revista identidade oblata
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Revista Identidade Oblata 1 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Revista IDENTIDADE OBLATA 2 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Revista Identidade Oblata ISSN: 0000-0000 Publicação do Centro de Memória dos Oblatos de São José – Faculdade Padre João Bagozzi Editoração: Capa / Cover: Priory Comunicação Planejamento Gráfico / Graphic Designer: Cassia Tereza Poloni Rizzato Lima Revisão / Revision: Prof. Ms. Humberto S. H. Contreras & Prof. Dr. Geyso Dongley Germinari Bibliotecária / Librarian: Íris Labonde As opiniões emitidas nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. All articles are full responsability of their authors. Solicita-se permute / Se solicita el intercambio / Exchange is request / Se sollicite échange / Lo scambio è chiesto. Catalogação na fonte Revista Identidade Oblata / Congregação dos Oblatos de São José. Faculdade Padre João Bagozzi. Centro de Memória Oblatos de São José. Curitiba: Edição digital, 2013. v.1, n. 1, jul./dez. 2013 Semestral ISSN 0000-0000 1. Centro de Memória Oblatos de São José. Congregação dos Oblatos de São José. CDD 000 Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. 3 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Congregação dos Oblatos de São José Presidente / President Pe. Ailton Ferreira de Almeida, osj Editores / Editor Prof. Ms. Humberto Silvano Herrera Contreras Prof. Dr. Geyso Dongley Germinari Comissão Editorial / Executive Commite Ir. Leandro Antônio Scapini, osj Prof. João Antônio Viesser - BAGOZZI Comissão de Educação – Congregação Oblatos de São José Todos os direitos reservados à Congregação dos Oblatos de São José. A reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a citação da fonte, constitui crime. Correspondência / Letters Centro de Memória Oblatos de São José Faculdade Padre João Bagozzi Rua Caetano Marchesisni, 952 Portão – Curitiba – Paraná CEP.: 81070-110 E-mail: [email protected] Tel.: (41) 3521-2727 Copyright 2013 Congregação dos Oblatos de São José Rua João Bettega, 796 Portão – Curitiba – Paraná 4 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Revista IDENTIDADE OBLATA 5 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata SUMÁRIO Mensagem 1ª Edição .................................................................................................. Pe. Miguel Piscopo, osj 07 Apresentação............................................................................................................... Humberto Herrera e Geyso Germinari 10 Artigos do Dossiê: O Pensamento Pedagógico de José Marello – história e contexto Pedagogia Marelliana: apontamentos preliminares .................................................... Pe. Giovanni Battista Erittu, osj 13 Marello: história e educação........................................................................................ Ir. Leandro Antonio Scapini, osj 23 Gênesis da Pedagogia Marelliana................................................................................ Pe. Mário Guinzoni, osj 55 Breve panorâmica das escolas oblatas......................................................................... Pe. José Antonio Bertolin, osj 64 Documentos Documentación histórica del valor de la enseñanza escolar en la tradición de San José Marello y los primeros Oblatos de San José....................................................... Pe. Guido Maria Miglietta, osj 71 Entrevistas Entrevista Pe. Alberto Antonio Santiago ................................................................. Equipe Centro de Memória Oblatos de São José 80 Apêndice Escolas mantidas pelos Oblatos de São José .............................................................. 86 Sobre os autores ......................................................................................................... 103 Sobre a Revista Identidade Oblata ............................................................................. 107 6 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata MENSAGEM 1ª EDIÇÃO A EDUCAÇÃO, OS OBLATOS DE SÃO JOSÉ, A HISTÓRIA A Congregação dos Oblatos de São José tem 135 anos, completados em 14 de março de 2013. Ela foi fundada por São José Marello em Asti, Itália. O jovem Padre tentava dar uma resposta concreta para os problemas, ainda que locais, encontrados na sociedade italiana de seu tempo, sobretudo aos desafios que surgiam do mundo juvenil. Por isso ele deu vida à nossa Família Religiosa para que fazer reais a Palavra de Jesus: “…que tenham vida e a tenham em abundância!” (João 10,10). Ele também desejava que seus seguidores fossem em toda parte autênticos profetas e promotores da vida. Padre José Marello, amadurecido rapidamente pelos sofrimentos e desafios da vida, percebeu que as necessidades, seja religiosas que sociais eram complexas e exigiam uma resposta criativa e urgente. Vemos na história que, na Igreja, muitos como ele, naquelas terras e em outras, na segunda metade do séc. XIX, tentavam responder aos desafios que encontravam. Faziam isto com os recursos humanos que tinham, mas com uma confiança enorme na presença de Deus. Esta é a característica que une a todos os fundadores de Ordens e Congregações religiosas em todos os tempos. José Marello é, justamente, parte da história das respostas dadas ao mundo pela Igreja Católica, que é a comunidade reunida em torno a Jesus Cristo. Não é uma resposta completa, mas é uma resposta possível, compreensível e, no seu tempo, atual. Ela continua sendo oportuna em nossos dias. José Marello e seus discípulos, os Oblatos de São José, procuraram sempre, em todos os lugares e circunstâncias em que se encontraram, ou mais ou menos, educar. Isto também no sentido de não conviver com situações que vão contra a vida: tendo valentia e radicalidade evangélica na luta pela dignidade integral das pessoas. Educar é viver no meio do povo e se deixar “evangelizar” por ele: comprometer-se pelos seus problemas. Educar é lutar contra toda exclusão; é ter audácia, intuição, competência e ardor pra trabalhar no projeto global de humanização. Para que cada ser humano possa ser e se sentir uma pessoa. Tudo o que promove a educação é interesse dos filhos espirituais de José Marello. Chegados em 1919, inexperientes de Brasil, mas cheios de ânimo em anunciar o Evangelho e servir ao Povo de Deus, os Oblatos de São José muito rapidamente se dedicaram à educação dos jovens e das crianças. Durante longas décadas estiveram servindo Paróquias e Comunidades, as mais afastadas e difíceis do Paraná e de São Paulo naqueles anos. Uma das primeiras obras educativas foi o abrigo de menores, no bairro da Agua Verde. Os missionários Oblatos deram família, carinho e educação: as chaves do futuro aos jovens e crianças órfãos ou de famílias problemáticas. Um desses educadores foi o Servo de Deus Padre José Calvi, que esperamos ver, em breve, canonizado. Aos poucos aqueles missionários Oblatos foram amadurecendo sonhos de voos mais altos, tendo o ânimo hoje assim expresso pelas Constituições dos Oblatos de São José: A Congregação caminha nos caminhos de Deus e nas diretrizes traçadas pelo Fundador quando consegue preparar membros capazes de animar e educar a juventude (art. 65). 7 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Surgiu então o Seminário Nossa Senhora de Guadalupe, na cidade de Ourinhos, SP. Naquele local milhares de jovens foram educados, preparados para a vida. Alguns deles também se tornaram Oblatos de São José; outros foram líderes comunitários, políticos, profissionais liberais e, claramente, educadores. Mais alguns anos e surgiram duas experiências educativas intensamente marcantes: o Colégio São José, em Apucarana, PR, e o Colégio Padre João Bagozzi em Curitiba. Para os Oblatos, segundo as atuais Constituições: A Escola entra nas finalidades da Congregação, que deve incrementá-la cada vez mais. O Oblato, no seu magistério, busca os objetivos culturais da Escola e, enquanto cuida da formação humana de seus alunos, educa-os para uma visão dos homens e das coisas iluminada pela fé. (Constituições, artigo 67). A Escola é um lugar excelente para evangelizar os jovens e prepara-los às fundamentais escolhas fundamentais. Na Escola pode-se viver intensamente a opção preferencial pelos pobres, pelos jovens pobres e pelos pobres jovens. Os Oblatos acreditam que na Escola pode-se dar uma educação integral. Afinal, na Escola existem todas as dimensões existenciais para uma formação humana, social e cristã dos jovens, o que certamente exige cooperação entre os educadores. Tímidos no início, funcionando como escolas paroquiais, as duas escolas do início da existência dos Oblatos alcançaram um nível de excelência admirável, fruto do trabalho dedicado e intenso dos Oblatos diretores e superintendentes, ao lado de professores vocacionados para a educação. Em 2001 iniciou-se a Faculdade Bagozzi, fruto marcante da soma de esforços e participação dos Oblatos de São José do Brasil, representados na época pelo Pe. Ciríaco Bandinu, então superintendente do Colégio Bagozzi, e do Pe. José Antonio Bertolin, então Provincial. Hoje a Faculdade Bagozzi é parte do cenário educativo curitibano e paranaense, oferecendo seus melhores frutos à sociedade e à cultura. Desde as escolas paroquiais até os grandes Colégios, passando pelos Seminários e Centro Social, e chegando até a Faculdade Bagozzi, em Curitiba, os Oblatos estiveram envolvidos com a educação da juventude, seja no horizonte religioso seja no cultural. Isso muito nos satisfaz, pois nos identifica como educadores, propositores de uma sociedade renovada. Sobretudo nos empenha em crer nos valores da justiça, da verdade, da honestidade, da partilha, da não violência e da acolhida intercultural de todos os povos. E é neste sentido que os Oblatos de São José, no Brasil e no mundo, estão caminhando de modo marcante. Mas é aqui no Brasil que os melhores frutos estão surgindo e produzindo novas experiências. Na prática nós, Oblatos, seguimos o que nosso Regulamento Geral, que diz: É um compromisso apostólico de cada Oblato desenvolver harmoniosamente nos jovens as capacidades físicas, morais e intelectuais, procurando fazer com que amadureça neles o senso de liberdade e responsabilidade no contexto comunitário, mediante uma educação integral. Esta obra só terá possibilidade de sucesso se a educação para a fé e para a vida da graça levar os jovens a um autêntico testemunho cristão e tornar-se gradativamente a fonte de seus objetivos de vida (Regulamento, artigo 30). Para os Oblatos, A educação integral que se quer transmitir aos jovens deve ser sustentada pelo bom exemplo do educador. O Oblato, pelo respeito que deve a si mesmo e ao jovem, seja exemplo de ordem, limpeza, decoro da pessoa, dos modos e do ambiente, lembrando que tanto São José como o São José Marello foram homens de altíssima dignidade humana (Regulamento, artigo 32). 8 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata O conceito de “educação” pode ser muito amplo. Deixo a necessária conceituação do mesmo aos especialistas. O que desejo aqui lembrar e propor é que a educação é um fenômeno humano que vai além da apresentação de conceitos ou dados. Trata-se da uma experiência de transmissão e recebimento. No Cristianismo este é um ponto de importância fundamental: transmitir e receber. É o movimento mais original da Fé Cristã. Conforme recordou recentemente o Papa Francisco, a Fé Cristã não é um moralismo ou um conjunto de esforços humanitários, algo como uma ONG. Sem dúvida tem estes elementos em anexo, mas é mais do que isto, seguramente. Talvez eu possa traduzir a Fé Cristã, vivida por São José Marello e pelos Oblatos de São José, como um admirável encontro. Uma fórmula humana, não química ou física, mas que, como elas, e ainda mais do que elas, transforma a vida, a consciência, o sentimento de quem a vive. Um encontro com alguém por menor e mais passageiro que possa ser, deixa sempre uma marca. Ao longo dos séculos este encontro, a transmissão de uma experiência e a recepção da mesma, no Cristianismo, aconteceu de modos os mais diversos possíveis. Hoje, nas primeiras décadas do século XXI, somos nós que podemos viver este encontro e experiência. E os Oblatos de São José vivem e fazem esta experiência já há 135 anos no mundo. Esta revista, que tenho a satisfação de apresentar com estas palavras, reunirá múltiplos estudos de tendências e orientações diversificadas. Todos eles têm o objetivo de expandir a reflexão sobre a educação, propondo caminhos novos ou renovando os já garantidos pela experiência. Não tenho receio de afirmar que esta é uma nova etapa na tarefa educacional dos Oblatos de São José e dos educadores a nós ligados. Próximos de completar cem anos de presença em terras brasileiras, os Oblatos de São José já amadureceram seu estilo de ser e de fazer. Este estilo, com a soma do pensamento de muitos especialistas na tarefa educacional, agora poderá ser partilhado, analisado, arquivado e provado por muitos outros. É a colaboração atual dos Oblatos, do qual muito me orgulho de fazer parte. A todos, meus cumprimentos e votos de sucesso acadêmico, pastoral e humano e cristão. Pe. Miguel Píscopo, OSJ Padre Geral dos Oblatos de São José Roma, Italia 9 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata APRESENTAÇÃO Caro leitor, é com imensa satisfação que apresentamos a 1ª edição da revista Identidade Oblata, cujo objetivo fundamental é criar um espaço para reflexão, debate e socialização acerca dos elementos identidários da Congregação dos Oblatos de São José, instituição fundada em 14 de março de 1878, em Asti, na Itália, pelo então padre José Marello. No Brasil, os Oblatos chegaram em 1919, sendo o primeiro campo de atuação a cidade de Paranaguá. Hoje, a instituição está presente em vários municípios dos estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso. O conceito de identidade obteve, nas últimas décadas, um grande sucesso fora do círculo acadêmico, o seu uso é cada vez mais frequente, parafraseando Denys Cuche, professor e pesquisador do Laboratório de Etnologia da Universidade de Paris V, há o desejo de encontrar identidade para tudo, tal movimento ocorre em grande parte alheio as ciências sociais. A identidade tornou-se tema emergente a partir da década de 1960, embalado pela ideia de fragmentação das representações sócio-culturais, como de classe, gênero, raça e nacionalidade. Para o historiador britânico Eric Hobsbawm, tal pensamento, “encontrou expressão ideológica numa variedade de teorias, do extremo liberalismo de mercado ao ‘pós-modernismo’ e coisas que tais, que tentavam contornar inteiramente o problema de julgamento e valores, ou antes reduzi-lo ao único denominador da irrestrita liberdade do indivíduo.”1 Em outro sentido, as teorias da condição moderna, ao contrário do pensamento pós-moderno cuja matriz centra-se na questão da diferença social, se preocupam com as tensões e contradições que afetam as experiências sociais dos indivíduos na modernidade. O debate em torno do conceito de identidade evidência o seu caráter polissêmico, sendo, portanto, necessário explicitar o que se entende por identidade Oblata. Este é o propósito dessa edição inaugural da revista Identidade Oblata, que apresenta um conjunto de cinco artigos, um análise de um documento e uma entrevista. Na abertura, temos artigo introdutório ao tema central da revista, intitulado Pedagogia Marelliana: apontamentos preliminares. O ensaio exploratório do Pe. Giovanni Erittu, osj apresenta uma discussão geral do que significa o estudo da “Pedagogia Marelliana”. Sem aprofundamentos teóricos, mas centrado na vida e nos escritos de José Marello, discorre sobre sua relação com a educação e esboça pistas práticas para educar. O segundo artigo, Marello: história e educação de autoria do Ir. Leandro Scapini, osj apresenta um estudo sobre o contexto da Itália e da educação no século XIX, e centraliza José Marello como “personagem do seu tempo” e de que a partir dos seus escritos há possibilidades de reconhecer em Marello um homem preocupado pela educação. O terceiro artigo de autoria do Pe. Mário Guinzoni, osj intitulado Gênesis da Pedagogia Marelliana, na sua rica extensão e pormenorizações apresenta as origens das ideias pedagógicas de José Marello. O autor aponta as influencias do conhecimento 1 HOBSBAWN, Eric. Revolução Cultural. In: Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 332. 10 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata científico, filosófico, pedagógico e religioso que fundamentam o pensamento pedagógico de Marello e ainda, oferece ao leitor aprofundamentos sobre o tema a partir de traduções próprias do italiano. O último artigo do Pe. José Bertolin, osj intitulado Breve panorâmica das escolas oblatas apresenta um mapeamento da atuação dos Oblatos de São José na educação. O autor remete-se as primeiras iniciativas educacionais dos religiosos josefinos na Itália e descreve, tanto no contexto nacional quanto internacional, as instituições educacionais preconizadas e dirigidas atualmente pelos Oblatos de são José. Na seção Documentos a revista apresenta a pesquisa Documentación histórica del valor de la enseñanza escolar en la tradición de San José Marello y los primeros Oblatos de San José do Pe. Guido Maria Miglietta, osj trabalho apresentado pelo autor no I Congresso Educativo Internacional Marelliano “Projeto Educativo de São José Marello” na cidade de Chimbote, Peru. A análise do autor é uma descoberta no Arquivo Histórico da Congregação dos Oblatos de São José na cidade de Asti, Itália, de algumas cartas de José Marello e outras informações sobre as escolas primárias que Marello iniciou no hospício dos doentes crónicos em Santa Chiara, em Asti. Também, o periódico, em sua na seção Entrevista traz a conversa com o Pe. Alberto Antonio Santiago, osj sobre sua experiência religiosa e como educador, suas percepções sobre a identidade dos Oblatos de São José e suas atividades atuais no Arquivo Geral da Congregação dos Oblatos de São José, em Roma, Itália. Por fim, apresenta-se em apêndice uma relação das escolas mantidas pela Congregação dos Oblatos de São José no Brasil e no mundo. Boa leitura! Humberto S. H. Contreras Geyso D. Germinari Editores 11 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata ARTIGOS DO DOSSIÊ: O PENSAMENTO PEDAGÓGICO DE JOSÉ MARELLO HISTÓRIA E CONTEXTO A R T I G O S 12 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata PEDAGOGIA MARELLIANA: APONTAMENTOS PRELIMINARES Pe. Giovanni Battista Erittu, osj 1. Introdução Definido pelo Papa Leão XIII “uma pérola de Bispo”, José Marello coloca-se ao lado das grandes figuras do seu tempo: Cottolengo, Cafasso, Dom Bosco, Murialdo, Faà di Bruno, Mazzarello, Lanteri, Allamano, Guanella etc. Viveu num momento crítico da historia da Itália e da mesma Igreja. Estamos na segunda metade do século XIX (1844-1895): a Itália está buscando a sua unificação, a Igreja é perseguida e o ar está sendo envenenado pelo materialismo, pelo racionalismo e pelo liberalismo. Uma tormenta de problemas políticos, econômicos, sociais, morais e religiosos. É neste contexto que aparece a figura do Marello: homem de vasta cultura e de forte personalidade, além de grande santidade. Apóstolo e profeta, no dizer de um seu biógrafo, ele “imprimiu um sinal profundo na história do seu tempo, inserindo-se no contexto sócio-religioso do século XIX e apontando novos itinerários de ação e de santidade fecunda”. (Galliano, “Homenagem a um Grande Bispo”). Atento estudioso e observador, voltou a sua atenção particularmente aos pobres e aos jovens dos quais intuía os grandes perigos que os ameaçavam. Esta a razão pela qual procuraremos analisar alguns aspectos da sua pedagogia. 2. O que é a pedagogia? A pedagogia, frequentemente, pode ser confundida com outros seus sinônimos: educação, didática ou filosofia da educação. Conforme os estudiosos, o termo “educação” designa a prática social que nós identificamos como uma situação temporal e espacial determinada, na qual ocorre a relação ensino-aprendizagem, formal ou informal, tendo como base uma teoria. O termo “didática” designa um saber “técnico” ou instrumental: busca os meios para que a educação aconteça. Mas a didática depende da pedagogia. “Filosofia da Educação” aponta para o saber acumulado no campo educacional, colocando valores e fins, legitimando-os através de justificações. O termo “pedagogia”, em sentido estrito está ligado às suas origens na Grécia Antiga. Pedagogo era o escravo que levava a criança para o local da relação ensinoaprendizagem. A pedagogia é chamada “ciência da educabilidade do homem”. Estes termos, frequentemente, são usados num sentido lato e são resumidos na palavra “pedagogia”, apresentada como aquilo que chamamos de “saberes da área de educação”. 13 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata São José Marello não deixou nenhum manual teórico de pedagogia e nunca se importou de ser chamado “pedagogo”. Simplesmente foi um grande apóstolo, um homem de profundo conhecimento, voltado sempre aos problemas práticos da existência. Seguiu apaixonadamente os diversos movimentos culturais, sociais e eclesiais do seu tempo. Sua vida e seus escritos nos apresentam constantemente um homem encarnado na sua sociedade, atento aos sinais dos tempos, com uma visão crítica e com grande abertura aos questionamentos sociais e eclesiais. 3. Contexto histórico da vida do Marello Qual o contexto do seu tempo? A vida de São José Marello desenvolveu-se num arco muito breve: 1844-1895. Tempos de mudanças profundas na Europa: transformações sociais e culturais; revolução industrial; lutas pela unidade política nacional; problemas do Estado Pontifício; novas concepções do mundo, de ideologias políticas e de valores morais e religiosos etc. O evento político principal foi a Unificação Nacional da Itália e o fim do poder temporal dos Papas. Na vida religiosa passou-se da aliança “trono-altar” a uma crescente separação e a um verdadeiro anticlericalismo. Contemporaneamente, em contraposição, iniciou-se uma retomada da ação evangelizadora e missionária da Igreja. Fenômeno característico foi, sobretudo, a proliferação de Congregações religiosas masculinas e femininas com finalidades caritativas, assistenciais, educativas e missionárias. Culturalmente, na primeira parte do século XIX, na Europa, foi o momento em que floresceu o movimento romântico com Froebel, Pestalozzi, Girard e outros. Existiu um gradual interesse pela escola popular. É justamente neste contexto histórico e neste “século pedagógico” que atuou São José Marello. Atingindo na sua experiência de vida e nos seus escritos, sobretudo na Carta Pastoral sobre “A Instrução Escolar e a Educação dos Jovens na Família” (1892), podemos afirmar que o nosso Santo preocupava-se dos jovens nas suas diferentes dimensões (física – intelectual – social - espiritual...), consciente de que o ser humano é uma unidade. Apaixonado pela juventude, escrevia: Ah! Pobre juventude, tão abandonada e esquecida; pobre geração nova, deixada sobremodo à própria sorte e ainda muitíssimo caluniada ou, pelo menos, duramente julgada em suas leviandades e em sua generosidade mal contida, naquela necessidade de ação mal desenvolvida, de afetos mal orientados, pelos quais, sem culpa totalmente dela, se afasta do caminho reto! Pobre juventude! Rezemos mui particularmente por ela. (C 29) 4. A arte de educar O que significa educar? Na etimologia latina “e-ducere” significa “conduzir para fora”. Na época em que Roma era uma simples aldeia e o latim era a língua dos pastores, 14 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata o termo “educere” significava simplesmente ir na frente do rebanho para conduzi-lo para fora. Se esta é a sua raiz, “educar” significa “conduzir para fora” da situação infantil caracterizada pela ausência de palavra (“infans”, em latim, significa alguém que não fala). Educação, portanto, é um caminho: um caminho que leva a um relacionamento com os outros, à comunicação, ao trabalho e à doação de si mesmo. Finalidade da educação é uma passagem gradativa para a maturidade humana. E assim o educador é, antes de mais nada, alguém que acompanha, conduzindo o educando na dinâmica do relacionamento com os outros. Trata-se de uma autêntica colaboração que exige muito respeito, muita arte e que deve levar a uma profunda confiança mutua. Conforme o exemplo de São José Marello, somente o amor pode favorecer a confiança. O educando deve perceber o amor do adulto, manifestado pelas palavras e pelos gestos, para lançar-se ao verdadeiro diálogo sem receios. Educar consiste em permitir ao jovem tornar-se mais “humano” e ajudá-lo a “ser mais” e não somente a “ter mais” para que, através de tudo o que possui, saiba amadurecer como “pessoa” comprometida com os outros e para os outros. Educar é uma arte, e, como tal, precisa cultivá-la com paciência, criatividade e muito amor. É uma vocação fascinante, mas complexa. Na educação precisa evitar seja o pedagogismo, que é a ciência sem a arte e sem a sabedoria do coração, como também o “instintivismo”, que é a arte e a paixão sem ordem e sem ciência... Educar exige a capacidade de forjar caracteres, de apontar caminhos seguros a serem percorridos na vida, comunicando valores autênticos que se tornarão viático ao longo do caminho. (Galliano, “Testemunho do nosso Tempo”) Educação é a passagem de um estado de imaturidade a um estado de maturidade. Trata-se de uma passagem qualitativa que envolve diversos fatores: pessoas vivas e ativas e, ao mesmo tempo, valores e instrumentos. No centro deste processo encontramos o educando, que é o sujeito ativo e primário da maturidade. O educando é como um bloco de mármore sem beleza: precisa encontrar um bom artista que descubra nele suas potencialidades e, pacientemente, extraia dele suas riquezas, garantindo-lhe a harmonia e o equilíbrio. Estas riquezas podemos chamá-las “virtudes”, ou seja, “sabedoria prática”: elas facilitarão o autêntico desenvolvimento integral da pessoa. Ao dizer de um pedagogo, “o encontro harmonioso entre os valores encarnados no educador e as energias ínsitas no educando, faz brotar a realização da personalidade” (Padre Egidio Viganò). A educação é um trabalho extenuante, fruto do amor. Precisa de longa paciência e precisa saber aceitar sucessos e fracassos. Nesta maravilhosa aventura não encontramos receitas pré-fabricadas porque sempre iremos nos deparar com as surpresas e a novidade de cada indivíduo. O que é fundamental é ter a profunda certeza de que o tesouro que se esconde em todo educando merece qualquer preço e qualquer sacrifício. 15 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata O educador, como o poeta Paul Verlaine, pode exclamar: “Êxtase e terror de ter sido escolhido!” 5. Marello e a educação Diversas razões concorreram para formar o Marello como verdadeiro pastor e educador: razões teológicas, pastorais e até ideológicas. Inspirando-se nos documentos da Igreja e sobretudo nas grandes figuras de sacerdotes como Felipe Neri, Vicente de Paula e Francisco de Sales, o Marello quer tornar-se um sacerdote santo e um pastor cheio de zelo pelas almas. Diante de uma sociedade problemática e de uma Igreja em crise, a grande preocupação pastoral será a instrução dos fiéis em vista de uma vida moral e cristã mais comprometida, valorizando a força dos sacramentos e divulgando a Sagrada Escritura. Numa das suas cartas revela este ideal: “Um sacerdote segundo o Espírito de Jesus Cristo deve estar possuído de grande doutrina e deve comunicá-la aos povos” (Carta 25). E ainda, na mesma carta: “Esta é a nossa missão: fazer conhecer, fazer amar, fazer cumprir a Doutrina de Jesus Cristo” (Carta 25). Devido a situação peculiar da Europa e, em especial, da Itália, como todo clero da sua época, sentia-se estimulado a trabalhar em favor da juventude até por motivos ideológicos: restaurar a ordem civil e social. A mentalidade deste período histórico identificava sociedade civil e sociedade cristã. Desfazer a sociedade cristã, conforme pretendia o positivismo e a maçonaria, era desfazer a sociedade civil. A esperança era depositada nas jovens gerações que, recebendo uma boa formação, poderiam contribuir para reconstruir a verdadeira sociedade cristã. Um estudioso deste período histórico, Giuseppe Biancardi, assim expressa-se: “encarnado no próprio tempo, um nosso santo torna naturalmente seus os quadros mentais com os quais boa parte do clero julga um momento histórico. Portanto, à admiração por um passado rico de testemunhos de fé que lhe vem recordado, por exemplo, por Chateaubriand, autor do “Le genie du Christianisme” e de “Les Martyrs”, por ele lido com interesse, acompanha-se a denúncia da triste situação da sociedade a ele contemporânea. Na visão do Marello, trata-se de uma sociedade que busca estruturar-se sobre a base da simples razão, distante de Deus... Esta sociedade busca nas ideologias humanas, distantes da fé, como: liberalismo, socialismo, maçonaria, a solução a todos os seus problemas, enquanto a verdadeira solução encontra-se no cristianismo”. (Giuseppe Biancardi) O Marello, todavia, não se deixa levar pelas constantes polêmicas ideológicas, mas prefere “agir positivamente”, envolvendo neste trabalho, todos aqueles que lhe são próximos no seu ministério sacerdotal e episcopal. O seu apostolado se volta em especial à pregação, à catequese, à administração dos sacramentos e à infusão da boa imprensa. “São vários os tipos de pregação: - escrevia a um seu amigo – em nossa casa às visitas; na casa dos doentes às pessoas sadias; pelas ruas às crianças; aos adultos onde 16 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata possível; a todos em toda parte com o infalível “sede meus imitadores”, resplandeça a luz de vossas boas obras”. (Carta 23) Falando da leitura, escreve: “Cada livro que lemos é como um átomo que integramos na massa; o tempo ou, antes, Deus, fecunda a compreensão” (Carta 5). A outro amigo assim aconselha: “Você vem me pedir conselho sobre os livros que deve ler. Minha pobre opinião é a seguinte: poucos e bons”. (Carta 5) Em outra carta: “Leia a vida dos Santos. Faça a prova e ficará convencido. Temos necessidade de nos elevar à altura dos grande modelos”. (Carta 23) São José Marello, mente aberta esclarecida, sabia atingir nas fontes seguras da Palavra de Deus, dos ensinamentos da Igreja e da vida dos grandes Santos educadores e foi assim que soube valorizar também a experiência de São João Bosco que afirmava: “o educador é um indivíduo consagrado ao bem dos seus jovens e portanto deve estar pronto a enfrentar qualquer obstáculo, qualquer esforço para alcançar o seu objetivo que é a educação civil, moral e científica desses mesmos jovens”. Em determinada oportunidade, ele escrevia: Não podemos deixar a juventude a mercê de si mesma limitando-nos a constatar a sua ruína e portanto ter a possibilidade de julgá-la demasiado severamente ou até mesmo condenando-a. Precisa amar os jovens, precisa compreendê-los, precisa guiá-los com doçura e firmeza. Numa carta dirigida a um seu grande amigo desabafava: “Trabalhe pela formação da juventude: o pouco também é alguma coisa e barrar o mal já é uma grande bem”. 6. Pedagogia do Marello A pedagogia do Marello é fruto da experiência prática mais do que teórica: é devida à sua grande sensibilidade de homem e de pastor. Ainda novo, ele enfrentou os desafios de todo jovem. Bastaria recordar os seus anos juvenis (1861-1865) quando se deixou entusiasmar pelas utopias do humanitarismo e do patriotismo. Era o momento em que enfurecia a tempestade contra a Igreja e contra o mesmo Papa Pio IX que era considerado “inimigo da unidade nacional”. A própria religião e o clero eram escarnecidos e ridicularizados. O jovem Marello também estava invadido por um espírito de descontentamento e desesperança, devido ao esvaziamento no seu relacionamento com Deus e aos contatos mais intensos com o mundo. Descortinou-se para ele um novo projeto: um empenho social e civil e uma profissão que lhe permitisse subir na vida. Mais tarde, votando-se para esta página de sua vida, escreverá: [...] cessando de ser para Deus começou a ser para um ídolo de carne e depois para outro ídolo bem mais ciumento e exigente: a ambição. Os perfis sedutores e as acariciantes promessas desta divindade enganadora levaram-me a não desejar se não uma coisa: o apostolado humanitário... nisto o intelecto possui uma tese bem ampla a ser desenvolvida; a vontade, a sua fé para ser 17 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata valorizada; e o apoio humano tinha que levar a cabo uma grande obra. O primeiro degrau seria o jornalismo, deste poderia passar à tribuna popular, da tribuna ao proselitismo prático que deveria ser a última fase da propaganda e o princípio do novo sistema de economia social. (Carta 5) Anos depois, relendo, à luz da fé e da maturidade, esta página da sua juventude, escreverá: “Pobre juventude! Como é fácil o naufrágio! Feliz daquele que perigou nas tempestades e chegou à praia”. Portanto a pedagogia do Marello está bem embasada na vida concreta e sobretudo no Evangelho que ele encarnava e transmitia com o seu exemplo e os seus escritos. Para o Marello – conforme escreve o biógrafo Giovanni Sisto – “o Evangelho suscita sempre o profundo encantamento e a admiração da primeira descoberta e, juntamente, o propósito de aplicar seus conselhos mesmo nas coisas e nos aspectos aparentemente menores da vida...” A formação cristã dos jovens deve envolver contemporaneamente coração e inteligência. Para o Marello a formação dos jovens concretizava-se nas obras, na convivência com eles e sobretudo estabelecendo amizade com eles. O fundamental – na educação – é apresentar os valores que dirijam a vida e formar na consciência profundas convicções, sabendo interpretar os desafios provindos das mudanças cultuais. O que são os valores? Valores são o fundamento da dimensão humana de qualquer profissional. Alguém afirmou que os valores são as vitaminas da educação, a espinha dorsal da personalidade. É por meio deles que podemos evoluir como seres humanos. Valores são as estrelas da nossa vida. Eis porque nos escritos de São Jose Marello aparecem com frequência palavras como: interioridade, silêncio, vontade, gratidão, ternura, coragem etc. Trata-se de qualificar a vida porque, sem valores, a mesma vida perde o seu brilho, a sua dignidade, a sua tensão e o seu sentido. 7. Pistas práticas para educar Nas suas Cartas Pastorais referentes à Educação da Juventude e à Catequese, sublinha a urgência de apresentar verdades teóricas para o intelecto e verdades práticas para a vontade. Diante da cultura laica do séc. XIX que contrastava abertamente a visão cristã do homem e da história e que acabava corrompendo a mente e o coração dos jovens, o Marello volta o seu olhar à fé em Deus, como verdadeira fonte de toda humanização. No seu entender, embora estivessem proliferando novas escolas e meios de comunicação, a corrupção estava progredindo e a criminalidade juvenil estava aumentando cada dia mais. Como resposta, o Marello propõe a educação do coração, ou seja, a orientação religiosa, que oferece luzes ao intelecto com as suas verdades e que impulsiona a vontade para o bem. Esta é a educação integral do homem. 18 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Para a formação do coração, ou seja da vontade, da liberdade e dos afetos, apontava como urgente a colaboração da família e de todos os educadores. Eis como se expressava na Carta Pastoral de 1892: “Por isso, minhas palavras se dirigem especialmente a vocês, pais cristãos chamados por Deus à grande e formidável tarefa de criar uma família, mas não somente a vocês; antes eu gostaria que fossem bem recebidas também por aquelas tantas pessoas que de algum modo participam da missão de vocês, como também por todas as que possam ajudá-los no feliz cumprimento de uma obra que redunda em vantagem de todos no tempo e na eternidade”. (São José Marello) Em suma, os pais, colaborando com a Igreja, são chamados a orientar os filhos no caminho do bem servindo-se da palavra e sobretudo do exemplo. O nosso Santo, porém, recordando os ensinamentos de santo Agostinho, salienta que, antes de mais nada, é preciso tutelar os filhos vigiando sobre nós mesmos e sobre eles: “Diz Santo Agostinho que, se é útil aos pequenos reconhecer o bem, muito mais útil é que eles não conheçam o mal”. (Carta Pastoral 1892) Consequentemente: evitar todo escândalo e vigiar atentamente o crescimento das crianças, dentro e fora de casa. Outra prática pedagógica é a correção. Não se pode ter medo de corrigir, superando toda a forma de falsa ternura e de rigor excessivo, porque o objetivo será levar o educando a entender o erro cometido. Como verdadeiro educador, enfatiza que “para realizar ações corretivas justas, úteis e oportunas, precisa conhecer o temperamento dos próprios filhos. Sejam eles levados a entender que até os castigos são efeito apenas de justiça e de amor.” (Cfr. “São José Marello. Um coração para os jovens”, pág. 16) Junto ao conhecimento dos filhos, no aspecto psicológico, o Marello aconselha a oração como grande força no trabalho educativo. Em síntese, a educação deve sempre falar sobretudo ao coração da criança e do jovem. Mesmo a repreensão e o castigo devem ser permeados de amor. A verdadeira educação deve habilitar os jovens a estruturar uma autêntica personalidade, cultivando estes valores que possam concretiza-se em projetos de vida abrindo-se às necessidades dos outros e à construção de uma sociedade cristã. O Marello, na sua prática pedagógica, se preocupará em incluir a educação à fé como sustentáculo do processo de amadurecimento pessoal porque, acolhendo Jesus e a sua mensagem com liberdade e responsabilidade, os jovens poderão tornar-se testemunhas verdadeiras de uma nova civilização: a civilização do amor. Portanto, o educador deve ser alguém que tenha princípios cristãos, autoridade moral, tato pedagógico e discernimento nas suas intervenções. É claro que o amor deverá ser sempre o motor propulsor de todo o trabalho educativo: um amor que saiba descobrir na pessoa do educando o rosto do próprio Cristo. Como para São João Bosco, para o Marello, a educação é questão de coração. Educar é falar ao coração com respeito, compreensão, convicção, segurança e força moral. Ao mesmo tempo o exercício da autoridade deverá harmonizar amor e firmeza. Amor, fruto da união com Deus e do conhecimento profundo do ser humano. Firmeza como atitude coerente das convicções, dos princípios cristãos e do próprio testemunho de vida. 19 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Em suma, para o Marello, a santidade deverá ser o objetivo principal de toda educação. Esta a razão pela qual o nosso fundador insiste nos valores cristãos e numa religiosidade madura e comprometida. Em poucos educadores encontramos tanta insistência sobre a vida de oração e sobre a vida sacramental como no Marello. Numa sua carta escrevia “Rezemos muito Àquele que, segundo os seus planos, fará aumentar as obras dos seus ministros”. (Carta 29) E ainda: “Rezemos! Hoje em dia a oração tornou-se o maior e o mais poderoso apostolado”. (Carta 22) A primeira preocupação do Marello era levar às pessoas, sobretudo aos jovens, um ideal elevado. O ideal ilumina e embeleza a existência, transformando-a. Numa sua carta (nº 9) escrevia a um seu amigo. “Coordenar todos os nossos pensamentos, todos os nossos afetos, todas as nossas energias, numa idéia fixa: viver nessa idéia, exaltar-se, elevar-se nessa idéia”. Em suma: é preciso ter um objetivo bem determinado, um centro único que sirva como referência para todos os esforços generosos da nossa alma. Na sua visão de educador, é preciso ter um ideal, contemplá-lo, estudá-lo e deixar-se arrastar por ele amando-o apaixonadamente. “Os grandes homens, os gênios, os santos, escreve – R.W. Emerson – realizaram grandes coisas somente porque foram inspirados por um grande ideal. É preciso atrelar a própria charrua a uma estrela”. Ter um ideal é um meio seguro para tornar-se uma personalidade ou seja, para ser uma pessoa de caráter. É o amor do ideal que forja os heróis e os santos. Todavia o ideal não exercerá nenhuma atração sobre a vontade se não for bem determinado porque – como diziam os escolásticos – “universália non movent” (coisas universais, vagas, não arrastam). No pensamento do nosso Marello, uma vez escolhido o ideal, é preciso enraizá-lo em nós pela reflexão e meditação amorosa; é preciso defendê-lo contra toda instabilidade e preguiça e fortalecê-lo pelo entusiasmo, pelo amor e pela imitação de modelos. “Uma alma bela como exemplar é... para frente em suas pegadas, a qualquer custo”. (Carta 31) E ainda: “o espírito humano como os fluídos, se coloca sempre no nível dos objetos que o rodeia”. (Carta 5) “Exaltemo-nos nos grandes modelos e comecemos a agir”. (Carta 10) Em outra oportunidade, incentiva um seu amigo para conhecer as biografias dos grandes: “leia a vida dos Santos. Faça a prova e ficará convencido. Temos necessidade de nos elevar à altura dos grandes modelos, de elevar a afinação do nosso diapasão moral, de nos arrancar, de uma vez por todas, aos nossos propósitos e renovação de propósitos”. (Carta 23) O ideal, assim, se concretiza na vida destes homens e destas mulheres. Somente com estes exemplos evitaremos de tornar a nossa vida moral como um simples código de deveres e de preceitos e um catálogo de virtudes abstratas. A vida destas grandes figuras vale mais do que muitas páginas de teoria. Encontrei num livro a seguinte afirmação: “A Imitação de Jesus Cristo fez mais Santos do que todas as dissertações exortatórias”. 20 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Tudo isso acontece até mesmo fora da Igreja. Stuart Mill conta que seu pai esforçava-se para que lesse livros que apresentassem homens enérgicos e engenhosos que, desafiados por grandes dificuldades, teriam conseguido superá-las e vencê-las. O mesmo Augusto Comte impunha-se no seu calendário a leitura diária de um benfeitor da humanidade. Para o Marello, um grande inspirador da sua vida foi São Francisco de Sales, o mais humanista dos Santos e o mais Santo dos humanistas. Este grande exemplo, conforme declarou Santa Joana de Chantal, tinha clareza do seu ideal e quando pronunciava a palavra “eu quero” não voltava para trás, mas ia para frente sem titubeios e dizia então que a bonança ou a tempestade eram-lhe indiferentes. Resumindo: é preciso ter um ideal porque, sem este, a vida torna-se morna e insignificante. É preciso sabê-lo escolher, enraizando-o em nós pela meditação cotidiana, defendê-lo contra a instabilidade e fortalecê-lo pelo nosso entusiasmo e pela imitação dos exemplos. Como realizar este ideal? O nosso Santo deixou-nos uma pista muito interessante: “Uma vez fixada a meta, ainda que o céu venha abaixo, é preciso olhar para ela, sempre para ela”. (Carta 10) Concretamente, trata-se de um compromisso que comporta um esforço sério, longo e cansativo. O segredo está em cultivar a força da vontade porque é esta que propõe, constrói e emenda os defeitos, enfrentando todos os desafios. Ainda uma vez é o próprio Marello a recordar-nos: “Vontade: este é o nosso lema; vontade integra, firme, infalível que, no dizer de Dante, “teve Lourenzo no braseiro ardente e Múcio que castigou a sua mão”. (Carta 9) Na prática, comprometer-se para um ideal é muito mais do que simplesmente emocionar-se. O sentimento facilmente muda e se cansa. Se “o homem é a sua vontade” – como afirmava Rosmini – “a formação da vontade é a formação do homem”. Formar a vontade: orientá-la, educá-la e querer o que é justo, verdadeiro, grande, bom e belo. Para o Marello, a formação da vontade realiza-se quando conseguimos exigir de nós mesmos atividades difíceis e empenhativas. Consiste, sobretudo, no exercício das virtudes, na emenda dos defeitos, na mortificação do egoísmo, na dilatação da capacidade de amar o próximo. Por esta razão o Marello sugere: “Mortifiquemos com grande ânimo este nosso espírito orgulhoso, esta nossa carne rebelde, esta nossa natureza corrupta! Eduquemo-nos para o sacrifício daquilo que há de mais valioso em nosso coração”. (Carta 27) O sacrifício, agrade ou não, acompanha sempre a vida do homem. É no sacrifício que provamos aquilo que valemos. Na pedagogia prática do Marello sublinha-se bastante este aspecto pelo fato que o jovem deve lutar contra a banalização da vida na ilusão de conseguir êxito somente com a facilidade. A formação da personalidade tem o seu preço. “É preciso combater sem tréguas o espírito de relaxamento que tenta intrometerse em tudo. Ele destrói os melhores projetos e os propósitos mais nobres. Querer sempre custe o que custar.” (Carta 9) 21 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Naturalmente, como sacerdote, o Marello encontrava a sua inspiração na Sagrada Escritura, como por exemplo: Mt. 7,13-14; I Cor. 9,27; Jo. 19,30; Is. 53,7 etc. Como consequência é preciso valorizar a disciplina. Esta é submissão inteligente, voluntária, aberta, generosa e sempre razoável, a alguém que quer o nosso bem. Disciplina que é também autodomínio: tornar-se senhor dos próprios sentimentos e das próprias paixões. Segundo a Pedagogia Marelliana a disciplina exige sacrifícios voluntários e deve ser apropriada a cada pessoa. A disciplina pode ser comparada ao uso dos medicamentos: estes devem ser tomados conforme as exigências dos pacientes. A disciplina é constantemente inculcada pela Sagrada Escritura: Prov. 10,17; 12,1. Ef. 6,4... A disciplina cristã é a arte do progresso espiritual e foi denominada “ascese”. Trata-se de uma submissão razoável à hierarquia de valores cristãos. 8. Conclusão O segredo da Pedagogia Marelliana está em amar as crianças e os jovens, educando o coração. Na Carta Pastoral sobre o Catecismo (1894) escreve: Ao aperfeiçoamento moral do homem não basta a cultura da mente sem a educação do coração, ou melhor dizendo, a instrução separada da religião não pode dar verdadeira luz ao intelecto e mover eficazmente a vontade ao bem. Isso porque, para haver progresso moral, é necessário que o homem conheça o seu ponto de partida, a meta onde quer chegar, o exemplo que deve servirlhe de norma, a força que deve prestar-lhe o auxílio necessário e oportuno... Se é verdade que a educação é questão de coração, - como amava repetir São João Bosco – então encontramos no Marello o verdadeiro educador. Atento e respeitoso com todos, sabia descobrir nas pessoas o lado mais positivo e valorizá-lo e assim conseguia criar em todos um clima de grande confiança. Conforme o ditado antigo: “Si vis amari, esto amabilis” (se você deseja ser amado, torne-se amável), o Marello espalhava simpatia e bondade ao seu redor. Costuma incentivar a todos, com o seu exemplo e a sua palavra, para que se tratassem as crianças e os jovens como Jesus mesmo os trataria, compreendendo suas fragilidades, apresentando-lhes os autênticos valores e acompanhando-os no seu esforço para o amadurecimento humano e cristão. Sobressaia, no seu relacionamento com todos, mas sobretudo com as crianças e os jovens, um tato especial, aquele tato pedagógico que o filósofo alemão Johann Friedrich Herbart definia como “o tesouro maior da arte da educação”: a capacidade de saber ouvir, de conversar e de se comunicar. Através deste seu relacionamento amoroso e maduro, o Marello facilitava a criação de um clima ideal para comunicar valores e encontrar uma grande abertura e receptividade. O legado da pedagogia prática deste grande mestre (Marello) está no fato de orientar todos os educadores a um único objetivo: formar cidadãos maduros e responsáveis para a construção de um mundo mais humano e cristão. 22 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata MARELLO: HISTÓRIA E EDUCAÇÃO Ir. Leandro Antonio Scapini, osj 1. Introdução Fazer um corte de leitura na vida do Marello pode se tornar um pouco perigoso, pois corre-se o risco de fazer interpretações que por vezes não condizem com a realidade ou mesmo com aquilo que os fatos são de verdade. Assim sendo, esse pequeno texto quer num primeiro momento dar uma rápida mostra do momento que o Marello viveu, ou seja, alertar para algumas situações importantes que afetaram a sua vida, mas também a vida do povo de sua época. Ler a história da Itália, a história da Igreja e tentar entender os meandros dessa relação, podem dar a qualquer estudante da biografia do Marello possibilidades para melhor compreender suas atitudes, seus sonhos e a sua vida como um todo. Por outro lado, esse texto quer buscar, ao mesmo tempo, um pouco da relação do Marello com a educação e como essa pode ter influenciado sua vida. Não tem como negar que a educação mexe com o ser humano. Ela tem por objetivo a formação da pessoa e, portanto, acaba inculcando hábitos, aprendizagens, maneiras de ver e entender o mundo além de levar a novas formas de vida. Tendo esses pressupostos, o texto começa com algumas situações da história da Itália, mas de modo mais particular no século XIX, momento em que o Marello viver toda a sua vida. Depois é colocado um pequeno resumo sobre a educação da época e, por fim, é feita uma tentativa de tentar entender como esses fatos estiveram presentes no cotidiano do Marello, como ele os encarou e como procurou realizar seus objetivos. Na verdade, o texto quer ser uma provocação, não uma resposta aos objetivos colocados, mas levar a refletir que o Marello foi um homem que ao viver sua vida procurou ser personagem, não simples espectador daquele momento. 2. Breve história da Itália no século XIX Para conhecer o Marello é essencial situá-lo no tempo e espaço. Por isso, compreender a história italiana é de suma importância, pois foi num momento marcante na vida desse país - durante o período da juventude com os problemas políticos e com guerra de unificação e após sua ordenação sacerdotal com inúmeras mudanças do campo econômico, social e religioso - que ele viveu maior parte de sua vida. O Marello também é fruto do seu tempo. É claro que era uma pessoa dotada de muitas capacidades, aberta à Providência Divina2 e como objetivos claros na vida, mas foi nesse mundo do século XIX, localizado na Itália, na região do Piemonte que ele passou sua existência e soube fazer a sua história. 2 O Catecismo da Igreja Católica (CIC) define a Divina Providência como as disposições pelas quais Deus conduz a Sua criação em ordem a essa perfeição: "Deus guarda e governa, pela Sua providência, tudo quanto criou, atingindo com força, de um extremo ao outro, e dispondo tudo suavemente" (Sb 8,1), porque "tudo está nu e patente a seus olhos" (Hb 4,13), mesmo aquilo que "depende da futura ação livre das criaturas" (CIC 302). 23 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata A vida de São José Marello se faz dentro de um contexto com diversas situações. Esse pequeno resumo da história da Itália tem como principal propósito mostrar um pouco daquilo que estava acontecendo no período do século XIX nesse País. Mas para melhor contextualizar os fatos, o corte de leitura se dará a partir do final do século XVIII, com o objetivo puro e simplesmente de levar a entender melhor os fatos que ocorreram durante todo o período do 1800. O nome Itália surge na Roma Antiga. Os antigos romanos chamavam o sul da península italiana de Itália, que significa “terra de bois” ou “terra de pastos”. Foi uma importante região desde os antigos impérios, perpassando pela Idade Média, Moderna até chegar ao seu período de unificação desempenhando uma uma importante expressão religiosa e culutral para posteriormente se tornar nação como é conhecida em nossos dias. Após a Revolução Francesa, a Itália passa a viver mais fortemente os ideias de uma possível unificação. Esse sonho se reascendeu em seguida a vitória do Napoleão Bonaparte sobre os autríacos na Lombardia e no Piemonte. Mesmo depois da derrota de Napoleão em 1815, essas ideias ficaram na imaginação do povo e de muitos dos seus governantes. Mais tarde por volta dos ano de 1833, Mazzini3 passou a organizar um motim militar a na Sardegna. Sua intenção era implantar na cabeça do povo ideias republicanos contra os reis da época que governavam a Itália. Aos poucos muitos outros motins foram acontecendo. Um exemplo disso ocorreu no ano de 1847. A Lombardia e o Vêneto se levantaram contra o domínios dos austríacos e, em seguida, Milão acabou obtendo a sua libertação. Mais tarde, Garibaldi4 que também tinha ideias republicanas e havia participado da Associação Jovem Itália, fundada por Mazzini, conquistou a Lombardia e a anexou ao território do Piemonte, que era governado por Emanuelle II5. Em 1861 obteve vitória sobre a Sicília e Nápoles. No ano de 1862 liderou um levante contra a Áustria e aos Estados Pontifícios. Sua intenção era tornar Roma a capital italiana. Com as mesmas ideias republicanas, Camillo Benso di Cavour 6, pensa a independência da Itália que favoreça e de condições a todos a partir da liberdade 3 Giuseppe Mazzini nasceu no dia 22 de junho de 1805 e desde sua juventude demonstra interesses políticos e literários. Entrou na universidade em 1820 para fazer Medicina, mas em seguida passou a estudar Direito. Participou da chamada Sociedade Carbonaria (uma associação secreta que tinha objetivos políticos) e mais tarde, já no exílio, fundou a associação Jovem Itál ia e começou a publicar a revista com o mesmo nome. Pessoa dotada de um espírito religioso, suas ideias revolucionárias reivindicam os direitos da população a partir de um Estado Republicano. Apesar de suas ideias de revolução popular, não aderiu aos ideais marxistas. 4 Giuseppe Garibaldi nasceu em Nice na França no ano de 1807 e faleceu em 1882. Na sua juventude, em 1830, quando já fazia parte da Jovem Itália, começou a reivindicar a unificação dos Estados Italianos. No ano de 1834 teve que deixar a Itáli a e passou alguns anos nos Estados Unidos e depois no Brasil, onde lutou na Guerra do Farrapos, no Estado do Rio Grande do Sul e, em Santa Catarina, conquistou Laguna proclamando a chamada República Juliana. Nesse Estado conheceu sua esposa que depois se chamaria Anita Garibaldi. Em 1838 retornou à Itália, logo depois foi exilado nos Estados Unidos e, em seguida foi ao Peru. Já em 1859 retorna à Itália e nos anos seguinte chega a Sardegna pra criar seu exército que fora chamado de "Camisas Vermelhas", pois este era sua vestimenta. Depois de conquistar a Sicília e de se unir com Vittorio Emanuelle II que havia conquistado a Lombardia, foram anexando os Estado Italianos até completar a sua unificação. 5 Vittorio Emanuelle II nasceu em 1820 e viveu até o ano de 1860. Era filho do rei da Sardegna e foi formado e seguiu carreira militar. Lutou na primeira guerra de independência da Itália nos anos de 1847 a 1848. No ano de 1852 depois de um apelo do então o Primeiro Ministro Camillo Benso de Cavour, começa a atuar no processo de Unificação da Itália. Em 1860 entra em conflito com Camillo Benso por ter uma visão diferente no processo político. Em 1861 obteve para si o título de Rei da Itália, após ter entrado nos territórios da Igreja. Em 1866 inicia-se a terceira guerra de independência da Itália e no ano de 1870 com a entrada dos revolucionários comandados pelo general Cadorna em Roma, torna essa cidade como capital da Itália. A partir daí o poder de Vittorio Emanuelle II começa o enfraquecer. 6 Camillo Paolo Filippo Giulio Benso nasceu em 10 de agosto de 1810 na cidade de Turim. Camillo era filho do marquês de Cavour e, por isso, muitos o conhecem como Camillo Benso di Cavour. Enquanto jovem foi oficial do exército, mas no ano de 1831 começa a viajar pela Europa para estudar os efeitos da revolução industrial em alguns países. Retorna para a Itália em 1835 24 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata econômica, religiosa e política. Apesar de defender a liberdade religiosa, Cavour é contra é contra a presença do Papa em território italiano. Todo esse movimento em torno da unificação italiana levou a muitos conflitos com a Igreja. Com as subida de Cavour ao cargo de primeiro ministro, boa parte dos bens e propriedades da Igreja acabaram sendo invadidos e se passaram ao domínio do Estado, o que levou o Papa Pio IX a condenar esses ataques. Além do mais, a perseguição religiosa era constante e, principalmente na região do Piemonte, teve a supressão das ordens religiosas, forçando a boa parte dos católicos a uma experiência totalmente inesperada e diferente daquela que até então fazia parte de sua cultura religiosa. FIGURA 1 – Mapa da Itália anos de 1800. FONTE: LAROUSSE CULTURAL, 1990. 3. Pequeno relato da educação no século XIX Para se pensar nos movimentos de todo o processo educacional do século XIX, é necessário retornar um pouco às características do pensamento moderno, para assim melhor compreender como foi moldado o caráter aristocrático e que influenciou a educação no período de 1800. Aranha (1996, p. 105), escreve: desde o Renascimento, o homem começa a opor, ao critério da fé e da revelação, a capacidade de discernir, distinguir e comparar, própria da razão. Desenvolvendo a mentalidade crítica, para se dedicar a promoção do trabalho agrícola. Em 1847 começa a participar do movimento "Il Risorgimento" que pregava a reestruturação das instituições políticas. Em 1950 se torna ministro da agricultura, do comércio e da marinha e, mais tarde, ministro das finanças. Camillo Benso teve em todos esses anos um programa político, porém não era aceito nem pela esquerda que não acreditavam em suas intenções, nem mesmo pelos políticos de direita da época que o viam como um revolucionário. Mesmo diante de todos esse problemas políticos, muitos o viam como um reformador da agricultura e renovador da indústria italiana. (Treccani. it - L'Inciclopedia Italiana, 26/07). 25 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata substitui o dogmatismo pela possibilidade de dúvida, questiona a Igreja e filosofia aristotélica, rejeita o princípio da autoridade. Assume uma atitude polêmica com a tradição, busca a laicização do saber [...]. Esse pensamento que começa no Renascimento vai dando corpo a outras maneiras de se compreender o mundo e desencadeia novas correntes filosóficas até o século XVIII. É no período de 1700 que na França, Voltaire7 e os enciclopedistas começam a defender a ideia de que a educação tinha como finalidade: ser destinada a um grupo restrito, ou seja, de certo modo ela deveria ser destinada aos mais favorecidos ou capacitados. Mas a partir da segunda metade do século XVIII, mais precisamente com a entrada da máquina a vapor nas fábricas marca o início da revolução industrial, que altera definitivamente o panorama socioeconômico com a mecanização da indústria. Torna-se inevitável que a burguesia, já detentora do poder econômico e sentindo-se espoliada pela nobreza, reivindique para si o pode político (ARANHA, 1996, p. 119). E com esse novo contexto que surge e com o uso de máquinas no processo produtivo a educação começa a ser vista sob foco. Não bastando todos esses aspectos que já estavam acontecendo, o principal de todos os momentos que acabou movimentando toda a Europa é a Revolução Francesa, que teve como base ir contra os privilégios hereditários da nobreza e propor como pano de fundo a “igualdade, fraternidade e liberdade”. Uma das coisas mais importantes que a revolução fez foi depor do poder o antigo regime e fazer subir a burguesia ao poder político. Ao mesmo tempo, houve a preparação para a consolidação do capitalismo. Assim sendo, as ideias da Revolução Francesa não ficaram restritas à França, mas se espalharam por toda a Europa. Do ponto de vista do grande movimento ideológico e cultural, surge nessa época o Iluminismo do qual as maiores inteligências da época participaram. Entre eles podem ser destacas os filósofos Jean-Jacques Rousseau8, Emanuel Kant9, Giambattista Vico10, 7 François Marie Arouet é mais conhecido pelo pseudônimo de Voltaire. Nasceu no ano de 1694 na França e morreu em 1778). Em vida dedicou-se a Filosofia e foi representante, juntamente com Rousseau e Montesquieu, do movimento Iluminista. Durante sua vida foi crítico da aristocracia, dos dogmas religiosos e da Igreja. Escreveu poemas com críticas políticas, diversos contos filosóficos e obras contra seus opositores. Somente no final de sua vida publicou um artigo em que procurava defender a fé cristã (REALE E ANTISERI, 1990, p. 725-729). 8 Jean-Jacques Rousseau nasceu na cidade de Genebra no ano de 1712. Teve uma infância com infância complicada, visto que sua mãe havia morrido no parto. Sua educação se deu primeiramente por um pastor calvinista e depois por um de seus tios. Mais tarde após ter após se mudar para as proximidades de Chambérry, teve a possibilidade de estudar. Por volta do ano de 1741 quando vai morar em Paris e, por meio da amizade com o também filósofo Diderot e os demais enciclopedistas, começa a desenvolver sua grande produção filosófica. Suas duas principais obras são chamadas de: O contrato social (1762) e O Emílio (ou Da Educação) escrito no ano de 1763 (REALE E ANTISERI, 1990, p. 750-755) . 9 Emanuel Kant nasceu no ano de 1724 em Königsberg numa família de modestos artesãos. Teve uma infância sofrida, devido a morte de vários de seus irmãos, mas recorda com gratidão da educação dada por seus pais, mas principalmente a sua mãe. Na realidade, Kant sempre levou uma vida austera e difícil devido a sua própria genialidade. É considerado um dos maiores pensadores da Era Moderna e tem uma vasta produção literária, tendo como destaques as obras: Crítica da razão pura (1781), Crítica da razão prática (1788) e Crítica do juízo (1790). No ano de 1803 escreveu uma obra sobre a educação intitulado A pedagogia (REALE E ANTISERI, 1990, p. 855-860). 10 Giambattista Vico nasceu na cidade de Nápoles no ano de 1668 e faleceu em 1744. Dedicou-se aos estudos de Filosofia e Direito, bem como a leitura de diversas obras de literatura. Foi um filósofo crítico e inovador para toda sua época e, por isso, teve diversos problemas em sua carreira como professor. Além do mais, enfrentou dificuldades financeiras e na relação familiar, o que acabou por atribular ainda mais sua vida. Não obstante a tudo isso, dedicou-se a reflexão e aos estudos e teve uma extensa produção filosófica, fatos que o tornaram um dos principais pensadores do século XVIII (REALE E ANTISERI, 1990, p. 625630). 26 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata entre outros. Esse movimento se espalhou ganhou corpo juntamente como que uma onda revolucionária transformava a vida social, econômica e política da Europa. No que tange aos aspectos educacionais, começam a surgir o trabalho de Rousseau que com seus escritos, passa a defender que é preciso haver no processo de educação um retorno às coisas da natureza. Esse princípio colocado por Rousseau leva a compreensão de que o processo educacional deve ser dar por meio da liberdade orientada, afim de desenvolver as potencialidade humanas (REALE E ANTISERI, 1990, p. 767-770). O seu livro Émile, acabou se tornando importante para a época, pois por meio dessa obra começa a considerar a necessidade dos direitos da infância, bem como sobre a importância da educação infantil. Nessa obra Rousseau defende que o ser humano nasce bom e quando deixado a seguir suas inclinações naturais poderá alcançar mais facilmente a felicidade. Pouco tempo depois essas ideias expostas na obra acabaram sendo criticadas por vários filósofos, que eram começaram a entendê-las como unidirecionais, já tinham como base somente a natureza humana. Na Alemanha, por exemplo, filósofo Immanuel Kant começa a pensar a educação a parti de uma nova perspectiva. Para Kant, um dos elementos essenciais ao processo educativo é a coerção. No sentido kantiano, a coerção prepara a criança e o jovem a compreender as leis e a fazer delas princípios de conduta. Desse ponto de vista, Kant é bem diferente de Rousseau, pois no seu entender a disciplina, a ética, a cultura e a moral formam as bases e dão sentido a educação (CAMBI, 1999, p. 363-364). Outro filósofo importante e que nasceu um pouco antes de Rousseau e Kant foi Giambattista Vico. Esse pensador tinha uma visão diferente. Mesmo sem escrever uma obra de Pedagogia, mas sua extensa obra filosófica expõe importantes ideias sobre a infância. Para ele, a criança é totalmente diferente do adulto e, consequentemente, não racional, ou seja, a infância é o período da observação, da imitação, da fantasia e da poética. Por isso, o processo educativo deveria ser por meio de fábulas e com atividades poético-práticas (CAMBI, 1999, 9. 359). A visão de Vico sobre a educação infantil acabou por colaborar sobre a necessidade do lúdico e não somente do processo intelectualista na formação da criança. No século seguinte, século XIX, o processo de organização de uma educação pública começa a tomar conta de toda a Europa. Isso acontece porque já estava de consolidado a revolução industrial, a produção agrícola passa a implementar novas tecnologias e novas configurações de governo tomam conta do poder. Para Aranha (1996, p. 149) “o fenômeno da urbanização acelerada, decorrente capitalismo industrial, cria forte expectativa com respeito à educação, pois a complexidade do trabalho exige qualificação da mão-de-obra”. Assim sendo, passa a ser vista como fator preponderante para o crescimento e manutenção das exigências do capital. Por outro lado, vale lembrar que em meio a tudo isso persiste na sociedade europeia o excesso de trabalho que os operários deveriam realizar e, a mão-de-obra infantil e a feminina é muito grande, sem contar que a diferença entre ricos e pobres é alarmante. Portanto, com todos esses aspectos que afetam a sociedade acabam levando a reflexões ao mundo da educação. E a partir daí, surgem no campo educacional algumas figuras importantes e com outros entendimentos sobre a importância da educação. Esses estudiosos são: Johann H. Pestalozzi (1746-1827) que foi o primeiro a defender a generalização da instrução, Freidrich Froebel (1782-1852) que seguindo as ideias de Pestalozzi funda os chamados 27 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata jardins de infância e Johann F. Herbart (1776-1841) que procurou dar a pedagogia status de ciência, buscando desenvolver um método e dá-lo maior rigor. 4. Marello personagem do seu tempo Marello nasceu no dia 26 de dezembro de 1844 em Turim. Portanto, quase toda a sua existência se deu na segunda metade do século XIX na região norte da Itália, lugar em que ocorriam, na época, diversas mudanças sociais, econômicas e religiosas, principalmente aqueles ligados à história da Itália. É possível afirmar que ele conheceu bem todo esse movimento, pois viveu no período da unificação da Itália, além do mais teve a oportunidade de conhecer bem de perto os problemas do seu tempo e sentiu as diversas dificuldades pelas quais o povo passava. A respeito de todos esses aspectos Forno (2006, p. 27) escreve: a vida de São José Marello corta transvesalmente um cinquentenário de mudanças excepcional para a história do país. A temporada revolucionária Quarantottesca, a preparação e celebração bem sucedida do processo de renascimento nacional (que era o mesmo José Marello apoiante fervoroso em sua juventude), as medidas anticlericais de 1850 e 1855 (com a supressão quase total das ordens religiosas e dizer a incametamento dos bens eclesiásticos, um prelúdio ou ações decorrentes do biênio 1866-1867), a dupla transferência da capital, constituem apenas alguns pontos da história na qual se encontra toda a obra marelliana. Já mais voltado aos aspectos religiosos, continua o mesmo autor: a estes são adicionados vários eventos e circunstâncias que influenciaram a história do universo especificamente católica: a convocação do Concílio Vaticano I (1869-70) até a proclamação da non expedit, a promulgação, em 1991, a encíclica Rerum Novarum em inícilização da aproximação dos católicos na vida do Estado, mediada pela intervenção do Congresso e das comissões católicas (organização ramificada de católicos radicais, nascido em Veneza, em 1874, que incorporou uma série de características totalmente novas em relação a experiência do passado político, social e aspectos culturais do laicato católico italiano) (FORNO, 2006, p. 27). Mas foi na fase importante da sua vida que ele mais vivenciou essas mudanças, ou seja, em toda sua juventude, não que isso não tenha ocorrido enquanto adulto, mas é no período da infância até a vida adulta em que a pessoa mais sente os impactos das mudanças que ocorrem ao seu entorno, pois é no percorrer desses momentos que se dá grande parte do processo de formação e a busca de afirmação de uma pessoa enquanto ser social, intelectual, profissional e porque não, espiritual. E é também nesse momento da vida que a pessoa mais passa pelo processo de educação formal, pois como se sabe, é a hora de frequentar a escola até a conclusão de um curso superior. E com o Marello não foi diferente. O maior momento da experiência educacional do Marello se deu nesse período ‘conturbado’ da história da Itália e de maneira geral em toda a Europa, pois como sabemos era um período da efervescência de muitas ideias que mexiam com a vida do povo, com a classe política, com a produção econômica e com a maneira de educar e 28 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata entender a educação. Escrevendo sobre a juventude do Marello, e de maneira especial sobre a escola em que o Marello estava inserido, Dalmaso (1998, p. 7) escreve: a escola que ele frequentava naquele período era uma importação dos modelos escolares do norte da Europa, onde o ambiente protestante liberal havia substituído os modelos de escola clássica e humanística por aqueles de caráter técnico e econômico para preparar os jovens para o mundo industrial que estava nascendo naqueles anos. A Itália dessa época tentava se afirmar em todas as suas bases políticas. E isso afetou em cheio a educação da época. Como se sabe, a educação é uma das formas mais fáceis de transmitir uma ideia ou de formar as pessoas numa linha de pensamento e, de certa forma, até mesmo manter algum tipo de interesse, principalmente aquele que diz respeito ao Estado. E foi bem na época de educação do Marello que mudanças no processo educacional começaram a ocorrer. Dalmaso (1997, p. 29) comentando a esse respeito, assim escreve: com a lei de Buoncompagni de 1848, se regulou pela primeira vez a escola pública no Piemonte; e somente com a lei Casati de 1859 foi promulgada a primeira lei orgânica e única sobre a instrução pública, com a evidente intenção de tirá-la das mãos da Igreja e transformá-la em educação secular para os novos cidadãos do estado liberal. Foi vivendo esse processo que o Marello perpassa toda a sua formação escolar. Talvez essas experiências importantes e que marcaram a sua história, fez com que ele tivesse a oportunidade de olhar o mundo e a sua realidade numa outra perspectiva. Como se sabe, todas as mudanças sociais, movimentos políticos, questões econômicas e religiosas de certa forma acabam afetando as pessoas e, além do mais, trazem coisas que podem ser categorizadas como positivas ou negativas. Na vida do Marello isso não foi diferente. Quando se lê suas cartas juvenis11, é possível observar em várias delas comentários a respeito daquilo que ele está vivendo, além da sua preocupação com o momento histórico da sua pátria. É notável também que em outros seus escritos ele exponha suas preocupações com relação ao que a Igreja e a vida eclesial estava passando. Olhando assim, dá pra se ter uma ideia de que ele era uma pessoa muito ‘ligada’, ou melhor, entendia bem o momento presente e buscava compreende aquilo que ocorria a sua volta e na vida do povo. Mas não foi só o ambiente que o Marello estava inserido que o formou. Temos que observar que segundo seus biógrafos, o Marello era uma pessoa privilegiada. Muitos deles falam de uma pessoa brilhante nos estudos, um exímio leitor, com grande capacidade pra escrever e expor suas ideias, observador atento da realidade, esforçado nas suas tarefas e com visão de futuro. Portanto, uma pessoa que possuía um ‘diferencial’. Num texto sobre seu retrato físico e espiritual, Pasetti (2010, p. 5) escreve: 11 As cartas juvenis do Marello são aquelas classificadas durante o período em que ele esteve no seminário. São basicamente 16 cartas que foram escritas aos seus diversos amigos entre os anos de 1864 e 1868. Segundo Bandinu e Santiago (1999, p. 9) essas cartas escritas pelo Marello mostram a sua exuberância juvenil, a fé, o amor pela pátria e a paixão pela igreja. E, além disso, revelam um jovem forte, cheio de entusiasmo, inteligente e preocupado com seus amigos, tanto que em diversos momentos dava conselhos e os encorajava. Ao lê-las é possível notar o amadurecimento e a sua vontade em seguir seus sonhos de vida. 29 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata de inteligência pronta, saia-se muito bem nas matérias literárias: em 1960 uma redação sua sobre Vitório Alfieri, preparada para um amigo, obteve o primeiro prêmio, mas ele não permitiu que soubessem o seu nome. Saia-se melhor ainda nas ciências exatas: em Turim exerceu por cerca de um ano e meio a profissão de projetista e ainda se conserva daquele tempo um estudo seu de um desvio de estrada entre Govone e San Martinho Alfieri; quando clérigo desenhava com arte as capas do jornalzinho interno do seminário; ele mesmo desenhou o brasão episcopal e o apresentou para aprovação ao conselho de heráldica; os seus livros-caixa são um modelo de ordem e exatidão. E no mesmo texto, escreve Pasetti (2010, p. 5): pelos seus rascunhos e pelas suas cartas aos amigos sabemos quais eram as leituras que fazia durante as férias de verão em S. Martino. Leu com interesse o ‘Telèmeco’ de Fenelon, os ‘Mártires do Cristianismo’ de Chateaubriand, os ‘Sermões’ de Massilon, os ‘Pensamentos’ de Pascal, ‘Os Noivos’ de Alexandre Mazoni, os livros de Gioberti e os de Balbo, as ‘Confissões’ de S. Agostinho, a vida de S. Margarida Alacoque. Sempre a partir dos escritos, conhecemos as seguintes obras por ele lidas ou citadas durante o período sacerdotal e episcopal: A ‘Summa Theológica’ de S. Tomas de Aquino, a ‘Regra’ de São Bento, as ‘Homilías’ de S. João Crisóstomo, a ‘Filotéia’ e os ‘Colóquios espirituais’ de S. Francisco de Sales, as obras de Santa Tereza e S. João da Cruz, o ‘Maná da alma’ de Segneri, ‘O Combate Espiritual’ de Scupoli, ‘O grande meio da oração e Prática de amar Jesus Cristo’ de S. Afonso, as ‘Máximas espirituais’ de Rosmini, as ‘Conferências espirituais de Notre Dame’ de Lacordaire e as ‘Conferências espirituais’ de Pe. Faber, o ‘Tratado da verdadeira devoção’ de Montfort, a vida de São Jerônimo de Bougaurd, a ‘Vida de São Carlos’ de Sylvain, o ‘Dicionário Histórico’ de Moroni; e ainda a ‘Imitação de Cristo’ que ele carregava sempre e que foi encontrada com ele no leito de morte, com o marca-páginas assinalando o capítulo ‘De gloria coelesti’. Escrevendo sobre sua personalidade, Pasetti (2010, p. 5-6), argumenta: deve ser lembrado ainda que o Marello tinha uma memória prodigiosa: vista uma vez uma pessoa, não esquecia mais... A sua conversa era alegre e agradável e sabia enriquecê-la com argúcia e anedotas... Por temperamento o Marello era sincero e disposto, com tendências até de distinguir-se, como referiam alguns colegas de seminário e outros. Todavia soube dominar-se de tal maneira que foi considerado mais tarde como a imagem personificada de doçura e humildade. O autor, Bertolin (2008, p. 13) segue a mesma linha de pensamento e acrescenta: Por possuir uma inteligência brilhante, Marello era exemplar e muito capacitado nos estudos. Lia e estudava os autores latinos, como Cícero e Horácio e fazia traduções excelentes da Língua Latina. Suas notas do final do ano escolar de 1860 foram ótimas e do latim ao italiano variaram entre oito e dez. Aos 16 anos poderia se dizer que o Marello era um bom latinista e um cultivador do falar bonito, atento a tudo o que acontecia na Itália naqueles anos. Em diversas páginas de seus cadernos ele escrevia pensamentos citando Alfieri, Filicaia e outros pensadores. Era ciente de sua inteligência, tanto é verdade que em uma das páginas de seus cadernos 30 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata escreveu uma frase exaltando suas capacidades, mas depois, certamente, pela sua humildade se encarregou de rabiscá-la. Em outra passagem, Bertolin (2008, p. 16) escreve: Sempre estudioso, ele demonstrara o seu amor pelos estudos ao escrever ao seu amigo Rossetti, no final do ano de 1866 (Cfr. Carta N. 4) na qual afirmava que tinha recolhido no decorrer dos três últimos anos um bom material e como este estava examinando as chagas da sociedade a fim de elaborar um livro. Seria uma obra de caráter provavelmente ético-social, mas tomando depois outros afazeres nunca pôde realizá-lo. Todas essas citações mostram por um lado uma personalidade importante que o Marello possuía e, por outro, ele teve a oportunidade de ter toda a sua vida cercada de fatos importantes. Como se sabe, todo o ambiente influencia a formação de ser humano. Eles podem gerar coisas positivas ou negativas, dependendo de como são encarados e vividos. Para o Marello pode-se afirmar que trouxeram benefícios, pois soube ler na história daquele momento em que estava vivendo e, acima de tudo, projetar a sua vida, crescer e se realizar como ser humano. E além do mais, sua personalidade contribuiu muito para que ele pudesse atingir o patamar que hoje bem o conhecemos. Olhando assim parece que a sua formação trilhou esse caminho: ora influenciado pela questão do ambiente que estava inserido, ora pela sua personalidade e inteligência. Mas lendo um pouco mais a sua biografia é possível encontrar que desde a sua infância na casa paterna já se havia uma grande preocupação com a boa formação. Escrevendo sobre os primeiros anos de escola e sobre a formação em sua família, Dalmaso (1997, p. 32-33) assim relata: Por conseguinte, sem impedir o desenvolvimento futuro dos acontecimentos, é importante entender as duas linhas de ação e de formação que foram dadas, sob a guia da mão do Senhor, na família Marello: uma primeira linha, digamos assim, José e Vittorio são inseridos na vida do país; uma segunda linha, que ocupará mais e mais o seu tempo para seguir o caminho humano, espiritual e religioso, em preparação para seu futuro vocacional, será todos fora do povoado de San Martino. Portanto, para tentar estabelecer um paralelo na vida do Marello, penso que seja oportuno olhar esses dois aspectos: uma pessoa de grande personalidade, inteligência, que teve uma boa formação desde os tempos da casa paterna e, uma pessoa que viveu numa época de grandes movimentos que o fez olhar a história e não ser espectador, mas protagonista. Mas o que tudo isso tem em relação à pedagogia marelliana? Essa não é uma resposta simples, mas para tanto é importante atentar dois aspectos: o Marello enquanto pessoa de grande capacidade que desde a sua infância recebeu uma boa formação e com o passar do tempo soube desenvolver um projeto para sua vida e, por outro, o momento histórico que ele vivia. Foi tendo uma vida dentro desses dois paralelos, ou seja, uma pessoa com formação sólida e, ao mesmo tempo, uma pessoa dotada de muitas capacidades que o 31 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Marello procurou responder às necessidades do seu tempo. Ele não viveu num momento de facilidades, nem tampouco cheio de privilégios. Ele precisou encarar os problemas e ir ao encontro de alternativas para solucioná-los. E foi isso que o fez ir ao encontro mudanças às dificuldades que ele presenciava. Portanto, por ser um homem proativo (numa linguagem mais atual), que procurou fazer algo para responder aos problemas de sua época é que se pode falar de uma pedagogia marelliana. Esta pedagogia deve ser vista a partir do prisma da preocupação que o Marello tinha pelo outro, pelo seu próximo. Talvez por isso ele tenha se preocupado tanto em criar os grupos de catequese para dar formação aos trabalhadores, esboçou a Companhia de São José e mais tarde fundou a Congregação dos Oblatos de São José, escreveu muitas cartas de incentivo a seus amigos, buscou sempre dar bons conselhos aos que a ele se achegavam, escreveu uma carta importante sobre a educação dos filhos, etc. De certa forma todas essas preocupações fazia com que ele ‘apostasse’, ou melhor, acreditasse no ser humano. Isso tenta explicar um pouco a sua vontade em fazer a caridade e, ao mesmo tempo dar condições para que a pessoa pudesse viver com seus próprios esforços. Num artigo retirado dos escritos do Padre Cortona e publicado pela revista Marellianum e posteriormente traduzida nos Estudos Marellianos (2010, p. 52) é possível ser lido: “nos 17 anos que convivi com a amável presença de Dom Marello, tive provas evidentes e constantes que ele tinha um coração sinceramente amante de todas as pessoas com as quais tinha que tratar”. Esse talvez fosse o grande diferencial do Marello: querer o crescimento do ser humano. No fundo, fazer um estudo de pedagogia é tentar colocar aspectos para favorecer o crescimento da pessoa. Por sua própria definição – segundo o dicionário da Língua Portuguesa Aurélio (2004) – Pedagogia quer dizer: 1 Teoria e ciência da educação e do ensino. 2Conjunto de doutrinas, princípios e métodos de educação e instrução que tendem a um objetivo prático. 3O estudo dos ideais de educação, segundo uma determinada concepção de vida, e dos meios (processos e técnicas) mais eficientes para efetivar esse ideais. 4Profissão ou prática de ensinar. Analisando de maneira muito rápida parece que nenhuma das definições feitas pelo dicionário não se encaixa na figura de Marello. Isso pode muito bem acontecer – e é até compreensível – já que ele não era um educador por profissão e nem mesmo um estudioso da educação. Além do mais, as definições dos dicionários devem ser mais do ponto de vista técnico, não colocando que a pedagogia – e também toda ciência – tem no fundo um aspecto ligado a utopia que é de fazer um mundo diferente e melhor. Mas quando se analisa a sua personalidade, seu modo de entender o ser humano e como ele se preocupava com o crescimento e melhora de vida das pessoas, seja nos seus atendimentos, nos momentos de ajuda materiais ou de aconselhamento, reunindo as pessoas para a formação catequética, fundando uma congregação que iria, no seu início, se dedicar ao trabalho mais simples junto às pessoas menos favorecidas da época e, por fim, fundando uma pequena escola, é possível verificar que o Marello tinha ideais na vida e, segundo as suas concepções, buscava meios para efetivar esses ideais, no sentido de promover o ser humano. No fundo, o trabalho do educador nada mais é que promover o educando a um patamar maior é fazer como ele cresça e se torne alguém no mundo, seja 32 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata cidadão responsável que saiba assumir a sua liberdade e, que acima de tudo, procure tornar o mundo um ambiente mais habitável e desejado de ser vivido. Por esses aspectos dá pra entender que o Marello até de certo modo vivia e desenvolvia no seu dia-a-dia como que um pouco da ‘função de pedagogo’, mesmo sem o ter sido do ponto de vista técnico e profissional. Atualmente, o que mais se reforça e se entende por aquela pessoa que desenvolve o trabalho como pedagogo, é que se trata um profissional que tem a capacidade e a habilidade de trabalhar nas funções de docente e na gestão pedagógica e educacional. Mas não deve ser só isso. Ele é também um profissional comprometido com o desenvolvimento do ser humano e com a qualidade de vida da uma comunidade ou das pessoas, além de ser um agente de produção e transformação do conhecimento. E a principal chave para ter um entendimento melhor da pedagogia marelliana, é olhar a vida do Marello, ou seja, perceber que a sua maior preocupação foi levar às pessoas e às comunidades onde ele exercia sua função a melhora nas relações familiares, o encontro do ser humano consigo mesmo e como o transcendente, o apoio com por meio de seus conselhos, além da sua preocupação em formar as pessoas pelo coração e cidadãos comprometidos com os valores cristãos. 5. Conclusão Tentar situar o Marello no seu tempo como um ‘pedagogo’ pode não ser uma decisão acertada. O Marello não foi um pedagogo. Na verdade, ele teve um grande entusiasmo pela vida e, acima de tudo, buscou, a todo custo, levar algo de diferente à vida das pessoas. Isso é possível concluir a partir do seu empenho enquanto pessoa, pois primeiramente foi um homem de grande cultura e, pelos relatos de seus biógrafos, foi uma pessoa estudiosa, empenhada nos tempos escolares, amante dos livros e da boa leitura e homem de visão para como o futuro. Além disso, soube a luz da fé e também pelos seus próprios esforços, ler a realidade, entender o que se passava e buscar soluções para as dificuldades das pessoas. E isso é possível notar quando se lê os depoimentos que deram sobre sua vida e pelas obras que iniciou. O Marello não deixou um legado pedagógico, mas mostrou o caminho de como fazê-lo. Nos seus escritos o que se nota em diversas passagens é a preocupação para com a pessoa. Por esse motivo, é possível ter clareza que sua maior preocupação era levar algo que pudesse transformar a vida daqueles que viviam em sua época. A educação deve ser um agente que transforme e que possibilite uma vida autêntica a todas as pessoas. Ela não pode ser simplesmente um instrumento de informação, mas ter como objetivo a formação do ser humano. O Marello não foi um professor, nem mesmo um teórico da educação, mas enquanto líder, homem integrado em seu tempo, e pessoa de profunda fé, teve sempre a preocupação de indicar os caminhos para uma vida que pudesse ser reconhecida e vivida como verdadeira. 33 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Referências ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da educação. 2 ed. São Paulo: Moderna, 1996. BERTOLIN, José Antônio. São José Marello – focado em algumas particularidades de sua vida. Apucarana: Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana, 2008. CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1990. CORTONA, João Batista. A caridade de Dom Marello. In: Estudos Marellianos. 2 ed. Curitiba: 2010. DALMASO, Severino. 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Introdução “Somente dos santos, somente de Deus, pode vir a verdadeira revolução, a mudança decisiva do mundo”12 (Bento XVI). A verdadeira história não é feita de guerras e de personagens já apagados pelo tempo, mas pelo Espírito Santo, e pelos verdadeiros heróis, homens e mulheres geniais que são os santos e as santas, que escreveram páginas de mudanças no campo religioso, social, pedagógico que estão aí para desafiar os tempos. O nosso Fundador José Marello (1844-1895), sendo um autêntico santo, era, ao mesmo tempo, homem de Deus e homem de seu tempo e não podia de forma nehuma estar fora, à margem, do seu mundo; sentiase ator e não mero espectador das mudanças que estavam acontecendo. Era pessoa muito inteligente, um profundo crítico da sociedade política e eclesial, um ‘devorador’ de livros e pensadores de grande envergadura, um conhecedor profundo de filósofos, pastoralistas, teólogos, historiadores, sobretudo, franceses que lia na língua original com muita facilidade. Eis um texto juvenil (um tanto longo) que exprime o que pensava sobre a leitura: Você me pede conselho sobre os livros que deve ler? O meu pobre parecer é este: poucos e bons. Os efeitos da leitura não se percebem imediatamente, e isto nos leva muitas vezes a duvidar do proveito com que lemos. Convençamo-nos de que tudo o que lemos com convicção e com amor, grava-se indelevelmente dentro de nós e não se apaga mais. Não nos perturbemos se, percorrendo a origem das nossas ideias, não podemos mais a delinear a sua forma primitiva; a semente transforma-se e produz um fruto que não conserva mais vestígio algum do primeiro embrião. Se somos capazes de conduzir um raciocínio com a síntese, com a análise, com a indução, com a analogia, devemos isso àqueles bons livros que nos ensinaram o método. Você saberia por acaso qual livro, a qual gênero de livros atribuir o mérito deste progresso? A todos e a nenhum. O tempo fecunda a agregação de muitos átomos vagantes e disto resulta um corpo. A qual átomo podemos chamar de gerador de todo o agregado? Cada livro que lemos é um átomo que assimilamos à massa; o mérito é do tempo, ou melhor, de Deus, que fecunda a assimilação. Falando concretamente: leia a Bíblia, que é fonte inesgotável de verdade. Oh, se todos a lessem, não haveria tanta petulância nos eruditos, que com facilidade sabem levar na conversa. Familiarize-se com os pensamentos de Balbo que hão de dar-lhe bons critérios para formar opinião sobre as muitas questões de hoje. E aqui é mesmo o caso de não desanimar se os efeitos não forem imediatos. Certas sementes apodrecem um ano debaixo da terra e depois germinam, não se sabe como. Se você encontra na paróquia outros livros que tratem de questões contemporâneas com autoridade e profundidade de juízo, ponha-se a desentranhá-los. Não preciso demonstrar-lhe que é nossa missão manter sempre as ciências sobrenaturais ao nível e em concordância com as naturais tanto experimentais como especulativas. Não conheço Wiseman, mas sob este ponto de vista só pode ser bom. Sobretudo, aconselho a por no papel os raciocínios que vai desenvolvendo na cabeça. O intelecto apresenta um daqueles fenômenos que 12 Homilia 20\08\2005 na Alemanha e no Brasil 13|05|2007. 35 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata observamos tantas vezes no mundo animal: quanto mais se tira, mais aparece e mais se multiplica a produção (MARELLO, 20 Agosto 1866, L 5). Esta carta foi escrita para o amigo de seminário Rossetti que incentivou o Marello a ler os autores franceses. Em outros momentos da vida, já sacerdote, voltava ao assunto: Sim, as vidas dos santos! Faça a prova e depois me saberá dizer algo certo. Temos necessidade de nos elevar à altura dos grandes modelos; de elevar o tom do nosso diapasão moral; de quebrar de uma vez o círculo vicioso de nossos propósitos e renovação de propósitos (MARELLO, 11 Janeiro 1869, L. 26 a outro amigo Delaude). E ainda: “leia, releia e medite” (MARELLO, 23 Fevereiro 1869 L. 33 ao mesmo). Dá para imaginar e entender facilmente como foram todos estes livros e autores que o ajudaram aos poucos a fazer uma síntese interior, a criar um seu estilo rico de profunda vida interior que desabrochou numa praxis pedagógica, um tipo de ‘pedagogia humano- espiritual’ que ele colocou na prática, e o levou à santidade. Esta mesma pedagogia inculcou nos seus discípulos mais com a vida, com o testemunho do que com os escritos. O seu século XIX foi fértil socialmente e desenhou um novo mapa da Europa (da Itália de forma especial) recém saída da revolução francesa (1789) a partir da revolução de cunho industrial, da novidade do socialismo e do liberalismo, e de uma mistura de forças antagônicas que geraram conflitos, mas, que dentro da Igreja fez florecer uma nova primavera de vida, de obras socias, de santidades. Assim o século de Karl Marx (1818-1883) de Friedrich Engels (1820 -1895), de Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), de Michail Alexandrovič Bakunin (1814-1876), o século dos nacionalismos e surgimento de novas nacionalidades com as guerras de independência, da massonaria, do começo da industrialização, - tanto para citar algumas realidades deste século- foi também aquele de uma nuvem de testemunhas eclesias e santas que construiram uma nova Igreja com a pedagogia do Evangelho ou como costumava afirmar Don Bosco com a ”política do Pai nosso”. A seguir, vai uma lista dos principais santos “pedagogos” contemporâneos do Marello: Venerável Pio Bruno Lanteri (1759-1830); São Giuseppe Cafasso (1811-1860); São João Bosco (1815-1888); São José Agustinho Bento Cottolengo (1786-1842); José Allamano (1851-1926); São Leonardo Murialdo (1828-1900); Santa Maria Dominga Mazzarello (-1881). (A lista é, todavia seria bem maior e para isso coferir: “S. Giuseppe Marello nella storia del Piemonte nella seconda metá del XIX\Secolo- Simpósio 21-25 Setembro Asti, artigo de Giuseppe Tuninetti, p. 17-30”). “Em Deus, mais se navega, mais se descobrem novos mares”, escreveu o agostiniano espanhol Frei Luis de León (1527-1591), e nós, de certa forma podemos dizer isto de José Marello: mais o conhecemos mais descobrimos mares e oceanos de vida. E o mesmo Marello escreveu na famosa carta onde esboçava ao Cônego Cerruti aquela que devia ser a “companhia de São José”: “As obras dos Santos que os séculos têm respeitado, foram sempre assinaladas por este caráter da simplicidade” (MARELLO, 25 Outubro 1872, L.83) Na sua humildade, não podia sequer imaginar que estas palavras um dia pudessem se referir de forma especial a ele. É nas cartas da juventude, sobretudo, 36 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata mas também em outros escritos, que encontramos os ecos da vasta cultura do Marello e conhecemos os autores que fizeram a “sua cabeça” de homem santo que soube dar respostas convincentes seja no campo religioso e eclesial, seja no social e pedagógico. Aqui neste pequeno estudo vamos tentar entrar neste mundo cultural-espiritual do Marello. Não tenho a pretensão de ser exaustivo, (nos limitaremos aos escritores de maior destaque no cenário mundial e de seu tempo), mas, quem sabe, este pequeno ensaio poderá ajudar a desenhar, futuramente, uma visão mais completa de um homem que soube espaçar em vários saberes, como a filosofia, a matemática, a ciência política, a teologia e a espiritualidade. 2. O Marello Jovem Na carta escrita para o seu amigo Estêvão Rossetti em São Martinho Tánaro nas férias, Marello cita o autor Fénelon 13. Eis o que o Marello fala sobre Fénelon e sobre “As aventuras de Telémaco”14, obra que ele leu. Em primeiro lugar agradece o amigo por lhe escrever em francês, língua que “me agrada” e afirma que começou a ler a obra “Les avventures de Telemaque” que define como “enfado” no começo e depois como “deleite de uma leitura amena” (MARELLO, 1 Agosto 1866, L. 4). No fim da obra fala de sua emoção com a mente inebriada pela história daquelas grandezas tão inefavelmente pinceladas. Oh, quanta riqueza de sábios e fortes conselhos, quanta doçura de amor naquele livro! Bendisse o grande prelado francês que concebeu um poema tão estupendo de grandeza antiga, mas bendisse também a língua francesa, ao ver que nem sempre ela se prostitui no trívio em trajes de merertriz, nem sempre ela se presta a cobrir as impudências e as aberrações de uma descarada camarilha de demagogos...[...] Permita-me então, dizer que, ao ler o seu juizo sobre Michelet, com a memória ainda quente das belas páginas de Telêmaco, pensei em estar lendo uma das bonitas passagens do romance francês, onde o grande escritor, com vôo poderoso de águia, levanta-se a meditar sobre as multíplices contingências da família humana (MARELLO, 1 Agosto, 1866, L 4). “A riqueza dos sábios fortes conselhos [...] sobre as contingências da família humana”(Cfr. carta acima) devem ter mexido também no coração do jovem Marello e 13 François de Salignac de La Mothe, bispo e escritor francês. Nasceu no castelo de Fénelon, Perigord em 1651 e morreu em Cambrai em 1715. Conhecido por seu “Tratado da educação das moças”, foi nomeado preceptor do Duque de Borgonha em 1689. Escreveu também “Fábulas”, “Diálogos dos mortos” (1712) e as “Aventuras de Telêmaco” (1699). Uma obra dele “Máximas dos santos” foi condenada pela Igreja. Ele se retirou, obedecendo, para Cambrai onde era Arcebispo. 14 Fénelon escreveu esta que é sua obra prima, Telêmaco, um verdadeiro romance pedagógico, para preparar o futuro rei da França, o duque de Borgonha (1682–1712), transformando-lhe o caráter agressivo e vicioso e levando-o, pela ficção das inúmeras experiências de uma longa viagem, a acautelar-se contra o luxo e os prazeres excessivos, contra a lisonja, as tentações do despotismo, o espírito de conquista, a ambição e a guerra. O duque, neto de Luís XIV e herdeiro ao trono, acabou falecendo ainda jovem. “As aventuras de Telêmaco” fala de Mentor, personagem secundário da Odisséia de Homero, um sábio e fiel amigo de Ulisses, rei de Ítaca. Quando Ulisses partiu para a Guerra de Tróia, lhe confiou seu filho Telêmaco. No entanto, muitos anos após o término da guerra, Ulisses ainda não havia conseguido voltar ao seu lar. Telêmaco decide sair em busca de notícias do pai. Nesta viagem tem lugar de destaque Salento uma cidade que simboliza a utopia da paz. Mentor era uma personagem de pouco significado na Odisséia e só assumiu mais importância quando Fénelon escreveu As Aventuras de Telêmaco, em 1699. Na obra, Fénelon tira Mentor da obscuridade e o eleva à condição de segundo pai, professor, orientador e guia de Telêmaco. Com o sucesso da obra como material educacional, em 1750, a palavra mentor passou a figurar nos dicionários muitas línguas como sinônimo de conselheiro sábio, além de protetor e financiador. 37 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata deixado sinais em sua mente e em sua vida. A pedagogia de Fenelon com certeza deixaram alguns “atómos” de valores em sua vida. Tinha 22 anos e as recentes “experiências” juvenis de Turim estavam ainda em seu coração. Tinha superado a crise, mas, é óbvio que a obra o ajudou a firmar-se nas escolhas que tinha feito e aprovava certamente a luta de Telemaco contra os prazeres, o luxo, a ambição (esta em Turim, para ele tinha sido o “pivó” da crise. Cfr. 5) o despotismo, as lisonjas. Ao longo de sua vida podemos observar que ensinou a jovens e adultos e praticou este estilo e estes valores. Valores que atingiu da fé, do Evangelho, sem dúvida, mas que esta obra,- por que não?lhe confirmou como válidos para toda a aventura humana da vida. Na mesma carta 4 Marello se coloca, com ousadia, até acima de Michelet15 ainda seu contemporâneo. Não conhecemos qual obra de forma especial leu de Michelet. Supõe-se que tinha um bom conhecimento deste historiador, da obra como um conjunto dele, pois, conseguiu fazer uma profunda crítica e síntese pessoal, como veremos. Eis o que Marello escreve e comenta sobre Michelet: Ja li o Telêmaco e muitos outros livros e agora estou trabalhando com afinco em coisas bem mais importantes.Você leu Michelet e eu agora estou recolhendo memórias para um quadro, no qual o que trata o fislósofo e histórico francês é somente uma parte, um episódio. Expressei-me mal em dizer ‘estou recolhendo’, pois na verdade, já recolhi memórias ao longo de três anos em que estopu examinando as pragas da soxciedade. O que ora faço é coordená-las a um grande princípio, a uma idéia fundamental, que seja como que a alma, o centro da tela. Quando estive em Turim, recolhi as últimas memórias que se engrenam com as de dois anos atrás. Assim durante estas férias, espero poder completar os meus estudos em propósito e ter, finalmente, um trabalho completo. Oxalá o céu me dê vontade, coragem e paciência. O teólogo Marello estava muito interessado na análise filosófica e crítica da história de Michelet. Por que ele se colocou acima deste autor ainda seu contemporâneo naquela altura? Qual a ousadia do Marello? A propósito de Michelet, comenta Gino Maggi (L´Osservatore Romano, 30 Outubro 1974, citado em Dalmaso, 1997, p. 252-253) A culpa de Michelet foi de ter pertencido à grande geração romântica, aquela de Vigny, Balzac, Hugo, Dumas, Georges Sand e Sainte-Beuve. Os antiromânticos acusavam Michelet de ter um espírito “extremista, por demais exuberante” no sentido literal da palavra, com uma tendência, com um exclusivismo apaixonado, à propria paixão e à própria meta: ao resgate do eu, a primazia da fantasia e da sensibilidade, a exaltação do espírito nacionalista. Michelet foi na verdade um autêntico espírito e mestre do pensamento romântico lido, escutado, consultado, honrado na França e em toda Europa. Marello também tinha Michelet em conta de grande historiador, mas seu espírito crítico o levava a aplicar a filosofia iluminista aos fatos da história, ancorando-a a pre-história, como fosse algo de muito puro que os condicionamentos humanos teriam em seguida deturpado. Consequência disso era que o seu espírito crítico tinha se tornado anticatólico e que o seu prodecer por intuições acríticas, por simpatias, per veleidades libertárias, pelo seu jeito devagar demais na profecia antihistórica, o conduziram, nas ultimas obras, a uma sintese arbitrária e éxitos historicamente inconciliáveis. Tudo isto não combinava mais com a visão da história e das vicissitudes humanas que o Marello tinha amadurecido naqueles anos de reflexão desde que tinha descoberto o seu “ponto de apoio” para julgar o 15 Jules Michelet (Paris, 21 de outubro de 1798 - 9 de fevereiro de 1874) foi um filósofo e historiador francês. Liberal, professor do colégio da França em 1833, foi a partir de 1840 adversário do governo, suspenso e depois até destituido do cargo em 1851. Autor de uma “História da França”,( 1843-46 e 1855-67 de uma “História da revolução francesa” (1947-1853). Escreveu obras literárias como “A mulher”, “O mar” e um diário. 38 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata mundo [...]. A mudança que aconteceu no Marello naqueles três anos foi justamente a passagem daquele tipo de «apostolado humanitário», apregoado pelos livres pensadores ao «apostolado católico», e, por isso, verdadeiramente humanitário. Neste árduo trabalho interior, o ajudaram as grandes obras dos pensadores cristãos, seus contemporâneos, enquanto já tinha rejeitado e condenado os outros (grifo do autor). Escritores do calibre de Pascal, Chateaubriand, Manzoni, Balbo, tornavam-se para ele guias seguras neste caminho para a verdade, conduzido, - diga-se de passagem- como autodidata. Podemos afirmar que Michelet foi para o Marello um dos autores que o ajudou a fazer esta passagem, amadurecida na volta de Turim para o Seminário de Asti. Uns anos antes teria até aceito esta filosofia da história, agora, percebe que os ideias humanitários que o fizeram sonhar um mundo bom apenas com a pedagogia humana, não o satisfaziam mais. A carta 5 escrita sempre para o amigo Rossetti é esclaredora a este respito e mutíssimo autobiográfica. Nela depois de ter contado sua experiência humanitária, navega mesmo na história- demonstrando uma capacidade de ler a realidade de seu tempo desde Napoleão à França, à Prussia, à política italiana e critica todos estes personagens com uma vehemência deveras muito forte. Num certo momento escreve: Fiz para você um resumo dos recursos que pode ter o sistema revolucionário e apresentei-lhe a questão social com estudos feitos seriamente. Oh! Queira Deus que assim como fui operoso e sagaz em examninar e percorrer as vias da iniqüidade, assim possa ter agora vontade e coragem para desenvolver todos os contra-projetos, para estudar uma contra-tática, para destruir aquilo que tinha edificado e edifitcar aquilo que tinha destruído, para buscar novos pontos de vista, para mudar, romper, renovar, purificar para depois ressurgir de repente para novas e mais sólidas convicções, a uma fé mais bela e vigorosa, a um apostolado por excelência, mais humanitário que qualquer outro (porque católico) e mais que qualquer outro capaz de conduzir à liberdade e prosperidade dos povos, àquele apostolado que há dezoito séculos vem sendo proclamado do Oriente ao Ocidente, do Bóreas ao Austro: a aliança dos povos - o princípio de associação - a emancipação das massas - a unidade das raças - a tolerância prática (não a doutrinária, que é outra coisa) - a justa distribuição das riquezas - a prioridade da inteligência sobre a linhagem (p.ex. a hierarquia eclesiástica) - a igualdade do potente e do fraco, do monarca e do súdito perante a lei fundamental do justo e do honesto - as razões de nacionalidade e de raça (reconhecidas nas liturgias e nos próprios rituais) - a solidariedade de todas as nações garantida por um princípio único de autoridade (o magistério da Igreja Católica) - o progresso da inteligência humana - a apoteose do heroísmo e do sacrifício (hoc est praeceptum meum ut dilig... majorem hac dilectionem memo habet ut animam suam ponat quis pro amicis suis - S. João Ev.). O programa humanitário da Religião cristã, sem contar que é um bocado mais brilhante do que o das associações ad hoc, tem ainda sobre este último a vantagem da antiguidade e o mérito da aplicação em larga escala que sistema algum do mundo poderá jamais negar-lhe (MARELLO, antes do 20 Agosto 1866, L 5). Este seu pensamento o levará a desenvolver um caminho religioso e social uma ação pedagógica, uma “contra-tática” que o levará à santidade. Na carta 6 escrita para outro seua amigo Stefano Rossetti, Marello cita o grande 16 Pascal . O Marello escreve sobre Pascal: 16 Blaise Pascal, físico, matemático, filósofo e escritor francês. Nasce em Clermont Ferrand em1623 e morre em Paris em 1662. Muito versado nas ciências, com apenas 16 anos escreve “Ensaio sobre as crônicas” e aos 18 inventa uma máquina de calcular! 39 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Estou ruminando os pensamentos de Pascal. Quão verdadeiro e fiel é o retrato que Chateaubriand nos pinta deste filho imortal da França Católica! Como é consolador ver um homem, a quem são familiares todas as ciências profanas, exclamar aos 35 anos o provérbio bíblico: "vanit... van..." e dedicar-se com a simplicidade de criança ao estudo das escrituras. O físico, o matemático, o filósofo, o literato, a um certo ponto pressente aquela verdade tremenda, de que a nossa vida é a expiação de um antigo pecado. Retira-se, então, à solidão, consagra-se ao amor de Deus e ao serviço do próximo, concebe o plano de um livro que deveria obrigar a entrar ao seio da Igreja, através da persuasão e do amor, todos os descrentes de boa fé. Põe-se a preparar o material, escrevendo em aparas de papel seus pensamentos diários. E morre aos 39 anos, com a tristeza de deixar uma obra apenas esboçada, e com a alegria de ir receber no céu o prêmio do seu longo sofrimento. Lendo os pensamentos de Pascal, provamos o mesmo sentimento que provaríamos ao visitar as antigas ruínas orientais: maravilha e dor. Oh, quando virá um engenho poderoso, capaz de recolher o legado de Brás Pascal e lançar uma nova luva de desafio ao racionalismo invadente? (MARELLO, 20 Agosto 1866, L.6). Pergunta forte esta do Marello. A possibilidade de completar a obra dos Pensamentos de Pascal estava no pensamento da irmã maior Gilberte Pascal, (nascida em 1620, três anos antes dele). Escreve: Deus nos mostrou com ensaios por assim dizer, do que o meu irmão era capaz de fazer com sua grandeza de alma e com seus talentos que tinha recebido; e se esta obra pudesse ser levada a termo por outra pessoa, creio que seja um bem tão grande que só pode ser obrtido com muita oração” (A vida de Pascal, escrita pela irmã” (Cfr. Pensamentos Edições Paulinas - Milano 1969, p. 59). Comenta Dalmaso (1997): o Marello, quase certamente, terá lido também esta vida para poder afirmar esta possibilidade. Com certeza, Pascal, no coração do jovem Marello deixou traços de profunda fé num ambiente voltado para o racionalismo e o ajudou a criar uma pedagogia de santidade juntando a inteligência, a cultura, o estudo sério a serviço da fé e da evangelização. Um A ele devemos as leis da pressão atmosférica, do equilíbrio dos líquidos, o cálculo das probabilidades, a prensa hi draúlica entre outros inventos.Em 1646 estabelece ligações com os jansenistas enquanto sua irmã Jacqueline em 1652 entra no convento de Port Royal.. Depois de um período de afastamento,em 1654 (23 novembre)foi invadido pela luz divina.Enquanto atravessava a ponte de Neully, os seus cavalos cairam no rio Sena e ele salvou-se por pura sorte. Na noite seguinte, ele teve a sua “noite de fogo”, como a chama, e escreveu a seguinte oração que trazia sempre consigo. “Ano da graça de 1654, segunda-feira, 23 de novembro, dia de São Clemente, Papa mártir, e de outros no martirológio. Vigília de São Crisógono, mártir, e de outros. Das dez horas e meia da noite, mais ou menos, até cerca de meia-noite e meia. Fogo. Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó, e não dos filósofos e dos sábios. Certeza, certeza, sentimento, alegria, paz.Deus de Jesus Cristo.Deum meum et Deum vestrum (meu Deus e vosso Deus).Esquecimento do mundo e de tudo, menos de Deus. Não se encontra fora das vias ensinadas no Evangelho.Grandeza da alma humana.Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheci.Alegria, alegria, alegria, lágrimas de alegria. Eu me separei dEle. ,Dereliquerunt Me fontem aquae vivae (Abandonaram a Mim, fonte da água viva)."Abandonar-me-ias vós, meu Deus?"Que eu não separe dele pela eternidade.A vida eterna é esta: que eles te conheçam a ti, o Deus único e verdadeiro e aquele que enviaste, Jesus Cristo.Jesus Cristo, Jesus Cristo, Eu me afastei d’Ele, evitei-O, reneguei-O, crucifiquei-O, que eu jamais me separe d’Ele. Não se conserva senão pelas vias ensinadas no Evangelho.Renúncia total e doce. Submissão completa a Jesus Cristo e ao meu diretor, Alegria eterna por um dia de provação na terra. Non obliviar sermones tuos. Amén (Não me esquecerei das tuas palavras. Amém)” “Daquele dia – escreve o Marello –dedicou-se ao bem e concebeu aquela obra, que depois não levou a termo e da qual nos restam os “Pensamentos” (Pensées). Depois da conversão vive em Port Royal na ascese e penitência, mas sempre do lado dos jansenistas que defendeu na obra “Provinciais” contra os Jesuitas. Morreu antes de terminar justamente a obra mais famosa os “Pensamentos”,da qual só temos fragmentos. Pascal orientou o seu século para o estudo das imperfeições e vícios dos homens. 40 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata tijolo importante, ou, um átomo importante para sua vida e para a seu projeto de vida que estava, àquela altura, se configurando. Este texto a seguir pode mesmo dar ideia do que o Marello pode ter sentido, ao ler Pascal, por ser uma mente e um coração especial. Eis o que escreve um autor sobre “Os Pensamentos”: Estes apontamentos, - caso único na história da literatura-, são uma obra prima de fragmentariedade: pedras maravilhosas e preciosas de um mosaico, do qual não nos é dado de conhecer - mas não de entrever a perfeita e acabada beleza (...) Pedaços de alma, então, páginas de confissões, e não junção de silogismos; iluminações rápidas e não discursos de filosófica sabedoria; frases cavadas no terreno duro para mexer o terreno cheio de cardos e matagal de uma inveterada arrogância racionalista; por vezes crisalide ainda sem formas pelas quais basta apenas o ar e o tepor da primavera para tornar-se borboleta colorida; e quase sempre, grito de uma alma, ora triste daquela “tristeza de não ser santos” (Bloy), ora alegre da alegria do cristão na graça de Deus. Nos pensamentos cada um pode se reencontrar, desde que possua a mesma sinceridade de Pascal, que, até na escrita não conhece ampolosidades de estilo, não usa máscaras retóricas e evita o adjetivo como um apetrecho inútil que atrapalha mesmo, para indicar a natureza das coisas. Mas, sobretudo, cada um pode escutar, como ele e com ele, na consciência vigilante de si e do próprio destino, as palavras do Eterno Peregrino, que há séculos bate sem parar na porta de todos os corações: Tu não me buscarias se não me tivesse já encontrado” (GENNARO AULETTA, Prefazione ai Pensieri, Edizioni Paoline, VI Ediz. 1969, pp. 6-7 citado em Pe. Dalmaso). Dalmaso (1997) desenvolve bem o relacionamento entre Marello e Gioberti17 e, por isso, passo seguir o seu raciocínio (Cfr. P. 39ss). Marello se debruçou sobre a figura deste padre de Turim que Gramsci definirá como “estrategista sem exército” e “guia e mente da Itália”, promotor do federalismo italiano que vingou entre o 1843 (o ano de sua obra Il primato morale e civile degli Italiani) e o 1849 (quando retirou-se em Paris). Quando estudante de teologia Marello refletiu que a personalidade de Gioberti, carecia de prudência e de humildade, mesmo admirando sua performance intelectual que espaçava em campos diferentes sobre ontologia e política. Estava quem sabe convencido 17 Nasceu em Turim, 5 de abril de 1801 — e morreu em Paris, 26 de outubro de 1852: filósofo e político italiano. Recebeu a primeira instrução escolar pelos padres do Oratório, e em seguida dedicou-se ao estudo e à vida religiosa. Em 9 de janeiro de 1823 graduou-se em teologia e dois anos após, em março, foi ordenado sacerdote. Em 1830 teve relações com a sociedade secreta de orientação liberal-moderada dos Cavaleiros da Liberdade, e em 1833 colaborou com a revista de Mazzini "A Jovem Itália", porém sem filiar-se a homônima associação. Foi preso em junho de 1833 e em setembro do mesmo ano foi exilado, primeiro em Paris e, desde 1834, em Bruxelas, onde dedicou-se ao ensino e aos estudos filosóficos e políticos. Retornou somente depois de quinze anos de exílio, foi acolhido com muito entusiasmo, e exultado pelo júbilo do espírito e fé na insurreição da Itália. Sempre demonstrou um grande desgosto pela agressividade e violência da seita, além de condenar as ineficazes tentativas de insurreição. O seu ódio pela monarquia ou pela tirania, se fez sempre mais acirrado, mas com o passar do tempo, a convicção inflamada pela república, demonstrada várias vezes quando jovem, foi substituída pelo amor às reformas e pela idéia de uma monarquia representativa. Em 1843 publicou a sua obra mais importante "Da Supremacia Moral e Civil dos Italianos" na qual, partindo da premissa que com os outros povos a fé religiosa foi elemento de fusão e não de obstáculo à unificação nacional (por exemplo na Grécia durante a luta contra os Turcos), ele perguntava-se porque não poderia acontecer a mesma coisa também na Itália. Além disso, preferia a instauração de uma confederação de todos os príncipes italianos sob a presidência do papado, e seu profundo pensamento era dirigido a uma Itália única e livre: o federalismo era um simples meio para chegar à plena unificação da Itália. O pensamento de Gioberti se encontra aqui com aquele de Cavour: o Piemonte-Sardenha, com seu jovem rei, devia assumir a hegemonia da nação e dar a unidade e independência à Itália, prescindindo da confederação dos outros príncipes e da ajuda do papado. O programa de Gioberti era aparentemente realizável porque inspirava-se fundamentalmente sobre idéias muito difundidas, quer na França quer na Itália, e que visava conciliar religião e pátria, catolicismo e liberalismo, mas com o mérito de associar o papado à causa do "Risorgimento Italiano". Estas suas idéias vieram a ser acolhidas favoravelmente por escritores famosos como Manzoni, Rosmini, Pellico e Tommaseo, e por uma grande corrente da opinião como a católica, que não queria sacrificar o ideal religioso pelo ideal patriótico e que visava renovar a Itália sem revoluções. 41 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata demais e isto o levou no caminho errado. Marello, quem sabe, pensasse no Gioberti quando escrevia este texto: Inteligências existem que desenvolvem-se com muita vantagem da humanidade na aplicação das ciências especiais. Estes são porém, completamente incapazes de fazer a síntese das ciências, e quando tentam fazê-lo, só fazem erros crassos- Deus nos livre. [Existem] outras inteligências, pelo contrário, [que] não brilhariam em nenhuma ciência especial por não possuirem clareza analítica, mas, que são gigantes nos conceitos sintéticos e nas combinações das ciências como elementos primeiros. Estes últimos são avantajados pelas últimas consequênçias científicas em ordem à ciência universal, como os primeiros servem-se dos primeiros axiomas na edificação das ciências particulares. Por um homem que tenha uma inteligência sintética é bom poder ser ajudado a título pessol das diferentes especialidades técnicas (Reflexõs dos anos 1866-67, p. 14- 15 dos Scritti). Gioberti atraia a estima do Marello, mas, percebia nele uma ideologia que não lhe permitia escrever “com mente pura e tranquila”, como afirma neste outro fragmento: A meditação seja sagrada quanto profana è indispensável. Oh se no lugar de escrever por circunstãncia ou por vaidade, desprezo etc invece di scrivere per ripiego per circostanza per vanità per rappresaglia per disprezzo etc., como pode-se notar em Macchi (1818-1880, histórico e economista, senador, autor de Storia del Consiglio dei Dieci, bastante superficial e o Marello não gostava disso) e quem sabe Guerrazzi,(escritor 1804-1873) se pudesse escrever con a mente pura e o coração tranqüilo de Ces. Balbo, (não Gioberti). Oh se todos antes de publicar uma obra meditassem alguns anos, não teríamos tanta leviandade nos livros que hoje em dia são escritos ( S. p. 14). Observamos que seja Balbo (1789-1853) escritor de várias obras políticas e Gioberti eram expoentes do meoguelfismo, mas enquanto Balbo era obediente à Igreja Gioberti não o era e Marello recomenda a leitura de Balbo na carta 5. Meditar antes de escrever: regra de ouro que ele mesmo praticava antes de ensinar aos outros. Marello admirava em Gioberti em tudo o que era positivo e bom. Vejamos este texto: A ação civilizadora do Evangelho está apenas começando. Como bem desenvolve este conceito Gioberti e como é válido isto na economia dos fatos contemporâneos. O doutrinarismo destruiu muitas belas provas- como o descredito e a estacionariedade das ciências experimentais impossibilitou e tornou usurpadoras as ciências especulativas; agora começa para as ciências uma era de progresso que dentro em breve as levarà a uma altura nunca alacançada em muitos séculos.. assim será a economia social?! (S 15-16). E isto começou a aconter quando Leão XIII começará a era da doutrina social da Igreja. Claro precisava saber esperar os tempos, e ele não podia perseguir os caminhos políticos de Gioberti que, todavia, gostava. O pensamento de Gioberti podia se adaptar muito bem às teorias económico-socias do Marello, e sobre isso estava elaborando desde algum tempo un livro. Apenas que Gioberti passou o limite afastando-se da Igreja e de seus deveres sacerdotais. Ao Marello na sua reflexão não escapou este fato: 42 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Oh se fosse verdade que pudessem cessar de vez não somente as políticas, mas também as polêmicas literárias. Quantas virgens inteligências quantos caracteres nobres se desgastaram e por causa disso aprenderam o pernicioso sceticismo doutrinário — O espírito lutador destes se afastou de todas aquelas virtudes que são imcompatíveis com o egoismo, a com a ambição a intolerância e presunção. Oh Gioberti (S. p. 14). O texto acima apontava o dedo exatamente contra Gioberti, contra seu egoismo e ambição. Decididamente o Marello não podia caminhar nestra estrada perigosa, haja vista que até o 1864, faltava-lhe uma referência interior segura, e que depois, tudo se tornou mais complicado, ao ponto de uma figura como Gioberti, se afastar da Igreja até escrever Il Gesuita moderno (1846-47), contra os jesuitas defensores das proposições romanas contra o liberalismo e o movimento de insurreção. Este limite era intrasponível para o Marello e ele não o avançou. Em outras frentes, a situação em outros setores do catolicismo liberal italiano e francês, não era das melhores, basta ver as dificuldades de um Antonio Rosmini18, de Lacordaire, Lamennais, Montalembert, Dupanloup, pessoas bem mais maduras de Marello que contava com 22 anos e deles tinha muito a aprender. Documentamos tudo isso com Gioberti baseados nos escritos do Marello; com outros autores as possibilidades seriam menores por falta de documentação direta. 3. Um modelo de vida: São Francisco de Sales São Francisco de Sales19 é com certeza o modelo espiritual de José Marello. Não podemos entender o Fundador em sua caminhada espiritual para a santidade, em sua 18 Antonio Rosmini (1797-1855), filósofo, teológo, fundador do instituto da Caridade. Escreveu muito, sobretudo as Cinco chagas da Igreja do 1832, publicadas em 1848. 19 São Francisco de Sales (Castelo de Sales, Savóia, 21 de Agosto de 1567 — França, 28 de dezembro de 1622) foi um sacerdote e bispo de Genebra. Tem o título de Doutor da Igreja, é titular e patrono da família salesiana (fundada por São João Bosco), também patrono dos escritores e dos jornalistas. São Francisco de Sales nasceu no castelo da sua família, os barões de Boisy, em Thorens (Sabóia) em 1567, primogênito de treze irmãos, foi educado no Colégio de Clermont, dirigido pelos jesuítas, em Paris, estudou em Annecy e na Universi dade de Pádua, na Itália, onde recebeu o doutoramento em Direito Canônico com 24 anos. Recusou uma brilhante carreira e resolveu estudar para ser sacerdote apesar da oposição da família. Foi ordenado em 1593, tornando-se reitor em Genebra, Suíça. Após, foi para Chablais, cantão suíço na região da Savóia, onde foi pároco, e onde trouxe 8.000 calvinistas de volta à Igreja. Ali escreveu diversos textos em defesa da fé, que foram publicados com o título "'Controvérsias e Defesa do Estandarde da Santa Cruz". Em 1599 Francisco foi indicado como bispo coadjutor em Genebra, tendo sucedido como bispo em 1602. Sua diocese tornou-se conhecida pela organização e pela formação do seu clero e leigos. Isto era uma grande realização diante da Igreja da época. fundou várias escolas e estabilizou a Igreja na região. Era famoso diretor espiritual e pela sabedoria dos seus escritos. Ele e Santa Joana Francisca de Chantal, de quem foi diretor espiritual, criaram a Ordem da Visitação, uma Ordem religiosa contemplativa. Foi também diretor espiritual de São Vicente de Paulo. Tornou-se uma figura líder da Reforma Católica também chamada de "Contra-reforma" e ficou famoso pela sua sabedoria e ensinamentos. Em 1609, seus escritos (cartas, pregações) foram reunidos e publicados com o título "'Introdução à vida devota" ou "Filotéia", que é a sua obra mais importante e editada até hoje. Outra obra que também é ainda editada é o "Tratado do Amor de Deus", fruto de sua oração e trabalho. Estes dois livros são considerados clássicos espirituais. Além destes livros, a coletânea de cartas, pregações e palestras alcança 50 volumes. A popularidade e o valor destes escritos fez com que fosse considerado padroeiro dos escritores católicos. Faleceu em Lyon em 1622. Os seus rest os mortais se encontram na Igreja da Visitação em Annecy. Foi beatificado no ano em que faleceu e foi a primeira beatificação a ser formalizada na Basílica de São Pedro. Foi canonizado em 1655 pelo Papa Alexandre VII e em 1867 foi declarado Doutor da Igreja pelo Papa Pio IX. Foi declarado em 1923, pelo Papa Pio XI, patrono da imprensa católica. O seu dia é celebrado em 24 de janeiro. Segundo Bento XVI, Francisco de Sales procurou criar uma forma de piedade acessível aos não piedosos. Neste ponto teria antecipado em parte a espiritualidade de Teresa de Lisieux, a do "pequeno caminho", a de uma vida voltada para Cristo com simplicidade, sem buscar coisas grandes, com paciência e sem heroísmos. Dizia Francisco: "Um bispo não deve nem pode viver como um cartuxo; os casados, como os capuchinhos; os artesãos, como os religiosos contemplativos, que passam metade do dia e metade da noite em oração. Seria uma piedade tola e ridícula. Cada um segundo a sua espécie. Deus deseja todos os frutos. A verdadeira piedade não destrói, mas enobrece e embeleza". 43 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata “pedagogia espirtual” pessoal e depois Oblata sem conhecer antes esta figura que marcou José Marello. Sobre a figura de S. Francisco de Sales prefiro traduzir e inserir por completo um estudo de Pe. Nicola Cuccovillo OSJ que aprofundou a ligação espiritual de São Francisco de Sales com São José Marello. SÃO FRANCISCO DE SALES, MODELO ESPIRITUAL DE SAO JOSÉ MARELLO (P. CUCCOVILLO NICOLA, OSJ) 1) S. Francesco de Sales no Piemonte do Oitocento O vínculo espiritual entre São Francisco de Sales e o Marello encontra uma plataforma muito favorável na história e na vida do Piemonte e na religiosidade católica do seu tempo e do ambiente no qual Marello viveu,se formou e trabalhou. Francesco de Sales, nascido em 21.08.1567, a Thorens nos arredores de Annecy na Savóia, no cantão de Genebra, sentiu-se sempre, ainda que culturalmente francês, da Savóia. De fato ia a Turim para negócios de estado na corte do Duque Carlos Emanuel I, mas, voltava sempre com muito desejo para Annecy, seu rincão natal, apesar das visitas à Itália, que lhe permitiram de assimilar a arte e cultura italiana e, portanto, criar um liame afetivo com várias cidades italianas, ricas de patrimônio artístico e cultural. Turim, residência dos Duques de Savóia, lhe era muito querida, e a visitou inúmeras vezes quer por dever de amizades, quer por causa de relações diplomáticas, ou de oportunidades. Os Duques aguardavam as suas visitas pois era muito estimado e até com o Duque Emanuel tinha estreitado uma amizade pessoal. Várias cidades do Piemonte, Novara, Vercelli, Carmagnola, Saluzzo, Mondovì, Pinerolo,o tiveram como hóspede e apóstolo e o conheceram também como escritor e nestas cidades estreitou muitas e cordiais amizades, e este fato no Oitocento ainda permanecia vivo na memória. Por onde passou encontrou personagens, pregou, deixou as as marcas de sua passagem. Em 1603 foi em peregrinação ao Santuário de Vicoforte, perto de Mondovì e em 1613 ao lugar mais querido aos turinenses, na capela do Santo Sudário, enquanto voltava de Milão no maio daquele ano. Juntamente ao Santo Sudário, que o comoveu profundamente, atè às lágrimas, visitou também o Santuário da Consolata. Em Turim em 1622 será surpreendido pela doença que o levará a morte em Lião em 28.12.1622. O esquife voltou para Annecy, para ser enterrado no dia 29.01.1623. Em Turim a mesma Madre de Chantal fundará um dos primeiros monstérios, no Piemonte, da Visitação, ao qual doou o autêntico retrato do santo pintado em 1618. Destas breves notícias aparece claramente que no Piemonte São Francisco di Sales deixou uma viva lembrança e por isso é estimado e venerado pelo povo, pelos intelectuais e pelos clero. Todos o sentiam como um santo “patrício”, fruto da mesma terra. Ainda temos que lembrar que em janeiro de 1860, quando da formação do Reino da Itália, com o tratado de Turim, e o plebiscito em seguida do 15 de abril, o Ducado de Savóia com a cidade de Nice será cedido à França. A assembléia do clero da França pede a Urbano VIII a canonização de Francisco de Sales em 1625. Alexandre VII assina o decreto de beatificação em 28.12.1661, da canonização em 19.04.1665,e Pio IX assina o decreto de Doitor da Igreja em 19.07.1877. Francisco era conhecido como escritor em Turim, onde, ainda ele em vida, foi publicado em italiano, a “Filotéia-Introdução à vida devota”, que inicialmente tinha sido editada em Lião no agosto de 1608. Depois de sua morte circularam várias biografias de 44 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Francisco de Sales. Surgiram em Turim e em outras cidades italianas Confrarias em sua honra, de leigoss e de sacerdotes.Em Roma surgiu até um “cenáculo salesiano” por sacerdotes com a finalidade de viver o ideal sacerdotal sob a inspiração do pensamento e da doutrina do Santo. Papa Pio IX todo dia lia trechos de sua obra, pois, desde seminarista foi-lhe inculcada a devoção salesiana pelo seu confessor e pai espiritual. Também outras regiões e cidades do Norte tinham a presença e a devoção ao Santo: Genova, Bologna, Venezia, Ravenna, Lugo, Faenza. Um pouco em cada canto existia a Associação de S. Francisco de Sales para a defesa e conservação da fé. Claro, o centro da salesianidade permanecia o Piemonte e de forma especial a cidade de Turim, desde o séc. XVIII. E não somente sacerdotes, teólogos, estudiosos, mas também personagens de culturas, homens ilustres e nobres mulheres devotas interessavamse da espiritualidadede S. Francisco de Sales. Sem contar que muitas capelas foram construidas em Turim como expressão de veneração. Mas, sobretudo, circulavam as Máximas de S. Francisco de Sales. O que dissemos parece ser suficiente para explicar o influxo de São Francisco de Sales sobre a espiritualidade do Fundador. Todavia, o que diremos em seguida, vai mostrar mais claramente a formação espiritual e sacerdotal, de cunho salesiano, que o Marello recebeu no seminário de Asti, e que ele pessoalmente completou lendo as obras do Santo. Dois centros de formação em Turim deram maior atenção à devoção e à espiritualiddae de S. Francisco de Sales: o Seminário de Chieri e o Colégio eclesiástico de Turim, para a formação o estudo e a piedade dos clérigos e sacerdotes. Ambos sob a proteção de S. Carlos Borromeu e S. Francisco de Sales. S. Carlos Borromeu pelo zelo na organização dos seminários segundo as diretrizes do Concílio de Trento; S. Francisco de Sales pela devoção e fama de sua espiritualidade amplamente difundida pelos seus escritos. São Francisco tinha passado em Chieri;cultivava-se a memória e a veneração e existia uma Confraria em honra do santo, também por lá encontravam-se as biografias, as obras e as Máximas do mesmo. Estava devidamente aparelhado para incrementar o conhecimento da doutrina e espiritualiddade do Santo. Ao espírito prático e inteligente de Bruno Pio Lanteri (1759-1830), homem cheio de iniciativas, deve-se a idèia e a construção do Colégio eclesiástico, inaugurado em novembro de 1817. Nele seria temprado e formado intelectualmente, moralmente, espiritualmente e pastoralmente o jovem piemontês sob a orientação e doutrina e ação apóstólica de S. Francisco de Sales. O ambiente do Colégio será assim definido por Don Bosco “aquele maravilhoso seminário do qual provêm muito bem para a Igreja” (Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales, p. 121; “O colégio eclesiástico que é aquela casa anexada a esta (de S. Francisco de Assis) que já a quarenta e três anos é fonte cheia de vida de graças e bênçãos para a diocese de Turim. e podemos dizer para todo o Piemonte” O Colégio eclesiástico passou em seguida sob a direção de sacerdotes muito voltados para a espiritualidade salesiana incentrada sobre o Amor puro: o teólogo Luigi Guala (17751848), e São Giuseppe Cafasso (1811-1860), sacerdote manso, doce, sereno, otimista, muito semelhante a São Francisco de Sales, interprete vivo da doutrina e da esspiritualidade de S. Francisco de Sales, na confissão, na formação e na devoção espiritual S. Giuseppe Cafasso foi o canal através do qual passaram no Colégio eclesiástico o espírito de S. Francisco de Sales, a moralidade de S. Afonso Maria de Ligório. Don G. Bosco formou-se neste ambiente. Era então também para ele espontânea a admiraçãopelo santo e a assimilação do seu espírito. S. Giuseppe Cafasso ministrava aulas de ascética na doutrina de S. Francisco de Sales e de S. Alfonso Maria de Ligório, dos quais era profundo conhecedor e os tinha em grande 45 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata estima. As festas e as várias circunstãncia em honra de S. Francisco de Sales o encontravam sempre pronto e cheio de zelo no Colégio.O Cafasso fazia a “leitura espiritual” no Colégio particularmente sobra as obras e vidas de S. Carlos Borromeu e S. Francisco de Sales. Quando era o momento, no ensino e pregação, de trazer os exemplos de bons pastores, no espírito evangélico, o primeiro a ser citado era sempre S. Francisco de Sales. S. Giuseppe Cafasso foi mesmo um autêntico mestre de espírito. À sua escola, de fato, se formou o jovem sacerdote Don Bosco. Na direção do Colégio eclesiástico Sâo Giuseppe Cafasso ficou nos anos 1840-1860. Importante, se relacionado ao Marello, foi o fato que o Cafasso encontrou o espírito de S. Franisco de Sales plenamente conforme ao próprio carater, e isto corespondia a tudo o que as almas mais pediam naquele tempo, mais sensíveis ao tema do amor e da esperança, do que ao temor e rigor. (o sublinhado é do tradutor!) Cafasso compreendeu que sobre a pessoa chagada no espírito convinha mais o remédio do bom samaritano, tão bem imitado por S. Francisco de Sales. Este era o ambiente e o ar que respirava Turim e se irradiava no Piemonte todo. 2) O Oitocento do Marello O mundo social-político-económico-cultural-religioso do Piemonte na segunda metade do Oitocento, na qual viveu, trabalhou e se santificou S. José Marello, é um contexto não fácil, rico de fermentos, tensões, movimentos, transformações, obras em todo setor. A santidade do Marello tem raízes no seu tempo e na sua terra. A santidade que é obra do E. Santo, cala-se e realiza-se no contingente histórico para levar ao cabo a obra de Deus o seu Reino. Na segunda metade do Oitocento o quadro político piemontês e italiano transformouse radicalmente. A transformação tocou todo setor, em cada nível até a realização da unidade da Itália. Turim, a partir de 1861,por causa das guerras e independência, não é mais capital do reino de Sardenha, mas, do reino da Itália com Vittorio Emanuele II. De uma cidade política e burocrártica passou a ser cidade industrial, operária, da Itália, como outras cidades do Piemonte. O movimento socialista está presente entre os operários e é de muita luta. Mas, a ele, se contrapõe um movimento católico cheio de vida. Tem também o Piemonte da agricultura que gravita sobre as cidades de Cuneo, Vercelli, Asti e o Monferrato, Acqui. Estas regiões tem mudanças mais lentas e são aquelas nas quais o Marello viveu e desenvolveu seu ministério sacerdotal e episcopal. O Marello denuncia: “Nenhuma novidade com o clero da cidade; as coisas procedem sempre com aquela inalterável regularidade ou, melhor dizendo, com aquele espírito de conservação que caracteriza esta nossa diocese e a torna singular entre as outras irmãs... por tenacidade de tradições... costumes... que por... iniciativas!”(cfr. L. n° 33). Ao primado político, fruto do ‘risorgimento’, substituia-se no Piemnte, e em Turim de forma especial, o primado económico- industrial, com consequências negativas no campo social e religioso. No Piemonte a Igreja já tinha sofrido início do Oitocento, por causa dos exercítos da revolução francesa e pelas leis de Napoleão. Na segunda metade do Oitocentos, ai contrário, se defrontam Igreja e Estado, Igreja e ideologia liberal-burguesa no campo político-filosófico. Há uma série de atos hostis contra a Ireja. O ápice acontece, ainda antes da unidade da Itália, sobretudo com as leis Rattazzi-Cavour do 1855, pelas quais são suprimidas quase todos as ordens religiosas maasculinas e femininas, com a perda dos bens que foram para o estado. Nos anos 1866-1867 virão ainda as leis com as quais o Congresso do reino da Itália se apodera de todos os bens da Igreja, menos os bens paroquiais. Nos últimos nos do Oitocento, o anticlericalismo “risorgimentale” vinha acompanhado 46 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata e reforçado pelo anticlericalismo socialista, ainda mais hostil à Igreja e para o qual a Igreja era o verdadeiro inimigo a ser eliminado mais ainda do que o estado burguês. O cidadão italiano não devia ter nenhum contato com o sacerdote do seu nascimento até a sua morte. Os ataques concentrados, do setor liberale e socialista, tiveram efeitos negativos sobre a fé e a prática religiosa da burguesia, mas sobretudo, dos operários que trabalhavam nas fábricas de Turim. Devido à industrialização, de fato, houve um êxodo rural popular , de lavradores, para a cidade de Turim; ao contrário do período das guerras de independência, quando a imigração tinha un cunho intelectual, por motivos políticos, ligados ao movimento unitário. É nesta primeira metade do Oitocentos que o pai do Marello, Vicente, se transfere a Turim com um irmão, iniciando uma tividade comercial por atacado de queijos. Na segunda metade do Oitocento Turim conhece o incremento demográfico, e também, a expansão edilícia. Chegavam artesãos,comerciantes,operários, de tudo que tipo,homens e mulheres, pessoal não qualificado, pronto a tudo para viver. Todavia este povo não se inseriu de forma organizada com consequências negativas, no plano social, moral e religioso; sobretudo a faixa juvenil com menos de 20 anos era a mais frágil e exposta. A miséria obrigava também as crianças a trabalhar em condições desumanas e por muitas horas, coisa que dificultava o crescimento normal. Milhares de jovens e meninos chegavam em Turim como sazonais, também sozinhos, sem famíliam sem guia e ajuda moral. Esta situação, gravemente precária para muitos jovens e rapazes que estimulou o zelo pastoral de jovens sacerdotes com a abertura dos oratórios festivos. Turim conheceu vários destes. O mais famoso foi aquele aberto por Don Bosco em 8 dezembro de 1844, em Valdocco, dedicado a São Francisco de Sales. A imigração masculina era acompanhada por aquela feminina. Eram muitas meninas vindas elas também do interior e buscavam trabalho. Muitas vezes eram abandonadas, e acabam por aumentar o número das prstitutas. Outra mudança, muito profunda e cheia de consequências, foi, na segunda metade do Oitocento, aquela da cultira. Na primeira metade do mesmo, mais ou menos nos anos quarenta, o espiritualismo católico [com personagens do calibre de Rosmini esponenti (1797-1855) e V. Gioberti (1801-1852)] ainda incide sobre a cultura. Mas, na segunda metade do Oitocento predominou o povitivismo materialista, o scientismo, anticlerical e anticatólico, atrelado ao poder. Entre fé e cultura dominante a separação se faz cada vez mais profunda. A cultura católica, graças também ao trabalho de muitos leigos, sacerdotes e santos que trabalharam no social, estava muito presente e viva nas classes populares, de forma especial nos meio dos jovens. Outro aspecto sobre o qual não podemos nos deter são as novas Congregações religiosas, masculinas e femininas no Piemonte; foi neste trilho fecundo que se insere Dom Marello.. Devemos, mais uma vez lembrar, que Napoleão tinha suprimido todas as Congregações e as leis Rattazzi do 1855, que, além disso, se apoderava dos bens das mesmas, e ainda, as leis de 1866-1867, que na prática tiravam todos os bens ecclesiásticos,que não fosse, paroquias. O que nos deixa maravilhado é o fato que por um lado o grupo político liberal, que se declarava democrático, que aos poucos tomava o poder, ostaculava de todos os modos o surgimento de novas Congregações, e por outro lado, brotavam, empurradas pela caridade cristã, novas Congregações masculinas e femininas, que iam ao encontro das pessoas, de forma especial os jovens e idosos, vitimas das distorções produzisa pela sociedade liberal, que nem se preocupava das exigências mais simples como aquela da saúde pública. O episcopado piemontês é formado por pessoas de muita experiência pastoral. Este tinha sido o critério de Pio IX, na sua última década do seu pontificado, e de Leão XIII. 47 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Uma exeção, poderíamos dizer assim, foi o Marello que foi segretário do Bispo, chanceler, canónico e fundador dos Oblatos de S. José. Eram bispos expertos de vida pastoral e também na arte de difundir a verdade de fé de forma rigorosa e sistemática, com escrupuloso método teológico. Era assim superada a fase apologética da primeira metade do Oitocento. O nosso Marello se preparou, desde seminarista, nesta ótica. Também eram bispos muito sensíveis ao social. O Marello demonstrou muito bem esta sensibilidade fundando uma Congregação, revitalizando uma casa de acolhida para idosos crónicos que estava para fechar as portas, e dedicando-se ativamente, com outros sacedotes, à educação dos jovens. 2) Marello e S. Francisco de Sales O Marello não é, em hipótesis nenhuma, um santo isolado no Piemonte, mas, faz parte de um consistente grupo de santos piemonteses chamados “sociais”, justamente pelo empenho deles no leque imenso das obras socio-humanitárias da caridade cristã das misérias humanas. O Marello atutou no pobre mundo juvenil e e no mundo dos anciãos sem sustento nehum. Encontramos santos no clero diocesano e paroquial, entre religiosos e religiosas, leigos e leigas. O Marello, até o momento, é único bispo da época declarado Santo por João Paulo II no 21 novembre 2001. Marello santificou-se neste contexto todo que ele conhecia muito bem, pois, estava bem atualizado. Vejamos por exemplo esta citação, da carta n° 27, no final de janeiro del 1869, escrita ao amigo Estevão Delaude. “Não posso escrever muito: quatro palavras, mas de coração. Quantos acontecimentos dentro do nosso microcosmos e na nossa esfera de ação, tanto nesta nossa Diocese quanto na mãe pátria e por todo o continente europeu e, direi ainda mais, em meio a toda a peregrinante família de Adão, e talvez seja mesmo o caso de abraçar um horizonte mais vasto que compreenda a tríplice Igreja M.P.T. Tudo se move – a humanidade se agita, mas é Deus que a conduz–(...) todas as personalidades estão em fermento na grande massa social; todos os indivíduos, todas as classes, todas as nacionalidades, todas as raças se agitam diversa e misteriosamente em todos os pontos do globo”. Bem, depois deste ncessário parêntesis histórico, Pssamos ao assunto, partindo de alguns testemuhos sobre o Marello. Neles lemos estas expresões: “conseguiu copiá-lo (S. Francisco de Sales) fielmente” (P. Severino Dalmaso O.S.J., Biografia del Beato Giuseppe Marello, Libreria Editrice Vaticana, 1997, vol. II, p. 1188); “um novo Salésio” (Ib., vol. II, p. 1276); “vos entregamos um Francisco de Sales, que no Marello nunca foi desmentido, nem por um istante” (Ib., vol. II, p. 1276); “una cópia vivente de S. Francisco de Sales”; (Ib., vol. II, p. 1550); “fazia lembrar S. Francisco de Sales”; (Ib., vol. II, p. 1566); “outro Francisco de Sales” (Ib., vol. III, p. 1611); “um novo Francisco de Sales” (Ib., vol. III, p. 1656; vol. II, p. 1550, nota 18);, “um S. Francisco di Sales hoje” (Ib., vol. III, p. 2274). Marello leu muitas vidas de santos, e as recomendava aos amigos, de forma especial as obras dos mestres de espírito. Muitas são as citações de santos nos seus ensinamentos, pregações. Assimilou o ensinamentos deles, imitou suas virtudes. Nelas, percebeu Cristo, a imagem, as marcas de Cristo, a serem reproduzidas em sua vida,e então a sabedoria de Cristo. Amava os modelos, as almas exemplares, dava muito importância e valor ao exemplo de vida (Cfr. “Lettere del Venerabile Giuseppe Marello”, em “Studi e Documentazioni Marelliane”, de P. Mario Pasetti O.S.J., vol. II, 1979, cfr. n° 10, p. 53; 19, p. 72; 23, p. 81; 26, p. 90; 50, p. 128; 51, 131; 61, p. 150. Cfr. “Scritti e Insegnamenti del Beato Giuseppe Marello”, em “Studi e Documentazioni Marelliane”, vol. III, Quarta Carta Pastoral (1892) “Sobre a instrução e sobre a educaçao doméstica da juventude”, pp. 69-70), partindo de Maria e de S.José. Giuseppe. Quando fala de S. Francisco de Sales o faz, 48 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata como vimos pelos testemunhos,, “quase” por “identificação”, “personificaçao”. Por que? Notem que era, por exemplo, particularmente devoto de S. Felipe Neri, que citava muitas vezes e estimulava a imitar sua alegria, serenidade, (Cfr. P. S. Dalmaso, opera citata, vol. II, p. 1176. Cfr. Scritti e Insegnamenti, pp. 190; 206; 310) . Era particularmente atraído por S. Alfonso Maria De Ligório, cuja piedade e espiritualidade eram ensinadas nos seminários. Era um autor lido seja pelo povo, bem como pelo pessoal instruido. Autore letto dal popolo e anche da gente istruita (Cfr. P. S. Dalmaso, opera citata, vol. I, p. 218. Cfr. Lettere, lett. n° 23, p. 83). O mesmo podemos dizer de outros santos, como S. Teresa de Avila, S. Ignácio de Loyola. Os testemunhos aqui trazidos, poderiam fazer pensar num relacionamento de subordinação, que não acontece na vida espieitual ,que é caminho de imitação de Cristo pessoal,num estilo pessoal. Cada expressão para explicar a ligação entre S. Francisco de Sales e São José Marello, na verdade, dificulta a manutenção do equilíbrio pela dificuldade de definição. Um texto e uma comparação podem nos iluminar. Arnaldo Pedrini, em S. Francisco de Sales e Don Bosco, Roma, II edição, tipografia S.G.S., 1986 - tese de doutorado do autor na Sagarada Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana. Na segunda parte o autor realça as convergências nos princípio doutrinais e espirituais, na prática de algumas virtudes, nas atitudes de caráter pastoral educativos entre S. Francisco de Sales e S. João Bosco; segundo ele os salesianos de Don Bosco recebem de S.Francisco de Sales o nome e o “ espírito”; afirma que Don Bosco quis tomar como modelo para si e para seus discípulos, para sua obra, a espiritualidade do Patrono deles, na inspiração, mais do que na dependência; percebeu o seu espírito e criou uma espiritualidade. Isto podemos afirmar também nós que isto é o que S. José Marello fez por si, pela sua obra e pelos Oblatos, mas, com a figura de S. José, que era a sua inspiração, criando uma espiritualidade Josefina. Nesta espiritualidade, todavia, é inegável uma forte e viva presença de S. Francisco de Sales de forma bem pessoal e adaptada aos tempos. Tratando-se de um trabalho académico, o estudo di A. Pedrini é esquematizado e claro, um tanto sintético sobre a semelhança dos dois santos, as quais, no caso de José Marello, parecem tambem muito evidentes, menos na primeira, que requer uma leitura atenta de todos os escritos, comparados com sua personalidade, muito rica de humanidade, de doutrina, de espiritualidade, de cultura. Diferentes são as épocas entre S. Francisco de Sales e João Bosco. Entre os séc. XVI e XVII S.Francissco de Sales, em pleno séc. XIX Don Bosco, enquanto a vida do Marello, acrescentamos nós, a encontramos toda na segunda metade do Oitocento. Diferentes são as coordenadas culturais, políticas, sociais e religiosas. Diferente até a extração social dos protagonistas. Nós acreditamos que S. Francisco de Sales foi, para o Maello, desde jovem, um ponto de referência, a sua inspiração, o ponto de partida, a ocasião providencial para algo que já despontava em seu coração, e que o levou além. Encontrou em Pádua (1588-1592) o que seu coração desejava quando ainda era aluno em Paris (1578-1588). Sobre este texto S. Francisco de Sales e S. José Marello se encontram. Não existiu passagem de doutrina entre S.Francisco de Sales e S. José Marello, pois, a passagem expropria, anula, a personalidade. Marello leu as obras de S. Francisco de Sales e as elaborou, como uma abelha elabora o néctar, deixando-se guiar pelo E. S (cfr. Rm 8, 14; Gal 5, 16; 5, 25), dando vida à sua espiritualidade, vivendo o Evangelho, tornando-se imitador de Cristo, seu verdadeiro discípulo. Apesar de todso o esforço para distingui-los, nos perceberíamos que ulos spieirualmente, mesmo a distãncia de mais de dois séculos, eles são muito semelhantes, alguns até poderia dizer: gêmeos. Do ponto de vista humano, psicológico, tiveram ambos um temperamento pronto, um caráter apaixonado, portanto forte, e ao mesmo tempo doce, manso, sereno, calmo, por 49 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata terem ambos um ótimo senhorio sobre os nervos e reflexos; homens interiores e abertos, disciplinados, ordenados, decididos, constantes, vontade firme, metódicos, pensadores lógicos-sinteticos-reflexivos-construtivos. O Marello imitou S. Francisco de Sales em muitas virtudes, mas, acreditamos que o santo de Genebra tenha sido o inspiradors, do amor puro do Marello. Se existe uma virtude que sobressai nas pregações nos ensinamentos e na vida do Marello, esta é a caridade, espressada de forma mais profunda no amor puro. A afinidade entre os dois santos é, portanto, affinidade viva e vital, quer no campo doutrinal que no ascético. O inspirador de fundo, primeiro, será e ficará para o Marello e para sua Congregação a figura de S. José, todavia, devemos colher esta afinidade de espírito, tendo presente que também S. Francisco de Sales se inspirou muito em S. José, pois, atingiu muito na sua espiritualidade e nas suas virtudes para si e para a Ordem das Irmãs da “Visitação de Maria”. 4. Os pedagogos Algumas citações de Dupanloup 20 podem mostrar muito bem que o método pedagógico catequético do bispo francês que encontrou em Don Bosco e no nosso Marello uma grande aceitação, mesmo com nuances diferentes e desabrocharam na “educação do coração”. A diferença de intervenções, repressivas ou preventivas, se verifica no interior do próprio “espaço pedagógico”. Eles representam dois dos três momentos da ação “disciplinadora” da vontade e forjadora do caráter. As três são impostas pela natureza do menino em crescimento: “Disciplina tem raiz em discere, aprender, e a palavra não somente exprime uma disciplina exterior, mas também um ensinamento intrínseco e uma virtude”. Por isso disciplina é também ordem, sem a qual não é possível a educação (F. DUPANLOUP, A educação, volume I, livro III). Nos meninos tudo é mutável e novo, e é fácil endireitar estas plantas tenras e fazê-las apontar para o céu (...) Isto porque também no meio de seus defeitos, nada é mais amável de ver neles quando nascem a razão e a virtude (...). Não obstante a aparências de leviandade e uma exagerada inclinação para os divertimentos, um menino pode ser sábio, racional e sensível à virtude (...). Não tenho por isso dificuldade em reconhecer que o menino, sem exclusão daquele 20 Félix Antoine Philibert Dupanloup: 03 de janeiro de 1802 - 11 outubro de 1878. Nasceu em Saint-Félix, na Alta Savoia. Em seus primeiros anos, ele foi confiado aos cuidados de seu irmão, um padre da diocese de Chambéry. Em 1810 ele foi enviado a um Pensionato eclesiástico em Paris. Daí, ele foi para o seminário de São Nicolau de Chardonnel em 1813, e foi transferido para o seminário de São Sulpício em Paris em 1820. Em 1825 foi ordenado sacerdote, e, nomeado vigário da Madeleine em Paris e se tornou educador da caa de Orleans e Também o fundador da academia de St-Hyacinthe, e recebeu uma carta de Gregório XVI elogiando seu trabalho chamando-o juventutis Apostolus (apóstolo da juventude). Membro da Academia Francesa em 1854, tornando-se até líder da mesma acabou por renunciar em 1875 depois que Émile Littré um agnóstico, foi eleito membro. Granjeou fama de zelo e de caridade, e de grande eloquência, fato que atraia multidões pela energia de sua voz poderosa e pelos gestos apaixonados que causavam profunda impressão. Quando foi eleito bispo de Orléans , em 1849, pronunciou um panegírico sobre Joana d'Arc , que atraiu a atenção seja na Inglaterra, bem como na França. Joana d'Arc viria a ser canonizada, também devido aos esforços de Dupanloup. Por 30 anos ele permaneceu uma figura notável na França, fazendo o máximo para sacudir seus conterrâneos da indiferença religiosa. Ele era um educador de renome e lutou para a manutenção dos clássicos latinos nas escolas e criou o método da catequese de St Sulpice. Entre suas publicações estão De l'éducation (1850), De La Haute éducation intellectuelle (3 vols 1866.), Choisies Œuvres (1861, 4 vols.); Histoire de Jésus (1872), obra esta que queria combater La vie de Jésus de Renan. Em matéria de política eclesiástica seus pontos de vista foram moderadas; tanto antes como durante o Concílio Vaticano , ele se opôs à definição do dogma da infalibilidade papal por achar inoportuno, mas após a definição aceitou imediatamente o dogma. Dupanloup morreu em 11 de outubro de 1878, no castelo de La Combe-de-Lancey. 50 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata que teve a sorte de nascer com um bom caráter, é um ser leviano, volúvel, que voa de desejo em desejo joguete da própria instabilidade (...). Mas saibam bem os bons professores, que justamente a glória e a obra da Educação está posta no saber vencer esta leviandade, e no saber conduzir a um estado de firmeza esta inconstância (F. DUPANLOUP, A educação, volume I, livro II). Para o bispo francês quem providencia este crescimento são os responsáveis pela comunidade educativa, operando em três frentes: 1. Mantendo a constante execução do regulamento através da firme exatidão de sua direção. 2. Prevenindo a violação do regulamento com o zelo da vigilância. 3. Reprimindo sua transgressão com pontualidade de justiça, para corrigir a desordem apenas aconteça. Três são portanto as funções da disciplina, idêntica à educação, “manter, prevenir, reprimir”. Esta se volta “de propósito para a vontade e para o caráter”, acompanhada pela educação intelectual e física e coroada pela educação religiosa. E eis como aplica estas três funções: A ânsia de não deixar nada que seja culpável sem correção é dever da Disciplina repressiva. A pressa de manter afastadas as ocasiões perigosas é obra da Disciplina preventiva. A rapidez em mostrar sempre e em todo lugar o caminho a seguir é função da disciplina diretiva. Não é preciso muito para se concluir que é muito melhor prevenir que reprimir; mas a exatidão em manter o bem e a vigilância em impedir o mal tornam menos urgente a necessidade de reprimir. Por isso, a maior importância da Disciplina diretiva que mantém o bem; a secundária importância da Disciplina preventiva, que impede o mal; e a inferior importância, mesmo se necessária, da Disciplina repressiva, que o pune (F. DUPANLOUP, A educação, volume I, livro III, capítulo III). Talvez seja importante aprofundar um pouco o sistema catequético do bispo de Orleans para depois avaliar melhor a influência que teve sobre o Marello. Sobre este assunto, Padre Fiorenzo Cavallaro, osj apresentou no curso de espiritualidade do setembro 2007 uma palestra com o título: “Apostolato catechistico del Marello e della Congregazione nella Chiesa di oggi”. Apresentamos deste estudo alguns trechos traduzidos. A restauração religiosa: novas iniciativas de catequese e o élan inovador de S. Sulpice e de Doupanloup “A revolução francesa trouxe uma verdadeira descristianização de toda a Europa. Mas, desde o início do Oitocentos e no decorrer dele o tema da “volta” se fez sentir como necessidade: volta da sociedade à fé e, portanto, à disciplina social da Igreja, volta aso princípios de ordem, de hierarquia, de disposição harmônica das classes e das diferentes funções, que tão somente na doutrina e magistério da Igreja encontrava garantia e a razão de ser.” (G. Miccoli. Chiesa e società in italia tra Ottocento e Novecento: il mito della “cristianità” nel vol. Chiesa nella società. Verso un superamento della cristianità). O tema da salvação estava no centro da mensagem cristã, de forma especial na catequese do séc. XIX e a retomada da mesma entra com muita força nas tradicionais estruturas eclesiásticas que são a diocese e as paróquias. No nível metodológico sobrevivem quase universalmente os costumes seculares de memorização, explicação do texto, repetição, aplicações práticas e disputas escolares. Aqui e acolá assiste-se à 51 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata renovação de práticas já conhecidas, ma, obsoletas. Entre elas a catequese pensada como celebração religiosa, difundida na França nos centros de Saint-Nicolas-du-Chardonnet e Saint-Sulpice de Paris. Em Saint-Sulpice, brilha a figura de um ilustre inovador: F. Dupanloup (1802-1878), autor de algumas obras de catequese de grande envergadura: Méthode générale de Catéchisme recueillie des ouvrages des Pères et Docteurs de l’Eglise et des catéchistes les plus célèbres (1862) e L 'Oeuvre par excellence ou Entretiens sur le catéchiste (1869). O método de S. Sulpice baseia-se num princípio muito simples: Catequese é obra de conversão e salvação Cristã, instruir é apenas um meio para o fim que é formar o cristão; a catequese não é uma escola, o catequista não é um professor, mas, um pastor; as crianças não são alunos, mas ovelhas da grei de Jesus , “o catecismo não é somente uma palavra, uma instrução: é uma ação, uma obra; obra da salvação toda inteira (…) e seu espírito é tocar, converter, fazer amar Deus e JC. Catequese não é encher a cabeça de fórmulas mas formar o cristão, uma consciência cristã, movimentar uma vida cristã. Eis algumas orientações práticas de Dupanloup: * A primeira exigência é que a capela da catequese deve ser separada da igreja, destinada aos catequizandos, que a devem sentir como deles e a enfeitá-la, revesti-la: “precisa evitar sobremaneira que tenha um aspecto de sala de aula”. Se não for disponível uma capela, precisa transformar durante o catecismo uma sala com altar, crucifixo, imagens sagradas, velas disposição dos bancos. * Os catequistas devem ser sacerdotes ou clérigos a caminho do sacerdócio, de habito, em atitude recolhida para criar uma atmosfera de absoluto silêncio e de fervorosa religiosidade. * Cada encontro ou celebração deve se estender por pelo menos duas horas. * Importantes são as reflexões do catequizandos, as historinhas, a pontuação; imagens sagradas, prêmios, honorificências, emulação, as festas, as comunhões, os textos recitados e explicados; as flores, as ornamentações, as visitas de pessoas eclesiásticas importantes (o pároco, o bispo); os jogos. * Na perspectiva da síntese de instrução e piedade (com homilias, sermões, comunhões mensais, festas) são descritos também por Dupanloup os Catecismos de perseverança para adolescentes e jovens adultos, que depois dos doze anos abandonaram a catequese que os tinha preparado para a primeira comunhão (F. DUPANLOUP, L’Oeuvre par excellence., livre cinquième: des catèchismes de perseverance) Já que a educação doméstica está em crise resta apenas o catecismo de perseverança no período depois da primeira comunhão. Podemos supor que o Marello tenha seguido o método de catequese da escola francesa que estava em alta um pouco em todo lugar e de forma especial a escola de Saint-Sulpice. Sobre Dupanloup, escreve ao amigo Rossetti: “[…] Dupanloup proclama a guerra ao erro, às paixões, aos vícios da sociedade, para restituir-lhe a paz que perdeu!” (MARELLO, 16 Setembro 1867, L. 15). Outros acenos, nós não encontramos, mas, mesmo assim, penso que o grande Bispo de Orleans, que deixou uma rica produção pedagógica, influenciou a mente e o coração do Marello como catequista e formador, educador de consciências e pessoas. Sobre isso faremos uma síntese depois de apresentar 52 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata o grande educador Don Bosco 21 que era na época o “texto metodológico, pedagógico” para todos”. Não é de estranhar, neste estudo, a “presença” de Don Bosco. Afinal, mesmo que não encontramos acenos dele nos escritos do Marello. O que se sabe é que com certeza, conhecoa o santo da juventude de Turim. Mas, podemos perceber facilmente, que Don Bosco influenciou e muito o nosso Fundador e o ajudou a criar aquele seu estilo pedagógico peculiar que podemos chamar de “pedagogia marelliana”. Se cada autor apresentado ajuntou uma pedrinha no mosaico marelliano, Don Bosco, por ser contemporãneo e por morar perto, influenciar a Igreja do Piemonte e da Itália, ser o apóstolo da juventude, foi, a meu ver, um verdadeiro farol para José Marello. 21 Joãozinho Bosco nasceu em 16 de agosto de 1815 numa pequena fração de Castelnuovo D’Asti, no Piemonte (Itália), chamada popularmente de “os Becchi” do segundo casamento de Francesco Bosco, tendo por mãe Margherita Occhiena. Ainda criança, a morte do pai fez com que experimentasse a dor de tantos pobres órfãos dos quais se fará pai amoroso. Em Mamãe Margarida, porém, teve um exemplo de vida cristã que marcou profundamente o seu espírito. Aos nove anos teve um sonho profético: pareceu-lhe estar no meio de uma multidão de crianças ocupadas em brincar; algumas delas, porém, proferiam blasfêmias. Joãozinho lançou-se, então, sobre os blasfemadores com socos e pontapés para fazê-los calar; eis, contudo, que se apresenta um Personagem dizendo-lhe: “Deverás ganhar estes teus amigos não com cacetadas, mas com a bondade e o amor... Eu te darei a Mestra sob cuja orientação podes ser sábio, e sem a qual, qualquer sabedoria torna-se estultícia”. O Personagem era Jesus e a Mestra Maria Santíssima, sob cuja orientação se abandonou por toda a vida e a quem honrou com o título de “Auxiliadora dos Cristãos”. Foi assim que João quis aprender a ser saltimbanco, cantor, malabarista, para poder atrair a si os companheiros e mantê-los longe do pecado. “Se estão comigo, dizia à mãe, não falam mal”. Desejando fazer-se padre para dedicar-se totalmente à salvação das crianças, enquanto trabalhava de dia, passava as noites sobre os livros, até que, aos vinte anos, pode entrar no Seminário de Chieri e, em 1841, ser ordenado Sacerdote em Turim, aos vinte e seis anos. Turim, naqueles tempos, estava cheia de jovens pobres em busca de trabalho, órfãos ou abandonados, expostos a muitos perigos para alma e para o corpo. Dom Bosco começou a reuni-los aos domingos, às vezes numa igreja, outras num prado, ou ainda numa praça para fazê-los brincar e instruílos no Catecismo até que, após cinco anos de grandes dificuldades, conseguiu estabelecer-se no bairro periférico de Valdocco e abrir o seu primeiro Oratório. Os garotos encontravam aí alimento e moradia, estudavam ou aprendiam uma profissão, mas sobretudo aprendiam a amar o Senhor: São Domingos Sávio era um deles. Dom Bosco era amado incrivelmente pelos seus “molequinhos” (como os chamava). A quem lhe perguntava o segredo de tanta ascendência, respondia: “Com a bondade e o amor, eu procuro ganhar estes meus amigos para o Senhor”. Sacrificou por eles seu pouco dinheiro, seu tempo, seu engenho, que era agudíssimo, sua própria saúde. Com eles se fez santo. Para eles fundou a Congregação Salesiana, formada por sacerdotes e leigos que querem continuar a sua obra e à qual deu como “finalidade principal apoiar e defender a autoridade do Papa”. Querendo estender o seu apostolado também às meninas, fundou, com Santa Maria Domingas Mazzarello, a Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora. Os Salesianos e as Filhas de Maria Auxiliadora espalharam-se pelo mundo todo a serviço dos jovens, dos pobres e dos que sofrem, com escolas de todos os tipos e graus, institutos técnicos e profissionais, hospitais, dispensários, oratórios e paróquias. Dedicou todo o seu tempo livre subtraído, muitas vezes, ao sono, para escrever e divulga r opúsculos fáceis para a instrução cristã do povo. Foi, além de um homem de caridade operosa, um místico entre os maiores. Toda a sua obra foi haurida na união íntima com Deus que, desde jovem, cultivou zelosamente e desenvolveu no abandono filial e fiel ao plano que Deus tinha predisposto para ele, guiado passo a passo por Maria Santíssima, que foi a Inspiradora e a Guia de toda a sua ação. Sua perfeita união com Deus foi, talvez como em poucos Santos, unida a uma humanidade entre as mais ricas pela bondade, inteligência e equilíbrio, à qual se acrescenta o valor de um conhecimento excepcional do espírito, amadurecido nas longas horas passadas todos os dias no ministério das confissões, na adoração ao Santíssimo Sacramento e no contato contínuo com os jovens e com pessoas de todas as idades e condições. Dom Bosco formou gerações de santos porque levou os seus jovens ao amor de Deus, à realidade da morte, do julgamento de Deus, do Inferno eterno, da necessidade de rezar, de fugir do pecado e das ocasiões que levam a pecar, e de aproximar-se frequentemente dos Sacramentos. Extenuado em suas forças pelo incessante trabalho, adoentou-se gravemente. Particular comovente: muitos jovens ofereceram ao Senhor a própria vida por ele. “... Aquilo que fiz, eu o fiz para o Senhor... Poder-se-ia ter feito mais... Mas os meus filhos o farão... A nossa Congregação é conduzida por Deus e protegida por Maria Auxiliadora”. Uma de suas recomendações foi esta: “Dizei aos jovens que os espero no Paraíso...”. Expirava em 31 de janeiro de 1888, em seu pobre quartinho de Valdocco, aos 72 anos de idade. Em 1º de Abril de 1934, foi proclamado santo pelo papa Pio XI, que teve a felicidade de conhecê-lo. Grande educador, desenvolveu a educação infantil e juvenil e o ensino professional, sendo um dos criadores do sistema preventivo e educação. Seus biógrafos registram sua amizade com políticos como Camilo de Cavour e Humberto Ratazzi, pessoas influentes como a Marquesa Barolo, amizade direta com o Papa Pio IX e com o Papa Leão XIII e localmente, com o Arcebispo de Turim que ordenou São João Bosco, Dom Luigi Fransoni; este esteve tanto no exílio como preso, tendo recusado os últimos sacramentos ao ministro Santa Rosa e por isso tendo sido repreendido pelo Rei Vítor Emanuel. Seu sucessor, Dom Lorenzo Gastaldi, teve uma longa disputa com São João Bosco, que resultou num processo canônico. A paz entre ambos só se fez mediante decisão de Leão XIII. As relações com políticos italianos e com papas, de forma muito direta, teriam dado a João Bosco uma posição política que parecia, sobretudo ao bispo Gastaldi, ameaçar a ordem hierárquica da Igreja. 53 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Linhas básicas da Pedagogia de Don Bosco: sistema preventivo a) Deus Amor ideal pedagógico de Dom Bosco (Extraído de “Spiritualità Giovanile Salesiana”- Sistema Preventivo.) Dom Bosco encontrou no agir de Deus o caminho para o agir do educador. A medida, a profundidade do amor educativo è dado pelo amor de Deus para com o homem: sem medida! Don Bosco escreveu uma história sagrada em que demostra isso: Deus “converteu” e salvou o povo na pura bondade. Usou a palavra bondade que a Dei Verbum usará no n 21! O agir de Deus para com seu povo e de Jesus para com os homens torna-se modelo paradigma do educador. Aquele de Don Bosco é reflexo do amor preveniente de Deus que não quer condenar, mas é misericordioso. (Cfr. Os 2,16). Eis então o cerne do ensinamento de Don Bosco: “Nós só falamos ao coração da juventude”; e ainda: “Lembrai-vos que a educação é coisa de coração, e que Deus só é o dono e nós não conseguiremos nada, se Deus não nos ensina a arte e nos doa as chaves”. O amor e a linguagem do coração numa pedagogia vigilante, mas, que respeita a liberdade. “Sigamos os princípios do Evangelho, façamos no nosso pequeno mundo o que Jesus fazia”. Deus foi o ideal pedagógico de Don Bosco. Aos jovens dizia: “O bem das vossas almas é o fundamento do nosso amor mútuo”. Na introdução ao Giovane Provveduto, um livro de orações escreve: “Meus queridos, vos amo de todo o coração e me basta saber que sois jovens para amar-vos muito. Encontareis escritores melhores do que eu, mas, não quem vos ame mais de mim em JC”. A diferença dos janseinistas apresenta aos jovens Deus como Pai, cheio de amor e misricórdia. Até joga psicologicamente com os jovens motivando-os: “Deus vos ama porque ainda tem tempo para fazer muitas coisas boas, porque estão numa idade humilde, inocente!” b) A comunidade educativa no sistema salesiano (nos colégios salesianso hoje). (extraído de um artigo de Don Giovanni Fedrigotti, (salesiano): “L’amorevolezza ci muove a portare il sorriso di Don Bosco nella scuola rinnovando la relazione educativa”) Um relacionamento que constroi o espirito de família Sob o perfil estrutural tem vários níveis da comunidade educativa que são entrelaçados: a) O nível da comunidade docente: colégio, professores no seu interior e no relacionamento com a comunidade religiosa, que tem a tesponsabilidade da escola. b) O nível educativo-cultural, que se apoia na relação docente-estudante; aqui a qualidade da relação é elemnto didático pedagógico fundamental; c) O nível de classe e das relações entre os alunos, com dinámicas positivas de solidariedade, sentido de equipe, mas também dinãmicas negativas de leadership negativa, pessoas desligadas.... d) O nível das relações escola família, como são percebidas pelos alunos e pelos pais para chegar a uma “escola pais”. e) O nível das multíplas interações locais: igreja, sociedade civil, grupos esportivos, centros culturais. 54 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata A bondade é a característica do ambiente. É um sentido de família, uma alegria de viver juntos, que é o resultado dos intercâmbios relacionais acima, e que torna a escola católica, antes de uma instituição, uma comunião–família. O amor não divide o jovem, mas, ama - o por inteiro: coração, inteligência, espirito, corpo. Para acolhê-lo de verdade, uma escola deve tornar-se: bondade, cultura, esporte, fé com todas as artes dos nosos teatros, recreios, danças, acampamento, passeios, peregrinações... Articulações pedagógicas A pedagogia salesiana – que teve seu primeiro fundamento na família de mamãe Margarida e de Joãozinho Bosco – deve não somente ser partilhada pelos docentes, mas, restituida às famílias que se aproximam de nossas obras. É a pedagogia do um por um: relacionamento com cada jovem, conhecido, chamado por nome, acolhido com gestos segundo sua necessidade; É capacidade de diálogo: muta escuta; É bondade: faz o primeiro passo na estima, no serviço, no perdão, em vestir o amor de sinais; É alegria: capaz de sustentar uma esperança vital, comunicar um olhar sereno sobre a vida; É preventividade: pedagogia atenta a criar experiências positivas, a fazer saborear o bem: motivando-o, escolhendo-o, doando-o; É animação: descobre em cada jovem seu ponto forte suas potencialidades. Também uma maçã podre tem sementes boas...Don Bosco falava: “Em cada jovem tem um ponto acessivel ao bem”: precisa reconhecê-lo e fazer dele um trampolim na aventura educativa; Pedagogia da esperança e da responsabilidade: comunica continuamente confiança no jovem, sujeito ativo de seu amadurecimento. Pedagogia que supera o complexo de Peter Pan: superar o momento que passa, não prolongar a adolescência no jovem por tempo indeterminado; (Obs: Peter Pan é um personagem criado por J. M. Barrie para sua notória peça de teatro intitulada Peter and Wendy, que originou um livro homônimo para crianças publicado em 1911. O personagem é um pequeno rapaz que se recusa a crescer e que passa na vida a ter aventuras mágicas). Pedagogia que previne o efeito Pigmalião (self fulfilling prophecy, profecia autoacontecendo), que tem o risco de afogar os jovens na onda escura da desconfiança, cultivando ao contrário, a consciência de um Deus co-educador (= religião). (Obs. Na mitologia grega o escultor Pigmalião, se apaixonou pela própria estátua e foi premiado pela deusa Vênus, que deu vida a ela. Efeito Pigmalião na psicologia é alinhar nossa realidade às nossas expectativas. Ex: as expectativas do professor afeta o desempenho do aluno). Sob o perfil religioso é a descoberta e o anúncio alegre de um Deus Amor e Revelação, Dom, Misericórdia, Igreja - Comunhão, Palavra e Sacramentos, Eterna Vida Jovem e Resurreição. Sob o perfil progetual, educar “como família” comporta a comunidade educativa pastoral,que desenvolve o sentido de pertença. Sob o perfil de gestão, concentra a atenção sobre o reitor,que é o coração da família mais do que um chefe de uma empresa. 55 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata 5. A pedagogia marelliana É possível chegar a uma pedagogia marelliana? Mais uma vez, como em outros temas sociais ou de espiritualidade, Marello não escreve um tratado a respeito, nem temos dele qualquer exposição ou palestra escrita sobre o tema, mas, nos seus escritos encontramos traços claros e profundos daquilo que bem podemos chamar de pedagogia marelliana. Vamos aprofundar e atingir duas cartas pastorais do Bispo Marello: a quarta do 1892 sobra a instrução da juventude e a sexta do 1894 sobra a catequese. Destes textos sai toda a grandeza do Marello educador, pedagogo. Podemos sem medo nenhum comparar- sem falsa modéstia- o Marello com Don Bosco; ambos fizeram da religião e da educação do coração os pilares para aprossimar e amar a juventude. Para tratar deste assunto, vamos extrair alguns passos - citados não em sequência e segundo outra lógica - do texto da acima referida palestra do nosso confrade Pe. Fiorenzo Cavallaro “Apostolato catechistico do Marello e da Congregação hoje” (Curso de espiritualidade 2007- Asti Italia). Devemos fazer-nos uma pergunta: quais os princípios teóricos e práticos guiavam a obra educativa e evangelizadora do Marello no meio do povo e da juventude? Os encontramos nos seus escritos, sobretudo, na IV (1892) e na VI (1894) Carta pastoral, nas quais faz uma síntese maravilhosa dos fins, dos valores, meios e metodologia seja da instrução doméstica da juventude, seja da catequese. É o testemunho da vida do Marello, como que a história de seus suores e esforços para que os cristãos do seu tempo não deixassem, na atmosfera cultural antirreligiosa de ser sal e luz, fermento das famílias e sociedade. Ele foi um pastor sólido e apto, ao momento, capaz de guiar e nutrir o poço a ele confiado pelo Senhor, quer em Asti quer em Acqui. São como que uma resposta às exigências, ao que, muitos anos antes tinha conhecido por experiência pessoal em Turim e à sua preocupação pela juventude. 1) Contexto histórico Na VI Carta, Marello tem bem presente o contexto histórico que a Igreja deve enfrentar e no qual deve evangelizar. Com três termos “Revolução, Anarquia, Nihilismo”, o Marello sintetiza a cultura laicista do Oitocentos, portadora de visões globais do homem e da história em luta aberta e em contraste com aquela cristã - católica (S. Pág. 83) portadora de princípios e máximas que acendem e estimulam as paixões, - que corrompem a mente e o coração, solapam as bases da família, aumentam de número e força as seitas que subvertem a ordem social (S. 83-84). Estamos diante, ainda que o Marello não o afirme por motivos de simplicidade e brevidade, de uma nova e diferente antropologia desligada de Deus e do Evangelho, diante de um humanismo ateu e materialista. O Marello, para confirmar suas palavras, traz as afirmações de Jean Jacques Rousseau (17121778), de Adolphe Thiers (1797-1877), (Cfr. S 82-83) que são de grande peso, para fazer refletir sacerdotes e fieis sobre a importância e necessidade do Catecismo. Anos antes, no janeiro de 1869 ao amigo Delaude citou Francisco Guizot (1787-1874), que afirmava: “A Europa sofre por falta de fé esperança e caridade” (L. 27). Estes personagens denunciam os percalços já realizados pela revolução francesa de 1789 e percebem os perigos futuros por causa de uma moral desligada dos princípios cristãos e do sentido cristão da vida. 56 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata 2) Olhar de fé O Marello abre a carta pastoral com a fé em Deus, sumo e eterno bem, que deve ser reconhecido, glorificado amado sobre todas as coisas e a Revelação que é abertura de Deus ao homem e do homem com Deus. Deus cria, fala ao homem lhe diz o que deve acreditar e fazer, o conduz pela mão para conduzi-lo até à salvação. (Cfr. S. 80-81) A catequese é fortemente pedagógica. E’ pedagógica quer como instrução quer como educação à vida. A doutrina cristã encerrada no catecismo (S. 81) é sabedoria e voz de Deus e penetra toda a vida cristã, social, eclesial encaminha para a pessoa para a maturidade integral. O catecismo tem uma palavra para todos: pobres, ricos, esposos, filhos, patrões, empregados, autoridades, súditos; ensina a justa liberdade, a igualdade; lembra a igualdade de origem o estado de culpa, o resgate, o fim (Deus), os meios para conseguir o fim. (Cfr. S. 81). Já tinha afirmado este conceito na carta sacerdotal 27: “É preciso voltar ao catecismo, o livro por excelência, que contém uma verdade, um conselho, um ensinamento para todos”. 3) Unidade na educação O catecismo contém uma ciência unitária, pois, oferece uma doutrina que indica ao homem a origem e meta de sua existência, valores e meios para consegui-la. Este problema filosófico-pedagógico da unidade na educação é muito amplo e aqui só podemos apenas acenar. O Marello justamente cita Jean Jacques Rousseau (S. 82) que apavorado pelas consequências de suas doutrinas, recuando de sua posição escreveu: “Eu não acho que alguém possa ser homem virtuoso sem religião. É verdade que também eu tive esta falsa idéia, mas agora eu estou completamente desiludido". Em seguida o Marello lamenta que “a sociedade é insidiada pelos ensinamentos de uma moral vaga, truncada, incoerente, mutável e sem sanção eficaz”(S.83) A “atmosfera cultural” dos 700 caracteriza-se com o termo iluminismo que permeia tudo da filosofia à política e chega até o início do Oitocentos. Para Rousseau, a tarefa da educação, não é um modelo que deve ser imposto à criança, ela deve respeitar o livre desenvolvimento e crescimento espontâneo da criança e adolescente e a educação deve acontecer pela razão e segundo a razão, mas, pelo instinto e o sentimento no movimento para com a razão. O educador para ele deve mais “não fazer” do que fazer e naturalmente é contrário à educação cristã e às escolas católicas. Antonio Rosmini (1797-1855), expoente do espiritualismo italiano cobriu as falhas. Rosmini colocou sua atenção de filósofo sobre a unidade da educação. Nas cartas pastorais do Marello nas entrelinhas se lê as suas posições. O que se entende por unidade na educação? Rosmini afirma: Deus é primeiro, Deus é a unidade radical, da qual provém toda unidade em qualquer ordem. Toda realidade participa ao ser de Deus. Homem e natureza são, portanto, unidos essencialmente a Deus que é fonte e horizonte do ser e doa agir de cada realidade cada uma na sua ordem. A natureza é para o homem, o homem é para Deus na ordem de Deus, através de Cristo. A educação tem a tarefa de orientar a Deus do baixo para o alto. Mas, Deus falou na sua história com a revelação; interveio também com a redenção realizada por Cristo. Por isso, o homem é orientado a Deus a Cristo, incorporado com Cristo, mediador, ao qual o cristão, como a imagem- modelo deve conformar-se, modelar-se. Portanto, a educação é formação do cristão, ou seja, formação do homem no seu pleno relacionamento com Deus em Cristo. E o conceito de Cristo-exemplar-ideal-modelo é muito claro na pastoral do Marello e é tema central. Cristo é o exemplo, afirma o Marello, dos pensamentos, dos afetos, das ações do cristão, o ideal de vida. A fé diz que Cristo é o ideal da própria vida (S. 82) e Cristo deve servir de norma ao cristão, é a força que deve ajudá-lo e sustentá-lo para 57 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata conseguir este fim. (Cfr. S. 82). O cristão é o homem transfigurado por Cristo e conduzido por Cristo ao Pai. Ora esta transformação que põe o homem na capacidade de chegar à salvação é posta como problema educativo. O programa educativo cristão compreende Deus, homem, mundo. As disciplinas são: a religião, as disciplinas humanísticas e científicas. Portanto o cristianismo, a Igreja não é valor paralelo à civilização, mas ensopa e transfigura a civilização nos seus movimentos e formas. O Marello afirma que para civilizar o mundo não basta a cultura intelectual como afirmava o iluminismo; não bastam cabeças cheias, precisa de cabeças formadas. Escolas e mestres aumentam; livros e jornais vão nas mãos de todos, entram em todas as casa, mas não fecharam as cadeias. A corrupção avança, aumentam os crimes, cresce a delinquência dos menores (Cfr. S. 81-82). Para aperfeiçoar o homem é necessária a educação do coração, ou seja, a religião que ilumina a inteligência com suas verdades e move a vontade para o bem. Esta é a unidade na educação e a educação integral do homem. 4) Visão global da história do homem e do humanismo cristão Marello quer também mostrar que o cristianismo é, na verdade, uma visão global do homem e da história e em nada inferior às visões ateias; um humanismo que conduz mais e melhor à liberdade, à prosperidade dos povos à justiça, à igualdade, à fraternidade (S. 8485). O catecismo quer criar nos fieis, desde a infância, uma consciência clara e responsável do cristianismo; quer que os cristãos adquiram força diante do ateísmo, quer tirar os cristãos fora do complexo de inferioridade esmagados pela ciência que era belicosa e preparada, deve servir a preparar um laicato adulto, convencido e corajoso. Todavia o olhar do Marello é sempre aquele da fé e da confiança na providência que conduz a humanidade. É o olhar do cristão: fé, confiança, e esperança, é o fio condutor da catequese. O Evangelizador espalha a semente com fé e esperança (Cfr. S. 86). Sua carta pastoral está preocupada com o racionalismo, o nihilismo, materialismo. Este o miolo da carta pastoral. No mundo apareciam e se impunham rostos novos que minavam os fundamentos da civilização cristã: a ideologia liberal e marxista, o anarquismo, o positivismo, e o humanismo de Nietzsche. Estes propunham e difundiam e realizavam um humanismo diferente contrário àquele cristão. Sem entender este núcleo a carta pastoral fica sem alma. Os catequistas para o Marello devem usar duas teclas: a cultura laica e a cultura religiosa, sempre colocada em comparação; para isso, os catequistas devem estar preparados, possivelmente sacerdotes. Marello já tinha chamado sacerdotes amigos para a catequese à juventude de Asti e tinha organizado e difundido a boa imprensa, as bibliotecas paroquiais. Cristãos novos e responsáveis para uma Igreja Nova e tempos novos. 5) Agentes responsáveis da educação: papel fundamental da família As novas ideologias não podem ser enfrentadas somente nos encontros de catequese. O Marello escreve que “E é isso mesmo; a sociedade é insidiada pelos ensinamentos de uma moral vaga, truncada, incoerente, mutável e sem sanção eficaz; com a ajuda da imprensa são divulgadas e penetram sob todas as formas no casebre e na oficina do operário: princípios e máximas que fomentam, as paixões, que cor rompem a rente e o coração, que abalam as bases da família” (S. 83). E os problemas nascem sobretudo, nos seguimentos sociais mais expostos como a juventude que é obrigada e emigrar do interior para a cidade grande trabalhando e vivendo em condições desumanas. A linha de frente, a primeira trincheira de defesa cabe à família. Dever dos pais é vigiar, transmitir conhecimentos religiosos desde os primeiros anos, a 58 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata começar de JC de seu amor, formar a consciência nos filhos, educá-lo na moralidade, à lei de Deus, à graça, à justiça, à fé, à esperança, aos sacramentos. Enfim uma educação de base sobre a qual poderão trabalhar os catequistas. Os lábios dos pais são os primeiros livros sobre os quais os filhos aprendem a iniciação cristã (Cfr.S. 84-85). Aos pais cabe educar com a palavra e o exemplo: “Longa é a via dos preceitos: breve e eficaz a dos exemplos (S. 69 Carta pastoral sobre a educação da juventude). Os filhos guardam o exemplo dos pais. Esta verdade o é sobretudo porque “os filhos vivem ao redor de nós e observam especialmente a vós, ó pais e mães; por isso, os exemplos puros devem partir exatamente de nós, cujos atos e passos todos, mesmo se mínimos, aos olhos de vossos filhos são como que revestidos de um caráter e de uma autoridade veneranda e sacra. Então, seja-lhes a vossa vida, um livro diante deles sempre aberto, onde aprendam os primeiros deveres mesmo sem a ajuda, de outro e mais longo esforço. (S.70). Marello é realista quando escreve que o catecismo é “laboriosíssimo ministério, infelizmente amiúde considerado de pouco valor por aqueles que deviam servir-se maiormente dele, mas ao mesmo tempo, fonte profícua de consolações e de méritos diante de Deus. (S.86). E também: “não deveríeis porém esquecer jamais, ó pais cristãos, que Deus confiou primeiramente a vós o cuidado da vossa prole por isso mesmo que é: vossa prole; e que todos os pregadores e todos os mestres não poderão ser tão úteis aos vossos filhos quanto o podeis ser vós, pais e mães, se começando bem cedo a instruí-los, quando não estiverem ainda em grau de ir à Igreja ou à escola, prosseguirdes na mesma instrução com zelo e solicitude cotidiana, já que vós exerceis sobre vossos filhos uma influência muito maior e mais íntima que nenhum outro, e por isso mesmo as palavras penetram mais profundamente no ânimo deles e ali permanecem mais eficazmente impressas” (S. 69 Carta sobre a educação da juventude). 6. Educação do coração Esta a diretriz pedagógica de todos os santos piemonteses que trabalharam no meio dos jovens e no social. A fé e o amor a Cristo era o segredo deles. Marello queria transmitir a sua fé e o seu amor, não o saber, e a ciência. Na carta pastora sobre o Catecismo Marello escreve "Ao aperfeiçoamento moral do homem, não basta o cultivo da mente sem a educação do coração: ou melhor dizendo, a instrução por si só e sem o acompanhamento da religião não pode dar luz verdadeira ao intelecto, nem mover eficazmente a vontade para o bem donde, para o progresso moral é necessário que o homem conheça o fim pelo qual se move, o fim a que tende, o exemplo que lhe deve servir de norma, a força que deve prestar-lhe a ajuda necessária e oportuna” (S.82). Mas o coração não pode ser educado a seguir Cristo, que atrai mexe e dá força, se não através de outro coração educado assim, já iluminado e movido por Cristo. Esta é a advertência do Marello aos educadores e catequistas: "os mansos possuem antes de tudo o próprio coração, e depois também o coração daqueles que os circundam, os quais não podem deixar de admirá-los, amá-los, agradá-los e servi-los" (S.284). Não podia dar-nos, um fundamento teológico, pedagógico melhor para nós Oblatos, educadores. Não se pode educar ao amor se não amando, dando sinais concretos de amor, demonstrando com os fatos que se ama e, portanto, amor percebido e sentido pelo educando. O Marello não deixa a formação religiosa de lado; o ápice de maturidade da pessoa é conseguir a capacidade de amar de forma solidária, oblativa e gratuita, no exemplo de Cristo. É seu projeto "Oblato", sempre presente, tarefa generosa e árdua. Nas duas cartas pastorais sobre a instrução dos jovens e catecismo, Marello, 59 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata falando da "educação do coração" diz claramente como todo ato educativo, no nível humano e religioso, é tal se permeado de caridade e de amor, pois, como diz Dom Bosco, a ''educação é uma coisa de coração". O estilo de "caridade" se traduz em amor sobrenatural, que é paixão por Deus e pelos seus filhos, de forma especial os "pequenos", ou seja, um estilo relacional feito de presença humana maternal e paternal, fraterna, de diálogo, de compreensão profunda pelo qual o educador, sobretudo se pai-mãe e sacerdote, professor, vive, dentro das possibilidades da vida. A vida dos filhos, dos jovens e os ama, se identifica com o que eles amam. O sistema preventivo de Dom Bosco é a caridade em ação (cfr. 1 Cor 13,4-7). Deveríamos ler de novo os ensinamentos do Marello sobre a caridade e mansidão22. Partindo de Deus, da sua palavra, do catecismo, a educação deve falar principalmente ao coração da juventude e em qualquer lugar sempre. Também na disciplina deve dominar o amor. Também a correção e o castigo devem ser permeados de amor. O sentirem-se amados gera confiança, familiaridade, deixa livre interiormente, cria espírito de família, e o amor assim manifestado e percebido torna-se ainda válido para o mesmo educador. O amor cristão é o fundamento de todo relacionamento educativo, formativo e favorece a assimilação dos valores humanos e religiosos. Com as cartas pastorais IV e VI também o Marello pode ser contado e marcar forte presença entre os maiores educadores do Oitocentos. 6. Algumas conclusões Concluir o que, na verdade, não está concluído! Analisamos um pouco alguns autores que influenciaram a mente, o coração, o espírito do Marello e o prepararam para aos poucos para formular um estilo de vida que chamamos pedagogia marelliana. A sua foi uma caminhada lenta, mas, progressiva. Nos autores da juventude lembramos aqueles que mais são citados nas cartas do Marello e que tiveram mais destaque, mas, deveríamos ainda quem sabe, falar de Massillon, Balbo, Chateubriand, Lamennais, Manzoni... e outros. Aqueles que foram aqui apresentados deixaram, todavia, nele marcas claras, nem, todavia, sempre fáceis de detectar. Certamente Pascal influenciou muito o seu coração jovem e o espírito do Marello que se exaltava nos grandes ideais; Michelet e Gioberti o ajudaram a ter uma visão da história e dos acontecimentos à luz da fé, também descartando certas posições que já não podiam encontrar lugar em sua vida; Fenelon com seu romance pedagógico deixou sementes que poderíamos encontrar mais adiante no trato com os jovens e com o povo em geral. São Francisco de Sales foi para ele um marco na vida. Formou o seu espírito a um caminho de santidade, a um estilo de vida todo seu feito de bondade, misericórdia, ternura e caridade; todos ingredientes que com certeza fizeram desabrochar nele a pedagogia do coração além da santidade de vida! Do ponto 22 “Devemos ter um coração generoso e grande, não pequeno, como o das criancinhas. Uma colher de mel pega mais moscas do que um barril de vinagre. Devemos dizer ao Senhor: Ó Senhor, ajudai a minha mansidão e dai-me modo de exercitá-la. o Senhor que nos dê um coração largo e cheio de doçura. Mansidão, não por conveniência e descuido, ou por natural apatia, mas por impulso de virtude, como era a de S. Francisco de Sales e de S. Vicente de Paulo: ser inalteráveis. Devemos ter um coração largo e generoso e por isso, quando o Senhor não tiver sido ofendido, tolerar qualquer inadvertência e descortesia. Tolerar tudo, mesmo o que nos é feito de propósito” (S. 195). “Socorramos, consolemos, tenhamos compaixão, com generosidade e coração largo” (S. 248) “A caridade vence tudo” e passa por cima de tudo a respeito do próximo... Não movamos mão ou pé, não pronunciemos palavra, não concebamos pensamento ou afeto que não seja inspirado e formado pela caridade”. (S. 262) “Devemos ser a completa caridade” (S. 278). “Mansidão, não por conveniência e descuido, ou por natural apatia, mas por impulso de virtude, como era a de S. Francisco de Sales e de S. Vicente de Paulo: ser inalteráveis” (S. 195). 60 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata de vista mais estritamente pedagógico Dupanloup na catequese, e Don Bosco mais na formação da juventude foram os autores dos quais atingiu. Elaborou a práxis deles com seu jeito e criou a sua própria pedagogia. Ainda cabem algumas considerações práticas. a) Marello e Dom Bosco O Marello conheceu o movimento de libertação do país (Risorgimento), o anticlericalismo acirrado, a divisão entre Igreja e Estado. Obviamente sua ação não foi ampla, como aquela de Don Bosco. Viveram no mesmo século, mas trabalharam em contextos diferentes. O Senhor para um e para os outro teve planos e projetos diferentes. Todavia nos escritos do Marello encontra-se tanta ânsia e preocupação para os jovens. A partir da unidade da educação de Rosmini, também o Marello, como Dom Bosco, estava convencido que o cristão deve ser ''virtuoso'', deve ser um "ótimo cidadão", "honesto". Também o Marello queria que os jovens se tornassem virtuosos cristãos diante da Igreja e ótimos cidadãos na sociedade. Ele também – precisamos sublinhar bem isso- não enxergava contraposição entre cidadão e cristão, enquanto a cultura laicista educava os jovens para se sentirem fora da Igreja. Seja para Dom Bosco como para o Marello a promoção humana e a evangelização não se chocavam, mas, eram dois elementos de uma síntese buscada e promovida sem violência, mas, na liberdade. Para eles era possível aproximar a Igreja e o Estado. Nas escolas públicas a orientação era contra a Igreja Católica e contra toda religião e existia uma luta dura para conseguir o ensino religioso nas escolas. Marello preocupou-se e ocupou-se com a catequese juvenil urbana, pensou numa associação laical sob a proteção de S José, pensou em bibliotecas paroquiais, em palestras e formação para um laicato maduro, na difusão da boa imprensa, e quando fundou a Congregação dos Oblatos de São José, quis que os seus se dedicassem ao catecismo. Marello não é um realizador como Don Bosco, mas, as cartas pastorais o apresentam aberto à educação integral da pessoa. Crendo em Jesus Cristo, ouvimos a voz da fé a gritar: eis o ideal da tua vida, conforma os teus ensinamentos aos pensamentos d'Ele, os teus afetos aos seus afetos, as tuas ações às suas: transfigura-te de claridade em claridade à sua imagem. Crendo finalmente na eficácia da oração, dos Sacramentos, do Sacrifício divino, o cristão diz com São Paulo: eu, tudo posso n'Aquele que me conforta: e gloriando-se da sua própria fraqueza, sem temer obstáculos, sem receio dos inimigos, adianta-se ria árdua mas luminosa via das santas virtudes, aspira a ser perfeito como é perfeito o pai celestial (MARELLO, 20 Janeiro 1884. S. p. 82). Esta é a sua fé. Fé em Cristo, seu exemplo, modelo, força. É autêntica espiritualidade cristã. É esta a sabedoria humana, cristã e a sua cultura. A sua pedagogia é claramente cristocêntrica: o homem virtuoso a imagem de Cristo; formar o Cristo no cristão; realçar a imagem de Cristo que é tarefa seja dos pais como dos catequistas e educadores. Esta é a consciência que o Marello tem diante do mundo que se afasta de Deus, de Cristo e da Igreja. É a fusão do fundamento unitário de Rosmini, a concretude de Don Bosco. 61 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata b) Os passos da pedagogia marelliana em resumo (conforme acima). Partir sempre do contexto histórico, para se situar com o jovem- adolescente de hoje; Ter sempre um olhar de fé; sem a visão de Deus e da fé não teremos clareza onde vamos chegar na pastoral juvenil e na educação cristã da juventude: cristocentrismo; Unidade na educação: formação integral da juventude, da pessoa como um todo; Educação do coração; Valorização da família, dos educadores; Formar cristãos e cidadãos conforme o humanismo cristão; Marello insiste que a melhor apologia diante do mundo racionalista, materialista é nossa santidade de vida, que pode não convencer, mas, faz refletir muito. c) Marello conhecedor da juventude Marello demonstrou, como escreve o nosso confrade padre Dario Bertol, psicólogo, de possuir uma atualizada psicopedagogia; conhecia a psicologia das crianças e dos jovens, seu lado positivo e negativo, a capacidade receptiva, os relacionamentos que condicionam, a metodologia certa, os valores e conteúdos para oferecer a cada idade, e os lugares de presença educativa como a Igreja, o oratório (grupo jovem). Nas duas cartas pastorais citadas Marello nos oferece um panorama sugestivo de valores e metodologias educativas que o fazem inserir plenamente na lista dos melhores educadores. Nesta dimensão na verdade não conhecemos bem o Marello! d) Nós Oblatos de São José Os Oblatos de São José tem por finalidade também a educação da juventude e se não se jogam dentro com paixão faltariam a uma finalidade específica. As palavras de José Marello seriam no caso uma severa admoestação para nós: “Trabalhe, trabalhe pela melhora da juventude; também o pouco é algo, e impedir o mal já é, nos nossos dias, um grande bem” (MARELLO, 5 Fevereiro 1869, L. 30). As Constituições dos Oblatos de S. José fazem eco a este pedido de José Marello: No quadro das atividades apostólicas, para os Oblatos de São José um setor privilegiado é o da educação cristã dos jovens. Se é um dever de todos interessar-se pelos jovens, para os Oblatos é uma exigência de fidelidade ao espírito do Fundador (Costituições dos OSJ, 1987, nº 60). Sempre nas Constituições e Regulamento Geral temos os traços da pedagogia marelliana como foi apresentada acima. Basta ler e “viver” com atenção. As nossas Constituições assim rezam: A escola entra nas finalidades da Congregação, que deve incrementá-la cada vez mais. O Oblato, no seu magistério, busca os objetivos culturais da escola e, enquanto cuida da formação 62 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata humana de seus alunos, educa-os para uma visão dos homens e das coisas iluminada pela fé (Consituições OSJ, 1987, nº 67). Lembram também que a catequese “tem lugar preeminente” (Constituições OSJ, 1987, nº 66). E o Regulamento Geral: É um compromisso apostólico de cada Oblato desenvolver harmoniosamente nos jovens as capacidades físicas, morais e intelectuais, procurando fazer com que amadureça neles o senso de liberdade e responsabilidade no contexto comunitário, mediante uma educação integral. Esta obra só terá possibilidade de sucesso se a educação para a fé e para a vida da graça levar os jovens a um autêntico testemunho cristão e tornar-se gradativamente a fonte de seus objetivos de vida (Regulamento Geral OSJ, 1987, nº 30). A história da Congregação e da Província Brasileira é rica de páginas bonitas na Pastoral da Juventude, na catequese, no setor educativo, nas paróquias. Cabe agora dar continuidade, quem sabe com outros meios, com consciência maior, com uma pedagogia marelliana mais clara, mas, ao mesmo tempo mais comprometedora. O que o Marello faria hoje no nosso lugar? Referências DALMASO, Severino. Biografia del beato Giuseppe Marello. Editrice Vaticana, Tre Volumi, del 1997. Studi Marelliani, San Giuseppe Marello Epistolario. I parte, Centro Internazionale Giuseepino - Marelliano, Anno 1, n 1-2, 2009. Scritti e insegnamenti del Venerabile Giuseppe Marello-Studi e documentazioni Marelliane - A cura de Padre Pasetti-Asti 1980 (também na tradução Brasileira de Padre Alberto Santiago). S. Giuseppe Marello nella storia del Piemonte nella seconda metà del secolo XIX. Symposium Internazionale Setembro 2009 - Impressioni grafiche Acqui. Conferenze del Corso di Spiritualità 16-30 setembro 2007 Asti. 63 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata BREVE PANORÂMICA DAS ESCOLAS OBLATAS Pe. José Antonio Bertolin, osj Escrever sobre as escolas fundadas ou dirigidas pelos Oblatos de São José não é uma tarefa fácil dado que carecemos das “histórias dos nossos colégios” os quais foram objeto de atenção do trabalho dos Oblatos já nos primeiros tempos e são hoje, todavia, campos de trabalho educativo das crianças e dos jovens na Congregação. Ouso dizer que numa abordagem sobre a educação da juventude dentro do espírito josefino-marelliano, a presença das escolas oblatas ainda não contou muito como uma atividade formativa da juventude, pois esta se identificará muito mais com os tão divulgados “Oratórios” que foram presenças marcantes no apostolado dos Oblatos na Itália, mas que em contraposição não tiveram nada a ver com as outras realidades educativas dos Oblatos fora da Itália, particularmente no Brasil. Sou do parecer que a causa da delimitação de uma abordagem sobre a “história dos nossos colégios” é o fato de que embora tenhamos tido escolas em várias das realidades de nossa Congregação, parece-nos que essa particular atuação educativa oblata se não tem apresentado suficientemente como um campo eminentemente de formação específica dos alunos confiados às nossas instituições educativas, fazendo com que esta fosse delegada consequentemente à tarefa formativa da juventude especificamente realizada em nossa ação pastoral nas respectivas paróquias onde atuamos, e com isso as escolas oblatas padecessem de certo enfraquecimento neste particular devido à atenção voltada mais para a pastoral paroquial. Basta lembrar que até hoje, mesmo depois de três Encontros Internacionais sobre a Pastoral Juvenil, as escolas oblatas não foram especificamente contempladas, recaindo consequentemente todas as atenções e apreensões dos desafios e das metodologias sobre a educação dos jovens, segundo o espírito josefino-marelliano nas paróquias. Embora as afirmações acima tenham, pelo que me consta, uma nota de verdade, mesmo porque não possuímos em arquivos dentro de nossa Congregação os documentos comprobatórios das atividades dos nossos colégios, salvo aquelas de cunho pedagógicocurricular, estes desempenharam e desempenham uma função muito importante no exercício do apostolado dos Oblatos ao longo de toda a caminhada da Congregação, a começar com o “Coleginho de Santa Chiara” de Asti que nasceu em 1884, com o próprio Fundador, iniciando as suas atividades com uns 20 alunos e tendo, contudo, como finalidade a promoção das vocações ao estado religioso e, portanto, embora com a finalidade educativa da juventude, apontava especificamente para outra necessidade. O “Coleginho de Santa Chiara” funcionou até o ano de 1907, sendo que o motivo principal de seu fechamento foi devido ao aumento do número de seminaristas menores fazendo com que não houvesse mais as condições adequadas para o funcionamento de todas as atividades pertinentes a uma escola. Devemos nos reportar a primeira instituição educativa nascida na Congregação para recuperarmos as raízes do trabalho educacional como parte do apostolado dos Oblatos no tempo do Marello. O trabalho realizado naquelas circunstâncias se resumia na assistência aos meninos deste “coleginho” e aos órfãos do pequeno orfanato em Santa 64 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Chiara. É importante salientar que a preocupação dos Oblatos com a “juventude” dentro do contexto de Santa Chiara foi, na verdade, o primeiro e o principal apostolado interno, mas também fora da casa de Santa Chiara a preocupação com a juventude esteve presente, dado que se dentro dela os Oblatos assistiam os meninos, fora dela eles trabalhavam com o catecismo e com o canto sacro nas paróquias de Asti. O “Coleginho de Santa Chiara” conheceu um bom desenvolvimento no início dado que no ano de 1888, o número de seus alunos superava uma centena os quais reunidos aos órfãos abrigados na casa formavam o número de 140 jovens instruídos pelos Oblatos. Em 1892 o número chegou a alcançar 160 alunos e não podendo absorver mais por falta de local, pensou-se na abertura de outra escola. A Providência veio em ajuda aos Oblatos e seu adquiriu o Castelo de Frinco e ali se implantou uma extensão do Colégio de Santa Chiara a partir de 1893. As aulas ministradas em Santa Chiara e em Frinco eram frequentadas por alunos aspirantes a entrar na Congregação, os quais tinham um ritmo semelhante ao dos seminaristas, e muitos deles se tornaram sacerdotes na Congregação ou no clero diocesanos. Na verdade, a escola de Frinco tinha um endereço mais específico para o cultivo das vocações oblatas, mas não deixava de ser uma escola sob a responsabilidade dos Oblatos. Ainda como expressão do interesse dos Oblatos pelas escolas, em janeiro de 1903, foi aberta em Pontremoli a Casa da Providência a pedido do bispo desta Diocese, Dom Ângelo Fiorini. Esta passou a funcionar sob a direção dos Oblatos, embora não fosse propriedade da Congregação e funcionava de maneira semelhante a casa de Santa Chiara, ou seja, com jovens aprendizes da arte de sapataria, marcenaria, alfaiataria e tipografia. Não podemos deixar de mencionar a Escola Fulgor cuja origem provém do fato que os Oblatos desde 1895, dirigiam o Oratório de San Giovanni que pertencia à catedral de Asti. Dado que havia pouco espaço para as suas atividades, o cônego Francisco Morra doou aos Oblatos uma casa perto da catedral e depois de alguns trâmites burocráticos foi aberta na referida casa no ano de 1905, a Sociedade Esportiva Fulgor na qual os Oblatos desempenharam um relevante trabalho formativo e esportivo com a juventude. Passados bons e frutuosos anos de trabalho com a formação da juventude, sobretudo com os padres Felipe Berzano, Jacinto Carreto e Tiago Garrone, no ano 1938, a Sociedade Esportiva Fulgor estava se apagando e para aproveitar o espaço desta casa foi aberto em 1939 o Colégio Interno Fulgor com a finalidade de acolher os jovens da região de Asti que não tinham a oportuidade de frequentar o segundo grau. Essa nova adequação do colégio Fulgor expandiu o campo da educação dos jovens seja no âmbito educacional, como no especificamente formativo de acompanhamento e orientação visto estes morarem e conviverem com o mesmo ambiente escolar. Depois da segunda Guerra as atividades oratorianas do Colégio Interno Fulgor se fizeram ressentir particularmente porque as paróquias de proveniência dos respectivos jovens passaram a solicitar a presença deles, enquanto a Fulgor, como escola se desenvolvia bem em sua tarefa educativa. Em vista disso, em 1941, foram ali introduzidas algumas atividades profissionalizantes nela até ao ponto que em 1952, foi necessário derrubar todas as velhas estruturas da casa para se construir um edifício mais moderno e amplo. Surgiu a partir dali a Associação dos ex-alunos da Fulgor que imediatamente floresceu. Neste período trabalharam de maneira especial nesta instituição 65 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata os Oblatos Pe. José Calvi (não o Servo de Deus), Pe. Enrico De Marchi, Pe. Ambrósio Ceriani, Pe. Vito Accettura, Pe. Paulo Re, Pe. Pedro Franchini, Pe. Mário Cappello. Em 1970 a Fulgor começou conhecer a crise e dentre os motivos desta estavam a abertura de uma escola profissionalizandte pública em Asti e a abertura de outras escolas de ensino médio na região, e também porque os jovens não queriam mais ficar fechados durante toda a semana dentro de um colégio no estilo de internato. A solução foi a tentativa de se criar o ensino médio em tempo pleno para toda a província de Asti. A boa iniciativa de Pe. Alberto Manunza não surtiu os resultados esperados devido ao fato ser esta uma escola paga enquanto que as escolas públicas eram todas gratuitas. Mesmo assim a Fulgor continuou funcionando por aproximadamente uns vinte anos, mesmo sem os resultados finaceiros esperados, até que o caminho foi fechá-la, muito embora no processo de encerramento de suas atividades, as aulas continuaram por um bom tempo com Pe. Osvaldo Bucchioni numa repartição da Casa Santa Chiara em Asti até que todas as suas atividades se encerraram definitivamente. Hoje na antiga Fulgor funciona um departamento de estudos universitários sob a responsabilidade do Ateneu público de Turim. Com a expansão da Congregação para fora da Itália a presença das Escolas Oblatas ficou marcada nas Filipinas, o primeiro campo missionário dos Oblatos. Essa Província Oblata possui atualmente sete instituições educativas compreendendo um trabalho educativo que ultrapassa o número de sete mil estudantes acompanhando desde as crianças do Ensino Infantil, passando depois para os adolescentes e os jovens do Ensino Fundamental e Médio. Na cidade de Antipolo encontra-se a Escola Dom Antonio Zuzuarregui Sr. Memorial Academy. Em Padre Garcia-Batangas, a Escola Holy Family Academy. Na cidade de Quezon está Silog taglaw Foundation. Em Rosario (Alupay)Batangas, encontra-se a Santo Rosario Academy e em Rosario-Batangas, o St. Joseph Istitute. Em San José-Batangas, a Escola St. James Academy. Em San Juan-Batangas, o St. Joseph Marello Institute. Em Taysan-Batangas, a Our Lady of Mercy Academy. No Brasil, o segundo campo de atividade missionária dos Oblatos, conheceu-se a primeira experiência de escola oblata no mês de fevereiro de 1921, quando Pe. Emilio Martinetto deu início em Paranaguá (Paraná), a uma pequena escola com 60 adolescentes, dispondo de apenas dois professores em um imóvel alugado para essa finalidade. A razão da criação desta pequena escola deve-se ao avanço dos protestantes no campo educativo, pois estes já possuíam em Paranaguá três escolas com as quais buscavam fazer oposição aos católicos. Padre Adamo tornou-se o diretor dessa escola, a qual teve boa receptividade e crescia bastante bem, tanto é verdade que no início de 1925, já contava com 170 alunos. Por razões de falta de pessoal a experiência não teve continuidade sendo encerrada em seguida. Passadas mais de duas décadas depois do fechamento da pequena escola dos Oblatos em Paranaguá, a experiência do trabalho educacional com escolas oblatas surgiu novamente, primeiro em Apucarana, no Norte do Paraná, no ano de 1949, depois em Curitiba, capital do Paraná, no ano de 1954. Hoje no Brasil os Oblatos possuem duas Escolas e uma Faculdade: O Colégio São José-Apucarana, o Colégio Pe. João BagozziCuritiba e a Faculdade Padre João Bagozzi-Curitiba. Todas essas três instituições possuem extensões com funcionamento na área educativa, a saber: O Colégio São José funciona com a Educação Infantil numa outra área constituindo-se como Centro Educacional Infantil O Girassol. O Colégio Padre João Bagozzi da mesma maneira 66 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata mantém o Ensino Infantil numa outra área denominada de Centro Infantil Bagozzi. Por fim, a Faculdade Padre João Bagozzi situada nos bairros do Portão e Xaxim- Curitiba. O Colégio São José de Apucarana, edificado num terreno de 40 mil metros quadrados doado pelo pioneiro Dr. Joaquim Vicente de Castro, no entroncamento das Ruas São Paulo e Ponta Grossa, na época uma área ainda desabitada, abrigou esta instituição educativa no início com 3.555 metros quadrados de área construída, um projeto ousado em suas linhas arquitetônicas. A cidade de Apucarana crescia e o número de alunos aumentava consideravelmente surgindo consequentemente a necessidade de mais uma instituição escolar que respondesse a estas necessidades. Foi então que o bispo de Jacarezinho-PR, Dom Geraldo de Proença Sigaud, prevendo que em pouco tempo, a sua extensa diocese seria dividida para a criação de novas dioceses, e atendendo aos apelos de muitos pais da região do Vale do Ivaí, os quais solicitavam um centro de educação para jovens nesta região, pediu ao Superior dos Oblatos de São José que construísse um colégio com a finalidade de atender às suas necessidades, inclusive que comportasse um regime de internato masculino para os jovens. O pedido do bispo foi atendido imediatamente por Pe. Armando Círio, pároco da matriz Nossa Senhora de Lourdes o qual delegou ao Padre Severino a tarefa de dar início à construção. O grande empreendimento foi iniciado com o lançamento da pedra fundamental no dia 11 de fevereiro de 1956, sendo concluído e inaugurado no dia 06 de março de 1959. No dia l° de maio daquele ano, o novo edifício passou a funcionar com o nome de “Ginásio Dr. Joaquim Vicente de Castro”, um fiel colaborador da Congregação dos Oblatos de São José em Apucarana. Atualmente o Colégio São José faz parte do patrimônio cultural de Apucarana. Possui uma infra-estrutura física invejável, funcionando ao lado o Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana e o Santuário São José e apresentando-se como uma instituição educacional fundamentada de esperança e significância para os seus mais de 1.400 alunos que todos os anos buscam nele uma educação de qualidade. Na metade da década de 50, Pe. João Bagozzi liderou junto com a comunidade local da paróquia Senhor Bom Jesus do Portão de Curitiba, a construção da terceira escola oblata no Brasil, a qual foi inaugurada em 1956 e denominada “Escola Paroquial Imaculada Conceição”. Anos depois esse estabelecimento educativo tornou-se um dos maiores colégios de ensino privado do Paraná, com o nome de “Colégio Padre João Bagozzi”, em homenagem ao seu idealizador e fundador que faleceu em 12 de outubro de 1960, em um acidente de trânsito. O Colégio Bagozzi tornou-se uma referência do trabalho educativo dos Oblatos no Brasil, seja pela sua importância dentro da capital paranaense, seja pelo relevante número de alunos que acolhia todos os anos chegando a contar com 6.500 alunos em seus anos de auge. Hoje o Colégio Bagozzi continua sendo um dos mais importantes na cidade de Curitiba cumprindo a sua missão de educar todos os anos um número de aproximadamente 2.500 alunos. A semente plantada pelo padre Bagozzi produziu novos frutos em 2002, quando a Província oblata do Brasil iniciou sua experiência no ensino superior. Surgiu então a Faculdade Bagozzi que passou a oferecer vários cursos superiores nas áreas de Administração, Filosofia, Pedagogia, Serviço Social, Gestão Ambiental, Saneamento Ambiental, Gestão Financeira, Gestão Comercial, Marketing, Logística, Recursos Humanos, e outros, divididos em Graduação e Pós-Graduação. Atualmente a Faculdade 67 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Bagozzi mantém também o Centro Acadêmico Padre João Bagozzi – Xaxim- Curitiba. A Faculdade Bagozzi vem crescendo em número de alunos e proporcionando educação e formação para 1.800 alunos. No Peru, outro campo de atuação dos Oblatos, são mantidas as seguintes Escolas: Escuela San José Marello, em Cajabamba - Cajamarca; Escuela Antonio Raimondi, em Chimbote - Centro; Escuela Niño Dios, em Chimbote - El Progresso; Instituto Técnico San José Marello, em Huaraz - Ancash; Escuela San José Obrero e Escuela San José Marello, em Lima - La Victoria; Escuela San José, em Pomabamba - Ancash e Escuela José Emilio Lefebvre, em Tujillo - Moche. Soma-se a estas também a escola de nível superior denominada Estudiantato Filosofico Marellianum. Na Bolívia de São José desenvolvem trabalhos desde o ano de 1948, é mantida apenas uma escola pelos pela Congregação dos Oblatos de São José; trata-se da Unidad Educativa Paroquial San José, na cidade de La Paz. Nos Estados Unidos da América onde os Oblatos mantêm atualmente dois campos de apostolado; um na Califórnia e outro na Pensilvânia e a única iniciativa direta dos Oblatos em construir escolas foi na Pensilvânia quando Pe. Vicente Bonomi, pároco da Igreja São Roque criou a Escola Paroquial São Roque que passou a funcionar com 60 alunos no porão da própria igreja a partir do ano de 1946. Depois houve o empenho do pároco para a construção de um edifício próprio para o funcionamento desta escola a qual foi inaugurada em 1950. Esta escola chegou a funcionar com 300 alunos, embora não sob a direção geral dos Oblatos mas das Irmãs Filipinas. Com a saída das Irmãs e a progressiva diminuição do número de alunos, esta foi fechada pelo pároco Padre Júlio Serra em 1971. O prédio foi então alugado para a escola municipal até 1977, quando o edifício foi ocupado com a escola de catequese paroquial, sob a coordenação das Irmãs do Coração Imaculado de Maria. Já na Califórnia existem atualmente duas escolas com certa presença dos Oblatos; trata-se da Escola Paroquial São Joaquim que oferece o ensino Infantil e Fundamental da primeira a oitava séries e que tem a frequencia de aproximadamente 270 alunos por ano. Esta é dirigida por uma pessoa leiga e os Oblatos dão assistência espiritual na mesma. Uma outra trata-se da Escola Paroquial Nossa Senhora de Guadalupe iniciada em 1927, e que funciona até hoje com o ensino Infantil e Fundamental da primeira a oitava séries. Esta é dirigida por uma irmã religiosa e acolhe anualmente a média de 150 alunos os quais recebem periodicamente uma presença oblata. No México os Oblatos mantêm apenas o Centro Cultural Fray Bartolomé de las Casas, em Cuautitlan-Izcalli-Cidade do México. Esta foi fundada pelos Oblatos de São José em maio de 1967, e em setembro de 1969 começou funcionar com o primeiro e segundo grau. Situado na região metropolitana da capital mexicana, ali também os Oblatos educam a juventude não se esquecendo dos mais pobres. Na Índia os Oblatos continuam educando a juventude com o Joetech Computer Institute, em Chennampara-Vithura, uma escola profissionalizante que ensina informática, fabricação e conserto de sapatos. Mantém também a Holy Family English Medium Public School com aproximadamente mil alunos. A Marello Campus, em Permbilly-Narakal, constituída de uma escola técnica-profissionalizante e funcionando contemporaneamente como uma escola de ensino Médio. 68 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Na Nigéria é mantida pelo Oblatos em Ibadan, a St. Mary Primary School. Tratase de uma escola de ensino Fundamental com seis salas de aula com a capacidade para 250 alunos. O primeiro aspecto do carisma apostólico da Congregação dos Oblatos de São José sempre foi como afirmou o Capitulo Geral de 1923, “a educação e a instrução religiosa da juventude”. Olhando sempre para São José, o educador de Jesus e o homem operoso no serviço e na guarda de Jesus. Por isso, a semente plantada pelo fundador, Dom Marello, com o “Coleginho de Santa Chiara” nos distantes anos de 1884, rendeu seus frutos em vários países e lugares onde a Congregação dos Oblatos de São José se tornou presente com seu carisma. A existência de Escolas oblatas deveu-se em grande parte às necessidades de instituições educativas religiosas nos países onde os Oblatos assumiram ao longo do século passado como campos de missão. Basta lembrar que no ano de 1915, os Oblatos assumiram o trabalho missionário nas Filipinas e em 1919 no Brasil, passando depois para o Peru e Bolívia em 1948, e México em 1951. Depois foi a vez da Índia em 1982 e da Nigéria em 1990. À distância de 37 anos, depois da abertura da primeira escola oblata em Asti, as instituições educativas mantidas sob a responsabilidade dos Oblatos começaram a multiplicar-se nos campos missionários dos Oblatos, a começar com a pequena escola de Paranaguá, no Brasil. Hoje os Oblatos não possuem mais escolas na Itália, país que plantou a semente das Escolas oblatas, porém, nos sete países acima lembrados como campos de missão dos Oblatos, as escolas nasceram e floresceram. Basta lembrar que hoje os Oblatos possuem com administrações próprias várias instituições educativas de ensino Infantil, Fundamental e Médio, e uma instituição educacional de nível superior no Brasil e outra no Peru, tendo sob sua responsabilidade milhares de alunos que bebem na fonte josefino-marelliana. Acrescente-se a isso a responsabilidade moral e social pelas milhares de famílias dos “educandos josefinos” e dos professores e professoras que diariamente têm a missão de educar todo esse contingente de crianças, adolescentes e jovens, iluminados pela fidelidade aos valores da Igreja e na pedagogia josefinomarelliana. Dada a delimitação do assunto abordado, o qual se apresentou como uma visão panorâmica das Escolas oblatas, que por sinal ficou bastante restrita a alguns dados genéricos devido à falta de dados históricos de cada uma delas aqui lembradas, torna-se necessário um aprofundamento do trabalho educativo em cada uma das realidades das escolas oblatas existentes hoje nos países onde os Oblatos atuam. Torna-se também necessário o conhecimento e o aprofundamento da pedagogia josefino-marelliana para todos os Oblatos e seus colaboradores que hoje são detentores de uma parcela bastante considerável da atuação de um dos aspectos mais candentes do carisma dos Oblatos de São José: a educação da juventude. Parcela bastante considerável porque somando apenas os dados de que dispomos sobre o número de alunos que atualmente são formados em nossas escolas contamos com mais de seis mil e quinhentos alunos no Brasil; contudo, se acessarmos o número dos alunos das escolas nas Filipinas, Peru, Bolívia, México e Índia das quais não obtivemos informações, somaremos mais uns doze mil alunos (informações não oficiais). Portanto, facilmente os Oblatos hoje são responsáveis pela formação de pelo menos dezoito mil e quinhentos a dezenove mil alunos em suas escolas, missão que 69 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata certamente o fundador não teria vislumbrado para seus Oblatos quando criou o “coleginho de Santa Chiara”. 70 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata DOCUMENTACIÓN HISTÓRICA DEL VALOR DE LA ENSEÑANZA ESCOLAR EN LA TRADICIÓN DE SAN JOSÉ MARELLO Y LOS PRIMEROS OBLATOS DE SAN JOSÉ Pe. Guido Maria Miglietta, osj D O C U M E N T O S 71 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Descubrimiento en el Archivo Histórico de la ciudad de Asti, Italia, de algunas cartas de San José Marello y otras informaciones sobre las escuelas primarias que el Santo inició en el hospicio de los enfermos crónicos dicho “Santa Chiara” en Asti. Entre las cartas del Epistolario de San José Marello que tuve el honor de conocer más detalladamente cuidando su segunda edición en italiano en el 2010, hay una en la cual el Santo pone su firma indicándose como “Director de las escuelas particulares de Santa Chiara”, la Carta144 del 14 de Enero del 1888, en el comienzo del año especial que se concluye con su nombramiento a obispo de Acqui. El Santo tiene 43 años de edad, y está escribiendo al director provincial de la educación escolar, es decir con palabras de hoy al Director de la Unidad de Gestión Educativa Local, con sede en la ciudad de Alessandria que se encuentra a 35 kilómetros de la ciudad de Asti, para expresarle su agradecimiento por el permiso de tener escuelas particulares en el gran edificio dicho “Santa Chiara”. Este gran edificio reunía las obras sociales más importantes de nuestro Santo: un Hospicio de los enfermos crónicos y las escuelas para la juventud, y se transformará en la Casa Madre de nuestra congregación de los Oblatos de San José. Este detalle de la presencia de las escuelas primarias merece toda nuestra atención para ilustrar nuestro carisma de Oblatos de San José en las fronteras de las obras sociales y para la educación de la juventud. Reproducimos la su dicha carta, el agradecimiento al director provincial de la educación escolar de Alessandria por el permiso de tener escuelas particulares en “Santa Chiara”. Asti, 14 de enero de 1888 Ilustrísimo Señor: Doy cordiales gracias a Vuestra Ilustrísima por el permiso que gentilmente me otorga en tener en el Hospicio Santa Clara en esta ciudad las escuelas privadas 1, 2 y 3 del Gimnasio y 1, 2 y 3 de primaria, y le envío de inmediato el pedido de los cuadros con las noticias solicitadas que me hiciera por intermedio del Señor Canónico Vasallo. Mientras tanto junto con los saludos del Canónigo le presento las pruebas de mi respetuosa consideración, declarándome de Vuestra Ilustrísima, devoto servidor Canónico José Marello Director del Hospicio y de las escuelas particulares de Santa Clara 1 23 El Miércoles 16 de Septiembre de 2009, en la Investigación del Archivo Histórico de la ciudad de Asti he encontrado el folder: “Hospicio de los enfermos crónicos se llama Santa Clara, las solicitudes de reconocimiento como entidad moral y otra correspondencia relativa a dicho instituto 1884-1893”24. En el folder, de 90 páginas, [véase anexo 1 en la página 78] me encontré con la emocionante descubierta de tres cartas escritas por San José Marello y una cuarta no con su puño y letra, pero con su 23 Traducción de: San Giuseppe Marello, Epistolario, [notas y texto crítico por S. Dalmaso], Acqui Terme, 2010, Carta 144, p. 385. 24 Serie AP, B, folder 2, archivo 8. 72 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata firma, junto con los co-administradores del hospicio para los enfermos crónicos: Giovanni Battista Bertagna, Giovanni Maria Sardi y Giovanni Battista Bellino. Las fechas de las cuatro cartas son las siguientes: el 08 de julio 1884, escrita a mano por el Santo, co-firmada por Sardi y Bellino; el 24 de julio 1884, la escritura que parece la de Giovanni Battista Bertagna, con la firma del mismo y de los otros tres coadministradores, inclusive la firma de nuestro Santo; el 28 de agosto 1884, la escritura es de Marello así como la segunda firma, antes la de Sardi y después la de Bellino; el 17 de febrero 1887, una carta autógrafa también de San José Marello y firmada sólo por él y junto el título de “administrador del hospicio para los enfermos crónicos”. Antecedentes En abril de 1874, un enseñante de escuela primaria, Giovanni Cerrato (18201883), después de 20 años de enseñanza, alentado y asistido por el obispo de la diócesis de Asti monseñor Carlo Savio y el clero (y entre el clero, el primero el santo sacerdote Marello), y algunos benefactores, abrió en Asti (Italia) un hospicio para los enfermos crónicos, personas que por enfermedad crónica y/o discapacidad física no podían sostener sus vidas por sus propios trabajos. El primer sitio para el Hospicio de los enfermos crónicos se ubicó en la parte Norte de la ciudad, cerca del antiguo castillo de la Edad Media, calle de las Carceri n. 79. El Señor Cerrato, por temor de que, después de su muerte, el hospicio se quedaría sin dirección competente, se volvió al nuevo – desde mayo de 1882 – obispo de Asti Monseñor Ronco, una persona sensible a este tipo de obra social porque el también, cuando era párroco, había fundado un hospicio-hospital en Villafranca Po, cerca de Turín. En octubre de 1882, se alcanzó un acuerdo por el cual el edificio y la obra del hospicio se llevan a los sacerdotes Giovanni Battista Sardi, párroco de la Catedral, y José Marello, que asumen las deudas pesadas de la gestión. Los testigos de esta acción son los Padres Giovanni Battista Bertagna vicario general de la diócesis de Asti y Giuseppe Gamba vicario parroquial de la Catedral, con la autorización del Obispo Ronco. Tanto de los que adquirieron el hospicio y los dos testigos, todos se convertían en obispos; Sardi obispo de Pinerolo, Marello obispo de Acqui, Bertagna obispo auxiliar de Turín, y Gamba obispo de Novara y Cardenal Arzobispo de Turín. Una copias del acta notarial de la transferencia (a la fecha del 6 de octubre de 1882) se conserva en los Archivos del Postulador General de los Oblatos de San José en Roma. El enseñante Cerrato murió el 10 de marzo de 1883. En 1884, el Hospicio fue trasladado en el centro de la ciudad de Asti – entre la calle principal Alfieri y la Calle Mazzini, en un antiguo convento de las Clarisas – nuevamente comprado por la autoridad eclesiástica de la diócesis el año anterior, después de su secuestro acontecido años atrás por razón de la política del gobierno contraria a la Iglesia. Debido a esta transferencia, todo el gran edificio se convertirá en el universalmente conocido con el nombre de “Hospicio de Santa Chiara”. 73 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata La resistencia al Hospicio de los enfermos crónicos de “Santa Chiara” en Asti en el 1884 El título completo del folder es: “Hospicio de los enfermos crónicos dicho de Santa Clara, sus solicitudes de reconocimiento como entidad moral y otra correspondencia relativa al dicho instituto. Entre el 1884 y el 1893”25. Contiene cerca de 90 páginas, y reúne muchas cartas, un archivo de correspondencia, y la primera carta es de parte del representante del Ministerio del Interior – el sub-prefecto – al alcalde de Asti, a la fecha del 30 de mayo de 1884. Hubo denuncias para obstaculizar la transferencia de los enfermos crónicos en el centro de la ciudad. El 8 de julio de 1884 fue José Marello mismo que escribió en respuesta al Alcalde la carta 135, que también tiene, la firma de los Padres Giovanni Sardi y Giovanni Battista Bellino, junto con la suya: Ilustrísimo Sr. Alcalde, […] Los abajo firmantes se apresuran a señalar a usted que dichas denuncias no tienen fundamento y que el centro se mantiene en plena conformidad con las normas de higiene y las buenas costumbres. Solicitan, por tanto, humildemente su Señoría Ilustrísima, para que transmita estas observaciones al distinto representante del Ministerio del Interior [el sub-prefecto] y le piden en su nombre para asegurarse de la verdad de esto, de mandar a alguien a visitar el local del Hospicio y examinar la forma en que se rige: los abajo firmantes están dispuestos a seguir cualquier cosa que se les pida y sea prescrito o simplemente sugerido por la autoridad superior después de la visita solicitada” 26 Otro asunto era la constitución del Hospicio en Ente Moral. El 9 de junio de 1884, “Mons. Giovanni Battista Bertagna, obispo de Cafarnaúm y los Padres Giovanni Maria Sardi, Giuseppe Marello y Giovanni Battista Bellino, en su calidad de fundadores y co-administradores de un hospicio para los enfermos crónicos en esta ciudad, piden la constitución de la Pía Institución en una entidad moral y la aprobación de los nueve artículos del Estatuto según las normas”. El representante del Ministerio del Interior – el sub-prefecto – presenta su pedido al alcalde para informarse acerca de los recursos patrimoniales de la entidad que quiere constituirse en ente moral y de expresar su opinión acerca de esto. El tema de la transformación del hospicio para los enfermos crónicos a la entidad moral permanece en el centro del diálogo con la administración pública en la restante parte del 1884, así documenta el archivo. La cosa no se pudo concluir, y la carta 140 de San José Marello del 17 de febrero de 1887 al alcalde de la ciudad de Asti [véase anexo 2 en la página 79] indica la caducidad del expediente: 25 Ibid. Traducción de: san Giuseppe Marello, Epistolario, [notas y texto crítico por S. Dalmaso], Acqui Terme 2010, Carta 135, p. 368. 26 74 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Ilustrísimo Señor: En respuesta a la apreciada carta de su Ilustrísima persona del 11 de este mes, tengo el honor de comunicarle la caducidad del expediente en relación con el reconocimiento legal del Hospicio, aún están presentes las mismas dificultades que se expresaron en la nota de fecha 24 de julio de 1884, enviada al Muy Ilustre Señor Vice-Prefecto de la zona. En la actualidad, como entonces, la administración del Hospicio se encuentra en la imposibilidad de elaboración de los documentos que fueron solicitados para demostrar y garantizar los medios de sustento de la Obra Pía, si no puede ser aceptado como garantía suficiente el hecho de que la caridad pública ha sostenido hasta al presente y continúa suministrando día a día que lo que falta. Siempre estamos dispuestos a dar mejores explicaciones que se nos piden, mientras tantos estamos felizmente dispuestos a profesarnos, con la mayor consideración de su Ilustre Señor, su fiel servidor Canónico P. José Marello Administrador del hospicio para los enfermos crónicos5 En el informe de la inspección sanitaria de 1893 la descripción de las escuelas primarias ubicadas en el edificio de Santa Chiara Así recitan las estadísticas – contenidas en el folder – que fueron transmitidas por el alcalde de la ciudad de Asti, Carlo Garbiglia al sub-prefecto de la región en la fecha del 25 de febrero de 1893: en el hospicio de Santa Chiara en la ciudad de Asti, vivían 342 personas, distribuidas en esta manera: 107 pacientes, 165 estudiantes de las escuelas en el internado, 35 niñas huérfanas, 19 hermanas y 16 jóvenes aspirantes al sacerdocio. Las 19 hermanas son las hermanas Vicentinas de San José Cotolengo de Turín, y atienden a los huéspedes enfermos del Hospicio; los 16 jóvenes aspirantes al sacerdocio son los Oblatos de San José, el núcleo germinal de nuestra congregación – que conseguirá el reconocimiento de congregación diocesana solamente 8 años después en el 1901 – y se dedican a las escuelas primarias y al internado. El internado de los alumnos de las primarias es la comunidad más numerosa: 165, es decir el 48% de las 342 personas que viven en la casa. A la fecha 3 de marzo de 1893, el alcalde de la ciudad de Asti Carlo Garbiglia responde a la vice-prefecto de Asti: Hay dos finalidades que el Hospicio de Santa Chiara se propone: una, la recuperación y el mantenimiento de los pobres, los ancianos con enfermedades crónicas o con discapacidad de trabajar provenientes de la ciudad y los alrededores de Asti, con exclusión de la atención de cualquier tipo de enfermedad aguda propiamente dicha; y la otra, la educación y la instrucción, y se limita a los niveles de primaria, de los niños que encontrarían dificultad afuera. El gran edificio – antiguo convento de Santa Clara – se divide en dos alas unidas por un cuerpo central y en el que se ubican las aulas. Una de las alas está dedicada a los cuidados de los pobres enfermos crónicos, el otro al colegio de los chicos. Entre las dos alas hay un patio muy grande, o huerto, como a algunos les gusta decir. El 25 de marzo, el sub-prefecto comunica la prevista llegada de la “comisión integrada por el Médico Provincial y un ingeniero” para visitar el edificio del mencionado Hospicio. La visita fue a costa de los anfitriones, por lo que el 6 de abril de 75 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata 1893, el alcalde comunicó al Director del Hospicio – sin duda el P. Giovanni Battista Cortona, nuestro primer Superior General – la necesidad de pagar una suma de 25 liras – alrededor de 300 Nuevos Soles – y los nombres del ingeniero jefe de la ciudad en cuanto miembro de la comisión. El 25 de abril de 1893, el prefecto de la provincia de Alessandria comunicó la visita, que se llevará a cabo el 29 de abril, de parte del Médico Provincial de Alessandria, el doctor Paolo Mascagni y el ingeniero jefe de la oficina técnica de la ciudad de Asti, Annibale Gavazza, por orden del prefecto de Alejandría y la voluntad del Subprefecto de Asti. Presentamos aquí el borrador del “Informe sobre la inspección sanitaria de la Hospicio de Santa Clara en Asti”, llevada a cabo el 29 de abril de 1893, y se encuentra en el archivo en cuestión. La importancia de las dos descripciones, la del alcalde Carlo Garbiglia de la cual se informó anteriormente, y esta que sigue no son de poca importancia en la historia de nuestra familia religiosa de los Oblatos de San José en su origen, lo que evidencia cómo el primer trabajo socio-educativo de los Oblatos de San José fue la escuela, mientras tanto que en 1893 nuestro santo fundador, san José Marello, era obispo de Acqui, y una tal obra de las escuelas correspondía a sus propósitos y al carisma de nuestra familia religiosa. Por otra parte, la noticia de la “visita gubernamental” de abril de 1893 se encuentra aún en la Carta de San José Marello, que en la fecha del 11 de mayo de 1893 enviada al Padre Cortona habla de dos inspecciones que acontecieron en la casa de Santa Chiara en Asti el mes de abril de 1893: la de comisión sanitaria, y la de la comisión para la educación escolar. La historia de la preparación del informe de la visita de inspección de salud, como puede verse en el archivo, se complicó un poco, por el desagrado del médico de provincia de Alessandria, el doctor Paolo Mascagni, que se rehusó en firmarlo y no lo firmó. Tenemos por lo tanto solamente el borrador en 4 páginas de formato amplio, del informe del ingeniero jefe de la oficina técnica de la ciudad de Asti el Sr. Annibale Gavazza, a la fecha del 1 de julio de 1893, bastante duro. Tenemos aquí un extracto en la parte de las escuelas y el internado: […] A la derecha de la entrada, en el primer piso hay escuelas que si no responden a todas las demandas del higiene, sin embargo, pueden considerarse discretas. El segundo piso del cuerpo central está ocupado por los dormitorios de los jóvenes así como el cuerpo de la parte derecha del Instituto, donde también se encuentra una iglesia. Las habitaciones son amplias, discretamente limpia y bien iluminada, pero también tienen un exceso de camas, donde hay una falta de cobertura, ya que hay falta de medios de ventilación y calefacción […]. Las prestaciones que se indican, por lo que se refiere al internado, son las siguientes: la comisión se recomienda no aceptar nuevos jóvenes alumnos “hasta cuando el número de los alumnos presentes en el momento sea convenientemente reducido”. En la carta de San José Marello al Padre Giovanni Battista Cortona, escrita de la ciudad de Acqui el 11 de mayo de 1893, el obispo comenta en esta manera la difícil visita de los inspectores de salud, que el 29 de abril vinieron en el hospicio para los enfermos crónicos de Santa Clara en Asti, y la visita, en cambio, favorable del director provincial de la educación escolar de Alessandria, el 19 de abril: 76 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Doy gracias que en las dos visitas del gobierno a Santa Clara haya habido también una parte desfavorable. Si todo hubiera sido de lo mejor tendríamos motivo de asustarnos y temer bajo la aparente protección el enemigo oculte alguna insidia. Alegrémonos entonces que no hayan terminado las contrariedades y no falten adversarios para hacernos crecer en la confianza en Dios. En el momento oportuno (lo sabemos por experiencia), desaparecen las dificultades, cambia el ánimo de quien las causaba y la obra de Dios camina rodeada de nuevos favores 27. Las razones de nuestro Santo, comprometido en el trabajo social y de la educación, todavía hoy nos dicen que vale la pena seguir adelante actuando objetivamente en la práctica del bien, así que las contrariedades son también positivas: sirven, desde la perspectiva de la fe, a insertar nuestra acción aún más en el amor y la confianza en Dios. 27 Ibid., Carta 287, p. 688. 77 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Anexo 1 78 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Anexo 2 79 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata ENTREVISTA PE. ALBERTO ANTONIO SANTIAGO Equipe Centro de Memória Oblatos de São José E N T R E V I S T A 80 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata ENTREVISTA No dia 09 de agosto de 2013, nas dependências do Campus Portão, da Faculdade Bagozzi, em Curitiba-Pr, a equipe editorial da Revista Identidade Oblata conversou com o Pe. Alberto Antônio Santiago, que é sacerdote da Congregação do Oblatos de São José desde 1988. Nos últimos anos dedica-se à pesquisa acerca da vida e obra de José Marello e cuida dos processos de beatificação e canonização da congregação. De passagem por Curitiba, Pe. Alberto, que reside em Roma, falou sobre sua trajetória religiosa e de sua compreensão acerca da identidade oblata. RIO - Boa Tarde, Pe. Alberto Antônio Santiago agradecemos sua disponibilidade para participar do 1ª número da Revista identidade Oblata, para começarmos, o senhor poderia nos contar um pouco da sua biografia. PE. ALBERTO: Boa tarde, com prazer eu aceitei esse convite e até me sinto honrado porque o primeiro número de alguma coisa é sempre histórico. Então quanto a minha vida, minha biografia, antes de entrar no seminário. Começou em Apucarana onde nasci, no norte do Paraná, em 02 de março de 1961, e o meu pai era comerciante, tinha um bar e a minha mãe trabalhava em casa e ali nós crescemos com outros irmãos, nós somos em cinco e ali eu estive até a idade de mais o menos 13 anos, quando eu ingressei no seminário. Eu fui para o Seminário de Ourinhos, em São Paulo em 1975 [...] depois fui para o Seminário de Apucarana para fazer o 2°grau, estudei no Colégio São José até terminar o estudo secundário. Depois vim para Curitiba estudar filosofia, na Universidade Católica. Terminada a filosofia para nós que seguimos o itinerário eclesiástico vem a teologia, na época como eu queria conhecer mais de perto as raízes da congregação pedi para estudar teologia em Roma, e os superiores concederam e eu fui e fiquei por 3 a 4 anos estudando a Teologia, eu cheguei a me ordenar Diácono, estudava em Roma, mas como tinha uma ligação com o povo de uma cidadezinha perto de Florença chamado Sesto Fiorentino fui ordenado lá. Enfim, para ser ordenado sacerdote aqui, como de fato acontece no dia 19 de março de 1988 na Cidade de Apucarana no Santuário de São José, e a partir daí começou a minha vida de Ministério, fui ordenado em Apucarana, mas voltei logo para Curitiba, porque aqui eu desenvolvi um trabalho de formação no seminário, foi o meu primeiro trabalho na província, junto com esse trabalho claro tinha sempre um pouco de atividade pastoral na Paróquia, do Xaxim e depois aqui no Portão. Depois de alguns anos de vida sacerdotal comecei também a lecionar, o primeiro lugar onde atuai foi no Instituto dos Padres Brasilianos aqui de Curitiba, eles são ucraínos e ali comecei a ensinar filosofia e depois [...], depois fui Pároco da Cidade de Três Barras do Paraná, também estive em São Paulo no Santuário de Santa Edwiges e no Seminário da Teologia como formador, depois dessas atividades voltei para Curitiba e retomei o ensino aqui na Faculdade Bagozzi, trabalhei como professor de Filosofia e também como ViceDiretor por alguns anos. Depois os superiores chamaram-me para um trabalho em Roma e ai começou o último período que dura até hoje. 81 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata RIO – E especificamente sobre sua trajetória no seminário? PE. ALBERTO: Eu sempre recordei com muito gosto os anos de seminário, eu estranhei e ainda hoje estranho quando ouço algumas teorias, que surgiram depois, talvez bem fundamentadas, não julgo aqui as teorias, mas para mim resulta estranho pela minha experiência, dizem, por exemplo, que não é bom um jovem entrar muito cedo no seminário, precisa estar primeiro com a família, depois com os colegas, respeito essa posição pode ser uma verdade, mas digo que para mim, quando fui para o seminário tinha ainda treze anos, completei quatorze no seminário, o primeiro sentimento foi uma espécie de arrependimento de não ter ido antes (Risada), porque eu me senti assim muito em casa e encontrei um ambiente muito bom e gostava muito de estar no seminário, aprendia muitas coisas e aprendia aquilo que eu queria aprender, então respondia muito daquilo que eu esperava. Depois a fase mais difícil do seminário foi talvez em Apucarana, nos anos do 2°grau, também pela idade, na adolescência, na juventude era mais difícil conciliar o estudo, por exemplo, e as exigências do colégio e as exigências do seminário. Para conciliar estudo e a formação tive um pouquinho de mais dificuldade, mas, também nada que fosse tão difícil. E no tempo da filosofia foi choque de ideias (risada) a filosofia coloca muito questões, questionamento de ideias, os fundamentos das coisas e as questões básicas de tudo. Como eu vinha de uma formação especifica para o sacerdócio, então começaram os questionamentos, essas coisas, a procura de respostas [...]. Depois na Teologia em Roma tive uma experiência muito bonita que era uma Universidade missionária, tinha gente do mundo inteiro, foi ali que comecei a ter contatos mais universais, com várias pessoas, varias culturas e isso foi muito enriquecedor. RIO – E os primeiros anos como sacerdote? PE. ALBERTO: Eu vinha depois de quatro anos na Itália e imediatamente fui trabalhar na formação junto com os seminaristas, então foram os seminaristas que me ajudaram a retomar a caminhada aqui no Brasil (risos), com o pensamento brasileiro, estilo brasileiro que é diferente, mas eu recordo assim que foi um período muito bom muito frutuoso, tinha uma turma de seminaristas, hoje nós temos alguns Padres que foram seminaristas naquele tempo. E é interessante às vezes conversar com eles e ver como mudaram as coisas, nós fazíamos um estilo e depois evoluiu o conceito de formação e o estilo de formação, mas, para aquele inicio de sacerdócio foi importante, foi assim bonito, porque eu tive ao meu lado na mesma casa, seminaristas que se preparavam para o sacerdócio, e eles me contavam as experiências das escolas, principalmente de filosofia, e a gente procurava acompanha-los, também nas suas duvidas, nos seus momentos de questionamentos e procura, acho que aprendemos bastante. RIO – Como o senhor define a identidade Oblata? PE. ALBERTO: Sim, traduzindo um pouco do pensamento, desculpe se eu faço uma comparação (risos) à teologia funciona mais o menos assim, porque nós não temos nenhuma linguagem e nem muito menos um instrumento para falar diretamente de Deus e das coisas de Deus e com consequência, falta uma linguagem, um instrumental para falar do nosso relacionamento com Deus. A congregação é composta de pessoas que são 82 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata chamadas a vida religiosa e aqui então já começa o problema, quem é que chama (risos) é Deus que chama, mas nós não temos como mostrar isso de forma louvável, de forma sensível. Então nós precisamos usar sempre de analogia, toda teologia é feita sobre a analogia. Nós falamos de coisas sensíveis que possam ser compreendidas, mas sempre remetendo e querendo dizer uma coisa que é inefável, que não se diz, que é impossível de exprimir. Então posto isso, a comparação que eu faço é essa, que também nós na nossa vida de religiosos de Oblato de São José, ela é imersa nesse mistério de Deus. Que nós não podemos exprimir, então também a nossa identidade entra ai, agora como nós precisamos como seres humanos, precisamos ter alguns pontos de referencia, para a gente poder se comunicar poder se apresentar então nós, acho que nós podemos pensar assim. Toda a vida religiosa de todas as congregações desse mundo e as ordens, é a vida religiosa existe para ser um sinal, um sinal daquelas coisas que nós não vemos, é o esforço de traduzir na forma sensível completa uma realidade que é, em teologia se chama tecnicamente é escatológica , isso é vai além, então o sinal faz com que os religiosos, com que todos os religiosos procurem é viver neste mundo imitando um pouco a vida futura, que não pode ser vista e mostrada, mas, como nós sabemos que na vida futura existe, por exemplo, uma sintonia perfeita entre a vontade humana e a vontade de Deus, então os religiosos fazem nesse mundo o voto de obediência, como sinal concreto, como na vida futura nós vivemos por um amor ágape, isso é um amor a Deus total e exclusivo, então nesse mundo fazemos voto de castidade, e como na vida futura o único bem verdadeiro é Deus, e a comunhão com Ele, então nesse mundo se faz como sinal o voto de pobreza, então essa é a nossa vida como religiosos, que é de todos os religiosos como eu disse, agora nós somos também uma congregação com uma característica ou características próprias, talvez aqui comece ajudar a esclarecer como identidade, então como devemos ver esse sinal das coisas futuras, com um ponto de referimento que é São José, então um pouco dessa figura da sua missão da sua importância do seu papel, nós colhemos seja para nossa espiritualidade ou seja para a nossa missão, porque como São José teve como sua missão especial, é acolher na sua casa, proteger e educar o menino Jesus, ai entra para nós, o valor da educação. Então hoje procuramos a juventude, procuramos estar nas escolas, procuramos andar nas missões, nas paróquias, mas nós temos digamos assim, uma especificidade que é esse referimento a figura de São José, essa figura para nos é um emblema, um ponto de referimento que não pode ser deixado de lado, se não nós perdemos nossa identidade. RIO – E sua experiência como educador? PE. ALBERTO: A minha experiência começou quando ensinava no instituto dos Padres Basilianos, mas a aula que eu dava era para alunos, mesmo sendo seminaristas, mas eram alunos e havia um programa encontro com a escola normal, então ali eu comecei com a filosofia. Nos colégios eu fiz uma breve experiência no Colégio Bagozzi com a turma do magistério que eu ensinei um pouco de filosofia, ali pude um breve contato com a juventude, e depois foi aqui na Faculdade Bagozzi. O retorno disso começei a ter agora, uma vez encontrei em Roma, por exemplo, dois ou três que foram alunos meus aqui na faculdade, eles me disseram que foi um tempo bom aqueles, (risos) mesmo que um estudante diga isso por boa educação, mas, significa sempre que uma coisa ficou, um laço, um elo ficou e isso eu acho que é o mais importante do que tudo, porque o 83 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata conhecimento se transforma, aquilo que eu ensinei, o conteúdo que transmiti, hoje pode nascer ou ter se transformado, já ter outras informações, outras coisas já evoluíram, mas continuou aquele elo fundamental, aquela ligação, isso vai construindo uma rede que para nos é importante. RIO – Fale sobre suas pesquisas no Arquivo Geral da Congregação, em Roma? PE. ALBERTO: Sim, em todo o setor Histórico da Cúria geral de Roma tinha como programa uma reedição critica das obras do fundador e para a coleta de material trabalhou muito o Padre Mario Passeti, hoje com 90 anos, e é trabalho. Para a apresentação desse trabalho e a sistematização de tudo o Padre Severino Dalmaso, também superior geral, trabalhou bastante e chego a fazer toda a reedição critica das cartas do fundador que são cerca de 300. Quando cheguei em Roma chamado pelos superiores, para dar continuidade a esse trabalho, ainda fiz uma última revisão de todo o trabalho do Padre Dalmaso, das cartas peguei uma por uma das cartas originais para ver a descrição e as notas da apresentação tudo, então saiu um volume bastante grosso, bastante completo de interpretação também, porque o Padre Dalmaso fez um trabalho muito rico de interpretação das cartas. Essa fase foi terminada, para dar continuidade comecei a trabalhar com os cadernos pessoais do fundador, nós encontramos os seus cadernos desde o tempo de estudante da escola, desde quando o menino José Marello entrou na escola de sua cidadezinha, então é muito interessante ver esses cadernos e transcreve-los para o computador, e pensando em uma forma de publica-los futuramente para disponibilizar aos pesquisadores de História da Pedagogia, História da Escola, do Ensino. Nesses cadernos precisamos fazer além da transcrição também uma tradução porque tem muitos textos em latim, como se usava naquele tempo, agora preparados para futuramente publicá-los. RIO – E outras atividades que desenvolve atualmente? PE. ALBERTO: Uma segunda atividade, o superior me nomeou Postulador geral da congregação, o postulador é o religioso encarregado da congregação de cuidar dos processos de beatificação, de canonização, então essa outra função eu alterno um pouco as horas de trabalho, entre uma e outra. Dessa segunda função nós não temos ainda em Roma uma causa em andamento, essa causa de canonização tem duas fases: tem uma fase diocesana e uma fase romana, é o nosso Padre Servo de Deus Padre José Calvi esta em fase diocesana esta aqui em Curitiba o processo, esta em andamento deve chegar em Roma para dai iniciarmos a fase Romana. Mas, mesmo sem ter esta causa lá, existe atividades próprias de um Postulador, tem pessoas que escrevem pedindo notícias, outros padres da congregação poderiam ser candidatos aos altares de Deus, tem também o envio de material, muitos pedem orações, pedem biografias, enfim um pouco de movimento nós temos desde já . RIO – Padre Alberto, para finalizarmos, deixe uma mensagem final. PE. ALBERTO: Bem, considerado o projeto ambicioso, mas justamente de ações ambiciosas que precisamos, posso desejar uma mensagem de incentivo e de 84 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata encorajamento, vocês estão começando a primeira edição dessa revista com coragem, acho isso muito válida e vai ser certamente uma algo muito útil como documentação, a memória que vai ser conservada, que a gente possa ver lá no começo, mas ver também como que essa planta transplantada aqui no Brasil, continua e pode continuar dar os seus frutos. 85 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata ESCOLAS MANTIDAS PELOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ A P Ê N D I C E 86 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata APÊNDICE ESCOLAS MANTIDAS PELOS OBLATOS DE SAN JOSÉ Atualmente (ano 2013) a Congregação dos Oblatos de São José é mantenedora de 47 obras educacionais em 10 países do mundo: 1 4 2 1 4 1 14 11 8 1 País Bolívia Brasil Estados Unidos Filipinas Índia Itália México Nigéria Peru Polônia n° de escolas 1 8 2 11 4 4 1 1 14 1 87 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Brasil FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI. Campus Portão Rua Caetano Marchesini, 952 Portão – CEP 81070-110 Curitiba PR (41) 3521.2727 (41) 3094.8751 website: www.faculdadebagozzi.edu.br @ [email protected] FACULDADE PADRE JOÃO BAGOZZI. Campus Xaxim Rua Francisco Derosso, 1016 Xaxim – CEP 81710-000 Curitiba PR (41) 3094.8750 CENTRO SOCIAL MARELO Rua Miguel Abrão, 45 Portão – CEP 81070-000 Curitiba PR (41) 3082.2145 website: www.centrosocialmarello.org.br 88 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata CENTRO DE EDUCACÃO INFANTIL MENINO DE NAZARÉ Rua Antonio Ferreira, 112 Portão – CEP 81070-320 Curitiba PR (41) 3247.2220 (41) 3026.9898 COLÉGIO PADRE JOÃO BAGOZZI Rua João Bettega, 1 Portão - CEP 81070-000 Curitiba PR (41) 3026.2144 (41) 3026.9898 website: www.bagozzi.edu.br @ [email protected] CENTRO DE EDUCACAO INFANTIL PADRE JOÃO BAGOZZI Rua Luis Parigot de Souza, 817 Portão - CEP 81070-050 Curitiba PR (41) 3042 3111 (41) 3042 1131 89 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata NÚCLEO SÓCIOEDUCATIVO SANTA ÂNGELA Rua Michelle Príncipe, 300 COHAB Heliópolis – CEP 04230-020 São Paulo SP (11) 6163.8126 (11) 2273.0498 COLÉGIO SÃO JOSÉ Rua São Paulo, 951 Apucarana PR Caixa Postal 720 Apucarana PR (43) 3033.7111 website: www.sjose.com.br @ [email protected] 86808-070 86808-970 CENTRO DE EDUCAÇÃO INFANTIL “O GIRASSOL” Rua Hermes da Fonseca, 601 - CEP 86807-090 Apucarana PR (43) 3423.7800 (43) 3422.7111 90 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Bolivia UNIDAD EDUCATIVA PARROQUIAL «SAN JOSÉ» Calle Asunción, n° 256 - Villa Victoria Casilla 5161, La Paz – BOLIVIA 00.591.2.2383.944 00.591.2.2384.001 Estados Unidos de América OUR LADY OF GUADALUPE SCHOOL 609 E. California - Bakersfield, CA 93307-1143 00.1.661.323.6059 @ [email protected] ST. JOACHIM SCHOOL 401 West 5th Street - Madera, CA 93637-4406 00.1.559. 673.3290 00.1.559.673.6471 91 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Filipinas DON ANTONIO ZUZUARREGUI SR. MEMORIAL ACADEMY (DAZSMA) Brgy. Inarawan, Antipolo City 00.63.2.677.6460 Elementary Department 00.63.2.677.0455 High School Department 00.63.2.677.9677 Cashier ASILO: “Bread of Life Learning Center” South City Homes, Biñan, Laguna 4024 00.63.49.411.1048 00.63.49.241.7828 OBLATES OF ST. JOSEPH COLLEGE OF PHILOSOPHY Marawoy, Lipa City 4217 00.63.43.756.2550 00.63.43.756.5821 00.63.43.757.2031 92 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata OBLATES OF ST. JOSEPH MINOR SEMINARY San Jose, Batangas 4227 00.63.43. 726.2138; 726.2640; 726.3059 @ [email protected] ST. JAMES ACADEMY Ibaan, Batangas 4230 00.63.43.311.2730; 00.63.43.311.1035 ST. JOSEPH INSTITUTE Rosario, Batangas 4225 00.63.43.321.1419 HOLY FAMILY ACADEMY Banaba, Padre Garcia, Batangas 4224 00.63.43.515.9270; 00.63.43.515.8755 93 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata OUR LADY OF MERCY ACADEMY Taysan, Batangas 4228 +63.917.826.6287 JOSEPH MARELLO INSTITUTE San Juan, Batangas 4226 00.63.43.575.3223 SCUOLA SAN GIUSEPPE MARELLO Montelago Estates, Brgy. Sto. Niño, San Pablo City STO. ROSARIO ACADEMY Alupay, Rosario, Batangas 4225 +63.917.505.2118 94 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata India MARELLO CAMPUS Perumpilly, Narakal 682 505, Kerala – INDIA 00.91.484.2.494.178 JOETECH COMPUTER INSTITUTE Chennampara, Vithura 695 551, Kerala – INDIA 00.91.472.2.858.602 HOLY INNOCENTS ENGLISH MEDIUM PUBLIC SCHOOL Vennicode P.O. (Varkala), Trivandrum - 695.318, Kerala, INDIA +91.9447.407.689 95 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata NEWMAN ACADEMY Village: Satpur, Loharghat P.O., Kamrup District, Assam – 781120, INDIA México CENTRO CULTURAL FRAY BARTOLOME DE LAS CASAS Av. Lopez Mateo s/n 206 – Cuautitlan Izcalli Edo. Mex. – Mexico 54700 00.52.55.5893.1437 Nigéria ST. MARY’S NURSERY / PRIMARY SCHOOL Km. 8, Old Lagos Rd. Opere Village, IBADAN, State, NIGERIA; oppure P.O.Box 30725, Secretariat IBADAN (Oyo State), NIGERIA 00.234.7028.381.167 Oyo P.O., 96 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Itália ASILO MADONNA DEI POVERI Piazza Madonna dei Poveri, 1 - 20152 Milano 00.39.02.48.706.703 00.39.02.404.7458 ASILO BAMBINO GESÙ Via Matteotti, 23 - 57024 Donoratico (LI) 00.39.0565.775.064 ASILO S. GIUSEPPE ALL’AURELIO Via Boccea, 362; Via G. Marello, 5 00167 ROMA 00.39.06.662.8000 97 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata SCUOLA MEDIA STATALE RENATO MORO Viale Santuario, 13 - 76121 Barletta (BT) 00.39.0883.531086 Peru COLEGIO “SAN JOSÉ MARELLO” Av. México 1599. La Victoria. Lima. 00.51.1.323.3157 Urb. Apolo – La Victoria - Lima COLEGIO PARROQUIAL “SAN JOSÉ OBRERO” Jr. Bauzate y Meza 2006. Victoria. Lima. 00.51.1.323.0452 La 98 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata ESTUDIANTADO FILOSÓFICO “MARELLIANUM” Calle Primavera Psj. 2, Nº 109 Urb. Pomaticla Santa Eulalia Apartado Postal 115 Chosica. Lima 15 (01) 361-3588 (01) 361-3587 @ [email protected] COLEGIO “ANTONIO RAIMONDI” EDUCACIÓN INICIAL, PRIMARIA Y SECUNDARIA Av. Enrique Chimbote. Ancash. 00.51.43.324.681 00.51.43.346.463 Palacios 457. COLEGIO PARROQUIAL “NIÑO DIOS” Jr. Carlos de los Heros 1005. Chimbote. Ancash. 00.51.43.468.051 INSTITUTO SUPERIOR TECNOLÓGICO “SAN JOSÉ MARELLO” Jr. Recuay nº 164 Barrio del Centenario, Independencia Huaraz – Ancash (043) 425-950 99 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata IEP “SAN JOSE MARELLO” (Inicial, Primaria y Secundaria) Jr. Recuay nº 164 Barrio del Centenario, Independencia Huaraz – Ancash (043) 425-950 CETPROE “SAN JOSÉ OBRERO” (Monterrey – Huaraz) Av. Cordillera Blanca (Monterrey) Huaraz – Ancash. s/n IEI “SAN JOSE MARELLO” Av. Cordillera Blanca s/n (Monterrey) Huaraz – Ancash. COLÉGIO “SAN JOSÉ” Jr. Jorge Chavez s/n – Pomabamba. 100 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata TALLER “SAN JOSE” Jr. Centenario 200. Pomabamba. Ancash 00.51.43.451.054 TALLER SIMONA - HOGAR PEQUEÑA SIMONA Jr. Centenario 200. Pomabamba. Ancash 00.51.43.451.054 COLEGIO PARROQUIAL “SAN JOSÉ MARELLO” Jr. Grau 749. Cajabamba. Cajamarca 00.51.76.358.194 COLEGIO PARROQUIAL “JOSÉ EMILIO LEFEBVRE” Av. Diego Ferrer s/n Plaza de Armas Moche. Trujillo 00.51.44. 418.004 101 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Polônia SCUOLA ELEMENTARIA Ul. Radzyminska 306 - 03-694 Warszawa, POLONIA 102 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata SOBRE OS AUTORES I D E N T I D A D E O B L A T A 103 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Pe. Miguel Píscopo, osj Sacerdote de nacionalidade italiana. Ingressou na Congregação dos Oblatos de são José em setembro de 1961 e ordenou-se sacerdote no dia 09 de julho de 1977, na cidade Ceglie di Campo – Bari, Itália. Licenciado em Filosofia no Liceo Classico (1968-1971) e Teologia na Facoltà Teologica Dellas Italia Meridionale (1972-1976), na Itália. Iniciou mestrado em Teologia Moral – Bioética na Faculdade de Teologia (FAI) em São Paulo (1995-1996). Atuou como missionário entre os indígenas quechwa do Perú por quinze anos, como formador, diretor de colégios e como Superior Provincial no mesmo país. Também atuou como missionário no Brasil por seis anos. Já foi Conselheiro Geral e atualmente é Superior Geral da Congregação dos Oblatos de são José, com sede em Roma, Itália. Pe. Giovanni Battista Erittu, osj Sacerdote de nacionalidade italiana. Ingressou na Congregação dos Oblatos de São José em outubro de 1950 e ordenou-se sacerdote o 19 de outubro de março de 1965 na cidade de Roma, Itália. Em julho de 1965 viaja para o Brasil. Estudou Filosofia e Teologia na Itália. Possui Especialização em Espiritualidade no Teresianum de Roma. No início do ministério sacerdotal assumiu a direção do Seminário Menor dos Oblatos de São José na cidade de Ourinhos (São Paulo) e, em seguida, a direção do Seminário Maior da mesma Congregação, na cidade de Curitiba, em São Paulo e do Noviciado em Cascavel (Paraná). Já atuou como formador, pároco, provincial da Província de Nossa Senhora do Brasil. Destacou-se na sua atuação pastoral com a juventude e com leigos participando de vários encontros a nível nacional e mundial. Atualmente é superintendente do Colégio Padre João Bagozzi, na cidade de Curitiba, Brasil. Ir. Leandro Antonio Scapini, osj Irmão da Congregação dos Oblatos de São José. Formado em Filosofia pelo Instituto OSBM, Curitiba, Brasil. Possui graduação em Pedagogia pelo Centro Universitário Assunção, UniFAI, São Paulo, Brasil. Especialização em Educação pela Faculdade Pitágoras de Administração Superior, FPAS, Belo Horizonte, Brasil. Atualmente é mestrando em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC-PR, Curitiba, Brasil. 104 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Pe. Mário Guinzoni , osj Sacerdote de nacionalidade italiana. Ingressou na Congregação dos Oblatos de São José em 1960 e se ordenou sacerdote no dia 27 de junho de 1976 na cidade de Armeno, Itália. Estudou Filosofia na Faculdade Propaganda Fide na Itália (1966-1969) e Teologia no Studium Theologicum (1972-1976) em Curitiba, Brasil. Já atuou como formador, pároco, provincial da Província de Nossa Senhora do Brasil. Trabalhou como missionário na missão no Mato Grosso (1990-2001). Destacou-se como Animador Pastoral Vocacional e como Mestre no Novícios. Atualmente é Mestre no Noviciado Pe. José Calvi na cidade de Cascavel-PR, Brasil. Pe. José Antonio Bertolin, osj Sacerdote brasileiro. Ingressou no Seminário em 1963 na cidade de Ourinhos, São Paulo e ordenou-se sacerdote no dia 10 de novembro de 1976. Estudou Filosofia no Instituto Filosófico de Curitiba (1972-1973) e Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma (1973-1976). Destaca-se pelos estudos na área de Josefologia, na direção do Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana na cidade de Apucarana-PR e na participação em diversos simpósios nacionais e internacionais na Polônia, México, Itália e Brasil. Já atuou como formador, pároco, provincial da Província de Nossa Senhora do Brasil. Atualmente é diretor do Colégio São José na cidade de Apucarana-PR, Brasil. Pe. Alberto Antonio Santiago, osj Sacerdote brasileiro. Ingressou na Congregação no ano de 1975 e ordenou-se sacerdote no dia 19 de março de 1988. Licenciado em Filosofia na Universidade Católica do Paraná (1980-1982) e Bacharel em Teologia na Pontifícia Università Urbaniana (1984-1987) em Roma, Itália. Possui especialização em Couselling pela Faculdade Padre João Bagozzi (2006) e Mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2009). Já atuou como formador, pároco e vice-diretor da Faculdade Bagozzi. Atualmente é parte integrante da Cúria Geral da Congregação dos Oblatos de São José, em Roma, Itália, dedicandose à edição crítica das obras do Fundador do Instituto, ao estudo e conservação do Acervo de Estudos e Pesquisas em Josefologia da Congregação e a trabalhos de tradução. É Postulador Geral junto à Congregação para a Causa dos Santos. 105 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata Pe. Guido Maria Miglietta, osj Sacerdote italiano. Graduado em Medicina. Especialista em Epidemiologia, Filosofia e Teologia. Doutor em Moral na Universidade Católica de Roma. Iniciou seus trabalhos no campo social da bioética, com a sua experiência de epidemiologista na África e no nosso continente. Ele tem doutorado em teologia com uma tese sobre o princípio ético do duplo efeito. Professor da Faculdade de Teologia e do Mestrado de Bioética do Ateneu Pontifício Regina Apostolorum. Atuou no escritório de Caritas Italiana para a América Latina. Tem experiência na área de comunicação social, destaca-se na produção escrita e é diretor da Revista “Joseph” e da Revista “Studi Marelliani” dos Oblatos de São José. Atualmente é Conselheiro Geral da Congregação dos Oblatos de São José em Roma, Itália, dedicando-se ao estudo e organização do Arquivo Histórico da Congregação. Prof. Geyso Dongley Germinari Possui graduação em História, mestrado e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente trabalha no Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Orienta e desenvolve investigações na linha de pesquisa Práticas Pedagógicas: Elementos Articuladores, com ênfases nas relações entre cultura, ensino e educação histórica e nas articulações entre consciência histórica e identidades dos sujeitos do universo escolar. Editor da revista Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional. É pesquisador do Laboratório de Pesquisa em Educação Histórica do PPGE/UFPR. Assessora o Centro de Memória dos Oblatos de São José e é coeditor da Revista Identidade Oblata na Faculdade Padre João Bagozzi. Prof. Humberto Silvano Herrera Contreras Possui graduação em Filosofia e Pedagogia pela Faculdade Padre João Bagozzi. Mestre em Educação pela Universidade Tuiuti do Paraná e doutorando em Educação na Universidad Católica de Santa Fé, Argentina. É coordenador pedagógico do Centro de Educação Socioambiental na Fundação Vida Para Todos – ABAI que atende crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social na cidade de Mandirituba-PR. É coordenador do Núcleo de Inovação, Pesquisa e Extensão (NIPE) e professor do Curso de Pedagogia e dos cursos de Pós-Graduação no Núcleo de Ciências da Vida e da Sociedade nas áreas de fundamentos e pesquisa da Pedagogia, Pedagogia Social e Ensino Religioso Escolar na Faculdade Bagozzi. É professor consultor do Setor Universidades da CNBB e coordenador da Pastoral da Educação Universitária no Grupo Educacional Bagozzi. Coordena o Centro de Memória dos Oblatos de São José e é editor da Revista Identidade Oblata na Faculdade Padre João Bagozzi. 106 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata SOOBRE A REVISTA EDUCACAO OBLATA I D E N T I D A D E O B L A T A 107 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata SOBRE A REVISTA EDUCACAO OBLATA A Revista Identidade Oblata é uma revista de edição semestral que tem como objetivo a publicação de pesquisas sobre a presença e atuação da Congregação dos Oblatos de São José no Brasil. Surgiu com a intenção de contribuir na formação da identidade dos religiosos oblatos por meio do registro escrito e do estudo dos seus documentos e arquivos históricos. A sua publicação vem somar os esforços do Centro de Memória dos Oblatos de São José em ampliar a consciência histórica tanto dos membros da Congregação dos Oblatos de são José quanto dos participantes e colaboradores das diferentes realidades missionárias e instituições paroquiais, pastorais, educacionais e sociais. Normas para Publicação Os artigos, análise de documentos e outras propostas de trabalhos devem tratar de temas relacionados com a identidade da Congregação dos Oblatos de São José, conforme descrito nos objetivos desta Revista. Os artigos não devem exceder 7.000 palavras. Devem ser apresentados em formato eletrônico, compostos preferencialmente em Microsoft Word, com fonte Times New Roman 13 e espaçamento simples entre parágrafos. A ABNT é a referência normativa para artigos redigidos em português e a MLA (Modern Languages Association) para publicações em outras línguas. Citações devem seguir o padrão autor-data. Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e a Revista não se responsabilizará pelas opiniões expressas nos artigos assinados. A submissão de artigos para publicação implica na cessão dos direitos autorais, sem ônus para a revista. O autor receberá, como direito autoral, o respectivo fascículo. Os originais devem ser enviados para o e-mail: [email protected] 108 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013. Revista Identidade Oblata 109 Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.1, n.1, p. 01-109. Jul/Dez de 2013.