O Furacão Katrina, uma das piores catástrofes naturais de

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O Furacão Katrina, uma das piores catástrofes naturais de
O Furacão Katrina, uma das piores catástrofes naturais
de sempre nos EUA
Luís Gordinho (01-09-2005)
O furacão Katrina arrastou para o mar
muitos ovos de tartaruga marinha nas praias da
Florida e afundou inúmeros ninhos de aligátor nos
Everglades mas os cientistas e técnicos de ambiente
esperam que a maioria dos efeitos sejam
temporários.
Desde o dia 24 de Agosto que o furacão
Katrina fustiga o sul dos EUA, com ventos que
atingiram os 280 km/h. Os estados mais afectados
são o Alabama, o Mississipi e a Luisiana. Já há cerca
de 350 vítimas mortais confirmadas mas poderão
ser milhares e a estimativa mais recente dos
prejuízos económicos ronda os 20 a 65 biliões de
dólares.
Com todo o respeito pela dimensão humana, social e económica da catástrofe mas ciente
da sua obrigação de mostrar uma vertente do problema um pouco diferente da coberta pela
comunicação social generalista, a Naturlink divulga aqui alguns elementos sobre o impacto desta
catástrofe na vida selvagem.
Naturalmente, com o furacão ainda activo, poucos foram os Estados que tiveram
oportunidade de fazer um balanço dessa componente da catástrofe. Um deles foi a Florida, uma
região que foi muito menos afectada dos que as três supramencionadas.
De acordo com Thomas Eason, um biólogo da “Florida Fish and Wildlife Conservation
Commission”, a vida selvagem na Florida co-evoluiu com os furacões durante milhares, ou mesmo
milhões, de anos, de tal forma que a maior parte das espécies é capaz de recuperar de qualquer
impacto temporário e localizado. Os ursos, veados e pumas deslocam-se para terrenos mais altos
ou procuram locais abrigados onde se refugiam até o furacão passar, resistindo bastante bem.
À medida que os furacões se aproximam a pressão atmosférica baixa e os animais
procuram abrigo. As borboletas refugiam-se em cavidades das árvores, os tubarões afastam-se
da costa e as aves migratórias atrasam a sua partida até a tempestade passar.
Mas as zonas húmidas, recifes de coral e outros ecossistemas “a braços” com o furacão
Katrina estão sujeitos a fragmentação e stress devido à contrução civil desenfreada que
transformou o sul da Florida nos últimos 100 anos, aumentando o impacto potencial das
catástrofes naturais. Os cientistas só recentemente começaram a avaliar esses danos.
Segundo Stefanie Ouellette, gestora de um projecto de conservação de tartarugas
marinhas em Broward County, o furacão arrastou para o mar e soterrou muitos ninhos de
tartaruga-verde (Chelonia mydas) e de tartaruga-boba (Caretta caretta) nessa importante área
de reprodução. Provavelmente perderam-se menos de 50 ninhos. Os furacões do ano passado,
que atingiram a costa da Florida mais perto das principais colónias de tartarugas-marinhas da
região, destruiram mais ninhos. No “Gumbo Limbo Nature Center”, em Boca Raton, outra área
de reprodução importante, o furacão destruiu mais 50 a 60 ninhos mas foi possível salvar 25 crias
de tartaruga-de-couro que tinham sido arrastadas de volta para a praia pelo furacão. Essas
tartarugas foram levadas para um centro de recuperação e libertadas após a passagem do
furacão.
O furacão atravessou depois o Parque Nacional dos Everglades, “presenteando” com
chuvas torrenciais uma área cujos níveis de água já eram elevados. Isto devido ao moderno
sistema de canais e estações de bombeamento do sul da Florida, que deixa os Everglades com
água a mais ou com água a menos, dependendo da época do ano.
As chuvas provocadas pelo furacão completaram a destruição de cerca de 90% dos
ninhos de aligátor (Alligator mississippiensis) deste ano, que já estavam a ser afundados pelo altos
níveis de água. Perderam-se centenas de ninhos mas os cientistas locais afirmam que,
globalmente, a população recuperará.
Mais grave poderá ser o impacto do furacão
nas populações da borboleta-azul de Miami
(Hemiargus thomasi bethunebakeri), um dos
insectos mais raros da América do Norte. Após a
descoberta de uma pequena população nas Florida
Keys há alguns anos e um programa de reprodução
em cativeiro, a espécie foi reintroduzida nos parques
nacionais dos Everglades e de Biscayne. Estes dois
parques foram atingidos pelo furacão.
Apesar do local ainda não ter sido
prospectado por entomologistas após o furacão, a
situação parece preocupante porque as larvas e as
pupas dessa espécie de borboleta ocorrem na vegetação rasteira correndo o risco de ser
arrastadas pelas águas.
Aguardam-se com apreensão informações sobre os impactos ambientais do furacão nos
três Estados mais afectados, assim como uma avaliação mais rigorosa da situação na Florida.
Notícia adaptada de:
http://naturlink.sapo.pt/Noticias/Noticias/content/O-Furacao-Katrina-uma-das-piorescatastrofes-naturais-de-sempre-nos-EUA

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