Fisioterapia_2001 - Faculdade Montenegro
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Fisioterapia_2001 - Faculdade Montenegro
Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 1 Janeiro / Fevereiro de 2001 ISSN 1518-9740 Biomecânica Orientação espacial e recrutamento muscular Hidroterapia Controle do estresse pela técnica de Watsu Neurologia Alterações respiratórias na doença de Parkinson Terapia de dança Melhora do equilíbrio do tronco em portadores de lesão medular Pós-graduação Reconhecimento dos diplomas www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 2 Março / Abril de 2001 ISSN 1518-9740 Pesquisa Iº Congresso Brasileiro de Pesquisa em Fisioterapia Terceira Idade •Programa terapêutico em mulheres com incontinência urinária •Impacto no desempenho funcional de um programa fisioterapêutico interdisciplinar Biomecânica •Métodos de mensuração de equilíbrio •Avaliação da eficácia da técnica cirúrgica de Cavalier www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 3 Maio / Junho de 2001 ISSN 1518-9740 Gravidez •Avaliação cinesiológica das curvaturas lombar e torácica das gestantes Laserterapia •Uso do laser no tratamento das úlceras de decúbito Biomecânica •Análise da pressão plantar •Estudo do equilíbrio em idosos Atualização •Análise das técnicas de tratamento da lombalgia www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 4 Julho / Agosto de 2001 ISSN 1518-9740 Laserterapia •Princípios de laserterapia Neurologia •Técnicas de relaxamento e seqüelas de acidente vascular cerebral Esporte •Cinesiologia do movimeto do ataque no voleibol Caso Clínico •Estudo sobre o pé equino www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 5 Setembro / Outubro de 2001 ISSN 1518-9740 Pneumo funcional •Tratamento da fibrose cística Anatomia •Músculos isquiorretais no posicionamento do quadril Cinesiologia •Estudo sobre a preensão palmar Caso clínico •Reabilitação vestibular em duas pacientes com vertigem posicional paroxística benigna www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil o ano 2 - n 6 Novembro / Dezembro de 2001 ISSN 1518-9740 Laserterapia •Princípios de laserterapia - Parte 2 Efeitos sobre os tecidos biológicos Performance •Aspectos centrais e periféricos da fadiga Biomecânica •Implicação dos músculos espinhais na escoliose Hidroterapia •Histórico e princípios da hidroterapia www.atlanticaeditora.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 269 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº5 set/out 2001 - 269~328) EDITORIAL Um ano de muitos trabalhos, os editores ......................................................................................... 271 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ......................................................................... 272 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Fisioterapia Avaliação de prática crianças com fibrose cística após 12 meses de fisioterapia respiratória, Juliana de F. Fracon, Maria J. J. Sologuren, Ada C. Gastaldi, Mário Antônio Baraúna ......... 289 Estudo sobre a realização da preensão palmar com a utilização do dinamômetro: Considerações anatômicas e cinesiológicas, Demóstenes Moreira, José Roberto Pimenta de Godoy, Watercides Silva Junior ............................................................ 295 A importância dos músculos isquiorretais no posicionamento do quadril, sob uma visão anatômica, José Antônio SFA Pinna Cabral, Fernando Pinna Cabral, Renato Guimarães Loffi, Robson Ines Moreira da Rocha, Renata Carolina de Pinna Cabral ............. 301 A importância da avaliação multidisciplinar da articulação temporomandibular em uma faixa etária de 10 a 12 anos, Marcus Vinícius de Mello Pinto, Giselle Oliveira de Souza, Marcelly Pedroni ......................... 309 Ginástica Laborativa Caso clínico: Reabilitação vestibular em duas pacientes com vertigem posicional paroxística benigna, André Luís Santos Silva, Silmar Silva Teixeira, João Soares Moreira, Simone Fernandes .......................................................................................... 313 Normas de publicação ......................................................................................................................... 324 EVENTOS ............................................................................................................................................. 328 A equipe editorial da Fisioterapia Brasil parabeniza seus leitores pelo dia do Fisioterapeuta. ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 270 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília) Grupo de assessores (2000-2001) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Recife) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Campo Grande) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Porto Alegre) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Profa. Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 – Belo Horizonte) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Salvador) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 – São Paulo) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 2244-6471 / 2285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2244-6471 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: Menelau Sete, sem título, acrílico sobre tela, 100x80 cms, 1998 I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 271 Editorial Um ano de muitos trabalhos Um ano. Pois é, já estamos fazendo nosso primeiro aniversário e podemos festejar como um projeto bem sucedido. Uma revista é sempre uma criança para seus editores, e a cada novo número existe a preocupação de melhora-la em relaçao ao anterior. Como periódico científico o compromisso é de estar trazendo a seus leitores uma atualização permanente dos trabalhos e pesquisas desenvolvidos no Brasil, o que temos feito como ninguém até hoje na Fisioterapia. E quando falamos do Brasil é porque, por não estarmos ligados a qualquer instituição, podemos ter uma independência editorial quanto aos trabalhos submetidos sem nos preocuparmos em privilegiar um ou outro pesquisador, recebendo material de todos os centros de pesquisa brasileiros. Na seleção do que vai ser publicado é que é feita a peneira com muito critério do conselho científico da Fisioterapia Brasil. Podemos destacar trabalhos originais de grande importância científica que equipes de fisioterapêutas desenvolveram em centros de pesquisa reconhecidos nacionalmente, tal como a FIOCRUZ-RJ, a UFSCAR-SP e UNIT-MG entre outros. Pesquisadores que outrora somente buscavam publicar em periódicos estrangeiros começaram a mandar seus trabalhos para a Fisioterapia Brasil entendendo que a revista, embora muito nova, já estava fadada a ser uma referência para o meio acadêmico. Foram mais de 25 artigos publicados neste primeiro ano. Agradecemos a todos que neste primeiro ano colaboraram com a revista e convocamos quem queira colaborar que se apresente, pois será muito bem vindo. Aproveitamos também para dar nossos parabéns pelo dia 13 de outubro, dia do Fisioterapeuta, que é o motivo da existência deste periódico. Boa leitura, parabéns e obrigado por este nosso primeiro aniversário, Os editores. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 272 Resumos do XV Congresso Brasileiro de Fisioterapia Trabalhos apresentados no XV Congresso Brasileiro de Fisioterapia, 10 a 14 de outubro de 2001, São Paulo - SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Juliana Tieppo*, Eder Marcolin*, Iara Schneider**, Adriane Bertotto**, NP Nora*** Condutas fisioterapêuticas no tratamento do linfedema no pós-operatório do câncer de mama *Acadêmica Fisioterapia ULBRACanoas-RS, **Profª.ULBRA-IPA/ POA/RS - Mestra p/UCES-ARG, ***Fisioterapeuta Hospital São Lucas-PUC- POA/RS Introdução Este estudo investiga as mulheres que desenvolveram Edema Linfático no membro superior ao lado ipsilateral do local da abordagem cirúrgica do câncer de mama. O objetivo é investigar a eficácia da bandagem compressiva funcional e da drenagem linfática manual na recuperação dessas pacientes. Metodologia A pesquisa tem caráter de estudo observacional exploratório de grupo, tendo sido realizado uma ficha de avaliação e um protocolo de tratamento fisioterapêutico, constando de drenagem linfática e bandagem compressiva funcional. O método da pesquisa seguiu-se de avaliação inicial e reavaliações semanais (anamnese, registro fotográfico, mensurações perimétricas); drenagem linfática manual por 30 minutos e aplicação da bandagem funcional por 24 horas; freqüência de seis atendimentos semanais, por um período de quatro semanas. Resultados Foram atendidas sete pacientes mulheres, com idade entre 46 e 79 anos, sendo que quatro foram submetidas à quadrantectomia com esvaziamento axilar total e as outras três à mastectomia radical modificada com esvaziamento axilar. Todas as pacientes do grupo submeteram-se à radioterapia póscirúrgica. O tempo de instalação do linfedema foi em torno do sexto mês de pós-cirúrgico nas sete mulheres. Nos resultados obtidos até o presente, observou-se uma média de redução na perimetria do antebraço em torno de 1,5 cm, com relatos significativos a respeito da qualidade vida: diminuição da sensação de peso, melhora na execução das atividades de vida diária, sensação de bem-estar e conforto. Conclusão Com isso, concluímos que o tratamento fisioterapêutico colabora de maneira importante na recuperação funcional e na reintegração dessas mulheres ao meio familiar, emocional, social e cultural, bem como na ajuda de seu reconhecimento pessoal, resgatando a sua imagem e integridade corporal. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 273 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Waldemar A. das Neves Jr*,Laís Záu Serpa de Araújo** A fisioterapia em relação aos pacientes terminais *Acadêmico do Curso de Fisioterapia da UNCISAL, Maceió – AL, **Professora de Bioética da UNCISAL, Mestre em Patologia pela UFF Introdução Os fisioterapeutas que trabalham nas Unidades de Terapia Intensiva cotidianamente cuidam de pacientes em condições clínicas graves, alguns casos, inclusive, em situações de risco de vida. Por esta razão, é extremamente importante que o profissional esteja preparado, tanto técnica como eticamente para enfrentar essa difícil tarefa. Este trabalho teve como objetivo traçar um perfil dos profissionais da fisioterapia e conhecer sua opinião sobre questões que envolvem os pacientes terminais. Material e métodos O universo pesquisado foram os fisioterapeutas que trabalham em Unidades de Tratamento Intensivo nos Hospitais de Alagoas. Foi aplicado um questionário para obter informações sobre a formação técnica do profissional e sua opinião sobre pacientes terminais, autonomia do paciente, eutanásia e distanásia. Resultados Obtivemos um total de 54 profissionais que atuam no Estado de Alagoas, sendo 22 que trabalham nas Unidades de Tratamento Intensivo, distribuídos entre os 8 hospitais que oferecem este tipo de serviço no Estado de Alagoas. Mais de 60% dos profissionais têm herança religiosa católica. Todos entrevistados responderam que explicam os procedimentos aos seus pacientes. Em relação à eutanásia ativa, 5,5% são a favor e 94,5% são contra. Eutanásia passiva 73,5% são contra e 26,5% são a favor. Sobre a autonomia do paciente terminal quando consciente, 58% dos fisioterapeutas responderam que têm autonomia e 42% que não. Conclusão É evidente a importância das informações prestadas aos pacientes, mesmo quando na condição terminal; identificou-se a influência da herança religiosa na opinião dos profissionais quando se trata de eutanásia; e, a maioria absoluta dos fisioterapeutas entrevistados é contra a eutanásia ativa ou passiva. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Pantaleão C, Caixeta F, Fulgêncio G, Sade I, Gouveia J, Ferraz J, Pires M, Scárdua M, Malta P, Diniz T, Seabra V, Abrunhosa A, Campos F, Frigeri F, UCP, Petrópolis – RJ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A fisioterapia respiratória em UTI na síndrome de Guillain Barré O objetivo deste trabalho é mostrar como a fisioterapia previne complicações respiratórias na SGB durante a hospitalização do paciente e facilita a reabilitação pós-ventilação mecânica. Esta síndrome é uma inflamação das raízes nervosas, levando a alterações da sensibilidade e da motricidade, provocada pela desmielinização da bainha, que impede os impulsos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 274 neuromusculares e o arco reflexo. A principal manifestação clínica é a fraqueza muscular, que evolui com caráter progressivo e crescente, começando nos pés, podendo progredir para paralisia motora total com morte, devido à insuficiência respiratória, pelo acometimento de diafragma e intercostais, em poucos dias. Até a terceira semana tem-se a máxima evolução, regredindo com melhora dos sintomas ao longo de alguns meses. O fisioterapeuta atua durante a permanência do paciente sob assistência ventilatória onde são observadas alterações como a degradação da função muscular, por redução da força, tônus e trofismo; que são visíveis quando há insucesso no desmame ventilatório. Uma das técnicas utilizadas é a aplicação da pressão positiva em dois níveis, BILEVEL (IPAP – Pressão positiva inspiratória, EPAP - pressão positiva expiratória) que incrementa a endurance da musculatura respiratória promovendo melhor performance. Estes níveis pressóricos quando superior a 10 cm H2O, proporcionam a abertura das vias aéreas reduzindo o trabalho muscular respiratório. A cinesioterapia respiratória enfatiza as manobras de reexpansão, desobstrução pulmonar e higienização brônquica, evitando complicações como atelectasias, infecções respiratórias, barotrauma. O trabalho mostra, portanto, de forma clara e científica, a importância do treinamento muscular respiratório para uma readaptação progressiva aos esforços e aceleração do processo de desmame. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Layla Bandeira Arruda, Thaís Amanda Monteiro Nobre Universidade da Amazônia, Belém – Pará, Orientação: Prof. Ms Renato Teixeira, Prof. Mestrando Nelson Higino de Oliveira Filho ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Análise do músculo tríceps sural em adolescentes que usam calçado de salto alto Introdução O objetivo da pesquisa foi verificar as conseqüências que o uso do salto alto traz para musculatura tríceps sural. Método O estudo foi feito nas dependências de três escolas da rede particular na cidade de Belém com 50 adolescentes de faixa etária entre 13 e 18 anos que usam salto alto há pelo menos 5 anos. O instrumento utilizado na pesquisa foi o goniômetro e os testes musculares foram do tipo passivo nas posições sentado em decúbito dorsal com pernas estendidas e decúbito ventral com joelhos fletidos a 90º, segundo preconizado por Palmer. Resultados Os resultados revelaram diminuição da amplitude de movimentação de 92,85% dos testes para o gastrocnêmio e em 59,18% dos testes para o sóleo. Conclusão Os dados da pesquisa dentro das condições utilizadas, evidenciaram que a utilização do uso de salto alto traz como uma conseqüência, a contratura da musculatura tríceps sural, principalmente, dos gastrocnêmios. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 275 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carla Domingues, Ligia Veronica Aita, Michele Forgiarini Saccol Análise postural em atletas femininas de handebol Universidade Federal de Santa Maria – UFSM - RS A prática de esportes pode ser o fator desencadeante de alterações posturais que levam a limitações na amplitude de movimento e que, futuramente, poderão desenvolver dores e desconfortos, além de afetar o desempenho esportivo. O handebol é um esporte de grande contato corporal, requerendo ações repetitivas, saltos, corrida e movimentos complexos, além da solicitação assimétrica da musculatura de tronco e braços. Dessa forma, alterações clínicas no sistema locomotor e na postura podem ocorrer, sendo necessário uma avaliação fisioterápica global, identificando assimetrias corporais desencadeadas ao longo da prática do desporto. A população alvo deste estudo foram as 22 atletas da Seleção Brasileira Adulta Feminina de Handebol convocadas para a fase de treinamentos em Santa Maria (RS), visando os Jogos Olímpicos de Sidney. A ficha de avaliação postural utilizada foi a do Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário da UFSM, sendo realizada a análise visual de assimetrias e desequilíbrios corporais, além do registro fotográfico. Em 63,6% das atletas a anteversão pélvica pode ser observada, sendo que 50% dos casos em combinação com a lordose lombar. Quanto aos desvios na coluna, estes existiam em toda população sendo a lordose lombar (68,18%) mais comum. As assimetrias no ombro e escápula também apresentaram frequência elevada com alterações em 100% das atletas: anteriorização de ombros em 95,4% e 90,9% das escápulas com abdução isolada ou combinações de desvios (abdução e elevação, p.ex). As assimetrias observadas e aqui relatadas não podem ser caracterizadas como estruturais, tendo em vista a forma subjetiva da análise. Os desequilíbrios musculares encontrados e a alta frequência de alterações na coluna revelam a carência de estudos na área da fisioterapia desportiva, bem como a importância da avaliação e acompanhamento dos atletas por este profissional. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Anahi F. N. Pereira, Daniela Costa, Simone M. Macêdo, Solange T. Silva Centro Universitário do Triângulo, Uberlândia - MG ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Autismo: Uma abordagem fisioterápica O autismo é uma inadequação do desenvolvimento que se manifesta de maneira grave durante toda a vida (Grünspun, 78) com alterações presentes desde idades muito precoces e que se caracteriza, sempre, pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem/comunicação e comportamento, com duas características cardinais: isolamento extremo e um desejo ansiosamente obsessivo de preservação da rotina, e da mesmice Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 276 (Molfetta, 97). Segundo o livro “Autismo e psicose infantil”, autismo traduzido literalmente significa viver em termos do próprio eu, ou seja, uma criança centrada em si mesma (Moreira, 96). O diagnóstico é baseado no quadro clínico e não poderá, portanto, ser feito puramente com base em testes e algumas escalas de avaliação (Lippi, 99). Com isso, vemos a necessidade de esclarecer melhor a patologia e seu quadro clínico, facilitando o diagnóstico para os profissionais da área de saúde bem como os pais destas crianças, e dando uma abordagem multidisciplinar com ênfase nos benefícios do tratamento fisioterápico, para que elas não sejam prejudicadas com um tratamento iatrogênico e tardio, pois o autismo pode passar desconhecido ou mal diagnosticado por meses ou, em alguns casos, até anos. Essa pesquisa utiliza revisões bibliográficas, dando ênfase principalmente no diagnóstico, manifestações clínicas do Autismo Infantil Precoce, nos permitindo elaborar as possíveis formas de tratamento fisioterápico. O estudo nos permitiu facilitar o diagnóstico e traçar um tratamento fisioterápico adequado capaz de atuar dentro de todo quadro clínico da criança com Autismo Infantil Precoce. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cristine Hermann Nodari, Anelise Raupp, Bianca Ghiraldello, Tania Maria Zambon, Alexandre Simões Dias, Marcelo Rieder Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre ISCMPA e Faculdade de Fisioterapia do Instituto Porto Alegre – IPA, Porto Alegre - RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia no transplante hepático Introdução Cerca de dois terços dos órgãos transplantados são acometidos por pelo menos um episódio de rejeição, muitas vezes pela decorrência da heterogeneidade da doença hepática. A fisioterapia é medida integrante do suporte terapêutico dos pacientes transplantados, fornecendo uma contribuição expressiva para esta parcela da população. O objetivo desse trabalho foi descrever uma série com cinco pacientes que realizaram transplante hepático e receberam tratamento fisioterapêutico. Pacientes e métodos Foram incluídos no estudo os pacientes, que realizaram transplante hepático, entre o período de fev/2001 a abril/2001. Verificouse na avaliação, a procedência, idade, sexo, cor, profissão, renda mensal, o total de dias de internação até o momento da pesquisa, número de atendimentos prestados pela fisioterapia, complicações no pós-operatório, medicação utilizada, bem como, as técnicas aplicadas. Os pacientes receberam 3 atendimentos diários. Resultados A média de idade foi de 40,2 anos (± 10,7), sendo 2 pacientes masculinos, 4 pacientes brancos e 1 pardo. A renda mensal média, foi de 4,04 salários mínimos (± 2,1). As doenças hepáticas foram: cirrose alcoólica (2 casos), cirrose por vírus hepatite C (2 casos e 1 fulminante). O período médio de internação foi de 59,4 dias (± 22,9). Os pacientes receberam 429 atendimentos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 277 da fisioterapia, sendo que a média foi de 85,8 (± 30,9). As complicações no pós-operatório foram: derrame pleural bilateral e infecções oportunistas em 4 casos. Ocorreu óbito em 1 caso, por rejeição aguda. A medicação controle para todos os pacientes foi o Ácido ursodesoxicólico, Ciclosporina A, Omeprazol, Prednisona e Nistatina. Foram aplicadas manobras manuais desobstrutivas, exercícios de expansão pulmonar, máscara de EPAP (Pressão Positiva Expiratória) e recondicionamento físico global. Continuação Conclusão A descrição da série de cinco casos, mostrou-nos que a avaliação geral desse pacientes é satisfatória e importante para a execução da conduta fisioterapêutica, visando assim, o retorno precoce às atividades de vida diária, buscando uma melhor qualidade de vida. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marcelo Pires Prado, Maíra Andressa Malvezzi Valenzi, Leandro Siqueira Simões, Alberto Abussamra Moreira Mendes, Sérgio Luiz Jeremias Junior Centro de Ortopedia e Reabilitação no Esporte do Hospital do Coração – CORE - SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reabilitação pós tratamento cirúrgico para lesões condrais da tróclea do tálus com mosaicoplastia A lesão condral do tálus é, em sua grande maioria, associada a entorses de tornozelo. O diagnóstico é baseado na interpretação de imagens radiológicas, ressonância magnética e tomografia computadorizada. A classificação radiológica da lesão, segundo Bernt e Harty (1959), é a mais utilizada até hoje. O tratamento cirúrgico é o mais indicado devido a evolução para osteoartrose precoce. Este trabalho reuniu 5 pacientes do sexo masculino com lesão osteocondral do tálus, idade média de 32,7 anos, acometimento lateral em 2 casos, 3 lesões do lado esquerdo e tempo médio de evolução das dores após o trauma inicial de 12,7 meses. A técnica cirúrgica foi a mosaicoplastia com utilização de enxerto osteocondral autógeno da crista troclear lateral do joelho. A reabilitação precoce foi baseada na mobilização passiva e ativa de tornozelo e joelho no pós-operatório imediato, com crioterapia após os exercícios. Os exercícios foram intensificados após 5-7 dias com estimulação elétrica para minimizar a atrofia muscular. A carga foi permitida após 4 semanas nos pacientes com lesão lateral e com lesão medial pura, e após 6 semanas no paciente com lesão dupla. Inicia-se então fortalecimento muscular e exercícios de propriocepção até a reabilitação completa. Todos os pacientes retornaram ao mesmo nível de atividade que tinham antes da lesão, sendo a média de pontuação da AOFAS 94,5. O retorno as AVDs ocorreu após o retorno da marcha (16 semanas após a cirurgia). A técnica de mosaicoplastia e um programa de reabilitação baseado na mobilização e descarga de peso precoce, otimizaram os resultados obtidos. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 278 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Camila M. Chaves, Tânia M.F. Zambon, Taise C. Tessari, Cristine H. Nodari, Dr. Isidoro D. Papadopol Hospital Nossa Senhora da Conceição-HNSC- Faculdade de Fisioterapia do IPA, Porto Alegre RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Intervenção da fisioterapia na incontinência urinária e a repercussão na relação sexual Introdução A incontinência urinária (IU) é a perda involuntária de urina que representa um problema social e higiênico para o paciente. O impacto da perda de urina na qualidade de vida do paciente, restringe-o social e sexualmente, uma vez que a maioria dos pacientes reclusam-se e afastam-se dos parceiros. Objetivo Analisar a intervenção da fisioterapia em pacientes com diagnostico de IU e os resultados da aplicação da escala análogo visual quanto ao grau de satisfação sexual no início e final do tratamento fisioterapêutico. Pacientes e métodos Através do serviço de Urologia do HNSC, foram encaminhadas 58 pacientes ao ambulatório de fisioterapia, (durante o ano de 2000) para a realização de fisioterapia pélvico-vesicoesfincteriana, Foram submetidas a avaliação, exame físico, explanação anatômica, calendário miccional e aplicação de exercícios fisioterapêuticos. Concomitante ao tratamento (início, meio e fim), aplicou-se uma escala análogo visual (de 0 a 10) onde a paciente assinalava o seu grau (de melhora ou não) da condição sexual. Resultados Das 58 pacientes do estudo, 9 (20%) não apresentavam vida sexual ativa. A média de idade foi de 44,2 anos (25-71), e duração dos sintomas era de 5,5 anos, onde 24 (53,3%) das pacientes já realizaram 1 ou mais intervenções para IU. O grau da musculatura pélvica inicial foi de 2,4 (na escala de 0-5) e após 4,3 meses (em média) atingiu-se um grau de musculatura de 4,14. Usavam em média de 5,6 forros/dia inicialmente e nenhum forro ao final do tratamento. O grau quanto à melhora da qualidade sexual, inicialmente, era 1,61 (escala de 0-10) e ao final do tratamento foi de 8,25. Conclusão Através deste estudo, observamos que a implementação das atividades fisioterapêuticas, contribuíram para a recuperação da continência urinária e da melhora considerável quanto à relação sexual das pacientes. Concluímos que, o reforço da musculatura do assoalho pélvico e a recuperação da neuroplasticidade sinérgica vésicoesfincteriana em pacientes com IU refletem na melhora da qualidade da relação sexual e auto-estima da paciente Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Camilla Valladão Fernandes, Evelyn Regina Couto Unicamp, Campinas - São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 279 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia respiratória no paciente hospitalizado por tétano grave: relatos de dois casos Introdução O tétano é uma doença infecciosa, não contagiosa, freqüentemente fatal, causada pela ação do Clostridium tetani sobre as células do SNC. Devido suas características (hipertonia da musculatura estriada), observam-se: trismo, opistótono, rigidez abdominal e rigidez de nuca. Os espasmos são violentas exacerbações paroxísticas da hipertonia e levam o paciente a um quadro asfíxico, com cianose e parada respiratória. Nem sempre o uso de drogas músculo-relaxadoras cessam os espasmos, sendo então administrados bloqueadores da junção mioneural. Neste momento a fisioterapia tem o importante papel de manter as vias aéreas permeas, adequadamente ventiladas e higienizadas através da instituição de manobras terapêuticas e adequação de parâmetros da ventilação mecânica. O presente trabalho tem como objetivo observar a evolução pneumofuncional de pacientes internados com tétano grave, submetidos à ventilação mecânica e tratamento fisioterápico. Metodologia Foram observados dois casos de tétano grave internados no HC-UNICAMP durante 28 dias. Foram realizadas sessões de fisioterapia respiratória durante todos os dias de internação, incluindo técnicas de higiene brônquica, aspiração, reexpansão pulmonar e adaptação de parâmetros ventilatórios. Durante o acompanhamento dos pacientes foram avaliados a ausculta pulmonar e os radiogramas de tórax. Resultados Durante os 28 dias de tratamento fisioterápico em cada paciente, foram observados: melhora da ausculta pulmonar quanto ao desaparecimento de ruídos adventícios e aumento na ventilação pulmonar basal no paciente 1 em 71,4% dos dias de atuação fisioterapêutica, e no paciente 2, em 75% dos dias. Quanto ao acompanhamento do radiograma de tórax, foi observado que, entre a imagem do 1º dia de internação e do 28º dia, não houve alteração volumétrica, mantendo-se a expansibilidade. Conclusão Através dos resultados obtidos, concluímos que o tratamento fisioterápico foi eficaz na maior parte dos dias de atendimento, perfazendo um total de melhora na ausculta pulmonar pela anamnese em 73,2% dos dias. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 280 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Universidade do Sagrado Coração – Bauru – São Paulo) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ana Clara Bonini Rocha Centro Universitário Feevale – NH/RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Peso corporal e peso do material escolar transportado por crianças em idade escolar Cynthia Madrigal, Vanessa Silva Sales, Alberto de Vitta ○ ○ O conhecimento da quantidade de material escolar transportado pelos escolares e relacionando-o ao seu peso corporal é importante para uma atuação preventiva no sentido de impedir ou minimizar as possíveis alterações na postura e nas estruturas da coluna vertebral das crianças, além de ampliar a atuação do fisioterapeuta na área escolar. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi quantificar o peso absoluto do material escolar relacionando-o com o peso corporal dos escolares das escolas particulares de Bauru. Foram sujeitos 116 meninos e 124 meninas, com idades entre 11 e 14 anos, de 5a e 6a séries da rede de ensino particular de Bauru, no período de outubro de 2000 a março de 2001. Para a consecução do objetivo proposto foram realizados os seguintes passos: coleta de dados, junto à secretária de educação, do número de alunos matriculados nas escolas particulares da cidade de Bauru; identificação das séries escolares em que é exigida maior quantidade de material escolar; dados específicos sobre o tipo de equipamento, peso do material transportado e peso dos sujeitos da amostra. Foram feitas análises estatísticas descritivas, testes de hipótese (Mann-Whitney), teste Kruskal – Wallis e de correlação (Pearson). Os resultados indicaram que: 1) Os escolares do sexo masculino transportam maior quantidade de material escolar comparados aos do sexo feminino; 2) Os escolares que utilizam “carrinho” como equipamento para transporte do material escolar transportam maior peso comparados aos que utilizam mochila de fixação escapular e mochila de fixação dorsal; 3) Há relação inversa entre a idade e o peso do material escolar; 4) 30% dos alunos transportam material escolar com peso igual ou acima de 4kg; 5) 29,5% da amostra transportam peso acima de 10% do peso corporal e 10% estão acima de 15% do seu peso corpóreo. Pode-se concluir que os estudantes analisados estão sendo submetidos a peso de material escolar excessivo, expondo-os a um maior risco de lesões nas estruturas músculoesqueléticas da coluna vertebral. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Elogio da ação sensível - projeto de extensão em fisioterapia neurofuncional domiciliar O Projeto de Extensão em Fisioterapia Neurofuncional Domiciliar acontece no Bairro Canudos, periferia da cidade de Novo Hamburgo, região do Vale dos Sinos de Porto Alegre, 60.000 habitantes, desde setembro do ano de 1999. Veio propor uma Fisioterapia que vai ao encontro das necessidades dos alunos e da Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 população, porque se volta para valores de manutenção e de prevenção da saúde. Seus principais objetivos são de proporcionar ação de qualidade, sensível e técnica, para um recorte populacional carente e excluído, que desconhece a Fisioterapia autônoma e científica, e de possibilitar ao agente de saúde, aluno de Fisioterapia, uma ação humanista como valor profissional, o que os conduzirá a um salto em direção a qualidade profissional e para a conquista de uma identidade de ética social. O egresso terá tido todos os subsídios para produção de conhecimento específico na área da fisico-função da mais alta qualidade técnica e conhecerá os seus compromissos para com a sociedade. Os objetivos específicos são de proporcionar um campo para produção científica de projetos e trabalhos de conclusão de curso nas áreas preventiva, recuperativa, curativa, e social; Proporcionar um olhar para toda a dimensão da saúde que transcende a lógica da doença; Formar profissionais que se diferenciem por sua visão global do ser humano; Popularizar a Fisioterapia. Quer ser uma contribuição para a sociedade, uma intervenção profissional de Fisioterapia e de docência fundamentada nas relações interpessoais, científicas e fraternas, que complementem as limitações do conhecimento. A triagem é feita através do preenchimento de Ficha de Inscrição no Posto de Saúde Municipal, e a avaliação e reavaliação fisioterapêutica neurofuncional possui critérios da Medida de Independência Funcional, da Prova de Funcionalidade, da Tabela de Held, e do Controle Motor (Ashburn). São 30 alunos e 80 pacientes (crianças, adultos e idosos) sendo atendidos em 20 horas semanais por voluntários, supervisor e assessores de ensino. Desnuda-se uma demanda até então escondida pela pobreza e pelo isolamento, e que precisa ser atendida em nome da responsabilidade que tem uma ação fisioterapêutica de saúde, fazendo da Fisioterapia do século XXI uma realidade: uma terapia para a vida. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 281 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Nadia Fernanda Marconi*, Maira Lícia Foresti**, Gil Lucio Almeida*. *Universidade Estadual de Campinas, São Paulo e Universidade de Ribeirão Preto São Paulo, ** Universidade de Ribeirão Preto -São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ordem de recrutamento muscular em movimentos de apontar e sua relação com as forças geradas nas articulações Introdução Para alguns autores a ordem de recrutamento muscular seria função da orientação do braço no espaço. Para outros autores, a ordem de recrutamento muscular obedeceria à demanda mecânica da tarefa. Neste estudo testamos a hipótese de que a mudança na ordem de recrutamento seria conseqüência dos torques de interação, gerados pelo movimento da articulação focal, na articulação não-focal. Métodos Os movimentos do ombro, cotovelo e dedo indicador foram reconstruídos no espaço, utilizando um sistema óptico de análi- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 282 se tridimensional (Optotrak). Os movimentos foram realizados em cinco orientações espaciais diferentes (180°, 135°, 90°, 45° e 0°). As tarefas realizadas nas orientações espaciais de 180°, 135° e 90° foram executadas com adução do ombro e as tarefas realizadas nas orientações de 45° e 0° foram executadas com abdução. Em todas as orientações, o cotovelo sempre moveu em extensão. A partir destes dados, calculamos os torques musculares e de interação nestas articulações. Simultaneamente, registramos a atividade eletromiográfica (EMG) de cinco músculos (deltóide anterior, deltóide posterior, bíceps braquial, braquioradial e tríceps lateral). Esses dados foram utilizados para o cálculo da ordem de recrutamento muscular. Resultados A ordem de recrutamento muscular muda com a orientação espacial. Embora o cotovelo tenha movido em extensão em todas as orientações espaciais, o bíceps braquial (antagonista) foi ativado antes do tríceps braquial (agonista), em duas orientações espaciais em que o braço moveu em adução (180º e 135º). No entanto, o braquioradial comportou-se como antagonista em todas as orientações espaciais. Por outro lado, não houve uma relação entre a ordem de recrutamento da musculatura do membro superior e os torques de interação. Discussão Os resultados deste estudo revelam que a mudança na ordem de recrutamento do bíceps, em algumas orientações espaciais, deve ser atribuída à sua atuação bi-articular. Essa mudança na ordem de recrutamento atende à demanda mecânica da tarefa, em termos da geração de força muscular na articulação do ombro. Estes achados indicam que devemos ser cautelosos ao utilizarmos a terminologia agonista-antagonista para descrever a ação da musculatura, em tarefas motoras mais complexas. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cristina Faria Westphal, Simone Farhat Moujaes, Nelcy Vera Nunes Simões, Aguinaldo Gonçalves A fisioterapia participando da recuperação da corporeidade e auto-estima de idosos - estudo de caso Grupo de Saúde Coletiva/ Epidemiologia e Atividade Física – FEF/Unicamp, Campinas - SP O envelhecimento representa etapa do desenvolvimento individual, com perdas gradativas da capacidade física e intelectual e menor expectativa de vida. De posse do conhecimento do método proposto por Kelder (1985), sugerindo cinco exercícios tibetanos, com finalidade de postergar o envelhecimento, optouse pela aplicação e verificação de seus efeitos numa Instituição Asilar, na cidade de São Carlos, SP. Os objetivos da presente comunicação consistem em apresentar e descrever estudo de quatro idosos (uma mulher e três homens, 69, 60, 64 e 78 anos respectivamente), submetidos a exercícios da referida técnica, diariamente, durante seis meses consecutivos. Foram realizados antes e ao final da intervenção, exames laboratoriais (hemograma, dosagens hormonais de T3, T4, TSH), testes complementares Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 283 (Barthel e “Minimal Memorial Test”), avaliação fisioterápica e geriátrica. No inicio, observou-se presença de rigidez articular, referência de dor, déficit de coordenação motora, fadiga, indisposição, pele ressecada, máculas senis e dificuldade de memorização para todos os exercícios. No final, houve recuperação acentuada de memória, diminuição da queixa de dores, da rigidez articular, melhora significativa das manchas senis (40%); as taxas hormonais elevaram-se em 20% e houve, ainda, melhora na ventilação pulmonar. Registra-se, assim, situação que pessoas da Terceira Idade, podem ganhar condições mais dignas de vida, de imagem corporal e de bem-estar físico-emocional em procedimentos terapêuticos que incluam, destacadamente, a Fisioterapia. Continuação Referência: Kelder P. A fonte da juventude. Editora Best Seller: São Paulo, 1989. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fonocardioamplicador com análise gráfica - um recurso didático para aulas de ausculta cardíaca Will Hernane Pereira Costa, Giane Amorim Ribeiro, Lívia Ribeiro Borges Lazzarotto, Juliana Magalhães Machado Barbosa Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH – Belo Horizonte - MG Introdução A ausculta cardíaca constitui um dos itens do exame físico fisioterápico que exige do profissional uma interpretação do som auscultado com a fisiopatologia do quadro clínico. O aprendizado é difícil e deve ser utilizado ainda na graduação. Objetivos Facilitar o aprendizado da ausculta cardíaca de modo a tornar o estudo mais interessante e agregador. Demonstrar formas de utilização da informática como meio didático simples e de baixo custo. Metodologia Através de um estetoscópio comum, que teve sua parte auricular retirada restando-lhe apenas a campânula e o segmento cilíndrico foi adicionado um microfone capacitivo de eletreto, componente comum em rádio-gravadores. A cápsula foi soldada ao tubo do estetoscópio com algodão embebido em cola para evitar perda de som e interferências do ambiente. Através de fio e plugues apropriados o conjunto foi conectado a uma placa de som de computador. O sinal recolhido recebe tratamento através de um programa de som como o Cool Edit 96ä ou similar que possibilita amplificação e análise ondulatória do som. Resultados Aumento do interesse dos alunos e da interatividade do grupo. Maior assimilação do conteúdo e maior facilidade de interpretação dos sons cardíacos. Conclusão O fonocardioamplificador pode ser usado como mais um recurso didático nas aulas de ausculta cardíaca por ser um equipamento de simples montagem, de baixo custo e portátil. Permite a criação de uma fonoteca com diferentes sons cardíacos, nas mais variadas situações. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 284 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ana Cristina C. Pons*, Gesilani J. da Silva*, Joel Steinman** *Acadêmicas do curso de Fisioterapia do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis SC, *Médico Pediatra Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Descrição de um projeto de hidroterapia pediátrica em Florianópolis O projeto em análise consiste em um programa de hidroterapia realizado na piscina do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos (CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) em uma parceria entre esta instituição de ensino e o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) de Florianópolis. O projeto é coordenado por um médico do HIJG, e executado por acadêmicos de Fisioterapia da UDESC. As atividades iniciaram em 1996, atendendo crianças com diversas patologias crônicas, que chegam ao ambulatório do HIJG com a necessidade da prática de atividade física. O programa é ministrado através de duas sessões semanais durante o ano letivo da Universidade. O objetivo principal deste estudo é o de descrever o projeto de hidroterapia pediátrica realizado em parceria com o CEFID-UDESC e o HIJG de Florianópolis. Os dados foram obtidos através de uma análise retrospectiva dos prontuários de todos os pacientes que participaram deste projeto, desde março do ano de 1996 até dezembro de 1999. Os pacientes foram subdivididos conforme suas patologias em 4 grandes grupos: “patologias ortopédicas” (problemas posturais, legg-calvèperthes, osteogênese imperfecta, etc), “neurológicas” (distrofias, paralisia cerebral, mielomeningocele, etc), “respiratórias” (asma, bronquite e mucoviscidose) e “outras” (obesidade, baixa estatura, puberdade precoce, etc). No período do estudo, foram atendidas em média 50 crianças, com idades variando entre 3 e 14 anos. Foram classificadas 8 crianças no grupo das patologias ortopédicas, 20 no grupo das neurológicas, 16 com patologias respiratórias e 6 com outras doenças. A média de atendimento diário foi de 20 crianças. Conclui-se que o projeto em questão atende crianças com as mais diversas doenças, sendo que as patologias neurológicas, nestes 3 anos, se mostraram em maior número de ocorrências, seguidas de perto pelas patologias respiratórias. Graças aos efeitos benéficos da água, foram obtidos grandes resultados no tratamento destas crianças, principalmente no que diz respeito à independência no meio aquático. Pelo fato de não ter havido nenhuma espécie de acidente na vigência das sessões, verifica-se a segurança do projeto. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, Serviço de Fisioterapia Pediátrica. Campinas - SP Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Síndrome de Guillain–Barré tipo Aman e fisioterapia: relato de caso G. Cecílio, R. Grande ○ ○ 285 A Síndrome de Guillain–Barré (neuropatia desmielinizante inflamatória aguda), é descrita por acometimento de nervos periféricos e cranianos. Compreende variantes conhecidas em literatura, sendo o tipo Aman caracterizado pelo envolvimento axonal sensório–motor agudo, comprometendo adolescentes entre 10 e 15 anos (aproximadamente), e acometendo região superior do corpo (cabeça, pescoço, membros superiores, tórax, e músculos respiratórios). Esta variante é de caráter extremamente rara e de difícil diagnóstico. W.A.S., 9 anos, sexo masculino, internado por faringite, apresentou insuficiência respiratória aguda grave e paralisia acometendo a região superior do corpo. O diagnóstico de AMAN foi definido 30 dias após a internação. Evoluiu com ventilação mecânica prolongada (70 dias), fraqueza muscular respiratória e difícil desmame. Não houve necessidade de traqueostomia. A fisioterapia proposta deu enfoque à higiene brônquica, reexpansão pulmonar e treinamento muscular. Iniciou-se o trabalho imediatamente após a internação e evoluiu com acompanhamento intensivo ininterrupto, complementando-se em ambulatório pós alta hospitalar. As condições atuais do paciente mostram recuperação total da função respiratória e leve comprometimento postural, ainda em acompanhamento fisioterapêutico. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ B. Daniela, M. Edna Hospital Português, Instituto do Coração de Pernambuco, Recife PE Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 Fisioterapia respiratória em pós-operatório de cirurgia cardíaca pediátrica: influência do modo de tratamento com Sato2 e estabilidade hemodinâmica Nos últimos anos a Fisioterapia Respiratória tem tido grande indicação em crianças submetidas à cirurgia cardíaca, com a finalidade de prevenir e tratar complicações pulmonares no pósoperatório. Com o objetivo de avaliar os efeitos de técnicas específicas de fisioterapia com a Saturação de Oxigênio (SATO2) e a estabilidade hemodinâmica (onde avaliamos a Freqüência Cardíaca (FC) e a Pressão Arterial média (PAm) e comparar qual das técnicas levou a maior alteração dos parâmetros analisados, este trabalho foi desenvolvido. Foi utilizado o monitor SIEMENS SC 6002 para análise da FC,SATO2 e PAm. As três condutas utilizadas foram:1-Manobras de desobstrução brônquica (MDB) , de Reexpansão Pul- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 286 monar (RP)e Posicionamento. 2-MDB,RP. 3-MDB, Posicionamento e Aspiração. Vinte crianças entre 5 m a 15 a, em pós-operatório de cirurgia cardíaca, com indicação de fisioterapia foram incluídas. A escolha da conduta a ser aplicada foi baseada nos achados clínicos (Ausculta Pulmonar (AP) e Rx do dia) e comentários do corpo de enfermagem. A FC, SATO2 e PAm, foram analisadas antes, durante e após cada procedimento. Resultados: Em relação a FC houve diferença estatisticamente significativa entre a FC antes e após nas condutas 1 e 3. Em relação a SATO2 e PAm não houve diferença estatisticamente significativa antes e após o procedimento nem entre as três condutas. Concluímos que condutas que incluem posicionamento e aspiração de secreções causam maiores alterações na hemodinâmica em relação a condutas na quais estas técnicas não estão incluídas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ B. Daniela, M. Edna Hospital Português, Instituto do Coração de Pernambuco, Recife PE Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia respiratória na síndrome deprune belly A síndrome de Prune Belly ou da “barriga em ameixa seca” é congênita e se manifesta em recém-nascido do sexo masculino. Caracteriza-se por paredes abdominais finas e flácidas, de aspecto ruguso com hipoplasia ou agenesia dos musculos da parede abdominal, criptorquidia bilateral e anomalias das vias urinárias. L.A.S., 6 meses de idade, deu entrada na unidade pacientes graves do Instituto Fernandes Figueira - FIOCRUZ em 11/05/98, proveniente do lar, com quadro de IRA, anemia, sepse, diarréia, distúrbio de coagulação, choque e infecção urinária. Foi intubado, ventilado mecanicamente por 18 dias, sendo 16 dias em VMI e 02 dias em CPAP traqueal. Neste período ocorreu um episódio de PCR por extubação acidental. O acompanhamento fisioterápico foi de forma descontínua, ora por apresentar labilidade clínica, ora por intolerância às tentativas de desmame, necessitando inclusive de parâmetros agressivos. Após desmame da prótese ventilatória, o RX imediato do tórax mostrava atelectasia do LSD.A postura do paciente no leito era de hiperextensão da coluna vertebral, discreta retração do esterno, elevação das costelas e dos ombros e encurtamento da musculatura do pescoço. O aspecto geral do tórax era de deformidade em sino (redução do diâmetro apical e aumento do diâmetro diafragmático. O tratamento fisioterápico instituído incluiu a colocação de uma cinta abdominal, posicionamento em prono com retroversão de pelve e foi utilizado o método RTAReequilíbrio Tóraco Abdominal, como terapêutica de primeira Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 287 escolha e, em seguida, aspiração naso-faríngea. O manuseio incluiu alongamento passivo de toda a musculatura paravertebral e de cintura escapular, enfatizando o alongamento dos músculos peitorais. O RX de tórax após conduta, mostrou recrutamento alveolar da área comprometida. Concluímos que o apoio adequado da parede abdominal, através do uso da cinta e postura prona, associado aos alongamentos descritos e maior estabilidade da caixa torácica fez com que houvesse melhora significativa do padrão respiratório com repercussão clínico funcional. Atualmente o paciente segue acompanhamento sistematizado de fisioterapia respiratória ambulatorial no IFF- FIOCRUZ . ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rafaela Mendes, Marcia de Castro IFF-FIOCRUZ Rio de Janeiro RJ Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Linfangiectasia pulmonar congênita – serviço de atendimento domiciliar as crianças cronicamente enfermas do IFF-Fiocruz ASO, 1a, masculino, foi encaminhado ao IFF aos 12 dias de vida com quadro de taquidispnéia e cianose persistentes, esforço respiratório acentuado, ausculta pulmonar com diminuição do murmúrio vesicular e broncoespasmo. Rx de tórax inexpressivo. Após biópsia, foi diagnosticado como portador de Linfangiectasia Pulmonar Congênita, um raro distúrbio congênito caracterizado por dilatação excessiva dos ductos linfáticos por todo pulmão. Apresentando-se em 03 diferentes tipos quanto sua extensão e gravidade, a LPC, na maioria dos casos, manifesta um quadro clínico de angústia respiratória com cianose logo após o nascimento, progredindo com piora do quadro em geral. Está associada a outras anormalidades em 50% dos casos; seus estudos de imagem mostram hiperinsuflação e padrão reticular difuso, e seu diagnóstico é feito através de biópsia pulmonar, apresentando dilatações císticas dos linfáticos nas regiões subpleural e intralobular e nos espaços perivasculares, dando aos pulmões um padrão reticulado subpleural de finas linhas brancas interconectadas com áreas císticas de aprisionamento aéreo. Durante o período de admissão, necessitou de O2 suplementar (oxyhood), e suporte pressórico (CPAP-nasal), posteriormente adaptado a um Bipap através de máscara nasal. Atualmente, é dependente de O2 e Bipap noturno. Apresenta uma frequência respiratória média de repouso entre 35-45 irpm, ausculta pulmonar com murmúrio vesicular diminuído globalmente e broncoespasmo persistente (faz uso de salbutamol 4/4 h), esforço respiratório moderado com tiragem costal, uso excessivo de musculatura acessória com consequente abaulamento torácico, aletas nasais aladas, com padrão radiológico de hiperinsuflação generalizada. É acompanhado 2 vezes por semana, com a finalidade de minimizar a morbi-mortalidade. Até Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 288 o momento, o paciente parece responder bem ao tratamento, o qual consiste em manuseios do método RTA (Reequilíbrio Tóraco-Abdominal), apresentando melhora na ventilação e na mecânica respiratória, com diminuição de FR e menor solicitação da musculatura acessória, após terapêutica. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ K. Scaramussa, V.Rech Universidade Luterana do Brasil, Canoas - RS Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O vínculo mãe-bebê em prematuros que foram submetidos à ventilação mecânica e a relação com seu comportamento motor Sabemos que o bebê prematuro, que necessita de ventilação mecânica ao nascimento, sofre uma separação abrupta da mãe logo após o parto, também observamos que com o advento dos Centros de Terapia Intensiva Neonatais hoje sobrevivem crianças que anteriormente não teriam possibilidade de vida. Analisando estas questões, surge na área de estudo da Fisioterapia a necessidade de pesquisarmos mais sobre todas as possibilidades que levem estas crianças a terem maior qualidade de vida. O objetivo de nossa investigação é relacionar a interação da mãe com seu bebê prematuro, que foi submetido à ventilação mecânica (VM), com os transtornos de comportamento motor no período de internação hospitalar. A pesquisa foi realizada no Centro de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Conceição da Criança, em Porto Alegre, no ano de1999. A coleta de dados foi realizada através de revisão de prontuários médicos, entrevistas semi-estruturadas às mães, observações sistemáticas das visitas das mães aos bebês e avaliação do comportamento motor através da escala de Brazelton. Participaram deste estudo 14 mães e seus bebês. Os dados das entrevistas foram agrupados, conforme as respostas similares, em categorias e analisados de forma qualitativa. Os achados das observações foram relacionados com o encontrado no comportamento dos bebês, através de análise estatística, utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson. Encontramos várias correlações significativas, destacamos: correlação inversa entre exagero de estimulação da mãe e maturidade motora do bebê (-0,612), correlação direta entre calor e emoção maternal com habituação à luz (0,875), entre verbalização da mãe e habituação à luz (0,704), entre interação positiva da díade e habituação à luz (0,763) e entre interação positiva da díade e habituação ao som de chocalho (0,539). Concluímos afirmando que é necessária a atuação da Fisioterapia, de forma preventiva, nas alterações do desenvolvimento motor destes prematuros submetidos a VM. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 289 Artigo original Avaliação de crianças com fibrose cística após 12 meses de fisioterapia respiratória Evaluation of children with cystic fibrosis after 12 months of respiratory physiotherapy Juliana de F. Fracon*, Maria J. J. Sologuren**, Ada C. Gastaldi***, Mário Antônio Baraúna**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestre em Fisioterapia, **Livre Docente em Pediatria, ***Doutora em Reabilitação Pulmonar, ****Doutor em Motricidade Humana, Centro Universitário do Triângulo – UNIT Palavraschave: Fibrose cística, Fisioterapia respiratória, Avaliação Resumo Objetivos: Avaliar o crescimento pondero estatural, o estado nutricional, a freqüência de pneumonias e a tolerância ao exercício, em crianças com fibrose cística, após associação de fisioterapia respiratória tradicional ao tratamento farmacológico. Métodos: Foram avaliadas 7 crianças com fibrose cística comprovada, do Ambulatório de Pneumologia Pediátrica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. A fisioterapia respiratória foi realizada de novembro de 1997 a outubro de 1998, em sessões de 1 hora, 3 vezes por semana. Os parâmetros avaliados no início e ao final da pesquisa foram peso e altura, pela tabela do National Center for Health Statistics; estado nutricional, segundo o escore de Waterlow; freqüência de pneumonias em relação aos 12 meses anteriores; tolerância ao exercício, pelo teste de caminhada de 6 minutos. A análise estatística utilizou a prova de Wilcoxon, com nível de significância em 0,05. Resultados: O crescimento pondero estatural estava comprometido no início e ao final da pesquisa, embora houvesse ganho significativo de peso e estatura ao final. O estado nutricional, previamente comprometido, assim se manteve. Os episódios de pneumonia diminuíram significativamente (p < 0,05). Não ocorreram alterações significativas no teste de caminhada de 6 minutos. Conclusão: O grupo teve crescimento pondero estatural significativo e diminuiu a freqüência de pneumonias. No entanto, manteve-se desnutrido e com tolerância ao exercício inalterada. Endereço para correspondência: Maria José Junho Sologuren, Rua Guaicurus, 270 Bairro Saraiva, 38408-394 Uberlândia – MG, Tel: (34) 3214-2914, Fax: (34) 3239-9617, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 290 Key words: Cystic fibrosis; Respiratory physiotherapy, Evaluation Abstract Objectives: To evaluate weight and height growth, nutritional status, frequency of pneumonia episodes, and tolerance to exercise, in children with cystic fibrosis after the association of traditional respiratory physiotherapy with pharmacological treatment. Methods: Seven children with confirmed cystic fibrosis seen at the Pediatric Pulmonology outpatient clinic of the Federal University of Uberlandia were evaluated. Respiratory physiotherapy was performed from November 1997 to October 1998 in 1 hour sessions three times a week. The parameters evaluated at the beginning and at the end of the study were weight and height according to the National Center for Healt Statistics; table, nutritional status, frequency of pneumonia during the previous 12 months, and tolerance to exercise determined by the 6 minute walk test. Data were analyzed statistically by the Wilcoxon test, with the level of significance set at 0.05. Results: Weight and height growth was impaired both at the beginning and at the end of the study, although a significant weight gain had occurred by the end of the study. The previously compromised nutritionsl status continued to be so at the end of the study. The episodes of pneumonia decreased significantly (p < 0.05). There were no alterations in the 6 minute walk test. Conclusion: The group had a significant weight and height growth and a decreased frequency of pneumonia. However, it continued to be malnourished, with inaltered tolerance to exercise. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A fibrose cística (FC) é a mais comum das doenças genéticas potencialmente letais da raça branca [1,2]. Embora seja multissistêmica, a doença pulmonar obstrutiva crônica e a desnutrição são suas manifestações mais exuberantes [3]. Entre caucasianos, sua incidência estimada é de 1 em 2.500 nascidos vivos [4]. A doença respiratória progressiva é a principal responsável pela morbi-mortalidade, embora sua severidade seja muito variável [5]. Em 1938, 80% dos doentes morriam no primeiro ano de vida [6]. Contudo, o diagnóstico e o tratamento precoces têm permitido um aumento na sobrevida, nos países desenvolvidos. A média de sobrevida esperada para os nascidos em 1990 é de 40 anos [7]. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ No Brasil, porém, a sobrevida ainda é pequena. Em Minas Gerais, a média de sobrevida relatada por Reis et al. (1998) foi de 12,6 anos, semelhante à observada em países desenvolvidos em 1970. Estes autores relacionaram a curta sobrevida à organização do sistema de saúde e às condições sócio-econômicas desfavoráveis nos países em desenvolvimento [8]. No tratamento, destacam-se os antibióticos para combater as inúmeras infecções pulmonares que são, na maioria dos casos, responsáveis pelo rápido declínio na função pulmonar [9]; a reposição de enzimas pancreáticas e a melhora no estado nutricional [10,11] e a eliminação das secreções pulmonares [12]. Fisioterapia respiratória é suporte imprescindível no tratamento da doença pulmonar [12]. A fisioterapia respiratória tem como objetivo remover o muco viscoso e o exsudato Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 causado pelas infecções pulmonares, sendo o principal tratamento não farmacológico. Deve ser iniciada desde o diagnóstico e continuada regular e rotineiramente até o fim da vida, independente do grau de comprometimento pulmonar. Há controvérsias a respeito de quais técnicas fisioterápicas devem ser utilizadas, porém Thomas et al. (1995), em meta análise a respeito, relataram que a fisioterapia tradicional resulta em uma eliminação significantemente maior de secreção [12]. Para a fisioterapia respiratória não há um protocolo a ser seguido. Devido à variação no quadro clínico, cabe ao fisioterapeuta julgar as técnicas mais eficientes para cada paciente [13]. Este trabalho teve por objetivo avaliar o crescimento pondero-estatural, o estado nutricional, a freqüência dos episódios de pneumonia e a tolerância ao exercício, em crianças com FC, após associação de fisioterapia respiratória tradicional ao tratamento farmacológico. Pacientes e métodos Participaram do estudo 7 crianças com diagnóstico comprovado de FC através da dosagem, em duplicata, de cloro no suor, com valores iguais ou superiores a 60mEg/L. Estas eram todas as crianças em acompanhamento no Ambulatório de Pneumologia Pediátrica do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC/UFU). As mesmas faziam uso rotineiro de enzimas pancreáticas; eram medicadas com antibióticos quando ocorriam infecções pulmonares. Em novembro de 1997, foi acrescentado, a este esquema terapêutico, fisioterapia respiratória tradicional, 3 vezes por semana, em sessões de 1 hora, durante 12 meses. Os procedimentos fisioterápicos para crianças maiores de 5 anos de idade foram drenagem postural brônquica, percussão, vibrocompressão e exercícios respiratórios e posturais; em crianças menores de 5 anos, além destes procedimentos, foi feita aspiração de secreções, quando necessário. No início e ao término do acréscimo do tratamento fisioterápico, as crianças foram avaliadas nos seguintes parâmetros: crescimento pondero-estatural; estado nutricional; fre- 291 qüência de episódios de pneumonia e tolerância ao exercício. Peso e altura foram avaliados segundo os critérios do National Center for Health Statistics (NCHS) para idade e sexo [14]. A avaliação do estado nutricional utilizou o escore de Waterlow [15]. A freqüência dos episódios de pneumonia considerou os episódios ocorridos nos 12 meses anteriores à introdução do tratamento fisioterápico e os episódios ocorridos nos 12 meses de associação de tratamento fisioterápico ao tratamento farmacológico que era utilizado. O teste de caminhada de 6 minutos foi realizado como preconizado por Gulmans et al. (1996) [16]. Durante todo o teste, foi monitorada a saturação arterial de oxigênio (SaO2), oferecendo-se oxigênio por cateter nasal quando a saturação baixava para valores inferiores a 90%. A SaO2 foi determinada por oximetria digital, utilizando-se oxímetro Resmed, modelo 305A. Valores iguais ou superiores a 90% foram considerados normais [17]. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Humanos do Centro Universitário do Triângulo (Unit) e foi realizada com autorização da direção geral do HC/ UFU e após consentimento informado assinado pelas mães. Para análise estatística foi aplicada a prova de Wilcoxon, com nível de significância estabelecido em 0,05. Resultados Dos 7 pacientes estudados, 4 eram meninos e 3 eram meninas. Todos eram de cor branca. Pertenciam a famílias com renda inferior a 4 salários mínimos, tratando-se em hospital público. O início dos sintomas de FC ocorreu, em média, com 11 meses e 15 dias de idade e a média de idade do diagnóstico foi de 2,8 anos. A média de idade no início do tratamento fisioterápico foi de 5,9 anos, com idade variando de 1 a 11 anos. Todas as crianças tinham comprometimento pulmonar; duas tinham bronquiectasia, comprovada por tomografia computadorizada de tórax (Tabela 1). Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 292 Tabela 1- Caracterização da amostra de sete pacientes portadores de fibrose cística. Média de idade do início dos sintomas Média de idade do diagnóstico de FC Média de idade no início da pesquisa Presença de comprometimento pulmonar Presença de bronquiectasia 11 meses e 15 dias 2,8 anos 5,9 anos 7 crianças 2 crianças O crescimento ponderal estava comprometido em 5 pacientes (71,4%) ao início da pesquisa e em 4 (57,1%) no final. O crescimento estatural estava comprometido nos 7 pacientes no início da pesquisa, mantendo-se comprometido em 4 (57,1%) ao final (Tabelas 2 e 3). Embora houvesse ganho estatisticamente significante em peso e altura, não ocorreu repercussão significante no estado nutricional. A avaliação do estado nutricional evidenciou que todos os 7 pacientes eram desnutridos no início da pesquisa e que 6 se mantiveram desnutridos ao final (Tabela 3). Nos 12 meses anteriores à introdução da fisioterapia respiratória, a média de episódios de pneumonia no grupo foi de 2,8 e nos 12 meses de acompanhamento foi de 1,8. A diferença entre as freqüências dos episódios de pneumonia foi estatisticamente significante (Tabela 3). O teste de caminhada de 6 minutos não apresentou alteração estatisticamente significante após os 12 meses de acompanhamento. Não foi feito por 1 criança, em virtude da idade (Tabela 4). Discussão Os pacientes estudados apresentaram crescimento pondero estatural significante após 12 meses, mas, tanto em peso quanto em altura continuaram abaixo do esperado para sexo e idade, segundo a Tabela do NCHS [14]. Nestes pacientes, portanto, é evidente o compro- Tabela 3- Distribuição da amostra de sete pacientes portadores de fibrose cística, segundo seu peso e altura no início e após 12 meses de tratamento fisioterápico. Amostra Peso (kg) Altura (cm) No início Após 12 meses* No início Após 12 meses* 27,100 21,200 16,700 16,600 14,000 11,500 8,840 30,400 21,600 18,700 19,000 15,700 12,800 11,500 128 127 111 101 93 84 75 135 133,5 114 109 102 94 86 1 2 3 4 5 6 7 * p < 0,05 Tabela 4- Distribuição da amostra de seis* pacientes portadores de fibrose cística, segundo o resultado do teste de caminhada de seis minutos no início e após 12 meses de tratamento fisioterápico. Amostra Teste de caminhada de seis minutos (metros) 1 2 3 4 5 6 média No início 564,1 570,3 574,2 417,6 511,5 406,1 507,3 Após 12 meses 478,4 511,0 477,0 378,3 460,0 366,5 445,2 * Um dos pacientes não realizou o teste de caminhada por ser lactente. metimento no crescimento pondero estatural. Estes resultados são concordantes com os relatados por outros autores, segundo os quais na FC há grave comprometimento no crescimento pondero estatural [18-21]. O comprometimento do estado nutricional, observado em 7 pacientes no início do tratamento e que persistiu em 6 pacientes após 12 meses, é concordante com o relatado por inúmeros autores [18-21]. A diminuição dos episódios de pneumonia evidenciou a eficácia da fisioterapia respiratória; a limpeza brônquica, provocando a eliminação da secreção espessa que há nos paci- Tabela 2- Distribuição da amostra de sete pacientes portadores de fibrose cística, no início e após 12 meses de tratamento fisioterápico. Parâmetros avaliados Comprometimento do crescimento ponderal Comprometimento do crescimento estatural Desnutrição Episódios de pneumonias (média anual) Teste de caminhada de 6 minutos (média em metros) * p < 0,05 Tratamento fisioterapeutico Antes 5 crianças (71,4%) 7 crianças (100%) 7 crianças (100%) 2,8 507,3 Ao término 4 crianças (57,1%) 4 crianças (57,1%) 6 crianças (85,7%) 1,8* 445,2 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 entes com FC, pode ter dificultado a proliferação dos microorganismos responsáveis pelas pneumonias. No teste de caminhada de 6 minutos não ocorreu alteração significante ao final da pesquisa. Como este teste avalia tolerância ao exercício [16], podemos afirmar que a introdução da fisioterapia respiratória não contribuiu para melhorar esta tolerância. No entanto, Gordon et al. (1999) [22] relataram que obtiveram melhora no desempenho do teste de caminhada de 6 minutos em crianças com FC, utilizando fisioterapia com “Flutter” e não fisioterapia respiratória tradicional, que foi o procedimento por nós utilizado. Crianças com FC submetidas, além da fisioterapia respiratória, a programas de condicionamento físico, adequados para sua idade e gravidade da FC, apresentaram melhor desempenho nos teste de caminhada [23.24]. Esta pesquisa nos leva a concluir que a introdução da fisioterapia respiratória tradicional ao esquema farmacológico foi eficiente na diminuição da freqüência dos episódios de pneumonia. Também permitiu a estas crianças manterem seu crescimento pondero estatural ao longo dos 12 meses, porém não determinou recuperação do crescimento pondero estatural e do estado nutricional esperados para idade e sexo. Também não alterou o desempenho no teste de caminhada de 6 minutos. Estas conclusões nos levam a sérias reflexões: tratava-se de um grupo que iniciou seus sintomas precocemente, como ocorre com a maioria das crianças com FC [25]. O diagnóstico foi mais tardio que nos países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, 70% dos casos têm diagnóstico no primeiro ano de vida [25]. No Brasil, o diagnóstico tem sido mais tardio a média de idade do diagnóstico, em pesquisas apresentadas por 3 diferentes autores, variou de 1,6; 4,7 e 9,6 anos [8, 26,27]. As crianças que participaram da presente pesquisa não tiveram oportunidade de tratamento por equipe multiprofissional por ocasião do diagnóstico. Este fato, a nosso ver, é o responsável pelo comprometimento apresentado já no início da pesquisa; a introdução, ainda que tardia, do tratamento fisioterápico respiratório, pode ter contribuído para que os pacientes tivessem um ritmo menos acelera- 293 do de deterioração. A falta de oportunidade para realizar tratamento adequado e precoce por equipe multiprofissional deve ter sido a principal responsável pela evolução destes pacientes, que pertenciam à classe social pouco favorecida e faziam uso de sistema público de saúde, pois é relatado que serviços de saúde com equipe multiprofissional e pacientes com situação sócio-econômica adequada são fatores responsáveis por uma melhor evolução da FC [28]. Reis et al. (1998) [8] também relataram que a baixa sobrevida de crianças com FC em Minas Gerais pode estar relacionada à organização do sistema de saúde e à condição sócioeconômica desfavorável. Esta pesquisa sugere que as crianças com FC sejam atendidas, tão logo se faça o diagnóstico, por equipe multiprofissional, com participação de médico, fisioterapeuta, nutricionista, educador físico, entre outros; sugere, também, que o tratamento global seja assumido pelo sistema público de saúde. A adoção destas sugestões poderá permitir que a criança brasileira com FC tenha menor e menos precoce repercussão na sua qualidade de vida. Referências 1- Lieu TA, Ray GT, Farmer G, Shay GF. The cost of medical care for patients with cystic fibrosis in a health maintenance organization. Pediatrics 1999;103:e72. 2- Bayleran JK, Yan H, Hopper CA, Simpson EM. Frequencies of cystic fibrosis mutations in the Maine population: high proportion of unknown alleles in individuals of French-Canadian ancestry. Hum Genet 1996;98:207-9. 3- Lotem Y, Barak A, Mussaffi H, Shohat M, Wilschanski M, Sivan Y, Blau H. Reaching the diagnosis of cystic fibrosis – the limits of the spectrum. Isr Med Assoc J 2000; 2:94-8. 4- Corey M, Farewell V. Determinants of mortality from cystic fibrosis in Canada, 1970-1989. Am J Epidemiol 1996;143:1007-17. 5- Kraemer R, Aebi C, Casaulta Aebischer C, Gallati S. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 295 Artigo original Estudo sobre a realização da preensão palmar com a utilização do dinamômetro: Considerações anatômicas e cinesiológicas Study about the accomplishment of palmar grip strength using the dynamometer : Anatomical and kinesiological considerations Demóstenes Moreira*, José Roberto Pimenta de Godoy**, Watercides Silva Junior*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Professor e Coordenador do curso de fisioterapia da UNIP-Brasília; Docente da FARPLAC e Faculdade Alvorada; Mestre e Doutorando em Ciências da Saúde pela UnB, **Professor de Anatomia da UNIP; UniCEUB e FARPLAC, ***Professor de Anatomia da UNIP e FARPLAC, Doutor em Anatomia Palavras-chave: Preensão palmar, dinamômetro, força. Resumo Trata-se de um estudo de caráter transversal, cujo objetivo foi verificar a força de preensão palmar entre os acadêmicos do curso de fisioterapia da Universidade Paulista/UNIP, com sede em Brasília/ DF. Os sujeitos deste estudo foram 30 indivíduos jovens com faixa etária que variou de 18 a 22 anos (15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino), sem histórico de lesão nos membros superiores. O instrumento utilizado no estudo foi o dinamômetro hidráulico Jamar. Comparando-se os resultados obtidos para a força de preensão e levando-se em consideração a mão direita e esquerda para as três medidas na amostra estudada, foi verificado que houve diferença estatisticamente significativa (p < 0,05). Os autores concluem que existe um predomínio da força de preensão palmar nos homens em relação às mulheres. É importante que sejam considerados os aspectos anátomo-cinesiológicos para uma melhor compreensão do mecanismo de preensão palmar. Endereço para correspondência: Prof. Ms. Demóstenes Moreira, SHCES, Quadra 1.505, bloco D, apto 201, Cruzeiro Novo, 70658-554, Brasília – DF, Tel: (61) 363-3123/ 938-9157, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 296 Abstract The purpose of this study was verify the palmar grip strength among physiotherapy academics at the University Paulista/UNIP, in Brasília/DF. The subject of this study were 30 young individuals aged 18 to 22 years (15 male and 15 female), without injury report upper extremity. The instrument used was the hydraulic dynamometer Jamar. The grip strength results obtained were compared being taken into account the right and left hand for three trials performed in the studied sample, it was verified statistically significant difference (p < 0,05). The authors conclude that exists prevalence of palmar grip strength correlated to the gender, men are stronger than women. It is considered important the anatomicalkinesiological aspects for a better comprehension of the palmar grip strength mechanism . Key -words: Palmar grip, dynamometer, strength. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Napier em 1956 [10] definiu duas posturas básicas da mão humana: a preensão de força e a preensão de precisão. Ele definiu preensão de força, usada quando é necessária força completa, como sendo atividades de força dos dedos e polegar agindo contra a palma da mão, com propósito de transmitir força para um objeto. Cada dedo deve acomodar-se em posição para aplicar força a fim de conter as forças externas impostas pelo objeto, desta forma o polegar é aduzido e posicionado para opor-se à polpa dos dedos. Na preensão de precisão o objeto é pinçado entre as superfícies flexoras de um ou mais dedos com o polegar em oposição, sendo usada quando necessárias exatidão e refinamento de tato [7,11]. A posição dos dedos nas duas posturas diferem consideravelmente. O estudo em questão visa mensurar a força de preensão utilizando o dinamômetro Jamar na 2ª posição, bem como identificar através de revisão bibli- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ográfica, análise cinesiológica e anátomo-funcional dos músculos envolvidos. O dinamômetro Jamar tem sido considerado o aparelho hidráulico mais aceito para medir a força de preensão desde 1954 e a 2ª posição é indicada pela Sociedade Americana dos Terapeutas de Mão [1,3,5]. Os dedos se posicionam aduzidos, fletidos, lateralmente rodados e inclinados em direção ao lado ulnar da mão. As elevações tenar e hipotenar oferecem importante base de apoio [10]. O polegar encontra-se flexionado, aduzido tanto em sua articulação metacarpo-falângica como na carpo-metacárpica e opondo-se à polpa dos dedos [12]. O movimento de preensão provoca intensa atividade dos músculos flexor superficial e profundo dos dedos e dos interósseos, bem como nota-se atividade de músculos que realizam o movimento de contrapressão observado pelo polegar através do músculo flexor longo do polegar, de músculos tenares (oponente do polegar, adutor do polegar e flexor curto do Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 polegar), hipotenar (flexor curto do dedo mínimo) e do 4º lumbrical, estes agindo como agonistas e contraindo-se isotonicamente. O músculo flexor superficial dos dedos fixase na base da falange média e movimenta a articulação interfalângica proximal, enquanto o flexor profundo dos dedos após perfurar o tendão superficial, fixa-se na base da falange distal e movimenta a articulação interfalângica distal e também a proximal, sendo estes os músculos que imprimem maior potência no movimento de preensão [7]. A flexão dos dedos é quase simultânea nas articulações dos dedos, sendo o movimento iniciado a partir das articulações interfalângicas distais, porém a maior quantidade de movimento é realizada pelas articulações interfalângicas proximais e metacarpofalângicas. Os músculos interósseos palmares e lumbricais se localizam na face palmar do eixo de flexão e extensão das articulações metacarpofalângicas, portanto são mecanicamente capazes de produzir flexão, porém pelo fato das fixações proximais dos lumbricais se encontrarem nos tendões do músculo flexor profundo dos dedos, suas contrações são incapazes de tracionar significativamente as fixações distais movimentando as articulações metacarpofalângicas a menos que se anule a ação do músculo flexor profundo dos dedos, portanto os lumbricais se tornam ineficientes no movimento de preensão com exceção do 4º, que apresenta atividade eletromiográfica na preensão [7]. Os interósseos participam como rotação e flexão das falanges proximais, rodando-as para acomodá-las e oferecer maior contato com o dinamômetro. Todos os interósseos participam da flexão das articulações metacarpofalângicas, especialmente o 1º interósseo dorsal e 1º interósseo palmar [7]. Os músculos flexor superficial e profundo dos dedos movem as articulações interfalângicas do 2º ao 5º dedos e como seus tendões correm na face palmar pelas articulações do punho e metacarpofalângicas, suas contrações produziriam também flexão destas articulações. Como na preensão a flexão das articulações metacarpofalângicas e interfalângicas são necessárias, enquanto que a flexão do punho é indesejável pelo fato de diminuir a força exercida pelos flexores dos 297 dedos, torna-se importante a ação sinérgica dos músculos extensores do punho (m. extensor radial longo e curto do carpo, m. extensor ulnar do carpo) que contraem-se isométricamente. A força de contração dos extensores do punho está diretamente relacionada com o esforço de preensão. O principal músculo que atua para realizar o movimento de semi-pronação do antebraço é o pronador quadrado, outros músculos participantes são o pronador redondo, o flexor radial do carpo, o palmar longo e o extensor radial longo do carpo. Os principais músculos flexores do cotovelo são o braquial, bíceps braquial e braquiorradial. Participam com menor importância o pronador redondo e os extensores radiais longo e curto do carpo. Todos os músculos que atravessam a articulação do cotovelo, contribuem para fixação e manutenção da posição em 90º. Em movimentos de força todos os músculos da extremidade superior podem contrairse para estabilizar e fixar a articulação glenoumeral (ombro), tornando difícil a análise da atividade muscular. Para manutenção da posição podemos citar a importante ação dos músculos do manguito rotador, do trapézio, do deltóide, do bíceps braquial (cabeça curta), do tríceps braquial (cabeça longa) e coracobraquial. Material e métodos Trata-se de um estudo de caráter transversal, cujo objetivo foi verificar a força de preensão palmar entre os acadêmicos do curso de fisioterapia da Universidade Paulista/ UNIP, com sede em Brasília/DF. Os sujeitos deste estudo foram 30 indivíduos jovens com faixa etária que variou de 18 a 22 anos (15 do sexo masculino e 15 do sexo feminino), sem histórico de lesão nos membros superiores. A coleta de dados foi realizada no laboratório de cinesiologia da UNIP/DF. O instrumento utilizado no estudo foi o dinamômetro hidráulico Jamar, com a manopla posicionada na 2ª posição. O dinamômetro Jamar tem sido considerado o aparelho hidráulico mais aceito para medir a força de preensão desde 1954 e a 2ª posição é indicada pela Sociedade Americana Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 298 dos Terapeutas de Mão - SATM [1,3,4,5,11]. Durante a realização do exame com a utilização do dinamômetro Jamar, os sujeitos foram orientados a ficarem na posição sentada em um banco regulável de acordo com a altura de cada acadêmico, de tal maneira que os quadris e joelhos permanecessem a 90º, estando os pés apoiados no chão. Com relação ao posicionamento do membro superior, tem-se que o ombro manteve-se em posição aduzida junto ao tronco, o cotovelo a noventa graus com o antebraço em posição neutra (entre a pronação e supinação) e o punho na posição neutra sem que houvesse desvios, enquanto o examinador sustentava o dinamômetro, seguindo a recomendação da SATM (Fig. 1). Os sujeitos foram orientados a realizar o movimento de preensão palmar para cada tentativa após o comando verbal do examinador, que consistiu na pronúncia da seguinte frase “um, dois, três e já”. Foi realizado três repeti- ções com a manopla colocada na posição dois (preconizada no aparelho), alternando a movimentação para o teste, sendo inicialmente testada a mão direita e logo em seguida a mão esquerda, seguindo criteriosamente a instrumentação do aparelho. O intervalo de tempo entre uma tentativa e outra foi de um minuto a fim de que não houvesse fadiga muscular durante o teste. As informações coletadas durante cada tentativa foram registradas em kilogramas-força, de acordo com as especificações verificadas no dial do mostrador do dinamômetro. Todos os acadêmicos que participaram do estudo foram orientados a preencherem um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O tratamento estatístico utilizado foi considerado mediante utilização de médias, desvio padrão e teste t de Student. Fig. 1 – Avaliação individual com o uso do dinamômetro Jamar. Brasília/DF – 2001. Verificou-se que a média de idade entre os grupos foram bem próximas, favorecendo com isso a confiabilidade das informações obtidas (Fig. 2). Embora a faixa etária média da população estudada tenha sido inferior aos vinte anos de idade, observa-se em estudos prévios que os maiores valores para a força de preensão são obtidos na faixa etária entre 20 e 40 anos, estando o dinamômetro na segunda posição [5]. Comparando-se os resultados obtidos para a força de preensão e levando-se em consideração a mão direita e esquerda para as três medidas na amostra estudada (Tabela 1), foi verificado que houve diferença estatisticamente significativa (p < 0,05). Concordando com vários autores, existe um predomínio da força de preensão palmar em homens quando comparados com mulheres da mesma faixa etária [8,9], desta forma, nota-se que a força Fonte: Pesquisa dos autores Resultados e discussão Tabela 1 – Valores médios e desvio padrão entre homens e mulheres submetidos ao teste de preensão palmar. Brasília/DF – 2001. Medidas em kg/força Homens Mulheres “t” Direito Esquerdo Direito Esquerdo Direito Esquerdo 1ª Medida 2ª Medida 3ª Medida Média geral 55,67 ± 7,16 54,60 ± 9,04 53,67 ± 9,28 53,12 ± 6,74 51,07 ± 5,52 50,60 ± 6,18 47,47 ± 6,69 51,48 ± 6,80 * Valores estatisticamente significativos (p < 0,05) 30,80 ± 7,42 30,47 ± 7,32 29,93 ± 6,41 29,52 ± 6,09 28,20 ± 5,86 28,20 ± 5,48 27,33 ± 5,79 29,20 ± 5,95 * 0,000 * 0,000 * 0,000 * 0,000 * 0,000 * 0,000 * 0,000 * 0,000 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 de preensão nos homens é superior a das mulheres em todas as medidas obtidas. Considerando os dados obtidos apresentados em termos de mão direita e mão esquerda para homens e mulheres (Figs 3 e 4), tem-se que houve um predomínio da força na mão direita. Desta forma especula-se que a mão direita é mais forte que a esquerda, em função dos indivíduos terem de se adaptar para viverem em uma sociedade organizada para pessoas destras. Apesar de termos tido apenas três indivíduos sinistros, não houve predomínio da força de preensão nestas pessoas [6]. Em concordância com Teraoka [13], no sexo masculino houve índices de força mais elevados para ambas as mãos do que observado no sexo feminino. Crosby [5] afirma que cerca de 60% dos pacientes conseguem a força de preensão máxima na segunda posição e em geral o lado dominante apresenta em média 10% de força a mais em relação ao lado não dominante. No presente estudo os índices de força foram considerados em relação à mão direita e esquerda. Como demostrado no estudo de Hanten et al. [6], não houve predomínio da força com relação ao padrão de dominância da mão, apesar de termos tido apenas três indivíduos do sexo masculino sinistros. A SATM, recomendou em 1981 que a força de preensão palmar deveria ser mensurada com o sujeito em posição sentada, ombro aduzido, cotovelo em flexão de 90º e o antebraço em posição neutra. Balogum et al. [2], encontrou valores maiores com o cotovelo em extensão, e valores significativamente mais altos foram encontrados com o sujeito estando em pé com o cotovelo em extensão total 299 para ambos os sexos, esses valores estão em discrepância com os achados de Mathiowetz et al. [8,9]. É importante enfatizar que a amostragem selecionada para estudo foi composta por indivíduos jovens e que não se encontravam em processo de declínio da força de preensão palmar [6,9]. Conclusões Considerando-se os resultados obtidos e levando-se em consideração os achados descritos na literatura mundial, pode-se concluir que: 1- Existe um predomínio da força de preensão palmar nos homens em relação às mulheres; 2- A padronização da utilização do Dinamômetro deve ser seguida criteriosamente, a fim de que as informações possam ser consideradas de forma fidedigna; 3- É importante que outros trabalhos sejam realizados, levando-se em consideração o índice de massa corporal, atividade profissional, atividades desportivas, dentre outros; M -3e g F d .ia p esrenã sp o m ale h o a n d ro te la o trd m irim en a2 /D si0 B h u l-a re 0 F lísr.1 s. M -2 g d F.é d iau a d o ie n slu ro sb tsm d ea xo iesm td p erena ã s2 p D /io m 0 a B -la 0 F rís1 .ar M -4ed gp Fa .e ire snã sp o m alad le o a q srue d h reo n rm ta m 2 eD /in 0 -sB l0 h a F u rí1 se lr.s 300 4- Existe um predomínio da força de preensão da mão direita em relação à mão esquerda, independente do padrão de dominância; 5- É importante que seja considerado os aspectos anátomo-cinesiológicos para uma melhor compreensão do mecanismo de preensão palmar; 6- O Dinamômetro Jamar, é um instrumento confiável e de fácil manuseio, leitura direta, podendo ser utilizado em qualquer ambiente, inclusive em nível ambulatorial e com resultados confiáveis, sendo recomendado pela SATM. Referências 1. Ashford RF, Nagelburg S, Adkins R. Sensitivity of the Jamar Dynamometer in Detecting Submaximal Grip Effort. The Journal of Hand Surgery 1996;21-A:402-405. 2. Balogum JA, Akomolafe CT, Amusa LO. Grip Strength: Effects of testing posture and elbow position. Arch Phys Med Rehabil 1991;72:280-283. 3. Bellace JB, Healy D, Besser MP, Bybon T, Hohman L. Vality of the Dexter Evaluation Aystem’s Jamar Dynamometer Attachment for Assessment of Hand Grip Strength in a Normal Population. Journal of hand therapy 2000;13:46-51. 4. Caporrino FA et al. Estudo populacional da força de preensão palmar com Dinamômetro Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Jamar. Rev Bras ortop 1998;33(2):150-154. 5. Crosby CA, Wehbé MA, Marwan B. Hand Strength: Normative Values. J Hand Surgery 1994;19-A:665-670. 6. Hanten WP. Maximum Grip Strength in Normal Subjects from 20 to 64 Years of Age. J of Hand Ther 1999;193-200. 7. Long C, Conrad PW, Hall EA, Furler SL. Intrinsic-Extrinsic Muscle Control of the Hand in Power Grip and Precision Handling. The Journal of Bone and Joint Surgery 1970;52-A: 854-867. 8. Mathiowetz V, Kashman N, Volland G, Weber K, Dowe M, Roger S. Grip and Pinch Strength: Normative Data for Adults. Arch Phys Med Rehabil 1985;66:69-70. 9. Mathiowetz V, Rennels C, Donahoe L. Effect of Elbow Position on Grip and Key Pinch Strength. J. Hand Surg 1985;10-A:694-697. 10. Napier JR. The Prehensile Movements of Human Hand. J Bone and Joint Surg 1956;38B:902-913. 11. Patterson H, McLeod. Grip measurements as a part of the pre-placement evaluation. Industrial medicine and surgery 1965;34(7):555-557. 12. Pryce,JC. The Wrist Position Between Neutral and Ulnar Deviation that Facilitates the Maximum Power Grip Strength.. J Biomech 1980;13:505-511. 13. Teraoka T. Studies on the Peculiarity of Grip Strength in Relation to Body Positions and Aging. Kobe J Med Sci 1979;25:1-17. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 301 Revisão A importância dos músculos isquiorretais no posicionamento do quadril, sob uma visão anatômica José Antônio SFA Pinna Cabral*, Fernando Pinna Cabral**, Renato Guimarães Loffi*** Robson Ines Moreira da Rocha****, Renata Carolina de Pinna Cabral***** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Professor Adjunto de Anatomia, Universidade Católica de Petrópolis, Professor de Cirurgia da Faculdade de Medicina de Petrópolis, **Chefe do Setor de Cirurgia do Quadril do Hospital Traumato-Ortopédico MS-INTO-RJ, ***Fisioterapeuta , Ex-monitor da disciplina de Anatomia UCP, ****Aluno de fisioterapia UCP, *****Aluna de medicina UNIG Resumo Formado pelos músculos bíceps da coxa, semitendíneo e semimembranáceo, os isquiotibiais (ou músculos do jarrete) atuam nos movimentos de anteroversão e retroversão pélvica, tendo também a ação de flexionar a perna sobre a coxa, estender a coxa sobre a pelve, de acordo com seu ponto de fixação, intervindo ativamente na marcha e na manutenção da posição ereta. A paralisia dos isquiotibiais provoca o movimento de báscula para frente (anteroversão). Na anteroversão da pelve os músculos isquiotibiais estão alongados e na retroversão os isquiotibiais estão encurtados ou em retração. O seu posicionamento influencia diretamente no movimento por eles realizados. A fixação dos músculos do jarrete está na porção superior do túber isquiático, na qual está subdividida. As pelves masculina e feminina diferem em aspectos gerais, bem como características relativas à conexão da pelve feminina com o Endereço para correspondência: José Antonio de Pinna Cabral, Rua Marechal Deodoro, 79 sala 105, Centro 25620-150 Petrópolis - RJ, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 302 canal pélvico. A pelve masculina tende a ser maior, mais pesada, mais grosseiramente demarcada por fixações ligamentosas e musculares. A pelve projeta-se mais anteriormente que a feminina. A pelve feminina é mais leve, delicada em seu arcabouço ósseo e também mais rasa. O contorno da cavidade pélvica é redondo ou oval. O sacro e o cóccix são mais planos, menos salientes anteriormente para não angustiar o canal pélvico De acordo com o tamanho, peso, profundidade das expressões, seremos capazes de diferenciar a pelve feminina da pelve masculina. O centro de gravidade esta diretamente relacionado com a posição pélvica. O objetivo desta trabalho é fazer uma revisão dos aspectos anatômicos importantes para a prática e abordagem do fisioterapeuta principalmente nas situações em que os músculos isquiotibiais possam influenciar os movimentos de anteroversão e retroversão pélvica. Abstract The hamstrings are formed by the muscles biceps, semitendinous and semiembranaceo wich acts in the movement of anteversion and retroversion of the pelvis, besides the function of flexing the knee, extending the hip according to the fixation point, and participating actively during walking in the upright position. Palsy of the hamstring leads to waddling of the pelvis. During antiversion the hamstrings are elongated and in retroversion they are shortened or retracted. Its position acts directly in the movement realized by them. The male and female pelvis has different general aspects, chiefly regarding the connection between the female pelvis and birth delivery trajectory. The male pelvis is bigger, heavier and more demarcated due to ligamentous and tendinous fixations, wich are stronger in males. The pelvis is also more anteriorly projected than the female. The female pelvis is lighter, thinner in its architectural bone matrix and shallower. Its internal shape is oval or round. The sacrum and coccyx are more flat, less protruded anteriorly to avoid narrowing of the pelvic trajectory. According to its size, weight and bone demarcation we are able to diferrentiate between male and female pelvis. The gravity center is directly correlated with the pelvic position. The aim of this article is to make a revision on anatomical aspects, wich are very important to the physiotherapists, chiefly in situation where the hamstring may affect the movements of antiversion or retroversion of the pelvis. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Introdução Os músculos isquiotibiais atuam de forma significativa nos movimentos de anteroversão e retroversão pélvica. A anteroversão ocorre a partir do alongamento e a retroversão ocorre com a retração ou encurtamento dos isquiotibiais. Além da importância clínica em virtude do encurtamento ou alongamento destes músculos aspectos estéticos também são observados e cobrados, em virtude principalmente da nossa cultura. Resolvemos fazer uma revisão dos aspectos anatômicos importantes tentando correlacioná-los com a clínica e terapêutica de pontos considerados importantes para a prática diária na área de fisioterapia.. Aspectos anatômicos O cíngulo do membro inferior que é formado pelos ossos do quadril (ílio, ísquio e pube) une-se, anteriormente, na sínfise da pube, articulando-se cada um posteriormente, com a porção superior do sacro, formando a articulação sacro-ilíaca e lateralmente, com o fêmur, através da fusão dos três ossos ao nível do acetábulo. O osso do quadril ao unir-se com o sacro e o fêmur forma uma conexão entre o tronco e o membro inferior. Já no feto é constituído por três peças ósseas distintas: púbis na frente; ílio súpero-lateralmente; e ísquio ínfero-posteriormente [1]. O ílio forma dois quintos do acetábulo, consistindo em um corpo e uma asa ou ala que forma a porção superior do osso do quadril. O corpo e a asa são separados um do outro, na face interna do osso, pela porção inferior da borda medial. Esta porção inferior da borda é uma crista romba e lisa que constitui a parte ilíaca da linha arqueada. Na parte externa do osso, não existe demarcação visível. Uma linha tênue que se estende posteriormente, das margens do acetábulo, marca a união do ílio com o ísquio. A eminência iliopúbica marca a união do ílio com a pube. A extremidade superior que se expande do ílio é a crista ilíaca a qual pode ser palpada no indivíduo vivo por toda a sua extensão. A crista é um tanto arqueada, também curvada lado a lado, sendo 303 côncava para dentro atrás, sendo convexa para fora na frente. A espinha ilíaca ântero-superior é o seu limite superior, nesta esta fixada o ligamento inguinal, e a espinha ilíaca pósterosuperior é seu limite superior. A maior parte da crista apresenta lábios internos e externos, que envolvem a linha intermédia rugosa. O espessamento ou a projeção do lábio externo, cerca de 5 cm atrás da espinha ilíaca ânterosuperior (ao nível da quinta vértebra lombar) é o tubérculo da crista. A asa do ílio apresenta as faces glútea e sacropélvica, a fossa ilíaca e três bordas anterior, média e posterior. A face glútea do ílio é uma ampla superfície entre as bordas posterior e anterior. É cruzada por três cristas curvas que variam em proeminência de acordo com o desenvolvimento muscular do indivíduo. Inicia-se na crista, cerca de 5 cm da espinha ilíaca póstero-superior e curva-se para baixo em direção a incisura isquiática maior a linha glútea posterior. Já a linha glútea anterior inicia-se junto ao tubérculo da crista e arqueia-se através da superfície glútea em direção a incisura isquiática maior. A linha glútea inferior começa acima da espinha ilíaca ântero-superior e curva-se, para baixo e para trás 2 a 3 cm acima do acetábulo, em direção a incisura isquiática maior. É a mais distinta das três linhas glúteas. Situada entre as bordas anterior e medial, a fossa ilíaca está limitada em cima pela crista ilíaca em baixo pelas porções inferiores da borda medial. A fossa é lisa e côncava e geralmente contém um forame nutrício. A borda posterior e medial da face sacropélvica é limitada em cima e em baixo pela crista ilíaca, ela inclui a face auricular e a tuberosidade ilíaca. A face auricular está localizada diretamente atrás da fossa ilíaca. O sulco pré-auricular, em geral é encontrado somente na mulher, localizado na frente e embaixo da face auricular. A tuberosidade ilíaca é a área rugosa acima e atrás da face auricular. A borda anterior da asa do ílio estende-se da espinha ilíaca ântero-superior ao acetábulo. Inferiormente apresenta a espinha ilíaca ântero-inferior, uma projeção áspera pouco acima do acetábulo. Um sulco raso, abaixo e medial à espinha ântero-inferior, aloja o iliopsoas. A borda posterior inicia-se na espi- 304 nha ilíaca póstero-superior. Estende-se para baixo em direção à espinha ilíaca póstero-inferior, e então, faz uma curva brusca para adiante e se torna contínua com a borda posterior do ísquio. Ela forma, com esta borda, a incisura isquiática maior. A borda medial da asa do ílio começa na crista ilíaca e estende-se para baixo, primeiro como uma linha áspera e depois como uma borda cortante, limitando a face auricular na frente. Volta-se então, abruptamente para frente e continua como uma linha curva em direção à eminência iliopúbica. É essa metade inferior curva que forma a porção ilíaca na linha arqueada. O ísquio forma a porção póstero-inferior do osso do quadril, consistindo em um corpo e um ramo. O corpo tem extremidade superior e inferior. A superior funde-se com a pube e o ílio e forma parte do acetábulo. A inferior livre e a inferior áspera da face dorsal formam o túber isquiático. O ramo projeta-se da extremidade inferior e funde-se com o ramo inferior da pube, abaixo do forame obturado. O corpo apresenta faces femoral, pélvica e dorsal para a coxa. A pelvina ajuda a formar a parede óssea da fossa ísquiorretal. Ela é contínua em cima, como a face glútea do ílio. Embaixo continua na extremidade inferior livre do ísquio e com ela forma o túber isquiático. A borda lateral do ísquio separa as faces femural e dorsal, a borda posterior separa as faces pelvina e dorsal. EA porção superior do túber isquiático é subdividida para a fixação dos músculos do jarrete. O ramo do ísquio estende-se para cima e medialmente e une-se ao ramo inferior da pube. Os ramos unidos do ísquio e da pube formam uma barra óssea com duas faces e duas bordas. A pube é dividida em um corpo, e dois ramos um inferior e o outro superior. O corpo une-se ao corpo da pube do lado oposto, no plano mediano, para formar a sínfise púbica. A borda anterior áspera é a crista púbica e a porção lateral inferior é o proeminente tubérculo púbico. O tubérculo é um ponto de reparo na porção inferior da parede abdominal, cerca de 3 cm do plano mediano. É um guia para o ânulo inguinal, o ânulo femoral e o hiato safeno. O ramo superior estende-se para Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 cima, para trás e lateralmente a acetábulo, onde se funde com o ílio e o ísquio. O ramo superior apresenta as faces pectíneas, pelvinas e obturatória e bordas posterior, anterior e inferior. A borda anterior é a linha pectínea e a crista obturatória. A borda posterior é a margem do forame obturado. O forame obturado é limitado pela pube e pelo ísquio e seus respectivos ramos. É fechado, exceto no sulco obturatório, por uma membrana obturatória que esta fixada às margens do forame, alojando os nervos e vasos obturatórios e convertendo o sulco em canal obturado. O ramo inferior se une com o ramo do ísquio. O acetábulo é uma grande cavidade crateriforme do lado externo do osso do quadril que articula com a cabeça do fêmur para formar a juntura do quadril. O acetábulo é incompleto embaixo onde se forma a incisura do acetábulo. A fossa do acetábulo é a depressão áspera no assoalho do acetábulo. A fossa é, algumas vezes, fina e transparente em sua porção superior. O restante, a face semilunar, é lisa e se articula com a cabeça do fêmur. O lábio acetabular é ligado a sua margem periférica. As pelves masculinas e femininas diferem em aspectos gerais, bem como por características relativas à conexão da pelve feminina com o canal do parto [2]. A pelve masculina tende a ser maior, mais grosseiramente marcada por fixações ligamentosas e musculares e mais pesada. A cavidade pélvica é mais funda, suas faces laterais são mais planas estando o sacro e o cóccix mais anteriormente que a pelve feminina. A pelve feminina é mais leve, delicada em seu arcabouço ósseo e também mais rasa. O contorno da cavidade pélvica é redondo ou oval. O sacro e o cóccix são mais planos e menos salientes anteriormente, para não angustiar canal do parto (canal pélvico). As paredes laterais são mais afetadas pelo desvio lateral das tuberosidades isquiáticas, dos ramos ísquiopubicos mais longos e do arco púbico ter um ângulo mais aberto. O fêmur, ou osso da coxa é o mais longo e mais pesado do corpo, seu comprimento oscila entre ¼ e 1/3 do comprimento do corpo. Na posição ereta o fêmur transmite o peso do osso do quadril para a tíbia [1]. O fêmur possui uma Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 diáfise e duas extremidades superior e inferior. A superior é constituída de uma cabeça, um colo, dois trocânteres, o maior e o menor. A inferior consiste em 2 côndilos recurvados em espiral o medial e o lateral. O plano do colo do fêmur fica geralmente um pouco na frente do plano dos côndilos, na posição antevertida. O pequeno ângulo agudo entre os dois planos é denominado de ângulo de torção femoral. Nos adultos o ângulo de torção tem cerca de 15 graus e nas crianças bem maior que 31 graus. O grau de anteversão pode ser alterado em condições patológicas. O ângulo de inclinação é o ângulo que o eixo longitudinal do colo faz com o eixo longitudinal da diáfise, variando com a idade, sexo, e desenvolvimento do esqueleto ósseo. Quando o ângulo de inclinação está aumentado chamamos de coxa valga e coxa vara quando está diminuído. Na diáfise do fêmur a curvatura é mais acentuada na porção superior. A cabeça do fêmur forma cerca de 2/5 de uma esfera. Uma depressão, ou fóvea, a qual está preso o ligamento da cabeça do fêmur, acha-se localizado abaixo e atrás do seu centro. O colo une a cabeça à diáfise na região dos trocânteres. Um sulco sagital que aparece freqüentemente na face anterior do colo corresponde ao lábio acetabular. Na frente, o colo e a diáfise são separados pela linha intertrocantérica, que torna-se contínua com uma linha espiral pouco marcada, curvando-se para o dorso do osso abaixo do trocanter menor indo então se unir ao lábio medial da linha áspera. A crista intertrocantérica une o dorso do trocanter maior ao menor. Uma elevação arredondada na crista é denominada de tubérculo quadrado O trocanter maior pode ser palpado na face lateral da coxa. Na posição ereta este se encontra no mesmo plano horizontal do tubérculo púbico, da cabeça do fêmur e do cóccix. O trocanter maior apresenta faces; laterais e mediais, margens superior, anterior e posterior. A lateral tem uma crista para a inserção do glúteo médio. A margem posterior continua embaixo com a crista intertrocantérica que termina no trocanter menor. A face medial apresenta uma depressão áspera, a fossa trocantérica. A “coxa vara funcional” é medida pelo relacionamento com o trocanter maior [3]. A retroversão e a coxa 305 vara devem ser diagnosticados logo após o nascimento, e tão logo começar o tratamento para o crescimento se normalizar o mais cedo possível [4]. O trocanter menor estende-se medialmente da porção póstero-medial da junção do colo com a diáfise. O trocanter menor é indistintamente palpável acima da extremidade lateral da prega glútea quando a coxa gira medialmente. O corpo mostra bordas medial e lateral mal definidas, mas no terço médio possui uma proeminente borda posterior, a linha áspera, que apresenta lábios medial e lateral. A linha pectínea estende-se do dorso do trocanter menor até a linha áspera. A linha supracondilar medial é interrompida por uma área lisa relacionada à artéria femoral e termina no tubérculo adutório. A extremidade distal consiste em dois côndilos recurvados em espiral que são separados posteriormente e inferiormente pela fossa intercondilar. Anteriormente aos côndilos encontramos a face patelar. A face medial do côndilo medial é áspera e convexa. Sua porção mais proeminente é o epicôndilo medial. O tubérculo adutório é palpável e pode ser localizado seguindo-se o tendão do adutor magno. O epicôndilo lateral é uma proeminência da face lateral do côndilo lateral. A fossa intercondilar é separada da face poplítea do corpo pela linha intercondilar. A articulação do quadril (acetábulo femural) é uma articulação sinovial do tipo esferóide formada pela cabeça do fêmur e o acetábulo. É forte e estável [5]. A amplitude de movimento é um pouco reduzida com a finalidade de proporcionar mais estabilidade e força. Sua amplitude de movimento é resultado do colo do fêmur ser mais estreito que o diâmetro da cabeça. Os movimentos da coxa na articulação do quadril são: flexo-extensão, abdução-adução, rotação medial e lateral e circundação. A flexão e extensão da coxa ocorrem através da cabeça do fêmur. A cápsula é afrouxada quando o quadril é fletido. Se o joelho estiver fletido (para relaxar os músculos jarrete) a coxa pode ser trazida contra a parede do abdome. Esse movimento não ocorre somente na juntura do quadril, podendo em parte ser feita pela flexão da coluna [6]. Durante a extensão, o ligamento iliofemoral torna-se tenso, sendo o quadril 306 geralmente estendido apenas um pouco além da vertical. A extensão combinada com a adução moderada e rotação medial, fecham a juntura do quadril. A abdução e a adução ocorrem ao redor de um eixo ântero-posterior através da cabeça do fêmur. A abdução é um pouco mais livre que a adução. Já a rotação ocorre ao redor de um eixo vertical, que se estende da cabeça do fêmur e através do centro do côndilo femoral medial. A rotação pode ser conseguida, por 1/6 do círculo, quando a coxa está estendida, e um pouco mais quando está fletida. Na circundação, o membro gira ao redor de um cone, cujo ápice está na cabeça do fêmur. Outra razão para a articulação sacroilíaca ser mais estável no homem relaciona-se com as diferenças de posicionamento do centro de gravidade. Na posição em pé, o peso corporal força o sacro para baixo, tensionando os ligamentos posteriores e forçando-o contra o ílio, dando com isso estabilidade para a articulação. Essa posição ortostática é a que mantém tencionada a articulação sacroilíaca [7]. Em mulheres, o centro de gravidade localiza-se no mesmo plano que o sacro, sendo nos homens mais anteriorizado. Os músculos isquiotibiais ou do jarrete são formados pelos músculos bíceps da coxa, semitendíneo e semimembranáceo [8]. O músculo bíceps femoral é formado por uma porção longa e uma curta. A porção curta origina-se na linha áspera do fêmur e inserese na cabeça da fíbula, enquanto que a porção longa tem a sua origem na tuberosidade isquiática e inserção se também na cabeça da fíbula. A inervação do bíceps femoral provém do nervo isquiático (L5, S1, S2, S3). A inervação da cabeça longa a aborda pelo terço médio de sua face anterior e a destinada à cabeça curta por seu terço superior [9]. O semitendinoso origina-se na tuberosidade isquiática e se insere por meio de um tendão longo na parte superior da face medial do corpo da tíbia [8]. Recebe um nervo superior, que pode ser comum com a cabeça longa do bíceps da coxa, inserindo-se no músculo por seu terço superior, e um nervo inferior que chega por seu terço inferior, sendo ambos ramos colaterais do nervo isquiático (S1, S2) [9]. O semimembranoso tem origem na Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 tuberosidade isquiática se inserindo em um sulco na face póstero-medial do côndilo medial da tíbia. Ele envia uma expansão fibrosa para cima e lateralmente, que reforça a cápsula no dorso da articulação do joelho [8]. Em sua inervação existe um ramo colateral e às vezes dois, que se origina no nervo isquiático (L5, S1, S2) [9]. Os músculos semitendinoso, semimembranáceo, e bíceps da coxa têm como ação flexionar a perna sobre a coxa e estender a coxa sobre a pelve. O semitendíneo determina a rotação da coxa de lateral para medial. O músculo bíceps da coxa também determina a rotação, só que de medial para lateral. Estes três músculos por serem flexores da perna e flexores da coxa intervêm ativamente na marcha. Em relação aos movimentos pélvicos podemos dizer que: o ângulo de torção em adultos normalmente é em torno de 150º e que um aumento neste ângulo é considerando como indicativo de anteroversão do colo femoral [10]. Ele geralmente é maior em crianças podendo resultar em uma marcha com antepés invertidos. Tem sido especulado que uma anteroversão femoral infantil persistente possa contribuir para a osteoartrite em idade mais avançada, sendo resultado de um aumento do desgaste rotacional e do aumento das forças musculares que atravessam a articulação do quadril para realizar a desrotação da cabeça, ou até mesmo de uma diminuição da congruência levando a áreas de maior pressão com pouca ou nenhuma pressão. Ao permitir que a cabeça do fêmur coloque mais pressão contra as partes superior e anterior do acetábulo, o ângulo aumentado também pode causar displasia do acetábulo, resultando em um maior potencial de luxação anterior de fêmur. Os movimentos da pelve são descritos observando-se o ílio e, especificamente, as espinhas ilíacas anteriores, superior e inferior na frente do ílio [7]. A inclinação anterior da pelve ocorre quando o tronco é flexionado ou as coxas são estendidas observando-se uma inclinação para frente e para baixo do movimento da pelve. Essa inclinação anterior pode ser oriunda da protusão do abdome criando um posicionamento para trás na coluna lombar, fato observado comumente nas mulheres grávidas [13]. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 A inclinação posterior é criada pela extensão do tronco e achatamento da coluna lombar ou pela flexão da coxa na medida em que a pelve se move posteriormente. Estudo clínico Na anteroversão da pelve os músculos isquiotibiais estão alongados, estando encurtados na retroversão. A anteroversão também pode ser chamada de movimento de nudação limitado pela tensão do grande e do pequeno ligamento sacro-isquiáticos. E a retroversão também pode ser denominada de contranudação estando limitada pela tensão dos ligamentos ílio-sacrais superficiais e profundos [14]. A anteroversão de fêmur será geralmente verificada quando se avalia a marcha. É caracterizada principalmente por uma marcha em anteroversão com inversão de antepés e um aumento do ângulo “Q” ocasionado por uma elevação da torção tibial externa e dos pés pronados, na tentativa de compensar a torção. Pode ocorrer um aumento da lordose lombar, em função de uma pequena curvatura da cabeça femoral anteriormente, dando origem a quadros álgicos na região lombar. Se a condição é unilateral, a pronação compensatória poderia levar a uma aparente diferença do comprimento nos membros inferiores, possivelmente também provocando uma disfunção da região sacroilíaca ou até mesmo um quadro álgico. A gonalgia pode ser a queixa principal do paciente com anteroversão femoral, já que pode levar a uma síndrome de mau alinhamento patelar, ou subluxações patelares. O paciente com anteroversão femoral também pode se queixar de dor no pé, causada por pronação excessiva. O achado mais importante relacionado com o quadril é o dramático aumento na rotação interna de 60 para 90º e uma diminuição da rotação externa. Os pés do paciente na postura supina relaxada serão visualizados em uma posição rotacional neutra, apesar da eversão normal em torno de 45º. A prevenção de patologias tardias de quadril ou relacionadas na coluna, joelho, pé ou tornozelo exige um tratamento continuado precoce da anteversão femoral. O tratamento fisioterápico deve incorporar principalmente 307 exercícios para aumentar a rotação externa, em um programa cinesioterápico domiciliar. A mobilização para aumentar a rotação externa pode ser utilizada na clínica [7]. O ângulo de versão pode distinguir prontamente a anteroversão da retroversão. Quando o ângulo do colo diafisário, no plano transverso está muito diminuído, ocorre a retroversão. A marcha divergente indica a possibilidade de quadris retrovertidos. Ela também pode aumentar o desgaste rotacional e contribuir para uma maior torção tibial e pé supinados. O aumento das forças no quadril causado pelo esforço dos músculos para rodar internamente o quadril, não será eficiente como força de desrotação na anteversão, em função da relativa fraqueza dos rotadores internos [11]. A marcha divergente pode ser a primeira indicação para o fisioterapeuta, de que existe uma retroversão femoral. Um aumento da torção tibial interna, diminuição do ângulo “Q”, e/ou pés supinados, também podem ser observados. A retroversão unilateral resultante do aumento unilateral da supinação pode levar a uma aparente discrepância no comprimento dos membros inferiores. As compensações podem causar na região lombar inferior, dor ou, na articulação sacroilíaca em direção aos pés, um aumento da rotação externa, observado no quadril acometido. Assim como na anteversão, a patomecânica deve ser tratada tão logo quanto possível. O tratamento direto do quadril envolve exercícios de rotação interna, alongamento dos rotadores internos tensos em um programa de exercícios domiciliares, bem como mobilizações nas rotações internas nos serviços de reabilitação [7]. A displasia congênita do quadril, termo que se refere à má formação da articulação do quadril é uma das deformidades congênitas mais comuns. Ela será aparente no caso de subluxação ou de luxação. Entretanto, a displasia acetabular que não resulta em subluxação luxação pode não ser aparente, até que seja tardiamente revelada pela marcha patológica e/ou radiografias. Quando não é reconhecida e nem tratada precocemente, pode levar a um quadro de osteoartrite na vida adulta [12]. 308 A paralisia dos isquiotibiais provoca uma báscula de tronco para frente: o paciente compensa através de uma extensão do tronco se apoiando sobre um plano fibroso anterior, com diminuição do passo anterior durante a marcha, flexão exagerada do quadril e do pé. Ele não pode andar rápido e nem saltar [15]. Referências 1- Gardner E, Gray R,O’Rahilly R. Anatomia regional do corpo humano. 4ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan 1978. p.62-85. 2- Garner W, Osburn W. O sistema esquelético e suas junturas. In: Anatomia do corpo humano. 2ª edição. São Paulo. Atheneu 1980. p.133-134. 3- Kim SS, Frick WDR. Anteversion of the acetabulum in developmental dysplasia of the hip: analysis with computed tomography. J Pediatr Orthop. 1999;19(4):438-42. 4- Tonnis D, Stanitski DF. Early conservative and operative treatment to gain early normal growth in proximal femoral focal deficiency. J Pediatr Orthop B 1997; 6(1):59-67. 5- Moore KL. O membro inferior. In: Anatomia orientada para a clínica. 3ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan; 1992 p. 227-256. 6- Gardner E, Gray R, O’Rahilly R. Ossos do membro inferior. In: Anatomia. 4ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan 1999. p. 227-252. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 7- Hamill J, Knutzen MK. Fundamentos do movimento humano. In: Bases biomecânicas do movimento. 1ª edição. São Paulo. Manole Ltda; 1999. p. 207-238. 8- Snell R. O membro inferior. In: Anatomia clínica para estudantes de medicina. 5ª edição. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan; 1995. p. 503-523. 9- Latarjet M.. Anatomia humana. 2ª edição. São Paulo. Atheneu: 1993. p. 723-65. 10- Kim HT, Wenger DR. Functional retroversion of the femoral head in Legg-Calve-Perthes disease and epiphyseal dysplasia: analysis of head-neck deformity and its effect on limb position using three-dimensional computed tomography. J Pediatr Orthop 1997;17(2):240-6. 11- Symeonides PP, Hatzokos I, Christoforides J, Poumaras J. Humeral head torsion in recurrent anterior dislocation of the shoulder. J Bone Joint Surg Br 1995;77(5): 687-90. 12- Yao L, Yao J, Gold RH. Measurement of acetabular version on the axiolateral radiograph. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 309 Artigo original A importância da avaliação multidisciplinar da articulação temporomandibular em uma faixa etária de 10 a 12 anos The importance of evaluation multidisciplinary of temporomandibular joint in 10 to 12 years old people Marcus Vinícius de Mello Pinto*, Giselle Oliveira de Souza**, Marcelly Pedroni*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, Prof. da Disciplina de Fisioterapia Orofacial da Faculdade Salesiana de Vitória – ES, Coordenador do Laboratório de Fisioterapia Orofacial e Dor da Faculdade Salesiana de Vitória – ES, **Fisioterapeuta, Laboratório de Fisioterapia Orofacial e Dor da Faculdade Salesiana de Vitória – ES, ***Odontologa, Colaboradora do Laboratório de Fisioterapia Orofacial e Dor da Faculdade Salesiana de.Vitória - ES Palavras-Chave: Avaliação, articulação temporomandibular, faixa etária de 10 a 12 anos Resumo Este trabalho tem por objetivo ressaltar a importância da avaliação multidisciplinar da articulação temporomandibular na fase de desenvolvimento da criança. Enfatiza-se a contribuição do fisiodiagnóstico precoce sobre as alterações no eixo do desenvolvimento facial que pode, na fase adulta, ser fonte geradora de dor, transtorno da fala e do aparelho mastigatório. Key-Words: Evaluation physical therapy, Temporomandibular Joint, 10 to 12 years old People Abstract This study has a purpose to stand out the importance of evaluation multidisciplinary of temporomandibular joint in growing and developing of the child. Emphasize the contribution of the early diagnose physical therapy about the alterations and variations in facial development’s axis which may result pain and disturbs in speech and masticatory function in the adult phase. Endereço para correspondência: Prof. Marcus Vinicius de Mello Pinto, Av. Vitória, 950, Forte São João 29040-330 Vitória – ES, Tel: (27) 3331-8558, E-mail: [email protected] 310 Introdução Assim como em outras áreas da saúde, a base da fisioterapia orofacial é a avaliação meticulosa do paciente [11]. A intervenção terapêutica deve-se basear em uma avaliação englobando todos os elementos da história clínica, exame físico e exames complementares para todos os casos [6, 8, 9, 10, 11]. Grieve [5], relatou que a partir do exame objetivo, o fisioterapeuta deve estar alerta para uma possível causa músculo-esquelética dos sintomas da articulação temporomandibular. O autor revelou que os objetivos compreendem testes específicos para estas estruturas, tais como: Eletromiografia, eletrognatografia, sensores de célula de carga, goniometria digital, dinamometria de mordida e biofeedback [5]. Estes instrumentos de medida visam confirmar ou excluir precisamente cada estrutura acometida na articulação temporomandibular [12]. O presente estudo visa ressaltar a importância da avaliação multidisciplinar da articulação temporomandibular, em uma população em fase de desenvolvimento facial, facilitando assim a compreensão das alterações patológicas que possam advir. Material e métodos A amostra proposital estudada [4] foi de 24 crianças na faixa etária de 10 a 12 anos de idade, sendo 14 do sexo masculino e 10 do sexo feminino. Todos eram filhos de brasileiros com ascendência mediterrânea: espanhóis, italianos e portugueses. A seleção da amostra foi feita em alunos da 5o e 6o série ginasial do colégio Salesiano de Vitória no Espírito Santo. A metodologia empregada foi a avaliação deste universo amostral, classificando as etapas da avaliação fisioterápica. Utilizamos como instrumento, um questionário de avaliação epidemiológica autorizado pelos pais dos menores. Nesta pesquisa descritiva os pontos avaliados foram os seguintes : 1. Postura de cabeça em posição ortostática, mantendo o olhar em um ponto fixo. 2. Antropometria facial (mensuração da face que tem como referência o tragus da mandíbula à região mentoniana). 3. Abertura de boca com goniometria. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 4. Palpação bilateral intra-oral do músculo masseter. Resultados As respostas dos questionários de avaliação epidemiológica, que estão listadas nas tabelas de 1 a 5, mostram suas respectivas representações gráficas com valores estatísticos medido pelo teste t de Student. Os dados estatísticos mostraram que 58% das crianças apresentavam normalidade de postura da cabeça, 42% apresentavam a cabeça projetada à frente e nenhuma criança avaliada apresentou hipercifose. A antropometria facial revelou que apenas 4% das crianças apresentaram alterações faciais. A prevalência de normalidade no movimento de abertura de boca foi maior do que a de restrição. Cerca de 75% executaram o movimento sem dificuldade e 25% apresentaram restrição no movimento. Os valores relativos à palpação do músculo masseter podem ser visto nas Tabelas 4 e 5. Foi observado dor em 29% das crianças, sendo 21% na hemiface direita e 8% na hemiface esquerda. A presença de incômodo foi observada em 50% dos avaliados, onde 33% sentiram incômodo à palpação da hemiface esquerda e 17% na hemiface direita. Discussão dos resultados Os achados deste estudo são claros na confirmação da existência de incômodo na palpação do músculo masseter e na alteração de postura de cabeça, o que nos leva a estabelecer uma relação entre alteração postural e miofuncional oral [3]. A Tabela 1 mostra a análise da avaliação da postura da cabeça. A Tabela 2 mostra a análise da antropometria facial. A Tabela 3 exibe a análise da abertura de boca. A Tabela 4 mostra a análise da palpação do músculo masseter direito. A Tabela 5 reflete a análise do músculo masseter esquerdo. Tabela 1 - Avaliação da postura da cabeça. Sexo Projetada à Frente Normal Hipercifose Feminino Masculino Total 4 6 10 7 7 14 0 0 0 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Gráfico 1 – Representação gráfica do percentual da postura da cabeça. 311 Tabela 4 - Palpação do músculo masseter direito. Sexo Feminino Masculino Total Normal Dor Incômodo 3 12 15 3 2 5 3 1 4 Gráfico 4 – Representações gráfica do percentual da palpação do músculo masseter direito. Tabela 2 - Antropometria facial. Sexo Feminino Masculino Total Apresentou alteração Não apresentou alteração 0 1 1 10 13 23 Gráfico 2 – Representação gráfica do percentual da antropometria facial de acordo com o sexo. Tabela 5 - Palpação do músculo masseter esquerdo. Sexo Feminino Masculino Total Normal Dor Incômodo 3 11 14 1 1 2 5 3 8 Gráfico 5 – Representação gráfica do percentual da palpação do músculo masseter esquerdo. Tabela 3 - Análise da abertura de boca. Sexo Feminino Masculino Total Normal Restritiva 6 12 18 4 2 6 Gráfico 3 – Representação gráfica do percentual do movimento de abertura da boca. Conclusão Este estudo preliminar proporcionou a investigação das relações morfofuncionais da articulação temporomandibular em crianças. Assim, verificou-se a alteração postural da cabeça, com projeção à frente, e o incômodo no músculo masseter, evidenciando a presença de desordens temporomandibular. Entretanto, consideramos que existe uma necessidade de mais estudos controlados e com número maior de participantes sobre este assun- 312 to, bem como um instrumento clínico multidisciplinar, para que possamos chegar a um consenso diagnóstico e de tratamento. Visamos, neste trabalho, identificar a precocidade de vários acometimentos da articulação temporomandibular em uma faixa etária de 10 a 12 anos. Referências 1. Bhaskar WS. Histologia e Embriologia oral de Orban. Rio de Janeiro Artes Médicas 1978. 2. Carlson BM Embriologia Humana e Biologia do Desenvolvimento. Rio de Janeiro. Ed. Guanabara Koogan, 1996. 3. Cohen MM. Ortodondia Pediátrica Preventiva. Ed. Interameriacana, Rio de Janeiro, 1977. 4. Pereira MG. Epidemiologia teórica e prática. Ed. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1995. 5. Grieve GP. Moderna Terapia Manual da Coluna Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Vertebral. Ed. Panamericana, São Paulo, 1994. 6. Bakke M, Stoltze K, Tuxen A Variables related to masseter muscle function : a maximum R2 improvement analysis. Scan J Dent Res 1993;101:159-65. 7. Geissler PR. Studies of mandibular movements in speech. Journal of Dentistry 1975;3(6):256-260. 8. Hannam AG. The Kinesiographic measurement of jaw displacement. The Journal of Prosthetic Dentistry 1980;44(1):88-93. 9. Lemmer J. The measurment of jaw movement Part I. J Prosthet Dent 1976;36(3):312-318. 10. McDevitt WE. Functional anatomy of the masticatory system. Ed. Wright, London, 1989. 11. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 313 Caso clínico Reabilitação vestibular em duas pacientes com vertigem posicional paroxística benigna Vestibular rehabilitation in two patients with benign paroxysmal positional vertigo André Luís Santos Silva*, Silmar Silva Teixeira**, João Soares Moreira***, Simone Fernandes**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapeuta, Laboratório de Biomecânica Clínica, Hospital Geral de Ipanema, Rio de Janeiro, **Fisioterapeuta, UVA, ***Médico-Otoneurologista, CPqHEC-FIOCRUZ, ***Médica-Neurologista, Hospital Municipal Souza Aguiar, Rio de Janeiro * Palavras-chave: Fisioterapia, equilíbrio, reabilitação vestibular, vertigem posicional paroxística benigna, controle postural. Resumo O Tratamento fisioterapêutico de duas pacientes com Vertigem Posicional Paroxística Benigna (VPPB) é descrito. A primeira paciente é do sexo feminino, 79 anos, com história de 5 anos de vertigem intermitente e instabilidade postural. A outra paciente, também do sexo feminino, com 83 anos, apresentava queixa de dificuldade progressiva na deambulação e importante vertigem decúbitodependente há 01 mês. Uma paciente foi tratada no período da crise com manobra de reposicionamento e a outra com manobra liberatória. Ambas realizaram exercícios de habituação de BrandtDaroff. Foram acompanhadas por três, seis e doze meses após a crise de vertigem. O programa fisioterapêutico enfatizava a prática de atividades que alteravam a estabilidade. Elas realizaram cinesioterapia ativa livre com coordenação cabeça-olhos sentadas, de pé e deambulando. A freqüência era de 01 a 02 vezes por semana no consultório, associado a exercícios diários de habituação de Brandt-Daroff e treinamento da marcha a nível domiciliar. As mensurações foram obtidas antes e após o tratamento para cada Endereço para correspondência: André Luís Santos Silva, Rua Visconde de Silva, 292/605, Humaitá, 22271-090 Rio de Janeiro– RJ, Tel/Fax: (21) 2554-5959, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 314 paciente, incluindo um acompanhamento diário de auto-relato sobre a intensidade da vertigem, efeitos positivos da cinesioterapia vestibular ou se havia piora dos sintomas como efeito dos exercícios. As pacientes relataram melhora das queixas, com indicadores positivos baseados no Inventário das Deficiências da Vertigem (IDV), na manobra de Dix-Hallpike, no Teste do Levante e Siga Cronometrado (Timed Up and Go Test), na Prova dos Passos de Fukuda e no Teste do Alcance de Duncan. Esse estudo de casos descreve um programa de tratamento fisioterapêutico individualizado e documenta a melhora funcional dessas pacientes com diferentes estágios, duração e apresentação clínica de VPPB. Os resultados sugerem que pacientes com disfunção vestibular periférica, VPPB aguda ou crônica, podem ser capazes de melhorar seus quadros de vertigem e estabilidade postural. Key-words: Balance, vestibular rehabilitation, physical therapy, benign paroxysmal positional vertigo, postural control. Abstract The treatment of two patients with Benign Paroxysmal Positional Vertigo (BPPV) is described. One patient was 79-year-old woman with a 5-years history of dizziness and postural unsteadiness. The other patient was 83-year-old with 1-month history of progressive difficulties for ambulation and vertigo dependent-posture. One patient was treated in acute stage with the canalith repositioning procedure, and other patient was treated with a liberatory maneuver. Both was performed the habituation exercises. The follow-up was of the 3-months, 6-months and 12-months after the crisis. The course of physical therapy emphasized the practice of activities that challenge stability. They had realized active kinesiotherapy with exercises of coordination head-eyes. Each patient had weekly therapy and performed selected balance retraining and habituation exercises on a daily basis at home. Measurements taken before and after treatment for each patient included self-perception and intensity of symptoms, positive effects of the exercises and gait activities or if had worse of the symptoms. Both patients reported improvements in symptoms and demonstrated similar improvements on several indicators such as Dizziness Handicap Inventory (DHI), on the Dix-Hallpik Maneuver, on the Timed Up and Go Test (TUG), Fukuda’s Stepping Test and The Standing Duncan Reach Test. This case report describes two individualized treatment programs and documents functional improvements in two patients with different onset, durations, and clinical presentations of BPPV. The outcomes suggest that patients with peripheral vestibular dysfunction, acute or chronic BPPV, may be able to learn improve their vertigo and postural stability. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Introdução Muitos pacientes procuram hospitais e consultórios com queixa de tontura ou de instabilidade postural. A tontura é um sintoma inespecífico, que pode ser resultante de qualquer desordem orgânica. A vertigem é uma sensação ilusória de movimento da própria pessoa ou do ambiente que a cerca, e pode ser uma componente da tontura [1-4]. O diagnóstico diferencial é amplo e deve incluir causas clínicas, neurológicas e otoneurológicas [4-7]. A nível nacional, entretanto, chama atenção o número de pacientes com quadro de tontura do tipo rotatória (vertigem), onde, após exames clínico e complementares, são classificados de forma genérica como portadores de “labirintite” ou de causa “possivelmente” localizada na região cervical [8-10]. Estudos recentes [11] da dinâmica circulatória cerebral com ultra-sonografia por efeito Doppler, conduzidos pelos Drs. Bertora, Bergmann, Claussen e Claussen, do Grupo de Investigação Otooftalmológica da Argentina e Alemanha, demonstraram que, em 52% dos pacientes que os consultam por vertigem com diagnóstico prévio atribuído a problemas na região cervical, apenas 5% apresentam realmente vertigem de causa cervical por variações de fluxo de artérias vertebrais [11]. Esses autores consideram a osteoartrite de coluna cervical de baixo valor clínico como fator causal de disfunções otoneurológicas, contudo, acreditam que os transtornos hemodinâmicos capilares (circulação cerebral terminal) sejam de grande importância, pelas trocas metabólicas que realizam entre as células cerebrais. Os sistemas vestibular e visual possuem receptores especializados, axônios de nervos cranianos em suas periferias, núcleos específicos no tronco encefálico e área no córtex encefálico dedicadas aos seus funcionamentos. O sistema vestibular orienta a informação de movimentos da cabeça e dos olhos, e desta em relação à gravidade e ao corpo, participa dos controles de ajustes posturais e antecipação e exerce influência sobre informações autonômicas e na consciência [12-15]. Consultar Herdman (2002) para uma ampla abordagem sobre neurofisiologia e a Reabilitação Vestibular [16]. 315 Furman e Cass [5], em recente revisão de literatura, relataram que a VPPB é um dos tipos mais comuns de vertigem. Baloh et al. [17], em um coorte de 240 pacientes, com uma variação de 11 a 84 anos de idade, demonstraram que a média de idade para apresentar a VPPB era de 54 anos [17]. Froehling et al. [18] estimaram que a incidência de VPPB era alta, com 107 casos a cada 100.000 pessoas ao ano. Esta condição patológica surge repentinamente (episódica) como uma tontura ou uma vertigem provocada por certas posições da cabeça. Entre os movimentos mais freqüentes estão o rolar na cama, olhar para cima e inclinar a cabeça. Apesar de existir há muito tempo, somente recentemente [19, 20], que a fisiopatologia da VPPB tornou-se mais substancialmente compreendida. Partículas de cristais de carbonato de cálcio (otolitos) livres e flutuando no canal semicircular posterior (CSP) do labirinto vestibular tem sido observadas in vivo em vários pacientes com esta desordem [5, 19, 20]. Antecedentes comuns da VPPB incluem neuronite vestibular e traumatismo craniano [5, 8]. Estes achados permitiram o desenvolvimento de tratamento inovador à beira do leito, no qual as partículas são movidas do CSP para dentro do vestíbulo (região central do labirinto), onde se localiza o utrículo, uma das duas estruturas sensíveis à gravidade presentes na orelha interna. Essas manobras geralmente oferecem uma melhora imediata e duradoura da vertigem [21-23]. No entanto, a recidiva nessa enfermidade ocorre com certa freqüência [5]. Epley [22], reportou uma recidiva em torno de 30% em um período de 30 meses de acompanhamento. Apesar da aparente simplicidade da fisiopatologia da VPPB, o diagnóstico e o tratamento desta patologia pode variar. Os pacientes podem apresentar alguns, mas não todos os sinais e sintomas característicos da VPPB típica, o que demonstra a existência de variantes e, consequentemente, diversas manobras e condutas terapêuticas para o seu controle. Um sinal objetivo característico é o nistagmo. Em sua forma mais comum, a VPPB apresenta um nistagmo com componentes vertical e torsional [1, 2, 5]. Alguns autores denominam de nistagmo posicional paroxístico benigno [14-16]. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 316 De acordo com a fisioterapeuta norte-americana Susan Herdman [16], as limitações cinético-funcionais observadas em pacientes com disfunção labiríntica (vestibular) são instabilidade postural, associadas à manifestações neurovegetativas [2], alteração de marcha [6, 8], fatigabilidade [12, 16] e indisposição [14, 18], resultando em dificuldades para as atividades de vida diária (AVD’s). Procedimento e método Em nosso estudo de casos de duas pacientes com história de vertigem e instabilidade postural, descrevemos a fase, baseada na intervenção a nível ambulatorial e domiciliar, que promoveu o incremento das alterações positivas para vertigem e estabilidade corporal na posição ortostática e deambulando. As pacientes tinham diferentes etiologias, duração e apresentação clínica de VPPB (Tabela 1). O programa de tratamento é baseado nas recentes abordagens relacionadas à reabilitação do equilíbrio, sugerindo que atividades que acionam os mecanismos de controle neural e postural podem ser mais efetivas para alcançar um controle postural global [13]. Tais mecanismos podem incluir a integração de informações sensoriais ou estratégias alternadas de controle motor a fim de se conseguir uma estabilidade postural [1, 3, 16]. Nós relatamos dados sobre as respostas das pacientes ao tratamento baseados em instrumentos de avaliação clínica do equilíbrio, auto-relato de acompanhamento, análise da qualidade do movimento corporal e análise das respostas sobre dificuldades do paciente através do Inventário das Deficiências da Vertigem – IDV[16], adaptado do Dizziness Handicap Inventory – DHI [24]. A avaliação médica para cada paciente ratificando a indicação de fisioterapia consistia de exames e testes realizados e julgados apropriados por um otoneurologista ou neurologista. Considerações éticas As pacientes concordaram em participar da pesquisa e assinaram um consentimento informado sobre a publicação do presente trabalho. Relato de caso Paciente 1 – Recidiva de VPPB após 05 anos. CSP à esquerda. Paciente do sexo feminino, 79 anos, encaminhada ao setor de fisioterapia. Queixava-se de tontura e náusea ao mudar de posição em sua cama (rolar ou passar de sentada para decúbito lateral esquerdo) e instabilidade postural, há aproximadamente 01 mês. Há 05 anos, ela referia os mesmos sinais e sintomas, onde foi constatado VPPB-CSP à esquerda, confirmada pela manobra de Dix-Hallpike [25] e exames otoneurológicos. Na ocasião, foi acompanhada pela fisioterapia através de manobra de reposição canalítica (02 execuções) [22] e cinesioterapia ativa com exercícios de Habituação de Brandt-Daroff [21], de motilidade óculo-cefálica e exercícios de condicionamento geral [14, 26]. Após acompanhamento de 03 anos e meio, a paciente relatava 100% de melhora dos sintomas, o que correspondia com os bons resultados apresentados na reavaliação do equilíbrio em ortostatismo e durante a marcha. [14]. Achados pré-fisioterapia Uma semana antes de comparecer à fisioterapia, a paciente foi examinada por um médico otoneurologista. Este encontrou uma paciente lúcida e cooperativa. Apresentava movimentos extra-oculares com nistagmo espontâneo, e ao acompanhar um alvo móvel, havia incapacidade de suprimir o Reflexo vestíbulo-ocular (RVO) por apresentar nistagmo durante o teste. Sensibilidades superficial e profunda, e movimentos faciais, de tronco e membros sem alterações. Membranas timpânicas íntegras e exame de fundo-de-olho normal. Tabela 1 -História dos casos Sujeito 1 2 Sexo F F Idade 79 83 Etiologia Desconhecida Desconhecida Orelha afetada Esquerda Direita tratamento prévio Sim Não Início da crise há 05 anos há 01 mês Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Romberg positivo à esquerda. Provas do dedonariz, rechaço e diadococinesia normais. Foi submetida à testes vestibulares que demonstraram nistagmo vertical para cima e rotatório anti-horário, pelo monitor da Vectoeletronistagmografia (VENG), no posicionamento lateral esquerdo à prova de Dix-Hallpike, e vertical para baixo e rotatório horário, pelo monitor, ao sentar-se, sugerindo vertigem posicional paroxística benigna por canalitíase do canal semicircular posterior esquerdo (CSPe) [1, 3, 19, 23]. Durante avaliação fisioterapêutica, a paciente precisava do apoio de acompanhante para deambular, havia amplitude normal de movimento para todas as extremidades. A mobilidade da coluna cervical e lombar eram compatíveis com a idade e sem dor. Os testes de força muscular manual estavam normais (5/ 5) para todos os grupos musculares dos quadrantes superior e inferior. Provas de coordenação (dedo-nariz e calcanhar-tíbia) apresentavam boa velocidade, acurácia e suavidade, bilateralmente. Sensibilidade superficial e propriocepção estavam normais. Tônus muscular compatível com a idade. A manobra posicional de Dix-Hallpike [25], ainda positiva para o lado esquerdo com vertigem e nistagmo vertical e rotatório batendo ipsilateral. Ela era incapaz de fixar visualmente um alvo quando realizava movimentos de rotação da cabeça com freqüências moderadas. O Teste do Alcance de Duncan [27], com inclinação para esquerda foi de 03 cm; para direita 04 cm; para frente 02 cm. Havia importante limitação funcional. A marcha encontrava-se em bloco –sem dissociação de cinturasbase de suporte aumentada, com passos lentos e com oscilação. A marcha sensibilizada era instável com tendência à queda à esquerda. As noções de freqüência e intensidade da vertigem foram avaliadas usando-se um ques- 317 tionário padronizado, o Inventário das Deficiências da Vertigem –IDV- (Tabela 2), onde para a paciente 01 apresentou um total de 64/100. Ambas as pacientes foram avaliadas e tratadas pelo mesmo fisioterapeuta. A avaliação do equilíbrio foi baseada nos aspectos de organização sensorial e motora do controle postural de cada paciente, assim como as respostas posturais automáticas. Os testes foram selecionados de acordo com a história e patologia de cada enferma, e a necessidade de identificar (para a proposta de planejamento do tratamento) os aspectos fundamentais do controle postural, que era o ponto mais problemático das pacientes. Seja de pé ou andando, a paciente tinha uma tendência a se posicionar mais lateralmente à esquerda. Foi solicitado que ficasse em pé com os pés juntos (Romberg) por 60 segundos (mensurado com cronômetro digital). Quando solicitavase que girasse a cabeça de um lado para o outro, apresentava um aumento importante da oscilação postural. Ela era capaz de manter-se de pé sobre uma almofada de 10 cm de espessura com os olhos abertos por 20 segundos e com os olhos fechados por 2,5 segundos, sugerindo que tinha dificuldade com o controle postural quando a informação visual era removida e o ingresso somatossensitivo era alterado. Ela era capaz de manter-se na posição de Romberg sensibilizado com olhos abertos por 45 segundos. Na posição de pé sobre a perna dominante (a direita, determinado pela pergunta sobre qual perna ela usaria para chutar uma bola), ela conseguia permanecer por 25 segundos com olhos abertos e 1,5 segundos com olhos fechados, sugerindo dificuldade com o controle postural quando as informações visuais eram removidas e necessitava manter seu centro de gravidade (CG) sobre uma estreita base de suporte. Havia aumento da oscilação postural para Tabela 02 - Resultado global pré-fisioterapia do inventário das deficiências da vertigem das 2 pacientes Comprometimento Funcional (38) Orgânico (36) Emocional (28) Total: Sim(x4) PAC. 01 Não(x0) 4 4 6 14(x4)+ 3 3 1 7(x0) + às vezes(x2) 2 2 4(x2) = 64/100 6 Sim(x4) PAC. 02 Não(x0) 2 3 1 (x4) + 6 2 8 16(x0) + às vezes(x2) 1 2 3(x2) = 30/100 318 a esquerda durante os testes de marcha, especialmente quando a base de suporte era estreitada ou quando o ingresso sensorial visual era removido. Estes achados sugeriram que ela tinha dificuldade em selecionar uma informação sensorial apropriada para o controle postural. A estratégia do passo (para recuperação da estabilidade) era atrasada e com tendência à esquerda em resposta a uma perturbação inesperada do equilíbrio. A Prova dos Passos de Fukuda foi positiva para o lado esquerdo [16]. O Teste do Levante e Siga Cronometrado –Timed Up and Go Test [16], realizado sobre uma superfície de 12,5 metros, apresentou um tempo de 17 segundos sem o uso de suporte. A marcha era realizada de forma insegura, e tornava-se mais lenta ao realizar a curva de 180º. A marcha com os olhos fechados sobre uma superfície de 6 metros foi realizada em 8 segundos, mas com uma vacilação para o lado direito, o que sugere dificuldade para o controle postural durante a marcha quando a referência visual era retirada. Ela era capaz de realizar a deambulação sensibilizada de olhos abertos, porém com lentidão e 02 interrupções. Mas era incapaz de realizar essa tarefa com os olhos fechados, o que indica dificuldade sobre o controle postural quando deambula com a base de suporte estreitada e com necessidade de manter o CG dentro de uma pequena área. Ao andar sobre uma superfície de 6 metros com a cabeça girando de uma lado para o outro, a paciente realizava em 7 segundos, mas com dois cruzamentos das pernas, indicando dificuldade para integrar informações relacionadas ao movimento da cabeça com outras informações sensoriais durante a atividade. Os objetivos da fisioterapia para a paciente incluíam diminuir as sensações de vertigem decúbito-dependente e torná-la capaz para caminhar independentemente sem apoio e poder aumentar sua participação em atividades sociais, com possível melhora do aspecto emocional. Fisioterapia – Caso 01 O Programa de fisioterapia vestibular e para o equilíbrio foi delineado baseado nas seguintes interpretações das condições da paciente: Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 1. Sua vertigem era relacionada a disfunção vestibular periférica (VPPB) por canalitíase, deflagrada na mudança de posição da cabeça. Esta disfunção possui alta incidência em pessoas idosas e problemas de equilíbrio também são comuns associados à VPPB (16); 2. Ela estava muito dependente das informações visuais e somatossensitivas para o equilíbrio dinâmico; 3. Apresentava atraso nas respostas de recuperação da estabilidade postural após perturbação do equilíbrio; 4. Apresentava dificuldade na fixação visual durante atividades funcionais; Nosso programa de tratamento incluiu: Fase 1 - Utilização de manobra de reposição canalítica para o CSP esquerdo, ficando com colar cervical por 7 dias e permaneceu sentada nos dois primeiros dias após o procedimento [16, 22]. Fase 2 - Relatou 60% de melhora da vertigem decúbito-dependente. Foi realizado novo teste de Dix-Hallpike à esquerda e a paciente apresentava nistagmo “batendo para baixo” e vertigem. Foi realizada mais uma manobra de reposição canalítica para CSPe, com resultado positivo, ou seja, não apresentou nistagmo ou vertigem quando retornou à posição sentada. Na semana seguinte, iniciou-se a cinesioterapia ativa livre, através de exercícios de Habituação de Brandt-Daroff [21] por 5 semanas, associada a exercícios coordenação cabeça-olhos com estimulação vestibular e interação vestíbulo-visual, nas posições sentada, de pé em superfície plana e sobre uma almofada de 10 cm de espessura [16]. Fase 3 - Realizou, durante mais 7 semanas o programa da fase 2 associado a exercícios de equilíbrio e marcha. A paciente comparecia às sessões de fisioterapia uma vez por semana com duração de 45 minutos, durante a qual era reavaliada e trazia o questionário de auto-relato que preenchia toda noite antes de dormir (ferramenta padrão de aderência ao tratamento utilizado em nosso serviço – consiste de 03 questões sobre a) Intensidade da vertigem, b) Alívio da vertigem com a cinesioterapia, c) Efeitos secundários positivos ou negativos da cinesioterapia). Sempre era instruída à progressão dos exercícios a Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 nível domiciliar. Excetuando a semana inicial do programa, não relatava dificuldade com a progressão semanal da cinesioterapia domiciliar. Realizava pelo menos duas vezes ao dia, durante os 7 dias da semana com tempo de aproximadamente 45 minutos. Após 14 semanas, ela foi reavaliada no laboratório de biomecânica clínica com as mesmas mensurações iniciais. Achados pós-fisioterapia Após 14 semanas de tratamento, a paciente relatou uma diminuição importante na freqüência e na intensidade do desequilíbrio. Não apresentava vertigem nem nistagmo à manobra de Dix-Hallpike. Os pontos no Inventário das Deficiências da Vertigem (IDV) passaram de 64/100 da avaliação inicial para 34/100. Relatou melhora em 05 itens do aspecto emocional e melhora em 05 itens das atividades funcionais. Não houve relato de piora em nenhum item do IDV. Ela era capaz de fixar visualmente um alvo quando realizava movimentos de rotação da cabeça com freqüências moderadas. Ao girar a cabeça de um lado para o outro, apresentou uma diminuição da oscilação postural. Houve melhora no Teste do Alcance de Duncan, onde a inclinação para esquerda foi de 08 cm; para a direita de 09 cm e 06 cm para frente. Ela conseguiu manter-se de pé sobre a almofada de 10 cm de espessura com os olhos abertos por 40 segundos e com os olhos fechados por 10 segundos. Na posição de pé sobre a perna dominante, ela conseguiu permanecer por 28 segundos com olhos abertos e 5 segundos com olhos fechados. A Prova de Fukuda estava nos padrões da normalidade. Houve melhora da Teste do Levante e Siga Cronometrado (Timed Up and Go Test-TUG), que passou de 17 segundos para 12 segundos. A marcha com os olhos fechados reduziu de 8 segundos para 5,5 segundos com discretas vacilações à direita. A marcha sensibilizada com olhos abertos pôde ser realizada apenas com uma interrupção, comparada às duas da avaliação inicial. Conseguiu realizar a marcha sensibilizada com os olhos fechados, porém com duas interrupções. Ao andar sobre a superfície de 6 metros com a cabeça girando de uma lado para o outro, a 319 paciente realizava em 7 segundos e dois cruzamentos das pernas, porém na reavaliação, ela conseguiu realizar em 4,5 segundos com apenas 01 cruzamento. Não havia atraso na estratégia do passo para recuperação de estabilidade com uma perturbação repentina do equilíbrio. Após seis e doze meses de acompanhamento, a paciente relatou que estava 100% melhor dos sinais e sintomas. Após um ano o IDV era de 08/100 (Tabela 3). Tabela 3 - Resultado do inventário de desvantagens da vertigem da paciente 01 após um ano. Comprometimento Sim(x4) PAC. 01 Não(x0) Às vezes(x2) Funcional (38) Orgânico (36) 2 Emocional (28) Total: 8(x4)+ 9 5 9 23(x0) + 0(x2) = 08/100 Paciente 2 – VPPB há 01 mês. CSP à direita Paciente do sexo feminino, 83 anos, encaminhada ao setor de fisioterapia. Queixava-se de vertigem objetiva (“o ambiente girava em torno dela”), náusea ao mudar de posição em sua cama (rolar ou passar de sentada para decúbito lateral direito) e instabilidade postural, há aproximadamente um mês. Não havia história de queda. Achados pré-fisioterapia Uma semana antes de comparecer à fisioterapia, a paciente foi examinada por uma médica neurologista. Esta encontrou uma paciente lúcida e cooperativa. Ao exame apresentou nistagmo com a fase rápida “batendo para cima” e torsional à direita quando movia a cabeça até a posição de Dix-Hallpike à direita. A latência e duração do nistagmo, e a vertigem concorrente, eram consistentes com cupulolitíase do canal semicircular posterior direito CSPd [8, 9, 10]. Apresentava as sensibilidades superficial e profunda, os movimentos faciais, de tronco e membros sem alterações. Membranas timpânicas íntegras e exame de fundo-de-olho normal. Romberg positivo à direita. Provas do dedo-nariz, rechaço e diadococinesia normais. Durante avaliação fisioterapêutica, a paciente precisava do apoio de acompanhante para 320 deambular, havia amplitude normal de movimento para todas as extremidades. A mobilidade da coluna cervical e lombar eram compatíveis com a idade e sem dor. Os testes de força muscular manual estavam normais (5/ 5) para todos os grupos musculares dos quadrantes superior e inferior. Tônus muscular compatível com a idade. A Manobra Posicional de Dix-Hallpike mostrou-se positiva para o lado direito com vertigem e nistagmo vertical “batendo” ipsilateral, com duração acima de 60 segundos. Ela era incapaz de fixar visualmente um alvo quando realizava movimentos de rotação da cabeça com freqüências moderadas. O Teste do Alcance de Duncan, com inclinação para esquerda foi de 08 cm, para a direita foi 06 cm e para a frente foi 10 cm. Havia limitação funcional moderada. A marcha encontrava-se com dissociação de cinturas, com base de suporte normal, passos lentos e com oscilação. A marcha sensibilizada era instável com tendência à queda à direita. As noções de freqüência e intensidade da vertigem foram avaliadas usando-se o Inventário das Deficiências da Vertigem (IDV), onde para a paciente 2 apresentou um total de 28/100. A avaliação do equilíbrio foi baseada conforme a paciente 01. Foi solicitado que ficasse na posição de Romberg por 60 segundos (mensurado com cronômetro digital). Quando solicitava-se que girasse a cabeça de um lado para o outro, apresentava um aumento importante da oscilação postural. Ela era capaz de manter-se de pé sobre uma almofada de 10 cm de espessura com os olhos abertos por 15 segundos e com os olhos fechados por 3,0 segundos, sugerindo que tinha dificuldade com o controle postural quando a informação visual era removida e o ingresso somatossensitivo era alterado. Ela era capaz de manter-se na posição de Romberg sensibilizado com olhos abertos por 20 segundos. Na posição de pé sobre a perna dominante (a direita, determinado pela pergunta sobre qual perna ela usaria para chutar uma bola), ela conseguia permanecer por 20 segundos com olhos abertos e 1,0 segundo com olhos fechados, sugerindo dificuldade com o controle postural quando as informações visuais eram removidas e necessitava manter seu centro de gravidade (CG) sobre uma estreita base de suporte. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 Não havia aumento da oscilação postural durante os testes de marcha, especialmente quando a base de suporte era estreitada ou quando o ingresso sensorial visual era removido. Não apresentava estratégia do passo para recuperação da estabilidade em resposta a uma perturbação inesperada do equilíbrio. A Prova dos Passos de Fukuda foi positiva para o lado direito. O Teste do Levante e Siga Cronometrado –Timed Up and Go Test (realizado sobre uma superfície de 12,5 metros), apresentou um tempo de 16 segundos sem o uso de suporte. A marcha era realizada de forma segura, e tornava-se mais lenta ao realizar a curva de 180º. A marcha com os olhos fechados sobre uma superfície de 6 metros foi realizada em 7 segundos sem vacilação. Era capaz de realizar a deambulação sensibilizada de olhos abertos, porém com lentidão e 02 interrupções. E conseguia com os olhos fechados, com maior lentidão e com 04 paradas, o que indica dificuldade sobre o controle postural quando deambula com a base de suporte estreitada e com necessidade de manter o CG dentro de uma pequena área. Ao andar sobre uma superfície de 6 metros com a cabeça girando de uma lado para o outro, a paciente realizava em 9 segundos e com 03 cruzamentos das pernas, indicando dificuldade para integrar informações relacionadas ao movimento da cabeça com outras informações sensoriais durante a atividade. Os objetivos da fisioterapia para a paciente incluiu diminuir as sensações de vertigem decúbito-dependente, melhorar a postura e diminuir o risco e o medo de queda. Fisioterapia – Caso 02 O Programa de fisioterapia vestibular e para o equilíbrio foi delineado baseado nas seguintes interpretações das condições da paciente: 1. Sua vertigem era relacionada a disfunção vestibular periférica (VPPB) por cupulolitíase, deflagrada na mudança de posição da cabeça. Esta forma de VPPB é relativamente incomum [16]; 2. Ela estava muito dependente das informações visuais e somatossensitivas para o equilíbrio dinâmico; Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 3. Apresentava atraso nas respostas de recuperação da estabilidade postural após perturbação do equilíbrio; Nosso programa de tratamento incluiu: Fase 1 - Utilização da manobra liberatória de Sémont para o CSP direito [2], ficando com colar cervical por 7 dias e permaneceu sentada nos dois primeiros dias após o procedimento. Fase 2 - Relatou 100% de melhora da vertigem decúbito-dependente. Foi realizado novo teste de Dix-Hallpike e a paciente não apresentava nistagmo ou vertigem para ambos os lados. Na semana seguinte, iniciou-se a cinesioterapia ativa livre, através de exercícios de Habituação de Brandt-Daroff por 4 semanas associado a exercícios coordenação cabeça-olhos com estimulação vestibular e interação vestíbulo-visual, nas posições sentada, de pé em superfície plana e sobre uma almofada de 10 cm de espessura. Realizou, também, exercícios terapêuticos de integração sensorial com degrau e bola, associado a movimentação da cabeça [16]. Fase 3 - Realizou, durante mais 4 semanas o programa da fase 2 associado a exercícios de equilíbrio e marcha com obstáculos. A paciente comparecia às sessões de fisioterapia uma vez por semana com duração de 45 minutos, durante a qual era reavaliada e trazia o questionário de auto-relato que preenchia toda noite antes de dormir. Como na paciente 1, era instruída à progressão dos exercícios a nível domiciliar. Não relatava dificuldade com a progressão semanal da cinesioterapia domiciliar. Realizava pelo menos duas vezes ao dia, durante os 7 dias da semana com tempo de aproximadamente 45 minutos. Após 12 semanas, ela foi reavaliada no laboratório de biomecânica clínica com as mesma mensurações iniciais. Achados pós-fisioterapia Após 12 semanas de tratamento, a paciente relatou uma diminuição importante na freqüência e na intensidade do desequilíbrio. Não apresentava vertigem nem nistagmo à manobra de Dix-Hallpike. Os pontos no Inventário das Deficiências da Vertigem (IDV) passaram de 28/100 da avaliação inicial para 00/100. Re- 321 gistrou melhora em todos os itens. Ela era capaz de fixar visualmente um alvo quando realizava movimentos de rotação da cabeça com freqüências moderadas. Ao girar a cabeça de um lado para o outro, apresentou uma diminuição da oscilação postural. Houve melhora no Teste do Alcance de Duncan, onde a inclinação para esquerda foi de 10 cm; para a direita de 10 cm e 13 cm para frente. Ela conseguiu manter-se de pé sobre a almofada de 10 cm de espessura com os olhos abertos por 40 segundos e com os olhos fechados por 15 segundos. Inclusive, realizou tarefas de integração sensorial, como realizar passos em cima da almofada ao mesmo tempo que recebia uma bola do fisioterapeuta, e a devolvia, com a cabeça girando ou não. Na posição de pé sobre a perna dominante, ela permanecia por 28 segundos com olhos abertos e 15 segundos com olhos fechados. A Prova dos Passos de Fukuda estava nos padrões da normalidade. Houve melhora da Teste do Levante e Siga Cronometrado (Timed Up and Go TestTUG), que passou de 16 segundos para 09 segundos. A marcha com os olhos fechados reduziu de 7 segundos para 5,5 segundos com discretas vacilações à direita. A marcha sensibilizada com olhos abertos pôde ser realizada sem interrupção, comparada às duas da avaliação inicial. Conseguiu realizar a marcha sensibilizada com os olhos fechados, porém com duas interrupções. Ao andar sobre a superfície de 6 metros com a cabeça girando de uma lado para o outro, a paciente conseguiu realizar em 7 segundos e sem cruzamentos das pernas. Não havia atraso na estratégia do passo para recuperação de estabilidade com uma perturbação repentina do equilíbrio. Houve acompanhamento seis e doze meses depois, com relato de 100% de melhora. Após um ano, o IDV continuou em 00/100 (Tabela 4). Tabela 4 - Resultado do inventário das deficiências da vertigem da paciente 02 após 01 ano. Comprometimento PAC. 01 Sim(x4) Não(x0) Às vezes(x2) Funcional (38) Orgânico (36) Emocional (28) Total: 0(x4)+ 9 7 9 25(x0)+ 0(x2)= 00/100 322 Discussão Ambas as pacientes demonstraram melhora do quadro de vertigem e da estabilidade postural, após o acompanhamento de 14 semanas para o caso 1 e 12 semanas para o caso 02, de um programa racional e individualizado de fisioterapia. Houve reavaliação seis e doze meses depois, com relato de melhora de 100% nos dois casos. A paciente 1 apresentava um quadro crônico de VPPB, que culminou com uma recidiva 5 anos após o último tratamento [29]. Conforme dados da literatura, os casos de longa história de VPPB podem criar uma ansiedade quanto às posições de provocação dos sintomas [1, 2, 3, 8, 13, 16] e isto pode afetar a adesão do paciente ao tratamento e aumentar o grau de comprometimento cinético-funcional global. Uma explicação cuidadosa sobre os testes e o tratamento que serão aplicados são imprescindíveis. Neste primeiro caso, o nistagmo “batendo para baixo” após a manobra significa que o resíduo otolítico não se moveu além da junção do CS Posterior e CS Anterior (cruz comum) até o vestíbulo, mas voltou para o CSP. Isto pode ocorrer pela variação na orientação dos canais ou por uma posição cefálica imprópria durante a manobra [1, 8, 16]. Por esta razão, o tratamento de reposição foi repetido até não apresentar mais o nistagmo. Esta paciente resistiu a realização do programa domiciliar da fase 2. Após explicação cuidadosa à paciente e aos parentes, houve uma adequada adesão ao tratamento. A paciente 2 apresentava um quadro mais recente, o que significa uma melhora mais rápida e consistente dos sintomas [16, 21, 26]. Esta apresentou uma melhora mais marcante de sua capacidade funcional nos achados pós-fisioterapia. Ela demostrou, também, maior estabilidade postural sobre superfícies macias com excelente habilidade para atividades de integração sensorial combinadas [16]. O programa de fisioterapia para as pacientes incluiu atividades nas posições sentada, de pé e durante a marcha, associada a alteração da estabilidade postural. Estas experiências foram provavelmente instrumentos na melhora da habilidade para utilizarem efetivamente as informações somatossensoriais para modificar a magnitu- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 de das respostas posturais. Cabe lembrar que o uso de drogas supressoras da atividade vestibular podem interferir nos mecanismos compensatórios centrais dos pacientes vestibulopatas [28]. Futuras pesquisas prospectivas e com grupo-controle são necessárias, para fortalecer a veracidade dos achados. Conclusão Esse estudo de casos descreve um programa de tratamento fisioterapêutico individualizado e documenta a melhora funcional de pacientes com diferentes estágios, duração e apresentação clínica de VPPB. Uma interpretação apropriada dos sinais e sintomas, oferecem um terreno seguro para o desenvolvimento de um plano de tratamento fisioterapêutico. A associação dos conhecimentos de compensação central e dos mecanismos de antecipação e predição, estratégias motoras alteradas, substituição sensorial e os fatores cognitivos e emocionais são relevantes para o entendimento do processo adaptativo. Os resultados sugerem que pacientes com disfunção vestibular periférica, VPPB aguda ou crônica, podem ser capazes de melhorar seus quadros de vertigem e estabilidade postural. Referências 1. Herdman SJ. Advances in the Treatment of Vestibular Disorders. Physical Therapy 1997;77(6)602-618. 2. Ganança MM. Vertigem tem cura? São Paulo: Lemos Editorial, Janssen-Cilag, 1998. 3. 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Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselhase o mesmo dos artigos originais. 4. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 325 na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos os artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CDROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto a mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, Telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamen- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 326 te na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise) - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos) - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). 5. Referências As referências bibliográficas devem ser numeradas e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Zavala AV, Braver D. Semiologia do Pé – Prevenção e tratamento do pé diabético. Diabetes Clínica 2000; 4:137-144. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ tel: (21) 2244 6471 E-mail: [email protected] I Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Congresso Brasileiro de Terapia Manual Congresso Brasileiro On-Line 327 7 à 10 de novembro 2001 Centro de Convenções, Fortaleza - CE Informações: Prática Eventos - Tel.: (85) 224-0638 / 261-3531 / 261-9667 www.terapiamanual.fst.br Programação confirmada Data 07 07 07 07 07 07 07 Horário 8:30 11:15 14:00 14:30 15:00 15:30 16:10 Palestrante Tema Marcel Bienfati Fisiologia da globalidade da função locomotora Maria Luiza Nogueira Respiração no trabalho postural Regina Coeli V. Gomes Facilitação neuromuscular proprioceptiva Rubia Marcia Benatti Fuchs Influência do desiquilíbrios da pelve na patelo-femural Isidro Marques Terapia manual sub-aquática Debate com os dois palestrantes acima Ângela Santos Diagnóstico postural clínico - Ponto de partida para todas as abordagens em terapia manual Afonso Salgado Medicina ortopédica de Cyriax 07 17:10 08 8:30 08 08 08 08 08 08 08 9:00 9:30 10:00 10:35 11:30 14:30 15:20 08 08 16:20 17:10 09 09 09 09 09 8:30 9:00 9:30 10:10 10:30 09 09 09 09 09 09 11:25 14:30 15:10 15:50 16:30 17:25 Helder Montenegro Fisioterapia manual nas complicações de joelho Palmiro Torrieri Tratamento da cefaléias cervicogênicas pelo conceito Mulligan Michael Dufresne Técnicas de Mullicgan no tornozelo - Mobilização com movimento Debate com os dois palestrantes acima Gordon Cumming Cinemática da articulação glenoumeral: Novas visões que todo terapeuta que faz mobilização passiva deve saber Leopold Busquet Cadeias musculares: Apresentação Rogério Augusto Queiroz O tratamento osteopático em cervicobraquialgias aguda e crônica François Ricard Apresentação da osteopatia através da neurofisiologia Debate com os dois palestrantes acima Leopold Busquet Cadeias musculares: Influências na bacia e no joelho Oldack Borges de Barros As Posturas da RPG e suas Aplicações 10 10 10 10 10 10 10 10 10 08:30 09:20 10:25 11:05 11:50 14:30 15:10 16:00 16:30 Celso Luís Dias Trabalho de modelagem manual para as diversas topografias da escoliose Idiopática José Liberato Jr. Método McKenzie Elena Nartinez Loza Tratamento osteopático de Whiplash cervical François Ricard Estatísticas comparativas nos tratamentos de lombociáticas por hérnias discais Debate com o dois palestrantes acima Julles Boone Crochetagem mioaponeurótica nas lesões do ombro Dominique Lippens Reequilíbrio postural através da osteopatia Debate com os dois palestrantes acima Philippe E. Souchard Escoliose Rodrigo Luiz L. Juca Mecanismos lesionais das disfunções somáticas vertebrais lombares e suas possibiliades de tratamento Palmiro Torrieri Terapia manual integrada e Trigger points Helder Montenegro Uma visão holística nas lesões musculares do atleta Debate com os dois palestrantes acima Ângela Santos Fisioterapia estática - Definindo um campo de trabalho em fisioterapia Mauro Pedroni Jr. Diagnóstico ascendente através da pdoposturologia Afonso Salgado Terapia manual na cefaleia de tensão Gordon Cumming Rigidez da torácica alta como causa da síndrome do impacto do ombro e da crepitação escapular Alberto Vianna da Silveira Princípios fundamentais da RPG Michael Dufresne O conceito Mulligan 328 Calendário de eventos Outubro 1º Encontro de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do CREFIT O-5 CREFITO 5-6 de outubro Porto Alegre – RS Informações: (51) 3334-6586 isioterapia XVo Congresso Brasileiro de FFisioterapia VIIIo Congresso PPaulista aulista de FFisioterapia isioterapia IXo Expofisio Brasil 2001 10 a 14 de outubro Pq Anhembi, São Paulo – SP Secretaria: Rua Carneiro da Cunha, 354 Informações: (11) 5584-8969 ou 5071-0011 Annual Congress of the Chartered Society of Physiotherapy 19-21 de outubro International Convention Centre, Birmingham, UK informações: www.csphysio.org.br Novembro Io Búzios in fitness 02-04 de novembro Búzios - RJ Informações: MetA Produções e Eventos (21) 3707-0189 / 7840-8617 Io Congresso brasileiro de TTerapia erapia manual Io Congresso brasileiro online 7-10 de novembro Fortaleza, Ceará Informações: (85)224-0638 www.terapiamanual.fst.br IVo Simpósio da SOFIT OERJ SOFITOERJ 10 e 11 de novembro Rio de Janeiro, RJ Informações: (21) 2451 1043 E-mail: [email protected] Io Congresso de FFisioterapia isioterapia Ciência em Movimento -alunos de Especialização em FFisioterapia isioterapia Ex-alunos Io Encontro de Ex 15 a 18 de novembro SENAI/FIRJAN, Rua Mariz e Barros, 678 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ Infs.: (21) 2288-5079 www.cienciaemmovimento.com.br 2002 Junho Physical Therapy 2002 Annual Conference & Exposition of the American Physical Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Therapy Association 5-8 de junho Cincinnati, Ohio, EUA Informações: www.apta.org Agosto 2nd International Symposium on R ehabilitation and Physical Rehabilitation Therapy in V eterinary Medicine Veterinary 10-14 de agosto Knoxville, Tennessee Informações: www.utc.edu/~vetpt/ Novembro 8th General Assembly of Asian Confederation for Physical Therapy 17-20 de novembro Central Grand Plaza Hotel Bangkok, Thailand Informações: [email protected] European Congress on PPrevention revention of Diseases Through Physiotherapy 27-30 de novembro Vienna, Áustria Informações: www.physio.at/congress/2002.htm 2002 Junho World Confederation for Physical Therapy 14th International Congress and 15th General Meetin Meeting 7-12 de junho Barcelona, Espanha Informações: www.wcpt.org E-mail: [email protected] MJ Livros Universitários Livraria especializada em Fisioterapia Entrega em todo o Brasil Tel.: (11) 6942-0886 R. Carolina Ferraz, 584 Itaquera - São Paulo - SP www.mjlivros.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 1 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº1, jan/fev 2001 - 1~68) EDITORIAL Uma nova perspectiva para o Lato Sensu, Marco Antonio Guimarães da Silva .......................... 3 OPINIÃO Resposta do COFFITO ao Editorial “Da fisioterapia que temos para a fisioterapia que necessitamos: um novo paradigma?” de Marco Antonio Guimarães da Silva e ao artigo “Uma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil”, de Gil Lúcio Almeida (Fisioterapia Brasil, vol 1, no 2, nov/dez 2000) ................................................... 5 Fisioterapia prática RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ............................................................................. 7 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Ordem de recrutamento muscular em movimentos de reversão do braço em diferentes regiões espaciais, Gil Lúcio Almeida, Nadia Fernanda Marconi, Sandra MS Ferreira................................................................................................................................ 23 Análise dos efeitos fisiológicos em pacientes com estresse submetidos à técnica Watsu, Rosângela Maria Borges, Nivaldo Antonio Parizotto ....................................................................... 33 Análise funcional da complacência torácica na doença de Parkinson, Sônia Regina Cardoso, João Santos Pereira ...................................................................................... 41 Dança e equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular: Um estudo preliminar, Marta Simões Peres, Carlos Alberto Gonçalves, Claudia Barata ................................................... 49 Ginástica Laborativa CARTA AO EDITOR A ginástica laboral na prevenção da LER/DORT: solução ou paliativo ? Luís Guilherme Barbosa ........................................................................................................................ 54 INFORMAÇÃO PROFISSIONAL A pós-graduação em fisioterapia e terapia ocupacional: reconhecimento e registros de certificados, diplomas e títulos, João Marinonio Aveiro Carneiro ........................................... 58 RESUMOS DE DISSERTAÇÕES E TESES ...................................................................................... 64 EVENTOS ................................................................................................................................................ 68 Na proxima edição de Fisioterapia Brasil estarão detalhados os CD-roms disponíveis aos nossos assinantes ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 2 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Gil Lúcio de Almeida (Univ.de Ribeirão Preto - UNARP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA - Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Prof. Dr. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Grupo de assessores (2000-2001) Dra. Albernice M de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Pernambuco) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Rio Grande do Sul) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO3 – Minas Gerais) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Bahia) a Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Tel/Fax: (11) 4411-7629 Cel: (11) 9219-0570 Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Mato Grosso) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dra. Solange Canavarro Ferreira (UFRJ – Rio de Janeiro) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. (Rio de Janeiro) Maurício G. Costa Anderson (São Paulo) Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 244-6471 / 285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 244-6471 Cel: (21) 9218-0346 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 244-6471 Cel: (21) 9662-9411 São Paulo: Maurício Galvão C. Anderson (11) 4411-7629 Cel: (11) 9219-0570 Ilustração da capa: Gino Severini, Dinamismo de um dançarina, 1912, óleo sobre tela 60x45, Milano, PPinacoteca inacoteca di Brera I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 3 Editorial Uma nova perspectiva para o Lato Sensu ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A crescente oferta de cursos pós-graduação lato sensu nas diversas áreas do saber, parece ter estabelecido as bases de um novo código comportamental para o recém-graduado. Existe atualmente uma alta oferta que ainda está longe da saturação e que não consegue atender a elevadíssima procura pelos chamados MBAs, na área de Administração e Direito, e Lato Sensu nas outras áreas. É bem possível que, pelo menos em parte, esta alta demanda seja uma busca da satisfação não encontrada no curso de graduação, encerrando um processo de transição esperada, que viabiliza um novo código, reformulando critérios para compor um novo imaginário sócio cultural. Um imaginário que se estrutura de modo a aumentar a confiança e a elevar a auto-estima do recém-graduado. Se bem organizada, uma pós-graduação lato sensu pode ser um valioso instrumento que complementa a formação profissional do aluno e o introduz de fato, e não apenas de direito, na vida acadêmica. Com uma proposta inovadora para a área, a Atlântica Editora estabeleceu parceria com a Universidade Castelo Branco do Estado do Rio de Janeiro, para promover cursos Lato Sensu de fisioterapia em diversas cidades do país. A Universidade em questão é possuidora de mestrado acadêmico recomendado pela CAPES, o que lhe permite emitir certificado de especialização acadêmica e profissional. Os cursos com disciplinas amparadas numa larga experiência profissional de seus professores permitem um casamento perfeito entre teoria e prática. A tecnologia educacional adotada baseia-se na educação problematizadora, que busca desenvolver a capacidade reflexiva dos participantes e que considera que o aprendizado ocorre no aluno, pelo aluno e com o aluno. Enfim, trata-se de uma visão pedagógica que entende que o professor não ensina, mas ajuda o aluno a aprender, como preconizava o educador Lauro de Oliveira Lima. *Coordenador científico de Fisioterapia Brasil Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 4 Como coordenador acadêmico nessa parceria, propus uma modificação radical nos conteúdos da disciplina Métodos e Técnicas da Pesquisa, buscando equivalência com a Metodologia científica ministrada em cursos Stricto Sensu, da área de saúde. Através de tais medidas, espero que o aluno, ao final do curso, seja capaz, com muita precisão, de: conhecer todas as vantagens e desvantagens dos diferentes tipos de delineamentos da investigação científica na área de saúde; identificar e neutralizar todos os vieses de seu estudo; deixar claro o(s) fator(es) em estudo (variável independente) e o(s) desfecho(s) medido(s) (variável dependente); conhecer suficiente estatística para formular suas hipóteses e entender as medidas da força de associação (odds ratio, redução de riscos, razão de verossimilhança), com sua significância estatística (intervalo de confiança, p de alfa, p de beta); selecionar a melhor opção entre ensaio clínico randomizado, revisão sistemática, caso-controle, transversal (prevalência, diagnóstico), coorte (incidência), experimental, relato de casos, estudo qualitativo; analisar uma artigo científico, sugerindo correções, quando pertinentes. A preocupação em introduzir mudanças na metodologia foi estimulada após a minha participação, como examinador, em diversas bancas de Doutorado e de Mestrado no país e no exterior. A partir dessa experiência, notei que em sua grande maioria as teses e dissertações apresentam delineamentos com forte influência das áreas humanas, o que não constituiria fato grave se as mesmas não estivessem na área de saúde e não apresentassem alguns equívocos.Esperamos que essa iniciativa da Atlântica Editora em promover cursos diferenciados efetivamente contribua para mudar o perfil dos cursos Lato Sensu e para aprimorar o quadro profissional e acadêmico da Fisioterapia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 5 Opinião ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Por determinação da Diretoria do COFFITO, em reunião ocorrida na Secretaria-Executiva, em 17 de janeiro, deste ano, em São Paulo, SP, estamos apresentando comentários ao Editorial, de autoria do Dr. Marco Antonio Guimarães da Silva e ao artigo Uma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil, de autoria do Dr. Gil Lúcio Almeida, ambos publicados na Revista Fisioterapia Brasil, ano 1, no 2. Carta do COFFITO em resposta ao Editorial “Da fisioterapia que temos para a fisioterapia que necessitamos: um novo paradigma ?” de Marco Antonio Guimarães da Silva (Fisioterapia Brasil, vol1, no 2, pg. 5354) e ao artigo “Uma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil”de Gil Lúcio Almeida (Fisioterapia Brasil, vol1, no 2, pg. 55-64) Inicialmente abordaremos a temática do citado Editorial. O referido Editorial engloba aspectos que perpassam desde a pesquisa em fisioterapia, em que não se deve substituir a qualidade do trabalho produzido em pesquisa pela quantidade de papers trazidos a público, até a existência de um periódico que de alguma forma se destinaria a publicá-los. Em tese tal afirmativa é extremamente válida, ocorre entretanto que os parâmetros e mesmo paradigmas norte-americanos não são significativos à luz da sociedade brasileira, que requer antes de mais nada, que uma redução sociológica se realize para que o entendimento e sua aplicabilidade aos brasileiros se realize de forma a trazer a resolutividade em saúde pública. A bem de verdade seria extremamente interessante que se percebesse que o maior importador de fisioterapeutas, hoje no mundo são os Estados de Flórida e de Califórnia, onde visitamos mais de trinta clínicas, e que tem no fisioterapeuta brasileiro a alavanca maior no tratamento dos que, de todos os Estados Unidos, demandam a este estado e suas clínicas. Temos fisioterapeutas brasileiros como professores em universidades americanas e que passam, isto sim, seu feeling, sua competência e principalmente a capacidade de criar, assunto não muito próprio do profissional norte-americano. Desta maneira, entendemos que as providências a serem tomadas aí estão esboçadas e se tornando realidade, a saber: novas Diretrizes Curriculares, que aguarda a aprovação do Conselho Nacional de Educação, CNE; os Referenciais de Honorários que desatrela o fisioterapeuta da AMB e um repertório de Legislação, dos mais adiantados do mundo e que necessita ser do conhecimento dos futuros profissionais enquanto acadêmicos o que exige de seus professores a capacitação real para exercita-los, de forma plena. 6 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 É claro que tudo isso perpassa pela criação indiscriminada, com apoio do MEC, de Cursos de Fisioterapia, sem que tenhamos, de forma lúcida, Corpo Docente para tanto. Em relação ao artigo expresso como Opinião, Uma Agenda para o fisioterapeuta do terceiro milênio no Brasil, o autor deveria, s.m.j., estudar mais a legislação do COFFITO para evitar assertivas descabidas e sem amparo legal. Parte dos argumentos acima apresentados cabem ao artigo em questão, quando o autor se volta o fisioterapia nos Estados Unidos como comparação com a fisioterapia no Brasil. Existem mitos e verdades a respeito da Fisioterapia no Brasil, que outra oportunidade abordaremos. A Academia Brasileira de Fisioterapia – ABFT, na proposta apresentada, em todos os seus tópicos, contraria a legislação existente, do MEC e do COFFITO, e mais não tem eco em nenhuma das profissões regulamentadas no país, justamente por falta de amparo legal. Percebe-se uma incoerência e o desconhecimento do autor quando no final do último parágrafo da folha 58 tece comentários, dizendo que o COFFITO aprova Cursos de Especialização o que não ocorreu em nenhum momento, até o presente momento, cabendo as IES, por força da resolução CES/CME 908/98 e 3/ 99, os critérios para que tais cursos possam ter validade para o mercado de trabalho e para a academia. Tais posicionamentos desfavoráveis, aos Cursos de Especialização, “Lato Sensu”, Especialização, posiciona o autor numa contradição, quando em seu final assevera: “É acertada a atitude do COFFITO de acatar as decisões do MEC no que diz respeito aos critérios para a aprovação dos cursos de especialização” (grifamos). A Academia Brasileira de Fisioterapia apontada e descrita às fls., 59 pelas razões já aludidas não merece mais nenhum comentário. Quanto ao Credenciamento Profissional III. III.1,2,3,4 e 5, nem o Estado nem o COFFITO delegaria competência a quem que fosse para exercer suas prerrogativas emanadas de lei. Em referência a Titulação Profissional tratada no tópico IV, o COFFITO, o Crefito2 e o Crefito 4 baixaram recomendação para não renunciar a isonomia de tratamento dada aos demais profissionais de saúde. No tópico VI Do Exercício Profissional, VI.1 e 2, o tópico X. Da conscientização do aluno, XI. Dos convênios de saúde e XII. Do credenciamento de cursos, apresenta propostas descabidas que não resistiriam, sequer, a um simples mandado de segurança. O conhecimento mínimo legal é necessário para o exercício de qualquer profissão, principalmente as de nível superior e especial em Saúde. Eram estes os comentários que me permito fazer dos temas em questão. Dr. João Marinônio Aveiro Carneiro Vice-presidente do COFFITO Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 7 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Gerson Cipriano Jr, Graziella França B, Instituto do Coração/Santa Casa da Misericórdia, Presidente Prudente SP, Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente SP, LVo Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho de 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Avaliação quanto a eficácia da estimulação elétrica transcutânea na produção de analgesia no pós-cirúrgico cardiovascular A Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS) é uma corrente de baixa freqüência, utilizada pela fisioterapia visando produzir analgesia através de modulações no sistema neurofisiológico, chamado “controle das comportas”, descrito por Melzack e Wall desde 1965. O objetivo da pesquisa foi comprovar a eficácia do TENS quanto à produção de analgesia e suas interferências no quadro disfuncional. Foram analisados 11 indivíduos submetidos à cirurgia cardiovascular, via esternotomia mediana, sem contra-indicação para utilização do TENS, que foi utilizado do 1o ao 5o dia pós-operatório, por um período diário de 4 horas. A amostra foi dividida em três grupos, o grupo 1, controle, não submetido à aplicação do TENS (n = 3), grupo 2, que utilizou TENS em modalidade contínua (n= 4) e grupo 3, em modalidade BURST (n = 4), sendo todos avaliados diariamente quanto à dor, através das escalas Análogo Visual e Quantitativa Verbal. Os procedimentos cirúrgicos tiveram duração média de 5 horas e 20 minutos. A análise quantitativa de dor sobre a amostra geral demonstrou como resultado médio dos 3 primeiros dias pós-operatórios que 54% dos indivíduos relataram dor em intensidade fraca, 18% moderada, 9% forte e 9% permaneceram sem dor desde o primeiro dia pós-operatório. O grupo 2 teve como resultado médio pós-terapêutico ausência de dor em 50% dos indivíduos, persistência de dor, em intensidade fraca, em 25% e os demais 25% permaneceram sem dor desde o início. No grupo 3, reportamos ausência de dor em 100% dos indivíduos como resultado médio pós-terapêutico. A regressão do quadro álgico no grupo controle foi em média dois dias mais tardia em relação aos demais grupos. Concluímos que os resultados da pesquisa sugerem a adoção do TENS como terapêutica analgésica aos pacientes em pós-operatório de cirurgia cardiovascular. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 8 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Denis TS Dias, Maria Ignês Z Feltrim, Antonio P Mansour, Instituto do Coração (InCor) HC-FMUSP, São Paulo, SP, LVo Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Rio de Janeiro, RJ, junho de 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Robert S. Wainner et al, Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy 2000;30(12):. 728–744, dezembro de 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A inserção da fisioterapia em um programa multiprofissional de orientação ao paciente coronariopata O programa multiprofissional de orientação ao paciente coronariopata (PamCor) visa a orientação sobre os fatores de risco relacionados à doença coronariana e estratégias para mudança de hábitos. O programa se desenvolve integrando as diferentes áreas de atuação multiprofissional, sendo a Fisioterapia parte integrante, objetivando influenciar mudanças nas atividades físicas de corporais. Este trabalho objetiva mostrar o resultado do relato dos pacientes frente às orientações realizadas. No período de outubro 1998 a dezembro 1999 foram orientados 135 pacientes, divididos em 35 grupos, que receberam 3 sessões de orientações sobre atividade física, postura corporal e tabagismo, com duração de 20 minutos cada sessão. No grupo de 135 pacientes, 51% eram de sexo feminino, e 78% dos pacientes relatavam a prática de algum tipo de atividade física, sendo a caminhada a modalidade de maior freqüência, presente em 88%. 22% dos demais eram sedentários. Após as sessões de orientação fisioterápica, 46% dos pacientes que já praticavam atividade física, apresentou aumento na freqüência de realização de exercício e mesmo incorporação de alguma nova modalidade. Dos pacientes sedentários, 12% iniciou atividade física, sendo a modalidade predominante a caminhada. Concluímos que um programa educativo e de esclarecimento da doença cardiovascular e seus fatores de risco, acompanhado de orientações sobre meios de combate-los, traz benefícios aos pacientes que uma vez motivados, passam a praticar regularmente atividade física e a cuidar melhor do próprio corpo, melhorando seu bem-estar e sua qualidade de vida. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Diagnóstico e tratamento não-cirúrgico da radiculopatia cervical Objetivo: Revisar a literatura científica atual sobre o acompanhamento dos pacientes apresentando radiculopatia cervical. A radiculopatia cervical é uma lesão da raiz do nervo espinhal cervical, com uma prevalência de 3,3/1000 casos; o pico de incidência anual é de 2,1/1000 casos e ocorre na quarta ou quinta década da vida. A lesão da raiz nervosa é responsável de limitações e incapacidade funcionais significativas. Métodos e medições: Uma pesquisa nos bancos de dados Medline, Cinahl e Web of Science para os períodos 1966, 1982 e 1996, respectivamente, até dezembro de 1999, foi realizada usando palavras-chave selecionadas. A bibliografia de todos os artigos selecionados foi procurada e todos os artigos pertinentes obtidos. O banco de dados Cochrane Database of Systematic Reviews foi também usado. Literatura sobre o diagnóstico, prog- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 9 nóstico e tratamento da radiculopatia cervical foi revisada e resumida usando um método crítico. Resultados: Embora que a radiculopatia cervical seja na maioria dos casos um diagnóstico clínico, a real exatidão do exame clínico fica desconhecida. Testes de imagens e eletrofisiológicos podem detectar problemas clinicamente significativos em inúmeros pacientes e cada técnica apresenta forças e fraquezas; fatores técnicos e práticos afetam a escolha do procedimento. O curso natural da radiculopatia cervical é geralmente favorável, mas nenhum prognóstico nem fatores de risco foram claramente estabelecidos e a eficácia de vários tratamentos não-cirúrgicos é desconhecida. Conclusão: Uma definição clara dos conceitos e pesquisas é necessária para estabelecer definitivamente os critérios diagnósticos e o tratamento efetivo dos pacientes apresentando uma radiculopatia cervical. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Jan MA Mens, Chris J Snijders, and Henk J Stam, Physical Therapy 2000;80(12):1164-1173, December 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Exercícios dos músculos diagonais do tronco no tratamento da dor pélvica do pós-parto: estudo clínico randomizado Objetivo: Exercícios para dores pélvicas e lombares aumentam supostamente a força muscular pra diminuir os sintomas, mas poderiam também exacerbar os sintomas por sobrecarregar as estruturas pélvicas e espinhais. O objetivo do estudo foi investigar o valor de exercícios graduados sobre os sistemas de músculos diagonais do tronco. Material e métodos: 44 mulheres com dores pélvicas persistentes pós-parto (idade média = 31,7 anos, DP = 3,2, intervalo = 23,6 – 37,5; período médio pós-parto = 4,1 meses, DP = 2,2, intervalo = 1,7 – 5,6). As mulheres foram randomizadas para 3 grupos: (1) grupo efetuando exercícios para aumentar a força dos sistemas de músculos diagonais do tronco; (2) grupo efetuando exercícios dos sistemas musculares longitudinais do tronco; (3) grupo que foi mantido sem exercícios. As medições finais foram dores, cansaço, percepção geral do estado de saúde, mobilidade das articulações pélvicas, medidas por radiografias. Resultados: Após 8 semanas, nenhuma diferença foi observada entre os três grupos. Discussão e conclusão: Em pacientes com dores pélvicas persistentes, o treinamento dos músculos diagonais do tronco, sem acompanhamento profissional, não tem valor adicional ao uso de uma cinta pélvica sem exercícios. O desenho do estudo não permitiu determinar se o tratamento é ineficaz ou se a exacerbação dos sintomas causada pela sobrecarga das estruturas pélvicas e espinhais esconde o benefício potencial do aumento da força muscular. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 10 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Contribuições dos músculos da extremidade inferior na marcha em indivíduos saudáveis Heydar Sadeghi, Paul Allard, and Morris Duhaime Physical Therapy 2000;80(12): 1188-1196, dezembro de 2000 Objetivo: Apesar de que a assimetria da marcha em reabilitação seja documentada, pouco é conhecido sobre os papeis de propulsão e controle realizados por cada membro e como essas tarefas são repartidas entre as extremidades inferiores. O objetivo do estudo era testar a hipótese que o membro dominante contribui principalmente a incentivar a progressão, enquanto que o membro dominado fornece controle e propele a extremidade inferior com extensão menor. Material e métodos: 19 homens com idade média 26,2 anos (DP = 3,2, intervalo = 21 – 34) e sem histórico ortopédico participaram do estudo. A potência muscular foi determinada usando um sistema vídeo de alta velocidade com câmera 8, sincronizado com dois laminas de força. O método de análise do componente principal foi aplicado para reduzir e classificar 53 variáveis da marcha par cada membro, e as correlações de Pearson foram usadas para determinar as interações dentre os conjuntos de dados para cada membro. Resultados: A propulsão da marcha é iniciada pelo quadril do membro dominante e é mantida durante a fase de posição. O controle é a tarefa principal do membro secundário, como demonstra os picos de absorção de força ao nível do quadril e do joelho. Conclusão: A interação dentro do membro ressalta a relação funcional entre a progressão e as tarefas de controle e realça a importância das ações no plano frontal e transversal durante a marcha. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Med Sci Sports Exerc 2000;32(11):1919-26, novembro de 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Efeitos de superfície sobre as forças de reação do solo e cinemática das extremidades inferiores em corredores Introdução: Apesar de que a dureza da pista de corrida tinha sido associada com lesões de cansaço, a evidência para comprovar esta sugestão é circunstancial. No estudo, foi investigada a resposta de atletas à mudança de material de superfície da pista. Métodos: 6 corredores efetuaram ensaios par experimentar três tipos de material: asfalto convencional, asfalto modificado com borracha, e material esportista acrílico. Os materiais foram classificados em função da capacidade de absorção do impacto, usando os testes padrão de medição do impacto (BS 7044). Resultados: O asfalto modificado com borracha mostrou a melhor taxa de absorção do impacto mecânico, e o asfalto con- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 11 vencional a menor. A comparação dos valores da força no pico do impacto entre os materiais não mostrou diferença significativa da magnitude da força. Mas uma diminuição significativa da taxa de carga do pico de impacto foi detectada para o asfalto modificado em comparação com o asfalto convencional (p < 0,1). Enquanto que a análise dos dados dos grupos não revelou diferenças significativas nas variáveis cinemáticas quando correr em superfícies diferentes, uma resposta variada à modificação do material foi notada entre os corredores, com diferenças marcadas no ângulo inicial da articulação, no ângulo do pico e nas velocidades angulares das articulações. Discussão: Para alguns indivíduos, a manutenção de forças de impacto similares em função da superfície da pista pode ser explicada por ajustes cinemáticos. Por exemplo, quando a absorção do impacto é menor, foi observado um aumento da flexão inicial do joelho, sugerindo um aumento da compliança da extremidade inferior. Mas, para outros indivíduos, os dados cinemáticas no plano sagital não são suficientes para explicar os resultados do pico do impacto. O mecanismo de adaptação é variável segundo o corredor, necessitando análises individualizadas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ J Biomech 2000;33(11):1377-85, novembro de 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Efeitos de cargas externas sobre a estabilidade da coluna lombar A estabilidade da coluna lombar é um fator importante para determinar a resposta espinhal à carga súbita. Utilizando dois métodos diferentes, o estudo avaliou como várias cargas em magnitudes e direções afetam a estabilidade da coluna lombar. O primeiro método era um procedimento no qual a dureza e a estabilidade da coluna foram calculadas a partir da resposta cinemática a uma força. O segundo método combinou os dados do EMG troncular com um modelo biomecânico para calcular a estabilidade espinhal. 12 indivíduos foram testados em flexão, extensão e movimentos laterais sob 9 permutações da carga do tronco em vertical ou horizontal. Os valores da carga vertical eram 0, 20 e 40% do peso corporal do sujeito. As cargas horizontais eram 0, 10 e 20% do peso corporal. A estabilidade espinhal efetiva como obtida da primeira experiência aumentou significativamente (p < 0,01) com o aumento da carga horizontal ou vertical. O intervalo foi de 785 (DP = 580) Nm/rad sem carga até 2200 (DP = 1015) Nm/rad quando as cargas máximas horizontais e verticais foram aplicadas simultaneamente sobre o tronco. A estabilidade da coluna lombar efetiva antes do esforço e estimada a partir do modelo biomecânico, explicou aproximadamente 50% da variância da estabilidade espinhal efetiva obtida a partir dos ensaios em extensão e flexão lateral (0,53 < R(2) < 0,63). Não foi observada essa correlação nos exercícios de flexão. Em conclusão, a estabilidade da coluna lombar aumentou com a magnitu- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 12 de da carga do tronco na medida que esta carga aumentou a ativação muscular. Indiretamente, nossos dados sugerem que a resposta muscular reflexa à carga súbita pode aumentar o nível de estabilidade da coluna lombar obtido imediatamente antes o evento de carga súbita. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cristine Homsi Jorge Ferreira, Ana Márcia Spanó Nakano, Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo Ribeirão Preto, SP, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Recuperação acelerada em lesões traumáticas de joelho do atleta ocasional Marcelo Duarte, Univ. Estácio de Sá, Univ. Grande Rio, Rio de Janeiro, RJ, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ As lesões de joelho em atletas ocasionais (atleta de fim de semana), são as mais comuns, seja na área profissional ou não, devido a grande carga que essa articulação sofre e sendo ela também a mais vulnerável em esporte de contato. Muitas das vezes o indivíduo retorna às atividades ocasionais (peladeiro) sem a total recuperação e com isso sofre uma nova lesão e em muito dos casos abandonando sua rotina de lazer, devido ao tempo que o leva a ficar afastado de suas atividades e o receio de voltar e lesionar-se novamente. A recuperação acelerada nesse tipo de atleta, que, de longe, é a grande maioria nos consultórios médicos, fisioterápicos e academias, vem mostrar que através de um trabalho de propriocepção articular, fortalecimento específico, e um treinamento desportivo adequado a essas lesões que acometem o joelho, como lesões ligamentares, lesões meniscais, e lesões de patela, onde através do conhecimento da biomecânica e do tratamento clínico, esse indivíduo estaria “curado” em 30 dias e pergunta-se: Porquê se a clínica se restabelece rápido, como essa pessoa demora vários meses a retornar suas atividades e quando o faz, não volta com a mesma performance? Devido a não estimulação de receptores articulares, musculares e peri-articulares pela imobilização prolongada que deve submeter-se, onde muitas vezes perde-se o arco de movimento e conseqüente diminuição de força das musculaturas essenciais para estabilização da articulação do joelho. Realizando esse trabalho, desenvolvido em atletas de alta performance, porém com um direcionamento exclusivo a esse pseudo-atleta, conseguiremos readaptar o mais breve possível sem que com isso leve a lesões reincidentes. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Lombalgia na gestação: medidas preventivas Introdução: Uma em cada duas gestantes sofrem de lombalgia. Apesar da alta incidência, os estudos relacionados ao tema são escassos e controversos. Devido à magnitude do problema, e suas importantes conseqüências econômicas e sociais, a abordagem preventiva se faz necessária. Objetivo: Realizar uma análise sistemática da literatura de 1987 a 1997 acerca da lombalgia na gestação, com o intuito de identificar as medidas preventivas apontadas nestes estudos. Metodologia: Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 13 Foram incluídos 38 artigos indexados que tratam especificamente de lombalgia mecânica na gestação, publicados em periódicos nacionais e internacionais no período de 1987 à 1997. Depois de identificados e obtidos os artigos, foram elaboradas fichas contendo referência bibliográfica e resumo de cada artigo e identificadas as medidas preventivas propostas nos estudos. Resultados: As medidas preventivas identificadas nos artigos se dividem naquelas adotadas antes e durante a gestação e incluem o esclarecimento e tratamento da lombalgia em mulheres em idade fértil, orientação postural e ergonômica individual no início da gestação além de programas de exercícios de condicionamento físico e exercícios específicos para a região lombar. Conclusão: As medidas de prevenção da lombalgia na gestação são nada mais do que ações de promoção à saúde da mulher que deveriam ser elaboradas e aplicadas por equipes multidisciplinares de saúde, com a importante participação do fisioterapeuta, tendo em vista a redução dos altos índices desta morbidade, causadora de grandes prejuízos econômicos e diminuição da qualidade de vida da mulher. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carlos Alberto Giglio, Mestrando em Bioengenharia pela FMRP/ USP, Ribeirão Preto, SP, Elaine Aparecida Del Bel, Departamento de Fisiologia, FORP/USP, Ribeirão Preto-SP, Helton Luís Aparecido Defino, Departamento de Cirurgia e Ortopedia, HC-FMRP/ USP, Ribeirão Preto-SP, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caracterização fisiopatológica de modelos de trauma raquimedular Introdução: Vários modelos de lesão medular têm sido desenvolvidos na tentativa de obtenção de dados que reproduzam a lesão que ocorre em humanos. O objetivo do presente trabalho foi o de estabelecer novos modelos para o estudo da lesão medular em diferentes níveis de intensidade. Metodologia. O animal utilizado foi o rato Wistar albino adulto e os grupos experimentais (N = 4-8/grupo) foram: anestesia, divulsionamento, laminectomia, lesão por secção total da medula espinhal, precedida ou não da aplicação local de xilocaína, lesão por hemissecção e lesão por compressão moderada. Analisamos a função motora, sensitiva e funcional dos animais pelas diferentes lesões, 2 e 24 horas após a produção da mesma, a atividade reflexa da medula espinhal através do teste de retirada da cauda, a integração dos circuitos medula espinhal-cérebro através do teste da placa quente, a simetria do efeito do trauma raquimedular através do teste de pinçamento da pata e o comportamento motor através da análise da locomoção do animal no plano horizontal e em uma plataforma inclinada 30º em relação ao solo e ainda a resposta global do comportamento de autolimpeza, a exploração do plano vertical e do número de bolos fecais expelidos na unidade de tempo. Os resultados da análise sensório-motora mostraram que a secção total da medula espinhal representou o nível mais elevado de trauma, seguida pela hemissecção e pela compressão. O teste da placa quente e a análise do comportamento de autolimpeza foram sensíveis para Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 14 detectar lesões de intensidade variada, em todos os grupos experimentais estudados, mostrando diferenças significativas em relação aos grupos anestesia e divulsionamento da camada muscular. O comportamento de exploração no campo vertical mostrou evolução do trauma com o tempo, com uma perda maior de índices funcionais. Em conclusão, os resultados deste estudo mostram a validade da procura de diferentes modelos de trauma raquimedular e de testes sensório-motores, com objetivo de avaliar o agravamento ou a recuperação do traumatismo raquimedular. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Sheila Miranda Payno, Cristine Homsi Jorge Ferreira, Débora Dupas Gonçalves, Andréia Carla de Oliveira, Faculdade de Fisioterapia – Universidade de Ribeirão Preto/SP; Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo/SP Ribeirão. Preto, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O TENS como recurso fisioterapêutico de alívio da dor no trabalho de parto. Introdução: A atuação do fisioterapeuta junto à parturiente amplia o campo de atuação da Fisioterapia Obstétrica. Um recurso importante que este profissional tem em mãos para o alívio da dor do parto é a estimulação elétrica transcutânea (TENS), recurso este já bastante utilizado pela Fisioterapia nas algias crônicas, mas ainda pouco difundido e utilizado no campo da obstetrícia. Objetivos: Explicitar os principais aspectos abordados na literatura sobre a utilização do TENS no trabalho de parto, refletindo seu uso dentro do contexto de atuação fisioterapêutica junto à parturiente. Metodologia: Foi realizado um levantamento bibliográfico de artigos publicados em periódicos indexados no período de 1970 a 1998, que tratam da utilização do TENS para alívio de dor no trabalho de parto. Foram identificados, categorizados e estudados os principais aspectos abordados sobre o tema. Resultados: Os principais aspectos identificados foram a avaliação da efetividade do método, equipamentos utilizados, técnicas de aplicação, efeitos indesejáveis e contra-indicações. Os resultados dos estudos demonstram que o TENS é um efetivo método coadjuvante no alívio de dor no trabalho de parto, e indicam a necessidade de aprimoramento dos equipamentos e técnicas para a situação específica do trabalho de parto. Em relação a possíveis efeitos indesejáveis, aponta-se para a interferência com o cardiotocógrafo e indução de irregularidades da função cardíaca fetal. Não foram encontradas contra-indicações específicas. Conclusão: O TENS é um recurso promissor para o alívio de dor no trabalho de parto, que contribui para ampliar o campo de atuação da Fisioterapia na Obstetrícia, porém os estudos sobre a temática são escassos, havendo necessidade de mais pesquisas que venham elucidar diversos aspectos incluindo a associação do TENS a outros recursos fisioterapêuticos com o intuito de uma maior efetividade no alívio da dor. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Luciana Falcão Marinho; Anielle Araújo Nascimento; Ana Cecília Ataíde Machado Silva. Universidade Federal da Paraíba (João Pessoa, PB, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Programa de adequação às condições de trabalho em uma biblioteca Edgar Ramos Vieira, Carlos Alberto Fornasari, Maria Imaculada de Lima Montebelo, Universidade Metodista de Piracicaba, SP, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ 15 Este trabalho analisou a execução de uma intervenção ergonômica, a instituição de um programa de atividade cinesioterápica laboral e de um programa de treinamento para utilização dos postos de trabalho na Biblioteca da Universidade Metodista de Piracicaba, buscando desenvolver uma metodologia para avaliar a eficácia das medidas e métodos de intervenção adotados. O trabalho contou com o envolvimento dos 17 funcionários, 15 mulheres e 2 homens, com idade média de 35,8 anos, e teve como objetivo minimizar os riscos ocupacionais relacionados às atividades realizadas e diminuir a sobrecarga gerada, prevenindo os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), sendo que para tanto foi realizada a adequação ergonômica dos postos de trabalho, incluindo o mobiliário, aquisição de dispositivos para minimizar a sobrecarga e treinamento dos funcionários para utilização dos novos dispositivos e mobiliário, bem como a introdução de exercícios específicos para preparação e compensação das atividades ocupacionais realizadas. Aplicou-se questionários que avaliaram a sobrecarga gerada pela jornada de trabalho e a dor presente nesta atividade ocupacional, e a escala análogo visual. Os resultados indicam que o mobiliário é o principal componente gerador de sobrecarga acarretando em necessidade de aquisição e treinamento para a utilização de dispositivos específicos tais como: apoiadores para os punhos, protetores para as telas, banquinhos para a alternância da descarga de peso entre outros; sendo que após a execução destas medidas observou-se a diminuição da influência do mobiliário na sobrecarga da jornada de trabalho. Os questionários se mostraram ferramentas eficazes para a determinação e acompanhamento dos pontos críticos de intervenção, a metodologia de mensuração da dor por meio da escala análogo visual não se mostrou satisfatória para avaliar a dor acumulada na semana, e a atividade cinesioterápica laboral propiciou uma maior integração entre os funcionários. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia em ATM Estudo do caso da paciente do sexo feminino, de 21 anos, portadora de compressão dos discos articulares direito e esquerdo. No exame clínico a paciente apresentou estalidos bilaterais durante a abertura bucal, foi detectado também dor aguda espontânea e ao toque nos músculos masseter, pterigóideo externo, temporal, esternocleidomastóideo, trapézio e deltóide, dor na região das ATM’s, todas bilateralmente, e desvio da cavidade oral para a direita nos movimentos de abertura bucal. No tratamento foi utilizado Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 16 moldagens das arcadas dentárias; confecção de uma placa miorrelaxante de Michigan de descompressão; fisioterapia com mentoneiras de tração para condicionamento dos músculos, ligamentos, discos articulares e cápsulas articulares; massagens musculares com vibrotermo para a eliminação do ácido láctico da musculatura facial; tração ortopédica com ligas de borracha; e ligamentos que compõe as ATMs durante oito meses. Na evolução do tratamento a aplicação da placa, juntamente com a fisioterapia, as sintomatologias dolorosas foram desaparecendo gradativamente. Foi feita a redução do uso da placa de Michigan para a aplicação da tração ortopédica. O tratamento ainda se encontra em andamento, faltando a aplicação da placa estabilizadora, o que eliminará a sintomatologia dolorosa do músculo pterigóideo externo. Portanto, a eliminação dos estalidos, zumbidos no ouvido e dores musculares em geral reforçam a eficácia da fisioterapia em ATMs. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Andréa Diogo Sala, Karin Von Zuben Durante, Carolina Fu, Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Otimização da função pulmonar através da manobra de recrutamento alveolar com pressão controlada e PEEP. Relato de caso Introdução: O recrutamento alveolar é um método de reexpansão pulmonar utilizado em pacientes sob ventilação mecânica apresentando atelectasia. Este relato de caso objetiva demonstrar a eficácia da manobra de recrutamento alveolar através da pressão controlada e PEEP associada à fisioterapia respiratória. Metodologia: Paciente M.B., 56 anos, sexo masculino, 54 kg, submetido à correção de aneurisma de aorta abdominal, evoluiu no pós-operatório imediato com insuficiência respiratória e instabilidade hemodinâmica. No 4o dia de intubação apresentou imagem radiológica de atelectasia em lobo inferior direito, sendo a partir daí aplicada a manobra de recrutamento alveolar com pressão controlada e PEEP. Esta manobra consiste de duas fases: na primeira fase mantém-se pressão controlada de 20 cmH2O e eleva-se a PEEP em “degraus”, e na segunda fase limita-se a pressão controlada em 40 cmH2O, reduzindo a PEEP “descendo os degraus”. Devido à ressecção prévia da 4a e 5a costelas esquerdas (correção de aneurisma de aorta tóraco-abdominal em 1994), ocorreu herniação do parênquima e caixa torácica nesta região, e por isso nossa conduta foi posicionar o paciente em decúbito lateral esquerdo para restrição mecânica, do que resultou atelectasia do ápice pulmonar esquerdo, sendo esta tratada com a manobra de recrutamento alveolar descrita acima. Resultado: Obtivemos melhora radiológica, gasimétrica e de mecânica pulmonar deste paciente após a utilização do recrutamento alveolar durante as sessões de fisioterapia respiratória. Conclusão: A manobra de recrutamento alveolar através da pressão controlada e PEEP associada à fisioterapia respiratória mostrou-se eficaz na otimização da função pulmonar. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ FG Pereira, SJ Abreu, MG Peixoto, AIM Bromerschenckel, Setor de Fisioterapia do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ, RJ, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Alerta preventivo dos distúrbios corporais apresentados pelos fisioterapêutas Anielle Araújo Nascimento, Ana Cecília Ataíde Machado Silva, Luciana Falcão Marinho, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB, Congresso Nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ 17 A biomecânica é um fator importante na atividade fisioterapêutica. Porém, em alguma circunstância estes profissionais utilizam a dinâmica corporal de forma errônea levando não só o aparecimento de algias, inflamações e outros distúrbios como também, diminuindo o aproveitamento do paciente perante o tratamento realizado. Diante deste quadro, vinte e cinco fisioterapeutas foram analisados através de um questionário contendo perguntas sobre qual o tempo e área de atuação profissional; ambiente de trabalho; recursos fisioterapêuticos utilizados; e se a prática profissional lhe trouxe algum dano corporal e se para este foi realizado alguma terapêutica. Como resultados tivemos que o tempo médio de atuação profissional foi de 8,32 anos. Apenas 8% destes profissionais atuam exclusivamente em CTIs, enquanto que 36% realizam atendimentos a nível de enfermaria, e 56% atuam em clínicas particulares. A área de atuação onde existe maior número de profissionais é a Neurologia (68%) seguida pela Traumatologia (20%) e pela Respiratória (12%). Dos profissionais que atuam na Neurologia, todos utilizam Cinesioterapia como principal recurso terapêutico. Destes, 28% apresentam algias na coluna, 20% tendinite, 4% discopatias, o que totaliza 52% de terapêuticas acometidas, visto que os que atuam nas outras áreas relacionadas não apresentam nenhum distúrbios corporais que possa está correlacionado com a prática terapêutica. Destes profissionais afetados apenas 40% realizam fisioterapia adequada. A Cinesioterapia apareceu como marco diferencial para o surgimento dos distúrbios. O modo como o terapeuta dinamiza o seu corpo poderá prejudicá-lo, reduzindo o seu desempenho profissional, ou até mesmo interrompê-lo. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reabilitação cárdio-respiratória em pré-operatório de pneumectomia, via caminhada de 6 minutos Introdução: Este trabalho foi realizado com o objetivo de colocar em programa cirúrgico paciente com contra-indicação cirúrgica por apresentar grande obstrução ventilatória, com baixa Capacidade Vital e baixo VEF1. E também sendo contra-indicada, no caso da realização da cirurgia, a extubação precoce (antes de 24 horas) e rápida retirada da prótese ventilatória, por causa de prevista Insuficiência Respiratória Aguda. Metodologia: Foi utilizado um protocolo de caminhada de 6 minutos adaptado. Com uma realização de pelo menos 5 vezes por semana, 2 vezes ao dia. Com um percurso total de 32 metros (ida e retorno). Cujo objetivo era percorrer uma maior distância nos 6 minutos dentro do VO2máx. predito calculado para iniciar Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 18 em 60%, e terminar o período do programa em 85% do VO2 máx. Antes do início do protocolo eram verificados os sinais vitais (PA, FC, FR, SatO2 e AP), durante a caminhada era verificada no 2º, 4º e 6º minutos a FC e SatO2. Após a caminhada era verificado no repouso durante o 1º minuto PA, FC, FR, SatO2 e AP, no 3º minuto PA, FC e SatO2, e no 5º minuto PA, FC, FR e SatO2. O repouso era feito após uma redução no ritmo da caminhada . Resultados: Paciente participou do programa por 7 semanas, apresentando melhora no VEF1, na Capacidade Vital, e houve retirada da ventilação mecânica e extubação antes das 24 horas de pós–operatório, com sucesso. Conclusão: Apesar das limitações que existem dentro de um serviço, principalmente quanto à presença de espaço físico e material disponível, houve um grande empenho por parte da equipe e da própria paciente, o que auxiliou junto com a reabilitação via a caminhada de 6 minutos a incluir um paciente antes sem expectativa cirúrgica devido a restrição ventilatória grave, num programa cirúrgico que foi efetuado com grande sucesso. E também houve a tentativa de demonstrar que mesmo um trabalho por um curto período, se houver uma intensidade adequada, pode trazer algum benefício cárdio-respiratório, sem falar na questão mioarticular que também apresentou uma grande evolução. Ainda assim, existe um longo caminho a ser percorrido para mostrar que a eficácia não se encontra só na duração do esforço, e sim na sua intensidade. E, que muito deve ser feito para aprimorar o protocolo para melhor atendimento das necessidades no serviço. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EM Pazzianotto-Forti, L Ysayama, RC Coletti, Universidade Metodista de Piracicaba, UNIMEP / Hospital dos Fornecedores de Cana de Piracicaba, SP, Xo Simpósio internacional de Fisioterapia respiratória, IIIo Congresso brasileiro de Fisioterapia respiratória, 27 a 30 de setembro de 2000, Gramado, RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Avaliação da função pulmonar e força muscular respiratória em pacientes submetidos à revascularização do miocárdio As cirurgias cardíacas envolvem sérias complicações pulmonares como diminuição da atividade ciliar, diminuição do tônus muscular respiratório, aumento na produção de secreções, hipoventilação, atelectasias, alterações de complacência e especialmente alterações dos volumes e capacidades pulmonares, relacionadas às manipulações torácicas, à anestesia geral, a fatores mecânicos entre outros. A proposta deste estudo foi avaliar o Volume Corrente (VC), Volume Minuto (VM), Capacidade Vital (CV), Capacidade Inspiratória (CI) e as medidas de Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e Pressão Expiratória Máxima (PEmáx) no pré-operatório e 3º dia pós-operatório em 8 sujeitos coronariopatas, do sexo masculino, idade entre 44 e 67 anos (X = 55,75 e DP = 11,08), submetidos à revascularização do miocárdio. A mensuração dos volumes e das capacidades foi realizada através de um ventilômetro (Ohmeda), contendo um ramo inspiratório pelo qual obteve-se a Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 19 medida da CI e um ramo expiratório pelo qual obteve-se as medidas de VC, VM e CV; e as pressões respiratórias foram obtidas através de um manovacuômetro (Record) com intervalo operacional de 0 a + 150 cm H2O para a PEmáx e de 0 a -150 cm H2O para a PImáx. Os métodos estatísticos empregados foram o estudo de suposições para dados pareados e o teste t com um nível de significância de 5% (p < 0,05), e os resultados obtidos revelaram que a PI e PEmáx não apresentaram diferença significativa quando comparados o pré e o 3º pós-operatório (p = 0,164 e p = 0,087, respectivamente), as medidas de VM apresentaram-se significativamente maiores (p = 0,025) no 3º pós-operatório do que no pré operatório, a CI apresentou-se significativamente maior no pré-operatório quando comparada ao 3º pós-operatório (p = 0,0054) e as medidas do VC e CV não mostraram diferença significativa quando comparados o pré e o 3º pósoperatório (p = 0,774 e p = 0,308). Pela evolução dos dados obtidos foi possível observar que as medidas da Capacidade Inspiratória decresceram significativamente no 3º pós-operatório em relação ao pré-operatório, o Volume Minuto aumentou no pós operatório, enquanto as medidas da PImáx, PEmáx, Volume Corrente e Capacidade Vital não apresentaram alterações significativas quando comparados o pré e o 3º pós-operatório. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ MS Nascimento, CPO Souza, JES Lima, Hospital São PauloEPM, São Paulo, SP, Xo Simpósio internacional de Fisioterapia respiratória, IIIo Congresso brasileiro de Fisioterapia respiratória, 27 a 30 de setembro de 2000, Gramado, RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia em pacientes com fratura de costela As fraturas de costelas têm sido relatadas amplamente como um contra-indicação de manobras fisioterápicas manuais, tais como vibrocompressão e tapotagem tendo em vista um alto risco da ocorrência de pneumotórax. Este trabalho tem como objetivo analisar a eficácia da fisioterapia respiratória em dois casos isolados de pacientes submetidos a toracotomia exploradora para correção de atresia de esôfago que evoluiu com atelectasia a direita em virtude de fratura de costelas e hipersecreção brônquica. Foram estudadas duas crianças recém-nascidas com idade média de um mês, com peso médio de 2000 g, portadoras de atresia de esôfago. A fisioterapia respiratória foi realizada com as crianças em decúbito lateral esquerdo utilizando-se respiração dirigida por bloqueio em hemitórax esquerdo, manobras de vibrocompressão leves a direita e manobras com ambu. Foram realizadas análise de freqüência respiratória e imagem radiológica a cada 24 horas. Nas duas crianças foram observadas melhora radiológica com reversão da atelectasia. Com relação à freqüência respiratória, esta foi reduzida de um valor inicial médio de 60 rpm para 35 rpm, com diminuição dos sinais clínicos de insuficiência respiratória. Conclui-se através deste que, apesar de uma contra-indicação existente com relação ao uso de manobras fisioterápicas manu- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 20 ais neste tipo de paciente em específico, o uso das mesmas de forma cuidadosa e acima de tudo coerente podem se mostrar eficazes na resolução de atelectasias, sendo necessário estudos mais aprofundados que possam confirmar os resultados obtidos neste estudo. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ PC Teles. Centro de Saúde Vila dos Comerciários, Serviço Ambulatorial de Fisioterapia Feevale, Novo Hamburgo, RS, Xo Simpósio internacional de Fisioterapia respiratória, IIIo Congresso brasileiro de Fisioterapia respiratória, 27 a 30 de setembro de 2000, Gramado, RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia preventiva e pública como um fator de intervenção precoce da bronquiolite: análise do centro de saúde Vila dos Comerciários em Porto Alegre A Fisioterapia respiratória é uma área de atuação qualificada para recuperar os pacientes com doenças respiratórias ou prevenir o aparecimento das mesmas. A faixa etária infantil é propensa a infecções respiratórias, a bronquiolite é uma destas doenças de alta incidência. Este trabalho relacionou vinte crianças atendidas na emergência do Centro de Saúde Vila dos Comerciários, onde foi realizado o diagnóstico clínico de bronquiolite e o encaminhamento para tratamento no serviço ambulatorial de fisioterapia respiratória, tendo como objetivo a comparação dos efeitos da ação profilática e da educação em saúde na progressão do quadro sintomatológico da bronquiolite, no período de maio à outubro de 1999. Os dados foram coletados junto aos boletins de atendimento pediátrico (emergência), fichas de avaliação e evolução do serviço ambulatorial de fisioterapia, registro geral de pacientes da central de computação da recepção da emergência, setor de estatística Centro de Saúde e um questionário realizado no período de janeiro e fevereiro de 2000 na residência das crianças estudadas. Os procedimentos utilizados para intervenção precoce foram a lavagem simples das mãos, uso de anti-séptico, ausculta pulmonar e aspiração de secreção. As técnicas específicas da fisioterapia utilizadas foram vibrações, compressão, tapotagem, terapia manual passiva, drenagem postural, máscara de EPAP (Pressão Positiva Expiratória). As medidas profiláticas utilizadas foram fluidificação de secreções através de soro fisiológico e aspiração manual com “pêra”. A educação em saúde e o aconselhamento dos pais foi fundamental para a extensão do tratamento no ambiente familiar. Neste trabalho vários fatores identificaram que 50% dos pacientes que abandonaram o tratamento fisioterápico, 40% apresentaram recidivas com internações em instituições em saúde e os pacientes que completaram o tratamento fisioterápico até sua alta não apresentaram nenhuma recidiva sendo que os principais motivos do abandono foram os financeiros com 20% e familiares com 15%. A fisioterapia preventiva é uma atuação indispensável para intervir nas complicações do quadro sintomatológico da bronquiolite, evitando assim a super lotação das instituições de saúde. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 21 ○ ○ ○ ○ ○ ○ Status tabágico do paciente em clínica privada de doenças respiratórias Maria Stela Gonçalves, Sérgio Ricardo Santos, Fábio Kawakama, José Roberto Jardim, Disciplina de Pneumologia e Centro de Reabilitação Pulmonar da UNIFESP, São Paulo, SP, Xo Simpósio internacional de Fisioterapia respiratória, IIIo Congresso brasileiro de Fisioterapia respiratória, 27 a 30 de setembro de 2000, Gramado, RS Introdução: Apesar dos inúmeros estudos epidemiológicos realizados com tabagistas e ex-tabagistas, existem poucos relatos da análise do status tabágico em pacientes em atendimento privado. Objetivo: Avaliar o status tabágico e fatores associados à cessação do tabagismo de um grupo de pacientes na sua avaliação inicial em uma clínica privada de atendimento a doenças respiratórias em São Paulo. Material e métodos: Inquérito epidemiológico entre pacientes de uma clínica privada de pneumologia na cidade de São Paulo. População total estudada: 1020 pacientes, atendidos em primeira consulta entre janeiro de 1995 e junho de 2000, sendo excluídos os menores de 15 anos e aqueles com dados de identificação incompletos. Amostra final estudada: 906 pacientes, 467 homens e 439 mulheres. Todos os pacientes respondiam a um inquérito epidemiológico sobre o seu status tabágico. Resultados: 420 pacientes nunca fumaram, 170 estavam fumando no período da consulta e 316 eram ex-fumantes. Entre os fumantes o tempo de tabagismo era de 27,4 ± 14,2 anos, com 1,3 ± 0,8 maços por dia; 43,7% deles já haviam tentado parar de fumar, com 1,7 ± 1,5 tentativas; a idade de início no vício foi de 18,8 ± 7,1 anos. Entre os ex-fumantes a idade de início foi de 20,1 ± 9,1 anos, tendo fumado 1,4 ± 0,9 maços por dia; o tempo médio de abandono era de 10,0 ± 10,0 anos, a decisão própria foi o principal motivo para deixar de fumar, em geral, desencadeado pela presença de sintomas respiratórios; a interrupção do vício foi abrupta em 78% dos casos, o número médio de tentativas prévias antes do abandono definitivo era igual a 1,2 ± 1,9; cerca de 51% dos ex-fumantes sentiram falta do cigarro logo após a interrupção, porém, apenas 22% persistiam sentindo. Conclusões: Os tabagistas ou ex-tabagistas correspondiam a mais da metade das consultas. O principal motivo do abandono foi a decisão própria e não o aconselhamento médico, conforme já descrito na literatura. A motivação para tal geralmente ocorre pela presença de sintomas respiratórios. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ EA Giovanetti, CA Boueri, ALB Nunes, E Koterba, AL Graças, Hospital e Maternidade São Camilo, São Paulo, SPl, Xo Simpósio internacional de Fisioterapia respiratória, IIIo Congresso brasileiro de Fisioterapia respiratória, 27 a 30 de setembro de 2000, Gramado, RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Sindrome do desconforto respiratório aguda após inalação de “crack” O consumo do “crack” tem se tornado comum em nosso meio, assim como os sintomas e as disfunções pulmonares decorrentes do seu uso. Relatamos um caso de usuário de “crack” que desenvolveu síndrome do desconforto respiratório aguda (SDRA), revendo os aspectos clínicos e do tratamento. Realizada pesquisa bibliográfica e revisão de prontuário. 22 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Jovem branco, masculino, 16 anos, com antecedente de utilização de drogas inalatórias, internado em uma instituição para recuperação de drogados, foi encontrado em insuficiência respiratória, rebaixamento do nível de consciência e suspeita de broncoaspiração, após medicação com haloperidol e diazepínicos. Apresentava acidose respiratória hipoxêmica (pH 7,20; PCO2 56 mmHg e PO2 43 mmHg) e RX de tórax com infiltrado pulmonar bilateral heterogêneo. Hipótese diagnóstica: SDRA (PaO2/FiO2 = 54 e Murray 2,5). Recebeu suporte hemodinâmico, nutricional, antibioticoterapia, pulso de corticóide, fisioterapia respiratória. Ventilado com PEEP determinado pelo ponto de inflexão no ramo ascendente da curva P x V, Vt 6 mL/Kg, f suficiente para manter PaCO2 dentro da normalidade, sem gerar auto-PEEP, tolerando hipercapnia se necessário. Recrutamento alveolar foi realizado após desconexão do aparelho ou quando se observou queda da SpO2, com 45 cmH2O por 30 segundos, 3 vezes, com intervalos de 3 ciclos respiratórios. Evoluiu favoravelmente, sendo extubado em 5 dias. O exame anátomo-patológico da biópsia pulmonar mostrou hemorragia alveolar difusa, hiperplasia linfóide peribrônquica com eosinófilos, ausência de fibrose e a microscopia óptica com luz polarizada foi positiva para material particulado, compatível com inalação de material químico. O pulmão é um dos principais órgãos acometidos pela combustão da droga, e o aumento do seu consumo e a quantidade de impurezas relacionam-se às complicações pulmonares agudas. As manifestações clínicas descritas ocorrem imediatamente ou semanas após o uso. O tratamento descrito é paliativo, porém, apesar da gravidade com que se apresenta inicialmente, o suporte ventilatório adequado parece influenciar positivamente na evolução. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 23 Artigo original Ordem de recrutamento muscular em movimentos de reversão do braço em diferentes regiões espaciais Gil Lúcio Almeida*, Nadia Fernanda Marconi*, Sandra MS Ferreira** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Laboratório de Pesquisas Clínicas em Fisioterapia, Universidade de Ribeirão Preto e Departamento de Fisiologia e Biofísica, Universidade Estadual de Campinas, **Instituto de Biociências do Campus de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista Resumo Neste estudo testamos regras freqüentemente utilizadas para descrever a seqüência em que o Sistema Nervoso ativa a musculatura. Em particular, testamos a existência das seqüências proximal-distal e agonista-antagonista durante a execução de movimentos complexos. Para tanto, oito indivíduos realizaram movimentos planares de reversão em nove alvos colocados em três orientações espaciais diferentes. Para cada um destes movimentos, foram reconstruídos os deslocamentos angulares do ombro e do cotovelo e o deslocamento linear do dedo indicador. Simultaneamente foi registrada a atividade eletromiográfica dos músculos: bíceps braquial, tríceps cabeça lateral, deltóide anterior e deltóide posterior. Foi demonstrado que esses músculos não foram ativados em uma seqüência proximal-distal e que esta seqüência variou com a orientação espacial. Para uma das orientações espaciais, houve também uma reversão na seqüência agonista-antagonista na qual os músculos do cotovelo foram ativados. Os resultados são discutidos em termos da demanda mecânica das tarefas. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 24 Abstract In this study we tested the rules usually used to describe the sequence in which the Nervous System activated the muscles. In special, we tested if there are the proximal-distal and the agonist-antagonist sequences during the execution of complex movements. Eight individuals performed planar reversal movements towards nine targets placed in three special orientations. The angular displacement of the shoulder and elbow joints, and the linear displacement of fingertip was reconstructed, using one 3D motion analysis system. We also recorded the muscle activities of biceps, triceps, posterior and anterior deltoid during each movement. It was showed that these muscles were not activated in a proximal-distal sequence, and that this sequence changed with the spatial orientation. For one spatial orientation, there was a reversion in the agonist-antagonist sequence in which the elbow muscles were activated. The results are discussed in terms of the mechanic demand of the tasks. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Endereço para correspondência: Prof. Dr. Gil Lúcio Almeida, Curso de Fisioterapia da UNAERP, Av. Constábile Romano, 2201, 14096-380 Ribeirão Preto - SP, Tel: (16) 603-6774, Fax: (16) 603-7025 (geral), E-mail: [email protected] Introdução Para realizar movimento voluntário é necessário que o Sistema Nervoso (SN) envie comandos para os neurônios motores alfa, para ativar a maquinaria contrátil e assim gerar as forças musculares necessárias à execução do movimento. As estratégias utilizadas pelo SN para modular e controlar estes comandos, enviados na forma de potenciais de ação, são objetos de inúmeros debates e estudos [1, 2, 3, 4]. Estas estratégias têm sido baseadas em estudos biomecânicos e de controle motor altamente sofisticados e são utilizadas no entendimento de disfunções e adaptações que acometem o sistema de controle motor [5, 6]. Por outro lado, existem muitas simplificações na descrição e caracterização dos mecanismos de controle motor dos movimentos humanos. Um exemplo, desta simplificação é a idéia, muito difundida, de que o SN primeiro ativa a musculatura proximal e depois a distal. Outra simplificação é o uso da terminologia agonista e antagonista para descrever a ação da musculatura. O uso da terminologia agonista-antagonista, por sua vez, tem mais suporte empírico e científico do que a idéia da ativação preferencial da musculatura proximal. Por exemplo, a execução de movimentos uniarticulares simples, como a flexão do cotovelo, tem sido atribuída à geração de um padrão eletromiográfico (EMG) trifásico característico [7, 8]. Um primeiro envelope de atividade EMG agonista gera uma força muscular lançando o membro em direção ao alvo. Algumas dezenas de milisegundos após o início deste envelope agonista, um segundo envelope EMG antagonista inicia a aplicação do freio no movimento. Este envelope antagonista desacelera o membro em direção ao alvo. Finalmente um segundo envelope de atividade EMG agonista irá “travar” o membro ao alvo. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Para movimentos complexos, como o de reversão, envolvendo uma [9, 10, 11] ou mais articulações [12, 13] o padrão EMG é geralmente mais complexo do que o padrão trifásico descrito para os movimentos uniarticulares. Outros estudos têm também demonstrado, que a seqüência em que os músculos são ativados varia com a orientação espacial na qual os movimentos são executados [14]. Aqui primeiramente demonstramos que a ativação da musculatura não segue necessariamente, um padrão proximal-distal. Segundo, a ordem de recrutamento dos músculos está associada com a demanda mecânica da tarefa e não necessariamente com uma ação agonista ou antagonista do músculo. Terceiro, discutimos as implicações clínicas da simplificação do conhecimento dos mecanismos de controle motor dos movimentos. Métodos Sujeitos Oito indivíduos neurologicamente normais, quatro do sexo masculino e quatro do sexo feminino participaram deste estudo, após terem assinado um Termo de consentimento aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Todos os voluntários eram destros e com idade entre 15 e 30 anos. Tarefa Cada voluntário realizou movimentos de reversão do braço, com envolvimento das articulações do ombro e cotovelo. As articulações do punho e da mão foram imobilizadas por um bracelete. Os movimentos foram divididos em três tarefas que variaram de acordo com a orientação espacial (180º, 90º e 0º). A linha no plano sagital, cruzando a linha média do corpo na direção ântero-posterior, definiu a orientação espacial de 90º. As linhas definindo a orientação espacial de 0º (direita) e 180º (esquerda) eram ortogonais à linha da orientação espacial de 90º (figura 1). Para a realização da tarefa, os voluntários permaneceram sentados em uma cadeira de altura ajustável junto a uma mesa. Nesta mesa, foram demarcadas as três orientações espaciais mencionadas acima. Um cabo preso ao teto da sala de experimento dava suporte a 25 Fig. 1 Figura 1: Ilustração da tarefa. Os movimentos planares de reversão do braço foram realizados em três orientações espaciais diferentes (180º, 90º e 0º). Para cada uma destas orientações, foram colocados, três alvos de forma a induzir uma amplitude angular específica (18º- linha cheia, 36º-linha tracejada ou 54ºlinha pontilhada) na articulação do cotovelo, quando o dedo indicador atingisse o alvo. Na posição inicial a articulação do cotovelo permanecia à 90º de flexão. A escala dos eixos x e y estão em milímetros. parte proximal do antebraço, permitindo que o braço movesse livremente dez centímetros acima do topo da mesa. A posição inicial foi definida como a intersecção entre as linhas da orientação espacial de 90º e 0º. A ponta do dedo indicador foi mantida sobre a posição inicial, com a articulação do cotovelo à 90º de flexão (figura 1). Para cada orientação espacial, os voluntários realizaram movimentos em três alvos diferentes. Os alvos foram definidos de forma a induzir uma amplitude angular específica (18º, 36º ou 54º) na articulação do cotovelo quando o dedo indicador atingia o alvo. Após ouvir um comando verbal, cada voluntário realizava movimentos planares, partindo da posição inicial, atingindo o alvo e retornando imediatamente à posição inicial. Foi solicitado aos voluntários que realizassem os movimentos “o mais rápido possível” sem enfocar o tempo de reação. Todas as tarefas envolveram abdução (orientação espacial de 0°) ou adução (orientações espaciais de 90° e 180°) horizontal do ombro e o cotovelo sempre moveu em extensão. 26 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Registro e processamento dos dados EMGs Registramos a atividade EMG dos seguintes músculos: bíceps cabeça longa, tríceps cabeça lateral, deltóide anterior e deltóide posterior. Para este registro foram utilizados amplificadores DELSYS (modelo DE2.2L) de sinais EMGs com eletrodos de superfície, com um ganho total de 2000 e um filtro de 20450Hz. Todos os dados EMGs foram digitalizados a uma freqüência de 1000 quadros/segundo usando software Optotrak e unidade de sincronização. Resultados Registro e processamento dos dados cinemáticos Foram fixadas LEDs (luzes com emissão de diodo) no centro articular do ombro, cotovelo, punho e na ponta do dedo indicador. As coordenadas X e Y destas LEDs foram registradas utilizando um sistema óptico de análise de movimento (Optotrak 3020) a uma freqüência de 100 quadros/segundo. Essas coordenadas foram utilizadas para reconstruir o deslocamento e a velocidade angular dos movimentos do ombro e cotovelo. A velocidade e o deslocamento linear do dedo indicador foram obtidos das coordenadas X e Y da marca do dedo indicador. Fig. 2 Cálculo da ordem de recrutamento muscular O início da atividade EMG de cada músculo foi identificada visualmente. Para esta identificação foi plotado num monitor de computador a atividade EMG de cada músculo juntamente com a velocidade linear do dedo indicador. O início da atividade EMG foi identificado como uma mudança abrupta e sustentada no envelope desta atividade. A velocidade do dedo indicador foi utilizada para guiar a ocorrência da mudança abrupta na atividade EMG. Esta mudança deveria ocorrer entre 100 milisegundos, antes do início do movimento do dedo indicador, até o tempo em que o dedo indicador atingisse o alvo. A identificação do início das atividades EMGs foram utilizadas para calcular as diferenças entre o início da atividade EMG dos músculos deltóide anterior, deltóide posterior e bíceps em relação ao início da atividade do tríceps. Esta diferença definiu a ordem de recrutamento dos músculos. Todos os sujeitos foram capazes de realizar as tarefas nas três orientações espaciais e nas três distâncias angulares conforme a instrução da tarefa. Note na Figura 2 que o deslocamento linear do dedo indicador ocorreu, conforme esperado, na direção espacial da tarefa (180°, 90° e 0°). A velocidade linear do dedo indicador apresentou um formato de sino duplo, nas três orientações espaciais e nos três alvos (Figura 2). Figura 2: Trajetória linear do dedo indicador nos planos X e Y e velocidade linear do dedo indicador. Os movimentos são de um indivíduo realizando a tarefa nas três distâncias angulares (18º- linha cheia, 36ºlinha tracejada ou 54º- linha pontilhada) e nas três orientações espaciais (180º- dois painéis da esquerda, 90º- dois painéis do centro e 0º- dois painéis da direita). A trajetória linear é dada em milímetros (mm) e velocidade linear em milímetros por milisegundos (mm/ms). O tempo é mostrado em segundos no eixo X. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 O primeiro “sino” representa o movimento de ida em direção ao alvo. Ao passo que o segundo sino representa o movimento de volta em direção à posição inicial. O pico do primeiro “sino” ocorreu aproximadamente no meio do movimento de ida, quando o sujeito acelerou o membro em direção ao alvo. O pico do segundo “sino” ocorreu aproximadamente no meio do movimento de volta, quando o sujeito ainda estava acelerando o membro em direção à posição inicial. O menor valor da velocidade linear, durante o intervalo entre os dois picos, representa o instante que ocorreu a reversão do dedo indicador no alvo. Note na FiFig. 3a 180 o 90 o 27 gura 2 que a velocidade linear do dedo indicador aumentou para as distâncias maiores, nas três orientações espaciais. Para todas as orientações espaciais, o cotovelo sempre moveu inicialmente em extensão (Figura 3a). No entanto, na orientação espacial de 180° e 90°, o ombro moveu inicialmente em adução horizontal e na orientação espacial de 0° em abdução horizontal (Figura 3b). A amplitude angular do ombro e do cotovelo variou com a orientação espacial e com a distância do alvo. O aumento da distância do alvo resultou no aumento do deslocamento e da velocidade angular dos movimentos das duas articulações. 0o Figura 3: Deslocamento angular, velocidade angular e registros EMGs dos músculos tríceps e bíceps para o movimento do cotovelo (a) e deltóide anterior e deltóide posterior para o movimento do ombro (b). Os movimentos são de um indivíduo realizando a tarefa nas três distâncias angulares (18º- linha cheia, 36º- linha tracejada ou 54º- linha pontilhada) e nas três orientações espaciais (180º, 90º e 0º). Deslocamento angular dada em graus (º), velocidade angular em graus por segundo (º/s), registros EMGs em Volts (V) e tempo em segundos (s). Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 28 Fig. 3b 180 o 90 o O registro EMG mostra um padrão recíproco de ativação da musculatura anterior e posterior do membro superior. De um modo geral, o padrão recíproco foi caracterizado por três envelopes de atividade EMG para a musculatura do ombro e do cotovelo. O primeiro envelope gerou uma força muscular que acelerou o membro em direção ao alvo. Esse envelope foi produzido pela atividade do músculo agonista. Após o início deste envelope agonista, a musculatura dita antagonista foi ativada, gerando um envelope antagonista. Esse envelope antagonista gerou uma força muscular que foi responsável em frear o membro no alvo, revertendo a sua direção e o lançando de volta à posição inicial. Um segundo 0o envelope de atividade EMG agonista gerou uma força muscular que desacelerou o membro em direção à posição inicial. Este padrão recíproco, agonista-antagonista-agonista, pode ser utilizado para explicar a atividade EMG observada para a musculatura do ombro nas três orientações espaciais, mas não para a do cotovelo. Note que na orientação espacial de 180°, o cotovelo moveu inicialmente em extensão (figura 3a). No entanto, o bíceps, que seria o músculo antagonista, foi ativado antes do tríceps, o agonista deste movimento. Por outro lado, nas orientações espaciais de 90° e 0°, o cotovelo também moveu inicialmente em extensão, no entanto, o bíceps foi ativado depois do tríceps. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 A ordem de recrutamento da musculatura do membro superior A ordem de ativação destes músculos variou com a orientação espacial. Na orientação espacial de 180° e 90°, o movimento do ombro foi inicialmente em adução horizontal. Nestas duas orientações espaciais o deltóide anterior foi o músculo agonista e o deltóide posterior o antagonista. Já na orientação espacial de 0°, o movimento da articulação do ombro foi inicialmente em abdução horizontal. Nesta orientação, o deltóide posterior foi o músculo agonista e o deltóide anterior o músculo antagonista. Note na Figura 4 que o deltóide anterior foi ativado antes do tríceps e do deltóide posterior para as orientações de 180° e 90°. No entanto, este músculo foi ativado depois do tríceps e do deltóide posterior na orientação espacial de 0°. 29 Em todas as tarefas, o movimento da articulação do cotovelo foi sempre em extensão e teoricamente o agonista seria o tríceps e o antagonista o bíceps. Esta afirmativa é verdadeira para as orientações espaciais de 90° e 0°, mas não para a de 180°. Note na Figura 4 que o bíceps é ativado depois do tríceps para as orientações de 90° e 0°, mas é ativado por volta de 60 milisegundos antes do tríceps na orientação espacial de 180°. O resultado da ANOVA mostra o efeito da ordem de recrutamento dos músculos (bíceps, tríceps, deltóide anterior e posterior) para cada uma das três orientações espaciais (180°, 90° e 0°) estudadas. Este resultado comprova as observações citadas acima. Não foi testado o efeito da orientação espacial porque a ordem de recrutamento foi quantitativamente diferente (ver Figura 4). Tabela I: Resultado da ANOVA para o efeito da ordem de recrutamento dos músculos. Orientação espacial F (3,23) p Fig. 4 180º 90º 0º 13.31 4.93 31.98 0.0001 0.0037 0.0001 Discussão A ativação dos músculos não segue necessariamente a seqüência proximal-distal Figura 4: Ordem de recrutamento dos músculos deltóide posterior (barra hachurada), deltóide anterior (barra preta) e bíceps (barra branca) alinhados em relação ao início da atividade EMG do tríceps – “T”. O início da atividade do tríceps - “T” é considerado aqui como tempo zero. Os dados são as médias de oito indivíduos para as três orientações espaciais (180º, 90º e 0º). O tempo é dado em milisegundos (ms). Os dados apresentados aqui não dão suporte a idéia de que a ordem de recrutamento da musculatura nos indivíduos normais segue um padrão proximal-distal [15, 16, 17, 18]. Se o Sistema Nervoso ficasse limitado à esta estratégia (proximal-distal) para recrutar a musculatura deveríamos observar uma antecipação da ativação da musculatura do ombro (deltóide anterior e posterior) em relação à musculatura do cotovelo. No entanto, em vários movimentos estudados a musculatura do ombro foi ativada depois do tríceps (Figura 3 e 4). Logo podemos concluir que o Sistema Nervoso não limita a sua estratégia de ativação da musculatura a uma seqüência proximal-distal. Esta flexibilidade na seqüência de ativação da musculatura possibilita ao SN inúmeras formas de modular a geração das forças musculares. 30 A terminologia agonista-antagonista não é apropriada para descrever alguns padrões de atividade EMG. Clinicamente identificamos a direção do movimento e o mensuramos com um goniômetro manual. Da direção do movimento, deduzimos então, a ação do músculo, se agonista ou antagonista. Por exemplo, um movimento de extensão do cotovelo seria sempre iniciado pelo tríceps (agonista neste caso) e freado pelo bíceps (antagonista neste caso). Neste estudo também aprendemos que devemos ser cautelosos ao usar a terminologia agonista e antagonista para caracterizar a ação de um músculo. Por exemplo, na orientação espacial de 180º existe uma atividade inicial no bíceps que antecede a ativação do tríceps e mesmo da musculatura do ombro (Figura 4). Esta antecipação da ativação do bíceps, mesmo com o cotovelo movendo em extensão, auxilia a atividade do deltóide anterior na geração de uma força muscular em adução horizontal na articulação do ombro. Isto ocorre porque o bíceps cabeça longa é um músculo bi-articular e cruza as articulações do ombro e do cotovelo. Logo, a mudança na ordem de recrutamento observada na orientação espacial de 180° está relacionada à demanda mecânica da tarefa. O achado de que a ordem de recrutamento da musculatura é afetada pela orientação espacial em que o movimento é executado (Figura 4) confirma resultados de outros estudos [14, 19, 20]. No entanto, de acordo com Hasan & Karst [14], esta mudança na ordem de recrutamento estaria relacionado à orientação espacial do antebraço no espaço. Como mencionado anteriormente, acreditamos que o SN faz esta inversão quando é necessário atender a demanda mecânica da tarefa. A atividade EMG antecede o início do movimento [21]. Note na Figura 3a que o início da atividade EMG do tríceps cabeça lateral é antecipado em relação ao início do movimento de extensão do cotovelo nas orientações espaciais de 0° e 90°. O tempo desta antecipação é necessário para que o músculo coloque a sua maquinaria contrátil para funcionar, gerando uma força muscular que resista a inércia do membro. No entanto, na orientação de 180° a atividade do tríceps coincide com o início do movimento de extensão do cotovelo. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Logo, não houve tempo hábil para que o tríceps cabeça lateral gerasse uma força muscular que pudesse iniciar o movimento de extensão do cotovelo. Neste caso, não se pode descartar a possibilidade de que outros músculos não registrados (ancôneo e as cabeças longa e medial do tríceps) tenham sido ativados concomitantemente ou mesmo antes que o bíceps na orientação espacial de 180°. A terminologia do padrão trifásico pode encobrir a complexidade do controle da atividade EMG As atividades EMGs dos movimentos uniarticulares [7, 8, 9] e de reversão apresentados aqui e em outros estudos [10, 11, 12, 13], podem ser descritas por um padrão trifásico. Porém, existem similaridades e diferenças nas funções dos envelopes agonista-antagonistaagonista entre estes movimentos. O primeiro envelope agonista, de ambos os movimentos (uniarticulares e de reversão) tem a função de gerar uma força muscular que acelera o membro em direção ao alvo. No entanto, o primeiro envelope antagonista nos movimentos de reversão tem três funções distintas. Primeiro, este envelope desacelera o membro em direção ao alvo. Segundo, ele reverte a direção do movimento. Terceiro, ele acelera o membro em direção à posição inicial. Em movimentos uniarticulares, a função deste envelope é de apenas desacelerar o movimento no alvo. O segundo envelope agonista, também difere entre os dois tipos de movimentos. Nos movimentos uniarticulares o segundo envelope agonista tem a função de “travar” o membro na posição inicial. Já nos movimentos de reversão, o segundo envelope agonista tem a função de desacelerar o membro na posição inicial [7, 8]. Dessa forma, podemos concluir que para movimentos de reversão, as funções dos envelopes de atividade EMG são mais complexas do que para movimentos simples de apontar. Implicações práticas Como explicar a diferença de resultados que obtivemos, com os dados na literatura e nos inúmeros textos de Cinesiologia? Boa parte do que é ensinado nas disciplinas de Cinesiologia é baseado em estudos envolvendo o registro EMG, Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 sem uma reprodução concomitante da cinemática (ângulo, velocidade e aceleração) e/ ou da cinética (torques musculares e de interação) dos movimentos. Existe uma relação causal fisiológica entre a geração da força muscular (formação das pontes de actinamiosina) e o sinal EMG [22]. Desta forma, acreditamos que para o entendimento dos mecanismos de controle motor dos movimentos é necessário o registro da atividade EMG dos músculos, porém, é imperioso também a reconstrução cinemática e cinética do movimento gerado por estas atividades. Os dados apresentados aqui demonstram claramente que teremos que estudar de forma bastante criteriosa os mecanismos de geração dos movimentos, se quisermos construir uma Cinesiologia mais sólida. Agradecimentos Este trabalho foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP (processos 95/9608-1; 97/02769-5 e 97/02771-0). Referências 1. Asatryan DG, Feldman AG. Functional tuning of the nervous system with control of movement or maintenance of a steady posture - I. Mechanographic analysis of the work of the joint or execution of a postural task.Biofizika. 1965;10:837-846 [English translation 925-935]. 2. Gottlieb GL, Corcos DM, Agarwal GC. Strategies for the control of single mechanical degree of freedom voluntary movements.Behavioral and Brain Sciences 1989;12(2):189-210. 3. Almeida GL, Hong D, Corcos DM, et al. Organizing principles for voluntary movement: Extending single-joint rules. Journal of Neurophysiology1995;74(4):1374-81. 4. Gottlieb GL, Song Q, Almeida GL, et al. Directional control of planar human arm movement. Journal of Neurophysiology.1997;78:2985-2998. 5. Almeida GL, Corcos DM, Latash ML. Practice and transfer effects during fast 31 single-joint elbow movements in individuals with Down syndrome. Physical Therapy1994;74(11):1000-1016. 6. Almeida GL, Campbell SK, Girolami GL, et al. The effect of intrathecal baclofen on function in patient with cerebral palsy: A case report. Physical Therapy1997. 7. Hallett M, Shahani BT, Young RR. EMG analysis of stereotyped voluntary movements in man. Journal of Neurology, Neurosurgery and Psychiatry1975;38:1154-1162. 8. Hannaford B, Stark L. 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Muscle activity for initiation of planar, two -joint arm movements in different directions. Experimental Brain Research1989;76:651-655. 15. Jöris HJJ, Edwards van Muyen AJ, van Ingen Schenau GJ, et al. Force, velocity and energy flow during the overarm throw in female hand-ball players. Journal of Biomechanics.1985;18:409-414. 16. Herring RM, Chapman AE. Effects of changes in segmental values and timing of both torque and torque reversal in simulated throws. Journal of 32 Biomechanics1992;25:1173-1184. 17. Putmam CA. Sequential motions of body segments in striking and throwing skills. Descriptions and explanations. Journal of Biomechanics1993;26 (suppl. 1):125-135. 18. Sørenson H, Zacho M, Simonsen EB, et al. Dynamics of the martial arts high front kick. Journal of Sports Sciences1996;14:483-495. 19. Aoki F. Activity patterns of upper arm muscles in relation to direction of rapid wrist movement in man. Experimental Brain Research1991;83:679-682. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 20. Gabriel DA. Shoulder and elbow muscle activity in goal-directed arm movements. Experimental Brain Research1997;116:359366. 21. Corcos DM, Gottlieb GL, Latash ML, et al. Electromechanical delay: an experimental artifact.Journal of Electromyography and Kinesiology 1992;2:59-68. 22. Gottlieb GL, Corcos DM, Agarwal GC. Organizing principles for single joint movements: I - A Speed-Insensitive Strategy.Journal of Neurophysiology 1989;62(2):342-357. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 33 Artigo original Análise dos efeitos fisiológicos em pacientes com estresse submetidos à técnica Watsu Physiological analysis in stressed patients submitted to Watsu water therapy Rosângela Maria Borges*, Nivaldo Antonio Parizotto** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta, especialista em fisioterapia traumatológica e ortopédica pela FUNEC/Santa Fé do Sul – UFSCar, formação em Watsu. Fisioterapeuta da clínica HUNIFISIO – Fernandópolis (SP), **Fisioterapeuta, especialista em metodologia da educação superior (PUCCAMP), mestre em fisiologia pela faculdade de medicina de Ribeirão Preto –USP, Doutor em engenharia elétrica pela UNICAMP, docente do departamento de fisioterapia da UFSCar e do programa de pós-graduação em fisioterapia da UFSCar Resumo O estresse faz-se presente em todas as reações do organismo desencadeadas por agressões de ordem física, psíquica ou infecciosa. Situações de grande tensão pode provocar o estresse patológico, facilitando ou agravando distúrbios transitórios ou doenças graves. Verificaram-se os efeitos do Watsu em dezoito pacientes sob experimentação com características de estresse, submetendo-os aos procedimentos descritos pelos autores para a referida técnica hidroterápica. As diversas posições recomendadas pela técnica associadas aos benefícios da água aquecida mostrou promover momentos de profundo relaxamento. Mais de 50% dos participantes já havia realizado tratamento fisioterápico clássico com resultados insatisfatórios. Com o Watsu®, além dos pacientes relatarem melhoras das algias musculares, acrescentaram que houve um aumento no rendimento do trabalho, maior disposição para atividades da vida diária, mais flexibilidade e ponderação para resolver situações conflitantes, enfim uma melhora na homeostase. Pode-se concluir que é vantajosa a associação da hidroterapia com água hipertérmica e o uso de exercícios e alongamentos pela técnica de Watsu para controle do estresse. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto, Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia – UFSCar, Rodovia Washington Luiz, km 235 CP 676, 13565-905 – São Carlos SP, Tel: (16) 260-8341 ramal 8704, E-mail: [email protected] 34 Introdução Todos os dias somos advertidos pela mídia sobre os perigos potenciais do estresse, alteração da pressão arterial, falta ou excesso de apetite, irritabilidade, fadiga, dores generalizadas, alergias, problemas cardíacos e no extremo o câncer. A competitividade, jornada dupla de trabalho, grandes mudanças, situações desagradáveis são fatores que contribuem para produzir ou aumentar o estresse psicofísico dos indivíduos [1]. Para amenizá-lo deve-se excluir o agente causal, mas como na maioria dos casos isto não é possível, busca-se técnicas alternativas como massagens, caminhadas, medicamentos, terapias individuais ou em grupo que possam excluir ou amenizar os sintomas ou efeitos do estresse. Dentre estas técnicas, o Watsu [2] pareceu ser interessante para proporcionar este alívio e para a análise das modificações fisiológicas proporcionados em pacientes sob situação de estresse. Originou-se na Califórnia onde Harold Dull utilizouse da milenar arte oriental de massagem - o Shiatsu - aplicado na piscina, com pacientes em flutuação. “Deixe-se flutuar e ser embalado numa água aquecida. Deixe todo apoio e o calor da água dissipar as tensões do seu corpo. Deixe-se conduzir para níveis mais e mais profundos de relaxamento, na medida em que seu corpo se alonga livremente. Flutue para o estado de consciência no qual traumas e tensões não tenha acesso. Flutue para o nível onde está que seja de tamanho prazer, paz e totalidade, no qual nada poderá dominar você. Isto é Watsu”. [2]. Estresse Estresse é o conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa, e outras capazes de perturbar a homeostase (equilíbrio). O estresse pode ser fisiológico, quando ocorre uma adaptação normal (chamado de estresse positivo), ou patológico em indivíduos mal adaptados (estresse negativo). No do tipo fisiológico, predominam as reações desencadeadas de luta ou fuga encarregadas de preparar o homem para enfrentar ou fugir. Estas reações são controladas pelo hipotálamo. Em condição patológica registrase uma disfunção causando simples distúrbios transitórios até doenças graves [1]. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 O tônus muscular pode ser modificado pelo estresse. Estados psíquicos anormais modificam consideravelmente o grau de estimulação nervosa destinado à musculatura esquelética, aumentando ou diminuindo o tônus muscular [3]. Situações estressantes que envolvam o psiquismo, conflitos psicológicos, ansiedade e angústia causarão variações do tônus muscular ou postural de ordem passageira ou permanente. O coração também pode ser vítima do estresse. Uma ativação repetida e crônica do sistema nervoso autônomo, numa pessoa que já tenha problemas de lesão da camada interna das artérias coronárias pode provocar alterações como diminuição do fluxo sanguíneo, ruptura da parede dos vasos enfraquecidos e até arritmias [4]. Principais sintomas A pessoa estressada encontra-se cronicamente tensa, cansada e irritada. Há um comprometimento da criatividade e da flexibilidade. É comum apresentar quadro de astenia, tensão muscular elevada, com presença de câimbras e formação de bandas tensas na musculatura, lombalgias e braquialgias. A expressão facial dos indivíduos mostra a testa franzida, há a presença de cefaléias constantes e as unhas são roídas. O estressado alimenta-se mal, apressadamente, apresenta transtornos digestivos, pode dormir demais ou ter insônia. Quanto ao aspecto sexual, acontece a falta de libido ou a hipersexualidade, quando o indivíduo tenta descarregar sua tensão no ato sexual. É como uma reação em cadeia, em que os problemas vão gerando mais problemas, e um aspecto da vida passa a interferir nos outros [5]. É importante lembrar que o estresse não é uma doença, é um estado de desequilíbrio corpo - mente que se instala em uma pessoa quando seu organismo é submetido a uma série de tensões [6]. Relaxamento O relaxamento é o que se sobrepõe ao estresse, que reforça a homeostase, que diminui a angústia e a emotividade, que proporciona a harmonização dos elementos do organismo [6]. A reação relaxamento pode ser desen- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 cadeada voluntariamente pelas técnicas de relaxamento (Jacobson, Mitchell, Shultz, Sandor, entre outros), provocando um hipometabolismo, caracterizado pela diminuição da pressão arterial (quando elevada) e dos batimentos cardíacos, assim como redução da freqüência respiratória. Utilização da água aquecida para obtenção de relaxamento Prolongada tensão muscular pode causar disfunção articular. A articulação afetada entra num ciclo de dor, espasmo muscular, estocagem de metabólicos e movimentos enfraquecidos. A partir desses conceitos, elegeu-se a água aquecida como alternativa de tratamento. A água aquecida promove um relaxamento muscular, aumenta a circulação, reduz espasmos e reduz efetivamente o nível de dor, interrompendo o ciclo da dor [7]. Técnicas para relaxamento na água A aplicação de calor superficial ou profundo antes da sessão na piscina aumenta a extensibilidade dos tecidos encurtados. Após o término, auxilia a manutenção do relaxamento muscular. Diversas técnicas de massagens podem ser aplicadas. Pode-se trabalhar em pontos enrijecidos, ou corpo todo com o paciente auxiliado por flutuadores. A flutuação diminui o peso nas articulações consequentemente amenizando as dores articulares, facilitando o relaxamento. Efeitos terapêuticos da água aquecida O relaxamento muscular promove uma redução da tensão muscular, ajudando a prevenir restrições na mobilidade articular. Interrompido o ciclo da dor, promove-se o relaxamento dos músculos espásticos, o que reduz o tensionamento muscular através dos efeitos relaxantes da água aquecida [8]. O aumento da temperatura corporal subsequente à imersão, reduz o tônus muscular anormal e espástico, favorecendo ainda o fluxo sanguíneo periférico. Facilita-se a movimentação das articulações doloridas, devido à diminuição da compressão possibilitada pela propriedade de flutuação promovida pela água [7]. 35 Os fluxos do Watsu O Watsu se desenvolve através de fluxos de energia. O alongamento passivo, mobilização articular e o deslocamento de Zen Shiatsu associados à respiração conduzem a um efeito de relaxamento corporal e mental do paciente [2]. Fluxo Transicional: consiste nas transições, meios de se movimentar de uma posição para outra promovendo um senso de continuidade auxiliando no relaxamento. Fluxo Único: é indicado para pessoas que não são flexíveis o suficiente para as posições mais complexas do Watsu. Fluxo Expandido: é um fluxo mais avançado, tem sua base nos alongamentos adicionais e trabalho de pontos do Shiatsu (nos meridianos) [9]. Paralelo a estes três fluxos, técnicas incluem o fluxo livre, que é composto por quietude em movimento. Posições do Watsu Há dois tipos de posições no Watsu: simples e complexas. Os movimentos simples incluem os movimentos básicos e a flutuação livre. Outras posições simples são nomeadas pela parte do corpo que é suportada pelo ombro do terapeuta ou posição superior do braço, incluindo: acima da cabeça, abaixo do braço, abaixo do quadril e abaixo da perna. As posições complexas são chamadas de berço (do inglês, cradle) [2]. No berço, o terapeuta captura ou embala o paciente entre seu corpo e um de seus braços, assim libertando a outra mão para trabalhar o resto do corpo do paciente. As sessões são sequenciadas de maneira que cada berço seja mais difícil que o anterior. Antes de iniciar O paciente deverá ser avaliado para excluir qualquer condição onde pressão e estiramento estejam contra indicados. A aceitação do meio líquido e o conforto do paciente na posição supina flutuando com o pescoço em extensão devem ser questionados antes de iniciar a sessão. Abertura Abertura é a posição inicial da sessão de 36 Watsu. Caso a piscina apresente uma parede onde o paciente possa se apoiar, a sessão iniciase na parede. Se a piscina não apresentar uma parede adequada, o paciente poderá sentar-se nos degraus ou nas margens. A sessão ainda pode começar em pé no meio da piscina ou flutuando a partir da borda. Importante lembrar que o Watsu deverá ser iniciado em um local para o qual o paciente possa retornar ao final. Começando na parede Orienta-se o paciente para encontrar a posição mais confortável apoiando suas costas contra a parede, pernas com base alargada e concentração na retificação de sua coluna. Deve-se sentir o suporte proporcionado pela parede. Após endireitar-se, o paciente deverá se afastar da parede com os olhos abertos, caminhando para o meio da piscina. A sessão de Watsu estará concluída quando retornar à posição inicial e sentir o suporte da parede em suas costas novamente. Entregando-se à água O terapeuta mantém-se em frente ao paciente, longe o suficiente para que seus braços, flutuando na sua frente, não toque os do paciente. As pernas do paciente devem permanecer estendidas e no mesmo lugar, deixa-se o corpo afundar e levantar naturalmente com a respiração. Quando parecer que o paciente rendeu-se o máximo possível para a água, deverá ser orientado verbalmente para fechar os olhos e permitir que a água, na expiração, o empurre para cima. O terapeuta, então, caminhará em direção ao lado direito da face do paciente, colocando seu braço esquerdo sobre o direito do paciente permitindo-lhe flutuar. O antebraço direito do terapeuta é colocado sob o cóccix do paciente para elevar o corpo em direção à superfície enquanto inspira. Esta é a primeira posição e o primeiro contato físico. Pode-se iniciar o Watsu a partir da direita ou esquerda, dependendo do seu lado dominante. Nessa descrição as posições são realizadas primeiro à direita e então, alternadas com a esquerda. Movimentos básicos Dança respiratória na água Mantém-se os antebraços em posição de Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 pronação relaxada, com o braço esquerdo sob a cabeça do paciente e o antebraço direito sob o cóccix, e não sob a coluna lombar, cuja pressão causaria aumento da extensão da coluna. Em posição estática, promove-se um leve afundamento do paciente na expiração erguendoo na inspiração com o mesmo ritmo respiratório do paciente. Quando trabalhar com alguém tão leve que o corpo não afunde, pode-se colocar o antebraço sobre o abdômen para permitir que o paciente afunde a cada expiração. Caso as pernas estejam rígidas coloca-se o braço sob os joelhos, encorajando-o a fletir e relaxar, e o suporte do braço pode retornar para a posição sob o cóccix. Caso o paciente seja muito pesado, antes que o terapeuta entre em fadiga, o próximo movimento básico, a sanfona (do inglês: accordion), poderá ser iniciado. A Sanfona Este movimento básico permite manuseio mais fácil dependendo se o peso do paciente é suficientemente baixo. Após completar a dança respiratória (ou quando o braço direito estiver cansado), o terapeuta lentamente abre os braços do paciente, enquanto ambos participam da inspiração. Com o antebraço esquerdo no occipital, o paciente é puxado para longe do antebraço direito, o qual é colocado sob os joelhos. Durante a expiração, o tronco do paciente afunda um pouco. Repete-se o processo com a abertura dos braços na inspiração e fechamento na expiração. Os joelhos e o tórax se aproximam gradualmente sem esforço. Entretanto se a resistência nos joelhos e quadril restringir a flexão, o joelho pode ser ressaltado gentilmente e o tronco manuseado para um alinhamento mais vertical a cada expiração, encorajando o paciente a ter os quadris fletidos por favorecer a mudança do peso. Enquanto os joelhos são trazidos mais próximos do tórax, com a expiração, deve-se aumentar o tempo em que os braços estão juntos, permanecendo mais longe do ápice da respiração. Similarmente, os braços abrem-se mais a cada inspiração. Sanfona em rotação Uma vez que os joelhos do paciente tenham se aproximado o máximo possível do tórax, a Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 abertura e fechamento da Sanfona se faz contínuo com a respiração. Após cada abertura dos braços o terapeuta permanece mais alto e apoiado na frente, estende o braço direito por sob lado esquerdo do paciente, enquanto ambos expiram, permitindo ao quadril girar através do seu corpo. Após cada aproximação abrese os braços na inspiração, balançando as costas, promovendo uma balanço para o quadril do paciente. Rotação da perna próxima Enquanto inicia-se o balanço das costas para abrir os braços, permite-se que a perna mais distante do paciente escorregue dos braços. Sem quebrar o ritmo, inclina-se para rodar a perna próxima através do ombro esquerdo, concomitante com a expiração. Os movimentos de balanço tornam-se progressivamente mais amplos, afundando as costas para dentro da água na inspiração. Enquanto rodase a perna direita, apoiada pelo cotovelo direito, aplica-se um alongamento na perna mais distante (esquerda) através da resistência da água, enquanto movimenta-se o paciente em torno do sentido horário. Se o joelho do paciente não aproximar o suficiente do tórax para realizar o próximo “berço”, continue com o fluxo único ao invés do completo. Portanto, o objetivo deste trabalho foi investigar os efeitos que se poderia obter sob ação da técnica de Watsu em pacientes sob condição de estresse e com sintomas de dores nas costas por tensão postural. Material e métodos Sujeitos experimentais Realizaram-se sessões de Watsu em 18 pacientes com idade entre 20 e 60 anos, ambos os sexos, profissões diversas e escolaridade variando entre primeiro grau e curso superior, sofrendo sintomatologia de estresse psicofísico com repercussões na tensão da musculatura postural. Descrição do local Conduziu-se o experimento numa clínica na cidade de Fernandópolis (SP), em piscina coberta e aquecida. A dimensão da piscina utilizada foi de oito metros de comprimento, 37 quatro metros de largura, um metro e quarenta centímetros de profundidade, bordas regulares, escada de alumínio com três degraus e duas barras de alumínio de cada lado. Situada em ambiente totalmente fechado, com paredes pintadas de azul claro. A cobertura é de telhas de zinco com refrigeração feita por dois exaustores. Utilizou-se sistema elétrico para aquecimento da piscina, sempre objetivandose temperaturas entre 34°C à 36°C. Para melhores resultados, providenciou-se pouca luminosidade durante as sessões experimentais, acompanhadas de músicas suaves tocadas com volume baixo. Procedimentos Utilizaram-se flutuadores do tipo tornozeleira para os paciente que apresentaram dificuldade em permanecer naturalmente na superfície da água. Registrou-se ao início e ao final de cada sessão, parâmetros como pressão arterial, freqüência cardíaca e freqüência respiratória. Atentou-se para o monitoramento individualizado e evolução das sessões de Watsu através da utilização de questionário aplicado ao início e final do tratamento. O trabalho constituiu-se de cinco sessões aplicadas por terapeuta treinado e com formação na técnica, individualmente. Cada sessão teve a duração média de cinqüenta minutos, sendo os primeiros quinze minutos destinados aos movimentos básicos, quinze minutos seguintes para trabalho do lado direito, quinze minutos para o lado esquerdo e os cinco minutos restantes para a finalização e retorno à parede. Evoluiu-se de maneira a ajustar cada sessão às particularidades de cada paciente. Para os de menor flexibilidade explorou-se as posições do fluxo único e fluxo livre. Para os mais flexíveis, adicionou-se posições do fluxo expandido. Resultados e discussão Verificou-se no acompanhamento das pressões arteriais, demonstrada pela Figura 1, que poucas alterações ocorreram. Pelos dados anteriores de controle das pressões arteriais dos pacientes, observa-se que o tratamento favo- 38 receu a aproximação aos valores de normalidade da pressão de cada paciente experimental, em alguns casos incentivando a elevação para 120 mmHg a pressão sistólica e 80 mmHg a pressão diastólica. Analisando os dados individualmente, observou-se que nenhum dos participantes apresentava quadro de hipertensão, havendo um caso com características de hipotensão, não observada alteração no decorrer do tratamento. Segundo Skinner [10], a água aquecida a valores médios, pouco interfere na pressão arterial, podendo ocorrer variações em casos de hipertensão. Todavia, no acompanhamento das freqüências respiratórias, demonstrada na figura 2, observa-se a tendência de diminuição após as sessões de hidroterapia. Tal fato pode ser justificado pelo trabalho respiratório realizado ao início das sessões, levando a uma vasodilatação produzida pela imersão em água aquecida. A verificação do ritmo respiratório era realizada dentro da piscina, imediatamente após as sessões. A freqüência cardíaca também apresentou alterações, reduzindo-se após o tratamento como se observa na Figura 3. A média inicial foi de 84 batimentos por minuto (bpm) e a final de 78 bpm, o que eqüivale a menos 6 bpm, representando uma redução significativa. Os pacientes que apresentaram freqüências cardíacas acima de 90 bpm eram fumantes e gestantes, tendo havido alteração somente no caso dos fumantes. O relaxamento muscular, associado à vasodilatação e respirações profundas favorecem a diminuição da freqüência cardíaca [11]. Comparou-se o perfil dos pacientes e observou-se que 94% são do sexo feminino. Segundo Witkin [12], as mulheres experimentam alguns estresses que pertencem só a elas. Os homens não menstruam, não ficam grávidos, não passam pela menopausa, não precisam justificar seu estado civil ao empregador, nem seu comportamento sexual à família. As mulheres têm de lidar continuamente com as mensagens conflitantes com as da sociedade; espera-se que sejam atraentes, mas não sexuais; que tenham filhos, mas Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Fig. 1- Pressões Arteriais Médias (mmHg) tomadas no Início e ao Término do Tratamento Fig. 2 - Frequências Respiratórias Médias (RPM) tomadas no Início e ao Término do Tratamento com a técnica de Watsu Fig. 3 - Frequências Cardíacas Médias (BPM) tomadas no Início e ao Término do Tratamento com a técnica de Watsu Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Fig. 5 - Ilustração do momento de início do estabelecimento do relaxamento com a técnica de Watsu em pacientes com estresse que permaneçam infantis; que sejam afirmativas, mas não agressivas; que tenham um emprego, mas não negligenciem a família. Estes estresses especiais, fisiológicos e psicológicos, inteiramente femininos, resultam em sintomas de tensões mais freqüentemente que nos homens; sintomas que vão da falta de menstruação a incapacitantes crises de pânico; de dores de cabeça passageiras a anorexias, que constituem um risco de vida. Os homens freqüentemente não buscam recursos para aliviar sintomas do estresse; acreditam ser auto-suficientes e acabam sofrendo cada vez mais com as situações de conflito, dificultando a abordagem terapêutica por parte dos profissionais da saúde. Dos pacientes, 72% não praticavam esportes e apresentavam uma carga horária de trabalho de no mínimo 8 horas. Leite [4] diz, segundo a teoria bioenergética, que o homem necessita de trocas bioenergéticas dentro do ambiente em que vive, às vezes, sob intenso estresse e angústia. O exercício físico regular e correto, principalmente os aeróbios, permitem estas trocas bioenergéticas, ou seja, trata-se de uma forma de extravasar a energia acumulada e aliviar tensões. Além disso, há provas que a beta-endorfina e serotonina melhoram o humor e podem ser secretadas pelo cérebro em maior concentração sob ação da atividade física regular [3]. Durante o trabalho, 50 % dos indivíduos permanecem sentados a maior parte do tempo e 55 % queixam-se de dores na região cervical acarretando limitações na rotação do 39 pescoço, abdução e rotação externa do ombro. Segundo Gil-Coury [13], quando sentado o esforço de compressão sobre o disco é maior, diminuindo sua espessura, também sofre ação do tônus dos músculos paravertebrais, necessário para manutenção da estática e da extensão do tronco. A posição sentada significa permanecer com o segmento cervical em semiflexão exigindo grande esforço dos músculos paravertebrais. O excesso de tensão no tônus muscular por tempo prolongado promove diminuição nutricional dos tecidos, espasmo muscular, rigidez articular, dor, limitação articular, criando um ciclo de dor. Queixaram-se de dor 94% dos pacientes com intensidade variando de 4 à 10, cuja média foi de 6,9; 62 % deles já haviam procurado recursos fisioterápicos, obtendo resultados insatisfatórios. No questionário final, a dor foi objeto de avaliação pela escala analógica visual, e na figura 4 nota-se uma diminuição significativa na intensidade da dor dos pacientes após o período de tratamento, variando de 0 à 5, cuja média foi de 2,2. Comparando a intensidade inicial de dor que alcançou a média de 6,9 com a final de 2,2, nota-se um resultado considerável na diminuição do quadro álgico. O trabalho com Watsu não foi associado à fisioterapia clássica e muitos cessaram a utilização de fármacos (analgésicos e calmantes) durante o período de tratamento hidroterápico. Acredita-se que o relaxamento promovido pela técnica de Watsu associados outros fatores como o calor da água [11], a mobilização em alongamentos [3], o alívio das pressões discais sob a água [10] podem ter contribuído para a diminuição de 4,7 a intensidade de dor presente nos pacientes. Após as sessões, os pacientes diziam sentir-se bem, com o corpo leve e uma sensação de extrema tranqüilidade. Vários participantes comentaram que a harmonia sentida durante as sessões estendia-se para o dia seguinte, refletindo-se em maior ponderação nas decisões relativas as situações conflitantes. Obteve-se bons resultados na qualidade do sono, dos quais 72% sentiram que melhorou e 23% continuou inalterado. Ao término de cada sessão, os pacientes relatavam que estavam com sono e que a vontade era de permanecer na piscina até dormir. 40 A diminuição da dor associada às orientações da vida diária e ao equilíbrio emocional contribuíram para um maior rendimento no trabalho, como relatado por 95 % dos participantes. Observou-se que os pacientes que apresentavam limitação articular relataram dores nas mesmas durante as primeiras sessões, amenizada na quarta e quinta sessão. Ao término das sessões experimentais, 45% dos participantes decidiram continuar o tratamento. No questionário aplicado, observou-se, além da diminuição da dor, informações como o aumento do rendimento no trabalho e melhoria do sono. O Watsu promove maior flexibilidade, serenidade, menos cansaço, alívio das tensões, disposição para realizar atividades da vida diária, melhoria do humor, controle da irritabilidade, e alguns relataram verbalmente que o Watsu beneficia o corpo, a mente e a alma. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Referências 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Conclusões Pode ser concluído com os resultados deste trabalho que a atividade física programada utilizando as técnicas de Watsu pode ser um bom método para controle do estresse. Outro dado importante foi a observação de que o uso da hidroterapia em água aquecida parece ser um bom auxiliar como agente de controle do estresse, assim como no controle das algias vertebrais e melhora no estado de humor e desenvoltura para o trabalho de indivíduos que padecem deste mal que acomete o homem dos tempos modernos. 9. 10. 11. 12. 13. Raymond C. Stress- The Real Millenium bug. Stress News 2000;12(4). Dull H. At the heart of watsu. http:// www.waba.edu/watsu1998. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: Fundamentos e técnicas. 3ª edição, Editora Manole, 1998, 746 p. Leite PF. Fisiologia do Exercício. 3ª ed. São Paulo, Robe Editorial, 1993, 300 p. Jacobson E. Relax: Como vencer as tensões. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 41 Artigo original Análise funcional da complacência torácica na doença de Parkinson Sônia Regina Cardoso*, João Santos Pereira** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestre em Motricidade Humana pelo PROCIMH - Universidade Castelo Branco, Fisioterapeuta **Doutor em Medicina pela UNIFESP, Neurologista Palavras-chave: musculatura respiratória, amplitude torácica, doença de Parkinson Resumo Foram selecionados 40 parkinsonianos nos estágios I a III de Hohen-Yahr, na fase on e outro grupo controle com indivíduos não parkinsonianos com as mesmas características. Mediram-se tanto a amplitude torácica total, como a inspiratória e expiratória, através da perimetria. Os resultados foram submetidos à análise estatística, evidenciando-se diferença estatisticamente significativa, com p = 0,00001. Concluiu-se que a amplitude torácica constitui um fator determinante nas alterações funcionais respiratórias do parkinsoniano, devendo ser valorizada no tratamento fisioterápico para melhora das condições físicas e qualidade de vida. Key-words: respiratory muscle, thoracic amplitude, Parkinson's disease Abstract It was selected 40 Parkinson's patients with Hohen and Yahr stages I-III, in the phase on and other group controls with individuals without Parkinson's disease and with similar characteristics. It was assessed the total, inspiratory and expiratory thoracic amplitude through the thoracic perimeter. The results were submitted the statistical analysis, being evidenced difference significant, with p = 0,00001. It was ended that the thoracic amplitude constitutes a decisive factor in the breathing functional alterations of the Parkinson's patients so should be valued in the physical therapy for improvement of the physical conditions and life quality. Endereço para correspondência: Sonia Regina Cardoso, Mestrado/Universidade Castelo Branco, Avenida Santa Cruz, 1631 Realengo, 21710-250 - Rio de Janeiro - RJ 42 Introdução A doença de Parkinson (DP) é uma patologia de característica progressiva que acomete o Sistema Nervoso Central, envolvendo os gânglios basais e ocasionando distúrbios motores com comprometimento do tônus muscular, da postura e da marcha, reduzindo a capacidade física e a qualidade de vida do indivíduo. Tendo como principal característica o aparecimento da rigidez, da bradicinesia e do tremor, observamos também o aparecimento de distúrbios autonômicos e depressão psíquica. Ultimamente tem-se dado mais importância para outros distúrbios com igual importância na sintomatologia, como alterações na fonação, na deglutição e na visão, assim como os distúrbios respiratórios. O que se tem observado é que quanto maior for a complexidade da atividade a ser desenvolvida, mais difícil será a resposta motora, evidenciando-se desta forma a lentidão e hesitação [3, 8, 10]. A mobilidade torácica nos parkinsonianos encontra-se comprometida devido à rigidez da musculatura intercostal, observando-se a postura encurvada e fixa, surgindo em decorrência disto contração seletiva dos músculos flexores, adutores, pronadores, flexores plantares, cervicais e torácicos, ocasionando a diminuição ou ausência dos reflexos posturais, tais como as reações de endireitamento, de equilíbrio e de extensão protetora, alteração do equilíbrio e alterações no processamento das informações vestibulares e proprioceptivas. A flexão persiste até mesmo em decúbito dorsal, caracterizando-se o chamado "sinal do travesseiro", ou seja, a permanência da suspensão da cabeça e posterior queda lenta quando a mesma é privada repentinamente de suporte [10]. Na coluna vertebral cervical e torácica, observa-se artrose e outras alterações como a cifoescoliose, as quais reduzem a mobilidade até mesmo para o movimento passivo da coluna vertebral e se relacionam com a presença de restrição pulmonar [11]. Como a DP acomete indivíduos com idade média acima de 50 anos, observa-se que a alteração morfológica, especialmente da configuração torácica, impede que se mantenha a mecânica respiratória fisiológica. A hipercifose torácica e a calcificação das carti- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 lagens intercostais limitam a expansão do tórax, resultando na diminuição da complacência da parede torácica e da capacidade respiratória máxima. Percebe-se que os idosos não conseguem realizar inspirações profundas, observando-se ainda, o aumento da freqüência respiratória e a presença de tosse, dispnéia e ruídos pulmonares anormais, como as crepitações nas bases pulmonares [7, 8]. A intercorrência de infecções respiratórias não é rara nos parkinsonianos, sendo favorecida pela progressiva inatividade somando-se a outras complicações como a osteoporose, alterações vasculares, contraturas e deformidades em partes moles, úlceras de decúbito e distúrbios urinários [10]. Deste modo resolvemos realizar um estudo comparativo com intuito de analisar as diferenças da amplitude torácica em parkinsonianos e sua influência nos distúrbios respiratórios. Metodologia Procedeu-se a seleção dos indivíduos parkinsonianos, em acompanhamento no Ambulatório de Distúrbios do Movimento do Serviço de Neurologia do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), nos estágios I a III da Escala de Hohen-Yahr e sob o efeito da medicação, isto é, na fase "on". Dos 100 pacientes atendidos, foram selecionados 40, com idade de 50 a 80 anos que preenchiam os critérios exigidos. Destes 21 eram do sexo masculino e 19 do feminino. O grupo controle era constituído por 40 indivíduos nãoparkinsonianos, que apresentavam características semelhantes aos parkinsonianos quanto à idade, sexo e atividades funcionais desempenhadas. A presença de doenças pulmonares, cardiovasculares graves, psiquiátricas ou deficiências físicas que pudessem influenciar na avaliação, assim como reações adversas às drogas prescritas, foram consideradas critérios de exclusão. A avaliação foi realizada regularmente, no período da manhã, ocasião em que era explicado, verbal e individualmente aos paciente e acompanhantes o objetivo da pesquisa. Após tomarem ciência, os participantes assinaram Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 a Carta de Consentimento e prestaram, a seguir, as informações para o preenchimento da Ficha de Anamnese ¾ identificação do indivíduo, quanto ao nome e idade, e investigação, especialmente, da capacidade para atividades funcionais, patologias apresentadas, tratamentos realizados e sintomatologia relacionados direta ou indiretamente com a função respiratória. Considerou-se, ainda, para os parkinsonianos o início da doença e a medicação atualmente utilizada. Para a medida da Amplitude Torácica empregou-se uma trena metálica Mabo, modelo Simplix, medindo até 100 cm de circunferência e cuja precisão de medida é de 0,1 cm para registrar, em centímetros (cm), o perímetro torácico, no nível do apêndice xifóide, ao fim de uma expiração normal, em uma inspiração máxima e em uma expiração máxima, estando o indivíduo em pé. 43 TABELA 1. Características da amostra: grupo, sexo e faixa etária Fem Grupo NP P Geral Faixa Etária Absoluto Relativo Absoluto Relativo Absoluto Relativo A 5 13,2% 5 13,2% 10 26,3% B 5 13,2% 5 13,2% 10 26,3% C 9 23,7% 9 23,7% 18 47,4% 19 50,0% 19 50,0% 38 100,0% Grupo NP Faixa Etária Absoluto Relativo A 6 14,3% B 8 19,0% C 7 16,7% 21 50,0% 21 Masc. P Absoluto 6 8 7 50,0% Relativo 14,3% 19,0% 16,7% 42 Geral Absoluto Relativo 12 28,6% 16 38,1% 14 33,3% 100,0 FIG. 1. Características da amostra: grupo, sexo e faixa etária Resultados Utilizou-se a estatística descritiva, no sentido de caracterizar o universo amostral pesquisado e a estatística de inferência, com o Teste ANOVA One way (Análise de Variância), combinado com o Teste de Tukey, objetivandose, a comparação inter- Grupos (Parkinsonianos e Não-Parkinsonianos) das médias encontradas na variável analisada. No sentido de verificar as possíveis relações funcionais de proporcionalidade utilizou-se o Teste de correlação de Pearson. Foi considerado como o nível de significância p < 0,05. A amostra era constituída de 80 indivíduos, sendo 40 parkinsonianos (P) e 40 nãoparkinsonianos (NP). De cada grupo (Gr) participaram 21 do sexo masculino (Masc) e 19 do feminino (Fem). A idade, de 65,5 ± 9,3 anos, também foi equivalente entre os grupos, classificada em três faixas etárias (fx Etária): de 50 a 59 anos (A), de 60 a 69 anos (B) e de 70 a 80 anos (C). Estes resultados se caracterizam na Tabela 1 por valores absolutos e relativos e na Figura 1 evidencia a representação gráfica da amostra. A avaliação das distribuições quanto aos parâmetros discricionários Grupo, Sexo e Faixa etária, evidenciou diferenças significativas (p = 0,00001), entre as médias das respectivas faixas consideradas, A, B e C, distribuídas nesta ordem ascendente. Para os demais parâmetros e cruzamentos, não foram observadas diferenças significativas (p < 0,05) (Tabela 2). TABELA 2. Análise quanto ao grupo, sexo e faixa etária Idade F Geral 137,819 Grupo 0,000 Sexo 0,065 Fx Etária 273,580 2 - Interações 0,453 Gr Vs Sexo 0,000 Gr Vs Fx Eta 0,000 Sex Vs Fx Eta 1,132 p Tukey 0,00001 1,0000 0,8023 0,00001 0,8099 1,0000 1,0000 0,3282 Existe Diferença Iguais Iguais A<B<C Iguais Iguais Iguais Iguais Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 44 A amplitude torácica inspiratória, determinada pela perimetria inspiratória (PerimIF), mediu 0,9 ± 0,5 cm nos P e 2,2 ± 0,6 cm nos NP, caracterizando diferença entre as médias dos grupos P e NP; a do grupo P era significativamente menor (p = 0,00001) que a do grupo NP. Os demais parâmetros e seus cruzamentos, não evidenciaram diferenças significativas entre as médias (Tabela 3 e Figura 2). TABELA 4. Análise da PerimEF PerimEF F p Geral 31,374 Grupo 120,077 Sexo 0,154 Fx Etária 2,439 2 - Interações 3,064 Gr Vs Sexo 4,299 Gr Vs Fx Eta 0,369 Sex Vs Fx Eta 5,201 Tukey 0,00001 Existe Diferença 0,00001 P < NP 0,7000 Iguais 0,0947 Iguais 0,0147 Iguais 0,0418 PF=PM<NPF=NPM 0,6926 Iguais 0,0078 FA=FB=FC=MC<MA=MB TABELA 3. Análise da PerimIF PerimIF Geral Grupo Sexo Fx Etária 2 - Interações Gr Vs Sexo Gr Vs Fx Eta Sex Vs Fx Eta F p Tukey 40,263 150,238 3,897 2,900 1,510 1,704 0,107 2,828 0,0000 0,0000 0,0523 0,0616 0,1979 0,1960 0,8986 0,0659 Existe Diferença P < NP Iguais Iguais Iguais Iguais Iguais Iguais FIG. 3. Médias e DP da PerimEF FIG. 2. Médias e DP da PerimIF A amplitude torácica expiratória, determinada pela perimetria expiratória (PerimEF), mediu 1,0 ± 0,4 cm nos P e 2,1 ± 0,5 cm nos NP, demonstrando diferença entre as médias dos grupos P e NP; a do grupo P se apresentou significativamente menor (p = 0,00001) que a do grupo NP. Foram observadas, ainda, diferenças significativas quanto ao grupo P do sexo F e M, respectivamente menores (p = 0,0418) que as do grupo NP, de ambos os sexos; a média equivalente encontrada nos grupos do sexo F de faixa etária A, B, e C, e do sexo M de faixa etária C, foi menor do que no sexo M nas faixas A e B. Nos demais parâmetros e seus cruzamentos, não se apresentaram diferenças significativas entre as médias (Tabela 4 e Figura 3). A amplitude torácica total (Ampl TOT), resultante do somatório da PerimIF com a PerimEF, apresentou-se compatível com as médias das suas componentes; mediu 1,8 ± 0,8 cm nos P e 4,3 ± 1,0 cm nos NP, o que deixou claro a diferença entre as médias dos grupos P e NP; a do grupo P foi significativamente menor (p = 0,00001) que a do grupo NP. Também constataram-se diferenças significativas quanto aos indivíduos do sexo F de faixa etária A, B, C, e do sexo M de faixa etária C, cujas média foram menores (p = 0,0138) que as observadas nos indivíduos do sexo M, das faixas etárias A e B. Quanto aos demais parâmetros e seus cruzamentos, não foram caracterizadas diferenças significativas entre as médias (Tabela 5 e Figura 4). TABELA 5. Análise da Ampl TOT Ampl TOT F Geral 41,933 Grupo 159,492 Sexo 1,753 Fx Etária 2,757 2 - Interações 2,486 Gr Vs Sexo 3,291 Gr Vs Fx Eta 0,050 Sex Vs Fx Eta 4,557 p Tukey 0,00001 Existe Diferença 0,00001 P< NP 0,1898 Iguais 0,0704 Iguais 0,0394 Iguais 0,0739 Iguais 0,9510 Iguais 0,0138 FA=FB=FC=MC<MA=MB Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 FIG. 4. Médias e DP da Ampl TOT Discussão Considerando o processo normal de envelhecimento pulmonar, deve-se ressaltar a diminuição da elasticidade pulmonar, a redução do estímulo neural para a musculatura respiratória, o enfraquecimento dos músculos intercostais e abdominais, o estreitamento das pequenas vias aéreas e a dilatação alveolar, especialmente nas porções periféricas do pulmão, diminuindo os controles automático e mecânico da ventilação, acarretando a presença de um ritmo respiratório irregular ¾ como o de Cheyne-Stokes e a apnéia do sono, assim como alterações da expansibilidade, a capacidade e fluxos pulmonares, além de aumento do volume residual e a da capacidade residual funcional. Em decorrência das alterações do parênquima pulmonar, da rede alveolar e do aumento do espaço morto pulmonar, estas passariam a ser mal perfundidas, acarretando em distúrbios na troca gasosa alveolocapilar, ocasionando queda da tensão arterial de oxigênio (PaO2) e desequilíbrio na ventilaçãoperfusão, identificando-se hipoxemia, por diminuição de O2 e hipercapnia, por aumento do CO2, na corrente sangüínea. Outras deficiências sistêmicas como a diminuição do débito cardíaco, a redução dos capilares e a fibrose nas arteríolas e vênulas pulmonares, resultando em uma ventilação menos uniforme e hipoventilação alveolar, também podem estar presentes. Fatores ambientais, como a poluição e o tabagismo contribuem para prejudicar o mecanismo mucociliar de defesa da árvore brônquica, ocorrendo obstruções brônquicas, agravadas pelo amortecimento do 45 reflexo tussígeno e enfraquecimento muscular. O fluxo expiratório deixa de ser eficiente, pela anquilose das articulações costo-vertebrais e pelo aumento do diâmetro antero-posterior do tórax, que tornam mais difícil a redução da caixa torácica [2, 5, 13]. Em nosso estudo a medida da amplitude torácica total evidenciou-se nos parkinsonianos, significativamente menor que a dos não-parkinsonianos. Tal resultado caracteriza acentuada diminuição da mobilidade torácica nos parkinsonianos, durante a respiração. Ao mesmo tempo, observou-se que a amplitude torácica respiratória encontra-se diminuída em todas as idades do sexo feminino e acima dos 60 anos no masculino. Proporcionalmente, a medida da amplitude torácica inspiratória (PerimIF), mostrou-se nos parkinsonianos, significativamente menor do que nos não-parkinsonianos, demonstrando acentuada diminuição da mobilidade torácica dos parkinsonianos, durante a inspiração máxima, repercutindo no aumento do trabalho muscular inspiratório e na diminuição da expansibilidade pulmonar. A medida da amplitude torácica expiratória (PerimEF) revelou-se, nos parkinsonianos, notavelmente menor do que nos não parkinsonianos, caracterizando acentuada diminuição da mobilidade torácica nos parkinsonianos durante a expiração máxima, repercutindo no trabalho muscular expiratório e na limitação da retração torácica. Ao mesmo tempo a PerimEF encontra-se especialmente diminuída em todas as idades do sexo feminino e acima de 60 anos no masculino. Na literatura consultada, não encontramos este tipo específico de medida, não havendo, portanto, como relacionar com os resultados obtidos. Indiretamente, referindo-se à amplitude torácica, reconheceu-se que o tórax se encontra rígido e torna-se especialmente resistente aos movimentos rápidos, o que acarreta uma limitação progressiva da ventilação [9]. Observa-se uma limitação na amplitude do torax. Tal limitação pode ser associada as alterações posturais, por comprometimento das estruturas ósteo-articulares que compõem a caixa torácica, evidenciando-se a flexão postural fixa e rigidez da musculatura intercostal [8, 10]. Segundo Sabaté et al. [12], a pre- 46 sença de artrose e outros distúrbios como a cifoescoliose, reduziram a mobilidade da coluna vertebral e do tórax em 58 parkinsonianos, em acompanhamento ambulatorial. Sabaté et al. [11] mediram a amplitude, concluindo por correlacionar as alterações da coluna cervical e torácica com as disfunções pulmonares. Quantificaram a artrose da coluna cervical em 79% da amostra, agravada por degeneração discal em 44,4% e a artrose torácica em 47,3%, com degeneração discal em 21,8%, destacando a bradicinesia como um dos fatores intereferênciais. Embora haja limitações respiratórias, causadas pelas alterações posturais típicas do parkinsoniano, estas não estão diretamente ligadas à mortalidade por falência respiratória [6]. A bradicinesia e a rigidez na DP, além de determinarem dificuldade na execução e na repetição dos atos motores em geral, afetam os músculos respiratórios, levando-os a fadiga e consequentemente limitando a ventilação [15]. Desta mesma forma a disfunção respiratória na DP, contribui para os distúrbios da fonação, surgindo a "voz monótona" com redução na intensidade, também por comprometimento da musculatura oral e facial, dificultando a comunicação do parkinsoniano [8, 10]. Outra observação que pode ser correlacionada aos distúrbios respiratórios é a inatividade e o sedentarismo dessa população, acarretando em hipotrofia ou atrofia muscular, inclusive dos músculos respiratórios, traduzindo-se por diminuição da função fisiológica da mecânica tóraco-pulmonar. Embora possa estar sob controle volitivo, normalmente o ato respiratório se processa automaticamente, sem participação consciente do indivíduo, através de impulsos nervosos gerados nos centros respiratórios. Durante a respiração, os mecanorreceptores proporcionam informações sensoriais, inclusive aos fusos musculares, conforme o comprimento e a tensão dos músculos respiratórios, sendo determinados a inibição da atividade muscular respiratória, tanto inspiratória quanto expiratória, para a "apnéia"; a ativação dos músculos inspiratórios e a inibição dos expiratórios para a "inspiração" e a inibição dos inspiratórios e ativação dos expiratórios para a "expiração forçada". As pressões inspiratória Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 e expiratória, denominadas PImax e PEmax representam a força dos músculos envolvidos no processo respiratório, já que no seu mecanismo de contração a freqüência de impulsos no motoneurônio alfa aumenta, sendo mais neurônios recrutados, resultando no aumento da sua força. Este mecanismo pode estar comprometido na DP [1, 10, 14]. Ocorre desorganização no controle da contração e relaxamento dos músculos com atividade muscular intercostal e inspiratória simultânea [4]. Desta forma concluímos que a amplitude torácica constituiu-se no fator determinante, por excelência, da alteração funcional respiratória dos parkinsonianos, diminuída tanto na inspiração quanto na expiração. A limitação nos movimentos de elevação das estruturas do tórax, demonstra menor amplitude torácica na inspiração interferindo na ventilação fisiológica e acarretando a redução da expansibilidade pulmonar. Assim, redução da depressão do tórax, característica da limitação da amplitude torácica na expiração, impede a saída normal do fluxo expiratório. Tal diminuição da amplitude ocorre, apesar da evidencia de que os músculos inspiratórios e expiratórios se apresentaram potentes. Devese considerar a resistência imposta à mobilização do tórax tanto pela postura em flexão, como pela presença de rigidez torácica, típicas da DP, ao se iniciar um programa de fisioterapia respiratória para esses pacientes, contribuindo para melhorar sua qualidade de vida. Referências 1. 2. 3. 4. 5. Bethlem N. Pneumologia. 4aed. São Paul : Atheneu. 1996. Brandstetter Rd, Kazemi H. Envelhecimento do Sistema Respiratório. Clínicas médicas da América do Norte 1983;2: 441453. Bridgwater Kj, Sharpe Mh. Trunk Muscle Performance in Early Parkinson's Disease. Phys Ther1998;78(6):566-576. Brown LK. Respiratory dysfunction in Parkinson's disease Clin Chest Med 1994;15(4):715-727. Delisa JA. Medicina de Reabilitação. São Paulo: Manole, 1992. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 6. 7. 8. 9. 10. 11. Ebmeier Kp, Calder Sa, Crawford JR e cols. Mortality and causes of death in idiopathic Parkinson's disease: results from the Aberdeen whole population study. 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Respiratory muscle dysfunction in Parkinson's disease, Am Ver Respir Dis 1988;138(2):266-271. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 49 Artigo original Dança e equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular: Um estudo preliminar Wheelchair dance and trunk balance in spinal cord injured people: A pilot study Marta Simões Peres*, Carlos Alberto Gonçalves**, Claudia Barata*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestre em Ciências da Saúde, **Prof. Adjunto, Departamento de Ciências Fisiológicas, CFS/IB/ UnB, ***Neurologista, Clínica SOS Neurológica, Hospital Santa Luzia, Brasília DF Palavras-chave: lesão medular, dança, equilíbrio de tronco, cadeira de rodas Key-words: spinal cord injury, dance, trunk balance, wheelchair Resumo O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o efeito de um treinamento baseado em dança no ganho de equilíbrio de tronco em um grupo de pessoas com lesão medular. Investigamos o equilíbrio de tronco em 4 sujeitos, homens, portadores de lesão medular torácica, moradores de Brasília/ DF, Brasil, a partir do preenchimento de um protocolo de avaliação de atividades de vida diária aplicado antes e depois de um período de atendimento pela dança. Os dados do protocolo foram reduzidos a uma pontuação, através de um sistema de escalonamento pré-definido. A comparação das pontuações obtidas nos pré e pós-teste mostraram que houve um ganho de equilíbrio significativo nos 4 sujeitos. Esses mesmos resultados foram encontrados em estudo paralelo, no qual utilizou-se método computadorizado de análise postural. O incremento do equilíbrio de tronco após o treinamento por dança sugere que esta abordagem pode oferecer uma valiosa contribuição na recuperação de pessoas com lesão medular. Abstract The purpose of this study was to assess the influence of a dance-based treatment on the trunk balance of spinal cord injured people. Four paraplegic volunteers participated in this study Their trunk balance was assessed by daily life activities questionnaire answered before and after eight wheelchair dance classes based on body awareness techniques and lasting an average period of six weeks. Results showed significant balance improvement. A computer-based postural analysis, carried out in parallel, corroborated these results. The increasing of trunk balance after a dance-based treatment suggests that this can be an effective approach in spinal cord injured people rehabilitation. Endereço para correspondência: Marta Simões Peres, SHCES Qd 105 Bl B apto 403, Cruzeiro Novo 70650-152 DF, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 50 Introdução Além de ser uma modalidade de expressão artística, a dança também consiste numa atividade utilizada com fins terapêuticos. O crescente desenvolvimento das unidades de reabilitação de lesados medulares fez com que a equipe interdisciplinar integre profissionais de diversas especialidades, entre elas, o professor de dança em cadeira de rodas. Boswell (1993) cita que a dança criativa melhorou o equilíbrio dinâmico de crianças com retardo mental. Deusen (1987) relata que após um treinamento por dança, ao exame de goniometria, adultos com artrite reumatóide ganharam arco de movimento em articulações comprometidas. Ao longo de nossa prática profissional, foi observado que, além de ser mais uma opção de atividade física e de lazer para portadores de lesão medular, a dança em cadeira de rodas traz como benefício o ganho de equilíbrio de tronco. Entretanto, não há estudos na literatura que avaliem, nessa população, a eficácia da dança quanto à melhoria desta habilidade. Ressalte-se que o equilíbrio de tronco é fundamental para usuários de cadeira de rodas, durante seu manejo, na execução das atividades de vida diária e de posições de alívio de pressão visando a prevenção de escaras. O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito de um treinamento baseado em dança no ganho de equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular. Material e métodos Sujeitos Foram selecionados para este estudo 4 voluntários, homens, portadores de lesão medular torácica, moradores de Brasília, Brasil, com idade entre 20 e 40 anos e tempo de lesão variando entre 3 meses e 18 anos, sendo que 2 agudos e 2 crônicos (considerando para os últimos um tempo de lesão superior a um ano). Todos assinaram um Termo de Consentimento Livre e Espontâneo aprovado pela Comissão de Ética da UnB. Protocolo experimental Os sujeitos responderam a um protocolo de avaliação de atividades de vida diária nas quais seu equilíbrio é requisitado. Esse consistiu numa ficha composta de 10 itens em que questionava-se sua capacidade de realizar determinadas tarefas e cuja resposta poderia ser NÃO ou, no caso afirmativo, graduada nos níveis REGULAR, BOM e MUITO BOM, ao que foi atribuído, respectivamente, em nossa análise de resultados, os valores 0; 0,5; 1; e 2 pontos. Os itens variaram desde uma avaliação global de seu equilíbrio até questões relativas a apanhar objetos no chão e sobre um móvel, realizar transferências, higiene, cuidado pessoal e execução de posições de alívio de pressão. As respostas foram totalizadas, portanto, numa pontuação que poderia variar entre 0 e 20 pontos. Além disso, os voluntários foram solicitados a dar um depoimento livre sobre a experiência da dança em cadeira de rodas ao final da pesquisa. O protocolo de avaliação foi aplicado antes (pré-teste) e depois (pós-teste) de 8 sessões de dança, correspondentes a um período médio de 6 ± 2 semanas. Treinamento por dança O treinamento consistiu em 8 sessões de dança em cadeira de rodas, nas quais exercitaram-se movimentos globais, incluindo membros superiores, cabeça, auto-mobilização de membros inferiores e orientações para execução de posições de alívio de pressão. A abordagem baseia-se em técnicas de consciência corporal - Gerda Alexander, Rudolf Laban e Angel Vianna - em que busca-se manter, durante os movimentos, o contato com o próprio corpo adquirido no relaxamento. Além disto, as aulas baseiam-se em atividades lúdicas que visam oferecer imagens para o movimento, aumentar a motivação e diminuir a autocensura. Durante as atividades propostas são trabalhados, principalmente, os grupos musculares responsáveis pelos movimentos de flexão, extensão e inclinação lateral do tronco, visando tanto o fortalecimento quanto o alongamento. Resultados Os resultados, baseados na comparação dos pré e pós-teste, mostraram ganho de equilí- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 brio significativo nos 4 sujeitos As pontuações obtidas no pré e pós-teste foram as seguintes: Sujeito pré pós v1 v2 v3 v4 8,5 6,5 5,5 1,0 17,0 16,0 12,0 11,0 Em sua avaliação global do equilíbrio, todos consideraram que houve ganhos importantes. Quanto às tarefas mais incrementadas, devem ser ressaltadas as seguintes: apanhar objeto no chão e sobre móvel, execução de posições de alívio de pressão, para a frente e para os lados. Não apresentaram diferenças as tarefas de lavar a cabeça e empinar a cadeira de rodas. Além disso, os depoimentos livres nos forneceram um rico material relativo ao aproveitamento que os participantes tiveram da atividade, do qual citaremos como exemplo: “O equilíbrio ajuda muito a dar confiança no uso da cadeira de rodas”; “Agora abaixo sozinho, faço um bocado de coisa”; “Ganhei flexibilidade, equilíbrio na cadeira, confiança e bemestar. Quando a gente vê o que não fazia antes e consegue fazer, vê a diferença e aonde nossa capacidade pode chegar”; “Na realidade, o que a gente pensava que era limitação não era” (sic). Discussão Os resultados apresentaram um ganho de equilíbrio satisfatório para os quatro participantes, confirmando as observações da prática profissional com essa atividade, o que pode suscitar a realização de novos estudos sobre seus benefícios, visando o maior aproveitamento da dança em cadeira de rodas. No entanto, pode-se pensar nesse ganho como fruto de um ‘progresso natural’, associado mais à passagem do tempo do que à dança. Nesse caso, basta frisar que dois sujeitos possuíam lesão crônica, sendo, portanto, teoricamente bastante imunes a uma suposta ‘ação do tempo’. Estes achados foram confirmados por estudo paralelo, baseado em análise postural computadorizada (Peres, 2000). Estes achados iniciais podem ser enrique- 51 cidos, num estudo futuro, com um aumento do tamanho da amostra e da admissão de um grupo controle. Trabalhamos com uma amostra reduzida devido a dificuldades tais como a falta de disponibilidade, o desconhecimento da abordagem proposta, até à falta de interesse, pois existe muito preconceito, no meio masculino, contra uma atividade baseada em dança. Este fator tem seu peso aumentado quando os dados epidemiológicos evidenciam que a maioria dos portadores de lesão medular traumática é do sexo masculino. O estranhamento comum diante de um convite à participação numa atividade de dança em cadeira de rodas foi expresso em alguns dos depoimentos. Um estudo futuro pode buscar solucionar algumas novas questões, tais como: qual seria o número mínimo de sessões necessário para alcançar os objetivos e qual a importância da continuidade da prática dos exercícios aprendidos. Conclusão Os resultados acima evidenciam a eficácia do treinamento por dança sob o ponto de vista avaliado, pois os sujeitos apresentaram um ganho no controle dos movimentos de tronco. Portanto, além dos supostos benefícios emocionais decorrentes do prazer de dançar, o incremento do equilíbrio de tronco após essa abordagem sugere que ela pode oferecer uma valiosa contribuição na reabilitação de pessoas com lesão medular. Referências Alexander G. Eutonia; um caminho para a percepção corporal. 2.ed. São Paulo Anderson B. Alongue-se. São Paulo: Summus Editorial, 1983. Atwater S. Interrated Test-Retest Reliability of two Pediatric Balance Tests. Physical Therapy 1992;70(2). Barros Filho T. Avaliação padronizada nos traumatismos raquimedulares. 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The strecht exercice in RSI/OOS prevention: solution or palliative ? Luís Guilherme Barbosa* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestre em Engenharia de Produção da UFRJ, Grupo de Engenharia e Novas Tecnologias da COPPE/UFRJ, Professor Adjunto da Escola de Fisioterapia da UniGranRio, Professor Adjunto do UniFOA, Professor Assistente do Curso de Fisioterapia da UNIG, Professor Assistente da UVA Palavras-chave: ginástica laboral, qualidade de vida, prevenção Key-words: stretch exercise, life quality, prevention Resumo A ginástica laboral vem sendo aplicada em grande escala nas empresas. Nos últimos anos vários cursos rápidos de formação surgiram no mercado, mercado esse ocupado por fisioterapeutas, professores de educação física, terapeutas corporais, psicólogos, entre outros. Geram uma atividade com bela plástica, muito motivadora, em alguns casos, e com promessas enfáticas de prevenção das Lesões por Esforços Repetitivos / Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. Essa atividade é importante para chamada qualidade de vida no trabalho, mas não deve ser vista como a grande e, talvez única, solução de problemas que tendem a se apresentar com alto grau de complexidade. Abstract The stretch exercise techniques have been applied in the office environment. There are several courses to prepare physiotherapists, psychologists, physical education professionals, body therapists and others professionals. These physical activities promote a beautiful body expression and are regarded to motivate employees. These activities emphasize a preventive approach to Repetitive Strain Injuries / Overuse Occupational Syndrome. These practices constitute an important initiative to promote the quality life at work. Nevertheless, they can’t be seen as the best solution or supposedly the main solution to tackle the muscle-skeletal problems. Endereço para correspondência: Luís Guilherme Barbosa, Av. Automóvel Clube, 63, Sala 106, 25520-000 São João de Meriti, RJ, Tel: (21) 99 54 41 50, Tel/Fax: (21) 756 42 65. 54 1 - Introdução A Ginástica Laboral tem sido aplicada em larga escala nas empresas há alguns anos. Com a onda da qualidade de vida no trabalho esta prática invadiu a vida do trabalhador, tornando-se, em alguns Estados, uma verdadeira febre. Conhecemos esta metodologia preventiva de intervenção denominada de Ginástica Laboral nos idos de 1982 quando, então trabalhador nas plataformas de perfuração da Petrobrás, fomos enviados ao Japão com a missão de integrar a equipe de acompanhamento do transporte da Unidade de Perfuração Marítima 12 - UPM12, uma Sonda Semisubmersível de Perfuração Marítima construída no estaleiro da Mitsui, na cidade de Chiba. Durante os quinze dias que antecederam nossa viagem de retorno ficamos acompanhando os testes finais dos equipamentos, prova de mar e outros inerentes a preparação para entrega de uma embarcação. Foi nessa oportunidade que tivemos a grata satisfação de assistir, boquiabertos naquela época, à concentração de uma “micro cidade”, pois eram 8.000 empregados, para o acontecimento obrigatório de todas as manhãs, vinte minutos antes do início do trabalho - a atividade de ginástica preventiva de aquecimento. Se considerarmos que a melhor temperatura de trabalho muscular está na faixa de 36º [1], o que evita distensões e/ou dificuldades de resposta motora [2], responsáveis por tropeços, que podem se transformar em acidentes numa atividade repleta de riscos físicos. Atualmente, muitas empresas possuem academias em suas instalações, com professores especializados em trabalhos de capacitação física, prevenção de doenças cardiovasculares e estresse, tão como fisioterapeutas-ergonomistas especializados em prevenção de DORT’s, problemas posturais e respiratórios, todos se somando às atividades de saúde ocupacional. Mas essa não é uma realidade na maior parte das empresas, visto que estão lançando mãos do recurso da chamada Ginástica Laboral isoladamente, onde os trabalhadores param sua atividade de trabalho por alguns poucos minutos, em períodos pré-determinados, e realizam exercícios de alongamento, nos permitindo supor que o acompanhamento estreito e Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 sistemático deva ser um preciosismo suportado por empresas de grande porte, somente. Será a Ginástica Laboral suficiente para conter o avanço das DORT’s, ou estará sendo usada apenas como um paliativo, ou ainda, estará sendo aplicada com o intuito de atender a chamada - “para inglês ver?” Cabe ressaltar que essa discussão não tem por objetivo invalidar a Ginástica Laboral ou qualquer atividade semelhante, mas avaliar, frontalmente, uma prática antiga em nova denominação, afastando a mística das soluções mirabolantes e rápidas para problemas complexos. 2 - O modelo japonês O modelo usado na Mitsui consistia em um trabalho físico de aquecimento muscular, realizado durante vinte minutos por todos os trabalhadores, incluindo os contratados e fiscais de outras empresas, sob orientação proveniente de alto-falantes e demonstradas por monitores em patamares de madeira elevados a um metro e meio de altura. Esses exercícios, que aconteciam nas ruas do estaleiro, ou nos galpões, conforme as condições de tempo, tinham por objetivo aquecer e fortalecer a musculatura dos trabalhadores, principalmente os que iriam trabalhar nas atividades de instalação e manutenção a bordo das embarcações e oficinas. Se considerarmos que a temperatura no Japão é baixa, inclusive no verão, esse tipo de atividade funciona preventivamente para a grande maioria das pessoas, pois a demanda já começa no acesso às embarcações pelas “escadas de costado”. Os exercícios eram direcionados aos grupamentos musculares envolvidos, principalmente, nas atividades das pernas, dos ombros e do tronco. Tempos depois, em 1986, já no Brasil, tivemos a grata satisfação de participar da mesma atividade física, em missão semelhante, no estaleiro da Ishibras, no bairro do Caju, na cidade do Rio de Janeiro. O modelo é o mesmo e, pelo acesso que tivemos na época, os resultados também eram muito positivos. 3 - O modelo, que conhecemos, praticado no Brasil Atualmente, dentro do que temos visto e lido, adota-se um modelo de alongamento, coordenação motora e fortalecimento muscu- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 lar, com duração de até 12 minutos, como nos apresenta o artigo publicado na Revista CIPA [3]. Outros modelos não variam muito, apenas aumentando ou diminuindo a duração ou a freqüência da atividade. O SESI faz um trabalho muito bom nesse sentido, tão como muitas outras empresas especializadas, que se apresentam no mercado, demonstrando uma plástica belíssima e passando uma imagem de muito positivismo, o que deve ser considerado muito bom. Entretanto, analisando esse modelo e comparando-os com outros modos de intervenção desenvolvidos em empresas outras, como Xerox, Faber-Castell, jornal O Globo e Citibank, onde a ginástica laboral não é o centro da atividade, mas um elemento factível de ser aplicado, e como tem havido uma maciça divulgação desta metodologia de intervenção preventiva de modo tão independente, surgiram alguns questionamentos que julguei pertinentes colocar em discussão. 3.1 - Pontos importantes para profissionais e empresas, que aplicam esta prática 3.1.1. Os exercícios prescritos partem de uma análise ergonômica detalhada da atividade realizada pelo indivíduo, ou apenas a aplicação de algumas séries já tradicionais? 3.1.2. A duração de 12 minutos é suficiente para realizar alongamento de um grande número de grupos musculares e, se houver necessidade de aumentar a duração, não interfere na produtividade? 3.1.3. Os grupos são formados por pessoas da mesma faixa etária, ou ocorre a separação, que pode ser vista como segregação, mas que na ausência pode por em perigo os mais velhos ou não atingir os mais jovens, ou mesmo não atender a nenhum dos dois grupos? 3.1.4. A eficiência destas práticas, estando o indivíduo vestido para trabalhar, muitas vezes em espaços inadequados é razoável? 3.1.5. Todos os trabalhadores participam sem constrangimento, em presença de outras pessoas muita gente fica tímida - é a questão do ridículo social, que não pode ser substituído por um simples: - vamos lá, deixa de vergonha! 3.1.6. Auto-alongamento, do modo como é praticado, é realmente produtivo? Nossos clientes, em outras duas empresas, relatam, 55 constantemente, a dificuldade de realizarem os alongamentos sozinhos, ou seja, o resultado dos alongamentos musculares com intervenção de um profissional é mais eficiente. 3.1.7. Em ergonomia aprendemos a personalizar as situações, individualizar é o verbo, pois que todos somos diferentes física, psicológica e socialmente e vemos o direcionamento para que os horários sejam os mesmos, os exercícios idênticos, como se todos sentissem necessidade de alongar ao mesmo tempo, com mesma duração e os mesmos grupamentos musculares. 3.1.8. E o trabalho de conscientização postural inexiste, ou será que basta um pequeno número de exercícios, durante dez ou quinze minutos, para estimular a adoção de uma postura mais adequada? 4 - Evoluindo na discussão Os questionamentos anteriormente feitos não invalidam a prática da atividade laboral, entretanto é necessário deixar claro, muito claro, que a simples inserção da ginástica laboral, por si só, não produz o efeito mágico de redução das LER/DORT’s, podendo transformar-se em ação que mascará a identificação de sinais e sintomas iniciais de surgimento de problemas. Uma contratura severa passa por uma hipertonia leve, que gera um incômodo, que pode ser aliviado pela ginástica laboral, não sendo relatado e eclodir muito fortemente mais adiante; ou mesmo agravar o problema rapidamente, transformando o incômodo em dor aguda, provavelmente porque aquele exercício não era indicado para aquele grupamento muscular naquela situação, ou simplesmente pela realização errada do mesmo, gerando um acidente de trabalho [4]. É preciso focar na individualidade, trabalho que realizamos no Citibank e no Jornal O Globo, no fato de que somos diferentes, na questão de que as pessoas dentro das empresas são obrigadas, na maioria das vezes, a assumir posturas diferentes daquelas assumidas em uma academia de ginástica. Não pode ser desprezado o fato de que é preciso muito mais que uma simples atividade lúdica para aliviar uma tensão muscular, que os incômodos devem ser tratados separadamente muito antes de se tornarem dor efetiva. 56 A variáveis ligadas diretamente à ergonomia merecem atenção cuidadosa, pois que o correto entendimento da atividade do indivíduo, suas tarefas, os esforços realizados, as repetições de maior ou menor carga física, de maior ou menor carga psicológica e a análise biomecânica dessas atividades devem fornecer a base para prescrição dos exercícios. Permitem identificar as atividades físicas mais adequadas para cada indivíduo, podendo ser relaxamento e alongamento muscular [5], fortalecimento muscular [6], ou simples ajuste adequado do “layout” do posto de trabalho. A organização do trabalho não deve ser abandonada, em hipótese alguma, pois nela pode estar a chave para o insucesso de um programa deste tipo, por exemplo, ao “impor” a atividade a desafetos, onde um deles ou os dois possuam relação ruim com o próprio corpo tenderá a atrapalhar o trabalho ou terá sua eficiência comprometida. Ou ainda, permitir a demonstração de poder por parte de gerentes do tipo X, visto que um programa deste tipo não deve ter participação obrigatória, entretanto uma análise criteriosa possibilita a identificação das imposições tácitas praticadas em algumas organizações nas trocas de olhares, nas referências monossilábicas, nas entonações especiais da voz e outros códigos similares, característicos de cada organização, de cada “modus” de gerenciamento. Entender essas relações pode ser a chave para soluções mais profundas, pois que muitas pessoas podem estar participando a contra gosto, ainda que um sorriso, um tanto amarelo, esteja estampado no rosto. É fácil perceber que essas pessoas irão combater o programa, podem ser os que se afastam na primeira oportunidade, não pelas características intrínsecas ao mesmo, mas pelo que ele está representando para aquele determinado grupo. A própria insatisfação com a vida e com o trabalho que geram estresse adicional significativo [7], podem significar “inimigos” desnecessários ao programa, existindo apenas por não terem sido observados e identificados anteriormente As variáveis ligadas ao mobiliário devem ser contempladas fortemente, por serem elementos de grande interferência para a manutenção ou anulação do trabalho realizado. Não é preciso transformar a cadeira em vilã [8], como fazem Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 os “cadeirologistas”, ou sair mudando tudo que se veja pela frente, mas é possível, com o correto critério, estabelecer os elementos ligados ao mobiliário que precisem de substituição imediata, ou os acessórios que facilitem a “habitação” dessas verdadeiras “ilhas de trabalho” [8, 9]. 5 - Conclusão A introdução da ginástica laboral nas empresas representa mais um importante recurso de auxílio à saúde ocupacional, onde a medicina e a enfermagem do trabalho parecem sobrecarregadas. Hoje, fisioterapeutas, educadores físicos e outros profissionais saem em defesa da saúde do trabalhador somando esforços à prevenção e tratamento da temidas e famigeradas DORT’s. É preciso, porém, estarmos certos de que somente uma intervenção completa é capaz de gerar resultados positivos e significativos pela abrangência, modificadores de culturas, possibilitando ações mais contundentes dos chamados “donos do dinheiro”, que beneficiarão empregados e empregadores, conseqüentemente a sociedade. Por outro lado, se ficar determinada à fragilidade da intervenção, ainda que esta seja de baixo custo, esta será nivelada nos modelos das falácias, propiciando o descrédito, inimigo perene de toda e qualquer ação, principalmente, das benéficas ações preventivas, até pelas dificuldades que possuímos em respalda-las em fatos e dados. E, o que é pior, engessa a cultura, fecha portas em todos os lugares onde as avaliações negativas possam ter acesso, portas essas que foram abertas com grandes sacrifícios de profissionais sérios e dedicados. Referências 1. Guyton AC. Tratado de fisiologia médica. 8ª edição. Revisão Técnica de Charles Alfred Esbérard. 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Culpar os equipamentos não é a solução para os problemas ergonômicos. Revista CIPA. 2000. São Paulo. V.21. Nº 242. Págs. 64 – 67. 9. Santos V, Zamberlam MC. Projeto ergonômico de salas de controle. Fundación Mapfre. São Paulo 1995. Revista Fisioterapia Brasil Assine, leia e faça sua contribuição com artigos originais e revisões. Tel.: (21) 244-6471 www.atlanticaeditora.com.br E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 58 Informação profissional A pós-graduação em fisioterapia e terapia ocupacional: reconhecimento e registros de certificados, diplomas e títulos João Marinonio Aveiro Carneiro* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestre, Doutor e Livre-Docente em Educação, UFRJ; Ph.D. in Religious Studies, FICU, Mercedes, Cal. USA, Mestre em Filosofia, UGF, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, UFRJ, Terapeuta Ocupacional, FRASCE, RJ, Fisioterapeuta, CEUAM, RJ Temos sido procurados por profissionais da área da saúde com indagações sobre pós-graduação e, de forma singular, sobre a especialização e o que se percebe, nas mais das vezes, é que estes profissionais se vêm envolvidos por uma terminologia estranha à sua formação más que devem conhece-la, posto que este desconhecimento pode vir a prejudicá-los na sua busca pelo saber, ao matricular-se em cursos após a sua graduação, sem que na realidade estejam matriculando-se num curso de pósgraduação. Os Cursos de Pós-graduação têm como finalidade precípua, o aprofundamento dos estudos realizados no Curso de Graduação, com maior enfoque numa área de estudos específica. Em 20 de dezembro de 1996 foi sancionada pelo Presidente da República a Lei 9.394 – Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que no inciso III do art. 44, refere-se aos cursos e pro- gramas de pós-graduação que são abrangidos pela educação superior – “...programas de mestrado e doutorado, cursos de especialização, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam às exigências das instituições de ensino.” O caminho que leva a obtenção do Certificado de Aperfeiçoamento e de Especialização abrigava-se, até o advento do Parecer nº CES 617/99, de 08/06/99 e do Parecer nº 968/98 e da Resolução nº 3/99, de 05/10/99. A segunda vertente, teve início através de Residências, atendendo ao que foi deliberado pela IXª Conferência Nacional de Saúde (1992) que propôs, e obteve-se aprovação da Plenária em seu Relatório Final, o tópico nº 279 “manutenção de programas de residência médica pelas unidades do SUS, e ampliação do número de vagas, contemplando também outras categorias profissionais”. ( grifamos) Endereço para correspondência: Rua CônegoTobias, 140, Meier, 20725-010 Rio de Janeiro RJ, Telefax: 21 269-3771 E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 A Residência, enquanto visa a complementação do curso de graduação com vistas exclusivamente ao exercício melhor qualificado, constitui-se um equivalente a Especialização, trata-se de “treinamento em serviço”, outorgando o título de Especialista. Como ainda não existem na maioria das profissões de saúde uma Comissão Nacional de Residências, tal como existe para a medicina e como os certificados a serem emitidos pelas Residências, são passíveis de registro nos Conselhos Federais das Profissões Regulamentadas de Saúde cabe a cada Conselho Federal normatizar as Residências para suas profissões. No caso específico da fisioterapia e da terapia ocupacional, corresponde ao - COFFITO, via Conselhos Regionais - CREFITOS, os Projetos de Residência em Fisioterapia e de Terapia Ocupacional devem ser submetidos ao COFFITO para análise e parecer, a fim de que o mesmo possa ter seus certificados registrados no mesmo. Ocorre que em 9 de dezembro de 1998 foram publicadas as Resoluções COFFITO 186, COFFITO 187, COFFITO 188, COFFITO 189, que dispõem sobre o reconhecimento de Certificados, Diplomas e Títulos conferidos a Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais; reconhecendo as Especialidades de Fisioterapia Pneumo-Funcional e Fisioterapia Neuro-Funcional que desta forma superam o vazio existente até então, apontando normas e procedimentos, de cumprimento obrigatório por Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Em 02/12/98 o Conselho Nacional de Educação – CNE, aprova o Parecer nº CES 908/98 que assim se expressa: “Assim sendo, a formação pós-graduada de caráter profissional, que pressupõe necessariamente o exercício, sob supervisão, da prática profissional, poderá ser oferecida tanto por instituição de ensino superior com atuação tradicional em uma área específica como em ambientes de trabalho dotados de corpo técnico-profissional possuidor de titulação profissional ou acadêmica reconhecida e de instalações apropriadas ou por Sociedade Nacional Especializada ou, ainda, mediante a celebração de convênios ou acordos entre instituições de ensino superior e estas sociedades. 59 O valor do título obtido, entretanto, variará segundo as situações a seguir descritas: 1) Curso de especialização oferecido por instituição de ensino superior: o título tem reconhecimento acadêmico, e para o exercício do magistério superior, mas não tem necessariamente valor para o exercício profissional sem posterior manifestação dos conselhos, ordens ou sociedades nacionais profissionais respectivos, nas áreas da saúde e jurídica; 2) Curso de especialização realizado em ambientes de trabalho qualificados, credenciados por IES que possuam pós-graduação stricto sensu na área ou em área correlata ou autorizado pelo CNE ou, por sua delegação, pelos CEE: os títulos terão reconhecimento profissional e acadêmico; 3) Curso oferecido mediante celebração de convênios ou acordos entre instituições de ensino, ordens ou sociedades, conselhos nacionais ou regionais com chancela nacional profissional: os títulos, neste caso, terão tanto reconhecimento acadêmico como profissional; 4) Cursos oferecidos por instituições profissionais mediante convênio com ordens, sociedades nacionais, ou conselho:. o título tem reconhecimento profissional, mas não será reconhecido para fins acadêmicos sem a expressa manifestação de uma instituição de ensino superior. Em qualquer um dos casos mencionados, os títulos profissional ou acadêmico reconhecidos terão validade nacional.” (grifamos) Conforme acima citamos a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES encaminhou projeto de Resolução que fixa “condições de validade dos certificados de cursos de especialização” e que o aprovou através do Parecer nº CES 617/ 99, de 03/09/99, do Parecer nº 968/98 e da Resolução nº 3/99, 05/10/99 deram uma nova roupagem a Resolução 12/83 CFE, sendo pois o que deve observado na organização dos Cursos de Pós-graduação “Lato Sensu”, Especialização e que oferece os seguintes elementos: Os cursos serão abertos à matrícula de portadores de diplomas de curso superior que cumpram as exigências de seleção que lhe são próprias e poderão ser oferecidos por instituições de ensino desse nível que ministrem curso de graduação ou pós-graduação stricto 60 sensu reconhecido na grande área a que se vincula a proposta. (Art 2º) As instituições previstas no Parecer nº 908/ 98, da Câmara de Educação Superior do CNE, poderão, a critério do Conselho Nacional de Educação, ser autorizadas a oferecer os cursos de que trata a presente Resolução, observadas as exigências nela estabelecidas. A qualificação mínima exigida do corpo docente é o título de Mestre, obtido em curso reconhecido pelo MEC. (Art. 3º) Quando, no entanto, existirem áreas profissionais em que o número de mestres seja insuficiente para atender à exigência de qualificação anteriormente prevista, poderão lecionar profissionais de alta competência e experiência em áreas específicas do curso, desde que aprovados pelo Conselho de Ensino e Pesquisa, no caso das universidades e centros universitários, ou pelo colegiado equivalente, no caso das demais instituições de educação superior. A apreciação da qualificação dos não portadores do título de Mestre levará em conta o curriculum vitae do professor e sua adequação ao plano geral do curso e ao programa da disciplina pela qual ficará responsável. Em qualquer hipótese, o número de docentes sem título de Mestre não poderá ultrapassar 1/3 (um terço) do corpo docente, salvo em casos especiais previamente aprovados pela Câmara de Educação Superior do CNE. Nenhum curso poderá iniciar seu funcionamento sem os requisitos especificados neste artigo. As instituições deverão assegurar aos professores e alunos as condições de infra-estrutura física, biblioteca, equipamentos e laboratórios adequados ao curso proposto. A carga horária mínima permanece a exigência de 360 (trezentas e sessenta) horas, não computado o tempo de estudo individual ou em grupo sem assistência docente e o destinado à elaboração de monografia ou trabalho de conclusão do curso (Art. 5º). Quanto se tratar de curso destinado à qualificação de docentes para o magistério superior do Sistema Federal de Ensino, deve-se assegurar, na carga horária, além do conteúdo específico do curso, o indispensável enfoque pedagógico. Sendo que os mesmos poderão Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 ser ministrados em uma ou mais etapas respeitado um prazo mínimo de 6 (seis) meses. Caberá à instituição responsável pelo curso emitirá certificado de especialização a que farão jus os alunos que tiverem tido aproveitamento e freqüência, segundo critério de avaliação estabelecido pela instituição, assegurada a presença mínima de 75% (setenta e cinco por cento) (Art. 6º). Nos certificados expedidos deverão mencionar claramente a área específica do conhecimento a que corresponde o curso oferecido e conter obrigatoriamente: a) a relação das disciplinas, sua carga horária, a nota ou conceito obtido pelo aluno, e o nome e a titulação do professor por elas responsável; b) o período em que o curso foi ministrado e sua duração total em horas; a) a declaração de que o curso cumpriu todas as disposições da Resolução que teve como origem o Parecer nº CES nº 617/99. Os estudantes de programas de pós-graduação stricto sensu reconhecidos pelo MEC poderão requerer, a critério da Instituição que os ofereceu, a validação dos estudos realizados, como de especialização, desde que preencham pelo menos os seguintes requisitos (Art. 7º): a) tenham sido aprovados em disciplinas correspondentes a uma carga horária programada de, no mínimo, 360 (trezentas e sessenta) horas, observado o disposto no Art. 5º; b) requeiram o certificado antes de terem defendido dissertação ou tese. A grande inovação fica por conta da avaliação da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. (Art. 8º) Já Resolução CES nº 3, de 05/10/99 veio fixar condições de validade dos certificados de cursos presenciais de especialização, sendo os mesmos abertos à matrícula de portadores de diplomas de curso superior que cumpram as exigências de seleção que lhe são próprias e poderão ser oferecidos por instituições de ensino desse nível que ministrem curso de graduação ou pósgraduação stricto sensu reconhecido na grande área a que se vincula a proposta. (art. 2º). As instituições previstas no Parecer 908/98, CES/CNE, poderão, a critério do CNE, ser autorizadas a Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 oferecer os cursos de que trata a presente Resolução, observadas as exigências nela estabelecidas (Parágrafo único do art 2º). A qualificação mínima exigida do corpo docente é ainda o título de Mestre, obtido em curso reconhecido pelo MEC (art. 3º), sendo que nas áreas profissionais em que o número de mestres seja insuficiente para atender à exigência de qualificação prevista no referido artigo, poderão lecionar profissionais de alta competência e experiência em áreas específicas do curso, desde que aprovados pelo Conselho de Ensino e Pesquisa, no caso das universidades e centros universitários, ou pelo colegiado equivalente, no caso das demais instituições de educação superior. (§ 1º do Art 3º) A apreciação da qualificação dos não portadores do título de Mestre levará em conta o curriculum vitae do professor e sua adequação ao plano geral do curso e ao programa da disciplina pela qual ficará responsável. (§ 2º do art 3º) 61 O número de docentes sem título de Mestre não poderá ultrapassar 1/3 (um terço) do corpo docente, salvo em casos especiais previamente aprovados pela Câmara de Educação Superior do CNE. (§ 3º do Art 3º) É impositivo que nenhum curso poderá iniciar seu funcionamento sem os requisitos especificados no art 3º. (§ 4º do Art 3º) Caberá às instituições assegurar aos professores e alunos as condições de infra-estrutura física, biblioteca, equipamentos e laboratórios adequados ao curso proposto. (Art. 4º) Os cursos amparados por esta Resolução terão a duração mínima de 360 (trezentas e sessenta) horas, não computado o tempo de estudo individual ou em grupo sem assistência docente e o destinado a elaboração de monografia ou trabalho de conclusão do curso. (Art. 5º) Quanto se tratar de curso destinado à qualificação de docentes para o magistério supe- 62 rior do Sistema Federal de Ensino, deve-se assegurar, na carga horária, além do conteúdo específico do curso, o indispensável enfoque pedagógico.(§ 1º Art. 5º) Os cursos poderão ser ministrados em uma ou mais etapas respeitado um prazo mínimo de 6 (seis) meses.(§ 2º Art. 5º) É a instituição responsável pelo curso quem emitirá o certificado de especialização a que farão jus os alunos que tiverem tido aproveitamento e freqüência, segundo critério de avaliação estabelecido pela instituição, assegurada a presença mínima de 75% (setenta e cinco por cento). (Art. 6º) Os certificados expedidos deverão mencionar claramente a área específica do conhecimento a que corresponde o curso oferecido e conter obrigatoriamente: a) a relação das disciplinas, sua carga horária, a nota ou conceito obtido pelo aluno, e o nome e a titulação do professor por elas responsável; b) o período em que o curso foi ministrado e sua duração total em horas; c) a declaração de que o curso cumpriu todas as disposições da presente Resolução. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 (Parágrafo único do Art 6º) Os estudantes de programas de pós-graduação stricto sensu reconhecidos pelo MEC poderão requerer, a critério da Instituição que os ofereceu, a validação dos estudos realizados, como de especialização, desde que preencham pelo menos os seguintes requisitos: a) tenham sido aprovados em disciplinas correspondentes a uma carga horária programada de, no mínimo, 360 (trezentas e sessenta) horas, observado o disposto no Art. 5º; b) requeiram o certificado antes de terem defendido dissertação ou tese. (Art. 7º) A Resolução repete a inovação do Parecer 968/98 quando nos diz ser avaliação do curso ser da competência da Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES. (Art. 8º) Uma pergunta que tem sido lugar comum quando falamos em pós-graduação, é a que trata do valor acadêmico dos denominados Cursos de Aprimoramento, principalmente, no Estado de São Paulo, onde os mesmos têm sido oferecidos por mais de oitenta e seis (86) instituições quer sejam de ensino ou não. Muito embora não esteja previsto, em ne- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 nhum diploma legal, a nível acadêmico, é necessário que constatemos a existência de cursos denominados de aprimoramento. Desta maneira o COFFITO, em muito boa hora, resolveu criar uma certificação de Qualidade de Ensino para os Cursos de Aprimoramento profissional na Área da Fisioterapia, o que foi feito através da Resolução COFFITO 209, de 17/ 08/2000. Não possuindo valor acadêmico, os referidos cursos se revestem, formalmente, como “treinamento em serviço”, com validade profissional a critério do próprio profissional que está sendo treinado, não podendo, sob nenhuma hipótese, ser este “treinamento” aproveitado em Cursos de Pós-graduação “Lato Sensu” - Aperfeiçoamento, Especialização, ou “Stricto Sensu” - Mestrado e Doutorado ou mesmo para a obtenção do título de especialista o que é possível via Residência ou aprovação em provas teórico-práticas nos termos da Resolução COFFITO-188. A instituição que ofereça Curso de Aprimoramento deverá submeter seu Projeto Pedagógico ao COFFITO exigindo-se uma carga horária mínima de 90 horas/aula com um mínimo de 40% de aulas práticas, devendo seu corpo docente deverá cumprir os mesmos re- 63 quisitos exigíveis pela Lei nº 9394, de 20 de 12/1996. Os referidos cursos serão reavaliados a qualquer tempo e no caso de perda de qualidade perderão o mérito outorgado. Os custos decorrentes das avaliações dos projetos, correrão a conta dos interessados. Como se depreende do que foi escrito há uma distinção entre os títulos que derivam de “treinamento em serviço” – Residência – Especialista, os que emergem dos Cursos de Aperfeiçoamento e de Especialização – Aperfeiçoamento em... / Especialização em..., realizado em IES e aqueles que resultam de um Curso de Aprimoramento”. O primeiro voltado, tão somente, ao trato clínico, o segundo ao trato clínico e Magistério Superior e o terceiro como um “plus” buscado pelo profissional. Do exposto, só após o deferimento de seu registro pelo COFFITO, poderá o profissional, já então devidamente registrado, apresentarse à sociedade com a titulação que lhe cabe por direito – Especialista, Aperfeiçoamento em ..., Especialização em..., Mestre em..., Doutor em ..., Livre-Docente em...., cabendo, aos CREFITOS efetuarem tais registros na Carteira de Identidade (tipo livro) de Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 64 Resumos de dissertações e teses ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cecília Barros Carvalho, Dissertação de Mestrado em Educação/Ensino na Educação Brasileira, Julho de 1997, Universidade Estadual Paulista/ UNESP, Campus de Marília, Marília-SP, Endereço para correspondência: Cecília Barros Carvalho, Rua Goiás, 145 apto 1001, 17509-140, Marília-SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reabilitação profissional: análise do preparo do fisioterapeuta para atuação e intervenção na área Este estudo avaliou o preparo do fisioterapeuta para atuar e intervir em uma equipe interdisciplinar que trabalha com Reabilitação Profissional, relacionando este preparo às ações curriculares oferecidas durante a sua graduação. A preocupação com este tema surgiu a partir da constatação assistemática de que o fisioterapeuta não tem, em sua formação, a exposição adequada a abordagens e intervenções na área de Reabilitação Profissional. Os objetivos deste trabalho foram a identificação de pareceres de fisioterapeutas que atuam na área da Reabilitação Profissional, o levantamento das atividades curriculares dos cursos de formação de fisioterapeutas no Estado de São Paulo e, ainda, a análise do significado destes dados para a formação de um profissional apto a atuar e intervir na Reabilitação Profissional. Participaram deste estudo Chefes de Departamento e Coordenadores dos cursos de Fisioterapia do Estado de São Paulo que atenderam à nossa solicitação e nos enviaram a estrutura curricular dos cursos sob sua responsabilidade. Também foram contatados fisioterapeutas que atuam em Serviços de Fisioterapia de Instituições ou Centros voltados para a Reabilitação Profissional, também no Estado de São Paulo, os quais responderam questionários que investigavam o perfil desses profissionais e o seu conhecimento acerca do processo que visa reinserir, no mundo do trabalho, a pessoa com deficiência. Os dados resultantes da pesquisa mostraram que 85,72% dos fisioterapeutas não se sentiram preparados para a sua atuação inicial com Reabilitação Profissional a partir da sua formação na graduação, tendo eles adquirido a sua experiência atual no próprio trabalho. Dentre muitos resultados relevantes também observou-se que 92,86% dos sujeitos não consideram suficiente, para a intervenção na Reabilitação Profissional, o embasamento teórico-prático oferecido pelo currículo mínimo preconizado pelo MEC. Os profissionais envolvidos na pesquisa sugeriram medidas que possam viabilizar, já na formação do profissional, um envolvimento com equipes e/ou serviços que trabalham com a Reabilitação Profissional. Sugeriram também a inserção de conteúdos específicos do tema na grade curricular, para preparar o fisioterapeuta para atuação e intervenções na área. Este, enfim, o objetivo maior do estudo. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 65 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Prevalência de linfedema subsequente a tratamento cirúrgico para câncer de mama Anke Bergmann, Dissertação de Mestrado em Saúde Pública - subárea Epidemiologia Geral, Escola Nacional de Saúde Pública / FIOCRUZ, dezembro de 2000 Introdução: O linfedema é a principal complicação decorrente do tratamento cirúrgico para câncer de mama, acarretando importantes alterações físicas, psicológicas e sociais, que comprometem a qualidade de vida das mulheres. Objetivo: Estimar a prevalência de linfedema em mulheres submetidas a tratamento cirúrgico para câncer de mama. Metodologia: Foi realizado um estudo seccional com 394 mulheres em acompanhamento médico no Hospital Luiza Gomes de Lemos / INCa III, no período de abril a agosto de 2000. Os dados foram obtidos através de uma entrevista semi-estruturada, exame físico e complementados pela análise do prontuário. Foram coletadas variáveis relacionadas a características: da paciente, do tratamento realizado, do tumor, e das complicações pósoperatórias. Resultados: A prevalência de linfedema variou de 16,2 % a 30,7 % dependendo do critério utilizado para diagnóstico. Os critérios de diagnóstico objetivos apresentaram melhor confiabilidade. Na análise bivariada, as variáveis que se mostraram positivamente associadas (p < 0,05) com o linfedema foram: IMC, número total de dias com dreno, radioterapia, radioterapia axilar, comprometimento ganglionar, estadiamento tumoral, relato de sintomatologias sugestivas de edema precoce, relato de edema precoce, infecção no membro superior homolateral ao câncer de mama, limitação no movimento de alcance global da mobilidade, e limitação articular no movimento de abdução e rotação externa. Conclusões: A prevalência de linfedema obtida neste estudo foi elevada, estando de acordo com a literatura. A perimetria ou o volume estimado do membro foram os critérios que apresentaram melhor confiabilidade. Estudos prospectivos são necessários para que se possa estabelecer os fatores de risco mais relevantes na etiologia do linfedema. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Joani A. Nogueira, dissertação de Mestrado em Saúde Pública, Escola Nacional de Saúde Pública/ FIOCRUZ, fevereiro de 2000, Tel. para contato: (27) 329-4802 - 381-9100 (CREFES) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia no contexto da assistência domiciliar terapêutica: Estudo de pacientes com Aids O presente estudo objetivou analisar o atendimento fisioterapêutico realizado ao doente de Aids no que se refere ao contexto da Assistência Domiciliar Terapêutica – ADT - bem como (a) apontar a importância da atenção fisioterapêutica nos programas da ADT realizados por diversos serviços públicos de saúde (b) propor um protocolo de conduta fisioterapêutica domiciliar ao doente de Aids. O trabalho de campo foi efetivado no primeiro semestre de 1999 - na cidade de Vitória, ES, onde seis pacientes adultos, de ambos os sexos, foram avaliados e acompanhados por meio de Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 66 uma conduta fisioterapêutica feita em uma ou duas visitas semanais, tendo como referência a metodologia de estudo de caso. Destacou-se, nessa dinâmica domiciliar, o papel do cuidador que, geralmente, é uma mulher, sem a qual, seria difícil executar uma ADT eficaz. A pesquisa encontra-se estruturada em três pontos importantes, abrangendo: a dinâmica da ADT, o contexto da Fisioterapia e seu desenvolvimento e o estudo com os pacientes assistidos em seus domicílios. Foi então, que possibilitou traçar os procedimentos básicos da referida conduta, contribuindo, assim, tanto para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, quanto para esta área de conhecimento. O estudo apresentou resultados positivos tanto para os pacientes assistidos, reforçando a importância desta forma de atendimento, no caso de pessoas doentes portadores do vírus HIV/ Aids, quanto a contribuição oferecida às novas reflexões para a prática das equipes multiprofissionais que atuam na área da saúde coletiva. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ronaldo Castrioto Lemos, dissertação de Mestrado em Ciências da Motricidade Humana março de 1999 – Universidade Castelo Branco – Rio de Janeiro RJ, março de 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A atividade aeróbica contra-resistência como atenuadora dos fatores de risco associados das doenças coronarianas: hipertensão e hiperlipidemias Este estudo teve como objetivo investigar os aspectos relacionados à repercussão das modificações orgânicas sobre as variações qualitativas e quantitativas do desempenho motor em grupos com riscos associados. A amostra teve a participação de vinte (n = 20) sujeitos, divididos por dois grupos em dois tempos em um universo amostral estatisticamente pequeno. O primeiro grupo denominou-se Controle, formado por dez (n = 10) indivíduos inativos fisicamente de ambos os sexos (05 = feminino e 05 = masculino) entre 25 e 51 anos; estatura entre 169 e 192 cm; peso atual entre 52,3 e 114,7 kg e dobras cutâneas entre 36,0 e 73,3 cm, portadores de hipertensão arterial e hiperlipidemias. O segundo, denominado grupo Experimental, formado por dez (n = 10) indivíduos de ambos os sexos (06 = feminino e 04 = masculino), entre 21 e 54 anos; estatura entre 156 e 184 cm, peso atual entre 72,40 e 93,20 kg e dobras cutâneas entre 32,10 e 43,50 cm, com as mesmas características tensionais e bioquímicas do grupo Controle sendo que, sofriam ao longo da pesquisa a influência da prática regular de exercícios aeróbicos contra-resistência de forma controlada. O primeiro instrumento que é o Questionário de Histórica Médica (The Aerobic Center, Dallas, 1986) foi utilizado para seleção de amostra. O segundo instrumento foi a Avaliação funcional biológica verificando a idade, sexo, estatura, peso atual e somatório de dobras cutâneas. O terceiro instrumento foram os Testes bioquímicos sangüíneos (índice de Castelli), Lipidograma completo verificando o colesterol total, as lipoproteínas de alta densidade (HDL), as lipoproteínas de baixa Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 67 densidade (LDL), as lipoproteínas de muito baixa densidade (VLDL) e triglicerídeos sangüíneos. O quarto instrumento foi o Mapeamento ambulatorial de pressão arterial (Mapa de 24 horas) e o quinto instrumento foi o Teste progressivo de resistência ao esforço (ergometria) utilizando-se o Protocolo de Bruce com 12 derivações de Mason e Likar. Para a programação individual foi utilizado o método de sistemas de trabalho com exercícios aeróbicos contra-resistência. A frequência dos exercícios foi de cinco (05) vezes por semana, em um período total de 30 a 60 minutos diários. Foram utilizadas a Estatística descritiva e a Análise de Variância One Way. Face às limitações inerentes ao Universo amostral, foi empregado o Teste de Inferência (t) e o Coeficiente de correlação de Person. Ocorreram melhoras de 50% das variáveis analisadas pela avaliação funcional biológica com referência às dobras cutâneas; ocorreram melhoras de 25% na variável Colesterol Total; de 35% no HDL-Colesterol; de 32% no LDLColesterol; de 28% no VLDL-Colesterol e de 41% nos Triglicerídeos totais (índice de Castelli). No teste de resistência progressiva ao esforço (ergometria), ocorreram melhoras de 66,67% das variáveis analisadas pelo protocolo de Bruce em condições basais e hiperventilatórias. Os valores também demonstraram que ocorreram melhoras significativas em condições de esforço (ergometria) em 83,33% das variáveis analisadas. Ocorreram melhoras significativas também no período de recuperação em 83,33% das variáveis analisadas. Ocorreram melhoras significativas em 100% das variáveis analisadas (mapa de 24 horas). Estatisticamente podemos concluir que o método proposto, quando realizado de forma sistemática proposta pelo design da pesquisa no capítulo da Metodologia, foi capaz de melhorar significativamente em 83,33% das variáveis analisadas, 35 das 42 investigadas nesta pesquisa. 68 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 Calendário de eventos Abril Io Congresso Brasileiro de PPesquisa esquisa em FFisioterapia isioterapia e suas Aplicações Xo Simpósio de FFisioterapia isioterapia da UFSCAR 27 de abril – 1 de maio São Carlos, São Paulo Tel: (16) 260-8341 IIo Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana VIIIo Simpósio paulista de Educação Física 28 de abril – 1 de maio Rio Claro, São Paulo Tel: (19) 526-4160 Site: www.igce.unesp.br/ib/simposio Maio IXo Congresso Brasileiro de Biomecânica 29 de maio - 1 de junho Gramado – RS Realização: Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Escola de Educação Física – ESEF, Centro INDESP/ UFRGS de Excelência Esportiva - CENESP Tel: (51) 316-5817, Fax: (51) 316-5811 E-mail: [email protected] Io Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico Cinesiológico Funcional 30 de maio – 1 de junho Guanabara Palace Hotel, Rio de Janeiro RJ Informações: IBRAFA - Instituto Brasileiro de Fisioterapia Aplicada Tel: (21) 275-2595 Junho PT 2001- The Annual Conference & Exposition of the American Physical Therapy Association 20-23 de junho Anaheim, California Informações: www.apta.org Julho VIII international symposium on Computer Simulation in Biomechanics 4-6 de julho Milan, Italy Prof. Federico Casolo Politecnico di Milano - Dipartimento D.S.T.M. P.za Leonardo da Vinci n.32 20133 Milano, Itália tel: (+39) 02 2399 6706 fax: (+39) 02 2399 6720 E-mail: [email protected] 2001 FFootwear ootwear Symposium 5–7 de julho Zuerich, Switzerland Informações: www.ethz.ch XVIIIo Congress International Society of Biomechanics 8-13 de julho Zurich, Switzerland Laboratorey for Biomechanics Wagistr. 4 CH-8952 Schlieren Switzerland Tel: +41 1 633 61 17 Fax: +41 1 633 11 24 Agosto 1st International Conference on Movement Dysfunction – Integrating Approaches 21-23 de setembro Shirley McGill, Conference Organiser Kinetic Control, Mede House Salisbury Street, Southampton, Hants SO15 2TZ UK Tel: +44 (0) 8451 300 808 Fax: +44 (0) 2380 248 533 Email: [email protected] Site: www.kineticcontrol.com IIo Jornada Brasileira de FFisioterapia isioterapia R espiratória em PPediatria ediatria Respiratória 28-29 de setembro Costão do Santinho Resort, Florianópolis - SC Informações: Sul 21 – Eventos e Produções, rua Bento Gonçalves, 183/104, 88010-080, Florianópolis – SC Tel: (48) 2253778, fax (48) 225-3775 E-mail [email protected]. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 69 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº2, mar/abr 2001 - 69~132) EDITORIAL De pesquisa e pesquisadores, Marco Antonio Guimarães da Silva .............................................. 71 OPINIÃO Um futuro legal para a agenda da fisioterapia do terceiro milênio no Brasil Resposta de Gil Lúcio Almeida à resposta do COFFITO (Fisioterapia Brasil, vol 2, no 1, jan/fev 2001) ao artigo Uma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil de Gil Lúcio Almeida (Fisioterapia Brasil, vol 1, no 2, nov/dez 2000) .................................................................................... 74 Fisioterapia prática RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS Trabalhos apresentados no Io Congresso Brasileiro de Pesquisa em Fisioterapia, São Carlos, abril/maio de 2001 ............................................................................................................ 77 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Efeitos de atividades físicas e terapêuticas em adultos maduros e idosos, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, Laila Daniela dos Santos, Fátima Goulart, Janine Gomes Cassiano, Tânia Lúcia Hirochi ................................................................................. 99 A eficácia de um programa cinesioterapêutico para mulheres idosas com incontinência urinária, Marilia Isabel Winter Hughes Leon ................................................................................................... 107 Avaliação pré e pós-operatória em crianças submetidas a tratamento Ginástica Laborativa cirúrgico mediante a técnica de Cavalier, Elaine Fátima Manfio, Ovídio S. Mayer, Aluisio O.V. Ávila .......................................................... 116 Equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular: como mensurar? Marta Simões Peres, Carlos Alberto Gonçalves ............................................................................... 124 EVENTOS ............................................................................................................................................. 132 Para publicação de trabalhos leia as normas de publicação no site www.atlanticaeditora.com.br ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 70 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Gil Lúcio de Almeida (Univ.de Ribeirão Preto - UNAERP – São Paulo) Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Grupo de assessores (2000-2001) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Pernambuco) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Mato Grosso) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Rio Grande do Sul) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dra. Solange Canavarro Ferreira (UFRJ – Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 – Minas Gerais) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Bahia) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 – São Paulo) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Tel/Fax: (11) 4411-7629 Cel: (11) 9219-0570 Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. (Rio de Janeiro) Maurício G. Costa Anderson (São Paulo) Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 244-6471 / 285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 244-6471 Cel: (21) 9218-0346 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 244-6471 Cel: (21) 9662-9411 São Paulo: Maurício Galvão C. Anderson (11) 4411-7629 Cel: (11) 9219-0570 Ilustração da capa: Alberto Magnelli, Le café, 1914, óleo sobre tela 168x200, le Musée de Grenoble, França I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 71 Editorial De pesquisas e pesquisadores ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marco Antonio Guimarães da Silva* Ainda que tenha iniciado as minhas atividades de pesquisa em meados da década de 70, somente no início dos anos 80 as vinculei aos órgãos oficiais de fomento à pesquisa, especificamente o CNPq. Eram, então, muito poucos os que faziam pesquisa naquela época, e o referido órgão admitia, para as áreas ditas carentes, que professores de universidades federais, com alguma experiência em pesquisa, orientassem professores de outros estados. Tal fato deu-me a grata oportunidade de manter contatos com colegas de algumas regiões do país, que buscavam iniciar-se na pesquisa e que haviam me convidado para orientá-los. Os anos passaram, a estrutura do CNPq sofreu mudanças e atualmente, para sorte nossa, podemos contar com inúmeros órgãos de apoio, dentre os quais vale a pena citar a CAPES, a FINEP, o CNCT e, principalmente, os sistemas estaduais de amparo à pesquisa (FAPERJ, FAPESP, FAPERG, etc). Todos esses órgãos contam com assessores externos que julgam os projetos de pesquisa, as solicitações de bolsa para cursos de pós-graduação no país e exterior e diversos outros tipos de auxílio financeiro. Ao proceder a análise e julgamento dos processos que lhe chegam às mãos, um assessor externo pode conhecer melhor o perfil daqueles que fazem pesquisa no país. *Editor científico de Fisioterapia Brasil 72 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 O tema pesquisa leva-me a mencionar a excelente iniciativa da Universidade Federal de São Carlos – UFSCAR - que está organizando o Io Congresso Brasileiro de Pesquisa em Fisioterapia, em abril/maio de 2001, sendo que alguns trabalhos a Revista Fisioterapia Brasil se encarrega de publicar neste número. Minha maior expectativa em relação ao evento é que as discussões sobre os rumos da pesquisa em fisioterapia, que efetivamente serão debatidas em duas mesas redondas, sejam amplamente divulgadas e sirvam de premissas para novas discussões ainda mais amplas. Não posso deixar de mencionar, contudo, minha surpresa por não ter encontrado entre os participantes nenhum daqueles colegas do norte-nordeste que há quase vinte anos me haviam convidado, através do CNPq, para orientar seus trabalhos de investigação. Também senti falta de colegas de outras regiões do país, cujos trabalhos científicos julguei como assessor externo, podendo, portanto, atestar a qualidade de suas produções. Tenho certeza de que a UFSCAR tentou trazê-los e que, talvez, por compromissos já assumidos, eles não tenham podido comparecer. Oxalá os encontre no segundo Congresso. Tudo isso me fez refletir sobre os critérios e procedimentos que devem ser adotados para julgar os projetos de pesquisa dos colegas, ou para incluir este ou aquele pesquisador na lista dos conferencistas de nossos congressos. Não resta dúvida de que a isenção e a imparcialidade são a única resposta a essas reflexões. Mas a questão maior é saber se esses preceitos estão sendo respeitados. Vejamos. Há alguns anos atrás, chegou-me às mãos para julgamento um projeto de pesquisa de pós-doutorado no exterior, cujo autor solicitava auxilio a um órgão de fomento. O projeto em questão, sob meu ponto de vista, não poderia ser aprovado. Fiz contato com a agência financiadora, que me sugeriu que revisse o meu julgamento; é importante ressaltar que houve apenas uma sugestão (felizmente todos os órgãos são imparciais e aceitam a posição do assessor), sob a alegação de que a nossa área apresentava pouca massa crítica, de que se tratava de uma área carencial, com poucas solicitações de apoio à pesquisa. Sensibilizado pelas colocações feitas, fiz as modificações que achava pertinentes e que possibilitariam a execução do projeto e aprovei a pesquisa. Por coincidência, enquanto realizava este julgamento, um projeto meu de pesquisa estava, no mesmo período, sendo avaliado por assessores externos. Minha solicitação, entretanto, foi negada com o argumento de que não alcançara a prioridade para sua execução. Espantou-me tal decisão, uma vez que eu tinha, naquele mesmo período, como acabo de relatar, recebido informações de que havia poucas solicitações na área. Pedi, portanto, explicações, e o órgão em questão disse-me que haviam discutido meu caso e que se eu fizesse uma carta, reconsiderariam e aprovariam o meu projeto. Não fiz a carta, porque sabia que o plano de trabalho que apresentara estava, sob o ponto de vista Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 73 cientifico, correto e conseguiria atingir os objetivos propostos. Contudo, o projeto em questão, sem o apoio solicitado, foi executado e concluído, acabando por ganhar um prêmio de U$ 5.000,00 como melhor trabalho de pesquisa apresentado a um Simpósio Internacional de Dor, no ano de 1999 (julgamento cego com júri composto por 6 médicos professores doutores da USP, professores Doutores da Escola Paulista de Medicina e professores Doutores da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo). Os fatos parecem evidenciar que estavam equivocados o órgão fomentador e os assessores que emitiram seus pareceres. O desdobramento do projeto executado acabou ainda por receber uma bolsa de U$15.000,00 do exterior, tendo concorrido com projetos de todo o mundo. Tais equívocos lamentavelmente ocorrem, tanto na fisioterapia quanto nas outras áreas, mostrando que a imparcialidade e a isenção não são via de regra. No que se refere à inclusão de nomes de conferencistas para os nossos congressos, além da natural isenção e imparcialidade na escolha dos nomes, os critérios podem variar, pois devem ser consideradas as circunstâncias temáticas relacionadas à natureza do evento. Com relação ao Congresso de pesquisa que a UFSCAR promove, vale a pena ressaltar que as contribuições seriam ainda maiores se a comissão organizadora tivesse formalizado convite a todos os pesquisadores Doutores que trabalham como docentes em cursos de mestrado recomendados pela CAPES ou àqueles que efetivamente apresentam produção cientifica. A referência a professor doutor e a mestrado recomendado pela CAPES ampara-se na seguinte argumentação: a) o objetivo do doutorado é o de participar do ciclo formativo do pesquisador, entendendo-se desta forma que somente após o seu doutoramento estaria o professor apto à pesquisa; b) as exigências impostas pela CAPES para recomendar um curso de Mestrado levam o professor doutor a ter uma produção científica ativa bastante significativa. Espero que o próximo Congresso Brasileiro sobre pesquisa esteja atento a esse fato e busque as sugestões e as experiências de todos aqueles fisioterapeutas efetivamente responsáveis pela pesquisa no país. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ERRA TA ERRAT Fisioterapia Brasil 2000, volume 1, número 2, novembro/dezembro de 2000: Página 85: No artigo “Determinação da histamina no coração de ratos das áreas das secções transversais das fibras musculares, leia-se µm2. exercitados”, precisa-se fazer as correções seguintes: - na página 88, na Tabela 2 onde lê-se mg/g, com respeito as unidades - na página 85, no resumo e no abstract onde lê-se mg/g, com respeito dos valores da histamina cardíaca, leia-se µg/g. as unidades dos valores da histamina (HA) cardíaca, leia-se µg/g. - na página 89, na discussão da Concentração de HA no coração Onde lê-se p < 0,05, leia-se p ≤ 0,05. O critério de significância onde lê-se mg/g, com respeito as unidades dos valores da histamina estatística adotado foi de p ≤ 0,05 como descrito na página 87. cardíaca, leia-se µg/g. - na página 87, em Procedimento e técnica histológica onde lê-se 07 Página 101: O artigo Morbidade após o tratamento para câncer de mm, com respeito as unidades dos cortes transversais das fibras mama, de Anke Bergmann, Inês Echenique Mattos, Rosalina Jorge musculares, leia-se 07 µm. Koifman, Sérgio Koifman é um artigo original e não um artigo de - na página 88, na Tabela 1 onde lê-se mm2, com respeito as unidades revisão. ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 74 Nota do editor Esclarecemos que a seção “Opinião” é uma tribuna livre para se expor idéias, comentários ou críticas que possam interessar ao leitor e, também, como forma de contribuição do livre pensar da profissão. Entretanto as idéias, pensamentos ou conceitos publicados nesta seção são de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), e a editora se resguarda do direito ou não de sua aceitação e publicação. Opinião Um futuro legal para a agenda da fisioterapia do terceiro milênio no Brasil Gil Lúcio Almeida, Prof. Dr. - UNAERP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Este artigo é a resposta à resposta do COFFITO ao artigo “Üma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil”, FB V1n2 nov/dez 2000: 55-64 e jan/fev 2001:5-7. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uma velha tática daqueles que se recusam a enfrentar o debate democrático é tentar desacreditar o interlocutor e rotular as suas idéias. O teor da resposta do COFFITO ao artigo (Almeida, 2000) parece usar desta tática. Primeiro, insinua que o autor não tem conhecimento da legislação. Em seguida, tenta vincular a proposta a uma suposta comparação com a fisioterapia nos Estados Unidos. Vejamos os fatos. O objetivo da agenda apresentada no artigo é oferecer uma opinião sobre os caminhos que deveríamos trilhar, enquanto fisioterapeutas, para sintonizar a nossa profissão aos avanços científicos, tecnológicos e culturais do terceiro milênio. Não é porque a agenda ainda não pode ser implementada legalmente hoje, que as suas idéias sejam “descabidas”, condenadas ao ostracismo e ameaçadas com mandado de segurança. Seria uma arrogância muito grande querer aprisionar as idéias pelo simples fato de que elas ainda não têm amparo legal. As regras e as leis, feitas pelos homens, não são imutáveis como gostariam alguns. Se o consumidor entender que a legislação em vigor não é adequada para lhe garantir o acesso aos serviços de fisioterapia de alta qualidade, a constituição lhe faculta o direito de lutar para mudá-la. A Constituição Federal garante o direito ao profissional de ir e vir e de se organizar para mudar a legislação, dentro da lei e da ordem. Para tanto, basta o desejo e a disposição dos envolvidos. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 75 Publicaremos oportunamente um artigo intitulado “Pós-graduação em fisioterapia: leis e interpretações” onde serão analisadas as prerrogativas legais, do ponto de vista do MEC e do COFFITO, sobre os cursos ditos de especialização. Neste artigo também analisaremos as interpretações que têm sido dadas para pós-graduação em fisioterapia (ver homepage www.fisioterapia.com.br - link forum). Esperamos deixar bem claro a diferença entre apoiar, aprovar e reconhecer um curso de Pós-Graduação. Em especial, mostraremos quando um Conselho Federal e Regional deveria ou não deixar, por princípio ético e legal, que o seu nome fosse veiculado a um curso dito de Pós-Graduação. A tentativa do autor em rotular a agenda com um modelo Norte Americano de Fisioterapia não procede. No modelo educacional americano não existirá a graduação em fisioterapia, enquanto no Brasil preconizo a permanência da graduação. Isto cria um fosso acadêmico e legal entre os dois modelos. A luta pela responsabilidade e qualidade profissional e pelo direito do consumidor é uma invenção da humanidade e não somente dos norte-americanos. Dentro desta concepção de responsabilidade profissional deve-se evitar o ufanismo exagerado para se justificar um status quo. A frase de que os fisioterapeutas brasileiros atuando nos Estados Unidos passam o seu “feeling, sua competência e principalmente a sua capacidade de criar, assunto não muito próprio do profissional norte-americano (grifo meu)” é preconceituosa e errada. Esta frase nunca deveria ser atribuída ao COFFITO. Mesmo que se tratasse de uma nação emergente na área do conhecimento científico, devemos evitar estas comparações. No mínimo, acho que o COFFITO deveria se desculpar publicamente pela improbidade das palavras citadas acima. Vale lembrar que a Lei n.6.316/75 que cria o COFFITO e os CREFITOS diz que “por falta de decoro ou conduta incompatível com a dignidade do órgão (Art. 4 item V)”, poderá haver perda de mandato de seus membros. Uma breve leitura das artigos científicos publicados em revistas científicas (ver lista completa destes artigos no site www.ncbi.nlm.nih.gov.PubMed) irá revelar que, a maioria destes conhecimentos, foram gerados pelos nossos colegas de profissão norte-americanos. Não temos conhecimento de capacidade de criar maior do que esta na área da fisioterapia. Pessoalmente, ficarei muito feliz quando tivermos 5% da produção científica dos fisioterapeutas americanos. Portanto, enquanto brasileiros, não estamos numa posição de julgar a capacidade criadora do fisioterapeuta americano. Não se pode também confundir capacidade de improvisação com necessidade de improvisação. A primeira pode agregar produtividade e avançar na qualidade dos serviços de fisioterapia oferecidos ao consumidor. A segunda, pode apenas demonstrar a falta de planejamento adequado que gera a necessidade do improviso. Porém, temos que manter sempre em mente que o corpo humano não é lugar para “feeling”, experimentalismo e pesquisação. O improviso só deve Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 76 ser tolerado se feito dentro dos princípios científicos e éticos que norteiam a profissão e a pesquisa científica com humanos. O número de fisioterapeutas brasileiros que foram aprovados no rigoroso exame da National Physical Therapy Exam (ver o site www.fsbpt.org) dos Estados Unidos para trabalharem no mercado americano é muito pequeno comparado com o número de fisioterapeutas americanos e de outros países como o Canadá. A bem da verdade, o brasileiro com apenas graduação em fisioterapeuta não poderá a partir de 2002, sequer prestar o exame da National Physical Therapy Exam, se não tiverem pelo menos um mestrado profissionalizante. Isto não quer dizer em hipótese alguma que o fisioterapeuta brasileiro não tem talento e valor. Faço parte daqueles que acreditam na capacidade clínica e científica de nosso profissional fisioterapeuta, sejam eles graduados, especialistas, mestres ou doutores. Apenas creio que o ufanismo não ajuda a chegarmos aonde deveríamos estar. Por uma questão ética e até mesmo legal, sou dos que acredita que devemos utilizar apenas os títulos que conquistamos, por mérito e não por decreto como estabelece resoluções dos conselhos sobre o uso de doutor. Sugiro uma leitura atenta de meu artigo intitulado “ Um doutor se forma dentro do mérito acadêmico e não no decreto”. Pessoalmente, acredito que devemos lutar para fortalecer o COFFITO e municiá-lo com uma legislação moderna. Isto não quer dizer que devamos reformular totalmente a legislação vigente do COFFITO. Acredito que várias resoluções do COFFITO são modernas e avançadas. A agenda não pretende ser uma proposta acabada e imutável para a profissão. Cabe aos fisioterapeutas a decisão de lutar para modificar algumas resoluções dos conselhos e de leis federais. Devemos lembrar sempre que as prerrogativas emanadas de lei foram criadas pelos homens e portanto passíveis de serem anuladas ou modificadas. Para tanto, conclamo ao COFFITO a tomar uma atitude construtiva e democrática no que diz respeito à discussão do futuro de nossas profissões. Dentro desta civilidade deve-se evitar agredir aqueles que pensam a profissão além da ótica legal vigente. Pessoalmente, continuarei me reservando o direito constitucional de ousar lutar para mudar o que acredito que deva ser mudado. A Lei n.6.316/75 que cria o COFFITO e os CREFITOS diz que compete aos conselhos “estimular a exação no exercício da profissão, velando pelo prestígio e bom conceito dos que a exercem” (Art 5 e 6, itens XII). Referência Almeida G L. Uma agenda para a fisioterapia do terceiro milênio no Brasil. Fisioterapia Brasil 2000;1(2):55-64. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 77 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Trabalhos apresentados no Io Congresso Brasileiro de Pesquisa em Fisioterapia, São Carlos, abril/maio de 2001 Ana Paula Urdiales Garcia*, Fernanda R. Moraes*, Cristiano S. Silva**, Lilian C.A. Teixeira**, Tatiane F. Ribeiro*, Vera R. Marães*, Luís A. Milan***, Ester da Silva*, Aparecida Maria Catai* Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular – DeFisio – UFSCar – São Carlos, SP, ** Bioengenharia–EESC/FMRP– USP – São Carlos, *** Departamento de Estatística– UFSCar – São Carlos, SP * Análise da capacidade funcional de voluntárias jovens – estudo de caso Resumo O objetivo do presente estudo foi determinar o limiar de anaerobiose (LA), por meio da variabilidade da freqüência cardíaca (VFC), em duas mulheres jovens sendo, uma atleta de 23 anos e uma sedentária de 21 anos, que foram submetidas a um teste de esforço físico dinâmico com protocolo descontínuo (TEFD-D), realizado em cicloergômetro. A freqüência cardíaca (FC) foi registrada batimento a batimento, em tempo real e os dados analisados a partir de um modelo estatístico semiparamétrico. Os resultados mostraram que a atleta atingiu o L.A. em valores de FC e níveis de esforço superiores à voluntária sedentária, sugerindo assim que o treinamento físico aeróbio pode alterar a capacidade funcional aeróbia. Introdução No exercício físico dinâmico (EFD) há um desencadeamento de ajustes hemodinâmicos e metabólicos, com a participação de todos os sistemas que compõe o organismo. As variáveis cárdio-respiratórias se modificam para aumentar o transporte de oxigênio e nutrientes aos músculos em atividade contrátil, manter a formação de ATP e/ou restaurar as suas reservas consumidas durante fases de contração anaeróbia [1, 2, 3]. Se o EFD for realizado em nível submáximo, ocorre uma condição de equilíbrio metabólico, causado pelo predomínio da produção energética aeróbia. O LA, por sua vez, ocorre quando a demanda metabólica excede a produção energética da via aeróbia e existe o predomínio do metabolismo anaeróbio acompanhado de modificação de respostas de inúmeras variáveis, como as respostas ventilatórias e de FC, durante o EFD [4, 5]. O LA é de 78 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 fundamental importância na determinação de capacidade física e sua identificação pode ser realizada por métodos diretos e indiretos [4]. Recentemente muitos estudos têm sido direcionados na análise da resposta da FC para detecção do LA, pois é uma variável relevante no diagnóstico funcional de um indivíduo, fornecendo através de sua observação informações que podem determiná-lo por uma mensuração indireta do transporte de oxigênio pelo sistema cardiovascular [3, 6]. Assim o objetivo do presente estudo foi determinar e comparar o LA, através da VFC, em duas mulheres jovens. Materiais e métodos Voluntárias: uma atleta de 23 anos, praticante de triatlon há 4 anos e 6 meses e uma sedentária de 21 anos, com características antropométricas semelhantes, não fazendo uso de medicamentos, não fumantes e em fase folicular do ciclo menstrual. Ambas concordaram em assinar um termo de consentimento formal. O trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética da UFSCar, processo n° 36. Protocolo experimental: TEFD-D individualizado, programado de acordo com o nível de atividade física de cada voluntária. A atleta foi submetida a protocolo de potências crescentes de 20 em 20 watts, a partir de 40 watts, e a sedentária foi submetida a um protocolo com potências crescentes de 5 em 5 watts, a partir de 35 watts. Os testes foram realizados em cicloergômetro de frenagem eletromagnética (Quinton – Corival 400), a FC foi captada batimento a batimento, em tempo real, a partir do eletrocardiograma registrado na derivação bipolar (MC5 modificada), em um monitor cardíaco de 1 canal (ECAFIX TC500) e processado por meio de um conversor analógico digital Lab. PC+ (National Instruments, CO.), que constitui uma interface entre o monitor cardíaco e o microcomputador Pentium II [7]. Os dados foram analisados através de um modelo estatístico semi-paramétrico, utilizando-se o aplicativo S-PLUS 2000 Professional. Tal modelo identifica a desestabilização da FC que é coincidente com o início do incremento lento da mesma sugerindo a ocorrência do LA [3, 4]. Resultados e discussão Os resultados mostram que a voluntária atleta atingiu o LA entre as potências de 150 e 160 Watts, com FC média de 132 e 133 bpm, respectivamente, enquanto que a voluntária sedentária apresentou o LA entre as potências de 35 e 40 Watts, com FC média de 111 e 115 bpm, respectivamente. A maior capacidade funcional aeróbia da voluntária atleta pode ser devida ao intenso programa de treinamento físico que a mesma se submete, pois a modalidade executada pela voluntária requer muito do seu sistema aeróbio. Já a voluntária sedentária apresentou pequeno desempenho durante o teste, atingindo o LA em cargas baixas, pois o sedentarismo afeta a capacidade funcional avaliada pelo LA [1, 2, 3]. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 79 Figura 1 - Comportamento da freqüência cardíaca nos níveis de esforço entre os quais o LA foi determinado em ambas voluntárias estudadas. Conclusão Os nossos resultados sugerem que a capacidade funcional da atleta pode ser atribuída ao treinamento físico aeróbio a que é submetida. Referências 1. Gallo Jr L., Maciel BC, Marin Neto JA, Martins LEB. Ajustes cardiovasculares ao exercício físico. Efeitos do treinamento aeróbio. Medicina, Ribeirão Preto 1990; 23(2):101-106. 2. Catai AM. Estudo da capacidade aeróbia e da variabilidade da freqüência cardíaca em homens jovens e de meia-idade submetidos a treinamento físico aeróbio. Tese de Doutorado, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, 1999. 3. Marães VRFS. Estudo da variabilidade da freqüência cardíaca durante exercício físico dinâmico em voluntários sadios. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biologia. Universidade Estadual de Campinas, 1999. 4. Wasserman K., Hansen JE., Sue D, Whipp BJ. Principles of exercise testing and interpretation. Lea & Febiger, Philadelphia, USA, 1986. 5. Baldissera W. Estudo da variabilidade do limiar de anaerobiose e freqüência cardíaca de indivíduos sedentários e atletas durante exercício físico dinâmico em cicloergômetro, utilizando rampas corrigidas. Tese de Doutorado, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 1992. 6. Silva E, Catai AM, Trevelin LC, Guimarães J, Silva Jr L, Oliveira L, Milan LA, Martins LEB, Gallo Jr L. Design of computerized system to evaluate the cardiac function during dinamic exercise. Med Phys Biom Engin 1994:409. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 80 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Robison José Quitério*, Ester da Silva* (O), Lílian Cristine Teixeira*(CO) *Laboratório de Fisioterapia Cardiovascular, Programa de Pós-graduação em Fisioterapia, UFSCar, São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Variabilidade da freqüência cardíaca em atleta e em sedentário em repouso nas posições supina e sentada – estudo de caso Resumo O objetivo deste trabalho foi estudar a variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) em 2 jovens saudáveis, sendo um sedentário e outro atleta, em repouso, na posição supina e sentada. Os voluntários foram submetidos a um eletrocardiograma (ECG) em repouso, na derivação MC5 modificada, nas posições supina e sentada, por seis minutos em cada uma. A freqüência cardíaca (FC) foi processada por meio de um conversor analógico digital e registrada no computador, batimento a batimento, em tempo real. A VFC foi analisada a partir dos índices RMSM (raiz quadrada da somatória do quadrado das diferenças dos valores individuais em relação ao valor médio dividido pelo número de intervalos R-R) e RMSSD (raiz quadrada da somatória do quadrado das diferenças entre os intervalos R-R divididos pelo número de intervalos R-R, em milisegundos). O atleta apresentou maiores índices nas duas posições. Os 2 voluntários apresentaram VFC maior na posição supina. Introdução A literatura tem reportado que o treinamento físico regular pode ser capaz de modificar o controle autonômico cardíaco (Goldsmith et al., 1992; Shin et al.,1997). Robinson (1966) refere que na posição supina ocorre um predomínio da atividade do parassimpático na modulação da FC e Gallo Jr (1995) menciona que na mudança de posição corporal ocorre uma série de alterações hemodinâmicas no organismo. A observação de uma FC fixa quando da mudança da posição corporal revela uma disfunção na alça reflexa envolvida com a regulação cronotrópica, mais comumente, neuropatia autonômica (Castro, 1992). Objetivo O objetivo deste trabalho foi estudar a variabilidade da freqüência cardíaca em 2 jovens saudáveis, sendo um sedentário e outro atleta, em repouso; na posição supina e sentada. Materiais e métodos Foram estudados dois voluntários do sexo masculino; sendo um sedentário e outro atleta (corredor de longas distâncias), não fumantes, não obesos, nem usuários de drogas ou medicamentos, considerados saudáveis após avaliação clínica, exames laboratoriais e ECG convencional. Este trabalho foi aprovado pela Comissão de Ética da UFSCar, processo 057/2000. Os voluntários permaneceram em repouso na posição supina por 20 minutos e após foi realizado o ECG de repouso na posição supina Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 81 e sentada, na derivação MC5 modificada, com monitor cardíaco de um canal (ECAFIX TC500), por seis minutos em cada postura (supina e sentada), processado por meio de um conversor analógico digital Lab.PC+ (National Instruments, Co.), que constitui a interface entre o monitor cardíaco e o microcomputador, e registrado batimento a batimento, em tempo real através de software específico para captação do ECG e cálculos dos intervalos R-R (Silva, 1994). A temperatura ambiente foi mantida entre 23 e 24º C e a umidade relativa do ar entre 46 e 60%. Os testes foram realizados no período da tarde. A VFC foi calculada a partir dos índices RMSM e RMSSD dos intervalos R-R, em milisegundos (Antila, 1979), para cada voluntário, em cada uma das posições. Quanto maior o valor dos índices, maior é a VFC. Resultados e discussão A tabela 1 apresenta os dados da análise da VFC, a partir dos índices de RMSM e RMSSD dos intervalos R-R, obtidos dos dois voluntários, na condição de repouso, onde observamos que o atleta apresentou os maiores valores, nas duas formas de análise, tanto na posição supina quanto na sentada. Estes achados estão de acordo com Goldsmith et al. (1992) e Shin et al. (1997) que citam que o treinamento físico regular pode ser capaz de modificar o controle autonômico cardíaco. Em relação a mudança de postura, ambos os voluntários apresentaram maiores índices, tanto de RMSM quanto de RMSSD, na posição supina, estando de acordo com Robinson (1966) que refere que na posição supina ocorre um predomínio da atividade parassimpática na modulação da FC. Tabela1 - Valores dos índices RMSM e RMSSD para os intervalos R-R (ms), obtidos em repouso, na posição supina e sentada, durante período de 6 minutos em cada posição. RMSM dos IRR (ms) RMSSD dos IRR (ms) Voluntário Nível atividade física Supino Sentado Supino Sentado NLVC URS 41,86 45,54 37,61 43,76 33,16 53,09 26,62 43,34 Sedentário Atleta Conclusão A maior VFC apresentada pelo atleta sugere que o treinamento aeróbio modifica a modulação autonômica do coração. E ainda que a maior VFC apresentada pelos dois voluntários na posição supina em relação à sentada pode ser influenciada por uma maior atuação do sistema parassimpático naquela posição (supina). Referências Antila K. Quantitative characterization of heart rate during exercise. Scandinavian J. Clin Lab Invest 1979;80:153-155. Castro CLB, Nóbrega ACL, Araújo CGS. Testes autonômicos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 82 cardiovasculares. Uma revisão crítica. Parte I. Arq Bras Cardiol 1992;59(1):151-158. Gallo Jr L, Maciel BC, Marin-Neto JA. et al. Control of heart rate during exercise in health and disease. Braz J Res 1995;28(3):1179-1184. 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Neto (O), Anderson Luiz de Oliveira Nunes, Fábio Teodoro Coelho Lourencin Curso de Fisioterapia, Faculdades Salesianas de Lins, São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Atuação da fisioterapia através de medidas preventivas laborais dentro da empresa Introdução A fisioterapia vem nos últimos anos conquistando um espaço importante no meio industrial e empresarial, atuando muitas vezes diretamente no combate aos DORT, na tentativa de amenizar os danos causados pelo trabalho excessivo e repetitivo a que são submetidos funcionários. Em decorrência da falta de preparação por parte destes quanto a sua estrutura osteomuscular, a fisioterapia chega para orientar e melhorar as condições musculares e posturais, prevenindo assim, as lesões durante o trabalho. Objetivos O objetivo dessa pesquisa foi desenvolver atividades dentro da empresa, favorecendo o bem-estar do funcionário, e a questionar a relevância dessa empreitada para empresa. A ginástica laboral associada a folhetos contendo orientações posturais tem como função primeira uma melhor preparação do funcionário da empresa para sua jornada de trabalho, assim como a sua conscientização quanto à necessidade de melhores posturas dentro e fora do ambiente de trabalho. Dessa nova visão em relação a si mesmo advém melhoria na auto-estima, tornando o ambiente de trabalho mais descontraído e agradável. Materiais e Métodos A ginástica laboral, os folhetos orientativos e o programa de orientações posturais foram os recursos escolhidos para se iniciar um trabalho preventivo na Empresa de Refrigerantes ArcoÍris Ltda, localizada na rua Felício Ferreira, 63, na cidade de São Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 83 José do Rio Preto-SP, nos setores de produção, carga/descarga e entrega de mercadorias. Durante um período de três meses, foram eram realizadas visitas diárias a esses setores, e assim realizada a ginástica laboral e as orientações posturais. As sessões de ginástica laboral foram implementadas diariamente, antecedendo o início da jornada diária de trabalho, onde todos os exercícios eram baseados em séries de relaxamento, aquecimento e alongamento. Além disso, foram entregues roteiros de entrevistas aos funcionários, ao médico do trabalho e ao técnico em segurança do trabalho. Estes roteiros eram constituídos de perguntas subjetivas. Resultados Com as respostas obtidas pelos roteiros de entrevistas, observou-se uma melhora subjetiva, por parte dos funcionários, no ambiente de trabalho e durante a realização de suas atividades. Os outros profissionais, médico do trabalho e técnico em segurança, se conscientizaram dos benefícios de um programa preventivo para a empresa e apoiaram a continuidade das atividades realizadas pela equipe. Conclusão Com isso, a realização da ginástica laboral, orientações posturais e folhetos orientativos favoreceram o bem-estar e incorreram na aceitação reflexionada e inteligente de posturas mais adequadas durante as atividades e fora do ambiente de trabalho, o que pode, indubitavelmente, auxiliar o funcionário para uma melhor realização de suas atividades durante a jornada de trabalho. Os reflexos disso são constatados na produtividade da empresa. As atividades descritas, podem dar início a um trabalho preventivo em empresas onde os funcionários desempenham esforços de carga/ descarga, de entregas e outros. Diante de pressupostos teóricos e práticos deste trabalho, conclui-se que a fisioterapia, atuando de forma preventiva, através da ginástica laboral, orientações posturais e folhetos orientativos, torna-se um importante recurso a ser desenvolvido plenamente dentro do ambiente de trabalho. Referências Anderson B. Alongue-se no trabalho: exercícios de alongamento para escritório e computador. 2o ed. São Paulo, Summus, 1998. Andrei. Dicionário médico. 7o ed. São Paulo, Andrei, 1997 p.19, 260, 554, 557, 689. Blakiston. Dicionário médico. 2o ed. São Paulo: Andrei,1982, p. 153, 419, 842, 848. Cailliet R. Compreenda sua dor de coluna. São Paulo: Manole. 1985 Cañete I. Humanização: Desafio da empresa moderna. São Paulo, Artes e Ofícios Ltda, 1995. Catharin MA. Tratamento fisioterápico preventivo e curativo nas tenossinovites. Lins, 78p, Trabalho de Conclusão de Curso entregue à Faculdade Salesianas de Lins, 1999. Chiavenato I. Introdução à teoria geral da administração. São Paulo, McGraw-Hill, 1993. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 84 Codo W, Almeida MCCG. Lesões por esforços repetitivos. 4o ed. Petrópolis, Vozes, 1998. Coelho MMB, Reis RJ. Doenças músculo-esqueléticas de origens ocupacionais dos membros superiores. Belo Horizonte, Health, 1998. Fernandes ACS, Soligo CG. 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A pesquisa envolveu dezesseis sujeitos, divididos aleatoriamente em quatro grupos distintos, classificados segundo a freqüência de pulso do aparelho, não sendo associados exercícios físicos e controle alimentar. Após a análise dos exames de ultra-sonografia, observou-se que não houve mudanças significativas no diâmetro dos tecidos musculares e adiposos do abdômen. Portanto, a NMES mostrou-se ineficaz com os parâmetros descritos. Objetivo A eletro-estimulação neuro-muscular (NMES) é a aplicação de uma corrente elétrica visando a um fortalecimento, hipertrofia e treinamento muscular. A ptose abdominal, a gordura localiza- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 85 da e a flacidez são as principais problemáticas que afligem a população atualmente, principalmente o público feminino, o que leva ao grande aumento na procura por tratamentos proporcionados pela fisioterapia estética que, por esse motivo, vem aumentando também a sua área de atuação e, da mesma maneira, incentivando novos avanços tecnológicos. Levando em consideração a tentativa de amenizar tal problemática, esse trabalho vem propor a utilização da NMES na região abdominal com o objetivo de avaliar os seus efeitos no tecido muscular e adiposo local. Materiais e métodos Os experimentos foram realizados no Centro de Reabilitação Física Dom Bosco, na cidade de Lins (SP) e na Clínica Densimed, na cidade de Lins (SP). Para a realização deste estudo, a amostra experimental foi composta por 16 sujeitos, voluntárias do sexo feminino com idade variando entre 18 e 21 anos, divididos aleatoriamente em quatro grupos distintos, classificados segundo a freqüência de pulso do aparelho. Todos os sujeitos, sedentários, durante o experimento não praticaram nenhuma atividade física associada, assim como nenhum controle alimentar. Na pesquisa, foram utilizados dois canais promovendo a eletro-estimulação da musculatura abdominal, posicionados na forma cruzada, obedecendo a os seguintes parâmetros: 2.500Hz de freqüência do aparelho; freqüência de pulso dividida em 30, 50, 80, e 100Hz, com tempo on de 9s e tempo off de 27s, totalizando quinze minutos de eletro-estimulação por um período de quinze sessões, utilizando intensidades superiores a 100 ma respeitado o limiar doloroso de cada indivíduo. Um exame foi selecionado para controle e mensuração do diâmetro do tecido muscular e adiposo dos sujeitos da pesquisa, sendo usado para tal o ultra-som linear de imagens. Resultados Após a análise dos exames de ultra-sonografia, chegou-se aos seguintes resultados. No grupo de 30 Hz, os tecidos musculares e adiposos não apresentaram resultados significativos quanto a mudanças de diâmetro do tecidos. No grupo de 50Hz, o tecido muscular não apresentou resultados significativos, em relação ao tecido adiposo. Resultados significativos quanto à diminuição do diâmetro desse tecido pode ser observada com aumento do peso corpóreo. No grupo de 80 Hz, a musculatura abdominal não apresentou resultados significativos. Já em relação ao tecido adiposo, notou-se uma diminuição significativa no diâmetro, sem alterações quanto ao aumento do peso corpóreo. O grupo de 100 Hz, em que também observamos os seus efeitos sobre os o tecido muscular abdominal, não demonstrou nenhum resultado significativo, mas o tecido adiposo teve diminuição significativa em seu diâmetro. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 86 Conclusão Após o desenvolvimento do trabalho e dos resultados obtidos, chegamos às seguintes conclusões: a NMES mostra-se ineficaz pois, na área em que foi estimulada com os parâmetros descritos, não ocorreram respostas satisfatórias em ambos os tecidos. Apoio financeiro: Faculdades Salesianas de Lins, Curso de Fisioterapia Referências Brasileiro JS, Villar AFS. Comparação dos torques gerados por estimulação elétrica e contração muscular voluntária do músculo quadríceps femoral. Revista Brasileira de Fisioterapia, São Carlos, 1999:75-82. Carvallo PTC. Conceitos Básicos de Eletricidade: Apostila interna do Curso de eletroterapia de baixa, média e alta freqüência. Lins, 1997. Currier DP, Ray JM, Nyland J. et al. 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Para isso foram tiradas fotos em quatro fases, e a partir delas, foram encontrados os C.G.’s, feitas figuras de palito e nelas determinamos os ângulos articulares. Sendo o movimento um salto, realizado com extensão dos joelhos durante a queda, a sobrecarga nos membros inferiores é muito grande. Objetivos Foi selecionado para a análise um movimento do ballet clássico por ser ainda executado diariamente por bailarinos profissionais em coreografia e em treinamento, mesmo quando apresentam coreografias modernas. O movimento petit sauté sem plie, em primeira posição, à dehors, consiste em um salto a partir de uma posição de rotação lateral dos quadris com estes e joelhos estendidos, tornozelos fletidos e pés apoiados no chão. Durante o salto, a rotação é mantida, os pés saem do chão e o corpo se eleva em aproximadamente 10 cm. No ar o tornozelo deve ser estendido ao máximo. Na volta do salto, a recepção de carga é feita sem a flexão dos joelhos. Os membros inferiores devem retornar à posição inicial do movimento. Embora este movimento seja realizado em freqüência menor do que outros passos e não seja presente em coreografias, foi escolhido por ser executado em treinamento e por proporcionar uma grande sobrecarga nos membros inferiores. Quando é solicitado, pedese, no mínimo, 32 repetições. Este número pode ser dobrado, triplicado ou mais dependendo do condicionamento físico e da presença ou não de pausa entre as seqüências. O intuito maior deste movimento é o fortalecimento dos pés. Materiais e métodos O movimento realizado foi didaticamente dividido em 4 fases. A fase 1 consiste na posição estática do sujeito estudado. Este se encontra em bipedestação e rotação lateral máxima dos quadris e joelhos. A fase 2 é a propulsão do corpo do sujeito para a realização do salto. Nesta posição ele mantém a rotação lateral dos quadris e dos joelhos e a postura ereta. A impulsão é realizada pela flexão plantar dos tornozelos mantendo ainda a ponta dos pés em contato com o solo. Na fase 3, o sujeito atinge a altura máxima do salto retirando por completo os pés do chão, consistindo a fase aérea do movimento. A rotação lateral dos quadris e dos joelhos se mantém e a flexão plantar atinge seu limite. Por último, a fase 4 é a recepção da carga pelos artelhos, 88 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 pelos metatarsos e pela articulação do joelho como conseqüência da queda do corpo. A rotação lateral dos quadris e dos joelhos se mantém e a flexão plantar diminui. As fotos foram tiradas no plano perpendicular ao do movimento analisado. A máquina utilizada foi uma Cássio, digital Cásio QV-11, Liquid Crystal Digital Camera. Foram identificados superficialmente e marcados os pontos anatômicos de interesse para este movimento estudado nos membros inferiores e nos quadris, no próprio corpo do sujeito. As referências anatômicas identificadas, bilateralmente, foram as seguintes: espinha ilíaca ântero-superior, trocânter maior do fêmur, espaço interarticular medial do joelho, maléolo medial e cabeça do primeiro metatarso. Para se poder visualizar todos os pontos no plano frontal, realizou-se a projeção anterior: do trocânter maior do fêmur e do espaço interarticular medial do joelho. A partir dessas referências anatômicas e de suas projeções, elaboramos as figuras de palito para futura análise dos ângulos articulares envolvidos. Foi identificado também, em cada uma das fases, o centro de gravidade (CG) do corpo. Para isso utilizamos o Método Segmentar de cálculo do CG (Hall, 1993). Resultados Pelas Figuras de Palitos, observamos que no quadril, o ângulo se mantém em 180o em ambos os lados durante todo o movimento. O mesmo acontece com a articulação do joelho, que durante as quatro fases se mantém em 178o no membro direito e 180o no esquerdo, demostrando uma extensão permanente. Já na articulação do tornozelo a alteração angular é grande, já que é onde se origina o movimento. O ângulo inicial é de 110o, já atingindo a angulação máxima de 180o no membro direito e 175o no membro esquerdo na fase 2, mantendo-se esta angulação na fase 3, e sofrendo leve redução na fase 4, em que o pé retorna em contato com o chão. Quanto ao CG do corpo, este se mantém aproximadamente na mesma altura em todas as fases, apenas acompanhando o corpo em sua subida vertical, elevando-se assim alguns milímetros na foto, mas mantendo-se em ponto constante no corpo. Na fase 1, ocorre maior apoio no bordo lateral nos pés acontecendo porém, um deslocamento do centro de pressão constantemente, os tornozelos estão em posição neutra, os joelhos encontram-se estendidos ao máximo. O quadril na fase 1 encontra-se em rotação lateral, pela ação do Glúteo Máximo e feixes posteriores dos Glúteos Médio e Mínimo (Smith et al., 1997). Os ligamentos anteriores estão muito tensos, como o feixe superior do Ílio-femoral e Pubo-femoral. Na fase 2, os tornozelos fazem flexão plantar até o máximo. Os dedos ficam fletidos, com apoio todo sobre as articulações metatarso-falangianas e sobre os artelhos. O músculo mais atuante nesta fase é o tríceps da perna (Smith et al., 1997), já os joelhos apresentam-se estendidos, assim como na fase 3. Durante a fase 2, a rotação lateral do quadril se mantém, assim como a tensão dos ligamentos. Ocorre uma pequena abdução do quadril realizada principal- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 89 mente pelos músculos Glúteo Médio, Glúteo Mínimo e Tensor da Fáscia Lata. Já na fase 3, os dedos estão estendidos e os tornozelos em flexão plantar. A abdução de quadril é um pouco maior, pela ação dos mesmos músculos já especificados. A rotação lateral de quadril aparentemente mantém-se. Na fase 4, ocorre a recepção de carga sobre os artelhos e a e as articulações metatarso-falangianas. O tríceps da perna faz ação excêntrica controlando a queda a partir do primeiro contato (Smith et al., 1997). Ocorre sobrecarga também no calcanhar quando este encosta no chão, pois não há flexão dos joelhos. É na fase 4 que ocorre grande sobrecarga nos joelhos pois são mantidos em extensão. Se houvesse a flexão, o quadríceps iria controlar a queda por uma ação excêntrica, amortecendo a queda. Com os saltos repetidos, aumenta a produção de líquido sinovial. Como isto não ocorre nos primeiros saltos, há grande sobrecarga nos meniscos e cartilagens articulares (Frankel & Nordin, 1980). No movimento de quadril, ocorre adução até que os membros inferiores encontrem-se, pela ação dos músculos Adutores Longo, Curto e Magno, Grácil e Pectíneo. Se não houvesse a ação destes músculos, a queda não ocorreria com os membros unidos (Smith et al., 1997). Conclusão Esta sobrecarga excessiva especialmente nos pés e joelhos, poderia acarretar a médio-longo prazo para a bailarina, lesões recorrentes de estruturas articulares, tais como discos fibrocartilaginosos e cartilagem articular; ou ainda artroses oriundas destas lesões recorrentes na região e com isso provocando muita dor e deformação das estruturas articulares. Desta forma, o estudo recomenda outro tipo de fortalecimento para os pés, algo que sobrecarregue menos os joelhos. Referências Hall S. Biomecânica Básica. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1993. Frankel VH, Nordin M. Basic biomechanics of the skeletal system. Lea & Febiger, Philadelphia, 1980. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5a ed. Ed. 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Todas as posturas estudadas apresentam desvantagens quanto a sua posição articular, o que geram uma sobrecarga na articulação, que se mantida por muito tempo, pode originar um stress nos músculos do segmento. Objetivos A postura sentada é muito utilizada em tarefas profissionais e acadêmicas e muitas vezes estas posturas podem ser alteradas em função do mobiliário escolar, da empresa ou ainda em função da adequação do aparelho locomotor à tarefa a ser executada. Devido a grande variação de posturas adotadas na posição sentada, há o interesse em se avaliar a mecânica destas posturas e a conseqüente solicitação e sobrecarga mecânica dos segmentos envolvidos. Neste trabalho, foram estudadas três posturas na posição sentada em uma carteira escolar de forma a avaliar as variações das solicitações e sobrecargas em alguns segmentos do aparelho locomotor. Estas três diferentes posturas foram escolhidas porque, além de serem muito freqüentes, após um longo período nestas posições, sentimos dores localizadas nas costas; o que acredita-se serem causadas pela longa permanência nestas posturas e pela inadequação das mesmas. Na primeira postura o sujeito está sentado na ponta da cadeira, com os joelhos flexionados e os pés apoiados no chão. Seus braços estão levemente flexionados e apoiados nas coxas, seu tronco está ligeiramente inclinado para frente e sua cabeça está um pouco flexionada, para possibilitar a leitura. A segunda postura retrata o sujeito sentado na mesma cadeira, mas agora ele está sentado um pouco mais para trás. Seus joelhos estão flexionados e seus pés estão apoiados a 15,39 cm do chão. Seu tronco está um pouco flexionado e inclinado para frente, seus braços estão apoiados nas coxas. Na terceira postura o sujeito está sentado na mesma cadeira, com apenas a região da coluna torácica apoiada no encosto da cadeira, sendo que o quadril está na ponta da cadeira. Os joelhos estão flexionados e os pés estão apoiados a 41,45 cm do chão, em outra cadeira localizada logo a sua frente. Seus braços estão apoiados nas coxas, e a cabeça está levemente flexionada para permitir a leitura. Materiais e métodos Foram tiradas fotos das posturas e marcamos no corpo do sujeito pontos de interesse a partir de referências anatômicas. A partir desses pontos elaboramos as figuras de palito que foram utilizadas para o cálculo dos ângulos formados pelos segmentos cervical, torácico e lombar. Foi calculado o Centro de Gravidade (CG) através do método segmentar. O torque articular foi calculado nos segmentos cervical e lombar, e para tanto, foram adotados como eixo dessas articulações o processo mastóide e a quarta vértebra lombar, respectivamente. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 91 Resultados O maior ângulo de flexão medido no segmento cervical foi igual a 160o, encontrado na terceira postura. O maior ângulo de flexão referente ao segmento torácico foi igual a 157o, medido na primeira postura, e o referente ao segmento lombar foi de 115o, também na primeira postura. No segmento cervical, o maior torque articular encontrado foi igual a 4,51 N. m presente na primeira postura. Quanto ao segmento lombar, o maior torque encontrado foi equivalente a 49,23 N. m na terceira postura. Através desses resultados concluímos que a musculatura suboccipital, responsável pela estabilidade do segmento cervical, é mais solicitada na primeira postura. E a terceira postura exige muito da musculatura abdominal, já que não é oferecido nenhum apoio para a região da coluna lombar. Conclusão Todas as posturas estudadas apresentam desvantagens quanto à sua posição articular. Essas desvantagens geram grande solicitação muscular, que se mantidas por muito tempo ou com uma grande freqüência, podem gerar stress. Com o passar do tempo, esse stress irá provocar fortes dores musculares, podendo acarretar grandes problemas na coluna e se a musculatura suboccipital permanecer tensionada com muita freqüência, provoca fortes dores de cabeça. Além do grande incômodo gerado por dores nas costas e na cabeça, muitas vezes essas dores acabam impossibilitando as pessoas de executarem suas tarefas cotidianas. Todos esses problemas podem ser evitados adotando-se uma melhor postura, que não sobrecarregue tanto as articulações. Referências Amadio AC, Costa PHL, Sacco ICN, Serrão JC, Mochizuki L, Duarte M. Introdução à Biomecânica para análise do movimento humano: descrição e aplicação dos métodos de medição. Baumann W. Métodos de medição e campos de aplicação da Biomecânica: estado da arte e perspectivas. Trad. de Sonia C. Correa e Ricardo de Barros. Apresentado ao VI Congresso Brasileiro de Biomecânica, Brasília, 1995. Cavanagh RP. Biomechanicas: a bridge builder among the sport science. Medicine and Science in Sports and Exercise 1996;22(5):5546-557. Dângelo JG, Fattini CA. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar para o estudante de Medicina. 2ª edição, Livraria Atheneu, São Paulo, 1998. Hall S. Biomecânica Básica. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1993. Kapandji IA. Fisiologia Articular. vol. 3, 5ª edição, Editora Manole, São Paulo, 1990. Nachemson AL. Disc pressure measurements. In: Spine 1981;6(1):93-7. Sobotta J, Becher H. Atlas de Anatomia Humana. tomos I e II, 17ª edição, Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1977. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 92 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Daniel Müller Martins Pardal, Isabel de C. N. Sacco Curso de Fisioterapia, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Análise biomecânica do movimento de “ginga” na capoeira Resumo A Capoeira tem evoluído nos últimos cinqüenta anos, saiu das sendas da marginalidade e passou a ser praticada em academias, e com isso está sendo cada vez mais praticada no Brasil. A ginga é um dos movimentos base da capoeira e foi selecionado para este estudo. Objetivos Este trabalho teve por objetivo descrever a anatomia funcional e a biomecânica da “ginga” na capoeira, dividindo-a em 4 fases, analisando as articulações envolvidas com ênfase nos MMII, a musculatura mais utilizada, a sobrecarregada em cada fase e as conseqüências crônicas da prática regular deste movimento. Materiais e métodos O método de medição em biomecânica utilizado foi a cinemática, através de fotografias digitais (câmera Cássio, Cásio QV-11, Liquid Crystal Digital) tiradas no plano perpendicular ao do movimento. Nesta câmera as imagens são gravadas em um disquete e podem ser abertas diretamente no computador. Na fase I fotografou-se o sujeito no plano frontal e sagital, fase esta na qual o membro inferior direito encontra-se com o tornozelo estendido (com uma ligeira abdução); joelho estendido e quadril estendido; o membro inferior esquerdo encontra-se com o tornozelo fletido; joelho fletido; quadril fletido com ligeira rotação lateral e o tronco encontra-se fletido. Na fase II fotografou-se o sujeito no plano frontal, e esta fase é o início da transferência de peso, onde o membro inferior direito encontra-se com o tornozelo indo de eversão para inversão e posição neutra entre flexão e extensão, joelho estendido e quadril indo de extensão para abdução e ligeira flexão; o membro inferior esquerdo encontra-se com o tornozelo fletido, joelho fletido e quadril fletido com ligeira rotação lateral e o tronco fletido com inclinação para a esquerda. Na fase IV fotografou-se o sujeito no plano frontal e sagital, fase esta caracterizada pela transferência de peso já completa e o capoeirista está pronto para dar continuidade ao movimento. Os pontos marcados no capoeirista para análise das fotos não foram ao acaso, foram pontos anatômicos que foram julgados importantes para analisar o movimento: o quinto metatarso, o maléolo lateral e medial e suas projeções para a parte anterior do corpo, a patela e sua projeção para a porção lateral do corpo, o trocânter maior do fêmur e sua projeção para a porção anterior do corpo, as espinhas ilíacas ânterosuperiores e suas projeções para a porção lateral do corpo, C7 e suas projeções para a porção lateral do corpo, L2 e sua projeção lateral do corpo, acrômio, olecrano, parte distal do rádio e da ulna. No cálculo do Centro de Gravidade (CG), nas diversas posições da ginga, utilizou-se o método segmentar (Hall, 1993). Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 93 Discussão e resultados Em todas as fases do movimento da ginga analisado, há uma solicitação grande dos tornozelos, dos joelhos e do tronco, especialmente da coluna lombar. As grandes solicitações dos tornozelos e dos joelhos ocorrem principalmente na fase de transferência do peso de um membro inferior para o outro (fases II e III), onde a sobrecarga no membro inferior que está recebendo a carga dinamicamente irá facilitar torções e outras lesões nessas articulações. A grande utilização dos tornozelos leva a uma grande solicitação dos ligamentos laterais e mediais, e a possibilidade de entorse é grande (Smith et al., 1997). A grande sobrecarga nos joelhos pode, com o tempo, causar dores, já que na ginga e durante a prática da capoeira ocorre muito a lateralização da perna. Na fase de transferência de peso, essa lateralização do corpo ocorre com uma certa carga (o próprio peso do corpo sendo sustentada por apenas uma perna) o que pode prejudicar os ligamentos colaterais do joelho, tornozelo e pé. Com a flexão de tronco durante a Ginga, podendo até mesmo ser mais exagerada do que nas posições estudadas, o CG é deslocado anteriormente; assim, para evitar queda, há uma solicitação grande dos paravertebrais, principalmente da região lombar, o que, com o tempo, acarreta dores nessa região, fato este bem comum entre capoeiristas. No cálculo do CG, podemos notar sua localização exata no indivíduo e como isso interfere na ação muscular naquela posição. Na fase I do movimento, o centro de gravidade está centralizado no tronco, próximo da cicatriz umbilical, mas está ligeiramente lateralizado para a esquerda (na vista frontal), sendo assim há uma sobrecarga dos músculos que proporcionam ou sustentam uma inclinação do tronco, tais como os abdominais oblíquos interno, externo e transversos, além dos músculos responsáveis pela sustentação do peso na perna esquerda, principalmente a ação excêntrica do quadríceps da coxa (Moore, 1994). Em uma vista sagital, podemos perceber que o centro de gravidade é deslocado anteriormente, sendo que normalmente ele se projeta para fora do corpo do indivíduo, pois na “ginga” dinâmica é comum o capoeirista fletir ainda mais o tronco solicitando assim, ainda mais, a ação da musculatura eretora da espinha (paravertebrais) para que sustente o tronco naquela posição. Essa solicitação é muito intensa e é a principal causa de Lombalgia muitas vezes referida pelos capoeiristas após a prática da capoeira. Na fase II, o tronco se encontra inclinado para a esquerda e o peso do corpo está sendo sustentado pela perna esquerda (na fase seguinte o peso do corpo é transferida para a perna direita), com isso, o resultado obtido pelo cálculo das coordenadas do centro de gravidade já era esperado: o centro de gravidade se localiza lateralizado para a esquerda; com isso os músculos que são mais solicitados são os músculos responsáveis pela sustentação da lateralização do tronco (como os músculos abdominais e paravertebrais contralaterais) (Moore, 1994) e também os músculos da perna que está sustentando o corpo, principalmente a ação excêntrica Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 94 do quadríceps da coxa (Smith et al, 1997). Na fase IV, o centro de gravidade do corpo localiza-se de maneira idêntica à encontrada na fase I, tendo assim as mesmas conseqüências musculares, só que contralaterais à fase I. Conclusão O movimento de Ginga sobrecarrega principalmente o quadríceps da coxa (sustentação do peso) e os paravertebrais, o que é a causa da lombalgia reclamada pelos capoeiristas; além disso, há uma solicitação grande dos tornozelos, dos joelhos e do tronco, especialmente da coluna lombar o que pode facilitar a lombalgia, torções e outras lesões no joelho e tornozelo; esse movimento não pode ser evitado na capoeira, já que ele é básico para a prática da mesma, o capoeirista deve tentar fletir menos o tronco e fazer alongamento adequado, antes e depois da prática da capoeira. Referências Hall S. Biomecânica Básica. Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, 1993. Moore KL. Anatomia orientada para a clínica. 3a ed. Guanabara Koogan, Rio de janeiro, 1994. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5a ed. Ed. Manole, São Paulo, 1997. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Semençato Jr. AH, Silva AMP, Sauro EE, Cirillo FP, Neto LFM, Soares NC, Ogata G, Souza KF, Koeke PU Faculdades Salesianas de Lins, Curso de Fisioterapia, Setor de Fisioterapia aplicada à Ortopedia e traumatologia (Hidroterapia), Lins, São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Avaliação das condições sanitárias de água de piscina terapêutica Resumo As diversas utilidades que a piscina terapêutica proporciona para o fisioterapeuta torna-se um elemento de incontestável importância; e que a água utilizada nesses tanques permanecem armazenadas podendo veicular agentes etiológicos de doenças microbianas, procurou-se avaliar as condições sanitárias desta piscina de uso terapêutico. Através de análises físico-químicas e bacteriológicas para coliformes fecais e totais, bactérias heterotróficas e fungos foram obtidos oito amostras de águas coletadas da piscina terapêutica da Clínica de Reabilitação Física Dom Bosco, no período de cinco dias consecutivos e mais duas posteriores que foram submetidas a análises em laboratório especializado. Nos resultados obtidos, constatou-se que a quantidade de cloro é suficiente para promover a desinfecção hídrica. Em uma amostra foi registrado alto índice de bactérias heterotróficas. Nas demais, todos testes realizados comprova- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 95 ram índices compatíveis com a potabilidade, parâmetros estes que evidenciaram condições favoráveis ao uso. Objetivo O presente trabalho tem como objetivo, avaliar a qualidade sanitária de uma piscina terapêutica, ressaltando a necessidade do monitoramento físico-químico e microbiológico, além de evidenciar a importância da educação em saúde de usuários, operadores e responsáveis administrativos das piscinas, alertando para a necessidade de operadores devidamente preparados. Materiais e métodos Foram realizadas 3 análises físico-químicas (FQ) e 8 bacteriológicas (B) da piscina terapêutica da Clínica de Reabilitação Física “Dom Bosco”, Lins-SP, sendo as (B) em dias consecutivos e as (FQ) em dias alternados, seguindo horário e local fixos para as coletas. Após o término das análises constatou-se crescimento de bactérias heterotróficas em uma das coletas, sendo executadas 2 análises adicionais, no 6º e 7º dias após o último exame. As coletas e análises foram realizadas pelo Laboratório de Análises Química e Controle Industrial (LACI), da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação, Lins-SP, seguindo parâmetros preconizados pela Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 20th edition. Resultados Durante a realização desta pesquisa foi observado que tanto a temperatura da água, como a temperatura do ar manteve-se dentro dos padrões para terapias; a turbidez da água manteve níveis abaixo dos limites preconizados; o cloro residual mostrou-se acima da normalidade em uma das amostras, e o pH se manteve em boas condições dentro da faixa permitida. Os indicadores biológicos não apresentaram presença de coliformes fecais e totais, sendo que o crescimento de leveduras mantevese dentro dos limites da normalidade, enquanto que em uma das amostras para estudo de bactérias heterotróficas observouse crescimento de colônias. Conclusão Conclui-se que a operação e manutenção da piscina terapêutica estudada estão sendo adequadas. A dosagem de cloro manteve-se elevada apenas uma das amostras, podendo ser prejudicial à pele dos usuários; todas as outras análises mantiveram-se normais. Os valores do pH mostraram-se satisfatórios. Os microrganismos estiveram dentro dos limites para a água ser considerada potável. Demonstrando assim a importância da execução adequada no tratamento da água, treinamento especializado de operadores e práticas de princípios básicos de educação e saúde, além de investigação Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 96 quanto à disposição geral do setor, bem como os seus vestiários, chuveiros, vasos sanitários, além da conscientização por parte de pacientes e fisioterapeutas quanto ao estabelecimento de normas de higienização de suas vestes e de seu corpo antes de iniciarem tratamento hidroterápico, além da avaliação médica criteriosa antes de fazer uso da piscina terapêutica. Apoio financeiro: Faculdades Salesianas de Lins - Curso de Fisioterapia Apoio na isenção de taxas dos exames: executados pelo Laboratório de Análises Química e Controle Industrial (LACI), da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação, Lins-SP. Referências Andrade MP, Moreira MC. Piscinas de uso coletivo. 2a ed. São Paulo, BNH/ABES/CETESB, 1975 Azevedo JMN. Desinfetantes principais. Ação bactericida do cloro. Dióxido de cloro. Iodo. Ozona. Raios ultra-violeta. São Paulo, CETESB, 1974. Bier OG. Microbiologia e imunologia. 23a ed. São Paulo, Melhoramentos, 1984 Black AP. The desinfection of swimming pool waters. Part. I. Comparison of iodine and chlorine as swimming pool disinfectants. American Journal Public Health 1970;60:535-45. Black AP. The desinfection of swimming pool waters. Part. II. A fiel study of the desinfection of public swimming pool. American Journal Public Health 1970;60:740-50. Geldreich EE. Qualidade microbiológica em águas potáveis. Secretaria dos Serviços e Obras Públicas. Desinfecção de águas. São Paulo, CETESB. 1974. Greenberg AE, Eaton AD, Cleresi LS. Standart methods for the examination of water and wastewater. 20th ed New York, American Public Health Association, 1999. Koneman EW, Allen SD, Dowell VR et al. Diagnóstico microbiológico. 3a ed. México, Panamericana, 1997. Mins C, Playfair J, Roitt I. et al. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Moreno BGD*, Santos LR*, Neto LFM**, André JC***, Sauro EE**, Cirillo FP** *Faculdades Salesianas de Lins – Acadêmicos do curso de Fisioterapia **Faculdades salesianas de Lins – Docentes do curso de Fisioterapia ***FAMERP – Departamento de Morfologia – Docente do curso de Medicina ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 97 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Estudo experimental da aplicação do ultra-som terapêutico contínuo e pulsado nos modos 16hz, 48hz, e 100hz sobre epífise de crescimento de coelhos Resumo Este trabalho tem o objetivo de observar possíveis alterações na cartilagem de crescimento quando estimulado com ondas ultrasônicas .Foram utilizados 12 coelhos da raça Califórnia com idade de 120 dias, subdivididos em quatro grupos sendo utilizados os seguintes parâmetros: grupo 1 de 16 Hz, grupo 2 de 48 Hz, grupo 3 de 100Hz, sendo estes no modo pulsado a 20%, o grupo 4 utilizou o modo contínuo. Para estimulação foi utilizada um transdutor de 1 MHz, com intensidade de 1W/cm². Foi estimulada a epífise proximal da tíbia da pata direita de cada animal, durante dois minutos, por dez dias consecutivos, a pata esquerda foi usada como controle. Após o procedimento experimental os animais foram sacrificados e procedeu-se a excisão de ambas as patas posteriores, tratada e controle, para analise histológica. Após analise, a morfometria da extensão da cartilagem de crescimento mostra ligeiro aumento nos tratados dos três primeiros grupos, em relação ao controle. Apenas o 4º grupo apresentou ligeira redução. A análise da espessura das trabéculas ósseas, bem como da quantidade de colágeno não mostrou diferenças, entre tratada e controle dos quatro grupos. Há ausência na redução da extensão do disco epifisário de crescimento, é favorável a idéia de que o ultra- som não atua como acelerador no fechamento desta, a ligeira redução observada no grupo tratado com modo contínuo, por si só, não conta indica o uso deste modo. Não houve alteração da espessura das trabéculas ósseas, nem da quantidade de colágeno nelas depositadas. Assim sendo pode-se concluir, pelo menos em relação aos parâmetros aqui observados, que o ultra-som não interfere no tempo de existência, nem na qualidade do osso produzido. Objetivo Quando uma patologia situa-se nas proximidades da região da cartilagem de crescimento, há consenso, entre os profissionais fisioterapeutas, de contra-indicação da aplicação de ultra-som por se temer possíveis alterações morfológicas na cartilagem de crescimento. Este trabalho teve por objetivo observar, comparativamente, possíveis alterações morfológicas na região do disco epifisário de crescimento quando estimulado com ondas ultra- sônicas. Materiais e métodos Foram utilizados 12 coelhos da raça Califórnia com idade de 120 dias, divididos em 4 grupos utilizando o modo pulsado a 20% e a técnica sub-aquática. O grupo1 com freqüência de 16hz, no grupo 2 uma freqüência de 48hz, o grupo 3 uma freqüência de 100hz e no grupo 4 foi utilizado o modo contínuo. Foi estimulada a face medial da epífise proximal da tíbia na pata direita de cada animal por 2 minutos, durante 10 dias consecutivos, a pata esquerda foi utilizada como controle. O ultra-som foi utilizado com um transdutor de Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 98 1MHZ, com ERA de 3,98cm² e intensidade de 1 w/cm², e aparelho utilizado foi da marca KLD. Após o procedimento experimental, todos os animais foram sacrificados e procedeu-se à excisão das tíbias de ambas as patas posteriores, direita e esquerda (tratada e controle respectivamente). As peças inteiras foram fixadas em formol neutro a 10%, posteriormente acondicionadas em álcool 70% até a descalcificação. A descalcificação se fez por ácido nítrico e, após a mesma as peças foram reduzidas à metade proximal. Desidratados e diafanizadas as peças foram incluídas em parafina. Da microtomia, resultaram secções de 5 micrometros de espessura que foram coradas por hematoxilina-eosina e picrosirius hematoxilina. As secções foram analisadas em microscopia de luz, com e sem polarização. As regiões da cartilagem de crescimento foram medidas, em extensão, nas secções coradas em HE e uma análise quantitativa da espessura das trabéculas ósseas e da quantidade de colágeno nelas existentes foi realizado, por simples observação, em secções coradas com picrosirius hematoxilina sob luz polarizada. Resultados A morfometria da extensão da cartilagem de crescimento mostrou ligeiro aumento nos tratados, de 3 dos 4 grupos, em relação ao controle. Apenas o grupo tratado com o modo contínuo apresentou ligeira redução. A análise por simples observação, da espessura das trabéculas ósseas, bem como da quantidade de colágeno evidenciado pela polarização, não mostrou diferenças entre os tratados e contra-lateral dos 4 grupos. Conclusão Uma redução na extensão da cartilagem de crescimento nos casos tratados em relação aos controles poderia evidenciar um fechamento precoce da mesma. A ausência desta redução, como pode ser visto neste trabalho, é favorável a idéia de que o ultra-som não atua como acelerador do fechamento da cartilagem de crescimento. A ligeira redução observada no grupo tratado pelo modo contínuo não contraindica, por si só, o uso deste modo. A não alteração da espessura das trabéculas ósseas, nem da quantidade de colágeno nelas depositadas, também corrobora a idéia de que o ultra-som não interfere não processo fisiológico de ossificação. Assim sendo pode-se concluir pelo menos em relação aos parâmetros aqui observados, que o uso do ultrasom nas proximidades da cartilagem de crescimento de coelhos não interfere no tempo de existência do mesmo ou na qualidade do osso produzido a partir daí. Apoio financeiro: Faculdades Salesianas de Lins - Curso de fisioterapia Referências Pospisilova J. Effect of ultrasound on collagen synthesis and deposition in experimental granuloma tissue: possibilites of clinical uses of ultrasound in healing disorders. Acta Chirurgiral Plastical 1976;18(4). Sarvazyan AP. 1983, Some General Problems of Biological action of Ultrasound. IEEE Transactions on Sonics and Ultrasonics 1983;30(1). Silva OL. Estudo do Mecanismo de ação do ultra-som na estimulação do crescimento ósseo, São Carlos.Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos, / Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de são Paulo, 1987. Kitchen SS, Partridge CJ. Physiotherapy 1990;76(10):593-600. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 99 Artigo original Efeitos de atividades físicas e terapêuticas em adultos maduros e idosos The effects of physical and laboral activities in mature adults and elderly subjects Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela*, Laila Daniela dos Santos**, Fátima Goulart*, Janine Gomes Cassiano***, Tânia Lúcia Hirochi**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *PhD, **Fisioterapeuta, ***Mestre, ***Terapeuta Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais Resumo Palavras-chave: Idosos, atividade física, desempenho funcional, qualidade de vida O objetivo desse estudo foi avaliar o impacto de um programa interdisciplinar baseado em condicionamento físico e atividades terapêuticas no desempenho funcional e na qualidade de vida de indivíduos adultos maduros e idosos da comunidade de Belo Horizonte/MG. Vinte indivíduos saudáveis de ambos os sexos com média de 63,6 ± 6,3 anos participaram das atividades propostas durante 10 semanas. Para serem aceitos no programa, os indivíduos apresentaram atestado médico de aptidão física. Cada participante completou um programa de condicionamento físico (2 vezes/semana) e atividades laborativas e sociais baseadas no interesse do grupo (1 vez/semana). O Perfil de Atividade Humana, a velocidade da marcha e a habilidade para subir e descer escadas foram utilizadas para avaliar o desempenho funcional; o Perfil de Saúde de Nottingham foi utilizado para avaliar a qualidade de vida e o Índice de Custo Fisiológico obtido durante a caminhada de 6 minutos foi utilizado para investigar o nível de aptidão física. Cada variável foi determinada antes e imediata- Endereço para correspondência: Profa Dra Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, Depto. de Fisioterapia da UFMG, Av. Presidente Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha, 31270-010 Belo Horizonte – MG, Tel: (31) 3499-4782, Fax: (31) 3499-4790, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 100 mente após o programa proposto. Estatística descritiva foi calculada para todas as variáveis investigadas e o Teste-t pareado foi utilizado para avaliar a eficácia do programa. Foram encontradas melhoras significativas (p < 0,01) na qualidade de vida e na performance funcional. Nenhuma alteração significativa foi observada em relação ao escore obtido no Índice de Custo Fisiológico. Os achados do presente estudo indicaram que o programa baseado em condicionamento físico e atividades terapêuticas resultou em melhoras da qualidade de vida e do desempenho funcional. A participação de indivíduos adultos maduros e idosos nesse tipo de programa favorece a independência funcional e a participação ativa na comunidade. Abstract Key words: Elderly, physical activity, functional performance, quality of life The purpose of this study was to evaluate the impact of an interdisciplinary program based on physical conditioning and therapeutic activities on the functional performance and on the quality of life in mature adults and elderly individuals from a community of Belo Horizonte/MG. Twenty healthy individuals of both sexes with mean age of 63,6 ± 6,3 years participated on the proposed activities during 10 weeks. To be accepted in the program, the individuals had to present a medical certificate of physical aptitude. Each participant completed a program of physical conditioning (twice/week), laboral and social activities based on the group interests (once/week). The Human Activity Profile, the gait speed, and the ability to ascend and descend stairs were as outcome measures to evaluate the functional performance; the Nottingham Health Profile to evaluate the quality of life; and the Physiologic Cost Index, obtained during the 6 minute-walk, was used to investigate the level of physical fitness. Each outcome measure was determined before and immediately after the proposed program. Descriptive statistics were calculated for all the variables and paired t-tests with Bonferroni correction were used to evaluate the program efficacy. There were found significant improvements (p < 0,01) in all measures of quality of life and functional performance. However, no significant differences were observed on the Physiologic Cost Index. The findings of the present study indicated that the program based on physical conditioning and therapeutic activities resulted in improvements of quality of life and functional performance. The enrolment of mature and elderly individuals in this sort of program appears to favor functional independence and an active community participation. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Introdução Com o desenvolvimento tecnológico, a expectativa de vida da população vem crescendo sensivelmente nas últimas décadas, caracterizando uma população envelhecida pelas baixas taxas de fecundidade e mortalidade. No Brasil, estima-se que hoje a população de idosos corresponda a 7% da população, mas a projeção para 2020 é de que esta percentagem deva triplicar, colocando o país em sexto lugar com relação ao número de idosos em âmbito mundial [1]. A tendência, em nosso país, é o crescimento da população idosa que, embora destinada a viver cerca de 20 anos mais, encontra-se funcionalmente incapacitada e com uma saúde precária [2]. O envelhecimento possui peculiaridades que devem ser consideradas. O indivíduo idoso passa por um declínio funcional devido à diminuição de sua reserva fisiológica. A partir de então, o risco de quedas, fraturas e dependência funcional é aumentado [3, 4]. A atividade física tem sido comprovada como eficaz em minimizar tal declínio e, portanto, em manter o condicionamento cardiorrespiratório, o desempenho e independência funcional dos idosos [3, 4, 5]. Além disto, a prática controlada de exercícios físicos também pode reduzir quedas, fraturas e acidentes [3]. São preconizados programas de atividade física com duração mínima de duas vezes por semana, intensidade de 70 a 80% da frequência cardíaca máxima (Fcmáx); priorizando atividades aeróbias e exercícios de fortalecimento e alongamento muscular [4, 6, 7, 8]. Os benefícios da atividade física não apenas melhoram a saúde do indivíduo idoso mas contribuem para a diminuição dos custos da sociedade envelhecida, uma vez comprovados os menores custos da prevenção de morbidades e da mortalidade entre os idosos [3, 6, 9]. Portanto, torna-se promissora a implantação de programas de treinamento visando a manutenção de uma população idosa funcionalmente saudável e com melhor qualidade de vida. Diante disto, os objetivos desse trabalho foram promover e avaliar o impacto de um programa interdisciplinar de condicionamento físico e atividades terapêuticas na melhora da função e da qualidade de vida em adultos maduros e idosos da comunidade. 101 Metodologia Sujeitos Indivíduos aparentemente saudáveis foram recrutados na comunidade através de divulgação nos meios de comunicação. Como critérios de inclusão foram utilizados: idade superior a 55 anos, não ser institucionalizado, apresentação de atestado médico de aptidão para atividade física e assinatura do termo de consentimento autorizando a divulgação dos resultados sem a identificação dos participantes. Delineamento do estudo Este estudo foi um experimento clínico, utilizando um grupo único pré e pós-teste. Procedimento Dados demográficos foram coletados de 20 idosos saudáveis, os quais foram submetidos a avaliações antes e após uma média de 22 sessões, considerando-se o desempenho funcional, avaliado através da velocidade da marcha, habilidade para subir escadas, Perfil de Atividade Humana (PAH) e endurance, e a qualidade de vida, avaliada através do Perfil de Saúde de Nottingham (PSN). Avaliação funcional Para obter a velocidade da marcha (m/s), os indivíduos foram orientados a deambularem no ritmo habitual num percurso demarcado [10]. Desprezou-se os dois metros iniciais e finais, que representaram os períodos de aceleração e desaceleração e o tempo gasto para percorrer um trecho central de doze metros foi registrado com um cronômetro digital. Medidas de velocidade apresentam alto índice de fidedignidade entre examinadores, tanto em ambientes domésticos, quanto clínicos e laboratoriais, como demonstrado através de teste-reteste [10, 11]. Dentre os testes de desempenho físico, a velocidade da marcha é um item preditivo do nível funcional. Uma vez que este teste é de fácil e rápida aplicação, esta medida deve ser sempre utilizada para auxiliar na avaliação funcional de idosos independentes [12]. A habilidade para subir escadas foi determinada solicitando aos indivíduos que subissem um lance de escadas com 5 degraus de aproximadamente 15 cm cada, em uma velo- 102 cidade confortável, sendo permitido o uso do corrrimão, se necessário. Foram realizadas três medidas com um cronômetro digital e a média de tempo gasto foi utilizada para calcular a cadência (número de degraus/min), seguindo o protocolo descrito por Olney et al. [13], que apresenta índice de fidedignidade entreexamindores de 0.90 com indivíduos saudáveis. A habilidade para subir escadas é uma medida importante da capacidade funcional, e o tempo utilizado para subir um lance de escadas tem demonstrado ser eficaz na determinação da mesma [13]. O nível geral de atividade física foi investigado através do Perfil de Atividade Humana (PAH), um questionário com 94 atividades graduadas de acordo com equivalente metabólico que inclui cuidados pessoais, tarefas domésticas, transporte, atividades sociais, de lazer e exercícios físicos e apresenta índice de fidedignidade obtido através do teste-reteste de 0,79 - 0,94 [14]. Os procedimentos para administração e pontuação seguiram protocolos sugeridos pelo manual. O questionário apresenta 3 opções de respostas: ainda faço, parei de fazer e nunca fiz. O resultado do PAH apresenta duas pontuações: uma máxima que corresponde ao último item que o indivíduo ainda é capaz de realizar e outra ajustada obtida subtraindo-se da medida máxima o número de itens que o indivíduo parou de realizar. A endurance foi avaliada através do teste de caminhada de 6 minutos, no qual os indivíduos foram solicitados a deambularem o mais rápido possível numa pista de 15 metros, durante 6 minutos, seguindo o protocolo descrito por Steele [15]. Através de um cardiofrequencímetro, obteve-se a frequência cardíaca em repouso e ao final do teste, sendo o Índice de Custo Fisiológico (ICF) calculado através da seguinte fórmula (FC final – FC inicial)/velocidade e expresso em batidas/minuto [16]. A percepção subjetiva do esforço foi avaliada através da escala de Borg, antes do início do teste e ao final de 6 minutos [17]. Avaliação da qualidade de vida O Perfil de Saúde de Nottingham (PSN), um indicador simples e direto da percepção do indivíduo com relação a sua saúde física, emo- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 cional e social, foi utilizado para avaliar a qualidade de vida. Os itens são baseados na classificação de graus de incapacidade da Organização Mundial de Saúde. Constitui-se em um questionário de 38 questões, com alternativas de respostas sim/não, envolvendo 6 domínios: nível de energia, dor, habilidade física, reações emocionais, isolamento social e qualidade de sono. Quanto menor a pontuação (1 ponto para cada resposta “sim”), melhor a percepção do indivíduo de sua qualidade de vida, sendo o escore 0 indicador de saúde perfeita. O instrumento apresenta um alto índice de fidedignidade obtido através do teste-reteste (0,75 - 0,88) em indivíduos portadores de doenças crônicas [18]. Programa de treinamento O programa de treinamento físico seguiu protocolo recomendado para idosos [3] e consistiu de sessões de exercícios supervisionados por docentes e acadêmicos de Fisioterapia, conduzidas 2 vezes por semana. Todas as atividades foram acompanhadas por música relevante à atividade e ao interesse do grupo. Cada sessão teve duração de 60 minutos e incluiu 20 minutos de exercícios de aquecimento (alongamentos, exercícios de coordenação motora e fortalecimento muscular), 30 minutos de atividades aeróbias (caminhada, “stepping”, exercícios com bastões), e 10 minutos de resfriamento (alongamentos, exercícios de retorno venoso e relaxamento). As atividades aeróbias foram graduadas de forma a elicitar 70 a 80% da freqüência cardíaca máxima – FCmax (calculada através da fórmula 220 – idade), monitorizada através de cardiofrequencímetros individuais. A pressão arterial (PA) foi monitorizada antes e após cada sessão. As figuras 1a, 1b e 1c retratam algumas das atividades físicas desenvolvidas. As atividades laborativas foram planejadas pelos docentes e acadêmicos de Terapia Ocupacional. Foram realizadas atividades manuais e lúdicas 2 vezes por semana. Tais atividades tiveram como objetivos o treinamento da coordenação motora global e da habilidade manual; estimulação sensorial e estimulação cognitiva (memória, atenção concentração), visando proporcionar tanto a melhora da auto-estima quanto da socialização. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 103 Figura 1 - Atividades Físicas Desenvolvidas no Treinamento: 1c - Caminhada com Obstáculos 1a - Fortalecimento Muscular 1b - Stepping Análise dos dados Estatística descritiva e testes de normalidade (teste de Shapiro-Wilk) foram calculados para todas as variáveis. Testes t pareados com correção de Bonferroni foram utilizados para avaliar a eficácia do programa [19]. O nível de significância estabelecido foi de p < 0,01. Resultados Dados demográficos Participaram deste estudo 20 idosos hígidos (14 do sexo feminino e 6 do sexo masculino) da comunidade de Belo Horizonte, com média de idade de 63,6 anos (DP = 6,3). Desempenho funcional Todas as medidas avaliadas antes e após o treinamento, bem como a percentagem de ganhos estão dispostos na Tabela 1 e Figuras 2a, 2b e 2c. Como pode ser notado, houve melhoras significativas em todas as medidas de desempenho funcional avaliadas, exceto no Índice de Custo Fisiológico (ICF), que não apresentou melhora significativa. Qualidade de vida O índice PSN apresentou melhora de 50% após o treinamento (p < 0,000) (Tabela 1 e Figura 2c). Tabela 1 - Variáveis analisadas no estudo antes e após o treinamento (n=20) Variáveis Velocidade da marcha (m/s) Subir escadas (degraus/min.) Descer escadas (degraus/min.) PAH máximo PAH ajustado PSN ICF (batidas/min.) * NS = não significativo Início 1,15 ± 0,23 73,3 ± 17,6 88,3 ± 24,8 81,7 ± 5,2 75,7 ± 0,7 8,5 ± 7,2 0,49 ± 0,17 Após 1,41 ± 0,21 93,0 ± 23,8 109 ± 34 87,1 ± 6,6 82,9 ± 10,9 4,2 ± 6,6 0,46 ± 0,17 Ganhos Significância (p<) 25% 23% 24% 10% 10% 50% —— 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 0,000 NS* 104 Figura 2 - Média e Desvio Padrão das Variáveis Analisadas Antes e Após o Treinamento 2a - Velocidade da Marcha 2b - Desempenho Funcional 2c - Qualidade de Vida Discussão A percentagem de indivíduos do sexo feminino neste estudo foi de 70% e a de indivíduos do sexo masculino, 30%. Isso demonstra uma maior aderência das mulheres ao programa de treinamento e contradiz o estudo realizado por Chandler et al. [4], do qual participaram homens e mulheres, ambos na percentagem de 50%. A diferença sócio-cultural dos participantes brasileiros em relação aos americanos talvez justifique a diferença percentual em relação à aderência a este tipo de abordagem. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Todas as medidas de desempenho funcional avaliadas neste estudo apresentaram melhoras significativas, exceto o Índice de Custo Fisiológico (ICF). A velocidade da marcha tem sido reconhecida como um indicador da performance na marcha [20], da auto-percepção da função física [5], independência [21], atividade social [22] e saúde funcional [10]. Ganhos na velocidade da marcha associados com o treinamento físico têm sido observados tanto em indivíduos idosos [23, 24], quanto em indivíduos portadores de disfunções neurológicas [10, 25]. Neste estudo, a velocidade da marcha mostrou melhora significativa após o programa de treinamento, com um ganho percentual de 25%. Esses ganhos foram maiores que os demonstrados por Sauvage et al. [24]. Como suportado pelo princípio da especificidade [26], para alcançar ganhos numa determinada tarefa funcional, o treinamento deve estar diretamente relacionado com as demandas específicas. No presente estudo, a atividade de caminhada numa velocidade capaz de elicitar 7080% da FCmáx foi incluida em todas as sessões. Connely & Vandervoort [27] não observaram melhoras significativas na velocidade da marcha após 8 semanas de fortalecimento do quadríceps em idosas institucionalizadas. Nossos resultados sugerem que um programa de fortalecimento muscular associado com condicionamento aeróbio pode ter auxiliado a potencializar os ganhos observados. Com o treino funcional, observaram-se resultados positivos em relação à velocidade da marcha, refletindo em ganhos na qualidade de vida dos participantes e comprovando a atribuição de item preditivo do nível funcional dada a este parâmetro físico. A habilidade para subir e descer escadas também tem se mostrado um indicador efetivo do desempenho funcional em diferentes populações [25, 28] além de uma medida sensitiva em detectar mudanças associadas ao treinamento de idosas [29, 30] e pacientes hemiplégicos [10]. Os resultados desse estudo demonstraram aumento percentual de 23% e 24% na habilidade para subir e descer escadas, respectivamente, refletindo um ganho significativo nestas medidas. Fiatarone et al. [29] também reportaram ganhos de 28% na Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 habilidade de subir escadas após um programa de fortalecimento dos extensores dos quadris e joelhos em nonagerianas. Entretanto, Skelton & Maclaughlin [30] observaram ganhos de apenas 12% após um programa de atividade física moderada num grupo de mulheres idosas. Tarefas funcionais exigem vários componentes que requerem força muscular, equilíbrio e coordenação. Nossos resultados suportam a hipótese que atividades aeróbias como o stepping associadas com o fortalecimento de músculos envolvidos na tarefa funcional, melhoram a habilidade de realizar a atividade determinada. O treinamento aeróbio tem de mostrado efetivo em melhorar o desempenho funcional em indivíduos idosos [31] e nossos resultados suportam essa teoria. O PAH máximo e ajustado apresentaram ambos ganho percentual de 10%, refletindo melhora significativa no nível geral de atividade física dos participantes. A média do escore ajustado de 75,9 observado antes do treinamento correspondeu a atividade de cavar com uma pá durante 5 minutos sem parar enquanto o escore de 82,9 obtido após o treinamento correspondeu a atividade de correr meio quarteirão. Os ganhos observados nos escores de atividade funcional são clinicamente significativos uma vez que indicam que os indivíduos se tornaram mais capazes de realizar tarefas domésticas e atividades recreativas após o treinamento, o que pode ter contribuído para um melhor percepção da qualidade de vida. As implicações clínicas óbvias são que atividades aeróbias resultam num melhor desempenho funcional através de um melhor condicionamento físico e, assim, permitem que as atividades de vida diária sejam realizadas em percentagens mais baixas da capacidade aeróbia máxima e com maior segurança. Não houve melhora significativa com relação ao ICF após o treinamento. O ICF representa o gasto energético do indivíduo para realização de determinada tarefa. Houve uma variação de 0,49 (DP = 0,17) antes do treinamento a 0,46 (DP = 0,17) após as 22 sessões. Isso pode ser devido a um aumento na velocidade da marcha máxima solicitada no teste da caminhada dos 6 minutos requerendo um maior gasto energético dos participantes. Tal- 105 vez, um experimento clínico realizado num período de tempo maior demonstre melhora significativa no ICF devido a um tempo adequado à adaptação do sistema cardiovascular dos participantes ao treinamento. O NHP mostrou aumento percentual de 50% após o treinamento refletindo um ganho significativo na percepção de qualidade de vida dos participantes. É esperado que programas de treinamento melhorem os níveis de energia e os participantes experimentem, então, mais oportunidades de socialização. Divertimento e socialização têm sido reconhecidos como essenciais no sucesso de programas de treinamento e a aderência aumenta porque a atividade é compartilhada com outros [32]. As interações sociais proporcionam maiores níveis de estimulação mental e intelectual [32]. Uma vez estando com percepção da saúde física, emocional e social melhoradas, a população idosa passa a experienciar melhor qualidade de vida. Finalmente, os ganhos constatados no desempenho funcional (10-25%) refletiram ganhos substanciais na percepção da qualidade de vida dos participantes (50%). Considerando-se que a população idosa está sujeita a declínios no contexto geral da vida prática, qualquer percentual mínimo de ganho funcional parece ter uma representação importante na saúde desses indivíduos. Como demonstrado por Luukinen et al. [5], parece haver uma íntima relação entre a capacidade física e os aspectos psicossociais. Na medida em que há ganhos na velocidade da marcha, por exemplo, o indivíduo terá maior autonomia para atravessar uma rua com segurança, fazer compras, realizar visitas sociais e tomar para si a responsabilidade da sua vida econômica e outras atividades que venham ampliar sua rede de convívio social possibilitando, assim, uma melhor auto-estima. Conclusão A promoção de programas incluindo atividades físicas e laborativas pode interferir no processo de envelhecimento melhorando não só a saúde funcional, mas efetivamente a qualidade de vida de indivíduos idosos. Portanto programas dessa natureza devem ser implantados na atenção da saúde ao idoso. 106 Referências 1. Passarelli MCG.O processo de envelhecimento em uma perspectiva geriátrica. O Mundo da Saúde. 1997; 21(4): 208-212. 2. Ramos RL. A explosão demográfica da terceira idade no Brasil: uma questão de saúde pública. Gerontologia. 1993; 1: 3-8. 3. Carter N, O’Driscoll M. Life Begins at Forty! Should the route to promoting exercisein elderly people also start in their forties? Physiotherapy. 2000; 2 (86): 85-93. 4. Chandler JM, Duncan P, Kochersberger G., Studenski S. Is Lower Extremity Strength Gain Associated With Improvement in Physical Performance and Disability in Frail, CommunityDwelling Elders? Archives of Physical Medicine & Rehabilitation. 1998; 79: 24-30. 5. Luukinen H, Koski K, Laippala P, Kivela S. Risk factors for recurrent falls in the elderly in longterm institutional care. Public Health. 1995; 109,: 57-65. 6. Beissner KL, Collins JE, Holmes H. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 107 Artigo original A eficácia de um programa cinesioterapêutico para mulheres idosas com incontinência urinária The effectiveness of a kinesitherapy program for old women with urinary incontinence Marilia Isabel Winter Hughes Leona ○ a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ft, Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Petrópolis Palavras-chave: incontinência urinária, educação em saúde, idosas Resumo O objetivo do estudo foi verificar, a eficácia da cinesioterapia associada a um programa de educação em saúde, para prevenção e tratamento das incontinências urinárias. Estudadas 50 mulheres, com idade média 72 (±11anos), que apresentavam incontinência urinária, de esforço, de urgência e mista. Randomizados 2 grupos: experimental (n = 30) e grupo controle (n = 20). Aplicado um pré-teste e um pós-teste, avaliou-se as condições das perdas urinárias, a freqüência miccional e o grau de desconforto devido à incontinência. Associou-se um programa de educação em saúde a exercícios para os músculos do assoalho pélvico, durante três meses. Os resultados mostraram uma diferença significativa para o nível de significância adotado (p = 0,000001 < 0,05); no grupo experimental 50% (n = 14), relataram estar curadas, 46,4% (n = 13), melhoram e 3,6% (n = 1), manteve-se sem modificações. Conclusão: um programa de educação em saúde associado ao exercício pode ser uma alternativa eficaz; menos onerosa e menos invasiva, para a prevenção e tratamento da incontinência urinária. Endereço para correspondência: Marilia Isabel Winter Hughes Leon, rua Paris, 1500, bloco 1, apto 202, Chacra das rosas, 25680-320 Petrópolis RJ, Tel (24) 248 5110, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 108 Key-Words: incontinence urinary, health education, old women Abstract The aim of the research is verify the efficacy of a program of special physical activities for prevention and handling of urinary incontinence. Fifty women, with average age 72 (±11 years), that presented stress, urgency or mixed urinary incontinence were studied. They were randomized in 2 groups: experimental (n = 30) and control group (n = 20). After a pre-test and an after-test be applied, the conditions of the urinary losses, the urinary frequency and the degree of discomfort due to incontinence were evaluated. A program of health education had been associated to pelvic floor exercises during three months. The results had shown a significant difference for the adopted level of significance (p = 0,000001 < 0,05) in the experimental group, 50% (n = 14) reported to be cured, 46,4% (n = 13) reported an improvement and 3,6% (n = 1) reported no changes. Conclusion: a program of health education associated with exercises can be an efficient alternative, less onerous and less invasive for the prevention and handling of the urinary incontinence. Introdução Estudos teóricos demonstram que existe uma relação linear entre o envelhecimento e o surgimento da incontinência urinária. À luz dessa idéia, as pesquisas contemporâneas no mundo têm sugerido a adoção de técnicas educativas de caráter preventivo, para incentivar as pessoas idosas a participarem de forma ativa no processo de manutenção de uma vida independente e autônoma. Acredita-se que, com estas medidas, é viável o crescimento na participação da população idosa nas medidas de auto-cuidado, podendo-se esperar, por conseguinte, um nível mais elevado de vida saudável. Com efeito, depois de uma prolongada etapa, na qual a base doutrinária do tratamento das incontinências urinárias esteve constituída por ações cirúrgicas e medicamentosas, foi dada mais atenção à morbidez ligada a cirurgia. Assim técnicas conservadoras, como o exercício, que, combinado com ações integradas para a promoção de saúde, surgem como uma estratégia inovadora que permitem modificações no conceito de saúde. A ênfase destes trabalhos centra-se na detecção precoce da perda urinária involuntária, bem como a idealização de estratégias, que visam o acompanhamento regular para evitar o processo de deterioração das capacidades funcionais, ligadas, em particular, ao sistema esfincteriano das pessoas idosas. Paralelamente, os estudos demográficos apontam para um aumento da população idosa e como conseqüência deste crescimento tem sido exigida uma mudança na estrutura social e política, tanto nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento [1]. Esta orientação implica também no reconhecimento de que com o envelhecimento populacional, aumentam as necessidades de serviços voltados para as pessoas idosas. No que diz respeito à incontinência urinária, este é um problema que afeta milhares de pessoas no mundo, em especial as pessoas com mais idade. O grande número de trabalhos publicados para o tratamento da incontinência nos últimos anos tem demonstrado contribuições de grande interesse e multidisciplinariedade, com abordagem das áreas das ciências biológicas, ciências humanas e ciências físicas. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Segundo o Urinary Incontinence Guideline Panel [2], publicado pela Agency for Health Care Policy and Research (AHCPR), os tratamentos da incontinência urinária devem incluir técnicas de educação e exercícios para a reabilitação dos músculos pélvicos. Nesse sentido os exercícios têm surgido como tratamento de primeira linha, que antecede às medidas medicamentosas e cirúrgicas para a prevenção e tratamento da incontinência urinária. A perda de urina afeta muitas mulheres no mundo, existindo alguns mitos populares difundidos sobre a incontinência urinária, tais como “faz parte da maturidade”, muita destas mulheres têm atitudes conformistas diante de tal situação. Com conseqüência desta atitude passiva, as pacientes com incontinência urinária muitas vezes se adaptam a incontinência, alterando o seu estilo de vida [3]. Embora a incidência de incontinência urinária seja subestimada, devido à relutância das pacientes em procurar assistência médica, ou por se sentirem constrangidas, ou por acharem que esse problema não é suficientemente grave para necessitar de tratamento, os estudos identificam conseqüências que podem ser devastadoras na vida destas mulheres [4, 5]. Continência é descrito como a “capacidade normal de uma pessoa para acumular urina e fezes, com controle consciente sobre o tempo e lugar para urinar e defecar” [6]. A bexiga tem funções de estocar e expelir urina. O ato miccional sempre foi considerado evento natural e inerente ao indivíduo. Entretanto, trata-se de um fenômeno extremamente complexo e requer perfeita coordenação de grupos musculares [7]. Perder o controle e liberar urina involuntariamente caracteriza incontinência urinária, que é definada pela Internacional Continence Society; “como a perda involuntária de urina, objetivamente demonstrável, que cause problema higiênico ou social à mulher” [8]. Paralelamente, julga-se que promover saúde é obrigação de todos os fisioterapeutas, no entanto, os profissionais precisam de uma definição clara de promoção de saúde, bem como dos vários modelos que se prestam para tanto. É preciso também que se conheçam os 109 pontos de vista filosóficos nos quais se baseia a promoção de saúde [9]. A intervenção primária, através de uma abordagem educacional que valoriza a promoção da saúde, é uma nova concepção de atendimento ao idoso, onde o profissional passa a atuar em consonância com a Organização Mundial de Saúde (OMS), que em 1986 divulgou a Carta de Ottawa, Canadá, para a promoção de saúde [10]. A promoção de saúde é o processo que permite às pessoas melhorar seu estado de saúde e aumentar o controle sobre este [11]. Desordens dos músculos pélvicos incluem problemas de incontinência urinaria, relaxamento pélvico levando ao prolapso e incontinência fecal. Fora da cirurgia que já existe há muitos anos para o tratamento da incontinência, novas terapias têm sido desenvolvidas para as disfunções do assoalho pélvico. Os exercícios são uma opção de baixo risco, não invasiva e deve ser considerada como tratamento de primeira linha [3]. Dentre os vários fatores postulados por serem responsáveis como causa da incontinência urinária, os músculos pélvicos são importantes na causa da perda ou ineficiência no mecanismo do esfíncter distal [12]. Os exercícios pélvicos melhoram a resistência uretral e o suporte visceral pélvico por aumento dos músculos periuretrais pélvicos. Exercícios pélvicos mudam a atividade do mecanismo de fechamento, modificam a transmissão das taxas de pressão [13]. No entanto a falta de conhecimento sobre as estruturas e funcionamento dos músculos pélvicos torna a percepção da sensação da contração dificultada. Durante a contração dos músculos do assoalho pélvico, pacientes demonstram falta de propriocepção, porque estes músculos não se contraem voluntariamente durante as atividades diárias. Estes músculos são anatomicamente escondidos, a maioria das mulheres não são capazes de contrai-los mesmo depois de terem recebido instrução [14]. Um programa de educação em saúde através de exercícios especiais, incluiria informações sobre o processo de envelhecimento e suas relações com o sistema miccional, exercícios específicos junto com informações sobre o funcionamento dos músculos do 110 assoalho pélvico e o modo mais eficiente de realizá-los. As possibilidades dos contatos sociais pela participação dos programas em grupo funcionariam com um estímulo para continuar a participar [15]. Dessa forma o trabalho buscou determinar a significância de um programa de exercícios especiais através de um programa educacional, na prevenção e no tratamento da incontinência urinária, em mulheres idosas. Objetivouse ainda verificar as repercussões de um programa de exercícios no desconforto causado pela incontinência e freqüência urinária . Material e métodos A pesquisa desenvolvida foi analítica, caracterizada como um estudo clínico randomizado prospectivo. Seleção dos sujeitos Neste estudo, optou-se pelo processo de randomização simples por sorteio. O grupo das participantes ficou constituído por cinqüenta mulheres com incontinência urinária, na faixa de 72 (±11 anos), sendo que 30 participantes ficaram no grupo experimental e 20 participantes no grupo controle. Foram excluídas do estudo mulheres com doenças neurológicas, psiquiátricas, condição de dependência para locomoção, uso concomitante de medicamento ou outras intervenções para o tratamento da incontinência. O estudo foi realizado na cidade de Petrópolis, com um grupo integrante do Programa do Idoso do Município de Petrópolis. Todas as participantes foram avaliadas pelo serviço de geriatria do referido programa e consideradas aptas a participarem das atividades físicas do programa. Foram empregados os seguintes instrumentos: a- Avaliação da incontinência urinária, associada à escala analógica visual para avaliar o grau de desconforto causado pelos vazamentos involuntários, segundo modelo proposto International Continence Society (ICS). b- Diário urinário, realizado por 3 dias, para medir a freqüência de esvaziamento, determinar causas dos vazamentos; registrar os vazamentos; se as bebidas ingeridas continham cafeína; comentários. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 c- Teste da almofada associado ao esforço para avaliar os vazamentos. d- O material utilizado no estudo constou de material didático, que incluíram álbum seriado, transparências para retroprojetor, e uma cartilha com informações sobre a incontinência urinária bem com os exercícios para sua prevenção e tratamento. Os exercícios foram introduzidos um a um em cada sessão, num total de dez exercícios, durante os meses de agosto a novembro, numa freqüência de duas vezes por semana e num total de 30 sessões. Inicialmente os exercícios tiveram como objetivo facilitar e aumentar o grau de percepção dos músculos do assoalho pélvico, posteriormente melhorar a capacidade funcional do mesmo grupo muscular, seguido de reforço da musculatura e treinamento da resistência muscular em situações que desencadeavam os vazamentos involuntários. A auto-percepção, por sua vez, pode auxiliar o idoso, contribuindo no sentido de modificar a sua imagem corporal, auxiliando as possibilidades do uso do corpo [16]. Através da aprendizagem e da auto-educação, as pessoas podem ser direcionadas ao entendimento das causas dos seus problemas físicos e serem levadas a decidiram mudar suas atitudes, incorporando hábitos saudáveis. As pacientes foram orientadas a realizarem os exercícios, em seus lares, 3 vezes ao dia, fazendo 20 contrações a cada vez, totalizando 60 contrações por dia. Além disso foram instruídas a realizarem os exercícios em diferentes posições, ou nas situações que normalmente ocorriam os vazamentos. Resultados Utilizou-se as Técnicas da Estatística inferencial. Para os dados de natureza não paramétrica, aplicou-se o teste Qui-Quadrado objetivando fazer uma análise comparativa entre as Distribuições de Freqüências observadas nos dois Grupos nos dois estratos temporais, Pré e Pós, dentro uma abordagem intra-análise, Pré x Pós (dentro do Grupo) e ainda, numa perspectiva inter-análise, Ctrl x Exp (entre Grupos}. Para os valores de natureza contínua, utilizou-se o teste t de Student, no sentido de comparar os valores médios. A analise das mudanças adotadas pelas Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 mulheres incontinentes, revelou que o mais freqüente é a utilização de forro tipo papel higiênico como parte das estratégias adotadas para controlar as perdas urinárias, veja-se na tabela 1. 111 Fig. 3 – Compara as notas do grupo experimental pré e pós. Tabela 1 - Mudanças mais freqüentes adotadas pelas portadoras de incontinência urinária. Mudança Pré Ctrl Abs Rel Banheiro Público 1 5,0% Forro 8 40,0% Forro & Banh.Púb 1 5,0% Forro & Muda roupa 1 5,0% Fralda 2 10,0% Muda Roupa 1 5,0% Não 0 0,0% Tem medo 6 30,0% Total 20 Abs Exp Rel 0 0,0% 15 50,0% 2 6,7% 1 3,3% 0 0,0% 0 0,0% 11 36,7% 1 3,3% 30 Total Abs Rel 1 2,0% 23 46,0% 3 6,0% 2 4,0% 2 4,0% 1 2,0% 11 22,0% 7 14,0% 50 Observamos diferenças significativas (p = 0,0035 < 0,05) entre as Distribuições de Freqüências dos Grupos estudados. As principais diferenças manifestam-se na resposta “Sem forro”, onde o Grupo Controle tem uma freqüência de 0% e o Experimental de 50%, ao contrário do que fora observado no estrato Pré, onde para ambos os Grupos a freqüência era zero. Este resultado dá um indicativo de maior confiança por parte dos pacientes do Grupo experimental, face à opção pelo uso de roupa sem forro (Tabela 2). Tabela 2 – Mudanças dos grupos controle e experimental no pós. Mudança Pós Ctrl Abs Rel Banheiro Público 1 Forro 7 Forro & Banh.Púb 2 Forro & Muda roupa 1 Fralda 2 Muda Roupa 1 Não 6 Sem forro 0 Tem medo 0 Total 20 5,0% 35,0% 10,0% 5,0% 10,0% 5,0% 30,0% 0,0% 0,0% Abs Exp Rel 0 0,0% 5 17,9% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 9 32,1% 14 50,0% 0 0,0% 28 Total Abs Rel 1 2,1% 12 25,0% 2 4,2% 1 2,1% 2 4,2% 1 2,1% 15 31,3% 14 29,2% 0 0,0% 48 As notas revelam o desconforto causado pelos vazamentos acidentais, observar figura 3 (grupo experimental) e figura 4 (grupo controle). As notas podem ser utilizadas como uma das mais apropriadas medidas para expressar o incomodo causado pela incontinência. Fig. 4 – Compara as notas do grupo controle pré e pós Na variável Freqüência de micção diurna, o Grupo Controle apresenta uma média de 7,15 vezes, ao contrário do Grupo Experimental, com uma média de 5,43 vezes, tem-se que os valores médios calculados para o Grupo Controle é significativamente maior que o do Grupo Experimental (p < 0,001 < 0,05). Seguindo, o mesmo processo comparativo fora feito com a freqüência de micção noturna, observado que, também no estrato temporal Pré, fora feito um estudo comparativo que denotou inexistência de diferenças significativas entre as médias dos dois grupos para esta variável. Novamente, para esta variável também, igualmente a anterior, observa-se diferenças significativas entre os valores médios dos dois Grupos, sendo o Controle (3 vezes) e o Experimental (0,57 vezes), pois o Controle apresenta novamente um valor médio significativamente superior ao do Experimental. Veja-se figura 5 e figura 6. 112 Fig. 5 – Compara a freqüência diurna e noturna do grupo controle pré e pós Fig. 6 – Compara as freqüências diurna e noturna do grupo experimental no pré e pós Fig. 7 – Compara os eventos precipitantes dos vazamentos com o esforço no pré e pós. Fig. 8 - Compara o status de melhora dos grupos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 A analise do teste da almofada compara os grupos no pré e no pós, não sendo observado diferenças no grupo controle. Ao contrário, no grupo experimental observou-se diferença significativa (p = 0,0009 < 0,05), sendo a mais contundente a observada no item “não vaza” no qual o estrato pré tinha-se 13,3% e no estrato pós, 78,6%. Observar figura 7. Na análise das alterações observadas pelas pacientes, congregando de forma qualitativa, todos os resultados anteriormente observados e analisados, observa-se que houve diferenças significativas entre as distribuições das freqüências dois grupos (p = 0,0000001 < 0,05). No grupo controle 95% das pacientes ou ficaram sem alteração (igual) ou pioraram (10%), ao contrário do que foi observado no grupo experimental, no qual 96,4% das pacientes ou ficaram curadas (50%) ou melhoraram (46,4%). Veja-se figura 8 Discussão Encontrou-se na população estudada, que das 91,6% pacientes tiveram filhos de parto normal, em contraste com 8,4% de parto cirúrgico (cesariana). Isso corrobora os dados da literatura onde o parto normal é considerado como um evento precipitante de incontinência [3]. Identificamos, no estudo, que as pacientes apresentavam em média 12,2 anos desde o início do vazamento, o que evidencia a tendência de adaptação das pacientes aos seus vazamentos, relatado por 78% das mesmas que adotaram alguma mudança, contra 22% que não lançaram mão de nenhuma estratégia para controlar os vazamentos. Das estratégias, a mais utilizada pelas mulheres do grupo estudado, foi uso de forro, como papel higiênico. 46% confirmaram o uso de forro, corroborando os achados [17], nos quais 55% das mulheres revelaram uso de absorvente como papel higiênico; no estudo ora em discussão, a segunda estratégia mais relatada foi o medo, revelando a insegurança diante da possibilidade de um vazamento; embora nos trabalhos de Herzog a referência do segundo lugar seja a localização de banheiros públicos, que pode ser entendido também como medo, utilizada como parte das estratégias na eminência de poder ocorrer uma perda de urina involuntária, demonstrando tam- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 bém a preocupação das mulheres com o risco de um “acidente”; mais uma vez corrobora-se a definição da ICS, quanto à definição de incontinência [... condição que cause problema higiênico ou social] [8]. O desconforto causado pelos episódios de incontinência foi confirmado pelas notas atribuídas a este parâmetro, notas mais altas foram encontradas na avaliação inicial em contraste com notas mais baixas atribuídas após a intervenção no grupo experimental, evidenciando uma diferença significativa (p = 0,0009 < 0,05) entre os dois grupos, após a intervenção. As notas atribuídas podem revelar o quanto à incontinência é problemática na vida diária e podem ser utilizadas como uma das mais apropriadas medidas de cura no tratamento. Não nos surpreende que da população estudada 68%, eram de viúvas, este achado está em conformidade com os relatos de Veras onde o número de mulheres viúvas é maior que o de homem [18]. No que se refere ao tipo de incontinência, foi encontrado uma maior prevalência de incontinência urinária de esforço 48%, seguida de 30% de incontinência mista e de 22% de incontinência de urgência; os estudos de Dioknos [19] relatam 55,3% de incontinência mista contra 26,7% de incontinência de esforço. A diferença dos achados se deve ao tipo de estudo, ao modo de estudo, à população estudada (institucionalizados, da comunidade), o que torna quase impossível realizarmos comparações entre a prevalência dos diferentes tipos de incontinência. Devemos ter em mente, também, que o critério na definição de um sintoma, mais liberal, pode fazer com que este esteja mais presente ou menos presente, porém não se podem desprezar os achados. Dos eventos precipitantes da incontinência observou-se que a tosse surge como o evento mais freqüente, sendo referenciado por 75% das pacientes, seguida de espirro para 50% das pacientes; neste sentido não se encontrou esta analise na literatura, embora os fatores precipitantes sejam os mesmos. Com a manobra de Valsalva, este fator confirmou-se quando induzido o aumento da pressão intra-abdominal. Quanto à eficácia dos exercícios para mulheres incontinentes, o estudo demonstrou 113 que 50% sentiram-se curadas, 46,4 melhoraram e 3,6% ficaram inalteradas. Estes resultados são próximos aos achados de Joleys onde 41% das pacientes ficaram curadas e 46% melhoraram com o programa de exercícios; enquanto só 2% do grupo controle curou-se [20]. No estudo de Lagro-Janssen [21] encontrouse uma taxa um pouco menor: 85% entre as pacientes ficaram curadas ou melhoraram e 9% no grupo controle. As diferenças encontradas nos estudos podem ser atribuídas à subjetividade das respostas. Conclusões A incontinência urinária, em todo o mundo, tem ocasionado um grande interesse e desafio para estudiosos, na busca do maior entendimento e de soluções terapêuticas para o tratamento desta condição, em particular nas pessoas idosas. Embora não levem à morte, a incontinência pode trazer transtornos à capacidade de viver de forma independente Os tratamentos da incontinência, nas suas manifestações mais leves, têm sido desconsiderados e quando considerados, as opções cirúrgicas são as mais usuais. Desta forma, os tratamentos não invasivos devem ser pensados como primeira opção, especialmente para as mulheres mais idosas, visto que incontinência é altamente prevalente neste segmento da população. Os resultados deste estudo indicam que programas de educação em saúde, para a prevenção e para o tratamento de incontinências urinárias, são eficazes e deveriam ser avaliados para serem oferecidos rotineiramente como opção de primeira linha, para o tratamento das incontinências. Assim, programas com estas características têm possibilidade de serem amplamente difundidos e podem ser facilmente implementados em locais menos convencionais, como possibilidade terapêutica menos onerosa de atenção à saúde do idoso, garantindo-lhes uma melhor qualidade de vida. O envelhecimento populacional tem ocasionado uma preocupação constante com o atendimento do idoso. Novos modelos de atenção têm sido propostos a este segmento da sociedade, no entanto não se constatou, no Brasil, 114 ações em níveis de saúde pública que revelassem qualquer direcionamento neste sentido, em particular para a incontinência urinária. A grande perspectiva para as pessoas idosas e portadoras de incontinência urinária, na virada do milênio, é o desenvolvimento de competências para se gerar uma nova forma de pensar as questões relacionadas a elas. Para tanto, alguns níveis de investimento podem ser propostos: a oportunidade de ações educacionais às pessoas idosas, a definição de caminhos que possibilitem o desenvolvimento de uma competência cientificamente embasada, capaz de contrapor as ações intervencionistas, tais como as cirurgias, não que as mesmas não sejam indicadas, mas que os exercícios sejam considerados antes das ações invasivas. A busca da qualidade por meio da educação e da informação, certamente, configurará o objeto de trabalho do novo milênio. Assim, em termos de política de saúde, o planejamento estratégico para os serviços de atendimento às pessoas idosas não poderá ser pautado pela ótica exclusivista e limitada de ações intervencionistas. A principal questão reside no fato da educação consistir no elemento central para a consolidação do projeto nos próximos anos. A qualificação de profissionais que trabalhem no tema deverá ser uma prioridade para o novo milênio, pois será por intermédio deles que se consolidará o caminho para a construção de núcleos de excelência em atendimento à pessoa idosa. Cabe ressaltar que a assistência à portadora de incontinência urinária não deve apenas pautar no atendimento do fenômeno incontinência. O sentido do atendimento, precisa, portanto, ser aclarado num movimento constante constituído a partir do olhar atentivo e não apenas da observação. A ajuda pretendida às pessoas idosas, no modo positivo de cuidado, não implica em fazer pelo outro e sim levar o outro a assumir o seu próprio fazer, considerando o modo de ser do outro e não o modo de fazer do profissional. Todavia, acredita-se que as melhoras funcionais constatadas ocorreram em função das pacientes terem compreendido as metas do plano de exercícios, o que lhes permitiu in- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 corporarem os conselhos as suas rotinas diárias, além do contato social do grupo que gerou motivação, garantindo a adesão do grupo ao estudo. O crescimento rápido da população idosa, no Brasil, tem levado os órgãos públicos, responsáveis pelas ações de saúde à criação de políticas públicas como o Programa Nacional do Idoso. A ênfase tem sido dada as ações interdisciplinares, levando a pratica da atividade física a um reposicionamento conceitual e a uma ampliação no seu campo de atuação na atenção primária e secundária à saúde. Sendo a incontinência urinária uma condição crônica, das mais prevalentes nas mulheres idosas, a aplicação de programa de exercícios para incontinência deve ser incorporado à vida diária das mulheres, não só as idosas, mas também as mulheres mais jovens, devendo ser instituídos em nível primário o mais precoce possível, através de programas de educação básica em saúde. Referências 1- Shilton M. Atitudes diante da velhice e das pessoas idosas. In: PICKLES, Barrie et al. Fisioterapia na terceira idade. São Paulo, Santos, 1998, 29-42. 2- Urinary Incontinence Guideline Panel. Urinary Incontinence in Adults: Clinical Pratical Guideline. Agency For Health Care Policy and Research (AHCPR). Public Health service, U.S. Department of Health and Human Services, 1992. 3- Retzky SS Rogers M Jr. A incontinência urinária na mulher. Clinical Symposia 1995;47(3):2-32.. 4- Thomas TM Plymat KR, Blann J. et al. Prevalence of urinary incontinence. 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Ávila*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Laboratório de Biomecânica (LABBIO) - Curso de Fisioterapia - UNESA ** Ortopedista do Hospital da Brigada Militar - Santa Maria *** Laboratório de Biomecânica - CEFID - UDESC Palavras-chave: Pé plano, distribuição de pressão plantar, técnica cirúrgica de Cavalier Resumo O objetivo deste estudo foi o de verificar a eficácia da Técnica Cirúrgica de Cavalier, descrita por Judet (1966), empregada para corrigir a deformidade do pé plano flexível. A amostra foi composta por 8 crianças portadoras da patologia “pé plano flexível”, entre 9 a 13 anos (11,96 ± 0,97). Sendo avaliada sob três aspectos: exame clínico: a manobra de correção identificou os pés planos flexíveis; exame radiológico: radiografias de perfil com carga, onde mediu-se o ângulo de Costa-Bartani e o ângulo astrágalo-metatarsal; e, análise da distribuição de pressão plantar: realizada com o Sistema F-Scan (palmilhas sensorizadas). A técnica cirúrgica de Cavalier consiste na colocação de um parafuso para osso esponjoso ou cortical no colo do astrágalo, no sentido do calcâneo com inclinação posterior (aproximadamente 30º). Analisou-se as avaliações realizadas no pré e pósoperatório (sem parafuso), com intervalo de aproximadamente 18 meses. Os resultados mostraram que nos dados radiológicos, quando comparados com um pé normal, a correção média foi aproximada- Endereço para correspondência: Eliane Fátima Manfio, Laboratório de Biomecânica (LABBIO), Clinica Fisiobarra, Universidade Estácio de Sá (UNESA), Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2900 - Cep: 22631-052 Barra da Tijuca - Rio de Janeiro - RJ FISIOBARRA: (21) 3325-1990 fax: 325-6876, LABBIO: (21) 3325-3553 / 3325-2072 ramal 228, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 117 mente 74%, chegando em alguns casos atingir 100%. Os dados de distribuição de pressão plantar mostram que esta técnica corrige o alinhamento do pé, provocando com isso uma aumento da área de contato do pé, a qual diminui a pressão plantar em determinadas regiões, como no meio do pé e na parte anterior, principalmente na cabeça do metatarso I e II. Verificou-se ainda que existe uma relação entre os resultados clínicos, radiológicos e de distribuição de pressão plantar e quando necessário tratamento cirúrgico a Técnica de Cavalier é recomendada pela sua eficiência. Key-words: flat foot, foot pressure distribution, Cavalier’s surgical technique Abstract This study investigated the effectiveness of Cavalier’s surgical technique, described by Judet et al. (1966), used to correct the “flexible flat foot” deformity. The sample was composed of eight “flexible flat foot” children, aged between 9 and 13 (11,96 ± 0,97), analyzed with two methods: radiological exam: burden profiled X-ray, to measure the Costa-Bartani angle and the talusmetatarsal angle; and foot pressure distribution analysis: using the F-Scan system (sensorized insoles). Pre and post-operative exams (without screw) were analyzed, with the approximate interval of 18 months. The results indicate that in the radiological data, in comparison with a normal foot, the average correction was approximately 74%, and in some cases could reach 100%. This technique is able to correct the foot alignment. An enlargement of the foot contact area reduces the foot pressure in certain regions, mainly in the metatarsal I and II head. A relationship exists between radiological and foot pressure distribution analysis results. When the surgical intervention is necessary, Cavalier’s technique is indicated by its efficiency. Introdução Existem na criança muitas alterações ortopédicas e/ou biomecânicas que são consideradas normais dentro de uma determinada faixa etária. Uma das alterações mais freqüentes é o pé plano flexível, que, segundo Viladot [1] é aquele que apresenta uma diminuição exagerada ou o desaparecimento do arco longitudinal-medial, causando uma rotação da parte anterior externamente. A ausência do arco reduz as propriedades de absorção de impactos do pé causando algum desconforto. Os pés planos flexíveis são aqueles em que a deformidade consegue ser reduzida com manobras de correção. .De acordo com Carranza-Bencano et al. [2], uma pequena porcentagem de casos requer o tratamento cirúrgico para evitar o desenvol- vimento de um pé plano doloroso na idade adulta. Autores como Viladot [2], Edmonson & Crenshan [3], Stewart apud Edmonson & Crenshan [3], Bruschini [4], salientam que tratamentos conservadores que possam fortalecer as estruturas músculo-ligamentares do pé, devem ser indicados até mais ou menos 8 anos de idade. Após esta idade, se não houver correção do pé plano, deve ser orientado o tratamento cirúrgico, indicado para crianças em torno de 10 anos de idade, as quais apresentam pés sintomáticos. Bruschini [4] salienta que até os três anos o pé da criança tem um grau maior de mobilidade que o pé do adulto, devido à maior elasticidade ligamentar peculiar ao início da vida. Este fato, aliado ao alargamento da base de sustentação da criança no 118 inicio da marcha, facilita a queda do calcâneo em valgo, fazendo com que o arco longitudinal desapareça. De acordo com Hennig & Rosenbaum [5], em torno dos 6 anos a maioria das mudanças estruturais já foram completadas, e a aparência é similar ao pé adulto. As medidas de distribuição de pressão plantar fornecem informações sobre os padrões de distribuição de pressão e força sob o pé durante a posição em pé equilibrada e durante o andar. De acordo com NIGG [6], o esforço para quantificar a distribuição de pressão começou a ser realizado no final do século XIX, porém progressos significativos no desenvolvimento de sistemas de medição disponíveis, comercialmente, só foram feitos a partir de 1980. O grande interesse na medida da distribuição de pressão plantar é demonstrado pelos diferentes métodos projetados e testados. Mais de 40 diferentes sistemas têm sido documentados. Por causa desse grande número, poucos centros operam com equipamentos similares, e a comparação dos resultados dessas diferentes técnicas de medidas é difícil [7]. Muitas dessas técnicas e dos dispositivos empregados, inicialmente, só possibilitavam a realização de medição estática, sem chegar a obter dados dinâmicos do movimento, isto é, do andar. Com o avanço da tecnologia, foram desenvolvidos determinados dispositivos que possibilitaram a medição dessa variável durante o caminhar. Essas técnicas são classificadas, segundo Lord [8], em três abordagens: a partir da superfície plantar do pé descalço e o solo, entre a sola do sapato e o solo e entre a superfície plantar do pé e a palmilha do sapato, sendo que cada método tem as suas vantagens em certas áreas de estudo. Padrão descalço é a mais relevante representação para cirurgiões ortopedistas que desejam avaliar os resultados da cirurgia do pé, enquanto calçado no chão e pé nas impressões das palmilhas são apropriados para revelar a redistribuição de cargas causadas pelo uso de um tipo particular de calçado ou palmilha. Hennig [9], coloca que as diferentes conformações dos pés (normais, cavos e planos) apresentam um comportamento mecânico no contato com o solo bastante diferenciado. O comportamento da distribuição de pressão comprova que o pé cavo apresenta-se com uma Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 forma de pé pouco flexível. Por outro lado o pé plano demonstra ter uma fraca estrutura, o que se revela principalmente abaixo e ao longo do arco do pé e na região da cabeça do primeiro metatarso. Autores como Cavanagh et al. [10] e Viladot Pericé [11], colocam que elevadas pressões embaixo da parte anterior de um pé com características normais estão geralmente localizadas sob as cabeças dos metatarsos II e III e não sob a cabeça do metatarso I. Isto está de acordo com os resultados obtidos por Grieve & Rashdi [12], Hughes et al. [13], Manfio et al. [14] e Manfio [15]. O objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da técnica cirúrgica de Cavalier descrita por Judet et al. [16], empregada para corrigir a deformidade do pé plano flexível, utilizando como método de avaliação o comportamento da distribuição de pressão plantar na posição em pé equilibrado e dinamicamente, durante a marcha. Materiais e métodos A amostra deste estudo foi 8 crianças de ambos os sexos, portadoras da patologia “pé plano flexível”, na faixa etária de 9 a 13 anos (idade média de 11,96 ( 0,97 anos), totalizando 15 pés planos, sendo 7 cirurgias bilaterais e 1 cirurgia unilateral (pé esquerdo). CarranzaBencano et al. [2], consideram que a melhor idade para realizar a cirurgia é entre 9 e 12 anos de idade, quando o pé já está desenvolvido e não são esperadas alterações bruscas no crescimento. Os pacientes foram analisados sob dois aspectos: radiológico e análise da distribuição de pressão plantar. Exame radiológico: Sob o ponto de vista radiológico, mediu-se o ângulo de Costa Bartani e o ângulo astrágalo-metatarsal (ou talometatarsal). Ambos foram medidos na radiografia do pé em perfil e com carga. O ângulo de Costa Bartani, conforme Viladot-Pericé [11], é formado pela união de três pontos: os pontos mais baixos do primeiro metatarsiano, do astrágalo e do calcâneo. O valor desse ângulo em um pé normal é aproximadamente 130º. Foi usado como ângulo complementar o ângulo astrágalo-metatarsal, que num pé normal é 0º, num pé plano severo é maior do que 40º e num pé plano intermediário é aproximadamente 15º. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Avaliação da distribuição de pressão plantar: Para a realização da coleta de dados foi selecionado o sistema F-Scan, que consiste de um sensor flexível (palmilhas) para avaliar a pressão plantar dos indivíduos, descalço e com calçado (sensor dentro do calçado). O sistema consiste de 2 sensores (palmilhas), circuitos de coleta de dados e software. O sensor é formado, em seu tamanho original, por 960 pontos sensíveis, localizados sobre sua superfície (Fig. 1). Esse caracteriza-se por uma fina grade de linhas e colunas, formada por deposição de tinta condutiva à base de prata. Esse sensor (palmilha) é o coração do sistema e pode ser cortado para ajustar-se aos diferentes tamanhos de pés e de sapatos. Os circuitos eletrônicos, para medir o sinal do sensor F-Scan, consistem de dois componentes (cuff - unidades de tornozelo). Estes controlam a varredura da grade do sensor e a conversão A/ D das resistências medidas. Os dados digitais são então, arranjados de forma serial e transmitidos através de cabos coaxiais ao resto dos circuitos, localizados em uma placa de expansão em um computador. O software do F-Scan é projetado para demonstrar, comparar, armazenar e imprimir os dados coletados a partir dos sensores. Fig. 1 - Palmilha do sistema F-Scan 119 As coletas foram realizadas na posição em pé, equilibrada, e durante o caminhar. Na posição em pé, equilibrada, o sujeito foi instruído a distribuir o peso igualmente sobre os dois pés, com ambos os pés descalços, sobre os sensores. As medições foram realizadas três vezes, durante 1s, numa freqüência de 165 Hz. Durante o caminhar, os participantes da amostra foram instruídos a caminhar com velocidade normal. As medições também foram realizadas três vezes, durante 8s, na mesma freqüência. Para a interpretação dos plantigramas gerados pelo sistema F-Scan, os pés foram divididos em três regiões distintas: região do calcanhar, que representa a pressão exercida principalmente pelo calcâneo; região do meio do pé, que representa os apoios exercidos geralmente pela parte externa do arco do pé; e região anterior do pé, que representa os apoios exercidos principalmente pelas cabeças dos cinco metatarsos e pelos dedos. Técnica cirúrgica empregada: Foi utilizada a técnica de Cavalier descrita por Judet et al. [16]. Nesta técnica faz-se uma incisão lateral transversal ao colo do astrágalo e ao seio do tarso. Visualiza-se o colo do astrágalo, corrigese a deformidade pé plano com as manobras de correção e coloca-se um parafuso para osso esponjoso ou cortical no colo do astrágalo, no sentido do calcâneo, com inclinação posterior de aproximadamente 30º, atingindo a segunda cortical do calcâneo na face plantar (Fig. 2). Fig. 2 - Técnica de Cavalier descrita por Judet et al. (1966) Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 120 O tratamento dura aproximadamente 1 ano e 6 meses depois da colocação dos parafusos quando os mesmos são retirados. A lise óssea ao redor do parafuso é um sinal radiológico que o mesmo já cumpriu sua função e pode ser retirado. As coletas pré-operatórias com o sistema FScan e as radiografias foram realizadas no dia anterior à cirurgia. Foram feitas novas avaliações no período entre as cirurgias de colocação e retirado do parafuso, para controle. Neste estudo foram analisados o pré-operatório (PRE) (avaliação realizada no dia anterior à cirurgia), pós-operatório com parafuso (POS1) (avaliação realizada no dia da cirurgia de retirada do parafuso, cerca de 1 ano e 6 meses após a cirurgia) e pós-operatório sem parafuso (POS2) (avaliação realizada 60 dias após a retirada do parafuso). Resultados e discussão Os resultados dos ângulos de Costa-Bartani (CB) e astrágalo-metatarsal (AM), constam na Tabela 1, com a estatística descritiva correspondente. Analisando estas alterações angulares, em relação a um pé normal, ângulo em torno de 130º, segundo Viladot-Pericé [11], verifica-se que os valores dos ângulos na situação pósoperatória com e sem parafuso aproximaramse do valor do ângulo de um pé normal. Ocorreu uma alteração média de aproximadamente 9 graus da fase pré-operatória para a fase pós-operatória. Observa-se que ocorreu uma evolução favorável com relação a média do grupo, no ângulo de Costa Bartani, de 74%, sendo que a correção mínima ocorrida no grupo foi de 31% e a máxima de 100%. Para o ângulo astrágalo-metatarsal, os valores foram semelhantes ao ângulo de Costa-Bartani. Esta correção, demonstrada pelos ângulos de Costa-Bartani e astrágalo-metatarsal, que ocorreu no pé plano (pré-operatório) para um pé com características normais (pós-operatório) esta melhor demonstrada nas Fig. 3 e 4. Na análise do nível das alterações dos ângulos de Costa-Bartani (CB) e astrágalometatarsal (AM), verifica-se que ocorreram diferenças estatisticamente significativas entre os resultados dos ângulos obtidos no PRE e no POS1 (t = 10,16; p = 0,000) e entre o PRE e POS2 (t = 6,40; p = 0,000) para ângulo de Costa-Bartani. Entre as avaliações o POS1 e o POS2 não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (t = 0,21; p = 0,841) para o ângulo de Costa-Bartani. O mesmo ocorreu para o ângulo astrágalo-metatarsal. Isso demonstra que após a retirada do parafuso não ocorreram alterações significativas nos valores destes ângulos, ou seja, os mesmos permaneceram praticamente iguais. Fig. 3 - Gráfico dos dados referente ao ângulo de Costa-Bartani Tabela 1 - Dados referente aos ângulos de Costa-Bartani e astrágalo-metatarsal nos três períodos. Ângulo de Costa-Bartani metatarsal Ângulo astrágalo- n 1 2 2 1 3 3 1 2 -X n 1 1 1 2 1 5 2 1 1 X PRE POS1 POS2 152 138 -146 136/130 136/ -145 140 137 142 132 -141 138/135/130 138/135/130 140 132/130/128 132/130/130 139 130 130 138 130/ 130/ ----142,3 133,1 133,2 PRE POS1 POS2 30 16 -16 0 -15 0 -13 10/6 8/6 11 2 2 10 6/3/2/1/1 4/3/2/1/1 9 5/0 5/1 8 0 0 5 0 -11,9 3,5 3,0 Fig. 4 - Gráfico dos dados referente ao ângulo astrágalo-metatarsal Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Dados de distribuição de pressão plantar: Com relação aos dados de distribuição de pressão plantar, foram analisados somente o PRE e POS2. Na posição em pé equilibrada verificaram-se diferenças estatisticamente significativas na localização do Centro de Força entre o PRE e POS2 (t = -5,40; p = 0,001), demonstrando que ocorreu um deslocamento do mesmo. No PRE o Centro de Força localizouse na região do calcanhar, enquanto que no POS2 localizou-se na região do meio do pé. Com isso observa-se que no POS2 ocorreu uma melhor distribuição das cargas na região plantar, principalmente na região anterior e na região do meio do pé. Na maioria dos casos no PRE ocorreu apoio no calcanhar e na cabeça dos metatarsos I e II e a ausência de apoio na região do meio do pé. Isto está associado a um tornozelo valgo mais pronunciado, o que provoca um apoio medial do pé. O padrão de distribuição de pressão plantar na região anterior no PRE foi o padrão medial/central, ou seja, pressões elevadas sob a cabeça dos metatarsos I e II. No POS2 foi o padrão central, ou seja, pressões elevadas sob a cabeça dos metatarsos II e III (Fig. 5). Os resultados do POS2 estão de acordo com os resultados encontrados por Grieve & Rashdi [12], Cavanagh et al. [10], Hughes et al. [13], Manfio et. al. [14] e Manfio [15], que encontraram que elevadas pressões embaixo da parte anterior do pé, para um pé normal, estão geralmente localizadas sob a cabeça dos metatarsos II e III (padrão central). Com relação à área de contato do pé (área total), foram encontradas diferenças estatisticamente significativa entre o PRE e o POS2 (t = 4,19; p = 0,014). A área de contato no PRE foi menor do que no POS2. Isto é, no pós-operatório ocorreu uma melhor dis- 121 tribuição das cargas, evitando desta maneira sobrecarga em determinadas regiões. Analisando as alterações durante o caminhar descalço, com relação à área de contato do pé (Fig. 6), nas diferentes regiões do pé foram encontradas diferenças significativas entre PRE e POS2 para a região anterior (t = -3,23; p = 0,008), calcanhar (t = 2,36; p = 0,038) e toda a região plantar (t = 2,36; p = 0,038). Observa-se que ocorreu um aumento na área de contato do pé na situação pós-operatória em todas as regiões do pé (calcanhar, meio, parte anterior e toda a região plantar). Com relação a pressão plantar média (Fig. 7), foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre o PRE e POS2 somente na região do calcanhar. Verifica-se que ocorreu uma diminuição na pressão média na região do calcanhar, parte anterior e toda a região plantar, provocada pelo aumento da área de contato nas regiões. Na região do meio do pé ocorreu um aumento da pressão, relacionado à alteração do apoio do pé durante a marcha após a realização da cirurgia. Em alguns casos no PRE, durante o caminhar, observou-se ausência total de apoio na região do meio do pé. Isto está associado a um tornozelo valgo mais pronunciado, que provoca um hiperapoio na região medial do pé (principalmente na cabeça dos metatarsos I e II). No POS2 ocorreu a correção do alinhamento do pé, provocando contato desta região durante o caminhar (Fig. 8). Isto também acontece na situação em pé, equilibrada. Fig. 5 - Distribuição de pressão plantar na posição em pé, equilibrado no PRE e POS2 PRÉ PÓS Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 122 Fig. 6 - Área de contato do pé direito nas diferentes regiões Fig. 7 - Pressão plantar média nas diferentes regiões do pé Fig. 8 - Distribuição da pressão plantar durante o caminhar no pré-operatório e pós-operatório sem parafuso caminhar, verifica-se que foi semelhante ao padrão encontrado na posição em pé equilibrado. No PRE foi encontrado o padrão medial/central, com pressões elevadas sob a cabeça dos metatarsos I e II e no POS2 foi encontrado o padrão central, com elevadas pressões sob a cabeça dos metatarsos II e III. PRÉ PÓS A análise da trajetória do centro de força mostra que na situação pré-operatória ocorreu um deslocamento das forças mais no sentido medial, caracterizando um pé plano, enquanto que na situação pós-operatória o deslocamento das forças ocorreu mais no sentido central do pé, caracterizando um pé normal, estando os resultados de acordo com Cavanagh [17] e Manfio [14], que estudaram o comportamento dos diferentes tipos de pés (planos, normais e cavos). Analisando o padrão de distribuição de pressão plantar na região anterior, durante o Conclusões Analisando os resultados podemos concluir que as crianças com pés planos, submetidas ao tratamento cirúrgico mediante a técnica de Cavalier, praticamente em todos os casos evoluíram para pés com características normais. Sendo assim, esta técnica é recomendada para a correção do pé plano flexível, mostrando-se eficaz do ponto de vista radiológico e do comportamento da distribuição de pressão plantar. Nos dados radiológicos, quando comparados com um pé normal, a correção média foi aproximadamente 74%, chegando em alguns casos atingir 100%. Os dados de distribuição de pressão plantar mostram que esta técnica corrige o alinhamento do pé, provocando com isso um aumento da área de contato, a qual diminui a pressão plantar em determinadas regiões, principalmente na cabeça dos metatarsos I e II. Verificou-se ainda que existe uma relação entre os resultados radiológicos e de distribuição de pressão plantar. Quando necessário tratamento cirúrgico, a técnica de Cavalier é recomendada pela sua eficiência. O sistema F-Scan apresenta claramente as alterações do comportamento da distribuição de pressão e força dos pés em situação em pé Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 equilibrado e dinâmica, na situação pré e pósoperatória, evidenciando a melhora obtida com a cirurgia. Acredita-se que não há necessidade de associar outra técnica cirúrgica à Técnica de Cavalier, uma vez que ela, isoladamente, é capaz de corrigir o comportamento biomecânico do pé. Recomenda-se a continuidade do estudo, com o objetivo de aumentar a amostra de crianças e que seja realizado um acompanhamento destas crianças até a fase adulta. Verificando assim, possíveis alterações no alinhamento do pé após encerrado o período de tratamento. Referências 1. Carranza-Bencano A, Zamora-Navas P, Fernandez-Velazquez JR. Viladot’s operation in the treatment of the child’s flatfoot, Foot & Ankle 1997;18(9):544-549. 2. Viladot R. Actualités de Chirurgie Orthopédique de L’Hopital Raymond Poincaré et de L’Institut de Recherches Ortopédiques. Paris, 1976. 3. Edmonson AS, Crenshan AH. Campbell Cirurgia Ortopédica. 6ª ed. Buenos Aires, Panamericana, 1985. 4. Bruschini S. Ortopedia Pediátrica, São Paulo: Atheneu, 1993. 318 p. 5. Hennig E, Rosenbaum D. Pressure distribution patterns under the foot of children in comparison with adults. Foot & Ankle, 1991;11(5). 6. Nigg B, Herzog W. Biomechanics of the musculo-skeletal system. John Wiley & Sons, Canada, 1994 7. Hughes J; Phil M, Clark P, Linge K, Klenerman L. A comparison of two studies of the pressure distribution under the feet of normal subjects 123 using different equipment. Foot & Ankle 1993;14(9):514-519. 8. Lord M. Foot pressure measurement: An overview of methodology. Journal Biomedical Eng, 1981;3:91-99 9. Hennig E, Druckverteilungsmuster in Abhängigkeit von der funbstruktur bei muskulär aktiven und passiven belastungsformen. Sportverletzung Sportschaden. 1990;4:109-116. 10. Cavanagh PR, Rodgers MM, Liboshi A. Pressure distribution under symptom-free feet during barefoot standing. Foot & Ankle 1987;7(5):262-276. 11. Viladot-Pericé A. Patologia do Antepé. São Paulo, Roca Ltda, 3ª ed.,1987. 303p. 12. Grieve DW, Rashdi T. Pressures under normal feet in standing and walking as measured by foil pedobarography. Ann. Rheum. Dis 1984;43:816-818. 13. Hughes J, Jagoe R, Clark P, Klenerman L. Pattern recognition of images of the pressure distribution under the foot from the pedobarograph. Journal of Photographic Science 1989;37:139-142. 14. Manfio EF, Mota CB, Avila AOV. Análise da distribuição de pressão plantar em sujeitos descalços na posição em pé. Anais VI Congresso Brasileiro de Biomecãnica, Brasília, p. 222-229, 1995. 15. Manfio EF. Estudo de parâmetros antropométricos e biomecânicos do pé humano para a fabricação de calçados segundo critérios de conforto, saúde e segurança. Dissertação de Mestrado, Santa Maria, Universidade Federal de Santa Maria, 1995. 16. Judet R. et al. Possibilités de Correction Chirurgicale des Malformations des os du Pied. La Presse Medicale 1966;74(4):157-9. 17. Cavanagh PR. The biomechanics of running and running shoe problems. In Segesser, B. & Pförringer, W. (ed.). The shoe in sport. Year Book Medical Publishers, Inc. Chicago, 1989. 271 p.7 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 124 Revisão Equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular: como mensurar? Thoracic balance control in people with spinal cord injury: how can it be measured? Marta Simões Peres*, Carlos Alberto Gonçalves** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde **Engenheiro, Doutor em Engenharia Biomédica, Prof. Adjunto, Departamento de Ciências Fisiológicas, CFS/Instituto de Ciências Biológicas, UnB Palavras-chave: Avaliação de equilíbrio, controle de tronco, registro em vídeo, biomecânica, lesão medular Resumo O controle do equilíbrio é considerado uma habilidade fundamental, pois constitui um pré-requisito para se iniciar qualquer movimento. Lesões ao Sistema Sensorial, ao Sistema Nervoso Central e ao Sistema Músculo-Esquelético podem afetar essa habilidade, daí a importância de medidas de estabilidade postural em estudos ligados à fisiologia, geriatria, neurologia e traumatologia. A Biomecânica é a área do conhecimento que nos fornece as ferramentas para avaliar diversos parâmetros do movimento e do equilíbrio. Este estudo norteou a opção pela cinemetria como um método eficiente de avaliação de equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular. Deste modo, a partir da exposição de conceitos, bases fisiológicas e evolução histórica das técnicas, este trabalho revê os principais métodos de mensuração do equilíbrio, a fim de oferecer um leque de possibilidades a futuras pesquisas sobre o tema. Endereços para correspondência: Marta Simões Peres: SHCES Qd 105 Bl ‘B’ apto 403 Cruzeiro Novo DF 70650-152 tel (61)3633181 e-mail [email protected] Carlos Alberto Gonçalves: Cond. Solar de Atenas D27 Grande Colorado Sobradinho/DF 73.070-014 tel (61) 4858192 e-mail [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Key-words: Balance evaluation, thoracic control, video recording, biomechanics, spinal cord injury 125 Abstract Balance control is viewed as a fundamental ability, inasmuch as it constitutes a prerequisite for movement initiation. Lesions to the Sensory Systems, the Central Nervous System, and the Skeletal-Muscle System may hinder such ability, indicating the importance of postural balance measures in studies related to physiology, geriatrics, neurology and traumatology. Biomechanics is the field which provides the necessary tools to evaluate various movement and balance-related parameters. In this investigation, cinemetry was employed as an efficient mode for appraising thoracic balance in spinal cord injuried patients. Therefore, through an analysis of the theoretical framework, physiological basis and historical evolution of techniques, this study reviews the main methods for measuring balance, in order to offer a broad range of possible topics for future research. Introdução Este estudo foi motivado pela necessidade de escolhermos um método adequado para avaliar, em posição sentada, o ganho de equilíbrio de tronco em pessoas com lesão medular após treinamento por atividade de dança. Esta revisão bibliográfica serviu de suporte para primeiros testes, no Laboratório de Biomecânica da Universidade de Brasília (UnB), que nos levaram à elaboração de um método de avaliação do controle dos movimentos de tronco por aqueles sujeitos (Peres, 2000). Conceituação Equilíbrio é definido como “o estado de um corpo em que as diversas forças de gravidade formam uma cadeia fechada, anulando-se” (Fraccaroli, 1991) ou como a “habilidade em manter o centro de massa do corpo sobre sua base de suporte com uma oscilação postural mínima” (Shumway-Cook et al, 1988). A habilidade funcional para o equilíbrio abrange dois tipos, o estático e o dinâmico. O primeiro relaciona-se à capacidade de manterse em determinada posição e o segundo, à capacidade de controle ao longo de um movimento. O equilíbrio estático, por sua vez, pode ser dividido em três tipos: estável, quando para causar-lhe uma mudança de posição é necessária aplicar uma força considerável, por exemplo, quando nos encontramos deitados; neutro, quando o corpo muda de uma posição para outra, mas seu centro de gravidade permanece no mesmo nível, tal como uma bola girando sobre uma superfície plana; instável, quando a base de suporte é mínima e a energia potencial é máxima, de forma que apenas uma pequena força é necessária para mover a linha de gravidade, como quando, sentado num banco de base pequena, alguém é empurrado, então, recupera seu equilíbrio ou cai, atingindo uma situação estável. Bases fisiológicas O controle do equilíbrio é considerado uma habilidade fundamental, pois constitui um prérequisito para se iniciar qualquer movimento. Em termos fisiológicos, “o equilíbrio consiste na resposta biomecânica do sistema músculoesquelético quando o indivíduo encontra-se de pé, sentado, deambulando ou executando algum outro movimento” (Theasaurus Medline, 1998). As teorias de controle motor preconizam que essa resposta neuro-motora depende da atuação de vários sistemas que se integram por mecanismos de retro-alimentação, sendo que os principais são: 1) sistema sensorial, compos- 126 to pelo visual, cutâneo, proprioceptivo e vestibular; 2) sistema motor, cuja função é criar o movimento e manter a postura; 3) sistema biomecânico, constituído pela estrutura dos ossos e das articulações. Portanto, o controle do equilíbrio depende, basicamente, da integração entre a organização sensorial, a coordenação motora dos componentes do sistema neurológico e da biomecânica do sistema músculo-esquelético. Isto se dá de forma que as informações recebidas pelo Sistema Nervoso Central e as reações daí decorrentes, em termos de contrações musculares necessárias, dependem da acurácia da entrada e da integração de informação nesses sistemas, visando estabilizar a postura ou prevenir uma mudança indesejada. Isso ocorre por meio da escolha de respostas rápidas correspondentes às modificações ambientais internas e externas requisitadas. Segundo Wooley e Armstrong (1993), o componente motor do controle postural depende das estratégias de movimento evocadas na musculatura das extremidades e do tronco. Considerando-se que lesões ao Sistema Sensorial, ao Sistema Nervoso Central e ao Sistema Músculo-Esquelético podem afetar o controle postural, é grande o interesse relativo a este assunto. Diversos campos de pesquisa voltam-se para o estudo do equilíbrio e da postura, enfocando tanto indivíduos ‘normais’ quanto portadores de patologias variadas. Medidas de estabilidade postural são úteis na caracterização de mudanças ligadas à idade, doenças neurológicas e trauma. Particularmente entre idosos, a perda de força muscular e déficits sensoriais leva à diminuição do controle postural, o que traz a essa população, quedas freqüentes, lesões e custos hospitalares. É obrigatório, portanto, recorrer aos métodos de avaliação do equilíbrio, a fim de investigar os efeitos da reabilitação e de outras intervenções, em campos tais como a geriatria, a neurologia, a ortopedia, a traumatologia, a obstetrícia, entre outros, com sujeitos adultos e crianças, portadores ou não de deficiências. 1 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Métodos de mensuração do equilíbrio Histórico Murray (1975) classifica os métodos de avaliação da postura ortostática em três grupos: 1) mensuração do movimento do centro de pressão; 2) mensuração da atividade muscular responsável pela manutenção da postura; 3) mensuração do deslocamento do segmento corporal durante a posição ortostática. A Biomecânica, que vem a ser a área do conhecimento que nos fornece as ferramentas para avaliar o equilíbrio, divide-se em quatro ramos principais: a antropometria 1, a dinamometria, a eletromiografia e a cinemetria, sendo que os três últimos estão respectivamente relacionados aos métodos citados por Murray. Com base nisso, a análise do equilíbrio tem sido um importante instrumento ao fisioterapeuta para avaliar desordens do Sistema Nervoso Central. As observações subjetivas de Romberg, um neurofisiologista alemão, sobre as oscilações de sujeitos portadores de tabes dorsalis em 1853, consistiram num marco inicial. Seus achados o permitiram desenvolver um teste para a avaliação do equilíbrio, que até hoje é utilizado em exames físicos de rotina de avaliações neurológicas, conhecido como “teste de Romberg”. Ele representa a forma mais simples de exame de equilíbrio e consiste na observação visual da habilidade ou tendência ao desequilíbrio do paciente em manter-se na posição ortostática, com os pés unidos, de olhos abertos e de olhos fechados. Algumas décadas depois, Mitchell e Lewis (1886) posicionaram sujeitos em frente a uma parede quadriculada e observaram excursões máximas de oscilação em direções lateral e sagital (Oliveira, 1993). Em 1887, Hinsdale utilizou um “ataxiógrafo”, instrumento constituído por uma agulha estacionária que registrava oscilações sobre um disco plano preso à cabeça do sujeito. Nas décadas de 20 e 30, buscando-se cada vez mais a quantificação destas oscilações, foram desenvolvidos instru- Antropometria: processo ou técnica de mensuração do corpo humano ou de suas várias partes (Ferreira, 1986) Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 mentos como a “cefalografia”, o “ataxiômetro” e balanças especiais. Estes exames, no entanto, ainda apresentavam precisão deficiente, grande demanda operacional, tal como a necessidade de fixar transdutores no corpo do paciente. Tudo isto “impedia a aplicação, em larga escala, destas técnicas na área clínica, as quais permaneceram a nível experimental” (Oliveira, 1993). Nos anos 50, Babinski e seus colaboradores desenvolveram a estabilografia, técnica de medição aperfeiçoada por Terekov (1976). Este passou a utilizar circuitos eletrônicos, e nos anos 70 implantou, em plataformas fixas, transdutores de carga (strain-gauges). Bizzo (1985) publicou especificações para a construção de uma plataforma de força vertical projetada para a estabilometria clínica (idem). Dinamometria A dinamometria2 utiliza-se do instrumental de uma plataforma apoiada sobre transdutores de força, que fornece o registro contínuo da amplitude e freqüência dos deslocamentos ântero-posteriores e laterais do Centro de Pressão3. Ao registrar quantitativamente oscilações posturais, consiste num método de avaliação do desempenho do sistema de controle postural, em ortostatismo, com fins diagnósticos. Nas últimas décadas, o desenvolvimento tecnológico da construção de plataformas de força e a grande sofisticação do processamento de sinais levaram ao uso corrente deste instrumento para quantificar a oscilação postural contínua do corpo na postura de pé. Estas têm sido usadas para examinar sujeitos sem deficiência e populações portadoras de limitações diversas devido à doença ou à lesão. O exame da estabilidade postural pode incluir testes de olhos abertos e fechados para estimar o papel do sistema visual na manutenção do equilíbrio, técnica cuja origem é o já mencionado teste de Romberg. Outra possível situação de instabilidade pode ser proposta solicitando-se ao sujeito ficar sobre um pé só, a fim de avaliar a estabilidade sob condições que desafiam o sistema de controle 2 3 127 postural e comparar com os dois pés apoiados. Na posturografia estática, o movimento do centro de pressão é mensurado enquanto o sujeito fica de pé, procurando manter-se imóvel, sobre a plataforma. Presume-se que uma estabilidade postural diminuída, ou um equilíbrio precário, leve a uma área aumentada da trajetória do centro de pressão. Como a plataforma de força mede também a aceleração do centro de pressão, um aumento da mesma pode indicar um déficit no controle postural ou a adoção de uma estratégia de controle postural diferente. Estudos relativos à quantificação dos mecanismos responsáveis pelo equilíbrio, após distúrbios externos, originaram a posturografia dinâmica. Em outras palavras, esta refere-se aos métodos que medem a performance do sistema de controle postural quando este responde a uma perturbação do ambiente. Os agentes externos geradores de desequilíbrio evoluíram desde pequenos empurrões até plataformas que se inclinam ou vibram de maneira programada (Oliveira, 1993). Com a utilização da informática e da eletrônica digital, as técnicas de estabilometria avançaram de forma a tornar-se possível a quantificação precisa das oscilações posturais. Portanto, embora seja utilizada como método de pesquisa, o caráter aplicativo desta técnica na clínica vem se expandindo em diversas instituições do mundo. Deste modo, esta técnica oferece algumas vantagens, pelo fato de ser padronizada e fornecer valores precisos. Eletromiografia (EMG) A atividade elétrica de um músculo pode ser registrada e medida através da eletromiografia. A instrumentação necessária a esta técnica é disponível há algumas décadas. Um sistema típico de registro eletromiográfico consiste numa aparelhagem de eletrodos de superfície ou de agulha posicionados sobre, ou próximos, ao ponto motor, que vem a ser o local onde o nervo principal chega ao músculo. Também chamada de estabilometria ou estatocinesiografia computadorizada. Centro de pressão é a localização do vetor vertical nas direções médio-lateral e ântero-posterior da superfície da plataforma de força. 128 Harbourne et al. (1992) analisaram e correlacionaram, com programa computadorizado, dados eletromiográficos e variáveis cinemáticas, para descrever o desenvolvimento de bebês quanto ao controle da postura sentada e das respostas a perturbações externas. Estas pesquisadoras concluíram que as crianças diminuem a velocidade e o deslocamento do tronco gradualmente à medida que adquirem controle da posição sentada e ressaltaram a importância dos músculos paraespinhais, isquiotibiais, e quadríceps no sentido de atuarem em sinergia para manter a estabilidade da pelve sobre a base de suporte dos membros inferiores. Além disto, observaram que as sinergias musculares mais bem sucedidas na manutenção da estabilidade do conjunto pelve/fêmur são selecionadas a partir de tentativas e erros. Seelen (1998) relata estudos sobre a postura de sujeitos com lesão medular. A partir da análise eletromiográfica de músculos posturais e não posturais de sujeitos portadores de lesão medular, este autor observou o desenvolvimento de padrões de ativação muscular específica. Concluiu que sujeitos paraplégicos apresentaram uma restauração de função dos eretores espinhais e os tetraplégicos apresentaram um uso compensatório dos músculos grande dorsal, trapézio e peitoral maior. Cinemetria A cinemetria consiste no registro do movimento através de imagens, possibilitando avaliar visualmente o deslocamento de um segmento corporal, ou do corpo como um todo. Este método está diretamente relacionado ao desenvolvimento das técnicas fotográficas, cinematográficas e videográficas. O trabalho do fotógrafo inglês Muybridge (1872) consiste num relevante marco inicial quanto aos estudos do movimento por imagens. Ele executou uma experiência na qual atravessou uma pista com fios, presos a 24 aparelhos fotográficos. À medida que o cavalo passava pela pista, eram disparadas as câmeras. Deste modo, ele conseguiu fazer com que o milionário americano, por quem havia sido contratado, ganhasse uma aposta, na qual havia afirmado que no decurso de um galope, Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 haveria um instante em que nenhum dos cascos do cavalo tocaria a terra. Através de outras inúmeras seqüências fotográficas, ele registrou o movimento de humanos e animais em situações diversas, resultando num trabalho que, por sua beleza, pertence aos campos da ciência e da arte. Uma década depois, Marey desenvolveu uma série de dispositivos de mensurações por cine-fotografia, e é por isto considerado o pioneiro na quantificação da locomoção. Ele criou o primeiro “Laboratório de Marcha” de que se tem notícia (Challier et col., 1995). A propósito, com a invenção do cinema, as pesquisas em biomecânica receberam um forte impulso, já que muitas seqüências de movimento podem ser gravadas e examinadas quadro a quadro. Deste modo, atualmente, a cinemetria é vastamente utilizada, especialmente no campo da análise de marcha, a fim de aumentar a precisão dos julgamentos dos especialistas em relação à avaliação de seus pacientes e aos efeitos de seus procedimentos. Em geral, nos exames de marcha são empregados métodos simplificados, nos quais das imagens são extraídos traços representando os segmentos corporais, a fim de estudar os ângulos entre os mesmos. Pela utilização de marcas reflexivas sobre determinados pontos anatômicos, o registro das imagens é transformado em gráficos que descrevem os movimentos das articulações durante um intervalo de tempo. Além de suas aplicações no estudo da marcha, a cinemetria é utilizada em investigações sobre o movimento de qualquer segmento do corpo. Bennett (1994) avaliou sujeitos idosos em tarefas de tentar alcançar e pegar objetos e os comparou a sujeitos jovens. Os movimentos foram gravados em vídeo e foram utilizadas marcas sobre os punhos e as mãos. Concluiuse que sujeitos idosos mostravam movimentos mais lentos, mas que a padronização e coordenação dos mesmos eram semelhantes em ambos os grupos. Myhr (1995) registrou por vídeo e fotografia 10 crianças com paralisia cerebral, a partir da introdução de uma posição que foi chamada de “sentada funcional”. Observou-se, comparando-se mensurações realizadas com cinco anos de intervalo, que as 8 crianças com Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 a qual utilizou-se a referida posição apresentaram um leve ganho em termos de utilização dos membros superiores, enquanto as outras duas pioraram. Jonsdottir (1997) investigou os efeitos de duas diferentes intervenções terapêuticas, a partir da análise, por vídeo, do controle postural de crianças portadoras de paralisia cerebral. Não foram encontradas diferenças em termos do controle, sendo que as crianças atendidas pelo “tratamento baseado no neurodesenvolvimento” apresentaram um melhor alinhamento postural. Bernhardt (1998) utilizou o vídeo para registrar o desempenho de sujeitos com comprometimentos neurológicos devidos a acidente vascular cerebral em tarefas com os membros superiores. A partir das imagens obtidas, foram analisadas as respectivas velocidades, direções e descontinuidades de seus movimentos, a fim de comparar os julgamentos feitos a partir das imagens em vídeo com a observação visual dos terapeutas, e chegou-se à conclusão de que a última, desde que tratem-se de terapeutas experientes, avalia de forma confiável o desempenho destes sujeitos. Em relação à análise da postura e dos movimentos, a definição de pontos anatômicos onde são colocadas marcas para orientar o processamento de imagens é mais um tema de interesse. Discussão Como foi exposto acima, os métodos de mensuração sofreram uma evolução ao longo da História, no sentido de permitir avaliações mais precisas e objetivas, visando tanto fins diagnósticos, quanto responder às questões relativas à eficácia de tratamentos e à pesquisa de modo geral. Este estudo teve como objetivo rever, dentre as ferramentas oferecidas pela Biomecânica, qual seria a mais adequada para a avaliação do ganho de controle dos movimentos de tronco em pessoas com lesão medular (Peres, 2000). Embora consista numa técnica padronizada e precisa, a dinamometria não se mostrou adequada para avaliar o grau de controle dos movimentos de tronco em sujeitos sentados. Experimentos preliminares, realizados no Laboratório de Biomecânica da Universidade 129 de Brasília, nos mostraram que a plataforma de força piezoelétrica não tem sensibilidade para detectar as pequenas extensões de movimento de tronco que os sujeitos de nossa pesquisa são capazes de realizar, gerando consequentemente pequenos componentes de força, cujos registros se sobrepõem durante o exame, dificultando a análise. A EMG é útil para verificar a atuação e acompanhar a evolução de determinados grupos musculares, no entanto, esta medida não é um bom parâmetro para avaliar especificamente o ganho em termos espaciais de controle dos movimentos de tronco, ou seja, de equilíbrio dinâmico. É um método focalizado, que pode servir como um excelente complemento, no sentido de definir a musculatura que está atuando em cada situação, passível de utilização em novos estudos. Finalmente, optamos pela cinemetria, por meio de um sistema video-computadorizado de análise postural (Da Vinci, Micromed, 1999), pois ela se mostrou a técnica mais adequada para a visualização e mensuração dos ângulos de movimentos de tronco dos sujeitos avaliados. Agradecimentos Micromed Engenharia Biomédica QE 40/conj A/ lote 4, Guará II/DF CEP71070-012 Referências Atwater S. Interrated Test-Retest Reliability of Two Pediatric Balance Tests. Physical Therapy 1992;70(2). Bennett K. Reach to grasp: changes with age. Journal of Gerontology 1994;49(1). Bernhardt J. Accuracy of observational kinematic assessment of upper-limbs movements. Physical Therapy 1998;78(3):259-270. Challier M, Jeuneut L. Era uma vez o Cinema, coleção “As Origens do Saber”, São Paulo, Melhoramentos, 1995. Delisa. Medicina de Reabilitação. São Paulo, Manole, 1992. Deoreo K. Dynamic and Static Balancing Ability of Pre-school Children. Journal of Motor Behavior 1971;3(4):326-335. Dufour M. Cinesioterapia. 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Journal of Otolaryngology 1993;22(5):369-374. 132 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Março / Abril 2001 Calendário de eventos Abril Io Congresso Brasileiro de PPesquisa esquisa em FFisioterapia isioterapia e suas Aplicações Xo Simpósio de FFisioterapia isioterapia da UFSCAR 27 de abril – 1 de maio São Carlos, São Paulo Tel: (16) 260-8341 IIo Congresso Internacional de Educação Física e Motricidade Humana VIIIo Simpósio paulista de Educação Física 28 de abril – 1 de maio Rio Claro, São Paulo Tel: (19) 526-4160 Site: www.igce.unesp.br/ib/simposio Maio IXo Congresso Brasileiro de Biomecânica 29 de maio - 1 de junho Gramado – RS Realização: Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS, Escola de Educação Física – ESEF, Centro INDESP/ UFRGS de Excelência Esportiva - CENESP Tel: (51) 316-5817, Fax: (51) 316-5811 E-mail: [email protected] Io Simpósio Brasileiro sobre o Diagnóstico Cinesiológico Funcional 30 de maio – 1 de junho Guanabara Palace Hotel, Rio de Janeiro RJ Informações: IBRAFA - Instituto Brasileiro de Fisioterapia Aplicada Tel: (21) 275-2595 Junho PT 2001- The Annual Conference & Exposition of the American Physical Therapy Association 20-23 de junho Anaheim, California Informações: www.apta.org Julho VIII international symposium on Computer Simulation in Biomechanics 4-6 de julho - Milan, Italy Prof. Federico Casolo Politecnico di Milano - Dipartimento D.S.T.M. P.za Leonardo da Vinci n.32 20133 Milano, Itália tel: (+39) 02 2399 6706 fax: (+39) 02 2399 6720 E-mail: [email protected] 2001 FFootwear ootwear Symposium 5–7 de julho Zuerich, Switzerland Informações: www.ethz.ch XVIIIo Congress International Society of Biomechanics 8-13 de julho Zurich, Switzerland Laboratorey for Biomechanics Wagistr. 4 CH-8952 Schlieren Switzerland Tel: +41 1 633 61 17 Fax: +41 1 633 11 24 Agosto Io Congresso de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do Crefito -5 Crefito-5 Saúde e Envolvimento Comunitário 17 e 18 de agosto www.crefito5.com.br Setembro 1st International Conference on Movement Dysfunction – Integrating Approaches 21-23 de setembro Shirley McGill, Conference Organiser Kinetic Control, Mede House Salisbury Street, Southampton, Hants SO15 2TZ UK Tel: +44 (0) 8451 300 808 Fax: +44 (0) 2380 248 533 Email: [email protected] Site: www.kineticcontrol.com IIo Jornada Brasileira de FFisioterapia isioterapia R espiratória em PPediatria ediatria Respiratória 28-29 de setembro Costão do Santinho Resort, Florianópolis - SC Informações: Sul 21 – Eventos e Produções, rua Bento Gonçalves, 183/104, 88010-080, Florianópolis – SC Tel: (48) 2253778, fax (48) 225-3775 E-mail [email protected]. Outubro XV Congresso Brasileiro de FFisioterapia isioterapia I Congresso Brasileiro do Século XXI VIII Congresso PPaulista aulista de FFisioterapia isioterapia IX Expofísio Brasil 2001 10 à 14 de outubro Pq. Anhembi - São Paulo - SP Secretaria: R. Carneiro da Cunha, 354 Informações: (11) 5584-8969 ou 5071-0011 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Maio / Junho 2001 133 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº3, mai/jun 2001 - 133~200) EDITORIAL Nasce uma nova especialidade: Osteopatia, Marco Antonio Guimarães da Silva ................... 135 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ......................................................................... 136 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Avaliação cinesiológica das curvaturas lombar e torácica das gestantes através do cifolordômetro e da fotogrametria computadorizada Fisioterapia prática e sua correlação com a dor lombar, Mário Antonio Baraúna, Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno .......................................... 145 Análise do comportamento da distribuição de pressão plantar em sujeitos normais, Eliane Fátima Manfio, Nilton Petrone Vilardi Jr, Viviane Mendes Abrunhosa, Camila de Souza Furtado, Luciana Varandas de Souza ............................................................... 157 Eficácia da atividade física na manutenção do desempenho funcional do idoso: revisão da literatura, Laila Daniela dos Santos, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, Fernanda de Oliveira Lelis, Melissa Batista Lobo .......................................................................... 169 Lombalgia, Ave Regina de Azevedo Silva, João Santos Pereira, Marco Antônio Guimarães Silva ............ 178 Ginástica Laborativa Estudo microbiológico in vitro do crescimento bacteriano após aplicação do laser HeNe em úlceras de decúbito com infecção bacteriana, Paulo de Tarso C. Carvalho, Rodrigo Renato Silva, Reginaldo J. Silva ..................................... 183 Estudo do equilíbrio em idosos através da fotogrametria computadorizada, Suzi Miziara Barbosa, Juliano Arakaki, Marilete Fernanda da Silva ....................................... 187 Normas de publicação para Fisioterapia Brasil .............................................................................. 197 EVENTOS ............................................................................................................................................. 200 O CD-ROM disponível para nossos assinantes é: Abordagem Global das Patologias Fêmoro-Patelares de autoria do dr. José Roberto do Prado Jr. ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 134 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Grupo de assessores (2000-2001) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Pernambuco) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Mato Grosso) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Rio Grande do Sul) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Dra. Solange Canavarro Ferreira (UFRJ – Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 – Minas Gerais) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Bahia) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 – São Paulo) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 2244-6471 / 2285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 Cel: (21) 9218-0346 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2244-6471 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: El café de Nadie, Ramón Alva de la Canal, 1924, óleo sobre tela, 77,5 x 64,5 cm - México I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 1 - Janeiro / Fevereiro 2001 135 Editorial Nasce uma nova especialidade: Osteopatia ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marco Antonio Guimarães da Silva Por circunstâncias relacionadas à minha titulação, acabei designado pela Universidade Castelo Branco do Rio de Janeiro (UCB) para avaliar uma parceria proposta pela Escola de Osteopatia de Madri (EOM). À época, em 1997, a EOM propunha que a UCB passasse a organizar academicamente os cursos de osteopatia que a referida Escola já vinha ministrando no Brasil, com vistas a, no futuro, torná-lo um curso de pós-graduação. Realizadas as adaptações que se faziam necessárias, a UCB aprovou, em 2000, o curso de osteopatia, com uma carga horária de 1050 horas para a titulação de especialização acadêmica, nível Lato Sensu. A resolução do COFITO, que estabelece a osteopatia como uma especialidade da fisioterapia, levou-nos a propor ao CEPE da UCB uma complementação de 450 horas, alcançando, assim, as 1.500 horas, distribuídas ao longo de cinco anos, exigidas pela referida resolução do COFITO. A introdução desta técnica terapêutica no Brasil pela corrente Européia e a pronta intervenção do COFITO foram fatores decisivos para nos brindar com mais uma especialidade. Houvera sido a Osteopatia implantada no Brasil por influência da escola americana, talvez os rumos tomados fossem outros. Senão, vejamos. Nos EUA, a osteopatia é normalmente exercida pelo médico, que deve obter sua permissão através do “ National Board of Osteopatic Medical Examiners”, e está dividida em Sociedades Osteopáticas que se distribuem por todas as modalidades médicas; a saber: “Allergy and Immunology, Anesthesiology, Dermatology ,Emergency Medicine, Internal Medicine, Neurologists and Psychiatrists, Obstetrics and Gynecology, Occupational and Preventive Medicine, Ophthalmology and Otolaryngology, Orthopedics Pathology, Pediatrics Proctology, Radiology, Physical Medicine and Rehabilitation, Rheumatology Sports Surgery Medicine”. Com o objetivo de incentivar as linhas de pesquisas na área da osteopatia, estará sendo criado, durante as III Jornadas Hispano-Lusas de Fisioterapia em Terapia Manual (Sevilha-Espanha- 5 de outubro de 2001), o Centro Internacional de Pesquisas em Osteopatia. O referido Centro, dirigido por um fisioterapeuta brasileiro com Doutorado, terá sua sede na Espanha e manterá núcleos, vinculados a Universidades, na Argentina, no Brasil, na Itália, em Portugal e na Venezuela. Esperamos, desta forma, ao lado do reconhecimento profissional já oferecido pela resolução COFITO, dar mais um passo na consolidação acadêmica da nossa mais nova modalidade terapêutica. *Coordenador científico de Fisioterapia Brasil Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 136 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Valéria Ferreira*, Ana Cláudia Muniz Rennó*; Patricia Driusso* (CO), Jorge Oishi* (O) * Departamento de Fisioterapia, ** Departamento de Estatística, UFSCar, São Carlos SP. Trabalho apresentado no Io Congresso Brasileiro de pesquisa em Fisioterapia, São Carlkos, abril.maio de 2001. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Efeitos de um programa de atividade física na flexibilidade e nível de dor de mulheres com osteoporose. Introdução A prática de atividade física em indivíduos idosos tem se tornado um objeto cada vez mais freqüente de estudos. Vários trabalhos já comprovaram que a prática regular de exercícios constitui um meio que pode possibilitar a melhora na qualidade de vida dos indivíduos na terceira idade. A atividade física propicia melhora no funcionamento de vários órgãos e no desempenho das habilidades motoras, auxilia na prevenção e tratamento de varias doenças, contribui para a normalização do estado emocional e facilita a socialização. Objetivo Esse estudo teve por objetivo verificar os efeitos de um programa de atividade física na flexibilidade da coluna e no nível de dor de um grupo de mulheres com osteoporose. Material e Método Foram avaliadas 10 mulheres voluntárias (62 ± 8 anos), com diagnóstico densitométrico de osteoporose na coluna. Todas as mulheres foram submetidas a uma avaliação física, constituída pela medida dos Índices de Schober e Stibor para a avaliação da mobilidade da coluna e responderam a Escala de Borg para a Dor (CR 10). Essa escala fornece respostas válidas e de níveis confiáveis para mensurar a intensidade da dor. Os Índices de Schober e Schober são realizados com o individuo em posição ereta e com os calcanhares juntos, marca-se uma linha demográfica entre as duas espinhas ilíacas póstero-superiores então com uma fita métrica, marca-se outra linha 10 cm acima; a distância entre as 2 linhas é chamada de Índice de Schober. O Índice de Stibor é medido através da distância entre a linha que liga as duas espinhas íliacas póstero-superiores e o processo espinhoso da 7a vértebra cervical, fixando-se a extremidade inferior da fita métrica e deixando-se que o paciente faça flexão Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Maio / Junho 2001 137 máxima do tronco. Após a avaliação física descrita acima as mulheres foram submetidas a um programa de atividade física, realizado durante 3 meses consecutivos, 3 vezes por semana, com 1 hora de duração cada sessão. O programa de atividade física foi constituído por 1 sessão de: 15 minutos de exercícios de alongamento da musculatura do tronco, dos membros superiores e inferiores; 15 minutos de aquecimento com atividades aeróbicas de baixa intensidade e 20 de fortalecimento global e 10 minutos de relaxamento, a 2a sessão foi baseada por alongamento e caminhada e a 3a sessão por hidroginástica. Após 3 meses de atividade física as mulheres passaram por uma reavaliação. Resultados Os dados foram analisados estatisticamente através dos testes não paramétricos de Wilcoxon, no pacote estatístico Statistica. O Índice de Schober demonstrou uma melhora estatisticamente significativa (p < 0,05), de em média 2,5 cm, passando de 5,8 cm na 1a avaliação para 8,2 cm na 2a avaliação, considera-se 10 cm como o valor normal; em relação ao Índice de Stibor não houve diferença estatisticamente significativa, no entanto houve um aumento médio do grupo em relação à flexibilidade lombossacra de 2 cm, resultado considerado clinicamente significativo. A intensidade de dor apresentou melhora significativa (p = 0,05) entre as avaliações, considerada no inicio como 7 em media na 1a avaliação, baixando para 5,5 ao término do programa de atividade física. Conclusão Os resultados obtidos nesse trabalho permitem concluir que houve uma melhora significativa na flexibilidade da coluna, aproximando dos valores considerados normais para indivíduos sadios e diminuição nos níveis de dor nas mulheres observadas. Dessa forma, as evidências sugerem que o programa de atividade física contribuiu para a melhoria da qualidade de vida das mulheres participantes da pesquisa. Referências 1. Caromano FA. Efeitos do treinamento e da manutenção de exercícios de baixa moderada intensidade em idosos sedentários saudáveis, SP: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Dissertação (Doutorado em Psicologia Experimental, 1998. 2. Johnell O. Advances in osteoporosis: better identification of risk factors can reduce morbidity and mortality. J Int Med 1996;239:299-304. 3. Layne JE, Nelson ME. The effects of progressive resistance training on bone density: a review. Medicine & Science in sports & exercise 1999;30(1). 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A pesquisa envolveu dezesseis sujeitos, divididos aleatoriamente em quatro grupos distintos, classificados segundo a freqüência de pulso do aparelho, não sendo associados exercícios físicos e controle alimentar. Após a análise dos exames de ultra-sonografia, observou-se que não houve mudanças significativas no diâmetro dos tecidos musculares e adiposos do abdômen. Portanto, a NMES mostrou-se ineficaz com os parâmetros descritos. Objetivo A eletro-estimulação neuro-muscular (NMES) é a aplicação de uma corrente elétrica visando a um fortalecimento, hipertrofia e treinamento muscular. A ptose abdominal, a gordura localizada e a flacidez são as principais problemáticas que 140 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 afligem a população atualmente, principalmente o público feminino, o que leva ao grande aumento na procura por tratamentos proporcionados pela fisioterapia estética que, por esse motivo, vem aumentando também a sua área de atuação e, da mesma maneira, incentivando novos avanços tecnológicos. Levando em consideração a tentativa de amenizar tal problemática, esse trabalho vem propor a utilização da NMES na região abdominal com o objetivo de avaliar os seus efeitos no tecido muscular e adiposo local. Materiais e Métodos Os experimentos foram realizados no Centro de Reabilitação Física Dom Bosco, na cidade de Lins (SP) e na Clínica Densimed, na cidade de Lins (SP). Para a realização deste estudo, a amostra experimental foi composta por 16 sujeitos, voluntárias do sexo feminino com idade variando entre 18 e 21 anos, divididos aleatoriamente em quatro grupos distintos, classificados segundo a freqüência de pulso do aparelho. Todos os sujeitos, sedentários, durante o experimento não praticaram nenhuma atividade física associada, assim como nenhum controle alimentar. Na pesquisa, foram utilizados dois canais promovendo a eletro-estimulação da musculatura abdominal, posicionados na forma cruzada, obedecendo a os seguintes parâmetros: 2.500Hz de freqüência do aparelho; freqüência de pulso dividida em 30, 50, 80, e 100Hz, com tempo on de 9s e tempo off de 27s, totalizando quinze minutos de eletro-estimulação por um período de quinze sessões, utilizando intensidades superiores a 100 Ma respeitado o limiar doloroso de cada indivíduo. Um exame foi selecionado para controle e mensuração do diâmetro do tecido muscular e adiposo dos sujeitos da pesquisa, sendo usado para tal o ultra-som linear de imagens. Resultados Após a análise dos exames de ultra-sonografia, chegou-se aos seguintes resultados. No grupo de 30 Hz, os tecidos musculares e adiposos não apresentaram resultados significativos quanto a mudanças de diâmetro do tecidos. No grupo de 50Hz, o tecido muscular não apresentou resultados significativos, em relação ao tecido adiposo. Resultados significativos quanto à diminuição do diâmetro desse tecido pode ser observada com aumento do peso corpóreo. No grupo de 80 Hz, a musculatura abdominal não apresentou resultados significativos. Já em relação ao tecido adiposo, notou-se uma diminuição significativa no diâmetro, sem alterações quanto ao aumento do peso corpóreo. O grupo de 100 Hz, em que também observamos os seus efeitos sobre o tecido muscular abdominal, não demonstrou nenhum resultado significativo, mas o tecido adiposo teve diminuição significativa em seu diâmetro. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Maio / Junho 2001 141 Conclusões Após o desenvolvimento do trabalho e dos resultados obtidos, chegamos às seguintes conclusões: a NMES mostra-se ineficaz pois, na área em que foi estimulada com os parâmetros descritos, não ocorreram respostas satisfatórias em ambos os tecidos. Referências 1. Brasileiro JS, Villar AFS. Comparação dos torques gerados por estimulação elétrica e contração muscular voluntária do músculo quadríceps femoral. Revista Brasileira de Fisioterapia. São Carlos 1999:75-82. 2. Carvallo PTC. Conceitos básicos de eletricidade: Apostila interna do curso de eletroterapia de baixa, média e alta freqüência. Lins,1997. 3. Currier DP, Ray JM, Nyland J et al. Effect of eletrical and electromagnetic stimulation after anterior cruciate ligament reconstruction. Physical Therapy 1993;17(4):177184. 4. Kisner C, Colby LA. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 2o ed. São Paulo: Manole, 1992. 5. Kitchen S, Sarah B. Eletroterapia de Clayton. 10o ed. São Paulo: Manole,1998. Laughman RK, Youdas J, Garret TR. Strength changes in the normal quadriceps femoris muscle as a result of eletrical stimulation. Physical Therapy 1983;63(4):494-499. 6. Lehman J, Currier DP, Ligthfoot P. Eletrical stimulation in exercise of the quadriceps femoris muscle. Physical Therapy 1979;59(12):1508-1512. 7. Manual de Operação do Aparelho MW 893. São Paulo: KLD Biosistemas Equipamentos Eletrônicos Ltda, 1999 8. Nelson RM, Currier DP. Clinical Electrotherapy. 2o ed.(s1): Appleton & Lange, 1991. 9. Quittan M, Sochor A, Wiesinger GF et al. Strength improvement of knee extensor muscle in patients with chronic heart Failure by neuromuscular electrical Stimulation. Artif Organs 1999;23(5):432-435. 10. Sales CC, Passoni Neto O. Estudo comparativo entre cinesioterapia, NMES e NMES associada a cinesioterapia para ganho de ADM. Lins, 86p 1999. Trabalho de curso apresentado na Faculdade de Educação Física de Lins, curso de fisioterapia. 11. Sôo CL, Currier DP, Threlkeld AJ. Augmenting voluntary torque of healthy muscle by optimization of electrical stimulation. Physical Therapy 1988;68(3):333-337. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 142 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carlos Alberto Fornasari*, Fausto Berzin** Análise eletromiográfica dos músculos rombóide maior e menor em movimentos do ombro *Universidade Metodista de Piracicaba, **Universidade Estadual de Campinas - Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Piracicaba, São Paulo, Congresso nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 A proposta desse estudo foi analisar eletromiograficamente os MM. rombóide maior e menor nos movimentos de adução de 150o a 0o, abdução horizontal de 90o a 0o e abdução horizontal de 0° a 50o combinando-os com as variações de posições do úmero: neutra, rotação medial e lateral. Foram estudados oito homens, 22 e 25 anos, saudáveis, destros, em um eletromiógrafo Nicolet Viking II, por meio de utilização de eletrodos de fio. A análise estatística da Raiz Quadrada da Média (RMS) foi realizada por meio dos teste de Friedman e Wilcoxon, com nível de 5% de significância. Os músculos apresentaram sinal EMG em todos os movimentos estudados, em todas as variações de posição do úmero. Em todos os movimentos foi observado maior sinal EMG para o M. rombóide maior do que para o M. rombóide menor. O M. rombóide maior apresentou maior sinal EMG no movimento de abdução horizontal de 0° a 50o e menor sinal no movimento de adução de 150o a 0o, com relação a variação de posição do úmero maior sinal EMG foi verificado na rotação lateral no movimento adução de 150o a 0o. Para o M. rombóide menor, este apresentou maior sinal EMG no movimento abdução horizontal de 0° a 50o, que foi maior que o sinal EMG para os movimentos de abdução horizontal de 90o a 0o e adução de 150o a 0o. Os resultados indicam que há um recrutamento diferenciado das unidades motoras entre os músculos quando se variam os movimentos e as posições e que há necessidade de novos estudos sobre estes músculos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ LA Lavery, Archives of Physical Medicine and Rehabilitation 2001; 82:721724, julho de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Estímulo elétrico melhora cicatrização de úlceras em pé diabético Pesquisadores da University of Texas Health Sciences Center, em San Antonio, revelam que, em conjunto com medidas posturais e cuidados locais, a corrente galvânica pulsada e de alta voltagem parece aumentar a cicatrização de úlceras em pé diabético. O estudo descreve o Micro-Z , instrumento de 5.5 X 6 cm que libera a corrente elétrica em nível subsensorial via microcomputador para meia confeccionada em prata e nylon. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 2 - Maio / Junho 2001 143 O Micro-Z difere dos instrumentos tradicionais de estímulo elétrico transcutâneo, uma vez que oferece corrente de alta freqüência e penetra nos tecidos mais profundamente. Foram tratados 40 pacientes com úlceras não infectadas já abordadas com desbridamento, gel de colágeno, medidas antipressão e curativos duas vezes ao dia. Os pacientes foram aleatoriamente alocados para estímulo elétrico ou placebo. Durante oito horas por noite, o aparelho era programado para oferecer repetidas doses de 50V, com 80 pulsos monofásicos por segundo por dez minutos, seguidos de dez minutos de oito pulsos por segundo e então 40 minutos de repouso. As úlceras cicatrizaram em 13 pacientes tratados com estímulos elétricos e em 7 pacientes tratados com placebo, em período de 12 semanas de observação. A diferença na área seccional das úlceras foi de 86,2% no grupo tratado e de 71,4% no grupo controle. Os autores esclarecem que o estímulo elétrico não acelera a cicatrização, mas trata proporção maior de úlceras. O tratamento já vem sendo usado por quatro anos e, segundo os autores, oferece aos pacientes o estímulo metabólico que talvez faltasse à cicatrização. Além disso, o tratamento parece ser boa opção para os pacientes com doença vascular e impossibilidade de revascularização por doença sistêmica grave ou ausência de circulação viável no pé. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Alinne B. de Lucena, Carla Franklin da Silva, Mariza F. de Souza, Olívia Galvão de A. Lucena, Savana O. Henriques e Souza, Weruska L. Pessoa, UFPB, João Pessoa, PB, Congresso nacional de Fisioterapia, Salvador, Bahia, 1999 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Um alerta à prevenção de úlceras de decúbito em pacientes neurológicos Introdução As úlceras de decúbito são áreas localizadas de infarto de tecidos moles ocorridas quando a pressão aplicada à pele acima, por algum tempo, supera a pressão capilar normal, o que reduz o fluxo sangüíneo que vai para os tecidos, não chegando aos mesmos, o oxigênio necessário. Proeminências ósseas que suportam peso são mais susceptíveis ao desenvolvimento dessas lesões, por serem recobertas por pele e pequenas quantidades de tecido subcutâneo. Elas são uma séria complicação clínica, sendo considerada uma causa de retardo na reabilitação e podem mesmo levar à morte. Além disso, constitui um dos importantes fatores para o aumento da duração e, conseqüentemente, do custo de estadia hospitalar. De longe a intervenção mais 144 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 efetiva para a eliminação do desenvolvimento potencial das úlceras de pressão é a prevenção. Metodologia Baseou-se no método de pesquisa exploratória teórica, com suplemento de dados, fazendo a consulta e análise de 26 prontuários, escolhidos de forma aleatória, de pacientes neurológicos internados no HULW (Hospital Universitário Lauro Wanderley), no período que decorre entre 1996 e 1999, além da pesquisa bibliográfica. Resultados Constatou-se que, dentro da amostra referida, 50% dos pacientes apresentaram úlceras de decúbito, sendo a maioria pacientes idosos, seqüelados de AVC (Acidente Vascular Cerebral); não havendo um tratamento efetivo de prevenção visto que, na maioria dos casos, a intervenção só foi dada após a instalação das úlceras, através do uso de pomadas, debridamentos e, principalmente, realização de curativos. Conclusão Baseada na alta incidência, pode-se concluir que há necessidade de ações preventivas com relação às úlceras de decúbito, pois as mesmas poderiam ser evitadas com medidas simples e de baixo custo, contribuindo para a evolução do quadro clínico apresentado pelo paciente. A equipe multidisciplinar, principalmente a fisioterapia preventiva, mostra-se importante no sentido de evitar ou minimizar as possíveis lesões tissulares, sabendo-se que a prevenção das úlceras de decúbito é melhor que sua cura. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 145 Artigo original Avaliação cinesiológica das curvaturas lombar e torácica das gestantes através do cifolordômetro e da fotogrametria computadorizada e sua correlação com a dor lombar Cinesiologic evaluation of lumbar and thoracic curvature of pregnant woman by cifolordometer and computerized photogrametry and its correlation with lumbar pain Mário Antonio Baraúna*, Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Doutor em Psicomotricidade, UNIT – Centro Universitário do Triângulo, Coordenador do Núcleo de Pesquisas do centro de Ciência da Saúde ** Profa Mestra da CEULP-ULBRA, Professora de Anatomia Palavras-chave: Gravidez, dor lombar, lordose, postura. Resumo A gravidez é um período em que surgem grandes transformações e queixas causadas por mudanças hormonais. Nota-se que o volume abdominal e os seios crescem, podendo ocorrer câimbras, enjôos, azia, dores nas costas, aumento de peso, e problemas circulatórios, respiratórios, músculo-esqueléticos e posturais. Concomitantemente, almejou-se verificar a correlação dos ângulos entre si, e entre eles; o peso, a altura do fundo do útero, a circunferência abdominal, a altura e a dor lombar, nas gestantes multíparas e primíparas. Foram estudadas 40 gestantes voluntárias sendo 19 primíparas e 21 multíparas, com idade entre 15 a 25 anos, no 4º mês de gestação as quais passaram por um protocolo de inclusão e exclusão. As gestantes foram acompanhadas durante o 4º, 6º e o 8º mês de gestação tendo sido reavaliadas nestes períodos também quanto ao peso, a estatura, a altura do fundo do útero e a circunferência abdomi- Endereço para correspondência: Mário Antonio Baraúna, Av. Pará, 2040 – 38405-320 Uberlândia MG, Tel: (34)3232 0069, E-mail: [email protected], Marta Lúcia Guimarães Resende Adorno, E-mail: [email protected] 146 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 nal. Verificou-se também a graduação da concavidade lombar e a convexidade torácica, sendo esta questionada quanto a dor através de uma escala visual analógica. A análise dos resultados obtidos no presente trabalho revelou que houveram diferenças significativas entre todas as gestantes em relação a medida de peso, as medidas do fundo do útero, as medidas da circunferência abdominal, em relação ao ângulo de concavidade lombar e o ângulo da convexidade torácica tanto pela fotogrametria como pelo cifolordômetro em todos os meses de gravidez. Ao cruzar-se todos os dados com a escala analógica visual de dor não encontrou-se diferenças significativas. Foram encontradas correlações significativas entre as medidas da escala visual analógica da dor e as de fundo do útero no 4º e 6º mês, sendo que no 8º mês esta correlação inexiste, podendo indicar que houve uma acomodação das estruturas e da biomecânica. Foram encontradas correlações positivas significativas entre as medidas dos ângulos da concavidade lombar e da convexidade torácica quando comparados os dois métodos (cifolordômetro e fotogrametria) o que levou-nos a concluir que os métodos de avaliação das curvas da coluna são seguros e eficazes, podendo ser aplicados às gestantes sem nenhum risco para sua saúde. Após avaliar os resultados obtidos no presente trabalho pode-se concluir que o aumento do peso durante o desenvolvimento da gestação propicia no aumento da concavidade lombar e no ângulo da convexidade torácica. As medidas do fundo do útero e a circunferência abdominal aumentam gradativamente durante à gravidez, podendo promover o aumento da concavidade lombar. O ângulo da concavidade lombar e o ângulo da convexidade torácica aumentam com o desenvolvimento da gestação. Concluímos então que o sistema da fotogrametria e o método do cifolordômetro são precisos para quantificar os ângulos da concavidade lombar e os da convexidade torácica, e através deles podemos avaliar as curvas lombar e torácica, pois permitem registrar a imagem em arquivos, possibilitando comparações posteriores e resgate assim que for necessário, além de não serem invasivos, apresentam-se com baixo custo e de fácil aplicação. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 Key-words: Pregnancy, lumbar pain, lordose, postural. 147 Abstract Pregnancy is a period during which great transformations and complaints appear as a consequence of hormonal changes. The abdominal volume and breasts grow. Cramps, nausea, heartburn, back pain, weight increase, circulatory, muscle-skeletal and postural problems may occur. The correlation of the lumbar concavity and thoracic convexity angles were also verified. Parameters such as weight, the fund of the uterus height, abdominal circumference, body stature, and lumbar pain were taken from primiparas and multiparas. The subjects were forty volunteer four-month pregnant women, 19 primiparas and 21 multiparas, with age range from 15 to 25 years. They all went throughout an inclusion and exclusion protocol. Their body weight and stature, height of the fund of the uterus, and abdominal circumference were rechecked during the 4th, 6th, and 8th months of pregnancy. The lumbar concavity and thoracic convexity angles were verified and questioned about the degree of lumbar pain through a visual analogical scale. The data analysis reveled that body weight, measurements of the fund of the uterus, abdominal circumference, angle of lumbar concavity, and angle of thoracic convexity were significantly different between all the subjects in all periods when they were checked. Measurements of the angle of thoracic convexity and lumbar concavity were significantly different using the photogrametry or the cifolordometer. No significant differences were found when the data of degree of lumbar pain, obtained by a visual analogical scale, was compared between the subjects. Significant correlation was found between the measurements of the degree of lumbar pain and the measurements of the fund of the uterus during the 4th, and 6th months of pregnancy. During the 8th month, this significant correlation didn’t exist, which might indicate that there was an adaptation of the structures and biomechanics. We concluded that the photogrametry system and the cifolordometer method are precise on and quantifying the lumbar concavity and the thoracic convexity angles, and on evaluating their curves. They allow us to register the images in files, which makes posterior comparisons and image rescues possible. Furthermore, the photogrametry system and the cifolordometer method are non-invasive, have low cost, and are easy to apply. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 148 Introdução A postura da gestante é influenciada pela modificação no centro de gravidade, havendo tendência para o deslocamento para frente, devido ao crescimento uterino-abdominal e ao aumento ponderal das mamas. Para compensar, o corpo projeta-se para trás, promovendo uma lordose; amplia-se o polígono de sustentação, os pés se distanciam e os ombros dirigem-se para trás, a porção cervical se condensa e alinha-se para frente [1]. A avaliação fisioterápica determinante do diagnóstico fisioterápico, ainda é fator de muita discussão tanto por fisioterapeutas como para outros profissionais de saúde. Muitas vezes utilizamos os sinais e sintomas clínicos para nortearmos a nossa prática no dia a dia. Por isso se torna necessário a avaliação fisioterápica para elegermos nossas condutas fisioterápicas e tomarmos nossas decisões nos nossos métodos de tratamento. Segundo Baraúna [2], a avaliação é um pilar para a tomada de decisões, as quais devem ser fruto de um planejamento metodizado hierárquico, pelas implicações inerentes, podem levar o indivíduo a sofrer intercorrências de grande porte, passando esta a ser de enorme importância não apenas para o tratamento, mas também como fator de prevenção de intercorrências e feedback. Atualmente existem várias categorias de ferramentas para avaliação da postura, entre eles os RXs, o goniômetro, a fita métrica, e entre outros a fotogrametria e o cifolordômetro. Os RXs de pé e na posição lateral, são os mais conhecidos para avaliar a lordose lombar. Infelizmente, os RXs são métodos desaconselháveis durante a gravidez, porque são bem conhecidos os efeitos maléficos da radiação sobre o produto conceptual em desenvolvimento. MURPHY [3] encontrou um elevado índice de malformações sobre 625 gestações, cujas pacientes haviam recebido radiação pélvica terapêutica. Baseado nestes conceitos elegemos a fotogrametria computadorizada e o cifolordômetro para avaliar a concavidade lombar e a convexidade torácica das gestantes no 4º, 6º e 8º mês de gestação. Que são ins- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 trumentos validados, e que tenham a capacidade de reprodutibilidade, fidedignidade e praticidade. Objetivos do trabalho O presente trabalho teve como objetivo quantificar a concavidade lombar e a convexidade torácica das gestantes, através da fotogrametria e do cifolordômetro no 4º, 6º e 8º mês de gestação. Concomitantemente, almejou-se verificar a correlação dos ângulos entre si, e entre eles; o peso, a estatura, a altura do fundo do útero, a circunferência abdominal, e a dor nas gestantes multíparas e primíparas. Material e métodos A amostragem foi composta por 40 gestantes primíparas e multíparas (Fig.1). Estas apresentavam uma faixa etária entre 15 à 25 anos, da cidade de Palmas – TO. Foram excluídas do estudo todas as gestantes que apresentaram: seqüela de pólio; membros mais curtos; grandes escolioses; mastectomizadas; hérnia umbilical. As gestantes foram acompanhadas durante o 4º, 6º e o 8º mês de gestação tendo sido reavaliadas nestes períodos também quanto ao peso, a estatura, a altura do fundo do útero e a circunferência abdominal. Verificou-se também a graduação da concavidade lombar e a convexidade torácica, sendo esta questionada quanto à dor através de uma escala visual analógica. Definida a amostra, passou-se à coleta dos seguintes dados: Fig. 1 - Gráfico setorial de distribuição da amostragem. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 - Avaliação biométrica: Cada voluntária foi submetida à verificação de peso e estatura, através do uso de uma balança antropométrica da marca Filizola devidamente calibrada e aferida pelo Inmetro. - Avaliação da dor: Para avaliar a dor utilizou-se a escala análogo-visual de dor [4]. - Avaliação da altura do fundo do útero: Para avaliar o fundo do útero utilizou-se o protocolo de Rezende e Montenegro [5]. - Avaliação da circunferência abdominal: Para avaliar o volume abdominal utilizou-se a referência do nível da cicatriz umbilical [5]. - Demarcações dos pontos de referências: Para orientação visual no momento do mapeamento e fotointerpretação angular das imagens, cada gestante teve referências das curvas da coluna demarcadas com um cilindro dotado de esferas nas extremidades (marcadores) revestidos em material reflexivo. Estes pontos anatômicos foram demarcados ao nível de T1, T12 e S1 conforme os protocolos de Burdett, Brown e Fall [6], Bienfait [7] e Rebelo [8]. Apropriadamente demarcada, a gestante foi conduzida à filmagem. - Avaliação postural - Avaliação postural pelo método da fotogrametria: As gestantes foram submetidas à análise das curvas lombares e curvas torácicas, foram filmadas em posição ortostática e perfil, descalças e desnudas, em local previamente estabelecido e demarcadas pelo topógrafo, durante cerca de 30” sem o zoom à uma distância de 2,60m, fixa a um tripé à uma altura de 1,20m do chão, focando em particular as curvas lombares e torácicas. As imagens foram tratadas por um programa de computador (ALCimage®). - Avaliação pelo cifolordômetro: Foi utilizado o cifolordômetro criado por Baraúna [2] devidamente patenteado no INPI sobre o nº PI 9905389 que é um aparelho que serve para registrar em molde as curvaturas da coluna no plano sagital através de uma haste fixa na vertical que sustenta alguns tarugos dispostos de modo simétrico e que uma vez aproximados do segmento corporal avaliado permite o registro das curvaturas através do molde realizado pelo seu contorno. 149 Resultados As médias das três medidas dos ângulos de convexidade, obtidas através do cifolordômetro foram muito semelhantes, ou seja: 155,75; 156,28 e 158,20. Quanto às medidas de ângulos de convexidade, obtidas através da fotogrametria, também as médias foram muito semelhantes, ou seja: 154,96; 154,94 e 157,94. Para a verificação da normalidade, ou não, da distribuição dos dados, foi feita uma análise através da prova An analysis of variance test for normality [9]. A análise, inicialmente, foi feita sobre as medidas de circunferência abdominal obtidas com as pacientes no quarto mês de gravidez. O resultado encontrado, valor de w, foi = 0,872 sendo que, para n = 40, o valor crítico de w = 0,972. O valor de w encontrado, sendo menor do que o valor crítico, indica que a distribuição é não-normal. A seguir, foi efetuada a transformação logarítmica dos dados e aplicada, novamente, a prova analysis of variance test for normality e o valor encontrado foi w = 0,900, indicando, ainda, não-normalidade da distribuição. Em vista desses resultados, foram aplicados métodos não-paramétricos na análise estatística. Com o interesse em verificar a existência ou não de diferenças significantes entre as medidas de peso, de fundo do útero, de circunferência abdominal, da escala visual analógica, dos ângulos de concavidade e de convexidade - obtidas através do cifolordômetro e da fotogrametria - relativas a pacientes primíparas e multíparas, quando nos três diferentes meses de gravidez analisados, foi aplicada a prova U de Mann-Whitney [10], aos valores combinados dois a dois. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma prova bilateral. Os resultados estão demonstrados na Tabela 1. De acordo com estes resultados, não foram encontradas diferenças significativas entre as comparações efetuadas. Com o objetivo de verificar a existência ou não de diferenças significantes entre as medidas de peso, de circunferência abdominal, de fundo de útero, da escala visual analógica, 150 dos ângulos de concavidade e de convexidade - obtidas através do cifolordômetro e da fotogrametria - relativas a todas as pacientes, nos três diferentes meses de gravidez analisados, foi aplicada a prova de Friedman [10], aos dados em questão. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma prova bilateral. A prova foi aplicada, primeiramente, às medidas das 40 pacientes. Em seguida, foi aplicada às medidas das primíparas e, depois, das multíparas, separadamente. Os resultados estão demonstrados nas Tabelas 2, 3 e 4. De acordo com os resultados da Tabela 2, foram encontradas diferenças significantes entre todas as medidas comparadas, com exceção da escala visual analógica, sendo que, em todas as comparações cujos resultados foram significativos, as medidas do 8º mês foram mais elevadas do que as obtidas no 6º e estas, mais elevadas do que as obtidas no 4º mês. De acordo com os resultados da Tabela 3, foram encontradas diferenças significantes entre todas as medidas comparadas, com exceção da escala visual analógica, sendo que, em todas as comparações cujos resultados foram significativos, as medidas do 8º mês foram mais elevadas do que as obtidas no 6º e estas, mais elevadas do que as obtidas no 4º mês. De acordo com os resultados da Tabela 4, foram encontradas diferenças significantes entre as medidas de peso, de circunferência abdominal, de fundo de útero, dos ângulos de concavidade - obtidas através do cifolordômetro e da fotogrametria -, sendo que, em todas elas as medidas do 8º mês foram mais elevadas do que as obtidas no 6º e estas, mais elevadas do que as obtidas no 4º mês. Com o intuito de verificar a existência ou não de correlações significantes entre as medidas da escala visual analógica, de peso, de fundo de útero, de circunferência abdominal e dos ângulos de concavidade e de convexidade - obtidas através do cifolordômetro e da fotogrametria - foi aplicado o Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman [10] às medidas obtidas no 4°, 6° e 8° mês de gravidez, analisadas duas a duas. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma prova unilateral. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 Tabela 1 - Valores de probabilidades obtidos, quando da aplicação da prova de U de Mann-Whitney, às medidas relativas ao peso, fundo do útero, circunferência abdominal, escala visual analógica, ângulos de concavidade e de convexidade - obtidas através do cifolordômetro e da fotogrametria - relativas a 19 pacientes primíparas e a 21 multíparas, quando no 4º, 6º e 8º mês de gravidez. Variáveis analisadas Mês Probabilidades* Peso 4º 6º 8º 0,2442 0,9245 0,8390 Fundo do útero 4º 6º 8º 0,3034 0,8074 0,3861 Circunferência abdominal 4º 6º 8º 0,3229 0,5245 0,7761 Escala visual analógica 4º 6º 8º 0,8496 0,8923 0,9568 Ângulo de concavidade – cifolordômetro 4º 6º 8º 0,9352 0,8496 0,5974 Ângulo de concavidade – fotogrametria 4º 6º 8º 0,9784 1,0000 0,4011 Ângulo de convexidade – cifolordômetro 4º 6º 8º 0,7865 0,7761 0,0696 Ângulo de convexidade – fotogrametria 4º 6º 8º 0,6259 0,8709 0,0696 (*) significativas em nível de 0,05. Tabela 2 - Probabilidades associadas aos valores de c2, quando da aplicação da prova de Friedman às medidas obtidas com as 40 pacientes, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Variáveis analisadas Probabilidades Peso Circunferência abdominal Fundo de útero Escala visual analógica Ângulo de concavidade – cifolordômetro Ângulo de convexidade – cifolordômetro Ângulo de concavidade – fotogrametria Ângulo de convexidade – fotogrametria 0,0000* 0,0000* 0,0000* 0,4997 0,0000* 0,0252* 0,0000* 0,0108* (*) significativas em nível de 0,05. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 151 Tabela 3 - Probabilidades associadas aos valores de c2, quando da aplicação da prova de Friedman às medidas obtidas com as 19 pacientes primíparas, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Tabela 5 - Valores de rs encontrados, quando da aplicação do Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman às medidas obtidas com 40 pacientes, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Variáveis analisadas Probabilidades Variáveis analisadas Valores de rs Peso Circunferência abdominal Fundo de útero Escala visual analógica Ângulo de concavidade – cifolordômetro Ângulo de convexidade – cifolordômetro Ângulo de concavidade – fotogrametria Ângulo de convexidade – fotogrametria 0,0000* 0,0000* 0,0000* 0,7586 0,0001* 0,0176* 0,0000* 0,0120* 4º mês de gravidez Escala visual analógica x peso Escala visual analógica x fundo do útero Escala visual analógica x circunferência abdominal Escala visual analógica x ângulo de concavidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de concavidade - foto Escala visual analógica x ângulo de convexidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de convexidade - foto Escala visual analógica x idade 6º mês de gravidez Escala visual analógica x peso Escala visual analógica x fundo do útero Escala visual analógica x circunferência abdominal Escala visual analógica x ângulo de concavidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de concavidade - foto Escala visual analógica x ângulo de convexidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de convexidade - foto Escala visual analógica x idade 8º mês de gravidez Escala visual analógica x peso Escala visual analógica x fundo do útero Escala visual analógica x circunferência abdominal Escala visual analógica x ângulo de concavidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de concavidade - foto Escala visual analógica x ângulo de convexidade - cifo Escala visual analógica x ângulo de convexidade - foto Escala visual analógica x idade (*) significativas em nível de 0,05. Tabela 4 - Probabilidades associadas aos valores de c2, quando da aplicação da prova de Friedman às medidas obtidas com as 21 pacientes multíparas, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Variáveis analisadas Probabilidades Peso Circunferência abdominal Fundo de útero Escala visual analógica Ângulo de concavidade – cifolordômetro Ângulo de convexidade – cifolordômetro Ângulo de concavidade – fotogrametria Ângulo de convexidade – fotogrametria 0,0000* 0,0000* 0,0000* 0,6286 0,0000* 0,4724 0,0000* 0,5647 (*) significativas em nível de 0,05. O valor crítico de rs foi de 0,306 para n > 30, de acordo com a Tabela dos Valores Críticos de rs [10]. Os resultados estão demonstrados na Tabela 5. De acordo com estes resultados, foram encontradas correlações positivas significativas apenas entre as medidas da escala visual analógica e as de fundo de útero, quando as gestantes estavam no quarto e no sexto mês de gravidez. Isto significa que na medida em que os valores de uma das variáveis aumentavam, os valores da outra variável aumentavam, também; à medida que os valores de uma das variáveis diminuíam, os valores da outra variável diminuíam, também. Com o interesse em verificar a existência ou não de correlações significativas entre as medidas de estatura e as medidas dos ângulos de concavidade lombar e convexidade torácica, foi aplicado o coeficiente de correla- 0,0603 0,3761* 0,1003 0,0372 0,0424 -0,1596 -0,1437 -0,1924 0,0965 0,4172* 0,1504 - 0,2372 - 0,2518 0,0721 0,0164 0,0469 0,1728 0,1221 0,2509 - 0,0475 - 0,0388 - 0,1242 - 0,1364 0,0491 (*) significativos em nível de 0,05. cifo = cifolordômetro; foto = fotogrametria Tabela 6 - Valores de rs encontrados, quando da aplicação do Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman às medidas obtidas com 40 pacientes, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Variáveis analisadas Valores de rs 4º mês de gravidez Estatura x ângulo de concavidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de concavidade - fotogrametria Estatura x ângulo de convexidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de convexidade - fotogrametria 6º mês de gravidez Estatura x ângulo de concavidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de concavidade - fotogrametria Estatura x ângulo de convexidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de convexidade - fotogrametria 8º mês de gravidez Estatura x ângulo de concavidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de concavidade - fotogrametria Estatura x ângulo de convexidade - cifolordômetro Estatura x ângulo de convexidade - fotogrametria - 0,0493 - 0,0071 - 0,1651 - 0,1922 0,0278 - 0,0047 0,1875 - 0,0792 0,0744 0,0391 0,1245 0,0991 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 152 ção por Postos de Spearman [10] às medidas obtidas nos três diferentes meses de gravidez, analisadas duas a duas. O valor crítico de rs foi de 0,306 para n > 30, de acordo com a Tabela dos Valores Críticos de rs [10]. Os resultados estão demonstrados na Tabela 6. De acordo com os resultados da Tabela 6, não foram encontradas correlações positivas significativas entre as medidas das variáveis analisadas. Com o interesse em verificar a existência ou não de correlações significantes entre as medidas dos ângulos de concavidade e de convexidade, obtidas através dos dois métodos - cifolordômetro e fotogrametria - foi aplicado o Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman [10] às medidas obtidas nos três diferentes meses de gravidez, analisadas duas a duas. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma prova unilateral. O valor crítico de rs foi de 0,306 para n > 30, de acordo com a Tabela dos Valores Críticos de rs [10]. Os resultados estão na Tabela 7. De acordo com estes resultados, foram encontradas correlações positivas significativas em todas as análises efetuadas. Com o interesse em verificar a existência ou não de correlações significantes entre as medidas dos ângulos de concavidade e dos ângulos de convexidade, tanto as obtidas através do cifolordômetro, quanto às obtidas através da fotogrametria, foi aplicado o Coefici- Tabela 7 - Valores de rs encontrados, quando da aplicação do Coeficiente de Correlação por Postos de Spearman às medidas obtidas com 40 pacientes, nos três diferentes meses de gravidez analisados. Variáveis analisadas 4º mês de gravidez Ângulo de concavidade Ângulo de convexidade 6º mês de gravidez Ângulo de concavidade Ângulo de convexidade 8º mês de gravidez Ângulo de concavidade Ângulo de convexidade (*) significativo em nível de 0,05. Valores de rs 0,9866* 0,9582* 0,9936* 0,7341* 0,9183* 0,8618* ente de Correlação por Postos de Spearman [10] às medidas obtidas nos três diferentes meses de gravidez, analisadas duas a duas. O nível de significância foi estabelecido em 0,05, em uma prova unilateral. Discussão A análise dos resultados obtidos no presente trabalho revela que houve diferenças significativas entre todas as gestantes em relação às medidas do peso tanto nas multíparas quanto nas primíparas no 4º, 6º e 8º mês de gestação, que segundo Kisner e Colby [11] há um aumento percentual no peso corporal total [12]. Segundo os resultados obtidos no presente trabalho encontrou-se diferenças significativas entre as gestantes multíparas e primíparas em relação às medidas do fundo do útero, o mesmo ocorrendo na circunferência abdominal [11]. Em relação ao ângulo de concavidade lombar e ângulo de convexidade torácica, tanto na fotogrametria como no cifolordômetro em todos os meses de gravidez, há diferenças significativas em relação a todas as gestantes. Isso significa que à medida que a gestação avança tanto nas multíparas como nas primíparas, acentuam as curvaturas [12-16]. Ao cruzar-se os dados peso, estatura, fundo do útero, circunferência abdominal, ângulo de concavidade e ângulo de convexidade, com a escala analógica visual não encontraram-se diferenças significativas, o que não contradiz toda a bibliografia pesquisada [1,5,12-15]. Estudos indicaram que pode não haver uma correlação entre lombalgia e uma lordose aumentada [17]. Berger (1980) e Withrington e Wynn (1984) citados por Baraúna [2] dizem em outras palavras que a dor decorre de problemas sensórios e emocionais, que tornam-se de interpretação difícil, pois são exteriorizadas verbalmente, isto é, caracterizam-se como um sintoma subjetivo. Ainda, apesar da contribuição de muitos estudiosos de várias áreas das Ciências da Saúde acerca da dor, Posso [18] relatou a dificuldade de defini-la, avaliá-la e quantificá-la. Foram encontradas diferenças significati- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 153 vas em todas as medidas tomadas - peso, circunferência abdominal, fundo do útero, ângulo de concavidade lombar, ângulo de convexidade torácica - somente não foram encontradas diferenças significativas entre as medidas relativas à escala visual analógica entre as primíparas. Isso se deve à contenção do volume abdominal, que segundo Rezende e Montenegro [5], nas primigestas a musculatura da parede abdominal conserva sua capacidade de contenção, mostrando o útero em uma boa posição, o que vem de encontro aos resultados obtidos no presente trabalho. Outro resultado que nos chamou atenção foi que, entre as multíparas, só não foram encontradas diferenças significativas entre as medidas à escala visual analógica e nos ângulos de convexidade obtidos entre os dois métodos. Foram encontradas correlações significativas entre as medidas da escala visual analógica e as de fundo do útero no 4° e 6° mês, sendo que no 8° mês esta correlação inexiste, podendo indicar que houve uma acomodação. Conforme Stoppard [19] o útero aumenta de peso rapidamente durante a primeira metade da gestação, aumentando o tamanho das fibras musculares devido à função do estrógeno, e durante a metade da gravidez, a taxa de crescimento diminui. Isso significa que o fundo do útero e a concavidade crescem de maneira significativa, e no 8° mês não, porque existe uma compensação. O sistema músculo esquelético adapta (ou tenta adaptar) sua forma externa e sua arquitetura interna às cargas sobre ele [16]. As medidas de altura não influenciam na angulação da concavidade lombar e da convexidade torácica uma vez mensuradas através da cifolordometria e da fotogrametria. Não é a altura que vai influenciar nos ângulos da concavidade lombar e da convexidade torácica, conforme é possível observarmos. Em relação à análise da correlação entre as medidas dos ângulos da concavidade e os da convexidade quando comparados os dois métodos, foram encontradas correlações positivas significantes em todas as análises efetuadas, de onde podemos concluir que os métodos de avaliação das curvas da coluna são seguros e eficazes, como já houve pesquisas que nos referenciam que a fotogrametria aparece em trabalhos ligados às áreas de clínica da coluna vertebral [20,21], avaliação dos movimentos tóraco-abdominais [22], avaliação do ângulo de Charpy [23], expansibilidade da caixa torácica [24] e avaliação do equilíbrio estático em pacientes diabéticos portadores de neuropatia autonômica [25] foram encontradas diferenças significativas em seus estudos. O cifolordômetro também revelou-se ser um método cientificamente seguro no cálculo angular da concavidade lombar e da convexidade torácica, e isso pode ser aplicado às gestantes sem nenhum risco para sua saúde, devido a não ser um método invasivo. Conclusões Após analisar os resultados obtidos no presente estudo, conclui-se que: - Aumento do peso durante o desenvolvimento da gestação tanto nas gestantes multíparas como nas primíparas pode influenciar no aumento da concavidade lombar e no ângulo da convexidade torácica. - As medidas do fundo do útero aumentam gradativamente durante a gravidez. - A circunferência abdominal aumenta com o desenvolvimento da gestação, comprimindo os órgãos externos e acarretando o deslocamento do centro de gravidade na gestante promovendo o aumento da curvatura lombar e convexidade torácica. - Em nosso trabalho não encontramos diferenças significantes em relação à dor. - A estatura não influencia nas medidas dos ângulos da concavidade lombar e do ângulo de convexidade torácica visto que não encontrou-se correlação significativa. - O ângulo da concavidade lombar e o ângulo da convexidade torácica aumentam com o desenvolvimento da gravidez, e isso se deve ao aumento do volume abdominal, o peso também influencia e acentua as curvas. O sistema da fotogrametria e o cifolordômetro são suficientemente precisos para quantificar os ângulos da concavidade lombar e da convexidade torácica, visto que apresentaram o mesmo desempenho. A correlação positiva entre a fotogrametria e do cifolordômetro aponta para o sucesso da 154 aplicação destes sistemas de avaliação e de quantificação. Pelo que pode se observar no presente trabalho é possível quantificar ângulos lombares e torácicos no desenvolvimento da gestação, através da fotogrametria ou do cifolordômetro, aplicando seus resultados às avaliações das curvas lombares e torácicas antes e após um programa de prevenção ou reabilitação nas gestantes. A fotogrametria computadorizada além de ser um método fidedigno e conseqüentemente confiável, permite registrar a imagem em arquivos dos ângulos das curvas da concavidade lombar e da convexidade torácica, possibilitando assim comparação posterior e resgate da angulação sempre que for necessário, além de acompanhar a evolução do desenvolvimento da gestação. O cifolordômetro mostrou-se um método preciso para quantificar os ângulos da concavidade lombar e convexidade torácica pois permite traçar a impressão da curvatura da coluna, servindo como diagnóstico. Possibilita a reprodução do exame, sendo um reprocessador que facilita ao profissional reprogramar técnicas sempre que submeter o paciente ao tratamento, além de ser um método não invasivo, de baixo custo e fácil aplicação. A avaliação da postura da gestante através da fotogrametria computadorizada e ou do cifolordômetro deve ser utilizada, pois permite ao avaliador colher dados fiáveis e importantes para o diagnóstico e a prevenção de instalação de problemas posturais. Referências 1. Souza EL (Org.). Fisioterapia aplicada à obstetrícia e aspectos de neonatologia: uma visão multidisciplinar. 2. ed. Belo Horizonte: Health, 1999. 2. Baraúna MA. Estudo comparativo entre a avaliação do equilíbrio estático de indivíduos amputados de coxa e não amputados. Tese (Doutorado em Motricidade Humana) - Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, 1997. 3. Murphy DP. Outcome of 625 pregnancies in women subjected to pelvic radium or Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 roentgen irradiation. Amer. J. Obst. Gynec., 18: 179, 1929. 4. Pires do Rio R., Pardini Jr AG, Freitas AD, Lopes MS. Ler (lesões por esforços repetitivos): ciência e lei. Belo Horizonte: Health, 1998. 5. Rezende JA, Montenegro B. 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Dissertação (Mestrado em Fisioterapia) - Centro Universitário do Triângulo/UNIT, Uberlândia, 1999. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 157 Artigo original Análise do comportamento da distribuição de pressão plantar em sujeitos normais Analysis of plantar pressure distribution behavior in normal subjects Eliane Fátima Manfio, Nilton Petrone Vilardi Jr, Viviane Mendes Abrunhosa, Camila de Souza Furtado, Luciana Varandas de Souza* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Laboratório de Biomecânica (Labbio), Curso de Fisioterapia Universidade Estácio de Sá (Unesa) Palavras-chave: Pé, distribuição de pressão plantar, marcha e equilíbrio. Resumo O objetivo deste estudo foi verificar o comportamento da distribuição de pressão plantar em sujeitos assintomáticos com diferentes padrões de pé. A amostra deste estudo foi composta por 111 sujeitos do sexo masculino, cuja média de idade foi 28,76 (± 9,88) anos. Para a realização da coleta de dados foi utilizado o sistema F-Scan (sensor flexível-palmilha), para avaliar a distribuição de pressão plantar na posição em pé equilibrado e durante a marcha descalça. Os resultados mostram que elevadas pressões embaixo da parte anterior de um pé normal estão localizadas sob a cabeça dos metatarsos II e III (central). No pé plano, estão localizadas sob a cabeça dos metatarsos I e II (medial), e no pé cavo, encontramos padrão central ou lateral. Este comportamento predomina na posição em pé, equilibrado e na marcha. Conclui-se, portanto, que não existe um arco transverso funcional na cabeça dos metatarsos e o comportamento da distribuição de pressão está relacionado com as características do pé. A trajetória do centro de força durante a marcha mostra que no pé plano ocorre um deslocamento medial das forças em direção à cabeça do metatarso I, enquanto que no pé normal esse deslocamento realiza-se centralmente, nas cabeças dos metatarsos II e III, seguindo em direção ao dedo I. O pé cavo é semelhante ao pé normal, com um deslocamento mais lateral. Observa-se que na posição em pé, equilibrado, aproximadamente 60% do peso corporal está distribuído no calcanhar, no máximo 5,2% localiza-se no meio do pé, 31% a 38% localiza-se na cabeça dos metatarsos e no máximo 2% nos dedos. Endereço para correspondência: Eliane Fátima Manfio, Laboratório de Biomecânica (LABBIO), Clinica Fisiobarra, Universidade Estácio de Sá (UNESA), Av. Prefeito Dulcídio Cardoso, 2900 Cep: 22631-052 - Barra da Tijuca - Rio de Janeiro - RJ FISIOBARRA: (21) 3325-1990 fax: 3325-6876, LABBIO: (21) 3325-3553 / 3325-2072 ramal 228, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 158 Key-Words: Foot, foot pressure distribution, gait and equilibration. Abstract The objective of this article is to verify the foot pressure distribution among no symptomatic subjects with different kind of foot. The sample is about 111 male subjects whose average age is 28.76 (± 9.88) years old. To perform the research we used F-Scan System (sensible sensor insole), to evaluate the foot pressure distribution in stand position and in barefoot gait. The results shows that high pressure in the anterior foot are localized under the metatarsal II and III (central), in the flat foot are distributed in the metatarsal I and II (middle) and in foot deformities we find central and lateral standard. This behavior is predominant in stand position, equilibrium and gait. So, we conclude there is no functional transverse arch in the head of the metatarsal and the behavior of the pressure distribution is in relation with the kind of foot. The trajectory of the force center, during the gait, shows that in flat foot happens a forces displacement to the metatarsal I head, while in the normal foot this deviation is centrally performed in the head of metatarsal II and III, going through the first finger (hallux). The deformed foot is similar to the normal foot, with lateral deviation. In stand position, equilibrated, about 60% of the body weight is distributed in the calcaneus, maximum 5.2% is localized in the middle of the foot, 31 until 38% in the head of metatarsal, maximum 2% in the fingers. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução O esforço para quantificar a distribuição de pressão começou a ser realizado no final do século XIX, porém, progressos significativos no desenvolvimento de sistemas de medição disponíveis, comercialmente, só foram feitos a partir de 1980 [1]. O grande interesse na medida da distribuição de pressão plantar é demonstrado pelos diferentes métodos que têm sido projetados e testados. Mais de 40 diferentes sistemas têm sido documentados. Por causa deste grande número, poucos centros operam com equipamentos similares e a comparação dos resultados dessas diferentes técnicas de medidas é difícil [2]. Existem diversas técnicas empregadas para a medição da distribuição de pressão plantar. Muitas destas técnicas e dos dispositivos empregados, inicialmente, só possibilitavam a realização de medição estática, sem chegar a obter dados dinâmicos do movimento, isto é, do caminhar. Com o avanço da tecnologia, foram desenvolvidos determinados dispositivos que possibilitaram a medição desta variável, durante o caminhar. Com isso conseguiu-se iniciar a análise da marcha humana, através de, até mesmo, diversos ciclos do caminhar [3]. Essas técnicas são classificadas, segundo Lord [4], em três abordagens: o registro, a partir da superfície plantar do pé descalço e o solo, entre a sola do sapato e o solo, e entre a superfície plantar do pé e a palmilha do sapato, sendo que cada método tem as suas vantagens em certas áreas de estudo. Padrões descalços são relevantes para avaliar os resultados das cirurgias realizadas nos pés, enquanto que com calçado e o pé nas impressões das palmilhas são apropriados para revelar a redistribuição de cargas causadas pelo uso de um tipo particular de calçado ou palmilha. Através destas diferentes abordagens, muitos estudos foram realizados para definir o Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 159 comportamento da distribuição de pressão plantar e também da força de reação do solo, na posição em pé equilibrado, durante o caminhar e em outras atividades (correndo, saltando, etc). Como o estudo de Cavanagh, Rodgers & Liboshi [5] que analisa esse comportamento, através da primeira abordagem, isto é, o sujeito descalço, estando na posição em pé equilibrado. Os autores colocam que, em seu estudo, encontraram que não existe uma relação entre o peso corporal e os picos de pressão, de tal modo que se pode esperar que mulheres de pouco peso tenham pressões plantares tão grandes, quanto homens pesados. Os autores ainda colocam que existe uma grande variabilidade entre indivíduos na distribuição de pressão plantar, e que os picos de pressão, sob um pé na posição em pé, são, aproximadamente, 30% daqueles verificados durante o caminhar e 16% da pressão plantar típica durante a corrida. Conforme coloca Wilson [6], embora assumindo que o desconforto é causado por pressões elevadas embaixo dos pés e que uma distribuição de pressão uniforme seria mais satisfatória, existem áreas do pé, tais como embaixo do arco plantar, onde, mesmo baixas pressões, poderiam ser desconfortáveis. Desta maneira Jordan & Barllet [7] relatam que várias pesquisas têm procurado materiais e construção de calçados que reduzam a pressão plantar para prevenir danos e para aliviar a dor em pessoas que sofrem de doenças, tais como, diabetes mellitus, doença de Hansen e artrite reumatóide. Afirmam também, que um elevado número de estudos, na área clínica, tem relacionado um aumento da pressão plantar com dores do pé e desconforto. Apontam ainda que as medidas da distribuição de pressão plantar podem ser ferramentas eficientes para diagnósticos, na identificação de problemas clínicos, bem como as diferenciações entre materiais de palmilhas e calçados. Segundo Cavanagh et al. [5], a maioria dos seres humanos passa muitas horas na posição em pé, e poucas informações atualmente estão disponíveis sobre a função do pé nesta posição. O conceito do pé como uma estrutura de suporte varia amplamente na literatura. Do mesmo modo, Hughes et al. [8] relatam que, clinicamente, a região metatársica apre- senta mais problemas do que as outras regiões, e, por isso, essa área tem sido examinada, em primeiro lugar, com a intenção de definir padrões de distribuição de pressão plantar. Os autores ainda colocam que, inicialmente acreditava-se, que pressões mais elevadas, na região da cabeça dos metatarsos, deveriam ocorrer sob a cabeça do metatarso I, devido ao seu tamanho. Entretanto estes conceitos têm diferido muito, desde surgimento das técnicas de medidas dinâmicas da pressão plantar. Objetivo deste estudo foi verificar o comportamento da distribuição de pressão plantar em sujeitos assintomáticos com diferentes padrões de pé, na posição em pé equilibrada e durante a marcha. Definiu-se ainda como objetivos específicos: analisar a predominância da distribuição de pressão plantar com relação à parte anterior do pé, verificar a proporção da distribuição das cargas nas diferentes regiões do pé, e relacionar estas características com os diferentes tipos de pés. Revisão da literatura Na posição ereta normal, estando em repouso, o peso do corpo passa da pelve para cada uma das extremidades, onde o primeiro osso no pé, que recebe a carga é o talo, que tem por função distribuir essa força para os pontos de apoio posteriores e anteriores. Segundo Viladot [9], existem três concepções diferentes de como se realiza o apoio anterior na região da cabeça dos metatarsos: 1) O pé se apoiaria em três pontos, o calcanhar e as cabeças dos metatarsos I e V; 2) O antepé se apoiaria pelas cabeças dos metatarsos centrais; 3) Todas as cabeças dos metatarsianos suportam o peso, porém, a cabeça do metatarso I recebe mais força que os restantes. O autor ainda coloca que, através de seus estudos, constatou que, estando a pessoa em pé, todas as cabeças metatarsianas realizam sua função no trabalho do antepé e que o metatarso I suporta aproximadamente o dobro do peso que cada um dos outros metatarsos. Os demais metatarsianos realizam um trabalho equivalente, não existindo um predomínio da função do quinto metatarsiano. Estas colocações estão de acordo com Minns & Craxfors [10]. 160 Autores como Cavanagh et al. [5] salientam que, historicamente, um dos tópicos mais discutidos foi a presença ou ausência de um arco transverso ao nível da cabeça dos metatarsos na posição em pé. Os autores reafirmam, conforme já citado por Viladot [9], que existem diferenças de opinião sobre o comportamento da distribuição das cargas na região da cabeça dos metatarsos. Colocam também, que em seus estudos, os dados mostram claramente que não existe um arco transverso funcional ao nível da cabeça dos metatarsos na posição em pé e a teoria do tripé na distribuição de cargas não foi comprovada. Enfatizam também que as elevadas pressões embaixo da parte anterior do pé estão geralmente localizadas sob as cabeças dos metatarsos II e III e não sob a cabeça do metatarso I. Esta afirmação está de acordo com os resultados obtidos por Grieve & Rashdi [11], Hughes et al. [2] e Manfio, Mota & Avila [12], que encontraram elevadas pressões na parte anterior de um pé normal, sob as cabeças dos metatarsos II e III. Com relação às diferentes proporções das cargas na região plantar, na posição em pé equilibrado, descalço, Arcan & Brull [13], medindo a pressão plantar e força de reação do solo em 5 sujeitos, encontraram que em 4 dos sujeitos, 45 a 65% do peso do corpo está distribuído sob o calcanhar e 30 a 47% está sob a parte anterior, com o restante sob o meio do pé. Segundo Sammarco [14], das porções do pé que têm contato com o solo, aproximadamente 50% da carga é sustentada pelo calcanhar e 50% é transmitida através das cabeças metatarsianas. A carga na cabeça do metatarso I é duas vezes aquela das quatro cabeças metatarsianas laterais. Durante a fase de apoio da marcha, o centro de cargas progride rapidamente para frente na direção do halus e no final da fase de apoio, as cargas aumentadas tendem a ser transmitidas através da segunda cabeça metatarsiana. No entanto, nos estudos realizados por Cavanagh et al. [5], na análise da distribuição das cargas, com uma amostra de 107 sujeitos (66 homens e 41 mulheres) na posição em pé equilibrado, encontraram que 60,5% do peso está distribuído sob o calcanhar, 7,8% no meio do pé, 28,1% na parte anterior do pé e 3,6% nos dedos. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 A proporção dos picos de pressão, entre o calcanhar e a parte anterior do pé, segundo Betts, Franks & Duckworth [15], estudando um grupo de 29 crianças normais, na posição em pé, encontraram que a pressão no calcanhar foi aproximadamente 1,94 vez maior do que a pressão na parte anterior do pé. Já para Grieve & Rashdi [11], em estudos similares, encontraram que a pressão foi de 1,74 vezes maior no calcanhar, enquanto que Cavanagh et al. [5] encontraram que os picos de pressão sob o calcanhar foram cerca de 139 kPa, em média, 2,6 vezes maior do que na parte anterior, onde foram cerca de 53 kPa. A média do pico de pressão, na posição em pé parado, para todo o pé, segundo Cavanagh et al. [5], foi de 140,5 kPa com um desvio padrão de 30,0 kPa. Os autores ainda colocam que este valor foi consideravelmente maior do que o encontrado por Duckworth et al. [16], que foi de 107,6 kPa, mas similar a 137 kPa, encontrado por Grieve & Rashdi [11]. Com relação aos padrões de distribuição de pressão plantar, na região anterior do pé, Wilson [6] definiu 5 grupos principais e um sexto grupo encontrado em apenas 3 casos. Este trabalho foi realizado com uma amostra de 120 mulheres voluntárias, na idade de 17 a 69 anos, as quais não apresentavam problemas significativos nos pés. A pressão plantar foi registrada com o sujeito na posição em pé equilibrado, descalço. Os grupos foram classificados em padrão medial com elevadas pressões medialmente; padrão medial/central com pressões iguais sob as cabeças dos metatarsos I e II; padrão central com elevadas pressões centralmente (sob as cabeças dos metatarsos II e III); padrão central/lateral com elevadas pressões central e lateral (relativamente baixas sob a cabeça do metatarso I); padrão igual com baixas pressões distribuídas, igualmente, sob toda a área da parte anterior do pé e o padrão tripé com elevadas pressões em ambas as cabeças metatársicas medial e lateral (cabeça do metatarso I e V) (Fig.1). O autor ainda coloca que, analisando algumas relações entre os valores dos picos de pressão e os parâmetros físicos, como a idade, o peso e o tamanho do pé, não foram encontradas tendências significativas. Os diferentes sistemas usados para a análise da distribuição de pressão plantar e força Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 161 Fig.1 - Padrões de distribuição de pressão plantar (adaptado de Manfio et al.[12]) de reação do solo e os diferentes métodos para classificação dos sujeitos nos padrões, dificultam a comparação dos resultados com outros estudos, mesmo assim, pode-se verificar uma semelhança nos dados. Isso ocorreu no estudo realizado por Hughes et al. [8], onde foi analisado o padrão de distribuição de pressão, no caminhar descalço de 160 sujeitos assintomáticos, com um parâmetro de idade de 5 a 78 anos. Os autores realizaram uma comparação entre três métodos para classificação dos sujeitos nos grupos (padrões). Os resultados são apresentados somente para o pé esquerdo. Através de uma avaliação subjetiva, encontraram que 25 (16%) dos sujeitos estão dentro do padrão medial, 23 (14%) estão dentro do padrão medial/central, 85 (53%) no padrão central, 21 (13%) no padrão central/lateral e 6 (4%) não foram definidos. Com um segundo método, através da utilização de um programa específico utilizado em computador, para uma classificação objetiva, onde os grupos eram definidos previamente, os resultados foram 25 (16%) dos sujeitos dentro do padrão medial, 23 (14%) dentro do padrão medial/ central, 90 (56%) no padrão central, 16 (10%) no padrão central/lateral e 6 (4%) não foram definidos. O terceiro método foi através do cluster analysis, mas sem padrões pré-defini- dos para essa classificação, usando o método de Ward (maximiza a variância entre classes e minimiza a variância dentro da classe) encontraram 24 (15%) no padrão mais similar ao medial, 26 (16%) no padrão medial/central, 65 (41%) no padrão central e 45 (28%) no padrão central/lateral. Os autores colocam que existem padrões clinicamente diferentes e alguns são mais comuns do que outros. Isto foi confirmado através de cluster analysis, que mostrou 4 grupos, muito similares com os grupos encontrados subjetivamente, sem uma manipulação prévia dos dados. O cluster analysis produziu grupos bem distintos, não correspondendo, entretanto, à classificação subjetiva. É possível que o uso de diferentes métodos desta análise possam produzir resultados diferentes. O programa de computador (o segundo método) classificou em grupos que melhor correspondem à classificação subjetiva, mas depende ainda de um julgamento subjetivo para pré-definir os padrões. Outro estudo realizado por Hughes et al. [2], comparando a distribuição de pressão, durante o caminhar descalço (velocidade normal) num grupo de 100 adultos, obtida por meio de dois diferentes sistemas (o EMED F e o pedobarógrafo dinâmico), também usaram cluster analysis para classificar os sujeitos em 162 4 grupos, onde cada grupo representa as 5 cabeças metatársicas, da medial até a lateral. Os grupos encontrados foram similares aos encontrados por Hughes et al. [8]. A percentagem dos sujeitos nos grupos mostrou leves diferenças. Os resultados do EMED mostraram poucos sujeitos no grupo medial (17 sujeitos EMED e 27 pedobarógrafo) e mais no grupo medial/central (35 comparando com 19). O grupo central mostrou mais similaridade (20 comparado com 26) e o grupo central/lateral continha 28 sujeitos para ambos os sistemas. Um teste qui quadrado comparando essa percentagem mostrou que a diferença foi estatisticamente significativa a nível de 5%. Os autores colocam que é possível que a origem das diferenças esteja na técnica usada para isolar as áreas de interesse do pé, pois ambos os sistemas permitem armazenar os padrões de pressão no computador e cada um tem seu software, que permite selecionar as áreas de interesse para análises. Os autores ainda salientam que a carga suportada pelos dedos reduz gradualmente a pressão do dedo I ao dedo V, e que o EMED F apresenta picos de pressão mais altos que o pedobarógrafo dinâmico, no calcanhar, nas quatro cabeças metatarsianas mediais e o dedo I. Mostra também picos de pressão e tempo de contato menores, embaixo dos quatro dedos laterais. De acordo com Betts et al. [17] as medições estáticas são somente uma fração de informação disponível, a partir do sistema por eles sugerido e que mais informações poderão resultar da análise da distribuição dinâmica de pressão e forças, durante um passo completo. Durante a marcha, ocorre uma variação na força e na pressão da região plantar, conforme o aumento da velocidade. Esta assertiva é confirmada pelos estudos de Hughes et al. [18], que encontraram, durante a marcha, em três velocidades diferentes, numa amostra de 10 sujeitos assintomáticos, que a força total e os picos de pressão total do pé crescem linearmente com o aumento da velocidade a marcha. Analisando, do mesmo modo, as diferentes áreas do pé, os resultados mostram diferenças entre as áreas, como no calcanhar, na parte anterior do pé medialmente, e nos 4 dedos mediais. Essas áreas mostram os mesmos padrões que os re- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 sultados totais, isto é, a força e os picos de pressão crescem com o aumento da velocidade. A parte lateral do meio do pé, a parte anterior e o dedo V não mostram diferenças significativas, ocorrendo um decréscimo linear na pressão e força, com o aumento da velocidade. Do mesmo modo, Hughes et al. [2] encontraram que a força total e os picos de pressão crescem com o aumento da velocidade a marcha, mas mostraram que isso não foi verdadeiro para todas as áreas do pé. Muitos estudos têm comparado situações descalço e com calçado, onde salientam que ocorre uma diferenciação entre as duas situações. Estudos como os de Arcan et al. [13], usando o método de interferência ótica, enfatizam que, na comparação dos resultados de sujeitos descalços e usando os próprios calçados, foi percebida uma significante diferença, sendo que em sujeitos “normais” a carga do médio pé, no caso descalço, tende a inverter para o antepé, quando com calçado. Da mesma forma, Nicol & Hennig [19] e Cavanagh & Michiyoshi [20] salientam que, durante a marcha descalça, grandes picos de pressão foram encontrados na região dos dedos, enquanto que, durante o movimento com calçado, esses não foram encontrados. Estas diferenças entre a situação descalça e com calçado também são salientadas por Cavanagh et al. [21], que encontraram que as curvas de força são diferentes descalço e com calçado, porque há um aumento na velocidade e aceleração dos joelhos, tornozelo e calcanhar, quando a pessoa está descalça, e, com isso a força também aumenta. Tanto a amplitude como o tempo do pico inicial, em condição descalço, é maior e anterior do que com calçado. Perry [22], estudando a marcha de um grupo de pacientes diabéticos neuropáticos, descalça, com sapato e com calçados esportivos com bom amortecimento, através do sistema EMED, encontrou que, ambos os tipos de calçados, reduzem os picos de força da parte anterior e que o calçado esportivo reduziu os picos de pressão na parte anterior do pé, acima de 35%, quando comparado com o descalço. Existem diversos problemas, com relação à precisão das medidas dos sistemas de distribuição de pressão plantar, como no siste- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 ma F-Scan, relatado por Müller [23], que salienta diversos fatores que podem influenciar na precisão, fatores estes como a temperatura, linearidade, comportamento de histerese, reprodutibilidade. O autor ainda enfatiza que comparando o sistema F-Scan com a plataforma de força Kistler, as curvas de força total, primeiramente obtidas em testes, mostraram-se 30 a 40% mais baixas no sistema FScan. Embora a diferença relativa do valor da medida tenha sido grande, pôde-se verificar uma concordância da forma das curvas para todos os ensaios. O autor ainda salienta que a diferença entre a força normal na Kistler e no F-Scan pode ter uma possível explicação: no F-Scan, as forças normais não são mensuradas do solo, mas sim da sola do sapato, que não é rígida, e também ocorre um erro de 1% na freqüência do registro de ambos os sistemas. Outro estudo realizado por Derrick & Hamill [24] utilizando o sistema F-Scan e a plataforma de força AMTI, numa freqüência de 100Hz, destaca que a força de reação do solo tem sido geralmente aceita como melhor reflexo de forças experimentadas pelo corpo, durante uma determinada situação ambiental, forçada por um calçado esportivo, mas uma medida mais significativa pode ser a força de reação dentro do sapato. Os autores concluíram que o método de determinação da força de reação, dentro do calçado, pode demonstrar-se útil e esclarecedor, mas a precisão da plataforma de força não é contestada. Hughes et al. [2], asseguram que a melhor maneira para avaliar as medidas de distribuição de pressão plantar de um paciente, deveria ser a comparação da distribuição deste paciente com um grupo de sujeitos normais, analisados no mesmo sistema. Os resultados de um sistema não deveriam ser comparados ao outros sistemas. Ainda assim, o estudo mostrou que existem importantes similaridades entre os resultados obtidos pelo EMED F e o pedobarógrafo dinâmico, particularmente no que se refere à relação da pressão entre uma área e outra. Os autores ainda colocam que existem muitas dúvidas sobre a exatidão das medidas de pressão sob os dedos, usando ambos os sistemas, e outros estudos são necessários nesta área. 163 Materiais e Métodos A mostra deste estudo foi composta de 111 sujeitos assintomáticos do gênero masculino, com média de idade de 28,76 ± 9,88 anos, altura 175,37 ± 6,34 cm e peso 73,96 ± 10,18 kg. Para a realização da coleta de dados foi selecionado o sistema F-Scan, que consiste de um sensor flexível (palmilhas) para avaliar a pressão plantar dos sujeitos, descalço e com calçado (sensor dentro do calçado). Neste trabalho, foram coletadas pelo sistema F-Scan, a distribuição de pressão plantar e força de reação do solo na posição em pé, equilibrado, sendo que o sujeito foi instruído a distribuir o peso igualmente sobre os dois pés, com ambos os pés descalços sobre o sensor. Esse procedimento foi realizado 3 vezes, durante 1s, numa freqüência de 100 Hz. Durante a marcha foi utilizada uma meia para prender os sensores aos pés. A coleta dos dados foi realizada 3 vezes, durante 5s, na mesma freqüência. O sujeito foi instruído a caminhar com velocidade normal. O sistema foi calibrado de acordo com o peso corporal total do sujeito, conforme normas recomendadas pelo fabricante [25]. O sistema F-Scan O sistema consiste de 2 sensores (palmilhas), circuitos de coleta de dados e software. O sensor é formado, em seu tamanho original, por 960 pontos sensíveis, localizados sobre sua superfície (Fig. 2). Esse caracteriza-se por uma fina grade de linhas e colunas, formada por deposição de tinta condutiva à base de prata. Esse sensor (palmilha) é o coração do sistema e pode ser cortado para ajustar-se aos diferentes tamanhos de pés e de sapatos. Os circuitos eletrônicos, para medir o sinal do sensor F-Scan, consistem de dois componentes (cuff - unidades de tornozelo). Estes controlam a varredura da grade do sensor e a conversão A/D das resistências medidas. Os dados digitais são então, arranjados de forma serial e transmitidos através de cabos coaxiais ao resto dos circuitos, localizados em uma placa de expansão em um computador. 164 Fig. 2 - Palmilha do sistema F-Scan O software do F-Scan é projetado para demonstrar, comparar, armazenar e imprimir os dados coletados a partir dos sensores. O sistema opera em tempo real, onde a informação da distribuição de pressão e força aparece na tela, enquanto o sujeito está sobre o sensor, e no modo play-back, que apresenta informações pré-gravadas. Através do sistema F-Scan, podemos selecionar áreas na planta do pé, onde se monitora a pressão média sobre essas áreas específicas. A tela mostra ainda o centro de força que é usado para resumir os dados, a partir de um único ciclo de marcha e gravar os picos de pressão em cada célula sensora, durante o período de tempo do passo. Para interpretarmos os plantigramas gerados pelo sistema F-Scan, os pés foram divididos em cinco regiões distintas: Região do calcanhar, que representa a pressão exercida principalmente pelo calcâneo; Região do meio Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 do pé, que representa os apoios exercidos, geralmente, pela parte externa do arco do pé; Região anterior do pé, que representa os apoios exercidos, principalmente pelas cabeças dos cinco metatarsos; Região dos dedos, que representa o apoio dos dedos. As divisões das regiões nos plantigramas foram determinadas, através de inspeção visual sobre os mesmos. O processamento dos dados fornecidos pelo sistema F-Scan foi feito, utilizando-se um programa desenvolvido especificamente para esta finalidade, conforme apresentado por Manfio et al. [12]. Resultados e Discussão Observa-se que os valores dos desvios padrão mantêm-se muito alto, mostrando que ocorre uma dispersão muito grande nos dados obtidos, através do sistema F-Scan, para todas as regiões. Acreditamos que parte dessas variações é devida às limitações do próprio sistema F-Scan. Mesmo assim, devemos considerar que existe uma variação muito grande nas formas de distribuição de pressão plantar de uma pessoa para a outra. Quando comparamos pés direitos com pés esquerdos, observou-se diferenças estatisticamente significativas para os percentuais da força aplicada sobre a região da cabeça dos metatarsos (t = 7,10; p = 0,000), e na região do meio do pé (t = - 4,49; p = 0,000). Na força aplicada sob os dedos (t = -0,58; p = 0,565) e o calcanhar (t = 0,60; p = 0,550) não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas. Com relação à força total sobre o pé esquerdo e direito, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas (t = 3,14; p = 0,002). Assim, os dados serão tratados, separadamente, em pé esquerdo e pé direito. Na análise da força de reação do solo, em relação ao peso corporal (Fig. 3), observa-se que no pé esquerdo, 61,7% do peso do corpo concentra-se na região do calcanhar, 31,2% na região da cabeça dos metatarsos, 5,2% na região do meio do pé (região do arco plantar), e 1,9% na região dos dedos. No pé direito, verifica-se que 57,9% do peso do corpo concentrase na região do calcanhar, 38,2% na região da cabeça dos metatarsos, 2,4% na região do meio do pé e 1,5% na região dos dedos. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 Fig. 3 - Gráfico relativo à distribuição da força de acordo com as regiões do pé. Analisando estes resultados, verifica-se que são semelhantes aos resultados encontrados por Cavanagh et al. [5] e Manfio et al. [12], ocorrendo uma pequena diferenciação no percentual relacionado à parte anterior, meio do pé e dedos. A origem destas diferenças pode ser a técnica usada para isolar as áreas de interesse do pé e, também, os diferentes sistemas utilizados para obtenção dos dados. Observa-se que, na maioria dos casos não ocorre apoio dos dedos, sendo que a força suportada pelos mesmos não é superior a 2% do peso corporal. O dedo I é mais freqüentemente apoiado, chegando a suportar aproximadamente 82% da carga suportada pelos dedos. Geralmente é apoiado o dedo II ou o dedo III e o dedo V nunca é apoiado. 165 Na análise da distribuição de pressão plantar, verifica-se que, no pé esquerdo, a pressão no calcanhar foi 2,0 vezes maior do que na parte anterior. No pé direito, encontramos que a pressão no calcanhar foi 1,5 vez maior do que na parte anterior do pé. Estes resultados foram inferiores aos encontrados por Cavanagh et al. [5], que foram de 2,6 vezes maiores no calcanhar. Os resultados encontrados para o pé esquerdo são iguais aos encontrados por Manfio et al. [12], que foram 2,0 vezes maiores no calcanhar. A área total média para o pé esquerdo, foi de 67,34 cm² e para o pé direito, foi de 65,06 cm². Relacionando a área de contato do pé com o comprimento do pé, observa-se que o comprimento do pé esquerdo é maior, na maioria dos casos, que o pé direito. Na classificação subjetiva dos sujeitos, nos diferentes padrões de distribuição de pressão plantar, na região anterior, observa-se, que para ambos os pés, o padrão central foi encontrado com maior freqüência (Fig. 4). Porém, no pé esquerdo, o percentual do padrão central é menor, do que no pé direito (30,7% no pé esquerdo e 36,4% no pé direito). Salientamos, também, a diferenciação com relação aos percentuais dos padrões central-lateral e igual, onde, para o padrão central-lateral, encontramos, para o pé esquerdo, 23,5% e, para o pé direito, 13,5%. Para o padrão igual, encontramos um percentual maior para o pé direito (15,6% direito e 7,2% esquerdo). Parte da amostra possui um pequeno apoio anterior ou picos em vários pontos, não sendo possível a classificação nos padrões estabelecidos (15,7% no pé esquerdo e 16,1% no pé direito). Fig. 4 - Gráficos relativos à classificação nos padrões de distribuição de pressão plantar na parte anterior do pé (cabeça dos metatarsos). Pé esquerdo Pé direito Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 166 Observou-se baixa incidência para o padrão tripé, tanto para o pé esquerdo, como para o pé direito, ocorrendo somente em um caso. Desta maneira, podemos concluir que não existe um arco transverso funcional na região da cabeça dos metatarsos, na posição em pé equilibrado e que elevadas pressões embaixo da parte anterior do pé estão geralmente localizadas sob a cabeça dos metatarsos II e III (padrão central). Comparando estes resultados com outros estudos, verificou-se uma diferenciação nos percentuais dos padrões, porém observa-se um percentual maior no padrão central, estando de acordo com os resultados encontrados por Grieve & Rashdi [11], Cavanagh et al. [5], Hughes et al. [8] e Manfio et al. [12]. Acreditamos que a diferenciação que ocorre na classificação dos diferentes padrões de distribuição de pressão, na parte anterior do pé, deve-se às diferenças técnicas usadas para isolar as áreas de interesse do pé e, também, pelos diferentes sistemas utilizados para a obtenção dos dados. Salientamos, também, as limitações do sistema de distribuição de pressão, por nós utilizado, que não permite a localização exata das re- giões, principalmente a cabeça dos metatarsos. Com relação à distribuição das cargas, nos diferentes tipos de pés, normais, planos e cavos, observou-se que ocorreu uma diferenciação da distribuição de pressão na superfície plantar. Para uma análise mais completa do comportamento dessas diferentes estruturas de pés, foi necessária uma avaliação da marcha. Para a avaliação dinâmica, durante a marcha, foram selecionados 8 pés planos, comprovados radiograficamente, com um ângulo de Costa-Bartani entre 143º e 170º, 4 pés cavos, com ângulos entre 105 e 115º e pés normais, com ângulos entre 130º e 135º. A Fig. 5 mostra os diferentes tipos de pés, apresentados da esquerda para a direita, pés planos, pés normais e pés cavos. Observou-se que, nos pés planos e normais, durante o caminhar (Fig. 5 e 6), ocorrem pressões, na região do meio do pé (arco plantar), enquanto que, nos pés cavos, não ocorrem pressões nessa região. No pé cavo observou-se pressões elevadas no calcanhar e na parte anterior, geralmente mais lateralizado. Nos pés planos, as pressões localizadas na região do meio do pé são mais elevadas, e com área de contato maior, comparadas com os pés normais. Fig. 5 - Diferentes tipos de pés. Pé plano Pé normal Pé cavo Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 167 Fig. 6 - Picos de pressão para o caminhar normal nos três diferentes tipos de pés. Pé plano Pé normal Verifica-se que, na região anterior, ocorre uma diferenciação muito grande na distribuição de pressão, de uma pessoa para outra, e nos diferentes tipos de estruturas plantares. Porém, observa-se que, geralmente, elevadas pressões concentram-se sob a cabeça dos metatarsos II e III, para os pés normais. Para os pés cavos este apoio é mais lateral, na cabeça dos metatarsos II, III, IV e V. Nos pés planos, observa-se que, geralmente, pressões elevadas localizam-se sobre as cabeças dos metatarsos I e II. A análise da trajetória do centro de força mostra que no pé plano ocorre um deslocamento medial das forças, em direção à cabeça do metatarso I, enquanto que no pé normal esse deslocamento realiza-se mais centralmente nas cabeças dos metatarsos II e III, seguindo em direção ao dedo I. No pé cavo é semelhante ao pé normal, ocorrendo um deslocamento mais lateral. Estes resultados estão de acordo com os resultados observados por Cavanagh [26], porém, para os pés cavos, não observou-se pressões mais elevadas sobre o calcanhar, conforme encontrado pelos autores. A amostra utilizada para o estudo dos pés cavos foi pequena, sendo que outros estudos devem ser realizados para verificar se realmente ocorre esse comportamento. Conclusões A partir deste estudo podemos observar que elevadas pressões na parte anterior de um pé com características normais estão geralmente localizadas sob a cabeça dos metatarsos II e III (padrão central). Em um pé plano, estão Pé cavo geralmente localizadas sob a cabeça dos metatarsos I e II (padrão medial), e em um pé cavo, observou-se o padrão central ou lateral. Este comportamento predomina na posição em pé, equilibrado e na marcha. Conclui-se, portanto que não existe um arco transverso funcional na cabeça dos metatarsos e o comportamento da distribuição de pressão está relacionado com a característica do pé. A trajetória do centro do centro de força mostra que no pé plano ocorre um deslocamento medial das forças, em direção à cabeça do metatarso I, enquanto que no pé normal esse deslocamento realiza-se mais centralmente, nas cabeças dos metatarsos II e III, seguindo em direção ao dedo I. O pé cavo é semelhante ao pé normal, ocorrendo um deslocamento mais lateral. Observa-se que aproximadamente 60% do peso corporal estão distribuídos no calcanhar, no máximo 5,2% localizam-se no meio do pé, 31% a 38% do peso localiza-se na região da cabeça dos metatarsos e no máximo 2% na região dos dedos. Referências 1. Nig BM, Herzog W. Biomechanics of the musculo-skeletal system. John Wiley & Sons, Canada, 1994. 2. Hughes J, Phil M, Clark P, Linge K, Klenerman L. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 169 Este artigo é a segunda parte (revisão bibliográfica) do artigo “Efeitos de atividades físicas e terapêuticas em adultos maduros e idosos”, publicado em Fisioterapia Brasil, volume 2, número 2, páginas 99-106 (março-abril de 2001) Revisão Eficácia da atividade física na manutenção do desempenho funcional do idoso: revisão da literatura The efficacy of physical activity in maintaining functional performance in elderly subjects: literature review Laila Daniela dos Santos* – Ft, Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela**, Fernanda de Oliveira Lelis*, Melissa Batista Lobo* ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta, **PhD, Universidade Federal de Minas Gerais Palavras-Chave: Idoso, atividade física, qualidade de vida, desempenho funcional. Resumo Diante das características de população envelhecida que a sociedade mundial vem assumindo, tornam-se alarmantes as consequências biopsicossociais do envelhecimento. As alterações fisiológicas relacionadas à idade avançada levam à diminuição da performance funcional e consequente perda de autonomia e independência nos idosos. Alguns parâmetros, tais como a perda de força muscular, podem ser reversíveis com a prática de atividades físicas, o que reflete na realização das Atividades de Vida Diária com maior segurança e eficiência. Um programa de atividade física direcionado a idosos deve preencher requisitos específicos para que sejam alcançados os benefícios físicos e funcionais objetivados. Tais requisitos incluem avaliação física e funcional inicial, frequência mínima de 2 vezes por semana, intensidade inicial entre 65-75% da Fcmax (frequência cardíaca máxima), exercícios de aquecimento, fortalecimento, aeróbicos e relaxamento divididos durante 1 hora de sessão; além de reavaliações periódicas para a progressão apropriada nos itens anteriormente mencionados. Estudos recentes comprovam a eficácia da atividade física na manutenção da performance funcional do idoso. Endereço para correspondência: Profa. Dra. Luci Fuscaldi Teixeira-Salmela, Dpto. de Fisioterapia da UFMG, Av. Presidente Antônio Carlos, 6627, Campus Pampulha, 31270-010 Belo Horizonte – MG, Tel: (31) 34994782 Fax: (31) 3499-4790, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 170 Key Words: Elderly, physical activity, quality of life, functional performance. Abstract In view of the characteristics of an aging population that the world society is facing, the biopsychosocial consequences of an aging process has become alarming. The physiological changes related to the advanced aging process lead to the decrease of functional performance, and consequently, the loss of autonomy and independence of seniors. Some parameters, such as the loss of muscle strength, have been shown to be reversible with the practice of physical activity, reflected by the performance of the daily life activities with greater safety and efficiency. A program of physical activity designed for seniors should address specific requirements so that the physical and functional benefits can be objectively reached. Such requirements include initial physical and functional assessments, a minimum frequency of exercise at least twice a week, an initial intensity of between 65-75% of maximum heart rate, a warm-up, strengthening, aerobic and relaxation exercises. These elements should be carried out within a one-hour session along with periodic reassessments for appropriate progress. Recent studies have shown the effectiveness of physical activity for the maintenance of functional elderly performance. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução A população mundial está envelhecendo. O Brasil, em 2020, terá a sexta população de idosos do planeta [1,2]. A população idosa está crescendo mais rapidamente que a população mundial, numa razão de 2,5% ao ano [3]. A cada ano, cerca de 10% da população adulta a partir dos 75 anos perde a independência em uma ou mais atividades de vida diária (AVDs). De acordo com dados do governo americano, aproximadamente 20% da população acima dos 65 anos tem dificuldade em uma ou mais AVDs. Limitações nos cuidados básicos tais como banhar-se, vestir-se, alimentarse e higiene pessoal aumentam dramaticamente com a idade [4]. O indivíduo idoso apresenta uma fragilidade característica, ou seja, uma diminuição da reserva fisiológica associada ao declínio da performance física e independência funcional. Tal declínio aumenta o risco de quedas, fraturas e dependência funcional, e pode ser minimizado com a prática de exercícios físicos [3,5]. A inatividade está entre os fatores mais importantes que contribuem para o declínio ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ da função [6]. A atividade física tem sido comprovada como fator de melhora da saúde e performance funcional na população idosa [7]. Preconizam-se programas de atividade física com duração mínima de duas vezes por semana, intensidade de 70 a 80% da frequência cardíaca máxima (FCmáx); priorizando atividades aeróbicas e exercícios de fortalecimento e alongamento muscular [4,5,6,8]. Os benefícios funcionais e físicos são alcançados através da manutenção e melhora do condicionamento cardiorrespiratório além da redução do número de quedas, fraturas e acidentes [3,6,7]. Na idade avançada, uma boa performance funcional indica um grau maior de independência e melhor qualidade de vida [9,10]. O aumento do contato social, a melhora da saúde física e mental, a redução do risco de doenças crônicas, a manutenção da performance funcional e consequentemente, a maior independência do idoso constituem argumentos para encorajar um estilo de vida mais ativo entre os idosos [11]. Tais ganhos não apenas melhoram a saúde do indivíduo idoso mas, reduzindo a ne- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 171 cessidade de cuidados hospitalares, medicamentos e institucionalizações, também contribuem para a diminuição dos custos da sociedade envelhecida [2,3,12]. Com o envelhecimento da população, a manutenção da performance funcional e a prevenção da incapacidade têm-se tornado um dos focos principais em geriatria [3,4]. O incentivo à atividade física pode ser uma importante medida de prevenção para a diminuição das diversas causas de mortalidade entre os idosos [13]. Diante disto, confirma-se a necessidade de um embasamento teórico consistente que demonstre a eficácia da atividade física na manutenção da performance funcional do indivíduo idoso. Portanto, os objetivos desse trabalho foram demonstrar a eficácia da atividade física na manutenção da performance funcional do idoso, embasar cientificamente e propor um programa de exercícios físicos direcionado a idosos. do programa de atividade física orientada ministrado no Projeto Vale a Pena Viver. Metodologia Foi realizada uma revisão bibliográfica baseada na literatura nacional e internacional (língua inglesa) dos últimos dez anos. Além disto, foram utilizados dados experimentais Envelhecimento x Atividade física Aspectos fisiológicos do envelhecimento e respostas à atividade física O envelhecimento biológico normal leva à diminuição das reservas funcionais do organismo. Este efeito pode ser observado em todos os aparelhos e sistemas: circulatório, pulmonar, muscular, ósseo, metabólico e nervoso. Todavia, a velocidade e a extensão deste declínio variam muito entre os diversos tecidos e funções, e variam também de uma pessoa para outra [14]. Embora as manifestações físicas e mentais sejam inevitáveis, os sinais de envelhecimento podem ser adiados. Uma intervenção, tal como a atividade física, pode melhorar e manter a capacidade funcional e diminuir a dependência, além de reverter a perda de força muscular característica da idade [3,15]. A Tabela 1 demonstra características do envelhecimento e como a atividade física direcionada dentro de padrões de segurança e eficiência pode retardá-las. Tabela 1 - Fisiologia do envelhecimento x Efeitos do exercício sobre os diversos sistemas Envelhecimento Efeitos do exercício Sistema Musculoesquelético • ê da força muscular (FM) • ê da flexibilidade • Osteoporose è quedas • é da FM • é da flexibilidade • ê de quedas Sistema Metabólico • ê do metabolismo basal • é do colesterol total e LDL • é tecido adiposo •é •ê •é •ê •é Sistema Nervoso • ê da velocidade de condução nervosa • é do tempo de reação è quedas • depressão • é da velocidade de condução nervosa • preservação do tempo de reação • melhora da auto-estima Sistema Cardiopulmonar • é da PA sistólica e diastólica • ê da PA sistólica e diastólica • melhora do VO2 máximo do metabolismo basal do colesterol total e LDL do HDL da massa ponderal gorda da massa ponderal magra Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 172 Parâmetros de avaliação da performance funcional É imprescindível a avaliação precisa, acurada e sensitiva da função física em idosos hígidos para que sejam identificadas estratégias apropriadas para se prevenir o declínio [8,16,17]. A avaliação da capacidade funcional na população idosa tem se baseado em questionários de auto-relato e medidas da performance física [8,10]. Segundo Cress et al 1999 [8], a avaliação da função física tem mudado do auto-relato das limitações funcionais para a avaliação baseada na performance em tarefas específicas, nos últimos tempos. Há autores que defendem a importância da associação entre os questionários de auto -relato e as medidas da performance física para se precisar disfunções e se direcionar a abordagem terapêutica [4,6,8,10,18]. A Tabela 2 relaciona as vantagens e desvantagens dos questionários de auto-relato e das medidas de performance física. Atividade física x Declínio funcional O exercício é um agente fundamental na promoção da longevidade associada à saúde. Apesar disto, a prática de exercícios físicos é frequentemente subestimada ou ignorada [3]. Atualmente, preocupações econômicas e sociais em relação à população idosa incluem lesões ocasionadas por quedas e a perda de independência [3,6]. Carter e O’Driscoll [3] defendem a inatividade física como causa de parte das alterações comuns ao envelhecimento além de destacar a reversibilidade e/ou atraso destas com a prática de atividade física. Em um estudo de 13 anos com 2761 idosos acima de 65 anos, Glass et al. [19] determinaram a influência da atividade física sobre a performance funcional e a longevidade. Os autores observaram uma diminuição de 15% na mortalidade e um aumento de 2,5 anos na longevidade de idosos ativos fisicamente em relação a idosos sedentários. Bijnen et al. [13], realizaram um estudo constituído de atividades físicas avaliadas por questionários de auto-relato em um período de 5 anos. Participaram de tal estudo 72 idosos do sexo masculino (idade média: 75 anos) e comprovou-se uma diminuição nos índices de mortalidade entre os indivíduos que permaneceram fisicamente ativos. Chandler et al. [5], objetivaram determinar a associação entre ganho de FM em membros inferiores (MMII) e a melhora da performance física e da inabilidade de idosos não institucionalizados (média de idade: 77,6 ± 7,6 anos). Após 10 semanas de um programa de fortalecimento muscular progressivo, com um grupo controle, os pesquisadores constataram relação positiva entre o ganho de FM e a performance na transferência da cadeira para o ortostatismo, o aumento da velocidade da marcha e a diminuição no número de quedas. Concomitantemente, não foi observada associação entre o ganho de FM e a inabilidade, a resistência e o equilíbrio. Além de proporcionar o ganho de FM, a prática de exercícios também previne ou retarda o declínio intelectual através de uma melhora no humor, na memória, na função psicológica, e através de uma redução no Tabela 2 - Questionários de auto – relato x Testes de performance física Questionários de auto – relato Testes de Performance Física Vantagens • Fácil aplicação • Baixo custo • Rápida administração • Tarefas cotidianas • Menos influenciados por limitações cognitivas e nível educacional • Maior sensibilidade em detectar alterações no nível funcional Desvantagens • Falta de sensibilidade em detecta pequenas alterações no nível funcional • Risco de erro devido ao fato dos idosos subestimarem sua capacidade ou minimizarem suas limitações • Ambiente artificial • Administração demorada Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 173 stress e na depressão, com consequente manutenção do bem-estar. Outros benefícios da atividade física incluem a diminuição do risco de quedas pelo aumento do equilíbrio, da FM e da flexibilidade. Desta forma, a segurança adquirida com um programa de exercícios faz com que os idosos realizem suas AVD’s de forma satisfatória [3]. Dados do Projeto Vale A Pena Viver, financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com a Igreja Batista do Barro Preto, coletados após 22 sessões completadas por 20 participantes do programa de condicionamento físico demonstraram melhoras significativas em todas as medidas de habilidade funcional e de qualidade de vida administradas. Dentre as medidas de habilidade funcional e de qualidade de vida foram utilizadas, neste projeto, velocidade da marcha (m/s), subir escadas, descer escadas, além do Perfil de Atividade Humana (PAH) e Perfil de Saúde de Nottinghan (PSN) - questionários auto administrados. Segundo conclusões deste projeto e como demonstrado por Luukinen et al. [20], a capacidade física parece estar intimamente relacionada com os aspectos psicossociais. À proporção em que há melhora na velocidade da marcha, por exemplo, o idoso terá maior autonomia para atravessar uma rua com segurança, realizar sua tarefas do dia-a-dia e ampliar sua rede de convívio social sendo assim, independente e alcançando uma vida mais saudável. embasada cientificamente, respeitando os princípios da ética profissional [8]. Programa de atividade física direcionada a idosos hígidos - Bases científicas Ao se prescrever uma atividade física, devem ser considerados, dentro de bases científicas, fatores básicos: o tipo de exercício, a frequência, a duração de cada sessão, a intensidade e a progressão [15,21,22]. A combinação da intensidade, frequência, duração e tipo de atividade, determinará o sucesso do programa de treinamento [15]. Cabe ao fisioterapeuta a escolha da avaliação que melhor se adequa à população de idosos a ser beneficiada pelo programa de atividade física [14]. Esta escolha deve ser Proposta de um programa de atividade física para idosos • Avaliação física inicial convencional • Avaliação da performance funcional • Teste de performance física ou escala contínua – Teste de performance física [23]. Estes são testes preconizados pela literatura internacional, porém, deve-se utilizar preferencialmente instrumentos validados e adaptados culturalmente à população avaliada. • Questionário de auto - relato (Perfil de Saúde de Nottingham e Perfil de Atividade Humana) • Testes físicos • Velocidade da marcha • Força muscular • Flexibilidade • Equilíbrio • Programa de treinamento • Intensidade inicial: 65 a 75% da FCmáx A faixa de intensidade sofre variações de acordo com diferentes estudos, como pode ser notado na figura 1. • Frequência: no mínimo 2 vezes por semana. A figura 2 caracteriza os ganhos percentuais de FM no estudo de Westcott e Baechle [22], comprovando a eficiência de uma frequência de 2 vezes. • Duração: 60 minutos. • Progressão: Reavaliações periódicas (após média de 20 sessões) para aumentar a intensidade para 75 a 85% da FCmáx. • Tipo de exercício: 10 minutos de aqueciFig. 1 - Variação da intensidade de treinamento de Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 174 Fig. 2 - Comparação da freqüência de treinamento com o ganho percentual de FM (Adaptado de Westcott & Baechle [22]) mento (alongamentos, exercícios de coordenação), 10 minutos de fortalecimento muscular, 30 minutos de exercícios aeróbicos e 10 minutos de relaxamento. • Tempo de duração do programa: mínimo de 10 semanas, para que mudanças significantes sejam alcançadas. Discussão Testes de performance funcional x questionários de auto – Relato A avaliação da função é particularmente importante em idosos, devido à alta prevalência de déficits funcionais que caracteriza o envelhecimento [18]. Diversos estudos têm sido realizados no intuito de constatar a eficácia dos questionários de auto-relato e os testes de performance física para a avaliação da performance funcional. Cress et al. [24] fizeram um estudo comparando a relação entre a performance física e a autopercepção da função física. O trabalho foi realizado com 417 idosos da comunidade e 200 residentes em asilos, com idade entre 62 e 98 anos. O estudo demonstrou que tanto os questionários de auto-relato quanto os testes de performance física são bons indicadores da função em uma larga amplitude de habilidades, e que a velocidade da marcha é preditor primário da autopercepção da função. Entretanto, determinantes externos, tais como depressão, função cognitiva, status marital, entre outros, afetam a autopercepção da função. Concluiu-se que a autopercepção da função e a performance física estão significantemente associadas. Kivinen et al. [10] encontraram resultados semelhantes em estudo realizado com 470 homens entre 70 e 89 anos, comparando questionários de auto -relato e testes de performance física, na avaliação da performance funcional. Foi constatada uma forte associação entre os testes de performance física e os questionários de autorelato, pois a maioria dos participantes com boa performance física obteve boa pontuação nos questionários. Apesar disto, 18% dos idosos não mostraram bons resultados nos testes físicos mas obtiveram boa pontuação nos questionários sobre as AVDs. Esta diferença foi explicada pela presença de fatores associados como demência e depressão, também avaliados neste estudo, que, segundo os autores, podem causar discrepância entre os resultados dos dois tipos de avaliação funcional. O Projeto Vale a Pena Viver baseou sua avaliação em dois questionários de auto-relato auto-administrados e em testes físicos como velocidade da marcha e capacidade para subir e descer escadas. Foram detectadas melhoras significativas em todos os parâmetros avaliados revelando uma íntima relação entre a capacidade física e os aspectos psicossociais, diante do ganho substancial na percepção dos participantes de sua própria saúde. A capacidade em se detectar alterações na função e reserva física é significante na formulação de estratégias que devem ser utilizadas na prevenção do declínio funcional [8]. A avaliação funcional baseada em questionários de auto–relato fornece uma boa estimativa da incapacidade dos idosos. Por outro lado, os testes de performance física, tais como o Teste de Performance Física ou Escala Contínua – Teste de Performance Física - são mais sensíveis para detectar limitações funcionais antes mesmo que estas se tornem mensuráveis pelos questionários de auto – relato [8,10,24,25]. Uma das desvantagens dos testes de performance física é a mensuração da capacidade funcional em um ambiente artificial, não refletindo a adaptação do indivíduo às tarefas diárias [17]. Diante disto, é preconizado que Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 175 os questionários de auto – relato e os testes de performance física complementam um ao outro e ambos são relevantes para a detecção de alterações que comprometem a performance funcional do idoso [10,18,24]. nais, intensidade entre 70 a 85% da FCmáx e duração de 60 minutos cada sessão. No entanto, sugere-se a realização de um estudo envolvendo treinamento de força muscular e condicionamento cardiorrespiratório, comparando as frequências de 2 e 3 vezes por semana, com intensidade entre 65 e 85% da FCmáx, para que seja comprovada a eficácia de um treinamento com frequência de 2 vezes por semana. Intensidade x freqüência de treinamento Existe na literatura um consenso de que, para se atingir um bom condicionamento físico, deve-se trabalhar com intensidades entre 60 e 90% da FCmáx (como mostrado na figura I) [6,8,15,21,23,26]. A importância da faixa de FCmáx atingida nos ganhos obtidos através de exercícios aeróbios e de fortalecimento muscular foi ressaltada pela maioria dos estudos utilizados nesta revisão bibliográfica [6,8,15,21,23]. Mesmo as modalidades de exercícios nãoconvencionais como o TaiChiChuan, quando atingem a intensidade preconizada, são tão eficientes quanto às atividades convencionais [26]. Vale ressaltar, entretanto, que o tempo de treinamento equivalente a aproximadamente 11 anos neste estudo supera o tempo médio de 10 semanas utilizado pelos demais protocolos e pelo Projeto Vale a Pena Viver . Em estudo realizado em 1996, Westcott et al. [22] constataram ganho de massa muscular e perda ponderal em indivíduos submetidos a treino de fortalecimento, 2 vezes por semana com intensidade de 90%. Em estudos realizados por Chandler et al. [5], Cress et al. [8] e King et al. [6] constatou-se efeitos positivos do treinamento cardiorrespiratório sobre a performance funcional de idosos, com um programa com frequência de 3 vezes por semana e intensidade entre 60 e 80 % da FCmáx. Entretanto, os dados experimentais do Projeto Vale a Pena Viver comprovaram a eficácia da atividade física priorizando o condicionamento cardiorrespiratório, realizada 2 vezes por semana, com intensidade entre 65 e 85% da FCmáx, com 20 idosos saudáveis, em uma média de 22 sessões. Diante da literatura consultada e dos dados experimentais do Projeto Vale a Pena Viver, torna-se possível inferir quanto à eficácia de um treinamento incluindo condicionamento cardiorrespiratório e fortalecimento muscular em frequência mínima de 2 vezes sema- Prevenção x melhora da performance funcional Idosos independentes podem se beneficiar funcionalmente após longos períodos de treinamento físico. A importância da atividade física no âmbito da saúde pública estende-se da prevenção à melhora da função física [8]. Além disto, a redução dos custos sociais e hospitalares com a população idosa é relevante diante dos ganhos alcançados com programas de atividade física [3]. A manutenção da força muscular proporcionada pelo exercício físico tem importante correlação com a qualidade de vida do idoso, estendendo o período de vida independente em até 20 anos. Na medida em que os idosos apresentam ganho de FM, principalmente de musculatura de MMII, ocorre aumento da velocidade da marcha e, consequentemente, maior independência funcional [27]. Como comprovado pelos ganhos funcionais associados aos ganhos físicos constatados pelos dados do Projeto Vale a Pena Viver, os idosos que possuem uma maior velocidade da marcha, apresentam maior segurança para atravessarem uma rua, o que amplia a rede de convívio social e confere a responsabilidade da vida pessoal e econômica aos mesmos proporcionando uma melhor auto-estima desta população. Conclusão Um programa de exercícios físicos direcionado a idosos independentes, visa a manutenção e/ou melhora do condicionamento cardio-respiratório, além do funcionamento adequado do sistema musculoesquelético em conjunto com os demais sistemas do orga- 176 nismo. Uma vez realizada da forma correta, com supervisão adequada e respeitando os padrões de segurança e eficiência preconizados pela literatura, a atividade física será um fator determinante da melhora funcional da população idosa. Através desta revisão bibliográfica ficou demonstrado que o exercício físico, além de proporcionar o aumento do contato social, a diminuição do risco de doenças crônicas, a melhora da saúde física e mental, garante a melhora da performance funcional e, consequentemente, a maior independência, autonomia e qualidade de vida do idoso. Referências 1. Silvestre JA. O envelhecimento populacional brasileiro e o setor saúde. Arquivos de Geriatria e Gerontologia. 1996;10:81-89. 2. Ramos RL. A explosão demográfica da terceira idade no Brasil: uma questão de saúde pública. Gerontologia. 1993;1:3-8. 3. Carter N, O’Driscoll M. Life Begins at Forty! Should the route to promoting exercise in elderly people also start in their forties? Physiotherapy. 2000;2(86):85-93. 4. 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Adjunta da Universidade Católica de Petrópolis - Escola de Reabilitação, R.J ** Doutor em Medicina pela UNIFESP, Professor do PROCIHM/ UCB-RJ *** Dr. Med. Sci. Professor do PROCIHM/UCB-RJ Palavras-Chave: Lombalgia, fisioterapia, cirurgia, tratamento alternativo Resumo Através deste estudo realizamos uma revisão dos principais aspectos terapêuticos não medicamentosos da dor lombar. Assim, além do uso de medicamentos outras alternativas podem ser utilizadas não só para alivio dos sintomas álgicos na fase aguda, como também para preveni-los ou evita-los. Destacamos a crioterapia, o calor superficial, o calor profundo, a tração lombar, a manipulação na área dolorosa, os exercícios de alongamento e reforço muscular, a educação ergonômica, principalmente para trabalhadores com lombalgia. Embora a intervenção cirúrgica se faça muitas vezes necessária, a manutenção do tratamento fisioterápico é importante. Key-Words: low back pain, physiotherapy, surgery, alternative treatment Abstract Through his study we have done a review of the main low back pain therapeutic aspects without using medication. Thus, besides medication, other alternatives can be utilized not only for relieving algesia during acute phase, but also for preventing symptoms. We highlight cryotherapy, superficial heat, deep heat, low back traction, manipulation of the painful area, stretching exercises and muscular strengthening, and ergonomic education, specially for workers with low back pain. Although surgical intervention may at times be recommended, maintenance of physiotherapeutic treatment is important. Endereço para correspondência: Ave Regina de Azevedo Silva, Rua General Osório, 57 apto. 303 - Centro 25620-160 Petrópolis RJ, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 179 Lombalgia significa dor na região lombar e ciatalgia, dor irradiada para um ou ambos os membros inferiores, por comprometimento do nervo ciático. Podem ser consideradas agudas, sub-agudas ou crônicas. A prevalência atinge está em torno de 60 a 80% [1]. Em entrevista realizada em Petrópolis, com 100 pessoas idosas, entre 60 e 86 anos, de ambos os sexos, 77% referiam dor na região lombar que influenciava a execução de suas atividades diárias [2]. O alto número de indivíduos incapacitados por dor lombar e ciatalgia está relacionado com lesões discais traumáticas e degenerativas, tais como: discopatias, discos dolorosos, discartroses, hérnias discais, espondilartroses, pseudo-espondilolísteses, seqüelas cirúrgicas da coluna lombar, tumores e infecções, não se devendo esquecer da influência de fatores psíquicos, tais como depressão e ansiedade [3]. Nos Estados Unidos, calcula-se que cerca de 7 milhões de pessoas estão afastadas do trabalho, mantendo-se por benefício do estado devido à dor lombar. Os custos com estes pacientes são superiores a 56 bilhões por ano [4]. te as sessões de fisioterapia, é importante instruir os pacientes sobre as modificações dos hábitos posturais agressores da coluna e a manutenção de uma boa postura, em benefício à coluna lombar. A escola da coluna, um programa educacional e de treinamento para ensinar as pessoas a prevenir e a conviver com os problemas da coluna vertebral, iniciou-se em 1970, com o programa de treinamento desenvolvido no Hospital Dandery, na Suécia, denominado Back School e com a criação, por Hamilton Hall da Canadian Back Education Unit em 1974. Atualmente, oferece possibilidades multidisciplinares de reeducação postural, incluindo avaliação e orientação médica, nutricional, social, psicológica e diversas atividades teóricas práticas, inclusive atividades físicas [5]. Segundo a definição de David Fardon, “a escola da coluna coloca o paciente como guardião de sua própria saúde” desviando a responsabilidade do empresário, médico e terapeuta [6]. Estudo comparativo, efetivado por Kankaanpaa et al [7], conclui que o programa de tratamento ativo obteve mais êxito, reduzindo a dor e melhorando a resistência lombar, em relação ao passivo. A utilização de dispositivos de correção que aplicam compressão abdominal e lombar ajuda a manter tanto a curva lombar quanto à curva torácica em alinhamento correto. Os suspensórios farão com que a curva cervical também tente se alinhar. A redução da compressão entre as vértebras, diminuirá a probabilidade de lesões da coluna, como a hérnia de discos [8]. A termoterapia, a eletroterapia, a massoterapia, a tração lombar motorizada são empregadas a fim de reduzir as algias. Em relação ao ultra-som, deve-se ter atentar para o acoplamento escolhido e a aferição rotineira dos equipamentos, já que, conforme revisão da literatura mundial sobre o assunto, apresentaram um decréscimo de energia emitida [9]. Experiências em ratos, com ultra-som, mostraram que ocorre estímulo no crescimento de tumores, quando se usa intensidade alta contínua, e redução com intensidade menor e intermitente [10]. Os exercícios estimulam os hormônios adrenocorticotrópico (ACTH), tiroxina, beta- O tratamento da dor lombar pode ser conservador ou cirúrgico Conservador Neste caso considera-se o tratamento medicamentoso, o fisioterápico e os alternativos, como acupuntura e tai-chi-chuan. • Medicamentoso O emprego de analgésicos e antiinflamatórios pode ser efetuado por via oral, retal, endovenoso ou intramuscular. Através da anestesia paravertebral, consegue-se reduzir a sensibilidade dos componentes neurais, na região do forâmen-articular e do segmento motor lombar. Em tal região o círculo vicioso da dor, decorrente da postura inadequada e da tensão muscular, pode ser interrompido, afastando a dor crônica. • Fisioterapêutico Deve-se conduzir bem o tratamento para torná-lo adequado aos pacientes, sendo importante para isto, caracterizar o tipo de dor lombar baseando-se nos sinais e sintomas. Duran- 180 endorfinas e esteróides no controle da dor, condicionando a musculatura na obtenção de melhor estabilização da coluna vertebral. O conceito clínico do enrijecimento da coluna vertebral fornece uma base para se aplicar à manipulação nessa região [11]. Os exercícios de alongamento realizam-se de maneira estática, balística, passiva e por facilitação neuro-muscular proprioceptiva; são considerados como preferidas à estática e à facilitação neuro-muscular proprioceptiva [12]. O tempo eficaz para sustentar o alongamento estático na flexibilização dos músculos hamstring é de 30 segundos uma vez ao dia, não ocorrendo nenhum aumento quando esta duração passa para 60 segundos três vezes ao dia [13]. Nos exercícios aquáticos terapêuticos, onde há união dos exercícios aquáticos com a terapia física, cada programa é organizado levando-se em consideração os componentes específicos: aquecimento, alongamento, resistência, força muscular e relaxamento. Cholewicki; Polzhofer; Radebold [14] desenvolveram um método para se quantificar o controle da postura da região lombar na posição sentada instável. O aparelho foi equipado com suportes de perna e pé para isolar o controle da lombar e do tronco dos ajustes das articulações da parte inferior do corpo. Hemisférios de resina de poliéster com diâmetros decrescentes foram fixados, presos, amarrados à parte inferior do assento para se obter nível crescentes de dificuldade de tarefas. O assento foi colocado sobre uma placa na borda de uma mesa e os participantes foram instruídos a manter o equilíbrio enquanto permaneciam sentados. Coordenadas do centro de pressão foram registradas e quantificadas com estatística. O movimento das coordenadas do centro de pressão aumentou significativamente com o aumento da instabilidade do assento (dificuldade de tarefa). Já Harms, Innes, Bader [15], criaram um sofá específico para mobilização com a finalidade de medir e caracterizar as forças aplicadas à coluna lombar, durante a manipulação. Registraram-se forças de 164 a 168N, as menores no grupo da 3a idade em relação ao grupo mais jovem. Segundo Arakoski [16], os exercícios simples são efetivos para ativar os músculos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 paravertebrais lombares, como comprovado através da eletromiografia, sendo que os exercícios de fortalecimento da musculatura extensora utilizando os membros inferiores e mantendo-se a coluna vertebral isométrica, demonstraram atividade assimétrica dos músculos tronco, reduzindo as cargas nos ligamentos de L4-L5 [17]. A reeducação postural global trabalha as cadeias de tensão muscular, através de posturas de alongamento, em lugar de exercícios de repetição. No caso, nenhum músculo se move sozinho, trabalham globalmente, com a finalidade de ir do sintoma à causa das lesões, levando ao relaxamento das cadeias musculares encurtadas, ao desbloqueio respiratório e ao equilíbrio do tônus postural [18]. • Outros tratamentos alternativos Existem vários tratamentos para a dor lombar, advindos das mais distintas culturas. Entre eles, a acupuntura e o tai-chi-chuan. A acupuntura, com origem na antiga medicina oriental, chegou ao ocidente como um método de tratamento e/ou prevenção da dor das mais diversas etiologias. Sua aplicação é caracterizada pela inserção de pequenas agulhas sólidas e finas na pele, tecidos subcutâneo e muscular em regiões chamadas de meridianos. O ângulo e a profundidade da inserção são variáveis. O método conta várias técnicas, por exemplo a de rotação, que gira a agulha inserida, pressionando-a para baixo; e a que aplica e queima uma bola de ervas na base chamada artemísia. A medicina chinesa considera a boa saúde como um estado de equilíbrio energético dentro do corpo; acredita que a energia da vida, denominada de chi, consiste num equilíbrio harmonioso entre os opostos yin e yang. Vêse o yin como negativo, frio, escuro, passivo, fechado, feminino e sólido, enquanto o yang é positivo, quente, claro, ativo, aberto, masculino e vazio. Ambos são extremidades opostas não um ponto definitivo entre eles. Este tipo de visão pretende corrigir qualquer desequilíbrio entre essas forças [11]. O tai-chi-chuan surgido há alguns milhares de anos na China, é um conjunto de movimen- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 181 tos praticados por monges taóistas, movimentos estes, através dos quais exercitavam-se a suavidade, a flexibilidade e a atenção. Pela prática constante, os movimentos, antes tosco e quadrado, passa a se expressar de forma suave e graciosa. A respiração torna-se profunda e a base firme. Mantendo-se atento ao eixo alcança-se o centro. Da permanência no centro nasce a serenidade e, a partir da serenidade, conquista-se a meditação. Meditação e autoconsciência são alguns dos tesouros do adepto de tai-chi-chuan: tesouros a serem guardados com cuidado e carinho - guardados no sentido de cuidá-los, olhá-los, velar por eles, mantê-los, iluminá-los ou ser por eles iluminado. Os movimentos do tai-chi, sejam interiores ou exteriores passam a ser uma coisa só. Não existe mais corpo, mente, espírito, bom ou mal, branco ou preto. Não existem mais divisões, apenas um ser inteiro sem divisões harmônico e equilibrado, uma ferramenta de equilíbrio no meio da agitação interior e exterior do dia a dia. Pesquisa realizada por Lan et al [19], constata aumento na flexibilidade tóraco-lombar graças ao treinamento de tai-chi-chuan. Os exercícios e a atividade física de lazer regular, não só ocasionam um retardo no processo de envelhecimento motor, mas também contribuem para um estilo de vida mais saudável e independente, além de aumentar a capacidade funcional e a qualidade de vida da população [20]. a fim de vaporizar uma pequena porção do disco herniado, aliviando assim a pressão do nervo periférico. Através da micro discectomia videoendoscópica, utiliza-se uma câmera de vídeo, uma TV e uma microcâmera colocada no local da hérnia; tal processo permite, com precisão, identificar e retirar a hérnia discal, com mínima manipulação das estruturas ósseas e nervosas da coluna vertebral. Emprega-se a anestesia peridural, tendo o paciente uma recuperação pós- operatória mais rápida permanecendo no hospital num período entre 24 e 48 horas [21]. Investigação em biomecânica in vitro efetua múltiplos níveis de fenestrações e discectomias aplicando um sistema (Instron 1341, Instron Limited, High Wycombe, England) e o sistema tridimensional (BTS, Milano, Itália). Observa-se no resultado, instabilidade da coluna lombar na flexão, não interferindo na inclinação e rotação [22]. Na estenose ocasionada por alterações degenerativas de um único segmento vertebral, é indicada a descompressão de um nível com a laminectomia. Obtiveram-se respostas satisfatórias no estudo que analisou a efetividade da cirurgia, no ancião e no jovem [23]. Cirúrgico A cirurgia de hérnia discal lombar, pelo método da discectomia percutânea automatizada, consiste em uma abordagem percutânea objetivando uma rápida remoção do núcleo pulposo do disco lombar; apresenta alívio imediato dos sintomas causados pela hérnia, ressecando e aspirando o núcleo pulposo num único tempo. Difere da cirurgia convencional, porque não há corte, dissecção muscular, remoção óssea, manipulação nervosa ou fibrose pós-operatória. É realizada com anestesia local assistida, ambulatorial e a alta hospitalar acontece em 24 horas. A discectomia percutânea a laser é um outro procedimento ambulatorial simples, feito com anestesia local. Utiliza um Nd. YAG laser Conclusão Como podemos observar, existem diversas condutas na abordagem da lombalgia. Entretanto, o direcionamento do tratamento requer não só habilidade, mas conhecimento da etiologia para que o mesmo seja eficaz. O perfil do indivíduo com dor lombar deve ser sempre levado em consideração, já que o equilíbrio entre os fatores psíquicos, os aspectos sócio-culturais e porque não os econômicos, se traduzem pela boa resposta terapêutica. Embora a indicação do método a ser empregado dependa do profissional, os aspectos multifatoriais da lombalgia devem ser considerados. Sendo um sintoma decorrente de patologias distintas, devemos sempre procurar definir sua etiologia através de uma avaliação cuidadosa, tendo em mente um tratamento multidisciplinar. A melhora clínica vai depender do profissional que a orienta. Referências 182 1. Calvo HR. Escuela de Espalda. Mapfre Medicina 1997;8:263-268. 2. Silva ARA, Pereira JS. Caracteristicas del dolor lumbar en una poblacion de mayores. Anais do Congresso Sudamericano FIEP’99 5 ª Jornada de Educacion Fisica del Mercosur, p.63, Junio 1999. 3. Fruhwald S. et. al. Relationship between depression, anxiety and quality of life: a study of stroke patients compared to chronic low back pain and myocardial ischemia patients. Psychopathology 2001;34(1):50-56. 4. Mckenzie RA. The Lumbar Spine. 5. ed. New Zealand: Spinal, 1997. 5. Chung TM. Escola da Coluna. In: Greve JMDA & Amatuzzi MM. Medicina de Reabilitação Aplicada à Ortopedia e Traumatologia. São Paulo: Roca, 1999. 6. Helling, A. W. 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Silva*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta Mestrando em Bioengenharia EESC/FMRP/IQSC-USP/SP, Docente do Curso de Fisioterapia UNIDERP/MS; ** Fisioterapeuta Docente do Departamento de Fisioterapia - UNIBAN/ SP; *** Fisioterapeuta Especialista em Fisioterapia Desportiva - Andradina/SP Palavraschave: Fisioterapia, laser de baixa intensidade, úlcera de decúbito, úlcera infectada Resumo Objetivo: Este estudo foi conduzido com o objetivo de verificar as alterações provocadas pela irradiação laser em culturas bacterianas in vitro. Materiais e Métodos: Foram coletadas amostras provenientes de úlceras de decúbitos infectadas. O material clínico foi semeado em tubos de ensaio contendo meio de cultura líquido –TSB - e em placas de Petri com meio ágar enriquecido-TSA. Ambas as amostras foram submetidas à radiação laser com 4 joules cm². Todas as amostras foram incubadas em estufa bacteriológica. Após este período, foi realizada a contagem de bactérias em placas pelo método de diluição. Este processo foi realizado por dez dias consecutivos. Foram efetuadas duas coletas distintas de material clínico para estudo no decorrer da pesquisa. Paralelamente eram realizados esfregaços das colônias crescidas em ágar e coloridas pelo método de Gram, para identificação morfotintorial. Resultados: Ao final do Endereço para Correspondência: Prof. Paulo de Tarso C. Carvalho, Departamento de Fisioterapia UNIDERP, Av. Alexandre Herculano, 4000, Bairro Parque dos Poderes – 79037-280, Campo Grande - MS, Tel: (67) 726 3676, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 184 estudo observou-se redução média de aproximadamente 48% do crescimento bacteriano das culturas submetidas à radiação laser em relação ao grupo. Conclusão: Após os exames microbiológicos in vitro concluiuse que as amostras submetidas à radiação laser apresentaram crescimento bacteriano menor que o grupo controle. Key-words: Physiotherapy, Laser HeNe, Infected Ulcer, Decubitus Ulcer Abstract Objective: This study bacterianas In was lead with the objective to verify the alterations provoked for the laser irradiation in vitro cultures. Materials and Methods: Samples had been collected from infected decubitus ulcers. The clinical material was sown in assay tubes contends half of liquid culture - TSB - and in Petri dishes with half enriched-TSA agar. Both the samples had been submitted to the laser radiation with 4 joules/cm². All the samples had been in incubation in bacteriological environment. After this period, was realized the bacteria numeration in dishes by dilution method. This process was carried through per ten days. Has effected two distinct collections of clinical material during the study. In parallel the colonies grown in agar were scratched and tinted by the method of Gram, for identification. Results: To the end of the study average reduction of 48% of the bacterial growth of the cultures submitted to the laser radiation in relation to the group was observed approximately. Conclusion: After the microbiological examinations in vitro concluded that the samples submitted to the laser radiation had presented lesser bacterial growth that the group has controlled.. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução Úlceras de decúbito, escaras do leito, escaras por pressão e úlceras por pressão são simplesmente nomes diferentes para uma complicação clínica penetrante e persistente que afeta pessoas com mobilidade restrita. A permanência em posição deitada ou sentada por muito tempo são normalmente os fatores causais. A úlcera de decúbito é uma lesão isquêmica causada pela compressão do entrelaçamento arterial dos tecidos comprimidos entre dois planos duros, podendo estes ser uma superfície óssea e o plano do leito. Podem se desenvolver em qualquer parte do corpo que esteja irritada de modo persistente, criando condições para destruição da epiderme. Podendo ela variar de uma área de eritema até uma ulceração profunda que expões o osso ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ São causadas por uma combinação de dois fatores, os intrínsecos e os extrínsecos. Dentre os intrínsecos o mais importante é a perda da sensibilidade dolorosa que faz com que o paciente mude de posição quando a pressão sobre um ponto torna-se excessiva, já os extrínsecos o mais relevante é a pressão local que não deve ultrapassar 30 mmHg. A evolução desta úlcera se dá pela infecção bacteriana. Os tecidos necrosados se infectam obrigatoriamente por estarem num meio propicio ao crescimento e sob condições favoráveis de cultivo. As bactérias crescem e se multiplicam a cada meia hora o que permite a destruição do tecido infectado rapidamente Entre os tratamentos utilizados nas úlceras de decúbitos está em lugar destacado a laser terapia que pode auxiliar na resolução do processo inflamatório estimulando a libe- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 185 ração de substâncias pré-formadas como a histamina, serotonina e inibindo a formação de bradicinina atuando similarmente as drogas antiinflamatórias. Ao mesmo tempo atua na cicatrização através da reepitelização a partir de restos basais, melhora a tróficidade tissular a partir do estimulo da produção de ATP. Secundariamente proporciona estímulo da microcirculação através de mediadores químicos. A laserterapia seria o recurso de primeira opção vista os benefícios acima enumerados se não contasse com a contra-indicação absoluta de não poder ser realizada em processos bacterianos sem cobertura previa de terapia antibiótica. Entretanto não é raro o fisioterapeuta receber em sua clínica pacientes que poderiam ser tratados com o laser porem os mesmos não fazem ou não podem fazer uso da antibioterapia. Esta questão motivou o estudo mais aprofundado do crescimento bacteriano em úlceras após a aplicação do laser. Todas as amostras foram incubadas em estufa bacteriológica em temperatura de 37ºC por vinte e quatro horas. Após este período, foi realizada a contagem de bactérias em placas pelo método de diluição. O grupo controle também foi submetido a contagem. Este processo foi realizado por dez dias consecutivos, isto é irradiação, incubação e contagem das unidades formadoras de colônias -UFC. Foram efetuadas duas coletas distintas de material clínico para estudo no decorrer da pesquisa, sendo que, estas duas amostras passaram pelo mesmo processo descrito acima. Assim foram divididas: amostras I e amostras II. Paralelamente eram realizados esfregaços das colônias crescidas em ágar e coloridas pelo método de Gram, para identificação morfotintorial. Metodologia Para dar cumprimento ao trabalho foram selecionados paciente do Centro de Reabilitação Física Dom Bosco mantido pelas faculdades Salesianas de Lins. Para ser selecionado o paciente teve que preencher o seguinte critério: ter úlcera de decúbito nível 4 em escala de 1 à 5, devendo a mesma estar infectada após comprovação por cultura microbiológica e não estar fazendo uso de droga antibiótica. Após a seleção de pacientes que cumpriam os requisitos foram coletadas amostras provenientes de úlceras de decúbitos infectadas, com swab. Este material clínico foi semeado em tubos de ensaio contendo meio de cultura liquido - TSB - e em placas de Petri com meio ágar enriquecido - TSA. As semeaduras foram realizadas em quatro amostras, duas liquidas e duas sólidas para se fazer um estudo comparativo. Aleatoriamente foi pego um dos tubos que foi submetido a dois picos de radiação laser, sendo a forma de aplicação por pontos, enquanto que em uma das placas foi aplicado laser na forma de varredura estas amostras foram denominadas respectivamente I a e I b. Equipamento laser Foi utilizado um aparelho emissor de laser HeNe da marca KLD Biossistemas, modelo PLASMAX LHN 879, com os seguintes parâmetros: Saída de 3mW, comprimento de onda 632,8 nm, feixe de luz único de cor vermelho, emissão continua e direta. Contagem microbiológica Foi utilizado o método de diluição Pour Plates onde foi pipetado 0,1 ml da cultura de cada recipiente de meio liquido e colocado em um tubo com 0,9 ml de solução de cloreto de sódio, realizando assim a diluição em 1:10. Em seguida, foi pipetados 0,1 ml da diluição 1:10 em um tubo com 0,9 mi de cloreto de sódio realizando diluição 1:100. Continuo-se diluindo até alcançar a diluição 1:1010, método Pour Plates. Semeou-se 0,1 de cada recipiente de diferentes diluição em placas de Petri; em seguida, adicionou-se o meio de cultura liquefeito e resfriado a uma temperatura aproximada de 45º C. Do conjunto de placas incubadas, foram escolhidas as melhores dentro de uma diluição, sendo que as melhores foram entre 1:105 à 1:1010. Foi realizada a contagem de cada placa, com e sem radiação laser, tirou-se a média da colônia e multiplicou-se pelo fator de diluição. As placas de Petri foram observadas macroscopicamente, para avaliação do cresci- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 186 mento bacteriano e as colônias foram transferidas para meio de cultura liquido, incubadas e contadas. Este procedimento foi realizado diariamente durante o decorrer da pesquisa. Grupo controle As amostras bacterianas foram divididas em dois grupos: grupo 1, amostras com radiação laser, grupo 2, amostras sem radiação laser. O grupo sem radiação laser serviu de controle comparativo da evolução bacteriana. O grupo controle de amostras sem radiação laser foi submetido, diariamente, aos mesmos procedimentos microbiológicos que os realizados no grupo laser. Resultados Constatou-se, após os exames microbiológicos in vitro (tabela 1) que as amostras submetidas à radiação laser apresentava crescimento bacteriano menor que o grupo controle: Amostra grupo I Meio sólido com radiação laser 3.446 UFC; meio sólido grupo controle 5.134 UFC; meio liquido com radiação laser 3.485 UFC; meio liquido grupo controle 5.125 UFC. Perfazendo no meio sólido 49% de redução e no meio liquido 47% de redução do crescimento bacteriano (Fig.1). Amostra grupo II Meio sólido com radiação laser 3.997 UFC; meio sólido grupo controle 5.993 UFC: meio liquido com radiação laser 4.193 UFC; meio liquido controle 6.081 UFC. Perfazendo no meio sólido uma redução de 50% no crescimento bacteriano e no meio liquido 45% de redução do crescimento bacteriano (Fig. 2). Os dados apresentados neste estudo apontam para resultado satisfatório da terapia laser em úlceras de decúbito mesmo estas não estando sob cobertura antibiótica, divergindo dos resultados descritos na literatura de referencia. Tabela 1 -Dados descritivos da pesquisa Amostra UFC Meio Sólido C/Laser UFC Meio Liquido C/ Laser UFC Meio Sólido Controle UFC Meio Liquido Controle Média Redução GRUPO I GRUPO II 3.446* 3.997* 3.485* 4.193* 5.134* 5.993* 5.125* 6.081* 48% 47,5% Unidades Formadoras de Colônias 107 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 187 de bactérias principalmente logo após o termino dos 10 dias propostos para a aplicação do laser Na análise dos dados percebe-se uma diferença entre os resultados entre os meio sólido e líquido. Diferenças essas podem estar relacionadas com a absorção da energia laser por materiais muito brilhantes como o meio liquido, isto devido a reflexão da luz Quanto a bacterioscopia realizada foi detectado predomínio de Staphylococcus e bacilos Gram negativos. Discussão e Conclusões Após os exames microbiológicos in vitro conclui-se que as amostras submetidas à radiação laser apresentaram crescimento bacteriano menor que o grupo controle. Isto foi observado diariamente tanto na avaliação macroscópica quanto na contagem de bactérias por método de diluição. Ao final dos estudos constatou-se redução média de aproximadamente 48% do crescimento bacteriano das culturas submetidas à radiação laser em relação ao grupo controle que mostrou crescimento e números de bactérias mais abundantes. Referências Entretanto deve-se ressaltar que o estudo realizado in vitro pode apresentar resultados diferentes dos estudos in vivo pois neste ultimo existe uma serie de fatores a serem considerados tais como: resposta imunológica do hospedeiro, barreiras, entre outras. Também se percebeu que alterações na dosimetria e tempo de exposição alteram o resultado levando a um crescimento acentuado das colônias 1. Baxter GD, Bell A J, Allen JM et al. Low level laser therapy. Current clinical practice in Northern Ireland. Physiotherapy 1991;77:171-178. 2. Dyson M, Young S. The effect of laser therapy on wound contraction. International. Congress Laser Medicine Surgery 1985: 215-219. 3. Dyson M, Young S. The effect of laser therapy on wound contraction and cellularity in mice. Lasers in Medical Science 1986;1:125-130. 4. Enwemeka CS. Laser biostimulation of healing wounds: Specific effects and mechanisms of action. Journal of Orthopaedic & Sports Physical Therapy. 1988;9(10):333-338. 5. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 189 Artigo original Estudo do equilíbrio em idosos através da fotogrametria computadorizada Elderly subjects equilibrium study through computerized photogrametry Suzi Miziara Barbosa*, Juliano Arakaki**, Marilete Fernanda da Silva*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ * Fisioterapeuta, Mestranda em Traumato-Ortopedia UNIT/MG, Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal-MS ** Fisioterapeuta, Professor do Curso de Fisioterapia da UNIDERP-MS *** Acadêmica de Iniciação Científica do Curso de Fisioterapia da UNIDERP-MS Palavras-chave: Idosos, oscilação, fotogrametria computadorizada Resumo O processo do envelhecimento é decorrente de uma série de alterações no ser humano, englobando aspectos biológicos e patológicos que levam eventualmente a perda de autonomia e da independência. A queda é considerada como um dos principais problemas do esqueleto do idoso, sendo um importante fator de mudança em virtude das restrições decorrentes e problemas a esta associados. A identificação do idoso com tendência a queda é um fator fundamental no processo preventivo ante a ocorrência do fato. Este estudo teve por objetivo verificar a correlação entre as oscilações do corpo no plano frontal com a presença ou não de quedas. Participaram deste estudo quarenta mulheres na faixa etária de 65 a 84 anos (72,5 ± 5,3) sem histórico clínico de patologias neurológicas, utilização de órteses ou implantes metálicos em membros inferiores. Foi aplicado o Teste de Romberg adaptado, estando o voluntário com os pés descalços, permanecendo nesta posição durante dois minutos. O instrumento utilizado foi a fotogrametria computadorizada, sendo a recolha das imagens do movimento do corpo no plano frontal realizada por uma câmera filmadora. A quantificação das imagens e cálculo angular foi executada pelo software ALCimage® versão 2000. No delineamento estatís- Endereço para correspondência: Profª Suzi Rosa Miziara Barbosa, Departamento de Fisioterapia, UNIDERP, Av. Alexandre Herculano 4000, Parque dos Poderes, 79037-280, Campo Grande – MS, Tel: (67) 326 3676, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 190 tico foram consideradas as variáveis: idade (I); atividade física (AF); índice de massa corpórea (IMC); uso de medicamentos (M) e graus de oscilação corporal (Aº). A interação entre essas variáveis foi detalhada para verificar a interferência destas em presença ou não quedas. Verificou-se não existir associação estatística em relação a AF (p = 0,884); IMC (p < 0,721) e associação estatística em relação a I (p = 0,003); M (p = 0,017 ) e Aº (p < 0,001). Este estudo piloto nos sinaliza a possibilidade de correlacionar quedas com o grau de oscilação do corpo no plano frontal. Entretanto, estudos futuros são necessários para quantificar as oscilações em outros planos do corpo. Key-words: Elderly subjects, oscillation, computerized photogrametry Abstract Biological and pathological changes in the human being which take to the loss of autonomy and of the independence is the ageing process. To fall down is a main problem for the senior’s skeleton. It is due to the changes caused by the current restrictions and problems to these associated. To be able to identify the senior’s with tendency to fall down is a fundamental factor in the preventive process. This study had for objective to verify the correlation among the oscillations of the body in the front plan with the presence or not of falls. Participated of this study forty women in the age group of 65 to 94 years (72,5 ± 5,3) without clinical history of neurological pathologies, use or metallic implant in inferior members. The Test of Romberg was applied, being the volunteer barefoot still for two minutes. The computerized photogrametry was the used instrument. The images of the movement of the body in the front plan accomplished by a webcam. The software ALCimage version 2000 executed the quantification of the images and angle calculation. To the statistical details the variables were considered: age (I); physical activity (AF); index of mass corporeal (IMC); use of medications (M) and degrees of corporal oscillation (Aº). The interaction among those was verified to measure the interference of these in presence or not of falls. Verified not exist statistical association in relation to AF (p=0,884), IMC (p < 0,721) and to exist statistical association in relation to I (p=0,003); M (p=0,017) and Aº (p<0,001). This pilot study signalises to the possibility to correlate falls with the degree of oscillation of the body in the front plan. However, further studies are necessary to quantify the oscillation in another plans of the body. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 191 Introdução O envelhecimento populacional tem sido a mais importante mudança demográfica observada na maioria dos países do mundo [1]. Segundo a World Heath Statistics Annuals, até o ano 2025, o Brasil ocupará o sexto lugar em número de gerontes, traduzindo-se numa população de trinta e dois milhões acima dos sessenta e cinco anos. O envelhecimento é um fenômeno natural, sendo o processo de envelhecimento definido como um sistema integrado envolvendo fatores biológicos que se somam aos ambientais e aos psicológicos [2]. O início do envelhecimento é difícil de ser precisado, pois não se conhece plenamente os mecanismos moleculares atuantes, entretanto, autores afirmam tratar-se de um fenômeno fisiológico progressivo, afetando os vários sistemas e órgãos do corpo, com velocidades diferentes, variando de indivíduo para indivíduo, dependendo de alguns fatores como hábito de vida e herança genética entre outros [2,3]. Neste processo, ao se analisar as habilidades de integração sensorial em idade avançada, constata-se uma deterioração ou falência dos mecanismos de equilíbrio decorrentes de redução e/ou conflito de informações sensoriais associadas a patologias, ao envelhecimento normal ou ambos. Essas alterações interferem diretamente no controle dos movimentos, que responderão de maneira lenta e inadequada provocando desequilíbrios e aumento da freqüência de quedas em idosos. A obtenção da medida da eficiência mecânica do sentido cinestésico, bem como do equilíbrio muscular e da coordenação neuro-muscular do corpo são imprescindíveis na detecção dessas alterações para que sejam evitadas ante a ocorrência do evento. A queda é definida como um evento não esperado, no qual a pessoa cai ao chão de um mesmo nível ou de um nível superior [4]. É decorrente da perda total do equilíbrio postural, relacionando-se a insuficiência dos mecanismos neurais e osteo-articulares envolvidos na manutenção da postura. Tem sido considerado um dos principais problemas do idoso, devido ao fato de ser um importante fator de mudança da qualidade de vida dos idosos [5,8] promovendo dependência funcio- nal, institucionalização precoce que geram altos custos sociais e aumento nos índices de morbidade e mortalidade [4,9,10]. Sua prevalência é no sexo feminino [4,5,6,8,9,12], sendo constatado que a incidência de queda aumenta [8-10] exponencialmente com o avanço da idade e relacionando-se diretamente ao número de patologias apresentadas. Os fatores relacionados às quedas são múltiplos e complexos [4,5], sendo classificados em intrínsecos ou patológicos relacionados às condições físicas do indivíduo associados às modificações sofridas nos vários sistemas do corpo, e em extrínsecos ou ambientais sendo estes responsáveis por 44% das quedas registradas [4,5,11]. A natureza multifatorial [5,9,10] do problema, (saúde precária; medicação com redução da eficiência das funções; alterações nos sistemas neurológico, sensorial e musculo-esquelético, redução da densidade dos ossos), sinalizam a dificuldade na identificação das causas e de pessoas com tendência a queda, ante a ocorrência do fato. Estas são classificadas em leves, moderadas e graves, sendo os fatores limitantes divididos em físicos, sociais, econômicos e psicológicos [2,8], restringindo o indivíduo nas atividades da vida diária e alterando sua qualidade de vida. A redução do número de quedas entre os idosos pode ser conseguida com programas preventivos multifatoriais que incluem desde visitas periódicas ao médico objetivando identificação dos fatores de risco para as quedas (hipotensão postural, acuidade visual, marcha, cognição, estado emocional, medicação utilizada, ambiente e exercícios físicos) [8], até mensurações das oscilações posturais sofridas pelo corpo, podendo estas ser realizadas por métodos qualitativos ou quantitativos [11]. As análises qualitativas simples incluem a Avaliação de Tinnetti [12]; Berg Balance Scale [13,14,17], Timed Get Up & Go Test [1517], Romberg [18,19], The 6-minute Walk Test [20], entre outros. Apesar dos referidos testes possuírem seu grau de efetividade, análises quantitativas sofisticadas, que utilizam sistemas computadorizados de rastreamento automático do movimento, plataformas de força associadas a computadores [7,10,21-24], registro de imagens por meio de vídeo ou filmes [18,19,25-28], tendem a apresentar maior 192 confiabilidade, devido ser possível comparar e repetir as avaliações quantas vezes se fizer necessário, captando dados extremamente precisos e impossíveis de serem percebidos ou registrados de outra forma. Assim, a questão é quantificar as oscilações sofridas pelo corpo no plano frontal através da fotogrametria computadorizada e verificar se existe correlação entre o grau das oscilações corporais com a presença ou não de quedas. Material e métodos Participaram deste estudo quarenta voluntárias, residentes na cidade de Campo Grande/MS, não institucionalizadas, com idade variando de 65 a 84 anos, todas destras. As voluntárias foram avaliadas pelo examinador a fim de confirmar a ausência de patologias neurológicas, astasias, implantes metálicos em membros inferiores ou uso de órteses para locomoção. Foram selecionadas as que não apresentavam as características referidas anteriormente, devido esses fatores interferirem diretamente no equilíbrio tanto estático quanto dinâmico. Todas as voluntárias assinaram o Termo de Consentimento para participação nesse estudo. Fig.1. Exportação das imagens armazenadas em fitas de vídeo cassete para o computador equipado com placa de aquisição de imagem. PC com placa de aquisição de imagem Fonte: Ferreira [25]. Os voluntários foram submetidos a anamnese, onde foram colhidos dados sobre peso, altura, IMC, atividades da vida diária, uso ou não de medicação diária, presença ou não de quedas e execução de atividades físicas semanais. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 Tabela 1. Dados antropométricos das voluntárias estudadas Idade (anos) Peso (kg) Altura (m) IMC (kg/m2) 72,5 ± 5,3 59,4 ±8,3 1,51 ± 0,05 25,9 ± 3,2 Instrumentação Para a recolha das imagens das oscilações do corpo no plano frontal, foi utilizada uma câmera filmadora – marca Gradiente GCP - 195 fixada sobre um tripé marca Vanguard PT – 11168, permanecendo a 1,65 cm de altura do chão sendo a mesma posicionada à frente do voluntário a 1,0 m de distância. Posteriormente ao voluntário fixado um fio de prumo pendendo do teto e posterior à este um quadro posturométrico (fixado na parede) que serviram como parâmetros para a quantificação do afastamento do corpo da linha média. Foi utilizado um capacete de PVC, acoplado a cabeça do voluntário, pesando 12 g, com um antena anterior, servindo esta como marco referencial quando da recolha das imagens. A seleção das imagens necessárias ao cálculo angular foi realizada utilizando-se um videocassete JVC acoplado a um computador equipado com uma placa de imagem LGV – 5446 TV (LG International Corp), esquematizado na figura 1. O cálculo angular das imagens procedeu-se com a utilização do software ALCimage® versão 2000. Procedimento experimental O posicionamento da câmera e altura do tripé foram conferidas diariamente. As voluntárias foram posicionadas 20 cm à frente do fio de prumo em posição ortoestática, descalços, com distância entre os pés de 4cm [24], sendo acoplado à cabeça da voluntária um capacete com antena anterior alinhado com a labela. Foi marcado no fio de prumo um ponto na altura da ponta da antena e outro 10 cm acima. As voluntárias foram então instruídas a permanecerem em posição orto-estática, e com os olhos fechados durante dois minutos, sendo este registrado por cronômetro. As imagens foram registradas e armazenadas em fitas de vídeo cassete de 8mm, sendo a seguir exportadas através de um vídeo cassete para a tela do computador equipado com uma pla- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 193 ca de imagens, que possibilitaram a seleção da maior oscilação do corpo para posterior fotointerpretação angular. As imagens selecionadas foram gravadas em discos flexíveis como arquivos de “bitmap” (*.bmp). O processo de fotointerpretação angular das imagens foi executado pelo programa ALCimage® versão 2000, tendo o mesmo por base operacional o cálculo de um ângulo, selecionado a partir da marcação de três pontos seqüências. O resultado obtido apresenta precisão de três casas decimais. quadrado para verificar a existência de associação entre duas variáveis. Considerou-se que duas variáveis estavam associadas quando a probabilidade de significância (valor p) foi inferior ao nível de significância de 5%. O coeficiente de correlação linear de Pearson foi aplicado para verificar a correlação entre o número de quedas e graus de oscilação. Fig. 2. Representação esquemática da metodologia utilizada no estudo – aquisição dos dados cinemáticos. Resultados Tabela 2. Resultado da distribuição da freqüência e percentual do número de quedas em função das variáveis Variáveis Idade Índice de massa corpórea Atividade física Medicamentos Graus de oscilação Quedas Análise estatística p = 0,003 p < 0,721 p = 0,084 p = 0,017 p < 0.001 S NS NS S S NS: não significativo S: significativo. Comparando-se o grau de oscilação em função do número de queda, observa-se uma correlação linear positiva, onde constata-se um aumento do ângulo (graus) à medida em que constata-se aumento do número de quedas. O coeficiente linear de Pearson calculado para estas duas variáveis foi ρ = 0,96. Método estatístico Foram utilizadas na amostra quarenta indivíduos do sexo feminino, sendo consideradas as variáveis idade (I); atividade física (AF); índice de massa corpórea (IMC); uso de medicamentos (M) e graus de oscilação corporal (Aº). A interação entre essas variáveis foi detalhada para verificar a interferência destas em presença ou não quedas, sendo utilizado o teste do qui- Discussão Este estudo teve por finalidade mensurar o limite de estabilidade das oscilações corporais no plano frontal, objetivando sua correlação com quedas, de uma população idosa do sexo feminino, em ortostatismo durante dois Fig. 3. Gráfico do ângulo (em graus) em função do número de quedas. 194 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 minutos, utilizando-se como instrumento a fotogrametria computadorizada. Devido às investigações nessa área utilizarem tradicionalmente plataformas de força [15,21,24,31] ou sistemas de rastreamento automático, a discussão a seguir baseou-se nos resultados obtidos pela análise estatística e em protocolos apenas parecidos com os nossos. sica para melhorar a força muscular [29-32], atuando na prevenção de quedas. Contrariamente a maioria dos resultados observados na literatura, nosso estudo não detectou associação estatística entre atividade física e quedas, sendo o percentual de mulheres que não praticavam atividade física 58,8% contra 56,5% para as que praticavam. Idade relacionada com número de quedas Neste estudo os resultados obtidos a partir da observação das variáveis idade e quedas, demonstraram que das mulheres pertencentes à faixa etária de 65 a 70 anos, 16,7% relataram quedas; na faixa etária entre 70 e 75 anos, 76,9% relatam quedas e mulheres com idade igual ou superior a 75 anos o percentual de queda foi de 73,3%, indicando um aumento exponencialmente de quedas com o avanço da idade. Resultados semelhantes foram relatados em vários estudos que utilizavam como instrumento para a análise quantitativa plataformas de força [7,10,21,24,31], dinamômetros de mão [16]. Uso de medicamentos e quedas Outro fator que contribui para a ocorrência de quedas sendo relatado em vários estudos [4,8,12,24] é a correlação existente entre ao ingestão de medicamentos e a ocorrência do evento. Este fato foi confirmado nesse estudo que constatou que 72,0% das mulheres que sofreram quedas relataram o uso de medicamentos. O motivo pelo qual certos medicamentos levam às quedas nem sempre é bem esclarecido [4]. Entretanto sabe-se o uso de quatro ou mais drogas associadas, leva a um maior risco de quedas em idosos [24] e que muitas dessas medicações possuem propriedades específicas [12] podendo levar a confusão, sedação, hipocalcemia, deficiência de acetilcolina entre outras, sendo estes fatores determinantes no evento. Essas afirmações discordam das descritas por Graafmans et al. [5], quando estes relatam que o uso de medicação não revelou uma correlação estaticamente significante com quedas ou com a recorrência destas. Índice de massa corpórea e quedas Esse aspecto não foi relatado pelos diferentes autores que descrevem sobre os fatores relacionados à queda. Nesse estudo, apesar da investigação realizada, não foi verificada uma associação estatisticamente significante entre essas duas variáveis, apesar do pressuposto do estado nutricional ser um fator causador do evento queda. Sendo assim, os dados colhidos foram insuficientes para serem discutidos, necessitando-se maiores investigações a respeito. Atividade física e quedas Ao revisarmos sobre esse aspecto na literatura, nos deparamos com diversas opiniões relatadas pelos autores. Estas, variaram desde afirmações sobre a obscuridade [33] de uma provável relação direta entre o estado funcional do indivíduo e seu risco de quedas [4], passando a exposição de situações que estimulavam o idoso na realização de exercícios que poderiam levar idosos a sofrer quedas, também a análise do sedentarismo do idoso tornando-o fragilizado e inseguro, favorecendo quedas [12], até os benefícios da atividade fí- Oscilações corporais (Aº) e número de quedas Mensurações de equilíbrio realizadas por plataformas de força, relacionadas com limites de estabilidade são realizadas através da distância máxima que um indivíduo pode inclinar-se sem perder o equilíbrio. Sob esse prisma estudos confirmam [18,19,31] alterações nos graus de oscilações corporais em função de diferentes patologias apresentadas. Em conformidade com os estudos acima, o resultado desse estudo foi a detecção de uma correlação linear positiva ao analisarmos os graus de oscilação e o número de quedas, onde verifica-se um aumento do ângulo à medida em que aumenta o número de quedas. Limitações do estudo Apesar do questionário aplicado conter Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 195 itens relacionados à ingestão de medicamentos, desenvolvimento de atividades da vida diária e físicas, doenças conjuntas, número de quedas, insegurança no pós-queda, constatamos a dificuldade na coleta das respostas devido notadamente a omissão destas, principalmente quanto ao aspecto queda e a quantificação destas por parte das voluntárias. Essas mesmas colocações são relatadas por diversos autores [8,15]. by logistic regression modeling of the variables which increase the relative risk of elderly women falling compared to elderly men. Journal of Clinical Epidemilogy 1990;43(12):1415-1420. 7. Lichtenstein MJ, Shields S et at. Clinical determinants of Biomechanics Platform Measures of Balance in Aged Women. Journal of the American Geriatrics Society 1988;36:996-1002. 8. Rodrigues RAP, Casagrande LRD. As idosas e as situações que as levaram a sofrer quedas. Gerontologia 1996;4(1):07-13. 9. Lord SR, Ward JA et al. Physiological factors associated with falls in older community-dwelling women Journal of the American Geriatrics Society 1994;42:11101117. 10. Baloh RW, Corona S et al. A prospective study of posturography in normal older people. Journal of the American Geriatrics Society 1998;46: 438-443. 11. Means KM. The obstacle course: a tool for the assessment of functional balance and mobility in the elderly. 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Can the control of bodily orientation be significantly improved in a Conclusão Os resultados deste estudo piloto nessas condições experimentais, nos indicam a possibilidade de quantificar em graus através da fotogrametria computadorizada, as oscilações do corpo no plano frontal, sendo dessa forma possível correlacionar o grau de oscilação corporal no plano frontal em presença ou não de quedas. Das cinco variáveis analisadas somente duas delas (AF,IMC), não tiveram correlação estatisticamente significante.O trabalho sugere ainda ser a fotogrametria computadorizada um recurso eficaz na análise quantitativa das oscilações corporais. Dessa forma poderá contribuir nos processos de detecção com posterior intervenção para prevenir ou diminuir a incidência de quedas em idosos. Porém consideramos essencial a realização de novos trabalhos com um amostragem maior e ainda a observação das oscilações em outros planos do corpo. Referências 1. Uchôa E, Costa MFL. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 197 Normas para publicação A revista Fisioterapia Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Fisioterapia. Os artigos publicados em Fisioterapia Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Fisioterapia Brasil assume o “estilo Vancouver” (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): 309-315) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/e-mail) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo (tamanho) 12 com a fonte English Times (Times Roman) com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais Serão considerados para publicação, aqueles não publicados anteriormente, tampouco remetidos a outras publicações, que versem sobre investigação, clínica, diagnóstico, terapêutica e tratamento dentro das áreas definidas anteriormente. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, originalidade, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão Serão os trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Fisioterapia, ao encargo do Comitê Científico, bem como remetida espontaneamente pelo autor, cujo interesse e atualidade interessem a publicação na revista. Quanto aos limites do trabalho, aconselhase o mesmo dos artigos originais. 4. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 198 na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato .tif ou .gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 5. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 6. Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word, Wordperfect, etc), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto a mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica – 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. 1.4 As seções dos os artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou e-mail. Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CDROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português e inglês. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, Telefone e E-mail. - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamen- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 199 te na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise) - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos) - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave (ou unitermos) para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista de cabeçalhos de matérias médicas (Medical Subject Headings – MeSH do Index Medicus ou, no caso de termos recentes que não figurem no MeSH, os termos atuais). 5. Referências As referências bibliográficas devem ser numeradas e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Exemplo: 1. Phillips SJ, Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven press; 1995. p.465-78. Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Zavala AV, Braver D. Semiologia do Pé – Prevenção e tratamento do pé diabético. Diabetes Clínica 2000; 4:137-144. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: Jean-Louis Peytavin Atlantica Editora Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ tel: (21) 2244 6471 E-mail: [email protected] 200 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 3 - Maio / Junho 2001 Calendário de eventos Agosto Io Congresso de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do Crefito -5 Crefito-5 Saúde e Envolvimento Comunitário 17 e 18 de agosto www.crefito5.com.br Setembro 1st International Conference on Movement Dysfunction – Integrating Approaches 21-23 de setembro Shirley McGill, Conference Organiser Kinetic Control, Mede House Salisbury Street, Southampton, Hants SO15 2TZ UK Tel: +44 (0) 8451 300 808 Fax: +44 (0) 2380 248 533 Email: [email protected] Site: www.kineticcontrol.com IIo Jornada Brasileira de FFisioterapia isioterapia R espiratória em PPediatria ediatria Respiratória 28-29 de setembro Costão do Santinho Resort, Florianópolis - SC Informações: Sul 21 – Eventos e Produções, rua Bento Gonçalves, 183/104, 88010-080, Florianópolis – SC Tel: (48) 2253778, fax (48) 225-3775 E-mail [email protected]. Outubro XV Congresso Brasileiro de FFisioterapia isioterapia I Congresso Brasileiro do Século XXI VIII Congresso PPaulista aulista de FFisioterapia isioterapia IX Expofísio Brasil 2001 10 à 14 de outubro Pq. Anhembi - São Paulo - SP Secretaria: R. Carneiro da Cunha, 354 Informações: (11) 5584-8969 ou 5071-0011 1º Encontro de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do CREFIT O-5 CREFITO 5-6 de outubro Porto Alegre – RS Informações: (51) 3334-6586 Novembro Io Congresso brasileiro de TTerapias erapias manuais Io Congresso brasileiro online 7-10 de novembro Fortaleza, Ceará Informações: www.terapiamanual.fst.br Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 201 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº4, jul/ago 2001 - 201~268) EDITORIAL Tratar e prevenir a dor nas costas: será possível?, Marco Antonio Guimarães da Silva ......... 203 FORMAÇÃO PROFISSIONAL .......................................................................................................... 205 A FISIOTERAPIA NA IMPRENSA .................................................................................................. 209 Fisioterapia prática RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ......................................................................... 213 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Laser de baixa intensidade: princípios e generalidades - Parte 1 Maria Cristina Sandoval Ortiz, Patricia Michelassi Carrinho, Alexandre A. Stuart dos Santos, Raquel Calvo Gonçalves, Nivaldo Antonio Parizotto ................................................ 221 Os efeitos do laser de baixa intensidade em feridas cutâneas induzidas em ratos com diabetes mellitus experimental, Paulo de Tarso Camillo de Carvalho, Nilton Mazzer, Adalberto Vieira Corazza, Rene Mariano Raduam ............................................. 241 Fisioterapia em grupo utilizando técnicas de relaxamento: influência no grau de independência funcional de pacientes com seqüelas de acidente vascular cerebral, Sara Cristina Freitas de Oliveira, Jandira Railson Meira, Neide Maria Gomes Lucena ................. 247 Ginástica Laborativa Abordagem cinesiológica e aspectos clínicos no movimento de ataque na prática do voleibol, André Faria Russo, Demóstenes Moreira, Sérgio Tadeu Bandeira, Marcelino Vizeu Calvo ............................................................................. 253 Caso clínico: Estudo sobre o pé eqüino, Mariana Huet de Salvo Souza .................................... 259 EVENTOS ............................................................................................................................................. 268 Prezado assinante, você esta recebendo junto com esta edição o CD-Rom: Abordagem Global das Patologias Fêmoro-Patelares de autoria do dr. José Roberto Prado Jr. ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 202 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília) Grupo de assessores (2000-2001) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Pernambuco) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Mato Grosso) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Rio Grande do Sul) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Profa. Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG – RJ) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 – Minas Gerais) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Bahia) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 – São Paulo) Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 2244-6471 / 2285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2244-6471 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: Jesus Santos, Turistas, 1993, liquitex sobre tela, 0,80x0,80m, São Luís, MA I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 203 Editorial Tratar e prevenir a dor nas costas: será possível? ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marco Antonio Guimarães da Silva O primeiro registro de algia vertebral (AV) na historia, relatado pelo Dr. Inhotep, ocorreu em um trabalhador que construía uma pirâmide em Sakara, no antigo Egito, em 2748 AC (Hagberg, 1993). Desde então, as AV integram-se, ao longo dos séculos, à historia da Medicina através de inúmeras contribuições literárias e científicas: Hipócrates (460-377, AC), Galenus (130-200), Vesalius (1555), Cotugno (1764), Valleix (1847), Lasegue (1864), Bernhardt (1895), Lindsetd (1920), Lortat, Jacob y Sobareanu (1904), Petrén (1908), Dejerine (1914), Sicard (1918), Heuman (1920), Danforth y Wilson (1925), Putti (1927), Ghormley (1933), Pette y Becker (1938). Atualmente, as algias vertebrais podem ser consideradas como um desastre médico, pois assumiram um perfil de distribuição verdadeiramente epidêmico e, a despeito de sua antiguidade, ainda são, sob ponto de vista etiológico, um grande mistério. Os nossos conhecimentos atuais na área de anatomo-fisiologia nos permitem observar que a série de vértebras dos discos intervertebrais, dos músculos e dos tendões, dos ligamentos, dos vasos e dos vários tipos de nervos, acabam por formar o conjunto de estruturas que compõem as nossas costas. Todas estas estruturas suportam o nosso peso, protegem o nosso sistema nervoso e nos permitem, ainda, conviver, paradoxalmente, com um sistema biomecânico que evita a telescopagem e nos possibilita uma locomoção eficiente. Nobre e importante função desempenham as nossas costas, ao nos oferecer tantas coisas, desde que, segundo a teoria evolucionista, adotamos a postura bípede. Mas e nós, o que fazemos por elas? As preservamos de cargas compressivas intra discais que, via de regra, extrapolam os limites máximos permitidos? Adotamos hábitos posturais que permitem o equilíbrio entre os segmentos corporais e solicitam harmonicamente o sistema músculo articular? Trabalhamos em um local que nos poupe das *Coordenador científico de Fisioterapia Brasil 204 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 agressões ambientais? Controlamos nossas emoções e sentimentos o suficiente para não somatizarmos em nossas costas quaisquer evidências de nossos transtornos psicológicos? Conseguimos viver, sem aborrecimentos, em uma sociedade que longe de ser justa e igualitária, ainda permite que os cinismos e as hipocrisias se associem a providenciais omissões para indultar gente mais esperta e sabida do que nós? Ao prefaciar o livro “The Back pain revolution”, de Gordon Waddell, (Churchill Livinstone ed., 1998), Red Phillips parece definir muito claramente o que realmente temos feito pelas nossas costas, quando afirma: “We have stretched our backs. We have twisted and curled our backs. We have cooked our backs. We have frozen our backs. We have stimuled our backs with electric currents of various sorts, and with ultrasound waves, infrared waves, magnetic waves and X-rays waves. We have rubbed our backs with liniments, spirits, gels, perfumes and poultices”. Na verdade, somos obrigados a tratar o sintoma e não a doença. È bem possível que neste novo século os avanços na área da psico-neuroendocrinologia, da fisiologia e genética da dor, possam finalmente descobrir o que realmente causa a dor nas costas. Até lá, devemos aceitar o desafio de combater e prevenir esse velho mal que, como o vampiro do romance de Bran Stoker, resiste a todos os ataques e insiste em ser imortal. A diferença entre os casos de mortos retornando para aterrorizar, atacar e matar durante a noite, tão bem descritos no século XII pelo historiador inglês William de Newburgh, e a dor nas costas está no fato de que esta não seleciona como vítima apenas lindas jovens e tampouco restringe seus ataques a períodos noturnos. Ainda no campo das analogias, podemos afirmar, na atualidade, que, se o relacionamento entre vampiro e vítima estava cheio de conotações psico-sexuais, a relação dor nas costas/ paciente interage sob ação de fortes componentes psico-sociogênicos. Não há, portanto, como negligenciar, seja qual for a nossa conduta terapêutica para a dor nas costas, o modelo proposto por Waddel (1992), que considera o paciente como resultado de uma série de conjunções fortemente influenciadas pelo seu entorno social, cultural e psicológico. De qualquer forma, ainda que essa dor nas costas possa, às vezes, ser minimizada por condutas médicas ou atenuada por protocolos fisioterapêuticos, o seu equacionamento total ainda está longe de tornar-se uma realidade, enquanto a sua verdadeira etiologia permanecer desconhecida. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 205 Formação profissional ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ João Marinonio Aveiro Carneiro* * Mestre, Doutor e Livre-Docente, UFRJ; Ph.D em Religious Studies, FICU, Mercedes, Cal., USA; Mestre em Educação, UFRJ; Mestre em Filosofia, UGF;Mestre em Teologia, EPOE. Terapeuta Ocupacional, FRASCE; Fisioterapeuta, CEUAM; Psicólogo, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, UFRJ. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Centro de recuperação biopsicossocial: Uma nomenclatura contemporânea No momento em que nos aproximamos do limiar de um próximo milênio e centrado nos ganhos obtidos pela Fisioterapia e pela Terapia Ocupacional, quer no campo internacional como, principalmente no nacional, a Fisioterapia, como ciência aplicada, voltada aos estudos sobre o movimento humano em todas as suas formas de expressão e potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, com o objetivo de preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgãos, sistema ou função e a Terapia Ocupacional enquanto ciência aplicada tem como objeto de estudos a cinética do homem e sua relação com as atividades ocupacionais, em todas as suas formas de expressão, quer nos seus desvios patológicos, quer nas suas repercussões psíquicas e orgânicas, tendo como meta restaurar a capacidade físico-mental do indivíduo. Ocorre que ainda acorrentados a um processo histórico que não tem mais repercussão social, insistem uns desavisados, a utilizar terminologia ultrapassada e que se perpetua como uma distorção, ao utilizarem-se do termo Reabilitação como algo próprio da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional. Reabilitação não é área de conhecimento próprio da Terapia Ocupacional, mormente da Fisioterapia, vez que conforme acórdãos de tribunais superiores e em Parecer da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, no PL 1053-A, de 1991 ,que se pretendia criar o exercício da profissão do Técnico em Reabilitação Física de Nível Médio, o relator do referido PL, Deputado Sergio Cury, RJ, nos brindou, um parecer em que nos diz: “ A Reabilitação não se caracteriza como uma área profissional específica inserta no campo da Saúde, com são: A medicina, a psicologia, a fisioterapia, a terapia ocupacional, a enfermagem, a odontologia, etc, não cabendo portanto em regulamentação própria. A Reabilitação é pois um conjunto de ações terapêuticas, cobrando, quando necessário, a interferência de Médicos, Fisioterapeutas, Psicólogos, Terapeutas Ocupacionais, Odontólogos, 206 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Nutricionistas, Fonoaudiólogos, Assistentes Sociais, Enfermeiros, Farmacêuticos, Biólogos, etc... É de fácil percepção que a Reabilitação não pode ser entendida como campo de atuação ocupacional especial, com metodologia e técnicas próprias que necessitem de regulamentação e controle, fazendo parte da Saúde em geral, prescindindo destarte, de atividade específica. Ademais, as profissões envolvidas na Reabilitação, devido a complexidade técnica de que se revestem, não podem ser acometidas a profissional de nível médio.” (in verbis) Tal parecer foi acolhido pela referida comissão que rejeitou o PL em questão tendo sido arquivado em razão de sua “inoportunidade e inconveniência” (in verbis). Assim sendo fica bastante claro que Reabilitação não é área do conhecimento nem atividade própria de um profissional, mas que, na verdade, trata-se de um processo multiprofissional, em que participam o assistente social, o cirurgião-dentista, o enfermeiro, o fisioterapeuta, o fonoaudiólogo, o médico, o pedagogo voltado à educação especial, o psicólogo dentre outros profissionais. De outro lado a Constituição Federal de 1988, no capitulo da saúde, art 196, fala-nos em promoção, proteção e recuperação, não aparecendo a referida expressão em nenhum de seus artigos. Para reforçar tal posicionamento temos que a Lei 8.080 , de 19/09/90, em sua ementa , “dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, e dá outras providências” (grifamos). Desta maneira Reabilitação nada acresce à Terapia Ocupacional ou a Fisioterapia, por ser uma ação indefinida, (grifamos); Mas as distorções não param aí. Alguns ainda persistem em denominar de Centro ou Serviço de Medicina Física e Reabilitação desconhecendo que tal terminologia, foi em muito boa hora, extinta quando a Portaria SAS/ MS nº 42, de 17 de março de 1994, publicada no D.O .U. nº 54 de 21/03/94, foi retificada pela Portaria nº 81, de 02/05/94, publicada no D.O.U. nº 81 de 02/05/94, Sec. I, p. 6479, em que no item B NORMAS ESPECÍFICAS nº 10; onde se lê, na letra f, a expressão “ Medicina Física e Reabilitação” , letra f, que nos aponta “leia-se f) Fisioterapia” (grifamos). Cumprindo as determinações legais e fazendo eco as nossas indicações o Hospital de Guarnição da Vila Militar, no Rio de Janeiro, adotou a nomenclatura de Centro Integrado de Recuperação Biopsicosocial (CIRB) (Revista do COFFITO, 2001; 11, p. 5) Desta maneira concitamos aos senhores Fisioterapeutas e Terapeutas Ocupacionais que esposem da sugestão aqui apresentada e que se informem de que caso estejam exercendo suas profissões nos chamados Centros de Medicina e Reabilitação passem a ter conhecimento de que estão participando de uma distorção perniciosa e deletéria às próprias profissões. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 207 As diretrizes curriculares e a revisão da nomenclatura das disciplinas A Fisioterapia e a Terapia Ocupacional, em nosso país, ocorrem de maneira formal, a partir da criação de seu primeiro curso superior, ou seja, a partir da existência do Curso de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional, na Escola de Reabilitação do Rio de Janeiro – ERRJ, mantida pela Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação – ABBR. A ABBR foi fundada em 05 de agosto de 1954, sendo que a Escola foi reconhecida, pelo Egrégio Conselho Federal de Educação – CFE, em 26 de novembro de 1965, pelo Decreto Federal nº 57.353 (DOU de 02/12/65). Daquele momento, até a presente data, o então Conselho Federal de Educação vinha apresentando no Currículo Mínimo voltado a Fisioterapia e a Terapia Ocupacional uma relação de matérias componentes (Parecer nº 362/63, Portaria Ministerial nº 511/64; Parecer nº 622/82 e a Resolução nº 4 de 28/02/83) e que deveriam ser desdobradas em disciplinas, pelas Instituições de Ensino Superior - IES. Ocorre que tal relação refere-se aos conteúdos das denominadas, naquele primeiro momento, de “Fisioterapia e/ou Terapia Ocupacional Aplicada” o que, na realidade, é de todo incoerente. As até então denominadas Fisioterapias e/ou Terapias Ocupacionais Aplicadas não definem de forma plena, objetiva, operacional e exaustiva o que se deve ensinar e o que deve ser apreendido pelo aluno, ou seja, sob que enfoque deve ser ministrado o ensino. Se no entanto, pretendermos que a ênfase do que deve ser ensinado, estudado e aprendido pelo aluno seja de natureza fisioterapêutica a denominação mais correta e moderna é, por exemplo, fisioterapia traumato-ortopédica funcional, já que o objetivo final do conhecimento levado pelas disciplinas ministradas nos cursos de fisioterapia é de como proceder para buscarmos a restauração funcional de função que se apresenta alterada ou diminuída em razão de seqüela tida ou havida pelo paciente. As ações decorrentes destes ensinamentos são indicativas como próprias próprias do fisioterapeuta/terapeuta ocupacional não se confundindo com nenhuma outra abordagem terapêutica. Não existem fisioterapias e/ou terapias ocupacionais aplicadas, por exemplo, Fisioterapia Aplicada à Pediatria e sim “fisioterapia voltada aos pacientes pediátricos portadores de alguma patologia e que lhes sejam indicados aportes fisioterapêuticos”. Desta maneira demandam dos conhecimentos da fisioterapia e/ ou terapia ocupacional, a fim de ter minimizado suas limitações funcionais, em razão de seqüela, por esta ou aquela causa. O momento atual da fisioterapia e da terapia ocupacional brasileira não mais aceita, o uso de uma terminologia indicativa Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 208 de disciplinas, como componentes curriculares de cursos de fisioterapia ou de terapia ocupacional, com um desenho curricular, mera cópia, e incorreta de um passado, cientificamente ultrapassado. Ao ingressarmos num novo momento do binômio ensinoaprendizagem, pela aprovação pelo Egrégio Conselho Nacional de Educação das Diretrizes Curriculares da Fisioterapia e da Terapia Ocupacional, torna-se necessário e imperioso, que os colegiados de cursos comecem a pensar, seriamente, por uma nova postura técnico-científica fugindo de colocações distorcidas e ultrapassadas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Errata A Tabela 1 do artigo Eficácia da atividade física na manutenção do desempenho funcional do idoso: revisão da literatura, de Laila Daniela dos Santos et al., publicado em Fisioterapia Brasil, vol.2, número 3, pg 169-177 (maio/junho de 2001), foi editado com erros, devidos a problemas de transmissão eletrônica dos dados. Aqui uma versão corrigida, que substitui a Tabela da página 171. Tabela 1 - Fisiologia do envelhecimento x Efeitos do exercício sobre os diversos sistemas Envelhecimento Efeitos do exercício Sistema Musculoesquelético • ↓ da força muscular (FM) • ↓ da flexibilidade • Osteoporose → quedas • ↑ da FM • ↑ da flexibilidade • ↓ de quedas Sistema Metabólico • ↓ do metabolismo basal • ↑ do colesterol total e LDL • ↑ tecido adiposo • ↑ do metabolismo basal • ↓ do colesterol total e LDL • ↑ do HDL • ↓ da massa ponderal gorda • ↑ da massa ponderal magra Sistema Nervoso • ↓ da velocidade de condução nervosa • ↑ do tempo de reação →quedas • depressão • ↑ da velocidade de condução nervosa • preservação do tempo de reação • melhora da auto-estima Sistema Cardiopulmonar • ↑ da PA sistólica e diastólica • ↓ da PA sistólica e diastólica • melhora do VO2 máximo Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 209 A fisioterapia na imprensa ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia ocular: Só vendo para crer Isto é, 6 de agosto de 2001 Fixe o olho no centro de uma página. Sem desviar a vista, note que é possível enxergar parte do que estiver em volta da folha. Agora, observe se você consegue ler mais do que uma palavra de cada vez dentro da área escolhida. Provavelmente, a resposta será negativa. Mas a Escola Técnicas Americanas, de São Paulo, garante que somos capazes de captar até 12 vocábulos ao mesmo tempo. Essa performance é obtida por meio de um treinamento especial que permite ler as seis palavras que vêm antes e as seis que vêm depois do ponto selecionado. A explicação é do diretor da instituição, Francisco Durante. “Trata-se de uma fisioterapia ocular. Se conseguimos enxergar mais de uma palavra, também podemos ler mais do que uma”, diz. Durante afirma que na alfabetização aprendemos a ler letra por letra, depois palavra por palavra e paramos aí. A técnica difere da já conhecida leitura dinâmica, que consiste em entender o texto sem ler todas as palavras. Com o novo método, o aluno capta as palavras por inteiro. Ele usa exercícios específicos de atenção e mobilização ocular (os olhos ficam fixos num ponto e a folha de leitura é movimentada, por exemplo). De acordo com Durante, o método foi criado pela Nasa (agência espacial americana), em 1957. Ela também teria desenvolvido uma régua para auxiliar os treinos. O curso é orientado por pedagogos e dura seis meses. São dadas aulas semanais de uma hora para verificar se o aluno atingiu a meta de palavras por minuto, estabelecida por etapa. Os exercícios são feitos em casa três vezes ao dia, com duração de dez minutos cada. “No final do curso, os alunos estão lendo pelo menos duas mil palavras por minuto, com 100% de compreensão”, assegura Durante. Para se ter uma idéia do que isso representa, vale dizer que uma pessoa normal consegue captar entre 120 e 220 palavras por minuto. Durante sabe que o ceticismo é o que mais afasta as pessoas do curso, mas ele acrescenta que sua melhor propaganda são os alunos que toparam o desafio inicial e hoje espalham aos quatro ventos os truques da leitura rápida. O sucesso da escola, aberta há dez meses, entretanto, não empolga médicos e especialistas em ensino. Eles desconfiam da eficácia do método. O neurologista Paulo Caramelli, do Hos- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 210 pital das Clínicas de São Paulo, desconhece trabalhos científicos que tratem de fisioterapia ocular. “Não há dúvidas de que é possível treinar as pessoas a ler rápido, mas nunca ouvi falar desse método”, afirma. Rogério Tuma, neurologista do Hospital Sírio Libanês, de São Paulo, acredita na capacidade de leitura rápida, mas garante que é praticamente impossível que ela aumente a compreensão do texto. O oftalmologista Ricardo Uras, da Universidade Federal de São Paulo, vai além no ceticismo: “Se a técnica é tão fantástica, por que não está nas universidades?” Mas quem faz o curso não se preocupa com esse tipo de argumento. O representante comercial Sílvio Luís Abad, 36 anos, está no nono módulo e lê 1.700 palavras por minuto. Ele reduziu pela metade o tempo de leitura do jornal diário. Para o professor Francisco Moura, autor de livros de redação e gramática, esse feito não traz vantagem. “Ler um livro aplicando uma técnica dessas é como devorar um prato de comida. A ingestão de calorias pode ser a mesma, mas, se você degustar o alimento vagarosamente, com certeza, terá muito mais prazer”, compara. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Wall Street Journal Américas, 26 de julho de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Um analgésico na palma da mão Contratar um massagista pode soar como esbanjamento ou frescura. Mas um novo estudo mostra que massagens regulares podem ser um tratamento efetivo e duradouro para as dores nas costas. Um dos primeiros estudos com rigor científico sobre massagem, feito nos EUA recentemente, acompanhou 262 pacientes que sofriam com dores nas costas por pelo menos seis semanas - 60% do grupo tinha o problema por mais de um ano. Os pesquisadores usaram um questionário para medir o grau de incapacitação e dor entre os pacientes. Depois de dez semanas, o grupo tratado com massagens registrou melhora de 47%, enquanto o grupo que usou acupuntura teve melhora de 38% e os que se auto-medicaram, 27%. O estudo, financiado por empresas de seguro-saúde e verba federal, não compara os tratamentos alternativos com terapias convencionais, como a fisioterapia. Mesmo assim, ele mostra que os benefícios da massagem duraram bem mais que o período imediatamente após o tratamento. No grupo estudado, os benefícios foram registrados até um ano depois da pesquisa. Embora a massagem seja amplamente reconhecida como uma forma de reduzir a dor, os médicos discordam sobre a razão pela qual ela é eficiente. Músculos tensos liberam químicos e toxinas que causam dor, então o relaxamento trazido pela massa- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 211 gem pode quebrar esse ciclo. A pressão da massagem também pode estimular uma reação física de bloqueio da “entrada” de receptores da dor. Mas acima de tudo, os médicos acreditam que massagens profundas promovem a circulação sangüínea em discos e nervos. Há médicos que acreditam ainda que os pacientes melhoram simplesmente porque estão sendo tocados por outro ser humano. O fato de que pessoas normalmente têm problemas de discos em épocas de grande estresse é uma prova de que “a saúde emocional afeta a saúde das costas”, diz Vijay Vad, especialista em medicina esportiva de Nova York. Se você está inclinado a experimentar a massagem, peça a seu médico que recomende um massagista confiável. Cardíacos e pessoas com vasos entupidos não são bons candidatos à terapia. Além disso, alguns tipos de massagens mais vigorosas não são recomendados para quem tem problema nas costas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O corpo alinhado com a mente Gazeta Mercantil, 28 de julho de 2001 A cada época, alguma forma de exercitar o corpo se torna moda. Do dia para noite, academias e especialistas transformam boxe em aeróbica, massagem esotérica em resolução. As soluções parecem perfeitas: maior perda de calorias ou dores indo embora rapidamente. No entanto, desde o século passado, algumas técnicas propõem mais do que condicionamento físico e alívio para dores localizadas. Segundo os princípios de três técnicas que ganham popularidade – Pilates, cadeias musculares e método Rolf, o corpo e a mente não se separam. Ao contrário, é fundamental que se interliguem, para resultados mais eficientes. (...) O método Pilates se desenvolveu a partir de 1890, pelas idéias de Joseph H. Pilates. O método que concebeu era simples: condicionamento físico e mental que ele mesmo chamava de “arte do controle”. Na descrição de Inélia Garcia, representante do Pilates Studio no Brasil, a teoria continua simples: o Pilates trabalha com o fortalecimento e o alongamento dos músculos. Embora seja praticado há mais de 70 anos, os benefícios do Pilates estão intimamente ligados às demandas atuais. (...) As cadeias musculares foram definidas no início da década de 60 por Godelieve Denys-Struf, que unificou antigas observações sobre como os músculos são integrados. No Brasil o método começou a ser difundido pelo coreógrafo Ivaldo Bertazzo na década de 70, aplicado à dança e ao conhecimento do corpo. Desde 1994, existe o Centro Brasileiro de cadeias Musculares e Técnicas GDS, sob orientação de Bertazzo. 212 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 (...) Como as duas outras técnicas, o método Rolf também foi desenvolvido por uma única pessoa, Ida Rolf (1896-1979), bioquímica americana. Foi ela que criou o Método de Integração Estrutural. Segundo sua crença, a evolução humana não está completa e o homem tem dificuldade com sua condição de bípede. “O equilíbrio é muito importante. Para viver bem, usando o campo da gravidade para nos dar firmeza e solidez na terra, precisamos ter um corpo bem alinhado”, diz Nice Silveira, piscólogia e adepta do método Rolf. “A ideia do método é manipular o corpo ensinando a melhor maneira de se organizar para usar a gravidade”, afirma ela (...). Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 213 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Popovic MR, Curt A, Keller T, Dietz V. Automatic Control Laboratory, Swiss Federal Institute of Technology Zurich, ETH Zurich, Switzerland, Spinal Cord 2001;39(8):403-412, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Buljina AI, Taljanovic MS, Avdic DM, Hunter TB. Department of Physical Medicine and Rehabilitation, Clinical Center of the University of Sarajevo, Bosnia and Herzegovina, Arthritis Rheumatology 2001;45(4):392-397, agosto de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Estimulação elétrica funcional para marcha e força da mão: indicações e limitações Durante o período de reabilitação precoce, os sistemas de Estimulação Funcional Elétrica (EFE) com eletrodos de estimulação de superfície são empregados para ajudar ao exercício dos movimentos da mão e da perna dos pacientes portadores de lesões da medula espinhal (SCI). Nossos estudos clínicos mostraram que vários pacientes portadores de lesões da medula espinhal com diminuição das funções da marcha e de força da mão poderiam melhorar usando um sistema adaptado de EFE, até o ponto que eles não precisam usar o EFE para efetuar essas funções. Outros pacientes agudos, que não recuperaram a função desejada, eram capazes de andar e apertar a mão com a assistência do sistema EFE. Acreditamos que os indivíduos que podem andar com a ajuda do EFE, e que usam ainda o neuroprótese 6 meses após o treinamento com o sistema EFE, consideram o sistema EFE come um sistema protético nas atividades diárias. Apesar do que substanciais progressos foram realizados na área do EFE nos últimos 10 ou 15 anos, existe um consenso geral sobre o fato que esses sistemas não são suficientes e que precisam de novos desenvolvimentos. A aceitação limitada da tecnologia EFE pode ser explicada em parte pelo fato que ela não é completamente pronta e que os pacientes necessitam ainda uma assistência diária para usas tais sistemas. Todavia, os tratamentos EFE atuais combinados com fisioterapia e terapia ocupacional são ainda as mais promissoras direções para a reabilitação de pacientes SCI. agosto de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia e exercício para o tratamento da mão reumatóide Objetivo Avaliar os efeitos a curto prazo da fisioterapia (massagem com gelo ou wax packs, águas termais, e banhos farádicos de mãos) e da terapia por exercícios sobra a mão reumatóide. Métodos O efeito de programas de fisioterapia individual e do exercício foi avaliado em 50 pacientes artríticos randomizados (38 mulhe- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 214 res e 12 homens). A idade média era 47,94 ± 11,22 anos, e a duração média da doença 5,04 ± 4,80 anos. O grupo controle consistiu em 50 pacientes randomizados (37 mulheres e 13 homens; idade média 48,46 ± 10,65 anos, duração média da doença 5,23 ± 4,89 anos), que durante o tempo doa investigação não efetuaram nenhum programa de fisioterapia ou exercício. Os índices clínicos usados para a avaliação da inflamação incluíram a taxa de sedimentação dos eritrócitos, a intensidade da dor, o tamanho da articulação proximal interfalangiana, e o índice articular de Ritchie. A força da mão, o ponta-a-ponta palmar, a força da pinça dos dedos, a mobilidade dos dedos e as atividades da vida diária foram os parâmetros usados para avaliar o status funcional da mão. Este de três semanas estudo foi cego-único. Resultados No grupo tratado por fisioterapia, foi observada uma melhora da maioria dos índices dos parâmetros inícios que atingiram uma significância estatística (P < 0,01 and P < 0,005) após o estudo de três semanas. A velocidade de sedimentação e o tamanho da articulação melhoraram clinicamente mas não atingiram uma diferença significativa. Os pacientes notaram uma melhora significativamente maior da dor das mãos, da mobilidade das articulações e do escore das atividades diárias (P < 0,005) do que da taxa de movimentação (P < 0,01). Todos os parâmetros do grupo controle foram deteriorados durante o período de estudo. Conclusão Pelos menos a curto prazo, a fisioterapia e especialmente o exercício, produzem um aumento favorável do status funcional da mão reumatóide. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Kasseroller RG, Schrauzer GN, Medical Department, Wittlinger’s Therapy Center, WalchseeAlpenbad GmbH, Walchsee, Austria, Am J Ther 2001;7(4):273279, agosto de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Tratamento do linfedema secundário do braço com fisioterapia descongestiva e selenito de sódio O linfedema secundário nas extremidades proximais desenvolve-se com freqüência relativamente elevada em pacientes portadores de cânceres após ablação de tumor, obliteração de linfonodo, e/ou irradiação pós-operativa. A fisioterapia combinada com drenagem manual e mecânico e bandagens compressivos fornece alivio sintomático mas não previna a progressão das alterações degenerativas nos tecidos. Os estudos bioquímicos ligaram essas mudanças à produção excessiva de radicais de oxigênio nos tecidos e a terapia do linfedema tem por objetivo a eliminação da produção de radical oxigênio. O selênio é um elemento funcional das enzimas antioxidantes, tem propriedades antiinflamatórias, e reduz a expressão das molé- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 215 culas de adesão à célula endotelial, e por isso seu efeito foi investigado em pacientes pós-mastectomia com linfedema no braço. O selenito de sódio administrado via oral em solução isotônica (selenase) com dosagem de 800 microg Se/dia nos dia 1 a 4 e 500 microg Se/dia nos dias 5 a 28 produziu ume diminuição espontânea no volume do linfedema e normalizou os parâmetros sanguíneos de uma maneira consistente com a diminuição de produção de radical oxigênio. Em um estudo duplo-cego, controlado, randomizado em pacientes pós-mastectomia portadoras de linfedema secundário e tratadas por fisioterapia descongestiva, o selenito na mesma dosagem aumentou a eficácia da fisioterapia e melhorou a mobilidade e a tolerância ao calor da extremidade. Os pacientes receberam 1000 microg de Se/dia, por via oral, durante a primeira semana, 300 microg Se/dia durante as segundas e terceiras semanas, e uma dose de 100 microg Se/dia durante os três seguintes de acompanhamento. Nenhuma paciente apresentou erisipela durante as três semanas de tratamento nem os três meses de seguimento. Baseada nas evidências disponíveis, a suplementação de selenito de sódio em solução isotônica é um complemento seguro e eficaz da fisioterapia descongestiva do linfedema secundário. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Janice J Eng, Stephen M Levins, Andrea F Townson, Dianna MahJones, Joy Bremner, Grant Huston. Physical Therapy 2001;81:1392-1399, agosto de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uso da estação em pé prolongada por indivíduos com lesões da medula espinhal Introdução A estação em pé prolongada em pacientes portadores de lesões da medula espinhal (Spinal Cord Injuries - SCI) tem o potencial de alterar inúmeras áreas relacionadas à saúde tais como atividade reflexa, mobilidade das articulações ou bem-estar. O objetivo deste estudo era avaliar os modelos de uso da estação em pé prolongada e os seus efeitos percebidos em indivíduos portadores de SCI. Material Os pacientes eram 152 adultos portadores de SCI (103 homens, 49 mulheres, idade média = 34 anos, DP = 8, intervalo = 18-55), que devolveram questionários enviados por correio Métodos Um questionário de 17 itens foi enviado aos 463 membros de uma organização de ajuda a portadores de lesões da medula espinhal. Resultados As respostas de 26 dos 152 respondedores foram eliminadas da análise, porque apresentavam conseqüências mínimas de suas Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 216 lesões e não precisavam da estaço em pé prolongada como atividade complementaria. Dos 126 outros respondedores, 38 (30%) reportaram que submeteram-se a estação em pé prolongada por uma média de 40 minutos por sessão, 3 ou 4 vezes por semana, como método para melhorar ou sustentar o estado de saúde. Os benefícios percebidos incluíram melhoras em várias áreas relacionadas à saúde, tais como bem-estar, circulação, integridade da pele, atividade reflexa, função intestinal e urinária, digestão, sono, dor e cansaço. A razão a mais comum que impedia os respondedores de fazer o exercício era o custo do equipamento. Discussão e conclusão Considerando os vários benefícios reportados da estação em pé, esta atividade pode ser útil para pacientes portadores de SCI. Este estudo identificou inúmeras funções corporais que poderiam ser investigados em eventuais estudos clínicos utilizando a estação prolongada em pré em pacientes portadores de SCI. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Maura D Iversen, Jeffrey N Katz. Physical Therapy 2001;81:12961306, julho de 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Dados clínicos e auto-observação da capacidade de marcha em pacientes portadores de estenose espinhal lombar Introdução A estenose espinhal é uma doença bastante comum resultando da compressão da cauda eqüina e das raízes nervosas. Este estudo foi desenhado para: 1) caracterizar as diminuições funcionais dos pacientes portadores de estenose espinhal lombar (LSS) e 2) identificar os fatores de prognóstico da capacidade de andar auto reportados. Sujeitos 43 pacientes com LSS sintomática, provenientes de três consultórios especializados, foram avaliados. 28 sujeitos (65%) eram mulheres. A idade média era 73,9 anos (média = 72,4, DP = 10,3, intervalo = 45,7 – 90,7), e a duração média da dor lombar era 24 meses (média = 36,6, DP = 41,6, intervalo = 0-216). Métodos Os dados demográficos, o histórico medical e a informação sobre a dor lombar e os sintomas (entorpecimento, formigamento e fraqueza das extremidades dos membros inferiores) foram coletados usando um questionário padronizado e um exame clínico. Resultados 22 sujeitos (51%) apresentavam uma fraqueza das extremi- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 217 dades, em primeiro do músculo extensor longo do hálux. 35 sujeitos (81%) apresentavam respostas neuro-sensoriais negativas ou diminuídas (agulha, vibração, reflexos), e 28 sujeitos (66%) reportaram que eram incapazes andar mais de dois quarteirões. As mulheres reportaram mais dificuldades na marcha do que os homens, e outros reportaram escores anormais no teste de Romberg ou dores maiores durante a caminhada. Discussão e conclusão Dor e problemas de equilíbrio aparecem ser os primeiros fatores de limitação da marcha em indivíduos portadores de LSS. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Valma J Robertson and Kerry G Baker, Physical Therapy 2001;81:1339-1350, julho 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Revisão de estudos sobre a eficácia do ultra-som terapêutico Introdução e objetivo O ultra-som terapêutico é um dos agentes eletrofísicos mais empregados. Apesar do uso clínico durante 60 anos, a eficácia do ultra-som para o tratamento da dor, das lesões músculoesqueleticas e das lesões dos tecidos moles não é ainda confirmada. Este artigo faz uma revisão sistemática dos estudos randomizados controlados nos quais o ultra-som foi usado para curar esse tipo de lesões. Cada estudo foi desenhado para investigar as contribuições do ultra-som e do placebo. Métodos 35 estudos em inglês foram publicados entre1975 e 1999. Cada estudo identificado foi avaliado em função dos resultados em pacientes e dos métodos empregados. Resultados 10 dentre os 35 estudos foram julgados aceitáveis no que se refere aos critérios e métodos usados. Os resultados de 2 estudos sugerem que o ultra-som terapêutico é mais eficaz para tratar problemas clínicos (tipo síndrome do canal cárpico, ou tendinite calcificada do ombro) do que o placebo, e os resultados de 8 estudos sugerem o contrario. Discussão e conclusão Existe poucas evidências que o ultra-som terapêutico seria mais eficaz do que placebo para aliviar dor ou tratar lesões dos tecidos músculo-esqueléticos ou outros. Os poucos estudos com métodos adequados examinaram uma grande variedade de doenças. As doses utilizadas nesses estudos foram muito variáveis, sem explicação suficiente. 218 Kerry G Baker, Valma J Robertson, and Francis A Duck Physical Therapy 2001;81:13511358, julho de 2001 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Ultra-som terapêutico: efeitos biofísicos Há quase duas décadas, foi demonstrado que os fisioterapeutas tinham tendência a negligênciar a base científica do uso do ultra-som terapêutico. O objetivo dessa revisão é avaliar a literatura no que se refere aos efeitos biofísicos do ultra-som terapêutico para determinar se esses efeitos podem ser considerados suficientes para recomendar o uso em pacientes com dores ou lesões dos tecidos moles. Os efeitos biofísicos freqüentemente descritos não ocorrem nas condições terapêuticas, ou não foi comprovado que eles têm efeitos clínicas nessas condições. Há atualmente evidência biofísica insuficiente para fornecer uma base científica para o uso clínico do ultrasom terapêutico para o tratamento de pacientes portadores de dor ou lesões dos tecidos moles. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 221 Revisão Laser de baixa intensidade: princípios e generalidades - Parte 1 Low intensity laser: principles and generalities -Part 1 Maria Cristina Sandoval Ortiz*, Patricia Michelassi Carrinho**, Alexandre A. Stuart Dos Santos***, Raquel Calvo Gonçalves***, Nivaldo Antonio Parizotto**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Mestranda em Fisioterapia Universidade Federal de São Carlos, **Fisioterapeuta - Estagiária Laboratório de Eletrotermofototerapia, Universidade Federal de São Carlos, ***Fisioterapeuta UFSCar, ****Professor Doutor Adjunto do Departamento de Fisioterapia da UFSCar e do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia UFSCar Palavras-chave: Laser de baixa intensidade, bioestimulação, teoria fotoquímica, monocromaticidade. Resumo O laser é um dos meios físicos que o fisioterapeuta conta para o tratamento de seus pacientes, mas por ser uma tecnologia relativamente nova, ainda se encontra em fase de determinação de seus reais efeitos, aplicações efetivas e limitações. O objetivo desta revisão é fazer uma compilação e organização dos artigos sobre laser por tópicos, mostrando o estado atual e os resultados das pesquisas desta área, que sirva como um guia para o fisioterapeuta clínico. Foi dividida em duas partes, apresentando na primeira as generalidades do laser e na segunda os trabalhos feitos in vitro, em animais e em humanos, em patologias específicas. A primeira parte compreende uma pequena história, as características e parâmetros que identificam o laser, incluindo as controvérsias surgidas em torno deste assunto, os efeitos fisiológicos, assim como as teorias que as suportam, enfatizando em especial a teoria fotoquímica, que acreditamos ter o melhor embasamento científico para explicar a interação do laser com tecidos biológicos. Endereço para correspondência: Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto, Laboratório de Eletrotermofototerapia, Departamento de Fisioterapia – UFSCar, Rodovia Washington Luiz, km 235, CP 676, 13565-905 – São Carlos SP, Tel: (16) 260-8341 ramal 8704, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 222 Key-words: Low Level Laser Therapy, Biostimulation, Phothochemistry Theory, Monochromaticity. Abstract Laser is one of the tools with which the physical therapist can treat his patients. However, due to it being a relatively new technology, its long-term effects and limitations are still to be determined. The purpose of this review is to compile and organize articles on laser by topics, showing the current state of the field along with results of research done in the area, so as to serve as a guide for the clinical physical therapist. It has been divided in two parts: the first presenting general facts on clinical lasers, the second presenting the work done in vitro, on animals and humans with specific pathologies. The section on general facts includes a short history, a listing of characteristics and parameters that define laser, including controversies that have arisen from them. Also to be presented in this section are the physiological effects of laser, along with the supporting theories, putting special emphasis on the photochemical theory, which has the most solid cientific basis for explain the interaction of laser with biological tissue. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Um pouco de história A palavra Laser é um acrônimo para amplifição da luz por emissão estimulada de radiação, sendo este o princípio em que foi baseada sua criação [1-8]. A luz vermelha foi usada na medicina ainda em tempos antigos, criando a “síndrome da luz vermelha” bem conhecida no último século, sendo também um dos métodos de cura usados por Finsen, o pai da fototerapia contemporânea [9]. O fenômeno físico da emissão estimulada foi postulado por Albert Einstein em 1916. Baseados neste princípio, em 1950, Townes, Gordon e Zeiger constroem o MASER ou amplificador de microondas por emissão estimulada de radiação, criando portanto, a possibilidade de trabalhar na região visível de radiação [1-5]. Em 1958, Townes e Schawlow propõem um modelo para o desenvolvimento de um laser propriamente dito, trabalho este que constituiu o ímpeto para o descobrimento dos diferentes tipos de laser. Simultaneamente, na ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ antiga União Soviética, os cientistas Basov e Projorov também demostram esta possibilidade, por cujo trabalho ganharam, em 1964, o Prêmio Nobel [10]. Em 1960, Theodore H. Maiman produz o primeiro laser de material sólido utilizando o rubi. Em meados dos anos setenta, Javan, Bennett e Herriott construíram o laser de Hélio–Neônio, apoiados no descobrimento do laser vermelho visível feito por White e Rigden. Esta é a primeira fonte comercialmente disponível de luz coerente recebendo inicialmente o nome de laser frio ou laser suave [4,6,8,9]. Este fato gerou interesse em um laser na faixa infravermelha, fora do alcance da emissão visível, aparecendo somente no final da década de setenta os primeiros laseres de GaAs e de GaAlAs [1-5,8,11]. O trabalho inicial da terapia laser começou na Europa Oriental, sendo fortemente baseado no trabalho do professor Endre Mester, de Budapest, chamado o pai da bioestimulação Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 223 laser. Desde então o laser chegou a ser uma modalidade de tratamento popular, principalmente na União Soviética e no oriente próximo, onde aconteceu um número grande de aplicações [11,12]. Por tais razões, historicamente a maioria dos trabalhos iniciais com laser de baixa intensidade começou na Europa Oriental e na União Soviética. Portanto, os primeiros relatos entusiastas de que o laser induzia alterações na função de células e tecidos, apareceram em jornais inacessíveis e indecifráveis (diferentes línguas), além disso, quando traduzidos, freqüentemente geravam descrença, porque apresentavam falhas metodológicas, descrições incompletas, cegos limitados e controles não existentes [13]. Posteriormente, em 1988, o tratamento com laser recebeu o nome de terapia laser de baixo nível (LLLT), dado por Oshiro e Calderhead [4,13]. No Ocidente, um dos primeiros trabalhos foi o do Dr. Friedrich Plog, do Canadá, que estudou o uso do laser na acupuntura, em 1973 [4,6]. A partir daí se inicia a aplicação do laser terapêutico em diversas doenças, como também em pesquisas e experimentações, obtendo desta maneira, avanços a respeito dos efeitos fisiológicos, mecanismos de produção e no aperfeiçoamento do aparelho. [1,2,5]. O primeiro emite comprimentos de onda de 904 nm, com uma potência (de pico) entre 10 –15 Watts (W) de saída, é invisível, pulsado e, segundo Tuner e Hode [8], possui uma penetração de 30 a 50 mm. O Ga-Al-As emite comprimentos de onda entre 780 e 870 nm, sendo geralmente usados comprimentos de 820 nm e 830 nm na banda infravermelha, portanto invisível e suas potências de pico variam entre 20 e 100 mW. São contínuos em seu método de operação, mas podem chegar a ser pulsados. Os laseres Ga-Al-As são seguros e têm sido eficientes pelo menos num estudo bem controlado [14]. Em geral os laseres semicondutores tem depósito energético pouco absorvível pelo componente aquoso e hemoglobina [15], e por isso, a profundidade de penetração alcança entre 2 e 3 cm [8]. Uma vantagem da aplicação da radiação infravermelha próxima é sua maior penetração nos tecidos, comparada com a radiação do He-Ne, e sua alta confiabilidade [16]. O laser de Hélio–Neônio emite uma luz visível, vermelha, com um comprimento de onda de 632,8 nm. A descarga excita os átomos de hélio, os quais transferem sua energia aos de neônio e estes emitem então a luz vermelha [1]. Sua potência é limitada, praticamente 30 mW a 50 mW, sendo este último valor raras vezes atingido. A penetração da luz de hélio- neônio no tecido humano é de 0,8 mm sem divergência e até 15 mm com alguma divergência [5,17]. Este tipo de laser é altamente colimado, gerando portanto, um maior risco ocular [4,8]. Como se faz um laser A produção do laser resulta de um elétron ou uma molécula, que sofre um salto quântico quando previamente estimulado, passando de um baixo a um alto estado de energia, passando a emitir ondas na mesma freqüência, comprimento de onda e direção, originando o feixe laser que possui mais potência que outras radiações ópticas não modificadas ou estimuladas [6]. O tipo de laser é determinado pelo comprimento de onda usado e, logicamente, pelo meio usado para produzi-lo [6]. Os dois comprimentos de onda utilizados nos laseres terapêuticos estão na faixa do visível e do infravermelho. O laser infravermelho emite comprimentos de onda a partir de 770 nm até 1550 nm. Estão constituídos fundamentalmente pelo cristal de arseneto de gálio (Ga-As), e pelo arseneto de gálio e alumínio (Ga-Al-As) Em quê o laser difere da luz comum? As características que identificam e diferenciam a luz laser das outras ondas luminosas são: a monocromaticidade, a colimação, a coerência e a polarização [4,6-8]. A monocromaticidade indica que cada meio que gera laser vai corresponder a um único comprimento de onda. Esta característica é considerada o atributo mais importante da luz laser porque determina quais biomoléculas absorverão a radiação incidente, e portanto, a interação fotobiológica e os efeitos terapêuticos específicos [4,7]. A colimação refere-se ao alto grau de paralelismo do feixe laser, mantendo um pe- 224 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 queno tamanho da saída do feixe numa distância relativamente grande. Esta característica é fortemente responsável pelos perigos oculares gerados pelo laser [4]. A coerência é a sincronicidade das ondas de luz que pode ser temporal, quando estas se encontrarem em fase, ou espacial, quando os fótons estão ajustados em planos espaciais paralelos entre sí e, portanto, são assim mantidos sobre grandes distâncias [4,7,8]. A polarização acontece quando as ondas de luz estão todas orientadas num só plano, assim, as vibrações em seus campos elétricos acontecem numa só direção [4]. A polarização pode ser linear ou circular [8]. Há dúvidas se todas as características são necessárias para criar uma reação fotobiológica em um organismo ou se a monocromaticidade somente é suficiente para produzir tais reações [17]. Inicialmente os efeitos observados do laser foram atribuídos a alta coerência da radiação por hélio–neônio, embora atualmente não existam bases físicas que expliquem tal conclusão [9]. No entanto, existem autores que consideram que a coerência, a monocromaticidade e a polarização são muito importantes nos tecidos vivos como células alvo, pois são justamente estas características as que assegurariam a penetração [11,18]. Tuner e Hode [8] consideram que a coerência é diminuida no caso de reflexão difusa, mas não cai até zero, além do que a luz não coerente é menos eficiente e provavelmente só atua nas estruturas superficiais. Em seu trabalho, Labbe [19] mostrou que as absorbâncias são extremamente baixas, e isto poderia explicar a necessidade para uma luz relativamente coerente, de alta potência, introduzir energia suficiente para obter a conversão de um fóton iniciador em energia bioquímica, gerando compostos como o ATP, de alto teor de energia. Para a interação radiação – matéria, a alta coerência, ambas espacial e temporal, da luz são necessárias, mas não condição suficiente. Foi demostrado que os efeitos coerentes da luz aconteciam acima de intensidades como 2 X 1015 W.m-2, mas levando-se em conta que as intensidades de luz laser típicas usadas na prática clínica estão entre 10 – 102 W.m-2, a absorção de luz de baixa intensidade por siste- mas biológicos é de uma natureza não coerente sob condições normais, portanto esta característica é perdida nos primeiros micrômetros da superfície da pele [4,9,20]. Segundo Karu [9], para se conseguir o efeito desejado não importa se a luz é coerente ou não, pois as duas têm demostrado ser igualmente efetivas. Por ser uma radiação óptica, o laser faz parte do espectro eletromagnético. A parte do espectro mais comumente usada na prática da laserterapia de baixa intensidade, está entre os comprimentos de onda de 630 nm a 1300 nm. Este por sua vez, inclui a luz visível e parte próxima do espectro infravermelho [6] e é chamada de janela espectral para tecidos biológicos. Parâmetros de irradiação de um laser Os parâmetros que descrevem o laser são o tipo e o comprimento de onda, a potência média e a potência pico ou potência radiante, a área irradiada e o tipo (forma) do feixe, o qual pode ser contínuo ou pulsado [6,8]. Outros autores também incluem como parâmetros a densidade de potência ou irradiância e a densidade de energia também chamada de fluência ou exposição radiante [4,7]. Os laseres terapêuticos operam em potência de saída ou potência radiante inferior a 1 W, mas este parâmetro não é considerado tão importante para avaliar o potencial biológico e os efeitos clínicos do laser [4]. Tuner e Hode estão em desacordo sobre tal afirmação, pois consideram que com uma alta potência de saída é possível obter uma alta densidade de potência [8]. Trelles [8] observou que os efeitos do Hélio – Neônio sobre mastócitos foram mais rápidos a 50 mW do que a 4 mW, sendo os dois grupos de células irradiadas com 2,4 J, concluindo que altas densidades de potência com tempos curtos de irradiação poderiam ser mais eficientes na liberação do laser. Eventualmente um ponto de saturação causado pela absorção de energia pode ser alcançado [17]. Deve ter-se em conta que dois laseres da mesma potência, mas com áreas de feixe diferentes, têm efeitos similares com tempos de aplicações diferentes e mais, a quantidade de energia total não será a mesma [21]. Oshiro observou que potências inferiores Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 225 a 60 mW com comprimentos de onda entre 790 e 904 nm diminuem a dor de forma efetiva e a reação microvascular. A 100 mW foram observados efeitos quase termais como por exemplo exacerbação da dor, espasmo muscular involuntário e síncope nervosa, e por isso ele concluíu que a potência ideal era 60 mW [11]. Apesar disso, não existem dados conclusivos a esse respeito, dando margem a especulações sobre a potência ideal a ser usada. A densidade de potência ou irradiância e a potência de saída da luz por área de irradiação é dada em W.cm-2 [6,23]. Em experimentos com culturas celulares este parâmetro é considerado o mais importante, inclusive mais do que a dose total [20]. A fluência ou densidade de energia ou dose é a energia total transmitida por um feixe laser por unidade de área e é dada em J.m-2 (sistema MKS] ou J.cm-2 no caso específico da fisioterapia ou das aplicações biomédicas [6,8,23]. A dosimetria ótima para terapia laser é ainda desconhecida sendo portanto, uma questão controversa. A dose de laser depende da distância entre a pele e o aparelho laser, do sistema óptico do aparelho (sistemas de lentes ou espelhos), do tipo de fonte de laser, da divergência do feixe laser, da reflexão, transmissão, dispersão, absorção e da profundidade do tecido tratado entre outros fatores [24]. Também outros parâmetros, tais como, comprimento de onda, duração do tratamento, densidade de energia, número de tratamentos e modo de liberação podem ser críticos [25]. Há autores que consideram que a resposta fisiológica é dose-dependente, algo que tem sido conferido em alguns trabalhos [26,27]. Karu [19,20] concluiu em seus estudos in vitro, pela avaliação do crescimento celular, que na maior parte das curvas dose-resposta aparecia geralmente um limiar, um máximo e uma fase de declive, apresentando portanto uma dependência da dose. Embora este formato de resposta não aparecia em todos os casos estudados, já que apresentava uma segunda fase, observada nas culturas, que dependia do tempo de exposição. Kubasova [28] refere-se à saturação dos efeitos bioestimulativos induzidos pela luz polarizada acontecendo a 4 J.cm-2, onde as células estão incapacitadas para absorver mais ener- gia acima deste nível. Também doses superiores a 4 J.cm-2 têm sido usadas no tratamento de artrite reumatóide com a finalidade de utilizar as capacidades inibitórias do laser para limitar o processo reumatoideo [17]. Danos em ratos albinos irradiados não foram evidentes na retina até que a dose tenha alcançado 2.8 J.ms-1 e os danos maiores requeriam uma dose maior de 4-6 J/ms-1 resultando em mudanças, chegando a precatarata e alterações submicroscópicas. Como os autores utilizaram um laser pulsado, preferiram colocar a dose expressa pelo tempo, que aparentemente foi um fator diferencial no trabalho. A dose baixa de laser aumentou a produção de material intercelular através do aumento na síntese de RNA no pigmento do epitélio. A análise quantitativa revelou que o aumento de um marcador no pigmento do epitélio foi mais significante 4 horas depois da irradiação laser. Um segundo aumento foi evidente 24 horas depois [26]. O efeito da estimulação da divisão de E. Coli foi ampliado com o aumento da dose em 540 J.m-2, embora no intervalo entre 540 e 900 J.m-2 o crescimento desta bacteria foi praticamente constante (190%) utilizando uma radiação contínua a 1300 nm [16]. O trabalho de Schaffer [29] mostrou resultados sobre os efeitos biomodulativos que acontecem com fluências superiores a 10 J.cm-2, no entanto as irradiâncias variaram de 10 a 150 mW. cm-2 . A fagocitose de leucócitos foi consideravelmente aumentada por uma densidade de energia incidente de 0.05 J.cm-2 e inibida utilizando-se de 2-4 J.cm-2. Foi provado que pequenas densidades de energia incidente aplicadas em séries a leucócitos nativos, acumulavam-se e atuavam no sentido de inibir a fagocitose, como se houvesse aplicado grandes energias, em conformidade com a Lei de Arnd – Schultz [27]. A atividade da catalase nos leucócitos irradiados com laser foi aumentada a partir da dose de 0,05 J.cm-2, elevando-se particularmente com 5 J.cm-2 e a mesma foi diminuída por 50 J.cm-2 [27]. Em experimentos com monocamadas celulares, as doses ótimas nas regiões vermelha e vermelha distante do espectro, foram encontradas perto de 102 J.m-2. Embora deve ter-se 226 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 em conta que nos tecidos reais há muita perda pela reflexão e dispersão, e por isso, Karu sugere doses aproximadamente 400 vezes mais altas [20]. A experiência norte-americana sugere que a dose total numa sessão de tratamento não deva exceder 8 J.cm-2 a 9 J.cm-2 [22]. A efetividade clínica depende das doses de energia adequadas, aplicadas corretamente e usadas gradual e regularmente. Doses baixas ou ainda sobredosificação podem não produzir efeitos ou ainda gerar prejuizos. Segundo Simunovic, a dose ótima aplicada diretamente na área afetada é mais importante que o comprimento de onda do laser [30,31] . Deve se ter em conta também que os resultados da exposição à terapia laser são cumulativos, como tem sido demonstrado em vários trabalhos [11,32]. Outros autores consideram que o comprimento de onda é o fator determinante nos efeitos fisiológicos. A máxima estimulação de macrófagos foi obtida com luz não coerente de 660 nm, luz coerente e polarizada de 820 nm e luz não coerente de 870 nm, embora esta última gerando estimulação em menor extensão. Em oposição, a luz não coerente de 880 nm teve um efeito inibitório sobre a proliferação de fibroblastos. Assim, este processo foi dependente do comprimento de onda usado. Os efeitos da luz sobre a proliferação de macrófagos com 660 nm, 820 nm, 870 nm e 880 nm foram apresentados 36 horas depois da irradiação, visto que num tempo inferior não apresentou diferenças, o que permite concluir que a luz induz mudanças na capacidade das células individualmante sintetizar e secretar fatores de crescimento, não sendo dependente das mudanças induzidas pela luz no número de células disponíveis [33]. Segundo Karu [20] os comprimentos de onda ótimos estão próximos a 760 nm e de 810 a 840 nm uma vez que nestas regiões os cromóforos superficiais têm uma absorção débil havendo portanto, máxima penetração da luz na pele. Os resultados de alguns trabalhos demostraram que a duração e a freqüência do pulso são parâmetros importantes da fonte de radiação [16]. O feixe pulsado ou contínuo depende da fonte de material e configuração do sistema de produção o laser. As taxas de repetição dos pulsos variam de 2 Hz a 500 KHz. Apesar da baixa potência média dos laseres, a potência de pico do laser pulsátil pode ser alta, sendo na ordem de W ou superior a mW [6]. A radiação caracterizada com baixa repetição do pulso (26 Hz) e longa duração do pulso (31,1 ms) atuou sobre a divisão da E. Coli. No caso de altas taxas de repetição do pulso (5000 Hz) e curta duração do pulso (0.16 ms) a curva dose-dependência teve um limiar, um máximo de estimulação próximo a 1,2x105 J.m-2, uma fase de inclinação próxima à doses de 3x105 J.m-2, chegando a inibição. Estes resultados indicaram a possibilidade de existir mais de um mecanismo envolvido. No caso de se ter uma potência média, dose constante e a duração e freqüência do pulso variáveis, existe um ponto onde os efeitos são similares ao grupo controle e este ponto está próximo dos 1000 Hz. A partir desta freqüência e com durações de pulso muito pequenas os efeitos mudam de sinal e passam a ser inibitórios [16]. Portanto, quando se irradiam células com laser pulsátil, existe dependência em relação a várias doses de irradiação, além da taxa de repetição do pulso e da duração do pulso [20]. Foram feitos estudos comparativos entre laser contínuo e pulsado utilizando o mesmo comprimento de onda e dose. Foi encontrado que com o uso do laser contínuo não foi apresentada mudança significativa no modelo usado, no entanto quando utilizou-se o laser pulsado gerou-se efeitos inibitórios que foram dependentes da duração e taxa de repetição do pulso e do intervalo interpulsátil [20]. Sobre a freqüência ótima de tratamento não há um consenso, mas Karu [9] e Mester [27] consideram que o tratamento a cada dois dias ou duas vezes por semana se conseguem as respostas mais positivas [27,17]. Trabalhos sugerem que doses de irradiação baixas repetidas com um intervalo semanal induzem melhores efeitos comparados com altas doses de energia aplicadas em curto espaço de tempo [30,31]. Os efeitos da freqüência de tratamento são avaliados no trabalho de Kubasova [28] onde a irradiação simples de fibroblastos de embrião humano com laser de hélio – neônio de 1 J.cm2 não afetou as superfícies celulares. A mesma dose repetida 4 vezes com intervalos de 24 ho- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 227 ras causou mudanças funcionais das membranas celulares porém, não micromorfológicas. O fenômeno foi considerado como sendo um resultado direto ou indireto da alteração da membrana celular induzida pelo laser, assim por exemplo os sítios de ligações foram menos acessíveis ou sua afinidade diminuiu. Também foi usada uma dose de 5 J.cm-2, mas as conseqüências não variaram significativamente, portanto a relação dose-efeito não foi observada. A potência usada sempre foi de 5 mW. Portanto, o efeito da irradiação laser sobre vários sistemas de membrana celular pode ter um importante papel na duração total da resposta celular fisiológica. potência do aparelho, assim como também pelos fenômenos de dispersão e de absorção [4,8,11,17,22]. Acredita-se que o pico da penetração no tecido acontece no intervalo espectral do infravermelho próximo, entre comprimentos de onda de 600 nm a 1200 nm, devido à fraca absorção pela água. Assim, a absorção tecidual será determinada pelas características de absorção pelas moléculas orgânicas, gerando uma janela ótima de penetração que acontece nos comprimentos de onda entre 820 nm a 840 nm. [4,17,35]. Na região do espectro onde a absorção da luz pelo tecido é baixa (600 – 1200 nm) a dispersão predomina [4]. Assim, se um laser apresenta uma penetração profunda, sua energia é absorvida diferenciadamente pelos tecidos. Se um laser tiver boa absorção nas camadas iniciais ele não penetrará profundamente [17]. Comprimentos de onda curtos dispersam muito mais do que os longos e penetram menos profundamente, alcançando penetração profunda só em tecido mole [17,35,36]. Portanto, comprimentos de onda curtos, no intervalo do visível, podem ser mais apropriados para o tratamento de lesões superficiais e comprimentos de onda longos, no intervalo do infravermelho próximo, podem ser mais úteis para o tratamento de lesões profundas [22]. Goldman et al. [32] e Laakso [17] indicam que para fontes laser entre 300 nm a 1000 nm, cerca de 99 % da radiação penetrante na pele será absorvida nos primeiros 3,6 mm de tecido. Laseres da região infravermelha penetram mais de 15 mm no tecido vivo, no entanto, laseres de comprimento de onda ultravioleta penetram minimamente nos tecidos biológicos [6,17,37]. A luz visível é mais absorvida que comprimentos de onda infravermelhos, mas devido à refração, reflexão e posterior dispersão, os diferentes comprimentos de onda tornam-se difíceis de se localizar nas áreas restritas de tecido irradiado [22]. A especificidade do pigmento pode afetar a penetração e a absorção [17]. Assim, as biomoléculas contidas num tecido irradiado com laser diferenciam-se de outras em seu espectro de absorção e, portanto, nos comprimentos de onda que elas podem absorver [4]. Como a luz penetra nos tecidos? A primeira interação da luz com a pele acontece na superfície do estrato córneo, onde cerca de 5 a 7% de radiação incidente é refletida [35]. A luz, uma vez dirigida ao tecido, pode ser além de refletida, transmitida, dispersada ou absorvida. A reflexão interna múltipla pode acontecer como resultado da não homogeneidade da pele e dos tecidos profundos. A medida que a luz visível é absorvida e dispersada pelos tecidos do corpo, há uma queda no efeito da radiação atenuando a luz a diferentes freqüências e em diferentes graus [6,11]. A distribuição gaussiana permite fazer um cálculo da atenuação do laser que tem um caráter exponencial, assim a profundidade na qual a intensidade do feixe é 36% da intensidade original incidente é chamada de profundidade de penetração. Quando esta intensidade de penetração alcança o dobro da distância, determina-se que o feixe está a 13% da intensidade incidente, e ao chegar a triplice distância tem-se 4,5 % da intensidade original [4]. Assim, pode-se fazer um cálculo aproximado em relação aos tecidos corporais irradiados. Apesar disso, a extensão da ação fotoquímica permite atuar indiretamente, afetando estruturas tão profundas como a 5 cm [17]. Isso devido aos processos químicos que podem ser iniciados nos níveis mais superficiais, ampliando os efeitos aos níveis mais profundos [6]. A penetração da luz laser dentro do tecido é determinada principalmente pelo comprimento de onda e de maneira secundária, pela 228 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Segundo Karu, mais importante que a alta monocromaticidade da luz, é o comprimento da onda que deve estar no espectro de absorção da molécula fotorreceptora, o qual tem mostrado ser uma estreita faixa de radiação [20]. Logo, os pigmentos são altamente específicos, e isto pode ser visto no caso da luz laser visível de comprimento de onda curto, entre 400 nm e 700 nm, que é altamente absorvida pela melanina, hemoglobina e mioglobina [17]. Isto foi comprovado durante a avaliação das doses de energia inicial, uma vez que a potência inicial do feixe laser é parcialmente perdida devido à absorção pela hemoglobina e pela melanina, por exemplo no caso de pele altamente pigmentada [30,31]. São assinaladas como moléculas responsáveis pela absorção da luz os aminoácidos e ácidos nucleicos, assim como os cromóforos. Os aminoácidos têm alta absorção na faixa intermediária do espectro ultravioleta e também nos comprimentos de onda menores do UV, os ácidos nucleicos tem seu espectro de absorção nas mesmas faixas dos aminoácidos, além da região infravermelha, e os cromóforos, tais como a hemoglobina e a melanina absorvem luz na região visível do espectro [4]. O valor da profundidade de penetração óptica do sangue, comparado com outros tecidos, mostra a necessidade de considerar o efeito da sua presença nos tecidos durante os tratamentos na região espectral vermelha e infravermelha próxima [36]. Se para atingir o tecido alvo, há tecidos bem irrigados no caminho óptico do feixe de laser, devemos utilizar doses superiores para compensar este fato. Outros pesquisadores consideram que os comprimentos de onda infravermelhos têm pouca especificidade pelo pigmento e os primeiros meios absorventes são as proteínas e a água [22]. A penetração e absorção da luz laser podem também ser afetadas pela potência de saída dos aparelhos laser. A penetração da luz laser depende da potência média de saída do laser e não da potência pico. Quanto maior o número de fótons que penetram num tecido de uma só vez, maior o número de fótons que estarão presentes em alguma profundidade. Assim, se a potência do laser é relativamente alta, mais de 15 a 60 mW, então o mesmo número de pa- cotes de energia pode ser aportado num curto período de tempo [17]. A penetração profunda poderia também estar afetada pelas dimensões do feixe referido como ótimo aos 4 mm quando calculado usando o modelo Monte Carlo [4]. Que efeitos produzem os laseres nos tecidos? Os quantuns ou fótons interagem com as biomoléculas de uma maneira precisa, dependendo de seu conteúdo de energia. Uma vez absorvida, a energia nas faixas ultravioleta e visível do espectro, pode fazer com que as moléculas específicas alcancem um estado de excitação eletrônica, onde são capazes de sofrer reações químicas como oxidação, redução, isomerização, ruptura de ligações covalentes ou interações com outras moléculas [38]. No aspecto molecular podem acontecer três situações [4,9,39]: • Excitação das cadeias de elétrons nas mitocôndrias, gerada pelo espectro visível e infravermelho próximo. Isto pode resultar na ruptura de algumas moléculas relativamente grandes ou inclusive mudanças na cadeia de carbonos. Estas mudanças podem ser reversíveis ou irreversíveis dependendo da intensidade da radiação. As moléculas excitadas têm um maior potencial para gerar reações químicas levando a um efeito observável em nível biológico. • Vibrações moleculares, que consistem em estiramento e batimento de ligações que causam deslocamentos dos núcleos atômicos, mas não afetando suas posições de equilíbrio. Estas vibrações são geradas pelo espectro infravermelho. • A rotação da biomolécula total, ou partes da biomolécula ao redor de um eixo, gerada pelo campo eletromagnético criado pela luz incidente, o que poderia levar a um pequeno aumento da temperatura que ainda não se conhece claramente se acontece em nível celular ou subcelular. As radiações ópticas são não ionizantes, sua ação pode ser fotoquímica como para as radiações ultravioletas de comprimentos de onda elevados ou termal como para a faixa infravermelha do espectro. A região visível permanece entre estes dois extremos, sendo Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 229 considerada uma região de transição caracterizada pelos dois efeitos: termais e fotoquímicos [6]. A terapia laser de baixa energia acontece em intensidades tão baixas, que não se tem certeza se alguns efeitos biológicos que ocorrem são devidos a efeitos diretos da radiação ou como resultado do aquecimento. Basford [13] reportou aumentos de temperatura tão pequenos como 0,1 a 0,5 graus Celsius, Karu [16] usando 3 W.m-2 de intensidade encontrou aumento da temperatura média de 10-3 graus C. Um aumento na temperatura de 0,4 a 0,6 graus C, na pele irradiada por um diodo laser GaAs de 850 nm e 70 mW, também foi referido por Boussignac et al. [16]. No trabalho de Ricevuti confirma-se que os efeitos da irradiação laser são termais e não correlacionados com as modificações da estrutura da glicoproteína de membrana que possui funções receptivas [39]. Em contraposição, outros autores afirmam que os efeitos do LLLT (do inglês, Low Level Laser Therapy) são baseados em mecanismos não termais, os quais não geram um aumento significante da temperatura dos tecidos [4,7,40,41]. Um exemplo disto é o trabalho de Rochkind onde a medida da temperatura indicou uma mudança de não mais que 0,1 grau centígrado, a qual é bem baixa para o mínimo precisado para influenciar a atividade celular [43]. Braverman [43] encontrou que a temperatura subcutânea da pele não mudou significativamente durante ou depois da irradiação com laser no lado que foi exposto durante 50 minutos em coelhos, recebendo doses de 1,65 J.cm-2 de HeNe, ou 8,25 J.cm-2 de infravermelho e combinadas ambas doses e aparelhos. O comprimento de onda e a saída de energia do laser podem ter um efeito significante sobre a quantidade de radiação laser a ser convertida em vibração termal. Porém, o efeito bioestimulante pode não ser dependente de um efeito termal mensurável mas, possivelmente é uma reação fotoquímica com um componente receptivo em nível celular. Finalmente, Hall [44] afirma que as saídas de baixa potência dos LLLT não produzem apreciável mudança de temperatura nos tecidos tratados, portanto alguns benefícios de- vem ser atribuídos a um processo não termal resultante da interação ou absorção nos tecidos específicos. Este efeito fotoquímico é dependente do comprimento de onda e da freqüência, que podem causar modulação bioestimulatória. Concluindo, durante os estados de excitação eletrônica, uma notável fração de energia excitada é convertida em calor, a qual gera aumento local na temperatura dos cromóforos absorventes, o que vem a ser um possível mecanismo da ação do laser. Deve-se levar em conta que o aquecimento local e transitório das moléculas absorventes é muito diferente da média de aquecimento da célula total, o qual não é observado nas doses e intensidades usadas em experimentos com culturas celulares [45]. Portanto, em tecidos, não se consegue detectar mudanças significativas na temperatura local. O quê é o efeito biomodulatório? 25 anos atrás, vários autores postularam os efeitos bioestimulativos da terapia laser. A biostimulação ou reações laser catalisadas referem-se à aplicação de energia eletromagnética pelo laser de baixo nível aos tecidos do corpo, o qual pode influenciar as funções celulares, tais como, estimulação ou inibição de atividades bioquímicas, fisiológicas e proliferativas. Porém, devido a estimulação e a inibição serem possíveis de ocorrerem, o termo biomodulação deveria ser usado tendo em conta os dois efeitos. A magnitude do efeito é referida sendo dependente do comprimento de onda, das doses e da dose-intensidade do laser [24,46]. Segundo Karu [9] existem razões para achar que o fenômeno de biomodulação é de uma natureza fotobiológica, isto porque de acordo com seus estudos, a inibição que acontece é um resultado direto da fotodestruição de um ou mais citocromos da cadeia respiratória. As doses pequenas cumulativas em aplicações repetidas também resultam num efeito inibitório [27]. Em suma, pode-se dizer que a irradiação de baixo nível resulta numa modulação das atividades celulares [29]. O efeito bioestimulante do laser sofreu tentativas de explicação através de várias teorias. A primeira delas foi o princípio de Arndt– 230 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Schultz, o qual propõe que os tecidos reagem à quantidade de energia absorvida por unidade de tempo de tal forma que estímulos fracos excitam a atividade fisiológica, enquanto aqueles muito fortes vão anulá-la [4,5]. Kleinkort e Foley [5] postulam uma segunda teoria para explicar este efeito, dizendo que o laser de baixa potência pode estimular a formação de ATP como depósito de energia. O ATP estimulará a atividade enzimática para obter a restauração dos processos fisiológicos normais em nível celular e do organismo em geral. É bem conhecido que as células são sensitivas a comprimentos de onda específicos. As células em culturas podem comunicar-se entre si por energia eletromagnética, a qual influencia os processos celulares metabólicos e catabólicos. Foi proposto no caso de uma alteração que o estado de energia da célula seja mudado, alterando conseqüentemente a comunicação celular a qual vai ser influenciada diretamente pela terapia laser [24]. Há também uma hipótese que fala que os componentes celulares podem ser reorientados por polarização linear do laser, e como resultado seu metabolismo chega a ser ativado [40]. Finalmente a teoria fotoquímica é a mais estudada e oferece uma explicação para a sensibilidade das células à luz laser, dizendo que a energia eletromagnética estimula fotoreceptores ou cromóforos os quais só vão responder a uma faixa de luz específica, realizando assim, a conversão de energia fotoquímica. Estes cromóforos são um grupo de moléculas inter-relacionadas que podem ser enzimas, membranas moleculares ou qualquer outra substância extracelular, que estão capacitados para absorver a luz e apresentam algumas etapas comuns na realização de efeitos causados pelas diferentes faixas de luz [20,24]. Também os cromóforos têm sido definidos como componentes dos pigmentos da cadeia respiratória, de diferentes tamanhos e formas, os quais vão atuar ou ressonar com uma estimulação específica ou energia de radiação. Eles podem transferir a estimulação funcionalmente para os diferentes processos e componentes da célula envolvida na cadeia respiratória mitocondrial. Dependendo de seu comprimento de onda, a radiação eletromagnéti- ca na forma de luz pode estimular macromoléculas, iniciar a conformação de mudanças em proteínas e transferir energia aos elétrons [41]. Baxter considera os cromóforos como estruturas moleculares que absorvem luz no espectro visível e são derivadas das porfirinas, e que no homem os cromóforos seriam a hemoglobina e a melanina [4]. Esta teoria é colocada em dúvida por Young [33] pois não houve significante absorção por esses cromóforos nos comprimentos de onda usados de 660 e 880 nm . Estão sendo propostos alguns elementos como fotoreceptores primários. Um deles é a melanina, considerada como o cromóforo mais protetivo para comprimentos de onda superiores a 300 nm, mostrando uma ligeira diminuição da absorção para comprimentos de onda maiores que 1200 nm [38]. Gamaleya [47] postulou que nos níveis subcelulares as unidades estruturais mais sensíveis à irradiação laser devem ser as estruturas membranosas da célula, primariamente o retículo endoplasmático e as membranas, que constituem uma parte considerável do citoplasma e as membranas das organelas, que formam os limites de fase intracelular. Em outro trabalho, o citocromo a-a3 ou citocromo-oxidase é considerado como o fotorreceptor primário para o intervalo espectral infravermelho próximo entre os l de 700 e 900 nm. Karu também acredita que este citocromo é o candidato para fotorreceptor primário nas regiões infravermelhas próxima e visível do espectro. Mas esta função não pode ser realizada quando o citocromo encontra-se totalmente oxidado ou totalmente reduzido, mas somente quando ele adquire uma forma intermediária [20,29,45]. Concordando com Labbe [19] que acredita que tanto os citocromos do sistema de fosforilação como os citocromos a-a3 e o complexo de Cooper, ou citocromo-oxidase, que formam um componente funcional do sistema de transporte de elétrons terminais, poderiam constituir uma série de cromóforos que absorvem luz no amplo intervalo espectral onde tem se reportado que a bioestimulação acontece. Karu [20,45] também refere que as molécu- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 231 las fotorreceptoras primárias poderiam ser ferro de baixa rotação, componentes derivados de porfirinas da cadeia respiratória, tendo uma absorção perto de 950 e 1300 nm ou também algumas outras moléculas que tem absorção nesta região espectral. Demostra também como as oxidases terminais e as flavoproteínas, como fotossensibilizadores endógenos, absorvem quanta de luz na região espectral do violeta ao azul, sendo estes responsáveis pela geração de oxigênio molecular [20,48]. A cadeia respiratória é, portanto, um receptor da luz visível monocromática de baixa intensidade. Isto explica satisfatoriamente a dependência da dose e do comprimento de onda no efeito estimulativo de tal radiação [9]. A hemoglobina, presente nas células sangüíneas vermelhas, pode também atuar como um cromóforo, tomando parte na absorção de fotoirradiações de comprimentos de onda entre 600 a 700 nm, porque ela amplifica os efeitos da irradiação laser sobre as culturas de linfócitos. Uma possível justificativa para tal afirmação é que se o metabolismo oxidativo das células é melhorado pela formação de radicais livres, na interação do laser de baixa intensidade de 660 nm com a hemoglobina, que serve como um cromóforo, ativaria o organismo intacto a responder com mecanismos de defesa para eliminar os metabólitos oxidativos danificados. Um componente deste mecanismo antioxidante multinível é a enzima SOD [superóxidodismutase], a qual elimina os superóxidos em excesso. Isto ficou demostrado quando foi feita a irradiação do sangue total a 660 nm a uma fluência de 5,0 J.cm-2, aumentando a atividade da SOD na amostra irradiada, indicando que ela tem um papel nos efeitos bioestimulatórios da irradiação laser neste comprimento de onda [49]. Como os efeitos de biomodulação têm um amplo intervalo espectral, assume-se que devem ser diferentes cromóforos os alvos fotorreceptores, e isto poderia depender de cada orgão, ou da concentração e localização dos fotorreceptores, o que, por sua vez, vai diferir entre células normais e patológicas [34]. Uma vez absorvida a luz, acredita-se que os eventos primários fotoquímicos e fotofísicos acontecem na mitocôndria, no caso das células eucariotas e na membrana citoplasmática na E. coli. A partir deste momento, devem diferenciar-se dois tipos de reações. A primeira são as reações induzidas pela luz que envolvem as moléculas fotorreceptoras, e a segunda são as consequentes reações bioquímicas e/ou biofísicas, tais como transdução da fotossinal e amplificação ao núcleo por uma cascata de reações no citoplasma e na membrana celular, as quais acontecem minutos ou horas após a irradiação. No primeiro caso, estes mecanismos não são conhecidos mas se propõem quatro possíveis reações geradas pelos fotoreceptores em resposta à luz: mudanças no estado redox e aceleração na transferência de elétrons; alterações na atividade bioquímica e estrutural pelo aquecimento transitório dos cromóforos; aumento da produção de superóxido e, finalmente, a geração de oxigênio molecular. Também é hipotetizada como reação intermediária entre as duas etapas, a possível existência de uma cadeia de transdução de fótons para uma resposta celular, na qual é feita a absorção da luz pela mitocôndria, podendo gerar os eventos da segunda etapa no núcleo, tais como, mudanças na taxa de síntese de DNA e RNA para aumentar a proliferação celular [9,20,45,50]. Pode-se sugerir que a intensidade de fluxo dos íons através da membrana celular depende da intensidade do sinal recebido do fotorreceptor, o qual por sua vez depende das reações primárias acontecendo nos fotorreceptores durante a irradiação com luz sob diferentes comprimentos de onda. Esta é uma reação em cadeia, que acontece nas diferentes etapas de transporte do fotossinal. A irradiação com luz monocromática visível e infravermelha próxima leva ao melhoramento da adesão celular, a qual depende das condições da irradiação, tais como dose ou comprimento de onda, também como do tempo passado após a irradiação [50]. A fotossensitividade das células não é um fenômeno do tipo “tudo ou nada”, e as células podem responder aos estímulos da luz em vários graus. A magnitude da fotorresposta depende do estado fisiológico prévio à irradiação, o qual é condicionado no caso de cultura celular, por exemplo, pela quantidade de nutrientes disponíveis e a idade da cultura, a baixa concentração de oxigênio e pH, ou seja, há uma 232 Fig. 1: Esboço esquemático sobre a teoría fotoquímica de ação do laser de baixa intensidade. forte dependência do efeito da irradiação sobre o estado redox celular no momento da irradiação. Assim, a resposta celular será fraca ou ausente quando o potencial redox é ótimo, e forte quando está alterado [9,20,45]. De tal maneira que esta experiência clínica e experimental mostrou que o laser tem seus maiores efeitos sobre orgãos e tecidos afetados por uma condição deteriorada, tais como quando o paciente sofre algum tipo de desordem funcional ou lesão tecidual [8]. Finalmente uma alteração do estado redox para oxidação está correlacionada com estimulação, enquanto a redução relaciona-se com inibição [9,20,45]. Tipos de efeitos produzidos pelo laser de baixa intensidade O laser de baixa intensidade gera efeitos fotoquímicos, fotofísicos e fotobiológicos, afetando não só a área de aplicação como também as regiões circundantes [8]. Os efeitos fotobiológicos podem convencionalmente ser divididos em curto prazo ou direto e longo prazo ou respostas indiretas à radiação [20]. As respostas a curto prazo são aquelas em que o efeito pode ser observado uns poucos segundos ou minutos depois da irradiação. Os efeitos a longo prazo são observados horas ou Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 ainda dias depois do final da irradiação, e, usualmente envolvem nova biossíntese. Entre as repostas a curto prazo está a fotoestimulação da taxa respiratória e a síntese de ATP [20]. Em um dos experimentos de Karu [9], a irradiação causou uma ativação considerável dos componentes da cadeia respiratória NADH e citocromo Coxidase. A atividade da superóxido-dismutase citosólica permaneceu praticamente no nível controle e a atividade da fosfataseácida diminuiu. Este estudo mostra que a estimulação do crescimento está acompanhada pelo aumento da atividade respiratória celular. No transporte de elétrons mitocondriais, vão ser produzidos o radical livre como superóxido O·2 e H2O2 e sua taxa de produção depende primariamente do estado metabólico da mitocôndria. Pela ativação do fluxo de elétrons na cadeia respiratória das células irradiadas com laser, pode-se esperar um aumento na produção de oxigênio. A mitocôndria possui um mecanismo para a reabsorção de oxigênio e este pode ser uma fonte de elétrons para a fosforilização oxidativa de ADP sob condições fisiológicas [45]. Há uma proposta que as mudanças nas propriedades químicas e físicas das membranas mitocondriais externas induzidas pelo laser, resultam em fusão preferencial de membranas mitocôndriais que estão localizadas uma ao lado das outras, constituindo assim, uma mitocôndria gigante. A mitocôndria gigante é uma estrutura capaz de proporcionar altos níveis de respiração e energia de reposição, ao passo que numa mitocôndria pequena a transferência de energia acumulada e a diferença nos potenciais eletroquímicos dos prótons são ineficientes. Uma mitocôndria gigante é capaz de transferir energia ao longo das membranas mitocondriais, conectando Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 233 regiões remotas a nível externo dos gradientes dos componentes de energia produzida e de energia consumida. Portanto, a formação de mitocôndrias gigantes nos linfócitos pelo laser fornece energia para os processos necessarios para as reativações do núcleo [51]. Esta afirmação foi demonstrada pelas análises tridimensionais dos linfócitos humanos irradiados com 632,8 nm que revelaram uma diminuição aproximada de 4 vezes no número total de mitocôndrias e presença de algumas mitocôndrias gigantes uma hora depois da irradiação. A diminuição no número total de mitocôndrias foi acompanhada por aproximadamente 20% de aumento no número de perfis mitocondriais [51]. O aumento do ATP foi encontrado ao fazer irradiação com hélio-neônio, a qual gerou um potencial eletroquímico e causou aumento na síntese de ATP. A irradiação de mitocôndria de fígado isolado in vitro por laser hélio – neônio de baixa potência causou aumento no potencial de membrana mitocondrial e gradiente do próton gerando aumento do ATP mitocondrial. Este evento parece estar estritamente correlacionado com a transferência da cadeia de elétrons mitocondriais. Portanto, um potencial extra eletroquímico, gerado através de um mecanismo atualmente desconhecido, é finalizado como síntese de ATP. Além disso, aconteceu uma não inibição da cadeia respiratória mitocondrial pela radiação laser [52]. Entre os efeitos fisiológicos do LLLT a longo prazo estão o aumento da mitose e divisão celular. A irradiação de fibroblastos humanos com um laser de hélio - neônio aumentou significativamente o número de células em comparação com seus respectivos controles não irradiados. Um possível mecanismo é que a irradiação causa uma recolocação no metabolismo celular com a luz tendo o papel de controlador de disparo. Mudanças no nível de AMPc sugerem que os quanta de luz podem atuar como um estímulo proliferativo porque o AMPc está programado para estimular um evento desconhecido ou eventos que levam à síntese de DNA numa ampla variedade de células e possivelmente estes eventos poderiam gerar um aumento da mitose [9]. A irradiação pulsada de 904 nm com uma densidade de potência média de 0,003 W.cm-2 teve um efeito proliferativo sobre culturas de fibroblastos, apresentando uma perfeita relação entre o aumento do número de fibroblastos e a atividade de DNA [18]. Um significante aumento do índice mitótico das células normais foi observado depois da aplicação de 4 J.cm-2. Contrariamente, numa fluência de 20 J.cm-2 determinou uma ligeira diminuição do índice mitótico para células normais. Portanto a um baixo nível de irradiação promove um efeito estimulante, enquanto efeito inibitório aparece induzido por um alto nível de irradiação. Schaffer et al. observaram efeitos estimulantes ou inibitórios 6, 18 e 24 horas depois da irradiação. A ausência de influência significante da irradiância de 10 a 150 mW.cm-2 sobre as alterações do índice mitótico foram notadas usando irradiação com luz homogênea. Por outro lado, a síntese de DNA não foi dependente da irradiância aplicada 24 horas depois da irradiação, comparada aos controles que não foram irradiados. Isto indica que a irradiação não teve influência sobre a taxa de síntese de DNA [29]. Contrariamente, em outro experimento, a irradiação com laser de baixa intensidade em culturas de fibroblastos estimulou a síntese de DNA e aumentou a proliferação celular utilizando como parâmetros de exposição 0.45 J.cm-2 e 812 nm sendo estes efeitos dependentes da exposição radiante e do tempo de exposição, ou seja, certos comprimentos de onda podem estimular a proliferação celular, porém quando combinados certos parâmetros de exposição. Em altas fluências de energia e irradiância diminuiu a proliferação de fibroblastos e a produção de colágeno. Estas observações parecem indicar que os efeitos iniciais e a curto prazo da radiação laser de baixa potência não são uma estimulação direta da produção de ATP. Segundo Karu, a síntese de DNA e RNA é aumentada ao máximo nos comprimentos de onda de 400, 630, 680, 760 e 820 nm [53]. No trabalho de Hallman [54] nota-se que a irradiação com laser de baixa energia (0,9 mW) alterou a proliferação de culturas de fibroblastos humanos. A razão mais evidente é que a irradiação laser de baixa energia não teve um efeito significante sobre a função celular, mas sim, sobre a proliferação. Este efei- 234 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 to proliferativo do laser tem aplicação nos processos de cicatrização de tecidos, obtendo assim, bons resultados [5, 55-61]. Outro efeito fisiológico a longo prazo que deve ser levado em consideração é a reversibilidade da hiperpolarização da membrana celular depois da estimulação laser. Esta hiperpolarização poderia depender de um fechamento seletivo dos canais de sódio, relacionados com a ativação da lipoproteína de membrana. O efeito é determinado pelo tempo, intensidade e freqüência dos impulsos da irradiação. Isto é conseguido pela inibição do movimento celular pelo laser porque este ataca a área do centrossoma celular que determina modificações da morfologia celular. Depois de alguns minutos de irradiação e no período pós-irradiação, a motilidade celular chega a ser incoordenada e perde a capacidade para ela mesma dirigir-se para o fator quimiotático, o que gera desorganização de microtúbulos. Depois de uns poucos minutos os microtúbulos se organizam, mas os centríolos aparecem danificados. A irregularidade da motilidade está correlacionada ao dano dos centríolos. O sistema de membrana NADPH permanece intacto, o que explica os dados normais de produção e liberação de radicais livres. Em resumo, os efeitos biológicos induzidos pelo laser estão correlacionados a uma ação sobre a polarização da membrana e a um efeito sobre o centrossoma [39]. Também tem sido referido que o laser de baixa intensidade tem um efeito anti- inflamatório e a evidência clínica e de laboratório pode ser compreensivamente revisada em vários estudos, embora não se conheça claramente o mecanismo, além disso os resultados são controversos. Evidências acumuladas também indicam que a fotoestimulação com laser de baixa intensidade intermedia os processos de inflamação por modular os níveis de várias prostaglandinas [62], embora o estudo de Hall não concorde com este mecanismo [44]. Goats também chegou à conclusão que o laser de baixa potência combinado com fototerapia infravermelha não modifica a performance do sistema imune [63]. A impressão obtida por Mester [27] foi que sob uma condição dada, o feixe laser não esti- mula diretamente o metabolismo dos linfócitos, pois influencia um ou mais dos fatores que induzem estimulação. Moskalik [47] determinou a atividade fagocítica e as frações de soro sangüíneo em ratos albinos com melanomas sendo irradiados com laser de Neodímio, encontrando aumento no número de fagócitos e no índice fagocítico 24 horas depois da irradiação. No trabalho de Honmura [64], num modelo experimental de inflamação provocada, usando laser Ga-Al-As (780 nm) a 10 mW e densidade de potência 31,8 W.cm-2, a irradiação realizada imediatamente antes ou logo após a inflamação não foi diferente do efeito da irradiação laser usada 3 horas depois. Isto indica que a irradiação feita imediatamente antes e depois da lesão foi efetiva em diminuir o volume de exsudato influenciando a permeabilidade vascular. Nos grupos tratados para diminuir o edema não foram observadas mudanças significativas e a irradiação laser foi considerada não efetiva. A efetividade do laser também não melhorou pelo aumento da freqüência do tratamento. Portanto, Honmura [64] considera que o efeito inibitório do laser sobre a inflamação pode envolver os seguintes processos no seu mecanismo inibitório: a) Uma possibilidade é que o laser possa inibir a emergência de fatores quimiotáticos nas primeiras etapas da lesão. b) Outra possibilidade é que laser de baixa potência possa interferir com os efeitos dos mediadores químicos ou superóxidos induzidos pela inflamação. Isto sugere que diferentes mecanismos possam estar envolvidos nos efeitos inibitórios do laser de baixa potência sobre a permeabilidade vascular da água e as proteínas do plasma. A inflamação crônica está caracterizada por glicólise aeróbica continuada e por uma mudança redox, mensurada como a proporção NAD+/NADH, para um estado reduzido. O PO2 do fluido sinovial reumatoide, por exemplo, diminuí até 0 mm Hg. A hipóxia local é considerada uma das primeiras causas de reumatismo. Nestes casos, o feixe laser foi mais efetivo que quando foram tratadas lesões iniciais que não tinham muitas alterações no estado redox [20]. Os referidos dados mostram que a irradiação Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 235 laser inibe in vivo e in vitro a quimiotaxia tendo assim um efeito antiinflamatório global e facilitando o processo de cicatrização. Tais modificações determinam um aumento da fibroplasia, útil no tratamento de úlceras de pele e outras doenças inflamatórias crônicas [39]. Solokova e Boiko [47] usaram He-Ne para irradiar coelhos nos quais a inflamação tinha sido produzida pela injeção subcutânea de turpentina. Os autores observaram piora do processo inflamatório e reatividade imunitária reduzida dos animais irradiados. Os efeitos antiinflamatórios do laser têm sido avaliados clinicamente em lesões inflamatórias músculo-esqueléticas e na síndrome miofascial, encontrando divergências nos resultados. Alguns trabalhos mostraram alívio da dor de forma duradoura [65-69,38, 30,70,71]. Diferentemente do que ocorre com outros trabalhos que afirmam não encontrar diferenças significativas entre os grupos de tratamento e controle [47,72-78]. Situação semelhante se apresenta na área de reumatologia, onde ultimamente se encontra no auge o tratamento de diferentes enfermidades com o laser, levando recentemente a um aumento no número de estudos nestes pacientes. Os resultados são contraditórios, porque alguns deles concluem que a irradiação é segura mas não efetiva no tratamento destas doenças [25,60], diferente de outros que afirmam bons resultados relacionados diretamente com a etapa da enfermidade e a proporção das lesões [14,80, 81]. Estudos sobre o efeito do laser de baixa intensidade nos processos inflamatórios estão ainda numa etapa inicial, havendo necessidade de mais estudos experimentais e clínicos bem controlados para confirmar se as ações são pró ou antiinflamatórias [64]. Um importante efeito do laser de baixa intensidade é o analgésico. Ele atua sobre diferentes sítios com um número amplo de mecanismos, que do ponto de vista científico não estão claramente definidos. Algumas das explicações dos efeitos mediados pelo LLLT são: • Aumento dos níveis de β-endorfina no fluido espinal [82,83]. • Aumento da excreção urinária de glicocorticóides que é um inibidor da síntese de β-endorfina. • Aumento no limiar da dor através de um complexo mecanismo de bloqueio eletrolítico das fibras nervosas. A permeabilidade da membrana das células nervosas para Na e K é diminuída, causando hiperpolarização. • Aumento dos níveis de serotonina na excreção urinária, um potente inibidor no sistema nervoso central. • Diminuição da liberação de substâncias algogênicas tais como bradicinina, histamina e acetilcolina. • Aumento na produção de ATP, o qual pode resultar no relaxamento muscular. • Aumento da microcirculação local resolvendo a isquemia dos tecidos e facilitando a remoção de substâncias algogênicas da área local. • Aumento do fluxo linfático, diminuindo o edema [30,31]. Outros autores também têm proposto como possíveis explicações uma interferência na mensagem elétrica da dor [1,2], ou pelo aumento da latência sensorial [84]. Os estudos clínicos utilizados para avaliar os efeitos do laser sobre a dor têm abordado estas possíveis explicações para suportar os resultados favoráveis encontrados [85,66,15,67,83,86,68,70]. O efeito de um feixe laser não está limitado só ao lugar de difusão óptica. Por meio dos mediadores metabólicos, o efeito pode chegar a áreas mais distantes do corpo gerando efeitos a nível sistêmico, mas poucos estudos os tem controlado. Uma possível explicação para este efeito é o fato do tecido submetido ao laser produzir substâncias que após a irradiação vão circular nos vasos sangüíneos e no sistema linfático [8,11]. De acordo com Braverman, os fatores teciduais liberados na circulação podem ter um efeito sobre o lado oposto não irradiado de uma ferida, o que pode explicar o porquê de alguns estudos terem falhado mostrando efeitos não significantes comparativamente com o lado submetido a laser no lado oposto de um mesmo animal [43]. Em vários estudos, o laser tem sido avaliado considerando seus efeitos sobre a atividade da doença como foi medido por vários índices laboratoriais. Palmgren [44] mostrou que a velocidade de hemossedimentação (VHS) 236 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 caiu significativamente no grupo tratado com laser depois de 12 tratamentos, mas não foram notadas mudanças na hemoglobina. Um estudo das mudanças dinâmicas nas frações do soro de proteínas de pacientes com inflamação uterina durante a terapia laser, mostrou uma restauração gradual do espectro protêico normal sangüíneo, correspondendo ao desaparecimento das manifestações clínicas da doença [47]. A determinação das frações de proteína no soro no 14o dia após a irradiação com laser de Neodímio em ratos albinos com melanomas, mostrou mudanças nas porcentagens relativas das frações: uma significativa diminuição das albuminas e um aumento nas a e gglobulinas [47]. Análises de amostras de sangue mostraram que indicadores de patología sistêmica, tais como número de plaquetas, VHS e proteína C reativa, diminuíram ligeiramente no curso do experimento no grupo de tratamento ativo. Os níveis de hemoglobina permaneceram sem mudança durante o presente estudo. A dose utilizada foi de 8,1 J.cm-2 por 240 s, 5 KHz e 80% de ciclo de trabalho (duty cycle] [63]. Parâmetros imunológicos alterados em pacientes tratados com laser que apresentam artrites reumatóide têm sido referidos tais como diminuição do nível de IgG por Yakovenko et al. (citado por Cieslar), diminuição do nível de complexo imune e diminuição do fator reumatóide [86]. O laser de baixa potência contínuo de Hélio – Neônio gerou efeitos sistêmicos pronunciados sobre a pele e nos tecidos subjacentes, assim como sobre os nervos periféricos severamente lesados e as regiões correspondentes na medula espinhal. O principal resultado foi o melhoramento e aceleração da recuperação morfológica e funcional dos tecidos severamente lesados. Os efeitos persistiram durante bastante tempo depois que a irradiação laser terminou [87]. Há também estudos que não obtiveram efeitos sistêmicos, como no trabalho de Amano [88]. Também não foram encontradas mudanças nos testes laboratoriais, tais como, taxa de sedimentação, hemoglobina, contagem de leucócitos e plaquetas por Bliddal [80]. Oddinets [47] tratou 30 pacientes com poliartrite reumática, mas no decorrer de seu tratamento não foram encontradas mudanças significativas na morfologia sangüínea ou nas frações protêicas do soro. Em pacientes com AR, avaliadas a hemoglobina, a taxa de sedimentação eritrocítica, a contagem diferencial de células brancas e a proteína C reativa, não houve mudanças significativas [14]. Não foram encontradas diferenças significativas no fator reumatóide, anticorpos antinucleares, precipitados de polietileno glicol ou as taxas de sedimentação de Westergren [32]. Análise conclusiva O laser de baixa intensidade é um recurso terapêutico relativamente novo, mas se encontra num processo de avaliação de seus reais efeitos, que em situações in vitro está bem demonstrada sua efetividade, mas em experimentação animal e clínica ainda dependem de um número maior de estudos, para confirmar mecanismos de ação e determinar os parâmetros ideais de aplicação. Além disso, se faz necessário uma melhor definição das enfermidades realmente sucetíveis de tratamento eficaz pelo laser. Apesar de haver vários resultados negativos em trabalhos realizados, há disparidades importantes detectadas por Tuner e Hode [8] que indicam que os parâmetros utilizados não atingiram valores limiares de estimulação, e seus autores acabaram tirando conclusões precipitadas, dificultando inclusive o uso destas referências como embasamento para trabalhos posteriores. Esta revisão é a parte inicial de um trabalho, que daremos continuidade no próximo número, onde serão discutidos os mecanismos de atuação do laser de baixa intensidade nos diferentes tecidos corporais. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Referências 1- Herch J, Teresi D. El rayo láser. Barcelona: Salvat Editores S.A; 1987. 2- Colls J. La terapia láser, hoy. Barcelona: Edición Centro de Documentación Láser; 1985. 3- Martinez M, Vega P, Portero S. Manual de Medicina Física. Harcourt Brace. Barcelona 1998;20:254–275. 4- Baxter GD. Therapeutic Laser. USA: Ed. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 241 Artigo original Os efeitos do laser de baixa intensidade em feridas cutâneas induzidas em ratos com diabetes mellitus experimental The effects of low level laser therapy on cutaneous wounds in rats with experimental diabetes mellitus Paulo de Tarso Camillo de Carvalho*,**, Nilton Mazzer*, Adalberto Vieira Corazza***, Rene Mariano Raduam*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Departamento de Bioengenharia EESC/FMRP/IQSC-USP/SP, **Departamento de Fisioterapia UNIDERP/ MS, ***Faculdades Salesianas de Lins/SP * Palavras-chave: Laser de baixa intensidade, feridas cutâneas, diabetes aloxânico, regeneração tecidual. Resumo O presente trabalho propõe-se a realização de um estudo sobre os efeitos da terapia laser na regeneração tecidual de feridas cutâneas induzidas em ratos diabéticos e não diabéticos e sua relação com a reparação tecidual. No estudo foram utilizados 15 ratos Wistar, machos. O diabetes foi induzido por injeção intravenosa (veia dorsal do pênis de Aloxana (2, 4, 5, 6 - Tetraoxypyrimidina; 5 – 6 Dioxyuracila) SIGMA, 0,1ml de solução a cada 100 g de peso corporal. Para dar cumprimento ao trabalho foi realizada uma lesão no terço médio do quadríceps dos animais sendo estes divididos em grupo A diabético tratado, B não diabético tratado, C não diabético não tratado. Os animais dos grupos A e B foram tratados com Laser HeNe com uma dosagem de 4 J/cm2 por 36 s. Destes um de cada grupo foi sacrificado no 3º dia após a lesão e o restante no 7º dia e retiradas as amostras que foram emblocadas em parafina, coradas com H.E. e Tricrômico de Endereço para Correspondência: Prof. Paulo de Tarso C. Carvalho, Departamento de Fisioterapia UNIDERP, Av. Alexandre Herculano, 4000, Bairro Parque dos Poderes – 79037-280, Campo Grande - MS, Tel: (67) 326-9972, E-mail: [email protected] 242 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Masson e realizada a análise histológica. Das 6 lesões, 3 foram analisadas 72 horas após a sua realização, em um animal de cada grupo. Observou-se através de microscopia de luz que as reações inflamatórias foram idênticas, independendo do grupo. As lâminas apresentaram área de exsudato inflamatório agudo, com intensa migração de neutrófilos. As 3 lâminas obtidas sete dias após a indução, apresentavam inflamação crônica de duração prolongada, marcada pelas tentativas de reparação do tecido. Nas lâminas do grupo A e B observou-se: tecido de granulação exuberante com presença de fibras colágenas; intensa proliferação fibroblástica; e células inflamatórias mononucleadas, principalmente linfócitos e macrófagos; neoformação de vasos sugerindo reposição de tecido conjuntivo por um processo envolvendo angiogenêse e fibroblastos. No grupo controle as lâminas apresentavam um intenso exsudato, células inflamatórias, exacerbação de vasos incompletos e fibroblastos. Os resultados indicam que aplicação da laserterapia se mostrou muito eficaz equilibrando e acelerando o processo de reparação das feridas cutâneas em ratos diabéticos. Key words: Low Level Laser Therapy, Cutaneous Wounds, Diabetes Aloxânico, Tecidual Regeneration. Abstract The present work studies on the effect of the laser therapy in tecidual regeneration of induced cutaneous wounds in diabetic and not diabetic rats and its relation with the tecidual repairing. In this study, 15 Wistar rats males had been used. Diabetes was induced for intravenous injection (dorsal vein of the penis of Aloxane (2.4.5.6tetraoxypyrimidine; 5 - 6 dioxyuracil) SIGMA, 0.1ml of solution to each 100 g. of corporal weight. To give fulfillment to the work an injury in quadriceps of the animals was carried through. These animals were divided in group A treated diabetic, B treated not diabetic, C not treated not diabetic. To these one had been dealt with HeNe Laser with a 4 dosages of J/cm2 for 36 each group was sacrificed in 3º day after the injury and the remainder in 7º day and withdrawals the samples that had been embrocates in paraffin, coradas with H.E. and Tricrômico de Masson and carried through the histological analysis. Of 6 injuries.3 72 hours had been analyzed in an animal of each group. It was observed through light microscopy that the inflammatory reactions had been identical, independents of the group. The blades had presented area of acute inflammatory exsudato, with intense migration of neutrófilos. The 3 gotten blades seven days after the induction, presented chronic inflammation of duration drawn out, marked for the attempts of repairing of the fabric. In the blades of the group and the B it was observed: fabric of exuberant granulation with colágenas staple fiber presence; intense fibroblástica proliferation; e mononucleadas inflammatory cells, mainly lymphocytes and macrophages; neoformação of vases suggesting conjunctive fabric replacement for a process involving angiogenese and fibroblasts. In the group it has controlled the blades presented an intense exsudato, inflammatory cells, exacerbação of incomplete and fibroblasts vases. The results indicate that application of the laserterapia if showed very efficient balancing and speeding up the process of repairing of the cutaneous wounds in rats day. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 243 Introdução Metodologia Apesar dos princípios físicos sobre os quais se apóia a amplificação da luz pela emissão estimulada da radiação terem sido demonstrados e comprovados em 1917 por Albert Einstein, somente na década de sessenta o primeiro feixe de luz laser foi produzido por Maiman [1], entretanto, sua utilização tornou-se mais difundida nos últimos dez anos. Atualmente o uso do laser encontrou aplicabilidade na aceleração seletiva de diversos processos e funções celulares [2], entre os quais a cicatrização e o reparo de feridas. São vários os autores que se reportam ao tema [3,4,5], entretanto ao nível nacional as pesquisas caminham lentamente. As pesquisas dos efeitos biológicos e fisiológicos do laser abrangem três áreas principais que são: pesquisa celular; estudos em animais e estudos controlados em humanos. Mester [6] no início dos anos setenta foi o primeiro a utilizar o laser de baixa intensidade na cicatrização e reparo de feridas em humanos. Com base nestes estudos principalmente pela velocidade aumentada da cicatrização, esta modalidade tornou-se popular, contudo, diante do fato de que em muitos estudos publicados até agora os resultados não são exclusivamente positivos [7], justifica-se a realização de novos estudos referentes à cicatrização de feridas. O tema cicatrização de feridas se torna mais agravante quando nos referimos a diabéticos, devido às alterações neurotróficas e na morfologia dos vasos sanguíneos [8] que dificultam o reparo tecidual principalmente na segunda fase do processo denominada proliferação, onde a fase inflamatória é seguida pela formação de tecidos de granulação, sendo este formado por um conjunto celular contendo macrófagos, fibroblastos, células endoteliais e uma matriz de tecido conjuntivo [9]. Considerando estas premissas, o presente estudo teve como objetivo verificar a correlação entre a regeneração tecidual de feridas cutâneas induzidas em ratos diabéticos e não diabéticos, submetidos à radiação do laser de baixa intensidade. Para dar cumprimento a pesquisa o modelo animal escolhido foi o rato da raça Wistar pelas seguintes razões: sua ampla utilização em pesquisas biomédicas, facilidade de manutenção, manuseio e padrão estabelecido das características que o animal apresenta ao diabetes induzido pelo Aloxana. A amostra foi composta de 15 animais machos, sendo que houve a morte de 9 devido à anestesia pela inalação de Éter etílico e hiperglicemia. Os pesos corpóreos variaram de 200 a 300 gramas, mantidos em fotoperíodo de 12 horas, ficando sob observação por um período de dois dias, antes da utilização dos mesmos no experimento. Os animais foram alimentados antes e durante todo o experimento com ração sólida e água à vontade, Os níveis de glicemia e variações de peso corpóreo foram monitorados ao longo de todas as etapas do experimento. O diabetes foi induzido em oito animais, mediante a injeção de Aloxana. Dos animais induzidos somente 4 atingiram o nível ideal de glicemia para o diabetes. Em uma etapa posterior, foi realizada ulceração do terço médio do quadríceps. Vinte e quatro horas após a cirurgia iniciou-se a aplicação do laser Hélio Neônio com dosagem de 4 joules por centímetro quadrado por 7 dias consecutivos. Ao final do tratamento convencionado, os animais foram sacrificados com inalação de Éter etílico e colhidas amostras de tecido epitelial ulcerado e normal em cunha, respeitando a extensão e profundidade das feridas e colocado em recipiente contendo solução de Formal a 10%, sendo enviado para análise histológica. Para o estudo anátomopatológico, os fragmentos foram emblocados em parafina e corados com H.E. e Tricrômico de Masson. Equipamento laser utilizado O aparelho foi o Laser HeNe plasmax IV, LHN 9709 da marca KLD Biossistemas com potência contínua máxima de 5 mW comprimento de onda de 632,8nm visível. 244 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Indução do diabetes aloxânico Indução das feridas cutâneas Os animais ficaram em jejum prévio por 24 horas, pois nestas condições tornavam-se mais susceptíveis ao diabetes. Após anestesia por inalação de Éter etílico, eram contidos em decúbito dorsal, para receber uma injeção intravenosa – veia dorsal do pênis de Aloxana (2, 4, 5, 6, Tetraoxypyyrimidina; 5 – 6 – Diioxyuracila) – SIGMA. De uma solução estoque de 50mg de Aloxana e 0,8 ml de soro fisiológico preparada no momento da sua utilização, aplicava-se 0,1 ml de solução a cada 100 gramas de peso corporal, resultando em dose final de 62,5 mg de Aloxana/kg de peso [11]. Decorrida 6 horas após a injeção, os animais foram tratados com glicose adicionada à água, para evitar convulsões e morte comuns na fase hipoglicêmica. Após 24 horas foi retirada a glicose da água. Para constatar o diabetes utilizou-se o seguinte padrão de monitoramento glicêmico: Verificação da glicemia antes da indução ao diabetes, verificação da glicemia 72 horas após a indução ao diabetes, sendo que os animais que não apresentaram valores iguais ou superior a 250 miligramas por decilitro de sangue foram descartados, verificação da glicemia no quinto dia do tratamento para confirmação da permanência do diabetes e finalmente verificação do diabetes no dia do sacrifício para avaliar qualquer processo de reversão do diabetes. As verificações foram feitas retirando-se sangue da veia da cauda sendo colocada uma gota sobre fitas reagentes da marca Advantageâ e a leitura feita em um Glucometer. Foi utilizado anestésico Quetamina, sendo que para cada 100 gramas de peso corporal foi utilizado 0,2 ml de anestésico [10]. O tempo de anestesia proporcionado pelo anestésico foi de 55 minutos sem alteração nos parâmetros fisiológicos e demais funções gerais. Assim foi realizado um procedimento cirúrgico com bisturi nº 20 promovendo uma lesão com diâmetro de 2 cm e 0,5 de profundidade no terço médio do quadríceps. Os animais que morreram foram substituídos para dar continuidade à pesquisa. Fig.1 Caso D.T 1 – 72 horas D.T 2 – 07 dias N.D.T 3 – 72 horas N.D.T 4 – 07 dias N.D.N 5 – 72 horas N.D.N 6 – 07 dias L +++ ++ +++ ++ + ++++ V B F + ++ + ++ + +++ ++++ + ++++ + - + + - Dados Microscópicos; L = Neutrófilos; V = Números de Vasos; F= Fibrose; B= Número de Fibroblastos D.T.: Diabético Tratado; N.D.T: Não Diabético Tratado; N.D.N: Não Diabético Não Tratado * Leitura em escala semi-quantitativa (-) = Mínimo ou Ausente; + = Discreto; ++ = Moderado; +++ = Intenso; ++++ = Muito Intenso. Tratamento Os animais foram divididos em três grupos distintos A, B, C contendo dois animais em cada grupo, sendo que cada animal recebeu uma designação como: Grupo A Cobaias I e II diabéticas Tratadas; Grupo B Cobaias III e IV não diabéticas tratadas; Grupo C Cobaias V e VI não diabéticas, não tratadas. Cada animal do grupo A e B foi tratado com Laser HeNe com dosagem de 4j/cm2 em uma área de 3 cm2, durante 36 segundos em cada lesão. O grupo C foi adotado como grupo controle comparativo para o resultado da análise Fig.2 - Gráfico Comparativo das amostras analisadas Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 245 macroscópica e microscópica na remodelação epitelial das lesões. Os animais I e III receberam três aplicações de laser, assim após 72 horas estes animais mais a cobaia V foram sacrificados por inalação de Éter etílico e foram retiradas as amostras e conservadas em Formol a 10%. Este procedimento foi adotado para analisar quais são os benefícios da laserterapia na fase inflamatória e na fase inicial da proliferação. Os animais II e IV receberam sete aplicações de laser e no término do tratamento foram sacrificados, mais a cobaia VI, sendo adotado o mesmo procedimento já descrito anteriormente. va-se através da microscopia, que as reações inflamatórias apresentadas pelos animais I e III foram idênticas, independendo do grupo ser diabético ou não. Os eventos da inflamação aguda ocorrem com a mesma intensidade. Já o animal V, sua análise foi prejudicada, devido a falhas técnicas. Observa-se que tanto o animal I como o III apresentam área de exsudato inflamatório agudo, com intensa migração de neutrófilos, não existindo ainda nesta fase o aparecimento de fibroblastos e evidentemente tecido fibroso. Observa-se também a existência de alguns poucos vasos neoformados. As três lâminas seguintes obtidas sete dias após a indução da lesão, foram divididas em animal II cobaia diabética tratada através do laser, animal IV cobaia não diabética tratada por laser e animal VI não diabético e não tratado. Todas as cobaias em questão apresentaram inflamação crônica de duração prolongada, marcada pelas tentativas de reparação do tecido. Na análise histológica dos tecidos do animal II, há presença de tecido de granulação exuberante com presença evidenciada de fibras colágenas e intensa proliferação fibroblástica, existindo ainda, um número moderado de células inflamatórias mononucleadas, principalmente linfócitos e macrófagos. Observa-se ainda um número de moderado para intenso de neoformações de vasos, sugerindo reposição de tecido conjuntivo por processo envolvendo angiogênese e fibroblastos. Durante a análise dos tecidos do animal IV, observa-se a mesma reação citada anteriormente em número e grau, levando-nos a acreditar que a aplicação da laserterapia se mostrou muito eficaz equilibrando e acelerando o processo de reparação nas cobaias diabéticas. Os resultados alcançados diferem dos estudos existentes [12], pois as amostras deveriam apresentar um retardo no processo de reposição tecidual. Quando os tecidos analisados anteriormente são comparados com o animal controle denominado VI, os achados se tornam ainda mais claros, visto que este por não ser tratado, apresentava um intenso exsudato difuso, comprometendo todas as estruturas do órgão denominado fleigmão ou celulite. Observa-se, ainda, exacerbação do número de vasos e fibroblastos, sendo que os primeiros apresentavam-se incompletos. Um Resultados Todos os dados colhidos são descritos na Fig.1 em escala semiquantitativa e plotados na Fig.2, onde o eixo das ordenadas representa o os valores de zero a quatro de intensidade das ocorrências na escala semi-quantitativa, o eixo das abscissas representa os achados da microscopia . Os valores amostrais dividiram-se basicamente em três grupos, constando o período da retirada da amostra, se foi tratada ou não e ainda se eram diabéticas. Discussão e Conclusões Segundo Robbins [12], a inflamação é a reação do tecido vivo vascularizado a uma lesão local, esta pode ser causada por infecções bacterianas, agentes físicos, substâncias químicas, tecidos necróticos e por reações imunológicas. O papel da inflamação é conter e isolar a lesão, destruindo os microorganismos invasores, atingindo a cura e o reparo, entretanto, a inflamação e o reparo provocam reações de hipersensibilidade, lesão progressiva do órgão e fibrose. Os tecidos objeto de estudo desta pesquisa não diferentemente do que foi citado acima passaram por todas estas etapas que serão discutidas a seguir. Das seis lesões em questão, três foram analisadas 72 horas após a sua realização, sendo que a primeira foi desenvolvida em cobaias diabética, a terceira em uma cobaia não diabética e a quinta no grupo controle. Obser- 246 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 outro fator que marca estes tecidos é o achado de número intenso de neutrófilos. O que nos leva a afirmar que o tecido em questão apresentava uma fase inflamatória crônica com reação aguda. Diante do que foi evidenciado na pesquisa, apesar da literatura demonstrar que o diabetes retarda e dificulta o processo de reparação tecidual, observou-se que a utilização do laser na reparação de feridas cutâneas, apresenta grande eficiência, demonstrando resultados semelhantes em número e grau, tanto em cobaias diabéticas quanto nas não diabéticas, proporcionando em ambos os casos grande presença de tecido de granulação, com fibras colágenas, intensa proliferação de fibroblastos e neoformação de vasos sangüíneos o que sugere uma aceleração na reparação tissular. 4. Schindl A. Diabetic neuropatic foot ulcer: successful treatment by low – intensity laser therapy. Dermatology.1999;3: 314-316. 5. Fleming K. Laser therapy for the treatment of venous leg ulcers. J. Tissue Viability 1999;9(2);67-69. 6. Mester E, Korenyl-Both A, Spiry T. The effect of laser irradiiiiiation on the regeneration of muscle fibers. Zetschrift Exprimentelle Chirurgie 1975;8:258-262. 7. 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Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 247 Artigo original Fisioterapia em grupo utilizando técnicas de relaxamento: influência no grau de independência funcional de pacientes com seqüelas de acidente vascular cerebral Influence of physiotherapeutic treatment in group using techniques of relaxation in the degree of functional independence in patients with sequels of cerebral vascular accident Sara Cristina Freitas de Oliveira*, Jandira Railson Meira**, Neide Maria Gomes Lucena*** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta e mestranda em engenharia de produção (núcleo de ergonomia e segurança do trabalho) - UFPB, **Fisioterapeuta, ***Fisioterapeuta, Profª. Adjunta do Departamento de Fisioterapia da UFPB, Doutora em “Nuevas Perspectivas en la Investigación de Ciencias del Deporte” Universidade de Granada, Espanha Palavras-chave: AVC, técnicas de relaxamento, consciência corporal, independência funcional. Resumo O objetivo deste estudo foi de avaliar a influência das técnicas de relaxamento de Jacobson e Eutonia, aplicadas em grupo, na independência funcional de pacientes com seqüelas de AVC. A amostra consistiu de 4 sujeitos, avaliados em 2 momentos: antes e após a intervenção com o programa de relaxamento. Foram realizadas anamnese, exame físico e aplicação de escalas de avaliação do equilíbrio e da marcha (Escala de Tinetti) e Atividades Básicas da Vida Diária - ABVD‘s (Índice de Barthel). Os resultados demonstraram um incremento de todas as variáveis com relação ao início do programa, mas na análise estatística feita através do programa SPSS detectou uma diferença significativa no que diz respeito à variável marcha (p = 0,03), bem como uma correlação entre as variáveis equilíbrio e marcha (r = 0,723). Estes dados nos levaram a concluir que o programa de relaxamento baseado na consciência corporal e no reequilíbrio do tônus influenciaram de forma significativa no desempenho funcional destes indivíduos. Endereço para correspondência: Sara Cristina Freitas de Oliveira, Condominio Parque dos Ipês I, B l21, Bairro dos Ipês, João Pessoa, 58028-700 Paraíba, E-mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 248 Key-words: CVA, Relaxation Techniques, Functional Independence. Abstract The objective of this study was to evaluate influence of the Jacobson and Eutonia relaxation techniques, applied in group, in patients functional independence with sequels of CVA. The sample consisted of 4 subjects, evaluated on 2 moments: before and after the intervention with the relaxation program. Anamnesis, physical exam and application of evaluation scales of equilibrium and gait (Scale of Tinetti) and Basic Activities of the Daily Life - BADL’s (Index of Barthel) were realized. The results demonstrated a significant improvement of these variables, with a gain on the average of 1,25 scores in BADL’s; 3,25 in equilibrium and 1,75 in gait. We conclude that the relaxation program based on the corporal conscience and in tonus normalization improved the functional acting of these individuals. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Na atualidade, tem se difundido a utilização de técnicas de relaxamento, destacando sua influência e eficácia no organismo humano, tanto na esfera psíquica como física, dirigida na maioria das vezes a uma população considerada “normal”. O trabalho de investigação que descreveremos a seguir, ressalta a importância de introduzir nos programas de reabilitação, técnicas que favoreçam ao indivíduo com necessidades especiais, especialmente a população objeto deste estudo (indivíduos com seqüelas de AVC) a possibilidade de despertar uma maior consciência corporal, auto-conhecimento e conseqüentemente maior independência funcional e integração social. Conforme Sullivan [1], o acidente vascular cerebral (AVC) resulta da restrição na irrigação sanguínea ao cérebro, causando lesão celular e danos às funções neurológicas. O quadro clínico compõe-se por diversas alterações incluindo danos sensitivos, motores, mentais, perceptivos e da linguagem. Os distúrbios motores se caracterizam por hemiparesia ou ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ hemiplegia no lado do corpo oposto ao local da lesão. Hemiplegia é um termo geralmente usado para se referir a uma grande variedade de problemas decorrentes do AVC. Downie [2] afirma ser a causa mais comum de disfunção neurológica na população adulta. Para Umphred [3], as incapacidades resultantes de um AVC são uma agressão em massa à auto-percepção da pessoa que se depara drasticamente com um corpo totalmente novo. No caso de uma pessoa cronicamente incapacitada, é importante que ela aprenda como mudar a imagem corporal previamente aceita para uma que permita e encoraje uma função mais normal. O hemiplégico geralmente fica deprimido, perde o interesse por atividades sociais e os sentimentos de rejeição e humilhação podem interferir com sua interação com outras pessoas. Sullivan [1] escreve que a imagem corporal (memória visual e mental do corpo do indivíduo, incluindo sentimentos acerca do seu corpo, especialmente em relação à saúde-do- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 249 ença) e o esquema corporal (modelo postural do corpo, o relacionamento das partes corporais e a relação do corpo com o ambiente) geralmente estão distorcidos nas pessoas que sofreram um AVC. A conscientização do esquema corporal é considerada um dos fundamentos essenciais para o desempenho de todo o comportamento motor significativo, esta consciência deriva da integração de sensações tácteis, proprioceptivas e interoceptivas, além dos sentimentos subjetivos acerca do seu corpo. Baseado no fato de que o AVC acarreta um grave comprometimento do tônus, da imagem e do esquema corporal, julga-se eficaz a utilização de técnicas de relaxamento, aplicadas em grupo, numa proposta de enriquecimento do esquema corporal e regularização do tônus, através de atividades de sensibilização e conscientização, explorando e desenvolvendo dessa forma as potencialidades funcionais do indivíduo e, através do contato consigo, mesmo promover o auto-conhecimento e, conseqüentemente, maior autonomia pessoal e integração social. De acordo com La Pierre [5], o trabalho em grupo irá atuar como uma estimulação exteroceptiva, onde os membros que compõem o grupo estarão funcionando como “espelho” uns para os outros, visando também influenciar diretamente no grau de interação, sociabilização, depressão e motivação destas pessoas. Dos métodos existentes que abordam o relaxamento, escolhemos para esta investigação dois deles: Relaxamento Progressivo de Jacobson (adaptado) e Eutonia de Gerda Alexander. Alguns trabalhos científicos ressaltam a eficácia destas técnicas em populações similares, principalmente nos resultados obtidos por Gomes de Lucena [6], Cautela e Groden [7]. La Pierre [5] descreve a técnica de Jacobson como sendo um método fundamentado na percepção de relaxamento que se segue a uma contração ou tensão muscular localizada. A educação dessa percepção permite sentir e realizar o relaxamento total de cada grupo muscular e em seguida do corpo inteiro. Permite também, no plano somático, identificar as tensões mais sutis e mais localizadas. Do ponto de vista neuromotor, realiza uma edu- cação progressiva da qualidade das percepções proprioceptivas. Do ponto de vista psicomotor, favorece a concentração mental na sensação proprioceptiva localizada. O indivíduo parte para descoberta do seu corpo “pelo interior”, resultando no enriquecimento considerável do esquema corporal. De acordo com Linares [8], o relaxamento muscular leva automaticamente a um relaxamento do Sistema nervoso autônomo e do Sistema nervoso central. Em relação a Eutonia (do grego eu = bom, tônus = tensão) de Gerda Alexander, Berta Vishnivetz [4], a define como educação psicofísica, pois sustenta as experiências psicológicas e ou físicas ficam impressas na memória do corpo. É um método que visa o reequilíbrio do tônus muscular e da energia, adequando-os para cada situação do seu cotidiano. No âmbito psicológico, a eutonia propicia um auto-conhecimento através da observação dos processos corporais pessoais. A flexibilidade do tônus é o tema principal de eutonia. Daí a importância da criação de condições que tornem o corpo mais sensível para perceber e sentir conscientemente as várias sensações que nele ocorrem e também aprender a reagir adequadamente a diferentes estímulos externos. Este processo se dá pela autoobservação vivenciadas dos movimentos, do ritmo respiratório, da circulação e do tônus. Ribeiro e Magalhães [9]afirmam que a eutonia prepara o indivíduo para desenvolver a sensibilidade tátil superficial e profunda, resgatando a presença da pele e desenvolver a consciência do espaço corporal. A Eutonia, de acordo com Linares [8], apresenta 3 componentes corporais: Unidade: um movimento pode ser transmitido para todo o corpo; Consciência: percepção do próprio corpo; Liberdade: bem estar e vivência do corpo. Neste estudo utilizamos os princípios de Eutonia descritos por Vishnivetz [4] : • O inventário: em diferentes posições, orienta-se a pessoa a dirigir gradualmente sua atenção para cada parte de seu corpo, observando o apoio que as diferentes superfícies proporcionam ao corpo, a posição de um segmento em relação ao outro. • O Contato: Intercâmbio ativo e conscien- 250 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 te que se estabelece consigo mesmo, com um objeto (bastão ou bola) ou com outra pessoa. • Os Movimentos eutônicos: Estiramento Vital que é uma reação natural de todo o corpo depois que ele ficou imóvel por algum tempo, onde predominam tanto movimentos de torção como de rotação (espreguiçar). Os Movimentos de Controle, de ritmo lento e contínuo, controlam a inervação dos músculos, sua força, extensão e a flexibilidade das articulações. dronizada para a avaliação das Atividades Funcionais; Escala de Tinetti adaptada [11] ara Avaliação do Equilíbrio e da Marcha. Foi realizado o pré-teste destes instrumentos em pacientes que não foram incluídos na amostra, porém apresentavam características similares. A parte experimental foi constituída de um Programa de Relaxamento realizado na Clínica Escola de Fisioterapia, do CCS/ UFPB; de 28/10/1999 a 08/02/2000. A programação propriamente dita, constou de 18 sessões; a razão de duas sessões semanais, com duração de 1 hora cada. O programa de intervenção foi fundamentado nas técnicas de relaxamento de Jacobson (Método de Relaxamento Progressivo- adaptado) e Eutonia de Gerda Alexander aplicadas em grupo aos sujeitos da amostra. Houve um treinamento prévio para a aplicação destas, no qual foram feitas adaptações de alguns padrões de movimentos para atender as necessidades e limitações dos pacientes. Os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se o programa SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 8.0 para Windows. Foi realizada comparação de médias através do Teste de Amostras Emparelhadas; também foi feita uma análise de correlação simples entre as variáveis equilíbrio e marcha, a um nível de significância de 0,05%, foi feito o cálculo do coeficiente (r) de Pearson, estabelecendo-se a hipótese alternativa de que existe correlação entre estas duas variáveis. De ambos os métodos (Jacobson e Eutonia), extraiu-se o essencial para adaptar o programa às características e necessidades especiais dos membros do grupo. Todos os exercícios são associados com a respiração, bem como com a conscientização dos movimentos, para obtenção do controle e harmonia destes. Material e método A pesquisa foi realizada segundo um delineamento descritivo, observacional, com abordagem mista (quantitativa e qualitativa), consistindo de um plano experimental de um único grupo, com dois momentos de medida (pré e pós-tratamento). A população consistiu de pacientes hemiplégicos atendidos no ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Centro de Reabilitação do Instituto de Previdência do Estado da Paraíba (IPEP) da cidade de João Pessoa – PB. A amostra foi constituída por 4 sujeitos selecionados a partir dos seguintes critérios: apresentar hemiparesia decorrente de um AVC e que este tenha ocorrido há pelo menos 1 ano; o sujeito não apresentar afasia nem comprometimento mental e intelectual; ser capaz de caminhar ao menos 50 metros sem ajuda de outra pessoa, mas podendo utilizar auxílios (muletas e bengala), aceitarem participar da investigação caracterizando desta forma uma amostragem por acessibilidade, que de acordo com Gil [10], “constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem; por isso é destituída de qualquer rigor para com a representatividade estatística”. Como instrumentos de medida, utilizamos: Índice de Barthel (IB) para a Estimação das Atividades Básicas da vida diária; Ficha pa- Resultados Somente 4 pacientes foram incluídos no estudo pelos critérios estabelecidos. A descrição da amostra (N = 4), quanto às variáveis sexo, idade, tempo decorrido do AVC (em anos), lado hemiparético e seu grau de espasticidade, antecedentes pessoais, está apresentada na Tabela 1. A média de idade dos pacientes foi de 65,25 anos. A Tabela 2 diz respeito a evolução do grau de independência funcional do grupo em estudo, levando em consideração as variáveis: atividades básicas da vida diária (ABVD’s); equilíbrio e marcha. Realizouse uma análise dos resultados obtidos em 2 momentos da investigação: pré-tratamento (antes da intervenção com o programa de relaxamento) e pós-tratamento (depois da intervenção). Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 251 A média da soma dos escores obtidos com a Estimação das (ABVD’s): Índice de Barthel no pré-tratamento, foi de 72,5 e no pós-tratamento de 73,5, valor classificado como dependência leve. Sendo que a pontuação máxima do I.B. é de 85 escores. Na avaliação do equilíbrio (Escala de Tinetti adaptada), a média dos escores registrados no pré-tratamento foi de 11 e no pós-tratamento de 14,25. A pontuação máxima dessa escala é de 16 escores. A análise da marcha (Tinetti) apresentou média inicial de 3,75 e final de 5,5. O valor máximo dessa escala é de 8 escores. Através da análise estatística verificou-se que houve diferença significativa em relação ao início do programa no que diz respeito à variável marcha (p < 0,05). Também pode-se observar uma associação significante entre os escores da escala de equilíbrio e da marcha, sendo essa correlação positiva e de moderada magnitude (Tabela 3). Discussão Os resultados encontrados neste estudo podem ser interpretados como significativos, devido ao incremento das ABVD’s, equilíbrio e marcha como pode ser visto no gráfico1, bem Gráfico 1 - Evolução da variáveis ABVD’s, Equilíbrio e Marcha. Obtida através dos dois momentos de medida, pré e pós tratamento. Tabela I - Distribuição das características dos sujeitos da amostra, segundo sexo, idade, lado hemiparético, grau de espasticidade e antecedentes pessoais (diabetes e hipertensão). Hipertensão 1 2 3 4 sexo idade tempo decorrido do AVC (em anos) Grau de espasticidade lado hemiparético Diabético Hipertensão M M M F 66 58 66 71 17 7 1 2 moderada leve grave ausente D E D E sim sim sim não sim sim sim sim Tabela II - Índice das variáveis: Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD’s); Equilíbrio e marcha nos dois momentos de medidas, pré-tratamento (PRÉ) e pós-tratamento (PÓS)dos sujeitos da amostra. sujeito 1 Abvd’s 1 Equil. 2 Marcha 3 Pré 70 12 2 Pós 70 13 4 sujeito2 Pré 85 11 5 Pós 85 16 8 sujeito3 Pré 60 7 2 Pós 65 14 3 sujeito4 Pré 75 14 6 Pós 75 14 7 média Pré 72,5 11 3,75 média Pós 73,75 14,25 5,5 Diferença entre as médias 1,25 3,25 1,75 p 0,391 0,144 0,035* 1: escores do Índice de Barthel; 2: escores da escala de Tinetti referentes ao equilíbrio; 3: escores da escala de Tinetti referente à marcha. p: nível de significância. (*)p<0,05. Tabela III - Coeficientes de correlação entre as variáveis marcha e equilíbrio Coeficiente de correlação de Pearson Equilíbrio Pré-tratamento - Marcha Pré-tratamento r = 0,659 Equilíbrio Pós-tratamento- Marcha Pós-tratamento r = 0,723 252 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 como da integração social. A este respeito concordamos com Gomes de Lucena [12] uando afirma que o relaxamento é indispensável para qualquer tipo de trabalho corporal, como via para facilitar a sintonia com o próprio corpo, tornando-o mais aberto e receptivo para outras atividades. Esta evolução também pôde ser constatada, através da observação sistematizada, com uma crescente melhora no grau de sociabilização e interação entre os componentes do grupo e que a evolução de um dos componentes era motivo de satisfação para todos, comprovando a afirmação de Davis [13], de que o trabalho em grupo facilita a produtividade e que a simples presença do outro representa fonte de apoio. A cada sessão os movimentos eram realizados com maior coordenação e controle. As mudanças de postura (p. ex.: de decúbito dorsal para de pé e vice-versa) que nas sessões iniciais eram realizadas com dificuldade, passaram a ser desempenhadas com maior facilidade e independência. Referências 1. O’ Sullivan SB, Schmitz TJ. Fisioterapia Avaliação e Tratamento. 2 ed. São Paulo. Manole, 1993. 2. Downie PA. Neurologia para Fisioterapeutas. 4 ed. São Paulo. Panamericana, 1987. 3. Umphred DA. Fisioterapia Neurológica. 2 ed. São Paulo. Manole, 1994. 4. Vishnivetz B. Eutonia: educação do corpo para o ser. São Paulo, Summus, 1995. 5. La Pierre A. A Reeducação Física. 6 ed. São Paulo. Manole, 1982. 6. Gomes de Lucena NM. Fisioterapia em grupo com pacientes neurológicos. Belo Horizonte:Livro de ata do VIII Congresso Brasileiro- I Congresso Mineiro de Fisioterapia .1986. 7. Cautela JR, Groden J. Técnicas de Relajación. Barcelona: Martínez Roca. (1995). 8. Linares PL, Sánchez MJ. Parálisis Cerebral y Educacíon Física Especial. Polibea, 1993;41:4-11. 9. Ribeiro AR, Magalhães R. Eutonia. In: Santos, Anna Maria Ferreira. Guia de Abordagens Corporais.São Paulo: Summus, 1997. 10. Gil AC. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 4ª ed. São Paulo: Atlas, 1994. 11. Tinetti D. Valoración del Equilíbrio y la Marcha. Em documentos de Evolución Gerontológica. Granada: Master de Gerontologia Social: Universidade de Granada, 1986. 12. Gomes de Lucena NM. Análisis de un programa de intervención motriz (expresión coprporal) como factor de desarrollo motor e eficacia laboral en un centro especial de empleo de trabajadores con retraso mental. Tesis doctoral: Universidad de Granada-España, 1998. 13. Davis JH. Produção do Grupo. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1973. Conclusão Confrontando os resultados com a bibliografia consultada, concordamos que técnicas de relaxamento de Jacobson e Eutonia, aplicadas adequadamente, podem ser incluídas nos programas de reabilitação de pacientes hemiparéticos, constituindo uma ferramenta eficaz, possibilitando um maior auto-conhecimento no que diz respeito a conhecer, ajustar e ativar novas áreas de sua mente e de seu corpo, repercutindo de forma significativa em uma maior independência funcional. Entretanto destacamos a necessidade de continuar investigando sobre este tema. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 253 Artigo original Abordagem cinesiológica e aspectos clínicos no movimento de ataque na prática do voleibol Kinesiological approach and clinical aspects in the movement of attack in volleyball practice André Faria Russo*, Demóstenes Moreira**, Sérgio Tadeu Bandeira***, Marcelino Vizeu Calvo**** ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ *Fisioterapeuta graduado pela FARPLAC, Auxiliar da disciplina de Cinesiologia, Pós-graduando do Curso de Especialização em Traumato-Ortopedia pela Universidade Castelo Branco **Filiado à Confederação Brasileira de Voleibol-CBV, Fisioterapeuta da Equipe de voleibol da Força Olímpica, Mestre em Ciências da Saúde, Docente da FARPLAC e Faculdade Alvorada, Doutorando em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília, Docente e Coordenador do Curso de Fisioterapia da UNIP-Objetivo/DF ***Mestre e Doutor em Anatomia, Docente da Universidade de Brasília, Consultor de Anatomia da FARPLAC e Faculdade Alvorada ****Fisioterapeuta formado pela FARPLAC, Atleta de voleibol Palavras-chave: voleibol, ombro, músculos. Resumo O presente trabalho visa abordar os aspectos cinesiológicos que envolvem o complexo do ombro durante o fundamento de ataque na prática do voleibol. Durante o movimento de ataque a articulação glenoumeral é muito solicitada devido a forma com que se executa o gesto para a realização do movimento. Por ser uma articulação rasa e muito instável (devida a própria disposição anatômica) a articulação do ombro necessita de músculos bem fortalecidos e com boa flexibilidade para que estes possam manter a cabeça do úmero estável dentro da cavidade glenoide, favorecendo uma melhor funcionalidade e estabilidade articular para os atletas durante o fundamento de ataque. Endereço para correspondência: André Faria Russo, QI-06 bloco T, apto 114, Guará 1 – 71010-204 Brasília – DF, Tel (61) 3821529/9380190, E-Mail: [email protected] Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 254 Key-words: volleyball, shoulder, muscle. Abstract The following study has the intention to approach the kinesiological aspects that comprehend the shoulder complex during the volleyball attack movement. During the attack movement the gleno-humeral joint is very requested because the way that the movement is done. The shoulder is a unstable and not deep joint (because of this anatomic disposition) and because of that, the shoulder joint needs very strong and flexibles muscles to keep the head of the humero bone stable inside of the glenoid cavity, improving the joint function and stability during the attack movement. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Introdução O voleibol, como prática desportiva, foi introduzido em Hollyoke, Massachusetts, Estados Unidos, em 1895, por William C. Morgan. Inicialmente chamado “minonette”, passou a ser denominado “volleyball” pelo Sr. Halstead, de Springfield, Massachusetts, porque o objetivo principal do jogo era atirar a bola de um lado para o outro (volley), por cima da rede [9,15]. No ano de 2001 a seleção brasileira masculina sagrou-se campeã da Liga Mundial, com a fase final sendo realizado na Polônia. Na prática do voleibol, o fundamento de ataque é um dos mais utilizados pelo atleta, fazendo com que a articulação do ombro seja bastante exigida e com isso gerando um desgaste natural desta articulação. Considerações anatômicas e cinesiológicas O ombro, articulação proximal do membro superior, não comporta apenas uma articulação, mas sete, que formam o complexo articular do ombro ou cintura escapular, porém va- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ mos nos deter na “articulação verdadeira no sentido anatômico”, ou glenoumeral sendo a mais importante, constituída basicamente pela: 1) Cabeça umeral, orientada para o alto, para dentro e para trás (na realidade, esta esfera está bem longe de ser regular, já que seu diâmetro vertical é maior em 3 a 4 mm que seu diâmetro ântero-posterior) articulando-se com a cavidade glenóide da escápula [5]. Próximo da cabeça estão os tubérculos maior e menor para inserção dos músculos que circundam e movimentam a articulação do ombro; 2) A cavidade glenóide da escápula, localizada no ângulo súpero-externo do corpo da escápula, ela está orientada para fora, para frente e ligeiramente para o alto [2]. É côncava nos dois sentidos (vertical e transversal), mas sua concavidade é irregular e menos acentuada que a concavidade da cabeça umeral, sendo menos extensa do que a cabeça umeral e; 3) O lábio glenoidiano, é uma fibrocartilagem anular colocada sobre o rebordo glenoidiano, aumenta ligeiramente a sua su- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 255 perfície da cavidade glenóide, mas sobretudo aumenta sua concavidade e restabelece assim a congruência das superfícies articulares; 4) ligamentos: 4a) Córaco-umeral, estendido da apófise coracóide até o tubérculo maior, onde se insere o músculo supra-espinhoso e, até o tubérculo menor onde se insere o músculo subescapular - ambos são estirados na flexão e extensão respectivamente. E o 4b) ligamento gleno-umeral com seus três feixes: superior, médio e inferior, estando os três feixes extendidos durante o movimento de rotação externa do ombro e relaxados na rotação interna do ombro. Durante a abdução, nota-se que os feixes médio e inferir do ligamento gleno-umeral se tensionam, enquanto o feixe superior e o ligamento coraco-umeral se afrouxam [2,5-8,11]. Por ser a articulação mais móvel dentre todas as do corpo humano, a articulação glenoumeral possui três graus de movimento, o que lhe permite orientar o membro superior em relação aos três planos do espaço, graças a três eixos principais: 1) Eixo transversal, contido no plano frontal autoriza os movimentos de flexão e extensão executados dentro de um plano sagital; 2) Eixo ânteroposterior, contido no plano sagital permite os movimentos de abdução e adução efetuados no plano frontal; 3) Eixo longitudinal, determinado pela intersecção do plano sagital e do plano frontal permite as rotações interna/externa do membro superior. E por último temos um quarto movimento que é a combinação de todos os movimentos em torno dos três eixos: a circundução [2,5-7]. A relação de movimento entre a cintura escapular e a articulação glenoumeral é estabelecida pelo ritmo escápulo-umeral. Os primeiros 30º de movimento da articulação glenoumeral ocorrem de maneira pura, entretanto, após este movimento inicial têm-se que para cada 2º de flexão ou abdução do ombro, a escápula sofrerá uma rotação para cima de 1º. Esta proporção de 2:1 é conhecida como ritmo escápulo-umeral [8]. Quatro músculos escapulares (supra-espinhoso, infra-espinhoso, redondo menor e subescapular) formam uma bainha ou manguito rotador musculotendíneo para a estabilização da articulação da glenoumeral, recebendo o auxílio do tendão da cabeça longa do bíceps durante sua ação. O tendão da cabeça longa do bíceps aderido, ao tubérculo supra glenoidiano, favorece a estabilização da cabeça umeral dentro da cavidade glenoidal. Os músculos que participam da bainha rotatória, funcionam como verdadeiros ligamentos ativos da articulação glenoumeral, pois asseguram a coaptação das superfícies articulares fixando a cabeça umeral dentro da cavidade glenoide e permitindo o máximo de funcionalidade. Existem bolsas (subacromial e subdeltóidea) ao redor do ombro que reduzem o atrito dos tendões que passam sobre ossos ou outras áreas de resistência [2,5.8]. Outros músculos agem sobre o complexo do ombro estabilizando-o em seus diferentes graus de movimento, são eles: 1) Trapézio, dividido em três porções, cujas ações são diferentes: 1a) Feixe superior que eleva a cintura escapular; 1b) Feixe médio leva a cintura escapular para trás e aproxima de 2 a 3 cm a borda interna da escápula à linha das apófises espinhosas; 1c) Feixe inferior puxa a escápula para baixo e para dentro. A contração simultânea dos três feixes do trapézio leva a escápula para dentro e para trás, permitindo com que ela gire para alto (20°): Papel modesto na abdução, mas importante no transporte de cargas pesadas, impedindo o deslocamento da escápula e a queda do braço. 2) Rombóide, puxa o ângulo inferior para o alto e para dentro, portanto eleva a escápula, fixa o ângulo inferior contra as costelas aduzindoa, e roda a escápula para baixo orientando a cavidade glenoide também para baixo. 3) Elevador da escápula, atrai o ângulo súpero-interno para o alto e para dentro em 2 a 3 cm (ação de elevar os ombros). 4) Subclávio, tem a função de abaixar a clavícula e conseqüentemente a cintura escapular, além de colocar a extremidade interna da clavícula contra o manúbrio esternal, sendo então coaptador da complexo esterno-costo-clavicular. 5) Serrátil Anterior, 5a) Sua porção superior atrai a escápula para frente e para fora em 12 a 15 cm e a impede de recuar quando se empurra um objeto pesado para frente; 5b) Sua porção inferior faz bascular a escápula para cima: A cavidade glenoide tende a dirigir-se para cima, essa ação intervém na flexão, na abdução, no 256 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 porte de cargas, mas somente quando a abdução do braço ultrapassa 30°. 6) Peitoral Maior, como um todo aduz, roda medialmente o úmero e aduz horizontalmente; sua porção clavicular auxilia na flexão do ombro, enquanto que sua porção esternal auxilia na extensão - ambos com uma linha de ação em aproximadamente 90º. 7) Peitoral Menor, estabiliza a escápula deslocando-a para fora, para baixo e para frente contra a parede torácica, inclinando assim a cavidade glenoide para baixo. 8) Grande Dorsal, hiperestende, aduz e roda medialmente o úmero, aproximando o braço em direção ao tronco. 9) Deltóide, 9a) Porção anterior flete e roda medialmente o ombro, 9b) Porção média abduz o ombro e 9c) Porção posterior estende e roda lateralmente o ombro.10) Supra-espinhoso, abduz o ombro e fixa a cabeça do úmero na cavidade glenoide. 11) Infra-espinhoso, roda lateralmente o braço, auxilia na extensão do ombro, aduz e fixa a cabeça do úmero na cavidade glenoide. 12) Redondo Menor, roda lateralmente o braço, ajuda na adução e extensão do ombro e fixa a cabeça do úmero na cavidade glenoide. 13) Redondo Maior, roda medialmente o braço, auxilia na adução e extensão do ombro, sendo considerado por alguns autores como “pequeno salvador” por permitir todos os movimentos que o grande dorsal realiza, exceto a hiperextensão. 14) Subescapular, roda medialmente o braço e o aduz (auxilia), além de fixar a cabeça do úmero na cavidade glenoide. 15) Coracobraquial, ajuda a fletir e aduzir o ombro, além de participar de sua es- tabilização. 16) Bíceps braquial, 16a) A porção longa flexiona o ombro, auxilia na abdução com rotação a externa do úmero e fixa a cabeça do úmero na cavidade glenoide, 16b) Porção curta, apesar de ter sua ação primária na flexão do cotovelo e supinação do antebraço, pode auxiliar na flexão e adução do ombro. 17) Tríceps Braquial, sua porção longa auxilia na adução e extensão do ombro, enquanto suas cabeças lateral e média não interferem diretamente na ação do ombro [2-6,8,10,11,13]. Fig. 1 - Fase 1 Fig. 3 - Fase 2b Fig. 2 - Fase 2a Análise cinesiológica do fundamento de ataque no voleibol O movimento de ataque pode ser dividido basicamente em 3 fases distintas: Fase 1 - Hiperextensão do ombro, realizado pelos músculos grande dorsal, redondo maior, cabeça longa do tríceps, fibras posteriores do deltóide, trapézio médio, inferior e rombóides representados nas ilustrações que seguem (Fig. 1). Fase 2 - Flexão associada a uma rotação externa do ombro, fragmentando-se em 3 subfases: 2a) Flexão de 0º a 60º, sendo os principais músculos motores: O feixe anterior, clavicular, do deltóide, o coracobraquial e o feixe superior, clavicular, do peitoral maior, sendo esta flexão limitada pela resistência dos músculos redondo menor, redondo maior, infraespinhoso e pela tensão do ligamento córaco-umeral (Fig. 2); 2b) Flexão de 60º a 120º, ocorrendo uma rotação de 60º da escápula por um movimento pendular, que orienta a cavidade glenoide para o alto e para frente, assoFig. 4 - Fase 2c Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 257 ciada a uma rotação lateral com a participação do trapézio, serrátil anterior e supra-espinhoso, sendo limitada pela resistência do músculo grande dorsal e do feixe esternal do peitoral maior (Fig. 3); 2c) Flexão de 120º a 180º, estando limitado o movimento de flexão na articulação glenoumeral e na articulação escapulotoracica, é necessária a intervenção da coluna vertebral (com a ação dos músculos para-vertebrais lombares), gerando uma escoliose funcional para o lado oposto da flexão do ombro (sendo a flexão do ombro unilateral), para compensar a flexão e abdução máxima realizadas pela cintura escapular, com o objetivo de manter o centro de gravidade em equilíbrio (Fig. 4). Fase 3 (a,b,c,d) - Extensão associada a rotação interna sendo os principais músculos motores: redondo maior, subescapular, peitoral menor, feixe postero-anterior do deltóide, grande dorsal, rombóide e trapézio médio (Fig. 5,6,7 e 8). Vale lembrar que quando os músculos agonistas do movimento de ataque, estão em contração concêntrica, os músculos antagonistas estão em contração excêntrica, necessitando também de um reforço muscular (musculação), para evitar um desequilíbrio da musculatura escapular. ta algumas particularidades, como as zonas críticas avasculares: localizadas na porção longa do bíceps e no tendão do supra-espinhoso predispondo a processos inflamatórios, o estreitamento do arco coraco-acromial ou corredeira do supra-espinhoso (formado pelo espaço entre o supra-espinhoso, espinha da escápula e acrômio e ligamento coracoacromial e processo coracóide), pelo tipo de acrômio (reto, curvo ou em gancho), luxação da articulação gleno-umeral devido a um desequilíbrio de força muscular e pelo uso excessivo no movimento de ataque, gerando estresse muscular com acúmulo de ácido lático, resultando em edema, dor e diminuição da amplitude de movimento [3,4,7,10-14]. Estes sintomas são característicos da síndrome do impacto, descrito em jogadores de voleibol, nadadores, jogadores de tênis, lançadores de baseball e praticantes de musculação, causando ruptura do tendão do supra-espinhoso, podendo progredir para uma bursite subacromial ou subdeltóidea [3,4,7,1014]. É válido ressaltar que as lesões decorrentes da prática do voleibol, ocorrem na maioria das vezes por overuse ou overtraining. Principais patologias A resposta imunológica nos tecidos que compõe o complexo do ombro não difere dos demais tecidos do corpo em relação aos processos traumáticos, porém o ombro apresenFig. 5 - Fase 3a Fig. 6 - Fase 3b Conclusões Diante das considerações levantadas no presente estudo e mediante observações feitas através do convívio diário na prática de voleibol, conclui-se: 1 - Devido às novas regras implantadas pela FIVB, acredita-se que as lesões durante as partidas devam ser minimizadas, beneficianFig. 7- Fase 3c Fig. 8 – Fase 3d 258 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 do conseqüentemente a integridade das estruturas que compõem o complexo do ombro; 2 - Os profissionais da área desportiva que se dispõe a trabalhar com atletas de voleibol, devem ter o conhecimento voltado para os princípios de anatomia, fisiologia, cinesiologia e biomecânica, visando conhecer os principais fundamentos deste esporte; 3 - Medidas preventivas devem ser adotadas na rotina diária de treinamento, visando minimizar as possíveis lesões decorrentes desta prática desportiva, principalmente durante o movimento de ataque, já que este é um dos principais fundamentos do voleibol; 4 - Ressalta-se a importância da integridade dos músculos do manguito rotador na prática do voleibol, principalmente no fundamento de ataque, porém, não devemos esquecer dos demais músculos do complexo do ombro; 5 - Acredita-se que o presente trabalho não abrange de forma completa o assunto, entretanto, novos estudos nesta área podem servir para que haja uma discussão mais abrangente nesta área de conhecimento. 3. Briner W. Common injuries in volleyball. Mechanisms of injury, prevention and reabilitation. Sports Medicine. Jully, 1997. 4. Piper HG. Impingement of the rotator cuff in athletes caused by instability of the shoulder joint. Knee Surg Sports Med Traumatol Arthrosc. 1993. 5. Kapandji IA. Fisiologia articular – volume 1. 5oed. São Paulo: Manole, 1990. 6. Kendall FP, Mccreary EK, Provance PG. Músculos: Provas e Funções. 4oed. São Paulo: Manole, 1995. 7. Kisner C, Colby LA. Exercícios Terapêuticos: Fundamentos e Técnicas. 3oed. São Paulo: Manole, 1998. 8. Lippert Lynn. Cinesiologia Clínica para Fisioterapeutas. 2 o ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1996. 9. Manual do Treinador. FIVB – CBV, 1985 10. Milligh MB. Segredos em Medicina Desportiva: Respostas necessárias ao dia a dia em centros de treinamento, na clínica, em exames orais e escritos. 1oed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. 11. Moore KL. Anatomia Orientada para Clínica. 3 oed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1994. 12. Moreira C. Noções Práticas de Reumatologia. 1 ed. Belo Horizonte: Health, 1996. 13. Kugler A. Muscular imbalance and shoulder pain in volleyball attackers. Journal of Sports Medicine. September 1996. 14. Robbins SL. Patologia Estrutural e Funcional. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1996. 15. Volleyball Magazine Special Centenary Collector’s. Avcom Publishing Ed, 1995;6(9). Agradecimentos: À equipe de voleibol feminino da Petrobrás/CEB/ Força Olímpica na pessoa de Ivan Rogêdo. Referências 1. Agaard H. An epidemiological analysis of the injury pattern in indoor and in beach volleyball. Int Journal of Sports Medicine. April, 1997. 2. Smith LK, Weiss EL, Lehmkuhl LD. Cinesiologia Clínica de Brunnstrom. 5oed. São Paulo: Manole, 1997. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 259 Caso clínico Estudo sobre o pé eqüino Case study on equine foot Mariana Huet de Salvo Souza ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapeuta, especialista em Reeducação Postural Global (RPG) e Facilitação Neuromuscular Proprioceptiva - Kabat Palavras-chave: Pé eqüino, RPG, Kabat, quadrúpedes. Key-words: Equine foot, RPG, PNF, quadrupeds. Resumo Apresentação de caso clínico contando as seqüelas de uma obstrução arterial nos membros inferiores. Após longo tempo em coma, o paciente sofreu uma amputação do membro inferior direito com desarticulação do femur. O déficit circulatório e o desequilíbrio muscular levaram a um severo bloqueio em eqüino de pé esquerdo. O estudo faz uma análise da biomecânica do pé eqüino e do tratamento realizado com as técnicas fisioterápicas de RPG e Kabat, e procura comparar este bloqueio com a posição des pés dos quadrúpedes. Abstract Study on an amputee patient with equine foot, treated with both RPG (Philippe Souchard) and PNF (Kabat–Knott–Voss) physical therapy techniques. Biomechanical analysis of the relationship between bipeds and quadrupeds. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Endereço para correspondência: Mariana Huet de Salvo Souza, Rua do Catete, 311, sala 906 – 22220-001 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21) 2205-4173, E-mail: [email protected] 260 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Histórico A paciente S.N.M., 67 anos, fisioterapeuta, vinha apresentando claudicação intermitente, sendo tratada com medicamentos quando, em 2 de janeiro de 1998, sofreu um infarto do miocárdio com agravamento da isquemia nos membros inferiores. O tratamento do infarto indicou a necessidade de uma angioplastia, que foi realizada em 3 de março de 1998. No mesmo dia e em seguida à angioplastia, sofreu outro infarto acompanhado de choque cardiogênico grave com falência de múltiplos órgãos. A situação foi agravada por obstrução arterial aguda nos membros inferiores acompanhada de necrose isquêmica, levando à amputação ao nível da coxa direita, seguida de desarticulação do membro inferior direito. O membro inferior esquerdo, por sua vez, sofreu um comprometimento vascular nas artérias tibial e fibular. A paciente ficou dois meses em coma, tratada por métodos conservadores devido à gravidade do quadro clínico – sepsis (infecção generalizada) e falência cardíaca. para a Associação Brasileira Beneficente de Reabilitação - ABBR - seguindo um amplo programa de reabilitação, quando se adaptou, paulatinamente, à independência em cadeira de rodas. Durante os quinze meses de internação, o bloqueio em eqüino do pé pouco cedeu ao tratamento cinesioterápico, nem mesmo ao estiramento forçado realizado na tábua ortostática, onde a deformidade levava ao apoio sobre as cabeças dos metatarsianos. A paciente garante que o joelho e a bacia permaneciam em posição adequada, fixados por faixas (splints), mas lembra-se do extremo desconforto gerado nessa postura, onde ficava por vinte minutos, duas vezes por dia, cinco dias por semana. Ainda na ABBR, a sugestão de alongamento cirúrgico do tendão calcâneo (Aquiles) foi contra indicada pelo cirurgião, devido à precariedade do sistema vascular. A paciente voltou para sua casa em outubro de 1999, após quase dois anos de internação em diversos hospitais. Em meados de novembro, a paciente procurou-me para tratar do seu bloqueio de pé. Recobrada a lucidez, a paciente relata o seguinte quadro: • Amputação por desarticulação do membro inferior direito; • Plegia e paresia do membro inferior esquerdo abaixo do joelho, com posição do pé em equino, sem nenhum grau de flexão dorsal ou de movimentos laterais de tornozelo; • Déficit de força com atrofia importante nos membros superiores, no membro inferior e no tronco. No próprio hospital recuperou boa parte dos movimentos de membros superiores com cinesioterapia. O desequilíbrio muscular era generalizado, pois a paciente relata uma distensão aguda dos músculos adutores e rotadores mediais de coxo femoral esquerda, sem se recordar das razões dessa lesão. Uma causa possível para a distensão seriam os movimentos no leito para higiene, por exemplo. A obstrução arterial do membro inferior esquerdo levou à necessidade de bypass axilo femoral esquerdo, realizado após estabilização do quadro clínico. Em junho de 1998, a paciente foi transferida Tratamento adotado a partir de novembro de 1999 Avaliação do pé Pé em eqüino irredutível, dedos em garra. Movimentos dos pododáctilos com arco de movimento limitado. Parestesia do terço médio da perna até os pododáctilos. Análise das retrações, seguindo a visão biomecânica da Reeducação Postural Global - RPG, do fisioterapeuta francês Philippe Souchard (ver Fig. 1 e 2 e Foto 1, com permissão da paciente): • Músculos vencedores, cujo encurtamento mantém o eqüino do calcâneo: solear; gêmeos • Músculos transmissores, partindo da deformidade em eqüino do calcâneo, alteram o alinhamento dos ossos do tarso e do metatarso, que saem da sua posição fisiológica em arco horizontal para uma posição praticamente vertical: - tibial posterior - flexor comum de dedos - flexor próprio do grande dedo Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 - lumbricais - quadrado plantar - interósseos - curto flexor plantar • Músculos vencidos, tão distendidos pela deformação da articulação tíbio-talar em eqüino que ficaram sem possibilidade de ação: - tibial anterior - longo fibular (peroneiro) lateral - curto fibular lateral • Músculos aproveitadores, que usam as deformidades anteriores para se fortalecerem: - longo extensor comum de dedos - longo extensor próprio do grande dedo Avaliação do joelho e do quadril • Encurtamento dos músculos isquiotibiais e adutores de coxo femoral, com ligeira restrição do arco de movimento e de força muscular dos antigravitários. Não foi possível avaliação em pé. Preferência de posturas para o tratamento, na visão da RPG: • Fechamento de ângulo coxo femoral - para alongamento do tríceps sural, plantares de pé e dedos, isquiotibiais. • Em abertura de ângulo coxo femoral – para alongamento dos extensores de dedos, tibial anterior, fibulares e adutores de coxo femoral. 261 Figura 1 - Músculos das articulações do pé D - supinação (elevação do bordo interno do pé) 1 5 1 2 3 4 4 2 3 5 2 3 1 6 3 4 2 1 C - pronação (elevação do bordo do pé) A - extensão (flexão dorsal) B - flexão (flexão plantar) Músculos das articulações do pé Classificação segundo a função (A-D) Na flexão dorsal (A) participam os músculos tibial anterior (1), extensor comum de dedos (2), e extensor próprio do grande dedo (3). A flexão plantar(B) é feita pelos músculos tríceps sural (1), longo peroneiro lateral (2), curto peroneiro lateral (3), longo flexor próprio do grande dedo (4), longo flexor comum de dedos (5) e tibial posterior (6). Os responsáveis pela pronação (C) são os músculos longo peroneiro lateral (1), curto peroneiro lateral (2), extensor comum de dedos (3) e peroneiro anterior (4) Na supinação (D) participam os músculos tríceps sural (1), tibial posterior (2), longo flexor próprio do grande dedo (3), longo flexor comum de dedos (4) e tibial anterior (5). As setas indicam a importância dos diversos músculos na execução de cada movimento, na ordem dos números. 262 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Tratamento segundo a RPG - Manobras de relaxamento para o pé Músculos extensores de dedos (decúbito dorsal, joelho estendido) • Decoaptação dos dedos, posição mais excêntrica possível, contração isométrica dos extensores, juntamente com massagem longitudinal nos tendões dorsais do pé. • Decoaptação dos dedos, posição mais excêntrica possível, com leve desvio em supinação (ênfase no músculo longo extensor comum de dedos e ativação dos músculos vencidos, fibulares laterais), contração isométrica juntamente com massagem. • Decoaptação dos dedos, posição mais excêntrica possível, com leve desvio em pronação (ênfase no músculo longo extensor próprio do grande dedo e ativação do músculo vencido tibial anterior), contração isométrica juntamente com massagem. • Decoaptação de dedos, posição mais excêntrica para os músculos plantares de pé e dedos, leve desvio em pronação para alongamento da musculatura interna de panturrilha. Contração isométrica com massagem. • Decoaptação de dedos, posição mais excêntrica para os músculos plantares de pé e dedos, leve desvio em supinação para alongamento da musculatura externa de panturrilha. Contração isométrica com massagem. Músculos plantares de pé e dedos (decúbito dorsal, joelho fletido): • Decoaptação de dedos, posição mais excêntrica para os músculos plantares de pé e dedos, contração isométrica, juntamente com massagem longitudinal na região plantar. Fig. 2 - Esquema das compensações; estudo muscular do bloqueio em eqüino com garra dos pododáctilos. 3 4 Ossos: “a” tíbia e fíbula; “b” calcâneo e tarso; “c” metatarso – falangianos. Músculos: “1” vencedores; “2” transmissores; “3” vencidos; “4” aproveitadores. Músculos: 1) Vencedores: gêmeos, solear; 2) Transmissores: tibial posterior, flexor comum de dedos, flexor próprio do grande dedo, lumbricais, interósseos, quadrado plantar,curto flexor plantar; 3) Vencidos: tibial anterior, fibulares (peroneiros) laterais; 4) Aproveitadores: longo extensor comum de dedos,longo extensor próprio do grande dedo. Tratamento segundo Kabat para alongamento do membro inferior Na mesma sessão, após as manobras de pé descritas acima durante cerca de dez minutos, foi usada a técnica específica “contrair/ relaxar” com os seguintes padrões de membro inferior: • 1° padrão: Posição de partida em flexão, adução, rotação externa (lateral) de coxo femoral com joelho estendido, dorsiflexão e supinação do pé. Contração isométrica em posição excêntrica dos seguintes músculos principais: glúteos mínimo e médio, bíceps crural, gêmeo externo e plantares do pé e dedos, resistindo durante seis a oito segundos, seguida de relaxamento mantendo a posição e pequeno alongamento dessa cadeia de músculos. Três a quatro repetições por sessão (ver Fig. 3). • 2° padrão: Posição de partida em flexão, abdução, rotação interna (medial) de coxo femoral com joelho estendido, dorsiflexão e pronação do pé. Contração isométrica em posição excêntrica dos seguintes músculos prinFig. 3 - Primeiro Padrão de Kabat, contração isométrica em “a”. Reprodução de Knott, Voss, Facilitación Neuromuscular Propioceptiva, p. 127 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 cipais: grande glúteo, semitendinoso e semimembranoso, gêmeo interno e plantares de pé e dedos, com os mesmos procedimentos do primeiro padrão (ver Fig. 4). As sessões duravam em média quarenta minutos, em duas ou três sessões por semana. 263 Fig. 4 – Segundo padrão de Kabat, contração isométrica em “a”. Evolução do tratamento A associação das manobras de RPG com os padrões e técnicas de Kabat fez com que, em três semanas, a paciente apoiasse o calcâneo sobre calços de três centímetros, sentada, com os dedos levemente fletidos. Sendo uma fisioterapeuta experiente, a paciente fazia cinesioterapia diariamente por duas a três horas para fortalecimento dos membros superiores, do membro inferior esquerdo e do tronco, acelerando o processo de tratamento, assim como colaborava com muitas discussões que foram úteis para a compreensão do caso. Em dezembro de 1999, passado um mês, a paciente conseguiu ficar em ortostase, apoiando o membro inferior esquerdo no chão sobre um calço de três centímetros para o calcanhar, dedos plantados, com o ilíaco direito apoiado sobre uma mesa com almofada, sem qualquer desconforto. A partir dessa conquista, o tratamento evoFoto 1 - Bloqueio em eqüino do pé. Foto 2 - Ortostase. Ibidem, p. 145 luiu dos padrões em decúbito para a “postura da bailarina” da RPG com os braços apoiados na janela, calço de três centímetros sob o calcâneo, bacia e tronco em flexão, visando ao alongamento dos músculos posteriores de coxa, panturrilha e plantares de pé, mantendo o mesmo ritmo de três sessões de quarenta minutos por semana. Com as manobras para o pé e a postura da bailarina, o calcâneo foi gradativamente chegando ao chão, não havendo mais necessidade do alongamento com os padrões de Kabat. Foto 3 - A postura da bailarina. 264 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Devido às dificuldades de locomoção, o tratamento foi, desde o início, realizado na casa da paciente, com algumas improvisações, como o apoio na janela e o uso de andador em lugar das barras paralelas. No final de dezembro, a paciente iniciou o treino para o uso de um andador, somente em ortostatismo, trabalhando o equilíbrio, o fortalecimento de tronco, dos membros superiores e do membro inferior esquerdo, sempre apoiado sobre calços. Em fevereiro de 2000 já dava os primeiros passos com ajuda do andador, fazendo apoio unipodal, pé calçado com sandália de salto “Anabela” com um centímetro e meio de altura. No final do mês andava dentro de casa por cerca de dezoito metros, sem demonstrar cansaço ou alteração do pulso arterial. No mês de junho submeteu-se a exames clínicos: ecodoppler arterial para membro inferior esquerdo, que mostrou oclusão da artéria tibial anterior e peroneira; ecodoppler de carótidas, que revelou ateromatose carotídea com placa obstrutiva no bulbo esquerdo, 60% de luz no vaso; raio X de tórax, mostrando pulmões normais e placa calcificada de ateroma na croça da aorta; teste de esforço induzido por medicamento, com resultado compatível com o histórico da paciente. Uma periartrite escapulo-umeral direita, somada ao retorno de uma tendinite antiga, tornou impossível o apoio sobre o braço direito. Queixava-se de dor aguda ao apoiar-se no andador e nas transferências da cama para a cadeira de rodas. Suspendendo a marcha, foi mantido o tratamento com as manobras de pé, a postura da bailarina e o ortostatismo com apoio na janela. Gradativamente foi possível a retirada dos calços até o apoio total do calcâneo no chão (ver fotos 2/3). Um tratamento de acupuntura foi feito em paralelo1, entre os meses de julho e novembro de 2000, fazendo regredir a periartrite e, assim, a paciente pôde voltar à marcha com andador. Fig. 5 - Posturas dos pés de animais. calcâneo Membros posteriores do urso, do cão e do cavalo (da esquerda para a direita) ilustrando posturas plantígrada, digitígrada e ungulígrada. Reprodução de Dyce, Sack, Wensing: Tratado de Anatomia Veterinária, p. 63 e 64 Reavaliação em janeiro de 2001 Avaliação do pé Todos os movimentos presentes, força muscular regular/boa; equinismo com redução ativa até noventa graus, dedos em posição fisiológica tanto em ortostase como na posição de bailarina. Aumento de massa muscular importante na coxa e na perna. O relevo dos vasos sanguíneos do dorso e das laterais do pé, que estava praticamente abolido, voltou a se delinear. Persiste a parestesia do terço médio da perna até os pododáctilos. Joelho e coxo femoral à esquerda Sem limitações e com força muscular boa/ normal. Prótese em estudo. Na prótese para desarticulação do fêmur, o ísquio, muito em evidência, faria um apoio traumático sobre o tecido muscular e epitelial insuficiente, com risco de ferimentos e desconforto. Metas a partir de janeiro de 2001 Independência total em cadeira de rodas para ambientes interno e externo. Maior resistência à permanência em posição sentada. Marcha com andador em ambientes internos, sem supervisão. Volta à atividade profissional da paciente, como fisioterapeuta e professora. Hipótese em estudo O bloqueio em eqüino da paciente foi exaustivamente trabalhado com cinesioterapia por uma equipe competente na ABBR, durante quinze meses, tempo suficiente para se obter um bom resultado, o que não ocorreu. 1 Carmen Jardim, fisioterapeuta e acupunturista. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 265 Por quê, então, uma evolução tão rápida em apenas três semanas de trabalho com RPG e Kabat? Teria sido a soma das técnicas? Não me parece que seja essa a explicação. Na avaliação inicial sob a ótica da RPG a análise das retrações mostrou a ação dos aproveitadores, músculos extensores de dedos, formando uma garra com as falanges (ver Fig. 2). A meu ver, foi o alongamento desse grupo, paralelamente ao alongamento dos músculos vencedores (panturrilha), que levaram o trabalho a bom termo. Tentando entender melhor o caso e observando as patas da minha cachorrinha Betsy, notei uma grande diferença em relação à anatomia humana, sentindo dificuldade em localizar os metatarsos, calcâneo e joelho. Procurei entender a biomecânica e a anatomia dos quadrúpedes, estudando no “Tratado de Anatomia Veterinária”, de Dyce, Sack e Wensing 2 . A pesquisa mostrou que o quadrúpede anda com os ossos do carpo/ metacarpo, do tarso/metatarso erguidos, apoiando os membros sobre as falanges (ver Fig. 5). Em alguns casos, as falanges são flexíveis (cães e gatos), em outros são rígidas (eqüinos). No caso dos cavalos, o mecanismo passivo de sustentação prolongada do membro posterior (ver Fig. 6) se faz da seguinte maneira: • A torção entre o fêmur e a tíbia leva à trava do joelho em extensão, deixando a patela relaxada; • A trava em extensão do joelho traciona o ligamento gastrocnêmico, faixa fibrosa entre o fêmur e o calcâneo que mantém o jarrete (tornozelo) fixo em extensão (flexão plantar do bípede); • Juntando-se aos interósseos plantares a partir do calcâneo, o músculo flexor de dedo (um só dedo), em cocontração com o músculo longo extensor de dedo sustentam o boleto (antepé), formando a base para apoio dos membros posteriores no chão, sustentando as falanges alinhadas em sentido vertical. O mecanismo distal de sustentação antigravitária dos membros dos quadrúpedes tem como músculos fundamentais o longo extensor de dedos, o flexor de dedos e os interósseos plantares. Sob essa ótica voltei à história da paciente, que ao sair do coma viu-se imobilizada pelo pé bloqueado e pela fraqueza geral. Ao recuperar as forças adaptando-se dentro das suas limitações às atividades da vida diária, usava certamente o membro inferior como pivô no apoio para as transferências cama-cadeira de rodas e nas atividades de vestuário e higiene sobre o leito. Uma vez que o bloqueio não deixou qualquer chance de movimentos de tornozelo e antepé, as falanges, em garra, fortaleceram-se num apoio semelhante ao do quadrúpede, somando a contração dos músculos extensores de dedos à contração dos músculos flexores plantares de dedos, em adaptação à situação suspensa fixa do 2 Capítulo 2 página 70 e capítulo 24, página 486. Fig. 6 - O pé humano em equino e o membro posterior dos eqüinos. A : Aparelho de sustentação do membro posterior (pélvico) esquerdo, vista lateral. B: Articulação do joelho esquerdo, vista cranial. C-E: Extremidade distal do fêmur esquerdo vista distalmente: em D posição da patela em eqüino estático no plano; em E o joelho está travado. 1’- 1’’ - 1’’’: ligamentos patelares medial, intermédio e lateral; 2: patela; 3: fibrocartilagem parapatelar; 4: faixa fibrosa associada ao gastrocnêmio; 5: tendão társico do semitendíneo; 6: tendão társico do bíceps; 7: fibular terceiro; 8: flexor profundo do dedo; 9: flexor superficial do dedo; 10: ligamento plantar longo; 11: interósseo; 12: extensor longo do dedo; 13: ligamentos sesamóideos; 14: fíbula; 15: crista troclear lateral; 17: tubérculo proximal da crista troclear medial; 18: superfície de apoio proximal da tróclea; 19: côndilo lateral; 20: côndilo medial (segundo Schmaltz, 1911). Nota: ibdem p. 487. 266 Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 calcâneo. As falanges em garra formaram um apoio para todas as atividades da vida diária. Referências Conclusão Havia, portanto, dois bloqueios, um postural e outro funcional. No tratamento inicial, ao alongar somente o tríceps, assim que a paciente fazia apoio com o pé no chão, para voltar à cadeira de rodas, por exemplo, a garra dos dedos retomava a posição funcional, levando o calcâneo à flexão plantar. No tratamento na tábua ortostática, o apoio era mantido sem problemas pela garra funcional de dedos, por um curto período, sobrevindo o cansaço e mal estar pelo tempo prolongado de esforço. A redução do bloqueio em eqüino da paciente estaria, no caso descrito, no alongamento paralelo dos músculos vencedores, aproveitadores, transmissores e na volta à atividade muscular normal dos músculos vencidos, restabelecendo sua função normal de antagonismo e complementaridade. Generalizar esse comportamento para outros casos de pé eqüino parece-me prematuro, mas ele merece pesquisa. Trata-se de um caso onde a adaptação em relação à amputação foi atrasada pelo bloqueio do pé, impedindo o ortostatismo. Ao mesmo tempo, o uso do pé nas atividades da vida diária, mesmo em posição sentada, agravava o bloqueio, formando um círculo vicioso. Souchard PE. Ginástica Postural Global, São Paulo: Martins Fontes, 1984. Knott V. Facilitación Neuromuscular Propioceptiva, Patrones y Técnicas, Buenos Aires: Panamericana, 1974. Kahle, Leonhardt, Platzer. Anatomie de l’Appareil Locomoteur, França: Flammarion, 1982. Dyce, Sack, Wensing. Tratado de Anatomia Veterinária, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997. Santos AR. Metodologia Científica, Rio de Janeiro: DP&A, 1999. Tanaka CE, Farah E. Anatomia Funcional das Cadeias Musculares, São Paulo: CONE, 1997. Bienfait M. Fisiologia da Terapia Manual, São Paulo: Summus, 1989. I Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Congresso Brasileiro de Terapia Manual Congresso Brasileiro On-Line 267 7 à 10 de novembro 2001 Centro de Convenções, Fortaleza - CE Informações: Prática Eventos - Tel.: (85) 224-0638 / 261-3531 / 261-9667 www.terapiamanual.fst.br Programação confirmada Data 07 07 07 07 07 07 07 Horário 8:30 11:15 14:00 14:30 15:00 15:30 16:10 Palestrante Tema Marcel Bienfati Fisiologia da globalidade da função locomotora Maria Luiza Nogueira Respiração no trabalho postural Regina Coeli V. Gomes Facilitação neuromuscular proprioceptiva Rubia Marcia Benatti Fuchs Influência do desiquilíbrios da pelve na patelo-femural Isidro Marques Terapia manual sub-aquática Debate com os dois palestrantes acima Ângela Santos Diagnóstico postural clínico - Ponto de partida para todas as abordagens em terapia manual Afonso Salgado Medicina ortopédica de Cyriax 07 17:10 08 8:30 08 08 08 08 08 08 08 9:00 9:30 10:00 10:35 11:30 14:30 15:20 08 08 16:20 17:10 09 09 09 09 09 8:30 9:00 9:30 10:10 10:30 09 09 09 09 09 09 11:25 14:30 15:10 15:50 16:30 17:25 Helder Montenegro Fisioterapia manual nas complicações de joelho Palmiro Torrieri Tratamento da cefaléias cervicogênicas pelo conceito Mulligan Michael Dufresne Técnicas de Mullicgan no tornozelo - Mobilização com movimento Debate com os dois palestrantes acima Gordon Cumming Cinemática da articulação glenoumeral: Novas visões que todo terapeuta que faz mobilização passiva deve saber Leopold Busquet Cadeias musculares: Apresentação Rogério Augusto Queiroz O tratamento osteopático em cervicobraquialgias aguda e crônica François Ricard Apresentação da osteopatia através da neurofisiologia Debate com os dois palestrantes acima Leopold Busquet Cadeias musculares: Influências na bacia e no joelho Oldack Borges de Barros As Posturas da RPG e suas Aplicações 10 10 10 10 10 10 10 10 10 08:30 09:20 10:25 11:05 11:50 14:30 15:10 16:00 16:30 Celso Luís Dias Trabalho de modelagem manual para as diversas topografias da escoliose Idiopática José Liberato Jr. Método McKenzie Elena Nartinez Loza Tratamento osteopático de Whiplash cervical François Ricard Estatísticas comparativas nos tratamentos de lombociáticas por hérnias discais Debate com o dois palestrantes acima Julles Boone Crochetagem mioaponeurótica nas lesões do ombro Dominique Lippens Reequilíbrio postural através da osteopatia Debate com os dois palestrantes acima Philippe E. Souchard Escoliose Rodrigo Luiz L. Juca Mecanismos lesionais das disfunções somáticas vertebrais lombares e suas possibiliades de tratamento Palmiro Torrieri Terapia manual integrada e Trigger points Helder Montenegro Uma visão holística nas lesões musculares do atleta Debate com os dois palestrantes acima Ângela Santos Fisioterapia estática - Definindo um campo de trabalho em fisioterapia Mauro Pedroni Jr. Diagnóstico ascendente através da pdoposturologia Afonso Salgado Terapia manual na cefaleia de tensão Gordon Cumming Rigidez da torácica alta como causa da síndrome do impacto do ombro e da crepitação escapular Alberto Vianna da Silveira Princípios fundamentais da RPG Michael Dufresne O conceito Mulligan 268 Calendário de eventos Setembro IXo Jornada cinetífica de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do Crefito -2 Crefito-2 12-14 de setembro www.crefito.org.br Informações: (21) 2568-8060 / 2569-9588 1st International Conference on Movement Dysfunction – Integrating Approaches 21-23 de setembro Shirley McGill, Conference Organiser Kinetic Control, Mede House Salisbury Street, Southampton, Hants SO15 2TZ UK Tel: +44 (0) 8451 300 808 Fax: +44 (0) 2380 248 533 Email: [email protected] Site: www.kineticcontrol.com Xo Simpósio internacional de FFisioterapia isioterapia respiratória 27-30 de setembro Gramado, RS Informações: (51) 228-0499 IIo Jornada Brasileira de FFisioterapia isioterapia R espiratória em PPediatria ediatria Respiratória 28-29 de setembro Costão do Santinho Resort, Florianópolis - SC Informações: Sul 21 – Eventos e Produções, rua Bento Gonçalves, 183/104, 88010-080, Florianópolis – SC Tel: (48) 2253778, fax (48) 225-3775 E-mail [email protected]. Outubro 1º Encontro de FFisioterapia isioterapia e TTerapia erapia Ocupacional do CREFIT O-5 CREFITO 5-6 de outubro Porto Alegre – RS Informações: (51) 3334-6586 XVo Congresso Brasileiro de FFisioterapia isioterapia aulista de FFisioterapia isioterapia VIIIo Congresso PPaulista IXo Expofisio Brasil 2001 10 a 14 de outubro Pq Anhembi, São Paulo – SP Secretaria: Rua Carneiro da Cunha, 354 Informações: (11) 5584-8969 ou 5071-0011 Annual Congress of the Chartered Society of Physiotherapy 19-21 de outubro International Convention Centre, Birmingham, UK informações: www.csphysio.org.br Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 4 - Julho / Agosto 2001 Novembro Io Búzios in fitness 02-04 de novembro Búzios - RJ Informações: MetA Produções e Eventos (21) 3707-0189 / 7840-8617 Io Congresso brasileiro de TTerapia erapia manual Io Congresso brasileiro online 7-10 de novembro Fortaleza, Ceará Informações: (85)224-0638 www.terapiamanual.fst.br IVo Simpósio da SOFIT OERJ SOFITOERJ 10 e 11 de novembro Rio de Janeiro, RJ Informações: (21) 2451 1043 E-mail: [email protected] Io Congresso de FFisioterapia isioterapia Ciência em Movimento -alunos de Especialização em FFisioterapia isioterapia Ex-alunos Io Encontro de Ex 15 a 18 de novembro SENAI/FIRJAN, Rua Mariz e Barros, 678 - Tijuca Rio de Janeiro, RJ Infs.: (21) 2288-5079 www.cienciaemmovimento.com.br 2002 Junho Physical Therapy 2002 Annual Conference & Exposition of the American Physical Therapy Association 5-8 de junho Cincinnati, Ohio, EUA Informações: www.apta.org MJ Livros Universitários Livraria especializada em Fisioterapia Entrega em todo o Brasil Tel.: (11) 6942-0886 R. Carolina Ferraz, 584 Itaquera - São Paulo - SP www.mjlivros.com.br Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 269 Fisioterapia Brasil ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Índice (vol.2, nº5 set/out 2001 - 269~328) EDITORIAL Um ano de muitos trabalhos, os editores ......................................................................................... 271 RESUMOS DE TRABALHOS E CONGRESSOS ......................................................................... 272 ARTIGOS CIENTÍFICOS E REVISÕES Fisioterapia Avaliação de prática crianças com fibrose cística após 12 meses de fisioterapia respiratória, Juliana de F. Fracon, Maria J. J. Sologuren, Ada C. Gastaldi, Mário Antônio Baraúna ......... 289 Estudo sobre a realização da preensão palmar com a utilização do dinamômetro: Considerações anatômicas e cinesiológicas, Demóstenes Moreira, José Roberto Pimenta de Godoy, Watercides Silva Junior ............................................................ 295 A importância dos músculos isquiorretais no posicionamento do quadril, sob uma visão anatômica, José Antônio SFA Pinna Cabral, Fernando Pinna Cabral, Renato Guimarães Loffi, Robson Ines Moreira da Rocha, Renata Carolina de Pinna Cabral ............. 301 A importância da avaliação multidisciplinar da articulação temporomandibular em uma faixa etária de 10 a 12 anos, Marcus Vinícius de Mello Pinto, Giselle Oliveira de Souza, Marcelly Pedroni ......................... 309 Ginástica Laborativa Caso clínico: Reabilitação vestibular em duas pacientes com vertigem posicional paroxística benigna, André Luís Santos Silva, Silmar Silva Teixeira, João Soares Moreira, Simone Fernandes .......................................................................................... 313 Normas de publicação ......................................................................................................................... 324 EVENTOS ............................................................................................................................................. 328 A equipe editorial da Fisioterapia Brasil parabeniza seus leitores pelo dia do Fisioterapeuta. ○ Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 270 Fisioterapia Brasil Editor científico Prof. Dr. Marco Antônio Guimarães da Silva (UFRRJ/UCB – Rio de Janeiro) Conselho científico Prof. Dr. Guillermo Scaglione (Univ. de Buenos Aires – UBA – Argentina) Prof. Dr. Hugo Izarn (Univ. Nacional Gral de San Martin – Argentina) Profa. Dra. Margareta Nordin (Univ. de New-York – NYU - Estados Unidos) Prof. Dr. Mario Antônio Baraúna (Univ. do Triângulo Mineiro - UNIT – Minas Gerais) Profa. Dra. Neide Gomes Lucena (Univ. Fed. da Paraíba - UFPB – João Pessoa) Prof. Dr. Nivaldo Antonio Parizotto (Univ. Federal de São Carlos - UFSCAR – São Paulo) Prof. Dr. Paulo Sérgio Siebra Beraldo (Coord. Mestrado Sarah Kubitschek – Brasília) Grupo de assessores (2000-2001) Dra. Albernice Ma de Oliveira Barreto (CREFITO1 – Recife) Prof. Dr. João Santos Pereira (UERJ - Rio de Janeiro) Dr. José Euclides Poubel e Silva (CREFITO9 – Campo Grande) Dr. Antonio Neme Khoury (HGI - Rio de Janeiro) Dra. Lisiane Fabris (UNESC – Santa Catarina) Dr. Carlos Alberto Caetano de Azeredo (Rio de Janeiro) Dra. Claudia Bahia (FAFIS/IAENE - Salvador) Dr. José Roberto Prado Jr. (Rio de Janeiro) Dr. Jorge Tamaki (PUC - Paraná) Dr. Carlos Bruno Reis Pinheiro (Rio de Janeiro) Dra. Marisa Moraes Regenga (São Paulo) Profa. Dra. Elaine Guirro (Unimep – São Paulo) Dr. Esperidião Elias Aquim (Univ.Tuiuti - Paraná) Dr. Nilton Petrone (Univ. Estácio de Sá - Rio de Janeiro) Dr. Farley Campos (UCB - Rio de Janeiro) Dr. Paulo Henrique Eufrásio de Oliveira (FAFIS/IAENE - Bahia) Dr. Fernando A. de M. Prati (CREFITO5 – Porto Alegre) Dr. Paulo Eraldo C. do Vale (UNICID - São Paulo) Profa. Hélia Pinheiro Rodrigues Corrêa (UCB – Rio de Janeiro) Dra. Regina Maria de Figuerôa (CREFITO2 - Rio de Janeiro) Dr. Hélio Pio (Rio de Janeiro) Profa. Solange Canavarro Ferreira (UNESA - HFAG - Rio de Janeiro) Dr. Hildeberto Lopes do Santos (CREFITO4 – Belo Horizonte) Dra. Suely Marques (Rio de Janeiro) Dr. Ivan Pinto Varela (CREFITO7 – Salvador) Dr. Zenildo Gomes da Costa (CREFITO 3 – São Paulo) Prof. Dr. João Marinonio A. Carneiro (Rio de Janeiro) Rio de Janeiro Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 E-mail: [email protected] São PPaulo aulo Avenida São João, 56, sala 7 12940-000 Atibaia SP Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin Publicidade e marketing René Caldeira Delpy Jr. Administração: Claudiane Benavenuto Assinaturas 6 números ao ano + 1 CD-ROM = R$ 90,00 Tel.: (21) 2244-6471 / 2285-0804 www.atlanticaeditora.com.br Revista FFisioterapia isioterapia Brasil ISSN 1518-9740 Redação e administração (Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço) Jean-Louis Peytavin Avenida Atlântica, 604/1102 22010-000 Rio de Janeiro RJ Tel/Fax: (21) 2244-6471 Cel: (21) 9366-7088 [email protected] Publicidade e marketing Rio de Janeiro: René C. Delpy Jr (21) 2244-6471 Cel: (21) 9662-9411 Ilustração da capa: Menelau Sete, sem título, acrílico sobre tela, 100x80 cms, 1998 I.P. (Informação publicitária): As informações são de responsabilidade dos anunciantes. © ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. Apesar de todo o material publicitário estar em conformidade com os padrões de ética da saúde, sua inserção na revista não é uma garantia ou endosso da qualidade ou do valor do produto ou das asserções de seu fabricante. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 Setembro / Outubro 2001 271 Editorial Um ano de muitos trabalhos Um ano. Pois é, já estamos fazendo nosso primeiro aniversário e podemos festejar como um projeto bem sucedido. Uma revista é sempre uma criança para seus editores, e a cada novo número existe a preocupação de melhora-la em relaçao ao anterior. Como periódico científico o compromisso é de estar trazendo a seus leitores uma atualização permanente dos trabalhos e pesquisas desenvolvidos no Brasil, o que temos feito como ninguém até hoje na Fisioterapia. E quando falamos do Brasil é porque, por não estarmos ligados a qualquer instituição, podemos ter uma independência editorial quanto aos trabalhos submetidos sem nos preocuparmos em privilegiar um ou outro pesquisador, recebendo material de todos os centros de pesquisa brasileiros. Na seleção do que vai ser publicado é que é feita a peneira com muito critério do conselho científico da Fisioterapia Brasil. Podemos destacar trabalhos originais de grande importância científica que equipes de fisioterapêutas desenvolveram em centros de pesquisa reconhecidos nacionalmente, tal como a FIOCRUZ-RJ, a UFSCAR-SP e UNIT-MG entre outros. Pesquisadores que outrora somente buscavam publicar em periódicos estrangeiros começaram a mandar seus trabalhos para a Fisioterapia Brasil entendendo que a revista, embora muito nova, já estava fadada a ser uma referência para o meio acadêmico. Foram mais de 25 artigos publicados neste primeiro ano. Agradecemos a todos que neste primeiro ano colaboraram com a revista e convocamos quem queira colaborar que se apresente, pois será muito bem vindo. Aproveitamos também para dar nossos parabéns pelo dia 13 de outubro, dia do Fisioterapeuta, que é o motivo da existência deste periódico. Boa leitura, parabéns e obrigado por este nosso primeiro aniversário, Os editores. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 272 Resumos do XV Congresso Brasileiro de Fisioterapia Trabalhos apresentados no XV Congresso Brasileiro de Fisioterapia, 10 a 14 de outubro de 2001, São Paulo - SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Juliana Tieppo*, Eder Marcolin*, Iara Schneider**, Adriane Bertotto**, NP Nora*** Condutas fisioterapêuticas no tratamento do linfedema no pós-operatório do câncer de mama *Acadêmica Fisioterapia ULBRACanoas-RS, **Profª.ULBRA-IPA/ POA/RS - Mestra p/UCES-ARG, ***Fisioterapeuta Hospital São Lucas-PUC- POA/RS Introdução Este estudo investiga as mulheres que desenvolveram Edema Linfático no membro superior ao lado ipsilateral do local da abordagem cirúrgica do câncer de mama. O objetivo é investigar a eficácia da bandagem compressiva funcional e da drenagem linfática manual na recuperação dessas pacientes. Metodologia A pesquisa tem caráter de estudo observacional exploratório de grupo, tendo sido realizado uma ficha de avaliação e um protocolo de tratamento fisioterapêutico, constando de drenagem linfática e bandagem compressiva funcional. O método da pesquisa seguiu-se de avaliação inicial e reavaliações semanais (anamnese, registro fotográfico, mensurações perimétricas); drenagem linfática manual por 30 minutos e aplicação da bandagem funcional por 24 horas; freqüência de seis atendimentos semanais, por um período de quatro semanas. Resultados Foram atendidas sete pacientes mulheres, com idade entre 46 e 79 anos, sendo que quatro foram submetidas à quadrantectomia com esvaziamento axilar total e as outras três à mastectomia radical modificada com esvaziamento axilar. Todas as pacientes do grupo submeteram-se à radioterapia póscirúrgica. O tempo de instalação do linfedema foi em torno do sexto mês de pós-cirúrgico nas sete mulheres. Nos resultados obtidos até o presente, observou-se uma média de redução na perimetria do antebraço em torno de 1,5 cm, com relatos significativos a respeito da qualidade vida: diminuição da sensação de peso, melhora na execução das atividades de vida diária, sensação de bem-estar e conforto. Conclusão Com isso, concluímos que o tratamento fisioterapêutico colabora de maneira importante na recuperação funcional e na reintegração dessas mulheres ao meio familiar, emocional, social e cultural, bem como na ajuda de seu reconhecimento pessoal, resgatando a sua imagem e integridade corporal. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 273 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Waldemar A. das Neves Jr*,Laís Záu Serpa de Araújo** A fisioterapia em relação aos pacientes terminais *Acadêmico do Curso de Fisioterapia da UNCISAL, Maceió – AL, **Professora de Bioética da UNCISAL, Mestre em Patologia pela UFF Introdução Os fisioterapeutas que trabalham nas Unidades de Terapia Intensiva cotidianamente cuidam de pacientes em condições clínicas graves, alguns casos, inclusive, em situações de risco de vida. Por esta razão, é extremamente importante que o profissional esteja preparado, tanto técnica como eticamente para enfrentar essa difícil tarefa. Este trabalho teve como objetivo traçar um perfil dos profissionais da fisioterapia e conhecer sua opinião sobre questões que envolvem os pacientes terminais. Material e métodos O universo pesquisado foram os fisioterapeutas que trabalham em Unidades de Tratamento Intensivo nos Hospitais de Alagoas. Foi aplicado um questionário para obter informações sobre a formação técnica do profissional e sua opinião sobre pacientes terminais, autonomia do paciente, eutanásia e distanásia. Resultados Obtivemos um total de 54 profissionais que atuam no Estado de Alagoas, sendo 22 que trabalham nas Unidades de Tratamento Intensivo, distribuídos entre os 8 hospitais que oferecem este tipo de serviço no Estado de Alagoas. Mais de 60% dos profissionais têm herança religiosa católica. Todos entrevistados responderam que explicam os procedimentos aos seus pacientes. Em relação à eutanásia ativa, 5,5% são a favor e 94,5% são contra. Eutanásia passiva 73,5% são contra e 26,5% são a favor. Sobre a autonomia do paciente terminal quando consciente, 58% dos fisioterapeutas responderam que têm autonomia e 42% que não. Conclusão É evidente a importância das informações prestadas aos pacientes, mesmo quando na condição terminal; identificou-se a influência da herança religiosa na opinião dos profissionais quando se trata de eutanásia; e, a maioria absoluta dos fisioterapeutas entrevistados é contra a eutanásia ativa ou passiva. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Pantaleão C, Caixeta F, Fulgêncio G, Sade I, Gouveia J, Ferraz J, Pires M, Scárdua M, Malta P, Diniz T, Seabra V, Abrunhosa A, Campos F, Frigeri F, UCP, Petrópolis – RJ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ A fisioterapia respiratória em UTI na síndrome de Guillain Barré O objetivo deste trabalho é mostrar como a fisioterapia previne complicações respiratórias na SGB durante a hospitalização do paciente e facilita a reabilitação pós-ventilação mecânica. Esta síndrome é uma inflamação das raízes nervosas, levando a alterações da sensibilidade e da motricidade, provocada pela desmielinização da bainha, que impede os impulsos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 274 neuromusculares e o arco reflexo. A principal manifestação clínica é a fraqueza muscular, que evolui com caráter progressivo e crescente, começando nos pés, podendo progredir para paralisia motora total com morte, devido à insuficiência respiratória, pelo acometimento de diafragma e intercostais, em poucos dias. Até a terceira semana tem-se a máxima evolução, regredindo com melhora dos sintomas ao longo de alguns meses. O fisioterapeuta atua durante a permanência do paciente sob assistência ventilatória onde são observadas alterações como a degradação da função muscular, por redução da força, tônus e trofismo; que são visíveis quando há insucesso no desmame ventilatório. Uma das técnicas utilizadas é a aplicação da pressão positiva em dois níveis, BILEVEL (IPAP – Pressão positiva inspiratória, EPAP - pressão positiva expiratória) que incrementa a endurance da musculatura respiratória promovendo melhor performance. Estes níveis pressóricos quando superior a 10 cm H2O, proporcionam a abertura das vias aéreas reduzindo o trabalho muscular respiratório. A cinesioterapia respiratória enfatiza as manobras de reexpansão, desobstrução pulmonar e higienização brônquica, evitando complicações como atelectasias, infecções respiratórias, barotrauma. O trabalho mostra, portanto, de forma clara e científica, a importância do treinamento muscular respiratório para uma readaptação progressiva aos esforços e aceleração do processo de desmame. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Layla Bandeira Arruda, Thaís Amanda Monteiro Nobre Universidade da Amazônia, Belém – Pará, Orientação: Prof. Ms Renato Teixeira, Prof. Mestrando Nelson Higino de Oliveira Filho ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Análise do músculo tríceps sural em adolescentes que usam calçado de salto alto Introdução O objetivo da pesquisa foi verificar as conseqüências que o uso do salto alto traz para musculatura tríceps sural. Método O estudo foi feito nas dependências de três escolas da rede particular na cidade de Belém com 50 adolescentes de faixa etária entre 13 e 18 anos que usam salto alto há pelo menos 5 anos. O instrumento utilizado na pesquisa foi o goniômetro e os testes musculares foram do tipo passivo nas posições sentado em decúbito dorsal com pernas estendidas e decúbito ventral com joelhos fletidos a 90º, segundo preconizado por Palmer. Resultados Os resultados revelaram diminuição da amplitude de movimentação de 92,85% dos testes para o gastrocnêmio e em 59,18% dos testes para o sóleo. Conclusão Os dados da pesquisa dentro das condições utilizadas, evidenciaram que a utilização do uso de salto alto traz como uma conseqüência, a contratura da musculatura tríceps sural, principalmente, dos gastrocnêmios. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 275 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Carla Domingues, Ligia Veronica Aita, Michele Forgiarini Saccol Análise postural em atletas femininas de handebol Universidade Federal de Santa Maria – UFSM - RS A prática de esportes pode ser o fator desencadeante de alterações posturais que levam a limitações na amplitude de movimento e que, futuramente, poderão desenvolver dores e desconfortos, além de afetar o desempenho esportivo. O handebol é um esporte de grande contato corporal, requerendo ações repetitivas, saltos, corrida e movimentos complexos, além da solicitação assimétrica da musculatura de tronco e braços. Dessa forma, alterações clínicas no sistema locomotor e na postura podem ocorrer, sendo necessário uma avaliação fisioterápica global, identificando assimetrias corporais desencadeadas ao longo da prática do desporto. A população alvo deste estudo foram as 22 atletas da Seleção Brasileira Adulta Feminina de Handebol convocadas para a fase de treinamentos em Santa Maria (RS), visando os Jogos Olímpicos de Sidney. A ficha de avaliação postural utilizada foi a do Ambulatório de Fisioterapia do Hospital Universitário da UFSM, sendo realizada a análise visual de assimetrias e desequilíbrios corporais, além do registro fotográfico. Em 63,6% das atletas a anteversão pélvica pode ser observada, sendo que 50% dos casos em combinação com a lordose lombar. Quanto aos desvios na coluna, estes existiam em toda população sendo a lordose lombar (68,18%) mais comum. As assimetrias no ombro e escápula também apresentaram frequência elevada com alterações em 100% das atletas: anteriorização de ombros em 95,4% e 90,9% das escápulas com abdução isolada ou combinações de desvios (abdução e elevação, p.ex). As assimetrias observadas e aqui relatadas não podem ser caracterizadas como estruturais, tendo em vista a forma subjetiva da análise. Os desequilíbrios musculares encontrados e a alta frequência de alterações na coluna revelam a carência de estudos na área da fisioterapia desportiva, bem como a importância da avaliação e acompanhamento dos atletas por este profissional. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Anahi F. N. Pereira, Daniela Costa, Simone M. Macêdo, Solange T. Silva Centro Universitário do Triângulo, Uberlândia - MG ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Autismo: Uma abordagem fisioterápica O autismo é uma inadequação do desenvolvimento que se manifesta de maneira grave durante toda a vida (Grünspun, 78) com alterações presentes desde idades muito precoces e que se caracteriza, sempre, pela presença de desvios nas relações interpessoais, linguagem/comunicação e comportamento, com duas características cardinais: isolamento extremo e um desejo ansiosamente obsessivo de preservação da rotina, e da mesmice Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 276 (Molfetta, 97). Segundo o livro “Autismo e psicose infantil”, autismo traduzido literalmente significa viver em termos do próprio eu, ou seja, uma criança centrada em si mesma (Moreira, 96). O diagnóstico é baseado no quadro clínico e não poderá, portanto, ser feito puramente com base em testes e algumas escalas de avaliação (Lippi, 99). Com isso, vemos a necessidade de esclarecer melhor a patologia e seu quadro clínico, facilitando o diagnóstico para os profissionais da área de saúde bem como os pais destas crianças, e dando uma abordagem multidisciplinar com ênfase nos benefícios do tratamento fisioterápico, para que elas não sejam prejudicadas com um tratamento iatrogênico e tardio, pois o autismo pode passar desconhecido ou mal diagnosticado por meses ou, em alguns casos, até anos. Essa pesquisa utiliza revisões bibliográficas, dando ênfase principalmente no diagnóstico, manifestações clínicas do Autismo Infantil Precoce, nos permitindo elaborar as possíveis formas de tratamento fisioterápico. O estudo nos permitiu facilitar o diagnóstico e traçar um tratamento fisioterápico adequado capaz de atuar dentro de todo quadro clínico da criança com Autismo Infantil Precoce. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cristine Hermann Nodari, Anelise Raupp, Bianca Ghiraldello, Tania Maria Zambon, Alexandre Simões Dias, Marcelo Rieder Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre ISCMPA e Faculdade de Fisioterapia do Instituto Porto Alegre – IPA, Porto Alegre - RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia no transplante hepático Introdução Cerca de dois terços dos órgãos transplantados são acometidos por pelo menos um episódio de rejeição, muitas vezes pela decorrência da heterogeneidade da doença hepática. A fisioterapia é medida integrante do suporte terapêutico dos pacientes transplantados, fornecendo uma contribuição expressiva para esta parcela da população. O objetivo desse trabalho foi descrever uma série com cinco pacientes que realizaram transplante hepático e receberam tratamento fisioterapêutico. Pacientes e métodos Foram incluídos no estudo os pacientes, que realizaram transplante hepático, entre o período de fev/2001 a abril/2001. Verificouse na avaliação, a procedência, idade, sexo, cor, profissão, renda mensal, o total de dias de internação até o momento da pesquisa, número de atendimentos prestados pela fisioterapia, complicações no pós-operatório, medicação utilizada, bem como, as técnicas aplicadas. Os pacientes receberam 3 atendimentos diários. Resultados A média de idade foi de 40,2 anos (± 10,7), sendo 2 pacientes masculinos, 4 pacientes brancos e 1 pardo. A renda mensal média, foi de 4,04 salários mínimos (± 2,1). As doenças hepáticas foram: cirrose alcoólica (2 casos), cirrose por vírus hepatite C (2 casos e 1 fulminante). O período médio de internação foi de 59,4 dias (± 22,9). Os pacientes receberam 429 atendimentos Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 277 da fisioterapia, sendo que a média foi de 85,8 (± 30,9). As complicações no pós-operatório foram: derrame pleural bilateral e infecções oportunistas em 4 casos. Ocorreu óbito em 1 caso, por rejeição aguda. A medicação controle para todos os pacientes foi o Ácido ursodesoxicólico, Ciclosporina A, Omeprazol, Prednisona e Nistatina. Foram aplicadas manobras manuais desobstrutivas, exercícios de expansão pulmonar, máscara de EPAP (Pressão Positiva Expiratória) e recondicionamento físico global. Continuação Conclusão A descrição da série de cinco casos, mostrou-nos que a avaliação geral desse pacientes é satisfatória e importante para a execução da conduta fisioterapêutica, visando assim, o retorno precoce às atividades de vida diária, buscando uma melhor qualidade de vida. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Marcelo Pires Prado, Maíra Andressa Malvezzi Valenzi, Leandro Siqueira Simões, Alberto Abussamra Moreira Mendes, Sérgio Luiz Jeremias Junior Centro de Ortopedia e Reabilitação no Esporte do Hospital do Coração – CORE - SP ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reabilitação pós tratamento cirúrgico para lesões condrais da tróclea do tálus com mosaicoplastia A lesão condral do tálus é, em sua grande maioria, associada a entorses de tornozelo. O diagnóstico é baseado na interpretação de imagens radiológicas, ressonância magnética e tomografia computadorizada. A classificação radiológica da lesão, segundo Bernt e Harty (1959), é a mais utilizada até hoje. O tratamento cirúrgico é o mais indicado devido a evolução para osteoartrose precoce. Este trabalho reuniu 5 pacientes do sexo masculino com lesão osteocondral do tálus, idade média de 32,7 anos, acometimento lateral em 2 casos, 3 lesões do lado esquerdo e tempo médio de evolução das dores após o trauma inicial de 12,7 meses. A técnica cirúrgica foi a mosaicoplastia com utilização de enxerto osteocondral autógeno da crista troclear lateral do joelho. A reabilitação precoce foi baseada na mobilização passiva e ativa de tornozelo e joelho no pós-operatório imediato, com crioterapia após os exercícios. Os exercícios foram intensificados após 5-7 dias com estimulação elétrica para minimizar a atrofia muscular. A carga foi permitida após 4 semanas nos pacientes com lesão lateral e com lesão medial pura, e após 6 semanas no paciente com lesão dupla. Inicia-se então fortalecimento muscular e exercícios de propriocepção até a reabilitação completa. Todos os pacientes retornaram ao mesmo nível de atividade que tinham antes da lesão, sendo a média de pontuação da AOFAS 94,5. O retorno as AVDs ocorreu após o retorno da marcha (16 semanas após a cirurgia). A técnica de mosaicoplastia e um programa de reabilitação baseado na mobilização e descarga de peso precoce, otimizaram os resultados obtidos. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 278 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Camila M. Chaves, Tânia M.F. Zambon, Taise C. Tessari, Cristine H. Nodari, Dr. Isidoro D. Papadopol Hospital Nossa Senhora da Conceição-HNSC- Faculdade de Fisioterapia do IPA, Porto Alegre RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Intervenção da fisioterapia na incontinência urinária e a repercussão na relação sexual Introdução A incontinência urinária (IU) é a perda involuntária de urina que representa um problema social e higiênico para o paciente. O impacto da perda de urina na qualidade de vida do paciente, restringe-o social e sexualmente, uma vez que a maioria dos pacientes reclusam-se e afastam-se dos parceiros. Objetivo Analisar a intervenção da fisioterapia em pacientes com diagnostico de IU e os resultados da aplicação da escala análogo visual quanto ao grau de satisfação sexual no início e final do tratamento fisioterapêutico. Pacientes e métodos Através do serviço de Urologia do HNSC, foram encaminhadas 58 pacientes ao ambulatório de fisioterapia, (durante o ano de 2000) para a realização de fisioterapia pélvico-vesicoesfincteriana, Foram submetidas a avaliação, exame físico, explanação anatômica, calendário miccional e aplicação de exercícios fisioterapêuticos. Concomitante ao tratamento (início, meio e fim), aplicou-se uma escala análogo visual (de 0 a 10) onde a paciente assinalava o seu grau (de melhora ou não) da condição sexual. Resultados Das 58 pacientes do estudo, 9 (20%) não apresentavam vida sexual ativa. A média de idade foi de 44,2 anos (25-71), e duração dos sintomas era de 5,5 anos, onde 24 (53,3%) das pacientes já realizaram 1 ou mais intervenções para IU. O grau da musculatura pélvica inicial foi de 2,4 (na escala de 0-5) e após 4,3 meses (em média) atingiu-se um grau de musculatura de 4,14. Usavam em média de 5,6 forros/dia inicialmente e nenhum forro ao final do tratamento. O grau quanto à melhora da qualidade sexual, inicialmente, era 1,61 (escala de 0-10) e ao final do tratamento foi de 8,25. Conclusão Através deste estudo, observamos que a implementação das atividades fisioterapêuticas, contribuíram para a recuperação da continência urinária e da melhora considerável quanto à relação sexual das pacientes. Concluímos que, o reforço da musculatura do assoalho pélvico e a recuperação da neuroplasticidade sinérgica vésicoesfincteriana em pacientes com IU refletem na melhora da qualidade da relação sexual e auto-estima da paciente Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Camilla Valladão Fernandes, Evelyn Regina Couto Unicamp, Campinas - São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 279 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia respiratória no paciente hospitalizado por tétano grave: relatos de dois casos Introdução O tétano é uma doença infecciosa, não contagiosa, freqüentemente fatal, causada pela ação do Clostridium tetani sobre as células do SNC. Devido suas características (hipertonia da musculatura estriada), observam-se: trismo, opistótono, rigidez abdominal e rigidez de nuca. Os espasmos são violentas exacerbações paroxísticas da hipertonia e levam o paciente a um quadro asfíxico, com cianose e parada respiratória. Nem sempre o uso de drogas músculo-relaxadoras cessam os espasmos, sendo então administrados bloqueadores da junção mioneural. Neste momento a fisioterapia tem o importante papel de manter as vias aéreas permeas, adequadamente ventiladas e higienizadas através da instituição de manobras terapêuticas e adequação de parâmetros da ventilação mecânica. O presente trabalho tem como objetivo observar a evolução pneumofuncional de pacientes internados com tétano grave, submetidos à ventilação mecânica e tratamento fisioterápico. Metodologia Foram observados dois casos de tétano grave internados no HC-UNICAMP durante 28 dias. Foram realizadas sessões de fisioterapia respiratória durante todos os dias de internação, incluindo técnicas de higiene brônquica, aspiração, reexpansão pulmonar e adaptação de parâmetros ventilatórios. Durante o acompanhamento dos pacientes foram avaliados a ausculta pulmonar e os radiogramas de tórax. Resultados Durante os 28 dias de tratamento fisioterápico em cada paciente, foram observados: melhora da ausculta pulmonar quanto ao desaparecimento de ruídos adventícios e aumento na ventilação pulmonar basal no paciente 1 em 71,4% dos dias de atuação fisioterapêutica, e no paciente 2, em 75% dos dias. Quanto ao acompanhamento do radiograma de tórax, foi observado que, entre a imagem do 1º dia de internação e do 28º dia, não houve alteração volumétrica, mantendo-se a expansibilidade. Conclusão Através dos resultados obtidos, concluímos que o tratamento fisioterápico foi eficaz na maior parte dos dias de atendimento, perfazendo um total de melhora na ausculta pulmonar pela anamnese em 73,2% dos dias. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 280 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Universidade do Sagrado Coração – Bauru – São Paulo) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ana Clara Bonini Rocha Centro Universitário Feevale – NH/RS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Peso corporal e peso do material escolar transportado por crianças em idade escolar Cynthia Madrigal, Vanessa Silva Sales, Alberto de Vitta ○ ○ O conhecimento da quantidade de material escolar transportado pelos escolares e relacionando-o ao seu peso corporal é importante para uma atuação preventiva no sentido de impedir ou minimizar as possíveis alterações na postura e nas estruturas da coluna vertebral das crianças, além de ampliar a atuação do fisioterapeuta na área escolar. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi quantificar o peso absoluto do material escolar relacionando-o com o peso corporal dos escolares das escolas particulares de Bauru. Foram sujeitos 116 meninos e 124 meninas, com idades entre 11 e 14 anos, de 5a e 6a séries da rede de ensino particular de Bauru, no período de outubro de 2000 a março de 2001. Para a consecução do objetivo proposto foram realizados os seguintes passos: coleta de dados, junto à secretária de educação, do número de alunos matriculados nas escolas particulares da cidade de Bauru; identificação das séries escolares em que é exigida maior quantidade de material escolar; dados específicos sobre o tipo de equipamento, peso do material transportado e peso dos sujeitos da amostra. Foram feitas análises estatísticas descritivas, testes de hipótese (Mann-Whitney), teste Kruskal – Wallis e de correlação (Pearson). Os resultados indicaram que: 1) Os escolares do sexo masculino transportam maior quantidade de material escolar comparados aos do sexo feminino; 2) Os escolares que utilizam “carrinho” como equipamento para transporte do material escolar transportam maior peso comparados aos que utilizam mochila de fixação escapular e mochila de fixação dorsal; 3) Há relação inversa entre a idade e o peso do material escolar; 4) 30% dos alunos transportam material escolar com peso igual ou acima de 4kg; 5) 29,5% da amostra transportam peso acima de 10% do peso corporal e 10% estão acima de 15% do seu peso corpóreo. Pode-se concluir que os estudantes analisados estão sendo submetidos a peso de material escolar excessivo, expondo-os a um maior risco de lesões nas estruturas músculoesqueléticas da coluna vertebral. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Elogio da ação sensível - projeto de extensão em fisioterapia neurofuncional domiciliar O Projeto de Extensão em Fisioterapia Neurofuncional Domiciliar acontece no Bairro Canudos, periferia da cidade de Novo Hamburgo, região do Vale dos Sinos de Porto Alegre, 60.000 habitantes, desde setembro do ano de 1999. Veio propor uma Fisioterapia que vai ao encontro das necessidades dos alunos e da Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 população, porque se volta para valores de manutenção e de prevenção da saúde. Seus principais objetivos são de proporcionar ação de qualidade, sensível e técnica, para um recorte populacional carente e excluído, que desconhece a Fisioterapia autônoma e científica, e de possibilitar ao agente de saúde, aluno de Fisioterapia, uma ação humanista como valor profissional, o que os conduzirá a um salto em direção a qualidade profissional e para a conquista de uma identidade de ética social. O egresso terá tido todos os subsídios para produção de conhecimento específico na área da fisico-função da mais alta qualidade técnica e conhecerá os seus compromissos para com a sociedade. Os objetivos específicos são de proporcionar um campo para produção científica de projetos e trabalhos de conclusão de curso nas áreas preventiva, recuperativa, curativa, e social; Proporcionar um olhar para toda a dimensão da saúde que transcende a lógica da doença; Formar profissionais que se diferenciem por sua visão global do ser humano; Popularizar a Fisioterapia. Quer ser uma contribuição para a sociedade, uma intervenção profissional de Fisioterapia e de docência fundamentada nas relações interpessoais, científicas e fraternas, que complementem as limitações do conhecimento. A triagem é feita através do preenchimento de Ficha de Inscrição no Posto de Saúde Municipal, e a avaliação e reavaliação fisioterapêutica neurofuncional possui critérios da Medida de Independência Funcional, da Prova de Funcionalidade, da Tabela de Held, e do Controle Motor (Ashburn). São 30 alunos e 80 pacientes (crianças, adultos e idosos) sendo atendidos em 20 horas semanais por voluntários, supervisor e assessores de ensino. Desnuda-se uma demanda até então escondida pela pobreza e pelo isolamento, e que precisa ser atendida em nome da responsabilidade que tem uma ação fisioterapêutica de saúde, fazendo da Fisioterapia do século XXI uma realidade: uma terapia para a vida. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 281 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Nadia Fernanda Marconi*, Maira Lícia Foresti**, Gil Lucio Almeida*. *Universidade Estadual de Campinas, São Paulo e Universidade de Ribeirão Preto São Paulo, ** Universidade de Ribeirão Preto -São Paulo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ordem de recrutamento muscular em movimentos de apontar e sua relação com as forças geradas nas articulações Introdução Para alguns autores a ordem de recrutamento muscular seria função da orientação do braço no espaço. Para outros autores, a ordem de recrutamento muscular obedeceria à demanda mecânica da tarefa. Neste estudo testamos a hipótese de que a mudança na ordem de recrutamento seria conseqüência dos torques de interação, gerados pelo movimento da articulação focal, na articulação não-focal. Métodos Os movimentos do ombro, cotovelo e dedo indicador foram reconstruídos no espaço, utilizando um sistema óptico de análi- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 282 se tridimensional (Optotrak). Os movimentos foram realizados em cinco orientações espaciais diferentes (180°, 135°, 90°, 45° e 0°). As tarefas realizadas nas orientações espaciais de 180°, 135° e 90° foram executadas com adução do ombro e as tarefas realizadas nas orientações de 45° e 0° foram executadas com abdução. Em todas as orientações, o cotovelo sempre moveu em extensão. A partir destes dados, calculamos os torques musculares e de interação nestas articulações. Simultaneamente, registramos a atividade eletromiográfica (EMG) de cinco músculos (deltóide anterior, deltóide posterior, bíceps braquial, braquioradial e tríceps lateral). Esses dados foram utilizados para o cálculo da ordem de recrutamento muscular. Resultados A ordem de recrutamento muscular muda com a orientação espacial. Embora o cotovelo tenha movido em extensão em todas as orientações espaciais, o bíceps braquial (antagonista) foi ativado antes do tríceps braquial (agonista), em duas orientações espaciais em que o braço moveu em adução (180º e 135º). No entanto, o braquioradial comportou-se como antagonista em todas as orientações espaciais. Por outro lado, não houve uma relação entre a ordem de recrutamento da musculatura do membro superior e os torques de interação. Discussão Os resultados deste estudo revelam que a mudança na ordem de recrutamento do bíceps, em algumas orientações espaciais, deve ser atribuída à sua atuação bi-articular. Essa mudança na ordem de recrutamento atende à demanda mecânica da tarefa, em termos da geração de força muscular na articulação do ombro. Estes achados indicam que devemos ser cautelosos ao utilizarmos a terminologia agonista-antagonista para descrever a ação da musculatura, em tarefas motoras mais complexas. Continuação ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Cristina Faria Westphal, Simone Farhat Moujaes, Nelcy Vera Nunes Simões, Aguinaldo Gonçalves A fisioterapia participando da recuperação da corporeidade e auto-estima de idosos - estudo de caso Grupo de Saúde Coletiva/ Epidemiologia e Atividade Física – FEF/Unicamp, Campinas - SP O envelhecimento representa etapa do desenvolvimento individual, com perdas gradativas da capacidade física e intelectual e menor expectativa de vida. De posse do conhecimento do método proposto por Kelder (1985), sugerindo cinco exercícios tibetanos, com finalidade de postergar o envelhecimento, optouse pela aplicação e verificação de seus efeitos numa Instituição Asilar, na cidade de São Carlos, SP. Os objetivos da presente comunicação consistem em apresentar e descrever estudo de quatro idosos (uma mulher e três homens, 69, 60, 64 e 78 anos respectivamente), submetidos a exercícios da referida técnica, diariamente, durante seis meses consecutivos. Foram realizados antes e ao final da intervenção, exames laboratoriais (hemograma, dosagens hormonais de T3, T4, TSH), testes complementares Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 283 (Barthel e “Minimal Memorial Test”), avaliação fisioterápica e geriátrica. No inicio, observou-se presença de rigidez articular, referência de dor, déficit de coordenação motora, fadiga, indisposição, pele ressecada, máculas senis e dificuldade de memorização para todos os exercícios. No final, houve recuperação acentuada de memória, diminuição da queixa de dores, da rigidez articular, melhora significativa das manchas senis (40%); as taxas hormonais elevaram-se em 20% e houve, ainda, melhora na ventilação pulmonar. Registra-se, assim, situação que pessoas da Terceira Idade, podem ganhar condições mais dignas de vida, de imagem corporal e de bem-estar físico-emocional em procedimentos terapêuticos que incluam, destacadamente, a Fisioterapia. Continuação Referência: Kelder P. A fonte da juventude. Editora Best Seller: São Paulo, 1989. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fonocardioamplicador com análise gráfica - um recurso didático para aulas de ausculta cardíaca Will Hernane Pereira Costa, Giane Amorim Ribeiro, Lívia Ribeiro Borges Lazzarotto, Juliana Magalhães Machado Barbosa Centro Universitário de Belo Horizonte - UNI-BH – Belo Horizonte - MG Introdução A ausculta cardíaca constitui um dos itens do exame físico fisioterápico que exige do profissional uma interpretação do som auscultado com a fisiopatologia do quadro clínico. O aprendizado é difícil e deve ser utilizado ainda na graduação. Objetivos Facilitar o aprendizado da ausculta cardíaca de modo a tornar o estudo mais interessante e agregador. Demonstrar formas de utilização da informática como meio didático simples e de baixo custo. Metodologia Através de um estetoscópio comum, que teve sua parte auricular retirada restando-lhe apenas a campânula e o segmento cilíndrico foi adicionado um microfone capacitivo de eletreto, componente comum em rádio-gravadores. A cápsula foi soldada ao tubo do estetoscópio com algodão embebido em cola para evitar perda de som e interferências do ambiente. Através de fio e plugues apropriados o conjunto foi conectado a uma placa de som de computador. O sinal recolhido recebe tratamento através de um programa de som como o Cool Edit 96ä ou similar que possibilita amplificação e análise ondulatória do som. Resultados Aumento do interesse dos alunos e da interatividade do grupo. Maior assimilação do conteúdo e maior facilidade de interpretação dos sons cardíacos. Conclusão O fonocardioamplificador pode ser usado como mais um recurso didático nas aulas de ausculta cardíaca por ser um equipamento de simples montagem, de baixo custo e portátil. Permite a criação de uma fonoteca com diferentes sons cardíacos, nas mais variadas situações. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 284 Resumos de congressos e trabalhos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ana Cristina C. Pons*, Gesilani J. da Silva*, Joel Steinman** *Acadêmicas do curso de Fisioterapia do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis SC, *Médico Pediatra Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Descrição de um projeto de hidroterapia pediátrica em Florianópolis O projeto em análise consiste em um programa de hidroterapia realizado na piscina do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos (CEFID), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) em uma parceria entre esta instituição de ensino e o Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG) de Florianópolis. O projeto é coordenado por um médico do HIJG, e executado por acadêmicos de Fisioterapia da UDESC. As atividades iniciaram em 1996, atendendo crianças com diversas patologias crônicas, que chegam ao ambulatório do HIJG com a necessidade da prática de atividade física. O programa é ministrado através de duas sessões semanais durante o ano letivo da Universidade. O objetivo principal deste estudo é o de descrever o projeto de hidroterapia pediátrica realizado em parceria com o CEFID-UDESC e o HIJG de Florianópolis. Os dados foram obtidos através de uma análise retrospectiva dos prontuários de todos os pacientes que participaram deste projeto, desde março do ano de 1996 até dezembro de 1999. Os pacientes foram subdivididos conforme suas patologias em 4 grandes grupos: “patologias ortopédicas” (problemas posturais, legg-calvèperthes, osteogênese imperfecta, etc), “neurológicas” (distrofias, paralisia cerebral, mielomeningocele, etc), “respiratórias” (asma, bronquite e mucoviscidose) e “outras” (obesidade, baixa estatura, puberdade precoce, etc). No período do estudo, foram atendidas em média 50 crianças, com idades variando entre 3 e 14 anos. Foram classificadas 8 crianças no grupo das patologias ortopédicas, 20 no grupo das neurológicas, 16 com patologias respiratórias e 6 com outras doenças. A média de atendimento diário foi de 20 crianças. Conclui-se que o projeto em questão atende crianças com as mais diversas doenças, sendo que as patologias neurológicas, nestes 3 anos, se mostraram em maior número de ocorrências, seguidas de perto pelas patologias respiratórias. Graças aos efeitos benéficos da água, foram obtidos grandes resultados no tratamento destas crianças, principalmente no que diz respeito à independência no meio aquático. Pelo fato de não ter havido nenhuma espécie de acidente na vigência das sessões, verifica-se a segurança do projeto. Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, Serviço de Fisioterapia Pediátrica. Campinas - SP Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Síndrome de Guillain–Barré tipo Aman e fisioterapia: relato de caso G. Cecílio, R. Grande ○ ○ 285 A Síndrome de Guillain–Barré (neuropatia desmielinizante inflamatória aguda), é descrita por acometimento de nervos periféricos e cranianos. Compreende variantes conhecidas em literatura, sendo o tipo Aman caracterizado pelo envolvimento axonal sensório–motor agudo, comprometendo adolescentes entre 10 e 15 anos (aproximadamente), e acometendo região superior do corpo (cabeça, pescoço, membros superiores, tórax, e músculos respiratórios). Esta variante é de caráter extremamente rara e de difícil diagnóstico. W.A.S., 9 anos, sexo masculino, internado por faringite, apresentou insuficiência respiratória aguda grave e paralisia acometendo a região superior do corpo. O diagnóstico de AMAN foi definido 30 dias após a internação. Evoluiu com ventilação mecânica prolongada (70 dias), fraqueza muscular respiratória e difícil desmame. Não houve necessidade de traqueostomia. A fisioterapia proposta deu enfoque à higiene brônquica, reexpansão pulmonar e treinamento muscular. Iniciou-se o trabalho imediatamente após a internação e evoluiu com acompanhamento intensivo ininterrupto, complementando-se em ambulatório pós alta hospitalar. As condições atuais do paciente mostram recuperação total da função respiratória e leve comprometimento postural, ainda em acompanhamento fisioterapêutico. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ B. Daniela, M. Edna Hospital Português, Instituto do Coração de Pernambuco, Recife PE Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 Fisioterapia respiratória em pós-operatório de cirurgia cardíaca pediátrica: influência do modo de tratamento com Sato2 e estabilidade hemodinâmica Nos últimos anos a Fisioterapia Respiratória tem tido grande indicação em crianças submetidas à cirurgia cardíaca, com a finalidade de prevenir e tratar complicações pulmonares no pósoperatório. Com o objetivo de avaliar os efeitos de técnicas específicas de fisioterapia com a Saturação de Oxigênio (SATO2) e a estabilidade hemodinâmica (onde avaliamos a Freqüência Cardíaca (FC) e a Pressão Arterial média (PAm) e comparar qual das técnicas levou a maior alteração dos parâmetros analisados, este trabalho foi desenvolvido. Foi utilizado o monitor SIEMENS SC 6002 para análise da FC,SATO2 e PAm. As três condutas utilizadas foram:1-Manobras de desobstrução brônquica (MDB) , de Reexpansão Pul- Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 286 monar (RP)e Posicionamento. 2-MDB,RP. 3-MDB, Posicionamento e Aspiração. Vinte crianças entre 5 m a 15 a, em pós-operatório de cirurgia cardíaca, com indicação de fisioterapia foram incluídas. A escolha da conduta a ser aplicada foi baseada nos achados clínicos (Ausculta Pulmonar (AP) e Rx do dia) e comentários do corpo de enfermagem. A FC, SATO2 e PAm, foram analisadas antes, durante e após cada procedimento. Resultados: Em relação a FC houve diferença estatisticamente significativa entre a FC antes e após nas condutas 1 e 3. Em relação a SATO2 e PAm não houve diferença estatisticamente significativa antes e após o procedimento nem entre as três condutas. Concluímos que condutas que incluem posicionamento e aspiração de secreções causam maiores alterações na hemodinâmica em relação a condutas na quais estas técnicas não estão incluídas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ B. Daniela, M. Edna Hospital Português, Instituto do Coração de Pernambuco, Recife PE Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Fisioterapia respiratória na síndrome deprune belly A síndrome de Prune Belly ou da “barriga em ameixa seca” é congênita e se manifesta em recém-nascido do sexo masculino. Caracteriza-se por paredes abdominais finas e flácidas, de aspecto ruguso com hipoplasia ou agenesia dos musculos da parede abdominal, criptorquidia bilateral e anomalias das vias urinárias. L.A.S., 6 meses de idade, deu entrada na unidade pacientes graves do Instituto Fernandes Figueira - FIOCRUZ em 11/05/98, proveniente do lar, com quadro de IRA, anemia, sepse, diarréia, distúrbio de coagulação, choque e infecção urinária. Foi intubado, ventilado mecanicamente por 18 dias, sendo 16 dias em VMI e 02 dias em CPAP traqueal. Neste período ocorreu um episódio de PCR por extubação acidental. O acompanhamento fisioterápico foi de forma descontínua, ora por apresentar labilidade clínica, ora por intolerância às tentativas de desmame, necessitando inclusive de parâmetros agressivos. Após desmame da prótese ventilatória, o RX imediato do tórax mostrava atelectasia do LSD.A postura do paciente no leito era de hiperextensão da coluna vertebral, discreta retração do esterno, elevação das costelas e dos ombros e encurtamento da musculatura do pescoço. O aspecto geral do tórax era de deformidade em sino (redução do diâmetro apical e aumento do diâmetro diafragmático. O tratamento fisioterápico instituído incluiu a colocação de uma cinta abdominal, posicionamento em prono com retroversão de pelve e foi utilizado o método RTAReequilíbrio Tóraco Abdominal, como terapêutica de primeira Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 287 escolha e, em seguida, aspiração naso-faríngea. O manuseio incluiu alongamento passivo de toda a musculatura paravertebral e de cintura escapular, enfatizando o alongamento dos músculos peitorais. O RX de tórax após conduta, mostrou recrutamento alveolar da área comprometida. Concluímos que o apoio adequado da parede abdominal, através do uso da cinta e postura prona, associado aos alongamentos descritos e maior estabilidade da caixa torácica fez com que houvesse melhora significativa do padrão respiratório com repercussão clínico funcional. Atualmente o paciente segue acompanhamento sistematizado de fisioterapia respiratória ambulatorial no IFF- FIOCRUZ . ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Rafaela Mendes, Marcia de Castro IFF-FIOCRUZ Rio de Janeiro RJ Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Linfangiectasia pulmonar congênita – serviço de atendimento domiciliar as crianças cronicamente enfermas do IFF-Fiocruz ASO, 1a, masculino, foi encaminhado ao IFF aos 12 dias de vida com quadro de taquidispnéia e cianose persistentes, esforço respiratório acentuado, ausculta pulmonar com diminuição do murmúrio vesicular e broncoespasmo. Rx de tórax inexpressivo. Após biópsia, foi diagnosticado como portador de Linfangiectasia Pulmonar Congênita, um raro distúrbio congênito caracterizado por dilatação excessiva dos ductos linfáticos por todo pulmão. Apresentando-se em 03 diferentes tipos quanto sua extensão e gravidade, a LPC, na maioria dos casos, manifesta um quadro clínico de angústia respiratória com cianose logo após o nascimento, progredindo com piora do quadro em geral. Está associada a outras anormalidades em 50% dos casos; seus estudos de imagem mostram hiperinsuflação e padrão reticular difuso, e seu diagnóstico é feito através de biópsia pulmonar, apresentando dilatações císticas dos linfáticos nas regiões subpleural e intralobular e nos espaços perivasculares, dando aos pulmões um padrão reticulado subpleural de finas linhas brancas interconectadas com áreas císticas de aprisionamento aéreo. Durante o período de admissão, necessitou de O2 suplementar (oxyhood), e suporte pressórico (CPAP-nasal), posteriormente adaptado a um Bipap através de máscara nasal. Atualmente, é dependente de O2 e Bipap noturno. Apresenta uma frequência respiratória média de repouso entre 35-45 irpm, ausculta pulmonar com murmúrio vesicular diminuído globalmente e broncoespasmo persistente (faz uso de salbutamol 4/4 h), esforço respiratório moderado com tiragem costal, uso excessivo de musculatura acessória com consequente abaulamento torácico, aletas nasais aladas, com padrão radiológico de hiperinsuflação generalizada. É acompanhado 2 vezes por semana, com a finalidade de minimizar a morbi-mortalidade. Até Fisioterapia Brasil - Volume 2 - Número 5 - Setembro / Outubro 2001 288 o momento, o paciente parece responder bem ao tratamento, o qual consiste em manuseios do método RTA (Reequilíbrio Tóraco-Abdominal), apresentando melhora na ventilação e na mecânica respiratória, com diminuição de FR e menor solicitação da musculatura acessória, após terapêutica. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ K. Scaramussa, V.Rech Universidade Luterana do Brasil, Canoas - RS Congresso Brasileiro de Fisioterapia Respiratória, Gramado - RS - 2000 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O vínculo mãe-bebê em prematuros que foram submetidos à ventilação mecânica e a relação com seu comportamento motor Sabemos que o bebê prematuro, que necessita de ventilação mecânica ao nascimento, sofre uma separação abrupta da mãe logo após o parto, também observamos que com o advento dos Centros de Terapia Intensiva Neonatais hoje sobrevivem crianças que anteriormente não teriam possibilidade de vida. Analisando estas questões, surge na área de estudo da Fisioterapia a necessidade de pesquisarmos mais sobre todas as possibilidades que levem estas crianças a terem maior qualidade de vida. O objetivo de nossa investigação é relacionar a interação da mãe com seu bebê prematuro, que foi submetido à ventilação mecânica (VM), com os transtornos de comportamento motor no período de internação hospitalar. A pesquisa foi realizada no Centro de Terapia Intensiva Neonatal do Hospital Conceição da Criança, em Porto Alegre, no ano de1999. A coleta de dados foi realizada através de revisão de prontuários médicos, entrevistas semi-estruturadas às mães, observações sistemáticas das visitas das mães aos bebês e avaliação do comportamento motor através da escala de Brazelton. Participaram deste estudo 14 mães e seus bebês. Os dados das entrevistas foram agrupados, conforme as respostas similares, em categorias e analisados de forma qualitativa. Os achados das observações foram relacionados com o encontrado no comportamento dos bebês, através de análise estatística, utilizando o Coeficiente de Correlação de Pearson. Encontramos várias correlações significativas, destacamos: correlação inversa entre exagero de estimulação da mãe e maturidade motora do bebê (-0,612), correlação direta entre calor e emoção maternal com habituação à luz (0,875), entre verbalização da mãe e habituação à luz (0,704), entre interação positiv