Diz Gibran

Transcrição

Diz Gibran
VidaBosch
janeiro | fevereiro | março de 2014 • nº 34
Recicle a informação: passe esta revista adiante
Dos mares, o maior
Como são os
navios gigantes
responsáveis por
abastecer o mundo
Jeroen van den Broek/Shutterstock
Mais perto do
melhor amigo
Os pets já são
presença constante
dentro de casa. Veja
como adaptar o
imóvel a eles
10
editorial
Em 60 anos, um
pequeno novo mundo
mensagem
do presidente
Este é um ano muito especial
para nós. Há seis décadas
fincamos nossas raízes em
solo brasileiro, na mesma
época em que a indústria
automobilística se instalava
no país. Desde então, com
base em sólidos valores, a
nossa empresa construiu uma
história de muito sucesso.
Nesse período, também
participamos ativamente do
desenvolvimento econômico
e industrial do Brasil, com
a realização de importantes
investimentos na expansão
das operações, diversificação
dos negócios para outros
setores e lançamento de
tecnologias que melhoram
a qualidade de vida das
pessoas. Tudo isso só foi
possível não apenas porque
acreditamos e torcemos pelo
país, mas porque atuamos
em conjunto com os nossos
clientes, fornecedores,
colaboradores e tantos
outros parceiros que também
vibram com o Brasil. Para
nós, da Bosch, vibrar com
o Brasil é transformar
novas ideias em inovações
e oportunidades para
que, juntos, continuemos
a ter sucesso no futuro.
Besaliel Botelho
Presidente da Robert Bosch
América Latina
14
Nesta edição, convidamos os nossos leitores para
uma “viagem” a São Paulo, onde a Bosch iniciou suas
operações no Brasil, há 60 anos, quando a capital
paulista passava por um processo de expansão e sofisticação na economia e na cultura.
Expansão e sofisticação foram igualmente as marcas
da trajetória da Bosch no Brasil. Navios cargueiros
gigantescos movidos a diesel (abordados em torque
e potência), instrumentos de medição com precisão
impressionante (mostrados em aquilo deu nisso), o
incremento do setor joalheiro nacional (Brasil cresce) – toda essa diversificação de mercados mostra a
amplitude dos negócios da Bosch no país.
Poucos avanços demonstram isso tão claramente
quanto a matéria sobre carros autônomos, de tendências. Se, em 1954, mal havia eletrônica embarcada
nos automóveis fabricados no Brasil, hoje estão sendo
projetados veículos que dispensam motoristas, obedecendo a sistemas inteligentes como os que a Bosch
desenvolve. Tais carros ainda não são produzidos em
escala comercial. Mas é uma questão de tempo. E o
tempo, como mostram os últimos 60 anos, é capaz
de gerar soluções inimagináveis.
sumário
02 viagem | Arte, cultura e negócios se misturam no caos criativo de São Paulo
08 eu e meu carro | Murilo, ponta e, sim, motorista da seleção de vôlei
10 torque e potência | Por que os cargueiros são os motores do comércio global
14 em casa | Lugar de cão e gato é, cada vez mais, dentro de casa
20 tendências | Está próximo o dia em que seu carro vai andar sozinho
24 grandes obras | Ponte de quase 3 km vai estreitar elo entre Brasil e Mercosul
28 Brasil cresce | Pequenos artesãos põem o Brasil no mapa da joalheria mundial
34 atitude cidadã | Prêmios homenageiam os professores nota 10 do país
40 aquilo deu nisso | A arte de medir começou com o polegar e chegou ao laser
44 saudável e gostoso | Avelã, a fruta dos deuses e da imortalidade
expediente
VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing e Comunicação
Corporativa. Se tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: 0800-7045446 ou www.bosch.com.br/contato
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• Revisão: Marcelo Moura • Jornalista responsável: José Roberto de Toledo (DRT-DF 2623/88)
viagem
Thiago Leite/Shutterstock
2 | VidaBosch |
A capital dos negócios e
Maior polo de eventos corporativos do Brasil, São Paulo não se resume a trabalho
| Por Igor Felippe Santos e Bruno Fiuza
da cultura
e tem a melhor oferta de lazer e entretenimento do país
viagem
Morumbi Shopping/Divulgação
4 | VidaBosch |
Shoppings,
como o
Morumbi
(à esq.), e
restaurantes,
como o D.O.M.
(à dir.), são
as principais
opções de lazer
da metrópole
S
ão Paulo é o coração e o cérebro da
economia brasileira. Por isso, o turismo de negócios atrai inúmeros executivos
de outras partes do país e do mundo para participar de atividades empresariais,
encontros e feiras realizadas na cidade.
Só em 2012, aconteceram em São Paulo
mais de 800 feiras de negócios, que reuniram 8,8 milhões de participantes, de acordo
com pesquisa realizada pela União Brasileira dos Promotores de Feiras (Ubrafe)
em parceria com a Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe). Do total de
participantes desses eventos, 3,8 milhões
eram turistas. Dessa forma, o turismo de
negócios movimentou mais de R$ 16 bilhões em São Paulo no período, segundo
pesquisa sobre o perfil dos hóspedes em
2012, realizada pelo Observatório do Turismo da cidade de São Paulo, da empresa
municipal São Paulo Turismo (SPTuris).
A maior parte desses recursos foi destinada para hospedagem e alimentação,
mas parte do dinheiro foi gasta em compras e atividades de lazer. Isso mostra que
os executivos aproveitam para desfrutar o
que São Paulo tem de melhor: a mais ampla e diversificada oferta de cultura, lazer,
gastronomia e entretenimento do Brasil.
De acordo com a segunda edição do
relatório “Cultura em Números”, publicada pelo Ministério da Cultura em 2010,
São Paulo contava, então, com 231 salas de
cinema e 156 teatros. Na mesma época, a
metrópole tinha 132 museus, de acordo com
o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).
Os números de outros espaços de lazer e
entretenimento também impressionam.
Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers, a capital paulista conta com
54 centros comerciais e, de acordo com o
São Paulo Convention & Visitors Bureau,
a cidade tem 35 mil bares e restaurantes.
Prosperidade e sofisticação
A proliferação de espaços culturais e de
lazer em São Paulo sempre esteve ligada
à prosperidade econômica da cidade. No
início do século 20, quando os fazendeiros do estado estavam entre os maiores
produtores mundiais de café e a capital
despontava como o berço da industrialização no Brasil, São Paulo começou a ganhar
espaços culturais sofisticados. Em 1905 foi
inaugurado o primeiro museu da cidade,
a Pinacoteca do Estado. Seis anos depois,
a capital paulista ganhou sua primeira casa de espetáculos, o Theatro Municipal.
Inspirado na Ópera Garnier de Paris,
o Theatro Municipal fica na Praça Ramos
D.O.M./Divulgação
viagem | VidaBosch | 5
de Azevedo, no centro da cidade, e até hoje é um dos principais espaços dedicados
à música clássica em São Paulo. A outra
grande casa de concertos da cidade é a Sala
São Paulo, que funciona no antigo edifício
da Estrada de Ferro Sorocabana, também
este um importante monumento dos anos
dourados do café, localizado ao lado da
Estação da Luz, no centro.
A poucos metros da Sala São Paulo fica a Pinacoteca do Estado, que possui um
acervo de nove mil obras e reúne uma bela
mostra das artes plásticas produzidas no
Brasil do século 19 até a atualidade.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a
economia local ganhou novo impulso com
a chegada de multinacionais como a Bosch
(ver boxe na página 7), que fizeram de São
Paulo um importante centro econômico
internacional. Isso se refletiu na vida cul-
Só em 2012 aconteceram na capital
paulista mais de 800 feiras de
negócios, que reuniram mais de 8,8
milhões de participantes
tural da cidade. Em 1947 foi inaugurado o
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp), que hoje reúne um dos
mais importantes acervos de arte do Hemisfério Sul. Na década de 1960, o Masp
ganhou uma nova sede, projetada pela
arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina
Bo Bardi. Localizada na Avenida Paulista,
virou um dos cartões-postais da cidade.
Em 1954, a cidade ganhou um de seus
espaços mais emblemáticos, o Parque do
Ibirapuera, que abriga diversos centros
culturais, como o Museu de Arte Moderna
(MAM), a Oca e o Auditório do Ibirapuera.
Além dos museus, nessa época São
Paulo começou a ganhar novas opções
de lazer. Em 1966 foi inaugurado o Shopping Iguatemi, primeiro estabelecimento do gênero no país, que criou um novo
paradigma de lazer ao reunir lojas, serviços, cinemas e restaurantes em um único
e sofisticado ambiente.
Na mesma época, São Paulo começou a
ser reconhecida como um importante polo
gastronômico internacional. O restaurante
Fasano, que funciona desde 1982 no bairro
dos Jardins, foi o primeiro símbolo dessa
tendência. Hoje, outra casa da região desponta como principal representante da
alta gastronomia paulistana: o restaurante
D.O.M., inaugurado em 1999 pelo chef Alex
Atala, é considerado atualmente o 6o melhor do mundo pela conceituada revista
britânica Restaurant.
6 | VidaBosch |
viagem
Opções para todos os gostos
116
SP - 015
SP - 060
Pinacoteca do Estado
Theatro Municipal
Praça Roosevelt
MASP
Shopping Iguatemi
050
Parque Ibirapuera
SP - 015
Cinemateca Brasileira
Onde ficar
Onde comer
Hotel Unique
Um dos hotéis mais modernos da cidade, tem projeto arquitetônico de Ruy
Ohtake, design de João Armentano e
paisagismo criado por Gilberto Elkis.
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 4700.
Jardim Paulista. www.hotelunique.
com.br. (11) 3055-4700.
D.O.M.
O restaurante do chef Alex Atala é
considerado o melhor do Brasil e o
6o melhor do mundo pela conceituada revista britânica Restaurant. Rua
Barão de Capanema, 549. Jardins.
www.domrestaurante.com.br. (11)
3088-0761.
Mercure Paulista
Localizado nos arredores da Avenida
Paulista, faz parte da rede internacional
especializada em atendimento a executivos em viagens de negócios. Rua
São Carlos do Pinhal, 87. Bela Vista.
www.mercure.com. (11) 5547 8001.
Mocotó
Este restaurante de comida nordestina
ganhou fama internacional graças ao
talento do chef Rodrigo Oliveira e foi
eleito um dos 50 melhores da América Latina pela revista Restaurant.
Avenida Nossa Senhora do Loreto,
1100. Vila Medeiros. www.mocoto.
com.br. (11) 2951-3056.
Hotel ibis São Paulo Expo
Com preços mais acessíveis, este hotel tem localização estratégica para
quem vai participar de alguma das
diversas feiras do Anhembi Parque.
Fica a 5 minutos do centro de convenções e a meia hora do Aeroporto
Internacional de Guarulhos. Rua Eduardo Viana, 163. Barra Funda. www.
ibis.com. (11) 3393-7300.
Castelões
Uma das mais tradicionais cantinas
e pizzarias de São Paulo, é um verdadeiro patrimônio dos imigrantes
italianos que se estabeleceram no
histórico bairro do Brás. Rua Jairo
Goes, 126. Brás. www.casteloes.com.
br. (11) 3229-0542.
São Paulo, no entanto, não é só luxo e sofisticação. A mistura de povos que deu origem
à cidade criou uma diversidade cultural
impressionante. Segundo o Atlas Temático do Observatório das Migrações em São
Paulo, lançado em 2013 por pesquisadores
da Unicamp, entre 1872 e 1950 entraram
no estado de São Paulo mais de 3 milhões
de imigrantes estrangeiros. Destes, 1 milhão eram italianos; 1 milhão, portugueses;
600 mil, espanhóis; 200 mil, japoneses; 200
mil, alemães; e 100 mil, libaneses. A estes
se somaram as centenas de milhares de
africanos que chegaram como escravos
no século 19 e os milhões de nordestinos
que se estabeleceram na cidade a partir
da década de 1930.
Esse caldeirão de povos criou uma vibrante cultura popular que sobrevive até
hoje nos restaurantes criados pelos imigrantes, nas rodas de samba e nos bares
das regiões boêmias. A culinária italiana
pode ser degustada nas cantinas e pizzarias
de bairros como Bixiga, Brás e Mooca. Os
restaurantes japoneses estão concentrados
no bairro da Liberdade. As rodas de choro
e de samba se reúnem em bairros como
Barra Funda e Bixiga. E os bairros de Vila
Madalena, Pinheiros, Jardins, Itaim Bibi,
Vila Olímpia, Consolação e Barra Funda
concentram bares e danceterias que fazem
da vida noturna de São Paulo uma das mais
animadas do mundo.
Por fim, é impossível tratar da vida cultural de São Paulo sem falar de cinema e
teatro. Os amantes da sétima arte podem
escolher desde as salas luxuosas dos shoppings mais sofisticados – como o Cidade
Jardim, onde é possível assistir filmes bebendo champagne em uma confortável poltrona de couro – até os templos dos cinéfilos locais, como a Cinemateca Brasileira e
o Espaço Itaú de Cinema.
Para quem gosta de teatro, o destino
ideal é a Praça Roosevelt, no centro da
cidade, que reúne salas mantidas pelas
principais companhias da cidade, como
Satyros e Parlapatões. Ainda no centro
fica o lendário Teatro Oficina, do diretor
José Celso Martinez Corrêa, que revolucionou as artes cênicas brasileiras na
década de 1960.
Rubens Chiri/Banco de Imagens do Estado de São Paulo
viagem | VidaBosch | 7
Instalada no antigo edifício da Estrada de Ferro Sorocabana, a Sala São Paulo está entre as grandes casas de concertos do Brasil
A Bosch na sua vida
Arquivo Bosch
Uma semente plantada em São Paulo
Há 60 anos, numa região então bastante
valorizada do centro de São Paulo, perto
de onde, anos depois, seriam erguidos
marcos arquitetônicos da capital paulista, a Bosch iniciou suas atividades no
Brasil. Os produtos da marca Bosch já
podiam ser encontrados no país desde
1910, por meio de importações realizadas por uma representante comercial – a
Carlos Schlosser & Co, localizada no Rio
de Janeiro. Em 1912, uma segunda e mais
significativa representante – a Borghoff
S.A – inicia a comercialização dos produtos da marca e, na década de 1930,
passa a ser a distribuidora exclusiva da
Bosch no país.
No entanto, foi na década de 1950 que a
Bosch fincou suas raízes por aqui, com
a abertura de um escritório próprio num
edifício localizado em frente à Praça da
República. O ano era 1954, e São Paulo
vivia um momento especial com as comemorações do 4º Centenário e a inauguração do Parque do Ibirapuera – um
dos principais parques paulistanos até
hoje –, entre outros acontecimentos. Além
disso, o Brasil havia estreitado suas relações comerciais com a Europa, que se
recuperava dos danos sofridos durante
a Segunda Guerra Mundial.
A expansão da Bosch no Brasil esteve
diretamente ligada ao contexto político e
econômico brasileiro durante o governo
Juscelino Kubitschek. O crescimento da
empresa se deveu principalmente à implantação do Grupo Executivo da Indústria
Automobilística (Geia), que incentivou a
produção de caminhões e tratores visando o transporte rodoviário de cargas e
a interiorização da economia – um dos
pilares do Plano de Metas de JK. O Brasil
crescia em ritmo acelerado.
Sob o lema “50 anos em 5”, a indústria
automotiva teve o impulso necessário para
a sua implantação definitiva no país. Com
esse incentivo para o setor, o escritório
de São Paulo rapidamente se mostrou
insuficiente. Em 1956, a Bosch mudou
a sua sede para Campinas, no interior
do estado, e instalou uma unidade produtiva em um terreno de 3 mil metros
quadrados, iniciando, assim, um nova
era de desenvolvimento local. Hoje, o
Grupo Bosch conta com 15 unidades
em 11 municípios brasileiros.
eu e meu carro
Alexandre Schneider
8 | VidaBosch |
O piloto da era Bernardinho
O ponta Murilo, destaque do vôlei brasileiro, dirige uma das vans que transportam
os jogadores da seleção durante as viagens no exterior
A
seleção brasileira masculina de vôlei
treina forte para mais uma importante competição. Após algumas instruções,
o técnico Bernardinho anuncia o final das
atividades e libera os atletas para voltarem
ao hotel. “Minha van já está saindo, quem
vem comigo?”, pergunta Murilo Endres.
Bicampeão mundial e eleito o melhor
jogador da Olimpíada de 2012, quando o
Brasil ficou com a prata, o ponta é um dos
veteranos do elenco. Por isso – e por gostar de dirigir –, ele conquistou o direito de
guiar um dos três veículos que a federação
aluga para transportar os jogadores nas
excursões da seleção pelo exterior.
Murilo, no entanto, não se ilude com esse
privilégio. Sabe que, como acontece dentro
de quadra durante um jogo importante,
mesmo um pequeno descuido pode ser
decisivo. “Dirigir junto com esses caras é
pior do que fazer teste para tirar carta de
motorista. Se você errar uma seta, o pessoal fica tirando sarro o caminho inteiro”,
comenta o jogador, entre risos.
Mas o ponta tira de letra a pressão dos
colegas durante o trajeto. Afinal, para quem
aprendeu a guiar em um encarquilhado
jipe Willys de 1948, dirigir uma das vans
modernas disponibilizadas pela CBV não é
um grande desafio. “Aquele jipe era cheio
de defeitos. Tinha a direção muito dura e
uma folga de quase meia volta no volante.
Mesmo assim, eu e meus irmãos sempre
tivemos um carinho muito grande por ele.
Tanto é que, anos atrás, quando meu pai
falou que precisava vendê-lo, fiz questão de
| Por Bruno Meirelles
comprá-lo para que continuasse na nossa
família”, afirma.
O afeto de Murilo pelo velho jipe começou quando ele ainda era criança. Naquela
época, costumava acordar cedo todos os
domingos para acompanhar as corridas de
Ayrton Senna na Fórmula 1. Após a bandeirada, o jovem corria para o Willys, sentava
ao volante e ficava se imaginando no lugar
de seu ídolo nas pistas.
“Teve muitas histórias naquele jipe. Uma
vez, meu pai estava lavando o quintal e deixou o carro em uma descida. Fui sentar
nele para brincar, mas acabei pisando na
embreagem. Como não tinha freio de mão,
o carro foi ladeira abaixo e levou o portão
de casa embora”, lembra.
Mais ou menos por essa época, Murilo
passou a acompanhar seu irmão mais velho, Gustavo, em partidas de vôlei com os
amigos. Os dois herdaram a paixão pelo
esporte de seus tios, que jogavam de forma
amadora. Mas, ao contrário dos parentes,
eles levaram a atividade a sério: se profissionalizaram e, juntos, se tornaram ídolos
da seleção brasileira (Gustavo destacou-se
no meio de rede: chegou a ser considerado
o melhor bloqueador do mundo).
O caminho até a seleção foi longo. Murilo deixou Passo Fundo, no interior do Rio
Grande do Sul, onde nasceu, e rumou para
São Paulo aos 17 anos, para participar de
uma peneira. Aprovado, ficou morando em
uma república com seis pessoas, ao lado
do clube onde treinava, para economizar
com transporte.
A situação só viria a melhorar quatro
anos depois, quando assinou seu primeiro
contrato profissional. Depois disso, uma
das primeiras coisas que fez foi comprar
um carro. “Eu escolhi um Peugeot 206 porque, dentre as opções mais acessíveis, ele
conseguia se diferenciar um pouco. Me ajudava a fugir do tradicional.” Poucos depois
de adquirir o veículo, ele acabou se envolvendo em um acidente. Murilo dirigia até o
aeroporto de Guarulhos para recepcionar
Gustavo. Seguia atrás de uma caminhonete, que subitamente mudou de faixa, pois
à frente havia um carro parado. O jogador
não conseguiu desviar a tempo e, apesar
de ter freado, seu Peugeot deslizou e bateu
na traseira do outro automóvel. “O mo-
torista da frente estava bêbado e tivemos
alguns problemas. No fim das contas, foi
meu irmão quem acabou me ajudando e
me acompanhando até a delegacia.”
A Bosch na sua vida
Arquivo Bosch
Itália
O bom desempenho nas quadras lhe rendeu um convite para jogar na Itália. Murilo
aceitou, e passou quatro anos no país, vivendo principalmente na cidade de Módena.
Nesse período, usava carros cedidos pelos
patrocinadores das equipes que defendeu.
Os que mais lhe marcaram foram um Mazda 6 e um Mercedes Classe A.
“Na Itália eles cultuam bastante o automóvel, principalmente os carros esportivos,
e a gente acaba sendo um pouco contagiado
por essa paixão. Comigo não foi diferente. Todos os dias eu passava em frente à
fabrica da Maserati para treinar, e um dia
eu não resisti e fui visitar as dependências
da Ferrari.”
Na temporada europeia Murilo também
cultivou o prazer por dirigir em autoestradas. As viagens eram necessárias para
visitar sua esposa, Jaqueline, jogadora da
seleção brasileira de vôlei, que morava na
cidade de Pesaro.
“Era uma viagem de cerca de duas horas
por paisagens incríveis, cheias de plantações e áreas verdes. Nós fazíamos isso todas as semanas, pois era a única maneira
de nos vermos nas folgas”, diz.
Hoje, Murilo vive em São Paulo e defende o Sesi. Ele procura evitar o trânsito
caótico da metrópole. Por isso, mora perto
do local de treinamentos e vai a pé até o
ginásio. “O vôlei é um esporte que exige
muita concentração. Se eu tivesse de dirigir
todos os dias em São Paulo, acho que acabaria até atrapalhando meu desempenho
em quadra”, justifica.
Assim, seu carro atual, uma Cherokee
branca, é usado apenas nos finais de semana, quando ele quer passear com a família.
A opção pelo utilitário foi feita por conta
do tamanho (suficiente para abrigar seu
1,92 metro) e da confiabilidade. “Antes nós
tínhamos uma Santa Fé e quisemos algo
parecido. Além disso, precisamos de algo
grande, pois a família aumentou”, comenta, referindo-se ao seu primeiro filho com
Jaqueline, nascido em dezembro.
Evolução nos fora de estrada
Fabricado em 1948, o jipe Willys
com o qual Murilo aprendeu a dirigir não tinha lá muitos recursos. O
veículo que o jogador fez questão
de manter com a família tem valor
sentimental, mas, comparado com
os jipes atuais, é um cacareco.
“No final dos anos 40, ninguém se
preocupava muito com economia
e emissões de gás carbônico. Para
se ter uma ideia, naquela época
os jipes faziam entre 4 e 5 quilômetros por litro de combustível.
Hoje, é possível rodar mais de 10
quilômetros”, compara Roberto
Weiler, gerente corporativo de
vendas da Bosch.
Os veículos da Willys, montadora
adquirida pela Ford nos anos 60,
não são mais produzidos. Mas a
Ford conta hoje com a linha Troller,
similar aos clássicos jipes, para
a qual a Bosch produz a bomba
de combustível para diesel, os
freios ABS e os limpadores de
para-brisa. Os três componentes
são fabricados no Brasil.
A bomba de combustível para diesel da Bosch reduz o consumo de
combustível; os limpadores de parabrisa têm até cinco velocidades
de limpeza; e os freios ABS são
muito superiores aos modelos de
lona dos antigos Willys. “Nossos
sistemas possibilitam o controle
eletrônico da frenagem e o balanceamento entre as rodas, evitando que elas travem e que o carro
derrape”, afirma Weiler.
Federico Rostagno /Shutterstock
10 | VidaBosch |
torque e potência
| Por Alexandre Gaspari
Água de gigantes
Cargueiros, que chegam a medir quatro Maracanãs, são responsáveis por transportar
80% do volume de mercadorias do comércio internacional
12 | VidaBosch |
torque e potência
N
1,396 bilhão de toneladas de porte bruto
(TPB, que expressa tudo o que o navio pode embarcar – não só a carga comercial,
mas também as pessoas, o combustível, as
bagagens, os mantimentos etc.). Em 2012,
chegou-se a 1,534 bilhão de TPB.
Grandalhões
Esse conjunto de embarcações pode ser
dividido em três categorias principais, segundo o professor Floriano Martins Pires,
do Programa de Engenharia Oceânica do
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe),
da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), e também presidente da Sociedade
Brasileira de Engenharia Naval (Sobena):
petroleiros ou navios-tanque; graneleiros
e porta-contêineres.
Esses, por sua vez, podem ser desmembrados em subgrupos. Assim, há navios-tanque para transporte de petróleo cru, de
combustíveis derivados de petróleo ou gás
natural – que, refrigerado a menos150 graus
Celsius, assume forma liquefeita e pode
ser armazenado em tanques específicos.
Da mesma forma, existem graneleiros
que transportam qualquer mercadoria a
granel (como grãos) e outros específicos
para o transporte de minérios. Há, inclusive,
navios que transportam outros navios, como o Blue Marlin, da holandesa Dockwise,
capaz de carregar 18 embarcações (cerca
de 75 mil toneladas) e até mesmo grandes
plataformas de petróleo.
Nesse universo de enormidades, a estrela mais recente é um porta-contêineres
da dinamarquesa Maersk, maior operadora de contêineres do mundo – em 2012,
contava com 453 porta-contêineres. Em
junho, ela incorporou à sua frota o Triple-E, o maior navio do planeta, que vai
transportar mercadorias entre a Europa
e a Ásia. É o primeiro de uma série de 20
embarcações semelhantes encomendadas
pela empresa, cada uma delas custando
cerca de US$ 190 milhões.
O Triple-E equivale, grosso modo, a quatro estádios do Maracanã enfileirados: 400
metros de comprimento (no campo em que
ocorrerá a final da Copa do Mundo, são 105)
e 59 de largura (o gramado mais tradicio-
Wärtsilä/Divulgação
avegar é preciso, como escreveu
o poeta português Fernando Pessoa, ecoando uma frase de navegadores
antigos que remetia a uma declaração do
grande general romano Pompeu. Preciso
em termos de rigor e precisão, mas também como atividade crucial para suprir as
necessidades humanas em qualquer parte do planeta. Afinal, são transportados
por via marítima nada menos que 80% do
volume de mercadorias comercializadas
mundialmente, segundo a Conferência das
Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Em termos de valor,
a cada US$ 100 de bens exportados, mais
de US$ 70 são transportados pelos mares,
de acordo com a mesma agência da ONU.
Para garantir esse fluxo de mercadorias, os navios que carregam cargas têm
de evoluir constantemente. Entre 1990 e
2011, o comércio marítimo internacional
mais que dobrou, passando de 4 bilhões de
toneladas para 8,7 bilhões. Nesse mesmo
período, a capacidade de transporte de
todos os cargueiros, somada, seguiu ritmo parecido: saltou de 659 milhões para
As embarcações
são movidas
por motores
a diesel
colossais, que
podem chegar
a pesar
acima de 500
toneladas
e medir mais
de 10 metros
de altura
torque e potência | VidaBosch | 13
nal do Brasil tem 68). Em sua construção
foram utilizadas nada menos que 60 mil toneladas de aço, o que seria suficiente para
erguer oito torres Eiffel e fabricar 185.489
motocicletas Fat Boy, da Harley Davidson.
Com suas dimensões, o porta-contêineres
deixou para trás o superpetroleiro Berge
Emperor (380 metros de comprimento), o
transatlântico Allure of the Seas (361 metros) e o também porta-contêiner Marco
Polo (396 metros).
Além do tamanho, sua potência também
impressiona. O navio é equipado com dois
motores a diesel, cada um com 42.913 cavalos de potência – o equivalente aos motores
de 57 caminhões Volvo FH16-750 juntos.
Isso permite ao cargueiro transportar, em
uma única viagem, 165 mil toneladas ou 18
mil contêineres de tamanho padrão (2,5 mil
a mais que os maiores porta-contêineres
até então) – o suficiente para carregar 111
milhões de pares de tênis ou 182 milhões de
tablets. Se a mesma quantidade de mercadorias tivesse que viajar por terra, seriam
necessários nada menos que 825 caminhões.
Com tanto peso a bordo, o navio não prima pela velocidade. O Triple-E atinge, no
máximo, 23 nós, ou 42,6 km/h – um pouco
menos que um golfinho – e deve consumir
cerca de 100 toneladas de diesel por dia,
segundo os cálculos da Maersk.
Tecnologia e meio ambiente
Assim como há vários tipos de cargueiros,
as operações de cada uma dessas categorias
são distintas, com custos igualmente diferentes. “Um navio que transporta minério
de ferro, por exemplo, tem uma origem e
um destino únicos. É uma rota linear, e a
operação de carga e descarga é mais simples”, diz Pires. “Já um porta-contêineres
tem uma malha de operação mais complexa.
É como se fosse um avião de passageiros
que para em vários aeroportos, deixando
uns passageiros e pegando outros. O custo fixo de um porta-contêineres é muito
alto, por isso, ele deve ficar pouco tempo
parado em um porto.”
A operação de um navio desses custa
aproximadamente o mesmo que o de um
automóvel de luxo – por dia. O professor
da UFRJ estima que o custo diário de um
mineraleiro fique entre US$ 40 mil e US$
60 mil. O de um porta-contêineres, não
menos que US$ 100 mil, podendo chegar
a US$ 200 mil.
Não é por acaso que a indústria naval
busque formas de reduzir suas despesas,
e também suas emissões de poluentes.
Nesse sentido, o foco de engenheiros e
projetistas vai desde softwares que otimizem a operação de uma frota até o desenvolvimento de novos sistemas de propulsão, passando pelo estudo de novos
combustíveis. No Brasil mesmo já foi desenvolvida, na Faculdade de Engenharia
Elétrica e de Computação da Universidade
de Campinas (Unicamp), uma ferramenta
computacional para o planejamento tático
da frota de navios, a fim de maximizar a
rentabilidade da operação.
O próprio Triple-E é um exemplo dessa
tendência. Seu nome vem da combinação
dos seguintes “Es”: economia de escala,
eficiência energética e emissões. O primeiro “e” é garantido pelo aumento de
16% na capacidade de transporte, em relação a porta-contêineres semelhantes. O
segundo, por inovações que devem diminuir em 20% o consumo de combustível.
E, consequentemente, o nível de emissões
da embarcação tenderá a ser 20% menor.
Pires confirma que os novos navios
estão sendo construídos com forte preocupação ecológica. Os motores têm sido
projetados para obter o máximo de potência possível com o mínimo consumo
de combustível.
Outra preocupação do setor é a segurança. “Os graneleiros que circulam pelo
mundo, por exemplo, já têm casco duplo”,
diz o professor da UFRJ. Os sistemas de
controle de lastro (água usada para dar
estabilidade às embarcações) também são
muito mais sofisticados – aliás, num futuro
muito próximo, prevê Pires, os navios não
vão mais precisar desse tipo de recurso.
Será outro ganho para o meio ambiente, já
que a troca de água de lastro leva espécies
invasoras a diversos ambientes marinhos,
causando desequilíbrio ecológico.
A Bosch na sua vida
Sistemas que alimentam titãs
Para mover embarcações gigantescas
são necessários sistemas de injeção
que lancem grande quantidade de óleo
diesel em motores colossais. O dispositivo precisa funcionar perfeitamente
para garantir economia de combustível durante os longos percursos pelos
mares e também um baixo nível de
emissão de poluentes na atmosfera.
A Bosch disponibiliza dois tipos de
sistema para esse setor: o mecânico
e o Common Rail System, eletrônico.
Este último, de ponta, é voltado para
motores com maior potência, sendo,
além disso, mais eficiente no consumo de combustível, de acordo com
Gustavo Castagna, chefe de desenvolvimento de produtos diesel da Bosch.
Não por acaso, há, segundo ele, uma
tendência global de mudança para
os sistemas eletrônicos.
“Apesar disso, ambos os equipamentos contribuem para o alto desempenho dos motores, mesmo quando em
funcionamento contínuo por longos
períodos e sob condições adversas
de operação (carregando muito peso,
com o motor a plena carga e em alta
velocidade)”, afirma.
As bombas de injeção fornecidas pela
Bosch atendem aos requisitos internacionais de emissão de poluentes e de
gases de efeito estufa. “Na América do
Sul, ainda não existem leis para esse
segmento em particular. Mas como os
motores são feitos na Europa e nos
Estados Unidos, eles já vêm adaptados para operar dentro da legislação
vigente nessas regiões”, diz Castagna.
Arquivo Bosch
De cada US$ 100 de bens
exportados, mais de US$ 70
são transportados pelos mares
StockLite/Shutterstock
14 | VidaBosch |
em casa
| Por Chantal Brissac
Quatro patas
entre quatro paredes
Cada vez mais cães e gatos são criados dentro de casa. Veja como adaptar
o ambiente para torná-lo mais agradável a eles e à família
16 | VidaBosch |
em casa
Istvan Csak/Shutterstock
N
ão faz tanto tempo assim, os nossos
queridos amigos felpudos eram tratados com menos pompa e circunstância e
mais simplicidade. Mesmo bem cuidados,
pouco circulavam dentro do lar: ficavam
quase sempre confinados nos quintais
e jardins das casas, numerosas e mais
comuns. Era raro ter cachorro em apartamento – decisão que podia até render
briga no prédio. A maior parte dos condomínios vetava a presença de animais
de estimação.
Eles comiam os restos das refeições
dos donos, não tinham linhas de rações e
alimentos desenvolvidas especialmente
para seus corpinhos de quatro patas. Viviam sem roupinhas, brinquedos e festas
de aniversário. Eram mais felizes? Talvez
sim, se pensarmos que eles precisam mes-
mo é de carinho, espaço para correr e alimentação. Talvez não, se considerarmos
essa “simplicidade” uma falta de zelo com
a higiene e a saúde.
O fato é que houve uma grande mudança
nos últimos 20 anos que alterou a relação
entre as pessoas e seus animais e fez surgir
uma incrementada indústria de serviços.
Os cães e gatos viraram “pets”, são habitantes cada vez mais assíduos nos edifícios
e contam com profissionais e produtos de
diversas áreas – um setor que gira cerca
de R$ 15,4 bilhões por ano, o que coloca o
Brasil como segundo maior mercado mundial, segundo a Associação Brasileira da
Indústria de Produtos para Animais de
Estimação (Abinpet).
“Foi realmente uma revolução comportamental, no sentido de que as pessoas hoje
veem os pets como parte da família. Alguns os tratam e até mesmo se referem a
eles como filhos”, observa a bióloga Ana
Luisa Ferreira Pedreira, especializada em
comportamento e bem-estar de animais domésticos e uma das sócias da Dog School,
de São Paulo. A escola-hotel idealizada por
Ana Luisa e mais duas sócias, uma bióloga
e uma veterinária, oferece aos “alunos”
atividades como natação, aulas de obediência, jogos com bola e frisbee, enriquecimento sensorial (trilhas com ervas, caça
aos petiscos) e massagem relaxante, além
de avaliação de saúde e comportamento.
A diminuição da metragem dos imóveis
contribuiu para reforçar essa tendência,
avalia a especialista. Ela verifica, porém,
que mesmo alguns donos de residências
maiores, que dispõem de área externa, pre-
em casa | VidaBosch | 17
Pressmaster/Shutterstock
Cães filhotes
fazem
estripulias
como crianças
pequenas,
por isso é
preciso tomar
os mesmos
cuidados
Nos últimos 20 anos a relação entre
as pessoas e seus animais mudou
muito, o que abriu espaço para uma
indústria de serviços para pets
ferem deixar os animais dentro de casa.
“Isso aponta para um desejo das pessoas
de manter um relacionamento mais próximo com seus cães e gatos, algo que não
era muito comum antes.”
Na esteira dessa demanda – alimentada
também pelo fato de as pessoas viverem
mais ocupadas, passarem mais tempo no
trabalho ou em trânsito – surgiram lojas
especializadas, clínicas, hotéis, escolas,
centros de estética e profissionais como
passeadores, taxi-dogs, treinadores e
adestradores. E a necessidade de adap-
tar o espaço residencial. Afinal, a presença
de pets exige uma série de ajustes para
garantir a segurança do animal e evitar
acidentes domésticos como choques elétricos, queimaduras e ingestão de substâncias tóxicas – as principais ameaças à
saúde dos bichos.
Como crianças
Cães e gatos também costumam roer móveis,
rasgar o forro de sofás e fazer outras estripulias que danificam o mobiliário. Segundo
a veterinária e criadora de cães Maria Del
Rocio Nadal, as adaptações para animais,
especialmente os filhotes, equivalem às
que são feitas em uma casa com bebês. “É
preciso tirar os objetos de vidro e pontiagudos das mesas; guardar os tapetes, porque eles desorientam o animal; não deixar
fios de computadores e máquinas expostos
e desencapados; fechar as tomadas com
tampas”, enumera a expert.
Para quem preza muito a decoração e a
estética da casa, ela costuma sugerir não
adotar um novo amiguinho. “Quando a família não tem muito tempo para passear
com o animal, eu aconselho um cão adulto,
e de alguns tipos de raças mais calmas, que
não demandam tanto movimento. Quem
quer filhote deve ter disponibilidade para cuidar em tempo integral”, comenta,
lembrando que as telas nas janelas e nas
varandas são itens básicos.
Ana Luisa ressalta que um bom paliativo para evitar atividades destrutivas é o
gasto energético em longos passeios. Correr no parque, caminhar, brincar, passar o
dia na creche de cachorros, nadar... “Como
18 | VidaBosch |
em casa
monástica dentro de casa. Para estimular
a vivacidade dos cães (sobretudo dos filhotes), é bem-vinda a presença de brinquedos, mordedores, ossinhos e outros
objetos recreativos. Os gatos adoram arranhadores – e esses recursos, em formas
de quadros ou almofadas, evitam que eles
“façam as unhas” nos estofados do sofá e
das poltronas. Prateleiras e estantes projetadas por empresas especializadas, como a Wohnblock (www.wohnblock.com)
ou Urban Pet House (www.urbanpethaus.
com), desafiam os curiosos felinos a explorar o ambiente no lugar certo, sem risco
de destruir peças decorativas ou os livros
da estante.
Há quem solicite projetos arquitetônicos especiais para facilitar a vida de seus
pequenos companheiros. As arquitetas
Elaine Delegredo e Luciana Corrêa criaram um canil de 4,20 m² com revestimento de tijolo de demolição, janelas de vidro
temperado e um visor para o jardim para
abrigar a basset-hound Patchola.
Tudo isso é muito bem-vindo, dizem os
veterinários e especialistas no bem-estar
animal. O que é exagerado é fazer uma casa
confortável apenas para os animais domésticos. O melhor projeto de decoração para
eles é o que também é bom para a família.
“O ideal é o animal se adaptar ao ambiente dos donos, e não vice-versa”, explica a
veterinária Rocio Nadal, para quem o fator
imprescindível no pacote geral é o formado pelo tripé cuidados-carinho-atenção.
“Não pode segregar o cão, mantê-lo sozinho
em um cantinho, como a área de serviço
ou a varanda. Doenças como a dermatite
psicogênica surgem desse descaso com o
bicho: por causa da ansiedade e da solidão,
o cachorro ou o gato começa a se lamber
obsessivamente, causando lesões e feridas
na pele”, afirma.
“Os cães devem seguir regras básicas
de convivência, com direitos e deveres.
Eles são criaturas maravilhosas, mas jamais serão felizes dentro de uma casa, se
tiverem que desempenhar o papel de líder
Robynrg/Shutterstock
acontece com a criança, o cachorro ativo
vai voltar para casa cansado e feliz, e com
pouca disposição para assumir comportamentos destrutivos”, diz.
A quantidade de passeios depende bastante do nível de energia do animal: quanto
mais disposição o bicho demonstrar, maior
será a necessidade de promover atividades
que o façam gastar essa energia. Veterinários e adestradores recomendam passeio
duas vezes por dia, além de uma experiência mais lúdica nos fins de semana, que
pode ser uma visita ao parque.
Outros cuidados semelhantes aos adotados com crianças são manter materiais de
limpeza e medicamentos fora de alcance e
jogar fora plantas venenosas. Convém ainda evitar pisos muito lisos, principalmente
para cachorros grandes, aponta Ana Luisa:
uma superfície muito lisa afeta a estabilidade do animal, podendo provocar ou
agravar problemas ortopédicos.
Tais regras e precauções não devem
dar ideia de que resta aos pets uma vida
Os pets só devem comer ração, pois eles necessitam de nutrientes que não estão presentes na alimentação humana
em casa | VidaBosch | 19
da família, função única e exclusivamente
dada aos donos”, diz o adestrador canino
Daily Tureck Oliveira, de São Paulo.
A melhor decoração para o animal
é aquela boa também para a família.
O bicho deve se adaptar ao ambiente
dos donos, e não o contrário
A escolha da ração
Outra preocupação importante é com a
comida dos animais. Hoje, a maioria das
pessoas adota a ração como a alimentação básica de seus pets. Muito pela praticidade – as famílias cozinham cada vez
menos –, pelo custo e, especialmente, pela
orientação dos veterinários, que veem na
ração industrializada um alimento mais
completo e nutritivo do que a comida caseira. Segundo eles, as necessidades nutricionais dos cães e gatos são diferentes das
nossas, e as composições das boas rações
do mercado suprem, na medida certa, as
demandas dos animais. “Os pets não devem consumir alimentos humanos, porque, por mais completa que seja a nossa
alimentação, existem alguns aminoácidos
essenciais que devemos complementar na
nutrição animal, que não estão presentes
em nossa alimentação”, diz o veterinário
Wander Palomo.
Mesmo assim, é necessário ter atenção
redobrada na hora de escolher a ração.
É preciso considerar não só a proteína
usada na composição do produto como a
listagem de outros ingredientes. O equilíbrio entre os percentuais de proteína e
gordura também deve ser observado. A
idade, a raça e o tamanho do animal são
outros fatores que precisam ser levados
em conta na hora da escolha porque apontam necessidades específicas: um filhote
pode requerer uma ração mais proteica,
diferentemente do cão ou do gato idoso.
A quantidade da ração também deve ser
calculada de acordo com a idade, o peso
e a raça. O ideal é que as porções sejam
oferecidas de duas a três vezes ao dia, como ocorre com as pessoas.
A maior parte dos veterinários recomenda rações, em vez de alimentação caseira,
para cães e gatos. Existem três tipos de
produtos no mercado: rações secas, semissecas e úmidas. Para escolher a melhor opção para o seu animal de estimação,
siga a indicação do veterinário que cuida
dele. Afinal, como acontece com a gente,
o que é bom para o vizinho pode não ser
o ideal para nós.
Para estocar a ração, aplicam-se as
mesmas regras de armazenagem da nossa comida: manutenção em ambiente seco
e arejado, longe do calor excessivo, e em
local de difícil acesso, a fim de evitar que
os pestinhas busquem alimento fora dos
horários determinados, o que pode prejudicar sua dieta. Algumas lojas oferecem
um serviço de reembalagem do produto
em pacotes menores, que facilitam o manuseio e tornam mais prática a alimentação do animal.
Comida pronta para servir
Um dos principais avanços do mundo pet
foi o incremento na comida dos bichos
de estimação. Se antes eles tinham de
se contentar com restos da refeição dos
donos, nos últimos anos ganharam grande
variedade de opções – mais saborosas
e mais saudáveis. Há rações light, para
filhotes, para animais idosos, para gatos
com pelo curto...
Por trás dessa sofisticação, bem visível,
há outra: a dos processos de embalagem
desses itens. Equipamentos modernos,
como os fabricados pela Bosch, permitem embalar os produtos de modo mais
preciso, rápido e higiênico.
As máquinas da Bosch embalam porções
exatas de alimento em pacotes flexíveis
que são montados, preenchidos e selados
por esses equipamentos. “A máquina é
totalmente automática e está preparada
para trabalhar 24 horas diárias”, afirma
o gerente regional de vendas da Bosch,
Glauco Stella.
O processo de empacotamento só é interrompido para se fazer a higienização
das partes que entram em contato com
a ração. Ainda assim, Stella ressalta que
todas essas peças são feitas de materiais que garantem a total higienização
do equipamento com base nas normas
exigidas para cada aplicação.
Os carros-chefes da Bosch nesse mercado
são os modelos SVB 2510 e SVB 4010.
O primeiro preenche pacotes flexíveis
com largura de até 250 mm; o segundo, pacotes com largura de até 400 mm.
A capacidade de empacotamento está sujeita a muitas variáveis. “Muda de acordo
com o tamanho da dosagem, do tipo de
ração e do tipo de material do pacote”,
diz Stella. Ele estima, no entanto, que
as máquinas possam fazer entre 70 e 80
pacotes de 1 kg por minuto. Dependendo
das características do produto e do equipamento utilizado, esta velocidade pode
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
ser ainda maior. Não há limite de peso
para os embrulhos. “O único limitante
é a largura do pacote”, explica Stella.
Essas máquinas são usadas também por
outros segmentos da indústria (como o
alimentício, o químico e o farmacêutico,
entre outros). Para isso, basta incluir
alguns acessórios e definir as dimensões
e pesos dos novos pacotes.
Arquivo Bosch
20 | VidaBosch |
tendências
| Por Bruno Fiuza
Apertem
os cintos,
o motorista
vai sumir
Carros já aceleram, freiam e manobram
automaticamente. E, em poucos anos,
a indústria planeja lançar os primeiros
modelos que andam sozinhos
E
m 22 de outubro de 2013, o município de São Carlos, no
interior de São Paulo, assistiu a uma cena insólita: um
carro circulou por ruas e avenidas sem ninguém sentado no
banco do motorista. Foi o primeiro teste realizado em uma
cidade da América Latina com um veículo inteligente, capaz
de rodar sem um condutor humano.
Os responsáveis pelo feito foram os pesquisadores do
Laboratório de Robótica Móvel do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo
(ICMC-USP), que desde 2010 trabalham no Projeto Carro
Robótico Inteligente para Navegação Autônoma (CaRINA).
Esse, no entanto, está longe de ser um experimento isolado. Protótipos dos chamados carros autônomos já estão
sendo testados em várias partes do mundo. Mais de 5 mil
engenheiros da Bosch, por exemplo, trabalham em projetos
de direção autônoma em dois polos de pesquisa: um em Palo
Alto, no estado americano da Califórnia, e outro na cidade
de Abstatt, no sul da Alemanha.
“A tecnologia para os carros andarem sozinhos já existe,
mas ela ainda não é economicamente viável”, afirma o chefe
de vendas da Divisão de Eletrônica Automotiva da Bosch no
Brasil, Alexandre Tedeschi. Essa situação, no entanto, não
deve durar muito. “A expectativa é que o mercado tenha carros autônomos comerciais por volta de 2020. As principais
montadoras já anunciaram isso”, aponta.
tendências
Projeto CaRINA/Divulgação
22 | VidaBosch |
Outro obstáculo é a falta de legislação
sobre o tema, explica o professor Denis
Wolf, coordenador do Projeto CaRINA e
docente do Departamento de Sistemas de
Computação do ICMC-USP. Segundo ele,
apenas quatro estados norte-americanos
já contam com leis específicas sobre o assunto: Califórnia, Flórida, Texas e Nevada.
Robô sobre rodas
Várias das tecnologias usadas nesses veículos já estão disponíveis em modelos
comerciais. São os chamados sistemas de
assistência ao motorista. A diferença é
que esses equipamentos realizam apenas
tarefas específicas – como acelerar, frear
ou fazer pequenas manobras –, e sempre
com o motorista ao volante.
O princípio básico, porém, é o mesmo: transformar o carro em um robô com
“olhos”, “cérebro”, “braços” e “pernas”,
compara Wolf. Os “olhos” são sensores
que monitoram o que ocorre ao redor
O princípio básico da automação
é transformar o automóvel em
um robô com “olhos”, “cérebro”,
“braços” e “pernas”
do veículo. O “cérebro” são computadores que interpretam os dados fornecidos
pelos sensores e tomam as decisões. Os
“braços” e “pernas” são unidades de controle eletrônico responsáveis por ativar
acelerador, freio, volante etc., explica o
engenheiro automotivo Ricardo Takahira,
membro do Comitê de Veículos Híbridos
e Elétricos da Sociedade de Engenheiros
da Mobilidade (SAE Brasil).
“Para o carro rodar sozinho, ele tem
que enxergar de alguma forma. Pode ser
por meio de câmeras de vídeo, sensores
ultrassônicos ou radares de médio e longo
alcance”, explica Takahira. A Bosch fabrica
esses radares, que “conseguem identificar
obstáculos à frente, atrás ou nas laterais
do veículo com muita precisão”, afirma
Carlo Gibran, gerente de vendas da Divisão Chassis System Control da empresa.
“Além disso, desenvolvemos dispositivos
de vídeo mono e estéreo, tanto dianteiros
quanto traseiros, capazes de processar imagens que podem ser usadas para informar
o motorista sobre determinadas situações
no trânsito, identificar obstáculos ou complementar a função do radar”, diz Gibran.
Esses sensores são os pilares dos sistemas de assistência ao motorista desenvolvidos pela Bosch. O mais abrangente até
agora é o controle de cruzeiro adaptativo
(ACC, na sigla em inglês para adaptative
cruise control). Por meio das informações
coletadas pelos sensores, o carro calcula
uma distância segura em relação ao veículo da frente e controla por conta própria o acelerador e o freio para se manter
dentro desses parâmetros.
Já o assistente de estacionamento assume o controle do volante e manobra o
Arquivo Bosch
tendências | VidaBosch | 23
À esquerda,
o carro
autônomo
desenvolvido
pela USP.
À direita,
protótipo
da Bosch
andando
sozinho em
estrada na
Alemanha
carro sozinho para colocá-lo em uma vaga
– o motorista só precisa se preocupar com
o acelerador e com o freio. Outro que age
sobre a direção é o sistema de assistência
de faixa: uma câmera monitora a rota do
carro e, quando ele se aproxima demais
de uma faixa de rodagem, o dispositivo
gira automaticamente a direção para recolocar o veículo no rumo certo. Por fim,
o freio autônomo de emergência breca
o carro sozinho quando os sensores detectam que há risco iminente de colisão.
“Nos próximos anos, mais tarefas vão
deixar de ser executadas pelo motorista
e passarão a ser realizadas pelo carro, até
chegar à automação completa”, prevê Tedeschi. Prova disso é uma novidade que a
Bosch prepara para o ano que vem. O chefe
de vendas da Divisão de Eletrônica Automotiva afirma que em 2015 a empresa dará
início à produção em série do assistente de
estacionamento automático. O dispositivo
estaciona e tira o carro de uma vaga soz-
inho, controlando de forma completamente
autônoma o volante, o freio, o acelerador
e a embreagem. O motorista tem a opção
de manobrar o veículo à distância, usando
um smartphone como controle remoto.
Segurança e comunicação
Esses diversos sistemas são usados em
modelos comerciais há pelo menos 15 anos
na Europa, segundo Takahira, da SAE, a
ponto de hoje serem vistos como itens essenciais de segurança. Tanto é que, a partir
de 2014, a Euro NCAP, entidade responsável
pelos testes realizados nos veículos vendidos no continente, vai incluí-los entre os
critérios para avaliar o grau de segurança
de cada modelo. Apesar de essas tecnologias estarem disponíveis há mais de uma
década na Europa, só agora começam a
chegar ao Brasil, afirma Takahira.
Para o professor Denis Wolf, da USP, o
próximo passo rumo à direção autônoma
plena é o desenvolvimento de tecnologias
de comunicação confiáveis. “Fazer os carros andarem, muita gente já faz. O próximo
grande desafio é fazer se comunicarem,
não só entre eles, mas com o ambiente”.
Ao receber informações dos outros carros e da infraestrutura do entorno (semáforos, companhias de tráfego etc.) o veículo
será capaz, entre outras coisas, de evitar
vias congestionadas ou de prevenir acidentes, por saber com antecedência o que
os outros automóveis vão fazer.
Denis Wolf, da USP, acredita que as tecnologias de direção semi ou totalmente
autônomas terão impactos positivos no
Brasil. “Segundo uma pesquisa feita recentemente no país, 98% dos acidentes envolvem falha humana, então a gente espera ter
uma redução drástica desses números.”
Mas será que algum dia os carros autônomos vão de fato se tornar realidade? “A
tecnologia existe, ela já está muito madura.
Não é uma questão de se vai acontecer, mas
de quando vai acontecer”, decreta Wolf.
Dnit
24 | VidaBosch |
grandes obras
| Por Karen Navochadlo
Estrada
sobre
as águas
Ponte Anita Garibaldi, estrutura
de 2,8 quilômetros sobre lagoa em
Santa Catarina, deve consolidar a
integração rodoviária com o Mercosul
E
m julho de 1839, o revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi comandou a tomada de Laguna, em
Santa Catarina, pelos rebeldes farroupilhas da República Rio-Grandense. Ao desembarcar na cidade, Garibaldi
encantou-se com uma jovem de 18 anos chamada Anita,
com quem se casou. Agora, mais de 170 anos após as batalhas, uma enorme obra vai homenagear essa catarinense
que ficou conhecida como Heroína de Dois Mundos por
ter lutado até o fim da vida em batalhas na América do
Sul e na Europa.
Com 2.815 metros de comprimento e duas pistas com
largura média de 25 metros cada, a Ponte Anita Garibaldi
vai conectar as duas margens da Lagoa de Santo Antônio
na altura do Canal de Laranjeiras, formando uma verdadeira estrada sobre as águas. A obra faz parte do processo
de duplicação da BR-101, e o nome não poderia ser mais
apropriado, pois a melhoria da estrutura rodoviária é
uma luta antiga na região.
A BR-101 é a principal ligação da região Sul com o resto
do Brasil, mas até a década de 1990 era uma estrada de
pista única, extremamente perigosa. Essa situação começou a mudar com a duplicação do segmento entre Curitiba
e Florianópolis entre 1994 e 2002.
O trecho ao sul de Florianópolis, no entanto, continuou
sendo uma pista única que apresentava déficits operacionais crescentes, onerava os custos de transporte e expunha os usuários a riscos de acidentes, como mostra um
estudo encomendado pela Federação das Indústrias de
Santa Catarina (Fiesc) e realizado pela Universidade do
Sul de Santa Catarina (Unisul). Tudo isso deixava clara a
necessidade da duplicação de um trecho de 347,5 quilômetros que vai de Palhoça (município da Região Metro-
26 | VidaBosch |
grandes obras
A nova ponte, por sua vez, deve eliminar um dos principais gargalos que ainda
permanecem no trecho sul da BR-101: o
ponto onde a rodovia é cortada pelo Canal
de Laranjeiras, na altura de Laguna. Hoje,
a única conexão entre os trechos norte e
sul da estrada é uma ponte de pista única
construída em 1934. O afunilamento do
tráfego forma congestionamentos que podem chegar a 20 quilômetros no período
das festas de fim de ano, o que prejudica o
turismo e causa prejuízos para a indústria
e o comércio locais.
O estudo encomendado pela Fiesc mostra que, entre 2010 e 2012, deixaram de ser
geradas na região riquezas equivalentes
a R$ 32,7 bilhões, o que corresponde a 4,6
vezes o Produto Interno Bruto (PIB) registrado de 2005 a 2009 no sul do estado.
“Como o frete torna-se mais caro, o preço
do produto aumenta e fica menos competitivo no mercado”, explica o presidente da
Câmara de Transporte e Logística da Fiesc,
Mário César de Aguiar. O estudo também
comparou os indicadores econômicos do
norte e do sul de Santa Catarina. A taxa de
criação de empregos no norte – que detém
todas as obras de infraestrutura necessárias
para o desenvolvimento (como rodovias,
aeroportos e outras) – é 40% mais alta, e o
número de empresas, 220% maior.
Além disso, os congestionamentos prejudicam o turismo em Laguna, cidade que
atrai muitos visitantes com suas construções históricas, praias lindíssimas, um dos
maiores sítios arqueológicos de sambaquis
da América e seu famoso Carnaval de rua.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Federação do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo de Santa Catarina (Fecomércio-SC), em janeiro e fevereiro de
2012 cerca de metade (51%) dos turistas
que visitam as praias dos municípios de
Laguna e Imbituba vem do próprio estado
e outros 35%, do Rio Grande do Sul. Todos
utilizam as rodovias da região – em car-
Dnit
politana de Florianópolis) a Osório, no Rio
Grande do Sul.
A duplicação, de acordo com a pesquisa da Unisul, beneficiará cerca de 850 mil
pessoas só no estado de Santa Catarina e
vai finalmente garantir a plena integração
rodoviária do Brasil com os demais países
do Mercosul.
As obras de ampliação no trecho que
vai de Palhoça à divisa com o Rio Grande
do Sul começaram em 2005 e foram divididas em duas etapas: alargamento de 238,5
quilômetros de pista e construção de 10
quilômetros de estruturas para integrar os
diferentes segmentos da estrada: a Ponte
Anita Garibaldi, dois túneis sob o Morro
dos Cavalos, em Palhoça, e um túnel sob
o Morro do Formigão, no município de
Tubarão. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(Dnit), 230,55 dos 238,5 quilômetros desse trecho da rodovia já estão duplicados
e pavimentados.
A Ponte Anita Garibaldi, sobre a Lagoa de Santo Antônio, faz parte do processo de duplicação da BR-101
grandes obras | VidaBosch | 27
ros (79,54%) e ônibus (20,04%), segundo a
Santa Catarina Turismo S/A (Santur), empresa vinculada ao governo catarinense.
A obra vai substituir uma ponte de
pista única construída em 1934.
Deve fomentar o turismo e reduzir o
custo do transporte na região
Logística impressionante
Por todos esses motivos, a Ponte Anita Garibaldi é uma obra fundamental para a região Sul do Brasil. E a dimensão da obra
reflete sua importância. Segundo o supervisor do Dnit, Avani Aguiar de Sá, ela será
a terceira maior do país, atrás apenas da
Ponte Rio-Niterói e da Ponte Rio Negro,
no Amazonas.
A construção está a cargo de um consórcio formado pelas empreiteiras Camargo
Corrêa, Aterpa M. Martins e Construbase.
De acordo com o Dnit, o projeto está orçado em R$ 642 milhões, dos quais R$ 319
milhões já foram investidos. Serão utilizadas 2,5 mil toneladas de aço estrutural
e 65 mil toneladas de concreto.
A logística é impressionante. Os trabalhos começaram em outubro de 2012, com
a montagem do canteiro de obras – localizado ao lado da rodovia federal SC-436 – e
o início da escavação do leito da Lagoa de
Santo Antônio para a instalação das fundações da ponte. Ao mesmo tempo em que o
leito da lagoa é escavado, são construídos
os pilares pré-moldados de concreto que
vão sustentar a ponte. Conforme a fundação fica pronta, os pilares são levados para os pontos onde serão instalados. Para
o transporte de material, equipamento e
trabalhadores, estão sendo utilizadas 30
balsas, 12 rebocadores e 15 barcos de apoio.
Ao todo, 1,3 mil pessoas estão trabalhando
na obra direta e indiretamente.
Uma vez instalados os pilares, sobre
eles é construída a primeira de uma série
de peças de concreto que vão conectar um
pilar ao outro. Chamadas de aduelas, são
estruturas retangulares pré-moldadas de
cerca de 4 metros de comprimento e 90
toneladas, encaixadas umas nas outras.
Concluída a armação das aduelas em um
vão, a estrutura é completada com as abas
laterais, também pré-moldadas.
A Ponte Anita Garibaldi será estaiada,
o que significa que seu vão central, de 200
metros, será suspenso por 60 cabos de
aço presos a dois mastros que se erguerão
50 metros acima do pavimento da ponte.
Firmado em maio de 2012, o contrato
de construção prevê que a obra seja entregue em 36 meses, ou seja: maio de 2015. A
ponte, no entanto, pode ficar pronta antes
disso. Segundo o Dnit, em novembro de
2013, quase metade (48%) já estava completa, e o órgão acredita que os trabalhos
podem ser concluídos até o fim de 2014. Já
a duplicação total da BR-101 só deve terminar em 2017, estima a Fiesc.
Ferramentas para todos os materiais
A construção da Ponte Anita Garibaldi está
utilizando quantidades impressionantes
de concreto e aço. Os operários da obra
precisam de ferramentas de qualidade
para trabalhar com esses materiais. A
Bosch oferece martelos perfuradores
para fazer ajustes nas peças de concreto; esmerilhadeiras para cortar e lixar
metais; e furadeiras, serras circulares e
serras tico-tico para produzir moldes de
madeira.
As ferramentas da Bosch são usadas desde a construção das fundações. “Estão
sendo escavados no leito da lagoa buracos de 70 a 90 metros de profundidade
para a instalação dos pilares. Os buracos
são protegidos por chapas de metal que
precisam ser soldadas e uniformizadas,
e esse trabalho de acabamento é feito
por três modelos de esmerilhadeiras
da Bosch – GWS 22-180 (de 7 polegadas), GWS 15-125 (de 5 polegadas) e
GWS 8-115 (de 4,5 polegadas)”, conta
Samuel Recktenwald, consultor técnico
e comercial da Bosch. Segundo ele, as
esmerilhadeiras também são usadas para
cortar os vergalhões de metal da ponte.
Depois de instalados os pilares, começam a ser colocadas as aduelas, peças
de concreto que preenchem o vão formado pelas colunas. Essas estruturas,
de 90 toneladas cada, são produzidas
em moldes de madeira que dão forma
ao concreto. Para fazer os moldes, os
trabalhadores utilizam dois modelos de
furadeiras de impacto – GSB 30-2 (de
900 watts) e GSB 20-2 (de 800 watts)
–, a serra circular GKS 65 e a serra tico-tico GST 90 da Bosch.
Quando os blocos de concreto estão prontos, é preciso fazer os ajustes finais, como
limpeza e perfuração, o que é realizado
com a ajuda de três modelos de martelos
perfuradores da Bosch – GBH 2-24 (de
2 kg), GBH 3-28 (de 3 kg) e GBH 4-32
(de 4 kg) –, afirma o consultor técnico
e comercial.
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
Por fim, Recktenwald faz questão de
exaltar os procedimentos adotados na
obra para garantir a integridade física dos funcionários. “A segurança é
muito forte, muito organizada. É tudo
muito limpo, tudo tem procedimento”,
conta ele.
brasil cresce
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28 | VidaBosch |
A (nova) arte de
fazer joias
Customização de peças impulsiona o setor joalheiro do país e transforma designers
independentes em protagonistas do mercado
| Por Débora Yuri
30 | VidaBosch |
A
brasil cresce
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customização chegou à joalheria
nacional, nos moldes do ocorrido
com o mercado de moda. Se a antiga alfaiataria virou um ateliê exclusivo, o ourives que produzia joias em sua oficina
artesanal hoje é um designer cobiçado.
Essa tendência movimenta um setor
que tem ganhado força de forma constante nos últimos anos. Não se trata de
um crescimento explosivo, mas o faturamento subiu de US$ 6,5 bilhões em 2010
para US$ 7 bilhões em 2011, de acordo com
relatórios do Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos (IBGM). Em 2012,
chegou a US$ 7,5 bilhões.
Num ramo fortemente impactado pela recente crise econômica mundial, são
números a comemorar. E se comemora,
também, o status de seus novos protagonistas, responsáveis por uma fatia cada
vez maior do segmento: os designers e
criadores independentes de joias.
“Eles assumiram um papel tão importante no setor joalheiro nacional quanto
os profissionais da indústria”, diz Julio
Silva, diretor da consultoria Julius, que
atua no segmento há 20 anos. “A exclusividade de seus produtos e o atendimento personalizado conferem às suas joias
mais valor, pela assinatura que trazem.”
O segmento joalheiro tradicional, formado em boa parte por indústrias familiares, vem sofrendo crescente concorrência
de ateliês independentes, ourives e lojas
de varejo, que passaram a produzir internamente os produtos que vendem. “Essa
mudança começou há dez anos e se intensificou nos últimos cinco”, observa Silva.
Os pequenos ateliês se formalizaram. Os
criadores autorais viraram marca, atraindo consumidores que desejam peças ex-
clusivas. E dispõem de ferramentas avançadas de produção, como softwares para
projetar peças com visão tridimensional,
impressoras que fabricam protótipos tridimensionais em diversos materiais e tecnologias de acabamento semelhantes às
de grandes indústrias.
“Com isso, nasceu um novo desenho de
negócios, diferente da indústria: muitos
designers apostaram na frente empreendedora e viraram empresários designers.
A atuação de forma regional no Brasil também foi expandida”, diz o consultor.
Outro fator que ajudou a abrir mercados antes pouco explorados foi a ascensão do que alguns têm chamado de “nova
classe média”. Joias folheadas e bijuterias
que incorporam a diversidade das pedras
brasileiras disputam espaço com os produtos de ouro e prata do mercado de luxo.
O processo de produção joalheira é bastante similar ao de uma indústria metalúrgica, mas com equipamentos e ferramentas
de pequeno porte. Depois que o designer
brasil cresce | VidaBosch | 31
Da indústria para estúdios próprios
Nascida em Itaúna (MG), a designer Eliânia
O Brasil é o
12o produtor
mundial de
ouro e é
conhecido no
exterior pela
variedade de
suas pedras
preciosas
Estima-se que o Brasil produza nada
menos que um terço das gemas do
mundo, excluindo-se os diamantes,
rubis e safiras
Rosetti estudou artes plásticas e desenho
de moda. Começou a desenhar manualmente para a indústria joalheira há mais
de duas décadas e, em 2000, virou pioneira no Brasil no uso de 3D.
“Não venho de família joalheira, e o
maior desafio quando comecei era a informalidade. Havia muitos amadores no
mercado, mas isso está mudando”, afirma ela, que hoje comanda um estúdio de
design em São Paulo, além de treinar profissionais de diversas empresas.
Os desafios também mudaram, conta Eliânia. “O maior deles agora é inovar,
porque o consumidor continua exigente,
mas está cada vez mais eclético.” Outro é
exportar mais. “O Brasil é bem visto em
relação aos desenhos, que são vanguar-
da, mas ainda exportamos poucas joias.”
De qualquer modo, o país está atraindo
mais olhares estrangeiros, avalia Engracia Costa, diretora de design da Associação dos Joalheiros de São Paulo (Ajesp) e
professora de expressão e representação
gráfica do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Anhembi Morumbi.
“Não é só pelas pedras que nós temos;
é uma questão de comportamento. O Brasil tem um estilo de vida que o europeu
busca hoje: mais leve, com mais alegria,
ligado à natureza”, comenta. “Por que as
Havaianas viraram um sucesso no exterior? Porque elas traduzem um espírito,
um jeito de viver, sobretudo do Rio.”
Ela explica que, no mercado brasileiro, a designação “designer de joias” reúne diversos tipos de profissionais: os que
só desenham; os que desenham e fazem
projetos de design para empresas; os que
fazem joalheria artesanal ou contemporânea numa escala menor de produção,
muitas vezes com peças únicas. Os últimos
Africa Studio/Shutterstock
cria o projeto da joia, os materiais escolhidos são preparados. Em seguida, passam por processos de fundição de ligas,
laminação e estamparia, para que ganhem
as formas desejadas. A etapa seguinte é a
montagem, em que todas as partes (metais e pedras) se juntam. No acabamento,
a peça é polida e pode receber banhos de
cor para acentuar alguns detalhes.
Hoje, o Brasil ocupa a 12a posição no
ranking mundial de produtores de ouro e
é conhecido no exterior pela diversidade
de suas pedras preciosas. Estima-se que
o país seja responsável pela produção de
um terço do volume das gemas do mundo,
excluindo-se os diamantes, rubis e safiras.
Cerca de 4 mil empresas de lapidação,
joalheria, artefatos de pedras, folheados e
bijuterias atuam por aqui – os maiores polos
são as cidades de São Paulo, Limeira (SP),
São José do Rio Preto (SP) e Guaporé (RS).
brasil cresce
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32 | VidaBosch |
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Os designers e criadores independentes estão assumindo um papel cada vez mais importante no setor joalheiro nacional
brasil cresce | VidaBosch | 33
gostam de ser considerados “criadores
de joias autorais”.
“Essa tendência de valorização do trabalho de autores independentes vem de
uma macrotendência de comportamento, em que o luxo ganha o perfil não de
ostentação, e sim de exclusividade”, diz.
Demanda por profissionalização
O maior protagonismo dos ourives tem
puxado a demanda por profissionalização.
“A área de joalheria tem muitos autodidatas e empresas que passam de pai para
filho”, explica Eliana Gola, coordenadora
do curso de pós-graduação do Instituto
Europeo di Design de São Paulo, que oferece cursos de joalheria básica, desenho
básico, modelagem 3D, graduação em produção joalheira e pós em negócios de joias.
A maioria dos alunos são pequenos
empreendedores produtores que querem inserir seus produtos e sua marca
no mercado. “Para isso, eles precisam ter
conhecimentos sobre criação, produção,
fashion market e cálculo de preço, além
de ficarem atentos às tendências e osci-
O maior protagonismo dos ourives
tem puxado a demanda por
profissionalização e aumentado a
busca por cursos de formação
lações econômicas.”
Formada em artes plásticas, com especialização em comunicação visual, Eliana
fez um curso de joalheria prática, estudou
na Itália e trabalhou como designer para empresas quando voltou ao Brasil. O
grande trunfo do país na área é o design,
afirma ela. “Ele é aceito em qualquer parte
do mundo. Por causa dele, o Brasil consegue competir com França e Itália, que têm
muitas marcas de alto luxo, e com Índia
e China, que produzem violentamente.”
O Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial de São Paulo (Senai-SP) também tem concentrado esforços no setor
joalheiro. A unidade do Ipiranga, na capital, oferece seis cursos ligados à área,
entre eles joalheiro avançado e estilista de
joias. No município de Limeira, são quatro.
Em outubro, foi inaugurado o Núcleo
de Joalheria da Escola Senai Antonio Devisate, em São José do Rio Preto, o terceiro
grande polo industrial do estado. O novo
espaço de capacitação profissional reforçará a cadeia produtiva local. Segundo
estimativas da Associação dos Joalheiros
e Relojoeiros do Noroeste Paulista (Ajoresp), há na cidade e arredores cerca de
200 fábricas de joias, que empregam 4,5
mil trabalhadores.
“Criamos esse núcleo para atender à
demanda do nosso polo joalheiro por mão
de obra muito qualificada”, diz o diretor
da escola, Cesar Bruel. “O setor está em
expansão e vem se consolidando como
fonte importante de emprego e renda para a região.”
Com sete oficinas, três laboratórios e
duas salas de aula, o novo núcleo vai oferecer o curso de aprendizagem industrial
de confeccionador de joias, que terá duração de dois anos, e cursos rápidos de
tratamento de superfície, design, cravação
e estamparia, gemologia, prototipagem,
lapidação de pedras e acabamento. Para
2014, a meta é atender mais de 300 alunos.
Praticidade e precisão
Se o design brasileiro faz sucesso no mercado internacional de joias e bijuterias,
isso se deve à inventividade dos nossos
artistas – e às ferramentas que têm à
disposição para colocar essa criatividade
em prática. A Dremel, divisão de ferramentas rotativas do Grupo Bosch, tem
um modelo feito sob medida para esses
profissionais: a série 4000.
“Ela é usada para trabalhos como polimento de metal, limpeza final das joias
e para alguns tipos de ajustes, como o
desbaste do espaço em que se vai posicionar uma pedra preciosa”, afirma o
chefe da marca Dremel para o Brasil,
André Archangelo. Os múltiplos usos da
ferramenta são garantidos pela possibilidade de encaixar, em sua ponta, dispositivos bem diferentes, que podem ser
trocados com facilidade.
Para o desbaste, por exemplo, usa-se uma
ponta feita de material abrasivo, que desgasta o metal, moldando-o. Outro grupo
de pontas, cobertas com partículas de
diamante, é usado para trabalhos refinados de esculpir ou gravar substâncias
duras e pedras semipreciosas.
Com potência de 35 mil rotações por minuto, a ferramenta pode trabalhar com
várias pontas para fazer diversos tipos
de polimento. A ponta de feltro penetra
até em espaços mínimos. Para materiais
mais rígidos, o polimento pode ser feito
com uma ponta de borracha. O resultado
é sempre um brilho intenso na superfície polida.
As ferramentas rotativas da Dremel são
precisas, mas pode-se acoplar nelas uma
empunhadeira para aumentar ainda mais
a precisão quando necessário – ao fazer gravação ou esculpir detalhes, por
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
exemplo. “O eixo flexível permite usar
a ferramenta como uma caneta, o que
confere mais precisão”, diz o chefe da
marca Dremel para o Brasil.
Por tudo isso, a série 4000 atende a
quase todas as necessidades das pessoas que trabalham fazendo joias. “Os
lojistas comentam que os modelos da
Dremel são muito procurados por joalheiros”, comenta Archangelo.
atitude cidadã
Mike Truchon /Shutterstock
34 | VidaBosch |
Os heróis anônimos
da educação
Premiações buscam valorizar a carreira dos professores, mas ainda
há muito que fazer por eles no Brasil
| Por Claudia Zucare Boscoli
36 | VidaBosch |
A
atitude cidadã
o assumir uma turma de 1º ano fundamental na escola municipal Adirce
Cenedeze Caveanha, em Mogi Guaçu, a 164
quilômetros de São Paulo, a professora
Elisangela Carolina Luciano propôs a si
mesma um desafio: mostrar para seus 23
alunos como é importante aprender a ler
e escrever. E teve a ideia de levá-los a um
sacolão nas proximidades do colégio para
avaliar as placas que informavam o nome
e o preço de frutas e legumes. Começaram
apenas listando o nome dos alimentos.
Depois, pesquisaram as propriedades
nutricionais de cada um deles e, juntos,
fizeram novas placas, com ortografia correta e muito mais informação. “Eles entenderam na prática como a leitura e a
escrita são importantes no aprendizado.
O que produziram pôde ser utilizado por
outras pessoas, não ficou restrito à sala
de aula”, diz a professora, vencedora do
Prêmio Victor Civita Educador Nota 10
deste ano, promovido pela Editora Abril.
São muitos os exemplos de professores
que, como Elisangela, inovam no ensino
e inscrevem seus projetos nas diversas
premiações para educadores existentes
no país (leia sobre isso no boxe da página
39). “A premiação valoriza as experiências
dos professores, que, ao se tornarem conhecidas, podem ser replicáveis”, entende
Mônica Gardelli, diretora da Secretaria de
Educação Básica do Ministério da Educação, que promove anualmente o prêmio
Professores do Brasil, com o objetivo de
incentivar práticas pedagógicas criativas
nas redes públicas de ensino.
Para Antônio Morais, diretor de Educação da Microsoft Brasil, promotora do
prêmio Educadores Inovadores, o bom
exemplo dos ganhadores é o que há de
mais importante nesses concursos. “É muito gratificante perceber que a inovação
proposta por eles extrapola os limites da
sala de aula e atinge o sistema de educação do qual fazem parte. São exemplos
inspiradores”, afirma.
Maria de Salete Silva, coordenadora de
Educação do Fundo das Nações Unidas
para a Infância e a Adolescência (Unicef),
segue na mesma linha. “Os prêmios aos
educadores não estão aí para resolver o
problema da educação, mas para reco-
nhecer o trabalho dos professores, para
acabar com a inverdade de que é preciso
recapacitar toda a categoria. Temos muitos bons profissionais, capazes de criar
projetos que levam em conta a diversidade
e a desigualdade do nosso país. E os outros professores, tendo a oportunidade
de conhecer essas experiências, podem
usá-las como referência, não como modelo, mas como inspiração”, avalia. Para
ela, que já participou do júri de diversas
premiações, o ponto em comum que liga
a maioria dos projetos inscritos é a constatação do quanto os professores também
aprendem com os alunos. “No discurso
dos professores premiados, você sempre
capta essa mensagem: que o aluno estava
ali para aprender, mas que também ensinou muito.”
Não há dúvida, porém, de que iniciativas desse tipo são limitadas. Seria incorreto encará-las como um indicativo de que
medidas simples são suficientes para superar os entreves da educação brasileira.
“Premiar os professores é irrelevante e
pouco acrescenta para a melhoria da educação. Os prêmios não alteram o descaso
e o abandono com que o sistema educacional tem se desenvolvido no país desde
a instauração da República”, comenta a
docente Stella de Moraes Pellegrini, que
coordena projetos de leitura e formação
de professores na Cátedra Unesco de Leitura e na Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro.
Stella já coordenou um grupo de pesquisadores na análise de 6 mil projetos
que concorreram ao prêmio Viva Leitura, do Ministério da Cultura, em 2006 e
2007. Da experiência, o que ficou de mais
gratificante foi ter dado voz a mestres do
Brasil inteiro. “Apenas três projetos foram
premiados, mas tivemos oportunidade de
mostrar a todos os outros professores que
seu trabalho era importante para o país.”
Valorização
A necessidade de valorizar o professor,
aliás, é um dos poucos pontos de consenso
entre os especialistas da área. Enquanto
em países desenvolvidos a atividade desfruta de prestígio social e boas condições
de trabalho, por aqui as perspectivas sa-
Bikeriderlondon/Shutterstock
atitude cidadã | VidaBosch | 37
Por meio de iniciativas criativas, docentes ampliam os horizontes dos alunos e inspiram seus colegas
38 | VidaBosch |
atitude cidadã
É preciso ir muito além dos
prêmios para valorizar o professor
brasileiro, que ganha o terceiro pior
salário do mundo
abono salarial ao professor que possui
pós-graduação, mestrado e doutorado”,
afirma a professora Stella Pellegrini.
“No município do Rio de Janeiro, por
exemplo, luta-se há 15 anos pela aprovação
de um projeto que propõe 15% de aumento ao salário dos professores com curso
de pós-graduação lato sensu, 30% para
os que têm mestrado e 40% para os que
têm doutorado. Mas entra governo, sai
governo, o plano continua engavetado. Em
qualquer outra instituição do país esses
cursos são valorizados”, aponta.
As condições de trabalho também não
ajudam. Segundo o estudo da Unesco, o
Brasil é um dos países com o maior número
de alunos por classe, o que prejudica o
ensino: são mais de 29 alunos por profes-
sor – na Dinamarca, por exemplo, a relação
é de dez para um.
Além, disso, a maior parte das escolas
(84,5%) apresenta uma estrutura elementar ou básica, isto é, tem apenas água, banheiro, energia, esgoto, cozinha, sala de
diretoria e alguns equipamentos como
TV, DVD, computador e impressora. Os
dados são do estudo “Uma Escala para
Medir a Infraestrutura Escolar”, realizado
em conjunto pela Universidade de Brasília e pela Universidade Federal de Santa
Catarina. Apenas 0,6% apresenta uma infraestrutura considerada avançada, com
sala de professores, biblioteca, laboratório
de informática, quadra esportiva, parque
infantil, laboratórios e acessibilidade.
Fica claro assim que, se o objetivo dos
prêmios é “valorizar o papel dos professores como agentes fundamentais no processo formativo das novas gerações”, como
anuncia o Professores do Brasil, do MEC,
será preciso ir muito além deles.
Monkey Business Images /Shutterstock
lariais e de carreira são desestimulantes.
O salário médio anual dos docentes brasileiros é de US$ 11 mil, o terceiro pior do
mundo, de acordo com levantamento da
Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura (Unesco). Só
perde para Indonésia (US$ 1.624) e Peru
(US$ 4.752). Um professor do ensino fundamental em São Paulo ganha, em média,
US$ 10 mil ao ano, o equivalente a apenas
10% do que se recebe na Suíça, onde o salário médio da categoria chega a US$ 104
mil ao ano.
Entende-se, assim, por que poucos jovens optam por seguir a carreira. E por
que professores com maior capacitação
acabam deixando a profissão em busca
de melhores salários. “Não há qualquer
incentivo à inovação dos professores no
país, em especial aos da educação básica da rede pública. Um exemplo disso é
a falta de um plano de cargos e salários,
mesmo nos grandes centros, que dê um
Um professor do ensino fundamental em São Paulo ganha, em média, 10% do que se recebe na Suíça
atitude cidadã | VidaBosch | 39
Seleções brasileiras
Conheça alguns dos principais prêmios
a docentes no país
Professores do Brasil
Iniciativa do Ministério da Educação (MEC)
e de instituições parceiras, busca reconhecer a contribuição dos docentes da
rede pública para a melhoria da qualidade da educação básica no Brasil. O
concurso seleciona as melhores e mais
criativas experiências pedagógicas desenvolvidas pelos professores da rede
pública.
Site: http://premioprofessoresdobrasil.
mec.gov.br
Prêmio Victor Civita Educador Nota 10
Criado em 1998, pretende identificar
docentes que adotam boas práticas em
sala de aula e valorizar a carreira docente.
A cada edição, mais de 4 mil professores,
diretores escolares e coordenadores pedagógicos inscrevem seus trabalhos, em
diferentes áreas de conhecimento. Uma
comissão selecionadora, composta por
profissionais do ensino, analisa os trabalhos recebidos e escolhe dez Professores
Nota 10 e um Gestor Nota 10.
Site: http://www.fvc.org.br/premio-victor-civita/
Prêmio Arte na Escola Cidadã
O Prêmio Arte na Escola Cidadã tem como
objetivo reconhecer e evidenciar experiências educativas de qualidade no ensino da
arte. Desde 2000, premia e documenta boas
práticas de professores dessa disciplina
no ensino infantil, fundamental, médio e
na educação de jovens e adultos (EJA)
em todo o país.
A premiação é uma iniciativa do Instituto Arte na
Escola, organização social fundada em 1989.
Site: http://artenaescola.org.br/premio/
Prêmio Microsoft Educadores Inovadores
Foi criado com o objetivo de reconhecer
os melhores projetos educacionais que
utilizam a tecnologia para melhorar a
qualidade do ensino.
O concurso já recebeu mais de 2 mil
projetos de todas as regiões do país e
pretende incentivar o desenvolvimento
de ações de incorporação das tecnologias em atividades que melhorem o
desempenho escolar dos estudantes.
Site: http://www.blogeducadoresinovadores.com.br/
Reconhecimento às peças fundamentais
Assim como as diversas premiações concedidas a professores brasileiros, o Prêmio
Peça por Peça, idealizado pelo Instituto
Robert Bosch, tem o objetivo de valorizar as práticas na área social. A iniciativa,
criada em 2012, reconhece o trabalho
desenvolvido por entidades parceiras do
instituto que atuam em Vila Verde e Barigui, duas comunidades de baixa renda
localizadas ao redor da fábrica da Bosch
em Curitiba.
A edição deste ano teve 18 projetos inscritos. O grande vencedor foi o Fazendo Arte, do Centro Municipal de Educação Infantil Vila Verde II, que atende
257 crianças e as ajuda a desenvolver a
sensibilidade por meio de experimentação, apreciação e criação.
Já o segundo lugar ficou com o projeto
Saber Adolescer, da Unidade Municipal
de Saúde da Vila Barigui, que usa temas
de interesse dos adolescentes para dar
orientações sobre saúde. Completa a lista
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
o Paz na Escola, da Unidade de Educação
Integral da Escola Municipal América da
Costa Sabóia, que busca fazer dos jovens
agentes transformadores da sociedade.
Ao registrarem-se no prêmio, escolas
municipais, unidades de saúde, oficinas esportivas e profissionalizantes
precisam mostrar os avanços obtidos.
“Em 2013, as entidades tiveram uma
grande preocupação em apresentar os
indicadores acompanhados durante o
ano. Houve uma sensível melhora na
elaboração e na escrita dos projetos, e
os resultados foram apresentados com
muito mais objetividade”, afirma Dirceu
Puehler, coordenador regional do Instituto Roberto Bosch.
Todos os inscritos receberam certificados, e os três primeiros ganharam
valores em dinheiro – R$ 7 mil para o
primeiro, R$ 5 mil para o segundo e R$
3 mil para o terceiro – e contarão com
apoio para melhoria de infraestrutura
e equipamentos.
40 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
Do polegar ao laser
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Cada vez mais precisos, os instrumentos de medição prepararam vários avanços
| Por Tiago Cordeiro
tecnológicos da humanidade, desde a Antiguidade até hoje
aquilo deu nisso
Arquivo Bosch
42 | VidaBosch |
Q
uem nunca deu passos para estimar
o tamanho de um ambiente? É um
gesto instintivo: na falta de uma trena, repetimos um procedimento milenar, o de
usar o próprio corpo para medir distâncias e dimensões de objetos e construções.
Hoje, no entanto, calcular tamanhos se tornou uma técnica extremamente precisa,
que conta com equipamentos sofisticados,
como medidores a laser capazes de fazer
cálculos e mensurações simultâneos. De
certa forma, esta evolução ajuda a entender a própria trajetória da humanidade.
A história dos instrumentos de medição
é um dos capítulos mais ricos da história
da ciência e da tecnologia e acompanha
de perto a evolução humana.
“Cada um dos avanços tecnológicos da
humanidade foi antecedido por um instrumento de medição, que propiciou estas
revoluções”, afirma o professor Ubiratan
D’Ambrosio, do Programa de Pós-Graduação
em História da Ciência da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Do cúbito à groma
Sem os instrumentos de medição não existiria comércio; grandes construções como
pirâmides, catedrais e arranha-céus mal
seriam traços no papel; e a Revolução Industrial não teria acontecido. Para que tudo
isso fosse possível, o homem teve de desenvolver métodos para calcular pesos, comprimentos, distâncias, alturas, tempo etc.
Tudo começou com o próprio corpo humano. As primeiras unidades de medida do
mundo foram justamente partes de membros: dedos, pés, polegadas e cúbitos (esta
última equivale à distância do cotovelo à
ponta do dedo médio). Tais unidades, no
entanto, variavam de tamanho, dependendo da referência utilizada.
Rapidamente, o uso do corpo foi substituído por instrumentos rudimentares,
como varas de madeira de tamanhos padronizados. Para avaliar a massa, uma vara
suspensa no meio por uma corda, com dois
objetos diferentes pendurados em cada extremidade, ajudava a fazer comparações.
Já o volume de um objeto – um vaso, por
exemplo – era medido pela quantidade de
sementes que cabia em seu interior.
A partir do surgimento das primeiras cidades na Mesopotâmia, no quarto milênio
antes de Cristo, diferentes civilizações encontraram soluções tecnológicas espantosas
para resolver o problema da medição. “O
ser humano usa instrumentos de medição
desde pelo menos 4 mil a.C., quando surgiu
na Mesopotâmia o primeiro mapa topográfico. Esta tecnologia trouxe ganhos práticos,
como a rapidez na obtenção de distâncias e
a precisão das medidas para elaborar construções”, diz o professor Iran Carlos Corrêa,
do Departamento de Geodésia do Instituto
de Geociências da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS).
A balança surgiu na Babilônia – uma
das cidades da Mesopotâmia – e era formada por dois pratos. Em um deles eram
colocadas sempre as mesmas pedras; no
outro, um objeto qualquer, cujo peso era
determinado por comparação.
aquilo deu nisso | VidaBosch | 43
A régua apareceu na região onde hoje
ficam a Índia e o Paquistão, no segundo
milênio antes de Cristo, quando se começou a utilizar instrumentos de diferentes
tamanhos, divididos em 24 unidades iguais,
para orientar as obras arquitetônicas. Na
mesma época, os egípcios usavam cordas
com nós equidistantes para medir distâncias, contavam o tempo usando relógios de
sol (obeliscos que apontavam as horas com
base na projeção da sombra) e usavam réguas que indicavam a medida padronizada
do cúbito, unidade mais utilizada por eles.
Esses instrumentos também estabeleciam
a equivalência do cúbito com outras partes do corpo, como polegares, palmas e
punhos (como a régua que está na página
de abertura desta reportagem).
Por volta do século 3 a.C., os gregos já
usavam uma vasta gama de recursos, como a dioptra – um esquadro apoiado em
um tripé, que permitia construir túneis e,
ao mesmo tempo, fazer observações astronômicas. Nessa época, cada povo – de
assírios a persas, de sumérios a chineses –
mantinha seu próprio padrão de referência
e seu próprio ritmo de desenvolvimento
tecnológico.
No entanto, com a fundação do Império
Romano, no século 1 a.C., as tecnologias e
as unidades de medida ficaram mais uniformes em toda a Europa e em boa parte do
Oriente Médio e do norte da África. Graças
a Roma, se disseminaram equipamentos
complexos de medição, como a groma (um
esquadro formado por uma cruz de quatro
braços perpendiculares, usado para traçar linhas retas e ângulos de 90 graus) e o
chorobate (fundamental para a construção
de aquedutos, formado por uma espécie
de mesa que sustenta uma combinação de
esquadros e fios de prumo).
Do fio de prumo ao laser
Ao longo da Idade Média, a construção de
obras de grande porte, em especial castelos
e catedrais, estimulou o desenvolvimento
de uma série de dispositivos muito usados
ainda hoje, como compasso, corda, nível,
fio de prumo, esquadro e virga. Mas nesse
período ainda não havia unidades de medida unificadas. Cada senhor feudal mantinha um sistema particular.
Esta falta de padronização começou a
mudar no século 12, quando o rei Ricardo I,
da Inglaterra, estabeleceu unidades nacionais para calcular comprimento e capacidade. Nos séculos seguintes, essas medidas
– a jarda e o galão – foram difundidas pelos
territórios dominados pelos britânicos e até
hoje são usadas nos países de língua inglesa.
No resto do mundo, a uniformização
começou no fim do século 18, quando os
iluministas franceses criaram o sistema métrico, um padrão constante e universal. “É
com a Revolução Francesa e sua proposta
de internacionalizar o conceito de república
que surge um sistema de medida padronizado para o mundo inteiro”, diz o professor
Ubiratan D’Ambrosio. Esse processo só foi
concluído em 1960, com a criação do Sistema Internacional de Unidades, durante
a 9a Conferência Internacional de Pesos e
Medidas, que estabeleceu padrões para as
seguintes grandezas: comprimento, massa,
tempo, intensidade elétrica, intensidade
luminosa e temperatura.
Num primeiro momento, o metro deveria ser o equivalente à distância da linha
do Equador ao Polo Norte, dividida por 10
milhões. Mas desde 1983 ele é definido de
forma diferente: o equivalente a 299.792.458
avos da distância percorrida pela luz no
vácuo durante um segundo. Essa nova definição liga-se a uma descoberta que está
por trás dos principais avanços no campo
da medição nas últimas décadas: o uso de
ondas e partículas para calcular distâncias.
O primeiro a identificar a possibilidade
de usar a luz como instrumento de medida
foi o físico inglês Isaac Newton, no século 17.
Nos séculos 19 e 20, descobertas nas áreas
de eletricidade e termodinâmica ditaram
a evolução dos instrumentos de medida e
abriram caminho para os grandes avanços das últimas décadas: o uso de laser e
vibrações de elementos em níveis atômicos para medir distâncias com precisão
extraordinária e em níveis de grandeza
antes inimagináveis.
A Bosch na sua vida
Precisão em 360 graus
A Bosch é uma protagonista na
história dos sistemas de medição
e nas inovações do setor. Um dos
pontos altos dessa trajetória é o
nível a laser de superfície GSL
2, que verifica o nivelamento de
qualquer piso em 360º.
As outras ferramentas do mercado, como mangueiras de água e
níveis a laser comuns, usam um
ponto fixo na parede para achar
as falhas no piso, por isso não indicam a localização e o tamanho
do desnível. Já o GSL 2 usa duas
linhas laser, que permitem “apontar onde está o desnivelamento
e qual sua altura ou profundidade”, diz o gerente da unidade de
negócios da linha de medição da
Bosch, Fabiano Bisetto.
Quando o chão é plano, os dois
raios laser se fundem em uma única linha. Se há desnível, a linha
volta a se dividir em duas – indicando com exatidão onde está o
problema. Com o auxílio de uma
placa alvo com medidas em milímetros na qual as duas linhas se
projetam, consegue-se determinar
o tamanho do desnível.
Como gira em torno do próprio
eixo para verificar toda a superfície, a ferramenta analisa o piso em
360º. “Basta ligar o equipamento e controlar a rotação com um
controle remoto”, explica Bisetto.
O GSL 2 funciona com bateria de
íons de lítio ou pilhas simples.
Arquivo Bosch
Hoje, o uso de laser e vibrações
de elementos em níveis atômicos
permite medir distâncias com
precisão extraordinária
44 | VidaBosch |
saudável e gostoso
Divino sabor
B. and E. Dudzinscy/Shutterstock
A avelã, muito usada em receitas doces, é há muito tempo coberta de uma aura sagrada.
Seus benefícios – para o paladar, a saúde e a pele – ajudam a explicar por quê
| Por Manuel Alves Filho
A
saudável e gostoso
lgo de divino a avelã deve ter. Há referências de que os chineses a consideravam um alimento sagrado. Na Europa
Central, era oferecida a jovens casais no
dia do casamento, como símbolo da fecundidade. Os antigos povos germânicos
e nórdicos consagraram a aveleira ao deus
Thor, por entendê-la mágica. A madeira
dessa árvore foi utilizada em experiências
místicas: servia de suporte às cartas mágicas dos celtas e para a confecção de varas
usadas na localização de fontes e tesouros
escondidos sob o solo.
Segundo o “Horóscopo das Árvores”,
cuja criação é atribuída aos druidas celtas,
quem nasce entre 22 e 31 de março e 24 de
setembro e 3 de outubro pertence ao signo
da avelã – e, por isso, teria como principais
características o encanto, a compreensão,
a popularidade, a honestidade, a tolerância
e a virtude de contribuir para a execução
de obras sociais.
Não se sabe onde ela nasceu: seu nome
em latim está ligado ao vilarejo de Avella,
no sudoeste da Itália, onde essa cultura
agrícola foi muito importante no passado,
mas atualmente o maior produtor mundial
é a Turquia.
No Brasil, o fruto é pouco consumido –
a aveleira, um arbusto que cresce naturalmente em quase toda a Europa, Ásia Menor
e parte da América do Norte, não é cultivada
comercialmente por aqui – com exceção da
época do Natal e do Réveillon. No restante
do ano, é encontrado sobretudo em doces
(bolos, bolachas, pavês, sorvetes e outras
delícias... divinas).
O seu consumo moderado é recomendado por médicos e nutricionistas, que a
consideram um alimento extremamente saudável. Rica em ácidos graxos monoinsaturados (que contribuem para a manutenção
da saúde cardiovascular), ela ainda oferece
quantidades importantes de fibras, magnésio,
potássio, fósforo e vitamina E, substâncias
indispensáveis ao bom funcionamento do
organismo. Em termos nutricionais, é o que
as pessoas costumam classificar de “tudo de
bom”, segundo a nutricionista Renata Maria
Padovani, pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A posição de Renata é reafirmada por
Na boca e na pele
S_Photo/Shutterstock
46 | VidaBosch |
estudos científicos que também apontam a
avelã como fonte de nutrientes e substâncias benéficas à saúde. Artigo assinado por
pesquisadores da Escola de Agronomia e
Engenharia de Alimentos e da Faculdade de
Nutrição da Universidade Federal de Goiás
(UFG) aponta que a avelã e outros tipos de
nozes e sementes têm composições químicas que as destacam, por exemplo, das leguminosas. “As nozes e sementes apresentam
melhor perfil de aminoácidos. Esses alimentos possuem outros compostos químicos
como fitoesteróis, selênio e tocoferóis que
potencializam sua ação antioxidante, inibidora de estresse oxidativo”, pontua o texto.
O que os cientistas querem dizer é que
esses compostos ajudam a combater os radicais livres, substâncias que concorrem
para o envelhecimento e o surgimento de
uma série de doenças. A posição da ciência
reafirma em certa medida o que o conhecimento tradicional e a superstição popular
dizem há mais de mil anos. A tradição alemã, por exemplo, considerava a avelã um
símbolo da imortalidade. Muitas pessoas
colocavam o fruto junto aos túmulos de familiares e amigos, como forma de favorecer
a regeneração da vida.
“Podemos ingerir avelã todos os dias,
desde que não ultrapassemos a nossa cota energética”, adverte Renata. É que o
ingrediente é pródigo em gorduras, que
respondem por aproximadamente 60%
da sua composição. “É necessário cautela
no consumo. Embora a avelã seja rica em
nutrientes valiosos para a nossa saúde, seu
valor energético pede que haja bom senso
na quantidade ingerida. O excesso pode levar ao aumento de peso.”
Na ponta do lápis (ou do ponteiro da balança), é o seguinte: 100 gramas de avelã têm
628 quilocalorias. O ideal, conforme os especialistas, é ingerir em torno de dez unidades por dia (88 quilocalorias).
Se faz bem à saúde, esse alimento também traz grandes benefícios ao paladar,
como destaca a chef confeiteira Carole
Crema, proprietária da doçaria La Vie en
Douce, uma das mais prestigiadas de São
Paulo. Conhecida por comandar, ao lado
de outras profissionais, o programa “Cozinha Caseira”, do canal pago Bem Simples (Fox), ela se diz fã incondicional desse
ingrediente. “Adoro a textura e o sabor
da avelã. Uso de diferentes maneiras em
minha cozinha, mas considero que ela casa muito bem com chocolate, formando
a gianduia, que está presente em meus
biscoitos, bolos, brigadeiros e docinhos
para festas”, conta.
Embora seja um valioso ingrediente para
a confeitaria, a avelã exige alguns cuidados
tanto no preparo quanto no armazenamento,
segundo a chef. “Ela deve ser sempre torrada
à perfeição, pois assim mantém seus principais atributos. A maneira mais eficiente de
fazer isso é por meio da fritura por imersão.
Após esse procedimento, deve-se retirar a
casca do fruto, pois ela deixa o seu sabor
levemente amargo”, ensina.
A avelã, aliás, além de ser incorporada a
doces, pode ser consumida naturalmente,
depois de torrada, ou adicionada a saladas,
o que contribui para reduzir a quantidade
de azeite empregada como tempero.
Quanto à conservação, Carole aconselha que o fruto seja mantido em local protegido de luz, para evitar que escureça e
amargue. “Melhor conservar embalada a
vácuo, no freezer, por até seis meses. Na
hora de usar a avelã, é necessário cuidado para triturá-la, porque ela tem muito
óleo”, acrescenta a cozinheira, que nas
próximas páginas compartilha com os leitores da VidaBosch duas de suas saborosas criações com o ingrediente.
Essa grande quantidade de óleo faz da
avelã um ingrediente muito requisitado
na indústria – não só a alimentícia (onde
é usada na produção de leite, manteiga,
pasta, biscoitos, chocolates e bolos), mas
também a de cosméticos: o fruto entra na
formulação de cremes, óleos e desodorantes corporais. E aí, então, seus atributos
têm outro alvo: as divas. Outro sinal de
sua ligação com divindades.
Divulgação
saudável e gostoso | VidaBosch | 47
Bolo gelado de chocolate com avelãs
Ingredientes
Bolo
1 tablete de manteiga
1 3/4 xícara de açúcar refinado
1 ½ xícara de chocolate em pó
3 ovos
1 xícara de farinha de trigo
1 colher de sopa de fermento em pó
1 pitada de sal
1 xícara de leite
1 colher de chá de essência de baunilha
Avelã a gosto
Calda
1 ½ lata de leite condensado
6 colheres de sopa de cacau em pó – 100%
3 colheres de sopa de manteiga
2 xícaras de leite
Rendimento: 15 a 18 porções
Modo de preparo
Bolo
Bata a manteiga com o açúcar num composto cremoso. Junte os ovos, um
a um. Alterne secos e líquidos, adicionando o fermento apenas no final.
Coloque a mistura em uma forma retangular de 20 x 30 cm e leve para
assar em forno pré-aquecido a 190ºC, até que a massa esteja cozida e
levemente dourada.
Quando estiver assado, cubra com a seguinte calda.
Calda
Coloque todos os ingredientes na panela e cozinhe, mexendo, até que a
massa solte do fundo ou atinja 105ºC. Desligue o fogo e adicione o leite
para diluir e transformá-la numa calda. Regue o bolo com esta mistura e,
quando cortar, passe na avelã moída.
48 | VidaBosch |
saudável e gostoso
Rendimento: 11 unidades
Ingredientes
Massa de chocolate
80 g de manteiga sem sal
¾ de xícara de açúcar
3 ovos
2/3 de xícara de farinha de trigo peneirada
½ xícara de chocolate em pó peneirado
½ xícara de leite
1 colher de sopa de fermento em pó
Brigadeiro
1 lata de leite condensado
2 colheres de sopa de cacau em pó
1 colher de sopa de manteiga sem sal
250g de chocolate ao leite, belga, temperado
Você também vai precisar de: saco de confeitar descartável
sem bico, crocante industrializado (ou pé-de-moleque
triturado), avelã moída (a gosto) e forminhas de cupcake
pretas.
Modo de preparo
Massa de chocolate
Bata na batedeira a manteiga e o açúcar até formar um creme
claro e aerado. Adicione os ovos, um a um, batendo. Diminua a
velocidade e junte a farinha de trigo aos poucos, intercalando
com o chocolate em pó e o leite. Adicione o fermento e bata
um pouco mais. Distribua forminhas de papel, próprias para
ir ao forno, na forma de cupcakes e coloque a massa nas
forminhas, enchendo apenas 3/4 do seu volume. Asse em
forno médio (180ºC) pré-aquecido – por cerca de 15 minutos
ou até que a massa esteja cozida e levemente dourada. Retire
da forma e deixe esfriar completamente (de preferência sobre
uma grade) antes de colocar a cobertura.
Brigadeiro
Numa panela, coloque todos os ingredientes e cozinhe,
mexendo, até desgrudar do fundo ou atingir 105ºC.
Montagem
Coloque o brigadeiro num saco de confeitar ou use uma
colher e decore os cupcakes formando um caracol. Coloque
o chocolate temperado numa tigela funda. Com cuidado e
agilidade, vire o cupcake coberto com brigadeiro no chocolate,
formando uma casquinha. Desvire rapidamente e apoie o
bolinho numa superfície. Enquanto o chocolate ainda está
mole, salpique com avelãs moídas e leve os bolinhos à
geladeira por cerca de 10 minutos ou até que a casquinha
endureça. Depois mantenha em temperatura ambiente.
Receitas de Carole Crema Doçaria La Vie en Douce – Rua da Consolação, 3161, Jardins, São Paulo – (11) 3086-7172. www.lavieendouce.com.br
destaque para colecionar
Divulgação
Cupcake de praliné

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