Aproveitamento dos grãos da vagem verde de soja
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Aproveitamento dos grãos da vagem verde de soja
Aproveitamento dos grãos da vagem verde de soja 53 Marcos César Colacino1; Carolina Maria Gaspar de Oliveira2 RESUMO A antecipação da colheita da soja resulta em uma grande quantidade de vagens verdes que são colhidas junto com as vagens secas, e acabam vindo com os grãos para os armazéns. O objetivo do trabalho foi avaliar o aproveitamento e a viabilidade econômica da vagem verde de soja. Analisaram-se amostras de 24 caminhões coletados em 16 dias diferentes na Cooperativa Integrada Agroindustrial de Quarto Centenário - PR. Avaliou-se a porcentagem de vagens verdes na amostra manual e na saída da pré-limpeza, também a quantidade de grãos no interior das vagens verdes, de forma manual e na batedeira de cereais, e por fim, estimouse a viabilidade econômica do aproveitamento da vagem verde. Não se verificou diferença entre a porcentagem de vagens verdes na amostra manual e na saída da pré-limpeza. O aproveitamento dos grãos foi maior na debulha manual que na batedeira de cereais, entretanto a retirada dos grãos por este método se mostrou viável economicamente. Palavras-chave: Vagem-verde de soja; colheita antecipada; amostragem armazém. INTRODUÇÃO Considerando que a cultura da soja é influenciada por diversos fatores ao longo de seu ciclo, cabe destacar que a época da semeadura influencia no desenvolvimento das plantas, na qualidade e produção dos grãos de soja. O Supervisor Administrativo Operacional na Integrada Cooperativa Agroindustrial. Quarto Centenário-PR. 1 E-mail: [email protected] Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Rod Celso Garcia Cid, km 375, CEP 86047-902, Londrina-PR. 2 E-mail: [email protected] 531 período preferencial para o plantio no Estado do Paraná é no mês de novembro, porém a época de semeadura indicada para a maioria das cultivares compreende o período entre 15/10 a 15/12 (EMBRAPA, 2005). A antecipação da semeadura, segundo (EMBRAPA, 2005) é aquela realizada antes de 15 de outubro. Devido à importância da segunda safra no Estado do Paraná, a semeadura da soja vem acontecendo cada vez mais cedo, a partir do dia 10 de setembro. Com essa semeadura antecipada é possível adiantar também o plantio do milho safrinha, diminuindo assim os riscos climáticos (geadas, chuvas e secas). Além disso, visando antecipar o plantio de milho safrinha, realiza-se também a colheita da soja antes da maturação fisiológica, a qual é acelerada muitas vezes, pela dessecação das plantas. Essa dessecação frequentemente acontece antes do período indicado, ocasionando uma maturação desuniforme, restando nas lavouras muitas vagens verdes, que são colhidas juntamente das vagens secas. As vagens secas são debulhadas e descartadas no próprio local pela colheitadeira, já as vagens verdes que não conseguem ser debulhadas acabam indo junto com os grãos de soja para os armazéns. Na chegada à cooperativa acontece a classificação, na qual se retira a amostra para a determinação da umidade e impurezas presentes na soja. A vagem verde não debulhada segundo Instrução Normativa MAPA nº 11 de 15 de maio de 2007 é classificada como impureza no embarque de soja indústria, mas para a classificação de soja vinda diretamente da lavoura, é pesada somente a casca da vagem, pois os grãos são separados e incorporados aos grãos secos na classificação. Isso já não acontece depois das moegas, pois as máquinas de pré-limpeza descartam as vagens verdes de soja como impureza que depois são passadas por uma batedeira de cereais para a retirada dos grãos da vagem verde. Não existem informações sobre o quanto a presença de vagens verdes pode afetar no resultado do recebimento de grãos, tanto pela quebra técnica quanto pela qualidade da soja verde aproveitada. Na classificação não se consegue mensurar o total de vagens verdes que vem na carga e nem mesmo aproveitar 100% dos grãos verdes contidos na vagem após passar pela batedeira de cereais. Assim, o objetivo desse trabalho foi avaliar o aproveitamento e a viabilidade econômica da vagem verde de soja. MATERIAIS E MÉTODOS A pesquisa foi desenvolvida na Cooperativa Integrada Agroindustrial, localizada no oeste do Paraná na cidade de Quarto Centenário. Os caminhões que participaram da pesquisa foram escolhidos por sorteio simples, por um período de 532 16 dias não consecutivos totalizando 24 cargas. Na avaliação da porcentagem da vagem verde de soja manual, assim que os caminhões, já previamente sorteados, chegaram à cooperativa carregados com a soja da lavoura, foram amostrados com calador manual de dois estágios em 5 pontos para caminhão truck e oito a doze pontos em caso de carreta, extraindo uma amostra de aproximadamente 5 quilos. Essa amostra foi homogeneizada em um quarteador de cereais de onde se extraiu uma amostra de 500g. Para esta amostra de 500g realizou-se a classificação em uma peneira de furo redondo de 3 mm sobreposta em uma peneira de fundo fechado. O cálculo da quantidade de vagem verde foi feito dividindo se o peso da vagem verde encontrada na amostra (retida pela peneira) pelas 500g iniciais, encontrando assim o percentual de vagem verde na amostra. Na avaliação da porcentagem de vagem verde de soja na pré-limpeza, após a classificação o mesmo caminhão sorteado foi pesado em balança rodoviária e encaminhado para a moega para descarga. A carga de soja descarregada na moega foi passada pela máquina de pré-limpeza fechada da Kepler Weber modelo SCS 170 montada com peneiras 9 mm e 1,5 mm. Na passagem pela peneira 9 mm foi feito a retirada das vagens verdes que seguiram para acondicionamento em big-bag. A quantidade de impurezas e vagens verdes foi separada por caminhão. Nesta fase foram utilizados somente 20 caminhões (amostras). Cada big-bag com as vagens verdes foi pesado na balança rodoviária e depois encaminhado para uma batedeira de cereais marca Nogueira modelo MB80, onde se procedeu a debulha. A soja proveniente da debulha foi então pesada novamente na balança rodoviária e dividido pelo peso bruto do big-bag para se calcular a porcentagem de aproveitamento. O cálculo da viabilidade econômica foi realizado para os dados obtidos da debulha na batedeira de cereais, com a quantidade de vagem verde e de grãos de soja aproveitados. Para o cálculo da vagem verde dividiu-se o peso total por 1.000, para se obter a quantidade de toneladas, e foi multiplicado pelo valor de R$50,00 por tonelada, que é o valor pago pelos compradores de vagem verde na região. Para o cálculo do aproveitamento dos grãos de soja, foi descontado o teor de água do grão que estava em torno de 40%, para 14% de umidade que é o padrão de comercialização, usando a seguinte fórmula: U = Ui – Up 100 - Up Ud = Desconto de Umidade Ui = Umidade Inicial Up = Umidade Padrão 533 Resultou então no desconto de 30,23% de umidade para deixar a soja no padrão comercial. Então dividiu-se o peso encontrado por sacas de 60kgs e multiplicou-se pelo preço médio da soja disponível na região de Cascavel-PR na data de 07/07/14, obtendo assim a receita total da venda. Dessa receita foram descontadas as despesas com 1 diária de 3 pessoas contratadas via sindicato pelo valor de R$ 50,00 mais impostos e taxa administrativa (118%) e também o preço da energia elétrica que foi calculado pela potência do motor da debulhadeira de grãos que é de 7,5cv, que convertido em Kwh é 5,5Kwh por um período de 8 horas que seria o tempo necessário para debulhar toda a vagem. Então tem-se o consumo de 44Kwh a um preço de R$ 0,2273/Kwh. Os dados foram submetidos a análise de variância e a comparação de médias foi realizada por Tukey a 5% de probabilidade. O delineamento considerou cada amostra uma repetição. Utilizou-se o programa SISVAR (2011). RESULTADOS E DISCUSSÃO A Tabela 1 mostra os resultados da vagem verde obtida na classificação manual e na pré-limpeza. Avaliando-se carga a carga há grandes variações da classificação manual para o resultado obtido na pré-limpeza. Contudo, na média geral de todas as cargas, constatou-se que a variação foi muito pequena, e estatisticamente não houve diferença. Isto pode ser explicado pela boa amostragem da carga, que segue a Instrução Normativa MAPA nº 11 de 15 de maio de 2007 em seu anexo Regulamento Técnico da Soja capítulo III, Art. 14, que provou ter sido muito próximo do real extraído na pré-limpeza. Na Tabela 2 é possível comparar o aproveitamento dos grãos de soja na debulha manual e na mecânica. Verifica-se que na debulha manual o aproveitamento dos grãos de soja foi maior que na mecânica, entretanto este procedimento não é viável economicamente, já que o custo de mão de obra seria superior ao rendimento. Já a debulha mecânica na batedeira de cereais mostrou-se rentável economicamente (Tabelas 3 e 4), pois considerando que o total de vagem bruta era de 4.740kg e o total de grãos extraídos foi de 1.680kg, tem-se um resultado de rendimento de R$ 237,00 para a vagem bruta e R$ 932,67 para a venda da soja extraída. 534 Tabela 1. Dados de peso da carga amostrada para cada caminhão sorteado (Kg), peso da vagem verde na saída da pré limpeza (Kg), porcentagem de vagens verdes na amostra manual e na saída da pré limpeza. Amostra Vagem verde na saída Carga amostrada (kg) da pré-limpeza (kg) Vagens verdes na Vagem verde na saída da pré-limpeza (%) amostra manual (%) 1 7.850 60 0,60 0,76 2 12.720 570 3,90 4,48 3 38.730 270 2,40 0,70 4 17.180 270 2,20 1,57 5 5.380 40 1,40 0,74 6 17.170 150 1,50 0,87 7 17.300 280 1,90 1,62 8 18.930 180 1,20 0,95 9 13.840 80 1,00 0,58 10 33.870 100 1,10 0,30 11 16.290 120 1,00 0,74 12 22.160 150 1,20 0,68 13 12.060 250 0,90 2,07 14 21.730 120 0,40 0,55 15 16.250 80 0,30 0,49 16 21.270 60 0,60 0,28 17 13.480 80 0,90 0,59 18 18.380 520 1,80 2,83 19 15.280 90 1,10 0,59 20 16.700 340 1,00 2,04 21 10.620 130 0,80 1,22 22 8.630 40 0,30 0,46 23 18.440 60 0,40 0,33 24 11.310 320 1,50 2,83 Média - - 1,22 A* 1,18 A CV(%) 76,68 * Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. 535 Tabela 2. Comparação do aproveitamento na debulha da vagem verde de soja de forma manual e mecânica Amostra Debulha manual Debulha na batedeira de cereais Aproveitamento (%) Aproveitamento (%) 1 69,95 42,86 2 71,30 36,00 3 67,57 43,48 4 71,61 27,78 5 67,80 20,00 6 68,23 38,24 7 69,23 39,29 8 68,14 30,43 9 68,73 38,10 10 67,77 35,00 11 69,92 27,27 12 67,51 34,62 13 67,87 39,13 14 70,88 40,00 15 65,91 33,33 16 67,01 36,84 17 68,56 26,09 18 71,43 35,71 19 68,63 41,38 20 70,27 37,50 Médias 68,93 A* 35,15 B CV % 8,56 * Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5%. Tabela 3. Cálculo da Viabilidade econômica para a vagem verde. 536 Descrição Vagem verde Peso Bruto (ton) 4,74 Preço por tonelada (R$) 50,00 Resultado Líquido (R$) 237,00 Tabela 4. Cálculo da Viabilidade econômica para os grãos de soja extraídos. Descrição Grãos de soja Peso Bruto (Kg) 1.680 Desconto de umidade (40% para 14%) (Kg) (-) 508 Peso Líquido (Kg) 1.172 Preço de venda (saca de 60 kg em 07/07/2014) (R$) 65,00 Receita da venda (1.172 Kg/60 x R$ 65,00) (R$) 1.269,67 Custo da diária para bater a vagem (3 pessoas) (R$) (-) 327,00 Custo da Energia Elétrica (R$) (-) 10,00 Resultado Líquido (R$) 932,67 Como demonstrado na Tabela 2 podemos melhorar a batedeira de cereais para termos um melhor aproveitamento, pela regulagem ou pela troca por uma debulhadeira mais moderna e eficiente. Sendo assim, foi demonstrada a viabilidade da debulha da vagem verde e comercialização como soja em grãos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução normativa n. 11, de 15 de maio de 2007. Estabelece o Regulamento Técnico da Soja, definindo o seu padrão oficial de classificação, com os requisitos de identidade e qualidade intrínseca e extrínseca, a amostragem e a marcação ou rotulagem. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, n. 93, p. 13-15, 16 maio 2007a. Seção 1. Disponível em:< http://extranet.agricultura.gov.br/sislegisconsulta/consultarLegislacao.do?operacao=visualizar&id=17751> Acesso em: 16 mai. 2014. EMBRAPA. Tecnologias de produção de soja – Paraná – 2006. Londrina: Embrapa Soja, 2005. 208p. 21cm ( Sistemas de Produção / Embrapa Soja, ISSN 16778499; n.8). FERREIRA, D.F. Sisvar: a computer statistical analysis system. Ciência e Agrotecnologia (UFLA), v.35, n.6, p.1039-1042, 2011. 537