maio / junho 2016 revist a mensal de tendências e guia

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maio / junho 2016 revist a mensal de tendências e guia
REVISTA MENSAL DE TENDÊNCIAS E GUIA CULTURAL GRATUITO. NÚMERO 115. MAIO / JUNHO 2016
115
DIF EM VERSÃO PARA IPAD
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ao website da DIF em www.difmag.com
com o teu iPad.
LICENÇA CRIATIVA
Nesta edição rodeámo-nos de pessoas livres como a Salóme que anda pelo mundo atrás de uma boa
história, o António que para além do seu day job se diverte à grande a fazer festas e a promover músicos, o
José que decidiu arriscar numa linguagem que não é sua especialidade, a Débora que sonha poder oferecer
ao mundo parte da sua intimidade. O que nos faz avançar na criação de algo? E como se ultrapassa o medo
da mediocridade, da crítica dos pares, da recepção junto do público? Como conseguir produzir mantendo a
liberdade criativa? Esta será provavelmente uma dúvida comum a quem cria algo. É verdade que a liberdade
criativa é muitas vezes referida e ainda mais vezes oferecida mas será que a usamos realmente? À primeira vista
parece tratar-se de não ter obstáculos à criação, quando muito mais profundo e fértil seria conseguir materializar
em arte, escrita, design ou qualquer outro campo criativo, o que trazemos em nós de único. Sem medo de
arriscar, sem se balizar por esse monstro chamado bom gosto, em que o agradável à vista é tido como essencial.
Quando o sucesso é medido em likes e se entra numa luta de popularidade tende-se à repetição de fórmulas
gastas e aborrecidas. Arriscar dá medo, mas só através da coragem se alcança a superação.
Voltamos em Setembro, arrisca e envia-nos o teu trabalho. ☺
MARTA GONZÁLEZ
DIRECTOR
Trevenen Morris-Grantham
[email protected]
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Marta González
[email protected]
DIRECTOR DE ARTE
Ricardo Galésio
COLABORADORES DESTA EDIÇÃO
Ana Viotti, António Medeiros, Carla Pires,
Cláudia Lopes, Francisco Ferreira,
Hugo Filipe Lopes, Joana Langinha, João Barriga,
João Carvalho, João Mascarenhas, João Moura,
Joel Alves, Jorge Rosa, Lola Carvalho,
Marta Santos, Miguel Veiga, Rafael Vieira,
Ricardo Santos, Tom Perdigão, Twisted Soul
Telefone: 21 32 25 727
Fax: 21 32 25 729
[email protected]
www.difmag.com
Facebook: www.facebook.com/difmag.pt
ÍNDICE
16. New Stars Factory
06. Arte
André da Loba na Underdogs
Texto Francisco Ferreira
08. Capa Dura
Os Vampiros de Filipe Melo
Texto Rafael Vieira
10. Capa Dura
Work It Harder, Make It Better
Texto João Moura
18. Moda
Powerflex!
Texto Marta González
Fotografia António Medeiros
Styling João Carvalho
22. Fotografia
Nem toda a gente gosta disto
Texto Marta González
24. Kukies
12. Arte
Maurizio Nannucci:
Uma história da linguagem em
tons néon
Texto Cláudia Azevedo Lopes
14. Música
Universo Surma
Texto Ana Viotti
Os nerds de ontem têm os
discos fixes hoje
Texto Hugo Filipe Lopes
28. Still Life
The Space of Thoughts
Fotografia Ana Viotti
Set Design Marta González
32. Intervenção Urbana
POSTER
Rebeldes com causa
Texto Rafael Vieira
36. Moda
Wanderlust
Fotografia Ricardo Santos
Styling Joel Alves
44. Extrapessoal
Quando filmar documentários
é um trabalho sujo
Texto Hugo Filipe Lopes
48. Moda
Hyper Queen
Fotografia Carla Pires
Styling Twisted Soul
54. Retroculture
The Snow Show
Texto João Moura
Ilustração hellyeahsince1987
56. People
Joaquim Quadros
“Às vezes, o que preciso
mesmo é de silêncio”
Texto Ana Viotti
Por decisão editorial, cada artigo nesta DIF foi mantido na sua ortografia original.
Capa
Fotografia: Ricardo Santos
Styling: Joel Alves
Makeup: Tom Perdigão for Lobster
Modelo: Bruno Azevedo @ Face Models
Blazer Ruben Damásio
Lenço da produção
PROPRIEDADE Publicards, Publicidade Lda.
DISTRIBUIÇÃO Publicards [email protected]
REGISTO ERC 125233,
NÚMERO DE DEPÓSITO LEGAL
185063/02 ISSN 1645-5444,
COPYRIGHT Publicards, Publicidade Lda.,
TIRAGEM MÉDIA: 15 000 exemplares
PERIODICIDADE Mensal,
ASSINATURA 10€ (8 Números)
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Sagatex, Lda. - Telefone 22 508 91 60 - Email - [email protected]
6 DIF ARTE
André da Loba na Underdogs
Há um episódio marginal e curioso, embora sem ter a curiosidade imediata que fiquemos tentados a projetar, no percurso
de André da Loba – quando estava em Nova Iorque e em exposições, apresentava uma figura de presépio que, de
acordo com o próprio, funcionava como um “desbloqueador de conversas”. Um objeto que falava da sua nacionalidade
sem querer fazer disso o tópico da conversa. Voltado agora a Portugal, o artista português volta também a colocar-se
nessa posição: “o estrangeiro, numa nova cidade, cheio de novas opções e a contar que a interação com os transeuntes
enriqueça a experiência”.
É assim que André da Loba se sente com a sua nova exposição individual, “A pedra e o charco”. São “trinta e duas vinhetas,
seis esculturas e um livro. Indivíduos em convergência”, nas suas palavras.
André da Loba é “ilustrador, animador, designer gráfico, escultor e educador”. Podemos encontrar o seu trabalho em livros
ditos infantis, em livros menos infantis ou em artigos do The New York Times, entre tantos outros sítios. Em 2015, as suas
ilustrações e um conjunto de textos eróticos de Hilda Hilst compuseram Obscénica (ed. Orfeu Negro). No ano anterior
apresentava, para os mais novos, “Uma mala cheia de histórias” na Orfeu Mini Livraria. “Faço livros e outras coisas ilustradas
para todas as idades. As minhas abordagens normalmente são condicionadas apenas pela voz do texto”.
As várias formas da obra do artista relacionam-se e esta tem sempre muito presente a relação entre a pessoa e o objeto.
Nós, enquanto visitantes, leitores, espetadores somos o principal elemento dessa relação. “Penso sempre no leitor como
um elemento da história. Sem ele a obra não existe. Não como alvo, não como mera testemunha, mas como participante”,
afirma André da Loba em entrevista à DIF por e-mail. “N’ A pedra e o charco, curiosamente, a relação pessoa-objeto
tem uma nova dimensão, torna-se formal e é a partir dela que crio o sentido das peças (…) há sempre esta ideia de
desaceleração, de reflexão e humanização da mensagem e das coisas”.
“Em tempos frémitos como estes, a coisa mais corajosa a fazer-se é desacelerar, por isso gosto de criar peças em que se
ganhe (ou perca) tempo a manusear. Com as mãos ou a cabeça.”
É isto que André da Loba nos propõe – que ganhemos e percamos tempo a atirar pedras ao charco que ele criou.
“Perturbem a sua superfície lisa”.
“A pedra e o charco” vai estar patente na Galeria Underdogs (Rua Fernando Palha, Armazém 56 – Lisboa) até 18 de
junho de 2016.
TEXTO FRANCISCO FERREIRA
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8 DIF CAPA DURA
Os Vampiros de Filipe Melo
Se viste o que eu fiz ali com o título, então o terreno das referências fílmicas não é um meio estranho para ti. Saberás
também que a obra de Filipe Melo é um campo minado de criatividade e reconheces que, usando dos seus próprios
termos, ele é «um músico que tem uma enorme paixão pelo cinema e pela BD». Depois do sucesso da trilogia «As
Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy», que andou ali pela Dark Horse e pelos dedos sequiosos de meio mundo
(incluindo tu e eu), Filipe Melo regressa à BD com «Os Vampiros», onde dedilha o argumento e volta a colaborar com o
desenhador argentino Juan Cavia, numa visualmente sumarenta edição da Tinta-da-China.
O livro é apresentado como uma história de ficção a desenrolar-se na Guiné (então Portuguesa, agora Bissau) em 1972,
em plena Guerra Colonial, o suficiente para inaugurar um capítulo da bibliografia dedicada a esse conflito e às suas
sequelas: o da banda desenhada militar de terror. Filipe comenta: «No início [eu] queria contar uma narrativa clássica de
terror e o cenário da Guerra Colonial pareceu-me ideal para explorar essa temática. A ideia original surgiu por causa da
canção do Zeca Afonso, ‘Os Vampiros’, e por causa de um grupo de comandos que tinha o mesmo nome na Guiné. A
história de terror foi-se distorcendo à medida que fui ouvindo algumas histórias mais interessantes do que qualquer coisa
que eu pudesse imaginar. Tornou-se então algo muito diferente do que tinha pensado inicialmente.»
Essa canção, que até «foi a primeira canção a ser censurada pelo regime fascista», continua Filipe, «é uma canção repleta
de simbolismo, de mensagem e de poesia. Foi a canção que fez com que não fosse apenas uma história de terror contada
no cenário da guerra: a canção deu-nos a ideia de ir mais fundo e de tentar perceber o clima que se vivia ali, que é algo
que dificilmente poderemos imaginar». Foram conduzidas muitas horas de entrevistas com antigos combatentes, mas
Filipe não identificou um «padrão» quanto ao ser-lhes difícil ou não retomar as memórias da guerra. Comenta que falou
«com pessoas que gostaram de lá estar, que sentiram uma sensação de pertença e de propósito, e pessoas que nunca
mais quiseram falar daquilo e que ficaram muito traumatizadas com a experiência. É um tema difícil, os combatentes
eram mandados para lá com 21, 22 anos. Hoje em dia, um miúdo desta idade vai para o Festival Sudoeste. Naquela altura,
eram homens muito mais cedo e corriam perigo de vida no meio do mato. Não consigo imaginar o que isso é nem as
marcas que isso deixa».
Por estas noções, de perigo constante, mortalidade directa e iminente e a maturidade forçada/forjada em contexto de
combate, é assumido que o livro é uma história de «monstros e da forma que esses monstros assumem. É uma reflexão
sobre o subconsciente, sobre a guerra e sobre o medo». «The Thin Red Line» constitui-se como uma imediata referência,
mas a recolha e influência passou pelas histórias, pelos livros e pelos documentários sobre a Guerra Colonial. Filipe Melo
conclui que não tem ainda planos definidos, mas que quer continuar a fazer música, filmes e BD. A fazê-los «melhor e com
mais calma». Nós cá o aguardamos em deliciada expectativa.
«Os Vampiros» vai ser lançado a 28 de Maio no Festival de BD de Beja e a 29 de Maio na Feira do Livro de Lisboa.
www.tintadachina.pt
TEXTO RAFAEL VIEIRA
9 DIF CAPA DURA
10 DIF CAPA DURA
Orbitron
The Orbitron is a fiberglass show rod built by Ed “Big Daddy” Roth. Designed by
Ed “Newt” Newton, the Orbitron was made to look like a space age influenced
slingshot dragster. The design of the car incorporated a blown plastic bubble top
and a distinctive asymmetrical nose that housed a red, green, and blue headlight.
The lights were intended to function like television tubes, which when illuminated together would create a strong white beam. The Orbitron made its debut in
September of 1964. It turned out to be a failure at the shows, something Roth
blamed the Beatles and the hidden engine for; “After the Beatles appeared on the
Ed Sullivan Show, all model sales stopped. Guys got guitars instead of cars.” He sold
the car in 1967, and after a turbulent life it ended up as a carnival car in Mexico.
It was lost for years until Michael Lightbourn found it parked in front of a sex shop
in Juarez, Mexico in 2006. He bought it and brought it back to the United States
where it was restored back to how it first appeared in 1964. The restoration was
completed in 2008. (SK)
Company Name: Ed “Big Daddy” Roth;
Ed Newton
Project Name: Orbitron
Manufacturer: Ed Roth
Model: Orbitron
Category: Custom
Rebuild:
Year of Production: 1964
Engine: Chevrolet CorvetteV8; Stromberg 97
triple carburetor; finned aluminum valve covers;
Howard mystery camshaft
Drivetrain: Powerglide automatic transmission
Wheels/Tires: Chrome-plated by Astro steel
wheels with center lock; Firestone tires
Brakes: Buick brake drums; early Ford brakes
Bodywork Modifications: Hand-laid fiberglass
body; hydraulically operated plexiglass bubble top;
asy mmetrical front end with red, green and blue
tinted headlamps
243
Jesse Valadez
172
Ed Roth
Work It Harder, Make It Better
Boys will be boys. Por isso tudo o que meta motores e miúdas é sempre alvo de atenção. Se meter miúdas em motas
ou carros, melhor.
Aqui não interessa se o teu é maior que o dele. Desde que seja mais agradável à vista ou mais potente. A ideia é mesmo
fazer mais possante ou mais bonito. Ao longo das 400 páginas de “The Drive” são muitas as viagens que vão aquecer
ainda mais a paixão que possas ter pela arte de bem modificar carros ou, caso não sejas um apaixonado, vir a modificar
a tua opinião.
Na recém-lançada obra da Gestalten, ficas a conhecer as melhores garagens, os melhores costumizadores – verdadeiros
artesãos - espalhados pelo mundo e um pouco dos seus perfis e criações. Sejas mais virado para o lowride ou mais hot
rod, esta é uma obra que não vais querer perder. Diz quem sabe e quem ama que isto é uma espécie de vício que se
ganha. Tal como as tatuagens. É malta para quem o carro não é apenas um veículo para se deslocar e que para ir de A a
B se puder passa por todo o alfabeto exibindo a sua obra. Mas aqui os artistas não mudam apenas a pele com piercings,
tatuagens ou próteses. Mudam-lhes também a alma. São verdadeiros esteticistas e neurocirurgiões da mecânica. A cultura
custom tem neste livro uma boa montra para quem não a entende. Os tunings já não são o que eram. São cada vez
melhores. E já não são tuners são costumizadores, malta que compra uma coisa porque quer exactamente outra.
Genuínas obras-primas saem destas garagens em cima das quatro rodas e em “The Drive” posam só para ti. Com
embaixadores como Ken Block ou Magnus Walker, este é o livro que vai fazer-te ver que o teu 106 não é o chaço que
pensas mas antes um projecto em potência.
THE
DRIVE
CUSTOM CARS
AND THEIR BUILDERS
The Drive
Custom Cars and Their Builders
Editora: Gestalten
Data de Lançamento: Maio de 2016
Formato: 30×27cm
Preço: €49.90
TEXTO JOÃO MOURA
Chassis Modifications: Handmade frame
built of rectangular 2 × 4-inch steel tubing; 1956
Chevrolet rear end, dropped Ford front axle beam;
Chrome-plated parts; Morris Minor torsion bars
rear; 1940 Ford steering
Interior Modifications: Bespoke interior including fake fur; 11-inch General Electric “1-Touch”
portable television inserted in the console; Cragar
steering wheel; Hurst shift stick; Dixco tachometer;
Cal Custom brake pedal; Moon gas pedal
Paint: Candy blue
Other Modifications: Power-operated hood
Support: Paintjob by Larry Watson; Planet
Plastics, Dirty Doug, Dick Cook
Approximate Work Hours: 100 hours
Location: USA
Retail Price: n/a
173
12 DIF ARTE
exemplo claro como o paradigma do ovo e da galinha.
A cor, componente fundamental para o artista, é também um
elemento basilar na compreensão da obra, pois é responsável
pela mutação dos espaços arquitectónicos onde se insere.
Mediante o tom, estes podem parecer maiores ou mais
pequenos, mais ou menos acolhedoras, alterando a percepção
do visitante acerca dos espaços.
Todavia, o conjunto de obras do artista vai muito além das peças
néon. Ao longo do tempo Nannucci tem vindo a abordar várias
expressões artísticas, como a poesia e a arquitectura, e múltiplos
suportes, como a fotografia, o vídeo, as instalações de som,
os livros e outras publicações. Foi precisamente esse conjunto
de obras que compuseram “Where to start from”, a última
exposição do artista, que teve lugar em Roma entre Junho e
Outubro de 2015, no MAXXI - Museu Nacional de Arte do Século
XXI. Esta experimentação do artista nas mais variadas vertentes
é um aproveitar de recursos numa realidade onde os mesmos se
encontram disponíveis e mais fáceis de operar, mas é também a
expressão do desejo de acompanhar a evolução da arte. Maurizio
Nannucci não quis se balizar pelas limitações de uma só
expressão artística pois desde muito cedo soube perceber que,
num mundo em constante mudança, nada, especialmente na
arte, pode ser unidimensional.
MAURIZIO NANNUCCI:
UMA HISTÓRIA DA LINGUAGEM
EM TONS NÉON
Que a maioria dos seres do planeta terra é atraída pela luz
parece ser uma verdade absoluta. As plantas inclinam-se em
direcção ao sol, os animais regem-se pela luz natural e até
nós, humanos, que estamos habituados a vaguear pela noite,
confiamos o nosso humor e vitalidade à claridade espacial. Foi
precisamente a tentativa de aplacar a escuridão – e tudo o que
ela representa – que estimulou o aparecimento da luz artificial.
Os anos que se seguiram foram de apropriação desta tecnologia,
cujo potencial não foi ignorado pelos artistas. Maurizio
Nannucci, actualmente com 76 anos, é um deles. Para além de
fascinado com a questão da cor, sempre foi um interessado pelo
estudo da linguagem e da maneira como esta se relaciona com
a escrita e com a imagem, problemáticas que vão ser a base
das suas obras mais célebres – as séries de luzes néon – que
tem vindo a criar desde 1967. As lâmpadas néon, um material
pouco nobre que apelou ao artista pela sua versatilidade, são
a matéria-prima usada para a modelação em grande escala de
palavras – a manifestação visual da linguagem – que expõe em
museus, bibliotecas e outras áreas arquitectónicas de excelência.
Muito apelativas à percepção visual, tornam-se solenes e são
imperativas na exigência da nossa atenção, deslumbrando-nos
com a vivacidade das suas cores e com o esfumado de tons que
se cria em volta delas. Uma vez captada a atenção, o observador
interage com o conteúdo sociopolítico das palavras e frases e é
levado a meditar sobre o significado das mesmas. É o caso da
obra Blauer Ring, inspirada num escrito de Hannah Arendt e
colocada na biblioteca do parlamento alemão, onde as frases
“Liberdade é concebível como possibilidade de acção entre
iguais/ Igualdade é concebível como possibilidade de acção
para obter liberdade” são colocadas em círculo, numa extensão
de oito metros. Uma demonstração da dependência entre os
conceitos liberdade e igualdade, utilizando simbolicamente
o círculo para demonstrar a inconclusividade da questão, um
TEXTO CLÁUDIA AZEVEDO LOPES
13 DIF ARTE
14 DIF MÚSICA
OS NERDS DE
ONTEM TÊM
OS DISCOS FIXES
HOJE
Houve uma altura em que os nerds eram
aqueles gajos enfezadinhos do liceu que não
conseguiam engatar ninguém e eram gozados
por toda a gente. Mas como o universo está
em constante expansão nada fica na mesma, e
os desgraçados do séc. XX são a malta trendy
deste milénio. Isso vê-se pelos geeks que
trabalham em Silicon Valley e vê-se mais
ainda pelos nerds do vinil, que passaram de
escarafunchar caixotes de discos em caves
bafientas na busca de pérolas como “Growers
of Mushroom” dos Leaf Hound ou algo tão
conhecido como uma das duas únicas cópias
com a capa em seda do “Their Satanic Majesties
Request” dos famigerados Rolling Stones
para serem astros dessa tão esquizofrénica
constalação que é a internet.
Da mesma forma que Mark Zuckerberg criou
o Facebook com a tão honrosa missão de
conhecer miúdas da faculdade, também Kevin
Lewandowski tinha uma intenção tão humilde
como rastrear os seus discos de techno ao criar
o Discogs. Daí até alastrar e se tornar primeiro
uma base de dados para os aficionados do
vinil, e depois numa rede social para todos
os melómanos, desde o mais obcecado até ao
simples curioso, foi a duração de uma canção
de Napalm Death da era Scum.
E como é dos nerds do vinil, tão bem retratados
pelo filme “Alta Fidelidade”, que se trata, claro
que há espaço para listas de todos os tamanhos,
temas e feitios, desde os melhores discos de
Rap Mongol até às bandas mais obscuras de
Baby Metal.
Para tirar o melhor partido do Discogs é estar
preparado para abrir os cordões à bolsa a fim
de comprar aqueles discos que vendemos por
vergonha na adolescência e de que agora nos
arrependemos, como a estreia dos Braindead
ou aqueles clássicos que só tínhamos em
cassete e nunca chegámos a comprar como
“Abstract Divinity” dos Thormenthor ou
“Perspective” dos Shrine.
Se considerarmos que o “White Album” dos
Beatles tem algo como 399 edições diferentes
no site, não será de espantar que existam mais
de 6.5 milhões de discos registados no Discogs,
com um total de 100 milhões de doláres em
vendas anuais. O melhor é que, ao contrário
do que se poderia pensar não são os discos dos
consagrados que estão no top dos mais caros,
mas sim bandas refundidas como os reis NovaIorquinos do Straight Edge, Judge, os lordes
do Black Metal Bathory ou La Monte Young,
percursor do minimalismo e também mentor
de John Cale dos Velvet Underground.
Como cantava Bruce Springsteen, enquanto os
heróis do antigamente sonham com as glórias
do passado, os nerds vão exercendo a sua
vingança e conquistando o mundo, um disco
de cada vez.
www.discogs.com
LECOQSPORTIF.COM
TEXTO HUGO FILIPE LOPES
16 DIF NEW STARS FACTORY
UNIVERSO
17 DIF NEW STARS FACTORY
SURMA
FOTOGRAFIA JOÃO MASCARENHAS
STYLING TWISTED SOUL
Esquerda:
Blusão Le coq sportif
Gorro e Calças da Surma
Direita:
Camisa Cheap Monday
Gorro e Calças da Surma
A Surma é uma miúda estranha. Não no
sentido de não nos querermos sentar com ela
no refeitório, não é isso. É uma miúda estranha,
misteriosa, nostálgica... Magnética diria até.
Sim, ela absorve-te para um mundo paralelo a
este que conhecemos. No nosso mundo, é uma
one-woman-band com sons experimentais
e noise, no entanto é uma descrição redutora
porque a Surma é maior que rótulos.
Quando os pés estão assentes na terra, Surma
é na realidade Débora Umbelino, uma miúda
com uma energia igualmente contagiante que
transborda boa onda como ninguém. Nota-se
instantaneamente uma espécie de milkshake
de calma interior e sede de saber mais e mais
sobre música. Confessa que desde os 5 anos
que quer pertencer ao universo musical e
escolheu a bateria para dar esses primeiros
passos, mas foi aos 14 anos que começou a
seguir por vias mais alternativas e estranhas
(estão a ver? Aqui a Surma começa a ganhar
espaço no âmago da Débora). Por entre teclas
do piano e as cordas da guitarra foi evoluindo
até dar o salto para a voz e o contrabaixo,
que quando são estudados acarretam
um peso teórico que não encaixa com o
carácter da Débora. Ela transpira liberdade e
experimentação, não é com blá-blá-blá que
a agarram, mas a sede de aprender essa não
morre.
O próximo passo nesta caminhada foi a
entrada na casa da família Tradiio. Digamos
que a Tradiio é um amoroso ninho musical que
se inter-ajuda para toda a gente ouvir mais
música e apoiar quem a faz. A Surma entrou
de rompante e encantou a comunidade com
apenas 4 minutos de sonoridades ambientais...
a música Maasai. Não foi preciso muito até
acontecer o inacreditável, em semanas estava a
ser catapultada para um dos maiores palcos do
país... o Super Bock Super Rock. Uma notícia
destas, recebida no dia das mentiras é quase
cruel (sim, aconteceu). “Nunca pensei vir a
tocar num festival de verão desta dimensão!”
diz, entusiasmada, à DIF.
Surma vive uma vida diferente que a que
podemos imaginar... Vive em constantes
viagens sonoras, reflexões e ecos emocionais
que nos arrancam do dia-a-dia como se de um
portal se tratasse. “Não quero que o pessoal vá
só ver uma pessoa a tocar, quero que seja mais
que isso.” Este universo de sons em breve vai
ser acompanhado por um universo imagético
que vai enfatizar a experiência que teremos a
ouvir a sua música e nós mal podemos esperar.
Ai sim, o universo de Surma vai transladar para
o nosso mundo. Por caminhos mais escuros e
como sonoridades nostálgicas e ambiente, a
viagem que Surma está a preparar para nós vai
ser cada vez mais intensa. No fundo, a Surma é
mais do que uma miúda estranha.
TEXTO ANA VIOTTI
18 DIF MODA
19 DIF MODA
POWERFLEX!
“Assim que se experimenta
uns jeans Powerflex será difícil
voltar a outros modelos”. Esta é
a certeza da Pepe Jeans ao lançar
recentemente um tipo de denim
que recorre à tecnologia dualcore – lycra e polyester, unidos
para criar modelos com um
mínimo de 60% de elasticidade.
Para testar estes jeans chamámos
verdadeiros especialistas em
flexibilidade: três acrobatas do
Chapitô, a emblemática Escola
Profissional de Artes e Ofícios do
Espectáculo, que em 30 anos de
história, tem vindo a transformar
a forma como vemos as artes
circenses. Vestimos o Daniel,
a Mariana e o Frederico com
os Powerflex by Pepe Jeans e a
magia aconteceu.
TEXTO MARTA GONZÁLEZ
FOTOGRAFIA ANTÓNIO MEDEIROS
STYLING JOÃO CARVALHO
MAKEUP E CABELOS LOLA CARVALHO
FULL LOOKS PEPE JEANS,
CALÇAS POWER FLEX BY PEPE JEANS
Daniel Seabra, 22 anos
Actor e Acrobata
“Apesar de alguma resistência
por parte dos meus pais, escolhi
o Chapitô por ser a escola mais
completa em artes de palco. Depois,
quando comecei a pisar palcos
importantes entenderam que
afinal é possível viver desta arte!
Consigo não só sobreviver como
viver à grande, viajo, conheço muitas
pessoas e sou muito mas muito
feliz. Na verdade não trabalho,
divirto-me. Vivo rodeado de pessoas
lindas e completas com muitas
experiências de vida. Apesar das
queimaduras e das lesões, adoro o
palco, o circo e os seus processos
de criação. A obra de Marina
Abramović é um exemplo
e inspiração para a minha carreira”.
21 DIF MODA
20 DIF MODA
Frederico Silva, 19 anos
Contorcionista e Base de Quadrante
“Cheguei a frequentar o Curso de Comunicação e Marketing na minha cidade (Caldas
da Rainha) mas a directora disse-me que eu andava a enganar-me, não era feliz e que
o meu futuro estava nas Artes. Depois de chegar ao Chapitô descobri que não era
só uma escola de Teatro e apaixonei-me pelo Circo. Sinto que me dedico a uma arte
bastante completa pois envolve teatro, dança e acrobacia. Hoje digo com todas as
certezas que é isto que quero fazer na vida. Agradeço à Karley Aida [figura maior do
Circo português] e à directora do Chapitô, a Teté Ricou, pois foi através destas pessoas
que descobri o meu caminho. Pretendo ingressar na Academie Fratellini em Paris
brevemente e depois voltar para expandir o Novo Circo em Portugal. ”.
Mariana Costa, 19
Artista circense e Volante de
Aéreos
“Revejo-me em alguns aspectos da
Sora, personagem do anime Kaleido
Star. Também eu sonho desde
criança em ser trapezista. Entrei
no Chapitô para perseguir essa
ambição. Vivo e respiro o que faço,
dedico-me totalmente, não tenho
tempos livros, no sentido tradicional
do conceito. A preparação física é
a parte mais dura desta vida, mas
todo o esforço vale a pena quando
estou em espectáculo. O circo é
para todos e não tem estereótipos,
qualquer pessoa pode ser feliz no
circo. A sociedade tem dificuldade
em aceitar tudo o que é novo
mas espero que a seu tempo as
mentalidades mudem.”
22 DIF FOTOGRAFIA
Nem toda a gente gosta disto
Vi uma destas imagens no meu feed do facebook e continuei o scroll. Só depois, de sobrolho franzido, voltei por ali
acima. Já dizia o Saramago se podes ver, repara. E eu não sabia bem o que tinha visto. Encontrei então uma figura humana,
com copo de limonada na mão, casaco de malha bordado e cabelo alinhado. Onde deveria estar a cara amontoava-se
plasticina. Imagem suficientemente forte para que, no meio das milhares que nos passam pela retina e rotina, me fizesse
parar e querer saber mais. Vantagem dos tempos actuais em dois cliques já me deparava com as séries Photographs do
José Cardoso. Licenciado em Design de Comunicação, José Cardoso, de cognome Tomba Lobos, é também co-fundador
do Salão Coboi (projecto de toys/character design do melhor que se faz por terras lusitanas) e co-fundador da editora
Gentle Records. Desde o Porto, o multidisciplinado designer aceitou falar à DIF sobre o projecto: “Estas fotos surgiram
como um exercício para construir personagens sem precisar de muito tempo e dinheiro e mantendo a casa minimamente
arrumada [lição aprendida com o Salão Coboi, acrescenta]. Comecei a aplicar digitalmente a plasticina em fotografias do
meu arquivo pessoal. A diferença da 1.ª para a 2.ª série é que na segunda são retratos combinados com voluntários e
uso uma câmara mais decente.”
Falemos então de inspirações: “Sempre fui fã de efeitos especiais e make-up de filmes mais ou menos fantásticos. Um dos
meus ídolos de juventude era o Chris Cunningham e mantenho o fascínio por personagens do cinema como o Guild
Navigator do Dune, o bebé do Eraserhead ou até o Toxic Avenger.”
Ainda que tenha começado sem grandes expectativas, os bizarros retratos introduzem a possibilidade de “observar e
analisar o quão diferente do convencional pode ser a nossa face, tão importante que é para a nossa identidade.” E, ao que
parece há muito boa gente a aceitar o desafio: “É a mesma curiosidade que as leva a ver aqueles programas esquisitos no
TLC” brinca o autor. Há de facto algo que nos atrai para projecto, só no Behance a série "Photographs 2" já tem quase
40 mil views. “Não acredito que essas pessoas fossem lá por questões técnicas porque confesso que ainda tenho muito
Photoshop para aprender.”
No entanto, nem toda a gente aprecia o que vê. Pela primeira vez os comentários ao trabalho, internacional e aplaudido
do Tomba Lobos, não são unânimes. “Nunca me tinha acontecido ter comentários negativos no Behance. Geralmente
as pessoas que gostam escrevem ‘gostei muito’ ou ‘muito interessante’ mas nunca escrevem ‘isto é horrível, não tem
piada nenhuma, não devias fazer isto’. Talvez seja porque são fotos que desafiam aspectos morais e éticos da sociedade.
Talvez porque muita gente foi educada a não olhar directamente quem tem alguma deformidade física, encorajando-os
a ignorar essas pessoas, tornando-as nos monstros que não são. Acho eu. Teria de pensar mais no assunto.” E desde aqui
convidamos-te a ti, leitor, a fazer o mesmo.
behance.net/tombalobos
TEXTO MARTA GONZÁLEZ
INFO : +351 91 443 29 60
24 DIF KUKIES
GHETTO PALM
Nos lotes abandonados das cidades, por entre escombros e ervas
daninhas, uma planta sobrevive ao cenário apocalíptico. Conhecida
como Ghetto Palm - ou Árvore do Céu - esta planta floresce onde
menos se espera. O ilustrador suíço Benjamin Guedel, convidado
a criar o grafismo para parte da coleção SS’16 da Carhartt Wip
deambulou pelas ruas de Detroit com a ajuda do Google Street
View e criou colagens com elementos da degradação urbana e a
Ghetto Tree em destaque.
IMPRIME-ME UMA MOTA
Chama-se Light Rider e é a primeira mota criada através
de impressão 3-D. A alemã APWorks, subsidiária da
Airbus, usou a mais recente tecnologia para desenvolver
o quadro usando minúsculas partículas de alumínio. Por
ser eléctrica é silenciosa e não emite gases poluentes,
pesa apenas 35 quilos e promete atingir os 45km/hora
em 3 segundos. Nem tudo são boas notícias, já que as
50 unidades que vão ser postas à venda terão o valor
unitário de 50 mil euros. lightrider.apworks.de
PAZ DE ESPÍRITO
A Armistice, marca francesa
de calçado "neo-sneakers", que
chegou a Portugal em 2013,
apresenta para este verão uma
colecção inspirada no ambiente
descontraído da Costa Oeste
dos Estados Unidos. Os modelos
icónicos da marca, o Stone
One e o Hope One, regressam
com uma grande variedade de
materiais e de padrões, adequados
tanto ao público feminino como
ao masculino. Mantém-se o
design descomplicado, o espírito
descontraído e o mar como fonte
de inspiração, o que tem garantido
à marca a produção de clássicos
instantâneos. O calçado Armistice
encontra-se disponível em lojas
premiadas.
26 DIF KUKIES
DARK SIDE OF THE SUN
Com inspiração assente numa lógica minimalista e nas culturas
urbanas, a DARKSIDE Eyewear cria óculos de estética crua, forte
e despida de adornos. Perfeitos para quem usa óculos de sol
como um uniforme diário. A marca nacional surge com propostas
sofisticadas, de design intemporal e qualidade de materiais em que
cada modelo é produzido manualmente por artesãos portugueses
da especialidade. darksideeyewear.com
MY NAME IS NO NAME
PUMA X RIHANNA
Depois do sucesso de vendas dos Creeper
e dos Trainers, a grande novidade da linha
FENTY, cuja directora criativa é a cantora
Rihanna, são as Fur Slide. Os clássicos
chinelos PUMA, que começaram por
ser usados por jogadores de futebol nos
balneários, receberam um tratamento de
glamour. Rihanna adoptou um estilo divertido,
actualizando o modelo com alça de pele,
macia e confortável, com uma base de
espuma de cetim e pêlo artificial para um
toque de luxo.
NUS TAPADOS
Foi lançado recentemente
o “envergonhado” Not so
Nude - Nus Vestidos. A editora
Serrote afirma tratar-se de uma
homenagem ao pintor Daniele
da Volterra, cuja alcunha "o pintacuecas" se deveu à infame tarefa
de cobrir os genitais das figuras
do Juízo Final de Miguel Ângelo
na Capela Sistina. Neste livro, o
autor desenhou a esferográfica,
combinações, cuecas e soutiens,
em treze nus daqueles que vivem
nas paredes de museus famosos.
www.serrote.com
Chama-se No Name mas para quem
anda atento aos sneakers, o nome é
bem familiar. Nos anos 90, a conhecida
casa Rautureau assinou o modelo
original Plato Sneaker com plataformas
de 5 cm de altura, juntando conforto e
estilo irreverente.
Com o sucesso vieram as cópias, mas
como dizia a publicidade nos anos 90:
“Copies have a lot of names, original
is No Name.” A No Name regressa a
Portugal com mais argumentos: materiais
nobres, design depurado e acabamentos
femininos.
THE
SPACE
OF
THOUGHTS
FOTOGRAFIA ANA VIOTTI
SET DESIGN MARTA GONZÁLEZ
RETOUCHING RICARDO SANTOS
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO MARTA SANTOS
Sandália Fly London
Ténis Saucony
à venda na Breed Urban Concept Store
Ténis Merrell
Ténis Gola
32 DIF INTERVENÇÃO URBANA
POSTER
Posters com assinatura
REBELDES COM CAUSA
Aí está, esta mostra reúne as sugestões de posters de uma
multidão heterogénea de criativos. Uns, bem experientes são
na sua criação; outros testam-no, espreitando para fora da sua
(reconhecível) área de conforto. Aos artistas Craig Atkinson,
Wasted Rita, Paulo Brighenti, David Rosado, João Pedro Vale/
Nuno Alexandre Ferreira e Rui Toscano, juntam-se os designers
Lizá Ramalho/Artur Rebelo (R2) e André Beato, os ateliers de
arquitectura And-Ré, Artéria e Campos Costa Arquitetos, os
escritores Valter Hugo Mãe, Afonso Cruz e José Luís Peixoto, o
músico The Legendary Tigerman e a contribuição do fotógrafo
Eduardo Harrigton Sena.
Uma mostra sem nós na garganta, sem balizamento além do
rectângulo exposto e sem condicionamentos explícitos por ter
artistas visuais a par com outros artistas. Wasted Rita comenta:
«Não acho que nenhum artista se sinta condicionado por
existirem artistas não visuais a participar. Mais curiosidade do
que condicionamento». O poster é um elemento inseparável
do meio urbano e indispensável à cultura gráfica. André Beato,
designer, comenta: «Encaro-o sempre com grande entusiasmo,
a sua simplicidade a nível de formato e mesmo de meios,
atrai-me bastante. Existe algo de mágico em todo o processo;
algo semelhante a uma tela, onde te é dada a possibilidade de te
exprimires como quiseres e com a possibilidade de veres essa tua
peça ganhar vida através do print e ser reproduzida centenas ou
milhares de vezes. O encanto está precisamente nesse aspecto,
[o] de ver a nossa ilustração sair do computador (do ‘mundo
digital’ para o ‘mundo real’) e ganhar vida através do processo
de impressão; é algo que sempre me fascinou. Não importa a
quantidade de vezes que o faça, aquela sensação de ter a peça à
tua frente, impressa, e [de a] poder tocar; tem muita força.»
Já da importância de lançar o POSTER nesta zona e nestes
bairros, até há pouco absolutamente postos de lado no fazer
e no acontecer da cidade de Lisboa, o atelier de arquitectura
Artéria contribui: «A Artéria entende a comunicação visual
(muito cara à Arquitectura) como uma forma de projecção
com grande taxa de eficácia e, assim sendo, dá-nos um grande
sentido de responsabilidade. Diríamos que a ideia de expor
imagens nas fachadas de um bairro industrial degradado e
esquecido é, por contraste, uma chamada de atenção sobre
aquele lugar, porque vem estabelecer uma relação súbita
de intimidade. O discurso visual torna visível, o que antes
seria invisível para muitos, porque não estava representado,
sublinhado. Estamos muito curiosas com os diversos impactos
possíveis, [este] pode ser o princípio de um debate mais amplo
sobre os futuros daquele território.»
O arranque de uma contribuição necessária para o relançamento
do bairro, que Bruno Pereira sublinha: «É importante para nós
inserir o POSTER na zona de Xabregas, Marvila e Beato de uma
forma estruturada. Iremos trabalhar com escolas locais que farão
parte do projecto, farão uma exposição de Mini-posters criados
em workshops com um dos artistas convidados, o David Rosado.
Tem também o intuito de levar cultura a uma zona da cidade
carente da mesma». A mostra completa-se com o resultado de
uma Call pública, uma Exposição, uma Talk e uma Masterclass.
Um punhado dentre uma constelação de motivos para fazer de
Xabregas visita obrigatória.
Assim que os nossos antepassados se deram conta de que a
funcionalidade das pontas das suas mãos ia para além do caçar
e do foguear, deixaram de lhes dedicar os polegares oponíveis e
deram as falanges à imaginação. A arte tomou de conta as faces
das rochas e os planos verticais das cavernas, o suporte não era
o essencial; o objectivo sim, sempre. No princípio esse era o
verbo: desenhar, fixar. Assim se fez a arte. Muitos milénios de
possibilidades de comunicação passaram entretanto entre os
dedos, até chegarmos ao cartaz, ao poster, um veículo gráfico de
imediata e concreta difusão da mensagem.
Lisboa recebe o evento POSTER, organizado pela Departamento,
sob a ideia de lançar uma galeria pública a céu aberto em
Xabregas, uma zona que tem recebido muita comichão criativa e
que polariza a mais recente vaga de migração artística alfacinha.
Bruno Pereira, da organização, adianta: «A ideia desta mostra
surgiu na continuidade de projectos que a Departamento tem
vindo a desenvolver nesta área, cruzando várias disciplinas
criativas e transportando-as para um formato e um suporte.
Sempre com o foco de atingir um público vasto e ecléctico com
acesso gratuito aos projectos.»
O poster é facilmente replicável, é um suporte tão disseminado
quanto democrático e esta mostra pretende homenagear
esse poderoso objecto de comunicação: «O POSTER vem,
especificamente, de um gosto pessoal de longa data por posters
de todo o tipo. É um formato nobre em dimensão e rebelde em
causa. Faz-se rápido, monta-se rápido e tem uma capacidade
de comunicar tremenda. Se no início do séc. XIX fundiu arte
e publicidade, no séc. XXI queremos homenageá-lo juntando
escritores, músicos, fotógrafos, artistas, designers, tipógrafos,
ilustradores e arquitectos que irão comunicar através dele».
POSTER Mostra Pública
Zona de Xabregas, Lisboa
16 a 19 de Junho
www.postermostra.com
TEXTO RAFAEL VIEIRA
33 DIF INTERVENÇÃO URBANA
Craig Atkinson
André Beato
34 DIF INTERVENÇÃO URBANA
R2
35 DIF INTERVENÇÃO URBANA
David Rosado
Wanderlust
FOTOGRAFIA RICARDO SANTOS
STYLING JOEL ALVES
MAKEUP TOM PERDIGÃO FOR LOBSTER
MODELO BRUNO AZEVEDO @ FACE MODELS
Polo Gant
Casaco Gant
Calções Ruben Damásio
Camisa H&M
Macacão Ruben Damásio
Bomber Jacket A Kind Of Guise
à venda na Slou Lisbon
Polo H&M
Polo Fred Perry
Calções Comme des Garçons
à venda na Slou Lisbon
T-shirt Levi's
Casaco Gant
Calções Gant
Ténis Converse
Polo Fred Perry
Calças Raf Simons
à venda na Slou Lisbon
Camisa Cahartt
Bomber jacket Fred Perry
Calções Lacoste
Ténis Converse
44 DIF EXTRAPESSOAL
45 DIF EXTRAPESSOAL
QUANDO
FILMAR
DOCUMENTÁRIOS
É UM
TRABALHO
SUJO
Para Salomé Lamas, uma cineasta do mundo real, nada como
uma entrevista num dos mais reais não-lugares da modernidade,
uma lavandaria perdida algures pelo Campo dos Mártires
da Pátria. Isto dias antes de viajar para o Bornéu a fim de
documentar plantas nativas da Indonésia, cuja informação até à
data tem sido apenas transmitida por via oral.
Não é por a sua obra procurar, mundo fora, a realidade na
forma mais honesta e honrada que Salomé perdeu a sua génese
alfacinha. Natural do bairro de Alfama, percorreu durante
a sua infância e juventude outros bairros típicos da cidade,
como o Chiado ou a Estrela e nem por viajar pelos locais mais
refundidos do planeta perdeu o gosto por um prazer tão simples
como passear por Lisboa. Cidade essa que, nas palavras da
própria, lhe serve de base por ser onde reside a sua verdadeira
rede social, composta por família e amigos. É também aqui que
estão as pessoas com quem ela prefere trabalhar, onde se inclui
a produtora “O Som e a Fúria” com a qual tem uma já longa
parceria com muitos frutos.
Apesar de toda essa constante lisboeta, o seu percurso
cinematográfico não é geograficamente acanhado, já que tanto
filmou na cidade mais elevada do mundo, localizada nos Andes
Peruvianos, como numa aldeia abandonada do norte de Portugal.
E é de Portugal também que surge um dos seus documentários
mais poderosos: “Terra de Ninguém”, sobre Paulo Figueiredo,
um mercenário nas ex-colónias portuguesas e mais tarde
um assassino a soldo da CIA. Parece que na terra dos brandos
costumes, há costumes menos brandos.
Assim, também as suas influências vão beber a diversos sítios
diferentes, desde a música até à literatura e à arte, passando
obviamente pelo cinema, com destaque para filmes que a
família a levava a ver no cinema King. Entre eles contam-se
“Será que vai nevar no Natal?” de Sandrine Veysset ou “India
Song” de Marguerite Duras. Ainda que hoje, Salomé não se
identifique necessariamente com essas obras, reflectem a sua
formação quase autodidacta, onde também se pode contar a
música cinematográfica e literária de Nick Cave, Tom Waits,
Laurie Anderson ou Leonard Cohen. Do mesmo modo, a pintura
de Rodin ou a literatura e a filosofia contribuem ainda para
a sua obra, aliadas a uma postura assente numa curiosidade
exploratória e quase antropológica, indissociáveis de tudo o
que faz. E se o que faz é cinema na sua vertente mais livre e
exploratória há apesar disso um compromisso de documentar
a realidade com a menor interferência possível, actividade que
Salomé considera “um trabalho sujo” e que precisamente por
isso tem forçosamente de ser honesto. Apesar desse sentimento
de honra, a adrenalina é uma sensação omnipresente nos seus
filmes, sobretudo porque, quando pensa num tema, a cineasta
está dependente da resposta à questão que origina o arranque
de qualquer projecto: “Quanto tempo é preciso esperar até que a
realidade se torne extraordinária?”
Extraordinário é também o seu percurso, que já conheceu
exibições em locais tão prestigiados e distintos como o
Documenta Madrid, o MoMA’s International Festival of Nonfiction
Film ou o Guggenheim Bilbao sem esquecer o Doc Lisboa. Dada
a sua visão analítica e racional do trabalho, Salomé é a primeira
a não destacar qualquer acontecimento como marcante no
seu percurso, já que, qual cineasta taoísta, para si o destino é a
jornada, que se tornou sua, precisamente devido à procura de
um lugar próprio, primeiro por querer participar nas conversas
dos adultos que a rodeavam, mais tarde como forma de reunir
numa só estocada vários interesses como a literatura, as artes
visuais e a filosofia, e finalmente para conquistar o seu próprio
espaço, distante daqueles com quem partilhava a sua vida. Daí
até pegar na câmara que tinha em casa, de início para fazer
trabalhos escolares e mais tarde com o propósito concreto de
documentar, decorreram apenas pouco frames. Se então Salomé
ainda procurava uma linguagem própria, essa seria muito mais
identificada com o mundo dos adultos, com os quais, devido a ter
pais jovens, não sentia o mesmo fosso geracional que existia com
os seus pares, devido à diferença nas referências e influências.
Talvez por isso faça todo o sentido quando afirma não acreditar
no talento mas em trabalhar referências, e que a curiosidade é
um dos principais motores para o seu trabalho. Trabalho esse que,
para ela é inseparável da vida, já que são ambas uma e a mesma
coisa. É isso que acontece a quem ama o que faz e faz o que ama.
www.salomelamas.info
TEXTO HUGO FILIPE LOPES
Foto: Ale Vulcano, cortesia da Bogliasco Foundation
46 DIF EXTRAPESSOAL
47 DIF EXTRAPESSOAL
El Dorado XXI
Hyper Queen
FOTOGRAFIA CARLA PIRES
STYLING TWISTED SOUL
MAKEUP E CABELOS JOANA LANGINHA
MODELO LARA B. (JUST MODELS)
Casaco Patrick de Padua
Top Nike
Calções e leggings Puma
Meias Diesel
Sapatos A Loja do Sexo*
Brincos Swarovski
T-shirt Fred Perry
Calções Le coq sportif
Corpete e luvas A loja do Sexo*
Colar Swarovski
Camisola Nike
Calças Converse
Meias Nike
Sapatos Luis Onofre
Bomber Le coq sportif
Casaco Rede Patrick de Padua
Calças Carhartt
Meias Nike
Mala Cheap Monday
Sapatos A loja do Sexo*
de 10% em compras n'A Loja do Sexo usando o código DIFLS10
*Desconto
Camisola Malene Birger
Camisa Fred Perry
Top Le coq sportif
Brincos Cheap Monday
55 DIF RETROCULTURE
THE SNOW SHOW
A 13 de Julho de 2009 o “27 Club” abriu portas a mais um
membro, nomeado por honoris causa. O artista nova iorquino
que nasceu Dashiell A. Snow e imortalizou-se como Dash Snow,
morria, diz-se, devido a uma overdose de heroína. Herói do
underground nova-iorquino, Snow iniciou-se como graffiter,
derivando depois para outras correntes artísticas como a
escultura, a fotografia, colagem e instalações. Para se entrar no 27
Club há que deixar algo de grande e mais ainda por fazer. Deixar
o mundo a pensar ‘e se?’, ‘imagina se ele tivesse continuado...’
isso é um pré-requisito na inscrição para o famoso e felizmente
limitado grupo. E Snow iniciou-se cedo para preencher esses
campos do formulário.
Não é fácil brilhar na cena das artes nova iorquina muito menos
vindo de uma contra cultura, subcultura ou underground se lhe
quiserem chamar. Filho de famílias abastadas habituado à cena
das artes - a sua bisavó era Dominique de Menil fundadora da
Menil Collection, uma das mais importantes coleções de arte
moderna existente e o seu avô materno pai de Uma Thurman
- Snow foi, aos olhos dos parentes, a ovelha negra da família.
Ao contrário do que alguns afirmam, nunca fez da família
uma muleta. Ou pelo menos não mendigou o seu mecenato
ou carteira de amigos para vingar. Provavelmente mendigou
apenas o dinheiro, que o ajudou a viver à vontade e sustentar os
excessos que só o excesso de dinheiro permite sustentar. Fugiu
de casa muito novo e foi para Nova Iorque onde roubou uma
máquina fotográfica que fez o click a tudo e que lhe devolvia os
flashes de uma realidade que vivia mas que esquecia, devido
a uma memória violada diariamente por doses consideráveis
de estupefacientes. Assim começou a sua carreira. A fotografar
para se lembrar, acabando lembrado para sempre. Snow surge
também numa primeira fase como ‘musa’ de Ryan McGinley o
renomado fotógrafo contra corrente que era skater e gay quando
nada disso era ainda bonito de se ser. E tal como McGinley
também Snow tinha especial atracção pela natureza, pelos nus,
corpos e sexo. McGinley foi uma figura muito presente nas obras
de Dash, obras essas que gritavam sexo, drogas e violência em
todos os recantos e esquinas. O hedonismo e a libertinagem
criativa de Snow e ainda de McGinley fazem recordar outros
tempos do auge da beat generation e da cena nova iorquina
onde circulavam e excentrificavam nomes como Mapplethorpe,
Ginsberg ou mesmo Warhol, e onde sítios como o Chelsea Hotel
albergavam a cada quarto todo o tipo de tropeços criativos que
um cérebro pudesse ter. Mas Snow conseguia ser mais agressivo,
mais cru, mais violento e provocador recorrendo não raras vezes
aos seus próprios fluidos corporais como material para fecundar
obras. E tudo isto se torna ainda mais curioso quando vemos
que Snow expôs e foi aclamado de Berlim a Roma passando por
Paris e tem como seus colecionadores nomes que vão de Charles
Saatchi a Anita Zabludowicz ou mesmo Dakis Joannou. Por isso
se calhar vale mesmo a pena ir espreitar o trabalho do senhor.
Também é bom lembrar que Snow foi modelo e que se forem
pesquisar no Google, vão ver que toda a sua imagética e estética
era já bem à frente do nosso 2016 e que há muito bom hipster que
se calhar nunca foi assim tão novidade quanto isso.
TEXTO JOÃO MOURA ILUSTRAÇÃO HELLYEAHSINCE1987
56 DIF PEOPLE
57 DIF PEOPLE
FOTOGRAFIA ANA VIOTTI
STYLING JOÃO CARVALHO
RETOUCHING JORGE ROSA
JOAQUIM QUADROS
“ÀS VEZES, O QUE PRECISO MESMO É DE SILÊNCIO”
Se pensarmos no que seria uma vida de sonho para alguém que
respira música (e não pertence a uma banda), provavelmente
envolveria ouvir boa música a toda a hora, poder falar com as
bandas que mais gostas, acompanhar o seu processo criativo,
organizar festas ou lançares álbuns dessas mesmas bandas...
Pois é, soa maravilhoso não soa? O Joaquim Quadros sabe que
sim, especialmente porque está a viver isto tudo na pele. Para
quem o conhece da Vodafone FM, imaginar que quase se tornou
advogado parece surreal (uma voz superior agarrou-o a tempo,
sabemos bem pertence ao casaco de ganga e t-shirt, não ao fato e
gravata), mas isso é outra história.
Há 5 anos que temos o luxo de ligar o rádio e ter sempre a música
mais fresca que por aí anda, servida em bandeja de prata na
já icónica voz do Joaquim. “No fundo, embora eu não tenha
percebido logo, a rádio continuou a ser interessante como filtro
que não te dá tudo o que a internet te dá, mas que seleciona, tipo
gate keeper”. E essa é a verdadeira vocação do Joaquim Quadros...
Partilhar. Desde miúdo que o faz, “sempre me deu para gravar em
cassete várias partes de filmes de skate porque eram as músicas
que me inspiravam (...) houve gente que ficou interessada nisso
e me pedia umas cassetes emprestadas”. Mal podia imaginar que
seria o primeiro passo naquilo que faz hoje em dia.
No entanto a influência que tem na música que é feita e ouvida
em Portugal, vai muito para lá do que faz na Vodafone FM das
14h às 20h (ou do trabalho nos festivais que a rádio apoia, como
o Paredes de Coura, Mexefest e Milhões de Festa). Fora da rádio,
Joaquim percebeu que não era assim tão complicado organizar
concertos e começou a fazê-lo com uma certa regularidade, para
amigos. Assim nasce a promotora PURO FUN, “numa tentativa
de profissionalizar a coisa” (embora o nome diga tudo o que há
para saber). Trabalhar com amigos e profissionalizar o que se faz
quase parece uma contradição, mas no fundo é a fórmula perfeita
que tem marcado o trabalho do Joaquim. É profissional organizar
um concerto esgotado da banda do momento (sim, as espanholas
Hinds...), é profissional andar há um ano nisto e conseguir
juntar a crème de la crème da música portuguesa numa festa
de aniversário bombástica da promotora. Não é brincadeira de
miúdos. Até podia ser, quando se cria uma editora com a malta de
Capitão Fausto e se lhe dá o nome de Cuca Monga, não acham?
Numa altura em que a música portuguesa está a passar por uma
fase efervescente, Joaquim salienta que nas bandas “há cada vez
mais lata para se chegar a um microfone, dizer coisas, pôr um
amigo a tocar guitarra e um amigo atrás a tocar bateria, (...) e é
assim que se criam movimentos locais”. Ao mesmo tempo em
que surgem cada vez mais bandas, surgem também mais pessoas
interessadas em tudo o que rodeia o meio, marcar concertos, criar
editoras, cruzar bandas e criar novas... O Joaquim é uma dessas
pessoas, quer seja pelo seu trabalho na Vodafone FM, através da
sua promotora PURO FUN ou pela editora Cuca Monga. Quem
tem tempo para respirar com tanta coisa a acontecer, certo?
O Joaquim Quadros tem uma voz que não denuncia dos seus 28
anos de vida, uma experiência e conhecimento musical invejável,
uma capacidade de fazer acontecer as ideias que tem sobre o
mundo da música, mas “no fundo, muitas vezes o que preciso, é
mesmo de silêncio.”
facebook.com/purofun
cucamonga.pt
TEXTO ANA VIOTTI
Blusão do Joaquim
Sweatshirt Fred Perry
RECEBE
RECEBE A DIF EM TUA CASA
A DIF EM TUA CASA
NOME*
ENDEREÇO*
DIF EM VERSÃO PARA IPAD
Para esta nova experiência basta acederes
ao website da DIF em www.difmag.com
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TELEFONE
ALFRED
25-0129
E-MAIL
LICENÇA CRIATIVA
Nesta edição rodeámo-nos de pessoas livres como a Salóme que anda pelo mundo atrás de uma boa
DIRECTOR
PROFISSÃO
história, o António que para além do seu day job se diverte à grande a fazer festas e a promover músicos, o
DATA
NASCIMENTO
José que decidiu arriscar numa linguagem que não
é sua
especialidade, a Débora que sonha poder oferecer
ao mundo parte da sua intimidade. O que nos faz avançar na criação de algo? E como se ultrapassa o medo
da mediocridade, da crítica dos pares, da recepção junto do público? Como conseguir produzir mantendo a
liberdade criativa? Esta será provavelmente uma dúvida comum a quem cria algo. É verdade que a liberdade
criativa éobrigatórios
muitas vezespara
referida
e ainda da
maisDIF
vezes
oferecida
*Campos
a recepção
em tua
casa mas será que a usamos realmente? À primeira vista
* CAMPOS
OBRIGATÓRIOS PARA A RECEPÇÃO DA DIF EM TUA CASA
parece tratar-se de não ter obstáculos à criação, quando muito mais profundo e fértil seria conseguir materializar
E
NDEREÇO:Publicards
PUBLICARDS
Pou
UBLICIDADE
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campo criativo, o que trazemos em nós de único. Sem medo de
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1 281,
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chamado bom gosto, em que o agradável à vista é tido como essencial.
Quando o sucesso é medido em likes e se entra numa luta de popularidade tende-se à repetição de fórmulas
Recorta
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EUROS

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Marta Santos, Miguel Veiga, Rafael Vieira,
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Telefone: 21 32 25 727
www.timezone.de
Fax: 21 32 25 729
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ÍNDICE
GUIA
DEDE
COMPRAS
GUIA
COMPRAS
16.
36.
Adidas
Cat, K-Swiss, Keds, New
Ermenegildo
InsightModa
Maison Margiela,
Stars FactoryZegna
T.adidas
21 042 44 00
Merrell,
CarharttPalladium,
T.Ermenegildo
21 837 65 76 Zegna
Maison Margiela,
T.Insight
93 760 02 00
Bernard
Willhelm
Universo
Surma
Wanderlust
T. 21 042 44 00
T. 21 342
65 50
T. 21 837 B
65 76
T. 93 760 02 00
Bernard
www.adidas.com/pt
UGG
– Bedivar
Espaço
www.insight51.com
Por
Vocação,Willhelm
Porto – T. 22
Texto
Ana
Viotti
Fotografia
Ricardo
Santos
www.adidas.com/pt
K-Swiss,
B 10
www.insight51.com
Por Vocação,
Adidas
Eyewear
T.Cat,
21 938
37 00 Keds,
T.Espaço
21 346 12
Intimissimi
092
70 02 Porto – T. 22
Merrell, Palladium,
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