I SIMPSIO DE MANGA DO VALE DO SO FRANCISCO

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I SIMPSIO DE MANGA DO VALE DO SO FRANCISCO
MANEJO E TRATOS CULTURAIS
Voltaire Diaz Medina
Engº. Agrº, M.Sc., Fruitfort Agrícola e Exportação Ltda. [email protected]
1. INTRODUÇÃO
O agronegócio manga tem passado por grandes mudanças nos últimos anos. De um
lado, tem ocorrido um aumento constante de oferta da fruta aos diferentes mercados
com a conseqüente queda das margens de utilidade. De outro lado, os clientes
exigem melhoria contínua da qualidade da fruta oferecida. Os mesmos clientes e as
instituições reguladoras nacionais e internacionais exigem o cumprimento de certos
padrões éticos de produção que envolvem segurança alimentar e boas práticas de
produção, assim como políticas ambientais e sociais que sofrem contínuas
auditorias. Como conseqüência disso, a tecnologia de produção da mangueira como
um todo e os tratos culturais em particular têm evoluído como forma de dar resposta
às mudanças relatadas anteriormente.
DENSIDADE DE PLANTIO
Os primeiros plantios tinham densidades de 100 plantas por hectare, ou menos.
Logo se comprovaram vários problemas com essas densidades de plantio: baixas
produções nos primeiros anos, dificuldade para realizar os tratos culturais e a
colheita, baixa qualidade da fruta - especialmente em pomares mais velhos - e
dificuldade para induzir florações fora de época, devido ao sistema radicular muito
profundo que impossibilita o estresse hídrico das plantas.
Paralelamente, se conduziram na região vários trabalhos técnicos e práticos na
mangueira e se verificou que esta planta aceita bastante bem as podas,
desmentindo as opiniões que havia a esse respeito. Também houve importantes
avanços na região na área de irrigação, com predomínio da instalação de sistemas
localizados (gotejamento e microaspersão) que combinam muito bem com plantios
em alta densidade.
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O uso de reguladores de crescimento também ajudou no desenvolvimento da poda e
das plantações em alta densidade.
Todas essas práticas agronômicas levaram, ao final da década de 80, à implantação
de pomares com espaçamento de 7 a 9 metros entre linhas e de 4 a 6 metros entre
plantas, sendo o mais comum o de 8 metros entre linhas e 5 metros entre plantas,
dando uma densidade de 250 plantas por hectare.
Atualmente, tem-se um grande domínio das diferentes práticas culturais dentro
desses espaçamentos e se conseguem rendimentos de 35-40 toneladas por hectare
de fruta de boa qualidade, sem alternância. Inclusive se observam muitas vantagens
em realizar plantios em densidades mais altas, como 6 metros entre linhas e 2,5
metros entre plantas.
4m
Área
Molhada
8m
5m
Área de
Circulação
Figura 1. Croqui de plantio no espaçamento 8m x 5m. Vista em planta.
Se fizermos uma análise de um plantio no espaçamento 8m x 5m (desenho 1)
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Verificamos que está claramente definida a área de crescimento das plantas, sendo
uma faixa contínua de 4 m de largura com plantas de 4m de altura e com
uma disposição dos diferentes galhos que ofereça o máximo de exposição da fruta
ao sol e a maior facilidade aos tratos culturais. Conseqüentemente, fica uma faixa
contínua de 4 m de largura destinada à área de trânsito.
Para a obtenção desses resultados, foi indispensável dominar a técnica da poda da
mangueira. Assim, é necessário realizar as podas de formação, poda drástica de
pós-colheita e poda de indução, as quais analisaremos mais adiante.
2. PODA DE FORMAÇÃO
Tem por objetivo dar una arquitetura adequada à planta, com galhos fortes e bem
distribuídos.
A primeira poda se realiza no tronco da planta quando ainda e pequena, limitando-a
em altura. Faz-se a 50 ou a 60 cm do solo.
Dos galhos que brotam se escolhem 3 ou 4 bem distribuídos para que sejam os
principais.
A segunda poda se faz quando esses galhos contam com 2 ou 3 fluxos.
Com a poda, o tamanho desses galhos se limita a 1 ou 2 fluxos. Novamente se
escolhem 3 ou 4 galhos secundários bem distribuídos, eliminando aqueles que
crescem para o centro.
Dessa forma, se realizam 5 ou mais podas no prazo de 2 anos ou 2 anos e meio
para chegar a obter de 400 a 600 gemas terminais.
Nesse momento, a arvore terá um tamanho adequado ao espaçamento de plantio
projetado e podemos pensar em induzir floração para obter a primeira colheita. Se o
espaçamento de plantio fosse maior, seria necessário esperar mais tempo antes da
primeira colheita, para que as árvores adquirissem o tamanho congruente com a
distância projetada. Isso, porque uma vez iniciada a produção, o crescimento das
árvores se fará muito mais lento.
3. TIPOS DE FORMAÇÃO
3.1. Seto
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Nessa formação, as plantas ficam encostadas umas às outras, formando uma
unidade só dentro da linha. Temos floração e produção unicamente nas laterais da
linha de produção.
É um tipo de formação adequada ao uso de poda drástica mecanizada. Facilita as
pulverizações e os tratos culturais de um modo geral.
3.2. Cone
Provavelmente, é o sistema mais utilizado na região nordeste.
A copa da planta segue a forma aproximada de um cone com as laterais em ângulo
de 30% em relação ao eixo imaginário.
Permite uma alta produtividade com uma boa exposição da fruta ao sol.
A poda e os tratos culturais ficam facilitados nesse sistema de condução.
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30º
4m
8m
Figura 2. Poda de pós-colheita para pomar com espaçamento 8m x 5 m.
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3.3. Taça
Trabalha-se com a planta totalmente aberta com predomínio dos galhos na posição
horizontal ou levemente inclinados. Elimina-se o centro das plantas onde
predominam os galhos ladrões de pouca eficiência produtiva.
Permite uma exposição muito grande da fruta ao sol.
Tem a desvantagem dos danos provocados pelo sol na madeira exposta e a
dificuldade de determinados tratos culturais que exigem o posicionamento do
trabalhador no interior da planta.
3.4. Líder Central
As plantas são formadas em altura deixando uma espécie de andares de produção
superpostos. A variedade Kent tem mostrado boa adaptação a esse sistema de
formação devido ao seu habito de crescimento ereto.
Sistema ideal para plantios em densidades muito altas (por exemplo, 2 metros ou
menos entre plantas).
4. PODA DE PÓS-COLHEITA
Realiza-se rigorosamente uma vez ao ano, imediatamente depois da colheita.
4.1 Objetivos da poda de pós-colheita
* Obter material produtivo, ou seja, gemas apicais para a produção do próximo ano;
* Eliminar um dos fatores da alternância, que é a falta de gemas maduras e
produtivas;
* Obter gemas homogêneas em idade e capacidade produtiva;
* Eliminar material doente ou infectado, especialmente com fusarium e lasidiplodia;
* Obter material bem localizado em relação à exposição ao sol;
* Obter árvores mais baixas e com copa mais adequada aos diversos manejos.
Se essa poda não fosse feita, haveria necessidade de esperar a brotação
espontânea da planta, a qual pode demorar e, com isso, inviabilizar a produção do
ano seguinte.
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4.2. Como se realiza a poda de pós-colheita:
Cortando todos os fluxos que produziram flores e frutos.
Eliminando o material do centro da árvore para promover melhor iluminação.
Eliminando alguns galhos da parte baixa que perderam função por sombreamento e
com o risco de arrastar.
4.3. Máquinas e ferramentas usadas:
A poda pode ser feita manualmente usando tesoura, tesourão e serras de poda.
Máquinas pneumáticas, compostas de um compressor de ar, acoplado a um trator
ou motor. A esse compressor são acopladas 6 ou mais ferramentas de poda por
meio de mangueiras longas. Estas ferramentas são tesouras de diversos
comprimentos e capacidade de corte, assim como serras acionadas por ar
comprimido. Assim, é possível realizar a poda diretamente de chão com rapidez e
perfeição.
As serras circulares são máquinas usadas para poda drástica de diversas espécies
de plantas, como cítricas, café e ornamentais e que também têm sido usadas para
mangueira em diversos países.
Para estas máquinas existem dois tipos de implementos: um de corte vertical ou
lateral, composto de 4 a 6 serras circulares dispostas em linha; outro de corte
horizontal ou superior para realizar a operação de "topping", composta de 4 serras
circulares dispostas em quadrado.
Para a poda com esta máquina, normalmente se trabalha em sistema de seto, com
produção somente nas laterais da planta, sendo que os lados encostados das
plantas tendem a se unir, não havendo produção ali.
Quando se decide pelo uso dessas máquinas, se deve ter idéia clara de quais serão
a altura e os ângulos que se desejam adotar para as linhas de plantas. E preferível
começar estas podas com a planta jovem, quando apenas tenha ultrapassado as
dimensões que desejamos para essas plantas. De contrario, se a planta estiver
muito alta e larga seremos obrigados a cortes muito fortes em madeira grossa,
perdendo a planta sua capacidade produtiva por um ano e expondo seus galhos
internos a queimaduras sérias pela ação do sol.
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5. PODA DE INDUÇÃO
Efetua-se durante o processo de indução floral, quando se tem brotos muito juvenis
que não têm nenhuma possibilidade de florescer. Elimina-se esse crescimento
jovem com a da poda, procurando gemas laterais com maturidade suficiente para
florescer.
6. INFLUÊNCIA DA IRRIGAÇÃO E DA FERTIRIRRIGAÇÃO NOS ESPAÇAMENTOS
DE PLANTIO.
O sistema de irrigação tem grande importância e deve estar projetado
especificamente para um determinado espaçamento de plantio e para um
determinado sistema de poda,
O nordeste brasileiro tem um clima semi-árido com déficit hídrico todos os meses do
ano. Os solos são de textura arenosa, de baixa fertilidade. Nessas condições, o
sistema radicular da planta se desenvolve fielmente ao volume de solo molhado,
porque somente ali haverá água e nutrientes. Assim, mediante o sistema de
irrigação, devemos projetar um volume de solo molhado proporcional ao tamanho
das plantas que desejamos desenvolver.
Por meio da prática da fertirirrigação, os nutrientes também estarão presentes
somente no volume de solo molhado a que nos referimos anteriormente e não
haverá nenhum incentivo para que a raiz cresça fora desse bulbo.
Para a distância de plantio de 7m por 4m, a área molhada poderia ser de 15 m2 (
aproximadamente 50% de área de cada planta) e a profundidade de irrigação de não
mais de um metro. Por tanto, os sistemas de irrigação são projetados para molhar
esse volume.
A irrigação e a fertirirrigação se constituem em auxiliares indispensáveis a um
determinado programa de produção.
Analisadas fases fenológicas que ocorrem num ano completo, verificamos que
durante a poda se mantém una taxa de irrigação alta e uma injeção de fertilizantes,
especialmente os nitrogenados, o que favorece una brotação rápida e abundante.
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Quando a planta conclui a emissão dos brotos, se faz necessário diminuir a irrigação
e a injeção de fertilizantes nitrogenados para favorecer a maduração das gemas.
Em muitos casos, a irrigação diminui ao mínimo possível ou se suspende antes da
indução floral com o objetivo de estressar a planta e auxiliar a floração.
Quando se está confirmando a floração, pode-se utilizar o incremento da irrigação e
da fertirrigação para auxiliar na emissão das panículas florais.
7. REGULADORES DE CRESCIMIENTO E INDUTORES EM RELAÇÃO A
ESPAÇAMENTOS DE PLANTIO E PODA
É importante o auxílio dos reguladores de crescimento num programa de poda e
indução floral.
Durante a poda, normalmente a brotação surge rapidamente, mais ainda irrigandose abundantemente e aplicando-se fertilizantes nitrogenados. Porém às vezes não
se obtém uma boa brotação, o que pode ser melhorado aplicando-se nitratos à folha.
Nos casos de deficiência de brotação mais sérios, pode-se aplicar ácido giberélico.
Quando se tem conseguido os brotos desejados, justifica-se uso de reguladores de
crescimento como o paclobutrazol, que detém o crescimento vegetativo, produz
entrenós mais curtos, acelera a maturação das gemas, possibilita a indução floral e
favorece o pegamento de maior número de frutos.
8. A FENOLOGIA DA MANGUEIRA NAS CONDIÇÕES DO SEMI ARIDO.
Nas condições do Semi-Árido brasileiro, apresentamos, a seguir, o calendário mais
comum com suas respectivas fases fenológicas:
Setembro: colheita;
Outubro: poda, irrigação e injeção de fertilizantes;
Novembro, dezembro e janeiro: brotação e crescimento;
Fevereiro e março: maturação de gemas;
Abril e maio: indução;
Maio: florescimento;
Junho, julho e agosto: crescimento do fruto;
Setembro: colheita.
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Se for necessário, este esquema pode se completar em 11 meses, e assim, se
anteciparia em um mês a colheita, em relação ao ano anterior.
Também, é possível aplicar este esquema em qualquer período do ano, para obter
colheitas fora de época, por exemplo:
Abril: colheita;
Maio: poda, irrigação e injeção de fertilizantes;
Junho, julho e agosto: brotação e crescimento;
Setembro e outubro: maduração de gemas;
Novembro e deslembre: indução;
Dezembro: florescimento;
Janeiro, fevereiro e março: crescimento dos frutos;
Abril: colheita.
8.1. Análise da Fenologia da Mangueira.
Para entendermos melhor alguns tratos culturais propostos neste trabalho é
necessário analisar algumas etapas da fenologia da mangueira.
É necessário realizar um trabalho muito bom de indução floral, a fim de conseguir
florações homogêneas e de qualidade. Se analisarmos a panícula floral, no
momento da fecundação ocorre o pegamento de milhares de frutos que são
chamados de “chumbinhos”. Logo em seguida, ocorre a primeira queda fisiológica
de frutos onde provavelmente prevalecerão algumas dezenas de frutinhos.
Geralmente, muitos desse frutinhos e flores ficam aderidos à panícula se
constituindo-se em fonte de inóculo, uma vez que os mesmos estão infectados por
antracnose e lasiodiplodia. Quando se trabalha com paclobutrazol esse problema é
mais acentuado, devido a esse produto promover panículas mais compactas. Nesse
momento, é recomendável realizar a operação de sacudida das panículas, que
geralmente é feito manualmente, mas pode ser feito com a pistola do pulverizador
utilizando uma solução cúprica.
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9. RALEIO E LIMPEZA DE FRUTAS
Aproximadamente aos 50 dias após a plena floração, coincidindo com o momento de
maior acúmulo de matéria seca pelo fruto, ocorre a segunda queda fisiológica do
fruto, após a qual ficam 2 ou 3 frutos por panícula (variedade Kent, normalmente fica
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um fruto por panícula). Muitos dos frutos que sofrem queda fisiológica ficam aderidos
à panícula, vindo a apodrecer e se transformando em foco de infecção. Nesse
momento, recomenda-se uma limpeza manual com auxílio de tesoura de raleio. Ao
mesmo tempo elimina-se o excesso de frutas na panícula, frutas danificadas ou mal
posicionadas. Durante a segunda queda fisiológica ocorre a abscisão de muitos
frutos. Para evitar que essa abscisão seja excessiva, é recomendável realizar
aplicações de fungicidas que evitem a infecção do ponto de abscisão. Também, é
recomendável uma alta taxa de irrigação e um especial cuidado com a fertiirrigação,
especialmente de potássio.
10. ELIMINAÇÃO DE FOLHAS
Operação realizada no final do ciclo, objetivando melhorar o colorido e a sanidade
dos frutos.
Deve ser realizada com os frutos totalmente desenvolvidos, aproximadamente 20 a
15 dias antes da colheita. Se feita com muita antecedência, haverá problema de falta
de desenvolvimento dos frutos, assim como desequilíbrios nutricionais decorrentes
da eliminação da fotossíntese das folhas mais próximas ao fruto.
Eliminam-se unicamente as folhas que interceptam a luz do sol para o fruto. Deve
ser combinado com um trabalho habilidoso de escoramento, que procura expor as
frutas internas ao sol, sem necessidade da eliminação das folhas.
Uma outra observação é que as frutas que ficam expostas ao sol nascente não
correm o risco de queimar e, portanto, podem ficar bastante expostas e sem
proteção. Porem nas frutas do lado poente, a eliminação de folha deve ser menor e
os frutos obrigatoriamente protegidos com caulim ou algum protetor solar eficiente. A
aplicação do caulim deve ser em camadas finas, visando unicamente evitar a
queimadura, mas é permitida a formação da cor vermelha na manga.
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Figura 3. Condição do pomar após a retirada da folha e da proteção contra queima
por sol.
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DAVENPORT, T. L.; NÚÑEZ-ELISEA, R. Reproductive physiology. In LIZT, R. E.
(Ed.) The mango: botany, production and uses. Wallingford: CAB International,
1997. p. 69-146.
HWANG, S. F.; CHEN, D. L.; HU, W. S.; SHU, H. Axillary Panicle Induction by
Chemicals in Mango Tree. Acta Horticulturae, Wageningen, n. 645, p. 177-182,
2004.
GALÁN, V. El cultivo del mango. Madrid: Gobierno de Canarias, Consejeria de
agricultura, ganadería y alimentación. 1999. 298 p.
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MEDINA, V. In GENÚ, P. J. de C.; PINTO, A. C. de Q. Ed. A cultura da mangueira.
Brasília, Embrapa Informação Tecnológica. 2002. Cap. 1
VILLIERS, E. A. The cultivation of mangoes. Nelspruit: Institute for Tropical and
Subtropical Crops. 1998. 216 p.
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