04 Amarelos.

Transcrição

04 Amarelos.
setembro/outubro 2012
CONCEITUAL
#04
Amarelos
editorial
CONCEITUAL
#04
070
setembro/outubro 2012
Amareluz
DESIGN
Publishers André Poli e Roberta Queiroz
Consultoria Editorial Eduardo Logullo | Marcos Guinoza
Conselho Editorial Carolina Szabó, Renata Amaral, Jéthero Cardoso,
Amigos e parceiros,
Roberto Negrete e Alex Lipszyc
JAUNE
Diretora Executiva ABD Maria Cecília Giacaglia
Colaboradores Amer Moussa, Daniel Costa (tratamento de imagens), Daiane
Ferreira Domingos, Evelyn Leine (arte), Fabio Galeazzo, Gustavo Garcia
AMARELOS
Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com
aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet
Morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola
tradicional inglesa, Timothy Oulton. Pote de porcelana amarela com
aplicação de dragão, Franz. Mesa Around em madeira de pinus, Muuto.
Jogo de chá Bulki Set em porcelana, Muuto. Galo em vidro amarelo da
Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton
(Papanapa), Jéthero Cardoso, Luan Silva, Marcella Aquila, Roberto Negrete, Zoë Melo
Diretora de Arte Cinthia Behr
André Poli e Roberta Queiroz visitaram a
Maison&Objet a convite da organização do evento
ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012
Editor de Fotografia Renato Elkis
Jornalista Responsável Marcos Guinoza MTB 31683
Revisão Ana Cecilia Chiesi
Publicidade
Para anunciar [email protected]
VELVET EDITORA LTDA 11 3082 4275
www.velveteditora.com.br
050
SUSTENTABILIDADE
Oito por
UM
Fundadora em Los Angeles
da boutique-design-estúdio
Touch, a brasileira Zoë Melo
aponta oito produtos
com princípios de
sustentabilidade, escala
humana e funcionalidade
ABD Associação Brasileira dos Designers de Interiores
www.abd.org.br
Amarelos
CAPA revista ABD Conceitual
terá cinco edições em 2012.
A cada número, a publicação
vai abordar uma cor e as
incontáveis possibilidades
que ela oferece. Na edição 04,
o tema é o amarelo.
Presidente SP Carolina Szabó, Vice Presidente SP Renata Duarte Amaral,
Diretora Financeira SP Márcia Regina de Souza Kalil, Diretora Nacional SP
Maria Luiza Junqueira da Cunha (Malu), Diretora Nacional RJ Paula Neder de
Lima, Diretora Nacional PR Fabianne Nodari Brandalise, Diretor Nacional MG
Carlos Alexandre Dumont (Carico), Membro Efet. Cons. Delib. SP Alexander
Jonatan Lipszyc, Membro Efet. Cons. Delib. SP Brunete Frahia Fraccaroli,
Membro Efet. Cons. Delib. BA Delma Morais Macedo, Membro Efet. Cons.
Delib. SP Fernando Piva, Membro Efet. Cons. Delib. SP Jhétero Cardoso de
Miranda, Membro Efet. Cons. Delib. RJ Luiz Saldanha Marinho Filho, Membro
Efet. Cons. Delib ES Rita de Cássia Marques da Silva (Garajau), Membro Efet.
Cons. Delib. SP Roberto Daniel Negrete, Suplente Cons. Deliberat. SP Luciana
Teperman, Suplente Cons. Deliberat. SP Maria do Carmo Brandini, Suplente
Cons. Deliberat. SP Terezinha Nigri Basiches, Membro Efet. Cons. Fiscal DF
Denise Fátima de Faria Zuba, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Marília Brunetti
de Campos Veiga, Membro Efet. Cons. Fiscal SP Maurício Peres Queiroz dos
Santos, Suplente Cons. Fiscal RJ Ana Maria de Siqueira Índio da Costa,
Suplente Cons. Fiscal BA Eneida Márcia da Silva Alves, Suplente Cons. Fiscal
MG Jaqueline Miranda Frauches
Sugestões
[email protected]
1
Mutation Series
Maarten De Ceulaer
A série de mobiliário do belga Maarten de Ceulaer
reinterpreta clássicos do design, como se houvessem
passado por mutações nucleares. Esferas de espuma
são presas à estrutura básica do móvel, que depois é
completamente coberto por uma camada de borracha
texturizada que lembra o veludo. O processo de manufatura garante que o resultado sejam objetos únicos, diferentes de peças desenvolvidas em grande escala.
FOTO NICO NEEFS
*
#04
ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012
028
POP ART
YES,
NÓS TEMOS
Acima, a dançarina
norte-americana
Josephine Baker e
seu saiote de bananas
estilizadas, anos 1920,
Paris: a pioneira do
banana style
ELA É FRUTA, ELA É
AMARELA, ELA É POP
TEXTO EDUARDO LOGULLO
FOTOS DIVULGAÇÃO
setembro/outubro 2012
Pesquisa de Imagens Charly Ho
CoNCeItuAL
ABD CONCEITUAL SET/OUT 2012
D A B A N A N A , A F R U TA , muito se sabe, muito
se come, muito se vê. Basta fazer um Google para
descobrir que a coitada da banana é considerada
uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por
sua vez, é planta herbácea da família Musaceae.
Banana, menina, tem vitamina. Banana é o quarto
produto alimentar mais produzido no mundo. Dá-lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultivada em 130 países. Ou seja, bananas everywhere.
Vamos dar uma banana para este parágrafo e escorregar para o próximo.
Talvez por tamanha universalidade e ubiquidade,
a banana se tornou, durante o século passado (o século que trouxe imenso poder
às imagens), um ícone visualmente muito
explorado. A banana, descobriram todos, era pop
na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de
manchas escuras, mais o formato curvo quase fálico, permitiram incontáveis citações nas artes plásticas, cinema, publicidade e moda.
Mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um
ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de
descascar a banana e se deparar com aquele fruto
insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensualizaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo
menos em português, ganhou significados pejorativos, maliciosos ou depreciativos. Em inglês, nem
sempre: a expressão “You don’t know bananas”
(mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em
desuso, embora ainda exista.
A banana também encantou os europeus que a
trouxeram do Oriente para o Novo Mundo. Aqui se
adaptaram bem e se tornaram elementos simbólicos dos trópicos, das terras de vegetação exótica,
do nativismo colonialista. A banana merecia um estudo sócio-antropológico sério. Bananeira, não sei,
bananeira, sei lá: isso é lá com você.
Este número da ABD Conceitual vem repleto de luzes, intensidades, atitudes, otimismos e alegrias. São essas, talvez, as
principais características da cor que escolhemos para a quarta
edição da revista: o amarelo. Difícil explicar as cores. Mas sabe-se que o amarelo é a tonalidade que simboliza o sol, o verão,
a prosperidade; estimula o raciocínio; desperta a criatividade.
O termo amarelo vem de amarellus, diminutivo de amaros,
palavra do baixo latim que significava “amargo”. Amargo?
Pois sim. Mas, se a origem da palavra é confusa, seus significados e representações são sempre vibrantes. É cor que
incomoda, provoca, divide opiniões. Nunca é neutra, consensual. Há quem goste do amarelo e quem o despreze por
sua grande intensidade.
Em Chojnice, cidade ao norte da Polônia, descobrimos o
WAMHouse, escritório de design que combina elementos de
arquitetura, decoração e comunicação visual para criar, com humor e cores fortes, peças inovadoras para ambientes com personalidade. Da Polônia, seguimos para a França, onde fomos
convidados a visitar a Maison&Objet e a Paris Design Week
para selecionar o que há de inovador no design global. Lá, aproveitamos para conversar com India Mahdavi, designer e arquiteta iraniana radicada na França.
Yes, nós também temos banana: a mais pop das frutas não
podia ficar de fora desta edição por suas múltiplas e divertidas simbologias nas artes e no design. Assim como o neon, as
esculturas de luz. E o amarelo como representação da riqueza
barroca, da ostentação das cortes, do ouro como símbolo de poder. Na Alemanha, próximo a Berlim, o Palácio Sanssouci é
exemplo mais que perfeito do estilo Rococó, ápice da utilização
do ouro na arquitetura e em ornamentos internos.
Amarelo é luz. E, na reportagem “Luz do sol”, descobrimos
que, ao longo da história, a luz natural sempre influenciou –
metafórica ou literalmente – o modo como o homem edifica
o seu habitat.
Nós, da ABD Conceitual, seguimos edificando ideias e propostas com
o objetivo de inspirar os profissionais
de design de interiores que trabalham
para construir a melhor harmonia entre o homem, seus anseios e seu meio.
Carolina Szabó
Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade
dos autores e não refletem a opinião da revista.
abd conceitual SET/OUT 2012
03
04
sumário
20
50
011 YELLOW POWER
Por que venerar o amarelo? Um quasemanifesto pelo tema desta edição
020 NAVE FUTUROKITSCH
Escritório de design polonês cria
ambientes e objetos inovadores com
humor e cromatismos vibrantes
024 UMA QUESTÃO DE
CONTEÚDO
Os encapsulados chegaram para ficar
028 YES, NÓS TEMOS BANANA
O que Josephine Baker, Carmen Miranda e
Andy Warhol teriam em comum?
032 BRILHO NO TUBO
Luz vintage. Luz de cassino e cabaré. Luz
glamour. É o neon: as esculturas de luz
036 LUZ DO SOL
A luz natural através dos tempos e a sua
importância nos habitats humanos
042 O SIGNO DO OURO
O metal que reluz e que traduz
formas de poder
abd conceitual SET/OUT 2012
047 1, 2, 3: JÁ!
076 A MORTE DO BEGE
ABD organiza rally que leva os
competidores às principais lojas de
decoração e design de São Paulo
O chic-frígido e os sofás sem graça.
Por Fabio Galeazzo
050 JUST TOUCH
Os ambientes criados pelo designer
italiano Nino Zoncada para o transatlântico
Eugenio C. Por Roberto Negrete
Escolhas certas para tempos que
pedem sustentabilidade
057 ADMIRÁVEL
MUNDO NOVO
ABD Conceitual visita em Paris a
feira de moda-casa Maison&Objet
e indica as novidades do setor
073 EM ROTA
Os percursos do Paris Design Week
57
078 AMBRA E RUBINO
080 ENADE 2012
Participar ou não? Eis a questão.
Por Jéthero Cardoso
082 FAÇA-SE LUZ
A obra “iluminada” de James Turrell
CADERNOINSIDE
Por que fugir do amarelo?
Por que evitar o amarelo?
Por que venerar o amarelo?
TEXTO Eduardo logullo
design/ilustrações papanapa
O mais expansivo entre os matizes também é o que mais atrai os olhos. Quem não gosta
de amarelo, bege será. Gostar do amarelo é trazer possibilidade de algum avanço, algum
choque, algum raio. Por tantos motivos-rumos-vontades-escolhas-ações, cai na cabeça
uma lista com fatos amarelos a varejo. Amarelíadas.
Quem misturar verde com vermelho na proporção exata (e difícil), chegará ao amarelo.
E se espantará.
O amarelo conjuga verbos futuristas.
Nunca enganar o olhar de ninguém, nem mesmo dos daltônicos: isso é garantia exclusiva
dos amarelos e seus matizes amestrados.
O amarelo do sol cega? Dizem que sim.
O amarelo do girassol gira? Dizem que sim.
Van Gogh entrou em delírios amarelos e se tornou um outsider capaz até de cortar fora
a própria orelha.
Uma casa de fachada amarela nunca será um endereço normal.
O jogo da amarelinha tem 500 anos e se chamava “pular macaca” quando chegou ao
Brasil, vindo da Península Ibérica. Suas regras são assim: uma pequena pedra é lançada
na primeira casa e o jogador deve percorrer o trajeto do traçado pulando (ora com um pé,
ora com os dois), evitando o quadrado onde a pedra caiu. A sequência se repete enquanto
a pedra avança de casa em casa e o grau de dificuldade aumenta.
O livro mais conhecido do escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) se chama “Jogo
da Amarelinha” (em espanhol, “Rayuela”). É um livro de leitura quase aleatória, como
indica o próprio autor. Começa-se por qualquer capítulo (Cortázar sugere o 73), por ser
um romance de fluxo de consciência introspectiva: os personagens oscilam e brincam
com a mente subjetiva do leitor, para permitir vários finais.
A rainha Elizabeth II preza a cor amarela em seu imenso e inenarrável guarda-roupa real.
Em sua primeira visita oficial à ex-arquiinimiga Irlanda, ela desembarcou toda vestida de
amarelo. Inclusive bolsa e chapéu. Causou.
O amarelo foi a cor-símbolo dos czares da Rússia.
O russo (nascido na atual Geórgia) Vladimir Maiakóvski (1893-1930), um dos poetas mais
importantes do mundo moderno, aderiu à Revolução Soviética, participou do movimento
cubo-futurista, era homem de paixões, arrebatador e lírico, épico e avançado. Suicidouse com um tiro. Foi o autor do curioso verso “Dizem que existe um homem feliz. E este
homem vive no Brasil”. A roupa favorita de Maiakóvski era uma blusa de seda amarela.
O quindim brasileiro leva coco e deixou de ser parente culinário do brisa-do-lis, a matriz lusitana que originou o quindim nos tempos coloniais. Sabe-se apenas que ambos
continuam amarelos.
O tradicional bairro Casa Amarela, em Recife, deve seu nome ao português Joaquim
dos Santos Oliveira, que para celebrar a cura de sua tuberculose, pintou em tons ocres
a casa em que habitava. E o local virou referência pela “casa amarela”.
O cartão amarelo é utilizado em várias modalidades de esporte. No futebol, o juiz indica ao jogador um determinado nível de punição por seu comportamento, como aviso
de infração leve. No rúgbi, o jogador é suspenso por 10 minutos. Na esgrima serve
como aviso, anulando a ação que o atleta acabou de fazer. Nas MMA (artes marciais
mistas), é mostrado como aviso; o terceiro cartão amarelo ao mesmo atleta resulta na
sua desqualificação.
Escultor e criador de móbiles e stabiles, o norte-americano Alexander Calder (18981976) gostava tanto da cor amarela que, ao ser convidado na década de 1960 para criar
a nova identidade da empresa aérea Braniff, estreou a proposta com a pintura externa
de um Boeing 727 inteiramente em amarelo. A fuselagem do avião depois recebeu sobreposições de seus abstracionismos coloridos.
Os táxis de Nova York são os yellow cabs.
Placas de sinalização de trânsito usam o amarelo como cor de fundo. Uma convenção
internacional e que se vale de estudos sobre superfícies pintadas de amarelo e que se
tornam perceptíveis mesmo sob a escuridão.
A bandeira brasileira tem um losango amarelo. Hum... vamos pular este tópico?
“E as rosas eram todas amarelas” é o nome de uma canção de Jorge Benjor.
Rosas amarelas, para os místicos, trazem significados de alegria, amizade e desejo.
Pêra, melão, banana, abacaxi, maracujá: os nutricionistas garantem que os alimentos
de cor amarela guardam antioxidantes e substâncias que beneficiam diferentes funções do organismo.
Alguns tipos de canários podem ser amarelos e que jamais deveriam ser aprisionados
em gaiolas.
Quem lembraria, de um momento para o outro, da música “Brasília Amarela”, do grupo
Mamonas Assassinas? Ninguém. Estaria ali a gênese cultural da classe C?
Vitamina C efervescentes são amarelas. Mas qual será a cor da vitamina C?
O jacaré-de-papo-amarelo vive quase 50 anos e ninguém pergunta a sua idade.
Lady Gaga já usou muitas perucas amarelas ––but nobody cares.
Falar hoje sobre “raças” ou “raça amarela” é quase uma bobagem. Espalhe por aí:
Na Fórmula 1, a bandeira amarela aponta um drama: significa “perigo logo à frente”,
a expressão “raças humanas” refere-se a antigos conceitos antropológicos, forte-
“proibido ultrapassar” ou “reduza a velocidade”.
mente criticados e quase em desuso. Classifica grupos populacionais com base em
O pequeno sapo amarelo das florestas tropicais é um bufonídeo que contém toxinas
conjuntos de características somáticas e crenças sobre ancestralidade comum,
ainda pouco analisadas. Pesquisas recentes apontam que a cura do Mal de Alzheimer
além de basear-se em traços visíveis como cor da pele, conformação do crânio e
poderá vir dele, o raro bufonídeo amarelo.
do rosto e tipo de cabelo, bem como a auto-identificação. Em stricto sensu, nem
Dandelion, amor-perfeito, margarida, helianthus, buds, açafrão, lírio, mal-me-quer, ch-
deveríamos mais falar em raças humanas, desde que se confrontou com o desen-
apéu-de-napoleão, moréia, melão de São Caetano, titônia, caaponga, cipó de ouro, xy-
volvimento da genética na segunda metade do século 20. Somos todos possíveis
ris, cravo amarelo, hibisco, picão, alamanda, estrelinha gorda, mussaenda, trialia, dália:
amarelos-pardos-brancos-mouros-louros-índios-semitas-negros-marcianos-ruiv-
elas somam mais de uma centena de espécies.
os-mezzo símios de olhos puxados e narizes aduncos.
Lançaram esmaltes de unhas na cor amarela. Precisamos adotar imediatamente e de-
O pior uso da cor amarela em todos os tempos veio do nazismo: o regime totali-
pois participar de uma reunião bem séria naquela empresa bem séria.
tário alemão que quase destruiu a Europa durante a Segunda Guerra, forçava os
Batom amarelo: também tem.
cidadãos de origem judaica, de todos os países invadidos pelo exército hitlerista, a
O amarelo magnetiza a pupila.
usarem uma estrela amarela no peito, para que assim fossem segregados, perse-
Recanto: o amarelo ilumina qualquer canto.
guidos e condenados.
Em 1939, Ary Barroso compôs “Camisa Amarela”, um samba-canção que termina com
Fiquei tão triste com a frase acima que vou tomar um suco de laranja para ver se passa.
esses versos: O meu pedaço me domina, me fascina, ele é o tal / Por isso não levo a mal
Lâmpadas que emitem fachos de luz amarelados são mais quentes e tornam os ambi-
/ Pegou a camisa / A camisa amarela / Botou fogo nela / Gosto dele assim / Passada
entes mais confortáveis, além de estimularem o relaxamento mental.
a brincadeira / Ele é pra mim.
O amarelo não é normal.
O amarelo não é para qualquer um.
O sol é amarelo?
Amar elos amarelos.
Sonhar que chegou em casa e que
todos os móveis são amarelos, as
paredes amarelas e o piso amarelo.
Fechar os olhos e ver tudo amarelo.
Amarelo pode ser começo. E pode ser
fim. De tudo. De nada. Obrigado. Não
tem de quê.
016
ambiente
O estúdio WAMHouse
oferece produtos de design
de interiores que vão de poltronas
e aparadores até componentes
para cozinhas e banheiros
fotos divulgação
nave
futurokitsch
abd conceitual SET/OUT 2012
Equilíbrio, cores vibrantes e bom humor
nos projetos do escritório de design polonês WAMHouse
texto Amer Moussa
018
ambiente
U m e s c r i t ó r i o d e d e s ign p o l o n ê s
tem conseguido refletir, em cores e formas, o espírito de liberdade que, finalmente, vibra em um dos
países que mais sofreu com a dureza da Guerra
Fria. Fundado em 2005 por Karina Wiciak e Mariusz
Warsinski – dupla formada em design gráfico, fotografia e engenharia civil –, o estúdio WAMHouse
combina elementos de arquitetura, iluminação
e comunicação visual para criar peças inovadoras e
ambientes descontraídos.
Situado em Chojnice, pequena cidade ao norte
da Polônia, o escritório está instalado próximo do
Parque Nacional Bory Tucholskie. Com um ambiente natural a poucos passos da empresa, a equipe
consegue se transportar para fora do método acadêmico de projetar, o que permite uma abordagem
Apesar do senso de humor,
a dupla se mostra cautelosa na
Ao lado, a poltrona Zjedzony,
projetada no formato de
uma banana descascada.
A irreverência é uma das
principais características dos
projetos do WAMHouse
composição dos espaços,
fotos divulgação
dedicando especial atenção aos
detalhes e buscando o equilíbrio
das partes com o todo
abd conceitual SET/OUT 2012
sem preconceitos do programa arquitetônico – bem
como um olhar aberto para novos conceitos do mobiliário de interiores. No resultado é possível reconhecer a natureza como uma das maiores fontes de
inspiração do grupo, desde seus aspectos universais
até suas especificidades regionais.
O WAMHouse oferece uma gama de produtos
de design de interiores que vai desde poltronas
e aparadores até precisos componentes para
cozinhas e banheiros. Todos os produtos sintetizam o minimalismo moderno com a irreverência contemporânea. Apesar do senso de humor
onipresente, a dupla se mostra sempre cautelosa
na composição dos espaços, dedicando especial
atenção aos detalhes, buscando sempre a coesão
e o equilíbrio das partes com o todo.
Um ótimo exemplo é a excêntrica poltrona Zjedzony (algo como “comido”, em polonês). Projetada
no formato de uma banana descascada, permite
que o usuário se sente confortavelmente enquanto
é “abraçado” pelo mais puro plástico tropicalizado.
A estrutura de encaixe da peça assimila o modo de
fabricação industrial moderno, ao mesmo tempo
em que reinventa a tradicional cadeira funcional.
Pelo seu desenho incomum, cairia bem tanto em
residências particulares como em saguões públicos
– uma maneira divertida de esperar por alguém ou
de se alimentar de novas energias.
Paralelamente à linha de mobiliário, o WAMHouse se ocupa também com projetos de interiores em
diferentes escalas, como o conceito “Gold Kitchen”.
Dentro da ideia de facilitar as operações culinárias do
dia a dia, pressupõe a compatibilização dos desenhos
personalizados, desenvolvidos pelo estúdio, com os
melhores fabricantes de ferragens e marcenaria do
mercado. Ao final, tem-se uma cozinha que se adapta
perfeitamente aos hábitos do morador sem perder a
matriz estética de cores e luzes intensas.
No site do escritório na internet é possível encontrar mais informações sobre os projetos, bem
como links para um blog e um portal de fotografia
– que também leva o nome do grupo e aparece
como uma extensão das mesmas ideias arquitetônicas, só que aplicadas à linguagem fotográfica.
O WAMHouse costuma postar referências em sua
página no Facebook, onde pode-se constatar que a
nave futurokitsch dos objetos resignificados ainda
pretende percorrer muitas galáxias. n
www.wamhouse.pl
www.facebook.com/wamhouse.company
020
tecnologia
uma questão
de conteúdo
Fique por dentro dos
novos encapsulados
foto divulgação
texto andré poli
abd conceitual SET/OUT 2012
Ambiente
com objetos
encapsulados, da
Bleu Nature
tecnologia
C e r ta v e z , e m F i r e nz e , eu olhava “O Nascimento de Vênus”, de Sandro Botticelli, em uma
sala da Galeria Uffizi. Na tela, em que flores voam e
uma concha flutua, vi a natureza tão encapsulada
dentro de tantas representatividades que encontrei
o meu discurso: a Imagem Interior.
Durante a Renascença, entre os ideais de perfeição, estava criar ilusões que fossem as mais próximas possíveis da natureza. Mas a pintura evoluiu
com os séculos – e os interesses, claro, se tornaram
outros. Eugene Delacroix (1798-1863) viu a luz do
Marrocos e mostrou, meio século antes, possibilidades para o impressionismo, o estilo que, na tentativa
de capturar a luz, abriu caminho para os modernistas que subverteriam as formas e assumiram a cor
(um exemplo dessa representatividade da natureza
é o italiano Giorgio Morandi). Mais tarde vieram os
expressionistas abstratos, como Mark Rotko (19031970), que assumiram a pintura como massa física
de pigmento sob superfícies, na maioria dos casos
linho, telas ou papel.
Onde quero chegar? Na evolução da tecnologia industrial, em que hoje podemos representar
(ou apresentar) a natureza com a própria matéria:
encapsulamos exemplos do mundo natural como
se Botticelli apenas pegasse a flor ou a concha e a
mantivesse em suspensão dentro de outra matéria.
Isso não é uma descoberta desta década. Lembro
perfeitamente das peças de resina que adornavam
bares de beira-mar nos anos 1970 com caranguejos, cavalos marinhos e estrelas-do-mar encapsuladas em esferas de resina. Essas esferas quase
sempre terminavam como pesos de papel ou no
câmbio de algum táxi.
Agora, grandes empresas desenvolvem técnicas
de escala para este processo quase artesanal: em
chapas de alguns metros quadrados ou cúbicos,
é possível incorporar uma grande possibilidade de
texturas e de objetos, das mais incríveis formas, texturas e cores. Sem contar que também é possível a
qualquer pessoa customizar suas criações/escolhas.
Podem encapsular-se fibras naturais, materiais sintéticos, metais, peças orgânicas, flores, conchas, raízes
etc. Na sequência, os encapsulados em chapas ou
blocos se transformam naquilo que a imaginação
mandar: portas, mesas, divisórias, luminárias. Os encapsulados chegaram e apontam para o futuro. n
abd conceitual SET/OUT 2012
Ambiente e bancos com troncos de árvores encapsulados, da Bleu Nature
VERSÁTIL E INOVADOR
Acima, tecido metálico e cubos de papel dourado encapsulados em chapa, da 3Form
fotos renato elkis | divulgação
022
São vários os processos de desenvolvimento de produtos encapsulados.
O mais comum é o uso de algum tipo
de resina líquida que, por meio de um
“catalisador”, transforma-se em bloco sólido. Há empresas que utilizam
material reciclado. Na fabricação dos
produtos são usadas duas chapas
prontas de resina e, entre elas, são
colocados os materiais a serem
encapsulados. Depois, as chapas vão
para uma prensa e, por fim, são refilados. O interessante desse processo
é a versatilidade: diversos tipos de
materiais podem ser encapsulados,
mesmo que não sejam materiais de
série das empresas fabricantes.
024
pop art
YES,
Nós temos
Acima, a dançarina
norte-americana
Josephine Baker e
seu saiote de bananas
estilizadas, anos 1920,
Paris: a pioneira do
banana style
Ela é fruta, ela é
amarela, ela é pop
fotos divulgação
texto Eduardo Logullo
abd conceitual SET/OUT 2012
D a b anana , a f r u ta , muito se sabe, muito
se come, muito se vê. Basta fazer um Google para
descobrir que a coitada da banana é considerada
uma pseudobaga da bananeira. A bananeira, por
sua vez, é planta herbácea da família Musaceae.
Banana, menina, tem vitamina. Banana é o quarto
produto alimentar mais produzido no mundo. Dá-lhe, banana: a pseudobaga da bananeira é cultivada em 130 países. Ou seja, bananas everywhere.
Vamos dar uma banana para este parágrafo e escorregar para o próximo.
Talvez por tamanha universalidade e ubiquidade,
a banana se tornou, durante o século passado (o século que trouxe imenso poder
às imagens), um ícone visualmente muito
explorado. A banana, descobriram todos, era pop
na essência: sua simplicidade de amarelo rajado de
manchas escuras, mais o formato curvo quase fálico, permitiram incontáveis citações nas artes plásticas, cinema, publicidade e moda.
Mas, cá entre nós, comer banana nunca foi um
ato bonito. Faltaria, digamos, estética ao ato de
descascar a banana e se deparar com aquele fruto
insinuante diante dos lábios. Assim, logo sensualizaram a assexuada banana. A palavra banana, pelo
menos em português, ganhou significados pejorativos, maliciosos ou depreciativos. Em inglês, nem
sempre: a expressão “You don’t know bananas”
(mais ou menos ‘você não entende nada’) caiu em
desuso, embora ainda exista.
A banana também encantou os europeus que a
trouxeram do Oriente para o Novo Mundo. Aqui se
adaptaram bem e se tornaram elementos simbólicos dos trópicos, das terras de vegetação exótica,
do nativismo colonialista. A banana merecia um estudo sócio-antropológico sério. Bananeira, não sei,
bananeira, sei lá: isso é lá com você.
pop art
aparece com uma cascata de frutas que parecem
jorrar de sua cabeça até o fundo infinito, com efeitos visuais arrojados para a época. Ali aconteceu o
ápice da banana-star.
Parece que os gringos têm mais fetiche
na banana do que nós, os habitantes do
país que Paulo Francis chamava de “Bananão”. Por aqui tivemos pelo menos um destaque
importante no culto à pseudo-baga da bananeira: o
pintor e desenhista Antônio Henrique Amaral, celebrado no mercado das artes do final dos anos 1960
em diante. É dele a série de trabalhos que usaram a
banana como leit-motiv em telas grandes, intensas
e tropicalistas, pintadas no começo dos 70’s.
Pouco antes disso, a banana havia caído no colo
de Andy Warhol, na alucinada Nova York dos sixties.
Foi quando o inventor da cultura pop, o sacerdote do lixo-luxo, criou a capa do primeiro disco do
grupo Velvet Underground & Nico, cujo vocalista
tinha o nome de Lou Reed. O resto é história. Hoje,
aquela capa é considerada uma das cem mais representativas do século 20.
Bananas não faltariam para outras citações. Contudo, é melhor preservar um pouco a sua santa
imagem para evitar desgastes. Uma salva de palmas
para a mais simpática das frutas. Salve a banana. n
fotos renato elkis
Porém, estamos aqui para fugir do banal – este termo francês que traz o mesmo sentido em português
e que não tem nada a ver com “banana”. Estamos aqui
para louvar a amarelidão da banana, a pseudobaga
que já foi louvada musicalmente até por Jorge Ben
Jor em “Vendedor de Bananas”. (A letra cita as variedades da popular banana: prata, ouro, São Tomé,
nanica, da terra, ouro, figo, d’água, maçã etc.)
Pergunta: quem foi a primeira pessoa a incorporar a banana como elemento pop? Resposta: Josephine Baker, nos loucos anos 1920, nos palcos de
Paris. A dançarina americana que abalou a Europa
com coreografias livres e absurdas, apareceu de
repente com um saiote feito de bananas estilizadas. Isso nos anos 1920, repito. Dá para imaginar o
escândalo. Assim, La Baker é madrinha da banana
pop, banana louca, banana sexy.
Em 1943, outra mulher absurda chamada Carmen Miranda estava no auge
do sucesso no Hemisfério Norte, sendo a
terceira artista a ganhar mais dinheiro no
star-system americano. Seus filmes agora
são obras-primas do camp. O mais rico, mais
exagerado e melhor produzido de todos foi “The
Gang’s All Here” (em português, “Entre a Loura e a
Morena”), dirigido por Busby Bekerley e coreografado por Hermes Pan. No meio do filme, La Miranda
vem numa carroça repleta de bananas, cantando
“The Girl With the Tutti-Frutti Hat”. Cenas depois,
sua figura se destaca no meio de uma mega-coreografia de estúdio (cenários imensos, piscinas quilométricas, balés aquáticos, figurinos luxuosos e câmeras panorâmicas). Em cena antológica, Carmen
fotos divulgação
026
abd conceitual SET/OUT 2012
Cenas de “The Gang’s
All Here”, filme estrelado
por Carmen Miranda em
1943: o estilo camp do
diretor Busby Bekerley e
as bananas na “paisagem”
tropical. Abaixo, na página
à esquerda, reproduções
da capa de Andy Warhol
para o disco do Velvet
Underground & Nico, 1967
028
luz
brilho no tubo
Neon: esculturas de luz
abd conceitual SET/OUT 2012
texto Luan Silva | fotos renato elkis
luz
A at m o s f e r a t e r r e s t r e é o ar que
respiramos. Ela é composta, principalmente, por nitrogênio, oxigênio e argônio. Os demais gases que
a compõe estão presentes em quantidades ínfimas
e podem ser manipulados pela indústria para diversos fins. Um desses gases é o neônio. Gás nobre,
escasso na Terra, mas presente em abundância no
cosmos. Com ele, faz-se o neon.
Luz vintage e retrô. Luz de cassino e cabaré. Luz
glamour. Impossível imaginar as ruas de Las Vegas
sem fachadas e sinalizações repletas de neon. Ou
a Time Square dos anos 40, época ápice do neon
na avenida, com cerca de duas mil lojas iluminadas
por essa luz. No Brasil, os bordéis e estabelecimentos da Rua Augusta, em São Paulo, surgiam no século passado “escrevendo sua história com neon”
nas mais variadas formas, como canta o rapper
Emicida. Símbolo do insone e incandescente, toda
essa novidade luminosa não teria sido possível sem
a dedicação de dois personagens da história.
No final do século 19, desfrutando das farturas
advindas da Revolução Industrial, a Inglaterra era a
nação mais rica e poderosa do mundo. Em 1898,
nos laboratórios da University College London, trabalhavam dois renomados químicos britânicos, Sir
Willian Ramsay e seu assistente, Morris W. Travers.
Ramsay, já famoso por ter descoberto a existência
dos gases nobres na atmosfera terrestre, sabia da
possibilidade de outras descobertas e, por isso,
abd conceitual SET/OUT 2012
insistia nas pesquisas. Em um dos experimentos,
retirou amostra de ar da atmosfera e a resfriou em
baixas temperaturas. O ar virou líquido e, em seguida, foi fracionado e fervido. Na medida em que fervia, o gás era capturado em um tubo. Ao notarem
que o tubo estava sendo preenchido por tonalidade vermelha, perceberam a existência de um novo
elemento. “A chama da luz vermelha do tubo contou sua própria história”, disse Travers. Desse modo,
descobriram o neon, (do grego néos, que significa
novo). Na ocasião, desvendaram também a existência de dois outros elementos: criptônio (Kr) e
xenônio (Xe) – completando, assim, a família dos
gases nobres na tabela periódica.
A descoberta possibilitou que os engenheiros
pensassem em novos produtos. Em 1910, pelas
mãos do francês George Claude, surgiu o primeiro letreiro em neon. Dependendo dos gases misturados e das cores dos tubos, pode-se chegar à
tonalidade desejada. Além disso, devido à forma de
produção, é possível dar qualquer formato ao tubo
de luz. Os publicitários logo se apropriaram do potencial do produto, expandindo seu uso pelo Ocidente. Em 1920, empresários norte-americanos já
importavam a invenção para os Estados Unidos. Arquitetos passaram a utilizar em seus projetos, delineando os contornos dos edifícios com aplicações
luminosas. As luzes de neon se transformaram em
um dos símbolos mais emblemáticos da cultura de
Dependendo dos
gases misturados
e das cores dos
tubos, pode-se
chegar a várias
tonalidades de
neon. Além disso,
é possível dar
qualquer formato
ao tubo de luz
fotos renato elkis
030
Las Vegas, decorando com as mais diversas cores
as fachadas de cassinos como Planet Hollywood,
Caesars Palace, Binions Horsehoe, Golden Nugget
e muitos outros.
A substituição das fachadas de neon por outras
fontes de iluminação e o fechamento de alguns
desses cassinos motivaram a criação do primeiro
museu do mundo dedicado a preservar as obras
em neon. O Neon Museum foi fundado em 1996,
em Las Vegas, e hoje possui cerca de 150 peças
que já estiveram presentes, desde a década de
1930 até os dias atuais, nas superfícies dos edifícios da cidade.
No Brasil, o neon também foi usado em projetos arquitetônicos e de design. Maurício Queiroz,
designer de consumo, acredita que, com a chegada do LED, a produção do neon está em declínio.
Para ele, o LED já substituiu o neon. “A proposta de
utilizar o neon não é ter uma luz fiel, até porque a
qualidade do foco não é a melhor. Utilizo o neon
esporadicamente, para uma iluminação indireta,
quando quero proporcionar um clima vintage.”
Já para Rafael Leão, arquiteto de iluminação, há
prós e contras de se trabalhar com o material. “Com
o neon, tem-se liberdade em relação à forma. É possível fazer curvatura para todos os lados, atingindo
uma forma tridimensional. É uma escultura de luz.”
Apesar de concordar que o LED ilumina com mais
intensidade quando comparado ao neon, Leão
acredita que um nunca substituirá o outro, pois os
dois apresentam propostas diferentes. Além disso, para ele, novas tecnologias favoreceram o uso
do neon, o que contradiz com a ideia de declínio.
“Antigamente, os transformadores utilizados para
acender as peças de neon eram eletromagnéticos.
Faziam barulho, vibravam e esquentavam. Hoje, as
fontes são eletrônicas. São mais modernas, consomem menos energia e não fazem ruído.” n
www.neonmuseum.org
o especialista
Edvar Ferreira Silva é dono da Neon Três Estações,
empresa que há mais de 30 anos produz letreiros
luminosos de neon.
Cores O neon pode ser executado em 20 cores. Trabalhamos com 10 em gás argônio e 10 em gás neônio.
Durabilidade As cores iluminadas com gás argônio duram mais.
Vida útil Depende de vários aspectos, mas neon
exposto no tempo tem vida útil menor. Se estiver
em ambiente interno, dura de 3 a 4 anos, e pode ser
consertado caso os eletrodos queimem.
Diâmetros Os mais comuns são de 10 mm e 12 mm.
Processo de execução Recebemos a arte via e-mail e a reproduzimos no tamanho e cor solicitados
pelo cliente.
Valores Quando trata-se de filetamentos retos, é
cobrado por metro linear; quando o logo é trabalhado, a cobrança é pela arte.
032
ARQUITETURA
luz
do
sol
Ao longo da
história, a luz
natural sempre
influenciou o
modo como o
homem edifica
o seu habitat
fotos divulgação
texto
Marcella Aquila
abd conceitual SET/OUT 2012
D e s d e o s p r i m ó r di o s at é h o j e , o sol
ainda fornece elemento fundamental para que a
vida possa crescer e florescer neste planeta azul.
O astro que dita o ritmo das nossas jornadas é também aquele que nos surpreende com os espetáculos lunares, rompe com a monotonia ambiental
marcando o compasso das estações do ano e, sobretudo, estabelece a medida da nossa passagem
pelo tempo. No espaço-terra, porém, a presença
em maior ou menor intensidade da luz solar leva
não apenas a diferenças no comportamento humano, mas também se reflete no modo como o
homem edifica o seu habitat. Olhar para a maneira
como o engenho humano responde aos estímulos
da luz solar na história nos traz indícios tanto das
necessidades do corpo quanto do espírito em cada
época e em cada cultura.
Inúmeros são os exemplos em que o sol influencia – metafórica ou literalmente – as construções
ao longo dos tempos. Na antiguidade, ele reinava absoluto no panteão da civilização egípcia e,
embora não exercesse influência direta sobre as
formas-funções, era o sol quem determinava a localização das mais famosas edificações dessa civilização. As pirâmides encontram-se na margem esquerda do Nilo, alinhando-se na direção poente, do
crepúsculo, e, portanto, apontando o caminho que
deveriam seguir os mortos. Já na Hélade clássica,
aquele que quisesse vir a ser livre das sombras deveria caminhar na direção da luz do sol – era o que
cantava Platão, no mito da caverna (e Gal Costa em
“Fa-Tal”, de 1971). No Panteão romano, por sua vez,
não é o deus-sol, como imagem-representação,
que protagoniza a cena e, sim, a própria presença-luz. É no Panteão de Agripa, uma das construções
greco-romanas em melhor estado de presentificação, que se revela a luz como elemento plástico na
composição arquitetônica. Uma abertura no centro da cúpula (um feixe duro e em contraste com
a penumbra interna) permite que o sol penetre no
edifício, destacando a cada hora do dia uma porção do edifício. Trata-se de uma das mais impressionantes sínteses da relação homem-natureza no
que diz respeito ao espaço edificado.
Essa equação onde, de um lado pese a razão humana – curiosa, inventiva e capaz de transformar
a natureza – e do outro, a própria natureza – uma
força que, muitas vezes, demonstra sua preponderância sobre as vontades do homem – nem sempre encontra confluência na história. Do ponto de
vista da produção artística e, mais especificamen-
Inúmeros são os
exemplos em que o sol
influencia as construções
ao longo dos tempos
034
ARQUITETURA
Enquanto a mística gótica
tem a luz como materialidade
divina, o Renascimento se
apoiará na razão humana
abd conceitual SET/OUT 2012
te da arquitetura, é interessante observar como o
trabalho com o signo “luz” pode expressar ora uma
tendência de pesar para um lado da equação, ora
para o outro. Um exemplo emblemático dessa “diferença de pesos” encontramos quando, durante
a Idade Média, contrapõem-se as proposições do
gótico e do Renascimento. Na arquitetura gótica, a luz é elemento concreto, fundamental para
a estruturação do espaço e símbolo da presença
divina. Enquanto a mística gótica se apoia na contemplação dos elementos naturais e, sobretudo,
na luz como materialidade divina, o Renascimento
se apoiará na razão humana como instrumento
de conhecimento, de apreensão da natureza. Ao
estabelecer o homem como “medida de todas as
coisas”, o Renascimento irá valorizar outros prioridades na composição arquitetônica que não a própria materialidade-luz. Ao mesmo tempo, a luz será
pensada e investigada, principalmente no campo
da pintura, enquanto matéria-prima fundamental
ao estímulo ótico, ao sentido visual humano.
Após um longo período de dicotomia, será apenas no século 20 que a luz-clareza de propósitos
& a luz-elemento plástico-construtivo irão constituir um só corpo. O século 19, que vira nascer a luz
elétrica, também amargava as piores condições de
habitação nas grandes cidades. Se, por um lado, o
avanço técnico-científico da “era do maquinismo”
permitia a construção de palácios de vidro em Londres e arranha-céus em Chicago e Nova York, grande parte da população vivia em habitações extremamente insalubres – conforme descreve Angels
em “A questão da Habitação”, de 1873. O século 20
amanhecia diante das possibilidades abertas pelos
novos meios e das contradições de metrópoles
que não respondiam mais às necessidades fundamentais do homem. Mas, como a época era miraculosa, as leis do movimento moderno nasceram
do próprio rotamento dinâmico dos fatores destrutivos. Em arquitetura, isso significou a fundação de
uma nova linguagem e, com ela, um conjunto de
princípios-elementos construtivos que buscavam,
essencialmente, “restabelecer ou estabelecer a
harmonia entre o homem e seu meio.”, escreve Le
Corbusier. Nesse sentido, a luz natural, assim como
a ventilação, figuram tanto como elementos funcionais – signos de uma racionalidade construtiva
– quanto plástico-poéticos – pensados e trabalhados em sua materialidade.
Os mesmos princípios que levam Alvar Aalto a
construir na Finlândia, seu país natal, com o maior
036
ARQUITETURA
Ao lado, projeto para
escola em Várzea
Paulista, do escritório
FGMF, de São Paulo.
As outras imagens
que ilustram esta
reportagem são do
projeto Camarines
House, do escritório
A-cero, de Madrid
aproveitamento possível da luz solar e com materiais
de maior capacidade térmica, e que geram os brise-soleil, o teto-jardim e a fachada livre em Le Corbusier.
No Brasil, é a antropofagia que comanda toda uma
geração de arquitetos deglutidores dos princípios
modernos. Entre os resultados aqui formulados, temos desde a releitura dos muxarabis árabes – nas
fachadas construídas com cobogós – até o pavilhão
tropicalista realizado por Sérgio Bernardes para incorporar o Brasil, em 1958, na exposição mundial de
Bruxelas. Este edifício, que consiste num avarandado
descendente que encontra um amplo jardim tropical
na sua parte central, tem a entrada de luz e água das
chuvas controlada por uma enorme bola flutuante.
abd conceitual SET/OUT 2012
fotos divulgação
A luz natural figura tanto como elemento
funcional quanto plástico-poético
Em tempos de eletrificação do mundo – onde
os muxarabis da primeira geração do moderno tornaram-se verdadeiras pupilas eletrônicas (Instituto
do Mundo Árabe, em Paris) – o trabalho com a luz
na arquitetura pode assumir novos programas. Na
medida em que os espaços virtuais assumem-se
mais e mais como possíveis espaços de trabalho,
“resta” aos espaços físicos a dimensão do encontro corpóreo e de possíveis experiências coletivas.
Abre-se, assim, para a arquitetura, um campo amplo para experimentação, onde a luz, enquanto estímulo à percepção, pode ser explorada ambientalmente não apenas em uma única direção (visual),
mas nos cinco sentidos. n
038
metal
Aqui, escultura
gigante de maçã feita
de cerâmica, com pintura
dourada (Lisa Pappon
para Bull&Stein).
Na pág. ao lado,
espelho Guilt, em
metal martelado com
moldura dourada
abd conceitual SET/OUT 2012
o signo do ouro
O estilo Rococó, derivado do Barroco, foi o ápice da utilização do ouro
na arquitetura e em ornamentos internos. Mas o universo simbólico de “sucesso”
que permeia a palavra ouro permanece forte até hoje
texto Amer Moussa
metal
O o u r o é d o s m e tai s mais resistentes. Capaz de manter solidez reluzente mesmo em condições extremas de temperatura, umidade e poluição;
e sempre atrai olhares e pensamentos mundanos
distraídos. Absurdamente rentável: com apenas um
grama do material puro é possível esticar um fio de
3 km de extensão e 0,005 milímetros de diâmetro.
Ou obter uma lâmina quadrada semitransparente de
70 cm de largura por 0,1 micrômetro de espessura.
Acredita-se que o ouro tenha aterrissado na superfície terrestre de carona em meteoritos pré-históricos. Devido à alta densidade, supõe-se que a maior
parte tenha afundado, e permanece depositada no
núcleo do planeta na forma de pepitas. Ainda assim,
hieróglifos egípcios de 4600 anos atrás o descrevem
como substância “mais abundante do que a sujeira”.
Civilizações posteriores também fizeram uso do
metal: dentro do templo grego Pathernon ficava
a escultura em madeira de 12 metros de altura da
deusa Athena, coberta por ouro e marfim. Os romanos trataram de desenvolver novos métodos de
extração em larga escala, por introdução de minas
hidráulicas. Apesar de o considerarem inútil e preferirem outros metais, na América dos astecas o ouro
era intitulado “excremento divino”.
O período conhecido como barroco – entre o
fim do século XVI e meados do século XVIII – foi um
dos grandes momentos da utilização do ouro na
arquitetura, seja na forma de iconografia externa –
revestimento de estátuas e monumentos – ou em
espaços internos, em minuciosos detalhes ornamentais. Em 1747, o então rei da Prússia, Frederico
o Grande, inaugura, nas cercanias de Berlim, uma
das mais luxuosas construções da Europa. Situado
em Potsdam, o Palácio Sanssouci (que em francês
significa “sem preocupação”) foi uma deslumbrante
residência de verão concebida a partir dos desejos
estéticos pessoais do monarca, o que resultou em
abd conceitual SET/OUT 2012
grande experimentação de formas e ornamentos. O
resultado? Ambientes reluzentes gotejantes, onde
nenhum componente parece ter escapado de uma
pincelada dourada – inclusive as capas dos livros.
Construído sobre um platô com horizonte a perder de vista, a residência tinha como objetivo servir
de refúgio a artistas e filósofos cansados dos exaustivos compromissos e representações da corte alemã.
Voltaire, amigo íntimo do rei, era figura tão frequente
no palácio que possuía um quarto com o seu nome.
Além do edifício principal, foram construídas pelo
parque pequenas estruturas de apoio. Peculiares e
bizarras edificações, todas exibem algo em comum:
acabamentos em ouro. Tal conjunto de obras maneiristas caracterizou um estilo que ficaria conhecido como Rococó Fredericano, o qual mais tarde influenciaria diversas escolas de arquitetura na Europa
(e mesmo no Brasil).
Com a Revolução Industrial, as propriedades e
qualidades químicas do ouro passam a receber
atenção especial, sobressaindo o seu valor utilitário
sobre o simbólico. Apesar de a burguesia emergente
adorar um adorno, as vanguardas do século 20 trataram de colocar o ouro no devido lugar, detonando
o patamar de frivolidade e desperdício que a exces-
siva exuberância dos palácios e igrejas rococós havia
atingido. A elas coube o papel histórico fundamental
de avisar que a verdadeira riqueza reside na ideia do
“que fazer”, e não na matéria em si.
A tecnologia moderna encontrou outros usos
para o ouro em edifícios, revestindo vidros com películas que refletem raios (infra) vermelhos e amarelos, deixando passar verdes e azuis. Vantagens: barrar o calor no verão e guardá-lo no inverno – porque
o inverso do processo é verdadeiro.
Ainda assim, o universo simbólico de “sucesso”
que permeia a palavra ouro permanece muito forte até hoje. O bom rapaz é um “menino de ouro”. A
pessoa generosa tem “coração de ouro”, e os grandes campeões são condecorados com medalhas de
ouro. Os bem-nascidos foram criados em “berço de
ouro”, provavelmente por casais que selaram a união
com alianças de ouro. Manter um segredo é “esconder o ouro”, contá-lo à pessoa errada é “entregar o
ouro”. O bom conselho é ficar calado, pois o “silêncio
é de ouro”. Basta escolher a frase certa e, assim, fechar tudo com “chave de ouro”. n
Lustre Eternity,
com aplicação
manual de cristais
que são colocados
individualmente na
estrutura da peça
(Janet Morais para
Koket). Abaixo,
banqueta de madeira
com estofado em
tecido adamascado
(Koket)
O Palácio Sanssouci, em Postdam, é exemplo do
estilo Rococó, o ápice da utilização do ouro na arquitetura
e em ornamentos internos. Abaixo, Gran Vase,
em porcelana pintada (Jean Boggio para Franz)
BANHADO EM OURO
fotos divulgação
040
Douração consiste na aplicação de uma finíssima camada de ouro sobre
qualquer elemento, metálico ou não. Existem diversas técnicas possíveis,
como a colagem de folhas sobre a base através de adesivos, bem como
aplicação de ceras, vernizes e até mesmo compostos metálicos com
pó de ouro. Atualmente, foi desenvolvido um método conhecido por
galvanoplastia, que utiliza correntes elétricas para melhor aderência
dos materiais. A vantagem deste procedimento sobre os demais é a
durabilidade, tornando-se ideal para peças que exigem manipulação
constante, como louças e joias. O fator negativo é a presença de metais
pesados no procedimento, o que torna essa indústria, somada ao
processo predatório da garimpagem do ouro, um dos ciclos produtivos
mais tóxicos engendrados pelo homem.
Evento abd
Apresentam
Evento abd
1,2, 3, já!
Acima, Daniela Taboada,
Jéthero Cardoso e Marcia
Pinto. Ao lado, a equipe
vencedora do rally
Rally organizado pela ABD leva
competidores às principais lojas de
decoração e design de São Paulo
N a p r i m e i r a e di ç ã o do Design Weekend,
evento que teve como missão celebrar o design, a
arte, a decoração e o urbanismo na cidade de São
Paulo, a ABD criou um rally de regularidade em que
os participantes – para vencer os desafios da prova
– tiveram que passar pelas principais lojas de decoração e design da capital paulista. Disputaram o rally
26 equipes, totalizando 88 profissionais inscritos.
Durante a corrida, a ABD e os competidores aproveitaram para recolher alimentos não perecíveis que
foram doados para a Cruz Verde, instituição sem fins
lucrativos que presta assistência a portadores de paralisia cerebral grave. Foram arrecadadas 2,5 toneladas de alimentos. “Achei maravilhoso, veio bastante
gente. Todos gostaram e conheceram lojas que não
conheciam. Foi um encontro perfeito.”, avalia Carolina Szabó, presidente da ABD.
O Design Weekend aconteceu entre os dias 23 e
26 de agosto e, além do rally organizado pela ABD,
teve intervenções artísticas, cursos, feiras, exposições, palestras e shows espalhados por diversas localidades de São Paulo. n
www.abd.org.br
www.designweekend.com.br
www.cruzverde.org.br
Participantes com as regras da prova. Carolina Szabó,
presidente da ABD, explica aos designers as regras do rally.
Cave Evangelista, Paulo Roberto e Adriana Rezende
abd conceitual SET/OUT 2012
1º Lugar
Roberta Banqueri,
Manoel Brancante, Ana
Bartira e Omar Zein
2º Lugar
Myrna Porcaro, Priscila
Bernardi, Karina Korn
e Angela Maluf
3º Lugar
Cave Evangelista,
Paulo Roberto,
Adriana Rezende
e Camila Barbosa
Acima, da esquerda para a direita:
Monica Seabra, Midiã Borges e Maria
Claudia; Cecília Giacaglia, Jéthero
Cardoso e Carolina Szabó. Ao lado,
à esquerda: Elba Cristina, Patricia
Rocha e Cristina Rocha; abaixo,
Renata Amaral e Márcia Kali.
Ao lado, à direita, Christian Blum,
Angela Borsoi, Marta Castineiras e
Andrea. Abaixo, Danilo Costa,
Luana Mattos, Alessandra
Marques e Rodrigo Costa
046
sustentabilidade
Oito por
um
Fundadora em Los Angeles
da boutique-design-estúdio
Touch, a brasileira Zoë Melo
aponta oito produtos
com princípios de
sustentabilidade, escala
humana e funcionalidade
1
Mutation Series
foto NICO NEEFS
Maarten De Ceulaer
abd conceitual SET/OUT 2012
A série de mobiliário do belga Maarten de Ceulaer
reinterpreta clássicos do design, como se houvessem
passado por mutações nucleares. Esferas de espuma
são presas à estrutura básica do móvel, que depois é
completamente coberto por uma camada de borracha
texturizada que lembra o veludo. O processo de manufatura garante que o resultado sejam objetos únicos, diferentes de peças desenvolvidas em grande escala.
048
sustentabilidade
2
tendência
049
4
Batucada
Brunno Jahara
A coleção Batucada, produzida em alumínio anodizado, é composta por vasos, lustres e bandejas
de formatos, cores e tamanhos diversos. A superfície martelada dos objetos faz alusão aos instrumentos de percussão improvisados com latas e galões metálicos, utilizados em comunidades
periféricas. A matéria-prima, reciclada, passa por um processo que a torna 30% mais resistente
que o ferro e possibilita acabamento de cores vibrantes. São os primeiros produtos desenhados
pelo designer Brunno Jahara a serem lançados no Brasil, depois de trabalhar por mais de cinco
anos na Europa. A coleção foi exibida no Milan Fuori Salone e nas semanas de design ICFF New
York e de Valência, como parte das exposições da TOUCH.
Softwall
5
Molo (Canada)
Invento do grupo canadense que tem tudo a ver com a praticidade da vida urbana e que propõe soluções inteligentes: um
sistema de divisórias independentes, que se expande ou contrai
para criar espaços privativos em grandes áreas. A estrutura celular das divisórias agem no isolamento acústico, enquanto as
superfícies translúcidas ou opacas controlam a luz.
Rita Botelho
Carambola
Sergio Matos
Por ter vivido próximo da reserva Xingu, na cidade de Paranatinga (MT), o
designer brasileiro Sérgio Matos desenvolve um trabalho bastante influenciado pela cultura indígena e pela floresta, nas cores e no uso de materiais
naturais. Seus objetos, que buscam uma identidade brasileira, ganharam
prêmios e participações em exposições no Brasil e no exterior.
abd conceitual SET/OUT 2012
fotos ACERVO TOUCH / ZÖE MELO
3
Drop
O desenho do cofre “Drop” faz um paralelo entre
economia e responsabilidade no uso do dinheiro e
da água. O conteúdo acumulado só pode ser acessado ao quebrar a gota de cerâmica, lembrando que
só deveríamos usar nossos recursos quando realmente necessário. A designer portuguesa Rita Botelho participou de exposições em Lisboa, Edimburgo,
Milão e Nova York. Ela projeta móveis, produtos, embalagens e joias.
050
sustentabilidade
touch
6
8
Balance
Nathalie Dewez
Criado pela designer belga e produzido pela Established &
Sons, de Londres, a luminária de mesa Balance é um tubo de
alumínio. O transformador das lâmpadas de LED ficam acomodados na base do objeto, o que garante o peso necessário para o equilíbrio da peça. Com um toque, a peça entra em
movimento pendular, em torno do apoio horizontal.
Cadeira Vó Judith
fotos ACERVO TOUCH / ZÖE MELO
Nicole Tomazi/Oferenda Objetos
abd conceitual SET/OUT 2012
Studio Veríssimo
O banco Open tem design simples e inteligente: além de sua
função básica, pode ser usado como mesa de apoio ou para
segurar portas. Projetado pelo Studio Veríssimo, de Portugal, é
produzido pela Touch em Los Angeles em diversas cores, com
madeira reciclada de freixo. O estúdio surgiu da colaboração
entre Cláudio Cardoso e Telma Veríssimo. Seus trabalhos foram expostos na Itália, Estados Unidos, Japão e Holanda.
7
A muito simpática cadeira Vó Judith conecta gerações por
meio de design em escala e artesanato. Com o uso do refugo da indústria têxtil, o projeto reforça a questão da sustentabilidade, enquanto sua técnica remete ao uso do tempo
com atividades desconectadas do mundo virtual. Os trabalhos de Nicole Tomazi já foram expostos na mostra Brazil è
Cosi (Fuori Saloni di Milano, 2009) e Saloni Satellite (Saloni Del
Mobile di Milano 2010). Atualmente tem produtos nas lojas
Tok&Stok, A Lot Of (SP), entre outras.
Open
Com estúdios em Los Angeles e
São Paulo, a empresa faz estratégias de criação, desenvolvimento
e vendas. Na curadoria de design,
propõe parcerias com feiras de
design, lojas, galerias, museus,
hotéis e restaurantes em todo o
mundo. Seleciona criações que
consigam bom posicionamento
mercadológico, no intuito de
expandir o design como uma
ferramenta que faz a diferença.
“O objetivo maior é realizar
trabalhos que incorporem processos de soluções sociais e sustentáveis”, resume Zoë Melo.
www.do-not-touch.com
design
Admirável mundo novo
O design globalizado e sustentável mostrado em Paris
texto e fotos andré poli
Ambiente de Timothy Oulton em exposição na Maison&Objet
054
ambiente
DESIGN
foto divulgação
Na página ao lado, Cheval, cavalo em madeira forrado
com retalhos de tapetes antigos, de Frederrique Morrel.
Aqui, instalação no hall de entrada da Maison&Objet
e muro de grama na entrada do pavilhão 8, onde
estavam reunidos os principais lançamentos da feira
abd conceitual SET/OUT 2012
Facilidad e s n ã o falta m para se chegar
ao centro de exposições Paris Nord Villepinte, onde
aconteceu este ano a Maison&Objet: há linhas de
ônibus gratuitas à disposição dos visitantes, em
shuttle service a cada 15 minutos a partir de vários
pontos da cidade – chamados de “navetes”, são
ônibus modernos, com ar-condicionado, bagageiro e motoristas gentis.
No total, a Maison&Objet contou com oito enormes pavilhões, divididos por temas que vão de utensílios domésticos até as mais recentes novidades da
indústria do design. Tudo é bem explicado e assessorado por um staff impecável. Vale lembrar que os
objetos e materiais expostos na feira já estão prontos
para chegar ao mercado e ser adquiridos em lojas.
Cada pavilhão tem suas surpresas. Mas era no pavilhão
de número 8, chamado “Now! Design à Vivre”,
que estavam concentrados os principais lançamentos.
Entre tantos acontecimentos, chamou atenção
a fusão de coisas muito distantes, de estilos e pessoas. Este é o legado da era da internet, onde o
mundo virtual se funde cada vez mais ao real, e conectado por um sistema nervoso digital que aproxima cada ideia e pensamento da sua concretização.
É o design francês que desenha peças orientais; o
alemão que produz no Marrocos. Os próprios materiais mesclam-se de forma inusitada: peças de
metal com matérias orgânicas; linhas com vidro.
As cores explodem em combinações flúor, com
tons pastéis. As formas angulares e diamantadas se
misturam com formas arredondadas e orgânicas.
Aliás, os materiais orgânicos estão em alta, numa
tentativa de construir um mundo novo e sustentável. Em alguns casos, não passam de tentativas.
Mas os acertos nessa área já são grandes.
Vale ver a beleza da natureza sendo reproduzida. A Maison&Objet faz um recorte do que está
sendo produzido no mundo em todas as áreas que
compõem uma habitação, seja ela doméstica ou
corporativa. São expoentes de um design que está
integrado com as leis da natureza, onde o processo
determina a forma e a utilidade do produto. E não
foi por acaso que os Irmãos Campana foram homenageados como Criadores do Ano.
A seguir, veja o que encontramos de mais interessante na Maison&Objet.
MAISON&OBJET – FICHA TÉCNICA
n A segunda edição 2012 da feira de moda-casa aconteceu
entre os dias 7 e 11 de setembro no centro de exposições
Paris Nord Villepinte.
n São mais de 3 mil expositores (43% de marcas internacionais) em uma área de 135 mil m2.
n A Maison&Objet é realizada duas vezes por ano e apresenta tendências em objetos e acessórios de luxo, cenografias, materiais futuristas e novos conceitos de arquitetura.
n A feira é dividida em 8 diferentes pavilhões, como
“Scènes d’intérieur” (com criações de designers renomados e de grandes marcas internacionais); “Maison&Objet
Projets” (com soluções técnicas para planejamento de
ponta); “Now! Design à Vivre” (design para o dia a dia); e
“Maison&Objet Outdoor/Indoor” (a arte de viver ao ar livre).
n Na edição anterior, o evento recebeu 40 mil visitantes.
Mais informações: www.maison-objet.com
056
DESIGN
fotos divulgação
ESTILO INGLÊS
abd conceitual SET/OUT 2012
Sem abandonar as referências clássicas,
o estilo inglês apresentado na Maison&Objet
aparece rejuvenescido nas cores e nos acabamentos. Ao lado, cama box com colchão
feito manualmente com materiais naturais
e mais de 7.535 molas. Acima, estante Brass
Drum em madeira pintada. Pufe de veludo
vermelho cardinal (Master’s Ottoman).
Baú Oxford forrado com tecido listrado.
Todos os produtos: Timothy Oulton
058
DESIGN
Em tempos de preocupação com o meio ambiente, espaços e
mobiliários inspirados na natureza são tendência. Mirror Cirkel,
madeiras fatiadas com aplicação de espelho. Lustre Artiq, luminária
com estrutura de metal e pendentes em cerâmica e luzes de LED.
Cadeira Louise Crusoé, com estrutura de galhos entrelaçados,
assento e almofadas em tecido ou couro. Candelabros Bougeoir
Castor, feitos de galhos. Todos os produtos: Bleu Nature. Menos a
luminária de chão Alibabig, feita de fibra de vidro, da marca Karman
abd conceitual SET/OUT 2012
fotos divulgação
NATUREZA VIVA
ambiente
DESIGN
foto andré poli
060
CROMATISMOS
fotos divulgação
Sofá e almofadas estofados
com tecidos customizados,
da Conceptuwall. Vaso de cristal
colorido Pivoni – Peony da
Daum. Vaso de porcelana com
aplicação de bolas coloridas,
de Jean Boggio. Na página ao
lado, cinzeiro em porcelana
com cromolitogravrua e
acabamento pintado à mão
e folhas de ouro nas bordas.
Alian Tomas para Haviland
abd conceitual SET/OUT 2012
062
ambiente
DESIGN
BLACK IS BEAUTIFUL
abd conceitual SET/OUT 2012
fotos divulgação
foto andré poli
Básico e elegante, o preto
continua se reinventando e
surpreendendo. Na página
ao lado, armário Jean Boggio
para Franz, em laca preta com
aplicação de painel de porcelana.
Banqueta Mandy, com estrutura
metálica e assento em tecido.
Luminária de chão Lotus, com
base produzida em madeira
esculpida à mão e pintada de
dourado, cúpula em seda preta.
Mesa de jantar Intuition, com pés
em metal fosco, acabamento em
dourado e tampo preto. Caveira
(falta a legenda). Espelho Reve,
com moldura em preto metálico.
Todos os produtos: Koket
064
DESIGN
IDEIAS POP
fotos andré poli | divulgação
Referências orientais, cromatismos
vibrantes, soluções divertidas. Na página
ao lado, adesivos de parede da empresa
japonesa. Vaso em porcelana azul com
aplicação de dragão laranja e ambiente
com inspiração chinesa do designer Jean
Boggio. Canecas de Paul Frank. Cadeira
Bold Modern, com estrutura metálica
forrada de espuma poliuretano, da Seletti
abd conceitual SET/OUT 2012
066
DESIGN
fotos divulgação
jaune
André Poli e Roberta Queiroz visitaram a
Maison&Objet a convite da organização do evento
abd conceitual SET/OUT 2012
amarelos
Armário Pavão de madeira, revestido de chapas de madrepérola, com
aplicação de pavão esculpido à mão em metal dourado, da Janet
Morais. Almofada em veludo amarelo cardinal, com brasão de escola
tradicional inglesa, Timothy Oulton. Pote de porcelana amarela com
aplicação de dragão, Franz. Mesa Around em madeira de pinus, Muuto.
Jogo de chá Bulki Set em porcelana, Muuto. Galo em vidro amarelo da
Daum. Sofá Chesterfiled em couro amarelo cardeal, Timothy Oulton
068
design
Restaurante
Germain, em Paris.
Projeto de India
Mahadavi com
elementos que
remetem à década
de 1970 e Sophie,
uma escultura
gigante de uma
garota amarela,
criação do artista
plástico Accueil
Xavier Veilhan
Em rota
Um percurso pela região central de Paris
texto Roberta Queiroz
suas criações podem ser encontradas. Na Rue de Las
Cases, 3, há ambientes completos desenvolvidos pela
designer. E no número 5 da mesma rua estão à venda
pequenos objetos de decoração de sua autoria.
A Paris Week Design foi realizada entre 10 e 16 de
setembro, em um momento em que os holofotes do
mundo estão voltados para Paris devido à Journées
du Patrimoine – dois dias em que o governo organiza
diversas atividades para incentivar as pessoas a visitarem os patrimônios culturais da França.
www.parisdesignweek.fr
fotos andré poli | divulgação
A Pa r i s W e e k D e s ign é um evento
que acontece em paralelo à feira de moda-casa
Maison&Objet. Devido ao sucesso da primeira edição,
em 2011, quando atraiu 60 mil pessoas, os organizadores resolveram repeti-lo este ano.
O evento consiste em um percurso pelas charmosas ruas e avenidas da região central de Paris, onde
o público faz passeios temáticos, conhece novos lugares e coleções, tem acesso a exposições inéditas,
encontra nomes importantes do design. O percurso é
organizado por zonas geográficas, com visitas a ateliers, lojas, showrooms, galerias e restaurantes.
São sete rotas abrangendo diversas áreas do design. Mas o visitante, de acordo com as suas áreas de
interesse, pode criar o seu próprio caminho.
No trajeto dedicado ao design de interiores, uma
das convidadas era India Mahadavi, designer e arquiteta iraniana radicada na França. Em conversa com
a ABD Conceitual, a designer falou sobre o seu encanto pelo Brasil. Ela já veio ao país, quando conheceu Trancoso, na Bahia, Rio de Janeiro e Inhotim, em
Minas Gerais. India também indicou os locais onde
abd conceitual SET/OUT 2012
070
design
fotos andré poli | divulgação
INDIA MAHADAVI
abd conceitual SET/OUT 2012
Abajur com pé em
madeira e cúpula
que India Mahadavi
pescou em um
mercado de pulgas.
Ao lado, ambientes
de lojas em Paris
com peças criadas
pela designer
Roberta Queiroz visitou a Paris Design Week a convite da organização do evento
072
coluna
a morte do bege
O chic frígido e os sofás imundos
Por Fabio Galeazzo
cionando como um antidepressivo, um
antídoto contra a tristeza; uma terapia.
Com isso, é libertador notar que, chegamos ao fim do uso imperativo do bege,
cor que ascendeu na historia da civilização ocidental como fórmula infalível para
se evitar mensagens indesejadas, tornando-se símbolo de uma época em que os
conceitos de bom-gosto vinham de fora
para dentro de modo etnocêntrico.
Para mim, um ambiente todo bege,
muitas vezes, é impressionantemente
sombrio e tedioso e conta uma história
de superficialidade, um testemunho dos
tempos de uma sociedade regida pelo
medo e a insegurança.
Medo de amar? Medo de errar? Insatisfação? Vontade de agradar a tudo e a
todos? Não suporta críticas? Não ouse,
escolha o bege!
É triste, neste momento onde tanto
se comenta sobre economia criativa, vivermos em um dos maiores laboratórios
do mundo e, ao folhear revistas e visitar
mostras de decoração, notar o crescente
número de colegas que mergulham nes-
se universo chic-frígido das camas sem
tesão e dos sofás imundos disfarçados
pelo tom bege. Pergunto: onde buscamos nossas raízes? Nossas referências?
Em algum hotel de Milão? Na vizinha Miami? Hello, brasilidade!
Claro, toda unanimidade é burra e simplesmente gongar, repudiar e tripudiar
sobre o excesso do bege seria ato desrespeitoso com um passado glorioso e um
presente internacionalmente reconhecido. Tem quem gosta e deve ser respeitado.
Quer inovar? Sede de amar? Provocar
sensações? Deixar um legado? Assuma
seu tom. n
Fabio Galeazzo é designer de interiores, consultor e proprietario da Galeazzo Design,
empresa multidisciplinar de criação. www.fabiogaleazzo.com.br
abd conceitual SET/OUT 2012
foto Célia Weiss
As m u da n ç a s sócio-comportamentais do mundo digital, e econômicas,
ocorridas pela ascensão dos países
emergentes, e que diariamente invadem
e transformam nosso estilo de vida e hábitos de consumo, têm gerado resultados
irreversíveis na humanidade. Na decoração, felizmente, é cada vez mais crescente o número de profissionais que adotam
o uso da cor na busca de soluções estéticas que refletem a própria personalidade,
e a dos clientes.
O que antes era considerado pelos
“cromatófobas” como extravagante e ousado, no mundo contemporâneo tornou-se uma ferramenta na busca pela liberdade de expressão.
Segundo Jung, “as cores são a língua
nativa do subconsciente”. Não só refletem
nossos valores, mas afetam e moldam a
maneira como vivemos – por vezes fun-
074
coluna
Salão Ambra
Salão Rubino
AMBRA E RUBINO
Os interiores assinados pelo designer italiano
Nino Zoncada para o transatlântico Eugenio C
 m b a r é u m a co r d e a m a r e lo
que recebeu seu nome da resina fóssil bastante usada na produção de joias.
Âmbar, em italiano, é Ambra. E este era o
nome de um dos projetos mais emblemáticos de Nino Zoncada (1898-1988), genial
artífice italiano dos interiores de transatlânticos notáveis do seu país.
O ponto alto da sua carreira foi o projeto do Eugenio C, um dos mais belos navios
criados para a rota da América Latina. Antes,
houve muitos vapores elegantes: o francês
L’Atlantique (sem dúvida, o mais lindo) ou o
alemão Cap Arcona ou o inglês Alcantara.
Além de transportar, esses navios enfeitiçavam com a beleza de seus salões. E, como
navegar era a única forma de chegar, as viagens transatlânticas propiciavam casamentos, negócios ou, simplesmente, diversão.
Sabiamente, os franceses usavam os
seus navios como exposições do gosto nacional, de interiores a vinhos. Sabiamente,
o governo francês subsidiava a construção
destas embaixadas. E foi o Eugenio C, italianíssimo, o último desta espécie, navio de
três classes com decoração deslumbrante
e muito glamour que, em pouco tempo,
seria roubado pela simples proposta de
cruzar o Atlântico em poucas horas. O Eugenio C chegou um pouco tarde.
Houve, no período que se seguiu à Segunda Guerra, uma restauração da frota
italiana e um abandono dos interiores
de estilo, abrindo espaço para uma decoração mais inspirada no movimento
moderno, leve e delicada, para a qual
Zoncada tinha uma linguagem singular,
confortável e acolhedora.
Os interiores do Eugenio C tinham uma
unidade como poucos navios. Na verdade,
foi Zoncada quem criou o projeto todo,
conseguindo um diálogo harmônico e
contínuo de proa à popa. O mobiliário fora
produzido pela também italiana Cassina e,
ainda hoje, pode ser encontrado em leilões
mundo afora. Território exclusivo para fanáticos por transatlânticos da era de ouro.
Ambra e Rubino eram os salões da
primeira classe. Foi no Rubino que, pela
primeira vez na vida, experimentei uma
orzata (bebida feita de amêndoas, sem
álcool). O Rubino, com estofados em tons
de vinho e areia, pisos de vinil lustrosos
e brilhantes (eram polidos todas as manhãs) e paredes em madeiras escuras. O
Ambra tinha pista de baile, parede elíptica com janelas para a proa e tetos na cor
da joia que lhe dava o nome, repetida em
poltronas de veludo combinadas com outras em tons de areia.
Ainda me lembro do cheiro da cera, do
barulho da enceradeira e do sabor da bebida. Ainda lembro os painéis de Massimo
Campigli, das escadas simétricas e da sutil
elegância do décor. Mal sabia eu que, ao
notar o trabalho do Nino Zoncada, o meu
destino já estava escrito. n
Roberto Negrete é designer de interiores. Nasceu em Buenos Aires. Desde 1982, vive em São Paulo.
É conselheiro da ABD. www.robertonegrete.com.br
abd conceitual SET/OUT 2012
foto Célia Weiss | reprodução do livro “à board des paquebots – 50 ans d’arts decoratifs” (NORMA EDITIONS)
Por Roberto Negrete
076
coluna
ENADE 2012
Participar ou não? Eis a questão
Por Jéthero Cardoso
E n t e n d e m os a n ec e ss i da d e e
somos favoráveis às avaliações realizadas
pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), através do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). O resultado dessas
provas permite análise do ensino e sua qualidade, e estabelece parâmetros para o aperfeiçoamento dos seus processos.
Mas as provas a que os alunos de design
de interiores foram submetidos, nos dois
últimos exames, não avaliaram o conteúdo
que lhes foi ensinado. São provas com ênfase em design de produto e design gráfico,
e excluem as especificidades do design de
interiores, prejudicando o seu objetivo.
Podemos entender design como uma
soma de processos criativos que levam à
concepção de um projeto, com diversas metodologias, tecnologias e métodos de produção. Entretanto, consideramos um desvio
conceitual entender que a titulação em de-
sign possa permitir a produção de quaisquer
concepções criativas denominadas design.
Essas atividades profissionais são distintas e
obedecem a necessidades específicas em
cada tipo de produção.
No mundo, o design está organizado por
entidades, subdivididas por sua especialidade: IFI (International Federation of Interior Design), ICSID (International Council of
Societies of industrial Design) e ICOGRADA
(International Council of Grafic Design Associations). Um exame nacional que objetiva
avaliar o desempenho dos cursos de design
deverá obedecer também às especificidades de cada uma das atividades.
A base do projeto de interiores é o espaço arquitetônico. E o desenho arquitetônico
é ferramenta que permite compreender o
espaço e sua volumetria. Em nenhuma das
outras áreas do design é necessária essa
compreensão. Este fato nos leva a refletir
sobre as particularidades de cada área – que
podem até ter disciplinas em comum, mas
possuem mais diferenças do que afinidades
no conjunto de seus conteúdos.
Depois da análise da publicação das diretrizes da prova de design 2012, constatamos a
incompatibilidade entre o que se ensina nas
escolas de design de interiores e o conteúdo
proposto por essas diretrizes. Soma-se a isso a
ausência de Diretrizes Curriculares Nacionais
para a área de design de interiores, e temos os
dispositivos que resguardam a escola na decisão de participar, ou não, do Enade.
Cabe à escola avaliar os conteúdos da
prova do Enade e decidir sobre o enquadramento de determinado curso. Certo é
que muitos alunos de design de interiores
vão participar dos exames do Enade no dia
25 de novembro, e é provável que esses
alunos tenham um desempenho sofrível, o
que mostrará a incongruência entre a prova e o que foi ensinado.
O que precisa ficar claro é que a área de
design de interiores ainda não possui Diretrizes Curriculares Nacionais que possam
dar lastro e pertinência à elaboração de
uma prova especifica. Isso, no entanto, não
implica que tenhamos que nos submeter a
provas que são elaboradas para outras formações em design.
No VI Encontro Nacional de Coordenadores e Professores de Design de Interiores,
que ocorre em 26 e 27 de outubro, em Atibaia, SP, teremos a participação da arquiteta
Fernanda Marques e do deputado federal
Ricardo Izar, que irão apresentar o projeto de
lei de regulamentação profissional do designer de interiores. Neste encontro, discutiremos questões relativas ao ensino. E também
abriremos espaço para um breve debate
sobre o ENADE. n
Jéthero Cardoso é coordenador do curso de Design de Interiores da Belas Artes
e membro do Conselho Deliberativo da ABD
abd conceitual SET/OUT 2012
ambiente
FAÇA-SE LUZ
A obra “iluminada” de James Turrell
El e é a r t i s ta pl á s t ic o , tem
69 anos, e define a sua arte assim: “Meu
trabalho é sobre o espaço e a luz que
habita nele. Trata-se de como se pode
estar diante desse espaço e materializá-lo. Trata-se da visão de cada um,
como o pensamento sem palavras que
provém de olhar para o fogo.” James
Turrell começou sua carreira nos anos
abd conceitual SET/OUT 2012
1960, na Califórnia. Por mais de quatro
décadas, vem criando obras que utilizam os efeitos da luz dentro de um
espaço, e suas criações são exibidas
em importantes museus do mundo. A
arte de Turrell ultrapassa a investigação puramente científica de fenômenos ópticos e seu fascínio pela luz está
relacionado com sua busca pelo lugar
que a humanidade ocupa no universo.
Atualmente, o artista vive em Flagstaff,
no Arizona, de onde supervisiona o seu
mais ambicioso trabalho: um projeto de
land art em Roden Crater, um vulcão
extinto que Turrell vem transformando
em observatório. n
www.hess-family.com/turrell_
gallery_tour.html
foto James Turrel, Dividing the Light, 2007, Skyspace, Pomona College, Claremont, California
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