EXPERIÊNCIA HYDROPTÈRE
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EXPERIÊNCIA HYDROPTÈRE
EXPERIÊNCIA HYDROPTÈRE Qual a sensação de um voo rasante sobre as ondas, a mais de 100 km/h? Depende do barulho do motor, dirão muitos. Neste caso, não há motor, e o silêncio só se enche com vento. Momentos mágicos, a bordo do veleiro mais rápido do mundo. T E X TO D E 38 FERNANDO CORREIA DE OLIVEIRA, EM SAI NT-TRO P E Z Fora de Série Especial Relógios Outubro 2010 “B rigitte Bardot e Saint-Tropez” é uma exposição que dominou o Verão na Riviera francesa e que termina no final deste mês. Dada a conhecer ao mundo no filme “E Deus Criou a Mulher”, pintada por Andy Warhol, modelo para o busto de Marianne, o símbolo da República, B.B. preferiu, no auge da carreira, viver na pequena vila piscatória, ao contrário da maioria dos colegas, que se instalaram no vizinho Mónaco. Definitivamente, foi Bardot quem colocou Saint-Tropez no mapa. Ainda lá vive, numa moradia com praia privativa e soberba vista para o mar. Não garantimos, mas se B.B. esteve no seu retiro costeiro nos últimos meses, terá reparado num barco à vela muito especial que por ali deambulou diariamente – o Hydroptère é detentor do recorde de velocidade absoluta para um veleiro e, ‘last but not the least’, voa. Sim, as 6,5 toneladas erguem-se da água, o casco fica suspenso a dez metros da linha de água e, novo “mila- gre”, consegue dobrar a velocidade do vento. Bardot, militante ambientalista,gostará decerto do Hydroptère – é elegante, imponente e... ecológico. O projecto tem já dezenas de anos. O homem por trás disto tudo é Alain Thébault, que desde miúdo sonhou velejar sobre as ondas. Apoiado desde 2009 pela Audemars Piguet, a manufactura de Alta Relojoaria suíça com larga tradição no mundo marítimo, tem servido de anfitrião a grupos de jornalistas a bordo do seu trimarã, levando-os a navegar ao largo de Saint-Tropez. Filho de pescadores, Thébault nasceu em 1962 em Le Guilvinec, uma localidade costeira bretã. Com os pais quase sempre ausentes (a mãe internada num manicómio, o pai em África) foi internado numa instituição e não esconde que só o mar e a vela o afastaram de caminhos que outros rapazes da sua idade percorreram – violência, droga, prisão... Embora fosse bom estudante, Thébault abandonou a escola aos 15 anos. Já na altura era um praticante de- FOTOGRAFIAS CEDIDAS PELA AUDEMARS PIGUET Estilo No pulso da tripulação do Hydroptére: Audemars Piguet Royal Oak Offshore Volcano – Cronógrafo automático, caixa em aço, protecção contra campos magnéticos. Estanque até 100 metros. Audemars Piguet Royal Oak Offshore Diver – Calibre automático, indicação de tempo de mergulho através de luneta rotativa interna, índices e ponteiros luminescentes. Pulseira em borracha com ajuste extra-largo. Caixa em aço, com protecção contra campos magnéticos, estanque até 300 metros. voto de ‘windsurf’. Ficou motivado pelas aventuras do famoso explorador francês Eric Tabarly, que em 1980 estabeleceu um recorde de velocidade para uma travessia transatlântica num trimarã, o Paul Ricard. Entra em contacto com o também bretão Tabarly que fica impressionado com o entusiasmo de Thébault na ideia de construir um barco à vela que voasse sobre as águas e cede-lhe instalações onde possa viver e trabalhar. Ao mesmo tempo, sensibiliza amigos, engenheiros, ‘designers’, financeiros, políticos, para que ajudem a tornar possível o Hydroptère. Depois de muito dinheiro gasto e bastantes fracassos, surge o dia de glória – a 4 de Fevereiro de 2005, atravessa o Canal da Mancha em 34 minutos e 24 segundos, um tempo mais rápido que o obtido em 1909 por Louis Blériot a bordo de um aeroplano. Em 2009, o Hydroptère quebra a barreira dos 50 nós (atinge 51,36 nós durante 500 metros, um pouco mais de 100 quilómetros por hora, um feito equivalente a que- EM 2009, O HYDROPTÈRE QUEBR A A BARREIR A DOS 50 NÓS (ATINGE 51,36 NÓS DUR ANTE 500 METROS, UM FEITO EQUIVALENTE A QUEBR AR A BARREIR A DO SOM NA AVIAÇÃO). brar a barreira do som na aviação ou a quebrar o tempo de quatro minutos para um corredor da milha). Para se perceber a magia do veleiro, ele conseguiu aqui dobrar a velocidade do vento que soprava na altura. O actual Hydroptère é um trimarã de 6,5 toneladas, com 18 metros de comprimento e um mastro de 28 metros, colocado no casco central, mais dois cascos secundários, os flutuadores, ligados por 24 metros de plataforma em fibra de carbono. As “asas” são feitas em carbono e titânio – são elas que, debaixo dos flutuadores, dirigem o barco, juntamente com o leme, quando o casco está completamente no ar. Alain Thébault e a equipa trabalham agora numa nova geração do Hydroptère. O Hydroptére maxi, um veleiro multicasco com 30 x 30 metros, está concebido para levar a bordo dez tripulantes e o objectivo é realizar uma volta ao mundo em 40 dias. Se a aventura for bem sucedida, Thébault terá batido o anterior recorde em mais de seis dias. Fora de Série Especial Relógios Outubro 2010 39