rainha do luxo
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rainha do luxo
local texto simone costa carvalho fotos lamedia rainha do luxo 66 Assim como Paris tem a Avenue des Champs Elysèes, Los Angeles a Rodeo Drive e Nova Iorque a 5th Avenue, Lisboa não escapa à regra. Por cá, a rainha do luxo é a Avenida da Liberdade. São 1500 m de puro prazer para os amantes do melhor da vida. p 67 ara a esquerda ou para a direita? Onde é que iniciamos o nosso roteiro? O Natal está aí e ainda falta riscar uma série interminável de nomes na nossa lista de prendas. Esta indecisão é a gota de água num copo cheio de ansiedade. Sábado, 10h00 e parece que 8 milhões de portugueses decidiram ir às compras – os outros 2 milhões ficaram a dormir (felizmente). O trânsito flui daquela forma “parada” que testa os impacientes – ainda bem que viemos de Classe S. É inegável: Lisboa está a fervilhar com os preparativos para a quadra natalícia e nós começamos a fervilhar de desespero, porque não nos ocorre qual a zona em que podemos encontrar o melhor de três mundos – moda, estética e restauração. É isso mesmo: combinámos uma ida às compras, mas isso não quer dizer que o tenhamos de fazer desnutridas, desgrenhadas ou sem direito a uma curta pausa no meio da azáfama de S, M, L e XL, de 50 ou 100 ml, de preto ou branco, liso ou com riscas. De repente, alguém na comitiva [as mulheres detestam ir sozinhas às compras], lembra-se de um > Louis Vuitton: qualidade e exclusividade não precisam de saldos. 70 68 < Prada: o mais recente reforço na oferta de requinte da Avenida da Liberdade. estudo recente e sugere: “Porque não escapamos ao bulício e vamos para a Avenida da Liberdade?” Esta rua é o paraíso dos apreciadores das grandes marcas, leia-se os clientes que gostam de exclusividade. E, como esta tem um preço, regra geral as lojas prime não oferecem grandes dificuldades à circulação. Soa perfeito, tanto mais que ficámos animadas com a perspectiva de adquirir uns miminhos naquela que foi considerada pela Excellence Mystery Shopping – organização que reúne institutos de pesquisa de mercado de diversos países – a 10.ª rua mais luxuosa do mundo. O ranking em causa, divulgado em 2009, resulta da análise de critérios como arquitectura e decoração das boutiques, cordialidade dos vendedores e o tipo de pessoas que frequentam essa artéria. Nesta ponderação A Avenida da Liberdade é a 10.º mais luxuosa do mundo. evidenciaram-se os 1500 m da Avenida da Liberdade, morada obrigatória para algumas das melhores marcas do planeta, que estavam prestes a resolver os nossos problemas. ercedes-Benz estacionado, um sol convidativo – coisa que raramente se pode apreciar um centro comercial – e eis-nos prontas a abrir as hostilidades. Vamos para cima ou para baixo? É que quer de um lado quer do outro são mais do que muitas as griffes cuja iluminação natalícia incentiva o consumo. Optamos por descer a Avenida e rapidamente nos apercebemos de que as marcas de luxo são quase imunes às flutuações económicas. Em época de crise, porque não comprar um cinto Dolce & Gabbana (258 B)? Até porque há fortes probabilidades de darmos de cara com o Cristiano Ronado ou o José Mourinho – a marca italiana é uma das favoritas das estrelas do futebol. A próxima paragem ficou por conta da Ana, que pretendia um vestido para o réveillon e não queria correr o risco de encontrar um modelo igual na festa. Enquanto levava seis possibilidades para a cabina de prova, decidimos avançar. Paragem obrigatória na Prada (216), marca que só está presente em 12 países europeus e que decidiu inaugurar uma loja em Portugal no passado mês de Junho. Trata-se da primei- m 71 ra flagship da casa italiana no nosso país e, nos seus 650 m2, é um templo de requinte, onde sabe bem “orar” ao criador para que ele continue a brindar-nos com pronto-a-vestir, acessórios e calçado, para homem e senhora, incomparáveis. Ainda assim, há que haver disciplina. “Mesmo os ricos, estão mais exigentes na compra de objectos de luxo. É que o dinheiro gasto nesses produtos não está a ser canalizado para outros investimentos”, explica a autora da obra O Império do Luxo, Cristina de Azevedo Rosa. O livro, publicado em Novembro pela editora Lidel, contempla outra das griffes por onde passámos: a mítica Louis Vuitton (190). Se a Avenida da Liberdade é conhecida como a mais luxuosa artéria do país deve-o grandemente à casa pariense. Num prédio de esquina, a boutique está envolvida num halo de misticismo, pois quem sai de lá de saco na mão de certeza que não comprou em saldos. O elitismo desta marca explica-se facilmente – aqui a política comercial impede promoções. E quem compra gosta de estacionar em frente, que lhe abram a porta e que o estraguem com atenções. Quem não aprecia? “Os clientes do luxo são os ricos e todos os outros!”, avança Cristina de Azevedo Rosa. Afinal, quem não quer “distinguir-se da massa, pertencendo a ela”, questiona a investigadora. Por esta altura, o grupo já estava dividido – quase > < Longchamp: as grandes marcas fazem boa vizinhança. Logo ao lado está a Louis Vuitton tradição Tivoli Forum: um centro comercial no meio da feroz concorrência das lojas de rua. As grandes marcas têm aficionados puros e duros. 71 Dolce & Gabbana: a eleita dos futebolistas. Montblanc: nem o facto de o prédio estar em obras afasta a clientela selecta. parecia um jogo de futebol entre solteiras e casadas. As primeiras sentiam-se a jogar em casa na Fashion Clinic (180) do Tivoli Forum, as segundas já tinham consumido grande parte do budget na Rosa & Teixeira (204), mas queriam surpreender ainda mais a cara-metade. Resultado, estavam à espera do verde para atravessar a passadeira. A meta? Não era uma, mas sim três: Ermenegildo Zegna (151), Boss Store (141) e Montblanc (107). Se esta é a garantia de um marido feliz por poder fazer um brilharete na próxima reunião com uma sofisticada caneta – talvez revestida a ouro ou com cristais incrustados –, a Zegna e a Boss são referências incontornáveis em moda masculina. A escolha é sempre uma questão de estilo. Do outro lado da Avenida, no meio-campo das solteiras, o tema também era esse. Estávamos no n.º 150, a boutique da nova-iorquina Carolina Herrera, e era impossível não recordar a recomendação da estilista venezuelana - “A mulher tem que vestir o que lhe cai bem e combina com a sua personalidade, mesmo que não esteja na moda”. Onde é que está o espelho? Ups… Este look precisa de um jeitinho. O Eduardo Beauté (166) podia resolver, mas do outro lado da linha confirma-se o receio: “Já não aceitamos mais marcações.” Resta saciar a fome, o que dá aso a nova votação. Hard Rock Café (2), Terraço do Tivoli (185), Brasserie Flo (185) ou Ad-Lib (127)? Era bom chegar a um consenso antes que se acendessem a luzes de Natal. Ou talvez não. É que assim a Avenida da Liberdade fica com um irresistível glamour. Emporio Armani: exclusividade a toda a prova.