Apostila Entendendo o Mercado do Milho

Transcrição

Apostila Entendendo o Mercado do Milho
ENTENDENDO O MERCADO
DO MILHO
01/07/2015
SUMÁRIO
1. Introdução..............................................................................................................3
1.1 O agronegócio do milho e suas utilidades.............................................................4
1.1.1 Definição e características..........................................................................4
1.2 O mercado mundial do milho...............................................................................6
1.2.1 Produção.....................................................................................................6
1.2.2 Importação..................................................................................................8
1.2.3 Exportação................................................................................................10
1.2.4 Calendário agrícola...................................................................................13
1.3 O mercado do milho em Mato Grosso..................................................................16
1.3.1 Oferta e demanda......................................................................................16
1.3.2 Exportação................................................................................................18
1.4 Os mercados externo e brasileiro......................................................................19
1.4.1 Tipos de mercado......................................................................................19
1.4.2 Bolsa de Chicago (CBOT) .........................................................................22
1.4.3 Especificações da Bolsa de Chicago.........................................................24
1.4.4 Cotação internacional no mercado interno................................................25
1.4.5 Especificações da BM&F...........................................................................25
1.5 Como se formam os preços no mercado interno................................................27
1.5.1 Prêmio de exportação...............................................................................27
1.5.2 Custo portuário..........................................................................................28
1.5.3 Frete ao porto............................................................................................29
1.5.4 Cotação interna.........................................................................................30
1.6 Principais rotas de escoamento do milho no Estado...........................................32
1.7 Paridade de exportação e sua importância.........................................................35
1.7.1 O que é e para que serve a paridade de exportação..................................35
1.7.2 Como se calcula a paridade de exportação...............................................37
1.8 Gastos produtivos com a cultura do milho..........................................................39
1.8.1 Custo de produção do milho......................................................................39
1.8.2 Custos fixos e custos variáveis..................................................................41
1.9 O ponto de equilíbrio..........................................................................................42
1.9.1 Determinantes do Ponto de Equilíbrio (PE) ...............................................43
1.10 Preço de base e relação frete/milho..................................................................44
1.10.1 Formação do preço de base......................................................................44
1.10.2 Preço do frete x cotação do milho..............................................................46
1.11 Preço mínimo....................................................................................................47
1.11.1 Formação do preço mínimo.......................................................................47
1.11.2 Leilões agropecuários da Conab...............................................................48
1.12 Glossário...........................................................................................................49
1.13 Conclusão.........................................................................................................51
2
1 Introdução
Atualmente o milho se consolida como a segunda cultura mais importante para a
agricultura brasileira. Os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab,
maio/15) demonstram que o cereal representou 41,43% de toda a produção de grãos do
país na safra 13/14, com 80,05 milhões de toneladas produzidas. No entanto, para a
safra 14/15 é aguardada uma redução na produção brasileira de milho, o número
apontado para esta safra é de 78,59 milhões de toneladas, diminuindo a
representatividade do cereal para 38,86%. A produção mundial de milho aguardada para
a safra 14/15 é de 996,12 milhões de toneladas, consolidando a cultura do cereal como
a mais produzida no mundo.
O Estado do Mato Grosso é o maior produtor de milho do Brasil, produzindo um total de
18,04 milhões de toneladas e representando 22,55% da produção nacional na safra
13/14, segundo a Conab. Uma das particularidades mais interessantes do milho
produzido em Mato Grosso é que grande parte dele é caracterizada como milho de
segunda safra, também conhecido como milho “safrinha”. Segundo dados da Conab,
97,94% do cereal do Estado é de segunda safra.
A agricultura representou, em 2015, 73,6% do VBP (Valor Bruto da Produção)
agropecuário do Estado. O milho é considerado a segunda cultura com maior
representatividade dentro da agricultura, ficando atrás apenas da soja, o share do milho
no VBP da agropecuária é de 10,78%, demonstrando assim a importância do cereal para
a economia agropecuária mato-grossense.
No que tange à comercialização do milho brasileiro com o mercado externo, podemos
observar que o Brasil é um dos principais players no mercado de exportação,
posicionando-se apenas atrás dos Estados Unidos, quando o assunto é a exportação do
cereal.
Os principais fatores que influenciam a paridade de exportação brasileira são: cotação
do milho na Bolsa de Chicago (CBOT), prêmio de exportação, despesas portuárias, frete,
câmbio, impostos e outras taxas e comissões.
Perante tais dados, que demonstram a importância do milho no cenário mundial, este
trabalho procura avaliar e debater sobre o mercado do milho, abordando assuntos que
vão desde a oferta e demanda do cereal, até particularidades na formação do preço no
Estado.
Desejamos que você, leitor, tenha prazer em descobrir, nas páginas a seguir, de maneira
geral como funciona o mercado do milho e suas peculiaridades.
3
1.1
O agronegócio do milho e suas utilidades
Nesta seção, serão analisadas de maneira geral a definição e características do milho.
1.1.1 Definição e características
Caracterizadas por serem produtos de origens primárias que são transacionados nas
Bolsas de Mercadorias, as commodities são conhecidas por suas características únicas,
tais quais: produtos em estado bruto ou com baixo grau de industrialização, com
qualidade quase uniforme e produzidos e comercializados em grandes quantidades.
Esses produtos podem ser armazenados sem perdas significativas durante grande
período. Comumente essas mercadorias são transacionadas com entrega futura
(BRANCO, 2008). As commodities são uma opção de investimento dentre outras tantas
disponíveis no mercado financeiro.
O milho é uma das principais commodities agrícolas produzidas no mundo, apresentando
desempenhos classificados como cíclicos ou sazonais, alternando períodos de
crescimento e redução dos preços. Tais oscilações se devem às questões que influem
diretamente sobre o preço físico, como clima, previsões, colheitas de safras, estoques e
até mesmo movimentações especulativas nas Bolsas de Mercadorias onde são
negociadas.
Diferentemente da soja, que tem commodities processadas, como o farelo de soja e o
óleo de soja, que são negociadas nas Bolsas de Mercadorias, o milho só é negociado
pura e exclusivamente em seu valor em grão, ou seja, basicamente “in natura”.
Atualmente o milho é a cultura mais produzida no planeta, e com tamanha quantidade e
disposição no mercado, o cereal se torna um ativo de alta liquidez para negócios. Apesar
da propagação quanto a seus valores nutricionais, cerca de 70% do milho produzido no
mundo é destinado para consumo animal (DIAS PAES, 2006). O cereal é um dos
principais ingredientes nas rações utilizadas na alimentação de aves, bovinos, peixes e
suínos pelo mundo.
Um grão de milho pesa em média de 250 a 300 mg e sua composição média e em base
seca é de 72% de amido, 9,5% proteínas, 9% fibra e 4% de óleo. O grão é formado
basicamente por quatro estruturas físicas, que são: endosperma (82%), gérmen (11%),
pericarpo (casca-5%) e ponta (2%). A proteína, principal fonte nutricional para
alimentação animal, se encontra principalmente no endosperma e no gérmen (DIAS
PAES, 2006). A composição do cereal pode ser observada na figura 1, abaixo:
4
Figura 1 - Estrutura do grão de milho
Fonte: Adaptado de Britannica (2006).
Existem variações quanto ao tipo de grão de milho, que se divide em cinco classes:
dentado, duro, farináceo, pipoca e doce. A maior parte do milho comercial produzido no
Brasil é do tipo duro, enquanto nos países de clima temperado prevalece o dentado. As
diferenças entre os tipos de milho estão fundamentalmente na forma e no tamanho dos
grãos, que são definidos pela estrutura do endosperma e pelo tamanho do gérmen.
O milho é amplamente difundido em alimentos e produtos em gerais. Apesar de ser
utilizado principalmente em rações e na produção de etanol, há vários produtos de uso
humano que contêm derivados do cereal, que vão desde cremes de barbear até tintas
látex.
A cadeia que envolve a cultura do milho pode ser considerada agroindustrial, pois, além
de abranger uma gama de produtos advindos dela, a produção é cercada de tecnologia,
devido à existência de um setor de insumos, maquinários e implementos agrícolas, que
promoveu a cultura a um patamar de produção de larga escala e conferiu viabilidade a
ela. A cadeia do milho é bem parecida com a da soja, grande parte dos produtores de
milho no Estado de Mato Grosso são na essência produtores de soja, a facilidade com o
emprego do mesmo maquinário influenciou para uma proliferação da cultura de milho
segunda safra no Estado.
5
Organograma 1 – Cadeia agroindustrial do milho
Fonte: Imea
1.2
O mercado mundial do milho
Nesta seção, será analisado o mercado mundial do milho. Os aspectos discutidos estão
relacionados com quatro variáveis principais: produção, importação, exportação e
calendário agrícola mundial.
1.2.1
Produção
O milho é hoje o cereal mais produzido no mundo, é esperada uma produção de 989,30
milhões de toneladas para a safra 15/16, a produção mundial concentra-se basicamente
em três grandes produtores: EUA, China e Brasil; sozinhos esses países representam
65,62% da produção mundial de milho. O Brasil se encontra na terceira posição no
ranking de produtores, são aguardados 75,00 milhões de toneladas para a safra 15/16.
Apesar dessa ampla concentração entre os grandes produtores, o restante do milho
produzido no mundo é bem dividido entre os outros países, para se ter uma ideia, o
restante do top 10 representa apenas 13,83% da produção mundial, segundo dados do
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, jun./15).
6
Mapa 1 - Principais países produtores de milho na safra 2015/16
346,2
26,0
68,1
346,2
228,0
0,0
75,0
25,0
Prod Mundial: 989,3 milhões t
Fonte: USDA, junho/15
Ainda que seja importante a análise da produção, para se ter um olhar macro sobre o
mercado do milho é necessário vislumbrar conjuntamente oferta e demanda. E, ainda
assim, observar outra variável preponderante para o mercado, os estoques finais. Estes
servem como forma de balizamento para preços e também definições de safras futuras.
Exemplificando, caso haja uma produção maior que a demanda, a tendência é que esse
excesso de produto não demandado se transforme em estoques finais da safra atual,
refletindo em mais produto no início da safra subsequente.
7
Gráfico 1 - Oferta e demanda no mundo e estoques finais no mundo e na China – últimas dez
safras
1150
1050
950
Consumo 987,65 mi t
Produção 989,30 mi t
Produção 700,71 mi t
Consumo 707,6 mi t
250
200
850
750
117,05
104,28
150
97,18
650
94,17
550
88,26
72,82
92,82
91,52
78,28
73,06
69,44
100
450
350
35,26
36,60
38,39
51,18
51,30
49,42
59,34
67,57
77,32
79,96
90,91
250
50
0
2005/2006 2006/2007 2007/2008 2008/2009 2009/2010 2010/2011 2011/2012 2012/2013 2013/2014 2014/2015 2015/2016
Est. Finais (China)
Est. Finais (R.D.M.*)
Produção
Consumo
Fonte: USDA, junho/15. *Resto do mundo
Apesar do crescimento vertiginoso do consumo mundial de milho nas últimas safras, a
produção mundial avançou em maior escala. Com isso, o que se observa são cinco anos
seguidos de aumento nos estoques finais mundiais, a partir da safra 2010/11 até a safra
14/15. E grande parte desses estoques se encontra na China, que foram o principal
propulsor dos aumentos nos estoques nas safras 11/12 e 12/13; para a safra 15/16 é
esperado que os estoques chineses representem 46,58% dos estoques mundiais.
Com a demanda mundial contínua e crescente, e uma redução no volume mundial
produzido em relação à safra 14/15, a safra 15/16 deve apresentar um cenário de
convergência entre produção e consumo mundial, o que não acontecia desde a safra
2012/13, quando houve quebra de safra nos EUA e a produção mundial reduziu. Enfim,
assim como é importante ater-se a questões como oferta (produção) e demanda
(consumo), para se analisar fundamentalmente o mercado, também se deve vislumbrar
os estoques finais das safras para se ter o panorama completo da definição de
tendências e preços.
1.2.2
Importação
O milho é atualmente o cereal mais produzido no mundo, e amplamente conhecido por
seus valores nutricionais e benefícios à saúde. Apesar disso, o que se observa no
mercado de importação do milho é que não há realmente um importador massivo, os
grandes consumidores mundiais são também grandes produtores do cereal, assim, vêse um número de importação bem dividido entre vários países, sem um grande
importador característico, como é o caso da China para a soja. Atualmente o maior
8
importador de milho é o Japão, com expectativa de 15 milhões de toneladas importadas
na safra 15/16, devido ao relevo e ao clima, esse país não produz o cereal e tem que
importar todo milho consumido. Logo atrás do Japão, vêm a União Europeia e o México.
Mapa 2 - Principais países importadores de milho na safra 2015/16
15,0
15,0
12,0
10,0
4,5
0,0
10,3
8,0
4,5
Imp Mundial: 118,7 milhões t
Fonte: USDA, junho/15
As importações mundiais de milho avançaram 48,08% num intervalo de tempo de dez
safras (05/06-15/16). É esperado um total de 118,73 milhões de toneladas destinadas
às importações na safra 15/16, apesar do grande avanço, atenta-se para o fato de os
grandes compradores mundiais estarem apresentando diminuições nos seus volumes
adquiridos, e novos compradores estarem adentrando o mercado com mais força.
Países como México, Irã, Indonésia, Arábia Saudita e o bloco econômico da União
Europeia foram os principais responsáveis pelos avanços observados nas importações
das últimas safras, demonstrando assim um mercado consumidor cada vez mais
diversificado para o milho.
9
Gráfico 2 – Principais importadores mundiais – últimas dez safras
125
100
75
50
25
4,8
8,7
8,9
7,1
4,2
9,3
9,6
14,1
5,0
7,2
7,8
4,4
8,5
6,8
2,5
16,6
16,7
16,6
16,5
41,4
43,9
44,6
43,5
16,0
5,8
8,1
8,3
7,4
15,6
48,5
47,4
5,8
8,5
8,3
7,2
7,6
11,2
6,1
14,9
5,1
8,2
5,7
11,4
53,2
55,1
14,4
8,7
10,4
11,0
8,0
10,0
10,3
12,0
15,1
7,5
9,6
10,0
8,0
15,0
62,6
65,5
63,4
15,9
15,0
0
Outros
Japão
União Européia
México
Coréia do Sul
Egito
Fonte: USDA, junho/15
1.2.3
Exportação
Como observado nas importações, as exportações também cresceram em ritmo
acelerado nas últimas safras. Atualmente o mercado de exportação de milho é
praticamente dominado por quatro países: EUA, Brasil, Ucrânia e Argentina. Juntos,
esses países representaram 83,28% das exportações mundiais na safra 15/16. Os dois
primeiros se caracterizam por serem grandes produtores e também consumirem boa
parte da sua produção. Já a Ucrânia e a Argentina destinam mais de 60% da sua
produção para o mercado externo, demonstrando assim grande dependência das
exportações para escoarem seu milho.
10
Mapa 3 - Principais países exportadores de milho na safra 2015/16
48,3
3,0
48,3
16,0
2,5
3,5
0,0
22,0
15,5
Exp Mundial: 121,8 milhões t
Fonte: USDA, junho/15
Os movimentos das exportações mudaram consideravelmente se comparados aos das
safras de dez anos atrás. O mercado do milho mudou muito nos últimos anos, a China,
que se posicionava como uma exportadora de milho na safra 2005/06, atualmente se
caracteriza como importadora. Outro fato impressionante é a ascensão de Brasil e
Ucrânia, que respondiam a um percentual ínfimo nas exportações mundiais, e na safra
15/16 serão responsáveis por 31,10% do total exportado. Dado isso, o que se observa é
que o share das exportações mundiais balanceou, os EUA ainda detêm a hegemonia,
mas já sofrem com a competição mais acirrada de Brasil, Argentina e Ucrânia.
11
70%
6%
8%
6%
12%
16%
15%
12%
60%
8%
17%
14%
12%
17%
7%
8%
5%
12%
50%
16%
18%
18%
15%
5%
9%
13%
20%
67%
57%
63%
56%
20%
15%
17%
13%
13%
15%
13%
16%
19%
18%
37%
38%
39%
19%
13%
15%
13%
21%
40%
30%
21%
2015/2016
80%
8%
5%
12%
90%
2014/2015
100%
2013/2014
Gráfico 3 – Share das exportações mundiais – últimas dez safras
26%
52%
51%
33%
10%
19%
Argentina
2012/2013
Ucrânia
2011/2012
Brasil
2010/2011
2009/2010
EUA
2008/2009
2007/2008
2006/2007
2005/2006
0%
China
Outros
Fonte: USDA, junho/15
Assim como na soja, guardadas as devidas proporções, o milho brasileiro também sofre
com os problemas nos gargalos logísticos, no entanto, a diferença para a soja é a época
de escoamento. Enquanto o grão é escoado de fevereiro a julho, o cereal é escoado nos
meses de agosto a janeiro. O grande problema da logística brasileira está nas distâncias
dos centros produtores de milho dos portos, e das condições ruins das rodovias. O
principal modal utilizado no Brasil (rodoviário) é considerado também o mais oneroso, o
que diminui a competividade brasileira se comparada aos principais países exportadores
de milho.
Segundo a Confederação Nacional de Transportes (CNT), apenas 13,47% da malha
rodoviária brasileira encontra-se pavimentada, dos 1,56 milhão de quilômetros de
rodovias no Brasil, somente 210,61 mil quilômetros são pavimentados. Apesar de a
quantidade parecer grande, comparando proporcionalmente a extensão territorial
brasileira, a densidade rodoviária brasileira é uma das mais baixas se comparada à dos
grandes produtores de soja e milho do mundo.
12
Gráfico 4 – Densidade da infraestrutura rodoviária dos principais exportadores mundiais de
soja e milho
Fonte: CNT
Devido a isso e a outros fatores logísticos que serão explicitados ao longo deste relatório,
percebe-se que o milho brasileiro ainda sofre com problemas além da porteira, no
entanto, tais problemas podem ser solucionados, refletindo em possíveis avanços e
melhora na competitividade brasileira no mercado internacional.
1.2.4 Calendário agrícola
O milho atualmente é produzido em larga escala basicamente em três países no mundo:
EUA, China e Brasil, como já dito. No entanto, o seu período de semeadura e colheita
varia entre esses países, devido basicamente à localização e ao clima dessas nações.
Os EUA e a China se encontram no hemisfério Norte, e isso significa que o verão e a
primavera ocorrem em período inverso ao do hemisfério Sul. E são essas estações que
reúnem as condições ideais para o cultivo do milho. Dado isso, a semeadura do cereal
nesses países costuma ocorrer entre os meses de abril a junho, e a colheita, durante os
meses de setembro e novembro. Devido ao fato de ser mais resistente contra geadas
que a soja, o milho nesses países costuma ser semeado um pouco antes do que a
oleaginosa.
13
Enquanto isso, no hemisfério Sul, e particularmente no Brasil, existe a semeadura do
milho de duas formas, o milho de primeira safra e o milho de segunda safra. O primeiro
se caracteriza por disputar área com a soja no Sul e Sudeste do Brasil, principais regiões
produtoras desse milho no país, e representará 38,44% da produção do cereal brasileiro
na safra 14/15 (Conab, junho/15). A semeadura ocorre entre setembro e dezembro e a
colheita, durante janeiro e maio. O milho semeado nesse período costuma receber
melhores condições climatológicas e, assim como o cereal norte-americano, tende a
demonstrar uma produtividade maior.
Já o milho de segunda safra, também conhecido como milho “safrinha”, que representará
62,66% da produção nacional na safra 14/15, é produzido principalmente na região
Centro-Oeste e no Estado do Paraná. A semeadura desse milho costuma ocorrer durante
os meses de janeiro a março, e a colheita, nos meses de maio a agosto.
Figura 2 - Calendário agrícola do milho nos principais países produtores, e no Brasil, nas
principais regiões
Fonte: USDA, ODS
Em Mato Grosso, maior produtor de milho nacional, a produção é predominantemente
de segunda safra, em decorrência disso, a produtividade média do cereal observada no
Estado costuma ser menor se comparada à dos EUA ou à dos estados da região Sul,
que realizam semeadura do cereal de primeira safra. Porém, com o elevado incremento
tecnológico dos últimos anos e o alongamento das chuvas, as produtividades do milho
segunda safra melhorou bastante.
14
O milho apresenta algumas especificidades para que tenha um bom desenvolvimento.
Existem dois fatores principais que podem afetar o cereal: a precipitação e a temperatura.
As temperaturas ideais do solo para o cultivo do milho estariam entre 25 e 30 ºC,
temperaturas do solo inferiores a 10 ºC e superiores a 40 ºC podem ocasionar problemas
na germinação. No caso da floração da planta, temperaturas menores que 15,5 ºC
retardam o desenvolvimento. Em suma, verões com temperaturas médias diárias
inferiores a 19 ºC e durante a noite menores que 12,8 ºC não são recomendados para a
produção do milho (CRUZ et al., 2012).
No que se refere ao regime pluviométrico, o milho pode ser cultivado em regiões onde
as chuvas apresentam valores desde 250 até 5000 mm anuais, e a média de consumo
da planta durante seu ciclo fica entre 600mm. O consumo diário do cereal nos estágios
iniciais tende a não ultrapassar valores acima de 2,5 mm, enquanto que durante a
maturação esses valores podem chegar até 10 mm/dia, em locais com a umidade muito
baixa e que apresentam temperaturas elevadas (CRUZ, et al.).
Em busca de conferir maior segurança e viabilidade sem aumento de custos, a Embrapa
define épocas-limites, ou também comumente usada pelo mercado “janela ideal”, para a
semeadura do milho de segunda safra. Pelo fato de ser semeado após uma cultura de
verão, o período de plantio desse cereal depende do desenvolvimento da primeira safra,
assim o planejamento do milho de segunda safra começa em setembro, com o início da
semeadura da cultura de verão.
Essas “datas-limites” são definidas de acordo com as regiões do país, e o fato de a
estação chuvosa se encontrar perto do fim acaba por tornar o cultivo desse milho de alto
risco.
Tabela 1 - Limite das épocas de semeadura para a cultura do milho safrinha, por estado e
região produtora
Estado
Época
Limite
Mato Grosso
15 de março Alta
Centro-Norte (Sapezal, Lucas do Rio Verde)
15 de
fevereiro
Baixa
Sudeste (Bom Jesus, Santa Helena)
28 de
fevereiro
Alta
Sudoeste (Rio Verde, Jataí e Montividiu)
28 de
fevereiro
Baixa
Vale do Rio Grande (Conceição das Alagoas)
Baixa e
Alta
Centro-Norte (Campo Grande, São G. do Oeste, Chapadão do Sul)
Baixa
Centro-Sul (Dourados, Sidrolândia, Itaporã, Ponta Porã)
Alta
Alto Paranapanema (Taquarituba, Itapeva, Capão Bonito)
Altitude (1) Região (cidades referências)
Goiás
Minas Gerais
Mato Grosso
do Sul
São Paulo
15 de março
28 de
fevereiro
15
Baixa
Norte (Guaíra, Orlândia, Ituverava)
Baixa
Noroeste (Votuporanga, Araçatuba)
15 de março
Paraná
30 de março Baixa
Médio Vale do Paranapanema (Assis, Ourinhos)
30 de
janeiro
Transição (Wenceslau Braz, Mauá da Serra, sul de Ivaiporã, Cascavel,
sul de Toledo até Francisco Beltrão)
Alta
15 de março Baixa
Oeste e Vale do Iguaçu (Campo Mourão, sul de Palotina, Medianeira e
Cruzeiro do Iguaçu)
Baixa
Norte (Cornélio Procópio, Londrina, Maringá, Apucarana)
Baixa
Noroeste (Paranavaí, Umuarama)
30 de março
(1) Alta = altitude igual ou superior a 600 m e Baixa = altitude inferior a 600 m.
Fonte: Vários autores, citados por Duarte (2001).
1.3
O mercado do milho em Mato Grosso
Neste tópico, serão analisados o quadro de oferta e demanda do milho mato-grossense
e para qual destinação é definida sua produção. Além disso, dois fatores importantes
serão contemplados, a exportação responsável por grande parte da demanda do Estado
e a formação do preço mínimo, que é base para a utilização de políticas de
comercialização que vêm auxiliando a venda estadual do cereal há dois anos
consecutivos.
1.3.1
Oferta e demanda
Consolidado como maior produtor nacional de milho desde a safra 12/13, ultrapassando
o Estado do Paraná, Mato Grosso deve representar 22,87% da produção brasileira do
cereal na safra 14/15. A quantidade produzida pelo Estado avançou 125,98% nas
últimas cinco safras, e esse avanço é apoiado no crescimento da área de milho segunda
safra (CONAB, junho/15).
A produção mato-grossense deve chegar a 20,33 milhões de toneladas na safra 14/15,
segunda maior da série histórica. Desse total, 46,47% encontram-se na região médionorte do Estado, assim como na soja (IMEA). O município de Sorriso é considerado o
maior produtor de cereal em âmbito nacional, com 2,66 milhões de toneladas na safra
12/13, e entre as dez maiores cidades produtoras de milho no Brasil, seis se encontram
em Mato Grosso, segundo dados do IBGE. A facilidade no cultivo do milho e a
caracterização como uma cultura de segunda safra foram os principais propulsores da
expansão do cereal no Estado.
16
Tabela 2 – Oferta e demanda do milho mato-grossense na safra 14/15
2012/13
2013/14*
2014/15
Variação 13/14
e 14/15
Oferta
22,60
17,75
18,58
5%
Estoque Inicial
0,06
0,03
0,79
2355%
Importação
0,00
0,00
0,00
0%
Produção
22,54
17,72
17,80
0%
Demanda
22,57
16,96
17,96
6%
Consumo MT
3,15
3,46
3,74
8%
Consumo
Interestadual
3,05
2,40
2,00
-17%
Exportação
14,02
11,10
12,21
10%
Aquisições públicas
2,34
0,00
0,00
0%
Estoque Final
0,03
0,79
0,63
-20%
*Estimativa
Unidade: Milhões de
Toneladas
Fonte: Imea/Secex.
Atualmente, a composição do quadro de demanda do milho mato-grossense está
centrada principalmente na exportação, para a safra 14/15 espera-se que as exportações
sejam responsáveis por 68,37% do consumo de cereal de Mato Grosso. Grande parte
desse milho é destinada à produção de rações que servirão como alimento de aves e
suínos nesses países. Apesar da importância da exportação para a demanda matogrossense, o Estado sofre com entraves logísticos que acabam por mitigar sua
competitividade frente a outros players do mercado. O principal ponto a se melhorar são
os gargalos logísticos, com a reforma de estradas e utilização maior de transportes
alternativos (ferroviário e hidroviário).
Outra variável que tem se elevado no quadro da demanda mato-grossense é o consumo
interno. O crescimento das indústrias de etanol de milho, conjuntamente com a expansão
da indústria de ração para aves, suínos e outros animais, impulsionou o consumo do
cereal no Estado, que na safra 14/15 deve crescer 8% em relação à safra 13/14, e
representar 20,85% da demanda do milho de Mato Grosso. Soma-se a esses dois drivers
da demanda o consumo interestadual, que significa as vendas a outros estados
brasileiros, cujo valor deve representar 11,14% do consumo do cereal mato-grossense.
17
1.3.2
Exportação de milho em grão
Assim como na soja, o milho mato-grossense tem como principal destino a exportação.
O fato de o Estado ser o maior produtor do cereal no Brasil torna necessário o
conhecimento dos principais importadores, para avaliar a demanda nacional atual e
conhecer as perspectivas futuras do mercado do milho brasileiro.
Segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o Estado de Mato Grosso
representou, em 2014, 53,15% das exportações brasileiras. No âmbito internacional de
representatividade, as exportações mato-grossenses representaram, na safra 2013/14,
8,37% das exportações mundiais. Os principais importadores do milho mato-grossense
se encontram no lado oriental do planeta: Irã, Vietnã e Coreia do Sul, que juntos
representaram 47,97% das exportações do milho de Mato Grosso em 2014.
Mapa 4 - Principais países importadores do milho mato-grossense em 2014
2,9
0,8
1,6
0,0
2,9
0,5
0,7
0,6
Exp Mato-grossense 11 milhões t
Fonte: Secex
Com isso, percebe-se a importância da produção mato-grossense para o fornecimento
de milho aos principais países importadores do mundo. E com a melhora nos gargalos
logísticos, o cereal de Mato Grosso irá se beneficiar, podendo aumentar e diversificar
seu volume exportado para diversas regiões no mundo.
As principais rotas de escoamento do milho mato-grossense são o porto de Santos-SP
e o porto de Vitória-ES, que juntos representaram 69,07% do escoamento de cereal no
ano de 2014. No entanto, a participação dos portos da região Norte vem crescendo
18
consideravelmente ao longo dos últimos anos. Em 2010, os três principais portos dessa
região, situados nos municípios de Manaus, Barcarena e Santarém, foram responsáveis
por 7,4% do escoamento do milho, já em 2014 a representatividade cresceu para 15,1%,
demonstrando assim a evolução e a importância de investimentos em infraestrutura
nessa região.
Gráfico 5 - Participação por região no escoamento das exportações do milho mato-grossense
(%)
85%
81%
77%
73%
75%
69%
69%
67%
65%
55%
45%
35%
19%
25%
17%
13%
15%
12%
Norte
2013
2012
13%
Sul
Sudeste
2015*
9%
12%
2014
12%
7…
2010
5%
11%
2011
15%
14%
*Até maio/2015
Fonte: Secex
1.4
Os mercados externo e brasileiro
Esta seção irá tratar sobre os tipos de mercados e bolsas que influenciam nas cotações
internacionais do cereal, além de retratar as especificações dos contratos e também a
importância dos preços externos no mercado interno.
1.4.1 Tipos de mercado
Aqui se encontra um dos principais pontos de convergência entre o milho e a soja, as
duas commodities são negociadas basicamente com os mesmos mecanismos de
comercialização.
A escolha do mecanismo de comercialização depende das características gerais dos
produtos e, principalmente, das características das transações. Por exemplo,
commodities apresentam boa eficiência na comercialização por meio de mecanismos de
19
mercado spot ou de futuros, já produtos sensíveis a variações qualitativas e sujeitos a
compras regulares são eficientemente comercializados por meio de contratos de
fornecimento de médio e longo prazos.
As negociações do milho podem ocorrer em quatro grandes mercados. O mercado físico
(spot, cash ou à vista), a termo, mercado futuro e mercado de opções. Essencialmente
são esses quatro grupos de operações praticadas em todo o mundo e que são utilizadas,
também, no mercado interno.
Em suma, o mercado físico é basicamente a troca de produto físico por dinheiro, uma
vez que se trata de uma troca imediata. É também chamado de mercado disponível, cash
ou spot (este último termo normalmente utilizado em bolsas de mercadorias). No
mercado à vista os negócios realizados têm como objetivo efetuar uma compra e/ou
venda imediata. Assim, a entrega do produto e seu pagamento acontecem no mesmo
instante. É característico desse mercado ser tipicamente esporádico e apresentar alto
grau de incertezas no que se refere ao comportamento dos preços, regularidade de
suprimentos e qualidade de produtos. Assim, uma empresa que adota esse mecanismo
assume um grande risco, o que pode levá-la ao insucesso nas suas operações, em
consequência das incertezas dos aspectos relacionados à demanda e à oferta.
O mercado físico, isoladamente, não se mostra um mecanismo adequado para diversos
tipos de transações, particularmente quando a estabilidade do suprimento e de preços é
necessária, ou a qualidade dos insumos é de difícil observação. Para isso, existem outros
mecanismos mais apropriados, permitindo transações que reduzem esses riscos, como
o mercado a termo.
O diferencial do mercado a termo em relação ao mercado físico é que as transações
ocorrem em dois ou mais instantes no tempo. São contratos em que as partes acordam
alguns elementos da transação que irão ocorrer no futuro, especificando no contrato: a
mercadoria, a data de entrega, o local, o meio de transporte, o meio de pagamento e/ou
qualquer outro elemento que comprador e vendedor desejem incorporar a ele.
Os contratos no mercado a termo apresentam grande flexibilidade de modelos de
transação. Um exemplo muito comum é a compra de milho antecipada por indústrias
desse segmento, em que, um pouco antes da semeadura ou mesmo durante o ciclo da
cultura, o agricultor pode vender sua safra para a indústria processadora por preços fixos
e com pagamento em data futura. O agricultor garante a venda de seu produto e trava o
preço, já a agroindústria consegue planejar compras e recebimentos, a fim de fazer a
ocupação racional da capacidade de processamento da sua planta industrial.
O grande problema desse mecanismo é o risco de não cumprimento do contrato por uma
ou ambas as partes. Mesmo o contrato tratando de obrigações entre as partes, isso não
as impede de agirem com atitudes oportunistas, por outro lado, nesse mercado o
produtor não precisa retirar dinheiro do seu caixa para fechar contrato.
20
Da evolução dos contratos a termo resultou a formação dos mercados de futuros, que é
um pouco mais complexo que o mercado a termo. O que os diferencia são os contratos
padronizados e negociados em bolsas organizadas, não permitindo a inclusão de
cláusulas por parte de compradores e vendedores. Os contratos futuros especificam
apenas o período para entrega, o lugar, lotes padrão, e o objeto transacionado, sendo
este mercado restrito somente a commodities com contratos padronizados registrados
nas respectivas bolsas de mercadoria e futuro, como é o caso do milho.
Ao se comprar ou vender um contrato, não é necessária a inspeção do produto ou
avaliação da possibilidade de cumprimento do contrato, uma vez que este é assegurado
pela instituição responsável pela transação, que no caso brasileiro é a BM&F.
Outra característica importante do mercado futuro é o fato de uma minoria dos contratos
(menos de 2%) resultarem em entrega efetiva da mercadoria. Na maior parte dos
contratos ocorre liquidação financeira (a posição é revertida) antes da data de entrega,
não necessitando assim realizar a entrega física no local acordado. O objetivo de um
contrato futuro é apenas a redução de riscos, característicos das transações no mercado
físico. O mercado futuro permite essa redução de risco que é conhecida como hedge,
que é uma operação de “travamento” de preço para uma data futura.
Intimamente relacionado ao mercado futuro existe o mercado de opções, que são
contratos que asseguram o direito de exercício de uma compra ou de uma venda de
algum ativo. Pode ser um ativo físico (como mil toneladas de milho) ou um contrato
futuro. No caso das principais bolsas, as opções negociadas são direitos de compra ou
de venda de contratos futuros.
Na medida em que há uma separação de direito e obrigação de compra e venda, há dois
tipos de opções: opções de compra (Call) e opções de venda (Put). No primeiro caso, o
comprador da opção tem o direito de compra de um determinado contrato futuro a um
preço preestabelecido, enquanto o vendedor tem a obrigação de venda, se este for o
desejo do comprador. O inverso ocorre no caso de uma opção de venda, em que o
comprador tem o direito de venda e o emitente da opção, a obrigação de compra.
A ligação entre mercado de opções e uma estratégia de hedge é bastante evidente. Por
exemplo, um agricultor, que está sujeito ao risco de queda do preço de seu produto, pode
comprar uma Put (direito de venda) daquela mercadoria a um preço de exercício que
remunere seus custos. Assim, se houver uma queda dos preços, o agricultor pode
exercer o direito de vender seu produto pelo preço predeterminado, garantindo a
cobertura de seus custos de produção. Do mesmo modo, uma agroindústria, sujeita ao
risco de uma elevação do preço de seus insumos, pode comprar uma Call (direito de
compra) a um preço de exercício preestabelecido. O valor desse direito, tanto da Call
quanto da Put, possui variações de preço relacionadas ao tempo de vencimento do ativo
e riscos do mercado.
21
1.4.2
Bolsa de Chicago (CBOT)
A Bolsa de Mercadorias de Chicago (CME, sigla em inglês) aparece como a principal
referência para os preços internacionais do milho. Isso porque, na Bolsa de Chicago, há
uma alta concentração de ofertantes e demandantes dos principais países produtores e
importadores do cereal. Assim, os preços internos do milho possuem uma relação íntima
com a cotação do mercado futuro (Bolsa de Chicago).
Pode-se entender mercado futuro como um mercado no qual são realizados negócios
de compra e venda por meio de contratos uniformes, podendo ser tanto agrícolas quanto
financeiros, e sua entrega ou liquidação se dá em data futura já estabelecida no contrato
firmado pelas partes.
Os contratos futuros têm como características:
 O vendedor tem a obrigação de entregar a mercadoria dentro dos padrões do contrato,
ou fazer liquidação financeira (grande maioria dos casos).
 O comprador tem a obrigação de pagar o valor negociado.
 Padronização acentuada.
 Liquidez.
 Risco de crédito baixo e homogêneo, isto é, risco da “clearing” ou compensação.
 Negociação transparente em bolsa mediante pregão.
 Bolsa e instituições envolvidas garantem a execução e liquidação dos contratos.
 Possibilidade de encerramento da posição com qualquer participante em qualquer
momento, graças ao ajuste diário do valor dos contratos.
A escolha da Bolsa de Chicago como referência mundial se dá pela alta concentração
da oferta e da demanda dos principais países produtores e importadores neste mercado.
Além disso, é a bolsa mais antiga do mundo, fundada em 1848, sendo uma referência
consolidada no mercado.
Quando se está negociando no mercado futuro, compra-se ou vende-se por um preço à
vista, mas para uma data futura expressa no contrato. Com isso surge o preço futuro,
que é o preço à vista mais as expectativas dos agentes em relação aos fatores que
afetam o preço futuro, como: custo, demanda e oferta, exportações, preço dos bens
substitutos, câmbio, clima, sazonalidade (safra e entressafra), poder aquisitivo, atitudes
dos compradores internacionais e também os juros.
O objetivo de operar no mercado futuro é fixar um preço futuro, essa forma de operar é
chamada de hedge, livrando-se das oscilações do preço e com isso protegendo o
resultado do seu negócio. Além disso, torna-se possível realizar outros tipos de
operações neste mercado, como é o caso dos especuladores que visam ganhar com a
oscilação do mercado e os arbitradores que ganham com as diferenças de preços que
22
ocorrem entre mercados. Estes três tipos de operações vão ser detalhados no decorrer
do capítulo.
Para realizar uma operação no mercado futuro deve-se abrir uma conta numa corretora
afiliada à Bolsa de Mercadorias pretendida (BM&F ou CBOT). Nos sites das bolsas
existem listas de corretoras afiliadas, as quais podem ser procuradas para a abertura da
conta.
Este processo inicial, geralmente, não possui nenhum custo. Após a abertura da conta o
cliente poderá acessar o Home Broker ou uma plataforma de negociação. Através destas
ferramentas, o cliente poderá acompanhar momentaneamente as negociações nas
Bolsas de Mercadorias. Porém, para realizar alguma operação através destas
ferramentas, o cliente deverá depositar uma margem de garantia na sua conta na
corretora escolhida. Mais detalhes sobre a margem de garantia serão abordados adiante.
No caso da Bolsa de Chicago (CBOT), os contratos futuros do milho são padronizados,
possuindo uma estrutura previamente definida por regulamentação da bolsa. Nesta
padronização, há características predefinidas do produto negociado, no caso, a soja,
como a cotação, data de vencimento, tipo de liquidação, dentre outras especificações.
As especificações dos contratos do milho na CBOT estão listadas no quadro abaixo:
Quadro 1 - Especificações dos contratos do milho na CBOT
Fonte: CME Group
23
O site da CME Group (http://www.cmegroup.com) traz informações mais
detalhadas sobre a padronização dos contratos futuros.
1.4.3
Especificações da Bolsa de Chicago
Para realizar uma negociação na Bolsa de Chicago é imprescindível pleno conhecimento
das especificações do contrato que se deseja negociar. No caso do milho, existem
detalhes específicos do contrato que deverão ser inseridos na plataforma de negociação.
Figura 3 – Composição dos códigos do milho na CBOT
Fonte: CME Group – Elaboração: Imea.
Os códigos para realizar uma negociação de milho na CBOT variam de acordo com o
mês e ano de vencimento do contrato. O código utilizado deve conter tais especificações:
ZC, identificação do contrato de milho;
N, mês de vencimento, que é julho;
6, ano do vencimento do contrato, 2016.
Com isso, o código do contrato do milho a ser negociado ficaria ZCN6.
24
1.4.4 Cotação internacional no mercado interno
Assim como no mercado da soja, o milho no mercado interno é negociado em sacas. O
seu preço de referência é R$/sc. No entanto, na CBOT a unidade de medida utilizada é
cents de dólares/bushel. Dado isso, torna-se necessária a conversão dos valores para o
conhecimento da cotação internacional no mercado interno.
A primeira divisão a ser realizada é a divisão por 100 para transformar de cents de
dólares/bushel (¢US$/bu) para dólares/bushel (US$/bu). Depois disso, realiza-se a
conversão do câmbio, de dólares (US$) para reais (R$), e então converte para saca.
Sabendo-se que 1 bushel de milho corresponde a 25,401 quilogramas, para descobrir
quanto uma saca de milho de 60 kg corresponde em bushel, é necessário realizar a
divisão de bushel para kg. Dividindo 60 por 25,401, encontra-se o valor base de que um
bushel de milho corresponde a 2,3621 sacas.
Assim, basta multiplicar o valor da cotação na data desejada na Bolsa de Chicago
(bushel) por 2,3621 para descobrir o valor correspondente em saca (60 kg). Parafacilitar
o entendimento desta conversão, realizamos a conversão do preço do milho cotado na
CBOT para o mercado brasileiro.
Por exemplo:
US$¢ 382,50/bushel ÷ 100 (para tirar de cents)  US$ 3,8250/bushel
US$ 3,8250/bushel  × 2,3621 (para transformar de bushel para saca de 60 kg)  US$
9,03/sc
US$ 9,03/sc  × 3,15 (para transformar de dólar para saca)  R$ 28,44/sc
Cabe salientar que os preços do milho e do dólar considerados no exemplo acima são
hipotéticos, sendo utilizados apenas para o entendimento do cálculo de conversão.
1.4.5 Especificações na BM&F
Igualmente ao encontrado na Bolsa de Chicago, o contrato do cereal negociado na BM&F
também apresenta especificações e peculiaridades exclusivas dele. Os detalhes podem
ser encontrados no próprio site da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
Tabela 3 – Especificações do contrato de milho na BM&F
Início das
negociações
19 de setembro de 2008
Objeto de
negociação
Milho em grão a granel, com odor e aspectos normais, duro ou semiduro,
amarelo, da última safra, com máximo de 14%.
25
Código
CCM
Tamanho do
contrato
450 (quatrocentas e cinquenta) sacas de 60kg (sessenta kilos) líquidos cada,
correspondentes a 27t (vinte e sete toneladas métricas) de milho em grão a
granel.
Variação
mínima de
apregoação
R$ 0,01 (um centavo de real) por 60 quilos líquidos.
Cotação
Reais por saca de 60 quilos líquidos, com duas casas decimais, livres de ICMS.
Oscilação
máxima diária
5% sobre o preço de ajuste do dia anterior do vencimento negociado. Para o 1º
vencimento em aberto, o limite de oscilação será suspenso nos três últimos
dias de negociação.
Lote padrão
1
Último dia de
negociação
Dia 15 do mês de vencimento. Se nesse dia for feriado ou não for dia de pregão
na BM&FBOVESPA, a data de vencimento será o dia útil subsequente.
Meses de
vencimento
Janeiro, março, maio, julho, agosto, setembro e novembro.
Limites de
posição
1.400 contratos ou 25% das posições em aberto por vencimento, dos dois o
maior.
Margem de
garantia
Será exigida margem de garantia de todos os comitentes com posição em
aberto, cujo valor será atualizado diariamente pela Bolsa, de acordo com
critérios de apuração de margem para contratos futuros.
Horário de
negociação
Negociação Normal: 09:001 - 15:30
Call Eletrônico: 15:40
Negociação After-hours (D+1): - 16:201 - 18:00
Fonte: BM&F
Além disso, existem também os códigos dos contratos para serem inseridos na
plataforma de negociação, que servirão como forma de direcionamento para a realização
dos negócios, apresentando nomenclatura do produto na BM&F, do mês e do ano de
vencimento, explicitados na seguinte figura:
26
Figura 4 – Composição dos códigos da BM&F
Fonte: BM&F
No entanto, como na BM&F o contrato é negociado em R$/sc, não existe a necessidade
de conversão dos valores para a realização de comparações.
1.5
Como se formam os preços no mercado interno
Existem basicamente duas influências maiores na formação de preços no mercado
interno, a primeira é a cotação do cereal na Bolsa de Chicago (CBOT), o fato de os
Estados Unidos serem o maior produtor e consumidor mundial e também possuírem um
mercado financeiro de alta liquidez acaba reiterando a importância das cotações na
CBOT. E, em segundo plano, pesa também na concepção das cotações internas o preço
do milho na BM&F, pelo fato de o Brasil ser um grande consumidor de milho, as variações
diárias na Bolsa de Mercadorias & Futuros são de grande importância. Somam-se a isso
o prêmio de exportação, o dólar comercial, o frete, o custo portuário, fatores que acabam
por acrescer ou diminuir o preço do cereal no mercado interno. Esta seção retratará
essas variáveis e a sua relevância para a cotação do milho.
1.5.1 Prêmio de exportação
Depois de ser definido o preço do milho na Bolsa de Chicago (CBOT), esse valor deve
ser comparado com o preço dentro do navio onde será realizada a exportação, ou seja,
preços FOB (Free On Board) do milho. A diferença entre estes é nomeada como prêmio
de exportação, e usualmente tal valor é precificado pelo mercado.
27
Além disso, o prêmio leva em consideração uma série de fatores que vão desde a
eficiência do porto exportador até a qualidade do produto a ser exportado. O mercado
monitora esses fatores e aplica o prêmio sobre a cotação da Bolsa de Chicago, se as
condições forem favoráveis ao porto exportador o valor do prêmio sofrerá acréscimo,
caso a compilação dos fatores seja adversa ao porto exportador o prêmio será induzido
ao deságio.
Com isso, os prêmios variam de porto para porto, enquanto o porto de Paranaguá-PR
pode apresentar um prêmio positivo, o porto de Santos-SP pode apresentar prêmio
negativo, dependendo das condições encontradas nesses portos. Pelo fato de ser
considerado uma commodity, o milho se caracteriza como um produto de oferta sazonal,
fazendo assim com que o prêmio varie conforme a oferta de produto para exportação. O
valor do prêmio tende a cair durante o período de colheita, e no período de entressafra
os prêmios se movem para valores positivos, por haver pouco produto para negócios.
Dessa maneira, observa-se que o prêmio de exportação é uma variável de extrema
importância para o balizamento dos preços no mercado interno em referência às
cotações internacionais do cereal, de modo a ajustar os preços do cereal conforme a
tendência mundial.
1.5.2
Custos portuários
Os custos portuários são aqueles incorridos, de forma direta ou indireta, nos portos, com
o intuito de iniciar as exportações ou concluir as operações de importação de produtos e
mercadorias (AMARAL et al., 2013).
Os custos diretos são aqueles relacionados à utilização dos equipamentos e instalações
portuárias terrestres ou marítimas, embarques e desembarques de cargas, despachos
aduaneiros, taxas e impostos.
Já os custos indiretos incorridos nos portos compreendem as despesas relacionadas à
contratação dos serviços de praticagem, rebocadores, agências marítimas, atracação e
desatracação, faróis, vigias, transporte de tripulação, dentre outros.
Ainda segundo Amaral et al., 2013, nem todos os portos possuem as mesmas despesas
portuárias, pois variam dependendo das dificuldades operacionais, bem como
capacidade logística e infraestrutura do porto. Para a utilização dos portos há três
principais tipos de gastos:

As taxas portuárias, referentes à utilização da infraestrutura portuária e utilização
de infraestrutura terrestre do porto.

O custo de oportunidade de estoques no caminhão em virtude das filas e demora
no momento do descarregamento da mercadoria.
28

A remuneração por estadia, que leva em consideração a utilização do armazém
no porto.
1.5.3
Frete ao porto
No Brasil, algumas regiões produtoras se desenvolveram distantes dos principais portos
utilizados no processo de exportação, como é o caso de Mato Grosso. Com isso, o custo
do transporte da carga da região produtora até o porto é significativo no processo de
formação de preço do milho no mercado interno, pesando sobre o bolso do produtor.
Este custo varia conforme a distância e tipo de modal utilizado, se tornando maior à
medida que aumenta a distância percorrida.
A formação do preço do frete é bastante complexa e incorpora também fatores locais e
conjunturais, além dos custos da atividade, podendo ser influenciada por fatores diretos
e indiretos (CYPRIANO, 2005).
Fatores Diretos: são influenciados através de eventos que fazem variar a demanda pelo
serviço.
Por exemplo:

A performance da economia.

Algumas estratégias empresariais, como localização, gestão da produção, política
de estoques e centralização de armazéns.

Acordos internacionais de comércio, como o Mercosul, por exemplo.

Materiais para embalagens.

Fluxos reversos (por exemplo, com a finalidade de reciclagem).

As estruturas de mercado da oferta e da demanda do bem transportado.
Fatores Indiretos: fatores que afetam os custos da prestação dos serviços (CYPRIANO,
2005). Por exemplo:





A regulação/desregulação.
Variação nos preços dos combustíveis.
Inovações nos veículos e compartimentos de carga.
Congestionamentos.
Limites de peso para a circulação.
Além disso, há sazonalidade no valor deste frete, pois se torna maior no período da safra
brasileira de soja e milho. Nas regiões produtoras de Mato Grosso há um déficit na
armazenagem, assim há a necessidade do escoamento rápido da produção para os
portos de exportação e para as indústrias de refinamento de milho. Este escoamento
eleva a demanda por serviços de transporte e gera um aumento nos preços relativos a
29
estes serviços. Além disso, a necessidade de caminhões fica maior, devido ao frete da
fazenda até os armazéns.
No Brasil, assim como em Mato Grosso, o modal de transporte mais utilizado é o
rodoviário, o que torna o custo do frete do milho bastante elevado, sobretudo nas regiões
mais afastadas dos principais portos.
No entanto, o cenário para o escoamento de grãos tem se alterado nos últimos anos,
com o surgimento de novos portos e a maior utilização de portos da região Norte, tem
reduzido a superlotação dos portos do Sudeste do Brasil, principalmente em Santos-SP,
maior responsável pelo escoamento do cereal em 2014. Embora uma mudança nos
padrões de escoamento esteja ocorrendo, ainda é muito cedo para discorrer sobre a
plena solução dos gargalos logísticos. Os investimentos em outros modais se tornam
cada vez mais necessários para a otimização do agronegócio brasileiro.
1.5.4
Cotação interna
O preço do milho, como explicitado anteriormente, envolve uma série de variáveis, no
entanto, assim como no mercado da soja, a cotação do cereal na Bolsa de Chicago, a
taxa de câmbio e o preço do milho na BM&F são amplamente utilizados para a realização
das negociações com o vendedor.
O preço do milho a ser pago ao produtor envolve as seguintes variáveis:

Cotação do milho na CBOT com vencimento no dia da negociação, cotado em
cents de dólar por bushel.

Cotação do milho na BM&F com vencimento no dia da negociação, cotado em
R$/sc.

Prêmio praticado no porto no dia da negociação, valor influenciado pela força da
oferta e demanda no mercado interno, pelo frete marítimo e diferencial de porto.

Custos portuários.

Custo com o frete rodoviário.
Comumente utilizada para balizamento com os preços externos, a cotação do milho na
CBOT influi diretamente no preço do cereal no mercado interno. Para exemplificar
consideremos os seguintes dados para o cálculo do preço do milho disponível em
Sorriso:
Cotação da soja em Chicago: US$ 367,50 cents/bushel
Prêmio no porto de Santos: + US$ 25,00 cents/bushel
Custo portuário (base, porto de Santos) para Sorriso: US$ 15,00/tonelada
Dólar comercial no disponível: R$ 3,15/US$
30
Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 265/tonelada
CONVERSÕES
Lembrando que: 1 bushel = 25,401 kg
1 saca (sc) = 60 kg
1 saca (sc de 60 kg) = 2,3621 bushel
1 tonelada = 16,666 sacas (60 kg)
Antes de concretizar o cálculo para a obtenção da cotação interna, necessita-se fazer as
conversões das variáveis para auxiliar a conta, assim, as variáveis citadas devem
proporcionar os seguintes valores já transformados para a unidade adequada:
(1)
Cotação do milho na CBOT: US$ 8,68/sc
(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,3621 para converter de
bushel para saca)
(2)
Prêmio do porto: + US$ 0,59/sc
(÷ 100 para tirar de cents de bushel e passar para bushel, e, × 2,3621 para converter de
bushel para saca)
(3)
Custo portuário em Santos: US$ 0,90/sc
(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)
(4)
(5)
Dólar comercial: R$ 3,15/US$
Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 15,90/sc
(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)
Depois de fazer as conversões necessárias, pode-se realizar o cálculo, conforme a
equação abaixo, em que cada variável está sendo simplificada pela numeração dada
acima:
((((1 + 2) − 3) ∗ 4) − 5)
Desta forma, conforme a equação acima, deve-se somar o preço do milho na CBOT com
o prêmio no porto, o resultado deve ser reduzido pelo custo portuário. Logo após, devese multiplicar o valor obtido pelo dólar para converter as variáveis de dólar para reais e,
em seguida, o resultado deve ser reduzido do frete rodoviário. Assim, no exemplo dado,
a cotação interna em Sorriso teria um valor de R$ 10,47/sc.
31
Outra conta amplamente utilizada para a realização das negociações é o cálculo do
preço de base. A partir desse cálculo, obtém-se a base, que é a diferença entre o preço
histórico de uma commodity na região onde o hedger se encontra e o valor histórico
negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros, ou o preço do local de formação de
preços, no caso da BM&F o Cepea (RODRIGUES & CUNHA, 2013). As variáveis
utilizadas para o cálculo do preço de base são: o preço médio histórico do milho na BM&F
e o preço histórico da cidade que se deseja descobrir o valor da base. Esta conta é
explicitada abaixo:
1)
Cotação média do cereal na cidade de Sorriso: R$ 12,90/sc
2)
Preço médio do milho na BM&F: R$ 25,70/sc
O fato de estarem na mesma unidade faz com que não haja necessidade de
conversão de valores, como é feito na conversão dos preços na CBOT. Devido a isso, a
conta para obtenção do preço de base é a seguinte:
(2 − 1)
Com isso, o valor da base encontrado é de R$ -12,80/sc, demonstrando assim
que a base encontrada para os preços em Sorriso-MT tende a ser negativa se
comparada aos preços da Bolsa de Mercadorias & Futuros.
Assim, para fazer o cálculo do valor do preço em Sorriso, pode-se apenas retirar o preço
base calculado do preço negociado na BM&F. Assim teremos um preço estimado, já que
o valor da base costuma ter oscilações durante o ano.
1.6
Principais rotas de escoamento do milho no Estado
Caracterizado como o terceiro maior produtor e segundo maior exportador mundial de
milho, o Brasil, como já citado, sofre com grandes problemas nos gargalos logísticos. A
competitividade ganha dentro da porteira se evade após a produção tomar como rumo a
exportação. Atualmente, o principal modal utilizado no país é o rodoviário, com 61,1%
de participação no total de cargas transportadas, e com a distância média entre as
regiões produtoras e os portos sendo de aproximadamente 1000 km, é de se esperar
boas condições nas estradas do país, o que não é realidade.
No Brasil, cerca de 49,9% das rodovias apresentam deficiências no pavimento, e essas
inadequações elevam o custo operacional dos transportadores em 26,0% em média
(CNT, 2015). Entraves como baixa densidade da malha, idade avançada da frota de
caminhões, falta de investimento, ausência de manutenção adequada das rodovias,
baixa extensão duplicada e até mesmo a falta de pavimentação são os principais fatores
de desestímulo às rodovias.
32
Gráfico 6 – Avaliação do pavimento das rodovias brasileiras
Fonte: CNT
O modal ferroviário, conjuntamente com o modal hidroviário, é o mais recomendado para
um país de dimensões gigantescas como é o caso do Brasil. No entanto, a
representatividade desses modais é baixa e, segundo a CNT, a infraestrutura das
ferrovias brasileiras está em condições precárias, apenas 16,7% delas foram avaliadas
como boas. É o mesmo percentual encontrado quando se vislumbram as que estão em
condições péssimas. O gráfico abaixo explicita esse fato.
Gráfico 7 – Avaliação da qualidade da infraestrutura ferroviária utilizada pelos embarcadores
entrevistados
Fonte: CNT
33
Essa realidade observada no território nacional não se difere em praticamente nenhum
ponto da encontrada em Mato Grosso. Com 55% do milho destinado à exportação indo
para o porto de Santos-SP, e 14% para o porto de Vitória-ES em 2014, o escoamento
do cereal se concentra basicamente na região Sudeste. No entanto essa dinâmica vem
mudando nos últimos anos, a participação dos portos do Norte vem crescendo, dando
novos ares de esperança para a redução nos custos de transportes, podendo remunerar
melhor o produtor de milho no Estado.
Gráfico 8 – Fluxo de exportação de milho mato-grossense por região em 2014
15,1%
12,4%
69,1%
Norte
3,4%
Sul
Nordeste
Sudeste
Fonte: Secex
O fato de serem mais próximos e de apresentarem modais alternativos mais baratos,
como as hidrovias, colabora para um escoamento maior de milho pelos portos do Norte.
No entanto, investimentos necessitam ser feitos. Um exemplo seria o porto de SantarémPA, utilizando o terminal de transbordo em Miritituba-PA, no entanto, para chegar a esse
terminal há necessidade de utilização de rodovias, com parte ainda sem pavimentação.
34
Figura 5 – Comparação de custos de transporte
Fonte: CNT
1.7
Paridade de exportação e sua importância
A estreita relação entre a formação de preços internos e o preço na Bolsa de Chicago
permite que seja possível realizar a conversão de preços futuros negociados na CBOT
para valores nacionais. Há diferença entre a conversão da paridade de exportação e a
conversão do preço no mercado interno, enquanto a primeira é realizada apenas para
negócios futuros, a segunda é utilizada para negociação com o contrato corrente.
Devido a isso, esta seção irá discutir o que é paridade de exportação do milho e também
a sua importância e forma como é calculada.
1.7.1
O que é e para que serve a paridade de exportação
O preço da paridade de exportação do milho pode ser considerado uma espécie de
internalização dos preços, pois equipara as cotações internacionais às regiões
produtoras do Estado. Assim, é calculado o custo de exportação do milho matogrossense com base nos preços a partir do mercado externo e os custos de escoamento
interno, visando identificar se, eventualmente, as condições estão mais ou menos
benéficas para a exportação do cereal estadual.
35
A paridade de exportação do milho depende de vários fatores dentro do processo de
saída do cereal da região produtora até a colocação dele no navio. Todo este processo
de obtenção do preço na região produtora é chamado de internalização do preço, ou
como é mais conhecido, como a paridade de exportação.
Os preços em Mato Grosso guardam relação direta com os internacionais e são
praticados em sintonia com a Bolsa de Chicago, o que reflete a grande importância das
exportações como destino da produção. Esta paridade influi diretamente no preço
recebido pelo produtor mato-grossense, pois as trades se utilizam desta ferramenta para
o cálculo e balizamento do preço a ser pago ao produtor.
Assim, compreende-se que, ao efetuar o procedimento de internalização do preço, o
produtor ou a empresa compara o preço da sua commodity ao estabelecido no mercado
externo. A razão pela qual um país exporta ou importa um dado produto pode ser
explicada parcialmente por meio da paridade de preço, ou seja, a relação entre a cotação
externa internalizada e o preço doméstico do produto. Nesse sentido, a paridade de
preço passa a influir diretamente no preço que o produtor da commodity agrícola recebe,
pois, os agentes internalizam a cotação internacional para estabelecer o limite de preço
que podem pagar pelo produto no mercado interno.
O cálculo do preço de paridade de exportação é bastante semelhante ao cálculo
realizado no item 1.5.4, que visava encontrar o preço da cotação interna com base na
cotação do milho na Bolsa de Chicago. A principal diferença entre o preço da cotação
interna e o preço de paridade de exportação são os contratos utilizados. Enquanto na
cotação interna, se a negociação é realizada no disponível, o contrato a ser considerado
para todas as variáveis (milho na CBOT, dólar, prêmio, despesas portuárias, frete) deve
ser o disponível. Já para a paridade de exportação, geralmente se faz para uma data
futura, assim, o contrato considerado para as variáveis deve ser o futuro.
No caso da paridade de exportação realizada pelo Imea, considera-se o contrato futuro
de julho, pois, sabendo-se que em julho grande parte do milho mato-grossense já está
colhida, esse contrato que expressa a safra de milho do Estado.
De tal modo, observam-se as variáveis de julho do ano seguinte. Por exemplo: em janeiro
de 2015, a paridade de exportação realizada pelo Imea era para julho de 2015, assim,
as variáveis analisadas (milho na CBOT, dólar, prêmio, despesas portuárias, frete) eram
todas para julho de 2015. Já em agosto de 2015 a paridade a ser analisada será a de
julho de 2016, uma vez que julho de 2015 já ocorreu. Assim, todas as variáveis devem
apresentar cotações para o contrato futuro, de julho de 2016.
36
1.7.2
Como se calcula a paridade de exportação
A formação do preço de paridade do milho depende da cotação internacional do cereal,
tendo como base os preços na CBOT. Além disso, entram no cálculo os descontos ou
acréscimos, do prêmio de exportação e dos custos de movimentação do produto da área
produtora para o porto, assim como dos custos de intermediação dos agentes envolvidos
neste processo. Não se pode esquecer também da questão cambial, já que o milho é um
produto negociado internacionalmente, onde seu preço é cotado em dólar e por isso
necessita ser convertido para a moeda local, que é o real.
Para o cálculo do preço de paridade de exportação são consideradas as mesmas
variáveis do item 1.5.4, com exceção do preço da BM&F, que são:





Cotação do milho em Chicago.
Prêmio no porto.
Custos portuários.
Custo com o frete rodoviário.
Dólar.
No entanto, diferentemente do que foi exposto no item 1.5.4, em que o contrato destas
variáveis era o disponível, para a paridade de exportação o contrato utilizado para o
cálculo destas mesmas variáveis é o futuro. No caso, para servir atualmente de base
para a safra mato-grossense de milho 2015/16 é considerado o contrato de julho de 2016
de todas as variáveis, com exceção do custo portuário, que não é negociado em bolsas.
Para exemplificar como é realizado o cálculo de paridade de exportação, tendo como
referência o município de Sorriso, consideremos os seguintes valores das variáveis:
Cotação da soja em Chicago: US$ 405,25 cents/bushel
Prêmio no porto de Santos: + US$ 27,00 cents/bushel
Custo portuário (base, porto de Santos) para Sorriso: US$ 15,00/tonelada
Dólar comercial no disponível: R$ 3,15/US$
Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 276/tonelada
Cabe salientar que, mesmo sendo valores hipotéticos para cada variável, em uma
situação real, todas (com exceção do custo portuário) teriam como referência o contrato
de julho de 2016.
CONVERSÕES
Lembrando que: 1 bushel = 25,401 kg
37
1 tonelada (t) = 1000 kg
1 saca (sc) = 60 kg
1 saca (sc de 60 kg) = 2,3621 bushel
1 tonelada = 16,666 sacas (60 kg)
Antes de realizar o cálculo para a obtenção do preço de paridade de exportação de julho
2016 em Sorriso, devem-se fazer as conversões das variáveis para facilitar o cálculo,
assim como foi feito no cálculo das cotações internas do item 1.5.4. Com isso, as
variáveis mencionadas devem apresentar os seguintes valores já convertidos para a
unidade adequada de cálculo:
(1)
Cotação do milho na CBOT: US$ 9,57/sc
(÷ 100 para tirar de cents de dólar/bushel e passar para dólar/bushel, e, × 2,3621 para
converter de bushel para saca)
(2)
Prêmio do porto: + US$ 0,64/sc
(÷ 100 para tirar de cents de dólar/bushel e passar para dólar/bushel, e, × 2,3621 para
converter de bushel para saca)
(3)
Custo portuário em Santos: US$ 0,90/sc
(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)
(4)
Dólar comercial: R$ 3,15/US$
(Aplicam-se juros de 6,5% sobre o valor do dólar na data calculada até 1º de julho/16)*
de 23 de junho de 2015 até 1º de julho de 2016
Resposta: R$ 3,4032*/US$
(5)
Frete rodoviário de Sorriso a Santos: R$ 15,90/sc
(÷ 16,666 para transformar de toneladas para saca)
Depois de realizar as conversões necessárias, pode-se realizar o cálculo, conforme a
equação abaixo, em que cada variável está sendo simplificada pela numeração dada
acima:
((((1 + 2) − 3) ∗ 4) − 5)
Desta forma, conforme a equação acima, deve-se somar o preço do milho na CBOT com
o prêmio no porto, o resultado deve ser reduzido pelo custo portuário. Logo após, devese multiplicar o valor obtido pelo dólar para converter as variáveis de dólar para reais e,
em seguida, o resultado deve ser reduzido do frete rodoviário. Assim, no exemplo dado,
a cotação interna em Sorriso teria um valor de R$ 15,12/sc.
Na comparação entre as safras 13/14 e 14/15, observa-se que o preço paridade na safra
14/15 apresentou valores menores, apesar da taxa de câmbio favorecendo, a
38
desvalorização no preço do contrato, conjuntamente com a queda no preço do prêmio,
contribuiu para uma redução no preço paridade.
Gráfico 9 – Evolução do preço paridade de exportação das safras 13/14 e 14/15
Fonte: Imea
1.8
Gastos produtivos com a cultura do milho
Esta seção irá apresentar os custos referentes à produção de milho no Estado,
demonstrando a evolução deste nos últimos anos, além de destacar os impactos dos
aumentos de gastos na rentabilidade da lavoura do produtor. Será analisada também a
diferença entre custos fixos e custos variáveis da produção.
1.8.1
Custo de produção do milho
O gasto para a produção do milho de alta tecnologia em Mato Grosso vem crescendo
fortemente nos últimos anos, se comparado o custo total da safra 12/13 ao da safra
15/16, o aumento observado é de 33,39%, são R$ 532,10/ha a mais. Na safra 12/13 os
gastos totais com a produção foram de R$ 1.593,73 por hectare, já na 15/16 as despesas
do produtor devem chegar a R$ 2.125,83/ha.
O principal fator para tal aumento são os gastos com insumos, somente as despesas
destes são responsáveis por cerca de 56% do custo total de produção do milho. E ao
realizar a comparação entre a safra 12/13 e a 15/16, observa-se um aumento de 34,52%
nos gastos com insumos, impulsionados pela valorização do dólar frente ao real,
aumentando os preços dos produtos importados.
39
O milho semeado em Mato Grosso se caracteriza como uma cultura de segunda safra,
sendo semeada posteriormente à colheita da soja. E com o uso do mesmo maquinário
utilizado pela oleaginosa, a mitigação de custos é possível. No entanto, tal mitigação é
limitada, pois grande parte dos gastos está nos custos variáveis, ou seja, a despesa
maior é para os pagamentos dos produtos e serviços necessários para a produção.
Tabela 4 – Custo com insumos do milho de alta tecnologia na média de Mato Grosso das
safras 2012/13 a 15/16
Alta Tecnologia
Componentes do Custo
2012/13
2013/14
2014/15
2015/16*
DESPESAS COM INSUMOS
R$ 898,92
R$ 1.006,28
R$ 1.121,78
R$ 1.209,24
Sem entes
R$ 307,08
R$ 339,35
R$ 359,78
R$ 352,04
Semente de Milho
R$ 307,08
R$ 339,35
R$ 359,78
R$ 352,04
I - DESPESAS DE CUSTEIO DA LAVOURA
Semente de Cobertura
Fertilizantes
Corretivo de Solo
Macronutriente
Micronutriente
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 377,30
R$ 481,44
R$ 519,12
R$ 566,61
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 0,00
R$ 377,30
R$ 480,08
R$ 517,07
R$ 564,04
R$ 0,00
R$ 1,36
R$ 2,04
R$ 2,57
Defensivos
R$ 214,54
R$ 185,49
R$ 242,88
R$ 290,59
Fungicida
R$ 42,92
R$ 51,29
R$ 56,77
R$ 65,31
Herbicida
R$ 90,76
R$ 58,67
R$ 105,38
R$ 127,72
Inseticida
R$ 76,53
R$ 66,54
R$ 65,88
R$ 80,01
Adjuvante
R$ 4,33
R$ 8,99
R$ 14,85
R$ 17,55
* Relatório de maio de 2015 do Imea
Fonte: Imea
Como pode ser observado na tabela acima, os maiores gastos com insumos decorrem
das despesas com fertilizantes, e principalmente dos macronutrientes. Os gastos com
macronutrientes avançaram 49% nas últimas três safras, e para a safra 15/16 é esperado
que eles correspondam a 47% dos gastos com insumos. Apesar da influência do dólar
no aumento dos custos, o produtor mato-grossense, visando a uma produtividade maior,
tem gastado mais com macronutrientes.
Dentre os nutrientes, a importância do nitrogênio e do potássio sobressai quando o
sistema de produção passa de extrativo, com baixa produtividade, para uma agricultura
intensiva e tecnificada até mesmo com o uso de irrigação. E visando a um aumento na
produção sem grandes acréscimos na área, o produtor mato-grossense tem investido
mais em macronutrientes, fazendo a demanda aumentar e consequentemente os preços
subirem.
Além do aumento nos gastos com o custeio da lavoura, os custos em geral também se
alavancaram, no entanto, em menores proporções. Os gastos com beneficiamento e
40
custo de oportunidade da terra foram os que mais cresceram nos últimos anos, além das
despesas com insumos. A cultura do milho vem sofrendo nos últimos anos com preços
baixos e aumento de custos, e com isso a incerteza continua a pairar sobre os
produtores, no que diz respeito a possíveis aumentos na área semeada.
Menores rentabilidades vêm sendo cada vez mais rotineiras para os produtores de milho
no Estado, chegando a lidar até mesmo com situações de retornos negativos. Com isso,
problemas fora da porteira precisam ser reduzidos para a cultura ser prospectada a
novos patamares e possa crescer gradativamente, mesmo que ocorra aumento nos
custos.
Gráfico 10 – Custo de produção do milho mato-grossense de alta tecnologia das safras
2012/13 a 2015/16
DESPESAS COM INSUMOS
CUSTO VARIÁVEL
CUSTO OPERACIONAL
CUSTO TOTAL
R$1.880
R$1.971
R$1.746
R$1.856
R$500
R$1.627
R$1.000
R$1.081
R$1.500
R$2.126
R$2.000
R$942
R$ por hectare
R$2.500
R$2012/13
2013/14
2014/15
2015/16*
*Relatório até maio de 2015
Fonte: Imea
1.8.2
Custos fixos e variáveis
Os custos produtivos de uma safra podem ser subdivididos em dois grandes grupos: os
custos fixos e os custos variáveis. Os custos variáveis são os que variam de acordo com
a produção. Se a fazenda está trabalhando mais, produz mais, consome mais matériaprima. Se está com a produção ociosa, consequentemente a matéria-prima gasta vai ser
menor. São custos que têm seu total definido dependendo da área produzida. Pode-se
dizer que os custos variáveis são compostos pelos custos com insumos, com as
operações agrícolas, mão de obra, custos administrativos e outros. Já nos custos fixos
estão alocados os custos com depreciação e manutenção dos maquinários e
implementos agrícolas.
Os custos fixos e os custos variáveis podem ser diretos e indiretos. Custos diretos são
aqueles utilizados no todo, não havendo necessidade de rateio, como insumos, mão de
41
obra direta, dentre outros. São custos que podem ser diretamente apropriados aos
produtos, bastando para que isso aconteça que exista medida de consumo de materiais,
embalagens utilizadas, horas de mão de obra utilizadas, por exemplo. De maneira geral,
são diretamente alocados aos produtos. Em suma, os custos diretos são aqueles que
podem ser realizados diretamente (sem rateio) apropriados aos produtos agrícolas,
bastando exigir uma medida de consumo (quilos, horas de mão de obra ou de máquina,
quantidade de força consumida, dentre outros).
Já os custos indiretos ocorrem em função da estrutura da produção e da empresa e não
podem ser diretamente atribuídos à execução de dado serviço ou produto, devendo ser
utilizado o método de rateio sobre eles. São geralmente custos administrativos da
produção. Podem ser considerados como os custos que não oferecem condição de
medida objetiva e para a alocação da produção devem ser utilizadas estimativas. De
maneira geral, podem ser considerados como os custos que não podem ser diretamente
alocados aos produtos
1.9
Ponto de Equilíbrio
É fundamental para o produtor rural entender o relacionamento entre suas vendas e seus
custos, ou seja, qual seria o preço adequado de venda para que se recuperem os valores
investidos na produção. E é sobre essas questões que o Ponto de Equilíbrio (PE) está
inserido.
Em suma, o PE, também conhecido como break even point, indica o preço mínimo que
o produtor deve vender sua safra para não obter prejuízo e é encontrado a partir da
análise dos custos totais (fixos e variáveis) e da receita bruta. No PE não há lucro ou
prejuízo, somente quando ultrapassar o PE é que o produtor obterá lucro ou prejuízo.
Quando a receita bruta, ou seja, quantidade produzida x preço de venda, se iguala aos
custos variáveis e despesas fixas, consideramos que a empresa atingiu seu PE.
O PE pode ser alcançado basicamente de duas formas: aumentando a produção ou
diminuindo os custos de produção. Percebe-se que tais análises tendem a ser vitais para
a apreciação de viabilidade da produção da cultura. Sabendo-se da importância desta
ferramenta, esta seção irá analisar os componentes utilizados para a identificação do
PE, bem como o cálculo realizado para a sua obtenção.
42
1.9.1 Determinantes do Ponto de Equilíbrio (PE)
Para calcular o PE, devem-se considerar apenas o custo variável e a produtividade do
milho na safra a ser analisada. Este cálculo é realizado quando não se sabe o preço de
venda que o agricultor comercializou o seu produto.
Com este cálculo é possível visualizar o preço mínimo necessário para se vender o
cereal objetivando cobrir os gastos com as despesas variáveis da safra. Para o cálculo
do preço de venda necessário, faz-se:
𝑃𝐸 = 𝐶𝑉/𝑝
Em que:
PE = Ponto de Equilíbrio
CV= Custo Variável
p = Produtividade da lavoura de milho
Para exemplificar, consideremos os seguintes valores do milho:
Tabela 5 - Cálculo do Ponto de Equilíbrio do milho em MT
(-) Custo Variável da safra 2014/15
R$ 1.746,62/ha
Produtividade da safra 2014/15
103,36 sc/ha
Ponto de Equilíbrio
R$ 16,89/sc
Fonte: Imea
Portanto, no caso do exemplo acima, seria necessário que o produtor vendesse a saca
do milho pelo valor mínimo de R$ 16,89 para poder cobrir os custos variáveis de sua
produção.
Neste caso, este valor (R$ 16,89) corresponderá ao lucro “zero” dado a um perfeito
equilíbrio entre o custo variável da produção e o preço de venda do produto. Cabe
salientar que neste cálculo não entra na conta a cobertura do custo fixo da produção do
milho.
43
1.10
Preço de base e relação frete/milho
É de ampla ajuda para o agricultor analisar a coesão existente no andamento dos preços
nas praças locais (mercado físico) e o preço do mercado futuro. Caso haja um
“descolamento” entre esses preços, o agente não garantirá a fixação de seu preço,
passando a correr o denominado risco de base. A utilização dessa estimativa de previsão
de base representa uma ferramenta eficiente que oferece suporte ao processo de
tomada de decisões dos participantes do mercado do milho.
Além do preço de base, outro dado bastante analisado pelos produtores matogrossenses é a chamada relação frete/milho, pela qual se calcula quanto o preço do frete
representa do preço do cereal.
Diante da importância dessas duas ferramentas para analisar o cenário do mercado
interno do milho, esta seção irá apresentar a importância e como se calcula cada uma
dessas variáveis.
1.10.1 Formação do preço de base
Assim como apontado na seção 1.5.4, o preço de base influi diretamente nas cotações
de milho internamente. A diferença entre o preço no mercado local e o preço no local de
referência de comercialização da commodity futura é denominada de preço ou valor de
base.
Diferentemente da soja, onde o local de referência para a realização do preço de base é
a Bolsa de Chicago (CBOT), o cálculo do valor de base do milho utiliza como referência
a cotação do cereal na BM&F, levando em consideração o contrato mais próximo do
vencimento. Com isso, para a definição do preço base utiliza a seguinte fórmula:
Preço físico do local (ex.: Sorriso-MT) – Preço do local de referência da
bolsa
Essa base se dá por causa, principalmente, do frete, já que o local de referência da bolsa
é a região de Campinas-SP, além de englobar fatores que podem influir na variação da
base, como oferta e demanda da região, impostos.
Todos os anos ocorrem diferenças entre o valor de base atual e o valor de base anterior.
Essa incerteza quanto ao valor da base é chamada de risco de base. Para tentar
controlar esse risco de base, deve-se realizar uma média dos últimos quatro a cinco
preços de base (por exemplo: de 2011, 2012, 2013 e 2014) para projetar um possível
preço de base para o ano corrente (2015). Para exemplificar, consideremos o exemplo
do organograma abaixo:
44
Organograma 2 – Diferença do preço de base do milho
Fonte: Imea
Realizando o cálculo do preço de base, considerando um valor de R$ 12,90/sc do milho
em Sorriso-MT, e de R$ 25,70 do milho na BM&F, encontra-se a base de R$ -12,80/sc.
Apesar de apresentar variações durante o ano, a base de Mato Grosso tende sempre a
ser negativa por causa do frete, que influi em descontos nos preços pagos ao produtor.
Gráfico 11 – Diferença de base (preço Sorriso-MT e preço BM&F) para o preço do milho
-8,0
-9,0
-10,0
-11,0
-12,0
-13,0
1-jun-15
1-mai-15
1-abr-15
1-mar-15
1-fev-15
1-jan-15
1-dez-14
1-nov-14
1-out-14
1-set-14
1-ago-14
1-jul-14
-14,0
Fonte: Imea
45
1.10.2 Preço do frete X cotação do milho
A relação entre o valor do frete e o preço do milho é demonstrada em porcentagem,
expressando o percentual que o custo com o frete “toma” no preço do milho.
Desta forma, caso o preço do frete de grãos eleve-se em proporções maiores que a
cotação do cereal, o percentual de participação do frete sobre o preço do milho irá
aumentar, assim, maior será o peso gerado sobre o bolso do produtor, uma vez que será
maior a despesa com o frete.
Da mesma forma, caso o preço do frete de grãos diminua em proporções maiores que a
cotação do cereal, o percentual de participação do frete sobre o preço do milho irá
também diminuir, assim, menor será o peso gerado sobre o bolso do produtor, uma vez
que será menor a despesa com o frete.
Percebe-se, conforme o gráfico 12, que, desde 23 de fevereiro de 2015, a relação
frete/cotação do milho está acima dos 100%, indicando assim que o preço do frete do
cereal está mais caro do que a saca de milho. Essa relação tende a aumentar em
períodos de colheita e “desova” do milho para os portos, devido à alta demanda por
fretes, ocorre o encarecimento do seu custo, piorando assim a relação.
Apesar do número parecer assustador, os demandantes (trades e produtores) dos
serviços de frete acabam por vezes despendendo valores menores com ele, pois
conseguem alguns descontos, e transportam a mercadoria com menos gastos.
Gráfico 12 – Relação frete (Sorriso – Santos) e preço do milho em Sorriso-MT
146%
150%
140%
130%
120%
110%
100%
90%
80%
70%
122%
2-jun-14
16-jun-14
30-jun-14
14-jul-14
28-jul-14
11-ago-14
25-ago-14
8-set-14
22-set-14
6-out-14
20-out-14
3-nov-14
17-nov-14
1-dez-14
15-dez-14
29-dez-14
12-jan-15
26-jan-15
9-fev-15
23-fev-15
9-mar-15
23-mar-15
6-abr-15
20-abr-15
4-mai-15
18-mai-15
1-jun-15
15-jun-15
88%
Frete/milho (%)
Média
Fonte: Imea
46
1.11 Preço mínimo
Esta seção irá discorrer sobre a funcionalidade do preço mínimo, a utilidade deste
mecanismo como forma de garantir a comercialização dos produtos agropecuários, e
também sobre os principais leilões agropecuários realizados pela Conab.
1.11.1 Formação dos preços mínimos
Instituído em 1966, pelo Decreto-Lei nº 79, o preço mínimo visa à proteção da
rentabilidade do produtor rural no período de excedente de oferta agrícola. Comumente
definido no início da semeadura, o preço mínimo serve como forma de alinhamento para
o agricultor direcionar seus recursos de forma mais adequada (OZAKI e BATALHA,
2009).
O cálculo do preço mínimo é realizado pela Conab em conjunto com o Mapa, passando
pelo crivo do Conselho Monetário Nacional (CMN). Para encontrar o valor do preço
mínimo de determinada cultura, o cálculo leva em consideração o panorama dos
mercados mundial e nacional da cultura, as cotações internacionais e futuras, os preços
pagos aos produtores e ao atacado nacional, o preço paridade: importação e exportação,
além do custo de produção (TAVARES, 2012).
Os valores dos preços mínimos nos últimos anos variaram conforme caminharam as
produções nacional e mundial. Abaixo, os valores dos preços mínimos do milho nos
últimos sete anos:








2007 – R$ 11,00/sc
2008 – R$ 11,00/sc
2009 – R$ 13,20/sc
2010 – R$ 13,98/sc
2011 – R$ 13,98/sc
2012 – R$ 12,60/sc
2013 – R$ 13,02/sc
2014 – R$ 13,56/sc
O milho atualmente vem sofrendo com constantes quedas no preço durante o período
de colheita, sendo cotado muitas vezes abaixo do preço mínimo. E quando ocorre esse
tipo de situação, a Conab atua conjuntamente com o Ministério da Agricultura e Pecuária
com mecanismos que garantam o preço mínimo, os chamados leilões agropecuários da
Conab.
47
1.11.2 Leilões agropecuários da Conab
Depois da definição nas políticas de preços mínimos, o governo federal instituiu
mecanismos de apoio, que servirão como forma de garantia e sustentação dos preços
acima do valor mínimo, e também de base ao abastecimento.
Existem vários formatos de garantia e sustentação de preços utilizados pelo governo
federal. Os principais serão listados abaixo:
A AGF (Aquisição do Governo Federal) lista que o produtor deve depositar a
quantidade de produto que deseja vender ao Governo em um armazém credenciado, o
produto deve estar limpo, seco e classificado. A operação é feita por intermédio da
Conab. Nesse tipo de mecanismo o produtor tem que arcar com os custos de transporte,
secagem e classificação do cereal.
O EGF (Empréstimo do Governo Federal) funciona como uma forma de financiamento
para estocagem da produção, o governo federal disponibiliza crédito exigindo que o
produtor estoque seu produto, o agricultor vincula sua produção ao empréstimo, mas não
se torna necessário realizar a venda ao governo, pois pode quitar o financiamento e
vender sua produção quando lhe é conveniente. Esse mecanismo induz a estocagem do
produto para a venda em períodos em que o mercado apresenta excedentes. Atualmente
o EGF se ramificou e deixou de ser utilizado com essa nomenclatura, o governo federal
realiza a concessão de créditos através de outras nomenclaturas.
O Pepro (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor) diferentemente da AGF, as
negociações ocorrem entre as trades/usinas e os produtores, visando garantir o preço
mínimo. Caso o preço do mercado estiver abaixo do preço mínimo, o governo atuará de
forma a remunerar o produtor com a diferença entre o preço mínimo e o preço de
mercado. Como o produtor recebe o prêmio, ele também é responsável por toda a
documentação, o que acaba atrasando o recebimento desse prêmio.
O PEP (Prêmio de Escoamento da Produção) tem basicamente a mesma
funcionalidade do Pepro, no entanto o prêmio, ao invés de ser pago ao produtor, vai para
o comprador, que deve comprovar a remuneração ao produtor no preço mínimo. O
arrematante desse prêmio deve enviar a produção adquirida para uma região já
preestabelecida.
O Contrato de opção de venda funciona como um seguro do preço para uma data
futura. Ele dará o direito de o produtor vender ao governo, mas não existe
obrigatoriedade, protegendo assim o produtor ou a cooperativa de riscos na queda de
preços. Quando o preço em exercício está abaixo do mínimo, e o governo federal deseja
sinalizar com preços futuros melhores para o mercado, garantir renda ao produtor e
estimular a produção para atender ao consumo interno, visando a isso, o contrato pode
ser lançado.
48
Caracterizado por ser um dos poucos mecanismos de estímulo ao abastecimento, o VEP
(Valor de Escoamento de Produto) é uma forma que o governo federal utiliza para
garantir o abastecimento dos consumidores por determinado período de tempo, e o VEP
é concedido a quem deseja adquirir produto do governo federal, e que promova o
escoamento deste para uma região previamente estabelecida, mediante o recebimento
de uma subvenção econômica. O fato de ser um mecanismo de abastecimento faz com
que o VEP não seja garantidor de preço mínimo, e com isso, só é lançado quando o
preço de mercado está acima do preço mínimo.
1.12 Glossário
BM&F = É a principal bolsa brasileira, onde se realizam as negociações de contratos
futuros.
Break Even Point = É o Ponto de Equilíbrio entre receitas e despesas, em que não há
perda nem ganho.
Bushel = É uma unidade de volume utilizada nos EUA para comercializar grãos, como
o milho.
Call = Opções que conferem o direito de compra.
CBOT = Chicago Board of Trade, bolsa norte-americana onde é negociado o milho.
CME Group = É o principal e mais diversificado mercado de derivativos do mundo.
Commodity = Termo para designar produtos de baixo valor agregado, estando muitas
vezes in natura.
Custos diretos = Constituem todos aqueles elementos de custo individualizáveis com
respeito ao produto.
Custos fixos = Não sofrem alteração de valor em caso de aumento ou diminuição da
produção.
Custos indiretos = São as despesas incluídas aos produtos finais conforme critérios
predeterminados.
Custos portuários = São os custos incorridos, direta ou indiretamente, nos portos, com
a finalidade de iniciar as exportações.
Demurrage = É a multa paga pelo contratante quando o contêiner permanece em seu
poder mais do que o prazo acordado.
Drivers = Variáveis que afetaram diretamente o mercado da commodity.
Hedger = Produtor ou participante do mercado futuro, que deseja realizar uma operação
de “travamento” de preço para uma data futura.
49
Liquidez = Facilidade de converter o ativo em dinheiro.
Paridade de exportação = Internalização dos preços externos para uma data
preestabelecida.
Plataforma de negociação = É um software que permite comprar e vender ativos na
bolsa de valores e mercadorias.
Prêmio de exportação = Diferença dos preços externos da bolsa com o preço dentro
do navio no porto.
Put = Opções que conferem o direito de venda.
Share = Participação de mercado, fatia ou quota de determinado país ou variável no
todo.
Players = Países ou Estados que atuam diretamente no mercado, tornando-se de
grande importância.
Janela ideal = Período entendido como o melhor para a semeadura do cereal de
segunda safra, para que não haja maiores prejuízos à cultura.
Valor bruto da produção = Tudo que é produzido por determinado setor ou cultura.
Relação frete/milho = Percentual de participação do custo com o frete sobre o preço de
venda do milho.
50
1.13 Conclusão
Este trabalho buscou demonstrar a importância da cultura do milho para o agronegócio
mundial e para a economia mato-grossense.
Foi realizada a demonstração da formação dos preços internos do cereal e de algumas
das principais variáveis que incorrem sobre a cotação do milho. O entendimento dessas
questões é fundamental para o amplo conhecimento das oscilações ocorridas
diariamente no mercado do milho.
A concretização deste trabalho se dá na expectativa de somar a um leque de
informações dispostas no mercado e facilitar a compreensão de todos os participantes,
para que novas perspectivas sejam colocadas em pauta e antigas dúvidas sejam
respondidas.
51
REFERÊNCIAS
AMARAL, G. L.; OLENIKE J. E.; AMARAL, L. M. F. Evolução do custo portuário
brasileiro. IBPT, 2013.
BRANCO, A. L. O. C. A produção de soja no Brasil: uma análise econométrica no
período de 1994-2008.
CALDARELLI, C. E. Fatores de influência no preço do milho no Brasil. Nova
Economia: Belo Horizonte, 2012.
CHICAGO BOARD OF TRADE, CBOT. Diversas consultas.
COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO, CONAB. Diversas consultas.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES, CNT. Diversas consultas.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTES, CNT. Entraves logísticos ao
escoamento de soja e milho, 2015.
CRUZ, J. C. et al. Cultivo do milho. Disponível em:
https://www.spo.cnptia.embrapa.br/conteudo?p_p_id=conteudoportlet_WAR_sist
emasdeproducaolf6_1ga1ceportlet&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mo
de=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&p_r_p_76293187_sistemaProducaoId=3821&p_r_p_-996514994_topicoId=3718. Acesso
em: 21 jun. 2015.
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA RURAL, DERAL-PR. Diversas consultas.
DIAS PAES, M. C. Aspectos físicos, químicos e tecnológicos do grão de milho.
Circular Técnica, Sete Lagos, 2006.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, Embrapa. Diversas
consultas.
MORAES, M. de. Prêmio de Exportação da soja brasileira. 2002. 90 p. Dissertação
(Mestrado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São
Paulo, Piracicaba.
OZAKI, M.; BATALHA, M. O. Efeito da política de garantia de preço mínimos (PGPM)
na comercialização de milho e soja nas cinco regiões geográficas do Brasil.
RODRIGUES, G. Z.; CUNHA, C. A. Análise da base e risco de base dos principais
municípios produtores de milho do Estado de Goiás. Revista de política agrícola, 2013.
SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR, SECEX. Diversas consultas.
52
TAVARES, C. E. Política e Garantia de Preços Mínimos – PGPM.
U.S. DEPARTMENT OF AGRICULTURE, USDA. Diversas consultas.
53