por detrás dos oitis
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por detrás dos oitis
Editorial v Salve, salve a GIRO! A revista-laboratório do curso de Jornalismo da Univale, a Girô, retoma suas atividades com muito vigor e compromisso de informar bem. A você, estimado leitor, trazemos as produções jornalísticas dos nossos alunos que se esforçaram para escrever sobre temas universais, mas com ângulos e personagens diferenciados, desvendando, assim, o cotidiano de nossa cidade e de nosso povo. As reportagens passeiam por temáticas diversas como moda, patrimônio histórico e cultural, economia, esporte, sexualidade e cotidiano. A revista conta também com seções opinativas com artigo, crítica e crônica, além, claro, de uma instigante entrevista sobre migração, onde são reveladas novas interpretações para o fenômeno. Desde a concepção, passando pelo planejamento até chegar à execução da revista, trabalhamos com os alunos de forma participativa e democrática. Foram muitas aulas para chegarmos a um consenso sobre o formato, bem como o papel, as seções, as pautas e até mesmo a linha editorial e o público-alvo. Afinal, a disciplina se propõe a ser um laboratório para que possam experimentar novas linguagens e formatos jornalísticos, inovar nos processos produtivos e, claro, experenciar e praticar a reportagem que, como bem disse o escritor colombiano Gabriel García Marquéz,“requer tempo, investigação, reflexão e um domínio certeiro da arte de escrever”. A realização da revista-laboratório Girô/2010 é fruto de um trabalho interdisciplinar com o curso de Design Gráfico, que nos presenteou com o projeto gráfico e a diagramação, e com o curso de Letras, que contribuiu com a revisão textual do material. Esperamos dar continuidade a essas boas parcerias no próximo semestre. Amigo leitor, contamos com a sua opinião sobre essa edição da Girô no intuito de avaliar a qualidade das produções dos nossos discentes e para que nós, professores do curso de Jornalismo da Univale, alcancemos cada vez mais a excelência no processo formativo de nossos futuros jornalistas. Boa leitura e até a próxima edição! 1 Expediente GIRÔ - Revista-laboratório do curso de Comunicação Social - Jornalismo desenvolvida por meio da disciplina Revista-Laboratório. Presidente da Fundação Percival Farquhar Edvaldo Soares dos Santos Reitora da Univale Profª Ana Angélica Gonçalves Leão Coelho Pró-Reitora Acadêmica Profª Fabíola Alves dos Reis Pró-Reitor Administrativo Prof. Marle José Ferrari Júnior Assessora de Graduação Profª. Denise Coelho Chaves 2 Assessor de Pesquisa e Pós-graduação Prof. Carlos Alberto Dias Assessora de Extensão e Assuntos Comunitários Profª. Fátima Martins Dias Oliveira Diretora da Área de Ciências Humanas e Sociais Profª Cláudia Gonçalves Pereira Coordenadora do Curso de Jornalismo Profª Nagel Medeiros Editora e jornalista responsável Profª Fernanda de Melo Felipe da Silva – MG 11497 JP Textos - Discentes do 8º período de Jornalismo (2007 - 2010) Ana Eliza Pereira de Oliveira, Bárbara Gonçalves de Freitas, Carlos Augusto de Albuquerque, Carlos Magno de Souza, Darlisson André Dutra, Diego Dunga Alves de Oliveira, Dilvo Rodrigues Batista, Fernanda Resende Alves Nominato, Gabriel da Penha Sobrinho, Gabriela Gonçalves de Araújo, Kaio Henrique dos Santos, Lucas Mafra Braga, Marcella Werner de Lemos, Marialda da Consolação Barreto Costa, Maurício Cancilieri de Oliveira, Nathália Barcelos Schubert, Nery das Dôres Albuquerque Júnior, Roberta Vieira de Paula, Saniele Barbosa Lopes Pinto, Vivian Lopes Cangussú. Projeto Gráfico e Diagramação Profª Zaira Beatris Andrade Bernardes (Coordenação Geral) Discentes do Curso de Design Gráfico/Univale: Larissa Rodrigues Menezes (6° Período) Lívia Furtado Moura (4° Período) Luciana Murta de Tassis (4° Período) Ilustração Discente do Curso de Design Gráfico/Univale: Abraão Barbosa (4° Período) Revisão Textual Profª Elisângela Rodrigues Andrade Vieira Helal (Coordenação Geral) Discentes do 4º Período de Letras/Univale: Bárbara Carla Gomes Francisco, Cíntya Francielle Gomes Soares Nascimento, Daniela Delfino dos Santos, Fernanda Soares de Almeida, Jaqueline Angélica Pereira, Janete Ferreira da Silveira, Jeorge Martins Dias, Joel Carlos Fernandes Junior, Joice Sérgio Monteiro, Kássio Victor Pereira Vidal, Kelly Adriene Gomes Marques, Leisiane Aparecida Cruz, Lucas Magalhães Fernandes, Namara Oliveira Teixeira Rocha, Ney Luiz de Souza, Priscila Alves Marques, Rubens Soares Ribeiro, Sâmara Patrícia da Silva Tetzner, Sara Dias de Oliveira, Silvana Keli da Silva, Vanussa de Oliveira Pinto Agradecimentos Especiais: Profª Rosilene Conceição Maciel (Design Gráfico) e Profª Cátia Cristina Degan Fernandes (Letras) Apoio Editorial Brian Lopes Honório (Editora Univale) Impressão / Tiragem Gráfica O LUTADOR / 200 exemplares Contatos (33) 3279-5928 [email protected] É permitida a reprodução parcial ou total de textos, fotos e ilustrações, por qualquer meio, desde que citada a fonte corretamente. Sumário 04 GV QUE VOCÊ OLHA, MAS NÃO VÊ 07 TURISMO NO PICO: O QUE FALTA PARA ALAVANCAR? 10 SEXUALIDADE EM BAIXA 14 DE OUVIDO NA CONVERSA DOS OUTROS 16 O m² MAIS CARO DA CIDADE 18 ENTREVISTA - Profª Drª Sueli Siqueira QUANDO O MUNDO MUDA DE COR, CHEIRO, FORMATO... 22 PELA CULTURA DA PAZ 25 A PRIMEIRA DÉCADA DO DESIGN GRÁFICO 32 DANÇANDO PARA SOBREVIVER 37 MOSTRA-ME O QUE TU VESTES E EU DIREI QUEM TU ÉS 42 FAMA E GRANA – O FUTEBOL AINDA É CAMPO PARA ISSO 46 3 E MAIS.... PATRIMÔNIO CULTURAL - Museu da Cidade 28 UNIVALE - Programas e projetos que beneficiam a comunidade 29 CRÍTICA - A janela indiscreta da mídia 36 DICAS CULTURAIS - Bom para ler, ouvir e ver 40 CRÔNICA – Formaturas: sequência da vida 13 C I DA D E • Girô Governador Valadares POR DETRÁS DOS OITIS TEXTO: Marialda Barreto [m arialdabarreto@hotm ail.com] + Albuquerque Júnior [juninholeste@hotm ail.com] As copas, sempre cheias de folhas verde-escuro, amenizam um pouco o clima quente. No verão, os termômetros chegam a registrar temperaturas de 40 graus. Os oitis, que já fazem parte da paisagem e formam a identidade da Princesa do Vale, estão praticamente em todos os bairros. Porém, é no Centro da cidade que essas árvores escondem imóveis com Jovem, com apenas 72 anos de emancipação mais de meio século de história. Estruturas que ainda política, Governador Valadares até pouco tempo era preservam traços arquitetônicos de tempos passados. invejada pelos turistas que passavam por aqui. As Ao caminhar pelas ruas, Harley Cândido, bacharel em Direito, músico ruas e avenidas do Centro eram planas e largas e e ex-membro do Conselho Deliberativo do Patrimônio Histórico Cultural os motoristas não precisavam disputar espaço no de Governador Valadares, um eterno apaixonado pelo passado da cidade trânsito. Entretanto, seus governantes, sem con- nos faz ver o que poucos veem. O passeio pelo Centro, no início da noite sultar aos moradores, acharam por bem construir de uma sexta-feira, poderia até desanimar pelo calor de quase 30 graus canteiros e ciclovias e, assim, a Princesa do Vale, em pleno inverno. Mas, mesmo assim, o historiador busca aguçar a nossa como é carinhosamente conhecida, perdeu um curiosidade. Tenta abrir os olhos de quem não consegue ver além dos oitis. pouco do seu encanto e peculiaridade. Mas não é só esse desenho geográfico diferenciado que descaracteriza o município de ser tipicamente mineiro. A cidade não ostenta uma catedral no centro e muito menos conta com casarões e árvores centenárias em suas ruas. Mas, isso não quer dizer que faltam sombras para se esconder do sol, que não haja religiosidade entre o seu povo e que seu passado recente não seja glorioso. Em toda a cidade, são centenas de igrejas, pequenas e grandes, para todos os tipos de fé. Nas calçadas, pés e mais pés de oitis. No último levantamento da administração municipal, 80 mil árvores dessa espécie foram contabilizadas. FOTOS: Samuel Ribeiro 4 Prédio onde funcionou a primeira Prefeitura de Governador Valadares Quem olha por olhar, enxerga pouco. Apenas reconhece prédios modernos misturados a casas e sobrados antigos. A maioria reformada e adaptada para estabelecimentos comerciais. E são muitas lojas, afinal, o comércio é um dos pontos fortes da cidade e atrai pessoas de toda a região. “Em toda a cidade, são centenas de igrejas, pequenas e grandes, para todos os tipos de fé. Nas calçadas, pés e mais pés de oitis.” Memória política A histórica casa da família Hilel foi vendida há cinco anos e é hoje um ponto comercial A casa da família Hilel Algumas dessas casas e sobrados tiveram seus dias de ouro num Outro prédio historicamente importante fica passado recente, por volta dos anos de 1940. Dois bons exemplos ficam localizado à Rua Marechal Floriano com Avenida na esquina da rua e da avenida mais conhecidas e frequentadas da cidade: Minas Gerais e pertencia à família Hilel. Por mais Marechal Floriano e Minas Gerais. Nelas se encontram ainda de pé de 60 anos a propriedade pertenceu ao libanês dois prédios que hospedaram grandes nomes da nossa política como Seleme Hilel. Ele veio para o Brasil por volta de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Benedito Valadares. 1910 e trabalhava como mascate, nome dado no Esse último recebeu homenagem especial em 30 de janeiro de 1938, Brasil aos mercadores ambulantes e vendedores de quando a cidade ganhou sua emancipação política.Antes desta data,Governador “porta em porta”. Chegou a Governador Valadares Valadares era distrito do município de Peçanha e se chamava Figueira. em 1919 e aqui criou raízes. Foi dono de vários Tanta história esquecida e escondida caprichosamente pelos oitis. imóveis e, em 1924, se tornou o maior exportador Mas, quem deixar a rotina diária de lado e não prestar atenção aos de café do Vale do Rio Doce, além de um grande milhares de caminhões, carros e motos que passam pelo trecho poderá co- atacadista de cereais. Também exerceu o cargo de nhecer um pouco desse passado não tão longínquo. Um dos imóveis ganhou vice-prefeito de Valadares por 45 dias com a auto- as cores da bandeira do Brasil. O motivo é incerto. Mas quem sabe os tons rização do, então, governador de Minas, Benedito em verde e amarelo representem inconscientemente um grito de alerta, Valadares. um protesto quando se observa que o desenho arquitetônico da década de Terezinha Hilel, 75 anos, sobrinha do em- 40 já se mistura com o contemporâneo. Nas varandas de onde discursaram presário, explica que o prédio diferenciava-se dos tão ilustres personalidades políticas, grades de ferro mostram que os tem- imóveis pela altura, pois foi o primeiro de três anda- pos são outros. A insegurança é mais presente do que nunca e não dá mais res construído na cidade. “Contava ainda com uma para ficar de janelas e portas abertas em nome da preservação histórica. fonte no segundo andar, jardins suspensos, um salão No sobrado funcionava o Hotel Rio Doce, muito frequentado na épo- de peças de artes e móveis centenários”. Terezinha ca, por ser o único da cidade. Atualmente, a parte superior foi adaptada para lembra que quase todo fim de semana o tio recebia escritórios e no térreo para ponto de lojas de diversos segmentos. Uma políticos e personalidades da sociedade para festas. loja de bijuterias e uma agência de turismo estão entre as atividades Hoje, o prédio tem finalidade comercial exercidas no local. e quem chega à loja “Varejão das Fábricas” não vê nenhuma lembrança do passado festivo do casarão. No segundo andar, salas vazias desper- “Os oitis, que já fazem parte da paisagem e formam a identidade da Princesa do Vale, estão praticamente em todos os bairros.” tam a nostalgia para quem viveu ali uma época de sonhos. Pouco a pouco a história vai se perdendo e mudanças são feitas no prédio. O imóvel, vendido há cinco anos para empresários de Belo Horizonte, passa por reformas. “A família não quis investir e preferiu desfazer do casarão”, lamenta Terezinha. 5 Oitis com os dias contados A Prefeitura de Governador Valadares aposta num projeto que vai mudar a paisagem da cidade. Os oitis estão com os dias contados e deverão ser substituídos por outras 18 espécies de árvores, entre elas o ipê-roxo, ipê-amarelo, palmeira imperial, sombreiro, flamboyant e até árvores frutíferas como o figo e a castanhola. Segundo o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Agricultura e Abastecimento, Celton Godinho de Assis, “esse novo desenho urbano vai ser feito aos poucos, de tal forma que os moradores nem perceberão”. Os bairros Lagoa Santa, Santo Agostinho e Belvedere já receberam o projeto e não registram pés de oitis plantados. Harley Cândido avalia que a troca das árvores pode ajudar a trazer um pouco desse passado, mas, mesmo assim, é preciso um projeto específico de educação patrimonial junto às escolas. “As pessoas não conhecem esses 6 Prédio onde funcionava o Hotel Rio Doce, único da cidade na década de 1940 “Algumas dessas casas e sobrados tiveram seus dias de ouro num passado recente, por volta dos anos 40.” Cinema das antigas imóveis, não só porque não olham por detrás dos oitis, mas também porque Outro imóvel histórico destacado é a antiga não contaram a história desses prédios para elas. E esse trabalho deve ser residência da família Habib, usada hoje como de- feito pelas escolas com a ajuda do poder público”. pósito de lojas. O dono, Nacle Miguel Habib, foi um O historiador denuncia que, ao longo dos anos, o passado da cidade rico comerciante de origem sírio-libanesa. O prédio não vem sendo respeitado e que muitos imóveis já foram derrubados para a da década de 40 ainda conta com uma varanda sus- construção de lojas comerciais. Contudo, alerta que ainda há tempo de sal- tentada por colunas do estilo neoclássico. O imóvel var o que resta. Só na Avenida Minas Gerais ele aponta várias construções fica ao lado do colégio e da casa da família Hilel. que precisam ser preservadas. Uma delas é o prédio onde já funcionou a Três histórias que se abraçam e resistem ao tempo. Prefeitura, a Câmara de Vereadores e o Fórum da cidade. Os cômodos, antes Na mesma avenida, outro ponto interessan- usado pelo poder público, viraram salas de aula do colégio Cip Con. O imóvel te é onde se localiza hoje a loja “Americanas”. mantém alguns traços arquitetônicos da época no estilo “art déco”. Por 40 anos funcionou no antigo sobrado deste ponto o “Cine Teatro Ideal” e, depois, o “Cine Sir”. Harley Cândido ressalta que, no segundo andar, tem Imóveis que resistem ao tempo e preservam um pouco da história da cidade uma sacada de onde discursou, em 1950, o então presidente da república, Getúlio Vargas. Outros segredos da história de Governador Valadares estão escondidos por detrás dos oitis. Para conhecer essas preciosidades é preciso investir tempo. Só assim, um cenário diferente pode despontar diante dos olhos e revelar surpresas e até certa beleza, dependendo da sensibilidade de quem observa. O belo pode estar nos pequenos detalhes. Detalhes de um passado que precisa ser recuperado na memória dos filhos da cidade. y FOTO: Pierry Ayres Saniele Barbosa turismo TEXTO: • Potencial turístico a ser explorado Girô Pico da Ibituruna [saniele87@hotm ail.com] Apesar das dificuldades e do pouco incentivo, empresários continuam investindo no local. Cobram mais apoio do poder público, como infraestrutura básica, serviço de telefonia, internet e benefícios fiscais 7 Pico da Ibituruna, um dos símbolos identitários de Governador Valadares o mais rapidamente possível um dado percurso e o cross country, uma modalidade de mountain Se lhe pedissem para listar os cinco maiores símbolos de Governador bike. Pousadas, a charmosa Casa do Papai Noel e Valadares, muito provavelmente ele ganharia o primeiro lugar ou, no a estátua de um ET e um disco voador completam máximo, o segundo. Estamos falando do Pico da Ibituruna, um dos mais o cardápio de atrativos do local. Por lá, se encon- importantes pontos turístico-paisagístico da cidade, considerado Área de tram pessoas em busca de descanso e tranquilidade Proteção Ambiental (APA) desde 1992. Possui ainda dois tombamentos: e também aquelas que querem aventura e dinamis- um como patrimônio paisagístico pela Constituição Estadual, de 1989, e o mo. O Pico da Ibituruna oferece de tudo um pou- chamado “Complexo Monumentos do Ibituruna”, que compreende, além do co. É um lugar singular para se passar um fim de Pico, a Santa e a Capela/Pedestal, tombado em 2003 pelo município. semana, ouvindo o som de pássaros, num clima de Em seus 1.123 metros de altitude acima montanha, com programação para o dia todo. do nível do mar e 990 metros do nível do Rio Mas com todos esses atributos positivos Doce, encontramos belezas exuberantes, como do Pico da Ibituruna uma questão persiste: o que montanhas, lagoas e trilhas, onde várias espécies falta para esse importante símbolo de Governa- de pássaros, mamíferos e da flora podem ser apre- dor Valadares tenha todas as suas potencialidades ciadas. Além disso, a Ibituruna se destaca pelo vôo turísticas, econômicas, paisagísticas e culturais livre por possuir as melhores térmicas do mundo, exploradas ao máximo e de forma sustentável? segundo os praticantes desse esporte. A Pedra Para responder a essa indagação, conversamos é também local para outros esportes de aventu- com três empresários que se aventuraram a inves- ra, como escalada, rapel, caminhada ecológica, tir no local e que vivem diariamente os prazeres e downhill - forma de ciclismo que consiste em descer desprazeres de serem empreendedores no Pico. FOTOS: Arq. Jornal Olho Mágico Outro empresário que também atua no setor de turismo da cidade e que acompanhou de perto a história da ocupação turística da Ibituruna e o seu desenvolvimento é Francisco Luiz Teixeira, 81 anos. Ele concorda que ainda há muito que ser melhorado para que a área se desenvolva plenamente e, assim como Viviane, aponta a necessidade de melhorias na infra-estrutura básica e estímulo aos empresários que lá estão e também a novos. “Os empreendedores que desejam construir lá têm muitas dificuldades. É um Viviane do Vale Silvestre processo muito burocrático, mesmo que o projeto seja comprovadamente Para a turismóloga e proprietária da Pousada positivo para a Ibituruna. Poderia ser criada uma lei de incentivo fiscal, já Vale Silvestre, Viviane do Vale Silvestre, 39 anos, que uma construção na Ibituruna ou mesmo a manutenção de pousadas, o turismo na Ibituruna já é uma realidade, mas restaurantes e atendimento logístico lá tem custo mais elevado do que o ainda pode ser melhor. Ela afirma ter um grande das construções na área urbana da cidade”, analisa. fluxo de turistas no local, ou seja, a Pedra já é um Mais um empresário que corrobora com as opiniões de Viviane e atrativo fomentado. No entanto, faltam melhorias, Francisco é Antônio Rodrigues Coelho Júnior, 64 anos, proprietário do es- principalmente no que diz respeito à infra-estru- paço de lazer e restaurante Casa do Papai Noel. “Comparado há alguns tura básica do local. “Não podemos negar que a anos, muita coisa foi feita, mas ainda podemos avançar mais. As estradas, estrutura hoje no Pico é boa, mas precisamos da por exemplo, hoje tem uma estrutura boa, mas acredito que a construção construção de estradas, de banheiros públicos, de banheiros, instalação de telefone e internet são os pontos fundamentais placas de informações e sinalizações turísticas que devem ser melhorados no Pico para que a área possa se desenvolver e o e funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo empresariado consiga avançar nos seus negócios”, opina. (CAT) que já foi construído e ainda não está em funcionamento”, avalia. Viviane lista ainda outro fator importante, como uma política pública de incentivo fiscal para os empreendedores. Promessas O secretário municipal de Desenvolvimento Econômico de Governador Valadares e presidente do Conselho Municipal de Turismo (COMTUR), Na opinião da turismóloga, para que o turismo Valter Luiz Machado da Silva, informa que as questões levantadas acima realmente aconteça na Ibituruna e em outros locais pelos empresários só podem ser resolvidas após a criação de um Plano da cidade seria importante que os valadarenses e de Manejo da Ibituruna, no qual se faz um estudo da área sobre vários todos os setores da sociedade assumissem de vez aspectos, como impactos ambientais, regularização de construções e refor- que Valadares possui atrativos para ser, de fato, mas, entre outros. Quanto ao funcionamento do Centro de Apoio ao Turismo uma cidade turística. “Temos que assumir isso e nos (CAT), que já está construído e só falta ser “ativado”, o secretário explica dar conta de que esta é a realidade. Somos um povo que, após o fim do período eleitoral, a Secretaria Municipal de Desenvol- hospitaleiro e poderíamos usar isso mais a nosso vimento Econômico e os demais órgãos relacionados ao turismo na cidade favor, através do turismo receptivo”, afirma. tomarão as providências cabíveis, como, por exemplo, contratar funcionário e estruturar e equipar o espaço físico do Centro. FOTO: Pierry Ayres 8 Falta de dinheiro ameaça campeonatos de voo livre em 2011 Eles acontecem anualmente, principalmente nos meses de fevereiro e março, e atraem diversos turistas para a cidade. Contudo, os campeonatos nacional e mundial de vôo livre de 2011 correm o risco de não acontecerem, principalmente o Paragliding Open de Voo Livre. De acordo com o atual presidente da Associação Valadarense de Voo Livre (AVVL) e também coorde- Francisco Luiz Teixeira nador de eventos da entidade, Paulo Cezar Silva, 42 anos, os campeonatos podem não acontecer por causa de dívidas da entidade, que gira em torno de Acredito que toda a fauna e flora sejam prejudicadas. R$ 70 mil. “No último campeonato que realizamos, uma verba que deveria ser Um bem natural como este,de tanta importância para o repassada para nós por um político não se concretizou. Só recebemos 25% do turismo e para a cidade, deveria ser mais preser- valor prometido. Isso é uma pena, já que a realização do campeonato é essen- vado”, opina o tenente do Corpo de Bombeiros cial para o turismo e destaque de Valadares no Brasil e no exterior”, afirma. Hoberdan Inácio da Silva. Na opinião do presidente, para realizar o campeonato sem preocu- Outro membro do Corpo de Bombeiros, pações financeiras, deveria haver uma parceria das instituições privadas sargento Célio Pereira Ramos, também acredita que com o poder público. “Na parte de logística, a Prefeitura já nos ajuda; as queimadas trazem vários prejuízos à biodiversidade estamos na expectativa de que haja também uma ajuda financeira para do local. Para ele, leis e posições mais enérgicas por 2011. Mesmo insistindo com algumas empresas da cidade, elas não apóiam. parte de órgãos ambientais pode ser um dos caminhos Os campeonatos deveriam ser mais valorizados e ‘abraçados’ pelo empresa- para diminuir esse problema. “Há incêndios que são riado local. Espero que com as próximas reuniões e tentativas essa situação de causas naturais, como os raios, resultado de des- dos campeonatos seja resolvida”, almeja. De acordo com o presidente da cargas elétricas. Há outros ocasionados pelo homem, AVVL, o custo total do campeonato é de aproximadamente R$ 135 mil. de forma acidental ou criminosa. Os que acontecem Queimadas: fauna e flora pedem socorro Não somente a falta de infra-estrutura básica ou o pouco incentivo fiscal aos empreendedores locais dificultam o desenvolvimento do turis- por aqui causam danos somente ao meio ambiente, por isso, punir quem pratica essa ação de forma criminosa pode ser uma das saídas para se amenizar um pouco as agressões ao meio ambiente”, conclui. Extinção de espécies O orquidófilo autodidata e diretor cultural da mo no Pico da Ibituruna. Fatores como degradação Sociedade Orquidófila Valadarense (Soval), Reginal- do meio ambiente, principalmente as queimadas, do de Vasconcelos Leitão, 27 anos, também afirma podem pôr em risco as belezas naturais do local e, estar preocupado com a atual situação ambiental consequentemente, o Pico enquanto ponto turístico. da Ibituruna, principalmente devido às queimadas. De acordo com um levantamento feito pelo Corpo Segundo ele, espécies raras da fauna e também da de Bombeiros, no ano passado foram registradas flora, como as bromélias e orquídeas, correm o risco 26 ocorrências de incêndio florestal (mata/pasto) de desaparecer. Ele afirma que, há algum tempo, eram nos meses de julho, agosto e setembro. Neste ano, cerca de 100 espécies de orquídeas e 50 de bromélias foram registradas 38 ocorrências apenas em agos- catalogadas. Atualmente, esses números caíram para to, e até o mês de setembro mais cinco. De acordo uma média de 30 e 25, respectivamente. com a entidade, no mês de outubro, ainda não havia “As orquídeas são as espécies que mais sofrem sido registrada nenhuma ocorrência de incêndios no com isso, pois têm maior dificuldade de se reproduzi- local, graças ao período chuvoso, que vai até o mês rem do que as bromélias. Eu tenho uma ‘dívida’ com a de fevereiro. As principais causas do fogo desordena- Ibituruna e amo muito a sua biodiversidade, por isso do, segundo o Corpo de Bombeiros, são as queimadas faço esse alerta sobre a extinção dessas espécies. nos pastos, feitas por donos de propriedades rurais e Acredito que temos que fazer algo rapidamente para que avançam fortemente por grande parte da mata. não perdermos aquelas preciosidades”. Em setembro deste ano, o Pico da Ibituruna De acordo com Leitão, na queimada ocorrida teve uma das maiores queimadas da sua história, no local em setembro deste ano, as orquídeas foram consumindo uma área equivalente a 60 campos as mais prejudicadas, principalmente, porque gran- de futebol. As chamas se alastraram rapidamente de parte dos exemplares estava situada na parte por causa do vento forte e do mato bastante seco. onde ocorreu o incêndio de forma mais duradoura e As causas deste incêndio ainda são desconhecidas. intensa e também porque as plantas estavam em “É fase de florescimento. y lamentável o que ocorre na Ibituruna. 9 S O C I E DA D E • Girô Quando elas ficam Texto: Bárbara Freitas [barbara.jorn alismo@hotm ail.com] Pesquisa revela que religião, remédios e traição são algumas das saídas encontradas pelas esposas dos imigrantes para driblar o desejo sexual, a solidão e a saudade do companheiro que parte para o exterior em busca de uma vida melhor para a família 10 O amor é alimentado através da convivência que geram laços de confiança. Mas, e quando a pessoa com quem vivemos precisa se mudar para outro país para garantir uma vida economicamente estável para a família? Como as esposas de migrantes Minas Gerais (FAPEMIG). A proposta era conhecer a realidade vivida por se sentem em relação à vida sexual após a partida mulheres que possuem os maridos no exterior, focando o modo como vivem do marido? Para responder a essa questão, o Grupo sua sexualidade, identificando as mudanças psíquicas e sociais geradas pelo de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS), isolamento sexual. Ao todo, foram entrevistadas 247 mulheres e quatro da Universidade Vale do Rio Doce (Univale), de- anos de investigação científica. senvolveu a pesquisa Impactos da emigração sobre Joana Miranda Silva* tem 37 anos, dois filhos e há cinco anos a sexualidade da esposa do emigrante, financiada seu marido migrou para os Estados Unidos pela segunda vez. Na primei- pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de ra vez, ficou por dois anos e teve de retornar quando a família começou a passar por dificuldades financeiras. De lá, ele manda dinheiro para “Para matar a saudade eu comecei a fazer aulas de dança, para inibir meu desejo, tomei muitos remédios. É complicado você estar com alguém que, ao mesmo tempo, está longe de você.” as despesas mensais da família. A meta do casal é comprar uma casa e montar um comércio para que no futuro a separação não seja novamente necessária. “Sinto falta do meu marido; é uma situação muitíssimo difícil. Parece comum, mas é um assunto delicado que não gosto de ficar falando. Para matar a saudade eu comecei a fazer aulas de dança, para inibir meu desejo, tomei muitos remédios. É complicado você estar com alguém que, ao mesmo tempo, está longe de você”, desabafa. O meio de comunicação mais usado pelo casal é o MSN, programa Já a dona de casa Tânia Vasconcelos de mensagens instantâneas. Todos os dias, às 20 horas, eles discutem pela Gusmão* se apegou mais à família e à religião para Internet os problemas normais que toda família tem, mas também falam superar a falta do esposo. Ela não trabalha fora e, de amor e da saudade. “Acabo me sentindo muito sozinha, não conversando para se distrair, passa boa parte do dia na Igreja. com as pessoas para evitar fofocas. Afinal, sou uma mulher casada e não “Um grande presente foi minha neta. Ela tem um quero que pensem que o fato do meu marido estar fora influencia em algo”, ano e é uma benção na vida da minha família, ajuda argumenta Joana. a diminuir a ausência do meu marido. Superar e não sentir falta é impossível. Ele foi para poder nos “Ele foi para poder nos proporcionar uma vida melhor para nós e, por isso, espero por ele.” proporcionar uma vida melhor para nós e, por isso, espero por ele. Este ano João volta e vamos viver todos juntos de novo”, garante. Resultado da pesquisa “Impactos da emigração sobre a sexualidade da esposa do emigrante” Ao todo, 247 mulheres foram entrevistadas 49,4% Simplesmente ignoram o fato (desejo sexual) 44,7% Ás vezes tem desejo sexual 29,6% O auto-erotismo 15% 12,6% Tomam remédios para inibir o apetite sexual Sexo por telefone 4% Mulheres que traem 2% A religião é válvula de escape Estudo desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa Saúde, Indivíduo e Sociedade (SAIS), da Univale, sob a coordenação do Prof. Dr. Carlos Alberto Dias. A pesquisa foi financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG). 11 “O fato de o marido estar no exterior tende a melhorar a vida econômica da família e, por isso, durante o período em que o marido continua ausente, esposa e filhos deixam de viver qualquer tipo de restrições financeiras. Por outro lado, se a família adquire uma situação financeira confortável o mesmo não ocorre com o que se refere aos aspectos afetivos”, explica o professor e psicólogo “No início me sentia muito mal em traí-lo, chorava, sabia que estava fazendo algo errado, mas hoje já não enxergo as coisas desta maneira. O que mais me incentivou foi descobrir que ele me traía lá.” da Univale. Ele ressalta que a religião para as mulheres, muitas vezes, é uma forma que encontram para vivenciar alguma atividade social que seja aceita pela própria família, quanto pela do parceiro. Com essa vivência social conseguem um pouco de apoio e compreensão para o que estão vivendo; configura-se como uma fonte de inspiração ou fonte de energia para continuarem sobrevivendo. 12 “Imagine-se em um parque de diversão onde todos os brinquedos estão desligados por faltar energia, não tem ninguém que lhe faça companhia, que faz muito frio, você está com muita fome e não sabe como sair da situação.’ O pesquisador evidencia que, desde a infância somos incentivados a seguir os passos de Cristo, baseados na frase “Cada um deve carregar sua cruz”, o que explica muitos comportamentos das mulheres entrevistadas. “Quando o marido mora no exterior a esposa passa a ter sentimentos de menos valia. É como se o ser dela deixasse de existir pela distância e, muitas vezes, pelo descuido do parceiro em relação à situação em que ela fica aqui Para tentar exemplificar o universo de solidão e isolamento social pelo qual passam as esposas dos migrantes dos, o professor faz uma comparação da situação com um parque de diversão desativado. “Imagine-se em um parque de diversão onde todos os brinquedos estão desligados por faltar energia, não tem ninguém que lhe faça companhia, que faz muito frio, você está com muita fome e não sabe como sair da situação”. Maria de Jesus Cordeiro*, 45 anos, faz parte dos 2% da pesquisa das mulheres que traem o marido. Sentia falta não só das relações sexuais, mas de uma pessoa que estivesse com ela para dividir alegrias e tristezas. “Acabei traindo meu marido por vários motivos. Sentia falta de alguém que me desse um carinho diferente, de homem mesmo. Meu casamento hoje dura porque há interesse econômico e não quero que a família dele interfira na minha decisão. É complicado ele lá nos Estados Unidos e eu aqui no Brasil criando nossos filhos sozinha”, lamenta. Maria explica que gosta do esposo, mas um relacionamento à distancia é arriscado. Mesmo que haja amor, muitas vezes, o desejo fala mais alto. “No início me sentia muito mal em traí-lo, chorava, sabia que estava fazendo algo errado, mas hoje já não enxergo as coisas desta maneira. O que mais me incentivou foi descobrir que ele me traía lá”, relata. O coordenador da pesquisa conclui que, embora o casal deva, a partir do casamento, buscar meios para estar sempre junto, em função de oferecer a si mesmos e aos filhos melhores condições de vida, inúmeras mulheres se vêem obrigadas a viverem distantes do marido. Existem, é claro, vários casais que consideram importante que a mulher permaneça no país para que ela administre e invista o dinheiro enviado do exterior pelo marido. y no Brasil. As pessoas se casam ou passam a viver juntas acreditando que isto garantirá a presença do outro, bem como inúmeras oportunidades de vivenciar momentos agradáveis e intensos juntos”. * Para resguardar o anonimato das mulheres envolvidas na pesquisa utilizamos nomes fictícios. CRÔNica Carlos Albuquerque • TEXTO: Girô Formar... transformar [calbuquerquegv@hotm ail.com] De quatro em quatro anos, de cinco em cinco, de três em três... Depende do curso. A cada vestibular, os aprovados formam uma nova turma. No fim do curso, essa mesma turma se forma outra vez. “O mestre de cerimônias chama-se Tempo. Preste bastante atenção: quando ele chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos.” E assim, o verbo formar tem emprego garantido, tanto na entrada como na saída do estudante da faculdade. E não é que a vida é uma sequência de formaturas? O bebê recém-nascido começou a se formar nove meses antes, quando um espermatozóide simples como formar um jornalista, um médico ou um advogado? Não dá para fazer artigo científico ou monografia sobre a profissão de pai ou mãe sem que se passe pela fase da adolescência. Haja bibliografia, haja re- valente venceu a corrida e se encontrou com um óvulo gras para ser descartadas, substituídas, reinventadas. Normas da ABNT? e os dois formaram um ovo, que virou embrião e... você De nada valem. Dicas da revista Nova, da Pais e Filhos, do programa de TV sabe. Aliás, essa brincadeira começou mesmo mais da Super Nanny? Já não é mais bibliografia, é multimidiografia. E, mesmo cedo, quando homem e mulher formaram um casal, assim, sempre vem a conclusão de que é cedo para entregar o diploma aos que se acertou na cama e deu no que deu! pobres pai e mãe. E mais cedo ainda para entregar o canudo para os filhos. “Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou isso que a gente é.”” Ao passar da infância para a adolescência e, daí, para a fase adulta, o homo sapiens participa de algumas formaturas na escola. As fotos não deixam mentir: formatura na educação infantil, no ensino fundamental, no ensino médio, na faculdade. Assim caminha o formando! Nessa espécie de existencialismo Depois do nascimento, começa um processo gerundista. Está sempre indo, ensinando e aprendendo, conquistando, que vai acabar também em formatura! Pai e mãe decepcionando-se, surpreendendo-se. E acaba por se formar várias de primeira viagem aprendem, em pleno voo, a vezes, sem solenidades. Ou você se lembra com precisão do dia e da hora pilotar esse avião, chamado família. Meu Deus! da formatura dessa pessoa aí, que as outras pessoas chamam de você? É menino querendo mamar, a chorar, a espernear, Em algum instante, o verbo formar ganhou o prefixo trans e a gente virou aprendendo a falar, caindo para aprender a andar. isso que a gente é. Ainda hoje, às 8h32min, ou amanhã, às 11h25min, ou E aí, pronto! Quatro anos se passaram, cinco, seis, quem sabe, exatamente agora, você pode estar colando grau. O mestre sete... E o diploma? Não vão entregar para os pais? de cerimônias chama-se Tempo. Preste bastante atenção: quando ele Nada disso! Está pensando que formar um filho é chamar o seu nome, suba ao palco e saboreie os aplausos. y 13 COTIDIANO • Girô Pérolas da Comunidade ILUSTRAÇÕES: Abraão Barbosa “ Nossa, mas você está tão mais 14 “POSSO COMER UMA ?” jovem nessa foto! Você fez um ‘workshop’ ?” Eleitor para um candidato a deputado ROSQUINHA estadual das eleições 2010 no momento em que este entregava santinhos. Dúvida de uma testemunha de um júri popular em Governador Valadares após o Juiz apresentar os detalhes do funcionamento da sessão. ? “ - Nossa! Cheirou um trem bão, hein Um trem gostoso doce, com banana, parece. - Um pão, né?! - Não! Pão, né não - Podia ser novidade pra degustação. Ali tem direto. ! ” Conversa entre dois pedreiros enquanto terminavam, lentamente, o acabamento da calçada de uma farmácia na Ilha dos Araújos localizada em frente a uma padaria. “Ôh, mãe, de que ?” parte do boi vem a carne moída Filha no supermercado após pedido da mãe ao atendente. “ - Comadre, faz tempo que o seu marido está nos Estados Unidos, né? - Sim, faz cinco anos. Ele foi para lá tentar dar uma vida melhor pra família. - E ele já conseguiu melhorar a vida da família, comadre? - Já sim. Conseguiu melhorar a vida da outra família que ele arrumou lá. ” Conversa entre duas amigas, em alto e bom som, durante o trajeto do ônibus. “ Eu acho que o !” Mourão vai ganhar Afirmação categórica de um menino aparentando seis anos em conversa com a mãe que caminhava no calçadão “ da Ilha dos Araújos enquanto ele a Da mesma forma que o Juiz não é punido quando marca e não comparece para a audiência, nós também não devíamos ser. Se aqui é o local da justiça, tem que ser justo, uai ?” Homem para seu colega enquanto esperavam ser chamados para audiência no Juizado Especial Cível de Governador Valadares. 15 acompanhava de bicicleta. “Olha, mãe, Partido Verde, Menino aparentando oito Marina !” anos na garupa da bicicleta de sua mãe ao ver um adesivo no para-choque de um carro na rua com os dizeres “43 Partido Verde”. “ - Ele terminou comigo. Disse: - ‘Você é muito boa, prendada, é menina pra casar, mas não dá pra continuar. Esse meu trabalho de ficar viajando, ficando longe com frequência, não vai dar certo. É melhor parar por aqui. Agradeço a pessoa prestativa e boa que você é, mas não dá.’ - Mas tudo bem, amiga! Bola pra frente que atrás vem gente. Vou começar a ‘distribuir currículo’. Tô tranqüila! Tá doendo, mas vai passar. Mas não me chame pra sair porque não quero ver ele. Vou deixar passar pra depois começar de novo. ” Moça ao celular em conversa com uma amiga enquanto aguardava a fila quilométrica do banco. ECONOMIA • Girô Aluguel nas Alturas Texto: Ana Eliza Oliveira [[email protected]] Número reduzido de imóveis comerciais para aluguel na área central da cidade faz preços subirem. Localização estratégica, tamanho e potencial de rentabilidade são os principais elementos que definem o preço 16 + Vivian Cangussú [[email protected]] “O preço de compra dos imóveis comerciais na região central de Valadares é muito caro. Por isso, os donos, geralmente empresários que investem no ramo, alugam o ponto por um Considerada cidade pólo do Leste de Minas Gerais, Governador preço mais elevado,” explica o delegado do Valadares sempre foi famosa por possuir um centro comercial de envergadura Conselho Regional dos Corretores de Imóveis, considerável. Mas, nos últimos anos, devido a várias empresas fecharem Edison de Paula Brandão. suas filiais na cidade, imóveis comerciais de grande porte acabaram De acordo com informações da Segurança desocupados. Por serem grandes e poucos no mercado imobiliário, o Imóveis, na imobiliária existem cadastrados ape- resultado já era previsto pelos economistas: os preços dispararam. nas meia dúzia de aluguéis com preços elevados. “O Estima-se que a cidade tenha cerca de 1.500 imóveis comerciais maior imóvel que possuímos é de 890 m² e o pro- disponíveis para locação. O valor cobrado pelo aluguel, segundo o Conselho prietário não aluga por menos de R$ 20 mil. Apesar Regional de Corretores de Imóveis de Minas Gerais (Creci/MG), depende de ter aparecido algumas propostas, falta negociação de fatores primordiais como a localidade do ponto, o tamanho e a rentabi- entre as partes”, afirma o proprietário da imobiliá- lidade que o imóvel pode gerar ao locatário. ria, Paulo Tadeu Cabral. Em Valadares, as áreas mais valorizadas comercialmente no Cen- Mas será que os valores cobrados pelos tro se localizam na Avenida Minas Gerais e nas Ruas Israel Pinheiro e aluguéis condizem com a realidade dos comercian- São Paulo. Nesses locais podem ser encontrados imóveis com preços que tes? A gerente de uma loja de artigos fotográfi- variam de R$ 2 mil a R$ 20 mil. Este, trata-se de um ponto comercial de cos localizada na Avenida Minas Gerais, Selenita 890 m², composto de loja e sobreloja, na Rua Israel Pinheiro. Na Rua São Fernandes, afirma que “apesar da loja ter uma Paulo, outro imóvel é ofertado ao preço de R$ 15 mil. boa localização, o preço do aluguel é muito alto”. Alguns pontos residenciais também apresen- O economista Flávio Augusto Guilherme Júnior tam valores de aluguéis elevados. Na Avenida Brasil, compartilha da afirmação de Selenita. “Os valores por exemplo, uma casa com piscina é ofertada por destes imóveis comerciais no Centro são muito altos R$ 2.800. No bairro Esplanada, há aluguéis residenciais devido às suas características e das empresas que os no valor de R$ 6 mil. Porém, devido ao preço cobra- alugam. Mas, levando em conta a pouca oferta do do pelos proprietários, em muitos casos, o ponto mercado, eles podem alcançar valores ainda mais comercial fica fechado por meses ou até mesmo, elevados”, analisa. por anos. FOTOS: Sam uel Ribeiro Muito nas mãos de poucos Milton Mariano é advogado e tem 20 imóveis comerciais de aluguel, entre salas e lojas, todos na área central de Governador Valadares. Na Rua Peçanha são dois em pontos estratégicos: em um deles está localizada a “Boroto Calçados” e no outro a “Itapuã Calçados”. Já no Edifício Fabíola Coelho, na Rua Bárbara Heliodora, são 18 salas comercias. O aluguel das salas varia de R$ 220 a R$ 250, sendo mais barato os de frente para o sol. O valor aproximado de cada sala comercial é de R$ 40 mil. Além do advogado, outros moradores da cidade concentram um grande número de imóveis. João Marcos* sempre morou em Governador Valadares. Percebendo a oportunidade de negócios na No Centro, é possível encontrar vários pontos comerciais à espera de locatários; alguns ficam fechados por meses, ou até anos área de locação de imóveis, desde cedo, começou a investir no setor. Hoje, possui cerca de 30 imóveis, entre apartamentos e casas. Desses, apenas dois estão desocupados. A maioria dos imóveis está localizada nos Bairros de Lourdes e Grã Duquesa. Os valores dos aluguéis variam de R$ 350 a R$ 550, gerando para João Marcos uma renda mensal de aproximadamente R$ 15 mil. Para o proprietário da Perim Imóveis, Fausto Perim Monte Alto, apesar de alguns aluguéis terem um preço elevado, o valor de retorno dessas locações não tem sido satisfatórios. Isso tem ocorrido porque Valadares apresenta uma grande oferta de imóveis. “Isso pode ser ruim para a economia da cidade porque os preços só têm caído. A longo prazo, as pessoas podem parar de investir no setor”, analisa. y *A pedido da fonte que não quis se identificar, utilizamos nome fictício. Esquina da Avenida Minas Gerais com a Rua Marechal Floriano, uma das áreas centrais da cidade mais valorizadas comercialmente 17 e n t r e v i s ta • TEXTO: Migração FOTOS: Leon ardo Morais / ACS Univ ale Girô Senhora Carlos Albuquerque [calbuquerquegv@hotm ail.com] Darlisson Dutra [darlisson andre@hotm ail.com] Kaio Henrique [kaio.jorn al@hotm ail.com] Há quanto tempo você estuda o tema da imigração e por que? Meu primeiro trabalho sobre imigração foi em 1998. Cheguei a resistir a pesquisar esse tema, tanto que minha dissertação de mestrado foi sobre as mudanças no setor informal a partir do modelo de reestruturação econômica. Ao fazer esse trabalho, que também foi em toda a microrregião, percebi que grande parte dos novos empreendedores que entrava no setor informal era de imigrantes 18 retornados. Isso me chamou à atenção e comecei a investigar. São cinco artigos apresentados anualmente, quatros livros sobre movimentos imigratórios já publicados, inclusive um deles nos Estados Unidos pela Universidade de Harvard. Nesta entrevista, a revista Girô dará de corpo inteiro aos leitores a pesquisadora e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Desenvolvimento Regional (NEDER), Sueli Siqueira, professora da Univale desde 1979. Em um bate-papo que durou pouco mais de uma hora, a pesquisadora conta histórias de vários brasileiros que encontrou nos EUA, afirma que a imigração dentro do contexto capitalista está atrelada ao consumismo exagerado e pontua que a economia de Valadares nunca dependeu da moeda norte americana. “Cheguei a resistir a pesquisar esse tema.” Tem alguma história em particular que chamou sua atenção nessas pesquisas? Várias! (risos). Algumas eu até relato em um dos meus livros - Sonhos, sucesso e frustrações na emigração de retorno: Brasil/Estados Unidos - outras, nos artigos. Mas, tem uma história muito interessante. Um rapaz me contou que trabalhava muito, em torno de 14 horas por dia, em três empregos e a semana inteira porque ele queria juntar um valor “X” e voltar para o Brasil. Ele juntava o dinheiro, mas não confiava em deixar com ninguém e mandava para a família apenas o necessário para a subsistência. Por não ser documentado, ele achava melhor não abrir uma conta no banco e o dinheiro era escondido em um forno velho que ficava no quarto da casa onde morava. Um dia, chegou uma prima dele do Brasil. Para retribuir o favor de recebê-la, deu uma faxina na casa e resolveu fazer um bolo para ele. Aí, você sabe o que aconteceu, né? (risos). O fogo queimou parte da casa, mas para ele, a maior tragédia era ter perdido um valor que havia juntado há quatro anos. Ele acabou não voltando para o Brasil e teve que ficar mais tempo lá pra tentar recuperar tudo novamente. Você se tornou fonte nacional e internacional quando a questão é movimento migratório. Como avalia esse “assédio” midiático? É uma boa oportunidade, principalmente com jornalistas internacionais, para esclarecer coisas que a mídia publica de uma forma não muito clara e de maneira sensacionalista. Eu busco sempre fazer a correção da ideia do imigrante como o “ilegal”. Na verdade, ele é um trabalhador que vai em busca de condições de trabalho que são desigualmente distribuídas no mundo, principalmente dentro desse processo de capitalismo avançado. A visão é de que os imigrantes são miseráveis, de que eles saem do país de origem por causa das condições precárias. Na verdade, eles vão em busca do consumo, que é disseminado exatamente pelos países mais ricos, para Há tempos, percebe-se a diminuição no fluxo imigratório para os EUA. Qual a razão dessa queda? Não é a fiscalização na fronteira, nem a fiscalização da imigração dentro dos Estados Unidos, mas a queda do custo-benefício da imigração, como as baixas no valor do dólar e a redução do valor da hora de trabalho. A crise econômica reduziu a atividade no setor secundário, principalmente na construção civil e, por isso, a demanda para a mão-de-obra é menor. onde eles acabam indo, porque lá existe um mercado de trabalho secundário que possibilita ganhar dinheiro e, principalmente, porque se cria a ideia de que é possível ganhar muito dinheiro, mas apenas alguns conseguem. No imaginário popular, a conquista dos sonhos de forma rápida é através da imigração, inicialmente para os EUA e, atualmente, para a Europa. “O processo de imigração representado pela mídia não corresponde com a realidade.” 19 E qual a sua avaliação quanto à cobertura jornalística sobre a imigração? Continuamente é colocada na mídia, e às vezes em trabalhos acadêmicos, a ideia de que os americanos que vieram para cá na década de 1940 foram os que levaram os primeiros valadarenses para os EUA. Fiz uma pesquisa exatamente com os 17 primeiros imigrantes que foram aos Estados Unidos trabalhar e não há nenhum relato de imigrantes que foram para lá na década de 1940 levados por norte-americanos. Inclusive, eu entrevistei famílias de alguns americanos que estiveram aqui há 70 anos e ficou constatado que isso nunca aconteceu. Os valadarenses descobriram Há muita gente que retorna em situação até pior do que estava quando foi? os Estados Unidos há mais ou menos 50 anos, mais precisamente no ano Às vezes, ganha dinheiro, às vezes, não. de 1964. Os primeiros imigrantes eram de classe média, da elite valada- O custo de vida lá é muito alto, mas é preciso que rense. Eram filhos de fazendeiros e comerciantes. O outro erro é de que você domine algumas coisas, como dirigir. Não o imigrante é pobre e vai em busca de sobrevivência. Eles querem muito há possibilidade de trabalhar nos EUA sem saber mais do que isso. Como disse, os imigrantes querem uma inserção no mundo dirigir. Outro aspecto é o desejo de ser um cida- do consumo e nos países desenvolvidos e não querem consumir apenas o dão americano. O imigrante compra uma casa no básico da vida, mas tudo que é de ultima geração. Há também o equívoco de valor muito alto e, daí, começa o consumo para que o país de origem do imigrante é um lugar extremamente pobre. Recebi manter aquela casa e deixa de ter o projeto de recentemente um jornalista alemão da revista Der Spiegel que ficou admi- retorno para o Brasil e faz menos poupança. Acaba rado quando chegou aqui. Achou a cidade grande e pensava que Valadares que ele se endivida muito. Eu conheci pessoas lá, era pequena e sem emprego. O processo de imigração representado pela documentadas, com grandes lojas no centro de mídia não corresponde com a realidade. Por último, a mídia internacional Framingham, mas voltaram a ser faxineira depois se equivoca ao relacionar o imigrante ao terrorismo. Todos que fizeram de 20 anos porque entrou nessa “ciranda” de terrorismo não eram trabalhadores, pelo contrário, eram documentados. financiamento e acabou falindo. “O desejo de todos os imigrantes é de voltar. “ Muita gente diz que, sem os dólares americanos, Governador Valadares quebraria. Pelas pesquisas que fez, é possível comprovar isso? Muita gente ganhou dinheiro com os dólares, mas a economia de Valadares nunca foi sustentada pela moeda americana. É um dinheiro que circulava na economia, mas não de forma produtiva. A construção civil na Como o migrante se sente quando retorna ao seu local de origem? cidade foi o único seguimento que teve investimentos consideráveis. Isso O desejo de todos os imigrantes é de voltar. deu uma movimentação na economia local, mas totalmente ilusória porque Só que esse retorno, para alguns, sempre é adia- nenhum ciclo econômico se mantém com remessas dessa natureza. do porque ele não consegue se encaixar aqui [em seu lugar de origem]. Como a pessoa volta para trabalhar e recebe só no final do mês, sendo que “Muita gente ganhou dinheiro com os dólares, mas a economia de Valadares nunca foi sustentada pela moeda americana. “ lá ela recebe semanalmente ou por dia? Durante esse tempo ele começa a reconstruir no imaginário a ideia do seu local de origem: a cidade é linda, o aconchego do lar que é tudo de bom, a cerveja no fim de semana com os amigos, as festas e etc. Mas, ele esquece que havia atritos. Aí, quando 20 “Muros podem ser levantados, cercas elétricas podem ser colocadas, podem exigir o visto, mas sempre vão ser descobertas novas rotas. “ volta, aquilo que construiu lá em cinco ou dez anos ele não encontra aqui. A pessoa vive 40 anos em Valadares e cinco nos EUA e reclama, por exemplo, do calor, das folhas na rua, já consideradas por ela como sujeira. Então, começa esse estranhamento do local de origem. Aí, o imigrante retornado sente o desejo de voltar para o estrangeiro. Você acredita que há uma forma de impedir a entrada desses imigrantes ilegais? Muros podem ser levantados, cercas elétricas podem ser colocadas, podem exigir o visto, mas “Só que esse retorno, para alguns, sempre é adiado porque ele não consegue se encaixar aqui .“ sempre vão ser descobertas novas rotas. Isso não vai impedir as pessoas de entrarem. O estímulo ao consumo e as impossibilidades de atender a essa E qual é o impacto da migração na estrutura familiar? demanda no local, leva o sujeito a fazer essa aventura. Tem um pesquisador que diz que o migrante pode voltar para o Ao longo desses 50 anos,os imigrantes formaram redes mesmo local, mas ele não volta para o mesmo tempo de partida, porque sociais em que parte das famílias está lá e outra teve outras experiências. Por mais que ele acompanhe a família pela aqui, e criam à cultura da imigração: é uma ideia de internet e fale ao telefone todos os dias com os filhos, essa relação não é que através da imigração pode-se acessar bens de a mesma do cotidiano, do “estar junto”. Então, quando ele chega aqui não consumo muito mais rápido e que os problemas eco- recebe o abraço esperado da filha porque é um estranho para ela. Alguns nômicos podem ser resolvidos por esse movimento. conseguem contornar e se readaptar, mas outros não. Vivem sem poder voltar e idealizando os EUA e negativando seu local de origem, o que traz muita infelicidade e doenças psicossomáticas, como a Síndrome do Pânico, que é bastante comum em função desse estranhamento. É mito dizer que o Brasil recebe os imigrantes de braços abertos? Depende. Recebe de braços abertos quem? Os alemães, italianos, americanos e todos de países ricos sim. Mas olha o que acontece com os colombianos e bolivianos em São Paulo. Eles são explorados, ganham um real por dia nas fábricas de costura e dormem em cima dos fardos de tecido. “Dificilmente a violência influencia.“ “O migrante é sujeito estranho, principalmente se vem de países mais pobres.” Em agosto deste ano duas pessoas de Sardoá e Santa Efigência de Minas foram mortas em um massacre na fronteira do México com os EUA quando tentavam imigrar. Até que ponto a violência na fronteira influencia no processo imigratório? Não influencia. As pessoas de Sardoá, por um tempo, vão deixar de migrar. Mas, logo, o fluxo continua o mesmo, se for vantajoso. Dificilmente a violência influencia. Eu tenho o relato de uma mulher que foi estuprada por um “coiote” quando atravessou a fronteira pela primeira vez. Ela vol- Os imigrantes mudaram a rota: dos Estados Unidos para a Europa. Por que? A América do Norte já não é mais viável. tou para o Brasil e, depois de oito anos, atravessou novamente a fronteira. Ela sabia do risco? Sim, mas o desejo de estar nesse mundo do consumo é maior do que o medo. Para a Europa há uma perspectiva diferente: ir para não ficar mais de cinco anos, trabalhar, juntar dinheiro e voltar correndo. O imigrante que vai para Inglaterra ou para o Reino Unido, por exemplo, não precisa de visto, pega uma permis- “(..) o desejo de estar nesse mundo do consumo é maior do que o medo.” são de estudante e vai com a intenção de estudar. Lá, ele pode trabalhar quatro horas e estudar mais quatro. Muitos acabam deixando o estudo e trabalham. Já para Portugal, migram porque a língua é mais fácil e as relações são mais tranquilas, mas são discriminados da mesma forma do que nos EUA. O migrante é sujeito estranho, principalmente se vem de países mais pobres. Para terminar, você está com alguma pesquisa atualmente em desenvolvimento? Várias. Tenho uma sobre o movimento imigratório dos descendentes de italianos da cidade de Aimorés para a Europa. Outra sobre o empoderamento das mulheres que aqui permanecem quando os maridos migram. Nessa condição, elas passam a ter visibilidade pública porque antes de eles migrarem elas não resolviam assuntos de bancos nem administravam a casa. Então, elas se tornam provedoras. A pesquisa mostra que se há um impacto para quem vai também há para quem fica. Temos também um outro estudo que discute como a mídia tem tratado a questão da imigração, fazendo uma análise do discurso midiático. y 21 I nterc â m b io C u l t u ra l Um novo mundo no velho Maurício Cancilieri FOTOS: Arquivo pessoal [m auricioc225@hotm ail.com] Mundo Girô • TEXTO: 22 Nunca tinha visto o mundo mudar de cor. Nem achava que isso fosse possível. Mas é. Aconteceu quando desembarquei no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, na tarde do dia 26 de janeiro de 2010. Eu havia deixado um Brasil de paisagem tão plural e me vi em cima de um asfalto coberto apenas de branco. Foi estranho, confesso. Era só neve, carros, gente, metal, vidro e alguns tratores puxando o gelo. Aquilo tudo tinha uma beleza também, até então desconhecida pra mim. Além disso, eu precisava cumprir o meu objetivo: pesquisar um pouco da cultura e da imprensa do país. Quem me buscou no Flughafen (aeroporto - todo substantivo em alemão é escrito com letra maiúscula) foi o Sr. Heinz Siebenbrock, professor de economia da universidade de Bochum, no estado da Vestfália, bem ao norte da Alemanha. Ele mora em um distrito chamado Drensteinfurt, onde me hospedei, bem perto de Münster, uma das cidades pólo da região, como Governador Valadares. Só com uma diferença básica: a idade. A diocese de lá, por exemplo, tem 1.200 anos. Nasceu praticamente junto com o município. A nossa, ao contrário, tem 54 anos. Muito jovem para os europeus, conhecidos por morarem no “Velho Continente”, onde a história da humanidade começou. Münster, uma das cidades pólo da região, como Governador Valadares Portão de Brandemburgo, símbolo da cidade de Berlim O primeiro contato Nas minhas leituras, eu sempre tinha encontrado informações sobre o perfil dos alemães. Ou seja, o modo como vivem, gostam de ser tratados etc. Pessoalmente, no entanto, tudo muda. A tendência é agir como se você estivesse na sua casa, no seu país. Foi assim comigo. Na primeira noite, eu já chamava todos de “tu”, o que, para os padrões do país, é certa falta de educação. O correto é tratar por “Senhor” ou “Senhora” (Sie) seguido do sobrenome. Convenhamos, soa estranho para um brasileiro, não é? Minha reação era quase sempre de pedir desculpa depois. Mas eles entendiam o momento de transição pelo qual eu passava. Tinham paciência. Amém! A comida já não estranhei muito. Sabia que não encontraria nem arroz nem feijão. Na Alemanha, come-se muita batata cozida, assada, frita etc. É a chamada Kartoffel. Por sinal, gostei bastante. Principalmente quando faziam com um bife de porco empanado (Schniztel). Tem ainda uma variedade imensa de linguiças, presuntos e salsichas. Eles adoram. No mais, os alemães leem muito. Percebi isso de cara. Todo mundo fica com um livro ou uma revista nas mãos dentro do trem ou em qualquer lugar. Até andando. Televisão eles também assistem, claro. Mas os canais não apresentam campanhas publicitárias o dia todo. Há um horário específico e muitos detestam. Querem ter acesso à programação da TV na íntegra, sem interrupções. Em Drensteifurt visitei dois jornais, o Anzeiger e Dreingau. As coisas são bem parecidas com o Brasil e a realidade de Governador Valadares. São lugares de médio porte, equipe reduzida e muita neve para noticiar. Pelo menos entre dezembro e meados de março. Maurício Cancilieri no Muro de Berlim Jornalismo alemão Eu tinha muitas ideias e convicções sobre o que era notícia. Estava acostumado aos acidentes, aos problemas dos bairros, às queixas relacionadas à Prefeitura, até aos escândalos. Lá, fui surpreendido, principalmente com a valorização de fatos corriqueiros, nada fora do comum, com personagens comuns. A imprensa alemã, nesse caso a local, observa a rotina da comunidade e mostra o que ela faz. Mas não podemos nos iludir. Os europeus não têm muitos dos nossos problemas, não passam pelas mesmas dificuldades. Portanto, é natural mesmo perceber essa diferença. E isso não significa que o jornalismo brasileiro não valorize os acontecimentos,digamos,de“pequenas”proporções. O fato é que, na hora de selecionar o que entra em um jornal, há critérios de noticiabilidade que precisam ser levados em conta. E tem mais. Na Alemanha, a imprensa gosta bastante de se envolver na política. É difícil de veicularem acidentes, coisas trágicas. Sabe por quê? Porque quase não acontecem. Nunca vou me esquecer de uma matéria sobre um galho de árvore que havia caído no carro de uma mulher. O capô só trincou. Nem vi direito a rachadura. O jornal mostrou aquilo como se fosse um absurdo. E era mesmo. Para eles era. Não costumam ver todo dia. Jornais, rádio e TV Na TV é que vieram várias surpresas. Não há mais operadores de câmera de estúdio. Tudo é feito por quem está no “master”. Eles usam controle remoto para redirecionar a lente e ajustar o foco. Além disso, a tecnologia, naturalmente, é toda digital, desde os monitores à transmissão. A aparelhagem é um show! Na Rádio, é a mesma coisa. E ainda gravam novelas lá. Tem um tapete cheio de pedras embaixo e vários objetos para fazer sons típicos e adequados a cada história. Fora isso, os jornalistas se reúnem inúmeras vezes separadamente, em grupos de dois, dependendo do horário e do volume de serviço e, em seguida, fazem um encontro com o chefe para decidir o que vai ao ar ou não. Em coberturas mais complexas e previsíveis, o agendamento é com, no mínimo, três semanas de antecedência. Outro detalhe: na Alemanha, ainda existem os redatores. Eles auxiliam o trabalho da edição e, claro, contribuem substancialmente para agilizar o trabalho de todo mundo. Fiz o estágio na sucursal do Westälische Nachrichten, em Drensteinfurt, em um escritório modesto. Também fui à sede deles, em Münster. O lugar é perfeito. Redação grande, diversificada e silenciosa. A construção de dois andares, além de abrigar todas as editorias, é onde se imprime o jornal. Aliás, essa parte do prédio é gigantesca, cheia de máquinas. 23 Centro de Berlim com Praça de Alexander ao fundo Sede do governo alemão Universidade No fim da segunda semana de Alemanha, eu já havia me adaptado ao clima e aos costumes. Conheci então um rapaz de Drensteinfurt, Dainel Drepper, que estudava jornalismo na Universidade de Dortmund. Ele me convidou para ir até lá e assistir a uma aula. Pegamos o trem no dia seguinte; lá, participei de dois seminários: um sobre jornalismo na internet e o outro sobre cobertura de casos de dopping. No primeiro, o palestrante discutia o papel do blog na grande rede e levantava bandeira ética a respeito do assunto, principalmente pelo fato de nem todo blogueiro ter formação acadêmica em comunicação e falar que publica “notícias”. No segundo, os alunos de cursos das áreas da Saúde e Educação Física fizeram um debate com os de Jornalismo. Naquele mesmo dia, Daniel sugeriu que escrevêssemos um artigo para algum jornal de Dreinsteinfurt. Como o meu idioma me limitava um pouco na escrita, eu falaria o que pensava de um jeito mais fácil, responderia a várias perguntas e, assim, iríamos redigir em parceria uma matéria sobre como um brasileiro vivia e se sentia em Drensteinfurt. Dois jornais compraram a ideia: um regional e outro estadual. As publicações saíram poucos dias depois. Berlim 24 Ah, Berlim!... Eu estava convicto, desde o início da viagem, de que se não fosse a Berlim, não teria ido à Alemanha. Mas a intenção era ir também para conhecer alguns jornalistas e conversar com eles. Consegui. Fiz contato com uma parente da minha professora de alemão que mora na cidade e peguei o famoso Intercity Express, uma espécie de “trem bala”. Pelo menos a velocidade indicada no display do vagão era de 250 km/h. A menina que me hospedou, Cristina, namorava o filho de um homem chamado Wolf Biermann. É um dos artistas mais conhecidos da Alemanha. Protestou contra a antiga República Democrática Alemã, lutou pela queda do Muro, pela reunificação. Dei sorte. Quando cheguei à capital da Alemanha soube que, na noite seguinte, Biermann participaria de um evento na Câmara de Representantes do município (o equivalente ao poder legislativo no Brasil). Ele receberia uma homenagem como cidadão honorário. Festa de Carnaval em Münster Como já era de se esperar, a imprensa começou a se mexer antes disso. Cristina entrou em contato com alguns jornalistas, me apresentou a eles e fomos juntos pra lá. Era um prédio de dois andares, pilastras gigantescas, escadarias com tapetes vermelhos e por aí vai... Nem dava pra ver detalhes do teto de tão amplas as salas. Em uma delas, havia dezenas de fotógrafos, repórteres, câmeras etc. Escutei alguns políticos influentes agradecerem a Biermann por suas atitudes anti separatistas. Falavam rápido, mas dava para entender algumas coisas. O homenageado cantou, declamou poesiais e, ao fim, conversou separadamente e de um jeito bastante informal com alguns repórteres. Descobri, ali, que não haveria qualquer coletiva. Um jornalista me explicou, depois, que isso é bastante comum em Berlim. Cada profissional respeita sua vez e não fica “em cima” do entrevistado fazendo “empurra empurra”. Mas percebi que foi desse jeito também porque o pessoal do impresso não tinha de colocar a notícia no jornal do dia seguinte. Já eram dez horas da noite. Os fotógrafos é que não paravam de mandar imagens pela internet para as redações online. A volta Berlim é uma cidade ao mesmo tempo clássica e moderna. Tem construções monumentais e uma rua imensa que corta o Portão de Brandemburgo e, consequentemente, quase todo município: “Unter den Linden” (debaixo das Linden - esse nome é porque você, literalmente, caminha com as folhas das árvores Linden acima da sua cabeça). Mas eu deixei aquele paraíso com a sensação clara de que os alemães ainda se discriminam no que diz respeito a ser ocidental ou oriental. O lado oriental, que antes de 1989 era um outro país, é considerado por muitos menos desenvolvido, pobre, de gente esquerdista (como se isso fosse um problema). O lado ocidental, ao contrário, elegante, cheio de futuro e pessoas distintas. Vai entender, né?! O muro já caiu, mas o que restou dele e que hoje serve de tela para pintores do mundo inteiro parece, de fato, dividir o país. y Teatro Municipal de Berlim Girô + FOTO: Carlos Magno de Souza* E N S A IO F O TO G R Á F ICO TEXTO • GVda Paz, GVdo Bem [carloseller@gm ail.com] Esse ensaio fotográfico encontrou inspiração no projeto “GV da Paz, GV do Bem”, idealizado pela odontóloga, professora universitária, escritora e poetisa Maria Paulina Freitas Sabbagh. Valadarense, Maria Paulina concebeu a campanha educativa e cultural com o intuito de valorizar a cultura do povo de Governador Valadares, suas habilidades e competências, divulgar a poesia como forma de expressão e buscar valorizar e disseminar a cultura da paz 25 e do bem como princípios de cidadania. Uma das ações da campanha foi o lançamento do livreto “Poemas de Amor para Governador Valadares”, de sua autoria. Somando forças à proposta da campanha, o trabalho fotográfico aqui apresentado lança um olhar sobre Governador Valadares tendo como inspiração o poema Minha Cidade, Minha Terra, de Maria Paulina. *Carlos Magno é repórter fotográfico profissional e graduando em Jornalismo pela Univale. 1 2 3 4 5 MINHA CIDADE MINHA TERRA Minha cidade tem um Rio, Doce. 1 Onde canta o Bem-Te-Vi. Minha cidade tem uma pedra. 2 Que, de qualquer lugar que olho lá de cima. Avisto o céu azul. Minha cidade, minha terra é do bem, é da paz. Minha cidade é tudo de bom. 3 É onde moro. 26 6 4 Valadares, Valadares. Quem é o governador? É o calor! Minha cidade tem pássaros-homens 5 de toda nacionalidade. E como é lindo! O vôo colorido deles no céu é sua maneira de rezarem em silêncio 6 do alto olhando a terra pequena. 7 Minha cidade tem Democrata e bicicletas. 8 Mineiros, brasileiros, americanos. Pedra cristal e turmalina. 7 8 9 9 10 11 Minha cidade tem um sonho a ser construído: Ser limpa e florida. Jardins e espaços de convivência. 10 Memorial do Rio Memorial da pedra: Ibituruna! 11 Nosso passado indígena e nosso futuro cosmopolita. Memorial cultural na Açucareira. 12 Para sempre guardar para as outras gerações. Poemas de amor pela cidade. Horta de fartura nos quintais, 13 12 pão do alimento em toda mesa. Trabalho justo e povo educado. 27 Segurança de valores: solidariedade, saúde e educação. Aqui árabe é amigo de judeu. 14 Há igreja para toda fé. O que vejo, o que sinto, é que aqui é um chão plano e é de paz. Porque tem muita gente boa. 15 Donas Marias e Seus Josés, 13 Joãos e tem também Deivides, Mailcos, Carolaines. GV da paz, GV do bem. E você, vem comigo, meu amigo, nesta canção? Minha cidade, terra do meu coração. 14 Tem um Rio, Doce, onde canta o Bem-Te-Vi. 16 15 16 Pat r i m ô n i o C u l t u r a l • Girô 28 Museu migrante TEXTO + FOTO: Marcella Werner [m arcellawl@hotm ail.com] Tudo começou no ano de 1953, quando o professor italiano Paulo Falta envolvimento comunitário Zappi chegou à Governador Valadares. Ele fundou a biblioteca pública da O acervo do Museu da Cidade possui cidade, que leva o seu nome, e começou a colecionar objetos para um futu- atualmente 1.500 peças, todas advindas de doações ro museu. Eis que, em 1983, o sonho se concretizou. O prefeito da época, de pessoas da cidade e região. Segundo a gerente do José Fernandes, colocou em prática a ideia de Zappi e criou o museu, que Museu, Gabriela de Almeida Figueiredo, as doações teve sua primeira sede no Palácio da Cultura, atual prédio da Secretaria acontecem com frequência e garantem a renovação Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (SMCEL). do Museu. O consultor técnico e responsável pelo Tudo ia bem até que, em pouco tempo, a Prefeitura precisou do setor administrativo do Museu da Cidade, Gideo- espaço e o acervo ficou por um tempo embalado. Em 1990, o presidente ne Malta, explica que o aluguel, três funcionários da Fundação Serviço de Educação e Cultura (Funsec), Antônio Rodrigues efetivos e dois comissionados são mantidos com os Coelho, preocupou-se com o estado de má-conservação no qual os objetos recursos vindos da Secretaria Municipal de Cultura, se encontravam e providenciou um novo local, alugando uma casa no Centro Esporte e Lazer (SMCEL), assim como outras des- da cidade, onde o museu ficou instalado por um período, até sua próxima pesas. O valor destinado pela Prefeitura ao Museu mudança. Ela aconteceu desta vez para a Companhia Açucareira Rio Doce não foi revelado, mas o consultor garante que não é (Cardo), popularmente conhecida por Açucareira. Para os que pensavam o suficiente para custear todas as despesas. Malta que o período migratório do Museu se findara, enganou-se. Até chegar ao pondera que é preciso haver um maior envolvimento atual local onde funciona hoje, na Rua Prudente de Morais, próximo ao da população na renovação e participação no Museu. prédio do Correios, o Museu da Cidade funcionou também no prédio do “Se a população não se envolver, o Museu não vai Centro de Educação Ambiental (CEAM), próximo ao GV Shopping. pra frente. De que adianta mantê-lo?”. Quanto aos projetos para melhorias futuras do Museu da Cidade, a Prefeitura informou que tem analisado algumas propostas, uma delas é informatizar o espaço. Uma das primeiras ações seria digitalizar todas as fotos do acervo no intuito de facilitar a localização e pesquisa do público visitante. O recurso financeiro para tais propostas viriam através de projetos apresentados junto aos principais mecanismos de fomento da área cultural e também através de emendas parlamentares de políticos da região. y MUSEU DA CIDADE Bicicletas Phipis [EUA] - Era usada pela senhora Jandira de Carvalho Soares, funcionária do Serviço de Metrologia de 1944 a 1976. Doação: Marly (filha) Rua Prudente de Morais, 711- Centro. (33) 3271.8560 Funcionamento: Terça a sexta, das 7h às 18h Sábado, das 8h às 13h Gabriel Sobrinho FOTOS: Samuel Ribeiro [gabrielsobrinho77@hotm ail.com] + Lucas Mafra INSTITUCIONAL TEXTO: • a comunidade Girô Univale para [[email protected]] Programa Pólo de Promoção da Cidadania Realiza atendimento interdisciplinar à população de baixa renda ou em situação de risco social e também às instituições sócio-assistenciais que trabalham pela garantia e defesa dos direitos da criança e do adolescente de Governador Valadares, contribuindo para a promoção e defesa da cidadania. Além disso, promove a interação entre ensino, pesquisa e extensão, desenvolve estudos para a difusão, promoção e defesa da cidadania e da democracia. Funcionando desde 2003, o Pólo conta com apoio de professores e alunos dos cursos de Psicologia, Serviço Social e Pedagogia. Informações: (33) 3279-5564 ou [email protected] Projeto Informática e Educação Inclusiva Desde 2005, proporciona o acesso à informática aos alunos da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), aos alunos da Escola Estadual Paulo Campos Guimarães, ao público atendido pelo Centro de Referência e Apoio à Educação Inclusiva (CRAEDI) e membros da Associação de Surdos de Governador Valadares oriundos de famílias de baixa renda. Professores e alunos dos cursos de Sistema de Informação e Direito objetivam com a ação garantir a inclusão digital a esse público, preparando-os para o mercado de trabalho, desenvolvendo afinidades na utilização do computador e elevando a auto-estima dos beneficiados. O Projeto funciona nos laboratórios de informática do Campus I da Univale. Informações: (33) 3279-5570 Escritório de Assistência Jurídica – EAJ Desde 2003, o EAJ presta atendimento jurídico gratuito à população que não tem condições de arcar com os custos de um advogado. Ao procurar o escritório, as pessoas são entrevistadas e, em seguida, começam a receber o atendimento jurídico prestado pelos professores e alunos do curso de Direito. O EAJ funciona no Campus II. Informações: (33) 3279-5922 / 3279-5542 ou [email protected] 29 Projeto Levantamento Elétrico para Instituições Carentes O objetivo do projeto é promover melhorias e garantir a segurança nas instalações elétricas das instituições filantrópicas da cidade.As instalações e reparos feitos pelos alunos do curso de Engenharia Elétrica passam a atender os requisitos da NR-10 (Norma Regulamentadora de Instalações Elétricas). Após o diagnóstico feito pelos professores engenheiros é analisado o custo para os reparos das instalações elétricas e todas as despesas são pagas pelos parceiros do projeto: VALE, Cemig e Mundo Elétrico. Informações: (33) 3279-5548 ou [email protected] Ambulatório de Lesões Dermatológicas Desde 2004, o ambulatório presta atendimento bio-psicosocial aos portadores de lesões crônicas degenerativas de médio e grande porte como, úlceras de pressão venosas, arteriais, mistas e pé diabético. Além do tratamento às 30 lesões, os alunos e professores dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia, Farmácia, Nutrição e Psicologia ainda realizam um trabalho de orientação aos familiares, visando a continuidade do tratamento para obter uma recuperação mais rápida. Os interessados devem procurar o Ambulatório de Lesões que fica no Campus II. Projeto Mágico de Educação em Promoção de Saúde Bucal Desde 2003, o projeto desenvolve atividades de educação em promoção à saúde bucal com crianças de baixa renda que tenham até 10 anos de idade. Elas são encaminhadas pelas instituições sociais, creches, escolas públicas, associações de bairros e outros projetos comunitários da Univale. Os atendimentos são feitos por professores e alunos do curso de Odontologia da Univale. As atividades acontecem nas Clínicas Odontológicas do Campus II. Informações: (33) 3279-5964 / 3279-5965 Informações: (33) 3279-5969 ou [email protected] Projeto Cuidando em Casa O projeto iniciou suas atividades em 2010 e visa promover atendimento domiciliar aos pacientes com lesões dermatológicas que estejam cadastrados no Ambulatório de Lesões da Univale e que morem próximos ao Campus II. Destinado às pessoas de baixa renda e sem condições físicas de se locomover, além do tratamento são ofertadas dicas de como fazer curativos e alimentos que facilitam a cicatrização, exercícios fisioterapêuticos e assistência psicológica. Os interessados podem se dirigir ao Ambulatório de Lesões, no Campus II. Informações: (33) 3279-5969 Projeto De Bem com a Vida Iniciado em 2010, o projeto atende pessoas com deficiência física na faixa etária de 7 a 29 anos, e objetiva promover o desenvolvimento social, educacional e da coordenação motora. O atendimento, feito de forma inclusiva, é realizado por meio de atividades físicas ministradas pelos professores e alunos dos cursos de Fisioterapia e Educação Física. O projeto também faz parte das atividades do Ambulatório de Lesões. Informações: (33)3279-5969 Clínicas Odontológicas Prestam serviços odontológicos à população de baixa renda de Governador Valadares e região, oferecendo não só tratamento contra doenças mas, atendimento preventivo e restaurador em saúde bucal. O serviço é realizado, desde 2003, pelos professores e alunos da Univale. Os interessados podem marcar uma consulta ou tirar dúvidas pela Central de Marcações de Consultas. Informações: (33) 3279-5964 31 Centro de Fisioterapia Além de integrar as atividades acadêmicas do curso Programa Materno Infantil de Fisioterapia, desde 2006 presta atendimento fisio- O Programa é realizado em parceria com alunos e profes- terapêutico à comunidade de Governador Valadares sores dos cursos de Odontologia, Enfermagem, Psicologia e região. Com aproximadamente 1.500 m² de área, e Nutrição. Desde 2005, as gestantes e os bebês de 0 e 3 os laboratórios e a clínica escola contam com diver- anos de famílias de baixa renda recebem atendimento à sos ambientes onde são executadas as atividades com saúde para garantir uma melhor gestação e qualidade de equipamentos modernos. O Centro prioriza o atendi- vida para a criança, evitando complicações futuras para mento às pessoas de baixa renda e é realizado por ambos. Os interessados devem se dirigir ao Ambulatório de alunos e supervisionados pelos professores do curso. Lesões, no Campus II. Informações: (33) 3279-5969 Os pacientes contribuem com uma taxa simbólica de R$ 4 reais por sessão. O Centro de Fisioterapia fica na Rua João Dias Duarte, 288, Vila Bretas. Informações: (33) 3277-9852 / 3277-9861 Pólo de Assistência Odontológica ao Paciente Especial – PAOPE Funciona desde 2000 e tem como objetivo promover a saúde do portador Campus Armando Vieira - Campus I Rua Moreira Sales, 850 - Vila Bretas Campus Antônio Rodrigues Coelho - Campus II Rua Israel Pinheiro, 2000 - Universitário de deficiência mental de baixa renda, seja pura ou associada a outras patologias. Os pacientes são acompanhados por uma equipe multiprofissional formada por professores e alunos dos cursos de Odontologia, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem e Fisioterapia. O PAOPE funciona no Campus II da Univale. Informações: (33) 3279-5970 da Univale é TEXTO: Dilvo Rodrigues [dilvo_boca@hotm ail.com] 10! Girô • C u rso de D e s i g n G r á f i c o Design Gráfico “Design gráfico não é só um belo desenho. Design gráfico é um belo desenho, com um sentido, uma tarefa a cumprir”, atestou certa vez o arquiteto e designer Chico Homem de Melo. Por essa linha, caminhou o curso de Design Gráfico da Univale que, em setembro deste ano, completou uma década de existência. E na bagagem, além do dever cumprido, professores e alunos trazem e renovam 32 suas próprias histórias, sejam elas contadas através de imagens, sons, texturas ou cores. Desde a idealização do curso, proposta pelo jornalista e teólogo Jaider Batista da Silva, passando pelo desenvolvimento do projeto e implantação, etapas que estiveram a cargo das professoras Zaira Bernardes e Christiane Pitanga, já se graduaram no curso cerca de 200 estudantes. Isso, considerando que a primeira turma se formou em 2004. Nesses dez anos, é notável o quanto o curso de bacharelado em Design Gráfico contribuiu para a profissionalização do setor, bem como para o desenvolvimento sócio-cultural e a inovação tecnológica da cidade e região. “O desenvolvimento e a valorização do designer na região são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve na cidade é um exemplo disso.” “A proposta do Jaider para implantação do curso de Design Gráfico nasceu a partir de uma palestra que vim ministrar para os alunos do curso de comunicação social. Na época, funcionava a habilitação dupla em Jornalismo e Publicidade e Propaganda. Então, vim mostrar como o Design funcionava e o convite foi feito”, rememora professora Zaira. O projeto pedagógico começou a ser elaborado em março de 2000, juntamente com a montagem da equipe de professores. Ela lembra que foi contratada em início de abril, assumindo a dianteira do processo de implantação. O primeiro vestibular foi em julho de 2000 e o início das aulas foi marcado para 4 de setembro do mesmo ano. “Não houve muita necessidade de investimento no começo porque já existiam alguns laboratórios utilizados pelos outros cursos de comunicação que poderiam ser compartilhados. Na verdade, dividíamos salas até com o pessoal da Engenharia que funcionava só no Campus I. Assim, tínhamos aulas duas vezes por semana no Campus I e três vezes no Campus II”, conta. Uma das pessoas que esteve presente em boa parte dessa história é a atual coordenadora do curso, Rosilene Conceição Maciel. Ela iniciou suas atividades na Univale como docente, em 2004, e conta que, como muitos profissionais do curso, deixou sua cidade de origem para desbravar o Design que, até então, era quase ou totalmente desconhecida por essas bandas. “Quando cheguei, a primeira turma estava se formando. Percebi que eles estavam com muita vontade de lutar por um ‘lugar ao sol’. Eles acreditaram e, hoje, o desenvolvimento e a valorização do designer na região são notórios. O avanço que a comunicação visual obteve na cidade é um exemplo disso”, aponta. A abertura de vagas de estágio e de possibilidades Selo comemorativo dos 10 anos do curso, criado pelo estudante Pablo Souza Meira de trabalho, assim como o aumento e a diversificação dos produtos comunicacionais gerados, são outros exemplos ressaltados pela coordenadora. FOTO: Sérgio Lopes De estudante a professor O egresso Plínio Nunes Lacerda, que hoje é professor no curso, é um dos que representa a evolução da área e da ampliação do mercado do Design na cidade e região. Em 2003, ao iniciar o curso, Plínio não fazia idéia do que encontraria pela frente. Havia feito o vestibu- Plínio foi aluno do curso de Design Gráfico e hoje é professor, além de trabalhar como gerente de pós-produção da TV Univale lar apenas como experiência. “O curso era recente e desconhecido na cidade e eu não fazia idéia de como era o mercado. Os primeiros semestres foram uma incógnita e, aos poucos, fui me identificando com o curso de medicina, por exemplo, que você entra e as disciplinas mais específicas”, conta. sai da faculdade sabendo do que se trata. Foi uma O primeiro estágio, em um escritório de arquitetura, apareceu descoberta, um desafio”, avalia. quando cursava o 4° período. Já no 5°, foi convidado para estagiar na TV O processo de seleção do intercâmbio Univale, sendo contratado antes mesmo da formatura. Ao todo, são cinco se deu em duas etapas. Na primeira, com anos de serviços prestados à TV. E foi na TV universitária, que apareceu análise de currículo e portfólio, participaram a oportunidade de lecionar pela primeira vez, apesar de nunca ter se alunos de três universidades de Minas Gerais: imaginado professor, revela. “Editei o documentário de uma turma de Univale, Universidade Estadual de Minas Gerais Jornalismo de uma faculdade de Teófilo Otoni. Então, comecei a manter (UEMG) e Fundação Mineira de Educação e contato com o pessoal de lá. Mais tarde, a coordenadora do curso fez Cultura (FUMEC). Nesta etapa, 40 alunos foram o convite para que eu fosse dar aula. Fiquei um ano por lá”, explica. selecionados. A segunda e última etapa contou com Como docente, Plínio também lecionou para a última turma do curso de uma prova de italiano e entrevista, onde 25 foram Publicidade e Propaganda da Univale. aprovados para o intercâmbio. Além de Gustavo, outros três estudantes de Design da Univale também conquistaram vagas para o intercâmbio Design da Univale na Itália internacional na Itália. “Pude conhecer vários lugares interessantes, “A experiência foi única. Sem dúvida foi algo que vai ficar para a vida toda. Foram 45 dias de intensa imersão cultural, social e de conhecimento. Tive a oportunidade de estudar em uma das melhores escolas de Design da Europa, aprender conceitos novos e importantes para a minha área”, conta com entusiasmo o egresso do curso de Design Gráfico Gustavo Ferraz, formado na turma de 2009. Ele explica que sempre foi interessado por idéia de fazer o curso veio quando fazia pré-vestibular na capital mineira. “Eu fiquei fascinado com a grade de disciplinas do curso, principalmente como com matérias composição, plástica e história da arte. Confesso que não sabia o que iria fazer. Não é como Gustavo Ferraz foi um dos quatro alunos do curso de Design Gráfico selecionados no Programa Jovens Mineiros na Itália cidades históricas, além de saborear a maravilhosa comida italiana. Foi um choque cultural incrível; muito bacana poder discutir o Design que é aprendido aqui no Brasil com os estudantes e professores italianos”, garante. FOTO: Arquivo pessoal imagens e comunicação e que a visitar museus, fazer cursos e workshops, visitar Gustavo conta que, na época da seleção do intercâmbio, havia acabado de chegar de Pirinópolis, Goiás, já muito feliz com a notícia de que a Univale sediaria o Encontro Regional de Estudantes de Design, conhecido como R-Design. O projeto foi apresentado e encabeçado por ele e mais alguns amigos do curso. Atualmente, Gustavo trabalha como diretor de arte na Agência ZP, em Governador Valadares. “Foi um choque cultural incrível; muito bacana poder discutir o Design que é aprendido aqui no Brasil com os estudantes e professores italianos.” 33 FOTOS: Arquivo Coord. do Curso Espaço de criação O Atelier de Design é um laboratório que compõe o conjunto de ambientes do curso de Design Gráfico. Nele, acontecem atividades diversas como, aulas práticas e teóricas, projetos de extensão, reuniões do corpo docente e discente do curso e, até mesmo, momentos de integração entre os estudantes. No início do curso, em 2000, o Atelier funcionava no Campus I, no Bairro Vila Bretas, de forma compartilhada com os cursos de Engenharia, que usava o espaço para aulas da disciplina de Desenho Técnico. No ano de 2003, devido ao crescimento do número de alunos do curso de Design Gráfico e a transferência da Faculdade de Engenharia para o Campus II, houve a necessidade de toda a estrutura do Atelier ser transferida. O novo espaço foi projetado para atender às demandas Alunas no Atelier de Design durante atividades práticas do curso de Design Gráfico e passou a contar com ambientes especializados: duas alas para atividades práticas, uma para aulas teóricas, outra duas de apoio ao corpo docente e para gravação de telas de serigrafia. Possui ainda um almoxarifado e salas de apoio aos discentes para armazenamento de materiais e trabalhos. Na área externa às salas, um pequeno anfiteatro e área de convivência rodeada 34 por árvores frutíferas como acerola, pitanga, jambo e manga, criando, assim, um espaço interativo bastante agradável, o que fez o Atelier de Design receber dos alunos o carinhoso nome de “sítio”. O curso promove com frequência exposições dos trabalhos dos alunos Professor Pimenta - ceramista de renome internacional Um dos que estiveram presente desde o início da constituição do Atelier de Design foi o professor Sebastião de Meira Pimenta Junior, mais conhecido como “Professor Pimenta”. Ele é formado em Comunicação Visual pela Fundação Mineira de Artes (FUMA), hoje Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG). O professor Pimenta também é um renomado artista plástico, reconhecido internacionalmente como ceramista. Foi premiado FOTO: Arquivo pessoal em 1º lugar na Bienal Internacional de Curitiba, Paraná; além de ter sido convidado para participar de duas exposições na China no segundo semestre de 2010: a Exposição Internacional de Cerâmica Contemporânea, em Jingdezhen e a Exposição Internacional de Chaleiras Contemporâneas, em Xangai. Ele ainda ministrou palestras e oficinas no 3º Congresso Nacional Sebastião Pimenta participa com frequência de eventos na China, onde pesquisa novas técnicas e matérias-prima para a arte cerâmica que desenvolve há anos de Cerâmica em Curitiba, Paraná. E, também, no 6º Congresso Nacional de Técnica para Artes do Fogo (CONTAF) que aconteceu entre os dias 20 e 22 de outubro em São João Del Rey, Minas Gerais, com discussões das produções em cerâmica, porcelana e vidro. Da faculdade para a própria empresa “Polly, aqui tem uma profissão que é a sua com uma boa visão do mercado de trabalho e, ainda, com uma visão inova- cara, Design Gráfico, já ouviu falar? Respondi: - dora para o desenvolvimento de produtos, projetos e prestação de serviços. Mais ou menos! Já ouvi falar muito do Hans Donner, No ano seguinte, a designer começava a traçar seus primeiros planos como da Globo! Foi quando ele pegou o guia e me passou empresária. Durante uma feira de empreendimentos do Leste de Minas dizendo: - Então, lê aqui sobre a profissão; acho que Gerais, a primeira edição da revista na qual é sócia foi lançada. A Revis- vai gostar”, conta Pollyana Cassimiro Ferraz, 24, ta Mista conta hoje com 11 funcionários, que além do material impresso bacharel em Designer Gráfico pela Univale e empre- abastecem um site, como também colunistas colaboradores e empresas sária. Durante o Ensino Médio, a dúvida sobre que terceirizadas. A revista circula gratuitamente em Governador Valadares e curso fazer tirava o sono da futura designer. “Em- em mais 12 cidades vizinhas. polgadíssima, li tudo a respeito sobre a profissão. “A cada dia aprendo mais e me apaixono pela minha profissão. É Pesquisei sobre mercado, áreas de atuação, conversei uma área do futuro que, assim como tantas outras, é infinita de aprendiza- com profissionais. Tudo isso para que eu me sentisse do, mas com o diferencial de ser moderna por resolver muita coisa através mais motivada para ingressar no curso”, conta. da internet, buscar soluções imediatas e rápidas, funcionais e inovadora, Ela se formou em 2007 e destaca que o curso a ofereceu um rico embasamento teórico e prático, estimula muito a criatividade e praticamente está presente em tudo. É um aprendizado que me guiará por resto da minha vida”, garante. Professor e roteirista da Turma da Mônica Ele começou a trabalhar aos 14 anos como chargista e ilustrador de Design Gráfico participou. Essa revista era em um jornal do Vale do Aço. Mas, tudo começou mesmo por influência do destinada ao público infantil da região e foi distribu- pai que “consumia todo tipo de leitura”, revela o professor João Marcos ída gratuitamente nas escolas. Ele gostou da história Parreira Medonça. O jovem levou o ofício a sério e, mais tarde, concluiu o e perguntou se eu tinha interesse em produzir roteiros curso de Belas Artes, na UFMG. Em 2001, veio para Governador Valadares da Turma da Mônica. Eu fiz algumas histórias para ele compor o quadro de professores do, ainda desconhecido, curso de Design avaliar e, para minha alegria, tenho trabalhado com Gráfico da Univale. “Eu havia acabado de trabalhar também em alguns pro- ele desde então, fazendo parte da equipe de redação. jetos de extensão da UFMG que envolviam a formação de professores. Essas O trabalho é feito à distância, via internet, e de vez experiências me deram coragem para tentar a vaga aqui. Uma amiga me em quando temos reuniões em São Paulo”. y avisou que o curso estava começando e precisando de professores da área FOTO: Sidney Gusman de desenho e quadrinhos e, graças a Deus, deu certo. No início eu vinha toda semana de Ipatinga e retornava, mas um tempo depois me mudei”, conta. Além de ilustrador e quadrinista, João Marcos também é um dos roteiristas da Maurício de Sousa Produções. Ele conta que tudo começou quando foi conhecer o estúdio em São Paulo. “Dei ao Maurício de presente uma revista em quadrinhos desenvolvida num projeto de pesquisa da Univale sobre emigração internacional, no qual o curso “Dei ao Maurício de presente uma revista em quadrinhos desenvolvida num projeto de pesquisa sobre emigração internacional. Ele gostou da história e perguntou se eu tinha interesse em produzir roteiros da Turma da Mônica.” João Marcos Parreira Mendonça (à esquerda) com Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica 35 OPINIÂO • Girô Linha tênue entre espetáculo e Jornalismo TEXTO: Darlisson Dutra [darlisson andre@hotm ail.com] José Arbex Júnior. Significa a espetacularização da notícia, através de elementos ficcionais, geralmente dramáticos, que atingem a comoção pública e que pretendem conduzir o espectador como em uma novela. Esses artifícios são usados por diretores de filmes de suspense e fica bem ilustrado por Alfred Hitchcock em Janela Indiscreta. No filme, uma máquina fotográfica e um binóculo são os equipamentos utilizados para espionar o que se passa na vizinhança. Hoje, são escuFOTO: coversblog.com.br Janela Indiscreta é um filme do diretor Alfred Hitchcock, em busca da “verdade”. Utilizados como pretextos de 1954. A estória é sobre um fotógrafo profissional chamado Jeff para quebrar regras e códigos éticos. Espiar a vida (interpretado pelo ator James Stewart) que, impossibilitado de exercer a alheia é um espetáculo que mantém o noticiário profissão por estar com o pé quebrado, passa a bisbilhotar a vida de quem diário interessante e garante a audiência. Acusar, mora em frente ao seu prédio. Da janela do apartamento, o personagem julgar e se esconder atrás da Justiça, investigação vigia tudo o que se passa com uma máquina fotográfica e um binóculo. policial ou o direito de manter a fonte em sigilo é Em determinado momento, ele desconfia de um assassinato e começa a uma alternativa covarde do jornalista e um abuso à investigar o suposto crime. O telespectador é colocado na mesma perspec- ignorância de parte da sociedade, que vê tudo como tiva do personagem, descobrindo as coisas com ele, aguçando o sentido da prática natural da profissão. curiosidade e tentado a resolver o mistério. Em resumo, o filme é todo um Janela Indiscreta é um retrato antigo da voyerismo: o interesse pela privacidade do outro e as conseqüências desta forma de se produzir informação nos dias de hoje. incursão. O filme pode ser sintetizado como “o espetáculo da vida alheia”. Jeff não seria a transposição dos atuais jornalis- Traçar relação dessa produção de meio século atrás com a comunica- tas, e os leitores os telespectadores do filme? A TV ção praticada hoje não é nada difícil. Há semelhanças tanto no jornalismo, ou outros suportes midiáticos não seriam a tela do como nos conteúdos de entretenimento produzidos pelos veículos de co- cinema? Afinal, somos todos curiosos. É cultural. municação de massa. O que é afinal o jornalista senão um observador da E, enquanto esse tipo de jornalismo for praticado realidade? Cada detalhe leva a uma investigação, levantamento de dados pelas grandes redes, não há esperança de que um e questionamentos que pode terminar em uma página de jornal, revista, modelo de resistência social, de fato, se firme. y programa de rádio ou na tela da TV. Nesse contexto, fica a pergunta: qual o limite do jornalismo? Para responder tal questionamento, a ética é o viés que conduz à verdade – muitas vezes subjetiva. Os programas populares, sobretudo os policiais, podem ser enquadrados em uma expressão comumente atribuída de “showrnalismo”, conceito cunhado pelo jornalista FOTO: vejasp.abril.com.br 36 tas telefônicas, grampos, câmera escondida; tudo s FOTOS: Quem pega a estradinha de terra e segue pelas curvas e serras não imagina que está prestes a chegar a um lugarejo em sintonia com a moder- Carlos Albuquerque [calbuquerquegv@hotm ail.com] Dió Freitas Moradores do distrito de Penha do Cassiano, em Governador Valadares, se empenham para preservar suas raízes culturais por meio dos ensaios e apresentações dos grupos de Caboclinhos e Marujadas pat rimônio C UL T U R A L TEXTO: • ' sem medir esforços Girô Preservacao cultural nidade. Não se trata de um cenário futurista, ou algum pólo de informática. A modernidade está na forma que a comunidade encontrou para enfrentar A comunidade olha para o futuro e dá passos importantes, mas um problema: o da moradia. No distrito de Penha também sabe valorizar o passado, a sua história. Com esse compromisso, do Cassiano, com os seus pouco menos de 1.500 há dez anos, o comerciante José Daniel da Silva, 53 anos, decidiu que não habitantes, casas novas, todas em um mesmo pa- iria deixar morrer toda a riqueza cultural que ele conheceu quando criança. drão arquitetônico, chamam a atenção do visitante. “Meu pai me levava para assistir às apresentações de Caboclinhos e Maru- As moradias foram feitas pela Caixa Econômica jadas. Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes, que vêm lá de trás Federal, em parceria com o Conselho de Desen- na história do Brasil”, explica. volvimento Comunitário de Penha do Cassiano. Os beneficiários são pessoas de baixa renda que receberam as casas sem pagar nenhum centavo por elas. A associação de moradores soube da existência do Programa “Produção de Moradia Social”, uma modalidade de financiamento a fundo perdido para a construção de casas que não precisa, necessariamente, passar pelo poder público. Diminuiu-se a burocracia, ganhou-se em tempo e cidadania. “Meu pai me levava para assistir às apresentações de Caboclinhos e Marujadas. Eu cresci nesse habitat cultural, ligado às raízes, que vêm lá de trás na história do Brasil.“ O trabalho de Daniel foi fazer um levantamento dos grupos folclóricos existentes na região. Descobriu doze grupos,entre eles um de Marujada em Tronqueiras (distrito de Coroaci) e outros dois em Virgolândia e São Geraldo da Piedade. Em Penha do Cassiano, ele assumiu a direção de um “A comunidade olha para o futuro e dá passos importantes, mas também sabe valorizar o passado, a sua história.“ grupo de Caboclinhos, formado por 24 pessoas e, rapidamente, começaram as apresentações. Em 2002, Daniel organizou um encontro de folclore da região. No mês de agosto, o distrito se transformou: a praça principal se encheu de cores, movimentos, ritmos e alegria. Moradores se orgulhavam e visitantes se impressionavam com as apresentações dos grupos de Marujada, Caboclinhos, Pastorinhas, Batuque, Folia de Reis e Bumba-Meu-Boi. 37 Ampliação, preconceito e persistência Com o encontro de folclore organizado por Daniel, entrou novamente em cena uma das vocações desse povo: fazer parcerias. Funcioná- 38 rios da Secretaria Municipal de Cultura, Esporte O entusiasmo com as apresentações não tira de Daniela preocupação e Lazer da Prefeitura de Governador Valadares da falta de informação de parte da população sobre a cultura brasileira. se encantaram com a descoberta da sobrevivên- Sem citar os locais, ele relata episódios em que os integrantes dos grupos cia das manifestações culturais ali preservadas. O folclóricos se sentiram constrangidos diante da maneira preconceituosa que município propôs a revitalização dos grupos por as danças foram recebidas. “Uma vez, uma mulher me falou que aquilo era meio da doação de roupas novas, instrumentos, pemba, macumba, que o pessoal era tudo preto”. Mas, o comerciante não agendamentos de apresentações e a oficialização deixou por menos e reagiu. “Falei com ela: a senhora precisa respeitar o anual do Encontro Regional de Folclore, no mês meu grupo, que representa a cultura do nosso povo, e também esses outros de agosto. O resultado de toda essa renovação grupos que a senhora citou, porque também fazem parte da nossa cultura.” é que os grupos começaram a ficar conhecidos, Daniel sugere que a cidade que quiser a apresentação dos Caboclinhos e passaram a se apresentar em eventos diversos, Marujadas tenha o cuidado de preparar a platéia. “Acho que uma pequena como nas comemorações do aniversário da cidade, palestra, por exemplo, pode ajudar o público não familiarizado com essas em 30 de janeiro. Nessas condições, moradores da manifestações a compreender o que vai ser mostrado. Nossos caboclinhos área urbana de Governador Valadares tiveram a ficam muito inibidos e chateados quando percebem que não estão no seu possibilidade de ver a exibição dos Caboclinhos e habitat”, explica. da Marujada. “Uma vez, uma mulher me falou que aquilo era pemba, macumba, que o pessoal era tudo preto”. Daniel preocupa-se em eliminar a necessidade de que, no futuro, outra pessoa tenha que repetir o trabalho de resgate dos grupos culturais. É preciso que a tradição sobreviva até mesmo à morte dos que estão à frente dos grupos, situação contrária ao que aconteceu com o grupo de Marujadas de Tronqueiras. “O mestre estava muito idoso. Ele morreu e não deixou sucessor. Infelizmente, parece que o grupo de Marujadas acabou morrendo junto com ele”, lamenta. Mais uma vez, Daniel faz a parte dele colocando seus três filhos para participarem do grupo de Caboclinhos. “Eles me vêem vestido de Caboclinho e se vestem também. O Jean, de 14 anos, quando vai chegando o mês de agosto, ele me cobra: - Pai, quando vai ser o festival? Vai ter, né?”, comemora. Em 2010, o grupo comemorou a décima edição do festival. “É preciso que a tradição sobreviva até mesmo à morte dos que estão à frente dos grupos, situação contrária ao que aconteceu com o grupo de Marujadas de Tronqueiras.” Caboclinhos “O termo caboclo define o cruzamento de índio com branco.” Os Caboclinhos são uma dança de origem indígena. De acordo com os estudiosos, uma das mais antigas do Brasil. Já em 1584, o Padre Fernão Cardim mencionava a dança no livro “Tratado e terra da Gente do Brasil”. Os caboclinhos podem ser considerados uma elegia à miscigenação brasileira. O termo caboclo define o cruzamento de Com muito entusiasmo e com o desejo de preservar suas raízes, integrantes dos grupos folclóricos do Distrito de Penha do Cassiano fazem apresentações na região índio com branco. Os caboclinhos são, portanto, os filhos dos caboclos. A dança faz alusões às caçadas, batalhas e colheitas. A música é leve e ligeira. O ritmo é ditado por instrumentos como reco-reco, ganzás, maracás, pífanos, tarol, sanfona, surdo e uma caixa de couro de carneiro. Para participar da dança, é preciso se vestir de uma das personagens: cacique, cacica ou índia-chefe, capitão, tenente, pêros (crianças), porta-estandarte, caboclos de baque (músicos), caboclas e caboclos. Fantasiados de índios, com cocares e colares, os participantes fazem um bailado que simula situações de ataque e defesa, entre tribos inimigas. “A dança faz alusões às caçadas, batalhas e colheitas. A música é leve e ligeira.” Marujadas “As Marujadas são uma tradição folclórica herdada dos escravos africanos.” As Marujadas são uma tradição folclórica herdada dos escravos africanos. Os negros dançavam e cantavam para homenagear e agradecer pelos milagres de Nossa Senhora. Homens, mulheres e crianças participam das apresentações. É comum, em alguns lugares, os dançarinos se apresentarem descalços. De acordo com o historiador Dario Benedito, a Marujada também está ligada à devoção a São Benedito. A apresentação é feita com rodas de dança e instrumentos como, rabeca, pandeiro, tambor e banjo, tocados com a marcação e o ritmo do batuque dos negros. Quando os marujos formam o círculo, no centro, ficam a capitoa e a vice-capitoa. Elas pedem licença ao público para começar os passos de dança. Tudo como na época da escravidão, quando os negros pediam permissão aos senhores para dançar de casa em casa. A manifestação recebe nomes diferentes em diversas regiões do país: Nau Catarineta, Chegança de Marujos, Barca ou Fandango. y Com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura de Governador Valadares, os grupos renovaram o figurino e os instrumentos e conseguiram mais apresentações, inclusive na festa de aniversário da cidade 39 C UL T U R A Girô • Dicas MÚSICAS, LIVROS e FILMES TEXTO: Gabriel Sobrinho [[email protected]] + Lucas Mafra [[email protected]] Wagner de Oliveira Andrade “ 40 Lívia da Penha Campos “ ] 29 anos [ PSICÓLOGA Ouço louvores porque são momentos em que falo com Deus, e as canções da Fernanda Brum expressam exatamente essa particularidade. Ouço louvores porque são momentos em que falo com Deus e as canções da Fernanda Brum expressam exatamente essa particularidade. Acompanho a carreira dela desde 1992, quando lançou o primeiro trabalho. Ela é uma artista completa, tanto musicalmente quanto espiritualmente. O álbum que mais gosto e recomendo é o Cura-me, de 2008. Possui canções lindas e bastante profundas. ” ] 30 anos [ RELATOR Sou apaixonado por música. Gosto de vários estilos, mas principalmente jazz, bossa nova e black music. Todo esse tempero o Ed Motta consegue reunir em seus álbuns. Ele tem um swing muito bom, uma levada que poucos atualmente têm. Só de saber que ele é sobrinho do Tim Maia já dá um peso enorme. Seus sucessos são variados, os mais conhecidos são Manuel e Vamos Dançar, lançados em 1980. De todos os seus álbuns, o que reúne os melhores sucessos é o CD Ao Vivo- Duplo, de 2006. ” Marizete Belo da Silva “ ] 41 anos [ assistente comercial Meu hobby preferido é ouvir música. Gosto de vários gêneros musicais: rock, samba, MPB. Se fosse para eu ressaltar os que mais gosto seriam: Seu Jorge, Cazuza, Scorpions, Alcione e Fábio Júnior. Mas tem um em especial que recomendo: Djavan. Um artista mágico, com canções maravilhosas. Me perco ouvindo por horas as coleções deste artista. As músicas dele despertam para diversos sentimentos, realidades, sonhos que carregamos dentro de nós. O álbum que prefiro é o CD Ao Vivo, de 1999, que reúne as melhores canções do artista. ” Marynna Porto Magalhães ] 18 anos [ “ Recomendo um livro que me trouxe vários ensinamentos e bons momentos de leitura. Trata-se da obra do escritor Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas. O livro conta a história de um menino rico chamado Amir, que mora em Cabul, no Afeganistão. Ele é perseguido pelo próprio remorso de ter traído o seu melhor amigo, Hassan. A obra ainda retrata vários pontos críticos na política do país, época que dá início à queda da Monarquia no Afeganistão, em 1979. Esse romance, posteriormente, foi adaptado para filme em 2007, levando o mesmo título. Abier Antônio ] 53 anos [ “ UNIVERSITÁRIA APOSENTADO Um dos livros que recomendo é Ensaio Sobre a Cegueira de José Saramago. Apesar do autor ter falecido, ele deixou um arsenal de obras bastante valiosa. Este livro, em especial, me encantou bastante. A história é fantástica; faz uma crítica pesada aos valores da sociedade e mostra o que acontece quando um dos sentidos vitais falta à população: a visão. Recentemente, em 2008, fizeram o filme baseado na história do livro. Era o elemento que faltava para enriquecer e valorizar ainda mais o trabalho de Saramago. ” “ ” “ Marinês da Penha Sobrinho ] 49 anos [ dona de casa Na minha opinião literatura se resume a Carlos Drummond de Andrade. E em se tratanto dele é difícil falar somente de uma obra, mas posso sugerir uma que é bastante conhecida, A Rosa do Povo. Um livro mágico que traduz com maestria os sentimento, as dores e as agonias de seu tempo. A obra é considerada por muitos amantes de Carlos, a tradução de uma época sombria. Cada verso dos poemas deixam mensagens que, mesmo depois de vários anos, se encaixam perfeitamente no nosso cotidiano. Thiago Ferreira Coelho ] 28 anos [ ” 41 jornalista Comédias românticas geralmente têm um enfoque mais voltado ao público feminino, certo? Pode ser, mas Alta Fidelidade (High Fidelity, 2000, de Stephen Frears) é uma película capaz de agradar em cheio as pessoas com nível um pouco mais elevado de testosterona. Rob Gordon (interpretado por John Cusack) é dono de uma loja de discos e aspirante a DJ que é abandonado pela namorada. Ao lembrar as cinco piores desilusões amorosas de sua vida, Rob tenta reencontrar as “ex” para entender porque seus relacionamentos sempre fracassam. Filme baseado em livro homônimo de Nick Hornby, com Jack Black no elenco e uma trilha sonora sob medida para homens na casa dos 30 anos, com medo de relacionamentos e que odeiam o emprego — assim como o protagonista. Simão Lopes Pereira “ ] 26 anos [ empresário Gosto muito de filmes de ação, principalmente daqueles que mexem com o intelecto, e que é preciso ‘quebrar a cabeça’ para juntar peças do filme. Uma trama que resume tudo isso é Onze homens e um segredo. O longametragem conta a história de uma quadrilha, de onze homens, liderada por Danny Ocean (interpretado por George Clooney). O bando tem um plano bastante ousado: roubar três casinos de Las Vegas ao mesmo tempo. Mas para que tudo dê certo eles seguem sempre três regras: não ferir ninguém, não roubar quem não mereça e seguir o plano aconteça o que acontecer. O filme ainda conta com atores renomados como: Andy Garcia, Brad Pitt, Matt Damon. ” ” Samuel da Silva Fagundes ] 14 anos [ “ estudante Eu não recomendo somente um, e sim toda a saga de Harry Potter. A série de filmes é composta por seis longas metragens. A primeira trama foi gravada em 2001, Harry Potter e a Pedra Filosofal e a última foi gravada no ano passado, Harry Potter e o Enigma do Príncipe. Harry Potter é uma série de aventuras fantásticas, baseada nos livros escritos pela britânica J. K. Rowling. Boa parte do filme gira em torno da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, a saga é centralizada nos conflitos entre Harry Potter e o bruxo das trevas Lord Voldemort. O mais interessante é que apesar de ser muitas vezes assustador, o filme explora temas como amizade, ambição, escolha e preconceito. ” A R T E / M O DA • Girô Qual é a sua? TEXTO: Gabriela Gonçalves [gabriela.jorn alismo@hotm ail.com] Roberta Vieira [rober t avieira.jorn alismo@hotm ail.com] Nathália Schubert [anti.mono.tonia@hotm ail.com] Rodeadas de códigos, as tribos urbanas são caracterizadas, principalmente, pela sua indumentária e são um fenômeno dos grandes centros. Ditando comportamentos, gostos musicais, amizades e até baladas frequentáveis ou não, elas se multiplicam a cada dia tornando a diversidade a palavra de ordem Beatniks, mods, glams, clubbers, hippies, yuppies, new wavers, skaters, hip hoper, grunges, punks... O século 20 foi marcado por movimentos 42 que refletiram as inquietações de uma parte da No dicionário, o termo punk quer dizer “estilo de música agressiva juventude e acabaram alterando a história do associada com protestos contra o status quo e o sistema”. Para Eduardo comportamento humano. Yep, um dos protagonistas da cena em Governador Valadares, “punk é aci- As tribos urbanas surgiram como uma das ma de tudo liberdade, apesar de que muitos punks acabam esquecendo este formas de mostrar insatisfação com algo ao seu princípio básico de um movimento anarquista e se tornam rótulos”, explica. redor ou, simplesmente, para mostrar que deter- Ser anarquista é não estar subordinado às forças do governo ou leis. O minado grupo é diferente ou pensa diferente. Elas equilíbrio social estaria num contexto de racionalidade e equilíbrio entre ditam comportamentos, gostos musicais, amizades, as vontades e as necessidades. Para os anarquistas, o fim da propriedade e até baladas freqüentáveis ou não. Obviamente, privada também acabaria com a luta entre classes. Na adolescência, Eduardo se vestia na maioria das vezes com não poderia deixar de entrar na lista de “regras” os acessórios e as roupas típicas de cada grupo. calças rasgadas, coturno preto com as calças para dentro, camisa com Em Governador Valadares não é diferente. alguma frase ou símbolo de protesto (muitas com o símbolo anarquista) e Sendo uma cidade de porte médio, no interior de correntes para completar o visual. “Meu cabelo eu não sei até hoje como não Minas Gerais, as variadas faces da juventude local caiu (risos)! Já foi roxo, verde, vermelho, de moicano, satélite, dread. O inte- refletem que as inquietações por uma afirmação da ressante é que sempre tínhamos um motivo diferente para explicar o visual. Ou era por rebeldia, ou era para se igualar a guer- identidade não ficaram restritas ao século 20. “Anarquia, corporation, não me diga o que usar...” Pense em um grupo de punks. A primeira imagem que vem à sua cabeça é a de garotos com coturnos, calças rasgadas, cabelos coloridos com moicano? Este foi o estereótipo disseminado depois da década de 70 pela estilista Vivianne Westwood e seu marido Malcom McLaren, empresário da banda Sex Pistols. No entanto, até aí, algumas bandas americanas não apresentavam nenhuma dessas características e, apesar disso, foram chamadas de punk, como New York Dolls, Velvet Underground e MC5. reiros em luta, ou era para protestar qualquer coisa. Mas o motivo mais legal e que eu considerava o meu motivo era a luta contra o ‘pré-conceito’. Aquele conceito de achar a pessoa errada só pela forma como ela se veste. Acabar com este conceito pré concebido nas pessoas após uma conversa me fazia feliz”, conta. Segundo Yep, os rótulos de punk inglês, na certa, inspiraram a maioria dos punks brasileiros e do mundo em se tratando de visual. Mas a banda que o influenciou na questão estética e a muita gente da época, em Valadares, foi o Rancid, banda da Califórnia. FOTO: Arquivo pessoal enfiaram eles em camisetas e vendem muito pela carga referencial de cada movimento ou personagem. E não estão errados! Errado é quem pensa que vai para o céu comprando a camisa de Jesus ou que vai virar punk por usar um All Star e ouvir CPM22”, enfatiza. Poesia de concreto Outra tribo presente no cotidiano valadarense é a do movimento hip hop, em suas quatro vertentes: o break, o MC, o DJ e o Graffiti. Os adeptos do movimento são facilmente identificados, normalmente porque são encontrados em um único ponto, a Praça dos Pioneiros, mas princiPara Eduardo Yep, o punk é acima de tudo liberdade palmente pelo modo de se vestir, que complementa e reflete, ao mesmo tempo, a postura e a identidade desses jovens. O hip hop surgiu no final da década de 60, em bairros periféricos Yep, que hoje, aos 28 anos, é designer e dos Estados Unidos, como o Bronx, habitados em sua maioria por negros e produtor audiovisual, conheceu o movimento em latinos. Nesses locais, chamados guetos, a população sofria com vários proble- 1997. E como muitos, a experiência veio pela música. mas sociais, como o racismo, a violência, o tráfico de drogas, a pobreza, falta “A primeira banda pela qual me aproximei, não de infra-estrutura e escolaridade. Os jovens encontravam nas ruas a única posso negar, foi o Green Day. Logo depois, como forma de lazer disponível, e esse espaço era dominado pelas gangues, que im- uma graduação, fui conhecendo Bad Religion, punham regras e lutavam violentamente entre si pelo domínio do território. Misfits, NOFX, Sex Pistols. Acho que, por isso comecei a pensar em movimento punk; principalmente por ouvir Bad Religion. A banda traz em suas letras muita informação sobre um movimento anti-religião e protestos que, com algum estudo sobre o anarquismo e sobre o próprio movimento, “Um movimento composto por jovens de personalidades fortes, com ideais concretos pede um visual impactante.” fui me envolvendo e me engajando”, lembra. Nos Estados Unidos, o punk nasce como Nas ruas dos guetos aconteciam festas com equipamentos sonoros uma resposta natural ao rumo que o rock havia de alta potência, os chamados Sound System, que foram levados para o tomado. A preocupação artística crescente pare- Bronx pelo DJ Kool Herc. Ele introduziu o Toast, modo de cantar em ri- cia ter deixado de lado sua verdadeira essência: mas em cima de um reggae instrumental, dando origem ao rap. A partir a diversão. Quando perguntado sobre a “comer- daí, começaram a nascer diversas manifestações artísticas das ruas, como cialização” da ideologia anarquista e a sua trans- poesias, danças, músicas e pinturas, feitas por esses jovens. As gangues formação em material para a Indústria Cultural, enxergaram nessas manifestações uma forma de canalizar a violência à Yep é categórico. “Eu não acho que a indústria qual estavam submersas e passaram então a competir através do break. conseguiu isto. Acho que ela nem entendeu ainda Essa idéia foi proposta pelo Afrika Bambaataa, considerado hoje o padri- o movimento punk, ou entendeu e apenas usa o que nho do hip hop, e a pessoa que deu o nome ao movimento. é comercial para fazer dinheiro com isto. Não é Um movimento composto por jovens de personalidades fortes, com possível se vender ideologia. Podemos tentar, mas a ideais concretos e uma forma, muitas vezes, agressiva de se expressar, pessoa só será punk com vontade e atitude própria. pede um visual impactante e próprio e, a moda, não ficaria isenta às Mas, tratando de música e de moda, eu acho que tendências lançadas pelos integrantes do hip hop. Bandanas, calças a indústria fez com o punk o que fez com o Rock largas, tênis chamativos, bonés grandes, entre outros elementos, fazem n’ Roll de Chuck Berry e o próprio Jesus Cristo: parte do guarda-roupas dos adeptos. 43 Enlace musical Yuri Vinícius Gomes Silveira e Thamirys Millena de Oliveira Campos, ambos de 21 anos, formam um casal ligado pelo movimento. Eles se conheceram através da dança, ela, já praticante do FOTOS: Arquivo pessoal street dance, e ele, apaixonado pelo break. “Eu já tinha visto a Bombom (Thamirys) dançar e estava começando a me familiarizar com a cultura hip hop. Acabei assistindo um cara de BH dançando na praça e aí surgiu a vontade de fazer a mesma coisa. O hip hop é a cultura do gueto e, através das quatro vertentes do movimento, acontece a manifestação Thamirys Millena cultural de quem vive na periferia,” explica Yuri. Bombom tem um grupo de dança e, durante suas apresentações, o figurino das meninas é mais um elemento da coreografia. “O street dance é Yuri Vinícius um estilo de dança coreografado, não é como o break, que tem movimentos mais bruscos. Nossa dança tem uma sensualidade característica e o visual 44 tem que corresponder à essa intenção”, explica. As roupas características Eles são a cara da rua e a rua é o palco das mulheres do hip hop são as calças largas, o tênis grande e chamativo, a deles. O gosto pela dança já conquistou vários camiseta curta, deixando a barriga de fora, bandanas, bijuterias, penteados jovens e, atualmente, a cultura urbana de Gover- chamativos como o rabo-de-cavalo preso no alto da cabeça ou o cabelo nador Valadares é conhecida em outras cidades, solto com bastante volume e, para não haver choque com esse visual extra- graças aos campeonatos e eventos promovidos por vagante, nada de maquiagem muito carregada. esses jovens que recebem convidados de várias Já para os meninos, o que manda são as T-shirt’s com frases de efeito, os partes de Minas Gerais. “O movimento é unido e já bonés tipo foam cap (mais largos e com abas dobradas), os coletes, e as calças temos um ponto certo de encontro, que é a Praça variam entre as largas e a skinning (justas na perna). “O visual de hoje em dia [dos Pioneiros]. Aqui, quem não tem condições de acaba sendo retro. No início as pessoas já se vestiam assim. Uma das caracte- treinar numa academia, que é uma ‘parada’ pri- rísticas, principalmente dos homens, é a customização dos tênis. Se estrago um vada, pode tá aprendendo e passando o que sabe. tênis treinando, ou se ele fica muito velho, já dou um jeito de pintar de outra Os encontros aqui são assim: você passa o que sabe cor, fazer uma arte ou uma reforma, que ele tá novo,” comenta Yuri. e aprende com os outros”, afirma. Linha do Tempo Hippies Beatniks 50’: enquanto uma parte da sociedade usava ternos bem-comportados, os Beatniks chocaram o mundo adotando um visual despojado e moderninho, calças Levi´s 501, boinas, camisetas de manga comprida, suéteres de gola roulê. Junto com a vestimenta vinha também um sentimento de repúdio aos valores do American Way Of Life, e um grito pela autenticidade e liberdade individual. 60’: os Hippies quiseram ir bem mais: com seus cabelos grandes e roupas coloridas, colocaram-se em guerra contra a Guerra e a favor do amor livre. Com um modo de vida comunitário e um estilo nômade, negavam o patriotismo exacerbado e a Guerra do Vietnã e estavam em desacordo com valores tradicionais da classe média americana. Couro cru, tié-di, saiões, colares de semente e miçanga, bolsas de crochê: tudo muito leve e colorido. N ew W ave 70’: O New Wave surgiu no final dos anos 70, como um desdobramento natural de uma vertente do punk. Uma espécie de lado alegre e debochado do rock and roll, o movimento juntou a estética andrógina dos anos 70 com roupas e acessórios dos anos 60, cabelos punk, cores vibrantes e cítricas, ombreiras, gel e músicas bem humoradas, que misturavam rock, pop, funk e reggae. Blongie, Madonna, Cyndi Lauper e Boy George foram ícones desta tribo. “Ser chique é ser It” preocupadas com a aparência. Rafael Vasconcelos de Carvalho, 22 anos, estudante, conta que mesmo “pertencendo” a esta regra, ele tem as suas exceções. “A forma como eu me visto depende muito do meu humor. Não tenho um único estilo que sigo porque gosto de ser diferente, de coisas diferentes e que chamem Se antes eles eram chamados de maurici- atenção. Gosto de usar o que me faz sentir bem, desde que seja em um estilo nhos e patricinhas, no pejorativo, hoje o chique é ser mais leve como esporte fino e o casual”, explica. Ele ainda ressalta que, nestes “It”. Esse termo foi usado pela primeira vez pela estilos “It”, ele pode destacar o uso do jeans básico, camisas de mangas curtas romancista britânica Elinor Glyn para descrever a e compridas, camisetas e tênis, desde que esteja sempre combinando. “Quando atriz Clara Bow, quando ela surgiu, em 1927, no estou de bom humor, uso e abuso do meu look. E, se a primeira impressão é a filme-mudo “It”, de cabelo curto, lábios em forma que fica, o vestuário de uma pessoa é o que pode formar a opinião sobre ela”. de coração, olhos redondos, um jeito todo faceiro Na hora da diversão, a turma dos “Its” possui um forte gosto musical de andar, alegre, viva, muito sensual e totalmen- para o pop e a música eletrônica. “Eu curto todos os tipos de balada. Até te emancipada. A expressão foi cunhada como um porque, quem faz o lugar somos nós mesmos. Mas admito que tenho pre- eufemismo para a sexualidade ou para a atração ferência por baladas eletrônicas como raves, boates e PVT´s (Tradução de sexual, o ‘sex appeal’. Para Glyn, “‘It’ é a qualidade privado em inglês – private – e que significa uma rave de pequeno porte, possuída por alguns que atrai todos os outros com uma festa privada). Estar na balada é curtir os amigos, conhecer pessoas, sua força magnética. É uma expressão para o “algo esbarrar no amor, ser livre por um instante fazendo algo que agrade, é dei- a mais” que as mulheres precisam ter. xar a música levar o corpo para um estágio de prazer. Enfim, o que nunca Hoje, as “It Girls” e os “It Boys” estão pode faltar é alegria e responsabilidade”, conclui. pelas ruas do mundo. São mulheres e homens ante- Ainda existem aqueles que preferem não ter tribo ou os que transi- nados, têm guarda-roupas impecáveis, influenciam tam por diversas tribos adaptando para si as características de cada uma de forma resistente a moda e ainda se comportam de um jeito irreverente, despertando a curiosidade que mais lhe agradam. Os “sem tribo” não costumam se juntar a um grupo por causa de uma característica específica apenas. das pessoas sobre o seu modo de vida. Ser “It” é Eles têm amigos, por exemplo, com gostos culturais possuir originalidade e interpretar a seu favor as tendências lançadas pela moda. Não é apenas ter as roupas de grifes como absolutamente diferentes dos seus. Isto talvez dei- possuir uma bolsa Chanel, um sapato Louboutin e um mergulho na Daslu. “tribo” recebeu outros ingredientes, como estilo, A galera “It” dita a moda e o comportamento na alta sociedade. A moda, por sua vez, se tornou uma linguagem instantânea, que traduz no primeiro contato visual de qual tribo é aquela pessoa. Ser da tribo urbana “It” significa ter uma forma exageradamente arrumada de se vestir, porque são pessoas sempre xe claro que a motivação inicial por se unir a uma sentimento de proteção, amizade, submissão, ou mesmo união em torno de determinado ideal. Para esses a pergunta se abre e se transforma: Quais são as suas? y Grunge Glam 80’: O movimento Glam – cujo nome vem do glamour das roupas extravagantes, perucas de cores psicodélicas e sapatos plataforma – foi bastante relacionado à música. Passava a idéia de uma “sexualidade ambígua” e buscava resgatar o impacto da rebeldia associada ao rock and roll. Alguns de seus maiores expoentes foram Gary Glitter, Slade e David Bowie. 90’: O Grunge surgiu em Seattle no fim dos anos 80 e seus maiores ícones são as bandas Nirvana, Alice in Chains, Pearl Jam e Stone Temple Pilots. Ironia, sarcasmo, crítica social, revolta, desespero, são algumas das características de seus integrantes. Os grunges se colocaram contra os valores da sociedade, o consumismo exagerado e a beleza superficial, não se importando com a própria aparência e adotando um jeito largado de se vestir. Camisas de flanela, calças rasgadas e o tênis All Star são símbolos dessa época. C l u bb e r 2000’: Gerado pela frustração do ‘póstudo’, o impulso Clubber é uma proposta sem proposta, uma pura e simples alienação do tempo e do espaço, impulsionado pelos psicotrópicos. O movimento clubber teve início na Inglaterra, com a acid house e o advento da música eletrônica junto o uso de roupas fluorescentes, piercing e cabelos coloridos. 45 ESPORTE • Girô s Superacao e amor ' ao futebol amador TEXTO: FOTOS: Diego Dunga Fernanda Nominato [[email protected]] Arquivo Pessoal - Geraldo Lopes | Arquivo DRD “Quem não sonhou em ser um jogador de 46 + [[email protected]] Lutas e esperanças marcam a vida de jogadores amadores que buscam melhores condições de vida por meio do futebol futebol”. O trecho do refrão da música “É uma partida de futebol”, da banda mineira Skank, ilustra o desejo comum de muitos jovens espalhados “Com a minha atuação no Democrata, acabei sendo vendido para o pelo Brasil que buscam um futuro melhor para a futebol português. Depois disso, retornei ao Brasil, onde atuei em clubes família por meio dessa modalidade esportiva. No como Ipatinga, Uberaba, América-RN, Santa Cruz-PE, XV de Piracicaba futebol amador não é diferente. Em Governador e União Barbarense”. A carreira de Walber no futebol profissional foi en- Valadares, as categorias de base dos principais cerrada em 2005, quando o Democrata foi campeão mineiro da Segunda clubes amadores sempre foram um grande celeiro Divisão, levando a equipe novamente para a elite do futebol mineiro. de novos atletas que, após alcançarem destaque no time, seguem para o Esporte Clube Democrata, clube profissional da cidade ou, até mesmo, para testes nos grandes clubes da capital mineira. De jogador a presidente Atualmente, Walber é presidente do União Esporte Clube, equipe Um exemplo é o ex-jogador e atual presi- do Módulo A do Campeonato Amador da cidade. Seu clube sempre figura dente do União Santa Rita, Walber Cota. “Come- entre os favoritos ao título. Nos últimos três anos, a equipe do bairro Santa cei a jogar com 11 anos de idade no Coopevale, do Rita chegou em todas as decisões, conquistando dois títulos e perdendo o bairro São Paulo. Fiquei lá até os 16 anos, quando último para o Internacional, do bairro Nova JK. “A iniciativa de mexer fui campeão do time principal pela primeira vez, com o futebol amador foi da necessidade de se ter no bairro Santa Rita ainda sendo juvenil. Depois disso fui para o Demo- um time competitivo, além de ter um compromisso com um amigo que foi crata, em 1993, onde fiquei até 1998”. o presidente do clube, Oriel Moreira, que faleceu em 2009. Nesses quatro Aquele esportista que havia saído do fute- anos que estou no União, já fomos a três decisões”. bol amador ganhou destaque na Pantera (mas- O ex-jogador completa que seu trabalho à frente de um clube ama- cote do time valadarense) durante os cinco anos dor nunca foi fácil, principalmente, por causa da escassez de apoio e patro- que ficou no estádio José Mammoud Abbas, o cínios. “As dificuldades são grandes para um time amador. Os amigos é que que acabou chamando a atenção dos lusitanos. nos ajudam todos os dias porque senão o clube não anda”. FOTO: Arquivo DRD Gasolina para jogar Outro caso de superação no futebol amador na cidade aconteceu com o vice-presidente da Liga de Futebol Amador de Governador Valadares, Célio de Souza Gonçalves, mais conhecido como Celinho. Ele conta que também apresentou sua técnica futebolística nos gramados amadores e profissionais em vários clubes do país. “Comecei como amador e depois fui para o profissional. Iniciei com 16 anos no juvenil do Democrata e fiquei no clube até os 20 anos de idade, que também foi o meu primeiro clube como profissional. Aos 36 anos, fiz reversão para jogar no amador novamente”. Ao ser indagado sobre a média de valores dos salários, Celinho explica que isso nunca foi prioridade para ele enquanto jogava pelos clubes O Esporte Clube Democrata foi o primeiro time profissional de Walber Cota amadores da cidade. “Sempre joguei para me divertir. Só atuei por clubes onde tinha amizade. Nunca cobrei para jogar no amador. Quando morei em Central de Minas, por exemplo, os clubes pagavam a gasolina do meu carro para vir jogar em Valadares”. Entre os clubes profissionais que ele já jogou estão o América-MG, Fluminense-RJ, Santo André-SP e Caxias-RS. Ele já foi campeão amador duas vezes com o Internacional, do bairro Nova JK, além de atuar na categoria dos veteranos, também em Valadares. Agora, o ex-jogador trabalha no outro lado do esporte: como vice-presidente da organização que promove o futebol amador na cidade. “Trabalhar como dirigente é mais difícil, ter que ajudar na organização e 47 acompanhar os eventos da Liga de Futebol é mais trabalhoso e a responsabilidade agora é maior”, analisa. Giros diversos Geraldo Lopes, o famoso “Gera”, também passou pelo futebol amador de Valadares, mas terminou sua carreira como jogador profissional. O ex-meia começou no desporto aos 17 anos, no juvenil do Esporte Clube Democrata, de Governador Valadares. Somente em 1993 ele entrou para FOTO: Arquivo pessoal o futebol profissional, na equipe do Novorizontino, time do interior de São Paulo. Ele teve outras passagens em clubes como o Sport, Bahia, Bragantino, ABC-RN, Santo André e América-MG. Foi a partir daí que o valadarense conheceu o cobiçado futebol europeu. “O pessoal do Boavista, de Portugal, me observou e depois me contrataram para atuar lá. Logo no primeiro ano, a gente conquistou o primeiro campeonato português da equipe na temporada 2000-2001. Tive uma lesão no joelho e acabei retornando ao Brasil, atuando em clubes como América-RN, Gama, até encerrar a carreira no Democrata, onde conquistamos a Segunda Divisão Estadual, em 2005”. Com a camisa do Democrata, Geraldo Lopes conquistou o seu último título como jogador profissional, em 2005 Após a aposentadoria no futebol profissional, Geraldo ingressou na área de treinador de categoria de base, buscando revelar novos talentos da cidade para o esporte. “Fui convidado para trabalhar num projeto de captação de atletas de base no Internacional. Nesse trabalho, procurei me aperfeiçoar como técnico, onde consegui a formação de treinador pelo CREF-MG (Conselho Regional de Educação Física) no final de 2009”. Entre 2007 e 2008, Geraldo teve a experiência de jogar nos campos de futebol amador em Valadares com a camisa do Internacional. Ele explica as diferenças e as peculiaridades que esta categoria possui em relação ao profissional “Exis- No primeiro ano como jogador do Boavista de Portugal, ‘Gera’ levantou o único título nacional da equipe te um contraste entre o amador e o profissional. A infraestrutura não se compara. Em um clube amador, todo mundo é voluntário. Na hora da preleção, você escuta os jogadores passarem as dicas e não o treinador, como é no profissional. Outra coisa que chamava a minha atenção é que não existe o compromisso de acordar cedo”. Falta campeonato O ex-jogador também nunca chegou a cobrar uma “pechincha” para bater uma bola no O Democrata já utilizou muitos jogadores futebol amador. “Era como uma troca de favores. do futebol amador mas, segundo o supervisor de O Internacional me deixava atuar no trabalho das futebol da equipe, Darcy Menezes, como o clube categorias de base e eu me inscrevia para jogar. não disputa um número alto de campeonatos, fica Nunca cobrei nada. Clube amador é voluntariado. complicado dar a chance para os garotos da cida- Pode até acontecer de um jogador de 25, 26 anos de. “O futebol amador hoje não oferece nenhuma do amador ir para um time profissional, mas não contribuição, pelo fato do Democrata não estar será uma equipe de ponta no futebol brasileiro” participando de nenhum campeonato. O futebol amador da cidade já revelou excelentes jogadores e FOTOS: Arquivo pessoal 48 “Existe um contraste entre o amador e o profissional. A infraestrutura não se compara. Em um clube amador, todo mundo é voluntário”. ajudou muito o nosso time em outros anos”. Ele lembra que a Pantera já utilizou vários desses atletas para a disputa de competições de categoria júnior, como na conquista do Mineiro dessa categoria, em 2003. “Essa busca por jogadores amadores foi mais intensa quando tinha os campeonatos de juniores, pois era uma oportunidade de revelar os jogadores tanto para a equipe profissional do Democrata como para o Brasil”. y O meio-campo Geraldo Lopes (à esquerda) atuou em tradicionais times do Brasil como ABC, América-MG, Santo André, Bahia e Sport