segunda geração modernista

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segunda geração modernista
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
MODERNISMO
1922-1930
Tarsila do Amaral Morro da Favela (1924)
Tarsila do Amaral (1929)
Tarsila do Amaral Operários (1933)
A semana de Arte Moderna – 1922
Cem anos após a Independência Política, os jovens queriam a independência artística: A
LIBERDADE artística!
OS ANTECEDENTES DA SAM
1912 – Desembarca em São Paulo, vindo da Europa, o jovem Oswald de Andrade. Em Paris,
entusiasmara-se com o “Manifesto futurista’ de Marinetti e com a coroação de Paul Fort como
“Príncipe dos poetas franceses”.
 1912 – Lasar Segallexpõe seus quadros em São Paulo, mas a exposição não encontra
repercussão.

Como disse Mário de Andrade: “...aliás, nem o Brasil o viu. A presença do moço expressionista era
por demais prematura para que a arte brasileira, então em plena unanimidade acadêmica, se
fecundasse com ela”.
1914 – Anita Malfatti regressa da Europa, onde entrou em contato com a vanguarda da pintura
europeia, e expõe seus quadros. Em sua primeira exposição, a pintora recebe elogios da crítica.
 1915 – Oswald de Andrade publica o artigo “Em prol da pintura nacional”.
 1915 – No Rio, Ronald de Carvalho e Luís Montalvor idealizam a revista Orfeu, de circulação em
Portugal, nos novos moldes modernistas. Orfeu foi a responsável pela introdução e divulgação
dos ideais modernistas naquele país.
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1916 – A palavra futurismo foi usada pela primeira vez na Academia Brasileira de Letras.
1917 – Encontro dos Andrades, Oswald e Mário.
1917 – Publicação de Há uma Gota de Sangue em cada Poema (Mário de Andrade com o
pseudônimo de Mário Sobral), Nós (Guilherme de Almeida), Cinza das Horas (Manuel Bandeira),
Moisés e Juca Mulato (Menotti Del Picchia).
 1917 – Segunda exposição de Malfatti, provocando violento artigo de Monteiro Lobato, intitulado
“A propósito da exposição Malfatti”, ou como ficou mais conhecido “Paranoia ou mistificação?”. É
muito importante lembrar que o artigo escrito por Monteiro Lobato causou revolta e indignação
dos “modernistas brasileiros” (vanguardistas). Ob- serve um trecho do polêmico artigo:
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
“Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem do tempo
nem da latitude. As medidas de proporção e equilíbrio, na forma ou na cor, decorrem do que
chamamos sentir. Quando as sensações do mundo externo transformam-se em impressões cerebrais,
nós ‘sentimos’ para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia
do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em ‘pane’ por virtude de alguma
grave lesão. Enquanto a percepção sensorial se fizer normalmente no homem, através da porta comum
dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá ‘sentir’ senão um gato, e é falsa a
‘interpretação’ que do bichano fizer um totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes.
Estas considerações são provocadas pela exposição da Sra. Malfatti onde se notam acentuadíssimas
tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia.
Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes através de uma obra torcida
para má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se de qualquer
daqueles quadrinhos como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que
alto grau possui um sem número de qualidades inatas e adquiridas das mais fecundas para construir uma
sólida individualidade artística. Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios dum impressionismo, e põe todo o seu talento a serviço duma nova espécie de
caricatura.
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tufti quanti não passam de outros tantos
ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde até agora não havia penetrado. ”
(Artigo “Paranoia ou Mistificação” publicado em o Estado de São Paulo no dia 20.12.1917 – Monteiro Lobato.)
1918 – Artigo de Andrade Murici assinalando a presença de vozes novas na poesia brasileira.
1919 – Retorna da Europa o escultor Vítor Brecheret que, juntamente com Anita Malfatti e Di
Cavalcanti, torna-se o grande responsável pelo antiacademismo nas artes.
 1920 – Projeto do Monumento às Bandeiras de Vítor Brecheret.
 1921 – Mário de Andrade, com a série de artigos “Os mestres do passado”, desmistifica a poesia
e os poetas parnasianos.
 1921 – Na livraria de Jacinto da Silva, onde se costumava reunir um grupo de jovens escritores e
artistas, realizou-se uma mostra de pintura de Di Cavalcanti. Durante a exposição, desponta a
ideia da Semana de Arte Moderna. Embora controvertida, a ideia parece ter surgido do próprio
expositor.
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(Célia Passoni)
A semana de Arte Moderna (SP-1922)
As principais propostas:
contra o passadismo – como diz Anibal Machado: “Não sabemos definir o que queremos, mas
sabe- mos discernir o que não queremos”;
 contra a rigidez formal, o hermetismo, o culto de rimas, o verso perfeito dos parnasianos;
 contra a oratória, a eloquência, a linguagem classicizante; procura de uma linguagem mais
coloquial, mais próxima da linguagem falada;
 contra o tradicional e o acadêmico; seguindo fundamentalmente preceitos:
- direito à pesquisa;
- estabelecimento de uma consciência nacional;
- atualização da inteligência artística brasileira.
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As Correntes
CORRENTE PRIMITIVISTA
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Faz uma pesquisa da cultura primitiva nacional.
Oswald de Andrade e Raul Bopp são os principais expoentes.
Manifestos:
a) “Manifesto pau-Brasil”
– “poesia de exportação, oposta ao espírito e à forma de importação nascida de uma
vontade de independência e de recusa”
– “Poesia carro de assalto”, imagens fragmentadas e justapostas da estética cubista, técnica
“câmara na mão”.
– leia com muita atenção as considerações feitas pela estudiosa Bina Friedman Maltz no profundo
estudo “Antropofagia: Rito, Metáfora e Pau-Brasil”:
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá.
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
A perspectiva moderna, na última estrofe, especificamente no último verso, atualiza
historicamente o Brasil de Gonçalves Dias. A paródia está na inversão de sentido da Canção do exílio
desde o título, onde “regresso” substitui “exílio”. O recurso segue no primeiro verso, em que “palmares”
subverte “palmeiras”, introduzindo no verso uma discussão crítica da história do Brasil e da imagem de
país que a poesia romântica oficializara. Há nas subversões a ironia antropofágica que “devora” o
ufanismo e a escamoteação implícitos nos termos originais da canção, o que imprime no poema uma nova
visão poética de Brasil. Sem “pátria”, sem “exílio” e sem “palmeiras”, canto do regresso à pátria é uma
provocação literária à fortuna e à ideologia das nossas canções de exílio.
Não menos irônico é erro de português (PM). Comentário crítico à missão civilizatória portuguesa, o
título, de conotação ambígua, burla, de início, o leitor.
A questão não é a língua, mas a dominação:
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido o português
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b) “Manifesto Antropófago”
– “valoriza o homem natural e rejeita a moral cristã, cognominada moral escrava”.
– Propõe uma negação da realidade opressora em favor de uma realidade sem complexos e,
conse- quentemente, sem penitências”.
Abaporu (1928), óleo sobre tela de Tarsila do Amaral:
sem paranóia, não escapa à mistificação.
–
Observe, mais uma vez, o comentário de Bina Maltz acerca da Antropofagia:
“Se o Modernismo renovou a linguagem poética como nunca até então, renovação que não afetou
apenas a poesia mas o modo de traduzir artisticamente o Brasil, a Antropofagia de Oswald, nesse sentido,
foi esteticamente radical.
Se o Modernismo logrou encurtar a distância entre a linguagem oral e a escrita e instituir do ponto
de vista temático o progresso, a velocidade e a banalidade cotidiana da vida moderna, expressos
numa linguagem fragmentária, de estilo enxuto, telegráfico, a Antropofagia de Oswald, afinada com esta
postura, operou com máxima ousadia o ultraje da pompa retórica e da sacralização dos temas
acadêmicos que a cultura importada garantia até 22.
Se o Modernismo abriu as portas à pesquisa literária, a Antropofagia de Oswald saiu em sua
defesa com um incansável experimentalismo, irreverência e humor crítico.
Se o Modernismo da primeira hora inaugurou uma insubordinação poética calcada na sanha
destrutiva como uma arma de luta, a Antropofagia de Oswald foi mais longe. Buscou destruir não só a
linguagem e os temas passadistas, mas o discurso do poder do colonizador, estendendo-se a
postulações filosóficas, antropológicas e sociológicas que procuravam reverter a mentalidade e a
organização social do Brasil da época. As teses do primitivismo e do matriarca do estão na essência
dessa atitude. E a piada, a paródia, o chiste, o riso carnavalizante foram a munição de sua sátira
combativa.”
CORRENTE DINAMISTA

Preocupa-se com o progresso material, com a técnica do mundo moderno, com o movimento, a
velocidade (lembrou do futurismo?)
 Principais expoentes: Graça Aranha (aquele que rompeu com a Academia!), Guilherme de Almeida
e Villa-Lobos (chocou a SAM!)
CORRENTE NACIONALISTA
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A corrente nacionalista desdobra-se em três outros movimentos.
“Verde-amarelo” (1926)
“Movimento da Anta (1927)
“Movimento da Bandeira” (1936)
O nacionalismo ufanista.
O uso de motivos brasileiros: folclore, índios, nativos, antieuropeus.
Nomes importantes: Plínio Salgado, Cassiano Ricardo.
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CORRENTE ESPIRITUALISTA
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Manifestam-se em torno da revista Festa.
Herdeira do simbolismo, “propõe a universalização de temas, conciliação passado/futuro, defesa
da tradição e do mistério”.
 Nomes importantes: Cecília Meireles (vamos estudá-la posteriormente), Murilo Mendes (também
será estudado).
CORRENTE DESVAIRISTA
“Preocupações de liberdade referentes à pesquisa estética, à renovação da poesia e à criação de
uma ‘língua nacional”.
 Principal expoente: Mário de Andrade.
* Não podemos esquecer algumas importantes revistas: Estética, Revista do Brasil, Klaxon, etc.
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MODERNISMO
Primeira Fase: 1922 – 1930
FASE
Anárquica
Heroica
Destruidora
Demolidora
Situação Histórica
TRAÇOS MARCANTES
1. Vamos começar o nosso mergulho na primeira fase do Modernismo apreciando o comentário
do Professor Sergius Gonzaga em relação ao projeto dos modernistas de São Paulo:
DESINTEGRAÇÃO DA LINGUAGEM TRADICIONAL
Questiona-se toda a arte acadêmica, com suas fórmulas envelhecidas, a expressão gasta, a
linguagem convertida em clichês. O estilo parnasiano e o bacharelismo são os alvos prediletos dos
ataques modernizadores. Para efetivar tal destruição, usa-se a paródia, a piada, o sarcasmo. Os
romances Serafim Ponte Grande e Memórias sentimentais de João Miramar, de Oswald de Andrade,
levam essa prática às últimas consequências.
ADOCÃO DAS CONQUISTAS DAS VANGUAR-DAS
A liberdade de expressão, a visão amorosa e crítica do cotidiano, a linguagem coloquial e outras
inovações desenvolvidas pelas vanguardas europeias são assimiladas, ainda que desordenadamente,
pela Geração de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana
mostram essa preocupação com a contemporaneidade. Não tem fundamento, portanto, a afirmativa de
que os modernistas seriam antieuropeus. A identificação com as velhas matrizes culturais ainda é
evidente.
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BUSCA DA EXPRESSÃO NACIONAL
Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposição de máscaras africanas. Elas
parecem expressar toda a identidade dos povos negros da África. Nesse momento, Oswald se interroga:
“E nós, os brasileiros? Quem seríamos? Qual o nosso retrato? Alguma arte nos representaria tão
significativamente como aquelas máscaras? ”
Atrás dessas perguntas começava a delinear-se a luta por um abrasileiramento temático. O
nacionalismo surge no horizonte do grupo modernista apenas em 1924. Antes, as questões
fundamentais eram estéticas. A partir de agora, passam a ser ideológicas: vai se discutir o nacional e o
popular em nossa literatura. Sonha-se com a delimitação de uma cultura brasileira, de uma alma verdeamarela.
2. Ruptura com o passado, antipassadismo irônico, agressivo, iconoclasta, linguagem coloquial:
“A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os
erros.”
VÍCIO NA FALA:
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
(Oswald de Andrade)
(SEM TÍTULO)
Nossa época é, materialmente, superior a qualquer outra. Mas isso não nos importa. Em arte não
há progresso. O progresso só existe para as coisas materiais e na bandeira brasileira.
Os escritores modernos não escrevem melhor do que Machado de Assis. Os poetas de hoje não
são superiores a Bilac ou Antero de Quental. Igualar Bernardes ou Racine não tem a mínima
importância. O que importa para o artista moderno é traduzir nossa época e sua personalidade. O
resto é literatura.
É um erro pensar que os modernos condenam os clássicos, os românticos e todos os passadistas.
Bilac, Castro Alves, Gonçalves Dias foram grandes poetas. Escreveram obras românticas e
parnasianas no tempo do Romantismo e do Parnasianismo. Fizeram muito bem.
FORAM MODERNOS
O ridículo é um poeta acreditar em soneto e em alexandrinos neste glorioso ano do Centenário da
Independência. Se um indivíduo andasse hoje passeando pelas ruas do Triângulo, vestido à moda de
D. João VI, o simpático guarda civil da Praça Antônio Prado prenderia o “louco”, confirmando a fama da
nossa Força Pública, a melhor do mundo.
O leito é com certeza poa de família. Se não é, já foi, ou será, é fatal. Logo deve possuir essa
coisa ridícula e perfeitamente inútil: a experiência. E, portanto, deve sacudir a cabeça: “Qual! Tudo isso
passa!”. Não pense o leitor filosófico que disse uma grande novidade. Isso já foi dito por Vítor Hugo, que o
leitor tanto admira, e muito melhor, em versos: “Tout passe, tout casse, tout lasse...”’.
Vítor Hugo tinha razão. A prova é que ele cansou e passou. Felizmente. Um dia há de vir em que os
nossos artistas serão considerados passadistas. Assim o quer o destino sublime da humanidade,
Fênix multicor que morre para renascer mais fulgurante e morrer ainda e renascer sempre. E, quando os
artistas de amanhã vencerem todos os artistas de hoje e olharem para estes com a tranquilidade de
quem não sofre de reumatismo, estou certo de que eles hão de respeitar alguns, como expressões
perfeitas da época em que viveram.
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Ninguém é dono do tempo. O leitor que tem cabelos brancos sabe disso melhor do que eu, que
não os tenho graças ao tempo.
O MODERNISMO EXISTE, é inútil revoltar-se. É um fato, como os aeroplanos, o bolchevismo, o
foxtrot, o jazzband. Ouço daqui seus protestos: “LOUCURA! IMORALIDADE!” Não grite tanto, por
favor; atrapalha minhas ideias.
(Rubens Borba de Morais Domingo dos Séculos.
Rio de Janeiro, Candeia Azul, 1924).
‘Tudo passa, tudo quebra, tudo cansa’, em francês.
3. P o s t u r a experimental – ânsia de liberdade estética:
a) Na estrutura
– Verso livre (“poesia não é verso”).
– Ritmos novos.
– Abandono da ordem intelectual ou lógica.
b) Na temática
– Integração nos problemas brasileiros.
– O cotidiano, contemporâneo, a modernolatria.
– Nacionalismo: crítico / acrítico
– Poema piada.
Principais Expoentes
OSWALD DE ANDRADE
(São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954)
“Como poucos, eu conheci as lutas e as tempestdes.
Como poucos, eu amei a palavra liberdade e por ela briguei”.
a) Numa obra singular “Poesia, Mito e história no Modernismo brasileiro”,
a crítica literária Vera Lúcia de Oliveira apresenta o irrequieto poeta
paulistano:
b) Obras
Poesia:
Pau-Brasil
Primeiro caderno do Aluno de Poesia Oswald de Andrade
Romance:
a) Os condenados
b) Memórias Sentimentais de João Miramar
c) Estrela de Absinto
d) Serafim Ponte Grande
e) A Escada Vermelha
f) Marco Zero (A Revolução Melancólica: Chão)
Teatro:
a) O Homem e o Cavalo
b) A Morta
c) O Rei da Vela
Ensaios:
a) Ponta de Lança
b) A Arcádia e a Inconfidência
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ANALISE DE TEXTOS:
Texto I: Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Na Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade)
Comente:
O tratamento dado à gramática.
A influência futurista no poema.
Características modernista
Texto II: Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E perguntou pro guarani da mata virgem
Sois cristão?
Não, sou bravo, sou forte, sou filho
da Morte Teretê tetê Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava
Uu! Uu! Uu! O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá
Cum Cum! E fizeram o
Carnaval.
Comente:
A postura do poeta ao fazer referência às três raças.
O significado da palavra carnaval na visão do poeta.
O verso 4 – qual a intenção do poeta.
O título do poema, relacionando-o com o conteúdo do poema e o efeito musical do texto.
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Texto III: Erro de Português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
MÁRIO DE ANDRADE
(São Paulo, 9 de outubro de 1893 — São Paulo, 25 de fevereiro de 1945)
“Um povo que desconhece suas raízes, seu folclore, suas tradições estão
fadadas ao perpétuo subdesenvolvimento cultural”.
O AUTOR E SUA OBRA
Poesia: “Há uma gota de sangue em cada Poema (1917)
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Influência parnasiano-simbolista, prenúncios de renovação.
“Pauliceia Desvairada”, (1922):
Rompe com o passado, dando início ao Modernismo.
O poeta liberta-se da métrica tradicional e da rima.
Preocupa-se em “destruir” a estética do passado e causar escândalo.
EU SOU TREZENTOS...
E sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
As sensações renascem de si mesmas sem repouso,
Óh espelhos, ôh! Pirineus! ôh caiçaras!
Si um deus morrer, irei no Piauí buscar outro!
Abraço no meu leito as milhores palavras,
E os suspiros que dou são violinos alheios;
Eu piso a terra como quem descobre a furto
Nas esquinas, nos táxis, nas camarinhas seus
[próprios beijos!
Eu sou trezentos, sou trezentos-e-cincoenta,
Mas um dia afinal eu toparei comigo...
Tenhamos paciência, andorinhas curtas,
Só o esquecimento é que condensa,
E então minha alma servirá de abrigo
(In: LAFETÁ, João Luis. Mário de Andrade São Paulo, Abril Educação. 1982.
Coleção Literatura Comentada)
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PROSA
“Amar, verbo Intransitivo”
Amar Verbo Intransitivo é prosa experimental e metalinguística voltada para a construção da
identidade da nação para uma abordagem da relação amorosa em sua intransitividade, em seus
elementos complexos, de fundo psicológico, destacando-se a especificidade da alma feminina.
O núcleo da narrativa é o idílio, a história de amor, a descoberta do amor, sua prática pelo jovem
aluno e Fraulein revistando sua pedagogia e seu sonho, afeiçoando-se, mais do que desejava, a Carlos,
sem esquecer, entretanto, a intransitividade do verbo amar...
Telê Porto Ancona Lopez,
“uma Difícil Conjugação “,
estudo introdutório de Amal;
Verbo Intransitivo, de Mário de Andrade.
MACUNAÍMA
A obra sob vários prismas
a) Macunaíma, o “herói de nossa gente”, é a personagem configurada com pedaços do Brasil. Mário
“refocila com gosto nas coisas bárbaras do mulatismo e do indigenismo mais selvático e
fuzarqueiro e escreve” um livro no qual acumula um despropósito de lendas, superstições, frases
feitas, provérbios e modismos de linguagem, tudo sistematizado e intencionalmente entretecido,
feito um quadro de triângulos coloridos em que os pedaços, aparentemente juntados ao acaso,
delineiam em conjunto a paisagem do Brasil e a figura do brasileiro comum. “O herói sem nenhum
caráter” “visa a personificar a falta de caráter, o caos de moralidade e pitoresco do jovem Brasil,
herdeiro ladino, mas ignorante, de todas as ideologias, de todas as culturas, de todos os instintos,
de todos os costumes e música de diversas raças”. Macunaíma deixou, certa vez, a consciência
na ilha de Marapatá; mas, quando foi buscá-la e não a achou, “pegou na consciência de um
hispano-americano, botou na cabeça, se deu muito bem da mesma forma.” Esta gratuidade moral
é um problema que o autor não abandona e ao qual ele chama “o meu obsessionante problema”
do “sem nenhum caráter, que me persegue em nós”.
(Afrânio Coutinho)
b) Macunaíma é a mais expressiva obra em prosa da geração de 22. Apesar de ser classificada
como um romance, Mário de Andrade a definiu corno uma “rapsódia”, termo que em música
classifica as peças compostas com base na improvisação, de inspiração em cantos populares e
tradicionais.
O título foi retirado do texto “Makunaima und Pia”, contido na obra Indianern arehen aus
Südamerika, do etnólogo, alemão Theodor Koch-Grünberg, que foi a principal fonte de elementos
da cultura indígena para Mário.
Em carta ao Professor Sousa da Silveira, datada de 26 de abril de 1935, Mário de Andrade
esboça uma síntese do espírito dessa rapsódia “Um poema heroicômico, caçoando do ser
psicológico brasileiro, fixado numa figura de lenda, à maneira mística dos poemas tradicionais. O
real e o fantástico fundidos num plano. O símbolo, a sátira e a fantasia livre fundidos. Ausência de
regionalismo pela fusão das características regio- nais. Um Brasil só e um herói só.”
(LOPEZ, Telê Porto Ancona. In Macunaima: A Margem e o texto.
São Paulo, Hucitec -SCET.CET, 1974.)
Como um mito de libertação do inconsciente coletivo, Macunaíma é uma personagem que se
metamorfoseia de acordo com as necessidades e circunstâncias, sem apresentar um caráter definido.
Ele pode também simbolizar uma síntese da cultura e da mentalidade brasileiras, que não têm uma
linha precisa de resistência, sendo uma mescla de influências.
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Nessa rapsódia, Mário enfeixa lendas e mitos indígenas, piadas, ditos populares levados à ação ao
pé da letra, expressões, rituais extraídos do Brasil e do mundo primitivo sul-americano, que vão se
sobrepondo ou alternando num fluxo caleidoscópico.
Embora Macunaíma – o herói sem nenhum caráter tenha sido escrito antes da articulação do
movimento antropófago por Oswald de Andrade, tem em comum com aquele movimento a evocação às
raízes primitivas brasileiras e o nacionalismo crítico.
(Oliveira, Cleuir Be/Jezi de, Arte literária brasileira.” Clenir Beilezi de Oliveira – SP Moderna 2000.)
Personagens
O MACUNAÍMA
“Era o herói inteligente, que vivia deitado, “espiando o trabalho dos outros”. Mas, “si” punha os olhos
em dinheiro, “dandava pra ganhar vintém” Oportunista e acomodatício, desconhecia o espírito de luta e
sacrifício: “não pagava a pena brigar”. E ia fazendo uma “coleção de palavras feias de que gostava
tanto... “Na macumba que o herói frequentava, o “çairê pra saudar os santos” tinha na ponta o ogã, “um
negrão filho de Ogum, bexiguento e fadista de profissão, se chamando Olelê Rui Barbosa”. E na
procissão que acom- panhava aquela reza em melopeia entorpecente, “seguiam advogados taifeiros
curandeiros poetas o herói gatunos por- tugas senadores, todas essas gentes dançando e cantando a
resposta da reza”: – Vamos sa-ra-vá!”
(Afrânio Coutinho)
“Cavalcanti Proença explica-o como o herói excepcional da literatura popular, aquele herói que ‘não
tem preconceitos’, não se cinge à moral de uma época e concentra em si próprio todas as virtudes e
defeitos que nunca se encontram reunidos em um único inimigo. ”
“Herói síntese, folclórico, à antiga, como entendeu o seu próprio criador: criador do ciclo americano,
urna força pura da cosmografia pré-colombiana, cujas dimensões excedem a realidade. Tanto “está fora
do bem e do mal como transcende o espaço e o tempo. ”
“O herói é marcado pela preguiça pela astúcia, pela fantasia, pelo erotismo, pela magia. São traços
que trafegam por todo o romance, conduzindo duas acepções – a satírica, ou o anti-herói, e a trágica, o
herói. Na trágica firma-se a solidão de quem transgride tabus ou abala certezas instituídas. ”
Jiguê – Irmão que está na força de homem, mas tonto o suficiente para Macunaíma estar sempre
lhe passando a perna e, principalmente, roubando suas mulheres. Jiguê fica mulato, cor de bronze,
quando toma banho na água milagrosa.
Maanape – Irmão já velhinho, mas feiticeiro, esperto. É ele quem consegue converter o cacau em
dinheiro na Bolsa de Mercadorias.
Ci – Também cognominada Mãe do Mato, uma amazona, como indica o fato de só ter um seio (o
outro fora arrancado), que tanto gosta de guerrear quanto de fazer amor, chegando a exaurir
Macunaíma, que até dorme no meio da relação, sobe para o céu e vira a estrela Reta do Centauro.
Vencesiau Pietro Pietra – É o gigante Piaimã pés virados para trás (Caipora), disfarçado de
comerciante peruano com grandes bigodes, mas não consegue enganar o herói, que lhe dá fim,
afogando-o numa macarronada. Mas o antagonista morre com graça, dizendo que está faltando queijo.
Safará – Mulher de Jiguê ainda nos tempos da infância de Macunaíma, às margens do Uraricoera.
Era ela que levava o menino para passear no mato e voltava cansada, dizendo que era de carregar o
piá nas costas. Até que não era uma mentira tão grande.
Íriquí – Outra mulher de Jiguê, conseguida em São Paulo. Era linda e gostava muito de se pintar,
mas tinha muito piolho. Também brincava com o herói, fazendo Jiguê de bobo.
(Geraldo Chacon)
Mário escreveu também o Ensaio: A Escrava que não é Isaura (1925): teoria poética do
Modernismo.
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Você Sabia?
Mário de Andrade foi considerado o “Papa do Modernismo”. O movimento muito lhe deve
pelo que contribuiu na teoria e na prática para divulgar a escola e enobrecê-la, e por sua atuação
na SAM.
Foi polígrafo, diversificou sua atividade entre a poesia, a ficção, a crítica literária, o folclore e
a musicologia. E por falar em música, você não pode desconhecer o grande Villa-Lobos
(Participante da SAM – informação retirada do livro Cultura e elegância – organização Jaime
Pinsky; SP. Ed. Contexto 2005)
“Villa-Lobos foi o grande nome da música brasileira no século XX, sendo o artista nacional
mais prestigiado no exterior. Criando uma espécie de diálogo entre a matéria-prima fornecida por
nossas raízes culturais e o sofisticado know how da música europeia, apresentou tanto uma
visão crítica de nosso folclore quanto dos principais valores da música ocidental”.
Cultura e Elegância Organização Jaime Pinaky; SP. Ed. Contexto 2005.
MANUEL BANDEIRA
(Recife, 19 de abril de 1886 - Rio de janeiro, 13 de ou- tubro de 1968)
“Mas ao mesmo tempo compreendi, ainda antes de conhecer a
lição de Mallarmé, que em literatura a poesia está nas palavras, se
faz com palavras e não com ideias e sentimentos (...)
Itinerário de Pasárgada
“Não faço poesia quando quero e sim quando ela, poesia, quer.”
Traços marcantes:
 Bandeira é um clássico-moderno da literatura brasileira e um dos
melhores poetas da língua portuguesa.
 O mestre do verso livre, lirismo comparável ao de Gonçalves Dias.
Temas mais frequentes e poemas emblemáticos
1. Presença da morte (Bandeira era tuberculoso) solidão e evocação da infância – escapismo, fuga:
TEXTO I
VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana, a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
12
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Comente:
 A caracterização de Pasárgada como um refúgio para o poeta.
 O escapismo do eu-lírico manifestado no poema.
 Aspecto biográfico e lirismo.
 Modernismo/romantismo.
Os poemas de Bandeira nascem e crescem dos acontecimentos mais cotidianos, mais comuns, dos
momentos que aparentemente são banais e insignificantes. Do dia a dia mais despercebido
desentranha sua poesia, em que instantes da existência aparecem transfigurados em pura
essencialidade da vida.

Simplicidade, musicalidade, ternura ardente, paixão pela vida, poesia confidencial, une o
lirismo intimista
– ao registro do espetáculo da vida:
13
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
TEXTO II
DESENCANTO
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
Teresópolis, 1912 - A cinza das horas
TEXTO III
PNEUMOTÓRAX
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturno.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três... trinta e três.... trinta e três...
— Respire.
.....................................................................................
O Senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(M. Bandeira – Libertinagem)
 A tristeza na sua obra não toma uma direção crepuscular, nostálgica, lamentosa ou doentia.
 “Houve uma conciliação entre um velho, lúcido e pessimista (ele viveu mais de 80 anos!), e um
menino, instintivo e apaixonado pela vida. E é este menino-habitante do poeta que esquadrinha
os horizontes do cotidiano, que descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em pobres
quartos dehotel e que, finalmente, concede extraordinária força vital ao texto poético”.
O amor também aparece muito na poesia desse pernambucano:
TEXTO IV
MENINOS CARVOEIROS
Os meninos carvoeiros
Passam a caminho da cidade.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Eh, carvoeiro!
E vão tocando os animais com um relho enorme.
Os burros são magrinhos e velhos.
Cada um leva seis sacos de carvão de lenha.
A aniagem é toda remendada.
Os carvões caem.
(Pela boca da noite vem uma velhinha que recolhe, dobrando-se com um gemido.)
Eh, carvoeiro!
Só mesmo estas crianças raquíticas
Vão bem com estes burrinhos descadeirados.
A madrugada ingênua parece feita para eles...
Pequenina, ingênua miséria!
Adoráveis carvoeirinhos que trabalhais como brincásseis!
Eh, carvoeiro!
Quando voltam, vêm mordendo num pão encarvoado,
Encarapitados nas alimárias,
Apostando corrida,
Dançando, bamboleando nas cangalhas como espantalhos desamparados!
Petrópolis, 1921. O ritmo dissoluto
TEXTO V
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Belo Belo)
15
COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Atenção:
Em relação a este fantástico poema (observe o mundo ao seu redor: tanta dor miséria...), o
ensaísta Emanuel de Moraes fez uma ponderação muito importante:
“O sofrimento que transmite em seu poema não é o do homem; mas o do poeta, ele mesmo. E
apenas o revela.
Não consigna o seu protesto. Não investe contra a miséria, nem contra as classes dominantes. O
poeta sofre por ver tão rebaixada a condição do homem, mas sofre do mesmo modo como sofrera em
tantas outras ocasiões em que os fatos só tinham relação consigo mesmo. O próprio Bandeira, aliás,
referiu-se por diversas vezes à sua condição de poeta menor, como seria o caso, entre outras, desta
passagem pertencente ao Itinerário de Pasárgada: Sim, sou sofrivelmente um poeta lírico: porque não
pude ser outra coisa, perdoai...”
A professora Clenir Bellezi fez uma síntese das “fases” da poesia de Bandeira; acompanhe:
1a fase: Pós-simbolista – “Cinza das horas” “Carnaval” e “Ritmo Dissoluto”
2a fase: Modernista – “Libertinagem” e “Estrela da Manhã”
3a fase: Pós-Modernista – “Lira dos Cinqüenta anos”
Atenção:
Outros autores importantes produziram obras significantes, mas não permaneceram em grande
evidência como Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Manuel Bandeira.
CASSIANO RICARDO
(São José dos Campos, 26 de julho de 1895 — Rio de Janeiro, 14 de janeiro de 1974)
Personalidade plástica
Deixou uma obra marcada pelas tendências de seu tempo. Não deixou um estilo que pudesse ser
chamado de seu.
Suas fases:
1a fase – adotou o neossimbolismo de nossa Belle Époque: “dentro da Noite” (1915). Em 1917,
ajusta-se ao rigor parnasiano de Alberto de Oliveira: “A Frauta de Pã”.
2a fase – aliou-se ao Grupo Verde-Amarelo (Lembra de Plínio Salgado?) e produziu obras
ufanistas. Cultivou temas autenticamente brasileiros: folclore, fauna, flora, contribuição indígena, o
arranha-céu, etc. Obras: “Vamos caçar papagaios”, “Martim Cererê”. Como bem atesta A. Medina
Rodrigues:
“Martin Cererê tem sido considerado o livro capital da fase nacionalista de Cassiano Ricardo. É
constituído por poemas de ritmo e forma vária, em que se glosa um argumento previamente exposto em
prosa poética, de cujo entendimento depende a conexão entre as partes. Não se pode, por isso, falar
em poema narrativo, como tem sido abordado. É apenas uma versão modernista (ou antes –“verdeamarela”) da lenda do surgimento da noite e do desenvolvimento do Brasil: o índio Aimberê apaixona-se
pela Uiara. Da mesma forma, com o marinheiro branco Martim. Como dote, a noiva exige de ambos a
noite. Aimberê é enganado pela Cobra Grande, e Martim vê a África buscar-lhe a noite, que são os
escravos negros. Da união, surgem os bandeirantes que desbravam os sertões até a construção de São
Paulo dos arranha-céus. A crítica tem realçado nesta obra a natureza épica. Seria melhor falar em matiz
(esbatido e anêmico) de intenção épica.”
Ele reconstrói poeticamente a formação histórica e social do Brasil, desde o descobrimento até o
progresso de São Paulo, com o café, as indústrias e os imigrantes, ressaltando contribuição do índio, do
negro e do branco na constituição do povo brasileiro.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
3a fase – com o advento da geração de 45, ele capricha no apuro e faz poesia participante.
Tematiza o “cotidiano com seus dramas, inquietações e aniquilamento do ser no turbilhão dos
acontecimentos previsíveis, mas inevitáveis, a rotina, a enervante rotina que pesa e adere
pegajosamente”.
4a fase – defende as vanguardas contemporâneas: Concretismo e Poesia Prática.
*Obs: “Sua poesia é a expressão viva e contundente do homem inserido no mecanismo da cidade
de São Paulo”.
ALCÂNTARA MACHADO
– “O cotidiano de São Paulo”.





A linguagem cinematográfica
Foi redator e colaborador das revistas Terra Roxa
e Outras Terras, da Antropofagia e da revista Nova.
Prosador experimental, linguagem leve, coloquial, telegráfica, elíptica, flashes e cortes.
O espaço que ele enfoca é dos imigrantes italianos: “Brás, Bexiga e Barra Funda” (obra importante!).
Identificou-se com a alma popular. Mostrou imigrante pobre de São Paulo, gente do proletariado, da
pequena burguesia.
Obra de importância documental
Outros nomes importantes dessa fase: Menotti del Pic- chia, Guilherme de Almeida, Raul Bopp
(“Cobra Norato”).
Questões de Sala
01. Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos, motores, chaminés
de fábrica, sangue, velocidade, sonho, na nossa arte. E que o rufo de um automóvel, nos trilhos de
dois versos, espante da poesia o último deus homérico.
O assunto e o tom do trecho indicam tratar-se de uma conferência proferida por um:
a)
b)
c)
d)
e)
um eloquente poeta da última geração romântica.
poeta representativo dos ideais da Geração de 45.
indignado poeta parnasiano, no fim do século XIX.
defensor da literatura regionalista no começo do século XX.
participante da Semana de Arte Moderna de 22.
02. TEREZA
A primeira vez que vi Tereza
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna.
Quando vi Tereza de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse.
Da terceira vez não vi mais nada Os céus se misturaram com a Terra
E o espírito de deus voltou a se mover sobre a face das águas.
(Manuel Bandeira)
O poema desenvolve uma sátira à concepção romântica da beleza feminina. Trata-se de uma
paródia, por imitar, de forma satírica, uma composição romântica de Castro Alves. A partir da análise do
poema, pode-se concluir que:
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
a) como poema-piada, o texto constitui uma arma utilizada pelos modernistas contra a tradição
cultural.
b) apesar de seu caráter irreverente, o poema não assimila recursos das composições em prosa.
c) o verso livre acentua o formalismo configurado no poema.
d) a preocupação principal do poeta é a demarcação do seu espírito politicamente engajado.
e) apesar do seu caráter não panfletário, o poema expõe as influências do condoreirismo de Castro
Alves.
03. Na feira-livre do arrabaldezinho
Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor! O melhor divertimento para as crianças!
Em redor dele há um ajuntamento de menininhos pobres, Fitando com olhos muito redondos os
grandes balõezinhos
[muito redondos!
A primeira geração modernista rompeu com os tabus artísticos e com as subordinações acadêmicas.
Após a análise do poema, pode-se concluir acerca do aspecto formal do texto que houve:
a)
b)
c)
d)
e)
uma mudança na abordagem temática, confirmada pela presença poética do cotidiano vulgar.
uma busca da visão fotográfica da realidade, associada a uma linguagem mais polida.
a libertação do passado formal, através da eloquência e espontaneidade dos versos apresentados.
a preocupação em enaltecer uma arte conservadora, desprovida de qualquer liberdade poética.
uma fusão dos valores atuais com a literatura passadista.
04. O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem tua pureza, nem tua impureza.
O que eu adoro em ti lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
A estrofe acima é um exemplo do traço __________ e de ____________ que existe na obra de
Manuel Bandeira.
a) rebeldia – ódio pela vida.
b) melancolia – indiferença pelo mundo.
c) ternura – paixão pela existência.
d) saudade – medo ao cotidiano.
e) amargura – conformismo com o destino.
05. A seguir, lê-se o exceto de um manifesto que serve, também, de apresentação para a revista Festa
“A arte é sempre a primeira que fala para anunciar o que virá. (...)
O artista voltou a ter os olhos adolescentes e encantou-se novamente com a Vida: Todos os Homens o
Acompanharão!”
Com base nesse trecho, podemos dizer que, para o grupo Festa, o poeta:
a) é um gênio, porque para ele a vida não tem mistério; daí a possibilidade que tem de dominar o
público e impor a ele suas verdades.
b) é um ser superdotado que, rompendo a ligação entre os homens e os deuses, torna-se o único mortal
a poder desvendar os mistérios da existência.
c) deve ser renovador e iconoclasta, além de um analista arguto do momento em que vive.
d) é profeta e precursor, sendo-lhe atribuída a capacidade de prever uma realidade futura e captar a
confiança dos que o ouvem.
e) é um ser extravagante e bizarro, dotado de originalidade elaborada e assumida como posse.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
06. Durante a década de 20, a proposta de total renovação, quanto a interesses e a concepções
teóricas acerca do fenômeno literário, apresentada pela Semana de Arte Moderna.
a) encontrou eco apenas no eixo Rio-São Paulo.
b) foi unanimemente aceita em todos os meios literários e intelectuais.
c) teve sua aceitação marcada pela publicação, em vários centros, de revistas ligadas e grupos regionais.
d) não foi aceita, pois só conseguiu realizar-se após 1930, no romance.
e) foi aceita apenas em Minas, como provam os grupos das revistas Verde e A Revista.
07. “Toda a história bandeirante é a história comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado
autores conhecidos. (...) Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as selvas
selvagens. O bacharel. Não podemos deixar de ser doutor. Doutores. País de dores anônimas, de
doutores anônimos. O Império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
...............................................................................................................................................................
Contra, o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros sem vez de jurisconsultos, perdidos
como chineses na genealogia das ideias. A língua sem arcaísmo, sem erudição. Natural e
neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.
...............................................................................................................................................................
A reação contra o assunto invasor, diverso da finalidade. A peça de tese era um arranjo
monstruoso. O romance de ideias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. (...)
Nossa época anuncia a volta ao sentido puro.”
(Manifesto da Poesia Pau-Brasil)
Oswald de Andrade é uma das figuras de destaque do modernismo brasileiro. Após a análise do
trecho acima, pode-se concluir que o escritor:
a) defendia um equilíbrio no uso das normas gramaticais.
b) não reagia ao processo de colonização mental que destrói os valores nacionais.
c) fazia a efesa de elementos primitivos e autênticos que dão uma identidade à nação.
d) defendia uma arte voltada para a conciliação de valores do passado com o presente e o futuro.
e) Valorizava uma arte comprometida com os problemas sociais e políticos brasileiros.
08. Sobre Mário de Andrade e a Semana de 22 (SAM), afirma-se:
a) a Semana desencadeou na cultura brasileira um período que Mário denominou orgia intelectual,
favorecida pelas mãos da burguesia culta do Rio de Janeiro e de São Paulo, da qual ele era um
representante.
b) apesar de estar em contato com as novas tendências das artes, Mário manteve-se fiel àqueles
que os modernistas chamaram de conservadores, em geral os parnasianos, dos quais sua obra
recebe influência decisiva.
c) Mário não tinha um projeto literário em que houvesse preocupação significativa com a cultura
nacional.
d) Mário de Andrade não participou da SAM e defendia uma poesia pura e rebuscada no aspecto
formal.
e) Mário de Andrade foi o maior músico da SAM.
09. A ênfase na realidade brasileira faz parte do projeto literário de Mário de Andrade, apresentando
como característica a:
a)
b)
c)
d)
e)
revelação literária da identidade nacional.
evocação determinista do povo brasileiro.
exaltação nativista da paisagem tropical.
descrição minuciosa do cenário local.
concepção idealista do tempo histórico.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
10. Mário de Andrade foi um dos que se destacaram na chamada “Fase de Destruição”. São
características do Modernismo de 1922, também chamado “fase heroica”.
a) espírito polêmico e destruidor, valorização poética do cotidiano, nacionalismo, busca
originalidade a qualquer preço.
b) temática ampla com preocupação filosófica, predomínio do romance regionalista, valorização
cotidiano, nacionalismo.
c) espírito polêmico, busca da originalidade, predomínio do romance psicológico, valorização
cidade e das máquinas.
d) visão futurista, espírito polêmico e destruidor, predomínio da prosa poética, valorização
cidade e das máquinas.
e) valorização poética do cotidiano, linguagem repleta de neologismos, nacionalismo e busca
poesia na natureza.
da
do
da
da
da
11. A respeito da obra “Macunaíma”, de Mário de Andrade, pode-se afirmar que é:
a) um romance linear, que narra a educação de um herói.
b) uma narrativa com tempo e espaço muito bem definidos.
c) uma colagem de motivos e narrativas de origem diversa.
d) um texto de linguagem extremamente erudita e formal.
e) um conto baseado na história de uma pessoa verdadeira.
Questões para Casa
Questões 01 a 03
O REBANHO
Oh! minhas alucinações!
vi os deputados, chapéus altos,
sob o pálio vesperal, feito de mangas-rosa,
saírem de mãos dadas do Congresso...
05
Como um possesso num acesso em meus aplausos
aos salvadores do meu Estado amado!...
Desciam inteligentes, de mãos dadas,
entre o trepidar dos táxis vascolejantes...
a rua Marechal Deodoro...
10
Oh! minhas alucinações!
Como um possesso num acesso em meus aplausos
aos heróis do meu Estado amado!
E as esperanças de ver tudo salvo!
15
20
25
Duas mil reformas, três projetos...
Emigram os futuros noturnos...
E verde, verde, verde! ... Oh! minhas alucinações!
Mas os deputados, chapéus altos,
Mudavam-se pouco a pouco em cabras!
Crescem-lhe os cornos, descem-lhes as barbinhas...
E vi que os chapéus altos do meu Estado amado,
com os triângulos de madeira no pescoço,
nas verdes esperanças, sob as franjas de oiro da tarde,
“se punham a pastar
rente ao palácio do senhor presidente...”
Oh! minhas alucinações.
(ANDRADE, Mário, In: PAULlCEIA DESVAIRADA .POESIAS COMPLETAS. São Paulo. Circulo do livro p.41)
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
01. São características da geração de 22 comprovadas com poema:
a)
b)
c)
d)
e)
liberdade formal e irreverência agressiva.
crítica agressiva aos valores estéticos do passado e nacionalismo crítico.
nacionalismo primitivista e postura antropofágica.
ironia e uso de termos de baixo calão.
incorporação sistemática da linguagem coloquial e crítica demolidora aos valores sociais da
burguesia.
02. Em suas “alucinações”, o poeta revela ora uma visão utópica, ora uma crítica da realidade concreta.
Assinale a alternativa em que a expressão transcrita se refere, respectivamente à visão utópica e à
visão crítica.
a) “salvadores do meu Estado” (v. 6)
– “Duas mil reformas” (v. 14)
b) “heróis do meu Estado amado’” (v. 12)
– “as esperanças de ver tudo salvo’” (v. 13)
c) ”Desciam, inteligentes, de mãos dadas” (v. 7)
– “Mudavam-se pouco a pouco em cabras’”(v. 19)
d) – “Mudavam-se pouco a pouco em cabras’”(v. 19)
– “se punham a pastarrente ao palácio do Senhor presidente” (v. 24-25)
e) “salvadores de meu Estado amado’” (v. 6)
– “Desciam, inteligentes, de mãos dadas” (v. 7)
03. triângulos de madeira” (v. 22) conota com:
a)
b)
c)
d)
e)
perfeição
alegria
passividade
“inteligentes”
“chapéus altos”
04. Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo,
porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
No momento de Antropofagia, de cujo Manifesto são exemplos os fragmentos anterior, Oswald de
Andrade.
a) instaurava um indianismo ufanista, que via nos primitivos habitantes da terra as raízes da raça.
b) buscava na retomada do herói e mítico do indianismo romântico a afirmação dos postulados
nacionalistas de 22.
c) ressuscitava o mito do “bom selvagem” e contrapunha as culturas primitivas às civilizações
decadentes.
d) propunha a integração do índio – por ele apresentado como elemento de uma cultura
canibalesca – à cultura europeia.
e) criava um indianismo às avessas, o do “mau selvagem”, que devorava criticamente as
imposturas da civilização.
Questões 05 a 07
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
expediente protocolo e manifestações de
apreço ao Sr. Diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
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Módulo I
VILAS
dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras, sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções, sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos, sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador Político
Raquítico Sifilíico
De todo lirismo que capitula ao que quer que
seja fora de si mesmo,
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cosenos, secretário
do amante exemplar com cem modelos de
cartas e as diferentes maneiras de agradar
às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare
– Não quero saber do lirismo que não é libertação.
(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem – poemas de 1924 a 1930)
05. Após a análise do poema de Manuel Bandeira, um dos ícones da primeira geração modernista,
pode-se encontrar:
a)
b)
c)
d)
e)
valorização do passado e agressividade.
agressividade e antipassadismo.
antigramaticalismo e nacionalismo utópico
nacionalismo e formalismo
liberdade estética e temática político-social.
06. Considerando os versos “Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho
vernáculo de um vocábulo”, o eu lírico defende:
a)
b)
c)
d)
e)
a criação de poemas líricos não depende de consulta ao dicionário, mas, sim, do seu formalismo
o dicionário deve fazer parte do processo de criação de poemas líricos.
o uso do dicionário restringe a liberdade criativa dos poetas.
os poemas líricos precisam fruir, sem depender do significado vernacular das palavras.
os poemas líricos devem ser construídos a partir da liberdade de criação, mas com o auxílio do
dicionário.
07. Considerando a leitura integral do fragmento do texto de Manuel Bandeira, pode-se concluir que:
a) “Poética” apresenta uma estrutura predominantemente modernista.
b) o verso “Abaixo os puristas” discorda dos preceitos futuristas, mas concorda com a visão de
mundo surrealista.
c) os versos “Político / Raquítico / Sifílítico” apresentam rimas retomando a poética tradicional.
d) a expressão “lirismo funcionário público”, metaforicamente, caracteriza uma literatura rica pela
originalidade.
e) o verso “Estou farto do lirismo namorador” sugere a decepção amorosa do eu-lírico.
08. Após a análise do poema, pode-se inferir que:
a)
b)
c)
d)
e)
os versos relativizam a importância da inovação, voltando-se para a tradição literária.
os versos exprimem a adesão de Manuel Bandeira ao Modernismo, funcionando como um manifesto.
a proposta de construção do texto poético retoma os princípios adotados pelo Parnasianismo.
reflexões metalinguísticas e espirituais permeiam os versos desse poema.
o Modernismo manifesta-se, nesses versos, apenas no aspecto temático.
22
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
09. NOVA POÉTICA 19.05.1949
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito.
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
branco muito bem engomado, e na primeira
esquina passa um caminhão salpica-lhe
o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida.
O poema deve ser como a nódoa no brim.
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho
as estrelas alfas, as virgens cem por cento
e as amadas que envelheceram
sem maldade.
(BANDEIRA Manuel in: Belo Belo)
O poema de Manuel Bandeira explicita uma função humano-social da poesia. Da leitura do texto,
pode-se concluir:
a)
b)
c)
d)
e)
a afirmação da liberdade temática e as influências das vanguardas
o lirismo como expressão do mundo interior do homem.
a predominância de uma postura pessimista face à realidade.
o apego a temas subjetivos e lírico-amorosos.
a afirmação da poesia como forma de desalienar o homem e a aceitação do conceito de arte
engajada.
10. A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusitana
Nos versos, a intenção do poeta é:
a)
b)
c)
d)
e)
criticar os erros da língua, cometidos pelo povo brasileiro.
propor a aproximação entre a língua literária escrita e a língua falada pelo povo brasileiro.
ironizar a fala popular e sugerir a recuperação da língua por meio de formas lusitanas.
condenar os usos do povo e a atitude de macaquear a sintaxe lusitana.
mostrar a expressão linguística brasileira como decorrência natural da sintaxe lusitana.
11. Texto A
(...) Eles porém contudo andam muito bem curados e muito limpos e naquilo me parece ainda mais
bem que são como aves ou alimárias monteses que lhes faz o ar melhor pena e melhor cabelo
que as mansas, porque os corpos seus são tão limpos e tão gordos e tão fremosos que não
pode mais crer.
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Módulo I
VILAS
Texto B
A Dança dos Tapuias, Albert Eckhout (1610-1655)
Texto C
AS MENINAS DA GARE
Eram três ou quatro moças
Bem moças e bem gentis
Com cabelos mui pretos pelas espáduas
E suas vergonhas tão altas e tão saradinhas
Que de nós as muito bem olharmos
Não tínhamos nenhuma vergonha.
(Oswald de Andrade)
* Gare – estação de trem em São Paulo.
Analise a relação intertextual e responda de forma coerente:
a) os textos estabelecem uma aproximação temática, a partir da exposição desmoralizante dos
hábitos de nudez dos selvagens.
b) o texto C estabelece um diálogo com a Carta de Pêro Vaz de Caminha, desconstruindo seu
contexto histórico, ao localizar a situação de nudez numa estação de trem.
c) o texto B expressa uma visão imagética e animalesca que difere radicalmente da proposta da
Carta, ao retratar o autóctone em sua essência.
d) os textos ironizam a construção histórica do povo brasileiro, a partir de marcas e impressões
evidenciadas pela nudez como algo grotesco.
e) os textos constatam a ideologia etnocêntrica do colonizador.
Questões 12 e 13
BRASIL
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— TeterêtetêQuizáQuizáQuecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu! O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhem Babá Canhem Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
(Oswald de Andrade)
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Módulo I
VILAS
12. O texto apresenta uma versão humorística da formação do Brasil, mostrando-a como uma junção
de elementos diferentes.
Considerando-se esse aspecto, é correto afirmar que a visão apresentada pelo texto é:
a) ambígua, pois tanto aponta o caráter desconjuntado da formação nacional, quanto parece
sugerir que esse processo, apesar de tudo, acaba bem.
b) inovadora, pois mostra que as três raças formadoras – portugueses, negros e índios – pouco
contribuíram para a formação da identidade brasileira.
c) moralizante, na medida em que aponta a precariedade da formação cristã do Brasil como causa
da predominância de elementos primitivos e pagãos.
d) preconceituosa, pois critica tanto índios quanto negros, representando de modo positivo apenas
o elemento europeu, vindo com as caravelas.
e) negativa, pois retrata a formação do Brasil como incoerente e defeituosa, resultando em anarquia
e falta de seriedade.
13. A polifonia, variedade de vozes, presente no poema resulta da manifestação do:
a)
b)
c)
d)
e)
poeta e do colonizador apenas.
colonizador e do negro apenas.
negro e do índio apenas.
colonizador, do poeta e do negro apenas.
poeta, do colonizador, do índio e do negro.
14. (UFC) Macunaíma – obra-prima de Mário de Andrade – é um dos livros que melhor representa a
produção literária brasileira do século XX. Sua principal característica é:
a) traçar, como no Romantismo, o perfil do índio brasileiro como protótipo das virtudes nacionais.
b) ser um livro em que se encontram representados os princípios que orientam o movimento
modernista de 22, dentre os quais o fundamental é a aproximação da literatura à música.
c) analisar, de modo sistemático, as inúmeras variações sociais e regionais da língua portuguesa
no Brasil, destacando em especial o tupi-guarani.
d) ser um texto em que o autor subverter, na linguagem literária, os padrões vigentes, ao fazer
conviver, sem respeitar limites geográficos, formas linguísticas oriundas das mais diversas
partes do Brasil.
e) exaltar, de forma especial, a cultura popular regional, particularmente a representativa do Norte e
Nordeste brasileiro.
15. (UNIJUÍ) A afirmação dos elementos locais, do Brasil, estão presentes em Macunaíma, de Mário de
Andrade.
Sobre o livro, é incorreto afirmar que:
a) Macunaíma é um “anti-herói”, com características como o individualismo e a malandragem.
b) O livro aproveita as tradições míticas dos índios; seus irmãos são Maanape e Jiguê.
c) Aproveita também ditados populares, obscenidades, frases feitas, com fortes traços de
oralidades;
d) O livro foi chamado de rapsódia e é uma obra central do movimento modernista.
e) O livro não satiriza certos padrões de escrita acadêmica e não trabalha elementos de um
“caráter” brasileiro.
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Módulo I
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Questões Complementares
Questões 01 e 02
Leia os textos seguintes, de Oswald de Andrade, extraídos de Poesias reunidas (Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1978).
I
Vício na fala
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhado
Pronominais
Dê-me um cigarro Diz a gramática
Do professor e do aluno E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco Da Nação brasileira
Dizem todos os dias Deixa disso camarada Me dá um cigarro
01. (ITA-SP) Esses poemas:
I.
mostram claramente a preocupação dos modernistas com a construção de uma literatura que
levasse em conta o Português brasileiro.
II. mostram que as variantes linguísticas, ligadas a diferenças socioeconômicas, são todas válidas.
III. expõem a maneira cômica com que os modernistas, por vezes, tratavam de assuntos sérios.
IV. possuem uma preocupação nacionalista, ainda que não propriamente romântica.
Estão corretas as afirmações:
a)
b)
c)
d)
e)
l e IV.
l, II e III.
l, II e IV.
l, III e IV.
todas.
02. No poema (I) , Oswald de Andrade, de acordo com a tendência do Modernismo de 1922, rompeu
com a lingua- gem tradicionalmente usada pelos acadêmicos. Dentre os recursos usados na
elaboração do texto, está o uso de:
a) determinadas variedades linguísticas, que são manifestações aceitas e legitimadas pela tradição
cultural brasileira.
b) expressões linguísticas inseridas no registro mais formal da língua.
c) expressões linguísticas e vocabulário próprios do espaço social nordestino.
d) linguagem regionalista, mostrando fidelidade ao vocabulário do paulistano.
e) uma linguagem que rompe com a norma culta e tradicional da língua portuguesa, adaptada pelo
povo, que é o responsável pela construção do país.
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03. (FEI-SP) Assinale a afirmação incorreta quanto aos princípios básicos divulgados pelos
participantes da Semana de Arte Moderna:
a) Desejo de expressão livre e a tendência para transmitir, sem os embelezamentos tradicionais do
acade- micismo, a emoção e a realidade do país.
b) Rejeição dos padrões portugueses, buscando uma expressão mais coloquial, próxima do falar
brasileiro.
c) Combate a tudo que indicasse o status quo, o conhecido.
d) Manutenção da temática simbolista e parnasiana.
e) Valorização do prosaico e do humor, que, em todas as suas gamas, lavou e purificou a
atmosfera sobrecarregada pelos acadêmicos.
04. Leia as afirmações a seguir:
I. A Semana de Arte Moderna foi realizada em 1922, ano em que o Brasil comemorava o
centenário da Independência. Assim, os realizadores deixaram uma pergunta no ar: “O Brasil é
mesmo independente?!”.
II. Vários foram os eventos que antecederam a Semana de 1922, dentre eles as exposições de
Anita Malfatti e Lasar Segall, adeptos das vanguardas europeias.
III. Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Cassiano Ricardo, Raul Bopp e Menotti del Picchia
foram alguns dos participantes da Semana de 1922.
IV. O objetivo central da Semana de 1922 era romper definitivamente com o passado e criar uma
arte nova e independente.
V. A Semana de 1922 foi realizada nas noites dos dias 13, 15 e 17 de fevereiro nas dependências
do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. A música, a escultura e a arquitetura foram
representadas, respectivamente, por Heitor VilIa-Lobos, Victor Brecheret e Antônio Moya.
Estão corretas as afirmações:
a)
b)
c)
d)
e)
l, III, V.
II e III somente.
I, II, III e IV.
II, III e V.
III, IV e V.
05. Canto de regresso à Pátria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase tem mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
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Módulo I
VILAS
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte pra São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo
(ANDRADE, O. Caderno de poesias do aluno Oswald.
São Paulo: Círculo do Livro. s/d)
Os elementos formais e temáticos relacionados ao contexto cultural do Modernismo encontrados no
poema Canto de regresso à Pátria, de Oswald de Andrade , são:
a)
b)
c)
d)
a opção pela abordagem, em linguagem simples e direta, de temas filosóficos.
a prevalência do lirismo amoroso e intimista em relação à temática nacionalista.
o refinamento estético da forma poética e o tratamento metafísico de temas nacionais.
a evidente preocupação do eu-lírico com a realidade social expressa em imagens poéticas
inovadoras
e) a abordagem do tema da nação, de forma simples, mas sem perder a visão crítica da realidade
brasileira.
06. MODINHA DO EXÍLIO
Os moinhos têm palmeiras
Onde canta o sabiá,
Não são artes feiticeiras!
Por toda parte onde eu vá,
Mar e terras estrangeiras,
posso ver mesmo as palmeiras
Em que ele cantando está.
Meu sabiá das palmeiras
Canta aqui melhor que lá.
Mas, em terras estrangeiras,
E por tristezas de cá,
Só à noite e às sextas-feiras.
Nada mais simples não há!
Canta modas brasileiras.
Canta – e que pena me da!
Ribeiro Couto
Pode-se afirmar sobre o poema de Ribeiro Couto que:
a) canta modas brasileiras só à noite e às sextas-feiras, porque as artes feiticeiras são praticadas
pelo eu lírico em seu exílio.
b) tem como objetivo expressar a depressão do eu lírico em terra estrangeira, mas também capta
os sentimentos do poeta durante o seu exílio.
c) tem como referência original o tema e a métrica da “Canção do exílio”, mas reelabora as
referências românticas com a linguagem modernista.
d) tem a finalidade de descrever detalhadamente os moinhos com palmeiras onde canta o sabiá,
conforme pregava o Realismo.
e) expressa a simplicidade da linguagem do eu lírico, que prefere cantar modinhas brasileiras no
exílio a retornar ao Brasil.
07. NAMORADOS
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
— Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo.
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Com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
— Você não sabe quando a gente é criança e de repente, vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
— A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
— Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
— Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
(Manuel Bandeira. Poesia completa & prosa. Riode Janeiro: Nova Aguilar, 1985.)
No poema de Bandeira, importante representante da poesia modernista, destaca-se como
característica da escola literária dessa época:
a) a reiteração de palavras como recurso de construção de rimas ricas.
b) a utilização expressiva da linguagem falada em situações do cotidiano.
c) a criativa simetria de versos para reproduzir o ritmo do tema abordado.
d) a escolha do tema do amor romântico, caracterizador do estilo literário dessa época.
e) o recurso ao diálogo, gênero discursivo típico do Realismo.
08. POBRE ALIMÁRIA
O cavalo e a carroça
Estavam atravancados no trilho
E como o motorneiro se impacientasse
Porque levava os advogados para os escritórios
Desatravancaram o veículo
E o animal disparou
Mas o lesto carroceiro
Trepou na boleia
E castigou o fugitivo atrelado
Com um grandioso chicote.
Oswald de Andrade. Pau-Brasil. Rio de Janeiro: Globo, 1996.
Considerando o texto de Oswald de Andrade, de Pau-Brasil e suas relações com o movimento
modernista brasileiro, é correto afirmar:
a) o coloquialismo e o verso livre, presentes no poema “Pobre alimária”, marcaram a produção
poética da primeira fase do Modernismo brasileiro e foram retomados, posteriormente, pelos
poetas da chamada Geração de 45.
b) no poema apresentado acima, o envolvimento explícito do eu lírico com os fatos que ele relata
evidencia o acentuado subjetivismo, que caracterizou o movimento Pau-Brasil.
c) a partir da Semana de Arte Moderna, poetas como Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Mário de
Andrade empreenderam esforços para desestabilizar os conceitos tradicionais de poesia, de
forma a torná-la mais próxima da fala e mais solene.
d) na cena relatada de forma crítica no poema, são contrastados modernidade e atraso, ambos
presentes no cotidiano da sociedade brasileira urbana, que defendia a primazia da tecnologia,
símbolo de progresso.
e) o animal que, de acordo com o poema, atravancava o progresso representa resquício das velhas
formas de transporte, que sobreviveram ainda por muito tempo no mundo subdesenvolvido, mas
que já haviam sido totalmente substituídas na Europa e no Brasil, no início do século XX.
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Módulo I
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09. O quadro Abaporu, de Tarsila do Amaral, inspirou o Manifesto Antropofágico feito por Oswald de
Andrade na primeira fase do Modernismo brasileiro. Identifique a relação do quadro com o
conteúdo do Manifesto:
Abaporu. Tarsila do Amaral, Óleo sobre tela, 1928.
Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.
Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os
individualismos, de todos os coletivismos. De todas as
religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do
antropófago.
/.../ Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a Revolução
Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na
direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua
pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E
todas as girls.
(ANDRADE, Oswald. Manifesto Antropófago (fragmento).
É correto afirmar:
a) o Manifesto Antropófago dá continuidade às ideias do Verde-amarelo, do qual participou Tarsila.
b) o Manifesto e o quadro ironizam a figura do índio que representou o herói nacional no
Romantismo.
c) a figura deformada do índio mostra a ideia deformada que o Manifesto tem do povo brasileiro do
início do século XX.
d) a figura do índio e seus rituais antropófagos simbolizam as ideias nacionalistas e abertura da
nossa cultura para as influências estrangeiras.
e) o quadro Abaporu inspirou o Manifesto Antropófago, mas não relaciona a figura do índio a
nenhum ritual.
10. Observe as imagens a seguir. As duas pinturas foram produzidas e exibidas no ano de 1923. A
primeira é a tela Limpando metais, de Armando Vianna. A segunda é o quadro A negra, de Tarsila
do Amaral.
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Módulo I
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Assinale a alternativa que melhor corresponde a uma comparação entre as imagens.
a) Esteticamente convergentes, as imagens representam uma ruptura com as formas de
representação tradicional e denunciam as condições de opressão do negro na sociedade
brasileira, especialmente sua subordinação social, cultural e econômica.
b) A divergência estética das imagens reflete-se na visão político-ideológica da condição do negro
no Brasil: a tela de Vianna, alienada politicamente, idealiza o papel do negro na sociedade,
contrapondo-se à tela de Tarsila, que denuncia sua real situação.
c) A primeira tela apresenta influência das vanguardas europeias, enquanto a segunda se aproxima
da arte primitiva africana. Em ambas, percebe-se uma reflexão sobre a condição do negro no
Brasil, tanto do ponto de vista social como do ponto de vista cultural.
d) Apesar de esteticamente divergentes, ambas, a seu modo, dimensionam o papel do negro no
Brasil; a primeira tela, no contexto de sua inserção subordinada às relações sociais; a segunda,
num contexto de alteridade e diversidade cultural.
e) A tela de Vianna adquire um caráter de denúncia da realidade social, ao exibir o negro em
condição econômica e social subalterna. Já a tela de Tarsila descontextualiza o negro de suas
relações sociais, o que indica a alienação política típica da arte moderna.
11. (FUVEST) Indique a alternativa em que a proximidade estabelecida está correta:
a) a terra paradisíaca, em Gonçalves Dias, é projeção nacionalista; a Pasárgada, de Manuel
Bandeira, é anseio intimista.
b) o lirismo de Gregório de Matos é conflitivo e con- fessional; o de Cláudio Manuel da Costa é
sereno e impessoal.
c) a ficção regionalista, imatura no século XIX, ganhou força ao abraçar as teses do determinismo
científico, no século XX.
d) José de Alencar buscou expressar nossa diversidade cultural, projeto que só a obra de Machado
de Assis viria a realizar.
e) a figura do malandro, positiva em Manuel Antônio de Almeida, é alvo de Mário de Andrade em
sua sátira Macunaíma.
12. Culpa de um, culpa de outro, tornaram a vida insuportável na Alemanha. Mesmo antes de 14 a
existência arrastava difícil lá, Fräulein se adaptou. Veio pro Brasil, Rio de Janeiro. Depois Curitiba
onde não teve o que fazer. Rio de Janeiro. São Paulo. Agora tinha que viver com os Sousa Costas.
Se adaptou. – ...der Vater... die Mutter... Wie geht es ihnen?... A pátria em alemão é neutro: das
Vaterland. Será! Vejo Serajevo apenas como bandeira. Nas pregas dela brisam... etc.
(Aqui o leitor recomeça a ler este fim de capítulo do lugar em que a frase do etc. principia. E assim
continuará repetindo o cânone infinito até que se convença do que afirmo. Se não se convencer, ao
menos convenha comigo que todos esses europeus foram uns grandissíssimos canalhões.)
(ANDRADE, Mário. Amar, verbo intransitivo: idílio.
Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 35.)
Assinale a opção correta sobre o romance Amar, verbo intransitivo, de Mário de Andrade, e o
contexto histórico ao qual a obra se refere.
a) As passagens em alemão evidenciam a influência que a cultura germânica exerceu sobre a
sociedade brasileira desde o início do século XIX, aproximadamente, até meados do século XX.
b) A narrativa deixa entrever a preferência de Mário de Andrade pela raça alemã, que é apontada
na obra como modelo de erudição, determinação e força, em consonância com os princípios do
movimento integra- lista, no qual Mário foi figura de destaque.
c) A razão de Elza ter sido contratada era da ordem da “profilaxia”. Ela não deveria proteger o
menino Carlos das influências mundanas e de suas consequências, como a sífilis, o alcoolismo,
o vício do jogo e a exploração por “mulheres aventureiras”.
d) Em “grandissíssimos canalhões”, o superlativo formado com a reduplicação da sílaba “ssi” e o
diminutivo intensificam o mau juízo que o narrador faz do caráter dos europeus.
e) No romance, temos duas formas de narração que se alternam: uma delas se atém à descrição
dos eventos, falas, emoções e pensamentos das personagens, enquanto a outra, reproduzida no
texto entre parênteses, revela opiniões, julgamentos e comentários bastante pessoais emitidos
pelo narrador.
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Módulo I
VILAS
13. (ENEM) As dimensões continentais do Brasil são objeto de reflexões expressas em diferentes
linguagens. Esse tema aparece no seguinte poema:
“(...)
Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as [vogais?]
Que tem se o quinhentos réis meridional
Vira cinco tostões do Rio pro Norte?
Junto formamos este assombro de misérias e [grandezas],
Brasil, nome de vegetal! (...)
(Mário de Andrade. Poesias completas. 6a ed.
São Paulo: Martins Editora, 1980.)
O texto poético reproduzido trata das diferenças brasileiras no âmbito:
a)
b)
c)
d)
e)
étnico e religioso.
linguístico e econômico.
racial e folclórico.
histórico e geográfico.
literário e popular.
14. (FATEC). Então Macunaíma pôs numa criadinha com um vestido de linho amarelo pintado com
extrato de tatajuba. Ela já ia atravessando o corgo pelo pau. Depois dela passar o herói gritou pra
pinguela:
- Viu alguma coisa, pau?
- Via a graça dela!
- Quá! Quá! Quá quaquá!...
Macunaíma deu uma grande gargalhada. Então seguiu atrás do par. Eles já tinham brincado e
descansavam na beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma igaraté encalhada na
praia. Toda nua inda do banho comia tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de bruços na
água rente dos pés da moça e tirava os lambaizinhos da lagoa pra ela comer. A crilada das ondas
amontoava nas costas dele porém escorregando no corpo nu molhado caía de novo na lagoa com
risadinhas de pingos. A moça batia com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna
espirrando jeitoso, cegando o rapaz. Então ele enfiava a cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de
água. A moça apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em cheio na barriga, assim.
A brisa fiava a cabeleira da moça esticando de um em um os fios lisos na cara dela. O moço pôs
reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da companheira ergueu o busto da água, estirou o braço
pro alto e principiou tirando os cabelos da cara da moça pra que ela pudesse comer sossegada os
tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três lambarizinhos na boca dele e rindo muito fastou o
joelho depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no sufragante focinhou n’água até o
fundo, a moça inda forçando o pescoço dele com os pés. Ele ia escorregando sem perceber de
tanta graça que achava na vida. Ia escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A
moça levou um tombo engraçado por cima do rapaz e ele enrolou-se nela talqualmente um
apuizeiro carinhoso. Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam n’água outra vez.
(Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter)
A leitura do torna possível afirmar que essa passagem:
a) caracteriza-se como descrição de ações, enfocando o encontro amoroso de um moço e uma
criada, ressaltando a sensualidade de seu comportamento (“Eles já tinham brincado”).
b) narra a exuberância da fauna e da flora brasileiras (“Tirava os lambarizinhos da lagoa” e “A
crilada das ondas”), afirmando antropofagicamente os valores nacionais.
c) deve ser entendida de uma perspectiva psicanalítica, muito utilizada por Mário de Andrade,
fazendo entrever na água da igarité um símbolo da sexualidade da cena descrita.
32
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
d) explora oposições amorosas, em que gentilezas são retribuídas com grosserias (“Ele [...] tirava
os lambarizinhos [...] pra ela comer” e “A moça batia com os pés n’água [...] cegando o rapaz”).
e) insinua a futilidade das necessidades humanas mais elementares, tais como procriar, comer e
repousar, resgatando influências do realismo-naturalismo, que precedeu o modernismo
15. (ENEM)
TEXTO I
O CANTO DO GUERREIRO
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
– Ouvi-me, Guerreiros,
– Ouvi meu cantar.
Valente na guerra,
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
– Guerreiros, ouvi-me;
– Quem há, como eu sou?
(Gonçalves Dias)
TEXTO II
MACUNAÍMA
(Epílogo)
Acabou-se a história e morreu a vitória.
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se
acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos
puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do
deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra
não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade
A leitura comparativa dos dois textos indica que:
a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica,
como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos
povos indígenas do Brasil.
c) as perguntas “– Quem há, como eu sou?” (I) e “Quem podia saber do Herói?” (II) expressam
diferentes vi- sões da realidade indígena brasileira.
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como
resultado do processo de colonização no Brasil.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente,
mas foram silenciados pela colonização, como demonstra a presença do narrador, no segundo
texto.
33
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ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
GABARITO
EXERCÍCIOS DE SALA
EXERCÍCIOS DE CASA
EXERCÍCIOS COMPLEMENTARES
01. E
02. A
03. A
04. C
05. D
06. C
07. C
08. A
09. A
10. A
11. C
01. A
02. C
03. C
04. E
05. B
06. C
07. A
08. B
09. E
10. B
11. B
12. A
13. E
14. D
15. E
01. E
02. E
03. D
04. C
05. E
06. D
07. B
08. D
09. D
10. D
11. E
12. E
13. B
14. A
15. C
34
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Módulo I
VILAS
A Segunda Fase Modernista
POESIA
TROCANDO LETRAS
OS ANOS 30 E 40 NO BRASIL
“Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos”
Assim começa um dos maiores clássicos da Literatura Universal. Que sacada genial para começar
um livro! A frase abre “Uma História de Duas Cidades” e é um dos começos inesquecíveis do romance
Ela se estende em diversas linhas de variações sobre o tema do “claro-escuro”: era a idade da
sabedoria, a idade da tolice: a época de fé, a da incredulidade: a estação da luz, a das trevas: a
primavera da esperança, o inverno do desespero: diante de nós, tínhamos tudo e nada: estávamos indo
direto para o céu e na direção oposta. Charles Dickens reservou essa abertura como digno início de sua
grande novela sobre a Revolução Francesa.
Fico bem à vontade então para plagiar, ainda que nosso período em questão não tenha a mesma
dramaticidade dos tempos da guilhotina.
Os anos que vão da dita Revolução de 30, até o retorno de Getúlio pela via eleitoral em 1950
podem muito bem ser definidos como um grande período de conquistas e desilusões para o nosso país.
Vargas chega ao poder como comandante de um golpe de Estado muito bem articulado e contando
com o apoio de dezenas de grupos sociais, políticos e de outra quantidade imensa de instituições e
partidos. Uma euforia tomou conta de variados setores com a possibilidade de substituir-se no poder a
corrupta oligarquia paulista que controlava o executivo federal por longas décadas. Essa euforia ainda
hoje conta-gia muitos historiadores que vêem em 1930 um dos maiores eventos democráticos da nossa
República.
Pois bem, todos os grupos articulados em torno da mudança foram colocados no bolso por Vargas
que, ainda por cima, em 1937 instala uma ditadura de caráter fascista, ultranacionalista, autoritária e,
por que não dizer, sanguinária, pois poucas vezes se viu na História do Brasil o uso da violência física
contra opositores ser aplicada de forma tão contumaz.
Afora os casos carimbados de repressão contra os líderes da Intentona Comunista (Prestes, Olga,
Szabo etc.) centenas de presos foram torturados ou eliminados, milhares perderam seus empregos ou
foram perseguidos pelos prosélitos de Getúlio.
A violência política ganhou força a partir de 1940 devido à cegueira interna e externa provocada
pela eclosão da II Guerra Mundial.
II Guerra Mundial! Dispensam-se apresentações.
Foram tempos duros.
Foram tempos bons.
Como assim? Inquirirão meus atentos lei-tores.
Como tempos bons? Insistirão peremptoriamente.
Já respondo: o trabalhador brasileiro conquistou imensas vitórias nesse mesmo período. Vitórias
que, mesmo ofuscadas pelo trabalhismo paternalista e alienante no Estado Novo, trouxeram o salário
mínimo, a CLT, a licença maternidade.
A ordem urbana e industrial vai substituir progressivamente o modelo oligárquico e rural, apesar de
vidas secas e famintas ainda perambularem por nossos sertões. O Brasil cresceu em meio à estupidez
estadonovista que macaqueava Hitlers e Mussolinis.
Na contramão da pouco criativa e nada libertária situação nacional, gênios floresceram. Gênios
sem par na Música, nas Artes e na Literatura.
Villa Lobos, convivendo com Tarsila e Anita. Di Cavalcante dividindo o cenário com o Amado Jorge
e o Graciliano.
Drummond arremete seus poemas como petardos poderosos contra a mediocridade reinante e
ululante.
Vinícius ensaia o estro que invadiria páginas e notas musicais, que transformaria Itapoan em
Paraíso Tropical décadas depois. Itapoan que ainda abriga talentos irrefutáveis na Literatura. Eu sei...
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Módulo I
VILAS
Jorge Portugal... Zé Carlos Bastos... moradores de Itapoan. Vizinhos de alma de Manoel Bandeira
Mourejando na Rua Pasárgada. Acreditem!
Por falar nisso, o meu querido amigo Zé Carlos tem me dito, vez por outra, que a “Literatura é a
História do Homem contada com estilo”. Concordo diletante e digo ainda que nossos gênios da literatura
adoçaram de estilo o amargor das eras getulistas.
Uma outra grande amiga, Nilza Carolina, tem a História como companheira das suas indefectíveis
aulas de Literatura.
Assim... troco essas letras históricas com vossos mestres literários. Pedindo tardias licenças e
agradecendo, em tempo, a honra do convite e a vossa atenção.
Saudações, Ricardo Carvalho
Para recapitularmos algumas importantes informações adquiridas no módulo anterior e iniciarmos
este nosso novo mergulho no modernismo brasileiro, observemos com bastante atenção o lúcido
comentário do crítico Alfredo Bosi na sua grande “História Concisa da Literatura Brasileira”:
O MODERNISMO E O BRASIL
DEPOIS DE 30
“O termo contemporâneo é, por natureza, elástico e costuma trair a geração de quem o emprega.
Por isso, é boa praxe dos historiadores justificar as datas com que balizam o tempo, frisando a
importância dos eventos que a elas se acham ligadas. 1922, por exemplo, presta-se muito bem à
periodização literária: a Semana foi um acontecimento e uma declaração de fé na arte moderna. Já o
ano de 1930 evoca menos significados literários prementes por causa do relevo social assumido pela
Revolução de Outubro. Mas, mea culpa tendo esse movimento nascido das contradições da República
Velha que ele pretendia superar, e, em parte, superou; e tendo suscitado em todo o Brasil uma corrente
de esperanças, oposições, programas e desenganos, vincou fundo a nossa literatura lançando-a a um
estado adulto e moderno perto do qual as palavras de ordem do 22 parecem fogachos de adolescente.
Somos hoje contemporâneos de uma realidade econômica, social, política e cultural que se
estruturou depois de 1930. A afirmação não quer absolutamente subestimar o papel relevante da
Semana e do período fecundo que se lhe seguiu: há um estilo de pensar e de escrever anterior a um
outro posterior a Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira. A poesia, a ficção, a crítica
saíram inteiramente renovadas do Modernismo. Mário de Andrade, no balanço geral que foi a sua
conferência “O Movimento Modernista, escrita em 1942, viu bem a herança que este deixou: “o direito
permanente à pesquisa estética: a atualização da inteligência artística brasileira; e a estabilização de
uma consciência criadora nacional.” Mas, no mea culpa severo com que fechou suas confissões, definiu
o limite (historicamente fatal) do grupo: “Se tudo mudávamos em nós, uma coisa nos esquecemos de
mudar: a atitude interessada diante da vida contemporânea. (...) Viramos abstencionistas abstêmios e
transcendentes. (...) Nós éramos os filhos finais de uma civilização que acabou, e é sabido que o cultivo
delirante do prazer individual represa as forças dos homens sempre que uma idade morre.”
O experimentalismo estético dos melhores artistas de 22 fez-se quase sempre in abstracto, ou em
função das vivências de um pequeno grupo, dividido entre S. Paulo e Paris. Daí o viés “primitivistatecnocrático” de uns e o “Verdeamarelismo” de outros refletir, ao menos na sua intenção programática,
a esquemas culturais europeus: art nègre, a Escola de Paris, as ideias, ou as frases, de Spengler,
Freud, Bérgson, Sorel, Pareto, Papini e menores. O processo de atualização das fontes leva, quando
feito em um clima agitado de polêmicas e manifestos, a potenciar o que a cibernética chama “entropia’,
isto é, uma perda de conteúdos semânticos na passagem do emissor para o receptor da informação.
Este, faminto de novidade, não digere bem as mensagens: apanha as lacunosamente e, como age em
situação de emergência teorizadora, deforma e enrijece os fragmentos recebidos. É o que os
“antropófagos” fizeram com Freud, já treslido pelos surrealistas; e os homens da Anta com as posições
mítico-nacionalistas de Sorel, Pareto, Maurras.
Mas a realidade, que tem mais tempo, é mais forte, mais completa e mais paciente que os
açodados deglutinadores. As décadas de 30 e de 40 vieram ensinar muitas coisas úteis aos nossos
intelectuais. Por exemplo, que o tenentismo liberal e a política getuliana só em parte aboliram o velho
mundo, pois compuseram-se aos poucos com as oligarquias regionais, rebatizando antigas estruturas
partidárias, embora acenassem com temas patrióticos ou populares para o crescente operariado e as
crescentes classes médias. Que a “aristocracia” do café, patrocinadora da Semana, tão atinada em 29,
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Módulo I
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iria conviver muito bem com a nova burguesia industrial dos centros urbanos, deixando para trás como
casos psicológicos os desfrutadores literários da crise. Enfim, que o peso da tradição não se remove
nem se abala com fórmulas mais ou menos anárquicas nem com regressões literárias ao inconsciente,
mas pela vivência sofrida e lúcida das tensões que compõem as estruturas materiais e morais do grupo
em que se vive. Essa compreensão viril dos velhos e novos problemas estaria reservada aos escritores
que amadureceram depois de 1930: Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Carlos Drummond de
Andrade. O Modernismo foi para eles uma porta aberta: só que o caminho já era outro. E, ao lado
desses homens que sentiram até a medula o que Machiavelli chamaria a nova verità effettuale, houve
outros, voltados para as mesmas fontes, mas ansiosos para ver o Brasil dar um salto qualitativo.
Socialistas como Astrojildo Pereira, Caio Prado Jr, Josué de Castro e Jorge Amado: católicos como
Tristão de Ataíde, Jorge de Lima, Otávio de Faria, Lúcio Cardoso e Murilo Mendes, todos selaram com
a sua esperança, leiga ou crente, o ofício do escritor, dando a esses anos a tônica da participação,
aquela “atitude interessada diante da vida contemporânea”, que Mário de Andrade reclamava dos
primeiros modernistas.
Enfim, o Estado Novo (1937-45) e a II Guerra exasperaram as tensões ideológicas; e, entre os
frutos maduros da sua introjeção na consciência artística brasileira contam-se obras-primas como A
Rosa do Povo, de Drummond de Andrade, Poesia Liberdade, de Murilo Mendes, e as Memórias do
Cárcere, de Graci-liano Ramos.
DEPENDÊNCIA E SUPERAÇÃO
Reconhecer o novo sistema cultural poste-rior a 30 não resulta em cortar as linhas que articulam a
sua literatura com o Modernismo. Significa apenas ver novas configurações históricas a exigirem novas
experiências artísticas.
Mas, se desviarmos o foco da atenção da ruptura para as permanências, constataremos o quanto
ficou da linguagem reelaborada no decênio de 20. A dívida maior foi, e era de esperar que fosse, a da
poesia, Mário, Oswald e Bandeira tinham desmembrado de vez os metros parnasianos e mostrado com
exemplos vigorosos a função do coloquial, do irônico, do prosaico na tessitura do verso. Um Drummond,
um Murilo, um Jorge de Lima, embora cada vez mais empenhados em superar a dispersão e a
gratuidade lúdica daqueles, foram os legítimos continuadores do seu roteiro de liberação estética. E,
mesmo a lírica essencial, antipitoresca e antiprosaica, de Cecília Meireles, Augusto Frederico Schmidt,
Vinícius de Morais e Henriqueta Lisboa, próxima do neo-simbolismo europeu, só foi possível porque
tinha havido uma abertura a todas as experiências modernas no Brasil pós-22.
A prosa de lição encaminhada para o “realismo bruto” de Jorge Amado, de José Lins do Rego, de
Érico Veríssimo e, em parte, de Graciliano Ramos, beneficiou-se amplamente da “descida” à linguagem
oral, aos brasileirismo e regionalismos léxicos e sintáticos, que a prosa modernista tinha preparado. E
até mesmo em direções que parecem espiritualmente mais afastadas de 22 (o romance intimista de
Otávio de Faria, Lúcio Cardoso, Cornélio Pena), sente-se o desrecalque psicológico “freudianosurrealisla” ou “freudiano-expressionista” que também chegou até nós com as águas do Modernismo”.
SITUAÇÃO HISTÓRICA
1 – UNIVERSAL
Segunda Guerra Mundial
Depressão econômica
Radicalização dos grupos ideológicos-políticos
Questionamento da função da arte e sua integração no real
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2 – BRASILEIRO
Revolução de 1930 a era de Getúlio Vargas
Revolução Constitucionalista
Nova Constituição brasileira
O Estado Novo
Greves operárias
Progresso da cultura
ATENÇÃO!
Atitude: valorização dos “achados e “descobertas” dos autores de 22.
MAS: esgotamento da fase anárquica, iconoclasta, sarcástica e demolidora
• Necessidade de definir, sistematizar
• Abordagem de temas nacionais (Romance Regionalista)
• Abordagem de temas universais
angústia existencial do homem
medo ante a guerra
a busca e a descoberta de
novos valores
os conflitos morais, religiosos,
políticos esociais
• Espiritualismo e intimismo
• Literatura mais construtiva, politizada
• Denúncia social
A POESIA






Percorre um caminho de amadurecimento
Consolidação do verso livre
Poesia: ideologia + literatura
Preocupação social e religiosa
A poesia “busca uma compreensão a respeito do ser e estar no mundo, mostrando às vezes
certo senão de mistério e de espiritualidade.”
Há nesta fase uma ampliação temática e uma diversificação de tendências. Há uma
emergência de 03 sistemas explicativos do homem e da sociedade:
1. O Universalismo
2. A Psicanálise
3. O Marxismo
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1.
O UNIVERSALISMO – A perspectiva universalista é incorporada à poesia de 30 através da atitude
de investigação existencial. Essa visão desesperançada, esse decidido encarar do abandono e da
morte, da liberdade e do absurdo encontra expressão em poetas como Carlos Drummond:
NOSSO TEMPO
(A ROSA DO POVO)
(Carlos Drummond de Andrade)
(I)
Este é o tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos;
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei.
Meu nome é tumulto e escreve-se na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor do meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifra.
As coisas talvez melhorem,
são tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras,
irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
2.
A PSICANÁLISE – É o arcabouço para a análise do mundo psicológico e das relações humanas.
São os automatismos psíquicos que põem de lado a consciência e a censura racional do
inconsciente liberado, como quando sonhamos:
PRÉ-HISTÓRIA
Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.
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3.
O MARXISMO – O envolvimento do poeta num mundo injusto, seu embaraço nas malhas das
contradições capitalis- tas. Poesia social, engajada.
MULHER PROLETÁRIA
Mulher protelaria — única fábrica
que o operário tem, (fábrica de filhos)
tu na tua superprodução de máquina hu-mana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.
Mulher proletária.
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção.
a tua superprodução.
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário.
Aprecie e apreenda a síntese que o Professor Jayme Barros fez das principais características
temáticas do período que vai de 1930 a 1945 da poesia brasileira:
a) Inquietação filosófica, religiosa, a focalização dos grandes problemas universais do homem, sua
angústia existencial, o sentido dramático da vida.
b) A análise dos conflitos do homem no mundo moderno vai dar origem à poesia social, não
simplesmente antiburguesa, mas que se expressa em duas direções:
I)
Uma poesia social universalizante abor-dando os conflitos do homem no mundo, conflitos
provenientes do próprio momento universal: guerra, bomba, estrutura sociopolítica em crise e
em conflito, massificação do homem devido ao avanço da técnica. Focalizam-se, então, os
grandes temas sociais, como a ascensão das classes dominadas, a solidariedade, a
fraternidade. A tais temas aliam-se aspectos psicológicos, como o medo, a solidão, o
sentimento de perda, do vazio etc.
II)
Uma poesia social de cunho nacional, na qual a problemática do homem é analisada em
função de estruturas socioeconômico-políticas tipicamente brasileiras e/ou regionais, ou seja, é
o conflito humano proveniente de uma determinada situação político-social em que ele está
integrado.
Em ambos os casos — vale a pena repetir — a poesia social é um resultante da preocu-pação
com o homem. É a situação socioeconômico-política causando o drama existencial de toda uma classe
aviltada, desprezada, subumanizada. Por isso — é bom notar — os poetas de 30 superam o
nacionalismo isolacionista, pois a realidade brasileira se integra num contexto universal, também
problemático e conflitante.
Assim conclui o Prof. Jayme Barros o seu raciocínio: “Eduardo Portela chama a poesia da geração
de 30 de poesia substantiva. É a poesia que abandona aspectos acidentais, que se detém nos
aspectos substanciais, para a qual não interessa o moderno por ser moderno, mas interessa encontrar
no moderno o perene, o humano”.
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AUTORES
Mário Quintana
Pensamentos:
Bendito quem inventou o belo truque do calendário, pois o bom da segunda-feira, do dia 1o do mês
e de cada ano novo é que nos dão a impressão de que a vida não continua, mas apenas recomeça...
Amar: Fechei os olhos para não te ver e a minha boca para não dizer...
E dos meus olhos fechados desceram lágrimas que não enxuguei, e da minha boca fechada
nasceram sussurros e palavras mudas que te dediquei...
O amor é quando a gente mora um no outro.
DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!
BILHETE
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres, enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...
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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE VIDA E OBRA
Nascido em 1902, na cidade de Itabira, em Minas Gerais, o autor assim se define:
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: do ferro.
A vontade de amar, que paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas,
sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.
Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede
Mas como dói
(Confidência do Itabirano)
No segundo ano colegial já contribui para o jornal escolar Aurora Colegial. Em 1925, foi um dos
fundadores de A Revista, órgão modernista de Belo Horizonte. Na década de 40, participou de um dos
números de um jornal comunista.
O menino ambicioso
não de poder ou glória
mas de soltar a coisa
oculta no seu peito
escreve no caderno
e vagamente conta
à maneira de sonho
sem sentido nem forma
aquilo que não sabe.
Em 1925 conclui o curso de Farmácia, no entanto não exercerá sua profissão. Não gosta também
da vida de fa- zendeiro, por isso leciona Português e Geografia em Itabira. A carreira de magistério
também não o atrai. Volta a Belo Horizonte, para ocupar o cargo de redator do Diário de Minas. Casase, nasce-lhe o primeiro filho e o poeta sente ao mesmo tempo a alegria e a dor de ser pai: seu filho
morre momentos após o nascimento.
O filho que não fiz
hoje seria homem.
Ele corre na brisa,
sem carne, sem nome.
Às vezes o encontro
num encontro de nuvem.
Apoia em meu ombro
seu ombro nenhum
Interrogo meu filho,
objeto de ar:
em que gruta ou concha
quedas abstrato?
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Módulo I
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Em 1928, nasce Maria Julieta. Neste mesmo ano, torna-se motivo de escândalo nos meios
literários a publicação, na Revista Antropofagia, do poema No Meio do Caminho.
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra
no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
Em 1930, publica Alguma poesia, o humor, a ironia, a captura do cotidiano, através do verso livre e
da linguagem coloquial, caracterizam sua obra de estreia. Nela apresenta pela primeira vez o tema do
guachismo e características que marcarão suas poesias dessa fase: o pessimismo, o individualismo, o
isolamento, a reflexão existencial, ironia e a metalinguagem.
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos, ser gauche na vida
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
O homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.
(Poema de Sete Faces)
Em 1940 é a época da poesia social da dolorosa realidade social. Sua poesia é o instrumento de
participação onde se encaixam “a denúncia do caos, dos conflitos, aliada ao papel redentor da própria
poesia”.
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
(Sentimento do Mundo)
A partir de 1950, a poesia de Drummond é de meditação poética sobre as razões da existência.
Seus textos refletem sobre vida, morte, tempo, velhice, amor... Há uma forte preocupação com o fazer
poético e “o próprio impasse da poesia contemporânea: uma poesia sem leitores ou de leitores
desinteressados.”
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Tenho saudade de mim mesmo.
Saudade sou aparência de remorso,
de tanto que não fui, a sós, a esmo,
e de minha alta ausência em mau redor.
Tenho horror, tenha pena de mim mesmo
e tenho muitos outros sentimentos violentos.
(Estrambote Melancólico)
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
(AMAR)
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los,
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consuma
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.”
(Procura da Poesia)
Sua poesia das décadas de 70 e 80 destaca o tempo de memória. É a volta ao passado e o
aprofundamento de temas que fazem parte de toda a sua obra: infância, Itabira, o pai, a família.
Sou o Velho Cansado
que adora o seu cansaço e não o quer
submisso ao vão comércio da palavra.
Poupem-me, por lavor ou por desprezo.
se não querem poupar-me por amor.
Não leio mais, não posso, que este tempo a mim distribuído
Cai do ramo e azuleja o chão varrido,
chão tão limpo de ambição
que minha só leitura é de ler o chão.
(Apelo a meus semelhantes em favor da paz
No dia 05 de agosto de 1987 Drummond perde sua filha Maria Julieta, vítima de câncer: a 17 de
agosto falece o poeta, que nos deixou um magistral legado poético.
Que lembrança darei ao país que me deu tudo
que lembro e sei. tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu minha
incerta medalha, e a meu nome se ri
(...)
De tudo quanto foi meu passo caprichoso na vida,
restará, pois o rasto se esfuma, uma pedra que havia no
[meio do caminho.
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Módulo I
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TEXTO 1
POEMA DE SETE FACES
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida
As casas espiam os homens
que correm atrás das mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de
pernas: pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo.
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
Atenção!
 O número 07(sete) tem todo um enigma.
 Sua travessia poética pode ser vista a partir da um impasse entre o homem e o mundo, a
realidade interior e a realidade exterior.
 De início sente-se um “gauche”. Ele expressa sua inadequação ironicamente com um humor que
lembra o “orgulho mineiro”.
 Diante do impasse homem/mundo, sua poesia num primeiro momento tende a se concentrar no
homem, sem entretanto jamais optar pelo lirismo escapista. Contra esse tipo de lirismo, o poeta
lança mão de suas armas bem conhecidas: a ironia, o humor que não faz rir.
 A emoção contida, represada, pode encontrar o seu alvo maior, o seu desafio mais duradouro: O
‘Mundo mundo vasto mundo’, cujos obstáculos, impedimentos e armadilhas jamais são
escamoteados.
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TEXTO 2
A NOITE DISSOLVE OS HOMENS
A Portinari
A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tampouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda.
sem esperança... Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo...
O mundo não tem remédio...
Os suicidas tinham razão.
Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida.
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam.
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio...
Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir luas pálidas faces, aurora.
TEXTO 03
Áporo
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.
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VILAS
Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:
em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se .
VAMOS ESCLARECER MELHOR A FANTÁSTICA
TRAVESSIA POÉTICA DE DRUMMOND.
EU X MUNDO (Dialética)
Marcada pela poesia irônica.
1o EU > MUNDO
Ele "vê" os conflitos de uma posição de equidistância
e não envolvimento: daí o humor, os poemas-piada e a
ironia.
Ele "fotografa a família, a província".
É sarcástico, de uma irreverência incontida, mas de
um sentimento contido, o que vem a produzir um texto
objetivo, seco, versos curtos e desencarnados, sem
transbordamento emocional. "Alguma poesia" e
"Brejo das Almas".
Marcada pela poesia social.
o
2
EU < MUNDO
O poeta tematiza a política, a guerra e o sofrimento do
homem.
Desabrocha o sentimento do mundo marcado pela
solidão, pela impotência do homem, diante de um
mundo frio e mecânico que o reduz a objeto.
"Sentimento do Mundo", "José" e "A Rosa do Povo".
3o EU = MUNDO
Abrange a poesia metafísica, de "Claro Enigma" onde
a escavação do real, mediante um processo de
interrogações e negações, conduz ao vazio que
espreita o homem e ao desencanto.
Abrange a "poesia objetual" de "Lição das Coisas",
onde a palavra se faz coisa, objeto e é pesquisada,
trabalhada, desintegrada no espaço da página.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
CECÍLIA MEIRELES
A vida só é possível reinventada.
Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, cuja poesia lírica e altamente
personalista, freqüentemente simples na forma, mas contendo imagens e
simbolismos complexos, deu a ela importante posição na literatura brasileira do
século XX. Nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 07/11/1901 e veio a falecer
na mesma cidade em 09/11/64. Casou-se duas vezes e deixou três filhas.
Embora vivendo sob influência do Modernismo, apresenta ainda em sua
obra heranças do simbolismo e técnicas do Classicismo, Gongorismo,
Romantismo, Parnasianismo, Realismo e Surrealismo, razão pela qual sua
poesia é considerada intemporal.
Órfã desde tenra idade (aos 3 anos já perdera os pais e três irmãos que nem chegou a conhecer),
foi criada pele avó Jacinta Garcia Benevides. Desde cedo habituou-se ao exercido da solidão, tendo
precocemente desenvolvido sua consciência e sensibilidade. Começou a escrever poesia aos 9 anos de
idade. Tornou-se professora pública aos 16, destacando-se como aluna exemplar, merecendo a estima
dos mestres. Dois anos depois iniciou sua carreira literária com a publicação de Espectros (1919), uma
coleção de sonetos simbolistas.
A década de 20 foi uma época de revolução na literatura brasileira, mas o trabalho de Cecília
naquele período mostra pouca afinidade com as tendências nacionalistas então em voga, ou com o
verso livre e a linguagem coloquial. Boa parte dos críticos, inclusive, consideram suas formas mais
tradicionais de poema (como sonetos) o ponto mais alto de sua obra. Com Nunca mais... e Poema dos
Poemas (1923) adere ao Modernismo. Em 1924 sai Criança meu amor e em 1925 Baladas para El-Rei.
Entre 1925 e 1939 dedicou-se à sua carreira docente publicando vários livros infantis e fundando,
em 1934, a biblioteca infantil do Rio de Janeiro (a primeira biblioteca infantil do país). A partir desse ano,
ensinou Literatura Brasileira em Portugal (Lisboa e Coimbra) e em 1936 foi nomeada para a UFRJ,
recém-fundada.
Cecília reaparece no cenário poético após 14 anos de silêncio com Viagem (1939), considerado um
marco de maturidade e individualidade na sua obra; recebeu o prêmio de poesia daquele ano da
Academia Brasileira de Letras. Daí em diante, dedicou-se à carreira literária, publicando regularmente
até a sua morte. Vários de seus livros são inspirados nas muitas viagens que fez, viagens essas de
grande significação, pois a autora extraiu do contato com gente, costumes e idiomas diferentes matéria
de melhor compreensão da vida e da humanidade.
Entre os vários livros de poesia publicados após 1939, tem-se Vaga Música (1942), Mar Absoluto e
Outros Poemas (1945), Retrato Natural (1949), Romanceiro da Inconfidência (1953), Metal Rosiclar
(1960), Poemas Escritos na Índia (1982), Solombra (1963) e Ou Isto ou Aquilo (temática infantil, 1964).
Escreveu também em prosa, dedicando-se a assuntos pedagógicos e folclóricos. Produziu também
prosa lírica, com temas versando sobre sua infância, suas viagens e crônicas circunstanciais. Algumas
de suas obras em prosa: Giroflé giroflá (1966), Escolha seu Sonho (1964) e Inéditos (crônicas – 1968).
Inicia-se na literatura participando do grupo espiritualista da Revista Festa.
Em Motivo, encontraremos verdadeira profissão de fé literária: o louvor do instante; o ser poeta; o
saber das coisas fugidias: o culto do abstrato.
(Site Jornal da Poesia)
MOTIVO
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias.
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me destaco,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
É PRECISO NÃO ESQUECER NADA
É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo
aceso, nem o sorriso para os
infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova
Borboleta nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz,
o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de
atos, a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não
fôssemos, vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.
 Sua poesia está presa à tradição lírica do passado, eco de uma herança simbolista. A maioria
das obras expressa estados de ânimo, vagos e quase incorpóreos, predominando os
sentimentos de perda amorosa e solidão.
 Atentar para as imagens naturais; mar, areia, espuma, lua, vento, etc. Elas adquirem dimensão
simbólica.
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa e fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Atenção!








Observe a musicalidade.
Perceba a constatação da passagem do tempo e as suas marcas.
Há em sua obra uma atmosfera de dúvidas, incertezas, padecimento e vacilação.
A atmosfera de dor existencial que emana de seus poemas é ampliada pela insistência no tema
da passagem do tempo.
Cecília sabe que o tempo elimina tudo, as ilusões, o amor, o corpo e mesmo a memória.
Há uma visão sofrida por parte do eu-lírico.
Cecília percorreu o espaço poético/existencial permitido por uma sociedade tipicamente
masculina. A escritora elabora uma poesia condizente com a imagem que os homens fazem das
mulheres: uma poesia delicada, intimista, subjetiva, compassiva.
Obra importante.
ROMANCEIRO DE INCONFIDÊNCIA
 Usou de uma “forma poética” específica do passado.
 O “romanceiro é uma forma poética comum ao medievalismo português e foi transplantado para a
cultura popular brasileira”.
 “Constitui algo como uma poesia narrativa dividida em capítulos, isto é, romances. Um conjunto de
romances torna um romanceiro.”
 “A obra oferece uma visão dramática e lírica do fato histórico e das contradições individuais dos
protagonistas.”
 “A própria autora afirma tratar-se de uma história feita de coisas terrenas e irredutíveis: de ouro,
amor, liberdade, traições...”. Observe o texto, em que Cecília enfoca a Liberdade:
Atrás de portas fechadas,
à luz da velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a inconfidência.
Liberdade, ainda que tarde
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva
e sobe na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus — pois se atreveram
a falar em Liberdade.
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda.
Atenção!
Observe com atenção a síntese da obra “Romanceiro da inconfidência”.
Na primeira parte, iniciada pelo sacrifício de Tiradentes e evocação do cenário da inconfidência,
aparecem motivos folclóricos e tradicionais, a descoberta do ouro, o trabalho servil, a destruição de
Ouro Preto, a troca dos “quinto”, enfim, episódios que preparam o clima de violência. Destacam-se o
episódio de João Fernandes e Chica da Silva e a força incontrolável da ambição que deforma os
caracteres humanos.
Na segunda parte, aparecem, além do cenário, o desenvolvimento da conspiração, o seu fracasso
e o prenúncio das desgraças que se abaterão sobre os inconfidentes. A figura principal da segunda
parte é o Alferes, em torno do qual vários motivos poéticos imprimem-lhe um aspecto lendário: a fala
dos tropeiros, os presságios do cigano, os boatos, as palavras levianas que o levam à prisão.
Na terceira parte, a tragédia é sugerida pelo jogo de cartas; o mistério do suicídio de Cláudio
Manuel da Costa favorece o clima lendário. Pressagia-se o fim de Tiradentes. Alguns romances são
dedicados a Tomás Antônio Gonzaga, refletindo sobre a dolorosa expectativa dos prisioneiros. Seguemse os romances sobre a agonia e a morte de Tiradentes: o caminho para a força, o destino do
condenado etc.
Na quarta parte (romances LXV – LXXX) são os infortúnios de Gonzaga que constituem o tema
principal. A antevisão da África, para onde o poeta foi exilado, e a despedida de Marília são os
episódios mais importantes. Seguem-se as desventuras de Alvarenga Peixoto: o estranho destino de
sua família, a fidalguia de sua mulher Bárbara Heliodora e a morte da filha. Maria Ifigênia. Termina esta
parte com a figuração de Marília, idosa, a caminho da paróquia de Antônio Dias.
A quinta parte representa um plano temporal diferente. Aparece D. Maria I, que 20 anos antes
decretara as sentenças de morte e degredo, agora louca, contemplando a terra onde se desenvolveu o
drama de soldados, poetas e doutores, seus remorsos e sua morte. O Romanceiro termina com o
testamento de Marília, que afasta, no tempo, a perspectiva dramática, com a solene “fala aos
inconfidentes mortos”.
VINÍCIUS DE MORAES (1913-1980)
Atenção!
A obra de Vinícius de Moraes pode ser dividia da se- guinte forma:
Primeira fase – Poesia transcendental religiosa, com poemas longos repletos da exaltação – O
caminho para a distância, 1933; Forma e Exegese, 1935; Ariana, a mulher, (1936).
Segunda fase – Poemas de transição para o erotismo (cinco elegias). Poesia ardente ou sensual,
linguagem direta e clara, erotismo ousadamente realista, endeusando o amor carnal e a beleza física da
mulher. Já existe, nessa fase, acentuada preocupação social com as tragédias da humanidade (bomba
atômica, campos de concentração, crianças desamparadas, etc.) (Poemas, Sonetos e Baladas, (1946);
Pátria Minha – 1949, etc.)
Terceira fase – Embora sem desaparecer o erotismo e a apologia do amor, seus motivos
constantes, o poeta se volta para a injustiça social, para a exploração do homem pelo homem, para os
dramas do mundo. (Novos Poemas II, 1959; Antologia Poética, 1960. Ele também escreveu Orfeu da
Conceição, 1957).
Para conhecermos um dos imortalizadores do lírico bairro Itapuã, vamos ler com atenção as
palavras de Sônia Além Marrach no seu “A arte do encontro de Vinícius de Moraes”:
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Módulo I
VILAS
Vinícius de Morais foi poeta da paixão e músico do amor. Mudou o rumo do samba, da letra e do
canto. Levou a poesia para a casa da música e a música para a casa da poesia. Foi um dos maiores
criadores da Bossa Nova – a moderna música popular brasileira. Recriou valsinhas, modinhas e o
sambão. Foi parceiro de Tom Jobim, Pixinguinha, Baden Powell, Carlos Lyra, Toquinho e tantos outros
grandes músicos. E até de Johan Sebastian Bach, para quem Vinícius fez a letra “Rancho das flores”.
Foi guru da geração de Chico Buarque, Francis Hime e Edu Lobo, compositores que impulsionaram as
mudanças da Bossa Nova, seguindo as trilhas do poeta, Vinícius foi um precursor. Ele soube
acompanhar e fazer as mudanças de seu tempo.
Na juventude, foi católico espiritualista e poeta metafísico. Durante a ditadura de Vargas foi censor
cinematográfico e admirador do fascismo. A partir dos anos 1940, aproximou-se do materialismo como
todos os intelectuais da época. No final dos anos 1950 levou o mito de Orfeu ao palco do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro em uma montagem feita exclusivamente com atores negros. Como cronista
dos anos 1950-60, Vinícius foi um dos mais originais retratistas do cotidiano carioca e brasileiro. Além
disso, escreveu belíssimas crônicas de elogio ao cinema e às atrizes de cinema, uma de suas paixões.
Traduziu como ninguém o espírito da época, uma época de mudanças. Foi o primeiro poeta a
transformar-se em letrista e cantor popular, mostrando que a música é a poesia do homem
contemporâneo, e apontando para as possibilidades criativas e inovadoras dos meios de comunicação
de massa, como o disco, o rádio, a TV.
Levou para a casa da poesia o que acontece na vida cotidiana. E para a música, o que acontece na
poesia. Criou uma nova relação entre o amor e o mar. Abordou a vida amorosa na praia, numa
linguagem coloquial, erótica e cheia de ternura. Sensualista, descobriu o sentido da vida nos cinco
sentidos da paixão. Mas além de ser poeta da paixão, Vinícius é poeta de um mundo social
pluridimensional. Um mundo em que há espaço para a boêmia, para o amor e para a indignação social,
no qual convivem Dionísio, Orfeu e Prometeu, onde as calamidades públicas não impedem o sonho e a
poesia é meio de tomada de consciência do amor e do mundo. Em Vinícius, o operário adquire
consciência de classe pela poesia.
Em “Contracapa para Paul Winter”, Vinícius diz que a Bossa Nova foi uma forma da juventude
configurar os problemas de seu tempo e expressar uma nova inteligência, uma nova sensibilidade, por
meio de um novo ritmo, de uma estrutura de sons super-requintados
Atenção!
A obra de Vinícius conta histórias do amor e da mulher, do imaginário do amor e dos valores
relativos ao amor e à mulher.
 Encontrou-se com o cotidiano e fez poemas e música popular para se comunicar com muita
gente.
 Ele teve uma forte formação católica espiritualista.
 Com o passar do tempo, ele assume também na poesia a perspectiva sensualista já contida em
sua primeira música. “Loura ou morena” (na música sempre esteve mais solto e livre dos
preconceitos de sua formação).
 Sônia Marrach afirma que Vinícius é plural. Cresce, se modifica, está sempre de mãos dadas
com a mudança. Temos o Vinícius ainda machista de ‘Samba da bênção: Uma mulher tem que
ter qualquer coisa além da beleza (...) Uma beleza que vem da tristeza / De se saber mulher /
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Módulo I
VILAS
Feita apenas para amar / Para sofrer pelo seu amor / E para ser só perdão” (...). Há o Vinícius
feminista de “Regra Três”: “Tantas você fez que ela chorou / Porque você rapaz / abusou da
regra três / onde menos vale mais. (...) Tem sempre o dia / em que a casa cai / Pois vai curtir
seu deserto, vai. Mas deixe a lâmpada acesa / se algum dia a tristeza quiser entrar. / E uma
bebida, perto / Porque você pode estar certo / que vai chorar.” E o Vinícius lírico-sensualista
de “Samba da Volta” Você voltou, meu amor / Alegria que me deu / Quando a porta abriu / você
me olhou, você sorriu / Ah, você se derreteu / E se atirou, me envolveu, nem brincou / Conferiu o
que era seu. / É verdade, eu reconheço / Eu tantas fiz, mas agora, tanto faz. / O perdão pediu
seu preço meu amor / Eu te amo e Deus é mais”.
 “Segundo Drummond, há um problema básico preocupando Vinícius: o destino e a finalidade do
homem, o sentido da vida. Nas obras da juventude, a finalidade do homem é o amor absoluto.
Nas obras da maturidade, a finalidade do homem é o amor, entendido à sua maneira
sensualista. Portanto o amor erótico, paixão” (Sonia Marrach).
 A temática do amor.
O amor, como uma disposição ou atitude amorosa perante a vida pode ser dividido em quatro
vertentes básicas, que na verdade se completam:
AMOR
à mulher (09 casamentos)
ao homem ou amizade que se realiza na esfera da boêmia, da festa, do trabalho artístico.
ao trabalho de compositor, poeta e showman.
ao mundo, livre de limitações e obrigações sociais e econômicas.
COMO DIZIA O POETA
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão.
(Vinicius de Moraes / Toquinho)
CHEGA DE SAUDADE
Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Não sai
Mas se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim
(Tom Jobim, Vinícius de Moraes)
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
SONETO DE SEPARAÇÃO
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se do triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
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Módulo I
VILAS
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
(Oceano Atlântico, a bordo do Highland Patriot, a caminho da Inglaterra, setembro, 1938)
(Moraes, Vinícius de Obra poética. Rio. Aguilar, 1968. p. 247)
AMOR EM PAZ
Eu amei
Eu amei, ai de mim, muito mais
Do que devia amar
E chorei
Ao sentir que iria sofrer
E me desesperar
Foi então
Que da minha infinita tristeza
Aconteceu você
Encontrei em você a razão de viver
E de amar em paz
E não sofrer mais
Nunca mais
Porque o amor é a coisa mais triste
Quando se desfaz
LÍRICA X SOCIEDADE
A ligação da lírica com a sociedade é por oposição. Sentimos a lírica como algo visceralmente
individual e oposto à sociedade. Essa palavra visceral faz lembrar que Vinícius de Moraes não
suportava que dissessem que fazia poesia política. Poesia política, para ele, era coisa de encomenda,
de partido e poesia era visceral. Sua lírica propõe uma imagem da vida amorosa/erótica, livre da
coerção, da utilidade, da objetividade, das aparências. A palavra do eu profundo é, por si mesma, social
no sentido que lhe dá adorno, porque implica um protesto contra um estado que o indivíduo
experimenta como sendo hostil, alheio, frio, opressivo. O protesto, é bom deixar claro, não é político, na
linha da resistência, da canção de protesto etc. Não.
O protesto da lírica é na forma da um não-reconhecimento e ou de um distanciamento da
existência hostil.
Vinícius gostava de discutir o problema do amor na modernidade, do medo que a modernidade tem
do amor. E dizia que a Bossa Nova, com sua estrutura de sons sofisticados, quer mostrar uma coisa
muito simples: que o amor existe e a esperança é um bem gratuito.
(Sonia Alem Marrach – A arte do encontro de Vinícius de Moraes).
JORGE DE LIMA
Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares-AL, 1895 – Rio de Janeiro RJ
1953). Iniciou, em 1911, a faculdade de Medicina, em Salvador BA, concluindoa em 1915, no Rio de Janeiro. Elegeu-se Deputado Estadual pelo Partido
Republicano de Alagoas (1926), e vereador pela UDN (1946), assumindo a
Presidência da Câmara dois anos depois. Iniciou-se, de maneira autodidata,
nas artes plásticas, em 1940, no Rio de Janeiro. Em 1943, publicou o álbum de
fotomontagens intitulado A Pintura em Pânico, com prefácio de Murilo Mendes,
no Rio de Janeiro. Em paralelo a essas atividades, dedicou-se à literatura,
tendo escrito, dentre outros, os livros O Mundo do Menino Impossível (1925),
Novos Poemas (1930), Tempo e Eternidade (1935), A Túnica Inconsútil
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
(1938), Poemas Negros (1947) e Invenção do Orfeu (1952). Foi homenageado com o Grande Prêmio de
Poesia (1940), concedido pela Academia Brasileira de Letras. A poesia de Jorge de Lima vincula-se à
segunda geração do Modernismo. Sobre sua obra, afirmou a crítica Nise da Silveira: “o poeta Jorge de
Lima, na primeira fase de sua produção poética, fala-nos de coisas conhecidas que o leitor prontamente
apreende.” A forma será o soneto, o alexandrino, ou mesmo o verso livre, o pensamento, porém, é de
tipo discursivo. (...) Depois que adotou o verso livre, a poesia despojou-se de procedimentos retóricos,
tornou-se íntima. Os temas preferidos são cenas da infância do poeta e motivos regionais. A poesia é
sempre de alta qualidade.
(Jornal da Poesia)
Na sua primeira fase é Neoparnasiano. Estreou em 1914 com seus XIV Sonetos Alexandrinos.
Nessa fase, é eleito o príncipe dos poetas em Alagoas.
O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente
Parodiar o sol e associar-se à lua
Quando a sombra da noite enegrece o poente!
Um, dois, três, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente.
À medida que a noite aos poucos se acentua
E a palidez da luz apenas se pressente.
Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele que doira a noite e ilumina a cidade.
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.
Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade.
Como este acendedor de lampiões da rua!
Atenção!
 Observe que o acendedor pode iluminar a cidade, mas não é capaz de iluminar sua casa.
 Ele dá brilho à rua.
 Assim como o acendedor, certas pessoas conseguem incutir nos outros certos valores que não
são capazes de assumir para si mesmas.
 Por ironia, há pessoas que carecem dos bens que pretendem doar aos outros.
 O lado irônico está no reconhecimento de que certas pessoas não são capazes de realizar
consigo mesmas aquilo que aconselham aos outros.
Sua poesia social apresenta belas composições, de coloração regional, em que ele usa sua
memória de menino branco, marcado pela infância repleta de imagens dos engenhos e de negros
trabalhando em regime de escravidão:
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Módulo I
VILAS
PAI JOÃO
A filha de Pai João tinha um peito de
Turina para os filhos de Ioiô mamar:
Quando o peito secou a filha de Pai João
Também secou agarrada num
Ferro de engomar.
A pele do Pai João ficou na ponta
Dos chicotes.
A força de Pai João ficou no cabo
Da enxada e da foice.
A mulher de Pai João o branco
A roubou para fazer mucamas.
ESSA NEGRA FULÔ
Ora, se deu que
Chegou (isso já faz
muito tempo) no
banguê dum meu
avô uma negra
bonitinha,
chamada negra
Fulô.
Essa
Negra
Fulô! Essa
negra
Fulô!
Ó Fulo! Ó Fulô!
[Era a fala de Sinhá]
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
pra vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala de Sinhá)
57
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
“Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco”.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ô Fulô!
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
“minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou”.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô!)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi ver a negra
lavar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô).
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas.
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô
Atenção
 O poeta aproveita os motivos e ritmos nordestinos.
 Texto narrativo: presença de narrador, personagens; o desenrolar das ações e o conflito; o
cenário; a passagem do tempo.
 Há uma gradação nos “roubos” o frasco de cheiro, o lenço de rendas, o cinto, o broche, o terço
de ouro e, finalmente, o Sinhô.
 Observe a estrutura familiar tradicional dos grandes proprietários rurais: o papel da mulher negra
nessa estrutura, sexualmente usada pelo senhor: a mestiçagem.
Em certos momentos aborda uma temática mais ampla. A influência marxista é fortemente visível.
“A poesia é, afinal da contas, uma transcendência. A essência das coisas sobrepujando o seu
aspecto. O imaterial vencendo o material.
A poesia moderna vencendo a prisão da sílaba, da cor, do som, em que a encerraram os
parnasianos, se aproxima cada vez mais das suas fontes, das suas raízes. O mistério, mistério das
coisas, mistério das almas, mistério da vida, é o seu domínio próprio. Só dentro dele se expande
inteiramente, vibra com toda a sua força.
Colocado assim no centro, no íntimo de tudo, o poeta fica muito perto do místico.
O que vê não lhe basta, o depoimento dos sentidos não o satisfaz. A sua arte está toda em querer
extrair da matéria mais do que esta lhe quer dar. A sua arte e o seu drama. Drama que se assemelha
muito ao drama do crente. Na sua essência, a poesia é metafísica na acepção mais larga do termo.”
(Lúcia Miguel Pereira. A leitora e seus personagens. Rio de Janeiro, 1992.)
MULHER PROLETÁRIA
Mulher proletária – única fábrica
que o operário tem (fabrica filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus.
forneces braços para o Senhor burguês.
59
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Mulher proletária.
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver:
a tua produção.
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar o leu proprietário.
 O poema enfoca disparidades sociais.
 Forte caráter de denúncia — atingindo maravilhosas expressões poéticas através de hábil jogo
de palavras.
Paralelamente à temática social, desenvolve uma poesia religiosa, mística, dourada de lirismo,
sensualismo e ressonâncias bíblicas. É dessa fase Tempo e Eternidade, que escreveu em parceria com
Murilo Mendes.
Obras: XIV alexandrinos: O mundo do menino impossível; Tempo e Eternidade; Qua-tro poemas
negros, A túnica inconsútil; Anun-ciação; Encontro da MiraCeli; Invenção de Orfeu; Livro dos Sonetos.
MURILO MENDES
Murilo Monteiro Mendes (Juiz de Fora MG, 1901 - Lisboa Portugal,
1975). Estudou no Colégio Salesiano, em Niterói RJ, no final da década
de 1920. Iniciou o curso de Direito, mas não o concluiu. Na década de
1920, foi arquivista no Ministério da Fazenda e empregado do Banco
Mercantil. Publicou seu primeiro livro, Poemas, em 1930; no ano
seguinte, recebeu o prêmio de Poesia Graça Aranha. Em 1934,
converteu-se ao catolicismo: a religiosidade é um dos temas mais
marcantes de sua obra. Em 1935, foi secretário da Comissão de
Literatura para a Infância do Ministério da Educação e inspetor federal
de ensino médio. Entre 1957 e 1975 lecionou Cultura Brasileira na
Universidade de Roma (Itália). Publicou, em 1868, o livro de memórias
A Idade do Serrote. Em 1977 ocorreu a publicação póstuma de Ipotesi,
livro de poesia escrito originalmente em italiano, organizado por Luciana
Stegagno Picchio, em Roma, Sua obra poética inclui os livros Tempo e
Eternidade (1935), escrito com Jorge de Lima, A Poesia em Pânico
(1938), Visionário (1941), Mundo Enigma (1944), Tempo Espanhol
(1954), Poliedro (1972), entre outros. Murilo Mendes é um dos principais
nomes da segunda geração do Modernismo. O poeta Carlos Drummond
de Andrade escreveu, sobre ele: “Peregrino europeu de Juiz de Fora, /
telemissor de murilogramas e grafitos, / instaura na palavra o seu
império.”
Murilo Mendes -Retrato de Ismael Nery
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem macieiras do Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda
Eu moro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil-réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão da idade!
Atenção!








Paródia da “Canção do exílio”.
Espírito de “demolição” e tom de piada.
Ironia.
Protesto contra a “colonização” física e cultural do Brasil, contra as coisas e as ideias fora de
lugar.
Crítica à alienação dos simbolistas.
Poeta de curiosa trajetória: das sátiras e poemas-piadas ao estilo Oswaldiana caminha para uma
poesia religiosa sem perder contato com a realidade social. Fortes traços surrealistas.
Sua religiosidade é verticalmente empenhada na crítica da desumanização da vida no mundo
contem- porâneo.
No livro Tempo e Eternidade que escreveu em parceria com Jorge de Lima, procurou restaurar a
poesia em Cristo.
POEMA ESPIRITUAL
Eu me sinto um fragmento de Deus
Como sou um resto de raiz
Um pouco de água dos mares
O braço desgarrado de uma constelação.
A matéria pensa por ordem de Deus,
Transforma-se e evolui por ordem de Deus.
A matéria variada e bela
É uma das formas visíveis do invisível.
Cristo, dos filhos do homem és o perfeito.
Na igreja há pernas, seios, ventres e cabelos
Em toda parte, até nos altares.
Há grandes forças de matéria na terra no mar e no ar
Que se entrelaçam e se casam reproduzindo
Mil versões dos pensamentos divinos
A matéria é forte e absoluta
Sem ela não há poesia.
(MENDES, Murilo. In: Lais C. de Araújo, op. cit. p.128-9.)
61
COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Atenção!
 Observe que na 1a estrofe o eu-lírico refere-se a si mesmo situando-se perante Deus e o
Universo. Ele se vê integrado ao universo e à força divina que o rege.
 Para o eu-lírico o mundo material é uma das manifestações do mundo espiritual.
 Para ele Deus é a força que rege o universo.
 A Matéria é essencial tanto para gerar os pensamentos divinos quanto para a criação da poesia.
 Pela ótica do poema, matéria e espírito não se excluem; são expressões diferentes da mesma
ordem universal.
(Considerações feitas por William Cereja e Thereza Cochar. Português, linguagens, vol. 03.)
O MENINO EXPERIMENTAL
O menino experimental come as nádegas da avó a atira os ossos ao cachorro.
O menino experimental futuro inquisidor devora o livro e soletra o serrote.
O menino experimental não anda nas nuvens. Sabe escolher seus objetos. Adora a corda, o
revólver, a tesoura, o martelo, o serrote, a torquês. Dança com eles. Conversa-os.
O menino experimental ateia fogo ao santuário para testar a competência dos bombeiros.
O menino experimental, declarando superado o manual de 1962, corrige o professor de
fenomenologia.
O menino experimental confessa-se ateu e à toa.
O menino experimental é desmamado no primeiro dia. Despreza Rômulo e Remo. Acha a loba uma
galinha. No tempo do oco pré-natal gritava: “Champagne, mamãe! Depressa!” O menino experimental
decreta a alienação de Aristóteles. Expulsa-o da sua zona, só com a roupa do corpo e amordaçado.
O menino experimental repele as propostas da prima de dezoito anos chamando-a de bisavó.
O menino experimental escondendo os pincéis do pintor e trancando-o no vaso sanitário, obriga-o a
fundar a pop art, única saída do impasse.
O menino experimental ensina a Vamp a amar. Dorme com o radar debaixo da cama.
O menino experimental, dos animais só admite o tigre e o piloto de bombardeio. Deixa o cão
mesmo feroz e o piloto civil às pulgas.
O menino experimental benze o relâmpago.
O menino experimental festeja seu terceiro aniversário convidando Jean Genet e Sofia Loren para
jantar. Espetados na mesa três punhais acesos.
O menino experimental despede a televisão, “brinquedo para analfabetos, surdos, mudos, doentes,
antinietzsches, padres, podres, croulants”.
O menino experimental atira uma granada em forma de falo na mãe de Cristóvão Colombo,
sepultado nas América.
Questões de Sala
QUESTÕES 01 E 02 (FACS)
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa a fácil:
— Em que espelho ficou perdida a minha face?”
(MEIREILES, Cecília. Obras poéticas.
Rio de Janeiro, Nova Aguillar, 1972. p. 84.)
01. O poema revela:
a)
b)
c)
d)
e)
consciência da transitoriedade das coisas e dos seres.
ênfase na condição solitária do ser humano.
correspondência entre o mundo material e o mundo espiritual.
melancolia diante da infinitude das coisas.
identificação entre o presente e o passado.
02. São características literárias presentes no poema:
a)
b)
c)
d)
e)
temática de caráter individualista.
tom essencialmente pessimista.
niilismo quanto ao destino do homem.
preocupação existencial e metafísica.
revelação do mundo interior do artista.
03. Não faças versos sobre acontecimentos,
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.
Uma das constantes na obra poética de Carlos Drummond de Andrade, como se verifica nos
versos, é:
a)
b)
c)
d)
e)
a louvação do homem social.
o negativismo destrutivo.
a violação e desintegração da palavra.
o questionamento da própria poesia.
o pessimismo lírico.
04. Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo.
Mais vasto é meu coração.
Nessa estrofe, o poeta:
a)
b)
c)
d)
e)
deixa claro que desejaria mudar de nome.
declara que seu nome é sonoro por causa da rima.
afirma que a questão central não é o nome, mas, sim, a sua origem.
tem dúvida quanto ao tamanho do seu coração.
sugere que a atividade poética não consiste apenas em “fazer rimas”.
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
QUESTÕES 05 E 06
A terra é mui graciosa,
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear,
No chão espeta um caniço,
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro,
Tem goiabas, melancias.
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muitos.
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeraldas é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão,
Vossa perna encanareis.
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui.
(Murilo Mendes)
05. O texto:
1)
2)
3)
4)
5)
faz referência à literatura dos Jesuítas no Brasil no século XVI.
alude humoristicamente àquilo que se convencionou chamar de literatura informativa no Brasil.
parodia tendências próprias do Barroco brasileiro.
contraria qualquer proposta temática do Modernismo brasileiro de 1922.
apresenta elementos que o relacionam com o “Grupo Mineiro”, basicamente responsável pelo
Arcadismo no Brasil.
06. Após a leitura do texto, assinale com V as afirmativas verdadeiras, e, com F, as falsas.
(
(
(
)
A arte é expressão da criatividade humana; não sofre influência dos valores sociopolíticos
da época.
) A arte, apesar de expressão da criatividade humana, é também consequência da maneira
como, em determinada época, o homem interpreta e expressa
) O texto é um típico exemplo de literatura de informação, pois não tem valor artístico algum.
A sequência correta é:
a)
b)
c)
d)
e)
VVV
FFV
FVV
VFV
FVF
QUESTÕES 07 E 08
TEXTO 1
DURAÇÂO
Fortuna, ó Glória, se
evapora, e a glória
se esvanece, Glória.
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Módulo I
VILAS
Não assim o cisco da hora
– nossa –, que desdenhou
a História. Há de restar.
Glória – ossatura desfeita
embora em linha espúria –
de modo. Glória, que a
criatura, morta, de amor
ostente a fúria.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Farewelf. 3.ed.
Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 55.)
TEXTO II
PARA QUE OS DIAS NÃO SEJAM APENAS BREVES
Porque viver é mesmo o necessário
e o que fazemos é só uma
passagem entre a beleza
e o tédio,
mister reconhecer nossas
fraquezas: viver é que é
mesmo necessário,
o resto é ivencionice
de poetas.
O resto – poesia e morte, sossego
e abandono – é o que inventa a
ociosidade para que os dias não
sejam apenas breves – para que os
dias não sejam apenas breves.
(BRASILEIRO. Antônio. Antologia Poética. Salvador: Fundação casa de
Jorge Amado. COPENE. 1996. p. 46.)
07. Os textos I e II têm em comum:
a)
b)
c)
d)
e)
a visão pessimista a respeito da existência.
o ser humano visto como capaz de superar a sua fragilidade.
a voz poética consciente do fluir do tempo, tornando as coisas efêmeras.
a concepção de amor como sentimento que supera a fronteira da morte.
o fazer poético enfocado como atividade criadora de novas realidades que transformam o
sentido do viver.
08. Nota-se, no texto I:
a)
b)
c)
d)
e)
a presença de inovações formais que denunciam uma ruptura plena com a poética clássica.
a linguagem utilizada em suas funções apelativas e metalinguística.
a voz poética revelando um ser contraditório.
o uso do signo verbal com valor polissêmico.
o tom irreverente no enfoque do tema.
09. (UFF-RJ)
São demais os perigos desta vida
Para quem tem paixão, principalmente
Quando uma lua surge de repente
E se deixa no céu como esquecida.
E se ao luar que atua desvairado
Vem se unir uma música qualquer
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
Aí então é preciso ter cuidado
Porque deve andar perto uma mulher.
Deve andar perto uma mulher que é feita
De música, luar e sentimento
E que a vida não quer de tão perfeita.
Uma mulher que é como a própria lua:
Tão linda que só espalha sofrimento
Tão cheia de pudor que vive nua.
(Vinícius de Moraes. Orfeu da Conceição. In; Obra poética.
Rio de Janeiro, Aguilar, pág. 421-2.)
A opção que contém aspectos, presentes no texto, reveladores da permanência de procedimentos
românticos no Modernismo é:
a)
b)
c)
d)
e)
valorização do sentimento amoroso, negação da natureza.
valorização da música e do perfume, natureza como pano de fundo.
diluição do sentimento amoroso, predomínio da razão.
valorização sentimental da mulher, presença participante da natureza.
desvalorização da mulher, negação da natureza.
10. (ENEM)
O MUNDO É GRANDE
O mundo é grande e cabe
Nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
Na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
No breve espaço de beijar.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa.
Rio de Janeiro, 1983.)
Neste poema, o poeta realizou uma opção estilística: a reiteração de determinadas construções e
expressões linguísticas, como o uso da mesma conjunção para estabelecer a relação entre as
frases. Essa conjunção estabelece, entre as ideias relacionadas, um sentido de:
a)
b)
c)
d)
e)
oposição.
comparação.
conclusão
alternância.
finalidade.
Questões para Casa
01. CIDADEZINHA QUALQUER
Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Eta vida besta, meu Deus.
De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade
66
COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Assinale a alternativa correta sobre o autor desse poema:
a) Destacou-se como poeta da “fase heroica” do Modernismo. O poeta é Vinícius de Moraes.
b) O humor, como recurso crítico, é uma das características de sua poesia. O poeta é Carlos
Drummond de Andrade.
c) Em Capitães da Areia expressa a esperança num mundo mais justo. O Escritor é Jorge Amado.
d) É escritor reconhecido quer por sua obra cinematográfica, quer por sua prosa, da qual se
destacam as crônicas. O Escritor é Gregório de Matos.
e) Lirismo e ironia são traços estilísticos de sua prosa. O contista é Rubem Braga.
02. – Venturosa de sonhar-te,
à minha sombra me deito.
(Teu rosto, por toda parte,
mas, amor, só no meu peito!)
— Barqueiro, que céu tão leve!
Barqueiro, que mar parado!
Barqueiro, que enigma breve,
o sonho de ter amado!
Em barca de nuvens sigo:
e o que vou pagando ao vento
para levar-te comigo
é suspiro e pensamento.
— Barqueiro, que doce instante!
Barqueiro, que instante imenso,
não do amado nem do amante:
mas de amar o amor que penso!
(MEIRELES, Cecília. Canções. Obra poética. Rio de Janeiro:
José Aguilar, 1972. p. 564).
A poesia de Cecília Meireles constitui “esboços de quadros metafísicos”, o que pode ser
comprovado no texto por meio:
a)
b)
c)
d)
e)
da exaltação do ente amado em sua plenitude de beleza.
do sofrimento causado pelo distanciamento entre os amantes.
da nostalgia de um tempo marcado pela experiência concreta do amor.
de uma atitude reflexiva do sujeito poético a respeito do amor como ideia.
de versos predominantemente descritivos de uma paisagem estática que reflete o íntimo do
sujeito lírico.
03. (ENEM-09)
Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
— liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
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ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão. [...]
(MEIRELES, C. Romanceiro da Inconfidência.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1972. – fragmento)
O poema de Cecília Meireles tem como ponto de partida um fato da história nacional, a
Inconfidência Mineira. Nesse poema, a relação entre texto literário e contexto histórico indica que a
produção literária é sempre uma recriação da realidade, mesmo quando faz referência a um fato
histórico determinado. No poema, a recriação se concretiza por meio:
a) do questionamento da ocorrência do próprio fato, que, recriado, passa a existir como forma
poética desassociada da história nacional.
b) da descrição idealizada e fantasiosa do fato histórico, transformado em batalha épica que exalta
a força dos ideais dos Inconfidentes.
c) da recusa da autora de inserir nos versos o desfecho histórico do movimento da Inconfidência: a
derrota, a prisão e a morte dos Inconfidentes.
d) do distanciamento entre o tempo da escrita e o da Inconfidência, que, questionada
poeticamente, alcança sua dimensão histórica mais profunda.
e) do caráter trágico, que, mesmo sem corresponder à realidade, foi atribuído ao fato histórico pela
autora, a fim de exaltar o heroísmo dos Inconfidentes.
04. (UEL) O poema a seguir faz parte do primeiro livro de Carlos Drummond de Andrade, Alguma
poesia, publicado em 1930, e tem como título Cidadezinha qualquer.
Leia-o e assinale a alternativa correta:
Casas entre bananeiras
Mulheres entre laranjeiras
Pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus.
a) O poema denuncia de forma irônica e com uma linguagem sintética a monotonia e o tédio que
predominam em pequenas cidades do interior.
b) O poema mostra com sentimento piedoso o desajuste existencial do homem diante da vida.
c) O poema retrata de modo triste e melancólico a desventura amorosa do poeta na cidade de
Itabira, onde nasceu.
d) Predomina no poema um sentimento de nostalgia do passado, por meio de uma linguagem
muito simples e pouco elaborada esteticamente.
e) Há no poema uma preocupação de ordem social e política que sintetiza o “sentimento do
mundo” do eu-lírico.
05. (ENEM) Murilo Mendes, em um de seus poemas, dialoga com a carta de Pêro Vaz de Caminha:
A terra é mui graciosa.
Tão fértil eu nunca vi.
A gente vai passear.
No chão espeta um caniço.
No dia seguinte nasce
Bengala de castão de oiro.
Tem goiabas, melancias.
Banana que nem chuchu.
Quanto aos bichos, tem-nos muito,
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COLÉGIO
ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
VILAS
De plumagens mui vistosas.
Tem macaco até demais
Diamantes tem à vontade
Esmeralda é para os trouxas.
Reforçai, Senhor, a arca,
Cruzados não faltarão.
Vossa perna encanareis.
Salvo o devido respeito.
Ficarei muito saudoso
Se for embora daqui.
(MENDES, Murilo. Murilo Mendes – poesia completa e prosa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.)
Arcaísmos e termos coloquiais misturam-se nesse poema, criando um efeito de contraste, como
ocorre em:
a)
b)
c)
d)
e)
A terra é mui graciosa / Tem macaco até demais
Salvo o devido respeito / Reforçai, Senhor, a arca
A gente vai passear / Ficarei muito saudoso
De plumagens mui vistosas / Bengala de castão de oiro
No chão espeta um caniço / Diamantes tem à vontade
06. (UESB-13.1)
Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.
Se acaso isso é desventura: ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida.
(MEIRELES, Cecília. Pássaro. Seleta em prosa e verso.
2a ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975. p. 30).
O texto sugere que a:
a)
b)
c)
d)
e)
ânsia de ter conduz à morte.
felicidade é algo inalcançável.
ausência de cautela inviabiliza o viver.
negação da beleza é essencial à preservação da vida.
fragilidade da vida se faz presente de forma imprevisível.
07. (UESB-12.1)
Na oscilação das noites e dos dias,
ouve-se a avena suave, distribuída
sobre esse tempo como estrela exata,
tão gaia estrela, tão ocaso frio.
Comtempla-se o ondulante movimento
69
COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
das cabras, belas cabras recolhendo-se.
Seus olhares sensíveis colhem lírios
que lhes perfumam os chavelhos altos.
Foi preciso que tu, ó natureza,
cios provisionados transmitisses
e nos contaminasses com esses viços
de setas mergulhadas nas ilhargas,
no peito, como santos reeditados.
Milagre dá-se, dá-se o dom jucundo,
coisas de luz somente, coisas de ar,
leis revogadas pelas mãos infantes,
lidos pâmpanos e tão lidos zéfiros.
[...]
Nem sei de pensamento mais lavado,
de face mais rociada de epiderme,
e mãos sem temer crespas expressões,
as palmas encerradas com as promessas.
Ah! os juramentos, votos dados. Voar.
Direção de voar, prevaricato
contra a nossa lerdice postedênica,
e um doce refrigério amanhecido.
Larguei-me de mim mesmo renunciado
dos sentidos comuns. Ido na pátria,
considero-me lícito no instante;
pelo menos sem ver-me, restituo-me
pés que nunca possuí, mãos foragidas,
pensamento de lídima poesia
envolvendo o profundo da alegria,
pelo fundo dos mares e dos céus.
(LIMA, Jorge de. Invenção de Orfeu. Canto VIII. Antologia poética.
2a Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1974. p. 107-108).
Os trechos, no todo do poema, sugerem as ideias expressas nas alternativas, com exceção de:
1)
2)
3)
4)
5)
O tempo captado em seu fluir inexorável.
O mundo visto sob uma perspectiva lírica.
A presença de imagens impregnadas de sensorialismo.
O espaço concebido como um território limitado por aspectos regionais.
O uso de imagem (“avena suave”) remetendo a outra imagem (“mãos infantes”) para enfocar o
poeta como o criador.
08. (UESB-14)
Uma lua no céu apareceu
Cheia e branca; foi quando, emocionada
A mulher a meu lado estremeceu
E se entregou sem que eu dissesse nada.
Larguei-as pela jovem madrugada
Ambas cheias e brancas e sem véu
Perdida uma, a outra abandonada
Uma nua na terra, outra no céu.
Mas não partira delas; a mais louca
Apaixonou-me o pensamento; dei-o
Feliz – eu de amor pouco e vida pouca
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COLÉGIO
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Módulo I
VILAS
Mas que tinha deixado em meu enleio
Um sorriso de carne em sua boca
Uma gota de leite no seu seio.
O poeta Vinícius de Moraes focaliza, na sua obra, não só temas ligados ao místico e ao
transcendental, como também aqueles relacionados com as questões sociais e as do amor.
O poema Soneto de Despedida, expressa.
a)
b)
b)
c)
d)
a sublimação do sentimento amoroso.
a supremacia do homem em relação à mulher.
o conflito amoroso motivando a separação dos amantes.
uma analogia erótica entre elementos de naturezas distintas.
uma voz poética consciente da intensidade do amor como agente transformador radical de sua vida.
QUESTÕES 09 e 10 (UESB-14)
FILIAÇÃO
Eu sou da raça do Eterno.
Fui criado no princípio.
E desdobrado em muitas gerações
Através do espaço e do tempo.
Sinto-me acima das bandeiras,
Tropeçando em cabeças e chefes.
Caminho no mar, na terra e no ar.
Eu sou da raça do Eterno,
Do amor que unirá todos os homens:
Vinde a mim, órfãos da poesia,
Choremos sobre o mundo mutilado.
(Murilo Mendes)
Murilo Mendes faz parte da chamada geração de 30 – Modernismo brasileiro – cuja poesia busca
compreender processo dinâmico das relações do homem com o mundo.
09. O texto, representativo da poesia muriliana, apresenta:
a)
b)
c)
d)
e)
o homem como um ser dilemático.
um conflito entre o finito e o infinito.
uma concepção mística da existência.
o sentimento telúrico presente no Modernismo.
uma temática marcada pela universalidade e a atemporalidade.
10. A ótica do poeta, a poesia
a)
b)
c)
d)
e)
exerce uma função humanizadora.
intensifica a divisão de polos contrastantes.
tem um caráter redentor de pecados seculares.
atém-se a questões sentimentais no âmbito amoroso.
é portadora de uma visão negativista acerca do homem.
11. Nova Canção do Exílio
Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
71
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ÁREA DE LINGUAGENS E CÓDIGOS / LITERATURA
Módulo I
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um outro canto.
O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.
Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.
Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)
Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
O poema integra a obra Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade. Desse poema, como um
todo, é incorreto afirmar que:
a) é uma variação do tema da terra natal, espécie de atualização moderna de uma idealização
romântica da pátria.
b) estabelece uma relação intertextual com a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e se mostra
como uma espécie de paráfrase.
c) evidencia que o poeta se apropriou indevidamente do poema de Gonçalves Dias e manteve os
esquemas de métrica e de rima do texto original.
d) traduz na palavra “longe” o significado do “lá”, lugar do ideal distante, caracterizador de visão de
uma pátria idealizada.
e) utiliza a imagem do sabiá e da palmeira para sugerir um espaço “onde tudo é belo e fantástico”
e, afastado do qual, o poeta se sente em exílio.
12. (ENEM)
Ai, palavras, ai, palavras
Que estranha potência a vossa!
Todo o sentido da vida
Principia a vossa porta:
O mel do amor cristaliza
Seu perfume em vossa rosa;
Sois o sonho e sois a audácia,
Calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! Com letras se elabora...
e dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil, como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
(MEIRELES, C. Obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985 – fragmento).
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O fragmento foi transcrito do Romanceiro da Independência, de Cecília Meireles. Centralizada no
episódio histórico da Inconfidência Mineira, a obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla
sobre a seguinte relação entre o homem e a linguagem:
a) a força e a resistência humanas superam os danos provocados pelo poder corrosivo das
palavras.
b) as relações humanas, em suas múltiplas esferas, têm seu equilíbrio vinculado aos significado
das palavras.
c) o significado dos nomes não expressa de forma justa e completa a grandeza da luta do homem
pela vida.
d) renovando o significado das palavras, o tempo permite às gerações perpetuar seus valores e
suas crenças.
e) como produto da criatividade humana, a linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções e
gestos.
Questões Complementares
01. (FUVEST-10)
Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um “libertas quae sera tamen”*
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!
(Vinícius de Moraes, “Pátria minha”, Antologia poética)
*A frase em latim traduz-se, comumente, por “liberdade ainda que tardia”.
Considere as seguintes afirmações:
I.
O diálogo com outros textos (intertextualidade) é procedimento central na composição da
estrofe.
II. O espírito de contradição manifesto nos versos indica que o amor da pátria que eles
expressam não é oficial nem conformista.
III. O apego do eu-lírico à tradição da poesia clássica patenteia-se na escolha de um verso latino
como núcleo da estrofe.
Está correto o que se afirma em:
a)
b)
c)
d)
e)
I, apenas.
II, apenas.
I e II, apenas.
II e III, apenas.
I, II e III.
02. É incorreto afirmar sobra a obra de Carlos Drummond de Andrade que:
a)
b)
c)
d)
seu posicionamento individualista o afasta da problemática do homem comum, do dia a dia.
uma de suas temáticas é a reflexão em torno da própria poesia.
a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece em parte de sua obra.
ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma angústia proveniente de acreditar que não há
saída para a problemática existencial.
e) a ironia madura é uma das características mais marcantes de sua poesia.
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03. (FCMSC-SP)
Estes poemas são meus. É minha terra
e é ainda mais do que ela. É qualquer homem
ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna
em qualquer estalagem, se ainda as há.
– Há mortos? há mercados? há doenças?
É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras,
por que falsa mesquinhez me rasgaria?
Assinale a opção que contém o juízo crítico adequado ao autor do excerto:
a) o tratamento dessa multiplicidade de temas e de motivos, de captações de dados e situações da
realidade cotidiana, interiorizados para alimentar o “sentimento do mundo” que Carlos
Drummond de Andrade carre- ga consigo, amadurece progressivamente desde os primeiros
versos.
b) com Cecília Meireles, a vertente intimista afina-se ao extremo e toca os limites da música
abstrata.
c) parodiando com verve os resquícios ultrarromânticos espalhados na poesia e no teatro do
tempo, Artur Azevedo mostra-nos um retrato fiel da sociedade carioca dos últimos 20 anos do
século XIX, precisamente sua fase boêmia.
d) hoje parece consenso da melhor crítica reconhecer em Bilac não um grande poeta, mas um
poeta eloquente, capaz de dizer com fluência as coisas mais díspares.
e) a lírica de Gonçalves Dias singulariza-se no conjunto da poesia romântica brasileira como a mais
literária, isto é, a que melhor exprimiu o caráter mediador entre os pólos da expressão e os da
construção.
QUESTÕES 04 A 07
Essas questões referem-se a críticas de Alfredo Bosi a alguns poetas e devem ser respondidas com o
códugo:
a)
b)
c)
d)
e)
Cecília Meireles.
Carlos Drummond de Andrade.
Murilo Mendes.
Vinícius de Moraes.
Jorge de Lima.
04. (...) Na verdade, [...] foi pelo prosaico, pelo irônico, pelo antirretórico que [...] se afirmou como poeta
congenial- mente moderno. O rigor da sua fala madura, lastreada na recusa e na contensão, assim
como o fizera homem de esperança no momento participante de A rosa do povo, o faz agora
homem de um tempo reificado até a medula pela dificuldade de transcender a crise de sentido e de
valor que rói a nossa época, apanhando indiscriminadamente as velhas elites, a burguesia afluente,
as massas.
(BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo. Cultrix.)
05. (...) É poeta de aderência ao ser, poeta cósmico e social [...]. Tendo mantido firme a sua ânsia
libertária, ânsia que partilhou com o Modernismo anterior a 30 [...] Místico, ele perfura a crosta das
instituições e dos costumes culturais para morder o cerne da linguagem religiosa, que é sempre
ligação do homem com a totalidade. [...] Foi João Cabral de Melo Neto quem acertou no alvo
quando reconheceu: ‘(sua) poesia [...] me foi sempre mestra, pela plasticidade e novidade da
imagem. Sobretudo foi ela quem me ensinou a dar precedência à imagem sobre a mensagem, ao
plástico sobre o discursivo’. Nessa caracterização reconhecem-se o processo futurista da
montagem e o processo surrealista da seqüência onírica; a combinação de ambos faz-se pelo traço
comum, associativo, que permite que se justaponham sintática e simbolicamente os dados da
imaginação.
(BOSI, Alfredo. Op. cit. págs. 498-9.)
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06. (...) Este poeta, que, a certa altura da sua história espiritual, partilhou com Murilo Mendes o projeto
de ‘restaurar a poesia em Cristo’ [...] Começou como sonetista neo-parnasiano [...].
Mas o contato com o Modernismo em geral e, particularmente, com o grupo regionalista do Recife
[...] ajudou o poeta a descobrir a sua vocação de artista de múltiplas dimensões (a social, a
religiosa, a onírica), embora organicamente lírico, isto é, enraizado na própria atividade, mesmo
quando aparente dispersar-se em notações pitorescas, em ritmos folclóricos, em glosas dos
grandes clássicos. (...) Os poemas negros, que incorporam tantas vozes e ritmos da linguagem
afronordestina, nos dão pistas para uma decifração mais completa da religiosidade a um tempo
místico e terreno de Tempo e eternidade.
(BOSI, Alfredo. Op. cit. págs. 503-4.)
07. (...) (Seus) primeiros livros [...] também foram escritos sob o signo da religiosidade neo-simbolista
[...], mas a urgência biográfica logo deslocou o eixo dos temas desse poeta lírico por excelência
para a intimidade dos afetos e para a vivência erótica. [...] será talvez, depois de Bandeira, o mais
intenso poeta erótico da poesia brasileira moderna, [...] Alguns de seus sonetos deram vida nova à
forma antiga e povoaram de ecos camonianos o estilo de não poucos jovens estreados depois da
guerra.
(BOSI, Alfredo. Op. cit. págs. 510-11.)
08. Pastora de nuvens, fui posta a serviço
por uma campina tão desamparada
que não principia nem também termina.
e onde nunca é noite e nunca é madrugada.
Nesses versos, exemplo de poesia contemporânea, você reconhece:
a)
b)
c)
d)
e)
Cruz e Sousa e o fogo de aliteração.
Alberto de Oliveira e o apuro formal.
Cecília Meireles e a natureza fluídica.
Rui Barata e a paisagem nativa.
Álvares de Azevedo e o gosto pelo sombrio.
09. Assinale a alternativa correta, em relação aos autores e respectivos estilos de época:
a) a primeira fase do Modernismo brasileiro, inspirando-se na estética romântica, retoma a temática
nacionalista, visando à idealização da pátria.
b) Oswald de Andrade recupera a tradição literária através da paródia, pondo em xeque o ufanismo
que marcou a cultura brasileira no século XIX.
c) Oswald de Andrade, autor do Manifesto Antropofágico, defende uma arte primitiva, totalmente
desvinculada das vanguardas europeias.
d) Gonçalves Dias, poeta romântico, explorando a temática indianista e nacionalista, deu
continuidade à tradição literária inaugurada pelos historiadores do século XVI, marcada pela
necessidade de construir a independência político-cultural do Brasil.
e) idealização da terra, busca das raízes nacionais, linguagem subjetiva, quebra dos padrões
estéticos clássicos são características presentes tanto no Romantismo como no Modernismo
brasileiro.
10. Assinale a alternativa que não corresponde à postura dos representantes da primeira fase do
Modernismo brasileiro:
a) Valorizaram o prosaico e se utilizaram do humor, que surge em todos os gêneros, como
instrumento de análise e arma de luta estética.
b) Consideraram-se componentes de um movimento com postulados rigorosos em comum.
c) Pregaram a rejeição aos padrões portugueses, buscando uma linguagem mais próxima do falar
brasileiro.
d) Afirmaram sua libertação no vocabulário, na sintaxe, na escolha de temas poéticos.
e) Buscavam exprimir a vida diária, atribuindo forma literária aos fatos da civilização moderna.
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11. A obra de Vinícius de Moraes poderia ser comparada a uma dessas bonecas russas que, conforme
se abrem ao meio, saem umas de dentro das outras. Mas a comparação, que de início é tentadora,
pois Vinícius foi um poeta que se multiplicava com impressionante rapidez, falha em dois aspectos.
Primeiro, à diferença das bonequinhas russas, a obra guardada no bojo da anterior não é
necessariamente menor que aquela que a precedeu. Depois, porque, também diferentemente das
bonecas russas, ela não é sempre a mesma – na verdade, é sempre diferente e surpreendente.
(José Castello. “O metafísico popular brasileiro.”
Revista Bravo!, jul. 1998)
A respeito do autor citado no texto, é correto dizer:
a) Pertencente à fase destrutiva do Modernismo brasileiro, Vinícius trouxe de volta à literatura
brasileira o romance romântico e o sentimento amoroso.
b) Através de seus poemas, o autor cantou de forma inigualável a mulher e o amor, caracterizandose como um dos mais expressivos poetas de sua geração.
c) Iniciou sua obra literária com Tom Jobim, compondo em parceria com ele músicas consagradas
como Garota de Ipanema, Felicidade e Se todos fossem iguais a você.
d) Sua obra apresenta uma linha única, baseando-se somente na exaltação do amor através de
sonetos perfeitos.
e) O autor, à medida que envelhecia, foi deixando de lado a criatividade, repetindo temas e versos
em seus últimos livros.
12. A poesia de Carlos Drummond de Andrade já foi interpretada pelos críticos como um encontro entre
a timidez e o pessimismo irônico. O poeta mineiro lutou contra essas suas características pessoais,
buscando envolver-se social e politicamente com a grave situação internacional da década de 40. É
o que se pode reconhecer nos livros:
a)
b)
c)
d)
e)
Alguma poesia e Brejo das almas.
Paulicéia desvairada e Clã do jabuti.
Viagem e Mar absoluto.
Claro enigma e Fazendeiro do ar.
Sentimento do mundo e A rosa do povo.
13. (FUVEST) Refere-se corretamente a Alguma Poesia, de Drummond, a seguinte afirmação:
a) a imagem do poeta como gauche revela a sua militância na poesia engajada e participante, de
esquerda.
b) as oposições sujeito-mundo e província-metrópole são fundamentais em vários poemas.
c) A filiação modernista do livro liberou o poeta das pre- ocupações com a elaboração formal dos
poemas.
d) o livro não contém textos metalinguísticos, o que caracteriza a primeira fase do autor.
e) a ironia e o humor evitam que o eu-lírico se distancie ou se isole, proporcionado-lhe a comunhão
com o mundo exterior.
14. (FUVEST) Pode-se dizer que os poemas de Alguma Poesia filiam-se às propostas estéticas da
primeira geração modernista porque:
a) exalta-se o dinamismo da urbanidade, que possibilita uma vida mais plena e satisfatória.
b) demonstram a preocupação do autor em abordar temas relacionados à diversidade cultural
brasileira, a partir de uma ótica ingênua que pode ser chamada de “primitivista”.
c) através do desenvolvimento de temas prosaicos, incorporam o cotidiano como matéria de
poesia, idealizando-o como o âmbito dos acontecimentos e sentimentos sublimes.
d) caracterizam-se pela brevidade e pelo espírito de síntese, já que se apresentam na forma de
poemas-pílula.
e) apresentam retratos urbanos e provincianos em que, normalmente, prevalece menos uma lógica
descritiva que uma perspectiva prismática da realidade vivida e observada.
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QUESTÕES 15 E 16 (FUVEST)
I.
(...)
Há máquinas terrivelmente complicadas para as ne- cessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
(...)
(O sobrevivente)
II
Cota zero
Stop.
A vida parou.
Ou foi o automóvel?
15. Sobre esses versos, extraídos de Alguma Poesia, pode-se dizer que:
a) os dois textos podem ser aproximados quanto ao tema (mecanização do cotidiano), entretanto,
enquanto o primeiro apresenta uma visão crítica sobre o tema, o segundo faz uma apologia
bem-humorada do progresso urbano.
b) os textos assemelham-se não apenas quanto ao tema (automatização da vida humana), mas
também quanto à linguagem: ambos apresentam a brevidade e a descontinuidade sintática
características de Alguma Poesia.
c) a crítica à mecanização excessiva que caracteriza a vida moderna evidencia-se, no texto I,
especialmente no emprego da antítese no primeiro verso, e, no texto II, no emprego do
estrangeirismo, ou barbarismo (stop).
d) o texto II apresenta, através de uma linguagem marcada pela concisão telegráfica, a crítica
presente no texto I, uma vez que os termos zero, stop e parou indicam a total dependência da
vida moderna em relação às máquinas.
e) a máquina como assunto poético pode ser verificada nos dois textos, o que torna evidente a
influência exercida, sobre o autor, da vanguarda artística conhecida como futurismo.
16. Os versos de Cota zero são de Carlos Drummond de Andrade, na fase de sua poesia em que:
a)
b)
c)
d)
e)
a temática social passa a constituir o centro de suas preocupações.
deixou-se influenciar, ainda jovem, pela prosa poética dos neosimbolistas.
escreve as peças elegíacas de Claro enigma e Fazendeiro do ar.
passa a registrar, quase em tom de crônica, os fatos de seu passado mineiro.
revela-se diretamente influenciado pela poética do Modernismo de 22.
17. (FUVEST) Com o próprio título indica, no Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, os
romances têm como referência nuclear já frustrada rebelião na Vila Rica do Século XVIII, no
entanto, deve-se reconhecer que:
a) a base histórica utilizada no poema converte-se no lirismo transcendente e amargo que
caracteriza as outras obras da autora.
b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura narrativa do poema emprestam ao texto as
virtudes de uma elaborada prosa poética.
c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade de interferir no curso dos episódios essenciais
da rebelião, alterando-lhes o rumo.
d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dos fatos centrais,
quanto motiva o lirismo reflexivo.
e) a preocupação com a fidedignidade histórica e com o tom épico atenua o sentimento dramático
da vida, habitual na poesia da autora.
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18. (FUVEST) Refere-se corretamente a Alguma poesia, de Drummond, a seguinte afirmação:
a) A imagem do poeta como gauche revela a sua militância na poesia engajada e participante, de
esquerda.
b) As oposições sujeito-mundo e província-metrópole são fundamentais em vários poemas.
c) A filiação modernista do livro liberou o poeta das preocupações com a elaboração formal dos
poemas.
d) O livro não contém textos metalinguísticos, o que caracteriza a primeira fase do autor.
e) A ironia e o humor evitam que o eu-lírico se distancie ou se isole, proporcionado-lhe a comunhão
com o mundo exterior.
QUESTÕES 19 E 20 (PUCCAMP)
SENTIMENTAL
Ponho-me a escrever teu nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
E debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.
Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!
- Está sonhando... Olhe que a sopa esfria!
Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
Neste país é proibido sonhar.
19. Este poema é caracteristicamente modernista, porque nele:
a)
b)
c)
d)
a uniformidade dos versos reforça a simplicidade dos sentimentos experimentados pelo poeta.
tematiza-se o ato de sonhar, valorizando-se o modo de composição da linguagem surrealista.
satiriza-se o estilo da poesia romântica, defendendo os padrões da poesia clássica.
a linguagem coloquial dos versos livres apresenta com humor o lirismo encarnado na cena
cotidiana.
e) o dia a dia surge como novo palco das sensações poéticas, sem imprimir a alteração profunda
na linguagem lírica.
20. Destacam-se no poema características marcantes do Drummond modernista. São elas:
a)
b)
c)
d)
e)
a tendência metafísica, o discurso sentencioso e o humor sutil.
a memória familiar, o canto elegíaco e a linguagem fragmentada.
a exposição da timidez pessoal, a fala amargurada e a recuperação da forma fixa.
a preocupação de cunho social, o pessimismo e a desintegração do verso.
o isolamento da personalidade lírica, a ironia e o estilo prosaico.
21. (PUC)
(...) Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
Mal redimidos da noite,
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Duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos de aurora.
Em 1945, Carlos Drummond de Andrade escreveu
A Rosa do Povo, da qual o fragmento faz parte.
Nele podemos verificar:
a)
b)
c)
d)
e)
uma análise do comportamento humano, na relação cidade e campo;
apenas uma teoria de sua própria produção poética;
uma reflexão sobre os valores teológicos e metafísicos do homem contemporâneo;
uma temática social e política e uma denúncia das dilacerações do mundo;
nda.
22. (PUC)
(...) Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue... não sei.
Por entre objetos confusos,
Mal redimidos da noite,
Duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos de aurora.
Em 1945, Carlos Drummond de Andrade escreveu
A Rosa do Povo, da qual o fragmento faz parte.
No fragmento, Carlos Drummond de Andrade constrói, poeticamente, a aurora. O que permite
visualizar esse momento do dia corresponde:
a)
b)
c)
d)
e)
a objetos confusos mal redimidos da noite;
à garrafa estilhaçada e ao ladrilho sereno;
à aproximação suave de dois corpos;
ao enlace amoroso de duas cores;
ao fluir espesso do sangue sobre o ladrilho.
23. Assinale a alternativa incorreta a respeito da poesia de Carlos Drummond de Andrade:
a)
b)
c)
d)
e)
O jogo verbal, em alguns poemas, acentua a relativização das várias faces da realidade.
O sujeito poético, várias vezes, reveste suas expressões de um fino traço de humor.
O sujeito poético, constantemente, transmite sensações de dúvida e de negação.
Os versos que contêm uma ênfase mística podem ser vistos como produtos do fervor católico do poeta.
Importantes poemas publicados na década de 1940 tratam de temas de caráter social.
24. E o olhar estaria ansioso esperando
e a cabeça ao sabor da mágoa balançado
e o coração fugindo e o coração voltando
e os minutos passando e os minutos passando...
(Vinícius de Moraes, O olhar para trás)
A figura de linguagem que predomina nestes versos é:
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a) a metáfora, expressa pela analogia entre o ato de esperar e o de balançar.
b) a sinestesia, manifestada pela referência à interação dos sentidos: visão e coração no momento
de espera.
c) o polissíndeto, caracterizado pela repetição da conjunção coordenada aditiva e, para conotar a
intensidade da crescente sensação de ansiedade contraditória do ato de esperar.
d) o pleonasmo, marcado pela repetição desnecessária da conjunção coordenada sindética aditiva e.
e) o paradoxo, expresso pela contradição das ações manifestadas pelos verbos no gerúndio.
25. Você, que só faz usufruir
e tem mulher para usar ou para exibir,
você vai ver um dia
em que toca você foi bulir.
A mulher foi feita
pro amor e pro perdão.
Cai nessa, não.
Cai nessa, não.
(Vinícius de Moraes e Toquinho)
Assinale a alternativa correta, de acordo com o trecho lido:
a)
b)
c)
d)
e)
o homem não se deve iludir, porque a mulher é traiçoeira.
o importante, na relação amorosa, são as aparências.
usufruir, no texto, significa esbanjar dinheiro.
a mulher é superior ao homem, porque ama e perdoa.
não se deve crer que a mulher sabe apenas amar e perdoar.
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DIÁLOGO ELETRÔNICO:
[email protected]
Face:
ZÉ CARLOS BASTOS II
ZÉ CARLOS BASTOS GRUPO HUMANAS
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