Atendimento Inicial ao Infarto Agudo do Miocárdio Autores Ana

Transcrição

Atendimento Inicial ao Infarto Agudo do Miocárdio Autores Ana
Atendimento Inicial ao Infarto Agudo do Miocárdio
Autores
Ana Paula Ferreira da Rocha
Gilberto Rodrigues Chermaut
Jessica Perisse Moreira
Sandro de Carvalho Barcelos
Curso Enfermagem
Universidade Estácio de Sá
Unidade Nova Friburgo
Orientadora: Zilma Denize Mascarenhas Xavier
Resumo: Infarto Agudo do Miocárdio (IAM) é uma situação de grande frequência nas salas
de emergências, sendo necessária internação hospitalar. A pesquisa teve como objetivos
analisar o tempo gasto pelo cliente com suspeita de IAM em procurar por atendimento
emergencial, identificar a existência de um protocolo de atendimento no setor de emergência e
avaliar o conhecimento da equipe de enfermagem sobre as prioridades no atendimento a este
paciente. Foram entrevistados profissionais do setor de emergência e pacientes com suspeita
de IAM. Os resultados mostraram que não há protocolo de atendimento, a equipe de
enfermagem é capaz de identificar as prioridades no atendimento ao paciente com suspeita
IAM e que todos os clientes procuraram o atendimento após duas horas do início dos
sintomas.
Palavras-chaves: infarto agudo; emergência; enfermagem.
Introdução
O infarto agudo do miocárdio (IAM) faz parte de um grupo de doenças chamadas
doenças isquêmicas do coração. É um evento agudo que requer internação hospitalar, tendo
um diagnóstico clínico bem estabelecido, geralmente baseado na história clínica, evolução
eletrocardiográfica e curva enzimática. Estas doenças cardíacas representam a principal causa
de morte no Brasil e no mundo, apesar do advento das unidades coronarianas, dos avanços da
terapia fibrinolítica e com os novos processos de intervenção percutânea. (BRANDÃO, 2009)
Vários estudos descritos em literaturas demonstraram que cerca de 20% dos clientes
com dor torácica aguda chegam ao setor de emergência antes de duas horas de início dos
sintomas (FRANCO, et al, 2008). Existem vários fatores que podem estar relacionados com o
Professora Mestre da Universidade Estácio de Sá-Campus Nova Friburgo.
1
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
atraso em procurar serviço de emergência: como o não reconhecimento por parte dos clientes
como sendo um evento cardíaco, automedicação utilizada por alguns clientes, o baixo nível
socioeconômico, o sexo feminino, as condições de transporte, negação em aceitá-lo e pelo
atendimento prévio não especializado. (FRANCO, et al, 2008)
A discussão do tempo tem papel de destaque na assistência de enfermagem ao cliente
infartado, geralmente exposto a um maior risco de morte na primeira hora após o início dos
sintomas, portanto, antes da chegada ao hospital. O intervalo de tempo decorrido entre o início
dos sintomas e o atendimento é extremamente relevante para a sobrevida. Mais de 50% dos
óbitos ocorrem na primeira hora de evolução. Considerando-se que o benefício do uso da
terapia com trombolíticos é tempo-dependente, o retardo no tratamento de clientes com
suspeita de IAM é um fator crítico de redução na sobrevida. Dificuldades no acesso ao serviço
de emergência aumentam o tempo decorrido até a admissão, diminuindo a letalidade
hospitalar esperada e aumentando a extra-hospitalar. Nesse caso, é indiscutível o impacto da
distribuição do espaço eficiente de serviços de emergência na sobrevida de clientes infartados.
(BRANDÃO, 2009)
O enfermeiro da atenção básica tem um papel muito importante para a redução do
tempo gasto desde o surgimento dos primeiros sintomas até a busca do serviço de saúde pelo
cliente. Cabe ao enfermeiro a função de educação em saúde, orientando a população quanto à
prevenção de doenças e informando sobre os sinais e sintomas desta e de outras doenças,
ressaltando a importância em procurar auxílio dos profissionais de saúde e quando fazê-lo,
assim como prover o treinamento contínuo de sua equipe para que esta possa prestar um
atendimento adequado.
De acordo com o DATASUS, 2005, cerca de 58.000 pessoas ainda morrem vítimas de
IAM no Brasil, e indicam a ocorrência de 84.945 óbitos por doença isquêmica do coração
somente no ano de 2005, no país. (PIEGAS, 2005)
A taxa de mortalidade global varia de 5 a 30%, sendo que metade das mortes ocorre
antes dos clientes receberem atendimento adequado. Dentre aqueles que chegam ao hospital,
aproximadamente 25 % dos óbitos ocorrem nas primeiras 48 horas. (PIEGAS, 2005; MELLO,
2007)
O IAM é a destruição da musculatura miocárdica, devido à deficiência de fluxo
sanguíneo para uma região do músculo cardíaco, cujas células sofrem necrose por falta de
aporte nutritivo. A interrupção do fluxo coronário geralmente se deve a aterosclerose,
estreitamento de uma artéria coronária causado pelo acúmulo de placas de ateroma (gordura),
ou pela obstrução total de uma coronária por êmbolo ou trombo (coágulo sanguíneo).
(SMELTEZER; BARE 2008).
A característica fundamental do IAM é a dor prolongada, localizada na região
subesternal, epigástrica, abdominal alta ou precordial e se irradiando para o pescoço,
mandíbula, ombro, braço e para a mão esquerda (SMELTEZER; BARE 2008).
22
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
Os sintomas são: dor ou forte pressão no peito, dor no peito refletindo nos ombros,
braço esquerdo, pescoço e maxilar, dor abdominal, suor, palidez, falta de ar, perda temporária
da consciência, sensação de morte iminente, náuseas e vômitos.
E os fatores de risco são: histórico familiar de doença coronariana, idade (a partir dos
60 anos), colesterol e triglicerídeos elevados, hipertensão arterial, obesidade, diabetes, fumo,
estresse e sedentarismo.
Através destes dados do Ministério da Saúde e com as observações nos campos de
estágio o grupo se propôs a realizar a pesquisa na busca de entender como ocorre o
atendimento ao paciente em sofrimento cardiovascular na emergência, e de qual forma
poderíamos contribuir para a mudança neste atendimento. Levantou-se como questões
norteadoras para este estudo: Quanto tempo é gasto para o cliente procurar tratamento na
Emergência? Na emergência existe protocolo de atendimento para o IAM? A Equipe de
Enfermagem conhece as prioridades para o atendimento ao cliente com suspeita de IAM com
ou sem existência de protocolo?
Os objetivos da pesquisa são: Verificar o tempo gasto para o cliente procurar
tratamento na emergência; Checar a existência de protocolo no atendimento inicial do IAM.
Identificar as prioridades no atendimento ao cliente com suspeita de IAM.
O presente estudo, inserido na linha de pesquisa O Cuidar no Processo Saúde-doença,
tendo como área dominante a Enfermagem no Cuidado ao Cliente Crítico Adulto /
Emergência, visa à busca de esclarecimento de ações em enfermagem para proporcionar para
sua equipe de emergência, de um modo claro e objetivo, métodos para um atendimento
hospitalar melhor e mais seguro ao cliente portador de IAM.
Nos dias atuais, em decorrência do grande número de vítimas de IAM é necessária a
realização de pesquisas sobre o tema e o contínuo esforço dos profissionais da área de saúde
no sentido de reduzir, ainda mais, as taxas de mortalidade deste evento através de um
atendimento mais qualificado e eficaz.
Diminuição no número da morbi-mortalidade, com consequente redução de gastos
durante o tratamento dispensado pelas instituições de saúde gerando uma maior qualidade de
vida para o cliente, como também uma menor redução da força de trabalho, o que poderia
gerar perdas para a sociedade como um todo.
Metodologia
A presente pesquisa utilizou método quantitativo o qual considera que tudo pode ser
quantificável, ou seja, traduzir em números opiniões e informações para classificá-las e
analisá-las. “As análises quantitativas são muito divulgadas e, nesse sentido, sua planificação
geralmente necessita de menos explicações que as análises qualitativas”
(CONTANDRIOPOULOS, 1994, p.90).
33
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
De acordo com Vergara (2005), na coleta de dados o autor deve informar como
pretende obter os dados de que precisa para responder ao problema. Nesta pesquisa foram
utilizadas entrevistas com perguntas fechadas, aplicadas aos profissionais e pacientes na
emergência de um hospital da Região Serrana do Rio de Janeiro.
Segundo Lehfeld (2010), o investigador na pesquisa de campo assume o papel de
observador e explorador, coletando diretamente os dados no local (campo) em que se deram
ou surgiram os fenômenos. O trabalho de campo se caracteriza pelo contato direto com o
fenômeno de estudo. A partir do uso de técnicas como observação, participante ou não
participante, entrevistas, questionários, coleta de depoimentos e estudo dos casos, o
pesquisador busca as informações sobre o objeto de estudo.
Para realização da pesquisa foram utilizadas as bases de dados da BVS, LILACS e
Med Line. Foram pesquisados e incluídos artigos e monografias que apresentavam arquivo na
íntegra e idioma Português, que contem os descritores: Atendimento médico de emergência;
enfermagem de emergência e Infarto Agudo do Miocárdio.
A pesquisa foi realizada obedecendo a Resolução 196/96, que garante ao participante
da pesquisa o direito à privacidade, ao anonimato, o respeito aos seus hábitos, costumes e
crenças, sendo protegido de qualquer preconceito ou estigmatização e, por fim o direito de
abandonar a pesquisa no momento em que achar necessário, sem qualquer dano moral ou
material, os profissionais e os clientes entrevistados assinaram um termo de consentimento
livre e esclarecido que segue em anexo ao trabalho.
A identificação dos profissionais foi feita por códigos; utilizando as iniciais do nome
seguido pela categoria profissional, e número sequencial da entrevista, tais como: Enfermeiro
– Enf 01; Técnico ou Auxiliar de Enfermagem – TEnf 01; Auxiliar de Enfermagem – AEnf
01; seguido pela data da entrevista e não fazendo distinção de sexo. Quanto aos clientes
também foi realizada codificação utilizando as siglas do nome e sobrenome seguido pelo sexo
e idade. A coleta de dados foi realizada de forma individual, sendo cada dia um integrante do
grupo responsável pela escala diurna e noturna do Hospital. O tempo de pesquisa foi do dia
11/10/2011 ao dia 17/10/2011, o aluno responsável pela entrevista chegava ao hospital no
horário de 17 horas até a última coleta do plantão noturno. As entrevistas começaram após a
aprovação do comitê de ética da Universidade Estácio de Sá, e de autorização da direção do
Hospital.
Revisão de Literatura
O atendimento inicial da doença aguda se diferencia em diversos aspectos daquele
adotado na prática do tratamento não emergencial. A história da doença e os dados referentes
ao cliente são limitados, muitas vezes se obtendo a relativa ao atendimento pré-hospitalar. O
atendimento emergencial envolve abordagem diagnóstica e tratamento simultâneo, baseados
em algoritmos de ressuscitação e na análise de dados do exame físico imediato, especialmente
sinais vitais, assim como resultados de exames complementares.
44
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
Na admissão, até que se prove o contrário, espera-se que o cliente se apresente instável
ou necessitando de medidas de ressuscitação. Estas medidas são parte do Suporte Básico de
Vida (BLS – Basic Life Support), determinado pela American Heart Association, em outubro
de 2010, que utiliza o CABD (compressões torácicas, via aérea, respiração, desfibrilação) na
abordagem inicial do cliente. Associado às medidas iniciais sobrepõem-se as medidas do
Suporte Avançado de Vida (ACLS – Advanced Cardiac Life Support). Ambos foram
inicialmente desenvolvidos para abordagem de clientes com IAM, com instabilidade ou parada
cardiorrespiratória, porém, atualmente é universalmente aplicado na ressuscitação de clientes
instáveis, incluindo–se mais recentemente a abordagem à doença aguda não traumática.
(MESQUITA, 2003; PROTOCOLO AHA, 2010)
“Após a abordagem inicial e estabelecido que não há necessidade de ressuscitação,
deve-se obter a queixa principal e a história da doença atual, com atenção especial aos
sinais vitais, que são obtidos e/ou monitorados de acordo com a apresentação do
paciente, visto que a interpretação dos dados, o diagnóstico e tratamento constituem
etapas simultâneas na abordagem emergencial.” (MESQUITA, 2003, p.21).
A monitorização eletrocardiográfica é extremamente importante, pois a causa mais
comum de morte pós IAM são as arritmias. Com a monitorização efetiva é possível avaliar a
frequência e o ritmo cardíacos, podendo identificar os distúrbios arrítmicos. Para
complementar os dados da monitorização cardíaca é de suma importância a observação direta
ao cliente a beira do leito. Ao realizar o exame físico regular e detalhado deve identificar os
primeiros sinais e sintomas de insuficiência ventricular e choque cardiogênico.
A monitorização hemodinâmica ocorre por meio da utilização de cateteres que medem
as pressões arteriais e venosas. Com esses dados hemodinâmicos é possível avaliar a
gravidade do problema e a eficácia do tratamento. A monitorização hemodinâmica invasiva é
feita com a utilização do cateter de Swan-Ganz com o qual é possível a mensuração direta de
valores como pressão de artéria pulmonar, pressão de capilar pulmonar e débito cardíaco, além
de outros parâmetros derivados a partir da obtenção destes dados. Isso torna possível uma
melhor avaliação do paciente e ajuste da terapêutica medicamentosa utilizada. (MELTZER,
1997)
A fim de que o atendimento ao cliente com IAM seja adequado não basta somente um
diagnóstico correto mais também o tratamento deverá ser iniciado o mais rápido possível.
Indiscutivelmente, o diagnóstico e o tratamento precoces salvam vidas. Nesse contexto,
devemos considerar a terapêutica elétrica das arritmias graves (cardioversão e desfibrilação) e
a reperfusão precoce da artéria relacionada ao infarto (trombólise mecânica ou farmacológica).
(COELHO, et al, 2005).
Para todos os pacientes que apresentem um quadro clínico de IAM com elevação do
segmento ST ou Bloqueio Completo do Ramo Esquerdo (presumidamente novo) até 12 horas
do início dos sintomas deverão receber a terapêutica trombolítica. A administração da
terapêutica trombolítica não deverá ser realizada em caso de contraindicação ao uso da droga
ou caso exista a possibilidade da trombólise mecânica primária. A trombólise mecânica não
55
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
seria indicada caso esta opção resultasse em retardo superior a 90 minutos para dilatação da
artéria “culpada” pelo IAM, quando comparado ao tempo da administração do trombolítico.
(COELHO, et al, 2005).
“A finalidade dos trombolíticos é dissolver e lisar o trombo (trombólise) em uma
artéria coronária, permitir que o sangue flua novamente através da artéria coronária
(reperfusão), minimizar o tamanho do infarto e preservar a função ventricular. O
analgésico de escolha para o IAM ainda é o sulfato de morfina, administrado em bolos
intravenosos. A morfina não somente reduz a dor e a ansiedade, como também reduz a
pré-carga, o que, por sua vez, diminui a carga de trabalho do coração e relaxa os
bronquíolos para estimular a oxigenação.” (BRUNNER & SUDDARTH, 2008)
A nitroglicerina, um agente vasoativo, é administrada para reduzir o consumo de
oxigênio pelo miocárdio, o que diminui a isquemia e alivia a dor. A nitroglicerina dilata
principalmente as veias e também as artérias. Ela também ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo
coronariano por evitar o vasoespasmo e aumentar a perfusão através dos vasos colaterais.
(BRUNNER & SUDDARTH, 2008)
“Não é necessário fornecer oxigênio suplementar para pacientes sem evidencia de
desconforto respiratório, caso a saturação de oxi-hemoglobinas seja
≥ 94%. A
morfina é indicada em IAMSST (sem supradesnível de segmento
ST)/EAMCSST(supradesnível de segmento ST) quando o desconforto torácico não
responde a nitratos.” (PROTOCOLO AHA,2010, p. 18)
Segundo o formulário terapêutico nacional a morfina é definida como um analgésico
narcótico de escolha para dor intensa, aguda e crônica, dor relacionada ao câncer, adjuvante
anestésico ou analgésico pós-operatório, age no SNC e na musculatura lisa em administração
IV em 5 a 10 min. No tratamento do IAM inicia-se com dose de 10mg IV, diluída, seguido de
doses adicionais de 5 a 10mg, se necessário, até o alívio completo da dor ou surgimento de
efeitos tóxicos: hipotensão, depressão respiratória, vômitos (BRASIL, 2008).
O diagnóstico de IAM pode ser dificultado, pois dos clientes que realmente apresentam
um IAM, apenas a metade tem um eletrocardiograma com alterações clássicas como CSST à
admissão e menos da metade dos clientes com IAMSSST apresenta creatinoquinase-MB (CKMB) elevada à admissão.
Sendo assim a explicação desses dados o porquê, mesmo em centros de referência, 2 a
3 % de pacientes com IAM são indevidamente liberados da emergência, taxa que pode
alcançar valores de até 10 a 20 % em alguns serviços, sendo que destes, 25% apresenta
desfecho letal.
Diante desses dados de falha terapêutica demonstram uma capacidade de inserir o
atendimento da dor torácica no conceito das Unidades de dor Torácica (UDT), nas quais o
cliente receberia uma atenção mais direcionada, com condutas normatizadas para o
diagnóstico e tratamento. Entretanto, a UDT pode funcionar no mesmo espaço físico da sala
66
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
de emergência, onde será necessário o treinamento da equipe multiprofissional de saúde nas
rotinas estabelecidas.
A abordagem inicial ao cliente com dor torácica consiste em se definir, através de uma
breve história clínica, se o sintoma decorre de uma provável causa cardíaca ou de provável
causa não cardíaca. (AGUIAR, 2008)
TIPOS DE DOR TORÁCICA
CARACTERÍSTICAS
Tipo A (dor definitivamente anginosa)
Dor torácica cujas características dão a certeza
do diagnóstico de Síndrome Coronariana
Aguda (SCA), independentemente do
resultado dos exames complementares.
Tipo B (dor provavelmente anginosa)
Dor torácica cujas características sugerem
SCA como principal hipótese diagnóstica,
porém com necessidade de exames
complementares para a confirmação do
diagnóstico.
Dor torácica cujas características não sugerem
SCA como a principal hipótese diagnóstica,
porém há necessidade de exames
complementares para excluí-la.
Dor torácica cujas características não sugerem
SCA no diagnóstico diferencial etiológico.
Tipo C (dor provavelmente não anginosa)
Tipo D (dor definitivamente não anginosa)
Fonte: Protocolos clínicos da Cooperclim – IAM: Dor torácica na sala de emergência
Segundo Aguiar (2008), pacientes com ECG CSST (supradesnível de segmento ST) e
dor torácica tipo A/B são diagnosticados como IAM CSST e devem ser internados
preferencialmente em Unidade CORONARIANA (UCO) e tratados conforme rotina
específica. Pacientes com ECG SSST (infradesnível ou inversão de T) com dor torácica tipo
B/C, ou ainda com ECG inespecífico, porém com dor torácica tipo A/B deve permanecer em
observação na Sala de Dor Torácica e submetidos a dosagens de enzimas (CK-MB /CKT)
seriadas a cada 3h e ECG 6/6h por 9 às 12h. Neste período, qualquer evidência de necrose
miocárdica justifica transferência à UCO. Caso contrário, deve-se utilizar um teste
provocativo (teste ergométrico ou cintilografia miocárdica) tardio (após controle da dor),
podendo-se considerar alta caso o teste seja negativo ou internação em UCO e cateterismo
cardíaco caso positivo para isquemia. Pacientes com ECG inespecífico e dor torácica tipo C
tem baixo risco de angina instável, porém, devem seguir protocolo, com tempo de observação
menor (6h). Pacientes com dor torácica não isquêmica, mas com suspeita de TEP
(Tromboembolismo Pulmonar) ou SATA (Síndromes Aórticas Torácicas Agudas) devem ser
internados em UCO e sequenciados conforme protocolos específicos. Pacientes com ECG
normal ou inespecífico e dor torácica tipo D podem receber alta do Pronto Socorro com
77
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
seguimento ambulatorial posterior, excetuando-se, obviamente, os que apresentem outro
diagnóstico que necessitem cuidados de urgência.
Com base nas manifestações clínicas e dados da avaliação diagnóstica, devem ser
realizados os seguintes cuidados de enfermagem em clientes com IAM:
Para o alívio da dor torácica associada ao IAM a administração intravenosa de
vasodilatador e terapia anticoagulante é um método aceito. A nitroglicerina e a heparina são os
medicamentos de escolha.
Os sinais vitais são avaliados com frequência, enquanto o cliente estiver
experimentando dor.
O oxigênio deve ser administrado em conjunto com a terapia medicamentosa para
garantir o alívio da dor. A inalação de oxigênio, mesmo em doses baixas, eleva o nível
circulante de oxigênio e reduz a dor associada a baixos níveis de oxigênio circulante. Uma
taxa de 2 a 4l/min. é geralmente adequada para manter os níveis de saturação de oxigênio de
96 a 100% quando nenhuma outra doença está presente.
o
O repouso físico no leito, com a cabeceira elevada, ou em uma cadeira cardíaca ajudará
a diminuir o desconforto torácico e a dispneia. A elevação da cabeça é benéfica pelas
seguintes razões: o volume corrente melhora por causa da pressão reduzida a partir do
conteúdo abdominal sobre o diafragma e, assim gera melhora na expansão pulmonar e da troca
gasosa; a drenagem dos lobos superiores dos pulmões melhora e o retorno venoso para o
coração diminui, reduzindo seu trabalho. (BRUNNER & SUDDARTH, 2008).
Análise de Dados
Durante a realização da pesquisa verificamos que a equipe de enfermagem envolvida
no atendimento aos clientes com suspeita de IAM na unidade de emergência da instituição é
composta por um total de 45 profissionais sendo 08 Enfermeiros, 24 Técnicos em
Enfermagem e 13 Auxiliares de Enfermagem e foram entrevistados 39 profissionais sendo 06
Enfermeiros, 22 Técnicos em Enfermagem e 11 Auxiliares de Enfermagem, conforme gráficos
1.1 e 1.2 abaixo:
88
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
Gráfico 1.1 - Representa o número de profissionais existentes.
Gráfico 1.2 - Representa o número de profissionais entrevistados.
Os profissionais da equipe de enfermagem da instituição foram entrevistados com base
no Anexo 01 desta pesquisa e após análise dos dados foi possível verificar que a instituição
não possui um protocolo instituído e também observar que 27 profissionais da equipe estão
cientes da ausência de protocolo enquanto 12 profissionais da equipe desconhecem este fato.
Observamos que os técnicos e os auxiliares de enfermagem não recebem treinamento
periódico dos enfermeiros, apesar de alguns enfermeiros relatarem conhecer o protocolo AHA
de Outubro de 2010 para abordagem inicial do cliente.
Dos profissionais entrevistados 34 relataram conhecer os equipamentos/ materiais
disponíveis no setor, tais como desfibriladores/cardioversores, monitores multiparâmetros e
oxímetro de pulso e apenas 05 relatam não conhecê-los.
A realização diária do check list é de extrema importância para um atendimento de
emergência eficaz, observamos que é executada por 24 profissionais da equipe enquanto 15
profissionais da equipe reconhecem não realizá-lo diariamente.
Para um tratamento eficaz, é necessário reconhecer as ações prioritárias
na
realização de um atendimento de IAM. Grande parte da equipe de
enfermagem possui
mais de cinco anos de experiência em atendimento de emergência intra-hospitalar. Durante a
entrevista os profissionais enumeraram quais seriam as prioridades no atendimento de cliente
com suspeita de IAM conforme demonstra o gráfico 1.3 a seguir:
99
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
Gráfico 1.3 - Representa as ações de prioridades relatadas pelos profissionais.
Com base nas prioridades supracitadas pela equipe e indicadas no Protocolo AHA de
Outubro de 2010 de abordagem inicial do cliente, concluímos que as prioridades para
atendimento eficaz seriam:
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
Avaliar nível de consciência;
Identificar parada cardiorrespiratória (PCR);
Realizar reanimação cardiopulmonar (RCP- compressão/ventilação);
Desobstruir vias aéreas superiores (VAS);
Ofertar oxigênio;
Realizar eletrocardiograma (Monitorização-ECG);
Administrar medicações;
Promover conforto.
Foram realizadas entrevistas com 3 clientes com suspeita de IAM, todos com idade
superior a 40 anos, conforme dados dos gráficos a seguir:
10
10
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
Gráfico 1.4 – Quanto ao sexo dos entrevistados.
Gráfico 1.5 – Representa a idade dos clientes entrevistados.
O tempo de procura do serviço de emergência é um fator importante para o prognóstico
do cliente e também foi analisado durante a entrevista. Todos os clientes procuraram o
atendimento após duas horas do início dos sintomas.
Dos clientes entrevistados 66,6% apresentaram dispneia associada a sintomas como
dor precordial e nos membros superiores. Apenas 33,4% dos clientes entrevistados
apresentaram dor na mandíbula e sudorese associada a dor precordial.
A hipertensão arterial foi observada em 66,6% dos entrevistados e todos estes faziam
uso de medicações anti-hipertensivas e acompanhamento médico regular.
Considerações Finais
Os resultados desta pesquisa evidenciaram que a equipe de enfermagem possui um
bom conhecimento teórico/prático, presta uma assistência eficaz, apresenta habilidade em
relação ao manuseio dos equipamentos/ materiais como desfibriladores/cardioversores,
monitores multiparâmetros e oxímetro de pulso além de reconhecer a importância de checar o
11
11
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
funcionamento dos materiais e as condições dos medicamentos antes de assumir um plantão,
pois sabe que só obterá êxito no atendimento se adotar esta conduta.
Em relação ao atendimento constatamos que os profissionais de enfermagem do setor
de emergência da instituição obtiveram um aproveitamento satisfatório na identificação das
ações prioritárias durante o atendimento ao cliente com suspeita de IAM, apesar de não
receberem treinamentos periódicos baseados em protocolos todos os profissionais
demonstraram reconhecer os sinais de uma parada cardiorrespiratória e como atuar diante
deste evento.
Consideramos que a assistência de enfermagem poderia ser enriquecida com a
realização de treinamentos periódicos. O enfermeiro após receber treinamento pode realizar
uma educação continuada com base em protocolos já existentes ou criando protocolos que
seriam adequados à realidade da instituição.
Poderíamos considerar também a adoção de um modelo de atendimento como o da
UDT, visto que não demandaria um maior número de profissionais e nem mesmo mudanças
na planta física da instituição, porém contribuiria para uma melhoria da assistência, pois a
abordagem ao cliente seria mais direcionada e qualificada, com isso reduzindo possíveis
sequelas para o cliente e ainda reduzir o tempo de internação e custos.
As informações obtidas na bibliografia foram confirmadas durante a realização da
pesquisa, ou seja, os sinais e sintomas apresentados pelos clientes, à prevalência do número de
casos do sexo feminino sobre o masculino, a presença de fatores de risco principalmente a
hipertensão arterial e a idade e, outro fator que se destacou, foi o tempo de procura do serviço
de emergência por parte dos clientes que sempre superou duas horas do início dos sintomas o
que poderia reduzir as chances de sucesso no atendimento.
O enfermeiro da estratégia de saúde família pode realizar um papel importante na
redução do tempo de procura do serviço de saúde, realizando trabalhos de prevenção dentro da
sua área de abrangência como palestras e outras atividades que proporcionem a população
orientações sobre os cuidados com a alimentação, a realização de atividades físicas
regularmente, condições de reconhecer os sintomas característicos de um IAM, a importância
em procurar precocemente o serviço de emergência na presença destes visando proporcionar
uma melhor qualidade de vida e principalmente a redução da mortalidade.
Referências
AGUIAR, L.D. TATIANE; Dor Torácica na sala de Emergência., Sd
ARAÚJO; L. Thelma; Vivendo infarto: os significados da doença segundo a perspectiva
do paciente; Revista Latino- AM.; 742-748; 2003.
AVEZUM, Álvaro; Berwanger, Otávio; Guimarães P.Hélio; Piegas,Leopoldo; Aspectos
epidemiológicos do infarto agudo do miocárdio no Brasil; São Paulo;2005.
BRANDÃO; C.Laecy; et.al; Assistência de enfermagem ao paciente com suspeita de
infarto; 2009; Disponível em:
12
12
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
<http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_20984/artigo_sobre_assist%C3%8Ancia_de_en
fermagem_ao_paciente_com_suspeita_de_infarto>acessado em 20 de Novembro de 2011.
BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Formulário terapêutico nacional 2010: Rename
2010. Ministério da saúde, secretaria de ciência, tecnologia e insumos estratégicos – Brasília:
Ministério da Saúde, 2010.
BRASILEIRO, L.D.S..ANTONIO; SAMU 192 e a abordagem pré-hospitalar do Infarto
Agudo do Miocárdio no Brasil: Esperança para o paciente ou mais uma oportunidade
perdida?; Rio de Janeiro; p.45 - 46; 03/01/ 2007.
COELHO; R. Otávio, et al; Como atender melhor o infarto agudo do
miocárdio em hospitais não especializados; São Paulo; 2005; Disponível em
<http://ser1.cremesp.org.br/?siteAcao=Jornal&id=456> acessado em 13 de Novembro de
2010.
CONTANDRIOPOULOS, André-Pierre, et all. Saber preparar uma pesquisa. São Paulo –
Rio de Janeiro: Hucitec, 1994.
FRANCO, Betina; Rabelo R. Eneida; Pacientes com Infarto Agudo do Miocárdio e os
fatores que interferem na procura por serviço de emergência: implicações para a
educação em saúde; Rev. Latino-am enfermagem; 2008.
FERRARI, D.L. Andrés; Manenti, Euler; IAM com supra ST – Trombólise ou ICP:
consenso; Porto Alegre; n.11; p.1-5; 2007.
LEHFELD, A. S., Neide;et. al.; Fundamentos de Metodologia Científica; 3° ed.; São
Paulo;p.82,90,108; 2010.
MESQUITA, Evandro Tinoco; CLARE, Cristina Monsanto. Rotinas de Emergências
Cardiovasculares: Hospital pró-cardíaco. São Paulo: Atheneu; p.21; 2003.
MACHADO, V. Cristiane; Metodologia para estimativa de padrões de qualidade: o caso
do Infarto Agudo do Miocárdio; Rio de Janeiro; p. 71-83; 1996.
MELTZER LE, Pinneo R, Kirchell JR. Enfermagem na Unidade Coronariana. 3ªed.São
Paulo(SP): Ed. Atheneu; 1997.
MELO;C.P.;Enirtes;et.al; Infarto agudo do miocárdio no Município do Rio de Janeiro:
qualidade dos dados, sobrevida e distribuição espacial; Epidemiol.Serv. Saúde; Brasília;
vol.16;2007.
MUSSI, C. Fernanda; O Infarto e a ruptura com o cotidiano: Possível atuação do
enfermeiro na prevenção; REV. Latino-am. Enfermagem; p. 751-759; 2004.
NASCIMENTO, F.G. Ingrid; TRINDADE, A. Zeidi; O que fazer quando o coração aperta?
Dinâmica Conjugal pós-infarto; Brasília; vol.18 n.1; p. 107-115; 2002.
POTSCH, A. Alfredo; Importância da proteína C-Reativa no diagnóstico e prognóstico
intra-hospitalar em pacientes com dor torácica na sala de emergência; Rio de Janeiro;
p.275-280; volume 87; n.3; 2006.
PORTELA, C. Margareth; O sistema de informações hospitalares e assistência ao infarto
agudo do miocárdio; Revista saúde pública; p.491-499; 2002.
SANTOS, S. Elizabete; Registro da Síndrome Coronariana Aguda em um Centro de
emergências em cardiologia; Arq. Bras. Cardiol.; São Paulo; p.597-602; 87; 2002.
SAMPAIO, S. Elieusa; MUSSI, C. Fernanda; Cuidado de enfermagem: Evitando retardo
pré- hospitalar face ao Infarto Agudo do Miocárdio; Rio de Janeiro; p.442-446;
02.03.2009.
13
13
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012
SAYRE, R. Michael, et al; Destaques das Diretrizes da American Heart Association 2010
para RCP e ACE; Texas;p.4- 18;2010.
SMELTZER, C. Suzanne; BARE, G. Brenda; Brunner&Suddarth: Tratado de
Enfermagem Médico- cirúrgica; 11ªed; Rio de Janeiro;Guanabara Koogan S.A.;pg.576-735744;2008.
SOARES, S. Tatiana; Tempo de porta- eletrocardiograma: um indicador de eficácia no
tratamento do infarto agudo do miocárdio; Porto Alegre; p.120-126; 2009.
14
14
Volume 2º. – nº 02 – 2º. semestre 2012

Documentos relacionados

A conduta do enfermeiro frente ao paciente infartado

A conduta do enfermeiro frente ao paciente infartado O Infarto agudo do miocárdio (IAM) é a necrose de uma amostra do músculo cardíaco causado pela interrupção de fluxo sangüíneo nas artérias coronárias que nutrem o coração. O diagnóstico precoce é f...

Leia mais

modelo para elaboração e formatação de artigos científicos

modelo para elaboração e formatação de artigos científicos associados (16%); avaliação das características da dor torácica e dos sintomas associados (14%); e história pregressa do relevante (12%) (Gráfico 2).

Leia mais

A dor torácica na sala de emergência: uma revisão da literatura

A dor torácica na sala de emergência: uma revisão da literatura Os estudos de Bassan, et al. (2000), demonstraram a efetividade de um abordagem sistematizada. Dos 1003 pacientes estudados que deram entrada com queixa principal de dor torácica, classificados ime...

Leia mais