O relógiO e O tempO

Transcrição

O relógiO e O tempO
tic-tac
O relógio e o tempo
tic-tac
O relógio e o tempo
índice
Introdução
Uma viagem pelas horas
História
Milênios de inovação
Tipos
REFERÊNCIAS
Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) – Brasil
Mãos livres para o trabalho
Federation of the Swiss
Watch Industry (Federação
Suíça da Indústria de
Relógios) – Bienne, Suíça
O toque certo para acordar
Grupo Swatch – Biel, Suíça
Museu do Relógio Dimas de Melo
Pimenta – São Paulo, Brasil
Projeto editorial desenvolvido pela Editora Contadino
para o jornal Agora São Paulo. Projeto gráfico: Multi Design.
Fotos: Shutterstock, Museu do Relógio, Cartier, The Long
Now Foundation
Agora São Paulo
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Al. Barão de Limeira, 401 – Campos Elíseos
São Paulo – SP
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Pulso
Cartier – Paris, França
Fondation de la Haute
Horlogerie (Fundação da Alta
Horologia) – Genebra, Suíça
ISBN 978-85-66042-00-9
Com a força dos elementos
National Association of
Watch and Clock Collectors
(Associação Nacional de
Colecionadores de Relógios)
– Colúmbia, Estados Unidos
National Institute of Standards
and Technology (Instituto
Nacional de Padronização e
Tecnologia), Departamento de
Comércio – Estados Unidos
O Relógio, Sua História – Dimas
de Melo Pimenta, 1976
Observatório Nacional – Ministério
da Ciência e Tecnologia – Brasil
Observatório Real –
Greenwich, Inglaterra
The Long Now Foundation
(Fundação do Longo Agora)
– São Francisco, Estados Unidos
Time and Frequency: Theory
and Fundamentals – Byron
E. Blair, NBS, 1974
Universidade de Alberta
– Edmonton, Canadá
Time and Timekeepers – Willis
I. Milhan, Macmillan, 1974
Whitechapel Bell Foundry
– Londres, Inglaterra
Despertador
Big Ben
As badaladas da torre
Greenwich
Símbolo de pontualidade
Referência
Precisão com marca suíça
Horologia
Ciência estuda as horas e a arte
de fabricar instrumentos
Fusos horários
Tempo cortado em fatias
Economia
Um horário só de verão
São Paulo
O valor de cada minuto
Passeio
Único museu do país guarda peças inusitadas
Relógio dos 10 mil anos
Um ícone de longo prazo
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introdução
Uma viagem pelas horas
Desde sempre, o homem se preocupa em conhecer a
evolução do tempo para organizar melhor a sua vida
o primeiro
motivo do
homem
para medir
o tempo foi
garantir a sua
sobrevivência,
com a caça
e a pesca
4
Todos se guiam por relógios para
acordar, trabalhar, assistir à televisão,
entre tantas atividades cotidianas.
Mas quase nunca têm tempo para
refletir sobre essa medição, que remonta a milênios.
Este livro resgata essa história e a
noção de que o tempo não escraviza,
mas liberta as pessoas para tornar
seus instantes mais produtivos e até
mesmo prazerosos.
Os primeiros motivos para a medição do tempo foram de sobrevivência.
Eles vêm do Período Paleolítico, que
aconteceu entre 2,7 milhões e 10 mil
anos antes de Cristo (a.C.).
Os homens primitivos viviam da
caça e da pesca e precisavam entender como a Lua e as estações do ano
influenciavam a migração dos animais
ou o período mais farto para a captura
dos peixes. A seguir, quando passou a
se dedicar à agricultura, a intuição do
homem era de que o ano se dividia em
fases, sendo cada uma delas propícia à
determinada cultura. Havia uma época
melhor para plantar o trigo, outra para
cultivar o algodão ou o linho.
A cronologia (estudo do tempo) é
uma das invenções fundamentais da
espécie humana. É com base nesse
conjunto de conhecimentos que a
civilização consegue, até os dias de
hoje, controlar e organizar sua vida e
suas atividades, diz o professor Ricardo
Normando Ferreira de Paula, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Mas não é só uma questão disciplinadora, lembra Adalberto Tripicchio,
neuropsiquiatra e doutor em Filosofia
pelo Instituto de Viena, na Áustria.
O tempo apresenta vários aspectos
psicológicos e fisiológicos. Por isso,
parece que os dias passam mais devagar quando estamos doentes, experimentamos dor, nos sentimos tristes ou
entediados e fazemos algo que detestamos. Ao contrário, a impressão é que
as horas voam quando estamos sadios,
bem-dispostos, felizes e entretidos em
uma atividade agradável.
Convidamos para esta deliciosa viagem pelas horas e pelo tempo.
Boa leitura!
HISTÓRIA
Os relógios no tempo
3000 a.C. Primeira referência a um
instrumento para medir as horas,
um gnômon (relógio de Sol)
Mistério de pedra
Alguns monumentos relacionados ao tempo nunca foram
totalmente decifrados, como o
Stonehenge (ou eixo de pedra,
do inglês antigo stone = pedra
e hencg = eixo), na Inglaterra.
Acredita-se que sua construção, há mais de 4 mil anos, teve
como finalidade a observação de
eventos astronômicos. Algumas
pedras estão alinhadas com o
nascer e o pôr do Sol no início do
verão e do inverno.
O que seria a avenida central
do monumento aponta para o
local em que nasce o Sol no dia
mais longo do verão (o chamado
solstício de verão). Esse eixo de
pedra também permitiria identificar os eclipses lunares.
Milênios de inovação
Um dos artefatos mais utilizados pela humanidade surgiu a
partir da luz do Sol e de um simples graveto cravado no chão
6
Seja para comemorar festas religiosas ou o momento
adequado para plantar, colher e caçar, o homem começou a construir instrumentos para medir a passagem do
tempo. Há cerca de 5 mil anos, surgiu o primeiro artefato
para aferir as horas: o gnômon. Em sua forma mais simples,
consiste de uma vara fincada no chão que, iluminada pelo
Sol, projeta uma sombra que se move com o passar do dia.
Mais tarde, os babilônios o aperfeiçoaram, dividindo o
dia em 24 horas. Daí surgiu o relógio de Sol, com uma haste
vertical se projetando do centro de um círculo. O maior pro-
1500 a.C. Pira funerária egípcia,
de Amenophis I, menciona uma
clepsidra (relógio de água)
600 a.C. Referência a um relógio
de Sol, chamado “pedra horária”,
construído na Babilônia
430 a.C. Clepsidra começa
a ser usada na Grécia
260 a.C. Primeiro quadrante
solar é construído em Roma
27 a.C. Em Roma, no Campo de
Marte, é erguido um obelisco
com a função de gnômon
250 Surgem referências aos primeiros
relógios de areia, as ampulhetas
885 Alfredo, o Grande, usa
velas para medir o tempo
1380 Surgem, na península itálica,
os primeiros relógios domésticos
1386 Henry de Vicky fabrica, na Inglaterra, o
primeiro relógio mecânico conhecido, que foi
instalado na Catedral de Salisbury. Hoje, ele
se encontra no Museu de Ciência, em Londres
1510 Peter Henlein, de Nuremberg
(Alemanha), aperfeiçoou o mecanismo
de corda e inventou o relógio portátil
1582 Galileu Galilei descobre que as
oscilações do pêndulo são constantes, o que
permitiu fabricar relógios mais precisos
1656 Christiaan Huygens inventa o
relógio de pêndulo, fabricado depois
pelo relojoeiro Salomão Coster, de Haia
7
1670 O ponteiro de minutos
começa a ser aplicado
1675 Christiaan Huygens inventa a
espiral de aço para relógios de bolso,
substituindo a cerda de porco
1730 O primeiro relógio Cuco é
fabricado na Floresta Negra
1790 Abraham Louis Breguet introduz
inovações nos relógios de bolso, como corda
automática e sistema a prova de choque
1813 Surge o primeiro relógio montado
em bracelete de ouro e esmalte, com forma
de serpente. O exemplar está no museu da
relojoaria Chateau dês Monts, na Suíça
Relógio de sol, de torre e de pulso: a evolução dE instrumentos para medir as horas
blema é que em dias de chuva ou nublados
não se conseguia ver as horas.
O próximo passo foi o surgimento do relógio de água, a clepsidra, nome que vem
de duas palavras gregas: kleptein (ocultar,
roubar) e hydôr (água). Consiste de um recipiente cheio de água, com as paredes graduadas e um pequeno orifício para o líquido
escoar para um segundo vaso. O problema é
que, no inverno, a água congelava e o relógio não funcionava.
Portátil
O primeiro relógio portátil foi inventado
em 1510 pelo relojoeiro Peter Henlein,
na Alemanha, que desenvolveu um
aparelho para guardar no bolso. Sua
invenção significou um grande salto
tecnológico na cronometragem do tempo. Ele trabalhou dez anos na criação de
um relógio redondo de apenas alguns
centímetros de largura, contendo rodas e uma mola de aço – o segredo para
reduzir o tamanho da peça.
Outro avanço foi quando o relógio
passou do bolso para o pulso. Conta-se
que a primeira pessoa que realmente
usou um relógio de pulso foi o matemático e filósofo francês Blaise Pascal
(1623-1662). Com uma espécie de correia,
ele amarrou o seu relógio de bolso no
braço. O aparelho foi patenteado no
século 20, pelo inglês Jon Harwook.
8
O nome
clepsidra, ou
relógio de água,
tem origem
nas palavras
gregas kleptein
(roubar) e
hydôr (água)
Avanços
Mas o homem não se cansava de buscar
opções. E, no século 8, idealizou a ampulheta: dois cones de vidro ligados por um
pequeno orifício que regulava a passagem
da areia, destinada principalmente à contagem de períodos curtos de tempo.
Avanços tecnológicos não foram notados
até a metade do século 14, quando começaram a surgir enormes relógios mecânicos nas
torres de cidades italianas, com mecanismo
regulado por pesos. Em 1656, o matemático, físico e astrônomo holandês Christiaan
Huygens fez o primeiro relógio a pêndulo.
Ele apresentava um minuto de erro por dia,
o que foi reduzido paulatinamente a apenas dez segundos ao dia. No ano de 1675, o
mesmo cientista criou a engrenagem com
rodinhas dentadas, que ainda hoje existe
em relógios de pulso mecânicos.
Muitos avanços foram feitos desde então.
O mais importante, sem dúvida, depois do
relógio mecânico, foi o surgimento do aparelho a quartzo, desenvolvido em 1928 pelos
americanos Joseph Horton e Warren Morrison. Seu desempenho era infinitamente
superior às engrenagens dentadas. Esses
cristais fizeram com que a margem de erro
caísse para menos de meio segundo por dia.
A evolução seguinte foi o relógio atômico,
ainda mais preciso: nos mais modernos,o
atraso é de segundos em milhões de anos.
1842 A Patek Fellipe cria um mecanismo
sem chave para dar corda em relógio,
facilitando a produção dos relógios de pulso
1876 A Seth Thomas Corporation, de Nova
York, registra a patente do relógio despertador
1923 John Hardwood, um relojoeiro
inglês, registrou na Suíça a patente
de um relógio automático
1928 Os americanos Joseph Horton e Warren
Morrison criam o primeiro relógio a quartzo
do mundo, reduzindo a margem de erro na
medição para cerca de dez segundos a por mês
1948 O primeiro relógio atômico é construído
O homem
não se cansa
de buscar
opções para
acompanhar
com precisão
a passagem
do tempo
no National Bureau of Standard (EUA).
O atraso é medido em nanossegundos,
ou um segundo em milhões de anos.
1969 A Dimep, do Brasil, lança o
Quartzo-Point, o primeiro relógio
de ponto eletrônico do mundo
Fontes: O Relógio, Sua História – Dimas de Melo
Pimenta, 1976; Time and Frequency: Theory and
Fundamentals – Byron E. Blair, NBS, 1974; Time and
Timekeepers – Willis I. Milhan, Macmillan, 1974.
9
TIPOS
Com a força dos elementos
Sol, fogo, água e areia foram usados para criar relógios.
Hoje, o quartzo é o material mais empregado
projeção
da sombra
do sol SOBRE
A PLACA
indica
as frações
das horas
ao longo
do dia
sol
O aparente movimento do Sol foi a primeira forma de marcação do tempo conhecida pelo homem. No começo, os
instrumentos eram formados simplesmente por uma vareta cravada verticalmente no chão – o comprimento de
sua sombra indicava o período do dia. Esses artefatos eram
conhecidos como gnômons.
Gradualmente, o aperfeiçoamento dos relógios de Sol
permitiu maior exatidão e pontualidade. Acredita-se que,
em 380 a.C., foi criado o quadrante, nada mais do que uma
placa com um marco em uma lateral. Esse objeto era bem
mais preciso para medir o avanço do dia.
O ponteiro ou placa é ajustado à posição da Terra para
apresentar projeção de sombra semelhante em todas as
épocas do ano, e o mostrador é divido em áreas que indicam
as frações do tempo.
O mais antigo relógio de Sol, que supostamente pertenceu
ao faraó Tutmés II do Egito (1504-1450 a.C.), hoje está exposto
no Museu de Berlim, na Alemanha.
areia
Baseada no princípio da gravidade, a ampulheta, ou relógio de areia, é composta por dois recipientes de vidro entre
os quais há uma abertura estreita, por onde a areia escoa
devagar. A passagem de todo o conteúdo de um lado para
o outro determina um período de tempo, a exemplo de dez
minutos ou uma hora.
Bastante utilizada na Antiguidade, a ampulheta podia
ser transportada sem dificuldades, facilitando seu uso na
navegação. Ainda sobrevive hoje em dia para fins lúdicos.
10
AREIA ESCOA
DEVAGAR
ENTRE
OS DOIS
RECIPIENTES
DE VIDRO
QUE FORMAM
UMA AMPULHETA
11
antigo
relógio
de água
no palácio
ChangGyoung,
em seul, na
coreia do sul
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água
vela
Uma das primeiras soluções encontradas pelo homem para vencer o desafio
de medir o tempo à noite ou em dias
sem Sol foi a invenção do relógio de
água, ou clepsidra.
Historiadores atribuem a ideia ao
grego Ctésibios, que desenvolveu um
sistema que mantinha o nível de água
constante pelo uso de vasos que se comunicavam com um dreno.
O instrumento utiliza o princípio da
gravidade e inicialmente foi montado
com dois recipientes em níveis diferentes, regulados de forma que o gotejamento do líquido de um para outro
marcasse os períodos de tempo. Entre
o ponto em que o vaso estava cheio até
ficar completamente vazio, foi criada
uma escala para dividir o dia.
Hoje, os relógios de água têm diferentes formatos e são utilizados como
objetos decorativos.
Riscos em torno do corpo da vela ou em
um suporte determinavam o tempo consumido durante a sua queima. As divisões
apresentavam números indicando o período equivalente, e velas com diferentes
diâmetros e comprimentos serviam para
assinalar espaços de tempo mais ou menos
extensos. Normalmente, a divisão mínima
era o período de um quarto de hora.
Utilizados principalmente à noite,
também para iluminar o ambiente, os
relógios-vela apresentavam como desvantagem seu alto consumo, visto que
não podiam ser abastecidos ou reutilizados. Como não podia deixar de ser, seu
funcionamento também apresentava
erros bastante significativos na marcação da passagem das horas.
A disseminação desse tipo de relógio
é atribuída a Alfredo, o Grande, que foi
rei de Wessex, na Inglaterra, e viveu
entre 849 e 899.
modelo de
relógio-vela,
que combinava
funções de
iluminação
do ambiente
e marcação
da passagem
do tempo
azeite
Invenção
permitiu
medir as horas
em qualquer
condição
atmosférica,
tanto de dia
como de noite
desenho
de relógio
de água
egípcio,
publicado
no século 19
Utilizado na mesma época da clepsidra,
o relógio de azeite funcionava de forma
semelhante. O líquido era armazenado
em um reservatório de vidro que tinha
em sua parte externa uma faixa graduada que representava as horas.
O tempo era medido pela queima
de um pavio imerso no óleo, em escala
baseada na diminuição do volume.
Como esses instrumentos eram bas-
tante usados à noite, servindo como
relógio e também como iluminação, a
maioria possuía uma escala que ia das
oito da noite às sete horas da manhã.
O uso mais acentuado do relógio de
azeite ocorreu na Europa, no século 18.
Essa difusão deve-se evidentemente à sua dupla finalidade e ao fato de
poder funcionar muitas vezes, simplesmente repondo azeite no recipiente.
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pêndulo
Utilizando o princípio da regularidade
da oscilação, os relógios de pêndulo
surgiram no século 17 e se tornaram
uma das formas mais confiáveis de
medida do tempo durante três séculos,
até a criação dos relógios de quartzo.
O peso serve como armazenador da
energia obtida por meio do movimento
de corda – é assim que o relógio funciona sozinho. Nos relógios de pulso, o
pêndulo é substituído por molas.
O mecanismo do primeiro relógio
de pêndulo foi desenvolvido pelo
holandês Christiaan Huygens, que se
baseou em uma das mais importantes
descobertas do cientista italiano Galileu Galilei, no século 16.
A história conta que Galileu assistia
a uma missa quando se distraiu com
as oscilações de um candelabro. Observou que elas se tornavam cada vez
menores na medida em que diminuía
o ritmo do movimento. Ele comparou
essas oscilações com sua pulsação e
verificou que, mesmo quando a amplitude era menor, o tempo de cada vai
e vem era sempre o mesmo.
galileu
descobriu
que o pêndulo
mantém a
mesma
oscilação em
movimentos
longos ou
curtos
14
sistema
consistia
em queimar
uma corda
para marcar
o tempo de
combustão
entre um
nó e outro
Corda com nós
ilustração
de peças
isoladas do
relógio de
pêndulo criado
pelo holandês
Christiaan
huygens,
em 1656
Sistema muito simples, é constituído
de uma corda com nós em intervalos
regulares, correspondentes a um período de tempo predefinido. A corda
era pendurada, sendo colocado fogo
na extremidade inferior. Como o tempo que levava para queimar entre um
nó e outro era basicamente o mesmo,
o instrumento ajudava a identificar a
passagem das horas.
O sistema é muito precário, uma vez
que fatores como umidade e vento influenciam a velocidade da combustão.
Por essa razão, era usado em momentos
em que a precisão era menos importante do que ter uma referência de tempo.
Um exemplo era acompanhar a queima
dos nós para definir o intervalo da mudança de sentinelas em fortalezas.
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bolso
Fundamental para o desenvolvimento
de diversas outras invenções, o relógio
de bolso surgiu no século 16. Por seu
formato, a peça foi denominada Ovo de
Nuremberg, referência à cidade alemã
onde foi criada. O relógio era de ferro e
apresentava mola espiral, com apenas
um indicador de hora.
Ele surgiu como um aperfeiçoamento do mecanismo de pêndulo. É
fruto do trabalho do serralheiro alemão Peter Heinlein, que substituiu o
peso por uma cinta de aço que tinha a
mesma função. Isso permitiu reduzir o
tamanho das máquinas até chegar ao
relógio de bolso.
A peça que conseguia movimentar
o ponteiro dos minutos foi chamada
de balancim, responsável pelo tic-tac
dos relógios. A patente do mecanismo,
entretanto, só foi registrada por Louis
Recordon em 1780, em Londres.
Esses relógios eram muito raros e
considerados como verdadeiras joias
e símbolo da alta aristocracia.
quartzo
Os relógios de quartzo estão entre os
mais precisos do mundo, pois utilizam
as propriedades desse mineral para
produzir impulsos e vibrações constantes. Isso acontece porque o cristal
gera pulsos elétricos quando submetido a uma pressão física e também
vibra quando é atravessado por uma
corrente elétrica. Essa propriedade foi
descoberta por Marie e Pierre Curie,
que também foram os primeiros cientistas a identificar a radioatividade.
A vibração é transmitida a um circuito eletrônico, que se baseia nesses
pulsos para formar os números do
mostrador digital, ou, caso o aparelho seja analógico, dividir a vibração a
apenas um impulso por segundo. Esse
impulso regula um pequeno motor
16
que move as engrenagens do relógio.
O primeiro relógio de cristal de
quartzo foi desenvolvido nos laboratórios da Bell Telephone, nos Estados
Unidos, em 1928. Esse tipo de relógio
se popularizou na década de 1970 e
substituiu quase completamente os
mecânicos, regulados por mola e corda. Seu grande diferencial é a precisão.
Enquanto os antigos relógios mecânicos perdiam um décimo de segundo
por dia, os de quartzo não erram mais
do que um milésimo. Em um mês, são
apenas dez segundos de atraso.
Além de serem precisos, os relógios
de quartzo ficaram muito baratos,
tornando quase obsoletos os mecanismos de corda, ainda usados como
peças decorativas ou de coleção.
grande
diferencial
dos relógios
a quartzo é
a precisão,
com atraso
de apenas
dez segundos
por mês
os primeiros
relógios
de bolso
surgiram
no século
16 e eram
considerados
símbolos de
aristocracia
17
de xadrez
cuco
Para controlar o tempo gasto em cada
jogada, evitando atrasos, o relógio é
peça fundamental nas competições de
xadrez. Inicialmente, eram utilizadas
ampulhetas. Em busca de uma medição mais precisa, os primeiros relógios
mecânicos para esses jogos surgiram no
fim do século 19. O relógio de xadrez
é composto por duas peças montadas
de forma a que uma nunca funcione ao
mesmo tempo que a outra, determinando a alternância entre os jogadores.
O relógio Cuco nasceu na Alemanha, na
região da Floresta Negra, por volta de
1730. Desde o início, as peças emitiam
som semelhante ao canto do pássaro
cuco, muito comum na região.
Dos diversos estilos fabricados originalmente, dois ganharam destaque: o que
apresenta um cenário típico da Floresta
Negra e o pássaro no topo da cena; e o
que representa uma casa ferroviária da
época, com telhado pontudo, de dentro
da qual o pássaro sai a cada hora.
o metrônomo
é usado no
estudo de
música,
marcando
o compasso
correto
o relógio de
xadrez tem
duas peças
que indicam
o tempo
utilizado por
cada jogador
Metrônomo
som do
relógio cuco
imita o canto
de um pássaro
comum na
região da
floresta
negra, na
alemanha
18
De pêndulo ou eletrônicos, os metrônomos medem o tempo musical. Usados para estudos ou interpretação,
os instrumentos apresentam pulsos
regulares, que marcam o compasso. O
objetivo é manter um tempo padrão ao
longo de toda a peça.
As marcações de metrônomo são indicadas nas partituras para identificar
em que ritmo a música deve ser tocada.
Beethoven é referido como o primeiro
compositor a fazer esse tipo de registro.
19
w
8
7
1
6
2
3
4
5
1. Entrada dos átomos
2. Gerador de campo magnético
3. Gerador de micro-ondas/oscilador
4. Gerador de campo magnético
5. Leitor de frequência de oscilações
6. Circuito que interpreta as oscilações
7. Divisores de frequência
8. Mostrador do relógio
Fonte: Museu do Relógio Dimep
pequenas
baterias de
quartzo são
a fonte de
energia dos
relógios
digitais
20
Digital
ATÔMICO
Criado no final dos anos 1960, o relógio
digital utiliza energia elétrica por meio
de pequenas baterias e mecanismos
de quartzo. Seu visor, de LCD ou LED,
apresenta os números de hora, minuto e segundo em vez de ponteiros.
Além de serem amplamente utilizados
como relógios de pulso, esses mecanismos estão presentes em aparelhos
eletrônicos e eletrodomésticos.
O relógio atômico utiliza as vibrações de átomos, que ocorrem a intervalos regulares, sem atrasos ou
adiantamentos. O primeiro modelo
foi construído em 1949, nos Estados
Unidos. Em 1955, o cientista Louis
Essen, do Reino Unido, desenvolveu
uma versão que utilizava o átomo de
Césio-133, que vibra 9.192.631.770 vezes em um segundo. A partir de 1967,
precisão
torna o
relógio
atômico
indispensável
no mundo
moderno
0 mundo passou a usar esse número
como a definição de segundo.
O erro de um relógio atômico é de alguns segundos em milhões de anos,
em comparação a um segundo por
dia em um relógio de pulso comum.
O Brasil possui 11 relógios atômicos e
o último entrou em operação no dia
1º de julho de 2010, no Observatório
Nacional, no Rio de Janeiro.
21
PULSO
relógio atual
inspirado
na linha
desenvolvida
pela Cartier
para Santos
Dumont,
em 1904
Não há dúvidas de que Alberto
Santos Dumont, mais conhecido como
o “pai da aviação”, era um gênio.
Tanto que muitos acreditam ter sido
o brasileiro também o responsável
pela invenção do relógio de pulso. No
entanto, a afirmação não é verdadeira. Apesar de não criar o modelo, foi o
responsável por sua popularização, já
que, até então, os cavalheiros usavam
somente os relógios de bolso.
Os relógios de pulso eram considerados modelos exclusivos de joalheria
feminina. Há diferentes versões sobre
quem foi o real inventor dessa facilidade. Uma é de que a primeira pessoa
a usar o modelo foi o matemático e filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662),
que amarrou no braço, com uma correia, o seu relógio de bolso.
Outra é de que o primeiro modelo
surgiu em 1814, criado pelo relojoeiro
Abraham Louis Bréguet, por encomenda de Carolina Murat, princesa de Nápoles e irmã de Napoleão Bonaparte.
Mas outras fontes indicam que foi a
dupla Antoni Patek e Adrien Phillipe,
fundadores da suíça Patek Phillipe,
que criou o modelo em 1868.
Morador da capital francesa, terra
natal de seu pai, Santos Dumont era
grande amigo do joalheiro Louis Cartier.
Por estar sempre com as mãos ocupadas nos voos e necessitar cronometrar
o tempo que permanecia no ar, os relógios de bolso mostravam-se pouco
práticos, já que muitos modelos eram
também protegidos por uma tampa.
Cansado dessa dificuldade, ele queixou-se ao amigo e pediu uma solução.
Exclusividade
Em 1904, Cartier criou o primeiro
relógio de pulso masculino, exclusivamente para Santos Dumont, batizado
de Santos – pronunciado Santôs, em
francês. O modelo era simples: uma
caixa retangular em metal presa a alças de couro. A partir de 1911, foi criada
a linha Santos que, com design atemporal, é comercializada até hoje.
E não demorou para que o novo
e moderno acessório caísse no gosto
popular e se espalhasse pelo mundo,
inclusive tornando-se a maneira mais
prática de ver as horas também para
os aviadores que lutaram na Primeira
Guerra Mundial.
O francês
Blaise Pascal
teria sido
a primeira
pessoa a
usar relógio
de pulso
Mãos livres para o trabalho
Embora inicialmente criados como joias femininas, os relógios
de pulso ficaram mais conhecidos por sua praticidade
22
23
DESPERTADOR
O toque certo para acordar
Ao longo de sua história, a humanidade tem encontrado
soluções diversas e curiosas para não perder a hora
Desde o início dos tempos, a luz do
Sol foi o grande despertador das pessoas. A claridade do dia ajudava a regular
o relógio biológico, sinalizando que era
hora de levantar. Durante séculos, outra forma de indicar que o dia estava
amanhecendo era o canto do galo.
Um protótipo do despertador foi inventado pelos gregos em torno de 250
antes de Cristo. Era um relógio de água,
que vertia de um recipiente para outro
até acertar um pássaro mecânico que
apitava um alarme.
Uma variação usava uma haste com
um sino na extremidade superior e
uma rolha de cortiça na parte inferior.
Quando o recipiente ficava cheio, a cortiça flutuava, empurrava e derrubava a
haste, levando o sino a bater. O filósofo
Platão dizia ter um relógio de água desse tipo para acordar pela manhã.
Fogo
Os chineses usavam um despertador
de fogo, geralmente no formato de um
barco com cabeça de dragão. Ele consistia de uma vareta colocada horizontalmente em cima de fios de arame.
Sobre a vareta, ficava suspenso um fio
de seda com duas esferas metálicas. O
24
suporte do conjunto era colocado sobre um prato também metálico. Para
acionar o despertador, a extremidade
da vareta era acesa.
Com o transcorrer das horas, o fogo
avançava lentamente, até alcançar e
queimar o fio de seda. Assim, as duas
esferas eram soltas e caíam sobre o
prato metálico produzindo um ruído
suficientemente forte para acordar
uma pessoa.
No início do século 6, foi descrito
um relógio público existente em Gaza,
no Oriente Médio, em que um gongo
tocava de hora em hora e figuras se
movimentavam dia e noite.
Em 1235, em Bagdá, no Iraque, foi
inaugurado um monumental despertador à água. Instalado no hall de
entrada da madrassa (escola) Mustansiriya, ele anunciava as horas de oração
e a passagem do tempo durante o dia e
ao longo da noite.
Igrejas e fábricas
Na Europa, os relógios das igrejas
passaram a ajudar os habitantes a despertar no início da manhã, assim como
a chamar para as missas e a marcar outras horas do dia. O primeiro carrilhão
desse tipo foi descrito em Florença, em
1319, por Dante Alighieri, autor de A Divina Comédia.
Na década de 1850, durante a revolução industrial, era o apito da fábrica
– e não o galo ou a torre do relógio –
que acordava as pessoas. Os operários
viviam nas proximidades das indús-
trias, que, dessa forma, asseguravam
que ninguém perderia o horário de
levantar e começar a trabalhar.
O primeiro
despertador do
homem foi o
Sol, que nasce
e se põe com
regularidade
O canto do galo
ao amanhecer
ajudou a
controlar o
momento de
levantar
Com corda
Já o primeiro despertador mecânico, movido a corda, foi inventado pelo
otomano Taqi al-Din, em 1559. Seu instrumento era capaz de soar um alarme
no momento determinado pelo usuário, o que foi conseguido por meio de
um pino colocado na roda das horas.
No Ocidente, Levi Hutchins, de
New Hampshire (EUA), é considerado
inventor do mecanismo, em 1787. No
entanto, o alarme tocava apenas às 4
da manhã, o que era pouco flexível.
O francês Antoine Redier foi o primeiro a patentear um despertador
mecânico ajustável, em 1847. E em
1876, um relógio que podia despertar
a qualquer tempo foi patenteado por
Seth E. Thomas, em Nova York (EUA).
Para assegurar o funcionamento, ele
era movido por uma espécie de ventoinha, pela qual se dava corda no relógio.
Música e soneca
O primeiro rádiorrelógio despertador foi inventado por James Reynolds,
nos anos 1940. As pessoas poderiam
finalmente acordar com notícias ou
músicas de sua estação favorita.
E o primeiro despertador com a função soneca (do inglês snooze, que permite programar o relógio para tocar em
determinado intervalo, dando tempo
para uma “viradinha”) surgiu em 1956.
25
BIG BEN
As badaladas da torre
O Parlamento britânico tem em seu prédio um dos maiores
símbolos internacionais de medição do tempo
Como parte
da celebração
dos 60 anos
de reinado de
Elizabeth II, a
torre passou
a se chamar
Elizabeth
Tower
26
Mais famoso do mundo e símbolo da
cidade de Londres, o Big Ben badalou
pela primeira vez no dia 11 de julho de
1859, 11 dias depois de ser inaugurado.
O nome, na realidade, é uma referência ao sino de mais de 13 toneladas,
instalado em uma das torres do Palácio
de Westminster, sede do Parlamento
britânico, às margens do Rio Tâmisa,
também conhecida como Clock Tower
(Torre do Relógio).
Não se sabe exatamente por que
o sino foi batizado com o nome, mas
existem duas teorias a respeito. A primeira diz que foi uma homenagem
a Benjamin Hall, ministro de Obras
Públicas da Inglaterra no período de
construção da torre. Benjamin era um
homem grande, apelidado de Big Ben,
daí a origem. A segunda teoria é que
seria referência ao campeão de boxe
peso-pesado da época, Benjamin
Caunt, que, por sua estatura, também
era conhecido como Big Ben.
História
Um incêndio destruiu quase a totalidade do Palácio de Westminster, em
1834. Dez anos depois, ainda com as
obras de recuperação em andamento,
terceiro
relógio de
torre mais alto
do mundo, o
big ben tem
ponteiros com
4,26 metros de
comprimento
o Parlamento decidiu que a nova estrutura deveria incluir uma torre e um
relógio. O relógio foi construído por EJ
Dent & Co., e o sino, o Big Ben, foi modelado pela Whitechapel Bell Foundry.
O relógio raramente parou de
funcionar, nem mesmo durante o
bombardeio que atingiu Londres na
Segunda Guerra Mundial.
Características
O Big Ben é o terceiro relógio de torre
mais alto do mundo.O prédio, construído em estilo gótico, mede 96,3 metros
de altura. Os ponteiros que marcam os
minutos medem 4,26 metros e originalmente eram de ferro, mas, devido
ao peso, foram substituídos por cobre;
já as figuras têm 60 centímetros. A hora
é regulada por uma pilha de moedas
colocadas sobre um pêndulo.
Cinco sinos constituem o carrilhão
que emite a cada 15 minutos um som
conhecido como Westminster Chimes
(expressão que pode ser traduzida
como Melodias Westminster). Já o
número de badaladas coincide com o
de horas cheias. Diariamente, o som é
transmitido ao vivo por TV e rádio. Isso
ocorreu pela primeira vez em em 31 de
dezembro de 1923.
O acesso ao alto da torre é fechado para estrangeiros, mas é possível
conhecer os salões do Parlamento por
meio de visitas monitoradas. Quando
os parlamentares estão reunidos, é
acesa uma luz especial acima da face
do relógio, para que o público fique
sabendo do funcionamento da Casa.
big ben e
os guardas da rainha
são símbolo da
capital britânica
Inclinação
O Big Ben está inclinado 0,26 grau
para Noroeste, o que significa existir
um desvio de cerca de meio metro entre
a base e o ponto mais alto da estrutura
da torre que o abriga. A medição consta
de um estudo encomendado pela autoridade responsável pelos transportes
em Londres – pois uma linha de metrô
passa por baixo do Parlamento.
De acordo com as medições, a torre
está se inclinando, desde 2003, a um
ritmo de 0,9 milímetro por ano. Nessa
proporção, serão necessários alguns
milhares de anos (entre 4 mil a 10 mil)
para que isso se torne um problema semelhante ao da Torre de Pisa, na Itália,
inclinada cerca de quatro graus.
27
Greenwich
Símbolo de pontualidade
O Meridiano
de Greenwich
passa
exatamente
sobre o
Observatório
Real, o marco
zero da hora
no mundo
O Observatório de Greenwich é referência mundial na
marcação das horas e se tornou atração turística em Londres
É exatamente
na localidade
de Greenwich
que se mede
a hora zero
do mundo
O conjunto
de prédios foi
tombado pela
Unesco como
patrimônio da
humanidade
28
Todo mundo já deve ter ouvido a expressão “pontualidade britânica”. Não
é à toa que o inglês é um povo famoso
por esse aspecto. Além de abrigar o Big
Ben, o mais famoso relógio do mundo,
é na Inglaterra – mais precisamente em
Greenwich – que se “mede” a hora zero
do mundo. Ali está localizado o Primeiro Meridiano, o zero grau de longitude,
que serviu de base para definir o Tempo
Médio de Greenwich (GMT). (Veja detalhes na página 34)
É sobre essa localidade, a 20 minutos
de Londres, que passa uma linha imaginária que divide o planeta Terra em Ocidente e Oriente. É o chamado Meridiano
de Greenwich. Outra linha imaginária, a
Linha do Equador, divide o planeta em
dois hemisférios: Sul e Norte.
Patrimônio
O distrito de Greenwich é famoso
por abrigar uma coleção de prédios
históricos, que incluem o Observatório
Real, o Museu Marítimo Nacional, a Casa
da Rainha e o Old Royal Naval College.
Devido ao grande interesse arquitetônico, o Maritime Greenwich – como é
conhecido o conjunto de edificações –
foi declarado patrimônio da humani-
dade pela Unesco, em 1997. Em fevereiro
de 2012, como parte das celebrações do
jubileu de diamante do reinado de
Elizabeth II, o distrito tornou-se Royal
Borough (cidade real).
Observatório Real
O Observatório Real é uma das
construções mais importantes de
todo o Reino Unido, pois desempenha
um papel importante nas histórias da
astronomia e da navegação.
É exatamente sobre ele que passa
o Meridiano de Greenwich. O prédio
está situado em uma colina, em meio a
um parque, de onde é possível ter uma
vista privilegiada da região, incluindo
o Rio Tâmisa.
O Observatório Real foi encomendado em 1675, pelo Rei Charles II, para
contribuir no desenvolvimento de conhecimentos astronômicos essenciais
à navegação. Ali trabalharam astrônomos como John Flamsteed e Edmond
Halley, os dois primeiros detentores
do título de Astrônomo Real Britânico.
Entre suas funções, estudavam as estrelas, a fim de entender o movimento
do céu. Halley descobriu o cometa que
leva o seu nome.
Os meridianos e as horas
Os meridianos são linhas imaginárias que cortam a Terra verticalmente. O principal é o de
Greenwich, definido em 1851, que divide o globo
em Ocidente e Oriente. Ele atravessa dois continentes e sete países: Europa (Reino Unido, França e Espanha) e África (Argélia, Mali, Burkina Faso e Gana).
O seu reconhecimento como referência ocorreu
anos mais tarde, a partir de um acordo mundial
firmado em 1884, na cidade de Washington (EUA),
com o objetivo de estabelecer uma padronização
de horários e datas em todo o mundo.
A Hora Média de Greenwich (Greenwich Mean
Time, ou GMT), baseada na rotação da Terra, foi
utilizada como padrão mundial de tempo até
1972, quando um acordo internacional criou o
Tempo Universal Coordenado (Coordinated Universal Time ou UTC). Zero hora UTC corresponde à
meia-noite no Meridiano de Greenwich.
29
Referência
Os relógios suíços são conhecidos
como referência de precisão e qualidade. É uma tradição que vem do
século 16, época em que a Suíça era
uma importante produtora de joias.
Em 1541, por determinação da
Igreja Protestante, os sinais de luxo e
pompa foram proibidos em Genebra,
uma das maiores cidades do país. Com
isso, joalheiros e ourives (profissionais que trabalham com ouro e prata)
foram obrigados a procurar novas
atividades – e muitos dedicaram sua
atenção à produção de relógios.
Em 1601, foi criada em Genebra a
primeira associação de relojoeiros do
mundo. Por volta de 1700, os profissionais começaram a buscar novos
mercados, se estabelecendo em
outras cidades da região. Embora o
método de trabalho continuasse artesanal, em 1790 já eram exportados
mais de 60 mil relógios.
Escala
Os avanços industriais permitiram
a fabricação de peças em grande es-
30
Joalheiros
e ourives
dedicaram
atenção à
produção de
relógios
ícone
Outra inovação fundamental para
recolocar o país no topo da indústria
relojoeira foi a criação dos relógios
Swatch, lançados em 1983. Feitos de
plástico e muito finos, tinham apenas
51 componentes, quase a metade das
peças habituais. Com qualidade suíça,
design inovador e preço acessível, os
relógios Swatch rapidamente viraram
um ícone mundial.
atestado de qualidade
Precisão com marca suíça
Cinco séculos de produção e pesquisa justificam a especialidade
dos mecanismos fabricados pelas empresas do país europeu
Durante muitos
anos, a Suíça
produziu quase
a metade
dos relógios
do mundo
cala no começo do século 20 e, durante muitos anos, a Suíça foi responsável
por quase a metade de toda a produção mundial de relógios.
Em 1967, o Centro de Horloger Electronique (CEH), na cidade de Neuchâtel, apresentou o primeiro relógio
de quartzo analógico, chamado Beta
21, um avanço na precisão do tempo.
A nova tecnologia ganhou a preferência do mercado na década de 1970.
Por causa dela, entretanto, os suíços
perderam espaço de mercado para os
fabricantes asiáticos, que conseguiam
fazer o produto com preços menores.
regras rígidas
determinam
como os
relógios
podem exibir
a marca
Swiss made
A designação Swiss Made (Feito na
Suíça) dá ao relógio um atestado de
qualidade. O país tem acordos internacionais e reforça instrumentos jurídicos
com o objetivo de evitar seu uso por
equipamentos não autênticos.
Para ganhar a marca, o relógio precisa ter mecanismo fabricado na Suíça,
bem como ser montado e inspecionado
no país. Há especificações para determinar a origem dos componentes, o
local e a forma de aplicação das palavras na peça. Até mesmo a inscrição na
pulseira é regulamentada. Se o relógio
tiver o mecanismo suíço, mas for montado em outro país, não poderá ter inscrição na parte de fora e sim apenas no
interior da peça.
31
HOROLOGIA
Ciência estuda
as horas e a
arte de fabricar
instrumentos
Escolas e centros especializados
tratam do estudo do tema. Além
de pesquisadores, colecionadores
também se dedicam ao assunto
Horologia é a ciência que estuda as horas, criada há muito tempo, na época da Babilônia (civilização que data dos
anos 1900 a.C.). Naquele período, convencionou-se que um
minuto teria 60 segundos e uma hora, 60 minutos. Hoje, os
especialistas medem o tempo em bilhões de frações.
É também a arte de fazer relógios, assim como conservá‑los e repará-los. Milhares de pessoas são fascinadas por
esses instrumentos; são colecionadores e se interessam em
aprofundar os estudos sobre o tempo e suas medidas.
Há escolas especializadas nessa ciência, além de centenas
de publicações e museus espalhados por todo o mundo.
Não por acaso, a Suíça concentra o maior número de locais
dedicados ao tema.
Não se trata de uma disciplina estática. Sempre foi impulsionada por técnica, materiais e design. O que antes era
moderno, agora representa um retorno ao passado. Mas as
novidades não param de surgir. Existe até, a exemplo do que
ocorre na alta costura, uma alta horologia. Não é a produção
em massa, mas relógios construídos à mão, difíceis de serem
encontrados e caríssimos.
32
ciência é
impulsionada
por técnica,
materiais e
design, que
fazem do
estudo das
horas tema
de museus
e centros
internacionais
33
fusos horários
Tempo
cortado
em fatias
Linhas imaginárias
padronizamOCEANO
a PACÍFICO
contagem mundial,
facilitando a
mobilidade das
pessoas e as
relações comerciais
entre os países
+9
+10
+11
+12 -12
OCEANO PACÍFICO
OCEANO PACÍFICO
-11
-10
Desde o início da contagem das horas,
o Sol foi fundamental para que o homem
pudesse definir a passagem do tempo.
Quando estava a pino, determinava o
horário do meio-dia. Assim, cada comunidade tinha seu próprio tempo solar.
Foi no século 19, com a criação das
ferrovias e do telégrafo, que essas di-
34
-9
-8
-7
-6
-5
-4
ferenças se transformaram em problemas para os moradores de diferentes
cidades. Na América do Norte, havia 74
modos diferentes de contar as horas.
As empresas ajustavam a saída de seus
trens de acordo com o horário da cidade natal. Como informar a hora certa
do trem para os passageiros e funcio-
-3
-2
-1
OCEANO ÍNDICO
Meridiano de Greenwich
OCEANO ATLÂNTICO
0
+1
+2
+3
+4
nários de cada local? Gradualmente, as
ferrovias foram criando sistemas para o
melhor funcionamento.
Grã-Bretanha, Estados Unidos e Canadá foram pioneiros nesse movimento, adotando padrões que utilizavam
o Meridiano de Greenwich como referência. A escolha se deu pela exatidão
+5
+6
+7
+8
+9
+10
+11
+12
que o Observatório de Greenwich, nos
arredores de Londres, na Inglaterra,
apresentava nos dados de navegação
– na época, a maior parte das cartas
geográficas era feita pelos ingleses.
Assim, o padrão Greenwich Mean Time
(Tempo Médio de Greenwich – GMT) se
tornou uma referência para o mundo.
35
Você sabia?
Padrões de tempo
Em 1972, o padrão GMT foi substituído pelo Coordinated Universal Time
(Tempo Universal Coordenado – UTC).
A diferença entre UTC e GMT está na variação de milésimos de segundo que
acontece na rotação do planeta Terra.
As horas são contadas com a soma
ou subtração de um número inteiro
para cada fuso, sendo zero o horário de Greenwich. Na direção Leste,
somam-se horas. Para Oeste, é preciso
subtrair. Assim o Japão, que fica nove
fusos a Leste de Greenwich, está na
faixa UTC +9:00. E o Peru, cinco fusos
a Oeste, adota o UTC -5:00.
Países que têm maior extensão
leste-oeste podem ter mais de um
fuso. É o caso da Rússia, cujo território apresenta nove fusos horários; dos
Estados Unidos, que tem quatro faixas
em sua área continental; e do Brasil,
com três fusos.
Cada país tem liberdade para definir a sua hora legal, ou seja, estabelecer em qual faixa de tempo
vai se encaixar. Assim, as linhas que
separam os fusos não necessariamente coincidem com os meridianos, de forma reta, e sim seguem as
fronteiras estabelecidas pelos países.
A Argentina é um exemplo: embora
a maior parte de seu território esteja sobre o fuso a quatro horas de
Greenwich, o país definiu sua hora
legal como UTC -3:00.
36
FUSOS HORÁRIOS DO BRASIL
Linha internacional de data:
Exatamente oposta à Greenwich, a linha internacional de data passa sobre o Oceano Pacífico.
Ela marca o ponto da Terra onde é necessário
ajustar o calendário, não o relógio: a diferença
de tempo entre um lado e outro da linha é 24
horas, ou seja, um dia inteiro.
-4 horas*
-3 horas*
-2 horas*
Samoa:
Limite teórico
O dia 30 de dezembro de 2011 não existiu em
Samoa, ilha com 180 mil habitantes localizada
no Oceano Pacífico. Para melhorar sua relação
com seus principais parceiros comerciais, Nova
Zelândia e Austrália, o governo local decidiu “pular” a linha internacional de data e ajustar seu
calendário. Antes, Samoa era UTC -11:00, agora
é UTC +13:00.
Limite prático
civil ou político
*Em relação ao
horário Meridiano
de Greenwich
OCEANO PACÍFICO
Brasil:
De 1913 a 2008, o Brasil teve quatro fusos
horários: UTC -2:00 (Fernando de Noronha
e outras ilhas), UTC -3:00 (Brasília e a maior
parte do território nacional), UTC -4:00 (parte
das regiões Norte e Centro-Oeste) e UTC -5:00
OCEANO
PACÍFICO
(Acre e parte
do Amazonas). Essa última zona
foi extinta em 2008, sendo integrada à faixa
anterior, e assim o país passou a integrar apenas três fusos. Tramita no Congresso Nacional
projeto que deve restabelecer o antigo padrão.
Rússia:
País com maior extensão do mundo, a Rússia não
poderia deixar de ter vários fusos em seu território. No total são nove faixas, variando de UTC
+2:00 a UTC +11:00.
Nepal:
Em 1986, o Nepal, na Ásia, foi o último país a integrar o sistema internacional, adotando o padrão
UTC +5:45.
Estados Unidos:
Venezuela:
Embora os fusos se refiram a horas inteiras, alguns países adotam tempos intermediários. É
o caso da Venezuela, que em 2007 retornou à
faixa UTC -4:30, que o país já havia utilizado
entre 1912 e 1967.
OCE
+9
+10
+11
+12 -12
-11
-10
-9
O dia 18 de novembro de 1883 ficou conhecido
nos Estados Unidos como the day of two noons
(o dia de dois meios-dias), pois foi nessa data
que os relógios das companhias ferroviárias do
país foram ajustados seguindo o padrão inter-8
-7
-6
-5
-4
nacional. A mudança foi de até 30 minutos.
37
-3
-2
ECONOMIA
Um horário só de verão
Dias mais longos e melhor iluminação fazem da estação
mais quente do ano a época para alterar o relógio
benjamin
franklin foi
o primeiro
a propor o
horário de
verão para
economizar
energia
No verão, normalmente os dias são
mais ensolarados e longos do que
nas outras estações do ano. Com base
nessa observação, em 1784, época em
que ainda não havia luz elétrica, o
norte‑americano Benjamin Franklin
teve a ideia de adiantar os relógios
para que a luminosidade do dia fosse
mais bem-aproveitada, especialmente
no entardecer. Franklin ficou conhecido por inúmeras invenções, entre elas
o para-raios e as lentes bifocais.
Mas o sistema só entrou em vigor
em 1916, durante a Primeira Guerra
Mundial, primeiramente na Alemanha e em seguida na Inglaterra. Na
ocasião, a medida foi vista como esforço de guerra, já que houve grande
economia de carvão, principal fonte de
energia da época.
Países
Atualmente, o horário de verão é
adotado em 30 países. Em inglês, a
medida é chamada de daylight saving
time; em italiano, de ora legale.
Nos países da União Europeia, o horário de verão costuma vigorar entre o
último domingo de março e o último
domingo de outubro; nos Estados Uni-
38
dos, no Canadá e no México, a duração
é de abril a outubro; na Rússia, na Turquia e em Cuba, de março a outubro; e
na Austrália, na Nova Zelândia, no Chile e no Paraguai, de outubro a março.
Brasil
No Brasil, a primeira vez aconteceu
em 1931. Houve anos em que a medida não foi adotada, mas isso passou a
ocorrer anualmente a partir de 1985.
Em 2008, um decreto presidencial definiu que a medida tem início no terceiro domingo de outubro, finalizando
no terceiro domingo de fevereiro. Se
coincidir com o Carnaval, entretanto, o
encerramento é no domingo seguinte.
Em termos de economia de energia, a adoção do horário de verão só
apresenta resultados significativos em
regiões distantes da Linha do Equador,
que separa a Terra em Hemisfério Sul
e Hemisfério Norte. Esse é o motivo
pelo qual a medida vigora, no Brasil,
somente nos Estados das Regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste. Não é adotada
no Norte e no Nordeste (com exceção da
Bahia), por conta da proximidade com
o Equador – que torna praticamente
igual a duração do dia e da noite.
HORÁRIO DE VERÃO
no brasil,
estados das
regiões norte
e nordeste
não mudam
o relógio
no período
de verão
MUDAM
NÃO MUDAM
39
são paulo
Em 2011, a
BM&FBovespa
movimentou o
equivalente a
R$ 182 milhões por
hora, em compras
e vendas de ações.
Qual é o mais rápido?
A cada ano, em São Paulo, é promovido o Desafio Intermodal. A ideia é apurar
qual a forma mais rápida de se movimentar na cidade em horário de pico no
trânsito. Em 2011, o percurso de dez quilômetros foi traçado entre a Praça General
Gentil Falcão, na Avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul, até o Viaduto
do Chá, em frente à Prefeitura, no centro da cidade. A bicicleta chegou na frente.
O brasileiro gasta
em média 5 horas,
28 minutos e 38
segundos por dia
vendo televisão.
Por hora, são pagos
R$ 3,8 milhões em
impostos na cidade
de São Paulo.
A cada 60 minutos,
54,8 voos decolam
ou aterrissam
nos aeroportos
de Guarulhos e
Congonhas, em
São Paulo.
IMPOSTÔMETRO
3.800.000,00
Transporte público
(ônibus + metrô)
Pedestre
caminhando
Transporte público
(ônibus)
Automóvel
início
A cada 1 hora
saem do forno
43,2 mil pizzas,
o que significa
pelo menos
1 milhão de
redondas por dia.
Motociclista
Ciclista por
vias rápidas
chegada
Praça General
Gentil Falcão
Viaduto do Chá
10 km
0 km
97min40s
74min25s
74min0s
O valor de cada minuto
Se o tempo é precioso, ele vale ainda mais em São Paulo.
Trânsito e custo de vida influenciam os relógios na capital
Em São Paulo, sexta metrópole mais populosa e
um dois principais centros financeiros do mundo,
tempo é dinheiro. Mas também é um indicador de
qualidade de vida. Os paulistanos vivem de olho
no relógio. A boa gestão das horas é imprescindível
para conseguir, além de trabalhar, usufruir o conjunto de atrações culturais, esportivas e de lazer.
Por isso mesmo, morar em locais que favoreçam
o acesso a produtos e serviços indispensáveis, bem
como residir perto do trabalho, é um sinônimo de
vida boa. O principal vilão do tempo é o trânsito
40
– ou melhor, a lentidão: a média anual de congestionamentos, em 2011, foi de 80 quilômetros no
pico da manhã, e de 108 quilômetros no da tarde.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), apenas 5% das pessoas levam
até 5 minutos para o deslocamento de casa até o
trabalho; 28% gastam entre 6 e 30 minutos no trajeto; 35%, de 30 minutos a 1 hora; e 31%, mais de
60 minutos por dia no percurso. Os dados foram
apurados a partir do Censo 2010.
A Rede Nossa São Paulo também divulgou nú-
52min57s
28min15s
meros que confirmam o quanto o paulistano perde de tempo no trânsito. Apresentado em 2011, na
véspera do Dia Mundial Sem Carro (22 de setembro),
o estudo identificou que 2h49min são gastos diariamente para o deslocamento na cidade. O número foi sete minutos maior do que no ano anterior,
de acordo com o levantamento encomendado ao
Ibope. Considerando que o paulistano trabalhe 250
dias em um ano, ele perde 29,3 dias a cada 12 meses
no tráfego. Tempo para ver 352 filmes, por exemplo.
Menos sono
Já que é difícil escapar dos congestionamentos,
paulistanos compensam a perda de tempo nas ruas
dormindo menos. Um estudo de pesquisadores da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), divulgado em 2010, mostrou que os moradores da
capital dormem quase meia hora menos, por noite,
do que os habitantes de há 20 anos. A média de
22min50s
horas na cama, agora, é de sete e meia nos dias
úteis e perto de oito horas e meia aos domingos.
Muita gente sacrifica minutos de descanso justamente para aproveitar a cidade ou mesmo cumprir tarefas rotineiras, como ir ao supermercado. E
o paulistano tem cada vez mais motivos para frequentar a noite e ficar desperto: um levantamento
feito pela Central Mailing List apontou que a cada
24 horas uma casa noturna é aberta na metrópole.
São bares, baladas e locais de shows.
Filas são marca registrada da cidade também
nos momentos de lazer. Elas estão presentes no
cinema, no estacionamento, no trânsito, no restaurante, na hora de comprar ingressos e na hora
de usá-los. Em 2007, a Revista da Folha fez um
levantamento e identificou, em 43 estabelecimentos, espera de 3 a 40 minutos para entrar no
cinema, de até duas horas em filas nos restaurantes
e de uma hora e meia em bares e baladas.
41
PASSEIO
Único museu
do país guarda
peças inusitadas
fábrica em
são paulo
reserva
espaço para
expor peças
colecionadas
ao longo
dos anos
Mais de 700 itens curiosos
e valiosos apresentam ao
público a história do relógio,
mecanismo imprescindível para
a evolução da humanidade
Fruto do sonho e da dedicação de
seu fundador, o professor Dimas de
Melo Pimenta, o Museu do Relógio
ocupa área de 226 metros quadrados
dentro da fábrica da Dimep - Sistemas de Acesso, Segurança e Ponto, no
bairro Vila Leopoldina, em São Paulo.
Fundado em 1975, o espaço abriga um
acervo de mais de 700 peças, que inclui raridades e alguns itens bastante
curiosos, como um despertador com
cafeteira embutida, que data do início
do século 20.
Dimas de Melo Pimenta nasceu em
Portugal, mas veio para o Brasil com
apenas um ano de idade. Sua paixão
pelo universo dos medidores de tempo começou aos 18 anos, quando foi
trabalhar em uma companhia de relógios e telefones. Entusiasmado pelas máquinas que passavam pelas suas
42
Procedência: Estados Unidos
Data aproximada
de fabricação: 1910/1920
Procedência: Suíça
Data aproximda de
fabricação: Não identificada
Procedência: Portugal
Data aproximada de
fabricação: Não identificada
Relógio despertador com
cafeteira embutida. Quando é
ligado, um aparato mecânico
complexo aciona uma
cafeteira, produzindo café
quente em recipiente próprio.
Ao término do processo, a
cafeteira imediatamente para
o seu funcionamento e aciona
o alarme de despertar.
Antiga chatelaine de ouro
e pérolas, com tampa
decorada em esmalte azul,
trabalhada com motivos
florais e brilhantes.
Todo o conjunto é feito
em ouro 18 quilates.
Presente dado pela
Imperatriz do Brasil
no século 19.
Variante do modelo de relógio
de Sol, essa peça sinalizava
um determinado horário por
meio de um pequeno canhão
carregado com pólvora. A
regulagem era feita por uma
lente que refletia os raios
solares, acionando a pólvora
que entrava em ignição e
produzia um estampido.
43
mãos, importadas da Alemanha, dedicou todo o seu tempo disponível na
observação e análise desses relógios.
A contribuição do professor Dimas
no campo do desenvolvimento e da
fabricação de relógios no país foi notável. Ele solicitou mais de cem patentes de invenção, além de publicar oito
livros sobre a especialidade.
Peças raras
O seu fascínio pela criação e inovação e sua obsessão por aprimorar
o maquinário dos relógios o levaram
a iniciar a busca por peças raras, em
1950. Sua determinação conquistou
também o apoio da família, o que seria fundamental, anos depois, para a
criação do Museu do Relógio, que se
mantém como o único do Brasil.
A tarefa de agrupar um número tão
grande de relógios históricos e curiosos foi bastante árdua. Peças originais
foram procuradas por todos os lugares,
em especial nos mercados de antiguidades espalhados pelas mais diversas
cidades do mundo.
O relógio mais antigo apresentado
no museu foi fabricado em 1620, na Alemanha. Trata‑se de uma peça portátil,
semelhante a um relógio de bolso, todo
em prata lavrada, em caixa cilíndrica,
possuindo apenas o ponteiro das horas
– o ponteiro de minutos só foi incorporado aos relógios a partir de 1670.
44
Procedência:
Estados Unidos
Data aproximada
de fabricação: 1897
Procedência:
Alemanha
Data aproximada
de fabricação: 1620
Representa os primeiros
relógios de ponto já
fabricados. A identificação
do funcionário era feita por
uma roda metálica com 150
furos numerados. O registro
de ponto era impresso por
meio de um mecanismo
próprio, em uma folha de
papel que envolvia um
cilindro existente dentro
da caixa do relógio.
Relógio mais antigo exposto
no museu. Bastante curiosa, a
peça possui somente o ponteiro
de horas. Devido à imprecisão
dos mecanismos, os relógios
daquela época não possuíam
o ponteiro de minutos. Seu
mecanismo, todo artesanal,
levava alguns anos para ser
concluído. Seu custo, portanto,
era bastante alto e, dessa forma,
só era possuído por pessoas
de grande poder aquisitivo.
Procedência:
Estados Unidos
Data aproximada
de fabricação: 1883
Procedência:
Suíça
Data aproximada
de fabricação: 1920
O relógio ficou conhecido
como Crazy Clock, devido a
um inusitado sistema para
determinar a passagem do tempo.
Um fino cordão com uma pequena
esfera metálica está amarrado à
extremidade de uma haste que,
girando, atira-o contra varetas
que ciclicamente impedem
e liberam o seu movimento.
Desta forma, criava-se uma
informação padrão de tempo
para o mecanismo do relógio.
O curioso relógio é
composto por um
pedestal e um prato de
prata na parte superior,
cuja borda está gravada
com uma escala de
12 horas. No centro,
mantido com água, uma
falsa tartaruga flutua e
aponta, com a cabeça,
o horário correto. O
mecanismo é acionado
por campos magnéticos
que movem a tartaruga.
Reforma
Em 2000, o Museu do Relógio foi
fechado devido à partilha dos bens
do professor, que havia falecido em
novembro de 1996. Seu filho, Dimas
de Melo Pimenta II, foi o responsável
pela reabertura, realizada em abril de
2005, com cerca de 600 modelos expostos. Dimas II continuou fielmente o
trabalho de seu pai, adquirindo novos
itens e exigindo que todos os relógios
contivessem somente peças originais e
manutenção apropriada.
Após uma nova reforma, que durou
seis meses, o museu foi reaberto em
outubro de 2011 para visitação do público, com cerca de 700 modelos, desde
demarcadores de tempo, relógios de
bolso, de parede, de mesa, relógios
Cuco, versões curiosas e únicas. Além
das peças adquiridas no mercado, o
acervo conta ainda com uma gama
de relógios de fabricação própria da
Dimep. As peças resumem a evolução
das fases pelas quais a empresa passou e sua contribuição para a indústria
brasileira de relógios.
Serviço: Museu do Relógio Prof. Dimas de
Melo Pimenta
Avenida Mofarrej, 840 – Vila Leopoldina.
De segunda a sexta, das 9h às 11h, e das 14h
às 17h – necessário agendamento prévio.
Todo último sábado de cada mês, nos
mesmos horários, quando não é necessário
agendamento.
Entrada gratuita. Visita monitorada. Acesso
para deficientes.
45
RELÓGIO DOS 10 MIL ANOS
Um relógio especial, projetado
para ser um símbolo de pensamento
de longo prazo, está sendo construído
dentro de uma montanha nos Estados
Unidos. É o Relógio dos 10 Mil Anos –
também chamado de Relógio do Longo
Agora –, que irá marcar o tempo para
os próximos milênios. Além das horas,
fornecerá aos habitantes do futuro informações sobre as estações do ano e
as fases da Lua.
Uma das características mais marcantes do relógio é a sua capacidade de
autoajuste, o que vai permitir grande
precisão. O projeto leva em consideração os movimentos da Terra e inclui
uma lente apontada para o Sol, para
assim garantir calibragem e sintonia
com os movimentos celestes.
Criar um relógio que funcione
corretamente durante 10 mil anos
é um enorme desafio. Ele deve ser
confiável, fácil de manter, capaz de
resistir a mudanças climáticas e não
ser superado por novas tecnologias
daqui a algumas centenas de anos.
Por essa razão, o protótipo é baseado
em mecânica básica.
Um ícone do longo prazo
Com precisão de dez milênios, mecanismo será construído nos
Estados Unidos com aço inoxidável, titânio, cerâmica e sílica
46
um dos
protótipos é
o planetário
exposto no
museu da
fundação do
longo agora
Características
Com 60,2 metros de altura, será parecido com um relógio de pêndulo. Mas
haverá diferenças: a marcação de tempo ocorrerá de dez em dez segundos e
não a cada segundo, para aumentar a
durabilidade dos componentes.
No lugar de 12 pontos que indicam as
24 horas do dia, o mostruário marcará
a posição de astros e planetas, com
ponteiros indicando a data e a hora em
curso. Embora o relógio vá computar o
tempo ininterruptamente, será preciso
dar corda manual para que as horas
apareçam no mostrador de 2,5 metros.
São 20 rolamentos de aço inoxidável, com 2,4 metros de diâmetro. Eles
acionarão dez sinos programados pelo
músico Brian Eno para jamais produzir
a mesma melodia ao longo de 10 mil
anos. O mecanismo de carrilhão permite combinar cerca de 3,5 milhões de
sequências únicas, quantidade suficiente para atravessar os séculos sem
repetir uma única vez a mesma música.
Brian Eno, por sinal, é o autor do nome
Longo Agora, inspirado em fazer as
pessoas estenderem seu pensamento
sobre o que constitui “agora”.
Na montanha
O relógio será construído com materiais resistentes, mas sem valor significativo para não despertar a cobiça
de saqueadores do futuro. Inclui aço
inoxidável, titânio, cerâmica e sílica.
Seu mecanismo ficará integralmente
visível para que possa ser entendido
sem precisar de desmontagem.
A Fundação do Longo Agora (www.
longnow.org) adquiriu o topo do
Monte Washington, no Estado de Nevada (EUA), para o armazenamento
permanente do relógio. Antes, está
montando um mecanismo similar em
uma montanha no Texas (EUA), que
foi cedida por Jeff Bezos, fundador da
Amazon, que também destinou US$ 42
milhões para o projeto.
As lições aprendidas na construção
desse primeiro relógio determinarão
47
Princípios do
Relógio do
Longo Agora:
o design final do equipamento a ser
instalado em Nevada.
A área foi escolhida em parte porque
ela abriga árvores (sequoias) com cerca
de 5 mil anos de idade – companhia
apropriada para a obra monumental.
Além disso, é um deserto seco, sendo
o interior da montanha caracterizado
pela estabilidade de temperatura (em
torno de 13 graus centígrados), o que é
uma vantagem para assegurar o funcionamento constante do relógio.
Protótipos
O primeiro protótipo do relógio começou a trabalhar em 31 de dezembro
de 1999, apenas a tempo para exibir
a transição para o ano de 2000. Esse
protótipo, com cerca de dois metros de
altura, está em exposição no Museu da
Ciência, em Londres, na Inglaterra.
Mais dois protótipos estão em exibição no museu da Fundação, em São
Francisco (EUA). Um deles é o sincronizador solar, mecanismo que vai ajudar
a manter a hora exata ao longo dos
milênios, corrigindo os desvios.
Outro é o Planetário, que mostra a
posição relativa do Sol, da Terra e de
mais cinco planetas visíveis pelo olho
humano (Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno). É construído em uma
liga de níquel-cobre e aço inoxidável e
em pedras que se assemelham a cada
planeta que representam: Mercúrio,
de um meteorito; Júpiter, de arenito;
Vênus, de calcita laranja; Saturno, com
anéis de ônix; Marte, de jaspe vermelho; Terra, de lápis-lazúli azul; e o Sol,
de calcita amarela.
48
1. Longevidade
O relógio deve ser exato,
mesmo depois de 10 mil
anos, e não deve conter
partes valiosas (como metais
caros ou ligas especiais),
que podem ser saqueadas.
O primeiro
protótipo, que
está exposto
no Museu da
Ciência de
Londres
2. Manutenção
As gerações futuras devem
ser capazes de manter
o relógio funcionando,
se necessário, com nada
mais avançado do que
ferramentas e materiais
da Idade do Bronze.
3. Transparência
O relógio deve ser
compreensível sem
a necessidade de ser
parado ou desmontado;
nenhuma funcionalidade
deve ficar oculta.
4. Evolução
Deve ser possível melhorar o
relógio ao longo do tempo.
SINCRONIZADOR
SOLAR, QUE
AJUDARá a
manter a
precisão do
relógio
5. Escalabilidade
Para garantir que o grande
relógio irá funcionar
corretamente, protótipos
menores devem ser
construídos e testados.
tic-tac
O relógio e o tempo
A medição do tempo é um desafio que o homem venceu e
aprimorou ao longo dos séculos. Inventou e construiu diferentes
tipos de relógios que se tornaram cada vez mais práticos e precisos.

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