literatura - Técnicas Ninja para o Vestibular da UERJ

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literatura - Técnicas Ninja para o Vestibular da UERJ
LITERATURA
PRÉ-VESTIBULAR
LIVRO DO PROFESSOR
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© 2006-2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do
detentor dos direitos autorais.
I229
IESDE Brasil S.A. / Pré-vestibular / IESDE Brasil S.A. —
Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2008. [Livro do Professor]
360 p.
ISBN: 978-85-387-0573-4
1. Pré-vestibular. 2. Educação. 3. Estudo e Ensino. I. Título.
CDD 370.71
Disciplinas
Autores
Língua Portuguesa
Literatura
Matemática
Física
Química
Biologia
História
Geografia
Francis Madeira da S. Sales
Márcio F. Santiago Calixto
Rita de Fátima Bezerra
Fábio D’Ávila
Danton Pedro dos Santos
Feres Fares
Haroldo Costa Silva Filho
Jayme Andrade Neto
Renato Caldas Madeira
Rodrigo Piracicaba Costa
Cleber Ribeiro
Marco Antonio Noronha
Vitor M. Saquette
Edson Costa P. da Cruz
Fernanda Barbosa
Fernando Pimentel
Hélio Apostolo
Rogério Fernandes
Jefferson dos Santos da Silva
Marcelo Piccinini
Rafael F. de Menezes
Rogério de Sousa Gonçalves
Vanessa Silva
Duarte A. R. Vieira
Enilson F. Venâncio
Felipe Silveira de Souza
Fernando Mousquer
Produção
Projeto e
Desenvolvimento Pedagógico
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Vanguardas
europeias e o
modernismo
Houve na Europa, no início do século XX, uma
série de movimentos artísticos preocupados em
reinterpretar a realidade (conturbada, num clima de
incerteza e insegurança). Para isso, tais movimentos causaram uma ruptura total com o que existiu
e existia de tradicional na arte. Novas linguagens
artísticas foram criadas, novas visões de mundo
acabaram sendo reveladas. A arte nunca mais seria
a mesma. O tempo da liberdade artística total havia
chegado. A esses movimentos de ruptura chamamos
vanguardas.
O nome “vanguarda”
A nomeação vanguarda provém da língua francesa. É a união de duas palavras: avant (do francês, à
frente, adiantado, antes) e garde (do francês, guarda).
O que temos então é o termo avant-garde, uma guarda avançada no campo das artes, que foi adaptada
para a língua portuguesa como vanguarda.
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Contexto histórico
A época em que se desenvolvem as vanguardas europeias é muito conturbada. Temos em 1914
a Primeira Guerra Mundial. Em 1917 ocorre, a partir
da iniciativa de uma “vanguarda social” (a facção
bolchevique), a conquista do poder e o estabelecimento da primeira Nação Soviética do mundo, é a
Revolução Russa, comandada por Lenin.
Está em fase terminal o chamado ciclo burguês
representado pelo fim da Belle Époque. A Europa
passa por uma verdadeira crise de valores, em que
a filosofia, a religião e a moral não tinham mais a
capacidade de explicar o que estava acontecendo.
O velho mundo deixa de ser o modelo de civilização
do Ocidente. Nem a euforia pelos avanços técnicocientíficos é mais suficiente para amenizar o desespero no qual se encontra a sociedade da época.
Nesse contexto dramático surgem artistas que
buscam interpretar a realidade com outros olhos, e
o resultado disso é outra visão de mundo. Visam à
destruição de tudo aquilo que represente passado.
É o surgimento das vanguardas artísticas, desveladoras do caos em que se encontrava o continente
europeu naquela época.
As vanguardas
[...] mais do que a simples tendência, a
vanguarda representa a mudança de crenças
experimentadas no pensamento e na arte do
mundo ocidental, desde o início deste século
(século XX). Toda vanguarda sempre se caracteriza pela sua agressividade, manifestada no
antilogismo, no culto a valores estranhos [...]
os poderes mágicos, a beleza da anarquia, o
instantaneísmo, o dinamismo, a imaginação
sem fio [...].
(TELES, Gilberto Mendonça.
Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro.)
Nas primeiras décadas do século XX acontecem
vanguardas na Europa, todas com seus manifestos
e ideologias acerca da arte e da sociedade. Como
são diversas, destacaremos aquelas que exerceram
maior influência na literatura brasileira. Algumas
tiveram maior influência que outras, porém todas,
de alguma forma, contribuíram para a constituição
do Modernismo no Brasil e da arte modernista no
mundo ocidental.
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1
Futurismo
Autor desconhecido.
O primeiro Manifesto Futurista é publicado em
1909 no jornal Le Figaro. Tem como líder o culturalmente italiano (pois nasceu no Egito, quando seu
pai, um advogado italiano, foi trabalhar nesse país
em busca de fácil enriquecimento devido à recente
abertura do canal de Suez) Filippo Tommaso.
Marinetti.
Autor desconhecido.
Pode-se dizer que o movimento futurista foi
“rico em teoria e pobre em manifestações” devido ao
grande número de manifestos (mais de trinta) que
teve. Seu fim aconteceu antes da queda do fascismo,
servindo em sua fase final de propaganda para este.
Teve incrível projeção internacional, particularmente
nos países de língua latina.
O Futurismo influenciou todas as demais vanguardas e foi o “principal estímulo artístico e intelectual dos jovens renovadores de São Paulo”. (Gonzaga,
Sergius. Curso de Literatura Brasileira)
Características
Culto à máquina, à velocidade, à guerra: o
culto à máquina e à velocidade significa o desejo de
ruptura com o passado, lento, lerdo, monótono. A
guerra era tida pelos futuristas como uma forma de
“higiene do mundo”. Leia um trecho do Manifesto
Futurista:
Nós queremos glorificar a guerra – única higiene do mundo – o militarismo, o patriotismo, o
gesto destrutor dos anarquistas, as belas ideias
que matam [...].
A realidade em pleno movimento: no campo
das artes plásticas buscou-se demonstrar objetos
em alta velocidade. É a tentativa de representação
da sensação dinâmica da realidade. A imagem de
um cavalo a galopar, por exemplo, não teria quatro
patas e, sim, vinte devido a sua movimentação em
grande velocidade.
Palavras em liberdade e analogia: no Futurismo, abole-se a pontuação (substituída por sinais
matemáticos), o adjetivo, a sintaxe, o verbo conjugado e o psicologismo; símbolos de lentidão, de
meditação, logo, opostos ao ideal de velocidade tão
pregado. A percepção da obra de arte deve-se dar
pela analogia das palavras, possibilitando, assim,
um maior dinamismo na observação e interpretação
da obra.Vamos ver um trecho do Manifesto Técnico
do Futurismo:
É preciso destruir a sintaxe, dispondo os
substantivos ao acaso, como nascem.
[...]
Deve-se abolir o adjetivo para que o substantivo desnudo conserve a sua cor essencial.[...]
Assim como a velocidade aérea multiplicou
o nosso conhecimento do mundo, a percepção
por analogia torna-se sempre mais natural para
o homem.
[...]
Abolir também a pontuação. Estando supressos os adjetivos, os advérbios e as conjunções, a
pontuação está naturalmente anulada na continuidade vária de um estilo vivo [...].
Quanto mais as imagens contenham ligações
vastas, tanto mais tempo elas conservarão a sua
força de estupefação.
Grupo futurista italiano em Paris: (da esq. para a dir.) Carrà,
Russolo, Marinetti, Boccioni e Severini.
2
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As vanguardas que estudadas mais profundamente aqui são o Futurismo, o Cubismo, o Dadaísmo
e o Surrealismo.
Domínio público.
Pintura futurista de Boccioni.
Cubismo
Pablo Picasso.
Movimento eminentemente francês, o Cubismo
surge em 1907 e tem como principais nomes Pablo
Picasso e Mondrian, na pintura e escultura; e Guillaume Apollinaire, na literatura.
A primeira obra cubista que vem a público é o
quadro Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso,
obra que não somente inicia o Cubismo, mas também
a revolução na arte.
Observe os diversos ângulos simultâneos em
que as figuras são demonstradas.
Características
Integração dos diversos modos de arte: no
Cubismo, artes plásticas e literatura misturam-se,
fazendo com que poemas ganhem formas de figuras,
como o visto acima, de Apollinaire.
Uma das características das artes neste
século (século XX) é justamente a da aproximação de todas elas, uma influenciando a outra e
concorrendo todas para a popularização de novas
técnicas e linguagens.
(TELES, Gilberto Mendonça.
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Vanguarda Europeia e Modernismo Brasileiro.)
Veja o poema “La Colombe Poignardée et le jet
d’eau”, de Apollinaire, retirado de sua revolucionária
obra Calligrammes. Veja que o poema assume formas
de pomba, de um esguicho d’água e de um olho.
Realidade fracionada: a realidade é demonstrada em planos superpostos e simultâneos, com a
intenção de demonstrar a totalidade do objeto, todos
os seus ângulos.
Ilogismo, anti-intelectualismo: no Cubismo
busca-se representar tudo aquilo que não provenha
do racional. Daí a utilização de técnicas como o instantaneísmo e a simulta­neidade.
Linguagem nominal e caótica: maior utilização
de substantivos aplicados caoticamente na intenção
de demonstrar a ilogicidade e espontaneidade de
criação.
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3
Dadaísmo
Marcel Duchamp.
O Dadaísmo começa em 1916, com a publicação
do Manifesto do Senhor Antipirina, liderado pelo romeno Tristan Tzara, que organizava encontros com
os demais colegas no Cabaret Voltaire, em Zurique,
na Alemanha.
Essa vanguarda busca romper, através do absurdo, os laços com o passado, sendo uma negação
deste. Porém, esse rompimento não se assemelha ao
do Futurismo, que visava àquilo que representasse o
futuro, e sim uma ênfase no presente, em detrimento
do passado.
A origem e a explicação do nome dadá possui
várias explicações, dentre elas a de que possui,
em alemão, o sentido de ingenuidade, em romeno
significa “sim”. Contudo, esse nome no movimento
constituiu a intenção que Tzara teve de criar algo que
não significasse nada. É a negação de tudo.
Os principais dadaístas foram Tristan Tzara e
Marcel Duchamp. Veja uma das obras de Duchamp,
fundador de diversas revistas divulgadoras do Dadaísmo.
Nada de pintores, nada de literatos, nada de
músicos, nada de escultores, nada de religiões,
nada de republicanos, nada de realistas, nada
de imperialistas, nada de anarquistas, nada de
socialistas, nada de bolcheviques, nada de políticos, nada de proletários, nada de democratas,
nada de burgueses, nada de aristocracia, nada
de exércitos, nada de polícia, nada de pátrias,
enfim, basta de todas essas imbecilidades,
não mais nada, não mais nada. NADA, NADA,
NADA.
Oposição a qualquer tipo de equilíbrio: temos
no Dadaísmo a constante improvisação, a desordem.
São aplicados neologismos sem significado algum,
desprezando-se, assim, a participação consciente
do leitor ou espectador na obra. Veja a receita Para
Fazer um Poema Dadaísta:
Pegue um jornal
Pegue uma tesoura
Escolha um artigo do jornal na dimensão
que você quer dar [ao seu poema
Recorte o artigo
Depois recorte algumas palavras do artigo e
as ponha numa [pequena bolsa
Sacuda-a suavemente
Tire em seguida cada palavra uma após a
outra
Copie honestamente na ordem em que
saíram da bolsa
E o poema estará pronto e parecido com
você
E você será um poeta de original, fascinante
sensibilidade,
Ainda que a plebe não o compreenda.
(Tristan Tzara)
Características
4
Niilismo: os dadaístas tinham como principal
objetivo a destruição. Para isso provocavam uma
espécie de terrorismo cultural, em que todos os valores culturais eram questionados e destruídos. Nada
possui significado. Leia este texto de Tzara:
O Surrealismo surge em 1924, na França, no
tenso período do entre guerras. Seu líder foi André
Breton, provindo do dadaísmo.
Esse movimento é tido como aquele que, dentre as principais vanguardas, “construiu arte”. Os
surrealistas distanciam-se do niilismo e procuram
revelar uma realidade mais ampla, ou superior, distanciada da razão, voltada ao sonho, ao inconsciente,
ao subconsciente.
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Surrealismo
Juan Miró.
Domínio público.
Arte como ferramenta: tanto a pintura como
a literatura funcionaram como instrumentos, ferramentas de investigação do fantástico.
Harlequin Carnival, de Joan Miró.
Diferentemente do dadaísmo, a arte surrealista
busca a significação. Uma pintura surrealista nunca é
gratuita, sempre contém uma “chave” que nos revela
algo, por trás do aparente caos.
Os principais nomes do Surrealismo são Salvador Dalí, André Breton e Luís Buñuel, esse último
criador de Um Cão Andaluz, filme que divulgou a
arte surrealista.
Irrealidade: no Surrealismo há a acomodação,
a junção de objetos incongruentes, causando
um efeito inusitado, de estranhamento. Criam-se
imagens extravagantes. Observe esta pintura de
Salvador Dalí:
Salvador Dalí.
Salvador Dalí.
Características
René Magritte.
Construção Mole com Feijões Cozidos.
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Salvador Dalí.
Emancipação total do homem: os surrealistas
buscavam a libertação total, não somente no campo
da arte, mas da vida. Era a tentativa de aproximação
daquilo que simbolizasse o primitivo.
Estudo dos sonhos e das formas não-racionais
de conhecimento: influenciados por Freud, os artistas
do Surrealismo investiram no estudo da interpretação
dos sonhos. Manifestaram em suas obras as imagens vindas de sua mais profunda subjetividade: o
subconsciente. O transe e a hipnose também foram
explorados. Veja este quadro de Salvador Dalí:
Persistência da Memória.
Chuva de Homens, de René Magritte.
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5
Composição VII, de Kandinsky.
Semana de
Arte Moderna
O início do século XX foi um período de grandes
mudanças no campo das artes. Na Europa, os prenúncios de guerra e a própria Primeira Guerra Mundial,
alteraram a forma de todos pensarem. Surgem, então,
diversos movimentos artísticos que visavam romper
com tudo o que representasse o tradicional na arte.
Começam a nascer, a partir dessas vanguardas, novas interpretações sobre a realidade.
No Brasil, influenciado pelas inovações vanguardistas do velho mundo, irá brotar um desejo de
libertação artística. A ideologia de liberdade nas
artes será o caráter principal de influência na própria estética dessa arte. Tal fato irá ter como data
de início 13 de fevereiro de 1922, com a Semana de
Arte Moderna, realizada no Teatro Municipal de
São Paulo.
Nascia o Modernismo brasileiro, movimento de
ruptura com a tradição, nossa vanguarda.
6
Catálogo da exposição de
artes plásticas da SAM,
por Di Cavalcanti.
Contexto histórico
No ano de 1922, o Partido Comunista do Brasil
é fundado. No mesmo ano, acontecerá a revolta dos
militares do Forte de Copacabana, em que dezessete militares e um civil irão ser mortos por três mil
soldados das forças do governo. Tal evento ficou
conhecido como os 18 do Forte, é a eclosão do movimento tenentista.
Washington Luís ascende à presidência da
República em 1926. No mesmo ano é fundado o Partido Democrático. Enquanto isso, a Coluna Prestes
marcha pelo interior do Brasil.
Em 1930, Júlio Prestes é eleito presidente do
Brasil, porém, é deposto no mesmo ano, devido à
Revolução de 30, que faz com que Getúlio Vargas
suba ao poder.
No plano internacional, ainda em 1922, começa
o desenvolvimento do fascismo na Itália, com Mus­
solini no poder. Em 1924 morre Lênin. No ano de 1929
ocorre o crack da Bolsa de Valores de Nova York,
levando milhares de famílias à falência.
O que aconteceu antes da
Semana?
Em 1912, o jovem Oswald de Andrade chega ao
Brasil de uma viagem feita pela Europa, trazendo as
ideias acerca das novas artes (lembremos que ocorre
nas duas primeiras décadas do século XX o desenvolvimento da maioria das ­vanguardas). Tais ideias
foram divulgadas por ele em diversos jornais de São
Paulo, porém, sem grande simpatia do público.
O momento de propulsão que fez com que, em
1922, o Modernismo se elevasse aos céus, aconteceu
no ano de 1917 com a exposição de quadros de Anita
Malfatti, a qual voltava de seus estudos sobre arte na
Europa e nos Estados Unidos. A princípio, o público,
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Wassily Kandinsky.
Outra vanguarda importantíssima para a arte
ocidental foi o Expressionismo (surgido em 1910,
na Alemanha), que não exerceu uma influência tão
forte na literatura brasileira. Algumas características
dessa vanguarda são: expressão da vida interior,
importando o modo de expressar a impressão que
se faz do mundo; identificação com tudo que há de
primitivo nas artes, como mitos e sonhos; a vida
interior é vista como a salvação do ser humano; a
busca do equilíbrio no desequilíbrio. É importante
salientar que o Expressionismo foi uma revolução
cultural que ultrapassou a arte. Seus grandes nomes
são Gaughin e Kandinsky.
Di Cavalcanti.
Expressionismo
Victor Brecheret
(1894-1955).
Outros acontecimentos prenunciaram também
o nascimento da nova estética. Foram as estreias de
quatro jovens escritores que, apesar de ainda apresentarem certa identificação com o Parnasianismo
e o Romantismo, já demonstravam que a literatura
não era mais a mesma, que algo de diferente estava
surgindo. Mário de Andrade, com Há uma Gota de
Sangue em Cada Poema, Guilherme de Almeida,
com Nós, Manuel Bandeira, com Cinza das Horas e
Menotti del Picchia, com Juca Mulato apareceram
como quatro estimulantes promessas da literatura
modernista.
Ponto culminante para a Semana de Arte Moderna vir a se tornar realidade foi quando os jovens
modernistas (chamados de futuristas, na época) co-
Domínio público.
A Semana de Arte Moderna foi realizada nos
dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, sempre à noite. Não se sabe
exatamente quem foi seu idealizador, porém sabemos
que Oswald de Andrade e Mário de Andrade foram
os principais nomes, sendo este o grande teórico do
Modernismo e aquele o grande agitador.
A SAM significou, cem anos depois da independência política (1822), a independência cultural
brasileira. Teve como objetivo romper com a tradição
no campo das artes, seja na literatura, nas artes
plásticas ou na música.
O objetivo da Semana foi pôr o público a par
do que era a arte moderna, ou seja, apresentar um
panorama geral da nova estética.
Domínio público.
O Japonês, de Anita Malfatti. A Boba, de Anita Malfatti.
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Detalhe do Monumento às
Bandeiras.
Semana de Arte Moderna
(SAM)
Anita Malfatti.
Anita Malfatti.
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas
[...] A outra espécie é formada pelos que veem
anormalmente a natureza interpretam-na à luz
de teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica
das escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva [...] Embora eles
se deem como novos, precursores de uma arte
a vir, nada é mais velho do que a arte anormal
ou teratológica: nasceu com a paranoia e com
a mistificação. [...] Essas considerações são
provocadas pela exposição da senhora Malfatti,
onde se notam acentuadíssimas tendências
para uma atitude estética forçada, no sentido
das extravagâncias de Picasso e companhia.
nheceram, em 1920, o suíço Victor Brecheret, chamado para realizar o Monumento às Bandeiras, em São
Paulo, no ano de 1922, que acabou sendo recusado
por ser muito moderno para o gosto da época. Alguns
anos depois, esse monumento acabou sendo erguido
e se tornou símbolo da arte modernista no Brasil.
Autor desconhecido.
acostumado somente com a arte realista, tomou um
choque; mesmo assim, algumas obras da pintora
foram compradas. Entretanto, dias depois, o crítico
de arte do jornal O Estado de São Paulo, Monteiro
Lobato, publicou o artigo “Paranoia ou Mistificação”, fazendo severas críticas à mostra da artista.
Os leitores, que confiavam plenamente nas opiniões
de Lobato, reagiram imediatamente, devolvendo os
quadros da pintora. Anita sofreu até uma tentativa
de agressão.
Cartaz anunciando o último dia da SAM.
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7
Na terceira e última noite, Heitor Villa-Lobos
apresentou sua música. Ao entrar percebeu-se que
em um dos pés calçava um chinelo. Quando o público
percebeu isso, considerou uma verdadeira afronta, os
modernistas estavam indo longe demais, e foi severamente vaiado. Tempos depois, Villa-Lobos explicou
que aquilo nada tinha a ver com arte moderna e sim
com uma infecção no pé, devido a um calo.
Domínio público.
Para realizar tal evento, o Teatro Municipal de
São Paulo foi alugado e nele foram realizadas conferências, recitais, leituras e exposições. Na noite do
dia 13 uma das atrações foi a conferência A Emoção
Estética na Arte Moderna, ministrada por Graça
Aranha (único representante da velha guarda que
apoiou os jovens futuristas). Na segunda noite, dia
15 de fevereiro, Ronald de Carvalho, sob um mar
de vaias, recitou o poema “Os Sapos”, de Manuel
Bandeira, que não pôde estar presente. Tal poema
satirizava, de forma aberta, a poesia parnasiana e
os poetas parnasianos. Vamos lê-lo.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
‘– Meu pai foi à guerra
– Não foi! – Foi! – Não foi!’
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos*.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhe dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. [...]
Heitor Villa-Lobos.
Enfim, a SAM revelou a luta entre futuristas e
passadistas, e que um novo tempo na arte brasileira
havia chegado para ficar.
Um dos instrumentos de divulgação da arte
moderna foi a revista Klaxon – mensário de arte moderna. Além do conteúdo sobre arte moderna, ela
apresentou uma renovação no campo editorial de
revistas, tanto pelos recursos gráficos como pelas
propagandas sérias (propaganda dos chocolates
Lacta) e bem-humoradas (propaganda da fábrica de
sonetos!!!).
Domínio público.
O sapo-tanoeiro
Parnasiano aguado
Diz: – ‘Meu cancioneiro
É bem martelado’.
Urra o sapo-boi:
Meu pai foi rei – Foi!
– Não foi! – Foi! – não foi!’
8
Número 1 da revista Klaxon.
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Brada de um assomo
O sapo-tanoeiro:
‘A grande arte é como
Lavor de Joalheiro’
Principais participantes
Di Cavalcanti.
No campo da literatura os participantes foram
Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Graça
Aranha, Ronald de Carvalho, Menotti del Picchia,
Guilherme de Almeida e Sérgio Millet.
Nas artes plásticas os principais participantes
foram Anita Malfatti e Di Cavalcanti.
Duas Mulheres, de Di Cavalcanti.
E na música destacam-se Villa-Lobos e Guiomar
Novaes.
Importância
Com a Semana de Arte Moderna, temos o estabelecimento da fronteira entre passado e futuro na
literatura brasileira. Ela foi fundamental para pôr um
fim à tradição e para abrir novos caminhos na arte.
Através das inovações formais, que tinham
como base a liberdade expressiva total de criação
(liberdade formal, liberdade linguística e liberdade
temática) acontece nas artes do Brasil o fim de um
“imobilismo cultural” (Sergius Gonzaga) de séculos.
Porém, a importância fundamental da SAM foi a
nacionalização da arte, em que não mais se buscava
imitar a arte europeia, e sim, através das novidades
artísticas que de lá vinham, construir uma arte própria uma arte genuinamente brasileira.
Mário de Andrade resume perfeitamente a importância da Semana de Arte Moderna:
•• direito permanente à pesquisa estética;
EM_V_LIT_012
•• atualização da inteligência artística brasileira;
•• estabilização de uma consciência criadora
nacional.
O Projeto e as características
do Modernismo de 1922 a 1930
Os modernistas de 1922 tinham como base
ideológica, estética, a destruição de tudo o que representasse tradição. Para isso se efetivar, colocaram
em xeque a arte acadêmica questionando-a.
Além disso, ironizaram a linguagem dessa arte,
repetitiva, recheada de clichês (tomavam como exemplo a linguagem parnasiana).
A assimilação das conquistas das vanguardas
europeias foi fundamental para o desenvolvimento do
nosso modernismo. Dentre essas conquistas, temos
a liberdade de expressão e a inserção do cotidiano
aos temas, com um posicionamento simultaneamente
crítico e empolgado.
A busca da expressão nacional, do abrasileiramento nos temas, da definição de uma cultura
brasileira foram uma constante nesse período. O
nacionalismo com uma visada crítica, tanto em
questões estéticas quanto ideológicas, foi a base do
Modernismo de 1922. Surgiram revistas, manifestos
e movimentos que discutiram essas questões.
Movimentos primitivistas
Pau-Brasil (1924) –
Oswald de Andrade
No Manifesto da Poesia Pau-Brasil vê-se a ironia
em relação ao bacharelismo, a busca de uma nova
linguagem que expressasse o nacional, a descoberta
da cultura popular e a mistura do moderno com o
arcaico do Brasil. Vamos ler um trecho do Manifesto
Pau-Brasil.
“A poesia existe nos fatos. Os casebres de
açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o
azul cabralino, são fatos estéticos [...] obuses
de elevadores, cubos de arranha-céu e a sábia
preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia
íntima. O sabiá. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos
de avaliação militar. Pau-Brasil.”
“A língua sem arcaísmo, sem erudição. A
contribuição milionária de todos os erros. Como
falamos. Como somos. [...] Contra a cópia, pela
invenção e pela surpresa.”
“O Carnaval é o acontecimento religioso
da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os
cordões de Botafogo. A formação étnica rica
Riqueza vegetal.”
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9
A inspiração desse movimento vem com o quadro de Tarsila do Amaral que Raul Bopp nomeou de
Abaporu (O comedor de gente).
O manifesto veio no primeiro número da Revista de Antropofagia. A Antropofagia revelou-se
como uma ampliação do Pau-Brasil. O que Oswald
visou expressar nesse manifesto foi um ideal nem
de rejeição e nem de imitação das referências estrangeiras, mas sim, sua devoração, sua deglutição.
Assim, como algumas tribos indígenas faziam nos
rituais antropofágicos com aqueles que capturavam,
os devoravam para absorver suas virtudes. Logo, a
antropofagia na arte modernista seria uma absorção
da influência estrangeira para a formação de uma
arte tipicamente brasileira.
Demonstrou-se nesse manifesto o caráter indígena das raízes do Brasil. Por último, percebe-se o
humor como traço diferenciador do caráter brasileiro
e como forma de crítica
“Tupy or not tupy, that the question”.
A alegria é a prova dos nove.
Verde–Amarelo (1924)
e Anta (1928)
Foram dois movimentos que vieram na esteira
do Pau-Brasil de Oswald de Andrade, em relação
à busca daquilo que é brasileiro nas artes. Porém,
apresentavam um nacionalismo conservador e, no
plano social, uma visão de direita.
Características gerais
da literatura modernista
10
Após 1922, com a Semana de Arte Moderna,
a literatura brasileira nunca mais seria a mesma.
Influenciados pelas vanguardas europeias surgidas
no início do século XX, os artistas brasileiros conquistaram a total liberdade de expressão na arte.
Não existiam mais regras do “bem escrever”,
o importante era falar, tratar sobre aquilo que se
quisesse e da maneira que se quisesse.
A literatura do século XX, que genericamente
chamamos aqui de modernista, assume, devido a
possibilidades infinitas de criação, uma série de
características comuns, que permearão as obras de
diversos artistas em várias décadas.
Liberdade de expressão
Fundamental conquista da literatura modernista, a liberdade de expressão permitiu ao escritor
utilizar-se das palavras da forma que bem entender.
Não há mais normas que predeterminem o que é bom
ou ruim, certo ou errado no processo de criação da
obra literária. Tal característica também representa
a fissão definitiva da nova arte com as literaturas do
passado. Rompe-se com a tradição.
O principal traço atingido pela literatura modernista com a liberdade de expressão foi a reinterpretação da realidade. Um escritor, ou artista modernista,
não apresenta mais a interpretação objetivada da
realidade, mas a sua interpretação particular da
realidade que está representando.
Diversas correntes literárias tiveram suas poéticas, seus livros, em que se encontravam os preceitos
que indicavam a melhor forma de produzir literatura.
Leia este poema de Manuel Bandeira, chamado “Poética” (título que expressa evidente ironia), em que o
novo e único preceito literário é a liberdade.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com ponto
expediente protocolo e manifestações de apreço
ao sr diretor
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar
no [dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos
universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes
de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo o lirismo que capitula ao que quer
que seja fora [de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do [amante exemplar com cem modelos
de cartas e as [diferentes maneiras de agradar às
mulheres, etc.
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EM_V_LIT_012
Antropofagia (1928) – Oswald de Andrade
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos “clowns” de Shakespeare
– Não quero mais saber do lirismo que não
é libertação
Cotidiano
O capoeira
– Qué apanhá sordado?
– O quê?
– Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada.
Pronominais
Mais uma das características da literatura
modernista é a incorporação do cotidiano como
temática. Tal fato possibilitou a inserção de uma
gama infinita de assuntos que agora mereciam ser
tratados em literatura. Não só mais o que é sublime
deve obrigatoriamente se tornar objeto da literatura,
o prosaico ganha seu espaço, em verdade, assume
todo o espaço dentro do Modernismo.
Essa valorização do cotidiano promoveu o popular, o folclórico, o diário, o vulgar, o grosseiro e o
sujo a objetos literários. Vejamos este exemplo da
obra de Manuel Bandeira:
Poema tirado de uma notícia de jornal
João Gostoso era carregador de feira livre
e morava no [morro da Babilônia num barracão
sem número]
Uma vez ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
e morreu [afogado]
Linguagem coloquial
EM_V_LIT_012
Vejamos estes exemplos da poesia de Oswald
de Andrade:
A liberdade de expressão teve como consequência a livre escolha dos temas literários. Com a
valorização do cotidiano temos consequentemente
a valorização da linguagem usada no dia-a-dia: a
linguagem coloquial. Não se busca mais a palavra de
difícil compreensão ou a frase de sintaxe complexa.
Visa-se agora à espontaneidade linguística.
A linguagem que vai predominar na literatura
modernista será uma mistura de estilo elevado e
estilo vulgar. É o estilo mesclado, em que a língua
culta está acompanhada de termos populares,
aproximando-se, assim, da fala e assumindo uma
maior oralidade.
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Ambiguidade
A univocidade do discurso literário é desfeita.
Não há mais apenas uma interpretação possível do
texto, e sim diversas formas de o compreender. Temos
a chamada Obra Aberta (Umberto Eco), de caráter
polissêmico, que permite ao leitor construir as mais
variadas interpretações.
Leia este poema de Manuel Bandeira:
Estrela da manhã
Eu quero a estrela da manhã
Onde está a estrela da manhã?
Meus amigos meus inimigos
Procurem a estrela da manhã
Ela desapareceu ia nua
Desapareceu com quem?
Procurem por toda parte
Digam que sou um homem sem orgulho
Um homem que aceita tudo
Que me importa?
Eu quero a estrela da manhã
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Três dias e três noites
Fui assassino e suicida
Ladrão, pulha, falsário
Os passarinhos aqui
Não cantam como os de lá
Virgem mal-sexuada
Atribuladora dos aflitos
Girafa de duas cabeças
Pecai por todos pecai com todos
Pecai com os malandros
Pecai com os sargentos
Pecai com os fuzileiros navais
Pecai de todas as maneiras
Com os gregos e com os troianos
Com o padre e com o sacristão
Com o leproso de Pouso Alto
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra [...]
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo.
Canção
Mário Quintana
Depois comigo
Procurem por toda parte
Pura ou degradada até a última baixeza
Eu quero a estrela da manhã
Paródia
Os escritores modernistas realizaram a aproximação de seus textos com as obras literárias do
passado. Executando uma releitura com caráter por
vezes pejorativo e por vezes positivo.
Muitos recriaram poemas do passado com uma
perspectiva humorística, fazendo, dessa forma, a
paródia de um texto antigo. Um grande número de
escritores fez paródia do mais conhecido poema
do Romantismo, “Canção do Exílio”, de Gonçalves
Dias.
Leia as paródias feitas de Canção do Exílio.
Canto do regresso à pátria
Oswald de Andrade
Minha terra tem palmeiras...
Em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Aspectos formais da
literatura modernista
É importante salientar que todas essas inovações são conquistas que representaram a ruptura
total com a tradição literária do século XIX.
Abolição dos nexos
e da pontuação
Com a abolição dos nexos sintáticos – preposições, conjunções, pronomes etc. – e da pontuação que
segue as normas gramaticais, a poesia modernista
tornou-se mais solta, fluida, fragmentária. Há uma
busca da síntese, em que se procura dizer muito
escrevendo pouco.
A poesia concretista, por exemplo, chegou ao
extremo de ser basicamente uma poesia nominal,
sem nexos, pontuação e regras gramaticais. Vejamos estes exemplos de Augusto de Campos e Décio
Pignatari.
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
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EM_V_LIT_012
Te esperarei com mafuás novenas
cavalhadas
comerei terra e direi coisas de uma ternura
tão
simples
Que tu desfalecerás
namento o blackout as montanhas de metais
velhos o italiano assassinado na Praça João
Lisboa o cheiro de pólvora os canhões alemães
troando nas noites de tempestade por cima da
nossa casa. Stalingrado resiste.
[...]
Fluxo de consciência
É o monólogo interior posto no texto sem qualquer preocupação com normas ou ordem lógica.
Busca-se, assim, imitar o pensamento de uma pessoa,
que não segue uma sequência lógica. O criador do
fluxo de consciência no texto literário foi Edouard du
Jardin, mas quem a consagrou foi o escritor irlandês
James Joyce.
Verso livre e verso branco
Com a literatura modernista acabam-se as
formas prontas na poesia. O soneto, por exemplo,
sede lugar a poemas com versos sem métrica – verso
livre e verso branco – verso sem rima. Vejamos este
exemplo de Alberto Caeiro, heterônimo de Fernando
Pessoa.
O que nós vemos das coisas são as coisas?
Por que veríamos nós uma coisa se
houvesse outra?
Por que é que ver e ouvir seria iludirmo-nos
Se ver e ouvir são ver e ouvir?
[...]
[...] que alívio onde quer que seja teu vento
despeja quem sabe se aquela costeleta de porco
que comi com minha xícara depois estava boa com
o calor ou não cheirei nada eu certa que aquele
sujeito afrescalhado na charuteria é um grande
maroto eu espero que essa lamparina não esteja
fumegando pra me encher o nariz de fuligem [...]
1. (Elite) Qual destes artistas é o grande representante da
pintura surrealista?
a) Marcel Duchamp.
b) Tristan Tzara.
c) Marinetti.
d) Salvador Dalí.
Enumeração caótica
A enumeração caótica é o acúmulo de palavras
fazendo referência a objetos, seres e sensações de
forma não-lógica. Tais termos podem ou não estabelecer relação entre si. Veja este exemplo retirado de
“Poema Sujo”, de Ferreira Gullar.
EM_V_LIT_012
[...]
Era a vida a explodir por todas as fendas
da cidade sob as sombras da guerra:
A gestapo a wehrmacht a raf a feb blitzkrieg
catalinas torpedeamentos a quinta-coluna os
facistas os nazistas os comunistas o repórter
Esso a discussão na quitanda o querosene o
sabão de andiroba o mercado negro o racio-
``
Solução: D
2. (Elite) As transformações vividas pela sociedade
europeia (nos mais variados setores, do político
ao social, do econômico ao tecnológico) em princípios do século XX refletiram-se nas vanguardas
artísticas. Elas foram o símbolo de um mundo em
transformação.
Com base nisso responda:
É correto afirmar que as vanguardas artísticas
sempre estiveram vinculadas às vanguardas políticas
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(movimentos socialistas, anarquistas, contestadores
da ordem capitalista)? Justifique.
Solução:
1. (Elite) O que foram as vanguardas europeias?
Não, essa é uma afirmação incorreta. Isso porque
as inovações artísticas (mesmo que contestadoras
da ordem estética) não necessariamente caminham
lado a lado com ideias/movimentos políticos
contestadores da ordem dominante. Um exemplo
disso foi o Futurismo italiano, liderado por Marinetti
(1876-1944), que em muito se associou ao fascismo
naquele país.
2. (Elite) Como se deu a interpretação que tais movimentos
fizeram da realidade?
3. (Elite) Qual a grande contribuição das vanguardas
europeias?
4. (Elite) Explique a origem do nome “vanguarda”.
5. (Elite) Marque V para afirmativa verdadeira e F para afirmativa falsa relacionadas ao contexto histórico europeu
nas primeiras décadas do século XX.
3. (Elite) Qual a grande importância da Semana de Arte
Moderna?
``
(( ) Está em fase terminal o chamado ciclo burguês representado pelo fim da Belle Époque. A Europa passa por uma verdadeira crise de valores, em que a
filosofia, a religião, a moral não tinham mais a capacidade de explicar o que estava acontecendo.
Solução:
A SAM representou a conquista da independência cultural no Brasil.
(( ) Em 1917 ocorre, a partir da iniciativa de uma “vanguarda social” (a facção bolchevique), a conquista
do poder e o estabelecimento da primeira nação soviética do mundo, é a Revolução Russa, comandada
por Stalin.
(( ) O velho mundo deixa de ser o modelo de civilização
do Ocidente. Nem a euforia pelos avanços técnico-científicos era mais suficiente para amenizar o desespero no qual se encontrava a sociedade da época.
Disponível em: <www.
artchive.com/gliphs/kandinsky/comp7640>
4. (Elite) As pinturas a seguir fazem parte de uma vanguarda que influenciou a arte modernista em todas as
suas manifestações. Qual o nome dessa vanguarda
e quem é o autor destes quadros?
Disponível em: <www.icarito.
latercera.cl/icarito>
Composição VIII.
Solução:
O nome dessa vanguarda é Expressionismo e os
quadros foram pintados por Vasily Kandinsky, um dos
maiores nomes do Expressionismo.
14
6. (Elite) Qual a diferença essencial do Surrealismo em
relação às demais vanguardas estudadas, principalmente
Futurismo e Dadaísmo?
7.
Composição VII.
``
(( ) As vanguardas que mais influência exerceram na
arte ocidental foram o Futurismo, o Cubismo, o Dadaísmo e o Surrealismo.
(Elite) Que recursos são utilizados na poesia futurista
para se conseguir que as palavras fiquem em liberdade?
8. (Elite) Qual a intenção do artista cubista em demonstrar
a realidade fracionada?
9. (Elite) Apollinaire, cubista, fez em sua obra Calligrammes
algo que influenciaria os concretistas brasileiros 40 anos
depois. O que seria?
10. (Elite) O que justifica o niilismo ser característica fundamental do Dadaísmo?
11. (Elite) Quem se destaca no campo das artes plásticas
no movimento dadaísta?
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EM_V_LIT_012
``
12. (Unirio)
15. (Elite) Qual dessas vanguardas tem como principal
característica o niilismo?
Poética
a) Cubismo.
Vinicius de Moraes
b) Dadaísmo.
c) Surrealismo.
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
A oeste é meu norte.
Quero que contem
Passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
O poema estrutura-se numa quebra da lógica externa.
Que movimento de vanguarda apresenta essa
característica?
a) Futurismo.
b) Dadaísmo.
c) Expressionismo.
d) Surrealismo.
1. (FCMSC-SP)
Movimentos:
I. Pau-Brasil
II. Verde-Amarelo
III. Antropofagia
Objetivos:
1. Resposta ao conservadorismo manifestado pelo
movimento da Anta.
2. Revalorização do primitivo, por meio de uma arte
que redescobrisse o Brasil.
3. Proposição de uma estrutura nacionalista.
A associação correta é:
a) I-2; II-3; III-1.
b) I-3; II-2; III-1.
c) I-1; II-2; III-3.
d) I-3; II-1; III-2.
e) n.d.a.
e) Cubismo.
13. (Mackenzie) No início do século XX, várias tendências
estéticas surgiram na Europa e influenciaram o Modernismo brasileiro.
Não faz parte delas o:
a) Dadaísmo.
b) Expressionismo.
2. (Unirio) Em relação ao Modernismo, podemos afirmar
que em sua primeira fase há:
a) maior aproximação entre a língua falada e a escrita,
valorizando-se literariamente o nível coloquial.
b) pouca atenção ao valor estético da linguagem, privilegiando o desenvolvimento da pesquisa formal.
c) Futurismo.
c) grande liberdade de criação, mas expressão pobre.
d) Cubismo.
d) reconquista do verso livre.
e) Determinismo.
e) ausência de inspiração nacionalista.
14. (Elite) Assinale a alternativa que indica a vanguarda que
ocorreu no período entre guerras.
a) Surrealismo.
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d) Futurismo.
b) Dadaísmo.
c) Cubismo.
3. (UFPE)
I. Com o Modernismo, desenvolveu-se a preocupação de valorizar nossa tradição artística, sobretudo
teve início um verdadeiro trabalho de retomada crítica da nossa produção literária do passado.
d) Futurismo.
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II. A Semana de Arte Moderna foi, não resta dúvida,
um acontecimento marcado por ideias renovadoras.
Não se pode negar, contudo, o fato de ter desencadeado certas consequências negativas; uma delas,
por exemplo, foi certo clima de intranquilidade, tanto no aspecto social como no ideológico.
III. A primeira fase do movimento modernista no Brasil
foi marcada por um comportamento iconoclasta; a
utilização do poema-piada, da liberdade de expressão, do coloquialismo na linguagem literária atestam certo nível de irreverência típica dessa fase.
Responda:
a) se as três estiverem certas.
(Fuvest)
“Klaxon sabe que a vida existe. E, aconselhado por
Pascal, visa o presente. Klaxon não se preocupará
de ser novo, mas de ser atual. Essa é a grande lei da
novidade. Klaxon sabe que a humanidade existe, por
isso é internacionalista.”
Esse texto foi pela primeira vez publicado:
a) num manifesto futurista de Marinetti.
b) no manifesto regionalista de 1926.
c) no Prefácio Interessantíssimo de Mário de Andrade.
b) se I e II estiverem certas.
d) em uma revista de 1922, que se apresentava como
mensário da arte moderna.
c) se II e III estiverem certas.
e) no manifesto antropófago de Oswald de Andrade.
d) se III estiver certa.
e) se nenhuma estiver certa.
4. (UCP-PR) Movimento literário brasileiro que recebeu
influências de vanguardas europeias, tais como o Futurismo e o Surrealismo:
a) Modernismo.
b) Parnasianismo.
c) Romantismo.
8. (Cesgranrio) A maneira como o poeta se refere ao
passado político-social da nação (Texto I, v. 5-12) nos
leva a concluir que:
a) o Brasil de outrora e o do presente são muito contrastantes.
b) a nação brasileira foi tratada com muita reverência
pelo autor.
c) o poeta atribui grande importância ao período imperial.
d) existe um desencanto geral pelo fracasso político
de nossos governos.
d) Realismo.
e) Simbolismo.
5. (UCBA) A proposta: “Queremos exprimir nossa mais
livre espontaneidade dentro da mais espontânea liberdade” lembra a poesia:
a) barroca.
b) arcádica.
e) não há nostalgia na evocação desse passado.
9. (PUC-Rio) O movimento artístico-literário que mobilizou
parcela significativa da intelectualidade brasileira durante
a década de 1920 e procurou romper com os padrões
europeus da criação tinha como proposta:
I. A tentativa de buscar um conteúdo mais popular
para a problemática presente nas diferentes formas
de manifestação artística.
c) realista.
d) simbolista.
II. A tentativa de recuperação das idealizações românticas ligadas à temática do índio brasileiro.
6. (UFN-GO) Em dois movimentos estéticos, na literatura
brasileira, há grande preocupação com o nacionalismo.
Em um, evidencia-se postura nitidamente ufanística;
em outro, frequentemente contestatória. São eles,
respectivamente:
a) Romantismo e Simbolismo.
b) Romantismo e Modernismo.
c) Parnasianismo e Simbolismo.
III. A valorização do passado colonial, ressaltada a influência portuguesa sobre a nossa sintaxe.
IV. A tentativa de constituição, no campo das artes, da
problemática da nacionalidade, ressaltadas as peculiaridades do povo brasileiro.
V. A desvalorização da problemática regionalista, contida nas lendas e mitos brasileiros.
d) Simbolismo e Modernismo.
Assinale:
a) se somente as afirmativas I e IV estiverem corretas.
e) Barroco e Arcadismo.
b) se somente as afirmativas I e V estiverem corretas.
c) se somente as afirmativas II e III estiverem corretas.
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EM_V_LIT_012
e) modernista.
16
7.
d) se somente as afirmativas III e IV estiverem corretas.
e) se somente as afirmativas II e V estiverem corretas.
10. (PUC-Rio) A Semana de Arte Moderna (1922), expressão de um movimento cultural que atingiu todas as
nossas manifestações artísticas, surgiu de uma rejeição
ao chamado colonialismo mental, pregava uma maior
fidelidade à realidade brasileira e valorizava sobretudo
o regionalismo. Com isso, pode-se dizer que:
a) o romance regional assumiu características de exaltação, retratando os aspectos românticos da vida
sertaneja.
b) a escultura e a pintura tiveram seu apogeu com a
valorização dos modelos clássicos.
c) o movimento redescobriu o Brasil, revitalizando os
temas nacionais e reinterpretando nossa realidade.
d) os modelos arquitetônicos do período buscaram
sua inspiração na tradição do barroco português.
e) a preocupação dominante dos autores foi com o
retratar os males da colonização.
11. (Cesgranrio)
12. (UFRJ)
Namorados
Manuel Bandeira
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
– Antônia, ainda não me acostumei com o seu
corpo,
com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
– Você não sabe quando a gente é criança e de
repente vê uma lagarta listada?
A moça se lembrava:
– A gente fica olhando ...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
– Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
– Antônia, você é engraçada! Você parece louca.
Analise as afirmativas a seguir e depois assinale a opção
correta.
Nova Poética
Manuel Bandeira
I. Lançando mão de um procedimento moderno, o
poeta torna tênue o limite entre prosa e poesia.
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
[branco muito bem engomada,
e na primeira esquina passa um caminhão,
salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama:
II. A métrica rígida do poema é um procedimento comum do estilo de época ao qual se filia o texto.
É a vida.
d) Somente I é correta.
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. [...]
e) I e II são corretas.
III. O título do poema encerra uma ironia, pois não há
no texto o lirismo que caracteriza as composições
poéticas românticas.
a) I e III são corretas.
b) Somente III é correta.
c) II e III são corretas.
13. (Elite) Qual acontecimento que se dá em 1917 de grande
importância para a arte moderna no Brasil?
A característica modernista ausente no poema de
Manuel Bandeira é:
a) presença de elementos prosaicos.
b) liberdade formal e temática.
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c) expressão da realidade urbana moderna.
d) aproximação da linguagem falada à literária.
e) nacionalismo engajado.
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8. A realidade é demonstrada em planos superpostos e
simultâneos, com a intenção de demonstrar a totalidade
do objeto, todos os seus ângulos.
2. Tais movimentos causaram uma ruptura total com o que
existiu e existia de tradicional na arte.
3. Novas linguagens artísticas foram criadas, novas visões
de mundo acabaram sendo reveladas.
4. A nomeação vanguarda provém da língua francesa. É
a união de duas palavras: “avant” (do francês, à frente,
adiantado, antes) e “garde” (do francês, guarda). O
que temos então é o termo “avant-garde”, uma guarda
avançada no campo das artes, que foi adaptada para a
língua portuguesa como Vanguarda.
5. V, F, V, V
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9. A mistura de manifestações artísticas, no caso, as artes
plásticas com a literatura.
10. Os dadaístas tinham como principal a destruição. Para
isso provocavam uma espécie de terrorismo cultural,
em que todos os valores culturais eram questionados e
destruídos. Nada possui significado.
11. Marcel Duchamp.
12. D
13. E
14. A
15. B
Tal “vanguarda social” foi comandada por Lenin.
6. A arte surrealista busca a significação. Uma pintura
surrealista nunca é gratuita, sempre contém uma “chave”
que nos revela algo, por trás do aparente caos.
1. A
7.
2. A
Abole-se a pontuação (substituída por sinais matemáticos), o adjetivo, a sintaxe, o verbo conjugado e o
psicologismo; símbolos de lentidão, de meditação, logo,
opostos ao ideal de velocidade tão pregado.
3. D
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1. Foram movimentos artísticos preocupados em reinterpretar a realidade.
4. A
5. E
6. B
7.
D
8. E
9. A
10. C
11. E
12. A
EM_V_LIT_012
13. A exposição dos quadros de Anita Malfatti.
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