editorial - Kiss and Tell
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editorial - Kiss and Tell
Estilo H á muitas maneiras de se contar uma história e nem sempre é pela palavra que se constrói o enredo mais empolgante. A história da Viterbo Interior Design, ou Viterbo ID, vai muito além das palavras. São 43 anos de percurso, duas gerações de família e, acima de tudo, os muitos projectos de arquitectura de interiores e decoração. Projectos espalhados por todo o mundo, porque hoje é essa a realidade da Viterbo. São mais de mil na Europa, uma centena em África, uma dezena na Ásia... “Na Viterbo, o que conta a sua própria história, é a história que conta cada projecto da Viterbo”, pode ler-se no arranque do novo ‘site’ da empresa (www. gviterbo.com), ‘on-line’ desde meados de Janeiro. São projectos que falam outras línguas mas que, de uma forma ou de outra, reportam sempre a uma casa-mãe bem portuguesa e a uma realidade cultural que é nossa, sem nunca deixar de ser ecléctica e transversal a tempos, a espaços e a modas. Assim era no início com Graça Viterbo, a fundadora da marca, assim é hoje com Gracinha Viterbo, a filha que seguiu as pisadas da mãe e que assume a direcção criativa de empresa. É assim aqui ou em qualquer parte do mundo, porque internacionalização é a palavra do momento. Por ela responde Miguel Vieira da Rocha, director administrativo da empresa, marido de Gracinha e o grande impulsionador desta vontade de galgar fronteiras e de ir cada vez mais longe. Europa, África, Ásia, Américas e, em breve talvez, Médio Oriente. Foi precisamente dentro deste mesmo espírito que, um dia, Gracinha e Miguel se lembraram de mudar a sua casa para o outro lado do mundo. Agarraram nos quatro filhos e lá partiram de armas e bagagens para Singapura, onde estão a viver há seis meses e sem “regresso marcado”, como diz Miguel. A nós, deixaram-nos esta e outras histórias, das muitas que fazem a Viterbo e que se contam entre sorrisos, lembranças mil e, às vezes até, com uma boa gargalhada. A Viterbo Interior Design está, neste momento, em plena fase de internacionalização. Quando, como e porque é que tudo começou? Miguel Vieira da Rocha – Isto foi tudo um bocadinho o resultado da minha formação – sou formado em gestão e responsável pela parte de gestão da empresa e a Gracinha pela parte de projectos. Assim, em 2005, 2006, porque achávamos que com o resultado dos nossos projectos tínhamos potencial para estar lá fora, começámos a preparar o projecto de internacionalização da empresa. Gracinha Viterbo – Ainda me lembro da frase do Miguel para a equipa. Foi em Setembro, estávamos todos reunidos para planear a ‘rentrée’ e ele disse: “We are going global”... (risos). MVR – Pois foi... Riram-se todos mas estava a falar muito a sério. Estava a falar tão a sério que um ano e meio depois tínhamos aberto o nosso ‘show room’ em Luanda: um espaço com 350 m2. Este foi o nosso primeiro passo na internacionalização. O segundo foi Singapura. E porquê Singapura? MVR – Porque a Ásia está em crescimento e notamos que existe, em todos os países ali à volta, uma procura muito grande de projectos de alta qualidade, que é precisamente o que nós estamos a fazer. Entretanto, tivemos um convite para fazer um projecto em Banguecoque, na Tailândia, uma casa com dez mil metros quadrados e, a isto, juntou-se a criação da Viterbo Ásia que nós denominamos VIDA: Viterbo Interior Design Asia. GV – Acrescento que, antes disso, já tínhamos tido um primeiro projecto em Singapura, mas era um projecto de uma antiga cliente. No caso de Banguecoque a cliente Ao lado, Gracinha com ‘t-shirt’ em seda estampada Mary Katrantzou e saia em algodão Michael Kors, ambas na Fashion Clinic. Blazer em seda e lã Christian Dior, na Loja das Meias. Collants Calzedonia. Sapatos em pele Valentino, na Stivali. Miguel com ‘smoking’ em lã fria, camisa em algodão e lenço de ‘pochette’, tudo Rosa e Teixeira. Lenço de pescoço Tom Ford, na Fashion Clinic. não nos conhecia, encontrou-nos na Internet e depois fui conhecê-la a Roma. Mas foi todo este conjunto de situações que, naturalmente, nos levou para a Ásia... E depois o Miguel consolidou o projecto de internacionalização. Portanto estão em Portugal, Luanda, Singapura... e mais? MVR – Estamos a namorar o Médio Oriente. Dubai? MVR – Sim Dubai. Mas ainda estamos a dar os primeiros passos. Por agora, queremos estar realmente em Portugal, Angola e Ásia, o que já nos dá suficientes preocupações e responsabilidades. GV – Nós queremos dar passos firmes. A nossa sede está em Portugal e temos muito orgulho em dizer isso. É aqui que está a nossa “equipa mãe” com o seu ‘expertise’ e ‘know-how’ europeu e toda a sua tradição artística, que é aquilo com que nós nos identificamos e de que os nossos clientes gostam. E fazemos questão de que continue assim. Mas a Viterbo não se limita a ter representações lá fora. Tem escritórios com equipas reais formadas e a trabalhar no local, não é? GV – Sim. A maior é a de Angola, porque também tem mais tempo. Temos dez pessoas em Angola. A da Ásia, como a formámos agora, é mais pequena. Temos duas pessoas connosco em Singapura. Mas convém dizer que a nossa equipa é muito móvel. Todos eles estão preparados, querem e gostam de viajar e nós tornamos a nossa equipa residente nos países onde estamos. Em fase conceptual e de desenho técnico fazemos tudo em Portugal e em fase de implementação e entrega para projectos residenciais temos uma equipa residente, que varia entre oito e 20 pessoas, dependendo do tamanho do projecto. Temos também equipas locais para especialidades, tais como ar condicionado, iluminação, construção, carpintarias e costura. HISTÓRIAS QUE SE CONTAM SEM PALAVR AS Levar para a frente um projecto de arquitectura de interiores “é como escrever um livro, só que num espaço”, diz Gracinha Viterbo. É assim também a história da empresa de que herdou o nome e que se escreve em centenas de espaços espalhados por todo o mundo. T E X TO D E I N Ê S Q U EI R OZ FOTO G R A F IA D E P ED RO F ER R EI R A A S SIS T I D O P O R ANA VI EGAS E H U G O N O G U EI R A P R O D U Ç ÃO E S T Y L I N G D E FI LI PE CARRI ÇO A S S I S T I D O P O R A N T Ó N I O V I L A R D E B Ó C A B E L O S D E S O F I A H I L Á R I O PA R A G R I F F E H A I R S T Y L E C O M P R O D U T O S L’ O R E A L P R O F E S S I O N E L M A Q U I L H A G E M D E CRISTI NA G O M E S A S SIS T I DA P O R SAN D R A M ELO. AG R A D ECI M E N TOS À CA SA ACH I LLE S E À VITER B O I D P E L A S P EÇ A S D E D ECO R AÇ ÃO C E D I DA S . 8 Fora de Série Fevereiro 2014 Fevereiro 2014 Fora de Série 9 Estilo E em termos de projectos, como é que as coisas funcionam face às diferentes realidades? GV – Bom, a ideia é a nossa identidade. Nós não mudamos de identidade porque vamos para um lugar diferente. A nossa ideia é que cada projecto conte uma história. Há um fio condutor, talvez, na qualidade, na parte de especificação, mas depois, no estilo, a ideia é mudar e adaptar-me às pessoas. É um bocadinho como uma actriz que faz um papel. Eu quando mudo de projecto também mudo de personalidade e gosto de interpretar a história que vou contar, quer seja um hotel ou uma casa. Há um cliente, há um ‘briefing’, há um lugar e esse é um triângulo muito importante para mim, para depois interpretar e projectar a história relativa a essa estrutura. Mas, às vezes, estamos a falar de culturas completamente diferentes da nossa. Como é que se faz essa gestão? GV – Acho que é imprescindível uma pessoa fazer o seu trabalho de casa. Cresci a viajar, interessada e curiosa por outras culturas. Tenho uma cultura geral muito ecléctica e adoro conhecer sempre mais. Já fi z projectos para os Emirados Árabes Unidos, para pessoas com uma religião completamente diferente da minha, e que têm salas de reza em casa. Sou uma pessoa sem fronteiras cá dentro, o que me permite adaptar-me e pôr-me no papel daquelas pessoas, estudá-las e saber qual é o seu dia-a-dia para perceber como é que posso melhorar aquela vida e aquele espaço... porque uma coisa está interligada com a outra. Depois, é como escrever um livro, só que num espaço, no vazio. E há também a equipa. A equipa que nós escolhemos tem pessoas de Portugal, do Brasil, de França, da África do Sul, da Ásia... e eu dirijo depois uma orquestra. Ou seja, componho a equipa para aquele projecto e escolho o perfil que melhor se lhe adequa. Neste momento, tenho três arquitectas seniores que são ‘project managers’ e que têm estilos completamente diferentes, até porque não posso estar a acompanhar projectos aqui quando estou do outro lado do mundo e vice-versa. Mesmo quando não os acompanha na totalidade, está presente em todos os projectos Viterbo? GV – Sim. Nas alturas essenciais estou presente, mas depois delego. Ou seja, estou com o cliente para o conhecer, para ver o espaço... Depende um bocadinho do tipo de projecto que é, mas normalmente estou sempre no arranque, na criação e na apresentação. Depois também tenho outros projectos onde estou do princípio ao fim. Nós também só aceitamos projectos que consigamos gerir, daí termos equipas de pessoas formadas para dar depois resposta a nível de execução. Nestes casos, falo com as minhas ‘project managers’, falo com as equipas delas e, a partir daí, a responsabilidade é delas. Fui eu que escolhi estas equipas, fui eu que as contratei, portanto confio nelas. Só volto a “entrar” depois nas alturas cruciais, ou quando surge algum imprevisto em que é preciso mudar alguma coisa. Delegam muitas responsabilidades na vossa equipa? GV – Acho que há uma responsabilidade muito grande, mas também formamos a equipa para que ela sinta essa mesma responsabilidade. Nós artistas, quando criamos, temos tendência a querer fazer tudo. Mas quando se chega a uma dimensão como a que temos agora isso é impossível. E só favorece o investimento do cliente que tenhamos profissionais responsáveis, com muita experiência e, sobretudo, especializados para que uma ideia seja o mais bem executada possível. Por isso, confio 100% nas pessoas que trabalham connosco. Como nós temos 43 anos de história, muitos deles também já têm uma relação connosco de dezenas de anos – o que, às vezes, também é bom porque podemos falar por meias palavras... Dou uma ideia de 10 Fora de Série Fevereiro 2014 “É CRUCIAL QUE UMA PESSOA NÃO TENHA SÓ CAPACIDADE TÉCNICA E SEJA CRIATIVA, MAS TAMBÉM QUE SEJA FÁCIL DE LIDAR E QUE SAIBA GERIR BEM AS SUAS EMOÇÕES E ENFRENTAR AS DIFICULDADES”. uma coisa nova e eles geralmente percebem logo o que é que eu quero. E como é que é feita a selecção da vossa equipa? É a Gracinha, é o Miguel, são os dois? GV – Somos os dois. Mas as pessoas passam por várias entrevistas antes de chegar a mim. E também fazem entrevistas com a própria equipa. É importante fazermos um “360 graus”. Não é só o que nós achamos, também é o que as pessoas que vão trabalhar com eles acham. MVR – Acho isso importantíssimo. Acho que é um ponto crucial que uma pessoa não tenha só capacidade técnica e que seja criativa, mas também que seja uma pessoa fácil de lidar e que saiba gerir bem as suas emoções e enfrentar as dificuldades. Isso é tão importante como tudo o resto. GV – Depois, a nível de projectos, há uma outra coisa que também acho importante, que é a capacidade de pensar e trabalhar a partir da cabeça, ou da ideia de outra pessoa. Lembro-me que esta era uma das coisas que focavam muito quando estava a estudar em Inglaterra. A nossa equipa também é formada para isso. Às vezes tem que solucionar questões ou lidar com uma ideia que eu tive e apresentar uma resposta que faça sentido para aquela ideia acontecer. Há todo um lado de raciocínio que é muito importante. Dou-lhe um exemplo: para seleccionarem os alunos que entravam para a Na página anterior, Gracinha com camisa em linho Céline, na Loja das Meias. Calças em seda Barbara Bui, no Espace Cannelle. Sapatos em pele com aplicações Valentino, na Stivali. Turbante da Gracinha. Nesta página, Miguel com camisa em algodão e fato em lã fria, ambos Gucci. Gravata em lã, cinto e sapatos em pele, tudo Tom Ford, e lenço de ‘pochette’ em seda Etro, tudo na Fashion Clinic. Bauhaus, davam-lhes uma folha em branco e pediam-lhes que fizessem alguma coisa com aquela folha. Um dos alunos era o Mies van der Rohe e o que ele fez foi dobrar a folha e pousá-la em cima da mesa... Foi selecionado. Nós também, quando contratamos alguém, gostamos de explorar um bocadinho aquela pessoa para ter a certeza do que ela tem lá dentro. A quantas pessoas dão emprego? MVR – Directamente damos emprego a cerca de 70 pessoas. Digo directamente porque há empresas que trabalham para nós a tempo inteiro. Depois, indirectamente, são muito mais. GV – Damos trabalho a imensas pessoas. O caso, por exemplo, dos tapetes de Arraiolos, que depois interpreto de uma outra forma... sei que já ajudei muitas pessoas a não fecharem. Essa integração das artes portuguesas nos seus projectos é uma das características marcantes do seu trabalho, não é? GV – Sim, sim. Às vezes uso-a de outras formas ou de outras maneiras, um bocadinho do género “Ceci n’est pas une pipe” [o quadro “La Trahison des Images” de René Magritte], ou seja, usar uma coisa e dizer que é outra. Mas esta é realmente a minha cultura, por isso acabo sempre por usar artes portuguesas: o estuque, o azulejo... Isto já vem um bocado da minha mãe [Graça Viterbo], que me incutiu o gosto pelas artes portuguesas, mas é importantíssimo. Sobretudo porque acho que Portugal tem tudo a nível de ‘know how’ e de ‘expertise’. Às vezes falta um bocadinho de direcção artística mas, como sou a directora artística dos próprios projectos, acabo por usar o trabalho e o ‘expertise’ dos nossos artesãos e direccioná-lo para a minha visão. E acha que isso também contribuiu um bocadinho para a projecção da marca Viterbo lá fora? GV – Acho que sim. Sou muito curiosa e empenho-me muito no meu trabalho de casa. Sei o que é que quero usar e adoro descobrir coisas novas que, às vezes, nem sabia que existiam. Fui criada dentro desta indústria e depois gosto de renovar de acordo com a minha própria identidade, por isso venho sempre a Portugal buscar essas artes. Essa reinterpretação das artes tradicionais também é uma forma de as fazer viver? GV – Todos sabemos o estado da Europa e é importante termos a consciência cívica de que podemos actuar, e actuarmos. Há toda uma componente histórica, artística e de ‘know how’ que não se pode perder. Gosto muito de levar o cliente “à viagem” por detrás do seu projecto e explico-lhe a mais-valia que isto representa para o mesmo. No fundo, estou a fazer o projecto para ele, não é para mim. Talvez não seja muito humilde aquilo que vou dizer, mas comparo um bocadinho um projecto à obra de arte de um artista. Não se obriga um escultor que planeou fazer uma peça em bronze a executá-la em ferro. Aqui, não se trata de uma questão de ferro ou de bronze mas de uma questão de valor. Para mim, aquilo que entrego ao cliente tem que valer mais daqui a dez anos do que aquilo que vale hoje. É assim também que se fala da arte. Não sou uma vendedora de móveis nem vou a catálogos. Isso para mim não tem alma, não tem história e não tem o valor que uma obra de arte tem. Viajo muito durante o ano, exactamente para procurar, para os meus projectos e para os meus clientes, peças que são para eles. Como é que faz habitualmente quando vai começar um projecto? Reúne com o cliente para tentar perceber o que ele quer? GV – Preciso de conhecer o cliente, mas uma vez só não é suficiente, porque não me basta conhecê-lo por uma questão de apresentação, preciso de o conhecer no verdadeiro sentido da palavra. Mas é claro que tudo depende dele. Tenho clientes que não gostam disso, ou não querem, por isso tenho que ter a sensibilidade para não os forçar. Nesses casos vou ter que interpretar para perceber quem é aquela pessoa. Mas quanto mais intimidade melhor? GV – Claro que sim e gosto de me aproximar para haver essa ligação. À partida, as pessoas que vêm ter connosco já criam esse laço, o que é um grande passo. Depois, tão importante como conhecer o cliente é conhecer o espaço... uma, outra e outra vez. Mais do que em fotografias ou em planta, é preciso conhecê-lo de facto e a várias horas do dia, com várias luzes diferentes. Ir várias vezes, sentir o espaço, digerir o espaço e voltar, com os clientes, sozinha. Por vezes, há coisas que se sentem ao princípio e que mudam entretanto. Depois, é tirar partido da imaginação e tudo se faz. E quando precisa de se inspirar, fecha a porta? GV – Também, também! Sou da escola St. Martin’s [St. Fevereiro 2014 Fora de Série 11 Estilo Martin’s School of Art] que tem como mote esta frase do Paul Smith: “You can find inspiration in everything (and if you can’t look again)”. Nós ouvíamos isto todos os dias na escola. Não sigo modas. Gosto muito de estar atenta ao que se passa, mas gosto de contar histórias, como disse. Acho que é muito importante sermos curiosos e termos uma cultura geral apurada para depois voarmos a partir daí. É nessas alturas que gosto de me isolar e de estar no meu mundo, porque é aquele lado que completa um bocadinho o ‘puzzle’. Às vezes, tem que ser. No atelier, já todos sabem disso. Até costumo dizer, quando estou com a porta fechada e alguém entra, que estava a construir um castelo de cartas e que mo deitaram abaixo. Um dia, a brincar, puseram um castelo de cartas na minha porta (risos). Mas toda a gente sabe que quando a porta está fechada não é para entrar. E memórias de projectos? Qual foi aquele que lhe deu até agora mais dores de cabeça? GV – Não vou dizer que os projectos me dão dores de cabeça. Os projectos são todos complexos. As pessoas “OS PROJECTOS SÃO TODOS COMPLEXOS. AS PESSOAS SÓ VÊEM O RESULTADO, MAS 99% DO QUE ALI ESTÁ É TR ABALHO DE ‘BACK OFFICE’. É MUITO TR ABALHO, SÃO MUITAS HOR AS, É MUITA DEDICAÇÃO”. só vêem o resultado, mas 99% do que ali está é trabalho de ‘back office’. Às vezes fazemos a arquitectura de interiores toda. É muito trabalho, são muitas horas, é muita dedicação. Não há horários porque, normalmente, o tempo que um cliente tem disponível é pós-laboral ou aos fins-de-semana, por isso o nosso horário não existe. Com a nossa equipa, que é fabulosa – o que também faz parte do resultado final –, a elasticidade funciona no espaço e no tempo. Houve uma altura, agora com um projecto no Brasil, em que estávamos a trabalhar 24 horas sobre 24 horas, porque quando uns iam dormir, os outros acordavam. Como é que se gere tudo isso em termos de tempo e tendo em conta que vocês, além do mais, têm uma família com quatro crianças pequenas? MVR – Acho que, em grande parte, isso é possível graças à equipa que temos, não tanto pela individualidade de cada pessoa – que são todos profissionais fantásticos –, mas pela coesão que toda a equipa tem. Temos de facto uma equipa muito forte, muito unida e isso é determinante para o sucesso da empresa. Acho que um bom ambiente e uma boa energia na equipa supera qualquer dor de cabeça. Já lhe aconteceu alguma vez chegar ao fim de um projecto e o cliente não gostar e ter de mudar tudo? GV – Já. Houve um cliente que queria fazer uma surpresa à mulher. Disse-me que a conhecia lindamente, deu-nos as cores, escolheu tudo e aprovou tudo. Ela, quando chegou, detestou (risos). MVR – Não podemos dizer que ela não gostou do projecto... Não gostou foi de ser surpreendida (mais risos). Quantos projectos têm em mãos actualmente? MVR – No mundo inteiro, nós estamos agora com 22 projectos. Portugal, Ásia, dentro da Ásia, Bali, Índia, Tailândia, Singapura e, para já, em curso fixo são esses. GV – E acabámos um agora no Brasil. Como é que aconteceu irem viver para Singapura? MVR – Acho que a pergunta não se coloca em termos de “porquê”, mas sim em termos de “porque não”. Eu À esquerda, ‘top’ em seda Balenciaga e casaco em algodão Proenza Schouler, ambos na Stivali. Calças Raoul, na Fashion Clinic. Sapatos em pele e borracha Christian Dior, na Loja das Meias. Jóias da Gracinha. Em baixo, ‘top’ em renda Valentino, na Stivali. Calças em seda estampada Etro, no Espace Cannelle. Turbante e jóias da Gracinha. À direita, vestido em algodão e seda Isabel Marant, na Fashion Clinic. Sapatos em pele Yves Saint Laurent, na Stivali. Jóias da Gracinha. 12 Fora de Série Fevereiro 2014 já vivi em Macau e tinha uma relação já próxima da Ásia. Para mim é fácil. GV – Nós nisso somos muito fáceis, os dois. É claro que temos ‘jet leg’... e também esperamos que, mais tarde, os nossos filhos não nos cruxifiquem (risos). MVR – Sim. Mas esse foi também um dos factores que pesou na nossa decisão. Achamos que, acima de tudo, o nível de educação que podemos dar ali aos nossos filhos é fantástico. Há ali uma comunidade de expatriados muito grande. Para dar uma ideia, 60% da população de Singapura é formada por expatriados e daí as escolas investirem muito na qualidade dos professores e nas estruturas. Os nossos fi lhos estão numa escola americana e todos os alunos que dali saem, vão logo para as melhores universidades e com uma bagagem óptima. Por exemplo, eles têm aulas de chinês todos os dias, o que já é uma vantagem competitiva para o futu- Moradas: CALZEDONIA: Rua do Carmo, nº 2, Armazéns do Chiado – Lisboa. Tel.: 213431366; ESPACE CANNELLE: Arcadas do Parque, nº 52 H – Estoril. Tel.: 214662141; FASHION CLINIC: Tivoli Forum, Av. da Liberdade, nº 182, loja nº 5 – Lisboa. Tel.: 213549040; GUCCI: Av. da Liberdade, nº 180, Tivoli Fórum – Lisboa. Tel.: 213528401; LOJA DAS MEIAS: Av. Eng. Duarte Pacheco, Centro Comercial Amoreiras, loja 2001 a 2004 – Lisboa. Tel.: 213833786; ROSA E TEIXEIRA: Av. da Liberdade, nº 204 – Lisboa. Tel.: 213110350; STIVALI: Av. da Liberdade, nº 38 B – Lisboa. Tel.: 213805110. ro. E depois é o meio; é toda a segurança que Singapura oferece; são as viagens que se podem fazer ali à volta; é todo um conjunto de condições em que juntamos o útil ao agradável. Mais uma vez, porque não? E a ideia é ficarem quanto tempo? MVR – Não temos regresso marcado. A situação económica que se vive em Portugal também vos deu um empurrão para irem embora? MVR – Não, porque este projecto já existia, felizmente. GV – E, além disso, posso dizer que este último ano que passou foi o melhor de sempre para a Viterbo, desde que a empresa foi fundada pela minha mãe. Portanto, é possível... GV – É possível sim. Mas é um trabalho árduo cujo resultado em muito se deve à nossa equipa, que é realmente excepcional. A sua mãe alguma vez sonhou que a empresa que fundou na década de 70 viria a ter esta dimensão? GV – Acho que sim e também acho que ela o merecia por tudo o que sempre fez. Considero que a minha mãe é uma criadora única. Já nos seus anos de carreira, teve projectos internacionais, fez escritórios em Hong Kong, em Paris, e isto numa altura em que não havia tanto apoio e era tudo muito mais difícil, pelo que só lhe podemos dar muito mais valor. Todo o trabalho de arranque do nosso nome, do nosso ADN, é Graça Viterbo. E como é que a Graça Viterbo está a lidar com isto? GV – Com imenso entusiasmo. Às vezes é um bom ânimo a pessoa ver a empresa que criou ganhar asas. E a minha mãe ainda vem todos os dias ao escritório. MVR – Mas eu acho que quem tem mais entusiasmo ainda é o avô da Gracinha, que tem 100 anos. GV – É verdade, o avô Viterbo. Quer sempre saber tudo, quer que lhe contemos tudo. Este Natal dei-lhe uma ‘t-shirt’ que nós costumamos usar nas montagens e que diz: “Proud to be Viterbo”. Ele ficou tão contente. É um homem dos tempos modernos? GV – Rendido aos computadores e à Internet. E para o Miguel, como é que corre a vida a trabalhar com a mulher e com a sogra? MVR – Corre bem, obviamente. Não vou dizer que é uma relação perfeita, porque isso não existe, mas somos todos adultos e profissionais. Há um bem maior que se impõe e as coisas funcionam. E acho que quando há momentos em que não concordamos com uma direcção ou outra, há sempre que pensar no que é melhor para a empresa e para a família também. Depois, o bom senso impera e isso é o que está acima de tudo. Conseguem, enquanto casal, separar águas? GV – Muitas vezes não separamos. Às vezes damos por nós num jantar a dois a falar de trabalho. Quando gostamos daquilo que fazemos nem nos damos conta. Mas isso também não tem que ser mau, pois não? As pessoas às vezes vêem as coisas ao contrário. Porque é que é mau falar de trabalho num jantar que não é de trabalho, principalmente quando estamos a falar de coisas que são interessantes? Acaba sempre por ser uma conversa interessante. E nem tem que ser com o Miguel. Muitas vezes estou com amigas e acabamos a falar de trabalho. Isso faz parte. E como é que vocês se vêem daqui a dez anos? MVR – Daqui a dez anos acho que estaremos com mais braços a nível de negócios, mas não só na área de decoração... Para já, é tudo o que posso dizer. Portanto, têm novos projectos. MVR – Temos alguns projectos em estudo que não são na área de decoração… GV – ... Mas têm a ver com ela. Está tudo interligado. MVR – Não vamos falar nisso já porque não quero que dê má sorte (risos). Mas acredito que com toda esta criatividade que há dentro desta empresa o céu é o limite. Fevereiro 2014 Fora de Série 13