a manifestação da graça em nós - Igreja Presbiteriana de Santa

Transcrição

a manifestação da graça em nós - Igreja Presbiteriana de Santa
A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA EM NÓS
Como nossas Igrejas estão longe da Graça!
Até as ditas Igrejas "tradicionais", desviaram seus olhos do princípio norteador de sua
prática e de sua teologia. A Sola Gratia deve ter qualquer sentido, mas não o de que Somente
a Graça ou pela Graça é que somos salvos, vivemos e presenciamos a Igreja ainda hoje.
No entanto vejo a Igreja viver hoje uma inversão, onde a Graça não tem poder algum,
não tem efeito algum, não tem graça nenhuma. Ela deixou de ser atraente, salvadora e
motivadora, para ser uma conformidade da fé: se isso aconteceu, ou deixou de acontecer é a
Graça.
A graça salvadora expressada por Paulo em Coríntios, não é um mero sistema aliviador
de problemas. É tão salvífica, quanto a declaração em Efésios 2.8: "Pela graça sois salvos...";
pois Paulo está colocando sua limitação, suas opressões e dificuldades como uma realidade,
uma experiência vivida e enfrentada pelo poder de Cristo, manifestado pela Graça.
"A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza." 2 Coríntios 12.9; é
a maior das revelações que Paulo teve. Ele está contando de uma das mais impressionantes,
mas conclui que esta, ouvida do próprio Deus em oração, é a maior revelação de todas. Ela
muda a forma de relacionamento consigo, com o próximo, com a Igreja e com Deus. Não exige
nada. Não troca nada. Não espera favorecimento algum, pois tem o maior de todos: estar nas
mãos de Cristo Jesus, e Ele se manifestar por intermédio de Paulo.
Mas até quando a Igreja exigirá a manifestação da Graça?
São canções, orações, pregações e comportamentos em que Deus é apresentado como
o serviçal da Graça. Mas não deveria ser a Igreja, que constrangida pelo poder da Graça
procura mesmo que inutilmente, servir a Deus porque entendeu que a Graça é o maior
presente que poderia receber?
A lógica deveria ser: se recebi algo tão importante assim, e não tenho como pagar e
nem Deus me exige isso, vou então servi-lo da melhor maneira que eu encontrar.
Mas está invertido, a igreja acha que Deus é quem deve favor pra ela. É uma filha
mimada a Igreja, pois crê que Deus tem que sustentá-la à qualquer preço e custo. E quando o
Pai não faz o que ela exige, pula no chão, faz birra, sapateia, bate o pé e volta ao templo
apenas quando a 'graça for alcançada'. Aqui piora a estratégia, pois alguns fazem de tudo para
alcançá-la, o que abre espaço para um monte de práticas sem pé nem cabeça. Já outros
desaparecem e procuram punir Deus com sua negligência e ausência, e nem percebem que
caíram nos socos do "mensageiro de Satanás".
Mal percebem que tal comportamento é uma forma de chamar a atenção para si, e
isso Paulo repudia como o "gloriar-se", alertando que deveriam buscar na fraqueza presenciar
a força do Senhor.
Mas até quando a Igreja barganhará a manifestação da Graça?
Mais um sintoma da espiritualidade doente de hoje, é entender a Graça como moeda
de troca. Então todo o comportamento da Igreja é em favor de uma barganha com Deus.
Comportamento doentio, enraizado na cultura ocidental, um behavorismo espiritual.
Deus é aquele que retribui os nossos favores. E a Igreja é glorificada pelo seu muito fazer.
Quase que um Rotary "Gospel". E os números passam a ser o termômetro da Igreja.
Quantos batismos, quanto arrecada, quantos presentes, quanto demora, quantas
programações, quanta repetição?
Como se a resposta dessas questões realmente levasse Deus a mudar seu amor e
cuidado para com a Igreja. Mas essas são manifestações externas de um mover nem tão
miraculoso assim. Então não vamos sacramentar o que apenas revela um fenômeno humano.
O comportamento da Igreja deveria responder à Graça e não barganhar. Como
resposta à Graça a Igreja deveria agir, não importando o beneficiado. Aqui sim temos uma
Igreja relevante, e não se as pessoas gostam do show apresentado no domingo (que para
muitos responde à maioria das perguntas acima).
Um missionário colombiano, Medardo Machado, contou-nos que nas montanhas onde
as FARCs estão escondidas, os pequenos vilarejos sofrem com a opressão, o silêncio, a
violência e a exploração da mão de obra. Que quando chegou para pastorear uma dessas vilas,
não se conformava com as igrejas partidárias às FARCs, por opressão e covardia de seus
líderes. Assim, se opôs e a igreja passou a ser a maior opositora às forças revolucionárias.
Bíblias eram distribuídas, pessoas ameaçadas, jovens transformados, Igrejas sendo fechadas, e
tudo isso cooperando para que as questões acima nunca fossem respondidas.
Entendendo seu papel como Igreja, sabia que deveria acolher os oprimidos, ser a voz
dos injustiçados e partir o pão com os esfomeados. Agiu. O que não aliviou de maneira alguma
a perseguição, opressão e o sofrimento para com a Igreja. Mas trouxe a esperança e a
possibilidade do povo sofrido vislumbrar algo além. E nos boicotes, sofrimentos e perseguições
à Igreja, ela se manteve em pé, pois na sua fraqueza Cristo a fez forte. E histórias podem ser
contadas e recontadas por causa de sua ação.
Mas até quando a Igreja esperará o favorecimento da Manifestação da Graça?
É um tanto revoltante que a Igreja faça e espere reconhecimento, aja aguardando
retribuições e ainda mais, que espere ser favorecida por Deus. Realmente tal atitude mostra
que a Igreja não entendeu a Graça e nem a manifestação do seu poder.
Cristo Jesus é a personificação da Graça. A Igreja somente é, porque Jesus é! Que
maior favorecimento a Igreja precisa? Ela somente existe por intermédio do Cristo.
É triste ver uma roda de pessoas na saída de um culto, discutindo o que e onde podem
ser gastos alguns milhares de reais, para favorecer o que se senta ou quem desfruta do prédio
chamado igreja. Mas não foi pra essa Graça que Cristo morreu por nós, foi para que
aprendêssemos com ele e déssemos nossa vida pelo outro. E ainda discutimos se agradará ou
não?
Mais triste ainda é ver que dessa roda de crentes não houve um momento onde
glorificado fora o nome do Senhor pela providência na vida de um dos irmãos, onde alguém
testemunhou com alegria o pequeno sacrifício que fez para cuidar do próximo, nem mesmo o
reconhecimento de que são bem aventurados, pois foram caluniados por causa do nome de
Cristo.
As pessoas buscam viver a Graça de uma maneira ilógica, sem aproveitarem da
salvação. Buscam estar e fazer na Igreja para favorecimento próprio. Discutem, pensam, e
repensam em como serão favorecidos por conta de suas ações, mas o fundamento de uma
comunidade que vive a manifestação da Graça, é experimentar ao máximo do relacionamento
com Deus para favorecer os necessitados. Para que o outro seja suprido e favorecido.
O "Eu" não pode ser maior que o "Ele".
Um exercício de disciplina e humildade, que Paulo precisou sentir na pele, assim como
muitos líderes cristãos sinceros sentem. Mas se está declarado nas Escrituras, é para que
sabiamente identifiquemos e não venhamos a negligenciá-lo. Pelo contrário, uma vez
alertados, possamos repensar e agir, para que a manifestação da Graça venha poderosamente
agir em meio à Igreja hoje. Eugene H.Peterson, entende e traduz 2 Coríntios 12.7-10, onde o
"espinho na carne" aparece como um dom de Deus, para aperfeiçoamento do apóstolo, que o
faz valorizar mais o que Cristo é e como se manifesta em sua vida, do que seu próprio "Eu".
Tal exercício leva-nos ao reconhecimento da dependência total de Cristo, para que
nossas fraquezas não sejam fatores limitantes da Graça do Senhor manifesta a todos os que
estão ao redor. Mas o fator primordial para que a manifestação da Graça seja clara, está na
declaração: para que o poder de Cristo repouse em mim (2 Coríntios 12.9).
Isto é, para que Cristo venha tabernacular sobre mim, arme uma tenda sobre mim.
Uma imagem de proteção, cuidado e dependência do Senhor. É desta imagem que precisamos
entender nosso relacionamento com Deus e a manifestação da Graça em nós como Igreja.
Chega de exigências! Chega de barganhas! Chega de favorecimentos próprios!
Precisamos nos entregar no todo ao Senhor, dependemos somente dele. Precisamos agir, pois
a Graça já foi entregue para nós. Precisamos glorificar somente a Deus, a nós venha a Glória
que é do Senhor, a Honra que não pertence a nós! Para quê? Para que todos conheçam,
experimentem e vejam a manifestação da Graça de Deus em nós. Seu nome é Jesus, quem nos
ensinou a ser, a dar e a depender do Pai.
Soli Deo Gloria!
Literatura Base: Anotações do 39ºSEPAL; Comentário Bíblico Vida Nova - Ed.Vida Nova e NVI - Ed.Vida; KISTEMAKER - Comentário
do NT 2 Coríntios - Ed.Cultura Cristã; ERDMAN - La Segunda Epístola de Pablo a Los Corintios - Ed.TELL; Bíblias: A Mensagem Ed.Vida; NVI; Bíblia de Jerusalém; ARA e The Greek New Testamente - 3ºedição.
Escrito por: Rev. Marco Aurélio de Campos Reis, pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santa Bárbara d'Oeste, SBO - SP.
Desenvolve trabalho com os jovens e adolescentes, e tem buscado compartilhar a visão da Missão Integral como o vivenciar do
Reino aqui. É Fisioterapeuta do Governo do Estado de São Paulo, trabalha com a população hanseniana do interior e procura fazer
do seu tempo na Igreja, no hospital e em casa, seu ministério em tempo integral.