O cenário cultural da Baixada Santista está entre os mais ricos e

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O cenário cultural da Baixada Santista está entre os mais ricos e
JORNAL-LABORATÓRIO DO QUARTO ANO DE JORNALISMO DA FACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO DA UNISANTA
ANO XVIII - N° 142 - SETEMBRO /2013 - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - SANTOS (SP)
Arte e Cultura,
referências da região
O
cenário cultural da Baixada Santista
está entre os mais ricos e importantes do
Brasil. A observação criteriosa de todos
os recursos, projetos e pessoas envolvidas
leva à constatação de quão bela e
indispensável é a arte na região.
Nesta edição, o Primeira Impressão apresenta uma
série de reportagens sobre artistas da Baixada Santista,
iniciativas e equipamentos culturais que oferecem
diversas expressões e formas de arte.
Música, dança, teatro, cinema, artes plásticas e outras
manifestações traçam um interessante panorama da
região por meio da cultura, o que pode ser verificado
pelo expressivo número de artistas que surgiram por
aqui e levaram sua arte para o mundo.
Conheça o roteiro cultural de Santos nas páginas do
Primeira Impressão.
Editorial
Coletiva
Arte caiçara
A Baixada Santista exala cultura e não é de hoje.
Uma cultura rica e de personalidade forte. Talvez
por isso a escritora Patrícia Galvão, a Pagu, que na
década de 30 chocava os conservadores de São Paulo
com a sua militância na literatura, da poesia e da
arte, tenha escolhido a Cidade para viver em 1945.
Dos anos 60 aos 90, o escritor caiçara Plínio Marcos apresentou peças teatrais com um tom visceral
pouco antes visto, ganhando repercussão e renome.
Mais recentemente, entre os anos 90 e 2000, a banda Charlie Brown Jr. fez sucesso nacional com um
som que criticava a sociedade por meio de um olhar
jovem, gerando identificação com a juventude brasileira, que rendeu mais de 5 milhões de discos vendidos para a banda.
O Primeira Impressão deste mês aborda todos os
aspectos da cultura da Baixada Santista, abrangendo desde o “underground”, com artistas, bandas e desenhistas representantes deste cenário, até a cultura
popular, com reportagens sobre o Sesc e os projetos
oferecidos pelas secretarias de Cultura da região.
PRATA DA CASA
A complexa nuance entre
fotografia e fotojornalismo
Onã Tolentino
Cultura santista tem
perdas significativas
O jornalista e músico Julinho Bittencourt falou sobre o fim do
Bar do Torto e a morte de Chorão e Champignon
Rê Sarmento
D aniel P aiva
Jornalista, assessor, crítico
musical, guitarrista, violeiro,
fotógrafo, empresário, compositor, roteirista de teatro, entre
outras funções. Analisando as
inúmeras atividades que Julinho Bittencourt exerce, concluise que ele não tem muito tempo
livre para ficar de luto.
Porém, ele tem grandes
motivos para estar emocionalmente abalado. Três
motivos, para ser mais exato.
A morte do cantor Chorão
e o suicídio do baixista
Champignon, ambos da banda Charlie Brown Jr, amigos
de Julinho, e o fechamento
do Bar do Torto, do qual ele é
fundador.
“Foi um golpe muito
grande”, confessou ele sobre a morte dos músicos,
dos quais era muito próximo. “Conhecia-os desde antes da fundação da banda.
O
Champignon era um jovem muito alegre e talentoso.
Ele estava feliz na última vez
que o encontrei, porque a
banda estava recomeçando”,
revelou.
Segundo Bittencourt, as
Bittencourt concedeu entrevista para alunos do 4º ano de Jornalismo
mortes e o fim do Charlie após 29 anos de
exBrown Jr não foram só uma istência, pela Prefeitura de
grande perda para ele, mas Santos, também o deixou
para toda a cidade de Santos. abalado. “Já passei da hora
“Desde que começou a ban- de esbravejar, mas me senti
da, eles são uma referência mal fisicamente”, disse.
de Santos, um orgulho da ciO músico afirma que recedade. As letras falam do jeito ber a notícia pelo jornal foi
que se fala aqui. Santos nun- um choque. “O Torto existia
ca teve uma banda de tanto há quase 30 anos, era conhesucesso, por isso a dor é tão cido por muitos na cidade.
grande”, explicou.
Por isso e por nunca termos
O fechamento do Bar do tido problema algum, achaTorto (ponto tradicional da Ci- mos que não aconteceria um
dade, do qual ele é fundador) fechamento dessa forma”,
contou.
O caso mobilizou as redes
Análise do professor
Apesar do que dizem os manuais, o jornalismo também pode ser sociais e milhares de pessoas
emoção. Ou seja, é possível escrever textos emotivos, sem perder o pediram a reabertura do bar.
equilíbrio e a objetividade. É o que mostram estes textos de Daniel Bittencourt não descarta a
Paiva e Vagner Lima, que puxaram para a ligação sentimental do hipótese de que o estabelecimento volte a funcionar. “Por
entrevistado com o cantor Chorão e o baixista Champignon, desapa- trás do bar, tem um selo. Acho
recidos prematuramente, mas que levaram com sua irreverência o que pode abrir de novo”.
jeito santista de ser para todo o Brasil. (Adelto Gonçalves)
fotojornalista.
Ligado à arte desde pequeno,
Por que um fotógrafo buscaria Justo sempre gostou de desenho e
um curso superior de Jornalismo? de várias interpretações artísticas
Para o ex-aluno da Universidade voltadas para o visual. Entrou
Santa Cecília (UNISANTA), na fotografia produzindo fotos
Marcelo Justo, foi para obter mais conceituais, antes mesmo de fazer
conhecimentos gerais, base ética o primeiro curso de fotografia
e aprimorar seu “olhar” para a básica.
fotografia.
Foi um professor de um curso
Com quase 15 anos de de Fotografia da Universidade
experiência como jornalista, Justo Católica de Santos, Eraldo Silva,
tem em seu currículo a participação quem lhe sugeriu que voltasse
na primeira equipe de fotógrafos seu trabalho para o jornalismo e
do jornal Expresso Popular, uma buscasse conhecer mais a história
passagem de dois anos pela AT do fotojornalismo. Após muito
Revista, complemento dominical estudo e pesquisa, Justo conseguiu
do jornal A Tribuna, e dois prêmios seu primeiro emprego na área no
dos concursos fotográficos Energia jornal Diário do Litoral, em 1998.
num Click (CPFL) e O Porto
O
jornalista,
atualmente
que eu Amo (site Porto Gente). assumiu que é pauteiro de
Atualmente, é repórter fotográfico fotografia e editor-assistente de
do jornal Folha de S. Paulo.
fotografia dos cadernos especiais
Durante o curso, Justo e da edição de domingo do jornal
descobriu e iniciou sua carreira no Folha de S. Paulo durante um ano e
fotojornalismo. “O conhecimento meio, planeja desenvolver projetos
Vagner Lima
sobre a ética no jornalismo, a pessoais nos próximos anos. Entre
imparcialidade e se ‘despir’ dos os temas desses projetos, estão uma
“Eu era muito próximo depreconceitos foram aprendizados polêmica na educação de índios e
les. Essa sucessão de tragédias,
essenciais durante os quatro o cenário do futebol de praia de
a morte do Chorão e logo deanos da graduação”, comenta o Santos.
pois do Champignon caiu como
Arquivo pessoal
uma nuvem negra. Eu vivi em
várias cidades do Brasil e posso
garantir que eles são uma referência de Santos. Eles são um
orgulho para Santos. A postura
e a atitude deles são nossas. As
letras falam do nosso cotidiano,
que a gente reconhece nos nossos filhos, na molecada que está
por aí nas ruas”.
A frase acima é de Júlio
Bittencourt, crítico musical,
músico e jornalista. Ele, que
assina uma coluna semanal sobre música em A Tribuna, conversou sobre a cena cultural da
Baixada Santista com os alunos
do último ano de Jornalismo da
UNISANTA.
Bittencourt foi fundador do
famoso Bar do Torto, em Santos. O local, fechado recentemente depois da onda de fiscaliMarcelo Justo optou por estudar jornalismo mesmo depois de estar trabalhando como fotógrafo zação provocada pela tragédia
‘Charlie Brown Jr. é um
orgulho para Santos’
em uma boate em Santa Maria (RS), era frequentado por
amantes do rock. E era lá o local onde o Charlie Brown Jr. se
apresentava, muitas vezes, no
início da carreira.
Segundo Bittencourt, há
músicos santistas que o público
não sabe que são santistas, fato
que não acontecia com a banda Charlie Brown Jr. “É difícil
dizer se ter sido comparado ou
colocado no lugar do Chorão foi
o motivo para o Champignon
ter se matado, mas com certeza
mexeu com ele. Há um ano,
o encontrei no shopping e ele
parecia feliz por ter voltado ao
grupo”, diz.
Para o crítico musical, a perda seguida de dois integrantes,
em tão pouco tempo, é lamentável. Além da dor dos fãs, a
música santista também perde,
porque entre tantos artistas regionais, a banda se destacou na
multidão. “Você tem artistas do
Brasil inteiro, que só acontecem
em São Paulo. Os grandes centros de distribuição são um
fenômeno mundial. Os grandes
selos, estúdios e gravadoras trabalham nos grandes centros. No
Pará, há um mercado regional
forte, que tem lançado boas coisas, como a Gaby Amarantos,
por exemplo. Mas é realmente
difícil se destacar”, opina.
E o legado da Charlie Brown
Jr. se torna ainda mais importante por terem começado a carreira em uma cidade que, apesar
de ter muitas bandas, principalmente de rock, não tem uma
imprensa tão forte que possa
divulgar esses talentos, como
ocorre nos grandes centros.
“Os jornais da região cobrem
bastante a música regional.
Sempre tive apoio de todos os
veículos. Mas é muito difícil
dar vazão a toda essa demanda
quando você é editor em um jornal. A mídia começa a dar atenção quando a coisa começa a
tomar um formato maior. A imprensa em Santos é menor que
a cidade. Temos menos veículos de comunicação do que a
Baixada mereceria”, finaliza.
EXPEDIENTE - Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Faculdade de Artes e Comunicação da UNISANTA - Diretor da FaAC: Prof. Humberto Iafullo Challoub Coordenador de Jornalismo: Prof. Dr. Robson Bastos – Responsáveis Prof. Dr. Adelto Gonçalves, Prof. Dr. Fernando De Maria e Prof. Francisco La Scala Júnior. Design Gráfico e
diagramação: Prof. Fernando Cláudio Peel - Fotografia: Prof. Luiz Nascimento – Redação, fotos, edição e diagramação: Alunos do 4º Ano de Jornalismo – Editora de foto: Rê
Sarmento - Primeira página: Natacha Negrão - Ensaio: Thaigo Costa - Crédito das Fotos Primeira Página: Rê Sarmento - Coordenador de Publicidade e Propaganda: Prof. Alex
Fernandes - As matérias e artigos contidos nesse jornal são de responsabilidade de seus autores. Não representam, portanto, a opinião da instituição mantenedora – UNISANTA
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Edição e diagramação: Hayza Ramos
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
Secretário promete resgatar cultura de rua
Raul Christiano diz que a Secretaria está solidificando projetos, como a Virada Cultural, e tirando outros da gaveta
Rê Sarmento
Tatyane Brito
O secretário de Cultura
de Santos, Raul Christiano
Sanchez, 54 anos, ganhou
bagagem na área cultural nos
anos 1970 e 1980, quando então
era poeta e ativista cultural.
Nessa época, Christiano, ao lado
de outros poetas, fundou o grupo
Picaré, que reunia jovens de
Santos que gostavam de discutir
sobre arte e literatura nas ruas
da Cidade, criando movimentos
de fortes expressões culturais.
O objetivo do movimento
era intensificar e caracterizar
a arte na região. Para tanto,
seus idealizadores escolheram
o termo “picaré” – a rede
de arrastão utilizada pelos
pescadores.
Desde
então,
Christiano se envolveu em
diversas manifestações culturais
que foram importantes para
o amplo conhecimento dos
assuntos de sua atual pasta.
Em sua gestão, o secretário
quer dar maior atenção aos
artistas da Cidade e resgatar a
cultura de rua. Com projetos já
definidos para oferecer suportes
para apresentações gratuitas
em toda a Cidade, o jornalista e
membro da Academia Santista
de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico de
Santos quer garantir o acesso
democrático às fontes de cultura
para toda a população.
Um desses objetivos está
se consolidando: é a Virada
Cultural. Neste ano, Santos teve
a maior programação. Grande
parte dela abrangeu morros,
Centro, orla e área continental.
Composta por artistas da
região, em segmentos como
música, teatro, artes visuais
e cinema, as intervenções
estiveram mais presentes nas
ruas santistas. Para o próximo
ano, o secretário já estuda
novidades para oferecer mais
cultura para os moradores.
Mas, para desenvolver esses
trabalhos, a secretaria está
solidificando
projetos
já
existentes e tirando outros da
gaveta.
Primeira
Impressão
–
Quantos eventos estão no
calendário do município? Eles
ocorrem em quais locais?
Raul
Christiano
O
Departamento de Eventos da
Secretaria de Cultura de Santos
(Secult) possui 25 eventos em
seu calendário. São ações como
a programação carnavalesca do
Município, Música no Centro,
Dia do Rock, do Samba, do
Músico, Semana do Patriarca
da
Independência
(José
Bonifácio de Andrada e Silva),
Festa Inverno, Virada Cultural
Paulista, Aniversário da Zona
Noroeste etc. As programações
ocorrem durante todo o ano,
como é o caso do Música no
Centro, realizado sempre às
sextas-feiras, das 12h30 às 14h,
na Praça Mauá, ou em meses
específicos, o caso do Festa
Inverno, em julho.
modalidades
como
dança,
teatro, artes visuais e música,
para as modernas instalações do
Centro de Atividades Integradas
de Santos (Cais) Milton Teixeira,
à Avenida Rangel Pestana, 150.
Antes, as aulas aconteciam
em salas adaptadas, no Centro
de Cultura Patrícia Galvão,
à Avenida Senador Pinheiro
Machado, 48. Também demos
início, em abril, ao projeto
Portos de Cultura, que trata
da descentralização dos cursos
para os bairros. Já temos três
portos em operação: no Centro
Turístico, Esportivo e Cultural
do Morro São Bento; Centro da
Juventude da Zona Noroeste; e
na Biblioteca Plínio Marcos, no
Caruara, na área continental de
Santos.
Ainda no setor de cursos,
fechamos parceria com a
Oficina Cultural Regional
Pagu, por meio de acordo com
a organização social Poiesis –
Instituto de Apoio à Cultura,
à Língua e à Literatura, que
trata da gestão dos cursos
oferecidos pela Secretaria de
Estado da Cultura de São
Paulo. Com isso, a Oficina Pagu
absorveu parte das oficinas
ministradas pela Secult no Cais
Milton Teixeira, agregando
valor aos cursos, estendendo
a importante parceria entre os
governos municipal e estadual,
além de promover economia
aos cofres santistas.
O Centro Cultural da Zona
Noroeste, na Avenida Afonso
Schimidt, inaugurado no fim
de agosto, é outra conquista.
O prédio abriga cinema, área
de cursos da Secult, Museu
do Carnaval e a biblioteca
Silvério Fontes, que antes
ocupava imóvel alugado na
Avenida Hugo Maia, também
Mastrângelo (fechado desde
2009), Museu da Imagem e
do Som (Miss) e galerias de
arte. Além disso, acompanha
o trabalho de recuperação do
Teatro Coliseu, que tem obras
em estágio avançado devido a
parceria de responsabilidade
social/cultural firmada com
empresas da iniciativa privada.
Christiano diz que o formato do Carnaval será revisto para ampliar a segurança
maior parte dela, que abrangeu
morros, Centro, orla e área
continental, foi composta por
artistas da região, em segmentos
como música, teatro, artes
visuais e cinema.
Outra ação pela qual
batalhamos,
uma
das
prioridades do governo Paulo
Alexandre Barbosa, é a
reativação da Concha Acústica
Vicente de Carvalho. Testes de
sonorização,
acompanhados
pelo Ministério Público, Cetesb,
técnicos da Prefeitura e pela
empresa Pollus Engenharia, já
foram efetuados no local, um
Além disso, trabalhamos
na recuperação do estúdio de
gravação do Museu da Imagem
e do Som (Miss) buscando
parcerias público-privadas. O
local será utilizado para ensaios
e gravações de músicas e CDs.
PI - Para o Carnaval do
próximo ano, o quê está sendo
feito para evitar uma nova
tragédia como a deste ano?
Maior fiscalização? Por parte de
quem?
Todo
o
Christiano
regulamento do Carnaval,
que vigora há anos, está
sendo revisto pela Prefeitura,
agremiações e liga das escolas
de samba. Também será
exigida, a exemplo do que
“Outra ação que beneficiará os artistas da é feito no Rio de Janeiro, a
de Responsabilidade
Cidade será a reforma de equipamentos Anotação
Técnica (ART) para os carros
alegóricos. Além disso, em
como o Teatro Rosinha Mastrângelo”
parceria firmada com o Serviço
Nacional da Indústria (Senai),
vamos capacitar pessoal das
escolas, por meio de curso de
Raul Christiano, titular da Secult mecânica, para a montagem
dos carros alegóricos. Todo o
formato do evento será revisto
Bairro e Música no Centro.
importante palco da Cidade, e para garantir o máximo de
o processo de reativação, com a segurança.
PI - Santos é um celeiro de reforma prevista para o espaço,
PI - Como são desenvolvidos
artistas independentes. Existe terá breve início.
algum projeto voltado para eles?
O trabalho, a ser efetuado os projetos culturais? Fale um
Christiano
–
Estamos com verba do Departamento pouco sobre esse processo até
abrindo cada vez mais espaço de Apoio ao Desenvolvimento chegar a sua fase final.
Christiano - No início do
para artistas da Cidade em das Estâncias (Dade), prevê
eventos promovidos e apoiados a instalação de painéis de ano, foi realizada a Conferência
pela Secult. No início do ano, vidro especial no entorno, Municipal de Cultura. No
diversificamos a programação ampliação do palco de 25 m² evento, dividido em módulos e
oferecida nas tendas da orla para 50 m², cabine de vidro aberto à participação popular,
da praia, dando espaço para para monitoramento do som, são debatidas e votadas
artistas dos mais variados refletores de palco por controle propostas para cada segmento
segmentos musicais.
remoto, rampa de acesso artístico. O resultado das
O projeto Música no Centro, para cadeirantes, reforma dos reuniões define as metas a serem
parceria entre a iniciativa camarins e dos sanitários (com trabalhadas pelo PP. Além
privada
e
a
Prefeitura, acessibilidade) e instalação de disso, propostas e ações para
também se consolidou como arquibancadas com cadeiras de o segmento são discutidas em
reuniões periódicas do Conselho
um importante espaço para PVC.
que músicos de Santos e região
Outra ação que beneficiará Municipal de Cultura, composto
divulguem seus trabalhos. os artistas da Cidade será a por integrantes da sociedade
Outra forma de auxílio é o reforma dos teatros, com a civil e do PP. Minha sala na
apoio a eventos que estimulam recuperação do Teatro de Arena Secult também permanece
a criação artística, como o Rosinha Mastrângelo, que já aberta àqueles que querem
Curta Santos, por exemplo. abrigou importantes shows de discutir cultura, assim como
Vale ressaltar que neste ano artistas santistas e é um palco meus perfis no Facebook e
tivemos a maior programação emblemático para o teatro Twitter. Boas ideias e sugestões
são sempre bem-vindas.
da Virada Cultural na Cidade. A amador.
‘
na Zona Noroeste. Outras
secretarias também dispõem de
atividades no Centro Cultural,
como Educação (Seduc), com
atividades do programa Escola
Total -Jornada Ampliada, e
Esportes (Semes), com quadras
e atividades físicas gratuitas.
Há, ainda, base da Guarda
Municipal e espaço explicativo
sobre o programa Santos Novos
Tempos.
Outra ação realizada no
início do ano, em conjunto
com
outras
secretarias
municipais e o Instituto
de Pesquisas Tecnológicas
(IPT), da Capital, foi o
detalhado diagnóstico da
situação estrutural de todos
os próprios da Secult. Com
PI – Em nove meses de base na análise técnica, a
governo, quais foram os projetos Prefeitura prepara projeto
concretizados?
executivo para a revitalização
Christiano - Foram muitas do Centro de Cultura Patrícia
as ações. Entre as principais, Galvão, que abriga o Teatro
transferimos boa parte do Municipal
Braz
Cubas,
Fábrica Cultural, área de cursos Hemeroteca Roldão Mendes
da Secult, que contempla Rosa, Teatro de Arena Rosinha
PI - A Santos, Capital da
Leitura, está sendo concretizada?
Qual a importância desse projeto
para a Cidade?
Christiano - Temos inúmeras
ações em curso para o projeto
que chamamos de Santos
de Leitores. Ele inclui a
revitalização das bibliotecas
da Cidade, digitalização do
acervo da Hemeroteca Roldão
Mendes Rosa e a implantação,
na temporada de verão, de
bibliotecas móveis na orla
e em pontos estratégicos da
Cidade. Além disso, queremos
ampliar a gama de livros e
revistas disponíveis em cada
equipamento.
Já efetuamos, como disse
anteriormente, a transferência
da biblioteca Silvério Fontes
para as modernas instalações
do
Centro
Cultural
da
Zona
Noroeste.
Também
transferimos a biblioteca de arte
Cândido Portinari, que ocupava
espaço precário no prédio da
Sociedade Humanitária, no
Centro, para ampla sala do Cais
Milton Teixeira. A inauguração
desse espaço ocorrerá em breve.
Outra ação foi a continuidade
do projeto Leia Santos - Um
Incentivo à Leitura, que
promove a distribuição de
livros, revistas e gibis para a
população em diversos bairros.
Esta
iniciativa
também
acompanha os projetos Viva o
Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
3
Ex-secretários
destacam
legado à Cidade
Rê Sarmento
Para Tanah Corrêa, primeiro titular da Secult, as produções culturais
ajudam a desenvolver uma consciência pátria no cidadão
Beatriz Lopez
A existência de uma secretaria
específica para cultura, em Santos,
não é tão antiga quanto outras
pastas. Ela foi criada em 1985, na
gestão do então prefeito Oswaldo
Justo, do PMDB. Até então, a
cultura fazia parte da Secretaria de
Educação. Em julho de 1984, pouco
tempo depois de assumir o Paço
Municipal, o prefeito nomeou Tanah
Corrêa, ator e grande agitador
cultural da Cidade, como assessor
de cultura. No ano seguinte, então,
é que foi criada a pasta e ele assumiu
como secretário.
Para Corrêa, fazer com
que as pessoas tivessem um
comprometimento com a arte
e se envolvessem com a cultura
foi um grande desafio. “Quando
assumimos, a área cultural era bem
limitada. Não existiam muitas
atividades desenvolvidas para o
setor. Era tudo basicamente voltado
aos espetáculos que vinham de fora
de Santos. O que tentamos fazer foi
dar uma utilização plena aos espaços
culturais da Cidade e aproveitar os
grupos locais”, diz, lembrando que
a Secretaria de Cultura (Secult)
elaborou diversas iniciativas com
atividades artísticas, especialmente
no Circo Marinho, um espaço voltado
para os grupos musicais. “Com o
tempo, a produção cultural da região
foi ganhando corpo”, acrescenta.
Naquele momento, o teatro
e a dança eram os movimentos
que tinham mais força. Segundo
Corrêa, depois da criação da
Secult, o Centro de Cultura
de Santos também cresceu.
“Passamos de dois ou três grupos
que
realizavam
espetáculos
para mais de 50. Isso foi muito
importante porque a cultura
desenvolve uma consciência de
cidadania nas pessoas. A formação
da nação é feita a partir de uma
cultura fortalecida”.
Ao traçar um paralelo entre
a Secult de 25 anos, quando ele
encerrou a gestão, e a de hoje, Correa
acredita que se vive um momento
de adoração ao consumismo. Com
isso, diz, há um distanciamento
dos artistas regionais, que precisam
lutar para conseguir espaço. “A
mídia apoia a prática consumista em
todas as áreas, inclusive na cultura.
E as pessoas acabam valorizando
mais os artistas conhecidos, que
estão na televisão. Isso acontece
principalmente
nas
cidades
próximas às grandes metrópoles.
Quem é o realizador cultural, hoje,
acha que faz um favor aos artistas
amadores, quando, na verdade, é o
contrário”.
Logo depois de Tanah
Corrêa, em 1989, a pasta foi gerida
pelo professor Reinaldo Martins,
ex-vereador. Único secretário, até
hoje, que não tinha nenhuma ligação
com a Cultura, ele ficou na Secult até
1992, quando Telma de Souza, do
PT, era prefeita. “Quando entramos,
a pasta tinha sido criada havia
pouco tempo e as coisas eram mais
burocráticas. Nós éramos a oposição
da Cidade e tínhamos ânsia por
mudança”, diz Martins. Foi durante
a gestão dele, inclusive, que foram
criados equipamentos importantes
que se mantêm até hoje. Na orla, por
exemplo, nasceu a Gibiteca Marcel
Rodrigues Paes, o CineArt Posto 4 e
a Biblioteca do Posto 6.
Segundo o ex-secretário, a leitura
foi bastante estimulada. Foram
criadas, ao todo, nove bibliotecas. “O
segredo do nosso governo foi a união
entre as secretarias. Eu queria fazer
uma nova biblioteca e não gastava
dinheiro para comprar ou alugar um
espaço. Usávamos uma sala vazia
nas policlínicas que estavam sendo
construídas pela Secretaria de Saúde.
Da mesma forma, o secretário nos
pedia quadros de artistas locais para
decorar o ambiente.”
A Orquestra Sinfônica passou a
ser do município e a Concha Acústica
recebeu vários shows. O Teatro
Municipal também passou por
reforma geral e foi instalado o teatro
Rosinha Mastrângelo, no Centro de
Cultura Patrícia Galvão. Martins
sente que privilegiou todas as áreas
e deu espaço para os artistas locais
e os de fora também. “Tínhamos
uma concorrência muito saudável
com o Sesc, que é um grande foco de
agitação cultural. Quando as pessoas
vinham para cá, ou estavam em um
local, ou outro. Fizemos grandes
intervenções na Praça Mauá, com
grandes palcos, para o público em
O diretor de teatro Tanah Corrêa foi o primeiro secretário de Cultura de Santos
geral”.
Apesar de ter participado
ativamente da política nos últimos
anos por ter sido vereador e por ter
levantado a bandeira da cultura no
mandato, ele prefere não opinar
sobre como está hoje o setor.
De 1997 até 1998, quem
comandou a secretaria foi a
professora Wilma Therezinha de
Andrade, na gestão do prefeito
Beto Mansur. Durante a gestão,
ela procurou preservar os espaços
culturais já existentes e criou
eventos importantes para a arte
santista. “Fizemos a Bienal de
Artes Visuais, que ocupou a área de
exposição da Secult e a Pinacoteca
Benedito Calixto. Fizemos shows
para o grande público na praia,
com a participação de mais de
100 mil pessoas. As bibliotecas
foram bem cuidadas e tentamos
dar espaço também para o cinema.
Tentei manter o que havia de bom e
desenvolvi várias áreas”.
Uma delas foi o teatro,
quando o já falecido Toninho
Dantas coordenou o Teatro Festa,
um festival amador de arte. No
balé, professora Wilma Therezinha
passou a direção à professora
Renata Pacheco. “A Secult tem
cerca de 1,8% do orçamento
municipal. Precisávamos realmente
pensar o que era prioridade, para
que o dinheiro não acabasse até o
final do ano”, recorda.
A professora ainda falou sobre
o patrimônio cultural, citando
como exemplo o artesanato das
bordadeiras do Morro São Bento.
“A função do governo não é produzir
cultura, mas colocar meios para o
artista, de qualquer setor, exercer
sua arte e transmiti-la ao público.
São Vicente aposta em projetos culturais
Divulgação
Juliana Sousa
A cidade de São Vicente, no litoral
de São Paulo, vem trabalhando
para aumentar o incentivo à
arte, cultura e conhecimento. A
Secretaria de Cultura busca projetos
que incentivem o envolvimento da
sociedade. Segundo o secretário
Amauri Alves, a cultura na cidade
tem um importante papel. “ Se
você quer mudanças no mundo, elas
acontecem através da cultura. Todas
as modificações boas que podem
acontecer ao nosso redor, passam
pelo meio cultural”.
Entre os projetos da secretaria,
destaca-se o “Viva Leitura Viva”,
um programa de incentivo à leitura
que se junta a todas as demais
ações literárias do município.
Dentro desse programa, a cidade
tem ainda o projeto “Baú de
Leitura”. São cerca de 20 baús
contendo de 50 a 100 livros, que
são distribuídos em diversas
entidades de São Vicente.
A cidade também tem um
projeto de incentivo aos músicos.
Para participar do Programa de
Produção de Videoclipes basta a
banda apresentar uma composição
própria e uma solicitação para
produção do clipe. Dentro do espaço
musical, São Vicente ainda participa
do Festival de Quadrilhas Juninas,
um dos melhores do País, segundo
avaliação do secretário.
A pasta promove ainda os
“Encontros Culturais”, realizados
com diversos segmentos do setor.
No último mês de agosto, São
Vicente foi palco do Naha Matsuri,
festival de cultura japonesa, evento
que reúne folclore, artes marciais,
algumas apresentações musicais e
oficinas de gastronomia japonesa.
No entanto, o evento mais
tradicional realizado pela secretaria
é a encenação da fundação da vila de
São Vicente. Realizado todos os anos,
envolve a sociedade e os segmentos
de produção cultural. É considerado
o maior espetáculo em areia de praia
do mundo.
Rê Sarmento
A encenação de fundação da vila de São Vicente é considerada o maior espetáculo de areia em praia do mundo
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Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
Teatro Municipal
Talvez o equipamento mais
esperado pela população vicentina
seja o futuro Teatro Municipal.
A obra que deveria ser entregue
em 2011 ficou parada até o meio
deste ano, quando a construção foi
retomada. Segundo o secretário,
a empresa responsável – Termaq
- garantiu que as obras serão
concluídas até o fim do ano. As obras
são fiscalizadas pela Codesavi, e só
passarão a ser responsabilidade da
secretaria de Cultura depois que o
teatro for entregue.
Mas, depois disso, a secretaria
terá de lidar com outro impasse: a
estrutura mal projetada do teatro
que atualmente só comporta o
palco e a plateia. “Existe um
espaço equivocado. Será necessário
construir um anexo depois que a
obra estiver pronta, para que seja
acrescentada a parte dos bastidores
que está faltando. Isso inclui uma
sala de suporte e apoio, uma sala
administrativa e espaço para ensaio”,
disse o secretário.
Alves quer valorizar artistas vicentinos
Alves conta que essa obra é do
governo passado e tem se arrastado
há muitos anos, ocasionando outros
problemas. O secretário disse ainda
que apesar do atraso, a empresa
nada tem a ver com o projeto mal
elaborado que já havia sido entregue
na gestão anterior.
O secretário acredita na
importância do teatro para a
cidade e quer investir ainda mais
na cultura “Quando o teatro
for entregue, será ocupado
primeiramente pelos produtores
locais. Vamos priorizar São
Vicente e valorizar os artistas
daqui e depois abrir espaço para
recebermos produções da região
e assim expandir. Com certeza
a inauguração desse teatro irá
fomentar a produção local”,
finalizou.
Obra de jornalista santista
recupera história do Porto
Cais de Santos é tema central do novo livro do jornalista Alessandro Atanes
Gustavo de Sá
A história do Porto de Santos
relembrada por meio de poemas
e contos. Fruto de mais de oito
anos de pesquisa, os romances
estão reunidos no livro Esquinas
do Mundo: Ensaios sobre História
e Literatura a partir do Porto
de Santos (São Paulo, Editora
Dobra, 2012), do jornalista
santista e mestre em História
Social pela Universidade de São
Paulo (USP) Alessandro Atanes.
Dividido em 11 ensaios
temáticos, a publicação apresenta
e analisa textos de grandes nomes
da literatura universal que têm
o porto como tema ou cenário.
Entre esses escritores estão Guy
de Maupassant, Pablo Neruda,
Elizabeth Bishop, Blaise Cendrars
e Jorge Amado, aos quais se unem
autores como Rui Ribeiro Couto,
Ranulpho Prata, Roldão Mendes
Rosa, Narciso de Andrade e os
contemporâneos Madô Martins,
Alberto
Martins,
Ademir
Demarchi, Flávio Viegas Amoreira
e Marcelo Ariel, entre outros.
Segundo o autor, os textos
que desenvolve desde 2005 para
a coluna Porto Literário, do site
Portogente, foram a matériaprima para os ensaios do livro.
“Neste espaço, pude criar as
primeiras análises dos diversos
temas reunidos nos 11 ensaios da
obra. A diferença é que os textos
foram retrabalhados para ficar
com um tom mais ensaístico e
reflexivo”, diz. “ Sem contar que
colunas desenvolvidas ao longo dos
anos com os mesmos temas foram
editadas para formarem um texto
único, mais denso”, completa.
Atanes também é autor
de História e Literatura no
Porto de Santos: o romance de
identidade portuária “Navios
Iluminados”, dissertação de
mestrado em História Social
na Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da
Universidade de São Paulo.
Este estudo contribui para a
história da Cidade e do porto de
Santos por meio do uso da literatura
como documento histórico. Para
isso, levantou as condições em
que o romance Navios Iluminados
(1937) foi escrito, destacou a
obra entre outras ficções que têm
o porto de Santos como tema e,
por fim, interpretou os conteúdos
Santos: avenidas de história literária
Jéssica Branco
Renan Belini
Santos foi berço e inspiração
para grandes nomes da literatura
nacional. A memória deles é
preservada por meio de suas obras,
mas também por homenagens
espalhadas pela Cidade, como
monumentos e avenidas que
levam seus respectivos nomes.
Exemplos de Martins Fontes,
Vicente de Carvalho e Rui Ribeiro
Couto, que imortalizaram seus
nomes na história da poesia e
se tornaram famosos filhos da
terra que ensinaram à Pátria
a caridade e a liberdade, como
expressa o brasão municipal.
Todos os dias pessoas passam
por avenidas movimentadas
e, muitas vezes, não sabem a
importância que o nome delas
carrega. Um exemplo é a Avenida
Martins Fontes, localizada na
entrada da Cidade. Ela traz
o nome do famoso escritor
santista, considerado um dos
dez maiores poetas da língua
portuguesa, ao lado de nomes
como Camões e Olavo Bilac.
Patrono da cadeira número
17 da Academia Santista de
Letras, ele se destacou por uma
poesia exuberante, que exaltava
a vida, de forma positivista.
Autor de 59 títulos publicados
entre poesia e prosa, como
Verão (1901) e Marabá (1923),
e colaborador de diários locais,
Martins Fontes (1884-1937)
também foi médico sanitarista,
reconhecido por ser humanitário
(atendia pacientes sem cobrar
a consulta) e ficou marcado
pela luta em defesa de melhores
condições de vida para Santos.
Outro grande literato santista
e que denomina um dos trechos
da avenida da praia é Vicente
de Carvalho (1866-1924), que
ficou conhecido como “O Poeta
do Mar” graças aos inúmeros
Vicente de Carvalho, o poeta do mar, acabou sendo eternizado em uma estátua localizada no bairro do Boqueirão
poemas dedicados ao mar e,
mais especificamente, à praia
de Santos. Eleito ocupante da
cadeira número 29 da Academia
Brasileira de Letras (ABL) em
1909, o santista teve Poemas
e Canções (1908) como obra
marcante de sua carreira
poética, na qual o prefácio foi
feito pelo amigo Euclides da
Cunha. A obra teve 17 edições,
algo raro na literatura nacional.
Vicente de Carvalho também
atuou em diversas áreas,
como no Jornalismo, onde até
fundou o jornal (Diário da
Manhã). Formado em Direito,
também atuou na política e,
curiosamente, acabaria sendo
decisivo na futura criação dos
jardins da orla da praia de
Santos, já que em 1921 ajudou
a escrever uma carta aberta ao
presidente Epitácio Pessoa contra
apropriações ilegais em frente
à orla. Nesse mesmo jardim,
o poeta ganhou um grande
monumento em sua homenagem.
também chegou a ocupar uma
cadeira na ABL. Ficou marcado
por seu estilo de tratar questões
simples do cotidiano em seus
romances, prosas, contos e
crônicas, falando de pessoas
humildes e da vida anônima
nas estreitas ruas do subúrbio.
Sua obra mais famosa é o
romance Cabocla, de 1931, que
foi adaptado duas vezes para a
televisão. Além disso, publicou
Ribeiro Couto
dois livros de poemas em francês.
Nome de uma escola no bairro Ribeiro Couto também atuou
do Boqueirão, Rui Ribeiro Couto paralelamente no Jornalismo,
(1898-1963) foi mais um grande colaborando em jornais como O
escritor nascido em Santos, que Globo, e na diplomacia, chegando
inclusive a embaixador do Brasil
na antiga Iugoslasvia, em 1952.
Mas a rica literatura santista
teve ainda outros grandes nomes
que já faleceram, como Roldão
Mendes Rosa (1924-1988), que dá
nome à Hemeroteca Municipal;
Narciso de Andrade (1925-2007),
que nasceu na capital e veio
ainda pequeno para Santos onde
se tornou jornalista e poeta;
e o cronista Evêncio Martins
da Quinta (1933-1991), que se
tornou conhecido na região por
sua crônica irreverente no jornal
A Tribuna, como o colunista Zêgo.
Edição e diagramação: Thaigo Costa
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
5
Poesia em Santos: uma
arte carente de leitores
mais variadas áreas. “Há poemas
que se referem a Joseph Conrad,
a Homero, Théophile Gautier,
Nietszche, Drummond, Ribaud,
Huidobro, Ana Cristina César, ou
a artistas como Duchamp, Goeldi,
Malevitch e Cartier-Bresson, entre
outros”, diz. A primeira obra de
Demarchi traduzida para o espanhol
foi Do Sereno que enche o Ganges,
publicada em 2011 no Peru.
Arquivo Pessoal
Embora
tenham
esse
reconhecimento fora do Brasil,
os dois não acreditam em uma
importância da região para suas
obras. Enquanto Toledo questiona
se os frequentadores de livrarias da
região realmente se interessam por
poesia e compram livros, Demarchi
vai mais a fundo. Ele categoriza a
relação do cenário cultural santista
com a literatura como medíocre.
“As pessoas leem pouco, não se
interessam e não vão a eventos de
livros. A frequência na Tarrafa
Literária (evento literário que
acontece em Santos desde o ano de
2009) tem aumentado um pouco,
mas é triste ver trinta pessoas em
eventos com escritores importantes,
como tem ocorrido no Sesc”, diz.
A esperança dos poetas está nas
propostas do atual secretário de
cultura de Santos, Raul Christiano
Sánchez, que prometeu transformar
Paulo de Toledo, poeta santista: estilo influenciado por Fernando Pessoa e obra publicada no Peru
a Cidade em uma capital da leitura.
Em entrevista dada ao jornal A
existem representantes da região, em que não me interessa fazer tem sido feita principalmente pelo Tribuna no início deste ano, ele
como Paulo de Toledo e Marcelo Ariel. experimentalismos de linguagem, Facebook. Como sou meio ‘bicho-do- revelou que, entre os principais planos
Mas na hora de apontar os melhores mas sim alcançar uma expressão mato’, é a melhor maneira de eu me em sua passagem pela Secretaria de
Cultura de Santos (Secult), estão a
poetas brasileiros atualmente, ele que se preza por ter um estilo claro expor”, explica.
digitalização do acervo municipal e a
não tem favoritismos: “Dizer que na utilização da língua portuguesa”,
revitalização das bibliotecas.
existem alguns principais entre diz.
Reconhecimento fora de casa
tantos seria um exagero. Prefiro lidar
Dez anos mais jovem que
Os dois poetas santistas
Zéllus Machado
com a pluralidade do que eleger meia Demarchi, o poeta santista conquistaram recentemente o
Em fevereiro deste ano,
dúzia, pois há muito mais do que isso Paulo de Toledo segue um estilo reconhecimento fora do Brasil
completou-se
um ano da morte do
quando falamos de ótimos poetas em diferenciado. Influenciado desde a ao terem suas obras traduzidas e
atuação hoje no Brasil”, diz.
adolescência por obras de Fernando publicadas no Peru. Os livros 51 artista Zéllus Machado. Em seus
Já em nível regional, Demarchi Pessoa, ele acabava imitando um mendicantos, de Toledo, e Passeios 53 anos de vida e 35 dedicados
ressalta os trabalhos de uma série pouco o que lia quando começou na floresta, de Demarchi, foram à sua vocação artística, Zéllus
de artistas, cada um especializado a escrever. “Hoje acredito que as lançados no último mês de julho atuou como contador de histórias,
em um tipo de poesia. Além dos já características principais do meu durante a 18ª Feira Internacional do escritor, músico, ator e muitas outras
atividades relacionadas à arte.
citados Paulo de Toledo e Marcelo estilo poético são o humor e um Livro de Lima, no Peru.
Ariel, que inclusive já tiveram desleixado rigor compositivo”, diz
Em 51 mendicantos, escrito Embora seu trabalho cultural na
trabalhos traduzidos em outros Toledo. Identificando o Concretismo por Toledo em 2004 e foi publicado região seja reconhecido, Demarchi
países, Demarchi menciona Flávio - movimento artístico na poesia em 2007 pela editora Éblis, os não o considera um poeta. “Ele era
Viegas Amoreira - que explora o em que existe a valorização da poemas possuem um teor de crítica um músico, compositor de músicas
estilo barroco em seus poemas -, forma e da comunicação visual, à desigualdade social. “Acredito em um gênero entre o popular e
Madô Martins e Regina Alonso - em sobreposição ao conteúdo (veja que naquele momento eu tinha a o regional, e se dava muito bem
que têm uma forte vertente lírica exemplos no quadro) - como uma necessidade de falar do que eu via e cantando, era onde melhor ele se
baseada na cultura japonesa -, além de suas atuais influências, Toledo que não era nada bonito. A arte não realizava, com um violão, no palco.
de Danilo Nunes, que registra a encontra no ambiente virtual espaço pode ficar alheia à miséria e miséria Assisti a algumas apresentações
memória da vida litorânea em suas para divulgar o seu trabalho.
é o que não falta a nossa volta”, em que a performance dele foi
marcante”, conta.
obras.
Dono de quatro blogs, o santista explica Toledo.
Zéllus deixou como legado um
Questionado sobre o próprio encontrou na internet uma forma
Já Passeios na floresta, livro
estilo, ele se classifica apenas como de vencer a timidez e expor para o de Demarchi, é sua segunda obra trabalho cultural que flertava com
um escritor e que, com isso em mente, mundo suas obras. “Quando criei traduzida para o espanhol. O poeta a ecologia e a sociedade caiçara. É
busca dominar as mais variadas meu primeiro blog, a intenção era apresenta poemas que se relacionam até hoje um dos principais nomes
técnicas e estilos. “Talvez nisso justamente divulgar meu trabalho com suas predileções culturais que relacionados à cultura da Baixada
possa existir um estilo, na medida como poeta. Hoje, essa divulgação vão de escritores, livros e artistas das Santista.
Poetas da região que já foram traduzidos para o espanhol falam de seus trabalhos e queixam-se da
falta de interesse por suas obras
Gustavo Pereira
É comum relacionar a figura do
poeta com a de uma pessoa sonhadora
e apaixonada, que se utiliza das
palavras para expressar os seus
sentimentos mais profundos. Essa
associação popular não está errada,
pois, afinal, poesia é a tradução das
emoções através das palavras. Da
mente do escritor nascem os poemas,
textos construídos com base em sua
imaginação, que utilizam recursos
sonoros e visuais para apresentar e
fazer arte, nas entrelinhas dos versos.
Com início na época da
colonização, a poesia brasileira
passou por muitas fases até chegar
aos dias de hoje. Já fez parte das
categorias - conhecidas como escolas
- existencialista, lírica e social, até
chegar à atual, a pós-moderna. E os
seus autores foram os mais diversos.
Passando de Carlos Drummond
de Andrade, Manuel Bandeira e
Ferreira Gullar a Vinícius de Moraes,
Gonçalves de Araújo e Raimundo
Correia.
Mas o que costumava ser
uma expressão artística bastante
apreciada no País, encontra nos dias
de hoje uma série de obstáculos. O
principal deles, levantado pelo poeta
paranaense que reside em Santos,
Ademir Demarchi, está no número
de leitores. Dos aproximadamente
200 milhões de brasileiros, apenas
25% são leitores - enquanto
7% deles são analfabetos e 68%
analfabetos funcionais -, sendo que
desse percentual pode-se afirmar que
apenas 10% leem, de fato. “Sendo
otimista, se hoje o País tem cinco
milhões de leitores é muito, pois a
gente não vê as pessoas lendo, nem
nas cidades onde os livros chegam
mais facilmente”, diz Demarchi, que
é doutor em Letras pela Universidade
de São Paulo (USP).
Demarchi
trabalha
como
editor do selo Sereia Ca(n)tadora
e, no período entre 2011 e 2013,
fez um mapeamento da poesia
contemporânea no País, que acabou
se tornando conteúdo para as edições
da revista Babel Poética, referência
em poesia no território nacional. Dos
200 poetas escolhidos por ele para
fazer parte das edições da revista,
O legado cultural dos acadêmicos
Raíssa Ribeiro
Sonho de um grupo de poetas
santistas, entre eles Martins Fontes,
a Academia Santista de Letras
tornou-se realidade em 1957.
A instituição composta por 25
membros perpétuos tem entre os
objetivos principais cultuar a língua
e literatura nacional. A publicação
de obras clássicas e materiais
inéditos que estabeleçam um elo
entre a produção dos acadêmicos e
o público é prevista pelo capítuloV,
parágrafo 2º, da ata de fundação.
Veja alguns dos trabalhos publicados
pela instituição:
Revista da Academia Santista de
Letras
Com a primeira edição lançada
em janeiro de 1995, a publicação
foi concebida com dois objetivos:
prestar homenagem à Academia
pelos seus, então, quase quarenta
anos e, “trazer a público um pouca
de sua história, bem como divulgar a
realidade cultural da Cidade em certo
tempo” como consta no prefácio do
6
quinto volume da obra.
Também prevista na ata de
fundação, foi planejada para ser
dividida em quatro partes: parte
original - produção em prosa ou
verso, ficção ou erudição, inédita;
erudição, filológica, folclórica ou
literária, exibida em sessão da
Academia; parte noticiosa, relativa
às letras nacionais, à produção
acadêmica e discurso de recepção e
solenidades acadêmicas.
Embora repeite às seções
pré-estabelecidas, suas páginas
são basicamente uma seleção de
conteúdos produzidos na Academia,
os quais variam de edição à edição,
de fixo só há o miniperfil dos autores
dos textos e o prefácio, o qual é
escrito pelo presidente da época de
formatação dos exemplares. Nestes,
o leitor terá acesso aos mais diversos
gêneros textuais: poesias, contos,
crônicas, elogios, evocações, trovas,
memórias, panegíricos, narrativas
de viagem, filosofia, homenagens
póstumas, estudos biográficos,
discursos de posse, apresentações de
novos acadêmicos, pronunciamentos,
Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
Jéssica Branco
Sede da Academia Santista de Letras: instituição procura cultuar a literatura nacional
teses universitárias, etc.
A segunda edição data de junho de
Ao todo, já foram publicados cinco 1998, a terceira, de maio de 2002 e a
volumes e o período de lançamento quarta de dezembro de 2005.
entre uma publicação e outra é em
média de três anos. O volume mais
O Farol
recente é o quinto, de junho de 2008.
Intitulado O Farol, o jornal da
Academia estreou em abril de 2006.
Com publicação quinzenal, relata
eventos realizados pela Academia
Santista de Letras. É composto por
editoria, galeria de fotos e quadro de
notícias com a programação cultural.
A arte de transformar
jornalismo em cultura
Ex-aluno da UNISANTA, fascinado pelo jornalismo cultural, mantém a Revista Capitu,
além de trabalhar no Itaú Cultural e também no site Digestivo Cultural
Vinícius Morales
O que era para ser apenas um
Trabalho de Conclusão de Curso
virou coisa séria para Duanne
Ribeiro. O jornalista, ex-aluno da
UNISANTA, hoje colhe os frutos
do trabalho desenvolvido ao longo
de sua ainda breve carreira no
ramo. Criador e editor da Revista
Capitu, Ribeiro agora tem motivos
para se orgulhar e continuar o
projeto iniciado enquanto era
apenas estudante de Jornalismo.
A revista teve início durante
o seu TCC. O então estudante
optou por fazer a Capitu (www.
revistacapitu.com), uma revista de
arte e cultura online, como trabalho
final do seu curso de Jornalismo.
Ao fim de todo seu desdobramento
para finalizar o projeto, eis a
recompensa:
premiações
em
âmbito estadual e nacional no
Expocom. Após a formatura,
Ribeiro continuou investindo no
seu “filho”. “Reelaborei o design
e fiz algumas edições mensais.
Depois meu amigo Rafael Martins
trabalhou a interface na versão que
permanece até hoje. O site continua
sendo atualizado, com um grupo
móvel de colaboradores - e sempre
aberto a novos participantes”,
explica.
Fascinado pelo mundo do
jornalismo
cultural,
Ribeiro
explica que seu objetivo sempre
foi trabalhar com jornalismo, mas
a predileção pela área de cultura
sempre existiu. “A escolha do TCC
nessa área indica isso”, afirma.
O jornalista conta que a área
cultural é diferente das demais
na profissão. Segundo Ribeiro, o
que difere o jornalismo cultural
é a questão do tempo. A urgência
não é tão grande no dia a dia, em
comparação com as demais áreas.
“O que não quer dizer que não
exista e que outras editorias não
deveriam se dar mais tempo”,
diz. Entretanto, para ele, uma
coisa é bem clara: jornalismo é
sempre o mesmo, independente
da editoria, veículo ou repórter.
“Jornalismo é jornalismo e significa
apuração, qualidade de texto,
contextualização e reportagem”,
ressalta.
Atualmente, Ribeiro trabalha
no Itaú Cultural, um instituto
com atividade no campo cultural,
em várias áreas de expressão,
dentre elas literatura, artes
visuais, jornalismo cultural,
teatro, dança, música, educação
etc. Ele, por sua vez, atua no setor
de comunicação, junto à equipe
do site, responsável por todos os
produtos digitais do IC.
“Atualizamos o site da
instituição, produzimos hotsites
e blogs especiais, com entrevistas
em vídeo. Nesse sentido, um
dos projetos de que me orgulho
é o Ocupação (http://www.
itaucultural.org.br/ocupacao).
A arquitetura de informação do
projeto é minha, as seções de
alguns artistas também (Mário de
Andrade, Nelson Rodrigues, Flávio
Império, entre outros)”, diz. “Cada
artista do Ocupação recebe uma
grande reportagem multimídia”,
acrescenta.
Além disso, Ribeiro também é
editor-assistente do portal Digestivo
Cultural, um dos principais portais
de cultura na internet brasileira.
Arquivo pessoal
Duanne Ribeiro sempre soube que a redação seria seu local de trabalho
Projeto Café com Letras completa
nove anos e traz programação cultural
evento literário Café com Letras.
O projeto, que completa nove
No intuito de incentivar a anos, é coordenado pela escritora
leitura e a produção de texto, a Regina Alonso e traz a proposta
Associação dos Mantenedores e de melhorar a literatura de todos
Beneficiários da Petros/Santos através de oficinas ministradas
(Ambep) realiza anualmente o por escritores e artistas em geral.
Giovanna Fornaro
Café com Letras: projeto incentiva a leitura e produção de textos
“Abrimos espaço para todos
que tiverem algo para contar da
arte. A turma que está presente
na oficina tem apenas o dever
de recriar tudo que foi dito em
forma de poesia ou prosa. O
nome Café com Letras se deu
Thaigo Costa
porque,
ao
final,
oferecemos um café e
debatemos tudo o que
foi aprendido”, explica
a coordenadora do
Café, Regina Alonso.
Entre as atrações
deste ano, Regina
destaca a oficina
“Na selva de pedra, a
paixão faz o traçado
de Olga Savary e
Milla
Fernandes”.
E lembra: “A obra
Berço
Esplêndido,
de Olga Savary, que
recebeu o prêmio
internacional BrasilAmérica
Hispânica
2007, é discutida sob
a perspectiva das telas
da Milla Fernandes.
A junção dos dois
trabalhos resulta em muita
emoção. Fica algo muito forte”,
revela.
Além das oficinas que serão
realizadas, o Café com Letras
vai lançar no próximo ano
um livro com a produção dos
alunos deste ano. Essa é uma
ideia mantida desde o início
do projeto e que, se gundo a
coordenadora Re gina Alonso,
ajuda no desenvolvimento
dos alunos. “Isso aumenta o
leque de cada aluno e ainda
os faz crescer muito”, conta
Re gina.
Outro grande incentivo para
as turmas que frequentam o
projeto é a 6 ª Mostra de Artes
Café com Letras. A exposição vai
acontecer em outubro no Clube
2004, em data a ser definida, e
vai trazer todo o resultado do
projeto desenvolvido por alunos
deste ano.
Para participar das oficinas,
basta inscrever-se na Ambep,
que fica na Avenida Ana Costa,
259, conjunto 53, tel 3221-7832.
A entrada é franca.
Programação
das próximas
oficinas:
7 de novembro: Análise da obra
de Rembrandt (1606-1669) por
Delfina Maria Garcia, que é formada
em Letras e Artes Plásticas e fará
trabalhos em cerâmica e desenho
com os alunos.
28 novembro: Renoir torna-se
um dos mais populares pintores
do Impressionismo francês. Traz
o som das valsas e a fútil e alegre
despreocupação da Paris de fin-desiècle. A artista plástica Rosa Elias
dará oficina baseada na arte de Renoir
com cerâmica e óleo sobre tela.
Outras oficinas ficam por conta
de Denise Pampolini, bacharel e
professora de História especialista
em Brasil Colônia.
5 dezembro: Estrela de Natal.
Trabalho artesanal com papel
laminado e bola de Natal. Confecção
de uma estrela para ser colocada na
porta em época natalina. Com a
artesã Rita D´Ascola
Edição e diagramação: Thaigo Costa
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
7
Santos, a Califórnia brasileira
A variedade de bandas combinada com o clima praiano transformou a Cidade em uma referência na música brasileira
Divulgação
Rodrigo Monteiro
O clima tropical, a praia e a variedade de bandas rendeu a Santos o
título de “Califórnia Brasileira” no
meio cultural, no fim dos anos 90.
O apelido ganhou força com o grande número de bandas de hardcore
melódico, vertente californiana do
rock, que surgiram na Baixada Santista. Apesar disso, como sua prima
norte-americana, Santos conta com
muitos artistas nos mais variados
estilos.
“Uma cidade musicada”. Dessa
forma, a rapper Preta Rara define a
principal Cidade da região. “Santos
ficou mundialmente conhecida pelos
caras do Charlie Brown Jr. e, com
certeza, será conhecida pelos vários
segmentos musicais de altíssima
qualidade também”, completa.
Antes mesmo da banda de Chorão ficar famosa, Santos já tinha
uma forte tradição musical. Bandas
como Blow Up e Vulcano (banda
que trouxe o death metal ao Brasil)
já faziam sucesso com suas canções
autorais. O rock “entrou pelo Porto
de Santos, junto com as mercadorias que eram comercializadas em
todo o País”, como conta o programador de rádio Nicola Tanesi em
entrevista ao UNISANTA Online.
Apesar da forte influência das
vertentes do rock, a “Califórnia
Brasileira” é considerada importante em muitos outros gêneros
musicais, dos mais simples aos mais
complexos. O funk ostentação, enraizado na região, é um dos estilos
que mais movimentam o cenário
musical da Baixada Santista e no
Brasil.
“Eu acredito que o rock seja
apenas a terceira ou quarta força na
preferência do público. Vejo o funk
e o pagode bem à frente em quantidade de eventos e público. Na ordem de maior representação, esses
Zebra Zebra é uma das principais bandas da nova geração da Baixada Santista. Eles acumulam prêmios musicais, incluindo seus clipes, vários deles premiados
dois estilos estão no topo”, explica
o vocalista da banda Zebra Zebra
e diretor de videoclipes, Kennedy
Lui.
Historicamente, a música santista está repleta de lutas. Durante
a ditadura militar no Brasil, os artistas da região foram perseguidos
e por isso era muito comum surgirem bandas de garagem, que não
despontavam. Ainda hoje, alguns
artistas carregam essas ideologias.
“Temos e tivemos grandes ciclos
de música com gente competente,
e, também, temos artistas independentes em todas as frentes musicais,
com gente que acredita no seu som
próprio. O som autoral. Acredito na
música que carrega uma ideologia,
que ameaça a criação medíocre, que
cria parâmetros de audição e apre-
Música Autoral
Independente Santista
Rodrigo Monteiro
Santos ganhou um novo
movimento
que
lutará
pelos direitos dos artistas
independentes. O Música Autoral
Independente Santista (MAIS)
surgiu da reunião de artistas de
variadas vertentes da música
regional.
Há mais de um ano
movimentando os artistas para
discutirem as pautas sobre
condições dos músicos em
Santos, o MAIS promove eventos
que contam apenas com atrações
regionais.
A rapper Preta Rara faz parte
do projeto e foi uma das atrações
do primeiro evento realizado.
“Não dá para ficar reclamando.
Nós temos que partir para luta,
e estamos reunindo artistas
de vários ritmos musicais, que
compõem o MAIS a fim de
mostrar para a região que juntos
somos fortes”, explica a cantora,
que além de fazer parte da dupla
Tarja Preta, está começando a
trabalhar com o seu projeto solo.
A cantora é forte ativista
da música periférica e dos
direitos femininos,
e exalta
a miscigenação de ritmos no
MAIS.
“Eu fiquei super feliz com
o convite que eu recebi para
compor o MAIS, e penso que
esse é o lugar do rap, como
qualquer outro ritmo. O legal
de fazer música é essa troca com
outros segmentos, pois dessa
forma a música de cada um fica
fortalecida e acaba criando uma
identidade regional em nossas
músicas”, conta Preta.
A primeira apresentação do
Música Autoral Independente
Santista ocorreu na última
semana de setembro, mas os
artistas prometem novos shows
em breve
O legal de fazer música, é essa troca com
outros
segmentos.
Dessa forma a música
fica fortalecida.”
Preta Rara, cantora
8
Edição e diagramação: Rodrigo Monteiro
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
ciação e é regeneradora no mais
amplo sentido. Isso eu gostaria de
ver mais na nossa região, seja qual
for o estilo ou segmento musical”,
explica o multi-istrumentista Ale
Birkett, que já gravou cinco álbuns
autorais de jazz brasileiro.
Apesar de contar com artistas
autorais, o cenário enfrenta um
problema de desvalorização dos artistas. “Santos é uma região eclética, mas as casas noturnas valorizam
por demais o trabalho cover. Assim
temos um cenário de bons instrumentistas e compositores medianos”, avalia Kennedy.
Ainda assim, os músicos acreditam que isso seja um fenômeno em
nível nacional. “Isso não é um problema isolado de nossa região. Infelizmente, faz parte da nossa cultu-
ra. Sempre gostar do que é de fora e
não prestar atenção no que está perto”, pondera Preta, que completa:
“Quando me apresento em São Paulo, percebo que é outro tratamento.
As pessoas te tratam com respeito
pelo seu trabalho. Aqui na região te
tratam como se fosse uma esmola,
em deixar você cantar nos eventos”.
sejam eles ofertados pelo Poder Público ou pela iniciativa privada. Eu
acredito na música para todos e que
o nosso cenário possa melhorar com
o tempo”, explica Birkett.
A falta de espaço, segundo os artistas, não vêm apenas do poder público. Muitos produtores regionais
não enxergam o potencial da música santista e as opções são escassas,
Falta estrutura
como conta o vocalista da Zebra
A desvalorização do artista re- Zebra ao traçar um rápido panogional não é o único problema en- rama da região: “Existem os evenfrentado pelos músicos santistas. tos popularescos, como o pagode e
Como acontece em outras manifes- funk. Existem os voltados para entações culturais, a cidade não com- tretenimento: covers na esmagadora
porta a quantidade de artistas.
maioria das casas. Existe apenas
“Há gente muito boa na nossa uma grande produtora de shows de
região que não tem onde tocar e rock: Rock Show Santos. E existem
mostrar sua cara e seu trabalho au- artistas se promovendo de maneira
toral. Precisamos de mais espaços, independente”, define
Indicações de artistas
Preta Rara
Kennedy Lui
Divulgação
Divulgação
Reggae Island - A banda mistura o ritmo
jamaicano com hip hop e hardcore criando uma
sonoridade única que representa muito bem o
clima praiano de Santos, que reforça ainda mais
o apelido de “Califórnia Brasileira”
Zimbra - Os artistas trazem um pop
rock com muitas influências de música
brasileira e já participaram de importantes
eventos, além de terem sido indicados para
tocar no Rock in Rio 2014.
Divulgação
Divulgação
Lulaman - O cantor é uma das revelações
do rap na Baixada Santista. Com pouco tempo
de estrada, ele tem levado seu nome e da região
em shows pelo estado.
Caio Bosco - Em carreira solo, o cantor
conta com anos de experiência no meio musical
e agora roda o País tocando soul funk com
letras autorais.
Cais da Vila Mathias
contribui para melhorias
Espaço proporciona conhecimento e interatividade para ajudar no desenvolvimento do cidadão
Rê Sarmento
Mônica Barreto
Um misto de cultura e educação
é oferecido pelo Centro de
Atividades Integradas de Santos
(Cais), conjunto arquitetônico
com espaço para três prédios,
que fica na Vila Mathias e possui
uma infraestrutura atraente e
confortável, capaz de abrigar a
Secretaria de Cultura, Educação e
Esportes (Secult).
Segundo a coordenadora de
Formação Cultural Edna Moura,
responsável pelo projeto Fábrica
Cultural, o Cais é um centro de
formação que abriga os cursos
oferecidos no local pela Secult:
música, artes visuais e artes cênicas.
O trabalho é desenvolvido com
crianças a partir de 6 anos idade.
Edna ressalta que adultos
também podem participar das
atividades oferecidas. Não há limite
de idade entre os matriculados,
Cais: centro de formação abriga os cursos de música, artes visuais e artes cênicas
pois há pessoas de 29 a 30 anos
e também há oficinas livres para
pessoas acima dos 30 anos.
Para a coordenadora, as oficinas
artísticas sempre melhoram o
desempenho escolar e a pessoa
em si. “A arte é sensibilidade,
amor e respeito. As pessoas
sempre melhoram quando
estão envolvidas com a arte”,
garante.
As atividades oferecidas pelo
Cais são mantidas pela Prefeitura
de Santos com a ajuda do
Estado. De acordo com Edna, a
parte pedagógica e didática foi
reformulada há cerca de dois anos,
para o melhor desenvolvimento dos
projetos. As oficinas têm horários
flexíveis, podendo ser realizadas
no período da manhã, da tarde e
à noite, inclusive aos sábados para
os alunos que trabalham durante
o dia e cursam o ensino médio e
faculdade.
No prédio de Educação,
funciona o programa Total/Jornada
Ampliada, para os alunos que
freqüentam a escola municipal .
São atendidos mais de 700 alunos,
que participam de oficinas físicas
(esportes em geral) e pedagógicas.
Para maiores informações, o
Cais fica à Rua Rangel Pestana, nº
184, Vila Mathias.
Hemeroteca de Santos: um acervo de obras raras
Rê Sarmento
Gabriel Pereira
Há 21 anos, a Cidade
de Santos mantém viva a
Hemeroteca Municipal Roldão
Mendes Rosa, no térreo do
Centro de Cultura Patrícia
Galvão. O local ainda é um
serviço desconhecido por boa
parte da população santista,
porém, nada impede dele ser
movimentado e cobiçado por
quem ama resgatar um belo
pedaço da história da Cidade e
do Brasil. O local conta com um
acervo de cerca de 85 mil livros
variados e mais de 150 mil
recortes de jornais arquivados
em pastas, separados por
assunto. Mensalmente, cerca
de três mil pessoas passam pelo
local.
Entre tantos arquivos em
suas prateleiras, algumas
raridades merecem destaque,
como a Revista Comercial,
o primeiro jornal de Santos
fundado em 1849. Há também
recortes e edições de O Diário,
órgão da cadeia Diários Hemeroteca: acervo de 85 mil livros e mais de 150 mil revistas e jornais
Associados, que circulou entre
1936 a 1977, e do Cidade de além da Revista da Semana, das coleções importantes de revistas e Isto É. Mas o local não possui
Santos, do grupo Folhas, que décadas de 1920 e 1930.
extintas como a Cruzeiro e apenas material antigo; muito
circulou entre 1967 e 1987,
É possível reler histórias de Manchete, além das atuais Veja pelo contrário, quem deseja
colocar a cultura em dia pode
ler as edições do dia de jornais
como A Tribuna e Estado de
S. Paulo. Para os amantes de
revista, também é possível ler
as eleições da Superinteressante,
Exame e outras.
Apesar
dessas
opções
atuais,
os
itens
mais
procurados ainda são os jornais
antigos, principalmente por
historiadores. Alguns chegam
a frequentar o equipamento
meses seguidos. Também livros
já foram escritos com base
em pesquisas realizadas na
Hemeroteca.
Para quem deseja conhecer
o local, a Hemeroteca funciona
de segunda à sexta-feira, das
8h às 19h, na Av. Pinheiro
Machado, 48. A casa não se
limita a disponibilizar todo
esse acervo. Ela participa de
muitos eventos realizados pela
Prefeitura, como o Espaço
Leitura, e tem o programa
Adote um Livro, em que
os participantes ganham
livros que foram doados por
munícipes às bibliotecas
municipais. Com isso, quem
não pode comprá-los tem a
chance de ler bons livros.
Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
9
Adolescentes descobrem
o mundo cinematográfico
Primeira turma formada no Instituto Querô foi premiada no Festival de Gramado deste ano
A produção cinematográfica
sempre pareceu estar muito
distante dos jovens moradores das
áreas mais periféricas na Cidade
de Santos. Foi somente depois da
implantação do Instituto Querô
que muitos adolescentes santistas
tiveram a oportunidade de entender
o que havia por trás das câmeras e
o processo de montagem dos filmes
até então só vistos pela TV ou pelos
telões do cinema.
Cássio Santos, oficineiro no
Instituto, fez parte da primeira
turma das oficinas Querô, em
2006. Quando ainda tinha aulas na
oficina, foi diretor no documentário
“Carregadores do Monte”, premiado
no Festival de Gramado, o principal
festival brasileiro de cinema, com
uma menção honrosa.
Cássio é um dos quase 320 jovens
que tiveram a oportunidade de
aprender um pouco sobre a produção
cinematográfica e hoje ele passa seu
conhecimento adquirido durante
um ano do curso aos adolescentes
das escolas municipais da Cidade.
Caroline Menezes
Caroline Menezes
Na Oficina Querô, jovens estudantes aprendem técnicas de produção, roteiro, edição e fotografia, além de noções de cidadania
“Sempre tive curiosidade de conhecer
os bastidores de um filme, o que
havia por trás das câmeras. A gente
pensa que é impossível, mas o Querô
leva isso até nós”, conta.
O curso oferecido pelo Instituto
forma 40 adolescentes, estudantes
de escolas públicas municipais todos
os anos. Os interessados se inscrevem
e é feita uma avaliação de cada um
para saber se corresponde ao perfil da
entidade. No caso de Cássio, ele não
estudava mais, viu o anúncio na exescola quando buscava um histórico
escolar e decidiu se inscrever.
Produção, roteiro, direção,
fotografia, entre outras áreas que
envolvem a produção de curtas e
longas metragens, além de cidadania,
humanismo e política são ensinados
aos estudantes. Ao longo do ano,
eles desenvolvem dois trabalhos: um
curta-metragem e um documentário,
este último ao final do curso. Os
filmes produzidos são inscritos em
festivais como o Curta Santos.
A conquista da premiação
no Festival de Gramado com o
curta-metragem de Cássio sobre
os carregadores do Monte Serrat
foi a maior em oito anos. As
aulas são ministradas no Sesc, no
Centro Universitário Monte Serrat
(Unimonte) e na sede do Querô. Os
ex-alunos são os responsáveis pela
divulgação nas escolas de Santos.
Querô na Escola
O projeto Querô na Escola
surgiu há quatro anos e tem como
objetivo levar o conhecimento do
cinema para dentro das escolas. Os
alunos já formados na oficina de
produção ensinam um pouco sobre
a montagem de curta-metragens
aos estudantes do 8º ano das escolas
municipais de Santos e de Cubatão.
Eles também auxiliam na
gravação e montagem de vídeos
que, posteriormente, são usados
pelos professores dentro da sala de
aula. Esses ex-alunos que se tornam
professores e multiplicadores de
conhecimento são os chamados
oficineiros, assim como Cássio.
Nona arte com toque caiçara
Daiane Zanellato
Daiane Zanellato
Em comum, eles têm a paixão pelos
quadrinhos. Cada um no seu estilo, mas
todos em busca da propagação da cultura
na região. André Marques Ferreira Rittes
é professor universitário e especialista em
quadrinhos norte-americanos. Sua paixão
pelos personagens dos gibis começou ainda
na infância, com o lançamento dos livretos
da Marvel, que traziam em suas páginas
super-heróis, como Hulk e Capitão América.
Rittes passou a colecionar e se deleitar com
as leituras dos incansáveis heróis.
Tempos depois, já na faculdade,
resolveu estudar profundamente as tiras
norte americanas para fazer um trabalho
de conclusão de curso. Na época, o projeto
acabou não saindo, mas com o passar dos anos
e com a aproximação do fim do mestrado,
Rittes mergulhou de cabeça nas histórias
e assim concluiu sua pesquisa tornando-se
especialista na área.
Para ele, o cenário dos quadrinhos na
Baixada Santista está crescendo cada vez
mais. “Antigamente era difícil a aproximação
entre empresas que lançavam quadrinhos e
tiras com pessoas de outras localidades.
Hoje, com as novas tecnologias ficou muito
mais fácil. É possível que empresas como a
Marvel cheguem até nossa cidade e conheçam
o trabalho das pessoas da região”.
Nomes como Hermes Tadeu, famoso
cartunista, desenhista e ilustrador, que viveu
boa parte de sua vida em Praia Grande
e fez história pelo mundo tornando-se
colorista exclusivo do personagem Hulk são
inspiraçãões para o especialista. Além dele,
Marcel Rodrigues Paes, que dá o nome à
Gibiteca Municipal de Santos é personagem
da história dos quadrinhos na Baixada.
“A Gibiteca teve início com o saudoso
Marcel, foi com a coleção dele que tudo
começou. Hoje, nós chegamos à marca de
30 mil exemplares”. Rittes recebeu no início
deste ano um convite para trabalhar na
Gibiteca. Hoje, tem a função de consultor
técnico, avaliador de gibis e é responsável
pelos eventos que acontecem no espaço. “É
a primeira vez que tenho a oportunidade
de colocar em prática todo o trabalho de
10
Cenário de quadrinhos na Baixada Santista está em ascensão
pesquisa e conhecimento em relação aos
quadrinhos. Estar aqui, trabalhando com o
que gosto, com uma vista privilegiada e com
pessoas interessadas em diferentes tipos de
conhecimento são gratificantes”, ressalta.
Modesto, Rittes diz não fazer desenhos
para quadrinhos, porém quando mostrou
alguns de seus esboços, chamados de hacheira
(treino de traços diferentes para desenhos) a
impressão é de estar próximo a um desenhista
nato.
Bar
Assim como André Rittes, Alexandre
Barbosa, conhecido como Bar, é outro
santista amante da nona arte.
A paixão de Bar pelos quadrinhos também
começou quando pequeno. Aos seis anos, já
reproduzia desenhos vistos na televisão. Já
no Ensino Fundamental, seu pai passou a lhe
dar mesadas que eram gastas com revistas
dos grandes ídolos, os super-heróis. Formouse em Publicidade e Propaganda. Trabalhou
em jornais, foi crítico de quadrinhos, mas
abandonou a carreira para lecionar.
Mais do que um mero ilustrador, Bar é
um dos grandes nomes dos quadrinhos na
Baixada Santista. Criou o fanzine Barata,
que virou marco nos anos 80, quando ainda
estava na faculdade. Hoje, quando está do
outro lado, quer que seus alunos sintam-se
Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
instigados a produzir trabalhos criativos, que
não se limitem às cópias.
A única crítica relacionada ao mercado
de quadrinhos na Baixada, segundo Bar, é
o preconceito. “As pessoas ainda têm certo
preconceito com os quadrinhos, que eles são
coisa de criança, quando na verdade ele é um
facilitador de leitura. Com o quadrinho você
tem texto e imagem em um lugar só. Por
isso, a pessoa aprende a conhecer cenários e
depois quando embarca no livro pode viajar
em um próprio mundo que ela previamente
conheceu com a ilustração dos quadrinhos”,
explica.
Pelas Cores
Outro grande nome na Baixada, quando
o tema é HQs, é Emílio Baraçal. Assim como
Rittes e Bar sua paixão pelos gibis começou
ainda na infância. Seu personagem favorito é
o Superman. “Fui levado a uma banca e não
tinha uma HQ do Superman, comecei a olhar
as HQs de outros personagens que tinham ali.
Creio que devido às cores serem as mesmas,
um exemplar de “Capitão América” chamou
minha atenção e levei para casa. Tenho essa
HQ até hoje, com uma capa do lendário Jack
Kirby, onde o Capitão atravessa uma janela,
vidros por todos os lados. Daí comecei a ler
quadrinhos, devorando tudo o que via pela
frente. Nesse momento, eu sabia o que queria
fazer da vida”, diz Baraçal.
Apesar da vontade de trabalhar no meio
dos quadrinhos, o jovem artista não sabia por
onde começar, mas não desistiu. Aos 12 anos,
viu um anúncio de um curso de quadrinhos
no Sesc Santos e depois de muita insistência,
seus pais o matricularam. “Ali é que, de fato,
as coisas começaram para mim.”
Mas como todo bom profissional, Baraçal
não queria apenas desenhar. E foi a partir
dessa vontade que mergulhou no mundo
dos quadrinhos, estudando todos os passos
para chegar ao produto final. Hoje, o
roteirista especializado em HQs está em um
novo projeto, a Supernova Produções, que
tem parcerias com profissionais nacionais
e internacionais. “Há um trabalho que se
chama “Entropia”, que não é para ser série,
mas uma história fechada com começo, meio
e fim, que tem por base uma banda de rock
sueca chamada Pain of Salvation.”
Apesar de ter se distanciado um pouco da
arte de desenhar, o roteirista continua, como
ele mesmo fala, “treinando para ficar cada vez
melhor”.
Baraçal ressaltou a importância da leitura
de quadrinhos. “Os benefícios são que desde
cedo, quem é leitor, pensa melhor, mais rápido
e tem muito mais cultura do que normalmente
a pessoa que não lê. Isso acontece porque o
volume de publicações mensais é imenso, então
a carga de temas éticos e morais discutida é
extremamente intensa. Muito do que sei hoje
devo aos quadrinhos”.
Para quem acha que quadrinhos são
direcionados para crianças, Baraçal deixa
um recado: “Convido a todos, principalmente
pedagogos, políticos e comunicadores,
voltarem a ler quadrinhos. Tomarão um
choque. Novas maneiras de desenhar, pintar e
afins foram desenvolvidas. Escolas de pintura
clássica foram incorporadas. Linguagens
diferentes também. E, obviamente, novas
maneiras de contar histórias”.
Serviço
A Gibiteca funciona de segunda a sábado
das 9 às 19 horas, e no domingo das 9 às 14
horas. Avenida Bartolomeu de Gusmão, s/
n°, Boqueirão, Posto de Salvamento nº 5.
Telefone: (13) 3288-1300).
Na Bienal de Dança,
a arte toma as ruas
Pela oitava vez em Santos, evento trouxe artistas nacionais e internacionais e bateu recorde
Rê Sarmento
Vagner Lima
Estabelecer um diálogo com
diferentes espaços urbanos, dos
teatros mais tradicionais às ruas
do Centro, foi um dos desafios da
8ª edição da Bienal Sesc de Dança,
que aconteceu entre os dias 5 e 12 de
setembro, em Santos.
Ao caminhar pela Cidade,
qualquer cidadão pôde virar
espectador. Além da unidade do
Sesc, ruas, museus e praças do
Centro receberam apresentações
durante o evento. Ao todo, foram
22 espetáculos, oito performances,
instalações, workshops, debates,
exposições e lançamento de livros.
O evento reuniu artistas de oito
cidades brasileiras e quatro atrações
internacionais da Bélgica, França,
Uruguai e Chile.
Por ter menos opções de
Espetácvlo na Praça Mauá: Bienal de Dança procura estabelecer diálogo direto com a população
Rê Sarmento
Balé da Cidade:
uma escola
de talentos
Aline Barboza
O Balé da Cidade de Santos,
formado por ex-alunas da Escola
Municipal de Bailado de Santos,
completa 10 anos em 2014. Segundo
a sua coordenadora , a ex-bailarina
Renata Pacheco, o Balé da Cidade
é uma companhia profissional e foi
idealizada para dar continuidade
ao trabalho das bailarinas que se
formam na Escola Municipal de
Bailado. “O Balé da Cidade é nosso
topo de ensino e é formado por
alunas que estão com a gente desde
pequenas”, conta Renata.
Entre as premiações de destaque do
Balé, estão as primeiras colocações no
Youth America Grand Prix, realizado
em Nova York, no Festival de Dança de
Joinville e no Passo de Arte.
Balé da
Cidade de
Santos:
em quase
dez anos de
atuação,
acumula
premiações
no Brasil e
exterior
espaços fechados na Cidade, a arte
foi parar na rua. “Não pudemos
usar o Teatro Coliseu nem a Cadeia
Velha, que estão em obras. As
intervenções foram voltadas para
ocupação do espaço público, para
fazer as pessoas participarem dos
espetáculos”, explica Matheus José
Maria, um dos responsáveis pela
organização da Bienal.
As inovações se transformaram
em um público de cerca de 70
mil pessoas. “Este ano também
tivemos um aumento de 15% nas
vendas de ingressos”, diz José
Maria. Além do público local,
visitantes de outras unidades do
Sesc do Estado desceram a Serra
para acompanhar os espetáculos.
Nesta edição, pela primeira
vez, a Bienal disponibilizou
o serviço de audiodescrição,
que permite às pessoas com
deficiência visual acompanhar
apresentações por meio de
descrições de tudo o que ocorre
em cena. Os espetáculos O Que
o Corpo Não Lembra, A Sagração
da Primavera e Carta de Amor
ao Inimigo foram comentados e
detalhados, incluindo cenários,
figurinos, movimentação de palco e
gestos, entre outras coisas.
Como funciona
A partir de sete anos de idade,
a criança pode ingressar na Escola
de Bailado Municipal de Santos
(EBMS) para fazer um curso que tem
a duração de nove anos e formação
em balé clássico. “A criança passa por
um teste de seleção em que é avaliada
a sua aptidão para dança clássica e
o seu estado físico. Se ela preencher
os requisitos necessários, pode fazer
parte da escola”, explica Renata, que
está na direção há 17 anos.
A EBMS é responsável por
formar várias gerações de bailarinos
na região e seu principal objetivo é
preparar alunos com um alto nível
técnico. A escola conta hoje com
cerca de 400 alunos.
Paralelamente à Escola de
Bailado, existem Corpos de Baile,
formados por alunas que se destacam
dentro da escola e divididos por idade,
explica a diretora. Para se inscrever,
os responsáveis devem acompanhar
o Diário Oficial do Município. “As
inscrições ocorrem sempre no início
de fevereiro e é importante ficar
atento para não perder o prazo, pois
as vagas são limitadas, cerca de 100 no
máximo”, explica Renata.
Outras informações também
podem ser obtidas pele telefone 32322169. As inscrições são gratuitas.
Fotos: Vera Aragusuku
Jade, destaque do Balé
Jovem de São Vicente
Aline Barboza
Um dos destaques da região é a
bailarina Jade Sayuri Aragusuko de
Oliveira, de apenas 14 anos. Jade
ingressou no balé aos quatro anos
de idade e hoje participa do Balé
Jovem de São Vicente, onde está há
oito anos. A bailarina já participou
de várias apresentações em grupo e
individualmente, levando o nome da
região ao pódium por várias vezes.
Para Jade, o importante é gostar
do que faz: “Treino das 15h30 até às
21h30 todos os dias. Não me canso
porque gosto do que estou fazendo.
Tem que se dedicar se quiser crescer
dentro da dança”.
Além de balé, Jade também
pratica jazz contemporâneo e
ginástica rítmica. (A.B).
Jade de Oliveira: 10 anos de dedicação ao balé
Edição e diagramação: Natacha Negrão
PRIMEIRA IMPRESSÃO w Setembro de 2013
11
Rê Sarmento
Rê Sarmento
Ensaio
Dança, teatro, pintura, grafismo, música, café e poesia
fazem parte desse painel de imagens que ilustra parte
da produção artística e cultural da Baixada Santista.
Artistas, jornalistas, professores, estudantes e produtores
culturais contribuem para o desenvolvimento e aprimoramento
do setor artístico regional e agregam valores ensinando aos
jovens, crianças e adultos uma nova forma de ver a vida, com
um olhar mais sensível e perceptível aos fatos do dia a dia.
Jéssica Branco
Jéssica Branco
Rê Sarmento
Rê Sarmento
Rê Sarmento

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