Livro fotográfico Diversità – Largo da Ordem

Transcrição

Livro fotográfico Diversità – Largo da Ordem
TERMO DE APROVAÇÃO
Mahara de Gouvêa
Monique Cellarius Konietzko
LIVRO FOTOGRÁFICO “Diversità - Largo da Ordem: as faces de um lugar
Uma perspectiva sobre os Grupos Sociais do Largo da Ordem
conhecido por não ter rosto”
Trabalho de conclusão de curso aprovado com nota 7,0 como requisito parcial
para a obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social – Jornalismo pelas
Faculdades Integradas do Brasil – Unibrasil, mediante banca examinadora composta por:
Prof.(a) e Presidente Viviane Rodrigues Peixe
Prof.(a) Hendryo André
Prof.(a) Ivana Paulatti
Curitiba, 29 de agosto de 2014.
ANEXO II - FICHA DE QUALIFICAÇÃO DE TCC OU PROJETO EXPERIMENTAL
BANCA DE QUALIFICAÇÃO MONOGRAFIA OU PROJETO EXPERIMENTAL
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Tipo:
( ) Monografia
( ) Projeto Experimental
Tema do projeto: ________________________________
IDENTIFICAÇÃO
DO PROJETO:
Veículo Proposto: _______________________________
Integrantes da equipe: 1. __________________________
2. __________________________
3. __________________________
Prof.: _________________________________________
INTEGRANTES
DA BANCA
Prof.: _________________________________________
Prof.: _________________________________________
E
(0,0 a 3,9)
AVALIAÇÃO
D
(4,0 a 6,9)
C
(7,0 a 7,9)
B
(8,0 a 8,9)
A
(9,0 a 10,0)
Definição do tema e objeto do trabalho
Apresentação do problema de pesquisa
Objetivos e justificativa do projeto
Metodologia proposta no projeto
Qualidade do quadro teórico referencial
Delineamento do projeto
Cronograma de Atividades
SOMA DAS NOTAS
MÉDIA DA BANCA DE QUALIFICAÇÃO
Plenamente apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação acima de 9,0 pontos.
Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 7,0 e 8,9 pontos.
Apto com restrições para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 6,9 e 4,0 pontos, o que resultará na necessidade
de um exame final para o aluno ou integrantes da equipe.
Não Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação abaixo de 4,0 pontos.
RESULTADO FINAL
( ) Plenamente Apto ( ) Apto ( ) Apto com restrições
SUGESTÃO DE
ORIENTADOR:
Prof.: ________________________________________
( ) Não Apto.
PARECER DA BANCA:
Assinaturas dos integrantes da banca:
Curitiba, ____ de _______________________ de ______
Cópia desta ficha assinada deverá ser anexada à versão final do trabalho.
ANEXO II - FICHA DE QUALIFICAÇÃO DE TCC OU PROJETO EXPERIMENTAL
BANCA DE QUALIFICAÇÃO MONOGRAFIA OU PROJETO EXPERIMENTAL
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Tipo:
( ) Monografia
( ) Projeto Experimental
Tema do projeto: ________________________________
IDENTIFICAÇÃO
DO PROJETO:
Veículo Proposto: _______________________________
Integrantes da equipe: 1. __________________________
2. __________________________
3. __________________________
Prof.: _________________________________________
INTEGRANTES
DA BANCA
Prof.: _________________________________________
Prof.: _________________________________________
E
(0,0 a 3,9)
AVALIAÇÃO
D
(4,0 a 6,9)
C
(7,0 a 7,9)
B
(8,0 a 8,9)
A
(9,0 a 10,0)
Definição do tema e objeto do trabalho
Apresentação do problema de pesquisa
Objetivos e justificativa do projeto
Metodologia proposta no projeto
Qualidade do quadro teórico referencial
Delineamento do projeto
Cronograma de Atividades
SOMA DAS NOTAS
MÉDIA DA BANCA DE QUALIFICAÇÃO
Plenamente apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação acima de 9,0 pontos.
Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 7,0 e 8,9 pontos.
Apto com restrições para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 6,9 e 4,0 pontos, o que resultará na necessidade
de um exame final para o aluno ou integrantes da equipe.
Não Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação abaixo de 4,0 pontos.
RESULTADO FINAL
( ) Plenamente Apto ( ) Apto ( ) Apto com restrições
SUGESTÃO DE
ORIENTADOR:
Prof.: ________________________________________
( ) Não Apto.
PARECER DA BANCA:
Assinaturas dos integrantes da banca:
Curitiba, ____ de _______________________ de ______
Cópia desta ficha assinada deverá ser anexada à versão final do trabalho.
ANEXO II - FICHA DE QUALIFICAÇÃO DE TCC OU PROJETO EXPERIMENTAL
BANCA DE QUALIFICAÇÃO MONOGRAFIA OU PROJETO EXPERIMENTAL
COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
Tipo:
( ) Monografia
( ) Projeto Experimental
Tema do projeto: ________________________________
IDENTIFICAÇÃO
DO PROJETO:
Veículo Proposto: _______________________________
Integrantes da equipe: 1. __________________________
2. __________________________
3. __________________________
Prof.: _________________________________________
INTEGRANTES
DA BANCA
Prof.: _________________________________________
Prof.: _________________________________________
E
(0,0 a 3,9)
AVALIAÇÃO
D
(4,0 a 6,9)
C
(7,0 a 7,9)
B
(8,0 a 8,9)
A
(9,0 a 10,0)
Definição do tema e objeto do trabalho
Apresentação do problema de pesquisa
Objetivos e justificativa do projeto
Metodologia proposta no projeto
Qualidade do quadro teórico referencial
Delineamento do projeto
Cronograma de Atividades
SOMA DAS NOTAS
MÉDIA DA BANCA DE QUALIFICAÇÃO
Plenamente apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação acima de 9,0 pontos.
Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 7,0 e 8,9 pontos.
Apto com restrições para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação entre 6,9 e 4,0 pontos, o que resultará na necessidade
de um exame final para o aluno ou integrantes da equipe.
Não Apto para projetos que apresentarem Média da Banca de Qualificação abaixo de 4,0 pontos.
RESULTADO FINAL
( ) Plenamente Apto ( ) Apto ( ) Apto com restrições
SUGESTÃO DE
ORIENTADOR:
Prof.: ________________________________________
( ) Não Apto.
PARECER DA BANCA:
Assinaturas dos integrantes da banca:
Curitiba, ____ de _______________________ de ______
Cópia desta ficha assinada deverá ser anexada à versão final do trabalho.
FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL – UNIBRASIL
Mahara de Gouvêa
Monique Cellarius
LIVRO FOTOGRÁFICO “Diversità - Largo da Ordem: as faces de um lugar
conhecido por não ter rosto”
Uma perspectiva sobre os Grupos Sociais do Largo da Ordem
CURITIBA
2014
2
FACULDADES INTEGRADAS D FACULDADES INTEGRADAS DO BRASIL –
UNIBRASIL
Mahara de Gouvêa
Monique Cellarius
LIVRO FOTOGRÁFICO “Diversità - Largo da Ordem: as faces de um lugar
conhecido por não ter rosto”
Uma perspectiva sobre os Grupos Sociais do Largo da Ordem
Trabalho de Conclusão apresentado à Banca
Examinadora do Curso de Comunicação Social
com Habilitação em Jornalismo das Faculdades
Integradas do Brasil.
Professora Orientadora: Viviane Rodrigues Peixe
CURITIBA
2014
3
RESUMO
O projeto consiste em um fotolivro, que têm como tema principal a
pluralidade dos grupos, subgrupos sociais e movimentos culturais que frequentam
o centro histórico de Curitiba, mais precisamente do Largo da Ordem. Para isso,
são usadas imagens fotográficas de tais grupos em ação, relacionando-se entre si
e com o Largo da Ordem, tornando-se parte dele. As imagens que compõem o livro
são de composições próprias e foram captadas no espaço delimitado que será
apresentado ao longo deste trabalho. A intenção do fotolivro é de documentar o
Largo da Ordem a fim de mostrar a pluralidade cultural do espaço por meio da
mutação física, uma vez que o Largo da Ordem abriga os mais diversos grupos,
subgrupos sociais, movimentos culturais. Para isso, este projeto se vale do termo
“fotografia documental”, no qual as fotografias são usadas com valor de documento
histórico, fonte de informação e como mediadoras para a construção de identidade
e a sua recuperação, como atos de personificação e preservação da memória dos
grupos na esfera local mostrando o espaço físico como um ambiente
ultrademocrático.
PALAVRAS-CHAVE: Largo da Ordem; fotodocumentário; fotolivro; cultura.
4
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. ......05
2. TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................05
2.1 Contextualização da Imagem................................................................................05
2.1.1 Fotografia...........................................................................................................06
2.1.2 Fotojornalismo............................................................................................ ......09
2.1.3 Fotografia documental......................................................................................15
2.1.4 Fotojornalismo x Fotografia Documental..........................................................18
2.2 Largo da Ordem...................................................................................................21
2.3 Etnografia............................................................................................................29
2.4 Antropologia da identidade..................................................................................31
2.5 Grupos, Subgrupos Sociais e Movimentos Culturais..........................................32
2.5.1 Movimentos Culturais.......................................................................................32
2.5.2 Grupos e Subgrupos Sociais............................................................................36
2.5.3 Ideologia.......................................................................................................... 42
2.5.4 Skinheads.........................................................................................................43
2.5.5 Punks................................................................................................................44
2.5.6 Headbangers....................................................................................................45
2.5.7 Crenças............................................................................................................45
2.5.8 Católicos..........................................................................................................45
2.5.9 Judeus.............................................................................................................47
2.5.10 Hare Krishnas................................................................................................47
3.OBJETIVOS..........................................................................................................49
3.1 Objetivo geral ....................................................................................................48
3.2 Objetivos específicos ........................................................................................48
4. JUSTIFICATIVA .................................................................................................49
4.1 Significação da imagem fotográfica...................................................................49
4.2 A fotografia como ferramenta de construção social e cultural...........................50
5. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS ............................................................ 53
6. DELINEAMENTO DO PRODUTO.......................................................................54
6.1 Público alvo........................................................................................................57
6.2 Projeto gráfico ...................................................................................................59
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................60
8. REFERÊNCIAS ...................................................................................................63
9. ANEXOS .............................................................................................................67
5
1. INTRODUÇÃO
“Diversità - Largo da Ordem: as faces de um lugar conhecido por não ter
rosto” é um fotodocumentário, apresentado em formato de fotolivro, que retrata o
Largo da Ordem, um dos mais importantes espaços de Curitiba, reduto cultural e
histórico da capital Paranaense, que desde XVIII atrai um público diverso que
frequenta o espaço pelo comercio, boates, baladas, bares, restaurantes, teatros,
eventos culturais, a tradicional feira dominical do Largo da Ordem entre outros
estabelecimentos que lá existem. O fotolivro tem como objetivo tratar dos aspectos
conceituais sobre fotografia e representações sociais, fornecendo uma perspectiva
sobre os diferentes grupos e frequentadores do Largo da Ordem. Toda discussão
deste estudo baseia-se na imagem fotográfica como ferramenta de construção
social e cultural dos grupos, subgrupos e movimentos culturais do espaço físico
estudado.
O projeto utiliza a fotografia documental como ferramenta de execução
para a realização deste projeto, uma vez que sua característica mais forte é narrar
uma história por meio de uma sequência de imagens, assumindo a função de fazer
a mediação entre o homem e o seu entorno.
O primeiro capítulo é dedicado a observações acerca da fotografia e sua
história. O capítulo seguinte apresenta questões sobre o Largo da Ordem, local
escolhido como palco para captação das fotografias. O terceiro capítulo aborda
questões sobre os grupos, subgrupos sociais e movimentos culturais, tema deste
projeto fotodocumental, separando-os e os apresentando por categorias. Para
concluir esta parte do projeto, há um capítulo dedicado às questões de ordem
técnica e às escolhas sobre a realização do produto, e das escolhas das imagens
captadas para o fotolivro.
2. TEMA E PROBLEMATIZAÇÃO
2.1 Contextualização da Imagem
6
Ceia define a imagem como representação mental de uma determinada
realidade, permitindo associar dois mundos ou realidades divididas tanto no tempo
quando no espaço. Desta forma, é possível entender que a imagem é, ao mesmo
tempo, uma aproximação de diferentes perspectivas como uma metáfora, e
também uma descrição daquilo que é visto no mundo. (MARTINS, 1996)
Somos consumidores de imagem; daí a necessidade de
compreendermos a maneira como a imagem comunica e transmite
as suas mensagens; de facto, não podemos ficar indiferentes a um
dos utensílios que mais domina a comunicação contemporânea
(MARTINE, 1943, p.000)
Para compreender a imagem, Martine (1996, p. 39-40) sugere que é
preciso entender que ela é algo que se assemelha a outra coisa, uma vez que é
percebida como representação torna-se um signo. Tanto a fotografia, como vídeo e
filme, são entendidos como ícones puros, perfeitamente semelhantes e, portanto,
ainda mais confiáveis, uma vez que são registros feitos a partir de ondas emitidas
pelas próprias coisas.
Tais considerações aplicam-se as fotografias neste estudo como imagem
mediatizada que é transmissora de uma mensagem que está diretamente
relacionada com uma fonte emissora, um canal de propagação e um receptor como
discutido ao longo deste estudo.
2.1.1 Fotografia
Segundo Vazquez (1986), em junho de 1839 foi realizada a primeira
exposição de fotografias de que se tem registro, com imagens captadas pelo
francês Hippolyte Bayard e copiadas sobre papel. Dois meses antes do anúncio
oficial da descoberta da fotografia por Daguerre1 e mais tarde “a daguerreotipia2
que teve uma expansão extraordinária, atravessando rapidamente o Atlântico.
Os primeiros resultados “fotográficos”, foram obtidos por Niépce3 em 1826,
em uma placa de metal exposta à luz solar, mas o inventor morreu antes de
registar sua descoberta. Foi seu filho, que unindo-se a Daguerre, tornou pública a
invenção, em agosto de 1839 o Estado da França adquire a invenção de Daguerre,
1
Louis Jacques Mandé Daguerre foi um pintor, físico, cenógrafo e inventor francês, autor da primeira patente
para o processo fotográfico, que depois ficou conhecido como “daguerreotipo”.
2
Daguerreótipo foi o primeiro processo fotográfico a ser comercializado ao grande público.
3
Joseph Nicéphore Niépice foi um inventor francês responsável por uma das primeiras fotografias.
7
oferecendo a ele e ao filho de Niépce uma pensão vitalícia. Em 1839, enquanto a
França anunciava ao mundo a invenção de Niépce-Daguerre, a Inglaterra
reivindicava a “paternidade” da descoberta fotográfica. (ROUILLÉ, 2009, p. 32).
Tanto Vazquez (1986), quanto Rouillé (2009) parecem sugerir que o
nascimento da fotografia é um acontecimento múltiplo e não único, resultado dos
conhecimentos adquiridos, das práticas da evolução técnica e da própria evolução
da sociedade.
O advento da fotografia, “automatiza” o processo de criação das imagens,
uma vez que o processo mecânico de captação está livre da interferência da mão
humana, bem característica nos processos de produção de imagem a partir da
pintura e do desenho, a fotografia estreita ainda mais seus laços com o real uma
vez que a “foto prende-se para sempre ao real através dos fios invisíveis da luz”
(Couchot, 2008, p. 40).
Segundo Rouillé (2009 p, 16), a fotografia surge na Europa, que vivia num
momento de fortes mudanças culturais, na vida cotidiana, nos modos de produção,
em função de um amplo processo de industrialização, urbanização das cidades e
principalmente o surgimento do capitalismo industrial e tudo que ele traz consigo.
A fotografia apareceu com a sociedade industrial, em estreita
ligação com seus fenômenos mais emblemáticos – a expansão das
metrópoles e da economia monetária¸ a industrialização, as
modificações do espaço, do tempo e das comunicações –, mas
também com a democracia. Tudo isso, associado ao seu caráter
mecânico, fez da fotografia, na metade do século XIX, a imagem da
sociedade industrial, a mais adequada para documentála, servir-lhe
de ferramenta e atualizar seus valores (ROUILLÉ, 2009, p.16).
Rouillé relacionar o desenvolvimento da técnica e o uso da fotografia, neste
período de surgimento, com o um contexto histórico, econômico e social mais
amplo, estabelecendo-a como uma forma de documentação e reprodução do que é
real.
A descoberta da fotografia propiciaria, de outra parte, a inusitada
possibilidade de autoconhecimento e recordação, de criação
artística (e, portanto, de ampliação dos horizontes da arte), de
documentação e de denúncia graças a sua natureza testemunhal
(melhor dizendo, sua condição técnica de registro preciso do
aparente e das aparências) (KOSSOY, 2001, p. 27).
Para Kossoy o advento da fotografia surge como um novo meio de
conhecimento de mundo, em um cenário de transformações econômicas, sociais e
culturais no período da revolução industrial. Como um papel fundamental de
ferramenta inovadora de conhecimento, informação, pesquisa cientifica e
8
expressão artística. (KOSSOY, 2001). Sendo assim, é importante compreender a
fotografia como ferramenta fundamental de expressão da realidade na qual
vivemos e do passado para construir uma memória coletiva, como sugere Mansur
(2005):
A história precisa ser compreendida e não somente conhecida. A
documentação fotográfica armazena de maneira estruturada os
acontecimentos, o que permite resgatá-los, interpretá-los e alicerçar
a construção da memória coletiva. Devemos ainda considerar que
somente por meio das gerações é que a memória coletiva se fixa às
culturas, se comunicam os valores, as crenças e o sentido histórico
dos fatos (MANSUR, 2005, p.00).
Para Baudelaire (1859), a fotografia liberta a arte e garante para si um
novo espaço de criatividade no artigo „O público moderno e a fotografia‟4 o
verdadeiro lugar da fotografia dentre as formas de expressão visual de meados do
século XIX:
Se é permitido à fotografia completar a arte em algumas de suas
funções, cedo a terá suplantado ou simplesmente corrompido,
graças à aliança natural que achará na estupidez da multidão. É
necessário que se encaminhe pelo seu verdadeiro dever, que é ser
a serva das ciências e das artes, mas a mais humilde das servas
(...) Que ela enriqueça rapidamente o álbum do viajante e dê aos
olhos a precisão que faltaria à sua memória, que orne a biblioteca
do naturalista, exagere os animais microscópicos, fortifique mesmo
alguns ensinamentos e hipóteses do astrônomo; que seja enfim a
secretária e bloco-notas de alguém que na sua profissão tem
necessidade duma absoluta exatidão material. Que salve do
esquecimento as ruínas pendentes, os livros as estampas e os
manuscritos que o tempo devora, preciosas coisas cuja forma
desaparecerá e exigem um lugar nos arquivos de nossa memória;
será gratificada e aplaudida. Mas se lhe é permitido pôr o pé no
domínio do impalpável e do imaginário, em tudo o que tem valor
apenas porque o homem lhe acrescenta a sua alma, mal de nós”
(DUBOIS,1992, p.23.)
Baudelaire (1859) propõe separação de arte e fotografia, dando a ela um
caráter criativo e de sensibilidade humana e outra reserva o papel de instrumento
de uma memória documental da realidade.
A fotografia propõe um padrão visual baseado em conceitos de observação
ou mesmo culturais, que contribuem para construção de uma cultura visual. Desta
forma, o registro fotográfico determina e retrata cenários econômicos, culturais e
políticos a fim de refletir uma ou outra determinada ideologia. (Kossoy, 2001).
Sempre foi uma ferramenta utilizada para expor contrastes sociais, uma vez que o
4
"O público moderno e a fotografia" redigido por Baudelaire para a Revue Française numa série de
artigos sobre a edição do Salão Francês de Belas Artes de 1859.
9
fotografo davam uma atenção especial à injustiças sociais a fim de retratar
realidades ocultas, encarando determinados assuntos não mais como surreais mas
utilizando a fotografia para transpor certas distâncias, tanto sócias como de tempo
e espaço (Sontag, 1986).
É importante compreender a fotografia como ferramenta fundamental de
expressão da realidade na qual vivemos e do passado para construir uma memória
coletiva, como sugere Mansur (2005):
A história precisa ser compreendida e não somente conhecida. A
documentação fotográfica armazena de maneira estruturada os
acontecimentos, o que permite resgatá-los, interpretá-los e alicerçar
a construção da memória coletiva. Devemos ainda considerar que
somente por meio das gerações é que a memória coletiva se fixa às
culturas, se comunicam os valores, as crenças e o sentido histórico
dos fatos (MANSUR, 2005).
Segundo Freund, os modos de expressão acompanham cada momento
histórico de acordo com as formas de pensar, gosto e estruturas sociais de cada
período, e a fotografia seria uma modo de expressão voltado à uma civilização que
começa a se encontrar na tecnologia “seu poder de reproduzir exatamente a
realidade exterior – poder inerente à sua técnica – empresta-lhe um caráter
documental” (FREUND, 1995, p. 20). A crença nesta objetividade das imagens
fotográficas é que se atribui seu caráter documental, que será reforçado pela
aproximação da fotografia ao jornalismo e a fotografia documental vão consolidar
ainda mais o uso da fotografia como documento.
2.1.2 Fotojornalismo
Para Souza (1998) estudar a história do fotojornalismo é muito complicado,
uma vez que a fotografia nasce em um ambiente positivista, sendo visto como um
registro visual da verdade e nessa condição é adotada pela imprensa. Tanto em
sua história quanto em sua evolução. A história do fotojornalismo é uma história
de tensões e rupturas.
Segundo Sousa (2000) o fotojornalismo é um campo da fotografia muito
abrangente que diz respeito tanto a registros únicos, geralmente impressos em
jornais ou revistas, quanto a publicações em série de fotografias a respeito de um
determinado tema. Dada esta complexidade do assunto o autor sugere que a
melhor forma de conceituar o fotojornalismo é faze-lo pelo sentido lato (lato sensu).
No sentido lato, entendo por fotojornalismo a atividade de realização
de fotografias informativas, interpretativas, documentais ou
10
'ilustrativas” para a imprensa ou outros projetos editoriais ligados à
produção de formação de atualidade. (SOUSA, 2000, p.12)
Ou pelo sentido restrito (stritcu sensu) onde entende-se o fotojornalismo
como “a atividade que pode visar, informar, contextualizar e oferecer conhecimento
através da fotografia de acontecimentos e da cobertura de assuntos de interesse
jornalístico” (SOUSA, 2000, p.12). Ambas as abordagens usadas por Sousa
reforçam a ideia de grande abrangência da atividade.”Parece-nos que, mesmo na
atualidade, a ambição máxima do fotojornalismo corresponde à mais antiga
vocação da fotografia: testemunhar, com um elevado número de cópias a preço
acessível. (SOUSA, 2000, p.13)”
Conforme visto no capítulo anterior, a fotografia se beneficiou dos avanços
tecnológicos, das noções de prova, testemunho e verdade para avançar rumo a
documentação imagética do mundo de uma forma que a pintura nunca conseguiria.
Sousa explica toda trajetória percorrida pela técnica fotográfica, desde o
daguerreótipo até sua chegada ao oficio jornalístico.
Segundo Sousa, foi durante a Guerra da Criméia (1854 – 1855), que o editor
Thomas Agnew convidou Roger Fenton, fotógrafo oficial do Museu Britânico, para
cobrir o acontecimento nas frentes de batalha. Em 1855 no final da guerra os
registros feitos por Fenton foram publicados no The Ilustrated London Wens e no N
Fotografo. Nesta época, as publicações de fotografias em jornais não eram muito
populares, pois havia uma dificuldade técnica de imprimir todos os tons diferentes
de cinza, que formam as imagens em preto e branco, por isso elas eram copiadas
por artesões em clichês de madeira.
Só em 1870 é que as fotografias passaram a ser impressas diretamente em
papel e, de acordo com Sousa, foram publicadas pela primeira vez em um jornal
sueco chamado Nordisk Boktryckeri-Tidning, em julho de 1871. Evento que só foi
possível graças a Carl Carleman, que descobriu a técnica denominada de autotipia
que permitia a impressão através de uma trama de linhas produzidas que
transformavam os tons de cinza das fotografias em um gradiente de pequeno
pontos, quase imperceptíveis a olho nu. Seis anos mais tarde, em 1877, a mesma
técnica seria utilizada, pela revista francesa Le monde Illustré. Segundo Sousa,
Carleman acredita que “somente através dessa forma (pela imprensa) a fotografia
poderia penetrar massivamente no público e tornar-se o mais poderoso para elevar
culturalmente a humanidade” (Sousa, 2000, p.42)
11
Alguns autores como Philips (1996) Edon (1976) relatam que primeiro
veículo a usar a fotografia na imprensa foi o jornal The New York Graphics em
Nova Iorque. Porém, outros autores como Sousa (2008) fazem referência aos
jornais e revistas europeias em 1871, 1877.
Em XIX as primeiras manifestações do que se tornaria o fotojornalismo, já
eram carregadas de um caráter testemunhal, que tornavam a humanidade mais
visível a ela própria. Assim os fotógrafos começaram a fazer registros “Visando dar
testemunho do que viam, encobertos pela capa do realismo fotográfico,
começavam a ambicionar substituir-se ao leitor, sob mandato, na leitura visual do
mundo (SOUSA, 2000, p.27).
O fotojornalismo surge assim que a fotografia começa a ser utilizada como
recurso de reprodução da realidade visual, e em meados do século XIX, passa a
ser utilizada na Europa nas primeiras publicações ilustradas para transmitir
informação de valor jornalístico. Embora ainda não fossem consideradas
fotojornalismo propriamente dito, já que nessa época ainda precisavam da
intervenção de desenhistas que elaboravam gravuras a partir das fotografias
originais já que ainda não existia uma método de impressão direta, as imagens
eram frequentemente manipuladas por esses gravuristas. (Sousa. 2000, p.25)
Somente em 1880, a utilização do processo de utopia ou halftone (em
inglês), o processo de impressão capaz de reproduzir uma fotografia através de
uma superfície múltipla de pontos que passa a imagem fotográfica juntamente com
os textos em uma prensa que os imprime conjuntamente (FREUND, 1995),
generaliza-se a fotografia o poder de atestar seu caráter de representação,
podendo sustentar sozinha, e não mais sofrendo interferências da mão humana,
exceto para pressionar o disparador da câmera. “O halftone veio emprestar ao
fotojornalismo a base tecnológica que lhe faltava para conquistar um lugar na
imprensa” (SOUSA, 2000, p. 44).
A introdução da fotografia na imprensa é um fenômeno de
importância capital. Ela muda a visão das massas. Até então o
homem vulgar apenas podia visualizar os fenômenos que se
passavam perto dele, na rua, na sua aldeia. Com a fotografia abrese uma janela para o mundo. (...) Com o alargamento do olhar o
mundo encolhe-se. A palavra escrita é abstrata, mas a imagem é o
reflexo concreto do mundo no qual cada um vive (FREUND, 1995, p.
107).
Freud (1995) demonstra que é pela lógica de reconhecimento que a
fotografia vai conquistar seu espaço no jornalismo e se tornará uma forte estrutura
12
a medida em que ganha credibilidade como ferramenta de jornalismo. Segundo
Rouillé (2009), a fotografia vai desempenhar seu papel, enquanto ferramenta
jornalística, melhor do que qualquer outra ferramenta, aproveitando-se dessa
crença de verdadeiro fotográfico é prova visual dos enunciados jornalísticos,
aproximando mais a fotografia da imprensa, no final do século XIX, e, mais
fortemente, no início do século XX.
Um fenômeno que mudou a visão das massas foi à introdução da fotografia
na imprensa, que a possibilitou abrir algumas janelas para o mundo. “Com o
alargamento do olhar o mundo encolhe-se” (FREUND, 1995, p. 107). Afirmando
ainda que a imagem fotográfica, ao contrário da palavra escrita abstrata, é um
reflexo do mundo em que se vive.
Segundo Souza depois da revolução na imprensa ocasionada pela cobertura
fotográfica da Guerra da Criméia, todos os outros grandes acontecimentos, como a
Guerra da Secessão nos EUA (1861- 65) e a Guerra Franco-Prussiana, e outros
eventos como concursos agrícolas, festas, exposições universais e grandes
construções passaram a ter cobertura fotográfica jornalística.
Depois da fotografia, a guerra nunca mais seria a mesma. Com o
médium emergente, o observador era projetado num mundo mais
próximo, mais real, mas por vezes mais cruel. No mundo da
imprensa, com as fotos, o conhecimento, o julgamento e a
apreciação deixaram de ser monopolizados pela escrita. (SOUSA,
2000, p. 40)
Nas duas últimas décadas do século XIX surgem, segundo Sousa (2000),
revistas de fotografia em vários países como a Illustrated American (Estados
Unidos, 22 de Fevereiro de 1890), a The Photographic News (Reino Unido) e a La
Ilustración Española y Americana (Espanha) deixando de lado as aparições
esporádicas das fotografias nas páginas dos jornais e revistas e abrindo espaço
para a informação fotográfica na imprensa. “Com as conquistas técnicas e as
inovações no uso da imagem nasce um novo discurso "fotojornalístico", ligado a
uma retórica da velocidade” (SOUSA, 2000, p.46). Só por volta de 1910, a França
dá a fotografia jornalística um bom lugar de destaque na imprensa, jornais
europeus como o L’Excelsior, de Pierre Lafitte, onde das doze páginas do jornal,
quatro eram reservadas à reprodução de fotografias como meio de informação e
não somente de ilustração. E juntamente a o L'Excelsior, o britânico Daily Mirror,
torna-se um dos pioneiros europeus em matéria de foto-reportagem.
13
De acordo Sousa quando o processo de halftone já podia ser considerado
maduro, dadas as revoluções que ocasionou, em 1888 surge outro invento que
trataria de consolidar e popularizar a fotografia ainda mais o lançamento da Kodak
nº 1 e do processo de revelação da película fotográfica em grandes laboratórios
comerciais. No final do século XIX, a fotografia conquistava um espaço ainda maior
na imprensa, como meio de ilustração, graças à adaptação dos processos de
impressão
fotomecânicos
e
ao
aparecimento
do
instantâneo
fotográfico,
possibilitado pelas tecnologias emergentes.
Após a Guerra Mundial (1918 - 1933), surgiu na Alemanha o favorecimento
a difusão de revistas ilustras, como revela Souza (2000)
A forma como se articulava o texto e a(s) imagem(ns) nas revistas
ilustradas alemãs permite que se fale com propriedade em
fotojornalismo. Já não é apenas a imagem isolada que interessa, e
sim o texto e todo „mosaico‟ fotográfico com que se tenta contar a
„estória‟, não raras vezes interpretando-se o acontecimento,
assumindo-se num ponto de vista, esclarecendo-se ou clarificandose, explorando-se a conotação, mesmo que não se desse conta
disso. (SOUSA, 2000, p. 72)
Graças a esse favorecimento as revistas ilustradas, os alemães serão
responsáveis pela boa fase da fotografia de imprensa e de sua fórmula moderna,
com revistas dirigidas por editores que procuravam por talentos da literatura e do
fotojornalismo.
É nessa época que o fotojornalismo ganha força privilegiando a
imagem em detrimento do texto, que surge como um complemento,
por vezes reduzido a pequenas legendas. Outras vezes a imagem
na imprensa vai mais longe: chega a aliar-se a arte à autoria, a
expressão à interpretação e a assunção da subjetividade de pontos
de vistas pessoais. (SOUSA, 2000, p. 75)
Freund (1989) revela que para se destacar no disputado mercado alemão,
as revistas ilustradas recorrem as publicações que utilizam a fotografia como um
elemento informativo ao invés de utilizaram as fotografias somente para ilustração
dos textos. “As expressões do rosto, do corpo ou de gestos do personagem
descritas no texto, sempre destacando o aspecto humano dos temas reportados,
podiam tornar a reportagem mais interessante e, assim, chamar a atenção dos
leitores” (FREUND, 1989, p. 25).
Freund (1989) conta que em 1936 surge uma nova revista ilustrada nos
Estados Unidos que mudou o jeito das pessoas verem o mundo: a Life. Sempre
fartamente ilustrada com fotos e ensaios dos melhores fotojornalistas – entre eles,
Henri Cartier Bresson, Robert Capa, W. Eugene Smith e Even Arnold – a
14
publicação provocou o surgimento de novas revistas ilustradas em todo o mundo
como a francesa Paris-Match e as brasileiras O Cruzeiro, Manchete e Realidade.
Mesmo nos Estados Unidos, houve seguidores do estilo Life, como a revista Look,
que circulou entre 1937 e 1972.
No pós II Guerra Mundial o fotojornalismo, segundo Sousa (2000) foi
reforçado com a criação de agências fotográficas. E em 1947, fundava-se a mais
influente agências do ramo da fotografia, a Magnum Photos era uma cooperativa
organizada por uma geração de fotojornalistas importantes como Robert Capa,
David Seymour (Chim), Henri Cartier-Bresson e George Rodger, que passam a
exigir não apenas o direito aos negativos, a assinatura e o controle da edição. “A
Magnum é, talvez, a mais mítica das agências fotográficas, pela qualidade
fotográfica, pela fotografia de autor, pela integridade moral e humanista dos seus
fotógrafos e fotografias e pelo espírito que roça a anarquia”. (SOUSA, 2000. p.141142).
E também pela cobertura fotográfica da guerra do Vietnã (1955-1975). De
acordo com Sousa em meados da década de cinquenta, houve também a criação
de quatro agências fotográficas na França (Europress, a Apis, a Reporters
Associes, e a Dalmas) dando um enorme passo para que a capital do
fotojornalismo transitasse de Nova York para Paris, e para redirecionar o
fotojornalismo praticado nas grandes agências noticiosas.
A agência Sygma, fundada em 1973, pelos fotógrafos James
Andanson e Alain Noguès, se tornará no final dos anos 80, a maior
agência fotográfica do mundo em termos de volume de negócios,
arquivos, produção e número de fotógrafos. Além disso, a Sigma,
sempre atenta às oportunidades de negócio foi também pioneira na
implementação das tecnologias da imagem digital e no tratamento
de imagem para televisão. (SOUSA, 2000. p. 166- 167)
O fotojornalismo, tornou-se uma forma de comunicação cuja linguagem é
estritamente visual, independentemente da legendas e outros elementos textuais
que completam a imagem, como sugere Kossoy (1989):
É na fotografia de imprensa, um braço da fotografia documental, que
se dá um grande papel da fotografia de informação, o nosso
fotojornalismo. É no fotojornalismo que a fotografia pode exibir toda
a sua capacidade de transmitir informações (KOSSOY, 1989, p.98).
Tão importante é o poder de comunicação fornecido tela imagem fotográfica
que Sontag (2004) estabelece uma relação entre a fotografia ao texto impresso.
15
Fotografar é apropriar-se da coisa fotografada. Significa pôr a si
mesmo em determinada relação com o mundo – e, portanto, ao
poder. Supõe-se que uma queda primordial – e malvista, hoje em
dia – da alienação, a saber, acostumar as pessoas a assumir o
mundo na forma de palavras impressas, tenha engendrado aquele
excedente de energia fáustica e de dano psíquico necessário para
construir as modernas sociedades inorgânicas. Mas a imprensa
parece uma forma menos traiçoeira de dissolver o mundo, de
transforma-lo em um objeto mental, do que as imagens fotográficas,
que fornecem a maior parte do conhecimento que se possui acerca
do aspecto do passado e do alcance do presente. O que está escrito
sobre uma pessoa ou um fato é, declaradamente, uma
interpretação, do mesmo modo que as manifestações visuais feitas
à mão, como pinturas e desenhos. Imagens fotografadas não
parecem manifestações a respeito do mundo, mas sim pedaços
dele, miniaturas da realidade que qualquer um pode fazer ou
adquirir (SONTAG, 2004, p.14)
Apesar das tentativas deste capitulo de restringir o sentido de
fotojornalismo, pode-se compreender sua característica ambígua, já que nem o
sentido lato, nem o sentido restrito são capazes de delimitar as atividades onde ele
aparece, por outro lado, outro autor estudados neste capitulo sugerem que o
fotojornalismo inclui foto-notícia até a fotografia documental.
2.1.3 Fotografia documental
A proposta da fotografia documental, segundo Lombardi (2008), é narrar
determinada história a partir de uma sequência de imagens, reunindo registros
documentais e estéticos que assumem a função de fazer a mediação entre o
homem e o meio. Sendo assim, a fotografia documental assume ao mesmo tempo
um posto de problematizadora da realidade social e de reivindicadora de um modo
próprio de expressão. Podendo abarcar um lado mais participativo, usado para
defender os ideais civis, denunciar, compor discursos políticos e apontar as
divergências da sociedade; ou para descrever o cotidiano, retratar as experiências
da
vida,
discursos
fotográficos,
comum
ou
documentar
algo
que
está
desaparecendo.
Muitas vezes, os fotodocumentaristas estão simplesmente buscando
novas formas de ver e retratar o mundo. Eles vão trazer, de seus
repertórios culturais, ferramentas que os ajudem a elaborar uma
linguagem própria de expressão (Lombardi, 2008, p 44)
Desde a segunda metade do século XIX, a fotografia esteve ligada em
grandes explorações. Os fotógrafos traziam imagens de Oriente que atraia os
ocidentais para satisfazer a curiosidade e ao mesmo tempo dar respostas a
16
investigações cientificas, principalmente às de caráter etnográfico e geográfico.
(BAURENT, 2000)
Pensando em fotografia, Rouillé (2005, p.25) discorre sobre a relação
documento e arte, defendendo que o valor documental de uma imagem fotográfica
não é dado pelo seu caráter intrínseco, mas pelas condições de recepção, uso,
circunstancias e crenças naquilo que ele próprio denomina de “regime de
veracidade”. Segundo Price (1997) “o arquetípico projeto documental estava
preocupado em chamar a atenção de um público para sujeitos particulares,
frequentemente com uma visão de mudar a situação social ou política vigente”
(PRICE, 1997, p.92)
Com a fotografia, ampliada ao rol de coisas que podem ser consideradas
documentos, abrindo pela primeira vez uma perspectiva inserindo a fotografia no
universo da documentação, uma vez que seu caráter informativo é já determinava
seu uso cientifico desde o seu advento em meados do século XIX, mas seu caráter
documental era pouco explorado até que Otlet (1934) inclui as representações
gráficas, em destaque, a fotografia, que tem o caráter documental é considerado
como natural da fotografia, uma vez que toda foto pode ser considerada documento
e uma representação social de uma época. (FREUND, 1995).
Segundo Ataíde (2011) “A fotografia documental surgiu a partir dos
fotógrafos que retratavam o cotidiano, buscando temas sociais que envolviam a
atividade humana em Londres, como uma forma de apenas registrar curiosidades
etnográficas em meados do século passado.”
Thomson, seguindo a lógica de Ataíde, procurou retratar o cotidiano das
pessoas, fotografando a distância, sem exageros, pois afirmando que “Ao
fotografar “ao vivo”, visava dar a conhecer, com rigor, mundos sociais,
desconhecidos ou que passava despercebidos no quotidiano – A fidelidade destas
imagens consente a abordagem mais próxima que se possa fazer no sentido de
pôr o leitor verdadeiramente diante da cena representada” (THOMSON, 1998, pag.
54 apud ATAÍDE 2011, pág. 07).
Nos anos de 1930 nos Estados Unidos, o presidente Roosevelt criou um
projeto fotodocumental chamado de “Farm Security Administration”, que seria uma
arma importante para ajudar os agricultores em crise nos Estados Unidos da
América, além de despertar a consciência social e retratar os resultados das
17
políticas do New Deal5: empréstimos a baixos juros para a compra de terra,
desenvolvimento e exploração comunitária. Então, durante os anos de 1935 até
1942 desenvolveu-se o projeto FSA (Farm Security Administration) ganhando
grande repercussão, cujas imagens foram divulgadas na imprensa. (BAURENT,
2000)
O alargamento do conceito da condução de documento e a revolução
documental trouxeram também transformações para o ambiente acadêmico
brasileiro, levantando reflexões sobre alcance e valor das fontes fotográficas
(KOSSOY, 2001). Para Souza (2000) o fotodocumentarismo mescla Ciências
Sociais, Fotojornalismo e Arte, pois muitos fotógrafos ao registrar grupos
específicos, tiveram fotografias utilizadas como fonte de estudos antropológicos e
sociais, exposições artísticas e reportagens.
A fotografia documental (...) é a herdeira do documentarismo social
dos finais do século passado e princípios do atual, embora não
existem sempre similaridades evidentes entre as formas de
expressão que usam os documentaristas na atualidade e aquelas a
que recorriam os pioneiros do gênero. Com efeito, hoje os fotógrafos
documentais estão provavelmente mais interessados em conhecer e
compreender do que em mudar o mundo. Assim, o
fotodocumentarismo atual, sem abandonar, por vezes, a ação
consciente no meio social, o ponto de vista ou o realismo fotográfico
(que, nalguns casos, estamos em crer, é a melhor opção), promove
diferentes linhas de atuação, leituras diferenciadas do real, enquanto
a grande tradição humanista do documentarismo tende menos para
a polissemia no que se refere a processos de geração de sentido
(SOUSA, 2000, p. 35).
O gênero fotográfico documental abarca uma infinidade de propostas
estéticas e éticas, que trazem à tona uma série de contradições sobre sua prática,
propósito e valores. Os temas geralmente abordados por esse gênero são
impressões sobre o mundo, vida cotidiana, registros de guerra, os mais diferentes
tipos de fotografias podem ser classificados como documentais. (LOMBARDI,
2008). Segundo Souza (2004), o Fotodocumentarismo “Deseja conhecer o outro,
de saber como o outro vive, o que pensa, como vê o mundo, com o que se importa.
As palavras são insuficientes.” (SOUSA, 2004, p.55).
Kossoy (2002, p.52) sugere que “A imagem de qualquer objeto ou situação
documentada pode ser dramatizada ou estetizada, de acordo com a ênfase
pretendida pelo fotógrafo em função da finalidade ou aplicação a que se destina.”
5
New Deal foram os programas implementados pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano
Roosevelt, entre 1933 e 1937, com o objetivo de reformar e recuperar a economia norte americana logo após a
grande depressão ou a crise de 1929.
18
Portando a narrativa fotográfica, atua como “a incessante troca que existe ao nível
do imaginário entre as pulsões subjetivas e assimiladoras e as intimações objetivas
que emanam do meio cósmico e social”. (DURAND, 2002, p. 41). Essa transição do
imaginário para a realidade é que mostra a fotografia documental narradora uma
história através de um conjunto de imagens que “contém em si realidades e
ficções” (KOSSOY, 2002, p. 14)
Barthes (1984) aponta cada fotografia como única, pois acredita nela como
uma ferramenta de registros históricos, de instantes e de situações que não
poderão ser reproduzidas novamente. Este caráter documental acontece graças
aos elementos que compõem o retrato e eternizam costumes e tradições ou outros
elementos que façam referência à época.
Portanto desde o seu início, a história da fotografia tendia a torna-se
também uma história social uma vez que a imagem fotográfica passa a ser
entendida como documento e representação e contém em si realidades e ficções.
É a partir dessa relação ambígua que Kossoy (2001) explicita o caráter de
representação inerente à fotografia documental. “O conceito de fotografia e sua
imediata associação à ideia de realidade, tornam-se tão fortemente arraigado que,
no senso comum, existe um condicionamento implícito de a fotografia ser um
substituto imaginário do real” (KOSSOY, 2001, p 136).
A
partir
de
1840,
as
imagens
produzidas
captavam
aspectos
sociogeográficos preservando cenários, personagens, eventos contínuos, as
transformações do mundo, assumindo um caráter de documento para história tanto
do mundo quanto da fotografia. Mas embora o caráter documental esteja na
natureza da fotografia, ela ainda não tinha assumido o status de documento.
(KOSSOY, 2001)
Sendo assim, todo registro produzido com finalidade documental, torna-se
um meio de informação e conhecimento, por isso, tem valor de documento, embora
tais imagens não estejam despidas de valores estéticos (KOSSOY, 2001). O
fotográfo Brassai (1968) esclarece esse aspecto quando propõe:
A fotografia tem destino duplo... Ela é filha do mundo do aparente,
do instante vivido, e como tal guardará sempre algo do documento
histórico ou científico sobre eles; mas ela é também filha de
retângulo, um produto das belas-artes, o qual requer o
preenchimento agradável ou harmonioso do espaço com manchas
em preto e branco ou em cores. Nesse sentido, a fotografia terá
sempre um pé no campo das artes gráficas e nunca será suscetível
de escapar deste fato (BRASSAI, 1968, p.13)
19
2.1.4 Fotojornalismo x Fotografia Documental
Apesar de inicialmente não parece difícil diferenciar os gêneros fotográficos,
ao longo dos capítulos anteriores pode-se notar que a diferença destes gêneros é
muito sutil e bastante complexa, uma vez que suas histórias frequentemente se
entrelaçam. É necessário tentar uma diferenciação partir do que é proposto por
Souza (2000).
Fotojornalismo no sentido lato é a “atividade de realização de fotografias
informativas, interpretativas, documentais ou ilustrativas para a imprensa ou outros
projetos editoriais, ligados à produção de informação de atualidade.” (SOUZA,
2000, p.12). Se o fotojornalismo então tem como finalidade a transmissão de
informação objetiva e instantânea, a fotografia documental por sua vez tem como
finalidade desenvolver uma trabalho de interpretação mais elaborado, já que a
fotografia documental produz efeitos de percepção que vão além daquilo que é
mostrado, “fotografar é atribuir importância” (SONTAG, 2004, p.41) O jornalista e o
fotodocumentarista desenvolvem seus trabalhos de modo diferente:
Enquanto o fotojornalista tem por ambição mais tradicional mostrar o
que acontece no momento, tendendo a basear a sua produção no
que poderíamos designar por um discurso do instante ou uma
linguagem do instante, o documentarismo social procura
documentar (e por sua vez influenciar) as condições sociais e seu
desenvolvimento (SOUZA, 2000, p.13)
De acordo com Aumont (2004), na fotografia documental é comum o uso de
uma narrativa sequencial, é comum o uso de uma série e não de imagens isoladas.
Enquanto no fotojornalismo normalmente se usa uma foto única para representar o
instante. Nota-se que na fotografia documental a narratividade é bem acentuada,
enquanto no fotojornalismo seus traços são mais reduzidos. Aumont (1995) expõe
dois tipos de narratividade que podem ser lidas em imagens. A mostração
(showing) que consiste na imagem única e portanto pode ser identificado como
uma caracteriza do fotojornalismo e o segundo a narração (telling) onde a
caracteriza desta narração está justamente na sequência de imagens que é
característica da fotografia documental.
Benjamin (1996) faz uma diferenciação entre o valor narrativo e o
informativo e propõe que a narração é mais rara em um momento onde a difusão
da informação é tão forte, mas que o valor da informação só existe o no momento
20
em que é nova, enquanto a narração se conserva capaz de se desenvolver mesmo
depois de muito tempo. Em uma narração o receptor tem liberdade para interpretar
a história como desejar uma vez que contexto não lhe é imposto.
Cada manha recebemos notícias de todo o mundo. E, no entendo,
somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos
já nos chegam acompanhados de explicações. Em outras palavras:
quase nada do que acontece está a serviço da narrativa, e quase
tudo o que acontece está a serviço da informação (BENJAMIN,1996,
p.203)
Segundo Ledo (1998), é possível pensar que quando o fotojornalismo é
pensado a partir de convenções da mídia, enquanto o fotodocumentarismo é
pensando formando uma parcela da sociedade de comunicação. Basicamente o
fotojornalista tem o objetivo diário de fazer suas fotos chegarem a imprensa, em
muitos casos a edição final nem cabe a ele. E o fotodocumentarista tem uma
liberdade maior em relação ao local onde irá divulgar seu trabalho no meio que
julgar mais adequado, seja em livros, websites, exposições ou mesmo na própria
mídia, tendo também a desenvolve-lo a longo prazo.
Enquanto o fotojornalista tem por ambição mais tradicional mostrar
o que acontece no momento, tendendo a basear a sua produção
no que poderíamos designar por um discurso do instante ou uma
linguagem do instante, o documentarista social procura
documentar (e, por vezes, influenciar) as condições sociais e o seu
desenvolvimento. (SOUSA, 2000, p. 13)
Com base no que sugere Lombardi (2008), conclui-se que são
características do fotojornalismo a ausência de estudo elaborado sobre o tema,
tempo curto para execução do trabalho, busca de contar a história com de uma
única foto feitas para publicação imediata destina a imprensa. Enquanto no
fotodocumentarismo é possível notar estudo elaborado sobre o tema, tempo maior
de execução do trabalho, busca por um conjunto de imagens que formem uma
narrativa, imagens feitas sem compromisso com imediato, divulgação no meio que
o autor julgar mais adequado.
Assim, trabalhou-se com as fotografias que se enquadram no gênero
documental, afim de contar com possibilidades narrativas que a fotografia
documental nos oferece enquanto construtora de sentido. Nas palavras de
Schaeffer (1996):
Uma obra fotográfica bem-sucedida não se limita necessariamente
a nos fazer ver. Com frequência, ela também nos faz pensar [...]
Não nos surpreenderemos, portanto, ao descobrir que o ingresso
da fotografia nos arcanos da arte fez ranger as engrenagens bem
lubrificadas do pensamento estético. (SCHAEFFER, 1996, p.139).
21
O gênero de fotografia documental contribui com a proposta de retratar a
pluralidade cultural e social do Largo da Ordem, bem como a mutação deste
espaço físico, de acordo com a presença ou ausência destes grupos ao longo de
uma mesma semana. Já que compreende-se aqui a fotografia documental como
ferramenta de reconstrução da história cultural de grupos sociais, seja ela extraída
de arquivos ou produzida em trabalhos de campo, como no caso este trabalho,
serve como fonte de conexão entre os dados da tradição oral e a memória dos
grupos estudados. (NOVAES, 1998) Sendo assim a fotografia é entendida aqui
como uma forma de registrar e, portanto como fonte documental.
Este trabalho ressalta o uso e a importância da fotografia como instrumento
de documentação de grupos e da sociedade, apresentando conceitos de fotografia
documental e a ligação dessas vertentes fotográficas com a antropologia, servindo
como base para produção do livro fotográfico “Diversità - Largo da Ordem: as faces
de um lugar conhecido por não ter rosto” que utilize a imagem para apresentar os
grupos estudados e o Largo da Ordem.
Baseia-se na percepção de Magnani (2000) a respeito de pesquisa
etnográfica de centros urbanos para entender o Largo da Ordem como um local de
abrigo para todas as manifestações culturais. Para isso, busca-se entender seu
espaço, um pouco de sua história, os frequentadores do local, pois é um importante
reduto da cidade, qual a relação dos frequentadores com o espaço e o que
acontece no espaço.
Além disso, o Largo da Ordem carrega em seu cenário a história
reconstruída por meio do plano de institucional do poder público de valorização e
restauração do Centro Histórico de Curitiba.
2.2 Largo da Ordem
Segundo Freiberger (1999) a paisagem urbana é manifestada pelo
processo de ocupação do espaço urbano e por isso é importante conhecermos
aspectos como história, condições de mercado e as relações do homem com o
meio. Sabendo disso, compreende-se que as áreas onde se inicia uma cidade tem
um grande valor histórico e cultural. Por tratarem-se de áreas de grande interesse
de preservação, é comum que o próprio estado, por uma legislação especifica, a
22
determine como setor histórico, produzindo um espaço urbano, que segundo
Corrêa (1995, p.11) “é um produto social, resultado de ações acumuladas através
do tempo, e engendradas por agentes que produzem e consomem espaços”
Segundo Santos (1997, o.111) “O Espaço é formado por dois componentes
que interagem continuamente: a) a configuração territorial, isto é, o conjunto de
dados naturais, mais ou menos modificados pela ação consciente do homem,
através dos sucessivos 'sistemas de engenharia'; b) a dinâmica social ou o
conjunto de relações que definem uma sociedade em um dado momento”
O setor histórico de Curitiba abrange parte do centro e também o bairro
São Francisco, localizado na região central da cidade, faz divisa com o bairro Bom
Retiro ao norte, com o centro ao sul, com o bairro Mercês a oeste e com o Centro
Cívico a leste. Para este estudo consideramos apenas a parte do Setor Histórico
que pertence a região do Alto São Francisco ou bairro São Francisco conhecido
como Largo da Ordem ao longo desse trabalho. (Freiberger, 1999)
Em 29 de março de 1693, era fundada oficialmente a Villa Nossa Senhora
da Luz dos Pinhais, só em 15 de outubro de 1968 é que passa a ser denominada
Villa de Curityba. Por volta de 1730, o início do tropeirismo6 veio para impulsionar o
desenvolvimento do Paraná e de São Paulo, a Villa de Curityba servia como abrigo
para os tropeiros que vinham do sul com destino a Minas Gerais transportando
madeira e erva-mate. Em 1973 foi inaugurada a Igreja de Nossa Senhora do Terço
que mais tarde foi repassada à Ordem Terceira de São Francisco das Chagas e
rebatizada de Igreja da Ordem. (FREIBERGER, 1999).
Até 1830, Curitiba era uma cidade portuguesa caracterizada por igrejas
barrocas, como a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas. De 1840
até a década de 40 o rompimento do governo paraguaio com o estrangeiro
favorece de Paranaguá e a erva-mate passa a ser mais importante que a pecuária
e o tropeirismo. O apogeu do ciclo da erva mate proporciona uma transformação na
estrutura social e política do que viria a ser o Estado do Paraná, pois a nova classe
dominante era formada por industriais e exploradores do mate que impulsionariam
a emancipação política do estado. (FREIBERGER, 1999)
Em 1842 a Comarca de Curitiba, que até então pertencia à Província de
São Paulo, passa a ser considerada uma cidade, para só em 1853 emancipar-se e
6
Tropeirismo é o nome dado os condutores de tropas, comitivas de muares e de cavalos, entre as regiões
produtoras e os centros de comercio, a partir do século XVII no Brasil.
23
tornar-se a Província do Paraná. O local onde localizava-se a Vila de Nossa
Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, tornou-se hoje o que conhecemos como
“Centro Histórico”. (Andrade, 1997, p.5)
A partir de 1857 os tropeiros ainda frequentavam os espaços do bairro que
começa a mudar de face com a chegada dos imigrantes alemães que deram a
Curitiba uma cara mais urbana com as construções provenientes da arquitetura
alemã. Além da arquitetura houveram modificações no comercio, na indústria, nas
profissões, diversificando os serviços. Fundaram clubes voltados a parte recreativa,
alguns em atividade atualmente. No setor cultural fundaram jornais, escola e
construíram o primeiro teatro. (Freiberger, 1999)
Nessa época chegaram também imigrantes poloneses, italianos, suecos,
franceses, poloneses e vários outros, que também contribuíram para a
transformação do espaço geográficos. Os imigrante que habitavam as periferias
eram responsáveis por abastecer a cidade com lenha, frutas e outros produtos
alimentícios, se aglomeravam no atual largo da ordem como uma feira ao ar livre,
esse processo de distribuição permaneceu desta forma até 1960, quando o tráfego
de automóveis passou a ser mais intenso. (Freiberger, 1999)
No início do século XX, a classe dominante da época formada por imigrantes
alemães e os senhores da erva mate é que habitavam o bairro São Francisco. O
atual setor histórico também ficou conhecido pelas manifestações populares que lá
ocorreram. Em julho de 1917 operários em greve siam em passeata pelas ruas do
bairro. Mas também manteve a sua tradição de espaço pioneiro, em 1922
inaugurou a primeira Rádio Paranaense. Durante os anos 30, manteve sua imagem
típica por meio das feiras livres que abasteciam a cidade. (Freiberger, 1999)
Sendo o Largo da Ordem, um importante centro comercial e ponto de
encontro na fundação de Curitiba, utilizado como local de moradia, trocas
comerciais de colonos que vinham vender suas produções na cidade, passagem de
tropeiros ou compradores de tais produtos. O Largo Coronel Enéas, popularmente
conhecido como Largo da Ordem, é uma das praças mais antigas de Curitiba, e
recebeu o nome em homenagem ao Coronel Benedito Enéas de Paula, em 27 de
abril de 1917. Em seu centro, havia um chafariz que foi demolido posteriormente
dando deu lugar a um bebedouro, construído em 1932, para os cavalos dos
tropeiros que ali paravam. (Andrade, 1997)
24
Nos anos de 1940 os moradores se esforçaram para livrar-se das marcar
deixadas pelas Segunda Guerra Mundial quando houve racionamento de comida,
energia e manifestações populares acabaram em invasões de depredações de
instituições de origem italiana e alemã, após esses incidentes muitas famílias que
se sentiam discriminadas acabaram mudando-se para outros bairros. Essa foi uma
década marcada pelos processos de ocupação urbana desencadeados tanto pelos
efeitos da segunda guerra quanto pelo início da transformação de transformações
não apenas sociais mas também do espaço e da paisagem. (Freiberger, 1999).
Corrêa (1995, p.69-70) define o processo de segregação de classes por uma
dinâmica espacial da seguinte forma.
A segregação é dinâmica, envolvendo espaço e tempo, e este
processo de fazer e refazer pode ser mais rápido ou mais lento, de
modo que uma fotografia, um padrão espacial, pode permanecer por
um longo período de tempo ou mudar rapidamente. A dinâmica da
segregação, no entanto, é própria do capitalismo, não sendo típica da
cidade pré-capitalista, caracterizada por um forte imobilismo social.
Em resumo, a segregação social, tem um dinamismo. Em resumo, a
segregação tem um dinamismo onde uma determinada área social é
habitada durante um período de tempo por um grupo social e, a partir
de um dado momento, por outro grupo de status inferir ou, em alguns
casos, superior, através do processo de renovação urbana.
Por volta dos anos de 1950 o bairro do São Francisco foi definido como
“pitoresco e aprazível” pelo jornalista Evaristo Biscaia em seu artigo “Coisas da
Cidade”. Entre 1952 e 1955 substituíram os bonde elétricos pelos ônibus
intensificando o movimento, que contribui para o início da decadência da região,
pois o grande fluxo de automóveis fez com que as famílias mais antigas migrassem
para bairros mais tranquilos, abandonando ou alugando seus imóveis que
acabaram virando cortiços e hotéis de segunda classe. Somente na década de
1970 o Largo da Ordem e outras regiões próximas foram considerados parte do
Setor Especial de Preservação Cultural pela Lei nº 1.160 de 05 de agosto de 1971
que criava então o Setor Histórico da cidade. (Freiberger, 1999)
Com a criação do setor histórico o estado passou a modelar o espaço na
região realizando intervenções como o fechamento das ruas, permitindo apenas o
fluxo de pedestres e modificando o fluxo da região; a restauração de alguns prédios
e de suas funções. Até mesmo a Igreja da Ordem foi restaurada, a arrecadação de
fundos para essa reforma se deu pela organização da Festa da Ordem, que
ocorreu pela primeira vez em 1978 e permanece os dias de hoje no mês de outubro
quando se comemora o dia de São Francisco de Assis. O objetivo da revitalização
25
do Largo da Ordem era de transformar um lugar em decadência em um cetro de
lazer. Para isso na década de 1980 luminárias réplicas das utilizadas no século
XVIII foram instaladas no Largo da Ordem; na Praça Garibaldi construíram um
coreto, que mais tarde daria lugar a Fonte do Cavalo Babão; instaram a popular
“feirinha” que aos domingos ocupava apenas a Praça Garibaldi, hoje se estende
desde a rua Dr. Keller até a Rua Matheus Leme e é considerada uma das maiores
feiras livres do mundo. (Freiberger, 1999) Em depoimento Rafael Valdomiro Greca
de Macedo refere-se a essas transformações.
Bom, em 1979, quando fizemos a Missa do Galo na Igreja da ordem,
com „O Auto do Menino Atrasado‟, a praça ainda era escura e os
carros entravam. As casas velhas ainda eram pensões em processo
de decadência. Só sobravam mesmo, com uso digno, três
endereços no Setor Histórico: a casa que hoje é a João Turin, na
Mateus Leme ( e que foi feita casa da minha tia Odaléia de Macedo
Caron, ainda lá marava com seu marido, Mário Caron, à época); a
Casa Santa Cecilia, de armarinhos, que duas velinhas mantinhas
vendendo as fitas Venski e todos os retroses e olhoses; um
remanescente a Casa Hoffmann, do Norberto Heller - filho do velho
prefeito Heller - ainda vendendo aventais e guarda-pós; e a Casa
Vermelha já funcionando em seu novo endereço, no sobrado da
família Benjamin Zilli, embora um pouco contaminada, tendo, no
andar de cima, o Hotel Tiradentes, treme-treme de famosa memória
e já habilitado para um cenário dos melhores contos de Dalton
Trevisan. Ainda a Casa Alberto, de ferragens.
Começamos um processo de substituição dos bordéis por
restaurantes e pontos de encontro, bares, locais de animação.
Lembro de ter convencido o velho Strobel - hoje falecido - a
transformar, numa festa da ordem, seu depósito de loja de tintas
num restaurante. Deu tanto lucro, que eles resolveram manter para
sempre e hoje é o Schwartz Walt. Cada espaço foi conquistado para
a memória da cidade. ¹ (Memória de Curitiba Urbana - IPPUC 1990)
Mas as transformações ocorridas neste período não serviram de estímulo
para que os moradores permanecem no bairro, principalmente da região do Largo
da Ordem e da Praça Garibaldi, isso porque a maioria dos bares e restaurantes da
região entraram em decadência e a região tornou-se violenta e marginalizada como
apontam os dados de crescimento populacional do Bairro no período de 180/1990
que eram de -3,7%. (FONTE - IPPUC - 1998).
Novamente a decadência de um espaço histórico e cultural tão importante
fez com que a Prefeitura Municipal de Curitiba iniciasse um novo processo de
revitalização com o fechamento definitivo do trafego de veículos, a colocada da
guarda municipal, a recuperação do Museu Guido Viaro; a construção do Memorial
da Cidade, da Cinemateca e a Fonte do Cabelo Babão. (Freiberger, 1999)
26
A cidade, o tempo e o sonho: Houve um tempo em que Curitiba,
despertava ao som do trote de animais puxando carroções
conduzidos por semeadores imigrantes. Traziam aos mercados da
cidade os frutos da terra ainda cobertos de orvalho. Hoje só cavalos
de sonhos vencem as barreiras da modernidade para, afinal marar
sua sede no velho bebedouro do Largo da Ordem. Para memória da
cidade e de sonhos foi coloca aqui está escultura do curitibano
Ricardo Tod no mês de maio de 1995 sendo Prefeito Rafael Greca
de Macedo. (Texto da placa de referência da escultura localizada na
Praça Garibaldi em frente à Igreja da Nossa Senhora do Rosário.)
Construída em 1995, na Praça Garibaldi a fonte do “Cavalo Babão” faz
parte da revitalização que tentava livrar, novamente, o Largo da Ordem da
decadência. O Largo Coronéu Enéas, que hospeda a Igreja da Ordem é que dá a
toda a extensão que abrange os calçadões das ruas São Francisco, Matheus
Leme, Rua Claudino dos Santos, Praça Garibaldi e o próprio Largo Coronéu Enéas
o nome popular da Largo da Ordem. (Andrade, 1997) Portanto quando
mencionamos nesse trabalho tal local estamos nos referindo a toda extensão
referida acima.
O edifício mais antigo de Curitiba é a Igreja da Ordem Terceira de São
Francisco e está situada no Largo da Ordem (Almeida, 1978), em pé desde 1737 e
restaurada de 1879 a 1880 para receber a visita do imperador D. Pedro II. Em
anexo à Igreja da Ordem está o Museu de Arte Sacra, idealizado por Dom Pedro
Fedalto e abriga imagens e objetos relacionados com o passado da Igreja Católica
de Curitiba. (Andrade, 1997)
Localizado na Praça Garibaldi está, desde 1972, o maior relógio do mundocanteiro do mundo, o primeiro a ser montado no Brasil, seu mostrador é feito de
grama e flores e seus ponteiros são enormes. Que além de se impor pelos 8
metros de diâmetro é também um dos mais pontuais, apresentando diferença de
apenas 30 segundos anuais. (Andrade, 1997)
Na Praça João Cândido é que estão as Ruínas de São Francisco. Sua
construção foi iniciada em 1811, mas acabou não sendo concluída, por volta de
1860sua construção foi abandonada para que a torre da antiga Matriz fosse
concluída. (Andrade, 1997)
Lá também está localizada a Casa Romária Martins, nome dado em
homenagem ao Vereador Alfredo Romário Martins, responsável pela oficialização
da data do aniversário de Curitiba, através de uma Lei Municipal em 1906. É um
casarão colonial português que data do século XVIII e foi armazém de secos e
27
molhados, até 1973 quanto tornou-se uma espaço voltado para memória e
identidade de Curitiba. E a Casa Vermelha, situada no Largo Coronel Enéas, foi
construída em 1891 e usada como depósito por comerciantes. Uma reforma na
fachada, em 1938 mudou a cor da fachada e tornou-se um depósito de ferragens e
assumiu o nome da cor vermelha até 1993, quando encerrou suas atividades.
Atualmente o lugar pertence à prefeitura de Curitiba e abriga uma exposição sobre
a própria cidade de Curitiba (Andrade, 1997).
Próximo à Casa Vermelha está a galeria subterrânea Júlio Moreira,
inaugurada em 1976, liga a Rua José Bonifácio e o Largo Coronel Enéas onde
funcionam vários pontos de entretenimento e cultura além do Teatro Universitário
de Curitiba (Andrade, 1997).
O Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba iniciou em 1966
os Planos de Revitalização do Setor Histórico de Curitiba. Nele estão à delimitação
do Setor Histórico, à política de restauração da arquitetura do espaço e o
tombamento de alguns prédios como patrimônio histórico da cidade ou do Estado.
Nestes Planos de Revitalização há também a demarcação do local como região
turística e de acontecimentos culturais, já que os prédios tomados e restaurados,
tornaram-se estabelecimentos que oferecem arte e cultura.
O segundo Plano, realizado em 1970, torna clara, em sua nota introdutória
as pretensões de definir a região como local atrativo aos turistas e curitibanos
como centro de atividades culturais. “O plano de revitalização do setor histórico de
Curitiba” objetiva restabelecer a continuidade do patrimônio do centro antigo da
cidade. A análise do “material” existente neste centro, ou seja, a arquitetura e sua
ambientação, foi o ponto de partida para a delimitação de uma certa área portadora
de aspectos que justificam um plano de preservação(...) o Plano vê a possibilidade
de transformação da área em um centro que concentre equipamentos de cultura e
determinadas atividades comerciais, ambos significativos como atração turística, e
capazes de uma revitalização da área.”
Pode-se entender portanto, o Largo da Ordem como um local com uma rica
diversidade cultural expressa tanto pelos seus frequentadores quanto pelos
investimentos públicos que contribuem para o desenvolvimento do espaço com a
construção de equipamentos públicos culturais.
Os dados apresentados neste estudo abordam fatos históricos, bem como
o processo de ocupação do espaço geográfico desde o início até o presente,
28
tornam evidente a importância histórica e a pluralidade cultural do local, pois é
possível notar que sempre existiram esforços do poder público em preservar a
área.
Dados disponibilizados pelo site Paraná Online7 (2011), a Feira do Largo
da Ordem, existe a mais de três décadas e tornou-se um dos principais locais de
compras de Curitiba. Posição importante considerando os efeitos da globalização e
instalação de shoppings e outros estabelecimentos comerciais que não foram
capazes de abalar o fluxo da ferinha, que recebe todos os domingos mais de 20 mil
pessoas. (DUCATI, 2011).
Segundos dados fornecidos pela Fundação Cultural de Curitiba, a feirinha
dominical do Largo da Ordem recebe semanalmente a visita de 21,5 mil pessoas8
em média, com um fluxo mensal de 90 mil pessoas, recebendo por ano em média
quase um milhão de visitantes. Segundo dados divulgados em 2005 pelo
Departamento de Feiras de Artesanatos do Instituto Municipal de Turismo (CTur)
são 1.3009 permissões para o a liberação de barraquinhas no local, liberações
estas cedidas pela Prefeitura Municipal de Curitiba.
Os dados atuais, não podem ser liberados, pois hoje tais informações são
controladas pela ACP (Associação do Comercial do Paraná).
Durante as pesquisas inicias para a realização do projeto, no segundo
semestre de 2013, foram realizadas visitas de observação apenas para organizar
informações para o futuro projeto que viria a ser realizado. No primeiro semestre de
2014, iniciaram-se pesquisas mais profundas sobre quem era os personagens do
Centro Histórico de Curitiba, mais especificamente do Largo da Ordem. Tais
pesquisas, para o estudo fotográfico em si, se iniciaram no dia 02 de março de
2014. A intenção destas visitas era criar um mapa para a organização dos espaços
a serem fotografados. Os estudos de campo se iniciaram no dia 02 de março 2014
a fim de compreender melhor o espaço a ser fotografado.
Com base nos estudo de Moutinho, procura-se desenvolver lógicas internas
para a realização e organização das fotografias, tendo como inspiração tais
técnicas. Segundo o autor, todo o trabalho etnográfico baseia-se em reflexão,
síntese e generalização sobre as sociedades em questão (MOUTINHO, 1980 p, 13)
7
Ver referência.
Dados divulgados em http://www.guiaturismocuritiba.com/2010/10/feira-do-largo-da-ordem.html acesso em 23
de março de 2014.
9
Dados divulgados em http://www.curitiba.pr.gov.br/conteudo/artesanato-imt/42 acesso em 27 de abril de
2014.
8
29
A experiência vivida junto de grupos humanos exteriores ao meio
ambiente habitual do etnólogo é com efeito um acontecimento
que envolve em geral todas as capacidades do indivíduo. (...)
Como tal experiência etnológica não pode ser uma passagem
superficial; a experiência etnológica é antes de tudo uma atitude
face ao mundo que vivemos. Por isso é inevitavelmente uma
atitude apolítica. Ao nosso ver, quando se trata de seres
humanos, não há um olhar apolítico que possa justificar a recusa
de ver a realidade social globalmente. O etnólogo apolítico é
apenas um elemento da mitologia ocidental. (MOUTINHO, 1980
p, 14)
2.3 Etnografia
Para uma melhor abordagem do tema proposto e para um identificação
mais ampla dos grupos estudos, optou-se pelo método etnográfico, pois este
mostra-se como uma importante ferramenta para a identificação dos grupos que
serão apresentados no decorrer deste trabalho.
Strauss (1967) define o estudo etnográfico como a observação e análise de
grupos humanos considerados em sua particularidade (frequentemente escolhidos,
por razões teóricas e práticas, mas que não se prendem de modo algum à natureza
da pesquisa, entre aqueles que mais diferem do nosso), e visando à reconstituição,
tão fiel quanto possível, da vida de cada um deles. (STRAUSS, 1967, p, 14). O
objeto de estudo no campo etnográfico centra-se na simples cultura cotidiana,
conhecida como “primitivas” ou ágrafas. Strauss afirma que a
Etnografia, etnologia e antropologia não constituem três disciplinas
diferentes ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São,
de fato, três momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência
por este ou aqueles destes termos exprime somente uma atenção
predominante voltada para um tipo de pesquisa que não poderia
nunca ser exclusivo dos dois outros. (LÉVI-STRAUSS, 1967, p, 396)
Marques (1999) afirma o que a etnografia faz é transcrever o discurso social,
anotando-o para a posteridade, ao fazer isso, ele transforma os acontecimentos em
passado, que existem apenas em seu momento de ocorrência, num relato que que
pode ser consultado novamente. O que o etnógrafo inscreve não é o discurso
social bruto, ao qual não tem acesso direto a não ser marginalmente, mas apenas
àquela pequena parte (fatos pequenos, mas densamente entrelaçados) que o leva
a compreender e tirar grandes conclusões:
Ao inscrever o discurso social o máximo que o etnógrafo
consegue fazer é uma leitura de segundo grau (a de primeiro
30
grau é específica do nativo) que possibilita, no entanto, um
encontro de horizonte entre a inscrição feita, as personagens da
inscrição e as interpretações das inscrições, numa espécie de
círculo hermenêutico que privilegia tanto a análise da totalidade
do fenômeno, como a pesquisa microscópica e fragmentária;
tanto os detalhes particulares da inscrição, como sua
caractegorização genérica. (MARQUES, 1999 p, 22)
Marconi e Presotto (2001) apontam que os estudos etnográficos analisam
em profundidade determinado caso ou grupo humano, sob todos os seus aspectos.
Este método permite análise de instituições, de processos culturais e de todos os
setores da cultura. (MARCONI e PRESOTTO, 2001, p, 35).
Marques (1999), aponta os estudos de Geertz (1989) como estrutura para
analise de informações e dos elementos de construção etnográfica, Geertz utiliza
conceitos como o ato de falar. Enquanto a significação funciona como a regra da
organização das unidades linguísticas do discurso, o valor constituinte da
linguagem introduz o indivíduo para uma ordem coletiva dos sistemas de signos, o
sentido tem como condição primeira constituir os próprios sistemas de significações
e de valores sociais, culturais e políticos de uma dada sociedade. (GEETZ, 1989
apud MARQUES, 1999 p, 29). Por isso, Geetz aponta como caracteristica principal
para a descrição etnográfica. A interpretação, segundo o autor a inforção deve ser
interpretada por meio fluxo do dicurso social, tentado “salvar o „dito‟ num discurso
da sua possiblidade de extinguir-se e fixa-lo em formas pesquisaveis (GEETZ,
1989 p, 15)
A constituição desses sistemas depende, por um lado, das
regras que estabelecem relações de oposição e de combinação
dos elementos formadores de uma linguagem, e, por outro lado,
de relações de reciprocidade entre sujeitos, no decurso dos
processos comunicacionais. É a tensão entre estas duas
perspectivas que constitui a natureza simbólica do sentido dos
objectos culturais, delimitando a identidade e marcando as
diferenças, tornando assim possível a mediação social, ou seja,
a reciprocidade da troca e a reversibilidade dos lugares de fala.
(GEETZ, 1989 apud MARQUES, 1999 p, 29)
Moutinho (1980) explica que para um maior entendimento daquilo que está
sendo analisado, é importante a recolha de dados sobre esta sociedade, ou seja o
trabalho que o investigador anteriormente pesquisou (dados como ecologia da
região, técnicas utilizadas, sistema de parentesco, instituições, dados, atividades e
etc.) (MOUTINHO, 1980 p, 13). Neste raciocínio, Fernandes (1958), aponta a
autonomia do autor como algo importante. Segundo ele, o investigador possui
liberdade para a ecolha do objeto a ser estudado. Fernandes separa em duas as
31
categorias de invertigação: 1) a invertigação como problema social, ou seja, cuja a
analise afete de forma explicita os fundamentos da ordem vigente; 2) A
possibilidade de conduzir certas atividades para fins meramente teóricos.
(FERNANDES, 1958 p, 19).
O proprio invertigador, como fruto de seu meio, com frequencia
que considere legítima aquelas expectativas, propondo-se como
ideal de trabalho o estudo das questões ou dos problemas que
se elevam socialmente à esfera da conciência. Esse processo
não afeta a integridade do investigador, nem os seus proprios
propósitos e métodos cientificos. Reduz, apenas, o alcance de
elaboração dos materiais e natureza dos alvos cientificos
visados. (FERNANDES, 1958 p, 22).
Por isso o método antropológico é de suma importância para o
entendimento e perquisa de determinado grupo, pois segundo Fernandes, gera
“estímulos ao conhecimento da situação” (FERNANDES, 1958 p, 19).
2.4 Antropologia da identidade
Tais estudos antropológicos, auxiliam na identificação dos grupos
apresentados no decorrer do trabalho, as técnicas antropológicas utilizadas neste
estudo, facilita o entendimento mais amplo daquilo que é proposto no estudo, por
isso, é importante contextualizar e explicar o papel antropológico neste estudo.
A Antropologia caracteriza-se como uma ciência lógica que estuda e
observa aspectos sociais e humanos, tendo em seu campo de pesquisa seus
próprios métodos e técnicas de trabalho. Permitindo a aqueles que estudam a área
observar e classificar os fenômenos, analisando e interpretando os dados obtidos
nas pesquisas, dando a oportunidade de futuras correlações e generalizações do
tema estudado. (MARCONI e PRESOTTO, 2001, p, 33). A Antropologia, como
ciência, desenvolve-se a partir do século XVIII com a expansão colonial europeia.
Novos territórios vinham sendo descobertos e ocupados pelas
potencias europeias (pincipalmente a Inglaterra) e novos povos
(considerados primitivos, quando comparados com a sociedade
ocidental) eram contatados. Era preciso conhecer e
compreender seus hábitos, costumes e valores, principalmente
para melhor dominá-los, como consequência política imperialista
e com o intuito de auxilia-la (..) (TOMAZI,1993 p, 165)
Tomazi (1993) afirma que ao longo do tempo a atuação do antropólogos
ocorreu de maneira mais independente ao que era exigido pelas escolas. O estudo
32
de outros povos, suas crenças e seus costumes passa a ser analisado de forma
mais política de mostrar diferentes culturas, as apresentando de forma nova,
analisando que as diferenças culturais não significam inferioridade e nem justificam
a dominação. (TOMAZI,1993 p, 165)
Poderíamos dizer que, para a antropologia, a cultura constitui o
campo simultaneamente simbólico e material das atividades
humanas. Toda a ação humana e, consequentemente, toda a
vida social têm um conteúdo simbólico: os mitos, ritos e dogmas,
mas também o objetos, os gestos, a linguagem e até a postura
corporal das pessoas. (TOMAZI,1993 p, 166)
Para analisar antropologicamente uma sociedade, Strauss (1949) afirma
que não é preciso necessariamente isolar os componentes econômicos, políticos
ou ideológicos, para poder compreender determinado grupo. Strauss (1949) afirma
que a sociedade vive a cultura ao mesmo tempo que a produz. “A antropologia
pôde olhar para a nossa própria sociedade com outros olhos e melhor
compreender suas regras, mitos e ritos.” (TOMAZI,1993 p, 168).
Segundo Velho e Viveiros (1968 p,55) a cultura é a organização de todas
as produções simbólicas produzidas por um mesmo grupo, apresentando todas as
contradições historias e sociais de determinada época.
A cultura relacionada a classe dominante incorporaria, segundo
esses autores, manifestações ligadas as experiências culturais
aristocráticas, mas também operárias, camponesas e indígenas.
Ao incorporar manifestações de grupos tão variados, essa
cultura da classe dominante poderia se confundir, em
determinados momentos históricos, como a cultura nacional:
composta de elementos de todas as origens, porém reordenados
e organizados numa visão de cultura dominante, de cultura de
classe dominante (VELHO E VIVEIROS 1968, apud TOMAZI
1993 p, 168)
Para uma análise mais ampla sobre a identificação e categorização dos
grupos, subgrupos sociais e movimentos culturais, este trabalho pretende
apresentar os a definição e categorização de cada estrutura encontrada.
2.5 Grupos, Subgrupos Sociais e Movimentos Culturais
2.5.1 Movimentos Culturais
Para a identificação dos movimentos culturais encontrados no local, é de
suma importância contextualizar a ideia de movimento cultural. Seguindo a lógica
de Lefebvre (1968), de categorização de identidade dos grupos sociais por meio da
33
cultura consumida pelos mesmos, foram identificados os seguintes grupos e
movimentos sociais e culturais.
Todo e qualquer movimento pressupõe certa organização hierárquica. Essa
organização pode ser desentralizada, no sentido de não estar vinculada a nenhum
corpo dirigente regular e previamente determinado, pois a direção e organização
pode acontecer de forma coletiva, através de permanentes revezamentos entre
seus participantes, já que todos são considerados lideranças em potencial. Tal
forma de organização pressupõe a valorização de todos os participantes do
movimento, assim como a valorização de todas as tarefas a serem efetuadas.
Neste tipo de organização, procura-se garantir a participação de todos na
organização do coletivo, de maneira democrática. (TOMAZI, 1993 p, 219).
A organização também pode apresentar uma estrutura mais
definida, firmada em um corpo de líderes mais ou menos fixo e
destacado dos demais participantes do movimento. Esse grupo
dirigente, teria o papel de liderança, a quem caberia a iniciativa
de propostas sobre os passos a serem dados, bem como a
palavra final sobre metas e os objetivos, as formas de condução
e a representação permanente do movimento em face de seus
interlocutores ou oponentes. (TOMAZI, 1993 p, 219)
Tomazi (1993) aponta que a forma de organização de um movimento tem
importantes consequências para a relação da dinâmica externa e interna, pois
internamente nota-se que uma organização sem hierarquia de liderança favorece o
espontaneísmo das ações do movimento, além de facilitar o controle dos
indivíduos, já que sem uma liderança permanente, o movimento teria certo prejuízo
com essa atitude. Tomazi ainda aponta o outro lado da questão, segundo ele, uma
organização fundada em um corpo de líderes afastados dos componentes do
movimento, pode criar a ideia de práticas autoritárias de tais lideras, criando uma
estrutura elitista abominada pela ideologia da estrutura dos movimentos. Segundo
Tomazi, “os demais participantes desempenhariam o papel de „massa de manobra‟.
(TOMAZI, 1993 p, 219)
Para compreender melhor a ideia e estrutura de tais movimentos, é
importante ser entendido o conceito de cultura. De acordo com o sociólogo francês
Raymond Williams (1921 - 1988), a cultura é definida como o conjunto organizado
dos vários modos de vida de uma determinada sociedade, por meio de todas as
influências e tendências culturais, tal base abre espaço para o surgimento dos
movimentos culturais gerais, como afirma Galliano (1981 p, 280). Os movimentos
sociais defendem ou buscam mudar aspectos da estrutura social ou da estrutura
34
como um todo. Servem para apresentar a realidade social para um maior número
de pessoas. (GALLIANO, 1980 p, 276). Por este prisma, os movimentos sociais
exercem um importante papel de agentes socializadores. Castells (2000 p, 96)
afirma que a questão da identidade é muito importante em tais movimentos, pois se
refere a auto definição do mesmo, e é sobre ele que determinado movimento se
pronuncia.
Normalmente, as ideias que orientam um movimento social geral
encontram expressão numa literatura tão variada e tão indefinida
como o próprio movimento. Ela tende a ser uma expressão de
protesto, com uma descrição genérica de uma espécie de
existência utópica. Dessa maneira, esboça vagamente uma
filosofia baseada em novos valores e em concepções pessoais.”
(GALLIANO, 1908 p, 279)
Tal movimento é categorizado como organização, que ocorrem por meio de
influências das artes em geral. Smiers (2003, p, 30) afirma que a arte é a forma
específica de comunicação humana, que molda toda e qualquer estrutura
psicológica do homem, alterando emoções, linguagens, visões e avaliações das
compreensões do passado e do presente. Estes sentimentos são grandes
produtores de ideologias e bandeireiras levantadas pelos membros de movimentos
culturais ou sociais. Castells (1996, p, 328) conclui o raciocínio apontando a cultura
como a medida representada por meio da comunicação, das próprias culturas;
nosso
sistemas
de
crenças
e
códigos
produzidos
historicamente
foram
fundamentalmente transformados. Marconi e Presotto (200, p, 34) afirmam que as
relações entre cultura e personalidade constituem um novo aspecto, ou seja, o
indivíduo não é visto como um simples receptor e portador de cultura, mas como
um agente de mudança cultural, desempenhando papel dinâmico e inovador
(MARCONI E PRESOTTO, 2001, p, 29)
Ao quadro estrutural mental – a linguagem, os conceitos, as
categorias, as imagens de pensamento e sistemas de representação
– desenvolvidos por diferentes classes e grupos sociais para
fazerem-se entender, definirem-se, descobrirem e tornarem
inteligível a forma na qual a sociedade funciona. (MORLEY e CHEN,
1996, p, 26-7)
Castro e Maia apontam a mídia como um elo de ligação que representa a
política, servidores públicos e governantes e seus partidos políticos. Segundo os
autores, a conexão desses membros enquanto cidadãos, de forma vertical,
contribuem para a deliberação pública. (CASTRO e MAIA, 2006 p, 154).
Por exemplo, a defesa da preservação do meio ambiente, da
paz, dos direitos da mulher, dos direitos à individualidade, de
35
participação política etc. São valores antigos, mas que voltam a
ser atuais. São valores emergentes e não predominantes nem
hegemônicos, mas que convivem e estão ajudando a compor
uma nova realidade. No fundo há uma rejeição a tudo que
afronta a vida, a dignidade e o bem comum (violência, corrupção,
autoritarismo político, destruição da natureza, degradação das
condições de existência e outros). (PERUZZO, 2002 p, 22)
Marques (1999 p, 12) aponta a cultura como um sistema simbólico, oriundo
das concepções simbólicas e práticas da linguagem, considerando que a presença
do homem no mundo não é imediata, mas mediatizada pela linguagem.
Em tal sistema, a linguagem desempenha funções de
significação que estão na origem das elaborações dos sentidos
do homem no mundo ao expressar as diferentes maneiras de
sua relação com uma mesma realidade, e ao expressar de uma
mesma maneira a sua relação com realidades diferentes. Ao
falar, o homem não se limita a designar e a significar a sua
relação com um mundo preexistente; constrói também sentidos
novos já que as palavras não são etiquetas coladas a uma
realidade singular, mas construções culturais destinadas a
mediatizar a relação do homem com o mundo. (MARQUES,
1999 p, 12)
Todas as ações dos movimentos culturais podem ter origem na
consciência coletiva, na mobilização social, na coesão do nível interno dos
movimentos, na adesão que contribuam no nível interno dos movimentos, como no
planejamento de atividades e realizações de eventos, pesquisas, produções de
instrumentos de comunicações, facilitando assim a conquista de novos aliados por
meio de ferramentas de comunicação eficiente com a sociedade como um todo,
esse tipo de conduta, favorece a conquista de “espaços” nos grandes meios de
comunicação de massa ou em outras instituições da sociedade como afirma
Peruzzo (2002 p, 15).
Se o discurso massifica pela sua mediocridade adaptável a qualquer idade
mental, nível de conhecimento etc., e se uma sociedade de massas se
caracteriza pela utilização de bens de consumo (tanto materiais, quanto
culturais), uma cultura de massas, que é a sedimentação de mensagens
pré-fabricadas sob medida para todos, consistirá numa ulterior
uniformização do uniforme ou síntese dos lugares-comuns de uma
coletividade (PASCHOALI, 1972).
Henri Lefebvre (1969, p, 56), afirma que a música representa basicamente
mobilidade, o fluxo, e a temporalidade. Por isso, há a repetição de motivos, de
temas, combinações, emoções e sentimentos surgidos pela influência cotidiana da
música. Sendo assim, Lefebvre questiona a relação intrínseca entre a música e o
cotidiano.
Se há relação entre música, de um lado, e a filosofia, a arte, a
linguagem do outro, não haveria também alguns laços entre a
36
música e o cotidiano, ou ao contrário, compensa sua trivialidade
e superficialidade substituindo-o ao canto? Não seria ligação
entre a vida “profunda” e a vida “superficial”? e se ela as reuniu
outrora, essa unidade pode encontrar ainda razão, momento e
lugar tendo-se em vista a visão em que se acentua (até o ponto
de tornar-se estrutural), entre o cotidiano, em decorrência da
agravação da pobreza cotidiana? Não haveria questões
análogas das diferenças e da especificidade à respeito de muitos
outros objetivos, como arquitetura, pintura, dança, poesia, jogo?
(LEFEBVRE, 1968, p, 26)
Tais movimentos culturais constituem um meio poderoso de participação. Galliano
(1980 p, 276) afirma que em virtude das dimensões de tais movimentos e de suas
diferenças, a sociedade urbana e industrial força diferentes formas de participação
na vida coletiva mais complexas do que da sociedades tradicionais. Strauss (1967),
afirma que para denominar-se cultura, todo conjunto etnográfico, do ponto de vista
da investigação, deve ser constituído como unidades culturais, ou seja, não só
consumir, mas produzir cultura também (LEVI-STRAUSS, 1967, p, 322)
Castells (2000) ressalta que os “movimentos culturais devem ser
entendidos em seus próprios termos” (CASTELLS, 2000, p. 94). “Eles são o que
dizem ser. Suas práticas (e sobretudo as práticas discursivas) são sua
autodefinição”. Assim, supõe-se que todo grupo organizado precisa ter suas
demandas traduzidas através de um discurso coerente.
Não se pode determinar a proporção da cultura e do sistema
social dessa forma integrada na personalidade. Além disso, a
medida da integração varia de pessoa para pessoa. No entanto,
pode-se afirmar que uma vez integradas na personalidade, a
cultura e o sistema social se tornam obrigação moral, norma de
consciência e maneira de agir, de pensar ou de sentir do
indivíduo. A integração se processa de tal modo que a pessoa
integrada parece estar agindo, pensando ou sentindo de maneira
natural ou normal, e não segundo a cultura e o sistema social
(GALLIANO, 1980 p, 304)
2.5.2 Grupos e Subgrupos10 Sociais
Para a realização deste estudo, é de suma importância compreender as
logicas dos grupos e subgrupos sociais, pois estes, estão representados no
fotolivro. Pretende-se aqui analisar as estruturas e as ideológicas de cada grupo
10
Para esclarecer, o uso do termo “subgrupos” não necessariamente significa que são grupos inferiores, e sim
grupos como uma conotação menor, se opondo a cultura de massa. (MELLO, 2004 p, 64)
37
encontrado no espaço analisado, o Largo da Ordem, por isso é importante
entender as diferenças entre o “social” e o “cultural”. Tais diferenças não são tão
substanciais, se seu conteúdo implica em tendências teóricas próprias. Assim
explica White, (1969 p, 45) afirmando que os fatos e acontecimentos que
constituem a ideia de cultura encontram-se no espaço e no tempo, o autor
classifica em três categorias: Usaremos duas delas para explicar a formação dos
movimentos sociais. Orgânica (acontecimentos naturais) e “intra-orgânica” – dentro
de organismos humanos (conceitos, crenças, emoções e atitudes); Galliano (1980)
completa o raciocínio afirmando que um determinado conjunto de pessoas agem
de acordo com normas e valores pré-determinados por uma coletividade ou cultura,
uma pessoa responde a sua própria consciência moral, ou seja a uma necessidade
que considera “normal”, isso ocorre segundo o autor porque o indivíduo está
motivada a agir dessa maneira. (GALLIANO, 1980 p, 306).
Sabe-se que tal motivação não é inerente à natureza biológica
do homem, e que também não faz parte da essência da natureza
humana, pois várias maneiras de agir a podem satisfazer. De
fato, o homem ocidental, por exemplo, que prefere comer com
garfo e faca e sabe distinguir quais são e quais não são as boas
maneiras no uso dos talheres, não herdou essa experiência e
nem essa capacidade de juízos juntamente com a necessidade
biológica de comer, ao contrário, é a ordem da cultura que
determina a preferência e capacidade de juízo. (GALLIANO,
1980 p, 306).
Grupos sociais podem ser definidos como coletividade como afirma
Lenhard (1971 p, 103), para o autor a ideia de organização ocorre pois um conjunto
de determinadas pessoas que ocupam o mesmo espaço.
Muitas destas organizações acontecem por meio da ideologia grupal. A
ideologia de um movimento consiste num corpo de doutrinas, crenças e mitos.
Galliano (1981, p,285), aponta quatro características para tais formações. Primeiro,
o objetivo comum acrescentam propósito as premissas de um determinado
movimento; Segundo, a junção de críticas e condenações a uma estrutura vigente,
para atacar determinado ponto em questão; Terceiro a criação de defesas que
posteriormente servirão como justificativa para o movimento e objetivos; Quarto,
um conjunto de crenças e preferencias políticas.
38
Tomazi (1993 p, 218) aponta a ideologia11 como as ideias que produzidas
pelo homem. Nesse sentido, a ideologia atua como uma forma de mascarar as
reais condições de opressão dos interesses dos grupos dominantes.
Se não tivesse ideologia, um movimento social caminharia de
modo incerto, titubeante, e dificilmente poderia manter-se em
face da oposição de grupos externos. Por isso, a ideologia é tão
importante na vida de um movimento; ela é um mecanismo
essencial para a sua persistência e desenvolvimento
(GALLIANO, 1981 p, 285).
Kesseing (1972 p, 371), analisa que num sentido amplo, todo
comportamento cultural tem faceta que se liga à organização social ou organização
de pessoas. Ou seja, as pessoas agem de modo padronizado, as relações
interpessoais são mais ou menos formalizadas numa estrutura social. Neste
mesmo estudo, Kesseing aponta o costume dos antropólogos em agrupar e
classificar, sob a classificação de “organização social”.” São as respostas culturais
a certos aspectos universais ou constantes espaciais, biológico e sociais que
existem em toda a vida grupal” (KESSEING, 1972 p, 371).” Muitos outros grupos
exercem função socializadora secundária, fundada, em geral, nas atividades
desses próprios grupos.” (GALLIANO, 1908 p, 310)
A medida que tais grupos se organizam e se associam, adota-se uma
liderança aceita e reconhecida, como afirma Galliano (1993), o autor afirma que tal
ligação é de suma importância para a criação de um elo único entre seus membros
e para a ideia da “consciência do nós”. Formando assim um corpo de tradições,
conjunto de valores orientadores, filosofias especificas, conjuntos e regras e um
sistema geral de expectativas aplicáveis as ações de seus membros. Assim os
integrantes de um determinada organização são levados a desenvolverem atitudes
de fidelidade e lealdade em relação as ideologias do grupo. (GALLIANO, 1993, p,
260).
Torna-se cada vez mais aceita a noção e formação cultural dos
seres humanos nas sociedades contemporâneas passa muito
pelas intermediações do cotidiano marcadas por um contexto de
complexidade. Intermediações que ocorrem através da
comunicação interpessoal, grupal e massiva e que se ampliam
com a incrementação de novas tecnologias. (BARROS, 1997 p,
30)
Partindo da proposta apresentada por Barros (1997), Ramos (2000) afirma
que a personalidade dos indivíduos em determinado movimentos, é proveniente de
11
Este tema será apresentado no decorrer do capítulo de forma mais clara, para uma melhor contextualização
dos grupos estudados nesta categoria.
39
um produto social, gerado pela interação com as demais pessoas, isso acarreta na
utilização de símbolos significativos presentes em nossa cultura, permitindo
apropriações mútuas de atitudes de ocorre por meio da comunicação. (RAMOS,
2000 p, 31).
Toda formação dos grupos sociais acontece, algumas vezes, por meio das
referências culturais, transmitidas pelos meios de comunicação de massa. Lakatos
(1999) afirma que a formação dos estereótipos acontece devido à posição social e
cultural dos indivíduos e dos grupos. Os meios de comunicação de massa facilitam
a criação e a divulgação dos estereótipos sociais, marginalizando-os e
apresentando de forma geral, raramente por especificação. “A cultura estimula e
controla o comportamento social dos seres humanos; ela constitui um processo
contínuo de adaptações de valores sociais” (OLIVEIRA, 2000).
Galianno (1980) apresenta duas conclusões para a organização de
determinados grupos. A primeira delas é a socialização como fim explicito, para
assim exercer sobre determinado individuo influencia que perdure por toda sua
vida, ou pelo menos por todos os aspectos da vida. Neste caso, Galliano cita como
exemplo a família, escola, igreja, as seitas e os numerosos movimentos culturais,
sociais e educacionais. A segunda conclusão segundo o autor é a socialização não
necessariamente como transmissão de cultura pelos mais velhos ou mais novos, e
sim a transmissão por pessoas da mesma idade. Em muitos grupos etários
homogêneos que não tem a socialização como fim explicito acontecem por
pessoas da mesma idade, principalmente entre os jovens, exemplo este nos
movimentos e grupos juvenis. (GALLIANO, 1908 p, 310)
Marconi e Lakatos (1999) separam e apresentam a ideia de grupos sociais
como cadeias que se agrupam, tais pensamentos foram separados em quatro
categorias:
1) Agregados Funcionais, que em sua maioria apresentam funções
específicas, em virtude de terem uma ligação direta com a sociedade.
Este grupo é formado por comerciantes, estudantes, moradores de rua,
policiais, entre outros, que tem como características possuir raízes
passageiras, mas presentes no local.
40
2) Os Agregados Residenciais, que em sua maioria aparecem em zonas
urbanas com um fluxo maior de população, nesta categoria encontramse como moradores.
3) Manifestações Públicas, comuns no Largo da Ordem, são realizadas
por pessoas que se reúnem em um local para que o objetivo principal
(não necessariamente único) seja atendido, seguindo sempre a ideia de
um plano pré-estabelecido.
4) Multidão, ideia de aglomeração promovida pelo espaço, tem em seus
casos, no início, ser pacífico, e acaba por ser tumultuoso. Isso ocorre
por ser um processo de pessoas que ocupam o mesmo espaço físico,
dividindo-o com grupos diversos. Este tumulto, acontece por fatores
distintos e únicos na maioria dos casos. Dentro desta categoria,
Marconi apresenta uma nova divisão para este movimento, como a
presença física de seus componentes, pertencem à multidão o indivíduo
precisa fazer parte de um grupo. Marconi afirma que a ausência de
status é um dos fatores, se o indivíduo não é agregado por seus
valores, ele não possui um status social (isso se aplica à relação que
um indivíduo tem do outro); Por padrão de comportamento, que sempre
muda dependendo do grupo e de suas ideologias. Isso determina a
ideia apenas de um agregado, e não de um elemento fixo do grupo
(volúvel); Por comportamento coletivo, esse comportamento não é
social, pois nesta categoria não há comunicação e interação com a
sociedade em geral, apenas com o coletivo individual; E, por anonimato,
não
apenas
uma
atitude
voluntária
do
indivíduo,
mas
são
consequências da natureza daqueles que assumem um grupo social.
Kesseing (1972 p, 373) afirma que para que uma análise do sistema social
seja feita, é preciso começar com os fatores demográficos e etnográficos do local,
por exemplo, o número de pessoas da população, sua composição por idade e
sexo, suas distribuições por domicílio, e outras informações importantes para a
caracterização do frequentadores do a ser estudado, o Largo da Ordem.
Em qualquer grupo humano, há tensão, pressão e conflito a respeito
de muitas de suas regras culturalmente definidas. Tanto como
criança, quanto como adulto, o indivíduo entra em atrito, em vário
pontos, com os costumes estabelecidos. Os desejos pessoais
determinam um impulso no sentido de evasão, de logro ou até das
quebras efetivas das regras. (KESSEING, 1972 p, 371).
41
A partir dos estudos de Marconi e Lakatos (1999 p,75), essas
especificações são um processo comum e inverso (principalmente nos meios
midiáticos), fazendo com que determinada atribuição aplicada a cada indivíduo,
como qualidades e defeitos, considerem uma categoria total. Os estereótipos são
os resultados de um processo natural inerte à forma como processamos a
informação que nos é transmitida.
Dentro deste agrupamento social existe a endoculturação12, termo
empregado, tanto por Keesing quanto por Frost, para o aprendizado e educação de
uma determinada cultura desde infância. Esse termo conceitua um processo de
condicionamento da conduta, dando estabilidade à cultura. (MARCONI e
PRESOTTO, 2001, p, 66). Tal divisão ocorre como uma separação de tribos
existentes por influencias artísticas de grupos com crenças e comportamentos
religiosos. Marconi e Presotto (2001) afirmam que: cada indivíduo adquire as
crenças, o comportamento, os modos de vida da sociedade a pertence. Ninguém
aprende, todavia, toda a cultura, mas está condicionado a certos aspectos
particulares da transmissão de seu grupo. As sociedades não permitem que seus
membros hajam de forma diferenciada. Todos os atos, comportamentos e atitudes
de seus membros são controladas por ela. (MARCONI e PRESOTTO, 2001, p, 66).
Seguindo a ideia de endocultração13 como fator determinante para a
identidade social, Galliano (1980) aponta a socialização como o processo principal
para a aquisição do processo coletivo de conhecimento, padrões, valores e
símbolos. Tais aquisições, como na maneira de agir, de pensar e sentir, são
próprias de grupos, de determinada sociedade e da civilização em que vive o
indivíduo. (GALLIANO, 1980 p, 304)
Heller afirma que o cotidiano aliena os indivíduos de determinada
sociedade, pois os mesmo estão inseridos na mesma lógica nacionalizante e
padronizada desse sistema. Para Heller, a vida cotidiana também é um espaço
12
Endoculturação é o processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com
assimilação de valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa
com a morte.
13
Endoculturação é o processo permanente de aprendizagem de uma cultura que se inicia com assimilação de
valores e experiências a partir do nascimento de um indivíduo e que se completa com a morte.
42
onde diversas atividades cotidianas de caráter heterogêneo e subjetivo possam ser
realizados, ou seja, um lugar onde determinados grupos estariam livres para poder
manifestar suas mais diversas capacidades (tanto físicas e mentais) artísticas,
estéticas, ideológicas, etc. (HELLER, 1986 p,78).
(...) Mas isso não incentivaria ou levaria necessariamente à uma
pratica alienante em todos os campos heterogêneos (grupos,
comunidades, tribos, etc.) da vida social pelo fato destas esferas
preservarem uma autonomia ou identidade cultural, linguística,
existencial e ontológica na esfera da própria consciência (como
diria também o filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937)
acerca do comportamento e da autonomia de classes).
(HELLER, 1986 apud Endo, 2009 p, 16).
Tomazi (1993) ressalta que mesmo que determinados grupos envolvam
ações coletivas, ainda assim não estaríamos necessariamente falando de
movimentos sociais, uma vez que há manifestações coletivas que resultam em
protestos, quebra-quebras, às vezes com ações policiais, tais aglomerações não
constituem movimentos, pois tais movimentos não apontam para nenhuma
mudança no sentido da vida social do coletivo (TOMAZI, 1993 p, 212)
Em uma pesquisa de campo realizada entre os dias 27 de setembro a 4 de
outubro de 2013, identificamos os seguintes grupos, subgrupos e movimentos
sociais e culturais, baseados em ideologias, culturas e crenças que se encontram
no local para a realização e disseminação de suas verdades. Após o levantamento
notou-se a presença de outros três grupos que são essencialmente distintos dos
demais apresentados neste estudo, os travestis, transexuais e garotas e garotos de
programa. No entanto, ainda precisamos avaliar a melhor maneira de abordá-los no
produto.
Pretendemos separa-los em três categorias: Ideologias, Crenças e Movimentos
Artísticos. Para entender cada movimento, contextualizamos cada grupo
encontrado, apresentando um breve relato sobre suas doutrinas.
2.5.3 Ideologias
O conceito do termo “ideologia” foi proposto pelo filosofo francês Destutt de
Tracy (1754-1836), que no fim do século XVIII pressupôs que as ideias não
poderiam ser entendidas como valores próprios. Segundo o autor, a elaboração de
43
tal conceito, a crença da razão, surgida no espirito Iluminista14 do século XVIII, e na
influência da ciência em propagar ideias ao mesmo tempo da análise e
compreensão dos objetos naturais. (TRACY, 1801)
A ideia tradicional de cultura, tende a associá-la às artes, ao
conhecimento presente nos livros, em resumo, àquilo que
chamaríamos de cultura erudita. A ideia de cultura como “modos
de agir, pensar e sentir” de uma sociedade abrange e ultrapassa
essa identificação entre arte e cultura. Contudo, embora tratando
esses modos de “agir, pensar e sentir” como socialmente
construídos, os conceitos de cultura corre o risco de perder, em
suas analises, a dimensão da dominação político-econômica que
se dá numa sociedade capitalista, e que é em grande parte
responsável pela predominância de determinados “modos de
agir, pensar e sentir”, e não de outros. (TOMAZI, 1993 P, 173)
A ideologia deveria ser compreendida como a “ciência das ideias”,
assemelhando-se as ciências naturais (TOMAZI, 1993 p, 169).
Nesta categoria pudemos identificar os seguintes grupos:
2.5.4 Skinheads
A Rua Trajano Reis no Largo da Ordem, é conhecida nacionalmente por
ser o reduto dos grupos skinheads, chegando a ser palco de encontros nacionais
do movimento. No local, encontram-se quase todos os grupos que fazem parte
desta ideologia. A raiz do movimento encontra-se nos jovens jamaicanos que no
fim dos anos de 1950 e início dos anos de 1960 criam um movimento musical, com
influências naqueles já existentes na Inglaterra no mesmo período, como o ska15 e
os rudeboys16. No entanto, por conterem fortes críticas sociais e incitar confrontos
com as autoridades o movimento foi marginalizado.
O grupo tornou-se conhecido pelo culto e prática da violência. Rivera
(2009) afirma que isto ocorreu quando os primeiros skins apolíticos, na Inglaterra
de 1960, cultuavam a violência sem que esta tivesse qualquer ligação com os
14
Iluminismo ou Século das Luzes, foi um movimento cultural da elite intelectual europeia durante o século
XVIII que procurou mobilizar o poder da razão, afim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da
tradição medieval (Igreja do Estado).
15
Ska é um género musical jamaicano surgido no final da década de 1950, Combina elementos caribenhos
como o calipso e americanos como o jazz, e rhythm and blues. Suas letras abordam temas
como marginalidade, discriminação, a vida da classe trabalhadora.
16
Rudeboy é um termo usado para designar os delinquentes juvenis e criminosos na Jamaica nos anos de
1960, e desde então tem sido usado em outros contextos.
44
movimentos e ações políticas e nem fizesse parte de qualquer plano de ação
revolucionária. Conforme Moreno, “uso da violência só pode ser legitimado e aceito
se este se constituir em método concreto de ação revolucionária de combate ao
capital, ao fascismo, ao racismo e ao preconceito de qualquer tipo (MORENO,
1989, p, 22).
Uma das bandeiras levantadas por outros grupos skinheads quer acabar
com a intolerância no movimento, tornando-o apenas uma cultura musical e com
influências da moda. Roddy Moreno, precursor do movimento Oi! Music (música
que representa a ideologia skinhead) e vocalista da banda de "The Oppressed"
afirma:
Nossa posição está clara: não toleramos racistas. Para nós, skinhead
significa simplesmente pertencer à classe operária, ter orgulho de si
mesmo e saber de onde vem (recordas suas origens). Se és racista, não
pode ser skinhead. Porque os skinheads não existiriam sem a Jamaica.
Negar essa cultura e negar a si mesmo... por isso os chamamos de
"boneheads", porque não são skinheads. Eles são boneheads e nós
somos skinheads. Nós os vemos como algo totalmente distinto (MORENO,
1989).
O culto a violência tornou-se um aspecto negativo da cultura skinhead, a
ideia da não-violência tornou-se uma regra em certos grupos skins, segundo esta
ideologia a violência deve ser combatida, abandonada e superada (RIVERA, 2009).
Essa posição está na maioria dos grupos skins do mundo. Uma minoria (ex: White
Powers, conhecidos por não tolerarem negros, estrangeiros e por manterem uma
posição cristã conservadora, não toleram homossexuais) praticam tais atos de
violência.
O reduto skinhead de Curitiba fica situado na Rua Trajano Reis, local onde
ocorrem as manifestações dos grupos. Segundo dados fornecidos por André Mod,
um dos precursores do movimentos skinhead no sul do país, em conversa no dia
17 de maio de 2014, afirma que há 40 skinheads pertencentes a dois coletivos
musicais da capital, o Skadrophenia (criado a três anos) e o CWB Blacks (Fundado
a dois anos), segundo Mod, os eventos do movimentos chegam a reunir 300
participantes por semana.
2.5.5 Punks
45
Movimento rebelde de repudio ao sistema social e às suas instituições,
sempre propagando a ideia do “faça você mesmo”. Tem como base o anarquismo
pregado nos anos de 1950. O movimento originou-se quase ao mesmo tempo nos
Estados Unidos e no Reino Unido, no início de 1950, como um elo entre a cultura
pop e os movimentos juvenis. Tem ligação direta com a música, tendo nela a maior
divulgadora de suas ideias e ideologias.
O‟Hara (1999) afirma que o punk é a somatória entre uma forma de arte,
uma teoria e uma atitude política. E os classifica de três formas: como uma
tendência juvenil (baseando-se na teoria do agendamento, no qual a mídia tem
total influência sobre a informação), como uma mudança e rebelião e como voz
para uma oposição.
Segundo, Alexandre Ricardo da Banda S.O.S Chaos, em conversa no dia
17 de maio de 2014, fundada em 1998, as apresentações punks em Curitiba
acontecem no TUC, teatro universitário de Curitiba e reúne em média por show
100 pessoas, os eventos punks sempre acontecem aos sábados pela noite.
Segundo Ricardo, há pelos menos 300 punks espalhados por Curitiba.
2.5.6 Headbanges
Os Headbanges, popularmente conhecidos como “metaleiros”, recebem
essa denominação aqueles que vivem no ambiente do Rock n’ Roll pesado,
subgênero criado no início da década de 1960 originalizando o termo metal
pesado. Segundo Endo (2009), o gênero musical é conhecido pelos sons pesados
dos instrumentos musicais, como por exemplo a guitarra que é caracterizada neste
gênero por apresentar riffs distorcidos, mais compostos e pesados.
Os Headbanges só ganharam status de tribo em meados de 1980, pois
neste período começaram a serem identificados por sua linguagem, modo de se
vestir e se expressar e seus valores próprios começaram a ganhar força. (ENDO,
2009 p, 29). Segundo a Damar Produções, em conversa no dia 17 de maio de
2014, única produtora de shows de metal em Curitiba, as apresentações de heavy
metal ocorrem sempre próximo a igreja do Rosário, reunindo por apresentação até
mil pessoas por espetáculo.
2.5.7 Crenças
46
Segundo Corrêa e Rosendahl (2001 p, 57), religião consiste na
interpretação do mundo e representa uma forma de conhecimento. Ainda neste
raciocínio, A diversidade das religiões indica que a própria construção do espaço é
diferenciada, aparecendo em cada situação com características específicas.
Segundo os autores o espaço religioso depende de três componentes: o sistema
semiótico (simbólico) da crença, o comportamento dos adeptos e o contexto
institucional (organizações religiosas). (CORRÊA e ROSENDAHL 2001 p, 53).
O campo das religiões no Brasil é vasto e muito diversificado.
Com sua história católica, uma expansão relativamente
incompleta do colonialismo, uma secularização tardia e um
grande número de religiões, existe neste país, uma imensa
mescla das expressões religiosas, colocando o sincretismo no
cerne do campo religioso brasileiro (MONTES,1998 p, 211)
Portanto, nesta categoria identificamos os seguintes grupos: Católicos,
Hare Krishnas, Judeus e Evangélicos.
2.5.8 Católicos
De acordo com a doutrina católica, a tradição é a importância da
compreensão da fé. Nesta doutrina há um só Deus e três pessoas divinas: Pai
(Deus), Filho (Jesus Cristo) e Espírito Santo (Natureza divina). Por isso, o
catolicismo tem como objetivo ser a Igreja fundada em fé por Cristo de acordo com
as palavras d'Ele dirigidas a São Pedro: “Tu és pedra e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja” (MATEUS, 16:18). A Igreja aceita como sucessores de São Pedro
os Bispos de Roma, conhecidos popularmente como Papas. Sempre em linha
contínua de sucessão, a liderança do Papa dá a ele o poder sobre a Igreja
Universal Cristã e não somente em Roma. Sua liderança é afirmada claramente por
Santo Agostinho, pelo qual Lutero tinha uma grande admiração. A respeito de
controvérsias de doutrina, ele disse: “Quando Roma fala, acabe-se a discussão”.
Ao longo da história, a Igreja sofreu algumas rupturas. A primeira ocorreu
no antigo Império Bizantino, no século IX, dessa ruptura resultaram os cristãos
(autodenominados) ortodoxos, que se subdividiram em várias Igrejas. A fé deles é
praticamente idêntica à da Igreja Católica, aceitando o Papa líder, mas não aceitam
sua autoridade monocrática. A segunda ruptura, a mais séria até hoje, foi no século
XVI, com a chamada “Reforma Protestante”. Essa reforma teve dois líderes
independentemente: Lutero e Calvino. Lutero não queria criar uma nova instituição,
47
apenas reformar a Igreja tradicional, que precisava de reformas em seus costumes.
Calvino, por sua vez, fundou uma Igreja, com sede em Genebra na Suíça, essa
nova tradição não aceita a fé como fonte principal, somente a Bíblia.
Até 1889, durante a Proclamação da República, o Brasil era oficialmente
um país católico. Outras religiões eram permitidas somente em cultos domésticos.
A liberdade religiosa só aconteceu em 1890. Segundo últimos dados divulgados
pelo IBGE (2010)17, cerca de 64,6% (123,2 milhões) dos brasileiros são católicos
romanos, o que torna o Brasil a nação de maior população católica do Planeta.
Curitiba é uma cidade fortemente católica. Três, dos quatro feriados municipais,
têm origem no calendário litúrgico católico: como a celebração a Nossa Senhora da
Luz dos Pinhais, padroeira de Curitiba, comemorado em 8 de setembro.
A igreja do Rosário é a única instituição católica encontrado no local, ela
está situada na praça do Rosário, ao centro do Largo da Ordem, foi construída em
1946 em estilo barroco18.Segundo dados divulgados pela Prefeitura de Curitiba em
17 de maio de 2014, na década de 1970, a igreja passou também a ser chamada
de Santuário das Almas, pois ali, se realiza com frequência missas de corpo
presente.
Segundo a secretária Maria do Rosário, em conversa no dia 17 de maio de
2014, a igreja do Rosário possui 15 membros fixos, entre padres e freiras, todos os
dias a igreja recebe a visita de 20 a 30 pessoas por dia. Nas missas de domingo
celebradas em latim, recebem por semana de 30 a 40 fieis.
2.5.9 Judeus
Conhecida como a religião dos hebreus (Armond, 1980 p, 47), o Judaísmo
é a mais antiga das doutrinas monoteístas. Iniciou-se por volta de 1200 a.C e tem
origem ao culto de Deus de Abraão. Os judeus seguem os textos de Moisés que os
recebeu entre os Dez Mandamentos de Deus, segundo a tradição religiosa. Os
ensinos, regras e conceitos da doutrina acontecem por meio da Thora, conhecida
como a Lei dos judeus, ela é tão significativa para a doutrina que esta Lei é
17
Dados publicados em: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,igreja-catolica-tem-queda-recorde-eperde-465-fieis-por-dia-em-uma-decada-,893778,0.htm. Acesso em: 01 de outubro de 2013
18
O Barroco é o estilo artístico que nasceu entre o final do século XVI e meados do século XVIII, na Itália,
difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de atingir, em uma forma
modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente.
48
respeitada, obedecida e temida pelo povo judeu, que segundo Armond (1980 p,
51), tornou-se a religião mais intransigente, mais nacionalista e mais fanática que
se conhece e que até hoje perdura sem alterações, guiando e unindo os judeus
espalhados pelo mundo inteiro, isso tudo por conta do rigor e da severidade da
doutrina. (ARMOND, 1980 p, 51). No Brasil, a primeira congregação judaica,
denominada de Zur Israel (Rochedo de Israel), foi fundada em 1636, em Recife.
2.5.10 Hare Krishnas
O Movimento Hare Krishna considera Krishna a suprema representação de
Deus. Krishna é o personagem que aparece na batalha de Kuruksetra, relatada no
MahaBharata, grande poema épico que conta a história da Índia, como afirma
Armond (1980 p, 24). É do MahaBharata (sexto canto) que sai o Bhagavad Gita, o
livro sagrado, o movimento é uma das diversas ramificações do Hinduísmo, que
ainda tem como devoção o Deus Vishnu. Tem sua origem na Índia, é uma das
doutrinas mais antigas conhecidas no mundo, com cerca de um bilhão de adeptos.
Esta religião se desenvolveu a partir dos textos escritos pelos povos de origem
ariana e língua indo-européia, que chegaram à Índia antiga por volta de 1500 a.C.
O principal livro sagrado é o Bhagavad Gita (Canção do Senhor).
Os devotos do movimento Hare Krishna crêem que todo conhecimento de
Krishna vem dos Vedas e é passado de mestre a discípulo, até hoje, através da
sucessão discipular. Por acreditarem tanto na orientação do Guru, e não aceitarem
o caminho individual, os seguidores de Krishna depositam todas as suas crenças
na sucessão discipular. A verdade sendo uma só, deve vir de fontes autorizadas.
Não é permitida nenhuma especulação a esse respeito. (ARMOND 1980 p, 24).
O templo Hare Krishna, representada em Curitiba pelo centro ISKCON
(Sociedade Internacional para a Consciência de Krishna), tem sede ao final do
Largo da Ordem, na Rua Duque de Caxias, 76 esquina como a Rua Treze de maio
no bairro São Francisco. Segundo o guru Hare Kanta, em uma conversa realizada
no dia 17 de maio de 2014, um dos precursores do movimento na cidade, no
templo há 11 moradores e 15 visitantes diários (que são adeptos do movimentos,
mas residem fora do templo). Diariamente, o templo recebe em média 150
pessoas, que visitam o local por conta do almoço e jantar vegetariano servido de
49
segunda a sábado, entre estes visitantes, segundo Hare Kanta, estão punks e
moradores de rua.
2.5.11 Evangélicos
Armond (1980) afirma que as Igreja Presbiteriana, surgiu com a reforma
protestante do século XVI que aconteceu na Suíça, em 1537. A denominação
presbiteriana acontece pela igreja ser dirigida por pastores e presbíteros, sendo
este concílio formado e eleitos pela comunidade. O norte americano Ashbel Green
Simonton foi o primeiro missionário presbiteriano a chegar ao Brasil, em 1859.
(1980 p, 76)
A igreja de origem Presbiteriana em Curitiba se denomina como igreja
cristã reformada, seguem os preceitos da Bíblia Sagrada (Antigo e Novo
Testamento) como regra, creem em Jesus Cristo, Filho do Deus Vivo (encarnado,
morto e ressuscitado), como único Salvador.
Fundada em 8 de outubro de 1904, a Primeira Igreja Presbiteriana
Independente de Curitiba (IPIC) fica localizada na Rua do Rosário, número 218, faz
parte da IPIB e é presidida pelo Reverendo Carlos Fernandes Méier.
Segundo a recepcionista Joice Lourenço, em conversa no dia 17 de maio
de 2014, a igreja teve sua sede fundada em1904, recebe por dia três pessoas nos
cultos de segunda, quarta e sexta-feira. Às terças e domingo nos cultos noturnos, a
igreja recebe 40 pessoas por culto. Aos cultos dominicais recebem semanalmente
800 pessoas. A igreja possui 10 funcionários que recebem salários, e 20 diáconos
e 5 pastores que realizam trabalhos voluntários.
Na categoria habitantes, foram identificado os seguintes grupos: moradores
de rua, habitantes do local e comerciantes, todos retratados posteriormente no
livro.
3. OBJEITIVO
3.1 Objetivo Geral
50
O objetivo é produzir um fotolivro que retrate a pluralidade dos grupos,
subgrupos sociais e movimentos culturais que frequentam o Centro Histórico de
Curitiba, mais precisamente do Largo da Ordem.
3.2 Objetivo Especifico
-Identificar espaço que frequentam no Largo da Ordem, externando-os sob uma
nova perspectiva,
- Apresentar a mutação do espaço;
- Apresentar a pluralidade cultural que ocorre neste espaço físico e a diária do
espaço decorrente desta convivência social;
- Usar a fotografia como ferramenta de documentação social e cultural.
4. JUSTIFICATIVA
4.1 Significação da imagem fotográfica
A sociedade se encarrega de interpretar, dar significado e julgar os
elementos informativos que recebe, no caso da fotografia, que se relaciona com a
realidade, mas pode levantar uma série de interpretações da realidade que
representa. É importante mencionar que a imagem pode ser tanto denotativa (que
diz respeito à identificação que a imagem representa) quanto conotativa, que diz
respeito ao nível simbólico que a imagem sugere ou provoca além daquilo que
presenta, uma vez que depende de uma série de relações sociais e culturais.
(LOPES, 1988)
Cada indivíduo pertence a diferentes sociedades, fazendo assim, uma
leitura distinta de uma mesma imagem, isto ocorre porque cada um deles possui
experiências, gostos e vivencias diferentes. Ou seja, um indivíduo que traz uma
bagagem cultural maior, poderá ser capaz de interpretar o significado de cada
fotografia com mais riqueza. (BONI, 2006).
Este projeto retrata, por meio de um fotolivro, a pluralidade e a identidade
dos diferentes grupos sociais que frequentam o local, apresentando aos
curitibanos, um ponto de vista único. As diversas faces daqueles que frequentam o
Largo da Ordem.
A ferramenta escolhida possibilita um entendimento mais amplo sobre o
tema apresentado. Por meio de fotografias do cotidiano do local, em diversos dias
51
e horários distintos, a partir de imagens daqueles que frequentam e representam os
diferentes grupos e subgrupos sociais e movimentos culturais do espaço.
O projeto valoriza o Centro Histórico da capital, retratando aqueles que o
frequentam o espaço e a pluralidade, de um lugar tão rico em diversidade
permitindo contar não só as histórias do centro histórico, mas também da capital
paranaense.
4.2 A fotografia como ferramenta de construção social e cultural
A partir dos estudos de autores como Freund (1995), Sousa (2000), Ledo
(1998), Price (1997), e outros já citados anteriormente neste trabalho, busca-se
características que venham justificar o uso da fotografia como fonte de
documentação. Neste trabalho, discutem-se questões relacionadas à imagem
fotográfica, e ao campo da fotoetnografia, como meio de levar a sociedade a refletir
sobre diferenças sociais presentes dentro do espaço estudado. A utilização da
fotoetnografia neste trabalho contribuiu para fornecer uma nova possibilidade de
narrativa visual, uma vez que a imagem é utilizada como um elemento narrativo da
etnografia e trazendo, por meio do seu caráter documental, dados culturais na
perspectiva etnográfica. (ACHUTTI, 1997) Sendo assim, a fotografia serve como
instrumento de interpretação de uma determinada realidade e tende a favorecer o
processo de análise do campo proposto tanto em relação à verdade quanto ao
recorta da realidade que representa neste trabalho.
A imagem fotográfica utilizada neste estudo busca, segundo Humberto
(2000), apresentar a realidade por meio de recortes diferentes dos habituais, com
eles pretende-se destacar detalhes, que geralmente não são percebidos ao
primeiro olhar. Justamente por esse caráter de representação a realidade, proposto
por Humberto (2000) é que várias áreas responsáveis por criar conhecimento
utilizam a fotografia como recurso para a comprovação de seus objetivos. Neste
estudo a fotografia contribui para a pesquisa etnográfica, mostrando a maneira
como vivem e convivemos frequentadores do Largo da Ordem. Kossoy aponta a
fotografia como “duplo testemunho: por aquilo que ela nos mostra da cena
passada, irreversível, ali congelada fragmentariamente, e por aquilo que nos
informa acerca de seu autor”. (KOSSOY, 2001, p. 50)
Barthes(1984) acredita em cada fotografia como única, pelo modo como é
produzida, captando o real em uma única tomada, congelando um momento
52
especifico, podendo a fotografia mentir ou confundir quanto ao sentido, mas não
quanto à existência e Persichetti (1997) ressalta a característica de testemunha
tanto histórica e de fatos sociais da fotografia, e considera que o próprio ato de
fotografar uma tentativa de compreender eventos históricos.
O Referente da foto não é o mesmo que o dos outros sistemas de
representação. Chamo de referente fotográfico não a coisa
facultativa real a que me remete uma imagem ou um signo, mas a
coisa necessariamente real que foi colocada diante da objetiva, sem
a qual não haveria fotografia. A pintura pode simular a realidade
sem tê-la visto (imitações). Na foto jamais posso negar que a coisa
esteve lá. Há dupla posição conjunta: de realidade e de passado
(BARTHES, 1984, p.115)
Cada envolvido olhar voltado a uma fotografia tem uma percepção distinta,
seja o sujeito de pesquisa, o pesquisador ou ainda um observador interprete, cada
percepção está relacionada à uma realidade subjetiva formada pelo conhecimentos
internos e pelas influencias externas. (VELHO, 2006)
Assim, seja a interação, a sociedade ou a cultura, a subjetiva –
interno – é produzida, condicionada, fabricada pelo externo. O
indivíduo ou o self, dependendo da vertente, é essencialmente
social. Ou como representação ou como conteúdo, o interno só
pode ser explicado como externo. Dependendo da teoria, a ênfase
pode ser colocada na ideologia, individualista, no desempenhos de
papeis, na divisão social do trabalho etc. (VELHO, 2006, p. 21)
Sendo assim, a fotografia em quem a observa aquilo que o observador crê,
não podendo ser encarada como referência a única verdade (OLIVEIRA, 2002).
Nesse sentido é preciso que se entenda e se questione o que se observa em uma
fotografia a fim de entende que a interpretação realizada vem acompanhada de
conhecimentos subjetivos que é fruto do meio sócio cultural em que o observador
está inserido.
5. MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS
Na metodologia aplicada neste estudo, primeiro delimita-se o espaço a ser
estudado, o Setor Histórico de Curitiba, mais especificamente o Largo da Ordem,
que é compreendido neste estudo pela seguinte extensão que começa na Praça
João Cândido com os trechos das ruas Kellers e Alameda Dr. Muricy, entre a Rua
Jaime Reis, que cercam a praça. A continuação da Jaime Reis, após Alameda Dr.
Muricy, é conhecida como Rua Trajano Reis e a Praça Garibaldi até o trecho da
53
Rua Duque de Caxias que liga-se com a Rua Dr. Claudino dos Santos até o seu fim
quando encontra a Rua Matheus Leme19.
E por segundo, a periodização relacionadas às visitas de observação dos
processos de mutação e para análise desse espaço e seus frequentadores a fim de
compreender sua importância cultural e toda pluralidade do ambiente e seus
grupos.
Para isso desenvolveram-se as seguintes etapas:
Levantamento bibliográfico que consistiu em pesquisas bibliográficas sobre
o
espaço
estudado
neste
trabalho,
estudos
sociológicos,
fotográficos,
fotoetnograficos e antropológicos. Pesquisa em jornais e revistas que levantam
dados históricos de Curitiba.
Após a análise do referencial teórico que embasa este estudo e da
caracterização dos fenômenos sociais em questão, nesta parte do trabalho será
exposto os métodos e técnicas de pesquisa pelos quais concluiu-se os resultados
esperados para este trabalho.
Para o desenvolvimento deste estudo, foi realizada uma pesquisa
bibliográfica, tendo como base autores da área de fotografia, fotoetnografia,
antropologia visual, como base para construção do referencial teórico. Busca-se ao
longo do trabalho discutir tanto sobre fotografia com ferramenta da construção
social e cultural dos grupos, subgrupos sociais e movimentos culturais e do espaço
físico estudado, bem como a prática fotográfica desenvolvida na pesquisa de
campo.
Partindo do princípio que durante o processo etnográfico o pesquisador
deve, à medida que observa, criar hipóteses, analisá-las, reinterpretá-las e formular
novas hipóteses (NEVES, 2006). No que diz respeito à observação, na tradição
etnográfica, procuramos observar o maior número de elementos já delimitados
nesse trabalho com o objetivo de avaliar o conteúdo que a literatura nos forneceu e
comparar com a realidade.
Para Spradley (1979), etnografia é a descrição de um conjunto de
significados culturais de um determinado grupo, objetivando entender outro modo
de vida, mas do ponto de vista do informante. O trabalho de campo, então, inclui o
estudo disciplinado do que o mundo é como as pessoas têm aprendido a ver, ouvir,
19
Área que corresponde a parte preenchida na cor verde do mapa em anexo que pode auxiliar na
compreensão do espaço delimitado neste trabalho.
54
falar, pensar e agir de formas diferentes. Nossa pesquisa deu-se, inicialmente meio
de uma análise etnográfica do campo, participando e observando durante o período
de 06 de outubro até 12 de novembro (conforme a tabela abaixo) para observar os
presentes, as atitudes e possíveis situações que nos auxiliassem a compreender a
dinâmica do lugar. Os dados recolhidos nesta observação estão disponibilizados no
capitulo.
SEMANA
DIAS
1º Semana
06 08 e 10 de Outubro
MANHÃ
2 horas
2º Semana
14, 16, 18, de Outubro
TARDE
2 horas
3º Semana
18, 22, 24, 26 de Outubro
TARDE
2 horas
4º Semana
01, 02 e 03 de Novembro
NOITE
2 horas
NOITE
2 horas
5º Semana 08, 09, 10 e 12 de Novembro
PERÍODOS DURAÇÃO
As imagens fotográficas capturas no Largo da Ordem, que retratam o
cotidiano dos seus moradores e frequentadores, buscam fragmentos que
evidenciem particularidades vivenciadas pelas grupos, subgrupos sociais e
movimentos culturais, no momento exato das suas ações. Desta forma,
apresentando o cotidiano destes frequentadores e explorar o ambiente do Largo da
Ordem como um espaço ultra democrático, fornecendo então para o leitor imagens
que propõe desenvolver a percepção visual dos intérpretes.
Para a realização deste trabalho fotodocumental, segue-se a linha da
Antropologia Visual, por meio de pesquisas de campo e com critérios de análise e
interpretação que permitem identificar perfis etnológicos dos grupos estudados. O
objetivo de adotar e seguir tais critérios, corresponde à conquista de credibilidade
da ciência e seriedade no resultado final apresentado ao público. “A fotografia é um
processo de abstração, embora seja em si um processo vital para a análise. Assim,
quando fotografamos, devemos nos considerar empenhados num trabalho de
sutilezas” (COLLIER JUNIOR, 1973, p. 44-45).
6. DELINEAMENTO DO PRODUTO
55
Este projeto retrata por meio do fotolivro: “Diversità - Largo da Ordem: as
faces de um lugar conhecido por não ter rosto, os olhares sob os grupos culturais e
sociais que se encontram no Centro Histórico”, no bairro São Francisco, mais
especificamente o Largo da Ordem em Curitiba, como já delimitado ao longo de
todo este trabalho, um dos locais de maior importância histórica e cultural de
Curitiba.
O objetivo deste fotolivro é que o leitor receba as informações e navegue
pelas imagens, permitindo assim que ele crie uma relação mais próxima e pessoal
com os universos apresentados no livro. Segundo Souza (2007) o advento da
fotografia digital fez com que se perdesse um dos ícones da fotografia analógica de
revelar manusear fotos impressas. Uma vez que os álbuns deixam de ser
folheados para serem clicados, a necessidade de parar para analisar uma foto
impressa deixa de exigir tanta atenção quando aumenta-se o zoom no monitor.
Pereira (2007) compara esses dois métodos de visualização:
A primeira é que antes víamos a foto pela luz refletida no papel.
Hoje a vemos com a luz emitida pelo monitor. Com isso, há
diferenças em aspectos visuais, como nas texturas, nas cores e na
nitidez: uma foto com pouca nitidez no monitor não tem a suavidade
que apresenta no papel. No entanto, a maior diferença que isso
causa não é nas minúcias visuais, e sim na atitude do olhar. A
visualização das fotos nos meios digitais é muito mais rápida e
frenética. Com isso, as imagens virtuais precisam ser claras e
objetivas; há pouco espaço para sutilezas, detalhes e interpretações
mais elaboradas, já que o botão "fechar" pode ser um caminho mais
fácil do que uma observação mais atenta. Essa forma de olhar
reflete-se na forma de fazer fotos e vice-versa, criando um círculo
que alimenta uma linguagem mais anti-séptica. (Pereira, F, 2007)
Sontag (2004) ao falar a inovação do livro usando fotografias coloca que:
Reabilitar fotos antigas, atribuindo a elas um contexto novo, tornouse um importante ramo na indústria do livro. (...) Uma foto também
poderia ser descrita como uma citação, o que torna um livro de fotos
semelhante a um livro de citação. E um modo cada vez mais comum
de apresentar fotos em forma de livro consiste em associar fotos a
citações. (SONTAG, 2004, p.86,89)
Afim de que este projeto de fotodocumentação ganhe visibilidade na área
da comunicação, a criação do produto, em formato de livro, que segundo Antônio
Celso Collaro, é:
A preservação de fatos de qualquer natureza, através da
comunicação gráfica impressa, independente de formato, cor ou
assunto. A diagramação de livros contém em sua estrutura todo um
estudo, toda uma preocupação, visando ao máximo de legibilidade,
56
tanto dos caráteres e ilustrações como do posicionamento da
mancha (COLLARO, 2006, p. 136 apud MORAES, 2012, p.37).
O fotolivro de 40 páginas, contém 53 imagens fornece ao leitor uma
perspectiva sobre os frequentadores deste local, famoso por sua pluralidade
cultural, e pelas mutações do espaço físico que abriga públicos tão distintos ao
longo dos dias da semana. O método escolhido para produção é o fotodocumental,
uma vez que a proposta é registrar a passagem do homem em um determinado
contexto.
Optou-se por trabalhar com fotografias em preto e branco, para criar uma
atmosfera com um tom solene e austero, a fim de transmitir ao público a
mensagem daquilo que foi registrado, sem que haja interferência atrativa das
cores, que podem diminuir o efeito fotográfico pretendido, para assim não distrair o
“leitor” da mensagem que se pretende transmitir. Souza (2007) atribui aos ensaio
em preto e branco uma carga emocional e dramática muito diferente dos ensaio
coloridos, pois fazer desaparecer os tons de pele e destacam a serenidade da
cena, dos gestos e olhares. Deste modo, todos os grupos poderão ser lidos pelo
leitor pela mesma perspectiva sóbria das fotos em preto e branco. Além disso,
fotografias em preto e branco podem adicionar uma sensação de atemporalidade,
objetividade e igualdade para os atores representados. De acordo com Flusser
(1983):
As fotografias em preto-e-branco são a magia do pensamento
teórico, conceitual, e é precisamente nisto que reside seu fascínio.
Revelam a beleza do pensamento conceitual abstrato. Muitos
fotógrafos preferem fotografar em preto-e-branco, porque tais
fotografias mostram o verdadeiro significado dos símbolos
fotográficos: o universo dos conceitos. (FLUSSER, 1983, p.23)
Entende-se que a ausência de cor significa ausência de informação, isto é,
o foco está na clareza da situação retratada. O autor da foto deseja que aquele que
a observa concentre-se na situação em si, e não em um ou mais elementos da
mesma, o que interessa é o contexto, o impacto do momento retratado.
Durante o segundo semestre de 2013 ao primeiro semestre de 2014 foram
produzidas e captadas pelas pesquisadoras cerca de 300 imagens, nos locais de
identidade de cada personagem. A produção aconteceu juntamente com a préprodução, já que as imagens começaram a ser feitas enquanto a parte teórica era
produzida. Utilizou-se câmeras DSLR modelo Canon EOS Digital Rebel T3 e
Canon EOS 7D, com objetiva de distância focal 18-55 mm, objetiva fica de 50mm e
57
teleobjetiva zoom de distância focal 75-300mm. A teleobjetiva facilita a realização
do trabalho, já que não foi preciso chegar muito próximo dos grupos para fotografálos, deixando-os mais à vontade, pois assim continuariam a agir normalmente, a
dificuldade encontrada na utilização desta objetiva, é que por se tratar de uma lente
mais escura, em ocasiões de fotografias noturnas, seu uso fica restrito as
condições de luz dos locais fotografados, uma vez que a utilização do flash foi
desconsiderada.
Durante as visitas realizadas com o propósito de trazer, por meio das
imagens, um recorte da realidade vivenciada pelos grupos, subgrupos sociais e
movimentos culturais, mostrando o cotidianos desses grupos sociais e sua
“interação” com um espaço culturalmente tão plural. As visitas foram feitas de
segunda-feira à domingo a fim de retratar toda mudança do espaço físico para
receber os mais diversos tipos de público, conforme o cronograma que
disponibilizamos em anexo.
6.1 Público alvo
Como o objetivo do trabalho é produzir um fotolivro que retrate a pluralidade
dos grupos, subgrupos sociais e movimentos culturais que frequentam o Largo da
Ordem, entendesse que o público pode ser o mais diverso possível, uma vez que a
proposta é o alargamento do olhar sob o tema abordado.
Sendo assim, segundo Moraes (2012), esse tipo de publicação é voltada à
um público que pode ser definido pelos hábitos e poder de compra, idade e
demografia. De acordo com dados divulgados pelo IBOPE em agosto de 2012, é a
classe B que tem o maior potencial de compra, que corresponde a 24,25% dos
domicílios e responde por 51,58% desses gastos,
Ainda de acordo com os dados divulgados pela pesquisa “os brasileiros
devem gastar R$ 8,23 bilhões em livros e publicações impressas, um aumento de
14.5% em comparação com 2011” (IBOPE,2012). O maior responsável pelo
consumo de livros no Brasil é o sudeste do com 54,7% e gastando em média R$
59,60 ao ano com livros e impressos. A segunda maior região consumidoras deste
tipo de marcado é a região Sul que corresponde a 16,12% do consumo, investindo
de R$ 56,50. (IBOPE, 2012).
58
6.2 Projeto Grafico
O projeto gráfico do livro “Diversità” visa apresentar ao leitor, o espaço físico
o Largo da Ordem, palco de estudo e documentação deste trabalho, e ao mesmo
tempo, guia-lo por uma narrativa que permita conhecer os grupos estudados e a
relação de mudança que provocam neste espaço de acordo com o decorrer dos
dias da semana. Por isso, a disposição das fotografias deste livro foi organizada de
acordo com os dias da semana.
IMAGEM I – PÁGINAS DO LIVRO “DIVERSITÀ”.
Utilizou-se para ilustração da capa a vetorização de mapa que está
disponível no Largo da Ordem, para situar turistas e visitantes no espaço e traz
elementos que representam as construções arquitetônicas mais relevantes para a
histórica, o turismo e o lazer no local
59
IMAGEM II – PÁGINAS DO LIVRO “DIVERSITÀ”.
Além do recurso gráfico utilizado para ilustrar e situar o leitor em relação ao
espaço no início do livro, incluímos também fotos que possuem apresentar a
mesma finalidade, familiarizando o leitor com o espaço físico.
Em todas as páginas do livro é possível encontrar recursos gráficos que
situem o leitor em relação ao tempo, para isso utilizamos um recurso gráfico que
contém, com as siglas referenciais comuns em calendários, e como apoio a esse
recurso gráfico que situa o leitor em que dias da semana. As cores de fundo das
páginas, alternam entre as cores branco, cinza e preto. A escolha para
determinada cor em uma página se deu com intuito de auxiliar o leitor com relação
ao tempo em questão, se baseando ente dia, entardecer e noite.
60
IMAGEM III – PÁGINAS DO LIVRO “DIVERSITÀ”.
A disposição das fotos se deu de acordo com a proposta de expor a
diversidade de tribos do local no decorrer dos dias da semana e diferente horários.
Por este motivo não é seguido um padrão linear simétrico entre a diagramação e
posicionamento dos elementos compostos em cada página, já que a prioridade é
fazer o leitor navegar por elas como se ao folhar o livro passasse pelo dias da
semana.
IMAGEM IV – PÁGINAS DO LIVRO “DIVERSITÀ”.
Para o título e informações do livro, foi utilizada a fonte Bookman Old Style,
desenhada por Ong Chong Wah, que por ser fonte, em sua essência, serifada traz
a imagem clássica e forte, mas que permite uma fácil e confortável leitura (GREG
BYRNE, 2004), destaca o valor histórico clássico cultural do local.
Abaixo uma imagem da família tipográfica utilizada no trabalho.
61
IMAGEM V – FAMÍLIA TIPOGRÁFICA BOOKMAN OLD STYLE DESENHADA POR
ONG CHONG WAH EM 2005.
A seguir as especificações técnicas de produção do livro.
SUPORTE
IMAGEM
Capa em plotagem color papel
Imagens utilizadas para impressão do
presentation acoplado a papelão.
livro possuem resolução de 300
Miolo em papel couchê 115g/m²
pontos por polegada, sendo todas as
54 fotos em P&B.
CORES
Padrão de cores P&B, que é
ACABAMENTO
composto pelas cores preto e branco.
Para a capa será utilizada a
laminação brilhosa.
FORMATO DO LAYOUT
Miolo será utilizada laminação fosca.
Formato aberto 48,3 x 28cm², com um
3mm de lombada quadrada.
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da analise proposta por este estudo, por meio de pesquisas e
análises, constatou-se que a ideia da fotografia é promover reflexões, registros e
retratar toda a pluralidade cultural do Centro Histórico de Curitiba. A generalização
62
e a marginalização são os princípios predominantes que seguem entrelaçados às
informações a respeito deste espaço público, e, muitas vezes contaminam o
receptor com impressões estereotipadas, tornando-as mais difíceis para que o
receptor possa conhecer o local por outras perspectivas.
A partir das conclusões das análises apresentadas neste estudo, o fotolivro
tem como objetivo apresentar os diferentes ambientes e grupos encontrados no
Largo da Ordem sob uma perspectiva. A partir das visitas e observações, pode-se
notar uma nova percepção sobre os grupos apresentados, a pluralidade do local
ficou mais rica e visível logo após a conclusão deste projeto.
Destaca-se a receptividade de todos os grupos apresentados no fotolivro,
assim, chega-se a análise de que tais grupos, precisam e querem ter rosto e voz,
serem vistos e compreendidos, o aspecto de proximidade foi melhor explorada pela
facilidade de acesso as fontes. Este livro é uma reflexão a certa de tais grupos,
dando a face de cada um deles.
Pode-se observar a carência de informações e notícias sobre os grupos
estudados, esta foi a maior dificuldade para a realização deste projeto, entender e
conhecer os grupos e movimentos encontrados no local. Os grupos analisados
conquistam um pequeno espaço na mídia local, que os apresenta, em diversas
vezes, de forma negativa, estereotipada e taxativa, noticiando apenas a violência a
negatividade de alguns grupos.
Este estudo auxilia na reflexão sobre a mídia local, mesmo que esta não
seja a proposta do projeto, a falta de diálogo entre mídia x grupos dificulta o
entendimento social e cultural dos mesmos, não possibilitando o conhecimento de
outras culturas.
Procurou-se neste trabalho utilizar grupos que transitam em nossa
sociedade, que compartilham do mesmo espaço.
Para isso as pesquisas de campo foram de suma importância para a
conclusão deste projeto. Pode-se observar cada detalhes dos grupos estudados,
aprendendo sobre as realidades, crenças e ideologias de cada grupo.
Por isso a estrutura antropológica e etnográfica auxilia a identificação
destes personagens, estruturas estas não abarcadas no curso de jornalismo,
fazendo com que tais estruturas de analise favoreçam o trabalho posterior das
jornalistas.
63
Todas as técnicas e métodos utilizados para a realização deste projeto,
ampliam e facilitam o trabalho do jornalistas, pois com analises de campo,
identificação dos personagens e grupos, auxiliam para a realização, não só deste
projeto, mas também de futuras matérias a serem realizadas.
64
8. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson. Fotoetnografia: um Estudo de Antropologia
Visual sobre o Cotidiano, Lixo e Trabalho. Porto Alegre: Palmarinca, 1997
AMARAL, Adriana. Visões obscuras do underground: Hackers e Rivetheads –
O
cyberpunk
como
subcultura
híbrida.
2003.
Disponível
em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/amaral-adriana-visoes-obscuras-underground.pdf.
Acessado em: 04 de novembro de 2013
ANDRADE, Luis Carlos Ribas de. Conheça Curitiba: a origem, fundação e as
marcas do tempo. Curitiba: Estética, 1997.
ANDRADE, Rosane de. Fotografia e Antropologia: Olhares Fora- Dentro, São
Paulo: Estação Liberdade, 2002
ARMOND, Edgard. Religiões e Filosofias. 2. ed. São Paulo: Editora Aliança, 1980
ATAÍDE, Victor de Paiva Naves. Fotografia Documental – Narrativa e
representação nas fotografias de Walker Evans do metrô de Nova York. 2011.
Disponível em: http://www.victorataide.com.br/wpcontent/arquivos/downloads/2011/12/TCC_2011_Victor-Ataide.pdf. Acessado em: 24 de
novembro de 2013
AUMONT, Jacques. O olho interminável: cinema e pintura. Tradução: Eloísa
Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
AUMONT, Jacques. A imagem. 2ª ed., Campinas, SP, Papirus, 1995.
BARROS, Laan Mendes de. Comunicação e educação numa perpectiva plural e
dialética, Nexos, Revista de Estudos de Educação e Comunicação. São Paulo:
Universidade Anhembi – Morumbi, 1997.
65
BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1984.
BAUDELAIRE, Charles. O público moderno e a fotografia: Carta ao Sr. Diretor
da Revue française sobre o salão de 1589. Disponível em:
http://www.entler.com.br/textos/baudelaire2.html. Acessado em: 24 de abril 2014
BENJAMIN, Walter. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai leskov.
Magia e Técnica, Arte e Política: ensaios sobre literatura e história da cultura.
Obras Escolhidas; v.1. 10.ed. São Paulo: Brasiliense, 1996c. p.197-221.
BONI, P. (2006). A margem de interpretação e a geração de sentido no
fotojornalismo.
Disponível
em:
http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/libero/arti
cle/view/4629/4355. Acessado em 20/07/2013
BRASSAI. New York. The Museum of Modern Art, 1968.
CASTELS, Manuel. O Poder da Identidade. Editora Paz e Terra, 2000
EDON, Clifton C. Photojournalism: principles and practices. Dubuque
(Iowa): VM. C. Brown, 1976.
ENDO, Seiji Victor. A Neotribo Heavy Metal. O comportamento do Headbanger
e a sua construção identidária sob a ótica da vida cotidiana. 2009. Disponível
em: http://whiplash.net/materias/biografias/131162.html#.UqcneSf01dg. Acesso em:
22 de novembro de 2013.
CABECINHAS, Rosa. Processos cognitivos, cultura e estereótipos sociais.
São Paulo. 1999
CARDILLI, Juliana. Fotolivro resgata velhos álbuns de fotos no século 21.
Disponível
em:
http://participeg1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,AA1405147-
6174,00.html. Acesso em: 07 ago. 2013
66
CHINALIA, Nelson. Fotojornalismo: a manipulação visual da notícia. Disponível
em: http://www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/view/159 Acesso em:
25 de agosto 2013.
COLLIER JUNIOR, John. Antropologia Visual: a Fotografia como Método de
Pesquisa. (Tradução de Iara Ferraz e Solange Martins Couceiro) São Paulo:
EPU/Edusp, 1973
COUCHOT, Edmont. In: PARENTE, Andre. Imagem máquina. São Paulo: Editora
34, 2008.
Daguerreótipo.
Disponível
em:
http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm
? fuseaction=termos_texto&cd_verbete=3856. Acesso em: 16 abr. 2012.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. 3. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1997.
DUBOIS, P. (1992). O acto fotográfico. Lisboa, Veja.
DURAND, Gilbert. As estruturas antropológicas do imaginário. São Paulo:
Martins Fontes,
2002.
ENTLER,R. Relativizando Baudelaire: uma releitura da crítica ao Salão de
1859.
Disponível
em:
http://pt.scribd.com/doc/42146955/Ronaldo-Entler-
Baudelaire.>Acesso em 24 de abril de 2014.
ESTEVES,
João
Pissarra.
Opinião
Pública.
1999.
Disponível
em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/esteves-pissarra-opiniao-publica.pdf. Acesso em: 01 de
outubro de 2013.
67
FERNANDES, Florestan. A Etnologia e a Sociologia no Brasil. Editora Anhambi,
São Paulo, 1958.
FREUND, Gisele. Fotografia e Sociedade. 2. ed. Mafra: Grafibastos, Ed. 1995.
Imagem 2. Rio de Janeiro: UERJ, 1996.
GAMA, Maria Gabriela. A Fabricação da Imagem Social da Empresa. 2005.
Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/gama-maria-fabricacao-imagem-socialempresa.pdf Acesso em: 04 de novembro de 2013
GARCIA, M. R.; STARK, P. e MILLER, E. Eyes On the News. St. Petersburg: The
Poynter Institute for Media Studies. 1991
GOFFMANN, Erving. Estigma - Notas sobre a Manipulação da Identidade
Deteriorada, Rio de Janeiro, Zahar Editores. 1980.
HELLER, Agnes. Sociologia de la Vida Cotidiana, Barcelona. Editora Península,
3° Ed. 1986.
HOERNER JUNIOR, Valério. Ruas e histórias de Curitiba. Curitiba: Artes &
Textos, 1989.
HORKHEIMER, Max, ADORNO, W Theodor. Dialética do esclarecimento:
fragmentos filosóficos. Tradução: Guido Antonio de Almeida: Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 1985
HUMBERTO, Luis. Fotografia, a poética do banal. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2000.
KOSSOY, Boris. Fotografia e História. São Paulo: Ática, 1989.
KOSSOY, Boris. Fotografia & História. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001
KOSSOY, Boris. Realidades e Ficções na Trama Fotográfica. 3. ed. São Paulo:
68
Ateliê Editorial, 2002.
LAKATOS, Eva Maria, MARCONI, Marina de Andrade Sociologia Geral. 7. ed São
Paulo: Atlas, 1999.
IBOPE. Consumo de livros e publicações impressas deve movimentar R$8,23
bilhões. Disponível em: http://www.ibope.com/pt-br/noticias/Paginas/Mercado-delivros-deve-movimentar-8-bilh%C3%B5es-em-2012.aspx. Acesso em 10 de abril de
2014.
LESTER. Paul Martin. Visual Communication. Images with Messages. Belmont.
CA: Wadsworth Publishing Company, 1995.
LIPPMAN, Walter. Public Opinion. 6. ed. New York: Macmillan. 1966
LYRA. C. C. O (coord). Curitiba INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO
URBANO DE CURITIBA. Plano de revitalização do Setor Histórico de Curitiba:
IPPUC, 1970, p.01-02.
LEDO, Margarita. Documentalismo Fotográfico. Êxodos e Identidad. Madrid:
Ediciones Cátedra, S.A., 1998.
LEFEBVRE, Henry. A Vida Cotidiana e o Mundo Moderno, São Paulo. Editora
Àtica, 1991, volume 24 – Série Temas, 218 páginas.
LINTON, Ralph. O Homem: um introdução à antropologia. Editora Martin
Fontes, São Paulo, 1981.
LOMBARDI, Kátia. Documentário Imaginário: Reflexões sobre a fotografia
Documental contemporânea. Discursos Fotográficos, Vol. 4, Nº 4, 2008.
LOPES, Victor Silva. Iniciação ao Jornalismo Áudio Visual. Lisboa, Sociedade
Editora, 1988.
69
MAIA, Rousiley, EINSENBERG, José. Internet e Política. Belo Horizonte. Editora,
UFMG, 2002.
MANSUR, Douglas Amparo. O Futuro da documentação fotográfica na era
digital.
Disponível
em:
http://encipecom.metodista.br/mediawiki/index.php/O_futuro_da_
documenta%C3%A7%C3%A3o_fotogr%C3%A1fica_na_era_digital Acesso em: 23
de agosto de 2013.
MARQUES,
Francisca
Contributos
comunicação,
de
Ester
Sá,
uma abordagem
Universidade
Interpretação
de
produtos
etnometodológica aos
Federal
do
Maranhão
Culturais.
estudos
Disponível
da
em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/_texto.php?html2=marques-ester-abordagemetnometodo.html. Acesso em: 22 de abril de 2014
MARTINE, Joly. (1943). Introdução à análise da imagem. Lisboa, Edições 70.
MARTINS, Célia. A imagem fotográfica como uma forma de comunicação e
construção estética: Apontamentos sobre a fotografia vencedora do World
Press Photo 2010. 2010. Disponível: http://www.bocc.ubi.pt/pag/martins-celia2013-imagem-fotografica-como-uma-forma-de-comunicacao.pdf Acessado em: 04
de agosto de 2013
MCQUAIL, Denis. Teoria da Comunicação de Massas. Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 2003.
MIDÕES, Miguel. Crise no espaço público, agenda-setting e formação da
opinião pública. 2009. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/midoes-miguelcrise-no-espaco-publico-agenda-setting.pdf. Acessado em: 04 de novembro de
2013
NOVAES, Sylvia Caiuby. “O uso da imagem na antropologia” in Etienne
Samain, O Fotográfico, São Paulo: Hucitec, pp.113-119, 1998
70
PARANÁ ONLINE. Feira do Largo da Ordem, dos negócios e dos sonhos.
2003.
Disponível
em:
http://www.parana-
online.com.br/editoria/cidades/news/38139/?noticia=FEIRA+DO+LARGO+DA+ORD
EM+DOS+NEGOCIOS+E+DOS+SENHOS. Acessado em: 20 de março de 2014
PASCHOALI, Antônio. Comunicação e Cultura de Massa. 2. ed. Caracas, Monte
Avila, 1972
PERSICHETTI, Simonetta. Imagens da Fotografia Brasileira. São Paulo: Estação
Liberdade, 1997.
PERUZZO, Cicilia M.Krohling. Relações públicas, movimentos populares e
transformação social. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/peruzzo-ciciliarelacoes-publicas.html. Acesso em: 12 de maio de 2014
PHILIPS, Christopher. A fotografia dos anos vinte: a exploração de um novo
espaço urbano.
PRICE, Derrick. Observadores e observados – a fotografia em todas as
paradas. In: WELLS,
Liz (ed). Photography – A critical Introduction. Tradução: Rui Cezar dos Santos.
Londres: Routledge, 1997. Título original: Surveyors and surveyed – photography
out and about
OLIVEIRA, Glauce Rocha de. Ver para Crer: A Imagem como Construção, 2002
(Dissertação
de
mestrado).
Disponível
http://200.144.182.130/revistacrop/images/stories/edicao12/v12a03.pdf.
em: 25 de fevereiro de 2014
em:
Acessado
71
OLIVEIRA, Erivam Morais. Da fotografia analógica à ascensão da fotografia
digital.
Disponível
em:
http://www.bocc.ubi.pt/pag/oliveira-erivam-fotografia-
analogica-fotografia-digital.pdf Acesso em: 13 de setembro de 2013.
OLIVEIRA, Milton. Caos, Emoções e Cultura. 2. ed. São Paulo, 2000
O‟HARA, Craig. The philosophy of punk. More than noise. 2.ed. London: Ak.
Press, 1999.
OTLET, Paul. Traité de Documentation – Le livre sur le Livre – Théorie et
Patique. Bruxeles: EditionesMundaneum. 1934.Disponível em:
<http://lib.ugent.be/fulltxt/handle/1854/5612/Traite_de_documentation_ocr.pdf> Acesso em: 02
marco 2014
RIVERA, Guto. Quebrando o silêncio - SKINHEADS ANARQUISTAS E
COMUNISTAS – SEÇÃO SÃO PAULO Boletim Informativo da RASH-SP - Ano
III nº 01 – Jan/Fev de 2009. Disponível em: http://rash-sp.blogspot.com/ Acesso
em: 26 de setembro de 2013
ROUILLÉ. André. A Fotografia: entre documento e arte contemporânea. São
Paulo: Senac, 2009.
ROSENDAHL, Zeny. Religião, identidade e território. EdUERJ, 2001
SCHAEFFER, Jean-Marie. A imagem precária. Campinas: Papirus, 1996.
SILVA, Carlos Alberto da e SEBASTIÃO, Pedro Miguel. Interacção & Cibersexo
no IRC. 2007. Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/silva-carlos-sebastiaopedro-interaccao-cibersexo.pdf. Acesso dia 04 de novembro de 2013
SONTAG, Susan. (1986). Ensaios sobre Fotografia. Lisboa, Dom Quixote.
SONTAG, Susan. Sobre Fotografia. Tradução Rubens Figueiredo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
72
SOUSA, Jorge Pedro. Uma história crítica do fotojornalismo Ocidental.
Florianópolis: Letras Contemporâneas, 2000.
SOUSA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: uma Introdução à história, às técnicas e
à linguagem da fotografia na imprensa. Florianópolis: Letras Contemporâneas,
Ed. 2002.
SOUSA, Jorge Pedro. Por que as notícias são como são construindo uma
teoria da notícia. 2008 Disponível em:
<http://www.bocc.ubi.pt/_esp/autor.php?codautor=13>. Acesso em: 10 dez. 2013.
SOUSA, Luciana Santos. O Fotolivro e a Mudança no Paradgima da Linguagem
Fotografica. 2007. Disponível em:
http://www.slideshare.net/LucianaSaso/monografia-revisada-21413903 Acesso em:
06 de novembro de 2013
SOUZA, Cláudio Manoel. Música pop, e-music, mídia e estudos culturais, 2002.
Disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/souza-manoel-claudio-musica-estudosculturais.pdf Acesso em: 04 de novembro de 2013
SOUZA, Jorge Pedro. Uma História Crítica do Fotojornalismo Ocidental.
Disponível
em:
http://bocc.ubi.pt/pag/sousa-jorge-pedro-historia_fotojorn1.html
Acesso em: 21 de agosto 2013.
SOUZA, Jorge Pedro. Fotojornalismo: uma Introdução à história, às técnicas e
à linguagem da fotografia na imprensa. Florianópilis: Letras Contemporâneas,
2002.
VAZQUEZ, Pedro. Fotografia: reflexos e reflexões. Porto Alegre: LPM, 1986.
VELHO, Gilberto. Subjetividade e Sociedade: Uma experiência de geração. 4ł
edição – Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
73
VICENTINI, Ari e OLIVEIRA, Erivam Morais. Fotojornalismo, Uma viagem entre
o analógico e o digital. Cenage, 2010.
WANTA, Wayne. The effects of dominant photographs: Na agenda-setting
experimente. Journalism Quarterly, 1988.
Referência técnica (fotolivro):
http://maximum.com.sapo.pt/a_marca_e_os_novos_negocios_logotipo.pdf
74
ANEXOS
MAPA
75
9.
CRONOGRAMA
PERÍOD
O DE
EXECUÇÃ
O – 2014
ATIVIDAD
ES
Definição
Problema
Elaboraçã
o do TCC
FE
V
MA
R
AB
R
MAI
O
JU
N
JU
L
AG
O
SE
T
OU
T
x
x
x
x
x
X
Pesquisa
de Campo
Tabulação
dos dados
Coleta de
Fontes
Processo
de
produção
do trabalho
Pré-Banca
NO
V
x
x
x
x
x
x
DE
Z

Documentos relacionados