5 - CNEC Educação

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Sumário do Volume
História
Revolução na América 5
1. A Revolução Mexicana
1.1 Antecedentes da Revolução Mexicana
1.2 O Porfiriato
1.3 O processo revolucionário
1.4 O movimento constitucionalista
1.5 A Constituição de 1917
1.6 O México entre 1920 e 1928
1.7 O movimento zapatista de Chiapas
5
5
7
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12
13
15
15
Totalitarismo e guerra
21
2. A crise de 1929 e os regimes
totalitários na Europa
2.1 As origens da crise e o New Deal
2.2 As origens do Nazifascismo
2.3 O Fascismo na Itália
2.4 O Nazismo na Alemanha
2.5 A Guerra Civil espanhola e o governo
de Francisco Franco
2.6 A ditadura em Portugal
3. A Segunda Guerra Mundial
3.1 O caminho para a Guerra: o
Totalitarismo e o Imperialismo
3.2 Crises que antecederam a Guerra
3.3 As ofensivas do Eixo
3.4 A Guerra no Pacífico
3.5 O início da derrota Alemã
3.6 O desfecho do conflito
3.7 O fim da Guerra e o pesadelo nuclear
3.8 O Holocausto: O extermínio da
população judaica na Europa
3.9 Decisões diplomáticas e consequências
Oligarcas e Populistas
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58
4. A República Velha
58
4.1 O encilhamento de Rui Barbosa
59
4.2 A Constituição de 1891
59
4.3 A eleição de Deodoro e o governo
constitucional59
4.4 A República Oligárquica
62
4.5 A política dos governadores e o Café
com Leite
64
4.6 A Força do Coronelismo
65
4.7 A crise cafeeira e o Convênio de
Taubaté
66
4.8 Movimentos sociais durante a
República Velha
67
4.9 O movimento tenentista
76
4.10 A crise de 1929 e o declínio das
oligarquias
79
5. A Era Vargas e o Populismo na América
Latina87
5.1 O Governo Provisório
87
5.2 A Revolta Constitucionalista de 1932
88
5.3 O governo Constitucional
89
5.4 O Estado Novo
93
5.5 O fim do Estado Novo
97
5.6 O Populismo na Argentina e no México 99
5.7 O Populismo na Argentina
99
5.8 O Populismo no México
101
O mundo bipolar
107
6. A Guerra Fria
107
6.1 A divisão do mundo no pós-guerra: as
Conferências de Yalta e de Potsdam
108
6.2 A Formação da Cortina de Ferro
109
6.3 O desenrolar da Guerra Fria 111
6.4 O outro lado da Guerra Fria: o Bloco
Soviético114
6.5 A Revolução Chinesa
119
6.6 A China Comunista
120
Sumário Completo
VOLUME 1
Unidade: Revolução na América
1. A Revolução Mexicana     
Unidade: Totalitarismo e guerra
2. A crise de 1929 e os regimes totalitários na Europa
3. A Segunda Guerra Mundial
Unidade: Oligarcas e Populistas
4. A República Velha
5. A Era Vargas e o Populismo na América Latina
Unidade: O mundo bipolar
6. A Guerra Fria
VOLUME 2
Unidade: Do terceiro mundo ao socialismo na América
7. Descolonização Afro-Asiática
8. A Revolução Cubana
Unidade: Democracia e Ditadura no Brasil
9. República populista
10. O regime militar no Brasil e a redemocratização
Unidade: Ditaduras na América Latina
11. As ditaduras militares na América Latina
VOLUME 3
Unidade: A esquerda em ascensão na América Latina
12. A Revolução Chilena e a Sandinista
Unidade: Conflitos no Oriente Médio
13. O Oriente Médio – A criação do Estado de Israel no Oriente Médio e a Gênese dos conflitos
Unidade: Nova (Des) Ordem Mundial
14. A nova ordem mundial
15. Nova República – de Tancredo Neves ao governo Luiz Inácio Lula da Silva
16. América Latina na atualidade
História
A Revolução Mexicana
reVoluÇÃo Na amÉriCa
1. a reVoluÇÃo meXiCaNa
O
ano de 2010 marcou as comemorações do centenário de um dos movimentos de maior repercussão na
História da América Latina: a Revolução Mexicana. O movimento foi lembrado pela grande participação
popular, principalmente de camponeses engajados na luta por acesso a terra. As lutas e revoltas ocorridas
na década de 1910, ainda hoje, ecoam em regiões pobres do Sul do México, onde as condições de vida da
população são paupérrimas e a questão fundiária figura entre os problemas de destaque.
Atualmente, o País é marcado por grandes contrastes. Nas últimas décadas, houve um grande avanço
na economia, em parte, em decorrência da participação no NAFTA (North American Free Trade Agreement
ou Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). No entanto, a desigualdade social permanece, a qual
é mais evidente em algumas regiões, devido à disparidade no desenvolvimento econômico. Além disso,
a violência cresceu muito com o aumento do narcotráfico, que tornou o México o principal canal para a
entrada de drogas nos EUA. Essa situação gerou, inclusive, o envolvimento do governo estadunidense na
busca pela solução do problema, despertando críticas de boa parte da sociedade mexicana.
Apesar da permanência de alguns problemas existentes desde o período revolucionário, o cenário
atual mexicano é bem diferente. Sendo assim, é necessário conhecer o contexto histórico do final do século
XIX e no século XX.
Disponíveis em: <www.exonline.com.mx>; <www.bicentenario.gob.mx>; <http://fotspropagandista.blig.ig.com.br>. Acessos em: 10 jul. 2009. e Escola de
Comunicação Annenberg da Universidade do Sul da Califórnia
Homens da polícia mexicana no enfrentamento com o cartel de Tijuana, protestos EZLN, mexicanos tentam atravessar a fronteira
com os EUA e cartaz comemorativo do Bicentenário da Independência do País.
1.1 Antecedentes da Revolução Mexicana
Os primeiros movimentos em prol da independência do México tiveram início em 1810 com as ações do
padre Miguel Hidalgo, que incitou a população a lutar contra as péssimas condições sociais e econômicas
dos camponeses e indígenas. Foi responsável por uma manifestação conhecida como o Grito de Dolores.
Após a tentativa fracassada de Hidalgo, foi a vez do padre José Maria Morelos, que, em 1813,
convocou o Congresso de Chilpancingo, (Congresso Nacional Constituinte), e redigiu o documento
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História
A Revolução Mexicana
conhecido por Sentimentos da Nação, no qual
afirmou a ideia de independência absoluta do
México. Morelos acabou executado, assim como
o padre Hidalgo, mas foi sucedido por Vicente
Guerrero.
Disponível em: <http://libweb.hawaii.edu>. Acesso em: 20 fev. 2010.
Cartaz em homenagem ao padre Miguel Hidalgo.
Guerrero diferenciou-se por comandar
mobilizações não somente pela independência
mexicana, mas também contra a elite criolla.
Índios, mestiços e negros reivindicavam o fim
da escravidão, a divisão de terras, a abolição de
tributos, a igualdade de direitos e a condenação
dos peninsulares (espanhóis residentes na Colônia
que formavam a aristocracia e ocupavam os cargos
públicos).
Os peninsulares e os membros do clero,
sentindo-se ameaçados, pactuaram com os
revolucionários a proclamação da independência
em troca da manutenção de seus privilégios.
Vicente Guerrero, líder das massas, aliou-se ao
General Agustín de Iturbide e, juntos, redigiram o
Plano de Iguala, que continha a proclamação da
Independência do México e também estabeleceu
outras metas: igualdade de direitos, supremacia da
religião e um governo monárquico sob o comando
de Fernando VII, rei de Espanha.
Em 27 de setembro de 1821, Agustín de
Iturbide foi declarado presidente de uma Junta
Governamentista que constituiu a Regência do
México. Um pouco mais tarde, mesmo diante
de manifestações populares de violência e
vandalismo, o Exército proclamou e o Congresso
ratificou o nome de Agustín de Iturbide como
imperador do México.
Somente em 1824, foi promulgada uma
Constituição que estabelecia uma República
federativa tendo à frente Guadalupe Vitória, o
primeiro presidente mexicano.
Os próximos anos da história mexicana
foram marcados pela instabilidade. Mediante as
crises políticas e a perda de territórios, o México
permaneceu corroído por problemas econômicos e
sociais. De 1821 a 1850, o País possuiu cinquenta
governantes que não conseguiram estabilizar a
sociedade, sendo o partido Liberal e o Conservador
os principais grupos políticos no cenário mexicano
da época.
Até 1854, o México foi governado pelo Partido
Conservador, com o apoio da Igreja, do Exército
e dos latifundiários, mas, a partir dessa data,
campanhas de modernização feitas pelo Partido
Liberal conquistaram grande parte da população.
O liberal Benito Juárez, um advogado mestiço,
educado nas melhores escolas, tornou-se presidente
em 1861. Entretanto, suas reformas eliminaram
privilégios da Igreja, provocando uma violenta
oposição ao Partido Conservador.
Diante dessa situação, os conservadores
apoiaram o audacioso plano expansionista do
imperador francês Napoleão III, de invadir o
México, o qual foi concretizado em 1863. A
França, a quem o México devia, adotou a postura
neocolonial porque o presidente Juárez, diante
das dificuldades econômicas do País, decretou a
moratória, prejudicando os credores externos.
No México, os franceses estabeleceram um
império cuja coroa foi entregue ao príncipe
austríaco Maximiliano, apoiado por Napoleão III.
Explodiu, então, uma violenta guerra civil, vencida,
com apoio popular, pelos liberais mexicanos. Os
EUA também apoiaram a luta contra o príncipe
austríaco, em concordância com a Doutrina
Monroe. Desse modo, Maximiliano foi executado
e, em 1867, o México voltou a ser uma República
independente, e o liberal Benito Juárez retornou à
presidência.
Juárez nacionalizou os bens da Igreja, ou seja,
as propriedades e outras riquezas do clero passaram
História
A Revolução Mexicana
a pertencer ao Estado. As terras foram vendidas
para alimentar a economia do País, que enfrentava
dificuldades. Essas medidas também afetaram as
comunidades indígenas, acusadas de atrapalhar
o progresso ao produzir apenas para a própria
subsistência. Assim, com a finalidade de estimular
a produção para o mercado, e com a justificativa
de que isso melhoraria a vida dos índios, o governo
loteou parte das terras indígenas, transformandoas em propriedades privadas.
Os resultados foram desastrosos: com poucos
recursos e sem meios de escoar a produção, os
índios acabavam vendendo ou perdendo seus
domínios para os latifundiários. A concentração
de terras nas mãos de poucos aumentou, enquanto
cresceu a miséria.
Mesmo apoiado pelo povo, nos três períodos
para os quais foi eleito, Benito Juárez não usufruiu
de paz permanente. Ao mesmo tempo em que
impulsionava o País ao progresso, pautado nas
ideias de ordem e respeito às leis e organizando
uma das maiores reformas educativas no México,
enfrentou também sublevações dos militares e
ruptura política no partido Liberal do qual fazia
parte.
Antes de morrer, em 1872, Benito Juárez,
percebeu que deixaria o México no caminho do
progresso, mas não da paz que tanto pregara. Após
a morte de Juárez, a presidência foi ocupada por
Sebastián Lerdo de Tejada, que deu continuidade
às medidas adotadas por seu antecessor. Em 1876,
Tejada até tentou se reeleger, mas Porfírio Díaz e
seus partidários mudaram os rumos da história
mexicana.
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1.2 O Porfiriato
Di
s
Porfírio Díaz.
Em
nome da garantia
da paz e da segurança
do povo mexicano,
chegou ao poder,
por meio de um
movimento militar,
o general Porfírio
Díaz, que havia se
destacado na luta
contra os franceses.
Surgiu
como
o
homem “providencial e
venturoso” e ocupou a
presidência do México, por aproximadamente,
três décadas. Assumiu em 1876 e governou até
1880, retornou em 1884 e manteve-se no poder
até 1910, quando foi deposto pela Revolução.
Esse período ficou conhecido como Porfiriato.
Nesses longos anos de governo, Porfírio Díaz
empenhou-se em pacificar a República, utilizando
o lema de “pouca política e muita administração”.
Ao mesmo tempo em que mediava disputas entre
a classe dominante, oferecia a ela associações com
capitais estrangeiros que, na sua visão, levariam
o México aos benefícios materiais necessários ao
progresso. Assim, convencia a elite a abandonar a
oposição a fim de fortalecer seu governo.
À frente da economia estavam os chamados
científicos, intelectuais influenciados pelo
Positivismo e responsáveis pelo desenvolvimento
econômico ocorrido na época. Um bom exemplo
é o caso da ampliação das ferrovias por empresas
estrangeiras. Em 1873, o País possuía 572 km e,
em 1910, a malha ferroviária chegou a 19 205 km.
Se, por um lado,
as reformas de Porfírio
beneficiaram
alguns
setores, por outro,
promoveram grandes
malefícios à boa parte
da população. Um
exemplo disso é a
dissolução dos ejidos,
que eram áreas de uso
comum de todos os
habitantes de uma
aldeia ou povoado,
os quais garantiam
a sobrevivência da VELASCO, José Maria. Obra
maioria da população retratando uma locomotiva
atravessava o vale do
de origem indígena. que
México. Nessa época, as
O ejido era o sistema ferrovias eram sinônimo de
indígena de propriedade progresso.
comunitária da terra,
existente desde antes da chegada de Colombo
e mantido durante o Período Colonial. Em
1886, uma lei exigia que todos os proprietários
apresentassem documentos comprovando a
posse de suas terras. Como a grande maioria dos
indígenas não possuía a documentação exigida, as
suas terras foram confiscadas pelo governo, que as
vendeu aos grandes aliados do regime: capitalistas
estrangeiros e latifundiários.
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História
A Revolução Mexicana
Além disso, durante o Porfiriato, o Exército mexicano representou uma força de sustentação do regime,
assegurando a ordem interna contra qualquer tentativa de golpe ou de insurreições populares. Através de
gratificações à alta oficialidade e da prática do remanejamento de comandos, a ditadura controlava os
militares, enquanto os Federales, que eram os soldados (muitos deles recrutados à força) sofriam privações
e não possuíam qualquer espírito de tropa.
A questão agrária era tão grave no México, que o governo criou uma força militar rural para manter
a paz no campo: os Rurales. Desse modo, o camponês, além de ser despejado de suas terras, vivia
atemorizado diante da violência dos Rurales. Mesmo assim, eclodiram inúmeras revoltas camponesas.
O trecho seguinte revela particularidades da questão agrária:
“Em 1910, realizou-se um recenseamento, cujas cifras são muito úteis para nos dar um ‘mapa’ social no
momento em que se instalou a Revolução (1910). O País tinha 15 milhões de habitantes, dos quais um milhão
na Cidade do México. A grande maioria da população estava no campo, onde estavam registrados 70% dos
economicamente ativos.
A população rural economicamente ativa dividia-se em oitocentos e quarenta fazendeiros (hacendados),
quarenta e um mil camponeses e três milhões de trabalhadores rurais (peões). Considerando que grande
parte dos camponeses são empregados dos fazendeiros, e tendo em conta o tamanho da família camponesa,
calcula-se que 12 milhões de pessoas, 80% da população, dependia economicamente dos 840 fazendeiros,
donos da maior parte do território mexicano”.
HERZOG, Jesus Silva. Breve História de la Revolución Mexicana. México: FCE, 1972.
Outro problema enfrentado pelos trabalhadores
rurais era o endividamento nas chamadas Tiendas
de raya, comércio em que os trabalhadores
deveriam comprar seus alimentos, suas roupas e
outros artigos. As tiendas pertenciam ao próprio
fazendeiro ou a particulares que possuíam acordos
com os fazendeiros. Para as compras, eram usados
vales pagos pelos patrões, como parte dos salários, ou
as mesmas eram debitadas dos salários. Na maioria
das vezes, os gastos dos trabalhadores ultrapassavam
os seus ganhos.
Disponível em: <http://es.wikipedia.org>. Acesso em: 10 set. 2009.
Tienda de Pulque en Tacubaya.
Em síntese, o campo encontrava-se nas mãos da aristocracia rural, as minas, o comércio, os bancos e as
poucas indústrias eram sustentados pelo capital estrangeiro, principalmente estadunidense e inglês. Assim,
o Porfiriato foi a somatória de um pacto social entre os latifundiários e o capital externo, característica da
maioria dos países da América Latina no final do século XIX. Nesse período, é inegável o crescimento da
economia mexicana, no entanto o desenvolvimento social não fez parte das mudanças da época. A reflexão
seguinte resume a origem da Revolução da década de 1910:
“A Revolução não nasceu como filha da miséria e da estagnação, e sim da desordem provocada pela
expansão e mudança.”
CAMÍM, Hector Aguillar e MEYER, Lorenzo. A sombra da Revolução Mexicana: História mexicana contemporânea, 1914-1989. São Paulo: Edusp, 2000.
1.3 O processo revolucionário
Em 1901, surgiu o jornal Regeneração, que combatia a ditadura de Porfírio Díaz, propagando ideias
revolucionárias muito próximas dos conceitos anarquistas. Embora o jornal fosse clandestino, publicou,
em 1906, o Manifesto à Nação, pedindo a derrubada de Díaz e reformas econômicas, políticas e sociais.
História
A Revolução Mexicana
Em 1910, acusado de incitar o povo à rebelião,
Madero foi preso, enquanto se realizavam as
eleições que, obviamente, deram a vitória a Díaz.
Ao ser libertado, Madero fugiu para o Texas,
onde foi elaborado e publicado o Plano de San
Luís Potosi, que considerava as eleições ilegais e
defendia a reforma agrária, as eleições livres, a não
reeleição, dentre outros. Esse plano tornou-se a
plataforma da Revolução de 1910.
Leia o seguinte trecho do Plano:
“Fazendo eco da vontade nacional, declaro ilegais
as eleições passadas e ponho fim à República sem
governantes legítimos, assumo provisoriamente a
Presidência da República, enquanto o povo designa
conforme a lei os seus governantes.”
Disponível em: <www.wikipedia.org>. Acesso em: 20 fev. 2010.
Exemplar do periódico Regeneración, publicado pelos
irmãos Flores Magón.
Paralelo a esse movimento, surgiu um
outro movimento antiporfirista comandado por
Francisco Madero, um rico proprietário de terras
e minas no Norte do País. Madero, aproveitando a
declaração de Díaz em 1908, na qual afirmava que
não se candidataria em 1910, publicou um livro
contra o continuismo do Porfiriato e ressaltou
fraudes existentes no processo eleitoral; defendeu
a liberdade de imprensa e de ensino, os programas
democráticos, a normalidade constitucional e as
reformas eleitorais.
Francisco Madero ganhou adeptos entre os
setores da classe média e estudantes que, até então,
eram excluídos de participação política. O plano
inicial era colocar Madero como vice na chapa de
Díaz, lembrando que o ditador já contava com
quase 80 anos. Porém, como este não aceitou,
os aliados de Madero iniciaram forte campanha
entre os operários e os peões dos povoados.
A defesa da reforma agrária no Plano de
San Luís de Potosi foi decisiva, pois agradou
aos camponeses que acabaram participando
ativamente da luta contra a ditadura de
Porfírio. Assim, Madero conseguiu conquistar a
popularidade necessária para continuar se opondo
a Porfírio.
Nos Estados de Morelos e Guerrero, ao Sul
do País, chefiados pelo líder agrarista Emiliano
Zapata, os camponeses incendiaram fazendas e
refinarias de açúcar, muitas vezes assassinavam
os proprietários e capatazes e foram aparelhando,
com cavalos e fuzis capturados, um verdadeiro
exército camponês. No Norte do México, o
movimento camponês foi dirigido por Pancho
Villa, que também lutava sob a bandeira da
reforma agrária.
Pancho Villa e Emiliano Zapata.
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10
História
A Revolução Mexicana
De 1910 a 1911, os exércitos camponeses
ampliaram sua atuação, combateram o Exército
Federal e os latifundiários, conquistando vilas e
cidades. Os índios também tiveram participação,
a qual era um dos maiores objetivos da Revolução,
pois os indígenas eram vistos como símbolos da
resistência ao colonizador.
Em 1911, as massas populares irromperam
nas ruas da capital mexicana. A revolução que
começara no interior do País chegava, finalmente,
à capital.
OROZCO, José Clemente de. Zapatistas.
O ditador Porfírio Díaz renunciou e partiu
para o exílio na Europa. Em junho do mesmo ano,
Madero entrou vitorioso na Cidade do México,
aclamado pela população. Em agosto de 1911,
Madero foi indicado presidente pela Assembleia
Geral do Partido Constitucional Progressista. Em
novembro de 1911, eleições foram realizadas e
Madero foi oficialmente eleito.
No poder, o grupo madeirista viu-se
pressionado por duas forças antagônicas: os
revolucionários e os contrarrevolucionários.
De um lado, liderados por Emiliano Zapata,
os camponeses exigiam a reforma agrária, objetivo
pelo qual haviam formado filas para lutar na
Revolução; do outro lado, as forças reacionárias,
constituídas pela oligarquia latifundiária, pela
burguesia monopolista e por representantes do
capital internacional, que temiam perder seus
privilégios e, assim, eram contrários a mudanças
radicais na sociedade.
Entre os reacionários, os representantes do
capital estrangeiro, principalmente dos Estados
Unidos, era a maioria e haviam apoiado a derrubada
de Díaz, pois a ditadura de Porfírio estava
favorecendo os capitais ingleses, contrariando
interesses estadunidenses.
No momento, em que o grupo madeirista
esteve no poder, foi possível perceber que a
Revolução não foi vitoriosa devido a alguns
fatores. Além dos já citados, destacaram-se:
• o poder político local era controlado por chefes
políticos da região, o chamado Caciquismo;
• a existência de privilégios econômicos e políticos
para a oligarquia agrária;
• os camponeses sem-terra eram submetidos a
situações de semiescravidão;
• a superexploração do operariado nas cidades;
• o crescimento das empresas monopolistas
estrangeiras, prejudicando as pequenas e médias
empresas mexicanas.
Imerso em problemas internos, econômicos
e sociais, o presidente Madero perdeu a
popularidade. Para Madero, a luta teria atingido
seus objetivos, pois a democracia havia retornado
ao cenário mexicano, mas, para os camponeses, a
reforma agrária estava bem distante da realidade.
Inclusive, uma medida de Madero despertou ainda
mais a revolta dos camponeses, ou seja, prometeu
devolver os ejidos e passou a exigir a documentação
das terras para devolvê-las, o que era uma ironia,
já que os indígenas as perderam no Porfiriato
justamente por não possuírem documentação.
A revolução popular não triunfou, os
camponeses e os operários urbanos não obtiveram
melhorias em sua condição de vida.
Assim, os camponeses do Sul, sob o comando
de Emiliano Zapata, continuaram armados e
resistiram às ofensivas do Exército mexicano
usado por Madero para combater os revoltosos.
Graças às táticas de guerrilha, mesmo tendo menor
número de armamentos, conseguiam vitórias. Em
novembro de 1911, os zapatistas firmaram o Plano
de Ayala, no qual Madero, antes considerado
chefe da Revolução, era chamado de “traidor da
Pátria”.
O Plano apelava para que o povo mexicano
usasse as armas para derrubar o governo. Através
do Plano, previam a devolução das terras usurpadas
aos seus legítimos proprietários (as comunidades
indígenas e os camponeses); a expropriação seria
feita mediante indenização da terça parte aos
latifundiários e haveria a nacionalização dos bens
daqueles considerados “inimigos da Revolução”.
História
A Revolução Mexicana
Ampliando os horizontes
Leia algumas determinações do Plano de Ayala:
“[...] Declaramos o Sr. Francisco Madero incapaz de realizar as promessas da Revolução de que foi autor,
por haver traído os princípios com os quais enganou a vontade do povo e pôde chegar ao poder: incapaz
de governar por não ter nenhum respeito à lei e à justiça dos povos, e traidor da pátria por estar a sangue e
fogo humilhando os mexicanos que desejam liberdade, a fim de ajudar os doutores, fazendeiros e chefes que
nos escravizam. E desde hoje recomeçaremos a Revolução iniciada por ele, até conseguirmos a derrota dos
poderes ditatoriais que existem.
[...] Fazemos saber que os terrenos, montes e água usurpados pelos fazendeiros [...] serão recuperados
desde já pelos povos ou cidadãos que disponham de títulos correspondentes a essas propriedades, de que
foram privados pela má-fé de nossos opressores, e eles conservarão a qualquer preço, de armas em punho,
as possessões mencionadas; quanto aos usurpadores que julgarem ter direito sobre elas, poderão recorrer
aos tribunais especiais que se estabelecerem após o triunfo da Revolução.”
No Norte do País, sob o comando do general Pascual Orozco, os camponeses também se levantaram em
armas, enquanto Pancho Villa se manteve fiel ao governo de Madero. Nas cidades, a população organizava-se
em associações diversas, das quais a mais importante foi a Casa do Operário Mundial (COM - Casa
del Obrero Mundial) que sofreu influência das ideias anarquistas. Era a revolução dentro da Revolução.
Um forte exército foi enviado pelo governo de Madero, para combater as forças de Zapata, porém
o movimento revolucionário conseguiu se manter. Leia as palavras de Zapata a respeito do governo de
Madero:
“A fatal ruptura do Programa de São Luis de Potosí motivou e justificou nossa rebeldia contra
aquele que invalidou todos os compromissos e defraudou todas as esperanças... combatemos Francisco
Madero, combateremos outros cuja administração não tenha por base os princípios pelos quais temos
lutado.”
Além desses problemas enfrentados por Madero, a queda de Díaz não representou na prática
problemas para os capitalistas estadunidenses, entretanto a revolução social, que avançava pelo interior
do País, punha em perigo os seus interesses. Para os capitalistas estrangeiros a mudança no governo
mexicano deveria limitar-se a uma troca de homens e não a uma mudança radical na estrutura econômica.
A questão do petróleo teve influência decisiva para que o governo dos Estados Unidos apoiasse
a contrarrevolução interna. Justamente nos anos do governo Madero, a nascente indústria petrolífera
mexicana tornou-se fundamental para os EUA que, na época, desenvolviam a sua indústria
automobilística. No governo Díaz, as companhias estadunidenses gozavam praticamente de isenção
fiscal, mas, a partir de 1912, foi criado um imposto de vinte centavos por tonelada de petróleo extraído,
prejudicando os interesses estadunidenses.
Em 1914, desgastado e débil, o governo maderista não resistiu a um golpe promovido pelo general
Victoriano Huerta, apoiado pelos antigos porfiristas. Huerta, além de assumir o poder, ordenou o
assassinato de Madero e de seu vice, Pino Suarez.
Trabalhando com textos
O CARÁTER IDEOLÓGICO DA REVOLUÇÃO
Entre 1910 e 1920, o México foi sacudido por uma série de lutas e revoltas conhecidas como a Revolução
Mexicana, as quais tentaram transformar o sistema político e social criado por Porfírio Díaz. A Revolução
Mexicana, que contribuiu para formar o México contemporâneo, não teve um caráter homogêneo, mas
consistiu em uma série de revoluções e conflitos internos, protagonizados por distintos chefes políticos e
militares que foram sacudindo o governo da Nação.
Em suas origens, as primeiras tentativas revolucionárias, inspiradas por Francisco Madero, pretendiam
derrotar Porfírio Díaz, que havia se mantido no poder durante mais de trinta anos. Após o triunfo dos maderistas,
a necessária reconstrução do País foi dificultada pelas disputas entre as próprias facções revolucionárias.
Enciclopédia Hispânica. Barcelona: Encyclopaedia Britannica Publishers, 1992-1993.
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12
História
A Revolução Mexicana
Para o escritor mexicano Otavio Paz, é a ausência de uma ideologia única e de um programa que traz
a esse movimento “... originalidade e autenticidade populares. Daí provém sua grandeza e suas fraquezas.”
Para ele, a Revolução Mexicana é um movimento de reconquistar o passado dos mexicanos, assumi-lo é
torná-lo vivo no presente.
1
Cite e comente a característica da Revolução Mexicana citada nos trechos anteriores.
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1.4 O movimento constitucionalista
O
golpe de Estado que derrubou o presidente Madero foi aprovado pela Igreja Católica, sobretudo pelo
alto clero, pelos grandes industriais e comerciantes, bem como pelos banqueiros ingleses, interessados no
petróleo e nas minas.
Nessa ocasião, na Europa, já era iminente o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, e os EUA
mudaram a sua política externa, que procurava formar nações democráticas no continente e, assim, no
caso mexicano, o governo estadunidense não reconheceu o governo de Huerta, principalmente por conta
dos assassinatos de Madero e de seu vice.
O novo governo mexicano, sentindo-se isolado, procurou conquistar o apoio da Inglaterra, que tinha
interesse no petróleo mexicano, levando os EUA a começarem a ver, no México, um apêndice europeu
na América Latina, o que, evidentemente, não os agradava. Passaram, então, a apoiar a derrubada da
ditadura de Huerta. Os desacordos levaram, inclusive, os EUA a promoverem a invasão e a ocupação da
zona petroleira de Tampico e de Vera Cruz por, aproximadamente, seis meses.
Disponível em: <http://es.wikipedia.org>. Acesso em: 30 out. 2009.
Navios estadunidenses cercam o porto de Vera Cruz e, após seu domínio, marines hasteiam a bandeira dos EUA.
Os camponeses de Villa, no Norte, e, de Zapata, no Sul, continuaram a sua luta pela reforma agrária.
Enquanto as forças camponesas incendiavam fazendas, surgia uma nova liderança, Venustiano Carranza.
História
A Revolução Mexicana
A principal bandeira de luta de Carranza era a
defesa da constitucionalidade e a pacificação do
País, ou seja, o restabelecimento da ordem, de
acordo com os interesses burgueses. Em defesa de
suas ideias, procurou aliados e formou o Exército
Constitucionalista. Carranza e seus homens
rebelaram-se contra Huerta, aumentando ainda
mais os conflitos armados pelo território mexicano.
Diante de tantas pressões, Huerta renunciou
e acabou partindo para a Espanha. Carranza
assumiu o poder, no início de 1915, prometendo
pôr fim aos conflitos, restabelecer os ejidos
através da reforma agrária e estabelecer uma nova
Constituição.
Uma parte da classe operária apoiou o
novo governo, que prometia legislar a favor
dos assalariados e dar facilidades para que
estes se organizassem. Inclusive, essa parte do
operariado lutou contra os camponeses em apoio
à causa constitucionalista, e formou os Batalhões
Vermelhos. Esses batalhões foram envolvidos
pelas promessas de Carranza, que afirmava ser
necessário primeiro pacificar o País para depois
tomar as medidas favoráveis aos trabalhadores. À
medida que as vitórias contra os camponeses iam
se consolidando, o governo de Carranza dissolvia
os batalhões, sem cumprir suas promessas. Os
operários ficaram descontentes e, em 1916, fizeram
uma greve geral que foi violentamente reprimida
pelo governo, que acabou impondo a pena de
morte, suspendendo as atividades da Casa do
Operário Mundial e expulsando do País os líderes
operários de origem espanhola. Deve-se ressaltar
que uma pequena facção operária solidarizou-se
com os camponeses.
A revolução popular obrigou o governo a
decretar uma série de medidas que regularam a
distribuição das terras improdutivas e, também,
melhoraram as condições de trabalho dos
operários nas indústrias.
Mais uma vez, a questão do petróleo teve
importância. O Estado procurou aumentar a
sua participação nos benefícios gerados pela
exploração, cobrando impostos, restringindo
a compra e venda dos terrenos petrolíferos,
dentre outras medidas, o que acabou levando
à nacionalização do petróleo mexicano.
Inicialmente, o governo dos EUA havia apoiado
Carranza, mas, diante dessa realidade, alegou que
o governo mexicano pretendia entregar o petróleo
aos alemães e ingleses, e, assim, acabou realizando
novas intervenções nas zonas petrolíferas, de 1914
a 1920. Nesse período, destacou-se a perseguição
das forças armadas dos EUA, comandadas pelo
general Pershing, a Pancho Villa, a qual foi uma
verdadeira demonstração do poderio militar
estadunidense.
1.5 A Constituição de 1917
No
governo de Carranza, que enfrentou
momentos difíceis, foi criada uma Convenção
Constituinte
composta
apenas
por
constitucionalistas, ou seja, por partidários de
Carranza, com exclusão do clero, latifundiários,
bem como adeptos de Zapata e Villa, responsável
pela elaboração da Constituição de 1917.
Inspirada em parte nos modelos estadunidense e
francês, foi considerada uma das mais avançadas
do Mundo na época. Politicamente, seguia o
Liberalismo. A seguir, veja as principais definições
desse documento:
• mantinha os princípios do governo representativo
e a divisão de poderes (Executivo, Legislativo e
Judiciário);
• decretava a integração dos governos estaduais e
municipais;
• garantia a segurança do indivíduo e da
propriedade;
• estabelecia o direito de propriedade do Estado
sobre as terras, as águas e as riquezas do subsolo;
• estabeleceu o sufrágio universal e as eleições
diretas para presidente;
• criava leis trabalhistas nas quais todos os
trabalhadores, incluindo os camponeses, tinham
direito ao salário e à jornada de trabalho diária de
8 horas;
• proibia o trabalho servil e infantil;
• definia o direito de greve, organização sindical e
a criação da Justiça do Trabalho;
• estabelecia princípios de reforma agrária;
• criava o ensino laico e de responsabilidade do
Estado, preservando o setor privado;
• estabelecia o casamento civil obrigatório e único
válido;
• em geral, adotavam-se princípios nacionalistas.
Dentre os artigos da Constituição destacou-se
o que regulamentava o direito de propriedade do
Estado sobre as terras, sobre as águas e sobre as
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História
A Revolução Mexicana
riquezas do subsolo, os quais estavam antes controlados pelo monopólio estrangeiro, principalmente dos
EUA. Os princípios de reforma agrária também se destacaram, pois, nos anos posteriores, terras foram
distribuídas aos camponeses.
É bom lembrar que, nesse momento, ocorria a Primeira Guerra na Europa e os EUA aproveitavam
para desenvolver suas indústrias, não tendo assim interferido nas mudanças ocorridas no México.
Depois de promulgada a Constituição de 1917, intensificaram-se as pressões por parte do governo
estadunidense e dos grupos monopolistas estrangeiros, principalmente dos representantes das companhias
de petróleo, dos latifundiários e do clero contra o governo nacionalista de Carranza.
Com as mudanças decorrentes da Constituição, o movimento revolucionário promovido pelos
camponeses foi perdendo força e, em 1919, sofreu uma grande perda, o assassinato de Zapata. O
defensor da Tierra y Libertad foi baleado em uma cilada por, aproximadamente, cem soldados enviados
pelo governo de Carranza. O outro líder, Pancho Villa, acabou derrotado devido às ofensivas militares
organizadas pelo governo e assassinado em 1923 em condições misteriosas. Os assassinatos de Zapata e de
Villa deveriam pôr fim aos resquícios da Revolução e apagar as suas marcas. No entanto, principalmente
no Sul do País, Zapata tornou-se uma lenda e é lembrado como um grande herói. Já no Norte, mais
capitalista, os governantes buscaram afastar a população das lembranças da figura de Pancho Villa ou
denegrir sua imagem.
Em 1920, o próprio Carranza foi assassinado por criminosos pagos por companhias petrolíferas
estadunidenses, insatisfeitas com algumas de suas medidas nacionalistas.
Ampliando os Horizontes
A LENDÁRIA ADELITA
Segundo muitos mexicanos, durante a Revolução uma moça de alta classe da Cidade do México aderiu
às ideias revolucionárias e integrou-se aos revoltosos. Seu nome verdadeiro era Altagracia Martínez, mas foi
batizada, por Pancho Villa, como Adelita. Outros dizem que, na realidade, Adelita foi uma enfermeira chamada
Aderla Velarde. Aos poucos, as demais mulheres que lutaram na Revolução também ficaram conhecidas
como Adelitas. E não foram poucas, muitas mulheres seguiram seus maridos e atuaram nas lutas ou deram
suporte aos revolucionários.
As músicas populares a respeito da participação feminina na Revolução colaboraram para que essas
mulheres se tornassem parte importante do imaginário mexicano. Veja um pequeno trecho, em espanhol, de
uma canção popular referente à Adelita:
“Si mi Adelita se fuera con otro
La seguiría por tierra y por mar
Si por mar en un buque de guerra
Si por tierra en un tren militar.”
À esquerda, uma foto de mulheres preparadas para o combate e à direita uma pintura idealizando Adelita. Observe que na foto as
mulheres se encontram em um vagão de trem, que era o principal meio de locomoção dos revolucionários.
História
A Revolução Mexicana
1.6 O México entre 1920 e 1928
Após as mortes de Zapata, de Carranza e de
Pancho Villa os ideais da Revolução Mexicana
foram limitando-se a pequenas reformas
executadas pelos próximos presidentes mexicanos.
Para muitos autores, a eleição do General
Álvaro Obregón à presidência, em 1920, colocou
fim à Revolução Mexicana propriamente dita e
deu início a uma complexa fase de reconstrução
nacional. Complexa, em grande parte, porque o
País estava em frangalhos, e o pouco que restava
estava sob domínio de capitais estrangeiros.
Durante o governo de Obregón, foram
tomadas algumas medidas populares, como a
nacionalização de algumas empresas e uma tímida
continuidade ao processo de reforma agrária. Além
disso, o governo passou a controlar os sindicatos
de operários através da criação de uma central
sindical. Obregón manteve-se claramente submisso
aos interesses estadunidenses, comprometendose, entre outras coisas, a indenizar as petrolíferas
dos EUA pagando o valor real pelas empresas
nacionalizadas.
Em 1924, foi eleito o presidente Plutarco
Elias Calles, que afirmava ser herdeiro da
Revolução e de seus líderes. No início de seu
governo, Calles realmente adotou algumas
medidas populares, contrariando os interesses dos
latifundiários, da Igreja Católica e dos EUA. Com
o tempo, no entanto, Calles dobrou-se às pressões
capitalistas internas e externas e, mesmo com a
criação da Petromex (equivalente à Petrobras no
Brasil), pouco fez para implementar os verdadeiros
objetivos da Revolução de 1910. Gradativamente,
os ideais dos revolucionários foram se distanciando
das ações dos governantes, causando frustração e
insatisfação nos trabalhadores.
Enfim, a Revolução Mexicana foi o primeiro
grande acontecimento revolucionário do século
XX na América Latina; seu impacto foi ressonante
na consciência do Mundo ocidental. Mas,
percebe-se que seu lema “Terra e Liberdade” foi
se perdendo junto aos interesses da elite mexicana.
Como disse Eric Wolf, “a vitória final volta à elite,
que tinha criado um exército viável, demonstrando
sua competência burocrática e consolidando
o domínio sobre as exportações, setor vital da
economia”.
1.7 O movimento zapatista de
Chiapas
(...) “Enquanto o México se desenvolveu, a região
indígena de Chiapas continuou parada no século
XIX. As crianças ainda morrem de doenças como
disenteria. Enquanto o estado tem sete quartos
de hotel para cada habitante, os leitos de hospital
são apenas 0,4 para cada residente. Outro fato:
enquanto Chiapas é o terceiro produtor nacional de
energia elétrica, e o primeiro em hidroenergia, só
um terço das casas indígenas tem luz, e a maioria
nem mesmo possui um lampião a gás. A cada 35
minutos uma pessoa morre de fome. De cada 100
moradores, 54 são desnutridos. Foram décadas –
senão séculos – de exploração e esquecimento.
O México tem orgulho do seu passado maia e
asteca, mas esqueceu de que seus descendentes
mais próximos estão vivos, e deixou-os à margem
do desenvolvimento.” (...)
Extraído da revista Cadernos do Terceiro Mundo, nº 232 – 2001.
Situado no extremo Sul, o estado de Chiapas é
o mais pobre do México. Em janeiro de 1994, cerca
de mil camponeses de origem indígena reacenderam
as chamas da revolta, adormecidas em 1919 com
a morte de Zapata. Organizados no Exército
Zapatista de Libertação Nacional (EZLN),
ocuparam de surpresa seis cidades da região. Nos
combates travados com tropas do governo, 145
pessoas morreram. Seu líder, o subcomandante
Marcos, declarou guerra ao governo mexicano,
principalmente, devido à assinatura do NAFTA.
Vale ressaltar que o principal objetivo dessas ações
era chamar a atenção do Mundo através da mídia
para a dura realidade do Sul do México, pois
o governo, na época da assinatura do NAFTA,
apresentava um México distante da realidade vivida
no Sul.
Temeroso, o governo aceitou negociar.
Nos três anos seguintes, porém, as negociações
não avançaram muito. Em setembro de 1997,
representações zapatistas de povoações indígenas
marcharam sobre a capital do México, exigindo que
suas reivindicações fossem satisfeitas.
A resposta do governo foi a repressão e a
ocupação militar de Chiapas. Em dezembro, 45
indígenas ligados aos zapatistas foram mortos
em um massacre na aldeia de Acteal. O crime
chocou o Mundo. Na Europa, amplos setores da
intelectualidade passaram a demonstrar apoio
ao movimento. No começo de 1998, artistas,
escritores e cientistas sociais de várias partes do
Mundo estiveram em Chiapas, participando de um
congresso promovido pelo ELZN.
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