Monografia Marcos Jabour
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Monografia Marcos Jabour
1 MARCOS LINHARES JABOUR COMPORTAMENTO DOS VISITANTES E REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO JARDIM ZOOLÓGICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Pró-Reitoriade Pós-Graduação e Pesquisa do Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde da Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Meio Ambiente. Orientador: Werther Holzer Rio de Janeiro 2010 2 FICHA CATALOGRÁFICA Jabour, Marcos Linhares Comportamento dos Visitantes e Representação Social no Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro / por Marcos Linhares Jabour – 2010 194 f.:il. Digitado (original) Monografia (especialização em Meio Ambiente) - Universidade Cândido Mendes Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2010. Orientação: Prof. Werther Holzer. Curso de Pós-Graduação em Meio Ambiente. 1. Introdução 2. Base Histórica 3. Base Científica 4. Base Fenomenológica 5. Base Semiológica 6. Base Comportamento-Ambiente 7. Desenvolvimento 8. Resultado Monografia Acadêmica. I. Werther Holzer (orientador) II. Universidade Cândido Mendes, Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde. I. Título. Mon. Acad. CDD- BN obt.reg. 010610 3 MARCOS LINHARES JABOUR COMPORTAMENTO DOS VISITANTES E REPRESENTAÇÃO SOCIAL NO JARDIM ZOOLÓGICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Pró-Reitoria de PósGraduação e Pesquisa do Instituto Nacional de Desenvolvimento das Ciências da Saúde da Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Meio Ambiente. Rio de Janeiro, 1o de agosto de 2010. BANCA EXAMINADORA Professor Werther Holzer (Universidade Federal Fluminense) 4 DEDICATÓRIA Dedico à minha família: Ana Carolina, Octávio, Vitória e a vovó Ana, mãe da minha voluntariosa esposa Aurora, que além de me convencer a fazer Pós-graduação foi minha maior incentivadora e inseparável companheira de curso, me emprestando com a sua singela presença, confiança, determinação, dedicação, paciência e perseverança. Enfim, todo o seu amor. 5 AGRADECIMENTOS Primeiramente, gostaria de destacar que a maior motivação desta pesquisa foi um inestimável sentimento de gradidão pelo Jardim Zoológico, onde em 1986, o autor, ainda garoto, passou a trabalhar. Lá tornou-se um homem, conheceu sua esposa e constituiu sua amada família. Por isso, agradeço a todos os funcionários, sobretudo, aos velhos amigos tratadores, que compartilham com o autor a gratificante sensação de cuidar dos animais e trabalhar neste ambiente sagrado. Mas, a elaboração desta Monografia não seria possível sem a orientação do Professor Wether Holzer, o qual sou especialmente grato. Também agradeço, a Cláudia Magnanini (FPJ) pela doação de valiosos artigos históricos, a Zilda Araújo, Verônica de Almeida, Jorge Amaral e Pedro Farah, pelo apoio no setor educacional, a repórter oficial da Rio-Zoo Esther Nazareth e a historiadora Rosangela Gabriel de Melo. Um agradecimento especial aos carismáticos instrutores juvenis do Grude (Grupo de Defesa Ecológica), Josiane, Tatiana, Thiago Luiz, Saulo, Rafaela, Eduardo, Thiago Dias e a Sérgio Luiz, educador do Grude. Agradeço a Carlos Esberard e ao colega Miguel Ângelo Brück Gonçalves, biólogo da Fundação Oswaldo Cruz, pela gentil doação do excelente e inspirador artigo de Marcelo Bizerril. Agradeço as jornalistas Cejana Montelo (Máquina), Ines Amorim (O Globo), Ana Sá (Correio Braziliense) e a Etienne Jacintho (O Estado de São Paulo) pelo espaço e pelas informações qualificadas, transmitidas em seus respectivos veículos de comunicação. Sou muito grato, a Patrícia Almeida dos Santos, pela colaboração no planejamento e execução das ações educacionais e pelo apoio à pesquisa de etologia aplicada. Agradeço a Paulo Celso Martins Brandão, primeiro presidente da Rio-Zoo, pelos relatos de pitorescas passagens históricas do Zoológico e ao amigo Roberto Rocha, membro do 6 atual Conselho Curador da Rio-Zoo, pelas fotos, comentários pertinentes, participação das discussões e citações de experiências. Pelo apoio, sou especialmente grato ao ex-estagiário, ex-chefe e grande amigo, Geraldo Soriano Espínola. Pelo incentivo, expresso minha gratidão, a Neiva Guedes, a Ana Laura Valente Seco Freire, a Vania Chuairi Cruz e Jeanne Almeida da Trindade. Agradeço também, aos inseparáveis companheiros da Diretoria Técnica do Zoo: Luis Paulo Luzes Fedullo, Marcus Delgado Borges, Anderson Mendes Augusto, Denise Wilches Monsores, Vera Lúcia de Oliveira, Carla Cristina Cunha de Alencar, Josephine Pritchard da Cunha, Daniel de Almeida Balthazar, Alex Spadetti, Rodrigo Cerqueira da Costa, Fernando Troccoli e Denise Pan. Pelo apoio total na execução do Projeto “Humanizoo”, agradeço aos tratadores de répteis Rodolfo Mariano Loureiro, Mayara Neves de Souza, Márcio M. Dias. Expresso um agradecimento especial a William Medeiros Prado do Instituto Iguaçu, por tornar factível a participação dos dedicados estagiários de biologia, que participam com entusiasmo do Projeto “Humanizoo”: Sília Almeida da Conceição, Wladmir dos Santos, Vanessa de Fátima da Rocha F. de Mendonça, Rodrigo da Silva de Oliveira e Ohana Ferreira da Silva. Agradeço também às estagiárias da educação ambiental que muito colaboraram nas ações educacionais, Alessandra Pobel, Alessandra Santos e Carla Granville. Finalmente, pelo apoio dispensado, agradeço aos amigos Paulo Roberto Fernandes de Souza e Vera Lopes da Silva Ferreira Oliveira. 7 EPÍGRAFE “Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata do objeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso, sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria” Paulo Freire 8 RESUMO Duas situações motivaram esta monografia: os resultados de uma pesquisa quantitativa anterior, cujo objetivo foi avaliar o nível de conhecimento do público do Zoo, a respeito do nome e da origem de animais brasileiros e estrangeiros e, a execução de uma pesquisa de etologia aplicada, desenvolvida com os visitantes durante o período de visitação, com o propósito de avaliar o comportamento do público em relação aos animais e ao ambiente. Para tanto, foram visitados os mais vastos e diversificados continentes do saber, desde os fundamentos científicos da etologia aplicada, passando pelo estudo das Memórias do Jardim Zoológico no Rio de Janeiro, ao pragmatismo lógico peirciano, até os fundantes da gestão ética das organizações e a multidisciplina ComportamentoAmbiente. Por meio da exegese do material histórico de espessa densidade, referente à origem e a evolução dos Zoos no mundo, inferiu-se que o surgimento dos Zoos na Europa foi influenciado por movimentos científicos e sociais do Século XVIII, indicando que além dos animais e da comunidade científica, a presença do público foi e continua sendo fundamental para a existência dos Zoos. No tocante à etologia, seguiu-se a risca a metodologia científica com a formulação de hipóteses, teste de modelo hipotético e registro em etograma de amostragens por observações livres cronometradas. Contudo, nos intervalos entre as amostragens, a interação com o ambiente propiciou um outro olhar sobre a pesquisa, revelando faces e dimensões da realidade não consideradas pelo método etológico. Momento pelo qual, a pesquisa caminhou para além da análise científica, sendo submetida à investigação fenomenológica, por intermédio da escuta atenta das especulações e deliberações dos visitantes, biólogos e tratadores de animais. A fenomenologia foi adotada aqui, enquanto método, com o propósito de realçar valores, crenças e representações. Nesse sentido, foi invocada a teoria da significação peirciana e apropriado o saber da multidisciplina Comportamento-Ambiente, com o fito de subverter paradigmas e ressignificar a nomenclatura popular dos animais, a ambientação dos viveiros, os roteiros 9 de visita e a valorização dos pontos de referência institucionais. Nesse percurso, foram analisados os motivos e valores dos visitantes e tratadores, em contraponto à motivação dos técnicos, o que possibilitou a verificação de cientificismo e de um consequente descaso dos biólogos em relação à revisão da nomenclatura popular dos animais, como forma de racionalizar as ações educacionais, apesar do recorrente clichê nos meios acadêmicos, de que "é preciso conhecer para conservar". Por representar a gênese do conhecimento, ser convencional e constituir um pré-requisito à percepção da rica diversidade faunística do Brasil, inadvertidamente, despercebida pelo público, as denominações populares de várias espécies de répteis foram ressignificadas, considerando-se uma nominação com signos bem desenvolvidos, em detrimento, de uma nomenclatura normalmente imposta, pobre em significado e, em vários casos, depreciativa às espécies. Ademais, os resultados da pesquisa de etologia aplicada foram comentados e apresentados através de gráficos, vários viveiros foram ressignificados e rotas de visitação propostas, tendo como referencial e ponto de partida, o subutilizado Portão Monumental e, prosseguimento, por roteiros em áreas de circulação hierarquizadas. Finalmente, por ter sido permeada por fenômenos sociológicos, como a linguagem e a transmissão de saberes e valores, toda a prospecção de conhecimentos foi socialmente partilhada, através da divulgação em congressos, nas universidades, na mídia e pela execução de um projeto de educação ambiental, destinado ao público e implementado por tratadores de animais, nos dias de maior movimento, justificando o viés da representação social. PALAVRAS CHAVE Educação ambiental, comportamento-ambiente, etologia, zoológico, representação social. 10 ABSTRACT Two situations motivated this monograph: the results of a previous quantitative research executed in Rio de Janeiro's Zoo, in order to evaluate the level of knowledge of the public as to the name and the origin of Brazilian and foreign animals and, the execution of an applied ethology research, developed with the visitors during the visitation, whose objective was to evaluate the behaviour of the visitor regarding the animals and to the environment. For so much, there were visited the vastest and diversified continents of the knowledge, from the bases scientific of the applied ethology, passing by the study of the Memories of the Zoo in the Rio de Janeiro and from the theory of Pierce's signification, to the bases of Environment-Behavior studies up to the study of the management ethics of the organizations.Through exegesis of the historical material of thick density of the origin and evolution of Zoos in the world, it was inferred that the appearance of the zoos in Europe was influenced by scientific and social movements of the Century XVIII, indicating that besides the animals and of the scientific community, thenpresence of the public was and remains fundamental to the existence of zoos. In relation to ethology, followed by the scratch the scientific methodology to the formulation of hypotheses, test of the hypothetical model and registration in ethogram sampling by free timed observations. However, in the intervals between samples, the interaction with the environment provided a different view about the research, revealing faces and dimensions of reality not considered by the ethological method. Moment for which, the research way beyond scientific analysis and was submitted to phenomenological research, through attentive listening to the speculations and deliberations of the visitors, biologists and animal keeper. Phenomenology was adopted as a method, in order to emphasize values, beliefs and representations. Thus, it was claimed the theory of Pierce’s signification and appropriate the knowledge of multidiscipline Behavior-Environment-studies, in order to subvert paradigms and re-signify the 11 popular nomenclature of animals,the environment of the vivariums, the naming of public roads, roadmaps of access and the appreciation of the Zoo’s landmarks. Along the way, was analyzed the motives and values of the layman and animal keeper as opposed to the biologist, which allowed the determination of scientism and a consequent neglect of the technicians in the revision of the nomenclature of the popular animals as a way to streamline the educational practices, despite the recurring cliche academic circles, that "we need to know to conserve". By representing the genesis of knowledge, be conventional and be a prerequisite to the perception of the rich biodiversity of Brazil, inadvertently overlooked by the public, the popular names of several species of reptiles were re-signified, considering a nomination with signs of well-developed, appreciated the knowledge by common sense and, of course, the shape or behavior of animals at the expense of a nomenclature imposed usually poor in meaning and in many cases, diminishing species. Moreover, the results of applied ethology research were discussed and and presented through graphs. Several ponds were re-vitalized and tours of visitation have been proposed, taking as point of reference and departure, the Monumental Gate and continued failure by scripts in circulation areas ranked. Finally, having been permeated by sociological phenomena, such as language and transmission of knowledge and values, all mining was socially shared knowledge through the dissemination at conferences, universities, the media and the implementation of an environmental education project, for the public and implemented by animal keeper, these days large presence of public, justifying the bias of social representation. KEY WORDS Environmental education, Environment-Behavior studies, ethology, zoo, social representation. 12 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 20 1.1.0 - Considerações Iniciais. 20 1.2.0 - Jardim Zoológico: O que é e para que serve? 22 1.2.1 - Características Físicas. 23 1.2.2 - O Jardim do Zoo. 24 1.2.3 - Roteiros de Visitação. 25 1.2.4 - Qual a Expectativa do Público? 26 1.2.5 - Gigante Pela Própria Natureza. 27 1.2.5.1 - O Brasileiro Conhece a Fauna do Brasil? 28 1.2.6 - Etologia e o Fenômeno Aperceptivo. 29 1.2.7 - A Lógica do Zoo e a Mensagem Institucional. 31 1.2.8 - Ponto de Referência e Roteiros. 33 1.2.9 - A Educação Ambienal e a Gestão Ética das Organizações. 33 1.3.0 - Projetos Educativos. 35 1.3.1 - A Origem e a Evolução dos Zoos. 38 1.3.2 - Um Portão para Inglês Ver? 40 1.3.3 - Um Ponto Referencial para o Público Conhecer. 41 1.3.4 - Do Barão ao Macaco Tião - Memórias do Zoo no Rio de Janeiro. 45 1.3.4.1 - Tupi or Not Tupi? 48 1.3.4.2 - A Passagem do Primeiro para o Terceiro Setor. 49 13 1.4.0 - Bases Científicas. 51 1.4.1- Breve Histórico sobre a Etologia e sua Importância em Zoos. 51 1.5.0 - Bases Filosóficas. 52 1.5.1 - A Fenomenologia. 52 1.5.2 - Teoria da Significação e o Pragmatismo Lógico Peirciano. 54 1.6.0 - Comportamento-Ambiente. 58 1.6.1 - A Percepção. 58 1.6.2 - Fatores Interferentes. 59 1.6.3 - Princípios da Percepção - Psicologia da Forma. 61 1.6.4 - Forças Integradoras da Percepção Humana. 64 1.6.5 - A Psicologia Ecológica Gibsoniana . 65 1.6.6 - Quanto Mais Temido, Mais Apelo Popular. 67 1.6.7 - Filtros de Percepção do Mundo Real. 68 1.6.8 - Mapas Cognitivos. 69 1.6.9 - Organização Espacial em Zoos. 70 1.7.0 - Bases Educacionais. 71 1.7.1 - Conhecimento Quantitativo. 72 1.7.2 - Conhecimento Qualitativo. 74 2 - DESENVOLVIMENTO 75 2.1.0 - Bases Científicas. 75 14 2.1.1 - Etologia Aplicada ao Público da Rio-Zoo. 75 2.2.0 - Abordagem Qualitativa. 79 2.2.1 - Algumas Considerações. 79 2.2.2 - Onde Está a Cobra? As especulações dos visitantes. 81 2.2.3 - O Discurso dos Técnicos. 82 2.2.4 - O Pragmatismo Aplicado à Nomenclatura Popular dos Animais. 83 3. RESULTADOS 84 3.1.0 - Análise das Hipóteses. 84 3.2.0 - Interpretações dos Comportamentos. 86 3.2.1 - Jogar objeto no animal ou lixo no viveiro. 87 3.2.2 - Cutucar, oferecer alimento ou jogá-lo ao animal. 89 3.2.3 - Procurar ler a placa informativa. 90 3.2.4 - Olhar para outro animal ou pessoa e se afastar, distração e passar direto. 91 3.2.5 - Curiosidade e especular sobre o animal. 92 3.2.6 - Apontar e procurar o animal. 93 3.3.0 - Análise dos Viveiros. 93 3.3.1 - Lago dos Jacarés - Jacaré-de-Papo-Amarelo. 94 3.3.2 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. 95 3.3.3 - Ilha do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha. 96 3.3.4 - Viveiro do Gavião Real. 98 3.3.5 - O Lago do Hipopótamo. 99 15 3.3.6 - A Ilha do Iguana. 100 3.3.7 - O Viveiro do Tigre-Siberiano. 101 3.3.8 - O Viveiro do Urso-de-Óculos. 101 3.4.0 - Comportamento dos Animais. 102 3.5.0 - Comportamento dos Grupos Etários Amostrados. 104 3.6.0 - Pesquisa Qualitativa. 105 3.6.1 - Conjunto dos Motivos do Grupo Social. 105 3.6.2 - Roteiro - Ponto de Partida Monumental. 108 3.6.3 - Rotas de Visitação. 109 3.6.4 - Cobras Aqui! Espaço "Cobras e Lagartos". 112 3.6.5 - Muito mais do que um viveiro . 113 3.6.6 - O Macaco e o Anti-Macaco. 114 3.6.7 - Pojeto Humanizoo. 115 3.6.8 - Discussão. 119 3.6.9 - Consideraçãoes Finais. 121 3.7.0 - Projetos Educativos. 122 3.7.1 - Projeto Monitores de Viveiro. 122 3.7.2 - Projeto Bicho Fala Sério! 126 3.7.3 - Projeto “Álbum de Família”. 129 3.7.4 - Projeto BatiZoo. 132 3.7.5 - Projeto ViaZoo. 134 3.7.6 - Projeto “Brasil Fauna Já”. 136 3.7.7 - Projeto Zoo é Lógico! 138 3.8.0 - Visitas Orientadas Não-Convencionais. 139 16 3.8.1 - "Plantio de Gongolo” - Orientando a Criançada. 139 3.8.2 - Projeto “Pulando a Cerca”. 141 3.8.3 - Projeto Zoo à Noite - “Zoo by Night”. 142 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 143 5 - APÊNDICES 148 Anexo I Descrição dos comportamentos. 148 Anexo II Etograma. 149 Anexo III Prevalência relativa dos comportamentos do público amostrado. 150 Anexo IV Roteiro do Jardim Zoológico na Quinta da Boa Vista, 1958. 151 Anexo V Índice dos Animais - Setembro de 1958. 152 Anexo VI Planta de Situação do Zoológico - 2004. 153 Anexo VII Índice dos Animais - Maio de 2010. 154 Anexo VIII Sugestões para ressignificar a entrada do público no Jardim Zoológico. 155 Anexo IX Planta de ampliação da área de visitação da Fundação Rio-Zoo . 156 Anexo X Gráficos da pesquisa quantitativa - 2001. 157 Anexo XI Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais no Zoo. 158 Anexo XII “Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo. 159 Anexo XIII Esqueceram dos bichos brasileiros - O Globo. 160 17 Anexo XIV - Eles também querem ser celebridades - Correio Braziliense. 161 Anexo XV - Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos - Correio Braziliense. 162 Anexo XVI - Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos II - Correio Braziliense. 163 Anexo XVII - Ele não é brasileiro - O Estado de São Paulo. 164 Anexo XVIII -Você conhece a nossa fauna? - O Estado de São Paulo. 165 Anexo IXX - Animais em extinção nos Zoológicos - O Estado de São Paulo. 166 Anexo XX - Estrangeiros - O Estado de São Paulo. 167 Anexo XXI - Brasileiros - O Estado de São Paulo. 168 Anexo XXII - Os bichos que só gostam da noite - Correio Braziliense. 169 Anexo XXIII - Os corujões - Correio Braziliense. 170 Anexo XXIV - Os corujões II - Correio Braziliense. 171 Anexo XXV - Boa-noite, bichinhos! - Correio Braziliense. 172 Anexo XXVI - Cartilha Zoo à Noite. 173 RELAÇÃO DAS FIGURAS Figura 01 - A Evolução dos Zoos. 39 Figura 02 - O Portão Monumental - Entrada Principal. 41 Figura 03 - Transformações na arquitetura da residência real na Quinta da Boa Vista. 43 Figura 04 - Paço do Imperador do Brasil em São Christovão. 44 Figura 05 - O Barão de Drummond. 45 18 Figura 06 - Painel “Floresta Amazônica” de Cândido Portinari. 50 Figura 07 - A Logomarca da Fundação Rio-Zoo. 50 Figura 08 - Três Momentos da Vida do Macaco Tião. 51 Figura 09 - Charles Sanders Peirce (1839-1914). 54 Figura 10 - Imagem Ambígua - a "percepção mutável". 62 Figura 11 - Macacos se entreolhando ou um vaso? 62 Figura 12 - Iguanas mimetizando os ramos de uma árvore. 63 Figura 13 - Sapo-de-Chifre e a serrapilheira de uma floresta. 63 Figura 14 - O modelo dos filtros de percepção do mundo real. 68 Figura 15 - O intenso movimento nos viveiros dos grandes felídeos. 82 Figura 16 - Modelo da placa informativa do Espaço “Cobras e Lagartos”. 90 Figura 17 - Visitantes diante do viveiro recém-reformado do Jacaré-de-Papo-Amarelo. 94 Figura 18 - Um Socó sendo observado pelo Jacaré-do-Pantanal. 95 Figura 19 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. 96 Figura 20 - Diferentes categorias etárias podem ser visualizadas na “Ilha dos Macacos”. 97 Figura 21 - O Viveiro do Gavião-Real. 98 Figura 22 - O Lago do Hipopótamo em 2004 e 2009. 99 Figura 23 - Descobrindo os Iguanas. 100 Figura 24 - A “Ilha dos Iguanas” em 2007 e em 2009. 100 Figura 25 - Viveiros do Tigre Siberiano e do Urso-de-Óculos. 101 Figura 26 - Marco de Entrada. 109 Figura 27 - Para que Serve um Zoo? 110 Figura 28 - Panoramas e Detalhes do espaço Cobras e Lagartos. 112 Figura 29 - Detalhe do Antigo Viveiro da Sucuri em 1979 no Zoo do Rio. 113 19 Figura 30 - O Jacaré-do-Pantanal apresando uma cobaia diante do público. 115 Figura 31 - Demonstrações do manejo alimentar de grandes répteis - Projeto Humanizoo. 116 Figura 32 - O hábito arborícola da Píton Reticulada na “Ilha das Serpentes”. 117 Figura 33 - Placa informativa ressignificada com linguagem iconográfica. 120 Figura 34 - Portal “ZOOéLÓGICO”. 138 Relação das Tabelas e Gráficos. Tabela 1 - Diversidade de vertebrados no Brasil e no mundo. 28 Tabela 2 - Faixas Etárias Amostradas. 76 Tabela 3 - Animais escolhidos e suas localizações no Zoológico por setores e viveiros. 78 Gráfico 1 - Tempo médio de observação dos visitantes diante dos animais. 88 Gráfico 2 - Prevalência relativa dos comportamentos dos visitantes na Rio-Zoo. 150 Gráfico 3 - Local de origem dos visitantes do Zoo do Rio de Janeiro. 157 Gráfico 4 - Correlação (%) da frequência de visitação com o conhecimento. 157 Gráfico 5 - Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais exóticos. 158 Gráfico 6 - Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais brasileiros. 158 Gráfico 7 - “Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo. 159 20 1 - INTRODUÇÃO 1.1 - Considerações Iniciais. Pertence ao senso comum, a noção de que somente enfrentando e ultrapassando barreiras, se consegue vencer na vida. No trabalho do educador, isso significa subverter paradigmas para dar exequibilidade à educação, uma das principais finalidades de um Jardim Zoológico. Ao longo de sua trajetória no Zoo, como educador e como técnico de biologia, o autor se deparou com uma ampla gama de esquemas impostos e de condições situacionais desfavoráveis ao processo educacional. Uma facticidade expressada através de diversas maneiras, tais como: a organização da exposição dissociada de roteiros representativos à educação ambiental, a sobre-enfatização da linguagem científica nas formas de comunicação pública, a desvalorização de pontos referenciais históricos, de funcionários técnicos e do próprio departamento educacional, tradicionalmente sub-dimensionado, numa instituição com uma extraordinária missão cultural e educacional. Esta pesquisa já estava em curso, quando o autor foi convidado a trabalhar em outro setor de maior estabilidade, por impor um relativo respeito às constantes interferências político-partidárias. Aceitando o convite, foi transferido, em julho de 2007, do Centro de Educação Ambiental e Pesquisa - CEAP, para a Diretoria Técnica - DTE, a fim de atuar como Subgerente do Núcleo de Répteis, fato fundamental para sua valorização profissional e que possibilitou uma visão da instituição por meio de outra dimensão, propiciando a percepção de que o Setor de Répteis - SUART, tal qual o CEAP, experimentou uma trajetória de desatenção institucional. Com efeito, a SUART permaneceu sem um curador por três anos. Ao iniciar as novas atribuições, o autor se deparou com instalações sucateadas, tratadores desmotivados e descrentes, além de uma cultura 21 de que os répteis são animais que requerem pouca atenção, podendo ser mantidos em qualquer lugar e até, com sobras de alimento. A pesquisa como um todo, pode ser considerada uma crítica refletida, através de uma síntese dos opostos, seja na interface animal-visitante ou, mais especificamente, entre grupos sociais com valores e motivações bem distintas. De um lado, os técnicos de biologia, via de regra, empenhados em desenvolver uma imagem perante os demais funcionários, além de uma preocupação constante em atualizar e aperfeiçoar os seus conhecimentos. Do outro lado, o público, um mero desconhecido. Segundo concepção dos técnicos; aquele que só é lembrado quando causa problemas, atrapalhando o nobre trabalho do especialista ou então, quando comumente interpreta de forma deformada os fenômenos ambientais. À margem de todo processo, encontrase o tratador de animais, um constituinte sócio-ambiental da maior relevância à transmissão da mensagem institucional, mas que vem sendo subutilizado para este último fim. No que tange ao público, se destacam as crianças, movidas por um forte sentido de descoberta, que vêm ao Zoo para ver e conhecer os animais. As crianças são trazidas pelos adultos, que procuram reviver, com os seus entes queridos, os emocionantes momentos que passaram no Zoo na sua tenra idade. Por seu turno, o Zoológico enquanto organização, apesar de ter sido esquecido pelo poder público, necessita transmitir sua mensagem institucional, que é inerente a sua própria existência e que está diretamente relacionada aos princípios éticos e culturais da instituição (Seção 1.2.7). Esta pesquisa procurou avaliar se essa mensagem está chegando ao visitante. Para tanto, partindo de uma pesquisa de etologia aplicada que estudou o comportamento do público em relação aos animais e ao ambiente, o autor realizou amostragens à paisano, propiciando aos visitantes, o comportamento natural de considerar o pesquisador como parte do público. E assim, imerso nesse contexto social, o autor percebeu a existência de outras faces e dimensões da apreensão da realidade não consideradas pelo método científico, ocasião em que passou a adotar a 22 abordagem fenomenológica. “Esta tese refere-se a algo, que embora não ausente, se mostra silenciado, interdito, velado, o qual a fenomenologia deve ‘fazer ver’ até tornar-se fenômeno quando desvelado” (HEIDEGGER, M., 1997). Enquanto método, a fenomenologia foi adotada nesta pesquisa com o propósito de descortinar significados, motivações e representações de um grupo social formado, principalmente, por visitantes, técnicos e tratadores, por meio da interpretação das suas respectivas especulações, deliberações e potencialidades. Nesse percurso, tornou-se claro, que o ambiente do Zoo não é constituído apenas por animais, plantas e fatores abióticos. Segundo Enrique Leff, o ambiente é uma dimensão social (LEFF, E., 2003). Ademais, no exercício de suas ações, o ser humano não é um ser isolado, pois, convive numa teia social, permeada por fenômenos sociais, como a linguagem, e a transmissão de conhecimentos e valores. Assim, naturalmente, os seres humanos, enquanto seres sociais e liguísticos, movidos por desejos, preferências e emoções, manifestam avidez por interações ambientais, na busca da evolução de sua pessoalidade, onde o conhecer e o sentir são ações indissociáveis. Nesse sentido, a proposta desta pesquisa é promover a prospecção e a transmissão de conhecimentos objetivos e subjetivos, orientados pelas dimensões espaço e tempo, de modo a externalizar um saber sócio-ambiental, pertinente a evolução da coletividade-alvo e à missão institucional da Fundação Rio-Zoo. 1.2 - Jardim Zoológico: O que é e para que serve? Os Zoos são instituições históricas e culturais que se ocupam da gestão e do manejo de animais selvagens e domésticos, visando, além da conservação das espécies em confinamento, a exposição pública de sua coleção viva de animais, tendo como principais 23 atribuições; a conservação, a pesquisa e, sobretudo, o compromisso de contribuir com a educação ambiental dos visitantes e da comunidade. Vale ressaltar, que a noção desses princípios, está restrita aos técnicos e gestores de Zoos. Escassamente debatido no tecido social, os Zoológicos são instituições, que antes mesmo do seu surgimento no Século XIX, percorreram trajetórias relevantes na história da humanidade, desde as elitizadas coleções particulares de animais da Antiguidade, passando pelas menageries1 das monarquias européias, igualmente frequentadas exclusivamente pela nobreza, mas já suficientemente influenciadas pelos avanços científicos da Idade Moderna e pelas revoluções sociais, que subverteram o poder dos nobres e transformaram suas respectivas coleções particulares em bens públicos, nascendo assim os Zoológicos (KOEBNER, L., 1994). Os Zoos, portanto, surgiram no Século XIX, por influências de movimentos científicos e sociais do final do Século XVIII. No Século XX, os Zoos experimentaram as revoluções industriais e os consequentes impactos aos sistemas ecológicos e a fauna selvagem, condicionando algumas dessas instituições a uma mobilização relacionada à causa ecológica e ao bem-estar contínuo das espécies cativas. Com advento do século XXI, o tema principal dos Zoos passou a ser o ambiente, o que implica, numa tentativa de readaptação do ser humano à natureza2 . 1.2.1 - Características Físicas. O Jardim Zoológico está localizado na Quinta da Boa Vista no Bairro Imperial de São 1. Palavra de origem francesa e do gênero feminino, que significa coleção de animais em gaiolas. 2. Para os pré-socráticos a natureza é a physys, ou seja, a essencialidade e a totalidade, tudo que envolve todo o mundo, inclusive o próprio homem (COLLINGWOOD, R.G., 1945. Apud. EUNAUDI, Enciclopédia, 1990). 24 Cristóvão. Atualmente, ocupa uma área de 132 mil m2 , podendo ganhar mais 100 mil m2 quando concretizar sua ampliação (Anexo IX). Situa-se a 44 m de altitude, a 23o 54'S e 043o13'W, a 2 km de distância da Baía de Guanabara e a cerca de 7 km do Sumaré na vertente norte do Maciço da Tijuca. O clima predominante enquadra-se no tipo Aw de Koppen, clima tropical quente e úmido, com verão chuvoso e inverno seco. Há poucas precipitações na estação seca que vai de junho a meados de setembro e possibilidade de precipitações intensas na estação chuvosa, de dezembro a abril. No verão, a temperatura é elevada e o mês mais quente é fevereiro. A exemplo do que acontece com outros bairros voltados para a vertente norte do Maciço da Tijuca, o clima de São Cristóvão é mais quente no verão. Com efeito, além de receber os primeiros e os últimos raios de sol do dia, o maciço bloqueia os ventos oriundos do quadrante sul e as constantes brisas carregadas de umidade vindas do mar, esses fatores em conjunto, podem resultar numa incidência de calor maior do que a vertente sul. Acrescente-se a isso, o fato das vias e alamedas do Zoo serem asfaltadas, o que possibilita no verão, uma sensação térmica de cerca de 45 a 50o C nos horários de maior incidência solar. 1.2.2 - O Jardim do Zoo. Nos idos de 1868, o eminente paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, apresentou a Dom Pedro II, um plano para a organização de um jardim e um pomar na então Imperial Quinta da Boa Vista (CASADEI, T. de O.,1985). Em 1895, já no estado republicano, instalou-se ali a Inspetoria Geral de Matas, Jardins, Arborização, Caça e Pesca, um órgão do governo federal. Em 1910, este local, que ficava entre uma antiga escola municipal e o morro dos Telégrafos, foi escolhido para instalação do Jardim Zoológico. Em 1930 esta área passou ser 25 o Horto Florestal da Prefeitura (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Realmente, salta aos olhos, a grande concentração de árvores do Jardim do Zoológico, em comparação à arborização da Quinta da Boa Vista que tem uma área bem maior. Ademais, há consideráveis similaridades na composição florística. Ocorre que, algumas dessas árvores, prá lá de centenárias, encontram-se adoentadas, seja por infestação de cupins, pela ação das intempéries, pela poda inoportuna ou mal-concebida. Por conta dos aguaceiros de verão, regularmente algumas delas caem e danificam as edificações e viveiros. 1.2.3 - Roteiros de Visitação. Desde o Século XIX, vários Zoos foram surgindo na Europa e nas Américas. De lá para cá, essas instituições vêm evoluindo tanto na modernização da concepção dos viveiros, quanto no manejo das espécies, no desenho de suas áreas de exibição e no paisagismo. Isso naturalmente se refletiu nas suas respectivas concepções e organizações espaciais. O desenho da área de visitação do Jardim do Zoo do Rio de Janeiro é considerado de origem francesa, em virtude do traçado das suas vias e caminhos prevalecer uma ordem geométrica e harmônica, característico do jardim francês. Em relação a organização da exposição, o Jardim Zoológico, representa um Zoo do tipo lineano, pois, na disposição da sua área de visitação, ainda se observa uma organização por classes animais. Essa organização, pode ser observada na classe dos répteis, ainda alojados em setores restritos e contínuos (Anexo VI). No tocante aos roteiros de visitação, em publicações da década de cinquenta (REV. JARD. ZOOL., 1958), os gestores do Jardim Zoológico do então Distrito Federal, criaram um roteiro de visita único, com 26 uma circulação marginal, conectando numerosas regiões de visitação com vias não hierarquizadas e muito parecidas (Anexo V). Esse tipo de roteiro, com ligeiras modificações ainda prevalece, sendo demasiadamente extenso e cansativo. Em virtude das vias serem muito parecidas umas com as outras, o visitante fica confuso e, comumente, passa pelo mesmo local por várias vezes, dificultando a sua orientação. Dessa forma, não é proprorcionado ao público, uma experiência coerente, que guie o mesmo, harmônicamente, através das várias regiões hierarquizadas de exibição (Seção 1.6.9), conforme preconizado pelas modernas configurações de circulação do público em Zoológicos (COLLADOS, G. S., 2004). 1.2.4 - Qual a Expectativa do Público? Não há como refutar, que os animais estrangeiros, sobretudo, os africanos, devido principalmente, a uma associação concomitante de qualidades da forma3, provocam motivações externas incoercíveis nos visitantes. Na verdade, não é possível deixar de se impressionar com o tamanho e a forma bizarra de um Elefante, uma Girafa, um Leão, uma Zebra, um Rinoceronte e um Hipopótamo. É fácil constatar a expressiva popularidade desses animais, basta perguntar a qualquer visitante, antes da entrada do Zoo, quais animais ele pretende ver, que ele imediatamente responderá que quer ver, no mínimo, três dos animais mencionados. Isso é uma verdade, contudo, 3 - Na estética de um animal destacam-se as qualidades da forma, tais como: a extensão, o volume e a excentricidade, que provocam a motivação externa nas pessoas. Quando essas qualificações estéticas estão presentes em uma mesma espécie, o animal expressa fortísimo apelo visual e torna-se extremamente popular. É o que acontece com o Elefante que além do tamanho, tem uma tromba bizarra, a Girafa tem o pescoço comprido, o Leão a juba e a Zebra as listras. 27 o “Brasil tem muito de superlativo, quando o assunto é fauna” (MITTERMEIER, R., 1998), tanto em tamanho quanto em exotismo, mas, sobretudo, em diversidade4 (Tabela I). 1.2.5 - Gigante Pela Própria Natureza. Embora, a fauna brasileira não conte com mamíferos de grande porte, como aqueles encontrados nos países africanos, engana-se quem pensa que no Brasil não existam grandes animais selvagens. Em nosso país, além do mais possante gavião do globo, o Gavião Real, encontramos a maior arara existente, a Arara-Azul-Grande. Nadam pelos rios brasileiros, o maior peixe com escamas conhecido, o Pirarucu e o maior jacaré das Américas, o Jacaré-Açu. Na Amazônia, no Pantanal e em outros biomas, vivem: a Sucuri, a mais pesada serpente do planeta5 e o maior roedor do mundo, a Capivara. No Cerrado, encontramos o Lobo-Guará e o Tatu-Canastra, o primeiro, o mais alto canídeo conhecido e o segundo, o maior tatu do globo. Compõem ainda a fauna brasileira, o maior primata e o maior felídeo das Américas, respectivamente, o Muriqui e a Onça-Pintada ou Jaguar 6. “Nossos risonhos, lindos campos têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida" - Joaquim Osório Duque Estrada. Conhecido como o país da 4 -Toda nação tem três tipos de riqueza, quais sejam: riquezas material, cultural e biológica. Biodiversidade, diversidade biológica ou riqueza biológica constitui a riqueza e variedade do mundo natural. É importante considerar este termo em dois níveis diferentes: todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, e as interrelações entre estes seres, vez que, nos sistemas ecológicos a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras. Estima-se que o Brasil detenha cerca de um quinto de todas as espécies existentes no mundo. 5 - Segundo (VIZOTTO, L.D.,2003) p.148-9, já foi abatida, uma Sucuri (Eunestes murinus) com 12 metros, mas, não foi registrada no Guinness Book, onde consta desde 1912, uma Píton (Python reticulatus) com 10 metros. 6 - Digno de nota, foi a adoção pelos EUA do termo Jaguar de origem Tupi-guarani. Já no Brasil, por influência do europeu, foi adotada a designação Onça, originada de Uncia uncia, um felídeo exótico (FEDULLO, L.P., com. pess.). 28 megadiversidade, o Brasil reúne o mais elevado número de espécies de animais selvagens do mundo. Só de vertebrados, são mais de seis mil espécies já identificadas pela ciência. O Brasil, no "ranking" mundial da biodiversidade, ocupa a primeira posição em número de espécies de peixes de água doce, de mamíferos e de anfíbios, a segunda colocação em répteis e a terceira em aves (Tabela 1). Tabela 1 - Diversidade de vertebrados (em nº de espécies descritas) no Brasil e no mundo percentual de espécies endêmicas do Brasil, e posição no “ranking” mundial de diversidade (modificado de SABINO, José e Prado, Paulo Inácio, 2000)*- a,b,c (2010) Endemismo Brasil (%) 83 1 _ _ Peixes cartilaginosos 960 137 marinhos _ _ Peixes ósseos ca. 23.800 857 marinhos _ _ Peixes sem mandíbula No de espécies no mundo “Ranking” da diversidade no Brasil No de espécies no Brasil CLASSES ca. 1.800 água doce ca.10% 1o Anfíbios 4.580 875*(a) 57%(8) 1o (a) Répteis 6.709 719*(a) 37%(8) 2o (a) Aves 9.823 1.800*(b) 11%(8) 3o Mamíferos 4.715 589*(c) 25%(11) 1o TOTAL ca. 50.658* ca.6.778* _ 1o Fontes: 1. a. SEGALLA, Magno, 2010; b. GOERK, Jaqueline, 2010; c. COSTA, L.P. e outros, 2010. 1.2.5.1 - O Brasileiro Conhece a Fauna do Brasil? Refletindo sobre essa questão, foi desenvolvida uma avaliação cognitiva para aferir o 29 nível de conhecimento do público sobre os animais da fauna brasileira (JABOUR, M., 2001). Como esperado, dentre os resultados desta pesquisa probabilística foi revelado que, a maioria dos visitantes do Zoo do Rio, demonstra uma grande dificuldade de identificar as espécies da fauna brasileira de regular penetração na mídia e, portanto, de ampla visibilidade social, em detrimento, de um excelente desempenho na identificação das espécies originadas de outros países (Anexo XI), principalmente, as espécies africanas citadas, presentes na maioria dos Zoos. Além disso, a mesma pesquisa indicou que os visitantes com maior frequência de visitação no Zoo, quando comparados àqueles menos assíduos, apresentam um desempenho semelhante em relação ao conhecimento do nome e da origem dos animais brasileiros (Anexo X). Dentre as várias interpretações, essa tendência reforça a noção, de que o conhecimento é socialmente construído. Mas também sugere, que apesar do plantel do Zoo, estar muito bem representado por espécies da fauna nacional, as informações sobre os animais brasileiros não estão atingindo o grande público. 1.2.6 - Etologia e Fenômeno Aperceptivo. Mister considerar, que a maior parcela do público doméstico é motivado, principalmente, pelo lazer com os animais popularmente considerados os mais famosos e atraentes, preferencialmente os exóticos. Segundo James Gibson, (apud. OLIVEIRA, F. I. S. e Rodrigues, S. T., 2006) “as pessoas querem ver aquilo que já conhecem”. Não obstante, naturalmente, acontece do público estrangeiro, ao visitar um Zoológico brasileiro, dar preferência em observar às espécies da fauna brasileira, que em geral, o turista, só 30 conhece através de fotografias e vídeos. Contudo, uma desafiante questão persiste: considerando que o Brasil é a nação que reúne o mais elevado número de espécies de vertebrados do mundo (MITTERMEIER, R., 1998), por que ocorre esse desconhecimento, logo num Jardim Zoológico da segunda maior cidade brasileira, considerada a capital cultural da nação? Curioso e preocupado com essa questão, o autor se debruçou no estudo da etologia aplicada e, como resultado, desenvolveu uma pesquisa comportamental com o público do Zoo. Para tanto, partiu de uma metodologia adaptada da eficiente e pioneira pesquisa de etologia aplicada desenvolvida no Pólo Ecológico Jardim Zoológico de Brasília por um ecólogo, (BIZERRIL, M., 2000), que analisou o comportamento do público em relação aos animais selvagens daquele Zoológico. No trabalho desenvolvido no Zoo do Rio, o autor aplicou o método etológico de forma contextualizada, valendo-se de sua especial experiência como educador e biólogo de Zoológico. Dessa forma, modificou, ajustou e ampliou o alcance da metodologia aplicada no Zoo de Brasília. Contudo, nos intervalos entre as amostragens, a interação com o ambiente, transformou o autor em sujeito e objeto de seu próprio procedimento investigativo. Vale destacar, que do olhar atento e regular para o comportamento do ser humano surgiu o fenômeno aperceptivo, ou seja, a sensação de se colocar no lugar do outro, ou, no caso específico desta monografia, de perceber o ambiente do Zoológico com os olhos do visitante, do biólogo e do tratador. Além do exercício de superação humana peculiar ao fenômeno mencionado, o ato de colocar-se no lugar do outro, trouxe à tona, detalhes normalmente imperceptíveis ao biólogo, em geral preocupado, exclusivamente, com o conhecimento objetivo. Por conta disso, em várias ocasiões, a visão estereotipada da maioria dos técnicos em relação ao público e aos próprios tratadores de animais, foi submetida à epistemologia e a análise fenomenológica. 31 1.2.7 - A Lógica do Zoo e a Mensagem Institucional. Pode aparentar apenas um jogo de palavras. No entanto, vale esclarecer, que para Pierce 7 em suas Ciências Normativas, a ética determina a lógica e estas últimas, são estabelecidas pela estética. No contexto de um Jardim Zoológico, isso equivale ao seguinte raciocínio: a percepção de um mundo paisagístico representado por um Jardim, remete ao sentido de maravilha da natureza proporcionada por um ambiente modificado, concebido pela humanidade ou pelo criador 8. Por conta disso, constitui um pensamento correto, a necessidade de cuidar desse Jardim, no caso, do Jardim Zoológico, portanto, o próprio ambiente do Zoo é gerador da ética que lhe cabe. Vem daí a expressão, o Zoo é lógico, ou seja, a estética representada pelo ambiente construído determina a sua própria ética, e, por conseguinte, constitui um raciocínio correto e, portanto, lógico conservar este ambiente. No entanto, para dar sentido a tudo e conduzir o raciocínio em ação, como preconiza o método do pragmatismo lógico peirciano (Seção 1.5.2) é necessário subverter uma série de paradigmas e cuidar de transmitir a mensagem institucional que tem tudo haver com o raciocínio lógico acima. 7 - Charles Sanders Peirce (1839-1914) foi responsável pelos fundamentos da semiótica (estudo dos símbolos, significados e representações) e pela criação de um método filosófico, o pragmatismo. Para se ter uma idéia da sua contribuição, Peirce está para semiótica, assim como Lineu está para biologia e Mendelev está para a química. 8 - Segundo interpretação do mito religioso Cristão, textualizado na Bíblia, Deus, criador do mundo e da vida, entregou ao homem um jardim e um pomar, cuja história, revela a existência de uma metáfora do fruto proibido, cujo consumo por Adão, através da interferência da serpente, causou a sua expulsão juntamente com Eva desse Jardim Paradisíaco, condicionando ambos a uma vida de contínuo sofrimento pela perda do paraíso. A crença da recuperação da paz e da harmonia do paraíso perdido, seja, através de sonhos, da arte ou da criação paisagística, remete, mitologicamente, as pessoas ao resgate daquilo que pertence ao homem. 32 Num ambiente construído, como é o Jardim Zoológico, o Portão Monumental, representa uma forma de expressão humana, simbolizando com a sua estética neoclássica, aspectos culturais que recaptulam valiosos trechos da História do Brasil e do Rio de Janeiro. Seguindo uma linha de raciocínio, no mínimo razoável, seria esperado que o mencionado Portão continuasse sendo usado pela instituição como a entrada para o público (Figura 2), o que na prática não procede. Um outro exemplo, constitui a subutilização do tratador de animais no processo de transmissão da mensagem institucional9. Dessa forma, a teoria da significação peirciana e seu pragmatismo lógico, se ajustaram perfeitamente à finalidade desta monografia, que é subverter paradigmas a fim de resgatar o sentido de vários aspectos institucionais. Há ainda, outros aspectos relacionados à mensagem institucional que são negligenciados, como a nomenclatura popular dos animais. Com efeito, a gênese do conhecimento sobre os animais ocorre através do nome popular de cada espécie, no entanto cerca de 20% das espécies do plantel apresentam denominações populares de reduzido significado, inclusive, há diversos casos de animais com nomes depreciativos ou pejorativos, que sob a óptica educacional, contribuem com crendices, preconceitos e devalorizam essas espécies. Contudo, essa carência esbarra na indiferença dos técnicos de biologia. Nesse sentido, considerando a racionalidade, o simbolismo, o caráter convencional da linguagem e, finalmente, a prerrogativa de Subgerente de Répteis, foram ressignificados os nomes vulgares de várias espécies de répteis. Vale dizer, que isso foi levado a efeito, visando possibilitar ao público à percepção da diversidade da fauna brasileira, uma peculiaridade marcante da riqueza faunística nacional, inadvertidamente, imperceptível para o público no Zoológico. 9 - (...) gostaríamos de chamar a atenção para um grupo de participantes do cenário zoológico que não costuma ser percebido como autêntico educador: o tratador de animais. Estamos mais acostumados a reconhecer o técnico de nível superior como o “responsável” pela educação ambiental. Nem sempre “vemos” o tratador como um educador, mas ele assim o é, através de seu trabalho, durante suas rotinas diárias. Programas de zoo-educação devem incluir a capacitação regular de seus tratadores como educadores ambientais, visando assim o seu aperfeiçoamento (ROCHA-E-SILVA, R. da, 2004). 33 1.2.8 - Ponto de Referência e Roteiros. Enquanto linguagem e, sob a óptica da multidisciplina Comportamento-Ambiente, a mais pública das artes, a arquitetura, introduziu a pesquisa na coordenada espaço, propiciando a percepção de como o roteiro de visitação do Jardim Zoológico pode ser otimizado, com a nominação das ruas e alamedas da área de exposição dos animais (Seção 3.7.5), através da simbologia vigente no meio urbano e com um mais eficiente uso dos pontos de referência da instituição ou “landmarks” (LYNCH, K., 1960. Apud SOUZA, C. L.,1995). Particularmente, este é o caso do Portão Monumental, o maior monumento arquitetônico institucional, relegado, literalmente, a último plano. Para subverter esse esquema imposto, uma proposição relativamente simples foi apresentada (Anexo VIII). Ademais um roteiro de visitação foi sugerido (Anexo VI), considerando a necessidade de criação de zonas de visitação hierarquizadas e de configurações que observem os três elementos básicos que organizam a experiência do público: um acesso, um espaço de distribuição e os roteiros de visitação, que devem ser coerentes com todos os aspectos da mensagem instituciomal (COLLADOS, G. S., 1997). 1.2.9 - A Educação Ambienal e a Gestão Ética das Organizações. A abordagem da monografia que aqui se alinha, teve forte influência da educação ambiental. Nesse sentido, o ambiente foi considerado em sua totalidade, ou seja, em seus aspectos natural, social, econômico, histórico, cultural, físico, estético, ético e político. O autor não tem dúvida, de que o contexto político é o que mais interfere. Com efeito, a sucessão das várias 34 castas administrativas, legitimadas pelos pleitos municipais e estabelecidas pela política partidária, subverteu o sentido de uma série de aspectos do Zoo ao longo de suas respectivas gestões10. Via de regra, essas castas administrativas ingressavam no Zoo com objetivos exógenos e investidos em cargos de segundo e terceiro escalões da administração municipal. Raramente, os grupos políticos-partidários valorizavam ou, simplesmente escutavam os antigos funcionários, muito pelo contrário, eles enxergavam os servidores mais experientes como adversários e então, perseguiam, desqualificavam, constrangiam, transferiam e exoneravam, os servidores com mais de 20 anos de casa, em detrimento de inexperientes grupos técnicos-administrativos, que ao longo dos anos, ofuscaram a imagem do Zoológico no âmbito da administração municipal. A presente pesquisa, se apropriou dos fundamentos do modelo antropológico para gestão ética das organizações (LOPEZ, Perez, 1991). Segundo este autor, os entraves na evolução das instituições e a maior parte de seus problemas, não são os de caráter econômico e tecnológico, mas sim, os antropológicos e sociológicos, pensamento que guarda semelhanças com a filosofia fenomenológica e com a epistemologia ambiental, que aponta, com muita propriedade, que “a crise ambiental é o resultado da crise do conhecimento” (LEFF, E., 2006). Perez Lopes, considera ainda, que o ser humano se dirige sempre para fora de si mesmo, por intermédio de sua autotranscendência, assim, a conduta humana, só é realmente humana, na medida em que signifique “agir no mundo”. “O homem é um ser no mundo” (HEIDEGGER, M., 1997), e este salto humano para fora de si mesmo, ou seja, a superação pessoal, constitui a essência desta monografia. 10 - Para se ter uma idéia, a Fundação Rio Zoo, já esteve subordinada: a Secretaria de Obras Públicas; a Secretaria de Meio Ambiente (SMAC); a Secretaria Especial de Proteção e Defesa Animal; a Secretaria da Casa Civil (2009), sendo que, em apenas um ano da nova gestão municipal (2009-10), a instituição já está no seu tercerio presidente e, recentemente, retornou a SMAC . Na verdade, quando comparada, as cobiçadas pastas de governo, com orçamentos astronômicos, uma fundação municipal como é a Rio-Zoo, desperta pouco interesse do partido majoritário instituído, que, via de regra, acaba destinando para partidos de menor expressão, a própria sorte da administração do Zoo. 35 1.3.0 - Projetos de Educação Ambiental. Essa monografia não constitui um projeto de educação ambiental, mas sim, uma associação rara de abordagens de pesquisas, que visa propiciar subsídios à educação. Não obstante, devido a necessidade de contextualização dos fundamentos das ações educacionais, o autor entende que, na Rio-Zoo, educação ambiental deve ser um processo permanente de construção de um campo comum de experiências e vivências entre funcionários e visitantes, sobre o ambiente local, de modo despertar na coletividade uma convivência consequente, salutar, e útil com a fauna, flora e, obviamente, com os animais cativos, através do desenvolvimento de oportunidades de aprendizagens sobre os saberes do mundo animal, com destaque para às espécies brasileiras, sem contudo, desprestigiar os animais exóticos. A valorização do que é nosso, não deve ser considerado apenas em termos de objetividades, daí a necessidade de valorizar a memória institucional e de ilustres brasileiros esquecidos pelo tempo11, mas que foram pioneiros nas suas idéias ambientalistas. “Destruir matos virgens,... e sem causa, como até agora se tem praticado no Brasil, é extravagância insofrível, crime horrendo e grande insulto feita à natureza. Que defesa produziremos no tribunal da Razão, quando nossos netos nos acusarem de fatos tão culposos?” - José Bonifácio, 1821 (Apud. PÁDUA, J. A., 2004). Um exemplo clássico diz respeito a crítica ambiental no Brasil, que não é recente ou importada, foi simplesmente esquecida pela maioria dos intelectuais e dos livros de educação ambiental nacionais. O pioneirismo do Movimento Ambientalista Brasileiro, que durou 102 anos (de 1786 a 1888), foi contextualizado e muito mais profundo do que a obra da escritora 36 norte-americana Rachel Carson, através do livro "Silent Spring", publicado em 1962 e considerado como o pioneiro marco da educação ambiental no Brasil (PÁDUA, J. A., 2004). Segundo Paulo Freire "não existe ensinar sem aprender (...) o ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quem aprende". E acrescenta: (...) O aprendizado do ensinante ao ensinar se verifica à medida em que o ensinante, humilde, aberto, se ache permanentemente disponível a repensar o pensado, rever-se em suas posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dos alunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer (FREIRE, Paulo, 1993). Constituiu uma circunstância feliz, saber que as reflexões que culminaram com a escolha do caminho fenomenológico, foram motivadas por descobertas oriundas da enriquecedora relação professor-aluno12. Com efeito, paralelamente a pesquisa de etologia, a veia educativa do autor pulsava forte com uma nova e valiosa dinâmica infantil, balisada em recortes da pedagogia de Piaget, segundo a qual, "o jogo é um tipo de atividade particularmente poderosa para o exercício da vida social e da atividade construtiva da criança" (PIAGET, J. e INHELDER, B., 1978). 11 - Além de José Bonifácio de Andrade e Silva outros intelectuais, destacavam-se, quais sejam: Joaquim Nabuco, Alexandre Rodrigues Ferreira, José Vieira Couto, André Rebouças e mais 49 escritores e intelectuais brasileiros que produziram cerca de 150 textos iluministas e antropocêntricos que, com uma vantagem em relação a literatura estrangeira de mais de 120 anos, denunciavam a agricultura predatória, as queimadas e os modelos econômicos baseados no lucro imediato a qualquer preço, nas consequências nefastas da falácia do modelo escravagista e da inexorável destruição da riqueza natural do território brasileiro ( PÁDUA, J. A, 2004). 12 - Foi a partir do trabalho com crianças e pré-adolescentes, que a atenção do autor foi despertada no sentido de pesquisar a Fenomenologia, a Semiótica peirciana e a multidisciplina Comportamento-Ambiente. Tudo para subverter, pelo menos aqui no Zoo, a dicotomia existente entre os saberes do senso comum e do conhecimento científico, como preconizava o renomado e pragmático educador Paulo Freire. Portanto, as ações educativas e considerável parcela da pesquisa qualitativa foram balisadas também em Jean Piaget e Paulo Freire. 37 Além de visitas orientadas não-convencionais (Seção 3.8), os projetos educativos foram levados a efeito através de jogos como o “Brasil Fauna Já!” (Seção 3.7.6), onde as crianças, favorecidas por esquemas cognitivos peculiares ao procedimento científico puderam associar nomes populares de animais brasileiros às suas respectivas imagens, propiciando um aprendizado concomitante à ludicidade. As imagens de animais, também foram usadas para criação de vínculos afetivos com as espécies ameaçadas de extinção por meio do Projeto “Álbum de Família” (Seção 3.7.3) , que ainda utilizou a linguagem teatral, usada intensamente no Projeto “Bicho Fala Sério!” (Seção 3.7.2), no qual um educador encarnava um papagaio repórter, o Louro Lourival, que entrevistava espécies carismáticas e ameaçadas da fauna brasileira, difundindo conhecimentos e valores de forma lúdica. Por intermédio do Projeto “Via Zoo” (Seção 3.7.5), buscou-se valorizar as personalidades científicas e históricas do passado, através da nominação das ruas e alamedas da área de exposição, que além de orientar o visitante agrega saberes relacionados ao ambiente. Considerando que a preocupação com a conservação ex-situ dos animais não se esgota com o bem-estar e com o enriquecimento ambiental, foi desenvolvida uma eleição pública na área de exposição (Seção 3.7.4), visando à nominação de uma espécie híbrida de jabuti, destituída de nome popular e originada de duas espécies amplamente encontradas no território brasileiro e, portanto, bem populares, mas precariamente diferenciadas pelos visitantes, que inadvertidamente, não percebem a diversidade da fauna brasileira. Dentre todos os projetos educacionais, os mais relevantes à transmissão da mensagem instucional são os Projetos; “Monitores de Viveiros” (Seção 3.7.1) e “Humanizoo” (Seção 3.6.7), idealizados respectivamente, com o objetivo de orientar universitários e tratadores para, nos finais de semana, atuarem no Zoo, junto ao público, como multiplicadores das atividades técnico-educacionais, através de ações preventivas, instrutivas e orientadoras. 38 1.3.1 - A Origem e a Evolução dos Zoos. Os Jardins Zoológicos são instituições históricas cuja trajetória, desde as primeiras coleções particulares de animais selvagens, até o surgimento dos Zoos, foi bem reconstruída por estudiosos de história, antropologia, filosofia e arquitetura. As pesquisas revelaram, que desde a Antiguidade, se não todas, mas certamente, a maioria das grandes civilizações manteve animais em confinamento, normalmente, nos centros de riqueza das cidades. Proibido para o homem comum, colecionar e contemplar animais selvagens eram privilégios da nobreza e das classes governantes, que mantinham engaiolados animais perigosos e incomuns, como forma de manifestação de poder, ostentação e de um suposto domínio sobre a natureza. As pioneiras coleções eram agrupamentos fortuitos, os animais, quando não permaneciam confinados na própria armadilha, eram alojados em fossos escuros ou em jaulas muito pequenas, cercadas por barras de metal. O número de animais que morria sob essas condições era muito grande, mas isso não representava um grande problema para aquela época, pois, expedições de coleta de novos animais eram muito comuns (KOEBNER, L., 1994). Como resultado das navegações e expedições científicas da Idade Moderna (séculos XVI a XVIII), foi ampliado o hábito dos conquistadores de levar animais exóticos ao Velho Mundo como forma de comprovação do descobrimento de novas terras (SICH, H.,1997). Entre os séculos XVII e XVIII, o conhecimento científico sobre zoologia, usando espécies selvagens mantidas em confinamento, atingiu níveis nunca antes alcançados através dos estudos de anatomia, sistemática e do comportamento animal. Isso possibilitou um direcionamento especial às coleções de animais selvagens. Apesar de até o século XVIII, as coleções de animais constituírem um privilégio da classe dominante, a nobreza foi perdendo poder e controle sobre as pessoas comuns em diferentes partes do Velho Mundo e as exposições de animais foram se tornando mais acessíveis 39 para o público. À medida que o espírito científico foi aumentando nos séculos XVII e XVIII, as menageries foram adotando uma concepção distinta. As coleções de animais passaram a ser encaradas de forma diferente, tornando-se um meio de estudo e pesquisa e não apenas, locais para a diversão. Essas novas concepções constituíram os pilares para um novo tipo de instituição popular e científica que viria surgir no século XIX, os Zoológicos. A partir do século XX, com advento da Revolução Industrial e dos constantes e progressivos impactos sobre o ambiente, o espírito ecologista tomou conta dos Zoos que passaram a ter relevante função na conservação da fauna e na educação ambiental. Com o advento do século XXI, a evolução dos Zoológicos caminha para a implementação dos grandes centros de conservação (KOEBNER, L., 1994). Nesses espaços, também abertos a visitação pública, os viveiros são concebidos no próprio ambiente e as espécies animais nativas são conservadas no próprio hábitat, favorecendo sobremaneira as ações de educação ambiental e de conservação dos sistemas ecológicos regionais. Figura 1 – A Evolução do Zoos (KOEBNER, L., 1994). 40 1.3.2 - Um Portão para Inglês Ver? Nos idos de 1759, como resultado do confisco dos bens dos padres da Cia. de Jesus, que foram expulsos e deportados por ordem do Marquês de Pombal, as terras dos jesuítas foram divididas passando ao domínio de diversos arrematantes que aos poucos se estabeleceram. Várias chácaras e lavouras de cana-de-açúcar e de café foram surgindo nessas propriedades, dentre as quais, a Chácara de São Cristóvão, adquirida por Elias Antônio Lopes, um hábil e abastado negociante português. Na época, Elias construiu uma confortável mansão na sua propriedade. Com a chegada da família real portuguesa ao Rio de Janeiro, inicialmente instalada no antigo palácio dos vice-reis anexado ao convento das Carmelitas, onde nos arredores havia muita sujeira e barulho. Elias, intencionando ser generosamente recompensado, resolveu oferecer à Família Real no final de 1808, o seu casarão de campo. O presente de ano novo foi prontamente aceito por Dom João, que sem demora, lá se instalou com a família e as armas reais da Casa de Bragança (FERREZ, G., 2000). Através da incorporação de outras chácaras, a Quinta Imperial foi bem ampliada e passou a se estender do rio Maracanã até o cais do porto. Ao ser transformado em habitação da Família Real, a mansão passou por uma ampla reforma para ter um aspecto mais condigno de uma residência monárquica. O arquiteto inglês John Johnson em 1816, trouxe consigo um elegante portão. Mas logo que chegou, chamou a atenção pelas críticas ao palácio, dizendo que o mesmo tinha apenas um andar, era perfeitamente plano, não tinha pretensão alguma de elegância ou de aparência de qualquer espécie de arquitetura e nada podia ostentar senão a beleza de sua situação, podendo ser confundido, à distância, com uma fábrica, devido suas janelas serem tão juntas (FERREZ, G., 2000). 41 1.3.3 - Um Ponto Referencial para o Público Conhecer. Dentre outras versões, o portão trazido por John Johnson foi encomendado por Dom João ao Duque de Northumberland, General Lorde Percy, por 800 (oitocentas) libras esterlinas, mas nunca foi pago. Então o embaixador da Inglaterra resolveu dar de presente para Dom Pedro I, por ocasião do seu casamento com a Imperatriz Leopoldina em 1817. A vinda de John Johnson ao Brasil foi precisamente para montar o portão. Contudo, havia muito o que fazer no antigo "Casarão do Elias", tanto foi, que o arquiteto inglês acabou sendo nomeado por Dom João em 8 de janeiro de 1818, para o cargo de Reposteiro. No final de maio do ano seguinte, chega ao Rio de Janeiro, o escritor James Henderson que dois anos mais tarde, em 1821, publicaria em Londres "A History of the Brazil" revelando o presente do nobre inglês ao monarca português (FERREZ, G., 2000). Figura 2 - O Portão Monumental - Entrada Principal (REV. JARD. ZOOL., 1958). 42 O mais curioso de tudo, foi que o Portão Monumental13 apesar de ter sido colocado em frente ao paço imperial, não havia como passar por ele, pois, o mesmo ficava num local inacessível. Foi justamente por esta condição de inacessibilidade, que ao ser indagado do motivo desta localização do pórtico, um dos fidalgos, pela primeira vez no Brasil (Paulo Celso Martins Brandão14, com. pess.), teria respondido: “está neste canto aí para os inglêses verem”! Realmente nas obras de Debret e do Barão de Planitz (Figuras III e IV), percebe-se claramente que o Portão não era usado como entrada. Quase um século mais tarde, em 1909, já no estado republicano e, por ordem do Presidente Nilo Peçanha, responsável por grandes reformas na Quinta, iniciou-se as providências para tranferência do Portão Monumental9 para a frente do terreno destinado a construção do Zoo (1.2.2), e lá está até hoje. Atualmente, no momento em que termina o passeio, o visitante dá, literalmente, as costas para o Portão e a rica História do Brasil e da Cidade do Rio de Janeiro, que em muitos aspectos se confundem com as Memórias do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. Integrante da Missão Artística Francesa, Jean Baptiste Debret, divulgou na sua valiosa obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil (MILLAN, J. H., 1998), as transformações na arquitetura da residência real na Quinta da Boa Vista: o paço com os dois torreões em estilos distintos em 1831, o paço com o Portão Monumental e com o acréscimo do primeiro torreão em estilo gótico (torreão norte) em 1822 e o casarão do Elias em 1808 (Figura 3). 13 - O Portão do Zoológico, O Portão Monumental, também chamado “Pórtico Dórico”, foi um presente de casamento do General Lorde Percy, Duque de Northumberland a D. Pedro I. O maior monumento existente no Jardim Zoológico do Rio, constitui uma cópia do existente na “Sion House”, residência do citado Duque e foi inspirado no pórtico de Robert Adams. É moldado numa espécie de terracota, a “Coade stone”, da empresa inglesa Coade & Sealealy. A fotografia do Portão Monumental da página anterior, (Figura 2) mostra, claramente, que os visitantes tinham o privilégio de entrar no Zoo através da sua entrada principal (REV. JARD. ZOOL., 1958). 14 - O arquiteto Paulo Celso Martins Brandão foi o Diretor-Presidente do Zoo do Rio de Janeiro na transição da administração direta para indireta. Inaugurou a Fundação Rio-Zoo em primeiro de agosto de 1985 e administrou a Fundação até 1990 passando o cargo para Guilherme Tardin Barbosa que presidiu a Rio-Zoo até 1994. 43 Figura 3 - Transformações na Arquitetura da Residência Real na Quinta da BoaVista (MILLAN, J. H., 1998). Embora a pedra fundamental das obras do Zoo tenha sido lançada em 1913, o seu Portão Monumental só foi aberto ao público em 18 de março de 1945, numa solenidade inaugural onde estavam presentes: o prefeito Henrique Dodsworth; o representante do presidente da república; o Capitão Bruno Pereira; além de ministros de estado; secretários municipais e órgãos da imprensa. A inauguração do Jardim Zoológico na Prefeitura do então Distrito Federal do Rio de Janeiro transcorreu em meio a uma alegre festa, na qual participaram mais de cem mil cariocas, que precisaram esperar por cinco anos para voltar a visitar um Zoo, devido ao fechamento da Cia. Jardim Zoológico em 1940 (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). 44 Figura 4 - Paço do Imperador do Brasil em São Christovão (FERREZ, Gilberto, 2000). O pintor Karl Robert Barton von Planitz, aristocrata alemão, também conhecido como Barão de Planitz,viveu no Brasil desde 1833 até o fim de sua vida. Esta litografia aquarelada intitulada Paço do Imperador15 do Brazil em S. Christovão Rio de Janeiro (18,8x26,8cm), foi pintada entre 1835 e 1840, destaca o carro de bois, o Portão Monumental e o palacete real e o pico da Tijuca ao fundo (FERREZ, Gilberto, 2000). Nota-se na obra, que o acesso de animais e pessoas ocorre à esquerda da entrada do Paço. 15 - No prédio do Palácio Imperial de São Cristóvão nasceram D. Pedro II, D. Maria da Glória, que foi coroada rainha de Portugal e a princesa Isabel. Lá foram decididos fatos relevantes da História do Brasil, tais como: a Independência, a 1ª Constituição do Brasil, a Abdicação, a Abolição da Escravatura e a República. Atualmente, o prédio abriga o Museu Nacional. 45 1.3.4 - Do Barão ao Macaco Tião - Memórias do Zoo no Rio de Janeiro. Figura 5 - Barão de Drummond (MOYA, S. de, 1939). Humanitário, abolicionista, católico praticante e grande empreendedor, o mineiro João Baptista Vianna Drummond (01.5.1825 - 07.8.1897), foi diretor da Companhia de Ferro-Carril de Vila Isabel, bairro que ele próprio fundou no Rio de Janeiro em homenagem a Princesa Isabel. Ganhou o título de Barão de Dom Pedro II em 19.08.1888, por ter alforriado todos os escravos da Fazendo do Macaco, propriedade com cerca de dez hectares que adquiriu da Duquesa Leopoldina segunda filha de Dom Pedro II. Lá , montou, comprovadamente, o primeiro Jardim Zoológico do Brasil16. 16 - O Conde Maurício de Nassau, que governou Recife (PE) de 1637-1644, fundou o Gabinete de História Natural – onde era mantida uma coleção de objetos raros e curiosos dos três reinos da natureza. Nesse Gabinete não existia um Zoológico e sim uma coleção de animais exclusivamente para pesquisa. Lá, o médico Wilhelm Piso, e o naturalista alemão Georg Marggraf realizaram os pioneiros estudos da farmacopéia local, das doenças tropicais e, da fauna e da flora de um modo geral. Atribui-se, às vezes, a Emílio Goeldi a criação do pioneiro zoológico do Brasil, mas não passa de especulação. Nos idos de 1897, o então naturalista, chegou a trabalhar como ornitólogo no Museu Nacional (SICK, H., 1998), mas, a inauguração do Zoo do Barão, data de janeiro de 1888. 46 “Flores são lindas. Mas animais são subúrbios do homem, nossos parentes”, dizia o barão manifestando sua notável afeição pelos animais. Recém-chegado de Paris, Drummond, tomou conhecimento, através da imprensa, ou da ótima relação que mantinha com a família imperial, do “Plano de Melhoramentos” do Ministério da Agricultura, cujo relatório de 1874 previa a criação de um Jardim Zoológico na corte. Insatisfeito com o retorno do emprendimento hípico que criara, o “Prado de Vila Isabel”, o então Comendador Vianna Drummond, inclinado a iniciativas de impacto, apresentou oficialmente em 20.02.1885, o projeto de criação de um Jardim Zoológico. Situado à rua Visconde de Santa Isabel, com uma área de 300.000 m2. Tratava-se de uma empresa, a Compahia Jardim Zoológico, que tinha ao todo 37 acionistas, dentre os quais: a Companhia Arquitetônica, que detinha a maioria das ações, a Cia. Ferro Carril de Vila Isabel, várias firmas comerciais e personalidades da corte. “A Directoria da Companhia Jardim Zoológico attendendo a constantes pedidos do publico para visitar o Jardim, onde já se podem ver muitos animaes, boas construcções e grande parte do terreno ajardinado, deliberou franquear a entrada todos os dias (...) O preço será para pessoas maiores de 12 annos, 500rs.;de 6 a 12 annos 200rs. e gratis aos menores de 6 anos.” (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Com o passar de poucos meses de funcionamento, a diretoria da Cia. Jardim Zoológico se deu conta das altas despesas de um Zoo e dos escassos recursos oriundos da bilheteria. Na tentativa de equilibrar as finanças, o barão buscou apoio na Câmara dos Deputados. Não logrando êxito, insistiu e conseguiu subvenção de dez contos de reis por ano do Ministério da Agricultura. Contudo, com a queda da monarquia e a instalação do governo republicano em 1889, a subvenção foi perdida e a Cia. Jardim Zoológico entrou em acentuada e progressiva crise financeira. Decidido 47 a reverter a situação, o Barão em suas andanças pelos arredores da rua do Ouvidor, conheceu uma jogatina nova, um tal “jogo das flores”, inventado e explorado por um mexicano chamado Manoel Ismael Zevada. Nessa ocasião, o mexicano, futuro gerente da Cia. Jardim Zoológico, propôs ao Barão a criação de jogos no Zoo, como forma de aumentar a compra de ingressos. Empolgado o Barão criou, juntamente com o mexicano o “jogo do bicho”. Obtendo em 13.10.1890, a permissão oficial do Conselho de Intendência Municipal, para explorar o “jogo do bicho” no interior da Cia. Jardim Zoológico (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Segundo o Sr. Carlos Drummond, sobrinho-genro do Barão, “o jogo do bicho, não foi invenção de Drummond, mas sim de Manoel Ismael Zevada, um mexicano que criou o jogo na Rua do Ouvidor. Originalmente o tal jogo era das flores, contudo, não logrando êxito, o tal mexicano propôs ao Barão a criação do jogo do bicho no Jardim Zoológico como incentivo para aumento da venda de entradas. E assim foi feito. A série era de 25 bichos e as entradas que tivessem a estampa do bicho sorteado, recebiam vinte vezes o valor do ingresso. O processo do seu início até a premiação do jogo do bicho era o seguinte: - Em uma grande caixa colocada da ponta de um mastro, próximo à entrada do Zoo, estava a “estampa” do animal, que era ali colocada as sete ou oito horas da manhã e assim ficava sob a vigilância do público. À tarde, a caixa era descida e na presença dos concorrentes, verificava-se qual era o animal premiado. A lisura do processo convenceu o público, daí a sua extraordinária projeção”. Não tardou a sua transformação em jogo de azar e com isso veio a proibição oficial. A partir de então, o antigo Jardim Zoológico foi aos poucos se extinguindo e acabou fechando suas portas na década de 40” (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Considerado desde sua origem, como fator de progresso e civilização urbana, uma vez que nas grandes capitais da Europa e dos Estados Unidos os Zoos já eram populares. A idéia de criar um Jardim Zoológico Municipal na Cidade do Rio de Janeiro é bem antiga e teve início em 1909, quando o então Presidente Nilo Peçanha determinou a transferência do Portão Monumental da frente do Museu Nacional para a entrada do Jardim Zoológico do Distrito Federal, o que foi efetivado em 1910 (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). 48 1.3.4.1 - Tupi or Not Tupi? A densa história do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro revela, que antes mesmo da sua inauguração em março 1945, uma acirrada polêmica envolvendo a imprensa e a Prefeitura do então Distrito Federal era deflagrada. De um lado, a mídia acusava as autoridades municipais de “demonstrar mentalidade atrasada e colonial e ainda julgar a preocupação e o conhecimento das coisas estrangeiras em detrimento do que é nosso sinônimo de desenvolvimento”. Do outro lado, a prefeitura alegava que: “um zoológico que não possuísse elefantes e ursos brancos não seria digno de uma grande capital” (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Por fim, prevaleceu a vontade do governo. A razão para tamanha polêmica foi decorrente do indeferimento de um projeto de Guilherme Guinle pela prefeitura. Guinle queria presentear os cariocas com um Zoológico formado exclusivamente por espécies da fauna nacional. Entretanto, vale ressaltar, que no plantel do Zoológico carioca sempre houve predomínio numérico de espécies brasileiras. Nos idos de 18 de março de 1944, ainda na gestão do Prefeito Henrique Dodsworth, foram iniciadas as obras na Quinta da Boa Vista. Precisamente um ano depois, em 18 de março de 1945 o Jardim Zoológico do Rio foi inaugurado. Depois de abrir o seu portão ao público, com uma área inicial de 90 mil m2, o Zoo passou a funcionar às terças, quintas, sábados e domingos de 11 às 18 horas expondo uma rica coleção de aves e cerca de 194 espécies de mamíferos, apenas se ressentindo de uma coleção completa de animais de grande porte em virtude das dificuldades provenientes da guerra (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). 49 1.3.4.2 - A Passagem do Primeiro para o Terceiro Setor. A partir de 1945, o Zoo experimentou toda a sorte de transformações políticoadministrativas condicionadas por sua vinculação as diversas esferas burocráticas do poder instituído, quer do Estado ou do Município. Por conta disso, a liberação de recursos financeiros estava associada a diversos interesses políticos. Com a instalação do governo municipal do Rio de Janeiro, em consequência da extinção do Estado da Guanabara, o Jardim Zoológico passou a ser subordinado a Secretaria de Municipal de Obras. Apesar de um benefício imediato revelado em reformas e reformulações do espaço interno, o Zoo ainda carecia de autonomia administrativa e financeira (GABRIEL DE MELO, R. A. e outros, 1991). Quarenta anos após a inauguração, em 1 o de agosto de 1985, o Jardim Zoológico foi transformado em uma Fundação Municipal, a Fundação Rio-Zoo, com a expectativa de ampliar a agilidade, a eficiência administrativa e financeira. Na época o Diretor da Fundação Rio-Zoo, o arquiteto Paulo Celso Martins Brandão, recebeu a doação de uma réplica de um painel de Cândido Portinari. A doação foi feita por João Cândido Portinari, filho do renomado pintor expressionista. Nos idos de 1985, o carioca João Cândido fazia parte do conselho curador da Fundação Rio-Zoo e coordenava o Projeto Portinari desde agosto de 1979. Consciente da acentuada popularidade do Zoo e da influência de uma obra do maior expoente das artes plásticas do país, numa instituição em fase embrionária. João Cândido acertou em parte, a obra de Portinari inspirou a criação da logomarca da Rio-Zoo, com a figura estilizada de um TamanduáBandeira, contudo, raríssimos são os cariocas que conhecem este pitoresco 50 Figura 6 - Painel Floresta Amazônica (CATÁLOGO RAISONNÉ "Portinari - Obra Completa. 2003). Figura 7 - Logomarca da Fundação Rio-Zoo. detalhe da história do Jardim Zoológico. Pintado em 1957, o painel apresenta cinco dos mais característicos representantes da fauna nacional17. Contudo o animal campeão em populariade e o mais famoso foi um Chimpanzé, o Macaco Tião. O Macaco Tião, irreverente como bom carioca, se notabilizou, dentre outras peripécias, por jogar água em personalidades políticas. Em 23 de dezembro de 1996, o então prefeito Cesar Maia decretou oito dias de luto pelo falecimento do renomado macaco, que chegou a ser noticiado no Jornal Francês “Le Mond”. Antes disso, nos idos de 1988, Tião foi lançado como candidato a prefeito do Rio pela turma do “Casseta e Planeta”. E obteve expressivos 400 mil votos, ultrapassando políticos de peso, num pleito vencido por Marcelo Alencar, até hoje, o prefeito mais presente e popular do Zoo. Da irreverência, às peripécias, cuspindo água nos políticos como o próprio Marcelo Alencar, o deputado Otávio Leite e o presidente do Zoo Guilherme Tardin, 17 - Painel de Cândido Portinari à óleo e madeira, intitulado Floresta Amazônica de 1957 (85 x 445cm). Dentre os animais são retratados nesta obra, a Cutia, a Paca, a Anta o Araçari e o Tamanduá-Bandeira, que foi escolhido pelo Conselho Curador como símbolo da Fundação Rio-Zoo (CATÁLOGO RAISONNÉ "Portinari - Obra Completa. 2003). 51 à devoção, na última homenagem do tratador Waldomiro Silva, o inesquecível Zarur (Figura 8). Figura 8 - Três momentos da vida do Macaco Tião (JORNAL O Globo, 1996). 1.4 - Bases Científicas. 1.4.1 - Breve Histórico da Etologia e sua Importância em Zoos. Na Antiguidade, o famoso filósofo Aristóteles (cerca de 380 a 330 d.C.), por intermédio de seu livro “A História dos Animais”, foi o primeiro a descrever alguns traços comportamentais de mamíferos selvagens, como aqueles relacionados à territorialidade e às brigas dos machos de veados durante o período da reprodução (KOEBNER, L., 1994). No século XVII, durante a Idade Moderna, coube ao filósofo francês René Descartes, o pioneirismo de conceber o mecanismo natural do reflexo como uma explicação do comportamento animal (BIZERRIL, M., 2000). 52 Nos últimos anos, os biólogos têm se dedicado à tarefa de descrever e tentar explicar os complexos comportamentos dos animais. Estudos de etologia18 vêm sendo implementados com uma grande variedade de animais, tanto no hábitat das espécies (in-situ) quanto em confinamento (ex-situ). Muito do que se sabe hoje, sobre comportamentos reprodutivos, alimentares e sociais de animais selvagens, sobretudo, aqueles de hábitos arborícolas e noturnos, foi derivado de pesquisas realizadas em Zoos. O Enriquecimento comportamental ou ambiental19 proposto pelo psicólogo americano Robert Yerkes em 1920 (YERKES, R.M., 1932), procurou aprimorar a construção de viveiros, a fim de incentivar a manifestação do comportamento natural dos animais, visando à melhoria do bem-estar físico e psicológico das espécies, resultou na concepção de viveiros mais adequados. 1.5 - Bases Filosóficas. 1.5.1 - A Fenomenologia. A fenomenologia 20 propõe a superação da dicotomia da clássica relação sujeito- 18 - A ciência das relações comparadas entre o comportamento animal e humano, a criação dessa nova ciência só foi reconhecida a partir dos trabalhos dos zoólogos austríacos Konrad Lorenz (1903-1989), Karl von Frisch (1886-1982) e do holandês Nikolas Tinbergen (1907-1988). Os trabalhos desses cientistas foram tão marcantes, que os três pesquisadores foram laureados com o prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1973 (BIZERRIL, M., 2000). 19 - Enriquecimento ambiental constitui um conjunto de ações de manejo que visam ampliar a complexidade ambiental dos viveiros e recintos dos animais de modo a estimular a manifestação de condutas também mais complexas e mais próximas do comportamento natural das espécies (SARIEGO, G.. C., 1997). 53 objeto, oriunda da teoria do conhecimento cartesiano, onde é enfatizado o papel atuante do sujeito que conhece (racionalismo), em contraponto ao empirismo, onde o enfoque se dá na determinação do objeto conhecido. Os Fenomenólogos partem do princípio que não há objeto em si, já que o objeto está sempre voltado para um sujeito que lhe dá significado, assim, toda consciência é intencional. Isso significa que, contrariamente ao que afirmam os racionalistas, não há pura consciência, separada do mundo, mas toda consciência tende para o mundo; toda consciência é consciência de alguma coisa. Por meio do conceito de fenômeno21 e de intencionalidade, a fenomenologia se contrapõe à filosofia positivista do século XIX, aprisionada sobremaneira, à visão objetiva do mundo e a crença na possibilidade de um conhecimento científico cada vez mais neutro e destituído de subjetividade e, portanto, mais distante do homem (GARNICA, A. V. M, 1997). A fenomenologia propõe a retomada da "humanização" da ciência, estabelecendo uma nova relação entre sujeito-objeto e homem e mundo. A consciência é doadora de sentido, fonte de significado para o mundo. Conhecer é um processo que nunca acaba 22, é uma exploração exaustiva do mundo (LISBOA, F., 2001). 20 - A Fenomenologia é “um nome que se dá a um movimento cujo objetivo precípuo é a investigação direta e a descrição de fenômenos que são experienciados conscientemente, sem teorias sobre a sua explicação causal e tão livre quanto possível de pressupostos e de preconceitos.” (MARTINS e BICUDO, 1997). 21 - (...) o próprio conceito de, Fenômeno, da expressão grega Fainomenon, derivada do verbo Fainestai, ou mostrar-se a si mesmo, ou aquilo que se mostra ou se manifesta. Faino provém de Fa ou raiz, ou Fos, a qual significa luz, pode-se compreender melhor que a fenomenologia aborda os objetos do conhecimento tais como aparecem, isto é, como se apresentam à consciência (MARTINS e BICUDO, 1989. Apud GARNICA, A. V. M, 1997). 22 - "Pensar é 'inquirir', 'procurar' por uma dada coisa, pensar que tal coisa foi encontrada, agir 'como se' fosse essa a coisa que procurávamos, antes de recomeçarmos esta 'busca' pela verdade a que Peirce chama de falibilismo" (DELEDALLE, Gerard, 2000. Apud LISBOA, F., 2001). 54 1.5.2 - Teoria da Significação e o Pragmatismo Lógico Peirceano. Figura 9 - Charles Sanders Peirce -1839-1914 (D’OLIVEIRA, A. M. ,1983). A linha filosófica da significação, está basicamente fundamentada nos estudos desenvolvidos pelo cientista, filósofo e lógico norte-americano Charles Sanders Peirce. Suas obras originais somente foram publicadas de forma reunida a partir de 1931, sob o título de Obras Escolhidas. Segundo Peirce, para solucionar os problemas filosóficos, ou ao menos encaminhar suas soluções, impunha-se descobrir métodos apropriados que conferissem significados às idéias filosóficas em termos experimentais e organizassem essas idéias para que pudessem ser estendidas a novos fatos. A esse projeto geral foi dado o nome de “pragmatismo”, conceito que se tornou cada vez mais específico em seu pensamento. Definindo o pragmatismo como a concepção na qual as coisas são aquilo que elas podem fazer. Peirce formulou o pragmatismo, concebendo-o como um método. Em outras palavras, o pragmatismo não seria a solução para este ou aquele problema, mas constituiria uma técnica auxiliar, capaz de encaminhar a compreensão de problemas de natureza científica e filosófica (D’OLIVEIRA, A. M., 1983). 55 “(...) Eu defino um signo como uma coisa que é tão determinada por qualquer outra coisa, que chamo seu Objeto, e assim determina um efeito em uma pessoa, que efeito eu chamo seu interpretante, que o posterior é assim mediadamente determinado pelo precedente (Peirce 1908 - “Letter to Lady Welby” Apud D’OLIVEIRA, A. M., 1983). Peirce fundamentou como resultante de seu pragmatismo lógico, a teoria da significação, ou seja, o conceito de signo e suas categorizações. Para Peirce o objeto é quem determina o signo. Esse recorte conceitual é de relevância seminal na teoria de significação peirciana e, como consequência, representa a base para toda crítica em curso, referente a nomenclatura popular vigente dos animais no Zoo. Nesse sentido, é preciso sublinhar que, no que tange a nominação de uma espécie do plantel do Zoo, são as características presentes na aparência e no comportamento animal, que devem determinar o nome popular de uma espécie. Nem sempre um signo é aquilo que indica. Se o rugido de um leão, por exemplo, é um sinal da presença deste felídeo, o rugido não é idêntico ao próprio leão, mas, tão-somente o indica. Um signo ou “representamen” é algo que sob certo aspecto ou de algum modo representa alguma coisa para alguém ou dirigi-se a alguém, isto é, cria na mente daquela pessoa um signo equivalente ou, talvez, um signo melhor desenvolvido - Peirce. (Apud D’OLIVEIRA, A. M., 1983). De acordo com Peirce, os signos podem ser divididos em três espécies principais: ícones, índices e símbolos. O ícone é um tipo de signo em que o significado e o significante apresentam uma semelhança de fato. O desenho de um animal seria um exemplo de ícone; o desenho significa o animal, simplesmente porque se parece com ele. Um índice é um signo que não se assemelha ao objeto significado, mas indica-o casualmente, é um sintoma dele, porque experimenta-se uma contiguidade entre os 56 dois. Nuvens carregadas, por exemplo, constituem o índice de chuva, como a fumaça é índice de fogo. O símbolo, ao contrário, opera segundo uma contiguidade instituída, ou seja, dependente de uma adoção de uma regra de uso. As bandeiras constituem símbolos das nações e entre as bandeiras e as nações, não há qualquer relação causal necessária, trata-se apenas de uma convenção. A quase totalidade da linguagem usual, falada e escrita, é de natureza simbólica. Assim pode-se dizer que, dentro desta relação triádica (objeto-signo-interpretante) o conceito genérico de signo seria uma representação mental do objeto real. Segundo Peirce, não é possível qualquer ato de cognição que não seja determinado por outra cognição prévia, na medida em que todo pensamento implica a interpretação ou representação de alguma coisa por outra coisa 23. Dependendo da perspectiva com a qual o objeto é abordado, Peirce distingue o objeto enquanto pertencente a realidade, o objeto dinâmico, e o objeto enquanto pertencendo a razão, objeto imediato ou semiótico. Essa distinção é fundamental em qualquer tentativa de aplicação da semiótica de Peirce, seja como método interpretativo ou, como ferramenta epistemológica (LISBOA, F., 2001). O objeto peirceano é pensado de duas maneiras simultâneas: como objeto semiótico, que aparece como um dos três termos da relação de representação e o objeto por si mesmo, independente do modo como é representado, que Peirce designa como objeto dinâmico ou real. Um exemplo clássico, da leitura das diferentes dimensões concomitantes em que Peirce considera o objeto é o que acontece com os jacarés no Zoo do Rio. 23 - Os outros animais são capazes de entender ícones e índices. O cachorro, por exemplo, utiliza o signo indicial cheiro. Ele é capaz de reconhecer o cheiro do dono numa roupa, num lugar. E o cheiro indica a presença do objeto (o dono) que ele procura. Ele reconhece, ainda, o tom de voz, as ações que indicam passeio, hora de comer etc. 57 No Zoo, normalmente, tanto os visitantes quanto os funcionários interagem com o ambiente, captando informações ambientais. Mas, as interações com o ambiente, entre esses dois tipos de agentes se processa de maneira bem distinta. Por exemplo, nenhum funcionário da Rio-Zoo que não seja técnico, se impressiona com a expressiva imobilidade dos jacarés, enquanto a maioria dos visitantes manifesta surpresa ou mesmo indignação com a "estranha" sonolência dos crocodilianos. Ao longo do tempo, os funcionários adquiriram informações ambientais suficientes para concluir, que o comportamento de escassa mobilidade desses répteis é normal, enquanto as informações dos visitantes são impregnadas por filtros sociais (Seção 1.6.7), oriundos das produções cinematográficas, que proporcionam ao telexpectador, a noção de que os crocodilianos são muito ativos e ferozes, deferindo botes rápidos e fatais. Apesar de fazer parte do repertório comportamental dos crocodilianos, esses comportamentos são esporádicos. Portanto, entre os visitantes há a expectativa de comportamentos compatíveis com aquelas noções deformadas da realidade. Diante de um jacaré, um “objeto imediato”, expressando comportamento natural, o visitante interpreta como anormal, acreditando que algo de errado está acontecendo com réptil, inclusive, em significativas vezes, ele chega a expressar indignação, pois, a imagem acaba remetendo a um esquema mental de que, aquilo que não se mexe, não pode estar bem, ou vivo. Nesse exemplo, torna-se clara a noção de que, o objeto imediato pode induzir o observador ao erro e que, o objeto dinâmico é necessário para a noção de verdade. Vale ressaltar, no melhor estilo peirciano, quatro relevantes inferências deste exemplo, a primeira; que um funcionário leigo tem a precisa percepção nocional do comportamento do jacaré, não porque ele enfiou a cara nos livros, mas, pelo fato dele, através de sua percepção visual, constatar repetidas vezes a relativa imobilidade dos jacarés e julgá-la plenamente normal; a segunda, que a percepção visual prevalece entre o público, a terceira, que o visitante apresenta idéias deformadas sobre o comportamento animal e, a quarta, que essas noções necessitam ser retificadas, através de mudanças no comportamento ambiental dos viveiros da Rio-Zoo, onde encontram-se quatro, das seis espécies de jacarés da fauna brasileira (Seção 3.6.7). 58 1.6 - Comportamento-Ambiente. A multidisciplina Comportamento-Ambiente, “Environment Behavior-studies”, constitui a confluência dos estudos oriundos da arquitetura, filosofia, psicologia ambiental, ciências ambientais e neurociências. Com efeito, a colaboração entre várias fontes teóricoconceituais, representa condição fundamental para aprofundar os enfoques e possibilitar a evolução dos estudos dos processos mentais do conhecimento humano, até a relação do ser humano com o ambiente, que doravante será estudada amiúde. 1.6.1 - A Percepção. O termo percepção vem do latim percipere, que significa compreender, dar-se conta. Embora, há séculos tenha ocorrido uma profunda discussão relativamente aos aspectos conceituais deste termo, não é objetivo aqui, recaptular os principais pontos desse debate histórico. Considerando o termo de forma ampla, pode-se definir percepção como uma função cerebral doadora de significado aos estímulos sensoriais, a partir de um histórico de vivências passadas. Em outras palavras, por intermédio da percepção o indivíduo adquiri, organiza, seleciona, interpreta e avalia as informações obtidas pelos sentidos para atribuir significado ao ambiente. Embora a visão seja o sentido dominante nos seres humanos, fornecendo bem mais informação do que todos os outros sentidos combinados (PORTEOUS, 1996. Apud REIS, A.T.da L. e LAY, M. C. D., 2006), optou-se por duas formas clássicas conceituais: a percepção sensorial e a percepção nocional. 59 A percepção sensorial está relacionada à interação entre o espaço e o visitante, exclusivamente, através dos sentidos básicos e a outra, a percepção nocional é aquela, que além de estar ligada à interação espaço-visitante, por intermédio dos sentidos, sofre a influência de outros fatores tais como memória, visão de mundo e cultura (REIS, A.T.da L. e LAY, M. C. D., 2006). 1.6.2 - Fatores Interferentes. A percepção se inicia com a atenção, que nada mais é do que um processo de seleção daquilo que está sendo percebido. Todo ser humano é condicionado por fatores que interferem no processo perceptivo, que em última análise resultam na percepção de alguns objetos em detrimento de outros. Nesse sentido, pode-se categorizar o processo perceptivo segundo dois fatores interferentes: os fatores externos, próprios do ambiente e os fatores internos, próprios do indivíduo. Considerando, que na evolução da espécie humana a visão e a audição foram, e continuam sendo, os sentidos fundamentais para sobrevivência, os fatores externos ou ambientais de maior relevância relativos à atenção são: intensidade; movimento; contraste e incongruência. Ao ouvir o estridente rugido de um leão ou o esturro de um jaguar, imediatamente, o visitante deixa de fazer o que for e se dirige frenéticamente em direção a esses animais 24. Espécies 24 - É interessante notar, que ao ouvir o estridente rugido de um leão, a primeira sensação que se tem é o medo, manifestado pelo sujeito na forma de susto, que dispara seu metabolismo preparando-o para a luta pela sobrevivência, mas, ao invés de se afastar do predador e do perigo iminente, como faria nosso ancestral, o visitante, em segurança no Zoológico, se aproxima feliz da vida, pela sorte de presenciar esta maravilhosa manifestação natural. 60 zoológicas de maior atividade, normalmente, despertam mais atenção do que as de menor atividade. De forma semelhante, animais com formas e cores contrastantes podem despertar a atenção do visitante, assim como aqueles com aparência bizarra, como as serpentes, animais destituídos de pernas, braços e orelhas, mas, que mesmo assim, podem se deslocar com rapidez e abater presas proporcionalmente maiores de que a sua cabeça. A incongruência também pode-se dar, com espécies alojadas em ambientes não-convencionais, conforme paradigmas nocionais do público, um exemplo típico é o caso dos pinguins, em que o visitante normalmente associa a ave ao ambiente gélido, como no Rio de Janeiro não se sente aquele frio polar, sua atenção é fortemente despertada, da mesma forma, em que uma pessoa com terno e gravata, chama muito mais a atenção na praia, onde a maioria encontra-se com trajes de banho, caracterizando um outro caso de incongruência. O conjunto dos motivos de cada visitante, constitui a causa principal dos fatores internos que interferem na percepção do ambiente. Especificamente, isso se refere aquele estado de espírito e força interior, que leva o indivíduo a fazer, a falar e a agir, ou seja, a motivação25, que por seu turno é ancorada em valores e normalmente, está associada a uma dada emoção (Seção 1.7.2). Com efeito, o visitante presta mais atenção naquilo que o motiva e lhe dá prazer, em detrimento do que não lhe interessa (GIBSON, J.,1979. Apud OLIVEIRA, F. I. da S e Rodrigues, S. T., 2006. Seção 1.6.5). Dessa forma, os visitantes adultos e idosos manifestam mais atenção, pelos animais que já conhecem e que, normalmente, num passado distante, lhe proporcionaram momentos de emoção, que os mesmos desejam reviver com seus entes queridos. 25 - São reconhecidos três tipos de motivação: a extrínseca, relacionada à satisfação do indivíduo desde fora, no caso do visitante, p. e., o preço do ingresso, o atendimento, as promoções e brindes etc. A motivação extrínseca, detém-se à satisfação do visitante com a visita; já a motivação intrínseca, está vinculada à auto-estima e à satisfação das necessidades relativas à evolução da pessoalidade do visitante, tais como, a aquisição de conhecimentos e valores sobre os animais e ao funcionamento do Zoo e, finalmente, a motivação transcendente, que ocorre, quando a preocupação do visitante se dirige para o outro, seja na forma de explicar algum saber a uma criança ou acompanhante, ou depertar num ente querido, a relevância de um valor humano relacionado com os animais ou com o ambiente. 61 1.6.3 - Princípios da Percepção - Psicologia da Forma. A psicologia da forma, ou Gestalt se fundamenta na moderna teoria da percepção, segundo a qual, um objeto é percebido como um todo organizado e o todo, têm características que não podem ser inferidas das partes isoladamente. A teoria da Gestalt sugere uma resposta ao porquê de certas formas agradarem mais que outras, sem ser balizada no subjetivismo do “Feio x Bonito”, mas sim estruturada, na fisiologia do sistema nervoso, sempre através de rigorosos experimentos e pesquisas. Segundo a Gestalt não há excitação sensorial isolada, mas complexos em que, o parcial é função do conjunto. Isso significa que o objeto não é percebido em suas partes, para depois ser organizado mentalmente, mas se apresenta primeiro na sua totalidade, ou seja, na sua forma e na sua configuração, para à posteriori o indivíduo atentar para os detalhes (GOMES FILHO, J., 2000). O conjunto é mais que a soma das partes, e cada elemento depende da estrutura a que pertence. Durante a interação dinâmica com o ambiente, o visitante controla suas atividades em geral, através da captação de informação pelo sistema visual. Tal captação é determinada pelas suas intenções, capacidades e pelas informações disponíveis no ambiente que o envolve. Nesse sentido, é fundamental para psicologia ambiental a compreensão de quais informações disponíveis para o agente são efetivamente percebidas e contribuem para a regulação do comportamento. Com efeito, quando uma pessoa foca o olhar com o fim de enxergar a tridimensionalidade ilusória de estereogramas, via de regra, não consegue ver a figura de imediato. Diversos experimentos com percepção visual demonstram que à medida que se adquiri novas informações a percepção é alterada. Algumas imagens ambíguas, das experiências da psicologia da 62 forma possibilitam ao observador ver objetos diferentes de acordo com a interpretação que se faz. Na famosa "imagem mutável" ilustrada a seguir, não é o estímulo visual que se altera, apenas a interpretação que se faz desse estímulo. Figura 10 - Imagem ambígua - "percepção mutável" (JASTROW, J., 1899). Apud (KUHN, T.S.,1969). No princípio figura e fundo, percebe-se um vaso ou duas faces de macaco se entreollhando? Como no estereograma abaixo criado pelo autor (vide capa). Figura 11 - Macacos se entreolhando ou um vaso? 63 Figura 12 - Iguanas mimetizando os ramos de uma árvore. Assim como um objeto possibilita múltiplas interpretações, pode acontecer de um objeto não gerar percepção alguma e, apesar de estar presente diante do observador, não ser percebido, caracterizando uma percepção deficiente. Isso ocorre com muita frequência no caso de mimetimo críptico, modo de defesa não ofensiva de várias espécies animais, que se camuflam ou imitam perfeitamente o ambiente. É o que acontece com os iguanas, que dificilmente são visualizados pelos visitantes, apesar de serem lagartos corpulentos, como algumas espécies de sapos (Figuras 12 e 13). Figura 13 - Sapo-de-Chifre na serrapilheira de uma floresta (IZECKSOHN, E. e Carvalho-e-Silva, S.P., 2001). 64 1.6.4 - Forças Integradoras da Percepção Humana. Embora cada indivíduo tenha sua própria maneira de perceber o ambiente, a sensação da forma pelo cérebro é sempre uma percepção global dos estímulos, ou seja, o cérebro não enxerga elementos isolados, e sim as relações entre eles. Portanto, enxergamos o todo e não partes de um objeto ou imagem. A hipótese da Gestalt para explicar estas forças integradoras é uma estruturação natural do sistema nervoso, que tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados, em busca de sua própria estabilidade. Para percepção humana, não existe qualidade absoluta de cor ou forma, há apenas relações. Através dos estudos, os gestaltistas perceberam a presença de certas constantes nessas forças integradoras, que explicam porque vemos as coisas de certa maneira, quais sejam: unificação e segregação; fechamento; boa continuação; proximidade; semelhança e pregnância da forma (GOMES FILHO, J., 2000). A Pregnância da Forma abrange todos as forças integradoras. Segundo a Gestalt, as forças de organização tendem a se dirigir sempre à melhor forma possível, no sentido da clareza, unidade e equilíbrio, ou seja, quanto melhor a forma, mais pregnância ela terá, e melhor será sua relação com o cérebro. Uma imagem de boa Gestalt é enxergada com muito mais clareza pelo cérebro, e consequentemente de forma harmoniosa. Finalmente, deve-se observar a importância da noção de unidade da Gestalt na psicologia da percepção, incluindo a relevante relação sujeito-objeto, que indica que cada imagem percebida é o resultado da interação das forças externas com as forças internas26, a tendência de organizar da melhor forma possível os estímulos externos (GOMES FILHO, J., 2000). 26 - Essa abordagem da Gestalt corrobora e agrega mais fundamento aos fatores que interferem no processo de percepção ambiental descrito na Seção 1.6.2. 65 1.6.5 - A Psicologia Ecológica Gibsoniana. A Teoria Ecológica dos psicólogos James Gibson e Eleanor Gibson (Gibson, 1960. Apud REIS, A. T. da L. e Lay M. C. D., 2006), tem este nome por ter sido desenvolvida a partir da informação ambiental. Ao contextualizar essa abordagem, pode-se dizer, categoricamente, que ela busca responder às questões de como os visitantes conhecem o ambiente e quais relações existem entre ambos. Dada a complexidade dessa linha de pensamento e, a despeito de todas as divergências que a mesma expressa pela teoria representacionista, as convergências também presentes, corroboram relevantes aspectos do pragmatismo peirciano e se coadunam perfeitamente à exequibilidade da cognição ambiental nos viveiros dos animais. O processo de percepção ambiental é entendido por Gibson em termos da natureza das propriedades dos estímulos ambientais. A atenção é seletiva, ou seja, os indivíduos prestam atenção no que já é conhecido e naquilo em que estão motivados a reconhecer, o que depende de suas experiências anteriores. A percepção é guiada por um esquema mental27 antecipatório: indivíduos percebem aquilo que sabem como encontrar. O esquema mental direciona a exploração, enquanto a experiência pode modificar o esquema mental. De acordo com a teoria ecológica, os significados dependem de associações aprendidas pelos indivíduos, assim como as atitudes destes em relação aos significados também são aprendidas. De acordo com hipótese gibsoniana, o ambiente pode ser entendido como: "as superfícies 27 - Esquema constitui a rede de conhecimento generalizado baseado em experiência prévia que funciona através de estruturas cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o ambiente, p. ex. o esquema antecipatório manifestado por um visitante ao se dirigir a um viveiro já conhecido ou, um aluno antes de uma aula futura, simplesmente anunciada pelo professor, que surge no dia da aula, com anotações pertinentes ao tema proposto (Seção 3.9.6),ou, os esquemas do procedimento científico ou da teoria piagetiana da equilibração (Seção 1.7.1). 66 que separam as substâncias do meio no qual os animais vivem", inclusise o ser humano. Além disso, o ambiente, ao disponibilizar informações suficientes para o comportamento do visitante, possibilita superfície de locomoção, manuseio de alguns objetos, de outros animais e de interações sociais. O ambiente construído é considerado como um meio de comunicação não verbal, provendo pistas para o comportamento. Um ponto alto dessa teoria constitui o conceito de affordance (GIBSON, J.,1979. Apud OLIVEIRA, F. I. da S e Rodrigues, S. T., 2006), que significa aquilo que é proporcionado pelo ambiente, e o conceito de ambiente comportamental, referindo-se às propriedades físicas da configuração de um ambiente, que o capacitam a ser usado de uma forma particular, por determinado grupo de usuários, significando aquilo que o ambiente oferece de positivo ou negativo em função das propriedades físicas de sua configuração, limitando ou estendendo as escolhas estéticas e comportamentais do usuário. Portanto, além de reconhecer a importância do ambiente em determinar oportunidades e restrições, em função de suas características, o viés gibsoniano assume que, diferentes padrões ambientais podem proporcionam distintos comportamentos e experiências estéticas. A aplicabilidade da teoria gibsoniana no processo de cognição ambiental da área de exposição de répteis foi fundamental e se amalgamou perfeitamente ao pragmatismo lógico peirciano, através da transformação do comportamento ambiental dos viveiros de répteis, durante os dias e horários de maior movimentação do público no Zoo. Em outras palavras, os estímulos proporcionados pelo ambiente foram propositadamente ampliados ao extremo, por intermédio do uso de agentes ambientais motivadores, viveiros com propriedades físicas e de configurações estéticas favoráveis e que, tradicionalmente, despertam os esquemas mentais antecipatórios dos sujeitos. Com efeito, a “Ilha das Serpentes” e o “Lago dos Jacarés” que, geralmente provocam acentuado magnetismo no público, passaram a possibilitar aos visitantes uma notável 67 ampliação da percepção ambiental e da manifestação de comportamentos diferenciados e compatíveis à apropriação de saberes ambientais (Seção 3.6.7). 1.6.6 - Quanto Mais Temido, Mais Apelo Popular. O medo é um sentimento importante quando encarado como um dos fatores para a manutenção da vida. O problema para a natureza e para o indivíduo é a distorção e os exageros advindos de informações irreais, que acabam gerando pânico e consequente desejo de extermínio do agente causador. As conversões entre sonho e realidade e vive-versa constituem uma prática social corrente. Nesse sentido, os animais28 que estimulam, naturalmente, o imaginário popular, estão entre as espécies que despertam maior curiosidade. Expressadas, principalmente, por meio de sensações antagônicas como temor e admiração. Por este motivo, as serpentes estão entre os animais mais procurados pelo público visitante (Seção 3.5.6). Recordista zoológico na quantidade de lendas, superstições e preconceitos29 (VIZOTTO, L. D., 2003), as cobras, além de serem, literalmente amaldiçoadas pelo mito religioso cristão, têm o formato corporal bizarro. Trata-se também, de um dos grupos zoológicos mais poderosos e temidos, anseios naturais do ser humano. 28 - Existem grupos de animais que despertam grande antipatia e nojo das pessoas. Por exemplo, animais como minhocas e caramujos e também as rãs e pererecas, possuem tal estigma em virtude de serem moles, frios e pegajosos. As pessoas têm notável dificuldade em lidar com objetos que não estejam claramente definidos ou classificados, como é o caso dos anfíbios que ora encontra-se na terra ora na água (RODRIGUEZ, J. C., 1983). Ademais, a consistência mole do corpo desses animais encontra-se entre o sólido e o líquido o que provoca o mesmo tipo de reação humana. Acrescente-se a isso o fato desses animais apresentarem “sangue frio”, com efeito, o ser humano associa o quente a vida e o frio a morte (RODRIGUEZ, J. C., 1980). 29 - Normalmente, animais de atividade noturna são também estigmatizados (Anexo XXVI). 68 1.6.7 - Filtros de Percepção do Mundo Real. A construção dos viveiros e recintos de animais selvagens são concebidas conforme padrões estritamente científicos que sistematicamente encontram-se apoiados em evidências objetivas e fatores fisicamente mensuráveis. Dessa forma, os técnicos que projetam os alojamentos dos animais são influenciados por “filtros de percepção” (Figura 14). Segundo o modelo dos filtros de percepção do mundo real de Amos Rapoport, a cultura e as características individuais atuam como filtros na percepção, de modo que situações iguais podem ser percebidas diferentemente pelos indivíduos. (...) É evidente que o contexto cultural e as tendências intelectuais do observador afetam muito à percepção dos arquétipos e esquemas. (...) Há tendência a sobrevalorar os dados rigorosos e a considerar a informação externa ao observador como a mais objetiva. De fato, esta informação é filtrada pelo projetista, (...) Seus objetivos e a cultura à qual pertencem filtram a informação, sendo este filtro da maior importância na configuração total. (RAPOPORT, A., 1975). Imagem Cultural Imagem Pessoal Filtro Filtro Filtro Filtro Imagem Cultural Imagem Pessoal Pessoa A ^ ^ Mundo Mundo ^ ^ Mundo Pessoa B Figura 14 - O modelo dos filtros (RAPOPORT, A.,1997. Apud FREIRE, G., 2001). 69 1.6.8 - Mapas Cognitivos. Por mapa cognitivo, entende-se o processo no qual a mente humana adquire, codifica, relembra e decodifica as infomações advindas do ambiente espacial, ou seja, a representação interna que o indivíduo faz relativamente ao ambiente que o cerca. A orientação espacial só se torna uma tarefa possível através da formação de um mapa cognitivo. Entende-se mapa cognitivo como um modelo estrutural interno a todo indivíduo onde se forma este processo de representação mental do ambiente físico externo. Para Lynch “as pessoas formam uma imagem mental do ambiente construído. Assim, no processo de orientação, o elo estratégico constitui a imagem ambiental, ou seja, a imagem mental generalizada do mundo exterior que o individuo retém. Esta imagem é o produto da percepção imediata e da memória da experiência passada e ela está habituada a interpretar informações e a comandar ações. A necessidade de conhecer e estruturar o nosso meio é tão importante e tão enraizada no passado que esta imagem tem uma grande relevância prática e emocional no individuo” (LYNCH, K., 1960. Apud SOUZA, C. L.,1995). Lynch definiu cinco elementos essenciais presentes no ambiente urbano que induziriam a formação de uma imagem mental daquele espaço: vias (caminhos ou rotas percorridas usualmente pelo indivíduo); limites (elementos definidores de limites de uma área qualquer); cruzamentos (elementos estratégicos do espaço que consituam um foco de atenção, tipo interseção de duas alamedas ou ruas) e landmarks, elementos de referência facilmente identificáveis pelo indivíduo que “parecem adquirir um significado crescente à medida que as deslocações vão tornando-se cada vez mais familiares. Na Rio-Zoo, além de vários cruzamentos entre as vias (Seção 3.7.5), existem alguns “landmarks”, o Portão Monumental, a “Casa da Ararajuba”, a “Ilha dos Macacos”, o “Viveirão”, a atual “Ilha das Serpentes” e o “Lago das Aves Pernaltas”. 70 1.6.9 - Organização Espacial em Zoos. Conforme as características de cada Zoo, as áreas de exposição devem organizarse segundo uma linha condutora, de modo a gerar alguma estrutura lógica de circulação. Em virtude das circulações constituírem um dos elementos principais que definem a experiência do público ao visitar um Zoológico, estas devem ser desenhadas para possibilitar uma experiência interessante e coerente, que guie os visitantes de um zona de exibição ou conjunto de viveiros, a outra, de acordo com a organização temática planejada. Historicamente, os Zoológicos são organizados sob vários conceitos: segundo o parentesco entre as espécies, segundo regiões geográficas onde os animais habitam, e nos últimos anos, segundo o bioma ao qual eles pertencem (COLLADOS, G. S., 1997). Considerando que cada Zoo tem sua própria história de desenvolvimento, há diversos tipos de configuração, no entanto, os Zoos apresentam alguns esquemas básicos que tendem a se repetir. Estes esquemas, têm em comum pelo menos três elementos básicos que organizam a experiência do público: um acesso, um espaço de distribuição e um ou mais corredores de exibições. A opção de organização mais vista em Zoológicos que vem tendo um desenvolvimento pouco planificado ao longo do tempo, é aquela sem hierarquia, apresentando muitas circulações aleatórias que conectam diferentes zonas de exibição. Neste caso, não é possível apresentar uma roteiro instrutivo e coerente aos visitantes, sendo difícil a orientação do público no Zoo de forma eficiente. Dentro das opções de organização com hierarquia, o caso mais simples é o que tem um só roteiro, que começa e termina no mesmo ponto de distribuição, que funciona bem para um Zoológico pequeno com um tema único, por exemplo, uma coleção de animais 71 endêmicos de uma região particular. O tema a ser apresentado tem continuidade total, nesse caso, é recomendado incentivar a circulação em uma só direção mediante o desenho. Este esquema é impraticável para zoos medianos e grandes, vez que, um roteiro único se tornaria demasiadamente extenso e cansativo. Para o caso de Zoos maiores, com temas mais complexos, funciona melhor o esquema de um ponto central de distribuição com vários roteiros que começam e terminam no mesmo ponto. Este esquema facilita a criação de zonas temáticas, tais como, regiões zoogeográficas, com um praça central, que teria um caráter urbano e de transição entre uma zona e outra. Os visitantes podem escolher quantos roteiros deseja visitar, segundo o tempo e a energia que tenham, sempre passando pela praça central, que oferece os serviços públicos. Outras vantagens deste tipo de organização é que as circulações de serviço podem realizar-se de forma periférica, evitando múltiplos cruzamentos com a circulação do público (Collados, G. S., 2004).Uma outra opção de organização com hierarquia é a que substitui a praça central por um eixo principal, que distribui os diferentes roteiros e contém os serviços ao público. Este esquema é especialmente prático para Zoos grandes, de médio porte ou complexos, nos quais é necessário dispersar ao máximo tanto os visitantes como as zonas de exibição, este é o caso da Rio-Zoo (Anexo VIII). 1.7 - Bases Educacionais. Todo o esforço técnico-científico voltado para a conservação da fauna resultará em vão caso não haja participação popular. Esse pensamento, tornou-se um jargão, amplamente adotado no meio acadêmico e que, continua presente como temática de congressos e nos mais eloquentes 72 e competentes discursos políticos. Na óptica educacional, que motivou todo o esforço científicofilosófico desta monografia, o pensamento citado não passa da mais pura verdade e a educação ambiental constitui o principal caminho para tornar factível a desejada participação. Com efeito, a educação é uma das atribuições fundamentais dos Zoos e, portanto, deve fazer parte de um plano estratégico institucional que incorpore um programa de educação definido. Contudo, a árdua missão de educar o público, não cabe exclusivamente ao setor educacional do Zoo e essa pesquisa irá provar isso. Considerando a temática da significação e percepção ambiental desta monografia, a abordagem será desenvolvida de acordo com as teorias de Jean Piaget e Paulo Freire. Refetir globalmente e agir localmente, de forma contextualizadora e permanente constituem características marcantes da educação ambiental, que, no caso específico do Zoo tem um enfoque centrado nas relações entre o ser humano e os animais. Considerando atitudes e preferências das mais antigas e amplas até os valores e padrões de comportamento mais recentes e especicíficos. Tendo em vista, o caráter holístico na abordagem da educação ambiental se faz necessário considerar todos os aspectos que compõem o ambiente, desde os prevalentes fatores ecológicos e técnicocientíficos, aos aspectos sócio-culturais. A presente monografia irá deter sua abordagem considerando especificamente os visitantes em geral ou público pagante. 1.7.1 - Conhecimento Quantitativo. "O observador escuta a natureza, o experimentador a interroga e a força a se desvendar (...) " Curvier. A todo o momento, os visitantes estão observando os animais e seus viveiros, 73 mas esta observação é com frequência fortuita e dirigida por propósitos aleatórios. Já a observação do técnico, orientada através do método científico, é precisa, criteriosa e voltada à percepção das regularidades do comportamento animal. Portanto o conhecimento quantitavo está relacionado ao pensamento racional. Nesse sentido, além de utilizar instrumentos para tornar mais precisa suas observações, por trás do olhar do cientista, existem pressupostos teóricos que lhe permitem ver o que o leigo não percebe. O conhecimento construído pelos cientistas aspira à objetividade, pois, as suas conclusões devem ser verificadas por qualquer outro membro da comunidade científica. Para tanto, a linguagem do técnico necessita ser rigorosamente precisa, objetiva, desprovida de emoções e impessoal. Condicionados pelos rigores da ciência, os técnicos geralmente se expressam para as pessoas leigas e para o próprio público, da maneira pela qual eles estão acostumados, ou seja, com um linguajar baseado na terminologia científica. Não obstante, vale destacar que a linguagem científica é baseada no latim e no grego. Segundo a leitura piagetiana, o indivíduo possui um sistema cognitivo que funciona por um processo de adaptação, assimilação e acomodação, que pode ser perturbado por conflitos e lacunas e reequilibrado através de compensações. Quando uma nova informação surge, o conhecimento anterior pode sofrer questionamento e perturbação, gerando lacuna ou conflito. A partir dessas perturbações o indivíduo procura mecanismos compensatórios que levem a um equilíbrio maior que o anterior (PIAGET, J. e Inhelder, B., 1978). Embora todos reconheçam o trabalho dos técnicos e admirem suas realizações, decididamente, não dá para falar grego com o público. A mente das pessoas têm uma dinâmica própria e só assimila o que ela julga ser relevante e necessário, a fim de ela própria, construir o seu conhecimento. Com efeito, aprender significa comparar a nova noção com conceitos e crenças já existentes, que se encontram associadas ao sistema de valores de cada indivíduo. Por isso, é natural que os conhecimentos que integram o indivíduo sejam sempre repassados, comparados 74 e classificados. Isso torna o sistema pessoal de valores cada vez mais coerente. Em síntese, os conhecimentos são primeiramente julgados para serem posteriormente adotados ou rejeitados. 1.7.2 - Conhecimento Qualitativo. Constitui a a abordagem educacional associada ao sentimento e a emoção. O raciocínio qualitativo, busca fomentar a consciência e a sensibilidade do indivíduo, de modo a levar o mesmo a questionar seus próprios padrões de conduta, visando o ajuste de seus valores à nova realidade sócio-cultural. Um sistema pessoal de valores reflete a totalidade dos conhecimentos, claros ou obscuros, intuitivos, metafísicos ou racionais, acumulados pelo indivíduo ao longo da vida. De acordo com seus valores, as pessoas fazem juízos, compram coisas, escolhem seus amigos, namoram, criam seus filhos e votam nas eleições. Os valores estão estreitamente associados com crenças e atitudes e se manifestam através de preferências e escolhas. Sendo assim, ele é fonte de poder, pois permite ao indivíduo manifestar opiniões, travar discussões, tomar decisões e, eventualmente, convencer os outros. Embora cada indivíduo tenha seu próprio “modelo de mundo”, na dimensão social, existem valores culturais amplamente aceitos e compartilhados pela maioria dos membros da coletividade. Certos valores estão tão profundamente enraizados no tecido social, que são aceitos pelas pessoas, sem que elas tenham consciência de que existem alternativas. Muitas coisas continuam sendo feitas, porque sempre tem sido feitas dessa forma, ou porque, todos fazem desse modo (BERKMÜLLER, K., 1984). No Zoo, é possível desenvolver variadas ações educativas pertinentes ao saber qualitativo. 75 2 - DESENVOLVIMENTO 2.1 - Bases Científicas. 2.1.1 - Etologia Aplicada ao Público do Zoo. Enquanto método científico, o trabalho etológico se iniciou por meio da formulação de hipóteses. No caso específico desta pesquisa, as hipóteses foram as seguintes: o comportamento do visitante é alterado em função da aparência do animal? O comportamento do visitante se modifica de acordo com o tamanho do animal? O comportamento do público se altera em conformidade com o comportamento do animal? O comportamento do visitante está relacionado a organização da coleção? Viveiros mais amplos ou de configuração complexa, tendem a aumentar a permanência do visitante diante do animal? Foi adotado o método de amostragem de observação livre (ad libitum) porque, este é um método não-estruturado de amostragem, não existindo portanto, constrangimentos sistemáticos em relação ao que é registrado ou quando é registrado, por conta disso, nenhuma obrigação é imposta com respeito às categorias comportamentais, à ordem das observações, ou aos períodos da observação. Ademais, as observações "ad libitum" são geralmente aplicadas para definir um rol de comportamentos a serem registrados durante um período de observações não sistemáticas, o que torna possível o ajuste do procedimento. Esse método é especialmente adequado para efetuar observação de eventos visíveis, mas, podem superestimar dadas categorias 76 comportamentais mais notáveis e comportamentos manifestados pelos indivíduos mais visíveis ou, de visibilidade mais fácil, o que favorece a visualização dos atores na periferia de um grupo (DEL-CLARO, K., 2004). Por conta dessa última característica, procurou-se não apenas definir horários e dias da semana favoráveis às observações, mas também, selecionar viveiros que facilitassem as observações. Ademais, tendo em vista que há maior frequência de crianças e de adultos entre o público visitante, foi definida uma ordem para a amostragem aleatória, de modo a manter um equilíbrio entre as faixas etárias. No caso da passagem concomitante de dois indivíduos pelo ponto de seleção, a pessoa mais próxima do guardacorpo foi amostrada. A pesquisa de etologia foi precedida por um amplo período de laboratório para captar de forma mais eficiente, as observações e perscutar as expressões do comportamento dos visitantes. Tabela 2 – Faixas Etárias Amostradas. 1º. Criança Indivíduo com cerca de 1,20 metros e aparentando até 10 anos. 2º. Adolescente Pessoa em idade escolar aparentando de 11 até cerca de 20 anos. 3º. Adulto Pessoa com filho(s), com companheiro(a), ou aparência de adulto. 4º. Idoso Pessoa com cabelo branco ou com aparência de pessoa idosa. Dada a relevância, da noção do tempo de retenção do visitante diante dos animais, foram cronometrados com precisão de segundos, através de cronômetro esportivo, o tempo em que os visitantes permaneceram diante dos viveiros pré-selecionados. Dessa forma, partindo da 77 menor faixa etária o primeiro visitante que chegou a um ponto demarcado e específico de um recinto anterior ao viveiro escolhido, foi selecionado e, assim que o mesmo passou ou dirigiu sua atenção a um animal pré-estabelecido, o cronômetro foi acionado e o indivíduo foi amostrado. Definido o procedimento de observação, procedeu-se o necessário estabelecimento de um rol dos mais frequentes tipos de comportamentos esperados pelo visitante, no momento da observação de uma espécie animal em seu viveiro (Anexo II). Foram organizados e elencados os traços comportamentais esperados dos visitantes diante dos viveiros, o etograma, visando registrar detalhadamente um repertório de atitudes e reações dos indivíduos diante dos animais. A importância de se estabelecer o etograma, foi relacionar e quantificar os comportamentos dos visitantes diante dos diferentes animais no ambiente criado pelo homem, de modo a testar as hipóteses estabelecidas. Nesse sentido, julgou-se satisfatório utilizar, com algumas modificações, o modelo e a metodologia proposta por Marcelo Bizerril, (BIZERRIL, M., 2000). Esse autor organizou o repertório de reações e atitudes do visitante em seis categorias, quais sejam: agressividade, temor, desinteresse, interação, curiosidade e admiração. Cada categoria foi associada a 25 comportamentos esperados pelo visitante. Nesta pesquisa foram acrescentadas mais duas categorias (preocupação e interesse) e ampliado para 30, o número de comportamentos, incluindo aqueles relativos às placas de informações e aos viveiros (Anexo II). Os itens comportamentais foram detalhadamente agrupados em sete categorias quais sejam: a) desinteresse; b) interesse; c) preocupação; d) curiosidade; e) admiração; f) agressividade; g) interação; h) temor (Apêndice II). Foi aplicado no etograma o método sim-não, para registrar a ocorrência ou não de cada comportamento no momento da observação. Apesar da estratégia para equilibrar as faixas etárias, os visitantes foram amostrados de maneira aleatória. 78 A fim de facilitar a análise dos resultados, foram estabelecidos os seguintes objetivos: propor a adequação da comunicação visual da Fundação Rio-Zoo em conformidade com o comportamento do público e dos animais; sugerir variações no modo tradicional de apresentação da exposição e na ambientação dos viveiros, de maneira a propiciar ao visitante uma ampliação do tempo de observação das espécies, sobretudo, aquelas da fauna brasileira; detectar as causas do pouco interesse do público por setores e viveiros específicos e, propor sugestões para dar maior visibilidade às espécies com comportamentos desfavoráveis à observação pública. Foram amostradas as três classes principais de vertebrados tradicionalmente encontradas em Zoológicos, quais sejam: répteis aves e mamíferos. Adotou-se os seguintes critérios para a escolha de viveiros: aqueles que facilitassem as observações e fossem diferentes quanto ao tamanho, configuração e qualidade. Julgou-se importante também, a seleção de espécies com marcantes diferenças de tamanho, de aparência e de comportamento. Ademais, foram selecionados viveiros com distintas localizações no Zoo, ou seja, recintos próximos ou distantes da entrada. Tabela 3 - Animais escolhidos e suas localizações no Zoológico por setores e viveiros. Arara-Azul-Grande (Anodorhynchus hyacintinus) S06 V39 Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha (Ateles paniscus) S07 V11 Gavião Real (Harpia harpija) S03 V33 Hipopótamo (Hipopotamus amphibios) S02 V17 Iguana (Iguana iguana) S02 V16 Jacaré-de-Papo-Amarelo (Caiman latirostris) S01 V02 Tigre-Siberiano (Pathera tigris altaica) S08 V13 Urso-de-Óculos (Tremarctus ornatus) S07 V02 79 2.2. - Abordagem Qualitativa. 2.2.1 - Algumas Considerações. (...) as pessoas, ou grupos delas, deixam um conjunto de traços verbais dos pensamentos que devem ser decifrados, tanto quanto possível, na sua vivacidade representativa (...). Assim, os conceitos sobre os quais as Ciências Humanas se fundamentam, em um plano de pesquisa qualitativa, são elaborados pelas descrições. (MARTINS e BICUDO,1989. Apud GARNICA, A. V. M., 1997). Ainda durante o amplo período de laboratório da investigação de etologia aplicada, que requeria uma atenção redobrada do autor para melhor captar as expressões do comportamento dos visitantes, de modo a buscar as mais eficientes formas de observação e registro. Nessa fase incipiente, no viveiro do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha surgiu a percepção sobre as limitações do método etológico. Não havia como não se impressionar com as curiosas especulações dos visitantes. Embora estivesse previsto no etograma o registro de duas especulações pré-definidas e um espaço para observações, a escuta atenta dessas especulações requeria um tratamento metodológico próprio, pois eram muito variadas, densas e representavam a visão do visitante. Na realidade, naquele momento, numa forma popular de dizer, caiu a ficha! Uma das especulações que mais chamaram e, ainda continuam a chamar a atenção do autor, até pela intermitente frequência com que ocorre, é aquela que diz respeito ao nome popular do primata em questão. Com efeito, se não todos, mas certamente, a maioria esmagadora dos visitantes conhece essa espécie de símio simplesmente por macaco. Os próprios funcionários confirmam esta designação ao nomear o viveiro do animal de 80 “Ilha dos Macacos”. Mas, em destaque na placa informativa o que se lê é “Coatá-de-Cara-Vermelha”, embora entre os tratadores de animais e mesmo no meio acadêmico, o gênero Ateles seja comum e popularmente chamado de macaco-aranha ou de aranha, de forma abreviada. Por conseguinte, inferiuse que a pesquisa tinha que investigar esse fenômeno e buscar métodos que fudamentassem uma convenção institucional, para implementar uma nomenclatura convencional que propiciasse a adoção de designações populares dos animais com significados bem desenvolvidos de modo a possibilitar ao público o início do processo de conhecimento sobre os animais, sobretudo os da fauna brasileira. Segundo Lüdke e André as características básicas de uma pesquisa qualitativa são as seguintes: 1. A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento. (...) 2. Os dados coletados são predominantemente descritivos. (...) 3. A preocupação com o processo é muito maior do que com o produto. (...) 4. O ‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador. 5. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo (LÜDKE e ANRRÉAS, 1986. Apud GARNICA, A. V. M., 1997). Comparada a abordagem científica, a pesquisa qualitativa apresenta outro significado, passando a ser concebida como uma trajetória circular entorno do que se deseja compreender, deixando de se preocupar unicamente com princípios, leis e generalizações, mas voltando o olhar à qualidade. O pesquisador procura por unidades de significado, o que faz após várias leituras de cada uma das descrições. As leituras prévias fazem parte de uma primeira aproximação do pesquisador em relação ao fenômeno, numa atitude de familiarização com o que a descrição coloca. As unidades de significado, por sua vez, são recortes julgados significativos pelo pesquisador, dentre os vários pontos aos quais a descrição pode levá-lo. Para que as unidades significativas possam ser recortadas, o pesquisador lê os depoimentos à luz de sua interrogação, por meio da qual pretende ver o fenômeno, que é olhado de uma dentre as várias perspectivas possíveis (GARNICA, A. V. M., 1997). 81 2.2.2 - Onde Está a Cobra? As Especulações dos Visitantes. O pesquisador é visto “como aquele que deve perceber a si mesmo e perceber a realidade que o cerca em termos de possibilidades, nunca só de objetividades e concretudes, a partir do que a pesquisa qualitativa, dizem, dirige-se a fenômenos, não a fatos. (...) quando o pesquisador se despe de referenciais teóricos prévios. Ficam, é claro,os pressupostos vivenciais - ou o pré-vivido, pré-reflexivo -, que ligam pesquisador e pesquisado, o que impede o cômodo distanciamento que possibilita a neutralidade. (MARTINS e BICUDO, 1989. Apud GARNICA, A. V. M., 1997). Onde está a cobra? Senão todos, mas sem dúvida, a grande maioria dos funcionários do Zoo, já ouviu esta pergunta. Difícil foi saber quantas vezes isso ocorreu com cada servidor. O certo é que uma parcela considerável dos visitantes, diariamente, faz a mesma pergunta. Não obstante, o que poucos sabem desta questão, é que existe muito mais do que um simples e recorrente caso de desorientação. Repleta de significados, a pergunta revela um costume cognitivo do visitante e aguçou o poder de interpretação do pesquisador. Com efeito, enquanto manifestação espontânea, representou um valioso estudo de fenômeno situado. Ora, apesar de o autor ter perguntado a dezenas de visitantes sobre o motivo da visita ao Zoo, nunca ouviu dizer dos entrevistados que os mesmos tenham vindo ao Zoo para ver as cobras, contudo, é público e notório que isso constitui um desejo incontido da maioria deles, inclusive, vários visitantes adultos e idosos sabem, precisamente, a localização pretérita desses animais no Zoo e reclamam, com razão, da sua ausência. É o caso da “Ilhas das Sucuris” único viveiro conhecido em Zoos do Brasil e do exterior, que chegou a expor Sucuris ao ar livre. Com efeito, na ausência de um grupo significativo de Sucuris, foram tranferidos para a atual “Ilha das Serpentes” cinco Pitões Burmesas e dois Pitões-Arco-Íris. 82 2.2.3 - O Discurso dos Técnicos. Situados os fenômenos, recolhidas as descrições, iniciam-se os momentos das análises Ideográfica e Nomotética. Na análise Ideográfica, buscou-se o afloramento da ideologia presente na descrição ingênua dos sujeitos e na Nomotética, análisou-se as divergências e convergências expressas na interpretação das especulações de visitantes e técnicos. Em relação aos técnicos, a fim de captar, com maior eficiência as opiniões dos mesmos, o autor representou o que é de fato, um educador idealista e, supostamente, submisso ao técnico, considerado, no meio institucional, muito mais poderoso e sagaz. Nessa condição e, em diversas ocasiões, os técnicos se sentiram bem à vontade durante os diálogos. Em certa passagem, diante de um técnico de biologia e de um conjunto de viveiros composto por animais carismáticos, mas com um espaço para fluxo de visitantes ora mais estreito, ora mais largo, o que é relativamente complexo para roteiros de visitas orientadas, o autor explicou ao técnico a limitação daquele espaço de visitação e sugeriu a transferência de uma espécie de maior apelo educacional para um outro viveiro, de modo que o acesso e o trânsito de visitantes favorecessem o trabalho do professor. Foi então, que o técnico respondeu para surpresa do autor, que aquele conjunto de viveiros fora organizado por ele, segundo a distribuição geográfica daquelas espécies no território brasileiro, assim, ele alojou as espécies do Sudeste no início do roteiro e as outras das Regiões Nordeste e Norte, respectivamente, do meio para o fim do roteiro, o que tem uma certa lógica. Contudo, além de negar, a troca sugerida, o técnico deu a entender que a sua lógica era prevalente, demonstrando quanto o seu pensamento era convergente quando o assunto tratado versava sobre a organização da coleção, e também, o quão este pensamento estava dissociado da educação e da finalidade de um Zoológico. As escutas das especulações e deliberações dos técnicos foram conduzidas dessa forma. 83 2.2.4 - O Pragmatismo Aplicado à Nomenclatura Popular dos Animais. Dizia Peirce; “as coisas são o que elas podem fazer”. Essa síntese do pragmatismo lógico peirceano foi aplicado no processo de ressignificação na nomenclatura popular, presente nas placas informativas adotadas na Rio-Zoo. Isso foi levado a efeito com o desenvovimento de uma nominação alternativa para várias espécies de reptilianos, sobretudo, no caso dos répteis dotados de casco, os quelônios. Segundo o senso comum, esses animais são as tartarugas, mas de acordo com pressupostos téoricos biológicos, são os cágados. Esse último nome é uma palavra de origem espanhola e significa, medroso e assustado, o que realmente se verifica no comportamento desses animais. Contudo, no português essa palavra é extremamente parecida a outra, cujo o significado representa um objeto abjeto ou torpe, por ser repugnante para a maioria das pessoas. Foi por conta disso e por estar enraizada no senso comum, como preconiza a Semiótica, que foi adotado o termo tartaruga, apesar de ser uma palavra de origem italiana. Ademais, foi realizada uma crítica ao outro paradigma relacionado a imagem institucional (Seção 3.4.5). Com efeito, a instituição recorre, sistematicamente, as eleições com o público para escolha de nomes para “batizar” animais. Essa prática, que originalmente ajuda o tratador no trabalho com manejo de mamíferos, foi banalizada, assim como, as festas de aniversário de alguns animais, servindo para atrair a mídia e fazer propagando gratuita, para gerar grandes arrecadações. Dessa forma, é reforçada regularmente, nos veículos de comunicação de massa, a noção de que essas são práticas correntes e representam o resultado do trabalho educativo do Zoológico do Rio de Janeiro ou, em outras palavras, esses eventos “educativos”, devido a maior visibilidade, podem estar sendo interpretados pela opinião pública, como a finalidade única da Fundação Rio-Zoo, o que se choca frontalmente com a moderna concepção de um Zoológico (Seção 3.6.3). 84 3 - RESULTADOS 3.1 - Análise das Hipóteses. No que se refere as cinco hipóteses estabelecidas na fase inical da pesquisa de etologia aplicada, a primeira delas, qual seja: o comportamento do visitante é alterado em função da aparência do animal? Vale ressaltar inicialmente, que a aparência se refere a coloração da espécie e a forma corporal. Essa hipótese se confirmou, mas curiosamente, através de dois comportamentos antagônicos. Com efeito, animais com formas anatômicas bizarras ou excêntricas alteram o comportamento do visitante, atraindo o público. Animais como o jacaré e o hipopótamo causam um verdadeiro magnetismo nos visitantes. Contudo quando, as espécies são aparentadas, ou seja, apresentam forma corpórea semelhante, somente se diferenciando pelas cores, ocorre um desinteresse do visitante. É o que acontece com araras, papagaios, jandaias e afins, que na Rio-Zoo encontram-se alojados lado-alado numa bateria de dezenas de recintos. Isso foi constatato até mesmo com as araras, que são as maiores representantes desta família de aves (psitacídeos), via de regra, quando os visitantes percebem que a diferença entre essas aves é principalmente a coloração, se contentam em observá-las rapidamente e de longe. No que tange a segunda hipótese: o comportamento do visitante se modifica de acordo com o tamanho do animal? Também se confirmou, mas, na Rio-Zoo, apenas com animais de grande porte. Em relação a terceira hipótese, o comportamento do público se altera em conformidade com o comportamento do animal? Isso foi plenamente verificável, mas também, com comportamentos antagônicos. Quando o comportamento expressado foi a mobilidade ocorreu também antagonismo, 85 ou seja, animais como os macacos-aranha, de acentuada movimentação, em contraponto, ao jacaré, com notável imobilidade. Assim como, a pesquisa do Polo Ecológico de Brasília (BIZERRIL, M., 2000), ambos foram os animais que reteram os visitantes por mais tempo em seus respectivos viveiros (Gráfico 1). Quando o comportamento foi a vocalização o antagonismo pôde ser verificado em certos casos. A intensidade da vocalização do Tigre Siberiano causou um verdadeiro furor no público, enquanto a voz estridente da Arara-AzulGrande provocou tanto a atração quanto a repulsa do visitante. O comportamento do visitante está relacionado a organização da coleção? Sim, houve relação, no entanto, vale esclarecer, que essa hipótese foi estabelecida tendo em vista uma característica herdada do Zoológico do Rio, a organização lineana da coleção, ou seja, aqueles conjuntos de viveiros e baterias de recintos com espécies aparentadas, como por exemplo, os viveiros dos primatas do Velho Mundo, dos felídeos de grande e pequeno portes e os recintos dos psitacídeos. Com efeito, no que se refere aos mamíferos, houve atração, mas, com as aves ocorreu pouco interesse. As explicações desse reduzido interesse pelos psitacídeos, em detrimento de uma maior atenção aos primatas e aos felídeos, não estão relacionados apenas a aparência, já que tanto as espécies de primatas são semelhantes quanto as de felídeos são parecidas entre si. Isso sugere que haja outros fatores atuando. Sem dúvida, o tamanho do animal interfere, já que mesmo os maiores representantes da família dos psitacídeos, podem ser considerados pequenos em comparação as espécies de felídeos e primatas analisados. Isso é corroborado, por exemplo, pela maior procura dos visitantes por viveiros ocupados por espécies de felídeos de grande porte, que normalmente atraem mais a atenção do público quando comparado às espécies de pequenos felídeos (Figura 15). Ademais, vale considerar, que os mamíferos despertam mais o interesse dos visitantes do que as aves. Portanto, o reduzido interesse do público pelos psitacídeos estão realacionados a vários fatores que atuam em conjunto. Finalmente, a última hipótese, qual seja: 86 os viveiros mais amplos ou, de configuração complexa, tendem a aumentar a permanência do visitante diante do animal? Não foi confirmada na pesquisa, isso sugere, que a observação do visitante é focada principalmente no animal. Figura 15 - O intenso movimento nos viveiros dos grandes felídeos. 3.2 - Interpretações dos Comportamentos. Optou-se por uma ordem crescente na análise dos comportamentos prevalentes, (Anexo III). Considerando que quatro dos comportamentos previstos no etograma, não tiveram a ocorrência verificada, a saber: jogar objeto no animal; jogar objeto ou lixo no viveiro; cutucar o animal; oferecer alimento ou jogar alimento ao animal, a análise se iniciará por estes traços comportamentais. 87 Sempre que possível, procurou-se analisar conjuntamente os comportamentos correlatos ou do mesmo grupo, bem como, buscou-se uma analogia dos resultados obtidos na Rio-Zoo com as conclusões verificadas no Pólo Ecológico - Jardim Zoológico de Brasília (BIZERRIL, M., 2000). Além disso, quando a análise científica não foi satisfatória, buscouse a interpretação através da pesquisa qualitativa. 3.2.1 - Jogar objeto no animal ou lixo no viveiro. Embora, o técnico em seu discurso competente, atribua sistematicamente ao visitante, a culpa por todas as mazelas de seu trabalho, esta noção, não passa do mais puro preconceito. A ocorrência de atos de agressividade, mais especificamente, jogar objeto no animal, não constitui uma ação corriqueira, embora não se possa desprezar, pois basta um único visitante, entre centenas de milhares efetivar uma agressão para gerar grande repercussão, mais por indignação do técnico, do que por resultado negativo ao bem-estar animal. No trabalho realizado no Zoo de Brasília (BIZERRIL, M., 2000), foram registradas duas ocorrências com o mesmo animal, o “Jacaré”. Com efeito, animais que exibem movimento limitado durante o dia, como o animal citado e outras espécies de hábitos noturnos, como corujas, felídeos e canídeos, constituem os grupos de vertebrados mais vulneráveis a este tipo de agressão, efetivada com uma maior frequência por pré-adolescentes acompanhados de adultos e por adultos movidos pela necessidade incontida de comprovar se o animal está dormindo ou doente, vivo ou morto. 88 Gráfico 1 – Tempo médio de observação dos visitantes diante dos viveiros da Rio-Zoo. O comportamento de atirar objeto ou lixo no viveiro, apesar de não ter sido verificado na pesquisa, pode ser considerado um ato de ocorrência bem maior do que o comportamento anterior. Neste caso, cumpre esclarecer, que o trabalho etológico não registrou este comportamento pelo fato da pesquisa de etologia aplicada não ser uma pesquisa probabilística, que exige uma amostragem proporcional a uma dada população, incluindo o grau de confiabilidade, margem de erro, variância. A fim de estimar de forma objetiva o impacto deste comportamento nos viveiros, foram contados e pesados os objetos atirados nos viveiros dos jacarés, após o feriado de 12 de outubro. Em 2007, foram contados 389 objetos pesando 1,69 kg, constituídos sobretudo por palitos de picolé, canudos, copos de plástico, garrafas plásticas, embalagens de picolé. Vale ressaltar que, em muitas ocasiões, os detritos não eram jogados propositadamente, mas, apenas caiam das mãos de crianças que estavam no colo dos pais. A grande maioria dos detritos foram encontrados na periferia do viveiro, onde a tela do guarda-corpo é mais baixa. Os detritos aí encontrados eram constituídos por objetos muito leves, indicando que não havia intenção de atingir o animal. No entanto, os objetos encontrados, em partes mais centrais do viveiro tinham a clara intensão de atingir o animal. 89 Esses objetos eram bem mais pesados do que aqueles encontrados nas áreas periféricas. Além do aumento do comércio de alimentos e bebidas entre as ruas e alamedas da área de visitação do Zoo, verificou-se que os coletores de lixo da Rio-Zoo, localizados no entorno dos viveiros dos jacarés estavam superlotados. No ano seguinte com a obrigatoriedade de cada barraca portar o seu próprio coletor de detritos, houve uma sensível redução, o que sugere que o aumento de coletores reduz a quantidade dos detritos sólidos dentros dos viveiros. Vale ressaltar, que viveiros de maior retenção do público (Gráfico 1), necessitam de maior número de coletores de detritos, o que não foi verificado do viveiro em questão. 3.2.2 - Cutucar, oferecer alimento ou, jogá-lo ao animal. Agrupada no item interação, cutucar o animal, seja com as mãos ou com um objeto, não foi verificado nesta pesquisa, bem como na pesquisa realizada no Zoo de Brasília (BIZERRIL, M., 2000). Apesar disso, o autor já constatou este tipo de comportamento nos viveiros de micos e sagüis e nos psitacídeos. O ato de oferecer alimento ou jogá-lo ao animal, também foi verificado com maior frequência no micário. Originado por um desejo incontido de interação do visitante com os animais, trata-se de um comportamento indesejável por todos os funcionários. Sabe-se que os animais mais assediados além dos já citados são: os Macacos-Aranha e os Barrigudos e praticamente todos os primatas exóticos. Tendo em vista, que trata-se de um desejo incontido expressado por considerável parcela dos visitantes, uma das formas de mitigar este impacto seria redimensionar o Projeto “Pulando a Cerca” (Seção 3.4.9.2), associando-o ao antigo Projeto “Alimentando os Animais”. 90 3.2.3 - Procurar ler a placa informativa. Embora seja algo casual, até que o visitante procura ler a placa informativa. Na pesquisa de etologia aplicada percebeu-se muito pouco este comportamento. Contudo, os resultados da pesquisa qualitativa demonstraram, que este comportamento é mais comum em viveiros coletivos ou constituídos por espécies variadas. Com efeito, em recintos “in doors”, onde as placas informativas são diferenciadas, senão todos, mas com certeza a grande maioria dos visitantes olham e lêem as informações. Isso pôde ser verificado no espaço Cobras e Lagartos, devido a um projeto bem concebido de iluminação e comunicação visual. Percebe-se, nitidamente, que num ambiente que mescla iluminação difusa com uma ligeira penumbra, as placas informativas iluminadas ganham destaque (Seção 3.6.4). Além das exigências estabelecidas pela Normativa n o 04 (IBAMA, 2002), incluiu-se um espaço para o tópico curiosidades, com linguagem acessível sobre animais excêntricos por excelência. Esta concepção de placa (Figura 16), chama sobremaneira a atenção dos Figura 16 - Modelo da Placa Informativa do Espaço Cobras e Lagartos. 91 visitantes em virtude, principalmente, dos seguintes fatores: presença de letreiro luminoso, ou seja, a placa é iluminada por trás; as placas ocupam a metade do comprimento da maioria dos terrários e estão bem localizadas, facilitando a visualisação. Na área de exposição ao ar livre, não existem critérios para a localização das placas informativas e nem uma relação proporcional entre o tamanho da placa e o tamanho do viveiro. Dessa forma, utiliza-se placas com a mesma dimensão para viveiros e recintos com áreas completamente distintas. Um outro detalhe que não é levado em consideração é quanto a forma da placa. Para viveiros de grandes dimensões com a “Ilha das Serpentes”, que tem cerca de 1000 m2, e concepção arredondada, por que não usar, placas grandes e arredondas como o próprio viveiro? Ademais o nome do viveiro poderia ser destacado numa texteira, para ser encontrado com maior facilidade e assim, falicitar a orientação do público. 3.2.4 - Olhar para outro animal ou pessoa e se afastar, distração e passar direto. O ambiente do Zoo é acentuadamente dispersante, pois os estímulos ambientais são muito variados e, via de regra, concomitantes. Assim o visitante pode estar contemplando uma Arara e, de repente, o Pavão lança sua vocalização, abre sua cauda e os visitantes literalmente deixam a Arara de lado e se dirigem para o viveiro do Pavão. Além da ação dispersante dos animais e seus viveiros, que aqui na Rio-Zoo são situados um ao lado do outro, existem outros fatores que interferem na observação aleatória do visitante, como por exemplo, a interferência dos acompanhantes durante a visita, definido na pesquisa como “olhar para outra pessoa e se afastar”. 92 Dessa forma, inferiu-se que, no interior do Zoo, quanto menor o número de visitantes de um grupo, maior a atenção é direcionada ao animal, ademais, o visitante manifesta lampejos desordenados da realidade, gasta muito pouco tempo observando os animais. O comportamento de “passar direto” está relacionado em parte, à reduzida percepção ambiental do visitante, a carência de uma comunicação visual mais eficiente da instituição e de uma mudança no comportamento ambiental do viveiro. 3.2.5 – Curiosidade e Especular sobre o animal. Cerca de 20% dos visitantes manifestaram um olhar curioso para com os animais. Além das crianças, esse comportamento é geralmente manifestado por idosos e adultos do sexo feminino. O idoso por seu turno, favorecido pela experiência de vida e pelo fato de visitar o Zoo geralmente sozinho e as mulheres, pelo fato de estarem mais preocupadas do que os homens na educação dos filhos e, por conta disso, com os seus sentidos mais aguçados e com disposição para orientar e educar. Em geral as especulações dos visitantes sobre os animais são baseadas em crenças infundadas e interpretações equivocadas do comportamento animal, fruto do total desconhecimento sobre a vida dos animais e do funcionamento de um Zoo. Via de regra, as pessoas apresentam noções deformadas da realidade e transmitem essas noções aos outros membros do grupo, que raramente as contestam. O preocupante é que os visitantes saem do Zoo com essas noções equivocadas que, em geral, são depreciativas ao trabalho desenvolvido pelo corpo técnico. Em relação ao Macaco-Aranha-de-CaraVermelha, por exemplo, escuta-se alto e em bom tom, os seguintes comentários: “Olha lá, tá se coçando, isso é piolho! Olha a barriga desse aí, deve tá cheio de verme. Os macacos tão magros, não dão é comida direito pra eles”. No que tange aos felídeos, em que a maioria das espécies apresentam 93 hábitos noturnos, os visitantes reclamam: “o tratador dá calmantes prá eles; estão todos dopados, os bichos não aguentam nem levantar, isso é fome!” Quando os comentários incidem sobre o jacaré e seu lago, sistematicamente ouve-se o seguinte: Olha só nem pisca, só pode estar morto; esse bicho não está bem não vai nem pra água; o Zoo dá calmante pra eles ficarem mansos”. Portanto, existe uma ideologia por trás da interpretação equivocada do comportamento animal, a depreciação do trabalho do técnico e do tratador. Todos os comentários são infundados, mas, podem inclusive formar opinião entre o público leigo. Por isso, é fundamental, incluir nesses viveiros, monitores ambientais e/ou tratadores para rebater essas idéias irreais, a utilização de placas informativas para este fim, decididamente, não atinge o grande público. 3.2.6 - Apontar e procurar o animal. Esses itens comportamentais, além de correlatos, são peculiares aos indivíduos que visitam o Zoo em grupos. Com exceção da maior parcela dos idosos, praticamente a totalidade do público visitante chega ao Zoo em grupos. Vem daí a explicação para a prevalência destes itens em relação aos demais. Normalmente esses comportamentos estão associados à ação de procurar o e posteriormente de apontar animal ao outro componente do grupo. Em geral, a manifestação deste comportamento se dá com animais de fácil visualização, mas, quando a descoberta é efetivada com animais dotados de mimetismo críptico, ou seja, que se camufam usando o ambiente como pano de fundo, a descoberta, revela uma emoção distinta e interessante sob o ponto de vista da cognição ambiental. 94 3.3 - Análise dos Viveiros. Na pesquisa, os viveiros foram classificados como regulares ou de concepção simples e irregulares ou de concepção complexa. Os regulares são os viveiros clássicos de Zoo, ou seja, de concepção mais antiga, onde o visitante só têm acesso visual por uma, duas ou três faces de visualização, já nos irregulares o público pode contorná-los, visualizá-los de cima e por diversas faces. É preciso sublinhar, que para a análise de um viveiro deve-se considerar o atendimento das exigências de adequação do ambiente para o animal, de adaptação estrutural para facilitar o manejo do tratador, de tratamento paisagístico e de comunicação visual para atrair e instruir o visitante. 3.3.1 - Lago dos Jacarés - Jacaré-de-Papo-Amarelo. Figura 17 - Visitantes diante do viveiro recém-reformado do Jacaré-de-Papo-Amarelo. 95 Viveiro de concepção ondulada onde os animais podem ser visualizados de vários pontos e de distintos ângulos, o “Lago dos Jacarés”, apesar de amplo e bem equilibrado em termos de proporção terra-água, apresentava antes da pesquisa, um comportamento ambiental que não propiciava ao visitante percepções sensoriais que proporcionasse uma noção positiva do comportamento do Jacaré e do próprio trabalho desenvolvido pelo corpo técnico. Ademais, a forma de manutenção anterior do viveiro favorecia sobremaneira certa parcela do público a lançar detritos sólidos, tanto sobre a água quanto sobre o leito de concreto armado. A composição do lixo encontrado indicava que, excetuando-se algumas chupetas, tampa de caneta e batom, os detritos prevalentes eram da indústria alimentícia. Figura 18 - Um Socó (Nycticorax nictycorax) sendo observado pelo Jacaré-do-Pantanal (Caiman yacare). Na verdade, são dois viveiros de jacarés (S02V01 e S02V02), os mesmos foram reformados e revitalizados, adquirindo maior profundidade e tiveram sua paisagem, manutenção e comportamento ressignificados, com a introdução da Lentilha D’água Lamna minor e o Aguapé Eichornia crassipes, plantas aquáticas depuradoras. Além disso, peixes larvífagos e detritívoros, como o Barrigudinho Phalloceros caudimaculatus e a Tilápia Tilapia rentali foram introduzidos e passaram a atrair aves predadoras e oportunistas com o Socó Nicticorax nicticorax (Figura 18). 96 Figura 19 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. 3.3.2 - Viveiro da Arara-Azul-Grande. Viveiro de concepção tradicional e pouco atraente, cujo acesso se dá por um aclive afastado cerca de 300 metros da entrada do Zoo, localizado ao lado de outros recintos do mesmo tipo e também constituídos por araras, 16% dos visitantes que passam pelo viveiro deste psitacídeo não percebem a ave. Durante as amostragens a arara não era facilmente avistada, o que pôde ser confirmado pelo número elevado do itens comportamentais “procurar “e “apontar o animal”. Além da constatação de que os visitantes dispensam mais atenção a Arara-Vermelha do que a Arara-Azul, percebeu-se que vários grupos de visitantes preferem contemplá-las de longe e por pouquíssimo tempo, afastando-se em seguida. Isso sugere, que a diferença de cores entre os animais não é determinante para a atração do visitante. É preciso considerar, entretanto, que outras espécies de araras representam um dos “cartões de visita” da Rio-Zoo, vez que, há muitos anos, essas aves se situam logo na entrada da Zoo e, portanto, logo ao chegar, já são vistas pelo visitante, que satisfeito, não necessita vê-las de novo. 97 3.3.3 - Ilha do Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha. Constitui um viveiro de configuração irregular, em função de sua concepção e localização privilegiada. Trata-se de um viveiro constituído de um lago que contorna uma área construída de forma curiosa formando uma ilha artificial. No que se refere à paisagem inserida, em nada se assemelha ao hábitat da espécie, mas possibilita adequações de manejo que enriqueceram o viveiro de tal modo, que o grupo de primatas ali alojados, manifesta todas as características de uma espécie bem adaptada ao estado de confinamento, com reprodução regular e a consequente presença de todas as categorias etárias possíveis. Pode se considerar, que o Macaco- Aranha e o Jacaré empatam nos quesitos: tempo médio de observação (cerca de 2 min.) e tempo total (cerca 60 min.), com 26 registros em etograma para o primata contra 28 do crocodiliano. Mas, considerando a riqueza de comportamentos expressados, número de especulações e a amplitude de tempo (quase 25 min.), o Macaco supera o Jacaré. Não há dúvida, “A Ilha dos Macacos”, constitui um dos melhores e mais atraentes viveiros do Jardim Zoológico. Com efeito, além das semelhanças humanas de postura, comportamento e aparência, esses primatas têm expressivo apelo lúdico e, efetivamente, divertem o público. Figura 20 - Diferentes categorias etárias podem ser visualizadas na “Ilha dos Macacos”. 98 A “Ilha dos Macacos” é dos mais eficientes viveiros do Zoo. Durante a pesquisa, ficou claro que mesmo depois de se divertir, observando por vários minutos as peripécias dos símios, o visitante quando questionado sobre o nome do animal, responde sem titubear: macaco. Inadvertidamente, conforme acontece com os jacarés, cobras e tartarugas o visitante generaliza o nome desses animais e deixa de perceber a característica mais marcante da fauna brasileira, a imensa diversidade de espécies. Foi interessante notar que os visitantes preferem ver o animal em dois pontos principais e que a placa informativa fica localizada justamente no ponto onde o visitante, na maioria das vezes, não se dirige. 3.3.4 - Viveiro do Gavião Real. O viveiro do Gavião Real, o maior gavião do mundo, é um exemplo clássico de viveiro projetado para atender as exigências da espécie, mas que é deficiente quanto a visualização pública. O viveiro é bem alto e fica a cerca de cinco metros acima do campo de visão do visitante. Com efeito, os viveiros que o antecedem têm até dois metros de altura (Figura 21). Por conta disso, foi verificado que, Figura 21 - O Viveiro do Gavião-Real. 99 a cada quatro visitantes que passam por este viveiro, um não consegue avistar a ave. Isso poderia ser até considerado algo normal, devido a uma carência de percepção ambiental do visitante ou comunicação visual do Zoo, contuto, como trata-se do maior representante mundial da família dos gaviões, se faz necessário chamar a atenção do público. 3.3.5 - O Lago dos Hipopótamos. Apesar da antiga concepção do viveiro, com a última reforma, associada a um manejo eficiente, a água do lago tornou-se cristalina e o Lago dos Hipopótamos foi revitalizado (Figura 22). Este viveiro se mostra bem eficiente, prova disso é a regularidade na reprodução desta espécie. Figura 22 - O Lago do Hipopótamo em 2004 à esquerda e em 2009 à direita. 100 3.3.6 - A Ilha do Iguana. Figura 23 - Descobrindo os Iguanas. De cada dez visitantes que passam pelo viveiro do iguana, sete não visualizam o lagarto muito bem camuflado. Os visitantes expressam um comportamento de alegria, quando descobrem o lagarto mimetizado nos ramos da Manguba Pachira aquatica. Ressignificado de forma semelhante aos viveros dos jacarés. Na “Ilha do Iguana”, além da poda regular, o piso de concreto armado foi substituído por terra de jardim e areia, de forma a ampliar a área para postura do Iguana, mas também, da TartarugaAmarela Acantochelys radiolatta e da Tartaruga-do-Paraíba Ranacephala hogei, aí introduzidas, juntamento com a Lentilha D’água Lamna minor e o Barrigudinho Phalloceros caudimaculatus. Figura 24 - A “Ilha dos Iguanas” à esquerna em 2007 e à direita em 2009. 101 3.3.7 - Viveiro do tigre siberiano. Embora tenham concepção tradicional, todos os viveiros dos felídeos de grande porte foram ampliados. São viveiros em sequência que despertam muita atenção do público, que nos dias de domingo, lotam sua única via de acesso. Contudo, a retenção que se verifica atualmente, dificulta uma visualização adequada dos animais. Figura 25 - Viveiros do Tigre Siberiano e do Urso-de-Óculos. 3.3.8 - Viveiro do Urso-de-Óculos. Um detalhe interessante deste viveiro é que o mesmo foi concebido para o Urso Polar e planejado para ter uma grande câmara frigorífica que nunca foi instalada, porque, urso polar nunca fez parte do plantel da Rio-Zoo. Um outro detalhe é que apesar do tamanho do viveiro e do animal, nem sempre o animal é avistado, devido a interferência de um vizinho relativamente próximo, a Girafa. 102 3.4 - Comportamento dos animais. Cumpre considerar, que o comportamento de cada animal selecionado para pesquisa de etologia aplicada, foi analisado, principalmente, durante as amostragens, ou seja, com a interferência da presença do visitante. No que se refere ao Tigre Siberiano, durante o período das observações, apenas em duas amostragens o felídeo, caminhou e saltou pelo viveiro, também em duas ocasiões permaneceu deitado com os olhos fechados, o que pode ser intepretado como período de sono, neste caso o visitante passou direto pelo viveiro ou foi indiferente. Por se tratar de um animal de hábito noturno, no restante das observações o animal permaneceu deitado de olhos abertos ou descansando, numa posição do viveiro bem próxima da área de visitação, favorecendo a visualização do público. Verificou-se, que nessa posição, normalmente, nos momentos de apelos de atenção por parte do visitante, o animal interagiu com o visitante, repondendo através de um fechar e abrir dos olhos, concomitante, a emissão de uma audível expiração nasal. No “ Lago dos Hipopótamos” acontece algo bem interessante, quando o animal se encontra fora da água, mesmo com o seu porte avantajado, desperta pouca atenção. Contudo quando o animal se dirige para o lago, os visitantes chegam a correr na direção do viveiro para observar o mamífero. Como as amostragens foram realizadas em horários variados, o animal pôde ser visualizado, no momento da submerção, retornando à tona, flutuando na água e se deslocando em direção ao cocho de alimentação ou retornado deste último. O Urso-de-Óculos, na maioria das amostragens se mostrou ativo, seja na água ou na terra firme, nesse último caso, frequentemente, foi observado o comportamento 103 estereotipado de andar de um lado para outro com virada rápida da cabeça e, apenas uma única vez, esteve inativo, provavelmente dormindo. O Jacaré-de-Papo-Amarelo, com exceção de uma ocasião em que saiu da terra em direção a água, em todas as demais amostragens permaneceu imóvel, tanto assoalhado sobre a margem do lago, em dias ensolarados, como flutuando sobre a água em dias com temperatura mais baixa, onde mantém apenas parte da cabeça fora d’água e permanece sem se mexer. O Macaco-Aranha-de-Cara-Vermelha, em virtude da presença de diversas categorias etárias (presença de filhotes, jovens, adultos e fêmeas em gestação ou lactação), expressou uma grande variedade de comportamentos, saltou entre as cordas que imitam cipó, se coçou, coçou outro indivíduo, olhou para o visitante, correu e saltou brincando com o outro, se abraçou e puxou o outro, descansou e demonstrou afeto e proteção ao outro e, finalmente, se alimentou exibindo muita graça diante do visitante. Os dois indivíduos de Gavião Real permaneceram empuleirados nos puleiros mais altos do viveiro observando o ambiente sem olhar para o visitante e vocalizar, em apenas uma amostragem o macho foi visto passando de um puleiro para outro. O Iguana durante as amostragens permaneceu imóvel sobre os ramos e galhos da árvores expondo o corpo ao sol. A Arara-Azul-Grande não esteve sempre visível na maioria das amostragens, em três oportunidades esteve escondida em seu abrigo. No mais, foi avistada no chão do viveiro ou, principalmente, sobre os poleiros. O que chamou a atenção foi a constante vocalização verificada em mais da metade das observações, sendo que, em apenas duas amostragens vocalizava baixo e nas demais, produzia sons extremamente estridentes, inclusive, no exato momento em que o visitante se aproximava do viveiro, parando de vocalizar assim que o visitante se afastava, esse último comportamento, verificado, indicou que a ave, durante a pesquisa, reagiu negativamente à presença do público. 104 3.5 - Comportamento dos Grupos Etários Amostrados. A categoria etária “idoso” constitui a que mais interage com os animais e manifesta maior riqueza de comportamentos e de tempo de observação (a maior amplitude de tempo foi verificada com um idoso). Considerando que o idoso, na maioria das vezes, visita o Zoo sozinho ou acompanhado de uma a duas pessoas, isso sugere que o tempo de permanência diante dos animais e a quantidade de comportamentos expressados é inversamente proporcional ao número de indivíduos de cada grupo de visitantes. No que se refere as crianças, elas se destacam por uma percepção visual mais aguçada do que a dos adultos que a acompanham. A curiosidade é bem desenvolvida e as mesmas estão sempre dispostas a conhecer novidades, mas, os pais normalmente são quem conduzem a visita e direcionam a atenção da criançada e nem sempre atendem aos reclames das crianças. De forma semelhante aos idosos, a presença de adolescentes é bem menor, quando comparada aos adultos e crianças. Esta faixa etária se identifica com as espécies de grande porte e de alto apelo estético. Por conta disso, os jovens podem permanecer por vários minutos admirando a beleza, a força e a habilidade física de uma espécie. Entre os adultos, pode-se identificar claramente uma diferença de comportamento de acordo com o sexo. As mulheres mais atentas a educação das crianças, discretamente, demonstram o desejo de atenção dos animais, caso algum desses animais, principalmente os mamíferos, não respondam aos seus apelos de atenção, ela deixa de observar o mesmo e se afasta reclamando do animal. Os homens são mais descontraídos na visita, mas, normalmente se preocupam em realizar uma visita mais objetiva, por isso, normalmente, lideram o grupo de visitantes. 105 3.6 - Pesquisa Qualitativa. 3.6.1 - Conjunto dos Motivos do Grupo Social. "A verdadeira comunidade humana, [...] é a daqueles que procuram a verdade, [...] quer dizer, em princípio de todos os homens na medida que tenham o desejo de saber. Na verdade, porém, formam pequeno grupo, o dos autênticos amigos, como Platão o era de Aristóteles no mesmo instante em que discordavam acerca da natureza do bem. A preocupação que lhes era comum pelo bem os guia; o desacordo em torno do bem provava que precisavam um do outro para compreende-lo" Allan Bloom (Apud. REIS, A. T. da e L. LAY, M. C. D., 2006). O que realmente significa fazer o bem para instituição? Buscar um entendimento entre as várias áreas competentes do Zoo, a fim de sensibilizar o poder municipal, pode ser um bom caminho. Contudo, quando ingressou na Diretoria Técnica o autor se deparou com um grupo técnico rachado, com posicionamentos contrários acerca do serviço técnico e que se fazia notar por vaidades, atitudes radicais e pela busca do poder. Em conjunto, essa situação repercutia sobre um relevante grupo funcional do Zoo, os tratadores de animais. Sistematicamente, as desavenças dos técnicos geraram divisões entre os tratadores que se agravaram na razão direta da necessidade de substituição dos mais antigos devido a aposentadoria, ou da troca dos não adaptados através do advento da terceirização. Com efeito, os novos tratadores ingressaram na Rio-Zoo, por meio de três categorias, a saber: tratador 1 (o mais elementar), tratador 2 e tratador técnico, todas com faixas salarias 106 diferenciadas que vieram a se somar as três categorias já existentes com salários igualmente discrepantes e mais baixos do que os terceirizados, quais sejam: o tratador estatutário (mais antigo), o tratador do quadro da Rio-Zoo e os tratadores contratados (que substituíram os primeiros a se aposentar). A complexidade para admininstrar um grupo tão heterogêneo foi tamanha, que o Departamento Pessoal passou a fiscalização dos tratadores terceirizados para a Diretoria Técnica, o que resultou numa demasiada burocratização e politização do serviço técnico, acirrando ainda mais as divergências, sobretudo, entre os biólogos, mas também, entre os veterinários. Corolário lógico dessa condição situacional, a nobre tarefa de desenvolver projetos de conservação e de pesquisa ficaram para segundo plano e a imagem da instituição também. O que passa pela mente de um biólogo quando ele adota um nome popular para um animal? A busca por uma referência, que nesse caso constitui o uso de um nome popular da região, a escolha de um nome adotado nos livros ou pela maioria dos técnicos. No entanto, na rotina de um técnico há pouco espaço para discussão deste assunto, pois, não aparenta ser algo relevante, até porque há uma linguagem científica própria, regularmente atualizada que lhe confere embasamento. Interpretando-se o modo de agir e o foco do trabalho de um biólogo de zoológico, percebe-se que existem outros temas bem mais importantes do que uma simples adoção ou discussão para escolha de um nome popular. Enquanto responsáveis pelo manejo das classes de animais típicas de Zoos, os biólogos de zoológicos, via de regra, se preocupam em se impor perante seus subordinados, primam pela sua imagem de servidor respeitado, sempre ocupado e dotado de uma cultura zoológica restrita a poucos, que associada a uma preocupação rotineira com o bem-estar dos animais e a um linguajar científico, emprestam a este profissional, uma certa pompa intelectual, além de uma posição de funcionário com função nobre, que em muitas 107 circunstâncias atrai o interesse da mídia, lhe proporcionando preciosos minutos de fama. Essa preocupação com a própria visibilidade, típica da motivação extrínseca, constitui uma característica marcante entre os biólogos. Ademais, vivendo no mundo extremamente competitivo, há entre esses profissionais, a necessidade de estar periodicamente atualizando-se. Essa vontade de estar sempre se aperfeiçoando o conduz para um crescimento interno, caracterítico da motivação intrínseca. E quanto a motivação transcendente? Como e em que circunstância ela ocorre? Considerada a motivação mais básica do ser humano (FRANKL, V., 1998) a motivação transcendente é normalmente pouco observada, ou mesmo praticamente inexistente entre os técnicos. Na outra ponta e, ao mesmo tempo no cerne desse processo, está o educador, cuja prevalência da motivação transcendente no conjunto de seus motivos, constitui a consequência do seu trabalho, direcionado que é para as outras pessoas. Com efeito, quando uma pessoa se move por uma motivação transcendente, significa que ela além de visar o atendimento às necessidades alheias, visa também, à sua melhoria enquanto ser humano, independentemente da reação do seu ambiente e da sua própria satisfação pessoal. Essa capacidade possibilita ao educador reconhecer os motivos dominantes dos indivíduos, de modo a oportunizar a retificação dos motivos distorcidos ou incorretos, inclusive, buscando nos indivíduos, motivos mais elevados. No âmbito do Zoo, o conjuntos dos motivos dos profissonais que aqui trabalham precisam estar alinhados à mensagem e a imagem do Zoológico enquanto instituicão. Contudo, valores como a fraternidade e a solidariedade passam longe dos técnicos. Portanto é preciso retificar e equilibrar o conjunto das suas motivações. No que tange a esse tema, foi desenvolvido o Projeto “Humanizoo”, que em linhas gerais, é um projeto que se destina a valorizar, equilibrar os motivos e dar visibilidade ao trabalho e a experiência técnica do tratador de animais, através das concomitantes ações automativas, cognitivas e afetivas destinadas ao visitante, de modo a propiciar ao mesmo, no momento da visita, a percepção do papel do tratador, do funcionamento do Zoo e da mensagem institucional (Seção 3.6.7). 108 3.6.2 - Roteiro - Ponto de Partida Monumental. A pesquisa qualitativa, destituída de preconceitos, de pressupostos teóricos e de qualquer constrangimento metodológico, desocultou as motivações do visitante antes da sua entrada no Zoo. A partir desse ponto, foi percebida que a análise fenomenológica deveria ser desenvolvida a partir do Portão Monumental, até porque, o Portão poderia ser um ponto de encontro e de referência institucional ou “landmarks” (LYNCH, K., 1998). Impregnado pela História do Brasil e de inestimável valor arquitetônico, tanto o Portão quanto o seu entorno é subutilizado pela Rio-Zoo. Considerando a imensa riqueza em significados do Portão Monumental, a entrada oficial do Zoológico deveria ser realizada através dele e, a saída poderia ser ao lado da bilheteria que ficaria no mesmo local. Nessa nova concepção, as roletas seriam deslocadas para o lado do Portão de Entrada (Anexo VIII), limitadas por cercas, com o estacionamento e com as vias da Quinta da Boa Vista . Nessa nova concepção, o visitante teria tempo não somente para admirar o Portão e conhecer sua história, mas para pensar em como poderia ser sua visita e escolher um roteiro (Seção 3.6). Atualmente o visitante entra caminha uns dois metros e já está diante de várias espécies animais, do assédio de comerciantes e, em dias de maior movimento, do trânsito dificultado e do tumulto. Essas condições podem causar desorientação, desordem ou insegurança psicológica. Comparando-se esta última condição com a alternativa de entrada estendida, onde o visitante enxergaria o portão de longe, havendo espaço suficiente para o mesmo contemplá-lo e conhecer alguns serviços do Jardim Zoológico. Além desse aspecto, é relevante a criação de um ponto de orientação para turistas, constituído por quiosques com guias de visitação, inclusive para pessoas com necessidades especiais, uma maquete do Zoo, dicas e sugestões de roteiros e uma texteira chamativa com informações sucintas, atraentes e em vários idiomas, incluindo o Braile, sobre os direitos e deveres do visitante e as finalidades de um Zoo moderno (Figura 27). Dessa forma, 109 antes mesmo da entrada do público, a asssociação da rica história de vida do Jardim Zoológico do Rio valorizaria sobremaneira o capital cultural do carioca. Além de tudo, resolveria uma situação que é imposta ao visitante, na verdade um direito natural das pessoas, o direito de ir e vir, que é literalmente cerceado na Passarela da Fauna. Subvertendo-se essa imposição de "mão única", o visitande ganharia de presente um novo roteiro, podendo entrar no Zoo pela Passarela ou pelo Portão Monumental e escolher um roteiro (Seção 3.6.3). 3.6.3 - Rotas de Visitação. Constitui um raciocínio lógico começar um roteiro de visitação pelo marco de entrada, ou seja, pelo Portão Monumental. Nada mais pertinente para uma instituição cultural, com a sua rica história de vida, que recaptula diversos aspectos da memória da cidade, que precisa ser recontada ou, ao menos Marco Espaço Roteiros Figura 26 - Marco de entrada. 110 lembrada. No caminho em direção a entrada do Zoo, o visitante tomando conhecimento dos roteiros de visita disponíveis, teriam plenas condições, ao cruzar o marco de entrada, de escolher um roteiro de sua preferência. O Portão Monumental além de ser um ponto de referência, constitui a linha demarcatória entre a entrada e a saída. O espaço disponível após a entrada representa tudo o que o visitante espera encontrar e também, os roteiros de visitação (Anexo VI). ¿Para qué sirve un Zoo? Hoy en dia los zoos ya no son como los de antes. Hace muchos años servín para que todos pudiéramos ver animales exóticos que de otra forma nunca hubléramos conocido. La situación crítica de muchas especies en su medio natural, el desconocimento de la biologia de gran parte de ellas y la falta de informacíon por parte de la sociedad, hacieron a los zoos replantearse su missión. Los “zoos modernos” tienen, hoy, otra finalidad. Utilizan sus instalaciones y su personal especializado para desarrollar tres funciones importantissimas: Conservación, Investigacón y Educación (Zoo-Aquarium de Madrid). Figura 27 - Para que serve um Zoo? 111 Considerando que a área de exposição de animais do Jardim Zoológico é suficientemente extensa e complexa, até pelo fato de ser uma instituição histórica e, portanto, antiga, o Zoo apresenta muitas vias e caminhos que com o passar do tempo perderam sentido, mas que continuam sendo usadas, vários viveiros foram surgindo inicialmente como novas atrações, mas com o correr dos anos e manutenção precária, tornaram-se, lamentavelmente, obsoletos. Por conta do exposto, os estudos de Comportamento-Ambiente se detiveram no roteiro definido aqui com “Rota Norte”, onde encontra-se a grande maioria dos viveiros e recintos do Núcleo de Répteis, que foram revitalizados e ressignificados em virtude da legítima prerrogativa de Subgerente da Suart. Nesse sentido, conforme mostra os anexos VI e VIII, a Rota Norte tem início nos viveiros de araras e papagaios, que tem reduzida retenção de visitantes, e segue em direção ao espaço “Cobras e Lagartos”, onde o visitante gasta um tempo médio de 14 minutos. Esse novo espaço de visitação propõe um “loop” que a princípio, questiona a hierarquia da via principal, a “Alameda Macaco Tião”, mas, possibilita na saída o retorno ao sentido natural leste-oeste. Contudo, a proposta esbarra na idéia equivocada que o público deve seguir o caminho que quiser. E a maioria retorna pela entrada, causando, em dias de maior movimento, um fluxo confuso e indesejado, sobretudo, por se tratar de um espaço de visitação localizado na atual entrada do Zoo. Na verdade, a instituição deve estabelecer os roteiros de visita, que, naturalmente podem ser escolhidos. Quando isso for resolvido, a sequência do roteiro segue pelo viveiro do Calau e depois pelos Tucanos e Araçaris, até chegar a Arara-Azul-de-Lear, Capivara, Tamanduá-Mirim e Bandeira e Lagos dos Jacarés, depois segue para Creche e em seguida faz um “loop” por uma passarela sobre o viveiro das Aves Pernaltas e chega à “Ilha das Serpentes”, Reptário, Iguana, Hipopótamo, Aves de Rapina e finda nos Primatas Brasileiros e daí segue para a Rota Sul. 112 3.6.4 - Cobras Aqui! Espaço "Cobras e Lagartos". O espaço "Cobras e Lagartos" foi criado em substitução ao "Exoticum", antiga área de exposição Serpentes, Lagartos, Tartarugas, Sapos e Aranhas, que continuam presentes na exposição. Vale esclarecer, que o nome escolhido, está relacionado a uma expressão popular e não, a composição dos recintos. Embora esta expressão seja comum e signifique algo de ruim, o visitante ao ler o nome sabe perfeitamente o que vai encontrar lá, diferentemente da denominação "exoticum" que além de apresentar duplo significado é um termo latinizado. Todo o espaço foi ressignificado, desde a pintura da área de exposição, que passou a ser caramelo ao invés de negro, passando pelas chamativas placas informativas até a nova entrada, com uma passarela que, além de subverter totalmente o esquema anterior, sugeriu uma nova hierarquia da rota de visitação do Zoo. Com um total de dezesseis recintos pintados de forma intercalada nas cores areia, camurça e verde, procurou-se alojar em sequência, espécies bem diferentes quanto ao tamanho, coloração, adaptação ambiental e comportamento. Figura 28 - Panoramas e Detalhes do espaço Cobras e Lagartos. 113 3.6.5 - Muito mais do que um viveiro. "Aqui não ficavam aquelas cobras enormes? (...) Não tem mais cobra aqui? (...) Para onde foram as cobras?". A análise dessas especulações descortina emoções que foram reprimidas no público, causada pela visão unilateral tecnocrata, que só se preocupa com dados objetivos e, por conta disso subtraiu o sentido de viveiros tradicionais. Sob a luz do Comportamento-Ambiente, percebeu-se que os visitantes mais antigos expressam noções precisas sobre a localização pretérita de viveiros e de seus ocupantes. É o caso do antigo viveiro das Sucuris no Zoo. Verificou-se, que quando um antigo visitante se depara com outro animal ocupando o viveiro que, historicamente, foi destinado para as grandes serpentes, isso remete o mesmo para uma condição de insegurança, porque ele percebe que não conhece mais o ambiente, e segundo, porque o viveiro que no passado lhe proporcionou emoção, não pode mais ser revivenciado com os seus entes queridos. Portanto, este espaço é muito Figura 29 - Detalhe do antigo Viveiro da Sucuri em 1979 no Jardim Zoológico do Rio - Foto Roberto Rocha. 114 mais do que um viveiro é na realidade um ponto referencial da instituição e, portanto, deve ser resgatado e assim foi feito (Seção 3.6.7). 3.5.6 - O Macaco e o Anti-Macaco. Diante de um macaco, os visitantes percebem semelhanças físicas e comportamentais que resultam em atração, evocando nelas, por uma questão de identidade, comportamentos de admiração e comparação. Por outro lado, quando se está diante de uma serpente, a situação é bem distinta. Com efeito, as primeiras sensações são de respeito e medo. Não há como refutar, que as serpentes, enquanto animais de excentricidade extremada, por não possuírem membros, pálpebras e orelhas, estimulam comportamentos bem diferentes nas pessoas provocando medo e repulsa na maioria dos visitantes, contrastando com os macacos. O macaco é o animal preferido dos visitantes, por ser divertido é admirado e provoca fortes emoções no público. Essa afirmação não chega a surpreender, mas e quanto ao animal preterido pelas pessoas, aquele que provoca repulsa e medo nos visitantes, esse é representado pelo "antimacaco". As cobras, encontram-se presentes no imaginário popular e são as recordistas em história fantasiosas e crendices injustificadas. Em várias pesquisas realizadas em Jardins Zoológicos europeus, o antagonismo entre macaco e cobra foi cientificamente comprovado. Segundo pesquisa de Surinová (SURINOVÁ, M.,1971) as cobras lideraram o "ranking" dos animais mais rejeitados em Zoos com 22% enquanto os macacos com 26% foram os mais queridos. Em Zoos europeus, o panorama foi o mesmo (MORRIS, D., 1960). Na pesquisa qualitativa desenvolvida após a etologia aplicada, constatou-se que os visitantes, ao observar uma serpente, permanecem um tempo médio duas vezes maior do que do diante de um Tigre Siberiano. Com efeito, as serpentes 115 remetem as pessoas para uma condição de percepção nocional, distintamente, quando as mesmas estão diante de um macaco. Com efeito, quando estão frente-a-frente a uma cobra, o visitante procura bem mais do que do que uma simples diversão ou percepção visual, o visitante busca a apropriação de uma noção, não apenas dos motivos da cobra ser tão poderosa, um anseio natural do ser humano, mas, como um animal destituído de pernas e braços pode ser tão perigoso e, como ele deve se proteger desse animal. Por conta disso, o visitante gasta mais tempo observando e especulando com outros visitantes e, finalmente, lendo as curiosidades incluídas na placa informativa, o que é muito raro com outros animais. 3.6.7 - Pojeto Humanizoo. As análises das especulações dos visitantes revelaram uma série de interpretações equivocadas Figura 30 - O Jacaré-do-Pantanal apresando uma cobaia diante do público. 116 sobre o comportamento das espécies em exposição, sobretudo, em relação aos répteis, animais, normalmente, de pouca mobilidade. Se não todos, mas com certeza, na maioria dos casos, essa noção comportamental deformada sobre os reptilianos, depõe contra o trabalho de excelência realizado pelo corpo técnico. Ciente de que a missão educativa de um Zoológico não se esgota com o trabalho do setor educacional, o núcleo de répteis desenvolveu um projeto de educação ambiental, com o objetivo demonstrar para o público, em horários de maior movimento dos finais de semana e, em grandes viveiros, o manejo alimentar de serpentes e jacarés de portes avantajados. Tendo em vista, que esse trabalho é rotineiramente implementado pelo tratador de animais e que, naturalmente, resulta numa série de questionamentos por parte dos visitantes, os próprios tratadores executam a ação educativa, que se desenvolve da seguinte forma: dois tratadores portando equipamento específico (pinça ofídica) ofertam roedores previamente abatidos1 às serpentes e em seguida para os jacarés, no interior de seus respectivos viveiros, ao mesmo tempo, no interior do viveiro um grupo de monitores e tratadores, também munidos de equipamentos e previamente treinados pela equipe técnica, explica para o público Figura 31 - Demonstrações do manejo alimentar de grandes serpentes - Projeto Humazizoo. 1 - Os animais são abatidos por meio de inalação de gás carbônico e são acondicionados em caixa de isopor. 117 o comportamento natural dos répteis e responde as muitas dúvidas dos visitantes. Esse projeto, demonstra o compromisso da Rio-Zoo com a educação ambiental. A atividade além de atrair um grande número de visitantes, que acompanham as demonstrações de um viveiro ao outro, desperta a autoestima do tratador e estimula, não apenas as especulações entre os visitantes, mas, principalmente, a relação do público com os tratadores e monitores ambientais, que além de participarem da instrução dos visitantes, anotam as principais dúvidas e especulações dos mesmos, a fim de adequar as respostas e elaborar relatórios do comportamento do público participante e dos animais. Os comportamentos observados nos visitantes foram os seguintes: - Curiosidade em saber o que está sendo feito; interesse aguçado; a aglomeração de pessoas atraindo as demais; espanto em relação às pessoas que estão dentro do viveiro fazendo a alimentação; pena das presas; interesse em saber a área de estudos dos estagiários; muitas perguntas sobre o animal; elogios em relação ao projeto; satisfação em ter as respostas para seus questionamentos; registro da alimentação através de foto e filmagem por parte dos visitantes; empolgação com a situação; vontade dos visitantes de ter contato com os animais. Ampliando sobremaneira a área de visualização do viveiro (Figura 32), a Píton Reticulada escala palmeiras com mais de vinte metros e torna-se uma atração à parte. Figura 32 - O hábito arborícola da Píton Reticulada na “Ilha das Serpentes” - Fotos Esther Nazareth. 118 As demonstrações do manejo alimentar geraram uma série de perguntas, cuja as mais frrequentes são as seguintes: O que os animais estão comendo? Os ratos estão vivos? Quantos ratos as cobras comem por dia ? Não é perigoso para vocês (estagiários e tratadores) ficar dentro do viveiro? Vocês não têm medo? As cobras são venenosas? Os jacarés comem as tartarugas ? As cobras comem os sapos que estão no mesmo viveiro? Como as cobras matam os ratos? As serpentes matam as presas quebrando os ossos? Nós podemos entrar no viveiro? Tem fotos no site do zoológico sobre este projeto de alimentação? Qual a espécie das cobras ? Qual é a maior serpente? Qual é o tamanho dessas cobras? Quantos animais têm no viveiro? As cobras não são nojentas? Quando vai ser feito a alimentação dos felinos? Como os ratos foram mortos? Se elas engolem o rato inteiro, como as cobras fazem a digestão? A cobra consegue comer um animal maior do que ela? Como? As serpentes não atacam vocês (estagiários e tratadores)? Como uma píton consegue subir na árvore? Qual a idade dessas cobras? Quanto tempo elas vivem? Elas se reproduzem no viveiro? 3.6.8 - Discussão. Na pioneira pesquisa de etologia aplicada realizada no Polo Ecológico de Brasília, desenvolvida por Marcelo Bizerril (BIZERRIL, M., 2000), única referência desta monografia, tanto o jacaré-de-papo-amarelo, quanto um primata, no caso um Bugio, foram respectivamente os animais que reteram os visitantes por maior tempo quando comparados aos outros animais amostrados. Um resultado semelhante foi obtito na pesquisa aplicada na Rio-Zoo, muito embora o primata adotado na pesquisa daqui tenha sido o Macaco-Aranha. O que reforça a noção de que os primatas, por questão de semelhança com o ser humano, 119 constitui o grupo de mamíferos mais procurado em Zoos. No que tange ao réptil, segundo interpretação daquele autor, os visitantes permanecem por mais tempo diante do jacaré, na expectativa do crocodiliano se mexer, o que na prática, em dias ensolarados aqui na RioZoo, normalmente, pode variar de 20 a 30 minutos, com doze espécimes em exposição, o que para a maioria dos visitantes representa muito tempo. Portanto, considerável parcela do público pode terminar a visita com a noção irreal de que há algo de errado com o comportamento dos jacarés. Com efeito, os debates mais acalorados foram pertinentes a crítica da vigente nomenclatura popular dos animais na Rio-Zoo e as propostas para nominações alternativas. Tendo em vista, que a principal divergência nesse assunto, está relacionado com designação cágado (do espanhol cagado = assustado). Considerando que foi verificado na pesquisa qualitativa, o não aceite do termo cágado, além de casos de depreciação, devido a incoercível associação do termo cágado com a palavra cagado (pretérito perfeito do verbo cagar). O grupo transdisciplinar de técnicos das áreas de zoologia, veterinária e zootecnia, argumentou que tartaruga é uma palavra de origem italiana e que teria mais significado o uso do dialeto Tupi-guarani, o que sem dúvida é uma grande e legítima alternativa. Contudo, pertence ao senso comum, a noção de que, os animais providos de casco são as tartarugas, sejam elas marinhas ou continentais, o que sob a óptica da multidisciplina Comportamento-Ambiente, representa um nome já aceito e que constitui uma marca psíquica ou um laço cognitivo da mente das pessoas. O grupo contra-argumentou que a placa informativa deveria incluir, além do nome adotado na instituição, um espaço para as denominações regionais e também, aqueles de origem Tupi-guarani. Ficou acordado que o nome adotado continuaria em destaque na placa, mas, acrescidas das demais denominações, que seriam apresentadas no rodapé, inclusive, quando fosse o caso, com explicações dos significados dos termos em Tupi-guarani. 120 No que diz respeito a nova concepção da entrada do Zoo do Rio, não houve muito debate, no entanto, a maioria dos técnicos entende, que seria uma mudança interessante e alguns deles concordaram que a entrada pelo Portão Monumental facilitaria a criação de roteiros de visita. A posição do Iphan em relação a proposta foi comentada com arquitetos, que ressaltaram que o órgão federal, somente discordaria de qualquer edificação situada na frente do Portão Monumental, como a construção seria realizada ao lado, em teoria, o Iphan não discordaria da idéia, até porque, o objetivo é propriciar maior visibilidade a esse patrimônio histórico da Cidade do Rio de Janeiro, que à noite seria iluminado para possibilitar maior destaque e valorização. Quanto a criação de áreas de visitação, que foram sugeridas conforme o que preconiza a moderna concepção de Parques Zoológicos, segunda a qual, os roteiros de visitação se desenvolvem através de regiões e vias hierarquizadas, se reveste da maior relevância, a busca de consenso entre os técnicos e o corpo administrativo, de modo a estabelecer roteiros e, por que não um novo plano diretor? Já que o último foi implementado, nos idos de 1984, na administração do arquiteto Paulo Celso Martins Brandão. Figura 33 - Placa informativa ressignificada com linguagem iconográfica. 121 3.6.9 - Considerações Finais. "A tarefa não é contemplar o que ninguém ainda contemplou, mas meditar, como ninguém ainda meditou, sobre o que todo mundo tem diante dos olhos". Nas sábias palavras de Arthur Schopenhauer, está a síntese do exercício reflexivo do autor, que em essência, resultou num verdadeiro processo de superação pessoal, por ter conseguido compatibilizar abordagens qualitativas e quantitativas numa mesma temática. Uma verdadeira aventura para uma monografia, irrefutavelmente, com a dimensão de uma dissertação de doutorado. Com efeito, a prevalência dos comportamentos evocados pelo público, objeto de estudo da etologia aplicada, indicou tendências e preferências. O método fenomenológico, levado a efeito, através da escuta atenta das especulações de um grupo social formado por visitantes, tratadores e técnicos, desvelou crenças, ideologias, valores e motivos, que foram fundamentais para o aprofundamento dos enfoques pertinentes à multidisciplina ComportamentoAmbiente. O pragmatismo lógico peirciano, ressignificou vários aspectos relativos à missão institucional de um Jardim Zoológico e o alinhou ao mais genuíno pensamento de Paulo Freire, o maior educador deste Continente, que sempre lutou para subverter a barreira existente entre o conhecimento técnico e os saberes do senso comum, atualmente, um dos principais reclames da epistemologia ambiental (LEFF, E., 2003). Tendo a consciência de que, novos pensamentos e posicionamentos, normalmente, se chocam com o comportamento conservador, próprio do ser humano, o autor entende, que diante de eventos planetários como a Copa do mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o poder público precisa de um Plano Diretor para o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, pois, trata-se de uma instituição cultural que deve fazer parte do roteiro turístico da Cidade do Rio de Janeiro. Para tanto, a Fundação Rio-Zoo carece de atenção e investimento, a fim de que, nos anos vindouros possa evoluir juntamente com a Cidade Maravilhosa e todo o povo carioca. 122 3.7 - Projetos Educativos. 3.7.1 - Projeto “Monitores de Viveiro” - 2002. Apresentação Contando com o plantel mais rico em aves e primatas do Brasil, a Rio-Zoo, sempre buscando a excelência de suas atribuições, vem implementando com êxito há mais de 15 anos, visitas orientadas com escolas e o público em geral, através do Centro de Educação Ambiental e Pesquisa - CEAP. Isso vem sendo realizado em parceria com a Diretoria Técnica - DTE, cujo objetivo maior é propiciar de forma contínua, a conservação dos animais em cativeiro. Nesse sentido, foi criado o "Programa de Enriquecimento de Recintos", cuja finalidade é promover atividades e dinâmicas com as espécies, a fim de aprimorar o bemestar dos animais em seus viveiros. Tendo em vista que, sem a participação do público, qualquer iniciativa técnicocientífica voltada para conservação, pode resultar em vão. Nossa finalidade, com o projeto que aqui se alinha, é conquistar o apoio de um grande parceiro, o visitante, de modo a tornar factível a macro-função da Rio-Zoo, a conservação ambiental. Ciente dessa realidade, o CEAP com o apoio da Presidência e da DTE, está desenvolvendo o Projeto Monitores de Viveiro, objetivando capacitar graduandos de biologia para, nos finais de semana, atuarem na Rio-Zoo, junto ao público, como multiplicadores das ações técnico-educativas. 123 Objetivos - Despertar no visitante a importância da sua participação na conservação ambiental; - Oportunizar aos visitantes a apropriação de conhecimentos e valores voltados à conservação dos viveiros e do bem-estar animal; - Implementar ações de educação ambiental com ênfase na valorização da biodiversidade da fauna brasileira e culminância na conservação do ambiente local; - Possibilitar ao público oportunidades de interagir de forma salutar e útil com o binômio animal-viveiro - Difundir conhecimentos e valores para os visitantes através de uma equipe de universitários capacitados por educadores com experiência em ações técnico-educacionais. Justificativa Cercadas e sensibilizadas por agradável espaço natural e pelos carismáticos animais em exposição, as crianças, ao entrarem no Zôo, emprestam as pessoas de maior idade, curiosidades e motivações próprias da infância. Em conjunto, essas sensações originam um campo comum de experiências e motivações entre as diversas faixas etárias. Esses aspectos, associados a uma visita orientada por universitários treinados torna um simples passeio ao Zoo, numa divertida e estimulante maneira de aquisição de conhecimentos e valores relacionados à fauna e a conservação do ambiente local. 124 Nesse sentido, a utilização técnico-educativa dos recursos ambientais em roteiros planejados de visitas monitoradas, tem ampla possibilidade de lograr êxito e retorno positivo para a imagem do patrocinador. Desenvolvimento Numa fase inicial, o Projeto Monitores de Viveiro, será desenvolvido através de dois roteiros compactos, tendendo a um progresso metodológico e a um aumento na variação dos roteiros de visita. Para tanto, será realizada uma pesquisa de opinião pública, para analisar o perfil dos visitantes e suas preferências. Para cada roteiro, três conjuntos de viveiros foram selecionados em função dos seguintes aspectos: - Ser considerado problemático pelos técnicos, devido à ação negativa do público; despertar notável atração dos visitantes, em função do carisma das espécies e por permitir ao visitante saciar o incontido desejo de alimentar os animais. Nesse sentido, foram criados dois roteiros, o Roteiro Norte e o Roteiro Sul. A visita a cada roteiro teria duração média de duas horas, limite mínimo de dez e máximo de vinte pagantes e uma relação de um monitor para cada dez visitantes. Distribuídos em duplas pelos viveiros, monitores fixos aguardariam os visitantes nos viveiros. Já os monitores mais experientes, considerados volantes, serão orientados para formar os grupos, conduzir os visitantes pelos roteiros e supervisionar a atuação dos monitores fixos, que terão uma atuação instrutiva no momento da visita, e, uma função preventiva, juntamente ao público em geral, quando for encerrada a orientação das visitas programadas. 125 Metodologia A data mais indicada para o lançamento do Projeto MONITORES DE VIVEIROS seria a mesma da inauguração da nova sinalização da RIOZOO, prevista para o primeiro semestre de 2003. Após divulgação na mídia, os grupos de visitantes interessados no roteiro de visita, poderiam participar de uma promoção, qual seja: os quarenta primeiros visitantes a chegarem ao Zoo no mês de outubro teriam direito a um roteiro de visita gratuito. Os demais visitantes para participar do roteiro necessitariam adquirir o “Zoocard”, que é um cartão diferenciado que retorna para o visitante ao passar na roleta. Tendo em vista que, considerável parcela dos visitantes manifesta o desejo incontido de alimentar os animais - prática indesejada pelo corpo técnico por representar sério risco à saúde das espécies selvagens infere-se que o melhor caminho para se enfrentar o problema, seria tornar possível a estes visitantes, em um setor controlado pelos MONITORES DE VIVEIRO, a desejada sensação de alimentar animais associada à recepção de conhecimentos e valores pertinentes à conservação ambiental e posse responsável de animais domésticos. Nesse sentido, se reveste da maior relevância, uma visita orientada à Mini-fazenda, espaço educativo destinado às crianças, situado numa área central da Rio-Zoo, onde se encontram: bois, ovelhas, patos, marrecos, galinhas, coelhos etc. Em função da sua importância, a visita a este setor seria contemplada nos dois roteiros oferecidos segundo horários pré-estabelecidos. 126 3.7.2 - Projeto “Bicho Fala Sério!” Trabalho apresentado no XXVII Congresso da SZB em Bauru, São Paulo. 2003 Apresentação A Prefeitura do Rio de Janeiro juntamente com a Secretaria de Meio Ambiente (SMAC) e a Fundação RIOZOO, através do Centro de educação Ambiental e Pesquisa CEAP, realizam regularmente ações lúdico-educativas com os visitantes. Nos últimos anos, refletindo sobre os resultados de pesquisas de avaliação cognitivas com o público, as peculiaridades da ambiência local e dos eventos de promoção institucional, fomos exercitando e aperfeiçoando procedimentos didáticos que resultaram no desenvolvimento deste projeto de educação ambiental. Objetivos Popularizar aspectos didaticamente relevantes da biologia das espécies carismáticas da fauna brasileira; ajustar os métodos de recriação da realidade aos usos e costumes da clientela e às características do Zoológico do Rio; criar um campo comum de experiências afetivas e cognitivas com o público infantil e entre a própria equipe de criação. 127 Desenvolvimento A partir a escolha do animal a ser entrevistado e, da disponibilidade de fantasias, a equipe parte em busca fontes variadas para prospecção do máximo de dados da espécie, consultando artigos científicos, páginas na internet, entrevistando tratadores e especialistas. Em seguida, tendo como referência à exposição de crendices populares e peculiaridades comportamentais e dramáticas da espécie, elaboramos perguntas, respostas, idealizamos os sotaques e o cenário. Após a digitação das falas seguem os ensaios e preparação do cenário. Um informativo com bastante espaço para pintura e no formato de história em quadrinhos é distribuído às crianças no final da apresentação (um pouco antes da fase de participação da platéia). Utilizando dois microfones, um deles auricular, plugado a uma caixa amplificada, o animal-repórter dá início ao evento anunciando: Hoje O Programa “BICHO FALA SÉRIO” vai entrevistar o maior felino das Américas, Dona Onça fala sério! Perguntas e repostas bem-humoradas dão o tom da entrevista, com duração entorno de 20 minutos. Finalmente, o repórter-animal faz perguntas à platéia, a primeira criança que responder corretamente é chamada pelo animal-repórter para dizer o seu nome, idade e responder a pergunta através do microfone para todos da platéia ouvirem, um momento muito especial somente superado, quando a própria criança faz a pergunta para o animal, um desfecho de acentuado valor educacional. Vale sublinhar que os agentes de educação ou monitores ambientais devem ser dinâmicos para registrar as perguntas bem como distribuir os informativos e brindes no momento adequado, auxiliar no manejo das crianças e na elaboração e manutenção da propaganda voltada aos visitantes. 128 Resultados e Discussão O Programa teve a duração de 20 meses, durante esse tempo foi apresentado na maioria dos sábados - só nos dias de mau tempo não era executado. A equipe de técnicos e monitores da época abraçou o projeto com entusiasmo e obteve um acentuado retorno para formação afetiva, cognitiva e automativa (psicomotora). Digno de nota foi a interação e troca de experiências com as crianças. Com efeito, as perguntas inusitadas das crianças, via de regra, provoca uma singela noção das suas dúvidas, curiosidades e referenciais, conhecimentos e pensamentos.... Considerações Finais Refletindo o sobre projeto percebe-se que ele além de ser um poderoso instrumento para difusão de conhecimentos e valores, constitui eficiente ferramenta para desenvolver o desembaraço, a criatividade, o domínio de classe e o espírito de equipe. A escolha dos animais-repórteres foi precedida por uma competição de peso Venceu o mais leve! No início do Projeto e das apresentações e durante todo o "tempo de cartaz", o fator limitante foi a disponbilidade de fantasias. Embora o primeiro animalrepórter tenha sido a ararajuba, surgiu a oportunidade de adquirir, por doação, uma fantasia de um elefante cor de rosa. De posse da fantasia pintamos a mesma de cinza e o elefante foi promovido a apresentador do Programa "Bicho Fala Sério!" no lugar da ararajuba. Mas não deu certo, as crianças ao invés de fazer perguntas para o animal da fauna brasileira, faziam para o elefante. Então o “Papagaio Lourival” entrou, roubou a cena e foi mantido. 129 3.7.3 - Projeto “Álbum de Família”. Trabalho apresentado no XXVIII Congresso da SZB, Rio de Janeiro. 2004. (Co-autoria com Patrícia A. dos Santos) Podemos definir como Álbum de Família, qualquer coleção de imagens de domínio familiar. Surgidos na Europa no século XIX com o nome de “cartes de visite” e popularizados no começo do século XX, quando a fotografia foi colocada ao alcance do amador, os álbuns de família transmitem informações de forma semelhante a da linguagem falada, mas com uma expressiva carga de emoções, realizações e lembranças. Introdução Partindo do pressuposto de que a imagem é um dos principais instrumentos para o conhecimento e para a ação e norteados por uma necessidade de associar as ações de educação ambiental promovidas pela Fundação Rio-Zoo, aos usos e costumes do carioca, desenvolvemos o projeto-piloto “Álbum de Família dos Animais Brasileiros Ameaçados de Extinção”. O projeto promove um enriquecimento das ações educacionais, mas tem um caráter complementar e por isso está associado a outros projetos (Bicho Fala Sério! e Roteiro Fauna Brasileira). Escolhemos a arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus) devido a diversos fatores: trata-se de uma espécie carismática; temos dois casais em exposição na RIOZOO; tivemos acesso a um excelente acervo fotográfico (gentilmente cedido por Neiva Guedes - Projeto Arara Azul/UNIDERP) e havia disponibilidade de fantasias. 130 Objetivos Nosso principal objetivo é dar aos participantes a oportunidade de conhecer melhor não só os detalhes da biologia mas, sobretudo, os problemas que afetam a vida das espécies brasileiras ameaçadas de extinção, criando um vínculo afetivo entre visitante e animal. Material e Métodos Para o projeto-piloto utilizamos dois álbuns de 30 x 23cm, cada um com 8 folhas duplas autocolantes. Cada álbum contava com 40 fotos ampliadas que procuravam mostrar: o hábitat das araras; ninhos, ovos e filhotes; seus alimentos preferidos; outras espécies de araras e ações conservacionistas em prol da espécie. O piloto contou com duas “sessões”, cada uma apresentada de forma divertida e interativa por um casal de Arara-Azul-Grande (dois monitores fantasiados) que contava as experiências vividas em cada momento retratado: o crescimento dos filhotes, a ajuda dos pesquisadores no Pantanal, etc. As “sessões” foram apresentadas de duas formas: a) Como parte integrante do Bicho Fala Sério! - apresentado para um grupo de 20 crianças e 12 adultos, durante o evento de adoção da Arara-Azul-Grande, pela empresa Genzyme do Brasil. b) Como parte integrante do Roteiro Fauna Brasileira - apresentado para um grupo de 15 crianças e 3 professores. 131 Resultados e Discussão O resultado imediato da apresentação foi a acentuada atenção e participação das crianças e dos adultos. Todos se identificaram plenamente com a forma de exposição, o que aumentou ainda mais seu interesse pelas araras. Mesmo já tendo recebido informações nos viveiros, muitos voltaram e começaram a fazer observações relativas aos assuntos abordados na exposição (“Olha só que legal! Elas estão usando o bico para descascar o coquinho que nem vocês falaram!”) além de formularem novas perguntas mais específicas (“Essas aqui são um casal também? Elas vieram do Pantanal que nem vocês? ”). Conclusão Por se tratar de um projeto-piloto, julgamos que os resultados apresentados são o suficiente para indicar que estamos na direção correta. Entretanto, ainda que estejamos satisfeitos com estes resultados preliminares, para comprovar a eficiência do projeto tornou-se relevante promover algum tipo mais objetivo de avaliação. Assim poderíamos avaliar comparativamente o conhecimento adquirido pelos participantes acerca das araras e dos animais do RFB, dividindoos em 2 grupos: Grupo A - composto por aqueles que participaram o RFB e do “Álbum de Família”. Grupo B - composto por aqueles que participaram somente do RFB. A avaliação dos resultados da dinâmica mostraria qual grupo conseguiu assimilar mais informações e que tipo de informações foram melhor assimiladas. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Projeto Arara Azul/ UNIDERP / Genzyme do Brasil. 132 3.7.4 - Projeto “BatiZoo”. BATIZOO - VALORIZAÇÃO DA CULTURA POPULAR E DA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO DA RIOZOO NA NOMINAÇÃO VERNACULAR DO JABUTI HÍBRIDO Geochelone carbonaria (Spix, 1824) X Geochelone denticulata (Linneus, 1766) Trabalho apresentado no XXXII CONGRESSO DE ZOOLÓGICOS DO BRASIL, realizado em Sorocaba - São Paulo. 2008. A preocupação com a conservação e a defesa dos animais não se esgota com o manejo adequado e o enriquecimento ambiental. É preciso ir além, desenvolvendo a cognição ambiental da área de exposição, como por exemplo, fomentando a adoção de uma nomenclatura popular dos animais através de motivos cognitivos, ou seja, que considere a lógica e a ética, ao invés do aceite de nomes pejorativos e\ou formados por signos pouco desenvolvidos, que podem estar depreciando os animais, mas certamente estão transmitindo aos visitantes noções e representações de reduzido significado. Geralmente, isso ocorre na nomenclatura popular dos répteis, vertebrados, cujo os representantes exibem qualidades da forma, como a extensão e a excentricidade, que promovem acentuado apelo estético aos visitantes. Além disso, os reptilianos expressam comportamentos que estimulam a curiosidade e a percepção nocional, não remetendo o visitante somente para uma condição de divertimento. Ciente dessa realidade, a Fundação RIOZOO está valorizando 133 os répteis através de reformas nos viveiros e da viabilização de parcerias para criação de novos espaços de visitação. Nesse sentido, a SUART, da Gerência de Biologia da Diretoria Técnica, em parceria com o CEAP da Diretoria Executiva, desenvolveu o Projeto BATIZOO, objetivando propiciar ao público a inusitada oportunidade de participar de uma eleição, destinada à escolha de um nome para uma forma híbrida de jabuti destituído de denominação popular e originado de duas espécies amplamente encontradas no território brasileiro e, portanto, bem populares, mas precariamente diferenciadas pelos visitantes, que inadvertidamente, não percebem a diversidade da herpetofauna brasileira, manifestando uma indesejada generalização, ao denominar qualquer espécie de quelônio de tartaruga. O projeto foi desenvolvido durante doze dias, inclusive nos finais de semana, para ademais, destacar os Testudines Continentais e seu novo viveiro. A cada aplicação normalmente participavam: um técnico e dois estagiários treinados, munidos de urna, mesa, canetas, cédulas e painel informativo ilustrado com fotos e mapas, explicando sucintamente as principais características das espécies, a razão da eleição e dos significados dos sete nomes sugeridos. Com efeito, a aplicação desta metodologia tornou factível a participação do visitante na gênese do conhecimento da forma resultante do cruzamento de G. carbonaria e G. denticulata, aumentou o tempo médio de observação dos Testudines e do viveiro, confirmou a tendência do público de generalizar o nome popular dos répteis dessa ordem e ampliou as possibilidades de aprendizagem sobre aspectos relacionados à bionomia das espécies, ao ambiente e a função de um Zoo. Além disso, oportunizou as crianças o raro sabor do exercício da cidadania, encorajadas que foram pelos seus acompanhantes, que participaram com entusiasmo, cobrando resultados e a elaboração da nova placa informativa com o nome mais votado, o jabuti bicolor. 134 3.7.5 - Projeto VIAZOO. Justificativa Recentes pesquisas comportamentais e qualitativas, desenvolvidas junto ao público visitante do Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro - Fundação RIOZOO, revelaram a necessidade de ressignificação da sinalética, da forma de comunicação, dos roteiros de visitas, bem como o uso de uma diversidade de linguagens associadas aos usos e costumes dos visitantes, geralmente oriundos dos grandes centros urbanos. Dentre as propostas apresentadas, destaca-se o Projeto VIAZOO, cuja principal finalidade constitui a nominação das vias públicas da RIOZOO. Com efeito, o inédito ato de dar nomes às alamedas, ruas e travessas de um Zoo, uma instituição extremamente popular, homenageando e valorizando nomes do meio científico e personalidades da densa história do Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, não apenas trará mais popularidade às instituições interessadas, mas, também, facilitará a orientação do visitante e propiciará o primeiro passo para o desenvolvimento do processo de cognição ambiental na área de exposição; propiciando um amplo e contínuo acesso à cultura, e também um estreitamento das relações entre a Fundação RIOZOO e as demais organizações científico-culturais. Objetivos - Ampliar a oportunidade de acesso do visitante à cultura; valorizar as personalidades científicas e da história, envolvidas com animais e com o Jardim Zoológico do Rio de Janeiro; estreitar o 135 relacionamento entre a RIOZOO e instituições afins; facilitar a orientação do público na área de exposição; acentuar a popularização da instituição, do conhecimento zoológico e da obra e contribuição de nossos antepassados. Desenvolvimento "Fiz uma parte do muito que gostaria de fazer pela humanidade. Não tenho orgulho da minha pobre ciência, mas estou satisfeito com minha alma e o meu coração. Para uma alma bem formada não há (nada) como fazer bem aos outros, o bem que conseguir fazer é que conforta e tranquliliza o meu velho coração." - Vital Brazil Mineiro de Campanha. As instituições interessadas precisam apenas contactar o Centro de Educação Ambiental e Pesquisa e a Assessoria de Comunicação, a fim de pactuar parcerias em eventos promocionais com a participação da mídia. Nesse sentido, a Diretoria Técnica - DTE, através da Assessoria de Comunicação - ASCOM e do Centro de Educação Ambiental e Pesquisa - CEAP aproveitou uma mostra de animais peçonhentos em parceria com o Instituto VITAL BRAZIL, desenvolvido em agosto de 2007 e tomou a iniciativa de sugerir à diretoria do setor de serpentários do mencionado instituto, a inauguração da primeira via pública, a RUA VITAL BRAZIL. Na solenidade de inauguração da RUA VITAL BRAZIL, foi lançada uma placa informativa com a logomarca institucional, além da foto do cientista e de sua contribuição para a ciência e a para a sociedade. 136 3.7.6 - Projeto “Brasil Fauna Já!” Uma das características mais relevantes do jogo é a associação do prazer com a aprendizagem. Com efeito, o jogo ativa e desenvolve os esquemas de conhecimento que favorecem a aprendizagem de saberes peculiares a praxis das ciências como a zoologia e a etologia, como p. e. observar e identificar, associar, comparar e classificar, relacionar e inferir. Além disso, a dinâmica pode possibilitar aos educandos a oportunidade para manifestação voluntária de procedimentos que potencializam os esquemas de conhecimento como por exemplo: a previsão e a antecipação. Trata-se de uma dinâmica voltada para percepção da diversidade da fauna brasileira. A dinâmica compreende uma competição em grupos, precedida por avaliação inicial (exposição de fotos de 5 animais para pelo menos 5 crianças), aplicação de roteiro de visita orientada contemplando uma média de 16 animais da competição, jogo da memória e avaliação final (mesmo procedimento da avaliação inicial). Durante o roteiro quando o número de animais iniciados pelo prefixo “já” chegava a 4 ou 5 perguntava-se aos alunos: Quantos animais nós já vimos com o prefixo “ja”? Como a maioria não se lembrava de todos, surgia uma necessidade e uma pergunta pertinente: O que deve ser feito para não esquecermos mais os nomes dos animais já identificados? A culminância da dinâmica relaciona 40 nomes populares de animais da fauna brasileira iniciados pelo prefixo “JA” e incluídos na exposição da RIOZOO às suas respectivas fotos. As imagens, produzidas por jato de tinta e plastificadas foram fixadas em um quadro de cortiça situado abaixo de um globo giratório, tipo bingo, com bolinhas numeradas de 1 a 50 correspondentes aos nomes de uma lista numerada. Cada grupo de competidores teve que relacionar corretamente o número sorteado a imagem de um animal dentre 40 fotografias possíveis. Para facilitar, se o número sorteado fosse múltiplo de 5, a criança era ajudada pelo orientador, com ao menos uma reveladora dica sobre o animal. Então, após girar o globo, o educador podia dizer: um, dois, três e 137 Jardim Zoológico, no caso do número ser múltiplo de 5, ou então, um, dois, três e jacaré-coroa, nesse último caso, a criança apontava para um dos quatro jacarés possíveis do plantel da Fundação RioZoo. Cada grupo tinha até três chances de movimentar a roleta numerada e em seguida apontar a imagem associada ao nome correto sorteado. No caso de equívoco, o sorteio das bolinhas passava para o outro grupo e assim sucessivamente. No fim ou, no caso de desempate, cada grupo teve até 20 minutos para encontrar o animal na exposição e apontá-lo para os monitores. Sendo bem sucedido, o grupo teve direito a valiosos pontos para vencer a competição. Ao final todos os grupos faziam pesquisas e elaboravam murais ou cartazes para divulgar o que aprendeu para as outras turma da escola. OBJETIVO: Perceber e valorizar a diversidade da fauna brasileira FAIXA ETÁRIA: De sete a doze anos LOCAL e DURAÇÃO: Sala de aulas e Jardim Zoológico, um tempo de aula é suficiente para instigar os aprendentes e uma visita ao Jardim Zoológico com cerca de 120 minutos. MANEJO DE CLASSE & INCENTIVAÇÃO INICIAL: Formar de três a cinco grupos (dependendo do tamanho da turma). Artigo de revista, jornal ou documentário de TV ou DVD exaltando a riqueza da fauna brasileira. PROCEDIMENTO DIDÁTICO: Aplicar uma aula sobre biodiversidade, em seguida divulgar a turma a proposição do jogo e a visita ao Jardim Zoológico. MATERIAIS: Globo giratório ou outra forma de sorteio, imagens de animais impressas em jato de tinta e plastificadas. Comentários: Sem que sejam solicitados, quase todos os alunos aprecerão na próxima aula com uma 138 lista dos animais cujo nome se inicia pelo prefixo "ja". O professor ouve todos os nomes, corrige outros e faz comentários. Em seguida explica as regras do jogo concentra a atenção em apenas 40 dentre 140 nomes existentes e promove a formação dos grupos. Com 3 a 5 conjuntos de 30 a 40 imagens pareadas dos animais pode-se aplicar o jogo da memória, o jogo do mico, usando o JAVALI como mico (o javali é um animal exótico). * As imagens, o jogo da memória e o globo da sorte podem ser emprestadas pelo CEAP\RIOZOO, através do email: [email protected] 3.7.7 - Projeto “Zoo é lógico”. Figura 34 - Portal “ZOOéLÓGICO” (http://marcosjabour.vilabol.uol.com.br/HTML/zooelogico.html) “ZOOéLÓGICO” é um portal de divulgação de projetos educacionais e de pesquisas realizadas na Fundação RIOZOO sob responsabilidade do professor Marcos Jabour, biólogo da Gerência de Biologia, da Diretoria Técnica da Fundação RIOZOO. Trata-se de uma página destinada a alunos, professores, técnicos da área ambiental e ambientalistas em geral, cujo os objetivos principais são: transmitir conhecimentos e valores sobre a fauna brasileira, bem como divulgar estratégias educacionais de vanguarda e resultados de pesquisas quantitativas e qualitativas relacionadas à fauna e a educação ambiental. Muito utilizado após palestras e cursos. 139 3.8 - Visitas Orientadas não-convencionais. 3.8.1 - "Plantio de gongolo” - Orientando a Criançada. Certo dia, numa visita orientada com crianças de idade entre 10 a 12 anos, iniciava a visita no antigo “Exoticum”. Apesar de todos os atrativos desse conjunto de viveiros, constituído principalmente por serpentes, a fabulosa percepção ambiental das crianças foi mais forte e, de repente, uma delas me interpelou: - Ali tio, tem uma cobra solta! Na verdade, um gongolo em suas andanças. Reconhecendo a importância daquele momento para o educando e, do consequente retorno ideológico para o educador, peguei o animalejo e o coloquei nas mãos para que a criançada adquirisse confiança e sentisse a graça do bichinho. Toda a turma então se aproximou espontaneamente. Alguns, contavam o número de perninhas, outros, observavam as antenas e ao mesmo tempo faziam perguntas. Algumas foram respondidas, mas deixamos bem claro que muitos adultos tinham medo exagerado do bicho e normalmente pisavam nele. Logo, o animal passou a caminhar de mão em mão entre as crianças. O orientador então indagou: - Será que os outros animais conhecem o gongolo? Então, propositadamente, conduzimos o animal até o viveiro do mico-leão-dourado, que prontamente ficou excitadíssimo. Gente o mico conhece o gongolo? Por que? Aproveitamos a estimulante demonstração como gancho, para falar sobre os hábitos alimentares do mico-leão e do gongolo, teia alimentar etc. Em seguida, fizemos a última pergunta: - O que fazemos agora com o gongolo? Solta tio! E lá foi o bichinho nas suas andanças e nós prosseguimos com a visita que acabara de começar. Refletindo sobre o ocorrido, resolvemos fazer ensaios (simulações) com outras turmas da mesma faixa etária, ‘plantando’ um gongolo no caminho das crianças e, para nossa felicidade, tudo deu certo como continuará dando, basta ter confiança" - Marcos Jabour, 2002. As visitas orientadas mais eficientes aplicadas pelo autor foram aquelas efetivadas com crianças e com o público em geral. A abordagem dessas visitas foi centrada na interpretação dos fenômenos relacionados ao binômio animal-ambiente. Dessa forma, apesar de valorizar a investigação científica é válido economizar na difusão de conceitos, e no uso exagerado da terminologia técnica. Nesse sentido, se faz necessário à utilização de alguns instrumentos técnicos tais como lupas, binóculos e peças anatômicas de vertebrados e invertebrados e animais taxidermizados. A finalidade desde instrumental científico e das peças anatômicas é promover 140 uma abordagem interpretativa baseada em demonstrações do procedimento científico e de simulações, que a rigor, acabam funcionando como experiências concretas. São requeridos também, no mínimo dois estagiários, sendo um do sexo masculino e outro do feminino. Quando no grupo houver crianças e adolescentes de ambos os sexos é válido que os orientadores do sexo masculino orientem os aprendentes do sexo oposto e as estagiárias orientem os meninos e rapazes. Além disso, é necessário a inclusão de pelo menos um orientador bem treinado, à paisana, que se passaria por “visitante questionador e polêmico" que faz perguntas pertinentes à temática, normalmente não efetivadas pelos educandos. Esse procedimento estimula a promoção de discussões, de modo a aflorar o potencial dialético do público-alvo sobre assuntos relacionados à fauna e ao ambiente. Cumpre ressaltar, que as perguntas e situações são previamente planejadas de modo a promover simulações. As mais eficientes maneiras ocorrem através da exposição de uma crendice. Um técnico infiltrado no grupo em dado momento do roteiro, quando o assunto for propositalmente direcionado pelo guia para borboletas, convida os visitantes a examinarem com a lupa as asas de uma borboleta2, então, o técnico à paisana faria a seguinte interpelação: - Mas tem que ter cuidado porque o pó que ela solta cega! Neste instante, um dos estagiários com a mochila de peças anatômicas, chama em bom tom a atenção do grupo para uma demonstração que em seguida é efetivada do seguinte modo: - pega-se um recipiente com asas de borboleta esfrega o dedo nelas e, em seguida, passa-se o dedo nas próprias pálpebras para provar o contrário. Além de despertar uma forte emoção do visitante em relação à atitude e a segurança do educador, este procedimento didático, serve para levar o visitante a concluir que, ele e muitas outras pessoas apresentam idéias irreais e infundadas sobre os animais. 2 - É preciso ter o cuidado de informar que a demonstração só pode ser feita com as borboletas criadas ou que sejam encontradas mortas, mas, não com as mariposas (algumas poucas espécies possuem escamas maiores que podem causar pequena irritação) e mesmo assim, o pó das asas deve ser passado só nas pálpebras e nunca no globo ocular. 141 3.8.2 - Projeto “Pulando a Cerca”. Quando foi lançado o Projeto “Pulando a Cerca”, pensou-se que os visitantes fossem ter acesso ao interior da Minifazenda, mas a equipe do CEAP foi mais criativa e fez o contrário, os animais que ultrapassaram os limites desse espaço destinado ao atendimento de escolas. É público e notório o desejo do público de visitar a simpática “Fazendinha do Zoo”, mas para visitar esse espaço, somente com agendamento prévio para grupos escolares. É como fazer um gramado perfeito para a prática do futebol no meio de peladeiros e expor a plaquinha “Proibido Pisar na Grama”! Da mesma forma acontece com o antigo espaço de exposição “Casa da Ararajuba”, que foi criado para atender o público, mas com o tempo também perdeu o sentido, hoje é usado para as animadas e pouco instrutivas festas de aniversário. O autor diverge por entender que numa instituição cultural, a expectativa era de que a Minifazenda atendesse o público dentro e fora de seus limites, mostrando a vida e a conservação dos animais domésticos e de produção e a Casa da Ararajuba retornasse com as exposições sobre as temáticas ambientais pertinentes à fauna, atuando de forma integrada ao Anfiteatro, enfim que todo esse equipamento educacional funcione a todo vapor, pois, com certeza há um árduo e permanente trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Novos projetos precisam ser reconstruídos e redimensionados, como o interessante Projeto “Alimentando os Animais”, que começa com a preparação das dietas dos animais domésticos na Cozinha dos Animais e segue até a Minifazenda, onde os visitantes se passam por tratadores e fornecem a alimentação para touros, vacas, jumentos, coelhos, galos e galinhas e assim tem a oportunidade de saciar o desejo incontido de cuidar dos animais. 142 3.8.3 -Projeto Zoo à Noite - “Zoo by Night”. O Roteiro de visitas noturnas foi criado em 1999 através do Presidente Márcio Martins, após pesquisa de opinião pública realizada pelo setor de Assessoria de Comunicação da RIOZOO, cujo resultado indicava que a visita noturna era um desejo do visitante. Intitulado de “Zoo by Night” o roteiro sempre apresentava surpresas especiais para os visitantes, via de regra, um ou mais animais, mostrados na intimidade. Apresentado em 2000 ao público e à mídia, no ano de 2001 foi ressignificado, ganhando nova metodologia com maior ênfase para as espécies da fauna brasileira e na exposição de crendices injustificadas, incluindo demonstrações para subverter temores exagerados e preconceitos. Em 2004 foi criado um de material didático com linguagem atraente e enfoque voltado para as especiais adaptações das espécies de hábitos noturnos com enfoque no funcionamento dos apurados órgãos dos sentidos das espécies noturnas, sempre destacando exemplos bem ilustrados das espécies brasileiras. A então Cartilha “Animais Noturnos” (Anexo XXVI) esgotou-se em pouco tempo. Em 2007, o Projeto passou a se chamar Zoo à Noite. Longe de atender a demanda, o projeto por ser não-convencional, causava verdadeiro magnetismo nos veículos de comunicação de massa, que eram utilizados pelos técnicos do Centro de Educação Ambiental e da Diretoria Técnica, para transmitir mensagens de valorização da fauna brasileira, tais como: o Brasil é o país mais rico do mundo em número de espécies de mamíferos, mas três quartos dessas espécies, são ativas durante a noite. Em 2009 o roteiro de visita do Zoo à Noite, ficou conhecido com “o caminho das tochas”, devido ao belo cenário formado pela presença de luminárias de fogo. Neste ano (2010) completa 10 anos de realização do Zoo à Noite. 143 4 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMORIM, Ines. Esqueceram dos bichos brasileiros. O Globo, Rio de Janeiro, 23 maio 2004 Caderno Globinho, p.1. AUGUSTO, M. Algo do Meu Velho Rio Livraria Editora Brasiliana. 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Olhar com indiferença o animal sem tecer comentários e demonstrar interesse; . Olhar para outro animal próximo e em seguida se afastar. . Olhar para outra pessoa próximo e em seguida se afastar. Interesse* . Demonstrar interesse ou cobiça em possuir o animal*; . Manifestar o desejo de ingerir o animal*; Preocupação* . Demonstrar preocupação com a solidão do animal ou com o status da espécie*; . Manifestar preocupação com um suposto mal-estar do animal*. Curiosidade . Olhar curiosa e fixamente o animal, observando suas formas e atitudes; . Apontar a presença do animal com o dedo; . Procurar o animal com os olhos ao parar diante do recinto; . Ler a placa informativa; . Especular sobre a placa informativa*; . Especular sobre o animal, a espécie, o parentesco, a dieta etc. Admiração . Elogiar a beleza, a força, a agilidade do animal. Agressividade . Jogar objetos (pedras, latas, madeiras) tentando atingir o animal; . Cutucar o animal com a mão ou usando outro instrumento; . Depreciar o animal usando termos pejorativos como feio e fedorento; . Gritar ou fazer comentários pejorativos em voz alta, dirigindo-se ao animal ou imitá-lo de modo ameaçador. Interação . Estender a mão como se fosse cumprimentar; . Oferecer objetos como papel, galho ou outro objeto; . Oferecer alimento ou atirá-lo ao animal; . Bater palmas a fim de atrair a atenção do animal; . Chamar o animal por um apelido ou pelo próprio nome da espécie; . Cumprimentar verbalmente o animal ou acenar para ele; . Imitar o som do animal, buscando uma interação ou resposta; . Rir das ações do animal. Temor . Assustar-se, ficar alerta, dando um pulo ou passo para trás·; . Alertar para o perigo, invocando atenção e cuidado. 149 ANEXO II Etograma (modificado de BIZERRIL, M., 2000). no. de reg.: Data: / Hora: Dia: Sexo: M( ) F( )- / Animal: Duração: F. E.: Criança ( ) Adolescente ( ) Adulto ( ) Idoso ( ) Condições do tempo: _____________________________________________________________________ Comportamento do animal: ________________________________________________________________ ÍTEM 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 COMPORTAMENTO Distração Passar direto Olhar indiferente Olhar para outro animal e se afastar Olhar para outra pessoa e se afastar Especular sobre interesse em possuir o animal Especular sobre interesse em ingerir o animal Curiosidade Preocupação com a solidão do animal Preocupação com mal-estar do animal Apontar o animal Procurar o animal Procurar ler a placa informativa Especular sobre a placa informativa Especular sobre o animal Elogiar o animal Jogar objeto no animal Cutucar o animal Jogar objeto ou lixo no viveiro Depreciar o animal Gritar Estender a mão para o animal Oferecer alimento ou atirá-lo ao animal Bater palmas Chamar o animal Cumprimentar o animal Imitar o som do animal Rir do animal Assustar-se com animal Alertar para o perigo SIM NÃO ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ( ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) ) Obs: ___________________________________________________________________________ 150 ANEXO III Gráfico 2 - Prevalência relativa dos comportamentos do público visitante na Fundação RIOZOO. 151 ANEXO IV Roteiro do Jardim Zoológico na Quinta da Boa Vista, 1958. 152 ANEXO V Índice dos Animais - Setembro de 1958. 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Araras e cacatuas Biguás etc Marabus Micos, sagüis etc. Urubu rei Aves canoras, Proximidade do Restaurante Público. Jacamins, Calao, Pombas etc. Filhotes de jacarés e tartaruGás pequenas. Jacarés Lagartos Iguanas Sucuris Jibóias – poucos passos da Sepultura da saudosa Macaca Catarina. Aves Paludícolas Periquitos, papagaios, cacatuas etc. Gaviões, abutre-do Congo etc. Babuino sagrado e Chacma. A direita alojamento do macaco Resus, usado na produção de Vacinas, contra a paralisia Infantil Águias, condores, gaviões e Mutuns. Quatis, pelicano, tamanduá Jabutis, seriema etc. Maracanã, ararinha-azul, Pa21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 pagaios, Jandaias etc. proximidades da Gruta de N. S. de Fátima. Faisões, mandarins, Araras, Caranchos, Corujas etc. Zebras Girafas e Avestruzes Macacos Tota Elefantes Rinoceronte e cria (Pata Choca) Camelos Macacos Babuinos (Grupo) Ursos Europeus Dromedários Faisões, Calao pequeno, Galinha d’Angola, Vulturina, Lóris. Faisões, Pombas-Goura, UruMutum etc. Lontras Ursos Himalaios Colheireiros, Arapapás, Gaivotoes, Guarás e Flamingos. Ouriço-cacheiro, Mangabei, Uanderu Orangotangos – Biriba e BelinHá e ao lado Mandris (Família Teixeira...). Tigre Real de Bengala Leões Paca, Cotia Amarela, Mangusto etc. 41 Guanaco 42 Emus e Casuares 42.A Chimpanzés – Lulu, Lili e Babá. 43 Hipopótamos 44 Recintos da Feras Leões Jaguar Canguçu Hiena pintada Gato dourado Onça parda (Sussuarana) Lobo europeu Urso europeu Urso preto – Emblema do EsTado da Califórnia – USA. De posse desse Estado, foram doados no dia 9 de janeiro de 1956 ao Sr Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, pela Embaixada do Contra Costa Country Sheriff’s, na sua visita. 45 Peixes Fluviais Brasileiros 46 Aquário – Proximidade Cangurus 47 Grande Lago, Cisne Real,Ganso Chinês, Irerês, Pelicano. Ilha dos Macacos Fosso das Onças Cervo Dama, Audad, Anta Moufflon e Emas. 48 49 50 153 ANEXO VI Planta de Situação do Zoológico - Esquema por Setores e Localização dos Animais. 43 17 44 45 42 14 41 16 40 18 15 39 13 20 33 38 12 19 37 Iguanas 11 36 35 Ilhas das Serpentes Re pt ár io 9 34 32 7 29 26 10 Tartarugas Continentais 30 31 8 Jacarés 28 6 27 5 25 3 24 23 1 21 2 Cobras & Lagartos 22 4 C D B A E 154 ANEXO VII Índice dos Animais - Maio de 2010. A B C D E 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 Tartaruga-de-Pente Gaivota, Atobá, Biguá, Socó Apaiari, Pirarara, Piranha, Pirapotanga Lobo-Marinho Cervo-Sambar, Anta, Ema, Capivara Araras e Marrecos Papagaios, Mutuns, Pavão, Seriema Jiboia, Sucuri, Sapo, Camaleão Calau, Tucanos, Araçari Arara-Azul, Capivara, Tamanduás Jacaré-do-Pantanal, Jacare-Coroa Jacaré-de-Papo-Amarelo, Jacaretinga Tartarugas,Tracajá, Jabutis Creche Garças, Socós, Marabus, Pinguim, Tartaruga Mordedora Aperema, Filhotes de Jacarés Píton-Arco-Íris, Píton-Albina Iguanas, Tartaruga do Paraíba Hipopótamos Lhama Gaviões, Carcará, Casaca de Couro Acauã, Gavião Pombo,Carrapateiro Corujão, Harpia, Urubu Rei Condor dos Andes Coatás ou Macacos Aranha Jacutinga, Jacuaçu, Macuco, Aburria Pomba-Goura, Pomba Ducula, Faisão Dourado, Faisão-da-Malásia, Faisão Costas de Fogo, Anacã. Coleiro, Azulão, Sabiá Laranjeira, Tico-Tico, Picapau-Branco. Jacamim, Ararajuba, Gralhas, Cancã, Mutuns, Murucututu, Suindara, Quiriquiri, Coruja-Buraqueira, Mocho Negro Mocho Orelhudo, Marrecão Gavião-As-de-Telha. 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 Macaco-da-Savana, Macaca-Rabo-dePorco Babuínos, Lontra Mandril, Chimpanzé Pipo, Chimpanzé Paulinho,Orangotango Jaguarundi, Lince, Serval, Sussuarana Onça Pintada, Leopardo, Leão Tigre de Bengala, Tigre Siberiano Jabuti Vermelho Jumento, Boi, Vaca, Poneis, Porco Coelho, Galinha, Galos, Perus. Urso-de-Óculos Casuar Cisnes e Marrecos Cachorro-do-Mato Elefantes Girafas, Zebras, Avestruzes Nyala Búfalo Urso-Pardo Ilha dos Macacos-Aranha Íbis Sagrado, Guará, Colheireiro Flamingo, Garça Moura, Aracuão, Irerr Cuxiú, Macaco-da-Noite, Preguiça-Real Parauacu,Ouriço-Caicheiro, Sauá, Guariba Curicas, Marianinhas, Papagaios, Sabiá-Cica, Anacãs, Arara Militar, Arara-Azul , Arara-Canga Arara-Candindé-Verdadeira, Ararada-Bolívia,Tiribas, Periquitos, Jandaias, Cuiú-Cuiús e Caturrita. Sagui-Una, Sagui-Bigodeiro, Mico-Leão Sagui-de-Santarém, Sagui-Leãozinho Macacos-Prego, Caiararas, Mico-deCheiro, Macaco-Barrigudo, Bugio, MãoPelada, Coati Raposa-do-Campo, Jaguatirica, Irara Cachorro-do-Mato-Vinagre, Cutia-de-Rabo, Coendu, Jupará. 155 ANEXO VIII Sugestões para Ressignificar a entrada do público no Jardim Zoológico. 156 ANEXO IX Planta de ampliação da área de visitação da Fundação Rio-Zoo. Iguana 157 ANEXO X Gráficos da pesquisa quantitativa - 2001. Gráfico 3 Gráfico 4 158 ANEXO XI Desempenho do público sobre o conhecimento dos animais na Rio-Zoo. Gráfico 5 Gráfico 6 159 ANEXO XII “Ranking” dos animais mais conhecidos pelo público da Rio-Zoo. Gráfico 7 160 ANEXO XIII Esqueceram dos bichos brasileiros - O Globo. Ines Amorim Pense no zoológico. Agora pense num bicho que você vai ver lá. Pensou em elefante, leão ou girafa? Se pensou, não está sozinho. A maioria dos frequentadores do zoológico da cidade do Rio se lembra primeiro dos animais exóticos, quer dizer, que não são originários do Brasil. Os representantes da fauna verdeamarela,coita-tados, estão em baixa. Deu elefante na cabeça. Em segundo lugar veio o rei das selvas, o leão, seguido por dona girafa. O primeiro animal brasileiro a ser citado foi o tucano, em sexto lugar. Logo depois vieram o mico-leão-dourado e a onça. Os biólogos do Centro de Educação Ambiental e Pesquisa (CEAP), da Fundação Rio Zoo, já desconfiavam disso e, para comprovar a tese, fizeram uma pesquisa com 720 visitantes do parque, entre adultos e crianças. Os biólogos mostravam 20 cartões com fotos de bichos — dez estrangeiros e dez brasileiros — e as pessoas tinham que dizer o nome dos que mais conheciam. — Os brasileiros têm que valorizar mais a nos-sa fauna. No programa de educação ambiental Bicho Fala Sério, as crianças têm uma aula di-vertida sobre animais brasileiros — diz o biólogo Marcos Jabour. O resultado não surpreendeu os biólogos, mas não agradou. Por isso, eles acharam que era hora de encher a bola da bicharada verdeamarela. O Bicho Fala sério começou no ano passado e acontece todos os sábados, às 11 h, no anfiteatro do Jardim Zoológico. O mestre de cerimonias é o repórter-papagaio Lourival, que “entrevista” um bicho. Os primeiros foram onça e lobo-guará. A partir desta semana é a vez da arara-azul. Você vai aprender, por exemplo, que existem quatro tipos de arara-azul: arara-azul pequena (já extinta), ararinha-azul (que existe só em cativei-ro), arara-azul de Lear e arara-azul grande (que na última lista do Ibama passou da categoria critica-mente ameaçada de extinção para vulnerável, is-to é, corre menos risco de desaparecer). A arara-azul grande inaugura um novo projeto, o Álbum de família. Depois do Fala Sério, os vi¬sitantes vão conhecer o viveiro da aves, onde es¬tará um grande álbum com fotos que mostram como é a vida do animal na natureza. 161 ANEXO XIV Eles também querem ser celebridades - Correio Braziliense. 162 ANEXO XV Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos - Correio Braziliense. 163 ANEXO XVI Que Pena! Nossos animais são pouco conhecidos II - Correio Braziliense. ANA SÁ ___________________________________________ DA EQUIPE DO CORREIO V ocê sabia que os animais africanos, como o tigre e a zebra, são mais conhecidos que o mico-leão e o lobo-guará, espécies originalmente brasileiras? É o que revela pesquisa feita pela Fundação Jardim Zoológico do Rio de Janeiro. A pesquisa resultou em um ranking em que constam as 20 espécies mais lembradas pelas 720 pessoas entrevistadas. O tucano foi o animal brasileiro mais reconhecido, mas ele aparece em 6° lugar no ranking. A ave aparece atrás do elefante, do leão, girafa, tigre e zebra, todos originários da África. O lobo-guará, animal típico do Cerrado, também é pouco conhecido pelos brasileiros, ocupando a 16aposição no ranking (veja gráfico). Para o biólogo Marcos Jabour, o desconhecimento sobre a fauna brasileira deve-se a vários fatores. Um deles é que o elefante, a girafa, a zebra, o rinoceronte, o hipopótamo e o leão sempre estiveram presentes nos filmes, livros e documentários de tevê. As espécies brasileiras começaram a aparecer na mídia nos últimos cinco anos. Outro fator apontado pelo biólogo é o tamanho dos animais que vivem principalmente nas savanas da África. O elefante africano, por exemplo, pesa o equivalente a 100 pessoas, podendo chegar a 7.500 quilos. A girafa é o animal mais alto do mundo. Além do pescoço comprido, ela possui pernas longas para alcançar as árvores. O rinoceronte asiático ou indiano chega a pesar 4 mii quilos. Um leão adulto — com três anos — mede aproximadamente l m de altura por 2m de comprimento, fora a cauda, e pesa em torno de 250 quilos. Sua pata é a maior de todos os felinos. Mas Jabour alerta para o fato de que a fauna brasileira tem animais de grande porte, sim! Ele cita, por exemplo, a sucuri, a cobra mais pesada; a capivara, o maior roedor do mundo. Do focinho ao rabo, uma capivara adulta mede mais ou menos l metro. Ela é parente do rato, porém grande como um cão. “O tatu-canastra é o maior tatu do mundo”, diz , Jabour, para mostrar que os zoológicos brasileiros também não dão destaque aos animais brasileiros. Adivinhe por quê? É que 75% das espécies brasileiras têm atividadé noturna. E aí, quando o visitante chega ao zoológico, eles estão dormir|Éfo dentro das jaulas. Já a maioria dos animais estrangeiros tem hábitos diurnos. 164 ANEXO XVII Ele não é brasileiro - O Estado de São Paulo. 165 ANEXO XVIII Você conhece a nossa fauna? - O Estado de São Paulo. ETIENNE JACINTHO É claro que você conhece o elefante, o leão e a girafa. Eles foram os três animais mais lembrados peias pessoas em uma enquete realizada pelo biólogo Marcos Jabour da Fundação RioZôo do Rio de Janeiro, Um único detalhe: todos esses bichos são africanos! No ranking dessa enquete, feita com visitantes do Zoológico do Rio de Janeiro e da qual participaram 720 pessoas, o primeiro animal brasileiro citado foi o tucano, em 6.° lugar. O resultado da enquete você pode conferir nas fotos ao tado. À esquerda estão os cinco bichos mais lembrados pelos participantes. Todos eles são estrangeiros. Já à direita estão os outros oito animais mais citados. Entre esses, cinco são encontrados no Brasil. Mas por que as pessoas conhecem mais os animais africanos e asiáticos? Para Jabour, vários fatores contribuem para o sucesso desses bichos, “A visão é o principal sentido do ser humano. Animais como o elefante, a girafa, o rinoceronte, o hipopótamo impressionam pelo tamanho”, diz o biólogo. “Mas existem outros fatores. As pessoas gostam de uma boa história e esses animais trazem consigo variadas e divertidas aventuras originadas das fábulas. das histórias em quadrinhos e do cinema,” Riqueza - Apesar de os bichos africanos serem as “celebridades” da enquete. o Brasil possui mais espécies de mamíferos do que a África. O problema é que 75% dessas espécies sào mais ativas à noite e é bem mais difícil de avistá-las. “Por isso, os próprios zoológicos brasileiros contribuem para a fama dos estrangeiros. Com exceççao dos felinos e dos hipopótamos, a maioria desses animais tem hábitos diurnos, assim como os visitantes dos zôos”, explica Jabour. O Brasil reúne ainda, o maior número de espécies de animais selvagens. Só entre os vertebrados, são mais de 6 mil identificados. Mas, afinal, quais são os bichos mais característicos da fauna brasileira? Na Amazônia reinam aves como a ararajuba e o uirapuru, além dos pri matas - diferentes espécies de sagúis e de macacos - e cobras como a sucuri, a mais pesada serpente conhecida. A jaguatirica, um felino parecido com a onça, também mora na região. Os dois “gigantes” da Amazónia são a ariranha - um mamífero parente próximo da lontra, que adora tomar um banho de rio - e o pirarucu, o maior peixe com escamas do mundo. Capivara, lobo-guará e tamanduá - A famosa ave tuiuiú, a capivara, o maior roedor do mundo, e as temidas piranhas são alguns dos habitantes do Pantanal. Já o bugio (primata),o lobo guará, o tamanduá-bandeira e o tatu-canastra, o maior do planeta, são típicos do cerrado brasileiro. O sudeste do País é coberto pela mata atlântica. Os micos-leões são figurinhas fáceis nessa paisagem, assim como o tamanduá-mirim e o quati - os animais preferidos do biólogo Marcos Jabour Bichos-preguiça e beija-flores moram na mata atlântica. 166 ANEXO IXX Animais em extinção nos Zoológicos - O Estado de São Paulo. É verdade que os animais encantam e que. muitas vezes, temos vontade de levar uma colorida ave ou um esperto macaco para casa. Mas é preciso lembrar que os animais silvestres vivem mais felizes soltos na natureza. O desejo das pessoas de ter um bicho diferente em casa alimenta o tráfico de animais. Para chegar às mãos dos compradores, os animais apreendidos por traficantes sofrem muitos traumas. Muitos morrem antes mesmo de chegarem ao seu destino. O comércio ilegal é uma das principais causas que levam animais como a ararinha azul a serem ameaçados de extinção. “A ararinha-azul é o vertebrado mais ameaçado do mundo”, conta o biólogo Marcos jabour. Além dela, a arara-azul-de-lear também está à beira do desaparecimento, assim como o pavó e o pato-merguihão. Os micos também estão nessa lista. Umadas espécies, o mico-leâo-de-cara-preta, foi descoberta em 1990 e já está ameaçada, assim como o mico-leâo preto, original de São Paulo. “O tatu canastra e o tatu-bola encontranvse também criticamenteameaçados”. fala o biólogo. (E.J.) Se o elefante não é brasileiro, muito menos o leão, como esses bichos sobrevivem nos zoológicos do País? “Com muito esforço”, responde o biólogo Marcos Jabour. “Dá muita despesa, gasta-se muito com água, alimentação e pessoal (funcionários).” Para queos animais se sintam quase em casa, os espaços onde eles vivem são adaptados. “Isso é feito a partir de pesquisas no habitat das espécies e no estudo do comportamentoanimal, sobretudo o alimentar e o reprodutivo”, fala Jabour. (EJ.) 167 ANEXO XX Estrangeiros - O Estado de São Paulo. 168 ANEXO XXI Brasileiros - O Estado de São Paulo. 169 ANEXO XXII Os bichos que só gostam da noite - Correio Braziliense. 170 ANEXO XXIII Os corujões - Correio Braziliense. Super 171 ANEXO XXIV Os corujões II - Correio Braziliense. 172 ANEXO XXV Boa-noite, bichinhos! - Correio Braziliense. 173 ANEXO XXVI Cartilha “Zoo by Nigth”. 174 Fundação Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro - RIOZOO ANIMAIS NOTURNOS Série Didática FICHA CATALOGRÁFICA Jabour, Marcos Animais Noturnos 24 p. il. (Série Didática) Fundação Jardim Zoológico da Cidade do Rio de Janeiro Parque da Quinta da Boa Vista s/nº - São Cristóvão Rio de Janeiro - RJ - Brasil - Tele-FAX 021XX 2567-9732 www.rio.rj.gov.br/riozoo - [email protected] Tiragem: 3.000 Rio de Janeiro- RJ - Brasil - dezembro/2003 175 APRESENTAÇÃO Com raras exceções, a maioria das regiões do nosso país não apresenta inverno rigoroso, favorecendo a vida dos animais noturnos. No Brasil, a maioria das espécies de insetos, aranhas, centopéias, anfíbios, serpentes, jacarés, corujas, bacuraus e mamíferos é noturna. Mas, nós, seres humanos, realizamos a maioria das nossas atividades durante o dia, por isso, estamos mais acostumados com os hábitos dos animais diurnos do que com os noturnos. Isso acontece porque é principalmente através da visão que o ser humano se orienta e percebe o ambiente. Na escuridão da noite, as pessoas, sem poder classificar o que existe ao seu redor, tornam-se inseguras e então surge o medo e suas fantasias. Não é à toa que a maioria das superstições e crendices populares tem a noite como cenário. Assim, de geração em geração, o mundo imaginário das pessoas foi despertando temores exagerados e uma antipatia popular gereralizada e sem fundamento pelos animais de hábitos noturnos. Considerado pela ciência o país mais rico do mundo em biodiversidade, o Brasil é também a nação com a maior diversidade de espécies de mamíferos, grupo de animais do qual o ser humano faz parte e está mais familiarizado. Contudo, três quartos das espécies de mamíferos brasileiras encontram-se ativas durante a noite. Ciente dessa realidade, a Fundação RIOZOO, demonstrando seu compromisso com a educação, desenvolveu um roteiro especial de visita noturna, o “Zoo by Night” , visando difundir conhecimentos e valores relativos aos animais noturnos. Marcos Jabour - RIOZOO/DEAP (Diretoria de Educação Ambiental e Pesquisa) Quinta da Boa Vista s/nº São Cristóvão - Rio de Janeiro - RJ CEP 20.940 040 (021) 2569-5869 TELEFAX 2567-9732 - http://www.rio.rj.gov.br/riozoo e-mail: [email protected] 176 ÍNDICE Adaptações 2 A campeã da audição 3 Silenciosa como a brisa 4 Enxergando com o tato 6 Localização por eco 7 Morcegos X Mariposas 8 Existe luz à noite? 9 “Linguagem dos cheiros” 11 Localização elétrica 12 “Enxergando ondas de calor” 13 “Cupinzeiros luminosos” 15 Cruzadinha 16 Jogo dos 7 erros 17 Bibliografia 18 177 Introdução Para nós pode parecer estranho, mas a adaptação dos animais à vida noturna tem uma razão de ser. Há dezenas de milhões de anos, quando dinossauros predadores do tamanho do Tyranossauros rex, permaneciam ativos durante o dia em busca de alimento, era mais seguro para os outros animais esconder-se de dia e sair à noite. Essa divisão de turnos entre os grandes répteis e os animais menores, estabeleceu um tipo especial de vida que existe até hoje. Com o passar do tempo, para procurar alimento, defender-se, fazer ninhos, cuidar dos filhotes, e encontrar abrigo seguro antes do Sol nascer, os animais noturnos foram apurando seus sentidos, aperfeiçoando a camuflagem e adequando seu comportamento. Com a extinção em massa dos grandes répteis e a contínua diferenciação dos mamíferos, o número de espécies de animais noturnos foi aumentando e a disputa por espaço e por alimento foi ficando cada vez maior. Os pesquisadores supõem que essa competição acirrada e a busca por um clima mais ameno, resultou no aparecimento de espécies ativas algumas horas em ambos os turnos e animais especializados em iniciar suas atividades ao amanhecer e ao entardecer, os animais crepusculares. 178 Adaptações A luta pela sobrevivência condiciona os animais noturnos a travar, a cada noite, batalhas sem trégua para encontrar alimento, o caminho de volta para o abrigo e escapar de perigos geralmente imperceptíveis. A competição mais notável é a que acontece entre presas e predadores. Algumas vezes os predadores saem ganhando, em outras, as presas conseguem escapar, o que é fundamental para manter o equilíbrio, pois, se os predadores sempre obtivessem êxito, muitos deles entrariam em extinção por falta de alimento. Alguns animais têm órgãos especificamente adaptados para certos tipos de presa. O tamanduá-mirim é um desses caçadores especializados. À noite ele é capaz de distinguir o cheiro de cupins de diferentes castas, dos quais se alimenta. Depois de achá-los, procura evitar os cupins-soldados, pois além de terem sabor desagradável, são dotados de poderosas mandíbulas com as quais atacam qualquer intruso. O tamanduá introduz sua língua flexível e pegajosa nas galerias para comer o máximo de cupinsoperários que puder, antes dos soldados aparecerem. Quando isso acontece, ele procura quebrar com suas fortes g a r r a s o outro lado do cupinzeiro. Em geral, a segunda investida dura pouco tempo, pois os cupins-soldados repelem o tamanduá que bate em retirada. Dessa maneira, o equilíbrio natural entre presa e predador é garantido. 2 179 Campeã da Audição O ouvido interno das corujas é extremamente desenvolvido. Ele permite que a coruja localize uma presa na total escuridão. A presa pode ser um pequeno camundongo roendo um alimento a vários metros de distância do local onde se encontra pousada. disco facial ouvido olho Essa acuidade auditiva é possível por causa de discos faciais que funcionam como se fossem parábolas (refletor sonoro) que amplificam o som e o transmite ao ouvido, facilitando a localização da presa. 3 180 Silenciosa como a brisa As corujas apresentam uma estrutura especial de penas, que elimina qualquer tipo de ruído no seu deslocamento e permite um vôo silencioso. } Dentadura em detalhe As partes externas das penas da coruja, apresentam pequenas ondulações chamadas dentaduras, que tornam o vôo das corujas, exclusivamente noturnas, muito silencioso e geralmente imperceptível para a maioria das suas presas. B A 4 1 2 3 Disposição das unhas da coruja no momento do ataque (A), após a captura a coruja prega o roedor no chão (B) 4 181 2 1 Dona coruja me dá cá um abraço! Ih sai pra lá, passarinho que anda com morcego amanhece de cabeça pra baixo! 3 Esta é a suindara, nome originado do tupi-guarani e quer dizer: “aquela que não come”. Os índios tupis a chamavam assim, porque dificilmente presenciavam a ave comendo. Fala sério! isso aí é uma ratoeira viva! esqueleto de morcego Assim como gatos e macacos, a coruja enxerga em três dimensões, ou seja, focaliza o mesmo objeto usando parte do campo visual de ambos os olhos, o que possibilita uma excelente percepção de distância e profundidade, vitais para quem necessita voar com pouca luminosidade, o que é muito difícil. Apesar de ser incapaz de focar objetos próximos, ela conta com o recurso de dilatação da pupila durante a noite, captando qualquer fração disponível de luz, o que torna sua visão muito mais apurada do que a do ser humano. Mas, ela tem pouca mobilidade nos olhos, o que é compensado pela acentuada flexibilidade do pescoço, capaz de girar num ângulo de 270 graus. 5 182 “Enxergando com o tato” 1 2 3 Os pêlos do bigode (vibrissas) dos felinos e outros mamíferos são tão sensíveis como as pontas dos nossos dedos. Os pêlos espalhados pelo corpo da aranha-caranguejeira (2), os tentáculos de peixes noturnos como a pirarara (1) e as cerdas dos bacuraus (3) funcionam como órgãos táteis. Podemos dizer que esses animais tendem a perceber o caminho, igual a uma pessoa que utiliza as mãos quando anda no escuro. fenda em detalhe Um outro interessante grupo de aves noturnas é representado pelos curiangos, bacuraus, e urutaus. O urutau ou mãe-de-lua (figura ao lado), por exemplo, tem duas fendas na pálpebra superior, que lhe permite observar ao seu redor sem abrir os olhos. Esse mecanismo é de fundamental importância para perfeita camuflagem do urutau durante o dia, sua principal forma de defesa. O urutau imita galhos de árvore como nenhuma outra ave consegue fazer. Insetívoro, este grupo de aves possui boca larga para a captura de uma grande quantidade de insetos. Embora os sentidos e os reflexos dos animais noturnos sejam bem melhores do que os nossos, na luz do dia, eles se tornam pouco ativos e até indefesos. Isso é facilmente verificado com gambás. Tipicamente noturnos, se forem despertados durante o dia, mostram-se inofensivos, com um andar lento e desajeitado. 6 183 Localização por eco Alguns animais noturnos são dotados de um ouvido muito apurado, com o qual captam até sons de alta freqüência, que os ouvidos humanos não percebem. Os morcegos, voam na escuridão sem se chocar com os obstáculos, porque emitem ondas sonoras de alta freqüência que alcançam os obstáculos e voltam na forma de eco. Ao ouvir este eco, o morcego obtém informações sobre o tamanho, localização e textura do objeto. Essa forma de orientação é conhecida por localização por eco ou ecolocalização. Apesar dos morcegos serem animais pequenos, eles precisam ingerir diariamente uma quantidade de alimento equivalente ao seu próprio peso, o que entre as espécies comedoras de insetos (insetívoras) resulta numa eficiente ação reguladora da quantidade de insetos. Além disso, pelo fato de possuírem uma digestão muito rápida, (cerca de 25 minutos de duração) as espécies comedoras de frutos (frugívoras) ajudam a disseminar as sementes das frutas que comem, espalhando-as através das suas fezes, o que normalmente aumenta a capacidade de germinação das sementes, contribuindo assim para o aparecimento de novas árvores. 7 184 Morcegos X Mariposas As mariposas possuem ouvidos sensíveis aos ruídos dos morcegos. Ao perceberem a presença desses animais, elas ficam transtornadas e voam sem nenhuma direção. Mas o que surpreendeu os pesquisadores foi encontrar esse órgão num grupo de borboletas primitivas chamadas Hedyloidea. Como a maioria das borboletas voa durante o dia, não se imaginava que elas tivessem ouvidos especiais para captar gritos de morcegos, animais exclusivamente noturnos. Isso reforça a teoria de que há milhões de anos certas mariposas foram trocando a noite pelo dia, transformando-se em borboletas. Essa recente descoberta serviu para revelar também o motivo da troca de turno, o grupo de mariposas estava fugindo de seus predadores, os morcegos insetívoros. Entre os morcegos existem algumas espécies que se alimentam de néctar desempenhando uma função semelhante à do beijaflor: polinizar as plantas. Ao se alimentarem do néctar, esses mamíferos voadores sujam seu pêlo com o pólen (gameta masculino). Visitando outras plantas da mesma espécie, o pólen aderido a sua pelagem pode fertilizar uma outra flor. Ao longo da evolução surgiram plantas amigas dos morcegos (quiropterófilas) elas desenvolveram interessantes adaptações. Além de suas flores se abrirem à noite, elas ficam bem expostas acima da copa ou pendentes dos ramos para facilitar o acesso dos morcegos, já que eles são incapazes de recuar em vôo como os beijaflores. Algumas dessas flores produzem odores semelhantes aos de frutas em fermentação ou cheiro parecido com o das glândulas de mamíferos, incluindo os próprios morcegos. O pequi, a dedaleira, o maracujá, a unha-de-vaca, o imbiruçu e o cuietê, são algumas plantas que atraem morcegos, algumas delas chegam a produzir 20 ml de néctar por flor. 8 185 Existe luz à noite? A luminosidade noturna, pode variar desde noites bem claras de lua cheia, passando pelas noites de céu claro, fase em que os animais só podem contar com a escassa luminosidade das estrelas, até as noites de céu nublado onde em certos lugares predomina a total escuridão. Além disso, no Brasil, existem duas estações bem marcadas, o verão chuvoso, com noites mais curtas e o inverno seco com noites mais longas. Nas noites muito escuras, alguns animais utilizam o tato para “ver”. O mãopelada ou guaxinim, por exemplo, pesca com a mão em águas pouco profundas. Sentindo a presença do peixe, agarra-o com um golpe certeiro. Únicos símios noturnos, os macacos-da-noite (no Brasil existem 5 espécies) passam o dia dentro de buracos de árvores e dificilmente são vistos. Os biólogos supõem que a mudança de turno desses macacos seja um caso de adaptação para preservação da espécie. Assim, eles evitam a competição com as aves e primatas frugívoros, que durante o dia seriam mais aptos. Para garantir o sucesso de sua sobrevivência ele tem uma visão noturna perfeita. O macacoda-noite apresenta na retina depressões que concentram grande quantidade de bastonetes que aumentam a acuidade visual durante a noite. 9 186 tapetum lucidum A visão é determinada por dois tipos de fotossensores: os cones e os bastonetes. Os animais noturnos possuem visão especializada, com a predominância de fotorreceptores chamados bastonetes, que são células presentes na retina que aproveitam ao máximo as menores quantidades de luz. Os cones são elementos especializados para o máximo de aproveitamento da luz intensa. Normalmente os animais exclusivamente noturnos não apresentam cones na retina. Com escassa luminosidade o músculo dilatador da íris aumenta o diâmetro da pupila, para permitir a entrada do máximo de luminosidade possível. À noite é conhecido o brilho nos pupila contraída pupila dilatada olhos dos felídeos. Mas os olhos dos curiangos, quatis, guaxinins, juparás, jacarés e até de mariposas parecem fosforescentes quando são alcançados pelo brilho da luz, como de uma lanterna, por exemplo. Isso acontece porque seus olhos percebem cada raio de luz duas vezes. LUZ } Primeiro a luz atravessa o cristalino e incide em um elemento das membranas da retina (bastonetes). Em seguida, se reflete no fundo do olho, como em um espelho e sensibiliza novamente os bastonetes. Este espelho chama-se tapetum lucidum. 10 187 “Linguagem dos cheiros” A água na forma de vapor presente no ar, também chamada umidade relativa do ar, se resfria ao entrar em contato com as superfícies frias e se condensa, passando para o estado líquido. Assim, durante noite, o ar fica menos denso favorecendo a propagação do som e a retenção de odores por mais tempo. Geralmente os animais noturnos têm o olfato mais apurado do que os diurnos. Sempre ativas, seja no breu do formigueiro ou nos deslocamentos noturnos, as formigas cortadeiras (saúvas e quenquéns) apresentam um verdadeiro “idioma olfativo”. Através de suas antenas, essas formigas captam odores que revelam desde a presença de uma outra companheira ou de inimigos, até a distância, a localização e o tamanho de uma fonte de alimento. A variação na quantidade de substâncias odoríferas (feromônios) e seus componentes químicos tornam mais precisas e variadas as informações. As mensagens de cheiros de alarme são lançadas no ambiente através de substâncias que se espalham rapidamente pelo ar. Não fazer barulho é essencial para os predadores noturnos, porque as presas têm um ouvido excelente. Por isso, os felinos têm pêlo espesso e almofadas na planta dos pés. Assim, podem pegar suas presas sem serem ouvidos. Pererecas arborícolas tem uma visão especial para localizar e caçar insetos à noite em pleno vôo através de uma língua protáctil e pegajosa. É com esse movimento de língua, que uma perereca consegue capturar insetos. 11 188 Localização elétrica Encontrado nos rios e lagos do Pantanal até a Amazônia, o poraquê ou peixe-elétrico, apresenta olhos ao nascer, mas com o passar do tempo eles se atrofiam e a sua percepção visual se limita apenas a sensações de clareza e obscuridade. Dotado de um sistema sensorial elétrico denominado eletrolocação, o poraquê, além de criar campos elétricos ao seu redor para orientá-lo (A), emite fortes descargas elétricas (de 500 a 700 V) para se defender e paralisar pequenos peixes que lhe servem de alimento, vem daí seu nome popular de origem tupi: pora‘kê = o que faz dormir. A B C Provido apenas de uma nadadeira anal, que se estende por quase todo o abdome, o poraquê mantém seu corpo em linha reta, pois, isso favorece a emissão dos impulsos elétricos. Pesquisas em laboratório demonstraram que as emissões dessas descargas elétricas são desviadas em corpos mau-condutores de eletricidade (B) e atravessam os corpos bom-condutores (C), é dessa forma que o poraquê percebe o ambiente. 12 189 “Enxergando Infravermelho” Com cobra noturna tem que ter cuidado, diz o dito popular. No Brasil isso procede. Com exceção das cobras-corais, todas as serpentes peçonhentas do país apresentam hábitos noturnos. Detalhe da cabeça de uma cascavel destacando a l o r e aal fosseta câmara externa membrana narina língua íngua bífida câmara interna Localizada entre o olho e a fossa nasal a fosseta loreal de uma cascavel (serpente da família dos viperídeos) tem uns cinco milímetros de profundidade com a abertura mais estreita do que o interior. A direção do sensor de temperatura de uma jararaca é indicada pela localização de duas fossetas situadas na cabeça da serpente à frente dos olhos. Sendo sensibilizada pela emanação de calor de suas presas (geralmente roedores) uma serpente pode estabelecer a direção em que se encontra a presa movendo a cabeça como se estivesse usando os olhos. 13 190 Lábios Sensíveis Embora não sejam peçonhentas as jibóias e sucuris são ativas durante a noite sendo também sensibilizadas pelas ondas de calor. lobo lobo cérebro cerebelo nervos sensoriais Abaixo da camada de escamas que cobre as mandíbulas (superior e inferior) da jibóia existe uma complexa rede de nervos sensoriais, a fosseta labial. Essa estrutura detecta radiação infravermelha (ondas de calor). Um breve impulso de radiação provoca uma resposta cerebral em menos de um segundo. Durante a noite, com o ar menos denso, a propagação das vibrações sonoras é otimizada. Assim, o som chega com mais nitidez aos aguçados sistemas auditivos tanto de presas como de predadores. Fazer barulho pode ser fatal para uma presa e desastroso para um predador. Ao longo da evolução, alguns mamíferos desenvolveram adaptações interessantes. O nosso lobo-guará, por exemplo, apresenta além de orelhas grandes e móveis, almofadas plantares para reduzir o ruído do seu caminhar na mata. 14 191 “Cupinzeiros luminosos” A bioluminescência é produzida por órgãos especiais chamados fotóforos. Ela é originada pela oxidação de uma proteína, a luciferina. Esse processo possibilita que a energia química seja convertida em energia luminosa sem produção de calor (luz fria). A emissão acontece quando a luciferina, depois de ser excitada pela presença de uma enzima (luciferase) e ATP, volta ao estágio menos excitado liberando fótons de luz. VAGA-LUME Os verdadeiros vaga-lumes são pequenos besouros da família dos lampirídeos. No Brasil são mais de 300 espécies, mas somente poucas espécies emitem luz. Nos vaga-lumes o esqueleto externo é mole e a emissão de luz, de tonalidades esbranquiçada e amarelada, é piscada. Macho e fêmea da mesma espécie emitem sinais diferentes mas, ambos, normalmente, reconhecem a sinalização do parceiro que serve para atração sexual. Agrupados na família dos elaterídeos, os pirilampos são besouros maiores, de esqueleto externo duro e que emitem luz de forma quase contínua. Ao serem manuseados eles dobram o corpo com força e se soltam. No chão, o inseto articula o corpo de um jeito que consegue saltar e produzir um som característico “tec-tec“, nome pelo qual também é conhecido. FOTÓFOROS PIRILAMPO Nosso país oferece um dos maiores espetáculos de bioluminescência do mundo. São os famosos “cupinzeiros luminosos”. Eles são encontrados na região amazônica e no cerrado, principalmente no Estado de Goiás. No período de outubro a abril, nas primeiras horas de noites quentes e úmidas, uma grande quantidade de cupinzeiros torna-se repleta de pontos luminosos, como se fosse um jardim de árvores de natal. Isso acontece porque inúmeras fêmeas depois de fecundadas, depositam os ovos no pé dos cupinzeiros. Dos ovos nascem centenas de larvas luminosas do pirilampo Pyrearinus termitilluminans. À noite, em galerias próprias, elas “acendem” suas luzes, atraindo insetos voadores como cupins, mariposas e formigas aladas, que são então devorados pelas larvas. 15 192 Cruzadinha animal 1- Amplifica a audição das corujas 2- Fotorreceptor predominante nos animais noturnos 3- Aquela que não come 4- Não come cupim-soldado 5- Tipo de orientação dos morcegos 6- Reflete a luz no fundo do olho 7- Elimina o ruído no vôo das corujas 8- Principal sentido das formigas-saúvas 9- Mão-pelada usa para pescar 10- Morcegos ficam agoniados com 11- Sentido do poraquê 12- Favorece a propagação do som à noite 13- Principal sistema sensorial das corujas 16 17 SETE ERROS: SUMIRAM AS NUVENS QUE ESTAVAM NA FRENTE DA LUA; UMA DAS FORMIGAS SUMIU; O RATO SELVAGEM QUE ESTÁ DE PÉ VIROU DE LADO; A CORUJA SUMIU DE TRÁS DA MOITA; O SENTIDO DA TRILHA DE FORMIGAS FOI INVERTIDO; A PONTA DO RABO DO LOBO FICOU PRETA; APARECEU A CAUDA DO RATO PRÓXIMO A COBRA JIBÓIA. CRUZADINHA 1 – DISCO FACIAL; 2 – BASTONETES; 3 – SUINDARA; 4. ECOLOCALIZAÇÃO 5 – TAMANDUA-MIRIM; 6 – TAPETUM LUCIDUM; 7 – DENTADURA; 8 - OLFATO 9 – TATO; 10. - LUA; 11 - ELÉTRICO; 12 - SERENO; 13 - AUDITIVO RESPOSTAS: Jogo dos sete erros 193 194 BIBLIOGRAFIA GAMOW, R. I. & Harris, J. F. Los Receptores de Infrarrosos de las Serpientes Vertebrados Estrutura e Função - In Selecciones de Scientific American 332-49 H. Blume Ediciones. Madrid. 1979. GRIFFIN, D. R. El Radar de los Murciélagos Vertebrados Estrutura e Função - In Selecciones de Scientific American 340-45 H. Blume Ediciones. Madrid. 1979. JABOUR, Marcos. O Brasileiro Conhece a Fauna do Brasil ? Anais SZB de Brasília. Disponível:<http:marcosjabour.vilabol.uol.com.br/ HTML/pesquisa.html KOWASLSKI, Kazimierz Mamíferos - Manual de Teriologia H. Blume Ediciones. Madrid. 1976. LISSMANN, H. W. Localización Eléctrica de los Peces Vertebrados Estrutura e Função - In Selecciones de Scientific American 321-31 H. Blume Ediciones. 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