as mulheres no mercado de trabalho

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as mulheres no mercado de trabalho
AS MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO
Ana Claudia Gattiboni Dutra1
Tatiane Rauber Dedé2
RESUMO: O presente trabalho tem por objetivo analisar a evolução da mulher no
mercado de trabalho, além de expor em um primeiro momento características
distintas entre as mulheres retratadas na literatura e as mulheres gestoras. Faremos
um pequeno histórico do perfil feminino nas organizações e mostraremos que
mesmo com todo avanço tecnológico que vivemos atualmente o mercado de
trabalho ainda posiciona-se extremamente machista e conservador. Pretende-se
também evidenciar que distintos cargos podem ser ocupados tanto por homens ou
mulheres e que a questão de gênero não deveria ser levada em consideração
quando da contratação de funcionários, o que contribuiria para uma sociedade mais
igualitária e que favorece a equidade social.
Palavras chave: mulheres- mercado de trabalho- evolução
RESUMEN: El presente trabajo tiene por objetivo analizar la evolución de la mujer
en el mercado de trabajo, además de exponer en un primero momento
características distintas entre las mujeres presentadas y la literatura y las mujeres
trabajadoras. Haremos un pequeño histórico del perfil femenino en las
organizaciones y mostraremos que mismo con toda la tecnología que vivimos
actualmente el mercado de trabajo aun se posiciona extremamente machista y
conservador. Se pretende también evidenciar que distintos cargos pueden ser
ocupados tanto por hombres y mujeres y que la cuestión de género no debería ser
llevada en consideración cuando da contratación de funcionarios, lo que iba a
contribuir para una sociedad más igualitaria y que favorece la equidad social.
Palabras clave: mujeres- mercado de trabajo- evolución
Atualmente as mudanças são cada vez mais rápidas em todos os setores da
sociedade. No que se refere às empresas, essas precisaram adaptar-se a um
1
URCAMP- Campus São Borja – Mestranda- [email protected]
2
URCAMP- Campus São Borja- Especialista- [email protected]
mundo globalizado, dinâmico e em constante evolução. O ambiente das
organizações precisa estar acompanhando as mudanças e nada mais atual que
comentarmos a liderança feminina nas organizações. O modelo de gestão feminino
surge apostando em métodos eficazes e ao mesmo tempo voltados as relações
humanas. A partir deste foco surge a necessidade de em nosso trabalho
analisarmos a evolução da mulher no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em
que iremos expor em um primeiro momento que as características das mulheres
gestoras são distintas das características atribuídas a elas na Literatura.
A crise existencial, independentemente de gênero vivida pelos seres
humanos, não é nova na Literatura. A evolução dos tempos e, principalmente, a
emancipação da mulher geraram a necessidade de torná-la objeto e fonte de
pesquisa também literária, desencadeando assim muitos estudos que envolvem o
tema mulheres na Literatura.
Desde o surgimento da Literatura, a figura feminina sempre esteve presente
como um dos temas principais e como não poderia deixar de ser, sofreu uma
evolução no que se refere ao tratamento que vem recebendo pelos mais
diferentes escritores:
Na história da personagem feminina, referindo-se à Literatura, cabe
ressaltar que, na maioria das vezes, esta era condicionada a aparecer nas
histórias narradas ora como aquela mocinha infeliz à espera do seu príncipe
encantado, ora como a megera, a malvada, disposta a tudo para reinar
única e absolutamente (ao menos no mundo fictício):...o elenco de
personagens femininas, com raras exceções não tem escapado ao modelo
das virgens e insípidas princesinhas provocadoras de desgraças. (BRAITH,
1985:51).
Nesse primeiro papel atribuído às mulheres, estas são tratadas como seres
que não têm vontade nem objetivos próprios, seres oprimidos e silenciados,
simplesmente condicionados a submeterem-se primeiramente à vontade de seus
pais e irmãos, depois à de seus maridos e filhos e assim sucessivamente, como se
fosse o eixo central de um ciclo interminável de passividade e opressão.
Como não poderia ser diferente após o exposto acima, a mulher ocupava na
família uma posição secundária, inferior à do homem. A única possibilidade de
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felicidade para o ser feminino e aceitação deste perante toda a sociedade era a
união como esposa submissa ao marido chefe, significando obedecer a exigência da
sociedade de abrir mão de uma vida para si ao colocar-se a serviço exclusivo de
seus homens e dessa mesma sociedade.
Já no seu segundo papel, a mulher bruxa ou vilã mostra que nem tudo
transcorre tão maravilhosamente como nos contos de fadas, onde somente o bem e
a felicidade prevalecem. Aqui não se entende o papel de bruxa ou vilã como
libertação, mas sim como um ser criador de malefícios à sociedade e às pessoas
que nela vivem, e que ao final das contas também desempenha o papel de
submissão ao bem e a mocinha, portanto não conseguindo desvincular-se por inteiro
de seu primeiro papel.
Fora essas duas representações, a mulher geralmente, com sua imagem
vinculada ao machismo, não tinha competência (ao menos assim pensavam os
escritores), para desempenhar outros papéis, como o de uma pessoa real, que tem
sentimentos e que pode muito bem encarnar qualquer personagem sem ter de ficar
condicionada a esses dois estereótipos femininos.
A suposta debilidade feminina acompanha desde os primeiros escritores até
os contemporâneos. A mulher sempre foi tratada como se não tivesse qualquer
contato real com a vida e o mundo, e tanto prosadores como poetas cometeram
esse deslize.
Um ponto muito importante que contribuiu para essa revolução no modo de
focalizar a mulher foi a Crítica Feminista que deu condições para que se
compreendesse de uma nova forma a conexão entre as duas formas de
rebaixamento a que a mulher esteve sujeita: o social e o literário. Contudo, ainda há
escritores que continuam criando suas personagens femininas condicionadas à
submissão, entretanto com outro objetivo, o de fazer com que o leitor reflita sobre o
papel feminino e por que não, discuta sobre ele, descaricaturizando a mulher.
No que se refere à presença cada vez mais forte de lideranças femininas
em muitas organizações, também não poderia ser diferente. Traçaremos um
pequeno histórico da luta que envolve o gênero feminino na obtenção de postos
gerenciais.
Sabemos que há uma quantidade considerável de definições para o termo
liderança e um dos conceitos que utilizaremos é o de Kets de Vries(1997) que afirma
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: “a arte da liderança é criar um ambiente onde as pessoas agreguem grandes
experiências e envolvida, nesse ambiente, percam a noção do tempo”. Isso significa
que uma boa liderança não é aquela que impõem sua opinião de forma direta e
inflexível, mas aquela liderança onde todos podem de maneira direta ou indireta
participar com suas opiniões e sentirem-se valorizados. Podemos afirmar que nos
dias atuais as organizações tão fechadas anteriormente (assim como ocorre na
literatura) já começam a abrir “as portas” (da frente) para as mulheres gestoras,
porém não em sua totalidade.
É fato que algumas pessoas têm certa aptidão maior para serem líderes,
porem não existem comportamentos específicos de líderes, o que existe são líderes
que se comportam de determinada maneira para influenciar as atividades do
indivíduo ou grupos para obter êxito em um objetivo em determinada situação e isso
não inclui ser feminino ou masculino.
Até os anos 70 o perfil das mulheres que estavam inseridas no mercado de
trabalho era quase que exclusivamente de mulheres jovens, solteiras e sem filhos.
Atualmente esse perfil modificou-se bastante, pois o mercado de trabalho conta
agora com mulheres mais velhas, casadas e mães. Esse último dado confirma que
mesmo com todas as atividades domésticas que desempenham as mulheres não
necessitam ausentar-se do trabalho e desempenham os dois papeis de maneira
responsável e conciliável.
Não podemos negar que já avançamos muito e que as mulheres que se
destacam no mercado de trabalho quando ocupando cargos de liderança são
aquelas que agem com objetividade e profissionalismo, desenvolvendo suas
competências e por consequência conquistando e desbravando espaços, mas
também são vítimas de desvalorização profissional e de inúmeros assédios morais e
sexuais. Além da discriminação relacionada ao gênero que faz com que tenham
desvantagens em relação aos homens no mercado laboral às discriminações não
param por aí, contam ainda com uma sociedade parcialmente excludente que as
discrimina também pela cor da pele.
Acreditamos que a mulher desempenha papel primordial em qualquer
ambiente, inclusive no ambiente das organizações, no qual consegue se adaptar ao
novo e desempenhar várias tarefas ao mesmo tempo, além de possuir detalhes que
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podem fazer a diferença em uma organização, tais como ser detalhista e mais
humana.
Mesmo tendo todos esses dados palpáveis para análise ainda encontramos
certa resistência ao trabalho realizado por mulheres frente às organizações.
Reflexos desse preconceito são concretizados na diferença principalmente de
remuneração entre homens e mulheres.
As mulheres têm conseguido conciliar sua vida pessoal com a profissional
cada vez mais amplamente. Há pouco tempo atrás a mão-de-obra nas organizações
era quase que exclusivamente masculina e treinada para executar tarefas únicas
para as quais eram designadas, não se dando importância alguma à qualificação e
aprendizagem profissional. Com a evolução dos tempos essa ideia deixou de ser via
de regra e fatores como aprendizagem e autonomia passaram a ser cada vez mais
valorizados, há uma flexibilidade maior dentro das organizações. Surge dessa
maneira juntamente com as transformações advindas do século XXI novas
possibilidades para a mulher de gerenciar sua própria carreira, assumir postos de
chefia e ganhar espaço no mercado atual.
É quase contraditório que com todo o avanço mencionado anteriormente as
mulheres ainda encontrem discriminação no que se refere à equiparação salarial e
sofram ainda com uma postura machista e retrógrada da sociedade.
Segundo Leone et al (2003), as diferenças de trabalho masculino e feminino
estão diminuindo, só que agora não somente pela capacidade das mulheres de
entrarem no mercado reservado aos homens, mas também pela participação
conjunta de homens e mulheres nos empregos considerados precários que hoje o
mercado de trabalho oferece a ambos os sexos.
De acordo com Elisiana Probst (2006):
No Brasil, as mulheres são 41% da força de trabalho, mas ocupam somente
24% dos cargos de gerência. O balanço anual da Gazeta Mercantil revela
que a parcela de mulheres nos cargos executivos das 300 maiores
empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000.
Entendemos em nosso trabalho o termo carreira como expressão da ideia de
um caminho a ser seguido, algo estruturado e organizado e é nesse sentido que o
mercado de trabalho tem aberto espaços para funcionários determinados e globais,
independentemente de gênero sexual o que se busca são pessoas que sejam parte
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fundamental
das
organizações,
que
contribuam
positivamente
para
o
desenvolvimento das atividades da empresa e que possam construir uma carreira
sem fronteiras organizacionais.
Essa carreira sem chamada atualmente de carreira sem fronteiras explica-se
por uma relação de negócio, no qual ocorre uma troca do trabalho por uma
remuneração adequada, onde o conceito de sucesso profissional está mais
associado a critérios pessoais e onde as pessoas são incentivadas a se
identificarem mais com seu trabalho, fato que afeta diretamente as mulheres no
sentido de que ganham maior independência financeira fugindo da discriminação. É
importante que as organizações saibam que ao desprezarem a mão de obra
feminina estão perdendo uma grande oportunidade de crescimento.
O conceito de organização está relacionado à ideia de inovação social e
tecnológica, ou seja, algo que implica mudanças sistêmicas e o contato com
diferentes realidades e novas formas de ação que podem gerar novos valores no
indivíduo, provocando mudanças de comportamento e novos aprendizados. Para
que tenhamos uma organização estável precisamos de indivíduos independentes,
que saibam e possam corrigir suas próprias atuações, aprendendo com seus erros e
experiências e executando novas ações a partir de seu aprendizado individual e
coletivo, sem levarmos em conta se são homens ou mulheres.
A mulher equipara-se ao homem e deve dar-se o direito sim de escolher sua
carreira, na qual ela consiga conciliar todos os seus compromissos pessoais,
domésticos e profissionais sem deixar que um interfira negativamente no outro ou
ainda abster-se de constituir família a não se sentir nenhum pouco frustrada pela
tomada dessa decisão.
Os avanços tecnológicos como já citamos anteriormente possibilitaram
carreiras alternativas que vem sendo implementadas cada vez mais nas
organizações: contrato temporário, teletrabalho, terceirização, quarteirização,
trabalhos em rede. Essas novas modalidades oferecem a flexibilidade desejada por
muitas mulheres, pois deixam os funcionários mais livres e menos dependentes do
contato físico com a empresa.
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Diante do novo mercado com necessidades de inovações mais imediatas, as
organizações passam a ter um estilo de administração diferenciado, mais aberto,
com abandono do estilo mecanicista, pois as organizações procuram oportunidades
para se manterem e se adaptarem no mercado e isso exige mudanças constantes,
que necessitam do envolvimento e agilidade das pessoas que estão na organização
independentemente do gênero ao qual pertencem.
Tendo em vista essas considerações é importante destacar que a
organização, quando dá atenção necessária as necessidades que se impõem
sobrevive mais facilmente, pois qualquer organização está em constante troca com
os espaços onde se insere. Isso reforça a idéia de evolução de qualquer
organização. Nesse sentido os aspectos humanos são essenciais visto que quem
vai perceber as necessidades que se impõem com a evolução é o homem (aqui
concebido sem nenhuma alusão ao sexo).
Ampliar espaços de trabalho e garantir oportunidade para ambos os sexos
contribui para o fortalecimento da mulher e deveria ser considerado como uma meta
social. As empresas cumprem papel fundamental na obtenção da equidade entre os
sexos, pois de acordo com pesquisas realizadas pelo Instituto Ethos (2004):
...a diversidade em todas as instâncias da empresa tem se traduzido em
equipes mais eficientes, em funcionários mais satisfeitos e em redução da
rotatividade. Uma empresa que contribui para a igualdade de oportunidades
entre homens e mulheres é reconhecida pela sociedade, especialmente
pelas próprias mulheres, que hoje representam uma grande força na opinião
pública e no mercado consumidor.
Para finalizar acreditamos ser cada vez de maior importância que o trabalho
feminino não seja mais atrelado as funções tradicionais, como os serviços da casa, o
cuidar dos filhos, etc., e que sejam criadas e implementadas políticas públicas
sociais que proporcionem estratégias que alavanquem a carreira das mulheres nas
organizações e para que essas possam ser valorizadas, seja no interior das
empresas, seja nas comunidades das quais fazem parte.
REFERÊNCIAS
BRAIT, Beth. A personagem. São Paulo: Ática, 1985.
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GOMES, Luiz Antonio. Liderança e Poder nas Empresas. 2000. Trabalho de
conclusão. Faculdades Integradas Campos Salles, 2000.
LEONE, E. O trabalho da mulher em regiões metropolitanas brasileiras. In:
PRONI, M. W; HENRIQUE, W. (Org). Trabalho, mercado e sociedade. O Brasil nos
anos 90. São Paulo: UNESP, 2003.
MELO, Kelli Souza; APARICIO, Ingrid; OLIVEIRA, Priscila Coelho; CALVOSA,
Marcello Vinicius Dori. Desenvolvimento de Carreira: O Papel da Mulher nas
Organizações. In REVISTA CADERNOS DE ADMINISTRAÇÃO.ANO 2, VOL. 1,
Nº03 Jan – Jun 2009.
MURARO, Rose Marie. A mulher na construção do mundo futuro. Vozes, 1969,
v.1.
O Compromisso das Empresas com a valorização da mulher. – São Paulo:
Instituto Ethos, 2004.
PROBST, Elisiana. A evolução da mulher no mercado de trabalho. Trabalho de
Conclusão. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Revista 2: jan-jun/2003
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