aquele momento proibido,
ocasionando um enorme crescimento no número de praticantes, público e clubes
de rugby pelo mundo.
No Brasil, o rugby teve mesmas raízes que o futebol. Inicialmente, foi
trazido por marinheiros ingleses e teve sua difusão relacionada a um personagem
em comum, Charles William Miller, que mais tarde seria conhecido como o pai do
futebol brasileiro. Restrito em um primeiro momento a alguns membros da elite
brasileira e principalmente à juventude inglesa que vivia no Brasil, o rugby
começou a ser jogado nesse país nos últimos anos do século XIX (MAZZONI,
1950; NOGUEIRA, 2007). Mas, apesar de ser praticado há tantos anos, ainda não
alcançou a mesma popularização de modalidades como o futebol, vôlei, basquete
e outros de maior tradição no território brasileiro.
Na atualidade o esporte vem crescendo muito no Brasil, com grande
aumento no número de equipes e jogadores. Um dos motivos pelo crescimento é
devido à recente inclusão da modalidade nos Jogos Olímpicos, e conseqüente
exposição
na
mídia.
Segundo
levantamento
da
recém
criada
CBRu
(Confederação Brasileira de Rugby), o número de associados nessa entidade
aumentou de quatro mil e quinhentos em 2008 para cerca de dez mil em 2010,
sendo que ainda são contabilizados cerca de vinte mil jogadores de rugby no país
que não são associados. A modalidade conta com 220 clubes e 60 times
universitários no país.
3
No cenário competitivo, o Brasil ocupa hoje o 25º lugar no ranking mundial
masculino, uma posição modesta para um país com quase 200 milhões de
habitantes, porém a melhor colocação já alcançada na história por uma seleção
brasileira de rugby. Na América do Sul, o Brasil é a quarta potência, atrás de
Argentina, Uruguai e Chile.
No feminino o cenário é um pouco diferente, a seleção brasileira é a maior
potência sul-americana e ocupa o décimo lugar no ranking mundial de “Rugby
Seven‟s” (modalidade onde as equipes são compostas por sete jogadoras). A
equipe brasileira está invicta em torneios oficiais da modalidade dentro do
território sul americano.
O expressivo crescimento do rugby no Brasil nos últimos anos e a
perspectiva de que esse crescimento continue nessa década, gera a necessidade
de compreender melhor o esporte para intervir nessa sua atual fase de expansão.
Somente assim, pode-se garantir que o crescimento desse esporte no Brasil
venha acompanhado de uma melhor organização da prática e melhora da
qualidade do rugby praticado no país.
Esse estudo consiste em uma análise histórica desse esporte, desde os
seus primórdios até os diais atuais, no plano internacional e nacional , ressaltando
seus aspectos formativos e educacionais. Através dessa monografia, espera-se
levantar subsídios para no futuro delinear estratégias para melhor difundir o rugby
no município de São Paulo.
4
2
REVISÃO DA LITERATURA
2.1
História do Rugby no Mundo
Assim como muitos outros esportes surgidos na Inglaterra, a origem e
difusão do rugby estão associadas a práticas formativas empregadas por escolas
inglesas durante o século XIX. Acredita-se que o esporte tenha sido criado em
1823, na Escola Rugby, fruto de uma jogada irregular durante uma partida de
futebol. Durante a Revolução Industrial o esporte começou a ser difundido e com
o tempo passou a ser uma das modalidades coletivas com maior número de
praticantes no mundo.
Durante os próximos capítulos, será abordada a história do rugby no
mundo, desde os primeiros jogos com bola antecessores ao rugby, até os dias
atuais, onde o rugby se tornou um esporte profissional, praticado por milhares de
pessoas nos cinco continentes.
2.1.1 Jogos com Bolas
Os relatos sobre jogos com bolas datam de muitos anos antes de Cristo.
Duarte (2000) relata um jogo que existia na China por volta de 2600 a.C.
chamado kemari, cujo objetivo era transportar uma bola redonda para além de
estacas fixas no solo. Mais tarde surge na Grécia Antiga um jogo chamado
“harpastum”, onde os jogadores tentavam passar uma bola feita de bexiga de boi
para o outro lado de um terreno delimitado (ANTUNES, 1992; DUARTE, 2000).
Segundo Garcia (1964), durante a Idade Média, atividades com bola eram
muito populares em países como Inglaterra, França e Itália, principalmente entre
os camponeses, aldeões e estudantes que a princípio utilizavam datas festivas
para a prática e posteriormente todos os domingos.
Na Inglaterra, existia um jogo muito popular disputado entre duas vilas ou
pequenas cidades. As equipes eram compostas por um número ilimitado de
participantes e o objetivo do jogo era levar uma bola produzida por peles de
animais mortos, até o final da cidade adversária e assim marcar pontos. O jogo
era violentíssimo, o que levou o Rei Eduardo II a proibir tal atividade no ano de
5
1314, e tal proibição foi mantida até o final do século XV. (GARCIA, 1964; RUGBY
FOOTBALL HISTORY, 2010).
Na Itália, o período do Renascimento trouxe de volta antigas tradições
gregas, influenciando inclusive no âmbito esportivo. O “calcio”, esporte de bola
muito popular nesse país, era uma variação do “harpastum” (jogo que consistia
em levar uma bola de um lado ao outro em um espaço delimitado). O esporte
possuía muitas características comuns ao que hoje se conhece como rugby.
Garcia (1964) acredita que as viagens de nobres franceses e ingleses à Itália
durante o renascimento tenham provocado certa influência do calcio sobre o
“football” jogado na Inglaterra e sobre a “soule” jogada na França. Assim, o autor
aponta o jogo grego “harpastum” e sua variante italiana “calcio” como as
principais influências do rugby moderno. Entretanto, existe um consenso que o
nascimento do rugby moderno aconteceu em 1823, em uma escola inglesa.
2.1.2 Rugby School
Numa tarde do ano de 1823, um estudante da “Rugby School” agarrou a
bola com as mãos durante uma partida de futebol e correu em direção ao gol
adversário, sem permitir que ninguém o parasse. Esse evento ocorrido na cidade
inglesa de Rugby, apesar de possuir algumas características de fábula, é
considerado o marco do nascimento do rugby. Um indício desse consenso acerca
da origem do rugby é que o estudante que protagonizou esse evento histórico,
William Web Ellis, empresta seu nome ao troféu da Copa do Mundo de Rugby “Taça William Web Ellis”.
Após sua morte em 1872, época em que o rugby já era conhecido pela
maioria dos ingleses, um colega de William chamado Mathew Bloxam escreveu
uma matéria para um jornal local, onde contava pela primeira vez a história de
como o garoto contribuiu para a modificação das regras do esporte. Em seu livro,
Bloxam (1872) conta o evento histórico que marcou o nascimento do rugby na
Escola Rugby: “Ellis, pela primeira vez desconsiderou a regra, e ao segurar a
bola, ao invés de passá-la para trás, correu para frente com a bola nas mãos em
direção ao gol adversário” (BLOXAM, 1872, p.109, tradução nossa).
6
Se estudarmos os fatos por trás de toda essa fábula, veremos que
realmente Web Ellis teve um papel importante no surgimento do rugby, já que
também foi um dos grandes jogadores da fase inicial desse esporte da escola de
mesmo nome. Porém, talvez seja incorreto dizer que o estudante foi o criador do
esporte devido a ter corrido com a bola nas mãos naquela tarde de 1823. De
acordo com Garcia (1964), naquela época, a prática de correr segurando a bola
com as mãos durante o jogo de futebol já era comum em algumas cidades da
Escócia e no leste europeu.
Segundo o autor, mesmo na Rugby School, ainda antes de William Web
Ellis nascer, o jogo de futebol já possuía regras diferentes de outros locais e do
futebol que conhecemos hoje em dia. Entre os anos de 1750 e 1823, as regras
dessa escola permitiam o manejo da bola com a mão, porém não era permitido
correr segurando-a. O número de praticantes era ilimitado e inúmeras vezes
ocorriam disputas pela bola entre centenas de pessoas, formando algo
semelhante ao “maul” 1, estratégia muito utilizada no rugby moderno.
A escola de Rugby se notabilizou na época não só pela criação desse
esporte, mas também por desenvolver um método de ensino. Nessa escola e
como também em muitas outras escolas inglesas da mesma época, os esportes
eram vistos como uma prática essencialmente formativa, capaz de manter os
jovens longe de vícios e de brigas, atividades comuns entre a juventude inglesa
da época.
Um dos principais defensores do esporte como meio educativo e como
parte do currículo escolar foi o Doutor Thomas Arnold, diretor da Escola Rugby
em 1828. Garcia (1964) cita uma entrevista de Dr. Arnold, demonstrando o
pensamento do diretor sobre os esportes dentro da escola: “Prefiro que meus
alunos joguem vigorosamente ao rugby football do que gastem seu tempo com a
bebida, bebedeira ou em brigas de bar. O esporte é um antídoto para a
1
Maul: Ocorre quando um jogador carregando a bola é segurado por um ou mais oponentes, e
um ou mais companheiros de time se unem ao portador da bola. Todos os jogadores envolvidos
devem manter os pés no solo e movem-se em direção ao gol adversário. Caso a bola seja liberada
dessa formação, o maul está encerrado.
7
imoralidade e uma cura contra a indisciplina” (GARCIA, 1964, p. 48, tradução
nossa).
Assim, com o apoio e incentivo dos diretores e amparado por um método
de ensino, o esporte começou a ganhar novos adeptos e os estudantes da Rugby
School logo se viram obrigados a criar um regulamento padronizado para que o
esporte pudesse ser disputado entre diferentes escolas. Em sete de setembro de
1846, durante uma assembléia geral de estudantes as regras do rugby-football
foram escritas pela primeira vez, incluindo-se a permissão para conduzir a bola
com as mãos, como fez Web Ellis dezessete anos antes (RUGBY FOOTBALL
HISTORY, 2010).
2.1.3 Difusão do Rugby na Europa
A partir do ano de 1860, muitas escolas na Inglaterra, Alemanha, França,
Irlanda, entre outras, começaram a adotar as regras da Escola Rugby,
possibilitando que jogos entre diferentes escolas se tornassem cada vez mais
freqüentes.
Com o tempo, os alunos que terminaram seus estudos passaram a fundar
clubes para seguir jogando o esporte e assim a modalidade foi crescendo dentro
das cidades próximas a Rugby. Com a revolução industrial e a construção de
ferrovias, as variações do futebol jogadas nessa cidade se espalharam pela
Europa e o “Rugby Football” começou a fazer parte das atividades de lazer de
toda a elite européia (JONES, 1958; GARCIA, 1964).
O aumento no número de praticantes, e conseqüente surgimento de novos
clubes acabaram por influenciar mudanças nas regras e maneira de praticar o
rugby, a começar pela diminuição do número de jogadores em cada equipe. Em
1871 ocorreu a primeira partida internacional, jogada entre selecionados da
Inglaterra e Escócia, onde ficou definido que cada equipe poderia ter um máximo
de vinte jogadores em campo (JONES, 1958; GARCIA, 1964; CAIN e
CROWDEN, 2006).
Segundo Jones (1958), em 26 de janeiro de 1871, foi realizada uma
reunião em Londres entre representantes de clubes ingleses, onde foi fundada a
8
“Rugby Football Union”, uma espécie de Federação que seria responsável pela
padronização das regras, organização de campeonatos e difusão do esporte.
Nesse mesmo ano foi elaborada a primeira cartilha de regras criada pela
Rugby Football Union inglesa (GARCIA, 1964), onde constava que a única
maneira de pontuar seria através de um gol, que deveria ser realizado através de
chute por entre dois postes verticais paralelos, que formavam uma letra “H”
juntamente a outro poste horizontal, o “travessão”. Para conquistar o direito ao
chute, uma equipe deveria cruzar o campo adversário e apoiar a bola no chão
após os postes, regra que na época era chamada de “Try at Goal” (tentativa de
gol) ou apenas “try” 2 (JONES, 1958).
Alguns anos depois Escócia (1873), Irlanda (1879) e País de Gales (1881)
seguiram o exemplo da Inglaterra e fundaram suas próprias federações. Essas
três entidades fundaram, em 1890, a “International Board”, que mais tarde se
tornaria
a
organização
internacional
responsável
pelo
desenvolvimento,
regulamentação e organização desse esporte no mundo (JONES, 1958; GARCIA,
1964).
Na tentativa de tornar o jogo mais dinâmico, em 1875 o número de
jogadores foi reduzido para quinze, mesma quantidade dos dias atuais. Outra
mudança também ocorreu com relação à pontuação, na medida em que o “try”
passava a ser utilizado como critério de desempate ao final da partida (JONES,
1958). Com o passar dos tempos, as regras sofreram ainda outras alterações e o
try passou a ser mais valorizado.
Outra maneira de se praticar o rugby foi criada no ano de 1883, pelo clube
escocês Melrose RFC, que de acordo com Jones (1958), realizou um evento para
arrecadação de fundos, onde foi incluído um torneio de rugby reduzido a sete
jogadores, para que assim pudessem ser formadas mais equipes. A fórmula
resultou em um jogo muito divertido e uma boa estratégia para que os jogadores
se mantivessem em atividade durante os períodos de férias, através de torneios
2
Try: Pelas regras atuais essa é a principal maneira de pontuar durante uma partida. Para realizar
um try, um jogador precisa cruzar o campo adversário e apoiar a bola após a linha de fundo do
campo, conhecida como “in-goal”. Atualmente o try vale 5 pontos e dá direito a um chute ao “H”,
que caso seja realizado com perfeição oferece mais 2 pontos no placar.
9
festivos. Dessa forma, surgiu uma nova modalidade, chamada de “Rugby Sevena-Side”3 ou apenas Rugby Seven‟s.
2.1.4 Difusão do Rugby pelo mundo
O século XIX foi marcado pela Revolução Industrial e pela ascensão da
Inglaterra como a uma grande potência militar e econômica, e pela conseqüente
expansão de sua influência sobre os cinco continentes. Essa influência se
estende também para a área cultural, especificamente na prática esportiva.
No âmbito esportivo, isso se deve ao fato de que marinheiros,
trabalhadores e empresários ingleses, em suas horas vagas praticavam esportes
como o “Football”, “Cricket”, “Rugby Football”, entre outros. Assim, o rugby foi
levado para os quatro cantos do mundo, ganhando maior popularidade entre
colônias e ex-colônias britânicas, como Austrália, Nova Zelândia e África do Sul,
países que futuramente se tornariam as maiores potências mundiais desse
esporte.
Segundo Garcia 1964, nas últimas décadas de 1800, os All Blacks (seleção
da Nova Zelândia), os Wallabies (Austrália) e os Springboks (África do Sul)
realizaram viagens para jogar na Inglaterra e ilhas britânicas, onde conquistaram
importantes
resultados.
Em
pouco
tempo,
surgiram
diversos
clubes
e
campeonatos e o rugby passou a ser um esporte popular, com exceção da África
do Sul onde em um primeiro momento, o rugby difundiu-se apenas entre a elite
branca, devido ao “apartheid” (sistema político que permitia uma minoria branca
dominar uma maioria negra e lhe negar direitos humanos, civis e políticos).
Na América do Norte, os primeiros relatos de partidas datam de 1860, com
partidas entre marinheiros britânicos no Canadá. Nos anos posteriores o rugby se
desenvolveu nesse país, resultando na criação de clubes e da primeira entidade
3
A modalidade seven-a-side possui basicamente as mesmas regras que o Rugby Union, com
exceção ao número de jogadores (apenas sete de cada lado) e ao tempo de jogo (dois tempos de
sete minutos). Essa modalidade foi incluída entre os esportes que farão parte dos Jogos Olímpicos
do Rio de Janeiro em 2016.
10
organizadora, chamada de British Columbia Rugby Union, em 1889 (BROWN;
GUTHRIE; GROWDEN, 2007).
Já nos Estados Unidos (ex-colônia inglesa), praticava-se o football de
diferentes maneiras. Em alguns locais o esporte praticado era mais similar ao
rugby football, em outros locais ao football association. De acordo com Brown,
Guthrie e Growden (2007), a primeira partida de rugby football realizada em terras
norte-americanas ocorreu em 1874 e durante os anos seguintes, as regras da
Escola Rugby foram as mais aceitas no país para a prática do que eles apenas
chamavam de football. Os autores ainda afirmam que, em função de algumas
mortes e lesões provocadas pelo esporte, o Presidente Theodore Roosevelt
obrigou a reformulação de algumas regras no início do século XX, resultando na
criação do “american football” ou futebol americano, que até os dias atuais é um
dos esportes mais praticados nesse país.
Apesar da criação do “novo” esporte em função das exigências impostas
pelo Presidente Roosevelt, no estado da Califórnia o Rugby Union continuou
sendo praticado, o que explicaria as medalhas de ouro obtidas nos Jogos
Olímpicos de 1920 e 1924 (JONES, 1958; BROWN, GUTHRIE e GROWDEN,
2007).
Concomitante
com a
expansão do
rugby no
mundo ocorreu
o
desenvolvimento das instituições reguladoras da prática desse esporte, as
chamadas Uniões. Assim, no final do século XIX, foram criadas as uniões
australianas (1874 – Sul e 1883 – Norte), sul-africana (1889) e neozelandesa
(1892) de rugby football, que passaram a organizar e desenvolver o esporte
dentro desses países (JONES, 1958; GARCIA, 1964).
Na América do Sul o futebol ou football association, como era chamado na
época, se tornou muito popular. Porém, ainda assim o rugby ganhou adeptos, se
tornando mais popular na Argentina, onde foi fundada a primeira União do
continente, em 1899, chamada de “River Plate Rugby Football Union” (PERASSO,
2009).
11
2.1.5 Rugby Union X Rugby League
Desde sua criação, a “Rugby Union” inglesa se posicionava contrária ao
profissionalismo que começava a crescer em equipes de futebol no norte da
Inglaterra ao final do século XIX. Porém, segundo Garcia (1964), algumas equipes
de rugby dessa mesma região começavam a oferecer incentivos financeiros para
seus atletas, contrariando decisões da União e gerando atritos entre os clubes do
norte e essa instituição.
O resultado foi uma reunião entre 22 clubes do Norte da Inglaterra,
realizada em agosto de 1895, onde ficou determinada a criação da “Northern
Rugby Football Union”, que passou a permitir e incentivar o profissionalismo no
rugby, além de criar suas próprias regras, como a modificação no número de
jogadores. Mais tarde (em 1922) essa instituição passou a se chamar “Rugby
Football League”, e em virtude das diferentes regras adotadas, separaram-se em
dois esportes, conhecidos como Rugby Union e Rugby League (CAIN e
GROWDEN, 2006).
O Rugby League se tornou menos popular do que o Rugby Union, porém
foi também difundido pelo mundo, em especial ao longo de países europeus e
entre Ilhas do Pacífico, onde existem inúmeros torneios altamente profissionais
até os dias atuais.
A Rugby Union manteve-se contrária ao profissionalismo para que não
fosse alterado o espírito e os valores relacionados ao esporte, na tentativa de
manter assim a tradição do rugby (GARCIA, 1964). A cultura de amadorismo se
manteve até o ano de 1995, quando finalmente a International Rugby Board (IRB)
passou a permitir jogadores profissionais participando de jogos de rugby.
2.1.6 O Início do Século XX
Os primeiros anos do século XX se caracterizaram pela expansão do rugby
no mundo e pela crise no rugby inglês, em virtude da separação entre a Rugby
Union e a Rugby League. Nesse período, as competições entre diferentes países
se tornaram corriqueiras, e os países europeus presenciaram a força de Nova
12
Zelândia e África do Sul, cujas seleções mantiveram períodos longos de
invencibilidade frente às equipes européias.
Esse mesmo período representou o aparecimento da França para o mundo
do rugby, através da medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos de 1900,
onde a inclusão do rugby foi estimulada pelo Barão de Coubertin, idealizador dos
Jogos Olímpicos Modernos (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010). Durante a
edição de 1900, a competição de rugby contou com apenas três delegações:
França, Reino Unido e Alemanha (CAIN e GROWDEN, 2006).
Segundo Jones (1958), o rugby na França começou a ser praticado de
maneira tardia com relação aos países do Reino Unido, sendo o primeiro relato de
uma partida datado de 1872, quando ingleses residentes nesse país formaram um
clube em Le Havre. Porém, já no início do novo século os franceses despontavam
como uma das grandes potências mundiais do rugby.
Na América do Sul, a Inglaterra passava a exercer cada vez mais influência
cultural, econômica e inclusive esportiva com o crescimento acelerado do futebol.
O rugby começava a dar seus primeiros passos nesse continente, mas ficava
restrito aos ingleses e seus descendentes. Na Argentina algumas escolas
britânicas passaram a ensinar o esporte e os primeiros clubes de rugby
começaram a surgir (PERASSO, 2009). No Brasil, foram realizadas nessa época
algumas partidas entre marinheiros ingleses no porto de Santos e no Rio de
Janeiro, e também foram criados clubes britânicos onde se praticava o rugby
(NOGUEIRA, 2007).
Em 1908 o rugby entrava pela segunda vez nos Jogos Olímpicos, dessa
vez com a inclusão da Austrália que venceu a disputa conquistando medalha de
ouro. O Reino Unido ficou em segundo, recebendo assim a medalha de prata
(CAIN e GROWDEN, 2006).
2.1.7 O Período de Guerras (1914-1945)
De acordo com Garcia (1964), durante o período da Primeira Guerra
Mundial (1914-1918), a prática do rugby na Europa se resumiu a alguns eventos
interescolares e algumas poucas competições. Muitas seleções nacionais
13
sofreram com a morte de jogadores em batalha e evidentemente o esporte foi
deixado em segundo plano. Cenário parecido ocorreu durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-1945) e durante esses dois períodos tristes da história mundial
existem poucos relatos na literatura, sobre a prática do rugby.
Já no período entre guerras (1918-1939), a prática do rugby foi constante e
o esporte cresceu muito, com destaque para as seleções da Inglaterra, que
durante a década de 20 conquistou dez de vinte torneios oficiais disputados em
ambiente europeu, além das seleções da França, Nova Zelândia e África do Sul,
que além de apresentarem excelente nível de jogo, conseguiam reunir milhares
de pessoas durante suas partidas (GARCIA, 1964).
Durante a primeira edição dos Jogos Olímpicos pós Primeira Guerra
Mundial, em 1920, o rugby foi disputado por apenas dois países: França e
Estados Unidos, que havia montado um time incluindo atletas de outras
modalidades. Para surpresa do público presente, a medalha de ouro ficou com a
equipe americana, que voltaria a vencer a competição em 1924 (BROWN,
GUTHRIE e GROWDEN, 2007), última participação do rugby em Olimpíadas até
a próxima edição em 2016 no Rio de Janeiro.
Nesse período, o rugby começava a ampliar não apenas o número de
praticantes, mas também o número de torcedores e simpatizantes do esporte
(GARCIA, 1964). Com isso, o esporte começou a ser visto também como uma
fonte de renda, apesar da proibição ao profissionalismo por parte da “International
Board”. Por outro lado, se os jogadores eram proibidos de exercer uma atividade
profissional, os dirigentes faturavam fortunas através da venda de ingressos para
as partidas, conforme aponta Garcia (1964) ao tratar da relação entre a venda de
ingressos e o lucro: “estimava-se ser mais lucrativa a falsificação de ingressos, do
que a impressão de papel-moeda no Banco da França” (GARCIA, 1964, p. 108,
tradução nossa).
As grandes seleções começavam a realizar viagens ou “giras” pelos quatro
cantos do mundo, incluindo Brasil, que recebeu a seleção da África do Sul em
1932 e a Inglaterra em 1936 (NOGUEIRA, 2007). Através dessas viagens
buscavam promover a modalidade e conquistar o simbólico titulo de melhores do
mundo.
14
Esse período marcou também o início de algumas rivalidades históricas,
caso de Nova Zelândia e África do Sul, que disputaram partidas épicas e se
alternaram durante anos no posto de melhor equipe do mundo. (GARCIA, 1964;
CAIN e GROWDEN, 2006)
Mas, também foi uma época marcada por reconciliações entre equipes que
haviam rompido relações durante a Guerra. Como é o caso de França e Escócia,
que em 1920 voltaram a realizar uma partida após sete anos, devido a um triste
episódio de violência ocorrido durante uma partida entre os dois países no ano de
1913. Garcia (1964) retrata a partida de reconciliação, ocorrida durante um torneio
simbólico, onde se enfrentaram as cinco maiores potências européias do esporte:
Foi um encontro emocionante: oito escoceses e cinco
franceses, presentes na partida de 1913, haviam caído no
campo da honra e dois jogadores de cada uma das equipes
– Thierry e Lublin Lebrere pela França, Hume e Laing pela
Escócia – sofriam a perda de um dos olhos como
conseqüência
de
feridas
de
confraternizaram
efusivamente
presidente
Parlamento
do
guerra.
e
M.
francês,
Os
jogadores
Paul
Deschanel,
se
apresentou
pessoalmente às seleções no terreno de jogo. Ganhou
Escócia pela pequena diferença de 5-0. Apesar da chuva,
25.000 espectadores encheram o estádio. Assim, foi batido
um recorde de arrecadação em espetáculos ao ar livre.
76.880 francos da época. Durante o banquete, o robusto
Usher – a quem um raivoso torcedor havia ferido através de
uma pedrada durante o jogo de 1913 – amenizou o ocorrido
tocando gaita (GARCIA, 1964, p. 100-101, tradução nossa).
Ainda antes de se iniciar a Segunda Guerra Mundial, a França vivia sua
“idade de ouro”. Os campeonatos nacionais atraiam muitos torcedores e
movimentavam muito dinheiro. A seleção atingia ótimos resultados internacionais
e os clubes possuíam ótima relação, resultando na criação da Federação
Francesa de Rugby, que em poucos anos conseguiu tornar o rugby como um
15
esporte muito popular dentro do país e resultou em grande desenvolvimento para
o esporte francês (GARCIA, 1964).
Porém, no início da década de 1930, durante uma reunião entre
representantes das Uniões de Rugby dos países do Reino Unido, ficou decidido
pelo rompimento de relações entre as Uniões de Rugby da Inglaterra, País de
Gales, Escócia e Irlanda com a Federação Francesa, em função de desavenças
entre franceses e britânicos, fato que provocou grandes prejuízos para o rugby
francês (JONES, 1958; GARCIA, 1964). Segundo Garcia (1964), a participação
desse país na Segunda Guerra Mundial trouxe ainda maiores perdas para o
esporte, que voltaria a erguer-se apenas na segunda metade do século XX, com o
título europeu de 1954.
2.1.8 O Período Pós-Guerras
Os primeiros anos após a Segunda Guerra Mundial foram marcados pela
alternância no posto de melhor equipe européia entre as equipes da Inglaterra,
Irlanda e País de Gales (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010). Em âmbito
mundial, a superioridade mostrada pelas equipes da Nova Zelândia e África do
Sul durante suas viagens credenciava essas duas seleções como as melhores do
mundo (GARCIA, 1964; CAIN e GROWDEN, 2006).
Na Nova Zelândia o esporte era visto como uma paixão nacional e as
partidas que envolviam a principal seleção do país, os “All Blacks”, atraiam
multidões para os estádios. O respeito aos maoris, primeiros habitantes daquelas
terras, era evidenciado pelos jogadores, que realizavam uma espécie de dança
tribal (“The Haka”) antes de iniciar uma partida, fazendo referência a antigas
tradições maoris (ACTIVE NEW ZEALAND, 2010).
Já a África do Sul vivia uma situação oposta. O país começava a entrar em
uma época de segregação racial e preconceito, evidenciada pela política da
apartheid. Apesar de potência internacional no esporte, dentro do país africano o
rugby era praticado apenas pelos brancos, elite econômica e militar, porém
minoria em números absolutos. Por ser uma das maiores paixões dos brancos, os
negros relacionavam o esporte e a seleção dos “Springboks” à política apartheid,
16
ou seja, o rugby era considerado um símbolo da opressão e da injustiça (CARLIN,
2009).
Dentro de campo essas duas seleções ofereciam grandes espetáculos,
através de partidas equilibradas, onde ambas as equipes mostravam muito
respeito uma pela outra e se alternavam nas vitórias (CAIN e GROWDEN, 2006).
Já fora de campo, as diferenças políticas refletiam no esporte e
provocavam atritos. Garcia (1964) relata uma das viagens dos “All Blacks” à África
do Sul em 1960, quando o governo sul africano proibiu a participação de
jogadores com descendência maori nas partidas entre as duas equipes. Mesmo
com a pressão de inúmeros maoris que lotaram o aeroporto na tentativa de
impedir a viagem de sua seleção, os “All Blacks” viajaram para a África do Sul e
realizaram uma série de partidas envoltas por um clima tenso e de insatisfação
por parte dos neozelandeses. Esse era mais um capítulo dentro da histórica
rivalidade All Blacks e Springboks.
2.1.9 Da Popularização do Esporte à Era Profissional
Durante o início da década de 1960, a “International Rugby Board – IRB”
mantinha-se resistente ao processo de profissionalização do rugby, apesar da
visível evolução do mesmo e melhora nas condições físicas e técnicas dos
jogadores. A instituição se recusava a participar dos Jogos Olímpicos e seguia fiel
aos princípios e tradições amadoras que norteavam o esporte desde seu
surgimento (GARCIA, 1964).
Mas, apesar das exigências da IRB limitarem o crescimento, no final da
década de 60 e início dos anos 70, o rugby já era um esporte consolidado e
possuía praticantes e federações espalhadas por todo o mundo. Essa mesma
instituição começava a se expandir pelo mundo, através da abertura para filiação
de novas entidades às suas atividades, como a própria “União de Rugby do
Brasil” (NOGUEIRA, 2007).
Seguindo o exemplo de Austrália e Nova Zelândia, em alguns países do
Pacífico, como Ilhas Fiji, Tonga e Samoa, o rugby começava a se tornar um
esporte muito popular. No Canadá, segundo Brown, Guthrie e Growden (2007), a
17
União de Rugby canadense passava por reformulação no ano de 1965, visando à
popularização do esporte nesse país, medida que acabou resultando na
participação desse país durante a primeira edição da Copa do Mundo de Rugby,
vinte e dois anos depois.
Na América do Sul, muitos novos clubes surgiam e o rugby se desenvolvia
de maneira acelerada, especialmente na Argentina, que surgia como grande
surpresa no mundo do rugby, após vitória frente ao selecionado júnior da África
do Sul em 1965 (PERASSO, 2009).
Em 1972, um fato triste fez com que o rugby sul americano passasse a ser
conhecido mundialmente. Durante uma viagem para o Chile, a equipe uruguaia
“Old Christians” se envolveu em um acidente aéreo na Cordilheira dos Andes,
onde os sobreviventes permaneceram por setenta e dois dias até serem
resgatados. Mais tarde, Nando Parrado, um dos sobreviventes da tragédia
afirmou que os princípios e valores oferecidos pela prática do rugby foram
fundamentais para sua sobrevivência (PARRADO e RAUSE, 2006).
Na Europa, a década de 1970 foi marcada pelo centenário da Rugby
Football Union inglesa, em 1971 e pela supremacia da forte equipe do País de
Gales, que conquistou oito títulos do maior campeonato europeu, entre dez
edições disputadas. Essa mesma equipe conquistou outros inúmeros títulos e
ficou marcada como uma das melhores seleções da história, contando com
lendários jogadores como o médio-scrum Gareth Edwards e o fullback JPR
Willians (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010).
Apesar de inúmeros episódios com especulações sobre qual seria a melhor
equipe do mundo, até a década de 80 não se havia criado nenhum torneio oficial
que oferecesse a coroa de “campeã do mundo” para alguma seleção. Naquele
momento, o número expressivo de países onde o rugby era praticado trazia a
necessidade de se organizar um torneio envolvendo as maiores potências do
planeta (BROWN, GUTHRIE e GROWDEN, 2007).
Nesse mesmo período, diversas uniões de rugby lutavam contra o iminente
e inevitável profissionalismo e a criação de um torneio com alcance global seria
algo negativo para a manutenção do amadorismo (RUGBY FOOTBALL
HISTORY, 2010). Porém, durante a reunião anual de 1985 entre federações
18
filiadas à IRFB (atual IRB), ficou aprovada por maioria de votos a primeira Copa
do Mundo de Rugby, que seria realizada em 1987 na Nova Zelândia, com a
Austrália como co-anfitriã (CAIN e GROWDEN, 2006).
Momentos antes de a primeira partida iniciar, a desconfiança com relação
ao torneio era grande por parte de críticos que acreditavam não ser aquele o
momento ideal para realizar um evento tão grandioso. Porém, no dia 22 de maio
de 1987, no estádio Eden Park em Auckland, teve início a primeira Copa do
Mundo de Rugby, através da partida entre Nova Zelândia e Itália, com vitória da
anfitriã por 70 a 06 e sucesso absoluto por parte da organização do torneio (CAIN
e GROWDEN, 2006).
Além dessas duas equipes, participaram dessa primeira edição as seleções
da Austrália, França, Inglaterra, País de Gales, Irlanda, Escócia, Argentina, Fiji,
EUA, Japão, Tonga, Canadá, Romênia e Zimbábue (CAIN e GROWDEN, 2006).
O time da África do Sul teria direito à participação, porém sua inclusão nos jogos
foi vetada, como reação contrária à política da Apartheid vivida por esse país
(CARLIN, 2009).
Os jogos que se seguiram definiram como finalistas os “All Blacks” da Nova
Zelândia contra os “Les Bleus” da França, com os anfitriões sagrando-se
campeões em um estádio lotado por quarenta e seis mil torcedores, comprovando
assim a fama de melhor seleção do mundo até aquele momento e conquistando
pela primeira vez a “Taça William Web Ellis”, troféu oferecido ao campeão
mundial, em homenagem ao suposto criador do rugby.
Essa primeira competição mundial de rugby pode ser considerada um
marco na história do esporte. Antes desse torneio, o rugby era visto como um
esporte “feito para alegrar a quem o pratica, não para satisfazer os espectadores”
(GARCIA, 1964. p. 181, tradução nossa). Porém a alta média de público, tanto
nos estádios quanto por transmissão televisiva proporcionou um aumento no valor
agregado ao esporte, atraindo assim inúmeros patrocinadores, o que tornava
inevitável o início de um grande movimento a favor da profissionalização do
rugby. Segundo Brown, Guthrie e Gowden (2007), essa primeira Copa do Mundo
de Rugby da história foi assistida por mais de quinhentos mil torcedores presentes
aos estádios e cerca de trezentos milhões de telespectadores.
19
A década de 80 ficou marcada também pelo crescimento do rugby
feminino, que até então era pouquíssimo praticado. Em 1983 foi criada a Women
Rugby Football Union (WRFU), formada por doze clubes e responsável por
auxiliar na organização e desenvolvimento do rugby feminino na Inglaterra,
Irlanda, País de Gales e Escócia (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010). Nos
Estados Unidos, durante a década de 80, o esporte feminino como um todo vivia
um período de crescimento, o que motivou muitas mulheres norte-americanas à
prática do rugby, elevando os EUA ao posto de melhor equipe feminina de rugby
logo no início dos anos 90 (BROWN, GUTHRIE e GROWDEN, 2007). Em 1991 e
1994 foram disputados dois torneios mundiais não oficiais, onde as americanas
conquistaram um título e um vice-campeonato, mesmos resultados obtidos pela
seleção da Inglaterra (IRB, 2010).
A década de 90 iniciou com forte pressão a favor do profissionalismo,
principalmente por parte dos países do hemisfério sul, como Austrália, África do
Sul e Nova Zelândia (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010). Em 1991 foi
disputada a segunda Copa do Mundo de Rugby, sediada por Grã-Bretanha,
Irlanda e França. Assim como na primeira edição, quatro anos antes, participaram
16 equipes e atingiu audiências ainda maiores do que a edição de 1987. O
público presente aos estádios ultrapassou um milhão e quase dois bilhões de
telespectadores distribuídos pelos cinco continentes (BROWN, GUTHRIE e
GOWDEN, 2007). O resultado desse torneio no aspecto comercial e financeiro foi
excelente,
oferecendo
assim
argumentos
ainda
maiores
a
favor
do
profissionalismo, como apontado por Cain e Growden (2006): “O torneio de 1991
foi o primeiro a reconhecer o potencial promocional e comercial da Copa do
Mundo. Ele atraiu uma nova audiência em massa na televisão e ainda conquistou
o patrocínio e apoio de grandes companhias multinacionais.” (CAIN e
GROWDEN, 2006. p. 183, tradução nossa).
Dentro de campo o torneio teve alto nível técnico e grandes disputas, além
de marcar o retorno da Inglaterra ao grupo dos países de elite do rugby
internacional. A final foi disputada por Inglaterra e Austrália, que acabou
vencendo, o que provocou grande repercussão nesse país (CAIN e GROWDEN,
2006).
20
Em 1993 foi organizado pela primeira vez o Mundial de Rugby Seven-aside, na Escócia, mesmo local onde a modalidade fora criada 110 anos antes.
Disputada por vinte e quatro equipes, o torneio teve como campeã a Inglaterra,
que venceu a Austrália na final (IRB, 2010).
As duas edições iniciais das Copas do Mundo de Rugby Union (também
conhecido como Rugby XV) não contaram com a seleção da África do Sul, que
durante anos foi considerada uma das melhores equipes de rugby do mundo, mas
em função da política vivida por seu país ficou impedida de participar dos dois
principais eventos de rugby mundial até aquele momento (CAIN e GROWDEN,
2006).
Porém, em fevereiro de 1990 o governo sul-africano fornecia indícios de
mudanças no sistema “apartheid” ao libertar Nelson Mandela, prisioneiro político
que se tornaria um dos principais personagens da história desse país e
influenciaria diretamente em um dos principais capítulos da história dos
Springboks (seleção de rugby da África do Sul). Em 1994, através de eleições
populares, Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul.
Durante sua posse, ao contrário do que muitos imaginavam, o presidente iniciou
um processo de unificação do país pautado na integração entre brancos e negros.
Nesse sentido, o mundial de rugby de 1995 se tornou uma das principais
estratégias utilizadas por Nelson Mandela para alcançar seu objetivo (CARLIN,
2009).
Segundo Carlin (2009), durante os vinte e oito anos de prisão, Nelson
Mandela procurou compreender os costumes e idioma dos brancos com quem
convivia na prisão, em geral funcionários, policiais e diretores. Um detalhe
importante observado foi a paixão pelo rugby, esporte muito tradicional entre a
elite dominante da África do Sul e que durante anos se manteve afastado de
disputas internacionais em função de boicotes políticos. Após as eleições nas
quais fora eleito presidente, Mandela iniciou uma campanha para que a África do
Sul se tornasse sede da Copa do Mundo de Rugby de 1995 e se posicionou
contrário aos boicotes aplicados por grupos de negros mais radicais. Após a
definição desse país como sede do torneio, o então presidente apoiou de maneira
muito participativa os “Springboks”, time que era visto pelos negros como símbolo
21
da repressão. Essa atitude de Mandela ficou marcada como sinal de perdão e fez
com que negros e brancos passassem a apoiar a seleção nacional durante a
Copa do Mundo de 1995 (CARLIN, 2009).
Essa atitude do presidente da África do Sul foi uma das principais marcas
dessa competição, como relata Brown, Guthrie e Gowden (2007): “O presidente
Nelson Mandela abriu o torneio vestindo um casaco dos Springboks, um grande
símbolo do apartheid, clamando assim por uma união da „nação arco-iris‟ através
do esporte” (BROWN, GUTHRIE e GOWDEN, 2007, p. 199, tradução nossa).
Durante a partida final, entre África do Sul e Nova Zelândia, por ironia do
destino apelidada de “All Blacks” (todos negros), o que se viu foi um país inteiro
unido a favor do Springboks, que se tornou campeão em uma partida muito
disputada (CARLIN, 2009). A exemplo do que ocorreu na Copa do Mundo de
1991, a audiência para esse torneio foi enorme, comprovando a capacidade
comercial do rugby (BROWN, GUTHRIE e GOWDEN, 2007).
Após a Copa do Mundo, alguns jogadores importantes começaram a
receber propostas para jogar “rugby league” profissionalmente, fato que gerou
uma pressão ainda maior sobre a IRB em relação ao profissionalismo no “rugby
union”. Assim, em 1995 a IRB decretou oficialmente que o rugby seria um esporte
“aberto” e livre de limitações a respeito de pagamentos e contratos de jogadores
(CAIN e GROWDEN, 2006).
Nesse momento o rugby passava a oferecer grande valor comercial,
atraindo assim emissoras televisivas e grandes empresas interessadas no
investimento através de marketing. Para atender a essa demanda foi criado em
1995 o torneio “Heineken Cup”, envolvendo os principais clubes europeus,
associado a uma grande marca de cerveja como indício do início da era
profissional. No hemisfério sul foram criados dois torneios envolvendo os únicos
três países campeões mundiais até aquele momento: Nova Zelândia, Austrália e
África do Sul. Um dos torneios seria disputado entre as seleções desses países e
ficou comercialmente conhecido como “Tri-nations”. Outro torneio seria disputado
por doze equipes, que representariam diferentes regiões desses países e passou
a ser conhecido como Super 12 (CAIN e GROWDEN, 2006).
22
Já em 1997 ocorreu o segundo Mundial de Seven-a-side, disputado em
Hong Kong, novamente por 24 países. Marcando o início da era profissional
também nessa modalidade, Fiji levou o título em um jogo memorável contra a
Nova Zelândia, com mais de quarenta mil torcedores presentes ao estádio (IRB,
2010).
Em meio a um período de grande divulgação e popularização do rugby,
1998 é marcado pela primeira Copa do Mundo de Rugby feminina oficial, regida
pela International Rugby Board (IRB, 2010). Apesar de não alcançar resultados
tão expressivos quanto a versão masculina, a competição serve como estímulo
para o desenvolvimento do rugby feminino no mundo. A final do torneio é
disputada entre Estados Unidos e Nova Zelândia, que assim como na disputa
masculina de 1987 torna-se a primeira equipe campeã mundial de rugby feminino
(RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010).
Em 1999 acontece a primeira Copa do Mundo da era profissional do rugby,
com partidas realizadas na Inglaterra, França, Escócia e Irlanda. Quebrando
todos os recordes de audiência das edições anteriores, cerca de 3.1 bilhões de
pessoas puderam assistir ao vivo o torneio, que foi finalizado com o segundo título
mundial conquistado pela Austrália contra a surpreendente equipe da França que
derrotou os favoritos “All Blacks” na semifinal (BROWN, GUTHRIE e GOWDEN,
2007).
No ano 2000, a competição entre seleções de rugby mais antiga que se
tem relato, disputada desde 1883, por França, Inglaterra, Irlanda, País de Gales e
Escócia, passa a ter sua versão comercial com a inclusão da Itália e mudança no
nome para “Six Nations” (seis nações), tornando-se assim um torneio com
estrutura profissional, capaz de atrair patrocinadores e mídia (CAIN e
GROWDEN, 2006).
No ano seguinte, o terceiro Mundial de seven-a-side marcaria a primeira
vez na história que a América do Sul receberia um torneio de primeiro nível
mundial. Disputada em Mar del Plata, na Argentina, 24 países competiram
23
durante dois dias4, sagrando-se campeã a equipe da Nova Zelândia, liderada por
um dos principais jogadores do início do profissionalismo, Jonah Lomu (IRB,
2010).
Em 2002 foi disputada na Espanha a segunda Copa do Mundo de Rugby
feminino, com a inclusão de países em desenvolvimento como Japão e Samoa. O
evento foi ainda maior que a primeira edição e teve como campeã novamente a
seleção da Nova Zelândia (RUGBY FOOTBALL HISTORY, 2010).
Quatro anos após a terceira Copa do Mundo de Rugby XV masculina, o
mundo pode ver um evento ainda maior em termos de espetáculo, valores
comerciais e divulgação. A Copa do Mundo da Austrália em 2003 chegou a ser
comparada aos Jogos Olímpicos de 2000 realizados no mesmo país três anos
antes, conforme aponta Chariot (2003): “Just like the Olympics, only bigger!” 5.
Somados todos os jogos da competição o número de telespectadores chegou a
marca de quase 4 bilhões, distribuídos em mais de duzentos países [incluindo o
Brasil] e ainda o público presente aos estádios superou as marcas alcançadas
nas edições anteriores (CHARIOT, 2003).
Com um total de 48 partidas disputadas em dez cidades australianas, o
torneio teve como campeã a Inglaterra liderada por Johny Wilkinson, apontado
como um dos melhores jogadores de rugby da história (CHARIOT, 2003). Esse foi
o primeiro título mundial conquistado por um país europeu, apesar de as origens
do rugby estarem vinculadas a esse continente.
Seguindo a tendência de grandes espetáculos relacionados ao rugby nessa
década, em 2005 foi realizado o quarto Mundial de Seven-a-side, novamente com
sede em Hong Kong, superando recordes de audiência das edições anteriores.
Pela primeira vez a competição contou com duas seleções sul-americanas,
4
O formato do jogo seven-a-side permite que uma competição seja disputada em curtos períodos
de tempo. Sendo esse um dos principais motivos por ser a modalidade escolhida para representar
o rugby nos Jogos Olímpicos de 2016.
5
Tradução do autor: “Assim como nas Olimpíadas, apenas maior!”. Comentário feito por uma
emissora de televisão durante transmissão da abertura da Copa do Mundo de Rugby em 2003,
reproduzido por CHARIOT, 2003, p. 11.
24
Argentina e Uruguai. Porém, os campeões foram novamente os fijianos que
derrotaram a seleção da Nova Zelândia na final (IRB, 2010).
Em 2006 disputou-se pela terceira vez oficialmente, a Copa do Mundo
feminina de Rugby XV. O alto nível técnico alcançado e o aparecimento de novas
equipes foram indícios de melhorias no desenvolvimento do rugby feminino
mundial. As campeãs foram novamente as neozelandesas, durante o torneio que
foi disputado no Canadá, sendo a primeira vez que um país não europeu sediou a
competição (IRB, 2010).
A Copa do Mundo de Rugby XV masculina de 2007 contou com um longo
processo de classificação para composição das vinte equipes que disputaram a
competição. As oito melhores colocadas na Copa de 2003 tiveram vaga garantida.
Já as outras doze disputaram inicialmente eliminatórias regionais até a definição
das vagas através do sistema de “repescagem” entre países de diferentes
continentes (BROWN, GUTHRIE e GROWDEN, 2007). Antes da competição, a
expectativa era de um evento ainda maior do que o torneio disputado quatro anos
antes, como relatam Cain e Growden (2006):
O comitê organizador da Copa da França 2007 diz que
o evento será o maior de todos os tempos, com a previsão
de que 2.5 milhões de fãs assistirão aos jogos nos estádios,
enquanto quatro bilhões de pessoas acompanharão as
partidas via 250 diferentes canais de comunicação, ao longo
do mundo (CAIN e GROWDEN, 2006, p. 187, tradução
nossa).
O torneio teve início em sete de setembro de 2007, com sede na França e
algumas partidas realizadas na Irlanda, País de Gales e Escócia. Superando as
expectativas, a competição foi vista por mais de quatro bilhões de telespectadores
e cerca de 2.2 milhões de ingressos vendidos (RUGBY FOOTBALL HISTORY,
2010). Em campo, um dos maiores destaques ficou com a seleção Argentina “Los
Pumas”, que venceu na partida de estréia a anfitriã França e apesar de possuir
uma estrutura amadora em suas competições nacionais, conquistou o terceiro
lugar da competição, com apenas uma derrota para a campeã África do Sul, que
voltava a conquistar o título de melhores do mundo após doze anos.
25
O impacto da Copa do Mundo da França para os argentinos foi enorme,
resultando na enorme procura por interessados em praticar o esporte em clubes
desse país. Além disso, após o resultado alcançado os “Pumas” foram
convidados para participar da competição “Tri-nations” a partir de 2012, fazendo
companhia aos “Springboks”, “Wallabies” e “All Blacks”, representantes de África
do Sul, Austrália e Nova Zelândia respectivamente.
Encerrando a primeira década do século XXI, em 2009 foi disputada mais
um Mundial de Seven-a-side, com a novidade de que o torneio seria disputado em
Dubai, nos Emirados Árabes e contou pela primeira vez com a competição
feminina. Na chave masculina, a final foi disputada por Argentina e País de Gales,
que se tornou campeão pela primeira vez. A Argentina mostrou mais uma vez ao
mundo a força do rugby jogado nesse país, conquistando um excelente resultado
dois anos após sua melhor participação em campeonatos mundiais de Rugby XV.
Na chave feminina, as australianas conquistaram o título jogando a final
contra a Nova Zelândia. Porém, para os brasileiros esse torneio foi considerado
um dos maiores marcos da história do rugby no país. Após seis títulos sulamericanos conquistados de maneira invicta, a seleção brasileira feminina de
Rugby Seven‟s conquistou o direito de disputar o Mundial. Após uma longa
preparação, a equipe viajou para Dubai e realizou uma excelente campanha para
um país com pouca tradição em competições internacionais. Com três vitórias em
seis partidas disputadas, o Brasil terminou com a segunda colocação da “Taça
bronze”, equivalente ao décimo lugar na classificação geral. Dessa maneira, o
rugby brasileiro passou a ser mais valorizado pela IRB e pelo próprio COB
(Comitê Olímpico Brasileiro), que passaram a oferecer uma quantia em dinheiro
anual destinada ao desenvolvimento do rugby feminino no Brasil.
No início de 2010, o Brasil voltou a disputar um mundial feminino, porém na
ocasião a competição foi restrita a atletas universitárias. A sexta colocação geral
alcançado pela seleção brasileira foi considerada uma excelente posição durante
a disputa ocorrida em Portugal.
Na atualidade o rugby se tornou um dos esportes coletivos com maior
número de praticantes no mundo, além de possuir um enorme valor comercial
agregado, através de clubes e torneios altamente profissionais. A inclusão do
26
esporte nos Jogos Olímpicos gera uma expectativa grande com relação ao
desenvolvimento do rugby e aumento no número de praticantes e clubes.
A IRB passa a investir cada vez mais em países em desenvolvimento,
fazendo com que o rugby cresça também em locais distintos aos países com
tradição na modalidade. O amadorismo já começa a fazer parte do passado,
apesar de ser ainda mantido em alguns países tradicionais, como Argentina, onde
existem muitos críticos ao profissionalismo, por possuírem dúvidas com relação à
manutenção do “espírito do rugby” em um ambiente profissional.
Na América do Sul, as expectativas com relação à década que se inicia são
altas, em virtude das Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, onde o rugby voltará
ao programa olímpico e devido ao ingresso da Argentina no grupo de países que
disputam o “Tri-nations”, trazendo para o continente sul-americano uma
competição de excelente nível internacional.
27
2.2
História do Rugby no Brasil
No final do século XIX, o Brasil passava por grandes mudanças, com a
chegada de inúmeros imigrantes ingleses, como conseqüência do processo de
desenvolvimento industrial vivido pelo país (PRIORE e VENÂNCIO, 2001). Os
engenheiros e funcionários britânicos traziam consigo também os costumes da
juventude, entre os quais a prática de esportes, como o futebol, hóquei, críquete e
rugby, que eram praticados durante seus momentos de lazer.
Com o objetivo de se reunir em um local apropriado para a prática de
esportes, os ingleses passaram a fundar clubes, possibilitando assim a
participação de pessoas que não estivessem ligadas às empresas. Alguns desses
clubes tiveram grande importância na história do rugby. Em 1872, foi fundado o
Rio Cricket A. A., de onde saíram muitos jogadores para compor as primeiras
seleções estaduais nas primeiras décadas do século XX. Em 1888, foi fundado na
capital de São Paulo, o SPAC (São Paulo Athletic Club), até hoje um dos clubes
mais tradicionais da cidade e uma das grandes potências do rugby nacional
(NOGUEIRA, 2007). Em 1891 foi fundado no Rio de Janeiro o Clube Brasileiro de
Futebol Rugby, onde por iniciativa de Luiz Leonel Moura o rugby foi introduzido
em terras cariocas (MAZZONI, 1950).
Em 1874, nascia o brasileiro Charles William Miller, filho de pai escocês e
mãe brasileira com origem inglesa. Aos nove anos de idade o garoto foi enviado
para a Inglaterra com o objetivo de estudar. Lá, aprendeu sobre o idioma, sobre
os costumes ingleses e também sobre os esportes, muito praticados nas escolas
de Hampshire, cidade onde viveu. O jovem se destacou como excelente jogador
de futebol, tendo participado inúmeras vezes do selecionado de Hampshire, onde
defendia a equipe do Suthampton Football Club (CALDAS, 1988). Mas durante
sua estadia na Europa, Miller também foi excelente jogador em esportes como o
rugby e o críquete (MAZZONI, 1950).
Aos vinte anos de idade, em 1894, o jovem Charles Miller voltava ao Brasil
como empregado da “São Paulo Railway Company” e trazia em sua bagagem
alguns objetos curiosos, como bolas, um livro de regras de futebol association
(antecessor do futebol moderno), chuteiras e outros materiais esportivos (GIGLIO,
28
2007). Nos seus momentos de lazer, ele passou a se dedicar ao seu esporte
favorito, o futebol. E assim, auxiliou a fundar clubes e difundir essa modalidade no
Brasil, entrando para a história como o “pai do futebol” brasileiro, apesar de ter
sido também um dos responsáveis pela introdução do rugby no país. Em 1895,
Miller foi responsável por organizar o primeiro time de rugby em São Paulo
(MAZZONI, 1950; BRENTANO, 2002).
Giglio (2007) afirma que antes de Miller o futebol era jogado em diferentes
partes do Brasil, porém com regras distintas. Possivelmente, em algumas escolas
ou fábricas a modalidade jogada era o rugby football, que acabou se perdendo
após a difusão das regras do association football. O autor aponta ainda a
importância dos trabalhadores de estradas de ferro que, através da prática dessa
modalidade em diferentes cidades, auxiliaram na popularização do futebol por
todo ambiente nacional. O rugby seguia por um caminho parecido, porém por
algum motivo não encontrado na literatura, os dois esportes tomaram rumos
distintos.
Nessa mesma época, algumas partidas de rugby foram jogadas também
entre funcionários de diferentes empresas britânicas instaladas no país e
marinheiros mercantes durante suas estadias no Brasil, em especial no porto de
Santos. E assim, através de partidas esporádicas durante o final do século XIX e
início do século XX, o rugby começava a se desenvolver lentamente no Brasil
(NOGUEIRA, 2007).
Por volta de 1920, surgem os clubes São Paulo Rugby Football Club e
Britânia Football Club, que junto com o clube SPAC, começam a realizar partidas
de rugby em campos emprestados pelo clube Societtá Palestra Itália e pela
empresa São Paulo Railway Company. Ainda na década de 20, são realizados os
primeiros jogos inter-estaduais de rugby entre paulistas e fluminenses, cuja
maioria dos jogadores saíam do Clube Rio Cricket. As partidas eram
acompanhadas sempre por grandes celebrações entre os jogadores, seguindo os
costumes ingleses, que chamavam essa confraternização de terceiro tempo
(NOGUEIRA, 2007).
A década seguinte foi marcada pelo crescimento no número de praticantes
e na quantidade de partidas, inclusive partidas internacionais como o amistoso
29
com a seleção da África do Sul em 1932 e com a Inglaterra em 1936
(NOGUEIRA, 2007; CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE RUGBY, 2010).
A Segunda Guerra Mundial, a exemplo do que ocorreu na Europa, marcou
um período muito pobre para o rugby brasileiro, em virtude da grande quantidade
de jogadores que se alistaram no exército (DUARTE, 2000).
Um personagem muito importante no período pós-guerra foi Jimmy
Macintyre, escocês que havia participado da fundação do São Paulo Rugby
Football Club e que deixou de jogar durante a guerra. Segundo Nogueira (2007),
ele foi o responsável por organizar a primeira excursão internacional de um
combinado brasileiro, que na ocasião foram ao Uruguai, onde disputaram três
partidas, com vitória brasileira em todas, inclusive contra a seleção uruguaia.
Durante a década de 50, o rugby brasileiro começou a se reestruturar
apesar das baixas sofridas com a guerra. Os jogos estaduais e interestaduais
voltaram a ser corriqueiros e novos adeptos do esporte começaram a aparecer.
Porém, por questões administrativas e políticas, nessa época as partidas
deixaram de ser realizadas no campo de Pirituba, principal local para a prática do
rugby em São Paulo (NOGUEIRA, 2007). Com isso, alguns membros do SPAC
começaram a buscar um novo local para a prática do rugby e compraram uma
área alagada, próxima a represa de Guarapiranga, no bairro de Santo Amaro,
onde construíram uma nova sede para o clube e um campo oficial de rugby
(MILLS, 1994; NOGUEIRA, 2007). Esse local seria por muitos anos, o único
campo oficial e exclusivo para o rugby no Brasil.
Durante a década de 60, a exemplo do que ocorria no mundo todo, o rugby
brasileiro continuava em ascendência. Em 1960 foi fundado o clube Aliança RFC,
formado por franceses, ingleses, argentinos e alguns poucos brasileiros da elite
econômica paulista. No ano seguinte a colônia japonesa conquistava o seu
espaço para a prática do rugby, através da fundação do Nippon Country Club
(NOGUEIRA, 2007; CBRU, 2010).
Não eram apenas clubes que começavam a crescer, mas também equipes
que surgiam dentro das universidades, o que evidencia a mudança no perfil dos
praticantes de rugby. Anteriormente, apenas estrangeiros ou descendentes
jogavam rugby e já durante a metade da década de 60, os brasileiros começavam
30
a adotar a modalidade.
A primeira partida entre equipes universitárias foi disputada pelas equipes
dos cursos de engenharia da Universidade Mackenzie e da faculdade de medicina
da Universidade de São Paulo, em 1966 (NOGUEIRA, 2007).
Porém, o maior marco do crescimento do rugby no Brasil durante a década
de 60, foi a criação da União de Rugby do Brasil, em 6 de outubro de 1963, que
viria a ser reconhecida pela International Rugby Board no final da década (CBRU,
2010). No ano seguinte, a recém criada entidade, organizou o III Campeonato
Sulamericano de Rugby, no qual o Brasil terminou com a segunda colocação.
Jogando com uma equipe formada quase exclusivamente por estrangeiros, a
seleção brasileira perdeu apenas para a campeã Argentina, e alcançou o
resultado que até os dias atuais nunca mais foi igualado (NOGUEIRA, 2007).
Apesar do excelente resultado alcançado, o rugby brasileiro possuía um
déficit muito grande quanto à renovação e categorias de base, em relação às
principais potências do esporte no continente. Nesse sentido, a década de 70 se
iniciava com algumas iniciativas do presidente da URB Leon Willian Rheims, que
visavam o desenvolvimento do rugby infanto-juvenil em São Paulo (NOGUEIRA,
2007). Assim, segundo Martoni (2010), durante esse período escolas tradicionais
da capital paulistana passaram a contar com equipes de rugby, como é o caso
dos colégios Rio Branco, Santa Cruz, Pueri Domus, Porto Seguro, Liceu Pauster,
São Luis, Objetivo, entre outras (informação verbal)6.
Em 1972, a URB passa a ser reconhecida pelo Conselho Nacional de
Desportos, mas por determinações dessa instituição passa a se chamar
Associação Brasileira de Rugby, ou ABR. No ano seguinte o Brasil é novamente
sede do Campeonato Sulamericano de Rugby, dessa vez não alcançando um
resultado tão expressivo quanto na ocasião anterior (NOGUEIRA, 2007).
Durante essa década novas equipes universitárias surgiram, com
destaques para as equipe da Escola Politécnica (Poli) na USP e Universidade
Mauá. De acordo com Cenamo (2010), a equipe da Poli foi fundada em 1971,
6
Comunicação pessoal com Antonio Martoni em outubro de 2010. Martoni é ex-jogador e fundador
do Clube Bandeirantes R.C., ex-jogador e ex-treinador da seleção brasileira de rugby e atual
Diretor Técnico da Confederação Brasileira de Rugby.
31
com o objetivo de disputar torneios juntamente com os clubes tradicionais, e para
isso contava com alunos de outras faculdades da USP, como EEFUSP, FAU,
IME, entre outros (informação verbal)7. Já a equipe da Mauá, também possuía
uma forte equipe, que acabou por sagrar-se campeã brasileira em 1977, contando
com o reforço de alguns jogadores que haviam jogado juntos no Colégio São Luis,
durante o início da década (informação verbal)6.
Ainda durante a década de 70, apesar do surgimento de novos times,
como o Barbarians RFC, Guarapiranga Golf Clube e Niterói RFC, os torneios
regionais praticamente não existiam e a seleção brasileira realizava poucas
partidas ao longo do ano (informação verbal)7. Porém, o aumento no número de
equipes e jogadores, além do início dos investimentos nas categorias de base são
indícios do início de um período de popularização do rugby no Brasil, ao final da
década de 70 e início dos anos 80.
Mas uma fatalidade logo no início da década de 80 marcou o fim do rugby
escolar, que havia se desenvolvido amplamente na década anterior, provocando
um enorme prejuízo para o desenvolvimento do rugby no Brasil. Durante uma
partida da equipe da Escola Politécnica, um dos jogadores que também havia
sido jogador do Colégio Santa Cruz, sofreu um acidente que provocou uma fratura
na coluna cervical, gerando um quadro de tetraplegia. Segundo Martoni (2010), o
impacto desse acidente foi o término dos torneios interescolares de rugby,
culminando com o fim das equipes escolares, em função da desconfiança com
relação ao esporte por parte de pais de alunos e professores. Na época as
equipes escolares representavam as categorias de base do rugby brasileiro
(informação verbal)6. Em função desse e outros acidentes similares que
ocorreram nessa época no mundo, a IRB decidiu por alterar algumas regras do
jogo, visando a segurança dos jogadores. Atualmente, acidentes dessa natureza
são muito raros dentro do rugby.
Apesar desse episódio, a década de 80 também foi marcada pelo
surgimento de novas equipes, o que pode ser considerado como um fator
7
Comunicação pessoal com Odilon Afonso Vieira Cenamo, em novembro de 2010. Cenamo é ex-
jogador da equipe da Poli-USP, participou da fundação do clube Pauster A.C. e do time de rugby
SPFC.
32
importante para o desenvolvimento do rugby no país, na medida em que surgiam
novos locais para a prática do esporte. Em 1981, foi fundado o Pauster A.C.,
formado por ex-alunos do Colégio Liceu Pauster, que apesar da separação com o
colégio, manteve estreita relação com a colônia francesa no Brasil, além da
utilização das cores da bandeira francesa (PACRUGBY, 2010).
Por falta de apoio da Universidade, no início da década de 80, um grupo de
jogadores da equipe Mauá, que anteriormente haviam jogado no Colégio São
Luis, foi convidado para jogar no Nippon Country Club. Entre os atletas que
faziam parte desse grupo, se destacava Antonio Martoni e Cristian Besse, que
jogavam na seleção principal do Brasil. Porém, a parceria não atingiu os objetivos
pretendidos de fomentar o rugby dentro do clube e os mesmos jogadores
acabaram fundando um novo clube em 1981, chamado Bruder Rugby, contando
com apoio da Secretária de Esportes da cidade de São Paulo, que oferecia as
instalações do CDM Joerg Bruder, em Santo Amaro para treinos e um campo na
Vila Mariana para jogos (informação verbal)6.
Após dois anos de atividade, em virtude de mudanças na política da
Secretária de Esportes, o Bruder perdeu apoio e o local para treinamentos. Com
isso, os jogadores que faziam parte dessa equipe fundaram um novo clube, que
teria como meta difundir o rugby paulistano para outros locais do Brasil e outros
países através de viagens. Assim, em alusão aos “bandeirantes” portugueses foi
fundado em 1983 o Clube de Rúgbi Bandeirantes, um time com administração
brasileira, ao contrário dos principais clubes da época, que eram administrados
por ingleses, franceses, japoneses, uruguaios e argentinos (informação verbal)6.
Outro fator importante para o desenvolvimento do rugby nesse período foi
a difusão do rugby brasileiro nos meios de comunicação, em grande parte devido
ao surgimento de um time de rugby dentro de um dos maiores clubes de futebol
do país, o São Paulo Futebol Clube. O time foi formado em 1983 principalmente
por alguns ex-jogadores da Poli e do Colégio Santa Cruz, que após término dos
estudos buscavam um local para continuarem praticando rugby. A diretoria do
SPFC apoiou o time através da contratação do técnico argentino Luis Novillo, da
utilização de um campo dentro do clube para jogos e da confecção de um jogo de
uniformes, porém não permitia a utilização de campo para jogos, o que obrigou o
33
time a treinar em um espaço na “Praça do Relógio”, dentro do campus da Cidade
Universitária da USP (informação verbal)7.
Nesse mesmo ano o time venceu o campeonato brasileiro da segunda
divisão e em função dos resultados, conquistou junto à diretoria do clube o direito
de utilização do campo social para treinamentos. Além disso, no início de 1984, a
equipe disputou uma partida no Estádio do Morumbi, contra o time do Nippon,
valendo como preliminar de jogo válido pelo Campeonato Brasileiro de futebol,
entre as equipes do SPFC e do Bahia, que contou com a presença de quase
quinze mil espectadores e transmissão ao vivo por televisão, fato inédito até
aquele momento para o rugby brasileiro (informação verbal)7. Nos anos seguintes
o time do SPFC continuou disputando inúmeros torneios e divulgando o rugby
através da mídia esportiva, porém após a troca na diretoria do clube em 1988, por
razões políticas o time de rugby foi dissolvido (SERRA, 2009).
Apesar do início da popularização do rugby no país, durante a década de
80 o Brasil passava por uma grande crise econômica, que acabou repercutindo no
rugby brasileiro, na medida em que os clubes e seleções reduziram a quantidade
de viagens para o exterior (NOGUEIRA, 2007), o que influenciou no
desenvolvimento técnico dos jogadores brasileiros durante esse período. Um
indício de que o nível técnico dos jogadores foi afetado pela falta de jogos
internacionais, é o primeiro torneio disputado, em 1989, após quase uma década
sem esse tipo de disputa, onde segundo Nogueira (2007), o Brasil terminou na
quarta colocação, conquistando apenas uma vitória frente ao selecionado do
Paraguai.
Já durante o início da década de 90, o Brasil voltava ao cenário
internacional do rugby, quando surgiu uma grande rivalidade com o Paraguai pelo
posto de quarta potência do continente sul americano (informação verbal)6. No
mesmo período, a ABR comandada pelo engenheiro Luis Eduardo de Magalhães
Gouvêa, passou a dedicar-se a atualização do conhecimento técnico, através de
palestras e cursos oferecidos por árbitros e treinadores estrangeiros (NOGUEIRA,
2007).
Porém, em 1994 o então presidente da ABR Luis Eduardo Gouvêa faleceu,
interrompendo as atividades da entidade, o que culminou em uma séria crise
34
financeira, solucionada em parte graças ao esforço dos clubes tradicionais para
reerguer a associação. Interinamente, Sérgio Costa assumiu a entidade e através
de ação conjunta com os clubes, a ABR conquistou sua primeira sede
administrativa (informação verbal)6. A estruturação da entidade ainda passaria por
novas mudanças positivas após a presidência de Jean François Teissere, que
assumiu a gestão em 1996 (NOGUEIRA, 2007).
Como conseqüência do aparecimento de novos clubes na década anterior,
nos anos 90 pela primeira vez o rugby brasileiro passava a contar com
campeonatos regionais em dois estados diferentes (RJ e SP). Além disso,
segundo Martoni (2010), nesse período os clubes passaram a possuir categorias
de base, o que indica preocupação com a renovação do esporte (informação
verbal)6.
No interior de São Paulo surgem muitos novos focos de crescimento do
rugby, com novas equipes em cidades como São José dos Campos, Piracicaba,
Campinas, Jundiaí, São Carlos, Bauru e Ribeirão Preto. No sul do país também
surgem novos trabalhos de difusão do esporte, em especial nas cidades de
Curitiba e Florianópolis (NOGUEIRA, 2007). O rugby universitário passa por um
período de crescimento também nesse período, em especial na cidade de São
Paulo, onde surgem inúmeras novas equipes e onde a Federação Universitária
Paulista de Esportes (FUPE) passa a organizar um campeonato apenas para
universidades (informação verbal)6.
No âmbito internacional, em 1996 o Brasil disputa pela primeira vez um
torneio eliminatório para a Copa do Mundo, que seria realizada em 1999. Em
virtude da falta de dinheiro por parte da ABR, os jogadores financiam todos os
gastos da seleção, que não conquista o direito de disputar a principal competição
mundial. Apesar da não classificação, após as eliminatórias a IRB passa a
reconhecer o Brasil como um país em desenvolvimento, e assim inicia uma
relação entre as duas entidades, resultando no aporte de verbas por parte da IRB
a partir do ano 2000 (informação verbal)6.
Em 1999, a Confederação Sul Americana de Rugby optou pela divisão em
dois grupos de países de acordo com o grau de desenvolvimento apresentado. O
Brasil optou por fazer parte do grupo B, onde estariam seleções teoricamente
35
mais fracas e assim é campeão do primeiro torneio sulamericano “B” disputado no
ano 2000 (informação verbal)6.
A primeira década do século XXI foi marcada pelo aumento expressivo no
número de clubes, jogadores e pela expansão do esporte pelo território nacional,
influenciados pela fundação das primeiras federações regionais. Segundo
Brentano (2002), no ano de 2002 existiam no Brasil cerca de 20 clubes,
distribuídos em apenas 8 estados. Já em 2009, de acordo com censo realizado, o
número de equipes passou para cerca de 280, entre clubes e times universitários,
espalhados entre 23 dos 27 estados que compõem o país (ITOKAZU, 2010). De
acordo com Martoni (2010), atualmente a Confederação Brasileira de Rugby
conta com quase dez mil associados, porém estima-se que existam no total cerca
de trinta mil jogadores de rugby no país, entre federados e jogadores “casuais”,
que praticam o esporte apenas por lazer (informação verbal)6.
Os torneios universitários se tornaram muito disputados, especialmente no
estado de São Paulo, onde a modalidade cresce muito a cada ano (SALDAÑA,
2010). Na atualidade, a maioria das Universidades possui equipes de rugby e
algumas, como USP e Mackenzie, possuem mais de uma equipe e realizam
torneios internos.
O rugby feminino foi uma modalidade que se desenvolveu muito
rapidamente durante a primeira década do século. Em pouco tempo a seleção
brasileira feminina se tornou a maior potência sul americana da modalidade,
conquistando seis entre seis torneios disputados e conquistando a oportunidade
de representar o país pela primeira vez durante uma Copa do Mundo de Rugby,
em 2009 quando terminaram na décima colocação.
Martoni (2010), acredita que um dos principais motivos pela expansão do
rugby nessa década tenha sido o aparecimento do rugby com maior freqüência
aos meios de comunicação, como televisão, revistas, jornais e até mesmo
internet. Grandes emissoras pagas passaram a transmitir partidas de rugby, e um
dos maiores marcos talvez seja a Copa do Mundo de 2007, onde segundo
Martoni (2010) a emissora ESPN obteve seus maiores índices de audiência
daquele ano (informação verbal)6.
Mas o trabalho dos clubes tradicionais também teve grande influência no
36
desenvolvimento da modalidade. No interior de São Paulo, especificamente em
São José dos Campos, o São José Rugby além de haver se destacado como a
maior potência da modalidade no país, teve importante papel como difusor do
rugby, na medida em que participou ativamente na fundação de novos pólos de
prática do esporte, com maior destaque para o trabalho realizado nas cidades de
Jacareí, Taubaté e Ilha Bela, onde surgiram novos clubes de rugby.
Outro ramo de crescimento do rugby no Brasil iniciado nessa década é o
chamado “rugby social”, projetos sociais utilizados por clubes e pessoas ligadas
ao rugby como ferramenta para educação e integração social. Dessa maneira
surgiram projetos de destaque como os projetos “Rugby Para Todos”,
“Bandeirantes do Rugby”, “Hurra” e “Pequeninos do Jockey” em São Paulo,
“Aprendendo e jogando rugby” em São José dos Campos, “Vivendo o rugby” em
Curitiba, entre outros. Em São José dos Campos, o principal clube dessa cidade
viu no projeto uma maneira de desenvolver suas categorias de base e colheu
ótimos resultados práticos, com o aparecimento de inúmeros jogadores para
compor o elenco principal do clube e em alguns casos de seleções brasileiras
(informação verbal)8.
Já o Projeto Rugby Para Todos, criado em 2004 por dois jogadores do
Pauster A.C. reúne diversas crianças da comunidade Paraisópolis no bairro do
Morumbi em São Paulo e durante seis anos de atividade se destacou como um
projeto de sucesso dentro da comunidade (IRPT, 2010).
O Projeto Bandeirantes do Rugby foi criado com o objetivo de difundir o
rugby dentro da cidade de São Paulo e utilizar o esporte como meio de integração
social para crianças e jovens, além de fornecer ao clube jogadores para suas
categorias de base. O Projeto conta com apoio do Ministério do Esporte, através
da Lei de incentivo ao esporte, e assim possui profissionais contratados e
responsáveis pelas atividades.
Outro incentivo do governo federal surgido durante essa década que
auxiliou jogadores do país na prática desse esporte foi a “Bolsa Atleta”, que
8
Comunicação pessoal com Mauricio Coelho, professor de educação física idealizador do “Projeto
Aprendendo e jogando rugby”, em outubro de 2010. Coelho é treinador da seleção brasileira de rugby
seven’s e jogador do clube São José Rugby.
37
oferece um valor mensal para jogadores de destaque. Esse pode ser considerado
um dos primeiros indícios de profissionalismo no rugby brasileiro.
Ainda com relação ao desenvolvimento do rugby, um marco importante foi
o aparecimento de inúmeros campos exclusivos para a modalidade pelo país. Se
nas décadas anteriores, o campo do SPAC em Santo Amaro era visto como o
único oficial e exclusivo no país, nos anos 2000 clubes como Bandeirantes,
Pauster, São José, Curitiba passaram a possuir campos próprios. Além desses
locais surgiram novos campos em cidades onde o rugby era pouco praticado no
passado, como Indaiatuba (SP), Bento Gonçalves (RS) e Vinhedo (SP), onde o
campo foi conquistado pela Federal R.C., após parceria com a prefeitura da
cidade em 2008. A parceria ofereceu resultados, na medida em que a equipe
conquistou em 2010 o acesso para a primeira divisão do campeonato brasileiro
(informação verbal)9.
No aspecto competitivo, essa década foi marcada pela criação de novos
torneios regionais, influenciados pelo surgimento de novas Federações Regionais.
Com isso o rugby começou a se descentralizar dos grandes centros SP/RJ. Nos
torneios nacionais, o destaque da década foi a equipe do São José Rugby, com
seis títulos, seguida pelo Bandeirantes com dois.
Internacionalmente, o Brasil teve uma significante melhora, passando da
69ª posição no ranking em 2001 para a 25ª em 2009 (IRB, 2010). Apesar de
derrotas frente à Argentina, Uruguai e Chile, a seleção brasileira de rugby se
firmou como quarta maior potência do continente ao garantir uma invencibilidade
de três anos em partidas com o Paraguai e assim garantindo-se como integrante
do grupo A da Confederação Sulamericana de Rugby.
Já na modalidade seven a side, o Brasil conquistou resultados excelentes
em torneios internacionais, e em função da incorporação dessa modalidade aos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, muitas grandes empresas como Topper e
Bradesco, passaram a investir financeiramente, oferecendo melhores condições
para os atletas e para o desenvolvimento do rugby no Brasil.
Em função da inclusão do rugby nas Olimpiadas, a Associação Brasileira
de Rugby se transformou em Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), por
9
Comunicação pessoal com Flávio Machado, diretor administrativo da Federal R.C., em outubro de 2010.
38
determinação do Comitê Olímpico Brasileiro. Com a mudança, a CBRu passou a
receber maiores incentivos através de leis governamentais e iniciou o trabalho
focada no desenvolvimento do rugby brasileiro para a Olimpíada de 2016.
A década atual se inicia com grandes perspectivas com relação ao futuro
do rugby brasileiro. O investimento por parte de grandes empresas surge como
um estímulo para que os clubes aprimorem a estrutura administrativa e
desenvolvam as categorias de base. Algumas leis recém-criadas oferecem
melhores condições para a estruturação de clubes e federações. A oportunidade
da bolsa atleta e da participação nos Jogos Olímpicos servem de estímulo para os
jogadores e treinadores brasileiros, o que gera a perspectiva para o início do
profissionalismo no Brasil. As comissões técnicas começam a se tornar
profissionais, ampliando assim o mercado de trabalho para as pessoas envolvidas
com o rugby.
39
2.3
Aspectos Formativos do Rugby
Desde seu surgimento, o rugby sempre foi cercado por certo romantismo,
envolvendo lendas e histórias sobre conquistas alcançadas por praticantes do
esporte. Façanhas como o ato de William Web Ellis, que correu com a bola nas
mãos pela primeira vez na história no ano de 1823, possibilitando assim o
surgimento de um novo esporte (GARCIA, 1964) ou a vitória histórica da seleção
de Gales, frente à quase invencível seleção da Nova Zelândia de 1905, que
resultou em um laço de amizade muito forte entre jogadores galeses e
neozelandeses (WILLIAMS, 1973) ou até mesmo o encontro entre França e
Escócia, pós Primeira Guerra Mundial, onde os jogadores de ambos os times
selaram a paz em um grande banquete, assim que finalizada a partida (GARCIA,
1964).
Também deve ser lembrada a história sobre o trágico acidente aéreo de
uma equipe de rugby uruguaia, quando os valores e princípios derivados da
prática desse esporte auxiliaram durante a luta pela sobrevivência (PARRADO e
RAUSE, 2006).
Carlin (2009) relata ainda a história de Nelson Mandela, primeiro presidente
negro da África do Sul, que se utilizou do rugby para unificar um país dividido
entre negros e brancos.
Relatos como esses, que enfatizam o lado humano dos jogadores,
treinadores ou simpatizantes do rugby, são muito comuns na literatura sobre esse
esporte. Isso está relacionado ao que tem sido chamado de “espírito do rugby”.
Entretanto, para uma melhor compreensão do assunto, é necessário entender o
mecanismo do jogo.
O rugby é um esporte com muito contato físico e à primeira vista até
mesmo violento. Assim, existem muitas condições favoráveis para que um
jogador se torne mal intencionado em suas atitudes. As regras do jogo permitem
que um jogador utilize a força para sobrepor-se ao adversário. Durante uma
partida, ocorrem inúmeras situações onde uma simples atitude desleal por parte
de um jogador pode trazer graves riscos à saúde de outro. Em razão dessas
características, o Rugby exige de seus jogadores, certo “código moral” para que a
40
atividade aconteça de forma a oferecer experiências formativas aos que se
envolvem com essa atividade. O chamado “espírito do Rugby” deriva da exigência
de virtudes morais como condição básica para o envolvimento com essa
modalidade esportiva.
Em virtude do risco associado ao esporte, a IRB (International Rugby
Board) oferece recomendações presentes nas leis oficiais do jogo, que refletem a
responsabilidade de um jogador com relação à própria segurança e ao próximo,
afirmando que:
O rugby é um esporte que implica contato físico.
Qualquer esporte que implique contato físico possui perigos
implícitos. É muito importante que os jogadores joguem a
partida de acordo com as Leis do Jogo e estejam atentos a
sua própria segurança e a dos outros. É responsabilidade
daqueles que treinam ou ensinem o jogo assegurar que os
jogadores estejam preparados de modo que seja garantido o
cumprimento das Leis de Jogo e de acordo a práticas
seguras. (LEYES DEL JUEGO DE RUGBY, 2004, p.4,
tradução nossa).
Uma atitude indispensável a um jogador de rugby, em virtude das leis
definidas para o mesmo, é o sentido de cooperação. Uma das principais regras do
esporte é a proibição de que a bola seja passada ou jogada para frente, o que
praticamente impõe como característica desse jogo a cooperação entre os
jogadores, ou “jogo coletivo”, o “apoio” entre jogadores de mesmo time para que a
equipe marque pontos.
Por exemplo, em uma partida de futebol, um jogador mais habilidoso
consegue tranquilamente percorrer todo o campo de jogo através de dribles e
utilizando a velocidade para marcar pontos. No rugby isso é algo muito difícil de
conseguir sem a ajuda dos companheiros, sem a cooperação mútua.
Outra regra que “impõe” o “jogo coletivo” aos jogadores de Rugby está
relacionada a duas posições específicas dentro do jogo. As primeiras e segundas
linhas do “scrum” são formadas por cinco jogadores, normalmente mais fortes e
pesados que os demais jogadores do time. Esses jogadores raramente recebem a
41
bola, porém são jogadores que possuem a função de garantir, através da força e
do jogo coletivo, a posse de bola e a continuidade de jogo. Ou seja, são jogadores
que se dedicam e “batalham” o tempo todo, com o objetivo de oferecer um bem
comum ao time. Assim, é possível notar mais um grande valor ensinado no rugby:
a solidariedade.
Outra característica com forte potencial formativo do Rugby é a inclusão. O
rugby é um jogo coletivo que exige que os jogadores partilhem entre si diferentes
papeis ou funções estratégicas/ táticas, que por sua vez exigem competências
físicas, motoras, cognitivas e psicológicas distintas. Cada uma das posições que
compõem um time possuem particularidades e necessitam um biótipo específico
de jogador.
Na modalidade “rugby union”, foco desse estudo, o time é composto por
quinze jogadores, sendo oito “forwards” e sete “backs”, também conhecidos como
três quartos ou jogadores de linha. Resumidamente, os forwards são
responsáveis pela formação do scrum, uma espécie de disputa pela posse de
bola, que ocorre após alguma infração menos grave durante a partida, enquanto
os backs são os jogadores mais rápidos e responsáveis pela criação das jogadas
que possibilitam o avanço e conquista territorial.
Entre os forwards estão os jogadores da primeira, segunda e terceira linha.
A primeira linha é formada por três jogadores, sendo dois “pilares” e um
“hoocker”. Os pilares precisam ser jogadores muito fortes e pesados, pois serão
responsáveis pelo primeiro contato com o adversário e pela sustentação durante
a formação do “scrum”. Já o hoocker, apesar de ser também forte e pesado, em
geral possui menor estatura e é mais leve do que os pilares, porém possui boa
habilidade para lançar a bola durante as formações de lateral.
A segunda linha é composta por dois jogadores, normalmente os mais altos
do time. Ambos necessitam ser fortes, pois auxiliam a primeira linha na conquista
da posse de bola e sustentação do scrum e também precisam possuir boa
capacidade para saltar, já que normalmente são os responsáveis pela conquista
da bola nas formações de lateral.
42
A terceira linha possui três jogadores, sendo dois “asas” e um “oitavo”.
Essas posições exigem jogadores muito atléticos, com boa capacidade aeróbia,
fortes e velozes. São os jogadores responsáveis pela continuidade da equipe,
devem auxiliar na obtenção e manutenção de posse de bola, são muito
importantes na defesa, mas também participam muitas vezes como opção para o
ataque.
Já entre os backs, encontramos jogadores em geral mais velozes, com boa
capacidade estratégica, pois são os responsáveis pelas jogadas de finalização e
pela criação de jogadas que provoquem desequilíbrio defensivo e numérico na
equipe adversária.
O “half-scrum” é o responsável pela ligação entre forwards e backs. É ele
que introduz a bola na disputa do scrum e auxilia o “abertura” na organização do
time e na criação das jogadas de ataque. Essa posição requer um jogador com
boa capacidade de liderança e comunicação. Fisicamente, esses jogadores não
necessitam ser fortes e pesados como os forwards, porém é necessário ser muito
ágil e habilidoso. É comum encontrar jogadores dessa posição com baixa
estatura, característica que auxilia em determinadas situações do jogo.
O abertura exerce função semelhante ao “meia” no futebol ou ao “armador”
no basquete. São jogadores que organizam a equipe e são responsáveis pela
criação das jogadas de ataque. Um bom abertura deve possuir excelente leitura
de jogo e tomada de decisão rápida, além de grande capacidade técnica para as
habilidades específicas do jogo.
Os centros possuem funções e características semelhantes aos jogadores
de terceira linha, já citados anteriormente. Em ataque são responsáveis por
auxiliar na criação das jogadas, pelo avanço e conquista territorial e pela
manutenção de posse de bola e continuidade da equipe. Em defesa devem
auxiliar na contenção do avanço adversário e para isso devem possuir boa
capacidade técnica defensiva. Fisicamente são jogadores fortes e velozes.
Os pontas são os jogadores mais rápidos da equipe, eles são os principais
finalizadores em ataque e compõem a última linha defensiva, juntamente com o
fullback. Devem possuir excelente técnica de corrida, agilidade, além de serem
habilidosos na recepção de bolas e nos chutes.
43
Já o fullback exerce função parecida aos pontas, porém possui maior
responsabilidade em situações de chute e contra-ataques. Em defesa é ainda
responsável por auxiliar na organização da equipe, devido a seu posicionamento
defensivo, que oferece visão privilegiada do campo de jogo. Essa posição requer
boa leitura de jogo, capacidade de comunicação e liderança e no aspecto motor,
excelente capacidade de chute e recepção.
Como ressaltado através da descrição de cada uma das posições dentro
de um time, o rugby possui um grande caráter inclusivo, na medida em que
necessita de jogadores com diferentes personalidades e características físicas
para cumprir determinadas funções dentro de campo. O aspecto coletivo do jogo
permite que cada um desses jogadores tenha grande importância dentro da
equipe, ressaltando suas virtudes no cumprimento de uma função específica.
Outra peculiaridade com grande potencial formativo do Rugby, que não
está explicitada nas suas regras formais, mas apresenta-se como ritualização do
que chamamos anteriormente “espírito do jogo” é o chamado “terceiro tempo”.
Esse ritual obrigatório é uma espécie de confraternização, onde todos os
jogadores dos dois times jantam, cantam músicas e se divertem ao final da
partida, em um ambiente de muito respeito e companheirismo. Pelo código
assumido entre as equipes, o time local deve oferecer o terceiro tempo ao time
visitante, como forma de agradecimento à visita. A dimensão do terceiro tempo
dentro do rugby pode ser sentida no exemplo da partida histórica entre França e
Escócia, citada anteriormente.
Toda essa dimensão ética e moral associada a esse jogo foi recentemente
sintetizada e explicitada em um documento da Rugby Football Union (RFU) da
Inglaterra. Nesse documento, a entidade procurou sistematizar de maneira
resumida e simples, o “espírito do Rugby” num Código, onde destacam os valores
que devem ser seguidos pelos praticantes do esporte no ambiente britânico, como
pode ser observado a seguir:
Código do rugby
Espera-se que qualquer pessoa envolvida no rugby na
Inglaterra, seja como jogador, treinador, árbitro, dirigente, pai
ou espectador, apóie os valores nucleares do nosso esporte:
44
Espírito
de
equipe,
respeito,
divertimento,
disciplina,
esportividade. Jogar para ganhar – mas não a qualquer
preço. Ganhar com dignidade, perder com elegância.
Cumprir as Leis e regulamentos do jogo. Respeitar
adversários, árbitros e todos os participantes. Rejeitar
batota, racismo, violência e drogas. Valorizar voluntários
bem como os agentes profissionais. Divertir-se com o jogo.
Isto é rugby. (RFU, 2010, tradução nossa).
Pelo exposto até aqui, pode-se inferir que desde a sua criação o rugby foi
utilizado como um esporte construtor de caráter, onde os aspectos formativos e
educativos são mais valorizados do que a competição em si. Aliás, pode-se dizer
que para alguns adeptos dessa modalidade a competição é o meio necessário
para que as possibilidades formativas descritas acima surjam.
O rugby também pode ser visto como uma experiência inclusiva, acolhendo
na sua prática uma diversidade de perfis físicos, motores, cognitivos e
psicológicos.
Um jogo que apesar de sua esportivização foi capaz de preservar na sua
prática, nas suas regras e na sua cultura, a sua potencialidade para formação
ética e moral dos seus jogadores. Um esporte que auxilia no desenvolvimento das
capacidades físicas e cognitivas, em virtude da complexidade das regras e da
necessidade de utilização de amplo repertório motor.
Assim, o rugby oferece ao profissional de educação física ferramentas
importantíssimas para a formação e desenvolvimento de indivíduos, seja com
relação a aspectos motores, cognitivos ou afetivo-sociais.
45
3. DISCUSSÃO
3.1 O Espírito do Rugby X Profissionalismo
Durante esse estudo vimos que, ao longo de sua história, o rugby cresceu
e se desenvolveu pautado em valores éticos e comportamentais, que devem ser
seguidos por todas as pessoas que fazem parte do ambiente no qual esse
esporte está inserido, sejam jogadores, árbitros, familiares ou até mesmo
torcedores. Em virtude desses valores, o rugby foi durante muitos anos um
esporte obrigatoriamente amador, já que a principal instituição (IRB) que rege o
esporte considerava o profissionalismo como algo prejudicial ao verdadeiro
“espírito do rugby”.
Porém, em virtude do crescimento do esporte e principalmente do
capitalismo, recaiu uma grande pressão sobre a IRB por parte de clubes,
jogadores e investidores, em prol do profissionalismo. Assim, em 1995 o rugby
passou a ser profissional em diversas partes do mundo.
O profissionalismo proporcionou um grande crescimento para o esporte,
especificamente com relação ao número de praticantes, clubes, público e
principalmente maiores investidores e mais espaço na mídia. Se pensarmos no
esporte apenas como um jogo e um ambiente competitivo, onde o mais
importante é o espetáculo e a quantidade de pessoas envolvidas com o mesmo,
talvez seja possível afirmar que o início da “era profissional” dentro do rugby foi
algo extremamente positivo para o esporte. Porém, se pensarmos no rugby como
o esporte foi concedido desde suas origens, onde o mais importante sempre
foram os valores oriundos de sua prática, veremos que o profissionalismo trouxe
também
como
conseqüência,
alguns
aspectos
negativos
para
seu
desenvolvimento.
A era profissional do rugby trouxe consigo investidores e patrocinadores
que auxiliam os clubes no aspecto financeiro, através do pagamento de salários,
estruturação do clube, compra de materiais, etc. Se por um lado existem vários
aspectos positivos, por outro os jogadores e treinadores acabam sentindo-se
46
pressionados pela conquista de resultados para a manutenção de seus
empregos, o que acaba gerando uma importância maior ao jogo em si do que aos
valores que norteiam o rugby.
Exemplificando, se antigamente o esporte era visto como uma maneira de
se divertir com os amigos, em um ambiente de total respeito e “fairplay”, e após o
jogo ambos os times poderiam confraternizar e interagir, com a chegada do
profissionalismo já começamos a ver inúmeras atitudes desleais por parte de
jogadores que visam apenas a vitória em detrimento ao “espírito do rugby”.
Em parte, esse aspecto negativo pode ser visto como uma conseqüência
direta do profissionalismo, porém não se deve descartar a responsabilidade dos
treinadores e dirigentes, que em virtude da busca constante por resultados,
dedicam a maior parte dos treinamentos aos aspectos técnicos, físicos e táticos e
com isso acabam oferecendo menor importância à transmissão dos valores e
princípios do rugby aos seus jogadores.
No atual momento do rugby, onde os clubes e campeonatos se tornaram
amplamente profissionais e administrativamente muito bem estruturados, o
amadorismo é considerado um retrocesso no processo de desenvolvimento do
esporte. Porém, o “espírito do rugby” cultivado durante os anos de amadorismo
não pode ser excluído dessa prática esportiva, para que o rugby possa continuar
sendo um esporte diferenciado, capaz de contribuir na formação ética e moral de
indivíduos que contribuam para uma melhoria da vida em sociedade.
Diante desse impasse, o cenário ideal parece ser a manutenção do
profissionalismo, auxiliando na melhoria do nível de jogo e da estruturação dos
clubes, porém os professores, treinadores e dirigentes devem ensinar seus
jogadores, buscando o equilíbrio entre aspectos do jogo e os valores do esporte,
para que dessa maneira o “espírito do rugby” se mantenha como parte
fundamental do jogo.
47
3.2
Ensaio sobre a difusão do Rugby no Brasil: perspectivas para os
próximos anos
A história mostra que os processos de difusão e expansão do rugby no
Brasil e no Mundo estiveram associados tanto a fatores diretamente relacionados
ao jogo, quanto a outros fatores “extra-campo”, que influenciaram na difusão do
esporte, porém indiretamente. No início a difusão esteve diretamente relacionada
ao jogo em si e aos seus praticantes, cujo interesse em praticar o rugby como
uma atividade de lazer resultou na expansão do esporte pelo mundo. Já na era
profissional, a difusão e expansão do rugby estiveram muito relacionadas com a
divulgação do esporte nos meios de comunicação e através de campanhas
publicitárias, especialmente em virtude das grandes competições transmitidas
para diversas partes do mundo.
A atual década se inicia com grandes perspectivas em relação ao futuro do
rugby. O esporte é atualmente uma das modalidades com maior número de
praticantes no mundo e os números tendem a aumentar em função da inclusão do
rugby nas Olimpíadas. As principais competições do mundo se tornaram
comercialmente muito fortes, sendo levadas para muitos países através dos
meios de comunicação, divulgando assim o esporte para públicos que antes
desconheciam o rugby. No Brasil inúmeros indícios apontam para o crescimento
do rugby no país durante a década que se inicia.
A maior expectativa para o crescimento do rugby brasileiro está
relacionada com as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Desde 1924 a
modalidade se manteve fora da listagem de esportes disputados na maior
competição esportiva do planeta. O retorno aos Jogos Olímpicos coloca o esporte
em evidência. Se somarmos o fato de que as seleções brasileiras possuem vaga
para a disputa em função de pertencerem ao país sede, a visibilidade do rugby
brasileiro
se
torna
ainda
maior,
atraindo
assim
investidores,
mídia
e
conseqüentemente novos praticantes.
Outra conseqüência direta da inclusão do rugby nos Jogos Olímpicos é o
maior investimento do governo, através de leis que oferecem retornos financeiros
às chamadas “modalidades olímpicas”. Recentemente foi aprovado um projeto de
48
lei, que destinará mais de um milhão de reais para o desenvolvimento do rugby no
Brasil (CBRU, 2010). Outro investimento do governo é o Programa “Bolsa Atleta”,
que oferece um pagamento mensal a alguns jogadores de destaque. Essas ações
são mais indícios da tendência de crescimento do rugby no Brasil.
Além do governo, grandes empresas também começam a investir no rugby
brasileiro através de patrocínios. No ano de 2009 a Confederação Brasileira de
Rugby firmou parceria com a Topper, pertencente ao grupo Alpargatas, que além
de oferecer investimento em forma de materiais e dinheiro, auxilia no
desenvolvimento da modalidade através de campanhas publicitárias que utilizam
o seguinte slogan: “Rugby: isso ainda vai ser grande no Brasil” (CRBU, 2010).
Outro parceiro mais recente da Confederação é o Banco Bradesco, que assinou a
parceria em 2010. O apoio de grandes empresas ajuda na solução de um
problema muito corriqueiro no passado das seleções brasileiras, quando os
jogadores custeavam toda a preparação e as despesas de viagem, fato que
costumava prejudicar as equipes.
Mas independentemente dos investidores, nos últimos anos o rugby
brasileiro vem passando por um período de expansão. Um dos motivos para esse
crescimento são algumas ações de clubes e praticantes que através do esforço
individual ou coletivo conseguiram difundir o rugby para além dos grandes centros
e até mesmo através de projetos sociais que auxiliam na popularização do rugby,
levando o esporte para pessoas pertencentes a classes sociais mais baixas.
Outro fator que auxilia na difusão do esporte é o aumento das transmissões
de torneios internacionais de rugby, como a Copa do Mundo e os torneios Six
Nations e Heineken Cup. Com as transmissões, o esporte ganha mais visibilidade
e provoca aumento nos interessados pela prática da modalidade. O mesmo
ocorre com relação às matérias de jornais, revistas e televisões que se tornaram
freqüentes nos últimos anos.
Porém, a exposição através da mídia está muito relacionada a resultados
alcançados pelas seleções nacionais e boa organização dos torneios e estrutura
administrativa. Nesse sentido, os recentes resultados alcançados pela seleção
feminina parecem possuir relação direta ao aumento da exposição do rugby
brasileiro. A recente estruturação da Confederação Brasileira de Rugby e a
49
postura profissional adotada pela entidade também parecem possuir relação com
a maior aparição do esporte nos meios de comunicação.
As seleções brasileiras vêm de constantes melhorias no nível de jogo,
alcançando resultados excelentes em partidas internacionais. Desde sua criação,
a Confederação Brasileira adotou uma postura de profissionalização do corpo
técnico, oferecendo condições muito melhores para os treinadores e comissões
técnicas trabalharem, além de contratar treinadores estrangeiros, possibilitando
um intercâmbio de informações importantíssimo para melhoria na qualidade de
jogo.
Porém, um dos principais aspectos deficientes do rugby brasileiro com
relação a outros países é a pequena quantidade de jogadores nas categorias de
base e o baixo número de jogos entre equipes de base. Nesse sentido, o
chamado “rugby social” parece ser uma boa alternativa a curto e médio prazo
para suprir essa necessidade, já que atualmente existem leis governamentais que
incentivam esse tipo de trabalho e oferecem verba para a aplicação e
desenvolvimento de projetos sociais. Alguns projetos já apresentam bons
resultados e outros recém criados aparentam também seguir um caminho de
sucesso.
Com relação a divulgação do esporte, os meios de comunicação até o
momento têm auxiliado, porém os clubes e federações devem continuar
trabalhando com o objetivo de tornar o rugby um esporte popular no Brasil.
Algumas ações de divulgação do rugby em escolas parecem obter êxitos, na
medida em que além de divulgar a modalidade para os alunos oferecem o rugby
como ferramenta de ensino para que os professores de educação física.
Assim, é possível concluir que o rugby brasileiro vive talvez o momento de
maior destaque de sua história. A inclusão do esporte nas Olimpíadas, os
resultados recentes das seleções, a difusão nos meios de comunicação, o
trabalho dos clubes através de projetos sociais e a atuação da Confederação
Brasileira de Rugby parecem ser bons indícios de crescimento e geram uma
perspectiva muito boa com relação ao futuro do rugby no Brasil.
50
4
CONCLUSÃO
Através dessa revisão histórica, vimos como o rugby foi criado no século
XIX, tendo como origem outros jogos com bolas praticados na Europa.
Inicialmente sua prática esteve muito relacionada com as escolas inglesas e a
maneira como o esporte era visto na época, considerado uma prática formativa,
utilizada como ferramenta educacional. Após sua expansão, o rugby manteve
esse caráter formativo através do chamado “espírito de rugby”, que determina
valores esperados por um praticante de rugby.
O espírito de rugby esteve durante muitos anos, relacionado ao
amadorismo imposto pelas principais entidades que regem o esporte. Porém, com
a expansão do capitalismo e da própria modalidade esportiva, em 1995 o rugby
deixou de ser amador, o que gerou algumas dúvidas quanto à manutenção dos
valores intrínsecos a esse esporte. O principal dilema está na maneira como o
rugby passa a ser ensinado, o que implica em responsabilidade sobre os
treinadores, professores e dirigentes, que devem saber transmitir o espírito de
rugby de maneira equilibrada com a transmissão dos conhecimentos acerca do
jogo propriamente dito.
Com relação à expansão do esporte pelo mundo, em um momento inicial
esteve diretamente relacionada à revolução industrial e à imigração de ingleses
para diversas partes do mundo, levando assim o rugby como uma atividade de
lazer para ser realizada em momentos de folga. Em um segundo momento, as
ações de clubes, federações e seleções nacionais auxiliaram na popularização do
esporte. Já na era profissional, os resultados esportivos e a influência dos meios
de comunicação foram as principais ferramentas de difusão do rugby pelo mundo,
na medida em que o esporte passou a ser amplamente comercializado em função
de interesses de investidores.
No Brasil o rugby foi trazido por ingleses no mesmo período que o futebol,
que acabou se popularizando mais em função da maior facilidade em
compreensão das regras e devido a iniciativa de Charles Miller em organizar essa
modalidade no início do século XX. Porém, o rugby também começou a ser
difundido, inicialmente entre a elite econômica e mais tarde se expandiu para
51
outras classes sociais, como conseqüência de ações individuais ou coletivas que
visavam a popularização do esporte no país. Na década de 80, um grave acidente
com um jogador, aliado a uma grande crise econômica vivida pelo Brasil,
provocaram uma estagnação no crescimento do rugby brasileiro. O processo de
popularização foi retomado na década seguinte, apesar de quase uma década de
atraso com relação a outros países sul-americanos.
Atualmente, o esporte ganhou muita visibilidade em função da inclusão da
modalidade seven-a-side nos Jogos Olímpicos de 2016. O apoio governamental e
o interesse da mídia e de patrocinadores fornecem recursos para melhoria no
desenvolvimento do rugby brasileiro. As ações de difusão do rugby realizadas por
clubes em escolas e através de projetos sociais, atualmente têm sido uma
estratégia eficiente de captação de jogadores para categorias de base e
conseqüente aumento na popularização do esporte.
Conclui-se que a atual fase de difusão do rugby nacional está diretamente
relacionada ao aumento da exposição do esporte nos meios de comunicação e às
ações de indivíduos ligados ao ambiente esportivo do rugby. Porém, para uma
melhor organização da prática e melhora da qualidade do rugby praticado no país,
vê-se necessária a manutenção do espírito do rugby, que deve ser transmitido
juntamente e de maneira equilibrada com a transmissão dos conhecimentos
relacionados ao jogo. Assim, torna-se possível a manutenção dos aspectos
formativos e educacionais intrínsecos ao rugby, de maneira que os mesmos
estejam associados à difusão do esporte no país.
52
5
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