predição de epítopos descontínuos ou conformacionais em
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predição de epítopos descontínuos ou conformacionais em
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS INSTITUTO DE CIENCIAS BIOLOGICAS PROGRAMA DE POS-GRADUACAO EM BIOINFORMATICA PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DESCONTÍNUOS OU CONFORMACIONAIS EM PROTEÍNAS ATRAVÉS DA BIOINFORMÁTICA ESTRUTURAL Ricardo Andrez Machado de Avila BELO HORIZONTE Abril -2011 Ricardo Andrez Machado de Avila Ricardo Andrez Machado de Ávila PREDIÇÃO DE EPÍTOPOS DESCONTÍNUOS OU CONFORMACIONAIS EM PROTEÍNAS ATRAVÉS DA BIOINFORMÁTICA ESTRUTURAL. Projeto de tese apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Bioinformática da Universidade Federal de Minas Gerais como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Bioinformática. ORIENTADOR: DR. CARLOS CHAVEZ OLÓRTEGUI Laboratório de Imunoquímica de Proteínas Departamento de BioquímicaImunologia, Instituto de Ciências Biologicas – ICB, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Belo Horizonte – MG. Brasil. CO- ORIENTADOR: DR. Franck Molina Laboratoire Sysdiag, UMR3145 - CNRS / Bio-Rad - Cap Delta, Montpellier France BELO HORIZONTE Abril- 2011 II Ricardo Andrez Machado de Avila Este trabalho foi realizado: no Laboratório de Imunoquímica de Proteinas, ICB, UFMG; no Laboratoire Sysdiag , UMR3145 - CNRS / Bio-Rad, Montpellier, França. E, contou com o apoio financeiro do: Da Pós-graduação em Bioinformática; Programa CAPES-COFECUB; FAPEMIG, CAPES e CNPq “Quem dorme sonha quem trabalha conquista. Meu trabalho é minha conquista” [autor desconhecido] III Ricardo Andrez Machado de Avila AGRADECIMENTOS A realização desta tese só foi possível graças ao apoio e colaboração de varias pessoas. Dentre estas pessoas algumas merecem uma menção especial, então gostaria de agradecer: Ao Doutor Carlos Chávez, não só pela orientação do doutorado, mas principalmente pela orientação e amizade em todo o tempo que trabalhamos juntos. São 12 anos de convivência diária que acarretam numa profunda admiração fazendo com que hoje ele deixe de ser um orientador e um chefe para ser visto como um pai científico. Aprendi muito com sua pessoa, com seus ensinamentos e com a forma de visualizar os experimentos. Obrigado por tudo. Ao Doutor Franck Molina pela oportunidade, pela amizade e por me receber em seu laboratório em Montpellier na França. Obrigado por aceitar a co-orientação e pelo incentivo e confiança. A Doutora Violaine Moreau, que me acolheu em seu projeto na França e que desde o primeiro dia se mostrou prestativa, disposta e atenciosa comigo e com meu futuro como pesquisador. Obrigado pelos puxões de orelhas, pelas cobranças nos scripts e por toda confiança e mim prestada. Sem sua orientação esta tese não seria concluída. Ao Doutor Claude Granier pelos ensinamentos, pelas inúmeras reuniões cientifica e por todo o carinho depositado em mim. Ao Dr. Dung Nguyen e Ms. Christophe Nguyen, pela amizade que agora será para a vida inteira, por me receber tão bem em seu escritório, pelo carinho, pela atenção, pelos ensinamentos químicos e por fazer de minha estadia na França muito mais agradável e feliz. Ao Dr. Eladio Flores Sanchez, pela amizade de anos e pelo veneno de Lachesis muta muta e proteína LHF-II. Obrigado pela atenção e gentileza. Ao Dr. Adriano Pimenta por sempre me receber bem em seu laboratório e me deu total liberdade e confiança em utilizar seus espectrofotométricos de massas. Ao Dr. Marcelo Santoro pela amizade e por toda intercessões com os vários problemas burocráticos do departamento e ao Dr. Marcos Augusto pela IV Ricardo Andrez Machado de Avila enorme ajuda com a disciplina de algoritmos. Obrigado e espero que as colaborações continuem. Ao Dr. Paulo Beirão pela ajuda na obtenção da bolsa para o estágio no exterior. Ao Dr. Miguel Ortega e Dr. Carlos Henrique da Silveira por todas as sugestões durante a qualificação. Ao grande amigo Dr. Tomaz Haroldo, pela calma e sabedoria transmitidas durante conversas agradáveis e inesquecíveis. Agradeço a oportunidade de aprender com você. A Paula Castanheira pela gentileza e informações dos dados de phage display. As minhas eternas ICs, Melina, Balu, Fabiola, Stephanie, Carol, Mariana e Jéssica que trabalharam arduamente em meus projetos, sempre com amizade e dedicação, mesmo nos dias de TPM ( ). Esta tese também é de vocês. Ao meu grande amigo Chico Franguinho, também conhecido por PetitPoulet. Obrigado por toda amizade, ajuda, discussões e ensinamentos com os experimentos, revisão da tese e principalmente pelos vários momentos de lazeres. A Christina (Querida), Clara (coração) e Maria Clara (Caca) pela revisão da tese, amizade e discussões dos resultados durante esta jornada. A Liza pela ajuda no projeto de seleção do doutorado. A todos os colegas e ex-colegas do Laboratório de Imunoquímica de Proteínas, entre eles, Camila, Gabi, Fernanda Melo, Fernanda Costa, Marina Costal, Karen, Julia, Daysi, Thais, Betânia, Poly, Paula Henriques, Paula Batista, Larissa, Dulcilene, Diogo, Eric, Michelle, Rafaela, PC, Lu, Fabiola, Marina, Mariana, Juju, Tutu e Julio por todos este tempo trabalhando juntos. A todos os amigos do SysDiag que foram muito importantes na minha formação. Em especial, agradeço aos estimados Daniel, Vincent, David, Sandrine, Leticia, Sandra, Caroline, Christopher, Sabine, Eva, Dominique, Nicolas, Leonel e Pascal. V Ricardo Andrez Machado de Avila Aos amigos professores e colegas da Bioinformática e do departamento de Bioquímica-Imunologia. Aos amigos que fiz em Montpellier, Rebeca, Manolo, Sara, Thais, Julia, Kaká, Fernanda, Thiago, Fred, Pedro, David, Cristina, José, Carla, Fernando, Ali, Denise, Frederic, Nani, Maria, Riscardim e Lu pelos momentos especiais durante minha estadia na França. Aos grandes amigos da turma do café e do buteco da bio, Gianne, Gancho, Jamil, Vandeca, Miguelito, Jáder, Wanderson (Mamão) pelos momentos de distrações e pelas diversas discussões cientificas em torno de um copo de cerveja. Aos meus amigos Mario, Agenor, Lu e Carol, por todos os conselhos, amizades e paciência em me ouvir. Aos The Kaflankos por sempre ser a solução. E mais que especial a minha família, minha mãe e meu pai que sempre apoiaram meus estudos, em muitos momentos me ajudando financeiramente e que sempre me ensinaram a crescer sem precisar passar por cima de outras pessoas. Obrigado por tudo. Aos meus irmãos Dedei e Rafael e cunhadas Cris e Fabiana por todo carinho e incentivo. A Carol pela enorme paciência, principalmente no mau humor fruto desta loucura que é escrever uma tese. A Aline por ser a sapeca do titio E principalmente ao meu querido filho André por sempre entender e aceitar meus momentos de ausência, sendo sempre um filho atencioso, carinhoso e respeitador. Esta tese é para você. VI Ricardo Andrez Machado de Avila ÍNDICE LISTA DE FIGURAS........................................IX LISTA DE TABELAS.......................................XII RESUMO................................................XIII ABSCTRAT...............................................XIV 1 - INTRODUÇÃO..........................................01 1.1 - Proteínas e Aminoácidos.......................02 1.2 - Interações Proteínas-Anticorpos...............09 1.3 - A evolução da Bioinformática..................11 1.4 – Proteômica....................................17 1.5 - Epítopos......................................19 1.6 - Mapeamentos de Epítopos.......................23 2 – CONTRIBUIÇÕES......................................27 3 – OBJETIVOS..........................................32 3.1 - Objetivos gerais..............................33 3.2 - Objetivos específicos.........................33 4 – MATERIAIS E MÉTODOS................................35 4.1 - Moléculas alvo para o mapeamento de epítopos..36 4.2 - Animais e proteínas...........................36 4.3 - Anticorpos monoclonais........................36 4.4 - Modelagem Molecular...........................37 4.5 - Classificações das estruturas modeladas.......38 4.6 - Predições por PEPOP...........................38 4.7 - Predições pelo STING Millennium...............41 4.8 - Predições pelo MIMOP..........................42 4.9 - SPOT..........................................43 4.9.1 - Sínteses...............................43 VII Ricardo Andrez Machado de Avila 4.9.2 - Sintese - ALA-Scan.....................44 4.9.3 - Ensaio Imunoquímico....................44 4.9.4 - Revelação Fosfatase Alcalina...........45 4.9.5 - Revelação ECL..........................45 4.9.6 - Regeneração da Membrana................45 4.10 - Síntese Química de Peptídeos.................46 4.11 - Purificações dos peptídeos sintéticos........47 4.12 - Espectrometria de massa......................47 4.13 - Preparação de Lipossoma......................48 4.14 - Protocolos de Imunização.....................48 4.15 - Determinação da atividade hemorrágica........49 4.16 - Caracterizações bioquímicas dos epítopos/ mimotopos identificados.................................49 5 - Resultados e Discussões.............................50 5.1 - AaH-II........................................52 5.2 - GM-CSF........................................60 5.3 – DNF...........................................72 5.4 - LHF-II........................................79 5.5 - Caracterizações bioquímicas dos epítopos/ mimotopos identificados.............................99 6 - CONCLUSÕES.........................................108 7 - PERSPECTIVAS.......................................110 8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................112 9 – ANEXOS.............................................137 VIII Ricardo Andrez Machado de Avila LISTA DE FIGURAS Figura 1: Número de estruturas depositadas no PDB desde sua criação.................................................15 Figura 2: Interação antígeno-anticorpo..................21 Figura 3: Ilustração dos tipos de epítopos..............22 Figura 4: Métodos de extensão para design de peptídeos utilizados pelo programa PEPOP. ........................40 Figura 5: Escorpião Androctonus australis Hector........52 Figura 6: Resultado do teste de SPOT dos 73 peptídeos preditos por PEPOP contra o anticorpo monoclonal mAb 4C1 neutralizante da toxina AaH-II..........................54 Figura 7: Visualização na estrutura 3D dos peptídeos reativos ao mAb 4C1 da AaH-II (1AHO.pdb)................56 Figura 8: Visualização na estrutura 3D do epitopo descontinuo da Lmm-VIII contra anticorpos policlonais antiLmm-VIII................................................58 Figura 9: Alinhamento linear das toxinas AaH-II e AmmVII.....................................................58 Figura 10: Membrana de celulose contendo os 175 peptídeos preditos por PEPOP......................................64 Figura 11: Peptídeos predito por PEPOP reconhecidos pelo mAb 2C4F10..............................................66 Figura 12: Visualização dos resíduos pertencente aos dois motivos reativos ao anticorpo monoclonal mAb 2C4F10 na estrutura 3D da GM-CSF (2GMF.pdb).......................67 IX Ricardo Andrez Machado de Avila Figura 13: Resultado do ALA-Scan dos peptídeos reativos ao mAb 2C4F10..............................................70 Figura 14: Foto da aranha marrom (Loxosceles intermedia)72 Figura 15: Membrana de celulose com os 456 peptídeos propostos pelo PEPOP para a DNF.........................76 Figura 16: Visualização do peptídeo 624 (KYNPDPGN) na estrutura 3D da DNF.....................................77 Figura 17: Resultado não reativo do Ala Scan do peptídeo KY-N-P-D-P-G-N...........................................78 Figura 18 – Serpente Lachesis muta muta.................79 Figura 19: Membrana de SPOT dos mimotopos selecionado por Phage Display...........................................83 Figura 20: Possíveis resíduos da LHF-II que são mimetizados pelos mimotopos selecionados por Phage Display..........84 Figura 21: Estrutura da LHF-II modelada a partir da Atrolisina C (1ATL.pdb).................................86 Figura 22: Membrana Linear da LHF-II testada com o anticorpo LmmAbB2D4.....................................87 Figura 23: Visualização dos resíduos selecionados pelo STING Millennium como epítopos..........................90 Figura 24: Ensaio Hemorrágico no dorso dos coelhos imunizados com os oito peptídeos da Tabela 10...........92 Figura 25: Composição dos peptídeos reativos ao anticorpo monoclonal LmmAbB2D4....................................96 Figura 26: Freqüência de reatividade de cada segmento predito pelo PEPOP......................................97 X Ricardo Andrez Machado de Avila Figura 27: Visualização dos segmentos mais reativos para o monoclonal LmmAbB2D4 a partir dos resultados obtidos pela predição do PEPOP na estrutura da LHF-II................98 Figura 28: Ponto Isoelétrico para os 76 peptídeos reativos aos anticorpos utilizados nesta tese...................100 Figura 29: Distribuição dos 76 peptídeos reativos aos anticorpos utilizados nesta tese em função dos pI......101 Figura 30: Formulário HTML para cálculo do pI..........102 Figura 31: Equação de Henderson-Hasselbach.............103 Figura 32: Script do arquivo calculerpI.php para calculo do pI das seqüências digitas no formulário HTML...........104 Figura 33: Script para visualização das Tabelas de seqüências preditas pelo programa PEPOP e da freqüência que cada segmento é predito................................106 XI Ricardo Andrez Machado de Avila LISTA DE TABELAS Tabela 1: Lista dos 20 Aminoácidos protogênicos.........04 Tabela 2: Número de estruturas depositadas no PDB de acordo com o método no qual elas foram determinadas............16 Tabela 3: Peptídeos preditos pelo programas PEPOP para diferentes proteínas....................................29 Tabela 4: Segmentos acessíveis da toxina AaH-II identificado pelo PEPOP e sua posição no PDB (1AHO.pdb).54 Tabela 5: Peptídeos reativos contra o anticorpo monoclonal mAb 4C1 pela técnica de SPOT............................55 Tabela 6: Segmentos acessíveis da GM-CSF identificado por PEPOP e sua posição no PDB (2GMF.pdb)...................63 Tabela 7: Freqüência de predição de cada segmento nos 175 peptídeos...............................................68 Tabela 8: Segmentos acessíveis identificado pelo PEPOP e sua posição no modelo da DNF............................75 Tabela 9: Mimotopos selecionados por Phage Display......82 Tabela 10: Peptídeos sintetizados pela técnica de Sínteses Química de Peptídeo.....................................88 Tabela 13: Esquema de imunização e sangria dos coelhos..91 Tabela 12: Segmentos acessíveis identificado pelo PEPOP e sua posição no modelo da LHF-II.........................95 Tabela 13: Valores macromoléculas de Ka consideradas de diversas importantes fontes no para as calculo do pI.....................................................105 XII Ricardo Andrez Machado de Avila Resumo Epítopos descontínuos para as proteínas AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II foram preditos através do programa de bioinformática PEPOP. Este programa utiliza a estrutura 3D das proteínas para mapear e agrupar segmentos de aminoácidos acessíveis na superfície da proteína. Em seguida, através de diferentes metodologias, peptídeos são propostos a partir da combinação destes segmentos. Estes peptídeos foram sintetizados em uma membrana de SPOT e tiveram sua reatividade testada frente a anticorpos monoclonais neutralizantes destas proteínas. Os peptídeos reativos tiveram seus aminoácidos visualizados na estrutura 3D de suas proteínas de origem. Estes resultados indicaram que os peptídeos reativos mimetizam os epítopos descontínuos encontrados na estrutura 3D de suas proteínas. Outros dois programas de bioinformática MIMOP e STING foram também utilizados para predizer epítopos descontínuos da LHF-II. O STING funciona como uma combinação de conjuntos de dados disponíveis na internet e de dados por ele calculados. A partir da combinação de três parâmetros físico-químicos do STING, resíduos de aminoácidos foram selecionados evidenciando duas regiões na estrutura 3D. Dois peptídeos foram, então, propostos a partir dos aminoácidos que se encontravam na superfície destas regiões. O MIMOP utilizou dos mimotopos selecionados pela técnica de phage display e da seqüência e estrutura 3D da LHF-II para localizar na proteína as regiões que foram mimetizadas por estes mimotopos. Duas regiões foram encontradas e um peptídeo foi proposto a partir da combinação dos aminoácidos selecionados das mesmas. Estes peptídeos juntamente com os mimotopos selecionados por phage display foram sintetizados por síntese química e utilizados como imunógeno em coelhos. Os imunoensaios mostraram que esses peptídeos induziam a produção de anticorpos capazes de neutralizar o veneno de Lachesis muta muta e que o anticorpo monoclonal anti-veneno de LHF-II se liga a uma região antigênica na porção C-terminal da toxina. Palavras chave: Epítopos Bioinformática estrutural descontínuos, PEPOP, MIMOP, STING, XIII Ricardo Andrez Machado de Avila Abstract In this study we realized the prediction of discontinuous epitopes for the proteins AaH-II, GM-CSF, DNF and LHF-II. For this, we use the PEPOP bioinformatics tool. This program uses the 3D structure of the proteins to search and cluster segments of amino acids accessible on the surface of the protein. Peptides are proposed through of the combinations of these segments by different method. These peptides were synthesized on a SPOT membrane and their reactivity tested against monoclonal antibodies neutralizing these proteins. The amino acids of the reactive peptides were visualized in the 3D structure of proteins of origin. These results indicated that the reactive peptides mimic the discontinuous epitopes region visualized in the 3D structure of the protein. Two other bioinformatics programs, MIMOP and STING, were also employed to predict discontinuous epitopes of the LHF-II protein. The STING tools make the combination of data accessible on internet and date calculated by it. Through the use three physico-chemical parameters combined of the STING, amino acid residues were then selected. Two regions are shown evidenced in 3D structure. Two peptides were proposed with the amino acids of the surface of these regions. MIMOP uses the mimotope selected by phage display technique and the sequence and 3D structure of LHF-II to visualize the protein regions mimicked by these mimotope. Two regions were also found and one peptide was proposed by combination of the amino acids selected in these regions. These peptides and mimotopes selected by phage display were synthesized by the technique of chemical synthesis of peptides and used as an immunogen in rabbits. Immunoassays showed that these peptides were neutralizing the venom of Lachesis muta muta and that the monoclonal anti-venom LHF-II was coupled to an antigenic region in C-terminal of the protein. Keywords: discontinuous epitopes, PEPOP, MIMOP, STING, Structural Bioinformatics. XIV Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 1 Ricardo Andrez Machado de Avila 1 – INTRODUÇÃO 1.1 - Proteínas e Aminoácidos Proteína é uma palavra que vem do grego “proteíos" que significa “que tem prioridade, o mais importante". As proteínas são consideradas junto com o DNA e RNA, as macromoléculas mais importantes das células. Em muitos organismos, correspondem a quase 50% de suas massas secas. No organismo humano existem pelo menos 30.000 proteínas diferentes localizadas dentro de células realizando diversas funções [1-2]. Os primeiros estudos com proteínas aconteceram ainda no início do século XIX, quando o holandês Gerhardus Mulder (1802-1880) e o famoso químico sueco Jons Jakob Berzelius (1779–1848), desenvolviam trabalhos pioneiros na composição química dos seres vivos. Mulder, em artigo publicado em 1839 no Journal fur Praktische Chemie, escrevia que ele e Berzelius vinham se comunicando sobre resultados encontrados no estudo de moléculas essenciais à vida animal, como albumina, fibrinas e gelatinas [3]. A comunicação na qual Mulder referia-se é provavelmente uma carta enviada a ele por Berzelius, no ano anterior a essa publicação, datada de 10 de Julho de 1838, onde encontramos essa passagem histórica: “Le nom protéine que je vous propose pour l’oxyde organique de la fibrine et del’albumine, je voulais le dériver de (protêios)1 parce qu’il paraît être la substance primitive ou principale de la nutrition animale. “O nome proteína que eu vos proponho para o oxido orgânico da fibrina e da albumina, eu gostaria derivá-lo de (protêios), já que ela se parece ser a substância primitiva ou a principal na nutrição animal.” Hoje, sabemos que Mulder e Berzelius estavam certos, já que as proteínas são uma das mais importantes moléculas dos seres vivos. Elas estão envolvidas em uma série de processos bioquímicos e possuem diversas Página | 2 Ricardo Andrez Machado de Avila funções nos mais diversos organismos. As informações genéticas, por exemplo, são expressas por proteínas. Além disso, elas estão envolvidas nas reações enzimáticas, contração muscular, divisão celular, respostas imunológicas, auto-reconstituição e reparação de tecidos, controle hormonal, transporte de substâncias pelos fluidos corporais e transporte celular intermembrana, na construção das membranas, transmição ou condução de impulso nervoso, reserva e armazenagem de nutrientes, em outras funções não inclusas ou não delimitadas pelas categorizações acima, como nos venenos e toxinas, agentes antimicrobianos, substâncias anticongelantes, etc. Não é surpresa que elas sejam a segunda substância mais encontradas nos seres vivos, ficando atrás apenas da água [2]. Embora toda essa enorme rede de funções viesse sendo gradativamente descoberta desde a época de Mulder e Berzelius, até o início do século XX pouco se sabia sobre a natureza química das proteínas, no que diz respeito aos avanços feitos na identificação de seus blocos construtores, os aminoácidos, e na caracterização da ligação peptídica, realizada em 1902 por Emil Ficher (1852-1919) e Franz Hofmeister (1850-1922) [4]. É interessante notar que o primeiro aminoácido primário (também chamado de proteogênico por estar integrado ao código genético padrão), a Asparagina, foi isolado por Pierre Jean Robiquet (1780 - 1840) em 1806 [5], bem antes de Berzelius pensar em “protêios”. Entretanto, o último dos 20 aminoácidos primários codificados na síntese biológica, a Treonina, somente foi descrito em 1938, por William Cumming Rose (1887 – 1985) [6]. A Tabela 1 mostra os 20 aminoácidos primários e suas principais características. O que mais intrigava os pesquisadores naquela época era o fato de longas cadeias poliméricas de aminoácidos formarem cristais e também das proteínas se desnaturarem, perdendo sua função sob ação de certos agentes físicos ou químicos tais como calor, pressão, agitação mecânica, luz ultravioleta, pH e osmólitos [7]. Página | 3 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 1: Lista dos 20 Aminoácidos protogênicos quanto ao símbolo, abreviação e nomenclatura Nome Símbolo Abreviação Nomenclatura Glicina Gly G Ácido 2-aminoacético ou Ácido 2-aminoetanóico Alanina Ala A Ácido 2-aminopropiônico ou Ácido 2amino-propanóico Leucina Leu L Ácido 2-aminoisocapróico ou Ácido 2amino-4-metil-pentanóico Valina Val V Isoleucina Ile I Prolina Pro P Fenilalanina Phe F Serina Ser S Treonina Thr T Ácido 2-aminovalérico ou Ácido 2amino-3-metil-butanóico Ácido 2-amino-3-metil-n-valérico ou ácido 2-amino-3-metil-pentanóico Ácido pirrolidino-2-carboxílíco Ácido 2-amino-3-fenil-propiônico ou Ácido 2-amino-3-fenil-propanóico Ácido 2-amino-3-hidroxi-propiônico ou Ácido 2-amino-3-hidroxi-propanóico Ácido 2-amino-3-hidroxi-n-butírico Ácido 2-bis-(2-amino-propiônico)-3dissulfeto ou Ácido 3-tiol-2-aminopropanóico Ácido 2-amino-3-(phidroxifenil)propiônico ou paraidroxifenilalanina Ácido 2-aminossuccionâmico Cisteina Cys C Tirosina Tyr Y Asparagina Asn N Glutamina Gln Q Aspartato ou Ácido aspártico Asp D Ácido 2-aminossuccínico ou Ácido 2amino-butanodióico Glutamato ou Ácido glutâmico Glu E Ácido 2-aminoglutárico Arginina Arg R Lisina Lys K Histidina His H Triptofano Trp W Ácido 2-aminoglutarâmico Ácido 2-amino-4-guanidina-n-valérico Ácido 2,6-diaminocapróico ou Ácido 2, 6diaminoexanóico Ácido 2-amino-3-imidazolpropiônico Ácido 2-amino-3-indolpropiônico Página | 4 Ricardo Andrez Machado de Avila A capacidade das proteínas cristalizarem-se, formando diferentes cristais conforme a molécula indicava que sua função dependia de uma organização espacial rigorosa [2]. De maneira geral, a formação de um cristal exige um arranjo coerente e repetitivo de unidades estruturalmente semelhantes. A elucidação da cristalização das proteínas começou a fazer sentido com Linus Pauling e Robert Corey, no final dos anos 40. Com base em dados de cristalografia por raios X, eles previram o papel das pontes de hidrogênio na formação de estruturas secundárias como as alfas hélices [8] e folhas betas [9]. Dez anos mais tarde, Max Perutz (1914-2002) e John C. Kendrew (1917-1997) pela da técnica de difração de raios-X para proteínas confirmaram as previsões de Pauling e Corey, a partir da primeira resolução estrutural completa da hemoglobina humana [10] e a mioglobina de cachalote [11] respectivamente. Enquanto o estudo sobre as formações de cristais direcionava as idéias sobre proteínas para um mundo estruturado e organizado, o curioso fenômeno da desnaturação levava ao caminho inverso. Entre 1935 e 1940, Alfred Mirsky (1900-1974) e Mortimer Louis Anson (1901–1968) levaram de forma convincente ao mundo científico evidências contrárias ao consenso da época sobre desnaturação das proteínas. Na época, era postulado que este processo era um fenômeno irreversível. Em seus artigos Mirsky e Anson mostraram que era possíveis recuperar hemoglobinas desnaturadas ou coaguladas, preservando as mesmas propriedades de uma hemoglobina intacta [12]. Outro pesquisador que tentou elucidar a desnaturação de proteínas foi o chinês Hsien Wu (1893-1959) [13]. Ainda em 1931, era levado em consideração que as proteínas eram compostas por longos polímeros de aminoácidos, induzindo à constatação de que sua cadeia deveria estar dobrada ou enovelada em si mesma. Wu recomendou enxergar a desnaturação como um processo de desorganização estrutural em decorrência do desempacotamento da cadeia. Ele acreditava que os agentes desnaturantes destruiriam uma proteína pelo enfraquecimento das interações polares e/ou Página | 5 Ricardo Andrez Machado de Avila Coulombicas. Na ausência do agente desnaturante, essas forças reconduziriam a proteína ao seu estado nativo e funcional. Esta idéia de enovelamento, hoje bem trivial, também foi utilizada por Alfred Mirsky e Linus Pauling, em 1936, para propor uma teoria parecida com a de Wu. No entanto eles se basearam nas interações entre cadeias das pontes de hidrogênio como base deste processo [14]. Pauling estudava exaustivamente a importância das pontes de hidrogênio nas interações moleculares e com o seu posterior sucesso da previsão das alfa-hélices, matematicamente confirmadas pelas coordenadas atômicas das globinas por Perutz e Kendrew nos anos 60, dogmatizaria o papel das pontes de hidrogênio não só em proteínas, mas em toda bioquímica [13]. Na década de 50, outra interação importante das proteínas começa a ser elucidada. Inicialmente Walter Kauzmann começa a estudar os fatores entrópicos da água na estabilidade da cadeia, criando um dos mais importantes conceitos da físico-química de proteínas: a interação hidrofóbica [15]. Ao longo das décadas de 50 e 60 o problema da desnaturação é invertido e passa a ser o problema do enovelamento, como relembra Irving Klotz [16]. Os avanços da nascente biologia molecular contribuíram para essa inversão principalmente o processo de elucidação da síntese protéica in vivo iniciada por Paul Zamecnik (1913-2009), em 1950 [17]. Afinal, se uma proteína é linearmente montada, aminoácido a aminoácido, a partir da informação codificada em ácidos nucléicos, a última etapa da decodificação genética teria de ser seu correto enovelamento numa molécula funcional. Partindo dessa inversão, Christian B. Anfinsen (1916-1995) trabalhando na renaturação da ribonucleases A, entre 1955 e 1962, reuniria uma grande quantidade de evidências. Ele postulou algo que hoje parece evidente, porém até aquele momento ninguém ainda havia evidenciado, que a reversibilidade da desnaturação in-vitro sugeria que toda informação que uma proteína de baixo peso precisava para se reenovelar estaria codificada na seqüência de seus resíduos de aminoácidos [18]. Desta forma ele unificou as teorias de Wu, Página | 6 Ricardo Andrez Machado de Avila Mirsky-Pauling e Kauzmann, numa abrangente hipótese termodinâmica do enovelamento, ao considerar todos os tipos de interações como parte do processo, dando-lhe o prêmio Nobel de 1972. Entretanto, essa hipótese criava um sério problema de otimização para a cinética do enovelamento: como era possível uma proteína conseguir orientar seu próprio processo de enovelamento de modo que todas suas cadeias convertam em um conjunto homogêneo nativamente estruturado? Por exemplo, para uma proteína de apenas 100 aminoácidos e considerando que cada resíduo adote uma de duas conformações de maior estabilidade, teríamos um espaço conformacional representado por 10 30 estruturas [19]. Desta forma, Cyrus Levinthal (1922-1990), em 1969, assinalava que o processo de renaturação não poderia envolver uma busca por força bruta das conformações com menor energia livre nesse espaço estrutural [20]. No exemplo dado, assumindo que a mudança de uma conformação para outra demanda até 10 picosegundos (10-11 segundos), a pequena proteína de 100 resíduos levaria em torno de 100 bilhões de anos para enovelar-se. Para efeito de comparação, acredita-se que o universo possua a idade por volta de 14 bilhões de ano. Entretanto dados experimentais indicam que o enovelamento ocorre na faixa de milissegundos a segundos [21]. Assim, contrapondo o resultado absurdo desta conta, Levinthal hipotetizou que, para a cinética do enovelamento fazer sentido, na seqüência dos resíduos de uma proteína deveriam ser também codificados os caminhos e as etapas que conduziriam à estrutura nativa, e não somente a informação para produzir (a qualquer custo) as estruturas mais termodinamicamente estáveis, como havia colocado Anfinsen [22]. Além disto, Levinthal reconhecia que sua hipótese não abrangia a possibilidade de que nem sempre o caminho mais eficiente (de melhor cinética) conduziria às melhores estruturas (de menor energia livre) [23]. Assim, ele viu a importância tanto da cinética quanto da termodinâmica no enovelamento. Página | 7 Ricardo Andrez Machado de Avila Entretanto, ainda faltava compor uma teoria completa que explicasse o enovelamento de proteínas. Ao assistir, em 1968, um seminário de Levinthal em Stanford sobre o enovelamento, o químico Paul Flory (1910-1985) disse que a solução para o resultado absurdo da conta de enovelamento de Levinthal estaria na presença de enovelamentos intermediários [24]. Com esta idéia de intermediários, aquela mesma proteína hipotética de 100 resíduos mencionada, caso tivesse quatro intermediários obrigatórios no seu processo de enovelamento, reduziria o espaço de busca de 1030 para 4 x (225) ou seja por volta de 108 conformações, e a estrutura nativa poderia ser encontrada em alguns milissegundos [25] . Esta observação de Flory levou todos a uma busca por estes intermediários. Além disto, de 1970 em diante, as técnicas de seqüenciamentos, a resolução de estruturas, o controle e a manipulação gênica, além dos aparatos físico-químicos de monitoramento estrutural e os poderes de cálculos e armazenamentos computacionais cresciam rapidamente. Este crescimento permitiu que pesquisadores fizessem análises comparativas de seqüências e estruturas [26]; reengenharia de proteínas [27] tanto pela síntese química [28], quanto pela expressão de mutantes [29]; identificação de intermediários [30]; estados de transição [31]; rotas de enovelamento [32]; e simulações de dinâmica molecular [33]. Todos estes avanços, além da idéia de intermediários, foram se conectando, se afrontando e levando a modelos teóricos cada vez mais arrojados. Dentre eles, dois destacam-se e confrontamse: o modelo do funil, proposto por Ken Dill [19]; e o enovelamento in concert defendido por Thomas Creighton [34]. O primeiro modelo está baseado em um colapso hidrofóbico que restringe o espaço conformacional, produzindo estruturas cada vez mais compactas e muitas rotas possíveis para se alcançar o estado nativo. No segundo, as conformações não-enoveladas estão em equilíbrio, e somente uma rota de máxima cooperatividade conduz ao estado funcional com o enovelamento correto. Os avanços são muitos, mas parece que ainda não há uma teoria de consenso sobre o enovelamento. Atualmente, é crescente o sucesso de Página | 8 Ricardo Andrez Machado de Avila técnicas que se valem em maior ou menor grau do empirismo na predição de estruturas a partir de seqüências. Entretanto, como a seqüência codifica a estrutura de uma proteína, continua a ser uma das maiores questões em aberto da ciência moderna e um problema central da biologia estrutural. 1.2 - Interações Proteínas-Anticorpos Paralelamente a estes avanços, à medida que as proteínas eram decodificadas e suas funções e estruturas eram conhecidas, outros pesquisadores estudavam como elas se ligavam tanto internamente, por ligações entre os seus resíduos ou entre os átomos que as compunham, como também externamente, por ligações com outras proteínas, com moléculas ou mesmo com um átomo que não faz parte de sua seqüência primária. Os estudos destas ligações proporcionam um conhecimento estrutural e energético das proteínas, tais como: densidade de empacotamento [35], similaridade funcional [36], relações evolucionárias [27], classificações topológicas [37], alinhamentos estruturais [38], avaliação estrutural [39], predição de estrutura terciária [40], análise de redes de contatos [41], potenciais empíricos, [42], previsão de estabilidade termodinâmica [43], inferências sobre o processo de enovelamento [44], interações proteínaproteína e proteína-ligante [45] dentre outros. As interações proteína-proteína adquiriram um caráter importante na área medicinal. O conceito de Imunologia já era amplamente difundido no mundo acadêmico, desde a famosa observação do biólogo russo Elie Metchnikoff (1845-1916) em 1882, quando, ao espetar uma larva transparente de uma estrela-do-mar com a ponta de uma roseira, viu um acúmulo de células cercando a ponta afiada 24 horas após a injeção. Metchnikoff chamou este fenômeno de Fagocitose. Embora o fenômeno de endocitose pelos leucócitos (mais relacionada à pinocitose) havia sido descrito 30 anos antes, foi Metchnikoff que explicou a sua função, e alertou a comunidade científica para a importância da fagocitose na imunidade. Ele dedicou a maior parte de sua vida Página | 9 Ricardo Andrez Machado de Avila a estudar os diferentes aspectos da fagocitose e outros fenômenos imunológicos afins. Somente depois de 25 anos de intenso esforço, ele teve o reconhecimento da teoria da fagocitose, classificada hoje como a primeira teoria experimental com base em imunologia. Essa sua luta culminou em 1908, com a atribuição ao Prêmio Nobel junto com o bacteriologista alemão Paul Ehrlich (1854-1915) devido as suas duas teorias da imunidade, "celular" e "humoral". Isso foi um reconhecimento oficial da existência e da importância da imunologia. [46]. Outro dois contemporâneos de Metchnikoff, o fisiologista alemão Emil Von Behring (1854-1917), e o bactereologista japonês Kitasato Shibasaburo (1852-1931), descreveram em 1890, pela primeira vez, as atividades de anticorpos contra as toxinas de difteria e tétano. Behring e Kitasato utilizaram da teoria da imunidade humoral para propor que um mediador no soro poderia reagir com um antígeno estranho. [47-48]. Entretanto o termo anticorpo somente foi descrito um ano depois por Paul Ehrlich. O termo “Antikörper” (a palavra alemã para anticorpos) aparece na conclusão de seu artigo "Estudos Experimentais sobre Imunidade", publicado em Outubro de 1891, que estabelece que "se duas substâncias dão origem a dois Antikörper diferentes, então eles mesmos devem ser diferentes". A palavra anticorpo teria uma analogia formal com a palavra antitoxina [49]. Inicialmente, o termo anticorpo não foi aceito. Ao tomar conhecimento dos resultados de Behring e Kitasato, Ehrlich, numa tentativa de confirmar suas proposições, sugeriu, em 1897, a teoria da cadeia lateral de anticorpos e interação com antígeno. Sua hipótese era de que os receptores (descrito como "cadeias laterais") na superfície das células poderiam se ligar especificamente às toxinas, em uma interação chave-fechadura, e que esta reação de ligação seria o disparo para a produção de anticorpos. [50]. Apesar desta teoria, a grande maioria dos pesquisadores acreditava que os anticorpos já existiam livremente no sangue. Apenas em 1920, a teoria de Ehrlich começou a ser mais aceita, principalmente depois que o imunologista americano Michael Heidelberger (1888-1991) e o médico Página | 10 Ricardo Andrez Machado de Avila canadense Oswald Avery (1877-1955) observaram que os antígenos poderiam ser precipitados por anticorpos, o que os levou a demonstração de que os anticorpos eram compostos protéicos. [51]. Desta forma, começava uma linha de pesquisa voltada para a elucidação das propriedades bioquímicas da interação antígeno-anticorpo, como a análise detalhada da ligação de um antígeno com seu anticorpo, realizada pelo médico americano John Marrack (1886 – 1976) na década de 30. [52]. O avanço principal se deu em 1940, quando Linus Pauling confirmou a teoria de chave-fechadura proposta por Ehrlich, mostrando que as interações entre antígenos e anticorpos dependiam mais da sua forma do que da sua composição química. [53]. Em 1948, Astrid Fagreaus descobriu que as células B, sob a forma de células plasmáticas, eram as responsáveis pela geração de anticorpos. [54]. Outro grande avanço nos estudos estruturais foi a descoberta da cadeia leve dos anticorpos, no início da década de 60 pelo biólogo americano Gerald Edelman (1929- ) [55]. Em seu trabalho, ele descobriu que os anticorpos são compostos formados por cadeias leves e pesadas unidas por pontes dissulfeto lingando-as. Na mesma época, as regiões Fab e Fc da IgG foram caracterizadas pelo bioquimico inglês Rodney Porter (1917-1995). Juntos, esses brilhantes cientistas deduziram a estrutura completa de aminoácidos na seqüência da IgG, uma façanha para a qual foram premiados, em 1972, com Prêmio Nobel de Medicina [56]. 1.3- A evolução da Bioinformática Com os avanços das ciências biológicas, os pesquisadores começaram a catalogar os seres vivos em nível molecular. À medida que estas informações eram obtidas, fazia-se necessário a criação de repositórios referenciais para o armazenamento da crescente onda de dados que inundava os periódicos. As décadas de 70 e 80 marcavam o início das operações dos que viriam a serem os grandes bancos de dados moleculares da atualidade. Com isto, os níveis das pesquisas biológicas nos dias de hoje ser impossíveis sem os recursos da Página | 11 Ricardo Andrez Machado de Avila computação, tendo em vista que as informações produzidas necessitavam de armazenamento, distribuição, validação, atualização e análises estatísticas. Desta forma, em todas as esferas da ciência, fez-se necessário a utilização de equipamentos computacionais, cada vez mais sofisticados, sobretudo na área científica de química, biologia, estatística, física e medicina. Nascia assim, a Bioinformática. Essa nova ciência surgiu da necessidade de tratar as informações produzidas pela biologia com equipamentos de alta precisão, no caso, computadores sofisticados. O desenvolvimento da bioinformática pode ser relacionado com o início da biologia estrutural, em 1953, a partir da famosa descrição da estrutura de dupla hélice do DNA realizada pelos biólogos americanos James Dewey Watson (1928) e Francis Harry Compton Crick (1916-2004) [57] e também ao magnífico trabalho de 22 anos do químico do Reino Unido, John Kendrew (1917-1997) publicado em 1957 que utilizou raios-X para determinar a estrutura tridimensional (3D) da molécula de mioglobina, sendo esta a primeira proteína com estrutura decifrada [58]. Mas o grande avanço da bioinformática se deu a partir de 1971, com a necessidade de se criar um local de armazenamento das informações de todas as proteínas que iam sendo decifradas. Surgiu assim, o primeiro banco de dados de Proteínas, o PDB – Protein Data Bank, que em 1977 entrou em produção para acesso internacional [59]. Na época de sua fundação, o PDB apresentava menos de uma dúzia de estruturas cadastradas, hoje são mais de 70.000 estruturas. Em 1975, o PDB continha apenas 37 estruturas, mas já se via um interesse pela análise estrutural de proteínas usando os métodos computacionais e gráficos, como o trabalho pioneiro desenvolvido na descrição de estruturas secundárias de proteínas realizadas pelo físico-químico americano Peter Y. Chou e pelo bioquímico canadense Gerald Fasman (19252003) [60]. O trabalho de Chou e Fasman chamou a atenção para um campo da ciência que estava em aberto, a utilização de características físico-químicas para predizer estruturas. Além disto, a computação estava também em franca Página | 12 Ricardo Andrez Machado de Avila evolução com computadores e algoritmos cada vez mais modernos e elaborados. Inicialmente, os primeiros algoritmos utilizavam gráficos de hidrofobicidade como os vários trabalhos do bioquímico americano David Eisenberg (1939- ) [61]. Em 1981, o engenheiro biomédico americano Temple Smith e o matemático americano Michael Waterman desenvolveram pela primeira vez um algoritmo capaz de comparar seqüências protéicas. O algoritmo de SmithWaterman serve como base para comparações de seqüência múltipla, identificando o segmento com a seqüência de similaridade local máxima, e fazendo assim o alinhamento das seqüências. Este algoritmo é utilizado para identificar seqüências similares de DNA, RNA e segmentos de proteínas [62]. Em 1983, o biólogo americano David Lipman desenvolveu um algoritmo de busca das seqüências em bancos de dados [63]. Este trabalho, junto com os de Waterman e Smith, foram extremamente importantes para a classificação das proteínas, que se encontravam em bancos de dados cada vez maiores. Vários trabalhos de alinhamentos de seqüências e de busca em banco de dados foram desenvolvidos a partir daí, até que em 1988 o americano W.R.Taylor publicou um trabalho que caracterizava padrões de conservação dos aminoácidos [64]. Quase em paralelo, vieram os bancos de seqüências nucleotídicas, mantidos por europeus (EMBLDL– European Molecular Biology Laboratory - Data Library) [65] e por americanos (GenBank do NCBI - National Center for Biotechnology Information) [66], ambos com raízes no início dos anos 80. Logo após, vieram PIR (Protein Information Resource) [67], em 1984 e SwissProt [68], em 1986, concentrando dados bem anotados de seqüências protéicas. A partir daí, muitos outros foram criados, incluindo versões colaborativas ou unificadas deles, como INSDC (International Nucleotide Sequence Databases Collaboration) [62], Uniprot [69] e wwPDB [70]. Outros dois trabalhos envolvendo algoritmos ainda tiveram destaque nos anos 80. O do americano Michael L. Connolly, que em 1983 criou um algoritmo que calculava a superfície molecular de uma proteína [71] e o do Página | 13 Ricardo Andrez Machado de Avila britânico e biofísico Michael Levitt, que por sua vez, elaborou um algoritmo de minimização de energia e dinâmica molecular [72]. Com a abrangência mundial da internet, a partir da década de 90, houve um aumento nas pesquisas relacionadas às estruturas de proteínas, acarretando um aumento exponencial no número de estruturas depositadas no PDB. Juntamente com os surgimentos de novos algoritmos, culminou em 1990 a criação do BLAST [73], um programa de busca local e comparação de similaridades entre as seqüências protéicas. Neste mesmo ano, o PDB teve 144 estruturas depositadas, chegando ao total de 509 desde o início das operações Em 1992, o casal americano Jane e David Richardson produziu o primeiro software para visualização molecular, o Kinemage, disponibilizado pela Macintosh e que fez com que um largo espectro de usuários pudesse observar as estruturas protéicas e nucleotídicas. [74]. O Kinemage juntamente com outros softwares como o Rasmol [75] e o SPDBViewer [76] facilitaram os estudos das estruturas protéicas, promovendo, além dos alinhamentos de seqüências, os alinhamentos estruturais. Com tudo isto, no final da década de 90, o PDB já continha 10.991 estruturas em seu banco de dados, sendo que 2.359 estruturas teriam sido depositadas somente naquele ano. Este crescimento exponencial continua até os dias de hoje. Somente nos meses de janeiro e fevereiro de 2011, foram depositadas em seu banco de dados 1.442 estruturas, contabilizando um total de 71.635, sejam elas de ácidos nucléicos, proteína, complexos ou outros, como mostra a Tabela 2 e a Figura 1 [77]. Página | 14 Ricardo Andrez Machado de Avila Figura 1: Número de estruturas depositadas no PDB desde sua criação em 1972. Em azul a quantidade de estruturas depositadas no ano, e em vermelho o valor global de estruturas depositadas ate o final daquele período. Fonte: PDB Statistics de fevereiro de 2011 (http://www.rcsb.org/) Página | 15 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 2: Número de estruturas depositadas no PDB de acordo com o método no qual elas foram determinadas desdes do ano de sua criação em 1972 Método Proteína Ácido Nucléico Proteína/ Complexos Outros Total Raios-X 58192 1262 2822 17 62293 RMN 7686 941 168 7 8802 Elétron microscopia 245 22 86 0 353 Hibrido 28 3 1 1 33 Outro 132 4 5 13 154 Total 66283 2232 3082 38 71635 Fonte: PDB Statistics de fevereiro de 2011 (http://www.rcsb.org/) Uma grande mudança coroaria os últimos anos do século passado: O surgimento da era “ômica”, consagrada em 1995 pelo primeiro seqüenciamento completo do DNA de um ser vivo de replicação autônoma, a bactéria Haemophilus influenzae [78]. Logo vieram as sequências do primeiro eucarioto em 1996, com a levedura Saccharomyces cerevisiae [79]; a bactéria Escherichia coli [80], em 1997; o primeiro ser vivo pluricelular em 1998, com o verme nematódeo Caenorhabditis elegans [81]; a Drosophila melanogaster [82], como primeiro inseto em 2000; a Arabidopsis thaliana [83], como primeira planta também em 2000; até chegarmos ao seqüenciamento do Homo sapiens [84], em 2001. Se antes o foco era estudar de forma isolada determinados genes e proteínas, agora o objetivo é não só o mapeamento de todos eles, mas também saber de suas evoluções no tempo e conexões com as diversas instâncias do organismo. Deixava de existir uma visão compartimentada e hierárquica dos processos biológicos, para uma visão holística e interdisciplinar. Desta interdisciplinaridade e da busca pelo mapeamento dos códigos genéticos e protéicos, nascia a genômica e seu genoma, a proteômica e seu proteoma, a transcriptômica e seu transcriptoma, a metabolômica e seu metaboloma, e tantas outras “ômicas” e “ômas”. Página | 16 Ricardo Andrez Machado de Avila Com a popularização da internet, a WEB tornou-se uma ferramenta extremamente útil. Diferentes bancos de dados podem ser sincronizados e integrados, os lançamentos de novas entradas e consultas aos registros feitos remotamente e instantaneamente a partir de qualquer computador conectado. Tudo isto ocasionou uma explosão não só em quantidade de informações, como também em disponibilidade. É neste fervoroso momento que cresce a Bioinformática como uma ferramenta auxiliar ao limitado cérebro humano, essencial na estruturação e manipulação dessa gigantesca abundância de dados. 1.4 - Proteômica Duas áreas se sobressaem na Bioinformática, a Genômica e a Proteômica. A Proteômica foi definida pelo americano Junmim Peng como uma análise sistemática do maior número possível de proteínas buscando sua identidade, quantidade e função [85]. Depois da explosão inicial da genômica principalmente no final do milênio, provocado pela corrida do mapeamento genético das espécies, o início do novo milênio também esta sendo marcado pela explosão da Proteômica. Aparelhos e técnicas cada vez mais modernos e precisos, como espectrometria de massas, eletroforese bidimensional, cromatografias de alta pressão, seqüenciamentos de aminoácidos, cristalografia, entre outros, fizeram com que diversos trabalhos na área Proteômica fossem publicados. Estudos das diferenças entre os perfis protéicos de proteínas, provenientes da mesma espécie, como por exemplo, a do chinês Song-Ping Liang em 2000, vem gerando importantes informações sobre os aspectos estruturais e funcionais das proteínas [86]. Por outro lado, a Proteômica vem se mostrando muito mais complexa que a genômica, principalmente porque enquanto o genoma de um organismo Página | 17 Ricardo Andrez Machado de Avila é mais ou menos constante, seu proteoma difere de célula para célula e também conforme a cronologia e o ambiente no qual esta célula está inserida [87]. Mesmo assim, através da Proteômica, imunologistas vêm adquirindo informações cada vez mais precisas sobre como os anticorpos se ligam aos antígenos. Para estes pesquisadores, a Proteômica seria como uma lupa apontada ao complexo chave-fechadura de Ehrlich. Juntos aos bioinformatas e físico-químicos, as características físico-químicas destas interações de antígenos-anticorpos vêm sendo decifradas, como o trabalho do italiano Lucca Simonelli que tenta localizar um conjunto de regras estruturais nas interações de um antígeno viral com um anticorpo [88]. Outros grupos de bioinformatas, bioquímicos, químicos e imunologistas vêm utilizando as informações obtidas na Proteômica para encontrar peptídeos, ou pequenas moléculas que realizariam as mesmas funções das proteínas de onde a seqüência desses peptídeos foi derivada. A busca por estes peptídeos têm um caráter econômico, já que os estes são mais fáceis de serem conservados, são quimicamente mais estáveis, menores e mais flexíveis que uma proteína. Além disto, em comparação às proteínas, sua síntese é mais barata, simples e fácil de ser monitorada quanto à sua qualidade, além do fato de não serem infecciosos ou tóxicos. Dada a sua facilidade de obtenção, inúmeros trabalhos vêm surgindo nos últimos anos, utilizando peptídeos sintéticos para diferentes fins na área Proteômica. Esses peptídeos têm sido utilizados como inibidores de doenças alérgicas [89], no tratamento de pacientes com Câncer [90], na terapia de diabéticos do tipo II [91], no desenvolvimento de biomateriais [92] como drogas terapêuticas em doenças cardiovasculares [93], como antiinflamatórios [94], no tratamento de doenças auto-imunes [95], como adjuvantes [96], no tratamento de distúrbios de coagulação [97] como agentes anti-microbianos [98], em doenças reumáticas [99], como ferramentas de estudo em diferentes campos da biologia [100], na biologia sintética [101], no estudo da diferenciação e renovação de células tronco [102] e na produção de vacinas [103]. Página | 18 Ricardo Andrez Machado de Avila Uma das áreas da Proteômica que vem se mostrando ser muito promissora é a identificação de possíveis novas drogas para o tratamento de doenças. A partir das informações obtidas pelo Proteoma, as proteínas associadas a uma doença são localizadas, e com a utilização de um software, utilizam-se estas proteínas como alvos para testes com novas drogas. Por exemplo, se uma determinada proteína está envolvida em uma doença, a sua estrutura 3D fornece a informação para formular drogas que interferem com a ação da proteína. Uma molécula que se encaixa no sítio ativo de uma enzima, mas não pode ser liberada deste sítio, irá inativar a enzima [104]. Toda esta gama de opções de pesquisas e esta interdisciplinaridade da Proteômica vêm transformando esta em uma das mais importantes áreas de estudos da ciência moderna. Trabalhos utilizando as estruturas 3D‟s de proteínas visualizadas em computadores potentes para analisar as interações com outras moléculas, proteínas, peptídeos ou átomos estão cada vez mais presentes nos dias de hoje. 1.5 - Epítopos Outra linha de pesquisa que teve um grande avanço com a Proteômica foi à busca por epítopos, também conhecido como determinantes antigênicos. A médica americana Anne Searls de Groot definiu epítopo como um grupo de aminoácidos derivado de um antígeno protéico que interagem com receptores de células B (imunoglobulinas) ou com receptores de células T, resultando na ativação de uma resposta imune [105]. Do ponto de vista de reconhecimento de padrões no sistema imunológico, a característica mais importante das células B e T é que ambas possuem moléculas receptoras (reconhecedoras) em suas superfícies capazes de reconhecer antígenos. Os receptores das células B e T reconhecem antígenos com características distintas. O receptor da célula B pode interagir com moléculas antigênicas livres em solução, enquanto o receptor das células T reconhece antígenos processados e ligados Página | 19 Ricardo Andrez Machado de Avila a uma molécula de superfície denominada de complexo de histocompatibilidade principal (MHC) [106]. O receptor de antígeno da célula B é o anticorpo ligado à membrana, que será secretado quando a célula for ativada. As principais funções da célula B incluem a produção e secreção de anticorpos como resposta aos agentes patogênicos. O reconhecimento imunológico ocorre em nível molecular e é baseado na complementaridade entre a região de ligação do receptor e uma porção do antígeno, o epítopo. [106]. Enquanto os anticorpos possuem um único tipo de receptor, os antígenos podem possuir múltiplos epítopos, significando que um único antígeno pode ser reconhecido por diferentes moléculas de anticorpo como mostra a Figura 2B. As interações antígeno-anticorpo (Ag-Ac), ilustradas na Figura 2A, são realizadas quando o paratopo do anticorpo (Ac) se liga ao epítopo de um antígeno (Ag) [107]. Essas interações são mantidas por forças fracas (interações não-covalentes), do mesmo tipo que mantêm o complexo enzimasubstrato, como forças iônicas, pontes de hidrogênio, van der Waals e hidrofóbicas. O fato de essas forças terem baixa energia livre (<20 Kcal/mol), ao contrário da ligação covalente (>40 Kcal/mol), garante o fenômeno da especificidade antígeno-anticorpo [106]. A célula T é assim chamada devido ao fato de que sua maturação ocorre no timo [108]. Suas funções incluem a regulação das ações de outras células e o ataque direto às células infectadas do organismo hospedeiro. O receptor de antígeno da célula T possui algumas diferenças estruturais em relação aos receptores das células B, já que enquanto os receptores de células B reconhecem epítopos de antígenos livres, protéicos ou não, os de células T reconhecem apenas epítopos de antígenos processados (fragmentados sob a forma de peptídeos) e ligados a uma molécula de superfície, o MHC. [106]. Página | 20 Ricardo Andrez Machado de Avila 2A 2B Figura 2: Representação esquemática da interação antígeno-anticorpo. Em 2A: Ilustração de interação do epítopo de um antígeno com o paratopo de uma IgG. Em 2B, ilustração dos anticorpos monoespecíficos, os antígenos podem apresentar vários epítopos distintos. Foto retirada do site http://www.inflammation.dk/iir/05ig/_igx.htm Um epítopo de uma proteína pode ser classificado como contínuo ou descontínuo. O epítopo contínuo, também chamado seqüencial ou linear, é um fragmento contínuo da seqüência protéica. Já um epítopo descontínuo, igualmente chamado de epítopo conformacional, é composto de diversos fragmentos dispersos ao longo da seqüência da proteína e reunidos na proximidade espacial quando a proteína é enovelada. [109]. A Figura 3 apresenta os dois tipos de epítopos. Na Figura 3A, a seqüência de aminoácidos que fazem parte do epítopo representado pelas letras E-P-I-T-OP-O, seguem a seqüência primária da proteína, sendo assim classificado de epítopo contínuo ou linear. Na Figura 3B, a seqüência representada pelo mesmo conjunto de letras, não está seguindo a seqüência primária da proteína. Neste caso, os aminoácidos que formam o epítopo estão próximos devido à Página | 21 Ricardo Andrez Machado de Avila conformação estrutural da proteína e por isso o epítopo é classificado como descontínuo ou conformacional. A maioria dos epítopos são do tipo descontínuo, embora sejam freqüentemente compostos de pequenos elementos contínuos da seqüência. A identificação dos epítopos é de grande importância para compreender e reconhecer molecularmente a proteína analisada. Esses epítopos podem ser úteis em diagnóstico de doenças, na formulação de drogas, projetos de vacinas, entre outros [107]. 3A 3B Figura 3: Representação esquemática dos diferentes tipos de epítopos. Cada círculo representa um aminoácido seguindo a seqüência primária da proteína. Os círculos destacados são os aminoácidos que fazem parte do epítopo. 3A mostra a representação esquemática de um epítopo linear e 3B a representação esquemática de um epítopo conformacional Para uma vacina ser efetiva, ela precisa, por exemplo, desencadear uma forte resposta de células B ou de células T. Por isso, para a escolha de peptídeos com potencial vacinal, o mapeamento de epítopos é de fundamental importância [105]. Página | 22 Ricardo Andrez Machado de Avila 1.6 - Mapeamentos de Epítopos O método mais adequado para encontrar um epítopo é resolver a estrutura 3D do complexo Ag-Ac por cristalografia de Raios-X ou RNM [110]. A primeira resolução por cristalografia de raios-X de um complexo Ag-Ac indicou que um epítopo é composto de cerca de 10 a 20 aminoácidos, o que foi confirmado por diversos estudos subseqüentes como a do grupo francês de Pierre Tougard do Instituto Pasteur com seus trabalhos com difração de raios-X dos complexos antígenos-anticorpos [111] e mais recentemente com o trabalho sobre a identificação de epítopos na superfície do vírus Ebola do ex-estudante de doutorado do microbiologista americano Paul Bates, o americano Joseph Francica [112]. A análise de 103 epítopos em 1988 pelo químico australiano Hendrik Mario Geysen revelou que na maioria dos casos de epítopos contínuos, somente entre 4 a 5 resíduos são implicados na energia de ligação e determinam especificidade da interação com o anticorpo, enquanto que os outros resíduos da região epitópica desempenham um papel de espaçador e podem ate serem substituídos por outros aminoácidos [113]. Outro grande destaque foi dado pelo grupo do médico imunologista francês Jean-Pierre Revillard que em 1988 observou que toda a superfície acessível de uma proteína é tida como potencialmente antigênica e que as proteínas são formadas por um mosaico de epítopos virtuais, sendo complicado estimar a quantidade de epítopos que uma proteína apresenta, já que essa varia de acordo com a existência de anticorpos contra as várias regiões da proteína. Essa diversidade de epítopos reconhecidos em um mesmo antígeno ao longo da resposta imunológica é um fator essencial para a eficácia da resposta do anticorpo que levará à neutralização ou destruição do patógeno [114]. Estas descobertas só foram possíveis após o início dos anos 80, mais precisamente no ano de 1982, quando os métodos para a localização sistemática de epítopos começaram a ser desenvolvidos e empregados. Atualmente, estes métodos englobam diferentes domínios do conhecimento, como a biofísica, a bioquímica, a biologia molecular a estatística e até mesmo a Página | 23 Ricardo Andrez Machado de Avila síntese química [115]. Mas a localização experimental destes epítopos é ainda hoje um processo difícil e complexo. A utilização de peptídeos representativos de antígenos protéicos combinados à análise através de ferramentas de bioinformática é uma alternativa interessante e promissora. Os principais métodos de identificação de epítopos são: métodos imunoquímicos, como o método de SPOT, estudos de cristalografia de raios-X e métodos de predição computacional. Apesar da técnica de cristalografia ser a mais eficiente na identificação de epítopos, ela é uma técnica cara, que necessita de uma grande quantidade de amostra com um alto grau de pureza, além de ser uma técnica geralmente demorada. Em 1986 o americano John Mark Carter e mais tarde em 1997, a também americana Grazyna D. Szklarz, utilizaram métodos alternativos na identificação de epítopos por mutagêneses sítio dirigida. Por essa técnica, aminoácidos da cadeia protéica sofrem mutações e esses mutantes são avaliados experimentalmente com intuito de verificar se a ausência do aminoácido é importante para ligação com o anticorpo, ou seja, se esses aminoácidos pertencem a um epítopo [116-117]. Entretanto, esta técnica também é trabalhosa e relativamente cara. Devido a todas essas dificuldades, nos últimos 30 anos, uma série de algoritmos foram desenvolvidos no intuito de determinar esses epítopos. A identificação de epítopos por programas de computadores seria enormemente mais barata, sendo necessário apenas um computador e alguns conhecimentos das proteínas a serem analisadas. No entanto, para isto, algoritmos mais elaborados e precisos devem ser idealizados. Estes algoritmos seriam baseados em diferentes características físico-químicas da proteína alvo, como hidrofobicidade, flexibilidade, acessibilidade, e estrutura secundária, de acordo com o francês Jean-LucPellequer em um de seus artigos [118]. Estes algoritmos conduziram ao desenvolvimento de diversos softwares como o SUPERFICIAL do grupo alemão da Universidade de Medicina de Berlin [119]. Página | 24 Ricardo Andrez Machado de Avila Em 1999, outro grupo alemão da mesma Universidade de Medicina de Berlin, liderado pelo Dr Ulrich Reineke já havia adaptado a técnica de Sínteses Química de Peptídeos do famoso químico americano Robert Bruce Merrifield [120], ganhador do Prêmio Nobel de 1984 por este trabalho em 1969, para sintetizar automaticamente uma série de peptídeos que poderiam ser utilizados de forma a mapear uma proteína e verificar quais eram reativos a um anticorpo. Esta técnica foi chamada de Spots-Síntese. [121]. O método de Spot-Síntese abriu inúmeras oportunidades para sintetizar peptídeos. Em 2002 o químico alemão Ronald Frank adaptou esta síntese automatizada para uma matriz (membrana de nitrocelulose). O método permitia a síntese rápida e paralela de um grande número de peptídeos. Outras vantagens estariam relacionadas com a fácil adaptação a uma ampla gama de métodos de análise e seleção, tais como ensaios de ligação, enzimáticos e celulares, que permitem o diagnóstico in situ de bibliotecas químicas devido às propriedades especiais da membrana. Por exemplo, pode-se realizar um ensaio imunoquímico de western-blot na própria membrana e testar assim quais peptídeos são reativos para um determinado anticorpo. [122]. Um peptídeo ou uma molécula que reconhece o mesmo paratopo de um anticorpo é chamado de mimotopo. Este nome foi dado por Hendrik Mario Geysen em 1985 que definiu mimotopo como sendo uma molécula ou peptídeo que mimetiza um epítopo [123] Nesta investigação pelo conhecimento das interações de um paratopo de um anticorpo com o epítopo de um antígeno ou mesmo com um mimotopo, vários programas de bioinformática vêm sendo desenvolvidos. E é nesta busca por estes conhecimentos que esta tese se encaixa. Seu objetivo inicial era estudar uma região epitopica de uma proteína do veneno de aranha marrom (Loxosceles intermedia), mas durante seu desenvolvimento, ela acabou por se deparar com um problema que pareceu-nos mais promissor que a proposta original. Ao invés de estudar uma única proteína, passamos a analisar várias proteínas e alguns programas de bioinformática podendo assim fazer um estudo criterioso que poderia repercutir nas diversas aplicações destes Página | 25 Ricardo Andrez Machado de Avila programas e em conceitos e características dos epítopos. Resolvemos ainda estudar os epítopos descontínuos que, apesar da dificuldade nas predições e validações, são os que acreditamos corresponder as interações antígenosanticorpos. Esta introdução fez um rápido e panorâmico vôo sobre a história das proteínas. Agora em que os fatos estão mais contextualizados, veremos o que essa tese tem a fornecer para a evolução desse novo paradigma. Página | 26 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 27 Ricardo Andrez Machado de Avila 2 - CONTRIBUIÇÕES Esta tese é fruto de experimentos e análises desenvolvidos no Laboratório de Imunoquímica de Proteínas do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais sob a orientação do Dr. Carlos Chávez Olortegui e do doutorado sanduiche no Laboratoire SysDiag , UMR3145 - CNRS/Bio-Rad na cidade de Montpellier, França sob a corientação do Dr. Franck Molina. Durante minha estadia na França fiz parte do projeto PRESED – PREdiction et Synthèse d'Epitopes Discontinus – Predição e Sínteses de Epítopos Descontínuos - coordenado pela Dra. Violaine Moreau. Este projeto tem como objetivo desenvolver metodologias para predizer epítopos descontínuo que seriam utilizados no programa PEPOP, desenvolvido pela própria Dra. Violaine Moreau. Minha parte no projeto era de validação dos epítopos descontinuos preditos pelo programa de bioinformática PEPOP, ou seja, através das metodologias desenvolvidas, eu fazia as predições destes epítopos descontínuos, sintetizava-los na forma de peptídeos e testava contra anticorpos monoclonais para validar a predição. Sistematicamente o grupo PRESED se reunia para avaliações dos resultados encontrados e proposições de melhoria tanto na forma de metodologias de predições, como na forma de visualizações dos resultados encontrados pelo programa PEPOP. Neste período avaliei a predições de seis proteínas, apresentadas na Tabela 3. As proteínas são: AaH-II, uma toxina do veneno do escorpião Androctonus australis hector-II; GM-CSF, uma citocina que funciona como fator estimulante de colônias de granulocitos e monócitos; C2FVIII, uma proteína do domínio C2 do fator de coagulação; DNF, uma toxina do veneno da aranha Loxosceles intermédia. GAD-65, uma enzima que catalisa a descarboxilação do glutamato para ácido gama-aminobutírico e CO; e LHF-II, uma toxina do veneno da serpente Lachesis muta-muta. Página | 28 Ricardo Andrez Machado de Avila A LHF-II merece uma atenção especial, pois apesar de ela ter seus peptídeos preditos pelo PEPOP durante minha estadia na França, os experimentos de testes destes peptídeos foram todos realizados no Brasil. Esta proteína teve ainda a predição de peptídeos através de outros programas de bioinformática, como o MIMOP, também desenvolvido pela Dra Violaine Moreau e o STING, desenvolvido pelo Dr. Goran Neshich da Embrapa de Campinas. Nesta tese então, serão apresentados os resultados obtidos pelas predições das proteínas AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II. Apesar dos resultados preliminares para a GAD-65 e C2FVIII parecerem promissores, pois os peptídeos encontrados como reativos aparentam mimetizar regiões de epítopos já descrito na literatura, achamos por melhor não apresentá-los, já que as membranas contendo estes peptídeos foram também reativas aos anticorpos secundários e desta forma proporcionou certa dúvida na real reatividade dos peptídeos com os monoclonais testados. Assim teremos que refazer estes experimentos, provavelmente trocando os anticorpos secundários. Os resultados encontrados com LHF-II renderam um artigo que foi submetido à revista Peptides e pode ser visto no anexo VI. Estamos também terminando de escrever dois artigos referentes ao trabalho com a AaH-II e GMCSF. O trabalho com a AaH-II ganhou no ano passado o prêmio de melhor pôster no congresso da Sociedade Brasileira de Toxinologia, como pode ser visto no anexo VII. Além disto, durante a minha tese participei em outros projetos do laboratório que renderam ainda outros cinco artigos. Os resultados destes artigos não serão apresentados nesta tese, mas podem ser vistos nos anexos de I a V. O Anexo I apresenta o artigo intitulado The co-purification of a lectin (BJcuL) with phospholipases A2 from Bothrops jararacussu snake venom by immunoaffinity chromatography with antibodies to crotoxin publicado na revista Página | 29 Ricardo Andrez Machado de Avila Toxicon no ano de 2007. Neste artigo encontramos uma fração do veneno da serpente Bothrops jararacussu que mostrou ser um eficiente antígeno na preparação de anticorpos neutralizantes contra as atividades dos venenos letais das serpentes Bothrops jararacussu e Crotalus durissus terrificus. O Anexo II mostra o artigo intitulado Antigenic, microbicidal and antiparasitic properties of an l-amino acid oxidase isolated from Bothrops jararaca snake venom publicado na revista Toxicon no ano de 2009. Nestes trabalhos caracterizamos as propriedades antigênicas, microbianas e antiparasitárias de L-aminooxidase do veneno da serpente Bothrops jaracaca O Anexo III exibe o artigo intitulado Immunodiagnosis of human neurocysticercosis using a synthetic peptide selected by phage display publicado na revista Clinical Immunology no ano de 2010. Neste artigo um peptídeo originário de um mimotopo da proteína Cysticercus cellulosae selecionado pela técnica de Phage Display foi sintetizado e apresentado para o imunodiagnóstico da neurocisticercose humana. O Anexo IV apresenta o artigo intitulado In vivo protection against Tityus serrulatus scorpion venom by antibodies raised against a discontinuous synthetic epitope publicado na revista Vaccine no ano de 2009. Neste artigo identificamos um epítopo descontinuo da proteína TsNTxP do veneno do escorpião Tityus serrulatus, verificamos alem da capacidade protetora do peptídeo, sua exposição na estrutura 3D da proteína e que apesar de seus aminoácidos serem proveniente das regiões C e N-Terminal estavam dentro de um raio de 10 Å. Já o Anexo V mostra o artigo intitulado Mapping of a highly immunogenic linear B cell epitope within Plasmodium vivax apical membrane antigen 1 (AMA1) recentemente submetido e aceito para publicação na revista PLOS One, agora no ano de 2011. Neste artigo, identificamos a partir da seqüência primária da PvAMA-1 um epítopo linear altamente imunogênico da Plasmodium vivax apical se tornando um antígeno candidato a vacina contra malaria. Página | 30 Ricardo Andrez Machado de Avila Então, nas próximas páginas será apresentos os resultados e as discussões para AaH-II, DNF, GM-CSF e LHF-II. Ainda, ao final é feito um apanhado geral das características dos epítopos e dos métodos utilizados para encontrá-los. Página | 31 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 32 Ricardo Andrez Machado de Avila 3- OBJETIVOS 3.1- Objetivos gerais Predizer por bioinformática estrutural e caracterizar epítopos descontínuos das toxinas, AaH-II (principal neurotoxina do veneno do escorpião Androctulus Australis Hector, LHF-II, uma toxina hemorrágica do veneno da serpente Lachesis muta muta, DNF uma toxina dermonecrótica do veneno da aranha L. intermedia e da citocina humana GM-CSF. 3.2- Objetivos específicos Predizer, utilizando o programa de bioinformática PEPOP, peptídeos referentes a epítopos descontínuos da proteína AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II. Predizer, utilizando o programa de bioinformática MIMOP, peptídeos que foram mimetizados por peptídeos selecionados pela técnica de Phage Display Predizer, utilizando o programa de bioinformática STING, Millennium peptídeos referentes a epítopos descontínuos da proteína LHF; Encontrar características físico-químicas para a predição de epítopos descontínuos. Sintetizar todos os peptídeos preditos em membranas de celulose Testar a reatividade de todos os peptídeos sintetizados nas membranas contra anticorpos monoclonais. Sintetizar quimicamente os peptídeos reativos ao monoclonal anti-veneno de Lachesis muta muta; Página | 33 Ricardo Andrez Machado de Avila Avaliar a capacidade destes peptídeos sintéticos induzirem a produção de anticorpos com atividade biológica anti-hemorrágica. Verificar as características dos peptídeos reativos aos monoclonais que descrevem regiões epitopicas Propor idéias que melhorem a utilidade do programa PEPOP. Página | 34 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 35 Ricardo Andrez Machado de Avila 4 – MATERIAIS E MÉTODOS 4.1- Moléculas alvo para o mapeamento de epítopos As moléculas escolhidas para este estudo são uma toxina (AaH-II, GenBank: AAA29949.1) do veneno do veneno do escorpião Androculus Australis Hector, uma proteína (DNF, GenBank: AAQ16123.1 ) da família das dermonecróticas do veneno da aranha Loxosceles intermedia, uma metaloproteinase (LHF-II, Swiss-Prot: P22796.1) do veneno da serpente Lachesis muta muta e uma citocina humana (GM-CSF, GenBank: AAA52578.1). 4.2 - Animais e proteínas A toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta foi gentilmente cedida pelo Dr. Eládio Sanchez do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Fundação Ezequiel Dias de Belo Horizonte/MG, Brasil. Ela foi purificada a partir do veneno de Lachesis muta muta de acordo com Sanchez et.al, 1991 [124]. Foram utilizadas Coelhas fêmeas da raça New Zealand, na média de 2 kg de peso vivo. Os animais foram mantidos no Centro de Bioterismo, ICB-UFMG (Belo Horizonte, MG), e receberam água e alimentos sob condições ambientais controladas. O tratamento e a manipulação dos animais utilizados foi acompanhado pelo Comitê de Ética em Experimentação Animal (CETEA) da UFMG. 4.3- Anticorpos monoclonais Os anticorpos monoclonais mAb 4C1 neutralizante da toxina AaH-II e antiGM-CSF (mAb 2C4F10) foram produzido previamente pelo laboratório Sysdiag, Página | 36 Ricardo Andrez Machado de Avila UMR3145 - CNRS/Bio-Rad em Montpellier - França, de acordo com Yahi et.al, 2002 [125] e Piquer et.al, 2006 [126] respectivamente. Os anticorpos monoclonais anti-LHF-II (LmmAbB2D4) e anti-L.intermedia (LimAb7), foram produzidos e purificados anteriormente em nosso laboratório, como descrito por Estevão-Costa et.al., 2000 [127] e Alvarenga, et.al. 2003 [128] respectivamente. 4.4 - Modelagem Molecular 4.4.1- Análise de similaridade As análises de similaridade das proteínas a serem modeladas foram realizadas utilizando a ferramenta BLAST [73]. O BLAST está disponível na internet e é composto por cinco programas: Protein-BLAST, NucleotideBLAST, BLASTx, tBLASTn e o tBLASTp. Estes programas têm como função procurar similaridades de seqüência primárias de proteínas e nucleotídeos. O Protein-BLAST, empregado neste trabalho, utiliza a seqüência protéica fornecida pelo usuário para fazer uma busca em banco de dados de proteínas por similaridade. Ele é composto por três algoritmos, o BLASTP, PSI-BLAST, PHI-BLAST. 4.4.2- Modelagem de proteína O modelo 3D da LHF-II foi obtido por modelagem por similaridade utilizando os dados de cristalografia por raios-X da Atrolisina C (1ATL.PDB, resolução: 1,80Å) como molde. Para isto, utilizou o Protein-BLAST para encontrar a proteína depositada no PDB com maior similaridade a LHF-II. O modelo molecular tridimensional da LHF-II foi construído sobrepondo estruturalmente a sua seqüência sobre a da Atrolisina C no programa de modelagem SwissModel [129-131]. Para validação da estrutura modelada, foram utilizados os programas ANOLEA [132] e Verify 3D [133]. Da mesma forma, a modelagem da DNF ocorreu por modelagem por similaridade desta vez utilizando como molde os dados de cristalografia por Página | 37 Ricardo Andrez Machado de Avila raios-X da SMASE-D (1XX1. PDB, resolução de 1,75). O Protein-BLAST foi também o responsável por encontrar a proteína (SMASE-D) depositada no PDB com maior similaridade com a DNF. O modelo molecular tridimensional da DNF foi construído sobrepondo estruturalmente a sua seqüência sobre a da SMASE-D no programa de modelagem SwissModel A validação da estrutura modelada também ocorreu com auxilio dos programas ANOLEA e Verify 3D. Todas as estruturas moldes e modelada foram visualizadas no SwissPDBViewer [76]. 4.5- Classificações das estruturas modeladas Para classificação estrutural das proteínas modeladas, utilizou-se o programa de bioinformática disponível na internet, CATH [134]. O CATH é uma classificação hierárquica do domínio das estruturas das proteínas do PDB. Apenas estruturas cristalizadas com resolução de no máximo 4,0 angstroms são consideradas. A classificação ocorre em quatro principais níveis de hierarquia: Classe, Arquitetura, Topologia e Superfamília. 4.6- Predições por PEPOP PEPOP é um programa de bioinformática desenvolvido para guiar experimentalistas que a partir da estrutura 3D de uma proteína desejam localizar epítopos descontínuos ou desenhar peptídeos imunogênicos que serviriam na criação de anticorpos que têm como alvo as proteínas ou sítios específicos [135]. O algoritmo utilizado pelo programa, a partir da estrutura 3D resolvida ou do modelo da proteína, é capaz de identificar e agrupar segmentos de aminoácidos contíguos que sejam acessíveis ao solvente. Esses segmentos são também avaliados quanto às características físico-químicas compatíveis com as observadas em interações proteína-proteína, como hidrofobicidade, presença de aminoácidos freqüentes nesse tipo de ligação e presença de voltas β. Página | 38 Ricardo Andrez Machado de Avila Para o desenho de um peptídeo que possa representar um epítopo descontínuo predito, um “segmento de referência” entre os agrupamentos previamente citados é escolhido e outros segmentos são adicionados a ele de modo a gerar um peptídeo do tamanho desejado. O usuário do programa pode escolher a região da proteína que deve ser privilegiada nesse processo bem como diferentes métodos de extensão para criar o peptídeo. São eles: Nearest Neighbours (NN)– Ajunta os segmentos mais próximos ao Cterminal do segmento referência; Optimized Nearest Neighbour – (ONN) Adiciona os segmentos mais próximos ao C-terminal do segmento referência, mas em uma ordem que faça com que a distância percorrida entre os segmentos seja a menor possível; Nearest Flanking (NF) – Ajunta os segmentos tanto do lado C-terminal como do N-terminal do peptídeo de referência, alternadamente; Optimized Nearest Flanking (ONF) – Liga os segmentos tanto do lado Cterminal como do N-terminal do peptídeo de referência, alternadamente, mas em uma ordem que faça com que a distância percorrida entre os segmentos seja a menor possível; Raio de 10 Å (10AR)– Junta segmentos que se encontram num raio de 10 Å do segmento referência; Adição de Linkers – Esse método pode ser combinado a qualquer outro e consiste na adição de aminoácidos extras entre os segmentos escolhidos para formar o peptídeo, para mimetizar a distância real entre eles na estrutura tridimensional da proteína. Ele esta dividido em dois submétodos, o ALA-Linkers e o Structural Alfabet. # ALA-Linkers – Acrescenta alaninas entre os segmentos combinados. O número de alanina vária de acordo com a distância entre os segmentos Página | 39 Ricardo Andrez Machado de Avila # Structural Alfabet (SA) – Acrescenta o(s) aminoácido(s) que melhor se encaixaria entre os segmentos de forma que o peptídeo final tenha a estrutura mais próxima da estrutura na proteína. Sentido dos segmentos – Nesse método, o sentido dos segmentos (Nterm para C-term) não é levado em consideração, sendo que eles podem ser adicionados na ordem inversa que se encontram na estrutura primária, a fim de aperfeiçoar o mimetismo com a estrutura tridimensional. A Figura 4 ilustra os sete métodos de extensão utilizados pelo programa PEPOP no designer do peptídeo que possa representar o epitopo descontínuo predito pelo programa. Figura 4: Representação esquemática dos métodos de extensão para design de peptídeos utilizados pelo programa PEPOP. Página | 40 Ricardo Andrez Machado de Avila 4.7- Predições pelo STING Millennium STING Millennium é uma base disponível na web de bancos de dados fornecendo uma visualização e uma análise complexa de seqüências moleculares e estruturais para os dados depositados no Protein Data Bank (PDB). O STING funciona como uma combinação dos conjuntos de dados publicamente disponíveis (por exemplo, PDB, HSSP, Prosite) e com os dados por ele calculados (por exemplo, contato e acessibilidade na superfície) é possível o acoplamento bidirecional entre a seqüência e as informações estruturais de uma dada proteína. [136]. O STING fornece assim uma série de parâmetros físico-químicos e biológicos que, através deles, torna-se possível descrever e analisar a estrutura, a função, a seqüência, a estabilidade e as interações de uma dada proteína [137]. Tais combinações de parâmetros estão disponíveis em um único local, o Java Protein Dossier [138]. Java Protein Dossier (JPD) é um módulo do STING Millennium que reúne ferramentas de visualização de base de dados, fornecendo uma coleção de parâmetros físico-químicos e biológicos para descrever a estrutura, a estabilidade, a função e as interações das proteínas com outras macromoléculas. A coleta de parâmetros em uma única base de dados, além da possibilidade de agrupá-los, permite que sejam gerados parâmetros diferentes com o potencial de fornecer introspecções novas na relação da seqüência-estrutura-função de uma proteína. No JPD, a seleção do resíduo pode ser executada de acordo com critérios múltiplos. O JPD pode, simultaneamente, indicar e analisar todos os parâmetros físico-químicos de quaisquer estruturas, usando-se alinhamentos pré-calculados e, desta forma, permitir a comparação direta dos parâmetros nas posições correspondentes aos aminoácidos entre estruturas homólogas. Além disto, pode-se focalizar o perfil físico-químico das proteínas e, conseqüentemente, o farmacológico. [138]. Para a LHF-II o módulo do JPD foi utilizado para identificar os resíduos pertencentes à região imunogênica através de parâmetros pré-selecionados. Página | 41 Ricardo Andrez Machado de Avila 4.8- Predições pelo MIMOP MIMOP é uma ferramenta computacional desenvolvida com o objetivo de prever epítopos contínuos e descontínuos, auxiliar experimentalistas a analisar um conjunto de seqüências mimotopicas e orientá-los na identificação da região imitada na proteína. Estas informações são apresentadas através de uma interface web acessível, de fácil utilização, permitindo, entre outras coisas, a visualização interativa das previsões diretamente sobre a estrutura 3D da proteína O programa utiliza de duas abordagens diferentes, o MimAlign que prevê regiões de potenciais epítopos a partir das seqüências dos mimotopos, seqüências do antígeno e da estrutura 3D do antígeno caso esta esteja disponível, e o MimCons que prevê as regiões de potenciais epítopos a partir de seqüências dos mimotopos, mas requer necessariamente a estrutura 3D do antígeno para encontrar as regiões mimetizadas. [139]. O MimAlign combina o alinhamento das seqüências de mimotopos e da proteína usando quatro programas diferentes de alinhamento múltiplo de seqüência (DIALIGN [140], T-COFFEE [141], Multalin [142] e DCA [143]). Para cada posição destes alinhamentos combinados, uma freqüência e uma pontuação são calculadas. Em seguida, posições convergentes são selecionadas e agrupadas com base na sua topologia. Os agrupamentos obtidos são considerados como regiões de potenciais epítopos e são pontuadas e ranqueadas. O MimCons, analisa as seqüências dos mimotopos classificando-as de acordo com sua similaridade. Em seguidas, padrões de consenso são identificados usando o algoritmo de PRATT [144]. Então, verifica-se na superfície acessível do antígeno os resíduos que se encontram nela e que possuam o mesmo padrão de consenso (a acessibilidade é calculada por DSSP [37]). Por fim, estes resíduos mais os aminoácidos vizinhos espacialmente são identificados e considerados como regiões de potenciais Página | 42 Ricardo Andrez Machado de Avila epítopos. As diferentes regiões encontradas recebem pontuações e são ranqueadas. Em uma última etapa opcional, as interseções dos dois métodos são calculadas comparando os conjuntos selecionados pelo primeiro com as regiões selecionadas pelo segundo. Para a predição de epítopo de LHF-II reconhecida pelo LmmAbB2D4, utilizou-se dos mimotopos selecionados por Phage Display. 4.9- SPOT 4.9.1- Sínteses A síntese paralela de peptídeos sobre membrana de celulose ocorreu-se por permitir a síntese rápida e eficiente de um grande número de peptídeos (816 peptídeos), em delimitações pontuais por volume de deposição de cada resíduo. Assim, as membrana de celulose contendo os peptídeos preditos pelo programa de bioinformática PEPOP foram preparadas de acordo Laune et.al. 2002 [145]. Os aminoácidos protegidos por um grupamento FMOC foram depositados em um volume de aproximadamente 0,6 L no sintetizador automático (Multipep Automatic Spot synthesizer – Intavis), permitindo obter aproximadamente 50 nanomoles de peptídeo por ponto na membrana. A síntese dos peptídeos iníciou-se sempre pelo C-terminal do último aminoácido das seqüências estabelecidas para cada ponto. Após a retirada do grupo FMOC que se encontrava acoplado á função amina do aminoácido pela adição de piperidina 20% em dimetilformamida (DMF), esta se tornou disponível para reação com o próximo aminoácido a ser acoplado. A eficiência deste passo pode ser monitorada pela reação com o azul de bromofenol, que apresenta coloração azul quando em contato com grupamentos amina livres. Os aminoácidos a serem acoplados foram ativados por DIPC/HOBT (diisopropilcarbodiimida/hidroxibenzotriazol) e depositados sobre a membrana. Para cada aminoácido foram realizados dois ciclos de acoplamento. As funções Página | 43 Ricardo Andrez Machado de Avila NH2 que permaneceram livres após o acoplamento foram acetiladas com anidrido acético 10% em DMF, a fim de se evitar reações colaterais com os aminoácidos posteriormente adicionados. O grupo protetor FMOC do aminoácido recém-acoplado foi novamente eliminado em meio básico pela piperidina a 20%. A membrana foi lavada com metanol e, após secagem desta, foi reposicionada no sintetizador para outro ciclo. Os ciclos se sucederam desta forma até completar a sequência do peptídeo desejado. Ao final da síntese, os grupos laterais protetores dos aminoácidos foram retirados pelo tratamento da membrana com ácido trifluoracético (TFA) associado a diclorometano e trietilsilano. Nesta tese, todos os peptídeos sintetizados nas membranas que continham o aminoácido cisteína e sua seqüência foram substituídos por serina na síntese. Esta substituição ocorreu para evitarmos a formação de ponte de dissulfetos entre os peptídeos. A serina diferencia da cisteína apenas pela presença do grupo OH no lugar do grupo SH na cadeia lateral. Como estes peptídeos não fazem ponte de dissulfetos entre eles, acreditamos que esta substituição melhor representa a região que foi mimetizada. 4.9.2- Sintese - ALA-Scan Para determinação dos aminoácidos importantes para a ligação peptídeo-anticorpo foi realizado o ALA-Scan. Este ensaio consiste na síntese de uma membrana contendo uma série de peptídeos onde cada aminoácido da seqüência do peptídeo original é substituído por uma alanina. No caso de alaninas presentes na seqüência inicial, esta é substituída por uma glicina. A síntese é realizada como descrita acima. 4.9.3- Ensaio Imunoquímico As membranas contendo os peptídeos sintéticos foram lavadas três vezes com tampão TBS pH 7.4 e então saturadas em solução contendo 1 ml de tampão de bloqueio (coating buffer, Sigma) e 0,5 g de sacarose, em 20 ml Página | 44 Ricardo Andrez Machado de Avila de tampão TBS-Tween 0,1%, overnight. Em seguida, a membrana foi lavada com o tampão TBS-Tween 0,1% e incubada com o 15 g do anticorpo monoclonal a ser testado, diluído na mesma solução bloqueio, durante 1h e 30 min sob agitação constante. Após a incubação, a membrana foi lavada com TBS-Tween 0,01% por 10 min. A partir deste momento, dois processos foram utilizados: a revelação com anticorpo secundário ligado a fosfatase alcalina ou com anticorpo secundário ligado a peroxidase 4.9.4- Revelação Fosfatase Alcalina O anticorpo secundário ligado à fosfatase alcalina, diluído no tampão de bloqueio, foi incubado com a membrana por 1h. Após nova lavagem sob agitação de 10 minutos com TBS-Tween 0,1% e mais duas lavagens de também 10 minutos cada, com CBS pH 7 sob agitação, foi adicionado o substrato contendo MTT, BCIP e MgCl2 (Sigma). Vinte minutos depois, a reação foi parada com água destilada e os spots reativos foram detectados pelo método de colorimetria direta. Para isto, a membrana foi fotografada e a intensidade da coloração dos spots foram quantificadas pelo software ImageJ [146]. 4.9.5- Revelação ECL O anticorpo secundário ligado á peroxidase, diluído em tampão de bloqueio, foi incubado com a membrana por 1h. Após nova lavagem de 10 minutos com TBS-Tween 0,1% sob agitação, a membrana foi incubada com o Kit ECL Western Blotting Detection Reagents (GE) numa câmara escura por 5 minutos e a detecção dos spots reativos foi realizada em filme Kodak Biomax Light Film com auxilio de um cassete, dentro de uma câmara escura. 4.9.6 - Regeneração da Membrana Para reutilizações posteriores, as membranas foram submetidas a um tratamento de regeneração. Primeiramente efeituou-se 3 lavagens de 10 minutos cada com dimetilformamida (DMF), em seguida, mais 3 lavagens de 10 minutos cada com reagente A (uréia 8M + 1% de SDS + 0.1% de 2Página | 45 Ricardo Andrez Machado de Avila mercaptoetanol) e finalmente outras 3 lavagens de 10 minutos cada com reagente B (etanol / água / ácido acético nas proporções 50:40:10 vol/vol/vol). Como controle, realizou o teste do conjugado, ou seja, após o bloqueio incubou-se a membrana com o cojugado. Realzou-se ainda a incubação da membrana com o soro pré-imune. Realizando em seguida nos dois casos a revelação de acordo com o protocolo descrito acima. 4.10- Sínteses Química de Peptídeos Foi utilizado o método desenvolvido por Merrifield, 1969 [120]. Ele consiste em fixar o aminoácido C-terminal do peptídeo sobre um suporte sólido insolúvel e depois alongar a cadeia peptídica por adições sucessivas de resíduos da porção C-terminal para N-terminal. Estes aminoácidos possuem o grupamento amina protegido pelo grupamento FMOC (fluorenil-metil- oxicarbonila), sua cadeia lateral também esta protegida por um grupo protetor para evitar reações indesejadas. O suporte sólido insolúvel normalmente é uma resina que também se encontra protegida pelo FMOC. Foi utilizada a resina Rink Amide com suporte sólido, o protocolo utilizado para formação do peptídeo é semelhante ao utilizado para a síntese em membrana de celulose. O tubo de síntese contendo a resina foi lavado 3 vezes com 5ml de DMF e em seguida foi adicionada piperidina 20% , deixando sob agitação por 20 minutos para eliminar o FMOC da resina. Após novas 3 lavagem com DMF, iníciou-se a etapa de acoplamento. Nesta etapa, o primeiro aminoácido (100M) a ser acoplado foi adicionado junto com os ativadores da sua função carboxila, o HOBt (100M) e o DIPC (100M) e deixado por 30 minutos sob agitação. Após acoplagem, três novas lavagens com DMF são realizadas e é iniciada a etapa de desproteção. Nesta etapa o grupamento FMOC do aminoácido acoplado é removido com a presença de piperidina 20%, por 20 minutos. Ao final desta etapa, nova 3 lavagens com DMF são realizadas o protocolo de acoplagem do segundo aminoácido é reiniciado. Este ciclo de Página | 46 Ricardo Andrez Machado de Avila acoplagem/desproteção é feito até que todos os aminoácidos do peptídeo a ser sintetizado estejam acoplados. Após o término do último ciclo, o peptídeo já sem o grupamento FMOC do último aminoácido então é removido da resina por uma etapa chamada de clivagem. Nesta etapa também se elimina os grupamentos protetores da cadeia lateral. Para isto, o peptídeo é incubado por 3 horas com uma solução de clivagem contendo 2.5% de EDT (etanoditiol - Fluka) + 2.5% de água destilada + 2,5% de TES (trietilsilano - Fluka) em TFA (ácido trifluoracético). Em seguida esta solução é filtrada A solução filtrada é precipitada com éter etílico gelado obtendo assim o peptídeo. Após centrifugação o éter é eliminado e o peptídeo é ressuspendido em água mili-Q e liofilizado. 4.11- Purificações dos peptídeos sintéticos Os peptídeos sintetizados foram solubilizados em água mili-Q e submetido a uma cromatografia líquida de alta pressão (HPLC- shimadzu) acoplada à coluna VYDAC-C18. A coluna foi previamente equilibrada com 0,1% de solução aquosa de TFA e eluida em gradiente linear de TFA 0,1% em acetonitrila (1% / min). Os picos obtidos foram submetidos à espectrometria de massa para a análise pelo instrumento Autoflex-III MALDI-TOF-TOF™ (Bruker Daltonics). 4.12- Espectrometria de massa As análises por espectrometria de massa foram realizadas no Núcleo de Estudo de Estrutura e Função de Biomoléculas do Departamento de Bioquímica e Imunologia do Instituto de Ciências Biológicas na Universidade Federal de Minas Gerais utilizando o instrumento Autoflex-III MALDI-TOFTOF™ (Bruker Daltonics) no modo refletor/positivo controlado pelo software FlexControl™. A calibração do instrumento foi obtida usando o Peptide Página | 47 Ricardo Andrez Machado de Avila Calibration Standard II (Bruker Daltonics) como referência e ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico como matriz. Uma gota da mistura contendo a amostra a ser analisada e a matriz ácido α-ciano-4-hidroxicinâmico, na proporção de 1:1 foi colocada numa placa MTP AnchorChip™ 400/384 (Bruker Daltonics). Após a secagem da gota, a placa foi levada ao aparelho para análise. 4.13- Preparação de Lipossoma O filme lipídico de lipossomas foi preparado de acordo com Gomes et. al 2010[147]. A solução contendo Esfingomielina mais lipossomas multilamelar de Colesterol (razão molar de 2:1) foi preparada pela dissolução de 25 mg de esfingomielina (altamente purificada, a partir de cérebro de bovinos, Sigma) e 6,5 mg de colesterol (Sigma) em 20 ml de clorofórmio, juntamente com traços de metanol. A solução foi colocada em um balão de fundo redondo e o solvente foi removido por evaporação em um evaporador rotativo a 37°C, em sistema de de pressão reduzida por 80 min Em seguida, foi adicionado ao frasco 3 ml contendo 4 mg de HRP [tipo VI-A, Sigma, em 0,05 M de tampão fosfato salina, pH 7,4]. Um filme lipídico foi formado e desalojado do vidro pelo uso de um misturador vortex. Os lipossomas foram recuperados por meio de uma pipeta Pasteur e, em seguida, tratados com vibração ultra-sônica três vezes durante 20 s cada. A suspensão de lipossomas foi centrifugado a 8000 × g por 10 min a 4°C para remover o excesso de HRP. Os lipossomas foram então ressuspendidos e lavados e centrifugados por três vezes com PBS e armazenados a 4°C. Peptídeos purificados foram acoplados aos lipossomas através da hidratação com 10 ml de água destilada dos lipossomas. 0,1 g de peptídeos previamente dissolvido em 0,5 ml de tampão fosfato salina, pH 7,4 foram misturado com 1 ml do lipossoma hidratado. Em seguida a mistura foi liofilizada e resuspendida em PBS para imunização. Página | 48 Ricardo Andrez Machado de Avila 4.14- Protocolos de Imunização Após a coleta do soro pré-imune, coelhas fêmeas da raça New Zealand pesando em torno de 2 kg receberam injeções subcutâneas (s.c.) de 0,1 mg de peptídeo acoplado ao lipossoma (dia 1). Sete reforços foram dados em intervalos de 14 dias, via subcutânea, com 0,1 mg de peptídeo acoplado ao lipossoma rLiD1. Um grupo controle recebeu lipossoma vazio (sem peptídeo acoplado) nas mesmas condições. O soro imune foi coletado uma semana após o ultimo reforço (dia 105). 4.15- Determinação da atividade hemorrágica A atividade hemorrágica foi determinada através do método de Kondo et.al. 1960 [148] e modificado por Gutierrez, et.al 2002 [149]. Foi inoculado 14,28 μg do veneno da serpente Lachesis muta muta em 0,1 ml de NaCl 0,9%, via subcutânea no dorso da pele raspada dos coelhos imunizados com os peptídeos. Após vinte quatro horas, os coelhos foram sacrificados e o dorso foi totalmente removido, a fim de se medir e fotografar a lesão hemorrágica. A atividade hemorrágica foi determinada como aquela que causa uma lesão no local da injeção de pelo menos 1 cm2. 4.16- Caracterizações bioquímicas dos epítopos/mimotopos identificados Para identificar os pontos isoelétricos (pI) dos epítopos ou mimotopos identificados nesta tese utilizou-se o programa “Compute pI/Mw tool” disponível no site do EXPASY (http://ca.expasy.org/tools/pi_tool.html) e pelo programa escrito nesta tese na linguagem de PHP. Página | 49 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 50 Ricardo Andrez Machado de Avila 5- RESULTADOS E DISCUSSÕES Com a crescente necessidade de anticorpos monoclonais e vacinas, a predição de epítopos de células B se tornou fundamental, especialmente para novas proteínas isoladas de patógenos. Estudos cristalográficos têm demonstrado que a maioria dos epítopos de antígenos protéico são descontínuos [150]; entretanto, devido a dificuldade na produção e validação, existem poucos programas de bioinformática desenvolvidos para predição de epítopos descontínuos, sendo a maioria dos programas existentes voltados para identificar apenas epítopos contínuos [151]. Os parâmetros para identificação destes epítopos variam de programa para programa. Por exemplo, o CEP avalia a acessibilidade dos resíduos em função da estrutura 3D dos antígenos protéicos [152], o DiscoTope combina uma escala de matrizes de propensão com a proximidade espacial e exposição na superfície [150]. Já o SEPPA, utiliza de uma rede formada por triângulos de resíduos para descrever a superfície espacial local do antígeno [151]. Embora essas ferramentas forneçam ajuda no planejamento de experimentos moleculares, várias revisões vêm demonstrando que a predição de epítopos descontínuos persiste em ser um método difícil para os antígenos protéicos [153-154]. A vantagem do PEPOP, programa que escolhemos utilizar na predição de epítopos descontínuos, é que este software, além da predição dos epítopos, propõe uma série de peptídeos antigênicos. Vimos que as combinações das metodologias descritas no item 4.6 são outra vantagem do programa, já que os peptídeos reativos encontrados nesta tese foram preditos por metodologias diferentes deste programa. Assim não podemos falar que uma metodologia é melhor que a outra e que a utilização de todas se faz necessário. Outra ferramenta que utilizamos foi o STING, que nos proporcionou a liberdade nas escolhas dos parâmetros físico-químicos dentro do modulo Java Protein Dossier, assim pudemos utilizar os parâmetros que julgamos ser mais importantes numa determinação de epítopos. O MIMOP foi utilizado graças a sua capacidade de localizar na região da superfície do antígeno protéico a região imitada pelo mimotopos do phage display. Aproveitamos Página | 51 Ricardo Andrez Machado de Avila ainda a capacidade do método do SPOT para fazermos centenas de peptídeos paralelos que permitiu testar a sua capacidade de ligação de uma forma simples, porém sensível com o anticorpo. 5.1- AaH-II O escorpião Androctonus australis Hector (Figura 5) é considerado uma das espécies de escorpião mais perigosas no mundo. Escorpiões do gênero Androctonus produzem um veneno muito tóxico que pode provocar hipotermia maligna, miocardite, edemas pulmonares e até mesmo a morte dos acidentados. A toxina AaH-II representa cerca de 1,5% do total de proteínas do veneno e é responsável por aproximadamente 50% da atividade tóxica do mesmo. [155]. Todos os resíduos que parecem ser considerados importantes na toxina apresentam-se agrupados em um lado da toxina, indicando a região como uma superfície hidrofóbica exposta. A toxicidade, portanto, está nos resíduos que compõem esta superfície hidrofóbica conservada, bem como nas regiões C- e N-Terminais [156]. Figura 5: Fotografia do escorpião Androctonus australis Hector Fonte: http://www.aurga.com/androctonus_australis_hector.htm O tratamento dos acidentes humanos com estes animais consiste no uso de antivenenos específicos preparados a partir da hiperimunização de animais Página | 52 Ricardo Andrez Machado de Avila de grande porte com o veneno [157]. A metodologia tradicional utiliza o veneno total nas imunizações. No entanto, novas técnicas vêm sendo desenvolvidas a partir da imunização com peptídeos identificados em epítopos [158]. O programa de bioinformática PEPOP foi utilizado para mapear e agrupar segmentos de aminoácidos acessíveis na proteína, que seriam parte de regiões epitópicas e através das metodologias descritas no item 4.6 proporem peptídeos desenhados a partir das combinações destes segmentos e respeitando algumas restrições como, por exemplo, a distância espacial de 10A. Esta distância é devida ao tamanho máximo descrito para uma região epitopica [159]. Utilizando a estrurura cristalografada da AaH-II (1AHO.pdb), o PEPOP propôs 73 peptídeos, como mostra a Tabela 3. Estes peptídeos são os resultados das combinações dos 16 segmentos preditos e apresentados na Tabela 4. Tabela 3: Dados das predições pelo programa PEPOP para diferentes proteínas. Antígenos Números de Segmentos Números de seqüências de peptídeos únicos preditos AaHII 16 73 GM-CSF 28 175 C2FVIII 33 236 DNF 57 456 GAD65 96 648 * 40 608 LHF-II * Os testes com a LHF-II foram realizados no Brasil. A fim de verificar a reatividade destes peptídeos, os mesmos foram sintetizados quimicamente como pontos (spots) em uma membrana de celulose e analisados através da tecnologia SPOT como descrito no item 4.9, para isto utilizou-se do anticorpo monoclonal mAb 4C1 neutralizante da toxina AaH-II produzido pelo laboratório Sysdiag, UMR3145 - CNRS/Bio-Rad de acordo com Yahi et.al, 2002 [125]. A Figura 6 mostra o resultado para este ensaio imunoquímico de SPOT. Quatros seqüências peptídicas foram reconhecidas Página | 53 Ricardo Andrez Machado de Avila pelo anticorpo monoclonal mAb 4C1. Dois destes foram com intensidade forte e são formados pelos segmentos 17 GRNAY21 mais os segmentos 37 QWA39 e 41 PYGN44. Dois foram com intensidade mais fraca e são também formados pelos mesmos segmentos 37QWA39, 41PYGN44 mais o segmento 60PGRCH64. Tabela 4: Segmentos acessíveis da AaH-II do escorpião Androctonus australis Hector identificado pelo PEPOP e a posição no PDB (1AHO.pdb) Segmento de referência Comprimento do segmento (em aa) Seqüência Posição no arquivo PDB Segmento 1 3 VKD 1a3 Segmento 2 1 Y 5a5 Segmento 3 3 DDV 8 a 10 Segmento 4 3 TYF 13 a 15 Segmento 5 5 GRNAY 17 a 21 Segmento 6 2 NE 23 a 24 Segmento 7 4 TKLK 27 a 30 Segmento 8 2 ES 32 a 33 Segmento 9 1 Y 35 a 35 Segmento 10 3 QWA 37 a 39 Segmento 11 4 PYGN 41 a 44 Segmento 12 1 Y 47 a 47 Segmento 13 2 YK 49 a 50 Segmento 14 2 DH 53 a 54 Segmento 15 3 RTK 56 a 58 Segmento 16 5 PGRCH 60 a 64 Figura 6: Resultado do teste de SPOT dos 73 peptídeos preditos por PEPOP contra o monoclonal mAb 4C1 neutralizante da toxina AaH-II. Página | 54 Ricardo Andrez Machado de Avila Estes quatro peptídeos estão apresentados na Tabela 5. Nota-se que eles são formados pelos mesmos segmentos (37QWA39, 41 PYGN44) indicando que estas são regiões antigênicas importantes. A presença das alaninas entre os segmentos nos 3 primeiros peptídeos da Tabela 5 foi devida a metodologia empregada pelo PEPOP. A alanina funcionou como espaçador entre os seus segmentos preditos e a quantidade de alaninas utilizadas entre cada segmento varia de acordo com a distância entre eles na estrutura 3D. A Tabela 5 ainda mostra que cada peptídeo foi predito por um método diferente. Enquanto o peptídeo 198 foi predito pelo método de ONNI, os peptídeos 225 e 227 foram predito tanto pelo método NFI, quanto pelo método ONFI já o peptídeo 228 foi predito pelos métodos NFsa e ONFsa Tabela 5: Peptídeos reativos contra o anticorpo monoclonal mAb 4C1 pela técnica de SPOT Número Composição Métodos Comprimento do Peptídeos em Preditos em aa SPOT segmento 198 Q-W-A-A-A-P-Y-G-NA-A-G-R-N-A-Y ONNI 225 Y-A-A-Q-W-A-A-A-PY-G-N-A-A-G-R-N-A-Y NFI ONFI 9+10+11+5 227 P-G-R-S-H-A-A-A-PY-G-N-A-A-Q-W-A NFI ONFI 16+11+10 228 P-G-R-S-H-P-Y-G-NQ-W-A NFsa ONFsa 16+11+10 10+11+5 16 19 17 12 A Figura 7 mostra os peptídeos reativos contra a mAb 4C1 na estrutura 3D da AaH-II (1AHO.pdb). Observa-se nas Figuras 7A, 7B, 7C e 7D que os 2 peptídeos de reatividade forte estão localizados na mesma região da toxina. O segmento segmento 37 Q-W-A39 e 41 P-Y-G-N44 se situa numa região de loop enquanto o G-R-N-A-Y21 se encontra no final da -Hélice e próximo 17 espacialmente do loop. O peptídeo 225, em 7C e 7D, contém ainda um resíduo de Y relativa à Y35 que também se encontra próxima espacialmente ao loop e ao final da -Hélice. Já os dois peptídeos de reatividade mais fraca possuem o mesmo 37 Q-W-A39 e 41 P-Y-G-N44 situado no loop mais o segmento 60 PGRCH64 relativo à região N-terminal da toxina, como mostra a Figura 7E e 7F. Página | 55 Ricardo Andrez Machado de Avila 7A 7B 7C 7D 7E 7F Figura 7: Visualização na estrutura 3D dos peptídeos reativos ao mAb 4C1 da AaH-II (1AHO.pdb). Em 7A e 7B a visualização em dois ângulos diferentes do peptídeo 198 (Q-W-A-A-A-P-Y-G-N-A-A-G-R-N-A-Y) de reatividade forte. Em 7C e 7D a visualização em dois ângulos diferentes do peptídeo 225 (Y-A-A-Q-W-A-A-A-P-Y-G-N-A-A-G-R-N-A-Y) de reatividade forte. Em 7E e 7F a visualização em dois ângulos diferentes dos peptídeos 227 (P-G-R-S-H-A-AA-P-Y-G-N-A-A-Q-W-A) e 228 (P-G-R-S-H-P-Y-G-N-Q-W-A) de reatividade fraca. Página | 56 Ricardo Andrez Machado de Avila Estes dados estão de acordo com a literatura. O resíduo W 38, presente nos quatro peptídeos, foi identificado como resíduo-chave na ligação da AaH-II com o canal de sódio e na atividade tóxica em ratos. [160]. Recentemente, através da técnica de mutagênese, definiu-se que o W 38 e N44 fazem parte de uma região chamada de “domínio de núcleo conservado”. Este domínio forma uma rede de interações químicas com resíduos da cauda C-terminal estabilizando a estrutura e formando uma superfície bioativa nas -toxinas de escorpiões [161]. Desta forma a ligação do anticorpo 4C1 nestes resíduos sugere que o anticorpo neutralize esta região e desta forma, neutralize a atividade tóxica da toxina, o que comprovaria que esta região seria uma região epitopica. Mais recentemente, a Amm-VIII, uma toxina isolada do veneno do escorpião Andoctonus mauretanicus mauretanicus com uma identidade de 89% com a AaH-II, teve uma região de epítopo descontinuo descrita quando testada contra um anticorpo policlonal anti-Amm-VIII. Esta região era composta pelos segmentos da Amm-VIII segmentos 23 17 G-R-N-A-Y21, N-E24 e os segmentos 37 Q-W-A39 e 41 P-Y-G-43 mais os 27 I-K-L-T30 ilustrados na Figura 8 [162]. Uma simples comparação mostra que os mesmos segmentos 37 Q-W-A39 e 41 P- Y-G43 que fazem parte da região epitopica para a Amm-VIII foram encontrados na AaH-II, apesar de serem testado contra anticorpos diferentes. Estes dados estão em acordo com trabalho de Martin-Eauclaire et al, que descobriram por meio de radioimunoensaio, que anticorpos policlonais anti-Amm-VIII impediram a associação da AaH-II ao seu sítio receptor sinaptossomal e provocaram um efeito protetor em camundongos indicando mais uma vez que estes resíduos fazem parte da zona epitopica da AaH-II. [163]. Página | 57 Ricardo Andrez Machado de Avila 8A 8B Figura 8: Visualização na estrutura 3D do epitopo descontinuo da Lmm-VIII contra anticorpos policlonais anti-Lmm-VIII. 8A e 8B a visualização em angulos diferentes dos resíduos 37Q-W-A39 e 41P-Y-G-43, 23 NE24 e 27IKLT30 referente a este epítopo descontinuo. A Figura 9 apresenta o alinhamento das duas toxinas AaH-II e Amm-VIII utilizando o algoritmo do programa SIM - Alignment Tool for protein sequences [164]. Este alinhamento apresentou 89.1% de identidade em 64 resíduos sobrepostos, sem presença de gap’s. Os resíduos da AaH-II que foram reativos para o anticorpo monoclonal 4C1 e os resíduos descritos por Alvarenga et.al, 2010 [162] que foram reativos para o anticorpo policlonal anti-Amm-VIIII, estão destacados com as mesmas cores da Figura 8. A região central contendo os resíduos 17 G-R-N-A-Y21, 37 Q-W-A39 e 41 P-Y-G43 é a mesma evidenciando sua importância como uma região epitopica. AaH-II Amm-VIII 0 1 2 3 4 5 6 6 1 0 0 0 0 0 0 4 VKDGYIVDDVNCTYFCGRNAYCNEECTKLKGESGYCQWASPYGNACYCYKLPDHVRTKGPGRCH LKDGYIVNDINCTYFCGRNAYCNELCIKLKGESGYCQWASPYGNSCYCYKLPDHVRTKGPGRCN ****** * ************** * ***************** ****************** Figura 9: Alinhamento linear das sequencias de aminoácidos das toxinas AaH-II e Amm-VIII. Em destaque os resíduos das prováveis região epitopica para a AaH-II e para Amm-VIII [162]. Página | 58 Ricardo Andrez Machado de Avila Outro resultado que comprova que estes resíduos da AaH-II são parte de um epítopo descontinuo, é o resultado encontrado pela aluna de doutorado de bioquímica de nosso laboratório, Clara Guerra Duarte. Em sua tese, ela trabalha na produção e análises de anticorpos monoclonais e em um dos seus experimentos com o anticorpo monoclonal mAb 4C1, ela observou a reatividade do anticorpo mAb 4C1 contra um peptídeo. Este peptídeo era composto pelos resíduos P-Y-G-N-A-A-W-Q-A-A-Y. Comparando esta seqüência com a os peptídeos de PEPOP reativos, surpreende-se com a presença dos resíduos 41 P-Y-G-N44, mais os resíduos 37 Q-W-A39, invertidos nesta seqüência do peptídeo, alem de uma Y que pode ser identificada como a Y35 presente em um dos peptídeos de forte reatividade contra o monoclonal. [Duarte C,G comunicação pessoal]. Desta forma, a sobreposição destes resíduos na estrutura 3D da AaH-II apresenta praticamente a mesma localização estrutural mostrada na Figura 7, apresentando-se como mais um fator que comprovaria a suposição que estes resíduos são epítopos. Para testar a especificidade destes peptídeos reativos ao monoclonal, a membrana contendo os 73 peptídeos foi testada pelo ensaio de SPOT contra um anticorpo monoclonal anti-GMCSF, mAb 2C4F10. Nenhum peptídeo foi reativo contra este monoclonal, indicando que a interações dos peptídeos reativos com o mAb 4C1 foram especificas para este anticorpo. Além disto, a membrana foi testada contra o conjugado anti-camundongo-peroxidase, e nenhum peptídeo também se apresentou reativo. Este resultados comprovam que os 4 peptídeos 198, 225, 227 e 228 foram reativos ao mAb 4C1 e não ao conjugado, evidenciando mais uma vez a especificidade das interações destes peptídeos com o mAb 4C1. Outro teste controle realizado foi de verificar a especificidade do anticorpo monoclonal mAb 4C1. Sua reatividade foi testada contra outros peptídeos (peptídeos preditos por PEPOP para a proteína GMCSF) pela mesma técnica de SPOT. Nenhum dos peptídeos foi reativo, comprovando a especificidade do anticorpo monoclonal. Por fim, testou-se este anticorpo monoclonal mAb 4C1 contra os peptídeos construídos a partir da seqüência linear da AaH-II. Estes peptídeos foram construídos com intuito de verificar a presença de epítopos contínuos [158]. Baseado na seqüência linear Página | 59 Ricardo Andrez Machado de Avila da AaH-II, foram construídos 52 peptídeos com 12 aminoácidos. Cada peptídeo possui 11 aminoácidos sobrepostos quando comparado com o peptídeo anterior, ou seja, o primeiro peptídeo tem os 12 primeiros aminoácidos da seqüência linear da AaH-II, o segundo peptídeo tem do resíduo 2 ao 13 resíduo da seqüência linear e assim por diante ate completar a sequência inteira da proteína.. Desta forma, pode-se testar a reatividade do monoclonal 4C1 contra regiões contínuas da AaH-II. Nenhum dos peptídeos testados foi reativo ao monoclonal 4C1, indicando que o monoclonal não é reativo a uma seqüência linear da proteína AaH-II e que o epítopo é conformacional. Assim, concluímos que o PEPOP foi capaz de predizer peptídeos a partir de regiões descontínuas da proteína que sejam reativos ao monoclonal mAb 4C1 e, pelo que tudo indica, estes peptídeos contendo os resíduos 37 Q-W-A39 e 41 P-Y-G-N44 mimetizam uma região epitopica da toxina AaH-II. Este trabalho foi premiado no ano de 2010 durante o Congresso da Sociedade Brasileira de Toxinologia como melhor pôster (anexoVII) e sua publicação como artigo em revista indexada está em fase de elaboração. 5.2- GM-CSF O fator estimulador de colônias de granulócitos e macrófagos, “Granulocyte-macrophage colony-stimulating factor” também chamado pelo seu nome abreviado, GM-CSF é uma citocina pertencente a um grupo de glicoproteínas que regula a proliferação e a diferenciação de células hematopoiéticas, mais especificamente macrófagos e granulócitos. Ela é uma proteína secretada por macrófagos, células-T, mastócitos, células endoteliais e fibroblastos. A GM-CSF estimula as células-tronco para produzir granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos) e monócitos [165]. Página | 60 Ricardo Andrez Machado de Avila O GM-CSF humano é uma proteína de 14,5 kDa constituída de 127 aminoácidos e possui 52% de similaridade com a proteína homologa de rato. A proteína humana possui 4 resíduos de cisteína formando duas pontes dissulfeto, porém apenas as cisteínas 54 e 96 são requeridas para a atividade biológica da mesma. [166]. GM-CSF vem sendo usado como um medicamento para estimular a produção de glóbulos brancos após a quimioterapia [167] .Recentemente também tem sido avaliado em ensaios clínicos para o seu potencial como uma vacina adjuvante em pacientes infectados pelo HIV. [168]. Este biofármaco tem sido usado em pacientes que receberam altas doses de quimioterapia ou transplantados. Além disso, o GM-CSF é usado para restabelecer disfunções hematopoiéticas, estimular a hiper-produção de células efetoras pré-induzidas (“primed”) funcionalmente e promover a defesa do hospedeiro contra doenças infecciosas e malignas. [169] Ainda, GM-CSF é encontrado em altos níveis em articulações com artrite reumatóide, sendo o bloqueio do GM-CSF importante para reduzir a inflamação ou danos. Alguns medicamentos (por exemplo, MOR103) estão sendo desenvolvidos para bloquear esta citocina [169]. Leukine é o nome comercial do sargramostim, medicamento baseado em uma proteína recombinante derivada do GM-CSF expressa em leveduras e desenvolvido pela empresa Immunex (agora Amgen) e foi administrado pela primeira vez a seis seres humanos em 1987 como parte de um protocolo de uso compassivo para as vítimas do acidente de radiação com césio em Goiânia. Atualmente este medicamento é fabricado pela Berlex Laboratories, subsidiária da Schering AG. Seu uso foi aprovado pelos EUA Food and Drug Administration (FDA) para a aceleração da produção de glóbulos brancos de pacientes com leucemia linfóide aguda, ou da doença de Hodgkin. Em 1996, a FDA também aprovou sargramostim para o tratamento de infecções fúngicas e reposição dos glóbulos brancos após a quimioterapia. [170]. Este medicamento Página | 61 Ricardo Andrez Machado de Avila é vendido no Brasil como um biofármaco importado, o qual, desta forma, tornase muito custoso para o governo brasileiro. Por tudo isto, descobrir os epítopos do GM-CSF pode proporcionar um estudo de docking mais detalhado desta região e assim encontrar medicamentos economicamente mais viáveis. Assim, utilizamos o PEPOP e a estrutura 3D da GM-CSF (2GMF.pdb) para predizerem as seqüências de peptídeos que trazem os segmentos acessíveis na proteína GM-CSF e agrupá-los em função de sua distância espacial. A Tabela 6 mostra os 28 segmentos identificados pelo PEPOP. Uma pequena biblioteca de 175 peptídeos foi proposta pelo PEPOP através da combinação destes segmentos. Em seguida esta biblioteca foi sintetizada quimicamente como pontos (spot) em uma membrana de celulose e analisados imunoquímicamente pelo uso da da tecnologia SPOT como descrito no item 4.9. Para a análise imunoquímica por SPOT destes 175 peptídeos, utilizouse o anticorpo monoclonal anti-GM-CSF (mAb 2C4F10), produzido pelo laboratório Sysdiag, UMR3145 - CNRS/Bio-Rad de acordo com [126]. A Figura 10 apresenta a membrana com os 175 peptídeos sintetizados. Na Figura 10A dentro dos retângulos pretos estão os 42 peptídeos que foram reconhecidos pelo anticorpo monoclonal mAb 2C4F10. Destes 42 peptídeos, 26 tiveram forte reatividade e 16 reatividade mais fraca. Página | 62 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 6: Segmentos acessíveis da GM-CSF identificado por PEPOP e sua posição no PDB (2GMF.pdb) Posição no Segmento de Comprimento do Seqüência arquivo PDB referência segmento (aa) Segmento 1 3 VKD 1a3 Segmento 2 1 Y 5a5 Segmento 3 3 DDV 8 a 10 Segmento 4 3 TYF 13 a 15 Segmento 5 5 GRNAY 17 a 21 Segmento 6 2 NE 23 a 24 Segmento 7 4 TKLK 27 a 30 Segmento 8 2 ES 32 a 33 Segmento 9 1 Y 35 a 35 Segmento 10 3 QWA 37 a 39 Segmento 11 4 PYGN 41 a 44 Segmento 12 1 Y 47 a 47 Segmento 13 2 YK 49 a 50 Segmento 14 2 DH 53 a 54 Segmento 15 3 RTK 56 a 58 Segmento 16 5 PGRCH 60 a 64 Página | 63 Ricardo Andrez Machado de Avila 10 A 10 B 10 C 10D Figura 10: Membrana de celulose contendo os 175 peptídeos preditos por PEPOP para GM-CSF humana. Em 10A, dentro dos retângulos estão os 42 peptídeos que foram positivo ao monoclonal mAb 2C4F10. Em 10B, o resultado do teste com o conjugado, mostrando que todos os peptídeos foram negativos. Em 10C o resultado do teste com a incubação dos anticorpos mAb 2C4F10 com 3X mais NaCl no tampão. Em 10D resultado negativo do teste do anticorpo mAb 2C4F10 numa membrana contendo peptídeos lineares da seqüência da proteína GM-CSF. Página | 64 Ricardo Andrez Machado de Avila Experimentos controles para a determinação da especificidade destes peptídeos reconhecidos pelo mAb 2C4F10 foram realizados. O anticorpo secundário (conjugado anti-camundongo-fosfatase) utilizado para revelar o reconhecimento antigênico não foi reativo contra qualquer peptídeo. Outra indicação da especificidade foi que estes peptídeos não apresentaram reatividade contra o anticorpo monoclonal LimAb7, que reconhece o fator dermonecrótico do veneno da aranha Loxosceles intermedia), como pode ser visualizado na Figura 10B, sugerindo que as interações entre mAb 2C4F10 com os peptídeos reativos são específicas. Na Figura 10C, pode ser ver o resultado da incubação do mAb 2C4F10 em alta força iônica. O anticorpo foi incubado com concentrações 3 vezes maior de NaCl, um perfil de reatividade idêntico ao obtido nas condições normais foi adquirido mostrando que a ligação destes peptídeos com o monoclonal não é dependente de interações iônicas não-específicas. Verificouse ainda que o anticorpo mAb 2C4F10 reconhece apenas regiões descontínuas da proteína GM-CSF, pois como pode ser visto na Figura 10D, o anticorpo mAb 2C4F10 não foi reativo com nenhum peptídeo linear desta proteína. Estes peptídeos foram construídos com intuito de verificar a presença de epítopos continuos [158]. A Figura 11 mostra as seqüências destes 42 peptídeos reativos. Em cinza escuro estão marcados os segmentos que formam cada um dos 26 peptídeos de forte reatividade e em cinza claro os segmentos dos 16 peptídeos de fraca reatividade. Página | 65 Ricardo Andrez Machado de Avila Figura 11: Peptídeos preditos para GM-CSF humana por PEPOP reconhecidos pelo mAb 2C4F10. Com a cor cinza escuro estão os segmentos que compõem os peptídeos de maior reatividade e em cor cinza claro estão os segmentos que compõem os peptídeos de menor reatividade. Os retângulos azul e vermelho marcam duas regiões que apresentaram seus segmentos reconhecidos. Página | 66 Ricardo Andrez Machado de Avila Uma análise acurada da Figura 11, evidencia que os peptídeos reativos ao mAb 2C4F10 são formados basicamente por duas regiões, indicadas pelos retângulos azul e vermelho. Desta forma, em uma observação preliminar podese dizer que existem duas regiões (motivos) da proteína GM-CSF que são reativas ao mAb 2C4F10. A Figura 12 apresenta estas duas regiões na estrutura 3D da GM-CSF (2GMF.pdb). O motivo 1, composto pelos resíduos W13, E14, V16, N17, Q20, E21, R23, R24 está apresentado com a coloração vermelha e o motivo 2, composto pelos resíduos K63, Q64, R67, G68, S69, T71, K72, K74, G75 está apresentado com a coloração azul. HELIX-2 Q64 K63 HELIX-1 HELIX -C R67 G68 S69 K74 T71 HELIX -3 G75 K72 Q20 R23 R24 G75 E21 V16 E14 N17 W13 HELIX -N Figura 12: Visualização dos resíduos pertencente aos dois motivos reativos ao anticorpo monoclonal mAb 2C4F10 na estrutura 3D da GMCSF. Em vermelho os resíduos correspondentes ao motivo 1 e em azul os resíduos correspondentes ao motivo 2. Página | 67 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 7: Freqüência da predição dos segmentos reativos nos 175 peptídeos da GM-CSF frente ao mAb 2C4F10 o Posição na n do Seqüência segmento seqüência da Reativa GM-CSF Freqüência TOTAL (reativo Não reativo + não reativo) % (Reatividade/Total) 1 RSPSPSTQ 4 a 11 3 7 10 30,00% 2 WE 13 a 14 7 8 15 46,67% 3 VN 16 a 17 6 11 17 35,29% 4 QE 20 a 21 7 8 15 46,67% 5 RR 23 a 24 7 7 14 50,00% 6 NL 27 a 28 3 9 12 25,00% 7 RDTAAEMNET 30 a 39 3 28 31 9,68% 8 E 41 a 41 6 25 31 19,35% 9 EM 45 a 46 0 28 28 0,00% 10 DLQE 48 a 51 0 49 49 0,00% 11 T 53 a 53 6 48 54 11,11% 12 QT 56 a 57 6 30 36 16,67% 13 E 60 a 60 15 28 43 34,88% 14 KQ 63 a 64 22 24 46 47,83% 15 RGS 67 a 69 17 3 20 85,00% 16 TK 71 a 72 30 0 30 100,00% 17 KG 74 a 75 29 1 30 96,67% 18 TM 78 a 79 12 2 14 85,71% 19 S 82 a 82 9 4 13 69,23% 20 KQH 85 a 87 5 13 18 27,78% 21 PP 22 PETSCATQIIT 23 89 a 90 2 16 18 11,11% 92 a 102 0 53 53 0,00% ES 104 a 105 0 20 20 0,00% 24 E 108 a 108 0 17 17 0,00% 25 KD 111 a 112 0 16 16 0,00% 26 LVN 115 a 116 0 18 18 0,00% 27 FDC 119 a 121 0 15 15 0,00% 28 EP 123 a 124 0 21 21 0,00% A Tabela 7 apresenta o número de vezes em que cada segmento compôs os peptídeos preditos do PEPOP, o número de vez que eles foram reativos, e negativos e a porcentagem de reatividade de cada segmento. De acordo com estes valores, observa-se que os dois motivos (destacado na Tabela 7 e Figura 11 pelos retângulos azul e vermelho) são os que tiveram maior reatividade. A reatividade do motivo 2 foi superior a 85% para todos os Página | 68 Ricardo Andrez Machado de Avila segmento e a do motivo 1 foi superior a 35%. Entretanto estes segmentos de alta reatividade, não foram os mais preditos, indicando assim que a positividade destes segmentos não esta relacionada a maior predição dos mesmo. Então, desta forma, estas duas regiões apresentam-se como importantes na interação com o mAb 2C4F10. Uma análise combinatória da Figura 11 com a Tabela 7 e com as seqüências dos 175 peptídeos preditos e testados mostram que toda vez que o segmento 16 (71T-K72) e o segmento 17 (74K-G75) estão presentes em um mesmo peptídeo, ele é reativo. Da mesma forma, toda a vez que um peptídeo contém os segmentos 4 (20Q-E21) e 5 (23-R-R24) juntos em um mesmo peptídeo, eles também são positivos. A única exceção para a reatividade dos segmentos 4 e 5 é quando o segmento 7 (30RDTAAEMNET39) está no mesmo peptídeo, o que ocorreu quatro vezes. Nestes casos, os peptídeos não foram reativos. Esta perda da reatividade é provavelmente atribuída ao tamanho do segmento sete, que devido ao seu tamanho (10 aminoácidos) que de alguma forma deve alterar o reconhecimento do mAb 2C4F10. Também pela presença deste segmento 7 combinado com outros segmentos do motivo 1 que se atribui um reatividade mais baixa deste motivo, já que há oito casos, no qual o peptídeo pertencente ao motivo 1 e contendo também o segmento 7 não foi reativo e nos três casos no qual o segmento 7 foi positivo, ele não estava combinado com os segmentos do motivo 1 e sim com os segmentos do motivo 2. Baseado nestas informações e com o objetivo de reconhecer os resíduos considerados essenciais nas interações com mAb2C4F10, foram selecionados aleatoriamente três peptídeos reativos do motivo 1 e cinco do motivo 2 para serem testado pela técnica de ALA-Scan descrita por Alvarenga, et.al, 2002. Nesta técnica, um conjunto de peptídeos análogos ao original é sintetizado numa membrana de celulose, substituindo em cada peptídeo um aminoácido por ALA. Quando na seqüência já existe ALA, este é substituído por uma GLY. Em seguida eles são testados por ensaio imunoquímico de SPOT em relação à reatividade de cada aminoácido. Desta maneira, então, Página | 69 Ricardo Andrez Machado de Avila pode ser avaliada com base na diminuição ou aumento da capacidade de ligação do anticorpo ao antígeno em relação às seqüências do peptídeo modificado e do peptídeo original. [171]. Na Figura 13 pode ser visto o resultado do ALA-Scan destes oito peptídeos selecionados. A reatividade de cada aminoácido em cada peptídeo esta apresentada em escala de cinza: quanto mais escuro o cinza, mais forte é a reação. Observou-se segmento que a troca das duas argininas (R23 e R24) do 23 R-R24 por alaninas no Motivo 1, fizeram com que os peptídeos perdessem a reatividade com o mAb 2C4F10. Da mesma forma, a troca das duas lisinas (K72 e K74) dos segmentos 71 T-K72 e o segmento 74 K-G75 por alaninas no motivo 2, fizeram com que a reatividade com o mAb 2C4F10 diminuisse. Estes dados indicam que estes quatros resíduos são essenciais para a ligação com mAb 2C4F10. Posição no spot Seqüência Controle Seqüência Peptídeos 4 C+ WE A A V NA QE A A RRA NL Alascan 85 C+ R S P S P S T QWE V N Q E R R Motivo 1 124 C+ WE V NQE R R Peptídeos 16 C+ K QRGS T K K G 35 C+ R GS T K K G TMS 146 C+ E EKQTKKG 153 C+ K QA A RGS A A T K A A K G 155 C+ K QTKKGTM Alascan Motivo 2 Figura 13: Resultado do ALA-Scan de oito peptídeos reativos da GM-CSF humana ao mAb 2C4F10. A força de reatividade está em escala de cinza sobre cada aminoácido, sendo a reatividade mais escuro for o cinza Vários trabalhos vêm estudando as interações e atividade do GM-CSF com outras citocinas (por exemplo: interleucinas IL-2, IL-3 IL-4 e IL-5). [172]. As atividades da proteína GM-CSF são exercidas quando a mesma encontra-se ligada a seus receptores [173]. Estes receptores são heterodímeros Página | 70 Ricardo Andrez Machado de Avila constituídos por uma subunidade alfa ligante-específica e uma subunidade beta-c que é compartilhada com os receptores das interleucinas IL-3 e IL-5. Estes receptores ligam em duas regiões da GM-CSF chamada de domínio 1 e 2 [174]. Rozwarski et.al, 1996, definiu a partir do cristal da GM-CSF e da técnica de mutagênese que os resíduos E21, R23, R24, T71 K72 K74 e G75 são parte de sítio de ligação ao receptor [175], ou seja, praticamente os mesmos resíduos que encontramos como epítopos descontínuos nesta tese, principalmente os resíduos R23, R24, K72, K74 mostrados como essenciais na interação com mAb 2C4F10. Isto nos leva a acreditar que este anticorpo se liga na mesma região da GM-CSF que interage com seus receptores funcionando como um inibidor destas interações. Ogerro et.al, 2004, testou 5 anticorpos monoclonais contra uma proteína recombinante de GM-CSF humana e viu que os resíduos A1, P2, A3, R4, W 13, E14, N17, A18, E21, R23, R24, P118, F119 formam uma região de epítopo descontínuo para estes anticorpos. [176]. Estes resíduos são praticamente os mesmos encontrados para o motivo 1 e a presença das duas argininas mais uma vez é prova de suas importâncias neste motivo. Já Dey et. al, 2009, recentemente afirmoram que os resíduos E14, V16, N17, Q20, R23, R24 do motivo 1, mais os resíduos K72 do motivo 2 interagiam com receptor da subunidade b da IL-3 [177], mostrando que o anticorpo mAb2C4F10 pode funcionar como inibidor da interações do GM-CSF com seus receptores e que os resíduos encontrados nos dois motivos são epítopos descontínuos da GM-CSF. Dois outros experimentos com o mAb 2C4F10 e os peptídeos selecionados foram realizados mas não forão mostrados nesta tese, por estarem em fase iniciais. Realizamos a Citrometria de Fluxo e ensaios de competição entre os peptídeos e o GM-CSF. O objetivo destes experimentos foi de comprovar a característica inibitória do anticorpo e local na proteína onde ele se liga. Por tudo isso, acreditamos que o PEPOP foi capaz de predizer peptídeos que mimetizam a região epitopica do GM-CSF. O anticorpo mAb2C4F10 atuaria como inibidor das interações do GM-CSF com seus receptores. Um artigo com estes resultados está sendo produzido. Página | 71 Ricardo Andrez Machado de Avila 5.3 - DNF Os acidentes causados por aranhas do gênero Loxosceles, também conhecidos como loxoscelismo, são responsáveis, não só pela maior incidência de casos de araneísmo, como também pelos casos mais graves no Brasil. Somente no ano de 2010 foram registrados 14.142 casos, sendo que quase a metade destes foi diagnosticada como causados por acidentes com aranhas do gênero Loxosceles. As principais espécies causadoras do loxoscelismo no Brasil são L. intermedia, L. gaucho e L. laeta, sendo a primeira responsável pela grande maioria dos acidentes [178]. A Figura 14 mostra uma espécie de Loxosceles intermédia, também conhecida como aranha marrom. Tamanho: entre 6 a 12 mm Figura 14: Fotografia da aranha marrom (Loxosceles intermedia) Fonte: foto retirada do site http://www.thefullwiki.org/Loxosceles Página | 72 Ricardo Andrez Machado de Avila As aranhas do gênero Loxosceles não são agressivas e a mordedura normalmente é indolor. [179]. O quadro clínico do loxoscelismo se apresenta sob duas formas, a cutânea e a viscero-cutânea. A forma cutânea é a menos grave e após algumas horas da mordedura ela pode se tornar dolorosa, com eritema e edema podendo evoluir para equimose, palidez e necrose. A viscerocutânea é a forma mais grave e é caracterizada por hemólise intravascular, coagulação disseminada e insuficiência renal aguda, podendo, inclusive, levar a óbito. [180]. Não existe um diagnóstico laboratorial eficaz e de baixo custo, assim como não há um tratamento específico para estes acidentes, já que o soro antiaracnídeo não é muito eficiente em neutralizar as atividades dermonecrótica e letal do veneno das espécies deste gênero, entre elas a Loxosceles intermedia. [181]. No entanto, sabe-se que as principais toxinas, responsáveis pela necrose, hemólise e letalidade nos acidentes envolvendo estas aranhas, são as esfingomielinases-D (SMASE-D). Algumas esfingomielinases-D, já foram descritas, entre elas a do veneno de Loxosceles intermedia, a LiD-1, também conhecida fator dermonecrótico, ou DNF [182]. Há uma necessidade urgente de desenvolver soros específicos contra L. intermedia que podem revelar-se muito mais eficientes do que o anti-soro polivalente. Anticorpos policlonais contra a DNF neutralizam a atividade dermonecrótica e os efeitos letais de todos os venenos do gênero Loxosceles, indicando que esta proteína é um bom candidato na produção de um antiveneno específico para ser usado no tratamento de acidentes com estas aranhas. No entanto, a imunização de animais para a produção do anti-veneno com a DNF tem um problema, já que esta toxina é muito tóxica ao animal que será imunizado [183]. Uma boa alternativa seria produzir um peptídeo a partir da região epitopica da DNF. O peptídeo não apresentaria toxicidade, podendo ser usado como imunógeno na produção do anti-veneno. Página | 73 Ricardo Andrez Machado de Avila Para encontrar estes peptídeos, empregamos mais uma vez a metodologia de busca por epítopos descontínuos pelo uso do programa de bioinformática PEPOP. Para tal, utilizamos a estrutura da DNF modelada por similaridade. Como estrutura molde, utilizamos a SMASE-D [184] do veneno de Loxosceles Laeta (1XX1. PDB, resolução de 1,75) que possui 60 % de identidade com a DNF. O modelo da DNF, visualizada na Figura 15, recebe a classificação no CATH como sendo da classe das Tim Barril do domínio Fosfatidilinositol fosfodiesterase (número do CATH: 3.20.20.190). O PEPOP propôs a partir de 57 segmentos acessíveis na estrutura, 456 peptídeos que foram sintetizados em uma membrana de celulose e testados pela técnica imunoquímica de SPOT para verificar a reatividade deles contra um anticorpo monoclonal anti-DNF. A Tabela 8 mostra estes 57 segmentos e sua posição na seqüência da DNF. A Figura 15 mostra os testes SPOT dos peptídeos sintetizados. Apenas um peptídeo (peptídeo chamado de 624) se mostrou reativos a este monoclonal LimAb7 produzido no laboratório Sysdiag, UMR3145 - CNRS/BioRad de acordo com Alvarenga, et.al., 2003 [128], como mostra a Figura 15A. Na Figura 15B, observamos que nenhum dos peptídeos foi reativo ao anticorpo secundário (anticorpo camundongo-peroxidase). Na Figura 15C, os peptídeos não foram reativos contra o anticorpo monoclonal anti-GM-CSF mAb 2C4F10. Estes resultados apresentados nas Figuras 15B e 15C comprovam a especificidade na ligação do peptídeo 624 com o LimAb7. Na Figura 15D, observa-se o resultado do teste do anticorpo LimAb7 contra a membrana contendo os peptídeos de GM-CSF. O resultado negativo da reatividade reforça a especificidade do LimAb7. Página | 74 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 8: Segmentos acessíveis identificado pelo PEPOP e sua posição no modelo da toxina DNF do veneno da aranha Loxoceles intermedia Segmento de referência Comprimento do segmento Seqüência Posição no arquivo PDB Segmento 1 4 AGNR 1 to 4 Segmento 2 2 IG 17 to 18 Segmento 3 2 DE 21 to 22 Segmento 4 3 NLG 25 to 27 Segmento 5 2 DD 38 to 39 Segmento 6 1 N 42 to 42 Segmento 7 2 EY 44 to 45 Segmento 8 2 YH 47 to 48 Segmento 9 8 IPCDCGRN 50 to 57 Segmento 10 5 KKYEN 59 to 63 Segmento 11 2 ND 65 to 66 Segmento 12 1 K 69 to 69 Segmento 13 1 R 72 to 72 Segmento 14 9 PGNSKYQEK 77 to 85 Segmento 15 1 K 94 to 94 Segmento 16 2 GS 96 to 97 Segmento 17 4 YDNQ 99 to 102 Segmento 18 2 ND 104 to 105 Segmento 19 2 KK 108 to 109 Segmento 20 2 KN 112 to 113 Segmento 21 2 QH 116 to 117 Segmento 22 5 NNGNN 120 to 124 Segmento 23 1 R 127 to 127 Segmento 24 2 PD 135 to 136 Segmento 25 1 N 138 to 138 Segmento 26 1 Y 140 to 140 Segmento 27 1 K 144 to 144 Segmento 28 2 KD 147 to 148 Segmento 29 4 TKDG 151 to 154 Segmento 30 2 PE 156 to 157 Segmento 31 3 MDK 159 to 161 Segmento 32 2 GN 168 to 169 Página | 75 Ricardo Andrez Machado de Avila 624 Figura 15: Membranas de celulose contendo os 456 peptídeos propostos pelo PEPOP para a toxina DNF do veneno da aranha Loxoceles intermedia. Em 15A o resultado do teste da membrana contra o anticorpo LimAb7.. Em 15B, o teste do conjugado. Em 15C a especidficidade dos peptídeos ao LimAb7 foi testada contra o anticorpo monoclonal anti-GM-CSF mAb 2C4F10. Em 15D, o resultado do teste do anticorpo LimAb7 contra a membrana A Figura 16 localiza o peptídeo 624 na estrutura 3D da DNF. Este peptídeo foi predito pelo método 10AR+sa do PEPOP. Este método é combinação de duas metodologias: 10AR‟ (Raio de 10Å) e „sa‟ (structural alphabet = alfabeto estrutural) descrita por Alexandre de Brevern [185]. A 10AR utiliza cada segmento selecionado por PEPOP e traça um raio imaginário de 10Å em torno dele, identificando todos os segmentos dentro deste raio. Em seguida, o „sa‟ constrói um peptídeo baseado nestes segmentos. Para isto, analisa a posição de cada um destes segmentos na estrutura 3D, adicionando caso julgue necessário o(s) aminoácido(s) que melhor se encaixaria entre estes segmentos de forma que o peptídeo final tenha a estrutura mais próxima da estrutura na proteína. O peptídeo 624 positivo ao LimAb7 é composto pelo segmento 34 (K177) mais o segmento 26 (Y140), mais segmento 25 (N138), mais Página | 76 Ricardo Andrez Machado de Avila segmento 24 (135P-D136) e mais segmento 32 (168G-N169). Entretanto o programa adicionou uma P entre os segmentos 24 e 32, para que todos os seus segmentos do peptídeo 624 tenham a mesma configuração estrutural que eles adotam na proteína DNF. Figura 16: Visualização do peptídeo 624 (KYNPDPGN) na estrutura 3D da DNF. O segmento 34 (K177) está em vermelho, o segmento 26 (Y140) está em amarelo, o segmento 25 (N138) está em laranja, o segmento 24 (135P-D136) esta em verde e o segmento 32 (168G-N169) está em azul. Estranhamente, os resíduos que compõem este peptídeo 624 na estrutura 3D estão distantes do sítio catalítico da proteína. O sítio catalítico da DNF é composto pelos aminoácidos H12, D91, D52, W 230, C233, e N252 [184] destacado em rosa na Figura 15 e na literatura não existem nenhuma informação quanto esta região reconhecida pelo anticorpo. Mesmo assim, a fim de conhecer melhor a interação de cada resíduo do peptídeo com o anticorpo Página | 77 Ricardo Andrez Machado de Avila LimAb7, utilizamos a técnica de ALA-SCAN para determinar os aminoácidos importantes nesta inteação antígeno-anticorpo. Entretanto, como mostra a Figura 17, agora todos os peptídeos foram não reativos ao anticorpo LimAb7, inclusive o peptídeo controle (peptídeo 624 re-sintetizado). Apesar de o mesmo peptídeo na da primeira membrana (membrana da Figura 15) continuar apresentando resultado positivo. A reatividade vista na primeira membrana descarta um possível problema de desnaturação do anticorpo. Então acreditamos que o problema esteja em uma das duas membranas, sendo necessário re-sintetiza-las. Assim, ate o presente o momento, não se pode afirmar se o peptídeo 456 é ou não um epítopo da LHF-II e sua sequencia e realmente a apresentanda nesta tese, ou seja, nossos resultados para esta toxina não são ainda conclusivos, sendo necessário refazermos alguns dos experimentos aqui mostrados. Figura 17: Resultado não reativo do Ala Scan do peptídeo K-Y-N-P-D-P-G-N Página | 78 Ricardo Andrez Machado de Avila 5.4- LHF-II A serpente Lachesis muta muta, também conhecida popularmente como surucucu (Figura 18), é o maior Crotalídeo brasileiro e uma das maiores cobras peçonhentas do mundo, podendo medir até 4,5m de comprimento. [186]. A surucucu possui um poderoso veneno com variadas atividades, como a hemorrágica, proteolítica e coagulante. A manifestação de dano tecidual no local da mordida, como a hemorragia, está entre os mais dramáticos e pronunciados efeitos do envenenamento por L. muta muta [187]. Na literatura há relatos de sangramento persistente nas marcas da mordida, sangramento do intestino. [187], equimose local [188], epistase e hematúria [189]. Figura 18 – Fotografia da serpente Lachesis muta muta. Fonte: http://rpg_ficcao.sites.uol.com.br/Bestiario/Jararaca.htm As toxinas hemorrágicas no veneno destes crotalídeos foram caracterizadas como sendo metaloproteinases ligadas a um íon zinco em seus sítios ativos [190]. O veneno da surucucu contém duas classes de metaloproteinases (Classe P-I, que apresenta somente domínio proteinase e classe P-III, apresentando um domínio proteinase, um domínio semelhante à Página | 79 Ricardo Andrez Machado de Avila desintegrina e um domínio rico em cisteína) e elas são diferenciadas pelos domínios que apresentam. Essas metaloproteinases são conhecidas como mutalisina-I (classe P-III) [191] e mutalisina-II (classe P-I) [124]. A mutalisina-II, também chamada de mut-II ou LHF-II (Lachesis hemorrhagic factor), é uma zinco-metaloproteinase de cadeia única, apresentando um mol de zinco e dois moles de cálcio por mol de proteína e 200 resíduos de aminoácidos, cuja extremidade N-terminal é bloqueada por um resíduo de glutamina ciclizada. A LHF-II apresenta uma massa molecular de 22,5 kDa, ausência de glicosilações e ponto isoelétrico de 6.6. Baseado em seu domínio estrutural, esta enzima está agrupada nas metaloproteinases de classe P-I, membro da família das reprolisinas de metzincinas [187, 192-193]. A LHF-II apresenta baixa atividade hemorrágica e alta atividade proteolítica sobre vários substratos, o que está de acordo com relatos das outras metaloproteinases de baixa massa molecular [187]. Testes in vivo e in vitro demonstraram que uma quantidade significante de LHF-II é necessária para induzir uma hemorragia evidente. [194]. Souza et.al 2001, viram que um anticorpo anti-LHF-II produzido em coelhos imunizados com LHF-II foi capaz de neutralizar a sua atividade proteolítica. Este mesmo anticorpo policlonal também foi capaz de neutralizar 50% da atividade proteolítica do veneno bruto de Lachesis muta muta, Trimeresurus flavoviridis, Bothrops alternatus e B. atrox, se tornando um terapêutico promissor no tratamento com acidentes destas serpentes. [195]. Já Estevão-Costa, et.al. 2000 produziram um anticorpo monoclonal em camundongos imunizados com veneno total de L. muta muta. Este anticorpo monoclonal, chamado de LmmAbB2D4, foi testado para avaliar a sua reatividade cruzada e capacidade de neutralizar a atividade hemorrágica de venenos de várias serpentes do gênero Bothrops. O LmmAbB2D4 não somente apresentou uma forte reação cruzada com os venenos de Bothrops alternatus, B. atrox, B. itapetiningae e L. muta. muta como também foi capaz de neutralizar a atividade hemorrágica da LHF-II e destes venenos. Este LmmAbB2D4, no entanto, não apresentou reatividade alguma com o veneno de Micrurus frontalis Página | 80 Ricardo Andrez Machado de Avila ou Crotalus durissus terrificus que, sabidamente, não apresentam atividade hemorrágica [127]. Entretanto, até o presente momento, o único tratamento específico recomendado pela Organização Mundial de Saúde para o envenenamento por serpentes é o uso do soro antiofídico [196]. Para isto, cavalos são imunizados com veneno total da serpente utilizando adjuvante de Freund (completo e incompleto) ou hidróxido de alumínio, em alguns casos. Os anticorpos do cavalo são parcialmente digeridos com pepsina e os fragmentos F(ab´)2 são purificados e usados como antivenenos. Este produto contém fragmentos F(ab´)2 irrelevantes, que requerem o uso de grandes quantidades de antivenenos para neutralizar os efeitos do veneno [197]. Portanto, seria vantajoso obter antígenos que consistam principalmente de epítopos específicos neutralizantes de modo a produzir soros mais específicos e mais eficientes [198]. Castanheira, 2006, verificou que LmmAbB2D4 contra a LHF-II se ligou a 19 peptídeos selecionados pela técnica de phage display. Ela seqüenciou estes peptídeos encontrando 17 seqüências de aminoácidos distintas, já que dois destes 19 peptídeos continham a mesma seqüência de aminoácidos. A Tabela 9 apresenta essas 19 seqüências peptídicas sendo dezessete peptídeos de doze aminoácidos. Os peptídeos 3 e 4 e os peptídeos 5 e 6 apresentam a mesma seqüência peptídica [199]. Estes peptídeos podem ser chamados de mimotopos da LHF-II. O termo mimotopo foi definido por Mario Geysen em 1985, como um peptídeo, grupos de aminoácidos o ou uma molécula que reconhece o mesmo paratopo de um anticorpo [123]. Estes 17 peptídeos foram sintetizados numa membrana de celulose e tiveram sua reatividade avaliada contra o anticorpo monoclonal LmmAbB2D4 pela metodologia imunoquímica de SPOT, como descrito no item 4.9. O resultado encontrado está apresentado na Figura 19. A reatividade foi medida de acordo com a intensidade de cor pelo programa ImageJ e valores acima de 100.000 pixels considerados positivos. Este limite de 100.000 pixels foi escolhido arbritariamente com intuito de selecionar os peptídeos mais reativos. Página | 81 Ricardo Andrez Machado de Avila Os peptídeos 4, 7, 8, 14 e 15 tiveram valores acima deste leitura e foram considerados reativos ao monoclonal LmmAbB2D4, eles estão destacados em azul na Figura 19. Tabela 9 Mimotopos da toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta selecionados por Phage Display Números Seqüência de mimotopos 1 SCQLEGSRLRSP 2 QCKLEGSRLRCV 3 QCALEGARIRCS 4 QCALEGARIRCS 5 QCTMDQGRLRCR 6 QCTMDQGLRLCR 7 GCITEQGRSRCI 8 SCKLEGSRLRCP 9 TCATDQGRLRCT 10 HCFHDQGRVRCA 11 TCEMTQGRLRCV 12 ACRSDQGRARCT 13 NCTLEGTRFRCS 14 RCKPDQGRLRCG 15 SCMKDPSSPRCL 16 HCTMDQGRLRCR 17 SCMLDQGRSRCR 18 TCRQTLTPAVCH 19 QCQEDQGRRRCS Página | 82 Ricardo Andrez Machado de Avila Intensidade dos SPOT’s Posição no SPOT Q K A T I K A F E R T K M T M R Q L L L M T L T H M S L P K M L Q E E E E D E E D D T D E D D D D T D G G G Q Q G Q Q Q Q G Q P Q Q L Q S S A G G S G G G G T G S G G T G R R R R R R R R R R R R S R R P R L L I L S L L V L A F L P L S A R R R R R R R R R R R R R R R R V R C C C C C C C C C C C C C C C C C P V S R I P T A V T S G L R R H S 42,128 61,152 88,158 134,543 30,945 67,817 111,640 108,902 83,957 68,957 97,268 57,628 38,091 ** C C C C C C C C C C C C C C C C C * S Q Q Q G S T H T A N R S H S T Q Membrana ** 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0 11 12 13 14 15 16 17 Seqüências 153,384 150,976 48,695 38,128 Figura 19: Membrana de SPOT dos 17 mimotopos da toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta selecionado por Phage Display. Em azul estão os peptídeos reativos ao monoclonal LmmAbB2D4. As intensidades dos SPOT‟s foram calculada pelo programa ImageJ. Figura 18: Membrana de SPOT dos mimotopos selecionado por Phage Display. Em azul estão os peptídeos reativos ao monoclonal Estes peptídeos não apresentam similaridades LmmAbB2D4 com a seqüência primária da LHF-II, entretanto eles se ligaram ao anticorpo monoclonal LmmAbB2D4 mimetizando a região de epítopos da proteína. Desta forma, utilizamos o programa de bioinformática MIMOP [139], para visualizarmos a região na proteína que estes peptídeos estão mimetizando. MIMOP é um programa que a partir da seqüência e estrutura 3D da proteína, analisa, por duas metodologias diferentes, os mimotopos (em nosso caso, os peptídeos selecionado por Phage Display), encontrando regiões de consensos entre eles. Estes consensos são então examinados na estrutura 3D da proteína (LHF-II) encontrando, assim, os resíduos na proteína que foram mimetizados pelos mimotopos. Assim, para as 17 seqüências de mimotopos, o programa MIMOP encontrou 38 resíduos da LHF-II que possivelmente mimetizam a região de Página | 83 Ricardo Andrez Machado de Avila epítopo da proteína. Estes resíduos podem ser vistos na Figura 20A. Da mesma forma, utilizando somente os 5 mimotopos que foram reativos ao LmmAbB2D4 pela técnica de SPOT, o programa selecionou 40 resíduos que podem está mimetizando a região epitopica da LHF-II. Estes resíduos estão destacados na Figura 20B. Combinando os dois resultados, temos então, 48 resíduos que podem estar mimetizando a região epitopica da LHF-II, estes resíduos são destacados na Figura 20C. Duas regiões, destacadas dentro dos retângulos na Figura 20.C tiveram alta taxa de resíduos selecionados pelo MIMOP sendo indicadas como possíveis regiões mimetizadas pelos peptídeos. 20A FSQKYIELVVVADHGMFTKYNGNLNTIRTRVHEIVNTLNGFYRSLNILISLTDLEI WSNQDLINVQSAANDTLKTFGEWRERVLLNRISHDNAQLLTAIDLADNTIGIAYTG GMCYPKNSVGIVQDHSPKTLLIAVTMAHELGHNLGMKHDENHCHCSASFCIMPPSI SEGPSYEFSDCSKDYYQMFLTKRKPQCILNK 20B FSQKYIELVVVADHGMFTKYNGNLNTIRTRVHEIVNTLNGFYRSLNILISLTDLEI WSNQDLINVQSAANDTLKTFGEWRERVLLNRISHDNAQLLTAIDLADNTIGIAYTG GMCYPKNSVGIVQDHSPKTLLIAVTMAHELGHNLGMKHDENHCHCSASFCIMPPSI SEGPSYEFSDCSKDYYQMFLTKRKPQCILNKP 20C FSQKYIELVVVADHGMFTKYNGNLNTIRTRVHEIVNTLNGFYRSLNILISLTDLEI WSNQDLINVQSAANDTLKTFGEWRERVLLNRISHDNAQLLTAIDLADNTIGIAYTG GMCYPKNSVGIVQDHSPKTLLIAVTMAHELGHNLGMKHDENHCHCSASFCIMPPSI SEGPSYEFSDCSKDYYQMFLTKRKPQCILNKP Figura 20: Possíveis resíduos da LHF-II que são mimetizados pelos mimotopos do veneno da serpente Lachesis muta muta selecionados por Phage Display. 20A estão destacados os 38 residuos indicados por MIMOP a partir 17 das sequencias selecionadas. Em 20B estão os resíduos identificados pelo MIMOP para 5 peptídeos reativos por SPOT. Em 20C estão em destaques os resíduos da combinação nos dois casos. Dentro dos retângulos, duas possíveis regiões de epítopos que podem ter sido mimetizadas. Página | 84 Ricardo Andrez Machado de Avila Para visualizar estes resíduos na estrutura da LHF-II utilizou-se a técnica de modelagem de proteínas por homologia. A proteína com a estrutura resolvida que apresentou maior similaridade em bancos utilizando o programa BLAST foi a Atrolisina C (69% de identidade), sendo então utilizada como molde. A Atrolisina C também é uma metaloproteinase das famílias das reprolisin-like do veneno da espécie Crotalus atrox [200]. Assim, a partir dos dados de cristalografia de raios-X da Atrolisina C (1ATL.PDB, resolução: 1,80), construiu-se o modelo molecular tridimensional da LHF-II utilizando os programas SwissModel [129-131] para etapa de modelagem, ANOLEA [132] e Verify 3D [130] para validação do modelo e SwissPDBViewer [76] para visualizar o modeloA Figura 20 apresenta a estrutura 3D da LHF-II modelada. Ela contêm 5 alfa-hélices e 6 folhas-beta e está classificada pelo CATH [134] como pertencente à classe das Alfas-Betas no domínio catalítico 3-layer(aba) sandwich. (numero do CATH: 3.40.390). Na Figura 21, estão destacados todos os 48 resíduos selecionados pela combinação dos dois resultados do MIMOP. Em azul, observa-se os resíduos próximos da região N-terminal, destacados no retângulo azul da Figura 20C e em verde observa-se resíduos próximos da C-terminal, destacados no retângulo verde da Figura 20C. Os demais resíduos selecionados por MIMOP estão destacados em azul-claro. Em 2006, Ferreira et.al. encontraram três epítopos lineares para LHF-II, em ensaios utilizando anticorpos policlonais de coelho. Um destes epítopos é formado pelos resíduos 10 V-V-A-D-H-G-M-F-T-K- Y-N21 [158]. Os resíduos marcados em azul na Figura 21 e destacados no retângulo da Figura 20C contêm oito (14H-G-M-F-T-K-Y-N21) dos doze resíduos afirmados por Ferreira et.al., 2006 como epítopos. Desta forma, em uma análise preliminar, poderíamos supor que os resíduos sintetizados por Phage Display estariam mimetizando esta região da LHF-II. Página | 85 Ricardo Andrez Machado de Avila Figura 21: Estrutura da LHF-II modelada a partir da Atrolisina C (1ATL.pdb). Em azul escuro estão os resíduos próximos a região N-Terminal e em verde os resíduos próximos da região C-Terminal, destacados nos retângulos da Figura 20C. Em azul claro estão os demais resíduos selecionados. Na Figura 22 testamos a reatividade do anticorpo LmmAbB2D4 contra 63 peptídeos referentes a seqüências linear da LHF-II. Estes peptídeos foram construídos com um tamanho de 15 aminoácidos cada, seguindo a seqüência linear da proteína e sobrepondo de 3 em 3 aminoácidos em cada peptídeo até que toda a proteína tenha sido percorrida. Como pode ser visto pela Figura 22, o anticorpo LmmAbB2D4 não reconheceu nenhum peptídeo da seqüência linear. Estes dados indicam que o epítopo para a interação deste anticorpo com Página | 86 Ricardo Andrez Machado de Avila a LHF-II é descontínuo já que nenhuma região continua foi reconhecida na membrana. x x x Figura 22: Membrana Linear da LHF-II testada com o anticorpo LmmAbB2D4 De posse dessas informações, utilizamos a técnica de Síntese Química de Peptídeos descrita no item 4.10, para sintetizar o peptídeo indicado no retângulo azul da Figura 20C predito por MIMOP. Os resíduos G15, Y20, G22, I27, V31 que não foram selecionados pelo MIMOP mas estavam dentro da seqüência, sendo então substituído por alaninas. Como sabemos que esta região não é reconhecida linearmente pelo anticorpo LmmAbB2D4, ou seja o epítopo é descontinuo. Assim, a presença destes resíduos nos peptídeos devem interferir de forma perturbadora na reação com o LmmAbB2D4. Portanto a substituição destes resíduos por alaninas seria uma alternativa para tentar evitar estas perturbações. A alanina é um aminoácido não muito reativo devido ao grupo metila na sua cadeia lateral, e também não tão flexivel quanto a glicina, servindo como um ótimo espaçador para os resíduos preditos. Este peptídeo foi chamado de peptídeo 8, como pode ser visto na Tabela 10. Além deste peptídeo, outros sete peptídeos foram também sintetizados, com intuito de testá-los, junto com o peptídeo 8, a capacidade de neutralizar o veneno das serpente Lachesis muta muta. Os cinco primeiros peptídeos (peptídeos de 1 a 5) da Tabela 10 são os peptídeos selecionados por Phage Display e que foram positivos na membrana de SPOT estão destacados em azul na Figura 19. Os peptídeos 6 e 7 são peptídeos preditos a partir do programa STING Millennium. Para isto, de posse do modelo da LHF-II no formato TGZ e utilizando o modulo do Java Protein Dossier do STING Millennium, selecionou-se um grupo de parâmetros físico-químicos que Página | 87 Ricardo Andrez Machado de Avila serviriam para identificar os resíduos pertencentes ao epítopos da LHF-II. Estes parâmetros foram selecionados a partir de características que julgamos importante e/ou que outros programas vêm utilizando. Desta forma os parâmetros utilizados foram: acessibilidade, energia de contato não utilizada e hidrofilicidade. [201] [202]. Tabela 10: Dados dos peptídeos da LHF-II do veneno da Lachesis muta muta sintetizados pela técnica de Sínteses Química de Peptídeo Número Massa Peptídeo Seqüência do Peptídeo Método Predito de aa (Da) 1 TCATDQGRLRCT 6 PKLAGPSFSA 10 974,12 PHAGE Peptídeo PHAGE peptídeo PHAGE peptídeo PHAGE peptídeo PHAGE peptídeo STING 2 HCFHDQGRVRCA 7 PYCQCLNKPYL 11 1341,61 STING 8 HAMFTKANANLNTARTRAH 19 2259,57 MIMOP 3 4 5 HCTMDQGRLRCR QCTMDQGRLRCR SCMLDQGRSRCR 12 12 12 12 12 1324,49 1428,61 1475,72 1466,71 1411,63 7 8 13 4 14 O parâmetro “acessibilidade” foi utilizado para selecionar os resíduos que estão expostos na proteína, já que é uma característica dos epítopos, estarem sempre expostos na proteína para que ocorra interação com o anticorpo. Assim, o programa seleciona resíduos que apresentem um alto valor de acessibilidade na proteína. O parâmetro “energia de contato não utilizado” foi utilizado para selecionar apenas os resíduos que possuam alta energia de contato livre, ou seja, aqueles resíduos que possuam um alto valor de energia de contato e que esta não esteja sendo utilizada em contatos com outros resíduos internos da proteína, induzindo assim a supor que esta energia esteja sendo gasta com resíduos externos da proteína (entre outros, resíduos dos Página | 88 Ricardo Andrez Machado de Avila anticorpos). O terceiro parâmetro utilizado foi o de “hidrofilicidade”. Este parâmetro já vem sendo amplamente utilizados em algoritmos para prever quais os resíduos de aminoácidos são antigênicas. [201]. Desta maneira, selecionamos apenas resíduos com um valor de alta hidrofilicidade. Dezesseis resíduos foram então selecionados pelo STING a partir da combinação destes parâmetros, são eles: L24, L48, L62, D88, A102, C115, P117, P129, A139, A159, P166, P172, M186, C195, L197, P200. Estes resíduos estão visualizados na estrutura 3D da LHF-II com a coloração verde (Figuras 23A e 23B). Duas regiões apresentaram-se destacadas, como mostra os círculos das Figuras 23A e 23B, como duas possíveis regiões de epítopos descontínuos. Com intuito de confirmar se elas são realmente epítopos descontínuos, propusemos sintetizar dois peptídeos relacionados a cada uma destas regiões e testar sua imunogenicidade. Para projetar os dois peptídeos a serem sintetizados, utilizamos a estrutura 3D da LHF, para analisar manualmente cada uma destas regiões. A construção dos peptídeos se baseou em ligar os resíduos em verde, selecionado pelo STING, utilizando dos resíduos adjacente superficialmente, destacado em vermelho para a primeira região e amarelo para a segunda. Para ligarmos, adicionamos os aminoácidos visíveis espacialmente entre eles na estrutura 3D. Assim o peptídeo 6 da Tabela 10, mostrado na Figura 23A foi formado pelos resíduos em verde, A139, A159, P129, P172, propostos pelo STING, mais os resíduos em vermelho K 130, L132, G143, S160, E161, S173, utilizados como resíduos-ligantes, obtendo assim o peptídeo P129-K130-L132-A139-G143-P172-S173-F161-S160-A159 de 10 aminoácidos. Da mesma forma o peptídeo 7 da Tabela 10, mostrado na Figura 23B, foi formado pelos resíduos em verde L48, C115, P117, C195, L197, P200 selecionados pelo STING, com o acréscimo dos resíduos em amarelos Y5, Y114, Q194, N198, K199, utilizados como resíduos-ligantes, obtendo então o peptídeo de 11 aminoácidos P117Y114-C115-Q194-C195-L197-N198-K199-P200-Y5-L48. Página | 89 Ricardo Andrez Machado de Avila M186 Y5 P200 K199 A159 F161 S160 S173 P172 G143 A139 L132 K130 P129 P129 K130 L132 A139 G143 P172 S173 F161 S160 A159 L24 L62 I88 K130 L132 Y5 P172 S173 S160 A159 P200 K199 N198 C195 L48 L197 P117 C115 Y114 Q194 P117 Y114 C115 Q194 C195 L 197 N198 K199 P200 Y5 L48 M186 Figura 23: Visualização dos resíduos selecionados pelo STING Millennium como epítopos da LHF-II, toxina do veneno de Lachesis muta muta. Em verde estão os resíduos selecionados pelo STING. Dentro dos círculos estão as duas regiões escolhidas como epitopicas. Em 23A, dentro do circulo vermelho estão os resíduos selecionados para formar o peptídeo 6. Em vermelho os resíduos utilizados como ligantes. Em 23B, dentro do circulo amarelo estão os resíduos utilizados para formar o peptídeo 7, em amarelo, os resíduos utilizado como ligante. Estes oito peptídeos foram sintetizados, e tiveram sua massa confirmada por espectrometria de massa (MALDI-TOF-TOF). Após verificação de sua massa, utilizamos esses peptídeos para imunizações de 8 coelhos. As imunizações dos coelhos desta vez foram feitas com auxílio de lipossomas, como descrito no item 4.14. Os lipossomas são sistemas de transporte compostos por substâncias relativamente biocompatíveis e biodegradáveis e consistem de uma ou mais bicamadas lipídicas. Tais partículas são consideradas uma excelente forma de sistema de liberação controlada de substâncias biologicamente ativas ou medicamentos. [203]. Assim, acoplar peptídeos aos lipossomas é uma forma eficiente para liberar de maneira gradativa estes peptídeos no organismo. Esta liberação gradativa seria essencial para aumentar o tempo de vida do peptídeo o que proporcionaria ao sistema imunológico mais tempo para a produção anticorpos contra estes peptídeos [204]. Como controle desta imunização, um nono coelho foi imunizado somente com o lipossoma, sem o acoplamento de algum peptídeo. Página | 90 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 14: Esquema de sangria e imunização dos coelhos com os peptídeos sintetizados da LHF-II do veneno Lachesis muta muta Dia Dose Imunização 0 ---- ---- 1ª (pré-imune) 1 100 g de peptídeo 1ª ---- 14 100 g de peptídeo 2ª ---- 28 100 g de peptídeo 3ª ---- 42 100 g de peptídeo 4ª ---- 56 100 g de peptídeo 5ª ---- 70 100 g de peptídeo 6ª ---- 84 100 g de peptídeo 7ª ---- 98 100 g de peptídeo 8ª ---- 105 ---- ---- 2ª Sangria Desta forma foram imunizados oito coelhos de acordo com o item 4.10 Cada coelho foi imunizado com um peptídeo acoplado ao lipossoma. Um coelho recebeu apenas o lipossoma vazio como controle. Além disto, antes do início do protocolo de imunizações, estes coelhos foram sangrados para se obter o soro pré-imune. Ao total foram realizadas oito imunizações cada uma contendo 100 g de peptídeos e em intervalos de 14 dias, como mostra a Tabela 11. Sete dias após a última imunização os coelhos foram sangrados e seus soros foram obtidos através de centrifugação a 3000 rpm . Vimos até aqui que estes peptídeos são reativos ao anticorpo monoclonal anti-veneno total de Lachesis muta muta (LmmAbB2D4) pela técnica de SPOT e sabemos que o LmmAbB2D4 é neutralizante do efeito hemorrágico do veneno de Lachesis muta muta [127]. Então, realizamos um ensaio hemorrágico, como descrito no item 4.15, para verificar se estes peptídeos seriam também capazes de produzir anticorpos que neutralizassem o veneno de Lachesis. Deste modo, 30 dias após a última imunização injetamos nos coelhos, 20ug de veneno de Lacheis muta muta e após 24 Página | 91 Ricardo Andrez Machado de Avila horas sacrificamos os coelhos, retirando o dorso para analisarmos as lesões hemorrágicas provocadas pelo veneno. A Figura 24 mostra o lado visceral das peles removidas do dorso dos 9 coelhos. O coelho controle, que recebeu apenas o lipossoma sem peptídeos em suas imunizações, foi o que apresentou uma lesão hemorrágica maior. Em contrapartida, os coelhos imunizados com os peptídeos 1, 4, 5 e 7 não apresentaram qualquer sinal de hemorragias, indicando, assim, que as imunizações foram eficientes para a produção de anticorpos neutralizantes dos efeitos hemorrágicos do veneno de L. muta muta. Os coelhos imunizados com os peptídeos 2 e 6 apresentaram lesões menores em comparação com a lesão do coelho controle, indicando que estes peptídeos protegeram parcialmente o efeito hemorrágico do veneno. Os coelhos imunizados com os peptídeos 3 e 8 apesar de apresentaram lesões hemorragias menores que as do controle, os tamanhos destas lesões eram bem maiores que nos demais coelhos, indicando que estes peptídeos não foram capazes de produzir anticorpos que neutralize completamente o efeito hemorrágico deste veneno. Pept 1 Pept 2 Pept 3 Pept 4 Pept 5 Pept 6 Pept 7 Pept 8 Controle Figura 24: Ensaio Hemorrágico no dorso dos coelhos imunizados com os oito peptídeos sintetizados da LHF-II do veneno Lachesis muta muta Página | 92 Ricardo Andrez Machado de Avila Com a exceção do peptídeo 3, os outros cinco peptídeos selecionados por phage display ( peptídeos 1, 2, 4 e 5) foram capazes de produzir anticorpos neutralizantes do veneno. Estes resultados eram esperados, já que eles foram selecionados a partir da sua reatividade com o anticorpo monoclonal neutralizante LmmAbB2D4. Contudo o peptídeo 8, que foi selecionado pelo MIMOP como sendo a possível região mimetizada por este cinco peptídeos não se apresentou neutralizante do veneno. Deste modo, acreditamos que este peptídeo não foi mimetizado pelos cinco peptídeos selecionados por phage display. Assim, resta-nos testar o outro peptídeo indicado pelo MIMOP. Os dois peptídeos desenhados a partir das análises in silico pelo STING mostraram ser neutralizantes do veneno, sendo que o peptídeo 7 se mostrou completamente neutralizante. Estes dados sugerem que os parâmetros acessibilidade, energia de contato não utilizada e hidrofilicidade e a forma como o peptídeo foi desenhado são suficientes para encontrar epítopos descontínuos em uma proteína. Tais informações apresentam-se como facilitadores para a escolha dos parâmetros ideais nas predições de epítopos descontínuos, já que atualmente não existe um consenso na identificação dos parâmetros necessários para estas predições. Cada programa de bioinformática utiliza de um grupo de parâmetros diferentes, variando entre hidrofilicidade, antigenicidade, flexibilidade, acessibilidade, aminoácidos considerados como especiais nas interações com o anticorpos, mobilidade segmental. Assim, a escolha do parâmetro ideal faz com que a previsão destes epítopos varie em sua precisão (hoje em dias os programas tem uma faixa de acerto que varia entre 35-75%) [152]. A pouca capacidade de induzir a produção de anticorpos neutralizantes do peptídeo 3 pode ser atribuída a um possível erro no acoplamento dele ao lipossoma. Mas também não descartamos a possibilidade da presença da Histidina na sua porção N-Terminal inibir indiretamente a produção destes anticorpos. Este peptídeo 3 apresenta apenas uma Histidina no lugar de uma Glutamina na porção N-terminal quando comparado com o peptídeo 4. Desta forma, a característica básica desta Histidina pode ter influenciando de alguma Página | 93 Ricardo Andrez Machado de Avila forma na interação do peptídeo com o Lipossoma e assim menos peptídeo seria liberado durante as imunizaçõe, acarretando na produção de menos anticorpos e na baixa capacidade neutralizante deles contra o veneno de Lachesis. De qualquer forma, para uma conclusão melhor, será necessário refazer este protocolo de ligação do peptídeo ao lipossoma, sendo que talvez neste ponto, acrescentemos experimentos controles, para confirmar esta ligação e para depois refazermos o teste de neutralização. Estes resultados fazem parte do artigo: “Mimotopes selected a neutralizing mAb against mutalysin-II from Lachesis muta snake venom induce hemorrhage inhibitory antibodies in rabbits upon vaccination” sob a autoria de R. A. Machado de Avila, S. Stransky, M. O. Velloso, P. Castanheira, F.S. Schneider, C. Nguyen, F. Molina, E. Sanchez, C. Granier, C. Chávez-Olórtegui, submetido à revista Peptides e disponível no anexo VI. Adicionamente, com intuito de verificar se o programa PEPOP também poderia ser capaz de predizer epítopos descontínuos para a LHF-II, realizamos o mesmo estudo já mostrado para as proteínas AaH-II, DNF e GM-CSF. Desta forma o PEPOP encontrou 40 segmentos como estando acessíveis na superfície da LHF-II. Estes segmentos e sua posição na seqüência primária da LHF-II estão mostrados na Tabela 12. Estes segmentos foram então combinados pelo PEPOP resultando em 608 peptídeos que foram sintetizados em uma membrana de SPOT para terem sua reatividade testada contra o anticorpo monoclonal LmmAbB2D4. Vinte e dois peptídeos foram reativos ao LmmAbB2D4. Destes, 7 apresentaram forte reatividade e 15, reatividade mais fraca. Eles podem ser visualizados juntos com os segmentos que os compõem na Figura 25 estando em preto os sete peptídeos de forte reatividade. Já os segmentos dos quinze peptídeos com a reatividade mais fraca estão marcados com a coloração cinza. É nítido um conjunto de segmentos que se mostrou presente nos peptídeos reativos, como pode ser visto dentro do retângulo vermelho da Figura 35, Este conjunto é formado principalmente pelos segmentos 37 e 38. Página | 94 Ricardo Andrez Machado de Avila Tabela 12: Dados dos segmentos acessíveis identificado pelo PEPOP e sua posição na LHF-II, toxina do veneno da serpente Lachesis muta muta Segmento de referência Comprimento do segmento (aa) Seqüência Posição na seqüencia segmento 1 segmento 2 segmento 3 segmento 4 segmento 5 segmento 6 segmento 7 segmento 8 segmento 9 segmento 10 segmento 11 segmento 12 segmento 13 segmento 14 segmento 15 segmento 16 segmento 17 segmento 18 segmento 19 segmento 20 segmento 21 segmento 22 segmento 23 segmento 24 segmento 25 segmento 26 segmento 27 segmento 28 segmento 29 segmento 30 segmento 31 segmento 32 segmento 33 segmento 34 segmento 35 segmento 36 segmento 37 segmento 38 segmento 39 segmento 40 3 1 1 10 3 2 2 1 2 1 1 4 1 5 4 2 2 1 3 5 3 5 1 2 5 1 4 2 3 4 1 5 2 1 2 3 2 5 2 4 QKY E H FTKYNGNLNT RTR HE NT N RS N L SLTD E SNQDL NVQS ND KT E ERV LNRIS AID ADNTI I YT CYPKN H PKTL KH ENH HCSA F PSISE PS E DC KDY QM LTKRK QC LNKP 3-5 7 14 17-26 28-30 32-33 36-37 39 43-44 46 48 50-53 55 58-62 64-67 70-71 74-75 78 81-83 85-89 98-100 102-106 108 110-111 115-119 127 129-132 149-150 152-154 156-159 161 166-170 172-173 175 178-179 181-183 185-186 188-192 194-195 197-200 Página | 95 Ricardo Andrez Machado de Avila Segmentos QKYLNKP QMAALTKRK SYPKNKT LKRKTMQ LTKRKAAQS QMAALTKRKAAQS K18 L5 I7 C6 D15 L6 QMTKRKL LTKRKTQS D22 L14 LTKRKQM D21 QMLTKRKTQS LTKRKQS D18 L13 LTKRKMQ D17 QMKRKTL SQLTKRK I2 L9 SDKDYMQLTKRK QMLTKRK L10 I1 KDYSQMSLTKRK A18 QMLTKRKQS HERTRPKTL O23 L11 QMSLTKRK L7 A17 KDYAAMQAALTKR K KDYAAQMAALTKR K A16 número do spot seqüência peptídeos 1 QKY 2E 3H 4 FTKYNGNLNT 5 RTR 6 HE 7 NT 8N 9 RS 10 N 11 L 12 SLTD 13 E 14 SNQDL 15 NVQS 16 ND 17 KT 18 E 19 ERV 20 LNRIS 21 AID 22 ADNTI 23 I 24 YT 25 CYPKN 26 H 27 PKTL 28 KH 29 ENH 30 HCSA 31 F 32 PSISE 33 PS 34 E 35 DC 36 KDY 37 QM 38 LTKRK 39 QC 40 LNKP Figura 25: Composição dos peptídeos toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta reativos ao anticorpo monoclonal LmmAbB2D4. Em preto estão marcados os segmentos relativos aos peptideo de forte reatividade. Em cinza estão os segmentos de reatividade mais fraca. O retângulo vermelho marca os dois segmentos que tiveram maior reatividade. Uma análise mais detalhada destes segmentos que compõem os peptídeos reativos pode ser visto na Figura 26. Observa-se que os segmentos 185 Q-M186 e majoritariamente o segmento 38, 37, composto pelos resíduos compostos pelos resíduos 188 L-T-K-R-K192 estão presentes em praticamente todos os peptídeos reativos. O segmento 38 só não se faz presente em três dos peptídeos, como se pode ser visto na Figura 26. Página | 96 Ricardo Andrez Machado de Avila 22 20 18 Número de predições 16 14 12 10 8 6 4 2 QKY E H FTKYNGNLNT RTR HE NT N RS N L SLTD E SNQDL NVQS ND KT E ERV LNRIS AID ADNTI I YT CYPKN H PKTL KH ENH HCSA F PSISE PS E DC KDY QM LTKRK QC LNKP 0 Segmentos Figura 26: Freqüência de reatividade de cada segmento da toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta predito pelo PEPOP Estes dois segmentos estão localizados no final da alfa-hélice na região C-Terminal da LHF-II como pode ser visto na Figura 27. Na cor verde estão o segmento 38 (188L-T-K-R-K192) e na cor rosa o segmento 37 (185Q-M1860). Esta região é a mesma proposta pelo MIMOP que não foi sintetizada e que acreditamos ser a região onde os cinco peptídeos selecionados por phage display foram mimetizados. Ainda analisando estes aminoácidos, vimos certas similaridade com os resíduos dos peptídeos selecionados por phage display, principalmente na característica básica de seus aminoácidos. Um exemplo é o peptídeo 4 que contêm em sua seqüência os resíduo “Q”, “M” e “T” alem de sua poção C-terminal ser composta pelos resíduos “R-L-R-C-R” bem parecidos em termos de cargas com o segmento 38 (L-T-K-R-K). Tanjoni et.al. 2003, relataram a ligação de um anticorpo monoclonal com o domínio das disintegrin-like da toxina jararhagin, uma metaloproteinase de classe-PIII e que neutralizou totalmente a atividade hemorrágica da toxina. Eles supuseram que o mecanismo de neutralização deste efeito hemorrágico se deve graças ao anticorpo monoclonal se ligar no domínio da disistegrin-like, Página | 97 Ricardo Andrez Machado de Avila localizado na porção C-terminal da toxina. A proximidade deste domínio com o sítio catalítico da proteína provavelmente impediu estericamente a interação do sítio com o substrato e desta forma neutralizando-o. [205] Então, o também reconhecimento da porção C-terminal da LHF-II pelo LmmAbB2D4 nos leva a supor um mecanismo de inibidor alostérico parecido ao da jararhagin, onde a ligação do anticorpo na porção C-terminal da LHF-II provoca a uma blindagem estérica do sítio catalítico da toxina, impedindo sua ligação com o substrato e desta forma a inibindo a produção do efeito hemorrágico da toxina. Figura 27: Visualização dos segmentos mais reativos para o monoclonal LmmAbB2D4 a partir dos resultados obtidos pela predição do PEPOP na estrutura da toxina LHF-II do veneno da serpente Lachesis muta muta. Em rosa estão o resíduos do segmento 37 (185QM1860) e em verde os resíduos (188L-T-K-R-K192) do segmentos 38 que apresentaram maior taxa de incidência nas composição dos peptídeos reativos. Página | 98 Ricardo Andrez Machado de Avila 5.5- Caracterizações bioquímicas dos epítopos/mimotopos identificados Analisando todos os peptídeos preditos e identificados como mimotopos de AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II observamos que o ponto isoelétrico de praticamente todos é acima de 9,0, como mostra a Figura 28. Foram 76 peptídeos reativos, destes, apenas nove peptídeos possuem pI abaixo de 7, representando 12 % dos peptídeos reativos, como pode ser visto em vermelho na Figura 29. Destes nove peptídeos, oito são peptídeos da GM-CSF e sete são de baixa reatividade com os anticorpos monoclonais. Estes oito peptídeos ainda encontravam-se no primeiro domínio da GM-CSF, sendo posteriomente verificado R23 e R24, os essenciais a ligação com mAB2C4F10. O nono peptídeo de baixo pI é o único peptídeo identificado como reativo ao monoclonal LimAb7 para a DNF. Entretanto como já mencionado estes experimentos precisam ser refeitos e resta ainda a dúvida que este peptídeo é ou não reativo. Os outros 88 % corresponderam aos peptídeos com pI acima de 7, sendo que 76 % possuiram um pI acima de 9, como mostra a Figura 29. O caráter básico destes peptídeos mostra que esta é uma variável importante na determinação dos epítopos. Esta basicidade é ocasionada principalmente pela presença dos resíduos de lisinas, argininas e histidinas. Estes aminoácidos possuem uma capacidade parra realizar ligações de hidrogênios e as presenças das cargas positivas favorecem a ligação com regiões carregadas negativamente nos anticorpos. Além disto, vimos que a presença da Arg 23 e Arg 24 ou da Lys 72 ou Lys 74 nos peptídeos da GM-CSF são essenciais nas ligações com anticorpo anti-GM-CSF. Da mesma forma, vimos que os peptídeos reativos ao monoclonal anti-Lachesis muta muta, eram ricos em lisinas e argininas. Página | 99 Ricardo Andrez Machado de Avila AaH-II PEPOP Fraco forte reatividade GM-CSF PEPOP Forte reatividade GM-CSF PEPOP Fraca reatividade LHF-II PHAGE LHF-II LHF-II PEPOP Forte STING reatividade LHF-II PEPOP Fraca reatividade QMTKRKL QMLTKRKTQS QMKRKTL QMAALTKRKAAQS LTKRKAAQS LKRKTMQ SYPKNKT QMAALTKRK QKYLNKP LTKRKTQS LTKRKQM LTKRKQS LTKRKMQ SQLTKRK SDKDYMQLTKRK QMLTKRKQS QMLTKRK KDYSQMSLTKRK HERTRPKTL QMSLTKRK KDYAAQMAALTKRK KDYAAMQAALTKRK PYCQCLNKPYL PKLAGPSFSA SCMLDQGRSRCR QCTMDQGRLRCR HCTMDQGRLRCR HCFHDQGRVRCA TCATDQGRLRCT KYNPDPGN SAKQHAAPP TMASAKQH KGATMAS RDTAAEMNETPRGSTK RDTAAEMNETAAARGSAATK RDTAAEMNETRGSTK QEAARRANL WEAAVNAQEAARR WEVNQERR TKAAKGAAAKQAAEAAQTAAT KGTMSKQHPP TKAAKGATMASAKQH TKKGTMSKQH RGSAATKAAKGATMAS WEVNQERRNL RSPSPSTQAAWE KQAAATKAAKGATM KQTKKGTM KQQGRGSTKKG KQAARGSAATKAAKG KQRGSTKKG EPQEKQTKKG EAAAEAAKQAAATKAAKG EEKQTKKG TGQQTEKQTKKG TAAQTAEAAKQAAATKAAKG TQTEKQTKKG KQQGRGSTKKGTM KQAARGSAATKAAKGATM KQRGSTKKGTM EKQQGRGSTKKG EAAKQAARGSAATKAAKG EKQRGSTKKG TKKGKQEQTQFT TKKGKQEQTT RSPSPSTQAAWEAAVNAQEAARR RSPSPSTQWEVNQERR RGSTKKGTMS EPQEKQQGRGSTKKG EAAAEAAKQAARGSAATKAAKG EEKQRGSTKKG WEAAVNAQEAARRANL PGRSHPYGNQWA PGRSHAAAPYGNAAQWA YAAQWAAAPYGNAAGRNAY QWAAAPYGNAAGRNAY 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 pI Figura 28: 28:PIo Ponto dos 76 Isoelétrico peptídeos dos reativos 76 aos peptídeos Acm utilizados reativos nesta aos tese para as Anticorpos monoclonais proteínas AaH-II, utilizados GM-CSF, nesta tese DNF para e LHF-II. as proteínas As diferentes AaHcores indicamDNF ondee aLHF-II. forma As e adiferentes reatividade de como estes peptídeos II, GM-CSF, cores indicam a proteína e foram encontradas. reatividade destes peptídeos. Página | 100 Ricardo Andrez Machado de Avila 12% 14% 46% pI 0-7 7-9 9-10 11-14 28% Figura 29: Distribuição do percentual dos 76 peptídeos reativos das proteínas AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II frente aos anticorpos monoclnais utilizados nesta tese em função dos pI. Com todas estas informações, dois scripts foram propostos para serem incrementados no programa PEPOP, o primeiro tem a função de calcular o pI dos peptídeos reativos ao anticorpo. O segundo script tem a função de fornecer duas Tabelas a primeira contendo a seqüência dos peptídeos preditos, a referencia dele, o tamanho, os segmentos utilizados para sua formação e os métodos que o propuseram, já a segunda Tabela fornece a freqüência de predição de cada segmento. Estes scripts foram escritos em linguagem PHP (acrônimo recursivo para Personal Hypertext PreProcessor). A lingaguem PHP foi desenvolvida para produzir paginas dinâmicas na web. Para este efeito o código PHP é embutido no HTML e interpretado por um servidor web que gerará a página da Web do documento PHP [206]. Página | 101 Ricardo Andrez Machado de Avila <!DOCTYPE HTML PUBLIC '-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN' 'http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd'> <html> <head> <!-- Created by: Ricardo Avila, 30 November 2009 --> 30A <title>Calcule du PI des peptides</title> </head> <body> <FORM name="calculepI" method="post" action="calculerpI.php"> <B>Calcule du PI des peptides</B> <PRE><PRE> <TABLE BORDER=0> <TR> <TD> Nombre des peptides à calculer le pI <INPUT type=text name="nombre"></TD> </TR> <TR> <TD> Entrez les séquences séparées par ";" <TEXTAREA rows="3" name="sequence"></TEXTAREA></TD> </TR> <TR> <TD><INPUT type="submit" value="envoyer"></TD> </TR> </TABLE> </FORM> </body> </html> 30B Figura 30: Formulário HTML para cálculo do pI. Em 30A o script do formulário em HTML. Em 30B a pagina HTML visualizada pelo usuário. Para o cálculo do pI dos peptídeos reativos, fizemos um formulário em HTML para entrada dos dados das seqüências que seriam calculadas. O script para este formulário pode ser visualizado na Figura 30A. A Figura 30B mostra a página resultante deste script. Como pode ser visto, o usuário digita as seqüências separadas por ponto e vírgula (;), daí o script irá chamar pelo arquivo “calculerpI.php” que calculará o ponto isoelétrico de cada seqüência retornando o valor associado a sua seqüência numa página da web. Página | 102 Ricardo Andrez Machado de Avila O script do arquivo “calculerpI.php” está apresentado na Figura 32. No script temos a presença dos comandos str_replace para eliminar possíveis espaços dentro das seqüências digitadas pelos usuários e strtoupper para formatar todas as seqüências em letras maiúsculas. Para encontrar o pI das sequencias, primeiro o script computa a quantidade de cada aminoácido na seqüência, em seguida utiliza esses valores para calcular a carga dos aminoácido variando o pH 0 a 14 numa taxa de pH de 0.001. Após esta etapa, ele calcula a carga do peptídeo somando a carga individual dos aminoácidos em cada pH. Depois, o script irá procurar o valor de carga do peptídeo mais próximo de zero. O pH neste valor representa o pI do peptídeo, ou seja, o valor do pH quando a carga liquida do peptídeo é zero. Ao final este resultado é retornado ao usuário de forma associada a seqüência digitada. Para cálculo dos valores do ponto isoelétrico utilizou a equação de Henderson-Hasselbach [207]. Esta equação assume que o ponto isoelétrico depende da carga de sete aminoácidos (glutamato, aspartato, cisteína, tirosina, lisina, histidina e arginina) e da carga dos grupos terminais (NH2 e COOH). [208]. Além disso, a carga líquida do peptídeo está em estreita relação com o pH. Assim, a partir do pka destes aminoácidos e dos grupos terminais utilizou a equação de Henderson-Hasselbach, mostrada na Figura 31, para encontrar a carga líquida dos aminoácidos e grupos terminais, onde o Kp (Figura 31A) é a constante de dissociação ácida (Ka) das macromoléculas carregado positivamente, Kn (figur 31B) é a constante de dissociação ácida (Ka) das macromoléculas carregado negativamente. 31A 31B Figura 31: Equação do Calculo da carga liquida. Em 31A, a fórmula para as macromoléculas positivamente carregadas. Em 31B, a fórmula para as macromoléculas negativamente carregadas. Página | 103 Ricardo Andrez Machado de Avila <!DOCTYPE HTML PUBLIC '-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN' 'http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd'> <html> <head> <!-- Created by: Ricardo Avila, 08 mars 2010 --> <title>Résultat PEPOP - Calcul pI</title> </head> <body> <?php //ATTENTION: Pour le calcul du pI j'ai utilisé les constants du Lehninger $sequence = $_POST["sequence"]; //mise en forme $sequence = str_replace(" ","",$sequence);//Elimine les espace des séquences $sequpept = split (";", $sequence); foreach ($sequpept as $seq) { $sequenceformat[] = strtoupper($seq);//Met en majuscule } foreach ($sequenceformat as $seq2) { $D = substr_count($seq2, "D"); //conter le quantité $E = substr_count($seq2, "E"); //conter le quantité $C = substr_count($seq2, "C"); //conter le quantité $Y = substr_count($seq2, "Y"); //conter le quantité de de de de D E C Y $H = substr_count($seq2, "H"); //conter le quantité de H $K = substr_count($seq2, "K"); //conter le quantité de K $R = substr_count($seq2, "R"); //conter le quantité de R $NH2 = 1; //Nterminal $COOH = 1; //Cterminal //calcul de la charge des acides amines importantes for ($i = 0; $i <= 14; $i+=0.001) { $pH = $i; //pH entre 0 à 14 $charge_D = -$D/(1+pow(10,(3.86-$pH))); //charge des D $charge_E = -$E/(1+pow(10,(4.25-$pH))); //charge des E $charge_C = $charge_Y = $charge_H = $charge_K = $charge_R = $charge_NH2 -$C/(1+pow(10,(8.33-$pH))); -$Y/(1+pow(10,(10.0-$pH))); $H/(1+pow(10,($pH-6.00))); $K/(1+pow(10,($pH-10.5))); $R/(1+pow(10,($pH-12.4))); = $NH2/(1+pow(10,($pH-9.69))); //charge //charge //charge //charge //charge //charge des des des des des des C Y H K R NH2- terminal $charge_COOH= -$COOH/(1+pow(10,(2.34-$pH))); //charge des C- terminal // Calcule charge du peptide $charge_peptide = $charge_D + $charge_E + $charge_C + $charge_Y + $charge_H + $charge_K + $charge_R + $charge_NH2 + $charge_COOH; //passe les charges en valeur absolu $charge_abs{$pH*1000} = abs($charge_peptide); // tableau = clé = phH et valeur = charges du peptide dans ce pH } $charge_min = array_keys ($charge_abs, min($charge_abs));//Sélectionne la clé(pH) correspondent la plus petite valeur de chargé absolue (prochaine de zéro) foreach ($charge_min as $key => $pH_min) { $pI = $pH_min/1000; //pI est le valeur de pH quand la chargé du peptide est zéro (ici, le valeur plus prochain de zéro). } //Résultat du calcul du pI { $enum = $enum+1; // Énumère les séquences donné pour l'utilisateur echo("<B>Sequence $enum:</B> $seq2<B> ----- pI = </B>$pI<BR>"); } } echo ("<br><br><br><br><br><br><br><br><br><H3><center>Merci d'avoir utilisé notre programme</center></H3></CENTER>"); ?> </body> </html> Figura 32: Script do arquivo calculerpI.php para calculo do pI das seqüências digitadas no formulário HTML Página | 104 Ricardo Andrez Machado de Avila O momento mais crítico durante a determinação do ponto isoelétrico é o uso de valores de pK adequado. Infelizmente, não há nenhum acordo neste assunto. Cada fonte fornece pK‟s diferente. Algumas delas são apresentadas na Tabela 13. Em nosso script utilizamos das constantes fornecidas pelo Lehninger, o critério de escolha desta fonte foi devido a semelhança com os dados do Solomon e por consideramos estas duas fontes confiáveis e bastantes utilizadas no mundo acadêmico . Tabela 13: Valores de Ka de diversas fontes para as macromoléculas consideradas importantes no calculo do pI. Aminoácido NH2 COOH C D E H K R Y EMBOSS 8.6 3.6 8.5 3.9 4.1 6.5 10.8 12.5 10.1 DTASelect 8.0 3.1 8.5 4.4 4.4 6.5 10.0 12.0 10.0 Solomon 9.6 2.4 8.3 3.9 4.3 6.0 10.5 12.5 10.1 Sillero 8.2 3.2 9.0 4.0 4.5 6.4 10.4 12.0 10.0 Rodwell 8.0 3.1 8.33 3.68 4.25 6.0 11.5 11.5 10.07 Patrickios 11.2 4.2 - 4.2 4.2 - 11.2 11.2 - Wikipedia 8.2 3.65 8.18 3.9 4.07 6.04 10.54 12.48 10.46 Lehninger 9.69 2.34 8.33 3.86 4.25 6.00 10.5 12.4 10.00 Fonte: fields.scripps.edu/DTASelect/20010710-pI-Algorithm.pdf O segundo script produzido está mostrado na Figura 33. Este script abre um arquivo txt fornecido pelo PEPOP e encontra as seqüências preditas. Em seguida, a partir das seqüências ele encontra a composição em segmentos de cada seqüência, a referencia, o tamanho e o método pelo qual ele foi predito. Retornando estes valores em forma de uma Tabela HTML. Ainda, o script calcula o número de vezes que cada segmento participa no designer do peptídeo predito. Retornando também estes valores em forma de uma Tabela HTML. Página | 105 Ricardo Andrez Machado de Avila <!DOCTYPE HTML PUBLIC '-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN' 'http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd'> <html> <head> <!-- Created by: Ricardo Avila, 7 decembre 2009 --> <title>Résultat PEPOP - Analyses</title> </head> <body> <?php //Déclaration des variables $ligne = ""; $tmp = array(); $tmp2 = array(); $tmp3 = array(); $tmp4 = array(); $seg = array(); $tab1 = array(); $tab2 = array(); $tab3 = array(); $tabsegm = array(); //tab1 = tableau des donnés du ficher if ($fp= fopen("arq_1GMF.txt","r")) { while (!feof($fp)) { $tmp = split(": ", fgets($fp, 4096)); // $tmp[0] = clé et tmp[1] = autres values $tab1{$tmp[0]} = $tmp[1]; } } //tableaux: clé = séquences, values = autres informations foreach ($tab1 as $key => $val) { $tmp2 = split (", ", $val); // $tmp2[0] = séquences et tmp2[1] = composition en segments $tmp3 = split ("_", $key); // $tmp3[0] = méthode et tmp3[1] = segment de référence $tmp4 = split ("\+", $tmp2[1]); //tmp4 = segments $tmp4 = preg_replace("/\n/", "", $tmp4);//$tmp4 = variable segments formaté $tab2{$tmp2[0]}[] = array($tmp3[0], $tmp3[1], implode(",", $tmp4), strlen($tmp2[0])); //clé = séquence, valeur = méthode, segment référence, composition en segment, quantité d'acide amine de chaque séquence $tabsegm{$tmp2[0]} = $tmp4; //clé = séquence e valeur = segments } //tableau3 = fréquence qui chaque segments a été prédits foreach ($tabsegm as $key2 => $val2) { foreach ($val2 as $seg) { if(!isset($tab3{$seg})) { $tab3{$seg}=1; //initialise le tableau } else { $tab3{$seg}++; //incremente +1 la quantidade fois qui le segmenta été predit } } } Continua na próxima página Página | 106 Ricardo Andrez Machado de Avila Continuação do script //Présentation du tableau2 dans un tableau HTML echo " <table witdh=50% border=2> <Caption Align=Botton><H2><B>TABLEAU 1: Séquences prédits par PEPOP</B></H2></Caption> <TR><TH><b>SEQUENCE</b></TH> <TH><b>METHODE</b></TH> <TH><b>SEGMENT DE REFERENCE</b></TH> <TH><b>COMPOSITION EN SEGMENTS</b></TH> <TH><b>TAILLE DE LA SEQUENCE</b></TH> </TR>"; foreach ($tab2 as $key3 => $val3) { $numligne = count($val3); //$numligne = quantité de fois qui chaque sequence a été predite echo " <TR><TH Rowspan=$numligne> $key3</TH>"; //format la colonne séquence: Fusionne les séquences pareils foreach ($val3 as $val4) { echo " <TD><CENTER>$val4[0]</CENTER></TD> <TD><CENTER>$val4[1]</CENTER></TD> <TD><CENTER>$val4[2]</CENTER></TD> <TD><CENTER>$val4[3]</CENTER></TD> </TR>"; } } echo "</table></CENTER>"; //Tableau 2: Fréquence des segments prédits echo " <BR><BR><BR> <CENTER><table witdh=100% border=10> <Caption Align=MIDDLE></<h5><B>TABLE 2: Fréquence de fois que chaque segment a été prédit</</B></h5></Caption> <TR><TH><b>SEGMENT</b></TH> <TH><b>FREQUENCE</b></TH> </TR>"; foreach ($tab3 as $key5 => $val5) { echo " <TR><TD><CENTER>$key5</CENTER></TD> <TD><CENTER>$val5</CENTER></TD> </TR>"; } echo "</table></CENTER>"; ?> Figura 33: Script para visualização das tabelas de seqüências de peptídeos </body> </html> pelo programa PEPOP e da freqüência predição de cada segmento preditas Página | 107 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 108 Ricardo Andrez Machado de Avila 6- CONCLUSÕES A predição de epítopos descontínuos pelo método de PEPOP mostrouse eficiente para todas as quatro proteínas estudadas (AaH-II, GM-CSF, DNF e LHF-II). Os parâmetros acessibilidade, energia de contato não utilizada e hidrofilicidade foram suficiente para predizer epítopos da proteína LHF-II. O STING Millennium mostrou ser uma ferramenta eficiente para encontrar resíduos participantes das regiões de epítopos da proteína LHF-II. MIMOP encontrou duas possíveis regiões que mimetizam as sequências selecionadas por phage display. Uma delas aparenta não ser a região mimetizada, faltando testar a outra região. Os peptídeos da LHF-II selecionados por Phage Display mostraram ser eficientes antígenos para produção de anticorpos neutralizantes da atividade hemorrágica do veneno de Lachesis muta muta. Os peptídeos da LHF-II selecionados pelo STING mostraram ser eficientes antígenos para produção de anticorpos neutralizantes da atividade hemorrágica do veneno de Lachesis muta muta. O alto pI dos peptídeos reativos aparentam ser um fator importante na interações com anticorpos Página | 109 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 110 Ricardo Andrez Machado de Avila 7- PERSPECTIVAS Refazer as análises da identificação dos epítopos descontínuos para a DNF. Substituir os anticorpos secundários que foram reativos para as membranas da C2FVIII e GAD-65 e terminar os estudos sobre os seus epítopos. Aprofundar os estudos sobre a importância do alto valor nos pI dos peptídeos reativos aos monoclonais. Fazer as predições de epítopos para outras proteínas, aumentando assim, o número de proteínas com epítopos descontínuos encontrados e desta forma podendo fazer uma mineração mais apurada dos dados encontrados. Já temos o projeto de encontrar os epítopos descontínuos para as principais proteínas do escorpião Tityus serrulatus e para a família das metaloproteinases dos venenos de serpentes. Publicar os artigos sobre o trabalho da GM-CSF e AaH-II. Página | 111 Ricardo Andrez Machado de Avila Página | 112 Ricardo Andrez Machado de Avila 8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Claverie, J.M. Gene number. What if there are only 30,000 human genes? Science, 2001; 291(5507):1255-7. 2. Lehninger, A.L., Nelson, D.L, Cox, M.M. Lehninger princípios de bioquímica. Tradução Simões, A.A., Navega, W.R. Lodi. 3. ed., 2002. 3. Teich, M., Needham, D. Documentary History of Biochemistry, 17701940. New York: Continuum International Publishing Group 1991; 275277. 4. Ramos, C.H.I. Historia - Proteinas II. CBME Informação 2004; 3:3. 5. Warolin, C. Pierre Jean Robiquet (1780-1840). Revue d'historie de la pharmacie 1999; 47(321):97-110 . 6. McCoy, R.H., Meyer, C.E., Rose, W.C. Feeding experiments wit[3h mixtures of highly purified amino acides VIII: isolation and identification of a new essential amino acid. Journal of Biological Chemistre 1935; 12(1):283-302. 7. Wu, H. Studies on Denaturation of Proteins XIII. A Theory of Denaturation. 1931. 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