Análise da Qualidade da Água em Estabelecimentos

Transcrição

Análise da Qualidade da Água em Estabelecimentos
Análise da Qualidade da Água em Estabelecimentos Leiteiros Associados
da Cooperativa Agropecuária Batavo – Carambeí - PR
Marcos Souza Barros1
Luís Augusto Pfau2
Fabiano Iker Oroski3
Resumo
A qualidade da água deve ser o primeiro parâmetro a ser observado
com vistas a eficiência dos sistemas de produção de leite. Trabalhos de Adans,
S.R. (2004), Britten, A M. (2003), Iramain, M.S.(2003) demostraram a
interferência que a qualidade da água impõe no aumento da contagem de
células somáticas no leite, na incidência de mastite em bovinos, na
higienização das instalações e equipamentos utilizados pelo produtor de leite,
principalmente quando ocorrem alterações físicas, químicas e microbiológicas
na água utilizada.
O objetivo do presente trabalho foi realizar um estudo piloto no
monitoramento
da
qualidade
da
água
(parâmetros
físico-químicos
e
microbiológicos) utilizada em granjas leiteiras e demonstrar sua influência na
qualidade do leite produzido, na água destinada ao consumo familiar e
pecuário, como também, indicar possíveis impactos ambientais gerados pelo
próprio sistema de produção.
Este trabalho foi executado na região de Ponta Grossa - PR, em 10
propriedades associadas a Cooperativa Batavo, localizadas na mesma
microbacia hidrográfica e escolhidas ao acaso (até 200litros/dia, de 200 a 600
litros/dia e acima de 600 litros/dia). As amostras de água foram coletadas na
fonte de abastecimento (águas de mina, poço escavado revestido e artesiano)
e no ponto final de utilização (sala de ordenha), onde foram analisados: Sólidos
Dissolvidos Totais, Cor, Turbidez, Nitrato, Nitrito, Arsênio, pH, Dureza Total,
Coliformes Totais, Coliformes Fecais e Pseudomonas.
Os resultados laboratoriais demonstraram que para os parâmetros físicoquímicos, somente o pH (05 propriedades) apresentou valores aquém dos
1
Zootecnista - Emater / Convênio Cooperativa Batavo – [email protected]
Médico Veterinário - Emater / Curitiba – [email protected]
3
Coordenador Operacional da Sanepar / Ponta Grossa
2
1
padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde (Portaria N.º.
1469 de 29/12/2000). Nas análises laboratoriais o pH variou entre 5,0 a 6,7. Os
demais itens analisados como: Cor (variação entre 2,5 uH a 13,0 uH), Turbidez
(variação entre 0,27ntu a 2,56ntu), Nitrato (variação entre zero a 2,10mg/l),
Nitrito (variação entre 0,002mg/l a 0,005mg/l), Arsênio (variação entre zero a
0,0004mg/l), Dureza Total (variação entre < 1,0mg/l a 35mg/l) e Sólidos
Dissolvidos Totais (variação entre 9,0mg/l a 87mg/l) não foram detectados
níveis tóxicos desses elementos na água analisada, conforme padrão para
água potável definido pelo Ministério da Saúde. Já, para os
parâmetros
microbiológicos, os exames indicaram a presença, em todas as propriedades,
de coliformes totais, fecais e/ou pseudomonas (variando entre zero a 69,6
ufc/ml para coliformes totais, de zero a 33,6 ufc/ml para coliformes fecais, e de
zero a 101,0 ufc/ml para pseudomonas) demonstrando que a qualidade da
água não atende os padrões de potabilidade definido pelos organismos
regulamentadores. Fundamentados nos resultados laboratoriais, podemos
afirmar que as famílias alvo deste trabalho, estão consumindo água não
potável, desconhecendo o problema e suas conseqüências.
Das propriedades estudadas, 60% não dispõem de estruturas
adequadas (esterqueiras) para estocagem de dejetos e efluentes, favorecendo
a contaminação das fontes de abastecimento. Este trabalho evidencia que,
principalmente
as
águas
superficiais,
estão
vulneráveis
a
ação
de
contaminantes físicos, químicos e microbiológicos.
1- Introdução
A Cooperativa Agropecuária Batavo sediada no município de Carambeí,
Estado do Paraná, possui uma abrangência regional, atingindo com seus
serviços outras localidades como os municípios de Castro, Tibagi, Ponta
Grossa, Palmeira, Teixeira Soares, Ortigueira, Imbaú e Piraí do Sul.
Atualmente a Cooperativa Batavo possui 510 associados, sendo 180
produtores de leite com uma produção anual de aproximadamente 70 milhões
de litros e uma produtividade de 6.000 litros/vaca/ano, performance esta,
bastante superior à média estadual (1558 litros/vaca/ano) e nacional
(1347litros/vaca/ano) conforme demonstrado por Koeler (2002). Contribuindo
2
para esta produção e produtividade, os associados desta cooperativa detém
um plantel de 14 mil vacas e um nível de tecnologia de produção de leite
comparado as maiores bacias leiteiras do mundo.
Um fator que diferencia esta bacia leiteira, em comparação as demais
existentes no país é a existência de um pool (virtual) de comercialização do
leite e a formatação de uma política visando a produção de leite com qualidade.
Este instrumento, possibilita que a cooperativa bonifique ou penalize os
produtores, caso o leite produzido não esteja em conformidade com os padrões
de qualidade previamente estabelecidos. A política de remuneração ou
desconto por qualidade, leva em consideração o volume de leite produzido, a
temperatura de resfriamento, a porcentagem de gordura e de proteína, a
contagem bacteriana e a contagem de células somáticas. Outro fator
diferenciado e merecedor de destaque, é a normatização do controle sanitário
para brucelose e tuberculose exigido para todos os animais pertencentes a
esta bacia leiteira. Esta estratégia, possibilita que anualmente todos os animais
sejam examinados por Médicos Veterinários credenciados junto a cooperativa.
Com relação ao estrato produtivo do negócio leite, observa-se que mais
da metade dos associados envolvidos com esta atividade são produtores com
volume de leite de até 250 mil litros anuais, (685 litros/dia) conduzindo o
empreendimento em pequenos módulos fundiários (média de 30 hectares),
através do uso da mão-de-obra familiar.
Esta região é referência nacional na produção agropecuária pelo uso
intensivo de insumos e das tecnologias de produção existentes. Há uma
predominância para clima temperado com temperatura média de 26ºC no verão
e de 15ºC no inverno.
Analisando o processo de produção, depara-se com produtores
experientes na condução do negócio, altamente especializados e adotadores
de tecnologia por excelência independente do volume de leite produzido.
Nesta bacia leiteira, predominam os sistemas de produção com os
animais em regime de confinamento ou semiconfinados onde a alimentação é
fornecida em local específico. Este modelo de produção facilita a utilização
intensiva do esterco produzido, sendo utilizado principalmente nas áreas
destinadas à produção de forragens, como milho - silagem e as pastagens de
azevém e aveia.
3
O relevo predominante desta região, caracteriza-se pelo ondulado ao
levemente ondulado, não prejudicando os serviços de mecanização agrícola. A
textura de solo é arenosa com predominância de solos do tipo podzólico
vermelho-amarelo, cambissolos e litólicos. A região de Carambeí possui uma
altitude variando de 900 a 1200 metros em relação ao nível do mar com índices
pluviométricos médios de 1200 ml anuais, bem distribuídos ao longo das
estações do ano.
2- Revisão da Literatura
2.1 - A água no mundo e sua importância
Estima-se que do total de água existente no mundo, 97,3% estão nos
oceanos, 2,05% congelada e 0,65% potável. Da água potável, cerca de 97,6%
é água subterrânea, onde metade dela está a mais de 800 metros de
profundidade, 1,9% flui em pequenos córregos, rios, e lagos, 0,28% na
umidade de superfície do solo e 0,22% na umidade do vapor atmosférico
(Maynard,1986).
A água, de qualidade, garante por si só um fator crítico de sucesso para
uma boa performance da pecuária leiteira, interferindo em vários processos de
produção como na nutrição, sanidade e na qualidade do leite como um todo.
A água fornecida aos animais deve ser potável, ou seja, adequada nos
aspectos físicos, químicos e microbiológicos. A origem das águas, as
condições na qual ela circula, tais como a natureza dos terrenos, canalizações
e reservatórios, bem como os locais onde ela é consumida tem muita influência
na qualidade da água e no seu produto final, o leite.
Neste contexto, de nada adianta deter a disponibilidade de água se não
existir consciência sobre a importância da manutenção da sua qualidade. Em
geral, águas de superfície são mais difíceis de manter a qualidade do que
águas de poços artesianos.
Os animais podem sobreviver por mais tempo, com a ausência de
qualquer outro nutriente essencial, do que privados do acesso à água. Assim,
toda a restrição de água que venha ocorrer é acompanhada de baixo
desempenho zootécnico.
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Como principal nutriente aos animais, a água mantém o volume normal
de sangue, as funções dos órgãos e sentidos, ajuda na digestão e absorção
dos nutrientes e mantém a funcionalidade do rumem. Na bovinocultura de leite
deve-se ter em mente que se as vacas não bebem água, não produzem leite, e
no momento em que bebem, produzirão mais leite se a água ingerida for de
boa qualidade.
O uso da água nos estabelecimentos leiteiros é de grande importância
não somente do ponto de vista nutricional, mas também nas atividades
relacionadas com o manejo da ordenha e a higienização das instalações e
equipamentos.
2.2 - Qualidade e composição da água
Não existe na natureza a água quimicamente pura, exceto nos
laboratórios. Sua composição e qualidade é muito variável e está determinada
pelo substrato do solo por onde a água transita ou onde está armazenada.
Desta forma, quando se refere aos padrões de qualidade da água, não se
refere a um estado de pureza e sim em condições físico, químicas e biológicas
adequadas ao consumo humano e animal.
Segundo Rimbaud (2003), podemos encontrar na água vários
elementos, entre eles:
•
Metais: Sódio, Cálcio, Magnésio, Potássio, Ferro, Manganês, Cobre,
Chumbo, Estrôncio, Lítio, Vanádio, Zinco e Alumínio;
•
Não Metais: Cloro, Enxofre, Carbonatos, Silicatos, Nitratos, Nitritos e
Amônio;
•
Sais e Óxidos Incrustantes: Carbonato de Cálcio, Cloreto de Cálcio,
Carbonato de Magnésio, Sulfato de Magnésio, Cloreto de Magnésio, Óxido
de Ferro e Óxido de Zinco;
•
Sais não Incrustantes: Cloreto de Sódio, Carbonato de Sódio, Sulfato de
Bário e Nitrato de Potássio;
•
Gases Dissolvidos: Dióxido de Carbono, Oxigênio, Nitrogênio e Metano.
Do ponto de vista microbiológico, a água pode conter vários
microorganismos contaminantes como Salmonella spp., Vibrio cholera,
Leptospira spp., Escherichia coli, Pseudomonas spp., podendo transportar
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protozoários patogênicos assim como ovos e quistos de vermes intestinais
(Patience,1992). Analisando os aspectos físicos da água, ressalta-se a
temperatura, cor e turbidez como fator diferencial na busca da qualidade. O
calor pode influir na velocidade de algumas reações químicas indesejáveis,
diminuindo sua aceitabilidade pelos animais. Já a turbidez anormal da água é
observada pelo despejo de efluentes de origem urbana, animal ou industrial
que com certeza, terão intercorrências negativas na produção animal.
Outro fator determinante como parâmetro de análise da água, são seus
aspectos químicos. Na averiguação deste critério, devem ser levados em
consideração os sólidos dissolvidos totais (SDT), pH, dureza e a presença de
nitrito, nitrato, arsênio entre outros minerais. A presença de níveis anormais de
nitrato e nitrito na água que em geral são originários de intensa fertilização dos
solos podem acarretar problemas nutricionais aos animais e outras desordens
reprodutivas. À medida que o SDT aumenta a qualidade da água piora,
causando repulsa no consumo de água e perda de desempenho zootécnico. O
pH, estando num intervalo de 6,5 a 8,5 pouco interferirá na qualidade,
entretanto, pode influenciar nas reações químicas envolvidas com o tratamento
da água. Um pH alcalino, prejudica a ação germicida do cloro e um pH ácido
pode comprometer a conservação de tubulações e equipamentos usados na
produção de leite, como também, causar a precipitação de alguns agentes
antibacterianos. Referente aos aspectos da dureza da água, os estudiosos
apontam que este critério não interfere diretamente na saúde animal e sim na
manutenção de tubulações, devido ao acúmulo de cálcio e magnésio nos
sistemas de condução de água (Rimbaud,2003).
2.3 - A qualidade da água associada com a qualidade do leite
A qualidade bacteriológica da água utilizada nas granjas leiteiras tem um
efeito profundo na qualidade do leite produzido. Estudiosos no assunto vem
demonstrando estreita correlação entre a qualidade da água fornecida aos
animais e o surgimento de mastites em bovinos leiteiros, elevando desta forma,
a contagem de células somáticas no leite (CCS). Pesquisas desenvolvidas pelo
Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária – INTA, Argentina, apontam para
uma associação entre níveis elevados de minerais na água, principalmente
6
cloro e sódio, com os mesmos minerais na análise do leite e o aumento da
contagem de células somáticas, sendo, portanto, um indicativo da interferência
da água na qualidade do leite (Taverna,2003).
Adams (2004) e Kirk (2003), pesquisando incidências de mastite
provocada por Pseudomonas spp. em rebanhos leiteiros na Pensilvânia e na
Califórnia - EUA, respectivamente, demonstraram que este patógeno está
diretamente associado com o uso da água contaminada, necessitando portanto
de uma desinfecção prévia da água e demais utensílios para o controle de
novas infecções.
Taylor (2004), no Canadá demonstra a interferência da água na
qualidade do leite, apontando a importância que as autoridades canadenses
destacam para este item, obrigando que todas as propriedades rurais devam
utilizar-se somente de água potável para produção de leite.
As propriedades leiteiras que produzem um produto de alta qualidade
deveriam passar, pelo menos uma vez por ano, pelas mesmas provas
bacterianas que se realizam nos sistemas públicos gestores da água potável.
Além das provas elementares para detecção de coliformes, é importante
verificar o surgimento na água de bactérias psicrotróficas como a das famílias
das Pseudomonas, principalmente devido esses patógenos terem sua
multiplicação a baixas temperaturas, dificultando assim o seu controle
(Fonseca, 2000).
Os estabelecimentos rurais envoltos com a produção de leite obtém a
água basicamente sob três maneiras, ou originada em mina, geralmente não
protegida, que através de bomba de recalque a água é conduzida às
instalações e residências para seu consumo ou, através de poços (escavado
ou artesiano) sendo os artesianos, em menor proporção.
Atualmente, observam-se grandes avanços nas técnicas relativas ao
balanceamento de dietas, monitorando a ingestão de matéria seca, verificando
os níveis de energia, fibra, minerais, vitaminas, proteínas e até aminoácidos na
alimentação de vacas de leite. Por outro lado, observa-se também uma certa
desatenção quando o assunto é o fornecimento da água de qualidade na
alimentação dos bovinos, na higienização de instalações, equipamentos de
ordenha ou nos tanques de armazenamento do leite produzido.
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2.4 - A qualidade da água associada à saúde da família rural
Estima-se que aproximadamente doze milhões de pessoas morrem
anualmente por problemas relacionados com a qualidade da água (Merten,
2002). No Brasil, os registros do Sistema Único de Saúde (SUS) aponta que
80% das internações hospitalares são devidas a doenças de veiculação
hídrica, ou seja, doenças que ocorrem devido à qualidade imprópria da água
para consumo humano, gerando um custo anual de U$ 2 bilhões (Merten,
2002).
Amaral (2003), comenta em seu trabalho que a água de consumo
doméstico é um dos importantes veículos de enfermidades diarreicas de
origem infecciosa, o que torna essencial a avaliação regular de sua qualidade
microbiológica. As doenças de veiculação hídrica são causadas principalmente
por microrganismos patogênicos de origem entérica, animal ou humana,
transmitidos basicamente pela rota fecal-oral, ou seja, são excretados nas
fezes de indivíduos infectados e ingeridos na forma de água ou alimento
contaminado por água poluída com fezes.
Trabalho desenvolvido pela Universidade da Água em São Paulo (2003),
relaciona as principais enfermidades causadas pela ingestão de água
contaminada sendo: Cólera, Disenteria Amebiana, Disenteria Bacilar, Febre
Tifóide
e
Paratifóide,
Gastroenterite,
Giardíase,
Hepatite
Infecciosa,
Leptospirose, Paralisia Infantil, Salmonelose.
O risco de ocorrência de surtos de doenças veiculadas pela água é alto
no meio rural, devido à facilidade de contaminação bacteriana de águas
captadas em fontes de abastecimento superficial, muitas vezes próximas de
fontes contaminadoras como fossas e áreas de pastagens com a presença de
animais (Amaral, 2003). O mesmo autor cita que o uso de água subterrânea,
não tratada ou inadequadamente desinfetada foi responsável por 44% dos
surtos de doenças de veiculação hídrica nos Estados Unidos, entre 1981 e
1988. Na Inglaterra, foi possível associar o consumo de água de fonte
subterrânea não tratada ao aparecimento de enfermidades. Os autores
demonstram que, durante o período das chuvas, a infiltração da água de
escoamento de uma pastagem que apresentava fezes de animais, para dentro
da fonte, foi à causa da contaminação. Destacam também que o
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monitoramento periódico da qualidade microbiológica da água e a observação
das medidas de proteção de fontes são medidas muito importantes para a
prevenção de doenças de veiculação hídrica (Bridgman, 1995).
A maioria das doenças nas áreas rurais podem ser consideravelmente
reduzidas desde que a população tenha acesso à água potável. Infelizmente,
um dos maiores problemas das fontes de abastecimento d’água é a falta de um
monitoramento sistemático de sua qualidade física, química e microbiológica.
No Reino Unido, um estudo demonstrou que muitas fontes tinham suas águas
analisadas anualmente ou com menor freqüência, apesar de serem fontes
expostas a grandes riscos de contaminação por se situarem na área rural. O
mesmo estudo, observou que o risco de contrair doenças de veiculação hídrica
pelo consumo de água de fontes particulares era de 22 vezes maior que o
consumo de água oriunda do sistema público de abastecimento (Shepherd,
1997).
No Brasil, verificam-se esforços das autoridades em implementar ações
buscando a qualidade da água consumida à população do meio urbano,
enquanto no meio rural tais ações praticamente são inexistentes. Nos estudos
feitos por Amaral (2003), o mesmo demonstra ser uma postura incorreta
designar o consumidor a controlar a qualidade da água, uma vez que seu
conhecimento quanto aos riscos que a água pode oferecer à saúde é
praticamente inexistente. Por fim, o mesmo pesquisador recomenda um
trabalho intensivo no sentido de efetuar uma vigilância constante a respeito da
qualidade da água utilizada no meio rural, implementando ações que objetivem
o esclarecimento dessa população, visando a mudança de seu comportamento.
2.5 - A qualidade da água associada à qualidade ambiental
O uso e a ocupação do solo pelas explorações agropecuárias provocam
alterações nos processos biológicos, físicos e químicos aos sistemas naturais
(Merten, 2002). Com o monitoramento da qualidade da água, realizado de
forma sistemática, pode-se avaliar as alterações ocorridas em uma bacia
hidrográfica.
O nível de comprometimento da qualidade da água, objetivando o
consumo doméstico, é originário de várias fontes, como os efluentes
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industriais, domésticos e o deflúvio superficial. Os efluentes domésticos, são
constituídos por contaminantes orgânicos, nutrientes e microorganismos,
podendo serem patogênicos. Os poluentes resultantes do escorrimento
superficial (deflúvio) agrícola são constituídos de sedimentos, nutrientes,
agroquímicos e dejetos animais.
Picone (2003), relata a interferência da fertilização intensa nos solos
sobre a qualidade da água e a elevação dos níveis de nitratos e coliformes nas
fontes de abastecimento d’água na Argentina. No Brasil, não existem registros
sobre os impactos que esses produtos geram ao meio ambiente. Nos EUA,
pesquisadores apontam que 50% a 60% da carga de poluentes a rios e lagos
são provenientes da agricultura (Merten,2002).
Merten (2002), adverte que a degradação dos mananciais, proveniente
do deflúvio superficial agrícola ocorre devido ao aumento da atividade primária
das plantas e algas em decorrência do aporte de nitrogênio e fósforo oriundo
das lavouras e da produção animal em regime de confinamento. Com o
excesso de nutrientes nos mananciais, os mesmos comprometem a utilização
para fins de abastecimento em face às alterações no sabor e odor da água ou
a presença de toxinas liberadas pela floração de alguns tipos de algas.
A agricultura intensiva é caracterizada pela utilização de tecnologia,
envolvendo o alto uso de insumos como fertilizantes, herbicidas e inseticidas.
Geralmente, essas áreas são de boa aptidão agrícola e os problemas de
poluição causados pela erosão hídrica ocorrem com menos freqüência quando
comparados aos sistemas menos intensificados. O que se tem verificado é que
nos últimos anos houve uma mudança na maneira de se cultivar o solo,
priorizando a semeadura direta sem o revolvimento do solo. Desta forma, os
problemas de poluição hídrica causados pela erosão vêm sendo reduzidos
significativamente. No entanto, a semeadura direta ainda que seja eficiente no
controle da erosão, pode causar problemas de contaminação da água
subterrânea e superficial (Merten, 2002).
As atividades pecuárias são outra fonte de contaminação dos
mananciais, sendo a suinocultura a merecedora de maior destaque. A
utilização de dejetos de suínos como fertilizantes orgânicos contribuem para a
contaminação dos recursos hídricos quando são manejados de forma
inadequada, ou seja, quando quantidades de esterco são aplicadas num
10
volume acima da capacidade do solo e das plantas absorverem os nutrientes
presentes nos resíduos.
Como sugestão para redução dos impactos causados ao meio ambiente
e, principalmente, a preservação da qualidade da água, Merten (2002)
recomenda a redução do deflúvio superficial, a redução do uso de
agroquímicos e o manejo adequado de efluentes produzidos pelos sistemas de
criação de animais em confinamento.
3- Material e Método
Este trabalho buscou informações preliminares da qualidade da água em
10 propriedades dum total de 180 existentes. As propriedades foram
selecionadas ao acaso, levando em consideração o volume de produção por
dia e a forma de captação da água utilizada no sistema de produção. Desta
forma, foram escolhidas 03 propriedades com volume de leite de até 200 litros
por dia, 05 propriedades com produção diária de até 600 litros e 02
propriedades com produção de leite superior a 600 litros ao dia.Com relação ao
tipo de captação de água, selecionou-se 02 propriedades que se utilizam de
poço artesiano, 03 propriedades que usam água proveniente de mina e por
último, 05 propriedades que utilizam águas oriundas de poço escavado. Todas
as propriedades estão localizadas no município de Carambeí, Estado do
Paraná.
3.1- Coleta de amostras de água e análises
Nessas propriedades, foram coletadas amostras de água na fonte (mina
ou poço) e no ponto final da água a ser utilizada nas atividades de produção.
As amostras foram acondicionadas em recipientes plásticos em meio
isotérmico (com gelo), devidamente identificadas com o nome de cada produtor
e transportadas ao laboratório da Sanepar em Ponta Grossa - PR.
Para conhecer a qualidade da água utilizada na produção de leite, foram
realizados exames laboratoriais para os parâmetros físico-químicos (pH,
nitrato, nitrito, arsênio, sólidos dissolvidos totais, dureza total, turbidez e cor) e
microbiológicos (coliforme total, coliforme fecal e pseudomonas).
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Quanto ao método de análise, todos os exames laboratoriais executados
pela Sanepar são fundamentados no Standard Methods (APHA,1992). Para as
análises microbiológicas, foi usado o método de membrana filtrante com
formação de meio de cultura específica. Nos exames físico-químicos foi
utilizado o peagâmetro para indicação do pH da água, o turbidímetro indicando
o grau de turbidez das amostras, a titulação como indicador de dureza, o
método de evaporação para determinação dos sólidos dissolvidos totais, e a
espectrofotometria para determinação de nitratos, nitritos e arsênio.
Neste trabalho, também foi aplicado junto as 10 propriedades estudadas,
um questionário de caráter qualitativo e quantitativo objetivando identificar as
condições das fontes de abastecimento, o manejo do solo, a destinação das
águas, dejetos, e efluentes como também, perceber junto ao produtor sua
opinião a respeito da água destinada ao consumo familiar.
Pelo pequeno número de amostras, não foi planejado a realização de
análise estatística, sendo feita somente a análise comparativa entre as
amostras.
4 – Resultados
4.1- Análise do uso da água nas propriedades estudadas
4.1.a - Formas de captação das águas
Foi identificado que os produtores de leite utilizam-se de 3 maneiras
diferentes para obtenção da água, ou seja, na forma de mina d’água, poço
escavado (revestido com tijolos) ou poço artesiano.
Para os produtores que se utilizam das águas de mina (03 propriedades
ou 30%), ficou constatado que estes mananciais estão bastante vulneráveis a
ação de contaminantes devido ao escorrimento superficial provocado pelas
chuvas, conduzindo portanto resíduos agrícolas (agrotóxicos / fertilizantes),
dejetos e efluentes gerados pelo sistema de produção de leite. Outra evidência
constatada é a falta de cobertura vegetal necessária para a devida proteção e
manutenção desta fonte de abastecimento.
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Para os poços escavados (05 propriedades ou 50%), os mesmos
possuem tampa de concreto, estão cercados com arame farpado, possuem
proteção interna de alvenaria e escavados a uma profundidade variando de 2,5
a 10,0 metros. Alguns poços (04) estão localizados abaixo do nível das
residências dos produtores e no meio das pastagens, favorecendo assim, a
interferência
de
contaminantes,
pois
ainda
são
considerados
águas
superficiais.
Os poços artesianos (02 propriedades ou 20%) estão presentes nas
propriedades com maior volume de leite, cuja profundidade variou de 150 a 180
metros. A perfuração do poço menos profundo foi realizada no meio das
pastagens, existindo uma proteção precária de 03 fios de arame farpado. O
poço de maior profundidade foi perfurado no mês de Janeiro de 2004,
localizado num bosque de eucalipto.
4.1.b - Destino das águas utilizadas
Verifica-se que a maioria dos estabelecimentos rurais envolvidos (07
propriedades ou 70%) possuem somente um reservatório d’água, na qual
divide a água a ser usada no abastecimento familiar e no consumo da sala de
ordenha. Com este cenário, aponta para a necessidade do produtor rural ter
acesso a uma água de muito boa qualidade. Somente 03 propriedades
possuem reservatório d’água exclusivo ao consumo doméstico.
4.1.c - Destino dos efluentes
Foi identificado que as águas utilizadas nos locais de ordenha possuem
dois destinos. A maioria das propriedades (60%) as águas escorrem pela
superfície do estábulo e do solo, sem qualquer estratégia de armazenamento.
O outro destino das águas é verificado nas quatro propriedades restantes
(40%), onde possuem local específico para estocagem das águas residuais.
Nas propriedades estudadas, todas possuem fossas assépticas para
acondicionamento dos resíduos domésticos.
13
4.1.d - Histórico do uso do solo
A região na qual estão inserida as propriedades, usa intensivamente
tecnologias
de produção agrícola, principalmente fertilizantes (químicos e
orgânicos) e agroquímicos. Nos anexos deste trabalho (Anexo 1-item 04), está
representado de forma sucinta a ocupação do solo por lavouras de estação
quente (milho para silagem) e de estação fria (aveia e azevém). Este sistema
está presente em 100% das propriedades analisadas. O uso intensivo e
continuado de insumos agrícolas poderiam ter influenciado fortemente a
qualidade da água utilizada no consumo humano e animal. Os resultados das
análises químicas da água, realizados pela Sanepar, não indicaram níveis
tóxicos de nenhum elemento (Anexo 02).
4.1.e - Qualidade da água na visão dos produtores
Todos os produtores questionados não mencionaram problemas com a
qualidade da água consumida (Anexo 01 – item 05). Em oito propriedades
(80%), os produtores afirmaram que a água era de boa qualidade e em duas
propriedades (20%), os produtores afirmaram que a qualidade da água era
ótima. Nenhum produtor se baseou em informações laboratoriais para justificar
sua posição em relação a água de consumo. Existem produtores que se
utilizam destas águas a mais de 30 anos sem conhecer se a água utilizada está
em conformidade com os padrões de potabilidade.
4.2- Análise dos resultados laboratoriais
4.2.a - Padrão de potabilidade da água no Brasil
O Ministério da Saúde normatiza o padrão de potabilidade da água através
da portaria n.º 1469 de 2000. A Universidade da Pensilvânia nos EUA,
estabeleceu em 2004, limites dos componentes físico – químicos e
microbiológicos aceitáveis ao sistema de produção de leite. Estas informações
estão disponíveis na tabela abaixo.
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Tabela 1- Padrões de potabilidade da água estabelecido pela portaria do
Ministério da Saúde e os limites que causam interferências ao sistema de
produção de leite, elaborado pela Universidade da Pensilvânia – EUA, 2004.
PADRÃO RECOMENDADO
pH: 6,0 – 9,0
Cor: 15,0 (uH)
Nitrito(NO2): 1,0 mg/l
Nitrato(NO3): 10,0 mg/l
Turbidez: 5,0 (NTU)
Sólidos Dissolvidos Totais: < 500 mg/l
Arsênio (As): 0,01 mg/l
Dureza Total: 250 mg/l
Coliforme Total: AUSENTE
Coliforme Fecal: AUSENTE
Pseudomonas: < 1,0 UFC/ml
Fonte: Portaria 1469 – Ministério da
Saúde – 2001
POSSÍVEIS PROBLEMAS NO LEITE
Abaixo de 5,1 ou acima de 9,0
Não limitante a produção
Acima de 4,0 mg/l
Acima de 100,0 mg/l
Não limitante a produção
Acima de 3.000 mg/l
Acima de 0,20 mg/l
Acima de 300 mg/l
Acima de 1 UFC/ ml
Acima de 1 UFC/ml
Acima de 1,0 UFC/ml
Fonte: Pennsylvania State University
- 2004
4.2.b - Parâmetros físico-químicos das águas analisadas:
pH: Conforme já observado na revisão deste trabalho, o pH estando
alterado poderá impedir a ação de sanitizantes, como também, danificar as
tubulações e equipamentos nas salas de ordenha. Para este item, cinco
propriedades (50%) apresentaram pH fora dos padrões de potabilidade (Tabela
01 - pH abaixo de 6,0) sendo três para águas originadas de poço escavado,
uma para água de poço artesiano e uma para água de mina. As análises
demonstraram que o pH mais baixo foi 5,0 e o mais elevado foi 6,4 (Anexo 02).
Cinco propriedades apresentaram pH acima de 6,0 e portanto, dentro dos
padrões de potabilidade supra mencionado. As águas oriundas de poço
escavado apresentaram 60% de alteração em relação as demais formas de
captação. Este parâmetro, foi o único que apresentou alteração nos exames
laboratoriais.
Nitrito, Nitrato e Arsênio: A presença em níveis tóxicos de nitrito, nitrato e
arsênio na água a ser utilizada na bovinocultura de leite, poderão interferir nos
processos digestivos e reprodutivos dos bovinos. A presença de nitrito nos
exames laboratoriais basicamente variou entre 0,002 mg/l a 0,005 mg/l, com
exceção de uma propriedade que apresentou, na origem, o valor de 0,66 mg/l.
15
Os níveis de nitrito detectados não configuram presença tóxica deste elemento
(vide Tabela 01). Com relação a presença de nitrato nos exames laboratoriais,
os mesmos demonstraram variação entre zero a 2,10 mg/l, não caracterizando,
também, prejuízos a potabilidade da água (vide Tabela 01). As análises
visando detectar a presença de arsênio, demonstraram valores entre zero (09
propriedades) a 0,0004 mg/l. Da mesma forma que os elementos anteriores,
não foi presenciado níveis de toxidez para arsênio, conforme demonstrado na
Tabela 01.
Dureza Total: A dureza da água estando em desacordo com os padrões
de potabilidade, poderá danificar as tubulações onde a água transita, devido ao
acúmulo
de
minerais
(cálcio
e
magnésio).
As
análises
laboratoriais
apresentaram níveis variando de menor que 1,0 mg/l a 35,0 mg/l,
caracterizando um perfil para água mole permanecendo dentro dos padrões de
potabilidade (vide Tabela 01).
Cor e Turbidez: As análises laboratoriais para examinar a cor e turbidez
da água, são parâmetros que indicam a presença de poluentes ou não nos
mananciais. Neste trabalho, os exames apresentaram níveis variando entre 2,5
a 13 uH e 0,27 a 2,56 NTU, respectivamente. Com esses valores, podemos
afirmar que as águas analisadas estão em conformidade com os padrões de
potabilidade definido pelo Ministério da Saúde (Portaria Nº.1469/2000).
Sólidos Dissolvidos Totais (SDT): Conceitualmente o SDT quantifica a
soma de matéria inorgânica dissolvida em uma amostra d’água, ou seja quanto
maior for o SDT pior é a qualidade da água (Patience,1992). Nas análises
laboratoriais realizadas o SDT variou entre 9,0mg/l a 87mg/l, estando portanto
dentro dos padrões de potabilidade estabelecidos pelo órgãos oficiais.
4.2.c - Parâmetros microbiológicos das águas estudadas:
Coliformes Totais: As propriedades que captam águas oriundas de mina,
em 100% destas granjas os exames laboratoriais detectaram a presença
destes microorganismos, tanto na fonte de abastecimento (variação entre 4,0 a
53,2 ufc/ml) como no ponto final (variação entre 0,4 a 36,8 ufc/ml). Para as
águas de poço escavado, foram observados quatro (80%) propriedades
detectando a presença na fonte de abastecimento (variação entre zero a 69,6
16
ufc/ml) e cinco (100%) propriedades detectando a presença no ponto final
(variação entre 2,4 a 16,4 ufc/ml). Nas propriedades que captam águas de
poço artesiano, apenas uma foi observado a presença deste contaminante no
ponto final (0,4ufc/ml), provavelmente devido a falta de limpeza na caixa d’água
(Anexo 02).
Coliformes Fecais: Nas propriedades que utilizam água de mina, 100%
destas foram detectados a presença destes microorganismos na fonte de
utilização (variação entre 2,8 a 17,2 ufc/ml) e apenas uma (33%) propriedade,
observou-se a presença do contaminante no ponto final (13,6 ufc/ml). A lógica
do resultado deveria apresentar contaminações em 100% nos exames da água
coletados no ponto final, tendo em vista que na origem, detectou-se 100% de
presença deste contaminante. Esta situação demonstra a necessidade de
realizar-se um maior número de amostras para cada análise laboratorial,
visando a eliminação de possíveis interferências. Nas águas de poço
escavado, observou-se que três (60%) propriedades apresentaram sinais deste
contaminante na fonte de utilização (variação entre zero a 33,6 ufc/ml) e três
(60%) propriedades apresentaram contaminação no ponto final (variação entre
zero a 7,6 ufc/ml). As propriedades que possuem poço artesiano em nenhuma
delas detectou-se a presença deste contaminante.
Pseudomonas: Para as águas oriundas de mina, todas as propriedades
foram detectados a presença deste contaminante, sendo três (100%)
propriedades na fonte de utilização (variação entre 11,0 a 59,0 ufc/ml) e duas (
67%) propriedades no ponto final (variação entre zero a 29,0 ufc/ml). Nas
propriedades que se utilizam as águas de poço escavado, 100% dos
estabelecimentos rurais os exames indicaram a presença deste patógeno nas
fontes de utilização (variação entre 20,0 a 101,0 ufc/ml) como também nos
pontos finais (variação entre 1,0 a 40,0 ufc/ml). As águas originadas de poço
artesiano, em somente uma propriedade foi detectado a presença deste
contaminante, tanto na sua origem(4,0 ufc/ml) como no ponto final (1,0 ufc/ml).
Com estas informações, ficou constatado que existem problemas
bacteriológicos com relação a qualidade da água utilizada, principalmente as
águas mais superficiais como as de mina e poços escavados, tanto na sua
origem como no ponto final de utilização. O patógeno do gênero Pseudomonas
spp., foi detectado em nove propriedades (90%), inclusive em águas mais
17
profundas. É importante ressaltar que este contaminante, utiliza a água como
seu principal veinculante de contaminação aos sistemas de produção de leite,
gerando mastites e demais prejuízos com os sólidos contidos no leite. A
gravidade do problema se acentua por se tratar de microorganismo
psicrotrófico, tendo no ambiente dos tanques de expansão, um meio ótimo para
sua proliferação (Britten,2003).
Outra situação merecedora de maiores cuidados, é a presença de
coliformes, principalmente os de origem fecal na água utilizada para consumo
humano,
pecuário
e
para
desinfecção
de
utensílios
de
ordenha
e
armazenamento do leite produzido. Os microorganismos estudados, são
sensíveis a ação de produtos clorados, devendo o produtor de leite ficar atento
ao manejo destes produtos, pois o cloro é inerte na presença de qualquer
resíduo orgânico, ou seja, no momento da higienização dos equipamentos em
que o leite transita, em nenhuma hipótese pode haver presença de líquidos
residuais por exemplo, o próprio leite.
5- Conclusão
Nas condições em que foi realizado este trabalho piloto pode-se concluir:
1. Os resultados laboratoriais demonstram que em 100% das
propriedades rurais analisadas, a qualidade da água está aquém dos
padrões de potabilidade, definidos pelo Ministério da Saúde, e portanto
inapta ao consumo humano;
2. As famílias estão destinando ao consumo doméstico água fora
dos padrões bacteriológicos definidos pelos agentes governamentais
desconhecendo o problema e suas conseqüências;
3. As análises químicas da água para nitrito, nitrato ou arsênio estão
dentro da normalidade, indicando que não houve contaminação das águas
em decorrência do uso intensivo de insumos agrícolas;
4. Das propriedades analisadas, 60% não dispõem de sistemas
adequados para armazenamento de efluentes e dejetos gerados pela
atividade leiteira, contribuindo desta maneira para contaminação das fontes
de abastecimento;
18
5. Ficou evidenciado neste trabalho que, principalmente, as águas
superficiais, do modo que se apresentam hoje, estão bastante vulneráveis a
ação de contaminantes físicos, químicos e microbiológicos;
6. É recomendável a elaboração de estratégias técnicas visando o
manejo adequado de dejetos e a preservação / proteção das fontes de
abastecimento d’água, nas propriedades rurais;
7. Os resultados deste trabalho indicam a necessidade da
elaboração de um plano de manejo ambiental, envolvendo ações integradas
ao manejo do solo e suas bacias hidrográficas;
8. Pela interferência que a qualidade da água gera ao sistema de
produção de leite e na saúde da família rural, faz-se necessário estudos
mais abrangentes, envolvendo um maior número de propriedades rurais.
19
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AMBIENTE – Resolução n.º 20 de 18 de Julho de 1986.
20
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SANITÁRIA-Resolução - RDC N.º 54, de 15 Julho de 2000. Dispõe sobre o
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http://www.uniagua.org.br acesso em 12/12/03.
21
ANEXOS
Anexo 1 – Informações adicionais das propriedades
Para conhecer as condições onde a água é captada, foram aplicados
questionários nas propriedades selecionadas, conforme descrito abaixo.
1) Formas de Captação
Produtor
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Poço com proteção
interna
Sim Nã
Profund.
o
XX
Poço artesiano
Si
m
XX
XX
Nã
o
Profund.
Mina
Si
m
Nã Profund.
o
180
150
8,5
XX
XX
XX
10,0
2,0
XX
XX
XX
5,0
2,5
XX
2) Destino das águas utilizadas
Para os animais
Para uso doméstico
Produtor Caixa
Caixa Bebedour Caixa
Água
Cx.Conj
Poço
es
exclusiv conjunt
os
exclusiv encanad
un.
escavad
a
a
a
a
o
01
XX
XX
XX
02
XX
XX
03
XX
XX
04
XX
XX
05
XX
XX
06
XX
XX
07
XX
XX
08
XX
XX
09
XX
XX
10
XX
XX
22
3) Destino final dos efluentes
Produtores
Para os animais
Lagoa Horta
Escore na
superfície
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Fossa
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
Uso doméstico
Fossa Céu aberto
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
XX
4) Histórico do uso do solo nas propriedades
Produtor
Descrição sucinta
es
01
Milho, soja, mandioca salsa e azevém, usando adubação química e
orgânica
02
Milho, soja , azevém, usando adubação química
03
Aveia e azevém, usando adubação química e orgânica
04
Aveia e azevém, usando adubação química e orgânica ( esterco de
frango)
05
Milho, aveia e azevém, usando adubação química e orgânica
06
Milho, alfafa, aveia e azevém, usando adubação química e orgânica
07
Milho, aveia e azevém, usando adubação química
08
Milho, aveia e azevém, usando adubação química
09
Milho, aveia e azevém, usando adubação química e orgânica (
esterco de peru)
10
Milho, aveia, alfafa e azevém
5) Depoimento dos produtores sobre a água de bebida
Produtor
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
Ótima
Boa
XX
XX
XX
XX
XX
Regular
Péssima
XX
XX
XX
XX
XX
23
Anexo 2 – Resultados da qualidade da água analisada pela Sanepar
Produtor: 01
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
5,0
Coli
T
Ufc/
ml
Zero
Coli Pseu
F
d
Ufc/ Ufc/
ml
ml
Zero Zero
Orige
m
Final
6,0
5,0
0,005 0,92
2,56
58,5
Zero
6,2
3,0
0,002 0,21
1,51
15,5
Zero
5,0
0,40
Zero
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
3,0
Coli
T
Ufc/
ml
Zero
Coli Pseu
F
d
Ufc/ Ufc/
ml
ml
Zero 4,00
4,0
Zero
Zero
Coli Pseu
F
d
Ufc/ Ufc/
ml
ml
2,40 63,00
0,80 40,00
Zero
Produtor: 02
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Orige
m
Final
5,5
2,5
0,004 0,31
0,43
5,7
2,5
0,005 0,29
0,36
9,0
0,000
2
16,5 0,000
4
1,00
Produtor: 03
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
Orige
m
Final
5,5
2,5
0,004 0,32
0,41
37,5
Zero
11,0
Coli
T
Ufc/
ml
6,80
6,1
2,5
0,002 0,16
0,51
49,0
Zero
13,0
5,20
Dure
z
Mg/l
Produtor: 04
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Orige
m
Final
6,1
2,5
0,002 0,45
0,35
28,0
Zero
Coli Coli Pseu
T
F
d
Ufc/ Ufc/ Ufc/
ml
ml
ml
18,0 51,20 2,80 14,00
6,4
2,5
0,002 0,63
0,38
40,0
Zero
12,0
0,40
Zero
Zero
24
Produtor: 05
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
11,0
Coli
T
Ufc/
ml
4,40
Coli Pseu
F
d
Ufc/ Ufc/
ml
ml
Zero 66,00
Orige
m
Final
5,1
2,5
0,003 2,10
0,81
62,5
Zero
5,0
2,5
0,003 0,14
0,37
67,0
Zero
10,0
8,40
2,80 35,00
Produtor: 06
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
Orige
m
Final
6,2
7,0
0,004 0,27
1,91
17,5
Zero
5,0
Coli Coli Pseu
T
F
d
Ufc/ Ufc/ Ufc/
ml
ml
ml
69,60 33,6 101,0
6,4
3,0
0,004 0,15
1,60
26,5
Zero
5,0
16,40 7,60 23,00
Dure
z
Mg/l
Produtor: 07
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Arse
n
Mg/l
Orige
m
Final
6,5
2,5
0,005 0,77
0,62
64,5
Zero
Coli Coli Pseu
T
F
d
Ufc/ Ufc/ Ufc/
ml
ml
ml
21,0 53,20 17,20 59,00
6,7
2,5
0,004 1,04
0,56
87,0
zero
35,0 36,80 13,60 29,00
Produtor: 08
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l Mg/l Mg/l
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
Coli Coli Pseu
T
F
d
Ufc/ Ufc/ Ufc/
ml
ml
ml
28,40 0,40 35,00
Orige
m
Final
5,7
2,5
0,004
1,5
0,53
35,5
Zero
8,0
6,2
2,5
0,002 0,80
0,56
54,0
Zero
17,0 10,40 Zero
1,00
25
Produtor: 09
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Orige
m
Final
6,0
12,0 0,004 0,31
2,14
6,4
13,0 0,004 0,54
2,33
Arse
n
Mg/l
Dure
z
Mg/l
8,0
Coli
T
Ufc/
ml
Zero
Coli Pseu
F
d
Ufc/ Ufc/
ml
ml
Zero 20,00
20,0
Zero
28,0
Zero
14,0
2,40
Zero 19,00
Arse
n
mg/l
Produtor: 10
Ponto
pH
Cor
uH
Nitrit. Nitrat Turb. SDT
Mg/l Mg/l NTU Mg/l
Orige
m
Final
5,6
2,5
0,66
Zero
0,42
16,0
Dure Coli Coli Pseu
z
T
F
d
mg/l ufc/m Ufc/ Ufc/
l
ml
ml
Zero < 1,0 4,00 4,00 11,00
6,3
2,5
0,001 0,82
0,27
28,5
Zero
15,0
1,60
Zero 10,00
26