CORREIO DA
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CORREIO DA
PANORAMA Mons. Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, também aplaudiu a iniciativa. Num artigo publicado no Corriere della Sera salienta que «não é um regresso ao passado, mas um avanço: assim como se combateu a escravatura, a discriminação entre brancos e negros, ou entre ricos e pobres, deve-se continuar a reconhecer o direito à vida também em sentido vertical, para os nascituri e os nascidos, para os culpados e os inocentes». AESE Escola de Direcção e Negócios Publicação: quinzenal Director: J.L.Carvalho Cardoso Editor e Proprietário: AESE Impresso por: Moinho Velho Depósito legal: nº 21228/88 Preço: e 1 D. C. 20º Ano AESE CORREIO DA Nº 478, 1-2-2008 RESGATE DO SOLDADO RYAN Saving Private Ryan Realizador: Steven Spielberg Actores: Tom Hanks; Matt Damon Música: John Williams Duração: 170 min. Ano: 1998 Comandar as tropas exige possuir diversas capacidades, como a de liderança, saber interagir com os outros, de superar imprevistos e de auto-domínio, virtudes que são também úteis em diferentes situações da vida. O início do filme recria com bastante realismo e crueza o desembarque americano na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial. Depois dessa batalha, as autoridades reparam que uma família já perdera todos os filhos, excepto um. As chefias decidem então que o soldado ainda vivo regresse a casa, para acompanhar os pais. Mas esse filho estava a lutar na frente de combate e, como havia dificuldades de comunicação, é formado um corpo expedicionário para o ir buscar. Oito homens comandados por um capitão. A tarefa parecia absurda. O seu objectivo não era derrotar os nazis alemães, mas ir à procura de um colega, sabendo que corriam o risco de eles próprios perderem a vida para o salvar. Mal partiram para a expedição, os soldados começaram a protestar contra o sentido de tudo aquilo. A certa altura resolvem perguntar ao capitão se ele concordava ou Associação de Estudos Superiores de Empresa z não com a missão. O que pensaria o líder do grupo? A resposta é magistral e mostra a fibra de quem comanda: «[…] as queixas fazem-se aos superiores. Não seria à vossa frente que me iria queixar.» A mensagem ficou clara para todos. Não os queria desmoralizar ainda mais ou dar motivos para que a missão não fosse cumprida. Mas um dos soldados insistiu e tornou a perguntar: «Imagine que não era o nosso capitão. O que é que achava?» E ele então respondeu: «Diria que é uma excelente missão, merecedora de todos os meus esforços, e tenho muita pena pela mãe do soldado Ryan […]». Os outros soldados ficaram a admirar ainda mais o seu capitão. Apesar de ele ter evidentes dificuldades físicas, nunca as revelou ao grupo, para que não se sentissem fragilizados. Queria inspirar segurança e sempre agiu com firmeza, depois de reflectir e de se informar sobre cada situação em concreto. Procurou conhecer os seus homens e no final dará a vida por eles, lançando-se sem medo contra os inimigos. Foram muitas as dificuldades encontradas, mas a missão cumprira-se! Tópicos de análise: 1. Aceitar uma missão implica assumi-la como própria. 2. Conhecer os colaboradores é essencial para saber o que pode exigir a cada um. 3. Um líder abre horizontes em vez de encerrar o grupo em angústias. 4. A confiança inspira-se por acções práticas e não por palavras teóricas. Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 – 1600-177 LISBOA – Tel.: 21 722 15 30 – Fax: 21 722 15 50 – E-mail: [email protected] "Pr ecisamos "Precisamos de mais crianças", diz a Alemanha Um anúncio gigante a duas páginas completas apareceu no domingo 30 de Dezembro na imprensa alemã. Vê-se um bebé nos braços da sua mãe no banheiro. O texto diz: «Foste um acidente, um pequeno acidente, um percalço. Realmente, descuidámo-nos por um momento. Mas tudo correu bem, muito bem! Não podia ter ocorrido nada melhor! Toda a gente pode ficar a saber: A culpa é nossa!» Este anúncio é um dos doze que irão aparecendo até ao mês de Maio em toda a imprensa alemã para fomentar uma mudança de clima mental que consiga uma maior aceitação das crianças na sociedade alemã. Além dos anúncios impressos, todos os dias, pelas 19.58, surge um spot de dois minutos de duração nas televisões mais importantes do país. As bonitas imagens do anúncio são acompanhadas pela seguinte explícita e directa declaração: «Fazes com que fiquemos doidos. Choras a noite toda. Urinas na cama. Surgem os teus primeiros dentes e tens logo a seguir sarampo. Primeiro a creche, depois a escola... Sim, fazes com que estejamos imensamente felizes. A tua aquisição é gratuita. Depois torna-se cara. Precisas de tempo e espaço. "Custas-nos" os sapatos novos, a televisão grande e as férias no mar. Não és um luxo, não tens preço. Há muitos motivos para não ter filhos, e o melhor para o ter, és tu. Não podes falar e explicas-nos o mundo. Não podes correr e ajudas-nos a dar um salto. Aprendes tanto todos os dias e ensinas-nos muito mais. Mostras-nos que nunca é má altura, mas sim a melhor para te recebermos. Tens pai e mãe e precisamos de todo o país para poderes crescer de forma feliz. Não estás sozinho, és a nossa tarefa mais valiosa. Fazes de duas pessoas uma família, da PANORAMA habitação mais pequena, um lugar de jogo e de aventuras, e de macarrão e molho de tomate, uma refeição festiva.» E o anúncio conclui com esta frase rotunda: «Precisamos de mais crianças como tu, porque sem ti o presente não é divertido e o futuro já passou. Tu és a Alemanha [Du bist Deutschland].» Esta assombrosa campanha (www.du-bistdeutschland.de) é financiada por diversos meios de comunicação social privados (ARD, ZDF, SAT1, RTL, Kabel eins, Vox, n-tv, N24, Premiere), que formaram uma sociedade de responsabilidade limitada para assegurar que se cumpra o objectivo da campanha. Participam diversas personalidades da vida pública, apresentadores de televisão e desportistas, como Reinhold Beckmann, Johannes B. Kerner, Florian Langenscheidt, Peter Maffay, Henry Maske, Nina Ruge, Eva Padverg ou Renate Schmidt, que têm uma participação gratuita nesta campanha. Empresas como a Deutsche Post, a E.ON, etc., asseguram o financiamento do projecto. Por outro lado, importantes grupos editoriais, como o Axel Springer ou o WAZ-Mediengruppe, oferecem espaços gratuitos para os anúncios. E, por último, mais de cem emissoras de rádio, o Google, uma empresa de publicidade em cartazes nas ruas e uma empresa de cinema contribuem para a difusão da mensagem. Crianças de toda a Alemanha contribuíram para exprimir os seus pensamentos sobre uma Alemanha com um presente e um futuro feliz, e expressaram-nos em desenhos. Várias agências de marketing e publicidade colocaram gratuitamente as suas equipas à disposição da campanha. É uma volta copernicana. Em 1971, a porta-voz do feminismo alemão, Alice Schwarzer, lançou, com a ajuda da revista Stern, uma campanha com a capa cheia de mulheres famosas, que apareciam sob o lema «Eu abortei». Mais tarde, algumas disseram que na realidade não o tinham feito, mas queriam celebrar a possibilidade de o poder fazer, após a liberalização da lei na Alemanha. De facto, o cálculo oficial é que, desde a liberalização, houve 4 milhões de abortos, e não constitui nenhum absurdo supor que o número real seja formado pelo dobro. É também de realçar que, em 2007, a Ministra federal da Família, Ursula von der Leyden, tivesse cedido à pressão de muitos pais e desse ordem de retirar o material da Central Federal para a Informação Sanitária, que oferecia com todo o pormenor informação sobre sexualidade e contracepção, sem qualquer atenção pela educação afectiva, e que era distribuído nas escolas, sem aviso prévio aos pais. O esforço que está a ser feito na Alemanha para mudar a sensibilidade social sobre os filhos não tem origem no Estado e muito menos na Igreja, mas na sociedade civil. E curiosamente são os meios de comunicação social (os mesmos que muitas vezes difundem antimodelos familiares) que, com esta campanha, estão a contribuir para um novo modo de ver a vida e o seu futuro. J. F. P. V. O divór cio divórcio entr e Zapatero entre e o meio católico É difícil encontrar alguém que não esteja a favor da família, pelo menos da própria. Às centenas de milhares de cidadãos que se reuniram na Praça de Colombo, em Madrid, no passado dia 30 de Dezembro, unia-os o desejo de defender a família contra leis que a desnaturam. Na sua indignada resposta, o PSOE destaca as políticas sociais que o governo espanhol desenvolveu nesta legislatura para favorecer a vida das famílias. E ambos têm a sua parte de razão. Aquilo que se tem de observar é se bastam as ajudas materiais para que a família prospere, quando as leis relativizam as suas propriedades essenciais. O governo recorda que ao longo destes anos estabeleceu medidas para promover a natalidade, para conciliar a vida laboral e familiar, para favorecer as famílias dos reformados com pensões mais baixas, para apoiar as famílias com pessoas dependentes, para que os filhos de famílias com menos recursos disponham de mais bolsas de estudo... E é verdade. Provavelmente são estas as leis que contaram com mais apoio político nesta legislatura, também por vezes da oposição. Quase não houve críticas contra elas. Muito menos da Igreja Católica. O que é reprovado ao governo é a incoerência na sua política familiar, pois não poucas vezes as mudanças no direito de família têm custos sociais que depois se tenta minimizar com prestações económicas. Correio da AESE Foi criado o subsídio de 2500 euros por nascimento de um filho, enquanto uma aplicação laxiva e fraudulenta da lei do aborto faz com que uma em cada seis gravidezes em Espanha não chegue ao fim, o que não favorece nem o respeito pela vida nem pela natalidade. O divórcio expresso permite divorciar-se ao fim de três meses do casamento sem separação prévia, inclusivamente por imposição unilateral de um dos cônjuges, o que se traduziu num aumento de 74% no número de divórcios num ano. São bem conhecidos os efeitos desta instabilidade familiar, que muitas vezes tem sequelas de precariedade económica das famílias a cargo de um só cônjuge, problemas psicológicos e de insucesso escolar dos filhos, e dificuldades para o pagamento das pensões. Mas, ao mesmo tempo, o governo prega a necessidade da conciliação da vida laboral e familiar, para que ambos os pais possam prestar assistência aos filhos; lamenta que tantos pais tenham abdicado das suas responsabilidades educativas e explica grande parte do insucesso escolar por causa das carências das «famílias desestruturadas». Por um lado, aprova uma lei que pode constituir uma importante ajuda aos familiares que têm a seu cargo pessoas deficientes dependentes; por outro, a filosofia e prática que inspira o divórcio fácil é que não há compromisso permanente, pelo que se deve perguntar se no futuro muitos idosos dependentes irão encontrar familiares que se ocupem deles. Por um lado, aprova-se uma lei para favorecer uma presença equilibrada de ambos os sexos na vida pública e profissional, com a ideia de que assim se integram melhor as perspectivas masculina e feminina na abordagem dos problemas; pelo contrário, já não é necessário que uma criança tenha pai e mãe, pois pode ser fruto da inseminação artificial da mulher sozinha ou ser adoptada por um casal do mesmo sexo, o que implica que não significa qualquer carência na sua educação. Por último, não se deve esquecer que este governo, que qualifica de fundamentalistas e ultraconservadores os críticos, e se apresenta como símbolo da moderação, começou o seu percurso com uma atitude realmente extremista no direito de família. Entre as diversas possibilidades de regular as uniões homossexuais, optou por lhes abrir o caminho do casamento, solução que apenas tinha sido adoptada por poucos países (Holanda, Bélgica e Canadá). homem e mulher «opostas ao valor do amor indissolúvel e ao respeito incondicional pela vida a partir do momento da concepção até à morte natural, realidade social possibilitada e favorecida juridicamente pelas leis em vigor». vários grupos, entre os quais figuravam associações laicas e católicas, e cujo lema - de ressonâncias bíblicas - foi: «Que ninguém toque em Caim». O sucesso da campanha levou o diário italiano Il Foglio a propor outra moratória, neste caso sobre o aborto. O governo lança uma cortina de fumo quando apresenta a posição dos críticos como se pretendessem a imposição de uma convicção religiosa, enquanto a do governo estaria aberta a todas as ideologias. Na realidade, a aprovação de uma lei implica sempre apoiar-se em determinado tipo de convicções perante outras que lhe são contrárias. E a verdade é que uma lei aprovada por maioria parlamentar não a torna imune às críticas, não só da oposição política, mas também da sociedade civil. E uma das vozes mais representativas dessa sociedade civil é a da Igreja Católica. A argumentação de fundo é: se se é a favor do respeito pela vida de Caim, mesmo que se trate de culpados de delitos de sangue, quanto mais haverá que respeitar a vida de Abel, a do inocente não nascido. A petição surgiu da constatação de que o aborto, contrariamente a uma das motivações que acompanhavam a sua aprovação - oferecer uma via de saída para casos extremos - se converteu num «fenómeno monstruoso»: «uma média mundial de quase cinquenta milhões por ano». É necessário, portanto, chegar a uma situação onde o aborto seja na verdade uma excepção e algo normal. Mas o PSOE ainda tem uma ideia da laicidade que o leva a denunciar como ingerência política qualquer opinião da Igreja Católica sobre leis civis. Políticos mais modernos, como o presidente francês Nicolas Sarkozy, demonstram uma ideia muito mais aberta do que qualificam como «laicidade positiva». No seu recente e comentado discurso em Roma, Sarkozy reconheceu que «a República tem interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas». «Na República laica, um político como eu não decide em função de considerações religiosas. Mas interessa que a sua reflexão e a sua consciência sejam iluminadas especialmente por conselhos e reflexões livres das contingências imediatas. Todas as inteligências, todas as espiritualidades que existem no nosso país devem tomar parte nisso.» (Aceprensa en Internet, 24-12-2007.) Estando próximas as eleições espanholas, é difícil que o governo avalie as críticas à margem das contingências políticas imediatas. Torna-se mais simples dizer que os bispos fazem política. É verdade que essa reflexão moral inspirada em convicções religiosas tem mais possibilidades de ser acolhida se for feita com palavras e gestos que não sejam vistos como uma bofetada moral. Mas, de qualquer forma, o governo não tem um problema com bispos, mas com inúmeros cidadãos que, num exercício de participação democrática, manifestam a sua opinião sobre leis do governo. I. A. Na reforma da lei do divórcio, o governo esqueceu o comunicado do Conselho de Estado, que não é nenhuma dependência da Conferência Episcopal e que advertiu que esse modelo de divórcio «não é o que rege o nosso meio jurídico e cultural». O divórcio unilateral sem causa, dizia o comunicado, «é realmente algo de excepcional, e aceite, sempre através da existência de prazos, em dois países nórdicos (Finlândia e Suécia), mais afastados da nossa tradição jurídica». Tendo em conta os resultados, não parece exagerado o cardeal Rouco, quando salienta a formação de um clima cultural e social que «relativiza radicalmente a própria ideia do casamento e da família» e que fomenta um tipo de relações entre 6 Itália: que ninguém toque em Caim… nem em Abel No passado dia 18 de Dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou a favor do estabelecimento de uma moratória na aplicação da pena de morte. Concluía assim uma campanha de opinião e acção nascida em Itália por iniciativa de 7 Os promotores da iniciativa salientam, além disso, que o aborto se tem distinguido nas últimas décadas, pelo sexismo e pela eugenia. «O sexo feminino é a primeira vítima, também em sentido estatístico, do aborto maciço: só na Ásia faltam duzentos milhões de crianças do sexo feminino, que foram excluídas da vida por serem consideradas inúteis; está em andamento uma progressiva eliminação de milhões de pessoas por potenciais ou prováveis menos-valias» (que de três casos em quatro se demonstram depois - demasiado tarde - não reais). Naturalmente, a proposta de moratória provocou toda uma gama de reacções entre as forças sociais e políticas italianas, desde a preguiçosa resposta pré-cozinhada («na lei do aborto não se toca») até ao confronto livre de preconceitos e argumentado. Diversamente de outras vezes onde o aborto também foi questionado na opinião pública, agora dá impressão de que o clima é um pouco mais propício para o diálogo. Ninguém se referiu ao aborto como «conquista» nem - em geral - se desqualificou automaticamente quem volta a propor o debate. Embora vários bispos italianos tenham expressado a sua simpatia e adesão à moratória lançada pelo Il Foglio, como o cardeal Camillo Ruini ou o presidente da Conferência Episcopal italiana, Angelo Bagnasco, não se trata de uma iniciativa confessional. O director do diário e artífice da ideia, Giuliano Ferrara, provém de uma família de tradição ateia e comunista, e ele próprio - conforme confessou há algum tempo - esteve envolvido em vários abortos. Mas nos últimos anos chegou à convicção de que não basta continuar a repetir os slogans de 68. Afirma que a crise da sociedade actual exige respostas, e não oculta que para muitas delas encontra uma profunda inspiração nos escritos do cardeal Ratzinger e no magistério de Bento XVI. A proposta caracterizou-se pelo seu tom positivo, que gira em torno da proclamação da liberdade de nascer como um dos direitos fundamentais do homem. Não se pretende colocar o aborto fora da lei, mas situá-lo fora da consciência partilhada do que são os direitos humanos. A moratória exclui explicitamente qualquer forma de culpabilização das mulheres que se encontram perante a «escolha» da maternidade. Correio da AESE de abortos, e não constitui nenhum absurdo supor que o número real seja formado pelo dobro. É também de realçar que, em 2007, a Ministra federal da Família, Ursula von der Leyden, tivesse cedido à pressão de muitos pais e desse ordem de retirar o material da Central Federal para a Informação Sanitária, que oferecia com todo o pormenor informação sobre sexualidade e contracepção, sem qualquer atenção pela educação afectiva, e que era distribuído nas escolas, sem aviso prévio aos pais. O esforço que está a ser feito na Alemanha para mudar a sensibilidade social sobre os filhos não tem origem no Estado e muito menos na Igreja, mas na sociedade civil. E curiosamente são os meios de comunicação social (os mesmos que muitas vezes difundem antimodelos familiares) que, com esta campanha, estão a contribuir para um novo modo de ver a vida e o seu futuro. J. F. P. V. O divór cio divórcio entr e Zapatero entre e o meio católico É difícil encontrar alguém que não esteja a favor da família, pelo menos da própria. Às centenas de milhares de cidadãos que se reuniram na Praça de Colombo, em Madrid, no passado dia 30 de Dezembro, unia-os o desejo de defender a família contra leis que a desnaturam. Na sua indignada resposta, o PSOE destaca as políticas sociais que o governo espanhol desenvolveu nesta legislatura para favorecer a vida das famílias. E ambos têm a sua parte de razão. Aquilo que se tem de observar é se bastam as ajudas materiais para que a família prospere, quando as leis relativizam as suas propriedades essenciais. O governo recorda que ao longo destes anos estabeleceu medidas para promover a natalidade, para conciliar a vida laboral e familiar, para favorecer as famílias dos reformados com pensões mais baixas, para apoiar as famílias com pessoas dependentes, para que os filhos de famílias com menos recursos disponham de mais bolsas de estudo... E é verdade. Provavelmente são estas as leis que contaram com mais apoio político nesta legislatura, também por vezes da oposição. Quase não houve críticas contra elas. Muito menos da Igreja Católica. O que é reprovado ao governo é a incoerência na sua política familiar, pois não poucas vezes as mudanças no direito de família têm custos sociais que depois se tenta minimizar com prestações económicas. Correio da AESE Foi criado o subsídio de 2500 euros por nascimento de um filho, enquanto uma aplicação laxiva e fraudulenta da lei do aborto faz com que uma em cada seis gravidezes em Espanha não chegue ao fim, o que não favorece nem o respeito pela vida nem pela natalidade. O divórcio expresso permite divorciar-se ao fim de três meses do casamento sem separação prévia, inclusivamente por imposição unilateral de um dos cônjuges, o que se traduziu num aumento de 74% no número de divórcios num ano. São bem conhecidos os efeitos desta instabilidade familiar, que muitas vezes tem sequelas de precariedade económica das famílias a cargo de um só cônjuge, problemas psicológicos e de insucesso escolar dos filhos, e dificuldades para o pagamento das pensões. Mas, ao mesmo tempo, o governo prega a necessidade da conciliação da vida laboral e familiar, para que ambos os pais possam prestar assistência aos filhos; lamenta que tantos pais tenham abdicado das suas responsabilidades educativas e explica grande parte do insucesso escolar por causa das carências das «famílias desestruturadas». Por um lado, aprova uma lei que pode constituir uma importante ajuda aos familiares que têm a seu cargo pessoas deficientes dependentes; por outro, a filosofia e prática que inspira o divórcio fácil é que não há compromisso permanente, pelo que se deve perguntar se no futuro muitos idosos dependentes irão encontrar familiares que se ocupem deles. Por um lado, aprova-se uma lei para favorecer uma presença equilibrada de ambos os sexos na vida pública e profissional, com a ideia de que assim se integram melhor as perspectivas masculina e feminina na abordagem dos problemas; pelo contrário, já não é necessário que uma criança tenha pai e mãe, pois pode ser fruto da inseminação artificial da mulher sozinha ou ser adoptada por um casal do mesmo sexo, o que implica que não significa qualquer carência na sua educação. Por último, não se deve esquecer que este governo, que qualifica de fundamentalistas e ultraconservadores os críticos, e se apresenta como símbolo da moderação, começou o seu percurso com uma atitude realmente extremista no direito de família. Entre as diversas possibilidades de regular as uniões homossexuais, optou por lhes abrir o caminho do casamento, solução que apenas tinha sido adoptada por poucos países (Holanda, Bélgica e Canadá). homem e mulher «opostas ao valor do amor indissolúvel e ao respeito incondicional pela vida a partir do momento da concepção até à morte natural, realidade social possibilitada e favorecida juridicamente pelas leis em vigor». vários grupos, entre os quais figuravam associações laicas e católicas, e cujo lema - de ressonâncias bíblicas - foi: «Que ninguém toque em Caim». O sucesso da campanha levou o diário italiano Il Foglio a propor outra moratória, neste caso sobre o aborto. O governo lança uma cortina de fumo quando apresenta a posição dos críticos como se pretendessem a imposição de uma convicção religiosa, enquanto a do governo estaria aberta a todas as ideologias. Na realidade, a aprovação de uma lei implica sempre apoiar-se em determinado tipo de convicções perante outras que lhe são contrárias. E a verdade é que uma lei aprovada por maioria parlamentar não a torna imune às críticas, não só da oposição política, mas também da sociedade civil. E uma das vozes mais representativas dessa sociedade civil é a da Igreja Católica. A argumentação de fundo é: se se é a favor do respeito pela vida de Caim, mesmo que se trate de culpados de delitos de sangue, quanto mais haverá que respeitar a vida de Abel, a do inocente não nascido. A petição surgiu da constatação de que o aborto, contrariamente a uma das motivações que acompanhavam a sua aprovação - oferecer uma via de saída para casos extremos - se converteu num «fenómeno monstruoso»: «uma média mundial de quase cinquenta milhões por ano». É necessário, portanto, chegar a uma situação onde o aborto seja na verdade uma excepção e algo normal. Mas o PSOE ainda tem uma ideia da laicidade que o leva a denunciar como ingerência política qualquer opinião da Igreja Católica sobre leis civis. Políticos mais modernos, como o presidente francês Nicolas Sarkozy, demonstram uma ideia muito mais aberta do que qualificam como «laicidade positiva». No seu recente e comentado discurso em Roma, Sarkozy reconheceu que «a República tem interesse em que exista também uma reflexão moral inspirada em convicções religiosas». «Na República laica, um político como eu não decide em função de considerações religiosas. Mas interessa que a sua reflexão e a sua consciência sejam iluminadas especialmente por conselhos e reflexões livres das contingências imediatas. Todas as inteligências, todas as espiritualidades que existem no nosso país devem tomar parte nisso.» (Aceprensa en Internet, 24-12-2007.) Estando próximas as eleições espanholas, é difícil que o governo avalie as críticas à margem das contingências políticas imediatas. Torna-se mais simples dizer que os bispos fazem política. É verdade que essa reflexão moral inspirada em convicções religiosas tem mais possibilidades de ser acolhida se for feita com palavras e gestos que não sejam vistos como uma bofetada moral. Mas, de qualquer forma, o governo não tem um problema com bispos, mas com inúmeros cidadãos que, num exercício de participação democrática, manifestam a sua opinião sobre leis do governo. I. A. Na reforma da lei do divórcio, o governo esqueceu o comunicado do Conselho de Estado, que não é nenhuma dependência da Conferência Episcopal e que advertiu que esse modelo de divórcio «não é o que rege o nosso meio jurídico e cultural». O divórcio unilateral sem causa, dizia o comunicado, «é realmente algo de excepcional, e aceite, sempre através da existência de prazos, em dois países nórdicos (Finlândia e Suécia), mais afastados da nossa tradição jurídica». Tendo em conta os resultados, não parece exagerado o cardeal Rouco, quando salienta a formação de um clima cultural e social que «relativiza radicalmente a própria ideia do casamento e da família» e que fomenta um tipo de relações entre 6 Itália: que ninguém toque em Caim… nem em Abel No passado dia 18 de Dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou a favor do estabelecimento de uma moratória na aplicação da pena de morte. Concluía assim uma campanha de opinião e acção nascida em Itália por iniciativa de 7 Os promotores da iniciativa salientam, além disso, que o aborto se tem distinguido nas últimas décadas, pelo sexismo e pela eugenia. «O sexo feminino é a primeira vítima, também em sentido estatístico, do aborto maciço: só na Ásia faltam duzentos milhões de crianças do sexo feminino, que foram excluídas da vida por serem consideradas inúteis; está em andamento uma progressiva eliminação de milhões de pessoas por potenciais ou prováveis menos-valias» (que de três casos em quatro se demonstram depois - demasiado tarde - não reais). Naturalmente, a proposta de moratória provocou toda uma gama de reacções entre as forças sociais e políticas italianas, desde a preguiçosa resposta pré-cozinhada («na lei do aborto não se toca») até ao confronto livre de preconceitos e argumentado. Diversamente de outras vezes onde o aborto também foi questionado na opinião pública, agora dá impressão de que o clima é um pouco mais propício para o diálogo. Ninguém se referiu ao aborto como «conquista» nem - em geral - se desqualificou automaticamente quem volta a propor o debate. Embora vários bispos italianos tenham expressado a sua simpatia e adesão à moratória lançada pelo Il Foglio, como o cardeal Camillo Ruini ou o presidente da Conferência Episcopal italiana, Angelo Bagnasco, não se trata de uma iniciativa confessional. O director do diário e artífice da ideia, Giuliano Ferrara, provém de uma família de tradição ateia e comunista, e ele próprio - conforme confessou há algum tempo - esteve envolvido em vários abortos. Mas nos últimos anos chegou à convicção de que não basta continuar a repetir os slogans de 68. Afirma que a crise da sociedade actual exige respostas, e não oculta que para muitas delas encontra uma profunda inspiração nos escritos do cardeal Ratzinger e no magistério de Bento XVI. A proposta caracterizou-se pelo seu tom positivo, que gira em torno da proclamação da liberdade de nascer como um dos direitos fundamentais do homem. Não se pretende colocar o aborto fora da lei, mas situá-lo fora da consciência partilhada do que são os direitos humanos. A moratória exclui explicitamente qualquer forma de culpabilização das mulheres que se encontram perante a «escolha» da maternidade. Correio da AESE PANORAMA Mons. Elio Sgreccia, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, também aplaudiu a iniciativa. Num artigo publicado no Corriere della Sera salienta que «não é um regresso ao passado, mas um avanço: assim como se combateu a escravatura, a discriminação entre brancos e negros, ou entre ricos e pobres, deve-se continuar a reconhecer o direito à vida também em sentido vertical, para os nascituri e os nascidos, para os culpados e os inocentes». AESE Escola de Direcção e Negócios Publicação: quinzenal Director: J.L.Carvalho Cardoso Editor e Proprietário: AESE Impresso por: Moinho Velho Depósito legal: nº 21228/88 Preço: e 1 D. C. 20º Ano AESE CORREIO DA Nº 478, 1-2-2008 RESGATE DO SOLDADO RYAN Saving Private Ryan Realizador: Steven Spielberg Actores: Tom Hanks; Matt Damon Música: John Williams Duração: 170 min. Ano: 1998 Comandar as tropas exige possuir diversas capacidades, como a de liderança, saber interagir com os outros, de superar imprevistos e de auto-domínio, virtudes que são também úteis em diferentes situações da vida. O início do filme recria com bastante realismo e crueza o desembarque americano na Normandia, durante a Segunda Guerra Mundial. Depois dessa batalha, as autoridades reparam que uma família já perdera todos os filhos, excepto um. As chefias decidem então que o soldado ainda vivo regresse a casa, para acompanhar os pais. Mas esse filho estava a lutar na frente de combate e, como havia dificuldades de comunicação, é formado um corpo expedicionário para o ir buscar. Oito homens comandados por um capitão. A tarefa parecia absurda. O seu objectivo não era derrotar os nazis alemães, mas ir à procura de um colega, sabendo que corriam o risco de eles próprios perderem a vida para o salvar. Mal partiram para a expedição, os soldados começaram a protestar contra o sentido de tudo aquilo. A certa altura resolvem perguntar ao capitão se ele concordava ou Associação de Estudos Superiores de Empresa z não com a missão. O que pensaria o líder do grupo? A resposta é magistral e mostra a fibra de quem comanda: «[…] as queixas fazem-se aos superiores. Não seria à vossa frente que me iria queixar.» A mensagem ficou clara para todos. Não os queria desmoralizar ainda mais ou dar motivos para que a missão não fosse cumprida. Mas um dos soldados insistiu e tornou a perguntar: «Imagine que não era o nosso capitão. O que é que achava?» E ele então respondeu: «Diria que é uma excelente missão, merecedora de todos os meus esforços, e tenho muita pena pela mãe do soldado Ryan […]». Os outros soldados ficaram a admirar ainda mais o seu capitão. Apesar de ele ter evidentes dificuldades físicas, nunca as revelou ao grupo, para que não se sentissem fragilizados. Queria inspirar segurança e sempre agiu com firmeza, depois de reflectir e de se informar sobre cada situação em concreto. Procurou conhecer os seus homens e no final dará a vida por eles, lançando-se sem medo contra os inimigos. Foram muitas as dificuldades encontradas, mas a missão cumprira-se! Tópicos de análise: 1. Aceitar uma missão implica assumi-la como própria. 2. Conhecer os colaboradores é essencial para saber o que pode exigir a cada um. 3. Um líder abre horizontes em vez de encerrar o grupo em angústias. 4. A confiança inspira-se por acções práticas e não por palavras teóricas. Administração: Calçada de Palma de Baixo, 12 – 1600-177 LISBOA – Tel.: 21 722 15 30 – Fax: 21 722 15 50 – E-mail: [email protected] "Pr ecisamos "Precisamos de mais crianças", diz a Alemanha Um anúncio gigante a duas páginas completas apareceu no domingo 30 de Dezembro na imprensa alemã. Vê-se um bebé nos braços da sua mãe no banheiro. O texto diz: «Foste um acidente, um pequeno acidente, um percalço. Realmente, descuidámo-nos por um momento. Mas tudo correu bem, muito bem! Não podia ter ocorrido nada melhor! Toda a gente pode ficar a saber: A culpa é nossa!» Este anúncio é um dos doze que irão aparecendo até ao mês de Maio em toda a imprensa alemã para fomentar uma mudança de clima mental que consiga uma maior aceitação das crianças na sociedade alemã. Além dos anúncios impressos, todos os dias, pelas 19.58, surge um spot de dois minutos de duração nas televisões mais importantes do país. As bonitas imagens do anúncio são acompanhadas pela seguinte explícita e directa declaração: «Fazes com que fiquemos doidos. Choras a noite toda. Urinas na cama. Surgem os teus primeiros dentes e tens logo a seguir sarampo. Primeiro a creche, depois a escola... Sim, fazes com que estejamos imensamente felizes. A tua aquisição é gratuita. Depois torna-se cara. Precisas de tempo e espaço. "Custas-nos" os sapatos novos, a televisão grande e as férias no mar. Não és um luxo, não tens preço. Há muitos motivos para não ter filhos, e o melhor para o ter, és tu. Não podes falar e explicas-nos o mundo. Não podes correr e ajudas-nos a dar um salto. Aprendes tanto todos os dias e ensinas-nos muito mais. Mostras-nos que nunca é má altura, mas sim a melhor para te recebermos. Tens pai e mãe e precisamos de todo o país para poderes crescer de forma feliz. Não estás sozinho, és a nossa tarefa mais valiosa. Fazes de duas pessoas uma família, da PANORAMA habitação mais pequena, um lugar de jogo e de aventuras, e de macarrão e molho de tomate, uma refeição festiva.» E o anúncio conclui com esta frase rotunda: «Precisamos de mais crianças como tu, porque sem ti o presente não é divertido e o futuro já passou. Tu és a Alemanha [Du bist Deutschland].» Esta assombrosa campanha (www.du-bistdeutschland.de) é financiada por diversos meios de comunicação social privados (ARD, ZDF, SAT1, RTL, Kabel eins, Vox, n-tv, N24, Premiere), que formaram uma sociedade de responsabilidade limitada para assegurar que se cumpra o objectivo da campanha. Participam diversas personalidades da vida pública, apresentadores de televisão e desportistas, como Reinhold Beckmann, Johannes B. Kerner, Florian Langenscheidt, Peter Maffay, Henry Maske, Nina Ruge, Eva Padverg ou Renate Schmidt, que têm uma participação gratuita nesta campanha. Empresas como a Deutsche Post, a E.ON, etc., asseguram o financiamento do projecto. Por outro lado, importantes grupos editoriais, como o Axel Springer ou o WAZ-Mediengruppe, oferecem espaços gratuitos para os anúncios. E, por último, mais de cem emissoras de rádio, o Google, uma empresa de publicidade em cartazes nas ruas e uma empresa de cinema contribuem para a difusão da mensagem. Crianças de toda a Alemanha contribuíram para exprimir os seus pensamentos sobre uma Alemanha com um presente e um futuro feliz, e expressaram-nos em desenhos. Várias agências de marketing e publicidade colocaram gratuitamente as suas equipas à disposição da campanha. É uma volta copernicana. Em 1971, a porta-voz do feminismo alemão, Alice Schwarzer, lançou, com a ajuda da revista Stern, uma campanha com a capa cheia de mulheres famosas, que apareciam sob o lema «Eu abortei». Mais tarde, algumas disseram que na realidade não o tinham feito, mas queriam celebrar a possibilidade de o poder fazer, após a liberalização da lei na Alemanha. De facto, o cálculo oficial é que, desde a liberalização, houve 4 milhões