a democratura - Prof. Sérgio Borja

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a democratura - Prof. Sérgio Borja
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A DEMOCRATURA
Uma das características mais vitais das gerações que lutaram nos anos plúmbeos em prol da Democracia foi entre tantas, além do idealismo, o amor a
Liberdade. Liberdade que auscultada no oráculo sagrado do Povo Soberano traduzisse a legitimidade do Estado Soberano no axioma constitucional: Todo o
poder emana do povo e em seu nome é exercido !
O mais importante neste aprendizado é a consciência atroz de que a conquista não é a chegada, a estação ou o porto, mas a persistência no caminho
como cantou o poeta Antônio Machado...Caminante no hay caminho/se hace camino al andar... . O bardo Daniel Quintana eternizou a persistência na Liberdade
cantando: Liberdade/poesia não escrita/estátua nunca erguida/pássaro abstrato que o ser materializa/esperança do povo que virá com teu nome como
escudo/mãe/irmã/flor do meu pátio/termômetro de um coração cansado/Liberdade/calçada infinda da vida.
Ao otimismo, com tudo que tem de ilimitado, contrapõe-se o pessimismo, com tudo que tem de exacerbado. Ao ideal o real. Ao conceito absoluto e
poético de Liberdade a realidade contrapõe um Fernando Collor de Mello e agora o Regime do Mensalão. É o eterno processo de entropia física que reflete na
política a luta eterna divisada por Camus no mítico trabalho de Sísifo.
Não devemos esmorecer na persistência da luta por um mundo melhor. O exemplo de Hemingway, no seu Velho e o Mar, enobrece a luta. Tentar sempre
um patamar mais alto e persistir esculpindo com o élan do puro e do belo mesmo que cheguemos a praia com o esqueleto do peixe. É como o ideal de
Democracia do Povo por que tanto persistimos na luta malgrado nos ofereçam sempre um cadáver pútrido da mesma.
Democratura. Neologismo cuja origem semântica eivada de ironia traz aglutinadas ás raízes, de povo e escravatura, cujas significâncias entrevêem a
servidão daquele entranhada no léxico que se traduz em ditadura de uma maioria venal e espúria. Tem o nome do sonho mas governa em nome de antanho. O
governo do manda quem pode onde obedece quem precisa. O governo espúrio em que mercadores e vendilhões negociaram e continuarão a negociar os direitos
constitucionais do povo se a isto não forem obstados.
Persistir na luta pela Democracia é seguir o exemplo do Mestre que expulsou os vendilhões do Templo. Na persistência da crítica que prenuncia o
caminho da perfeição é que se estabelece a verdade história como quer Reinhart Koselleck quando diz que nela, distingue-se o autêntico do inautêntico, o
verdadeiro do falso, o correto do incorreto, o belo do feio. (Crítica e Crise – fls. 93) Vamos, agora, unidos marchar pela depuração do Templo! Quousque
tandem abutere, Catilina, patientia nostra ?
Sérgio Borja – Professor de Direito das Faculdades da UFRGS e PUC/RS

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