Mineração de Bauxita e Refino de Alumina

Transcrição

Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
Objetivo: Descrever os processos de mineração de bauxita e refino de alumina e
delinear os riscos de natureza física, química, biológica, ergonômica e
psicossocial para a saúde. Métodos: Análise de artigo. Resultados: Os riscos
mais importantes referem-se a ruído, ergonomia, trauma e respingos de soda
cáustica na pele e nos olhos. Outros riscos dignos de nota referem-se à fadiga,
calor e radiação solar ultravioleta e algumas doenças tropicais em locais de
operações, animais peçonhentos/perigosos e locais remotos. Exposições às
poeiras de bauxita e alumina e à névoa cáustica em mineração contemporânea e
de boas práticas de bauxita e refino de alumina, não demonstraram estar
associadas com diminuições clinicamente significativas da função pulmonar.
Exposições a poeira de bauxita e de alumina em tais operações também não
estão associadas à incidência de câncer. Conclusões: Uma gama de riscos de
saúde ocupacional na mineração de bauxita e no refino de alumina requer a
manutenção de medidas eficazes de controle.
A mineração de bauxita e o refino de alumina são as operações de produção de
alumínio primário. Este artigo de revisão descreve os processos industriais de
mineração de bauxita e do refino de alumina, além de delinear os riscos físicos,
químicos, biológicos ergonômicos e psicossociais para a saúde.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO: MINERAÇÃO DE BAUXITA
A bauxita é o principal minério da alumina (Al 2O3), empregado para produzir o
alumínio (Al). Ela é composta de óxidos de alumínio hidratado, aluminossilicatos
hidratados, óxidos de ferro, óxidos hidratados de ferro, óxido de titânio e sílica.
Contém também misturas de vários minerais como gibbsita, boemita, hematita,
goethita, Al-goethita, anatásio, rutilo, ilmenita, caulim e quartzo.
A bauxita é uma rocha residual formada a partir da ação do tempo ("weathering") de
várias rochas ígneas, sedimentares e metamórficas. Essas rochas originais foram
expostas a longos períodos (milhões de anos) da ação do tempo sob condições
temperadas tropicais, subtropicais ou muito úmidas. Noventa por cento dos recursos
mundiais conhecidos de bauxita estão localizados em regiões tropicais. Outros
depósitos fora dessas latitudes foram expostos a longos períodos de intensa ação do
tempo em seu passado geológico.
As maiores concentrações de bauxita estão na América Central e América do Sul,
África Ocidental, em particular a Guiné, e na Índia, Vietnã e Austrália. Há alguns
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.1
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
depósitos também no norte da Rússia e na região central da Arábia Saudita.
Normalmente, a bauxita ocorre perto da superfície. No entanto, há ocorrências de
depósitos de bauxita enterrados onde esse minério foi coberto por outros materiais
posteriores à sua formação. A atual estimativa mundial de disponibilidade de bauxita
é de mais de 70 bilhões de toneladas. Desse total, a maior concentração está na
Guiné, onde as fontes comprovadas são de cerca de 25 bilhões de toneladas.
A maior parte da bauxita ocorre próximo da superfície, com apenas 1 ou 2 metros da
camada estéril. Os depósitos usuais variam de 3 a 15 m de espessura. A maioria da
bauxita pode ser extraída e processada sem beneficiamento (tratamento adicional do
minério para concentrar os minerais), porém o minério no norte do Brasil e no Vietnã
tem um alto teor de argila e precisa ser lavado antes do processamento.
Existem alguns depósitos subterrâneos. Porém, eles estão muitas vezes ligados a uma
ocorrência de superfície, onde o terreno que ajudou a formar a bauxita inclinou, de
tal modo que o minério encontrado na superfície gradualmente se aprofunda e a
mineração subterrânea é necessária para validar economicamente a extração desse
material. Esse fato é típico de alguns depósitos na Rússia.
Na China, há muitas áreas que têm bauxita totalmente subterrânea a profundidades
de 200 a 300 metros. Os processos típicos envolvidos na mineração de jazidas de
superfície são os seguintes:
• Supressão da vegetação e recolhimento da valiosa camada superficial, usando-se
pás raspadoras (scrapers) e tratores.
• Remoção do estéril.
• Jateamento ou raspagem de algumas áreas do minério que não podem ser
escavadas facilmente. Isso envolve a escavação e a utilização de explosivos, ou
raspagem com grandes tratores.
• Carregamento em caminhões e transporte para uma instalação de britagem.
Caminhões que variam de 30 a 180 toneladas de capacidade são utilizados em
minas de diferentes portes.
• Paisagismo e reabilitação do solo em colaboração com as populações locais e o
governo.
• Britagem e seleção.
• Lavagem e beneficiamento (tratamento adicional do minério para concentrar os
minerais), se necessário.
• Despacho para exportação ou para as refinarias locais.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.2
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
Cerca de 165 milhões de toneladas de bauxita são extraídos a cada ano. A bauxita é
geralmente transportada para as refinarias por correia transportadora, trem ou navio.
Algumas refinarias de alumina estão localizadas perto de suas minas de bauxita e
essas minas normalmente empregam de 500 a 1000 pessoas.
DESCRIÇÃO DO PROCESSO: O REFINO DE ALUMINA
O minério de bauxita contém tri-hidrato de alumínio (Al(OH)3). O refino de alumina
produz alumina (Al2O3) a partir do minério de bauxita, explorando a reação reversível
do processo Bayer1-3:
Al (OH)3 + NaOH = NaAlO2 + 2H2O
A reação é primeiramente conduzida na direção do aluminato de sódio (NaAlO2) por
meio da adição de soda cáustica (NaOH) à bauxita. Os resíduos de bauxita são então
removidos, liberando o líquido do processo denominado “licor verde." A reação é
então reconduzida na direção oposta durante a precipitação, para produzir cristais de
tri-hidrato de alumínio, os quais são, então, calcinados para produzir o óxido de
alumínio anidro (alumina). O "licor gasto" que sai da precipitação volta ao início do
circuito da refinaria.
As etapas principais de refino de alumina são as seguintes1-3:
• Moagem úmida do minério de bauxita em moinhos de barras, moinhos de bola ou
moinhos semi-autógenos para produzir a lama fina ou pasta.
• Digestão da pasta com soda cáustica (NaOH) a pressões superiores a 170 g / L em
vasos sob pressão, a temperaturas que variam de 145 a 265◦C, dependendo do tipo
de bauxita a ser processada.
• Separação e lavagem dos resíduos insolúveis (denominados "areia e lama") oriundos
da solução de processo (chamada "licor verde"). Os resíduos são armazenados em
áreas de secagem de resíduos.
• Cristalização (precipitação) do alumínio tri-hidratado a partir do aluminato de sódio
(NaAlO2) do licor verde, deixando o "licor gasto" contendo principalmente soda
cáustica a ser devolvida para a digestão.
• Calcinação dos cristais de tri-hidrato de alumínio a aproximadamente 1000ºC,
expelindo as moléculas de água e deixando o produto final, a alumina anídra.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.3
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
As refinarias de alumina geralmente estão localizadas na faixa costeira ou próximo
dela para facilitar o transporte de alumina para as fundições de alumínio. As
refinarias normalmente empregam cerca de 1000 pessoas (Figs. 1 e 2).
Figura 1. Fluxograma de processo de mineração de bauxita e refino de alumina
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.4
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
Figura 2. Foto aérea da refinaria de Pinjarra, na Austrália Ocidental.
RISCOS FÍSICOS (NR: tradução como está no original)
Lesões traumáticas na mineração de bauxita são relativamente incomuns em
comparação com a mineração subterrânea de minérios metálicos ou mineração
subterrânea de carvão. No entanto, as causas possíveis de lesões incluem
capotamentos de veículos, colisões de equipamentos móveis, queda de árvores,
quedas de alturas, confinamento, explosão e eletrocussão. Assim, é necessária uma
estrutura de atendimento médico emergencial. Isso sempre envolve o atendimento
dentro da fábrica, mas pode também incluir o fornecimento de uma instalação
médica substancial ou acesso a evacuação aero médica, dependendo das condições
locais.
Traumas menores são ainda razoavelmente comuns em refinarias -- particularmente
ferimentos em mãos e dedos. Traumas maiores são raros, mas existe a possibilidade
de quedas de altura, colisões de equipamentos móveis, confinamento e eletrocussão.
As refinarias geralmente são providas de centros médicos locais, com uma capacidade
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.5
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
de resposta médica de emergência e disponibilidade para transferir pacientes para o
hospital.
O barulho é gerado na mineração por raspagem,, detonação, escavação, britagem e
transporte. A exposição ao barulho é controlada principalmente por meio do
enclausuramento dos trabalhadores dentro de cabinas de veículos. Porém, não tem
sido observado um êxito absoluto com a perda auditiva provocada por ruído, que
ainda ocorre nas operações contemporâneas. Programas de conservação auditiva são
essenciais e devem incluir as avaliações e iniciativas de controle do barulho,
audiometria anual e uma variedade de dispositivos de proteção auditiva com a
aplicação do "fit test" e treinamento.
O barulho é comumente encontrado em todas as refinarias e pode ser muito intenso
durante atividades como a descalcificação de tanques, utilizando ferramentas de
impacto. A perda auditiva provocada pelo barulho é um problema significativo nas
refinarias. O treinamento e o emprego assíduo de fit tests quantitativos da proteção
auditiva tem resultado em reduções substanciais na perda auditiva provocada pelo
barulho em algumas refinarias, com a taxa de alteração de 10 dB corrigida por idade
da Occupational Safety and Health Administration (média entre 2, 3 e 4 kHz), caindo
de 5% para 1% de empregados por ano, em algumas refinarias na Austrália Ocidental
(dados Alcoa-não publicados).
O calor e a umidade são encontrados em regiões tropicais. Apesar da insolação não
ter sido relatada, podem ocorrer exaustão pelo calor e miliaria rubra. Medidas de
controle são necessárias e têm sido discutidas em detalhes em todo lugar4-6.
A vibração no corpo ocorre habitualmente durante a operação de equipamentos
móveis tais como raspadores, plataformas de perfuração, escavadeiras e caminhões
de transporte. Isso pode causar ou agravar os problemas de coluna. Em alguns casos,
veículos de controle remoto são utilizados onde o terreno for tão irregular que a
vibração no corpo pode ser excessiva. A manutenção de estradas e veículos é uma
importante medida de controle.
A síndrome de vibração de mão-braço parece ser rara na mineração de bauxita e
refino de alumina. Ferramentas manuais vibratórias não são uma importante parte do
processo em minas de bauxita, mas são comuns em refinarias de alumina. No entanto,
a maioria das minas de bauxita e refinarias de alumina está situada em climas
tropicais e, assim, o vasoespasmo provocado pelo frio é improvável.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.6
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
A bauxita é um material radioativo de baixo nível, de ocorrência natural. Ela contém
pequenas quantidades de urânio (238U), tório (232Th) e potássio (40K).7 A radioatividade
natural de baixo nível presente no minério transfere-se quase totalmente para o fluxo
de resíduos sólidos durante o refino – um pouco para o resíduo de areia, mas a maior
parte para o resíduo de lama. O minério da bauxita, os materiais do processo Bayer
antes da precipitação, o resíduo de lama e o resíduo de areia são, portanto, de
interesse da radiação, enquanto o produto alumina não é8. Dados do monitoramento
ambiental do posto de trabalho e pessoal nas minas de bauxita e refinarias de alumina
no oeste da Austrália têm sido utilizados para avaliar o histórico das doses anuais na
força de trabalho, em uma variedade de postos de trabalho. As doses totais adicionais
do composto para os indivíduos foram todas abaixo do limite de exposição pública de
1,0 mSv por ano acima do básico, quando foram consideradas as exposições gama,
progênie do radônio e alfa total7. Assim o é apesar da atividade de alguns materiais
ser um pouco maior do que a referência regulamentar de exclusão de 1 Bq/g. Em
suma, esta é uma questão que requer uma certa atenção e um monitoramento em
minas de bauxita e refinarias de alumina, mas é improvável que seja motivo de
preocupação.
Exposições a raios ultravioletas do sol em operações superficiais de mineração de
bauxita e refinarias de alumina podem contribuir para a ocorrência de células
escamosas e carcinomas basocelulares, embora esta seja uma inferência elaborada a
partir de estudos com trabalhadores ao ar livre em outras indústrias9-11. As medidas de
controle incluem o uso de cabines fechadas em equipamentos móveis, a programação
de trabalho ao ar livre para evitar exposições próximas do meio-dia, camisas de
manga comprida, calças compridas, proteção para o pescoço e orelhas nos capacetes
quando ao ar livre, fornecimento de óculos escuros sempre que possível, bem como a
utilização de protetor solar. As ocupações que envolvem trabalho importante em
ambiente externo parecem não estar associadas a um risco crescente de
melanoma9,12-16.
Os ciclones tropicais (furacões) podem impactar nas minas de bauxita e refinarias de
alumina em regiões tropicais.
RISCOS QUÍMICOS (NR: tradução como está no original)
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.7
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
A bauxita é geralmente considerada como sendo relativamente inerte do ponto de
vista biológico. Ela é classificada para fins de higiene ocupacional como uma poeira
incômoda ou "partícula sem outra especificação". Houve um relato de caso de fibrose
pulmonar leve ocorrido em um trabalhador exposto à trituração e transporte de
bauxita entre 1936 e 196217. O achado ao acaso na autópsia, levou à confirmação da
presença de bauxita na área da fibrose. Mais recentemente, foram realizados estudos
epidemiológicos com trabalhadores expostos à poeira de bauxita.
Um estudo transversal em empregados de uma mina de bauxita, numa refinaria de
alumina e numa fábrica de produtos químicos à base de alumina nos Estados Unidos,
examinou a função pulmonar em relação às exposições cumulativas totais a poeiras18.
Os indivíduos tinham sido empregados em alguma época entre 1975 e 1981. Como um
terço da coorte de estudo nunca havia fumado, os efeitos da exposição à poeira pode
ser analisado independentemente dos efeitos do tabagismo. Entre os não fumantes
com exposições cumulativas totais à poeira de, no mínimo, 100 mg/m3/ano, ao longo
de pelo menos 20 anos, houve uma redução do volume expiratório forçado em 1
segundo (FEV1) de 0,29 a 0,39 L, em comparação com valores internos e externos
previstos, respectivamente. O estudo não relatou resultados de capacidade vital
forçada (CVF), por isso não se sabe se os resultados refletem um problema pulmonar
obstrutivo ou restritivo. Entretanto, a bronquite industrial resultante de exposições
elevadas à poeira é uma possível explicação. Infelizmente, os dados de exposição não
distinguiram entre bauxita e outras exposições como alumina e névoa cáustica. É, por
conseguinte, um pouco difícil interpretar os resultados em relação à bauxita. Além
disso, as exposições eram claramente muito mais elevadas do que as habituais da
mineração contemporânea de bauxita. A radiografia de tórax na mesma unidade
constatou que 8% dos trabalhadores tiveram escassas e pequenas opacidades
irregulares – predominantemente localizadas no campo pulmonar médio e baixo19. A
prevalência foi de 4% entre os não fumantes e 12% entre os fumantes. A prevalência
foi estatisticamente significativa e maior entre os não fumantes que tinham mais
tempo no emprego e maiores exposições cumulativas totais a poeiras. A prevalência
foi de 19% (4 dos 21 casos) entre os não fumantes com exposições cumulativas totais a
pelo menos, 100 mg/m3/ano de poeira, mantida ao longo de pelo menos 20 anos.
Um estudo transversal com empregados de uma grande mineração de bauxita na
Austrália Ocidental entre 1995/1996 investigou sintomas respiratórios e função
pulmonar em relação à exposição à poeira de bauxita20. Após o ajuste para idade e
tabagismo, não houve relação significativa entre qualquer um dos sintomas e o quartil
de exposição à bauxita20. Também não houve quedas estatisticamente significativas
na função pulmonar (FEV 1, FVC e FEV1/CVF) dentro de qualquer um dos quartis de
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.8
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
exposição à bauxita. Após o ajuste para a idade, altura e tabagismo, houve um
pequeno, mas estatisticamente significativo, declínio em FEV1 (7,3 mL / ano)
associado com a duração do emprego. Não foi encontrada associação entre a duração
do emprego e FVC ou FEV1/FVC. O efeito do envelhecimento sobre FEV 1 foi estimado
como sendo 27 ml/ano, ao passo que o efeito do fumo foi constatado como sendo 12.0
mL por ano-maço entre os fumantes atuais. A associação entre o FEV1 e a duração do
emprego foi independente da exposição à bauxita, o que os pesquisadores acharam
difícil de explicar20. A radiografia de tórax não foi considerada justificável.
Em resumo, parece que as exposições à bauxita em operações de mineração
contemporâneas, que utilizam as melhores práticas, não demonstraram estar
associadas a déficits clinicamente significativos da função pulmonar ou à
pneumoconiose.
Um estudo transversal com funcionários de três refinarias de alumina na Austrália
Ocidental entre 1995/1996 investigou sintomas respiratórios e função pulmonar em
relação à exposição à poeira de bauxita e de alumina e a vapores de soda
cáustica21,22. Após o ajuste para idade, tabagismo, e atopia, a maioria dos grupos de
trabalhadores da produção relatou uma maior prevalência de chiado e rinite do que os
trabalhadores de escritório21. Diferenças em FVC e FEV1/FVC, mas não em FEV1, foram
encontradas entre os diferentes grupos de processos. Esses foram considerados como
clinicamente não relevantes21. Empregados no grupo de maior exposição à neblina
cáustica relataram maior prevalência de chiado e rinite, mas não apresentaram
decréscimos na função pulmonar22. A exposição à poeira de alumina foi associada a
pequenos aumentos na prevalência de chiado e rinite relacionados ao trabalho, mas
sem alterações na função pulmonar22. A exposição à poeira de bauxita nas refinarias
não foi associada a nenhum desses sintomas ou a alteração na função pulmonar.22
Um estudo de incidência e mortalidade por câncer foi realizado com uma coorte de
empregados que trabalham em três minas de bauxita e três refinarias de alumina no
oeste da Austrália23. Esse é o único estudo sobre a incidência e mortalidade por
câncer até hoje, em mineração de bauxita e refino de alumina. A análise mais
recente desse estudo ora em curso foi realizada com dados do final de 2002, quando
3.717 (64%) da coorte de 5.828 homens que tinham trabalhado durante pelo menos 10
anos, 1.528 (26% da coorte) dos quais haviam sido empregados por pelo menos 20
anos. A mortalidade por todas as causas foi significativamente menor do que na
população masculina australiana (razão de mortalidade padronizada = 0,68, intervalo
de confiança de 95% [CI] = 0,60 a 0,77). A mortalidade para todos os tipos de câncer
combinados não foi significativamente diferente da população comparada. A
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.9
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
mortalidade foi significativamente menor do que na população de comparação para
doenças do aparelho circulatório, doenças respiratórias, lesão/trauma e "outras
causas ou causas desconhecidas." O único risco de mortalidade aumentada foi para o
mesotelioma pleural (ver comentários mais adiante). Não houve tendências
observadas estatisticamente significativas relacionadas com a duração do emprego
por quaisquer das causas de morte. A incidência de todos os tipos de câncer
combinados não foi significativamente diferente da população de comparação (razão
de incidência padronizada [SIR] = 0,92, 95% CI = 0,82-1,03). Houve um aumento da
incidência de mesotelioma pleural (SIR = 3,49, 95% CI = 1,82-6,71) e melanoma (SIR =
1,30; IC95% = 1,00-1,69). No entanto, uma análise independente feita pelo Western
Australian Mesothelioma Registry constatou que o mesotelioma estava associado a
exposições fora da indústria de alumínio em todos os casos exceto um - por exemplo,
cinco dos nove casos tinham tido exposição à crocidolita em Wittenoom, uma área de
mineração de amianto no Oeste da Austrália. Para o melanoma, não houve aumento
do risco com a duração do emprego. A análise posterior em uma das refinarias
estudadas não encontrou aumento estatisticamente significativo na incidência de
melanoma quando dados de comparação nacionais ao invés de estaduais foram
aplicados (dados não publicados). Houve um aumento da incidência de câncer de
tiroide em quem já havia trabalhado em escritório (n = 6; SIR = 5,35; 95% CI = 2,02 a
19,18), mas não houve excesso significativo entre aqueles que jamais tinham
trabalhado em área da produção ou de manutenção. Os pesquisadores relataram que
não houve nenhuma exposição conhecida vinculada ao trabalho em escritório nessa
indústria e o achado pode ser um artefato devido ao grande número de análises
realizadas no estudo. Uma análise interna da mesma coorte focou na incidência de
câncer, na mortalidade por causa vascular e mortalidade por doenças respiratórias em
relação à exposição à poeira de bauxita e à poeira de alumina24. Houve uma certa
evidência de uma relação exposição-resposta entre a exposição cumulativa a bauxita
inalável e a mortalidade por doença respiratória não maligna (tendência P = 0,01), e
entre a exposição cumulativa a alumina inalável e a mortalidade por doença
cerebrovascular (tendência P = 0,04). Essas associações foram baseadas em muito
poucos casos e para as doenças respiratórias não malignas, os óbitos representaram
uma mistura heterogênea de causas. Além disso, é necessário um acompanhamento
para esclarecer esses achados preliminares. Não houve nenhuma evidência de
aumento de risco de qualquer tipo de câncer devido à exposição à bauxita ou à
alumina.
Os níveis séricos de alumínio foram medidos em trabalhadores de minas de bauxita e
um grupo de comparação de funcionários de uma fábrica de processamento de
madeira, ambos no Suriname25. Não foi constatada nenhuma diferença
estatisticamente significativa nos níveis séricos de alumínio 25.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.10
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
Algumas bauxitas contêm traços de berílio. As concentrações na mineração e no
posterior refino não são capazes de causar um risco significativo de sensibilidade ao
berílio ou doença crônica do berílio. Todavia, sabe-se que o berílio se concentra no
banho da fundição de alumínio se a alumina for oriunda de bauxita com teor de
berílio. A prevalência de sensibilidade ao berílio em fundições de alumínio tem sido
relatada como sendo de 0,28%, em uma fundição norueguesa, e de 0,47% em nove
fundições pertencentes a quatro diferentes companhias26,27.
A bauxita contém traços de mercúrio, que podem dar origem ao vapor de mercúrio
elementar, especialmente na parte produtiva do processo de refino - geralmente na
área de Digestão. Algumas refinarias usam condensadores para remover o mercúrio do
vapor. Ocasionalmente, quantidades de mercúrio metálico são encontradas e a
remoção é realizada por profissionais treinados utilizando medidas seguras de
manuseio e equipamentos adequados de proteção individual. Em três refinarias da
Alcoa na Austrália Ocidental, a amostragem pessoal de mercúrio, entre os
empregados da refinaria de uma variedade de funções e áreas de operação mostrou
todos os resultados dentro dos limites de 2013 da American Conference of
Governmental Industrial Hygienists (ACGIH®) Threshold Limit Value (TLV®) de 0,025
mg/m3 (Alcoa, dados não publicados). A campanha de monitoramento biológico na
Refinaria de Pinjarra, na Austrália Ocidental, em 2002, descobriu que todas as
concentrações de mercúrio na urina de 673 empregados e contratados de uma série
de funções e áreas de atuação estavam dentro do atual limite de 2013 da ACGIH®
Biological Exposure Index (BEI®) de 20 µg/g de creatinina. O percentil 95º foi de 3
µg/g de creatinina (Alcoa, dados não publicados). Dessa forma, o monitoramento
biológico de rotina para o mercúrio não é, por conseguinte, exigido nessas refinarias
de alumina.
Refinarias de alumina mais antigas ainda podem ter amianto in situ, por isso, é
necessário o cuidado em se ter um plano rigoroso de gestão de amianto. Produtos
contendo
material
com
asbesto
foram
utilizados
em
gaxetas
e
escoramento/isolamento.
Respingos de substâncias químicas ainda acontecem nas refinarias apesar dos vários
controles administrativos e de engenharia. Às vezes, isso ocorre em decorrência de
falha de equipamentos como válvulas ou perda de controle do processo que causa
derramamentos dos tanques. A grande maioria dos respingos envolve álcalis fortes geralmente soda cáustica (hidróxido de sódio) presente no circuito de licor das
refinarias. Os respingos de soda cáustica podem provocar graves queimaduras
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.11
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
químicas da pele e dos olhos e é essencial a imediata descontaminação. A incidência
de respingos na pele entre os empregados de refinaria australianos foi relatada como
sendo de 4,06 por 200 mil horas trabalhadas28 (NR - costuma-se utilizar como
denominador deste tipo de referência, "homens-horas trabalhadas". Está traduzido
conforme consta do original). Tradicionalmente, medidas de primeiros socorros
incluem chuveiros de emergência e estações lava-olhos nas proximidades de quaisquer
áreas de risco dentro das fábricas. Mais recentemente, o uso de solução de
Diphoterine® para o tratamento de primeiros socorros em casos de respingo na pele
de substâncias alcalinas nas refinarias de alumina da Austrália Ocidental tem
produzido melhores resultados do que o uso do chuveiro de emergência28.
Diphoterine® é uma solução anfotérica, hipertônica e quelatante disponível
comercialmente e é usada para a descontaminação e irrigação de respingos de
produtos químicos. Entre os empregados que primeiro usaram Diphoterine® não houve
sinais de queimadura química em 52,9% dos casos e bolhas ou sinais mais graves
ocorreram em apenas 7,9% dos casos. Esses resultados foram significativamente
diferentes daqueles relativos aos empregados que utilizaram a água primeiramente,
sem sinais de queimadura química em apenas 21,4% dos casos e bolhas ou sinais mais
graves em 23,8% dos casos (P < 0,001). Os trabalhadores normalmente portam uma
lata aerossol de Diphoterine® para ser portada em seu cinto nas áreas operacionais
das refinarias. Algumas refinarias também implantaram o Diphoterine® para a
lavagem e irrigação de emergência dos olhos.
Os particulados de diesel são gerados por equipamentos móveis movidos a diesel, mas
as exposições em minerações de bauxita ocorrem em níveis baixos, comparados às da
mineração subterrânea. O gás de exaustão do motor a diesel é um cancerígeno
humano do Grupo 1, de acordo com a IARC - International Agency for Research on
Cancer [Agência Internacional para Pesquisa do Câncer] - e a exposição suficiente
pode aumentar o risco de câncer pulmonar29. Medidas de controle incluem o uso de
combustível diesel com baixo teor de enxofre, manutenção de motores e cabines
climatizadas. Veículos do tipo bob cats movidos a diesel e dotados de equipamentos
de impacto são utilizados dentro de grandes tanques em refinarias de alumina para
descalcificação. Os controles adicionais nessas condições incluem ventilação forçada
de diluição e proteção respiratória.
Exposições dérmicas irritantes e dermatites podem ocorrer em vários postos de
trabalho em refinarias de alumina e, em menor escala, em minas de bauxita. Dentre
os agentes relevantes estão solventes industriais, alcalinos e ácidos.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.12
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
É realizada soldagem considerável nas refinarias de alumina e, em menor medida, nas
oficinas das minas de bauxita. Assim, é importante o controle de exposição a fumos
de soldagem por meio de ventilação de exaustão local e proteção respiratória.
A entrada em espaços confinados é também uma questão importante nas refinarias de
alumina, onde há muitos vasos de processo de diferentes tipos. As autorizações de
entrada garantem que todos os elementos de um sistema seguro de trabalho estejam
presentes antes que uma pessoa entre em um espaço confinado. O monitoramento
atmosférico é necessário para detecção de atmosferas com deficiência de oxigênio,
tóxicas ou inflamáveis. É comum a ventilação de espaços confinados antes e durante a
entrada. No entanto, os equipamentos adicionais de proteção respiratória podem
também ser necessários. O isolamento de quaisquer sistemas perigosos no interior ou
conectado ao espaço confinado é importante durante a entrada, utilizando-se o
sitema de "tag" e bloqueio.
Gases não condensáveis são produzidos na área de digestão do processo de refino a
partir da quebra da matéria orgânica na bauxita. Eles consistem de um conjunto de
compostos orgânicos voláteis e amônia. São denominados gases não condensáveis,
porque não se condensam em líquido durante o arrefecimento da corrente quente de
digestão. São posteriormente liberados através das chaminés da refinaria e dos dutos
de ventilação - com a concentração média ponderada no tempo (TWA) no local de
trabalho geralmente bem abaixo dos limites de exposição ocupacional. Alguns dos
gases não condensáveis são malcheirosos e irritantes. Breves descobertas de emissões
fugitivas transitórias ocorrem ocasionalmente e podem dar origem a queixas de mau
cheiro e irritação respiratória de curta duração.
RISCOS BIOLÓGICOS
Os riscos de doenças tropicais como malária e dengue são significativos em algumas
das minas de bauxita e refinarias de alumina. Precauções para evitar picadas de
mosquito são importantes e a profilaxia da malária é às vezes prescrita. Vacinas
contra a febre amarela também são necessárias para as viagens a algumas regiões. O
acesso a orientação de medicina do viajante antes, durante e depois das viagens é
importante.
Em alguns países, doenças infecciosas comunitárias podem representar um risco para
a saúde dos trabalhadores. O HIV e a tuberculose são dois exemplos. As mineradoras
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.13
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
de regiões relevantes estão assim, engajadas na educação, na triagem, e em
atividades de tratamento.
Regiões tropicais comumente apresentam potencial para a descoberta de animais
peçonhentos ou perigosos como cobras, aranhas, águas-vivas e crocodilos. Isto pode
ser particularmente relevante em locais em que os empregados exerçam atividades
recreativas como caminhadas por trilhas, caça, pesca, natação ou mergulho após o
expediente.
Os aspectos microbiológicos de gestão da qualidade da água são importantes em
refinarias de alumina, onde a água potável não pode ser obtida a partir de
abastecimento de água municipal e a água reciclada possa ser utilizada na fábrica
para aplicações em processo devido à escassez de água. Além disso, as torres de
resfriamento são comuns nas refinarias de alumina, de modo que a análise
microbiológica periódica da água é necessária para detectar a contaminação por
Legionella ou altas concentrações de outros microrganismos heterotróficos30.
RISCOS ERGONÔMICOS
A mineração de bauxita tornou-se altamente mecanizada, com relativamente poucas
tarefas que requerem considerável movimentação manual. Pisos irregulares são
frequentemente encontrados, quando são executadas tarefas a pé, que podem causar
lesões no tornozelo e no joelho.
Perigos de natureza ergonômica em refinarias de alumina incluem a necessidade
repetitiva de subida em escadas, ferramentas pneumáticas para aperto ou ou
afrouxamento de parafusos, marretas para a abertura ou fechamento de válvulas,
posturas inadequadas em espaços confinados, tarefas manuais intensas e repetitivas e
levantamento de peso. Recentemente, tem havido progresso substancial em se
identificar sistematicamente e avaliar riscos ergonômicos utilizando ferramentas
padronizadas de avaliação. Como resultado, houve uma mudança na visando
ferramentas sem impacto, operação mecanizada de válvulas e martelos pneumáticos
com menor intensidade de vibração. Não obstante, condições músculo-esqueléticas
geralmente continuam a ser a maior proporção de lesões no trabalho nas refinarias.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.14
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
A maioria das minas e refinarias opera 24 horas por dia, 7 dias por semana, e, por
isso, o trabalho em turnos é muito comum. Na Austrália e em alguns outros países
desenvolvidos, tem havido uma tendência de turnos de 10 ou 12 horas nos últimos
anos. A fadiga e o risco de acidentes relativos a turnos prolongados têm sido
estudados na indústria do alumínio31. Isto resultou na aplicação de limites para horas
extras em algumas organizações. O déficit de sono, que pode ocorrer por diversos
motivos pessoais ou relacionados ao trabalho, demonstrou causar prejuízos de ordem
cognitiva e de desempenho motor entre os motoristas de outras indústrias32. Os
programas de gestão de risco de fadiga estão cada vez mais sendo implantados na
indústria do alumínio. Os pontos-chaves abordados em tais programas são a
composição adequada das equipes e regimes apropriados de turnos, que permitam o
sono adequado, a educação e treinamento para permitir a avaliação dos riscos, a
detecção de indicadores comportamentais de fadiga, modificações de áreas de
trabalho para aprimorar o alerta mental e o monitoramento da fadiga33,34
O
encaminhamento de empregados para o atendimento médico para a polissonografia
geralmente ocorre quando há histórico ou fatores de risco que sugiram a possibilidade
de apnéia obstrutiva do sono.
O controle remoto de equipamentos móveis de mineração de bauxita foi introduzido
em algumas situações fora do comum para reduzir o risco de exposição a uma
excessiva vibração de corpo inteiro. Isso tem exigido atenção às questões de
ergonomia cognitiva, muitas delas semelhantes às encontradas em salas de controle
de unidades metalúrgicas.
RISCOS PSICOSSOCIAIS
Políticas e procedimentos de gestão de abuso de drogas e álcool estão agora em vigor
em muitas operações de mineração e refinaria. Dentre elas estão a medição de
metabólitos de drogas na urina ou na saliva e álcool no ar expirado, durante
amostragem no exame pré admissional, aleatória e após acidentes ou
comportamentos inadequados.
São comuns as áreas remotas na mineração de bauxita e, em menor grau, também
ocorrem em refinarias de alumina. Algumas minas operam pelo sistema "fly-in-fly-out"
[esquema "embarcado"] com os empregados da mina separados de suas famílias e
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.15
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
comunidades durante os períodos de trabalho. Outras minas ficam próximas de
centros urbanos, mas envolvem tempo de transporte substancial de ida e volta.
Os trabalhos para expatriados também são comuns na mineração de bauxita e de
refino de alumina. Os riscos psicossociais de transferências de expatriados têm sido
revistos35.
Lesões traumáticas graves e mortes são raras na mineração de bauxita e no refino de
alumina, mas se vierem a ocorrer, há o potencial de estresse pós-traumático se
desenvolver em testemunhas, colegas e gerentes.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao Sr. Russell Williams, anteriormente Vice-Presidente de
Projetos da Mineração - Alcoa World Alumina, na prestação de informações
detalhadas na descrição do processo de mineração de bauxita.
REFERÊNCIAS
1. Debney DM. Alumina production by Alcoa of Australia Ltd in Western Australia. In:
Woodcock JT, Hamilton JK, eds. Australasian Mining and Metallurgy—the Sir Maurice
Mawby Memorial Volume. 2nd ed. Melbourne, Australia: The Australasian Institute of
Mining andMetallurgy; 1993:758–763.
2. Phegan S, Doy B, Donoghue M, Spadaccini D, Cooling D. Alumina production by Alcoa of
Australia Limited in Western Australia. In: Rankin WJ, ed. Australasian Mining and
Metallurgical Operating Practices. 3rd ed. Melbourne, Australia: The Australasian
Institute of Mining andMetallurgy; 2013:243–250.
3. Donoghue AM, Cullen MR. Air emissions from Wagerup alumina refinery and community
symptoms: an environmental case study. J Occup Environ Med. 2007;49:1027–1039.
4. Donoghue AM, SinclairMJ, BatesGP. Heat exhaustion in a deep underground metalliferous
mine. Occup Environ Med. 2000;57:165–174.
5. Donoghue AM, SinclairMJ. Miliaria rubra of the lower limbs in underground miners. Occup
Med. 2000;50:430–433.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.16
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
6. Donoghue AM. Heat illness inmining. In: Gillies ADS, ed. Proceedings of the Eighth
International Mine Ventilation Congress; 2005 July 6 to 8; Brisbane, Australia.
Carlton: Australasian Institute of Mining and Metallurgy; 2005:95–102.
7. O’Connor BH, Donoghue AM, Manning T, Chesson BJ. Radiological assessment for bauxite
mining and alumina refining. Ann Occup Hyg. 2013;57:63–76.
8. Melbourne A, O’Brien R, O’Connor B, Johnston A, Hamilton D, Stray G. ARPANSA Safety
Guide: Management of Naturally Occurring Radioactive Material (NORM). Canberra,
Australia: Australian Radiation Protection and Nuclear Safety Agency; 2008:91–101.
9. Armstrong BK, Kricker A. The epidemiology of UV induced skin cancer. J Photochem
Photobiol B. 2001;63:8–18.
10. Green A, Battistutta D, Hart V, Leslie D,Weedon D. Skin cancer in a subtropical
Australian population: incidence and lack of association with occupation. Am J
Epidemiol. 1996;144:1034–1040.
11. Marks R, Jolley D, Dorevitch AP, Selwood TS. The incidence of nonmelanocytic skin
cancers in an Australian population: results of a five-year prospective study. Med J
Aust. 1989;150:475–478.
12. Linet MS, Malker HSR, Chow WH, et al. Occupational risks for cutaneous melanoma
among men in Sweden. J Occup Environ Med. 1995;37:1127–1135.
13. Elwood JM. Melanoma and sun exposure: contrasts between intermittent and chronic
exposure. World J Surg. 1992;16:157–165.
14. Holman CDJ, Armstrong BK, Heenan PJ. Relationship of cutaneous malignant melanoma
to individual sunlight-exposure habits. J Natl Cancer Inst. 1986;76:403–414.
15. English DR, Heenan PJ, Holman CDJ, et al. Melanoma in Western Australia 1975–76 to
1980–81: trends in demographic and pathological characteristics. Int J Cancer.
1986;37:209–215.
16. Holman CDJ, Mulroney CD, Armstrong BK. Epidemiology of pre-invasive and invasive
malignant melanoma in Western Australia. Int J Cancer. 1980;25:317–323.
17. Bellot SM, Schade van Westrum JA, Wagenvoort CA, Meijer AE. Deposition of bauxite
dust and pulmonary fibrosis. Pathol Res Pract. 1984;179:225–229.
18. Townsend MC, Enterline PE, Sussman NB, Bonney TB, Rippey LL. Pulmonary function in
relation to total dust exposure at a bauxite refinery and alumina-based chemical
products plant. Am Rev Respir Dis. 1985;132:1174–1180.
19. Townsend MC, Sussman NB, Enterline PE, Morgan WK, Belk HD, Dinman BD.
Radiographic abnormalities in relation to total dust exposure at a bauxite refinery and
alumina-based chemical products plant. Am Rev Respir Dis. 1988;138:90–95.
20. Beach JR, de Klerk NH, Fritschi L, et al. Respiratory symptoms and lung function in
bauxite miners. Int Arch Occup Environ Health. 2001;74: 489–494.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.17
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
21. Musk AW, de Klerk NH, Beach JR, et al. Respiratory symptoms and lung function in
alumina refinery employees. Occup Environ Med. 2000;57: 279–283.
22. Fritschi L, deKlerk N, Sim M, Benke G, Musk AW. Respiratory morbidity and exposure to
bauxite, alumina and caustic mist in alumina refineries. J Occup Health. 2001;43:231–
237.
23. Fritschi L, Hoving JL, Sim MR, et al. All cause mortality and incidence of cancer in
workers in bauxite mines and alumina refineries. Int J Cancer. 2008;123:882–887.
24. Friesen MC, Fritschi L, Del Monaco A, et al. Relationships between alumina and bauxite
dust exposure and cancer, respiratory and circulatory disease. Occup Environ Med.
2009;66:615–618.
25. de Kom JF, Dissels HM, van der Voet GB, de Wolff FA. Serum aluminium levels of
workers in the bauxite mines. J Toxicol Clin Toxicol. 1997;35: 645–651.
26. Nilsen AM, Vik R, Behrens C, Drablos PA, Espevik T. Beryllium sensitivity among workers
at a Norwegian aluminium smelter. Am J Ind Med.
2010;53:724–732.
27. Taiwo OA, Slade MD, Cantley LF, Kirsche SR, Wesdock JC, Cullen MR. Prevalence of
beryllium sensitization among aluminium smelter workers. Occup Med. 2010;60:569–
571.
28. Donoghue AM.Diphoterine for alkali chemical splashes to the skin at alumina refineries.
Int J Dermatol. 2010;49:894–900.
29. IARC. IARC Monographs on theEvaluation ofCarcinogenicRisks to Humans. Volume 105:
Diesel and Gasoline Engine Exhausts and Some Nitroarenes. Cedex, France: IARC.
30. Australian Standard AS 5059–2003. Power Station Cooling Tower Water Systems –
Management of Legionnaire’s Disease Health Risk. Sydney, Australia: Standards
Australia International; 2003.
31. Vegso S, Cantley L, Slade M, et al. Extended work hours and risk of acute occupational
injury: a case-crossover study of workers in manufacturing. Am J IndMed.
2007;50:597–603.
32. Williamson AM, Feyer AM. Moderate sleep deprivation produces impairments in
cognitive and motor performance equivalent to legally prescribed levels of alcohol
intoxication. Occup Environ Med. 2000;57:649–655.
33. Dawson D, McCulloch K. Managing fatigue: it’s about sleep. Sleep Med Rev. 2005;9:365–
380.
34. Gander P, Hartley L, Powell D, et al. Fatigue risk management: organizational factors
at the regulatory and industry/company level. Accid Anal Prev. 2011;43:573–590.
35. Jones S. Medical aspects of expatriate health: health threats. Occup Med. 2000;50:572–
578.
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.18
ARTIGO ORIGINAL
Mineração de Bauxita e Refino de Alumina
Descrição do processo e riscos de saúde ocupacional
A. Michael Donoghue, MBChB, MMedSc, PhD, Neale Frisch, BSc(Hons), Grad Dip Occ Hyg, COH,
and David Olney, BSc
Copyright © 2014 Lippincott Williams & Wilkins. É proibida a reprodução não autorizada deste artigo.
- Texto traduzido, sob autorização, de artigo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine
(JOEM), Número 5S, em maio de 2014.19

Documentos relacionados