ATALANTA e HIPÔMENES

Transcrição

ATALANTA e HIPÔMENES
 Ilustração de Eliane Bettocchi (IAD-UFJF, 2015) a partir de Guido Reni (1619).
ATALANTA e HIPÔMENES
Atalanta era uma donzela que vencia na corrida os homens mais velozes. Era
difícil dizer se ela se destacava mais pela perícia na corrida ou pela perfeição de
sua beleza.
Tempos antes de tornar-se exímia corredora, Atalanta consultou um oráculo sobre
a possibilidade de se casar. A resposta que obteve foi: “Fuge coniugem, Atalanta.
Non debes coniugem habere, pois o matrimônio fará com que você não seja mais a
mesma.”
Aterrorizada com tal predição, ela vivia sozinha nas florestas. Mesmo assim,
uma turba de pretendentes a perseguia. Ela conseguia afastá-los com a seguinte
condição: “Só me possuirá aquele que me vencer na corrida. Sed mors erit
praemium tardis.”
Muitos rapazes arriscavam e perdiam a vida na tentativa de conquistá-la. Até
que um dia, um jovem chamado Hipômenes ficou sabendo do estranho concurso e
resolveu ir até lá, só por curiosidade. Quando ele viu alguns corpos derrotados no
chão e mais outros rapazes que se preparavam para a disputa, exclamou: “Vocês
são ridículos! Arriscar a vida só por causa de um casamento! Que tolice!”
Porém, ao se deparar com Atalanta passando óleo no corpo e se preparando
para a competição, ele ficou maravilhado! Jamais havia visto beleza semelhante
e apaixonou-se de imediato. Aproximando-se dela, ele disse: “Por Júpiter! Perdão
pelo que eu disse agora a pouco. Eu não fazia ideia de que o prêmio era tão
valioso assim!” E encorajado pelo fogo invisível da paixão, acrescentou: “Você só
os venceu porque eles são fracotes! Compita comigo! Garanto que se você for
vencida não se arrependerá!”
Atalanta ficou surpresa com a ousadia do rapaz que, embora prepotente,
era audacioso e belíssimo. Um dilema cruel invadiu o coração da virgem. Ela já
não sabia mais se desejava vencer ou ser vencida... Todavia, o desafio foi aceito.
Hipômenes tremeu ao se dar conta do que havia acabado de fazer. Então
ele pediu ajuda à Vênus, a deusa do amor. Vênus tinha acabado de voltar da
ilha do Chipre e trazia consigo três maçãs de ouro. Ela deu as maçãs para
Hipômenes e ensinou-o como usá-las.
Começa a corrida. Ambos os competidores estão no mesmo pique, mas
Atalanta abre vantagem facilmente. Hipômenes joga unum de tribus pomis no
chão. Atraída pelo fruto reluzente, a donzela pára e o jovem a ultrapassa.
Na metade do percurso Atalanta o alcança novamente, cheia de força e
fôlego. Com a boca seca e a respiração ofegante, Hipômenes lança mão do segundo
fruto. A formosa corredora não resiste e desvia do caminho para pegar o pomo
dourado. Hipômenes lidera mais uma vez.
Eles já estavam se aproximando do fim da prova. Atalanta usa toda a
sua energia e deixa o jovem pretendente para trás. Entretanto, Vênus com seu
poder divino, fez com que as maçãs ficassem mais pesadas. Hipômenes só tinha
mais uma maçã de ouro. Ele atirou o último fruto obliquamente para um dos
lados da pista, fazendo com que Atalanta se dispersasse na reta final. Ele venceu
a prova e recebeu seu tão almejado prêmio. A moça se casou com ele de bom
grado!
Mas Hipômenes, orgulhoso, se esqueceu de agradecer à Vênus. Irada com o
esquecimento, a deusa queria um exemplo para não ser menosprezada novamente e
duos amantes in leones transformavit. Em vez de palavras de amor, eles trocam
rugidos. Em vez de num quarto, eles vivem nas grutas. A profecia dos oráculos
mais uma vez se cumpriu...
Referência da imagem:
Atalanta e Hipômenes, Guido Reni, 1619.
https://www.museodelprado.es/enciclopedia/enciclopedia-on-line/voz/hipomenesy-atalanta-guido-reni/

Documentos relacionados

atalanta fugiens e a fuga - Instituto Junguiano do Rio de Janeiro

atalanta fugiens e a fuga - Instituto Junguiano do Rio de Janeiro acordo com o significado central do mito, que são de importância para a psicoterapia, e ressalta a relevância desse mito para o mundo contemporâneo. Segundo Jörg Rasche, em Das Lied des grünen Löwe...

Leia mais