do alcoólatra - existe uma solução
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do alcoólatra - existe uma solução
OS MIJITOS ASPFCTQ5 DO ALCOOLISMO por DONA LD M. LAZO (U M A C O M P ILA Ç Ã O DE AR TIG O S PUBLICADOS NA REVISTA "AVE M A R I A " ) Um estudo sério* uma p@sqrdm psresvctw cansoranfe nos tratamentos do .* pedido de m uitos leijorfe esíamos reiniciando um a série de arr r : : sobre um flagelo que estim am os 1 Í Í . 3.T um a em ca d a três ÍEmuias ::o ::.:ir a s , independentem ente de £ue ii:x& social; o ^alcoolismo. . P ara abord? - o assunto, trazem os ce ro lta às pág :ias d a AVE M A R IA ; Dr, D onald M . Laso, sociólogo e engenheiro in d u s triíi. E m bora não i i :ã m éáico, o D r. Lezo, u m norte-E—encano rad icad a nc Brasil h â 18 íz o : tem dedicado cs últim os 17 o n :; de sua vida — desde o dia, em = et ; 3 de 1965, em que ss conscientizou de que ele m esm o era alcoólatra e p arou de b eb er — ao estudo inten sivo do alcoolism o. Ele e su a esposa Sônia fizeram rursos e estágios em clínicas especíaiôzaáas em alcooiis io n a A rgentina, Colômbia, C osta F.;ca e nos Estados ■ '_r.:dos. A ssistiram , em oito países oüereníes, a centenas áe reuniões de ; isociações de aju d a m ú tu a, com (in* nusrve) as que existem no Brasil: a Assoei oão A ntialcoóiica do Estado z í Sãc Paulo, Alcoólicos A nônim os, : In sr uto F ratern al de L aborterapía. Neuróticos A nônim os, Al-Anon, . : .een, ARA (A m bulaíório de Rec_peração de A lcoólatras), o C entro de Com bate ao Alcoolismo da Polícia N íüitar e outros. D urante m uitos anos, recolheram n o có latras em sua casa, cuidando :;íe s até que estivessem em condirões de voltar a trab a lh ar e dirigir 5-=£ p ró p rias vidas. P ara am bos foi a mais gratificante experiência de sua Tida. Alguns anos atrás, surgiu a opor7_r.:dade de realizar um antigo sonho s colocar em p rá tic a o que haviaiv aprendido. O sonho: ju n ta r os m ais - l i e m o s conhecim entos científicos o i M edicina aos princípios espirituais empregados pela Irm a n d ad e de Aícoó'.::os Anônim os (os famosos Doze Fasscs}, num trata m e n to integral do i ooólaíra. E sta com binação, quando te r- id a pela integração do paciente a '-ma das organizações de ajuda m ú- uma pratica m e s. f I «ms» ^Les 11 dal (a sigla R eíndal significa R ecupe ração In teg ral do D oente A lcoólatra) daqueles a que a m aioria dos alcoóla tras está acostum ada no B rasil” , explica o D r. Lazo. “ Todos são con seqüência, .da m aneira diferente com q u e . encaram os a dosnea do alcoo lismo. ‘‘No Brasil, com . ai. im as felizes, exceçc.,s, o alcoolism o a in d a é tid o ,' de um. m odo geral,, com o sintom a de p r o b le m a s p s íq u ic o s p ro fu n dos e, p o rtan to , tra ta d o em clínicas psiquiátricas. Nos -Estados U nidos, porém , o alcoolism o esíá sendo en ca rad o cada vez m ais como. u m a do en ça em si, de raízes orgânicas e não pfsíqmcas. E ste é o conceito q u e 'a d o tam c r n a C hácara. Assim ' sendo, n ão m isturam os os nossos, pacientes com doentes m entais, pois estes últim os ■;devem se-;r tratados em clínicas p si q u iátricas, e alcoólatras em centros de trata m e n to especializados em alcoolism o, como é o caso d a C h áca ra R cindal. ’ i ■, “ H á o u tras diferenças. P o r exemp lo s p o r considerar o r oolismo u m a lM ' ‘ , , , , tJ L| . . •“ ' ■• . T dependência de um a tí:oga psicotrópíca, nós procuram os evitar o uso de tua, está levando a índices de recupe calm antes e tranqüilizantes, que ração im pressionantes nos E stados tam b ém são psicotrópicos. N a fase. Unidos — m uito superiores aos índi ag u d a da desintoxicação, os tra n q ü i ces obtidos p o r clínicas de tra ta m e n lizantes são freqüentem ente necessá to ou entidades como Alcoólicos rios — o m enor de dois m ales, pois Anônim os, quando atu am indepen eJes evitam as convulsões e o perigoso estado de “ deíirium írem en s” . P o dentem ente. Convertendo a chácara em que rém , n a fase do trata m e n to p ro p ria m oravam num am biente fam iliar m ente dito, eles são contraproducen-^ tes, podendo criar um a; depender ria i onde podem hospedar até 15 pessoas, j T~ convidaram um médico, um religioso • f m setem bro do ano passado, o e u m á alcoólatra recuperado a em b ar car com eles n a aventura de cria r o D r. ..azo t - que, além de te r p u b li prim eiro centro p artic u la r de tra ta cado artigos em várias revistas, j á m ento residencial no Brasil, dedica trad u ziu dois livros e u m a dezena de do exclusivam ente à recuperação de folhetos sobre, o alcoolism o p a ra a alcoólatras. O sistem a de tratam en to lírígua portuguesa — foi convidado usado, que im plica n u m a estada d e. pelo M inistério da Saúde, ju n to com duas sem anas, é copiado dos que outros peritos em alcoolism o, p a ra vêm florescendo nos Estados U nidos p artic ip a r de um encontro em B rasí lia, a fim de desenvolver m edidas de nos últim os anos.1 : “ H á v á rio s 'a s p e c to s 'q u e distin com bate aos problem as causados guem o tratam ento;na C hácara R ein-' pelo abuso do álcool no Brasil. ove morta 17 Se lige», Brosií í D onald L azo Está na hora de abrirmos os olhos e admitirmos que o alcoolismo permeia nossa sociedade minando cada vez mais a vida física, emocional e espiritual da família brasileira. T odos sabemos que am ericano be be demais. A gente vê na televi são. Quase não existe cena nas nove las am ericanas, como Dalias, em que não se encontre alguém com copo na m ão. A gente tam bém lê que os artis tas e cantores americanos bebem e tom am drogas o tempo todo. Depois, a gente lê que, nos Estados Unidos, considera-se que 10% da folha de pa gam ento de to d a empresa é alcoóla tra, e. que as últim as estimativas indi cam que o alcoolismo está custando à indústria norte-am ericana (em aci dentes de trabalho, horas perdidas, desperdício de m aterial, baixa p ro dutividade, etc.) nada menos que 47 bilhões de dólares por ano. Basta ligar a televisão por lá — num a des sas viagens a O rlando para visitar a Disney W orld — e, não passou uma hora, aparece um reclame.sobre o al coolismo. Sim, senhor, esses am eri canos bebem p ra chuchú. Graças a Deus não temos esse problem a no Brasil. Eu acho que o problem a é p io r no Brasil. Só que aqui quase ninguém emende o que é o alcoolismo. E o resto esconde. Não me surpreenderia nada se descobrisse que existem 12 milhões de alcoólatras neste país. A negação é um fenôm eno que e com panha todo caso de alcoolismo. O alcoólatra nega que é alcoólatra. Diz que bebe porque gosta, e que p á ra a h o ra que quiser. Só que nunca :_er. Chega em casa bêbado quatro ezes por sem ana e adm ite que “ às s í s ” toma “ um pouquinho a mais” . E quando exagera, é sempre culpa dos outros. Tudo isso é negação. Como se não bastasse, a família : : ilcoólatra tam bém nega. Esconde e encobre os vexames do pai (ou da — lê ajcoólatra. Os m em bros da fa doença gera. Podia se supor que es-^ sas pessoas estariam desesperada mente buscando um a solução para seu problem a em todo quanto é lugar. Sabem quantas pessoas com pareceram à conferência? T rinta e oito. Também,, o mês passado, o M a nagem ent Center do Brasil aprovei tou a vinda dos Estados Unidos de um grande perito no assunto para oferecer um curso sobre alcoolismo na empresa. Ora, presume-se que o Brasil não foge da regra: aqui, tam bém , um em cada dez funcionários deve ser alcoólatra (em bora as assis tentes sociais com quem eu falo insis tem que o núm ero de funcionários alcoólatras é bem m aior). Em todo caso, o alcoolismo é de longe o m aior problem a de pessoal das empresas brasileiras. Porisso, para esse curso foram enviados convites para mais de 1.000 empresas, congregando aci m a de 1 milhão de funcionários. Sa bem quantas empresas enviaram al guém ao curso? Oito. Em outras palavras, não são so mente o alcoólatra e os m em bros de sua família que negam a existência de um grave problem a de alcoolismo no Brasil. As escolas, as empresas, e simT tam bém o governo, querem fa zer de conta que não existe. M as, está na hora de abrirm os os olnos. Porque se não adm itirm os que o al coolismo permeia nossa sociedade, a doença continuara a se alastrar, mi nando, cada vez m ais, a vida física, emocional e espiritual da fam ília bra sileira. Se liga, Brasil! *■ m ília não tocam no assunto. É mais fácil fazer de conta que não existe. É com o se houvesse um entendim ento entre eles: não devemos falar do que está acontecendo nesta casa, nem en tre nós mesmos. M as, a negação não funciona. O problem a existe e cresce. Querem ou vir um as estatísticas alarm antes? Existe um caso de alcoolismo em ca da três famílias. De cada quatro estu dantes n a escola, um vai mal porque está sendo prejudicado pela convi vência com um alcoólatra em casa. Mas tam bém não se ensina qualquer coisa sobre alcoolismo nas escolas, porque elas não querem dar a enten der que seus alunos possam ter pro blemas de alcoolismo em suas fam í lias. É preferível não tocar no assunto — não educar os futuros alcoólatras do país, em bora talvez as estatísticas mais alarm antes sejam estas: 58% de todos os alcoólatras têm um pai ou um a m ãe alcoólatra e outros 30% ca sam com alcoólatras. Os restantes 12% passam pela vida com m uitos problem as que provavelm ente nunca resolverão sem ajuda adequada. E essa ajuda não existe no Brasil p o r que tam bém não se ensina alcoolis m o nas escolas de medicina do país. O mês passado m inha esposa e eu fom os convidados a fazer um a con ferência sobre alcoolismo. P ara essa conferência foram enviados convites a 3.000 famílias. Deve-se entender que, das famílias que receberam o convite, m il tinham um caso de alcoolism o. E não esqueçam que o alcoolism o é progressivo e 100% fa tal para os que não param de beber. Mil dessas famílias, aglom erando talvez 5.000 pessoas, estavam viven do com um alcoólatra em casa e so frendo todas as angústias que essa m a ítí C H ÁC AR A REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e Iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Posta! 20.896 01498 São Paulo, SP ' (Fone: (011) 520-9514) o v e m a r ia 29 I X / ) 0j Donald Lazo O REMEDIO QUE NAO CURA MAS PODE AAATAR trabalho sobre o alcoolismo pode Nenhum deixar de fazer referência a certos rem é dios que são receitados em grande volume para milhares de alcoólatras através de seus familiares, que chegam à farm ácia com este apelo: “ Vocês teriam algo que fará meu m ari do (pai, esposa, irmão, irm ã, filho, filha) p a rar de beber? ’ Freqüentem ente, o farm acêutico ou seu funcionário dará ao freguês um produto (os nomes mais comuns são Antabuse e Antietanol) que contêm uma substância química cha—ada disulfiram, e lhe aconselhará a “botar aquilo na sopa dele quando não estiver olhan do". Com disulfiram no seu corpo, a próxima vez que a pessoa beber terá um a reação violenta. O coração disparará, terá dificuldade em respirar, sentirá um grande calor, poderá com eçar a vomitar e talvez saiam m anchas •ercnelhas na pele. Teoricam ente, o bebedor a d ia rá que a bebida está causando estes ntam as e decidirá abandoná-la de vez. Só que a teoria tem dois poréns. Primeiro. : bebedor invariavelmente descobre a verdade er.tre seus amigos de botequim , podendo aban donar a esposa em vez da bebida! Segundo, a reação pode m atar. Existe um papel legítimo p ara os remédios à : ase de disulfiram no tratam ento de alcoóla:-is . Sabemos que um só drinque é suficiente p ara levar o doente a um estado de descontrole ;_e. não raro. além de estragar o tratam ento, p : áerá fazê-lo desistir do mesmo, com consepüências imprevisíveis. A fim de evitar tal acontecimento, o disulfiram pode ser um a ferram enta útil. Mas somente quando é tom a ' í : , e m a r ia do conscientemente pelo alcoólatra, sabendo que se beber logo após — ou até mesmo dias após — sofrerá um a reação m uito incôm oda e talvez perigosa. Quando eu penso que um paciente nosso poderá ter dificuldade na m anutenção de sua abstinência, eu lhe falo um pouco sobre disul firam . Descrevo o remédio como um tipo de apólice de seguro contra o beber compulsivo para aqueles que sinceramente querem absterse do álcool. Afinal, este bebedor compulsivo tem que tom ar dezenas de decisões por dia: cada vez que passar por um botequim , tem que decidir se entra e tom a “ um zinho" ou não. Mas aquele que está usando o Antabuse ou o Antietanol só tem que fazer um a decisão por dia, e o faz “ de cuca fresca” , quando PROBLEMA DE BEBIDA? O tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-americanos REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - C x. Postal 20.896 - T e ls.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - SP. r~ ——r:—.. mamM M M W i acorda: “Tomo o comprimido ou não?” Se decidir tomá-lo, sabe que não poderá beber. O alcoólatra que fizer isto diariam ente enquanto estiver se tratando (com um psiquiatra ou em Acoólicos Anônimos, por exemplo) terá com prado o tem po necessário para se reabilitar integralm ente. Passado alguns meses, poderá abandonar o remédio com melhores possibili dades de não voltar a beber. O problem a é que a m aioria dos alcoólatras que concordam em tom ar disulfiram , não se tratam concom itantem ente. Assim, sua com pulsão não desaparece e acabam largando o rem édio para poder voltar à bebida alguns dias depois. Parece-me que a melhor m aneira de supe rar esta eventualidade é sugerir ao alcoólatra que concorde em deixar sua esposa adm inis trar-lhe o remédio em forma de pó m isturado com algum líquido que toma na presença dela. (Se ela adm inistrar o remédio em form a de com prim ido, ele poderá botá-lo debaixo da língua, beber em cim a e depois cuspir o com prim ido quando ela não estiver olhando). O acordo entre ele e ela seria apenas mais um a apolicezinha de seguro para o dia, mais tarde, que ele eventualm ente começar a titubear. Resum indo, convém frisar dois pontos im portantes no que se refere ao uso de remédios que contenham disulfiram . Prim eiro, nunca devem ser administrados a um alcólatra sem ele saber. Segundo, estes remédios de forma algum a servem como substituto para um pro gram a de crescimento espiritual que, afinal de contas, é a única solução defintiva e duradou ra p a ra a doença do alcoolismo. r ft i ' R t «:Lä 1 /a**. c i, f. %I Ses u . /senate r « p ; f ru e\^M:k y ktsÿ'É t Nfcir^ti' V tD onald Lazo (Diretor da R E IN D A L ) de m anhã recebi um telefo H oje nema da esposa de um alcoóla tra que se tratou na nossa Chácara rito meses atrás. Ela estava desespe: 2 da. contando que ontem ele havia :l:a d o a b e b e r“ e ficou quase doido” , quebrando vidros, pratos e móveis e~ casa e jogando a filha repetidas veies contra a parede até que ela e a —ale conseguiram fugir de casa. Perguntei a ela se o marido havia i z f - i z o nossos conselhos, integrando-se a algum grupo de Alcoólicos Anô nimos. Lembrei a ela que, na últim a r alestra que faço p ara nossos pacien tes antes de dar-lhes alta, explico :_e. ao sair da Chácara Reindal, não de--em pensar que já foram tratados e sim que seu verdadeiro teste — o de não voltar a beber — estava para ccmeçar. Acrescento que eles são os ■~r-.:cos responsáveis pela m anutenção de sua saúde e sobriedade e que de veriam dar prioridade a três coisas: 1 a prática do program a de cresci— erro espiritual/em ocional conheci do como os Doze Passos sugeridos por Alcoólicos Anônimos; (2) o iniresso em algum a organização de aju da m útua e (3) o afastam ento de todo medicamento que altere o hum or. Deto explicar que aqui, na Chácara P.eirdal, não tratam os aqueles raros : a:os de alcoólatras que tam bém são doentes m entais e precisam de medilan en to s psicotrópicos. Quando dep aramos que temos um paciente nessa categoria, ele é encam inhado para _ n a clínica psiquiátrica. A esposa, aflita e chorando, me respondeu que o m arido havia corne a d o a assistir a reuniões mas havia de: istido após algumas semanas “porcue sentiu que não precisava mais” . Çmando perguntei se ela o havia in centivado a voltar ao grupo, ela me respondeu que não parecia necessá rio: "Ele estava tão bem ” . Ela continuou: “ Se bem que, ulti m amente. ele tem-se m ostrado bas ta r :; nervoso e irritadiço e disse-me, várias ocasiões, que estava consi derando voltar ao grupo” . Não precisava ela dizer mais na- que fatalmente havia acontecido. Por não estar praticando o program a dos Doze Passos e usando a organização de ajuda m útua para ajudar outros alcoólatras, ele começou a sentir-se nervoso. (M uitas vezes dem ora um ano ou mais para o sistema nervoso voltar a seu estado norm al.) N atural mente, come; ou a pensar na bebida, lembrando-se de que o álcool sempre o havia acalmado em circunstâncias semelhantes no passdo. Contudo, sa bia, através da educação que nós lhe havíamos dado, que jam ais poderia voltar a ingerir um a bebida alcoólica sem reativar a sua dependência. De ve ter concluído que existem certos comprimidos que tam bém acalm am e, esquecendo o que lhe havíamos ensinado a respeito, certam ente ra ciocinou que comprimidos não são álcool. Além do mais, são prescritos por médicos e portanto não podem ser prejudiciais. Sua esposa me con firmou que ele havia procurado um médico e, sem dizer-lhe que era al coólatra, descreveu seus sintomas: ir ritabilidade, nervosismo, etc. O mé dico receitou-lhe uns calmantes e ele passou a tomá-los, despertando de novo a sua dependência química e levando-o, mais um a vez, ao copo. Os m edicamentos que alteram o hum or podem ser valiosos na desin toxicação de alcoólatras, durante os prim eiros 3 ou 4 dias. Tornam este breve período, de extrema agitação, mais cômodo. E como eles têm um efeito similar ao do álcool no sistema nervoso central, servem como substi tuto e evitam as perigosas convulsões e o perigosíssimo estado de delirium tremens. Mas estas drogas — sobre tudo os tranqüilizantes menores (Valium. Librium, Psicosedin, etc.), b a r bitúricos e hipnóticos não-barbitúricos são prejudiciais para o alcoólatra em qualquer outra ocasião. A pessoa que já tenha desenvolvido um a de pendência do álcool não poderá — sem correr o risco de agravar essa dependência — experim entar qual quer droga que altera o hum or (m u dando a m aneira de a pessoa sentir). Tam bém corre o risco de criar um a segunda dependência. Existe a cha m ada “ tolerância crüzada” entre es tes produtos químicos ;e, se o uso de um deles tiver levado a conseqüên cias danosas, o uso de qualquer ou tro corre grande risco de levar a re sultados semelhantes. Isto significa, portanto, que, se um a pessoa tiver um problem a com o álcool e estiver sendo tratada, o uso subseqüente de soporíficos, tranqüilizantes, sedativos ou qualquer outra coisa que altere o hum or (como maconha) envolve alto risco de (a) levar a pessoa de volta ao álcool, (b) tornar a pessoa dependen te da outra droga tam bém , ou (c) ambos. Assim, para ser bem-sucedido um tratam ento, o alcoólatra pos teriorm ente precisa evitar não somen te o álcool mas tam bém toda outra substância que altere o hum or. C H ÁC AR A REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.836 91498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V_______________ '__ ____________J /' •- / x i CUIDADO COM OS MEDICAMENTOS (Em ss íraíando d® alcoólatras) r -u itas pessoas — inclusive muitos I y ^profissionais — não distinguem entre motivos para beber e causa do alcoolismo. Para elas, alcoolismo é um sintoma secundário de “ proble mas psíquicos profundos” . Estas pes soas concluem que, se forem elimina dos ou aliviados os “problemas psí quicos profundos” , o alcoolismo ten derá a ceder por si só. Assim sendo, :entam resolver o problem a de bebi da do alcoólatra atacando o que consideram a raiz do problema: as causas” psíquicas. E p ara isto se utilizam demasiadamente de tranqüi lizantes. Este conceito do alcoolismo (que entende que motivos para beber são as causas do alcoolismo), junto com os tratam entos baseados nele, fazem parte de um dos maiores infortúnios no campo de saúde da Nação. Pois motivos para beber existem milhares, e servem tanto para alcoólatras como para não-alcoólatras. Mas as causas do alcoolismo podem ser reduzidas a duas: o álcool, e um organismo com predisposição à doença chamada “ de pendência” . Na realidade, o organismo do alcoólatra está predisposto a se tor nar dependente não só do álcool mas de toda substância que altera sua forma de pensar, sentir e comportarse, enfim, que altera seu humor. Esse fato é de suma importância porque sugere que alcoólatras não devem ser tratados com psicotrópicos. Certas drogas que alteram o h u mor — especificamente os tranqüili zantes menores — são valiosas nos primeiros três ou quatro dias da desintoxicação. Neste período crítico em que é necessário evitar o perigosíssimo estado de “ delirium trem ens” (que m ata um em aproxim adam ente oito), estes medicamentos têm um a função muito útil, pois tornam a desintoxicação do álcool mais segura e cômoda. Isto porque sua ação no sistema nervoso central é muito p are cida à do álcool. Porém, os tranqüili zantes são prejudiciais em qualquer outro ponto do tratamento do alco olismo. Isto significa que se um a pessoa tiver um problem a com o álcool e estiver sendo tratado do mesmo, o uso — após a fase aguda da desinto xicação — de soporíficos, tranqüili zantes, sedativos ou qualquer outro medicamento que altere o hum or, envolve um alto risco de levar a pessoa de volta ao álcool, de torná-la dependente do medicamento tam bém, ou de ambos. Assim, para ser bem sucedida a reabilitação, o al coólatra precisa evitar — durante o tratam ento e depois — não só o álcool mas, tam bém , as outras subs tâncias que alteram o hum or. Todos estes psicotrópicos — que tragicamente são usados em larga escala na “ desintoxicação” de al- coólatras — são contra-indicados por quatro razões bácicos: (1) porque podem levar a um a dependência que requer um período de desintoxicação mais prolongado que o do álcool; (2) porque, no caso de alcoólatras, agra vam o problem a que já existe, em vez de aliviá-lo; (3) alguns — especifica m ente os tranqüilizantes maiores — são contra-indicados para fins de de sintoxicação de alcoólatras porque são capazes de aum entar a incidência de convulsões (“ withdrawal seizu res” ); (4) finalmente, são contra-indi cados porque o alcoólatra que apren- ■ de a apelar para calmantes habituase a usar um paliativo artificial que substitui o tratam ento mais indicado para sua doença: um tratam ento es piritual capaz de torná-lo um a pes soa que não precisa de drogas p ara enfrentar a vida. z . _ : : r : z z z r:rz z z z r_ z z z rz : o J L A /0 ntJ PROBLEMA QE BEBiDA? 0 tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-americanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - C x. Postal 20.896 - T e ls.: 520-9514.e 63-5437 - São Paulo - S P . ri y / g>s P arte de u m a série de artigos sobre o alcoolism o. O a u to r, D r. Lazo, sociólogo, en g en h eiro in d u strial e d ireto r d a R E IN D A L (C entro de educação e tra ta m e n to p a ra alcoólatras), é, ele m esm o, u m alco ó latra recu p e ra d o h á m ais de quinze anos. D onald Lazo Quais os sintomas do e lc o o lis m o f -w 2 -% os sintomas visíveis geralmente aparecerão só E mbora depois de 5 a 10 anos, a doença do alcoolismo começa a desenvolver-se a partir do momento em que determinadas pessoas — suscetíveis ao álcool — tomam sua primeira be bida alcoólica. Processos orgânicos nos corpos dessas pes soas — que representam 10% a 20% de todas as pessoas que bebem — produzirão os seguintes efeitos: (1) Quando ingerirem bebidas alcoólicas, elas se sentirão altamente estimuladas e, ao mesmo tempo, desinibidas. Em festas, se sentirão como se fossem os convidados mais simpáticos, engraçados, bonitos e inteligentes. Esta sensação maravi lhosa as motivará a beber o quanto puderem . (2) Ao pas sar dos anos, seus organismos se adaptarão às grandes quantidades de álcool que bebem, obrigando-os a (e, mais importante e trágico, permitindo-lhes) beber quantidades cada vez maiores, sem sofrer os efeitos normais da em briaguez, ressaca, etc. (3) Eventualmente, perderão esta extraordinária capacidade de tolerar o álcool. Os efeitos tóxicos da droga acabarão deteriorando todos os órgãos e tecidos do corpo — comprometendo, em particular, o cé rebro. As reações físicas do organismo — e principalm en te do cérebro — aos efeitos tóxicos do álcool causarão aberrações psicológicas, da mesma forma que um tumor cerebral causa a depressão, a paranóia e a confusão men tal. Assim, embora a progressão do alcoolismo seja princi palmente um processo químico/físico, os sintomas visíveis da doença (salvo o primeiro) são psicológicos. O primeiro sintoma do alcoolismo já foi mencionado: o alcoólatra bebe “melhor” que os demais. Passa a tom ar quantidades maiores, com.maior freqüência, sem cam ba lear, sem enrolar a língua, sem ficar tonto e sem ter ressa ca no dia seguinte. Quem se imaginaria que é justam ente este “bom copo” que eventualmente será dominado pelo álcool? Alguns anos mais tarde, o alcoólatra perderá a capaci dade de tolerar a bebida. Embriagar-se-á com cada vez menores quantidades de álcool. Comprometerá seus valo res morais quando estiver embriagado e, como conseqüên cia, terá fortes sentimentos de remorso. Reagirá a estes sentimentos mentindo, minimizando as quantidades que bebeu e justificando as ocasiões (cada vez mais freqüentes) em que passou da conta: “Demoraram muito em servir o jan tar” ; “ Não é todo dia que se casa uma filha” , etc. Quanto mais envergonhado se sentir, mais apelará para a bebida para anestesiar seus sentimentos de culpa. Começará a procurar maneiras de beber sem criar pro blemas. tomando só cerveja, ou só nos fins-de-semana, ou 1B a v e m a ria Como posso saber se sou alcoólatra ? ■Jt-Âí' ~ ** j 7 ------- ,J % Éfef Ä rs : * V . ■ /■ g ’ ■. , ■ , -?J É i ,■, . V« . — '*■; • : / . . , um dia sim, um dia não, ou só depois das 18 horas, ou só na com panhia da esposa, ou nunca na com panhia da es posa. Nada funciona. Enquanto continuar bebendo, con tinuará piorando. Chorará bastante e gradativam ente se tornará agressi vo, projetando nos outros a decepção e ódio que sente de si mesmo. Perderá o gosto pela vida, a motivação de trab a lhar, a capacidade de externar seu amor pela família, a fé em Deus. Sofrerá repetidas perdas de memória. Tudo por causa do efeito nocivo do álcool — que agora se tomou o remédio para as angústias que ele mesmo cria — ao ao sistema nervoso .......... r™ — central. Esta pes pes- ESSE soa precisa urgen temente abando nar a bebida. A es ta altura, porém, a BE bebida alivia tanto BEBIDA? o seu sofrimento que não irá querer, de forma alguma, O tratam ento, ou internação, na REINDAL emprega viver sem ela. Ca as mais avançadas técnicas utiiizadas em conceitua centros de reabilitação norte-am ericanos. berá a outras pes dos REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra soas convencê-la Rua Augusta, 2676 (S P ) T e i.: 520-9514 ou 64-2326 da necessidade de se tratar. PROBLEMA Donald Lazo OS DIFERENTES EFEITOS DO ÁLCOOL (Nos organismos de alcoólatras) á m uitas definições de alcoolis mo e existem, aparentem ente, irios tipos de alcoolismo. M as estes detalhes interessam apenas aos estu diosos. O que interessa ao leitor (e o que m ais interessou a mim nos últi mos 17 anos) é como ajudar aquela pessoa cuja maneira de beber, com o p i;sar dos anos, vem prejudicando a e ic __e aos que convivem com e la __ cada vez mais. Esta pessoa tem um a doença progressiva, irreversível e que term ina na morte prem atura ou na loucura perm anente. Trata-.se do tipo mais comum de alcoolismo, aquele que foi classificado pelo Professor E. M. Jeliinek como alcoolismo gama. P ara saber como ajudar esta pes soa. é preciso primeiro saber o que ela tem. E é aqui que começa a confusão, pois, embora as grandes associações médicas do m undo (in clusive a do Brasi), definam o alco olismo como doença, a maioria das pessoas o consideram ou “ sem-ver gonhice e ponto” , ou então o sintoma de uma doença (doença psíquica, no caso). Ambos os enfoques estão er rados. -A <a r r o j O prim eiro sque estas pessoas co metem é o de julgar o alcoólatra com base nas suas próprias experiências com a bebida, “Eu, graças a Deus, não bebo em exagero, mas esse meu primo não sabe se controlar” . As pessoas cometem este erro porque pensam que o álcool afeta a todos da mesma forma, e esse é um grande equívoco. Diferentes comidas afetam dife rentes pessoas de maneiras diferen tes. Alguns não podem comer mo rango — saem manchas na pele de les. M inha esposa não pode beber eoca-cola sem sofrer um a terrível dor de cabeça. Eu não consigo comer lagosta: me dá um a cócega esquisita na garganta. Existem muitos tipos de 14 a ve m a r ia alergias: reações bioquím icas anor mais às substâncias ingeridas. Estim ulante e sedativo — Em bo ra a literatura da Irm andade de Al coólicos Anônimos sugira que o alco ólatra tem “um tipo de alergia” pe rante o álcool, parece-m e mais com preensível dizer que o alcoólatra se encontra num a m inoria de 10% a 15% da população que não está prote gida por um a alergia ao álcool. P ara entender o que quero dizer, é preciso saber duas coisas im portan tes: (1) O álcool é um a substância enganadora. Em pequenas quantida des, ele funciona como estim ulante. Em maiores quantidades, seus efeitos sedativos e tóxico superam o efeito estim ulante. (2) Existe um a condição química nos organismos de alcoóla tras que lhes dá maior capacidade de ingerir bebidas alcoólicas que as pes soas não-alcoólatras. P ara 85% a 90% da população, o efeito eufórico do álcool não é tão acentuado. Com um ou dois ou três drinques, estas pessoas poderão sen tir-se um pouco desinibidas e relaxa das, alegres até — mas não conse guem beber muito. Se tom arem um pouco mais, ficarão tontas e enjoadas — um a sensação desagradável. Estas pessoas aprendem cedo em suas vi das que, em bora o álcool funcione como estim ulante em pequenas quantidades, para elas (devido à sua lim itada capacidade), dois ou três drinques constituem um a grande quantidade de álcool, e, com essa quantidade, elas sentem os efeitos desagradáveis ao álcool. Com o alcoólatra, a coisa é dife rente. Sua capacidade perante o ál cool (repito: devido a algum fenôme no químico no seu organismo) é maior. Para ele (ou ela), dois ou três drinques é uma pequena quantidade de álcool e, portanto, ele sente o efeito estim ulante da bebida. Sente-se muito bem e até eufórico. Q uan do ele bebe, o efeito é m uito parecido ao efeito de alguns narcóticos: seus problemas, suas dores (emocionais), suas mágoas desaparecem ... p o r al gumas horas. Suas dívidas “ são p a gas” ... por algumas horas. As inim i zades somem e sente-se integrado ao m undo. Todos são seus am igos... por algumas horas. (Um aparte: mais adiante, poderá desenvolver um ódio de si mesmo — devido à sua frustra ção por não conseguir controlar a be bida — e projetar esse ódio naqueles que mais estão tentando ajudá-lo (er radam ente, é claro, porque tentam aconselhá-lo a controlar a bebida quando isto é fisicamente impossível para ele). No alcoólatra, além do mais, um a pequena quantidade de álcool (nos primeiros estágios da doença), lite ralm ente lhe faz bem: pensa melhor e funciona melhor. Testes psicotéc nicos já provaram que pequenas quantidades de álcool aum entam a capacidade mental e m otora do alco ólatra, em bora as mesmas quantida des dim inuam a capacidade do não-alcoólatra. Assim sendo, a próxim a vez que você for tentado a dizer ao alcoólatra na sua família: ‘‘Por que você não bebe como eu?” , lembre-se: o alcoó latra não é como você. Ele é quim ica m ente diferente, e essa diferença no seu corpo faz com que ele seja bene ficiado pelo álcool, enquanto você é prejudicado. Não é justo, portanto, querer com parar o com portam ento do alcoólatra perante a bebida com o com portamento dos demais. REINDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP ts/õG A L C O O L IS M O O organismo anormal do alcoólatra chamado aldeído acético. A ntes de ser covertido, por sua vez, este al deído acético é levado pela corren te sanguínea até o cérebro, onde uma pequena parte, segundo Mumey, permeia um neurotransm issor cha mado dopamina. Logo ocorrem m ui D onald Lazo tas reações quím icas com plicadas que resultam na form ação de alca lóides, um dos quais sendo a TIQ. té meados dos anos 70, a Uma das características in tri área predom inante de ingantes da TIQ é que, uma vez fo r estigação no cam po do alcoolism o mada, ela nunca desaparecerá en era a pesquisa psicossocial. Já não quanto a pessoa viver. Permanece e ~ a is . Hoje, a ênfase está sendo no encéfalo até o alcoólatra morrer. colocada na área geral da neurobioOs cientistas sabem disso, explica 3-gia. As diferenças entre os organis M um ey, porque injetaram TIQ nos mos do alcoólatra e do não-alcoócérebros de m acacos e sete anos sira que estão sendo descobertas mais tarde, quando m ataram e au são fascinantes, com o são tam bém topsiaram estes macacos, encontra as teorias — baseadas nessas diferam exatam ente a mesma quantida =nças — que visam a explicar por de de TIQ que havia sido injetada an cue os alcoólatras se tornam depenteriorm ente nos seus encéfalos. centes da substância e os não-alcoóUma segunda característica in atras não se tornam . trigante da TIQ é que parece conver Existe cada vez mais evidência te r em bebedores vorazes os que de que alguns dos fatores que cons normalmente não gostam da bebida. tituem a chamada "pre disp o siçã o Diz M um ey: "F oram conduzidos orgân ica" ao alcoolism o são transm uitos e m uitos testes durante um ~ ltid o s geneticamente. Estes fo rn e longo período de tem po nos quais a cem a base para considerar o alcooTIQ foi injetada nos cérebros de ra smo uma doença hereditária. to s que eram absolutam ente aversiGostaria de mencionar uma área vos ao álcool. Isto é, os ratos che de pesquisa que ilustra por que os gavam a morrer de sede antes de ex oesquisadores estão cada vez mars perim entar água com uma mínima tteressados em investigar os pro quantidade de á lc o o l". A pós injetar cessos bioquím icos no corpo do al a TIQ nos encéfalos dos ratos, co n coólatra tudo, os mesmos animais antialcoóUm exem plo dos petiscos fa s c i licos passaram a beber vodca pura. nantes que o leitor curioso encontra E bebiam até morrer! aparece no livro de Jack M um ey, A terceira característica intrigan com o títu lo S ittin g in the Bay te da TIQ é que esta quím ica é en .Vindo w . contrada exclusivam ente nos cére bros de alcoólatras (e dependentes Jack M um ey escreve sobre um fa to r T H IQ " (a maioria dos cie n tis da heroína). Não se encontra no cé tas o chamam " T IQ ” ), uma abrevia rebro de qualquer bebedor social, diz tura de tetraidroisoquinolina, "ta lve z M um ey. A parentem ente, existe no a substância mais viciadora que o corpo de certos bebedores algum nomem co n h e c e ". Ela é form ada processo, geneticam ente influencia quando o fígado do alcoólatra co n do, que — através de uma série de verte o álcool que encontra na co r reações químicas — converte uma rente sanguínea em um subproduto parte do álcool que bebem em uma  21 a v e m a r ia substância (TIQ) que os leva a um desejo insaciável por mais álcool. No folheto publicado pelo Insti tu to Nacional de A lcoolism o e A b u so do Álcool (NIAAA) do governo norte-americano e intitulado Alcoholism : an inherited disease (A lcoolis mo: uma doença herdada), Peter L. Petrakis menciona a TIQ, explican do que, quando esta substância, "parecida com a m o rfin a ", foi in tro duzida no encéfalo, "e la levou ani mais que norm alm ente evitam o ál cool a escolher o álcool em doses moderadas, com efeitos sem elhan tes em m aca co s". No livro A lcoolism o — Os m itos e a realidade, Jam es R. Milam, o fa moso pesquisador norte-americano, tam bém se refere ao produto da in teração do aldeído acético com a do pamina, dando-lhe o nome de tetraidropapaverlina (THP). Diz Milam: "Q u a n d o a THP era injetada nos en céfalos dos ratos, faziam com que aqueles que normalmente rejeitavam álcool passassem a beber em quan tidades excessivas. Os ratos injeta dos com THP bebiam até embrigarse e sofriam os sintom as da síndrome de abstinência quando paravam de beber. Continuavam a beber co m o que para evitar os sintom as de sagradáveis e penosos da síndrome de abstinência. Em suma, o com por tam ento dos animais im itava o com portam ento de beber dos alcoó la tra s” . Tudo isso deve ser de especial interesse para aqueles membros de A A que vêm advertindo aos recémchegados a essa irmandade que, m esmo após 4 0 anos de abstinên cia, não poderão experim entar o ál cool novam ente sem, mais cedo ou mais tarde, encontrar-se bebendo descontroladam ente de novo. Será por causa da TIQ, que se encontra som ente entre bebedores alcoóla tras, que clama por álcool e que per manece no encéfalo a vida toda? G D onald M . L a z o Parte de um a série de artigos sobre o alcoolism o. O a u to r. D r. Lazo. sociólogo, engenheiro industrial e diretor da REIN DA L (Centro de educaçào e tratam ento p a ra alcoólatras), é. eie m esm o, um alcoólatra recuperado h á m ais de quinze anos. Quais as causas do alcoolismo? * o discutir as causas do alcoolis-Porém, um estudo feito em um hos M m o . convém primeiro definir a pital em Texas (nos Estados Unidos) doença. Das m uitas definições que provou exatamente o contrário. Ana existem, me parece mais prática a lisando as vidas, as personalidades e seguinte: determina-se que um a pes os problemas emocionais de 5.000 soa é alcoólatra quando ela perde — alcoólatras antes de terem começado j com cada vez mais freqüência — a a beber, e comparando-os com 5.000 capacidade de controlar a bebida pessoas aparentem ente não-alcoólaalcoólica e, conseqüentemente, esta tras, descobriu-se que existiam em lhe causa problem as crescentes em ambos os grupos o mesmo núm ero de um a ou várias áreas de sua vida. pessoas tímidas, inibidas, sensíveis, É im portante distinguir entre be etc. Também existiam em ambos os ber e ser alcoólatra. Aproxim ada grupos os mesmos índices de distúr bios psíquicos, neuroses, problemas mente m etade da população toma bebidas alcoólicas e a outra metade emocionais e problemas mentais. nunca tom a bebidas alcoólicas. Da Em bora os cientistas mostram ex m etade que bebe, 10% a 20% tom am - traordinária relutância em aceitar a se alcoólatras e os demais bebem a evidência, h á enorme e crescente nú rida inteira sem se prejudicar. Em mero de estudos apontando para fa números mais compreensíveis: tores genéticos como sendo im por tantes contribuintes p ara a doença do De cada 100 pessoas, 50 nunca alcoolismo. Um dos muitos estudos, bebem bebidas alcoólicas, 40 a 45 por exemplo, iniciou-se há mais de bebem a vida inteira sem problem a, 25 anos atrás na Escandinávia. E n 5 a 10 bebem e desenvolvem a doença. volve grande número de gêmeos gera Estima-se que no Brasil existem, dos por alcoólatras e divididos em 3 no mínimo, 6 milhões de homens e categorias: a prim eira categoria inclui mulheres alcoólatras. Como é que um grupo de gêmeos criados pelos eles desenvolveram esta doença? Qual próprios pais; a segunda categoria a causa do seu alcoolismo? inclui gêmeos entregues — logo de No que diz respeito às causas do pois de nascer — a pais adotivos, alcoolismo, apenas três coisas podem com cada casal de gêmeos criado ser afirm adas definitivamente: pela mesma família; a terceira cate1) Não existe um a única causa. Mas é difícil — talvez impossível — isolar muitas das possíveis influências para então poder afirm ar que são causas e não efeitos. 2) Problemas psíquicos préalcoólicos, ou determ inados tipos de personalidade, já foram eliminados como causas do alcoolismo, em bora possam motivar tanto alcoólatras quanto não-alcoólatras a beber. 3) Acumulam-se as provas de que fatores genéticos (quer dizer, heredi tários) estão envolvidos. Incontáveis são as teorias sugerin do que pessoas com determinados problemas psíquicos/em ocionais ou determinados traços de personalida de (os tímidos, os inibidos, os sensí veis, os muito mimados, os carentes de afeto, etc. etc. etc.) são mais propensas a se tornarem alcoólatras. goria envolve grupos de gêmeos tam bém adotados, porém separadam en te, sem haver contato entre os irmãos. Depois de 25 anos, os resultados do estudo vêm m ostrando que o índice de alcoolismo — 65% acima do normal, por sinal — é quase idêntico em todas as três categorias. O raciocínio indutivo leva à conclusão de que existe um fator genético nes tes gêmeos que lhes causou uma predisposição ao alcoolismo, inde pendentem ente do ambiente em que foram criados. Resumindo, entende-se hoje que certas pessoas aparentemente nascem com predisposição ao alcoolismo, bastando tom ar bebidas que conte nham álcool para desenvolver a doen ça. Além do mais, trata-se de um a doença primária. Isto quer dizer que ela não é causada por “problemas psíquicos profundos” , como muitos afirmam. Cada nova pesquisa no campo fortalece a idéia de que se trata de enfermidade, vários aspectos da qual são transmitidos genetica mente. Parece ser um a reação consti tucional — e progressivamente pato lógica — à ingestão do álcool. O im portante é frisar que não são p ro blemas emocionais ou mentais que levam ao alcoolismo. Muito pelo con trário, é o álcool que — devido a sua ação nociva no sistema nervoso cen tral e especialmente no cérebro — vai criando problemas emocionais e men tais. E levando, eventualmente, à loucura ou a um a morte prem atura. Próximo Artigo: Q U AIS OS S IN T O M A S DO ALCO O LISM O ? 0 & PROBLEMA 0E BEBIDA? O tratam ento, ou internação, na REINDAL em prega, as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-americanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 (SP) T e !.: 520-9514 ou 64-2326 a v e m a r ia 13 bebo. É este fato que esclarece o ponto de vista p artic u la r dos AAs. P a ra eles, eu não sou um alcoólatra 4‘curado” (ou um ex-alcoólatra) p o r que, p ara eles, um alcoólatra “cura do” seria um alcoólatra que tenha readquirido a capacidade de voltar a beb er controladam ente. Os AAs sabem (e eu sei) que eu não readqui ri essa capacidade. Se eu ten tasse v o ltar a b eb er algum a bebida alcoó lica hoje, m esm o após e s ta r afas tado dela por quase 20 anos, eu aca baria — m ais cedo ou m ais ta rd e — reativando a m inha dependência, que me levava a b eb e r desbragadam ente. Mas isso não quer dizer que não estou recu p erad o ou que o alcoolis mo não tenha solução. E le tem solu ção. sim, senhor. Os àlcoólatras que p aram de b eb e r se recuperam . E seu alcoólatra poderá se re cu p erar tam bém ! R epito: o alcoólatra que passa por um a internação onde o tra ta m e n to é especiálizado, e de pois se in teg ra em um g rupo de aju da m útua, tem 80% de probabilida de de se recu p erar. ---------------------------------------------------------------------- V CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo . Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 ^-«91498 São Paulo, SP /«(Fone: (011! 520-S514) f * _________ • .fj. ^ ^ ff r — f.. *\ ' I f í \ j C L E RECUPERÁVEL D onald L a zo (D iretor da R E IN D A L ) Q uerer e pensar que é possível parar de beber é o grande passo para a independência da bebida alcoólica. uitos fam iliares me p erg u n tam se realm en te podem os recu p e ra r um alcoólatra nas duas sem anas apenas em que nossos pacientes fi cam intern ad o s na C hácara Reindal. Afinal, o nosso anúncio afirm a que "... em 2 sem anas a nossa equiDe re sta b elece a saúde física e em o cional do alcoólatra...” As pessoas que me fazem esta p e rg u n ta são céticas porque estão acostum adas a in te rn a r seus alcoó la tra s por períodos que variam de um m ês a té trê s m eses, seis m eses e mais. E depois estão acostum adas a v er seus alcoólatras vo ltarem a b eb er d esbragadam ente d en tro de pouco tem po após receberem alta. A cabam concluindo que "o nosso sem -vergonha realm en te não tem jeito ”. A conclusão está errad a . 0 al coólatra volta a b eb e r desb rag ad a m ente após um a internação prolon gada por m uitas razões, todas elas conseqüência da ignorância que prevalece no nosso B rasil com re s peito ao processo chamado alcoolis mo. P reten d o abordar estas razões nos próxim os artigos. Um fa to r prejudicial que leva o alcoólatra a beber de novo (quer di zer, b eb er desbragadam ente) após uma internação é a atitu d e da famí lia que, sem dúvida, não te rá m uda do nada nesse ínterim , enquanto o alcoólatra esteve internado (a não ser que ela tam bém esteja se tra ta n do e educando sobre o alcoolismo). P a rte im portante da atitu d e prejudicial da família é que, no fun do, ela não acredita que o caso de | seu alcoólatra tenha realm en te uma solução, logicam ente tra n sm i tindo e ste ceticism o e desconfiança p ara o próprio alcoólatra. (0 alcoó la tra que p en sa que não pode p a ra r de b eb e r, não p á ra mesmo!!. E não é por m enos que a família pense d essa m aneira. A m aioria dos profissionais que “tra ta m ” de alcoó la tra s no B rasil tam bém não acred i tam nas suas recuperaçõ es e, n a tu ra lm e n te , tra n sm ite m esta d es crença aos fam iliares de seus p a cientes. Dois m eses a trá s , por exem plo, a esposa de um alcoólatra me disse que ela havia feito uma p esquisa e n tre m uitas clínicas na á re a da G rande São P au lo onde alco ó latras e ram c o stu m eira m e n te intern ad o s. A cabou decidindo expe rim e n ta r a C hácara R eindal porque “vocês foram os únicos que m e d e ram algum a esp e ran ç a de que m eu m arido p o d eria s e r re c u p e ra d o ” , me disse ela. “E m todos os dem ais lu g a re s fui in fo rm ad a que o alcoo lism o não tem solução” . Nós dam os esp e ran ç a aos que nos pro cu ram p orque sabem os que o alcoolism o tem solução. Aliás, quando o tra ta m e n to é ap ro p riad o E A F A M ÍL IA COOPERA, alcoo lismo é um a das doenças crônicas de m ais fácil solução. A lguns m em bros de Alcoólicos A nônim os in a d v e rtid a m e n te con trib u em p ara d issem in ar a idéia de que o alcoolism o não tem solução. E sta sem ana receb i um a c a rta de um a esposa d e se sp e ra d a em B rasí lia. E la m e disse: “D esejo que o se nhor m e ajude na resolução d este g ra v e problem a, pois m em bros de AA já me inform aram que o alcoo lismo não tem c u ra ”. O te rm o “c u ra ”, como ele é em preg ad o pelos A A s, tem um signifi cado todo especial p ara eles, o qual a v a sta m aioria das pessoas não en tende. A s pessoas norm alm en te en ten d em que um alcoólatra e s tá “cu ra d o ” do alcoolismo quando ele não sofre m ais as conseqüências n eg ati vas do beber, isto é, quando a bebi da Hão lhe causa m ais problem as. E ste é o meu caso, por exemplo. E m b o ra eu chegasse a um estágio bem adian tad o do alcoolismo anos a trá s, há m ais de 18 anos que a be bida não me cria qualqu er proble ma. A c o n te c e que o álcool não m e causa m ais problem as po rq u e não o D onald Lazo r ( -t m §1- ü £t K ! Vzf- mm k vV- fl ' % Jt i1 jthr ^ Raramente conseqüência, mas sempre causador de problemas psíquicos profundos. o Brasil, com pouquíssimas ex ceções, quando um alcoólatra precisa ser hospitalizado, ele acaba ; sendo internado em clínica psiquiát trica. Se ele ( ou ela) desconfiar que é i alcoólatra e se for um dos raros alco! óiatras que quer se tratar, a prim eira coisa que lhe ocorrerá é procurar um psiquiatra. No entanto, o Dr. Harry Tiebout, conhecido como um dos psi■ quiatras que mais entendia de alcoo lismo na sua época, reconhecia que a psiquiatria era muito falha no cam po do alcoolismo, conseguindo aju dar apenas 3% destes doentes. Qual a razão desle paradoxo? A razão é que, de um modo ge ral, o alcoolismo aind;> é considerado mais um sintoma de problemas psí quicos profundos do que um a doença em si. O curioso é que raram ente o alco olismo é causado por problemas psí quicos profundos ou por um a perso nalidade defeituosa. Muito pelo con trário, o alcoolismo (causado princi palm ente por processos bioquímicos peculiares ao alcoólatra) sempre CAUSA problemas psíquicos profun dos. deformando a personalidade do bebedor. Há várias coisas que expli cam o paradoxo entre o que se pensa e a realidade. A prim eira é que as velhas teorias psiquiátricas (de que o instinto da morte induz o alcoólatra a um sui cídio lento; de que o alcoólatra se fixa no estágio oral da desenvoltura; de que o alcoólatra é um homossexual latente, etc.) chegaram primeiro e são difíceis de remover. Até relativa mente poucos anos atrás, não exis tiam a evidência biológica e os estu dos sobre hereditariedade que nos ilum inam hoje e que provam haver diferenças orgânicas (algumas trans m itidas geneticamente) entre alcoóla tras e não-alcoólatras. A segunda coisa que explica por que tantos pensam que o alcoolismo é conseqüência ao invés de causador de pròblem as psíquicos, é que o alco olismo raram ente é diagnosticado nos estágios iniciais, antes de apare cerem os sintomas psicológicos. Os conhecimentos existentes não estão sendo disseminados am plam ente e a sociedade, portanto, não está educa da para diagnosticar o alcoolismo nos primeiros anos de sua progres são. quando os sintomas são orgâni cos e ainda não existem sintomas psíquicos. Resultado: o alcoólatra é geral mente visto por um médico só quan do já tenha chegado a um estágio bem adiantado da doença. E nesse estágio, ele já desenvolvera proble mas psicológicos (angústia, nervosis mo, insegurança, medo, etc.) e um a personalidade defeituosa e distorcida (egocentrismo em torno da droga, hip e rs e n sib ilid a d e , p erfec cio n ism o , pensamentos obsessivos, etc.) como conseqüência de seu beber exagera do. São estes os sintomas que o mé dico vê, e ele conclui (corretamente) que o paciente está bebendo demais porque os tem. O erro que o médico normalm ente comete é ir um pouco mais longe e concluir que, se o alcoó latra está bebendo por causa desses problemas, então esses problem as devem ser a causa de seu alcoolismo. Ë a velha história do ovo e da gali nha. Ele não só confunde motivos para beber como causas do alcoolis mo, mas tm bém confunde causas com conseqüências. Vamos ver' se conseguimos acabar com a confusão. Devido a seu organism o singular, o alcoólatra (a) é beneficiado m ais pelo álcool que o não-aleoólatra e (b) consegue beber mais que o não-alcoólatra. Com o tem po, seu corpo se adapta e ele tem que beber cada vez mais p ara obter os mesmos bene fícios. Com o passar dos anos, as grandes quantidades de álcool que bebe (e que não-alcoólatras não con seguiriam beber) vão afetando todo o seu corpo, sobretudo o cérebro (con trolador do sistema nervoso). Come çam, só então, a aparecer os sinto mas psicológicos da doença, e estes sintomas desagradáveis o levam a be ber mais (já que o álcool, além de ser um tóxico que envenena o cérebro e causa problem as psíquicos, tam bém é um sedativo que alivia os sintomas que ele mesmo causa). E quanto mais bebe, o alcoólatra mais proble mas psíquicos cria, mais necessidade tem de alívio e m ais recorrerá a seu sedativo predileto — o álcool, crian do assim o círculo vicioso que ca racteriza a progressão da doença. Mas o im portante em toda essa história é reconhecer que, no alcoo lismo, processos biológicos peculiares ao alcoólatra quase sempre antece dem os aspectos psicológicos da doença. E o psiquiatra que se dedi car a tentar elim inar os problemas psíquicos, sem alertar seu paciente para a necessidade de abandonar o álcool, está quase sempre fadado a fracassar, porque estará tentando aliviar os sintomas de um a condição que continuará gerando esses sin tomas. D onald Lazo Alcoolismo - Pecado ou doença? Alcoolismo é um problema de saúde, não um problema moral. Nos dois artigos anteriores (AM r. - 6 e AM n.° 7), expliquei que familiares de um alcoólatra não de vem se permitir ser dominados ou intimidados por ele. Nem devem tole rar. passivamente, qualquer comporramento irresponsável por parte dele. N Io devem aceitar suas mentiras óbvias ou suas promesí ^s vazias. Não devem fazer por ele o que ele deve fazer por si mesmo. Não devem en trar num carro que ele vai dirigir alcoolizado. Não devem beber com ele. Não devem quebrar seus galhos. Não devem facilitar-lhe a vida. Tudo aquilo só irá garantir que ele contir.uará bebendo, cada vez mais. E mais: em lidando com alcoóla tras ativos, as palavras não valem nada. Aceite no mais profundo de sua alma: seus argumentos, seus ape:os. suas implorações, seus sermões, suas críticas, suas ameaças, seus gri tos são totalmente contraproducen tes. Colocados na balança com a necessidade dele de beber pesam pouco. Preciso repetir: as meras p a lavras não vão fazer seu marido ou sua esposa, seu pai ou sua mãe, seu irmão ou sua irmã, seu filho ou filha parar de beber. Muito pelo contrário. Vão fornecer-lhe justificativas para beber mais ainda: “ Puxa, você bebe ria tam bém se estivesse rodeado de gente te enchendo o tempo todo!” O alcoólatra só vai querer parar de beber quando as conseqüências do seu beber se tornem intoleráveis para ele. E quanto mais cedo isso aconte cer, melhor. Cabe aos familiares do alcoólatra permitir que aconteça. Pa ra isto, as pessoas que convivem com o alcoólatra precisarão se desligar emocionalmente da doença (para não se tom arem parte do problema em T4 ove m a rie vez de parte da solução), sem se desligar afetivamente do doente. Isso certam ente não quer dizer tugir da doença. E im portante entender que, no desenvolvimento do alcoolismo, o be bedor vai se afastando cada vez mais da realidade que vive. Vai criando uma m uralha de defesa psíquica (usando, como tijolos, a m entira, a justificativa, a minimização, a su pressão e a projeção) para poder suportar um a situação emocional que para ele vem se tornando dolorosa demais. Por que dolorosa para ele? Porque, ao contrário do que tantos pensam, longe de ser um “ sem-ver gonha” , o alcoólatra vive envergo nhado pelo conflito entre seu com portamento e seus valores. Se não tivesse vergonha, não teria esse confli to. É esse conflito doloroso que o obriga a m entir,Justificar suas bebe deiras, minimizar a quantidade que bebeu, suprim ir a lem brança de seus atos vergonhosos e projetar nos ou tros o ódio que tem de si mesmo. Toda essa defesa psíquica o protege da am arga realidade de sua vida e de seus atos. Ele não percebe a gravida de de sua situação. Mas, é preciso que ele a veja. Por isso, o conflito interno que ele vive deve ser aproveitado. Eu disse que não se deve fugir da doen ça. Ela não deve ser incoberta ou escondida, como se fosse um a vergo nha. Alcoolismo é doença, e doença é um problem a de saúde, não um problema moral. Não tenham medo de discutir a doença abertam ente. Ela está presente, tem nome e preci sa ser eliminada. Assim, toda vez que suija um a conseqüência negativa causada pelo beber exagerado de alcoólatra (um tombo, um vexame, um acidente, um prejuízo qualquer), deve ser discuti do com o alcoólatra, mostrando-lhe a ligação entre seu alcoolismo e o acon tecimento. Por sinal, é sempre bom falar-lhe em termos de sua “ doença” e não de sua “ teimosia” , sua “ estupi dez” , sua “fraqueza” ou sua “irres ponsabilidade” . E claro que essas conversas preci sam ser tidas com carinho e preo cupação responsável, nunca com rai va. Se elevar a voz (“T á vendo?!!”) não só terá perdido um a oportunida de de m ostrar ao alcoólatra um a realidade que ele não está conseguin do enxergar (devido àquela m uralha psíquica protetora), mas terá dado a ele mais um a bela justificativa para beber. Finalmente, devo dizer que se você depende financeiram ente do al coólatra, você está quase autom atica mente desqualificada como um a das pessoas que poderá ajudá-lo, pois fatalm ente será um de seus maiores “ facilitadores” , por medo que ele per ca o emprego e deixe de trabalhar. P ara as esposas que dependem finan ceiramente de um marido alcoólatra, tenho um conselho im portante: co mecem im ediatam ente a aprender um a profissão e a tornar-se financei ram ente independentes. Só então é que terão condições emocionais de ajudar seu marido em vez de preju dicá-lo. @ CS PROBLEMA BE BEBIDA? 0 tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-amencanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - Cx;. Postal 20.896 - T e is.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - SP. BS ALCOOLISMO: DOENÇA, NÃO 'VERGONHA Parte tíe uma serie de artigos sobre o a lc o o lis m o . O autor, Dr. Lazo, s o ció íog o, engenheiro in d u s tria i e d irato r da R E IN D A L (C entro de e d u c a ç io e tra tam e n to para a ic o ó iatras ), é, e ie m esm o, um aícoólatra recuperado há m ais de quinze anos. Ignorância, o grande inimigo que mais dificulta uma reabilitação. Quando se trata do alcoolismo — _ n i ca? três doenças que mais adulzn2ia no mundo ocidental — o ç z n c c inimigo é o desconhecimen:: Veia bem... Ao ouvir a palavra “ alcoólatra” , r_a_ é a imagem que surge na sua - tz : ‘ ~ Para a maioria das pessoas, é i z t ta s vagabundo sujo, jogado na ;,u:aia, segurando um a garrafa meia i ~-í Contudo, o “ bêbado de sarjerepresenta uma pequeníssima r>: Msntagem de todos os alcoólatras — :zr» ez menos de 5 %. Para o Brasil ■; : istem estatísticas, mas l o s Es:i í ; í Unidos, 85% dos alcoólatras âo empregados, trabalhando temrc integral. Mais da metade estão : u a i os e ganham acima da média. --------------------------------------------------------------J A maioria dos alcoólatras sabe que no fundo são “ normais” , embo ra se tornem fisicamente doentes e psicologicamente perturbados com maior freqüência que seus amigos e vizinhos. Isto explica por que as esposas e maridos não abandonam seus cônjuges alcoólatras. Não são masoquistas ou mártires como a lite ratura popular dá a entender. Não os abandonam porque sabem que seus cônjuges são basicamente pessoas boas (“ Quando ele não bebe é um santo!” ). O alcoolismo é uma enfermidade que p o d e . vitimar qualquer um, a partir do momento que comece a beber. Podem ser alcoólatras a esposa do gerente do banco, o psiquiatra que tratou seu amigo, até o p ad re da paróquia. Betty Ford, a esposa do Ex-presidente dos Estados Unidos, admite publicamente ser uma alco ólatra, agora recuperada. Joan Kennedy, esposa do Senador Edward Kennedy, também. Billy Cárter, ir mão do atual Presidente, também. Quem confessar ser dom inade pela bebida está em boa companhia. Aproximadamente um a em cada dez pessoas que bebem desenvolve esta enfermidade, caracterizada pela progressiva perda de controle sobre a bebida e a conseqüente deterioração do corpo, do. sistema nervoso, do cérèbro e, conseqüentemente, da per sonalidade. No Brasil, estima-se que existem 6 milhões de alcoólatras — 600.000 apenas na Grande São Paulo. Onde estão? Por que não os ve mos por toda parte? Por que relutam tanto em admitir que se tornaram dependentes ao mesmo tempo que perderam o controle sobre a bebida? Por que suas famílias se empenham em escondê-los em vez de tratá-los? A resposta a estas útimas pergun tas é simples, embora trágico e cho cante. Na oitava década do Século ¥r Vinte, o alcoolismo ainda é conside rado um a vergonha em vez de uma doença, como também eram no pasr sado a tuberculose e a epilepsia. Isso precisa mudar. DO NALD M. LAZO PROBLEMA 0E BEBIDA? . ^ | Geralmente, o bebedor exagerado nega que tem um problema. Enquanto isso, crescem os conflitos - no lar. Para aprender como ievar o bebedorproblema a querer se tratar, faça o CURSO DE A C O N S E L H A M E N T O F A M IL IA R D A R E IN D A L . Rua Augusta, 2676 (SP) 32 ave maria Tel. 64-2326 ou 520-9514 sociedade do Brasil Império, costume imnortado d a França, no século XIX, razão pela qual a sua m arcação é em iraricês. Popularizando-se, a dança influenciou bailes da roça, onde a marcação francesa foi deturpada. A iesia junina realizada atualm ente não tem mais conteúdo folclórico: a quadrilha é dançada em iê-iê-iê, os instrumentos são elétricos e as rou pas não são mais aquelas. As pala cianas “quadrilhas” que eram o to que de beleza nos salões imperiais, com sua coreografia, sua “ marcação” em voz alta, popularizaram -se e pas saram a ser constituídas de bailarinos matutos ou caipiras, com trajes que caracterizam os sertanejos... roupas de aspecto ridículo, de cores berran tes. chapéus de palha, fitas no cabeí lo. etc. Esta dança de pares que se tro cam lembra ainda, apesar da comi cidade, o cavalheirismo das autênti cas quadrilhas francesas. M as a d an ça, os cantos proferidos pelo povo, variam conforme a região. Nc Nor deste, por exemplo,, dança-se coco, coco-de-praia, o bambelê, o boi-de-são-joão, sambas, m archas, roda-pagode, xote, etc. E como a música é um a das cons tantes em todos os festejos juninos, estão hoje, muito presentes, o baião, o x a x a d o , a toada, a em bolada, a ciranda, a m archa sertaneja e outras. Ainda existe o famoso “Banho de São João”. Segundo Pereira da Costa. as pessoas percorriam as ruas de R e cife e iam banhar-se no m ar ou nas águas do Beberibe ejtn homenagem a São João. Hoje, esta tradição conti nua ainda viva nos festejos do campo e em Olinda (PE) e constitui “refle xos do batismo de Cristo, ministrado pelo santo nas águas do Jordão”. P ara muitos, esta festa nada tem que ver com o grande santo, que foi um santo austero e que trouxe a mensagem da penitência e do arre pendimento, do sacrifício e da entre ga a Cristo. “Im porta que ele, isto é, Cristo, cresça e eu dim inua”, foram as palavras que São João pronunciou. Quem se lembra, durante os fes tejos, da mensagem São João? As caipirinhas, as bebidas e os bailes juninos não nos levam à consi deração da penitência e do sacrifício. Quando é que os católicos serão teste m unhas de Cristo, no meio dos fe s te jos populares juninos? 12 a v e m a r ia Má compreensão por parte do alcoólatra e da sociedade gera confusão e opiniões preconceituosas. Donald Lazo ,f í r t 61 Sk C. r~ r.Wlã Ir* r nos atrás traduzi /--% p ara o português um folheto que começa va assim: “ Suponhamos que um a nova doença subi tam ente se alastrasse aqui no Brasil — uma doença cuja causa não fosse totalm ente com preendida, porém que tivesse um tal efeito no sistema nervoso que mais de 8 milhões de pessoas se tornassem loucos por períodos «va riáveis de algumas ho ras até semanas e me ses, períodos estes que se repetissem, cada vez com maior freqüência, durante 10 a 30 anos. Suponhamos, ain da, que durante esses períodos de loucura, es tas pessoas cometessem atos tão destrutivos que as vidas, material e es piritual, de 40 milhões de brasileiros fossem cruelmente afetadas, e o trabalho, no mundo das profissões, do co mércio e da indústria fosse sabotado ou dei xasse de ser realizado, a um custo incalculável para a Nação. n r H fWt *ní vß 's*é Wz Finalm ente, supo Igreja, pela profissão nhamos que esta doen médica e psiquiátrica ça tivesse a qualidade em sua m aioria, pelas peculiar de poder alte pessoas que convivem rar o juízo de suas ví com alcoólatras e pelos timas de tal form a que próprios alcoólatras. se tornassem incapazes Todo aspecto da doen de se reconhecerem ça é confuso e distorci doentes, chegando a do por mitos, falsos querer, a todo transe, conceitos e opiniões tornarem -se cada vez preconceituadas. mais doentes. De um m odo geral, Um a tal emergência o alcoólatra é conside seria classificada como rado um degenerado um a catástrofe das moral que escolheu mais sérias, e bilhões um a vida de degrada de cruzeiros seriam gas- ção e, por falta de m a :tos para que milhares turidade e força de von de cientistas pudessem tade, permite-se perder pesquisar as causas do o emprego, a família e mal, tra ta r suas vítimas o auto-respeito. Ou ene evitar que a doença se xtão, é considerado um a propagasse. pessoa que sofreu um Pois a terrível em er traum a na infância, ou gência figurada acima um a decepção profun já está conosco. Tal da mais recentem ente, doença é o alcoolismo. e bebe desbragadamenAfeta um a em cada se te para esquecê-lo. As pessoas que pen te pessoas que bebem, e muitos já o consideram sam cometem três erros a.p doença que mais básicos: (1) pensam que adultos m ata no Brasil” . o álcool afeta todos da O alcoolismo é es mesma m aneira; (2) sencial e tragicam ente não distinguem entre um a condição mal com alcoolismo e o beber preendida: pelo povo exagerado e (3) confun em geral, pelas autori dem motivos para be dades governamentais, ber com causas do al pelos educadores, pela coolismo. .A L C O O L IS M O Levando o álcpol a sério ou como evitar derram es de petróleo na escola primária D o n a ld L a zo uve-se, às vezes, a expressão "ganhar a batalha, mas perder a guerra". Contudo, na chamada contra as drogas, até esta pequena con solação poderá estar fora de alcance, se cundo Dick Dilion, diretor da Cox Medi cai Centers nos EUA. Uma batalha recente que foi perdi da, numa guerra que também está sen ão perdida, disse Dick, foi a enorme ca tástrofe ecológica causada pelo navio petroleiro da Exxon que encalhou, na cos ta do Alaska. Chamada por alguns "o maior desastre ambientai da história americana", pode demorar anos para de terminar a magnitude dos danos causa dos pelo derrame de petróleo no mar. E o custo de limpar a área poderá chegar a ser o menor dos custos a ser pagos, pois estes incluem as perdas aos pesca dores da região, para não mencionar as perdas ambientais globais. E que é que tudo isso tem a ver com o alcoolismo e a guerra contra as drogas? A ligação está na descoberta de que o capitão do navio que estava sendo pilo tado, na hora do encalhe, por um mem bro não-autorizado da tripulação, esta va com um nível de álcool no sangue in dicativo da embriaguez. O consenso foi que a embriaguez do capitão levou ao acidente. Porém, muito mais importan te do que isso, é a revelação de que não foi a primeira vez que o álcool havia cau sado problemas para aquele capitão. Acidentes ligados ao abuso do ál cool, embora em escala menor, ocorrem diariamente... nas nossas estradas, em O «% 22 a v e m a r ia n o v e m b ro /8 9 nossas fábricas e em nossos lares, e até nas nossas escolas. Estes acidentes fe rem e matam pessoas, avariam e destroem propriedades, dissolvem lares e separam famílias. Entendam bem: estoume referindo a problemas causados pe lo álcool, a droga legal (em ambos os sentidos). Medidos em termos de dóla res, o custo destes problemas é tão dra mático que, comparado com ele, o der rame do petroleiro Valdez teria de ser considerado uma gota no mar. Deixe-me tentar tornar o problema das drogas — e depois o problema maior do álcool e do alcoolismo — um pouco mais realístico, já que nas drogas os Es tados Unidos vão encontrar, a meu ver, guerra um inimigo muito mais poderoso que to dos os países comunistas. E já que as drogas narcóticas começam a ser — e o álcool já o é há muito tempo — um pro blema seriíssimo no Brasil. Você sabia que os habitantes da ter ra gastam mais dinheiro com as drogas ilegais do que com a comida? Mais, aliás, do que gastam com habitação, roupa, educação, cuidados médicos ou qual quer outro produto ou serviço! A indús tria internacional de narcóticos é a indús tria de maior crescimento do mundo. Sua renda anual ultrapassa meio trilhão de dóiares, ou quase dois mil bilhões de cru zados novos, (Um bilhão é mil milhões. Mil bilhões é um milhão de milhões. Es tou falando de dois mil bilhões!) São três vezes o valor de toda a moeda que cir cula nos Estados Unidos. Mais que o pro duto interno bruto (PIB) de todo país no mundo menos as 6 maiores nações in dustrializadas. É o que a indústria dos narcóticos rende por ano. Para imaginar a imensidão de tal riqueza, considerem o seguinte: Um milhão de dóiares, em ouro, pe saria o que pesa um homem grande. Meio trilhão de dóiares, em ouro, pesa ria mais que a população inteira de Campinas! Os iucros da indústria de narcóticos, estocados secretamente em países que estão concorrendo para obter o dinhei ro, ganham juros em excesso de 3 mi lhões de dólares por hora\ Mas agora vem a pior parte da his tória. 0 álcool, aquela droga inofensiva e portanto legai, mata muito mais que to das as drogas ilegais do mundo. E sabem por quê? Porque o álcool é legal. É até uma boa idéia, não é mesmo? É tido mais como um lubrificante social do que co mo uma droga perigosa. Só que mata mais do que as drogas cujos lucros ga nham juros de 3 milhões de dólares por hora. Talvez seja por isso que uma com panhia de bebidas como a Seagrams te nha uma "reserva para eventualidades” maior do que a reserva do Brasil! Está na hora de começarmos a le var o álcool a sério; a incluir cursos so bre o alcoolismo nas escolas de medici na, e não só isso mas em toda escola pri mária (como está começando a aconte cer nos EUA); a ensinar os medicandos como diagnosticar o alcoolismo e como levar o alcoólatra a aceitar, ao invés de rejeitar, o tratamento de que tanto ne cessita. E a ensinar as crianças a ter cau tela com o álcooi. Para que 85% dos que morrem de alcoolismo pelo menos sai bam o nome da doença que têm (atual mente, 85% dos alcoólatras morrem sem jamais saber que eram alcoólatras). Para que pessoas, que poderiam ter si do recuperadas há anos, não continuem bebendo e causando todo tipo de proble ma, sem sequer saber que são alcoóla tras. * C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01438 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) ATE QUE PONTO O ALCOÓLATRA ESTÁ FORA DE CONTROLE D o n ald L azo (Diretor da R E IN D A L ) A palavra chave para toda pessoa dependente da bebida é o QUERER. Quando alguém DECIDE parar de beber, aí, sim, e somente aí, o alcoólatra terá controle de si. definir o alcoolismo em E comum termos de “ perda de controie” . O por causa da bebida, alguém (geral mente um m em bro da fam ília bemalcoólatra, segundo a definição, é -intencionado) os tirará do aperto. uma pessoa que não tem mais con Na pior das hipóteses, os outros acei trole sobre a bebida. tarão m ais um a bebedeira. “ Que va Que significa isso? Significa que, mos fazer? Ele é doente, coitado” . quando o alcoólatra começa a beber, Eu pergunto: se o alcoólatra está fo ele é de tal form a ‘beneficiado’,pela ra de controle, com o é que tantos p a bebida que quer continuar bebendo. ram ? Com o é que eu parei? Em outras palavras, não é que ele não Q uando começa a beber, o alcoó pode parar de beber. É. que, não, quer latra é de tal form a “ beneficiado” parar. P ortanto, dizer que ele “ per pelo álcool que quer continuar. C ada deu o controle” sobre a bebida é um drinque que tom a aum enta o “ bene pouco enganador. Sobretudo, porque ficio” , afasta sua sensação de estar alguns vão mais longe e dizem que o fazendo algo que não devia e, por alcoólatra é um a pessoa que não só tanto, intensifica seu desejo de tom ar não controla quanto ele bebe senão mais um . que também não controla quando vai Com o se poderia descrever esse beber. “ benefício” ? Bem, eu diria que é um Isso não é verdade (e não esque “ benefício” duplo. No alcoólatra, o çam que é aim alcoólatra que está es álcool funciona com o um solvente e crevendo estas linhas). O único al um estimulante. coólatra que não controla quando Um solvente é algo que dissolve vai beber é o doente m ental que não coisas, fazendo-as desaparecer. Padre controla coisa algum a. Ou então o | Joseph M artin, o famoso alcoólatra alcoólatra nos últim os estágios da | cujas palestras cinematográficas têm doença, que precisa beber para afas ajudado milhares de alcoólatras, cos tar o delirium tremens. M uito pou tum a dizer que o álcool é um dos sol cos alcoólatras estão nesse estágio. ventes mais eficientes que existem. Eu já vi alcoólatras parar de be “ Ele dissolve manchas em tapetes” , ber que estavam trem endo tanto que explica o padre, e continua, começan tinham que sentar sobre suas mãos. do a sorrir. “ Aliás, dissolve os A diferença é que eles queriam parar. tapetes. Também (o sorriso desapare A bebida chegou ao ponto de estarce) dissolve lares, famílias e vidas” . lhes trazendo mais desvantagens do Q uando o alcoólatra bebe, o ál que vantagens. Infelizm ente, estes cool dissolve suas m ágoas, suas preo são a m inoria. cupações, seu sentido de responsabi A vasta m aioria dos alcoólatras lidade e até suas dívidas. Ele pode ter não precisa p arar de beber. Bebem entrado no botequim pendurado até porque podem . Sabem que, se acon o pescoço. Um a hora depois está tecer qualquer coisa desagradável com prando drinques para meio m un 2 8 a v e m a r ia do. C ontinuando a beber, perde a censura. P ara que parar? Está tudo bem! A outra coisa que o álcool faz pa ra o alcoólatra é estim ulá-lo. Com e ça a sentir-se bonito,, sim pático, inte ligente e rico. Não é de se estranhar que o alcoólatra logo peça mais um ... e mais um . Quem não gostaria de fi car cada vez mais bonito, sim pático, inteligente e rico? Com o álcool, o al coólatra fica. E tem mais. Nos prim eiros anos, o álcool nunca decepciona. Sempre que o alcoólatra bebe, sente-se m ara vilhoso. T anto é que, nos estágios mais adiantados da doença, quando o alcoólatra não consegue mais atin gir esse estado de euforia, ele conti nua tentando. “ Quem sabe, se tom ar mais u m ” . O im portante em tudo isso é o que disse antes. N ão é que o alcoóla tra não p o d e p arar de beber. É que, quando está bebendo, não quer pa rar. Ele é incentivado a continuar be bendo. É forte esse incentivo. Chama-se com pulsão. Mas essa com pulsão aparece só depois que o alcoólatra começa a be ber. Antes, ela não existe. Ele com e ça a beber porque sabe que vai ficar rico e bonito. Mas não precisa com e çar. N ão está fora de controle. Co meça p o rque quer ou po rq u e p o d e. Porque as vantagens do beber ainda são m aiores que as desvantagens. Cabe à fam ília convencê-lo de que não pode começar a beber sem que isso leve a desvantagens m aiores que as vantagens. r : 'n CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 91498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) \ _________________ __ __________________ s D o n a ld L azo (Diretor da REINDAL) Para se tornar adulto é preciso passar por um estágio de amadurecimento até doloroso; é nesse estágio que se aprende que não se pode fazer o que bem se entende e quando bem se entende. odos nós que somos adultos sabe mos que o ser hum ano sadio pas sa por duas fases básicas na vida. Existe a fase da infância, em que não somos responsabilizados por nossos atos. E existe a fase adulta, em que somos responsabilizados. P ara o ser hum ano — que, por natureza, tem um a boa dose de egoís mo — a fase da infância é a fase mais m aravilhosa da vida. A criança faz e diz o que bem entende e os outros não só aceitam mas se desdobram p ara justificar os seus atos. A final de ; contas, é apenas um a criança! A criança, quando quer beber, berra. E m am ãe corre para fornecer o leite. Q uando quer fazer as suas ne cessidades, a criança pega e faz — na h o ra em que quiser e onde quiser. E os outros correm para lim par e tro car o nenê. A criança fala exatam en te o que pensa (“ P or que você usa es se vestido feio?” “ Seu nariz é tão grande!” E u não gosto de você!” ), e os outros aceitam , sorrindo em baraçadam ente. Afinal de contas, é ape nas um a criança! Q uando qualquer coisinha inco m odar a criança, ela solta um grito e os outros saem correndo para ver “ o que que foi, queridinho” . Busca-se com ida, fecha-se a janela, m uda-se a posição na cam a. Em outras palavras, a criança é rei e ninguém discute seu ! direito de sê-lo. E um a situação idíli ca que d u ra alguns anos e que nunca é esquecida. Qual é o ser hum ano que não gos taria fazer e dizer o que bem entende, na ho ra em que lhe ocorra fazer ou dizê-lo, sem que ninguém cisme de torná-lo responsável por seus atos? Gostou daquele Mercedes Benz? Pois, pegue-o e vá em bora. É o seu direito. ; Gostou daquela moça? Pois, diga-lhe que a quer para si, e ela virá corren do. Não quer trabalhar? Prefere pas 2 i ove maria sear? Tudo bem, pode deixar. Passeie à vontade e os outros trabalharão por você para pagar os seus passeios. Não seria maravilhoso aquilo? Pois esse é o estado idílico em que vive a criança e que nunca esquece. Aliás, nós adul tos passamos o resto da vida pensan do muito nesse estado em que éramos reis. Quantos não passam a vida toda lutando para am ontoar dinheiro, sa bendo que dinheiro é poder e achando que o poder os levará de novo a esse estado idílico de poder fazer sempre o que bem entendem? Quantos não se guem uma carreira política porque as sociam a política com o poder e acham que o poder os colocará nesse estado idílico? Que é que tem tudo isso a ver com o alcoolismo. O que tem a ver é o se guinte. Quando o alcoólatra bebe, ele volta para esse estado idílico. Começa a fazer e dizer o que bem entende e a tragédia é que todos os demais ime diatamente começam a justificar suas ações e atitudes irresponsáveis. “ Afi nal de contas, estava bêbado! Não sa bia o que estava fazendo” . Nos 19 anos em que m inha espo sa Sônia e eu estamos lidando com alcoólatras e suas famílias, h á um a coisa que vemos constantem ente e que, no entanto, nunca deixa de cho car-nos. É a capacidade da família (a esposa, os pais em especial) de supor tar o com portam ento irresponsável do alcoólatra, de desculpá-lo e até de justificá-lo. O abuso que o alcoólatra im põe à sua família é inacreditável. E não es tou me referindo a um incidente ou outro. Refiro-me a abusos m orais e físicos constantes através de um pe ríodo de anos e anos. A criança, afi nal, passa por um estágio de am adu recimento bastante doloroso, porque é nesse estágio que ela aprende que não pode fazer o que bem entende quando bem entende. Se os pais não ensinarem isto aos seus filhos através da disciplina, a sociedade em geral se incum birá de ensinar-lhes por meios bem mais dolorosos na “ escola da vida” . Todo adulto perceptivo olha com apreensão ao seu redor p ara as vastas lutas pelo poder que se travam entre indivíduos, organizações e países — entre pessoas que continuam crian ças. Já pensou o que seria do nosso m undo se toda pessoa continuasse criança, se ninguém aprendesse a frear seu egocentrismo, se ninguém tivesse que assumir a responsabilida de por seus atos? Pois eu lhes digo com o seria o m undo. Seria igual ao lar em que vi ve um alcoólatra, no qual não há um m om ento de paz e tranqüilidade. São 24 horas por dia da mais alta tensão — de m entiras, acusações, justifica tivas, gritaria, confusão, enfim, de inferno. Certam ente pensam que o alcoó latra é culpado por tudo aquilo. E certam ente pensam que eu concordo,' porque consideio o alcoólatra o “ nenê-rei” que nunca am adureceu. Pois não concordo. Eu culpo os familiares, os pais, as esposas, enfim “ os facilitadores” que permitem que continue tudo aquilo por anos a fio. Q uando irão aprender que essa imen sa capacidade de absorver o abuso do alcoólatra não é um a virtude? É um a atitude tão irresponsável quanto a do nenê-rei. E o pior é que é um a atitude que serve unicamente como passapor te para a m orte do alcoólatra. • ALCO O U SM O A Raiva Programada do Alcoólatra D r. Jo sep h A. P u rsch alcoólatra feliz é um mito. Ele pode parecer feiiz àqueles que o conhecem superficialm ente, mas. se você convive com um alcoólatra no cia-a-dia, sabe que seu humor credominante é a raiva. Em termos gerais, todos os seres humanos conhecem a rai, a. Sentimo-la, nos apegamos a ela e a m anifestam os quando estamos fartos de algo ou so mos provocados. Para os alcoóatras, contudo, a raiva se torna até uma ferramenta. Por exemplo, à noite, quan do eu me encontrava em casa e surgia a vontade de largar mi nha esposa e meus filhos e sair por aí bebendo (sim, eu era um meninão bem egocêntrico), pro curava alguma justificativa, co mo a necessidade de comprar cigarros ou consultar um colega de serviço. Quando minha espo sa argumentava que havia um pacote de cigarros na sala e que podia consultar meu colega por telefone, aí eu apelava para a ig norância. Logo ela também fica va nervosa e começava a gritar comigo. Era isso que eu queria. “ Olha, se você vai gritar com igo desse jeito, vou refrescar minha cabeça lá fora, porque aqui não dá para fic a r!” Saía, então, ba tendo a porta e dirigia-me ao bar mais próximo. O É desta form a que alcoóla tras se convencem, m ais tarde, de que não são alcoólatras, não têm problem a de bebida e suas bebedeiras são inteiram ente justifica d a s. Convencem-se de que beberam porque foram pro vocados, aliás praticam ente obrigados a beber pelas ações ou atitudes da esposa (ou do chefe, ou do filho, ou do colega, ou de qualquer outro bode-expiatório conveniente). Tomemos outro exemplo, o de um alcoólatra que chamare mos Rodolfo. Após um dia duro no escritório, sente-se cansado e frustrado. A cam inho de casa decide parar num de seus bote quins prediletos para tomar “ uns drinquezinhos para rela xar. Em poucos m inutos se en contra batendo um papo com duas pessoas “ fascinantes” . Ele sabe que já devia estar seguindo para casa. Mas o pen sam ento de filhos gritandojque precisam de atenção), de brin quedos quebrados (que preci sam ser consertados) e de uma esposa a flita (que precisa de um companheiro) não são ca pazes de concorrer com o am biente agradável do bar, com o prazer de bater um papo furado com dois estranhos ou com a chance de se lam uriar da vida dura que leva junto a uns “ ve lhos am igos” . Por meio de um processo mental que nem ele consegui ria explicar, Rodolfo “ sabe” que esta noite vai se tornar ou tra noitada. Mas, por ser um ho mem bastante educado, pri meiro terá de ju s tific a r a bebe deira para si, para sua esposa e para seus amigos. Assim sen do, pede desculpas e se dirige ao telefone do bar para ligar pa ra sua mulher. A conversa vai mais ou menos assim: “ Oi, querida. Olha, estou aqui ocupado com alguns c li entes im portantes que chega ram na últim a hora” . Com aque le suspiro de homem de negóci os exausto no fim de um dia du ríssimo, ele acrescenta: “ Jan tem você e as crianças, que eu chegarei mais tarde, quando c o n s e g u ir me liv ra r d e sta gente” . Ora, essa canção a esposa já ouviu mil vezes antes e, sa bendo o que significa, ela diz: “ Rodolfo, pelo amor de Deus não vá se embriagar de novo es ta noite. Por favor, R odolfol” Pronto! Bastava isso para Rodolfo m ostrar-se indigna do. Fingindo-se chocado, res ponde: “ Não acredito no que acabo de ouvir. Aqui estou eu, matando-me 60 horas por se mana para tentar manter uma esposa e três filhos, e você me vem com essa!” O silêncio no outro lado da linha incentiva Rodolfo a mostrar-se ainda mais irritado, e aí ele explode: “ Escute aqui, Olga, chega de conversa com você. Eu te ligo para dar-te uma satisfação e explicar o meu atraso e você vem com toda es sa sua agressividade e com es sa de “ Não vá se em briagar de novo esta noite” . Pois, já que você falou isso, eu vou fica r fo ra esta noite até a hora que bem entender. E sou capaz de me embriagar m esm o!” Com isso, ele bate o te le fo ne, enfurecido. Agora sente-se totalm ente ju stifica d o e sem culpa alguma. E pode voltar a seus “ velhos am igos” e, com eles, embriagar-se em paz. Mais uma vez, a raiva salvou o dia! • m a r ç o /9 1 a v e m a r ia 21 Usando g “doença" como justificativa D onald Lazo Ouarido um alcoólatra passa por um tratamento adequado e depois volta a beber, ele é mais do que um doente. Ele é um doente sem-vergonha. muitos séculos, as pessoas D orante cae bebiam demais eram trata- te estão levando ao beber exagerado. Esse tipo de “ tratam en to ” não resol ozí :om o criminosas pela sociedade ve o alcoolism o. Pelo contrário, os c como pecadores pela igreja. É muiremédios (se forem calm antes) irão :: bom que estas idéias vêm mudana g r a v a r a dependência do alcoólatra oo É m uito bom que cada vez mais e fazê-lo beber mais ainda quando pessoas estão considerando o alcooreceber alta. Paradoxalm ente, em al — o um a doença e não uma vergo- coolismo a solução é d e ix a r de tom ar ooa. Mas o conceito de alcoolismo remédios tipo calm ante. com o doença tem tam bém suas desMas, existe uma conseqüência aooagens. Vou explicar. pior. Q uando o alcoolism o é cham a M uitos médicos e profissionais — do doença, o próprio alcoólatra po e há quase 50 anos, praticam ente to derá tom ar uma atitude que tenho cos os m em bros de Alcoólicos Anôvisto muitas vezes: “ Tudo bem, dou oimos ao redor do m undo — vêm intor, aqui estou em suas mãos. Curendo em que o alcoolismo é uma -me” . Com o se a recuperação do al ooença — que o alcoólatra bebe por coólatra fosse responsabilidade do ser doente e não por ser sem-vergomédico. Não é. É do alcoólatra. E o oha. Esta insistência em cham ar o al alcoólatra precisa dessa responsabili coolismo doença tem grandes vanta dade. O conceito de alcoolismo co gens. Um a das maiores é que o al mo doença tende a tirar-lhe a respon coolismo passou a ser tratado por sabilidade. ncédicos em hospitais ao invés de por Ainda outra desvantagem é que roliciais em cadeias. Um a segunda doença geralm ente implica que o antagem é que a aceitação do alcoodoente é vítima inocente de sua m o mo como doença está ajudando a léstia. Até certo ponto, em se tratan eliminar o estigma associado à condi do do alcoolismo, eu teria de concor ção. Pode ser em baraçoso e até ver dar com isso. Para mim é difícil cul gonhoso ter um “ bêbado sem-vergo par uma pessoa por ter-se tornado n h a” na família, mas não é vergo dependente de um a substância não nhoso ter um “ doente” na família. só aceita mas quase im posta por nos Assim, aum enta a possibilidade de a sa sociedade. As outras drogas são família de um alcoólatra procurar proibidas. O álcool é prom ovido. É :ratar a pessoa em vez de escondê-la. inconcebível pensar em um reclame O utra vantagem extremamente im na televisão que diz: “ M aconha ‘X ’ é portante: ajuda o doente a aceitar e uma boa idéia” . ai sumir seu alcoolismo em vez de ne C ontudo, quando um alcoólatra gá-lo. Afinal de contas, admitir-se passa por um tratam ento que o de aicoólatra é precondição imprescinsintoxica e educa e ele depois volta a dível da recuperação. beber, ele deixa de ser uma vítima Mas cham ar o alcoolismo doença inocente. Q uando um tratam ento de '.em tam bém grandes desvantagens. sintoxica um alcoólatra, colocando-o A prim eira resulta do fato de que, em condições de ver, ouvir e com ouândo se pensa em doença, logo se preender, e educa-o sobre o álcool, o pensa em algo que pode ser curado alcoolismo, os sintomas da doença e com remédios. Agora, infelizmente, as conseqüências do seu beber, então m uitos consideram que o alcoolismo se fez por ele tudo o que os outros è sintom a de problem as psicológicos podem fazer. A partir de então, cabe e usam remédios (calmantes) para ao alcoólatra, e unicamente ao al aliviar os problem as que teoricam en coólatra, m anter-se afastado da be bida. Se o tratam ento for bom , ele saberá que há m uitas coisas que po derá fazer para m anter-se sóbrio. Poderá freqüentar um a associação de ajuda m útua. P oderá ten tar.co lo car em prática os Doze Passos sugeri dos por Alcoólicos A nônim os. P ode rá tentar ajudar outros alcoólatras. Poderá manter-se afastado dos luga res onde sempre bebia antes. P oderá assum ir sua doença e explicar para todo o m undo que ele é alcoólatra e que é por isso que não pode beber mais. Aliás, “ poderá” talvez não se ja a palavra apropriada. “ D everá” seria melhor. Essas coisas não são di fíceis de fazer, nem desagradáveis. Pelo contrário, são agradáveis. E gratuitas. E pequeno o preço que o alcoólatra tem que pagar para salvar a sua vida e deixar de infernizar a vi da dos outros. Mas alguns alcoólatras não que rem se dar o trabalho de fazer essas coisas. Eles decidem que vale a pena tentar beber de novo — experim entar uma só. Mas uma só não lhes dá aquela euforia que sempre buscaram na bebida. P ortanto, passam a tom ar duas, três e, no fim, caem no círculo vicioso de novo. A estes alcoólatras eu culpo. Eu os culpo de egoísmo e, sim, de sem-vergonhice. Muitas pessoas (inclusive médi cos) não concordam comigo. Eles di zem: “ Mas ele é doente. Ele não con segue se controlar” . E acabam ju sti ficando a recaída. Eu não quero subestim ar a difi culdade que um alcoólatra tem de abandonar a bebida sem tratamento. Ele não sabe o que tem . P ara ele, a bebida não é a causa dos seus p ro blemas, é a solução. Não lhe ocorre parar de beber definitivam ente. Sem desintoxicação, orientação e am paro apropriados, é quase impossível um alcoólatra se recuperar. Mas quando estas coisas lhe são proporcionadas, ele ganha as armas suficientes para controlar sua doença, abandonando a bebida. Centenas de milhares de alcoólatras recuperados são prova disso. Eu sou prova disso. P o r isso, insisto. Quando o alcoólatra passa por um tratam ento adequado e de pois volta a beber, ele é mais do que um doente. Ele é um doente sem-vergonha. H ave ma ria 31 Alcoolismo: mais desvantagens do rótulo "doença" D o n a ld L azo Como o conceito “ doença” do alcoolismo leva as pessoas a agirem de maneira contraproducente perante o 4'doente” alcoólatra. enho dito que é m aravilhoso que, cada vez m ais, as pessoas estejam i encarando o alcoolism o com o um a doença e não um a vergonha. C ontu do, classificar o alcoolism o como doença tam bém tem suas desvanta gens. Porque doença im plica certas coisas que não se aplicam ao alcoo lismo. E como as pessoas agem de acordo com as implicações, m uitas vezes tratam o alcoólatra de m anei ra contraproducente, ou seja, de m a neira a perm itir que continue beben do sem se responsabilizar pela sua saúde, o que só pode agravar o seu estado. Senão, vejam . As pessoas rece bem a sim patia das dem ais. A noção aceita é que as pessoas doentes não decidem ser doentes, não escolhem ser doentes. São pegas de surpresa por circunstâncias (acidentes, viro ses, etc.) alheias à sua vontade. Além do mais, entende-se que estar doente é desagradável e que, durante o pe ríodo da doença, tudo se deve fazer pelo doente para que ele sofra menos e se sinta m elhor. E tem mais: duran te o período da doença, não se espera do doente que ele assum a suas res ponsabilidades norm ais. Considera-se que sua doença lhe tira a capaci dade de assumir essas responsabili dades. As pessoas que procuram aju dar o doente assumem suas responsa bilidades por ele. Finalmente, pessoas doentes não são criticadas por m anifestar os sin tom as de sua doença. São considera das vítimas indefesas de suas aflições, incapazes de fazer qualquer coisa a respeito. Seu com portam ento, quan do anormal, é justificado como sendo sintoma da doença. “ Está doente, coitado. Não podemos culpá-lo” . A gora vamos à realidade do al coolism o. O alcoólatra é um a pessoa que, geralm ente por m otivos sociais, começou um dia a tom ar bebidas al coólicas. Não dem orou muito para ele sentir-se extrem am ente beneficia do pelo álcool. N ão se sabe com certez^ se o benefício que ele sente é de vido ao fato de o alcoólatra sofrer maiores tensões que o não-alcoólatra (tensões estas que são aliviadas pelo álcool) ou se é devido a diferenças orgânicas no corpo do alcoólatra. Não acho que aquilo im porta m uito, a não ser aos estudiosos. O que im porta é que o alcoólatra se sente m ui to beneficiado quando tom a bebidas alcoólicas. Entre outros benefícios que recebe, todas as suas preocupa ções desaparecem poucos m inutos depois de ele com eçar a beber. Pelo fato de ele sentir esses benefí cios sempre que beba, ele acolhe bem toda oportunidade para beber que se lhe apresente. (Está iniciando sua de pendência psicológica.) Não demora muito para ele começar a procurar ocasiões e justificativas para beber. Gradativamente — porque as células do seu corpo estão aprendendo a con viver com o álcool que ele bebe e que permeia o corpo inteiro — ele começa a desenvolver um a tolerância ao ál cool. Com o passar do tem po, devido a esta crescente tolerância, ele terá que beber cada vez mais para obter os mesmos “ benefícios” . (E o desenvol vimento da dependência física, que acabará fazendo com que ele se sinta mal quando não estiver bebendo.) A doença deste bebedor se cham a dependência de uma droga. (Sim, porque p ara 5% a 10% da popula ção, o álcool funciona com o droga poderosa que cria dependência, da mesm a form a que p ara quase 100% da população a heroína, m orfina e cocaína criam dependência.) A gora, a dependência (conse qüência do ato de beber) leva a dois resultados: (1) leva o alcoólatra a querer beber cada vez mais; e (2) leva ao surgim ento de problem as n a vida do alcoólatra, ou incapacita-o para resolver os problem as norm ais que surgem na vida de to d a pessoa. Estes problemas são bênçãos dis farçadas. São justam ente as desvan tagens do beber que acabarão se con trapondo às vantagens que estão nu trindo sua dependência. A cabarão levando o alcoólatra a entender que, em bora o beber traga grandes benefí cios a curto prazo, tam bém tem grandes desvantagens a longo prazo. É imprescindível que o alcoólatra chegue a esta conclusão. E p ara che gar a ela, é imprescindível que ele so fra as conseqüências dos problem as gerados pela sua dependência, antes de que o álcool, com o tóxico veneno so, acabe com suas defesas físicas e o m ate. P orque, se o alcoólatra não so frer as conseqüências negativas do beber, não cogitará em p arar de be ber. E, se não parar de beber, acaba rá m orrendo do alcoolismo; Creio que, se o leitor ag ora reler a prim eira parte deste artigo, entenderá facilmente como o conceito “ doença” do alcoolismo leva pessoas a agirem de m aneira contraproducente perante o “ doente” alcoólatra. e / ----------------------------------------------- N C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V _____________ J o v e m o r/o 31 "k Tk Alcoolismo: Ik as desvantagens do rótulo "doença" D o n a ld L azo N o alcoolismo, o alcoólatra é o terapeuta principal, participando ativamente de sua recuperação integral, não bastando somente a medicação prescrita pelo médico que auxilia na reabilitação das conseqüências físicas produzidas pelo álcool. médicos para diagnosticar e, muito menos, para tratar o alcoolismo). Mas é um engano achar que um médi co, ou qualquer outra pessoa, pode recuperar um alcoólatra sem a partici pação total do alcoólatra. A nenhum alcoólatra deve ser permitido nutrir esta ilusão. O conceito de doença pode criar a falsa im pressão, tam bém , de que o alcoolismo pode ser trata d o com pí lulas (como o é em centenas de clíni cas psiquiátricas no m undo inteiro). Vivemos na época das cham adas “ drogas m iraculosas” . A toda hora, na televisão, somos assaltados por reclames prom ovendo pílulas que instantaneam ente curam tais males o meu últim o artigo, eu disse que com o dores de cabeça, dores m us grandes vantagens resultaram do culares, angústia, nervosism o, insô fato de o alcoolismo ser cada vez mais aceito com o uma doença e não nia, etc. Estam os condicionados a um pecado ou um a vergonha. É m ui pensar que, para cada m oléstia, deve to mais lógico e hum ano trata r um haver um a solução rápida. dependenje -de um a droga do que Pouco se fala nas moléstias que puni-lo, m orm ente no caso de um a têm recuperação, mas um a recupera droga que não somente não é proibi ção lenta e que requer m uito esforço da pela sociedade, mas é aceita por p o r parte do doente. P or exemplo, ela e até quase imposta. com terapia física, m uitas vítimas de No en tanto, taxar um alcoólatra acidentes autom obilísticos, aparente de doente tem grandes desvantagens mente paralisadas e sem esperança, tam bém , porque “ doença” tem cer acabam aprendendo a andar de novo. tas implicações que não se aplicam M as, nestes casos, a vítima tom ou parte ativa na sua reabilitação. Para bem ao alcoolismo. Muitas vezes, o que sua reabilitação fosse bem-suce alcoólatra se aproveita da confusão dida, a vítima foi obrigada a fazer para continuar bebendo ou, na me horas de terapia física diariam ente, lhor das hipóteses, para não se esfor às vezes durante anos. çar m uito na sua recuperação. f. Como mencionei no artigo ante O alcoolismo é esse tipo de doen rior, um a das implicações infelizes é ça. É um a doença crônica e, falando I que, como doença, o alcoolismo deve em term os médicos, doenças crôni ser í ratado por médicos. É ao médico, cas não podem ser “ curadas” — corr suas técnicas e seus medicamen apenas controladas. Esse controle tos m odernos, que olhamos para efe pode incluir tratam entos específicos, tuar a recuperação do alcoólatra. em hospitais e com drogas. Mas sem Ora, não discuto que haja um papel pre têm algo mais, e sempre se requer im portante para o médico no diag a cooperação do doente. nóstico e tratam ento das conseqüên Considere o exemplo da diabetes: cias físicas do alcoolismo (se bem que pode-se prescrever a insulina, m as is muito poucas escolas de medicina — so nunca basta. Um nutricionista te muito poucas mesmo — habilitam os rá que elaborar um a dieta especial N para o doente. Provavelm ente ensi narão ao paciente com o verificar sua urina. É bem possível que o diabético também tenha que fazer algumas m udanças n a sua ro tin a de vida. Em outras palavras, a pessoa com um a doença crônica não é o recipiente passivo de um tratam ento médico. A vítima de um a doença crônica preci sa tornar-se um colaborador ativo do médico, assum indo um a grande par cela da responsabilidade pela conten ção de sua m oléstia. No caso do alcoolism o, tam bém , essa colaboração é imprescindível. Só que os exercícios que o alcoólatra tem que fazer não são exercícios físi cos. São exercícios espirituais. De fa to, prim eiro terá de parar de beber, e às vezes isso requer ajuda médica e medicamentos para evitar os perigos maiores da síndrom e de abstinência (tremores e alucinações não são peri gosos mas as convulsões e o delirium tremens o são). Porém , a parte mais difícil do tratam ento — e mais p ro longada, pois dura o resto da vida — não é parar de beber. É não voltar a beber. E para que não seja tentado a voltar a beber, o alcoólatra precisa fazer seus exercícios espirituais. Terá que trabalhar para desinflar seu o r gulho e desenvolver sua hum ildade. Terá que fazer um a introspecção des temida, analisando-se honestam ente para descobrir seus principais defei tos e tentar controlá-los no futuro. Deverá tentar aproxim ar-se de Deus e dedicar pelo m enos uma parcela de sua vida aos outros. P ara que sua recuperação seja bem-sucedida e com pleta, quer dizzer, para que o alcoólatra se torne uma pessoa feliz e útil à sociedade, ele terá que devotar semanas, meses e anos à sua terapia espiritual. Caso contrário, será o que cha mamos um “ bêbado seco” , um al coólatra que apenas parou de beber, mas que continua com todos os de mais sintomas do alcoolismo: o ner vosismo, a irritabilidade, a prepotên cia, a angústia, o orgulho, a insônia. Como aqueles alcoólatras que che gam a um centro de tratam ento e di zem: “ Aqui estou. Eu vim para ser curado. P ortanto, curem -m e!” Essas pessoas não entenderam que o alcoo lismo é um a doença diferente, na qual o alcoólatra é o terapeuta prin cipal, participando ativam ente de sua recuperação integral. • a v e m a r ia 2 9 * % % A LC O O LIS M O % % l Alcoolismo: iratável em duas semanas? Acostumados a internações áe até meses, que inclusive não dão certo "porque o tempo foi pouco", os brasileiros não concebem ser possível recuperar um alcoólatra em apenas duas semanas. Tudo isto é explicado, inclusive com filmes, nos centros especializa dos que oferecem, na verdade, mais um curso educacional e de conscien tização do que outra coisa. É claro que, para se beneficiar de tal curso, o paciente precisa estar em condições de ouvir, pensar e apren der. E muitos alcoólatras, com os cé rebros banhados em álcool há anos, xistem m uitas pessoas que não estão nessas condições. Primei acham que duas semanas ro, portanto, precisam ser desintoxi o :3m po que um alcoólatra fica incados, para remover a droga de seus ternado na Chácara Reindal) é muito cérebros e corpos. Essa desintoxica pouco para recuperar um doente al ção normalmente demora 3 ou 4 dias coólatra. apenas e também é feita nos centros Elas têm essa impressão por cau especializados. sa ne um conceito errado. Acham que Uma vez que o alcoólatra esteja c alcoólatra bebe por causa de seus desintoxicado, estaria em condições emblemas psicológicos e que estes de ser educado, não fosse por uma nemoram m uito mais que duas sema coisa: sua negação, que não lhe per nas para serem trabalhados e supe mite ver a gravidade de sua situação. rados. Implícita está a suposição de Assim sendo, a negação também pre :_a o tratam ento do alcoólatra visa cisa ser eliminada, outra coisa feita desvendar e resolver os problemas em centros especializados com téc psicológicos do alcoólatra. Mas não nicas especiais que fazem parte da a sso que se faz em um tratam ento terapia de grupo. especializado de alcoolismo. O alcoólatra tam bém precisa en Em primeiro lugar, porque um al tender que existem duas fases na re coólatra não bebe devido a seus procuperação. A primeira requer parar de b em as p s ic o ló g ic o s . Ele tem beber, o que ele fará no centro de tra rro ü e m a s psicológicos porque bebe. tamento. A segunda (não voltar a be - -a:z do problema é o beber e não ber) tomará o resto de sua vida, como os problemas psicológicos. já foi dito. Requererá certas atitudes Assim sendo, o que tem que ser e exercícios espirituais por parte do a — ado é o beber e não os problealcoólatra. Estas atitudes e exercícios —as psicológicos. Ora, por ser algo são ensinados nos centros especiali : . e a pessoa precisa deixar de fazer zados. Nestes centros, o alcoólatra ao nvás de algo que deva fazer, a du aprende a entender e pôr em prática ração do tratam ento mesmo é para o programa dos Doze Passos sugeri o 'esto da vida. Não são duas semado pela Alcoólicos Anônim os. Ele ~as nem dois meses, nem dois anos. aprende que seu orgulho e egocen Se c alcoólatra voltar a beber depois trism o são seus maiores inimigos e ne cois anos de abstinência, logo se que a melhor maneira de combatê-los encontrará novamente envolvido no é através da prática dos Doze Passos. cnnulo vicioso que é o alcoolismo, be Quando um alcoólatra sai da bendo mais do que nunca. Chácara Reindal ou de qualquer ou E ave m an a tro centro especializado, ele sai "qui lôm etro zero": já está com fom e e comendo bem de novo; está descan sando e podendo dorm ir sem sonífe ros; está desintoxicado do álcool e dos medicamentos; e está educado, o que quer dizer armado para perma necer sóbrio o resto de sua vida. En fim , está libertado do álcool e só voltará a beber se quiser. Se não qui-, ser (e, comprovadamente, a maioria não quer), nunca mais beberá. Terá iniciado sua recuperação do alcoolis mo, pois o álcool nunca mais lhe cria rá problemas. Dizem que, para o alcoólatra, um drinque é muito e cem não bastam. Algo parecido ocorre no caso do tra tam ento de alcoolismo: duas sema nas é bastante e cem semanas seria pouco. Em outras palavras, para quem quer parar com o sofrimento do alcoolismo, duas semanas de interna ção bastam. Para quem ainda não quer parar, cem semanas não bas tariam. m D o n a ld L a z o CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.836 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-8514) É Comentários sobre centros de tratamento e o beber controíado D o n a ld Lazo A pessoa que acha mais fácil um alcoólatra aprender a beber controladamente do que abandonar a bebida, nunca foi alcoólatra. rr L -y a cinco dias, saiu de nosso total. Já se passaram 22 anos maravi I Scentro de tratamento um mé- lhosos. dico alcoólatra do Rio de Janeiro, Antes de explicar melhor, quero aoós uma internação de duas semadizer que, na minha experiência, que "38. Antes de vir à Chácara Reindal, inclui meus estudos, concluo que e e vinha se tratando há vários anos existem vários tipos de alcoolismo. com um psiquiatra no Rio. Mas vinha Mas, nas Américas, existe um tipo c+orando gradativamente, até chegar preponderante: o tipo que o Prof. Jelliao ponto de estar tomando 12 comnek taxou de alcoolismo “ gamma". orimidos por dia de vários tipos de Normalmente, quando falo ou escre -edicam entos psicotrópicos receitavo sobre alcoolismo, estou me referin 33S peio seu psiquiatra. Quando este do ao alcoolismo “ gamma” , pois é qua ~édico disse ao psiquiatra que havia se o único tipo que a gente encontra cecidido se internar na Chácara Reine trata no Brasil. cal. o psiquiatra lhe respondeu: “ DesPois bem. O que as pessoas, in c_ oe-me, mas eu não acho que alclusive muitos psiquiatras, parecem Çuém possa se recuperar do alcoolis não entender é que o alcoolismo mo em duas semanas” . “ gamma” envolve uma atividade (o O psiquiatra tem razão. Nenhum beber) e uma conseqüência (a de aícoólatra se recupera em duas se pendência). Enquanto o alcoólatra se manas. Mas, esse não é o objetivo de entrega à atividade de beber, ele não se tratar em um centro especializado poderá controlar sua dependência. em alcoolismo. Os objetivos são: (1°) PORÉM, ELE PODE CONTROLAR a.udar o alcoólatra a parar de beber, SUA DEPENDÊNCIA, E PORTANTO o que, às vezes, requer assistência SEU ALCOOLISMO, SE DESISTIR DA médica (para eliminar todas as drogas ATIVIDADE DE BEBER. E O FATO DE do seu corpo sem correr o risco de LE SER ALCOÓLATRA NÃO IMPEDE, 'a ve r reações perigosas), e (2o) dar EM ABSOLUTO, QUE CONSIGA PA ao alcoólatra as armas que necessitaRAR DE BEBER. O pior alcoólatra po rá para não voltar a beber até que de parar de beber, como eu e cente eie esteja recuperado espiritual, emo nas de milhares de alcoólatras já fize cional e fisicamente, o que pode de mos. Este deve ser o objetivo princi morar um ou dois anos. pal de um tratamento de alcoolismo: Eu aposto que esse nosso pa Jevar o alcoólatra a parar de beber, e ciente médico jamais volte a beber e, depois a continuar parado. Dortánto, que acabe se recuperando, Levá-lo a parar de beber é fácil, como eu me recuperei. E, pedindo mormente se estiver afastado da be descülpas ao psiquiatra do Rio, devo bida e sob cuidados médicos. É me explicar que eu cheguei a ser um al nos fácil quando o alcoólatra estiver coólatra em estágio multo adiantado, fazendo um tratamento ambulatória! tive um tratamento que consistiu em onde, o dia todo, estará exposto aos CINCO DIAS de desintoxicação e a bares na rua. Por isso, acredito em in leitura do livro A lcoólicos Anônim os, ternação para alcoólatra, embora de e saí do hospital para nunca mais be curta duração. ber e para gozar de uma recuperação O grande problema em alcoolis 26 ave maria mo não é levar o alcoólatra a parar de beber. O problema maior é convencêlo a permanecer parado. Porque isto freqüentemente requer uma mudança Total de personalidade e atitudes. Ou, em outras palavras, uma mudança espiritual. E esta mudança só pode ser efetuada pelo próprio alcoólatra. Como diz o velho ditado: a porta à conversão espiritual tem maçaneta só por dentro. No entanto, é possível motivar um alcoólatra a efetuar esta mudança em si. E é exatamente isso que tenta mos fazer nas duas semanas em que nossos pacientes estão hospedados na Chácara Reindal. Voltando ao que dizia antes: é fá cil levar um alcoólatra a parar de be ber, e mais difícil levá-lo a manter-se parado. Agora, o que é extremamente difícil, senão impossível, é levar um alcoólatra a beber controladamente. E o que todo alcoólatra sonha em poder fazer e passa anos tentando fazer (e fracassando). Além do mais, eu pergunto: que vantagem existe em levar qualquer pessoa, seja ou não alcoólatra, a be ber uma droga tóxica como o álcool? Respondam-me essa pergunta. Afinal, é comparável com o caso do fuman te. Igual à bebida, é infinitamente mais fácil (e, repito, muito mais sau dável) um fumante de 3 maços por dia (o que equivale a um alcoólatra) largar de fumar do que aprender a fu mar, digamos, 3 cigarros por dia. Ele não vai conseguir por mais do que al guns dias. Não consegue mesmo. Por isso eu digo: a pessoa que acha que alguns alcoólatras devem ser.levados a beber controladamente “ por ser isso mais fácil do que abandonar a bebida” , nunca foraía alcoólatra©:® CL W D o n ald Lazo OS CENTROS DE TRATAMENTO QUE SE ESPECIALIZAM EM ALCOOLISMO O alcoólatra recuperado, muitas vezes, torna-se um bom terapeuta deste campo. barreira à recuperação do A maior alcoólatra é sua resistência em aceitar o tratam ento. Afinal, ele (ou ela) também está influenciado pelo estigma que prevalece a respeito do mal: que os bebedores exagerados b e bem assim porque são sem-vergonhas irresponsáveis, porque não têm a for ça de vontade que têm os bebedores sociais ou, na melhor das hipóteses, porque são casos psiquiátricos com problemas psíquicos profundos. Até desaparecerem estes preconceitos fal| sos, as pessoas com esta séria enfer midade constitucional relutarão em adm itir que precisam de ajuda. Também não é verdade que o al coólatra precisa querer p arar de be ber antes de poder ser ajudado. A vas ta maioria dos alcoólatras que começa um tratam ento, o faz coagido pelas circunstâncias intoleráveis de sua vida. E sua motivação para deixar de beber emerge durante o tratam ento, não antes. Em 1979, minha esposa, Sônia, e eu visitamos vários dos mais concei tuados centros de tratam ento do m un do, localizados nos Estados Unidos. Há certas características que eles têm em comum, começando pelo fato de proclamarem um a história de êxito: neles, a maioria das vítimas desta doença se recuperam. Milhares de al coólatras que passaram por estes cen tros, e que até então estavam condena dos à morte, agora vivem vidas cons trutivas e positivas, livres da depen dência do álcool. Apenas precisam obedecer um regime que não permite qualquer forma de bebida alcoólica. Para que os alcoólatras observem esta única restrição durante o resto de suas vidas, poderão ser necessários um modo de vida radicalmente alterado e mudanças profundas em suas atitudes pessoais, a fim de reduzir o risco de re caídas. Estas mudanças, por sua vez, requerem um a educação intensiva so bre a natureza da enfermidade e seus efeitos na própria vítima. Estes centros de reabilitação têm m uitas outras coisas em com um . Suas equipes são caracteristicam ente interdisciplinares. Isto quer dizer que lhes respeitam o papel de todas as discipli nas profissionais representadas pelas suas equipes — a m edicina, a enfer m agem, a psicologia, a assistência so cial, a teologia e a nova disciplina cham ada “ aconselham ento em alcoo lism o” (um a função geralm ente preenchida por alcoólatras recupera dos). Aliás, é bom frisar o reconheci m ento dado ao papel positivo do al coólatra recuperado como terapeuta. Dos 550 estudantes que anualm ente fazem o famoso curso do Rutgers University Center of Alcohol Studies, que habilita p ara trab alh ar profissio nalm ente no campo de alcoolismo co mo “ conselheiro em alcoolismo” , aproxim adam ente 350 são alcoólatras recuperados. Todos os centros de reabilitação incorporam , de um a form a ou de ou tra, o program a de Alcoólicos Anôni mos (AA). M uito antes que as profis sões focalizassem sua atenção na aquisição de habilidades específicas no tratam ento de alcoólatras, m em bros recuperados de AA já ajudavam seus com panheiros doentes a se recu perarem , com partilhando com eles a filosofia e as técnicas incorporadas no program a dos Doze Passos de A A. Aliás, muitos desses centros de tra ta m ento foram fundados por membros de AA, constrangidos pelo tratam en to à base de psicotrópicos proporcio nado pelas clínicas psiquiátricas norte-am ericanas. Assim, estes cen tros bem sucedidos invariavelmente adotam o conceito de alcoolismo co mo doença prim ária, enfatizando a im portância da abstinência total do álcool e dos psicotrópicos. As equipes dos centros estão em penhadas em ajudar o alcoólatra a encontrar meios não-químicos de lidar com as dores e pressões da vida. O utro fio com um nestes centros é o reconhecimento do alcoolismo como “ doença da fam ília” . Assim sendo, onde for possível, eles tam bém ex põem o cônjuge e os filhos do alcoóla tra à educação sobre a enferm idade. Todos os centros indicam Al-Anon para os cônjuges e Alateen para os fi lhos. E, a fim de salvaguardar o p ro gresso feito no decorrer do tra ta mento, os centros garantem a conva lescência de seus pacientes encam i nhando-os ao grupo de AA mais p ró ximo de suas casas. Alguns pacientes podem tem er que seu status profissio nal ou ocupacional seja ameaçado se expuserem-se em reuniões abertas de Alcoólicos Anônimos. Nestes casos, os centros os encam inham para g ru pos especiais de AA, freqüentados, por exemplo, exclusivamente por m é dicos, padres, advogados ou até pilo tos de aviões comerciais. Sem dúvida a arm a mais poderosa oferecida por todos esses centros de tratam ento é a educação sobre o p ro gram a espiritual dos Doze Passos de Alcoólicos Anônimos. Dedicarei o próximo — e último — artigo desta série ao com entário sobre esta m ila grosa solução p ara o grave problem a do alcoolismo. ' m aaBBm m s sm PROBLEMA 0E BEBSOA? O tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-americanos. REINDAL - Recuperação integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - C x. Postal 20.896 - T els.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - S P . — a— maBBmtBBm a v e m a r ia 17 A L C O O L IS M O Ajuda mútua e dozs passos: duas armas para doenças crônicas No início deste século, talvez 50% das doenças eram do tip o agu do. Eram tratadas por m édicos e s u a s vítim as ou se recuperavam ou -morriam — em pouco tem po. Os ou tr o s 2 0 % das d o e n ç a s eram crônicas. Hoje, quase um século mais ta r de. as percentagens se inverteram . ~ão dram áticos foram os avanços Tiédicos nas últim as décadas que, atualm ente, as doenças agudas le. am a poucos óbitos e constituem apenas 20% das enferm idades. Em 1988, as doenças crônicas é que constituem 80% das m oléstias. As doenças crônicas (tais com o as doenças mentais, o diabetes e o alcoolism o) têm uma característica principal: embora possam ser con troladas, elas são incuráveis. Isso significa duas coisas. Primeiro, que eías são caracterizadas pela reinci dência ou recaída. Uma pessoa com uma doença crônica pode se recupe rar de tal, form a que fique bem por semanas, meses ou anos. Mas, de repente, pode encontrar-se derruba da pela doença de novo. O fato de serem controláveis, embora incuráveis, tam bém s ig n ifi ca que a recuperação das mesmas, por ser sempre provisória, requer os esforços ta n to do paciente quanto do médico. Sim, porque não pode mos m anter pessoas em hospitais, sob os cuidados constantes de um m édico, para o resto de suas vidas. Haja hospitais para tantos doen tes crônicos! E mesmo que houves se, quantos poderiam pagar um tra tam ento hospitalar que vai durar o resto de sua vida? O fato de as doenças crônicas requererem a cooperação do pacien te tem deixado a classe médica frus trada. Porque o que acontece é o se guinte: o médico é chamado para atender uma crise sofrida por um doente crônico — digamos um dia bético que entra em coma ou um al coólatra que está tendo convulsões. 0 médico socorre o paciente, restabelece seu equilíbrio físico e de term ina um regime que ele deverá seguir daí em diante para evitar uma nova crise. O diabético talvez tenha que tom ar insulina regularmente. O alcoólatra terá de permanecer afas tado da bebida. Superada a crise e estabelecido o regime apropriado para o doente, o papel do médico está cum prido. Mas a doença não está curada — apenas detida. Agora, caberá ao pa ciente seguir o regime indicado pelo médico. A í é que está o problema. Por que m uitos seres hum anos tendem a ser relaxados. Basta que o doente passe algumas semanas sem que sua moléstia lhe crie mais problemas e ele provavelm ente começará a se descuidar. Vai esquecer de tom ar seu medicamento na hora certa e co meçar a tom ar certos riscos (como fum ar, se sua doença fo r de cora ção) e pronto! Logo aparecerá outra crise. Dois fenômenos têm ajudado os doentes crônicos a m anter seus re gimes e evitar a reincidência de suas crises. Já que não podem ter o médico a seu lado para o resto da vida, os doentes descobriram um su bstituto eficaz: outra pessoa com a mesma doença. Melhor ainda, várias outras pessoas. Agrupando-se em irmandades de doentes com a mesma enfer midade e, portanto, o mesmo regi me, os doentes crônicos descobri ram que lhes era m uito mais fácil se guir seus regimes quando eram acompanhados por outros doentes fazendo a mesma coisa. Não há dú vida que tudo fica mais fácil quando se faz em grupo. O prim eiro agrupam ento de doentes que eu conheço fo i o de A l coólicos Anônim os, que começou em 1935 quando um corretor da bol sa de Nova Y ork que era alcoólatra abordou um médico (que tam bém era alcoólatra) de A kron, Ohio, e lhe sugeriu seguir o regime que lhe ha via sido explicado pelo seu médico em Nova York. Desde então, quase 1 50 outras irmandades têm surgido, cada uma abrigando pessoas unidas por uma mesma aflição. O segundo fenôm eno que tem ajudado os doentes crônicos a seguir seus regimes e assim evitar novos surtos de suas m oléstias é a prática de um exercício espiritual sugerido inicialmente para as pessoas que so friam de alcoolism o. A grande arma que todas as 150 irmandades de doentes crônicos têm em com um é o programa de crescimento espiritual cham ado os Doze Passos. Terei mais a dizer sobre este programa m i lagroso no próxim o núm ero da A ve M aria. a Donald Lazo { 7 \ C H Á C A R A REÍNDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Pauio, SP (Fone: (011) 520-9514) V_______________________________ / a v e m a r ia 21 sALCOOUSMQ Despertar Espiritual: a diferença entre * abstinência e l sobriedade D o n a ld L a z o - -* — _ —* __ * P o r q u e a lg u n s a lc o ó la tr a s a b a n d o n a m a b e b id a e se to rn a m não s o m e n te a b s tê m io s m as fe liz e s , c h e io s de v id a , p e s soas q u e o b v ia m e n te e s tã o d e s fr u ta n d o su a s o b rie d a d e ao m á x im o , e n q u a n to o u tra s la rg a m a □ebida e c o m ela p a re ce m te r larg a d o a p ró p ria v id a , to rn a n d o -s e Dessoas fe c h a d a s , a m a rg u ra d a s , in ve jo s a s ? Se p e rg u n ta s s e m a m im , d i ria q u e a d ife re n ç a e n tre os d o is tip o s de a lc o ó la tra s "re c .u p e ra ■ d o s ” é D eus. Os prim e iro s e n c o n tra ra m D e u s , em si e em s u a s v i das. O s o u tro s apena s p a ra ra m de beb er. Não e n c o n tra ra m D eus. E o h o m e m se m D eus é m e n o s que u m h o m e m . N ão e s tá re a li z a n d o su a p le n itu d e . E x is te m as não v iv e . Em to d o o c a m p o de a lc o o lis m o, u m d o s fe n ô m e n o s m ais fa s c in a n te s é o d e s p e rta r ou tra n s fo rm a ç ã o e s p iritu a l a d q u irid o p o r a q u e le s a lc o ó la tra s qu e c o n s e g uem as m e lh o re s re c u p e ra ç õ e s . T ra ta -s e de u m a e x p e riê n c ia que m u ito s a lc o ó la tra s " r e c u p e r a d o s ” ja m a is tiv e ra m . E c e rta m e n te é u m a e x p e riê n c ia d e s c o n h e c id a p o r a q u e le s a lc o ó la tra s que não c o n s e g u e m a tin g ir p e río d o s n o m a is o b s c u ro fu n d o de u m p o ç o . A in d a tin h a a n o ç ã o de u m P o d e r s u p e rio r a m im m e s m o a tra v e s s a d a na g a rg a n ta , m a s f i n a lm e n te , a p e n a s p o r u m in s ta n te, o ú ltim o v e s tíg io de m in h a o r g u lh o s a o b s tin a ç ã o fo i e s m a g a d o . S u b ita m e n te m e e n c o n tre i e x c la m a n d o , " S e e x is te u m D e u s , q u e se m a n ife s te ! E s to u d is p o s to a fa z e r q u a lq u e r co is a , q u a lq u e r c o is a !” D e re p e n te o q u a rto se e n c h e u de u m a fo r te lu z b ra n c a . M e rg u lh e i-m e n u m ê x ta s e q u e p a la v ra s n ã o c o n s e g u e m d e s c re ver. P areceu-m e, c o m os o lh o s da m e n te , q u e e s ta v a n u m a m o n ta n h a e q ue s o p ra v a u m v e n to , n ão de a r m a s de e sp írito . E, de re p e n te, s e n ti q ue era u m h o m e m livre . L e n ta m e n te , a ê xta se p assou. D e ite i-m e n a c a m a , m a s a g o ra p o r u n s in s ta n te s m e e n c o n tra v a e m o u tro m u n d o , u m n o v o m u n d o de c o n s c iê n c ia . A o m e u re d o r e d e n tro de m im h a v ia u m a s e n s a ç ã o m a ra v ilh o s a de P re se n ça , e p e n s e i c o m ig o m e s m o , 'E n tã o , e sse é o D e u s d o s p re g a d o re s !' U m a g ra n d e p a z to m o u c o n ta de m im e p e n se i, 'N ã o im p o rta q u ã o e rra d a s as c o is a s p a re ç a m ser, a in d a e s tã o c e rta s . E stá tu d o b e m c o m D e u s e se u m u n d o '. " 1 de a b s tin ê n c ia d u ra d o u ro s — a qu ele s q ue p a ra m de b e b e r, d e p o is v o lta m a b e b e r, p a ra m de n o v o , v o lta m de n o v o , se m p re s e n tin d o -s e p riv a d o s da b ebida q u a n d o p a ra m , ao in v é s de s e n tir-s e lib e rta d o s de s u a s c o n s e q ü ê n c ia s n o c iv a s . A tra n s fo rm a ç ã o e s p iritu a l a q u e me re firo às ve ze s o c o rre s u b ita m e n te , c o m o a c o n te c e u co m BiII W ils o n , c o -fu n d a d o r de A l c o ó lic o s A n ó n im o s , e c o m M a rty M a n n , a p rim e ira m u lh e r a se re c u p e ra r d o a lc o o lis m o a tra v é s d essa irm a n d a d e . C o n tu d o , na m a io ria d o s ca so s, ela o c o rre ao lo n g o de p e río d o de m e s e s ou a nos, in v a ria v e lm e n te a tra v é s da p rá tic a de um fa m o s o p ro g ra m a de c re s c im e n to e s p iritu a l c h a m a d o os D oze P assos. N a tu ra lm e n te , a e x p e riê n c ia s ú b ita é m a is d ra m á tic a . C o n tu d o , a de lo n g o p ra zo n ã o é m e nos e fe tiv a . Em a m b o s os ca so s, o re s u ita d o fin a l é o m e s m o : o a l c o ó la tra , q ue a n te s era d e s c rito c o m o um a pessoa in s tá v e l, n e r vosa, te n sa , a m e d ro n ta d a , e n ve r g o n h a d a , in s e g u ra , p re s s io n a d a e in d ig n a , to rn a -s e u m a p e ssoa ca lm a , serena, c o n te n te , a g ra d e cida, re ce p tiva , em paz, p u rg a d a , sã e p ie d o sa . S ua a n te rio r e g o ce n tric id a d e e o n ip o tê n c ia cedem lu g a r à h u m ild a d e e u m c la ro re c o n h e c im e n to de suas lim ita ç õ e s h u m a n a s. Bill W ils o n s o fre u su a e x p e riê n c ia d ra m á tic a no q u a rto de u m h o s p ita l, na n o ite d o dia em q ue seu m é d ic o lhe in fo rm o u que ele c o n se g u iria se m a n te r a fa s ta d o da b e bida u n ic a m e n te -s e se colocasse atrás das grades de um m a n ic ô m io para o re sto de sua v i da. É a ssim qu e B ill d e s c re v e u sua e x p e riê n c ia : A p ó s p a s s a r p o r essa e x p e riê n c ia re lig io s a d ra m á tic a , Bill a c h o u q u e p o d e ria a ju d a r o u tro s a lc o ó la tra s a se re c u p e ra r d o a l c o o lis m o se, de a lg u m a fo rm a , p u d e s s e le v á -lo s a p a ssa r p o r um a e xp e riê n cia s e m e lh a n te . D u ra n te seis m eses, c o m esse in tu i to , a b o rd o u d e ze n a s de a lc o ó la tra s in te rn a d o s , m a s não c o n s e g u iu c o m qu e q u a lq u e r u m d e le s e x p e rim e n ta s s e ta l d e s p e rta r e s p iritu a l. M in h a d e p re ssã o se a p ro fu n d o u de fo rm a in s u p o rtá v e l, a té que fin a lm e n te m e p a re c e u e s ta r 1. A lc o ó lic o s A n ô n im o s atinge a m aioridade, publicado no Brasil pela CLAAB, Cx. Postal 3 .1 8 0 , CEP 0 1 0 0 0 São Paulo (SP). a v e m a r ia % 15 A LC O O U SM G Dependência é dependência. Seja' de cocaína, do álcool ou do cigarro D onald Lazo o d e ser q u e os n o rte -a m e ri ca n o s a in d a não e s te ja m g a n h a n d o a íu ta c o n tra m u ita s d r o gas p e rig o s a s (c o c a ín a , h e ro ín a , c ra c k ” , e tc .) , m as o s E sta d o s U n id o s e s tã o c o n s e g u in d o u m a v itó ria n o tá v e l s o b re u m a das d ro g a s m a is v ic ia n te s e n o c iv a s que e x is te : a n ic o tin a . U m a p e s q u isa re c e n te m o s tra q ue o n ú m e ro de n o rte -a m e ric a n o s a d u l to s q ue ain da fu m a já fo i re d u z i do para 2 4 % , e não e s tá fo ra de c o g ita ç ã o q ue o v íc io de fu m a r seja p ra tic a m e n te e rra d ica d o nes se país d e n tro de 1 0 a 15 a n o s . De qu e fo rm a essa c o n q u is ta sobre um d o s h á b ito s m a is e n ra i zados na s o c ie d a d e v e m s e n d o o b tid a é u m a s s u n to q u e d e v ia ser e s tu d a d o a fu n d o , já q u e , t a l ve z, te n h a m o s nela o m o d e lo c o m o qual p o s s a m o s c o m b a te r a dependência de o u tra drog a que m a ta 2 5 ve ze s m a is a m e ric a n o s p o r a n o qu e to d a s as o u tra s d r o gas ju n t a s : o á lc o o l. P ois a v e rd a d e é q ue e x is te m paralelos n o tá v e is e n tre o v íc io de fu m a r e o v fc io de b e b er. E stou p e rfe ita m e n te c ô n s c io de que m u ita s p e sso a s — m o r m ente os m e m b ro s de A lc o ó lic o s A n ô n im o s — não g o s ta m de usar P a p a la v ra " v í c io ” em se re fe rin d o ao b e b e r do a lc o ó la tra , p o rq u e ela c a rre g a um a c o n o ta ç ã o p e jo ra tiv a . Os   c o s tu m a m d ize r q u e fu m a r é u m " v í c io ” m a s o b e b e r d o a lc o ó la tr a é u m a "d o e n ç a ” . Na ve rd a d e , " v í c io ” te m d o is s ig n ific a d o s . U m é " p e c a d o ” , e n e s te s e n tid o é p o s s ív e l a rg u m e n ta r que um a pessoa qu e n a s ce (sem saber) c o m um a p re d is p o s iç ã o o rg â n ica ao a lc o o lis m o e q u e em a lg u m m o m e n to passa a fa z e r o q u e a so c ie d a d e q u a se e x ig e dele (beber), não p o d e ser c o n s id e ra d o um " p e c a d o r ” , a n ã o ser q ue p e rte n ç a a u m a das m u ita s re lig iõ e s q u e , in te lig e n te m e n te , c o n d e n a m a in g e s tã o de b e b id a s a lc o ó lic a s . M a s " v í c i o " ta m b é m s ig n ifi ca "d e p e n d ê n c ia de um a d r o g a " , e n e s te s e n tid o ta n to o b e b e r q u a n to o fu m a r d o d e p e n d e n te são v íc io s , m e sm o q ue e n v o lv a m a in g e s tã o de d ro g a s que são p e r fe ita m e n te le g a is. A s s im s e n d o , se os A A c o n s id e ra m o a lc o o lis m o um a doença, d e via m c o n s id e rar a d e p e n d ê n cia do c ig a rro um a d o e n ç a ig u a lm e n te séria (pois ela é re s p o n s á v e l p o r m a is m o rte s q u e o á lco o l, in c lu s iv e a m o rte do c o -fu n d a d o r dos A A , Bill W ils o n ), e in c e n tiv a r seus m e m b ro s a e v i ta r o p rim e iro c ig a rro ta n to q u a n to são in c e n tiv a d o s a e v ita r o p ri m e iro g o le . Na re a lid a d e , os m e m b ro s d o s A A são n o to ria m e n te d e p e n d e n te s d o c ig a rro . T a n to é q ue a p ró p ria re v is ta in te rn a c io n a l d o s A A p u b lic o u um a c h a rg e m o s tra n d o u m a p e ssoa e n tra n d o n u m a sala de A A o n d e h a via ta m a nha fu m a ç a que não se p o d ia ver o s ro s to s dos p a rtic ip a n te s da re u n iã o , e a pessoa e s ta va d iz e n d o : " A g o r a e n te n d o p o rq u e v o cê s são c h a m a d o s 'a n ô n im o s '!” Em to d o ca so , é líc ito p e rg u n ta r c o m q u e m o ra i u m a p e sso a q ue e s te ja a lim e n ta n d o sua d e p e n d ê n c ia q u ím ic a , fu m a n d o u m c i g a rro a trá s d o o u tro , c o m b a te a d e p e n d ê n c ia q u ím ic a d a q u e le s q u e e s tã o b e b e n d o . É a lg o p a re c id o ao c o c a in ô m a n o q ue c o n d e na o u s o da h e ro ín a , e m b o ra c o n tin u e u s a n d o c o c a ín a . E x is te m m u ita s o u tra s s e m e lh a n ç a s e n tre o s d e p e n d e n te s do á lc o o l e d o c ig a rro . N em to d a p e s s o a qu e b e b e o u fu m a se t o r na d e p e n d e n te . M a s , o s q u e se to rn a m d e p e n d e n te s (seja d o á l c o o l o u do c ig a rro ), se ilu d e m q u a n to à g ra v id a d e de seu v íc io e v iv e m d iz e n d o : " E u p re te n d o la rg a r... a lg u m d ia " . (T ra d u ç ã o : " E u n ão v o u la rg a r a g o ra ” ). P ro v a n d o q u e la rg a r de b e b e r o u fu m a r n ã o é tã o d ifíc il a ssim (aliás, a q u e le s de n ó s q u e s u p e ra m o s a m b o s os v íc io s g e ra lm e n te c o n c o rd a m o s que é m u itís s im o m ais d ifíc il la rg a r de fu m a r do que la rg a r de b e b e r), o s fu m a n te s e b e b e d o re s d e p e n d e n te s c o s tu m a m p a ra r p e rio d ic a m e n te . A p ó s ç e rto te m p o , c o m e ç a m a s e n tirse tã o b e m q u e d e c id e m v o lta r a fu m a r (b e b e r). " M a s n ão c o m o C H Á C A R A REiNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.89o 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V ______________J a v e m a r ia 21 apagar o estigma de sem-vergonha associado à pessoa que bebia exageradamente. Contudo, ao dar esse grande pas so para frente, a Associação Médica Norte-Americana imediatamente deu um passo maior para trás quando classificou o alcoolismo como doença mental. Não consigo lembrar-me des se momento histórico sem pensar na estória do moço que se apresentou ao médico. “ Pois não, meu filho” , disse o médico, “ conte-me quai é o seu pro m 1935, penetrou um raio de blema” . luz no mundo escuro dos al “ Puxa, doutor", diz o moço, coólatras. Foi fundada a ir “ acho que seria mais fácil enumerar mandade de Alcoólicos Anônimosose,problemas que não tenho, porque os!a primeira vez, começou a espa são tantos os que tenho! Tenho pro nar-se a maravilhosa notícia de que blemas em casa com minha família, alcoólatras podiam se recuperar. Até problemas na empresa com meu che então raríssimos alcoólatras, geralfe, tenho problemas emocionais, estou mente por causa de alguma decisão endividado até aqui, estou bebendo cessoal ou experiência religiosa, habarbaridade e estou perdendo todos . am se livrado das garras do alcoolis os meus amigos. Dizem que sou um mo. De repente — lentamente ao iní bêbado e estão me chamando de páu cio e, depois, cada vez mais aceleradágua, cachaceiro, sem vergonha...” camente — alcoólatras começaram a “ Pare ai mesmo” , disse o médi se recuperar. E, a partir de 1935, os co. “ Nunca mais quero ouvir você que se recuperavam começaram a di usar essa palavra ‘sem-vergonha’. Tire zer ao mundo que o alcoolismo não isso de sua cabeça. Seu problema é era um problema moral, era uma doen bebida, meu filho, e você não é um ça. A Alcoólicos Anônimos evitava di sem-vergonha, você é um doente” . zer qual era a causa da doença (“ Es “ Nossa, doutor” , disse o moço, queça a causa’ ’, costumavam dizer, “ quer dizer que nada disso é verdade? “ o importante é se recuperar” ), é difí Puxa, que alívio para mim! Quer dizer cil estudar a literatura de AA sem con que sou doente e não sem-vergonha? cluir que, para a AA, as causas do al Nossa, que bom! E que tipo de doente coolismo eram os defeitos de caráter sou eu, doutor?" — como, por exemplo, o ego inflado “ Você é um doente mental” , res — que o alcoólatra manifesta. Em to pondeu o médico. do caso, oficialmente, a AA não tem O moço refletiu, por alguns instan opinião a respeito das causas do al tes e disse ao médico: “ Olha, doutor, coolismo. com todo respeito, eu acho que prefiro Vinte-e-um anos depois, em 1956, ser sem-vergonha” . a Associação Médica Norte-AmericaEssa estória seria engraçada se na tornou-se a primeira organização não fosse tão trágica. Porque a verda médica a confirmar a opinião de AA, de é que, até hoje, a vasta maioria dos quando reconheceu o alcoolismo co médicos no mundo ainda vêem no al mo doença. Evidentemente, foi de um coólatra um tipo de doente mental. Na enorme passo para a frente, pois deu maioria das vezes, quando um alcoó ao conceito de alcoolismo como doen latra é visto por um médico (e quase ça, o carimbo da ciência médica. A im sempre por um psiquiatra, pois é ele que cuida de “ doenças mentais” ele é plicação era de que alcoólatras de viam ser tratados em hospitais por mé diagnosticado como esquizofrênico, dicos e não em cadeias por policiais. paranóico, maníaco-depressivo, de pressivo, epilético ou coisa parecida. De uma só vez, ajudou grandemente a 0 maior e mais orejudicial dos mitos em alcoolismo E L 26 ave maria Acontece que os sintomas do alcoolis mo são parecidos aos sintomas des tas doenças mentais e os médicos não estão preparados para diagnosti car o alcoolismo, pois (com a feliz, ex ceção dos esforços da Dra. Jandira Masur na Escola Paulista de Medicina) não se ensina alcoolismo nas escolas brasileiras de medicina. Aliás isso não é só no Brasil, mas no mundo inteiro. Até nos EUA, somente começaram mesmo a ensinar alcoolismo nas es colas de medicina — e apenas em muito poucas — cinco a dez anos atrás. Pensem um pouco. Aqui temos uma das doenças mais comuns que existem, uma das que mais matam (embora seja uma doença altamente tratávei quando se sabe tratá-la), e não se ensina alcoolismo aos estudantes de medicina. Em seis anos de medici na, um estudante poderá ter uma ou duas aulas sobre alcoolismo onde irá estudar os efeitos do álcool no orga nismo. Mas nada sobre como diagnos ticar o alcoólatra ou como tratá-lo. Não é de estranhar que o alcoóla tra ainda seja tratado, na maioria dos países, em clínicas psiquiátricas, junto com doentes mentais e por métodos que se aplicam às doenças mentais. Isso prejudica multo os alcoólatras, porque não são doentes mentais. Eles criaram uma dependência de uma dro ga legalizada pela sociedade. Se não for tratada adequadamente, essa de pendência pode levá-los à doença mental... ou à morte. É o que acontece na maioria dos casos. Graças aos esforços de médicos psiquiatras brasileiros que organiza ram a ABEAA (Associação Brasileira de Estudos de Álcool e Alcoolismo) — e aos centros especializados de alcoo lismo que começam a aparecer neste país — o conceito de alcoolismo co mo doença mental está cedendo à conceitos mais modernos. Mas o pro gresso ainda é lento para os milhões de alcoólatras que irão morrer devido ao maior e mais prejudicial mito no campo do alcoolismo: que o alcoolis mo é uma doença mental. % Donald Lazo ALCOOUSM O O psiquiatra pode ajudar um alcoólatra (mas só descartando teorias ultrapassadas) Não se recuperarão números sig nificativos de alcoólatras neste país enquanto persistirem duas idéias que, embora falsas, são mantidas por qua se toda pessoa — inclusive a maioria dos médicos e psiquiatras — no Brasil. A primeira idéia falsa sobre os que consistentemente bebem demais é que o beber exagerado do alcoólatra é um sintoma de aigum outro proble ma do bebedor, externo ou interno. A segunda idéia falsa é que esse beber exagerado é temporário e o alcoóla tra voltará a ser um bebedor normal tão logo as "causas" do seu beber fo rem descobertas e eliminadas. Aqui está um trecho de uma das cartas que recebo quase diariamente de pessoas que estão tentando com preender o beber exagerado de algum membro da família: "M eu marido é filho adotivo, mui to embora criado com todo o carinho pela família que o adotou. Ele não aceita muito bem esta condição de vi da e não tem como e nem quer pro curar uma aproximação com os pais verdadeiros que são desconhecidos. Não sei se é este o m otivo que o leva a beber". (Minha resposta: não é, não.) Tenho um livro intitulado Ajuda-te pela psiquiatria!, escrito por um psi quiatra e psicanalista norte-americano chamado Frank S. Caprio. Foi pusblicado inicialmente nos EUA em 1957, mas suas idéias são amplamen te aceitas hoje no Brasil (infelizmente). Entre outras coisas erradas, o li vro diz o seguinte: "Os psiquiatras ad quiriram grande conhecimento sobre as pessoas que bebem excessivamen te. Hoje em dia nós sabemos que o al 26 a v e m a r ia coólatra é um indivíduo doente que sofre de má adaptação da personali dade". (Com isso, o Dr. Caprio quer dar a entender que o alcoólatra bebe por sofrer dessa má adaptação de perso nalidade, quando a verdade é o con trário.) Aí, o Dr. Caprio passa a explicar as várias teorias que, segundo a psi quiatria, explicam por que determ i nadas pessoas "são impelidas ;por uma compulsão íntima a beberem em excesso", mencionando a teoria do es capismo (o alcoólatra supostamente bebe para fugir da vida), a teoxia do suicídio psíquico (ele quer se matar e por isso bebe) e a teoria da libertação das inibições. O Dr. Caprio esqueceu de mencionar duas outras teorias — a do homossexualismo latente (uma teoria bolada presumivelmente porque nos botequins se encontram na maio ria homens!) e a da fase oral de de senvolvimento do alcoólatra (segundo a qual ele não mamou direito quando era criança e agora é que está com pensando a falta anterior, mamando na garrafa!) Todas estas teorias já fo ram relegadas à categoria de concei tos ultrapassados pelos novos conhe cimentos no campo de alcoolismo. Finalmente, Dr. Caprio conclui: "A experiência demonstrou ao psiquiatra que, se ele alcançar a cura dos confli tos de personalidade de seu paciente alcoólatra, o sintoma (o desejo irrepri mível e excessivo pelo álcool) subse qüentemente desaparecerá". São idéias como estas que levam alcoólatras — ao considerar buscar uma solução para os problemas psi cossociais que os afligem — a procu rarem profissionais de saúde mental. E são idéias como estas que levam os profissionais de saúde mental a diag nosticar seus pacientes de forma er rada (pois os sintomas de alcoolismo são também os sintomas de certas doenças mentais como paranóia, psi cose maníaco-depressiva, esquizo frenia, depressão etc.) ou a tratálos erradamente se porventura forem diagnosticados corretamente como al coólatras. Há mais de quinze anos tais idéias vêm sendo progressivamente descar tadas nos EUA. Aliás, invertidas. Ho je, os especialistas norte-americanos epn alcoolismo consideram que o al coolismo não é uma doença secundá ria, isto é, não é sintoma de uma ou tra coisa, como conflitos de persona lidade. Os conflitos de personalidade é que são os sintomas do alcoolismo, hoje reconhecido como doença pri mária. Isto explica por que, no Brasil, os médicos e o povo acham que o alcoó latra é um caso perdido. É que ele qua se nunca é tratado por alcoolismo, e, quando é, o tratamento é mal orien tado. Segundo o Dr. Harry Tiebout, fa moso perito psiquiátrico em alcoolis m o ,^ psiquiatria ajuda a apenas 3% dos alcoólatras. Com os demais, a psi quiatria tem fracassado retumban temente. O psiquiatra que entende de al coolismo exigirá, primeiro, que o al coólatra pare de beber, caso contrá rio recusar-se-á a tratá-lo. Mas, se o alcoólatra parar de beber primeiro, e se o psiquiatra não fechar os olhos pa ra a necessidade — além de sua re cuperação emocional — de um desen volvimento espiritual, o psiquiatra po derá auxiliar seu paciente a entender que o beber exagerado foi a causa e não a conseqüência de seus proble mas sociais, maritais, financeiros, se xuais, emocionais, físicos, psicológi cos e espirituais. Dessa forma, um psiquiatra pode ser de grande valia e ajuda para um paciente alcoólatra. Como a minha foi para mim. © Donald Lazo ALCOOLISMO: A doença que pode aniquilar AL-ANON: A irmandade que pode salvar lice estava desesperada. Toda noite seu marido chegava em casa cambaleando. Batia nela fre qüentemente e aterrorizava as crian ças. Chegava ao ponto em que, às vezes, ela agarrava o marido e manobrava-o — com seus 98 kilos — até a porta do porão, empurrandoo para dentro e tentando virar a cha ve antes dele se dar conta do que es tivesse acontecendo. Ela havia tentado lidar com o pro blema. Havia tentado apelos, am ea ças, tudo. Agora, mal conseguia vi ver. Estava à beira de um colapso nervoso. Havia ouvido falar de alcoo lismo na televisão e havia lido um fo lheto sobre Alcoólicos Anônimos. Tentou convencer Jaime a assistir a uma reunião de AA mas ele recusou, dizendo: “ Essas reuniões são para alcoólatras! Que interesse teriam pa ra m im ?” Finalmente, Jaime foi preso, al coolizado, depois de uma briga. Na delegacia, alguém perguntou a Alice st; ela havia ouvido falar em Al-Anon. Ha Al-Anon fazem reuniões para fa miliares de bebedores-problem a” , explicou a pessoa. “ A ajuda de AlAnon é gratuita.” Vários meses depois, Jaime ain da estava hebendo e ainda aprontan do..Mas os amigos e vizinhos com e çaram a notar algo diferente em A li ce. Parecia mais calma, menos per turbada, mais em paz consigo m es ma. Pouco tempo depois, Jaime acei tou se tratar. A Doença da família A aceitação popular da idéia de que o alcoolism o é uma doença e não um indício de degeneração mo rai tem demorado muito a chegar. Ainda está longe de ser universal. O alcoolismo não só é uma doença mas uma doença da família, que afeta ne gativam ente a esposa do alcoólatra, seus filhos e qualquer outra pessoa que com ele conviva diariamente. Alice é uma “ co-alcoólatra” . Não uma alcoólatra em si, mas é tão afe tada peia doença que ela também se tornou doente. Existem vários programas para o alcoólatra que se reconhece doente e quer se recuperar. Entre eles, o AA já se tornou famoso no nundo intei ro. E a co-alcoólatra? Aonde pode ela se dirigir? No fim dos anos 30 e no início dos 40, quando Alcoólicos Anônimos estava ainda engatinhando, fam ilia res dos alcoólatras no programa re conheceram que as esposas e os m aridos necessitavam de ajuda tan to quanto os bebedores-problema. Acabaram organizando Grupos Fami liares de Al-Anon. dele estrague a sua vida. Embora o grupo concorde que é desejável que o alcoólatra procure se tratar, a finalidade de Al-Anon é aju dar os fam iliares de bebedoresproblema, independente de conse guir a sobriedade para o alcoólatra. O program a tenta ajudar o cônjuge a resolver seus problemas, mesmo que o alcoólatra continue bebendo, inclusive porque as coisas que se aprendem em Al-Anon invariavelmen te ajudam a levar o alcoólatra a pro curar tratam ento. Estima-se que a metade dos que freqüentam Al-Anon convivem com um alcoólatra que continua bebendo. Muitas autoridades no campo do alcoolism o consideram que, se a es posa ou o marido de um bebedor-problema conseguiu m elhorar sua atitu de perante o problema, isto ajudará o alcoólatra também. O program a de Al-Anon é eficaz porque ajuda a mu dar o ambiente em que vive o bebe dor, o que é m uito im portante para endireitar o próprio alcoólatra. Para saber onde fica o grupo de Al-Anon mais perto de você no Brasil, telefone para (011) 229-4688 ou (011) 228-7425, em São Paulo. Ou escreva para: Aprendendo a não odiar Enquanto a finalidade dos AA é conseguir que seus membros parem de beber e não retomem o vício, o program a de Al-Anon visa a ajudar o cônjuge e os filhos a se livrarem de seus sentimentos de culpa e deixar que suas vidas girem em torno da doença do alcoólatra e, acim a de tu do, reconhecer que o alcoolism o é uma doença. Estes conhecim entos podem ajudá-los a controlar o que de outra form a poderia se tornar uma raiva inútil. Você não odiaria seu marido se tivesse tuberculose ou diabetes, di zem os veteranos de Al-Anon aos recém-chegados. Portanto, não deve odiá-lo por ter uma outra doença que não é culpa dele. Por outro lado, ex plicam os que freqüentam as reu niões de Al-Anon, você precisa aprender a não deixar que a aflição Al-Anon Caixa Postal 2034 01000 São Paulo — SP /c o n tin u a no p ró x im o n ú m e ro ) — -x CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua methor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01438 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V______________ ____________ ;------/ ave maria 2 3 A LC O O LIS M O Esposas: oro curem - em Deus e AL-ANON o amparo que fortalece JL D o n a d L a zo iza era uma m ulher baixinha, mas cheia de energia. Mesmo aepois de 25 anos de casam ento com seu m arido alcoólatra, Fábio, ain d a sentia bastante entusiasmo Dela vida. Talvez porque, durante os últim os cinco ano.s, havia consegui do m anter uma certa distância em o cional entro eles. A fin a l, o homem passava a m aior parte de sua vida nos bares, fora de casa. A lguns anos antes, Elza havia chegado a sentir m uita solidão à noi te e, porque não dizer, ciúme ta m bém. A gora, porém, até o ciúme ha via desaparecido depois que ela leu, num artigo de uma revista, que a maioria dos hom ens que havia bebi do durante ta n to s anos quanto Fá bio, estava bem mais apegado à gar rafa do que às mulheres. E mesmo que o m arido encontrasse alguma outra m ulher em suas andanças por aí, dizia o artigo, provavelm ente não conseguiria se m anter cônscio o tem po su ficie nte — ou potente o bastante — para chegar a ter uma relação sexual. Essa parte da vida de Fábio, e seus esforços meio pa téti cos de assustar Elza, falando de suas "c o n q u is ta s ” , já não tinha mais o desejado im pacto para ela. Mas Elza havia esquecido de uma coisa: a doença do alcoolismo é progressiva. A bem dizer, às vezes ela pensava sobre algo que lhe ha viam dito: que o alcoolism o era uma doença fatal se o alcoólatra não pa rasse de beber. Mas quando pensa va nisso, ela vacilava entre sentir pe na dele (e medo de que ela talvez t i E vesse que passar seus últim os anos sozinha), e sentir o desejo de que ele morresse de uma vez para ela poder ter um pouco de paz na vida. Contudo, Elza não se detia m ui to com esses pensamentos. A maior parte do tem po, ela o vivia com a es perança de que as coisas, por desa gradáveis que fossem , pelo menos não iriam piorar. Continuariam como estavam . 0 que Elza não entendia era que seria bom se as coisas fo s sem piorar para Fábio. Só assim existiria a possibilidade de que talvez piorassem o suficiente para ele que rer parar de beber e procurar uma so lução, antes que a bebida o matasse. Foi nessa hora que Elza procurou um grupo de A l-A non pela primeira vez na vida. E foi no Al-Anon que ela aprendeu algumas lições que lhe fo ram de grande ajuda. A primeira foi que ela deveria aceitar que o fu tu ro lhe guardava só amarguras até que o marido ou pa rasse de beber ou morresse da bebi da. Longe de as coisas ficarem co mo estavam, só poderiam ir pioran do. Portanto, convinha que ela se preparasse bem, em ocionalm ente, para o que lhe esperava. E.uma par te im portante dessa preparação se ria começar a cuidar de si mesma, com amor e carinho, ao invés de v i ver essa vida de autopiedade, se cul pando por coisas que não eram de sua culpa. Convinha, por exem plo, que ela começasse a comprar as coisinhas para si mesma que até agora vinha recusando com prar por errô neo sentim ento de culpa. Em segundo lugar, ela aprendeu em Al-Anon que lhe era im portante ten tar lembrar que quanto p io r as coisas ficavam para seu marido, m e lhor era para ele. Essa é uma das rea lidades em alcoolismo que mais cus ta às esposas aprenderem. Mas elas precisam lembrar que, afinal, as pa lavras nunca convenceram alcoóla tra algum a parar de beber. O A lco ó latra só pensa em parar quando as circunstâncias de sua vida com a be bida se tornam insuportáveis. A terceira coisa que Elza apren deu fo i o quanto lhe era im portante o apoio de um grupo. As pessoas — todos nós — precisam os da reafir mação constante, m orm ente quan do nos é necessário fazer algo que não é fácil para nós. No caso de El za, estavam lhe dizendo que ela pre cisava se desligar do problema do m arido. Em todas as reuniões, di ziam a ela: "D e ixe que Fábio sofra as conseqüências do seu beber. Não o socorra. Deixe que as crises acon te ç a m ". E quando Elza respondia que aquilo não era tão fácil assim, os A l-A nons respondiam: "É claro que não é fácil. É por isso que nós esta mos aqui tentando a ju d a r!" Finalm ente, os com panheiros e as com panheiras de A l-A non e xpli caram para ela: "Elza, enquanto Fá bio estiver bebendo, nunca jogue fo ra a bebida que está em casa. A pró xima garrafa que você jogar fora po derá ser justamente a garrafa que iria torná-lo tão doente que teria que ir a um hospital. Deus nos livre que vo cê fosse evitar uma conseqüência tão im portante — uma que talvez o levasse a entender a gravidade e as conseqüências do seu b e b e r". • CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chancè de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. V Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011! 520-9514) _ ________________________________________ a v e m a r ia 21 COMO OS FAMILIARES CONSPIRAM CONTRA O ALCOÓLATRA Donald Lazo No último artigo mencionei que, -= minha opinião, quase todo alcoólatra morre de sua doença altamente tratável por ser vítima não de um e sim de dois adversários. O primeiro é 5 doença em si, que o torna adorador de uma substância que paulatinamen te acaba com sua saúde, envolvendoo num círculo vicioso do qual não consegue se livrar sem ajuda externa. Poder-se-ia supor que essa ajuda externa viria de seus familiares e ami gos. Mas acontece o contrário. Ao in vés de juntar esforços para tirá-lo do círculo vicioso, estes acabam conspi rando para mantê-lo dentro dele. E de que forma conspiram? Eles conspiram, engolindo as justificativas, projeções, minimizações e mentiras do alcoólatra - aceitando e amparan do toda a sua negação. Quando é óbvio, por exemplo, que um alcoólatra precisa de tratamento, cismam de perguntar a ele se quer se tratar. Nunca se deve perguntar a um alcoólatra se ele quer se tratar, pois a resposta vai ser sempre a mes ma (com raras e felizes exceções). Como aconteceu meses atrás. Telefo nou-me o Sr. Felipe para inscrever seu irmão ao nosso grupo de pacien tes. (O médico havia dito ao irmão que se continuasse bebendo desse jeito, iria morrer logo). O Sr. Felipe me ligou de novo para dizer que. o irmão 26 ave maria não iria se tratar. “ Por que?” indaguei. “ Porque lhe perguntei se queria se tratar e me disse que não” . Ora, claro que não quer se tratar. Ele quer beber. Mas a bebida o está matando. Ele precisa se tratar. E sa be porque não quer? Porque não está sentindo a necessidade de parar de beber. A bebida não lhe está causan do sofrimento. Toda vez que a bebida promete causar-lhe sofrimento, os pais resolvem. Como quando perdeu o emprego. Sem emprego, não pode pagar o apartamento. Adivinha o que estão fazendo os pais. Acertou! Estão pagando o apartamento. E ainda lhe dando uma mesada enquanto não tra balhar. E permitindo que ele coma na casa deles. E ainda lavando sua rou pa. E continua bebendo. Os pais vão matá-lo se não pararem de conspirar contra ele. Conheço uma esposa cujo marido passou a reunir-se com os amigos no fim da tarde após o serviço, para to mar uns golezinhos. (Alcoólatra não toma drinques, goles, cervejas, aperi tivos. Toma “ drinquezinhos", “ golezi nhos” , “ cervejinhas” , “ aperitivozinhos” . Sempre minimiza!) Essas ho ras de socialização com os amigos foram se prolongando. Depois de al guns meses, encontrando-se sempre sozinha em casa à noite, a esposa ar ranjou umas amigas que gostavam de jogar cartas e passou a reunir-se com elas quase todas as noites. Depois de um ano, o marido che gou em casa bem tarde, e totalmente embriagado, encontrando a esposa vendo televisão. Ela: "Nossa, que ho ra de chegar em casa! E bêbado de novo. Não sei porque você bebe tan to !” Para que foi falar isso?! O mari do explodiu: “ Pois, quer saber porque estou bebendo tanto lá fora? Porque não adianta voltar para casa, você nunca está aqui. Você está sempre fora, jogando cartas com suas amiguinhas. É por isso que eu bebo tanto!” Querem saber o que fez a espo sa? Ligou para suas amigas, dizendo que não iria mais jogar cartas com elas, pois achava melhor ficar em ca sa. Quer dizer, aceitou a racionaliza ção toda do marido. Ele a convenceu que a culpa era dela mesma, dele beber tanto. Ele colocou as saídas de la para jogar cartas (que era conse qüência do beber dele) como se fos sem a causa, e ela aceitou a raciona lização toda. Só que ela errou. Ele continuou bebendo. Não mudou nada. Havia ar ranjado uma justificativa para explicar a s i m esm o porque bebia tanto e, ao aceitar a justificativa, ela confirmou a racionalização, fortalecendo mais a negação do alcoólatra e convencen do-o que não era dependente do ál cool, que bebia por motivos legítimos. É difícil saber quais dos dois gran des adversários do alcoólatra - sua dependência ou a conspiração de seus familiares e amigos - é mais pre judicial. O primeiro o condena à mor te se não parar de beber. E o segun do garante que não vai precisar parar e, portanto, não vai querer parar. Mas, sabe-se, isto sim, que os dois fatores juntos são co-responsá veis pela trágica morte de tantos que seriam tão fáceis de recuperar se as pessoas entendessem melhor como proceder com o alcoólatra, para leválo ao tratamento de que tanto preci sa. • C H Á C A R A REÍNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP {Fone: (011) 520-9514) V ________________ s A LC O O LIS M O À família (toda) do alcoólatra está doente Donald Lazo m quase todo grupo de pacien tes que tratam os na Chácara, encontram -se um ou dois homens que se enquadram na seguinte des crição: 25 a 45 anos de idade, se parados ou divorciados (o que quer dizer que suas esposas não aguen taram conviver com eles e se afas taram ), desem pregados (ou trab a lhando esporadicam ente na em pre sa de algum membro da família), m o rando com os pais. Soubem os deles pela prim eira vez quando a mãe nos cham ou para saber o que fazer com o seu " filh in h o " ... de 42 anos de idade! Nestes casos, se me fosse dada uma opção entre tra ta r o filho alcoó latra ou os pais dele, eu preferiria tra tar os pais. Honestamente, acho que assim teria mais chance de salvar a vida do filho. Porque pais que sabem lidar com um filho alcoólatra têm condições de levá-lo a parar de be ber e perm anecer parado. Porém, tra ta r um filh o alcoólatra na nossa Chácara e depois devolvê-lo a uma situação em que ele voltará a morar com pais facilitadores que desco nhecem o alcoolism o equivale a darlhe poucas chances de m anter-se afastado da bebida após o tratam en to. A razão é que ele sabe, caso vo l te a beber e se encontre em apuros como conseqüência, que sempre te rá papai e mamãe para tirá-lo dos seus apertos. E isso é um fo rte in centivo para que ele volte a experi m entar a bebida quando a o p ortu n i dade se apresente. Em 1980, uma senhora cham a da Toby Rice D rew s escreveu um guia para aqueles que convivem com um alcoólatra. Uma das coisas que ela explica é que a fam ília que está sempre socorrendo um alcoólatra e E 30 a v e m a ria fazendo coisas por ele (dando-lhe, por exemplo, casa, com ida e roupa lavada quando ele tem idade bastan te para conseguir estas coisas por si só), está minando sua a u to co n fia n ça e dignidade, coisas que ele preci sará para parar de beber e m anterse parado. Os pais que m im am um filho alcoólatra enfraquecem as ar mas que ele mais necessita. E o que é pior, ao invés de sentir-se agrade cido, o filho se sentirá hum ilhado e passará a m altratá-los. No livro da Sra. D rew s, cham a do G etting Them Sober (Tornandoos Sóbrios), ela explica que o alcoo lismo é uma doença da fam ília que leva a esposa e os filhos (ou então os pais) de um bebedor a se to rn a rem tão dependentes do co m p o rta m ento errático do alcoólatra quanto o alcoólatra é da bebida. Enquanto o bebedor passa uma boa parte de sua vida meio anestesiado, os fa m i liares são obrigados a vive r esses anos de angústia, medo e inseguran ça absolutam ente sóbrios. A vida deles em nada se assemelha à vida de uma família sã. É uma vida de contradições. Eles passam a acreditar em m en tiras, a esperar m ilagres, a mandar prender o alcoólatra para depois, cheios de sentim ento de culpa, m an dar soltá-lo de novo, a querer vê-lo m orto ao mesmo tem po que rezam para ele conseguir chegar em casa são e salvo. Não é de se admirar que o alcoo lismo seja chamado a doença da fa mília. A família de um alcoólatra é barbaramente afetada pelo percurso da doença, e precisa de ajuda da mesma form a que o alcoólatra pre cisa. É preciso que — ao hospedar alcoólatras na Chácara Rendai (pre firo usar a palavra "h o s p e d a r” do que " in te rn a r" porque a Chácara é m uito mais uma casa particular do que uma clínica) — queremos que o cônjuge do alcoólatra, sempre que fo r possível, tam bém venha passar os 14 dias do tra ta m e n to conosco. A liás, o certo seria que viesse a família toda — todas as pessoas que convivem com o alcoólatra e estão sofrendo em ocionalm ente por cau sa dessa convivência. Todos preci sam dos conhecim entos que ofere cem os e que lhes podem trazer im enso alívio. Pois a verdade é que, se as pessoas que convivem com um alcoólatra não mudarem, será di fícil o alcoólatra efetuar a mudança da qual ele precisa, de uma vida com o álcool para uma vida sem ele. Mas se a fam ília de um alcoólatra mudar seu próprio com portam ento e a titu des, o alcoólatra terá m uito maior chance de ser bem sucedido na m u dança que ele precisa fazer na sua vida. Nos próxim os artigos vou tra n s m itir, aos que convivem com um al co ólatra, os conselhos da Sra. D rew s que poderão seguir para m u dar seu próprio com portam ento e as sim aum entar as possibilidades de recuperação de seus alcoólatras. Por exem plo, no próxim o artigo, o pri m eiro conselho dela será: não se considere culpado pelo beber dele. Sabemos que ele vive culpando vo cê. Mas você não precisa e não de ve aceitar a culpa, pois ela não é sua. CHÁCARA REiNDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) ^ _________ J J. .I.... Ir. V -'.s. 1.1 :L € ÍO ícoólatra Pi Çj*~ D o n a ld L a zo (D iretor da R E IN D A L ) A situação do cônjuge do alcoólatra é sempre mais exigente que nos casos normais. Ele é solicitado a ter mais compreensão, mais carinho, mais paciência e mais persistência. P,a ra lidar com um alcoólatra de m aneira construtiva, é necessário que a esposa esteja disposta a sofrer a curto prazo para ser bem-sucedida a médio ou longo prazo. Ora, a capa cidade de se sacrificar, hoje, para obter um benefício am anhã já requer um grau de m aturidade que muitas pessoas “ norm ais” não têm (aqueles que querem p arar de fum ar, por exemplo). E a esposa de um alcoóla tra ativo está muito longe de ser um a pessoa normal. Em termos emocio nais, ela tam bém é um farrapo hu mano. As pessoas emocionalmente afli tas só pensam num a coisa: como ali viar suas tensões constantes. M as, aí é que surge o conflito. Diariam ente o alcoólatra cria situações que deixam a esposa angustiada, e ela tem duas maneiras de lidar com essas situa ções. Ou ela pode agir de form a a diminuir sua própria ansiedade (o que invariavelmente significa ceder aos desejos do alcoólatra ou então resgatá-lo de um a situação em bara çosa), ou pode agir de forma a deixar patente que o marido está bebendo de m aneira anorm al (o que certa mente aum entará — a curto prazo — a tensão na vida da esposa). Daí a necessidade de a esposa se Jratar também. Sem que ela se equiM-bre emocionalmente, ela sempre jirá de forma a aliviar seu próprio ■ “spero. Vejamos um exemplo dos mais t'(-‘- os. O casal é convidado a festas nas quais a esposa sabe muito bem que vai “ chover” bebida. Tam bém sabe, por experiência longa e dolo rosa, que há grande possibilidade de o marido exagerar na festa e criar vexame. Que fazer? Ir à festa e pas sar a noite em tensão, fiscalizando o m arido (“ Roberto, queridinho, você não acha que está bebendo um pou quinho a m ais?” )? Recusar o convi te? Ou ir à festa e... seja o que Deus quiser? A única opção válida é a últim a, por motivos que explicarei no próximo artigo. Mas é a última opção geralm ente escolhida. Nos primeiros anos de um casa mento em que um dos cônjuges é al coólatra, a opção invariavelmente es colhida é a de aceitar os convites e, a partir desse momento, começar a re zar, esperando acontecer o pior. Um a vez na festa, é aquela angústia! Onde está meu m arido? Q uantas já terá tom ado? Que estará fazendo? Vou procurá-lo e ficar do seu lado. Com o passar dos anos, após de zenas de esperiências desagradáveis, a esposa finalmente aprende o que poderia ter aprendido anos antes de um bom especialista em alcoolismo: que não adianta m anipular o ambiente e tentar controlar o beber do marido. Toda tentativa fracassará. É garantido! Por mais resolvida, atrati va, inteligente e sutil que seja, ela não conseguirá superar a força da dependência psicológica e física do alcoólatra. Aí, então, a esposa começará a recusar os convites, justam ente para evitar as situações em baraçosas que tanta am argura trazem à vida dela. Porém, a conseqüência desta opção é de aum entar a am argura, isolando o casal e privando tanto o marido quanto a esposa de um a vida normal e saudável entre os amigos. Agora a esposa se encontrará lutando com o problem a, sozinha e sem amparo. Aliás, por algum tem po terá o am pa ro de seus familiares, cujos conselhos — baseados em emoções em vez de em conhecimento de causa — serão os piores e mais contraditórios possí veis. (“ Fique em cim a” . “ Faça de conta que não viu n ad a” . “ M ostre-lhe mais carinho” . “ Largue dele” .) A terceira opção é a única viável, em bora seja a mais difícil de colocar em prática. A esposa, afinal, am a este homem. R eluta em expô-lo à derrisão, desdém ou ostracismo dos outros. Ela hesita em revelar o que lhe parece ser um a fragueza de cará ter por parte do m arido. Ê hum i lhada pelo com portam ento dele quando alcoolizado. Assim, por mo tivos de vergonha e protecionismo, ela se tom a a conspiradora do m ari do (na nossa profissão, cham am o-la de “ co-alcoólatra”), ajudando-o a ca m uflar o problem a de saúde que ele tem. D esta forma, a esposa — a pes soa que mais tem a ganhar com o desm ascaram ento do alcoolismo do m arido — é geralm ente a pessoa que mais teme perder com esse desm as caram ento. Mas é um a moléstia p ro gressiva. Mais cedo ou mais tarde, o próprio alcoolismo o desm ascarará. M elhor que seja mais cedo, evitando anos de desgaste. No próxim o artigo, explicarei como a esposa devia agir neste caso. « REINDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP av®maria ï7 Donald Lazo Como os familiares e principalmente a esposa de um alcoólatra não devem agir. P arece-me que um a m aneira de explicar como se deve lidar com um alcoólatra (isto é, com um a pes soa cujo beber descontrolado esteja causando problem as cada vez m aio res) é m ostrando os erros que um familiar — usarei, como exemplo, a esposa — norm alm ente comete no trato diário do probelm a. A esposa de um alcoólatra que reage à enferm idade dele sozinha, sem a ajuda de pessoas que enten dem do alcoolismo, está fadada a fracassar. Só pode perder, e não so mente ela como tam bém seus filhos e o próprio m arido. Pois ela age de tal m aneira que, sem querer, invariavel mente ajuda o marido a continuar bebendo. Suas ações são tais que ela mesma se torna emocionalm ente de sequilibrada e acaba criando filhos tam bém desequilibrados. (Estou convencido de que a maior ajuda que um casal pode dar a seus filhos — m aior que um a boa educa ção, m aior que qualquer ajuda m ate rial — é m ostrar-lhes o respeito e carinho que o m arido e esposa sen tem um pelo outro. Claro que o rela cionamento entre os pais e os filhos tam bém é im portante. Contudo, muito mais im portante para a saúde emocional e espiritual dos filhos é o relacionamento entre os pais. Q uan do este começa a deteriorar, os filhos começam a sentir a insegurança e angústia que poderá m inar o seu equilíbrio emocional futuro). Voltando à esposa do alcoólatra ativo, posso dizer que tenho recebido dezenas e dezenas de cartas de espo sas de alcoólatras testem unhando a 16 a v e m a r ia sua necessidade desesperadora de obter ajuda. Pelas cartas, percebe-se que elas vêm suportando um a vida quase intolerável há muitos anos. (Em média, os familiares de um alco ólatra tomam os primeiros passos construtivos para lidar com o proble ma sete a oito anos depois que sua forma de beber já se evidencia como anormal.) O comum é a esposa adiar a pro cura de ajuda até que o alcoolismo do m arido se tenha agravado de tal forma que já não há outra alternativa. Parece haver algo dentro de todos nós que nos perm ita ficar de braços cruzados, sem tom ar medidas positi vas e construtivas, até finalm ente ser mos obrigados a tom á-las. Afinal, a ação construtiva geralm ente implica em desconforto, e o ser hum ano p a rece estar disposto a quase tudo para evitar o desconforto. Mais que qualquer outra pessoa, porém, a esposa de um alcoólatra não pode se dar o luxo de esperar para tom ar as medidas apropriadas, porque a doença do m arido dela — sua dependência da droga álcool — é progressiva. A situação deteriorante dele exige que a esposa supere seus instintos normais e comece a agir em vez de esperar para ver se, quem sabe, ele acaba se corrigindo espon taneam ente (o que quase nunca ocor rerá). A tarefa da esposa de um alcoóla tra — sobretudo no Brasil — é mais difícil ainda, pois existem barreiras adicionais a serem superadas. Na nossa sociedade, por exemplo, a m u lher tradicionalmente se encontra num a posição de dependência. Em bora esta situação esteja m udando à m edida que a mulher brasileira se re define, o “ status” da esposa, de mo do geral, ainda depende do que faz o m arido e do êxito dele. Conseqüente mente, ela se sente em perigo im i nente toda vez que o desempenho do papel do m arido esteja ameaçado. E sua reação natural de sobrevivência é a de salvar a situação. Ela sente u r gentemente a necessidade de contro lar o m arido, de manipulá-lo, de en cobrir suas deficiências. Mas, ao fa zer o que é natural e humano, ela estará criando o ambiente perfeito para que o m arido continue bebendo. Estará assegurando exatamente o que ela mais teme. E stará garantindo que a situação irá piorar. Afinal, a esposa estará fazendo o que ela aprendeu durante toda a sua vida: que o papel da esposa é de cuidar, de nutrir, de servir — às vezes — como médica e enfermeira, de ser gentil, compreensiva e toleran te, de evitar as situações desagradá veis, sobretudo se tiver filhos presen tes. Desde a infância ela foi progra m ada a pensar que, quanto mais ela fizer estas coisas, melhor estará de sem penhando o papel de esposa. Acontece, porém, que, se o marido dela for alcoólatra (e um em cada dez é), quanto mais ela fizer estas coisas, mais doente ficará o marido, e pior ficará a situação da família. REINDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP Que d@¥© lener uma pessoa casada com alcoólatra? D onald Lazo E ste artigo é a terceira e últim a parte de um diálogo entre o Reverendo R obert H . Schuller, líder da igreja protestante “Garden Grove C om m unity C hurch” e o sacerdote da Igreja Católica Rom ana, Padre Joseph C. M artin, inicialmente publicado na revista ‘‘A lcoholism - the national m agazine”, editada p o r A lcom , Inc., P.O . B o x 19519, Seattle, W ashington 98109 (E V A ). Reverendo Schulier: Muitas pes soas que estão ouvindo este progra ma neste m om ento têm o problema do alcoolism o. Alguns, e não são poucos, estão aqui hoje nesta igreja. Eles nunca tiveram a consciência de que são alcoólatras. Eles são alcoóla tras e não sabem que são. Mas, se eles aceitassem o fato de terem um proble ma ou de estarem-se encaminhando rapidamente nessa direção, que po dem fazer? Que deveriam fazer? Padre Martin: Bem, a m inha res posta seria dirigida não somente àqueles que têm o problem a mas também àqueles que conhecem um alcoólatra ou vivem com um alcoóla tra. Meus am igos, é difícil encontrar uma família que não tenha sido toca da por este problem a. Se você — ca da um de vocês nesta igreja — se vo cê não conhece um alcoólatra na sua família, entre seus amigos e conheci dos ou entre seus colegas, eu diria que você está cego. Porque existem milhões neste país. E que é que você deve fazer? P ri m eiro, educar-se sobre a natureza da doença para que você possa ajudar. Alcoólicos A nônim os têm literatura que é gratuita. (No Brasil, basta es crever para Alcoólicos Anônim os, Cx. Postal 3180, São Paulo, SP — C EP 01000). Tam bém existe a ir m andade de Al-Anon, para fam ilia res e amigos de alcoólatras, e a de Alateen, para filhos de alcoólatras. | Existem tam bém centros especializai d o s de tratam ento de alcoolismo. 34 ove m a r ia Se sua filha tivesse esclerose múl tiplo, você telefonaria para um médi co dentro de 15 segundos. No entan to, muitas pessoas vivem 15 anos com um a pessoa que está m orrendo do alcoolismo (sim, porque alcoolis mo é progressivo e fatal) e não me xem um dedo para sequer aprender o mínimo a respeito de sua enferm ida de. Por favor, gente, estamos falan do de uma doença term inal. O alcoó latra que não pára de beber, morre da doença. Procurem inform ar-se sobre o alcoolismo. Reverendo Schufler: Mas veja, há uma esposa aqui que sabe que seu m arido está às voltas com esse pro blema. H á um m arido aqui que sabe que sua esposa tem esse problem a. Provavelm ente vivem brigando e, portanto, prejudicando o desenvolvi mento dos filhos. Então, que é que a esposa deve fazer se o m arido tem o problem a? Deve pegar o telefone e li gar para alguém? Padre M artin: Sim, para AlAnon. (No Brasil, o telefone central nacional de Al-Anon é em São Paulo, 229-4688). Ele deve filiar-se à AlA non. Assim se reuniria com outras pessoas que estão no mesmíssimo barco, e com elas aprenderia o que deveria e o que não deveria fazer. Provavelm ente descobrirá que não deveria estar fazendo muitas das coi sas que está fazendo, e deveria fazer muitas coisas que não está fazendo. A frequência às reuniões gratuitas de Al-Anon tem m udado m uitas vidas, senhores e senhoras. M uitas vidas. Reverendo Schulier: C erto. E este program a é visto através de 150 esta ções de TV nos Estados Unidos, C a nadá e A ustrália. O Senhor diria que em quase todas as cidades desses paí ses é possível encontrar o telefone de Al-Anon ou de Alcoólicos A nônim os na lista telefônica? Padre M artin: Sem dúvida. O nú mero de AA é geralm ente um dos primeiros 3 ou 4 núm eros telefônicos relacionados na lista. Reverendo Schulier: Uma últim a pergunta, Padre M artin. De que for ma o Senhor o tem ajudado neste trabalho? Padre Martin: Q uando um a pes soa que nunca vi na m inha vida che ga perto e diz, “ O brigado por salvar a m inha vida” , sim plesmente porque viu um dos meus filmes, isso faz algo que nenhum a outra experiência pode fazer. Este é o trabalho mais gratificante que eu já fiz. T odo o meu sa cerdócio, toda a m inha vida esteve me encam inhando para exatam ente o que estou fazendo hoje. « íí&; CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) sinois ac ta D o n ald Lazo A gente se preocupar com o alcoolismo para saber se ele é ou não é o próprio problema, é porque já se é alcoólatra. (Este artigo é a segunda parte de um diálogo entre o Reverendo Robert Schuller, líder da Igreja da Comunidade de Garden Grove, e o Padre Joseph C. Martin, sacerdote da Igreja Católica Romana e al coólatra recuperado. O diálogo saiu publicado na revista “Alcoholism — the national magazine”, editada bim ensalm ente pela Alcom, Inc., P.O. Box 19519, Seattle, Washington 98109 (EUA). A primeira parte fo i publicada na última edição da Revista A VE MARIA). Reverendo Schuller: E quais seriam alguns destes sinais (atra vés dos quais o alcoolismo se m a nifesta)? ^ Padre Martin: Eu afirmo que uma criança de três anos de idade pode diagnosticar o alcoolismo num ex-advogado que, digamos, estivesse hoje mendigando na rua. Ele é um caso terminal; o homem está quase morto. Qualquer um poderia diagnosticá-lo nesse está gio adiantado. Mas, como pode mos diagnosticar esta doença hor rível, debilitante, destrutiva e complexa quando está nos seus es tágios iniciais? Eu faço uma per gunta, uma só, para diagnosticar a doença. Eu olho para o com porta mento que estou vendo e me per gunto: “ Um bebedor normal faria isso?” Por exemplo, eu acredito que qualquer um que mente a respeito da quantidade que bebe definitiva mente tem um problema de bebi da. E normal um bebedor social mentir a respeito do quanto bebe? Um bebedor normal não tem m o tivo algum para mentir. Mas o al—— coólatra é um dependente. Ele precisa da bebida para funcionar normalmente, e fará qualquer coi sa para proteger seu “ direito” de beber. Obviamente, não se trata de uma atitude consciente e bem pensada. É instintiva. É a sobrevi vência que está em jogo. Portanto, mentir é um dos sintomas iniciais da doença do alcoolismo. E, se me permite, Reverendo Schuller, gos taria de compartilhar com vocês um dos incidentes que aconteceu comigo e que ilustra bem a dife rença entre o que é normal e o que é anormal em um bebedor. Alguns anos atrás eu me en contrava na cidade de Anchorage, no Alaska. Estava sendo entrevis tado num desses programas de rá dio que era difundido das 22 até as 24 horas da noite. Era um desses programas em que pessoas telefo nam para a estação de rádio e fa zem suas perguntas, e eu estava ali para responder perguntas a respei to do alcoolismo. Quase no fim do programa, um jovem telefonou para o programa. Ele foi muito di reto e disse logo, “ Quero falar-lhe sobre meu modo de beber” . Eu lhe perguntei quanto bebia e me respondeu que costumava beber seis a doze latas de cerveja por noite. E acrescentou que bebia bem mais pesadamente nos fins de semana, porque não tinha que tra balhar. Agora, quero que enten dam bem o quadro. Aqui tínha mos um moço, disse-me que tinha 22 anos de idade. Era jovem e era forte. Disse-me que jamais havia perdido um dia de trabalho. Tam bém me disse: “ Eu tenho ressacas, às vezes, mas elas duram pouco tempo. Eu me recupero rápido. ........ Nunca faltei ao serviço. Jamais al guém me chamou a atenção por causa de qualquer problema liga do à bebida” . No entanto, ele acrescentou, “ Estou me pergun tando se sou — quer dizer, por causa da quantidade que eu bebo — se sou, ou se existe a possibili dade de eu chegar a ser, um alcoó latra” . E eu, então, respondi a ele, “ Olha, meu filho, eu não o conhe ço. Nunca o vi com copo na mão. Contudo, de uma coisa eu tenho certeza. Eu gosto de puré de bata ta, compreendeu? Mas nunca na. minha vida inteira peguei o tele fone às onze e meia da noite para telefonar a uma estação de rádio para perguntar a uma pessoa to talmente estranha se ela acha que eu tenho um problema de puré de b atata” . Você, vê, o óbvio se torna ób vio. É claro que esse jovem tem um problema de bebida. Como eu disse antes: o que cria problemas é um problema porque cria proble mas. Quando o álcool cria proble mas para alguém, então o álcool é um problema para essa pessoa. Se o álcool não fosse um problema para esse moço, ele não teria tele fonado para aquele programa às onze e meia da noite. A gente não pergunta a outros sobre proble mas que não existem. • (Continua no próximo número) N CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) v _ _____________________________ J ____ _ - J ave m a r ia 33 D o n ald Lazo Se perguntarmos a uma criança de 10 anos o que gostaria de ser quando for adulto, nenhuma diria “ alcoólatra” ou “ bêbado” . No entanto, um em cada 5, 6 ou 7 pessoas que bebem se tornam dependentes da bebida. os próximos números de AVE MARIA, gostaria de reproduzir um encontro extraordi nário que reuniu duas das mais proeminentes figuras religiosas dos Estados Unidos num diálogo sobre a doença que mais adultos mata nesse — e neste — país. O diálogo foi entre o Reverendo Robert Schuller, líder mundial de uma denominação protestante, e o Padre Joseph C. Martin, um padre que, bem provavelmente, afetou a recuperação de mais alcoólatras e suas famílias que qualquer outro indivíduo nesta década. O Reve rendo Schuller convidou o Padre Martin a participar de seu progra ma de televisão, “ A H ora do P o der” , transmitido para milhões de televidentes nos Estados Unidos, Canadá e Austrália. O diálogo foi publicado na revista “ Alcoholism — the national magazine” , edita da bimensalmente por Alcom, Inc., P.O . Box 19519, Seattle, ■ WA 98109 (EUA). O Reverendo Schuller começou por apresentar o Padre M artin como “ cristão devo tado, um sacerdote ordenado, um padre da Igreja Católica Romana, e um alcoólatra recuperado” . O que estes dois homens tinham em comum era uma preocupação hu m ana pelas vítimas do alcoolismo. ^A conversa prosseguiu assim: 34 a v e m a r ie Reverendo Schuller: Antes que o Presidente e a Sra. Ford entras sem no centro de reabilitação, não muitos quilômetros daqui, onde a Sra. Ford recebeu sua terapia e foi recuperada do alcoolismo, a pri meira coisa que o médico do cen tro de Long Beach fez foi mostrar à Sra. Ford e seu marido o filme “ Bate-papo com Giz” , do Padre Joseph Martin. Por causa do anonim ato que cerca a maioria dos alcoólatras re cuperados, não posso sequer come çar a dar-lhes os nomes das pessoas que hoje são alcoólatras recupera dos graças ao Padre Joseph M ar tin. Bem-vindo à Igreja da Comu nidade de Garden Grove à “ Hora do Poder” . Padre Martin: Muitíssimo obri gado. Reverendo Schuller: Diga-me, como é que o senhor entrou para o campo do alcoolismo e seu estudo? Padre Martin: Bem, foi muito simples. Foi principalmente atra vés de minha própria recuperação 22 anos atrás. Porém , não tive ne nhuma noção, nenhuma idéia, se quer qualquer desejo de entrar profissionalmente para o campo do alcoolismo. Eu era professor de seminário; ensinava jovens da escola secundária na cidade de Baltim or, e depois de minha re cuperação, voltei a dar aulas. Mas, como o Senhor resolve as coisas a sua maneira, depois de 12 anos o seminário menor foi encerrado e me deram permissão para traba lhar profissionalmente no campo do alcoolismo. É isso que eu faço. É minha designação principal. Reverendo Schuller: Como po de uma pessoa saber se ela tem um problema de alcoolismo? Padre Martin: Devido a sua natureza química, o álcool é um sedativo e cria dependência facil mente. O alcoolismo é, nada mais e nada menos, do que a dependên cia desta droga. Agora, ninguém decide tornar-se um alcoólatra. Eu costumo perguntar aos auditórios: Voltem para a idade de 10 anos e escrevam, mentalmente, num pe daço de papel, o que vocês gosta riam de ser quando forem adultos. Reverendo, não existe uma única pessoa nesta catedral magnífica que escreveria “ alcoólatra” ou “ bêbado” . No entanto, uma em cada cinco, seis ou sete pessoas que bebem se torna dependente da bebida. E como se sabe que se tem esta doença? Como pode você saber se é um alcoólatra? Basicamente, a minha própria definição é muito, muito simples. O que causa pro blemas é um problema porque causa problemas. Quando o álcool causa problemas, trata-se de um problema de álcool, e eu o chamo alcoolismo. Manifesta-se através de certos sinais que são muito fá ceis de perceber — para qualquer um que conheça um mínimo sobre o assunto. Reverendo Schuller: E quais seriam alguns destes sinais? (Continua no próximo número), j D o n ald Lazo Aceitar as “ explicações” do alcoólatra está facilitando a progressão da doença chamada dependência. a m inha opinião, a m aior barrei| \ J r a ao progresso rápido na re cuperação de alcoólatras é a idéia ge neralizada de que o alcoólatra bebe exageradamente por causa de algum a pessoa ou circunstância externa. Recebo cartas e telefonem as dia riam ente de esposas cujos m aridos são alcoólatras. Quase sempre relu tam em usar a palavra “ alcoólatra” , que parece ser tão chocante. E sen tem sempre necessidade de am enizar o caso do m arido, explicando por que ele bebe desse jeito. “ É que, quando era jovem , o pai dele era m uito rígido” . Ou então: “ É que perdeu o pai quando era jovem ” . Ou ainda: “ Ele está assim desde que m u damos p ara São P aulo. Sabe, ele não se acostum a. Foi criado no interior” . Sempre há um a explicação. Acontece que as explicações estão todas erradas. Um alcoólatra bebe exageradamente porque se tornou dependente da bebida. A bebida faz um bem danado para ele e, toda vez que bebe, vai gostando cada vez mais do seu efeito. Com os anos, essa de pendência, que inicialmente é psico lógica (o que simplesmente quer di zer que ele gosta do efeito), acaba sendo física. É que o álcool é um a substância que, por causa de sua es tru tu ra m olecular, consegue penetrar o corpo todinho. C ada drinque que se bebe dem ora um a hora para “ sair do corpo” . Quem tom a oito goles vai ter álcool no corpo por oito horas. E quem tom a vinte e quatro goles por dia (menos de um litro), como todo bom alcoólatra chega a fazer, se viver, tem sempre álcool no corpo. Ora, quando as células do corpo entram em contato com o álcool — que é um tóxico venenoso — ou m or rem ou aprendem a conviver com ele. As células que aprendem a conviver com ele se tornam iguais peixes num a jarra de água. Q uando a água desa parece, os peixes ficam pulando. No alcoólatra mais dependente, quando o álcool sai do corpo, as células fi cam pulando. E quando as células pulam , o alcoólatra pula. (Olhe para as mãos dele.) A essa altura, está instalada tam bém a dependência física (além da psicológica). Inicialmente, o alcoóla tra aprendeu que, bebendo, se sentia bem. Agora, ele tem que beber para não sentir-se mal. Aprendam isto: o alcoólatra bebe exageradamente (quer dizer, quando não devia beber ou em quantidades exageradas) única e exclusivamente porque está dependente do álcool. O resto é justificativa. E com o qual quer um sabe, justificativas aceitas permitem que um alcoólatra conti nue bebendo (e, portanto, agravando sua dependência). T oda pessoa que aceita as justifi cativas do alcoólatra está ajudando-o a continuar bebendo e, p o rtanto, a ficar cada vez mais doente. M orreu o pai de um alcoólatra? Vamos apro veitar, pensa ele. A gora posso beber à vontade e todo o m undo me dará razão. M elhor ainda: vão pensar que estou bebendo porque eu am ava meu pai m ais que meus irm ãos. Dupla vantagem : ganho a sim patia de todos e ainda posso beber à vontade. Gente, não entrem no jogo do al coólatra. Ele não bebe desse m odo porque tem um chefe chato ou uma pessoa incompreensível. Ele não be be desse m odo porque perdeu um pai, um cliente ou um emprego. Ele não bebe desse m odo porque nin guém o com preende. Ele não bebe desse m odo por causa do Delfim N etto. Ele bebe desse m odo porque p ara ele o álcool é um a droga e ele se tornou dependente dessa droga. D e pendência de drogas é um a doença progressiva e 100% fatal. P or isso, não convém “ explicar” suas bebedeiras, ou concordar com ele quando inventa um a explicação. (Nisto ele se tornou perito. Aprende a chorar e a fazer um dram a danado. Eu o fiz durante m uitos anos.) Essas “ explicações” todas fazem parte da N EG A Çà O do alcoólatra, ajudan do-o a negar que se tornou depen dente da bebida. E quem aceitar as “ explicações” está FACILITAN DO a progressão da doença cham ada de pendência. Não com etam esse erro. NÃO EN TREM NO JO G O DO AL C OÓLATRA. A sua dependência basta para explicar o beber exagera do do alcoólatra. • ----------------------------------------------------------------------- C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V ____________ — J a v e m a r ia 25 Mão é o mundo, miem os-problemas que fazem o alcoólatra beber Donald Lazo C lu an d o um alcoólatra bebe, 4 ele se sente maravilhosamente bem. E o alcoólatra que bebe mi lhares de vezes — e se beneficia toda vez que bebe — acaba gra vando uma lição na sua mente: “ Quando me sinto mal. conheço uma substância que posso ingerir e que me faz sentir bem. E quando me sinto bem, basta ingerir essa substância para me sentir melhor ainda” . O processo de criar depen dência de uma substância é um processo de aprendizagem. Primei ro, a pessoa descobre a substância, quando a ingere pela primeira vez e encontra que o efeito é agradável. À medida que vai experimentandoa, ele aprende que a substância é confiável. Quer dizer, nunca lhe falha. Toda vez que a tom a, sentese melhor. Mais adiante ele passa a buscar a substância. Em bora an tes ele perdia festas de vez em quando, agora não perde uma. Ele está em todas e pensa que é porque virou uma pessoa mais so ciável. Na verdade, ele está em to das porque em todas tem bebida, e é isso que ele quer. A esta altura, ele já se tornou dependente da be bida e nem sabe disso. Se alguém o acusasse de ser dependente, ele ficaria zangado. Ele acha que não é dependente porque não bebe to do dia. Mas ele é dependente, sim, e quanto mais beber, mais depen dente se tornará. Até chegar ao ponto em que esteja bebendo todo dia mesmo, e sua vida inteira gira rá em torno da bebida. Agora ele acha que bebe por mil razões, mas L está enganado. Bebe por uma úni ca razão: porque se tornou depen dente. O resto é justificativa. Uma esposa me disse que o marido dela queria que ela deixas se seu filho (de cinco anos de ida de, de um casamento anterior) com os pais em São Paulo, e se mudasse para o Ceará com ele. “ Ele diz que bebe por causa da vi da agitada desta cidade gigantes ca... e também por causa de meu filho mal com portado. Que é que o senhor me recomenda? Devo deixar meu filho aqui e segui-lo para Fortaleza, onde a vida é mais calma e ele não tenha mais razão para beber tan to ?” Eu expliquei que ele não bebia por causa do filho dela nem por causa da vida agitada de São Pau lo. Expliquei que ele bebia porque era dependente do álcool. E expli quei que se mudassem para Forta leza, ele ia levar sua dependência junto com ele e portanto conti nuaria bebendo lá, e cada vez mais. E então lá, em Fortaleza, ele começaria a dizer que agora esta va bebendo demais por causa do calor, ou por estar numa cidade onde a vida é pacata demais com parada com São Paulo. Seria ca paz até de dizer que anda exage rando “ um pouquinho” por sen tir falta daquele filho que ela dei xou com os pais! Quantas vezes as esposas cho ram: “ Eu tentei eliminar todas as coisas que faziam ele beber!” Elas precisam aprender que não é o mundo externo que fa z o alcoóla tra beber. Não são os problemas que o fazem beber. Se fossem, to do o m undo seria alcoólatra, pois não me consta que exista alguém re s ta terra que não tenha proble mas. Não são os sogros que fazem o alcoólatra beber. Se fossem os sogros toda pessoa casada seria al coólatra. Não é a sensibilidade de le que o faz beber. É a bebida que o to rn a sensível. E é a bebida que faz ele beber, pois é dependente dela. Você que é esposa de um al coólatra, não pode eliminar todas as pessoas do mundo. Você não pode destruir todos os bares. Você não pode resolver todos os problemas. O m undo nunca estará perfei to para ele. Q uanto antes você aprende es tas coisas e deixa de tentar contro lar o beber do seu m arido, arru m ando o m undo direitinho para ele, antes ele terá chance de se re cuperar. Você já imaginou a espo sa de um diabético tentar eliminar todo lugar na cidade onde existe açúcar, ou querer mudar-se para alguma parte do país onde o açú car não existe? N ão seria mais lógico simples mente insistir que o diabético pa rasse de comer açúcar e passasse a tom ar sua insulina? O alcoólatra precisa parar de beber álcool. E a insulina do alcoólatra são os Doze Passos sugeridos por Alcoólicos Anônimos. • --------------------------------------------- CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) eir© m aria 29 O uase vinte-e-dois anos atrás me mente que, com esse gesto generoso, internei no Hospital Samaritano aquele padre salvou minha vida. Pois, nas páginas desse livro maravilhoso, logo de manhã, bêbado e chorando descobri que eu era alcoólatra e que desesperadamente. Eu não sabia qual era o meu problema e mais ninguém alcoólatra não pode beber sem criar sabia. Considerava-me uma pessoa problemas. Descobri que o que eu totalmente inútil, que mais gostava vinha tentando fazer há muitos anos do lazer e das diversões do que do tra — beber sem criar problemas — era, balho. Estava muito perturbado. Já para o alcoólatra (ou seja, para mim), havia capotado quatro carros, des impossível. truído dois casamentos, perdido três Havia entrado no hospital no tér empregos e prejudicado a vida de um mino de uma bebedeira de seis dias, bocado de gente. Por causa de tudo durante os quais não havia comido aquilo, pensava eu, é que eu bebia. E sequer um pedaço de pão. Entrei não só eu pensava assim. Todas as num estado físico e emocional deplo pessoas que me conheciam achavam rável. Saí do hospital cinco dias de que eu bebia por causa dos problemas pois — desintoxicado, descansado e que tinha. com fome de novo — para nunca mais ter o mínimo problema com a No Hospital Samaritano me desin bebida. Mas também saí com uma toxicaram em cinco dias. No segundo imensa curiosidade, despertada pelo dia de minha internação, um padre padre quando me disse que até padres que costumava fazer as rondas do desenvolviam essa doença, e aguçada hospital visitando os pacientes entrou pela leitura do livro Alcoólicos Anô no meu quarto e, na conversa comigo, nimos (disponível através dos fones tomou-se a primeira pessoa a diag 228-3804 e 227-5601 erri São Paulo, nosticar meu caso corretamente. Em Capital). Se a solução do alcoolismo prestou-me, então, o livro Alcoólicos era tão simples assim — se apenas Anônimos que ele vinha lendo. “ Não bastava parar de beber — por que tão que eu seja alcoólatra” , ele me disse. poucos alcoólatras se recuperam? “ Puxa, padre, o Sr. não precisava Aí então, comecei a estudar minha me explicar isso. O Sr. é padre. Como doença, e continuo estudando-a até podia ser alcoólatra?” hoje. E a maior lição que tenho “ Não, não se engane” , ele me ex aprendido é que em ALCOOLISMO, plicou. “ Eu estou lendo o livro justa não somente tudo é diferente do que mente porque o alcoolismo é o maior as pessoas pensam, TUDO É O problema de saúde que existe entre os CONTRÁRIO DO QUE AS PES padres nos Estados Unidos (este pa SOAS PENSAM. Assim sendo, todo dre era norte-americano) e eu estou mundo (o alcoólatra, os membros de querendo entender melhor esse pro sua família, os médicos, a sociedade blema. Mas eu lhe empresto o livro” . em geral) agem de modo a prejudicar Sem dramatismo, acredito sincera os alcoólatras ao invés de ajudá-los. Nos próximos artigos, explicarei o que eu quero dizer com isso. Houve época em que o alcoólatra era julgado pelo seu comportamento quando alcoolizado. Já que seu com portamento era vergonhoso, ele era tido como um sem-vergonha. Quan do aprontava, era preso. Hoje já se sabe que, ao contrário do que se pensava, a vergonha (e não a falta de vergonha) agrava o alcoolis mo da vítima. Em outras palavras, quanto mais vergonha um alcoólatra tiver, mais remorso .sentirá pelos atos que comete quando estiver alcooliza do. E para aliviar o sentimento de vergonha, mais beberá. Assim, sua vergonha se tom a parte de um círculo vicioso que inclui o beber, o compor tamento irresponsável -devido ao be ber, a vergonha que resulta do com portamento irresponsável (no alcoó latra que tem vergonha) e o beber que o alcoólatra repete para aliviar a ver gonha que sente. Comecei este artigo explicando que eu achava que bebia por causa dos problemas que tinha. Até certo ponto isto era verdade, pois eu havia chega do a um estágio bem adiantado do al coolismo. Mas, durante muitos anos, a verdade era o contrário. Eu não be bia porque tinha problemas. Eu tinha problemas porque bebia. A idéia de que o alcoólatra bebe porque tem problemas é o maior mito em todo o campo de alcoolismo. E é o mito que mais prejudica os alcoólatras, como explicarei nos artigos futuros. ® Donald Lazo ave maria 27 A LC O O L ÍS M O Alcoolismo: doença ou "desvio de conduta intencional"? Donald Lazo x is te um a lei nos EUA que o b rig a o g o v e rn o n o rte -a m e ric a n o a pagar os e s tu d o s de do v e te ra n o de guerra d u ra n te 1 0 a n o s após ele v o lta r da g u e rra . P assou do s 10 anos, o g o v e rn o não paga m a is ... a não ser q u e o v e te ra n o te n h a alg u m a d o e n ç a não ca u sa d a po r " u m d e s v io de c o n d u ta in te n c io n a l" . Q uem ad m in istra esses p a g a m e n to s de e s tu d o s para os v e te ra n o s é um a a gê ncia do g o v e rn o cha m ad a A d m in is tra ç ã o de V e te ra n o s (V A ). E, a c o n te c e q u e , na o p in iã o da V A , o a lc o o lis m o é c a u s a d o p o r u m d e s v io de c o n d u ta in te n c io n a l. Ou seja, a V A c o n s id e ra que o beber do a lc o ó la tra (que le vou -o ao a lc o o lis m o ), é quase sem pre in te n c io n a l e não um a to in v o lu n tá rio re s u lta n te de u m a c o m p u ls ã o in c o n tro lá v e l. A lg u n s anos a trá s, do is v e te ranos de guerra do V ie tn ã , am bos a lc o ó la tra s re c u p e ra d o s , que h a v ia m c o n tin u a d o a e s tu d a r além dos 10 anos, d e cidiram c o b ra r do g o v e rn o esses e s tu d o s , a firm a n do que tin h a m esse d ire ito porque o a lco o lism o é um a d oença e p o r ta n to eles eram pessoas d o e n te s. A V A re cu so u -se a pag ar, d iz e n do que, na sua o p in iã o , seu a l c o o lis m o era c a u sa d o p o r um d e s v io de c o n d u ta in te n c io n a l. A V A g a n h o u a cau sa; os d o is v e te ra n o s a p e laram ; a V A g a n h o u de n o v o ; os dois a pelaram de n o v o e c o n tin u a ra m a p e la n d o até qu e o ca so , fin a lm e n te , fo i p a ra r E » na C o rte S u p re m a . M u ita s p e s soas interessada s no caso c o n fia ram que agora, fin a lm e n te , a C o r te S u p re m a iria d a r o a va l da lei à a firm a ç ã o de q ue o a lc o o lis m o é um a doença. A o in vé s d is s o , a C o rte S u p re m a se re c u s o u a d e c id ir se o a lc o o lis m o é d o e n ç a o u n ã o , e x p lic a n d o que isso c a b ia aos m é d ic o s e que os m é d ic o s ainda não e s ta v a m de a c o rd o so b re o a s s u n to . É v e rd a d e . M u ito s m é d i c o s d ize m q ue o a lc o o lis m o é u m a d o e n ç a , m a s m u ito s o u tro s d iz e m que não é. E a C o rte S u p re m a disse q u e até qu e os m é t o d ic o s não e s tiv e s s e m de a co rd o , ela m e sm a não iria se p ro n u n c ia r s o b re a p o lê m ic a . P o rta n to , d is se a C o rte S u p re m a , a V A tin h a d ire ito à sua o p in iã o : a de que o a lc o o lis m o , d o e n ç a ou não, era c a u s a d o p or u m d e s v io de c o n d u ta in te n c io n a l. Os jo rn a is e a te le v is ã o do m u n d o in te iro e x p lo d ira m c o m m a n c h e te s d a n d o a e n te n d e r que a C o rte S u p re m a h a v ia d e c id id o q u e o a lc o o lis m o n ã o era u m a d o e n ç a . E sta va m u ito lo n g e da verd a d e , m as to d o s sabem os que o s e n s a c io n a lis m o v e n d e jo rn a is e p ro g ra m a s de te le v is ã o . Q ue tra g é d ia que o m u n d o te n h a sid o le v a d o a te r um a idéia to ta lm e n te d is to rc id a da re a lid a d e so b re u m a s s u n to de ta m a n h a im p o r tâ n c ia ! O que e s ta v a em d is c u s s ã o n ã o era se o a lc o o lis m o era ou não doença. O que esta va em d is c u s s ã o era se, q u a n d o um a lc o ó latra bebe, o fa z im p e lid o p o r um a c o m p u ls ã o in c o n tro lá v e l ou o faz in te n c io n a lm e n te . É fu n d a m e n ta l d is tin g ü ir e n tre o beber de um a lco ó la tra e seu a lc o o lis m o (sua d e p e n d ê n c ia ao á lc o o l). Pois é u m fa to q ue o a l c o ó la tra que bebe não c o n s e g u e c o n tro la r a p ro g re ssã o de sua d e p e n d ê n c ia . E ta m b é m é v e rd a d e que o a lco ó la tra não pode c o n tro la rs e u beber (is to é, o q u a n to ele b e b e ). M as o a lc o ó la tra — q u a n do q uiser — po d e d e c id ir a b a n d o n a r a b e b id a para s e m p re , e a s sim d e te r (isto é, re cu p e ra r-se ) de sua d o e n ç a . N um p ro g ra m a de T V q u e eu v i, u m p s iq u ia tra e x p lic o u a d ife re n ça e n tre o b e b e d o r n o rm a l e o a lc o ó la tra , d iz e n d o q u e q u a n do o b e b e d o r n o rm a l v a i a um a fe s ta , ele po d e e s c o lh e r e n tre b e b er ou n ã o , e n q u a n to o a lc o ó la tra não te m e s c o lh a — ele te m q ue beber. Q u e ro d is c o rd a r em v o z a lta . O a lc o ó la tra te m e s c o lh a ! (Os ú n i co s a lc o ó la tra s q u e nã o tê m são aq u e le s p o u c o s — em te rm o s de p e rc e n ta g e m — que e stã o em es tá g io a v a n ç a d o da d e p e n d ê n c ia fís ic a .) A v a s tís s im a m a io ria p o de recusar-se a beber. (É o que eu fa ç o há 2 3 a n o s ). A liá s , se q u i se r s o b re v iv e r à d o e n ç a , te rá de re c u s a r. O p ro b le m a é q ue q u a se to d o a lc o ó la tra não só não s a be d is to m a s, e s c o n d id o a trá s de sua m u ra lh a de n e g a ç ã o e p r o te g id o por se u s fa c ilita d o re s , s e q u e r sabe q u e é u m a lc o ó la tra . A A d m in is tra ç ã o de V e te r a n o s do g o v e rn o n o rte -a m e ric a n o c o n s id e ra q u e o a lc o o lis m o q u a se se m p re re s u lta de um d e s v io de c o n d u ta in te n c io n a l e a C o rte S u p re m a d e te rm in o u que até que os m é d ic o s se p o n h a m de a c o r d o , essa p o lític a da V A é a c e itá v e l, a c re s c e n ta n d o q ue " o c o n s u m o de á lc o o l (por um a lc o ó la tra ) não é c o n s id e ra d o in te ir a m e n te in v o lu n tá r io " . P a re ce -m e q ue e s to u e n tre a pe q u e n a m in o ria de a lc o ó la tra s qu e c o n c o rd a p le n a m e n te c o m a C o rte S u p re m a a m e ric a n a . U m dia o u v i u m a lc o ó la tra d ize r qu e h a v ia re ca íd o (v o lta d o a beber) porque, afinal, " s o u um d o e n te ". Eu disse a ele que esta va se a p ro v e ita n d o do ró tu lo " d o e n ç a " p a ra ju s tific a r sua v o lta à b e b id a . E a c re s c e n te i q u e , d e p o is de d e s c o b rir que eu era um a lc o ó la tra , e ju s ta m e n te p o r sê -lo , eu n u n c a m a is e x p e rim e n te i a b e b id a . Eu te n h o essa e s c o lh a . . A L C O O L IS M O Perdendo o controle sobre a bebida... controladamente -essoalmente, não gosto da ex: essão "perda de controle sobre a ir:'d a ". Acho mais acertado dizer :_e cuando cria dependência do ál: : : , o alcoólatra perde a vontade de : : ~:'Oiar a bebida. Na minha opinião e~Drem-se de que sou alcoólatra -ecuperado), a chamada “ perda de controle” do alcoólatra tem muito de - = 'z\a. O verdadeiro processo é ex: :ado mais acertadamente — e "aciosamente — pelo dr. Joseph - „ rsch em seu livro Dear Doc. De acordo com um velho ditado, se um alcoólatra tomar apenas um copo, ele perderá o controle e sairá zescambando na bebida” . Ora, isto não é literalmente verdadeiro. Não quer dizer que, após um copo, ele sempre continuará bebendo até ficar e~briagado. Se você vive com um alcoólatra, s sabe disso. O que você provavel~ente está se perguntando é outra coisa: “será que ele pode voltar a be:er sem que, mais cedo ou mais tar de. tenha problemas novamente?” A resposta a esta pergunta é: “ Não!” Seu beber poderá parecer normal du rante algum tempo, mas, no final, lhe causará problemas outra vez. Vamos tomar como típico exem:lo o caso de um homem que cha garemos Henrique. Ele estava outra .ez afastado da bebida porque sua esposa, Suzana, vinha resmungando. Então, uma noite ele tomou uma cer•eja. Quando Suzana chegou em ca sa e viu á lata vazia, teve um acesso. “ Não esquenta” , disse Henrique. Eu bebi essa cerveja há duas horas. Ainda há cinco latas na geladeira, sobrando do pacote que comprei hoje à tarde. Agora” — disse ele, er guendo um dedo lógico — “Você me . ê embarafustando pela cozinha em busca de outra cerveja, hein? Bem, isso basta para provar como é ridí cula a teoria de sua mãe ds que se eu tomar um copo, vou descambar na bebida.” Na noite seguinte, Henrique dis se: “ Ouça, se eu fui capaz de parar com uma cerveja ontem, posso pa rar com uma hoje” . Suzana não po dia argumentar contra. E assim ele tomou uma. Suzana observava-o ner vosamente, enquanto ele lia o jornal. Duas horas mais tarde, ele sorriu pa ra ela: “ Querida, vou para a cama. Estou cansado de esperar pela com pulsão incontrolável que dizem que essa bebida causa” . Suzana sen tiu-se como uma tola. “ Talvez esteja me preocupando a troco de nada” , pensou ela, sorrindo para si mesma. Seja como for, Henrique agora estava de volta a sua cervejinha diá ria. Duas semanas mais tarde houve um almoço de despedida para um colega na empresa. “ Que diabo” , ra cionalizou Henrique, “ eu simples mente tomarei minha cervejinha no turna no almoço — e é tudo” . Mas, voltando para casa naquela tarde, ra cionalizou um pouco mais. “ Qual quer pessoa que possa parar com uma cerveja por dia, pode parar com duas” , garantiu a si mesmo. Por is so, entrou sorrateiramente pela por ta dos fundos e rapidamente apa nhou uma cerveja antes que Suzana pudesse sentir-se o Hálito. “ Aprecio o gosto dessa primeira cerveja do dia", disse ele, fazendo um brinde a Suzana com uma segunda cerveja quando ela entrou na cozinha. Ele já estava mentindo de novo; talvez não . tinha “ descambado” ainda, mas cer-’ tamente estava a caminho. Após o jantar, o cunhado apare ceu inesperadamente. “ Henrique” , disse a ele, “ vamos tomar uma cer veja e resolver aquele problema do Campeonato Mirim” . Suzana fez uma cara feia e entrou na cozinha. Henri que seguiu-a. “ Preciso tomar uma cerveja com ele” , implorou. “ Você bem sabe como ele dá com a língua nos dentes. E afinal” , acrescentou : logicamente, “ se posso controlar uma cerveja, posso controlar duas. Não há nada de mais. Que tal?” Bem, pensou ela, Henrique esta va certo a respeito do seu irmão lin guarudo. “ Está bem” , cedeu ela. “Vo cê pode tomar a segunda — mas so mente desta vez” Agora estavam os dois no pro cesso, porque ela já sabia, subcons cientemente, que amanhã Henrique diria: “ Ontem consegui controlar-me com duas cervejas — hoje posso controlar duas também” , e ela teria de concordar. E Herinque já sabia que amanhã ele beberia uma cerve ja no almoço, e se ela sentisse o ba fo quando ele voltasse para casa, ele diria: “ Querida, tomei umas das mi nhas duas cervejas durante o almo ço” . Mas, se ela não sentisse bafo al gum, ele teria uma cerveja no almo ço e duas em casa, porque se você pode parar com duas, também pode parar com três. E ela teria de con cordar. E aí, então, os dois estariam des cambando. Quando você estuda o padrão de beber do seu alcoólatra com objeti vidade e a opinião posterior de um tarapeuta, compreenderá o verdadei ro significado de “ descambar na be bida” . Verá o auto-engano, a raciona lização, os truques, o teatralismo e a chicana que o bebedor tem de usar para fazer com que seu beber pare ça casual. Você também ouvirá a destreza verbal que ele usa para en volver você no seu processo de vol tar à bebida. Finalmente, você pas sará a ver o papel ativo que você es tá desempenhando, não como um espectador inocente, mas como uma pessoa envolvida diretamete com o problema. • D onald Lazo a g o s to /9 0 a v e m a r ia 21 I------------------------- — — --------------------------------------------------------------------------------------------------------- Chega eío cooperar cora c Rcsaçjfo efc c ieoólatra! D o n ald L azo u p or medo, ou por inseguranv_: ça» ou por desconhecimento, ou m esm o p or conveniência, os mem bros de um a família que tem um al coólatra (e uma em três famílias o tem!) hesitam em falar às claras com o doente. Na hora de convencê-lo a aceitar o tratam ento de que tanto pre cisa, mesmo as pessoas que já apren deram que o alcoolismo é uma doença RESPEITÁVEL, mas progressiva e fatal, costumam fazer rodeios. Seria o caso de, na frente da fa m ília inteira, com carinho mas tam bém com absoluta firmeza, dizer ao bebedor exagerado algo assim: Q uerido, mais uma vez você che gou em casa embriagado ontem à noite. É a quarta vez este mês. Isto não é norm al. Tudo que temos lido e aprendido nos convence de que você tem a doença do alcoolismo (dito com a naturalidade de quem confia no que está falando. Em muitas fa mílias, um filho é mais indicado para falar estas coisas do que a esposa do alcoólatra). E u sei: você insiste em que não é alcoólatra. Que você bebe quando quer e p ára quando quer. Que vem exagerando um pouquinho ultim a m ente porque a situação não está b oa. M as nós aprendemos que todo alcoólatra fala essas coisas. Aquilo faz parte do que apelidaram N EG A Çà O . E não é verdade. É exatam en te a negação da verdade. É verdade que você bebe quando quer, como você costum a dizer. E talvez seja até verdade que pára quando quer. Mas acontece que, ulti m am ente, com cada vez mais fre qüência, toda vez em que você come ça a beber você não quer parar. Pelo menos até que tenha bebido demais. E isso é sintomático de alcoolismo. Bebedores norm ais não fazem isso com a freqüência com que você o vem fazendo. Bebedores norm ais fa zem isso um a vez ou ou tra. Você faz constantem ente. Tam bém temos aprendido que quando um bebedor diz que vem exa gerando ‘um pouquinho’ — e todos nós podem os ver que está exageran do m uito — esse bebedor está evi denciando outro aspecto da negação do alcoólatra: o que cham am de ‘minim ização’. Você já notou, querido, que você nunca diz que tom ou um drinque, um gole ou um chope? Com você é sempre ‘um drinquezinho’, ‘um golezinho’ ou ‘um chopezinho’. Isto é minimizar o que se bebe e é sin tom a de alcoolismo. Bebedores n o r mais não minimizam. Dizem o que bebem . “ O ntem , n a festa, tom ei dois uísques com soda” . O alcoólatra, não. Ele diz que tom ou “ apenas uns (provavelmente doze) uisquezinhos” . Você tam bém costum a dizer que vem exagerando um pouquinho ulti m am ente po rque a situação não está boa. Pois, acredite ou n ão, meu bem , mas isso tam bém é sintom ático do alcoolism o. O alcoólatra não con segue ver as coisas com o elas são. Ele vê tudo ao inverso, e sua racionaliza ção o convence de que o que ele vê é a realidade. Pois não é verdade que você vem bebendo demais porque a situação não está boa. A realidade é que a si tuação não está boa porque você vem bebendo dem ais. É o contrário do que você pensa. A final, está lem bra do da vez em que você ganhou a lote ria? N unca tivem os um a situação tão boa. E nunca você bebeu tan to . O lha, querido, agora estou lhe falando sério. Eu aprendi que a pes soa que ajuda um alcoólatra a fugir da realidade é um a facilitadora — fa cilitando a progressão da doença que acabará, com absoluta certeza, m a tando a pessoa que ela está querendo proteger. N esta fam ília não vamos fazer isso m ais. A partir de agora, você terá que resolver sozinho qualquer problem a em que se m eter por causa da bebida. Nós o iremos aju d ar só em caso de você estar ferido ou fisicamente doente. E é claro que o ajudarem os de to d a form a possível tão logo você se decida tratar-se. A té então, nos re cusarem os a cooperar para a p ro gressão de sua doença. • CHÁCARA REfNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20,896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514} V ______________ J a v e m a r ie 31 A L C O O L IS M O Quando o Alcoólatra diz: 'Eu quero parar de beber". c brigue-o e não a mostrar esse desejo com ações, com palavras) Donald Lazo Quantas vezes alguma esposa desesperada, que veio me consultar - respeito do marido alcoólatra, me d;sse: “ Não entendo esse meu ma'ido. Eu sei que ele quer parar de beoer. Ontem chegou em casa bastante alcoolizado e chorando adoidado. Começou a bater a cabe ça contra a parede, gritando; ‘Que ná comigo? Por que faço essas coi sas? Meu Deus, me ajude a parar de beber’. Coitado, está sofrendo tan to. Ele quer parar de beber e não consegue. Que maldita doença es sa, que obriga as pessoas a beber contra^ua própria vontade?” Na minha opinião — e é bom lembrar que sou um alcoólatra recu perado que já fez cenas semelhan tes inúmeras vezes — não só a mulher está enganada, mas o alcoó latra também. Ele convenceu a si mesmo, e à mulher, que está louco para parar de beber e não consegue. Na realidade, ele não está louco pa ra parar de beber. Ele está louco pa ra parar com as conseqüências ruins da bebida, sem ter que parar de beber. Ele nunca pensou seria mente em abandonar a bebida para sempre, pois nunca lhe foi dito que. essa seria a única solução para seu alcoolismo. Aliás, com toda proba bilidade, sequer lhe tenha sido ex plicado que é alcoólatra. Assim sendo, há anos ele vem tentando be ber igual aos outros, sem se criarem tantos problemas. Jamais lhe foi di to que ele não é igual aos outros — que quando ele bebe, acontecem coisas (em seu cérebro) que o levam a querer beber mais, até o ponto em que seu beber lhe crie problemas. Aí, então, é que vem o desespero de le. Mas quando ele faz essa cena teatral toda, com o choro e as bati das de cabeça contra a parede (e qualquer alcoólatra recuperado e honesto admite que são mesmo ce nas teatrais), gritando “ Deus, me ajude a parar de beber” , o que ele quer mesmo é parar com as conse qüências negativas do seu beber, sem ter de parar de beber. Vou lhes contar um segredo de alcoólatra. Acontece que quando o alcoolismo foi definido como doen ça (e eu concordo com essa defini ção), muitos alcoólatras perceberam que o rótulo de “ doença” levava a maioria das pessoas a concluir que o alcoólatra é forçado a beber, pela doença, contra sua própria vontade. E isto simplesmente não é verdade. Quando se diz que o alcoolismo é doença, está-se dizendo que o beber de certas pessoas leva essas pes soas a desenvolver uma dependên cia ao álcool que, por sua vez. as leva a apelar cada vez mais para aquela substância que pensam fazer-lhes sentir-se melhor. A mes míssima coisa acontece com pes soas que fumam ou que tomam outras drogas (embora o cigarro crie uma percentagem de dependentes bem maior que o álcool;. Mas chamar alcoolismo de “ doença” não quer dizer que o al coólatra ingere sua droga contra âua vontade. Contra seu melhor juizo, talvez. Mas não contra sua von tade. Quando uma pessoa levanta o copo à sua boca, mesmo que tenha dito mil vezes que quer parar de be ber, é porque nesse momento ele es tá querendo beber. Toda vez que uma pessoa bebe, seja alcoólatra ou não, ele bebe porque quer. Se for al coólatra, então, a sua dependência o fará querer beber muito. A chave da solução do alcoolis mo é fazer o alcoólatra querer parar de beber o suficiente para que supe re esses momentos de tentação. Porque o alcoólatra que quer parar de beber mesmo, já tem 95% da ba talha ganha. Aquele que quer parar de beber, busca ajuda. E hoje exis tem, por todo Brasil, centenas de grupos de AA onde essa ajuda é dis ponível, e gratuita. Talvez, para parar de beber ele precise, como eu precisei, de uma desintoxicação com ajuda médica. Certamente precisará de informa ções sobre sua doença. Terá de aprender sobre a necessidade abso luta de se manter afastado da bebi da e outras drogas, não por algum tempo mas sim. para o resto de sua vida. Precisará de dicas sobre como se manter sóbrio. Mas, repito, a cha ve de sua recuperação é ele querer parar de beber. Sem isso, não vai pa rar por muito tempo. Querendo, ele vai descobrir como é fácil superar sua “ doença” . Por isso, o conselho que dou às esposas de alcoólatras que me pro curam, pedindo para saber como fa zer seus alcoólatras pararem de beber, é o seguinte: “ Não perca seu tempo tentando fazer seu marido pa rar de beber, pois você não vai con seguir. Ele é a única pessoa no mundo que pode fazer isso. Você de ve utilizar sua inteligência e sua energia no esforço de fazer ele que rer parar de beber. Porque isso é al go que você pode fazer. Como? Deixando de ser faciliíadora. « ju lh o / 9 0 a v e m a r ia 21 A LC O O LIS M O Ajudar um alcoólatra a "negar" sua realidade é mantê-lo iludido... e bebendo D o n a ld L a zo Um dos fenôm enos mais fa sci nantes e menos compreendido do al coolism o é a chamada "n e g a ç ã o ". Quando um alcoólatra chega em ca sa às 4 da manhã, cambaleando, ca misa rasgada, apoiando-se nas pare des, cheirando a pinga e dizendo: "A m o rz in h o , eu juro que só tom ei duas cervejinh as", está ele "n e g a n d o "? Não. Ele está m entindo. D ific il m ente um alcoólatra que tom ou uma garrafa de pinga pensará que só to mou duas cervejas. Não é a isso que a gente se refere quando fala n3 " n e g a ç ã o " do alcoólatra. A "n e g a çã o ” do alcoólatra não tem nada a ver com as suas mentiras. Refere-se à maneira de se iludir, o que lhe per m ite ver as coisas de frente para trás. Há uma cena maravilhosa num dos film es que mostram os aos nos sos pacientes na Chácara Reindal. Nela há um médico deitado na cama com uma expressão facial de gran de preocupação. Sua amante, a seu lado, pergunta se alguma coisa está errada. "A lg u m problema em ca s a ? ", indaga ela. Ora, para quem es tá vendo o desenvolvim ento do al coolism o do médico e para onde o está levando, é óbvio que ele tem m uitas e boas razões para estar preocupado. (Entre outras coisas, deve estar preocupado que os cole gas com quem montou um consul tó rio , e os administradores do hos pital onde interna seus pacientes, para não mencionar sua esposa, vão descobrir que ele vem passando to da segunda-feira no apartam ento da am ante, fugindo de suas responsa bilidades.) Mas, sua resposta à am ante é um longo m onólogo que pronuncia como se fosse um homem exageradamente preocupado com suas responsabilidades: " N ã o " , diz ele, "m e u s problemas são outros. É que a gente cresce e se m odifica. Puxa, há tantas coisas que nunca nos ensinaram. Não nos falaram das fru stra çõ e s que iríamos passar. Quando você quer ajudar alguém e não pode (o m édico tem um pacien te que está m orrendo de câncer). Não nos falaram da angústia de pen sar: 'Será que eu sei o suficiente? Será que aprendi o bastante?' E não nos contaram sobre a m orte. Nós não fom os preparados para a m or te " . As pessoas que estão vendo a cena pela primeira vez fatalm ente reagem com em patia. "C o ita d o ", devem pensar, "a g o ra entendo por que ele bebe ta n to ." Mas a cena não está no filme pa ra explicar porque o médico bebe. Está ali para m ostrar um belo exem plo de negação. E mostra como é fá cil aceitar e sim patizar com a nega ção do alcoólatra. A realidade da situação é que es se médico vem bebendo demais e is so o incomoda. Assim para aliviar seu desconforto, ele racionaliza. Is so é negação: negação da realidade. O médico está convencido e conven ce os outros, que ele bebe porque sua barra é pesada demais. A cena é m uito clara. As pessoas pensam que compreendem m uito bem o com portam ento do abnegado m édi co. Mas a verdade é que nem as pes soas e nem o próprio médico com preendem seu com portam ento. Ele não está bebendo porque sua barra é pesada demais. Sua barra é pesa da demais porque está bebendo, e ele está vendo as coisas de frente para trás. Esse m édico não está m entindo. Ele, honestam ente, crê que sua pesada carga de responsa bilidade é que o deixa num estado que só a bebida consegue aliviar. Ele está sinceramente iludido, devido às centenas de vezes que ele racionali zou seu com portam ento nos últimos anos. Estou convicto de que a grande barreira à recuperação da maioria dos alcoólatras é a facilidade com que eles levam as pessbas ao seu re dor a tam bém acreditaVem nas suas ilusões. Outro modo de dizer isso é dizer que a melhor maneira de aju dar um alcoólatra é não se deixar le var por suas ilusões. (Traduzidas em cenas d ra m á tic a s co m o a do médico.) A s pessoas que convivem com alcoólatras precisam aprender que o alcoólatra só bebe por duas razões, dependendo do estágio em que ele se encontra: 1.a) antes de tornar-se dependente, o alcoólatra bebe por que gosta. Gosta do ambiente. Gos ta quase sempre do sabor. Mas, aci ma de tudo, gosta do efeito. Gosta do que o álcool faz por ele; 2.a) de pois que o alcoólatra se torna depen dente, bebe porque está dependen te. É só isso. Esqueça todas as te o rias psiquiátricas e todas as ju s tifi cativas do alcoólatra. O resto é pa po furado. • N CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.833 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V._____________ ________________ o u tu b r o /8 9 a v e m a ria J 27 Donald Lazo (Diretor da R EIN D AL) Conhecer as causas que favorecem ou dificultam o alcoolismo é dever de toda família responsável por um familiar alcoólatra. Po ano passado, tive a oportuni dade de tom ar café de m anhã com o Dr. James R. M ilam, psicólo go clínico e fundador do Hospital Alcenas em Seattle, W ashington. EUA. Esse hospital se dedica exclu sivamente ao tratam ento de alcoóla tras e tem um índice de recuperação que chega quase aos 90% (em con traste com as clínicas psiquiátricas norte-americanas, onde o índice de recuperação dos alcoólatras não che ga a 5%). Dr. Milam é um a das maiores autoridades em alcoolismo nos E sta dos Unidos, autor de um livro que a REINDAL pretende lançar no Brasil. O argumento principal do livro: que o alcoolismo é uma doença fisiológica e não psicológica; que o alcoólatra não tem “ um a personalidade predis posta” , como argum entam alguns, e sim, um organismo predisposto. Perguntei ao Dr. Milam se ele considerava imprescindível tratar a família do alcoólatra junto com o alcoólatra. “ Tão im portante é” , me respondeu, “ que, se eu fosse obriga do a tratar o alcoólatra OU sua fam í lia, às vezes acho que optaria por tratar a fam ília” . Por quê? Porque, com o desco nhecimento de causa que existe, os ; familiares são grandem ente respon sáveis pelo agravamento dessa doen ça progressiva. Tudo que eles tentam fazer para que o alcoólatra “ tome jeito” só serve para acelerar sua doença. Deixe-me dar um exemplo típico. Alguns anos atrás, fui procurado pe la mãe de um alcoólatra. Após meia 76 a v e m a r ia hora de lamúrias em que ela chegou a chorar porque seu filho fazia pouco caso de suas implorações (e, real mente, conselhos não eliminam mes mo a dependência orgânica de um a droga!), a conversa foi mais ou m e nos assim: Eu: “ Senhora, que idade tem seu filho?" Ela: “ Trinta e seis” . Eu: “Trinta e seis? Puxa, então já é adulto! E onde trab alh a?” Ela: “ Ora. o senhor acha que ele poderia trabalhar do jeito que ele bebe? Ele não trabalha há mais de 8 anos” . Eu: “Mas, então, como é que tem dinheiro para beber? Afinal, pode se filar um drinque ou dois aqui e ali. Mas eu sei de experiência própria que ninguém paga bebidas para a gente eternam ente” . Ela: “ Ah, não sei. Não sei quem paga as bebidas dele” . Eu: “Mas. como é que ele vive? Já que não trabalha e não ganha, como consegue comer, vestir-se, com prar cigarros? Onde m ora?” Ela: “ Bem, ele m ora conosco” . Eu: “Ah, bom, agora começo a entender. É a senhora que o sustenta na bebida” . Ela: “Absolutam ente. Eu jam ais lhe pagaria um a bebida” . Eu: “ Mas, então, onde consegue dinheiro? A senhora com pra cigarros para ele?” Ela: “ Bom. isso sim. Eu lhe dou um dinheirinho para cigarros e ou tras necessidades, coitado. Mas bebi da eu não pago” . Eu: “ Mas a senhora não entende que a bebida é sua maior necessida de? Não será que ele pode estar gas tando o ‘dinheirinho' dos cigarros na bebida?” Ela: “Ah, isso não sei. Eu sei que bebida para ele eu não com pro” . Eu: “ Desculpe-me, senhora, mas preciso lhe dizer um as verdades um pouco desagradáveis. A senhora está m atando seu filho. Por eie estar morando na sua casa, ele não precisa trabalhar para sobreviver, certo? O desemprego não lhe traz qualquer conseqüência negativa porque a se nhora supre todas as suas necessida des. Assim sendo, ele não tem m oti vos para p arar de beber. Mas tem um a dependência forte como motivo para beber” . Ela: “ M as, então, que é que o senhor me aconselha?” Eu: “ Aconselho a senhora a dar a seu filho um a opção. Diga-lhe que abandone a bebida ou saia de casa, e depois cum pra. Se ele não largar a bebida, ponha-o na rua e diga-lhe que, por mais que a senhora o ame, não se disporá a continuar ‘facilitan do’ seu acesso à bebida” . Ela: “ Ah, eu não posso fazer isso. É meu filho” . Realmente, ela não seguiu meu conselho, e menos de um ano depois o filho morreu da cirrose provocada pelo álcool. Q uando fui visitar a fa mília para dar-lhe meus pêsames, o único com entário que a mãe me fez foi: “ Pois é. E muito triste. E depois de tudo que fizemos por ele” ! REiNDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabeiece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP Donald Lazo (Diretor da REIN D AL) (Crie as condições que nêo lhe deixem alternativa}. f sem ana passada apareceram na 1 C hácara Reindal três cavalhei ros: um era marido de um a alcoóla tra; o segundo era o irmão da mulher que bebia, e o terceiro era médico e grande amigo dela e do marido. Vie ram , evidentemente, para conhecer a chácara, m as também para expor o caso dela. Em bora fosse claram ente um caso bastante avançado de alcoo lismo, disseram que seria difícil con vencê-la a se tratar. Contamos ao marido que o alcoo lismo é um a enfermidade muito gra ve que, no Brasil, m ata mais de 97% das pessoas que a desenvolvem. (Um em cada dez brasileiros a desenvol ve.) Explicamos que a dependência do álcool se intensifica gradativamente e que, quanto mais tempo passa, m ais dependente — e, portan to, mais difícil de recuperar — se torna o alcoólatra. Em outras pala vras, é um a doença fatal na ausência de tratam ento apropriado, e convém que o tratam ento se faça quanto antes. Sugerimos ao marido que, para incentivá-la a se tratar, ele deveria se propor a acom panhá-la durante as duas semanas em que ela estaria co nosco. Áfinal, o nosso tratam ento consiste somente em desintoxicação (sob cuidados médicos) e educação (com palestras, filmes e reuniões de grupo). Portanto, com a exceção da desintoxicação, ele aproveitaria a parte educativa tanto quanto ela e estaria infinitam ente melhor prepa rado para ajudá-la quando ela saísse daqui. “ Faça o possível para incentivá-la a vir” , explicamos ao m arido, “ mas, em últim a instância, obrigue ela a vir” ! “ O brigá-la?” perguntou. “ Co 12 a v e m a r ia mo? Devemos dar-lhe um a injeção que a fará dormir para depois acor dar aqui dentro? Ou devemos trazê-la à força?” “Nenhuma das duas coisas” , res pondemos, “ inclusive porque o por tão da Chácara Reindal fica aberto e o paciente que quer ir em bora pode ir. Só que a nossa experiência é que, chegando aqui e sendo recebido da m aneira carinhosa com que nós o recebemos (afinal, vários de nós tam bém somos alcoólatras), ele acaba ficando” . “Mas, como obrigá-la, então?” “ Bem” , explicamos, “ prim eiro é necessário entender um a coisa. A n a tureza da doença alcoólica é tal que o alcoólatra raram ente quer se tratar. Trata-se, afinal, de um a dependência de um a droga da qual o dependente tem medo de ser privado. Aliás, é um a das raras enferm idades em que o doente quer ficar cada vez mais doente. Reconhecendo isso, vocês te riam que adm itir que é, no mínimo, injusto — e, na m inha opinião, até cruel — perm itir que um a pessoa, dom inada por sua necessidade perió dica de beber e já sem a capacidade de lutar sozinha contra sua droga, continue sem tratam ento apropriado. Considerando que se trata, nada mais e nada menos, de salvar a vida de um a pessoa que perdeu sua capa cidade de decisão devido à sua cres cente dependência orgânica, VALE TUDO, ou quase tudo. É necessário fazer tudo p ara levar essa pessoa a querer se trata r. Neste esforço, é impossível ir longe demais, porque a alternativa — o não trata mento em tempo — significá a morte (lenta, porém garantida) dessa pes soa. Mas, como forçar um a pessoa a querer se tratar? Explicarei em m aio res detalhes em futuros artigos. Em resumo, aqui, posso responder o se guinte: força-se um alcoólatra a que rer se tra ta r oferecendo-lhe um a al ternativa pior. Para entender a lógica deste enfoque, precisa saber jduas coisas: (a) o alcoólatra só p á ra de b e ber quando as desvantagens d<j> seu beber são maiores que as vantagens (que são imensas); (b) o alcoólatra é um a.pessoa dependente, não só de sua droga mas também da fonte do dinheiro que lhe paga essa droga, e das pessoas que o ajudam a evitar as conseqüências do beber exageradamente. Em muitos casos, os fam ilia res do alcoólatra preenchem as duas necessidades: lhe dão o dinheiro p ara poder com prar bebida (ao mesmo tem po que lhe oferecem casa, com i da, roupa lavada, etc., etc.) e correm para tirá-lo dos seus apertos toda vez que bebe demais e cria algum tipo de crise. No campo do alcoolismo, estas famílias têm nome. Nós as cham a mos de “ facilitadores” . Vivem im plo rando ao alcoólatra que m aneire a bebida (o que para o alcoólatra já é um a impossibilidade orgânica), ao mesmo tem po que facilitam seu aces so a ela. RESNDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP Uma açSo vai© por mil palavra s D o n ald L azo Basta um elemento da família que tenha dentro de si a capacidade para reagir de maneira construtiva, para que a família do alcoólatra mude completamente a sua situação. existe, em um lar, um hoC|irauando e m alcoólatra, sua esposa e, digamos, quatro fiihos, existem seis pessoas doentes nessa casa. São pes soas que, devido ao aicoolismo de uma delas, pararam de crescer, espiri tual e emocionalmente. Não se com u nicam mais, a não ser através de agressões. Não há diálogo constru tivo. Os membros da família deixa ram de procurar compreender um ao outro, de cooperar entre si, de se am ar. Enfim , não existe mais uma “ fam ília” . Existem apenas seis pes soas que, sofridam ente, convivem ju n tas, todas desnorteadas. É por is so que o alcoolismo é cham ado a doença da família. A “ fam ília” , co mo instituição, adoeceu. E quando um a fam ília está doente, ela não po de ajudar o alcoólatra no seu meio. Só pode prejudicá-lo. Às vezes, contudo, um dos m em bros da família encontra dentro de si a capacidade para agir de m aneira construtiva. Alguns anos atrás eu andava ten tando aju d ar um a família dessas. O pai era o típico alcoólatra na ativa, resistindo ao tratam ento de toda for m a. O resto da família vinha se en contrando comigo uma vez por se m ana, m as chegou um m om ento em que senti que não estava havendo mais progresso. Parecia que estáva mos apenas repisando o mesmo ter reno a cada encontro. T anto a m ãe quanto os quatro filhos estavam sempre zangados, menos a mais jo vem. E la tinha uns sete anos de idade e era a predileta do pai. E gostava desse papel. E la gostava de ser “ a m enina do coração de papai” . JaV mais se havia m ostrado ressentida com o com portam ento dele. Ao mes m o tem po, nas conversas que eu m antinha com a família, a m enina quase nunca abria a boca. Ficava lá sentadinha... e silenciosa. Toda vez em que o pai se em bria gava, ele abusava verbalmente de sua família, xingando-os para cima e para baixo. Mas o seu bode expiatório pre dileto era o filho m aior, um rapaz que tinha seus dezessete anos. Quase sem pre, quando o pai se embriagava e se tornava violento, era o filho maior que mais apanhava. E quase sempre o pai acabava expulsando-o de casa. Os demais saíam correndo para se escon der. A mãe se sentia totalm ente inca paz de lidar com a situação. N ão sa bia o que fazer. O pai alcoólatra ti nha a todos muito bem controlados, aterrorizados diante dele. Nenhum se atrevia a fazer-lhe frente. Nos meus encontros com a mãe e os filhos, uma de minhas metas, ob viamente, era tentar inculcar neles um pouco de autoconfiança, para que al gum dia pudessem ter a confiança de agir de maneiras mais produtivas, ao invés de sempre reagir, simplesmente, ao com portam ento dele. No entanto, para dizer a verdade, eu não tinha m uita esperança de ver m udanças substanciais nessa família a curto prazo. N a m inha opinião, poderia dem orar meses para eles começar a m elhorar. Podem se im aginar, então, a sur presa que eu levei um dia quando o pai telefonou p ara saber se podia se internar e se tra ta r conosco. A próxi m a vez em que me reuni com a fam í lia, me contaram o que havia acon tecido. O pai se havia em briagado e, co m o de costum e, am eaçara o filho m aior, forçando-o a sair de casa. Só que, desta vez, a m enina de sete anos havia olhado p ara o pai e dito: “ Se Carlos vai, eu vou tam bém ” . Vestin do seu casaco, ela saiu atrás do ir m ão. E, então, um por um, o resto da família havia saído ta m b é m .Ju n tos foram p ara um a pensão onde não tiveram que ficar mais que alguns dias. Pois, quando o pai percebeu que não estavam blefando e que real mente não pretendiam voltar até que ele aceitasse tratar-se, ele ligou para nóc e veio se trata r. Bem-sucedidam ente, por sinal. Neste caso, o fim da história é um fim feliz. E deveu-se a essa m enina de poucas palavras que, quando decidiu falar, falou o que precisava p ara salvar um a vida... e um a fam ília. • CHÁCARA REÍNDAL Especializada em aicoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Pauio, SP (Fone: (011) 520-9514) a v e m a r ia 2 9 A L C O O L IS M O Os Alcoólatras Precisam Ser Forçados a Se Tratar. D onald L a zzo e você tives se um marido alcoólatra e fosse procurar algum intergrante de Al coólicos Anônimos para que abor dasse seu marido e o levasse ao AA, com toda probabilidade ele se recusaria a ajudá-la, por uma ra zão muito simples. Os AAs sabem, de longa experiência, que é prati camente impossível convencer uma pessoa estranha (como seu marido seria para o companheiro de AA) a procurar ajuda para seu alcoolismo, utilizando-se apenas de conversa. Os AAs sabem que é muito mais provável seu marido mandar esse companheiro tomar banho e não se meter na vida dos outros, acrescentando que ele não tem problema de bebida, que be be só para agüentar a esposa. Os AAs sabem que o alcoóla tra não se convence apenas com palavras, e palavras são a única arma que eles têm. Falta-lhes uma alavanca mais poderosa para for çar seu marido a procurar ajuda. Por isso, o AA declara que não “ angaria” ou “ recruta” alcoóla tras. Não o faz, porque sabe que não adianta. Os AAs não têm alavancas, mas você tem. E deve usá-las. Um alcoólatra, envolvido no círculo vicioso do seu alcoolismo, é cegado pela sua própria nega ção. É uma pessoa sinceramente iludida a respeito do seu beber. Acha que não bebe tanto assim e que, quando bebe, o fãz por cau sa de problemas externos (como a mulher incompreensível, o chefe injusto, o serviço demasiado, a chuva que não pára, a situação econômica do país etc.) Na verda de, contudo, ele não bebe porque tem problemas. Ele tem problemas porque bebe. Porém, as únicas coisas que vão convencê-lo de que a bebida o domina e que precisa de tratamento são os probiemas que a bebida lhe traz. Esses pro blemas constituem a sua alavan ca. Você precisa fazer uso deles. Você não deve nunca resolvê-los ou aliviá-los. Deixe que aconte çam. Depois, mostre a seu alcoó latra como seu beber os criou e co mo isso prova que ele precisa de ajuda. É muito importante lembrar que todo alcoólatra tem 3 depen dências, sendo uma delas a sua dependência do álcool. Mas, além do álcool, ele tem duas outras de pendências igualmente podero sas. Ele depende do seu emprego, que não só porque é o emprego que nos dá “ status” no mundo dos homens, mas porque o emprego também paga a bebida que o al coólatra consome. E também de pende, muitíssimo mais do que ele admitiria, da família (esposa, pais, filhos). Afinal, é a família que vive tirando-o dos apertos que ele ar ranja constantemente. Estas necessidades do alcoó latra dão poder (ou seja, alavanca) aos empregadores e aos fam ilia res. Em contraste com os AAs, es tes sim podem forçar um alcoóla tra a se tratar, simplesmente ameaçando privá-lo de suas ne cessidades caso não aceite trata mento. Por exemplo, em última análi se, o empregador pode (e deve) di zer ao alcoólatra que, se não se tratar, será dispensado. (Supõe-se que a empresa já tenha documen tado faltas e problemas do funcio nário em número suficiente para_ justificar uma dim ensãojderntsr? Também, em última instância, a esposa poderá dizer ao marido alcoólatra que, se não se tratar, irá perder a família. Logicamente, a esposa precisa estar absoluta mente disposta e preparada para levar essa ameaça a cabo, caso seja necessário. Ameaçar e depois não cumprir é a pior coisa que se pode fazerl Prova ao alcoólatra que a força está com ele. É um convite para que contunue beben do à vontade. Parece cruel, não parece? Pois de cruel não tem nada. Porque, da das essas opções irredutíveis, não existe um alcoólatra em mil dis posto a perder o emprego e a fa mília antes de aceitar um trata mento. Dadas essas condições, todo alcoólatra aceita tratar-se, tornando desnecessárias a demis são e a separação. Cruel mesmo é não forçar o al coólatra a se tratar. Cruel é ficar de braços cruzados, vendo seu al coólatra se afundar cada vez mais num beco sem saída, um beco que lhe trará cada vez mais sofrimen to até que, finalmente, a morte ali vie sua dor. Isso é que é cruelda de. E isso é o que a maioria das fa mílias e das empresa fazem. a b r il/ 9 1 a v e m a r ia 19 Donald Lazo (Diretor da R EIN D AL) Os fam iliares dos alcoólatras são os prim eiros que não devem cruzar os braços diante dos problem as gerados pela bebida. Não esperem o doente ped ir ajuda, ajam antecipadamente com compreensão e sem esmorecimento. os últimos dois artigos de.sta sé rie, espero ter convencido o lei tor de que o alcoolismo é um a doen ça que deixa emocionalmente enfer mas todas as pessoas que convivem com um alcoólatra. Devido à sua en ferm idade — e tam bém a seu desco nhecimento de como lidar com um alcoólatra — estas pessoas, por me lhor intencionadas que sejam, inva riavelmente agravam a doença do al coólatra. Toda vez que um alcoólatra bebe, sua doença progride. Q uanto mais bebe, mais dependente se torna. E quanto mais dependente se torna, menos chance existe de ele querer se tratar. O tratam ento é um a am eaça à necessidade crescente do alcoólatra de beber quando e quanto quiser. Além do mais, quanto mais tempo passa e mais dependente ficar o alco ólatra, mais difícil será recuperá-lo. O utra infeliz realidade é que, devido à natureza da doença, o alcoólatra é geralm ente a últim a pessoa a perce ber que está bebendo demais. Ele se convence de que seu beber é norm al. Por todas estas razões, cabe às pessoas que am am um alcoólatra, convivem com ele e querem ajudá-lo, tom ar certas iniciativas. O quanto antes possível. Quero contar-lhes um incidente que aconteceu uns treze anos atrás. Uma noite a esposa de um alcoó latra, aflita com o com portamento do m arido, procurou um grupo de Alco ólatras Anônimos (um a organização de pessoas que se reconhecem alcoó latras e se reúnem regularm ente a fim de am parar-se m utuam ente no seu esforço comum de manterem-se afastadas da bebida). Dirigiu-se a um a das pessoas que estava na sala e a conversa foi mais ou menos assim: 16 ove maria Esposa: O senhor é alcoólatra? Pessoa: Sou, sim, senhora. Esposa: E conseguiu p arar de beber? Pessoa: Sim, graças a Deus, já não bebo há quatro anos. Esposa: Então o senhor precisa me ajudar. Eu gostaria que o senhor fosse à m inha casa e convencesse meu marido a fazer como o senhor fez. O senhor me faria esse favor? Ora, há duas coisas que todo membro de Alcoólicos Anônimos sa be: (1) que, para abandonar a bebi da, o alcoólatra precisa estar conven cido de que as desvantagens do beber superam as vantagens; e (2) que é praticam ente impossível convencer um alcoólatra disso com m eras p a lavras. A conversa continuou. Pessoa: Normalmente, senhora, nós não visitamos um alcoólatra a não ser que o próprio peça a nossa visita. Caso contrário, sabemos por experiência que não adianta falar com ele. O seu m arido pediu a visita de um membro de AA? Esposa:: Nunca! Ele diz que não tem problem a com a bebida, que bebe quando quer e p ára quando quer. Aliás, acho que ele me m ataria se soubesse que eu estive aqui procu rando ajuda. Pessoa: Pois é, senhora. Essa ati tude é típica. Norm alm ente o alcoó latra não quer ajuda porque, no fundo, ele não quer p arar de beber. E, até ele querer, não adianta a gen te fazer-lhe um a visita. Ele não vai nos ouvir. Esposa: (agora mais desesperada do que nunca): Mas então que posso fazer? Pessoa: Nada. Não há nada que a senhora possa fazer, a não ser come çar a freqüentar, a senhora mesma, as reuniões de Al-Anon (um a organi zação paralela ao AA que am para familiares de alcoólatra). Aconselho a senhora a ter paciência. O alcoolis mo é um a doença progressiva. Por tanto, fatalm ente seu m arido irá pio rar, até que algum dia chegue ao fundo do poço, quando então irá pe dir ajuda. Nessa hora, a gente estará às suas ordens. Mas até então, não há nada que a senhora possa fazer por ele. Foi o conselho mais errado que um a pessoa poderia ter dado àquela esposa. Se existe um a coisa que o fam iliar de um alcoólatra não deve fazer, é nada. Pois, na verdade, há m uitas coisas que os familiares de um alcoólatra não só podem fazer mas devem fazer, precisam fazer p a ra levá-lo a um tratam ento e recupe rá-lo. A única coisa que não devem fazer é esperar, aguardando o dia em que o alcoólatra venha a reconhecer espontaneam ente que precisa p arar de beber. Porque na m aioria das ve zes esse dia não chegará nunca. Na vasta m aioria dos casos, o alcoólatra que não for pressionado a se tratar, acabará m orrendo antes de chegar ao fundo do poço. Essa orientação, dada aquela noi te por essa pessoa bem -intencionada, ainda é dada constantem ente em reu niões de AA 6 Al-Anon, por pessoas igualm ente bem-intencionadas. Mas é lam entável. Porque a orientação dada aquela noite talvez tenha resul tado na morte do m arido daquela m ulher aflita. De todo o coração es pero que não. Porque a pessoa que deu a orientação foi eu mesmo. (Meus futuros artigos explicarão o que os fam iliares de um alcoólatra devem — e não devem — fa zer para levá-lo a uma recuperação.) Donaid Lazo Primeira lição para a fam ília do alcoólatra: Não sejam "faciiitadores" entender o que um a família Para deva fazer a fim de levar o bebedorproblema no seu meio a querer se tra tar, é necessário compreender bem a situação real. Existe um membro da família, envolvido por um a condição progressiva, que, inevitavelmente, o le vará à loucura ou à morte prem atura, se não abandonar o álcool totalmente e para sempre. Contudo, é caracterís tico desta doença que a vítima não perceba sua condição e não queira sa rar. Quanto mais beber, mais doente ficará, e mais quererá e precisará be ber. Se deixar por conta do alcoólatra, m orrerá da bebida. Cabe aos que não estão dependen tes da droga — os membros da famí lia do alcoólatra e/ou seus superviso res na empresa onde trabalha (se ain da trabalha!) — forçá-lo a querer se tratar, pois a cruel alternativa seria deixá-lo progredir por esse caminho tortuoso em direção à morte. Que devem fazer? Obviamente, não ficar de braços cruzados, pacien temente aguardando enquanto o al coolismo corrói as finanças, o moral, o espírito, a saúde e a mente da vítima. Devem fazer algo, enquanto houver tempo. Algo não, várias coisas. Mas, a prim eira delas é obri g ar o alcoólatra a responsabilizar-se por sua própria vida. E im portante entender que, até o alcoólatra abandonar a bebida, toda “ajuda dada a ele será uma ajuda a continuar bebendo. Casa, comida, roupa lavada, emprego garantido na firma do parente, dinheiro em presta 12 a v e m a r ia do — tudo aquilo é terrivelmente con traproducente. O dinheiro que a fa mília lhe poupar fornecendo-lhe essas necessidades, ele gastará na bebida. Além do mais, essas “ ajudas” privam o alcoólatra de sua dignidade. Servem somente para minar sua autoconfian ça, tornando-o cada vez mais depen dente dos que o estão am parando. E, ao invés de agradecer, o alcoólatra se revoltará, justam ente contra aqueles que estão tentando salvá-lo. Essa re volta o levará a beber mais ainda. Estou me dirigindo especialmente aos pais que, com o intuito de evitar situações desagradáveis ou até crises perigosas, acolhem o filho alcoólatra, suprindo todas as suas necessidades. Acham que amar é ajudar, mas isso depende. Amar é ajudar a crescer, material e espiritualmente. Sobretudo, espiritualmente. O amor não pode existir sem responsabilidade, discipli na e justiça. Dar “ ajuda” sem exigir essas qualidades é acabar por destruir o amor. E um mito pensar que alcoólatras chegam a concluir, espontaneam ente, que estão correndo perigo e devem se tratar. As vítimas desta enfermidade rarissimamente se submetem a tra ta mento espontaneam ente. Tipicam en te, eles chegam a reconhecer a neces sidade de m udar o rum o de suas vidas através da acumulação de crises que, no fim, não suportam mais. São for çados a procurar ajuda e quando não o fizerem, morrem miseravelmente. As crises que todo o m undo tenta evi tar são justam ente as experiências que acabam levando o alcoólatra a re conhecer sua situação. Volto a frisar aos pais: é necessário am ar seus filhos alcoólatras o suficiente para perm itir que sofram as conseqüências destas crises que resultam de seu alcoolismo. Evitar as crises poderá ser mais cômo do para vocês, porém garantirá a p ro gressão da doença fatal de seus filhos. Se o alcoólatra fosse meu filho, eu lhe falaria desta m aneira: “ Você afir m a que não tem um problem a de b e bida, que o álcool não te faz mal, que você bebe quando quer e p ára quando quer. Mas, por tudo que eu tenho aprendido, me parece que você tem um a doença cham ada alcoolismo, e para esta doença a única solução é deixar de beber definitivamente. Até agora pensei que m inha ajuda finan ceira e meus conselhos o levariam a compreender isto, mas estou vendo que não é o caso. Meus conselhos te magoam e m inha ajuda m aterial só serve para alimentar tua dependência. “Não me disponho a continuar prejudicando-o. Vou lhe dar até o fim do próximo mês para arrum ar um emprego — um emprego qualquer — , conseguir um lugar para m orar e sair desta casa. Não quero mais ser cúm plice de tua destruição. Eu te amo de mais para fazer isso. Do momento que você sair de casa, a única ajuda material que estarei disposto a te prestar será o financiam ento de um tratam ento para seu alcoolismo, tão logo você sentir que precisa dele” . PROBLEMA DE BEBIDA? 0 tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-am ericanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - Cx. Postal 20.896 - T e ls.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - SP. D onald Lazo As armas do alcoólairci P a rte de u m a série de artigos sobre o alcoolism o. O a u to r, D r. Lazo, sociólogo, engenheiro in d u strial e d ireto r d a R E IN D A L (C entro de ed u cação e tra ta m e n to p a ra alco ó latras), é, ele m esm o, u m alco ó latra recu p e ra d o h á m ais de quinze anos. alcoolismo é um a doença progres O siva. Ao passar dos anos, as ressa cas após as bebedeiras se tornam cada vez mais dolorosas, física e emocional mente. E o veneno que causa as ressa cas — o álcool — se torna um remédio cada vez mais necessário para aliviálas. Está criado o círculo vicioso do qual pouquíssimos alcoólatras fogem: mais bebida, mais deterioração e an gústia, portanto, mais bebida, e assim até a morte prem atura ou a loucura permanente. Para assegurar-se de que pode ape lar para seu “remédio” toda vez e na hora que precisar, o alcoólatra necessi ta dominar as pessoas que o rodeiam. Para isso, ele se utiliza de duas armas: a confusão e o medo. A capacidade do alcoólatra de m anipular os membros de sua família — sobretudo a esposa e a mãe — com estas duas armas é ex traordinária. A primeira arma do alcoólatra é sua habilidade de provocar nos outros a raiva, a gritaria, as ameaças — en fim, a confusão. No momento que um membro da família ou um amigo se enfureça, perde sua capacidade de ajudar o alcoólatra. Consciente ou in conscientemente, o alcoólatra projeta nos outros o ódio que sente de si mes mo. Se este ódio for retribuído por ata ques furiosos, o alcoólatra encontrará as justificativas de que precisa para beber novamente. É o que queria fazer em primeiro lugar. A segunda arma do alcoólatra é provocar a ansiedade nos membros de sua família. Isto os obriga a fazer pelo alcoólatra aquilo que deveria ser feito por ele mesmo. O cheque sem fundos ilustra bem o caso. Quando a ansieda de da família (sobre o que acontecerá se o cheque não for resgatado) se torna suficientemente intensa, eles arranjam o dinheiro e cobrem o cheque. Isto ali via a ansiedade da família mas piora o problema do alcoolismo. Aumenta o sentimento de fracasso e culpa do al coólatra, para não falar na hostilidade da família. Tudo isto fornece o motivo e as justificativas para que o alcoólatra beba mais ainda. E enquanto a família continuar “ quebrando seus galhos” e fornecendo uma saída automática p a ra as conseqüências do seu beber, o al coólatra continuará negando que a be bida lhe faz mal. A confusão e a ansiedade precisam ser evitadas pela família, senão a famí lia contribuirá para a progressão da doença. A família do alcoólatra deve procurar a ajuda fora do círculo de seus parentes, amigos ou vizinhos. A ajuda deveria vir de pessoas com bas tante conhecimento de causa. Se você quiser ajudar um alcoóla tra na sua família, precisará primeiro encontrar as forças para resistir às m a nipulações do bebedor. Recomendolhe procurar o Grupo Familiar de AlAnon mais próximo e aconselhar-se com os membros experientes desse grupo. Os endereços dos Grupos Fa miliares de Al-Anon no Brasil podem ser obtidos escrevendo para: Grupos Familiares de Al-Anon Rua Capitão Salomão, 40 - Sala 904 Caixa Postal 2034, São Paulo, Capital. PROBLEMA DE BEBIDA? O tratam ento, ou internação, na-REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-am ericanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - Cx. Postal 20.896 - Tels.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - SP. o v e m a r ia 15 O papel da fam ília que tem um alcoólatra Parte de uma série de artigos sobre o alcoolismo. O autor, Dr. Lazo, sociólogo, engenheiro industrial e diretor da REINDAL _(Centro de educação e tratamento para alcoólatras), é, ele mesmo, um alcoólatra recuperado há mais de quinze anos. é um a das maiores fontes A família de bem -estar, carinho e apoio que existem. Em muitos de nossos la res há alegrias e momentos inesquecí veis que nos unem: as gargalhadas das crianças quando a família inteira está junta; a ocasião em que fizemos o piquenique no campo; o dia que feste jamos o batismo da caçula. Em alguns lares, porém, estas ale grias são afogadas porque um mem- o o PROBLEMA DE BEBIDA? 0 tratam ento, ou internação, na REINDAL emprega as mais avançadas técnicas utilizadas em conceitua dos centros de reabilitação norte-americanos. REINDAL - Recuperação Integral do Doente Alcoólatra Rua Augusta, 2676 - C x. Postal 20.896 - T els.: 520-9514 e 63-5437 - São Paulo - S P . E 16 ave maria bro da família tem um problem a sério — um problema de bebida. E um problema da família inteira, porque o alcoolismo é um a doença que “conta gia” todos que convivem com o bebe dor descontrolado. Felizmente, junto — como família — o problem a pode ser resolvido. Como outras doenças, o alcoolis mo é tratável. E quanto antes for tra tado, maior será a chance de recupe ração. Em contraste com outras doen ças, porém, o alcoolismo não se cura com remédio. A reabilitação do alcoó latra requer sua própria cooperação, mas antes requer a compreensão, de dicação e coragem de sua família. Infelizmente, neste campo existe muito desconhecimento e muitos m i tos que impedem a adoção das m edi das apropriadas por parte da família. Por exemplo, é comum ouvir frases como estas: “Não adianta tentar aju dar um alcoólatra que não quer ser ajudado. Ele precisa querer p arar de beber, e para isso precisa chegar ao fundo do poço — quer dizer, perder o emprego, o lar, a saúde e a família. Até chegar a esse ponto, nada se pode fazer” . Eu mesmo disse essas frases du rante muitos anos. Hoje sei que não somente são erradas, senão imorais. •Porque devido a sua crescente depen dência psicológica e física da bebida, a vasta maioria dos alcoólatras morre rá antes de chegar ao fu n d o do poço. E preciso elevar o fundo do poço para que este atinja os alcoólatras. Eles te rão que ser obrigados a se tratar. M as, como? Como obrigá-los, se não querem? A resposta é esta: exis tem maneiras de levá-los a quererem. E estas maneiras não só podem senão devem ser postas em prática. O fato é que, com raras exceções, o alcoólatra decidirá procurar um a solução para sua situação somente quando esta se torne insuportável. E cabe à família — junto com as outras pessoas que gostariam de salvar esta vida — perm itir que ela se torne insu portável, por cruel que isto possa p a recer. Existem, afinal, diferentes m a neiras de aplicar o amor pregado por Cristo. Deixar que um a pessoa — presa a um a droga — continue seu ca minho lento mas inexorável em dire ção à um a morte horrível certam ente não é um a delas. Primeiro, porém , é preciso que mudem m uitas coisas dentro do lar. Porque, como já foi dito, num lar on de existe um alcoólatra, todas as pes soas estão doentes. E pessoas doentes são fáceis de m anipular. E justam ente isto que o alcoólatra faz, por ter um a necessidade imperiosa de usar — na hora que precisar — a droga à qual está preso. Para isso, ele se utiliza de duas arm as principais. Os demais membros da família precisam se de fender contra estas armas ou se to rn a rem, eles mesmos, escravos da d o en ça.. Próximo artigo: A S A R M A S DO A LC O Ó L A TR A D onald Lazo — Diretor da REIN D AL : F322 r p * r, V— PJ È* P /Z Z : , JEr b t o s s i' v i V v i F te F: ? \ / L te ; W ti» r r ~- / • - • r r ' fcs- llï t c fcí S3 /v Sa. As recaídas em alcoolismo são coisas que acontecem com freqüência. Por isso, os familiares não devem esmorecer ou perder a esperança. artigo eu disse que to N odasúltimo as pessoas que convivem por alguns anos com um alcoólatra aca bam sendo “contagiadas” pela doen ça. Tornam-se em ocionalmente tão doentes quanto o próprio alcoólatra e passam a exibir (sem ser elas mes mas alcoólatras) quase todos os sinto mas do alcoolismo: a angústia, irrita bilid ad e, depressão, fru straçã o , agressividade, incapacidade de se co m unicar adequadam ente, culpa, ver gonha, ressentimentos, etc. A m edida que os demais m em bros da família de um alcoólatra fo rem sentindo toda a gam a de emo ções negativas associada ao alcoolis mo, irá se deteriorar a saúde m ental e emocional dessas pessoas. E à m edi da que o alcoólatra perceba (mesmo que apenas vagamente) o sofrimento que o seu beber está causando, ele também se sentirá cada vez mais cul pado. Esforçar-se-á p ara controlar a be bida (coisa que alcoólatra algum p o de fazer por m uito tempo) ou para desistir dela (que todo alcoólatra p o de fazer... por algum tem po, que va ria de poucos dias até um ano ou mais). D urante os períodos de absti nência do alcoólatra, seu cônjuge e fi lhos sentirão um alívio profundo, es perando que finalmente tenha sido resolvido o problem a de um a vez por todas. (“ Parece que, desta vez, Re nato finalmente tom ou vergonha na cara” .) Porém, se não for adequadam en te tratado — e, no Brasil, quase nun ca o é — o alcoólatra fatalm ente vol tará a beber, pois se trata de um a 12 ave maria doença caracteristicamente m arcada por relapsos (ou “recaídas” , como fa lam os AAs). A palavra sobriedade significa mais do que abstinência: ela significa abstinência com serenidade, um esta do espiritual sumamente desejável no alcoólatra. E a sobriedade perm a nente raram ente ocorre em alcoóla tras que não compreendem a gravi dade de sua doença e que não p ro curam o desenvolvimento espiritual e emocional necessário para detê-la. ■ Assim sendo, quando ocorre a re caída, há um a sensação fulm inante de decepção por parte de todos os membros da família, incluindo o p ró prio alcoólatra. A esposa se sente traída. Seu marido havia prom etido que, desta vez, ia p arar mesmo. Que nunca mais iria pôr um a gota sequer de álcool na boca. Falou com tan ta sinceridade que a esposa acreditou nele (pensando, erradam ente, que bastaria seu desejo nesse m om ento para que ele se mantivesse afastado da bebida). Acreditou nele, renasce ram suas esperanças e, mais um a vez, as esperanças foram frustradas. Esse processo de esperanças reno vadas e frustradas se repete m uitas vezes na família de um alcoólatra. Até que chega a hora em que nin guém mais se atreve a ter esperanças. Ao desaparecer a confiança na fa mília, as comunicações entre os membros se tornarão cada vez mais difíceis. Q ualquer intim idade que possa haver existido esvanecerá à m e dida que cada pessoa na família tente conviver com suas próprias aflições, dúvidas e insegurança. Como já disse, a pessoa que bebe magoa justam ente as que mais a am am . E sente remorso quando p er cebe que está causando sofrimento. Por sua parte, os outros m em bros da família reagem às mágoas causadas pelo alcoólatra e tentam fazê-lo so frer. No fim, as reações se tornam a norm a. Todo o m undo vive reagindo e criando um a tensão constante. Talvez a emoção mais devastado ra que todos experim entarão é a soli dão. Tanto os que am am um alcoóla tra quanto o próprio acharão que ninguém com preende o que estão sentindo, e que ninguém poderá ajudá-los. Mas existe ajuda. De todas as doenças crônicas, 0 alcoolismo — quando tratado apropriadam ente — tem um dos mais altos índices de re cuperação. Esse tratam ento “ apro priado” forçosamente inclui tra ta m ento de pelo menos o cônjuge tam bém . Idealm ente, deveriam se trata r todos os membros da família, pois volto a repetir: estão todos doentes. Que nenhum a esposa de um al coólatra jam ais diga: "Eu me tratar? Por que eu? O doente é ele, não eu!” Essa frase, que eu já ouvi dezenas de vezes, prova que o cônjuge exibe os mesmos sintomas do alcoolismo que o alcoólatra. Pois m ostra que ela tam bém não pode ver o quão doente está. REINDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP Donald Lazo (Diretor da R E IN D A L) 0 alcoolism o afeta também aqueles que fazem parte do círculo m ais íntimo do alcoólatra. Por isso , todos os da família devem ser ed ucad os para lidar com a enfermidade. 7 a últim a semana de maio deste ano assisti a uma conferência em Valley Forge, Pensilvânia, sobre "o Alcoolismo e a Fam ília” . Pales traram nessa conferência dez das maiores autoridades do m undo em alcoolismo, incluindo as duas m ulhe res que mais entendem dos proble mas familiares provocados pela doen ça (Sharon Wegscheider e Stephanie Abbott Leary). A opinião que se re petia vez após vez durante toda a conferência, e que começa a ser cada vez mais aceita entre os que estamos procurando salvar as vidas de alcoó latras, é a de que o cônjuge do alco ólatra precisa e merece ser tratado tanto quanto o alcoólatra. Falaram -m e que é no mínimo cruel, e muitos o consideram até inú til, tratar o alcoólatra sem tam bém trata r seu cônjuge. Muitos centros de tratam ento nos Estados Unidos vão mais longe: eles tratam a fam ília in teira, inclusive toda criança acim a de quatro anos de idade. O utros se re cusam a trata r o alcoólatra, se não for acompanhado de pelo menos um membro da família durante algum a parte do tratam ento. (Na Reindal, por enquanto, somos os únicos no Brasil que recebemos casais para se rem tratados. Q uando não têm onde deixá-los durante duas semanas, tra zem os filhos tam bém . Vamos mais longe, até. Reconhecendo como o al coolismo afeta todos os membros da família, nos casos em que o alcoóla tra se recusa a se tratar — que é quase sempre — recomendamos que venha fazer o tratam ento prim eiro o cônjuge. Já tratamos duas esposas cujos maridos alcoólatras vieram de pois, graças às m udanças percebidas em seu conjugues). O raciocínio é o seguinte. Pouco adianta tratar e educar um alcoólatra para depois devolvê-lo a um lar onde continuam vivendo quatro ou cinco pessoas emocionalmente doentes (do alcoolismo do alcoólatra) que não aprenderam a lidar com essa enfer midade. Devido ao desconhecimento dos demais membros da família, é quase inevitável que conseguirão levai o alcoólatra de novo à bebida, pondo a perder todo o esforço que foi feito com ele. A verdade inegável é de que toda família que tenha no seu meio um alcoólatra se torne uma fam ília doenic e desajustada. Toda pessoa que convive por alguns anos com um al coólatra, “ contagia-se” e fica engaja da na doença, desenvolvendo a mes ma deterioração emocional que o próprio bebedor exagerado. Os sinto mas da doença dos demais membros da família, curiosamente, são os sin tomas do alcoolismo: angústia, irrita bilidade, depressão, nervosismo, frustração, agressividade, insônia, tremedeiras, etc. — enfim, todos os sintomas associados com o alcoolis mo, salvo o beber descontrolado. Dois anos atrás conheci um a m u lher cujo m arido era alcoólatra. Sabe qual dos dois perdeu o emprego? Ela! Devido a seu estado emocional, ela não conseguia dorm ir à noite. Seu cansaço começou a afetar seu desem penho no escritório (era secretária executiva) e, no fim, não conseguia trabalhar mais. O utra esposa que co nheço começou a tom ar tranqüilizan tes e soníferos para suportar o dia e dormir à noite. Aos poucos descobriu que era necessário tom ar cada vez maior quantidade de calmantes para obter o mesmo efeito (sintoma de uma dependência que vai se instalan do). No fim, ela precisou ir a um hospital para se desintoxicar e se tra tar de sua dependência. Muitos anos atrás, quando minha esposa e eu nos reuníam os sem anal mente com as presas no Presídio Fe minino de C arandiru (SP), conheci uma moça maravilhosa que estava casada com um alcoólatra. Um a noi te ele havia chegado em casa alcooli zado e arm ado, e aprontou um a b ri ga. Apavorada, ela tentou tirar-lhe a pistola e, naquela confusão toda, a arm a disparou e o m arido ficou feri do. Quem foi presa foi ela! E, en quanto ela cum pria a sua pena, o m arido continuava bebendo e apron tando lá fora. Sequer ia visitá-la. Às vezes, em reuniões de Alcoó licos Anônimos a que tenho assistido, ouço algum alcoólatra dizer: “Graças a Deus eu nunca atingi mais ninguém com o meu alcoolismo. A única pes soa afetada foi eu mesmo. Inclusive porque em casa nunca faltou nada. Tem carro na garagem, televisor em cores, geladeira nova” . E eu pensava com meus botões: “ Seu alcoolismo só não afetou mais ninguém se você passou os últimos vinte anos sozinho em algum a ilha. Na sua casa não faltou nada, salvo um marido e um p a i”. Sim, o alcoolismo de um membro da fam ília afeta todos os que convi vem com ele e muitos que não fazem parte de seu círculo mais íntimo. A reação dos demais membros da fam í lia à m aneira de beber do alcoólatra leva-os a um a perturbação emocional desgastante. (M uitos acham que o tum ulto é particularm ente severo quando o alcoólatra da família é m u lher.) C ada alcoólatra destrói emo cionalmente no mínimo três ou qua tro outras pessoas. E isso significa que m etade da população desta g ran de Nação está sendo seriamente afe tada por esta doença devastadora. REINDAL ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, filmes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP ove m a r ia 13 ALCOOLISMO: A doença que pode aniquilar AL-ANON: A irmandade que pode salvar D o n a ld Lazo (c o n tin u a ç ã o ) ma das premissas mais difíceis de aceitar por parte dos recémchegados a um grupo fam iliar de AlAnon é a de que o cônjuge do alcoó latra também está doente. “ Ele é que tem o problema, eu não” é o refrão ouvido constantemente. E, de fato, o cônjuge ou fam iliar não está doente da mesma form a que o alcoólatra. Mas as aflições que a “ co-alcoólatra ” tem de suportar podem muitas vezes produzir uma form a de doen ça — psíquica, emocional e até físi ca — que é tão real quanto a do al coólatra. Em alguns casos, poderá requerer tratam ento até mais urgen te. "O alcoólatra, pelo menos, é anestesiado uma parte do te m p o” , explica uma autoridade, “ mas a coalcoólatra sofre o peso inteiro do pro blema 24 horas por d ia ” . (Se bem que é extrem am ente com um encon trar a esposa de um alcoólatra já vi ciada nos calm antes ou soporíficos que lhe foram receitados pelo m édi co que ela procurou para aliviar seu nervosismo.) Uma das opiniões de Al-Anon é que o cônjuge de alcoólatra precisa ter sua sanidade restaurada, e isto às vezes deixa os recém-chegados per plexos, pois eles não percebem que precisam daquilo. Do jeito que elas vêem o problema, é o alcoólatra que se com porta irracionalm ente, ce rta mente não elas. Mas os participan U 26 ave maria tes mais antigos de Al-Anon lhes per guntam, gentilmente: “ Alguma vez você jogou toda a bebida em casa pela pia? Não lhe ocorreu que o al coólatra simplesmente sairia e com praria mais? Quer dizer, você não entendia que estava m eram ente jo gando dinheiro pela pia? Considera isso um com portam ento são? Ou alguma vez ficou tão furiosa e enojada que esvaziou a garrafa na cabeça de seu alcoólatra que dormia no sofá? Ou jogou alguma coisa que quebrou e depois teve que recolher os pedaços sem ter conseguido qual quer resultado positivo? Está perm itindo que sua vida se ja governada inteiramente pela doen ça de seu alcoólatra. Você fica censurando-o e fazendo-lhe ser mões, perdendo tem po e energia na tentativa de forçá-lo a parar de be ber? Nunca deu para ver o quão inú teis são todas essas manobras?” Aos poucos, os iniciantes com e çam a inclinar a cabeça. “ Nunca vi a coisa desse ponto de vista” , dizem, admirados. O programa de Al-Anon tenta ex plicar por que um com portam ento são, equilibrado e consistente é tão necessário. Explica que a esposa que age por ignorância e desespero só conseguirá prolongar os anos de be bida e a agonia que os acompanha. Toda vez que ela grita, xinga, chora e joga coisas, ela dá ao alcoólatra a justificativa que ele quer para sair e beber. “ Se você tivesse que viver com aquela doida, você beberia tam bém ” , ele explica para os amigos. Com certeza, a esposa deveria aprender a desligar-se do problema do alcoólatra (já que não adianta dar sermões, xingar etc.) e deixar que ele aceite a responsabilidade pelos seus atos. to do alcoólatra é tempo perdido. Por que aí os dois estão tentando fazer o impossível: o marido está em pe nhado em controlar a bebida, e a es posa está empenhada em controlar o marido. Como já tenho explicado em inúmeros artigos: não adianta tentar fazer o alcoólatra parar de be ber. Todo o seu esforço e toda a sua energia deveriam ser despendidos para fazer o marido QUERER parar de beber, o que é algo muito di ferente. Mesmo depois de aceitar que o alcoolismo é uma doença, muitas coalcoólatras ainda não adm itirão o quanto elas mesmas têm sido afeta das. “ É difícil para as pessoas reco nhecer como nós alcoólatras 'trans m itim os' nossa doença a nossos fa m iliares” , diz um ex-bebedor que já está sóbrio há muitos anos. “ Não que elas cheguem a beber, também. Mas se tornam psicologicam ente em pe nadas. Na A l-A non, te n ta -s e endireitá-las.” Ninguém duvida que exista uma necessidade deste tipo de ajuda no nosso país. Estima-se que o número de alcoólatras no Brasil chegue a 12 milhões, e que cerca de 60 milhões de brasileiros são co-alcoólatras. • CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. 60 m ilhões de b rasileiros Acim a de tudo, a co-alcoólatra precisa entender que o tem po gasto tentando controlar o com portam en Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V ________________ / A LC O O LIS M O % % '% ''Uma vez que casar comigo, não beberá tanto ' 7 (pensa e lã ) D o n a ld L a zo T“ I y m um de meus artigos anterio*_=J res, mencionei um fato inacre ditável, porém verdadeiro: 70% das ■ lhas de alcoólatras, quando cres cem, ou se tornam elas mesmas al coólatras (apesar de jurar que "eu nunca vou ser como mamãe") ou ca sam com alcoólatras (apesar de insis tir que "eu nunca vou cometer o erro que mamãe com eteu"). E fácil explicar porque tantas fi lhas de alcoólatras se tornam deoendentes também. É que a pre disposição orgânica ao alcoolismo tem aspectos genéticos. Quando jm a filha herda a predisposição e, mais tarde, passa a beber (e, no Bra sil de hoje, cada vez maior número de moças estão passando a beber), é só questão de tem po e ela começará a mostrar os sintomas da doença que estará desenvolvendo. Se um dos oais for alcoólatra, quase 25% das fihas le filhos) se tornarão alcoólatras. Se ambos os pais forem alcoólatras, aproximadamente 50% das filhas de senvolverão a dependência ao álcool. E as outras? Como explicar a al ta percentagem (20% a 45% ) que, contra todo bom senso, acabam ca sando com alcoólatras? Será que es tão cegas? Será que não podem ver que o beber de seu namorado está he criando problemas, tanto emocio nais quanto sociais, econômicos, esCirituais e de personalidade? Não, não estão cegas. M uito pe io contrário: são justam ente os pro blemas que o rapaz têm que atraem f % 24 a v e m a r ia ja n e ir o /9 0 a filha do alcoólatra. Ela é atraída a m oços que têm problemas. Ela sen te uma necessidade m uito grande de resolvê-los! A explicação é interessante. Quando ela era jovem, vivia em um ambiente em que ter problemas era o normal. Ela nunca conheceu uma vida sem problemas. Papai costum a va chegar em casa alcoolizado e mal humorado, sempre procurando en crenca. Por sua vez, mamãe passava o tem po todo ou gritando ou choran do. Cada um dos filhos se adaptava a essa situação à sua maneira. O m o do que a filha encontrou de lidar com a situação era sempre tentar fazer a vontade de papai, corisolar mamãe, cuidar dos irmãozinhos, limpar a ca sa, tirar boas notas na escola, etc. Em outras palavras, ela virou a assisten te social da família, correndo o te m po todo para resolver os problemas dos outros. Este era o papel que ela aprendeu a representar. Era nesse pa pei, e só nesse papel, que ela se sen tia útil e cômoda. E um belo dia ela conheceu um moço problemático — o tipo que pre cisa de uma mãe, enfermeira, consoladora e assistente social (mesmo que se conforme de forma a escon der estas suas necessidades). Ela co meça a cuidar dele, aconselhá-lo, ajeitar sua gravata, resolver seus pro blemas, enfim, representar o papel no qual ela se sente bem. Aos poucos, os dois passam a acreditar que nas ceram um para o outro. E, de uma for ma doentia, nasceram mesmo! Quando a "assistente social" da família de um alcoólatra acaba casan do com outro alcoólatra, ela natural mente continuará exercendo seu papel de assistente social. Só que ago ra o papel tem outro nome. Ela se to r na uma "facilitadora", a pior esposa possível para um alcoólatra. Em grande número de casos, o casamento termina... ou pelo divór cio ou pela morte do alcoólatra. E sa be o que vai acontecer com a divorciada viúva? Passados alguns anos, ela conhecerá outro homem e sentir-se-á atraída por ele tam bém , até acabar casando pela segundo vez... com outro alcoólatra. Acreditem ou não, conheço filhas de alcoólatras que tiveram três maridos, todos os três alcoólatras. Estas mulheres também estão doentes. Sua doença é apelidada "co-alcoolismo". Curiosamente, o tra tamento para elas é o mesmo tra ta mento que recupera alcoólatras: parar de tomar drogas (grande número des tas esposas se viciou em tranqüilizan tes ou soníferos), praticar os doze passos e tentar servir a Deus ajudan do outras pessoas. É por isso que, na Chácara Reindal, costum am os tratar o casal e não somente a alcoólatra. E é por que existe uma irmandade para esposas de alcoólatras (Al-Anon) igualzinha à irmandade de Alcoólicos Anônimos. É difícil encontrar uma esposa de um alcoólatra que não esteja, ela mesma, bastante doente em ocional mente. Em m uitos casos, sua doen ça foi causada pelo alcoolismo do marido. Mas, no maior número de ca sos, ela já estava doente quando o conheceu, percebeu que bebia de mais e disse a si mesma: "Eu vou cui dar dele. Uma vez que casar comigo, não beberá ta n to ” . « C H ÁC A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 S ão Pauío, SP (Fone: (011) 520-9514} A LC O O LIS M O que tu d o transcorre sem m aiores probiem as, e é durante esses perío dos de tranqüilida de que a esposa se perm ite com eçar a pensar: "Q u e m sabe desta vez ele pare m esm o. Ficou tão passado ontem à noite, coitado. C om o dói vê-lo chorar. Sim , te n h o certeza que es sa fo i sua últim a b e b e d e ira ". E, de repente, o m arido apronta o utra e é com o se a esposa tivesse esque cido o quão horríveis as coisas po dem ser. Aí, ela grita " A h não! C o D onald Lazo m eçou tu d o de n o v o ? " N esta hora, o nosso alcoólatra vira um verdadeiro artista . (Eu que uitas pessoas acham que sei. Eu já fiz esse pape! dezenas'de vezes para me safar de um a s itu a aquele m em bro da família que ção d ifícil perante m inha esposa). anda bebendo dem ais não é a lco ó latra porque alcoólatra (pensam Ele explica que não teve a intenção eles) é uma pessoa que está e te r de beber, que não sabe com o acon nam ente bêbada — que bebe o dia tece u, que lam enta m u ito te r fe ito aquilo (agora os olhos dele enchem inteiro, to d o s os dias. e duas lágrim as rolam por sua fa Essa d e fin iç ã o do beb ed o r ce), que ama dem ais a sua esposa, co nsta nte se aplica a não m ais que que ela não m erece, que nunca 2 ou 3% dos alcoólatras: àqueles m ais vai acontecer, que quer pedir que já perderam sua capacidade de trabalhar, perderam o apoio de seus m il desculpas, etc. e tc. etc. fam iliares e estão literalm ente joga A representação dele é m a g is tral (tam bém , com to d o s esses en dos na rua. Ou então àqueles que têm ta n to dinheiro (por ser de fa saios!). R esultado: a esposa, que mília tradicional) que seus fa m ilia m om entos atrás estava fu rio sa e res lhes forn e ce m to da a bebida deprim ida, se sente com o se tiv e s que querem , co n ta n to que fiquem se batido numa criança. A prom es auietinhos lá no sítio e não incom o sa que ela tinha fe ito para si m es dem os dem ais. M as estes, in fe liz ma — que nunca m ais p erm itiria m ente, são a m inoria. que aquilo voltasse a a co n te ce r — A vasta maioria dos alcoólatras com eça a perder fo rça . C om eça a vive uma vida aparen te m e nte n or pensar que talvez a louca é ela m es mal. Tem seu lar (em bora esteja ma. Enche-se de sentim ento de cu l atrasado no pagam ento do aluguel), pa por tê -lo " p u n id o " tã o severa uma linda esposa e três belos filhos m ente. E deixa passar. Só m ais es ítodos em ocionalm e nte desequ ili ta vez, pensa iludida. brados) e tem um bom em prego Esta cena se repete vez após (10% da folha de pagam ento de to vez, durante anos, em centenas de da em presa está em algum estágio fam ílias. Quero me d irig ir às espo de alcoolism o. Dez por ce n to !) Pa sas sofredoras, angustiadas, depri ra a sociedade que o rodeia, pare midas, perdidas, desesperadas, que ce ser um lar norm al, ch e fia d o por vêm passando por esta experiência um pai e m arido exem plar. Entre um a, duas ou m ais vezes por m ês, ta n to , o que acontece atrás das há m u ito s e m u ito s anos. cortinas é uma história bem diferen V o cê não vê, senhora? V ocê e te da percebida pelos outro s. seu m arido estão presos de n tro de A s crises vêm acontecendo um círculo vicioso. V ocê está sem com bastante regularidade neste lar pre reagindo da m esm íssim a form a " n o r m a l" . É claro que há dias em a uma ocorrência que se repete Outra dica p ara a esposa do alcoólatra: mude você primeiro M 24 a v e m a ria eternam ente. M as nada m uda. Teu m arido sabe que por pior que seja a crise gerada por sua bebedeira, ta lve z tenha que pássar por m o m entos desagradáveis (sendo alvo de suas gritarias), e ta lve z tenha que se hum ilhar e fazer aquele pa pel de arrependido de novo, m as tam bém sabe que, no fim , nada vai m udar. E am anhã poderá beber e re p e tir a dose tu d o de novo. S enhora, não fiq u e esperando que ele m ude. Ele não vai m udar porque não precisa m udar. A se nhora é que precisa m udar p rim e i ro. Saia você do círculo vicio so p ri m eiro. Pare de viver reagindo a ele. C om ece a se co m p o rta r de m a n e i ra com p le ta m e n te diferente. A próxim a vez que ele aprontar, ao invés de gritar-lhe e xingá-lo, f i que quieta. Vá para seu q u a rto , cham e uma am iga, com bine com ela ir ao cinem a, e saia de casa. Ou vá para uma reunião de A i-A n o n . Ou leve os filh o s ao parque zo o ló gico. Seja o que fo r que d e cid ir fa zer, não discuta e não peça perm is são. S im plesm ente faça-o. E a p ró x im a vez que seu m arido aprontar, faça tu d o de novo. Se a senhora quebrar o círculo vicio so , não só estará g a ra n tin d o sua própria sanidade m ental, m as ta m b é m estará ajudando seu m a rido. M ude você, e faça com que ele tenha que reagir à sua m udança. C H ÁC AR A REíNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.836 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) __________________________ ___ / D onald L a zo (D iretor da R E IN D A L ) A esposa que se recusa a adaptar-se ao alcoolismo do esposo, assegura para si um caminho para o equilíbrio emocional no lar. alcoólatra tem um a dependência modificar com o tempo, sempre para 4 J ? fortíssima que o leva a beber ca pior. Sua personalidade e seus hábi da vez mais. Quando bebe, o álcool o tos irão se acomodar à sua dependên engana duas vezes: fá-lo sentir-se cia crescente, igual a limalhas em um bem à m edida que o vai envenenando; ■ campo magnético. C ada vez mais, e o faz sentir-se em controle à m edi procurará ocasiões (jogos esportivos, da que o tom a um bebedor descon festas) para beber, evitando aquelas trolado. Com o passar dos meses e (cinema, teatro, piqueniques com a anos, irá exagerar na bebida, cada família), em que não se bebe. C ada vez com m aior freqüência, gerando vez mais se apegará aos “bons copos” , em baraços crescentes para a esposa. afastando-se dos amigos que bebem D urante esses anos todos, ela ten pouco ou nada. C ada vez mais, o be ta controlar o com portam ento dele ber se tornará o pensam ento e a ati por todos os meios possíveis. Mas to vidade centrais de sua vida. da tentativa de controlar o marido ou à medida que o com portam ento e seu am biente fracassa. Ela precisa as atitudes do alcoólatra gravitam ca aceitar a realidade. A esposa de um da vez mais em torno da bebida, o I alcoólatra precisa aceitar o fato de comportamento da fam ília do alcoó não poder modificar o m arido, em latra se ajusta a essa m udança des bora possa evitar que ele modifique trutiva. O m arido, que um a vez cos a ela. E la precisa aceitar que não po tumava chegar em casa todas as noi de obrigar o alcoólatra a se com por tes às 19 horas para encontrar a co tar adequadam ente,, em bora possa mida n a mesa e ja n ta r com a família, evitar que ele a obrigue a se com por passa a tom ar um aperitivinho de ta r inadequadam ente. Ela precisa quando em quando ao sair do escri aceitar que não pode controlar a vida tório. Com o tempo, a hora do aperi do m arido, em bora possa readquirir tivo se torna sagrada e o marido pas o controle sobre a sua própria vida. sa a chegar tarde em casa, atrasando Existe um a lei natural que parece o jantar. Resultado: a família fica governar a vida íntim a entre duas esperando, com fome e impaciência. pessoas: se um dos cônjuges m uda, o Os demais não podem planejar suas outro invariavelmente se acom odará atividades depois do ja n ta r porque a essa m udança, m udando tam bém . nunca sabem a que horas será servi Caso contrário, o relacionam ento en do. Vez após vez, a esposa im plora o tre os dois deixará de existir. marido a chegar em casa na hora O ra, se a m udança feita por um certa. As implorações term inam em dos cônjuges é para melhor, será be briga e começam os desentendim en néfica p ara ambos. Se a m udança tos. Alguns dos filhos deixam de ja n for p ara pior, prejudicará a pessoa, tar em casa. Há um a deterioração efetuando a m udança e — dependen gradativa deste im portante ritual da do da reação da outra — poderá prefamília (o jantar), tudo por causa de | judicar o cônjuge tam bém . um a dependência que cresce. Além do mais, quando um a das Não seria melhor se, ao invés de i duas pessoas é alcoólatra, ela irá se tentar m udar o com portam ento do 16 o r s m a r ia I m arido, a esposa simplesmente se recusasse a perm itir que ele m ude o com portamento dos demais? Creio que seria melhor dizer ao m arido: “Querido, o jan tar em casa é servido às 19 horas. Não pode ficar na de pendência de sua chegada. Se você não puder chegar na hora certa, ire mos ja n ta r sem você” . Afinal, a decisão de tom ar seus aperitivos em vez de ja n ta r às 19 ho ras é do m arido. É justo que os de mais tenham que m udar um costume apropriado p ara acomodar-se ao no vo costum e inapropriado do chefe da família? Obviamente, a esposa deve se re cusar a adaptar-se ao alcoolismo do m arido. Se ela insistir em continuar servindo o ja n ta r na hora certa, é o m arido que terá de m udar, ou sofrer as conseqüências (de não ter o conví vio da fam ília na hora de jan tar, de não ter um ja n ta r pronto n a hora de chegar em casa). Á esposa que recusa perm itir que sua vida seja governada pelo alcoolis mo do m arido estará assegurando a m anutenção de seu próprio equilíbrio. Sentir-se-á m ais forte e menos inse gura. E, ao mesmo tempo, estará obrigando o marido a ajustar o seu com portamento anormal ao com por tam ento norm al da família. Ou, en tão, a arcar com as conseqüências adversas do seu hábito de beber. CHÁCARA REINDAL ESPECIALIZADA EM ALCOOLISMO peça-nos folhetos gratuitos que explicam como encaramos e tratamos esta moléstia física, emocional e espiritual, com cuidados médicos, palestras educacionais, film es e terapia. ; FONE: (011) 520-9514 CX. POSTAL 20.896 91498 SÃO PAULO. SP v _________________________________ s A LC O O U S M O % m, Uma boa dica para a esposa do alcoólatra: w viva e deixe viver i i ': - a l d Lazo U m a boa regra para as e s p o sas de a lc o ó la tra s é a re g ra dos trê s " C e s " : " V o c ê não p o de c a u s a r o beb er de o u tra p e s soa. V o c ê nãó pode c o n tr o la r o c e b e r de o u tra pessoa, V o c ê não p o d e c u ra r o be be r de o u tra oessoa” . E sposas de a lc o ó la tra s p a s sam anos te n ta n d o c o n tr o la r e c u ra r o b e b e r de seus m a rid o s . Em a lg u m m o m e n to ou o u tro de s ja s v id a s de to ta l e a b s o lu ta ■ 'ustraçã o, to d a esposa de a lc o ó síra acaba fa z e n d o um a da s sec u in te s c o is a s no seu e s fo rç o de c o n tro la r o b e b e r do m a rid o : 1. P ro c u ra lim ita r ou e s c o n der a b e b id a que te m em ca s a , c h e g a n d o às vezes a jo g a r fo ra :o da a b e b id a em casa. C u rio s a m e n te , ta lv e z seu m a rid o t a m bém e s te ja e s c o n d e n d o b e b id a em casa para te r c e rte z a de q u e n u n ca se e n c o n tra rá se m s u p r i m e n to , n um a hora de n e c e s s id a de. E se ele d e s c o b rir, u m b e lo dia, que não há b eb ida em ca s a , s im p le s m e n te irá até o b o te q u im da esquina. T oda esquina te m um D o te a u im . 2. Ela x in g a o m a rid o v io le n ta m e n te q ua n d o ele chega em c a sa a lc o o liz a d o (após te r p r o m e ti do, a lg u m a s h o ra s a n te s , q u e n u n c a m ais iria c o lo c a r u m a g o ta de á lc o o l na b o ca !) Só q u e , ao x in g á -lo , ela e sta rá a p re s e n ta n d o para o m a rid o um a ju s tific a tiv a o e rfe ita para sua p ró x im a b e b e deira no dia s e g u in te , q u a n d o ele se e n c o n tra rá no bar da esq u in a c o n ta n d o para os co legas: " G e n te , se v o c ê s e s tiv e s s e m ca sa d o s c o m m inha m ulher, beberiam ta n to q u a n to eu. Não dá para a güen ta r essa fe r a !" 3. Em alg u m m o m e n to , ela d e c id e m u d a r de tá tic a e passa a tra ta r o m arido co m to d o carinho. R e ceb e-o em casa c o m b e ijin h o s e p a la v ra s d o ce s, c o rre para p ro c u ra r seu jo rn a l e c h in e lo s e fic a a te n ta para to d a s as suas n e ce s s id a d e s. Em o u tra s p a la vra s, tra ta -o c o m o o s u ltã o q ue ele se ju lg a ser. E o te m p o to d o o m a ri do está pensando: "N ã o sei o que a c o n te c e u co m C lara m a s, pelo je ito , não se in c o m o d a m a is co m o m eu beber. F in a lm e n te v o u p o d e r b e b e r à v o n ta d e ." 4 . N ão d a n d o c e rto essa t á tic a — ou m e lh o r d iz e n d o , não te n d o a p a c iê n c ia de e s p e ra r até q ue desse c e rto — a e sposa p a s sa a b a n c a r a s a n ta s o fre d o ra , c h o ra n d o e se la s tim a n d o c o m to d a p essoa d is p o s ta (ou o b rig a da) a o u v ir suas la m ú ria s in fin d á v e is . In fe liz m e n te , as c o n d o lê n c ia s das a m igas ("R e a lm e n te , H e lo is a , v o c ê é um a v e rd a d e ira h e ro ín a " ) não c o n s e g u e m a liv iá la. E n q u a n to isso , o m a rid o não e stá nem aí. Q u a n to m ais ela c h o ra, m ais ele c o n ta para os a m ig o s de b o te q u im : " P o is é, g e n te , se v o c ê s e s tiv e s s e m c a s a d o s co m essa m in h a m u lh e r ..." 5. M a is a d ia n te , ela d e cid e q ue a m e lh o r m a n e ira de c o n tr o lar o beber do m arido é beber com ele. T a lve z assim ele irá a c o m p a n har o ritm o dela e m a n e ira r seus tra g o s . Só que, ao p a ssa r a be ber co m ele, a m en sa g e m que ela lhe está passa n d o é: " N ã o faz m al v o c ê beber, q u e rid o . Eu até v o u te a c o m p a n h a r " .' D om inada por s e n tim e n to s de culpa e inadeq uação, a esposa se c o n v e n c e q ue o m a rid o e stá b e b e n d o p o r c a u s a d e la , um a id é ia fa is a q ue ele v e m e x p lo ra n d o ao m á x im o . M a s , e sp o sa , eu p e r g u n to a v o c ê : pen se bem , a c u l pa é sua m e sm o? P erg unte -se : se é v e rd a d e q ue v o c ê te m ta n to p o d e r para le v a r te u m a rid o a b e b e r e x a g e ra d a m e n te , p o r que não te m o p o d e r para fa z ê -lo p a ra r de b eber? N ão será que ele e s tá u s a n d o v o c ê para ju s tific a r su a s bebedeiras? A fin a l, as pernas que o le v a m ao b o te q u im são d e le . A v o z q ue pede o d rin q u e é a v o z d e le . O d in h e iro que paga a b e b i da sai d o b o ls o d e le .  m ão q u e s e g u ra o c o p o é a m ã o dele, e é le va d a à b oca dele pelo b ra ço d e le. Será m e sm o que a culpa é sua, espo sa ? Q u e é q u e v o c ê po d e fa z e r q u a n d o te u m a rid o te acusa de le v á -lo a b eber? Eu s u g iro o s e g u in te . T ã o lo g o v o c ê c o n s ig a d izê -lo c o m v o z calm a, diga a seu m a rid o : " E u não sou re sponsáve l pe lo b e b e r de q u a lq u e r o u tra p e s so a . Se v o c ê d e cid e beber, c o m o v o c ê in s is te , p o r m in h a ca u sa , h a v e rá de c o n c o rd a r q ue a d e c i sã o fo i s u a " . E, e n tã o , fe c h e a b o c a e saia da sala. S aia da c a sa, se fo r n e c e s s á rio . N ão há m a is o q u e d is c u tir. Fim de p a p o . U m a v e z q u e v o c ê passe a c o m p re e n d e r q ue v o c ê não po d e s e r re s p o n s a b iliz a d a peio c o m p o rta m e n to de um h o m e m a d u l to q u e p ro v a v e lm e n te te m o d o b ro do seu ta m a n h o , ele não t e rá m a is c o n d iç õ e s de c h a n ta geá-Ia e m o c io n a lm e n te . Seu se n tim e n to de cu lp a desaparecerá. E ta lv e z , pela p rim e ira vez em sua v id a , a m e n s a g e m que seu m a ri do re c e b e rá se rá : " Q u e rid o , te re s p e ito o s u fic ie n te para d e ix a r v o c ê a s s u m ir as re s p o n s a b ilid a des de tu a v id a , e n q u a n to eu c u i d o das m in h a s " . ® ave mm m ana 21 ALC O O U SM O Dicas para familiares de alcoólatras não se preocupe em saber se ele é realmente um alcoólatra D o n a d L azo r r iã o iogo se identifique um alcoó- (D r' (O rh r" O 1 atra, ele deverá ser encam inhaéo =o A A (se estiver querendo parar 3 5 zeber) ou forçado a se tra ta r em centro especializado (se não estiver), z : rque quanto antes se tra ta r, mais ~ac mente se recuperará. Porém, ~ _ : o s fam iliares demoram em to mar estas medidas, porque não saD e m "s e ele é realmente um alcoóa :ra ". A melhor resposta a essa dú, ' z a é " S e você se está fazendo es sa pergunta é porque, provavelm en te é” . Se não fosse, a ninguém lhe ocorreria levantar a dúvida. Os bebedores sociais não preocupam suas ~am'lias com seu modo de beber. _ando um fam iliar me pergunta, eu aralmente respondo com outra perjn ta : " 0 que faz você pensar que tave z não seja alcoólatra?” "B e m ", costumam responder os fam iliares, "e le está no m esm o em; _rg o há 8 anos e nunca perdeu um d!a de serviço. Seus amigos se em:':a g a m ta n to quanto ou mais que e e. Ele passa dias sem beber e uma ez parou por 4 meses! Será que um aicoóiatra conseguiria fazer isso? 1 u dizer que alcoólatra é a pessoa z ja bebe todos os dias. Foi um m é dico que me explicou isso” . E eu respondo: "S enhora, o m é dico que lhe disse isso é, provavel- menre. e e m esm o a coe atra” . 0 fa to as um aicoó atra _ _nca te r perdido um dia de serv co não significa absolutamente aus ~ão seja alcoólatra. Significa apenas cus não é um alcoólatra nos últimos estágios da doença. Em média, alcoólatras aprontam durante 8 anos em casa e fora do em prego antes de começar a m ostrar sinais de alcoolism o no serviço. Eles se cuidam m uito mais na empresa que em qualquer outro lugar porque na empresa geralmen te não estão alcoolizados e é fácil se com portar. Só um alcoólatra em es tágio bem avançado pensaria em aparecer alcoolizado na sua em pre sa ou trabalho. Outra razão que é relativam en te fácil ocultar os sintomas do alcoo lismo no em prego é que os outros não estão educados para identificálos com o tal. Por exem plo, mesmo que um alcoólatra costum e chegar tarde, após o alm oço, sempre che gará com uma desculpa. E se, além de atrasado, estiver mais alegre do que o normal, será porque recebeu uma notícia boa m uito im portante. Se o alcoólatra estiver se m antendo afastado dos demais na fábrica, se rá porque deve te r problemas em ca sa, coitado. M elhor não mexer com ele. (Terá mesmo problemas em ca sa... causados por seu alcoolism o). Idem, se ele andar meio irritadiço e briguento. Ou se tenha que sair ce do no fim do dia. Ou se tenha caído bastante sua produção e teve dois acidentes nas últim as semanas. Todos estes acontecim entos são sintom as de alcoolism o e, para o supervisor conscientizado, servi riam com o alerta ao invés de gerar nele pena e proteção de seu fu n cio nário. Em todo caso, por causa do al coólatra se cuidar m uito no empre go, e porque os outros não estão su ficientem ente educados sobre o al coolism o para desconfiar de certas atitudes, o últim o lugar onde apare-, cerá o alcoolism o de uma pessoa é no seu serviço. Pode crer: quando seu alcoolismo lhe cria problemas na empresa, o alcoólatra está em está gio m uito avançado de sua doença. Q l s ~ío à sua capacidade de mar.ier-se abstém io por dias segui dos e até por meses, tam bém não significa absolutam ente nada. É en gano pensar que alcoólatra é aquele que bebe todos os dias. 0 típico al coólatra raram ente bebe todos os dias. A o mesmo tem po, existem m i lhares de pessoas que bebem diaria m ente e jamais poderiam ser ta x a das de alcoólatras (porque seu beber não lhes cria problemas crescentes). É im portante saber que qualquer alcoólatra pode parar de beber por determ inados períodos e m uitos fa zem justam ente isso com certa re gularidade. Aliás, a verdade é o con trário. Quando uma pessoa pára de o* beber por certo período, seja por duas semanas ou seis meses ou dois anos, a parada é um fo rte indício de que a pessoa é um alcoólatra. Se não fosse, jamais pensaria em parar de beber para provar que não é. Pen se um pouco. Você alguma vez pa rou de tom ar Coca-Cola por duas se manas? É claro que não. E sabe por quê? Poque ninguém desconfia que você está se tornando Coca-Cólatra. Portanto, se você está preocu pada em saber se seu m arido (espo sa, pai, mãe, irmão, irmã, filho, filha) é alcoólatra, pare de se preocupar, aceite a realidade que você está que rendo negar e passe im ediatam ente a empenhar-se na recuperação dele. r --------------------------------------------- ~\ CHÁCARA RÉINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se' recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.898 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-S514) V U v.. \ ?¥f i 'k r u U V f •» t • &: s^ % | f f «j» tk.il I t f* tess f ’f i P éP I :* ifcir.-' 1: - Éi- t- Vsr t-v. k v. -■ , r ; :' '^ 5 L LLL...V.. - ;.f. I H T I V T i ufc t Vi,' L ■ Donald Lazo (Diretor da R EIN D AL) Arcar com as conseqüências dos próprios atos e assumir responsabilidades: eis a boa lição para os alcoólatras. começar por resumir al G ostaria gumas coisas que já tenho escri Porém, se preferir continuar beben do, esse apoio será retirado. to. Para 90% da população, o álcool Parece cruel? Não, quando se não passa de um lubrificante social. compreende que a alternativa é dei Para os outros 10% — pessoas cujos xar sua- doença progredir até organismos reagem a essa substância matá-lo. E que ninguém se iluda: o química de forma muito particular alcoólatra que continua bebendo — o álcool é uma droga poderosa ca morre antes do tèmpo. paz de torna-las dependentes e, com Coloquemos o problem a em ou o tempo, de escravizá-las. tros termos. Imaginem, por um m o Isso não significa que essas pes mento. um a balança com um prato soas bebam todos os dias, o dia todo. de cada lado. No prato esquerdo es Muito poucos alcoólatras fazem isso. tão uns pesos que representam as Durante um longo período, eu — co vantagens da bebida para o alcoóla mo alcoólatra ativo — bebia só nos tra: o alívio que lhe traz, a'coragem fins de semana. E nem sempre per que lhe dá, a euforia, etc. Quanto dia o controle. mais doente fica, quanto maior sua Com dependentes do álcool, não dependência, mais será o alívio que a adianta conselhos, e nem convém bebida lhe dá. Em outras palavras, perguntar-1'nes se querem se tratar. os pesos colocados neste prato estão Não querem. E necessário obrigá-los sempre aum entando. a se trata r... ou deixar que piorem. No outro prato, que representa Como obrigá-los? Oferecendoas desvantagens do beber, estão as -lhes um a opção que não podem re conseqüências negativas do hábito: cusar. os problemas monetários, familia Mas a família do alcoólatra nor res, empregatícios, morais, físicos, malmente faz o contrário. Ao alcoó emocionais, etc. latra que tem família, casa, comida, Sabemos que o alcoólatra só co roupa lavada e bebida, pedem que meçará a pensar em abandonar a be abandone a bebida. Quer dizer, a bida quando as desvantagens do be opção que lhe sugerem escolher é a ber superem as vantagens. Quer di de ficar com família, casa, comida e zer, somente quando a balança cai roupa lavada sem bebida. O ra, ne mais p ara o lado direito. nhum dependente da bebida esco O problem a é que, enquanto os lherá a segunda opção quando puder pesos do lado esquerdo continuarem ter a prim eira. aum entando, a família do alcoólatra O que é necessário é oferecer-lhe norm almente estará em penhada em a seguinte opção: família, casa, co remover os pesos do lado direito. m ida e roupa lavada ou bebida. Quando um filho alcoólatra escreve Quer dizer, se ele aceitar se tratar um cheque sem fundos (acrescente (pois recuperar-se do alcoolismo sig um peso do lado direito), papai corre nifica p arar de beber que, por sua ao banco para cobrir o cheque (tire vez, geralmente significa um tra ta um peso do lado direito). Quando mento especializado), terá todo o um m arido acorda com um a ressaca apoio que um a família pode ofertar. que não lhe perm ite ir à fábrica (acrescente um peso do lado direito), a esposa telefona p ara o chefe dele para explicar que seu m arido está acam ado com gripe (tire um peso do lado direito). Quando um alcoólatra chega às três horas da m anhã, esta ciona seu carro no meio do jardim do vizinho, entra em casa, tropeça no tapete e cai, prostrado, na sala (acrescente dois outros pesos no lado direito), a esposa (ou mãe) o levanta, leva para cima, tira-lhe a roupa, dá um banho nele, bota-lhe pijam as e o põe na cama. Depois, pega a chave do carro, tira p carro do jardim do vizinho e o mete na garagem (tire pe lo menos três pesos do lado direito). Nessas condições, teria o alcoóla tra algum a razão para p arar de be ber? Certamente que não! A bebida não lhe está criando problem a algum! No dia seguinte, ele acorda na cam a, de pijam a e até talvez des cansado. Sequer se lem brará dos acontecimentos da noite anterior, e a esposa tam bém não os m encionará por medo de que ele fique chateado e saia para beber. M as ele vai beber de qualquer forma. Porque gosta da bebida. E dependente dela. Precisa dela,- cada vez mais. E não precisa parar de be ber. Os familiares "facilitadores” não deviam ter feito qualquer das coisas mencionadas acima. Deviam ter obrigado o alcoólatra a arcar com as conseqüências do seu beber. Se não se dispõem a fa zer isso, não devem se queixar. A meu ver, são mais culpa dos que o alcoólatra. ESPECIALIZADA EM TRATAMENTO DE ALCOOLISMO Seguindo os métodos mais avançados dos EUA, em 2 semanas a nossa equipe restabelece a saúde física e emocional do alcoólatra através de cuidados médicos, palestras educacionais, fiimes e terapia. Fone: 520-9514 Cx. Postal 20896 São Paulo, SP a v e m a r ia 13 Per que "perder a esperança"? D onald Lazo Não se deve desesperar, mas aceitar que o alcoólatra não pode parar de beber por si só. Ele precisa de ajuda. f o n? 14 de 1983 (3 1 /7 ), a re_ V vista AVE MARIA publicou um artigo meu intitulado “ A Pa lavra Mágica: Aceitação” . Nele eu havia escrito: “ Deve a esposa de um alcoólatra continuar apegada à esperança ou deve ela abandonar o marido? A solução é abandonar a esperança, nao o m arido” . E mais embaixo havia acrescentado: “ Ou, melhor dito, deve substituir a esperança pela aceitação” . r Depois de sair publicado o ar tigo, duas esposas me escreveram, dizendo estar confusas com meu conselho. Uma delas me disse: “ Eu não posso abandonar a espe rança. Acho que, se eu perdesse a esperança, morreria” . Talvez mi nha colocação deixasse outras es posas confusas também. Por isso, decidi tentar explicar melhor a mi nha idéia. Comecemos por mencionar al guns fatos. Para o alcoólatra, be bidas que contenham álcool (in clusive o vinho e a cerveja) funcio nam como drogas que criam de pendência. Ele (ou ela) se torna cada vez mais necessitado delas e, portanto, bebe cada vez mais. É bastante raro um alcoólatra cor tar essa crescente dependência so zinho, por conta própria. Geral mente precisa de ajuda externa, na forma de um tratamento que o afaste da bebida e o mantenha afastado. Mas o alcoólatra só cogita se 2 6 a v e m a r ia tratar e parar de beber quando as desvantagens do seu hábito se tor nem maiores aue as vantagens. E ISTO SIGNIFICA QUE, AO IN VÉS) DE PROTEGÊ-LO CON TR A AS DESVANTAGENS, SUA! ESPOSA DEVERIA PER M ITIR QUE ELAS ATINGIS SEM O MARIDO. Colocados estes fatos, vejamos como se com porta a esposa que ainda não perdeu a esperança de o marido parar de beber esponta neamente, por conta própria. Su ponhamos que ele esteja ao ponto de perder o emprego por causa da bebida e um dia o seu chefe liga para a esposa para dizer que o m a rido está sendo procurado na fá brica para assistir a um a reunião importante. O chefe pergunta se ela tem alguma idéia de onde ele poderia estar. Ora, ela sabe muito bem onde ele deve estar: no bote quim perto da fábrica. Mas ela tem medo de que o m arido possa perder o emprego. E, já que ela também depende desse emprego, ela provavelmente arranjará um a mentira, dizendo que o marido ti nha uma consulta médica m arcada para essa tarde. Isso é justamente o tipo de coi sa que ela não devia fazer. Porque, se for bem-sucedida e convencer o chefe desta mentira, evitará precisamente a crise (aque la desvantagem necessária) que poderia ter convencido o marido a se tratar. Evitando a crise, seu m a rido não sofrerá as conseqüências negativas do seu beber, não perce berá que a bebida está lhe fazendo mal e não aceitará a idéia de se tra tar. A “ ajuda” da esposa lhe terá servido apenas para superar uma crise, o que lhe permitirá conti nuar bebendo, aum entando sua dependência e chegando mais per to da morte. Mas, se a esposa já tiver perdi do a esperança de o marido parar de beber por si só, ela estará agin do de forma bem diferente... e bem mais acertada. Provavelmente já teria procu rado seu próprio emprego, para assegurar-se de poder sobreviver sem os ganhos dele. E, se ela já ti vesse perdido a esperança, tam bém não perderia seu tempo e energia tentando salvar o emprego do marido, sabendo que algum dia iria perdê-lo de qualquer jeito. À pergunta do chefe sobre onde p o deria estar o marido, ela seria ca paz. de responder: “ Provavelmen te no botequim da esquina” . Esta seria a maneira correta de lidar com o problema do alcoolismo do marido. Pois a crise criada poderia levá-lo a entender que seu proble ma é bem mais sério do que se imaginava. Talvez o levasse a con cluir que deva procurar ajuda. Se fosse assim, seria uma bênção. Pois, quanto antes se tratasse, mais chance teria de salvar a sua vida. A minha experiência no Brasil me disse que o brasileiro ainda não leva muito a sério o problem a do alcoolismo. Até chegar a tal ponto de o alcoólatra estar extre mamente comprometido fisica mente. Ou m orto. Para a esposa amedrontada do alcoólatra (Antes de ler esta carta, recomen do ao leitor que releia a carta da última e:;ção de AVE MARIA, para a qual es ta é a resposta. Prezada Amiga: Gostaria muito poder responder à sua carta simpática com outra, dizen do-lhe que está no caminho certo e que tudo irá acabar bem, como os mem bros de AA lhe dizem: “seu marido tem tudo para ser um AA, é só questão de dar tempo ao tempo". Mas eu seria de sonesto se assim procedesse. Porque do jeito que eu vejo as coisas que você me contou na sua carta, parece-me que 2 situação na sua casa só pode piorar até que você mude de atitude e comece a tomar certas medidas. A pior coisa que você poderia fazer seria “dar tempo ao tempo”., esperando “este milagre acontecer” para que al gum dia seu marido “ venha mudar de idéia e acabar aceitando a filosofia de AA". A indecisão, afinal, é uma deci são... errada. A probabilidade é que, co mo a vasta maioria dos alcoólatras, a não ser que vocêcomece a tomar atitu des e medidas certas, seu marido irá morrer de alcoolismo antes de o mila gre acontecer. Toda vez que um alcoólatra bebe, ele piora — emocional, física e espiri tualmente. Assim sendo, a primeira prioridade é levar seu marido a um tra tamento que o faça parar de beber. E, pelo que me consta, nem você nem os membros de AA estão fazendo qual quer coisa para indicar a ele que tem que parar de beber. Muito pelo contrá rio. Ele vai ao AA e os AAs permitem que ele participe das reuniões alcooli zado. (Eu presumo que, como toda pes soa alcoolizada, ele insiste em falar 26 ave maria nas reuniões e os AAs o deixam falar — caso contrário ele não gostaria tan to deles). Mas deixá-lo participar alcoo lizado, da reunião de AA, equivale a di zer-lhe que não faz mal ele beber. E é porisso que ele gosta dos AAs. Porque o deixam beber, quando deveriam proi bi-lo de falar numa reunião, estando al coolizado. (Ao contrário do que muitos AAs pensam, esta proibição é perfeita mente permissível dentro de um grupo de AA). É pela mesma razão que seu mari do a agrediu naquela ocasião. Para vo cê saber que poderá acontecer de no vo. Assim, você fica com medo e, con seqüentemente, também lhe permite beber à vontade, toda vez que ele qui ser. Tudo isso se chama "facilitação" e é extremamente contraproducente. En quanto o alcoólatra continuar bebendo, todo aspecto de sua doença — inclusi ve sua agressividade — irá progredir progressivamente. Se ele só a agrediu uma vez, por enquanto, algum dia isso passará a ser um hábito. E não se iluda quanto ao crescente número de fregue ses que ele tem. Se não parar de beber, irá perdê-los todos. O importante é você saber o se guinte: nunca irá poder ajudar seu ma rido até que você desloque suas preo cupações dele para você mesma. Co mo a maioria das chamadas “co-alcoólatras", você anda totalmente preocu pada com seu marido e vivendo a vida dele. E você? Você não tem valor? Você não é uma criatura de Deus, também? Porque não se preocupa consigo mes ma umtpouco mais? Você também está doente, e sua doença (emocional) não lhe permite proceder de maneira cons trutiva com seu marido. Ou por medo ou por raiva, que certamente está au mentando dia a dia, suas reações só servem para levar seu marido a beber cada vez mais e botar a culpa em você. Neste momento, todas as suas ati tudes e ações facilitam a progressão da doença de seu marido. Sua meta, a longo prazo, deveria ser parar de facili tar (de cobri-lo quando dorme no sofá, de esquentar o jantar quando chega tarde em casa, etc.). Isso significa que você terá que inverter todas as suas atitudes e ações. Você terá que apren der a contrariar todos os seus instin tos. Para isso, pergunte-se sempre, “ Que é que eu quero fazer?” e depois faça exatamente o contrário. Por exem plo, se, por medo, você acha que deve fazer companhia para seu marido al coolizado na mesa faça o contrário. E não aceite suas agressões. Saia da sa la ou, se não houver outra alternativa, do casamento. Marido violento não é marido. Essa seria a única maneira de ajudar seu marido de fato. Mas, obvia mente, para poder fazer isso, você terá que se recuperar antes. Portanto, meu conselho para você é que pare de viver em função de seu marido e comece a cuidar de si. Ao in vés de fundar a AA para seu marido, de veria ter fundado a Al-Anon para si. Fa ça-o agora. Comece a praticar os Doze Passos para si. Compre a literatura de Al-Anon e siga seus conselhos. Você me escreveu "Embora conhecendo a AlAnon, eu sinto que não tenho coragem de me desligar do problema”. Senhora, não é questão de coragem. É que você quer resolver o problema do seu jeito. E seu jeito nunca funcionou até agora. Por que não segue a orientação da or ganização mais experiente do mundo nesses problemas — a Al-Anon? Toda vez que escrevo cartas para pessoas aflitas como você, sinto-me frustrado porque há tanto que explicar. É porisso que a Chácara Reindal tem trazido para o Brasil livros sobre o as sunto, tais como “Alcoolismo - Os Mi tos e a Realidade”, “ Como Proceder com o Alcoólatra" e “ Como Me Libertei do Alcoolismo”. Estes livros estão à venda na Chácara Reindal para quem quiser se beneficiar de suas orienta ções. Em todo caso, se quiser me escre ver de novo, farei o possível para ajudála. Mas saiba que a única pessoa que realmente pode lhe ajudar é você mes ma. E é agindo, em vez de dizer que não sente coragem de agir. Nesse esforço, espero que Deus lhe dê as forças que precisará. Um abraço fraternal, Donala E % Uh wm* «i 1 - A■ li KPV im ü ! K l |1 |1 |P | A faciliíação da esposa amedrontada de um alcoólatra Uma senhora que é assinante da Revista AVE MARIA me escreveu jm a carta alguns meses atrás. Achei que muitos outros leitores da AVE MA RIA poderiam se beneficiar, não somente com a carta dela (que ilustra até onde uma esposa com medo po de chegar a facilitar a progressão do aícoolismo do marido) mas com a mi nha resposta (que será publicada na próxima edição de AVE MARIA). Eis a carta simpática — embora trágica — da senhora: Caro Amigo: Considero-o meu amigo porque to do mês espero com muita ansiedade a sua palavra sobre alcoolismo na AVE MARIA, que tem me ajudado muito a entender sobre esta terrível doença. Sr. Donald, eu sou uma das cente nas, ou melhor, uma das milhares entre as esposas de um alcoólatra. Não foi nada difícil conhecer um grupo de AA, e fiquei encantada com o trabalho deles. Consegui até mesmo le var o meu marido a assistir duas reu niões. Na primeira, ele ingressou, mas estava bem embriagado. E na segunda também. Depois, mudamos de cidade, e como aqui nSo existia um grupo ain da, tive a idéia de fundar um grupo, contando com a ajuda dos meus ami gos de grupos de fora. Não pensei só nele não, mas pensei também em aju 26 ave maria dar outros alcoólatras, a entender o que é o alcoolismo. Pois bem, o grupo já existe na cida de há sete meses, com dois alcoólatras ingressados e vivendo com sobriedade, só que nenhum dos dois é meu marido. Mas eu não desisto. Tenho fé que um dia ele ainda venha a mudar de idéia e acabe aceitando a fiiosofia de AA. Ele vai às reuniões. É bem verdade que vai quando quer, às vezes mais em briagado, às vezes menos. Gosta do que ouve nas reuniões, do pessoal do grupo. Alguns deles já vieram em casa e eu sinto que ele gosta de estar em companhia deles. Eles me animam, dizendo que ele tem tudo para ser um AA, é questão de dar tempo ao tempo para ele se cons cientizar. Às vezes um alcoólatra leva mais tempo que outro. E eu fico na es pera de ver este milagre acontecer, pe dindo a Deus que traga a luz da razão a e/e. Conheço também um pouco sobre a Al-Anon, pois já tenho amigas que são membros da Al-Anon. É agora que entra o propósito da minha carta. Tal vez o senhor e sua esposa possam me esclarecer uma coisa que está se pas sando comigo. Embora conhecendo a Al-Anon, eu sinto que não tenho coragem de me desligar emocionalmente do problema. Sofro quando meu marido demora para chegar em casa, pois não sei o que es tá se passando com ele, fico sempre pensando o pior. E quando chega, fico tremendo de medo que ele comece a brigar comigo por qualquer motivo bo bo. Sinto medo dele. Não que seja ex tremamente agressivo, mas já aconte ceu dele me agredir. Outra coisa: se ele deita e dorme no sofá, corro e cubro-o, porque nova mente entra o medo dele, quando acor dar e ficar zangado comigo. Às vezes, quando chega, já estou dormindo. Fica buzinando para que eu vá abrir o por tão. Depois dou seus chinelos e roupas para ir ao banho e esquento o jantar. E tem mais: ele quer que eu faça compa nhia a ele na mesa. Ajudem-me, por favor, a entender este meu medo. Temos 4 filhos e eles, embora pequenos, também já senterrf o problema. Materialmente não falta nada aqui em casa, pois ele trabalha todo dia. Ele é mecânico — diga-se de passagem, um excelente profissional. Tem muitos fregueses. Mas, se de um lado temos tudo, do outro que eu considero, a paz de espírito, não temos não. Talvez, através da revista, o senhor possa me dar uma resposta, que estará me ajudando e também a outros que estão na mesma situação. Peço m il perdões pela carta tão longa. Encerro agora contando com a sua ajuda e pedindo a Deus para que possa ajudar muitos igual a mim. Obri gada e atenciosamente. Sugiro ao leitor que guarde esta carta para poder reiê-la antes de ler a minha resposta no próximo número de AVE MARIA. • C H Á C A R A REfNDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.895 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V Às vezes, smsr significa deixar soírer D o n a ld L azo Não se deixe ser vítima das manipulações do alcoólatra. Desligue-se da doença e não do doente. Responsabilize-o por todas as conseqüências do seu beber sem — se possível — se exaltar. E I | i j : í j j : I I sta semana recebi carta de uma assi qüência com que ele bebe para a|iiviar-se nante da Revista AVE M ARIA na da interferência intolerável dos ojitros na . qual me diz que, em um grupo, estiveramsua vida. Enfim, essa ajuda “ bon d o sa” discutindo as minhas críticas à “ bondade” acaba gerando ódio ao invés de agradeci da família para com o alcoólatra. “ Porm ento, servindo apenas para que o alcoó que inclusive” , diz a carta, “ um pastor latra possa justificar futuras bebedeiras. que tem comparecido a algumas reuniões, Convencido de que bebe por causa dos tentando conhecer melhor o assunto para problem as que vive, dificilmente será ca poder nos ajudar de alguma form a, tinha paz de entender que a realidade é o con dúvidas a esse respeito. Ele achava, ou trário: tem os problemas porque bebe talvez ainda ache, que muitas vezes é anormalmente. através da bondade, do carinho, da dedi A segunda parte de m inha resposta cação que se consegue salvar o doente em seria que, às vezes, o am or nos obriga a questão” . fazer o am ado sofrer. É como o caso da A minha contribuição a essa discusmãe que leva seu nenê a ser injetado con são seria em duas partes. Prim eiro, não tra poliomielite. A mãe sabe que a inje quero dar a entender que se deve privar o ção dói e sofre quando a criança solta um alcoólatra de carinho e am or, pois carigrito ao ser picada. Mas a mãe também nho e am or são remédios poderosíssimos sabe o risco de vida que a criança corre se para tudo que aflige o ser hum ano. O que não for devidamente inoculada. digo é que não se deve resolver os proble Em alcoolismo, não é nem questão de mas que o alcoólatra cria. Isso não é correr um risco. É absolutam ente garan amor! Com o diz a literatura de Al-Anon, tido que o alcoólatra que não parar de devemos “ desligar-nos dos problem as do beber irá morrer precocemente da bebida. alcoólatra sem desligar-nos dele” . (E sou E é garantido que o alcoólatra que não obrigado a acrescentar: a não ser que éle tenha fortes motivos para querer parar de esteja se tornando violento e perigoso, beber, não irá parar. Finalm ente, é ga quando então devemos desligar-nos dele rantido que o alcoólatra cujo beber não mesmo.) Em outras palavras, deve-se res crie sérios problemas para si, não irá que ponsabilizar o alcoólatra pelo andam ento rer parar. Precisa-se de mais argumentos? equilibrado de sua vida. Já que a progres Tem os, na Chácara Reindal, um filme são do alcoolismo acaba fatalm ente pre que usamos para educar os familiares dos judicando esse andam ento equilibrado, é alcoólatras que vêm se tratar aqui. No fil somente quando ele mesmo é responsabi me, L oretta, a esposa de um alcoólatra, lizado pelos seus atos que poderá acabar assiste à sua primeira reunião de Al-Anon reconhecendo que se tornara “ impotente e, depois da reunião, põe-se a conversar perante o álcool” e que tenha “ perdido o com Maggie, a coordenadora do grupo. domínio sobre sua vida” , como diz o pri A conversa vai assim: meiro passo no processo de recuperação Loretta: Maggie, se eu fizer tudo que sugerido por Alcoólicos Anônimos. está escrito neste folheto que m e; deram , Mas se outros estão resolvendo os pro meu m arido irá parar de beber? blemas do alcoólatra — problemas estes Maggie: Bem, isso não é fácil de afir que, mesmo assim, tenderão inevitavel mar. Lembre-se de que se trata de uma mente a se agravar enquanto o alcoólatra doença. continuar bebendo — ele não aprenderá a Loretta: Eu sei. Mas, se é um a doença, assumir a responsabilidade por seus atos. então por que me aconselharam a não jo Por contar sempre com a ajuda “ bondo gar fora a bebida em casa? sa” dõs outros, viverá com a ilusão que Maggie: Porque é uma doença, mas todo alcoólatra abraça: que eventos e você não pode controlá-la. Ele é a única pessoas externos são responsáveis pelos pessoa que pode controlá-la. acontecimentos de sua vida, pelas encren Loretta: Mas, então, por que é que eu cas em que se mete e, portanto, pela fre estou aqui? Maggie: L oretta, todo alcoólatra pre cisa de alguém p ara m anipular, alguém que o mime, que quebre seus galhos e mesmo que o im portune e critique. Tudo isso o ajuda a continuar bebendo. Q uan do a esposa ou os pais quebram seus ga lhos, ele não sente necessidade de parar de beber, pois seu beber não lhe cria pro blemas. (Cria problem as p ara os outros.) E quando um a esposa grita, chora, chinga ou critica, ele usa isso para justificar suas bebedeiras. D irá que é a esposa que está doente e que são os desequilíbrios dela que o levam a beber. L oretta, quan to mais você fizer isso, mais ele vai beber. P o rtanto, a prim eira regra é: não se deixe ser vítima das m anipulações dele. Ele está sempre procurando alguém, ou alguma coisa, para explicar por que ele bebe. Desligue-se — não dele, mas de sua doença. Não se deixe envolver nos problem as que cercam seu m arido. N ão procure resolvê-los. Responsabiiize-o por todas as conse qüências do seu beber sem — se possível — se exaltar. Loretta: Mas eu não consigo fazer is so, Maggie. Eu perco o controle e acabo esperneando mesmo. Maggie: Pois é, L oretta. Isso m ostra que você tam bém precisa de tratam ento, e é por isso que você está aqui. Continue voltando às reuniões. Grupos Familiares de Al-Anon esíão espalhados por todo o Brasil. P ara saber o endereço do grupo m ais perto de você, escreva para: AI-Anon, Caixa Postal 2.034, São Paulo, SP 01000. A ajuda que receberá é gratuita. • - ^ CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) L ________________ — --------------------------------- J sv© rner/cÊ 29 D onald Lazo A maior obrigação de um pai para com seu filho é a de se tornar desnecessário para que o filho possa desenvolver suas próprifis forças e se tornar responsável por si mesmo. o meu último artigo eu defendia a idéia de que, às vezes, am ar significa deixar sofrer. Esta lição foi gravada na m inha memória de form a dram ática uns dez anos atrás. Era uma noite em que eu me en contrava assistindo a uma reunião de Neuróticos Anônimos (NA). Havia umas quinze pessoas reunidas na sala essa noite quando entrou uma senho ra de seus 60 anos de idade, em pur rando um a cadeira de rodas na qual estava sentado um homem de aproxi m adam ente 40 anos. Quando chega uma pessoa nova a um a reunião de NA, é costume o coordenador da reunião convidar es sa pessoa e se apresentar e explicar o que a levou a procurar os Neuróticos Anônim os. Esclarece-se à pessoa que ela não tem obrigação de falar, se não quiser. Vendo o homem na ca deira de rodas e presumindo que era ele que sofria de algum problem a emocional, o coordenador lhe dirigiu a palavra, convidando-o a explicar o motivo de sua presença. Mas o ho mem não teve chance de responder, pois a senhora respondeu por ele. “ Eu trouxe meu filho aqui esta noite porque estamos vivendo um problem a sério em casa e me ocorreu que vocês poderiam nos orientar. O problem a é que parece que a gente não está se entendendo mais. Eu vivo sozinha em casa como este meu filho, e faço tudo por ele. E ele, ao invés de me agradecer, me critica e me xinga o dia todo. Passei a vida toda dedicando-me quase exclusivamente a ele, e esse é o ‘obrigado’ que ele me d á” . Percebendo que a mulher era ca paz de m onopolizar o resto da reu^nião se lam entando do filho que não sabia apreciar o am or de sua m ãe, o coordenador se dirigiu novam ente ao hom em , perguntando-lhe se queria explicar ao grupo porque ele se en contrava num a cadeira de rodas. Novamente, foi a mãe que res pondeu. “ Foi o seguinte” : “ Quando meu filho era ainda criança, com uns dois aninhos de idade, ele tinha um problem a no quadril. Apareceu ju s tam ente quando ele estava com eçan do a querer aprender a andar e o quadril era fraco. Dificultava seu equilíbrio e eu m orria de medo. Le vei-o ao médico e sabem o que aquele médico me disse? Disse-me que quan do meu filho saía dando seus passos desequilibrados pela sala e caía, que eu devia deixar ele cair e se levantar sozinho. Disse-me que isso seria bom para ele, que só assim ele superaria seu problem a no quadril e aprenderia a andar. Imaginem só! Alguma vez ouviram um conselho mais cruel? E isso da boca de um médico! Como podia ele pensar que eu, uma mãe que am ava meu filho, seria capaz de deixá-lo cair vez após vêz, com o ris co de se m achucar, sem correr para socorrê-lo? Eu n ão !” E enquanto essa mãe, que tanto ‘am ava” seu filho, falava, eu olhava para o objeto de seu ‘am or’, sentado ali na sua cadeira de rodas, incapaz de andar e, pelo jeito, até incapaz de falar por si mesmo. O ‘am or’ dessa mãe havia tornado este homem de 40 anos de idade um a criatura quase to talm ente dependente dela. Quantos pais de alcoólatras não cometem o mesmo erro! Esquecendo que talvez a maior obrigação que um pai tem perante seu filho é a de se tor nar desnecessário — para que o filho possa desenvolver suas próprias for ças e se tornar responsável por si mes m o — , estes pais vivem ‘socorrendo’ os filhos contra as conseqüências ne gativas causadas pelo seu beber. O re sultado, inteiram ente previsível, é sempre o mesmo. Prim eiro, embora o filho tenha a vántagem de nunca ter que se esforçar m uito, pois sempre tem quem resolva seus problemas por ele, ele sabe que se tornara totalmente dependente das pessoas que vêm ‘aju dando-o’, e odeia essa dependência. Com o tem po, passa a odiar as pes soas, o que obviam ente cria um con flito sério quando essas pessoas são seus pais. O outro resultado é que o filho alcoólatra nunca aprende o que é ser responsável por si m esm o. Vive espe rando que os outros o tirem de seus apertos. Infelizm ente, porém , o al coolismo é um a doença que só o p ró prio alcoólatra poderá resolver. N in guém pode p arar de beber por si. E, para ele p arar de beber, é preciso que se sinta responsável por sua vida. Os que não aprenderam a sentir esse senso de responsabilidade, m orrem da bebida. G raças ao ‘am o r’ dos que sempre resolveram todos os seus p ro blemas. © © CHÁCARA REINDAL Especializada em aicooiism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Posta! 20.836 01498 S ão Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) Jj o v e m e r /c 5 ? Ifb J T flC L h Xà t L~z te «. B F â y w t 'Hat \«i2 Í££ r i f c te íf;[ h*. í VERDADEIRO AMOR? D onald L azo (Diretor da R E IN D A L ) O alcoólatra que não sabe que pode parar de beber, não pára. anos atrás li um folheto M uitos intitulado “HOW TO KNOW AN ALCOHOLIC” (“ COMO RECO NHECER UM ALCOÓLATRA”). Foi escrito pela Sra. M arty M ann, fundadora do National Council on Alcoholism, a organização que mais literatura sobre alcoolismo dissemina no mundo. Foi a prim eira mulher recuperada em Alcoólicos Anônimos e tomou-se uma das maiores autori dades no campo, escrevendo vários livros e folhetos e viajando por m ui tos paises para palestrar sobre o al coolismo. Achei tão maravilhoso aquele fo lheto que escrevi para a Sra. M ann, pedindo-lhe permissão para traduzi-lo p ara o português e distribuí-lo no Brasil. Ela me concedeu a permissão prontam ente. No folheto em portugês, coloquei o título “ALCOOLISMO — A DOENÇA QUE TODOS ESCON D EM ” . Em bora não seja um folheto de Alcoólicos Anônimos, vários escri tórios dessa irm andade o vendem p a ra angariar fundos. O folheto aconse lha familiares da seguinte maneira: “Jamais se deve tratar mal um alcoólatra. É preciso reconhecer que é um a pessoa doente e que seu com portam ento, por irracional que seja, é parte da doença. Por outro lado, devem perm itir que ele se trate mal. Assim, não devem tirá-lo dos seus apertos. Não devem, por exemplo, cobrir seus cheques sem fundos. Sua esposa não deve telefonar ao seu che fe para dizer que o marido está gripa do quando, na verdade, está acam a do com ressaca. Não devem nem evi tar que ele perca seu emprego por causa de suas bebedeiras. Não devem evitar que seja preso. Devem come çar a aprender a viver sem os ganhos dele, porque am anhã fatalm ente ele não estará ganhando mais. E não devem perm itir que ele viva à custa dos outros. Se não seguirem estes conselhos, estarão adiando o dia em que ele procurará solucionar seu ca so. Tudo isto porque ele só vai querer p arar de beber (e sua recuperação depende desse desejo) quando sentir na alm a as conseqüências de suas bebedeiras” . No seu número de junho/83, uma revista médica se refere a esse trecho e faz o seguinte comentário: “Parece bastante tem erária um a atitude como a recom endada no folheto, porque uma pessoa em crise pode eventual mente se recuperar, mas é bem mais possível que afunde na depressão. As sim, o indivíduo que já não conta com apoio psicológico da família, que perde o emprego, etc., pode, em lu gar de salvar sua vida, tentar acabar com ela. Sabe-se que é muito elevado o núm ero de alcoólatras que tentam o suicídio. Por isso, há um risco ine rente em recomendações desse tipo” . O artigo continua: “ A verdade é que é muito difícil abordar o proble ma do alcoolismo num a sociedade tão m arcada por preconceitos como a nossa. Até mesmo as pessoas melhor intencionadas do país acabam caindo na arm adilha da intolerância e dos preconceitos moralistas. Inciüsive, os próprios médicos não fogem disso. Segundo o psiquiatra A rthur Guerra de Andrade, é comum entre estudan tes de medicina a visão moralista do alcoolismo, encarado com problemas ligados à falta de caráter do indivíduo. Se esse estudante não for esclarecido a tem po, vai passar a exercer a pro fissão com aquela mesma visão de turpada de sua juventude. E é claro que um médico com preconceito nun ca será capaz de trata r eficientemen te de um alcoólatra” . Ê muito interessante e muito n a tural a ressalva feita pela revista m é dica. Parece estar dizendo que quem deixar o alcoólatra se tra ta r mal (isto é, sofrer as conseqüências do seu be ber) está “ caindo na arm adilha da intolerância” ao encarar o alcoolismo como problem a ligado à falta de ca ráter quando, na realidade, é um a enferm idade não controlada pelo doente. A lógica do argum ento seria a seguinte, continua a revista m édi ca: reconhecer que o alcoolismo é um a doença, mas depois “exigir ape nas boa vontade do doente p ara curá-la tem o mesmo significado que pe dir ao canceroso boa vontade para curar seu m al” . Com todo respeito pelo autor do artigo, parece-me que ele tem um a visão confusa do que seja o alcoolis mo. E a sua visão é tão comum — quer dizer, a confusão dele é com par tilhada de m aneira tão generalizada por leigos e profissionais — que gos taria dedicar vários artigos futuros a esclarecer este aspecto do alcoolismo: por que se cham a doença? É mesmo um a doença como câncer que o doen te não pode controlar, ou é um a doen ça como diabetes que pode ser con trolada pelo próprio doente? Tenho ouvido muitos alcoólatras justificar suas bebedeiras, dizendo: “ Afinal, sou um doente alcoólatra” . Na m inha opinião — e cabe relem brar-lhes que eu sou alcoólatra (que não bebe mais) — quem aceitar esse raciocínio cai, ele mesmo, na arm adilha que já en redou tantos alcoólatras. Porque um a das maiores verdades em alcoolismo é que o ALCOÓLATRA Q U E NÃO SABE Q U E PODE PARÂR DE BE BER, NÃO PÃRA. M as aquele que aceita que não pode beber, consegue parar e se recuperar. O © ** Rn C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 91438 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-8514) _____________________ ____________________ - J ave maria 2?  ÍEifervençSo • uma fésniee pera levar o alcoólatra a tratamento D o n ald Lazo Essa técnica na maioria das vezes surte o efeito desejado, o alcoólatra cai na realidade e pede ajuda para a sua recuperação. esposa, totalm ente desesperada e ^confusa, tentando lidar com a negação do m arido alcoólatra, com as garrafas escondidas, seu com por tam ento errático, suas ausências de casa; as crianças, apavoradas e tam bém confusas, às vezes assum indo o papel de adultos; o em pregador, já cansado de tolerar tantas “ exceções” ; os amigos e parentes que, há muito tem po, vêm se perguntando, “ O que é que há com Sérgio?” Todo o m un do desconfia que o problem a é álcool mas ninguém sabe o que fazer. Todos se sentem incapazes, culpados e sozi nhos. Existe um a técnica — cham ada “ intervenção” — um a m aneira de ju n tar todas estas pessoas e concen trar suas preocupações, frustrações e recursos. Pois, por serem as pessoas mais im portantes na vida do alcoóla tra, são as pessoas que m ais poder têm sobre ele. A intervenção é um meio de unir estas pessoas, e é im por tante porque um a das defesas que to do alcoólatra usa p ara proteger sua liberdade para beber é a de dividir aqueles que lhe são chegados, pondo um contra o outro. A intervenção tem provado ser um a técnica bem -sucedida para m o tivar o alcoólatra a procurar um a so lução para seu problem a. Trata-se de um modelo desenvolvido pelo John son Institute em M inneápolis, M in nesota, e agora ensinado no P rogra ma Residencial Fam iliar da C hácara Reindal em São P aulo. Ele pode ser usado com qualquer m em bro de um a família que esteja gerando proble mas com o seu beber. Ele oferece di retrizes para confrontar o alcoólatra com fatos e datas, de m aneira firme, porém carinhosa. P ara m uitos alcoólatras, a inter / venção torna-se a crise que pode le vá-los à recuperação. Além disso, através da educação e do apoio m ú tuo, tam bém pode m otivar os m em bros da família de um alcoólatra a adotar medidas que os recupere dos estragos emocionais causados pela convivência com um alcoólatra. A intervenção é norteada por cinco princípios básicos: • Deve envolver as pessoas mais im portantes na vida do alcoólatra. • Essas pessoas fazem listas de fatos e datas (ou seja, dados objetivos) que demonstram como o beber exagera do do alcoólatra está prejudicando a vida dele e dos que o cercam. • Todas essas pessoas contam ao al coólatra como se sentem a respeito das coisas que estão relacionando, mas sem o intuito de julgá-lo, e sem raiva. • São oferecidas ao alcoólatra o p ções de ajuda. Se ele recusar todas as opções, a família insiste em sa ber a resposta à pergunta: “ Que fará se você não conseguir p arar de beber por si só?” • Se a pessoa concordar em buscar ajuda im ediatam ente, essa ajuda precisa estar disponível na hora. G eralm ente, o próxim o passo é um ensaio do confronto, com o con selheiro fazendo o papel do alcoóla tra. As listas em que estão relaciona das os atos censuráveis e destrutivos do alcoólatra são discutidas. O que mais impressiona os participantes desta sessão é o fato de m uitos dos sentimentos dolorosos serem expres sos aqui pela prim eira vez na vida. O utra coisa: cada pessoa presente, que conhece apenas um a parte das conseqüências do beber do alcoóla tra, fica im pressionada ao ouvir as demais. A dquire um a visão global das repercussões do alcoolismo — um quadro sempre chocante quando percebido na sua totalidade. No fim da sessão, é com binado o dia em que irão trazer o alcoólatra para seu meio a fim de confrontá-lo. No dia do confronto, quando o alcoólatra entra na sala e vê as pes soas ali reunidas, ele desconfia — com razão — que estão preparando um a “ arm adilha” para ele. Só que é um a arm adilha que poderá salvar sua vida. O conselheiro começa por explicar a finalidade da reunião e co mo ela se desenvolverá, assegurando-lhe que todos os presente têm uma única coisa em mente: o bem-estar do alcoólatra. E ntão, com o conselheiro agindo de m ediador, cada pessoa lê a sua lista. Logicamente, o alcoólatra tenta retrucar com justificativas, minimizações e projeções e, repetidas vezes, o conselheiro é obrigado a pe dir que fique quieto e tente ouvir o que lhe estão dizendo. É uma sessão altamente emocional que, não poucas vezes, term ina com o alcoólatra cho rando e dizendo que não sabia (e não sabia mesmo) que estava causando tanto sofrimento a tantas pessoas. No fim, apresentam-lhe as opções de tratam ento disponíveis e as conse qüências que advirão se ele não esco lher um a delas. Ele é inform ado de que todas as providências necessárias já foram tom adas e, se a intervenção fora bem-sucedida (o que acontece na maioria das vezes), ele aceitará uma das opções de tratam ento, iniciando assim a sua recuperação. • --------------------------------------------- CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. V Cx. Postai 20.896 01498 S ão Paulo, SP ' (Fone: (011) 520-9514) __________ J a v e m a r ia 2 9 A LC O O U S M O A intervenção: como ajudar o alcoólatra que recusa ajuda Qualquer pessoa que convive com um alcoólatra (ou dependente de outra droga) confirm aria este fa to: a m aior barreira à recuperação do alcoólatra é sua incapacidade de re conhecer que está dom inado pela bebida e sua relutância em aceitar tra ta m e n to . É característico do doente alcoólatra dizer a todos que absolutam ente não precisa da bebi da e não costum a exagerar, que be be porque gosta e não por necessi dade, que a bebida não lhe faz mal, que as circunstâncias de sua vida ou as pessoas que o rodeiam são os res ponsáveis pelo seu beber ("S e você estivesse casado com minha mulher, você bebia ta m b é m !"), e que pode largar a hora que quiser. Claro que nada disso é verdade. A s afirm ações não passam de racio nalizações e ju stifica tiva s visando perm itir que o alcoólatra continue abusando da bebida, fortalecendo sua dependência e infernizando a vi da dos que com ele convivem . En tre os profissionais no campo de al coolism o, essa atitude tem nome: nós a cham am os de NEGAÇÃO. 0 alcoólatra se utiliza dessas defesas para negar sua realidade e assim continua r bebendo. Mas o alcoolism o é um proces so progressivo e 100% fatal! O al coólatra que não se trata, que não pára de beber, morre da bebida. E até m orrer, gera aquele inferno ca da vez m aior para os que estão te n tando ajudá-lo. E o pior é que o al coólatra não só não percebe que se to rn o u dependente da bebida mas tam bém não percebe que está ne gando sua realidade para poder con tinua r bebendo. Sua defesa psíqui ca consegue rebater todo esforço 26 a v e m a r ia para levá-lo a reconhecer que está bebendo demais e que precisa de ajuda. Os outros im ploram , xingam, choram, ameaçam e se tornam to talm ente desesperados. Quando f i n a lm e n te te le fo n a m para nós, dizem-nos que já tentaram tudo. Não sabem o que fazer. Tentaram tudo — menos a mais aprimorada técnica jamais desenvol vida para levar o alcoólatra relutan te a reconhecer-se dom inado e a aceitar tratam ento. É a INTERVEN ÇÃO, um m étodo de ajudar aqueles que não querem ajuda e que funcio na em 80% dos casos, mesmo com os alcoólatras mais teim osos! Você está dizendo, "P ode ser, mas com o meu aquilo não vai funcionar. V o cês não conhecem o m e u !" Pois eu respondo, "C onhecem os, sim. E aposto que funciona com o seu ta m b é m ". O m étodo consiste em: (1) jun ta r em um grupo as pessoas mais im portantes na vida do alcoólatra: seus fam iliares, parentes e amigos; (2) conscientizar estas pessoas da gravidade do alcoolism o e da neces sidade de tratar o alcoólatra quanto antes; (3) explicar-lhes o que de er rado fizeram até agora; longe de le var o alcoólatra a aceitar ajuda, levaram -no a afundar-se cada vez mais na bebida; (4) treiná-los na ma neira correta de se com unicar com ele, e por fim (5) ensiná-los como convencê-lo a aceitar um tratam en to , usando com o instrum entos não a raiva e a agressividade e sim o amor, a compreensão e a unidade e força do grupo. Se você achar que já fez de tu do para convencer seu alcoólatra a procurar ajuda e/ou a parar de beber, e não teve êxito, não desanime. Sai ba que ainda lhe resta usar a té cn i ca mais eficiente que existe para conseguir o que você quer. A inter venção, bem planejada e correta mente usada, é, sem dúvida, o maior avanço no campo de alcoolism o dos últim os cinqüenta anos. Temos observado que o alcoó latra cria uma situação de " d ita d u ra " na sua fam ília, am edrontando a esposa e os filhos de maneira a deixá-los virtualm ente paralisados, sem individualidade e sem condições de levar o doente a aceitar o tra ta m ento que salvará sua vida. E com as intervenções que tem os feito, te mos observado a quebra do medo fam iliar, a moralização do am biente e o retorno a uma vida digna para to dos os membros da fam ília, in clusi ve para o alcoólatra. Repetimos: estamos conseguin do um resultado positivo em mais de 80% das intervenções que tem os fe ito com, no máximo, 3 a 5 sessões por caso. Temos absolutamente cer teza que este m étodo, cuja prática estam os introduzindo no Brasil (ele vem sendo largamente usado nos EUA há vários anos), chegará algum dia a ser considerado a maneira — carinhosa, rápida e eficaz — de le var o alcoólatra ao tratam ento de que ta n to precisa. C olocam o-nos à sua disposição para maiores escla recim entos. Basta ligar para a Chá cara Reindal em São Paulo: telefone (0 1 1 )5 2 0 -9 5 1 4 . b Donald Lazo r -----------: : \ CHÁCARA REINDAL Especializada em • alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Posta! 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V _______________ J COMO LEVAR O ALCOÓLATRA AO TRATAMENTO D o n ald Lazo Todo alcoólatra precisa de uma força motivadora que o faça procurar auxílio a fim de abandonar a bebida. - |0 livro “ ALCOOLISM O — Os p jM ito s e a Realidade” , pelo Dr. Jam es M ilam e a jornalista Katherine Ketcham, que tanto tenho recomen dado e que pode ser adquirido atra vés da C hácara Reindal, gostaria de transcrever um trecho do capítulo in titulado “ Com o Levar o Alcoólatra ao T ratam en to” . “ Sem auxílio a m aioria dos al coólatras não pode abandonar per m anentem ente a bebida. A tua uma com binação de fatores para aprisio nar o alcoólatra em sua dependência. No estágio inicial, de adaptação, an tes de se desenvolverem os problemas sociais e psicológicos, nem o alcoóla tra nem os que estão ao seu redor percebem qualquer razão pela qual ele deva deixar de beber. Q uando os problem as começam a se desenvol ver, a bebida em demasia é, em geral, vista com o um mero sintoma, e o al coólatra pode ser aconselhado a ob ter auxílio para seus “ problemas subjacentes” . Mais tarde, quando o próprio excesso de bebida está con tribuindo claram ente para seus pro blem a/, é mais provável que ele e ou tros concluam que deva diminuir a bebida, não que a deixe de uma vez. Tipicam ente, só quando os sinto m as mais espalhafatosos do alcoolis m o se desenvolvem é que alguém su gere que o alcoólatra deve parar de beber completamente. Nessa ocasião, seus processos mentais estão sob a firme influência da dependência, e sua necessidade de beber encobre to das as preocupações a respeito das conseqüências nocivas de continuar a beber. Ele talvez com preenda que de va p arar e, sob pressão, pode até to r nar-se abstêm io por uns tempos. M as, sem nova perspectiva quanto ao problem a e um a força sustentadora suficientem ente poderosa para so b rep u jar a dependência, todos esses 22 a v e m a r ia períodos de abstinência são tem po rários. Com maior freqüência, o alcoó latra rejeitará qualquer idéia de que deve parar de beber. Com o que nu ma penum bra, ele pode com preender que seus problem as estão ligados à bebida, mas a dependência cega-o para o fato de ser o álcool o causador desses problem as. O álcool é seu pri meiro socorro e seu rem édio. É o re médio efetivo para o sofrim ento psi cológico e físico que sente, aliviando im ediatamente sua angústia e tensão, fazendo suas m ãos pararem de tre mer e seu estômago de dar voltas, permitindo-lhe pensar mais clara mente e agir com mais norm alidade e, particularm ente nos últim os está gios da doença, provendo-lhe os úni cos m om entos em que consegue ali viar seu sofrim ento. Q uando ele pára de beber, o verdadeiro problem a co meça. Tensão, frustrações, trem ores, irritabilidade e náuseas se tornam por fim tão insuportáveis que ele tem de beber porque o álcool é a m aneira mais rápida de aliviar o padecimento. O alcoólatra necessita de auxílio, e necessita o mais rápido possível. Tem sido de todo desacreditada nos últimos anos a crença am plam ente aceita de que os alcoólatras precisam “chegar ao fu n d o do p o ç o ” antes que possam ser ajudados. Esperar que o alcoólatra com preenda que ele necessita de tratam ento é simples mente um engano, porque, entregue a si mesmo, é provável que ele se to r ne menos propenso a procurar tra ta m ento. Se o tratam ento for retarda do até o alcoólatra estar tão devasta do por sua moléstia que o fígado e o encéfalo apresentem danos perm a nentes, que sua esposa o tenha aban donado, que seu em pregador o tenha demitido e que ele está vivendo da caridade governam ental, esse atraso pode ser fatal. O alcoólatra que ainda se firma em seus pés, que mantém um em pre go e cujo casam ento está intacto po de insistir em que não tem problemas e obstinadam ente se recusar a buscar auxílio. Ele mente, rouba e trapaceia para proteger seu direito de beber. Porém , suas fraudes e recusas não são indicações de que o tratam ento* falhará. Não im porta o quão acirradam ente o alcoólatra com bata os que desejam auxiliá-lo a parar de beber; ele pode com m aior freqüência ser ajudado do que não. Bem mais da m etade dos alcoólatras atualm ente em tratam ento bem-sucedido foi for çada a isso contra sua vontade; eles não queriam parar de beber, mas cer tas crises em suas vidas puseram-nos contra a parede e os forçaram a p ro curar ajuda. P ara um alcoólatra, a força m otivadora pode ter sido a es posa, com a ameaça de fazer as m a las e ir em bora, caso ele não p ro curasse auxílio; outro pode final m ente ter concordado em entrar em tratam ento depois de ficar em briaga do e destruir o carro. Os alcoólatras dos estágios iniciais e intermediários têm sido impelidos a tratam ento por cônjuges que planejam divórcio, em pregadores que ameaçam demissão, juizes que oferecem a escolha de tra tam ento ou prisão, senhorios que am eaçam despejo e médicos que pre vinem sobre as conseqüências fatais de continuar bebendo” . *Presume-se que estamos falando de tra ta m ento apropriado. CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) A LC O O L IS M O Um novo livro destinado aos familiares dos alcoólatras D onald Lazo odo familiar de alcoólatra é um "facilitador" cujo comportamento e reações protegem o alcoólatra das con seqüências prejudiciais do seu beber. As coisas que o "facilitador" faz por amor, preocupação ou medo do alcoólatra só servem para ajudar o bebedor a evitar a dor, o embaraço ou o sentimento de cul pa que ele precisa sentir para ser moti vado a parar de beber. Eis algumas das maneiras que côn juges, colegas de trabalho, empregado res e até profissionais de saúde "fa c ili ta m " a progressão do beber do al coólatra. T Cônjuges facilitam quando: • mudam seus próprios hábitos pa ra acomodar o hábito de beber do alcoó latra. Por exemplo, quando o alcoólatra demora no bar e chega em casa atrasa do para jantar, a facilitadora corre para a cozinha para esquentar sua comida. • se responsabilizam por acordá-lo de manhã quando estiver de ressaca, pa ra assegurar-se que chegue ao serviço em tempo. ® cuidam dele toda vez que seu be ber o deixa doente. Limpam a cama, sua roupa, o chão e o próprio alcoólatra quando vomita. ® consolam-no quando se sente cul pado por algum problema que criou de vido a seu beber. * • ajudam-no a justificar suas bebe deiras e a mentir para seu empregador, amigos e até filhos. Colegas de serviço facilitam quando: • encobrem os erros, comporta mento anormal e mau desempenho do al coólatra que está alcoolizado ou ressacado. • bebem junto com ele e depois o levam para casa quando não consegue chegar sozinho. Empregadores facilitam quando: e permitem que um empregado com um padrão consistente de ausências fre qüentes continue faltando ao serviço sem ser investigado. • diminuem a carga de trabalho de um funcionário suspeito de ter um pro blema de bebida, transferindo-o para ou tro menos estressante. P rofissionais d e S a ú d e fa cilita m quando: » fazem um diagnóstico baseado em fatos apresentados exclusivamente pelo dependente, sem consultar sua fa mília. 9 interpretam o abuso de álcool co mo sintoma de outro problema quando provavelmente se trata da doença primá ria do alcoolisrrlo. • concentram os esforços da tera pia nas conseqüências do beber abusi vo e não no próprio beber. Isto é comum entre conselheiros matrimoniais que fi cam tentando melhorar a comunicação entre os dois casados o i^ - jo suas dis cussões quase sempre se iniciam por es tar um deles embriagado. • receitam tranqüilizantes ou outras drogas para ajudar o dependente a con viver com seus problemas. Desde que a Chácara Reindal abriu suas portas, nove anos atrás, temos si do visitados por não sei quantas famílias aflitas. Alguém da família bebe demais e os que nos procuram não sabem o que mais fazer para ajudá-lo. "Já tentamos tudo", dizem eles. Naturalmente, eu lhes pergunto o que fizeram para ajudar o al coólatra e, à medida que vão explican do, percebo que tudo que fizeram até es se momento estava errado, fatalmente destinado a levar o dependente a beber cada vez mais ao invés de levá-lo a que rer parar de beber. E toda vez que conversava com uma família destas, acabava sempre pensan do: "Que pena! Como faz falta no Brasil um livro dirigido aos familiares dos alcoó latras” ! Agora, finalmente, esse livro apare ceu. Publicado pelas Edições Paulinas e entitulado: "Alcoolismo — O Que Você Precisa Saber". Ele pode ser adquirido ou nas livrarias das Edições Paulinas, ou através da revista AVE MARIA, ou por intermédio da Chácara Reindal. Recomendo o livro por duas razões. A primeira é que, sinceramente, acho que irá esclarecer e ajudar muitas famí lias que sofrem por conviver com um al coólatra. A segunda é que ele engloba, com mais detalhes, todos os artigos que têm aparecido na revista AVE MARIA, já que fui eu quem os escrevi. a v e m a ria 31 mam m l ib iít ip d © m c g o lc s m o D o n ald L azo Um simples gesto quando motivado pelo Espírito Santo desencadeia outros milhares de gestos bons que constroem um mundo melhor. uando era criança, eu passava os @„verãos em umjpequeno povoado nos Estados Unidòs, cham ado N or folk, no Estado de Connecticut. Lá, em 1940, tornei-me amigo de uma menina cham ada Pinky que eu consi derava a menina de m aior sorte do mundo. É que o pai dela não só era muito simpático mas tam bém milio nário (em dólares) e, mais do que is so, ele havia casado com um a mulher (a mãe de Pinky) que era igualmente simpática e também m ilionária. Ti nham tudo para ser pessoas felizes e criar filhos felicíssimos. Mas Pinky não teve tan ta sorte, não. Am bos os pais m orreram de alcoolismo antes de chegar aos 45 anos de idade. As sim, Pinky herdou todos os seus milhões, mas também herdou o seu alcoolismo. Só que Pinky se recupe rou de seu alcoolismo em Alcoólicos Anônim os. Dois anos atrás, Pinky soube que eu pretendia levar minha esposa Sô nia e minhas duas filhas aos Estados Unidos, e convidou-nos a passar al guns dias em Norfolk, na sua casa de hóspedes. Sim, eu disse casa de hós pedes. Pinky não tinha um quarto de hóspedes em sua casa. Tinha uma ca sa de hóspedes — com piscina, mesa de bilhares, piano, órgão, banheiras submersas — na sua propriedade. Na nossa primeira noite nessa ca sa de hóspedes, quando fui deitar, descobri que Pinky havia deixado um livro na mesa ao lado de minha cama. O autor do livro era um fam o so juiz de direito norte-am ericano, e o título do livro era “ A AGONIA DO ALCOOLISM O E COM O ME LIBERTEI D ELA ” . Comecei a lê-lo e não consegui dorm ir até term iná-lo, lá pelas duas horas da m anhã. Tinha trechos que me fizeram rir e outros que trouxe ram lágrimas aos meus olhos. No li vro, cheio de lições espirituais m ara vilhosas e anedotas em ocionantes, o juiz conta como superou o alcoolis mo através das coisas que aprendeu com seus companheiros de Alcoóli cos Anônimos. No dia seguinte, na mesa de café, li trechos do livro para minha esposa. Ela disse: “ Donald, esse livro precisa ser traduzido para o português. Você já pensou quantos membros de AA e Al-Anon poderiam se beneficiar com os seus ensinamentos? Já pensou quantas famílias, que vivem a agonia do alcoolismo, encontrariam alívio nas suas páginas?” Quando chegamos de volta ao Brasil, escrevi à editora do livro nos Estados Unidos para pedir os direi tos autorais para o Brasil. A resposta à m inha carta veio do próprio juiz! Nela, ele me cedeu os direitos, gra tuitam ente, dizendo-me que havia es crito o livro em gratidão ao AA pela sua sobriedade. Poucos meses depois, internou-se na Chácara Reindal um dos maiores advogados de São Paulo. D urante sua estada conosco, sabendo que ele gostava de ler e entendia o inglês per feitam ente, emprestei-lhe ó livro do juiz. Ele gostou tanto que m andou sua esposa lê-lo. Q uando ela term i nou, prontificou-se á traduzir o livro para nós, também gratuitam ente. Q uando Guiom ar term inou a tra dução, a esposa de outro paciente nosso leu a tradução e im ediatam en te ofereceu-se para datilografar o li vro inteiro, um trabalho ao qual de dicou várias horas por dia e term inou em menos de um mês. Levei o m a nuscrito, então, às Edições Paulinas que, devido a seu rico conteúdo espi ritual, concordaram em publicá-lo. É assim que o Espírito Santo tra balha. Foi assim que um gesto bonito de uma alcoólatra norte-am ericana (deixar o livro ao lado de m inha ca ma) se transform ou em um a bela lei tura para toda família brasileira que sofre com o problem a do alcoolismo. Um juiz de direito, que se recupe rou do alcoolismo, escreveu o livro em gratidão. A esposa de um advoga do paulistano, que também se recupe rou do alcoolismo, traduziu o livro em gratidão. O utra esposa de outro alcoólatra, que tam bém se recuperou do alcoolism o, datilografou o livro por eratidão. Sob o título “ COM O ME LIB ER TEI DO A LCO O LIS M O ” , o livro se encontra na Livraria “ Ave M aria” , nas livrarias das Edi ções Paulinas e na Chácara Reindal. Q uando você ler o livro, com preen derá por que m inha esposa achou que deveria ser colocado à disposição das famílias brasileiras que vivem com o problem a do alcoolismo. Deve ter despertado um sentim ento de gra tidão dentro dela, tam bém . Afinal, seu m arido tam bém se recuperou do alcoolism o, graças ao mesmo Deus que ajudou o juiz, autor do livro. --------------------------------------------- C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua meihor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 S ão Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) v _ ______________ -_______________ y ove m o r /c 31 (Se fiver um bebedor-problemo em sys família) D onald Lazo (Diretor da R E IN D A L ) xiste, no Estado de Michigan (EUA), um centro de tratam en to cham ado “ Guest House” (Casa de Hóspedes) para sacerdotes que so frem do alcoolismo. (O fato de o alcoolismo ser um sério problem a de saúde entre padres norte-americanos é mais um a prova de que, como a diabetes, o alcoolismo é um a doença respeitável, de origem orgânica.) Alguns anos atrás tive ocasião de escrever p ara o diretor desse centro para fazer-lhe algumas perguntas. Junto com sua resposta, ele teve a gentileza de me enviar — como pre sente — o livro mais fascinante sobre o alcoolismo que eu li até hoje, inti tulado “ The Emerging, Comprehensive Concept of Alcoholism” (O Con ceito Emergente, Compreensivo do Al coolismo), escrito pelo conhecido pes quisador e psicólogo clínico James R. Milam. Obviamente, não fui o único que pensei: “ Eis aqui, pela prim eira vez, alguém que sabe realmente o que é alcoolismo” . Esse livro, escrito em linguagem relativamente técnica e sem o benefício de m arketing, pro paganda ou patrocínio de um a edito ra, já vendeu mais de 50.000 exem plares. A dem anda e aceitação das idéias de M ilam foram de fato feno menais. Poucos meses depois, m inha es posa e eu fomos aos Estados Unidos e fizemos questão de procurar o autor. Na conversa, quando pedi ao Dr. Milam permissão para publicar seu livro no Basil, ele me sugeriu aguar dar. Ê que ele estava reescrevendo o livro com um a jornalista, em lingua gem bem mais simples e clara, p ara o público leigo. Aguardei, com a im paciência que me é característica, sabendo que esse livro provocaria uma im portante e necessária discussão dos conceitos de alcoolismo que se têm no Brasil e que orientam os tratamentos aos quais são submetidos a maioria dos alcoóla tras neste País. 2 4 a v e m a r ia — a relação da hipoglicemia no alcoolismo e no processo de recupe ração; — por que certas drogas usual m ente prescritas para alcoólatras são perigosas — e algumas vezes fatais; — um a orientação específica para levar um alcoólatra ao tratam ento, bem como um program a modelo de tratam ento; — o profundo im pacto causado na família do alcoólatra e como os membros da família podem ajudar-se m utuam ente e tam bém ao alcoólatra; — que m udanças devem ser feitas nos program as sociais, nas pesquisas e na própria classe m édica de modo que o alcoolismo seja reconhecido e tratado pelo que na verdade ele é: um a doença fisiológica, não um a fra queza psicológica” . Quero anunciar agora que esse livro finalmente saiu e já está dispo nível, em português, no Brasil. O título do livro em português é “AL COOLISMO — Os Mitos e a Reali dade” . Os autores são James R. M i lam e K atherina Ketcham. A orelha da capa explica: “ Ainda que exista um a substancial quantida de de fatos científicos, muitos mitos continuam a distòrcer nosso conceito de por que um a pessoa se torna um alcoólatra — tal como o pensamento de que um alcoólatra é um a pessoa emocionalmente fraca. A L C O O L IS M O __Os M itos e a Realidade elimi na o estigma de culpabilidade do al coolismo e proporciona um a clara e fácil explicação sobre: No prefácio da edição norte-am e ricana, Mel Schulstad (co-fundador e ex-presidente da Associação Nacio nal de Conselheiros em Alcoolismo) disse: “A L C O O L IS M O _Os mitos e a Realidade fará avançar em anos-luz o entendim ento do alcoolismo e o processo de recuperação. O trabalho de M ilam e Ketcham em pesquisar, docum entar e escrever este livro colo cou a todos nós como seus devedores. Esperam os que este livro lance luzes na escuridão e nos leve p ara mais perto de um entendim ento completo da moléstia do alcoolismo e, através deste novo entendim ento, alcance m i lhões de nossos irmãos homens e m u lheres que hoje estão sofrendo — e m orrendo — por causa da ignorância da sociedade” . Em bora teoricam ente disponível em todo o território nacional, sei que m ilhares e milhares dos leitores de AVE MARIA m oram em pequenas cidades onde o livro não se encontra. Estas pessoas podem adquiri-lo, es — a importância capital da nutricrevendo para Revista A VE M A R I A , ção tanto na progressão da doença Rua M artim Francisco, 656 (CEP como no seu tratam ento; 01226) São Paulo, SP. Donald Lazo sta semana recebi uma carta, rda esposa de um alcoólatra, que é tão típica da situação que vi vem milhares de mulheres neste país, que achei por bem reproduzila aqui, devidamente guardando o anonimato das pessoas envolvidas. Faço isto para que a carta seja lida por outras esposas com problemas idênticos, para que sintam que, longe de estarem sozinhas no m undo, compartilham uma expe riência extremamente comum com milhares de outras mulheres viven do com um marido cujo alcoolis mo o leva a maltratar os outros enquanto se ilude de estar bebendo igual aos demais e de poder parar a hora que quiser. Esposas nesta si tuação ficam desesperadas, mas aguentam firme (às vezes por anos e anos) e, por não entender o al coolismo, facilitam a progressão da doença do marido até que este, por fim, morre dela. E os filhos que passam sua infância e adoles cência num lar onde um dos pais é alcoólatra, são os que mais sofrem — marcados (provavelmente para sempre) pela convivência aterra dora com um fenômeno que abso lutam ente não com preendem . Prestem atenção a esta carta: “ Lendo a reportagem na Re vista “ Ave M aria” sobre o proble ma do alcoolismo e sendo eu es posa de um alcoólatra, gostaria de receber maior orientação sobre o assunto. “ Q uando nos casamos, ele be bia pouco e à medida que os anos foram passando o problema foi se agravando, chegando até a perder emppego. E- cada vez que isso acontece, é um motivo a mais para se afogar cada vez mais na bebida. ‘Ele é... e ganha pouco. Eu sou... e ganho pouco também, tendo que colocar todo o meu or denado no orçam ento da casa. “ Temos uma filha com ... anos (adolescente) e ela agora está se re voltando com o ambiente de bri gas dentro de casa. Nossas brigas são horríveis e quase que diárias. “ Q uando ele não bebe ele tem um grande amor por nós, nos tra ta com muito carinho e sempre promete parar de beber, mas isto dura alguns dias ou às vezes pou cas horas. Estando embriagado, ele nos odeia e a ele também. “ Eu estou sentindo que não tenho mais forças para viver. Pre ciso de ajuda de alguém. Já tentei ajudá-lo. Fizemos encontro de ca sais. Uma vez consegui que ele frequentasse reuniões de AA mas foram só umas duas ou três sema nas, depois desanim ou. “ Já conversamos m uito sobre o assunto, sentados à mesa de casa em diálogo amigável, mas ele não aceita que o nosso problem a seja porque ele bebe demais. Ele diz que o nosso problem a é a falta de dinheiro. Ele age assim justamente porque a partir do momento em que adm itir que precisa parar de beber, terá de fazê-lo. “ Eu estou com esgotamento nervogo, muito abalada e ando fa lhando nas minhas obrigações em casa e também no meu serviço. Es tou fazendo uso de calmantes por ordem médica. Estou desesperada e penso que a única solução seria uma separação, m uito em bora eu não esteja preparada psicologica mente para isso, pois sei que uma separação definitiva entre um ca sal traz conseqüências dolorosas e profundas para todos. Não sei co mo vocês poderão me ajudar mas peço, pelo amor de Deus, façam alguma coisa” . Há coisas que podem, e devem, ser feitas — pela própria esposa. Mas prim eira é necessário enten der o alcoolismo. As Edições Paulinas acabam de publicar um livro para esta esposa, e para as milha res que, neste instante, estão na mesmíssima situação que ela. O li vro se cham a “ COMO PR O C E DER COM O ALCOÓLATRA” , e pode ser obtido nas livrarias das Edições Paulinas espalhadas pelo Brasil, ou através da Revista AVE MARIA. Mas não adianta ler o li vro sem colocar em prática os conselhor nele contidos. Pois a ado ção de medidas acertadas, por parte da esposa do alcoólatra, fará com que ela se sinta cada vez me nos desesperada, os filhos se sin tam cada vez menos confusos, e o pai se dê conta de que existe uma saída para todos os seus proble mas, (parar de beber), e que deve procurar essa saída. • C 0M 0PR 0C ® ® CÇMO ij. T w erslá, g p a v ê m a r ia 2 9  banded© psra o alcoólatra D o n ald L azo (D iretor da REINDAL) Não deu outra. Três semanas r cabo de ler um livro escrito L _jC\Lpelo D r. Abraham Twerski, depois, a uma hora da m anhã, re diretor clinico do Departamento de cebeu a chamada. Ele poderia ter Psiquiatria do Hospital Geral St. recusado a admissão pelo telefo Francis em Pittsburgh, Pennsylva- ne. Ao invés disso, levantou-se da nia (EUA). O livro se chama can^a, vestiu a roupa e foi até o C AU TIO N — “Kindness” Can hospital. Apesar das implorações Be Dangerous to the Alcoholic” da mulher, ele foi firme em recu (“ CUIDADO — A “ Bondade” sar sua internação. M andou a mu Pode Ser Perigosa Para o Alcoó lher embora. Depois, passou o res to da noité acordado. Não conse latra” ). No prefácio do livro, o autor guia dormir, pensando na mulher psiquiatra lembra o caso de uma e onde ela poderia estar. N a m a mulher que foi internada repetidas nhã seguinte, ligou para seus fami vezes em um hospital para ser de liares para saber dela. sintoxicada. Averiguações por Dr. Twerski enfatiza que há parte do médico revelaram que a uma diferença muito grande entre mulher nunca havia seguido o pla m andar uma mulher embriagada no de seguimento pós-internação em bora de uma sala de emergência recomendado por ele. Toda vez pelos motivos explicados acima, e em que ela recebia alta de uma de recusar a tratar alcoólatras “ por sintoxicação, voltava à sua vida que nós não queremos bêbados rotineira, que incluía beber de vez aqui dentro” . Ele não simpatiza em quando. em absoluto com os hospitais que Tornou-se óbvio para o medi se recusam “ sujar suas mãozinhas do que ela se permitia voltar a be brancas com pessoas embriaga ber porque sabia que, quando fi das” , como ele mesmo o coloca. casse doente por causa da bebida, Ele acha que talvez o melhor teste sempre poderia procurar o Dr. seja o seguinte: se você não se sen Twerski. Ele restauraria sua saúde tir mal e preocupado ao m andar e a faria sentir-se bem de novo. um alcoólatra embora, então você Dr. Twerski percebeu que ele se não tem o direito de fazê-lo. havia tornado parte do sistema de O Dr. Twerski não estranhou apoio à crescente dependência da absolutamente nada que a mulher mulher. Havia-se tornado parte acabou se preocupando consigo do problem a em vez de parte da mesma. Quando escreveu seu livro, solução! ela já estava sóbria há quatro P ortanto, antes de dar-lhe alta anos. do hospital, o médico explicou à Não canso de repetir: o alcoo sua paciente que, se ela não seguis lismo é uma doença diferente. Ele se suas instruções relativas ao se quebra todas as regras. O alcoóla guimento do tratamento, ele recu tra cria dependência da bebida, saria admiti-la de novo. Ele deixou mas não é um doente mental e não instruções também na sala de está fora de controle. Vai me dizer emergência, pedindo que o cha que o homem que entra no seu bo massem imediatamente, se a mu tequim predileto (estou descreven lher aparecesse aí de novo. do o caso da grande maioria dos alcoólatras) cumprimenta todos os companheiros, pede sua marca, m anda pôr dois dedos de água mi neral “ e bastante gelo” , e depois bota o troco exato no balcão — não sabe o que está fazendo? Sabe, sim. Eu fiz isso milhares de vezes. Sabe o que está fazendo e sabe que está errado. Que tem es posa e filhos e que não tem o direi to de andar gastando todo o seu dinheiro no botequim . Sabe que, quando chegar em casa, vai levar uma bronca danada. A esposa provavelm ente vai chorar de novo. Isto o preocupa. Ele carrega um tremendo sentimento de culpa pelas milhares de vezes que já fez aquilo. Mas também sabe que não vai levar mais do que um a bronca. A esposa acabará aceitando. Ela sempre acaba aceitando. Também, se o negócio engrossar, alguém sempre chegará para interná-lo de novo. Então, fica o conflito. “ Bebo ou não bebo? Realmente, não devo. Mas, poxa, um a só não vai me fazer mal. P or outro lado, se beber agora, vou gastar mais dinheiro e criar mais problem as com Silvinha” . ELE ESTÁ P E SANDO AS O PÇ Õ ES. Acaba decidindo pela bebida. Sempre. Até que as desvantagens prom e tem ser piores que as vantagens. Ou até m orrer. q ueiram ; é preciso que ele queira). E para ele querer, é necessário que as desvantagens do beber sejam para ele — e co ntinuem se p ro n u n cian d o para ele — consistentem ente m aiores que as vantagens. Felizm ente, a dependência que leva o alcoólatra a querer co n tin u ar b eb en d o tam bém lhe cria problem as crescentes de to d o tip o : problem as na fam ília, no em prego, problem as financeiros, em ocionais, psicológicos, espirituais e físicos. Estes problemas ALCOOLISMO. A “AJUDA” QUE ATRAPALHA. DONALD LAZO D urante décadas, o co m portam ento inadequado dos que abusavam da bebida — e não o fato de beber — n o rteo u a abordagem do alcoolismo. Quem abusava do álcool era considerado u m m au elem ento que m erecia ser punido pelas transgressões com etidas. Isso encerrava o assunto. N este século, graças à nova visão de alguns profissionais e à cruzada entusiasta dos m em bros da Alcoólicos A nônim os, aqueles que por beberem dem ais resultam nocivos a si m esm os e a ou tro s passaram a ser considerados doentes, não maus. D efensores do con ceito do alcoolismo com o doença argum entam que o com portam ento inadequado do alcoólatra ocorre contra sua vontade, porque ele perdeu o controle da bebida. A solução óbvia não seria evitar a bebida, tal com o a Alcoólicos A nônim os sugere a quem procura a irm andade? E quando o alcoólatra o p ta p o r não evitá-la, a conclusão lógica não seria a de que ele é m esm o u m a pessoa m á, ou pelo m enos irresponsável, já que escolhe beber sem im portar-se com as conseqüências? N ão — respondem os que consideram o alcoolism o um a doença. P orque sua falta de controle atinge inclusive sua capacidade de escolha entre beber ou evitar a b e b id a Assim, o alcoólatra vem sendo cada vez mais acolhido com o v ítim a de um a com pulsão que o condena a beber mesmo co n tra sua vontade, e o condena a exceder-se a p artir do m o m en to em que bebe. A m eu ver, os defensores do conceito de alcoolismo com o doença o levam longe demais. Se é verdade que o alcoólatra não p ode co n tro lar a bebida, e sequer a decisão de beber ou não, com o se explica que centenas de m ilhares de alcoólatras já tenham se recuperado, ab an d o n an d o a bebida? Infelizm ente, n o seu entusiasm o hum an ista ao defen d er o alcoólatra, os apologistas do conceito doença exageram ao argum entar que o alcoólatra não co n tro la a decisão de beber ou não, e que bebe c o n tra sua vontade. Isso não é co rreto . O alcoólatra com eça a beber e continua bebendo porque é essa sua vontade. E tam bém p o rq u e sabe que, m esm o que beber o leve a conseqüências negativas para si e o u tro s, sem pre haverá alguém p o r p e rto p ara resolver os problem as causados pela bebida e ju stificar o beber exagerado. É preciso en ten d er que essa doença não consiste em absoluto n a perda de controle sobre a escolha de beber ou não, e sim na perda da vontade de co n tro lar a beb id a q u an d o já está no corpo (ou na cabeça) d o alcoólatra. Ou seja, q u an d o com eça a beber, o alcoólatra perd e a von tad e de parar e, p o rtan to , co n tin u a bebendo. Mas, antes de com eçar, ele pode decidir beber ou não. Se o alco ó latra parece optar sem pre p o r beber é p o rque, em prim eiro lugar, n ão sabe que é alcoólatra e que beber sem problem as, para ele, é um a im possibilidade. Em segundo lugar, isso acontece porque vive cercado de pessoas que assumem a responsabilidade pelos problem as causados pelo seu beber, de m o d o que ele nu n ca é responsabilizado pelos seus atos. (Os facilitadores fazem isto, por sinal, p o rq u e pensam que o alcoólatra bebe p o r causa desses problem as, q u ando na verdade é o contrário: ele tem esses problem as porque bebe). E fu n dam ental en ten d er a seguinte lógica: p ara se recuperar, o alcoólatra precisa p arar de beber. Para parar, é necessário que ele queira parar (não adianta que os o u tro s constituem a maior motivação para o alcoólatra querer parar de beber. P o rtan to , devem ser considerados os m aiores aliados dos que desejam salvar a vida do alcoólatra. Com exceção daqueles que constituem risco físico im ediato, nenhum destes problem as deve ser resolvido ou aliviado pelos outros. Q uando se en ten d e que o alcoólatra é u m a pessoa que está m o rre n d o devido a u m a condição progressiva e fatal, pode-se avaliar que n en h u m problem a criado pelo seu b eber é mais perigoso ou prejudicial para ele que o fato de ele co n tin u ar bebendo. O conceito de alcoolism o com o doença gera u m a piedade que, até certo p o n to , o alcoólatra m erece. Mas os que sentem piedade dele tendem a resolver ou atenuar seus problem as e, agindo assim, tiram -lhe a m otivação para querer parar de beber. P o r isso, cham am os estas pessoas de facilitadoras. Porque facilitam a progressão da doença que está levando o alcoólatra à m orte. O que se deve fazer é explicar ao alcoólatra que a sua é u m a doença respeitável, porém progressiva e fatal se n ão parar de beber, e que ele m o stra os sintom as da doença. Deve-se explicar-lhe que a solução é parar de b eb er e que isso não é difícil se aproveitar a ajuda disponível (tra ta m e n to ou AA, ou, m elh o r ainda, tratam e n to e AA). D adas essas explicações, o alco ó latra precisa ser responsabilizado para que decida se vai parar de beber ou se vai sofrer todas as conseqüências (salvo, repito, as que constituem perigo físico im inente) de seguir bebendo. A p artir desse m o m en to , não se deve ajudá-lo de form a algum a até que m ostre — com ações e palavras — o desejo de ab an d o n ar a bebida. E D onald Lazo, alcoólatra recuperado, dirige com a esposa, Sônia Maria M anelli, a Oiúcara R eindal - Recuperação Integral do D oente Alcoólatra. Convém resolver os problemas do alcoólatra? D o n ald L azo (Ou seria melhor deixá-lo sofrer as conseqüências do seu beber?) o é um círculo vicioso. D alcoolism Sua causa é o beber, pois, sem o beber, um a pessoa não se to rn aria al coólatra. N o entanto, nem to d a pes soa que bebe desenvolve o alcoolis m o. Só um a em cada dez pessoas que bebem en tra no círculo vicioso. O círculo vicioso é fácil de descre ver. A pessoa experimenta a bebida alcoólica e aprende que um drinque o faz sentir-se bem , dois drinques me lhor ainda e três drinques m uito m e lhor. Descobre que este efeito ocorre sem pre. N ão dem ora m uito para a pessoa com eçar a procurar o efeito. É o início da dependência. É a sua dependência progressiva que leva o alcoólatra a beber cada vez m ais, criando o círculo vicioso ao qual me refiro. Um gráfico ajuda a entender. BEBER— > Benefícios—»D ependência t J Este gráfico basta para descrever o alcoolism o. O alcoólatra é benefi ciado porque bebe. Cria dependência porque é beneficiado. E ntão, bebe porque criou dependência. O proces so é progressivo e (por ser o álcool um tóxico), no fim, fatal. A única m aneira de deter a progressão do al coolism o e pôr fim ao processo do círculo vicioso é parar de beber. Se ab an d o n ar a bebida — totalm ente e para sem pre — , o alcoólatra se recu pera. Se voltar a beber anos depois, en trará de novo no círculo vicioso e co n tin u ará sua cam inhada em dire ção à m orte. M as há um fator adicional que não está neste gráfico. É que, além de levar o alcoólatra a beber mais ainda, a dependência tem um segun do efeito. Ela gera problem as para o 'alcoólatra (ou não permite que ele re solva os problem as que surgem n o r m alm ente). Assim, o gráfico poderia ser com pletado da seguinte form a: BEBER— »Benefícios— »Dependência 1*f 1 «r ^ V — ---- — ------------------ PRO BLEM A S Que tipos de problem as são cria dos pela dependência? Bem, todo tipo de problem a. Porque dependência significa um relacionam ento muito especial entre o alcoólatra e sua gar rafa. Já que ele dá cada vez mais prioridade à bebida (e cada vez m e nos atenção a sua esposa, seus filhos, seu emprego, suas responsabilida des), fatalm ente a dependência leva a problem as financeiros, familiares, m orais, físicos, emocionais e psicoló gicos. É aqui que entra em jogo a ce gueira parcial da sociedade. A socie dade não sabe que o alcoolism o é o círculo vicioso descrito no prim eiro gráfico e não vê as partes mais im portantes do círculo, ou seja, os be nefícios que o alcoólatra obtém e a dependência à qual eles levam . Os benefícios e a dependência são invisí veis. As únicas coisas que são visíveis aos demais são o beber do alcoólatra e seus problem as. A sociedade vê um a pessoa cheia de problem as que está bebendo m uito. Quer dizer, só vê esta parte do gráfico: coólatra, pois lhe serve com o justifi cativa para beber. Ele fará tudo para fortalecer essa conclusão. As conseqüências de ver, nos p ro blemas que o alcoólatra tem , a ex plicação de seu beber, são desastro sas, pela seguinte razão: o alcoólatra só se recuperará se p arar de beber; salvo em raros casos, só p arará se se tratar; só se trata rá, caso se sinta m o tivado a isso; e só se sentirá m otiva do, se as desvantagens do beber (exa tam ente os “ problem as” do gráfico) são superiores às vantagens (os “ be nefícios” do gráfico). Mas todos os que cercam o alcoólatra acham que esses problemas são a causa do alcoo lismo e que devem ser amenizados! E é exatam ente o que procuram fazer, por anos a fio: am enizar os problem as que consideram a m otiva ção do beber do alcoólatra. (Volto a esclarecer: os problem as são conse qüência do beber e não a causa. São, isto sim, um a bela justificativa para beber, usada inclusive pelo alcoóla tra p ara “ explicar” porque ele bebe demais.) Tragicam ente, os outros acom panham essas justificativas, concordam com o “ coitado” , se em penham em elim inar os problem as, e, ao eliminá-los, ELIM INAM P R E CISA M EN TE A Q U ILO QUE LE V A R IA O A L C O Ó L A T R A A A CEITA R O TRATAM ENTO DE QUE PREC ISA . R esultado: o alcoólatra não sofre as conseqüências do seu beber, não sente m otivos para parar de beber, recusa tratam ento, continua beben do e acaba m orrendo. s JtHn CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo BEBER t Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. ------------------------------------ PRO BLEM A S Quem vê só aquilo não irá enten der o que está acontecendo. Conclui rá, naturalm ente, que os problem as são a causa do beber do alcoólatra; um a conclusão absolutam ente errada. Mesmo assim, é um a conclusão ex trem am ente conveniente p ara o al V Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) ________________ / ave maria 29 CONVÉM MIMAR O ÂLCOÓLÂTRÁ? D o n ald L azo (D iretor d a Reindal) O que devemos fazer é levar o alcoólatra a aceitar um tratamento. um folheto que traduzi anos atrás e na seqüência de artigos que venho escrevendo para os leito res de AVE M ARIA, tenho sugerido desam parar ao invés de am parar, proteger e constantemente “ quebrar os galhos” do alcoólatra, com o in tuito de levá-lo a tom ar a sério sua necessidade de abandonar a bebida. Seria temerária esta atitude? Em junho, um a revista disse: “ Um a pes soa em crise pode eventualmente se recuperar, mas é bem mais possível que afunde na depressão. Assim, o individuo que já não conta com apoio psicológico da família, que perde o emprego, etc. pode, em lugar de salvar sua vida, tentar acabar com ela” . Não concordo. As pessoas pen sam em acabar com suas vidas quan do nâo vêem qualquer solução para seu problema; quando sentem que to das as saídas estão fechadas. Mas esse caso não se aplica aos meus conse lhos. Estava implícito, naquele folhe to e nos meus artigos (pelo menos, as sim espero), que há uma saída e que isto deve ser dito ao alcoólatra em ter mos mais ou menos assim: “ Há uma saída: tratam ento. Se você se tratar, lhe daremos todo o nosso apoio. Con tudo, se você não aceitar tratam en to, terá que se virar sozinho daqui por diante” . Os Alcoólicos Anônimos têm a sua maneira de dizer algo pare cido. Eles dizem: “ Se você quer beber, o problema é seu. Se quiser pa rar de beber, o problema é nosso” . Nos-Estados Unidos aprenderam a ir bem mais longe. Hoje os empre gadores e os familiares de um alcoó latra estão sendo treinados a se reu nir com ele e colocá-lo contra a pare de. O empregador lhe diz: “ Alfredo, queremos vê-lo bem de novo. P or is so, estamos oferecendo-lhe um trata m ento. Se você aceitar, a empresa pagará o tratam ento e seu salário en quanto estiver internado. Mas, se vo cê não aceitar, será dem itido” . E a esposa acrescenta: “ Eu também que ro vê-lo bem porque o am o verda deiramente. Mas não podem os conti nuar deste jeito. P ortanto, se você não se tratar, eu vou em bora com as crianças” . Dada essa opção, 99 alcoólatras em 100 aceitam o tratam ento, mesmo com relutância. Nâo faz mal que seja com relutância. Cabe ao centro de tratam ento convencer o alcoólatra de que ele é alcoólatra, de que precisa parar de beber e de que, para isso, es tá no lugar certo. A grande barreira em alcoolismo é a de levar o alcoólatra a aceitar um tratam ento. Ele vive dizendo: “ Eu bebo quando quero e paro quando quero” (só a prim eira parte é verda de); “ Não preciso de ajuda — eu p a ro sozinho ... am anhã” (nenhuma parte é verdade). Raramente um alcoólatra aceita tratam ento. E raram ente, sem trata m ento, conseguirá abandonar a bebi da. Sozinho não irá parar. Vai beber até m orrer. E m uito antes de m orrer, todos os que convivem com ele vão querer vê-lo m orto. Porque viver com um alcoólatra é um inferno. Parece-me que o que a revista não tom ou em conta é que não há al ternativa para essa atitude aparente m ente temerária. Estam os falando de um dependente de um a droga. Se você continuar tirando o alcoólatra de seus apertos, cobrindo seus che ques sem fundos, telefonando para seu chefe para dizer que ele não irá trabalhar hoje porque está gripado, etc., ele continuará bebendo, dizen do e achando que a bebida não lhe faz mal. C ontinuará bebendo e pio rando, ficando cada vez mais depen dente do álcool. Vai chegar a hora em que fatalm ente perderá o empre go. E continuará bebendo, dizendo agora que é porque perdeu o em pre go. Mais adiante ele perderá a fam í lia. E continuará bebendo mais do que nunca, dizendo que é porque perdeu a família. No fim, acabará m orrendo — ou por um acidente, ou por cirrose ou por suicídio mesmo. E será porque ninguém quis magoá-lo ou tratá-lo “ m al” enquanto ainda havia chance de levá-lo a um tra ta m ento. ® . ----------------- ^ _ C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcooiism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Posía! 20.895 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V _______________ ,_______________J o v e m a r ia 2 7 A LC O O LIS M O O caso do marido imaginário por Stephanie Abbot uitos casamentos que resistem a anos de alcoolismo ativo não consegjem sobreviver à sobriedade, porque cepois que o alcoólatra pára de beber asscobrem-se incompatibilidades que o beber havia mascarado. O cônjuge coaicoólatra percebe que a nova personaziade do marido em nada se assemelha ao ideal imaginado. Assim, ela vê seu . erdadeiro marido como se fosse um vi sitante passageiro, que logo será subs: tuído pelo ideal imaginado. E continua . vendo uma vida sonhadora, da manei ra que fazia quando o marido bebia. Recentemente, por exemplo, uma cíiente sentada na minha frente no con sultório parecia quase eufórica quando começou a descrever sua vida com o marido. "É um pai maravilhoso e um óti mo marido, quando não está bêbado'', disse ela. "A s crianças o adoram e ele realmente me ouve é gentil e se preocu pa comigo.'' Mas aí ela passou a descrever os particulares da situação em sua família: seu marido raramente se encontrava em casa porque passava a maior parte do seu tempo livre nos bares. E quando es tava em casa, geralmente estava dor mindo. Ela se havia adaptado a este comportamento, tomando conta de to dos os afazeres de que o marido não con seguia se desincumbir, inclusive todas as obrigações de um pai. Ao terminar sua história de como es tava convivendo com seu "maravilho so" marido alcoólatra, ela se inclinou pa ra frente e disse: "Eu o amo. Temos um bom relacionamento quando ele está só brio. Jamais poderia deixá-lo porque não quero viver sem marido". Fiquei fascinada porque me dei con ta, enquanto ela falava, que a mulher ha via criado um marido que não existia. O que ela tinha, na realidade, era um alcoó latra extremamente doente, mas havia criado a ilusão — para si mesma e para os outros — de um ser humano que fun M cionava. Na verdade, não havia marido algum nessa família. A mulher já vinha "vivendo sem marido" há muitos anos. Toda vez que um membro de algu ma família me diz que ama seu alcoóla tra "quando está sóbrio", ou então que ama seu alcoólatra mas não consegue me dar uma única razão para explicar porquê, então eu sei que eles estão vi vendo no Reino Mágico de suas imagi nações. O sistema pode se manter em equi líbrio por muito tempo — o bebedor na sua fantasia alcoólica e os outros mem bros da família nas suas próprias Disneylândias. Eles podem achar que a sobrie dade resolverá todos os seus problemas. Mas a sobriedade — se vier — tem um efeito colateral inesperado: todos os so nhadores acordam! Conversei recentemente com um marido zangado que havia marcado uma hora comigo para discutir o progresso pós-tratamento de sua esposa alcoóla tra. Embora houvesse me contado antes que se ela pudesse apenas se manter só bria não haveria problemas porque sem pre se deram bem quando ela não bebia, agora ele me dizia: "A gente briga o tem po todo, ultimamente. E ela critica tudo que eu faço". Para mim era uma história conheci da. Com freqüência, os alcoólatras são supercharmosos durante seus curtos pe ríodos de abstinência para "compensar" suas bebedeiras. Poderão não tomar par te ativa nas decisões da família, contentando-se em deixar que o cônju ge faça as coisas à sua maneira, contan to que o beber não seja ameaçado. A es posa do meu cliente havia conseguido vários meses de sobriedade participan do ativamente da Associação dos Alcoó latras e havia sido libertada do seu sen timento de culpa. Além disso, seu gru po de terapia a havia encorajado a de fender seus pontos de vista ao invés de sempre ceder. Seu comportamento ha via mudado bastante e o marido confu so não estava gostando desta "nova es posa". Mas, na realidade, esta era sua verdadeira personalidade. A esposa imagiijiária havia desaparecido para sempre. O fim do beber é apenas o início da recuperação. Somente o primeiro dos Doze Passos da AA e Al-Anon se refere •à bebida. Ainda restam onze por prati car. Os relaciomentos têm vida própria e, como os indivíduos, podem demorar para se restabelecer. Contudo, restabelecer-se-ão mesmo, se os envolvidos ti verem a coragem para tentar e o amor para perseverar. Quando partem as pes soas imaginárias, entram em cena pes soas reais. • Senhor, o nosso coração está inquieto... " (S ^ A g o g tin h o l Você não está inquieto? inquieta? Jovem, qual o seu ideal? VIDA RELIGIOSA AGOSTINIANA: * Vida de oração ® Comunidade Fraterna • Serviço ao povo de Deus: evangelização, educação, promoção humana, missão, CEBs. INFORMAÇÕES EM NOSSO SECRETARIADO VOCACIONAL Irmãs Agostinianas Missionárias Padres Agostinianos R. Eng. Figueiredo, 31 - Vila Mariana 04012 - São Paulo - SP Fone: (011) 571-8959 a v e m a r ia 31 Um bí@¥@programa para orientar familiares de alcoólatras D o n ald L azo É preciso tomar medidas construtivas para reequilibrar o lar e levar o marido ao tratamento de que tanto precisa. uitas pessoas perguntam por que as esposas de alcoólafras se sujeitam a tanto abuso, durante tan tos anos, por parte de seus maridos. Percebendo o quanto seus filhos estão sendo prejudicados pelas atitudes e o com portamento do pai, por que não pegam esses filhos e vão embora? Parte da resposta, sem dúvida, está no fato de ser o Brasil, com o to do país latino que conheço, ainda um país dos homens, onde o lugar da mulher, em grande parte, continua sendo a cozinha, e sua principal tare fa a de cuidar dos filhos. Desde o berço a mulher latina é treinada a aceitar esse papel. E, se o marido be be demais, apronta e, às vezes, fica violento, quem é ela para fazer algo a respeito? Ela ainda está condicionada a aceitar o papel de vítima sofrida e inoperante, “ carregando a sua cruz” até onde for necessário. Além do mais, quando ela aceitou seu cônjuge “ como legítimo esposo” , ela prom e teu “ amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza” . Uma mulher que fez esse voto de lealdade não dei xa de lado o sacramento do m atrim ô nio tão facilmente, nem deve fazê-lo. H á outro fator interessante. Re cebo muitas chamadas de mulheres casadas com alcoólatras. Falam , às vezes, durante cinco a dez m inutos sobre as am arguras que estão sofren do, nas mãos de seus m aridos. As histórias que contam são de arrepiar, 'mormente quando o alcoólatra já chegou ao estágio da violência. Fre qüentemente, interrompo e pergunto: “ Dona Helena, posso fazer-lhe um a pergunta? Por que a senhora aceita esse abuso todo?” A resposta é inva riavelmente esta: “ Porque eu am o meu m arido. Quando não bebe, ele é um san to !” Essas esposas obviam en te vivem na esperança de que algum M dia o m arido decidirá, espontanea mente, abandonar a bebida e virar santo de uma vez. E mesmo que se lhes explique que só um em mil irá abandonar a bebida por conta pró pria (e nenhum se tornará santo co m o conseqüência!), elas viverão — se aquilo se pode cham ar de vida — com a esperança de que seu m arido será esse um. Existem outras razões. Algumas esposas dizem que não abandonam o m arido “ por causa dos filhos” . Não querem que os filhos cresçam sem pai. Esse é um dos poucos argum en tos que, para m im, não tem qualquer fundam ento. Porque eu sei que os fi lhos de um alcoólatra são mais p reju dicados do que ajudados pela convi vência com ele. (Em futuros artigos, pretendo escrever sobre as desastro sas conseqüências do alcoolismo pa ra os filhos de um alcoólatra que, anos mais tarde, ou acabarão sendo alcoólatras eles mesmos, ou então — em núm ero surpreendente — acaba rão casando com um alcoólatra. E, em todo caso, serão pessoas desequi libradas.) Claro que a solução p ara o alcoo lismo de um m arido não é pegar e abandonar o hom em . A final, ele é de fato um a pessoa doente, em termos. A solução é tom ar medidas constru tivas para reequilibrar o lar e levar o m arido ao tratam ento de que tanto precisa. Acontece que os mesmos fatores que inibem a esposa de abandonar um m arido que abusa da bebida e de la, tam bém impedem que ela tome medidas construtivas p ara resolver o principal problem a de sua vida. Com duas agravantes: (a) ela invariavel mente pensa que não h á solução defi nitiva para o alcoolismo (o que está m uito longe da verdade); e (2) ela não tem a m enor idéia do que deve fazer. R esultado: em 99% dos casos, a situação continua piorando até o alcoólatra finalm ente m orrer e dei xar a fam ilia descansar em pesarosa paz. Esta situação desesperadora é su portada, na m inha estim ativa, por um a em cada três famílias brasilei ras. No m ínim o, 30 milhões de brasi leiros estão vivendo, aflitos, com um alcoólatra n a fam ília, sem ter a quem recorrer. Essa situação vai m udar. Em m arço deste ano, a' C hácara Reindal inaugurou o primeiro Program a Resi dencial Familiar no Brasil, modelado nos que vêm florescendo, nos últimos anos, nos EUA. Baseia-se na certeza de que, se alguém de sua família bebe demais, VOCÊ precisa de ajuda! O Program a Residencial Fam iliar da Chácara Reindal visa ensinar — às pessoas que têm um alcoólatra na família — como o alcoolismo afeta a todos os mem bros da família, e o que estes devem fazer para (a) voltar ao equilíbrio emocional e (b) levar o al coólatra a aceitar tratam ento. Com suas palestras e filmes, o Program a é especialmente interessante para psicó logos e assistentes sociais, e também para as pessoas que já freqüentam algum G rupo Fam iliar de Al-Anon. A judá-los-á a com preender melhor o program a de Al-A non e a estender a m ão, através da A l-A non, a outros familiares que estão buscando um cam inho. P ara m aiores detalhes, po dem escrever para C hácara Reindal, Cx. Postal 20.896, São Paulo, SP (telefone: (011) 520-9514). í ~\ C H Á C A R A REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Posta! 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V :_________ _________________ J a v e m a r ia 31 Como o alcoolismo afeta os outros membros da família. C 3 alcoólatra gostaria p o d er beber sem criar problem as p ara si e p ara os o u tros, m as não consegue. Q u an to mais ten ta, mais fracassa. Assim , acaba tendo um a baixíssim a opinião de si m esm o, achando que n ão pres ta e que o m undo seria m elhor sem ele. P o r achar-se um a pessoa sem valor, o alcoólatra é incapaz de tran s m itir um sentido de valor a seus fi lhos. A pós alguns anos, o crescente sentim ento de desvalorização c o n ta gia a fam ília inteira. Sem a ju d a ex terna, esta família com eçará a m os trar sintom as psicológicos de um ou o u tro tip o , m uitos incrivelm ente se m elhantes aos sintom as m ostrados pelo próprio alcoólatra. C om o tem p o, todos seguirão o lento cam inho da desintegração pessoal, com o indi víduos e com o fam ília. E m esm o que o alcoólatra acabe conseguindo a ju da, provavelm ente será tard e dem ais p ara evitar os sérios danos em ocio nais e espirituais causados ao resto da família. N o últim o artigo, descrevi com o o alcoolism o do m arido leva a um com po rtam en to com pulsivo e d oentio na esposa facilitadora. V am os agora passar a ver que tipos de c o m p o rta m ento são característicos dos filhos deste casal. T odo d ram a tem seu heró i, e o d ram a que vive a fam ília do alcoóla tra n ão poderia ser diferente. N o r m alm ente, é o filho ou a filha m ais velha que faz o papel de H erói. C h a m am o-lo Joãozinho. Desde q u e Jo ã o zinho se conhece por gente, ele sente que as coisas não vão bem em sua ca sa. A lgum a coisa d en tro dele faz 28 ave maria com que se sinta obrigado a corrigir o desequilíbrio, a com pensar as fa lhas d a fam ília e a sanar as m ágoas dos pais (para aliviar as suas p ró prias). É um a tarefa praticam ente im possível, m as o nosso heroizinho vai dedicar sua vida a ela. Q u a n d o ainda criança, Joãozinho com eça a olh ar, ouvir e aprender. P ercebe que papai m uda de h u m o r com b astan te freqüência. As vezes, papai é-barulhento e n ão pára de rir. Em o u tro s m om entos está com raiva e fica calado. Estas m udanças de h u m or am ed ro n tam o Joãozinho. Ele n ão entende p o rq u e papai fica assim , m as n ã o se atreve a perguntar. Ele já aprendeu que as crianças não devem fazer m uitas perguntas, pois os pais se chateiam com isso. Jo ão zin h o tam bern aprendeu que a m elhor m aneira de evitar encrencas é se c o m p o rta r m uito, m uito bem . Q u a n d o se co m p o rta m uito bem , m a m ãe o ab raça e papai o elogia. A m e dida q u e vai crescendo, certas regras — que ninguém estabelece m as que ele ap ren d e de qualquer jeito — to r nam -se claras. Jo ão zin h o aprende: • a g u ard ar seus sentim entos (sobre tu d o os ruins) para si m esm o, pois se extra vazá-los, alguém pode se m agoar; • a d a r ás pessoas o que elas q uerem , pois assim é que se evi tam situações desagradáveis; • a n ã o discutir com pessoas fo r a da fam ília as coisas que estão acontecendo dentro d a fam ília. E m elhor esconder a realidade. • a n ã o m encionar as bebedeiras do papai a quem quer que seja, se quer aos o u tro s m em bros da fam í lia. E assunto tab ú . Q u a n d o o nosso herói com eça ir à escola, en co n tra m uitas novas m a neiras de agradar. P o d e tirar n o ta A em to d as as m atérias, se esforçar nos esportes (se for atleta), can d id atar-se a tra b a lh a r n o jo rn alz in h o d a escola. A o passar a fazer essas coisas, ele ga n h a a ap rovação n ão só d a fam ília m as dos professores tam b ém . M as, a ap rovação n u n ca é sufi ciente. A lém do m ais, m esm o suas m aiores façanhas n ão m u d am as coi sas em casa. P ap ai b eb e cad a vez m ais. M am ãe sofre e se preo cu p a ca d a vez m ais. Jo ão z in h o se sente cada vez m ais incapaz de m elh o rar a situ a ção, e cada vez m ais cu lp ad o p o r n ão p o d er m elhorá-la. P a ra seus p ro fes sores e am igos, ele é um ra p az e estu d an te form idável. M as p ara ele m es m o — d en tro do seu co ração — ele está p erdendo o único jo g o q ue tem im p o rtân cia. C o n fu so e decepcion ad o , m as sem saber que m ais fazer, Jo ão z in h o c o n tin u a fazendo o papel de h eró i, até q u e a necessidade de ser b o m em tu d o se to rn a um co m p o rta m e n to co m pulsivo. Q u an d o fo r m aio r de idade já terá tido m uitos anos de experiên cia te n ta n d o ser b o m e a g rad ar os o u tro s. N ão é surpreen d en te que m uitos heróis acabem escolhendo u m a das profissões que lhes p erm i tam c o n tin u ar a ju d a n d o os o u tro s, com o a de p siquiatria, psicologia, serviço social, enferm agem ou sacer dócio. N o 'entanto, a m eta principal da vida do herói — a de sentir-se u m a pessoa de valor — p erm anecerá sem pre além d o seu alcance. N unca será u m a p e sso a to ta lm e n te realizada, e n u n ca saberá p o r que. e mente inimitável, ele é o modelo abso luto da língua árabe, sob os pontos de vista da gramática, do iéxico e do estilo. O dogma fundamental do Islam é a unicidade de Deus, expresso na fór mula: “ Não há Deus fora de Allah” . Deus enviou profetas à humanidade para ensinar a sua lei e o último é Maomé, o profeta definitivo. Jesus é tam bém um profeta. Segundo o Aicorão, eie nasceu de uma virgem, Maria, e é a Palavra de Deus, mas a sua mensa gem foi deformada pelos homens. No dia do Juízo, Deus julgará os homens e recompensará os bons com o paraíso e punirá os maus com o fo go do inferno. Além dos homens, Deus criou os anjos e os “dynn” , seres intermediários entre os anjos e os homens. Os deveres do muçulmanos são chamados os “cinco pilares do islam” . O primeiro de todos é a profissão de fé” : “ Não há Deus fora de Aüan e Maomé é o profeta de Allah” , que o muçul mano deve repetir freqüentemente. É pronunciando-o diante de testemunhas que alguém se torna oficialmente mu çulmano. O segundo, é a oração ritual recitada cinco vezes por dia na direção da Cáaba. O terceiro, é a esmola legal, que é uma espécie de imposto que o muçulmano paga à comunidade para o auxílio dos pobres. O quarto, o jejum, que dura todo o mês de Ramadan, du rante o qual o fiel não come nem bebe nada desde o nascer até o pôr do sol. O quinto, é a peregrinação à cidade da Meca, que todo muçulmano deve fazer uma vez na vida, desde que tenha pa ra isso a po|ssibilidade. A exparjsão do Islamismo é um dos prodígios da história: no espaço de um século, os muçulmanos criaram um império que ja da Ásia à Europa, pas sando pela África. Atualmente o Islamismo é a religião que mais cresce no mundo. ® Frei Reginaldo Alves de Sá, OP vi veu mais de 30 anos no Oriente (Cai ro, Istam bul e Beirute); fo i bibliotecá rio no convento dos dominicanos no Cairo. ALCOOLISMO O Comportamento dos Filhos de Alcoólatra Donald Lazo odem-se relacionar peio me nos dez tipos de comporta mento rígido e cojnpuisivo que caraterizam os filhos adultos de alcoó latras. Um dos com portam entos é que filhos adultos de alcoólatras são obri gados a fazer conjecturas sobre o que constitui o comportamento normal.  razão é que fühos de alcoólatras não têm experiência com comportamentos ■ormais, Foram criados no meio de sessoas que se comportavam anormal mente. Ora o pai alcoólatra estava só brio. sério e carinhoso, ora estava bê bado, irresponsável e furioso.  mes ma coisa acontecia com a mãe, cujas emoções flutuavam entre momentos de exagerada euforia e momentos de nrofunda fossa. Num momento, a mãe chingava um dos filhos por ele ter con tado uma mentira. “ Não quero ouvir mentiras nesta casa!” ela gritava. E cinco minutos depois, quando os fíihos podiam ver o pai jogado no sofa, aicoozado, a mãe pegava o telefone, liga va para a empresa do marido, e conta va ao chefe dele que ele “ está la enci ma na sua cama com uma gripe medo nha. Infelizmente, não vai poder traba lhar hoje.” Naturalmente, o filho fica va confuso, sem saber quando não se deve mentir e quando se deve mentir. Anos mais tarde, ao atingir a maio ridade, os filhos olham para comporta mentos que acham normais (mais que podem ou não ser normais) e tentam imitá-los. Depois se dão mai e ficam confusos e frustrados. Parece que vi vem batendo com o nariz na parede. Quando jovens, as experiências deles muitas vezes eram tão esquisitas que qualquer pessoa normal as consi deraria meio ioucas. Mas, para os fi lhos de alcoólatras, sem parâmetros - ___ P 16 a v e m a ria s e te m b ro /9 1 confiáveis, eram experiências normais. Um exemplo típico aconteceu com Cláudia uma amiga minha, filha de al coólatra, quando ela tinha seus 14 ou 15 anos de idade. Vivia numa casa fren te a um bar, onde trabalhava o pai. Uma tarde ela se encontrava em casa, sen tada na sala, vendo teievisão com seu namoradinho. A porta de entrada da ca sa, logo ao lado da sala onde estavam os jovens, estava aberta. De repente, apareceu um homem na porta, aparen temente saído do bar do outro lado da rua. Estava de sapatos e calça, mas sem camisa. Isto é, nu do cinto para ci ma. Chamou, “Tem aiguém em casa?” Cláudia levantou da sala e foi até a porta onde o homem estava parado. “ Pois não?” perguntou ela. O homem disse, “ Olha, por acaso você tem algum desodorante em ca sa?” A menina respondeu, “Tem!” e le vou o homem até o banheiro onde lhe entregou uma latinha de desodorante que pertencia a seu pai. O homem pe gou o desorante e esguichou um pou co debaixo de cada braço. Devolvendo a lata para a menina, ele agradeceu, vi rou e saiu da casa. Com isso, a meni na devolveu o desodorante ao armário do banheiro, voltou para a sala onde seu amiguinho continuava em frente do televisor, e sentou-se de novo ao la do dele. O namoradinho não estava mais vendo a teievisão. A partir do momen to que aquele homem havia aparecido na porta, o menino, um tanto assusta do e desconfiado, acompanhou da sa la os movimentos dele e da Cláudia. Depois que o homem havia saído da casa, e Cláudia havia se sentado de no vo a seu lado, o mocinho perguntou a ela, “ Você conhece aquele senhor?” Ela disse que não, que nunca o havia visto antes. Aí o menino perguntou, “ E você não achou estranho um homem desconhecido e meio pelado aparecer na porta e pedir um desodorante? Vo cê não ficou com medo?” Cláudia r e s p on deu, “ Não” . Cláudia havia mostrado um com portamento bastante comum entre muitos filhos de alcoólatras. Era um ti po de compartamento que ela conti nuaria a mostrar mesmo anos depois, quando já era adulta. Você que foi criado num ambien te onde o alcoolismo virava de cabeça para baixo a vida normal no seu lar, ain da se encontra, às vezes, tentando adi vinhar o que constitui comportamento normal? ® A vulnerabilidade dos filhos d© alcoólatras D o n ald L azo Os filhos de alcoólatras são mais inclinados à bebida devido à sua suscetibilidade genética e ao ambiente em que são criados. rianças criadas em um iar onde um dos pais é alcoólatra tem 25% de probabilidade (quer dizer, uma chance em quatro) de desenvol ver o alcoolismo elas mesmas, quan do crescerem. Se ambos os pais forem alcoólatras, os filhos terão 50% de probabilidade (uma chance em duas) de tam bém serem alcoólatras quando adultos. Duas coisas explicam a extraordi nária vulnerabilidade dos filhos de alcoólatras: sua suscetibilidade gené tica, e o ambiente em que são criados. Filhos de alcoólatras podem her dar (receber geneticamente) um ou m ais dos fatores que constituem a predisposição orgânica ao alcoolis m o. Não é todo filho que vai herdar esses fatores. Taínbém é possível her dar alguns e não outros. Mas aqueles que herdam um ou mais dos fatores que organicam ente predispõem um indivíduo ao alcoolismo, já nascem vulneráveis. Se passarem a beber (e poucas são as pessoas que nascem no Brasil e vivem uma vida inteira sem jam ais experim entar uma bebida al coólica), têm enorme chance de se tornarem alcoólatras. A segunda coisa que aum enta a vulnerabilidade dos filhos de alcoó latras é o fato de terem eles m aior probabilidade de buscar, no álcool, um alívio para seus problemas. Afi nal de contas, o exemplo está aí. Quer queiram quer não, seus pais são seus modelos. E seus pais bebem. Que tipos de problemas têm os fi lhos de alcoólatras que os levariam a buscar a falsa ajuda do álcool? Um dos problem as é que eles costumam C ter pouca auto-estim a. Não se valori zam. Isto não é tão surpreendente, porque a literatura sugere que as condições básicas que levam os indi víduos a se valorizar são geradas na infância pelos pais. São: a presença calorosa e carinhosa dos pais; uma definição bem clara dos limites de com portam ento dos filhos (ou seja, o que podem e o que não podem fa zer); e o tratam ento respeitoso. Deixe-me ser mais explícito. Para que um a criança se torne um adulto que se dá valor, ê necessário, em pri meiro lugar, que os pais estejam pre sentes nos prim eiros meses e anos da vida da criança. Estudos indicam que estar separada dos mais responsáveis pela criança por 72 horas ou mais, quando a criança tem entre 3 a 7 me ses e 3 anos, tem um efeito profundo no psíquico dela — um efeito asso ciado de perto com a esquizofrenia. P ortanto, é de suma im portância que os pais — am bos os pais — estejam juntos aos filhos o quanto mais pos sível, nessa idade. E não preciso di zer que os pais alcoólatras tendem a estar ausentes. Mas, não é só estar presente. É necessário tratar os filhos com muito respeito e calor. S obretudo, calor fí sico (abraços e beijos). Anos atrás, descobriu-se uma tribo africana na qual existiam pouquíssim as doenças. Cientistas do m undo inteiro foram estudar a tribo para ver o que co miam para ter tan ta saúde. Descobri ram que não comiam nada de estra nho. A única grande diferença que notaram naquela tribo era que, du rante alguns anos, as crianças rara mente pisavam no solo. Eram carre gadas, o dia todo, nas costas das mães. Em outras palavras, estavam em contato físico com o corpo da mãe praticam ente 24 horas por dia. E quando a mãe se cansava, a crian ça era passada para um dos irmãos que passava a carregá-la até se cansar tam bém , quando então era passada para outro irm ão. Esse contato físico, contínuo era a razão da ausên cia de doenças nessa tribo. Como é im portante abraçar um a criança! Que falta fazem os abraços num a casa onde o alcoolismo tom ou conta! Tam bém é im portante a m aneira de se dirigir ao filho. Se os pais m os trarem grande decepção, (“ Que h o r ror! Como você podia ter feito um a coisa dessas?” ); se fizerem com para ções depreciativas (“ Por que você não pode se com portar com o sua ir m ã” ); se ridicularizarem a criança, rindo na cara dela; se estabelecerem regras inconsistentes e tiverem expec tativas irrealísticas (“ Espero que vo cê tire as melhores notas da escola” ); a criança pode se to rn ar insegura e sentir que não presta. As emoções que sentirá se m anifestarão como sentimentos de rejeição, de não per tencer, de falta de confiança e confu são, de imensa solidão. Estes senti mentos produzem reações de raiva e vergonha. A vítima se torna perfec cionista, mentirosa, gozadora. Pes soas deste tipo não se gostam, querem fugir de si mesmas, e são exatamente vulneráveis ao álcool, às drogas, ao jogo e ao exagero no sexo, no traba lho e na religião. • r. Você 6 filho d© cicoólcstra? D onald Lazo Por causa da ignorância que existe sobre o alcoolismo, todos acham que aquele membro da família que bebe demais constitui uma vergonha para toda a família. eu pai — ou sua mãe — é alcoóla tra? Caso você seja filho ou filha de alcoólatra, você está em boa com panhia. Existem, no Brasil, um míni m o de 25 milhões, e possivelmente mais de 40 milhões, de filhos de al coólatras. Você não sabia que haviam tan tos. sabia? Pois a razão que ninguém suspeita que existem tantos é que to do m undo esconde o fato de ter um alcoólatra na família. P or causa da ignorância que existe sobre o alcoolis m o, todos acham que aquele membro da família que bebe demais constitui um a vergonha para a família toda. E porque todo m undo acha que beber desse jeito é vergonhoso, você apren deu, desde pequenininho, que não se deve tocar no assunto. É aí que co m eçou tua confusão quando você era criança. “ Eu não entendo” , você se dizia na época. “ Todo dia de pagam ento, papai vinha para casa cam baleando pela rua, completamente embriaga d o ” . Os vizinhos todos podiam vê-lo. E quando chegava em casa, começava a gritaria. “ O utra vez!” gritava a sua m ãe. “ Gastou todo o dinheiro na bebida de novo?” Os vizinhos que não viam teu pai chegar bêbado cer tam ente ouviam a briga que saía tão logo pisava dentro de casa. Podia se ouvir a três quarteirões de distância. T odo m undo na tua vizinhança sabia que teu pai era um tremendo beberrão. M amãe passava o dia todo no telefone se queixando dele para suas amigas. Mas você não podia m en cionar o assunto, porque se tocava nas bebedeiras de teu pai, você leva va um a surra! S 24 avs m aria Assim, praticam ente desde o ber ço, você'estava confuso. M am ãe po dia gritar aos quatro ventos que teu pai era um bêbado terrível, mas você não podia tocar no assunto. Um dia, quando você ainda era criança, você contou sua prim eira m entirinha. E ouviu um serm ão que durou mais de uma hora. “ Não m in ta para mim, nunca, ouviu! M entir é pecado. Não quero que filhos meus aprendam a m entir, com preendeu? Agora vá para teu quarto até que eu te cham e!” E, no dia seguinte, com teu pai esticado no sofá ao lado dela, completamente bêbado, você viu tua mãe telefonando para a fábrica dele para dizer ao capatáz que teu pai ha via apanhado uma gripe forte e não iria poder trabalhar por causa da gri pe, pois o médico o havia proibido sair da cama. E outra vez você pensou, “ Eu não entendo. Quer dizer que eu não devo m entir porque é um pecado, mas m am ãe pode m entir à beça” . Quando filhos de alcoólatras se tornam adultos, um dos problem as que eles têm na vida é que se sentem inseguros. Não sabem o que é certo e errado. Eles têm m edo. Tom am deci sões erradas e sentem-se confusos. Estou descrevendo teus próprios sentimentos? Eu sei. Aliás, se você for filho de alcoólatra, eu sei muitas coisas a teu respeito, mesmo que nunca o conheci pessoalmente. Por exemplo, eu sei que quando teu pai ou tua mãe bebia até se em briagar, você costum ava se dizer, “ Quando eu crescer e sair desta casa, eu nunca vou tocar uma gota de ál cool, porque nunca quero ser como papai. Tenho nojo de bêbados” . No entanto, é provável que hoje você seja alcoólatra ou pelo menos casado com alcoólatra. Pois, por in crível que pareça, 70% dos filhos de alcoólatras — sete em cada dez! — ou se tornam alcoólatras eles mes mos ou acabam casando com alcoó latras. É espantoso o núm ero de fi lhos de alcoólatras que chegam a ca sar com alcoólatras. E se você for filho de alcoólatras, eu posso contar muitas outras coisas a teu respeito (que, aliás, é o que vou fazer nos próximos artigos). P o r exemplo, não sei se é o seu caso, mas para m uitos filhos de alcoólatras é difícil term inar os projetos que eles começam. Parece que ficam paralisa dos, não podendo tom ar as decisões que deviam. Vivem dizendo, vou fa zer isto ou aquilo. Mas acabam não fazendo. O utra: com grande freqüência mentem , quando seria tão fácil con tar a verdade. Outra: se julgam mui severamente. Eram criticados a toda hora quando eram crianças, e quan do se ouve algo constantemente, a gente acaba acreditando. P ortanto, convenceram-se que eram muito fa lhos. E continuam pensando assim, mesmo que hoje ninguém os esteja criticando. Quando adultos, filhos de alcoó latras tam bém não sabem se divertir — tom am -se muito em sério. Também querem ter relações íntimas sau- i dáveis, mas é m uito difícil para eles. í Explicarei estas e outras característi- j cas de filhos de alcoólatras em futu ros artigos. • ■ A L C O O L IS M O Renúncia de uma vida dramática S tephanie Abbott Quando estamos sentados na pla drama pode ser muito agradá ele é repugnante e que vai pedir o d i téia, podemos entender isso claramen vel, quando apresentado no vórcio. te. Porém, quando fazemos parte do :a ao ou numa novela de televisão, 0 humor de João passa da ama enredo no palco, sempre nos parece mas não somos obrigados a vivê-io. bilidade para a raiva, com contra-acuFui à ópera e assisti a uma peça sações que descrevem os defeitos de : possível que a nossa vontade prevaleonde um casal. -Siegfried e BrunnhilInês como esposa. Agora é a vez de Li | ça sobre a dos outros, ou que os ouoe, expressavam momentos de raiva, sa, que também começa a gritar, ex | tros tenham conirole sobre o nosso pressando seus sentimentos de repul 1 comportamento. auíopiedade, vingança, medo. reconc ^ação e traição — tudo resultante de sa por ambos os pais e sua vergonha 0 drama de viver com uma pessoa _~a bebida que Siegfried havia tom a em. ser filha deles. Não seria difícil vi dependente, reagindo sempre a eia, do, levando-o a esquecer que era um sualizar os três cantando seus papéis também pode se tornar um vício. Co no fecho do primeiro ato, seguido de homem casado. nheço um homem que tentou contro aplausos entusiásticos da platéia. Às famílias com parentes alcoólalar uma comilona compulsiva. Sua vi Se inês e Lisa tivessem adquirido iras conhecem bem a bebida que leva da era um desafio apenas porque ele algum grau de recuperação num pro cs bebedores a esquecerem coisas coachava que parte de sua responsabi grama dos Doze Passos, a mesma ce mo essas e que cria um tipo de excilidade de marido era manter a esposa na poderia se desenvolver de manei :ação miserável para todos os envolionge da geladeira. ra bem diferente, com muito menos v aos. Ela escondia comida. Ele a encon dramatismo. Abrir mão de uma vida dram ática trava e confrontava a mulher. 0 ho Sendo óbvio que J c '! conse •'az parte da recuperação para os mem mem gritava e berrava quando todos guirá chegar até o fim da noite, inês bros da família de um alcoólatra. Emos seus esforços se revelavam inúteis, poderia simplesmente perguntar a Li oora possamos rezar pela serenidade porque sentia-se um fracasso como sa o que eia preferia fazer: irem juntas -ecessária para aceiiar as coisas que marido. encontrar com os outros, sem João, ~ão podemos modificar, é possível No fim, quando ela decidiu procu ou Lisa ir sozinha. Poderiam explicar que não estejamos dispostos a abrir rar ajuda para seu problema, ele notou o problema aos outros. Afinal, logo es mão de todos os estímulos. Ou talvez que se sentiu desorientado por algum tariam fazendo parte da família. Pode estejamos verdadeiramente exaustos tempo. Foram necessários muitos riam resolver entrar em contato com e desejando caima, mas não sabemos “ ensaios” até ele se acostumar a seu um especialista em intervenções. Po como obtê-la. novo papel não-dramático. deriam marcar um encontro no café da Coloquemos uma cena moderna Abrir mão de uma vida teatral não manhã, em vez de no jantar. no palco para analisá-la. João é um al significa negar as verdadeiras trajéUma dessas escolhas significaria coólatra. Sua esposa, Inês, e sua filha dias da vida. Nem significa reprimir os que estariam se comportando como Usa, estão prontas para sair. Vai ser sentimentos. Significa, isto sim, reco se compreendessem que são impoten uma noite importante, porque irão jan nhecermos que parte de nosso com tes para m odificar o.utras pessoas tar com o noivo de Lisa e seus pais, portamento pode resultar da necessi mas não são impotentes para mudar oara planejar os detalhes do casa dade de sentir excitação na vida, ou seu próprio comportamento. mento. i da crença de que a nossa vontade pró Embora qualquer uma destas ce João esteve bebendo o dia todo e, pria devia dominar as dos demais. nas alternativas seria considerada a esta hora, encontra-se num desses Inês e Lisa não irão ter aquele jan bem enjoada, se fizesse parte de uma estados em que fala o tempo todo, se tar descontraído e alegre que espera ópera, este artigo é sobre a necessi repete constantemente, não diz coisa vam. Mas, também, não precisava ser dade de abrir mão do desejo de ter po com coisa e está à beira de “ apagar” . um evento para o qual se vendem en der sobre os outros e, ao mesmo tem Na falta de instrumentos para a tradas. Para os emocionalmente doen po, adm itir que eles também não têm recuperação da família, a cena pode tes. a vida calma e equilibrada parece a capacidade de nos modificar. 0 de se desenvolver da seguinte maneira, ser enjoadíssima. Para os adultos pendente não pode impedir que os nês tenta tornar seu marido sóbrio à equilibrados significa uma dádiva de membros da família se recuperem, da case da gritaria. Ela chora, procura Deus — a recompensa por se viver mesma forma que ninguém pode im convencer João a tomar café, esvazia bem. • por a sobriedade ao alcoólatra. a garrafa de uísque na pia. Diz-lhe que O n o v e m b ro /9 0 a v e m a r ia 23 1 * Como o alcoolismo afeta os outros ms-mbros da família D o n ald Lazo No alcoolismo, a facilitaçâo come ça im perceptivelm ente. À medida que o beber do m arido alcoólotra term ina — com cada vez mais frequencia — na embriaguez, a esposa facilitadora se encontra tentando arranjar explicações 22 ave maría para as crianças e passando pano quen te nos incidentes em baraçosos com os amigos. D urante m uito tem po ela des culpa o alcoólatra ou, peio menos, recusa-se a adm itir que o problem a de le é sério. Pensa ela: “ Com as pressões que ele tem no em prego, não é de estra nhar que ele exagere um pouco'nos fins de sem ana” . À medida que o beber do m arido aum enta, tam bém aum enta a doença emocional da esposa. No início, o fato dela constantem ente desculpar o com portam ento do m arido poderia ser con siderado ingenuidade da parte deia. Mas agora temos que dar um outro no me às justificativas e racionalizações inventadas pela esposa. Cham am o-las “ negação” , um sintom a caraterístico do alcoolismo, agora aparecendo na es posa! Com o tem po, o com portam ento dela se tornará tão compulsivo e previsí vel quanto o do m arido alcoólatra. A facilitadora assume seu papel prá valer a partir do m om ento em que ela decide, pela prim eira vez, assumir as responsabilidades do m arido. Em bora ela talves ainda não reconheça a gravi dade da dependência do m arido, uma coisa ela sabe: ele está ficando cada vez mais irresponsável e cada vez menos confiável. P ara que a família continue a funcionar, ela terá de assum ir a che fia. Não dem ora m uito p ara ela se en contrar fazendo o papel de m ãe e pai. Além de suas outras responsabilidades, ela passa a controlar as finanças e to m ar a m aioria das decisões da família. Neste estágio, m uitas esposas chegam a se empregar para garantir a situação econômica. E nquanto isso, ela continua prote gendo o dependente. Na segunda-feira, antes de ir para seu próprio serviço, ela telefona ao chefe do m arido para dizer que “ Joaquim pegou um a gripe dana da que o deixou na cam a” . Dessa for m a, ela consegue evitar (‘ad iar’ talvez seja a palavra mais adequada) as medi das disciplinares ou até a demissão do m arido que, na verdade, está em cama de fato, mas não com um a gripe e sim com a pior ressaca que já teve na sua vida. Na quinta-feira, ela recusará um convite para jantar em casa dos Coelho, evitando assim que os Coelho vejam o Joaquim se em briagar bem antes de servirem a comida. Ela cuida rigorosam ente do orça m ento da casa e deixa de com prar rou pa que ela e as crianças presisam — p a ra aliviar o m arido de sua responsabili dade financeira. Ela cuida dos filhos, do carro, do jardim e da m anutenção da casa, poupando o m arido da neces sidade de preocupar-se com estas obri gações ou de sentir-se culpado por negligenciá-las. Aos am igos, vizinhos e familiares — aliás, a toda pessoa que não entende de alcoolismo e de seus efeitos nos o u tros m em bros da fam ília de um alcoó latra — a esposa parece estar se desdo brando para evitar que o m arido beba demais- Ela im plora e am eaça. Joga fora toda a bebida que tem em casa. Pede para os amigos do m arido não convidá-lo m ais a ir com eles aos jogos de Futebol ou ao clube. Todos os seus esforços serão em vão, pois o que ela está fazendo, ha realidade, é possibilitando que o m ari do continue bebendo. Ela está evitandò justam ente as crises que oferecem — ao alcoólatra e à fam ília dele — a única oportunidade de m udar a situação. E m bora a carga da facilitadora seja pesada, ela tem suas recom pensas. Desde que a esposa tom ou as rédeas da família, as coisas estão andando bem , pelo menos em casa. Ela pode estar tendo, com o nunca teve antes, um a chance de m ostrar o quão capacitada ela realm ente é. N ão subestim em a si tuação. Quem m anda na fam ília agora é ela. Trata-se de um a recom pensa p o derosa, e reforça seu papel de fa cilita dora. No entanto, sua vida é longe de ser o ideal. Seus dias são longos e cansati vos. Ela agora passa pouco tem po se divertindo, e m uito tem po se preocu pando. A pesar de todos os seus esfor ços, as coisas que dão valor à vida p a recem estar se tornando cada vez mais raras. Ela se sente profundam ente res sentida pela cruz que está sendo o bri gada a carregar, e esse ressentim ento começa a aparecer. A não ser que esta facilitadora con siga a ajuda profissional de alguém que entenda de alcoolism o na fam ília, e tam bém se torne m em bro de um G rupo Fam iliar de A l-A non, ela continuará a fazer esse papel contraproducente para o resto de sua vida. 6 ALCOOLISMO (continuação) Donald Lazo : ara quem se identificar com as descrições dos co-dependentes em meus artigos — e puder ler em inglês recomendo o livro Codependent No More”, por Me:c y Beattie, publicado pela HarDer & Row, Publishers, Inc., 10 East 53rd St., New York, NY10022, j .S.A. Esse livro constitui a fonte principal — e, às vezes, frases in teiras traduzidas do original de minhas matérias sobre a co-deDendência.) — — H á muito tempo os profissionais desconfiavam que alguma coisa estra- " 2 acontecia às pessoas envolvidas com os alcoólatras. Os estudos reali zados sobre o assunto indicavam que - ~ a condição física, mental, emocial e espiritual semelhante ao alcoolismo sem o beber aparecia em muitas pes soas que conviviam com alcoólatras sem ser, elas mesmas, bebedoras pro blema. Com o tempo, os profissionais coneçaram a compreender melhor os efeitos que o alcoólatra tinha sobre sua família e os efeitos da fam ília soo'e o alcoólatra. A seguir, os profissio nais começaram a identificar outros doentes” com distúrbios que tinham aspectos em comum com o alcoolis~io: pessoas que ou comiam demais ou comiam muito pouco, jogadores in veterados, pessoas com comportamentos sexuais anormais, etc. Os pro* ssionais também começaram a notar que muita gente relacionada de perto com estas pessoas compulsivas de senvolviam maneiras de reagir a elas que se assemelhavam às reações dos cue conviviam com alcoólatras. Algu~ a coisa estranha estava acontecen do com estas famílias também. À medida que os profissionais fo ram compreendendo melhor a eo-deturbadas, pessoas que necessitam de pendência, cada vez maior número de ajuda, ou pessoas dependentes. Mas grupos de pessoas pareciam padecer um segundo denominador comum en dela: filhos adultos de alcoólatras; fa tre eles parecem ser as regras (não es miliares de pessoas com distúrbios critas e sim subentendidas) que nor m entais e emocionais; pessoas rela teiam os relacionamentos entre os cionadas com doentes crônicos; pais membros de toda fam ília. No caso de de filhos com problemas comportafamílias com dependentes e co-depen mentais; pessoas ligadas a indivíduos dentes, estas regras são contraprodu irresponsáveis; até profissionais que centes. Por exemplo, elas geralmente trabalhavam na área de ajuda, como proibem uma discussão aberta dos enfermeiras, assistentes sociais e ou sentimentos dos membros da família; tros. Mesmo alcoólatras em recupera proibem a com unicação direta e ho ção começaram a se identificar como nesta; proibem expectativas e emo pessoas que haviam sido co-depen ções que seriam realísticas e naturais dentes muito antes de se tornarem al num ser humano, como a de sentir-se coólatras. Enfim, os co-dependentes vulnerável, imperfeito, com medo ou começaram a aparecer em todos os com tristeza. Nestas famílias, as re cantos. gras subentendidas parecem proibir ter confiança nos outros e em si pró O interessante era que, quando prio, como também proibem brincar e um (ou uma) co-dependente term ina divertir-se. va seu relacionamento com uma pes Um últim o denominador comum soa perturbada, freqüentemente pro entre os co-dependentes é que sua curava outra pessoa problemática e “ doença” é propagada de geração em passava a repetir todo o seu compor geração (como se fosse um fenôme tamento de co-aependência com essa no genético), mesmo que não apare nova pessoa. Como já foi citado em ar tigo anterior, por exemplo, não é incoçam mais alcoólatras ou outros de mum ver a filha de um alcoólatra — pendentes na família. que jurou que jamais iria cometer “ o erro que mamãe cometeu, casando com um bêbádo que nem papai” — ca sar justam ente com um alcoólatra. E quando o casamento fracassar, ela é capaz de encontrar um segundo, e até um terceiro, alcoólatra e casar com CHÁCARA REÍNDAL ele. Este tipo de comportamento ou Especializada em mecanismo para lidar com pessoas alcoolism o problemáticas parece prevalecer du rante a vida inteira do co-dependente, Sua melhor chance de se a não ser que a pessoa encontre a ma recuperar do alcoolismo, e neira de mudar de comportamento e iniciar uma vida nova, queira mudar. produtiva e feliz. Um denominador comum entre os co-dependentes, como já foi explica do, é o de ter um relacionamento pes soal ou profissional com pessoas per Cx. Postal 20.896 01498 S ão Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) ^ m a io /9 0 a v e m a r ia 25 ALCOOLISMO O co-alcoolismo — não tratado — se propaga D onald Lazo livro Alcoólicos Anônimos diz que o alcoolismo é uma doença traiçoei ra, desconcertante e manhosa. Quando se lê esta descrição, logo se pensa no alcoó latra vítima. Deveria se pensar também nos fami liares do alcoólatra, pois são elés as maio res vítimas. É com eles que a doença é realmente traiçoeira, porque não se dão conta de quanto estão sendo afetados. Muitos percebem que a doença gera mu danças de personalidade dramáticas no al coólatra, ao longo dos anos. Uma pessoa que um dia foi calma, extrovertida e gene rosa acaba se tornando — com a progres são do seu alcoolismo — uma pessoa agitada ou deprimida, introvertida e pa ranóica. E na esposa do alcoólatra? Ela conti nua calma, alegre e equilibrada? É claro que não. A doença do marido é tão poderosa qüe gera mudanças de personalidade tão dramáticas nos familiares do alcoólatra quanto no próprio bebedor. Eles também se tornam deprimidos ou agressivos, me drosos ou desconfiados, dominados pelo medo, pela insegurança e pela solidão. E o pior é que estas características, estes no vos "traços de personalidade", não desa parecem quando, por uma ou outra razão, o alcoólatra é afastado do seio da família. Se os filhos ou a ex-esposa de um alcoóla tra não se tratarem (ou em Al-Anon ou com algum profissional que entenda de alcoo lismo), continuarão emocionalmente dese quilibrados para o resto da vida. Não é necessário continuar vivendo com um alcoólatra para continuar carregan do as cicatrizes que sua doença causou. Embora possa parecer que, após o afasta mento do alcoólatra, o familiar tenha se re cuperado, é mais provável que continue com sua doença emocional apenas detida e pronta para reaparecer de novo com o pri meiro revés que a vida lhe apresenta. 0 al coólatra não é o único que, na ausência de O 20 a v e m a ria um tratamento adequado, poderá ter uma recaída. Sua esposa e seus filhos, mesmo afastados do alcoólatra há muitos anos, continuam com sua doença — o coalcoolismo (ou co-dependência, como al guns a chamam) — e com suas recaídas emocionais. E, por incrível que pareça, mesmo que não haja contatos prolongados (como casamentos) com alcoólatras duran te as próximas gerações, a doença do coalcoolismo continuará a ser propagada de uma geração para outra, como se fosse ge nética. Os sintomas do co-alcoolismo que são idênticos aos sintomas do alcoo lismo — persistirão e reaparecerão nos fi lhos a cada nova geração, se os co-alcoólatras não se tratarem. Há provas disto. O espantoso cresci mento e alastramento dos Grupos de filhos adultos de Alcoólatras nos EUA nos últimos anos se deve ao fato destes grupos esta rem respondendo a uma necessidade pre mente numa enorme gama da sociedade. Mas existe uma outra prova interessan tíssima. A maioria das mulheres que casam com alcoólatras e depois se separam dos mesmos por necessidade, soltam um gran de suspiro, dizendo: "Graças a Deus, agora nunca mais terei que passar por uma ex periência semelhante!" E sua filha acres centará: "Pois é, mamãe, eu também estou salva. Eu nunca vou casar com um homem que nem papai. Deus me livre!" É o que elas pensam! As estatísticas contam uma história bem diferente. Se não for, tratada, pelas marcas que o alcoolis mo deixou nela, a ex-esposa de um alcoó latra freqüentemente casará com'outro alcoólatra, sem se aperceber disso até que seja tarde demais. E a filha? As estatísticas indicam que dois terços dos filhos de um alcoólatra ou casam com alcoólatras ou se tornam, eles mesmos, alcoólatras. E se ambos os pais foram alcoólatras, este resultado se dará com quase 100% dos filhos! Em outras palavras, afastar-se de um alcoólatra resolve, na verdade, muito pou co. É necessário que os familiares se tra tem também. Por sinal, a razão deste fenômeno fas cinante é que os filhos de um alcoólatra de senvolveram um tipo de personalidade para poder conviver com o trauma do alcoolis mo. E mais tarde, quando conhecerem aí^ guém compatível com essa personalidade, sentir-se-ão atraídos a ele. Só que o aiguém compatível com uma personaiidade molda da pelo trauma da convivência com um al coólatra geralmente será outro alcoólatra. -*r * « ÆLCOOUSMO s Co-Dependentes Donald Lazo I - : s nente, o alcoólatra era visto — e r=*ado — como se fosse uma pessoa :r:s —ente desligada do resto de sua a. Aliás, até hoje no Brasil, os al: jó atras, na sua grande maioria, ainda são os únicos membros da família a 5=rem tratados. Como se tivessem pneu—unia, diabetes, câncer ou alguma outra doença não contagiosa. Mas o alcoolismo é uma doença contagiosa... emocionalmente. Por isso, com o passar dos anos, te— havido um reconhecimento crescen te de que a convivência com um alcoóetra (ou com muitas outras pessoas de comportamento anormal que não cabe acui discutir) leva a um comportamento por parte dos cônjuges e filhos que se torna previsível, rígido, ineficaz e con traproducente para todos. E assim, na cfria dos que trabalham profissional mente no campo da dependência quími ca surgiram palavras como "facilitador", "co-dependência", "herói", "bode ex piatório" etc., dirigidas às pessoas que convivem com alcoólatras e que são emocionalmente afetadas pelo compor tamento inadequado dos mesmos. Estas pessoas jos cônjuges e fiihos de alcoólatras) também passaram a ser considerados "doentes" — mental, emocional, espiritual e até fisicamente. Seria correto chamar de doentes es tas pessoas? Tudo indica que sim, pois são pessoas que se comportam de uma maneira que não conseguem controlar (a não ser através de um tratamento bas tante específico para a co-dependência) e que, progressivamente, arruina suas vidas. A chamada co-dependência é um comportamento que surge como uma defesa contra as dores e angústias de se viver com uma pessoa em quem não se pode confiar. infelizmente, esta atitude defensiva 26 a v e m a r ia a b r ií / 9 0 não funciona, nem para recuperar o al coólatra com querri se está vivendo, nem para trazer equilíbrio e alívio para os familiares que desenvolvem o compor tamento. Pelo contrário, o alcoólatra, junto com o comportamento defensivo do co-dependente, torna o familiar uma pessoa hostil, controladora, manipuladora, cheia de sentimentos de culpa, de difícil comunicação, geralmente desagra dável, freqüentemente deprimida e, às vezes, bastante antipática. Reagindo constantemente ao comportamento im previsível do alcoólatra, estes cônjuges e filhos gritam e xingam, escondem ou jogam fora suas garrafas, tentam frus trar seus esforços de conseguir mais be bida e vivem perguntando: "Por que vo cê me trata dessa forma?" ou: "O que há com você, afinal?". Porém, estão sempre ali para resgatá-lo dos desastres que seu beber cria. Vivem ameaçando abandoná-lo, mas não conseguem cumprir a ameaça. Bem, às vezes, em total desespero, acabam abandonando-o mesmo. Mas a separação raramente dura mais do que alguns dias. Preocupadas com a incapa cidade de se virar sem elas, e cheias de sentimento de culpa, acabam voltando com sua primeira promessa de se com portar daí em diante. E logo se encon tram de novo no turbulento e intolerável círculo vicioso de sempre. Poucas pessoas sofrem mais que os co-dependentes. Ôentem-se responsá veis pelo mundo inteiro, mas recusam responsabilizar-se por viver bem suas próprias vidas. Estão constantemente se doando aos outros, mas não sabem re ceber. São peritas em cuidar de todos que as cercam e, no entanto, duvidam de sua capacidade de cuidar de si mesmas. São pessoas totalmente preocupa das com seus alcoólatras. Com grande precisão, conseguem recitar minucio samente todas as malandragens deles. Sabem dizer o que seus alcoólatras pen sam, sentem, fazem e dizem. Sabem exatamente o que seus alcoólatras deviam e não deviam fazer. Mas não sa bem o que elas mesmas estão sentindo. E, certamente, não sabem o que de vem fazer para resolver seus problemas — se é que consideram ter algum pro blema fora o alcoólatra. Estas pessoas estão tão envolvidas com seus alcoólatras que já, há tempo, pararam de viver suas próprias vidas. Vivem a vida do alcoólatra. Quando ele está mal, elas estão mal. Quando ele es tá bem, elas estão bem. Há uma piada, mais triste do que engraçada, que diz que um co-dependente é uma pessoa que quando morre, vê toda a vida do cônjuge passar pela sua mente. Pretendo escrever mais sobre estes sofredores e sobre o que podem fazer para se recuperar, em edições futuras da AVE MARIA, pois sei que muitos lei tores desta magnífica revista são co-dependentes. • C H ÁC AR A REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) " I - f L fc. D o n ald L azo São três as fases pelas quais a família do alcoólatra passa: tende a negar a realidade; há dependência dos familiares; há uma aliança entre o “doente” e a família. H o últim o artigo, falava sobre os Rüfatores que imobilizam os fam i liares (em especial J as esposas) de alcoólatras, inibindo-os de adotar medidas construtivas para levar o be bedor ao tratam ento de que tanto precisa. Stephanie Leary A bbot, perita no assunto, tem algumas idéias intrigan tes a respeito. Ela com para a esposa de um alcoólatra ao prisioneiro de guerra. “ Depois de passar anos ou vindo esposas, m aridos e filhos de alcoólatras descrever seus sentim en tos” , diz Stephanie, “ fiquei im pres sionada com os com ponentes co muns de seus relatos. As mesmas fra ses se repetiam , vez após vez: ‘Sen::a-me aprisionada’. ‘Parecia que não havia saída para m im ’. ” E, de fato, extraordinária a seme lhança entre as experiências contadas por esposas de alcoólatras e as conta das por ex-prisioneiros de guerra. Nos últim os anos, com o crescente núm ero de seqüestros por grupos ter roristas, estamos aprendendo cada vez mais sobre as reações, às vezes surpreendentes, das pessoas ao cati veiro. O fenômeno até tem nome. Chama-se a Síndrome de Estocolm o (devido ao com portam ento dos re féns capturados durante um roubo a um banco sueco). Os cativos que pas sam pelo processo se tornam passi vos e, no fim , acabam se identifican do com seus apreensores. No caso do roubo em Estocolm o, um a das reféns chegou a casar com seu captor! Os prisioneiros de guerra, ou as pessoas retidas como reféns, pare cem passar p o r três fases. A prim eira consiste em m ostrar-se totalm ente descrente do que está acontecendo: “ Isto não é real. Não pode estar acontecendo com igo” . A segunda fase é um a form a de regressão na qual o refém reverte-se para um com portam ento infantil passivo, reconhecendo que se to rn a ra totalm ente dependente de seu apreensor para todos os elementos da vida: comida, exercício, lazer, conversa e até amizade. Chegando a esta fase, não fará qualquer esforço para fugir da situação, aceitando sem resistência tudo que lhe for im posto. N o terceiro estágio, passa a haver um tipo de aliança entre cativo e cap tor na qual o prisioneiro se identifica com seu carcereiro, chegando a sim patizar com sua causa. Stephanie A bbot identifica três fases semelhantes na progresão da doença que tom a conta de um a fam í lia que vive o problem a do alcoolis mo. N a prim eira fase, por exemplo, quando o com portam ento do alcoó latra é suficientemente anorm al para qualquer um perceber que ele está m uito longe de ser um bebedor n o r m al, a esposa tende a negar essa rea lidade: “ Meu m arido não pode ser alcoólatra. É um homem inteligente e nós nos am am os dem ais.” (Com o se isso tivesse algo a ver com o p ro blem a.) Na segunda fase, as agressões constantes do alcoólatra à sua esposa acabam tornando-a infantil e depen dente, ou por causa do abuso físico ou verbal ou por causa da frustração dela, já que não consegue alterar o com portam ento do m arido. Perden do gradativam ente o apoio dos de m ais, a esposa sente cada vez mais medo e isolação. No desespero, aca ba se entregando a um a atitude de to tal passividade. Na terceira fase, a esposa parece entrar em colisão com o alcoólatra. Sempre que possível, ela esconde os exageros dele. Passa a minim izar seus excessos, projetando a culpa de suas bebedeiras em outras pessoas e circunstâncias. Q uando a ressaca do m arido o impede de trab alh ar, a es posa telefona para seu chefe para ex plicar que ele está acam ado “ com gripe” . Ela se desdobra para p rote ger o m arido das conseqüências ne gativas do seu beber. Chateia-se com a em presa, se ela acabar dem itindo o m arido: “ Puxa, depois de todos es ses anos que ele dedicou à com pa n hia!” Percebem agora com o a esposa m ostra os mesmos sintom as de al coolismo que o m arido, e por que o alcoolism o é cham ado “ a doença da fam ília” ? É por isso que os familia res de um alcoólatra são apelidados “ co-alcoólatras” . E é p o r isso que tam bém eles precisam de um tra ta m ento orientador. Suas próprias ilu sões os tornam incapazes de ajudar a si mesmos — m uito m enos ao alcoó latra — sem um a m ão externa. • & © CHÁCARA REiNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) &we maHa 29 ALCOOLISMO Você entende mesmo de alcoolismo? (Continuação) Donald Lazo ontinuamos, neste número da As melhores estimativas disponíveis AVE MARIA, o teste preparado sobre o número de pessoas que bebem ; ; 2 Dr. Jon R. Weinberg, Ph.D., para e o número das que são alcoólatras le <sr até que ponto os profissionais que vam a essa conclusão. Aliás, um em :~a:am de alcoólatras compreendem quinze é considerada uma avaliação con :e ~ as sutilezas da doença que estão servadora; as estimativas chegam até Tstando. um em cada oito. Nos Estados Unidos, o número de alcoólatras parece ser um A Associação dos Alcoólicos Anôem cada sete homens que bebem e uma r i-nos tem sido mais eficiente na ajuda em cada dezesseis mulheres que bebem. a recuperação de alcoólatras do que o A frase é correta. :ratamento psiquiátrico. As pesquisas sugerem que, geral Quase toda autoridade no campo do mente, falta ao alcoólatra a força de ca s coolismo concorda com essa frase. A ráter necessária para abandonar o beber ciíerença no relativo sucesso da AAA e excessivo. da psiquiatria poderá ser reduzida à meNão existem, atualmente, pesquisas c'da que a abordagem psiquiátrica re que possam medir "a força de caráter", conheça a necessidade de tratar o alcooe esse conceito é uma simplificação smo como doença primária ao invés de grosseira daquilo que está envolvido na sintoma de alguma outra coisa. recuperação. Falsa a frase. C A maioria dos alcoólatras que fica sóbria em AA durante 2 anos, permane ce sóbria indefinidamente. Os períodos mais extensos de so briedade estão correlacionados com uma crescente possibilidade de se continuar sóbrio. Isto é: quanto mais tempo um alcoólatra estiver sóbrio, maior será a probabilidade de ele continuar sóbrio, embora recaídas possam ocorrer em qualquer época. A probabilidade de so briedade jamais chega a ser 1,0. Após dois anos, essa probabilidade é, aproxi madamente, 0,7. A frase está certa. A incidência de alcoolismo entre ho mens é constante em todas as classes sociais principais. Hoje reconhecemos ser um mito a idéia de que os alcoólatras sejam encon trados, em sua maioria, no fundo da es cala social. Há evidência, entretanto, que a incidência do alcoolismo entre as mu lheres é mais elevada na classe alta, on de o número de mulheres que bebe é ainda bem maior. A frase é correta. Pelo menos um, entre 15 bebedo res, desenvolve o alcoolismo. Um alcoólatra não é mais culpado por sua condição do que um diabético. O alcoolismo é uma doença que, com certeza, não foi desenvolvida inten cionalmente mais que a diabete, e assim ninguém pode ser culpado por desen volvê-la. Entretanto, uma vez consci entes do fato de serem portadores de suas respectivas doenças, tanto o alcoó latra quanto o diabético têm a responsa bilidade de detê-la e controlá-la. Afinal, alcoólatras desintoxicados e conscien tizados não são apoderados por uma "compulsão incontrolável" de beber, co mo alguns se justificam após uma recaí da. Talvez sintam um desejo, mas este é superável. Em todo caso, a frase é correta. Cerca de um quarto de todos os al coólatras está na sarjeta. As estimativas da proporção de al coólatras que se encontra na sarjeta va riam de 3% até 8%. A grande maioria dos alcoólatras vive vida aparentemen te normal, trabalha, é casada e sequer suspeita que é alcoólatra, embora pos sa estar bebendo bastante exageradamente. A frase é falsa. Até agora, as pesquisas não conse guiram estabelecer definitivamente al gum fator genético, bioquímico ou de personalidade que seja a causa do al coolismo. A despeito do acervo considerável de estudos acumulados, ainda não se de monstrou claramente um fator etiológico específico. Provavelmente acabarão descobrindo que uma combinação des ses fatores é o que explica a doença do alcoolismo. A frase está certa. Obter uma introvisão genuína sobre as causas dinâmicas do seu beber geral mente leva o alcoólatra à recuperação. Em primeiro lugar, o que leva o al coólatra a beber nada tem a ver com o seu desenvolvimento do alcoolismo, da mesma forma que o que leva uma pes soa a ter uma relação sexual com uma prostituta nada tem a ver com a doença venérea que, porventura, desenvolva. Além do mais, a experiência tem de monstrado que os conhecimentos inte lectuais sobre o alcoolismo, embora freqüentemente de valor, não são sufi cientes para a recuperação. É preciso que haja, também, uma mudança posi tiva de atitudes, uma assunção emocio nal da condição’ de ser portador da doença e, geralmente, um envolvimen to, a longo prazo, com algum grupo de apoio. A frase é falsa. • CHÁCARA REiNDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.898 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V_________ ___________ J m a rç o /9 0 a v e m a r ia 23 ALCOOLISMO Você entende mesmo de alcoolism o? alcoólatras. Tam bém alcoólatras, xiste em São João D el Rei, em estágio adiantado da doença, po MG, uma organização com utária, pioneira no Brasil, chamadaderão chegar à embriaguez com pou Associação de Parentes e A m igos ca quantidade de álcool, devido à dos Dependentes Q uím icos (APAsua tolerância fisiológica diminuída. DEQ). Reconhecendo que a depen Portanto, a frase é verdadeira, dência do álcool e das drogas é um Tranqüilizantes, como Librium e dos m aiores problem as sociais que Vaiium, freqüentemente são valio qualquer comunidade tem de enfren sos para manter o alcoólatra em re tar, essa organização, liderada pelos cuperação durante o primeiro ou m édicos e m em bros de A lcoó lico s mais anos de sobriedade. Anônim os mais responsáveis de São Os tranqüilizantes, tão com uJoão Del Rei, está prom ovendo cu r mente receitados, tendem a alterar sos sobre a dependência química pa o humor de tal form a que constituem ra educar a população da área e um grave risco: ou a dependência organizando um centro de re ab ilita química será transferida do álcool à ção local para tra ta r dos dependen droga tranqüilizante, ou a pessoa tes dessa parte de Minas. tam bém voltará ao uso do álcool, Um dos organizadores da APAcriando assim uma dependência du DEQ, meu amigo, Luiz Balbino de pla... dò álcool e do tranqüilizante. Souza, teve a gentileza de enviar-me A frase é falsa. um folheto dos mais interessantes, Um alcoólatra com mais de dez porque se trata de um teste para anos de sobriedade pode tomar um descobrir se as pessoas realm ente drinque social ocasionalmente, sem entendem de alcoolismo, ou se co n perigo. tinuam aceitando os m itos que cons A experiência m ostra que exis titue m a m aior barreira ao progresso te um risco m uito grande de se v o l na batalha contra a dependência das tar ao beber alcoólico, não im portan drogas. O teste fo i preparado o rig i do quanto tem po durou o período de nalm ente pelo Dr. Jo n R. Weinberg, sobriedade antes da tentativa de be Ph.D., e terei o prazer de oferecê-lo ber socialmente. Relatos ocasionais aos leitores de AVE M ARIA, através de alcoólatras que conseguiram vo l dos próxim os núm eros desta Revis tar a beber socialm ente após um pe ta. Sugiro-lhes que respondam " ver ríodo de sobriedade são extrem a dade" ou " f a ls o " para si m esm os a m ente raros, se é que são verdadei cada pergunta, antes de passar a ler ros. Dezenas de casos, relatados em a resposta correta. E aposto que fi revistas psiquiátricas, foram des carão surpresos com o núm ero de m entidos com o tempo. Falsa. respostas erradas que darão. 0 alcoolismo deve ser conside Vamos lá. rado o sintoma de um distúrbio men tal, ou de personalidade, subjacente. Alguns bebedores sociais inge Em primeiro lugar, o alcoolism o rem muito mais álcool do que alcoó deve ser considerado uma doença latras em estágio avançado. primária e não um sintom a de algu Alguns bebedores sociais conso ma outra doença. Enquanto outros mem im pressionantes quantidades distúrbios, com freqüência, coexis de álcool sem desenvolver a doen tem com ele, o alcoolism o, de m o ça do alcoolism o, m anifestada por do geral, é de longe a doença de sérios efeitos negativos na vida, em mais grave im pacto. E reconhecido bora a maioria dos bebedores sociais como doença pela A ssociação M é "30 consiga beber álcool em quandica Americana e outras autoridades :;dades suficientes para se tornarem da área da saúde. As te n ta tiva s pa E ra tra ta r do alcoolism o apenas tra tando os supostos distúrbios subja centes foram invariavelmente mal sucedidas. A frase é falsa. O primeiro passo na psicoterapia do alcoólatra consiste em determinar seus motivos inconscientes para beber. A primeira medida, no tratam en to do alcoólatra por qualquer jnétodo, é procurar deter o seu beber, ajudando o indivíduo a reconhecer e aceitar sua condição de alcoólatra e incentivando-o a ficar abstêm io. So m ente após o paciente estar sóbrio é que podem ser identificados (e tra tados com êxito) quaisquer proble mas em ocionais que persistem e que, porventura, não foram provoca dos pelo alcoolism o. A frase é falsa. 0 cônjuge do alcoólatra é, com freqüência, uma causa primária do alcoolismo. Pessoa alguma pode tra n s fo r mar outra pessoa em alcoólatra (ou epilético ou diabético). Na pior das hipóteses, o com portam ento do côn juge pode co n stitu ir um álibi conve niente para que o alcoólatra beba. 0 álibi é freqüentemente aceito e refor çado erroneamente por profissionais incautos. A frase é falsa. Donald Lazo CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V.________________ ________________ J f e v e r e ir o / 9 0 a v e m a r ia 19 DONALD LAZO ! A CMANÇÁ ESQUEODA D D Embora a criança esquecida não crie muitos problemas, é ela que tem a menor chance de se realizar na vida quando se tornar adulta. a hora que aparece o terceiro filho de nossa família, o drama do alcoolismo já está se desenvolven do a todo vapor e os quatro atores ;..e o precederam (papai o Alcoólatra, mamãe a Facilitadora, Joâozinho o Herói e Pedrinho o Bode Expiatório) estão intensamente envolvidos nele. igual ao Bode Expiatório, este tercei ro filho — apelidado Criança Esque cida — se sente por fora, alheia à fa mília. Porém, em contraste com o Bode Expiatório, ela não procura atrair a atenção a todo custo. Ao con trário, ela se retira do palco e se es conde nos bastidores. Desde a infância, a Criança Esque cida — que chamarenos Silvinha — sente as tensões do drama que se de senrola ao seu redor, mas não com preende o que está acontecendo. Afi nal de contas, ela chegou no meio da peça e ninguém se deu o trabalho de explicar-lhe o que havia acontecido antes dela aparecer. Os outros mem bros da família estavam preocupados demais para notar a confusão de Sil vinha. Assim sendo, a nossa Criança Es quecida encontra sua própria maneira de se adaptar à situação. Ela simples mente “ desaparece” . Silvinha se afas ta dos outros, procurando conforto na privacidade de sua própria compa nhia, longe do caos da família, em cu jo meio ela está perdida de toda for ma. No sentido de achar-se excluída e de se afastar dos outros membros da família, a Silvinha é parecida com o Bode Expiatório (descrito no último artigo). Mas existem diferenças fun damentais entre estes dois filhos. Emocionalmente, ambos se sentem rejeitados e de pouco valor. Porém, N dentro do Bode Expiatório existe um ódio próprio que vai crescendo devagarzinho — o resultado de suas com parações desfavoráveis com seu ir mão maior (o Herói) e conseqüência também de seu comportamento anti social. Por sua vez, Silvinha, a Crian ça Esquecida, tem pouco sentido de valor, pois é ignorada durante anos a fio, sendo tratada como se não exis tisse. O Bode Expiatório sente-se amargurado e tem raiva. Silvinha acha que está sendo excluída merecidamente. Ela sente muita solidão, mas pouca raiva. O comportamento dos dois tam bém é diferente. O Bode Expiatório (lembrem-se que alguns o chamam o Aprontador) quer atenção e age agressivamente para obtê-la. A Crian ça Esquecida cede à sua situação, pas sivamente. Enquanto o Bode Expia tório procura encrencas para chamar a atenção, a Criança Esquecida evita encrencas e quase nunca recebe aten ção. Se alguém dizer à mãe dela: “ Sil vinha é uma menina tão adorável, mas ela é muito quietinha, não é?” a mãe é capaz de responder, “ Pois é. E como seria bom se seus irmãos fos sem tão quietos quanto ela!” Já que o comportamento passivo da Criança Esquecida lhe priva de uma maneira de externar seus senti mentos negativos, ela tende a reprimilos. Como resultado, é comum nestas crianças encontrar sintomas físicos desta repressão, como alergias e asma. Elas também têm um número exagerado de acidentes. Neste grupo também se encontram muitos filhos que ainda urinam na cama após che gar à adolescência. Comer, para eles, é uma forma de se gratificarem. Só que muitos comem com a mesma compulsividade que caracteriza o comportamento de quase todos os membros da família alcoólica. Por tanto, freqüentemente chegam à obe sidade. Aposto que existem centenas e cen tenas de pediatras que estão tratando crianças com estes sintomas sem saber que, atrás dos sintomas, há um pai (ou uma mãe) alcoólatra e portanto uma família desestruturada. Quando esse é o caso (e ninguém conta para o pediatra que o pai é alcoólatra), o mé dico deixará de tratar a causa dos sin tomas. E dificilmente a criança irá se recuperar. Embora a Criança Esquecida não crie muitos problemas, é ela que tem a menor chance de se realizar na vida quando se torne adulta. Sem ajuda, nossa Silvinha se tom a rá uma Adulta Esquecida, sem a ca pacidade, por exemplo, de desenvol ver relacionamentos íntimos. É capaz de casar várias vezes... ou nenhuma vez. Por algum tempo, poderá se tor nar promíscua, até aprender que o contato sexual não é substituto para a intimidade. Para compensar sua soli dão e desvalorização, é capaz de se apegar demais aos bens materiais. Se você se identificar com Silvinha (ou com Sílvia adulta), recomendo-lhe procurar a ajuda gratuita de duas ma ravilhosas organizações: Al-Anon (fone em São Paulo é 229-4688) ou Neuróticos Anônimos (fone em São Paulo é 229-7523). Esses telefones in formarão o grupo de Al-Anon ou NA mais próximo de você, seja onde você morar no Brasil. 6 ave maria 25 I -J-COOUSM o Mecanismos de Defesa dosFAAs Donald Lazo 2 —«# $ % % i ara simplificar, referir~e-e aos filhos adultos de aioociatras (isto é, aos fiihos de aicoólatras que hoje são adul' os) como FAAs. Estas pessoas são frequentemente obrigadas £ reviver experiências que tivee lições que aprenderam, zoando era crianças. Por exemplo, FAAs tipica mente encontram dificuldade e~ seguir um projeto qualquer o o início até o fim. A tendência tir quando seria iguaimente fácil oeíes é a de começar um trabacontar a verdade. Este certa ~io e depois deixar a conclusão mente é um comportamento □o trabalho “ para amanhã". É ’ aprendido, pois quando eram jo oossívei que esta falta de per vens, a mentira (em alcoolismo, sistência resulta do fato de te preferimos usar o termo à nega rem presenciado, quando joção’) fazia parte integral da vida .ens, grandes projetos que, esno lar do alcoólatra. Para dizer a íavam sempre sendo prometiverdade, a norma era mentir, pa dos — porém nunca levados à ra tornar a vida mais tolerável. cabo — peios seus pais alcoólaFilhos de alcoólatras VIVEM :'as. Papai costumava dizer que uma mentira: a mentira de que qualquer dia ia largar seu em papai não tem um problema de prego, “ parar de trabalhar pelos bebida. Uma das primeiras coi outros” e partir para um emsas que os filhos de um alcoóla oreeendimento que iria trazertra aprendem é que nunca de ihes um montão de dinheiro. vem criticar, ou sequer mencio Com esse dinheiro, entre outras nar, o beber do pai. Numa cena coisas, iriam mudar-se para de um fiime que mostramos aos jm a casa bem maior. Na reali nossos pacientes na Chácara dade, porém, papai só saia dos Reindal, a filha de um alcoólatra empregos quando era demitido. ouve sua mãe telefonando para E aquele empreendimento tão vários lugares tentando locali faiado nunca saia do papel. zar o pai. A filha pergunta: “ Que O pai também vivia prome houve, mamãe? Papai sumiu de tendo consertar a geiadeira que novo? Vai ver que partiu para 'avia quebrado ou o vidro da jamais uma de suas farras!” A ela na cozinha. Mas as tarefas mãe responde: “ Não faiè isso! jn c a se realizavam. E o filho Teu pai é médico e isso é uma endo que os projetos jam ais das profissões mais exigentes eram concluídos, só sabia que que existe” . evar à cabo um plano prometi Depois que os filhos ouvem do não era coisa importante. Se algumas admoestações desse dá para fazer, tudo bem. Se por tipo, aprendem logo que um as qualquer motivo não dá para fa sunto que não deve ser mencio zer, então “ não deu” e pronto. nado nunca é o beber do pai, jus FAAs têm características in tamente o assunto que mais an teressante: eles tendem a mengústia lhes cria. A partir daí, pas 20 a v e m a r ia ju n h o / 9 1 sam a viver sua grande mentira. Em outro fiim e que mostramos, Kátia, a filha de um alcoólatra, tem uma amiga que quer vir es tudar uma a noite na sua casa. “ Não” , responde Katia, “ é me lhor a gente estudar na tua ca sa , esta noite porque meus pais vão ter visitas” . Na verdade, Katia não quer estudar na sua própria casa por medo de que aparece rá o pai bêbado e fazendo es c â n d a l o . Es s a s m e n t i r a s tornam-se rotineiras em sua vi da. Há um livro excelente sobre filhos de alcoólatras que traz, na capa, o desenho de uma família — mãe, pai e três filhos — sen tados no sofá na sala, todos olhando à televisão juntos. Ao lado do sofá, dentro da sala, encontra-se um elefante enor me, ocupando metade do espa ço da sala. Um dos filhos está di zendo aos outros: “ Gente, tem um elefante na sala!” Mas a fa mília continua olhando para a televisão, fazendo de conta que não existe elefante algum na sa ía. O elefante, naturalmente, simboliza o problema alcoólico do pai, que ninguém na família se dispõe a reconhecer. E o livro, escrito peia Dra. Claudia Black, se chama “ Tem um Elefante na Sala!” É a s s i m qu e, d e s d e crianças, os filhos de alcoóla tras aprendem que uma manei ra de aiiviar as angústias da vida é mentir e negar a realidade. E mesmo quando se tornam adul tos anos depois, não se darão conta de que mentir constante mente, quando seria muito mais interessante contar a verdade, é uma maneira absolutamente inapropriada de aliviar as an gústias da vida. AL CO O U SM O Legalizar as drogas? Você deve estar brincando! - e t jito s anos se sabe que filhos re E a :ras se tornam alcoólatras e— J ;c maior número do que filhos : e "ãc-aicoóiatras. Quer dizer, as :~ e *:s s de se tornar alcoólatra são : e — E; ores quando se tem um pai ou . —E ~ãe alcoólatra. E são maiores a t e :ja n d o ambos os pais são al: : : aras. Será isto por razões heredias ou por razões ambientais? 2„rante muitos anos. a idéia que : 'E• slecia entre os estudiosos do as5 -n ;o era que os filhos de alcoólatras ~e ::".a v a m alcoólatras por seguirem : Exemplo dos pais. Como se bastas;e reoer muito para ser alcoólatra. E :om o se o exemplo da vida de um E coóiatra pudesse incentivar um filho E Tiitá-Io! Hoje já existem estudos em abun; ã_cia que respaldam a idéia de ser : E coolismo causado, pelo menos em : = re , pela hereditariedade. Ou seja, a aoença é, pelo menos parcialmen:e jm a condição adquirida geneticanente. Por exemplo, para responder à :ergunta: “ Qual fator tem mais in■ uência, o ambiente ou a hereditarie:Ede?” Os pesquisadores bolaram um estudo engenhoso. Compararam fi-Qs de alcoólatras, adotados (com :ouca idade) e criados por pais nãocoóiatras, ’com filho s de nãocoólatras, adotados e criados por :is alcoólatras (ou seja, em ambien te onde existia o problema do alcoo lismo). Se o alcoolismo fosse mais um problema ambiental, é óbvio que o ~aior número de filhos alcoólatras se encontraria entre os jovens adotados e criados por alcoólatras. Por outro la do. se fosse principalmente um proble~ a genético, encontrariam-se mais jo vens alcoólatras entre os filhos dos al coólatras, mesmo que fossem criados em ambientes onde não existisse o problema do alcoolismo. E foi este úl timo o que descobriram mesmo. São os filhos de alcoólatras, adotados e criados por não-alcoólatras, que de senvolveram o alcoolismo, em núme ro quatro vezes maior, que os filhos dos não-alcoólatras, criados pelos al coólatras. Mas aí surgiu a pergunta: Seria a hereditariedade o único fator para o desenvolvimento do alcoolism o, ou existem também influências ambien tais? A resposta a esta pergunta é mais do que óbvia. É claro que tam bém existem influências ambientais. Porque para se tornar alcoólatra e fa zer a doença progredir, é necessário beber bebidas alcoólicas. Na ausência da bebida, uma pessoa não desenvol veria o alcoolismo porque ninguém nasce alcoólatra. (Nasce-se com a pro pensão, ou predisposição, se preferir essa palavra, ao alcoolismo). Se subitamente se eliminasse da terra toda substância que contivesse álcool — o que seria patentemente im possível — nesse instante se elimina ria a doença do alcoolismo. Em outras palavras, o alcoolismo também é um / problema ambiental porque o álcool vem do ambiente. Nas sociedades (is lâmicas, por exemplo) onde o álcool é proibido, o alcoolism o quase não existe. Por outro lado, nas sociedades onde esta droga poderosa não só é aceita legalmente mas intensamente promovida na televisão e nas revistas, o índice de alcoolism o é alarmante. Porque menciono estes fatos? Por uma razão muito simples. Hoje em dia está havendo muita discussão sobre as melhores maneiras de controlar o crescente problema das drogas. E um dos argumentos que se está usando é que devia-se tornar todas as drogas legais, pois isto as tornaria menos atrativas, mais abundantes e, portan to, mais baratas, o que, por sua vez, tornaria seu tráfico e distribuição in viável economicamente. Quanto papo furado! O número de mortes causado direta ou indiretamen te pela droga álcool, é muitíssimo maior que o número de mortes causa dos por todas as outras drogas juntas. Por que? Porque muito maior número de pessoas bebem álcool do que to mam as outras drogas. Por que? Por que o álcool é uma droga legalizada. Precisa-se de outro argumento? • ju n h o / 9 0 a v e m a r ia 25 ALCOOLISMO Os Alcoólicos Anônimos que poucos conhecem D onald Lazo oda vez que leio um a rtig o soore A lc o ó lic o s A n ô n im o s em a gum jo rn a l, me dou c o n ta : _ão s u p e rfic ia l é o c o n h e c im e n ■: gerai a respeito do AA. Ivariavel- e n í e , a irm a n d a d e é d e s c rita co—3 um a o rg a n iz a ç ã o que re aliza -e -n iõ e s de te ra p ia para a lc o ó la • ■as. nas q ua is os ex-bebedores se £ -d a m m u tu a m e n te a m anter-se -•a s ta d o s da bebida. A lc o ó lic o s - -lô n im o s é m u ito m ais do que is so. A cre dita -se , em AA, que, para ■ecuperar-se d e fin itiv a m e n te do a l c o o lis m o e suas se q üe la s, um a l c o ó la tra — além de a b a n d o n a r a Debida e q u alq u e r o u tra drog a que a :ere 0 h u m o r (in c lu in d o os tra n qüilizantes, tã o m a c iç a m e n te re c e ita d o s por p s iq u ia tra s que p o u co conhecem o alcoo lism o) — pre cisa p a ssa r po r um a mudança e s p iritu a l. Em um a ou o u tra re u n iã o de AA, é co m u m o u v ir alg um c o m p a nheiro c o lo c a r e sta re a lid a d e de fo rm a um pouco m ais p rá tica . P ro vavelm ente dirá: “ Ladrão de cavaio que que r parar de beber, vai te r de p a ra r de ro u b a r ca v a lo s ta m b é m ” . A id é ia de que 0 a lc o ó la tra em re cu p e ra çã o te rá de p ro c u ra r um novo rum o na vid a é ta m b é m ífle tid a em o u tra fra se o u v id a om certa freq üê n cia nas reuniões AA: “ Os ve lh o s c a m in h o s le..n aos ve lh o s iu g a re s ” . A ind a , de vez em q ua nd o , um AA dirá: “ A pessoa que eu era, be bi». e a pessoa que eu era, v o lta rá a b ^ b e r” , dando a entender que ele com preende a necessida de de to r nar-se o u tro tip o de pessoa. Se o AA não fizesse m a is do que re c o m e n d a r aos a lc o ó la tra s T que parassem d e fin itiv a m e n te de beber, não te ria 0 su ce sso e cre s de c im e n to que sem pre teve. O AA vai m u ito m a is longe. A organizaçã o, que h o je é c o n s titu íd a de m ais de 80 m il g ru p o s ao redor do m undo, o fe re c e ao a lc o ó la tra um a fórm u•^la p ara e fe tu a r sua m udança. “ A pessoa que eu era, bebia; e a pessoa que eu era3 voltará a beber.” Trata-se de um program a de vi da, de cre s c im e n to e s p iritu a l, cha m ado os Doze Passos. Em o u tra s palavras, A lc o ó li co s A n ô n im o s é um a o rg a n iza çã o que prega (sem serm onizar) o cres c im e n to e s p iritu a l por m eio de um a m u d a n ça de valores. Talvez fo s s e m a is a c e rta d o s d ize r que o AA p re g a um a m u d a n ça de vida p o r m e io de um re to rn o aos valo res e s p iritu a is que n o rte ia m o b e m -e s ta r de toda p e sso a e q u ili brada, ú til e feliz. E o fe re ce o in s tru m e n to (os Doze P assos) que efetua essa m udança nas pessoas que se em penha m em usá-lo. Sabe-se que a p s iq u ia tria e/ou a p s ic a n á lis e são n o to ria m e n te fra c a s s a d a s no tra ta m e n to do a l c o o lis m o (apesar de a in d a serem , p or in críve l que pareça, o s tra ta m e n to s m a is p ro c u ra d o s para os a lc o ó la tra s ). Na m in h a o p in iã o , um dos fa to re s que m e lh o r e x p li ca este fra c a s s o é o fa to de ta n to s p ro fis s io n a is de saúde m ental d esp rezare m o lado e s p iritu a l do a lc o ó la tra . A lc o ó lic o s A n ô n im o s não c o m e te esse erro. Na su a lite ratura, o AA descreve o a lco o lism o co m o um a d o e n ça fís ic a , m ental ou e m o c io n a l, e e s p iritu a l. Com fre q ü ê n c ia , co m p a ra o a lc o ó la tra a um b a n q u in h o trip é , com cada um dos três pés representando um desses a s p e c to s : o fís ic o , o m en ta l/e m o c io n a l e o e s p iritu a l. F ri sa-se em AA que não a d ia n ta te n ta r re cu p e ra r um a lc o ó la tra fís ic a e m ental ou e m o cio n a lm e n te , sem re cuperá-lo e s p iritu a lm e n te , ta m bém. S eria e q u iva le n te a c o n s tru ir um trip é com apenas d o is pés. Evi d ente que não fic a rá e q u ilib ra d o . Estará co n sta n te m e n te ca in d o (ou “ re c a in d o ” , co m o dizem os AAs). N ão é à to a que A lc o ó lic o s A n ô n im o s e n fa tiz a ta n to os v a lo res e s p iritu a is que Deus in c u lc o u em ca d a um de nós ao criar-nos. Na d e c a d ê n c ia que c a ra c te riz a o c a m in h o do a lc o ó la tra , à m edida que m e rg u lh a nas trevas da de pe n d ê n cia , ele irá d e sca rta r, um por um , to d o s os va lo re s que um d ia o rie n ta ra m sua vida: o re sp e i to à fa m ília , a h o n e s tid a d e no tra to com os d e m a is, a m oderação em tu d o . Q u a n to m ais se a fa s ta r dos va lo re s e s p iritu a is b á sico s, m a is in c ô m o d o se s e n tirá e m a is in fe liz se e n c o n tra rá . H avendo a p re n d id o que e x is te um a droga — o á lc o o l — que a liv ia sua an gústia, apelará cada vez m ais à be bida, ju s ta m e n te a s u b s tâ n c ia que o está d e s e s p iritu a liz a n d o . E, ao beber, e s ta rá se e n tre g a n d o a um dos a to s m a is e g o c ê n tric o s e an ti-e s p iritu a is que c o n s ig o im a g i nar. Pois, ao e m b riagar-se, e sta rá se to rn a n d o um a pessoa a b s o lu ta m ente in ú til, im p o s s ib ilita n d o a a p lic a ç ã o do va lo r m ais apreciado p e la irm a n d a d e de A lc o ó lic o s A n ô n im o s: 0 de servir ao próxim o. f e v e r e ir o / 9 1 a v e m a r ia 21 Como Viver Melhor... E Muito Mais Donald Lazo ostumo escrever sobre a de cios que fazemos, 0 beber e 0 fumar. pendência de drogas e mais As grandes causas de morte prema especificamente do álcooi. Este tura ar- hoje — 0 câncer do pulmão, as : 30 será ppenas tangencialmente doenças do coração, os ferimentos 'elacionado a esse assunto. É que adquiridos em acidentes — são ca acabo de ler um livro muito interes da vez mais evitáveis. sante e queria compartilhar alguns Vamos falar um pouco sobre 0 de seus ensinamentos com os leitocigarro. Gostaria que 0 leitor visua res da AVE MARIA. O livro, intitula lizasse um daqueles grandes aviões do Everything to gain — making the da Varig que são capazes de trans nost of the rest of your life (Tudo a portar 340 passageiros de vez. Ago ganhar — aproveitando ao máximo ra imagine se, de repente, quatro 0 resto de sua vida), foi escrito por desses aviões começassem a cair J immy Carter, ex-presidente dos Es diariamente durante um ano. Se is tados Unidos, e sua mulher, Roso acontecesse, morreria 0 mesmo saiynn, ex-primeira dama. Trata das número de pessoas que morre pre coisas que pessoas de idade avan maturamente nos EUA anualmente çada (pessoas aposentadas) podem devido ao cigarro. É isso mesmo. A ;azer para enriquecer os poucos cada dia, nos EUA, morrem mais de anos que ihes restam. É óbvio que 1 000 pessoas por causas relaciona 0 livro foi escrito tendo em mente os das ao fumo. dosos norte-americanos, mas a sa Em 1985, 0 número de mortes bedoria que se encontra em suas pá nos EUA por causas relacionadas ginas serve para todo 0 idoso, de ao cigarro foi 375 000. Nesse mesmo qualquer país. ano, 0 número de mortes, nos EUA, Afirma 0 casal Carter, baseado atribuídas diretamente à cocaína, em estudos científicos, que a cada dia as probabilidades de vida (ou se heroína e outras drogas foi de ape ja, a longevidade) do americano au nas 3 562! Tem alguém por aí ainda achando que 0 cigarro não faz mal? menta em sete horas! Isto equivale a dois dias por semana ou a 25 anos Achei importante alertar os lei neste século. Em outras palavras: 0 tores para os perigos do cigarro pe norte-americano de hoje vive 25 lo seguinte: por estar começando a anos mais que 0 americano de 100 cair 0 consumo de cigarros nos anos atrás, graças, entre outras coi EUA, as grande companhias multi sas, aos extraordinários avanços da nacionais de fumo estão colocando medicina durante este século. a ênfase de sua propaganda agres Igualmente importante, contu siva e suas campanhas de venda do, é que os fatores de risco asso dos Estados Unidos para os povos ciados à morte são coisas sobre os menos avisados dos países em de quais nós — os cidadãos comuns — senvolvimento, como 0 Brasil. Isto temos um bocado de controle: os significa que os brasileiros serão ca alimentos que comemos, os exercída vez mais pressionados — pelas C empresas que produzem estas “ se ringas de câncer” chamadas cigar ros — a experimentar seus produtos viciantes. Serão cada vez mais pres sionados a “ levar vantagem em tu do” . Quer dizem, em tudo menos a saúde. Seria muito melhor que 0 brasi leiro fosse aconselhado a seguir no ve regras simples que garantiriam para ele uma vida bem mais saudá vel e longa. As regras, mencionadas no livro do casal Carter, são estas: 1. Não fume. 2. Mantenha um peso apropria do. 3. Faça exercícios regularmente. 4. Minimize seu consumo de co lid a s com alto teor de colesterol, gorduras saturadas, açúcar e saí. 5. Não beba em excesso e nun ca dirija após beber, mesmo que te nha bebido pouco. 6 . Use 0 cinto de segurança do seu carro sempre. 7. Faça exames médicos, inclu sive para pressão de sangue, regu larmente. 8 . Se tiver sintomas de depres são ou tristeza que perduram, mes mo depois de aplicar estas regras, procure tratamento. Algo está erra do. 9. Remova de sua casa todas as armas. (Foi comprovado que as ar mas mantidas no lar têm mais pro babilidade de matar seus entes que ridos do que de protegê-los). Seguindo estas regras, você também passara a acrescentar dois dias a sua vida, a cada semana que passa. Que tal tornar isso a sua re solução para 1991? * ja n e ir o /9 1 a v e m a r ia 19 A L C O O L ISM O O Pior e Melhor Dia de Minha Vida Rumo ao Fundo do Poço (lf Parte) Donald Lazo i íioje é um aniversário im portante em minha vida. Neste mesmo dia, exatamente 26 anos atrás, eu acordei às 8 horas da ma nhã, tremendo incontrolavelmente. Minha segunda esposa me ha via largado 6 dias antes e eu tinha chegado a meu apartamento às 4 horas da manhã, após ter passado a noite inteira cambaleando de um bar para outro na “ zona” da Rua General Jardim em São Paulo. Ao acordar poucos horas depois, um horrível sentimento de culpa e re morso se apoderou de mim, ali mentando as minhas tremedeiras. Mas eu sabia como aliviar essa an gústia. Fui até a cozinha, enchi um co po de rum puro e engoli-o direto. Enchendo o copo de novo, passei para a sala do apartamento. O soi já havia saído e ia ser um dia maravi oportunidades que meus pais me lhoso, sem qualquer nuvem no haviam proporcionado? céu. Mas não para mim. Não podia negar que havia nas Pela Milésima vez, comecei a cido no melhor dos mundos. Meu me perguntar como ia fazer para pai era um homem muito rico e sair do buraco em que me encon muito generoso com os filhos. trava. Deveria arranjar uma nova Nunca me havia faltado dinheiro. justificativa para explicar à minha Quando acabava, era só pedir-lhe empresa por que não tinha ido tra mais. Quando estava de férias das balhar essa semana (era 5? feira), escolas e universidades maravilho ou seria mais fácil simplesmente sas que meu pai me havia pago, di pedir demissão para não ter que vidia meus dias entre o Yacht Clu dar satisfação a ninguém? Converbe, onde passava a maior parte do ria ligar par minha mulher e tentar meu tempo encostado no bar, e o fazer as pazes mais uma vez, ou se CoUntry Clube, onde jogava golfe e ria melhor mandá-la para as favas e tênis e também passava a maior partir para a procura de outra com parte do tempo jogando dados no panheira? Deveria tentar parar de bar. beber mais uma vez, ou beber mais Lembranças de mil momentos este dia e deixar para amanhã a felizes passaram pela minha cabe idéia de abandonar o álcool para ça essa manhã no meu apartamen sempre? E, afinal de contas, como to, intercaladas com esforços con é que tinha chegado a este ponto fusos de tentar pensar em como re mais baixo de minha vida, aos 36 solver a minha situação atual. anos de idade, apesar de todas as Aidéiadesuicídiovoltou apas16 a v e m a r ia ju lh o / 9 1 sar pela minha mente, mas foi logo descartada. Eu não tinha coragem de me matar. Com iágrimas corren do pelo meu rosto, fui bebendo meu segundo copo de rum e me convencendo, cada vez mais, que não havia saída para meu caso. De repente, me veio uma idéia não sei de onde — a idéia de parar de men tir para o mundo. Por ser engenhei ro e estar acostumado a ser chama do “ doutor” , eu vinha, há anos, ten tando mostrar que merecia o título por ser um homem sério, discipli nado e trabalhador. Mas o esforço havia se tornado cada vez mais difí cil, criando um conflito doloroso dentro de mim, porque eu sabia que na verdade eu não passava de um bêbado irresponsável. Mas agora comecei a pensar: “ Sabe de uma coisa? Chega de fa chadas! A partir deste momento, não vou mais mentir para quem quer que seja. Vou abrir o jogo com o mundo. Vou admitir que es tou totalmente perdido na vida e que preciso desesperadamente de uma mão” . Decidi, nesse ins tante, descer até a rua e implorar, à primeira pessoa que chegasse perto de mim, que me levasse para casa e me desse apenas cama e comida. Não seria necessário pagar-me um salário. Eu só queria sobreviver e passar a ter a vida mais simples possível. E para isso estava disposto a lavar pratos, lim par banheiros, cortar grama, qual quer coisa. Pensei quem sabe se desta forma eu conseguiria en contrar um pouco de paz de espíri to. E de fato, só com esta idéia de mudar completamente devida, co mecei a sentir um pouco de alívio. Porque de uma coisa eu tinha cer teza: eu havia chegado emocional mente ao fundo do poço. Na hora, tal situação sempre parece terrí vel. Mas eia tem duas grandes van tagens. Primeira, quando se che ga ao ponto mais baixo da vida, daí só se pode subir. Segunda, é no fundo do poço, segundo William James (o maior filósofo norteamericano), que pessoas agnósti cas e orgulhosas como eu, encontram-se com Deus. » (continua no próximo número da AM). r 9 % CHÁCARA REiNDAL Especializada em alcoolismo Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo, e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postai 20.838 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V________________ ________________ ALCOOLISMO O Pior e Melhor Dia de Minha vida Retorno do Fundo do Poço (continuação) D o n a ld Lazo avendo chegado ao ponto mais baixo de minha vida, decidi pegar o eievador, aes:er até a rua e entregar-me à primeira ressoa que chegasse perto de mim. No elevador, lembrei que a poucos quarteirões estava o Hospital Samari:ano e que lá havia médicos e enfer-e :ras, pessoas treinadas para cuidar de desesperados como eu. Também me ocorreu que, já havia decidido ad~ tir ao mundo (que incluía meus che:es) que havia voltado a beber, teria —ais chance de obter a compaixão de minha empresa, e assim talvez preser■ar o meu emprego, se ligasse para eies de um hospital. Decidi, então, en:regar-me ao pessoal do hospital ao in vés de a uma pessoa estranha. Entrei pela porta da frente do Samaritano ia pelas 9 horas da manhã, bêbado e em prantos. A mocinha da recepção, não acostumada a ver um homem de 36 anos de idade entrar no problema deles. Posso me apagar” . hospital às 9 horas da manhã alcooli Não podia imaginar, nessa hora, que zado e fazendo tamanha cena, saiu eu estava entregue mesmo. Mas não correndo à procura de um médico, que só a eles e sim a Ele. chegou logo. Dormi imediatamente, um sono Perguntando-me que precisava, profundo que durou o resto do dia e ouviu mais uma imploração: “ Estou a noite inteira. Na manhã seguinte, mal, doutor. Alguém precisa me aju quando acordei, deparei-me com um dar’, lhe disse, chorando. Levaram-me padre que havia batido na minha por para um quarto, me tiraram a roupa, ta e entrado. O padre, que costumava me puseram pijama e me deram uns visitar os pacientes nesse hospital, se L,umprimidos. Arranjaram um tipo de apresentou e me perguntou o que eu suporte no.qual penduraram um fras estava fazendo ali. Pela primeira vez co cheio de um líquido claro. No fim na minha vida, me abri totalmente com do tubo que vinha do frasco havia uma uma pessoa estranha. Contei-lhe, da agulha que inseriram na veia do meu maneira mais honesta de que era ca braço logo depois de deitar-me na ca paz, tudo que me havia acontecido. ma. Falei da discussão que havia tido na Nesse momento, com várias pes sexta-feira passada com minha espo soas me atendendo e deitado numa sa, que a havia levado a me abando cama limpa pela primeira vez em dias, nar. Expliquei que, apesar de estar pensei: “ Estou entregue. Agora sou abstêmio há 6 meses, com a justifica H 16 a v e m a r ia a g o s to /9 1 tiva do abandono, e por ser uma sextafeira (onde poderia beber até domin go, depois parar no domingo e voltar ao serviço segunda, sem que se sou besse na empresa que havia voltado a beber), decidi tomar uns drinques. Só que bebi sexta, sábado, domingo, se gunda, terça, quarta e quinta, e havia parado na quinta somente por ter en trado no hospitai e pedido ajuda. Ex pliquei ao padre que vinha bebendo por causa de todos os problemas na minha vida. de ordem não só conjugal mas também financeira, física e emo cional. “ E agora” , disse ao padre, “ me encontro no fim de minha corda” . Hoje eu sei que não estava beben do por causa de todos os problemas que tinha. Eu tinha os problemas por causa do meu beber. Também sei que, naquele momento, estava no início, e não no fim, de minha corda. samente. Aguardaria os acontecimen tos. Foi aí que o anjo da anunciação, em sonho, lhe trouxe a mesma mensa gem a título de explicação: "José filho de Davi, não temas receber Maria por tua esposa, pois o que nela foi conce bido foi por ação do Espírito Santo”. Era agora a perplexidade diante de uma proposta de fé. E José, homem justo e fiel a Deus e à noiva, não vaci lou. Acreditou na mensagem de Deus. Também ele era servo do Senhor Como para Maria, o anjo lhe deu o esclarecimento o compromisso: "Ela dará à luz um filho, a quem tu porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados”. Assim re gistrou em seu livro o evangelista Ma teus. A motivação era profética, a efe tivação divina: "salvará o seu povo de seus pecados”. Despertado do sono, José refletiu e compreendeu. Era desígnio do Se nhor. Hora de humildade e oração, de fé e disponibilidade. E nisso o coração de José em tudo sintonizava com o co ração de Maria. Dois corações de Deus, que se amavam num mesmo ritmo de fé e amor. Verdadeiros noivos para o mais santo casamento. E Mateus completa a narrativa evangélica: "José fez como o anjo do Senhor lhe havia mandado, e casou com Maria” (Mt 1, 24). Assim, por ação do Espírito San to, o Amor na Trindade, ia-se forman do no útero de Maria as perfeitas for mas humanas de uma criança persona lizada pelo Verbo, o Filho de Deus. Era a realidade do grande mistério da ma ternidade divina do Coração de Maria. Coração que amou a Deus acima de tu do e, por isso, o Espírito de Amor do Pai criou nela o seu Filho, JESUS — o Cristo Salvador. Coração materno que deu ao filho toda a natureza e sensibilidade huma nas, toda a herança psicobiológica no corpo de um perfeito homem, unifica das, pelo Espírito do Pai, à natureza e única pessoa do Filho de Deus. Cora ção de Maria, coração materno do "Fi lho do homem”, coração materno dc Filho de Deus. Coração templo santc da Santíssima Trindade. • Aqueie padre foi a primeira pes soa na minha vida que me diagnosti cou corretamente. Disse-me que tinha um livro (o livro “ Alcoólicos Anôni mos” ) que achava que podia me aju dar e teria prazer em emprestá-lo pa ra mim. Trouxe-me o livro essa tarde e li-o em um dia. Em suas páginas eu estava descrito perfeitamente. Só fal tava meu nome. Nesse livro aprendi que eu era alcoólatra e que alcoólatra hão pode sonhar em beber igual aos ^utros porque alcoólatra não é iguai âos outros. (Pensei: por que nunca nin guém me explicou isso antes?) Alcoó latra não pode beber... nada de ál cool... jamais. E nesse livro descobri que os pri meiros membros de (AA) Alcoólicos Anônimos haviam se recuperado atra vés da prática de um programa cons tituído de Doze Passos. Quando li o terceito Passo, arrepiei. Dizia: “ Deci dimos entregar nossa vontade e nos sa vida aos cuidados de Deus, na for ma em que o concebíamos” . Incrível! Sem saber, foi isso que eu havia feito dois dias antes, no mo mento que cheguei ao fundo do poço. na sala do meu apartamento. Emenos de 24 horas depois, eu estava com a solução para todos os problemas que torturavam. Nunca mais voltei a beber. Faz 26 anos esta semana. “ Parabéns a você... Senhor. • \ CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.896 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) _____________________ _________J ALCOOLISMO Porque, às vezes, os tratamentos fracassam? D onald Lazo / i s vezes recebemos chamadas, na Chácara Reindal, de 1 \ i pessoas interessadas em in:e'nar um parente alcoólatra e que nos : 5-guntam se podemos garantir que o ra ta m e n to dará certo. Somos obrigacss a responder que a recuperação do a.coólatra significa que o dependen:e :erá de se abster do álcool e de to es outra droga (inclusive dos tranquizantes tão freqüentemente receitag o s por médicos) para o resto de sua , ida. E explicamos que, na impossibiaade de trancar o alcoólatra numa ce;a até o dia que ele morrer, não po demos garantir que ele nunca mais irá experimentar a bebida. Ao mesmo :empo, acrescentamos que, de cada c.jatro alcoólatras que passam os 13 c;as conosco e, ao sair da Chácara :cntinuam suas recuperações em Aloólicos Anônimos ou outra organizaão semelhante, três não voltam a becer. Mesmo assim, todos ouvimos hisrórias de pessoas que passam duas ou m ais semanas internadas em cenTos de tratamento especializado e que vD’tam a beber no dia que recebem al:a e retornam para suas casas. Quanco isso acontece, as famílias se per guntam: o que aconteceu? Onde foi cue o tratam ento faihou? Qual foi o motivo da recaída? Na verdade, estas pessoas não ti.eram uma recaída. Elas nunca inicia'=.77 sua recuperação! Entraram para o : ratamento, convencidos de que não e-am realmente dependentes e que podiam, com um pouco mais de esfor ço. controlar sua ingestão de bebida. I- ra n te o tratamento cooperaram com o programa, assistiram direitinho âs Dalestras e filmes, participaram da ■e'2 pia de grupo, mas em momento al a v e m a r is n o v e m b ro /9 1 gum chegaram a entregar-se inteira mente à idéia de que nunca mais iriam beber. E a recuperação não se inicia até que o paciente decida se abster do álcool e outras drogas e queira entregar-se a um programa de recupe ração. Às vezes, estas atitudes nas cem no decorrer do tratamento, depois que a pessoa se internou. Porém, há mais probabilidade do dependente se beneficiar de um programa de reabili tação, se já tenha passado pelas vá rias fases de um estágio que podería mos chamar “ pre-tratam ento” . Completar o “ pre-tratamento” sig nifica que a pessoa tenha chegado à conclusão, por si própria e não porque lhe foi dito, que ela se tornou depen dente do álcool. Precisa ter chegado à conclusão de que não consegue sempre controlar a bebida e que, por tanto, precisa partir para uma vida de abstinência completa, apoiada na prá tica do programa dos Doze Passos. Antes que isto aconteça, nós que trabalhamos com alcoólatra precisa mos entender quais os fatores que in terferem com a capacidade do pacien te de reconhecer que ele tem um pro blema de bebida. O “ pre-tratamento” constitui a úl tim a fase do uso ativo do álcool. É também a primeira fase da recupera ção. Durante esta fase, os dependen tes começam a lutar com algumas rea lidades que se impõem a eles: a reali dade de que seu uso do álcool vem le vando cada vez mais a problemas; a realidade de que não adianta co n ti nuar tentando controlar o beber; a rea lidade de que simplesmente parar de beber por uma temporada não é o su ficiente — a abstinência terá de ser permanente; a realidade de que ape nas a abstinência, na ausência de uma mudança de vida e de valores, não po de ser a meta, porque significaria pas sar o resto da vida numa existência es téril, improdutiva e sem valor. As fases do “ pre-tratamento” que um dependente precisa completar pa ra ter a maior probabilidade de ser bem-sucedido num tratamento são as seguintes: 1. Deverá ter sofrido uma série de conseqüências negativas resultantes do seu beber. 2. Deverá ter tido a capacidade de reconhecer a ligação entre seu beber e os problemas sofridos. Isto é, deve rá ter tido a capacidade de entende.' que foi o seu beber que lhe causou os problemas. 3. Deverá haver tentado controlar o seu uso da bebida. 4. Deverá ter tentado viver sem a bebida... e sem a ajuda externa. 5. Deverá ter experimentado uma crise séria, conseqüência da bebida, sem que alguém resolvesse o proble ma por ela. Em outras palavras, deve rá ter chegado ao “ fundo do poço” (ler AM n.° 7, pg. 16). 6. Deverá ter concordado em acei tar um tratamento apropriado. Repito: para uma pessoa recupe rar-se através de um tratamento espe cializado, não é imprescindível que ha ja passado por estas fases. Mas o su cesso será bem mais provável se te nha passado por elas. E pode se afir mar que os que não se recuperaram após passar por um tratam ento ade quado, é porque não passaram ante riormente pelas fases “ pre-tratamento ” . Donald Lazo é sociólogo pela Universida de de Yale, EUA. Diretor da Comunidade Te rapêutica da Chácara Reindal. r e I CHÁCARA REINDAL Especializada em alcoolism o Sua melhor chance de se recuperar do alcoolismo . e iniciar uma vida nova, produtiva e feliz. Cx. Postal 20.836 01498 São Paulo, SP (Fone: (011) 520-9514) V _______ _________ / DONALD LAZO COMO O ALCOOLISMO AFETA OS OUTROS MEMBROS DA FAMÍLIA. O Bode Expiatório o drama vivido pela família que tem um alcoólatra no seu meio, uma outra pessoa que encontramos com bastante freqüência é o Bode Ex piatório. Alguns o chamam o Apron:ador da família. Normalmente — mas nem sempre — é o segundo filho fou filha). Quando o Bode Expiatório entra em cena — vamos chamá-lo de Pedrinho — ele descobre que já tem três atores no palco: papai (o Alcoólatra)', mamãe (a Facilitadora) e o irmão maior (o Herói). O fato de já existir um Herói na família significa que Pedrinho chegou tarde. O papel de He rói já foi assumido por outra pessoa. É uma pena, porque Pedrinho per cebe que ser bonzinho e agradar os outros geralmente inspira elogios e dá importância ao Herói (o irmão maior). Portanto, durante algum tempo Pedrinho também procurará usar a mesma tática. Mas, por algum motivo, parece não funcionar tão bem para ele quanto para o irmão. Ele não consegue obter o mesmo grau de aprovação que seu irmão maior obtém. Com o tempo, Pedrinho per cebe que. í>or bom que ele seja e por bem que ele se comporte, não conse gue competir com o irmão. Parece que os pais acostumaram elogiar tan to o outro que não sobraram elogios para Pedrinho. Por outro lado, Pedrinho apren deu algo que seu irmão maior tam bém já aprendeu: que não convém mostrar suas frustrações aos pais, seja em conversas ou através de brigas. Bem, as conversas nem se consideram N porque, em família onde existe o al coolismo, não existe o diálogo. As pessoas se comunicam mais através de reações, muitas vezes à base de gri taria e, em todo caso, nunca revelam o que realmente estão sentindo. Porisso, Pedrinho sabe que não adianta externar suas frustrações. Ser belige rante só vai gerar beligerância por parte dos pais, e todos sabemos quem vai ganhar essa briga. Para Pedrinho, melhor mesmo é fugir. Assim sendo, o Bode Expiatório se afasta dos demais membros da famí lia, passando cada vez mais tempo fo ra de casa. Com a mesma necessidade que todos temos de pertencer, de sen tir que fazemos parte de um grupo que nos aceita incondicionalmente, sejam quais forem nossos defeitos (uma necessidade geralmente preen chida pela família), Pedrinho procura preencher a necessidade fora de casa, através de seu grupo de amiguinhos. Se tiver a experiência típica de hoje em dia, Pedrinho encontrará uma se gunda maneira de fugir das frustra ções que sente em casa: experimenta rá a bebida, a maconha ou alguma outra droga. Ansioso como ele é para atrair a atenção dos pais — qualquer coisa que lhe mostre que eles sabem que ele existe — e com o papel de Herói já preenchido pelo irmão maior, Pedri nho descobre que há outras maneiras de atrair essa atenção. Ele começa a aprontar. Claro, tomar-se um filho problemático não irá conseguir-lhe os elogios que tanto almeja. Mas qual quer tipo de atenção é melhor que ne nhuma. Por causa de suas próprias frustra ções reprimidas dentro dele, Pedrinho sente-se atraído por outros jovens re voltados. Começam a aprontar jun tos, encontrando que na união existe a força. Há grandes vantagens em po der compartilhar com outros as frus trações, a raiva, a revolta da gente (como descobre todo membro da AA, Al-Anon, Neuróticos Anônimos e Toxicômanos Anônimos). Infeliz mente, também existem vantagens em compartilhar um comportamento re belde. É mais fácil fazer algo errado quando outros também o estão fazendo. E o que começa mal — se não for corrigido — tende a piorar. Em algum momento, há grande pro babilidade de Pedrinho se encontrar envolvido em um acidente de auto móvel, expulso da escola ou encren cado com a polícia. Também existe grande probabilidade dele ser o próxi mo alcoólatra da família. Ou seja, da mesma forma que os Heróis tendem a ser os Facilitadores da próxima gera ção, os Bodes Expiatórios tendem a ser os alcoólatras da próxima geração. Não é de se estranhar, por tanto, que estudos apontam para o fato de 52% dos alcoólatras serem fi lhos de pais ou mães alcoólatras. E agora, conhecendo melhor o Herói da Família pelo artigo do último nú mero de AVE MARIA, e sabendo que a metade dos Heróis são filhas, também não. nos deve surpreender o fato de encontrar, entre as esposas não-alcoólatras de maridos alcoóla tras, que 60°7o delas tiveram um pai alcoólatra. * ave maria 25