Sentir a luz do som

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Sentir a luz do som
Sentir a luz do som
Dezembro/2013
Sentir a luz do som
Juliana Yamashita Inoue – [email protected]
Curso de especialização em Iluminação e Design de Interiores
Instituto de Pós-Graduação e Graduação – IPOG
São Paulo, SP, 04 de fevereiro de 2013
Resumo
Este artigo científico tem por objetivo identificar a importância do uso da iluminação cênica
e analisar o efeito e as sensações que esta provoca no comportamento do público em eventos
e espaços musicais. A iluminação cênica teria somente efeito estético ou interfere no
comportamento e na percepção do espaço?Elaborou-se a hipótese de que a iluminação em
festivais musicais e casas noturnas estabelece influência no estado de espírito das pessoas
que os frequentam, visto que muitas vezes ela atua em conjunto com a característica do
evento. A metodologia adotada foi: fundamentação teórica com pesquisa bibliográfica,
análise de estudos de caso e levantamento de dados com elaboração de um questionário –
com 70 entrevistas com público que frequenta tais eventos/espaços. Concluiu-se que, nos dias
atuais, o uso da iluminação cênica não se resume apenas ao efeito estético que esta
proporciona ao espaço, mas também tem relação no comportamento do indivíduo e na sua
percepção do ambiente devido às sensações provocadas pela combinação de fatores como:
cores e ritmos.
Palavras-chave: Iluminação cênica. Sensação e comportamento. Eventos e espaços musicais.
1. Introdução
Este estudo insere-se no campo da iluminação cênica e tomou por base conceitos identificado
em Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado que estudam a importância e a
consequência da iluminação no comportamento das pessoas; nos livros: Da cor à cor
inexistente, de Israel Pedrosa - que analisa a questão da percepção e sensação, e o uso das
cores como elemento que provoca estímulo – e o livro A função estética da luz, de Roberto
Gill Carmargo; além de analisar projetos dos profissionais da iluminação cênica publicados na
Revista Luz & Cena.
A luz faz parte de diversos setores da vida moderna. Insere-se como elemento de
linguagem no cotidiano da sociedade. Está presente como veículo de comunicação.
É passível de interpretação. É simbólica. É material. É visual. É profissional. É
conceitual: luz cênica, luz ambiente, luz confortável, luz funcional, luz fria, luz
quente, luz histórica, luz tradicional, especial, econômica. (TORMANN, 2005)
Atualmente, a evolução nos equipamentos e recursos de iluminação cênica para apresentações
musicais possibilitam ao evento, o uso de diferentes efeitos que induzem o publico a um
determinado estado de espírito.
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Exemplo disso são as apresentações musicais cuja intenção é excitar o público, mantendo-os
eufóricos, onde a iluminação possui muitos efeitos e mais dinamismo. Por outro lado, os
shows acústicos buscam proporcionar ao público a sensação de melancolia, com uma
iluminação mais difusa e de alterações sutis do cenário.
Para McCandless (1932, apud CAMARGO, s/d, p.1) o primeiro estudo sistemático de
iluminação cênica em A method of lighting the stage, partia do princípio que a luz possui
quatro propriedades: intensidade, cor, forma e movimento; e para Reid (1976, apud
CAMARGO, s/d, p.4) em The stage lighting handbook, as quatro funções básicas da luz
eram: visibilidade, dimensão, seletividade e atmosfera, identificando dessa forma que a luz é
um recurso externo que deve integrar-se a cena.
Conforme relatos de Reid (1976, apud CAMARGO, s/d, p.4), a luz além de proporcionar
visibilidade deve ressaltar a tridimensionalidade da cena, produzindo impressões, através de
efeitos atmosféricos. Assim, os quatro objetivos da iluminação cênica: visibilidade, dimensão,
seletividade e atmosfera; interagem entre si, e a predominância de um sobre o outro depende
de cada situação específica.
Figura 1 – Show acústico Kid Abelha
Fonte: http://achei-acheipravc.blogspot.com.br
Figura 2 – Show Coldplay
Fonte: http://www.abril.com.br
Nas imagens acima, nota-se essa diferença entre a proposta de iluminação cênica nas
apresentações musicais acústicas – Figura 1 - dos grandes espetáculos musicais – Figura 2 -, e
com isso verifica-se a diferença no comportamento do público: na primeira imagem observase que o projeto luminotécnico propôs uma iluminação mais estática e difusa além de
estabelecer o uso de cores de luz mais calmas; já na segunda imagem, cria-se um maior
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dinamismo com os efeitos de luz em movimento composto com cores fortes e iluminação
mais demarcada.
Sob esse ponto de vista, identifico se as diferentes propostas de iluminação em cenários
musicais refletem de fato no comportamento do público, e analiso os fatores que podem
interferir na sensação provocada.
2. Referencial Teórico
2.1 Iluminação cênica
Conforme Tormann (2006, p.42), “a chegada da iluminação elétrica permitiu enriquecer,
transformar visualmente o espetáculo, oferecendo um novo caminho de reflexão e de
experimentação”. A autora cita ainda que, em 1938 foi proposto por Antonin Arraud:
“utilização de novos tons que pudessem sugestionar o espectador, fazer com que ele sentisse
frio e medo através do uso da iluminação, evidenciando uma complexidade estilística”.
Perrenoud (2012) afirma ainda que, a iluminação cênica consiste em iluminar uma cena
baseado em um conceito lumínico através de uma composição pictórica, assim, o iluminador
cênico é responsável por criar um conceito lumínico, cenas, idealizar e elaborar o projeto de
iluminação.
A iluminação cênica é planejada com a finalidade de causar envolvimento e
provocar impressão psicológica aos espectadores. A começar pelo tipo de lâmpada
empregada. Um espetáculo a luz de velas causa uma impressão completamente
diferente de espetáculo iluminado com lâmpadas halógenas, em consequência do
tipo de luz emitida. A mesma cena é vista então sob claridades diferentes
despertando as mais diversas reações. (SERRAT, 2006)
Sabe-se que a iluminação cênica é uma das grandes responsáveis pela valorização de um
espetáculo, pois ela pode tanto atuar como cenário ou somente criar um clima para a cena a
ser exibida. Entretanto nas últimas décadas, o avanço relacionado às soluções em iluminação
proporcionou uma maior busca de elementos estéticos e expressivos na iluminação cênica.
A iluminação é um poderoso recurso do espetáculo, ela possibilita recortar os
objetos no espaço, isolar atores, diminuir e aumentar área no palco, revelar altura, o
perfil os contornos e a profundidade. É um recurso que permite ressaltar os
elementos essenciais em cena e eliminar os demais. (SERRAT, 2006)
Além de modificar a aparência dos objetos e do ambiente, acredita-se que a iluminação
também tem o poder de agir sobre as pessoas, ou seja, altera o humor ou o estado de espírito
da pessoa. Por isso, ela é planejada com a finalidade de causar envolvimento e impressão
psicológica aos espectadores, e com o auxílio do uso de cores e efeitos criam-se diversas
atmosferas e despertam as mais variadas reações.
A iluminação existe no sentido de enriquecer o espetáculo, revelar suas intenções e
significados, descrever e configurar os espaços fictícios, traduzir emoções, climas,
não como um espetáculo à parte, mas como um dos elementos orgânicos da cena,
dotado de características próprias, que vêm acrescentar alguma coisa ao que já
existe, oferecendo uma tradução visual que não ultrapassa desnecessariamente, e que
não fica a dever. Neste sentido, há de se encontrar um meio-termo entre o que o
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espetáculo espera da iluminação e o que esta deve oferecer a ele: é o ponto de
equilíbrio entre o aspecto referencial da luz e os aspectos emotivo e poético, que
trazem, obviamente, a marca pessoal do iluminador. (CAMARGO, 2000)
De acordo com Lima (2012), “para um filósofo, a luz é uma metáfora para conhecimento;
para o cientista, um componente fundamental de seu trabalho; para o artista cênico, uma
ferramenta para manipular emoções”.
Assim, conclui-se que iluminar propõe o envolvimento entre o iluminador e o espectador, no
qual é estabelecida uma troca entre sinais e sensações.
2.2 Percepção e sensação
De que maneira a informação sobre o ambiente físico chega a nossa mente?
Segundo Schiffman (2005), a sensação refere-se ao contato inicial entre o organismo e seu
ambiente, entretanto não se detém apenas aos aspectos biológicos.
Um psicólogo que estude a sensação visual não apenas examinaria a estrutura física
do olho e suas reações à energia luminosa, mas também tentaria estabelecer de que
maneira as experiências sensoriais se relacionam tanto ao estímulo da luz ambiental
quanto ao funcionamento do olho. (SCHIFFMAN, 2005)
Para Davidoff (2001, apud MARIA, 2012), é um processo de coleta de informações sobre o
nosso meio ambiente, que pode ser classificado conforme sua origem: externa – sensações
que refletem as propriedades e aspectos isolados das coisas e fenômenos que se encontram no
mundo exterior; ou interna – refletem os movimentos de partes isoladas do nosso corpo e
estado dos órgãos internos.
Desse modo, o autor afirma ainda que a sensação pode ser classificada quanto ao tipo: visual,
gustativa, tátil, auditiva, olfativa. Ressalto que neste artigo, analisarei a sensação externa do
tipo visual e auditiva, no qual a luz (ritmo e cores) em conjunto com o som estabelece um
comportamento no indivíduo num dado espaço.
Por outro lado, Maria (2012) afirma que o processo de percepção tem início com a atenção
que nada mais é do que uma observação seletiva que efetuamos. Deste modo, vários fatores
influenciam a atenção: fatores externos – intensidade, contraste, movimento e incongruência;
fatores internos – motivação, experiência e fenômeno social.
Para Vianna (2004), em Iluminação e Arquitetura, cerca de 70% da percepção humana é
visual, pois, ela faz parte do dia a dia, da vida e do modo de habitar.
De acordo com Köhler (1959), em Ligthing in Arquitecture, o homem como um ser
predominantemente visual é mais fortemente afetado pela luz do que por qualquer outra
sensação. A forma e cor determinam a percepção do entorno físico através dos olhos, e nos
dão uma clara e vívida impressão do espaço do que os sensos táctil, auditivo e olfativo.
Dessa forma, a percepção envolve organização, interpretação e atribuição de sentido
àquilo que os órgãos sensoriais processam inicialmente. Em resumo, a percepção é o
resultado da organização e da integração de sensações que levam a uma consciência
dos objetos e dos eventos ambientais. (SCHIFFMAN, 2005)
Portanto, a percepção envolve processos mentais que também dependem do meio ambiente. O
estudo da percepção distingue alguns tipos principais, sendo eles: o visual, auditivo, olfativa,
gustativa e tátil.
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Figura 3 – Fases do processo perceptivo
Fonte: RITTER, 2012
De modo
geral,
a
sensação e a percepção são processos unificados e inseparáveis e pelo fato da iluminação
interferir diretamente na maneira como percebemos e sentimos o espaço, elementos como
cores e texturas devem ser pensados junto com a luz e seus efeitos para não haver desarmonia
estética entre eles.
2.3. A representação da luz: sombra, cor e efeitos.
Segundo Tormann (2005), “a luz é o elemento que torna a visão possível, são as sombras e
cores que nos permitem apreender os contornos do objeto”.
Camargo (2000) relata que a iluminação altera o visual e a expressão de acordo com o
contexto emocional do espetáculo, podendo ainda transformar o palco e o clima da cena por
intermédio de fatores como cor, direção e sentido.
A cor é uma característica que impregna todo o nosso ambiente, não somente
especificando um atributo ou qualidade fundamental das superfícies e dos objetos,
mas também, no caso dos seres humanos, provocando geralmente profundos efeitos
estéticos e emocionais [...] chamam nossa atenção, [...] acentuam contraste entre as
superfícies, facilitando a detecção visual e a discriminação de objetos.
(SCHIFFMAN, 2005)
Sabe-se que o uso de cores na iluminação tem grande importância e influencia em segmentos
da saúde – no tratamento de doenças, e nos aspectos culturais ou simbólicos. Entretanto,
devemos contextualizá-la no espaço, considerando características como: área de aplicação de
cor, temperatura de ambiente e na quantidade e qualidade de iluminação estabelecida.
Desse modo, a cor é um grande fator de estímulo, pois influencia na percepção da harmonia
dos espaços e no bem estar do usuário, proporcionando também diferentes sensações. Com
isso, é extremamente importante o estudo das cores na composição plástica dos espetáculos,
visto que a luz altera a composição dos elementos cênicos.
As cores na iluminação interferem na leitura emocional de cenas apresentadas. As
cores podem criar linguagem própria e, ainda, ajudar ou prejudicar o resultado final
de uma cena ou peça teatral, consoante o uso apropriado ou impróprio dos matizes,
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com relação ao sentimento almejado, pelo criador, por parte da plateia. (SARAIVA
apud SERRAT, 2006)
Entretanto, as cores ainda dependem do modo como o sistema visual interpreta os diferentes
comprimentos de onda de luz. De acordo com Schiffman (2005, p.85), “nos seres humanos, a
luz que produz uma experiência de cor se limita a uma faixa de visibilidade bastante restrita
do espectro eletromagnético – algo entre 380 e 760nm”.
Os estímulos que causam as sensações cromáticas se dividem em dois grupos: cores-luz e
cores-pigmento.
Cor-luz, ou luz colorida, é a radiação luminosa visível que tem como síntese aditiva
a luz branca. Sua melhor expressão é a luz solar, por reunir de forma equilibrada
todos os matizes existentes na natureza.
Cor-pigmento é a substância material que, conforme sua natureza, absorve, refrata e
reflete os raios luminosos componentes da luz que se difunde sobre ela. É a
qualidade da luz refletida que determina a sua denominação. (PEDROSA, 1982)
Figura 4 – Cor-luz primária e cor-pigmento
Fonte: PEDROSA, 1982
Já a percepção da cor está relacionada a elementos físicos (luz), fisiológicos (olho) e dados
psicológicos que alteram a qualidade do que se vê. Para isso, Pedrosa (1982) distingue três
características principais: matiz (comprimento de onda), valor (luminosidade ou brilho) e
croma (saturação ou pureza da cor).
Matiz é o estado puro da cor, é a característica que diferencia uma cor da outra: o
azul do verde, o verde do vermelho, etc.
Saturação ou intensidade indica o grau de pureza da cor. As cores perdem croma
dessaturando-se, ao serem misturadas com o branco.
Brilho ou valor é o grau de claridade ou obscuridade contido numa cor.
(PEDROSA, 1982)
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Figura 5 – Matiz
Fonte: PEDOSA, 1982
Figura 6 – Luminosidade
Fonte: PEDROSA, 1982
Figura 7 – Saturação
Fonte: PEDROSA, 1982
Quanto aos efeitos da iluminação, Nemes (2011) conceitua a luz dura: utilizada para mostrar o
contraste entre o claro e o escuro, dando uma ideia de força e drama; e a luz difusa: utilizada
para ressaltar delicadeza e suavidade.
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Figura 8 – Luz difusa
Fonte: http://www.xpres.com.br
Figura 9 – Luz dura
Fonte: http://tenhomaisdiscosqueamigos.virgula.uol.com.br
Ao relacionar a cor com a música deparamos com o conceito de sinestesia, no qual Sacks
(2007) define como uma sensação secundária que acompanha a percepção normal, ou seja,
consiste na combinação sensorial entre audição e visão. É um termo usado na descrição de
figura de linguagem e de fenômenos provocados por uma condição neurológica.
Desse modo, conclui-se que ao analisar as sensações provocadas entre cores e sons de forma
simultânea podem proporcionar percepções diferenciadas do que se fossem analisadas de
maneira isolada.
Figura 10 – Teclado sinestésico
Fonte: http://pt.wikipedia.org
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3. Metodologia
A metodologia de pesquisa, análise e sistematização desse artigo tem três fontes principais,
que atuaram em conjunto, complementando-se uma em relação à outra. A primeira é uma
pesquisa bibliográfica referente à importância do uso da iluminação cênica, bem como a
função estética da luz e os elementos considerados para a sua percepção; a segunda é uma
análise de alguns estudos de casos – espetáculos musicais, casas noturnas – que fazem o uso
de uma iluminação diferenciada no espaço; a terceira estabelece a aplicação de questionários
ao público que frequenta tais eventos/espaços, com o objetivo de identificar o comportamento
do público e descrever as principais sensações que a iluminação proporciona ao indivíduo.
3.1 Estudo de casos - Resenha
A cidade de São Paulo tem uma fantástica diversidade e intensidade cultural, e por esse
motivo é palco de grandes espetáculos que agitam a vida noturna paulistana. Estabeleci como
estudo de caso os projetos luminotécnicos publicados nas edições n⁰ 155 e n⁰161 da revista
Luz & Cena.
Lollapalooza Brasil
Figura 11 – Festival Lollapalooza 2012
Fonte: http://www.lpl.com.br
Nos dias 7 e 8 de abril o Jockey Club de São Paulo foi palco de um dos grandes festivais de
música: Lollapalooza Brasil, que recebeu diversas bandas, sendo uma delas o Foo Fighters.
A proposta luminotécnica foi da LPL com parceria dos lighting designers Erich e Caio Bertti
– que idealizaram os riders de luz – e Césio Lima – também diretor de fotografia.
Os dois palcos principais do evento tiveram como base para a criação dos riders, os
mapas de luz dos grupos Foo Fighters e Jane’s Addiction, que eram as atrações principais.
A iluminação do palco Cidade Jardim contava com 37 moving lights Robe Color Spot 2500,
25 moving lights Robe Color Wash 2500, 11 Robe Robin LED 600 e 24 Martin Atomic 3000,
entre outros equipamentos. O palco Butatã, além de usar os equipamentos do palco Cidade
Jardim, também fez uso do Robe Robin e Martin ATomic, 36 DTS XR3000 Spot e 25 DTS
XR1200 Wash.
Embora semelhantes, os equipamentos usados em cada palco tinham como objetivo atender a
todos os iluminadores igualmente, e o fato de serem projetados de forma simples favoreceu a
montagem e desmontagem dos palcos.
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Figura 12 – Show Foo Fighters
Fonte: http://redutodorock.com.br
O show da banda Foo Fighters contou com o iluminador Dan Hadley, que acompanha os
músicos há anos; dentre os equipamentos da banda destacaram-se 55 moving heads Martin
301 LED, 38 estrobos Martin Atomic, 8 Syncrolite MX4 e 24 Clay Paky Sharpy, que eram
controlados por consoles grandMA. Segundo o lighting designer Erich, além destes, foram
usados também 16 Robe ColorWash 2500 e 16 brutts de seis lâmpadas cada, além de trusses
de frente, lateral e contra.
Para o lighting designer os movings da Clay Parky possuem baixíssimo consumo e alto
output, além de ter um feiche de luz invejável e ser ágil, pois proporciona resposta rápida aos
comandos de mesa.
Brooks Bar – São Paulo
Figura 13 – Vista Brooks Bar
Fonte: Revista Luz & Cena, 2012
A casa noturna Brooks, inaugurada no dia 27 de novembro de 2012 no bairro Chácara Santo
Antônio da cidade de São Paulo, tem capacidade para duas mil pessoas. O espaço tratava-se
de uma construção dos anos 90 que foi reformada pelo arquiteto Zico Frediani e decorado
pela designer Alessandra Ribeiro.
O projeto luminotécnico - analisado no artigo da Revista Luz e Cena - é do lighting designer
Welder Rojas, que propôs o uso de várias cores na iluminação ambiente com equipamentos de
LED. Segundo Amauri Pereira – um dos sócios da Brooks – buscou-se uma nova proposta
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para a casa, sendo esta diferente das “baladas sertanejas” já existentes, que sempre usam a
mesma temática. A Brooks oferece um ambiente requintado, com sofisticação e bom gosto.
Com a parceria de empresas como: LED Company, HO Designer e Lerche, foram utilizados
equipamentos como o moving lights de LED dos tipos wash, holle, spot, beam, que
proporcionam baixo consumo e alta durabilidade, grande emissão de luz e variabilidade de
efeitos que se destacam na casa.
Desse modo, os equipamentos de iluminação que compõe o projeto do espaço são: dez
refletores neo LED PAR AWB, dois refletores PAR Slim RGB, de 3 watts, nove ribaltas
Maximum Tri LED – da NeoFlash , oito moving lights 324 do tipo wash, dezesseis moving
lights LED 100 de 90 watts do tipo spot, dez moving lights LED 80 do tipo beam, e doze
moving lights LED 60 do tipo spot, da Holle.
Para a pista de dança foram instalados os spots, as ribaltas e os estrobos; já os equipamentos:
spot, beam, wash e PAR são usados no palco.
Figura 14 – Iluminação do palco
Fonte: Arquivo pessoal da autora
Figura 15 – Efeitos de iluminação do palco
Fonte: Revista Luz & Cena, 2012
O palco conta ainda com um painel de LED, que é composto por 40 placas outdoor de 16mm
de distanciamento entre pixels de alta resolução que exibem imagens pré-produzidas e
grafismos de bancos de dados. A moldura desde painel é feita de tiras de LED dispostas como
treliças.
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O diferencial da iluminação da Brooks é que os ambientes “dimmerizados” e coloridos na
medida certa, com cenas programadas: no início da noite, quando o público começa a chegar,
o espaço é bem iluminado e claro; depois se proporciona um clima intimista com o início dos
shows. Entre um show e outro, há apresentação de dança feminina no bar central, que é
iluminado com LED.
Os ambientes, independente de serem muito ou pouco iluminado, seguem com luzes em
tonalidades quentes, na tonalidade âmbar, que proporciona espaços “acalorados” e
aconchegantes.
3.2 Coleta de Dados
Após embasamento teórico que auxiliou na compreensão da importância da luz cênica, bem
como o levantamento dos fatores que influenciam no sentir e na percepção do ambiente, foi
elaborado um questionário para analisar, se na prática há aplicação de toda fundamentação
teórica levantada.
As entrevistas foram realizadas entre os dias 6 a 13 de janeiro de 2013, disponibilizado na
internet, contendo as perguntas abaixo:
Tabela 1 – Questionário para levantamento de dados
Fonte: Elaborada pela autora
3.3 Análises dos resultados
Após a coleta de dados por intermédio de 70 entrevistas, estes foram analisados e
seus resultados serão apresentados a seguir:
3.3.1 Em relação ao gênero, 53% dos entrevistados eram do sexo feminino e 47% do sexo
masculino.
3.3.2 Quanto à idade dos entrevistados, observou-se que:
- 11% tinham idade inferior a 25 anos
- 63% tinham idade entre 25 a 30 anos
- 26% tinham idade superior a 30 anos
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3.3.3 Quanto a frequentar shows/ festivais musicais e casas noturnas, constatou-se que apenas
3% dos entrevistados não frequentam shows/festivais e casas noturnas.
3.3.4 Ao questionar a preferência, 40% dos entrevistados preferem frequentar shows/festivais
musicais, e 60% dão preferência às casas noturnas.
3.3.5 Constatou-se que 100% dos entrevistados acreditam que a iluminação desempenha
papel importante nos espaços/eventos analisados na pesquisa.
3.3.6 Ao questionar a respeito da iluminação dos espaços/ eventos musicais e casas noturnas:
- 14% dos entrevistados acreditaram que esta tem somente efeito estético;
- 9% dos entrevistados afirmaram que esta tem influência somente no comportamento do
indivíduo;
- 6% dos entrevistados relacionaram apenas como efeito estético e influência no
comportamento do indivíduo;
- 21% dos entrevistados afirmaram que tem somente influência na percepção do espaço;
- 4% dos entrevistados acreditaram que tem influência na percepção do espaço e no
comportamento do indivíduo;
-12% dos entrevistados citaram que a iluminação teria efeito estético e influência na
percepção do espaço;
34% dos entrevistados mencionaram que a iluminação teria efeito estético, influência no
comportamento do indivíduo e na percepção do espaço.
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3.3.7 Ao questionar a respeito da iluminação e o ritmo das músicas, 17% dos entrevistados
afirmaram que ambas não tem nenhuma relação; já 83% dos entrevistados responderam que a
iluminação e o ritmo das músicas estabelecem uma relação no espaço em questão.
Gráfico 1 – Efeitos e influência da iluminação
Fonte: Elaborada pela autora
Gráfico 2 – Relação iluminação x ritmo das músicas
3.3.8 Em relação à qualidade da Fonte:
iluminação
de pela
eventos
Elaborada
autoramusicais e casas noturnas, 94% dos
entrevistados afirmaram que a combinação não harmônica entre efeito, cor e ritmo
proporciona uma iluminação de baixa qualidade; contra apenas 6% dos entrevistados que
discordaram desta afirmação.
Gráfico 3 – Qualidade da iluminação
Fonte: Elaborada pela autora
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4. Conclusão
De acordo com o perfil dos entrevistados, a maioria se encontra na faixa dos 25 a 30 anos e,
preferem frequentar as casas noturnas dentre as opções estabelecidas no questionário. A
análise dos dados levantados permite concluir que o público que frequenta tais espaços e
eventos considera que a iluminação desempenha um importante papel, não sendo este apenas
estético.
Verifica-se que a iluminação cênica em eventos como shows/festivais musicais, e espaços
como casas noturnas deve ser projetada harmonicamente com os demais fatores que
influenciam no resultado final da cena, como por exemplo, o uso de cores, ritmos e efeitos por
intermédio da grande diversidade de equipamentos disponíveis no mercado.
É por intermédio do uso desses recursos que o lighting designer, contratado para elaborar este
tipo de iluminação, consegue traduzir visualmente as emoções e climas almejados para o
espetáculo ou espaço, atingindo assim efeitos de caráter estético e emocional. Ou seja,
consegue-se causar um envolvimento do espectador ao despertar diversas reações e
influenciar desta maneira na percepção do mesmo no espaço em questão.
Conclui-se, portanto que, a iluminação tem influência no comportamento do indivíduo e na
intenção que se pretende revelar ao evento, estabelecendo assim a sua importância; desse
modo, iluminar requer também a habilidade de se proporcionar avaliações subjetivas.
Referências
CAMARGO, Roberto Gill. A função estética da luz, Sorocaba: TCM Comunicação, 2000.
CAMARGO, Roberto Gill. Livros técnicos sobre iluminação cênica, Sorocaba, s/d.
KÖHLER,Walter. Ligthing in Arquitecture, New York, 1959.
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Sentir a luz do som
Dezembro/2013
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ISSN 2179-5568 – Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - 6ª Edição nº 006 Vol.01/2013 –dezembro/2013

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