Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari

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Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
2º
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Sari, Nassih,
Jóia Rara, o diário de uma aprendiz – São Paulo 2010-12-22
1. Dança terapêutica
Este livro é um resumo dos exercícios e textos criados por
Nassih para o melhor aprofundamento da pratica oriental
de dançar com o ventre. Fica extremamente proibida sua
cópia sem citação da autora.
Para ler todos os seus textos entre no blog http://ventreemebulicao.blogspot.com/
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Tradição Zen-Budista
Mestre e monge andavam pelas montanhas, quando o
mestre perguntou:
- Sentes o aroma do loureiro?
- Sim, eu sinto - disse o monge.
- Então, nada tenho a te ensinar.
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Sumário
4
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
Onde tudo começou ................. 5
Primeiras aulas..........................7
Exercícios.................................11
Shimmie...................................15
A teoria dos Shimmies..............27
Nem todo passo é para você....36
Teoria da musicalidade............44
Anexos....................................52
Perfil da autora.......................56
“Na ânsia de dizer, atropelo o escrever”.
Perdoem- me aquelas que irão ler. ”Nassih Sari
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1. Onde tudo começou
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Eram cinco horas da tarde quando olhei no relógio,
passara o dia todo assistindo a aula complexa de dança
de Nadia. Levantei do chão, acenei para ela e caminhei
em direção à porta, era hora de voltar para casa. Dentro
do ônibus, não pensava em outra coisa senão nos
movimentos extraodinários que Nadia estava
aprendendo, a dança do ventre parecia ser algo que
jamais faria, a vida prega peças.
Segunda-feira era um dia como outro qualquer, ir para a
faculdade, estudar, trabalhar e controlar a insana
ansiedade. A maioria das minhas amigas não acreditava
que eu estava preste a abandonar tudo para ir estudar
em outro país, elas não conheciam meu sonho e minha
persistência em alcançá-lo. Dublin, Irlanda este seria
meu país durante o próximo ano.
Finalmente o tão esperado dia chegou, de malas
prontas e animada, entrei no avião sem olhar para trás.
No primeiro dia de aula, descobri que o nome Irlanda
significa Éire, uma deusa que de acordo com a mitologia
céltica teria ajudado os gaélicos a conquistar a Irlanda,
ela é uma das três rainhas dos Tuatha Dé Danann. Eu
ainda não sabia, mas a Irlanda e seus mitos
transformariam minha vida.
No dia seguinte, quando cheguei à sala de aula, os
dados do meu destino começaram a rolar.
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Durante meu intercâmbio, a Irlanda foi preenchendo
um pequeno vazio, a cada dia que passava o contato
com seus mitos e com a grande mãe intensificada minha
busca pelo significado da vida.
Quando voltei ao meu país, eu já não era mais eu,
depois de um ano morando fora e vendo o mundo com
outros olhos, não era de se estranhar que perdera todas
as minhas amigas. Sentindo-me sozinha em na
multidão, decidi fazer alguma coisa.
Um belo dia, andando pelas ruas de São Paulo, me
deparei com um anúncio: Entre em contato com as
Deusas, Faça Dança do ventre! A mesma sensação de
bem estar que senti na Irlanda tomou conta de mim,
senti saudades de algo que supostamente não conhecia.
No dia seguinte com a cara e a coragem, procurei a tal
aula.
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2. Primeiras aulas
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Minhas primeiras aulas foram um desastre total, não
conseguia me soltar, tinha vergonha de puxar conversa
com as outras alunas, me senti ainda mais perdida.
Porém um belo dia tudo mudou, depois da aula, a
professora passou um exercício que nada tinha haver
com a dança.
Primeiro exercício:
Escreva em um papel quatro coisas que são
relacionadas á você nos seguintes tópicos: uma palavra,
um objeto, um animal, uma essência. Depois faça uma
colagem usando as descrições.
Não conseguia pensar em nada, perguntei a professora
se poderia trazer o exercício na próxima aula e ela
respondeu:
- Sofia, só a colagem é para ser feita em casa, as
relações são para escrever agora.
Como poderia escrever aquilo agora? Que tipo de
exercício era aquele? Na intenção de fazer o meu
melhor, pensei nas relações, respirei fundo e anotei as
primeiras coisas que vieram a minha mente:
Palavra=conflito, objeto=livro, animal=pinguim,
essência= sândalo.
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A colagem ficou assim:
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Faça o mesmo exercício e depois continue a ler!
Na aula seguinte a professora olhou para as colagens e
perguntou:
- Meninas, o que essa colagem tem haver com o seu
feminino?
Pasma, eu pensei: - Tem haver com minha timidez,
minha vontade de ser amada, com o meu estilo e meu
hobby... TEM TUDO A VER COM MEU MOMENTO
ATUAL!
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Era incrível, como um simples exercício poderia me dar
uma resposta tão complexa? Naquele momento
descobri que tinha reencontrado algo perdido dentro de
mim.
Depois de feita a análise, a professora colocou uma
música oriental, que por sinal era divina, e pediu para
expressarmos tudo aquilo dançando. Foi um momento
especial, mas devo confessar que não foi nada fácil
expressar essa colagem dançando.
Na aula seguinte, eu estava inquieta e perturbada, o
que tudo aquilo tinha a ver com a dança? Qual é a
origem dessa dança? Por que eu estava lá?
As duas primeiras perguntas, perguntei a professora e
essa foi à resposta: - Sofia, a Dança do ventre revive
nossas raízes, desvela nosso feminino, ressalta nossa
autoestima. Ao iniciarmos o aprendizado da dança, logo
nos deparamos com ele, o espelho. Algumas de nós já
estamos acostumadas a usá-lo, outras nem tanto,
porém na aula, ele será seu mais fiel companheiro.
Através dele, começamos a nos redescobrir, ficamos de
frente com o nosso corpo em movimento, observamos
nossas dificuldades, admiramos nossa beleza,
contemplamos o nosso feminino. Depois de um tempo,
em algumas de nós surgem várias autocríticas,
inseguranças, inveja e conforme o tempo vai passando e
nossa dança vai se desenvolvendo, tudo começa a ficar
ainda pior, o ego, o estrelismo, a falsidade, o egoísmo.
Quem nunca se deparou com uma bailarina de dança do
ventre “metida”? Algumas mulheres vão ao limite,
passando por cima uma da outra, sem nenhum respeito
pela dança, é como se elas fossem às próprias Deusas
encarnadas e os humanos têm a obrigação de cultuáJoia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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las, o superego entra em ação. E é aí que entra o
autoconhecimento, a dança abre a nossa caixinha de
Pandora. (Segundo o mito, Zeus para se vingar, criou
Pandora, a primeira mulher, e enviou-a a Epimeteu, que a
deveria tomar como esposa. Contrariamente ao que o irmão,
Prometeu, lhe tinha aconselhado, Epimeteu aceitaria este
presente vindo do Olimpo. Infelizmente, Pandora viria
também com um objeto, uma caixa, no qual estavam
contidos todos os males, dos quais a humanidade estava
ainda liberta. Vítima da sua curiosidade, esta primeira mulher
abriria a caixa libertando todos os males e deixando,
curiosamente, um simples dom por libertar - a esperança.) O
autoconhecimento é fundamental para desenvolver o
amor por si mesma e fortalecer a autoestima. É muito
difícil alguém se conhecer interiormente quando a busca
está sempre no externo e sem falar que se autoconhecer
sem saber quais são seus males é uma tarefa quase
fantasiosa. Quando conseguimos reconhecer quais são
nossos pontos negativos podemos mudá-los e com isso
crescer como pessoa, só reconhecermos a luz quando
sabemos o que é a sombra. A dança do ventre abre as
portas para que esse processo aconteça tanto para
reconhecer os pontos negativos quanto os positivos. É
um aprendizado que exige perseverança, confiança e a
esperança de que com o tempo, você saberá
exatamente quem é o que quer, mas acima de tudo,
você será realmente você! Está pronta?
-Se eu estava pronta? Claro que não!
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3. Exercícios
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Exercício número dois
No final da aula, recebemos da professora esta imagem:
Exercício, escrever uma pequena história baseada na
figura com começo e meio, que seria exatamente o
momento em que a personagem foi “fotografada”. Faça
o exercício e depois continue a ler!
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Minha pequena história:
Conto: Lakira e o mago
Escrito por Sofia Klen
Durante aquele inverno lakira se preparou para tudo,
menos para o que estava por vir. A vida em sua vila não
era fácil, Gertu, o mago, estava sempre pronto para
derrotar qualquer mulher que se atrevesse a dançar e
lakira era uma das sacerdotisas de Zalia, sua dança era
tanto sagrada e essencial como secreta.
Naquela manhã Gertu iria destruir o templo sagrado, o
povoado amedrontado abandonou a cidade.
Lakira sabia que tinha que ficar e lutar. Gertu estava
chegando cada vez mais perto de seu templo, o medo e
ansiedade só acabaram quando Lakira descobriu o que
teria de fazer para vencer o mago, Zalia lhe mandou
uma mensagem, “Lembre-se que tudo começou com a
dança da criação”.
Quando Gertu chegou, Lakira estava pronta, com seu
manto, suas flores e seu véu... Ao som da harpa
misturado com o bendir, ela começou a dançar.
O tempo parou, Gertu ficou imóvel, não conseguiu
sequer levantar um dedo para usar sua magia... Tudo
estava encantado.
Terminada a música, Lakira foi ao grande lago
agradecer a Deusa por sua conquista.
Na aula seguinte, a professora pediu os contos e não
comentou nada. Começou a aula ensinando o oito maia.
Na aula seguinte, assim que entramos na sala, sentamos
em círculo e a professora entregou os contos.
No meu estava escrito:
“O que você precisa mudar na sua vida? Analise seu
conto e enfrente seus magos internos.”
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E lá estava eu mais uma vez chocada. A aula nesse dia,
apesar do aroma de sândalo, da música árabe, do
barulhinho hipnotizante das moedas dos nossos cintos,
não conseguia me concentrar. Depois da aula, a turma
toda foi tomar um café, ficamos conversando sobre a
dança, sobre as aulas, sobre a professora, era a primeira
vez em meses que conversa entre amigas, estava feliz!
Na próxima aula...
Exercício número três:
Dividir a folha sufite em três partes e em cada uma
desenhar:
1. Como você acha que as pessoas vêem você.
2. Como você se vê.
3. Como você gostaria de se ver.
Esse é complexo, meu Deus como vou desenhar isso?
Pensei. Mas uma vez, respirei fundo, não dei bola para
minha autocrítica e desenhei. Faça o mesmo.
Feito o desenho a professora pediu para que cada uma
explicasse o seu, fui à primeira:
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- Bom no número um (como você acha que as pessoas
vêem você) eu desenhei, ou melhor, tentei desenhar,
uma menina alegre e tímida, pois acredito que é assim
que a pessoas me vêem; No número dois (Como me
vejo) desenhei uma menina pensativa, cheia de idéias e
fome de conhecimento; No três (Como você gostaria me
ver) desenhei uma menina alegre, cheia de idéias, com
fome de conhecimento e colocando para fora seus
pensamentos.
Uma a uma todas nós explicamos os desenhos, no final
a conclusão da professora saiu sem pestanejar: - Por
que vocês não conseguem colocar em prática como
gostariam que as pessoas as vissem?
Essa era nossa lição de casa, pensar sobre isto.
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4. Shimmie
Aula seguinte era chegada a hora de aprender sobre os
shimmies (movimento de vibração pélvica), antes da
didática ela nos explicou toda a parte mística desse
movimento.
- Como vocês sabem a dança do ventre nasceu dos
cultos a Deusas na época do matriarcado, época em que
as mulheres detinham todo o conhecimento sobre a
natureza, sobre a terra, sobre o contato com o oculto,
com os deuses, sempre que precisavam agradecer, a
dança era esse instrumento. Nessa época, a concepção
de um filho era obra dos Deuses, o homem ainda não
sabia que para a concepção realmente acontecer
precisaria do encontro físico do feminino com o
masculino. A concepção com os Deuses eram feitas
através de rituais de dança, onde a mulher era
fertilizada no exato momento em que o corpo atingia
seu ápice, no movimento do shimmie. Na parte
esotérica, o Shimmie pode equilibrar o chackra básico
(para quem não conhece chakras são pontos de energia
no corpo segunda a medicina indiana) ele é responsável
pelo nosso aterramento, é através desse chakra que
criamos e estimulamos a força ativa no cotidiano, sua
cor é vermelha, seu elemento é a terra. Além da dança,
podemos equilibrar esse chakra através da yoga ou
então através do nome de Deus na religião islâmica.
Deus tem vários nomes, os que são conhecidos por nós
são os 99 nomes de Deus no alcorão, podemos usar um
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de seus nomes para também trabalhar a espiritualidade
e esse chakra.
AlRAZZAQU: O Dispensador; Aquele que nutre (O
nutridor)
(Alcorão XXII,58; XXXV,3; XXXIX,17; LI58; LXII,9; LXII,11)
Já na filosofia persa segundo minha querida mestra
Patrícia Bencardine, o corpo é dividido em triângulos,
sendo que cada um deles é
um caminho a seguir. O que
usamos no shimmie é o
primeiro
triângulo,
este
meninas, continuou minha
professora, é um desenho que
fiz baseado nessa filosofia.
Reparem que o primeiro
triângulo é na base do corpo,
ele é tridimensional, é
estrutural,
é
o
nosso
aterramento. Esse formato é
o podemos chamar de
Dragon´s eyes, Olhos de
dragão, que simboliza a
Deusa tríplice, ele apareceu
na época medieval em livros
de magias para incorporar a proteção dos espíritos
femininos. Como vocês podem ver, o shimmie é um
movimento primordial que simbolicamente falando, é
um exercício físico no qual podemos entrar em contato
com o nosso eu interior.1
1
Livro: Os 99 nomes de Deus no alcorão , Gabriele Mandel,
Editora Vozes
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Nossa depois de todo esse conhecimento, aprender a
fazer o shimmie parecia mais sagrado do que nunca!
Seguindo as instruções da professora - tínhamos que
flexionar os joelhos, encaixar a pélvis, subir o tronco,
relaxar o bumbum e alternadamente movimentar os
joelhos, pronto esse era o sagrado shimmie. Nesta aula
não tivermos exercícios extras, também nem precisava!
Na próxima aula...
Exercício número quatro
Em uma folha de papel desenhe de um lado, o que
representa para você o masculino e no outro o que
significa o feminino. Faça o exercício e sua autoanalise.
Lado masculino
Lado Feminino
Com duas perguntas a professora abriu minha mente
para o porquê minha vida estava como estava:
- Sofia, Para você o lado masculino está ligado à
ação/razão e o feminino a emoção? Você não acha isso
muito básico?
A aula para mim neste dia foi de total desconforto
comigo mesma, ainda mais que trabalhamos os braços,
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que segundo a professora, estão diretamente ligados ao
coração.
Foi assim que ela começou a aula: Dançar com os braços
não é uma tarefa assim tão fácil como parece, no
passado, os braços eram moldurados, hoje em dia a
criatividade e a interatividade dos braços são essenciais
para que a dança seja completa.
Para começar vou falar um pouco da fisiologia:
Ombros - permite uma mobilização com grande
amplitude de braço.
Cotovelo - flexão e extensão permitiram o membro
superior dobrar sobre si mesmo ou estender-ser.
Mão - a mão se une ao antebraço pela região do corpo,
o antebraço forma com o corpo o punho.
Segundo o livro, 'Cure seu Corpo', os braços representam
a capacidade e a habilidade de abraçar as experiências
da vida; O padrão de pensamento deve ser: Eu abraço
minhas experiências com carinho, facilidade e alegria!
Na filosofia Indu, os braços fazem parte do chakra
Anahata, chakra do coração e é nesse local no corpo
onde reside o amor cósmico; Anahata significa
“espontâneo".
Tudo isso é lindo, mas para que serve? O que tem a ver
com a dança?
Te digo, são os braços que contam a história, que
traduzem, que passam o sentimento da dança, temos
que deixar a energia fluir, que adquirir leveza ( com a
postura certa e com o treino certo, os braços vão
ficando cada vez mais leves), que abrir nossos corações
e sentir a música através dos braços. Faça o teste, dance
somente com os braços e perceba a diferença!
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Ela colocou uma música lenta e dançamos livremente
somente com os braços, foi uma experiência
maravilhosa.
Na próxima aula...
Exercício número cinco
Escrever em uma folha de papel o que você mais ama e
o que mais odeia. Feito isso dançar com uma música
suave o amor e com uma música marcante o ódio.
O que mais amo – dançar, ler, dormir, vida, alegria, boa
companhia, flores, tulipa, filmes, namorar, família,
Deus, viajar, animais.
O que mais odeio – fingimento, falsidade, perigo, medo,
grosseria, comercial de televisão, acorda cedo, dormir
cedo, briga familiar, ignorância.
Escrever foi fácil, dançar foi outra história. Para a dança
do “amo” escolhi uma música lenta árabe, para a dança
do “odeio” um derback.
Por incrível que pareça dançar o que amo foi
extremamente difícil, o que isso significava? Na
próxima aula perguntei para a professora e ela
respondeu com outra pergunta: - Qual é sua rotina?
Você tem feito coisas que gosta?
- Não é possível que com uma simples dança eu possa
analisar minha vida. Disse para professora.
- Essa não é uma simples dança Sofia. Respondeu ela.
Na próxima aula depois da aula no relaxamento...
Exercício número seis- Meditação ativa
Feche os olhos e respire fundo. Imagine um velho baú
com um tampo pesado. Veja-se levantado a tampa.
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Coloque dentro do baú todos os seus aborrecimentos,
medos, irritações, frustrações, raiva, dor e timidez
depois feche o baú.
Depois dessa aula, fui para casa mais leve.
Na próxima aula...
Exercício número sete.
Desenhe um cálice e coloque dentro dele tudo o que
representa você.
Assim que acabei este desenho do cálice, disse para a
professora que iria refazer, pois o desenho estava
horrível, mas ela, como sempre, me passou mais um
aprendizado: - Sofia, a perfeição não existe, ela foi
inventada por aqueles que idolatram a frustração.
Bom depois dessa, não fiz outra coisa senão entregar
esse desenho mesmo!
Depois de todos os desenhos entregue, ela começou a
contar sobre o simbolismo do cálice:
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- Meninas, o cálice representa o ventre feminino. É nele
que os homens bebem seu liquido mais sagrado, a
essência mais pura da alma, nosso eu. Por isso, ele deve
ser sempre reverenciado e respeitado. Devemos sempre
pensar de forma positiva, ir sempre à busca do
autoconhecimento, da iluminação, do desapego, do
amor. Dentro do nosso ventre, deve sempre estar
presente à energia da Deusa, do culto ao feminino,
nunca podemos deixá-lo vazio, sem conteúdo, o
universo é perigoso e muito misterioso, a gente nunca
sabe que tipo de energia ele vai preencher o vazio, não
podemos arriscar. Tudo o que pensamos e desejamos
vai direito para o ventre, a dança ajuda a liberar
energias ruins ou estagnadas, desde que elevamos
nosso pensamento e aprofundamos nossos estudos.
Não sei quanto minhas colegas, mas eu entendi muito
pouco a explicação da professora sobre o ventre, ou
melhor, sobre o cálice. Ao término da aula, perguntei
mais sobre a energia da Deusa.
- Sofia, disse ela, Adam McLean diz que a Deusa é um
arquétipo eterno da psique humana. Ela sempre está ao
nosso lado, mesmo quando desprezada, reprimida ou
negada exteriormente. Ela se manifesta desde os
primórdios da civilização e aparece na cultura
contemporânea sob muitos disfarces.
- Ainda não entendi. Disse desanimada.
Ela continuou, - A Deusa é a energia Geradora do
Universo, é associada aos poderes noturnos, a Lua, a
intuição, ao lado inconsciente, a tudo aquilo que deve
ser desvendado, daí o mito da eterna Ísis com o véu que
jamais deve ser desvelado. No caso da lua, ela é
relacionada, pois, a lua jamais morre, mas muda de fase
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a cada sete dias, representando os mistérios da
eternidade e mutação. Por isso a Deusa é chamada de a
“Deusa Tríplice do Círculo do Renascimento“, pois
também muda de face, assim como a Lua, se mostra
aos homens de três diferentes formas como: A Virgem, A
Mãe e A Anciã. Ela já foi reverenciada em todas as
partes do mundo sobre diferentes nomes e aspectos. Seu
nome varia, mas, sempre foi venerada como o princípio
feminino eterno e estático que está presente em tudo e
incluso no nada. Ela é o poder do feminino que dá vida
ao mundo e fertiliza a terra.
- E o que a Deusa tem a ver com a dança do ventre?
Nesse dia resolvi insistir!
A professora respondeu: - Nas antigas religiões o culto
da deusa era praticado pela maioria dos povos. A Dança
fazia parte dos cultos. Alguns movimentos eram muitos
parecidos com os da dança do ventre, Segundo Lucy
Penna a criação desses movimentos e dançando os seres
se identificavam com a eterna roda da vida, aprendiam
a compreender como foi feito o universo e podiam
constatar no seu centro a chama criadora que move em
cada um.
A dança era um instrumento para “alcançar” os deuses,
deusas, a luz, a consciência. Com o passar dos tempos e
com o fim da religião antiga a dança foi adaptada para
ser executada como simples forma de divertimento,
todo o conceito da prática religiosa foi sendo esquecida
e sofreu um enorme preconceito, um exemplo disso é o
relato na bíblia de Salomé.
A sua relação com a deusa e a deusa em si foi sendo
substituída por conceitos impostos por aqueles que
comandavam os novos tempos. Sua banalização foi
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sendo enraizada. Porém a marginalização não se teve
por completa, alguns povos ou até mesmo algumas
pessoas continuaram a acreditar nos ensinamentos do
passado e de uns tempos para cá a relação com a deusa
vem sendo revivida e através da dança do ventre ela
vendo sendo explorada e divulgada, mas será que essa
exploração está sendo positiva? O que diriam as
sacerdotisas do templo?
A dança do ventre faz com que nos tornemos deusas e
com isso chegamos mais perto da matriz, da mãe, é um
mergulho em nós mesmas, é um encontro com nossa
feminilidade. Segundo estudo de Patrícia Bencardine, os
estados de consciência que podemos atingir da deusa
através da dança do ventre são:
• Danço porque sou a deusa;
• Danço porque represento a deusa;
• Danço porque sou uma parte da deusa;
• Danço porque estou mergulhada na deusa.
Cada mulher, bailarina precisa saber manifestar a deusa
de sua própria maneira e consciência.
“A jornada do herói trata de viver o próprio destino e
não aquele que a sociedade define.”
Vivenciar a Deusa é o reencontrar a verdadeira essência
da mulher, a serpente tem uma simbologia muito
interessante, ela vive trocando de pele, quando está se
movendo está continuamente mudando sua forma e a
cada ondulação ela troca sua imagem; uma cobra é um
animal com mil formas e ainda assim é uma cobra, isso
é vivenciar a deusa.
Temos que estar sempre criando, mantendo e
destruindo nossos pensamentos, nossos movimentos,
nossa energia feminina, a energia da grande mãe e com
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isso transformando nossa dança do ventre em dança da
deusa-mulher, do amor, da terra, da vida.
Na próxima aula...
Exercício número oito
Dance livremente e logo depois desenhe o que vier a
cabeça. Foi isto que me veio à cabeça:
Obs. Você, minha querida leitora, está fazendo os
exercícios junto comigo? Espero que sim!
- Alunas, ontem falamos bastante sobre as Deusas. Hoje
vou complementar falando um pouco de uma das
Deusas mais conhecidas e faladas do mundo, Afrodite.
A sala ficou ansiosa, um completo silêncio tomou conta
do ambiente, atentamente escutamos a professora.
- Muito se fala dessa deusa quando o assunto é feminino
e dança do ventre, mas poucas sabem que seu mito
quase não é vivenciado. No livro “As faces eternas do
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feminino” tem um parágrafo sobre o mito que é a chave
do feminino de Afrodite:
"Afrodite nasce como resultado de um ato violento de
castração do pai, em função do excesso de rejeição que
ele demonstra pelos filhos, frutos da sua união com
Gaia. A deusa não vai ter contato direto com Gaia
(nasce adulta) e acaba desenvolvendo um modo próprio
de lidar com o masculino. É uma deusa extremamente
poderosa, mas cuja maneira autônoma e livre de agir
perturba a dinâmica patriarcal rígida. Ela pode ser
considerada uma força primordial e mais antiga que o
próprio Olímpio (...). Simbolicamente poderíamos dizer
que ela é a imagem diferenciada de mulher que se
separa da dimensão mais oceânica da figura materna.”
Quem de nós tem o feminino tão puro que não é
influenciado nem pela figura materna e nem pelas
críticas masculinas? Afrodite, no meu ponto de vista, só
é a deusa da beleza, do amor, da sedução porque seu
feminino não foi castrado, não foi moldado e muito
mesmo sufocado pelas forças opressoras masculinas.
Essa parte do mito mostra ainda que é na fase adulta
que devemos busca nosso feminino nos "livrando" das
influências maternas e paternas.
Temos a tendência de vivenciar tudo na superfície do
ser, quantas mulheres dizem que trabalham o feminino
na dança do ventre? Milhares! Quantas realmente
desenvolvem esse feminino? Muito poucas e o motivo
para isso é simples: ninguém pensa no mito, ninguém
estuda o mito... Queremos comprar o frasco com a
poção mágica de Afrodite e não percebemos que a única
que pode fabricar essa poção é você mesma... Cada
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mulher tem sua própria receita, não se iludam o frasco
mágico não está à venda!
Se vocês gostam de mitologia, gostam de estudar o
feminino, não deixem a inércia levar, parem, pesquisem,
se empenhem, transformem suas vidas. Isso depende só
de vocês, sua professora de dança, suas amigas, sua
mãe, suas irmãs etc. podem ajudar, mas elas não são
necessárias para que Afrodite entre na sua vida. Vá à
busca que a deusa te encontrará
Importante - Não faça ritual da deusa sem ir a fundo à
análise de seu mito, antes de qualquer coisa para
conseguimos um trabalho profundo e realmente eficaz
relacionado às deusas, precisamos sair do raso e
mergulhar com tudo nos mitos!
Eu amo a dança do ventre, pensei comigo assim que a
professora acabou de falar. Inspiradas, dançamos como
nunca.
Quando cheguei em casa, liguei o computador e
comprei todos os livros citados pela professora, estava
decida a ir fundo no meu aprendizado. A dança do
ventre estava abrindo uma enorme janela para meu eu
interno, a sensação, a princípio era de medo, depois de
grande emoção. Ansiosa para a próxima aula fui deitar e
quase não dormi.
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5. A teoria do Shimmie
- Boa noite meninas, tudo bem com vocês? Perguntou a
professora.
- Tudo bem Profe e você como está? Perguntou Giulia.
- Estou ótima, graças às deusas! Bom vamos começar
aula de hoje?
- Vamos. Respondemos em forma de coral.
- Hoje vamos treinar muito o shimmie, por isso vou
começar contando minha teoria sobre a origem deles.
- O movimento mais expressivo da dança do ventre em
minha opinião são os shimmies, sua execução exige da
bailarina soltura de quadril, força, equilíbrio,
alongamento, alimentação adequada ("barriga vazia =
shimmie sem força") e muito treino. Cada cultura tem
seu tipo de shimmie, mas porque o shimmie hawaiavano
é executado com movimento circular da pélvis e o árabe
é executado alternando os joelhos?
A Classe permaneceu em silêncio e a professora
continuou.
- Levando em conta que em tempos muito antigos a
dança era a representação da natureza, as mulheres
observavam e reproduziam os movimentos da natureza
em forma de dança para estabelecer uma comunicação
com os deuses e deusas. Analisando a paisagem, a
natureza dos países árabes, podemos dizer que muito
provavelmente ao observar os ventos batendo em suas
tendas, em seus rios ou em suas vegetações, esse
movimento de tilintar foi reproduzindo em forma de
shimmies alternando os joelhos.
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Já a paisagem, a natureza do Hawaii é totalmente
diferente; Na base de sua cultura, estão os poderosos
vulcões que com sua forma de funil e sua força
efervescente inspiraram os movimentos circulares dos
shimmies havaianos. Dito isso, vamos ao shimmie.
Terminou sorridente a professora.
Nada contra a teoria, mas que era difícil assimilar o
movimento do shimmie sendo ele árabe ou havaiano,
ah isso era!
A teoria me fez pensar sobre a natureza, sobre os
cultos, sobre as religiões e seus deuses. Pensei em
Jesus, Buda, Maomé, Moises e seu contato com a
natureza, com sua paisagem, com sua rotina e me
perguntei: - Será isso pode ter contribuído em seus
ensinamentos? Mesmo sabendo que dificilmente
responderia esta pergunta, comecei uma pesquisa
sobre o local de nascimento de cada mestre. Fiz
descobertas incríveis, pesquise você também e depois
me conta o seu resultado, meu e-mail é:
[email protected].
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
28
Na aula seguinte, Exercício número 9.
Desenhe uma árvore que represente você e depois
coloque três frutos que representem seus projetos de
vida.
29
Entreguei para a professora que me disse: - Um projeto
é como uma semente pode demorar em virar uma
árvore, mas depois que vira dará sempre frutos.
Esta professora estava me saindo uma bela mestra zen,
disse para minhas colegas que riram do comentário.
Na próxima semana, teríamos um feriadão pela frente e
não teríamos aula, a professora, como lição de casa,
pediu para que assistíssemos ao filme Senhor dos anéis.
Ela não quis dizer o porquê dessa lição, só disse para
assistimos o filme com bastante atenção.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
Na aula seguinte, depois do feriado, ela começou a aula
perguntando sobre o filme.
- Meninas o que vocês acharam do filme?
Algumas de nós responderam que gostaram, outras que
acharam muito longo, outras detestaram, mas algumas
surpreenderam.
- Professora, esse filme tem algum ensinamento para
quem pratica dança do ventre, não tem? Perguntou
Laura.
- Tem sim Laura, fico feliz que você tenha notado.
Respondeu a professora.
Dito isso, ela começou a nos contar qual era o
aprendizado:
"O mundo está mudado.
Eu sinto na água.
eu sinto na terra.
Eu farejo no ar.
Muitos do que já existiu se perdeu, pois não há mais
ninguém vivo que se lembre." (The Lord of the Rings, J.R.R.
Tolkien).
- Meninas, em 1937 quando Tolkien começou a escrever
o livro Senhor dos anéis, não imaginava o sucesso que
faria. Sua obra inspirou e inspira até hoje a arte, a
música, os filósofos, os videogames, as companhias de
danças. Eu sou fanática pela história e seus
personagens, a ponto de fazer uma relação com as
bailarinas de dança do ventre, loucura? Quase nada.
Disse a professora rindo.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
30
- A relação dos personagens com a cultura pop e a
filosofia é, no meu ponto de vista, o mais interessante
do livro. Se compararmos os personagens com a dança,
podemos concluir que o Hobbits (únicos seres capazes
de carregar o anel) seriam as bailarinas iniciantes da
dança do ventre, pois ainda estão puras, sem préconceitos, sem egos, sem muita vaidade, elas são as
únicas capazes de carregar a pureza da dança. Os
senhores - anões, grandes mineradores e artífices dos
corredores das montanhas, podem ser comparados as
bailarinas que se empenham na dança, fazendo
workshops, aulas diversificadas, criando e bordando
suas próprias roupas, mineradoras e artífices da dança
do ventre. Já as tal mestras, campeãs disso e daquilo,
bailarinas com o tal padrão de qualidade, podem ser
comparadas as raça dos homens que acima de tudo,
desejam o poder. Os Gollum eu comparo com aquelas
bailarinas que infelizmente se deixaram levar pelo
poder negativo da dança, com egos inflados,
necessidades extremas de palcos e aplausos, com a
preocupação exagerada com o físico, a roupa, o cabelo,
com o externo. Os Elfos, seres imortais, mais sábios e
belos de todos os seres, não podemos comparar a
ninguém nem a nada com relação à dança, pois para
alcançar a sabedoria e a beleza, é preciso mudar e
muito a maneira como encaramos a dança, a maneira
como ensinamos a dança, a maneira como vivenciamos
e pensamos a dança do ventre!
O filme teve um novo sentido para mim, vou assistir
novamente e olhar atentamente essas relações. Pensei
comigo. Faça o mesmo.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
31
Na próxima aula...
Exercício número 10
Que parte do seu corpo você mais gosta? Por quê?
Gosto dos meus olhos, pois eles me remetem a um
lugar distante que um dia vivi.
- Sofia, os olhos são as janelas para alma, seu feminino
está ligado ao interno. Disse a professora com uma
naturalidade ímpar.
Eu, para variar, não havia entendido direito seu
comentário então perguntei:
- Sabe, Profe outro dia estava pensando no feminino,
será que sabemos o que ele realmente é? Será que
colocamos em prática? E conclui: Em um busca rápida
pela Google não achei nada que explicasse ou defini-se
o feminino, achei umas coisas complexas como Jung e
os arquétipos, Freud e o histerismo, então afinal o que é
o feminino?
A professora com uma calma invejável respondeu:
- Talvez o feminino seja a emoção, a sensibilidade, a
beleza, a intuição, a compreensão, a delicadeza, a
sensualidade, o amor materno incondicional, o
entendimento e a complexidade. Todas nós temos um
pouco de cada um desses adjetivos, no passado fomos
obrigadas a "guardar" essa energia, a "guardar" o
feminino, aí o que aconteceu? Algumas polarizaram e
outras o mantiveram trancado e outras foram obrigadas
por conceitos religiosos, a reprimi-los. Por isso hoje se
fala muito do feminino, temos mesmo que liberar essa
energia, temos que voltar a usar a intuição, a
delicadeza e todo o resto que completa nossa alma e
devemos fazer isso sem culpa, sem medo, sem
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
32
preconceito. Ser mulher não se resume a tarefas, nem a
trabalho, nem a maternidade, ser mulher é muito mais
complexo e desafiador que isso... Não permita que
ninguém, seja pai, irmão, tio, namorado, marido, chefe,
amigas, família, religião tirem ou abafem você, Lute
sempre, pois chegará o dia que nossas filhas serão
livres.
Na mesma aula...
Exercício número 11
Qual a maior qualidade e o maior defeito de sua mãe?
Depois de responder, compare com as suas qualidades
e defeitos.
Este exercício levei para casa, era muito complexo para
fazer em aula.
Na aula seguinte, com o exercício feito, hesitei ao entrar
na aula, no fundo tinha medo daquele exercício.
- Meninas foi difícil fazer o exercício 11? Perguntou a
professora.
Respondemos que sim. Ela começou a aula com a
resposta do meu exercício.
Mãe - Maior qualidade/ facilidade em perdoar, maior
defeito/ ser muito passiva.
Eu - Maior qualidade/ paciência, maior defeito/ não
saber se expressar.
Comparação- Acredito que a facilidade em perdoar seja
como a paciência, difícil de ser alcançada. Por um lado,
a paciência tem limites, já o perdão não. Defeitos- ser
passiva e não saber se expressar no fundo são as
mesmas coisas, aquela que não sabe se expressar e é
passiva, será sempre manipulada.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
33
- Muito bem Sofia, você está de parabéns. - Meninas,
para um verdadeiro autoconhecimento precisamos nos
aprofundar também na personalidade de nossos
familiares. Completou a professora.
Ela continuou: - Falando de aprofundar, vocês sabiam
que assim como no autoconhecimento, a dança também
tem suas artes complementares?
Surpresas, ficamos atentas a sua explicação.
- Em qualquer forma de arte existe a arte que aprimora,
que completa seus conhecimentos. Por exemplo, um
espadachim deve praticar a caligrafia, um arqueiro deve
praticar a respiração, um lutador deve praticar a dança,
uma bailarina de tribal fusion deve praticar yoga e uma
bailarina de dança do ventre deve praticar o
autoconhecimento. Mas no que ajuda?
Quando um espachim pratica a arte da caligrafia, ele
aprimora os movimentos do pulso, cotovelo e ombro.
Quando um arqueiro pratica a arte da respiração, ele
aprimora o controle da direção da flecha. Quando uma
bailarina de tribal pratica Yoga, ela aprimora seu
alongamento facilitando os cambres e ondulações.
Quando uma bailarina de dança do ventre pratica o
autoconhecimento, ela aprimora o entendimento
corporal e emocional facilitando o aprendizado. "Tolo é
aquele que coloca sua arte em uma concha."
Nessa aula, além de aprender o camelo (ondulação
corporal), discutimos sobre nosso autoconhecimento.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Exercício número 12- Meditação ativa
Imagine que você está mergulhando em alto mar. No
fundo, você encontra vários objetos e escolhe alguns
para trazer a superfície. Feito isso, desenhe em um
papel ou corte e cole em uma folha os objetos que você
escolheu. Faça você também.
- Sofia, o que você acha que esses objetos significam?
Perguntou a professora.
- Não sei bem, mas acho que a bola significa que quero
fazer com que as coisas “rolem”, o vestido que preciso
sair mais para me divertir, a caixa que ainda tenho
muito segredos para revelar e o livro que talvez as
respostas estejam no estudo, no aprofundamento do
eu.
- Você está cada vez mais penetrando no seu
inconsciente, isso é muito bom. Disse a professora para
minha alegria.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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6. Nem todo passo é para você
Hoje faz um ano que estou aprendendo esta arte tão
maravilhosa chamada dança do ventre. Cada mês que
passou, descobri nos exercícios simples dado pela
professora, mais sobre mim. Eu sabia que ainda tinha
um longo percurso pela frente, mas descobrir que nem
todo passo era para mim foi complicado.
Na primeira aula do ano, aprendemos o tal shimmie
Souhair, ou melhor, as meninas aprenderam, eu não
conseguia de jeito nenhum fazer o tal passo. Com três
aulas passadas sem conseguir executá-lo, eu estava a
um passo de desistir quando a professora me disse:
- Sofia, tirando o balé, todas as danças além de seus
passos característicos, adicionam passos de outros
estilos, passos pessoais, passos da moda. O shimmie
Souhair é um exemplo disso, esse passo foi desenvolvido
por uma bailarina, a Souhair. Aprender os passos
tradicionais é essencial e obrigatório, porém todo o
resto deve ser personalizado, um passo fica
maravilhoso quando executado pela bailarina X, porém
pode ficar ridículo quando executado pela bailarina Y.
Por isso, bato tanto na tecla de que cada corpo dança de
uma forma única, cada uma de nós tem uma
personalidade, uma alma, tem um estilo de dançar!
Aprenda tudo, dance apenas aquilo que naturalmente
faz parte de você.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Exercício número 13
Desenhe a árvore de seus ancestrais.
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- Profe esse foi o melhor que consegui desenhar.
- Sofia não importa o desenho, importa o exercício e seu
empenho em realizá-lo.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
Na aula seguinte, entendemos o porquê da árvore.
- Meninas, nos arquétipos2 podemos entender melhor
nossos desafios, assim como na vida, a dança do ventre
é recheada de arquétipos. Para citar alguns: Grande
mãe - professoras que têm a tendência de tratar as
alunas como filhas ou alunas que inconscientemente
querem ser tratadas como filhas. Herói - bailarinas que
a todo custo querem vencer. Dragão - bailarinas,
professoras ou alunas que adoram "devorar" umas as
outras. Mas hoje não vou comentar sobre estes
arquétipos, no pequeno grande mundo da dança do
ventre, as deusas e a busca do feminino são assuntos
recorrentes, então vou primeiro comentar o arquétipo
da Deusa - Mulher - Perséfone, Mulher - Deméter,
Mulher - Ártemis, Mulher - Atena, Mulher - Afrodite,
Mulher-Hera, Mulher-Héstia. A dança do ventre por si
só já exalta em nós, um dos aspectos da deusa, porém
esse aspecto precisa ser entendido e compreendido.
Toda essa facilidade no encontro com o feminino
sagrado gera muita confusão, pois muitas trabalham o
feminino na dança através somente do externo, em ser
bela, a dança pode e deve ir, além disso, só quando
aprofundarmos o estudo, a análise, a crença e o
aprendizado podemos dizer que a dança é uma das
ferramentas que resgatam o feminino sagrado. Fiquem
atentas, o simples fato de praticar a dança não significa
2
O arquétipo constitui um dos conceitos básicos da teoria
junguiana e expressa a existência de uma energia psíquica
primordial, que está presente como potencial inerente á toda
raça humana. Teresa e Vitória
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
38
trabalhar o verdadeiro aspecto da deusa, do feminino,
para isso você precisa querer ir mais afundo. "Os
mistérios da mulher estão no corpo e na psique."
Yogini.com. Vocês devem buscar e pesquisar sobre os
arquétipos familiares, o como “funciona” sua família,
vai determinar como você “funciona”.
No final da próxima aula...
Exercício número 14 – Meditação Ativa
Imaginar-se atravessando um riacho bem límpido. Você
deixa na margem uma sacola com todas suas
preocupações, feito isso você entra nas águas e flutua
limpando sua aura.
Hoje aprendemos a dançar com as taças.
- Meninas, dançar com taças é ter em mãos o poder do
fogo, o poder da luz, da vida, do amor, da Deusa. Sua
origem pode não ser oriental, mas tenho certeza que
sua representação e todo o seu simbolismo são
baseados nas filosofias orientais, por isso temos que
deixar o fogo da vela entrar em sintonia com o nosso
fogo interior e dançar com toda nossa alma.
- Profe, qual a origem da dança das taças? Perguntou
Marta.
- Marta, não se sabe ao certo, mas talvez a origem das
taças seja americana. Não existem relatos de bailarinas
árabes dançarem com as taças, o candelabro é a única
dança com velas que se tem registro no oriente. A
origem mais provável seja que as americanas ao ver a
dança do candelabro, tenham feito uma adaptação para
a taça por ser mais “prático”.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Exercício número 15
Qual é seu ponto fraco? Do que você tem inveja? Do
que você tem medo? Escrever em um papel e desenhar.
Nesse exercício eu tinha que perguntar: - Professora,
mas porque temos que desenhar?
- Sofia, ao desenharmos concretizamos o pensar.
Na aula seguinte trouxe o desenho.
Meu ponto fraco – Expressão.
Do que tenho inveja – De uma boa
postura ao dançar.
Do que tem medo – de não poder
dançar.
Poxa por que quando paramos e nos
concentramos em nós, conseguimos
descobrir coisas que na correria do
dia a dia passam despercebidas?
A partir desse dia, vou meditar sobre
mim pelo menos uma vez por dia.
Atrás do desenho, a professora escreveu as seguintes
dicas:
- Sofia, vamos combinar que a dança do ventre não é
algo simples de aprender, além de aprender a
movimentar trocentas partes individuais do corpo,
temos que aprender a unir esse movimento corporal,
com a música e com a expressão. Como fazer isso de
forma harmônica e natural? Talvez a expressão seja
uma mistura de naturalidade e entrega na música
parece fácil de fazer, mas infelizmente a expressão é
como o shimmie quanto mais treinamos mais solto fica!
A bailarina sem a percepção do corpo sua dança não
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
40
passa de uma dança qualquer, por isso resolvi colocar
aqui um aprendizado super simples dividido em três
partes que irá ajudar a percebermos realmente o corpo.
1º A respiração zen: ela é muito mais lenta e os
movimentos respiratórios são controlados pelos
músculos do abdômen inferior e não pela musculatura
do peito.
2º A Postura: a postura correta facilita a respiração
correta que facilita movimentos corretos, que facilita
uma dança correta!
3º A concentração: temos que aprender a concentrar só
assim escutaremos a música, sentiremos os movimentos
acontecendo
e
conseguiremos
nos
entregar
verdadeiramente a dança sem se preocupar com a
platéia, com o estrelismo, com o narcisismo e outras
cositas mas. Para treinar basta você contar a respiração
de um á 10 e retornar ou então usar o Koan.
Um koan é uma narrativa, diálogo, questão ou
afirmação no Zen-Budismo que contém aspectos que
são inacessíveis à razão. O koan tem como objetivo
propiciar a iluminação do aspirante zen-budista. Um
koan famoso é: "Batendo duas mãos uma na outra
temos um som; qual é o som de uma mão?" o ato de
responder fica sendo o foco de concentração. (tradição
oral, atribuída a Hakuin Ekaku, 1686-1769).
Na próxima aula...
Exercício número 16
Faça uma análise de como está sua comunicação com a
dança e como esta comunicação pode melhorar?
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
41
Minha comunicação com a dança, ainda está via
telefone discado, mas tenho certeza que estou
caminhado para a comunicação via internet mega
super-rápida! O posso fazer para melhorar? Estudar
mais e ficar mais concentrada nas aulas.
- Meninas, como a maioria de vocês responderam a
pergunta dois com a mesma resposta, ou seja, uma
melhor concentração, hoje vamos falar do melhor
aproveitamento em sala de aula.
- Uma atitude simples pode melhor quase em 98% seu
aproveitamento em sala de aula, basta não deixar
ansiedade entrar com você para a aula. Preste a
atenção na explicação da profe, tente realizar o
movimento com calma, assim seu corpo tem maior
chance de entendê-lo. Vejo muitas alunas simplesmente
copiando o movimento, querendo entende-lo com uma
rapidez de papa-léguas, quem tem facilidade, realmente
entende o passo super-rápido, porém cada mulher tem
uma dinâmica corporal que varia dependo da idade, das
vivências, e até do estilo de vida que levamos. A calma e
a persistência são os melhores remédios para as
aprendizes de dança do ventre, respire fundo, observe o
passo, escute a explicação, depois tente executá-lo.
Pode ter certeza que seu desempenho irá melhor muito.
E um conselho ainda mais valioso, não deixe caí na
tentação da competição: “Ah todo mundo pegou o
passo eu também tenho que pegar”, pensando assim,
você nunca irá se superar, será apenas o Coiote do
papa-léguas sempre correndo atrás e nunca
conseguindo realmente alcançar seus objetivos.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
42
Lembrem-se, cada uma tem se próprio tempo respeite o
seu, tenha paciência!
Na próxima aula...
Exercício número 17
Faça uma meditação simples e crie um ritual usando sua
intuição. Não se esqueça de fazer o mesmo.
Depois da meditação, esse ritual veio a minha mente:
Ritual Dance Deusa – vista uma roupa toda branca e um
cinto rosa. Acenda uma vela branca e uma rosa pedindo
á Deusa que você tem mais intimidade, equilíbrio para o
seu feminino. Acenda um incenso de rosas brancas e
coloque uma música alegre, mas não muito rápida e
dance pensando na Deusa até a música acabar.
Nossa foi muito lindo esse ritual, minha profe é
realmente uma mulher especial, sem ela não travessaria
as barreiras do meu eu.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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7. Teoria musicalidade
Na próxima aula falamos dos instrumentos musicais e os
ritmos de cada região.
- Queridas, durante uma de minhas aulas, uma aluna
me perguntou: Qual a diferença do tambor africano
para o árabe? Expliquei, mais decidi ir além.
Pesquisando sobre a história da música e dos
instrumentos, percebi que existem várias teorias e várias
versões.
Algumas teorias:
MESOPOTÂMIA3
Atualmente, o Tigre e o Eufrates atravessam um país
seco e pedregoso, o Iraque. Mas, à seis mil anos, a
Mesopotâmia era muito fértil: não era pois necessário
que toda a gente cultivasse a terra e criasse gado.
Alguns habitantes tornaram-se artesãos: fabricavam
ferramentas, ornamentos, armas; outros se tornaram
chefes ou legisladores, soldados, padres, outros ainda
músicos. Nos templos das grandes cidades, os padres
esforçavam-se por agradar ás terríveis divindades da
fome, do fogo e das inundações. A música representava
um papel importante nos ritos. Cada divindade possuía,
pensava-se, o seu instrumento favorito: Um dos
instrumentos de percussão era um tambor em forma de
taça.
3
Site da pesquisa
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
44
O Egito- A primeira civilização Egípcia assemelhava-se á
da Mesopotâmia. Os historiadores não sabem
praticamente nada sobre o tipo de música que eles
preferiam, apenas que era calma lenta e compassada.
Nas pinturas morais, há dançarinos e músicos em
atitudes serenas e graciosas, tocando flauta e harpa,
instrumentos muitas vezes associados á paz e á
meditação.
Nos campos e nas vinhas, batiam-se pauzinhos para
afastar as aves e outros animais nocivos. Quando
imploravam aos Deuses, os Egípcios serviam-se desses
pauzinhos para obter um ritmo de dança. Numa outra
cerimônia, uma sacerdotisa levava um sistro (anéis
metálicos fixos num quadro em forma de Y) como
símbolo do poder divino.
Dos instrumentos de percussão podemos salientar os
seguintes:
Crotalos - Primeiro feitos de madeira, marfim e mais
tarde em metal;
Pratos – Idênticos aos ocidentais.
Sistro – É o instrumento mais característico do Egito. É
constituído por uma lamina de metal e fixa a um cabo.
Essa lamina tem várias argolas metálicas.
Tambores – De variadas formas.
A CHINA - Na China produziu-se uma tradição musical
antes mesmo do Egito antigo. Segundo a lenda, um
Imperador Chinês decretou cerca de 2700 anos antes de
Cristo, que o som de um “sino amarelo” especial seria a
base da música Chinesa. Depois, o estilo musical Chinês
permaneceu praticamente imutável no decurso de
milênios. A música de origem popular e rítmica foi
canonizada no uso durante as cerimônias rituais, como
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
45
forma de etiqueta religiosa ou profana. Em especial, no
período da dinastia Chen, Xamãs e os guerreiros que
detinham o poder sobre os outros estratos sociais,
instituíram uma série de cerimônias geralmente
sacrificatórias às forças da natureza, nas quais a música
tinha um lugar importante para acompanhar a
recitação das formulas mágicas. A música Chinesa era
geralmente acompanhada por danças. Os Chineses
atribuíam á musica o poder de despertar e conservar a
virtude.
Dos instrumentos de percussão na China podemos
destacar:
Campanas – Instrumentos de metal, em forma de sino
(encontra-se em jogos ou isolados).
Gongo – Instrumento de bronze percutido com um
martelo;
Pratos – Idênticos aos ocidentais;
Tambores – Das mais variadas formas.
Porém para alguns filósofos, a música pode ter surgido
na pré-história com a necessidade do homem de se
comunicar com os Deuses. Ao escutar os sons da
natureza, surgia a idéia de que esses eram os sons que
os deuses usavam para se comunicar com o universo e a
partir daí começaram a imitar os sons dos trovões, das
chuvas, dos animais.
Agora volto ao começo dessa conversa, então porque as
tribos africanas tocavam tambor e as tribos européias
tocam instrumentos de sopro e de cordas, na sua
maioria?
Minha teoria é a seguinte: Na pré-história o homem
africano não precisava da pele do animal para se
aquecer, a pele era usada para outras coisas, mas não
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
46
era um acessório vital, daí a possibilidade de fabricar
instrumentos com as peles (tambores, batuques etc.); Já
as tribos européias precisavam muito das peles para se
aquecer, fazer cabanas resistentes ao frio, fazer
“cobertores” , a pele era essencial para a sobrevivência,
sobrando assim espaço para a criação de outros tipos de
instrumentos como de corda feito de tripas e
instrumentos de sopro feito de madeiras. Acredito que
por esse motivo e com a evolução das espécies, cada
tribo foi aperfeiçoando sua música e seus instrumentos
e hoje a Europa é (pelo menos para meu namorado) o
símbolo do rock e a África, o Oriente Médio e até parte
da Ásia, são especialistas em sons de percussões.
- Nossa profe que interessante! Disse Julia.
- Agora para quem quiser saber mais, anote os livros
para pesquisa:
O som e o sentido - Jose Wisnik
Uma Breve História da Música - Roy Benett
Roland Candé - História Universal da Música
A origem da tragédia no espírito da musica – Nietzsche
Na próxima aula...
Exercício número 18
Responda a pergunta: o quanto você se entrega a
dança? Até onde vai seu mergulho?
Minha resposta foi automática: - Nossa me entrego
super, meu mergulho é profundo!
-Sofia vai com calma, será mesmo que sua entrega é
realmente profunda? Tem um texto no Samsara, que
diz: -Machik-la, qual é especificamente o significado de
“demônio”? — perguntou Gangpa Muksang.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
47
- Filho escute. Essas são as características dos demônios.
Aquilo que é chamado de “demônio” não é de fato algo
grande e escuro que aterroriza e petrifica quem o vê.
Um demônio é qualquer coisa que obstrua a conquista
da liberdade. Então, mesmo amigos queridos e
afeiçoados se tornam demônios, no que diz respeito à
liberdade. Mais do que tudo, não há maior demônio que
essa fixação a um ego. Porque até que essa ego-fixação
seja cortada, todos os demônios aguardam com as
mandíbulas abertas. Por isso, você precisa se esforçar
em um meio hábil para decepar o demônio da egofixação. [...] Machig Labdron (Tibete, séc. XI)
Nesse pequeno grande mundo da dança do ventre, o
capeta sempre está presente, seja na inflação do ego,
seja na postura de uma professora mau caráter, seja na
pretensão de algumas a limitar a expressão artística
ditando regras e conceitos que na verdade não existem,
seja na competição excessiva por fama e
reconhecimento, seja na busca doentia da
perfeição. Tudo isso leva a um só caminho: abraçar o
capeta. Preste atenção e não caia na tentação!
- Eita profe achei que estava abafando, na verdade isso
também é mais uma lição que estamos aprendendo não
é mesmo?
- È isso mesmo Sofia, não podemos bater no peito e
dizer isto ou aquilo, a humildade faz o aprendizado ser
contínuo e verdadeiro.
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Na próxima aula...
Exercício número 19
Cole uma figura que represente o lugar e a roupa ideal
para sua apresentação de dança.
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- Lindo Sofia, agora transforme isso em realidade.
- Mas como?
- O como depende de você.
- Sempre enigmática essa minha profe viu! Disse em voz
alta com um tom descontraído.
Na aula seguinte, a profe nos fez uma surpresa, cada
uma de nós recebeu um caderno com a seguinte
mensagem dentro: Durante séculos o ventre feminino
vem sendo marginalizado, ignorado, silenciado. Apesar
de termos vencido várias batalhas, a luta ainda não
terminou. Precisamos despertar para o casamento
alquímico do ventre com o autoconhecimento e nos
despreender da ditadura do corpo perfeito, só assim
superaremos a nós mesmas e venceremos os séculos!
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
Um dos caminhos para esse despertar, no meu ponto de
vista, é a prática oriental da dança do ventre.
Na mesma aula...
Exercício número 20
- Nenhum exercício é válido se você não o fizer com a
alma entregue, por isso nesse último exercício vocês
devem fazer uma analise de tudo que fizeram e
aprenderam.
- Último? Professora, você está nos dizendo adeus?
Perguntou Marta.
- Não Marta querida estou dizendo até logo, agora a
busca é com vocês. Esse será nosso último exercício,
daqui para frente só aprenderemos a dançar.
- Mas não podemos ficar sem os exercícios, eles me
ajudam muito. Disse desanimada e triste.
- Sofia, tudo o que você precisa está dentro de você,
todos esses exercícios que fizemos, são apenas muletas
de acesso, vocês não precisam mais delas, podem
caminhar sozinhas.
- Não gostei. Respondeu Laura.
- Laura, meninas, não fujam da responsabilidade de
buscarem o autoconhecimento. A verdadeira bailarina
da dança oriental sabe que a fama é ilusão; Que o culto
ao corpo não pode nunca ultrapassar o culto á alma;
Que o egoísmo, mesquinharia, fofoca e falsidade não
fazem parte do seu vocabulário; Ela sabe que será
sempre uma eterna aprendiz; Sabe reconhecer seus
defeitos e talentos; Sabe dialogar... Ela busca a dança
como forma de iluminação e contato com o divino, Ela
busca o conhecimento profundo; Ela não julga o
desempenho de outras bailarinas; Ela é humilde o
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
50
bastante para reconhece seus limites e seus desafios;
Ela ensina por amor e com muita dedicação... Ela não
esconde conhecimento, nem julga ser melhor do que
ninguém; Ela sabe que currículo não faz a dança; Que
dinheiro e sucesso são conseqüências; Seu maior desafio
é ensinar suas alunas a serem melhores do que ela... Ela
será sempre grata a aquelas mulheres que lhe
ensinaram o caminho do "ventre" e abriram - lhe as
portas para o mundo misterioso do sagrado feminino.
- Obrigada professora por todos os seus ensinamentos,
agora essa parte é com a gente. Disse em voz alta e
todas concordaram.
Exercício 20 – Analise: Sabe, cheguei à conclusão
que a dança do ventre é um modo de vida, uma filosofia
aplicada. Pensa comigo, a dança trabalha todos os
nossos conceitos internos e nosso olhar para o externo,
é graças a ela que entramos em contato com o feminino
e podemos curar feridas, é através dos movimentos que
transformamos o eu, que renascemos. Podemos nos
auto-conhecer de uma forma simples, por exemplo,
quando dançamos o corpo traduz quem somos e o que
sentimos, com isso, se você perceber que está com
dificuldade de movimentar o tronco provavelmente o
seu chakra cardíaco está desequilibrado, se ficamos
extremante tímidas é sinal que nossa preocupação com
as atitudes, reações e pensamentos dos outros está
acima do normal e por aí vai. Poderia escrever horas
sobre como a dança cura o nosso feminino e muda
nossa filosofia de vida, porém prefiro deixar você
descobrir tudo isso sozinha, a única dica que deixo é: só
com entrega total existirá a transformação!
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari
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Anexos:
1. Alguns Movimentos básicos
Postura - Posição básica: Em pé, pernas afastadas e
semiflexionadas, quadris encaixados e abdome contraído; tronco
"reto" e cabeça para frente.
Passos
Shimmies: pernas ligeiramente afastadas e joelhos semi-flex, fazer
movimentos alternados com os joelhos; flexionando-os
alternadamente. Tentar não mover a parte superior do corpo.
Básico: Pé um pouco à frente, quadril sobe e bate pra baixo. Fazer
os dois lados – esquerda e direita.
Batida lateral: Peso do corpo numa das pernas, apoiar o pé
contrário a trocar o peso do corpo de lado. Pisa e troca.
Redondinho: Imaginar que você está desenhando um círculo bem
pequeno com sua pélvis.
Redondo: Grande círculo com o quadril.
Oito egípcio: Imaginar o símbolo do infinito na frente do seu corpo
e tentar desenhá-lo com o quadril
Camelo: Ondulação corporal, tentar desenhar um S começando
com o peito, barriga, pélvis e vice-versa.
Andada 1 : Cruza perna esquerda e abre perna direita.Alterne
Twister: Um pé a frente do outro, torcer o quadril e levar o peso
para a perna da frente e voltar o peso pra a perna de trás.
Braços: 1.Com se tivesse pintando um quadro subir e descer
alternadamente.
2. Braços ao lado do corpo, subir e descer alternadamente.
3. Cruzar os braços e subi-los até a cabeça e descer com eles
abertos, delicadamente.
Shimie Souhair: joelhos flexionados, peso na perna esquerda, bate
quadril pra o lado direito levando o peso e vira quadril esquerdo
pra frente. Repete o movimento.
Oito pra frente: desenhar um 8 horizontal começando pela frente.
Peso perna esquerda virar quadril pra frente e transferir o peso
para o lado direito e repetir.
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Oito pra trás: desenhar um 8 horizontal começando por trás. Peso
perna esquerda virar quadril pra trás e transferir o peso para o lado
direito e repetir.
Sobe desce empurra: peso na perna esquerda, quadril direito sobe,
desce e empurra o peso da perna esquerda para direita fazendo um
L.
Bêbada: movimentos com os pés. Marca frente pé direito, cruza
perna esquerda, cruza novamente a direita e abre lateral. Repete!
2.Lista de filmes
Com cada um desses filmes eu aprendi, analise, estudei, pesquisei
conceitos do feminino, da psicologia, da cultura, da vida cotidiana,
formei conceitos e aprofundei meu olhar!
• Balão Branco
• As brumas de Avalon
• Ás cinco da tarde
• A feira das vaidades
• Sob o sol da toscana
• Pão e tulipas
• Tempero da vida
• Tempo de espera
• A caminho de Kandahar
• O expresso de Marrakesh
• Ágata e a tempestade
• Salomão e a Rainha de sabá
• O jardim de Allah
• Bem me quer, mau me quer
• Lawrence da Arábia
• Flores de aço
• O Senhor dos anéis
• As crônicas de Nárnia
• Sex & The City (série)
• Mata Hari
• Colcha de retalhos
• O último samurai
• Memórias de uma Gueixa
• A princesinha
• Adeus Lênin
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• Chocolate
• Violino Vermelho
• Corra Lola, corra
• Lúcia e o sexo
• O Fabuloso Destino de Amelie Poulain
• Noites com Sol
• Sem notícia de Deus
• Tudo Sobre Minha Mãe
• Filho da noiva
• As Mil e uma Noites
• Kismet
• E as chuvas chegaram
• Intervenção Divina
• Osama
• Kung fu panda
• O voto é secreto
• Um casamento a indiana
• Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera
• A Menina Afegã ( documentário)
• O poder do mito ( documentário)
Boa pipoca :)
3.Dicas de livros
Patricia Bencardini, Dança do ventre Ciência e arte. Textonovo
Jennifer Barker Woolger, Roger J. Woolger. A Deusa interior.
Cultrik.
Claudio Crow Quintino. A religião da grande Deusa. Gaia
Bri. Maya Tiwari. O caminho da prática, a cura feminina pela
alimentação, pela respiração e pelo som. Rocco.
Catherine Clément, Julia Kristeve. O feminino e o sagrado. Rocco.
Lucy Penna. Dance e recrie o mundo, A força criativa do ventre.
Summus
André Van Lysebeth. Tantra, o culto da feminilidade. Summus.
Peter Demant. O mundo muçulmano, editora contexto
Rudolf Laban, Domínio do movimento, Summus
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Dionísia Nanni, Dança educação, Sprint
Victor N.Davich, O melhor guia de meditação, pensamento
Sylvia B. Perera, Caminho para a iniciação, paulus
Stanley Keleman, Mito e corpo uma conversa com Joseph
Campbell, summus
Martha Robles, Mulheres, mitos e mistérios o feminino através
dos tempos, Aleph
Hajo Banzhaf, A tarô e a viagem do herói, pensamento
4. Sites e blogs a serem visitados
http://ventreemebulicao.blogspot.com/
http://poesiapensamento.blogspot.com/
http://www.femininoplural.com.br/
http://www.radiobastet.com/
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9. Perfil da autora
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Simone Martinelli é o pseudônimo de Nassih Sari, que nasceu
em Guarulhos, São Paulo, em 1976. Começou a escrever
ainda criança, na adolescência teve um conto publicado pelo
jornalzinho do Mackenzie, escola onde estudava. Com o
passar do tempo os questionamentos e dilemas se
acumularam, sua primeira grande busca foi por Deus. Simone
leu e pesquisou Deus em todas as religiões e seitas. Em 2005
inaugura o famoso blog Poesia Pensamento que em 2010
ficou em terceiro lugar na categoria cultura votada pelo júri
acadêmico na premiação brasileira de blogs, o TopBlog.
Também em 2010 publicou dois e-books gratuitos sobre o
tema dança oriental, sua outra paixão, que já foram baixados
e lidos por mais de mil pessoas, além de expor algumas obras
em sites como overmundo e worldartfriends.com.
Contato: [email protected]
Site: http://about.me/ssmartweb
Joia Rara, o diário de uma aprendiz – Nassih sari