por detrás dos oitis

Transcrição

por detrás dos oitis
Editorial
v
Salve, salve a GIRO!
A revista-laboratório do curso de Jornalismo da Univale, a Girô,
retoma suas atividades com muito vigor e compromisso de informar bem.
A você, estimado leitor, trazemos as produções jornalísticas dos nossos
alunos que se esforçaram para escrever sobre temas universais, mas com
ângulos e personagens diferenciados, desvendando, assim, o cotidiano de
nossa cidade e de nosso povo. As reportagens passeiam por temáticas
diversas como moda, patrimônio histórico e cultural, economia, esporte,
sexualidade e cotidiano. A revista conta também com seções opinativas
com artigo, crítica e crônica, além, claro, de uma instigante entrevista sobre migração, onde são reveladas novas interpretações para o fenômeno.
Desde a concepção, passando pelo planejamento até chegar à
execução da revista, trabalhamos com os alunos de forma participativa e democrática. Foram muitas aulas para chegarmos a um consenso
sobre o formato, bem como o papel, as seções, as pautas e até mesmo a
linha editorial e o público-alvo. Afinal, a disciplina se propõe a ser um
laboratório para que possam experimentar novas linguagens e formatos jornalísticos, inovar nos processos produtivos e, claro, experenciar
e praticar a reportagem que, como bem disse o escritor colombiano
Gabriel García Marquéz,“requer tempo, investigação, reflexão e um domínio
certeiro da arte de escrever”.
A realização da revista-laboratório Girô/2010 é fruto de um
trabalho interdisciplinar com o curso de Design Gráfico, que nos presenteou
com o projeto gráfico e a diagramação, e com o curso de Letras, que contribuiu com a revisão textual do material. Esperamos dar continuidade a essas
boas parcerias no próximo semestre.
Amigo leitor, contamos com a sua opinião sobre essa edição da Girô
no intuito de avaliar a qualidade das produções dos nossos discentes e para
que nós, professores do curso de Jornalismo da Univale, alcancemos cada
vez mais a excelência no processo formativo de nossos futuros jornalistas.
Boa leitura e até a próxima edição!
1
Expediente
GIRÔ - Revista-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo
desenvolvida por meio da disciplina Revista-Laboratório.
Presidente da Fundação Percival Farquhar
Edvaldo Soares dos Santos
Reitora da Univale
Profª Ana Angélica Gonçalves Leão Coelho
Pró-Reitora Acadêmica
Profª Fabíola Alves dos Reis
Pró-Reitor Administrativo
Prof. Marle José Ferrari Júnior
Assessora de Graduação
Profª. Denise Coelho Chaves
2
Assessor de Pesquisa e Pós-graduação
Prof. Carlos Alberto Dias
Assessora de Extensão e Assuntos Comunitários
Profª. Fátima Martins Dias Oliveira
Diretora da Área de Ciências Humanas e Sociais
Profª Cláudia Gonçalves Pereira
Coordenadora do Curso de Jornalismo
Profª Nagel Medeiros
Editora e jornalista responsável
Profª Fernanda de Melo Felipe da Silva – MG 11497 JP
Textos - Discentes do 8º período de Jornalismo (2007 - 2010)
Ana Eliza Pereira de Oliveira, Bárbara Gonçalves de Freitas, Carlos
Augusto de Albuquerque, Carlos Magno de Souza, Darlisson André Dutra,
Diego Dunga Alves de Oliveira, Dilvo Rodrigues Batista, Fernanda Resende
Alves Nominato, Gabriel da Penha Sobrinho, Gabriela Gonçalves de Araújo,
Kaio Henrique dos Santos, Lucas Mafra Braga, Marcella Werner de Lemos,
Marialda da Consolação Barreto Costa, Maurício Cancilieri de Oliveira,
Nathália Barcelos Schubert, Nery das Dôres Albuquerque Júnior, Roberta
Vieira de Paula, Saniele Barbosa Lopes Pinto, Vivian Lopes Cangussú.
Projeto Gráfico e Diagramação
Profª Zaira Beatris Andrade Bernardes
(Coordenação Geral)
Discentes do Curso de Design Gráfico/Univale:
Larissa Rodrigues Menezes (6° Período)
Lívia Furtado Moura (4° Período)
Luciana Murta de Tassis (4° Período)
Ilustração
Discente do Curso de Design Gráfico/Univale:
Abraão Barbosa (4° Período)
Revisão Textual
Profª Elisângela Rodrigues Andrade Vieira Helal
(Coordenação Geral)
Discentes do 4º Período de Letras/Univale:
Bárbara Carla Gomes Francisco, Cíntya Francielle
Gomes Soares Nascimento, Daniela Delfino dos
Santos, Fernanda Soares de Almeida, Jaqueline
Angélica Pereira, Janete Ferreira da Silveira,
Jeorge Martins Dias, Joel Carlos Fernandes Junior,
Joice Sérgio Monteiro, Kássio Victor Pereira Vidal,
Kelly Adriene Gomes Marques, Leisiane Aparecida
Cruz, Lucas Magalhães Fernandes, Namara Oliveira
Teixeira Rocha, Ney Luiz de Souza, Priscila Alves
Marques, Rubens Soares Ribeiro, Sâmara Patrícia
da Silva Tetzner, Sara Dias de Oliveira, Silvana Keli
da Silva, Vanussa de Oliveira Pinto
Agradecimentos Especiais:
Profª Rosilene Conceição Maciel (Design Gráfico)
e Profª Cátia Cristina Degan Fernandes (Letras)
Apoio Editorial
Brian Lopes Honório (Editora Univale)
Impressão / Tiragem
Gráfica O LUTADOR / 200 exemplares
Contatos
(33) 3279-5928
[email protected]
É permitida a reprodução parcial ou total de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, desde que citada a fonte corretamente.
Sumário
04
GV QUE VOCÊ OLHA, MAS NÃO VÊ
07
TURISMO NO PICO: O QUE FALTA PARA ALAVANCAR?
10
SEXUALIDADE EM BAIXA
14
DE OUVIDO NA CONVERSA DOS OUTROS
16
O m² MAIS CARO DA CIDADE
18
ENTREVISTA - Profª Drª Sueli Siqueira
QUANDO O MUNDO MUDA DE COR, CHEIRO, FORMATO...
22
PELA CULTURA DA PAZ
25
A PRIMEIRA DÉCADA DO DESIGN GRÁFICO
32
DANÇANDO PARA SOBREVIVER
37
MOSTRA-ME O QUE TU VESTES E EU DIREI QUEM TU ÉS
42
FAMA E GRANA – O FUTEBOL AINDA É CAMPO PARA ISSO
46
3
E MAIS....
PATRIMÔNIO CULTURAL - Museu da Cidade
28
UNIVALE - Programas e projetos que beneficiam a comunidade
29
CRÍTICA - A janela indiscreta da mídia
36
DICAS CULTURAIS - Bom para ler, ouvir e ver
40
CRÔNICA – Formaturas: sequência da vida
13
C I DA D E
•
Girô
Governador
Valadares
POR DETRÁS DOS OITIS
TEXTO:
Marialda Barreto
[m arialdabarreto@hotm ail.com]
+ Albuquerque Júnior
[juninholeste@hotm ail.com]
As copas, sempre cheias de folhas verde-escuro,
amenizam um pouco o clima quente. No verão, os
termômetros chegam a registrar temperaturas de
40 graus. Os oitis, que já fazem parte da paisagem
e formam a identidade da Princesa do Vale, estão
praticamente em todos os bairros. Porém, é no Centro
da cidade que essas árvores escondem imóveis com
Jovem, com apenas 72 anos de emancipação
mais de meio século de história. Estruturas que ainda
política, Governador Valadares até pouco tempo era
preservam traços arquitetônicos de tempos passados.
invejada pelos turistas que passavam por aqui. As
Ao caminhar pelas ruas, Harley Cândido, bacharel em Direito, músico
ruas e avenidas do Centro eram planas e largas e
e ex-membro do Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico Cultural
os motoristas não precisavam disputar espaço no
de Governador Valadares, um eterno apaixonado pelo passado da cidade
trânsito. Entretanto, seus governantes, sem con-
nos faz ver o que poucos veem. O passeio pelo Centro, no início da noite
sultar aos moradores, acharam por bem construir
de uma sexta-feira, poderia até desanimar pelo calor de quase 30 graus
canteiros e ciclovias e, assim, a Princesa do Vale,
em pleno inverno. Mas, mesmo assim, o historiador busca aguçar a nossa
como é carinhosamente conhecida, perdeu um
curiosidade. Tenta abrir os olhos de quem não consegue ver além dos oitis.
pouco do seu encanto e peculiaridade. Mas não
é só esse desenho geográfico diferenciado que
descaracteriza o município de ser tipicamente
mineiro. A cidade não ostenta uma catedral no
centro e muito menos conta com casarões e
árvores centenárias em suas ruas. Mas, isso não
quer dizer que faltam sombras para se esconder
do sol, que não haja religiosidade entre o seu
povo e que seu passado recente não seja glorioso.
Em toda a cidade, são centenas de igrejas,
pequenas e grandes, para todos os tipos de fé.
Nas calçadas, pés e mais pés de oitis. No último
levantamento da administração municipal, 80
mil árvores dessa espécie foram contabilizadas.
FOTOS: Samuel Ribeiro
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Prédio onde funcionou a primeira Prefeitura de Governador Valadares
Quem olha por olhar, enxerga pouco. Apenas reconhece prédios modernos
misturados a casas e sobrados antigos. A maioria reformada e adaptada
para estabelecimentos comerciais. E são muitas lojas, afinal, o comércio é
um dos pontos fortes da cidade e atrai pessoas de toda a região.
“Em toda a cidade, são centenas de igrejas,
pequenas e grandes, para todos os tipos de fé.
Nas calçadas, pés e mais pés de oitis.”
Memória política
A histórica casa da família Hilel foi vendida
há cinco anos e é hoje um ponto comercial
A casa da família Hilel
Algumas dessas casas e sobrados tiveram seus dias de ouro num
Outro prédio historicamente importante fica
passado recente, por volta dos anos de 1940. Dois bons exemplos ficam
localizado à Rua Marechal Floriano com Avenida
na esquina da rua e da avenida mais conhecidas e frequentadas da cidade:
Minas Gerais e pertencia à família Hilel. Por mais
Marechal Floriano e Minas Gerais. Nelas se encontram ainda de pé
de 60 anos a propriedade pertenceu ao libanês
dois prédios que hospedaram grandes nomes da nossa política como
Seleme Hilel. Ele veio para o Brasil por volta de
Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Benedito Valadares.
1910 e trabalhava como mascate, nome dado no
Esse último recebeu homenagem especial em 30 de janeiro de 1938,
Brasil aos mercadores ambulantes e vendedores de
quando a cidade ganhou sua emancipação política.Antes desta data,Governador
“porta em porta”. Chegou a Governador Valadares
Valadares era distrito do município de Peçanha e se chamava Figueira.
em 1919 e aqui criou raízes. Foi dono de vários
Tanta história esquecida e escondida caprichosamente pelos oitis.
imóveis e, em 1924, se tornou o maior exportador
Mas, quem deixar a rotina diária de lado e não prestar atenção aos
de café do Vale do Rio Doce, além de um grande
milhares de caminhões, carros e motos que passam pelo trecho poderá co-
atacadista de cereais. Também exerceu o cargo de
nhecer um pouco desse passado não tão longínquo. Um dos imóveis ganhou
vice-prefeito de Valadares por 45 dias com a auto-
as cores da bandeira do Brasil. O motivo é incerto. Mas quem sabe os tons
rização do, então, governador de Minas, Benedito
em verde e amarelo representem inconscientemente um grito de alerta,
Valadares.
um protesto quando se observa que o desenho arquitetônico da década de
Terezinha Hilel, 75 anos, sobrinha do em-
40 já se mistura com o contemporâneo. Nas varandas de onde discursaram
presário, explica que o prédio diferenciava-se dos
tão ilustres personalidades políticas, grades de ferro mostram que os tem-
imóveis pela altura, pois foi o primeiro de três anda-
pos são outros. A insegurança é mais presente do que nunca e não dá mais
res construído na cidade. “Contava ainda com uma
para ficar de janelas e portas abertas em nome da preservação histórica.
fonte no segundo andar, jardins suspensos, um salão
No sobrado funcionava o Hotel Rio Doce, muito frequentado na épo-
de peças de artes e móveis centenários”. Terezinha
ca, por ser o único da cidade. Atualmente, a parte superior foi adaptada para
lembra que quase todo fim de semana o tio recebia
escritórios e no térreo para ponto de lojas de diversos segmentos. Uma
políticos e personalidades da sociedade para festas.
loja de bijuterias e uma agência de turismo estão entre as atividades
Hoje, o prédio tem finalidade comercial
exercidas no local.
e quem chega à loja “Varejão das Fábricas” não
vê nenhuma lembrança do passado festivo do
casarão. No segundo andar, salas vazias desper-
“Os oitis, que já fazem parte da
paisagem e formam a identidade
da Princesa do Vale, estão
praticamente em todos os bairros.”
tam a nostalgia para quem viveu ali uma época de
sonhos. Pouco a pouco a história vai se perdendo e
mudanças são feitas no prédio. O imóvel, vendido
há cinco anos para empresários de Belo Horizonte,
passa por reformas. “A família não quis investir e
preferiu desfazer do casarão”, lamenta Terezinha.
5
Oitis com os
dias contados
A Prefeitura de Governador Valadares aposta num projeto que vai
mudar a paisagem da cidade. Os oitis estão com os dias contados e deverão
ser substituídos por outras 18 espécies de árvores, entre elas o ipê-roxo,
ipê-amarelo, palmeira imperial, sombreiro, flamboyant e até árvores frutíferas como o figo e a castanhola. Segundo o Secretário Municipal do Meio
Ambiente, Agricultura e Abastecimento, Celton Godinho de Assis, “esse novo
desenho urbano vai ser feito aos poucos, de tal forma que os moradores
nem perceberão”. Os bairros Lagoa Santa, Santo Agostinho e Belvedere já
receberam o projeto e não registram pés de oitis plantados.
Harley Cândido avalia que a troca das árvores pode ajudar a trazer
um pouco desse passado, mas, mesmo assim, é preciso um projeto específico
de educação patrimonial junto às escolas. “As pessoas não conhecem esses
6
Prédio onde funcionava o Hotel Rio Doce,
único da cidade na década de 1940
“Algumas dessas casas e
sobrados tiveram seus dias
de ouro num passado recente,
por volta dos anos 40.”
Cinema das
antigas
imóveis, não só porque não olham por detrás dos oitis, mas também porque
Outro imóvel histórico destacado é a antiga
não contaram a história desses prédios para elas. E esse trabalho deve ser
residência da família Habib, usada hoje como de-
feito pelas escolas com a ajuda do poder público”.
pósito de lojas. O dono, Nacle Miguel Habib, foi um
O historiador denuncia que, ao longo dos anos, o passado da cidade
rico comerciante de origem sírio-libanesa. O prédio
não vem sendo respeitado e que muitos imóveis já foram derrubados para a
da década de 40 ainda conta com uma varanda sus-
construção de lojas comerciais. Contudo, alerta que ainda há tempo de sal-
tentada por colunas do estilo neoclássico. O imóvel
var o que resta. Só na Avenida Minas Gerais ele aponta várias construções
fica ao lado do colégio e da casa da família Hilel.
que precisam ser preservadas. Uma delas é o prédio onde já funcionou a
Três histórias que se abraçam e resistem ao tempo.
Prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Fórum da cidade. Os cômodos, antes
Na mesma avenida, outro ponto interessan-
usado pelo poder público, viraram salas de aula do colégio Cip Con. O imóvel
te é onde se localiza hoje a loja “Americanas”.
mantém alguns traços arquitetônicos da época no estilo “art déco”.
Por 40 anos funcionou no antigo sobrado deste
ponto o “Cine Teatro Ideal” e, depois, o “Cine Sir”.
Harley Cândido ressalta que, no segundo andar, tem
Imóveis que resistem ao tempo e preservam um pouco da história da cidade
uma sacada de onde discursou, em 1950, o então
presidente da república, Getúlio Vargas.
Outros segredos da história de Governador
Valadares estão escondidos por detrás dos oitis.
Para conhecer essas preciosidades é preciso investir tempo. Só assim, um cenário diferente pode
despontar diante dos olhos e revelar surpresas e
até certa beleza, dependendo da sensibilidade de
quem observa. O belo pode estar nos pequenos
detalhes. Detalhes de um passado que precisa ser
recuperado na memória dos filhos da cidade. y
FOTO: Pierry Ayres
Saniele Barbosa
turismo
TEXTO:
•
Potencial turístico a ser explorado
Girô
Pico da Ibituruna
[saniele87@hotm ail.com]
Apesar das dificuldades e do
pouco incentivo, empresários
continuam investindo no local.
Cobram mais apoio do poder
público, como infraestrutura
básica, serviço de telefonia,
internet e benefícios fiscais
7
Pico da Ibituruna, um dos símbolos identitários de Governador Valadares
o mais rapidamente possível um dado percurso e o cross country, uma modalidade de mountain
Se lhe pedissem para listar os cinco maiores símbolos de Governador
bike. Pousadas, a charmosa Casa do Papai Noel e
Valadares, muito provavelmente ele ganharia o primeiro lugar ou, no
a estátua de um ET e um disco voador completam
máximo, o segundo. Estamos falando do Pico da Ibituruna, um dos mais
o cardápio de atrativos do local. Por lá, se encon-
importantes pontos turístico-paisagístico da cidade, considerado Área de
tram pessoas em busca de descanso e tranquilidade
Proteção Ambiental (APA) desde 1992. Possui ainda dois tombamentos:
e também aquelas que querem aventura e dinamis-
um como patrimônio paisagístico pela Constituição Estadual, de 1989, e o
mo. O Pico da Ibituruna oferece de tudo um pou-
chamado “Complexo Monumentos do Ibituruna”, que compreende, além do
co. É um lugar singular para se passar um fim de
Pico, a Santa e a Capela/Pedestal, tombado em 2003 pelo município.
semana, ouvindo o som de pássaros, num clima de
Em seus 1.123 metros de altitude acima
montanha, com programação para o dia todo.
do nível do mar e 990 metros do nível do Rio
Mas com todos esses atributos positivos
Doce, encontramos belezas exuberantes, como
do Pico da Ibituruna uma questão persiste: o que
montanhas, lagoas e trilhas, onde várias espécies
falta para esse importante símbolo de Governa-
de pássaros, mamíferos e da flora podem ser apre-
dor Valadares tenha todas as suas potencialidades
ciadas. Além disso, a Ibituruna se destaca pelo vôo
turísticas, econômicas, paisagísticas e culturais
livre por possuir as melhores térmicas do mundo,
exploradas ao máximo e de forma sustentável?
segundo os praticantes desse esporte. A Pedra
Para responder a essa indagação, conversamos
é também local para outros esportes de aventu-
com três empresários que se aventuraram a inves-
ra, como escalada, rapel, caminhada ecológica,
tir no local e que vivem diariamente os prazeres e
downhill - forma de ciclismo que consiste em descer
desprazeres de serem empreendedores no Pico.
FOTOS: Arq. Jornal Olho Mágico
Outro empresário que também atua no setor de turismo da cidade e
que acompanhou de perto a história da ocupação turística da Ibituruna e o
seu desenvolvimento é Francisco Luiz Teixeira, 81 anos. Ele concorda que
ainda há muito que ser melhorado para que a área se desenvolva plenamente
e, assim como Viviane, aponta a necessidade de melhorias na infra-estrutura básica e estímulo aos empresários que lá estão e também a novos. “Os
empreendedores que desejam construir lá têm muitas dificuldades. É um
Viviane do Vale Silvestre
processo muito burocrático, mesmo que o projeto seja comprovadamente
Para a turismóloga e proprietária da Pousada
positivo para a Ibituruna. Poderia ser criada uma lei de incentivo fiscal, já
Vale Silvestre, Viviane do Vale Silvestre, 39 anos,
que uma construção na Ibituruna ou mesmo a manutenção de pousadas,
o turismo na Ibituruna já é uma realidade, mas
restaurantes e atendimento logístico lá tem custo mais elevado do que o
ainda pode ser melhor. Ela afirma ter um grande
das construções na área urbana da cidade”, analisa.
fluxo de turistas no local, ou seja, a Pedra já é um
Mais um empresário que corrobora com as opiniões de Viviane e
atrativo fomentado. No entanto, faltam melhorias,
Francisco é Antônio Rodrigues Coelho Júnior, 64 anos, proprietário do es-
principalmente no que diz respeito à infra-estru-
paço de lazer e restaurante Casa do Papai Noel. “Comparado há alguns
tura básica do local. “Não podemos negar que a
anos, muita coisa foi feita, mas ainda podemos avançar mais. As estradas,
estrutura hoje no Pico é boa, mas precisamos da
por exemplo, hoje tem uma estrutura boa, mas acredito que a construção
construção de estradas, de banheiros públicos,
de banheiros, instalação de telefone e internet são os pontos fundamentais
placas de informações e sinalizações turísticas
que devem ser melhorados no Pico para que a área possa se desenvolver e o
e funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo
empresariado consiga avançar nos seus negócios”, opina.
(CAT) que já foi construído e ainda não está em
funcionamento”, avalia. Viviane lista ainda outro
fator importante, como uma política pública de
incentivo fiscal para os empreendedores.
Promessas
O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Governador Valadares e presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR),
Na opinião da turismóloga, para que o turismo
Valter Luiz Machado da Silva, informa que as questões levantadas acima
realmente aconteça na Ibituruna e em outros locais
pelos empresários só podem ser resolvidas após a criação de um Plano
da cidade seria importante que os valadarenses e
de Manejo da Ibituruna, no qual se faz um estudo da área sobre vários
todos os setores da sociedade assumissem de vez
aspectos, como impactos ambientais, regularização de construções e refor-
que Valadares possui atrativos para ser, de fato,
mas, entre outros. Quanto ao funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo
uma cidade turística. “Temos que assumir isso e nos
(CAT), que já está construído e só falta ser “ativado”, o secretário explica
dar conta de que esta é a realidade. Somos um povo
que, após o fim do período eleitoral, a Secretaria Municipal de Desenvol-
hospitaleiro e poderíamos usar isso mais a nosso
vimento Econômico e os demais órgãos relacionados ao turismo na cidade
favor, através do turismo receptivo”, afirma.
tomarão as providências cabíveis, como, por exemplo, contratar funcionário
e estruturar e equipar o espaço físico do Centro.
FOTO: Pierry Ayres
8
Falta de dinheiro ameaça
campeonatos de voo livre em 2011
Eles acontecem anualmente, principalmente nos meses de fevereiro
e março, e atraem diversos turistas para a cidade. Contudo, os campeonatos
nacional e mundial de vôo livre de 2011 correm o risco de não acontecerem,
principalmente o Paragliding Open de Voo Livre. De acordo com o atual presidente da Associação Valadarense de Voo Livre (AVVL) e também coorde-
Francisco Luiz Teixeira
nador de eventos da entidade, Paulo Cezar Silva, 42 anos, os campeonatos
podem não acontecer por causa de dívidas da entidade, que gira em torno de
Acredito que toda a fauna e flora sejam prejudicadas.
R$ 70 mil. “No último campeonato que realizamos, uma verba que deveria ser
Um bem natural como este,de tanta importância para o
repassada para nós por um político não se concretizou. Só recebemos 25% do
turismo e para a cidade, deveria ser mais preser-
valor prometido. Isso é uma pena, já que a realização do campeonato é essen-
vado”, opina o tenente do Corpo de Bombeiros
cial para o turismo e destaque de Valadares no Brasil e no exterior”, afirma.
Hoberdan Inácio da Silva.
Na opinião do presidente, para realizar o campeonato sem preocu-
Outro membro do Corpo de Bombeiros,
pações financeiras, deveria haver uma parceria das instituições privadas
sargento Célio Pereira Ramos, também acredita que
com o poder público. “Na parte de logística, a Prefeitura já nos ajuda;
as queimadas trazem vários prejuízos à biodiversidade
estamos na expectativa de que haja também uma ajuda financeira para
do local. Para ele, leis e posições mais enérgicas por
2011. Mesmo insistindo com algumas empresas da cidade, elas não apóiam.
parte de órgãos ambientais pode ser um dos caminhos
Os campeonatos deveriam ser mais valorizados e ‘abraçados’ pelo empresa-
para diminuir esse problema. “Há incêndios que são
riado local. Espero que com as próximas reuniões e tentativas essa situação
de causas naturais, como os raios, resultado de des-
dos campeonatos seja resolvida”, almeja. De acordo com o presidente da
cargas elétricas. Há outros ocasionados pelo homem,
AVVL, o custo total do campeonato é de aproximadamente R$ 135 mil.
de forma acidental ou criminosa. Os que acontecem
Queimadas:
fauna e flora pedem socorro
Não somente a falta de infra-estrutura
básica ou o pouco incentivo fiscal aos empreendedores locais dificultam o desenvolvimento do turis-
por aqui causam danos somente ao meio ambiente, por isso, punir quem pratica essa ação de forma
criminosa pode ser uma das saídas para se amenizar
um pouco as agressões ao meio ambiente”, conclui.
Extinção de espécies
O orquidófilo autodidata e diretor cultural da
mo no Pico da Ibituruna. Fatores como degradação
Sociedade Orquidófila Valadarense (Soval), Reginal-
do meio ambiente, principalmente as queimadas,
do de Vasconcelos Leitão, 27 anos, também afirma
podem pôr em risco as belezas naturais do local e,
estar preocupado com a atual situação ambiental
consequentemente, o Pico enquanto ponto turístico.
da Ibituruna, principalmente devido às queimadas.
De acordo com um levantamento feito pelo Corpo
Segundo ele, espécies raras da fauna e também da
de Bombeiros, no ano passado foram registradas
flora, como as bromélias e orquídeas, correm o risco
26 ocorrências de incêndio florestal (mata/pasto)
de desaparecer. Ele afirma que, há algum tempo, eram
nos meses de julho, agosto e setembro. Neste ano,
cerca de 100 espécies de orquídeas e 50 de bromélias
foram registradas 38 ocorrências apenas em agos-
catalogadas. Atualmente, esses números caíram para
to, e até o mês de setembro mais cinco. De acordo
uma média de 30 e 25, respectivamente.
com a entidade, no mês de outubro, ainda não havia
“As orquídeas são as espécies que mais sofrem
sido registrada nenhuma ocorrência de incêndios no
com isso, pois têm maior dificuldade de se reproduzi-
local, graças ao período chuvoso, que vai até o mês
rem do que as bromélias. Eu tenho uma ‘dívida’ com a
de fevereiro. As principais causas do fogo desordena-
Ibituruna e amo muito a sua biodiversidade, por isso
do, segundo o Corpo de Bombeiros, são as queimadas
faço esse alerta sobre a extinção dessas espécies.
nos pastos, feitas por donos de propriedades rurais e
Acredito que temos que fazer algo rapidamente para
que avançam fortemente por grande parte da mata.
não perdermos aquelas preciosidades”.
Em setembro deste ano, o Pico da Ibituruna
De acordo com Leitão, na queimada ocorrida
teve uma das maiores queimadas da sua história,
no local em setembro deste ano, as orquídeas foram
consumindo uma área equivalente a 60 campos
as mais prejudicadas, principalmente, porque gran-
de futebol. As chamas se alastraram rapidamente
de parte dos exemplares estava situada na parte
por causa do vento forte e do mato bastante seco.
onde ocorreu o incêndio de forma mais duradoura e
As causas deste incêndio ainda são desconhecidas.
intensa e também porque as plantas estavam em
“É
fase de florescimento. y
lamentável
o
que
ocorre
na
Ibituruna.
9
S O C I E DA D E
•
Girô
Quando
elas ficam
Texto:
Bárbara Freitas
[barbara.jorn alismo@hotm ail.com]
Pesquisa revela que religião, remédios e traição são
algumas das saídas encontradas pelas esposas dos
imigrantes para driblar o desejo sexual, a solidão e a
saudade do companheiro que parte para o exterior
em busca de uma vida melhor para a família
10
O amor é alimentado através da convivência
que geram laços de confiança. Mas, e quando a pessoa com quem vivemos precisa se mudar para outro
país para garantir uma vida economicamente estável para a família? Como as esposas de migrantes
Minas Gerais (FAPEMIG). A proposta era conhecer a realidade vivida por
se sentem em relação à vida sexual após a partida
mulheres que possuem os maridos no exterior, focando o modo como vivem
do marido? Para responder a essa questão, o Grupo
sua sexualidade, identificando as mudanças psíquicas e sociais geradas pelo
de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS),
isolamento sexual. Ao todo, foram entrevistadas 247 mulheres e quatro
da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), de-
anos de investigação científica.
senvolveu a pesquisa Impactos da emigração sobre
Joana Miranda Silva* tem 37 anos, dois filhos e há cinco anos
a sexualidade da esposa do emigrante, financiada
seu marido migrou para os Estados Unidos pela segunda vez. Na primei-
pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
ra vez, ficou por dois anos e teve de retornar quando a família começou
a passar por dificuldades financeiras. De lá, ele manda dinheiro para
“Para matar a saudade
eu comecei a fazer aulas de dança,
para inibir meu desejo,
tomei muitos remédios.
É complicado você estar com alguém que,
ao mesmo tempo, está longe de você.”
as despesas mensais da família. A meta do casal é comprar uma casa e
montar um comércio para que no futuro a separação não seja novamente
necessária. “Sinto falta do meu marido; é uma situação muitíssimo difícil.
Parece comum, mas é um assunto delicado que não gosto de ficar falando.
Para matar a saudade eu comecei a fazer aulas de dança, para inibir meu
desejo, tomei muitos remédios. É complicado você estar com alguém que, ao
mesmo tempo, está longe de você”, desabafa.
O meio de comunicação mais usado pelo casal é o MSN, programa
Já a dona de casa Tânia Vasconcelos
de mensagens instantâneas. Todos os dias, às 20 horas, eles discutem pela
Gusmão* se apegou mais à família e à religião para
Internet os problemas normais que toda família tem, mas também falam
superar a falta do esposo. Ela não trabalha fora e,
de amor e da saudade. “Acabo me sentindo muito sozinha, não conversando
para se distrair, passa boa parte do dia na Igreja.
com as pessoas para evitar fofocas. Afinal, sou uma mulher casada e não
“Um grande presente foi minha neta. Ela tem um
quero que pensem que o fato do meu marido estar fora influencia em algo”,
ano e é uma benção na vida da minha família, ajuda
argumenta Joana.
a diminuir a ausência do meu marido. Superar e
não sentir falta é impossível. Ele foi para poder nos
“Ele foi para poder nos proporcionar
uma vida melhor para nós e,
por isso, espero por ele.”
proporcionar uma vida melhor para nós e, por isso,
espero por ele. Este ano João volta e vamos viver
todos juntos de novo”, garante.
Resultado da pesquisa
“Impactos da emigração sobre a sexualidade da esposa do emigrante”
Ao todo, 247 mulheres foram entrevistadas
49,4%
Simplesmente ignoram o fato (desejo sexual)
44,7%
Ás vezes tem desejo sexual
29,6%
O auto-erotismo
15%
12,6%
Tomam remédios para inibir o apetite sexual
Sexo por telefone
4%
Mulheres que traem
2%
A religião é válvula de escape
Estudo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS), da Univale, sob a coordenação do Prof. Dr. Carlos Alberto Dias.
A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
11
“O fato de o marido estar no exterior
tende a melhorar a vida econômica da família e, por
isso, durante o período em que o marido continua
ausente, esposa e filhos deixam de viver qualquer
tipo de restrições financeiras. Por outro lado, se a
família adquire uma situação financeira confortável o mesmo não ocorre com o que se refere aos
aspectos afetivos”, explica o professor e psicólogo
“No início me sentia muito mal
em traí-lo, chorava, sabia que
estava fazendo algo errado,
mas hoje já não enxergo as
coisas desta maneira.
O que mais me incentivou foi
descobrir que ele me traía lá.”
da Univale. Ele ressalta que a religião para as mulheres, muitas vezes, é uma forma que encontram
para vivenciar alguma atividade social que seja
aceita pela própria família, quanto pela do parceiro. Com essa vivência social conseguem um pouco
de apoio e compreensão para o que estão vivendo;
configura-se como uma fonte de inspiração ou fonte
de energia para continuarem sobrevivendo.
12
“Imagine-se em um parque de
diversão onde todos os brinquedos
estão desligados por faltar energia,
não tem ninguém que lhe faça
companhia, que faz muito frio,
você está com muita fome e não
sabe como sair da situação.’
O pesquisador evidencia que, desde a infância somos incentivados a seguir os passos de Cristo, baseados na frase “Cada um deve carregar sua
cruz”, o que explica muitos comportamentos das
mulheres entrevistadas. “Quando o marido mora
no exterior a esposa passa a ter sentimentos de
menos valia. É como se o ser dela deixasse de existir pela distância e, muitas vezes, pelo descuido do
parceiro em relação à situação em que ela fica aqui
Para tentar exemplificar o universo de solidão e isolamento social pelo
qual passam as esposas dos migrantes dos, o professor faz uma comparação
da situação com um parque de diversão desativado. “Imagine-se em um
parque de diversão onde todos os brinquedos estão desligados por faltar
energia, não tem ninguém que lhe faça companhia, que faz muito frio, você
está com muita fome e não sabe como sair da situação”.
Maria de Jesus Cordeiro*, 45 anos, faz parte dos 2% da pesquisa
das mulheres que traem o marido. Sentia falta não só das relações sexuais,
mas de uma pessoa que estivesse com ela para dividir alegrias e tristezas.
“Acabei traindo meu marido por vários motivos. Sentia falta de alguém
que me desse um carinho diferente, de homem mesmo. Meu casamento
hoje dura porque há interesse econômico e não quero que a família dele
interfira na minha decisão. É complicado ele lá nos Estados Unidos e eu
aqui no Brasil criando nossos filhos sozinha”, lamenta. Maria explica que
gosta do esposo, mas um relacionamento à distancia é arriscado. Mesmo
que haja amor, muitas vezes, o desejo fala mais alto. “No início me sentia
muito mal em traí-lo, chorava, sabia que estava fazendo algo errado, mas
hoje já não enxergo as coisas desta maneira. O que mais me incentivou foi
descobrir que ele me traía lá”, relata.
O coordenador da pesquisa conclui que, embora o casal deva, a partir
do casamento, buscar meios para estar sempre junto, em função de oferecer
a si mesmos e aos filhos melhores condições de vida, inúmeras mulheres se
vêem obrigadas a viverem distantes do marido. Existem, é claro, vários casais que consideram importante que a mulher permaneça no país para que
ela administre e invista o dinheiro enviado do exterior pelo marido. y
no Brasil. As pessoas se casam ou passam a viver
juntas acreditando que isto garantirá a presença
do outro, bem como inúmeras oportunidades de vivenciar momentos agradáveis e intensos juntos”.
* Para resguardar o anonimato das mulheres
envolvidas na pesquisa utilizamos nomes fictícios.
CRÔNica
Carlos Albuquerque
•
TEXTO:
Girô
Formar...
transformar
[calbuquerquegv@hotm ail.com]
De quatro em quatro anos, de cinco em cinco,
de três em três... Depende do curso. A cada vestibular, os aprovados formam uma nova turma. No fim
do curso, essa mesma turma se forma outra vez.
“O mestre de cerimônias chama-se Tempo.
Preste bastante atenção: quando ele chamar o
seu nome, suba ao palco e saboreie
os aplausos.”
E assim, o verbo formar tem emprego garantido, tanto
na entrada como na saída do estudante da faculdade.
E não é que a vida é uma sequência de
formaturas? O bebê recém-nascido começou a se
formar nove meses antes, quando um espermatozóide
simples como formar um jornalista, um médico ou um advogado? Não dá
para fazer artigo científico ou monografia sobre a profissão de pai ou mãe
sem que se passe pela fase da adolescência. Haja bibliografia, haja re-
valente venceu a corrida e se encontrou com um óvulo
gras para ser descartadas, substituídas, reinventadas. Normas da ABNT?
e os dois formaram um ovo, que virou embrião e... você
De nada valem. Dicas da revista Nova, da Pais e Filhos, do programa de TV
sabe. Aliás, essa brincadeira começou mesmo mais
da Super Nanny? Já não é mais bibliografia, é multimidiografia. E, mesmo
cedo, quando homem e mulher formaram um casal,
assim, sempre vem a conclusão de que é cedo para entregar o diploma aos
que se acertou na cama e deu no que deu!
pobres pai e mãe. E mais cedo ainda para entregar o canudo para os filhos.
“Em algum instante,
o verbo formar ganhou o
prefixo trans e a gente virou
isso que a gente é.””
Ao passar da infância para a adolescência e, daí, para a fase
adulta, o homo sapiens participa de algumas formaturas na escola.
As fotos não deixam mentir: formatura na educação infantil, no ensino
fundamental, no ensino médio, na faculdade.
Assim caminha o formando! Nessa espécie de existencialismo
Depois do nascimento, começa um processo
gerundista. Está sempre indo, ensinando e aprendendo, conquistando,
que vai acabar também em formatura! Pai e mãe
decepcionando-se, surpreendendo-se. E acaba por se formar várias
de primeira viagem aprendem, em pleno voo, a
vezes, sem solenidades. Ou você se lembra com precisão do dia e da hora
pilotar esse avião, chamado família. Meu Deus!
da formatura dessa pessoa aí, que as outras pessoas chamam de você?
É menino querendo mamar, a chorar, a espernear,
Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou
aprendendo a falar, caindo para aprender a andar.
isso que a gente é. Ainda hoje, às 8h32min, ou amanhã, às 11h25min, ou
E aí, pronto! Quatro anos se passaram, cinco, seis,
quem sabe, exatamente agora, você pode estar colando grau. O mestre
sete... E o diploma? Não vão entregar para os pais?
de cerimônias chama-se Tempo. Preste bastante atenção: quando ele
Nada disso! Está pensando que formar um filho é
chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos. y
13
COTIDIANO
•
Girô
Pérolas
da Comunidade
ILUSTRAÇÕES:
Abraão Barbosa
“ Nossa, mas você está tão mais
14
“POSSO COMER UMA
?”
jovem nessa foto!
Você fez um ‘workshop’
?”
Eleitor para um candidato a deputado
ROSQUINHA
estadual das eleições 2010 no momento
em que este entregava santinhos.
Dúvida de uma testemunha de
um júri popular em Governador
Valadares após o Juiz apresentar os
detalhes do funcionamento da sessão.
?
“ - Nossa! Cheirou um trem bão, hein
Um trem gostoso doce,
com banana, parece.
- Um pão, né?!
- Não! Pão, né não
- Podia ser novidade pra degustação.
Ali tem direto.
!
”
Conversa entre dois pedreiros enquanto
terminavam, lentamente, o acabamento da
calçada de uma farmácia na Ilha dos Araújos
localizada em frente a uma padaria.
“Ôh, mãe, de que
?”
parte do boi vem
a carne moída
Filha no supermercado após
pedido da mãe ao atendente.
“ - Comadre, faz tempo que o seu marido está
nos Estados Unidos, né?
- Sim, faz cinco anos. Ele foi para lá tentar
dar uma vida melhor pra família.
- E ele já conseguiu melhorar a vida da família, comadre?
- Já sim. Conseguiu melhorar a
vida da outra família que ele arrumou lá.
”
Conversa entre duas amigas, em alto e bom som, durante o trajeto do ônibus.
“ Eu acho que o
!”
Mourão vai ganhar
Afirmação categórica de um menino
aparentando seis anos em conversa
com a mãe que caminhava no calçadão
“
da Ilha dos Araújos enquanto ele a
Da mesma forma que o Juiz não é punido
quando marca e não comparece para a
audiência, nós também não devíamos ser.
Se aqui é o local da justiça,
tem que ser justo, uai
?”
Homem para seu colega enquanto esperavam
ser chamados para audiência no Juizado Especial Cível
de Governador Valadares.
15
acompanhava de bicicleta.
“Olha, mãe,
Partido Verde,
Menino aparentando oito
Marina
!”
anos na garupa da bicicleta de sua mãe ao ver
um adesivo no para-choque de um carro na rua
com os dizeres “43 Partido Verde”.
“ - Ele terminou comigo. Disse: - ‘Você é muito boa,
prendada, é menina pra casar, mas não dá pra continuar.
Esse meu trabalho de ficar viajando, ficando longe com frequência, não vai dar certo.
É melhor parar por aqui. Agradeço a pessoa prestativa e boa que você é, mas não dá.’
- Mas tudo bem, amiga! Bola pra frente que atrás vem gente.
Vou começar a ‘distribuir currículo’. Tô tranqüila! Tá doendo, mas vai passar.
Mas não me chame pra sair porque não quero ver ele.
Vou deixar passar pra depois começar de novo.
”
Moça ao celular em conversa com uma amiga enquanto aguardava a fila quilométrica do banco.
ECONOMIA
•
Girô
Aluguel
nas Alturas
Texto:
Ana Eliza Oliveira
[[email protected]]
Número reduzido de imóveis comerciais para
aluguel na área central da cidade faz preços
subirem. Localização estratégica, tamanho e
potencial de rentabilidade são os principais
elementos que definem o preço
16
+ Vivian Cangussú [[email protected]]
“O preço de compra dos imóveis comerciais na região central de Valadares é muito caro.
Por isso, os donos, geralmente empresários
que investem no ramo, alugam o ponto por um
Considerada cidade pólo do Leste de Minas Gerais, Governador
preço mais elevado,” explica o delegado do
Valadares sempre foi famosa por possuir um centro comercial de envergadura
Conselho Regional dos Corretores de Imóveis,
considerável. Mas, nos últimos anos, devido a várias empresas fecharem
Edison de Paula Brandão.
suas filiais na cidade, imóveis comerciais de grande porte acabaram
De acordo com informações da Segurança
desocupados. Por serem grandes e poucos no mercado imobiliário, o
Imóveis, na imobiliária existem cadastrados ape-
resultado já era previsto pelos economistas: os preços dispararam.
nas meia dúzia de aluguéis com preços elevados. “O
Estima-se que a cidade tenha cerca de 1.500 imóveis comerciais
maior imóvel que possuímos é de 890 m² e o pro-
disponíveis para locação. O valor cobrado pelo aluguel, segundo o Conselho
prietário não aluga por menos de R$ 20 mil. Apesar
Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci/MG), depende
de ter aparecido algumas propostas, falta negociação
de fatores primordiais como a localidade do ponto, o tamanho e a rentabi-
entre as partes”, afirma o proprietário da imobiliá-
lidade que o imóvel pode gerar ao locatário.
ria, Paulo Tadeu Cabral.
Em Valadares, as áreas mais valorizadas comercialmente no Cen-
Mas será que os valores cobrados pelos
tro se localizam na Avenida Minas Gerais e nas Ruas Israel Pinheiro e
aluguéis condizem com a realidade dos comercian-
São Paulo. Nesses locais podem ser encontrados imóveis com preços que
tes? A gerente de uma loja de artigos fotográfi-
variam de R$ 2 mil a R$ 20 mil. Este, trata-se de um ponto comercial de
cos localizada na Avenida Minas Gerais, Selenita
890 m², composto de loja e sobreloja, na Rua Israel Pinheiro. Na Rua São
Fernandes, afirma que “apesar da loja ter uma
Paulo, outro imóvel é ofertado ao preço de R$ 15 mil.
boa localização, o preço do aluguel é muito alto”.
Alguns pontos residenciais também apresen-
O economista Flávio Augusto Guilherme Júnior
tam valores de aluguéis elevados. Na Avenida Brasil,
compartilha da afirmação de Selenita. “Os valores
por exemplo, uma casa com piscina é ofertada por
destes imóveis comerciais no Centro são muito altos
R$ 2.800. No bairro Esplanada, há aluguéis residenciais
devido às suas características e das empresas que os
no valor de R$ 6 mil. Porém, devido ao preço cobra-
alugam. Mas, levando em conta a pouca oferta do
do pelos proprietários, em muitos casos, o ponto
mercado, eles podem alcançar valores ainda mais
comercial fica fechado por meses ou até mesmo,
elevados”, analisa.
por anos.
FOTOS: Sam uel Ribeiro
Muito nas
mãos de poucos
Milton Mariano é advogado e tem 20 imóveis comerciais de aluguel, entre salas e lojas,
todos na área central de Governador Valadares. Na
Rua Peçanha são dois em pontos estratégicos: em
um deles está localizada a “Boroto Calçados” e no
outro a “Itapuã Calçados”. Já no Edifício Fabíola
Coelho, na Rua Bárbara Heliodora, são 18 salas
comercias. O aluguel das salas varia de R$ 220 a
R$ 250, sendo mais barato os de frente para o sol.
O valor aproximado de cada sala comercial é de
R$ 40 mil.
Além do advogado, outros moradores da
cidade concentram um grande número de imóveis.
João Marcos* sempre morou em Governador Valadares. Percebendo a oportunidade de negócios na
No Centro, é possível encontrar vários pontos comerciais à espera de locatários;
alguns ficam fechados por meses, ou até anos
área de locação de imóveis, desde cedo, começou
a investir no setor. Hoje, possui cerca de 30 imóveis, entre apartamentos e casas. Desses, apenas
dois estão desocupados. A maioria dos imóveis está
localizada nos Bairros de Lourdes e Grã Duquesa.
Os valores dos aluguéis variam de R$ 350 a R$
550, gerando para João Marcos uma renda mensal
de aproximadamente R$ 15 mil.
Para o proprietário da Perim Imóveis,
Fausto Perim Monte Alto, apesar de alguns aluguéis terem um preço elevado, o valor de retorno
dessas locações não tem sido satisfatórios. Isso
tem ocorrido porque Valadares apresenta uma
grande oferta de imóveis. “Isso pode ser ruim
para a economia da cidade porque os preços só
têm caído. A longo prazo, as pessoas podem parar
de investir no setor”, analisa. y
*A pedido da fonte que não quis se identificar, utilizamos
nome fictício.
Esquina da Avenida Minas Gerais com a Rua Marechal Floriano, uma das áreas
centrais da cidade mais valorizadas comercialmente
17
e n t r e v i s ta
•
TEXTO:
Migração
FOTOS: Leon ardo Morais / ACS Univ ale
Girô
Senhora
Carlos Albuquerque [calbuquerquegv@hotm ail.com]
Darlisson Dutra [darlisson andre@hotm ail.com]
Kaio Henrique [kaio.jorn al@hotm ail.com]
Há quanto tempo você
estuda o tema da imigração e por que?
Meu primeiro trabalho sobre imigração
foi em 1998. Cheguei a resistir a pesquisar esse
tema, tanto que minha dissertação de mestrado foi
sobre as mudanças no setor informal a partir do
modelo de reestruturação econômica. Ao fazer esse
trabalho, que também foi em toda a microrregião,
percebi que grande parte dos novos empreendedores
que entrava no setor informal era de imigrantes
18
retornados. Isso me chamou à atenção e comecei
a investigar.
São cinco artigos apresentados anualmente,
quatros livros sobre movimentos imigratórios já
publicados, inclusive um deles nos Estados Unidos
pela Universidade de Harvard. Nesta entrevista,
a revista Girô dará de corpo inteiro aos leitores
a pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desenvolvimento Regional (NEDER),
Sueli Siqueira, professora da Univale desde 1979.
Em um bate-papo que durou pouco mais de uma
hora, a pesquisadora conta histórias de vários
brasileiros que encontrou nos EUA, afirma que
a imigração dentro do contexto capitalista está
atrelada ao consumismo exagerado e pontua que a
economia de Valadares nunca dependeu da moeda
norte americana.
“Cheguei a resistir a
pesquisar esse tema.”
Tem alguma história em
particular que chamou sua atenção nessas pesquisas?
Várias! (risos). Algumas eu até relato em um dos meus livros -
Sonhos, sucesso e frustrações na emigração de retorno: Brasil/Estados
Unidos - outras, nos artigos. Mas, tem uma história muito interessante.
Um rapaz me contou que trabalhava muito, em torno de 14 horas por dia,
em três empregos e a semana inteira porque ele queria juntar um valor “X”
e voltar para o Brasil. Ele juntava o dinheiro, mas não confiava em deixar
com ninguém e mandava para a família apenas o necessário para a subsistência. Por não ser documentado, ele achava melhor não abrir uma conta
no banco e o dinheiro era escondido em um forno velho que ficava no quarto
da casa onde morava. Um dia, chegou uma prima dele do Brasil. Para retribuir o favor de recebê-la, deu uma faxina na casa e resolveu fazer um bolo
para ele. Aí, você sabe o que aconteceu, né? (risos). O fogo queimou parte
da casa, mas para ele, a maior tragédia era ter perdido um valor que havia
juntado há quatro anos. Ele acabou não voltando para o Brasil e teve que
ficar mais tempo lá pra tentar recuperar tudo novamente.
Você se tornou fonte nacional e internacional quando a questão
é movimento migratório. Como avalia esse “assédio” midiático?
É uma boa oportunidade, principalmente com jornalistas internacionais, para esclarecer coisas que a mídia publica de uma forma não muito
clara e de maneira sensacionalista. Eu busco sempre fazer a correção da
ideia do imigrante como o “ilegal”. Na verdade, ele é um trabalhador que
vai em busca de condições de trabalho que são desigualmente distribuídas
no mundo, principalmente dentro desse processo de capitalismo avançado.
A visão é de que os imigrantes são miseráveis, de que eles saem do país de
origem por causa das condições precárias. Na verdade, eles vão em busca
do consumo, que é disseminado exatamente pelos países mais ricos, para
Há tempos, percebe-se a diminuição no
fluxo imigratório para os EUA.
Qual a razão dessa queda?
Não é a fiscalização na fronteira, nem
a fiscalização da imigração dentro dos Estados
Unidos, mas a queda do custo-benefício da imigração, como as baixas no valor do dólar e a redução
do valor da hora de trabalho. A crise econômica
reduziu a atividade no setor secundário, principalmente na construção civil e, por isso, a demanda
para a mão-de-obra é menor.
onde eles acabam indo, porque lá existe um mercado de trabalho secundário que possibilita ganhar dinheiro e, principalmente, porque se cria a ideia
de que é possível ganhar muito dinheiro, mas apenas alguns conseguem. No
imaginário popular, a conquista dos sonhos de forma rápida é através da
imigração, inicialmente para os EUA e, atualmente, para a Europa.
“O processo de imigração representado pela mídia
não corresponde com a realidade.”
19
E qual a sua avaliação
quanto à cobertura jornalística sobre a imigração?
Continuamente é colocada na mídia, e às vezes em trabalhos acadêmicos, a ideia de que os americanos que vieram para cá na década de 1940
foram os que levaram os primeiros valadarenses para os EUA. Fiz uma
pesquisa exatamente com os 17 primeiros imigrantes que foram aos
Estados Unidos trabalhar e não há nenhum relato de imigrantes que foram
para lá na década de 1940 levados por norte-americanos. Inclusive, eu
entrevistei famílias de alguns americanos que estiveram aqui há 70 anos
e ficou constatado que isso nunca aconteceu. Os valadarenses descobriram
Há muita gente
que retorna em situação até
pior do que estava quando foi?
os Estados Unidos há mais ou menos 50 anos, mais precisamente no ano
Às vezes, ganha dinheiro, às vezes, não.
de 1964. Os primeiros imigrantes eram de classe média, da elite valada-
O custo de vida lá é muito alto, mas é preciso que
rense. Eram filhos de fazendeiros e comerciantes. O outro erro é de que
você domine algumas coisas, como dirigir. Não
o imigrante é pobre e vai em busca de sobrevivência. Eles querem muito
há possibilidade de trabalhar nos EUA sem saber
mais do que isso. Como disse, os imigrantes querem uma inserção no mundo
dirigir. Outro aspecto é o desejo de ser um cida-
do consumo e nos países desenvolvidos e não querem consumir apenas o
dão americano. O imigrante compra uma casa no
básico da vida, mas tudo que é de ultima geração. Há também o equívoco de
valor muito alto e, daí, começa o consumo para
que o país de origem do imigrante é um lugar extremamente pobre. Recebi
manter aquela casa e deixa de ter o projeto de
recentemente um jornalista alemão da revista Der Spiegel que ficou admi-
retorno para o Brasil e faz menos poupança. Acaba
rado quando chegou aqui. Achou a cidade grande e pensava que Valadares
que ele se endivida muito. Eu conheci pessoas lá,
era pequena e sem emprego. O processo de imigração representado pela
documentadas, com grandes lojas no centro de
mídia não corresponde com a realidade. Por último, a mídia internacional
Framingham, mas voltaram a ser faxineira depois
se equivoca ao relacionar o imigrante ao terrorismo. Todos que fizeram
de 20 anos porque entrou nessa “ciranda” de
terrorismo não eram trabalhadores, pelo contrário, eram documentados.
financiamento e acabou falindo.
“O desejo de todos
os imigrantes
é de voltar. “
Muita gente diz que, sem os dólares americanos,
Governador Valadares quebraria.
Pelas pesquisas que fez, é possível comprovar isso?
Muita gente ganhou dinheiro com os dólares, mas a economia de
Valadares nunca foi sustentada pela moeda americana. É um dinheiro que
circulava na economia, mas não de forma produtiva. A construção civil na
Como o migrante se sente
quando retorna ao seu local de origem?
cidade foi o único seguimento que teve investimentos consideráveis. Isso
O desejo de todos os imigrantes é de voltar.
deu uma movimentação na economia local, mas totalmente ilusória porque
Só que esse retorno, para alguns, sempre é adia-
nenhum ciclo econômico se mantém com remessas dessa natureza.
do porque ele não consegue se encaixar aqui [em
seu lugar de origem]. Como a pessoa volta para
trabalhar e recebe só no final do mês, sendo que
“Muita gente ganhou dinheiro com os dólares,
mas a economia de Valadares
nunca foi sustentada pela moeda americana. “
lá ela recebe semanalmente ou por dia? Durante
esse tempo ele começa a reconstruir no imaginário
a ideia do seu local de origem: a cidade é linda,
o aconchego do lar que é tudo de bom, a cerveja no fim de semana com os amigos, as festas e
etc. Mas, ele esquece que havia atritos. Aí, quando
20
“Muros podem ser levantados,
cercas elétricas podem ser
colocadas, podem exigir o
visto, mas sempre vão ser
descobertas novas rotas. “
volta, aquilo que construiu lá em cinco ou dez anos
ele não encontra aqui. A pessoa vive 40 anos em
Valadares e cinco nos EUA e reclama, por exemplo,
do calor, das folhas na rua, já consideradas por ela
como sujeira. Então, começa esse estranhamento
do local de origem. Aí, o imigrante retornado sente
o desejo de voltar para o estrangeiro.
Você acredita que há uma forma de
impedir a entrada desses imigrantes ilegais?
Muros podem ser levantados, cercas elétricas podem ser colocadas, podem exigir o visto, mas
“Só que esse retorno, para alguns,
sempre é adiado porque ele
não consegue se encaixar aqui .“
sempre vão ser descobertas novas rotas. Isso não
vai impedir as pessoas de entrarem. O estímulo ao
consumo e as impossibilidades de atender a essa
E qual é o impacto
da migração na estrutura familiar?
demanda no local, leva o sujeito a fazer essa aventura.
Tem um pesquisador que diz que o migrante pode voltar para o
Ao longo desses 50 anos,os imigrantes formaram redes
mesmo local, mas ele não volta para o mesmo tempo de partida, porque
sociais em que parte das famílias está lá e outra
teve outras experiências. Por mais que ele acompanhe a família pela
aqui, e criam à cultura da imigração: é uma ideia de
internet e fale ao telefone todos os dias com os filhos, essa relação não é
que através da imigração pode-se acessar bens de
a mesma do cotidiano, do “estar junto”. Então, quando ele chega aqui não
consumo muito mais rápido e que os problemas eco-
recebe o abraço esperado da filha porque é um estranho para ela. Alguns
nômicos podem ser resolvidos por esse movimento.
conseguem contornar e se readaptar, mas outros não. Vivem sem poder
voltar e idealizando os EUA e negativando seu local de origem, o que traz
muita infelicidade e doenças psicossomáticas, como a Síndrome do Pânico,
que é bastante comum em função desse estranhamento.
É mito dizer que o Brasil
recebe os imigrantes de braços abertos?
Depende. Recebe de braços abertos quem?
Os alemães, italianos, americanos e todos de
países ricos sim. Mas olha o que acontece com os
colombianos e bolivianos em São Paulo. Eles são
explorados, ganham um real por dia nas fábricas de
costura e dormem em cima dos fardos de tecido.
“Dificilmente
a violência
influencia.“
“O migrante é
sujeito estranho,
principalmente se vem
de países mais pobres.”
Em agosto deste ano duas pessoas de Sardoá e
Santa Efigência de Minas foram mortas em um massacre
na fronteira do México com os EUA quando tentavam imigrar.
Até que ponto a violência na fronteira influencia no processo imigratório?
Não influencia. As pessoas de Sardoá, por um tempo, vão deixar de
migrar. Mas, logo, o fluxo continua o mesmo, se for vantajoso. Dificilmente
a violência influencia. Eu tenho o relato de uma mulher que foi estuprada
por um “coiote” quando atravessou a fronteira pela primeira vez. Ela vol-
Os imigrantes mudaram a rota:
dos Estados Unidos para a Europa. Por que?
A América do Norte já não é mais viável.
tou para o Brasil e, depois de oito anos, atravessou novamente a fronteira.
Ela sabia do risco? Sim, mas o desejo de estar nesse mundo do consumo é
maior do que o medo.
Para a Europa há uma perspectiva diferente:
ir para não ficar mais de cinco anos, trabalhar,
juntar dinheiro e voltar correndo. O imigrante que
vai para Inglaterra ou para o Reino Unido, por
exemplo, não precisa de visto, pega uma permis-
“(..) o desejo de
estar nesse mundo do
consumo é maior
do que o medo.”
são de estudante e vai com a intenção de estudar.
Lá, ele pode trabalhar quatro horas e estudar mais
quatro. Muitos acabam deixando o estudo e trabalham. Já para Portugal, migram porque a língua é
mais fácil e as relações são mais tranquilas, mas são
discriminados da mesma forma do que nos EUA.
O migrante é sujeito estranho, principalmente se
vem de países mais pobres.
Para terminar, você está com
alguma pesquisa atualmente em desenvolvimento?
Várias. Tenho uma sobre o movimento imigratório dos descendentes
de italianos da cidade de Aimorés para a Europa. Outra sobre o empoderamento das mulheres que aqui permanecem quando os maridos migram.
Nessa condição, elas passam a ter visibilidade pública porque antes de eles
migrarem elas não resolviam assuntos de bancos nem administravam a casa.
Então, elas se tornam provedoras. A pesquisa mostra que se há um impacto
para quem vai também há para quem fica. Temos também um outro estudo
que discute como a mídia tem tratado a questão da imigração, fazendo uma
análise do discurso midiático. y
21
I nterc â m b io C u l t u ra l
Um novo
mundo no velho
Maurício Cancilieri
FOTOS:
Arquivo pessoal
[m auricioc225@hotm ail.com]
Mundo
Girô
•
TEXTO:
22
Nunca tinha visto o mundo mudar de cor.
Nem achava que isso fosse possível. Mas é. Aconteceu quando desembarquei no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, na tarde do dia 26 de janeiro
de 2010. Eu havia deixado um Brasil de paisagem
tão plural e me vi em cima de um asfalto coberto
apenas de branco. Foi estranho, confesso. Era só
neve, carros, gente, metal, vidro e alguns tratores
puxando o gelo. Aquilo tudo tinha uma beleza também, até então desconhecida pra mim. Além disso,
eu precisava cumprir o meu objetivo: pesquisar um
pouco da cultura e da imprensa do país.
Quem me buscou no Flughafen (aeroporto
- todo substantivo em alemão é escrito com letra
maiúscula) foi o Sr. Heinz Siebenbrock, professor
de economia da universidade de Bochum, no estado da Vestfália, bem ao norte da Alemanha. Ele
mora em um distrito chamado Drensteinfurt, onde
me hospedei, bem perto de Münster, uma das cidades pólo da região, como Governador Valadares. Só
com uma diferença básica: a idade. A diocese de lá,
por exemplo, tem 1.200 anos. Nasceu praticamente junto com o município. A nossa, ao contrário, tem
54 anos. Muito jovem para os europeus, conhecidos
por morarem no “Velho Continente”, onde a história da humanidade começou.
Münster, uma das cidades pólo da região, como Governador Valadares
Portão de Brandemburgo, símbolo da cidade de Berlim
O primeiro contato
Nas minhas leituras, eu sempre tinha encontrado informações sobre o perfil dos alemães.
Ou seja, o modo como vivem, gostam de ser tratados etc. Pessoalmente, no entanto, tudo muda.
A tendência é agir como se você estivesse na sua
casa, no seu país. Foi assim comigo.
Na primeira noite, eu já chamava todos
de “tu”, o que, para os padrões do país, é certa
falta de educação. O correto é tratar por “Senhor”
ou “Senhora” (Sie) seguido do sobrenome. Convenhamos, soa estranho para um brasileiro, não é?
Minha reação era quase sempre de pedir desculpa
depois. Mas eles entendiam o momento de transição
pelo qual eu passava. Tinham paciência. Amém!
A comida já não estranhei muito. Sabia que não encontraria nem
arroz nem feijão. Na Alemanha, come-se muita batata cozida, assada,
frita etc. É a chamada Kartoffel. Por sinal, gostei bastante. Principalmente
quando faziam com um bife de porco empanado (Schniztel). Tem ainda uma
variedade imensa de linguiças, presuntos e salsichas. Eles adoram.
No mais, os alemães leem muito. Percebi isso de cara. Todo mundo fica
com um livro ou uma revista nas mãos dentro do trem ou em qualquer lugar. Até
andando. Televisão eles também assistem, claro. Mas os canais não apresentam
campanhas publicitárias o dia todo. Há um horário específico e muitos detestam. Querem ter acesso à programação da TV na íntegra, sem interrupções.
Em Drensteifurt visitei dois jornais, o
Anzeiger e Dreingau. As coisas são bem
parecidas com o Brasil e a realidade de
Governador Valadares. São lugares de
médio porte, equipe reduzida e muita
neve para noticiar. Pelo menos entre dezembro e meados de março.
Maurício Cancilieri no Muro de Berlim
Jornalismo alemão
Eu tinha muitas ideias e convicções sobre o que era notícia. Estava
acostumado aos acidentes, aos problemas dos bairros, às queixas relacionadas à Prefeitura, até aos escândalos. Lá, fui surpreendido, principalmente
com a valorização de fatos corriqueiros, nada fora do comum, com personagens comuns. A imprensa alemã, nesse caso a local, observa a rotina da
comunidade e mostra o que ela faz.
Mas não podemos nos iludir. Os europeus não têm muitos dos
nossos problemas, não passam pelas mesmas dificuldades. Portanto, é natural
mesmo perceber essa diferença. E isso não significa que o jornalismo
brasileiro não valorize os acontecimentos,digamos,de“pequenas”proporções.
O fato é que, na hora de selecionar o que entra em um jornal, há critérios de
noticiabilidade que precisam ser levados em conta.
E tem mais. Na Alemanha, a imprensa
gosta bastante de se envolver na política. É difícil de
veicularem acidentes, coisas trágicas. Sabe por
quê? Porque quase não acontecem. Nunca vou me
esquecer de uma matéria sobre um galho de árvore
que havia caído no carro de uma mulher. O capô
só trincou. Nem vi direito a rachadura. O jornal
mostrou aquilo como se fosse um absurdo. E era
mesmo. Para eles era. Não costumam ver todo dia.
Jornais, rádio e TV
Na TV é que vieram várias surpresas. Não
há mais operadores de câmera de estúdio. Tudo é
feito por quem está no “master”. Eles usam controle remoto para redirecionar a lente e ajustar o
foco. Além disso, a tecnologia, naturalmente, é toda
digital, desde os monitores à transmissão. A aparelhagem é um show! Na Rádio, é a mesma coisa. E
ainda gravam novelas lá. Tem um tapete cheio de
pedras embaixo e vários objetos para fazer sons
típicos e adequados a cada história.
Fora isso, os jornalistas se reúnem inúmeras vezes separadamente, em grupos de dois,
dependendo do horário e do volume de serviço e,
em seguida, fazem um encontro com o chefe para
decidir o que vai ao ar ou não. Em coberturas
mais complexas e previsíveis, o agendamento é
com, no mínimo, três semanas de antecedência.
Outro detalhe: na Alemanha, ainda existem os
redatores. Eles auxiliam o trabalho da edição e,
claro, contribuem substancialmente para agilizar
o trabalho de todo mundo.
Fiz o estágio na sucursal do Westälische
Nachrichten, em Drensteinfurt, em um escritório
modesto. Também fui à sede deles, em Münster.
O lugar é perfeito. Redação grande, diversificada
e silenciosa. A construção de dois andares, além
de abrigar todas as editorias, é onde se imprime
o jornal. Aliás, essa parte do prédio é gigantesca,
cheia de máquinas.
23
Centro de Berlim com Praça de Alexander ao fundo
Sede do governo alemão
Universidade
No fim da segunda semana de Alemanha, eu já havia me adaptado
ao clima e aos costumes. Conheci então um rapaz de Drensteinfurt, Dainel
Drepper, que estudava jornalismo na Universidade de Dortmund. Ele me
convidou para ir até lá e assistir a uma aula. Pegamos o trem no dia seguinte; lá, participei de dois seminários: um sobre jornalismo na internet e o
outro sobre cobertura de casos de dopping. No primeiro, o palestrante discutia o papel do blog na grande rede e levantava bandeira ética a respeito
do assunto, principalmente pelo fato de nem todo blogueiro ter formação
acadêmica em comunicação e falar que publica “notícias”. No segundo, os
alunos de cursos das áreas da Saúde e Educação Física fizeram um debate
com os de Jornalismo.
Naquele mesmo dia, Daniel sugeriu que escrevêssemos um artigo
para algum jornal de Dreinsteinfurt. Como o meu idioma me limitava um
pouco na escrita, eu falaria o que pensava de um jeito mais fácil, responderia a várias perguntas e, assim, iríamos redigir em parceria uma matéria
sobre como um brasileiro vivia e se sentia em Drensteinfurt. Dois jornais
compraram a ideia: um regional e outro estadual.
As publicações saíram poucos dias depois.
Berlim
24
Ah, Berlim!... Eu estava convicto, desde o
início da viagem, de que se não fosse a Berlim,
não teria ido à Alemanha. Mas a intenção era ir
também para conhecer alguns jornalistas e
conversar com eles. Consegui. Fiz contato com uma
parente da minha professora de alemão que mora
na cidade e peguei o famoso Intercity Express, uma
espécie de “trem bala”. Pelo menos a velocidade
indicada no display do vagão era de 250 km/h.
A menina que me hospedou, Cristina,
namorava o filho de um homem chamado Wolf
Biermann. É um dos artistas mais conhecidos da
Alemanha. Protestou contra a antiga República
Democrática Alemã, lutou pela queda do Muro,
pela reunificação. Dei sorte. Quando cheguei à
capital da Alemanha soube que, na noite seguinte, Biermann participaria de um evento na Câmara de Representantes do município (o equivalente ao poder legislativo no Brasil). Ele receberia
uma homenagem como cidadão honorário.
Festa de Carnaval
em Münster
Como já era de se esperar, a imprensa
começou a se mexer antes disso. Cristina entrou em
contato com alguns jornalistas, me apresentou a
eles e fomos juntos pra lá. Era um prédio de dois
andares, pilastras gigantescas, escadarias com
tapetes vermelhos e por aí vai... Nem dava pra ver
detalhes do teto de tão amplas as salas. Em uma
delas, havia dezenas de fotógrafos, repórteres, câmeras etc. Escutei alguns políticos influentes agradecerem a Biermann por suas atitudes anti separatistas. Falavam rápido, mas dava para entender
algumas coisas.
O homenageado cantou, declamou poesiais
e, ao fim, conversou separadamente e de um jeito
bastante informal com alguns repórteres. Descobri,
ali, que não haveria qualquer coletiva. Um jornalista me explicou, depois, que isso é bastante comum
em Berlim. Cada profissional respeita sua vez e não
fica “em cima” do entrevistado fazendo “empurra
empurra”. Mas percebi que foi desse jeito também
porque o pessoal do impresso não tinha de colocar a
notícia no jornal do dia seguinte. Já eram dez horas
da noite. Os fotógrafos é que não paravam de mandar imagens pela internet para as redações online.
A volta
Berlim é uma cidade ao mesmo tempo clássica e moderna.
Tem construções monumentais e uma rua imensa que corta o Portão de
Brandemburgo e, consequentemente, quase todo município: “Unter den
Linden” (debaixo das Linden - esse nome é porque você, literalmente,
caminha com as folhas das árvores Linden acima da sua cabeça).
Mas eu deixei aquele paraíso com a sensação clara de que os alemães
ainda se discriminam no que diz respeito a ser ocidental ou oriental. O lado
oriental, que antes de 1989 era um outro país, é considerado por muitos menos
desenvolvido, pobre, de gente esquerdista (como se isso fosse um problema).
O lado ocidental, ao contrário, elegante, cheio de futuro e pessoas distintas.
Vai entender, né?! O muro já caiu, mas o que restou dele e que hoje serve de
tela para pintores do mundo inteiro parece, de fato, dividir o país. y
Teatro Municipal de Berlim
Girô
+
FOTO:
Carlos Magno de Souza*
E N S A IO F O TO G R Á F ICO
TEXTO
•
GVda Paz,
GVdo Bem
[carloseller@gm ail.com]
Esse ensaio fotográfico encontrou inspiração no projeto
“GV da Paz, GV do Bem”, idealizado pela odontóloga, professora
universitária, escritora e poetisa Maria Paulina Freitas Sabbagh.
Valadarense, Maria Paulina concebeu a campanha educativa
e cultural com o intuito de valorizar a cultura do povo de Governador
Valadares, suas habilidades e competências, divulgar a poesia como
forma de expressão e buscar valorizar e disseminar a cultura da paz
25
e do bem como princípios de cidadania. Uma das ações da campanha foi o lançamento do livreto “Poemas de Amor para Governador
Valadares”, de sua autoria.
Somando forças à proposta da campanha, o trabalho fotográfico aqui apresentado lança um olhar sobre Governador Valadares
tendo como inspiração o poema Minha Cidade, Minha Terra, de
Maria Paulina.
*Carlos Magno é repórter fotográfico profissional e graduando em Jornalismo pela Univale.
1
2
3 4
5
MINHA CIDADE
MINHA TERRA
Minha cidade tem um Rio, Doce.
1
Onde canta o Bem-Te-Vi.
Minha cidade tem uma pedra.
2
Que, de qualquer lugar que olho lá de cima.
Avisto o céu azul.
Minha cidade, minha terra é do bem, é da paz.
Minha cidade é tudo de bom.
3
É onde moro.
26
6
4
Valadares, Valadares.
Quem é o governador? É o calor!
Minha cidade tem pássaros-homens
5
de toda nacionalidade.
E como é lindo!
O vôo colorido deles no céu é sua maneira
de rezarem em silêncio
6
do alto olhando a terra pequena.
7
Minha cidade tem Democrata e bicicletas.
8
Mineiros, brasileiros, americanos.
Pedra cristal e turmalina.
7 8
9
9 10
11
Minha cidade tem um sonho a ser construído:
Ser limpa e florida. Jardins e espaços de convivência.
10
Memorial do Rio
Memorial da pedra: Ibituruna!
11
Nosso passado indígena e nosso futuro cosmopolita.
Memorial cultural na Açucareira.
12
Para sempre guardar para as outras gerações.
Poemas de amor pela cidade.
Horta de fartura nos quintais,
13
12
pão do alimento em toda mesa.
Trabalho justo e povo educado.
27
Segurança de valores:
solidariedade, saúde e educação.
Aqui árabe é amigo de judeu.
14
Há igreja para toda fé.
O que vejo, o que sinto,
é que aqui é um chão plano e é de paz.
Porque tem muita gente boa.
15
Donas Marias e Seus Josés,
13
Joãos e tem também Deivides,
Mailcos, Carolaines.
GV da paz, GV do bem.
E você, vem comigo, meu amigo, nesta canção?
Minha cidade, terra do meu coração.
14
Tem um Rio, Doce, onde canta o Bem-Te-Vi.
16
15 16
Pat r i m ô n i o C u l t u r a l
•
Girô
28
Museu migrante
TEXTO
+
FOTO:
Marcella Werner
[m arcellawl@hotm ail.com]
Tudo começou no ano de 1953, quando o professor italiano Paulo
Falta envolvimento
comunitário
Zappi chegou à Governador Valadares. Ele fundou a biblioteca pública da
O acervo do Museu da Cidade possui
cidade, que leva o seu nome, e começou a colecionar objetos para um futu-
atualmente 1.500 peças, todas advindas de doações
ro museu. Eis que, em 1983, o sonho se concretizou. O prefeito da época,
de pessoas da cidade e região. Segundo a gerente do
José Fernandes, colocou em prática a ideia de Zappi e criou o museu, que
Museu, Gabriela de Almeida Figueiredo, as doações
teve sua primeira sede no Palácio da Cultura, atual prédio da Secretaria
acontecem com frequência e garantem a renovação
Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL).
do Museu. O consultor técnico e responsável pelo
Tudo ia bem até que, em pouco tempo, a Prefeitura precisou do
setor administrativo do Museu da Cidade, Gideo-
espaço e o acervo ficou por um tempo embalado. Em 1990, o presidente
ne Malta, explica que o aluguel, três funcionários
da Fundação Serviço de Educação e Cultura (Funsec), Antônio Rodrigues
efetivos e dois comissionados são mantidos com os
Coelho, preocupou-se com o estado de má-conservação no qual os objetos
recursos vindos da Secretaria Municipal de Cultura,
se encontravam e providenciou um novo local, alugando uma casa no Centro
Esporte e Lazer (SMCEL), assim como outras des-
da cidade, onde o museu ficou instalado por um período, até sua próxima
pesas. O valor destinado pela Prefeitura ao Museu
mudança. Ela aconteceu desta vez para a Companhia Açucareira Rio Doce
não foi revelado, mas o consultor garante que não é
(Cardo), popularmente conhecida por Açucareira. Para os que pensavam
o suficiente para custear todas as despesas. Malta
que o período migratório do Museu se findara, enganou-se. Até chegar ao
pondera que é preciso haver um maior envolvimento
atual local onde funciona hoje, na Rua Prudente de Morais, próximo ao
da população na renovação e participação no Museu.
prédio do Correios, o Museu da Cidade funcionou também no prédio do
“Se a população não se envolver, o Museu não vai
Centro de Educação Ambiental (CEAM), próximo ao GV Shopping.
pra frente. De que adianta mantê-lo?”.
Quanto aos projetos para melhorias futuras
do Museu da Cidade, a Prefeitura informou que tem
analisado algumas propostas, uma delas é informatizar o espaço. Uma das primeiras ações seria
digitalizar todas as fotos do acervo no intuito
de facilitar a localização e pesquisa do público
visitante. O recurso financeiro para tais propostas
viriam através de projetos apresentados junto aos
principais mecanismos de fomento da área cultural e
também através de emendas parlamentares de
políticos da região. y
MUSEU DA CIDADE
Bicicletas Phipis [EUA] - Era usada pela senhora Jandira de Carvalho Soares, funcionária
do Serviço de Metrologia de 1944 a 1976. Doação: Marly (filha)
Rua Prudente de Morais, 711- Centro. (33) 3271.8560
Funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 18h
Sábado, das 8h às 13h
Gabriel Sobrinho
FOTOS:
Samuel Ribeiro
[gabrielsobrinho77@hotm ail.com]
+ Lucas Mafra
INSTITUCIONAL
TEXTO:
•
a comunidade
Girô
Univale para
[[email protected]]
Programa Pólo de Promoção da Cidadania
Realiza atendimento interdisciplinar à população de baixa renda ou em
situação de risco social e também às instituições sócio-assistenciais que
trabalham pela garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente
de Governador Valadares, contribuindo para a promoção e defesa da cidadania. Além disso, promove a interação entre ensino, pesquisa e extensão,
desenvolve estudos para a difusão, promoção e defesa da cidadania e da
democracia. Funcionando desde 2003, o Pólo conta com apoio de professores e alunos dos cursos de Psicologia, Serviço Social e Pedagogia.
Informações: (33) 3279-5564 ou [email protected]
Projeto Informática
e Educação Inclusiva
Desde 2005, proporciona o acesso à informática aos alunos da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), aos alunos da
Escola Estadual Paulo Campos Guimarães,
ao público atendido pelo Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (CRAEDI) e membros da Associação de Surdos de
Governador Valadares oriundos de famílias de
baixa renda. Professores e alunos dos cursos
de Sistema de Informação e Direito objetivam
com a ação garantir a inclusão digital a esse
público, preparando-os para o mercado de trabalho, desenvolvendo afinidades na utilização
do computador e elevando a auto-estima dos
beneficiados. O Projeto funciona nos laboratórios de informática do Campus I da Univale.
Informações:
(33)
3279-5570
Escritório de Assistência Jurídica – EAJ
Desde 2003, o EAJ presta atendimento jurídico gratuito à população que
não tem condições de arcar com os custos de um advogado. Ao procurar o
escritório, as pessoas são entrevistadas e, em seguida, começam a receber o
atendimento jurídico prestado pelos professores e alunos do curso de Direito.
O EAJ funciona no Campus II.
Informações:
(33)
3279-5922 / 3279-5542 ou [email protected]
29
Projeto Levantamento Elétrico
para Instituições Carentes
O objetivo do projeto é promover melhorias e
garantir a segurança nas instalações elétricas das
instituições filantrópicas da cidade.As instalações e
reparos feitos pelos alunos do curso de Engenharia
Elétrica passam a atender os requisitos da NR-10
(Norma Regulamentadora de Instalações Elétricas). Após o diagnóstico feito pelos professores
engenheiros é analisado o custo para os reparos
das instalações elétricas e todas as despesas são
pagas pelos parceiros do projeto: VALE, Cemig e
Mundo Elétrico.
Informações:
(33)
3279-5548
ou [email protected]
Ambulatório de Lesões
Dermatológicas
Desde 2004, o ambulatório presta atendimento bio-psicosocial aos portadores de lesões crônicas degenerativas de
médio e grande porte como, úlceras de pressão venosas,
arteriais, mistas e pé diabético. Além do tratamento às
30
lesões, os alunos e professores dos cursos de Enfermagem,
Fisioterapia, Farmácia, Nutrição e Psicologia ainda realizam um trabalho de orientação aos familiares, visando a
continuidade do tratamento para obter uma recuperação
mais rápida. Os interessados devem procurar o Ambulatório de Lesões que fica no Campus II.
Projeto Mágico de Educação
em Promoção de Saúde Bucal
Desde 2003, o projeto desenvolve atividades de
educação em promoção à saúde bucal com crianças
de baixa renda que tenham até 10 anos de idade.
Elas são encaminhadas pelas instituições sociais,
creches, escolas públicas, associações de bairros e
outros projetos comunitários da Univale. Os atendimentos são feitos por professores e alunos do curso
de Odontologia da Univale. As atividades acontecem nas Clínicas Odontológicas do Campus II.
Informações: (33) 3279-5964 / 3279-5965
Informações:
(33)
3279-5969
ou [email protected]
Projeto Cuidando em Casa
O projeto iniciou suas atividades em 2010 e visa
promover atendimento domiciliar aos pacientes com
lesões dermatológicas que estejam cadastrados no
Ambulatório de Lesões da Univale e que morem próximos
ao Campus II. Destinado às pessoas de baixa renda e sem
condições físicas de se locomover, além do tratamento
são ofertadas dicas de como fazer curativos e alimentos
que facilitam a cicatrização, exercícios fisioterapêuticos
e assistência psicológica. Os interessados podem se dirigir ao Ambulatório de Lesões, no Campus II.
Informações:
(33)
3279-5969
Projeto De Bem com a Vida
Iniciado em 2010, o projeto atende pessoas com deficiência física na
faixa etária de 7 a 29 anos, e objetiva promover o desenvolvimento
social, educacional e da coordenação motora. O atendimento, feito de
forma inclusiva, é realizado por meio de atividades físicas ministradas
pelos professores e alunos dos cursos de Fisioterapia e Educação Física.
O projeto também faz parte das atividades do Ambulatório de Lesões.
Informações:
(33)3279-5969
Clínicas Odontológicas
Prestam serviços odontológicos à população de baixa
renda de Governador Valadares e região, oferecendo
não só tratamento contra doenças mas, atendimento
preventivo e restaurador em saúde bucal. O serviço
é realizado, desde 2003, pelos professores e alunos
da Univale. Os interessados podem marcar uma consulta ou tirar dúvidas pela Central de Marcações de
Consultas.
Informações:
(33) 3279-5964
31
Centro de Fisioterapia
Além de integrar as atividades acadêmicas do curso
Programa Materno Infantil
de Fisioterapia, desde 2006 presta atendimento fisio-
O Programa é realizado em parceria com alunos e profes-
terapêutico à comunidade de Governador Valadares
sores dos cursos de Odontologia, Enfermagem, Psicologia
e região. Com aproximadamente 1.500 m² de área,
e Nutrição. Desde 2005, as gestantes e os bebês de 0 e 3
os laboratórios e a clínica escola contam com diver-
anos de famílias de baixa renda recebem atendimento à
sos ambientes onde são executadas as atividades com
saúde para garantir uma melhor gestação e qualidade de
equipamentos modernos. O Centro prioriza o atendi-
vida para a criança, evitando complicações futuras para
mento às pessoas de baixa renda e é realizado por
ambos. Os interessados devem se dirigir ao Ambulatório de
alunos e supervisionados pelos professores do curso.
Lesões, no Campus II.
Informações: (33) 3279-5969
Os pacientes contribuem com uma taxa simbólica de
R$ 4 reais por sessão. O Centro de Fisioterapia fica
na Rua João Dias Duarte, 288, Vila Bretas.
Informações:
(33)
3277-9852 / 3277-9861
Pólo de Assistência Odontológica
ao Paciente Especial – PAOPE
Funciona desde 2000 e tem como objetivo promover a saúde do portador
Campus Armando Vieira - Campus I
Rua Moreira Sales, 850 - Vila Bretas
Campus Antônio Rodrigues Coelho - Campus II
Rua Israel Pinheiro, 2000 - Universitário
de deficiência mental de baixa renda, seja pura ou associada a outras
patologias. Os pacientes são acompanhados por uma equipe multiprofissional formada por professores e alunos dos cursos de Odontologia,
Psicologia, Serviço Social, Enfermagem e Fisioterapia. O PAOPE
funciona no Campus II da Univale.
Informações:
(33)
3279-5970
da Univale é
TEXTO:
Dilvo Rodrigues
[dilvo_boca@hotm ail.com]
10!
Girô
•
C u rso de D e s i g n G r á f i c o
Design Gráfico
“Design gráfico não é só um belo desenho.
Design gráfico é um belo desenho, com um sentido,
uma tarefa a cumprir”, atestou certa vez o arquiteto
e designer Chico Homem de Melo. Por essa linha,
caminhou o curso de Design Gráfico da Univale
que, em setembro deste ano, completou uma
década de existência. E na bagagem, além do dever
cumprido, professores e alunos trazem e renovam
32
suas próprias histórias, sejam elas contadas através
de imagens, sons, texturas ou cores.
Desde a idealização do curso, proposta
pelo jornalista e teólogo Jaider Batista da Silva,
passando pelo desenvolvimento do projeto e
implantação, etapas que estiveram a cargo das
professoras Zaira Bernardes e Christiane Pitanga,
já se graduaram no curso cerca de 200 estudantes.
Isso, considerando que a primeira turma se formou
em 2004. Nesses dez anos, é notável o quanto o
curso de bacharelado em Design Gráfico contribuiu
para a profissionalização do setor, bem como para
o desenvolvimento sócio-cultural e a inovação
tecnológica da cidade e região.
“O desenvolvimento e a valorização do designer na região
são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve
na cidade é um exemplo disso.”
“A proposta do Jaider para implantação do curso de Design Gráfico
nasceu a partir de uma palestra que vim ministrar para os alunos do curso
de comunicação social. Na época, funcionava a habilitação dupla em
Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Então, vim mostrar como o Design
funcionava e o convite foi feito”, rememora professora Zaira. O projeto
pedagógico começou a ser elaborado em março de 2000, juntamente com
a montagem da equipe de professores. Ela lembra que foi contratada
em início de abril, assumindo a dianteira do processo de implantação. O
primeiro vestibular foi em julho de 2000 e o início das aulas foi marcado
para 4 de setembro do mesmo ano. “Não houve muita necessidade de
investimento no começo porque já existiam alguns laboratórios utilizados
pelos outros cursos de comunicação que poderiam ser compartilhados. Na
verdade, dividíamos salas até com o pessoal da Engenharia que funcionava
só no Campus I. Assim, tínhamos aulas duas vezes por semana no Campus I
e três vezes no Campus II”, conta.
Uma das pessoas que esteve presente em boa parte dessa história
é a atual coordenadora do curso, Rosilene Conceição Maciel. Ela iniciou
suas atividades na Univale como docente, em 2004, e conta que, como
muitos profissionais do curso, deixou sua cidade de origem para desbravar o
Design que, até então, era quase ou totalmente desconhecida por essas
bandas. “Quando cheguei, a primeira turma estava se formando. Percebi
que eles estavam com muita vontade de lutar por um ‘lugar ao sol’. Eles
acreditaram e, hoje, o desenvolvimento e a valorização do designer na região são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve na cidade é um
exemplo disso”, aponta. A abertura de vagas de estágio e de possibilidades
Selo comemorativo dos 10 anos do curso,
criado pelo estudante Pablo Souza Meira
de trabalho, assim como o aumento e a diversificação dos produtos comunicacionais gerados, são outros exemplos ressaltados pela coordenadora.
FOTO: Sérgio Lopes
De estudante a professor
O egresso Plínio Nunes Lacerda, que hoje é professor no curso,
é um dos que representa a evolução da área e da ampliação do mercado do Design na cidade e região. Em 2003, ao iniciar o curso, Plínio
não fazia idéia do que encontraria pela frente. Havia feito o vestibu-
Plínio foi aluno do curso de Design Gráfico e hoje é professor,
além de trabalhar como gerente de pós-produção da TV Univale
lar apenas como experiência. “O curso era recente e desconhecido
na cidade e eu não fazia idéia de como era o mercado. Os primeiros
semestres foram uma incógnita e, aos poucos, fui me identificando com
o curso de medicina, por exemplo, que você entra e
as disciplinas mais específicas”, conta.
sai da faculdade sabendo do que se trata. Foi uma
O primeiro estágio, em um escritório de arquitetura, apareceu
descoberta, um desafio”, avalia.
quando cursava o 4° período. Já no 5°, foi convidado para estagiar na TV
O processo de seleção do intercâmbio
Univale, sendo contratado antes mesmo da formatura. Ao todo, são cinco
se deu em duas etapas. Na primeira, com
anos de serviços prestados à TV. E foi na TV universitária, que apareceu
análise de currículo e portfólio, participaram
a oportunidade de lecionar pela primeira vez, apesar de nunca ter se
alunos de três universidades de Minas Gerais:
imaginado professor, revela. “Editei o documentário de uma turma de
Univale, Universidade Estadual de Minas Gerais
Jornalismo de uma faculdade de Teófilo Otoni. Então, comecei a manter
(UEMG) e Fundação Mineira de Educação e
contato com o pessoal de lá. Mais tarde, a coordenadora do curso fez
Cultura (FUMEC). Nesta etapa, 40 alunos foram
o convite para que eu fosse dar aula. Fiquei um ano por lá”, explica.
selecionados. A segunda e última etapa contou com
Como docente, Plínio também lecionou para a última turma do curso de
uma prova de italiano e entrevista, onde 25 foram
Publicidade e Propaganda da Univale.
aprovados para o intercâmbio. Além de Gustavo,
outros três estudantes de Design da Univale
também conquistaram vagas para o intercâmbio
Design da Univale na Itália
internacional na Itália.
“Pude conhecer vários lugares interessantes,
“A experiência foi única. Sem dúvida foi algo que vai ficar para a vida
toda. Foram 45 dias de intensa imersão cultural, social e de conhecimento.
Tive a oportunidade de estudar em uma das melhores escolas de Design
da Europa, aprender conceitos novos e importantes para a minha área”,
conta com entusiasmo o egresso do curso de Design Gráfico Gustavo Ferraz,
formado na turma de 2009. Ele explica que sempre foi interessado por
idéia de fazer o curso veio quando
fazia pré-vestibular na capital
mineira. “Eu fiquei fascinado com
a grade de disciplinas do curso,
principalmente
como
com
matérias
composição, plástica
e
história da arte. Confesso que não
sabia o que iria fazer. Não é como
Gustavo Ferraz foi um dos
quatro alunos do curso de
Design Gráfico selecionados no
Programa Jovens Mineiros na Itália
cidades históricas, além de saborear a maravilhosa
comida italiana. Foi um choque cultural incrível;
muito bacana poder discutir o Design que é
aprendido aqui no Brasil com os estudantes e
professores italianos”, garante.
FOTO: Arquivo pessoal
imagens e comunicação e que a
visitar museus, fazer cursos e workshops, visitar
Gustavo conta que, na época da seleção
do intercâmbio, havia acabado de chegar de
Pirinópolis, Goiás, já muito feliz com a notícia de
que a Univale sediaria o Encontro Regional de
Estudantes de Design, conhecido como R-Design.
O projeto foi apresentado e encabeçado por ele e
mais alguns amigos do curso. Atualmente, Gustavo
trabalha como diretor de arte na Agência ZP, em
Governador Valadares.
“Foi um choque cultural incrível;
muito bacana poder discutir o Design
que é aprendido aqui no Brasil com os
estudantes e professores italianos.”
33
FOTOS: Arquivo Coord. do Curso
Espaço de criação
O Atelier de Design é um laboratório que compõe o conjunto
de ambientes do curso de Design Gráfico. Nele, acontecem atividades
diversas como, aulas práticas e teóricas, projetos de extensão, reuniões
do corpo docente e discente do curso e, até mesmo, momentos de
integração entre os estudantes. No início do curso, em 2000, o Atelier
funcionava no Campus I, no Bairro Vila Bretas, de forma compartilhada
com os cursos de Engenharia, que usava o espaço para aulas da disciplina
de Desenho Técnico.
No ano de 2003, devido ao crescimento do número de alunos do
curso de Design Gráfico e a transferência da Faculdade de Engenharia
para o Campus II, houve a necessidade de toda a estrutura do Atelier
ser transferida. O novo espaço foi projetado para atender às demandas
Alunas no Atelier de Design durante atividades práticas
do curso de Design Gráfico e passou a contar com
ambientes especializados: duas alas para atividades
práticas, uma para aulas teóricas, outra duas de
apoio ao corpo docente e para gravação de telas
de serigrafia. Possui ainda um almoxarifado e salas
de apoio aos discentes para armazenamento de
materiais e trabalhos. Na área externa às salas, um
pequeno anfiteatro e área de convivência rodeada
34
por árvores frutíferas como acerola, pitanga, jambo
e manga, criando, assim, um espaço interativo
bastante agradável, o que fez o Atelier de Design
receber dos alunos o carinhoso nome de “sítio”.
O curso promove com frequência exposições dos trabalhos dos alunos
Professor Pimenta - ceramista de renome internacional
Um dos que estiveram presente desde o início da constituição do
Atelier de Design foi o professor Sebastião de Meira Pimenta Junior, mais
conhecido como “Professor Pimenta”. Ele é formado em Comunicação Visual
pela Fundação Mineira de Artes (FUMA), hoje Universidade Estadual de
Minas Gerais (UEMG). O professor Pimenta também é um renomado artista
plástico, reconhecido internacionalmente como ceramista. Foi premiado
FOTO: Arquivo pessoal
em 1º lugar na Bienal Internacional de Curitiba, Paraná; além de ter sido
convidado para participar de duas exposições na China no segundo semestre
de 2010: a Exposição Internacional de Cerâmica Contemporânea, em
Jingdezhen e a Exposição Internacional de Chaleiras Contemporâneas, em
Xangai. Ele ainda ministrou palestras e oficinas no 3º Congresso Nacional
Sebastião Pimenta participa com frequência de
eventos na China, onde pesquisa novas técnicas
e matérias-prima para a arte cerâmica que
desenvolve há anos
de Cerâmica em Curitiba, Paraná. E, também, no 6º Congresso Nacional
de Técnica para Artes do Fogo (CONTAF) que aconteceu entre os dias 20
e 22 de outubro em São João Del Rey, Minas Gerais, com discussões das
produções em cerâmica, porcelana e vidro.
Da faculdade para a própria empresa
“Polly, aqui tem uma profissão que é a sua
com uma boa visão do mercado de trabalho e, ainda, com uma visão inova-
cara, Design Gráfico, já ouviu falar? Respondi: -
dora para o desenvolvimento de produtos, projetos e prestação de serviços.
Mais ou menos! Já ouvi falar muito do Hans Donner,
No ano seguinte, a designer começava a traçar seus primeiros planos como
da Globo! Foi quando ele pegou o guia e me passou
empresária. Durante uma feira de empreendimentos do Leste de Minas
dizendo: - Então, lê aqui sobre a profissão; acho que
Gerais, a primeira edição da revista na qual é sócia foi lançada. A Revis-
vai gostar”, conta Pollyana Cassimiro Ferraz, 24,
ta Mista conta hoje com 11 funcionários, que além do material impresso
bacharel em Designer Gráfico pela Univale e empre-
abastecem um site, como também colunistas colaboradores e empresas
sária. Durante o Ensino Médio, a dúvida sobre que
terceirizadas. A revista circula gratuitamente em Governador Valadares e
curso fazer tirava o sono da futura designer. “Em-
em mais 12 cidades vizinhas.
polgadíssima, li tudo a respeito sobre a profissão.
“A cada dia aprendo mais e me apaixono pela minha profissão. É
Pesquisei sobre mercado, áreas de atuação, conversei
uma área do futuro que, assim como tantas outras, é infinita de aprendiza-
com profissionais. Tudo isso para que eu me sentisse
do, mas com o diferencial de ser moderna por resolver muita coisa através
mais motivada para ingressar no curso”, conta.
da internet, buscar soluções imediatas e rápidas, funcionais e inovadora,
Ela se formou em 2007 e destaca que o curso
a ofereceu um rico embasamento teórico e prático,
estimula muito a criatividade e praticamente está presente em tudo. É um
aprendizado que me guiará por resto da minha vida”, garante.
Professor e roteirista da Turma da Mônica
Ele começou a trabalhar aos 14 anos como chargista e ilustrador
de Design Gráfico participou. Essa revista era
em um jornal do Vale do Aço. Mas, tudo começou mesmo por influência do
destinada ao público infantil da região e foi distribu-
pai que “consumia todo tipo de leitura”, revela o professor João Marcos
ída gratuitamente nas escolas. Ele gostou da história
Parreira Medonça. O jovem levou o ofício a sério e, mais tarde, concluiu o
e perguntou se eu tinha interesse em produzir roteiros
curso de Belas Artes, na UFMG. Em 2001, veio para Governador Valadares
da Turma da Mônica. Eu fiz algumas histórias para ele
compor o quadro de professores do, ainda desconhecido, curso de Design
avaliar e, para minha alegria, tenho trabalhado com
Gráfico da Univale. “Eu havia acabado de trabalhar também em alguns pro-
ele desde então, fazendo parte da equipe de redação.
jetos de extensão da UFMG que envolviam a formação de professores. Essas
O trabalho é feito à distância, via internet, e de vez
experiências me deram coragem para tentar a vaga aqui. Uma amiga me
em quando temos reuniões em São Paulo”. y
avisou que o curso estava começando e precisando de professores da área
FOTO: Sidney Gusman
de desenho e quadrinhos e, graças a Deus, deu certo. No início eu vinha toda
semana de Ipatinga e retornava, mas um tempo depois me mudei”, conta.
Além de ilustrador e quadrinista, João Marcos também é
um dos roteiristas da Maurício de Sousa Produções. Ele conta que
tudo começou quando foi conhecer o estúdio em São Paulo. “Dei ao
Maurício de presente uma revista em quadrinhos desenvolvida num projeto de pesquisa da Univale sobre emigração internacional, no qual o curso
“Dei ao Maurício de presente uma revista em quadrinhos
desenvolvida num projeto de pesquisa sobre emigração
internacional. Ele gostou da história e perguntou se eu tinha
interesse em produzir roteiros da Turma da Mônica.”
João Marcos Parreira Mendonça (à esquerda) com
Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica
35
OPINIÂO
•
Girô
Linha tênue
entre espetáculo e Jornalismo
TEXTO:
Darlisson Dutra
[darlisson andre@hotm ail.com]
José Arbex Júnior. Significa a espetacularização da
notícia, através de elementos ficcionais, geralmente
dramáticos, que atingem a comoção pública e que
pretendem conduzir o espectador como em uma
novela. Esses artifícios são usados por diretores de
filmes de suspense e fica bem ilustrado por Alfred
Hitchcock em Janela Indiscreta.
No filme, uma máquina fotográfica e um
binóculo são os equipamentos utilizados para espionar o que se passa na vizinhança. Hoje, são escuFOTO: coversblog.com.br
Janela Indiscreta é um filme do diretor Alfred Hitchcock,
em busca da “verdade”. Utilizados como pretextos
de 1954. A estória é sobre um fotógrafo profissional chamado Jeff
para quebrar regras e códigos éticos. Espiar a vida
(interpretado pelo ator James Stewart) que, impossibilitado de exercer a
alheia é um espetáculo que mantém o noticiário
profissão por estar com o pé quebrado, passa a bisbilhotar a vida de quem
diário interessante e garante a audiência. Acusar,
mora em frente ao seu prédio. Da janela do apartamento, o personagem
julgar e se esconder atrás da Justiça, investigação
vigia tudo o que se passa com uma máquina fotográfica e um binóculo.
policial ou o direito de manter a fonte em sigilo é
Em determinado momento, ele desconfia de um assassinato e começa a
uma alternativa covarde do jornalista e um abuso à
investigar o suposto crime. O telespectador é colocado na mesma perspec-
ignorância de parte da sociedade, que vê tudo como
tiva do personagem, descobrindo as coisas com ele, aguçando o sentido da
prática natural da profissão.
curiosidade e tentado a resolver o mistério. Em resumo, o filme é todo um
Janela Indiscreta é um retrato antigo da
voyerismo: o interesse pela privacidade do outro e as conseqüências desta
forma de se produzir informação nos dias de hoje.
incursão. O filme pode ser sintetizado como “o espetáculo da vida alheia”.
Jeff não seria a transposição dos atuais jornalis-
Traçar relação dessa produção de meio século atrás com a comunica-
tas, e os leitores os telespectadores do filme? A TV
ção praticada hoje não é nada difícil. Há semelhanças tanto no jornalismo,
ou outros suportes midiáticos não seriam a tela do
como nos conteúdos de entretenimento produzidos pelos veículos de co-
cinema? Afinal, somos todos curiosos. É cultural.
municação de massa. O que é afinal o jornalista senão um observador da
E, enquanto esse tipo de jornalismo for praticado
realidade? Cada detalhe leva a uma investigação, levantamento de dados
pelas grandes redes, não há esperança de que um
e questionamentos que pode terminar em uma página de jornal, revista,
modelo de resistência social, de fato, se firme. y
programa de rádio ou na tela da TV. Nesse contexto, fica a pergunta: qual
o limite do jornalismo? Para responder tal questionamento, a ética é o viés
que conduz à verdade – muitas vezes subjetiva. Os programas populares,
sobretudo os policiais, podem ser enquadrados em uma expressão
comumente atribuída de “showrnalismo”, conceito cunhado pelo jornalista
FOTO: vejasp.abril.com.br
36
tas telefônicas, grampos, câmera escondida; tudo
s
FOTOS:
Quem pega a estradinha de terra e segue
pelas curvas e serras não imagina que está prestes
a chegar a um lugarejo em sintonia com a moder-
Carlos Albuquerque
[calbuquerquegv@hotm ail.com]
Dió Freitas
Moradores do distrito de Penha do Cassiano,
em Governador Valadares, se empenham para
preservar suas raízes culturais por meio dos
ensaios e apresentações dos grupos de
Caboclinhos e Marujadas
pat rimônio C UL T U R A L
TEXTO:
•
'
sem medir esforços
Girô
Preservacao cultural
nidade. Não se trata de um cenário futurista, ou
algum pólo de informática. A modernidade está na
forma que a comunidade encontrou para enfrentar
A comunidade olha para o futuro e dá passos importantes, mas
um problema: o da moradia. No distrito de Penha
também sabe valorizar o passado, a sua história. Com esse compromisso,
do Cassiano, com os seus pouco menos de 1.500
há dez anos, o comerciante José Daniel da Silva, 53 anos, decidiu que não
habitantes, casas novas, todas em um mesmo pa-
iria deixar morrer toda a riqueza cultural que ele conheceu quando criança.
drão arquitetônico, chamam a atenção do visitante.
“Meu pai me levava para assistir às apresentações de Caboclinhos e Maru-
As moradias foram feitas pela Caixa Econômica
jadas. Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes, que vêm lá de trás
Federal, em parceria com o Conselho de Desen-
na história do Brasil”, explica.
volvimento Comunitário de Penha do Cassiano. Os
beneficiários são pessoas de baixa renda que receberam as casas sem pagar nenhum centavo por
elas. A associação de moradores soube da existência do Programa “Produção de Moradia Social”,
uma modalidade de financiamento a fundo perdido
para a construção de casas que não precisa, necessariamente, passar pelo poder público. Diminuiu-se
a burocracia, ganhou-se em tempo e cidadania.
“Meu pai me levava para assistir às
apresentações de Caboclinhos e Marujadas.
Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes,
que vêm lá de trás na história do Brasil.“
O trabalho de Daniel foi fazer um levantamento dos grupos folclóricos existentes na região. Descobriu doze grupos,entre eles um de Marujada
em Tronqueiras (distrito de Coroaci) e outros dois em Virgolândia e São
Geraldo da Piedade. Em Penha do Cassiano, ele assumiu a direção de um
“A comunidade olha para o futuro
e dá passos importantes, mas também
sabe valorizar o passado,
a sua história.“
grupo de Caboclinhos, formado por 24 pessoas e, rapidamente, começaram
as apresentações. Em 2002, Daniel organizou um encontro de folclore da
região. No mês de agosto, o distrito se transformou: a praça principal se
encheu de cores, movimentos, ritmos e alegria. Moradores se orgulhavam e
visitantes se impressionavam com as apresentações dos grupos de Marujada, Caboclinhos, Pastorinhas, Batuque, Folia de Reis e Bumba-Meu-Boi.
37
Ampliação, preconceito
e persistência
Com o encontro de folclore organizado
por Daniel, entrou novamente em cena uma das
vocações desse povo: fazer parcerias. Funcioná-
38
rios da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte
O entusiasmo com as apresentações não tira de Daniela preocupação
e Lazer da Prefeitura de Governador Valadares
da falta de informação de parte da população sobre a cultura brasileira.
se encantaram com a descoberta da sobrevivên-
Sem citar os locais, ele relata episódios em que os integrantes dos grupos
cia das manifestações culturais ali preservadas. O
folclóricos se sentiram constrangidos diante da maneira preconceituosa que
município propôs a revitalização dos grupos por
as danças foram recebidas. “Uma vez, uma mulher me falou que aquilo era
meio da doação de roupas novas, instrumentos,
pemba, macumba, que o pessoal era tudo preto”. Mas, o comerciante não
agendamentos de apresentações e a oficialização
deixou por menos e reagiu. “Falei com ela: a senhora precisa respeitar o
anual do Encontro Regional de Folclore, no mês
meu grupo, que representa a cultura do nosso povo, e também esses outros
de agosto. O resultado de toda essa renovação
grupos que a senhora citou, porque também fazem parte da nossa cultura.”
é que os grupos começaram a ficar conhecidos,
Daniel sugere que a cidade que quiser a apresentação dos Caboclinhos e
passaram a se apresentar em eventos diversos,
Marujadas tenha o cuidado de preparar a platéia. “Acho que uma pequena
como nas comemorações do aniversário da cidade,
palestra, por exemplo, pode ajudar o público não familiarizado com essas
em 30 de janeiro. Nessas condições, moradores da
manifestações a compreender o que vai ser mostrado. Nossos caboclinhos
área urbana de Governador Valadares tiveram a
ficam muito inibidos e chateados quando percebem que não estão no seu
possibilidade de ver a exibição dos Caboclinhos e
habitat”, explica.
da Marujada.
“Uma vez, uma mulher me falou
que aquilo era pemba, macumba, que o
pessoal era tudo preto”.
Daniel preocupa-se em eliminar a necessidade de que, no futuro,
outra pessoa tenha que repetir o trabalho de resgate dos grupos culturais.
É preciso que a tradição sobreviva até mesmo à morte dos que estão à
frente dos grupos, situação contrária ao que aconteceu com o grupo de
Marujadas de Tronqueiras. “O mestre estava muito idoso. Ele morreu e
não deixou sucessor. Infelizmente, parece que o grupo de Marujadas acabou morrendo junto com ele”, lamenta. Mais uma vez, Daniel faz a parte
dele colocando seus três filhos para participarem do grupo de Caboclinhos.
“Eles me vêem vestido de Caboclinho e se vestem também. O Jean, de 14
anos, quando vai chegando o mês de agosto, ele me cobra: - Pai, quando
vai ser o festival? Vai ter, né?”, comemora. Em 2010, o grupo comemorou
a décima edição do festival.
“É preciso que a tradição sobreviva
até mesmo à morte dos que estão à frente dos grupos,
situação contrária ao que aconteceu
com o grupo de Marujadas de Tronqueiras.”
Caboclinhos
“O termo caboclo define
o cruzamento de índio com branco.”
Os Caboclinhos são uma dança de origem
indígena. De acordo com os estudiosos, uma das
mais antigas do Brasil. Já em 1584, o Padre Fernão Cardim mencionava a dança no livro “Tratado
e terra da Gente do Brasil”. Os caboclinhos podem
ser considerados uma elegia à miscigenação brasileira. O termo caboclo define o cruzamento de
Com muito entusiasmo e com o desejo de preservar suas raízes,
integrantes dos grupos folclóricos do Distrito de Penha do
Cassiano fazem apresentações na região
índio com branco. Os caboclinhos são, portanto, os
filhos dos caboclos. A dança faz alusões às caçadas,
batalhas e colheitas. A música é leve e ligeira. O
ritmo é ditado por instrumentos como reco-reco,
ganzás, maracás, pífanos, tarol, sanfona, surdo e
uma caixa de couro de carneiro. Para participar da
dança, é preciso se vestir de uma das personagens:
cacique, cacica ou índia-chefe, capitão, tenente,
pêros (crianças), porta-estandarte, caboclos de
baque (músicos), caboclas e caboclos. Fantasiados
de índios, com cocares e colares, os participantes
fazem um bailado que simula situações de ataque
e defesa, entre tribos inimigas.
“A dança faz alusões às caçadas,
batalhas e colheitas.
A música é leve e ligeira.”
Marujadas
“As Marujadas são uma tradição folclórica
herdada dos escravos africanos.”
As Marujadas são uma tradição folclórica herdada dos escravos
africanos. Os negros dançavam e cantavam para homenagear e agradecer pelos milagres de Nossa Senhora. Homens, mulheres e crianças participam das apresentações. É comum, em alguns lugares, os dançarinos
se apresentarem descalços. De acordo com o historiador Dario Benedito,
a Marujada também está ligada à devoção a São Benedito.
A apresentação é feita com rodas de dança e instrumentos como,
rabeca, pandeiro, tambor e banjo, tocados com a marcação e o ritmo
do batuque dos negros. Quando os marujos formam o círculo, no centro,
ficam a capitoa e a vice-capitoa. Elas pedem licença ao público para começar os passos de dança. Tudo como na época da escravidão, quando os
negros pediam permissão aos senhores para dançar de casa em casa.
A manifestação recebe nomes diferentes em diversas regiões do país: Nau Catarineta, Chegança de Marujos,
Barca ou Fandango. y
Com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de
Governador Valadares, os grupos renovaram o figurino e os
instrumentos e conseguiram mais apresentações,
inclusive na festa de aniversário da cidade
39
C UL T U R A
Girô
•
Dicas
MÚSICAS, LIVROS e FILMES
TEXTO:
Gabriel Sobrinho
[[email protected]]
+
Lucas Mafra
[[email protected]]
Wagner de Oliveira Andrade
“
40
Lívia da Penha Campos
“
] 29 anos [ PSICÓLOGA
Ouço louvores porque são momentos
em que falo com Deus, e as canções
da Fernanda Brum expressam
exatamente essa particularidade.
Ouço louvores porque são momentos
em que falo com Deus e as canções
da Fernanda Brum expressam
exatamente essa particularidade.
Acompanho a carreira dela desde
1992, quando lançou o primeiro
trabalho. Ela é uma artista completa,
tanto musicalmente quanto
espiritualmente. O álbum que mais
gosto e recomendo é o Cura-me,
de 2008. Possui canções lindas e
bastante profundas.
”
] 30 anos [ RELATOR
Sou apaixonado por música. Gosto de
vários estilos, mas principalmente jazz,
bossa nova e black music. Todo esse
tempero o Ed Motta consegue reunir
em seus álbuns. Ele tem um swing muito
bom, uma levada que poucos atualmente
têm. Só de saber que ele é sobrinho do
Tim Maia já dá um peso enorme. Seus
sucessos são variados, os mais conhecidos
são Manuel e Vamos Dançar, lançados
em 1980. De todos os seus álbuns, o que
reúne os melhores sucessos é o CD
Ao Vivo- Duplo, de 2006.
”
Marizete Belo da Silva
“
] 41 anos [ assistente comercial
Meu hobby preferido é ouvir música. Gosto de
vários gêneros musicais: rock, samba, MPB. Se
fosse para eu ressaltar os que mais gosto seriam:
Seu Jorge, Cazuza, Scorpions, Alcione e Fábio
Júnior. Mas tem um em especial que recomendo:
Djavan. Um artista mágico, com canções maravilhosas. Me perco ouvindo por horas as coleções
deste artista. As músicas dele despertam para
diversos sentimentos, realidades, sonhos que
carregamos dentro de nós. O álbum que prefiro é
o CD Ao Vivo, de 1999, que reúne as melhores
canções do artista.
”
Marynna Porto Magalhães ] 18 anos [
“
Recomendo um livro que me trouxe vários ensinamentos e bons
momentos de leitura. Trata-se da obra do escritor Khaled Hosseini,
O Caçador de Pipas. O livro conta a história de um menino rico chamado
Amir, que mora em Cabul, no Afeganistão. Ele é perseguido pelo próprio
remorso de ter traído o seu melhor amigo, Hassan.
A obra ainda retrata vários pontos críticos na política do país, época que
dá início à queda da Monarquia no Afeganistão, em 1979.
Esse romance, posteriormente, foi adaptado
para filme em 2007, levando o mesmo título.
Abier Antônio ] 53 anos [
“
UNIVERSITÁRIA
APOSENTADO
Um dos livros que recomendo é Ensaio Sobre a Cegueira
de José Saramago. Apesar do autor ter falecido, ele
deixou um arsenal de obras bastante valiosa.
Este livro, em especial, me encantou bastante.
A história é fantástica; faz uma crítica pesada aos valores
da sociedade e mostra o que acontece quando um dos
sentidos vitais falta à população: a visão. Recentemente,
em 2008, fizeram o filme baseado na história do livro.
Era o elemento que faltava para enriquecer e valorizar
ainda mais o trabalho de Saramago.
”
“
”
“
Marinês da Penha Sobrinho ] 49 anos [
dona de casa
Na minha opinião literatura se resume a Carlos
Drummond de Andrade. E em se tratanto dele é difícil
falar somente de uma obra, mas posso sugerir uma
que é bastante conhecida, A Rosa do Povo. Um livro
mágico que traduz com maestria os sentimento, as
dores e as agonias de seu tempo. A obra é considerada
por muitos amantes de Carlos, a tradução de uma
época sombria. Cada verso dos poemas deixam
mensagens que, mesmo depois de vários anos, se
encaixam perfeitamente no nosso cotidiano.
Thiago Ferreira Coelho ] 28 anos [
”
41
jornalista
Comédias românticas geralmente têm um enfoque mais voltado ao público
feminino, certo? Pode ser, mas Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000, de Stephen
Frears) é uma película capaz de agradar em cheio as pessoas com nível um pouco
mais elevado de testosterona. Rob Gordon (interpretado por John Cusack) é dono
de uma loja de discos e aspirante a DJ que é abandonado pela namorada.
Ao lembrar as cinco piores desilusões amorosas de sua vida, Rob tenta reencontrar
as “ex” para entender porque seus relacionamentos sempre fracassam.
Filme baseado em livro homônimo de Nick Hornby, com Jack Black no elenco e
uma trilha sonora sob medida para homens na casa dos 30 anos, com medo de
relacionamentos e que odeiam o emprego — assim como o protagonista.
Simão Lopes Pereira
“
] 26 anos [ empresário
Gosto muito de filmes de ação, principalmente
daqueles que mexem com o intelecto, e que é preciso
‘quebrar a cabeça’ para juntar peças do filme. Uma trama
que resume tudo isso é Onze homens e um segredo.
O longametragem conta a história de uma quadrilha, de
onze homens, liderada por Danny Ocean (interpretado por
George Clooney). O bando tem um plano bastante ousado:
roubar três casinos de Las Vegas ao mesmo tempo. Mas
para que tudo dê certo eles seguem sempre três regras: não
ferir ninguém, não roubar quem não mereça e seguir o plano
aconteça o que acontecer. O filme ainda conta com atores
renomados como: Andy Garcia, Brad Pitt, Matt Damon.
”
”
Samuel da Silva Fagundes ] 14 anos [
“
estudante
Eu não recomendo somente um, e sim toda a
saga de Harry Potter. A série de filmes é composta por
seis longas metragens. A primeira trama foi gravada
em 2001, Harry Potter e a Pedra Filosofal e a última
foi gravada no ano passado, Harry Potter e o Enigma
do Príncipe. Harry Potter é uma série de aventuras
fantásticas, baseada nos livros escritos pela britânica
J. K. Rowling. Boa parte do filme gira em torno da
Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a saga é
centralizada nos conflitos entre Harry Potter e o bruxo
das trevas Lord Voldemort. O mais interessante é que
apesar de ser muitas vezes assustador, o filme explora
temas como amizade, ambição, escolha e preconceito.
”
A R T E / M O DA
•
Girô
Qual
é a sua?
TEXTO:
Gabriela Gonçalves [gabriela.jorn alismo@hotm ail.com]
Roberta Vieira [rober t avieira.jorn alismo@hotm ail.com]
Nathália Schubert [anti.mono.tonia@hotm ail.com]
Rodeadas de códigos, as tribos urbanas
são caracterizadas, principalmente,
pela sua indumentária e são um fenômeno dos
grandes centros. Ditando comportamentos,
gostos musicais, amizades e até baladas
frequentáveis ou não, elas se multiplicam
a cada dia tornando a diversidade
a palavra de ordem
Beatniks, mods, glams, clubbers, hippies,
yuppies, new wavers, skaters, hip hoper, grunges,
punks... O século 20 foi marcado por movimentos
42
que refletiram as inquietações de uma parte da
No dicionário, o termo punk quer dizer “estilo de música agressiva
juventude e acabaram alterando a história do
associada com protestos contra o status quo e o sistema”. Para Eduardo
comportamento humano.
Yep, um dos protagonistas da cena em Governador Valadares, “punk é aci-
As tribos urbanas surgiram como uma das
ma de tudo liberdade, apesar de que muitos punks acabam esquecendo este
formas de mostrar insatisfação com algo ao seu
princípio básico de um movimento anarquista e se tornam rótulos”, explica.
redor ou, simplesmente, para mostrar que deter-
Ser anarquista é não estar subordinado às forças do governo ou leis. O
minado grupo é diferente ou pensa diferente. Elas
equilíbrio social estaria num contexto de racionalidade e equilíbrio entre
ditam comportamentos, gostos musicais, amizades,
as vontades e as necessidades. Para os anarquistas, o fim da propriedade
e até baladas freqüentáveis ou não. Obviamente,
privada também acabaria com a luta entre classes.
Na adolescência, Eduardo se vestia na maioria das vezes com
não poderia deixar de entrar na lista de “regras”
os acessórios e as roupas típicas de cada grupo.
calças rasgadas, coturno preto com as calças para dentro, camisa com
Em Governador Valadares não é diferente.
alguma frase ou símbolo de protesto (muitas com o símbolo anarquista) e
Sendo uma cidade de porte médio, no interior de
correntes para completar o visual. “Meu cabelo eu não sei até hoje como não
Minas Gerais, as variadas faces da juventude local
caiu (risos)! Já foi roxo, verde, vermelho, de moicano, satélite, dread. O inte-
refletem que as inquietações por uma afirmação da
ressante é que sempre tínhamos um motivo diferente para explicar o visual.
Ou era por rebeldia, ou era para se igualar a guer-
identidade não ficaram restritas ao século 20.
“Anarquia, corporation,
não me diga o que usar...”
Pense em um grupo de punks. A primeira imagem que vem à sua cabeça é a de garotos com coturnos, calças rasgadas, cabelos coloridos com moicano?
Este foi o estereótipo disseminado depois da década
de 70 pela estilista Vivianne Westwood e seu marido
Malcom McLaren, empresário da banda Sex Pistols.
No entanto, até aí, algumas bandas americanas não
apresentavam nenhuma dessas características e, apesar disso, foram chamadas de punk, como New York
Dolls, Velvet Underground e MC5.
reiros em luta, ou era para protestar qualquer coisa.
Mas o motivo mais legal e que eu considerava o meu
motivo era a luta contra o ‘pré-conceito’. Aquele conceito de achar a pessoa errada só pela forma como
ela se veste. Acabar com este conceito pré concebido nas pessoas após uma conversa me fazia feliz”,
conta. Segundo Yep, os rótulos de punk inglês,
na certa, inspiraram a maioria dos punks brasileiros e do mundo em se tratando de visual. Mas
a banda que o influenciou na questão estética e a
muita gente da época, em Valadares, foi o Rancid,
banda da Califórnia.
FOTO: Arquivo pessoal
enfiaram eles em camisetas e vendem muito pela carga referencial de cada
movimento ou personagem. E não estão errados! Errado é quem pensa que
vai para o céu comprando a camisa de Jesus ou que vai virar punk por usar
um All Star e ouvir CPM22”, enfatiza.
Poesia de concreto
Outra tribo presente no cotidiano valadarense é a do movimento
hip hop, em suas quatro vertentes: o break, o MC, o DJ e o Graffiti. Os
adeptos do movimento são facilmente identificados, normalmente porque
são encontrados em um único ponto, a Praça dos Pioneiros, mas princiPara Eduardo Yep, o punk é acima de tudo liberdade
palmente pelo modo de se vestir, que complementa e reflete, ao mesmo
tempo, a postura e a identidade desses jovens.
O hip hop surgiu no final da década de 60, em bairros periféricos
Yep, que hoje, aos 28 anos, é designer e
dos Estados Unidos, como o Bronx, habitados em sua maioria por negros e
produtor audiovisual, conheceu o movimento em
latinos. Nesses locais, chamados guetos, a população sofria com vários proble-
1997. E como muitos, a experiência veio pela música.
mas sociais, como o racismo, a violência, o tráfico de drogas, a pobreza, falta
“A primeira banda pela qual me aproximei, não
de infra-estrutura e escolaridade. Os jovens encontravam nas ruas a única
posso negar, foi o Green Day. Logo depois, como
forma de lazer disponível, e esse espaço era dominado pelas gangues, que im-
uma graduação, fui conhecendo Bad Religion,
punham regras e lutavam violentamente entre si pelo domínio do território.
Misfits, NOFX, Sex Pistols. Acho que, por isso
comecei a pensar em movimento punk; principalmente por ouvir Bad Religion. A banda traz em
suas letras muita informação sobre um movimento anti-religião e protestos que, com algum estudo
sobre o anarquismo e sobre o próprio movimento,
“Um movimento composto por
jovens de personalidades fortes,
com ideais concretos pede um
visual impactante.”
fui me envolvendo e me engajando”, lembra.
Nos Estados Unidos, o punk nasce como
Nas ruas dos guetos aconteciam festas com equipamentos sonoros
uma resposta natural ao rumo que o rock havia
de alta potência, os chamados Sound System, que foram levados para o
tomado. A preocupação artística crescente pare-
Bronx pelo DJ Kool Herc. Ele introduziu o Toast, modo de cantar em ri-
cia ter deixado de lado sua verdadeira essência:
mas em cima de um reggae instrumental, dando origem ao rap. A partir
a diversão. Quando perguntado sobre a “comer-
daí, começaram a nascer diversas manifestações artísticas das ruas, como
cialização” da ideologia anarquista e a sua trans-
poesias, danças, músicas e pinturas, feitas por esses jovens. As gangues
formação em material para a Indústria Cultural,
enxergaram nessas manifestações uma forma de canalizar a violência à
Yep é categórico. “Eu não acho que a indústria
qual estavam submersas e passaram então a competir através do break.
conseguiu isto. Acho que ela nem entendeu ainda
Essa idéia foi proposta pelo Afrika Bambaataa, considerado hoje o padri-
o movimento punk, ou entendeu e apenas usa o que
nho do hip hop, e a pessoa que deu o nome ao movimento.
é comercial para fazer dinheiro com isto. Não é
Um movimento composto por jovens de personalidades fortes, com
possível se vender ideologia. Podemos tentar, mas a
ideais concretos e uma forma, muitas vezes, agressiva de se expressar,
pessoa só será punk com vontade e atitude própria.
pede um visual impactante e próprio e, a moda, não ficaria isenta às
Mas, tratando de música e de moda, eu acho que
tendências lançadas pelos integrantes do hip hop. Bandanas, calças
a indústria fez com o punk o que fez com o Rock
largas, tênis chamativos, bonés grandes, entre outros elementos, fazem
n’ Roll de Chuck Berry e o próprio Jesus Cristo:
parte do guarda-roupas dos adeptos.
43
Enlace musical
Yuri Vinícius Gomes Silveira e Thamirys
Millena de Oliveira Campos, ambos de 21 anos,
formam um casal ligado pelo movimento. Eles se
conheceram através da dança, ela, já praticante do
FOTOS: Arquivo pessoal
street dance, e ele, apaixonado pelo break. “Eu já
tinha visto a Bombom (Thamirys) dançar e estava começando a me familiarizar com a cultura hip
hop. Acabei assistindo um cara de BH dançando na
praça e aí surgiu a vontade de fazer a mesma coisa.
O hip hop é a cultura do gueto e, através das quatro
vertentes do movimento, acontece a manifestação
Thamirys Millena
cultural de quem vive na periferia,” explica Yuri.
Bombom tem um grupo de dança e, durante suas apresentações, o
figurino das meninas é mais um elemento da coreografia. “O street dance é
Yuri Vinícius
um estilo de dança coreografado, não é como o break, que tem movimentos
mais bruscos. Nossa dança tem uma sensualidade característica e o visual
44
tem que corresponder à essa intenção”, explica. As roupas características
Eles são a cara da rua e a rua é o palco
das mulheres do hip hop são as calças largas, o tênis grande e chamativo, a
deles. O gosto pela dança já conquistou vários
camiseta curta, deixando a barriga de fora, bandanas, bijuterias, penteados
jovens e, atualmente, a cultura urbana de Gover-
chamativos como o rabo-de-cavalo preso no alto da cabeça ou o cabelo
nador Valadares é conhecida em outras cidades,
solto com bastante volume e, para não haver choque com esse visual extra-
graças aos campeonatos e eventos promovidos por
vagante, nada de maquiagem muito carregada.
esses jovens que recebem convidados de várias
Já para os meninos, o que manda são as T-shirt’s com frases de efeito, os
partes de Minas Gerais. “O movimento é unido e já
bonés tipo foam cap (mais largos e com abas dobradas), os coletes, e as calças
temos um ponto certo de encontro, que é a Praça
variam entre as largas e a skinning (justas na perna). “O visual de hoje em dia
[dos Pioneiros]. Aqui, quem não tem condições de
acaba sendo retro. No início as pessoas já se vestiam assim. Uma das caracte-
treinar numa academia, que é uma ‘parada’ pri-
rísticas, principalmente dos homens, é a customização dos tênis. Se estrago um
vada, pode tá aprendendo e passando o que sabe.
tênis treinando, ou se ele fica muito velho, já dou um jeito de pintar de outra
Os encontros aqui são assim: você passa o que sabe
cor, fazer uma arte ou uma reforma, que ele tá novo,” comenta Yuri.
e aprende com os outros”, afirma.
Linha do Tempo
Hippies
Beatniks
50’: enquanto uma parte da sociedade usava
ternos bem-comportados, os Beatniks chocaram o mundo adotando um visual despojado e moderninho, calças Levi´s 501, boinas,
camisetas de manga comprida, suéteres de
gola roulê. Junto com a vestimenta vinha
também um sentimento de repúdio aos
valores do American Way Of Life, e um grito
pela autenticidade e liberdade individual.
60’: os Hippies quiseram ir bem mais: com
seus cabelos grandes e roupas coloridas,
colocaram-se em guerra contra a Guerra
e a favor do amor livre. Com um modo
de vida comunitário e um estilo nômade,
negavam o patriotismo exacerbado e a
Guerra do Vietnã e estavam em desacordo
com valores tradicionais da classe média
americana. Couro cru, tié-di, saiões, colares de semente e miçanga, bolsas de crochê: tudo muito leve e colorido.
N ew W ave
70’: O New Wave surgiu no final dos anos
70, como um desdobramento natural de
uma vertente do punk. Uma espécie de
lado alegre e debochado do rock and roll,
o movimento juntou a estética andrógina
dos anos 70 com roupas e acessórios dos
anos 60, cabelos punk, cores vibrantes e
cítricas, ombreiras, gel e músicas bem humoradas, que misturavam rock, pop, funk e
reggae. Blongie, Madonna, Cyndi Lauper
e Boy George foram ícones desta tribo.
“Ser chique
é ser It”
preocupadas com a aparência. Rafael Vasconcelos de Carvalho, 22 anos, estudante, conta que mesmo “pertencendo” a esta regra, ele tem as suas exceções.
“A forma como eu me visto depende muito do meu humor. Não tenho um único
estilo que sigo porque gosto de ser diferente, de coisas diferentes e que chamem
Se antes eles eram chamados de maurici-
atenção. Gosto de usar o que me faz sentir bem, desde que seja em um estilo
nhos e patricinhas, no pejorativo, hoje o chique é ser
mais leve como esporte fino e o casual”, explica. Ele ainda ressalta que, nestes
“It”. Esse termo foi usado pela primeira vez pela
estilos “It”, ele pode destacar o uso do jeans básico, camisas de mangas curtas
romancista britânica Elinor Glyn para descrever a
e compridas, camisetas e tênis, desde que esteja sempre combinando. “Quando
atriz Clara Bow, quando ela surgiu, em 1927, no
estou de bom humor, uso e abuso do meu look. E, se a primeira impressão é a
filme-mudo “It”, de cabelo curto, lábios em forma
que fica, o vestuário de uma pessoa é o que pode formar a opinião sobre ela”.
de coração, olhos redondos, um jeito todo faceiro
Na hora da diversão, a turma dos “Its” possui um forte gosto musical
de andar, alegre, viva, muito sensual e totalmen-
para o pop e a música eletrônica. “Eu curto todos os tipos de balada. Até
te emancipada. A expressão foi cunhada como um
porque, quem faz o lugar somos nós mesmos. Mas admito que tenho pre-
eufemismo para a sexualidade ou para a atração
ferência por baladas eletrônicas como raves, boates e PVT´s (Tradução de
sexual, o ‘sex appeal’. Para Glyn, “‘It’ é a qualidade
privado em inglês – private – e que significa uma rave de pequeno porte,
possuída por alguns que atrai todos os outros com
uma festa privada). Estar na balada é curtir os amigos, conhecer pessoas,
sua força magnética. É uma expressão para o “algo
esbarrar no amor, ser livre por um instante fazendo algo que agrade, é dei-
a mais” que as mulheres precisam ter.
xar a música levar o corpo para um estágio de prazer. Enfim, o que nunca
Hoje, as “It Girls” e os “It Boys” estão
pode faltar é alegria e responsabilidade”, conclui.
pelas ruas do mundo. São mulheres e homens ante-
Ainda existem aqueles que preferem não ter tribo ou os que transi-
nados, têm guarda-roupas impecáveis, influenciam
tam por diversas tribos adaptando para si as características de cada uma
de forma resistente a moda e ainda se comportam
de um jeito irreverente, despertando a curiosidade
que mais lhe agradam. Os “sem tribo” não costumam se juntar a um grupo
por causa de uma característica específica apenas.
das pessoas sobre o seu modo de vida. Ser “It” é
Eles têm amigos, por exemplo, com gostos culturais
possuir originalidade e interpretar a seu favor as
tendências lançadas pela moda. Não é apenas ter as roupas de grifes como
absolutamente diferentes dos seus. Isto talvez dei-
possuir uma bolsa Chanel, um sapato Louboutin e um mergulho na Daslu.
“tribo” recebeu outros ingredientes, como estilo,
A galera “It” dita a moda e o comportamento na alta sociedade. A moda,
por sua vez, se tornou uma linguagem instantânea, que traduz no primeiro contato visual de qual tribo é aquela pessoa. Ser da tribo urbana “It” significa ter
uma forma exageradamente arrumada de se vestir, porque são pessoas sempre
xe claro que a motivação inicial por se unir a uma
sentimento de proteção, amizade, submissão, ou
mesmo união em torno de determinado ideal.
Para esses a pergunta se abre e se transforma:
Quais são as suas? y
Grunge
Glam
80’: O movimento Glam – cujo nome vem
do glamour das roupas extravagantes,
perucas de cores psicodélicas e sapatos
plataforma – foi bastante relacionado à
música. Passava a idéia de uma “sexualidade ambígua” e buscava resgatar o
impacto da rebeldia associada ao rock and
roll. Alguns de seus maiores expoentes
foram Gary Glitter, Slade e David Bowie.
90’: O Grunge surgiu em Seattle no fim dos
anos 80 e seus maiores ícones são as bandas
Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam e Stone
Temple Pilots. Ironia, sarcasmo, crítica social, revolta, desespero, são algumas das características de seus integrantes. Os grunges
se colocaram contra os valores da sociedade, o consumismo exagerado e a beleza superficial, não se importando com a própria
aparência e adotando um jeito largado de se
vestir. Camisas de flanela, calças rasgadas e
o tênis All Star são símbolos dessa época.
C l u bb e r
2000’: Gerado pela frustração do ‘póstudo’, o impulso Clubber é uma proposta sem proposta, uma pura e simples
alienação do tempo e do espaço, impulsionado pelos psicotrópicos. O movimento
clubber teve início na Inglaterra, com a
acid house e o advento da música eletrônica junto o uso de roupas fluorescentes,
piercing e cabelos coloridos.
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ESPORTE
•
Girô
s
Superacao e amor
'
ao futebol amador
TEXTO:
FOTOS:
Diego Dunga
Fernanda Nominato
[[email protected]]
Arquivo Pessoal - Geraldo Lopes | Arquivo DRD
“Quem não sonhou em ser um jogador de
46
+
[[email protected]]
Lutas e esperanças
marcam a vida de jogadores amadores
que buscam melhores condições de vida
por meio do futebol
futebol”. O trecho do refrão da música “É uma
partida de futebol”, da banda mineira Skank, ilustra o desejo comum de muitos jovens espalhados
“Com a minha atuação no Democrata, acabei sendo vendido para o
pelo Brasil que buscam um futuro melhor para a
futebol português. Depois disso, retornei ao Brasil, onde atuei em clubes
família por meio dessa modalidade esportiva. No
como Ipatinga, Uberaba, América-RN, Santa Cruz-PE, XV de Piracicaba
futebol amador não é diferente. Em Governador
e União Barbarense”. A carreira de Walber no futebol profissional foi en-
Valadares, as categorias de base dos principais
cerrada em 2005, quando o Democrata foi campeão mineiro da Segunda
clubes amadores sempre foram um grande celeiro
Divisão, levando a equipe novamente para a elite do futebol mineiro.
de novos atletas que, após alcançarem destaque
no time, seguem para o Esporte Clube Democrata,
clube profissional da cidade ou, até mesmo, para
testes nos grandes clubes da capital mineira.
De jogador a presidente
Atualmente, Walber é presidente do União Esporte Clube, equipe
Um exemplo é o ex-jogador e atual presi-
do Módulo A do Campeonato Amador da cidade. Seu clube sempre figura
dente do União Santa Rita, Walber Cota. “Come-
entre os favoritos ao título. Nos últimos três anos, a equipe do bairro Santa
cei a jogar com 11 anos de idade no Coopevale, do
Rita chegou em todas as decisões, conquistando dois títulos e perdendo o
bairro São Paulo. Fiquei lá até os 16 anos, quando
último para o Internacional, do bairro Nova JK. “A iniciativa de mexer
fui campeão do time principal pela primeira vez,
com o futebol amador foi da necessidade de se ter no bairro Santa Rita
ainda sendo juvenil. Depois disso fui para o Demo-
um time competitivo, além de ter um compromisso com um amigo que foi
crata, em 1993, onde fiquei até 1998”.
o presidente do clube, Oriel Moreira, que faleceu em 2009. Nesses quatro
Aquele esportista que havia saído do fute-
anos que estou no União, já fomos a três decisões”.
bol amador ganhou destaque na Pantera (mas-
O ex-jogador completa que seu trabalho à frente de um clube ama-
cote do time valadarense) durante os cinco anos
dor nunca foi fácil, principalmente, por causa da escassez de apoio e patro-
que ficou no estádio José Mammoud Abbas, o
cínios. “As dificuldades são grandes para um time amador. Os amigos é que
que acabou chamando a atenção dos lusitanos.
nos ajudam todos os dias porque senão o clube não anda”.
FOTO: Arquivo DRD
Gasolina para jogar
Outro caso de superação no futebol amador na cidade aconteceu
com o vice-presidente da Liga de Futebol Amador de Governador Valadares, Célio de Souza Gonçalves, mais conhecido como Celinho. Ele conta
que também apresentou sua técnica futebolística nos gramados amadores e
profissionais em vários clubes do país. “Comecei como amador e depois fui
para o profissional. Iniciei com 16 anos no juvenil do Democrata e fiquei no
clube até os 20 anos de idade, que também foi o meu primeiro clube como
profissional. Aos 36 anos, fiz reversão para jogar no amador novamente”.
Ao ser indagado sobre a média de valores dos salários, Celinho
explica que isso nunca foi prioridade para ele enquanto jogava pelos clubes
O Esporte Clube Democrata foi o primeiro
time profissional de Walber Cota
amadores da cidade. “Sempre joguei para me divertir. Só atuei por clubes
onde tinha amizade. Nunca cobrei para jogar no amador. Quando morei em
Central de Minas, por exemplo, os clubes pagavam a gasolina do meu carro
para vir jogar em Valadares”. Entre os clubes profissionais que ele já jogou
estão o América-MG, Fluminense-RJ, Santo André-SP e Caxias-RS. Ele já
foi campeão amador duas vezes com o Internacional, do bairro Nova JK,
além de atuar na categoria dos veteranos, também em Valadares.
Agora, o ex-jogador trabalha no outro lado do esporte: como
vice-presidente da organização que promove o futebol amador na cidade.
“Trabalhar como dirigente é mais difícil, ter que ajudar na organização e
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acompanhar os eventos da Liga de Futebol é mais trabalhoso e a responsabilidade agora é maior”, analisa.
Giros diversos
Geraldo Lopes, o famoso “Gera”, também
passou pelo futebol amador de Valadares, mas
terminou sua carreira como jogador profissional.
O ex-meia começou no desporto aos 17 anos, no
juvenil do Esporte Clube Democrata, de Governador Valadares. Somente em 1993 ele entrou para
FOTO: Arquivo pessoal
o futebol profissional, na equipe do Novorizontino,
time do interior de São Paulo. Ele teve outras
passagens em clubes como o Sport, Bahia, Bragantino, ABC-RN, Santo
André e América-MG. Foi a partir daí que o valadarense conheceu o cobiçado futebol europeu. “O pessoal do Boavista, de Portugal, me observou
e depois me contrataram para atuar lá. Logo no primeiro ano, a gente
conquistou o primeiro campeonato português da equipe na temporada 2000-2001. Tive uma lesão no joelho e acabei retornando ao Brasil,
atuando em clubes como América-RN, Gama, até encerrar a carreira no
Democrata, onde conquistamos a Segunda Divisão Estadual, em 2005”.
Com a camisa do Democrata, Geraldo Lopes conquistou
o seu último título como jogador profissional, em 2005
Após a aposentadoria no futebol profissional, Geraldo ingressou na área de treinador de categoria de base, buscando revelar novos talentos da
cidade para o esporte. “Fui convidado para trabalhar num projeto de captação de atletas de base no
Internacional. Nesse trabalho, procurei me aperfeiçoar como técnico, onde consegui a formação de
treinador pelo CREF-MG (Conselho Regional de
Educação Física) no final de 2009”.
Entre 2007 e 2008, Geraldo teve a experiência de jogar nos campos de futebol amador
em Valadares com a camisa do Internacional. Ele
explica as diferenças e as peculiaridades que esta
categoria possui em relação ao profissional “Exis-
No primeiro ano como jogador do Boavista de Portugal, ‘Gera’
levantou o único título nacional da equipe
te um contraste entre o amador e o profissional. A
infraestrutura não se compara. Em um clube amador, todo mundo é voluntário. Na hora da preleção,
você escuta os jogadores passarem as dicas e não
o treinador, como é no profissional. Outra coisa que
chamava a minha atenção é que não existe o compromisso de acordar cedo”.
Falta campeonato
O ex-jogador também nunca chegou a cobrar uma “pechincha” para bater uma bola no
O Democrata já utilizou muitos jogadores
futebol amador. “Era como uma troca de favores.
do futebol amador mas, segundo o supervisor de
O Internacional me deixava atuar no trabalho das
futebol da equipe, Darcy Menezes, como o clube
categorias de base e eu me inscrevia para jogar.
não disputa um número alto de campeonatos, fica
Nunca cobrei nada. Clube amador é voluntariado.
complicado dar a chance para os garotos da cida-
Pode até acontecer de um jogador de 25, 26 anos
de. “O futebol amador hoje não oferece nenhuma
do amador ir para um time profissional, mas não
contribuição, pelo fato do Democrata não estar
será uma equipe de ponta no futebol brasileiro”
participando de nenhum campeonato. O futebol
amador da cidade já revelou excelentes jogadores e
FOTOS: Arquivo pessoal
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“Existe um contraste entre o amador e o profissional.
A infraestrutura não se compara.
Em um clube amador, todo mundo é voluntário”.
ajudou muito o nosso time em outros anos”.
Ele lembra que a Pantera já utilizou vários
desses atletas para a disputa de competições de
categoria júnior, como na conquista do Mineiro
dessa categoria, em 2003. “Essa busca por jogadores amadores foi mais intensa quando tinha os
campeonatos de juniores, pois era uma oportunidade de revelar os jogadores tanto para a equipe
profissional do Democrata como para o Brasil”. y
O meio-campo Geraldo Lopes (à esquerda) atuou em tradicionais
times do Brasil como ABC, América-MG, Santo André, Bahia e Sport