Universidade Federal de São Carlos

Transcrição

Universidade Federal de São Carlos
Universidade Federal de São Carlos
Processo Seletivo Exclusivo UFSCar
1ª PARTE - QUESTÕES DE MÚLTIPLA ESCOLHA
PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
INSTRUÇÃO: As quatro primeiras questões têm como base o seguinte texto de Rubem Braga:
O cajueiro já devia ser velho quando nasci. Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do
morro, atrás de casa. Agora vem uma carta dizendo que ele caiu.
Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito mais tempo. Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga,
da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos simplesmente "tala") e da alta saboneteira que era nossa
alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro, porque fornecia centenas de bolas pretas para o jogo de gude. Lembro-me da
tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos canteiros de
flores humildes, "beijos", violetas. Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto
eram como árvores sagradas protegendo a família. Cada menino que ia crescendo ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica
de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima, ver de lá o telhado das casas do outro lado e os
morros além, sentir o leve balanceio na brisa da tarde.
(Rubem Braga: Cajueiro. In: O Verão e as Mulheres. 5ª ed. Rio de Janeiro: Record, 1991, p. 84-5.)
01.
O trecho remete-nos a um dos temas preferidos pelos escritores românticos, que é também um tema corrente em vários poetas
modernistas e muito cultivado por nossos cronistas. Esse tema, dominante no trecho, é:
(A) a exuberância da natureza tropical.
(B) a diversidade das árvores frutíferas brasileiras.
(C) o contraste entre o ambiente selvagem e o ambiente urbano.
(D) a saudade da infância.
(E) a necessidade de comunicação por carta.
02.
Uma das normas estabelecidas para o uso da vírgula impõe que este sinal de pontuação serve para separar elementos que
exercem a mesma função sintática, desde que tais elementos não venham unidos por conjunções aditivas. Este princípio vem
formulado em muitas Gramáticas, entre as quais a de Celso Cunha, Gramática do Português Contemporâneo, e a de
Gladstone Chaves de Melo, Gramática Fundamental da Língua Portuguesa. Rubem Braga desobedeceu a essa norma no
trecho:
(A) O cajueiro já devia ser velho quando nasci.
(B) Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge ...
(C) Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira ...
(D) Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto ...
(E) ... ia aprendendo o jeito de seu tronco, a cica de seu fruto, o lugar melhor para apoiar o pé e subir pelo cajueiro acima ...
03.Há, no trecho, um período que, situando os fatos no passado, sintetiza a oposição que permeia o texto inteiro na
caracterização da mutabilidade das coisas. Assinale a alternativa que contém esse período.
(A) Ele vive nas mais antigas recordações de minha infância: belo, imenso, no alto do morro, atrás de casa.
(B) Eu me lembro do outro cajueiro que era menor, e morreu há muito mais tempo.
(C)
Eu me lembro dos pés de pinha, do cajá-manga, da grande touceira de espadas-de-são-jorge (que nós chamávamos
simplesmente "tala") e da alta saboneteira que era nossa alegria e a cobiça de toda a meninada do bairro, porque fornecia
centenas de bolas pretas para o jogo de gude.
(D)
1
Lembro-me da tamareira, e de tantos arbustos e folhagens coloridas, lembro-me da parreira que cobria o caramanchão, e dos
canteiros de flores humildes, "beijos", violetas.
(E)
Tudo sumira; mas o grande pé de fruta-pão ao lado de casa e o imenso cajueiro lá no alto eram como árvores sagradas
protegendo a família.
04.
Há no texto orações reduzidas de gerúndio e de infinitivo. Assinale a alternativa em que a forma verbal da oração reduzida está
desenvolvida corretamente, entre parênteses.
(A) ... protegendo a família (que protegiam a família).
(B) ... para apoiar o pé ... (porque apoiaria o pé).
(C) ... e subir pelo cajueiro acima ... (e que subiria pelo cajueiro acima).
(D) ... ver de lá o telhado das casas do outro lado e os morros além ... (para que veja de lá o telhado das casas do outro lado e
os morros além).
(E) ... sentir o leve balanceio da brisa da tarde (quando sentisse o leve balanceio da brisa da tarde).
INSTRUÇÃO: As questões de números 05 a 08 baseiam-se no seguinte texto extraído de A Vigília de Hero, poema de Manuel
Bandeira:
Tu amarás outras mulheres
E tu me esquecerás!
É tão cruel, mas é a vida. E no entretanto
Alguma coisa em ti pertence-me!
Em mim alguma coisa és tu.
O lado espiritual do nosso amor
Nos marcou para sempre.
Oh, vem em pensamento nos meus braços!
Que eu te afeiçoe e acaricie...
(Manuel Bandeira: A Vigília de Hero. In: O Ritmo Dissoluto. Poesia Completa e Prosa. 2ª ed. Rio de Janeiro: José Aguilar,
l967, p. 224.)
05.
Manuel Bandeira usa, no poema, os pronomes pessoais com muitas variações. O pronome pessoal de primeira pessoa do
singular, por exemplo, está empregado na sua forma reta e nas formas oblíquas (eu, me, mim). O mesmo acontece com o
pronome pessoal de
(A) segunda pessoa do singular.
(B) terceira pessoa do singular.
(C) primeira pessoa do plural.
(D) segunda pessoa do plural.
(E) terceira pessoa do plural.
06.
Há dois pronomes que exercem no texto mais de uma função sintática; um dos dois, entretanto, admite uma análise diferente que
elimina essa duplicidade funcio-nal. Desse modo, a única forma pronominal que exerce mais de uma função sintática, sem
ambigüidade, é:
(A) tu.
(B) eu.
(C) me.
(D) nos.
(E) te.
2
07.
Se usasse a forma de tratamento você para designar a segunda pessoa, Manuel Bandeira deveria mudar a flexão de alguns
verbos. Esses verbos seriam, sem exceção, os seguintes:
(A) mar, ser (3º verso), marcar, afeiçoar.
(B) Amar, esquecer, ser (5º verso), vir.
(C) Ser (3º verso), pertencer, marcar, acariciar.
(D) Ser (3º verso), pertencer, afeiçoar, acariciar.
(E) Amar, pertencer, vir, afeiçoar, acariciar.
08. No poema A Vigília de Hero, Manuel Bandeira vale-se da lenda, que faz parte da mitologia grega, sobre o amor entre a
jovem sacerdotisa Hero, que vivia na Europa, e o moço Leandro, que vivia na Ásia e que todas as noites atravessava a nado o
estreito de mar que os separava, para encontrar-se com a sua amada. Esse poema está em O Ritmo Dissoluto, um dos livros mais
representativos de estilo modernista de Manuel Bandeira. Conhecendo as características próprias desse estilo, pode-se afirmar
que a característica marcante da poesia modernista que se pode comprovar no trecho transcrito é:
(A) a forma de diálogo da composição do poema.
(B) a evocação da lenda clássica de Hero e Leandro.
(C) a idealização do amor.
(D) a angústia derivada da tensão entre espiritualização e sexualidade.
(E) o uso do verso livre.
INSTRUÇÃO: As questões de números 09 e 10 referem-se ao seguinte texto de Machado de Assis:
Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja. Embora os seus lucros
fossem contínuos e grandes, sentia-se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras,
sem cânones, sem ritual, sem nada. Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos.
Nada fixo, nada regular. Por que não teria ele a sua igreja? Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras
religiões, e destruí-las de uma vez.
— Vá, pois, uma igreja, concluiu ele. Escritura contra escritura, breviário contra breviário. Terei a minha missa, com vinho e
pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico. O meu credo será o núcleo universal dos
espíritos, a minha igreja uma tenda de Abraão. E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha igreja
será única; não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero. Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
(Machado de Assis: A Igreja do Diabo. In: Histórias sem Data - Obra Completa (II). Rio de Janeiro: José Aguilar, l959, p.
367.)
09. Machado de Assis faz do conto A Igreja do Diabo
um instrumento para análise e crítica, por certo corrosiva, das instituições que, de algum modo, buscam estabelecer normas de
conduta moral para os seres humanos. Utiliza, para tanto, a ironia, a qual, no texto transcrito, se faz presente em vários
momentos, atingindo vários alvos, dentre os quais se destaca a Igreja Católica Apostólica Romana. Esta instituição importante
está sendo atingida, de modo exclusivo, pela ironia, em:
(A) Conta um velho manuscrito beneditino que o Diabo, em certo dia, teve a idéia de fundar uma igreja.
(B) Vivia, por assim dizer, dos remanescentes divinos, dos descuidos e obséquios humanos.
(C) Uma igreja do Diabo era o meio eficaz de combater as outras religiões, e destruí-las de uma vez.
(D) Terei a minha missa, com vinho e pão à farta, as minhas prédicas, bulas, novenas e todo o demais aparelho eclesiástico.
(E) Há muitos modos de afirmar; há só um de negar tudo.
10.
Há no segundo parágrafo orações que aludem, sem referência direta, portanto, a várias religiões. As religiões muçulmana e
protestante estão aludidas em:
(A) Escritura contra escritura, breviário contra breviário.
(B) Terei a minha missa, com vinho e pão à farta ...
(C) O meu credo será o núcleo universal dos espíritos ...
(D) E depois, enquanto as outras religiões se combatem e se dividem, a minha será única.
3
(E) ... não acharei diante de mim, nem Maomé, nem Lutero.
PROVA DE LÍNGUA INGLESA
INSTRUÇÃO: as questões de números 11 a 16 referem-se ao texto seguinte.
The End of Evolution?
The development of symbolic thought and complex communication did nothing less than alter human evolution. For one thing,
high-tech transportation means that the world, though ethnically diverse, now really consists of a single, huge population.
"Everything we know about evolution suggests that to get true innovation, you need small, isolated populations," says Tattersall,
"which is now unthinkable."
Not only is a new human species next to impossible, but technology has essentially eliminated natural selection as well. During
prehistory, only the fittest individuals and species survived to reproduce. Now strong and weak alike have access to medicine,
food and shelter of unprecedented quality and abundance. "Poor peasants in the Third World," says University of Michigan
anthropologist Milford Wolpoff, "are better off than the Emperor of China was 1,000 years ago."
And technology shows no signs of slowing down, which means that even dramatic changes in the natural world won’t
necessarily have evolutionary consequences. Argues Wolpoff: "We’re not going to adapt to the next ice age by changing our
physical form. We’ll set off an atom bomb or set up a space mirror or whatever to control climate." Manipulation of the human
genome, meanwhile, will eventually let us change the basic characteristics of our species to order. Evolution by natural selection
could be replaced, perhaps chillingly, with evolution by human intervention.
That’s not to say humanity can’t become extinct. A 50-mile-wide asteroid crashing down from space would do it. So could a
sudden and thorough collapse of earth’s ecosystem through pollution, deforestation and the like – unless we establish some
colonies in space beforehand. But, whatever happens, the long history of multiple hominid species struggling for supremacy on
earth is over. After millions of years, evolution by natural selection, operating blindly and randomly, has produced a creature
capable of overturning evolution itself. Where we go from here is now up to us.
(From "Up From The Apes" in TIME Magazine, August 23, 1999, p.5.)
11. Segundo o texto, o mundo atual
(A) produzirá inovações que serão testadas em pequenas populações isoladas.
(B) promove uma constante evolução da espécie humana, nos moldes da teoria darwiniana.
(C) favorece o surgimento de novas espécies de hominídeos, que aparecerão por meio de uma seleção natural.
(D) consiste de uma única população imensa de etnias diferentes.
(E) assemelha-se ao Império Chinês de mil anos atrás.
12. O texto afirma que:
(A) a evolução humana está cada vez mais veloz, pois agora a seleção natural baseia-se na competitividade intelectual.
(B) durante a pré-história, a evolução humana ocorria por meio da seleção natural, onde os mais aptos sobreviviam.
(C) os atuais camponeses do Terceiro Mundo estão menos adaptados a seu meio que o Imperador da China há mil anos.
(D) a extinção da espécie humana atualmente tornou-se impossível.
(E) a tecnologia desempenha um papel duvidoso na melhor adaptação da espécie humana a seu meio.
13. Segundo o texto, a tecnologia
(A) promove o alargamento das fronteiras dos países, formando um único mundo globalizado.
(B) diminui a qualidade de vida dos seres humanos, pois somente o Primeiro Mundo tem acesso à medicina e alimentação de alta
qualidade.
(C) potencializa o impacto dos desastres naturais sobre a espécie humana, já que altera o equilíbrio ecológico.
(D) fará com que a próxima glaciação possa ser amenizada através da alteração e adaptação física do ser humano.
(E) poderá substituir a evolução por meio da seleção natural, pela evolução por meio de intervenção genética.
14. O argumento de Wolpoff, citado no terceiro parágrafo, indica que
(A) o ser humano enfrentará as mudanças climáticas por meio de avanços tecnológicos.
4
(B) alterações ambientais refletirão na evolução física do ser humano.
(C) uma bomba atômica produzirá mutações genéticas.
(D) o clima já pode ser totalmente controlado pelo ser humano.
(E) uma era glacial futura é inevitável, após o aquecimento global do nosso planeta.
15. A palavra unless que se encontra no último parágrafo, na frase "— unless we establish some colonies ..." indica uma relação
de
(A) adição.
(B) exemplificação.
(C) ressalva.
(D) oposição.
(E) conseqüência.
16. A palavra which na frase "which is now unthinkable", constante da última linha do primeiro parágrafo, refere-se a
(A) small, isolated populations.
(B) evolution.
(C) true innovation.
(D) everything we know.
(E) population.
2ª PARTE - QUESTÕES DISCURSIVAS
PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA
INSTRUÇÃO: As questões de números l7 a l9 têm como base este poema de Cláudio Manuel da Costa:
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
De estar a ela um dia reclinado.
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!
Árvores aqui vi tão florescentes,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.
Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(Cláudio Manuel da Costa: Sonetos (VII). In: RAMOS, Péricles Eugênio da Silva (Intr., sel. e notas):
Poesia do Outro - Antologia. São Paulo: Melhoramentos, 1964, p. 47.)
17.
O estilo neoclássico, fundamento do Arcadismo brasileiro, de que fez parte Cláudio Manuel da Costa, caracteriza-se pela
utilização das formas clássicas convencionais, pelo enquadramento temático em paisagem bucólica pintada como lugar
aprazível, pela delegação da fala poética a um pastor culto e artista, pelo gosto das circunstâncias comuns, pelo vocabulário de
fácil entendimento e por vários outros elementos que buscam adequar a sensibilidade, a razão, a natureza e a beleza. Dadas estas
informações,
a) indique qual a forma convencional clássica em que se enquadra o poema.
5
b)
transcreva a estrofe do poema em que a expressão da natureza aprazível, situada no passado, domina sobre a expressão do
sentimento da personagem poemática.
18.
A crítica literária brasileira tem ressaltado que o terceiro verso do poema é aquele que concentra o tema central. Essa mesma
crítica, por outro lado, anotou com propriedade a importância do décimo segundo verso: este verso exprime uma mudança de
atitude, que se corrige nos versos finais graças à descoberta, feita pelo eu poemático, da verdadeira causa do fenômeno descrito
em todo o poema. Responda:
a) Qual o tema que o terceiro verso concentra? Transcreva outros dois versos que o repercutem.
b) A que causas o eu poemático atribui o fenômeno observado na natureza?
19.
Um dos elementos que diferenciam Cláudio Manuel da Costa de outros poetas do Arcadismo brasileiro é o fato de ainda
conservar algumas características do estilo barroco. No poema transcrito, a presença barroca se dá no rebuscamento sintático
causado pelas inversões, atenuadas por exigência do ritmo e da rima. Sabendo que as inversões de ordem sintática acontecem em
todas as estrofes,
a) reescreva a segunda estrofe de modo a preservar a colocação normal pedida pela sintaxe.
b) transcreva dois versos de terceto que, mesmo sendo reescritos segundo a colocação normal pedida pela sintaxe, preservem a
rima escolhida pelo poeta.
INSTRUÇÃO: As questões de números 20 e 21 fundamentam-se no seguinte texto:
A tribo se acabara, a família virara sombras, a maloca ruíra minada pelas saúvas e Macunaíma subira pro céu, porém ficara o
aruaí do séquito daqueles tempos de dantes em que o herói fora o grande Macunaíma imperador. E só o papagaio no silêncio
do Uraricoera preservava do esquecimento os casos e a fala desaparecida. Só o papagaio conservava no silêncio as frases e os
feitos do herói.
Tudo ele contou pro homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a
história. Por isso que vim aqui. Me acocorei em riba destas folhas, catei meus carrapatos, ponteei na violinha e em toque
rasgado botei a boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa gente.
Tem mais não.
(Mário de Andrade: Macunaíma - o herói sem nenhum caráter. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez.
Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia, 1978, p. 148.)
20. Nestes últimos parágrafos de Macunaíma, Mário de Andrade faz referências ao processo e aos modos de transmissão da
narrativa. No processo de transmissão, os fatos são testemunhados por uma personagem que os conta a outra personagem que
no-los conta. Entre os fatos originais e o leitor virtual há, portanto, duas personagens. Assim sendo,
a) identifique os mediadores da narrativa.
b) explique quais são os modos de transmissão dos fatos que compõem a narrativa.
21. No texto, o narrador qualifica a sua linguagem como fala impura, ou seja, como linguagem mal tolerada pelos gramáticos do
começo do século, principalmente por aqueles que defendiam o parnasianismo e o realismo acadêmico.
a) Destaque três expressões do segundo parágrafo que exemplificam a fala impura.
b) Explique por que essas expressões podem ser consideradas exemplos de fala impura e, em seguida, transforme-as em fala
pura.
INSTRUÇÃO: As questões de números 22 e 23 referem-se ao seguinte poema:
Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
6
E pera mais me espantar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado,
Assim que só pera mim
Anda o Mundo concertado.
(Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Rimas. Obra Completa. Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6.)
22.
Este curto poema de Camões compõe-se de partes correspondentes ao destaque dado às personagens (o eu poemático e os
outros). Quanto ao significado, o poema baseia-se em antíteses desdobradas, de tal maneira trançadas que parecem refletir o
"desconcerto do mundo". Posto isso,
a) identifique a antítese básica do poema e mostre os seus desdobramentos.
b) Explique a composição do texto com base nas rimas.
23.
O poema está composto com versos de sete sílabas e na forma conhecida como "esparsa" que, junto com outras, constituía o
estoque de formas medievais que muitos poetas clássicos de Portugal, dentre os quais Camões, continuaram usando no século
XVI e que se denominavam de "medida velha". Além dessas formas, Camões usou as italianizantes ou clássicas, que se
denominavam de "medida nova".
a) Cite outra forma de "medida velha" usada por Camões.
b) Cite duas formas de "medida nova".
INSTRUÇÃO: A questão de número 24 tem como base o seguinte texto de Eça de Queirós:
Linda tarde, meu amigo!... Estou esperando o enterro do José Matias — do José Matias d'Albuquerque, sobrinho do Visconde
de Garmilde... O meu amigo certamente o conheceu — um rapaz airoso, louro como uma espiga, com um bigode crespo de
paladino sobre uma boca indecisa de contemplativo, destro cavaleiro, de uma elegância sóbria e fina. E espírito curioso, muito
afeiçoado às idéias gerais, tão penetrante que compreendeu a minha Defesa da Filosofia Hegeliana! Esta imagem do José
Matias data de 1865: porque a derradeira vez que o encontrei, numa tarde agreste de janeiro, metido num Portal da Rua de S.
Bento, tiritava dentro duma quinzena cor de mel, roída nos cotovelos, e cheirava abominavelmente a aguardente.
(Eça de Queirós: José Matias. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda e RÓNAI,
Paulo: Mar de Histórias (5). 2ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981, p. 266.)
24.
O trecho é o primeiro parágrafo de um conto de Eça de Queirós. Exprime uma situação de contraste entre um acontecimento
humano e a natureza e está na forma de comunicação direta entre duas personagens: o narrador e um suposto ouvinte.
a) Descreva a situação, explicando o contraste.
b) Identifique os elementos gramaticais que denotam a presença do narrador e de seu suposto ouvinte.
PROVA DE LÍNGUA INGLESA
INSTRUÇÃO: Para responder às questões de números 25 a 28, leia novamente o texto The End of Evolution?, transcrito à
página 6.
25. Com base nas informações dadas no primeiro parágrafo do texto, responda.
a) Qual foi uma das conseqüências do desenvolvimento do pensamento simbólico no homem?
b) Que outro desenvolvimento contribuiu para a mesma coisa?
7
26. Retorne ao texto e responda.
a) Qual a resposta que o mesmo dá à pergunta do título?
b) Ilustre sua resposta com um exemplo apresentado no próprio texto.
27. Segundo o texto:
a) Indique uma das causas que pode acabar com a espécie humana.
b) Qual a proposta para que isto não aconteça?
28. De acordo com o texto:
a) Que tipo de ser humano resultou de milhões de anos de evolução natural?
b) Como o futuro da evolução humana está mencionado no texto?
PROVA DE REDAÇÃO
O Quinto Centenário do Descobrimento do Brasil está sendo motivo de comemorações ou de eventos preparatórios para
a comemoração no ano 2.000. Alguns acham que o V Centenário deve ser o momento para descobrirmos nossa
verdadeira identidade, outros opinam que é a ocasião oportuna para celebrarmos nossa herança européia e nossas
grandezas, muitos pensam que o quinto centenário não pode ser instrumento de alienação com respeito à nossa realidade
e à nossa história, enquanto há os que defendem uma compreensão crítica da nossa data de aniversário coletivo. Em
resumo, festejo, lamentação, compreensão e denúncia formam o quadro polêmico dessa grande comemoração. Daí o
tema da redação que deve ser desenvolvida sob a forma de dissertação:
A POLÊMICA DA COMEMORAÇÃO DO V CENTENÁRIO DO DESCOBRIMENTO DO BRASIL: TOMADA DE
POSIÇÃO.
Os cinco textos que se seguem podem ajudá-lo nessa tarefa.
1.
"Por mais que insistamos que a oportunidade para pensar todos os descobrimentos havidos em nossa trajetória histórica,
inclusive os 'encobrimentos', o que comemoramos de fato é o próprio presente. Para tanto, depuramos o evento
"descobrimento" de tudo que possa representar uma afronta ao presente: genocídio indígena, devastação ambiental, destruição
de culturas; e incorporamos os aspectos palatáveis, reforço insofismável do presente, tais como, mistura interétnica, encontro
de culturas, nascimento de nações, gestação do mundo globalizado. Faz-se tábula rasa do passado."
(José Jobson de Andrade Arruda: O Trágico 5º Centenário do Descobrimento do Brasil. Bauru: EDUSC, 1999, p. 46-47.)
2.
"Os 500 anos se celebram de um ponto de vista antropológico. De novo (...), encontro índios, negros e brancos: de novo
encontro "manifestações da religiosidade popular"; de novo, Franz Post, Debret, Hans Staden, Lasar Segall. (...)
Estou farto de tanta antropologia. De tanta horizontalidade fictícia. Se o Brasil é o que é, isto foi resultado de opressão, de
colonização, de violência vinda de cima e da desorganização da parte de baixo."
(Marcelo Coelho: Chega de perguntar "o que é" o Brasil. Folha de S. Paulo, l4/4/1999, p. 4-6.)
3.
"Enquanto nos jornais e nas universidades discute-se o futuro (mais negro que a asa da graúna, presume-se) das "identidades
nacionais", o povo simplesmente exerce sua vocação inata para diferenciar-se de padrões estranhos a ele. Costuma fazer
melhor: adapta os modelos dos gringos à sua maneira e estilo.(...)
Quem vê o país de cima para baixo pode achar que tudo isso aí é a expressão mais acabada do atraso.(...)
Não sei não. Acho que, pelas frestas, o brasileiro vai dando um jeito de escapar ao uniforme e ao figurino. Continua mantendo
8
viva a possibilidade de ter um ponto de vista próprio sobre o seu mundo e o dos outros."
(Luiz Z. Oricchio: O criativo exercício de resistir à hegemonia global. O Estado de São Paulo,15/7/1999, p. D-12.)
4.
"O Brasil fará 500 anos. São 500 anos de descobertas, lutas, invasões, batalhas, conquistas, crescimento e transformação. E
esta coleção vai contar a história deste país jovem e promissor, que já foi colônia, teve seu período de império e se transformou
em república, até ser o que é hoje: uma nação com um grande potencial de desenvolvimento e riqueza."
(Brasil 500 Anos. São Paulo: Editora Abril, 1999.)
5.
"Hoje em dia o hábito de festejar datas se tornou tão popular que qualquer personagem ou acontecimento menor tem direito ao
seu centenário. A celebração do ano 2000 atende, assim, a uma prática já bastante enraizada nos nossos costumes, e por isso
mesmo aceita entre nós sem muitos questionamentos. Afinal, uma boa festa não precisa de tantas desculpas."
(Bertília Leite e Othon Winter: Fim de Milênio.Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999, p. 29.)
9

Documentos relacionados