Caminhos cruzados

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Caminhos cruzados
C-5
CMYK
CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, sábado, 11 de dezembro de 2004 • 5
CADERNO C
ARTES PLÁSTICAS
Divulgação
VÍDEO & DVD
O OUTRO LADO DA RUA
(Brasil, 2004). De Marcos Bernstein. Com Fernanda Montenegro,
Raul Cortez e Laura Cardoso. Columbia, em vídeo e DVD, 97min. ✰✰
O FILME
A CRÍTICA
Da janela do apartamento, Regina,
uma idosa solitária, presencia um possível crime que envolve o juiz aposentado Camargo. O destino e as investidas
em investigações da desocupada senhora tratam de forjar a aproximação.
Há expectativa de um novo crime.
Com sutileza, o diretor expõe uma
Copacabana enigmática, a partir da inconformidade da idosa personagem
Regina (iluminada por Fernanda Montenegro). O rigor das interpretações —
Raul Cortez também é minucioso —
traz interesse para a trama, na verdade,
pouco movimentada. (RD)
OMAR FRANCO E PAULO ANDRADE CELEBRAM
25 ANOS DE PRODUÇÃO ARTÍSTICA EM
EXPOSIÇÃO DE OBRAS INÉDITAS
CAMINHOS
CRUZADOS
Fotos: Reprodução
Divulgação
O VESTIDO (Brasil, 2004). De Paulo Thiago. Com Gabriela Duarte, Leonardo Vieira
e Ana Beatriz Nogueira. Columbia, em vídeo e DVD, 116min. ✰✰
O FILME
A CRÍTICA
As conseqüências de uma traição, crivada de pressentimentos e lembranças,
numa sociedade interiorana, embasam o
filme adaptado do poema de Carlos
Drummond de Andrade.Na trama,Ângela (Ana Beatriz),mulher de Ulisses,entrega o marido para a forasteira Bárbara
(Gabriela Duarte).
Avesso à espontaneidade, num tom literário pernóstico, o cineasta resvala em
melodrama desatado. Surpreendente é
saber que Gabriela Duarte, na pele da insossa Bárbara, conquistou prêmio de
atriz no Festival Ibero-americano de
Huelva.Resta a boa presença de Ana Beatriz Nogueira.(RD)
OUTROS LANÇAMENTOS
LANCAMENTOS
Em CURTINDO A LIBERDADE (Chasing liberty,Warner, 111min), de Andy Cadiff, a filha
do presidente dos Estados Unidos,Anna (Mandy Moore) procura se livrar dos guardacostas fugindo com um fotógrafo que conhece numa danceteria na Europa, mas os
segredos entre ambos podem complicar tudo.
CENA DE DULCINÉIA, PERSONAGEM DE PAULO ANDRADE, EM SUAS ANDANÇAS PELA CIDADE: CHOPP NO CONJUNTO
NAHIMA MACIEL
DA EQUIPE DO CORREIO
Divulgacao/Columbia Pictures
CRÍTICA //
Herói em crise
de identidade
RICARDO DAEHN
DA EQUIPE DO CORREIO
Clássica nos quadrinhos, a imagem de
Peter Parker dando as costas para um roto NA PELE DO ARACNÍDEO, TOBEY MAGUIRE
uniforme de Homem-aranha, atirado na CONQUISTA A EMPATIA DO PÚBLICO
lata de lixo, entrega o dilema da vez na seqüência da bem-sucedida adaptação para
o cinema, vista há dois anos. Não por aca- senta os primeiros efeitos da transformaso o roteirista creditado é Alvin Sargent, ção do cientista Otto Octavius no vilão Dr.
premiado com o Oscar por filmes como Octopus (ou simplesmente Doc Ock) nuGente como a gente. Sem repetir fórmulas ma sala de cirurgia. Com os autônomos
corriqueiras para fitas de ação, Homem- tentáculos mecânicos acoplados ao coraranha 2 é contemplado por enredo no po, a desenvoltura de Doc Ock (Alfred Molina) rende atmosfera soqual o protagonista se vê
turna, à altura do cineasta
atormentado pelos dilede Evil dead — Uma noite
mas do ofício de superalucinante e Darkman —
herói. Obrigações, remorVingança sem rosto. Vale
so e opressão são confliainda destacar a dispositantes para o universitáção da veterana Rosemary
rio nerd, solitário e ferraHarris, que impressiona
do, por viver de bicos.
como uma tia May envolO espectador que tevida diretamente na ação.
nha saído do primeiro filÀ frente do elenco, Tome emburrado com o libey Maguire constrói ótimitado leque de efeitos
mo nível de identificação
especiais, desta vez não
com o público na pele do
terá do que reclamar. Nuherói sufocado por resma linha que privilegia
ponsabilidades e pela falcenas aéreas com uso
ta de perspectiva de se liampliado da spydercam
bertar da culpa pela morte
— que registra imagens
do tio. A válvula de escape
de queda com quase um
para os espectadores são
quilômetro de altura —,
as constantes cenas nas
há um diferencial mais
quais ele falha e se esborrealista para os movi(Spider-man 2, EUA,
racha no chão, pela falta
mentos do famoso arac2004). De Sam Raimi.
de fluido de teia e pelo
nídeo. Quem optar pelo
Com Tobey Maguire,
cansaço. Entretanto, HoDVD duplo — recheado
Kirsten Dunst e Alfred
mem-aranha se recondide extras — vai entender
Molina. Columbia, em
ciona e emana aceitação,
boa parte da complexa
vídeo e DVD, 127 min.
particularmente, para os
logística de produção,
✰✰✰
admiradores, postos em
num documentário casituações espetaculares
prichado.
Um dos grandes diferenciais em Ho- como a do duelo no metrô nova-iorquimem-aranha 2 é que projeta uma visão no. O contraponto vem do aborrecimenainda mais pessoal do diretor Sam Raimi. to com a relação periclitante entre Parker
Ele não se constrange em arquitetar cenas e Mary Jane Watson (Kirsten Dunst). Mas
de tensão devastadoras, como a que apre- se trata de mal menor.
HOMEMARANHA 2
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Já AMOR DE ALUGUEL (Love don’t cost a thing,Warner, 100min), de Troy Beyer, conta a
história de Alvin (Nick Cannon), que negocia com a cheerleader Paris (Christina Milian)
seus favores de mecânico de automóveis — em troca, ela se passará por sua namorada.
Mas tudo dá errado e Alvin acaba perdendo ainda mais popularidade na escola.
dolescente nos anos 70,
o escultor Omar Franco
estava mais interessado em desenhar do que
em curtir farras e festas. Desenhava compulsivamente e
guardava tudo numa caixa de
cartolina. Em 1979, depois de
acumular quilos de papel, resolveu tomar uma atitude decisiva: procurou um especialista
para avaliar as centenas de desenhos. Queria saber se deveria
jogar tudo no lixo ou se tinha
alguma inclinação para a arte.
A iniciativa resultou em uma
exposição na galeria destinada
a iniciantes no Espaço Cultural
Renato Russo, na 508 Sul. Omar
dividia o pequeno e menos nobre dos espaços da casa com
um jovem também iniciante.
Recém-chegado a Brasília, Paulo Andrade vinha da Escola de
Belas Artes do Rio de Janeiro
e tinha no colorido intenso
a marca de seus desenhos.
Desde aquela exposição,
Omar perdeu Paulo de vista. Vez ou outra, tinha notícias fragmentadas sobre
uma exposição ou sobre a
atividade do colega. Eles se
reencontraram casualmente há alguns dias, na festa
de aniversário de um amigo. ‘‘Tivemos então a idéia
de celebrar as ‘bodas de
prata’’’, brinca Omar. A celebração é a mostra 25 anos de
arte, em cartaz na galeria Gabinete 45, que reúne a produção recente dos dois artistas.
Omar e Paulo seguiram caminhos bastante diferentes.
Enveredaram por searas artísticas distintas. Com uma década dedicada ao desenho, Omar
sentiu segurança suficiente para migrar para gravura e pintura. Na época, já carregava o
prêmio de melhor desenho no
2º Salão de Artes Plásticas das
Cidades Satélites e dois diplomas da Universidade de Brasília, em Arte e Economia.
A escultura só foi mesmo tomar forma lá pelos anos 80,
mas foi com ela que o nome do
artista ganhou espaço na arte
brasiliense. Quando decidiu
esculpir, esse mineiro radicado em Brasília desde os
12 anos descartou logo a
pedra e a madeira. ‘‘Fiquei
com o aço, que dá mais
possibilidade. Não
posso abrir uma pedra
como abro uma massa de pas-
tel. E com o aço posso fazer
isso’’, explica. Hoje, é possível
encontrar esculturas de Omar
em diversas áreas públicas, jardins e edifícios da cidade.
Para a exposição no Gabinete 45, Omar preparou cinco
esculturas. ‘‘Fiz peças bemcomportadas’’, brinca. ‘‘Não
são oxidadas e têm uma base,
que vem da própr ia lâmina
do aço.’’ Pequenas — os tamanhos variam de 60cm e 2m
— as obras são pintadas em
vermelho, por isso a classificação de ‘‘bem-comportada’’.
Omar usa a tinta quando quer
ressaltar a forma da peça. O
aço cru e oxidado dá ênfase
ao material e só cabe se o artista quiser chamar a atenção
para o aço.
Experiência e retomada
Entre os desenhos da exposição de 1979 e as esculturas de
Omar há um caminho de experimentação que Paulo Andrade
também percorreu, embora tenha preferido voltar ao desenho para celebrar os 25 anos de
produção artística. ‘‘É uma
retomada’’, confessa o artista,
que há alguns anos se dedica a
trabalhos de programação visual. ‘‘Aquela exposição da 508
foi emocionante porque foi feita por gente que morava em
Brasília e não gente de fora. A
cidade tinha 19 anos e ainda
não havia aqui um movimento
cultural.’’ Paulo lembra que na
época a vanguarda artística tinha como ponto de encontro a
Cabeças, galeria que foi além
das artes plásticas e teve importante papel na música brasiliense, ao promover shows de
grupos como Aborto Elétrico
(do qual nasceria a Legião
Urbana) e Detrito.
A mistura de cores e as
seqüências de cenas dos
18 trabalhos apresentados
na mostra foi inspirada em
poema de Nicolas Behr sobre o amor impossível. Paulo criou a personagem Dulcinéia, forma também de homenagear Rubens Gerchman,
autor de A bela Lindonéia, trabalho emblemático produzido em 1966.
Dulcinéia mora em uma cidade do Distrito Federal, com
uma velha senhora, vai de ônibus para o trabalho no Plano
Piloto todos os dias e é descrita por seu criador como uma
devassa. Os desenhos mostram a personagem em diversas situações cotidianas, assim como o ambiente no qual
ela circula. O próximo passo,
o artista adianta, é tratar de
Dom Quixote, o herói de Miguel de Cervantes cujo amor
platônico transforma Dulcinéia numa deusa.
25 ANOS DE
ARTE — MOSTRA
COMEMORATIVA
PEÇA EM AÇO PINTADO DE
VERMELHO, DE OMAR FRANCO:
BEM-COMPORTADA
Exposição de Omar Franco
e Paulo Andrade no
Gabinete 45 (SCLN 709, Bl
F).Visitação até 10 de
janeiro, de segunda a sexta,
das 14h às 18h. Sábados,
das 9h às 17h.
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