É possível ser poeta hoje em dia?

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É possível ser poeta hoje em dia?
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É POSSÍVEL SER POETA HOJE EM DIA? DEPOIMENTO NUM ENCONTRO
DE POETAS – Montes Claros – MG (2005)
A pergunta que gerou este encontro (XIX PSIU POÉTICO –
2005) parece estar de antemão respondida. E não é preciso
ser poeta para perceber que a questão (talvez como qualquer
outra bem refletida) encerra de cara duas respostas óbvias:
sim & não.
Sim, é possível ser poeta hoje em dia. Uma evidência disso
é o autor da pergunta – um poeta. Outra evidência é o fato
de que estamos em um encontro de poetas. Se isto não for um
sonho, a verdade é que estamos lendo, vendo e ouvindo uns
aos
outros.
Estamos
pensando
e
respirando.
Portanto,
existimos.
As
mesmas
evidências,
todavia,
parecem
ter
o
poder
de
provar o contrário. Se é um poeta quem faz a pergunta, este
não seria o sinal de que a ninguém mais, a não ser ao
próprio poeta, interessa a questão? Nesse caso, a resposta
seria não: não é possível ser poeta, pois já ninguém se
importa com o seu desaparecimento, salvo a própria classe
de poetas.
Pretendo perseguir uma anti-meta. Se a pergunta está bem
colocada, importa pouco a resposta. Não nos basta escolher
por
um
dos
problema.
lados
Numa
da
questão
moeda.
Isto
pontiaguda
seria
como
simplificar
esta,
não
o
tenho
ilusões: tudo depende do ponto de vista. Espero mostrar que
a minha é uma tentativa viável, entre tantas outras.
Estamos, nós poetas, partidos entre os dois lados de um
muro de concreto. Quem se lembra do Gullar de “Traduzir-se”
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(“Uma parte de mim é todo mundo/ outra parte é ninguém,
fundo sem fundo”)? É possível ser poeta hoje em dia? Sim &
não. Tentei trabalhar com essa questão em minha dissertação
de mestrado, enfocando a representação da condição de autor
na
periferia
do
capitalismo,
pela
poética
de
Ferreira
Gullar (PILATI, 2002). Tento trabalhar com essa questão
também em meus trabalhos artísticos.
Para
aprofundar
o
problema,
academicamente
ou
artisticamente, é preciso tomar em conta uma perspectiva
política. A muitos essa palavra parecerá abominável num
encontro que celebra a poesia. Se a maioria da população
considera o poeta um animal estranho, mais estranho ainda é
aquele que quer ligar a poesia à política.
A escrita poética é uma forma de exercício lingüístico ou
profissional
muito
peculiar
que
um
indivíduo
usa
para
ocupar-se dentro da coletividade. O filósofo francês Jaques
Ranciére (1995) diria que a escrita é uma forma de “ocupar
o sensível”. É no sensível que se travam as lutas por
espaço, por poder, por respeito, por dignidade. Ora, não é
disso que trata a pergunta “É possível ser poeta hoje em
dia?” Então, parece óbvio que, “mesmo que uns não queiram”,
a poesia é uma questão política na sua própria origem. Mais
do que uma necessidade intemporal do ser humano, a cultura
(e dentro dela o restrito reino da poesia) é uma forma de
inserir-se
nas
disputas
políticas
por
espaço
e
credibilidade social, que variam muitíssimo, dependendo do
momento histórico.
Homero
não
tem
a
mesma
posição
na
coletividade
que
Shakespeare, que não tem a mesma posição de Rimbaud, que
não tem a mesma posição de Bilac, que não tem a mesma
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posição de Drummond, que não tem a mesma posição de Arnaldo
Antunes.
E
faz-se,
assim,
noutra
tela,
a
versão
da
“Quadrilha” drummondiana, para lembrar um poeta da terra
mineira. Homero, provavelmente, não se pôs esta questão;
tampouco o fez Virgílio, bem como provavelmente não ocorreu
aos trovadores provençais se o seu espaço social deveria ou
não ser garantido.
A questão sobre se é possível ser poeta trata da utilidade
da
poesia.
É
uma
questão
que
só
se
pode
colocar
na
sociedade contemporânea, quando a poesia perdeu de vez a
função obviamente prática que tinha para um Sófocles, ou um
Eurípedes, por exemplo. Ser ou não ser é algo que vai
ganhando força fundamentalmente com Shakespeare, não nos
esqueçamos, por isso ele é o nosso cânone. O poeta, como
especialista da língua, é um fenômeno da modernidade e faz
parte da divisão e da especialização do trabalho em geral.
Não
entremos,
todavia,
mais
adiante
nessa
digressão
histórica. Voltemos, pois, à anti-resposta que propus à
questão: sim & não. Aqui seguiremos alguns pressupostos
trabalhados pelo poeta e estudioso Hermenegildo Bastos no
texto “Permanência da Literatura”.
Afirmemos, pois, primeiramente, com veemência: não, não é
possível ser poeta hoje em dia. Isto por dois motivos: 1)
não há espaço para o poeta no mundo da indústria cultural;
2) o lugar que ele ocupa na cultura institucionalizada, que
se quer a todo custo diferenciar da indústria, é anódino e
reduzido. Tendo isso em vista, ao que parece, nós poetas
estamos
órfãos
de
sentido.
Poetamos,
mas
há
poucos
leitores. Os leitores que temos somos nós mesmos: poetas
que lêem poetas; professores que impõem “essa maldita lista
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de obras obrigatórias” aos alunos; intelectuais que gozam o
consumo de um poema como uma taça de vinho ou um charuto.
Sob o primeiro aspecto, poderíamos dizer que muitos poetas
gostariam de que a poesia fosse consumida como qualquer
outro
produto
da
indústria
cultural.
Como
um
disco
de
Shakira; como a biografia de David Beckham; como o filme
Dois
filhos
Venderíamos
faríamos
de
Francisco.
milhares
camisetas
de
de
Poesia
cópias.
nossos
como
Daríamos
livros.
Coca-cola.
autógrafos
Tiraríamos
e
muitas
fotos com fãs histéricos. Se exagero, é para dar a ver o
ridículo da situação.
Incomoda-me muito que a poesia se torne mercadoria desde a
sua origem na cabeça do poeta. Por isso é impossível ser
poeta hoje em dia. A poesia é, talvez, a forma literária
mais carregada de poesia. Parece apenas tautologia. Porém,
com o tautológico também aprendemos. A poesia é, por ser
linguagem altamente carregada de significado, a forma mais
indócil
de
literatura.
pasteurizar.
É
salutar
Aquela
para
a
que
é
poesia
mais
que
difícil
ela
seja
desinteressante à indústria cultural como um todo. Antes de
ser gozo; a arte é conhecimento. A indústria pauta-se no
consumo
e
no
prazer
irrefreável.
A
arte
pauta-se
na
reflexão e na experiência.
Se o que se deseja, ao ser poeta, é, portanto, ser bestseller, escrever para “as pessoas gostarem” digo e repito
que não, não é possível ser poeta. Ao menos sem a perda de
certas prerrogativas imanentes à legítima poesia, tais como
a preocupação primeira com a linguagem voltada sobre si
mesma.
Contudo,
pergunto-me:
como
negar
a
ampla
e
irrestrita influência das leis da indústria cultural sobre
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a
percepção
artístico,
que
sob
as
pessoas
têm
esse
prisma,
é
da
arte?
Bom
produto
que
muito
vende,
aquele
aquele que “todos” viram, leram, sentiram. Aquilo de que
todos gostaram. Em virtude disso, creio que seria oportuna
a participação da poesia na indústria cultural desde que
ela assumisse, na sua forma, o mal-estar diante dessa mesma
indústria.
Desde
supérfulas.
que
Dessa
tentasse
forma,
desafiar
seria
viável
suas
ser
certezas
poeta:
não
fazendo concessões à indústria da cultura, nem renegando-a
pura
e
simplesmente;
fraturando-a
por
mas
dentro.
sim
desafiando-a,
Eis
uma
via
rindo
possível
e
dela,
pouco
provável.
Talvez alguém possa argumentar que não se trata disso. Que
ser poeta não é ocupar-se em ser um astro pop, inserido na
indústria,
mas,
simplesmente,
ser
lido,
ter
seu
nome
inscrito na tradição. Afinal, este tipo de argumento brada:
“quantos
poetas
nunca
foram
lidos
em
vida
e
depois
a
tradição consagrou?!” Não posso deixar de diagnosticar aí
uma certa autopiedade, que é uma típica defesa de classe de
nossos poetas.
Lembremo-nos sempre de que a tradição é apenas uma questão
de
escolha
ideológica.
Não
é
uma
bênção
metafísica
e
intemporal que recai sobre certos textos ou autores. A
tradição pode mudar, caso se mude a história. Outras coisas
serão
postas
no
lugar
daquelas
até
então
julgadas
tradicionais. É natural que assim seja, pois a tradição,
quem cria é quem tem poder. E o poder, basta olhar a
história, ciclicamente muda de lugar.
Se quiséssemos dar de ombros à indústria para mergulhar na
tradição,
como
forma
de
auto-preservação,
o
dilema
não
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seria menos complexo. Talvez bastasse, para nós, sermos
lidos ali em Ipanema; no Morumbi; na Asa Sul. Talvez nos
bastasse vender algo em torno de 500 exemplares, no máximo
mil,
entre
a
classe
média
ou
média
alta
boêmia,
esclarecida, bem-educada e formadora da opinião que dá o
tom do “bom gosto eclético e descolado”, tão em moda hoje
em dia. Esperemos, nesse caso, por glória póstuma e banais
bajuladores
de
plantão.
Seria
importante
também
sermos
lidos pelos filhos dessa classe nas “melhores” escolas, ou
nas
escolas
mediocridade
médias,
onde
defensiva
da
se
educa
classe
e
se
média
reproduz
e
da
a
elite.
Carregaríamos, assim, em nossa poesia, uma marca indelével
da mesma mediocridade que guia tais leitores.
Para
atendermos
a
esse
preceito,
seria
necessário
que
fizéssemos uma poesia capaz de atender aos anseios daquilo
que se costuma chamar “humanismo liberal”, que, na verdade,
é a substância ideológica que dá estrutura à formação da
atual tradição literária e que reconta a história conforme
a
sua
conveniência.
Dizem
aqueles
que
o
professam:
a
literatura deve acrescentar “alguma coisa” a quem lê. Sendo
que “aquela coisa” é sempre “algo positivo”. E o que se
chama “algo positivo”, quase sempre, é elemento fundamental
de
confirmação
do
poder.
É
bom
lembrar
que,
se
há
transformação pela leitura literária, ela se dá, na atual
conjuntura, apenas em termos individuais e não em termos
coletivos. Aqui a literatura se parece muito com a conta
poupança que alguns de nós possuímos. Acumula-se muito, mas
em
benefício
próprio.
Sendo
mais
culto
sou
melhor
e
diferencio-me mais fortemente da “turba ignorante”.
Para atendermos a esses preceitos, teríamos de fazer uma
poesia que fosse o reino do belo, onde toda fé e toda
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confiança numa poética atemporal se revelasse confirmação
da instituição poética tradicional. Teríamos que fazer uma
poesia que fosse um legítimo documento de cultura anódina,
como
tanto
a
desejam
nossa
elite
e
nossas
classes
emergentes, que vieram ao mundo para gozar o bom da vida.
Todo documento de cultura é um documento de barbárie, irá
sempre nos ensinar Walter Benjamim (1994). O que criou
Auschwitz
não
foi
um
povo
primitivo,
nem
a
selvageria
animal que cada um de nós carrega. O que criou Auschwitz
foi
o
mundo
desenvolvido,
altamente
o
mundo
racionalizado,
administrado
culturalmente
segundo
os
preceitos
mais inaturais do homem. O “humanismo liberal”, quando se
trata
de
melhores,
mundo
cultura,
que,
seja
crê
piamente
individualmente,
melhor.
A
alta
que
ela
formará
concorrerão
cultura
para
(música,
homens
que
o
poesia
e
filosofia) também estava em Auschwitz.
Não é necessariamente a cultura que faz um mundo melhor. Um
mundo melhor faz uma cultura melhor. Não é a poesia que
melhora as pessoas. Pessoas melhores fazem melhor poesia,
lêem melhor a poesia e o mundo. E pessoas melhores só podem
existir quando, por exemplo, a cidadania for extensiva a
toda
a
população;
quando
tivermos
mais
pessoas
alfabetizadas; quando desenvolvermos uma política autônoma
em termos econômicos e ideológicos. A poesia é apenas uma
pequenina parte do mundo. Ela não o muda totalmente nem
para bem nem para mal. O mundo é que muda a cultura (e
tantas vezes para mal!).
Fosse o caso de participarmos do reino da instituição,
portanto, não deveríamos fazê-lo por confirmação de suas
certezas. Deveríamos fazê-lo por questionamento. Esse é o
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caminho
que
escolhi.
Em
meu
poema
problematizo
minha
posição de escritor, meus comprometimentos com o poder, com
a indústria cultural, com a instituição, com a escola.
Procuro
assumir
concernentes
à
na
estrutura
condição
de
de
meu
poeta.
texto
Quem
as
sabe
fissuras
não
seja
exatamente para responder à pergunta sobre a possibilidade
de ser poeta que eu faça poesia?
Acredito que, da profunda negatividade, o sim pode surgir e
ser capaz de iluminar as contradições fecundas do real,
como diria o filósofo frankfurtiano Theodor Adorno. Para
lembrar João Cabral, o poema é “belo como um sim / numa
sala negativa”. Não me preocupa muito, sinceramente, se
alguma grande editora se interessará pelo meu trabalho,
para vendê-lo a quilo, nas grandes redes de livraria do
país. Interessa-me pouco, também, ver minha poesia apenas
na boca da classe alta esclarecida e intelectualizada. Meus
poemas vão sendo cos(z)idos alheios a isso.
Para dizer que “sim, é possível ser poeta”, importa-me,
ademais
de
tudo
isso,
perguntar
por
um
novo
tipo
de
público, inquirir sobre outras possibilidades de alcance
político da cultura.
A mim interessa e inquieta muito: Por que a poesia não é
lida nas favelas? Por que pode um operário se interessar
por meus poemas? Em que medida um sem-terra veria o mundo
através
de
literatura
leriam
as
meu
negra,
linhas
poema?
ou
Por
que
feminina?
tortas
por
se
De
onde
deseja
que
me
forma
vou
tanto
os
uma
loucos
desenhando
poeticamente? Por que a poesia não é usada amplamente para
alfabetizar adultos nas periferias do país? Por que o poeta
não doa seus livros às escolas de periferia? Porque os
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cursos de magistério não estimulam a leitura de poesia? Por
que
o
mundo
do
marketing
transformou
a
poesia
em
propaganda?
Sei que alguns me vão entender mal. Não se trata de fazer
poesia para as massas. Não se trata de usar a linguagem
“delas”. Não se trata de simplificar as coisas. Trata-se de
achar uma outra alternativa sistêmica, menos tediosa e mais
desafiadora para a justificativa de ser poeta. Trata-se de
achar uma outra maneira de ocupar o espaço destinado ao
poeta. Trata-se de tentar uma inserção outra na sociedade:
mais dinâmica, mais provocadora, sem tantos rapapés.
Acredito
que
alguém
pode
aprender
muito
na
periferia,
lendo, por exemplo, A divina comédia, ou o Cão Sem Plumas.
Não apenas sob o aspecto do ideal “humanista liberal”, ou
do gozo e do prazer com as palavras. Com mais acesso à
literatura, um operário, pode, por exemplo, verificar como
a literatura também é comprometida com a divisão do mundo
em classes, e que, também, por outro lado, ela é um bem que
pertence a ele, reles operário, muito embora seja produzida
e legitimada por instâncias de elite. A poesia é um bem
emancipador que está nas mãos de poucos, pois dá a ver o
que os discursos cotidianos escondem sob a ideologia.
Ser poeta não é sutileza. Ser poeta é resistência. E não se
resiste sem paixão, sem ideais, sem luta.
Há muito que só beleza não põe a mesa do poeta. É preciso
algo mais. Nas sociedades primitivas não se era apenas
poeta.
Um
lenhador
poderia
fazer
música;
um
sapateiro
poderia ser contador de histórias. Homero não era só poeta.
Era um educador; um sacerdote. Haveria apenas vantagens na
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especialização pura e simples do poeta? Não sei. Quem sabe
haja demasiado pragmatismo na afirmação de que ser poeta é
uma coisa como outra qualquer. Uma coisa como ser deputado
federal, como ser lavadeira, como ser cantor, professor ou
frentista.
E
isso
não
é
um
drama,
mas
uma
condição
profissional. Fazer drama com isso é infantilizar a posição
do poeta. Há no mundo dramas muito maiores do que não ser
lido.
Um frentista só vai se perguntar se ainda é possível ser
frentista quando a sociedade em que ele vive não precisar
mais de combustível ou as máquinas fizerem, sozinhas, o
trabalho de abastecimento dos automóveis. Ao que parece, a
despeito de todo avanço tecnológico, não há computadores
capazes de produzir autonomamente poesia num raio de 200
anos. Não há, por outro lado, notícia de que a sociedade
humana construirá, tão cedo, homens incapazes de sonhar com
a capacidade (humana, demasiado humana) de nomear o mundo
que os cerca e de interrogá-lo. Isso é ser poeta: nomear as
coisas, interrogando-as. Não há nada de mágico nisso. É um
ofício
que
pendores
se
aprende
inatos,
tão
e
que
é
triviais
facilitado
como
a
por
propensão
certos
para
cálculos que possui um engenheiro.
Creio não ter respondido à questão. Minha fala, entretanto,
não pode ser acusada de propaganda enganosa. Disse, no
início, que importa sempre mais a pergunta que a resposta.
Portanto, contento-me com o que fiz até aqui. Àqueles que
querem ser poetas, fica a frase de Dante: Lasciate ogni
speranza Voi ch'entrate. Abandonem a esperança vã que a
sociedade da fama ou do requinte alimentam. Não sintam pena
de si mesmos. Ser poeta é, ao mesmo tempo, muito mais e
muito menos do que vender livros ou ser admirado pela sua
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sensibilidade e sua inteligência. Ser poeta é uma ocupação
trivial do espaço humano. Espaço político, onde é preciso
reconhecer e testar todas as impossibilidades do possível.
Isso o trabalho miúdo com a linguagem, típico do exercício
poético,
trabalho
ensina.
No
trabalho
auto-reflexivo?),
profundamente
diante
de
suas
poético
o
(ou
homem
potências
em
se
e
qualquer
reconhece
limitações.
O
resto, como diria Rimbaud, é [só] literatura.
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1988.
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BENJAMIN, W. Experiência e Pobreza/ Sobre o conceito de
História. In: Magia e Técnica, arte e Política: ensaios
sobre literatura e história da cultura – Obras Escolhidas
Volume I. Trad. Paulo Sérgio Rouanet – 7. ed. – São Paulo:
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EAGLETON, Terry. A ideologia da estética. Rio de Janeiro:
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RANCIÈRE, J. Políticas da Escrita. Rio de Janeiro: Editora
34. 1995