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DETERMINANTES DA PERCEPÇÃO DA ATMOSFERA DE ESTÁDIO E OS SEUS POSSÍVEIS MODERADORES Wagner Junior Ladeira Fernando Oliveira Santini Clecio Falcão Araujo Elivelton Nagel Finkler 1 2 3 4 RESUMO O presente artigo teve como objetivo analisar os antecedentes da percepção geral da atmosfera de um estádio de futebol, levando em consideração as moderações: “sócios” versus “não sócios” e “número de acompanhantes” no referido ambiente. Para isso, foi realizada uma pesquisa quantitativa com torcedores na Arena do Grêmio. Os dados foram analisados através da análise de trajetória path. Os resultados demonstram a presença de quatro dimensões que influenciam na percepção geral da atmosfera do estádio e o efeito parcial dos moderadores nas relações apresentadas em hipótese. Palavras-Chave: Percepção da atmosfera; Estímulos; Arquitetura de evento. ABSTRACT This paper has as objective to analyse the antecedents of general atmosphere perception in a sports stadium. It will take into account the following moderators: members vs. non-members and number of companions on the stadium. For this, a quantitative research was applied to fans at a recently inaugurated stadium of the Grêmio soccer club called “Arena.” The data was analysed using the Path Analysis. The results show the presence of four dimensions that influence atmosphere perception and the positive partial effects of the moderators in relations presented in hypothesis. Keywords: Atmosphere perception; Stimuli; Event architecture. 1 2 3 4 Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS (e-mail para contato: [email protected]) Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC RS Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUC RS Faculdade SENAC-RS Recebido em 08/09/2014. Revisado em 01/05/2015. Aceito em 25/05/2015. Publicado em 06/07/2015. RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 96 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler 1 INTRODUÇÃO A atmosfera de um estádio está diretamente associada às percepções hedônicas de consumo (BAUER et al. 2005; LEE et al., 2013; UHRICH; KOENIGSTORFER, 2009; WANG; KAPLANIDOU, 2013). Isso decorre do fato de a atmosfera estimular respostas emocionais específicas por parte dos torcedores, gerando a satisfação das necessidades hedônicas (KWAK et al., 2009; ROY; CORNWELL, 2004; UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Muitos patrocinadores associam suas marcas à atmosfera de um estádio, porque sua exposição neste local aumenta a eficiência da publicidade e ajuda no posicionamento emocional das marcas. (CHRISTENSEN, 2006). Sendo assim, os estádios de futebol constituem um campo fértil para investigar-se esta relação entre atmosfera e percepção hedônica. Vários estádios de futebol espalhados pelo mundo (por exemplo: Rungrado May Day Stadium - Pyongyang, Coreia do Norte; Salt Lake Stadium - Calcutá, Índia; Azadi Stadium - Teerã, Irã; Estádio Azteca - Cidade do México, México; Camp Nou - Barcelona, Espanha; FNB Stadium/Soccer City - Johanesburgo, África do Sul; Estádio do Maracanã - Rio de Janeiro, Brasil; Wembley Stadium Londres, Reino Unido) procuram criar valor de consumo através da atmosfera de seus eventos esportivos. Devido a esse crescente uso estratégico da atmosfera dos estádios, vários estudos recentes de marketing esportivo (CHARLESTON, 2008; FLEMMING et al., 2005; HIGHTOWER et al., 2002; KWAK et al., 2009; LEE et al., 2013; UHRICH; BENKENSTEIN, 2010; WANG; KAPLANIDOU, 2013) têm procurado entender os estímulos que afetam a percepção hedônica neste ambiente. Em um desses trabalhos, Uhrich e Benkenstein (2010) desenvolveram uma escala com quatro dimensões (estímulos evocados pelos organizadores de estádio, estímulos evocados pela torcida no estádio, estímulos evocados pelo jogo e a arquitetura do estádio) para avaliar os estímulos na atmosfera de estádios. Os achados desse trabalho indicam relações positivas das quatros dimensões no ambiente investigado. A partir delas pode-se pensar que existam variáveis moderadoras as quais poderão afetar as relações testadas por Uhrich e Benkenstein (2010). Uma variável moderadora é aquela que afeta a direção ou a força das relações entre as variáveis independentes (no caso desse estudo, as quatro dimensões) e a variável dependente (atmosfera do estádio). Nesse contexto, o presente artigo pretende analisar as quatro relações identificadas no trabalho de Uhrich e Benkenstein (2010) utilizando duas variáveis moderadoras: (i) sócios versus não sócios e (ii) número de acompanhantes no estádio (baixo versus alto). Esses dois moderadores estão associados às teorias pautadas em valores de consumo (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) e em impacto social (LATANÉ, 1981; LATANÉ; WOLF, 1981). Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo analisar os RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 97 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores antecedentes da percepção geral da atmosfera levando em consideração as moderações: “sócios” versus “não sócios” e “torcedores que vão com muitos outros torcedores” versus “torcedores que vão com poucos torcedores” ao estádio. Para isso, foi realizado um estudo no estádio de futebol do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, denominado de Arena do Grêmio. A Arena do Grêmio, administrada pela OAS Arenas, é considerada o mais moderno complexo multiuso da América Latina e foi inaugurada no dia 08 de dezembro de 2012, com capacidade para 60.540 torcedores. Para alcançar o objetivo proposto, realizou-se um estudo descritivo quantitativo junto a duzentos torcedores que já assistiram a jogos na Arena do Grêmio. Na coleta de dados, foram obtidas respostas sobre os antecedentes da percepção da atmosfera geral do estádio e os possíveis efeitos moderados. Logo após, testaram-se o modelo proposto e as hipóteses, finalizando com as principais conclusões e considerações finais sobre o estudo. 2 REFERENCIAL TEÓRICO As pesquisas sobre atmosfera no contexto de marketing concentramse na investigação do impacto dos estímulos do ambiente sobre os comportamentos internos e externos dos consumidores (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). A influência da atmosfera do ambiente na percepção e no comportamento do consumidor é um tópico que vem recebendo atenção na literatura desde o início dos anos 1970, com a introdução do conceito de “atmosfera” (atmospherics), trazido por Kotler (1973) em seu trabalho denominado “Atmospherics as a Marketing Tool”. Desde então, a literatura de sobre a influência da atmosfera tem dado ênfase a estudos teóricos e empíricos baseados em aspectos comportamentais e percepções de consumidores, oriundos de sua interação com as variáveis atmosféricas presentes no ambiente. Dentro dessa linha de interpretação, a teoria dominante parte do estudo seminal de Mehrabian e Russel (1974) os quais propuseram o modelo denominado SOR (Stimulus-Organism-Response). Esse modelo sugere que a intensidade do estímulo, num ambiente específico, excita reações emocionais que tendem a provocar um comportamento de aproximação ou evitação daquele ambiente. Nesse caso, segundo os autores, a predisposição individual irá moderar a relação entre os elementos do ambiente e o resultado sobre o estado emocional do indivíduo. Consolidando o modelo sugerido por Mehrabian e Russel (1974), Donovan e Rossiter (1982) testaram-no e proporcionaram evidências empíricas de que prazer, excitação e dominação derivadas do ambiente, influenciam resultados positivos para as empresas, uma vez que estas sensações proporcionam maior prazer de fazer compras, maior tempo gasto no ambiente das lojas, mais disponibilidade para conversar com os RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 98 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler vendedores, maior probabilidade de retornar às lojas e, consequentemente, mais disponibilização para gastos. Mais recentemente, entre o final dos anos 1980 e início dos 1990, Baker (1987) e Bitner (1992) avançaram a abordagem do conceito, ampliando seu entendimento para o contexto de serviços, e propondo que a formação deste incluiria fatores do ambiente, do design e fatores sociais (BAKER, 1987), ou similarmente, na visão de Bitner (1992), se daria por meio da interação entre condições ambientais, espaço e sinais/símbolos/artefatos. Nos referidos estudos, atesta-se que os ambientes das lojas desempenham um papel fundamental para a disposição a gastar. Levando a teoria de Bitner (1992) para o contexto esportivo, Wakefield e Blodgett (1994) encontram relação positiva e significativa entre a percepção de qualidade de um estádio e a excitação emocional do consumidor. Dois anos mais tarde, Wakefield et al (1996) reforçaram os resultados detectados anteriormente. 2.1 A atmosfera de um estádio e seus antecedentes A atmosfera do ambiente tem sido objeto de repetidos estudos no contexto esportivo (HIGHTOWER et al., 2002; KELLEY; TURLEY, 2001; UHRICH; BENKENSTEIN, 2010; UHRICH; KOENIGSTORFER, 2009). Uma das razões para esse constante interesse, está pautada na proposição de que o esporte promove com mais facilidade – em comparação a um ambiente mercadológico convencional – reações de cunho emocional (LEE et al., 2013). O crescimento dos estudos sobre a atmosfera nos eventos esportivos está diretamente relacionado com a exposição cada vez maior da emoção dos visitantes e ao fato desta auxiliar a satisfação das necessidades de consumo hedonista (CHRISTENSEN, 2006). Na visão de Uhrich e Benkenstein (2010), a atmosfera de um estádio é formada por percepções do estímulo do ambiente e por respostas afetivas dos espectadores, ou seja, nesse caso, a atmosfera tem dois atores, a organização e os torcedores, sendo a primeira responsável por ativar as reações dos segundos. No referido estudo, propõese um modelo teórico formado por variáveis que causam a percepção geral sobre a atmosfera de um estádio e, como consequência, provocam estados afetivos de alta excitação e prazer. Nesse contexto, as variáveis produtoras da atmosfera do estádio, também denominadas de estímulos objetivos, são provenientes da organização, do espectador, do jogo e, por fim, da arquitetura do estádio, e são elas as causadoras de sentimentos subjetivos a respeito da atmosfera geral do estádio. Na perspectiva dos autores, o estímulo evocado pelos organizadores refere-se à iniciativa dos mesmos de emitir sons visando a excitar os espectadores, tais como a utilização de sons relacionados ao time em questão – por exemplo, um hino, uma narração que incentiva interação junto aos torcedores, como é o caso da escalação do time da casa e do visitante, além de anúncio dos autores dos possíveis gols RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 99 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores anotados pelos donos da casa. Especificamente no Brasil, e no estádio em pauta neste estudo, os organizadores estimulam a participação através das escalações das equipes e com cânticos associados ao hino do clube, hino nacional e hino regional. Nesse contexto, acredita-se que os estímulos promovidos pelos organizadores terão impacto nas percepções subjetivas com relação à atmosfera do estádio, as quais resultarão numa alta excitação do espectador. Tal suposição se baseia na proposição de que o elemento objetivo da atmosfera, nesse caso, a iniciativa dos organizadores, terá a capacidade de interagir com os torcedores, pois vários estudos evidenciam que os elementos do ambiente, design e os atores sociais têm impacto sobre esta reação (BITNER, 1992; HIGHTOWER et al., 2002; UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). A partir disto, surge a primeira hipótese a ser testada: H1 – Os estímulos evocados pelos organizadores de estádio de futebol impactarão positivamente na percepção geral da atmosfera do estádio. Outra dimensão estudada, o estímulo evocado pelos torcedores, tem como base a reflexão sobre utilização de produtos do clube durante a estada no estádio, a realização de coreografias da torcida, o entrosamento para realização de cânticos de incentivo e estímulo aos jogadores, a reação perante a marcação de um gol, assim como o esforço contínuo para dar apoio à equipe detentora do estádio (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Estudos como os desenvolvidos por Wakefield e Blodgett (1994) e Madrigal (1995) detectaram relações positivas entre satisfação e estímulos provocados pelos torcedores. Em outra pesquisa, Wakefield e Blodgett (1999) ressaltaram o efeito significativo desse comportamento na intenção de retornar ao estádio. Interessante observar que o ambiente do estádio, especificamente no contexto estudado, proporciona a reunião de pessoas das mais diferentes características socioculturais. Em contrapartida, por haver um objetivo comum - que é o de torcer para o time dono do estádio - os comportamentos se tornam homogêneos em busca de um único propósito (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Com base nisso, pode-se sugerir que o estímulo suscitado pelo torcedor impactará positivamente o estímulo subjetivo da atmosfera do estádio (percepção geral), conforme propõe a hipótese exposta a seguir: H2 – Os estímulos evocados pela torcida no estádio de futebol impactarão positivamente na percepção geral da atmosfera do estádio. O causada evocada embate terceiro antecedente do estímulo subjetivo do estádio é a ação pelo jogo de futebol. Nesta, está a percepção resultante da emoção pelo jogo e pela predisposição da equipe da casa em ganhar o (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Numa pesquisa qualitativa RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 100 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler efetivada por Hightower et al (2002), os entrevistados ressaltaram a importância desta dimensão na formação da percepção da atmosfera geral do estádio. Reforçando essa suposição, Kelley e Turley (2001) realizaram estudo para avaliar a percepção de qualidade do serviço em eventos de esporte, detectando que a experiência com o jogo é um dos fatores mais importantes para formação desta percepção. Em resultado similar, Yoshida e James (2011) encontraram novamente a atmosfera do jogo como formadora da percepção de qualidade para um evento esportivo. Dessa forma, é factível sugerir que: H3 – Os estímulos evocados pelo jogo de futebol impactarão positivamente na percepção geral da atmosfera do estádio. Por fim, o último antecedente sugerido para a formação da percepção geral da atmosfera do estádio é a arquitetura. Nessa última, incluem-se as percepções dos torcedores a respeito da acústica e das acomodações no ambiente (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Salienta-se, neste caso, uma mudança de cultura no futebol brasileiro a respeito da estrutura dos estádios. A concepção da Arena do Grêmio insere-se nessa mudança cultural, uma vez que, ao contrário da estrutura antiga (Olímpico Monumental), todas as suas acomodações estão dentro das exigências da Federação Internacional de Futebol – FIFA – que levam em consideração, conforme amplamente divulgado, os elementos de acústica e acomodações. Uma boa arquitetura do estádio, pautada nos dois aspectos citados anteriormente, facilitará uma avaliação positiva da atmosfera geral, por proporcionar uma sensação de maior participação no espetáculo, desencadeando, consequentemente, sensações de excitação e prazer (UHRICH; BENKENSTEIN, 2010). Dado esse que também é ressaltado como elemento formador de sentimentos hedônicos promovidos por meio do esporte (HIGHTOWER et al., 2002) e para formação da percepção de qualidade do serviço prestado nesse contexto (YOSHIDA; JAMES, 2011). A partir disso, segue a hipótese a ser testada: H4 – A arquitetura do estádio impactará positivamente na percepção geral da atmosfera do estádio. 2.2 A atmosfera de um estádio e seus moderadores No presente trabalho, foram propostas também variáveis moderadoras que poderiam minimizar ou maximizar as relações diretas apresentadas em hipóteses (H1 a H4). A primeira diz respeito ao fato de o torcedor ser sócio ou não do clube de futebol analisado no estudo (Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense). As hipóteses que serão apresentadas tomam como base a teoria de valores de consumo (hedônico versus utilitário). O conceito de consumo hedônico foi introduzido por Hirschman e Holbrook (1982), quando RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 101 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores relacionaram esse construto ao envolvimento multissensorial e emotivo que, por sua vez, está vinculado às experiências dos consumidores e aos produtos ou serviços. Seguindo esse raciocínio, identificaram-se duas diferentes categorias de consumo: utilitário e hedônico. O consumo utilitário tem um enfoque mais racional, é motivado pela necessidade, e está conceitualmente relacionado com parcimônia. O consumo hedônico, por sua vez, é caracterizado pela busca de satisfação de um desejo, expressa em um consumo experiencial. De qualquer forma, para Bardhi e Arnould (2005), o consumo pode assumir as duas dimensões – utilitária e hedônica, sendo a primeira associada a aspectos racionais e, a segunda, a emocionais. Tomando como base a proposição pautada – de que quanto mais contato o consumidor tiver com o ambiente de consumo mais utilitário ele se tornará (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) - é factível sugerir que o torcedor sócio, por ter como principal benefício a entrada franca no estádio do seu time de coração, assistirá com maior frequência aos jogos in loco. Portanto, este consumidor teria mais aguçadas as percepções utilitárias, e menos, as hedônicas. Levando em consideração os antecedentes provenientes dos estímulos objetivos da atmosfera do ambiente, pode-se supor que os elementos evocados pela organizadora, torcida e jogo são compostos, essencialmente, por aspectos hedônicos, enquanto que o estímulo provido pela estrutura poderá demandar mais sentimentos utilitários. Por esta razão, sugere-se que: H5 – A associação do torcedor moderará a relação entre os estímulos objetivos do estádio de futebol (antecedentes) e os sentimento subjetivos de avaliação geral da atmosfera, sendo que: H5a – A relação entre estímulos dos organizadores e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais fraca (forte) para os torcedores sócios (não sócios). H5b – A relação entre estímulos dos torcedores e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais fraca (forte) para os torcedores sócios (não sócios). H5c – A relação entre estímulos do jogo e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais fraca (forte) para os torcedores sócios (não sócios). H5d – A relação entre estímulos da arquitetura e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais forte (fraca) para os torcedores sócios (não sócios). Finalizando a análise de possíveis moderadores que possam alterar as relações diretas hipotetizadas, insere-se na pauta do estudo, a variável “número de acompanhantes na ida ao estádio”, pois as interações entre consumidores podem melhorar ou piorar uma experiência de consumo (SÖDERLUND, 2011). Assume-se, nesta pesquisa, a teoria de impacto social idealizada por Latané (1981), a qual propõe a determinação da influência sobre outras pessoas com base em três pilares: a) força: significa a relevância; b) imediatismo: tem como suporte a proximidade no espaço ou RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 102 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler tempo; c) número: tem como base o número de pessoas que existem. Buscando suporte na teoria citada, espera-se que quanto maior o número de acompanhantes, menores serão as reações frente às associações diretas exibidas em hipótese. Tal proposição se sustenta na premissa de que, quanto maior for o número de companheiros a assistir ao jogo de futebol no estádio, maior será o número de alvos a receberem os estímulos e, como consequência, menor o efeito desses últimos, pois o impacto social, composto pela força, imediatismo e número, será dividido entre os alvos (LATANÉ, 1981; LATANÉ; WOLF, 1981). Dessa forma, sugere-se que: H6 – O número de acompanhantes no estádio moderará a relação entre os estímulos objetivos do estádio de futebol (antecedentes) e os sentimentos subjetivos de avaliação geral da atmosfera, sendo que: H6a – A relação entre estímulos dos organizadores e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais forte (fraca) para os torcedores menos (mais) acompanhados. H6b – A relação entre estímulos dos torcedores e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais forte (fraca) para os torcedores menos (mais) acompanhados. H6c – A relação entre estímulos do jogo e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais forte (fraca) para os torcedores menos (mais) acompanhados. H6d – A relação entre estímulos dos organizadores e percepção geral da atmosfera do estádio de futebol será mais forte (fraca) para os torcedores menos (mais) acompanhados. Resumindo as hipóteses deste artigo, a figura de número 01 apresenta o modelo teórico a ser testado. Figura 01 - Modelo teórico a ser testado Fonte: os autores RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 103 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores 3 DESIGN METODOLÓGICO Este estudo é uma pesquisa de natureza descritiva quantitativa, tendo como amostra os torcedores do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense que já frequentaram o estádio da Arena. A pesquisa descritiva quantitativa, caracteriza-se por descrever comportamentos e atitudes (MALHOTRA, 2011). Optou-se por selecionar os torcedores da referida agremiação, devido ao fato de esta última ter inaugurado seu novo estádio em dezembro de 2012. A Arena tem instalações que são consideradas de última geração. O clube, ao se transferir para a Arena, parou de jogar no seu antigo estádio, denominado de Estádio Olímpico Monumental, que funcionou entre os anos de 1954 e 2012. Para a coleta das informações necessárias à análise, o instrumento de pesquisa continha uma única pergunta associada a cada uma das questões relacionadas às dimensões: (i) estímulo provocado pelos organizadores, (ii) estímulo proveniente dos torcedores, (iii) estímulo do jogo de futebol, (iv) estímulo da arquitetura do estádio e (v) percepção geral da atmosfera do estádio. As quatro primeiras dimensões, também chamadas de objetivas, foram consideradas as preditoras do modelo hipotetizado, e a última dimensão, denominada de subjetiva, foi utilizada como variável dependente. Todas as questões foram extraídas e adaptadas do estudo de Uhrich e Benkenstein (2010). Ademais, o questionário continha perguntas associadas a dados sociodemográficos e comportamentais como, por exemplo, renda, sexo, meio de transporte de ida aos jogos, número de pessoas que costumam ir juntas aos jogos, percepção de conforto com o estádio, ser sócio ou não do clube, entre outros. O instrumento de coleta continha inicialmente um cabeçalho e, logo após, as quatro dimensões objetivas, seguidas da dimensão subjetiva. Todas as variáveis observáveis das cinco dimensões eram mensuradas através de uma escala de cinco pontos que variava de 1 (discordo plenamente) a 5 (concordo plenamente). Ao término do instrumento, os respondentes respondiam as perguntas associadas a dados sociodemográficos e comportamentais. Foram aplicados, ao todo, 200 (duzentos) questionários junto a torcedores gremistas que já foram assistir jogos na Arena do Grêmio. A técnica de amostra utilizada caracteriza-se por ser de natureza não probabilística por conveniência na qual o critério de seleção se dá pela facilidade de acesso do pesquisador com os respondentes (MALHOTRA, 2011) Antes da aplicação final do instrumento de pesquisa, houve uma etapa de pré-teste onde 10 (dez) elementos, com as características amostrais, analisaram e responderam o referido instrumento. Nessa ocasião, examinouse a possibilidade de existirem questões passíveis de ser mal interpretadas, fato esse não detectado entre os respondentes. Destaca-se que os mesmos não foram incluídos na etapa de análise final. Ademais, o questionário foi submetido à validade de face realizada por dois experts da área de marketing esportivo. RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 104 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler Ultrapassadas essas etapas, o instrumento de pesquisa foi aplicado à amostra final. Uma vez coletados os dados, os mesmos foram tabulados e analisados por meio de análise estatística de path analysis (análise de trajetórias) através da qual foi possível obter os coeficientes de regressão das relações diretas e moderadoras através da modelagem multigrupos. Nos modelos path analysis, assume-se que as variáveis independentes e dependentes preditoras podem ser medidas sem erro. São considerados erros de mensuração das variáveis dependentes, diferentemente dos erros associados à modelagem de equações estruturais. 4 ANÁLISE DOS RESULTADOS Para alcançar o objetivo proposto neste artigo, a análise de resultados foi segmentada em quatro partes: (i) estatísticas descritivas; (ii) interpretação das relações diretas H1 a H4; (iii) interpretação dos moderadores: “sócio” versus “não sócio”; (iv) interpretação dos moderadores: “mais acompanhantes” versus “menos acompanhantes”. 4.1 Estatísticas descritivas Através da análise estatística descritiva dos 200 questionários respondidos, identificou-se que a maior parte dos torcedores, 92%, encontrase abaixo dos 35 anos, grande parte é assalariada com ensino superior completo (84%), cerca de 80% são do sexo masculino. Por ser tratar de um esporte que desperta grandes sentimentos nos brasileiros, em termos relativos, a maioria dos torcedores frequenta o estádio desde a sua inauguração - cerca de 75% dos entrevistados. Esses dados evidenciam o público alvo do estudo. 4.2 Interpretação das relações diretas H1 a H4 Inicialmente, faz-se necessário entender as relações existentes nas quatro hipóteses. Na tabela 01, apresenta-se o teste das hipóteses que previam relações diretas entre experiência de consumo proporcionada pelo lado objetivo da atmosfera dos estádios (organizadores, torcedores, jogo e arquitetura) e seu consequente lado subjetivo (percepção da atmosfera). Na primeira hipótese (H1), a previsão é de que o estímulo objetivo da atmosfera provocado pelos organizadores impactaria positivamente na percepção da atmosfera geral do estádio. Fato este confirmado (β = 0,179; p < 0,01) por meio da análise efetivada. Dessa forma, tem-se confirmada a hipótese H1. A segunda hipótese previa a existência de uma relação positiva e significativa da influência do estímulo objetivo dos torcedores nas RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 105 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores avaliações subjetivas da atmosfera dos estádios (percepção geral). Observase, novamente, a confirmação da hipótese H2 (β = 0,174; p < 0,01). Tabela 01 –Teste de hipóteses – Relações diretas CONSTRUTOS Estimulo Estimulo Estimulo Estimulo dos organizadores → Atmosfera dos torcedores → Atmosfera do jogo→ Atmosfera da arquitetura → Atmosfera Coeficiente de regressão 0,179 0,174 0,304 0,338 Desvio padrão Z pvalue Hipóteses 0,052 0,073 0,044 0,038 2,958 2,871 5,009 5,581 * * *** *** H1 H2 H3 H4 Fonte: Dados da pesquisa / Notas: (***) p< 0,001; (*) p < 0,01 Em relação à hipótese H3, sugeriu-se uma relação positiva e significativa entre o estímulo objetivo da atmosfera do jogo de futebol e o estímulo subjetivo de percepção geral da atmosfera da Arena do Grêmio. Através da análise realizada, encontrou-se sustentação estatística para a relação proposta na H3 (β = 0,304; p < 0,001). Por fim, testou-se a hipótese H4, segundo a qual se esperava uma relação entre estímulo objetivo da arquitetura do estádio e estímulo subjetivo sobre a atmosfera (percepção geral da atmosfera da Arena do Grêmio). Os resultados apontaram uma relação positiva e significativa (β = 0,338; p < 0,001), trazendo confirmação para a hipótese H4. A partir dos resultados apresentados, observam-se relações positivas e significativas entre os estímulos objetivos do ambiente, compostos pelos elementos da organização, torcedores, jogo e arquitetura, e a avaliação geral da atmosfera do estádio de futebol, neste caso, a Arena do Grêmio tomada como objeto de estudo. Na figura 02, é demonstrado o modelo teórico testado, contendo a força das relações diretas. Academicamente, os achados consolidam a teoria apresentada por Uhrich e Benkenstein (2010) os quais propõem que a atmosfera de um estádio esportivo é formada por percepções provenientes do ambiente e por respostas afetivas dos consumidores, neste caso, dos espectadores. RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 106 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler Figura 2: Teste das hipóteses H1 à H4 Fonte: os autores 4.3 Interpretação dos moderadores: “sócio” versus “não sócio” Fazem parte dos objetivos deste estudo realizar teste de variáveis que sejam potenciais moderadoras das relações diretas hipotetizadas. Para isso, utilizou-se a modelagem de equações estruturais multigrupos, através da qual é possível estabelecer a categorização de uma variável (nominal ou ordinal) em dois ou mais grupos, que são classificados como hipótese moderadora (KRULL; MACKINNON, 2001). Primeiramente, avaliou-se a possível relação moderadora de ser sócio (n=87) ou não (n=113) do clube de futebol. A separação, para esta situação, deu-se a partir da dicotomização da referida variável (ser sócio ou não ser sócio). Feita a separação, e tendo como foco testar o efeito moderador sugerido, estimaram-se os parâmetros simultaneamente para cada grupo. Em seguida, procedeu-se à análise de Aiken e West (1991), na qual se utiliza o coeficiente não padronizado em uma plotagem para visualização da possível interação. Esse teste envolve dividir o moderador em um grupo mais alto (dois desvios padrões maior que a média) e um grupo reduzido (dois desvios padrões a menos que a média). Nesse caso, o slope e o intercepto da regressão dos “estímulos objetivos da atmosfera” sobre os “estímulos subjetivos” dependem dos valores assumidos pelo moderador “ser ou não ser sócio do clube de futebol” (WEST et al., 1996). A figura 03 apresenta os resultados, ou seja, o efeito moderador dos estímulos objetivos (organizadores, torcedores, jogo e arquitetura do estádio) no estímulo subjetivo da atmosfera do estádio – hipóteses H5a e H5d, respectivamente. Num primeiro momento, podem ser observadas interações significativas aparentes para as hipóteses H5a e H5d. Em contrapartida, a moderação sugerida nas hipóteses H5b e H5c, ilustradas na figura 03 (canto RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 107 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores superior direito e inferior esquerdo, respectivamente) revela uma interação sutil. Observando os índices estatísticos da análise efetivada, nota-se significância estatística para o efeito moderador “sócio; não sócio” na relação “estímulo dos organizadores” e “estímulo subjetivo da atmosfera” (Sócio: β = 0,053; p = 0,509; Não sócio: β = 0,332; p < 0,001; χ2< 0,05) o que corrobora a proposição da hipótese H5a. Encontra-se, também, confirmação para a hipótese H5d, a qual previa o referido efeito moderador na relação “estímulo da arquitetura” e “estímulo subjetivo da atmosfera” (Sócio: β = 0,304; p < 0,001; Não sócio: β = 0,100; p = 0,058; x2 < 0,05). Figura 03: Teste das hipóteses H5a à H5d Fonte: os autores Diferentemente, não foram confirmadas as suposições das hipóteses H5b e H5c. A primeira previa uma moderação em relação ao sentimento de ser ou não ser sócio, e a relação entre “estímulo do torcedor” e “estímulo subjetivo da atmosfera” e, a segunda, na relação “estímulo do jogo” e “estímulo subjetivo da atmosfera”. Os testes efetivados não demonstram existir diferença estatística de forças nas relações hipotetizadas (H5b; Sócio: β = 0,042; p =0,570; Não sócio: β = -0,044; p = 0,367; x2 = 0,564; H5c; Sócio: β = 0,326; p < 0,001; Não sócio: β =0,265; p < 0,001; x2 = 0,400). Em suma, das quatro relações hipotetizadas, duas foram confirmadas. Portanto, os resultados sustentam parcialmente a proposição de que quanto maior o vínculo com o clube, mais aguçadas serão as percepções utilitárias em detrimento das percepções hedônicas. Dentre as relações corroboradas, nota-se que o grau de relacionamento (ser ou não sócio) com o clube fez com que o consumidor não sócio exibisse uma relação mais forte entre o estímulo evocado pelos organizadores e a percepção geral da atmosfera do ambiente do estádio. Este achado ratifica a suposição de que a percepção hedônica, RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 108 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler neste caso potencializada pelo fato de o torcedor não frequentar o estádio rotineiramente, permitirá uma maior absorção deste estímulo sensorial provocado pelos organizadores do espetáculo (UHRICH; BENKESTEIN, 2010). 4.4 Interpretação dos moderadores: “mais acompanhantes” versus “menos acompanhantes” A segunda variável moderadora analisada foi o número de pessoas que costumam acompanhar os respondentes. Utilizando o software PASW 18.0® foi possível separar o universo amostral em dois grupos, sendo o primeiro, correspondente às pessoas que vão com o menor número de acompanhantes, de um a três (n=94) e, o segundo, o dos torcedores que costumam ir acompanhados com um número maior de pessoas, acima de quatro (n=103). Utilizando o mesmo método apresentado anteriormente, a figura 4, apresenta os resultados encontrados. Figura 04: Teste das hipóteses H6a à H6d Fonte: os autores Avaliando a figura 4 exibida acima, e tomando como base os testes realizados, detecta-se significância estatística para as hipóteses H6a e H6d. Na hipótese H6a, que foi confirmada, observa-se uma força maior na relação “estímulo organizadores” e “estímulo subjetivo da atmosfera” para aquelas pessoas que costumam ir com um número menor de pessoas ao estádio (Menos acompanhantes: β = 0,316; p < 0,001; Mais acompanhantes: β = 0,061; p = 0,401; x2 < 0,05). Na hipótese H6d, também confirmada, observa-se novamente o mesmo comportamento (Menos acompanhantes: β RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 109 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores = 0,288; p < 0,001; Mais acompanhantes: β = 0,118; p < 0,05; x2 < 0,05). As hipóteses não confirmadas H6b e H6c não corroboraram as proposições de que o número de pessoas seria um moderador nas relações, torcedores e jogo, respectivamente, no estímulo subjetivo da atmosfera (H6b; Menos acompanhantes: β = 0,023; p =0,723; Mais acompanhantes: β = -0,072; p = 0,175; x2 = 0,515; H6c; Menos acompanhantes: β = 0,184; p < 0,001; Mais acompanhantes: β =0,320; p < 0,001; x2 = 0,925). Novamente, detectou-se confirmação parcial para as suposições, uma vez que é encontrado efeito moderador nas relações das hipóteses H6a e H6d. Interessante observar, primeiramente, que os efeitos moderadores foram significativos para as mesmas relações detectadas em relação ao efeito moderador da associação do torcedor. Isso faz crer que os elementos objetivos da atmosfera, provenientes dos estímulos dos organizadores e da estrutura do estádio, são os mais suscetíveis à interferência de elementos que possam potencializar ou minimizar a relação com a avaliação geral da atmosfera do ambiente, dentro do contexto estudado. Refletindo especificamente sobre as hipóteses H6a e H6d, reforça-se a teoria de Latané (1981) que propõe uma correlação negativa entre o número de pessoas e a absorção dos estímulos lançados pelo ambiente. Na prática, os resultados abrem possibilidades para pensar a respeito da diferenciação que pode ser criada para evocação de estímulos a serem direcionados a públicos que costumam ir em grandes grupos, assim como para aqueles que costumam ir sós ou com um número reduzido de amigos. Com isso, será possível obter resultados mais positivos em relação à avaliação geral do estádio e, consequentemente, em longo prazo, no aumento de consumo no ambiente e de relacionamento com o clube. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho analisou os antecedentes da percepção geral da atmosfera de ambiente, aplicados ao contexto do estádio de futebol Arena do Grêmio. Além disso, foram avaliados possíveis moderadores associados ao relacionamento com o clube e, ainda, ao número de acompanhantes na ida aos jogos. De uma forma geral, o estudo aqui proposto procurou contribuir para um melhor entendimento a respeito de comportamentos relacionados à atmosfera de ambiente e sua relação com o contexto investigado. Ainda assim, o estudo encontra limitações metodológicas, detectadas ao longo do trabalho. As primeiras limitações que podem ser destacadas dizem respeito à técnica de amostragem utilizada. A técnica de amostragem não probabilística não permite atribuir os resultados de forma generalizada dentro da população investigada. Sendo assim, pode-se sugerir a aplicação de pesquisas com técnicas de amostragem probabilística, permitindo generalização para a amostra utilizada. O fato de o estudo ter avaliado somente uma Arena não RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 110 Wagner Junior Ladeira, Fernando Oliveira Santini, Clecio Falcão Araujo & Elivelton Nagel Finkler permite generalização a respeito deste novo tipo de estádio que vem sendo disseminado no território brasileiro. Nesse sentido, seria interessante a aplicação deste estudo a torcidas e estádios diferentes do analisado. Apesar das limitações destacadas, espera-se que este trabalho tenha vindo a contribuir para um melhor e maior entendimento das influências do ambiente exercida sobre o torcedor de futebol, fomentando novas discussões teóricas a respeito do assunto, assim como, contribuir com os gestores de clubes de futebol para um melhor planejamento. 5.1 Implicações acadêmicas No âmbito acadêmico, o estudo proporciona maior corpo para o conhecimento a respeito da investigação da atmosfera de ambiente, assunto ressaltado como relevante (p. ex. KELLEY; TURLEY, 2001; HIGHTOWER et al., 2002; UHRICH; BENKESTEIN, 2010; LEE et al., 2013), amplificando a reflexão sobre os efeitos moderadores referenciados anteriormente, aos quais se associam as teorias de valores de consumo (HIRSCHMAN; HOLBROOK, 1982) e do impacto social (LATANÉ, 1981; LATANÉ; WOLF, 1981) O presente estudo fornece, com base teórica, uma revalidação de modelo aplicado com fatores que interferem na percepção de ambiente de estádios por torcedores, unificando, dessa forma, o entendimento das relações funcionais acerca dos fatores relacionados e, acrescentando dois moderadores (“sócio” versus “não sócio” e “mais acompanhantes” versus “menos acompanhantes”). 5.2 Implicações gerenciais No contexto gerencial, o estudo se propõe a contribuir com novos subsídios aos gestores, para o planejamento e execução ideal dos elementos que podem aperfeiçoar a avaliação geral da atmosfera do ambiente de um estádio e, assim, possibilitar melhores e maiores rendimentos para os clubes de futebol. Espera-se que os dados encontrados possam auxiliar no desenvolvimento de ações que venham a potencializar o sentimento positivo associado à atmosfera geral do estádio de futebol, o qual, por sua vez, terá impacto em resultados financeiros significativos para o clube e a administradora do empreendimento. No caso da validação dos construtos, gerencialmente, pode-se aplicar os achados para refletir sobre possibilidades na criação de cenários capazes de proporcionar uma maior integração entre o ambiente e torcedores. As estruturas tecnologicamente avançadas das novas Arenas poderiam potencializar essas ações, por exemplo, utilizando os telões com imagens de partidas marcantes do passado ou de atividades realizadas pelo clube no decorrer da semana, ou ainda, promoções associadas à projeção da imagem RASM, Alvorada, ano 5, n.1, p.95-114, jan. /jun. 2015. 111 Determinantes da percepção da atmosfera de estádio e os seus possíveis moderadores de determinados torcedores, como é comum em eventos realizados no exterior. Além disso, outras atividades e estratégias podem ser elaboradas para a criação de uma atmosfera propícia à integração, antes, durante e após a realização das partidas de futebol. Na moderação “sócio” versus “não sócio”, gerencialmente se abrem possibilidades para criação de ações voltadas a potencializar os estímulos sensoriais evocados pelos organizadores para que os consumidores não frequentes possam ter uma percepção geral cada vez mais positiva da atmosfera do estádio, de modo a terem o anseio de assistir com mais frequência aos jogos in loco. Com isso, ampliam-se as possibilidades para criação de um vínculo maior com o clube, inclusive podendo impactar no crescimento do número de associados. Em compensação, na dimensão de avaliação que demanda percepções mais utilitárias, como é o caso da arquitetura do estádio, notou-se que a relação entre este quesito e a avaliação geral da atmosfera do ambiente foi mais forte para os torcedores de maior vínculo, ou seja, os sócios. No caso da moderação “mais acompanhantes” versus “menos acompanhantes”, gerencialmente é preciso pensar a respeito da diferenciação que pode ser criada para evocação de estímulos a serem direcionados a públicos que costumam ir em grandes grupos, assim como, àqueles que costumam ir sozinhos ou com um número reduzido de amigos. Nesse contexto, clubes e gestores poderão obter mais resultados positivos em relação à avaliação geral do estádio. REFERÊNCIAS AIKEN, L.S., WEST, S.G. Multiple regression: Testing and interpreting interactions. Sage Publications, 1991. BAKER, J. Role of the Environment in Marketing Services: The consumer perspective. In: James C. A. (Eds.).The Services Challenge: Integrating for Competitive Advantage. Chicago: American Marketing Association, 1987. p. 79-84. BARDHI, F., ARNOULD, E.J. Thrift shopping: combining utilitarian thrift and hedonic treat benefits. Journal of Consumer Behaviour, v. 44, p. 223233, 2005. BAUER, H.H., SAUER, N.E., EXLER, S. 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